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Oswald de Andrade
Oswald de Andrade (1890-1954) foi
escritor e dramaturgo brasileiro.
Representa uma das principais
lideranças no processo de
implantação e definição da literatura
modernista no Brasil. Sua atuação
ficou marcada pelo seu espírito
irreverente, polêmico, irônico e
combativo. Tornou-se figura
fundamental dos principais
acontecimentos da vida cultural
brasileira na primeira metade do
século XX.
Sua obra apresenta de maneira
geral, um nacionalismo que busca as
origens, sem perder a visão crítica
da realidade brasileira. Oswald
defendia a valorização de nossas
origens, de nosso passado histórico-
cultural de forma crítica, parodiando,
ironizando e atualizando nossa
história de colonização.
O Rei da Vela é uma peça teatral
escrita por Oswald de Andrade, um
dos principais representantes do
movimento modernista brasileiro. Foi
redigido em 1933 com o objetivo de
retratar a década de 30 e as
preocupações e compromissos
sociais da época.
A peça foi considerada o primeiro
texto modernista feito para teatro
após a inserção da pintura abstrata
nos cenários, afastando-os do
realismo e do simbolismo.
Anteriormente, apenas a encenação
era considerada modernista, mas o
texto de Oswald de Andrade aborda
a sociedade decadente com a
linguagem e o humor do
modernismo.
Trata da história de Abelardo I,
agiota e proprietário de
uma fábrica de velas, expõe, de um
lado a aristocracia cafeeira de São
Paulo e sua decadência, de
outro, a ascensão de Abelardo I e
suas artimanhas para obter status
social, o que é feito por meio de
alianças políticas com diferentes
segmentos sociais.
A ação dramática é desencadeada
em 03 atos. O primeiro e terceiro ato
são ambientados em
São Paulo, no escritório do agiota
Abelardo I, no segundo ato a cena
transcorre no Rio de Janeiro.
Para obter status social, Abelardo I
casa-se com Heloísa, uma
aristocrata, o casamento é apenas
mais um negócio, como o que ele
realiza com os seus clientes. Sua
única função é assegurar a
aliança entre burguesia e
aristocracia, uma vez que Abelardo I
tem o poder, tem dinheiro, mas não
tem projeção/status social. Abelardo
II, seu assistente, adepto das ideias
socialistas o auxilia quando
o assunto diz respeito aos clientes,
dos quais é usurpado até o último
centavo.
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Primeiro ato
O primeiro ato tem como cenário o
escritório de Abelardo & Abelardo,
uma firma de agiotagem comandada
por Abelardo I, o protagonista.
Clientes devedores saem de uma
jaula e são recebidos por Abelardo II,
sócio de Abelardo I, vestido de
domador. Eles são tratados com
desdém e brutalidade. Depois disso,
aparece para uma visita Heloísa de
Lesbos, membro da aristocracia
agrícola e noiva de Abelardo I, com
o qual firma o compromisso apenas
para salvar a família da falência.
Neste ato, as relações entre as
personagens são demonstradas:
Abelardo I enriquece a custa da
pobreza dos outros; Abelardo II
deseja tomar o lugar do sócio; os
clientes são desesperados e
considerados como animais.
Segundo ato
Tem como cenário uma ilha tropical
na Baía de Guanabara, presente de
Abelardo I à noiva, e apresenta um
clima de grande liberdade sexual.
Heloísa desenvolve intimidades
sexuais com Mr. Jones, um
americano com quem seu noivo faz
negócios e que desperta interesse
em Totó Fruta-do-Conde, irmão
homossexual de Heloísa. Abelardo I
passa uma noite de amor com a
sogra, Dona Cesariana, e arranja um
outro encontro sexual com a tia de
Heloísa, Dona Poloca, uma virgem
de sessenta anos. Além disso, há a
presença de João dos Divãs, antes
conhecida como Joana, a irmã
lésbica de Heloísa, e seu primo
Perdigoto, que consegue um
empréstimo com Abelardo I a fim de
montar uma milícia fascista para
combater os fazendeiros que
invadem sua propriedade.
Terceiro ato
O cenário novamente é o escritório
de Abelardo & Abelardo. Abelardo I
é vítima de um golpe e acaba indo à
falência. Com a arma nas mãos e a
noiva aos seus pés, o protagonista
se dirige ao público e afirma que eles
verão um final digno de dramalhão:
um suicídio no terceiro ato. Porém,
sem conseguir concluir o ato, pede
ajuda ao Ponto (auxiliar de cena que
fica fora das vistas do público e
lembra ao ator suas falas, quando
necessário), mas ele recusa-se.
Fecham-se as cortinas; ouvem-se
disparos de canhão e um grito de
mulher. Quando as cortinas
reabrem, Abelardo I está agonizando
sobre uma cadeira e Heloísa,
deitada sobre uma maca.
Abelardo II entra em cena, agora
com exageradas roupas de ladrão.
Ele se apropria da posição de
herdeiro dos negócios de agiotagem
e também da noiva de Abelardo I.
Abelardo II tenta presenteá-lo com o
socialismo, mas Abelardo I recusa,
chutando um rádio que toca a
música da Internacional Comunista.
Antes de morrer, Abelardo I delira e
ouve sinos. Ele ordena que a jaula
seja aberta e os devedores fogem,
celebrando a vitória da revolução. O
suicida pede uma vela e, ao recebê-
la, morre.
Heloísa lamenta a morte do ex-
noivo, porém, a um gesto de
Abelardo II, junta-se a ele. Toca a
Marcha Nupcial, convidados entram
e, completamente ignorando a
presença do defunto Abelardo I,
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celebra-se o casamento de Abelardo
II e Heloísa de Lesbos.
A obra foi escrita após a crise de
1929, da Revolução de 30 e da
Revolução Constitucionalista de 32
manifestando o desgosto de Oswald
passando por vários escritórios de
agiotagem para manter-se
financeiramente. Esse contato com
agiotas foi o motivo da designação
de um deles como Rei da Vela, nome
que deu origem a peça. Mas o texto,
além de trazer a experiência do
escritor, fornece os recursos da
estrutura socioeconômica do país.
Informações da crise financeira e a
necessidade de Oswald de Andrade
procurar os agiotas são dados
importantes para a construção
estética e dramatúrgica do seu texto.
Os elementos em destaque na
cenografia, imaginados pelo autor,
são demonstrados em suas
anotações e, mais tarde, transferidos
para o texto.
Apenas depois de 30 anos, o Rei da
Vela foi levado para os palcos
paulistas introduzindo o movimento
tropicalista. Sua primeira
apresentação foi em 1968, causando
grande impacto sobre o público que
se manifestou de diferentes formas,
desde declarações que
classificavam o espetáculo como
ridículo e pornográfico a opiniões
que viam nele uma crítica a
atualidade.
A iniciativa começou com o Grupo
Oficina sob direção de José Celso
Martinez Correa. Sua passagem
pelos palcos foi um símbolo na
história do teatro brasileiro.
Em o Rei da Vela, Oswald de
Andrade retrata a sociedade em que
vive, os intelectuais que se
vendem ao poder, as alianças entre
o imperialismo e a burguesia
nacional, a hipocrisia da família
reacionária brasileira, as relações da
igreja com o poder, etc. Mostrando
de forma cômica, satírica, e
farsesca a tradição rural do país, que
em meio a uma nascente
industrialização e modernização da
sociedade, continua arcaico e
retrógrado. A peça investe contra
uma burguesia que defende o pilar
Tradição, família e propriedade,
responsável por sustentar a
estrutura desta sociedade hipócrita,
mantendo seus mecanismos de
poder funcionando como uma
engrenagem.
Sempre com posições radicais, em
seu teatro está presente uma
capacidade de experimentação nem
sempre compreendida pelos seus
contemporâneos. O humor, a
autocrítica, o sarcasmo e a ironia
foram elementos presentes em seu
teatro, que caminhou na
direção da fragmentação da
estrutura dramática convencional,
tornando-o muitas vezes um autor
incompreendido, por estar à frente
de seu tempo
A peça foi escrita em 1933 e
publicada em 1937, só foi encenada
30 anos após sua publicação.
Apenas foi encenada apenas em
1967 pelo grupo teatral Oficina, sob
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a direção de José Celso Martinez
Corrêa, e causou uma verdadeira
revolução da arte dramática
brasileira. Oswald não chegou a
assistir à montagem de suas peças,
morreu em 1954.
1) Visão desmistificadora do Brasil.
2) Paródia e uso constante da ironia
3) Personagens caricaturais
4) Em lugar do culto ao passado, o
gosto demolidor de todos os
valores, sobretudo os burgueses
5) Renega-se o tradicionalismo
cênico, em busca de soluções
cênicas metalinguísticas
6) Espírito iconoclasta: forte teor
satírico
7) Carnavalização do Brasil
colonizado e dependente do capital
norte-americano: análise marxista
Já no nome dos personagens é
possível perceber as inversões e
subversões. Os nomes de Heloísa
de Lesbos, Joana, conhecida como
João dos Divãs, e Totó Fruta-do-
conde suscitam uma inversão
sexual, remetendo à
homossexualidade.
Nessa obra, Oswald de Andrade
estabelece claro diálogo intertextual
com a história de Abelardo e
Heloísa, casal histórico que vive um
romance trágico no final da Idade
Média (A história das minhas
calamidades), e a peça O Rei da
Vela faz uma paródia dessa história,
retirando esses personagens do
contexto medieval e inserindo-os no
contexto brasileiro das décadas de
20 e 30.
Heloísa, por exemplo, é uma
personagem vulgar que se casará
com Abelardo 1 para manter o status
social, e se transforma em objeto
sexual para manter tanto o seu
status como o de sua família
(aristocrata rural) falida.
Com os personagens Heloísa de
Lesbos, Abelardo I e Mr. Jones,
Oswald de Andrade representa as
três forças que regem o país: a
aristocracia rural que se une à
burguesia nacional, para melhor
servir ao capital estrangeiro. Assim,
temos clara uma crítica à submissão
do Brasil aos outros países.
Um caminho para entendermos o
teatro de Oswald de Andrade é
perceber a revelação da falsidade de
um discurso liberal, as relações
marcadas pelo interesse capital e
material, a competição pelo lucro, as
falsas relações amorosas, a
distância entre a modernidade e o
atraso, a metáfora de um país
hipotecado ao imperialismo, o ócio
brasileiro e a manutenção do poder,
o espaço da casa. O Rei da Vela
passa do modernismo à
modernidade, a partir da ironia, da
caricatura, do grotesco, da
religiosidade, sexualidade, da
paródia, da filosofia e do papel dos
intelectuais. Portanto, essa peça
contrasta com o que se passa
através da sociedade brasileira.
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1) Escrita por Oswald de Andrade, a
peça “O rei da vela” é uma crítica à
sociedade e à política de um Brasil
que vivia a crise do café e as
consequências do crack de 1929 da
Bolsa de Nova York. Nela
observamos:
a) Prepotente, Abelardo pisa em
quem pode, mas não sabe que é
apenas “um feitor do capital
estrangeiro
b) A peça conta a história de um
agiota inescrupuloso, Abelardo I, o
Rei da Vela. Com negócios
diversificados, sua especialidade
são empréstimos. Aproveitando-se
da crise econômica que flagela o
país, Abelardo empresta dinheiro e
cobra juros baixos.
c) A forma pela qual o sistema de
agiotagem não permite o
enriquecimento de alguns em
detrimento dos muitos que se tornam
dependentes.
d) A história de um agiota
inescrupuloso, Abelardo I, o Rei da
Vela. Com negócios diversificados,
sua especialidade são empréstimos.
Aproveitando-se da crise econômica
que flagela o país, Abelardo
empresta dinheiro e cobra juros
escorchantes.
2) Leia o trecho da peça de teatro a
seguir
O rei da vela - Oswald de Andrade
Heloísa (Sonhando) Meu pai era o
Coronel Belarmino que tinha sete
fazendas, aquela casa suntuosa de
Higienópolis… ações, automóveis…
Duas filhas viciadas, dois filhos
tarados… Ficou morando na nossa
casinha da Penha e indo à missa
pedir a Deus a solução que os
governos não deram…Abelardo I
Que não deram aos que não podem
viver sem empréstimos.
Heloísa Meus pais… meus tios…
meus primos…
Abelardo I Os velhos senhores da
terra que tinham que dar lugar aos
novos senhores da terra!
Heloísa No entanto, todos dizem que
acabou a época dos senhores e dos
latifúndios…
Abelardo I Você sabe que o meu
caso prova o contrário. Ainda não
tenho o número de fazendas que seu
pai tinha, mas já possuo uma área
cultivada maior que a que ele teve no
apogeu.
Heloísa Há dez anos… A saca de
café a duzentos mil-réis!
ANDRADE, Oswald. O Rei da Vela (1933). São Paulo,
Editora Globo, 2003.
Lembrando que o texto dramático,
ou texto teatral, não possui um
narrador, podemos afirmar que
a) as falas são distribuídas pelo
diretor teatral que diz quem está
falando na peça de teatro, conferindo
maior controle do que é dito.
b) as falas estão em discurso direto
e sem nenhuma intervenção na peça
de teatro, pois não há quem narre ou
controle a fala a não ser o autor.
c) as falas são distribuídas pelos
personagens no texto dramático,
uma vez que há autonomia para
improvisar e dizer livremente o que
se quer.
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d) as falas estão em discurso indireto
e com breves interferências de um
narrador onisciente, conferindo
assim maior neutralidade a este tipo
de texto.
3) ENEM 2019
HELOÍSA: Faz versos?
PINOTE: Sendo preciso…
Quadrinhas… Acrósticos…
Sonetos… Reclames.
HELOÍSA: Futuristas?
PINOTE: Não senhora! Eu já fui
futurista. Cheguei a acreditar na
independência… Mas foi uma
tragédia! Começaram a me tratar de
maluco. A me olhar de esguelha. A
não me receber mais. As crianças
choravam em casa. Tenho três
filhos. No jornal também não
pagavam, devido à crise. Precisei
viver de bicos. Ah! Reneguei tudo.
Arranjei aquele instrumento (Mostra
a faca) e fiquei passadista.
ANDRADE, O. O rei da vela. São
Paulo: Globo, 2003.
O fragmento da peça teatral de
Oswald de Andrade ironiza a reação
da sociedade brasileira dos anos
1930 diante de determinada
vanguarda europeia. Nessa visão,
atribui-se ao público leitor uma
postura
a) preconceituosa, ao evitar formas
poéticas simplificadas.
b) conservadora, ao optar por
modelos consagrados.
c) preciosista, ao preferir modelos
literários eruditos.
d) nacionalista, ao negar modelos
estrangeiros.
e) eclética, ao aceitar diversos
estilos poéticos.
1) Alternativa D
A famosa peça “O rei da vela” pode
ser compreendida como uma crítica
à sociedade e à política de um Brasil
que vivia em uma profunda crise. Isto
ocorre durante a crise do ciclo
cafeeiro, sendo que o preço vinha
decaindo no mercado internacional.
A peça conta a história de um agiota
inescrupuloso, Abelardo I, o Rei da
Vela. A sua grande especialidade
eram os empréstimos. Ele
aproveitava-se da crise econômica
que flagela o país,
2) Alternativa B
Nos textos teatrais, há a existência
de personagens e um enredo, assim
como o clímax e a conclusão da
história.
Entretanto, a história é contada
pelos próprios personagens,
através de suas falas por meio de
discurso direto. Isso é algo
característico desse gênero textual,
eles são representados e não
contados por narradores.
Nos textos dramáticos, a sua
representação é por meio de poesias
ou prosas. Estes textos são divididos
por "atos", que identificam os
"capítulos" e as mudanças de
cenários da história envolvida.
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3) Alternativa B
Ao analisar o exposto no enunciado
da questão, é possível perceber
que o público leitor não aceitou de
bom grado a inovação poética do
modernismo, denominada de
vanguarda futurista.
Tal visão do tipo conservadora
resultou no fato da poeta Pinote
abandonar a inovação estética e
com isso retomar as formas mais
usuais e conhecidas, que pode ser
exemplificada em: “Quadrinhos”...
Acrósticos... Sonetos...Reclames”.
O autor: todamateria.com
A obra e contexto histórico:
resumoescolar.com.br
Proposta, resumo e elementos
temáticos: ANPUH – XXII
SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA
Enredo e análise final:
wikipedia.com
Curiosidade: Blog bons livros para
ler
Questões discursivas: Instituto
Federal De Educação Ciência e
Tecnologia Ifma
Características do modernismo
presente na peça:
literatura2pontos.blogspot.com
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Itamar Vieira Junior
Nasceu em Salvador, em 1979. Na
adolescência, residiu no estado de
Pernambuco, e mais tarde na cidade
de São Luís. Começou os estudos
de geografia na graduação na
Universidade Federal da Bahia
(UFBA), sendo o primeiro aluno
receptor da Bolsa Milton Santos,
dedicada para jovens negros de
baixa renda. Formou-se em
geografia e concluiu mestrado. É
doutor em estudos étnicos e
africanos pela Universidade Federal
da Bahia com estudo sobre a
formação de comunidades
quilombolas no interior do Nordeste.
A história do romance tem como
centro a família de Zeca Chapéu e
Salustiana, e suas filhas Bibiana e
Belonísia, descendentes de
escravizados. O cenário da obra é a
fictícia Fazenda Água Negra, um
local que representa a síntese do
sertão brasileiro e suas relações
sociais, o latifúndio e o trabalho
servil, marcados pela violência, a
seca e também pelas crenças,
lendas e religiosidades próprias da
mestiçagem cultural e da
ancestralidade africana. “Meu pai
havia nascido quase trinta anos após
declararem os negros escravos
livres, mas ainda cativo dos
descendentes dos senhores de seus
avós
Essa é uma história sobre duas
irmãs Bibiana e Belonísia que se
tornam extremamente próximas
após um acidente que mutila a língua
de uma delas. Isso vai para sempre
determinar o destino delas, pois uma
passa a ser a voz da outra.
O acidente é muito importante
durante toda a história. Ele acontece
porque vive junto com as meninas a
avó delas chamada Donana que está
sempre com sua mala pronta para
deixar a fazenda Água Negra e voltar
à sua terra de origem. A curiosidade
que elas possuem por saber o que
tem na mala é um dos pontos
centrais do livro. Nessa mala elas
irão encontrar uma faca envolta em
uma pano ensanguentado a ao
brincar com o objeto acabam se
mutilando.
Elas crescem num contexto de
trabalhadores descendentes de
escravos em uma fazenda no Sertão
da Bahia que continuam vivendo em
um regime próximo à servidão entre
as décadas de 70-80 no Brasil (mais
abaixo vamos demonstrar a fundo
como é possível determinar a época
em que se passa a história narrada
no livro).
Em um resumo do livro Torto Arado,
o que se vê ali é um regime quase
que de servidão, no qual os donos da
terra permitem que esses
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trabalhadores ali residam, mas só
enquanto trabalharem e fornecerem
parte das suas colheitas e sem
erguer casas de tijolos, pois eles
poderiam representar que estavam
ali para ficar.
Com o passar dos anos, a percepção
que cada uma tem daquele regime
muda e isso acaba por afastar as
irmãs. Uma delas vai embora da
fazenda com o intuito de libertação e
para lutar por condições melhores.
Ela faz isso junto com o primo
Severo, uma espécie de líder
popular que começa a desafiar o
regime em que vivem e a ter em seus
ideais a busca pelos direitos que são
negados àquele povo.
A outra irmã, no entanto, também
percebe aquele sistema injusto,
porém fica para lutar ali mesmo por
aquilo que considera o seu lar.
Junte-se a isso a figura de seu pai,
Zeca Chapéu Grande, uma espécie
de líder místico entre os
trabalhadores da fazenda, e da sua
mãe, a parteira local. Assim, temos
uma trama inesquecível, com
protagonistas mulheres muito fortes.
A mensagem por trás da história é
um tapa na cara sobre problemas
que ainda hoje persistem em nosso
país.
E mais, prepare-se para chorar, pois
Torto Arado é um romance
comovente que conta uma história
de vida e morte, combate e
redenção, de personagens que
atravessaram o tempo sem nunca
conseguirem sair do anonimato.
O autor dá todas as pistas
necessárias para compreendermos
que os eventos acontecem em
algum lugar da Chapada da
Diamantina, no sertão baiano. Os
principais fatos que corroboram essa
conclusão é a citação frequente das
festas de Jarê (uma religião de
matriz africana praticadas com
exclusividade na Chapada) e a
menção de que os primeiros
moradores chegaram ali atrás de
diamantes.
O livro possui 3 narradoras –
Bibiana, Belonísia e Santa Rita
Pescadeira.
O primeiro capítulo do livro Torto
Arado se chama Fio de Corte, com
foco principal no acidente com a
faca, e irá narrar a história das
famílias sobre o ponto de vista de
Bibiana.
O segundo capítulo do livro se
chama Torto Arado, homônimo ao
livro, e conta a história pelo ponto de
vista de Belonísia, com foco em sua
relação com Tobias. Nessa parte
também são demonstrados alguns
abusos físicos e psicológicos que as
mulheres sofrem ali naquela
localidade.
O terceiro e último capítulo de Torto
Arado se chama Rio de Sangue e é
narrado por uma entidade encantada
chamada Santa Rita Pescadeira.
Nessa parte teremos alguns insights
da vida de Donana, Zeca Chapéu
Grande, Severo, além de sermos
apresentados à conclusão do
conflito de terra que vai se
desenhando desde o início do livro e
entenderemos finalmente o motivo
da faca estar guardada envolta por
um pano cheio de sangue na mala
de Donana.
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Só será possível compreender o
título Torto Arado e seu significado
na metade do capítulo 2 da obra –
narrado por Belonísia.
Como ela foi mutilada pela faca, ela
perdeu parte da capacidade de fala
e as pessoas passam a não
compreender mais o que sai de sua
boca.
Inconformada, ela decide que irá
treinar uma palavra para começar a
recuperar a fala, e uma das que ela
mais gosta é a palavra “Arado”,
mostrando a sua relação forte com a
terra.
Mas, mesmo após treinar várias
vezes a palavra Arado, a
protagonista não consegue
pronunciar corretamente, e a palavra
sai “torta”, ininteligível, de sua boca.
Assim, Torto Arado.
Importante: Não é à toa que a
protagonista que não consegue falar
em Torto Arado seja a mesma que
passa por abusos psicológicos e vê
outras mulheres sofrendo abusos
físicos na fazenda. Isso é uma
metáfora clara das mulheres que não
são ouvidas, que são ignoradas e
que não podem lutar contra esses
abusos.
Tentando fugir da ideia de mulher
dominada, em Torto arado
encontramos, na Fazenda fictícia
Água Negra, personagens femininas
que não aceitam imposições sociais
e não são passivas diante dos
acontecimentos da vida. Donana, a
avó de Bibiana e Belonísia, marcada
pela perda de dois maridos, chegou
a assassinar o terceiro companheiro
por este ter violentado sexualmente
sua filha Carmelita. O crime foi
cometido com a faca que havia
roubado na Fazenda Caxangá, a
mesma que Bibiana e Belonísia
encontraram quando crianças e que
causou a mudez da segunda. A faca
causou desgraça, mas também era
uma espécie de amuleto para
Donana e, posteriormente, para as
netas.
A faca torna-se, assim, um objeto
que representa a força daquelas
mulheres. Para Donana, foi usado
como arma contra um criminoso;
para Belonísia, foi uma arma
também, que apesar de ter
provocado a perda de sua fala,
contribuiu para que ela se tornasse
uma mulher forte, não é à toa o
fascínio que ela sente ao ver a faca.
No romance, representa-se a vida
das mulheres do campo, que não era
nada fácil e, devido à jornada árdua,essas mulheres carregavam consigo
semblantes cansados e
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envelhecidos, consequência da
rotina que levavam: “Todas nós,
mulheres do campo, éramos um
tanto maltratadas pelo sol e pela
seca. Pelo trabalho árduo, pelas
necessidades que passávamos,
pelas crianças que paríamos muito
cedo, umas atrás das outras, que
murchavam nossos peitos e
alargavam nossas ancas” (VIEIRA
JR, 2020, p. 246).
Além do trabalho duro na roça, a vida
doméstica e as várias gestações, as
mulheres ainda tinham que suportar,
muitas vezes, um marido violento,
como era o caso de Maria Cabocla,
agredida constantemente pelo
marido Aparecido que, por sua vez,
culpava a bebida por seu
comportamento agressivo. O caso
de Maria Cabocla não é isolado.
Sabe-se que a violência contra a
mulher ocorre devido ao sistema
patriarcal, em que a mulher é
desrespeitada nas mais diversas
instâncias e tratada como objeto do
homem.
Leia um trecho da entrevista com
o autor Itamar Vieira Junior, para
melhor compreensão da obra.
"As relações de servidão ainda são
muito presentes no campo brasileiro
[...] Isso remonta ao nosso passado
escravagista mal resolvido, que nos
legou um racismo estrutural e
relações de trabalho muito precárias,
principalmente onde o Estado está
ausente, a Justiça está ausente — e
aí eu falo do campo brasileiro", diz
Vieira em entrevista à DW Brasil.
"O fato de meu trabalho ser
diretamente ligado às pessoas que
estão engajadas nesta luta, pela
redução da desigualdade e tantas
outras questões ligadas à terra, à
luta pela terra, me ajudou a ter um
olhar diferenciado sobre o assunto",
afirma.
DW Brasil: O livro apresenta
famílias que vivem em condições
de trabalho que, de certa forma,
perpetuam um regime semi
escravagista nos confins rurais
brasileiros. Como foi o mergulho
nessa realidade? Durante sua
escrita, quanto havia
de preocupação em fazer ressoar
este universo como um problema
social, muito além da literatura?
As relações de servidão ainda são
muito presentes no campo brasileiro,
o resgate de trabalhadores em
condição de escravidão ainda é uma
constante em nosso cotidiano. Isso
remonta ao nosso passado
escravagista mal resolvido, que nos
legou um racismo estrutural e
relações de trabalho muito precárias,
principalmente onde o Estado está
ausente, a Justiça está ausente — e
aí eu falo do campo brasileiro. O meu
contato com essa realidade veio da
minha atividade como servidor
público, atuando com trabalhadores
rurais há quase 15 anos. [Nesse
período] eu pude encontrar
trabalhadores em situação precária
e tudo isso me marcou
profundamente.
No fundo, no fundo, eu queria contar
a história das personagens
[protagonistas do livro], mas essa
história não poderia estar
desconectada de um contexto do
mundo em que vivemos. Se elas
estavam ali, no sertão da Bahia, se
viviam numa fazenda onde seu
trabalho era explorado,
inevitavelmente essa história iria ser
contada como tal. É difícil escrever
um romance desconectado do nosso
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mundo. Então essas personagens
estão conectadas ao mundo que nos
cerca, e esse mundo ainda é um
mundo de contrastes, onde pessoas
têm seu trabalho explorado.
Quando faço ficção, tudo o que me
atravessa na vida de alguma forma
se reflete na minha escrita. […] O
fato de trabalhar como servidor,
entre trabalhadores rurais, para mim
de alguma forma é privilégio, porque
permitiu que eu conhecesse meu
país, meu Brasil, suas relações
sociais, sua história mal resolvida.
De uma maneira mais profunda. […]
Tudo o que eu aprendi na vida se
reflete naquilo que eu escrevo.
Somos o que escrevemos.
Torto Arado é também sobre a
relação do homem com a terra.
Por trabalhar no Incra, essa
questão acaba lhe sendo mais
pungente? Acredita que o acesso
à terra no Brasil piorou nos
últimos anos?
A questão da terra é uma questão
universal que atravessa todos os
povos, de muitas origens, e a terra
aqui é algo mais, que pode ser
também metafórico. Afinal de
contas, o chão de nossa casa, o solo
que pisamos, é a terra onde
estamos. O acesso à terra é um dos
direitos mais elementares do ser
humano, […] algo com que todos
precisam lidar em algum momento.
O fato de meu trabalho ser
diretamente ligado às pessoas que
estão engajadas nesta luta, pela
redução da desigualdade e tantas
outras questões ligadas à terra, à
luta pela terra, me ajudou a ter um
olhar diferenciado sobre o assunto.
Acredito, sim, que o acesso à terra
piorou no Brasil nos últimos anos.
Tivemos dois planos de reforma
agrária, um na década de 80, outro
no começo dos anos 2000. Esses
planos foram postos em prática mas
abandonados depois por alguns
governantes.
A violência no campo é uma
constante, a todo momento. E está
relacionada à destruição de biomas,
como a Amazônia e o Pantanal,
pelos grandes latifundiários que
produzem commodities. A questão
da terra, do direito à terra, passa por
muitas outras questões, como a
ambiental e a da redução das
desigualdades. Questões que nos
afetam enquanto país e se tornam
propulsoras das nossas imensas
desigualdades.
Sobre o livro "Torto Arado",
responda as perguntas:
1) Comente como o personagem
Severo pode ser classificado como o
antagonista da relação entre Bibiana
e Belonísia na parte I do livro.
2) Explique como Donana reage ao
acidente das netas e qual a
consequência futura para a
personagem.
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3) Exponha por qual motivo o
argumento levantado por Severo
para justificar a sua fuga da fazenda
Água Negra faz sentido com o que é
apresentado na obra.
4) Belonísia é a figura presa à terra.
Justifique essa afirmativa.
5) Quais os aspectos sociais
abordados na obra Torto Arado? cite
trechos da obra.
1. A obra Torto Arado conta a história
de luta e resistência de Bibiana e
Belonísia, duas irmãs que criaram
uma conexão para além do verbo,
após um acidente traumático ao
encontrar, nas coisas de sua avó,
uma faca afiada
2. O sertão baiano, as relações de
trabalho semiescravagistas, a
discriminação racial e a questão da
terra — temas inerentes à vida, aos
estudos e ao trabalho de Vieira
Junior — são pano de fundo para a
trama de Torto Arado.
3. A história de Belonísia vem
primeiro, como perdeu a língua
numa brincadeira de criança curiosa,
símbolo da falta de voz daquele
povo. A de Bibiana não é
complementar, é uma outra visão de
mundo, que era necessária.
4.A obra, então, conta com o
suspense, pois o leitor só descobre
qual das irmãs perdeu a língua
depois de ler boa parte do livro. Além
disso, a literatura de Vierra retrata as
desigualdades do Brasil e a luta
pelos direitos da população
sertaneja.
5. Ele faz um resumo do sertão
brasileiro e suas relações sociais, o
latifúndio e o trabalho servil, e
escravo é marcado pela violência,
pela a seca e também pelas
crendices populares, lendas e
religiosidades fala da mestiçagem
cultural e da nossa ancestralidade
africana.
Sobre a obra:
saobernardo.sp.gov.br
Narradoras, significado do título,
tempo, espaço e resumo:
Osmelhoreslivros.com.br
Resistência da mulher negra:
artigo da revista UNOESTE, escrito
por Joelma de Araújo Silva,
Resende, Margareth Torres de
Alencar Costa e Maria Helena de
Oliveira
Entrevista: www.dw.com.br
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Tomás Antônio Gonzaga
Gonzaga nasceu no dia 11 de agosto
de 1744 em Miragaia, no distrito do
Porto, Portugal. Foi um dos
importantes escritores do movimento
árcade no Brasil. Ele é patrono da
cadeira 37 da Academia Brasileira
de Letras (ABL). Além de poeta, ele
foi ativista político,advogado, juiz e
participou da Inconfidência Mineira,
em Minas Gerais.
Esta é a história de Fanfarrão
Minésio, governador da capitania do
Chile, narrada por um certo Critilo,
que da então colônia escreve ao
amigo Doroteu, residente na
Espanha. São treze "cartas" em
versos que trazem personagens e
fatos de um governo que deve nos
causar repugnância por sua
corrupção e crueldade.
Foi justamente pelos efeitos do anti-
exemplo de Minésio que um
anônimo do Brasil colonial resolveu
traduzir o texto em nossa língua,
após obter o manuscrito de certo
cavalheiro que por aqui aportou,
vindo da América espanhola.
Pelo menos é o que diz o incógnito
tradutor no "Prólogo" e na
"Dedicatória" das Cartas chilenas,
oferecidas aos governantes
portugueses "para emenda dos
mais, que seguem tão vergonhosas
pisadas".
Mas a própria sátira se encarrega de
desfazer o irônico disfarce.
Simulando falar sobre outro lugar,
ela é uma voz da sociedade das
Minas Gerais do final do século
XVIII. Voz cintilante que, longe de
ser um mero retrato daquele
passado, nos diz muito de como
esse passado enxergava a si
mesmo.
Composta de 13 cartas, as Cartas
Chilenas foram escritas por Tomás
Antônio Gonzaga, através do
pseudônimo Critilo.
Ele escreve para seu amigo Doroteu,
que na realidade é o escritor árcade
Cláudio Manuel da Costa.
A obra é composta de versos
decassílabos (dez silabas poéticas)
e brancos (sem rimas). A linguagem
utilizada é satírica, irônica e, por
vezes, agressiva.
Gonzaga finge escrever do Chile,
contando a um amigo os abusos do
governo, na cidade de Santiago. Mas
percebe-se pelas circunstâncias
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relatadas que o país não é Chile,
mas retrata Minas Gerais; que a
cidade não é Santiago, mas Vila Rica
e que o amigo é Cláudio Manuel da
Costa, cujo pseudônimo é Doroteu e
que os abusos estavam
acontecendo no governo de Cunha
Meneses.
As Cartas Chilenas contam as
injustiças e violências que Cunha
Meneses “Fanfarrão” executou em
seu governo, de caráter faraônico,
esse caráter faraônico retrata uma
obra grandiosa em objetivos e
despesas que são executadas para
servir como marco de uma
administração política
engrandecendo quem as
empreendeu. Essas Cartas
circularam em Vila Rica pouco antes
da Inconfidência Mineira, em 1789.
Nelas podemos encontrar a sátira do
poeta quando este num tom mordaz
ou até mesmo agressivo, alude à
mediocridade administrativa, no
caso específico do governo de Minas
Gerais e fazendo um paralelo
podemos observar que enquanto no
Brasil esse episódio acontecia
próximo dos acontecimentos que
deslancharam a Inconfidência, a
Europa, mas especificamente a
França, vivia a Revolução Francesa.
Nesta obra encontramos: um
prólogo, uma dedicatória, treze
cartas e uma e epístola a Critilo.
O prólogo é uma conversa com o
leitor onde o autor explica do que se
trata a obra, neste caso, ele diz que
encontrou um cavalheiro instruído
nas letras e que trazia com ele uns
manuscritos onde eram relatadas
todas as desordens no governo de
Fanfarrão Minésio, general do Chile,
então ele traduz esse manuscrito e
confessa que mudou algumas coisas
para melhor entendimento.
A 4ª Carta faz referência a maldição de
Doroteu pelo vício do poeta e faz alusão
a fartura de alimentos tais como frutas,
massas, sopa, doces finos e vinho,
entretanto faz questão de deixa todas
essas delícias para escrever alguns
poemas, retorna a falar das cadeias, faz
comentários paradoxal pobre x rico,
comenta sobre o soldo que era pequeno e
agora empresta dinheiro, faz alusão aos
trastes, ricos, presos, fracos e fortes que
não são conhecedores de descanso e que
são atormentados pelos chefes, que
busca uma nação digna valorizada
pelos grandes-heróis. Mas uma vez
vem ressaltar a diferença entre ricos
e pobres, a insensatez de um
comandante que pode se tornar
néscio. 95 – Dos poderes que tem
prezado amigo, / Quem ama a sã
verdade busca meios / De a poder
descobrir e o nosso chefe / Despreza
os meios de poder achá-la. / 190 –
Tu podes… mas, amigo, não
gostamos / Todo o tempo em contar
sentidas coisas, / Façamos menos
triste a nossa história; /Misturemos
os casos, que magoam, / Com
sucessos, que sejam menos fortes.
1ª Carta: Em que se descreve a entrada
que fez Fanfarrão em Chile.
Ah! pobre Chile, que desgraça esperas!
Quanto melhor te fora se sentisses
As pragas, que no Egito se choraram,
Do que veres que sobe ao teu governo
Carrancudo casquilho, a quem rodeiam
Os néscios, os marotos e os peraltas!
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2ª Carta: Em que se mostra a piedade
que Fanfarrão fingiu no princípio do seu
governo para chamar a si todos os
negócios.
As rédeas manejou, do seu governo,
Fingir-nos intentou que tinha uma alma
Amante da virtude. Assim foi Nero.
Governou aos romanos pelas regras
Da formosa justiça, porém logo
Trocou o cetro de ouro em mão de
ferro.
3ª e 4ª Cartas: Em que se contam as
injustiças e violências que Fanfarrão
executou por causa de uma cadeia, a
que deu princípio.
Por uma civil morte se reputa.
Que peito, Doroteu, que duro peito
Não que deve ter um chefe, que
atormenta
A tantos inocentes por capricho?
Que se arrisque o vassalo na campanha,
É uma digna ação que a pátria exige,
Nem este grande risco nos estraga
O pundonor, que vale mais que a vida;
5ª Carta: Em que se contam as
desordens feitas nas festas que se
celebraram nos desposórios do nosso
sereníssimo infante, com a sereníssima
infanta de Portugal.
Os grandes desconcertos, que executam
Os homens que governam, só motivam,
Na pessoa composta, horror e tédio.
Quem pode, Doroteu, zombar, contente,
Do César dos romanos, que gastava
As horas, em caçar imundas moscas?
Apenas isto lemos, o discurso
Se aflige, na certeza de que um César,
De espíritos tão baixos, não podia
Obrar um fato bom, no seu governo.
6ª Carta: Em que se conta o resto dos
festejos.
Meu esperto boizinho, em paz te fica,
Que o nosso chefe ordena te recolham
Sem fazeres mais sorte, e te reserva
Para ao curro saíres, quando forem
Do Senhor do Bonfim as grandes festas.
Agora sai um touro, que é prudente.
Se o capinha o procura, logo foge.
7ª Carta: Sobre as decisões arbitrárias
de Fanfarrão.
Enquanto ao conhecer destes despejos,
Pespega à lei a boa inteligência,
Que extensiva se chama. Sim, entende
Que aonde o rei ordena que só haja
Recurso a ele mesmo, nos faculta
Recurso aos generais, pois que estes
fazem,
Em tudo, e mais que em tudo, as suas
vezes.
Ah! dize, meu amigo, se podia
Dar-lhe outra inteligência o mesmo
Acúrsio.
8ª Carta: Em que se trata da venda dos
despachos e contratos.
Cada triênio, pois, os nossos chefes
Levantam duas quintas ou beldades,
E, quando o lavrador da terra inculta
Despende o seu dinheiro, no princípio,
Fazendo levantar, de paus robustos,
As casas de vivenda e, junto delas,
Em volta de um terreiro, as vis senzalas,
Os nossos generais, pelo contrário,
Quando estas quintas fazem, logo
embolsam
Uma grande porção de louras barras.
9ª Carta: Em que se contam as
desordens que Fanfarrão obrou no
governo das tropas.
Os corpos que governam, em sossego,
Consiste em repartirem com mão reta
Os prêmios e os castigos, pois que
poucos
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Os delitos evitam, porque prezam
A cândida virtude. Os mais dos homens
Aos vícios fogem, porque as penas
temem.
Ora ouve, Doroteu, o como o chefe
Os castigos reparte aos seus guerreiros.
Não há, não há distúrbio nesta terra,
De que mão militar não seja autora.
10ª Carta: Em que se contam as
desordens maiores que Fanfarrão fez no
seu governo.
Eis aqui, Doroteu, o que nos nega
Uma heróica virtude. Um louco chefe
O poder exercita do monarca
E os súditos não devemnem fugir-lhe
Nem tirar-lhe da mão a injusta espada.
Mas, caro Doroteu, um chefe destes
Só vem para castigo de pecados.
Os deuses não carecem de mandarem
Flagelos esquisitos; quasi sempre
Nos punem com as coisas ordinárias.
O mundo inda não viu senão um corpo
Em branco sal mudado, e só no Egito
Fez novas penas de Moisés a vara.
11ª Carta: Em que se contam as
brejeirices de Fanfarrão.
Uma mui grande parte destes chefes
Assenta em procurar seu interesse
Por todos os caminhos, e acredita
Que o brio e pundonor, que nós
prezamos,
São umas vãs fantasmas, que só devem
Honrar de simples voz aqueles homens,
Que vêm de uma distinta e velha raca.
Para estes a nobreza está nos termos
Do sórdido monturo em que se deita
Quanta imundície têm as velhas casas.
12ª Carta: Imoralidade e atos
prepotentes de Fanfarrão em prol de
seus protegidos.
Não penses, Doroteu, que o nosso chefe
Comeu este dinheiro. Longe, longe
De nós este tão baixo pensamento.
Indo já no caminho, o seu Matúsio
Passou, sobre Marquésio, certa letra.
Para que se pagasse ao Santo Cristo.
Agora considera se este fato
Não mostra que ele zela a consciência
13ª Carta: Existe apenas um curto
fragmento.
A nação, ignorante, se convence
De que este seu profeta conhecia
Os segredos do céu, por este meio.
Não há, meu Doroteu, não há um chefe,
Bem que perverso seja, que não finja,
Pela religião, um justo zelo,
E, quando não o faça por virtude,
Sempre, ao menos, o mostra por
sistema.
Os movimentos “nativistas”, a
Inconfidência Mineira, seus
integrantes, em especial Tiradentes,
foram redescobertos pela República
para estabelecer uma conexão entre
a “velha ordem”- o período colonial –
e o “novo regime” – aquele que
iniciava formando uma nova
identidade nacional que visava opor-
se ao que lhe era exterior, neste
caso a tradição lusitana.
Assim, as revoltas, motins, as Cartas
Chilenas, as revoltas do final do
período setecentista, foram
ressaltadas pelos historiadores
republicanos tendo como propósito
cunhar uma nacionalidade própria
ao novo regime político. Contudo
temos que ressaltar que as revoltas
tidas como “nativistas” não foram
evidenciadas como preconizadoras
de um sentimento de brasilidade,
pois se buscava o patriotismo sem
construir uma oposição a Europa e
ao Estado que se consolidava.
(GUIMARÃES, 1988, p.5-7)
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Movimento eminentemente poético,
de repúdio às demasias perpetradas
pelo Barroco, arregimentou pela
primeira vez em nossa história
literária um grupo de escritores mais
ou menos coeso em seus desígnios
e com um relativo sentido
corporativo: Tomás Antônio
Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa,
Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto,
Basílio da Gama, Frei José de Santa
Rita Durão.
Assim, nesse período em que a
Europa vivia a Revolução Francesa,
o Brasil também se agitava com os
movimentos nativistas, como a
própria história conta as Minas
Gerais era uma verdadeira “mina”
para a Coroa Portuguesa e o povo
precisa ter vós, portanto, ninguém
melhor que os homens letrados para
despertar o sentimento nacional,
pois só a Literatura consegue
usando a sua matéria-prima dizer o
que muitos já podem ter dito, de um
jeito tão próprio que encanta aquele
que percebe a maneira tão peculiar
de usar a palavra.
Importante: Entretanto, não se nota
nas Cartas nenhuma rebeldia contra
os alicerces do sistema colonial, nem
mesmo uma revolta contra o
colonizador; apenas se critica a má
administração do governador Cunha
Menezes. Seu significado político,
todavia, permanece. Literariamente,
é a obra satírica mais importante do
século XVIII brasileiro e continua
sendo o índice de uma época.
O chamado dirigido a Doroteu
transforma-se em um discurso
enfático do autor para o leitor. Não é
apenas Doroteu quem deve
“acordar” para a realidade dos fatos
de sua cidade, mas todos os leitores
dessas cartas, vítimas de um
governo violento e arbitrário.
O recurso da ironia ganha ainda
mais força na oitava carta, ao
denunciar as arbitrariedades nas
cobranças, muitas vezes indevidas,
e o desrespeito não só às leis, como
à dignidade do ser humano.
Emotiva: o emissor transmite suas
opiniões e impressões sobre as
diversas condutas de Fanfarrão.
Conativa ou apelativa: centrada em
Doroteu, aparece nos inúmeros
vocativos presentes no texto e nos
vários imperativos com que o
emissor se dirige ao receptor para
persuadi-lo da verdade dos fatos que
narra.
Referencial: centrada em Fanfarrão
Minésio, pretende informar ao
receptor suas ações e condutas.
Poética: presente nas escolhas
feitas pelo poeta – uso do poema,
com métrica regular (decassílabo),
linguagem figurada e sem rimas.
Dentre as várias funções de um texto
literário, destaca-se em Cartas
chilenas a intenção de denunciar a
realidade, levar à reflexão e formar
identidades. Provocar catarse é o
que pretende também o escritor das
mesmas pois, através do riso e do
horror, pretende mudar o
comportamento das pessoas.
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Como poema representante do
Arcadismo, nota-se nele a presença
de citações clássicas (deuses,
poetas, governantes), o verso
decassílabo e o predomínio da
razão.
1) Upe-ssa 2016 Sobre a produção
do Arcadismo no Brasil, analise as
afirmativas a seguir e coloque V nas
verdadeiras e F nas falsas.
( ) Tomás Antônio Gonzaga é
considerado, ao lado de Cláudio
Manuel da Costa, ícone da
Literatura Árcade. Contudo, os dois
iniciaram suas produções poéticas
de modo diverso: o primeiro como
poeta árcade e o segundo ainda
dentro dos preceitos do Barroco.
( ) Tomás Antônio Gonzaga tem a
obra poética pertencente a duas
fases: a primeira é árcade, e a
segunda tem traços românticos.
Além disso, foi poeta satírico em As
Cartas Chilenas, e lírico, em Marília
de Dirceu.
( ) Como poeta árcade, o autor de
As Cartas Chilenas utiliza o
pseudônimo de Dirceu, que
nutre amor pela musa Marília.
Envolvido com o movimento dos
inconfidentes, é degredado para a
África, apenas regressando ao Brasil
no final da vida.
( ) O autor de Liras de Dirceu revela
sentimentalismo e emotividade em
seus poemas, apontando, assim,
para o pré-romantismo, que
antecede o Arcadismo.
( ) Tendo Tomás Antônio Gonzaga
sido preso como inconfidente,
continuou a escrever poemas mais
emotivos e pessimistas, passando a
falar de si mesmo e lastimando sua
condição de prisioneiro. A poesia
que produz nesse período é a que
mais contém características do
Romantismo.
2) Sobre a obra Cartas Chilenas é
correto afirmar:
a) Foi escrita por Cláudio Manoel da
Costa.
b) Há uma sátira contra a
administração de Luís da Cunha
Menezes, conhecido por Fanfarrão
Minésio.
c) É composta de 12 cartas, que
foram escritas por Tomás Antônio
Gonzaga, através do pseudônimo de
“Doroteu”.
d) Para maior disfarce, o autor de
Cartas Chilenas faz passar a ação
na cidade do Rio de Janeiro.
e) Critilo é o receptor das cartas, e
Doroteu o emissor. A obra aponta
temas que não estavam evidentes
no período da Inconfidência Mineira.
3) O que ocorre, verdadeiramente,
no prólogo de Cartas Chilenas?
4) Quais os pseudônimos usados
nas cartas?
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5) Trace um perfil de Luís da Cunha
Meneses, de seu despotismo e das
condições em que mantinha seus
prisioneiros.
6) FUVEST As chamadas Cartas
Chilenas são obra anônima porque:
a)os originais, assinados pelo autor,
perderam-se em um terremoto do
Chile.
b) a ditadura que dominou o Brasil,
entre 1937 e 1945, tornava perigosa
a divulgação do nome de seu autor.
c) seu conteúdo pornográfico, pouco
condizente com a moral da época,
desaconselhava a relação da
autoria.
d) contendo severascríticas ao
governador de uma Província, seria
imprudente a divulgação do nome de
seu autor.
e) nome do autor é substituído pelo
pseudônimo Fanfarrão Minésio, que
os críticos ainda não conseguiram
identificar.
7) A obra Cartas chilenas, de onde
retiramos o trecho a seguir,
apresenta duas personagens
principais: Critilo, o autor das cartas,
e Doroteu, destinatário delas,
pseudônimos do próprio autor,
Tomás Antônio Gonzaga, e de seu
amigo e também escritor, Cláudio
Manuel da Costa.As cartas relatam
os desmandos do fictício governador
chileno Fanfarrão Minésio,
pseudônimo de Luís da Cunha
Meneses, que governou Minas
Gerais de 1783 a 1788.
Leia o trecho a seguir com
atenção.[...]
Às vezes, Doroteu, se perde a conta
Dos cem açoites, que no meio
estava:
Mas outra nova conta se começa.
Os pobres miseráveis já nem gritam.
Cansados de gritar, apenas soltam
Alguns fracos suspiros, que
enternecem.
[...]
Pois és, prezado Amigo, muito fraco;
Aprende a ter o valor do nosso
Chefe,
Que à janela se pôs, e a tudo assiste.
Sem voltar o semblante para a
ilharga;
E pode ser. Amigo, que não tenha
Esforço para ver correr o sangue,
Que em defesa do Trono se
derrama.
O autor da carta dialoga com seu
destinatário, Doroteu, imaginando a
reação dele à cena descrita, que
sentido podemos atribuir à palavra
"fraco" no verso: "pois és, prezado
amigo, muito fraco?"
Questão 1
I. Verdadeiro. Tomás Antônio
Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa
são os grandes nomes do Arcadismo
brasileiro. A crítica literária indica
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que, no início das atividades como
poetas, o primeiro já inovava com o
estilo árcade, mas o segundo ainda
apresentava resquícios do conflito
Barroco.
II. Verdadeiro. A produção de Tomás
Antônio Gonzaga é bastante
marcada pela própria biografia do
poeta. Em Marília de Dirceu, sua
primeira parte é árcade; já a
segunda, marcada pela prisão do
autor, apresenta traços românticos,
como a subjetividade e a presença
da Morte. Cartas Chilenas, por sua
vez, é a obra satírica em que o
contexto da Inconfidência Mineira foi
exposto.
III. Falso. Dirceu é o pseudônimo
empregado na obra lírica Marília de
Dirceu, não em Cartas Chilenas;
nesta obra, optou por Critilo. Além
disso, o poeta faleceu no exílio.
IV. Falso. Tomás Antônio Gonzaga
realmente demonstra características
pré-românticas, porém apenas na
segunda parte de Marília de Dirceu.
V. Verdadeiro. Marília de Dirceu está
dividida em duas partes: a primeira
parte é árcade; já a segunda,
marcada pela prisão do inconfidente,
apresenta traços românticos, como a
subjetividade e a presença da Morte.
2) Alternativa B
a) Foi escrita por Cláudio Manoel da
Costa : FALSO! Foi escrita por
Tomás Antônio Gonzaga.
b) Há uma sátira contra a
administração de Luís da Cunha
Menezes, conhecido por Fanfarrão
Minésio. VERDADEIRO! A obra faz
uma crítica ao governo de Luís da
Cunha Menezes (governador de
Minas até a Inconfidência Mineira) e
utiliza o pseudônimo de Fanfarrão
Minésio quando trata sobre o
mesmo.
c) É composta de 12 cartas, que
foram escritas por Tomás Antônio
Gonzaga, através do pseudônimo de
“Doroteu”. FALSO! São 13 cartas e
o pseudônimo de Tomás Antônio
Gonzaga, na realidade, é "Critilo".
d) Para maior disfarce, o autor de
Cartas Chilenas faz passar a ação
na cidade do Rio de
Janeiro. FALSO! A história se passa
no Chile, para maior disfarce.
e) Critilo é o receptor das cartas, e
Doroteu o emissor. A obra aponta
temas que não estavam evidentes
no período da Inconfidência Mineira.
FALSO! Critilo é o emissor das
cartas e Doroteu, o emissor. E a obra
aponta temas que estavam SIM
evidentes no período da
Inconfidência Mineira.
3) É um dos artifícios empregados na
produção das Cartas Chilenas; não
houve nenhum mancebo como
portador delas, tampouco, seus
originais foram escritos em
castelhana. As cartas foram escritas
por Tomás Antônio Gonzaga, em
função de sua desavença com o
governador de Minas Gerais Luís da
Cunha Menezes.
4) Doroteu (Cláudio Manuel da
Costa) – vivia aparentemente na
Espanha, Critilo (Tomás Antônio
Gonzaga), Fanfarrão Minésio (Luís
da Cunha Meneses) Critilo diz ser o
general do Chile. Onde se lê Chile
deve ser província de Minas Gerais,
onde se lê Santiago deve ser Vila
Rica (atual Ouro Preto).
5) Luís da Cunha Meneses na é
condizente com as leis do reino, ele
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as extrapola com sua crueldade
doentia; é apresentado como um
sanguinário e torturador: “Estes
tristes, mal chegam, são julgados /
pelo benigno Chefe a cem açoites”.
6) Alternativa D
As chamadas "cartas chilenas" são
uma obra anônima por dois motivos:
o primeiro é que as cartas originais
assinadas pelo autor se perderam
durante um terremoto ocorrido no
Chile, logo não se sabe exatamente
quem as escreveu e, em segundo
lugar, como as cartas contém um
conteúdo crítico a um governador de
Província, seria imprudente que a
identidade do autor fosse revelada
por medo de represálias violentas.
Sendo assim, as cartas
permaneceram sob a condição de
anonimato, porém também se
mantiveram relevantes com suas
denúncias e críticas há um
determinado período histórico.
7) No trecho citado o autor fala de
uma lembrança de uma cena muito
forte, e a palavra "fraco" refere-se a
fraqueza emocional e/ou intelectual
de seu amigo.
Estrutura da obra e sobre o autor:
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A obra: companhiadasletras.com
Tempo, espaço e momento
histórico:
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Conteúdo das cartas:
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Discurso enfático e irônico:
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Figuras de linguagem e período
literário:
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Bemardo Guimarães
Bernardo Guimarães nasceu em 15
de agosto de 1825, em Ouro Preto,
Minas Gerais. Mas, com quatro anos
de idade, sua família se mudou para
Uberaba. Seu pai, João Joaquim da
Silva Guimarães, também era
escritor, filiado ao Arcadismo, e foi
uma forte influência para o autor.
As principais obras de Bernardo
Guimarães apresentam elementos
do romance regionalista do
Romantismo brasileiro. Esse tipo
de narrativa conta com um herói
destemido e uma heroína idealizada.
O amor é apresentado como sendo
um sentimento superior, capaz de
vencer todos os obstáculos.
O espaço da narrativa é o meio
rural, onde se encontram paisagens
e personagens típicos de alguma
região do país. Nessa perspectiva, a
obra valoriza os elementos regionais
para despertar o sentimento de
nacionalidade no(a) leitor(a). Assim,
com sentimentalismo e uma visão
teocêntrica da realidade, o narrador
mostra os costumes da sociedade
rural brasileira.
No interior de Minas Gerais,
Eugênio, filho de fazendeiros, passa
a infância ao lado de Margarida, filha
de uma simples agregada da
fazenda. Dessa convivência nasce o
amor. Para evitar que o caso de
amor progrida, os pais de Eugênio o
internam em um seminário,
obrigando-o a seguir a carreira
eclesiática. O tempo passa mas
Eugênio não esquece Margarida.
Com a ajuda dos padres, seus pais
inventam a notícia do casamento da
moça, o que desilude Eugênio e o
faz decidir-se pela vida de padre.
Certo dia,porém, ao voltar para a vila
natal, ele é chamado a socorrer uma
moça doente. Era Margarida. Ela lhe
conta toda a verdade: tinha sido
expulsa da fazenda, com a sua mãe,
já morta, passava necessidades e
não tinha casado com ninguém, pois
ainda o amava. A paixão renasce
com aquela visita e no dia seguinte
os dois entregam-se ao amor.
Atormentado pelo remorso, Eugênio
se prepara para rezar sua primeiramissa quando alguém o chama para
encomendar um cadáver que
acabou de chegar à igreja. Era o
corpo de Margarida. Eugênio não
resiste ao choque e na hora da missa
enlouquece.
Em O seminarista, Bernardo
Guimarães faz um típico romance de
tese, querendo provar o equívoco do
celibato religioso, que deforma o
homem, e do autoritarismo familiar,
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que não permite ao jovem seu
próprio caminho na vida.
O romance está mais para um relato
pastoral, uma história de amor
iniciada na infância, em meio a um
ambiente campestre onde os
indícios da “desgraça”, prenunciados
na aparição da serpente e somados
à imposição dos pais, à educação, à
formação no seminário, servem
como sinal de desgraça futura.
Apenas por conta de algumas
qualidades, como sua dedicação e
zelo pelas coisas da Igreja, Eugênio
passa a ser visto como “o escolhido”
para o serviço do altar. Assim, os
pais impõem ao rapaz o caminho
sacerdotal, pois viam no filho padre
um meio de subir na escala social; o
serviço do altar era uma carreira até
que brilhante ou pelo menos a
garantia de um ganha-pão para o
sustento da família. Eugênio deixa-
se levar pela vontade alheia até o
momento em que enfurecido por
descobrir a mentira do pai –
Margarida não se casou –e
desesperado com a morte de
Margarida, despoja-se das vestes
sacerdotais, do ofício de padre e
entrega-se à loucura.
O narrador desenvolve uma espécie
de esquematismo na narrativa que
vai, de alguma maneira, determinar
o comportamento de Eugênio. Esse
esquematismo instaura-se na
divisão dos espaços abertos e
fechados. Os fechados revelam um
sentimento sufocante e deprimente
em Eugênio, como a casa do pai, o
seminário... É nos abertos, porém,
em meio aos campos, às luzes da
tarde e na escuridão da noite que o
enredo revela seus melhores
momentos.
Nos momentos finais, entretanto,
esse esquematismo inverte-se: na
cena do quarto de Margarida – o
reencontro inesperado entre a
amada enferma e o já padre
Eugênio, cheio de boas lembranças
e afagos; na cena de encomendação
do corpo de uma mulher, que
Eugênio reconhece ser Margarida –
momento em que ele desiste do
sacerdócio e foge para o espaço
aberto, possesso de fúria e loucura.
Esse romance deve ser lido como
uma pastoral, um idílio aonde as
pequenas nuvens vão se
aglomerando de tal maneira que
provocam uma imensa tempestade,
que se transforma em escuridão o
que há pouco era um dia radiante.
O livro pertence a segunda geração
do romantismo, cujo nome deu-se
“mau-do-século”, pelo motivo que
neste encontra-se o desejo de
Margarida ao morrer ao saber que
Eugênio havia se ordenado a Padre.
O subjetivismo também é possível se
encontrar, ao ver os versos que
Eugênio fazia para Margarida;
Trecho comprovante: “Poucos meses
depois da morte de Umbelina, chegou
aos ouvidos de Margarida a notícia, de
que Eugênio havia tomado ordens. Dai
em
diante a desgraçada moça não contou
mais com a vida.”
*Subjetivismo: “Longe de teus lindos
olhos,
Ó Margarida,
Passo a noite, passo o dia
Em cruel melancolia;
Ai! triste vida!
Que importa estejas ausente
Ó bem querida;
O teu formoso semblante
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Estou vendo a cada instante,
Ó Margarida.
Enquanto o nosso gado vai pastando
A verde relva ao longo da ribeira,
Vamos, Menalca, repousar um pouco
A sombra da paineira.
Ali tu ressoando a doce avena
A Clore cantarás que é tua vida;
E eu te escutando chorarei saudades
Da minha Margarida.
Mas basta; a sombra desce dos outeiros,
E o sol se esconde atrás daquela ermida,
É tempo de ir buscar o manso gado
Da minha Margarida.”
“O Seminarista” pode se observar
que a tendência que mais prevalece
na obra é o Romance regionalista ou
rural. Essa tendência tem como
características: valorização da
cultura nacional, através da
apresentação dos costumes,
comportamentos e geografia de
determinadas regiões do Brasil.
Retrata também o cotidiano da vida
nas fazendas do interior do Brasil.
Trecho comprovante: em praticamente
toda a obra,porém o trecho que mais
deixa claro,falando sobre os costumes da
população do interior retratando seus
costumes e uma de suas comemorações
é o seguinte: “Mutirão! só esta palavra
nos faz ressoar aos ouvidos os alegres
rumores dos descantos e folguedos da
roça, o estrépito dos sapateados da
dança camponesa por entre a zoada dos
adufes e violas, e nos transporta ao meio
das rústicas e singelas cenas de prazer
da vida do sertanejo...”
A narrativa desenvolve-se em
terceira pessoa, com um narrador-
onisciente que algumas vezes
também se mostra apenas
observador, principalmente quando
comenta, em primeira pessoa, os
fatos com o leitor.
Na época, o livro fez uma crítica
social ao autoritarismo das famílias,
do celibato clerical e do
patriarcalismo no momento história
que se debatia a questão religiosa
EUGÊNIO: É o protagonista, o
seminarista, a que o título se refere.
“O rapaz era alvo, de cabelos
castanhos, de olhar meigo e plácido
e em sua fisionomia como em todo o
seu ser transluziam indícios de uma
índole pacata, doce e branda. Além
disso, mostrava grande pendor para
as coisas religiosas;
MARGARIDA: Afilhada dos pais de
Eugênio, “era morena, de olhos
grandes, negros e cheios de
vivacidade, de corpo esbelto e
flexível como o pendão da imbaúba”;
“por sua graça e gentileza, extrema
docilidade e precoce vivacidade, era
mui querida de todos;
CAPITÃO FRANCISCO ANTUNES:
Pai de Eugênio, “fazendeiro de
medianas posses. Trabalhador, bom
e extremoso pai de família, liso e
sincero em seus negócios, partidista
firme e cidadão sempre pronto para
os ônus públicos”. Revela-se um
homem capaz de mentir e enganar o
próprio filho, para defender o status
e os interesses familiares.
Sra. ANTUNES: Mulher boa e
carinhosa,era a mãe de Eugênio.
Muito religiosa, “tinha o espírito
propenso a acreditar em
superstições e agouros.”
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D. UMBELINA: Mãe de Margarida,
“era uma matrona gorda e corada, de
rosto sempre afável e prazenteiro [...]
e fora casada com um alferes de
cavalaria.”
PADRE-MESTRE: É o responsável
direto pela formação de Eugênio no
seminário. Alia-se ao pai do rapaz e,
além de pedir por ela, sustenta a
mentira que engana o jovem até o
capítulo XXII.
LUCIANO: rapaz apaixonado por
Margarida e rejeitado por ela.
Discute com Eugênio no mutirão.
“Um moço que teria a rigor os seus
vinte e cinco anos, de bonita e
agradável presença, tropeiro bem
principiado, que já tinha alguns lotes
de burros no caminho do Rio, e que
além de tudo se tinha em grande
conta de bonito, de rico e de bem
nascido, pelo que não deixava de ser
sumamente ridículo, quando não era
insolente.”
Terras do Sr. Antunes: Local aonde
Eugênio mora com seus pais, e lá
também encontrava-se as casas dos
agregados destes → “Junto à ponte,
de um lado e outro do caminho,
viam-se duas corpulentas paineiras,
cujos galhos, entrelaçando-se no ar,
formavam uma arcada de verdura, à
entrada do campo onde pastava o
gado.”
Seminário: Encontrava-se em
Congonhas do Campo → “um
grande edifício de sobrado, cuja
frente se atravessa a pouca distância
por detrás da igreja, tendo nos
fundos mais um extenso lance, um
pátio e uma vasta quinta. Das
janelas do edifício se descortina o
arraial, e a vista se derrama por um
não muito largo, porém formoso
horizonte.
Colinas bastantemente acidentadas,
cobertas de sempre verdes
pastagens e marchetadas aqui e
acolá de alguns capões verdes
escuros formam o aspecto geral do
país. Por entre elas estendem-se
profundos vales, e deslizam
torrentes de águas puras e frescas à
sombra de moitas de verdura e
bosquetes matizados de uma
infinidadede lindas flores silvestres.”
Quarto de Margarida: Neste local
ocorre o desfecho da história → “No
quarto da enferma, apesar da sua
pobre simplicidade, reinava uma
ordem e asseio, que contrastava
com o aspecto miserável do resto da
casa. O leito bem composto era
guarnecido de um transparente
cortinado cor-de-rosa, e em frente
dele sobre uma pequena mesa de
jacarandá de pés torneados, via-se
um lindo oratório dourado, diante do
qual ardia uma vela de cera entre
duas jarras cheias de viçosas e
fragrantes flores. Parecia mais uma
gruta mística e perfumada, um
voluptuoso ninho de amor, do que o
quarto de uma moribunda.”
Climax: O conflito final, entre
Eugênio e Margarida, apresenta o
clímax da narrativa, que termina com
a morte dela e a loucura dele.
Em 1871 (século XIX), o bispo do Rio
de Janeiro suspendeu o padre
Almeida Martins das ordens
eclesiásticas por este ser maçon,
fazendo-o abandonar a maçonaria.
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Este fato provocou uma reação dos
jornais contra os bispos, numa
campanha de difamação e crítica
que ficou conhecida como a Questão
Religiosa. Como na época tudo que
se referisse a igreja provocasse
interesse e polêmica, e bem
provável, dizem que os
pesquisadores, que Bernardo
aproveitou-se do momento para
lançar, em 1872, seu romance.
Apesar de Bernardo ser classificado
pelo conjunto de sua obra, como
escritor romântico, com o
Seminarista, não obedece a linha
ideológica do romance romântico.
Em O seminarista, Bernardo
Guimarães faz uma crítica ao
celibato religioso de uma sociedade
apegada aos dogmas cristãos e ao
comportamento familiar típico de
uma sociedade patriarcal. O autor
censura tanto o autoritarismo e a
hipocrisia dos pais, quanto dos
padres. Há também uma forte crítica
à educação típica dos seminários,
que mais embrutecia os jovens do
que formava homens sociais.
Bernardo Guimarães enriquece sua
obra com a menção de crendices e
comportamentos populares e de
cunho folclórico, como a arte de
enfeitiçar cobras, a mula sem cabeça
e os mutirões.
1) Leia o fragmento extraído do
romance O seminarista, de Bernardo
Guimarães.
“Ah, celibato!... Terrível celibato!...
Ninguém espera afrontar impunemente
as leis da natureza! Tarde ou cedo, elas
têm seu complemento indeclinável, e
vingam-se cruelmente dos que
pretendem subtrair-se ao seu império
fatal!...”.
(O seminarista, Bernardo Guimarães.)
O fragmento acima e o livro como um
todo expressam a seguinte
conclusão, EXCETO
A) Na tentativa de denunciar o
celibato religioso, o autor compõe
um drama de amor romântico não
correspondido.
B) O romance, considerado de tese,
representa a vitória dos impulsos
humanos sobre as leis sociais.
C) O autoritarismo paterno e a
hipocrisia dos dogmas religiosos são
objetos de crítica do romance.
D) A diferença de classes entre os
amantes aparece também como
argumento das críticas que constam
do enredo do livro.
2) IFSUL DE MINAS 2013 Assinale
a afirmativa CORRETA sobre o livro
O Seminarista, de Bernardo
Guimarães.
a) Há, no romance, características
predominantes do Realismo, estilo
que predominou na segunda metade
do século XIX.
b) O espaço do livro é o interior de
Minas Gerais, especialmente a
cidade de Congonhas, onde Eugênio
cursa o seminário.
c) O foco narrativo do romance está
em primeira pessoa. Quem conta a
história é Eugênio, em forma de
flashback, quando, já adulto,
relembra sua desventura amorosa.
d) Quase não há diálogos no livro, o
autor, assim como seus
contemporâneos folhetinescos,
privilegia do discurso indireto.
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Leia e responda as questões 3, 4
e 5
[1] Dançava-se a quatragem no
mutirão da tia Umbelina.
Margarida estava sentada junto de
Eugênio, de cujo lado não se
arredara desde que este havia
chegado.
Ia-se formar nova roda de
dançadores; Luciano, que tinha a
viola em punho, dirigiu-se a
Margarida, e convidou-a para a
dança. Ela recusou-se protestando
já ter dançado muito e achar-se
fatigada.
[5] – Então venha esse mocinho,
que aí está com a senhora — disse
Luciano.
Com este convite o rapaz
procurava mesmo ocasião de travar-
se de razões com o estudante, a fim
de desabafar o ciúme e o despeito
que por dentro o corroíam.
– Eu não sei dançar — respondeu
Eugênio com timidez.
– Deveras!... não me diga isso,
moço; isso é desculpa; falta-nos uma
pessoa; venha... não se faça de
[10] rogado.
– É deveras; não sei dançar, nunca
dancei em dias de minha vida.
– Então para que vem a estas
funções?...
– Ora essa é boa!... para ver...
– Como quem vem aqui ver... mas
ah! já o estou conhecendo; o senhor
não é aquele coroinha, que
[15] ultimamente tem ajudado à
missa ao vigário lá na vila?
– É ele mesmo — acudiu
Margarida, que já se impacientava
com as grosserias —, é o filho do Sr.
capitão Antunes.
– Do capitão Antunes?... ah!... e o
que vem ele aqui fazer?... decerto
aqui veio fugido de casa, e há de
ser
benfeito que o pai lhe passe uma
dúzia de bolos, quando souber que
já anda metido em súcias...
(GUIMARÃES, Bernardo. O seminarista. São Paulo:
Martin Claret, 2013. p. 70-1).
3) UVA 2016 Antunes era o pai de:
a) Umbelina.
b) Luciano.
c) Eugênio.
d) Margarida.
4) UVA 2016 Bernardo Guimarães é
um autor:
a) barroco.
b) romântico.
c) realista.
d) naturalista.
4) UVA 2016 Não é característica
dessa Escola:
a) zoomorfização do homem.
b) historicismo.
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c) nacionalismo.
d) exaltação da natureza pátria
1) Alternativa B
A (correta) A denúncia do celibato é
um dos principais temas do
romance; o amor não correspondido
se refere à união de Eugênio e
Margarida que não se realizou por
imposições paternas; o que
acarretou o fim trágico da história.
B (incorreto) O romance de Alencar,
de fato, ensaia um romance de tese;
entretanto não há a vitória dos
impulsos humanos, mas sim a vitória
das leis sociais, já que a vontade dos
pais se sobrepôs ao desejo do filho.
C (correta) A obra pode ser
sintetizada com esses dois temas:
autoritarismo paterno, que obriga
filho a se tornar padre, e a crítica aos
dogmas religiosos, mais
especificamente o celibato, que priva
o homem de seu instinto humano de
concretização de sua sexualidade.
D (correta) Uma das razões
apresentadas pelos pais do
protagonista para a não aceitação de
um possível matrimônio é
justamente a condição social inferior
de dona Umbelina e de sua filha,
mulheres que viviam como
agregadas na fazenda.
2) Alternativa B
A) incorreta, pois na verdade a obra
apresenta características do
Romantismo brasileiro.
B) correta, pois o narrador apresenta
já no início da narrativa os
personagens protagonistas e o
espaço da história.
C) incorreta, uma vez que a história
é narrada por um narrador
observador, atuando assim em 3°
pessoa.
D) incorreta, pois o que mais deixa a
história mais dinâmica e atraente é a
presença constante de diálogo entre
os personagens.
3) Alternativa C
Em "O Seminarista" temos uma
relação fortíssima de amizade que
vinha da infância, e que unia
Eugênio, filho do fazendeiro
Francisco Antunes, a Margarida,
filha da viúva Umbelina. Filha e mãe
eram agregadas na fazenda de
Antunes.
4) Alternativa B
Foi considerado o criador do
romance sertanejo e regional,
ambientado em Minas Gerais e
Goiás.
5) Alternativa A
Todas as outras alternativas se
referem ao romantismo, mas
zoomorfização do homem está
contido no Naturalismo.
O autor: mundoeducacao.uol.com
Sobreo livro: algosobre.com.br/
Enredo: infoescola.com.br
Personagens, contexto histórico
e período literário:
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Foco narrativo: passeidireto.com
Crítica existente:
letras.biblioteca.ufrj.br
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Fernando Pessoa
Fernando Pessoa é um dos mais
importantes escritores portugueses
do modernismo e poetas de língua
portuguesa. Destacou-se na poesia,
com a criação de seus heterônimos
sendo considerado uma figura
multifacetada. Trabalhou como
crítico literário, crítico político, editor,
jornalista, publicitário, empresário e
astrólogo. Fernando faleceu em sua
cidade natal, dia 30 de Novembro de
1935, vítima de cirrose hepática,
com 47 anos.
Fernando Pessoa pode ser
classificado como modernista, já que
foi um dos autores que introduziu o
movimento em Portugal. Junto com
escritores como Mário de Sá
Carneiro, Luís de Montalvor e
Ronald de Carvalho, Pessoa
publicou a revista “Orpheu” em 1915,
dando início ao modernismo no país.
Apresentava reflexões sobre
identidade, noções de verdade e
existencialismo. Mas é importante
perceber que como o escritor criou
diferentes heterônimos, é possível
encontrar na obra de Fernando
Pessoa diferentes estilos. O autor
escreveu poemas em inglês, poesias
líricas e poesias históricas com
caráter nacionalista.
Fernando Pessoa, que inventou
vários personagens-poetas,
talentosos e dotados de
individualidade. Esses personagens
ficaram conhecidos como
heterônimos, palavra de origem
grega que indica “outros nome”.
Conceitualmente, há uma diferença
entre essa situação e a do uso do
pseudônimo. Esse último é um nome
diferente que autores podem se
atribuir para ocultar a própria
identidade. Os heterônimos indicam
diversas personalidades que
convivem no corpo de uma única
pessoa. Quando Alberto Caeiro, por
exemplo, escreve seus poemas, é a
subjetividade desse autor, criada
pelo indivíduo Fernando Pessoa,
que aflora.
Pessoa utilizou-se de vários
heterônimos, como Alberto Caeiro,
Ricardo Reis, Álvaro de Campos,
Bernardo Soares, Alexander Search
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(que só escrevia em inglês) e outros,
com uma tendência distinta.
Estudiosos afirmam que essa atitude
refletia a descrença de Pessoa em
uma personalidade integrada. Ele
criou biografias diferentes para todos
os seus heterônimos, cada uma com
seu estilo de compor, suas
influências e, em certos casos, até
mesmo sua filosofia de vida. Três
dos heterônimos de Pessoa se
destacaram pela maestria do estilo e
pela singularidade de composição
na união desses elementos
inventados por ele: Álvaro de
Campos, Ricardo Reis e Alberto
Caeiro.
Observação: são MUITOS poemas, então
neste material, demos prioridade as
características dos heterônimos, cada
‘’personagem’’ de Fernando escreve de
forma diferente. A probabilidade de acertar
a questão lembrando das características é
maior que tentar adivinhar o poema que vai
estar na prova!
O guardador de rebanhos, do
heterônimo Alberto Caeiro
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Escrito por volta de 1914, mas
publicado pela primeira vez em
1925, o extenso poema O guardador
de rebanhos - representado abaixo
por um breve trecho - foi o
responsável pelo surgimento do
heterônimo Alberto Caeiro.
Nos versos o eu-lírico se apresenta
como uma pessoa humilde, do
campo, que gosta de contemplar a
paisagem, os fenômenos da
natureza, os animais e o espaço ao
redor.
Outra marca importante da escrita é
a superioridade do sentimento
sobre a razão. Vemos também uma
exaltação ao sol, ao vento, à terra,
de um modo geral dos elementos
essenciais da vida campestre.
Em O guardador de rebanhos é
importante sublinhar a questão do
divino: se para muitos Deus é um ser
superior, no decorrer dos versos
vemos como a criatura que nos rege
parece ser, para Caeiro, a natureza.
O Fingimento Artístico (Fernando
Pessoa, Cancioneiro)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escrevem
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
.
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Na perspectiva pessoana, o artista, e
especialmente o poeta, é um
fingidor, no sentido em que o acto de
escrever não é um acto directo e
imediato. A dor, as emoções que são
descritas no poema não foram as
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sentidas pelo poeta no momento em
questão, foram concepções
intelectuais feitas através da análise
da situação vivida. Ou seja, a poesia
resulta da memória, da recordação e
da sua reprodução racional,
coerente e inteligente. Por isso, F.
Pessoa afirma que o poeta finge
todos os sentimentos que transpõe
para o papel porque, no momento
em que escreve, ele já não está a
sentir o que sentiu no instante a que
se refere na poesia.
Podemos, então distinguir 3 dores: a
dor sentida pelo poeta no momento
em que acontece algo, a dor fingida
pelo poeta quando se recorda do
momento em que sofreu a dor
sentida e a reproduz como texto, e a
dor lida pelo leitor quando analisa o
poema e interioriza as palavras do
poeta.
É importante frisar que «fingimento»
utiliza-se num sentido de
representar, é uma tentativa de
transfigurar o que se sente naquilo
que se escreve, utilizando
paralelamente a imaginação e a
intelectualidade. Fingir é inventar,
criando conceitos que exprimam as
emoções o melhor possível.
Ao poeta cabe-lhe «sentir com a
imaginação», ou seja, transformar a
vivência real numa obra de arte,
usufruindo da imaginação e o
pensamento. As emoções são
despersonalizadas e a sinceridade
espontânea dá lugar à sinceridade
intelectual.
A Dor de Pensar (Fernando
Pessoa, 1931)
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa vive em constante
conflito interior. Tendo consciência
de que é um homem racional de
mais, ele deseja arduamente pensar
menos, ser mais inconsciente,
aproveitar a vida sem questionar.
Mas, como na realidade tem uma
necessidade permanente de se
questionar, de pensar, de
intelectualizar toda e qualquer
situação, ele sente-se frustrado.
Podemos, então, falar de uma
dualidade insconsciência e
consciência e sentir/pensar. A
pessoa inveja o gato porque o gato é
feliz na sua ingenuidade,
respondendo simplesmente a
instintos. Pessoa inveja uma ceifeira
simples porque ela canta só porque
lhe apetece, alegremente.
Ele nunca conseguirá ter estas
reacções de abstracção para com o
pensamento porque insatistafação e
a dúvida acerca da importância da
racionalidade são constantes. O que
ele deseja é ser inconsciente, tendo
consciência disso. Como isso é
muito inconcebível, cada vez a dor
de pensar é maior.
2. Lisbon revisited, do heterônimo
Álvaro de Campos
Não: não quero nada
Já disse que não quero nada.
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Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daquia metafísica!
Não me apregoem sistemas completos,
não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu,
das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização
moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só
dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito
a sê-lo.
Ricardo Reis ‘‘O epicurista triste’’
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada
importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os
humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.
Tabacaria, do heterônimo Álvaro
de Campos
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os
sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do
mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que
saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada
constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os
pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa,
desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das
pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas
paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de
tudo pela estrada de nada.
Um dos poemas mais conhecidos do
heterônimo Álvaro de Campos é
Tabacaria, um extenso conjunto de
versos que narram a relação do eu-
lírico consigo próprio diante de um
mundo acelerado e a relação que
mantém com a cidade durante o seu
tempo histórico.
As linhas abaixo são apenas a parte
inicial desse longo e belo trabalho
poético escrito em 1928. Com um
olhar pessimista, vemos o eu-lírico
discorrer sobre a questão da
desilusão a partir de uma
perspectiva niilista.
O sujeito, solitário, se sente vazio,
apesar de assumir que tem sonhos.
Ao longo dos versos observamos um
gap entre a situação atual e a que o
sujeito poético desejaria estar, entre
aquilo que se é e aquilo que gostaria
de ser. É a partir dessas
divergências que se constrói o
poema: na constatação do lugar
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atual e no lamento da distância para
o ideal.
Álvaro de Campos
Apesar de português, o escritor foi
educado em inglês, o que o faz
sempre se sentir um estrangeiro. O
poeta teve fases diferentes em sua
literatura, no começo tinha
proximidade com o simbolismo,
depois com o futurismo e então a
visão niilista ficou presente nas suas
obras.
Na primeira fase, é o tédio e a busca
por experiências diferentes que
marcam a poesia. A segunda é
marcada pela otimismo da
civilização. E a terceira é mais
introspectiva e apresenta uma
poesia pessimista. Campos
apostava em uma linguagem ousada
para a época, mais livre.
Ao contrário da racionalidade de
Ricardo Reis, Campos coloca
emoção em seus escritos. É
considerado o alter ego de Pessoa.
Ricardo Reis
O médico que acredita na monarquia
tinha uma escrita mais tradicional, a
linguagem utilizada pelo heterônimo
é culta e apresenta um lado clássico.
Ricardo foi viver no Brasil quando a
república foi proclamada em
Portugal. Os textos de Reis foram
publicados na revista “Athena” e na
“Presença”.
O autor acredita na busca pela
tranquilidade através do epicurismo,
uma doutrina que acredita em evitar
a dor, aproveitar a vida e não ter
medo de morrer. E também do
estoicismo, que acredita na
importância da razão estar acima da
paixão e na aceitação dos limites.
Como Pessoa não determinou sua
morte, José Saramago, outro
importante autor português,
escreveu o livro “O Ano da Morte de
Ricardo Reis”
Alberto Caeiro
É um dos heterônimos mais
importantes, apesar de ser um
camponês sem estudo. É
classificado, por Fernando Pessoa e
os outros heterônimos, como um
mestre. Caeiro tinha um estilo direto
e simples, mas a compreensão é
complexa, já que o poeta faz
reflexões profundas em seus
escritos.
Alberto só escrevia poesia, não
achava possível retratar a realidade
através da prosa. Contra o
pensamento filosófico, o escritor
acredita que sentir é mais importante
que pensar. Uma das obras mais
conhecidas é “O Guardador de
Rebanhos”.
Bernardo Soares
Um semi-heterônimo parecido com
Álvaro de Campos, muito próximo
de Fernando Pessoa. Segundo o
escritor, Bernardo Soares tem uma
parte de sua personalidade.
1) FEI - SP
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
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E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
A palavra título indica que:
a) o texto apresentará a visão do eu
lírico sobre os outros com quem
convive.
b) o poema tecerá considerações
sobre a subjetividade do próprio eu
lírico.
c) o texto discutirá a formação do
leitor.
d) o poema dialogará com os leitores
em potencial.
e) o poema tecerá considerações
sobre o amor.
2) Indique a alternativa que preenche
corretamente as afirmações abaixo.
Ao se destacar como um poeta
múltiplo, Fernando Pessoa
apresenta ____ com diferentes____
entre os quais Ricardo Reis e Álvaro
de Campos, com obras de
tendência, respectivamente, ____ e
____.
a) pseudônimos – imagens –
clássica – simbolista
b) heterônimos – linguagens –
neoclássica – modernista
c) pseudônimos – estilos – simbolista
– modernista
d) heterônimos – temáticas –
romântica – futurista
e) heterônimos – visões de mundo –
surrealista – vanguardista
3) Enem 2004
A tirinha acima estabelece uma
interessante relação dialógica com o
poema de Fernando Pessoa, Eu sou
do tamanho do que vejo
Da minha aldeia vejo quanto da terra
se pode ver no Universo...
Por isso minha aldeia é grande como
outra qualquer
Porque sou do tamanho do que vejo
E não do tmanho da minha altura...
(Alberto Caeiro)
A tira Hagar e o poema de Alberto
Caeiro (um dos heterônimos de
Fernando Pessoa) expressam, com
linguagens diferentes, uma mesma
ideia: a de que a compreensão que
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temos do mundo é condicionada,
essencialmente,
a) pelo alcance de cada cultura.
b)pela capacidade visual do
observador.
c) pelo senso de humor de cada um.
d) pela idade do observador.
e)pela altura do ponto de
observação.
4) URCA 2019 Texto (fragmento)
pra a questão
Quem me dera que eu fosse os
choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água
por baixo...
Quem me dera que eu fosse o
burro do moleiro
E que ele me batesse e me
estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa
a vida
Olhando para trás de si e tendo
pena...
O fragmento acima é parte da Obra
do heterônimo de Fernando Pessoa,
Alberto Caeiro.
São características de Caeiro e que
estão presentes no texto, exceto:
a) Ligação com a Natureza e desejo
de integrar-se a ela;
b) Valorização das sensações em
detrimento a grandes reflexões;
c) Subjetividade visual filosófica
profunda pautada na clareza e
confiança;
d) Simplicidade do tão somente
existir;
e) Preferência pelo verso livre e pela
linguagem simples.
5) UNESP 2018 Ricardo Reis é,
assim, o heterônimo clássico, ou
melhor, neoclássico: sua visão da
realidade deriva da Antiguidade
greco-latina. Seus modelos de vida e
de poesia, buscou-os na Grécia e em
Roma.
(Massaud Moisés. “Introdução”.In:
Fernando Pessoa. O guardador de
rebanhos e outros poemas, 1997.)
Levando-se em consideração esse
comentário, pertencem a Ricardo
Reis, heterônimo de Fernando
Pessoa (1888-1935), os versos:
a) Nada perdeu a poesia. E agora há a
mais as máquinas
Com a sua poesia também, e todo o
novo gênero de vida
Comercial, mundana, intelectual,
sentimental,
Que a era das máquinas veio trazer para
as almas.
b) Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto
c) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira
do rio.
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Sossegadamente fitemos o seu curso e
aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de
mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
d) À dolorosa luz das grandes lâmpadas
elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a
beleza disto,
Para a beleza disto totalmente
desconhecida dos antigos.
e) O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
1) Alternativa “b”.
Autopsicografia significa dizer: auto,
do grego autós, -ê, -ó, eu mesmo, ele
mesmo. Exprime a noção de próprio,
de si próprio, por si próprio.
Psicografia. s. f.1. História ou
descrição da alma. Podemos dizer
que autopsicografia diz respeito a
uma pessoa, no caso, o poeta
Fernando Pessoa, que faz a
descrição da sua própria alma, do
fazer literário do poeta.
2) Alternativa B
Fernando Pessoa produziu por meio
de vários heterônimos, uma vez que
era uma pessoa de múltiplos
desdobramentos do “eu”. A principal
diferença entre os seus heterônimos
é a linguagem utilizada por cada um,
marca que dialoga,
consequentemente, com a
personalidade e história de cada
heterônimo. Ricardo Reis e Álvaro
de Campos, por exemplo, têm
influências distintas em suas obras.
As características neoclássicas
ficam por conta de Ricardo e as
características da modernidade são
marcas de Álvaro.
3) Alternativa A
Na tirinha, Hagar satiriza a crença
do filho de que o mundo é redondo,
já que, para Hagar, a realidade
imediata (representada pela imagem
do segundo quadrinho) sugeriria
justamente o contrário. No
fragmento de Caeiro, o eu lírico
defende que ele é do tamanho do
que vê, o que é uma maneira de
mostrar que a interpretação da
realidade depende dos valores de
cada um. Os textos expressam a
ideia de que a compreensão do
mundo é condicionada,
essencialmente, pelo alcance de
cada cultura.
4) Alternativa C
Alberto Caeiro leva uma vida
pautada no ''sensacionismo'': busca
viver baseado apenas nos sentidos,
evitando ao máximo utilizar a razão.
A subjetividade visual filosófica, com
clareza e confiança, exigiria uma
razão bem construída do eu-lírico,
uma vez que a filosofia se pauta na
interpretação crítica do mundo.
5) Alternativa C
Esses versos têm intertextualidade
com a tradição clássica, como indica
a atitude estoica, imperturbável do
eu lírico, a consciência da
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efemeridade da vida e a
necessidade de gozá-la, que
caracterizam a tópica do carpe diem.
Além do mais, É bom lembrar que
Lídia era a musa de Ricardo Reis.
Logo, qualquer trecho que cite esse
nome é, com certeza, pertencente a
esse heterônimo.
Poemas:
culturagenial.com
notapositiva.com
Heterônimos:
guiadoestudante.com
Período literário, estilo e
características dos heterônimos:
educacao.globo.com
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Paulina Chiziane
Paulina Chiziane é um escritora
moçambicana, nascida em 4 de
junho de 1955, na vila de Manjacaze,
no sul de Moçambique. Durante a
sua juventude, participou ativamente
da militância como membro da
Frente de Libertação de
Moçambique. Durante a Guerra Civil
que assolou o país, Paulina atuou
como enfermeira na organização
Cruz Vermelha. A escrita foi a saída
que encontrou para lutar, para
ressignificar suas experiências
enquanto mulher negra em um país
dividido, marcado pela violência da
colonização europeia.
A literatura de Paulina Chiziane é
não apenas um manifesto, mas
também um marco. Ela foi a primeira
mulher a publicar um romance em
Moçambique, em 1990, “Balado de
amor ao vento”. Graças à força de
sua escrita, Paulina Chiziane foi
nomeada, em 2005, como uma das
vozes do movimento One Thousand
Peace Women – movimento que foi
indicado, no mesmo ano, ao Prêmio
Nobel da Paz.
Niketche — uma história de
poligamia é a obra mais conhecida
da escritora Paulina Chiziane e conta
a história da narradora-personagem
Rami, que se une às quatro amantes
de seu marido, Tony, para formarem
uma grande família. Desse modo,
elas aceitam dividir o amor do
mesmo homem. O livro é marcado
pelo fluxo de consciência da
personagem Rami, que analisa seu
lugar de mulher na sociedade
moçambicana do período pós-guerra
civil. Assim, Paulina Chiziane ocupa
seu espaço na história da literatura
de Moçambique e se torna uma das
principais autoras africanas.
Em suas obras, incluída Niketche —
uma história de poligamia, sobressai
a voz feminina, que faz uma reflexão
sobre a condição da mulher negra na
sociedade moçambicana. Dessa
forma, a narradora realiza uma
crítica de costumes.
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Dividido em 43 capítulos, o romance
está centrado no fluxo de
consciência da narradora-
personagem, que analisa, com uma
linguagem lírica, sua condição e a de
outras mulheres vinculadas à
tradição de uma sociedade
patriarcal. Assim, mostra uma
realidade feminina marcada pela
submissão e enriquecida pela
pluralidade cultural.
Rami: (Rosa Maria): narradora, 40
anos, 5 filhos, mulher do sul, esposa
dedicada e fiel que perceberá que
vive com um marido poligâmico, que
tem mais 4 mulheres.
Tony: (António Tomás):
machangana, 17 filhos, 50 anos, Dr.
Comandante da polícia, poderoso
esposo de Rami, ausente e
polígamo.
Ju: (Julieta): “segunda dama”, 6
filhos, mulher do sul.
Lu: (Luísa): “terceira dama”, 2 filhos,
mulher do norte.
Saly: “quarta dama”, maconde, 2
filhos, mulher do norte.
Mauá Sualé: “quinta dama”, 2 filhos,
nortenha macua, por volta dos 19
anos.
Eva: mulata, estéril, rica, amante de
Tony.
Gaby: amante de Paris. Aparece em
uma viagem de duas semanas que
Tony faz para “consultar um médico”
na França.
Levy: irmão de Tony que irá efetuar
o levirato.
Saluá: beldade nhanja rejeitada por
Tony ao final da narrativa.
Após assinarem o Acordo Geral de
Paz, em 1992, a Resistência
Nacional Moçambicana (Renamo)
continuou sendo uma força política
de oposição ao governo da Frente de
Libertação de Moçambique
(Frelimo). Apesar do cessar-fogo, os
conflitos entre os integrantes desses
dois partidos continuaram, de forma
a ameaçar a paz.
Portanto, é nesse contexto de
instabilidade política e social que a
narrativa Niketche — uma história de
poligamia se desenvolve. Como
outras obras do período pós-
independência, busca valorizar a
diversidade cultural, de forma a
mostrar que ela deve ser usada não
para separar, mas para fomentar a
união do país.
O tempo da narrativa não é
especificado. No entanto, fica claro
que a ação ocorre em um momento
posterior à guerra civil
moçambicana, isto é, após o ano de
1992. Sobre o espaço, as mulheres
de Tony se originam de localidades
moçambicanas como Matutuíne,
Zambézia, Nampula e Cabo
Delgado, mas a ação principal se
passa no sul de Moçambique, na
cidade de Maputo.
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Niketche conta a história de Tony,
um alto funcionário da polícia, e sua
mulher, Rami, casados há vinte
anos. Certo dia, Rami descobre que
o marido é polígamo: tem outras
quatro mulheres e vários filhos com
cada uma. As esposas de Tony
estão espalhadas pelo país: em
Maputo, em Inhambane, na
Zambézia, em Nampula, em Cabo
Delgado. Numa decisão
surpreendente, Rami decide ir atrás
de cada uma dessas mulheres.
Antes de prosseguirmos, é
fundamental fazermos uma inversão
importante: Niketche não conta a
história de Tony, mas sim a de Rami.
É a sua voz e as suas palavras que
constroem a narrativa, apresentam-
nos todas situações e as
personagens e é através de sua
mediação que conhecemos o marido
infiel e as outras mulheres: Julieta,
Lu, Saly e Mauá.
O livro se abre com uma situação
problemática: o filho de Rami é
acusado, injustamente, de danificar
o vidro de um carro. Ao tentar
resolver a situação com o
proprietário do veículo e também
com a criança, a personagem se vê
confrontada, conscientemente, com
a ausência constante do marido.
Ao precisar justificar publicamente a
ausência de Tony, Rami percebe
também a situação dolorosa de suas
vizinhas. O primeiro movimento da
personagem é, no entanto, de
buscar a culpa. Quem eram os
responsáveis dessas “fugas” e
dessas ausências? Apesar de
cogitar culpar o marido pelo seu
sofrimento, Rami volta-se para si
mesma, examina-se ao espelho,
culpa-se.
“Vou ao espelho tentar descobrir o
que há de errado em mim. Vejo
olheiras negras no meu rosto, meu
Deus, grandes olheiras! Tenho
andado a chorar muito por estes
dias, choro até demais! Olho bem
para a minha imagem. Com esta
máscara de tristeza, pareço um
fantasma, essa aí não sou eu.”
Porém, apesar da tristeza e do
cansaço, a personagem consegue,
de alguma forma, entrever um
vislumbre da sua força e de sua
beleza. Pacifica-se, por ora. Mais
tarde na narrativa, a personagem
explica, em um diálogo com outra
mulher, que, desde sua infância, ela
nunca havia sido ensinada a ter
amor-próprio, a amar-se e respeitar-
se. Pelo contrário, foi-lhe ensinado a
subserviência, a obediência, a
naturalização das hierarquias que
colocam as mulheres à margem de
tudo, em um segundo plano onde
são permanentemente coadjuvantes
de suas próprias vidas.
De forma gradual, o exercício de
olhar-se ao espelho, de dialogar
consigo própria, de apropriar-se de
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sua própria voz e de sua própria
história vão restituindo a confiança
de Rami. Entretanto, a busca por
culpados prossegue ainda, por um
tempo, e a personagem vai
confrontar suas rivais, cada uma das
mulheres com quem Tony mantém
uma vida paralela. Essas outras
mulheres, a princípio, são vistas
como inimigas, como rivais que
devem ser destruídas.
“Penso muito nessa tal Julieta ou
Juliana. Mulher bonita, ouvi dizer.
Tem com o meu Tony muitos filhos,
não sei quantos. É um segundo lar,
sólido e fixo. Na minha mente correm
ideias macabras. De repente,
apetece-me ferver um pote de óleo e
derramar na cara dessa Julieta ou
Juliana, para eliminá-la do meu
caminho. Apetece-me andar à
pancadaria com uma peixeira. Rezo.
Rezo com todo o fervor para que
essa mulher morra e vá para o
inferno. Mas ela não morre e nem o
romance acaba.”
Na primeira vez que se encontram,
Rami e Ju brigam, agridem-se
fisicamente, trocam insultos. Porém,
quando se veem diante da
possibilidade de uma conversa
franca, as duas mulheres percebem
que compartilham tristezas muito
semelhantes. Há meses que Ju não
vê Tony, ele é agressivo, pouco
contribui para o sustento da casa e
dos filhos. Além disso, Rami percebe
que a situação de Ju é ainda mais
precária.
Diferentemente dela, que está
amparada, de certa forma, pela
formalidade de seu casamento, Ju
não apenas é hostilizada pela
sociedade, por ser a “concubina”,
mas não tem nenhuma proteção
jurídica, nem para si, nem para seus
filhos. Para piorar a situação das
duas mulheres, Ju anuncia a Rami
que Tony tem uma terceira mulher
que, além de tudo, apresenta uma
questão cultural. Enquanto Rami e
Ju são mulheres do sul, a terceira,
Lu, é uma mulher do norte, onde a
poligamia ainda é uma prática
aceitável.
Da mesma forma como fizera com
Ju, Rami procura Lu. As duas
confrontam-se, agridem-se, vão
parar na delegacia. E, assim como
acontecera com Ju, é através do
diálogo – que não é, no entanto,
pacífico ou passivo – que as duas
mulheres se reconhecem, apesar
das grandes diferenças culturais.
Nesse momento do livro, pouco
importa a qual cultura se refere, a do
norte ou a do sul, o estatuto da
mulher nessa sociedade é claro: é
coadjuvante, satélite, subjugada, de
modos diversos, para atender as
necessidades e os caprichos de
pais, maridos, amantes. A romaria
de Rami não se encerra com Luísa,
restam ainda outras mulheres que
compartilham fragilidades e
precariedades em seus
relacionamentos com Tony.
Progressivamente, Rami aproxima-
se das quatro mulheres, para
conhecê-las e, sobretudo, para uni-
las. Em paralelo, a protagonista faz
uma verdadeira enquete com as
outras mulheres que conhece,
familiares, vizinhas, frequentadoras
dos mercados, a respeito da
poligamia. Diante do quadro em que
se encontra, Rami acredita que a
melhor forma de garantir alguns
direitos, para si e para as outras
quatro mulheres, é a adoção desse
regime. Após uma longa conversa,
as cinco fazem uma decisão coletiva.
“– Julieta, minha Ju, foste enganada.
Arrancada da adolescência para a
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velhice, sem meio-termo. A tua vida
é um verão eterno. E tu, Luísa,
minha Lu, serás desejada enquanto
tiveres fogo nesse belo corpo. A vida
é uma eterna mudança, um dia
quente, outro dia frio. O que será de
ti, quando o inverno chegar? Saly, tu
és as usada nos momentos de
pausa, és um petisco, uma refeição
ligeira, intermédia, para quebrar a
monotonia na ementa de amor. A
Mauá é a mais amada, apenas de
momento. Os amores do Tony são
efêmeros, sabemos disso.
Esta conclusão revolve uma torrente
de sentimentos escondidos. Vejo
lágrimas correndo, frustrações
avolumando-se em cachos,
incertezas espelhando-se no
silêncio, a esperança ténue
tremelicando nos horizontes do
mundo.
– Somos éguas perdidas galopando
a vida, recebendo migalhas,
suportando intempéries,
guerreando-nos umas às outras. O
tempo passa, e um dia todas
seremos esquecidas. Cada uma de
nós é um ramo solto, uma folha
morta, ao sabor do vento – explico. –
Somos cinco. Unamo-nos num feixe
e formemos uma mão. Cada uma de
nós será um dedo, e as grandes
linhas da mão a vida, o coração, a
sorte, o destino e o amor. Não
estaremos tão desprotegidas e
poderemos segurar o leme da vida a
traçar o destino.”
Ao decidirem aderir ao regime da
poligamia, temos a impressão que as
personagens estão apenas
passando de uma forma patriarcal de
opressão a outra. No entanto, esse
primeiro momento, de garantia
miníma de certos direitos, é apenas
o início de uma revolução na vida
dessas mulheres – que acontece
graças à força e à empatia de Rami.
Percebendo a penúria em que ainda
viviam as outras quatro mulheres,
principalmente em relação ao
sustento de seus lares, a
protagonista vai percebendo que o
caminho para a autonomia é longo,
demandando atividades que possam
liberá-las economicamente,
rompendo com a relação de
dependência financeira que as
prendem a Tony.
“Um dia disse às minhas rivais:
venham, venham todas exigir o pão
quando vos falta, despertar o Tony à
noite se por acaso aqui estiver
quando as crianças têm febre, e
quando, na escola, os professores
exigem a presença do encarregado
da educação. Venham todas em
desfile, ele costuma estar e casa só
à hora do almoço. Vocês são as suas
mulheres e os vossos filhos são
irmãos dos meus filhos.Começou a procissão das mães e
das crianças. O Tony já não
aguentava, fugia deles. Rami,
aguenta tu com essa gentalha.
Aguentei com elas até onde pude,
até que lhes disse: Isto acontece
porque não trabalham. Em cada sol
têm que mendigar uma migalha. Se
cada uma de nós tivesse uma fonte
de rendimento, um emprego,
estaríamos livres dessa situação. É
humilhante para uma mulher adulta
pedir dinheiro para sal e carvão. A
Saly diiz que já teve negócios que
faliram, porque usou todo o dinheiro
que tinha na cura do filho que andou
doente. A Lu diz que gostaria de ter
uma loja de modas, que fora sempre
esse o seu sonho. A Ju gosta de
crianças. Diz que, no dia que
procurar um emprego, vai ser para
lidar com crianças. A Mauá diz que
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não tem jeito para nada. Foi educada
para ser esposa e dar carinho. Que
não se imagina a trabalhar e nem
quer envolver em tal situação.
– Temos que trabalhar – diz a Lu –,
ainda temos um pedaço de pão
porque o Tony ainda está vivo. E
quando ele morrer? Do luto até
encontrar um novo parceiro vai um
longo período de fome. É preciso
prevenir o futuro.
– O que vamos fazer? – diz a Mauá.
– Eu nem tenho estudos e não sei
fazer nada!
– Ah, Mauá – diz a Saly –, todas as
pessoas vendendo na esquina são
mulheres como nós. Se alguém me
emprestasse um dinheirinho iria
começar já o meu negócio.
– Mesmo eu – diz a Lu. – Venderia
roupa, mesmo que fosse usada.
Sempre sonhei ter uma loja de
modas.
Peguei num dinheiro que tinha
guardado e emprestei a Saly.
Comprava cereais em sacos e
vendia em copos nos mercados
suburbanos. Dois meses depois, ela
devolvia-me o dinheiro com juros e
uma prenda. Uma capulana, um
lenço de seda, e uma rosa vermelha
comprada na esquina. A Lu disse-
me: estou inspirada. Se a Salu
conseguiu fazer o seu negócio
render, também posso. Rami,
emprestas-me algum dinheiro?
Passei os fundos devolvidos pela
Saly para as mãos dela. E começou
a vender roupa em segunda mão. E
começou a engordar, a sua voz a
adoçar, o seu sorriso a crescer, o
dinheiro nas mãos a correr. Três
semanas depois devolvia-me o
dinheiro com mais juros, um carinho
e um bouquet de rodas. A Ju e a
Mauá revoltaram-se.
– Rami, por que não nos tratas de
forma igual? – perguntou a Mauá. –
Somos também mulheres pobres
como a Lu e a Saly. Ajudaste-as. Por
que não nos ajudas a nós também?
Transferi o dinheiro das mãos da Lu
para a Mauá e dei a Ju um dinheiro
que o Tony me dera um dia para
guardar. A Mauá começou a tratar
dos cabelos, a desfrisar cabelos,
coisa que ela entende muito bem.
Começou na varanda da sua casa.
Conseguiu angariar clientes.
Aumentou o volume de trabalho e
contratou duas ajudantes. A varanda
era pequena e passou a usar a
garagem da sua casa. Agora tem
uma multidão de clientes, a Mauá.
A Ju vai aos armazéns, compra
bebida em caixa e vende a retalho.
Dá muito lucro. Nesta terra as
pessoas consomem álcool como
camelos. Ela começou a sorrir um
pouco e a ganhar mais confiança em
si própria. O Tony reage mãe às
nossas iniciativas mas nós fechamos
os ouvidos e fazemos a nossa vida.”
Esse trecho é um ótimo exemplo do
que pode acontecer quando as
mulheres ousam deixar de lado a
rivalidade, que nos é ensinada desde
muito jovens, para apoiarem-se
umas nas outras, unindo-se contra
aquilo que as oprime. O percurso de
Rami, narrado de forma magistral
por Paulina Chiziane, ilustra com
muito lirismo, mas sem ocultar a
violência desse processo, o poder
revolucionário da sororidade. E não,
o livro não é sobre o Tony e suas
cinco mulheres, mas sim sobre cinco
mulheres que conseguiram
corajosamente (juntas!) se
desprender de dois regimes que, de
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formas diferentes, oprimem – e
continuam oprimindo – mulheres.
A autora retrata a vivência das
mulheres que se encontram em um
relacionamento poligâmico e como
tal relacionamento é utilizado como
forma de controle e de
demonstração de poder masculino
sobre corpos femininos, sendo
mantido através do forte
entrelaçamento cultural, social,
histórico, econômico e religioso. A
protagonista da obra, Rami, após
descobrir que o marido mantinha
uma relação poligâmica irá atrás das
outras mulheres e em conjunto com
elas irão tecer uma rede de união,
autodescoberta e subversão da
situação feminina em Moçambique
(...) E sim, de mulheres que vivem
em uma sociedade fortemente
marcada pela colonização e tentam
subverter, utilizando os métodos
disponíveis, uma sociedade na qual
a figura masculina deve ser tratada
como um ser divino.
É interessante observar que a obra
inicia com o quebrar do vidro de um
carro, o que gera um barulho que
acorda Rami. O que poderia ser uma
analogia para o que ocorreria na vida
da própria Rami. A protagonista
durante toda a obra demonstra ser a
esposa modelo, submissa de todas
as formas possíveis ao marido, boa
mãe e uma boa dona de casa. Logo
passa a questionar a falta de
presença do marido na casa, o que
leva ela a sair pelos lugares atrás de
respostas para tal falta. Rami então
passa a encontrar as outras esposas
de Tony, esses encontros sempre
resultam em violência no primeiro
momento, entretanto iria ocasionar
em uma relação de autodescobertas
e construção do “eu”. Percebemos
que Tony inicia tais relacionamentos
depois que adquire poder financeiro
ao ser promovido de cargo:
Fiz dele o homem que é. Dei-lhe
amor, dei-lhe filhos com que ele se
afirmou nesta vida. Sacrifiquei os
meus sonhos pelos sonhos dele.
Dei-lhe a minha juventude, a
minha vida. Por isso afirmo e
reafirmo, mulher como eu, na sua
vida, não há nenhuma! Mesmo
assim, sou a mulher mais infeliz do
mundo. Desde que ele subiu de
posto para comandante da polícia e
o dinheiro começou a encher as
algibeiras, a infelicidade entrou
nesta casa (CHIZIANE 2004, p. 14).
Além de poder exercer tal prática,
como é demonstrado através do
discurso de um dos policiais amigo
de Tony, pois a figura do homem
tudo é aceitável:
“-Se o seu marido a deixa, a senhora
deve ser azeda, fria. Homem é
homem, tem todo o direito de
procurar em qualquer lugar o que em
casa não há” (CHIZIANE 2004, p.
52).
O discurso de poder do homem
sobre a mulher, que é utilizado para
justificar a poligamia, Percebemos
através desses discursos que a
poligamia serve apenas ao homem,
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a mulher cabe apenas o papel de
servir e dá prazer, não receber.
Segundo Foucault (2017) “Nas
relações de poder, a sexualidade
não é o elemento mais rígido, mas
um dos dotados da maior
instrumentalidade: utilizável no
maior número de manobras, e
podendo servir de ponto de apoio,
de articulação às mais variadas
estratégias.”.
Tal estratégia de poder utilizada por
homens polígamos é sustentada
através da construção cultural da
sociedade moçambicana, que é
centrada no patriarcado colocando a
figura masculina em um patamar de
elevação máxima. De acordo com
Kabengelê Munanga (1988, p. 14),
a poligamia não se fundamenta no
prazer sexual. A poligamia tem
funções econômicas, políticas,
religiosas, culturais e sociais
importantíssimas.
A construção de personagens
femininas da Paulina Chiziane não é
aquela que temos mais disseminado
no nosso imaginário, não se trata da
construção de uma personagem
feminina europeia ou americana,
que sabemos que irá ter esse
despertar total e combater das
maneiras possíveis o
patriarcado/machismo. Rami possui
um corpo e mente colonizados, é
uma mulher silenciada e
subalternizada, ela tenta se libertar,
mas dentro do contexto histórico,
sócio e cultural em que vive essa
total libertação não é possível, logo
ela busca outros meios de liberdade
dentro de tal sistema. Rami éconstruída como um caminho que as
outras mulheres seguem para sua
libertação enquanto ela continua a
mercê do sistema. Entretanto, isso
não a torna mais fraca do que essas
super-heroínas que nossa
sociedade ocidental compra e
venda, Rami é uma mulher que está
trilhando e tecendo seu caminho de
resistência, uma resistência
marcada por uma desconstrução
corporal, colonial, de gênero e
localizada regionalmente, pois não
podemos apagar a importância que
é questionar tais normas sociais em
um país que até pouco tempo atrás
ainda era uma colônia, logo temos
centenas de anos de domínio e tão
poucos ainda do inicio de uma
libertação. A Rami e as outras
mulheres, mesmo que no campo da
ficção, apresentadas em “Niketche:
uma história da poligamia” são os
reflexos dessa vontade e do
processo de libertação.
É preciso considerar que, nascida
em Manjacaze, província de Gaza,
em meados da década de 1950, foi
uma das primeiras mulheres a virar
escritora em Moçambique numa
terra onde sempre prevaleceu a voz
masculina. Paulina é apontada hoje
como uma expoente em matéria de
romance moçambicano. Assim
como em outros países africanos, a
literatura moçambicana foi uma
maneira encontrada pelas mulheres
para ampliarem a participação na
vida pública do país. Os textos
produzidos pela escritora são
consumidos como uma literatura
pós- colonialista, mas que apresenta
reminiscências do imperialismo
europeu. Sua literatura é uma
espécie de retrato da atual
sociedade de Moçambique,
principalmente no que tange
ao papel e à condição feminina na
sociedade.
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O romance “Niketche: uma história
de poligamia” é um relato do
cotidiano feminino em Moçambique.
No enredo, Rami, personagem
principal, criada com bases no
catolicismo europeu e monogâmico
descobre que o marido, Tony, é
adepto da poligamia, tendo várias
mulheres espalhadas ao redor do
país, que simbolizam as diferentes
manifestações culturais de
Moçambique. Indignada e se
sentindo ultrajada, Rami decide
conhecer essas mulheres e ficar
frente a frente com as qualidades
das outras que fizeram com que o
marido não se dedicasse
exclusivamente a ela.
A autora empresta sua voz para
denunciar as contradições de uma
sociedade que prega a monogamia
dos valores ocidentais, mas não se
apressa em suplantar a poligamia da
cultura tradicional. Narrado em
primeira pessoa por Rami,
“Niketche” expõe a questão
feminina, tenta promover uma
espécie de descolonização da
mulher moçambicana e uma
libertação dos padrões sexistas
deixados pelo dominador. Embora a
figura feminina ocupe um papel de
destaque, pois são vistas como
símbolo de fertilidade pelos
africanos, em contrapartida
há uma terrível divisão social no que
tange à tradição. Esta cultura alça a
mulher a uma posição inferior ao
homem na vivência cotidiana. Em
Moçambique há uma divisão entre a
tradição do sul, onde o
patriarcalismo iimpera e a mulher é
encarada como um ser submisso ao
homem, sem voz ou poder de
decisão, enquanto que no norte elas
são vistas como um indivíduo que
deve ser respeitado e adorado por
conta de sua beleza e sensualidade.
A cultura do norte permite que a
mulher explore suas vaidades e
desejos, enquanto que a do sul
cerceia e reprime toda e qualquer
manifestação feminina:
No sul a sociedade é hábitada por
mulheres nostálgicas. Dementes.
Fantasmas. No sul as mulheres são
exiladas no seu próprio mundo,
condenadas a morrer sem saber o que
é amor e vida. No sul as mulheres
são tristes, são mais escravas.
Caminham de cabeça baixa.
Inseguras. Não conhecem a alegria
de viver. [...] No norte ninguém
escraviza ninguém, porque tanto
homens quanto mulheres são filhos
do mesmo Deus. (CHIZIANE, 2004,
p. 176).
A autora consegue trazer à cena
uma história contemporânea e
apresenta ao leitor uma mulher que
é a personificação de um país
essencialmente matriarcal, ou seja,
delineado pelas mãos das mulheres
na criação dos filhos e na
manutenção dos lares, embora o
patriarcado seja o regime legalmente
reconhecido. A figura feminina
acaba se vinculando ao ideário de
nação como uma representação da
tradição moçambicana e chama para
a discussão o papel que essa mulher
ocupa no país. O fato de Chiziane
abordar temáticas voltadas para o
universo feminino tem lhe
rendido a alcunha de escritora
feminista, pois coloca esse sujeito no
centro das atenções e revela seus
sentimentos mais secretos, dando
voz a personagens fortes e que
prenunciam um futuro onde a mulher
poderá ter mais espaço social e, de
fato, ser reconhecida como sujeito
agente de um país em construção e
em busca de sua própria identidade.
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O eu enunciador de Niketche propõe
através de sua subjetividade e
submissão cultural, uma pretensa
objetividade no reconhecimento de
sua negritude e de sua
condição de mulher enquanto
agente social e representante de
uma cultura híbrida. As mulheres
criadas por Chiziane representam a
nação, tornando-se ícones da
resistência contra o colonizador e
suas opressões. São mulheres cuja
força para lutar pelo seu espaço na
sociedade e por seu
reconhecimento, pulsam cada vez
mais forte, diferentemente das
mulheres reais, ainda vítimas do
medo e da repressão.
1) UNICAMP 2022 Tudo na vida é
mortal, tudo se apaga. Se a tua
chama se apaga é em ti que está a
falta. Faz o que te digo e magia
nenhuma te derrubará nesta vida. Tu
és feitiço por excelência e não deves
procurar mais magia nenhuma.
Corpo de mulher é magia. Força.
Fraqueza. Salvação. Perdição. O
universo inteiro cabe nas curvas de
uma mulher.
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.)
O excerto acima corresponde a uma
das primeiras lições que a
conselheira amorosa oferece a
Rami, a personagem principal do
romance.
Tendo em vista as várias peripécias
vividas por Rami, essa lição é
a)aceita pela protagonista, mas sua
trajetória lhe ensina que o corpo
feminino é, no fim das contas,
perdição.
b) abandonada pela personagem
principal, uma vez que seu marido
não se encanta com seus novos
ardis.
c) frustrada, pois Rami, ao conhecer
suas rivais, percebe que não possui
todos os atributos desejáveis.
d) confrontada com a experiência
pessoal de Rami e de suas rivais,
transformando-as de modo
significativo.
1) Alternativa D
Rami, desconsolada com as
constantes ausências do marido
Tony, matricula-se em um curso
ministrado por uma conselheira
amorosa e, durante a conversa, a
narradora identifica uma série de
faltas comportamentais em relação
ao seu matrimônio e à sua vida
sexual. A partir daí, Rami confronta
sua vida, dependência, submissão e
seu casamento com os novos
aprendizados, que vai obtendo
durante as aulas com a conselheira
amorosa, e principia um processo de
mudança existencial e
comportamental, ao qual incorpora
também as demais esposas de
Tony.
Enredo e sobre a autora:
deliriumnerd.com
Resumo, características do livro, tempo
e espaço: infoescola.com
Personagens: etapa.com
Percepção da sexualidade feminina:
artigo da Universidade Estadual da
Paraíba, no site da editora Realize
Feminino e a tradição em Niketche:
artigo de Juliana Franco, do site
todasasmusas.com
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Carolina Maria de Jesus
A autora é mineira, nasceu em 14 de
março de 1914 e faleceu em 13 de
fevereiro de 1977, em São Paulo. Foi
moradora da antiga favela do
Canindé. Relatou, em seu diário, o
cotidiano miserável de uma mulher
negra, pobre, mãe, escritora e
favelada. Ela e seus filhos passaram
por muitas dificuldades, como a fome
e enfermidade.Em seus textos,
denunciou as mazelas do Brasil e da
desigualdade social.
A partir da publicação do livro Quarto
de despejo, a vida de Carolina Maria
de Jesus melhorou. Conseguiu sair
da favela e comprar uma casa de
alvenaria, um dos seus maiores
sonhos, além de poder dar educação
e qualidade de vida para sua família.
Publicou outros livros além desse,
que não tiveram tanto sucesso: Casa
de alvenaria (1961), Pedaços de
fome (1963) e Provérbios (1963).
Postumamente, foram publicados:
Diário de Bitita (1977), Um Brasil
para brasileiros (1982), Meu
estranho diário (1996), Antologia
pessoal (1996), Onde estaes
felicidade? (2014) e Meu sonho é
escrever – Contos inéditos e outros
escritos (2018).
Contudo, a carreira literária não a fez
tornar-se abastada, tendo
dificuldades para criar seus filhos. Ao
longo da vida, dividiu-se entre
escrever e vender livros, coletar
materiais recicláveis, realizar faxinas
e lavar roupas para fora.
O livro de Carolina Maria de Jesus
narra de modo fiel o cotidiano
passado na favela. Em seu texto,
vemos como a autora procura
sobreviver como catadora de lixo na
metrópole de São Paulo, tentando
encontrar naquilo que alguns
consideram como sobra o que a
mantenha viva. Os relatos foram
escritos entre 15 de julho de 1955 e
1 de janeiro de 1960. As entradas no
diário são marcadas com dia, mês e
ano e narram aspectos da rotina de
Carolina. Muitas passagens
sublinham, por exemplo, a
dificuldade de ser mãe solteira nesse
contexto de extrema pobreza.
Lemos num trecho presente no dia
15 de julho de 1955:
Aniversário de minha filha Vera
Eunice. Eu pretendia comprar um
par de sapatos para ela. Mas o custo
dos generos alimenticios nos impede
a realização dos nossos desejos.
Atualmente somos escravos do
custo de vida. Eu achei um par de
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sapatos no lixo, lavei e remendei
para ela calçar.
Maria é mãe de três filhos e dá conta
de tudo sozinha. Para conseguir
alimentar e criar a família ela se
desdobra trabalhando como
catadora de papelão, metal, e como
lavadeira. Apesar de todo o esforço,
muitas vezes sente que não dá
conta. Nesse contexto de frustração
e extrema pobreza, é importante se
sublinhar o papel da religiosidade.
Diversas vezes, ao longo do livro, a
fé aparece como um fator motivador
e impulsionador da protagonista.Há
passagens que deixam bem clara a
importância da crença para essa
mulher lutadora:
Eu estava indisposta, resolvi benzer-
me. Abri a boca duas vezes,
certifiquei-me que estava com mau
olhado.
Carolina encontra na fé força, mas
também muitas vezes explicação
para situações cotidianas. O caso
acima é bastante ilustrativo de como
uma dor de cabeça é justificada por
algo da ordem do espiritual.
Quarto de Despejo explora os
meandros da vida dessa
trabalhadora mulher e transmite a
dura realidade de Carolina, o
constante esforço contínuo para
manter a família de pé sem passar
maiores necessidades:
Saí indisposta, com vontade de
deitar. Mas, o pobre não repousa.
Não tem o previlegio de gosar
descanço. Eu estava nervosa
interiormente, ia maldizendo a sorte.
Catei dois sacos de papel. Depois
retornei, catei uns ferros, uma latas,
e lenha.
Por ser a única a prover o sustento
da família, Carolina trabalha dia e
noite para dar conta da criação dos
filhos.
Os seus meninos, como ela costuma
chamar, passam muito tempo
sozinhos em casa e vira e mexe são
alvo de críticas da vizinhança que
dizem que as crianças "são mal
inducadas". Embora nunca se diga
com todas as letras, a autora atribui
a reação das vizinhas com os seus
filhos pelo fato de ela não ser casada
("Elas alude que eu não sou casada.
Mas eu sou mais feliz do que elas.
Elas tem marido.")
Ao longo da escrita, Carolina
sublinha que sabe a cor da fome - e
ela seria amarela. A catadora teria
visto o amarelo algumas vezes ao
longo dos anos e era daquela
sensação que mais tentava fugir:
Eu que antes de comer via o céu, as
árvores, as aves, tudo amarelo,
depois que comi, tudo normalizou-se
aos meus olhos.
Além de trabalhar para conseguir
comprar comida, a moradora da
favela do Canindé também recebia
doações e buscava restos de
alimento nas feiras e até no lixo
quando era preciso. Em uma das
suas entradas no diário, comenta:
A tontura do álcool nos impede de
cantar. Mas a da fome nos faz
tremer. Percebi que é horrível ter só
ar dentro do estômago.
Pior do que a fome dela, a fome que
mais doía era aquela que assistia
nos filhos. E é assim, tentando
escapar da fome, da violência, da
miséria e da pobreza, que se
constrói o relato de Carolina. Acima
de tudo, Quarto de Despejo é uma
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história de sofrimento e de
resiliência, de como uma mulher lida
com todas as dificuldades impostas
pela vida e ainda consegue
transformar em discurso a situação
limite vivida.
A redação de Carolina - a sintaxe do
texto - por vezes foge ao português
padrão e por vezes incorpora
palavras rebuscadas que ela parece
ter aprendido com as suas leituras. A
escritora, em diversas entrevistas, se
identificou como uma autodidata e
disse que aprendeu a ler e a
escrever com os cadernos e livros
que recolhia das ruas. Na entrada do
dia 16 de julho de 1955, por
exemplo, vemos uma passagem
onde a mãe diz para os filhos que
não há pão para o café da manhã.
Convém observar o estilo da
linguagem utilizada:
16 DE JULHO DE 1955 Levantei.
Obedeci a Vera Eunice. Fui buscar
agua. Fiz o café. Avisei as crianças
que não tinha pão. Que tomassem
café simples e comesse carne com
farinha.
Em termos textuais vale sublinhar
que há falhas como a ausência de
acento (em água) e erros de
concordância (comesse aparece no
singular quando a autora se dirige
aos filhos, no plural). Carolina
transparece o seu discurso oral e
todas essas marcas na escrita
ratificam o fato de ter sido
efetivamente a autora do livro, com
as limitações do português padrão
de quem não frequentou
integralmente a escola.
Carolina Maria de Jesus – É a
autora dos diários e a protagonista.
Nascida no interior de Minas Gerais,
foi morar em São Paulo, onde só
encontrou lugar na favela do
Canindé. Mãe de 3 filhos, solteira,
era catadora de lixo e metal para
sustentar sua casa e alimentar a
família.
Vera Eunice, João José, José
Carlos – Filhos de Carolina. Era por
eles que ela lutava e dava a vida.
Vizinhos e autoridades políticas –
Compõe a narração do quotidiano.
A redação de Carolina - a sintaxe do
texto - por vezes foge ao português
padrão e por vezes incorpora
palavras
Carolina tinha constantes reflexões
sobre política e sociedade, o que
garante à obra passagens de grande
valor para os leitores. Ela também
tecia críticas aos políticos que só
lembram da favela e dos seus
pobres habitantes durante as
eleições.
Em sua obra, escreveu:
“… As oito e meia da noite eu ja
estava na favela respirando o odor
dos excrementos que mescla com o
barro podre. Quando estou na
cidade tenho a impressão que estou
na sala de visita com seus lustres de
cristais, seus tapetes de viludos,
almofadas de sitim. E quando estou
na favela tenha a impressão que sou
um objeto fora do uso, digno de estar
num quarto de despejo”
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Assim, percebe-se que o título
escolhido para a obra é uma frase
que resume toda a crítica a essa
realidade. Mas, para além disso,
retrata o sentimento da autora diante
da vida.
Carolina também expõe a
invisibilidade social que ela, seus
filhos e seus vizinhos viviam. Eram
invisíveis, ignorados por aqueles de
melhor condição, pelo Estado e até
por quem pedia ajuda.
Dessa forma, a escrita do diário
serviu como válvula de escape e
esperança, pois sonhava que
alguém leria seudiário e se
compadeceria, pensando nas várias
outras pessoas que vivem em
situação semelhante. Uma
esperança para a vida.
Carolina relata sua constante
indisposição, seus momentos de
raiva e crises emocionais, seus
pesares, seu sentimentos por
compreender a situação em que se
encontrava.
Porém, a autora sempre encontrava
motivação e permanecia mais
determinada em continuar lutando
quando olhava para sua família:
“Saí indisposta, com vontade de
deitar. Mas, o pobre não repousa.
Não tem o previlegio de gosar
descanço. Eu estava nervosa
interiormente, ia maldizendo a sorte.
Catei dois sacos de papel. Depois
retornei, catei uns ferros, uma latas,
e lenha.”
A moradora da favela do Canindé
também vivia de doações e chegou,
várias vezes, a ponto de buscar
restos de alimento nas feiras e até no
lixo. Nisso, notava a maldade que
algumas pessoas depositavam sob
os pobres necessitados:
“Percebi que no Frigorífico jogam
creolina no lixo, para o favelado não
catar a carne para comer”
Também relata que preferiu ser mãe
solteira, não queria se relacionar
com homem algum, pois só tinha o
exemplo de casamento dos seus
vizinhos: homens e mulheres
constantemente alcoolizados para
enganar a sensação de fome, o que
gerava brigas, mortes e violência
sem fim.
No cenário de constantes
frustrações e miséria, é importante
ressaltar o papel da religiosidade.
Ao longo do livro, a fé aparece como
motivador da protagonista.
Carolina encontra na fé força e
explicações para situações
cotidianas.
Carolina escreveu seus diários na
década de 1950, porém foi
publicando na íntegra somente em
1960. O diário se passa no período
do governo Juscelino Kubitschek
(1955-1960), dita como época de
progresso da expansão do país,
período dos “50 anos em 5”. Brasília
era construída e era o símbolo do
desenvolvimento do Brasil, que
representava a ideologia da época.
Nesse período, sobretudo São Paulo
estava de fato em desenvolvimento,
mas no que diz respeito à
infraestrutura: grandes obras foram
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construídas, avenidas foram
alargadas, pontes foram construídas
e túneis foram feitos.
No entanto, tudo isso aumentou
ainda mais a desigualdade social no
país. Muitas pessoas vinham para a
grande metrópole seguindo o sonho
de conseguir um emprego e dar
melhor condição de vida para suas
famílias. A demanda de trabalho era
pouca para tantas pessoas que
vinham de outros estados e até de
outros países.
A fome é a principal temática
abordada por Carolina, indissociável
de uma crítica à política vigente na
década de 50, ao descaso dos
governantes com as pessoas mais
pobres e à falta de empatia do outro.
Ela sustentava seus filhos coletando
papel e sucatas pelas ruas, mas,
muitas vezes, voltava para casa de
mãos vazias. Quando conseguia
alimentos, era dia de festa em sua
casa. Às vezes, recolhia verduras e
legumes descartadas em feiras e
mercados. Em outros momentos,
buscava sobras de carnes e ossos
descartados em frigoríficos, com os
quais fazia uma sopa aguada, até
que começaram a jogar creolina para
que nada fosse recolhido.
Muitas vezes, a autora e seus filhos
tiveram que dormir com fome porque
ela não conseguiu dinheiro para
nada. Nesses dias, seus relatos são
feitos com raiva, como se fossem
uma válvula de escape para tudo
que, angustiadamente, guardava
dentro de si. De acordo com ela, a
fome, que permeia todo diário, tem
cor:
“QUE EFEITO SURPREENDENTE
FAZ A COMIDA NO NOSSO
ORGANISMO! EU QUE ANTES DE
COMER VIA O CÉU, AS ÁRVORES,
AS AVES, TUDO AMARELO,
DEPOIS QUE COMI, TUDO
NORMALIZOU-SE AOS MEUS
OLHOS”.
Embora com pouca escolaridade, a
autora apresenta uma visão muito
crítica da sociedade e sempre lia
jornais. Para ela, os políticos só se
importavam com os mais pobres em
época de campanha, quando
apareciam na favelas fazendo
promessa e distribuindo alguns itens
de necessidade básica, aos quais
todos deveriam ter acesso sempre.
Além disso, a escritora critica a
violência existente na favela. Para
ela, a violência é fruto de um
ambiente hostil, onde não há sequer
alimento e água potável todo dia. Os
atos violentos sempre estão ligados
ao alcoolismo. Sobretudo os homens
bebem muito e descontam em suas
esposas, que apanham diante de
toda favela, como se isso fosse um
espetáculo, em um espaço onde não
há muitas formas de entretenimento.
Carolina ainda critica brevemente o
papel dos homens na criação dos
filhos e em um relacionamento. Ela
menciona que prefere criar seus
filhos sozinha do que viver repleta de
problemas causados por eles, que,
muitas vezes, são violentos e
ausentes.
Quem descobriu Carolina Maria de
Jesus foi o repórter Audálio Dantas,
quando foi produzir uma reportagem
no bairro do Canindé.
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Por entre os becos da favela que
crescia a beira do Tietê, Audálio
encontrou uma senhora com muita
história para contar.
Carolina mostrou cerca de vinte
cadernos encardidos que guardava
no seu barraco e os entregou ao
jornalista que ficou estupefato com o
manancial que havia recebido nas
mãos.
Audálio logo percebeu que aquela
mulher era uma voz do interior da
favela capaz de falar sobre a
realidade da favela:
"Escritor nenhum poderia escrever
melhor aquela história: a visão de
dentro da favela."
Alguns trechos dos cadernos foram
publicados em uma reportagem no
Folha da Noite do dia 9 de maio de
1958. Outra parte saiu na revista O
cruzeiro publicada no dia 20 de junho
de 1959. No ano a seguir, em 1960,
surgiria a publicação do livro Quarto
de Despejo, organizado e revisado
por Audálio.
O jornalista garante que o que fez no
texto foi editar de modo a evitar
muitas repetições e alterar questões
de pontuação, de resto, diz ele, trata-
se dos diários de Carolina na íntegra.
Com o sucesso de vendas (foram
mais de 100 mil livros vendidos em
um único ano) e com a boa
repercussão da crítica, Carolina
estourou e passou a ser procurada
por rádios, jornais, revistas e canais
de televisão.
Muito se questionou na época sobre
a autenticidade do texto, que alguns
atribuíram ao jornalista e não a ela.
Mas muitos também reconheceram
que aquela escrita conduzida com tal
verdade só poderia ter sido
elaborada por quem tivesse
vivenciado aquela experiência.
O próprio Manuel Bandeira, leitor de
Carolina, afirmou a favor da
legitimidade da obra:
"ninguém poderia inventar aquela
linguagem, aquele dizer as coisas
com extraordinária força criativa mas
típico de quem ficou a meio caminho
da instrução primária."
Como apontou Bandeira, na escrita
de Quarto de Despejo é possível
localizar características que dão
pistas do passado da autora e que
demonstram ao mesmo tempo a
fragilidade e a potência da sua
escrita.
"O Quarto de Despejo está vivo",
afirma filha de Carolina Maria de
Jesus
Vera é filha caçula de Carolina de Jesus,
professora de língua portuguesa e
responsável
pelo acervo da autora.
Professora de língua portuguesa e
filha da escritora, Vera Eunice de
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Jesus Lima acredita que pouca coisa
mudou na sociedade brasileira
nesses 60 anos, mas a postura da
população negra mudou.
“O livro ‘Quarto de Despejo’ está
completando 60 anos, mas o
problema no Brasil continua o
mesmo, por isso é um livro atual e
será assim por muito tempo. O que
eu tenho visto de mudança quanto
ao ‘Quarto de Despejo’ e hoje é que
hoje o negro é engajado, o negro é
politizado, o negro é culto, o negro
sabe o que quer, o negro quer atingir
seus sonhos”, analisou.
Brasil de Fato Pernambuco:
Lançado em 1960, o livro "Quarto
de Despejo: Diário de uma
Favelada" completa 60 anos e até
hoje é considerado um dos livros
mais importantes da literatura
brasileirae um dos primeiros
escritos por uma mulher negra.
Como você observa as mudanças
que aconteceram na literatura afro
brasileira nesse período?
Vera Eunice: O livro “Quarto de
Despejo” está completando 60 anos,
mas o problema no Brasil continua o
mesmo, por isso é um livro atual e
será assim por muito tempo. O que
eu tenho visto de mudança quanto
ao “Quarto de Despejo” e hoje é que
hoje o negro é engajado, o negro é
politizado, o negro é culto, o negro
sabe o que quer, o negro quer atingir
seus sonhos. Inclusive eu estive no
Nordeste e eu fiquei impressionada
de como o negro é culto, como ele lê
Carolina, como ele sabe a história da
Carolina e desde o negro mais
simples, como o que cata recicláveis,
até o negro mais culto; e isso não só
no Nordeste.
Eu tenho percebido que o negro se
espelha muito na Carolina, pelo que
ela passou, pela história que ela
tinha, porque muitos negros têm a
história da Carolina. Eu vejo várias
mulheres que são mães solteiras,
empregadas domésticas, com pouco
estudo ou com muito estudo; eu vejo
adolescentes negras querendo
alcançar o sonho igual a Carolina
Maria de Jesus alcançou.
Então, eu acho que a Carolina Maria
de Jesus hoje é mesmo uma
referência para a literatura negra e
para os negros não só no Brasil, eu
digo nisso negros americanos,
negros de Paris, negros da
Alemanha. Então, o meu objetivo
hoje é colocar a Carolina Maria de
Jesus na literatura, ao lado de
Clarice Lispector, ao lado de Jorge
Amado, para termos uma escritora
negra compondo a nossa literatura
brasileira.
Quais são a lembrança mais
marcante da sua infância com a
sua mãe na favela do Canindé, em
São Paulo? Já que muitas dessas
histórias estão descritas no livro e
contam a história da vida de
Carolina e também da sua e dos
seus irmãos.
As lembranças que eu tenho da
minha mãe na favela do Canindé
são logicamente de uma mulher que
vivia atrás de comida. Isso eu tenho
claramente na minha memória a
preocupação dela em alimentar os
filhos, mas também tem partes muito
alegres que eu lembro da Carolina:
eu lembro da Carolina cantando com
a gente, eu lembro da Carolina lendo
para a gente, eu lembro da Carolina
contando os causos. Ela tinha o livro
“As Mil e Uma Noites” e lia todo dia
uma história para a gente, então era
uma mulher que queria passar a
cultura para os filhos. A gente tocava
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violão, ela tocava e a gente cantava
junto.
Mas também lembro de muitas
partes, uma que me chocou muito no
“Quarto de Despejo” é que a gente
vivia pedindo comida, principalmente
o meu irmão mais velho, ele pedia
comida o tempo todo, como dizia a
minha mãe - ela falava muito bem,
então ela falava “esse famélico”. Eu
lembro que ela chegou em casa com
um pacote embrulhado num jornal e,
quando ela chegava em casa, eu
lembro que a gente já a cercava, a
gente não tinha móveis – a gente
tinha caixotes e caixas – e eu lembro
que ela colocou aquele pacote na
mesa e nós chegamos na mesa e
quando ela abriu eram ratos mortos.
Então, ela se desesperou, porque
tinha dias que ela conseguia trazer
comida, mas tinha dias que chovia,
que ela não catava muito papel,
então o dinheiro vinha muito curto.
Ela sofria muito com isso, ela
chorava até.
Lembrança também com a minha
mãe que eu tenho é aquela água, no
Canindé quando chove, transborda
por causa do rio. Então, minha mãe
nos chamava - porque o barraco
estava inundado – e a gente ia
dormir em um albergue, então a
gente ia para um albergue lá no
centro de São Paulo, mas o albergue
eu não recomendo para ninguém –
não sei se melhorou hoje.
A gente dormia naqueles lençóis mal
cheirosos de urina, aquelas
mulheres nuas correndo para tomar
banho. Era um horror! Eu não
suportava aquilo e nem ela! Então
ela nos chamava – ela era muito alta,
então ela se abaixava - e perguntava
“vocês querem ficar aqui ou querem
ir para a rua?”. A gente falava “então,
vamos para a rua” e aí a gente ia
para a rua. Mas a rua também
ninguém merece, a rua também são
noites longas, noites frias, terrível a
rua também. Então, voltávamos para
a favela.
Ela jamais deixaria meus irmãos
faltarem a escola, então o que ela
fazia era os colocar pela janela
quando o barco vinha buscar;
quando o barco não vinha, ela os
colocava nas costas e ia nadando;
pegava uma roupinha e trocava lá
quando chegava, mas ela não os
deixava faltar a escola.Ela valorizava
muito o estudo, ela valorizava muito
o ensino e, conversando com
Conceição Evaristo que faz parte do
conselho dos novos lançamentos da
Carolina que virão pela Companhia
das Letras, achei interessante que
ela pegou um trecho do diário da
mãe dela que hoje tem 98 anos e ela
começa a ler para a gente ali no
grupo. Nossa! Fiquei muito
emocionada, achei tão parecido, tão
semelhante. E eu acho a história da
Conceição muito parecida com a da
Carolina, com a minha. Ela sempre
diz que hoje ela é uma escritora,
porque ela se inspira em Carolina
Maria de Jesus.
1) UNIMONTES/2014 O fragmento
abaixo foi extraído do livro Quarto de
despejo, de Carolina Maria de Jesus.
Leia-o com atenção.
1 DE JULHO...
Eu percebo que se este Diário for
publicado vai maguar muita gente.
Tem pessoa que quando me ver
passar saem da janela ou fecham as
portas. Estes gestos não me
ofendem. Eu até gosto porque não
preciso parar para conversar. (...)
Quando passei perto da fabrica vi
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varios tomates. Ia pegar quando vi o
gerente. Não aproximei porque ele
não gosta que pega. Quando
carregam os caminhões os tomates
caem no solo e quando os
caminhões saem esmaga-os. Mas a
humanidade é assim. Prefere vê
estragar do que deixar seus
semelhantes aproveitar. (JESUS,
1997, p. 69.)
Sobre o excerto acima e sobre o livro
Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus, a única afirmativa
INCORRETA é:
A - Para a autora, os papéis
colhidos nas ruas são sua fonte de
sobrevivência e, mais tarde, a
matéria-prima para a escrita dos
seus diários.
B - Os diários, além de uma forma
de extravasamento da raiva e de
fazer-se conhecer, eram, para a
autora, um registro da memória.
C - A dimensão social e humanística
do romance é perceptível por meio
da confissão diarística da narradora.
D - A linguagem de norma culta e
singular da escritora do povo legitima
o lugar social de sua autora.
2) UNIMONTES/2014 Sobre o livro
Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus, todas as afirmativas
abaixo estão corretas, EXCETO:
A - A autora – mulher, negra, mãe
solteira – assinala a sua escrita com
a consciência do que é estar no
“quarto de despejo” da grande
cidade de São Paulo.
B - O ato cotidiano de recolher
resíduos da sociedade paulistana é
uma evasão de uma mulher que se
sente marginalizada.
C - O diário Quarto de despejo é
constituído de fragmentos de vida
reunidos em cadernos encontrados
nas ruas.
D - Os relatos diários são marcados
por um olhar de denúncias e pela
descrição da rotina marginal de sua
autora.
3) UEMA/2015 Na obra Quarto de
despejo: diário de uma favelada,
Carolina Maria de Jesus retrata, em
uma dimensão sociológica e literária,
suas impressões sobre o cotidiano
dos moradores de uma favela. Para
responder à questão, leia a seguir
dois excertos, transcritos
integralmente, da referida obra.
TEXTO I
20 DE MAIO
(...)Quando cheguei do palácio que é
a cidade os meus filhos vieram dizer-
me que havia encontrado macarrão
no lixo. E a comida era pouca, eu fiz
um pouco do macarrão com feijão. E
o meu filho João José disse-me:–
Pois é. A senhora disse-me que não
ia mais comer as coisas do lixo.Foi a
primeira vez que vi a minha palavra
falhar.(...)
TEXTO II
30 DE MAIO
(...)Chegaram novas pessoas para a
favela. Estão esfarrapadas, andar
curvado e os olhos fitos no solo
comose pensasse na sua desdita
por residir num lugar sem atração.
Um lugar que não se pode plantar
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uma flor para aspirar o seu perfume,
para ouvir o zumbido das abelhas ou
o colibri acariciando-a com seu frágil
biquinho. O único perfume que exala
na favela é a lama podre, os
excrementos e a pinga.
.Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo:
Diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007.
O título do livro “Quarto de Despejo”
pode sugerir algumas inferências.
Assinale aquela que NÃO pode ser
comprovada pelo relato.
A - O ambiente onde escreve
Carolina assemelha-se a um quarto
de despejo.
B - Tal qual os objetos que Carolina
recolhe nas ruas, ela e seus filhos
são restos ignorados pelo poder
público.
C - Os relatos da vida da autora são
comparados aos pertences deixados
em um quarto de despejo.
D - Há uma alusão ao local onde
vivem as pessoas que trabalham
com serviços domésticos em casas
de luxo.
4) UERR 2020
16 DE JULHO
Levantei. Obedecia a Vera Eunice.
Fui buscar agua. Fiz café. Avisei as
crianças que não tinha pão. Que
tomassem café simples e comesse
carne com farinha. Eu estava
indisposta, resolvi benzer-me. Abria
a boca duas vezes, certifiquei-me
que estava com mau olhado. A
indisposição desapareceu sai e fui
ao seu Manoel levar umas latas para
vender. Tudo quanto eu encontro no
lixo eu cato para vender. Deu 13
cruzeiros. Fiquei pensando que
precisava comprar pão, sabão e leite
para a Vera Eunice. E os 13
cruzeiros não dava! Cheguei em
casa, aliás no meu barracão,
nervosa e exausta. Pensei na vida
atribulada que eu levo. Cato papel,
lavo roupa para dois jovens,
permaneço na rua o dia todo. E
estou sempre em falta. A Vera não
tem sapatos. E ela não gosta de
andar descalça. Faz uns dois anos,
que eu pretendo comprar uma
maquina de moer carne. E uma
maquina de costura.
Cheguei em casa, fiz o almoço para
os dois meninos. Arroz, feijão e
carne. E vou sair para catar papel.
Deixei as crianças. Recomendei-
lhes para brincar no quintal e não
sair na rua, porque os pessimos
vizinhos que eu tenho não dão
socego aos meus filhos. Saí
indisposta, com vontade de deitar.
Mas, o pobre não repousa. Não tem
o privilegio de gosar descanço. Eu
estava nervosa interiormente, ia
maldizendo a sorte (...) Catei dois
sacos de papel. Depois retornei,
catei uns ferros, uma latas, e lenha.
Vinha pensando. Quando eu chegar
na favela vou encontrar novidades.
Talvez a D. Rosa ou a indolente
Maria dos Anjos brigaram com meus
filhos. Encontrei a Vera Eunice
dormindo e os meninos brincando na
rua. Pensei: são duas horas. Creio
que vou passar o dia sem novidade!
O João José veio avisar-me que a
perua que dava dinheiro estava
chamando para dar mantimentos.
Peguei a sacola e fui. Era o dono do
Centro Espirita da rua Vargueiro 103.
Ganhei dois quilos de arroz, idem de
feijão e dois quilos de macarrão.
Fiquei contente. A perua foi-se
embora. O nervoso interior que
eu sentia ausentou-se. Aproveitei a
minha calma interior para eu ler.
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Peguei uma revista e sentei no
capim, recebendo os raios solar para
aquecer-me. Li um conto. Quando
iniciei outro surgiu os filhos pedindo
pão. Escrevi um bilhete e dei ao meu
filho João José para ir ao Arnaldo
comprar sabão, dois melhoraes e o
resto pão. Puis agua no fogão para
fazer café. O João retornou-se.
Disse que havia perdido os
melhoraes. Voltei com ele para
procurar. Não encontramos.
Quando eu vinha chegando no
portão encontrei uma multidão.
Crianças e mulheres, que vinha
reclamar que o José Carlos havia
apedrejado suas casas. Para eu
repreendê-lo.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de
despejo: diário de uma favelada.9 ed. 6 imp.
São Paulo: Ática, 2007.
Em se tratando do gênero textual do
trecho retirado da obra Quarto de
despejo: diário de uma favela,
aponte a afirmativa correta.
a) A linguagem textual é elaborada
a partir de elementos comuns à
poética, tendo em vista a
sensibilidade com que o cotidiano é
exposto.
b) Os versos acentuam a pobreza
comum à realidade humana em uma
linguagem de exposição impessoal.
c) A estruturação linguística do texto
deixa evidente o caráter pessoal da
descrição da vivência do cotidiano.
d) Não é comum observar, na
Literatura Brasileira, a escrita de
textos utilizando o gênero diário.
e) Por conta da captação da
realidade na presente escrita de
Carolina Maria de Jesus, podemos
classificar o texto como crônica de
comentário.
5) Leia o texto a seguir:
15 DE JULHO DE 1955
Aniversário de minha filha Vera
Eunice. Eu pretendia comprar um
par de sapatos para ela. Mas o custo
dos gêneros alimentícios nos
impede a realização dos nossos
desejos. Atualmente somos
escravos do custo de vida. Eu achei
um par de sapatos no lixo, lavei e
remendei para ela calçar.
Eu não tinha um tostão para comprar
pão. Então eu lavei 3 litros e troquei
com o Arnaldo. Ele ficou com os
litros e deu-me pão. Fui receber o
dinheiro do papel. Recebi 65
cruzeiros. Comprei 20 de carne. 1
quilo de toucinho e 1 quilo de açúcar
e seus cruzeiros de queijo. E o
dinheiro acabou-se.
Passei o dia indisposta. Percebi que
estava resfriada. A noite, o peito
doía-me. Comecei tussir. Resolvi
não sair a noite para catar papel.
Procurei meu filho João José. Ele
estava na Felisberto de Carvalho,
perto do mercadinho. O ônibus atirou
um garoto na calçada e a turba aluiu-
se. Ele estava no núcleo. Dei-lhe uns
tapas e em cinco minutos ele chegou
em casa.
Ablui as crianças, aleitei-as e ablui-
me e aleitei-me. Esperei até as 11
horas, um certo alguém. Ele não
veio. Tomei um melhoral e deitei-me
novamente. Quanto despertei o
astro rei deslizava no espaço. Minha
filha Vera Eunice dizia: - Vai buscar
água mamãe!”
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(Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo:
diário de uma favelada. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000).
Considerando as informações
apresentadas e os estudos sobre
variação linguística, analise as
afirmações a seguir.
I. Nesse trecho do livro Quarto de
despejo de Carolina Maria de Jesus,
há variação linguística relacionada à
posição social da escritora.
II. Nesse trecho do livro Quarto de
despejo de Carolina Maria de Jesus,
há variação linguística relacionada
ao grau de escolaridade da autora.
III. A variação de registro, que se
caracteriza pelo uso formal e
informal da linguagem, apontam que
os desvios gramaticais presentes no
texto são propositais e inaceitáveis
para esse gênero textual.
É correto o que se afirma em:
a) I apenas
b) I e III apenas
c) II apenas
d) II e III apenas
e) I e II apenas
6) UFRGS 2020 Instrução: A
questão refere-se à obra Quarto de
despejo, de Carolina Maria de Jesus.
Um tema em Quarto de despejo é
encontrado também no poema “O
bicho”, de Manuel Bandeira,
transcrito a seguir.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Assinale a alternativa que identifica
esse tema recorrente nas duas
obras.
a) A revolta e a indignação daqueles
que sofrem a miséria e a
marginalização social.
b) O problema da fome, que avilta a
dignidade humana.
c) A aceitação da pobreza, que se
tornou uma condição inerente às
sociedades modernas.
d) A esperança como forma de
enfrentar o sofrimento da fome e de
garantir a sobrevivência.
e) O ato de escrever funciona como
modo de driblar a fome.
7) Leia o trecho final da obra Quarto
de despejo, de Carolina Maria de
Jesus:
... Eu fui fazer compras,porque
amanhã é dia de ano. Comprei arroz,
sabão, querosene e açucar.
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O João e a Vera deitaram-se. Eu
fiquei escrevendo. O sono surgiu, eu
adormeci. Despertei com o apito da
Gazeta anunciando o Ano Novo.
Pensei nas corridas e no Manoel de
Faria. Pedia a Deus para ele ganhar
a corrida. Pedi para abençoar o
Brasil.
Espero que 1960 seja melhor do que
1959. Sofremos tanto no 1959, que
dá para a gente dizer:
Vai, vai mesmo!
Eu não quero você mais.
Nunca mais!
1 de janeiro de 1960 ... Levantei as 5
horas e fui carregar agua.
O texto autobiográfico de Carolina
Maria de Jesus, escritora negra
moradora da favela Canindé, em
São Paulo, foi produzido entre as
décadas de 1950 e 1960. Levando
em consideração o contexto de
produção da obra, analise como o
final dos diários de Carolina de Jesus
sintetiza a própria condição social da
autora.
8) Leia os seguintes fragmentos da
obra Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus:
Texto I
... As vezes mudam algumas famílias
para a favela, com crianças. No inicio
são iducadas, amaveis. Dias depois
usam o calão, são soezes e
repugnantes. São diamantes que
transformam em chumbo.
Transformam-se em objetos que
estavam na sala de visita e foram
para o quarto de despejo.
Texto II
Abri a janela e vi as mulheres que
passam rapidas com seus agasalhos
descorados e gastos pelo tempo.
Daqui a uns tempos estes palitol que
elas ganharam de outras e que de há
muito devia estar num museu, vão
ser substituidos por outros. É os
politicos que há de nos dar. Devo
incluir-me, porque eu também sou
favelada. Sou rebotalho. Estou no
quarto de despejo, e o que está no
quarto de despejo ou queima-se ou
joga-se no lixo.
Redija um texto para explicar, pela
concepção da própria autora, o
significado metafórico do título da
obra.
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9) UFRGS 2019 Leia os fragmentos
abaixo.
Quando eu fui catar papel encontrei
um
preto. Estava rasgado e sujo que
dava pena. Nos seus trajes rôtos êle
podia representar-se como diretor
do sindicato dos miseráveis.
2 de maio de 1958 [...] Passei o dia
catando papel. A noite meus pés
doíam tanto que eu não podia
andar.
14 de junho ... Está chovendo. Eu
não posso ir catar papel. O dia que
chove eu sou mendiga.
3 de maio ... Fui na feira da Rua
Carlos de Campos, catar qualquer
coisa.
Depois fui catar lenha. Parece que
vim ao mundo predestinada a catar.
Só não cato a felicidade.
Considere as seguintes afirmações
sobre a ação de “catar”.
I - Relaciona-se ao título da obra,
uma vez que Quarto de despejo
serve de metáfora à situação da
própria personagem, que vive na
favela como um objeto descartado.
II - Associa-se à atividade da
escritora, que recolhe da experiência
de viver do lixo a própria matéria
para a sua criação literária.
III- Refere-se à descoberta dos
diários de Carolina pelo jornalista
Audálio Dantas, graças ao qual ela
se torna uma escritora de grande
sucesso editorial, condição que lhe
garante sustentabilidade financeira e
saída definitiva da miséria.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D) Apenas I e II.
(E) I, II e II
10) "Quarto de Despejo" Carolina de
Jesus. O diário de Carolina de Jesus,
Quarto de Despejo, retrata a vida da
escritora. No livro percebe-se uma
questão social historicamente
combatida no mundo inteiro, que é a
A) condição contrária à escravidão.
B) alimentação tradicional das
famílias.
C) má distribuição de renda.
D) caridade aos mais pobres.
E) mudança climática.
11) ENEM LIBRAS 2017
Quarto de despejo l Carolina Maria
de Jesus
Do diário da catadora de papel
Carolina Maria de Jesus surgiu este
autêntico exemplo de literatura-
verdade, que relata o cotidiano triste
e cruel da vida na favela. Com uma
linguagem simples, mas
contundente e original, a autora
comove o leitor pelo realismo e pela
sensibilidade na maneira de contar o
que viu, viveu e sentiu durante os
anos em que morou na comunidade
do Canindé, em São Paulo, com
seus três filhos
Ao ler este relato — verdadeiro best-
seller no Brasil e no exterior — você
vai acompanhar o duro dia a dia de
quem não tem amanhã. E vai
perceber com tristeza que, mesmo
tendo sido escrito na década de
1950, este livro jamais perdeu a sua
atualidade.
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JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma
favelada. São Paulo: Ática, 2007.
Identifica-se como objetivo do
fragmento extraído da quarta capa
do livro Quarto de despejo
a) retomar trechos da obra.
b) resumir o enredo da obra.
c) destacar a biografia da autora.
d) analisar a linguagem da autora.
e) convencer o interlocutor a ler a
obra.
12) IF SUL DE MINAS 2011 Quarto
de despejo, de Carolina Maria de
Jesus, tem como traço recorrente,
EXCETO:
a) denúncia contra o racismo
b) crítica ao descaso do governo
com a favela
c) linguagem padrão
d) repetição da rotina da autora
13) Observe o poema ‘’Lixo Luxo’’ de
Augusto de Campos.
Qual a relação entre o poema
concreto e a obra Quarto de
despejo?
14) UNICAMP 2 FASE
Texto I
(…) Contemplava extasiada o céu
cor de anil. E eu fiquei
compreendendo que eu adoro o meu
Brasil. O meu olhar posou nos
arvoredos que existe no início da rua
Pedro Vicente. As folhas movia-se.
Pensei: elas estão aplaudindo este
meu gesto de amor a minha Pátria.
(…) Toquei o carrinho e fui buscar
mais papeis. A Vera ia sorrindo. E eu
pensei no Casemiro de Abreu, que
disse: “Ri criança. A vida é bela”. Só
se a vida era boa naquele tempo.
Porque agora a época está
apropriada para dizer: “Chora
criança. A vida é amarga”.
(Carolina Maria de Jesus, Quarto de
despejo. São Paulo: Ática, 2014, p.
35-36.)
RISOS
Ri, criança, a vida é curta,
O sonho dura um instante.
Depois… o cipreste esguio
Mostra a cova ao viandante!
A vida é triste ̶ quem nega?
̶ Nem vale a pena dizê-lo.
Deus a parte entre seus dedos
Qual um fio de cabelo!
Como o dia, a nossa vida
Na aurora ̶ é toda venturas,
De tarde ̶ doce tristeza,
De noite ̶ sombras escuras!
A velhice tem gemidos,
̶ A dor das visões passadas
̶ A mocidade ̶ queixumes,
Só a infância tem risadas!
Ri, criança, a vida é curta,
O sonho dura um instante.
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Depois… o cipreste esguio
Mostra a cova ao viandante!
(Casemiro J. M. de Abreu, As
primaveras. Rio de Janeiro:
Tipografia de Paula Brito,1859, p.
237-238.)
a) Nas três linhas iniciais do texto I,
a autora estabelece uma relação
entre o sujeito da ação e o espaço
em que ele se encontra. Mencione e
explique dois recursos poéticos que
compõem a cena narrativa.
b) A representação da infância no
texto I se aproxima e, ao mesmo
tempo, difere daquela que se
encontra no texto II. Considerando
que o texto I é um excerto do diário
de Carolina Maria de Jesus e o texto
II é um poema romântico, identifique
e explique essa diferença na
representação da infância, com base
nos períodos literários.
15) UEL 2021 Leia o trecho de
Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus, e responda
a questão 15 e 16
15 de maio
Tem noite que eles improvisam uma
batucada e não deixa ninguém
dormir. Os visinhos de alvenaria já
tentaram com abaixo assinado
retirar os favelados. Mas não
conseguiram. Os visinhos das casas
de tijolos diz:
– Os políticos protegem os
favelados.
Quem nos protege é o povo e os
Vicentinos. Os políticos só aparecem
aqui nas epocas eleitoraes. O senhor
Cantidio Sampaio quando era
vereador em 1953 passava os
domingos aqui na favela. Ele era tão
agradavel. Tomava nosso café,
bebianas nossas xícaras. Ele nos
dirigia as suas frases de viludo.
Brincava com nossas crianças.
Deixou boas impressões por aqui e
quando candidatou-se a deputado
venceu. Mas na Camara dos
Deputados não criou um projeto para
beneficiar o favelado. Não nos
visitou mais.
... Eu classifico São Paulo assim: o
Palacio, é a sala de visita. A
Prefeitura é a sala de jantar e a
cidade é o jardim. E a favela é o
quintal onde jogam os lixos.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto
de despejo: diário de uma favelada.
10ª ed. São Paulo: Ática, 2014. p.32.
Assinale a alternativa que
estabelece a exata correlação entre
Quarto de despejo e os romances
Casa de pensão, de Aluísio
Azevedo, e Clara dos Anjos, de Lima
Barreto
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a) A miséria dos favelados de Quarto
de despejo é experimentada
também pelos moradores da pensão
e pelos parentes do protagonista no
romance Casa de pensão.
b) As dificuldades enfrentadas pelas
personagens de Quarto de despejo
numa cidade grande como São
Paulo têm pontos de contato com o
individualismo que cerca as
personagens de Casa de pensão.
c) A distância do acesso ao poder
representada em Quarto de despejo
é equivalente ao caráter
desprotegido que atinge o
protagonista de Casa de pensão e as
personagens que com ele convivem.
d) A associação da favela ao lixo em
Quarto de despejo é uma retomada
das condições de moradia de
personagens como Clara dos Anjos
e Cassi Jones na narrativa de Lima
Barreto.
e) O descaso dos políticos focalizado
em Quarto de despejo é o
comportamento que conduz a
protagonista Clara ao desespero
quando ela se vê abandonada por
Cassi Jones e pelas autoridades.
16) Com base na leitura do trecho,
considere as afirmativas a seguir
I. O trecho “bebia nas nossas
xícaras” corresponde a uma imagem
que busca no cotidiano e na alusão
a seus objetos materiais a
composição de uma cena que é
desmascarada ainda no mesmo
parágrafo.
II. A expressão “frases de viludo” cria
o contraste entre a fala sofisticada do
político e o uso da linguagem a que
recorre a própria autora em sua
prática de escrita baseada na
simplicidade e na autenticidade.
III. A expressão “frases de viludo”
revela afastamento em relação à
norma culta, ao mesmo tempo em
que demonstra desenvoltura da
autora para exibir consciência
política e índole poética.
IV. O trecho “bebia nas nossas
xícaras” comprova a capacidade da
autora para construir passagens
líricas, desvinculando-se da temática
política e social e do tom ácido e
inconformado.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são
corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são
corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são
corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III
são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV
são corretas.
17) Acerca dos recursos linguístico-
semânticos empregados no trecho,
considere as afirmativas a seguir.
I. Em “Tomava nosso café, bebia
nas nossas xícaras. Ele nos dirigia
as suas frases de viludo. Brincava
com nossas crianças”, o referente
dos pronomes “nosso, nossas, nos”
aparece no início do texto:
“favelados”.
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II. Em “E a favela é o quintal”, o
conectivo “E” apresenta, a um só
tempo, sentido de adição, de acordo
com a sequência de períodos que o
precede, e oposição, materializada
nos substantivos “jardim”, “quintal” e
“lixos”.
III. A expressão “visinhos de
alvenaria” é um exemplo que
caracteriza uso de linguagem
denotativa.
IV. Em “E a favela é o quintal onde
jogam os lixos”, o termo “onde” pode
ser substituído por “aonde”,
preservando o respeito à norma culta
e ao sentido original.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são
corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são
corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são
corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III
são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV
são corretas.
1) Alternativa D
Vemos que a linguagem que
Carolina utiliza em seus escritos é
popular, e não culta, apresentando
muitas marcas de oralidade e da fala
coloquial. Além disso, todas as
outras estão certas, pois Carolina
encontrou um modo de extravasar
sua raiva e de fazer uma denúncia
social de um contexto no qual ela
estava inserida por meio dos papéis
que ela encontrou na rua.
2) Alternativa B
Não é o ato de recolher resíduos que
seria uma evasão, e sim o ato de
escrever e relatar seu cotidiano e
sua situação social. Carolina
recolhia resíduos porque uma de
suas únicas fontes de renda era
vendê-los.
3) Alternativa D
Carolina não dá nenhum enfoque
especial às pessoas que trabalham
em casas de luxo, e sim compara a
favela com um quarto de despejo,
porque lá seria um lugar que as
pessoas ignoram, e em que os
moradores são vistos como à
margem da sociedade, ignorados e
largados. Assim, Carolina faz uma
forte denúncia social, ao trazer a fala
de alguém do quarto de despejo para
o olhar público.
4) Alternativa C
a) não é comum na poesia o uso da
objetividade, é possível ver que a
Carolina narra objetivamente, sem
lirismos.
b) não é impessoal, pois ela narra
sua vivência no contexto de pobreza
e miséria.
d) é sim, diários são gêneros comuns
e) não, é gênero no qual o autor
interpreta um determinado assunto,
com viés jornalístico.
5) Alternativa A
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I. Nesse trecho do livro Quarto de
despejo de Carolina Maria de Jesus,
há variação linguística relacionada à
posição social da escritora.
II. Nesse trecho do livro Quarto de
despejo de Carolina Maria de Jesus,
há variação linguística relacionada
ao grau de escolaridade da autora.
(Incorreto, a autora, embora semi-
analfabeta, emprega a forma culta
da língua adequadamente)
III. A variação de registro, que se
caracteriza pelo uso formal e
informal da linguagem, apontam que
os desvios gramaticais presentes no
texto são propositais e inaceitáveis
para esse gênero textual. (Incorreto,
não são inaceitáveis para esse
gênero textual, trata-se de um diário)
É correto o que se afirma em: I
apenas
6) Alternativa B
A obra "Quarto de despejo", de
Carolina Maria de Jesus, aborda o
modelo do cotidiano da população
no ambiente das favelas, onde a
narradora tenta sobreviver nas ruas
da grande São Paulo como catadora,
procurando nos lixos as sobras dos
demais.
Nesse contexto, é abordada a ideia
de que o que para uns é sobra, para
outros é considerado ouro. Sendo
assim, o tema que é abordado no
livro, presente no texto apresentado,
compreende a fome.
Aviltar: Tornar-se indigno; perder a
honra;
7) Percebe-se, por meio da leitura,
que não há saída possível para a
miséria. Apesar de uma esperança
de melhora por parte da autora, por
causa do ano novo, a rotina da favela
não se altera. É interessante abordar
o cotidiano sofrido da catadora,
acordando cedo, submetendo-se a
trabalhos braçais pesados,
carecendo de infraestrutura no
barraco em que mora. É importante
também demonstrar como o registro
autobiográfico de Carolina de Jesus
explicita a denúncia das péssimas
condições de vida dos
marginalizados, cujas vidas
precárias não se alteram.
8) O ponto de vista da escritora
enfatiza como os ricos ignoram e
descartam os mais pobres, por isso
Carolina se considera também um
despejo social. É importante
confirmar essas ideias extraindo
elementos dos excertos que
comprovem a ideia referente à
precariedade da vida dos
marginalizados, que vivem de comer
restos, alimentando-se do lixo, além
dos materiais recicláveis que catam
para obter alguma fonte de renda.
9) Alternativa D
Em Quarto de despejo, o verbo
“catar” está associado à rotina de
Carolina Maria de Jesuscomo
catadora de lixo, vivendo em uma
favela como objeto descartado, ao
mesmo tempo que faz da
experiência de viver do lixo a própria
matéria para a sua criação literária.
10) Alternativa C
O diário de Carolina de Jesus,
"Quarto de Despejo", retrata a vida
da escritora. No trecho, percebe-se
uma questão social historicamente
combatida no mundo inteiro, que é a
LETRA C (má distribuição de renda).
Carolina Maria de Jesus, escritora,
poetisa e compositora brasileira,
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tendo o seu diário "Quarto de
Despejo: Diário de uma Favelada",
publicado em 1960, a obra mais
famosa e reconhecida da sua
carreira artística. Além disso, foi
umas das primeiras mulheres pretas
a serem lidas e consideradas
autoras pela sociedade brasileira.
Em seu diário, Carolina, com uma
escrita simples e rotineira, narra a
sua trajetória pobre na cidade de
São Paulo. Ela, empregada e
catadora de latinhas, trabalhava o
dia todo para poder sustentar seus
filhos em meio a uma vida de
injustiças e violência.
Carolina denunciava a pobreza e a
desigualdade que assolam o Brasil e
escreve de modo direto as suas
dificuldades, relatava a fome, a
pedofilia, a revolta com o mundo, a
miséria, a vida nas favelas e vários
outros assuntos de extrema
importância.
11) Alternativa E
a) Falsa. No texto apresentado não
há passagem alguma de trechos da
obra.
b) Falsa. Apesar de você ter uma
apresentação sucinta da obra, não
ocorre o resumo do seu enredo
(creio que essa estaria certa caso
houvesse um enfoque maior nos
personagens e tal, mas não é isso
que ocorre)
c) Falsa. Caso esse fosse o objetivo
do fragmento, o texto estaria
desenvolvendo mais aspectos
acerca da autora.
d) Falsa. Em momento algum
observamos o texto analisando a
linguagem que a autora utiliza.
e) Correta. Ao utilizar a interlocução,
percebemos um contato direto com
quem está lendo com o objetivo de
instigar a pessoa a ler a obra.
12) Alternativa C
O texto foge da linguagem padrão,
contendo marcar da linguagem
informal e da variação social como
forma de mostrar a condição social
na qual vivia a autora.
13) Além da situação de miséria
retratada no livro "Quarto de
despejo", no qual as personagens
vivem em região de favela e a partir
da qual é possível fazer leituras entre
o teor do livro e o poema "Luxo", há
ainda uma relação mais significativa
entre as duas formas de
composição.
Ocorre que "Quarto de Despejo" é
originado de um diário elaborado
pela autora Carolina Maria de Jesus
a partir de papéis que catava no lixo
urbano.
Aqui é possível fazer um jogo de
sentidos com o poema "Luxo":
enquanto que no poema se retrata o
lixo que advém/resulta de práticas
consumistas e que são consideradas
luxuosas; no livro temos o inverso, a
partir do lixo, da escassez é criada
uma obra literária carregada, desde
a seu material originário de
composição, de sentidos profundos,
ou seja, do lixo advém uma
verdadeira peça de "luxo".
14) a) Os dois recursos poéticos
observáveis nas três primeiras linhas
são: rima e personificação. Há rima
entre “anil” e “Brasil” e
personificação em dois momentos, a
folhas aplaudem o amor à pátria e o
olhar “pousou” nos arvoredos.
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b) No Romantismo, a infância é
idealizada, considerada como o
momento da felicidade perdida. O
texto de Carolina foi escrito na
década de 50 na mesma período da
Terceira Geração Modernista. Ou
seja, sua obra é pulicada depois de,
pelo menos, dois movimentos
literários recusarem a idealização
romântica: o realismo e o
Modernismo.
De certa forma, isso permitiu que
Carolina pudesse registrar sem
idealização o real sofrimento que se
vive na infância, principalmente se a
criança for extremamente pobre.
15) Alternativa B
Os moradores da pensão e, menos
ainda, os parentes do protagonista
do romance de Aluísio Azevedo
não experimentam a miséria como
os favelados de Quarto de despejo.
O mesmo vale para o acesso ao
poder, que não é equivalente. O
lixo, em Clara dos Anjos, não é tão
ostensivo quanto em Quarto de
despejo. Não é o descaso dos
políticos que leva Clara dos Anjos
ao desespero, mão o abandono de
Cassi Jones.
16) Alternativa D
A autora não se desvincula da
temática política e social nem do
modo ácido com que a aborda.
17) Alternativa A
I. Correta. O referente dos
pronomes destacados é citado na
segunda e na quarta linha do texto:
“favelados”.
II. Correta. O conectivo “E” adiciona
as ideias apresentadas no período,
acrescentando informações ao leitor,
ao mesmo tempo em que marca uma
relação de oposição entre as
condições de quem vive em cada
“local” citado.
III. Incorreta. A expressão
caracteriza uso de linguagem
conotativa.
IV. Incorreta. O termo “onde” indica
permanência em um lugar, não
podendo ser substituído por “aonde”,
que indica movimento “para” um
lugar, usado com verbo cuja
regência necessita de preposição,
como “ir” (eu sei aonde queres ir)
Enredo e escrita da autora:
culturagenial.com
Conflitos, religiosidade,
publicação e personagens:
beduka.com
Sobre a autora, crítica social e
contexto histórico:
todoestudo.com.
Entrevista: brasildefato.com.br
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Moacyr Jaime Scliar
Moacyr Jaime Scliar nasceu a 23 de
março de 1937, no hospital da
Beneficência Portuguesa, em Porto
Alegre (RS). Seus pais, José e Sara
Scliar, oriundos da Bessarábia
(Rússia), chegaram ao Brasil em
1904. Filho mais velho do casal, que
teve ainda Wremyr e Marili, desde
pequeno demonstrou inclinações
literárias. O próprio nome Moacyr já
é resultado dessa afinidade. Foi
escolhido por sua mãe Sara após a
leitura de Iracema, de José de
Alencar, significando “filho da dor”.
Ele próprio dizia: “os nomes são
recados dos pais para os filhos e são
como ordens a serem cumpridas
para o resto da vida”.
“Cada leitor da obra do Scliar tem
seu gênero preferido. Mas todos
reconhecem nele, acima de tudo,
seja na ficção, no ensaio ou na
crônica, um estilo altamente
humanista, que o torna dono de
valores universais”, segundo o
escritor gaúcho Luiz Antônio Assis
Brasil, para quem a ABL, ao aceitá-
lo como imortal, fez justiça não só ao
Rio Grande do Sul, mas também ao
grande escritor que ele foi, capaz de
introduzir na literatura brasileira a
contribuição que outros escritores de
origem judaica deram à literatura
mundial. Sua ficção insere a
temática do imigrante judeu e urbano
no imaginário da literatura sul-rio-
grandense.
Moacyr Scliar é considerado um dos
escritores mais representativos da
literatura brasileira contemporânea.
Os temas dominantes de sua obra
são a realidade social da classe
média urbana no Brasil, a medicina e
o judaísmo. Suas descrições da
classe média eram, frequentemente,
inventadas a partir de um ângulo
supra-real.
Reúne crônicas ficcionais escritas
por Moacyr Scliar, baseadas em
notícias reais publicadas no jornal,
para a Folha de S. Paulo, onde o
escritor teve uma coluna por quase
duas décadas. “Nestas 54 crônicas,
publicadas entre 2004 e 2008, há
textos extremamente reveladores da
condição humana, como aqueles
que falam do amor desgastado pelo
tempo e do amor que se renova, ou
dos que têm a vingança, a cobiça e
traumas de infância como tema. Mas
por mais sério que seja o assunto,
Scliar consegue imprimir um toque
de leveza e humor, como é
característico de suas inúmeras
colaborações para a imprensa.
Nesta seleção, vê-se como
banalidade do cotidiano, nas mãos
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de um grande escritor, pode se
tornar uma bela leitura”(Nota dos editores na primeira orelha do livro. 2019).
A temática é bastante diversa,
envolvendo relacionamentos,
avanços tecnológicos, questões
sociais, política e questões que
poderiam ser triviais, mas tem graça
e leveza pelos olhos de Scliar.
Como exemplo, três crônicas com
temas recorrentes na obra:
• O carrinho ciumento=
Tecnologia
• O Futuro da geladeira=
Crítica Social
• O Amor é um jogo de tiro ao
alvo= relacionamentos
A Crônica é um gênero textual que
tem como principal característica a
compilação de fatos cotidianos. Ela
possui uma ordem de sucessão no
tempo, poucos personagens, é de
curto tamanho, costuma gerar
alguma reflexão e normalmente é
publicada nos jornais e revistas.
Ela é muito utilizada em textos
cotidianos publicados por revistas,
jornais ou blogs, porque as crônicas
fazem parte de uma escrita mais
simples e fácil de ser
compreendida. Além disso, é
responsável por tornar o texto mais
próximo ao leitor. Isso permite que o
texto se torne mais simples, como
uma conversa entre amigos,
tornando a leitura mais divertida.
Dentre os diversos tipos de textos
que possuímos, a crônica é a mais
utilizada para descrever situações
do nosso dia a dia. Em geral, as
crônicas tratam de temáticas
comuns sobre assuntos que estão
na ‘boca do povo’.
As características das crônicas:
• narrativa curta;
• uso de uma linguagem
simples e coloquial;
• presença de poucos
personagens, se houver;
• espaço reduzido;
• temas relacionados a
acontecimentos cotidianos.
O futuro da geladeira
Esta crônica, assim como todas as
outras, nasce de uma notícia que foi
veiculada no jornal, ou seja, um fato
verídico. A notícia do jornal conta a
história de uma mulher de 80 anos
que desiste de seu sonho de
ingressar em uma universidade por
ter que escolher se pagaria a
inscrição ou compraria uma
geladeira.
A partir desse fato, Scliar desenvolve
a crônica. Nela, ele mostra um
impasse entre o desejo da
personagem do reconhecimento
social e pessoal através dos estudos
ou a consertar a geladeira que
significaria continuar a manter a
comida em sua casa.
“Com o curso ela poderia tornar-se
mesmo com idade avançada, uma
daquelas dinâmicas executivas cuja
foto via em jornais e em revistas.” (p.
23)*
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“ Era o curso ou a geladeira. Era
apostar no futuro ou resolver os
problemas do presente. Ou se
inscrevia na universidade ou pagava
a prestação na loja: tinha de
escolher. Dilema penoso.” (p.24)
A partir dos trechos citados e da
leitura da crônica, podemos
perceber uma crítica social. O autor
coloca em dilema dois pontos que
deviriam ser essenciais e
asseguradas pelo Estado: educação
e alimentação. O texto nos mostra
que a personagem não tem nenhum
deles assegurados. O dois
elementos essenciais são colocados
para decisão.
Nesta caso temos:
Educação X Alimentação
Educação: como símbolo de
prosperidade
Alimentação: símbolo de
sobrevivência
Outro fator passível de análise é o
próprio título “O Futuro da geladeira”,
já que a personagem não consegue
dar vasão aos seus anseios para o
futuro, quem fica com o futuro
garantido é a geladeira.
O Amor é um jogo de tiro ao
alvo
A crônica nasce da seguinte notícia:
Nos Estados Unidos, a moda agora
é fazer a festa de separação. As
festas tornaram-se grande eventos,
e algumas empresas estão se
especializando nessa demanda que
cresce.
De reuniões discretas a festanças de
arromba, de shows performáticos a
viagens extravagantes, vale tudo na
hora de comemorar essa nova fase
da vida, inclusive jogar dardos na
foto do ex. ( 03/12/2007)
A crônica conta que após amargar
uma separação dolorosa, a mulher
decide, com o auxílio e pressão de
suas amigas, mostrar ao mundo o
seu novo estado:
“ Finalmente ela saiu da fossa e,
para mostra-lo ao mundo, resolveu
dar uma festa de arromba, uma festa
cuja lembrança incomodasse o ex
pelo resto de seus dias. Teria de
usar para isso todas as suas
economias, mas certamente valeria
a pena.” (p.35)
O ponto principal escolhido para ser
analisado no trecho citado é o de a
motivação da festa era mostrar ao
mundo. Ou seja, o desejo de festejar
vinha com a necessidade de
assegurar aos demais de que a
personagem estava bem e que isso
fizesse mal ao ex.
A festa é realizada com grande
sucesso, mas em dado momento,
assim como traz a notícia, houve a
hora de jogar os dardos na foto do
ex-namorado:
“ O mestre de cerimônia entregou à
moça três dardos. Ela deveria atirá-
los na foto. E, quando o terceiro
dardo ali se cravasse, ela poderia se
considerar liberta daquela dolorosa
ligação.” (p.36)
A crônica parte para um ponto de
tensão em que a personagem passa
a errar os dardos na frente de todos.
A pressão e grito dos convidados a
deixam angustiada:
“ Àquela altura estava transtornada
de raiva e de desespero. Assim
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como errara na vida, estava errando
com os dardos. E isso não podia
acontecer, não podia. Ela tinha de
acabar com aquele maldito.”
(SCLIAR,2019 p.37)
Ao fim da crônica sabe-se que a
personagem foi viver reclusa no
interior junto aos pais.
Diferente do início em que quer
provar a todos que está bem e
depois jogando os dardos quando
diz que se sentia fracassada.
Podemos analisar a crônica a partir
da ideia de que a personagem busca
uma imagem social adequada, em
que não se pode sofrer por um
relacionamento e nem se sentir
fracassada. Até mesmo os
sentimentos os sentimentos em
relação ao ex vão se mostrando
diferentes do que ela pretende
mostrar para os amigos;
Seguindo este pensamento, ainda
podemos pensar nas temáticas:
• Aparência X essência
• Necessidade de aprovação
social
• Um mundo em que o fracasso
não é permitido
• Qualquer dor deve ser
rapidamente suprida
• Todos esses temas podem
ser encontrados na crônica e
corroboram para possíveis
análises.
O carrinho ciumento
A crônica nasce a partir da seguinte
notícia:
Carrinho de supermercado
inteligente está destinado a se
transformar em arma da luta contra a
obesidade. Especialistas em
tecnologia criaram um carrinho que
alertará o cliente do supermercado
assim que for colocado nele algum
produto rico em gordura, açúcar ou
sal. O carrinho possui uma tela
interativa na qual os códigos de
barras desses produtos, uma vez
escaneados, ativarão uma luz
vermelha de aviso. Quando o cliente
introduzir seu “ cartão de fidelidade ”
no supermercado onde faz
normalmente suas compras, o
carrinho “ saberá” imediatamente se
ele é solteiro, casado e quantas
vezes faz compras por semana. E
“saberá” levar o cliente às prateleiras
que estão mais de acordo com suas
preferências. ( 26/11/2007)
Embora a notícia seja de 2007, o
tema mostro muitíssimo atual.
Podemos pensar no impacto da
tecnologia em nossas vidas e em
nossas escolhas. A informação de
alguns dados leva a inteligência de
vários outros como à própria notícia
anuncia.
O personagem da crônica é um
adepto do carrinho. Solteiro, com
excesso de peso e fã de tecnologia,
ele logo se encantou pelo carrinho.
Além disso, o carrinho da tinha um
diferencial:
“ [...] o carrinho avisava-o da
proximidade de um amigo ou de um
companheiro de trabalho,
acendendo uma luzinha verde,
proporcionando amáveis encontros.”
(p.33)
O homem encontra no
supermercado a mulher dos seus
sonhos, e embora tímido decide de
arriscar e vai falar com ela.
Mas houve um problema com o
carrinho que ao chegar perto da
moça:
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“ A luz vermelha do carrinho
começou a piscar furiosamente ao
mesmo tempo em que uma espécie
de sirena, de cuja existência ele nem
sabia, soava insistentemente. (p.33)
“A barulheira chamou a atenção da
moça. Sorrindo,disse que o carrinho
deveria estar estragado e sugeriu
que ele o abandonasse num canto.
(p.33)
Foi então que os dois começaram
um relacionamento e não foram mais
ao mercado. A crônica termina com
humor:
“Um dia o esperará na saída do
prédio para jogar-se sobre ele e
atropelá-lo. Carrinhos ciumentos são
um perigo. (p.34)
A crônica “O carrinho ciumento” traz
dois temas relevantes:
1- a tecnologia; neste caso,
inicialmente o uso do carrinho
parece facilitar muito a vida de seus
usuários, mas depois revela-se uma
ferramenta cerceadora.
2- os relacionamentos: a tecnologia
aliada ao interesse do ser humano
em se comunicar e sentir-se melhor
dão à crônica um direcionamento
que recaí no humor.
Análise geral
Moacyr Scliar parte de notícias reais,
relacionadas ao cotidiano de
pessoas desconhecidas e de alguns
fatos inusitados, para escrever cada
uma das 54 crônicas publicadas
nessa obra. Podemos encontrar
desde a continuação imaginada pelo
autor da história da notícia, como
também um universo fantástico
partindo da visão de seres
inanimados, como, por exemplo, em
O rádio Apaixonado e O carrinho
ciumento, onde os objetos (o rádio
e o carrinho) conduzem a narrativa:
“’Minha querida dona, sei que você
anda se queixando de mim,
publicamente, até. Você não pode
imaginar o sofrimento que isto me
causa, mesmo porque você
provavelmente acha que rádios são
objetos inanimados, sem vida
própria.” (Trecho de O rádio
Apaixonado, p. 14, 2019).
É importante lembrar que nesse
livro, Scliar escreve em linguagem
simples, por vezes em primeira
pessoa, por vezes em terceira
pessoa, com pouquíssimos diálogos,
abrindo vez ou outra para as
personagens falarem, através do
discurso direto. Sendo assim, os
textos contidos nessa obra têm as
características do gênero literário
crônica: narrativa curta, poucos
personagens, linguagem simples ou
coloquial e acontecimentos do
cotidiano, acrescidos das
características do gênero ficção, que
traz uma narrativa imaginária e irreal,
mesmo que partindo de um fato real
para a sua criação.
No início de cada crônica, o autor
nos apresenta a notícia ou as
notícias, que o inspirou para o texto.
Notícias do Brasil e de outras partes
do mundo. Com exceção de Depois
do Carnaval, que é uma crônica
escrita por diversos títulos de
notícias do Brasil, sobre, por
exemplo, questões políticas,
ambientais e legais, que seriam
resolvidas ou decididas somente
depois do Carnaval. Todas as
notícias dessa crônica têm
destacado em negrito a expressão
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depois do carnaval. Assim, Scliar
evidencia o dito popular de que a ano
no Brasil só começa realmente
depois do carnaval. Nessa crônica
não há ficção, mas fatos reais que
até parecem fictícios.
Scliar aborda o tema da corrupção
brasileira nas crônicas Cueca-Cofre,
baseada em três notícias sobre o
muito conhecido “dinheiro na cueca”,
em Torpedos, dividido em duas
crônicas, que na primeira O torpedo
no vestibular, escreve sobre o
esquema de tentativas de fraude no
vestibular para o curso de Medicina
em universidades públicas, e em
Massageando o Dorso Político,
baseada em uma notícia sobre uma
compra superfaturada de poltronas
de massagem para vereadores em
Espírito Santo.
Já em O Futuro na Geladeira, com
a notícia de uma senhora de 80 anos
que adiou o sonho de fazer o
vestibular para usar o dinheiro da
inscrição para pagar a prestação da
geladeira, Scliar nos
traz a dura realidade de muitos
brasileiros e muitas brasileiras,
evidenciando a desigualdade social
no nosso país. Porém, na sua obra
fictícia, nos traz a esperançosa
ilusão de que essa senhora poderá
realizar o sonho no próximo ano,
imaginado que ela guardaria a
garrafa de champanhe da
comemoração de uma possível
aprovação em sua geladeira nova.
No último parágrafo, podemos
pensar que ele fala de guardar a
garrafa no fundo da geladeira, mas
também podemos interpretar como o
sonho sendo congelado, se
mantendo conservado, para em
outro momento ser retomado:
“Resolveu guardar a garrafa. Bem no
fundo da geladeira. Um dia ela ainda
ingressaria no curso de
administração; um dia brindaria a
seu futuro. Era só questão de
esperar.
Sem medo: Uma boa geladeira
conserva qualquer champanhe.” (p.
25).
O humor contido em algumas
crônicas se dá principalmente
através da ironia e quebra de
expectativa. É preciso relembrar,
para análise de textos literários, que
o humor aqui, não necessariamente
nos causa muitas risadas.
Como exemplo, podemos observar a
crônica Conquistas Culinárias, que
é baseada em uma reportagem de
uma pesquisa sobre homens que
sabem cozinhar e que são mais
atraentes por isso. Na crônica, Scliar
traz um homem que não sabia
cozinhar e que aprende para
conquistar uma paquera de muito
tempo. Porém, o homem se envolve
tanto com a culinária, e tentando
solucionar o problema do prato que
deu errado no tão esperado encontro
com a mulher que ele desejava, que
acaba deixando de lado a paquera,
direcionando o seu interesse para a
culinária. E é nesse final inesperado
(quebra de expectativa) que
encontramos o humor da crônica.
Por fim, podemos encontrar entre os
temas das crônicas a solidão,
traição, sonhos, corrupção e a
modernidade através das invenções
científicas. Temas que permeiam a
humanidade. Além disso, a obra nos
permite pensar em como a vida
realmente imita a arte, trazendo
histórias reais que parecem ter saído
da imaginação de alguém,
percebendo o quão complexo é o ser
humano, e tendo na ficção uma
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continuidade e destaque, mantendo-
se vivas através da criatividade,
sensibilidade e registro do autor
O que é uma crônica:
todamateria.com e beduka.com
Enredo: pré-vestibular CEPV
Temáticas e principais crônicas:
slide disponibilizado por Renata
Ferreira, pós-graduada na UEL
Sobre o autor: ebiografia.com
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Mário de Andrade
Mário de Andrade foi um escritor
modernista, crítico literário,
musicólogo, folclorista e ativista
cultural brasileiro .Seu estilo literário
foi inovador e marcou a primeira fase
modernista no Brasil, sobretudo,
pela valorização da identidade e
cultura brasileira. Ao lado de
diversos artistas, ele teve um papel
preponderante na organização da
Semana de Arte Moderna (1922).
Mário Raul de Morais Andrade
nasceu na cidade de São Paulo, no
dia 09 de outubro de 1893.
De família humilde, Mário possuía
dois irmãos e desde cedo mostrou
grande inclinação às artes,
notadamente a literatura.Em 1917,
estudou piano no “Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo”,
ano da morte de seu pai, o Dr. Carlos
Augusto de Andrade. Nesse mesmo
ano, com apenas 24 anos, publica
seu primeiro livro intitulado “Há uma
Gota de Sangue em cada Poema”.
Em 1938, muda-se para o Rio de
Janeiro. Foi nomeado catedrático de
Filosofia e História da Arte e ainda,
Diretor do Instituto de Artes da
Universidade do Distrito Federal.
Retorna à sua cidade natal, em
1940, onde começa a trabalhar no
Serviço de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN). Poucos
anos depois, sua saúde começa a
ficar frágil. No dia 25 de fevereiro de
1945, aos 51 anos de idade, Mário
de Andrade falece em São Paulo,
vítima de um ataque cardíaco.
Publicados postumamente, em
1947, os contos desta obra trazem
personagens, espaços e tipo de
trama reveladores de um Mário de
Andrade queacreditava na produção
cultural como denunciadora da
realidade, sem perder suas
características artísticas e estéticas.
Vestida de preto
Nele, o narrador aborda um amplo
período de sua vida. Tudo começa
na infância. Flagramos Juca (o
narrador) e sua prima, de família
abastada (alguns estudiosos
apontam as dificuldades do
relacionamento Juca / Maria,
provocadas pela diferença social,
como um aspecto autobiográfico)
brincando de família com outras
crianças numa casa de vários
cômodos. Deitados, o menino,
posicionado atrás da companheira,
acaba encantando-se com a vasta
cabeleira que tem à sua frente,
mergulhando a cabeça nela,
enquanto Maria entrega-se,
estorcendo-se de prazer, com o
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contato dos lábios do menino em sua
nuca.
• São interrompidos com a chegada
de Tia Velha (outro elemento
autobiográfico. Mário de Andrade
possuiu uma tia com as mesmas
características de Tia Velha), que os
flagra, dá-lhes uma bronca e ameaça
delatá-los. O que acontece aqui é
como a Queda do Paraíso (Mário de
Andrade era muito católico).
• Os dois separam-se, assustados e
envergonhados, e nunca mais
aquela sensação de êxtase e
felicidade vai ser recuperada, apesar
de as duas personagens buscarem,
à sua maneira, recuperar esse bem
perdido.
• Interessante é notar o papel que a
Tia exerce. Antes de sua chegada, a
brincadeira não tinha nenhuma
conotação indecente.
• Maria se casa com um diplomata e
vai morar no exterior.
• Juca, na tentativa de mostrar seu
valor, torna-se um estudioso
obcecado e divide seu amor entre
duas mulheres: Rosa para de noite e
Violeta, como namoradinha oficial.
• Muitos anos depois, chega a
notícia da volta de Maria ao Brasil.
Juca vai revê-la. No reencontro, todo
o embaraço do passado volta e nada
consegue dizer para quebrar a
barreira erguida entre ambos , mas
vendo-a vestida de preto um enorme
desejo de possuí-la, o que não
acontece.
• Maria volta para o exterior e Juca
continua guardando este grande
amor.
• Fica nas entrelinhas a idéia de que
seria positiva a união dos dois, pois
sossegaria o espírito afoito da
mulher.
Esse conto é narrado pelo próprio
Juca, personagem que ainda
aparece em outras duas histórias
deste livro. As memórias do rapaz
assemelham-se muito a fatos
ocorridos na vida do autor, o que dá
ao texto um certo tom autobiográfico.
Além disso, vale observar a
simplicidade da linguagem, marca
típica tanto de Mário de Andrade
quanto da primeira geração
modernista. Nota-se também a
simbologia dos nomes rosa é a flor
símbolo da paixão e violeta, da
amizade.
O ladrão
Sua narrativa é simples: toda uma
vizinhança é acordada com a gritaria
de perseguição a um ladrão.
• Num primeiro momento, marcado
pela agitação, os moradores reagem
com atitudes que vão do medo ao
pânico e à histeria, anulados pela
solidariedade com que se unem na
perseguição ao ladrão.
• Num segundo momento,
caracterizado pela serenidade e
enleio poético, um pequeno grupo de
moradores experimenta momentos
de êxtase existencial.
Os comportamentos se sucedem,
numa linha que vai do instinto
gregário ao esvaziamento trazido
pela rotina. O engraçado é que
ninguém chega a ver esse bandido,
o que leva à dúvida sobre sua
existência. No entanto, serviu para
unir as pessoas em plena
madrugada para viverem um pouco
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da alegria coletiva, o que já estava
começando a desaparecer na São
Paulo da época de Mário de
Andrade.
• Chama a atenção nesse conto
como o elemento coletivo é bastante
vivo, chegando perto da técnica
apresentada por Aluísio Azevedo em
O Cortiço. (Intertextualidade)
Narrado em 3ª pessoa, de forma
despojada, este conto nos revela a
tendência do ser humano de
envolver-se nos fatos e emitir
julgamentos sem mesmo saber do
que se trata, fato que, muitas vezes
gera grandes desastres e, em
outras, como neste caso, acaba em
festa. Ainda, este conto como em
outros é anedótico, e na opinião de
alguns criíticos, como Massaud
Moisés, perde um pouco de sua
função devido ao fato de o autor se
ter alongado na história.
Primeiro de Maio
Conflito de um jovem operário,
identificado como "chapinha 35",
com o momento histórico do Estado
Novo. 35 vê passar o Dia do
Trabalho, experimentando reflexões
e emoções que vão da felicidade
matinal à amargura e desencanto
vespertinos. Mesmo assim, acalenta
a esperança de que, no futuro, haja
liberdade democrática para que
"sua" data seja comemorada sem
repressão.
• O conto possui uma excelente ideia
que pecou pelo aspecto panfletário.
Sua personagem principal, 35 (a
maneira como as personagens são
nomeadas, por meio de números,
não só indica a desumanização por
que passam dentro do sistema
capitalista, como também faz
referência a datas importantes, como
35 (ano em que foi decretado o
feriado de Primeiro de Maio)
• No momento em que vai para a
Estação da Luz ele é comparado a
uma negra em disponibilidade; isto é
sem trabalho, vagabundeando
É interessante notar neste conto que
as personagens não têm nome, o
que revela uma crítica á
massificação do operariado, ideia
que vai ao encontro das aspirações
políticas do autor. Além disso, a
história discute a ausência de
sentido do feriado do Dia do
Trabalhador, posto que par 35, nada
de bom ou proveitoso acontece
neste dia. É fundamental, também
perceber que 35 é um trabalhador
alienado, que não compreende as
informações que lê nos jornais ,
mesmo assim sofre uma
transformação ao fim do dia , embora
não seja capaz de traduzi-la
verbalmente. Por fim, o uso do
discurso indireto livre é feito de forma
muito bem empregada, dando voz
aos confusos pensamentos da
personagem.
Atrás da catedral de Ruão
Alda e Lúcia, duas adolescentes
aprendem francês com uma
quarentona , virgem transformada
pela mãe. As aulas são pontuadas
por insinuações maldosas sobre
sexo, deixando a solteirona
envergonhada e excitada ao mesmo
tempo. As alunas, com suas
conversas de duplo sentido, acabam
fazendo com que mademoiselle que
nunca desejara um homem, fique no
“cio”. Um dia, as meninas começam
a falar que viram um homem de
barba atrás da catedral de Ruão,
mas não conseguem terminar, pois a
professora diz que já sabe o que
acontece atrás de todas as
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catedrais., Outro dia, tendo ido
comprar remédio, sentiu-se
arrastada em direção á catedral da
Sé , numa “evocação bruta de carne
vibrantes”, com medo e desejos
confusos, desejando uma
experiência maior. Tal experiência
acontece numa noite , quando
retornando da casa das meninas, ela
se sente atraída para trás da
Catedral de Santa Cecília. De uma
das ruas surgem então dois homens
e, em sua fantasia , Mademoiselle se
vê atacada e violentada por eles,
tudo é narrado como se fosse
verdade Ao fim ela lhe dá dois
níqueis , agradecendo-os pelo sexo
que viveu em sua fantasia.
Este conto nos revela tanto a fúria do
desejo contido, “ a cruel necessidade
de amar” , como diria Clarice
Lispector, quanto prazer que o ser
humano sente diante da desgraça
alheia –vide o comportamento das
meninas diante da solidão da
professora. É bom lembrar, também,
que esta temática da sexualidade
reprimida aparece em outras obras
de Mário de Andrade.
O poço
O velho Joaquim Prestes , 75 anos
homem rico e viajado, chegou ao
pesqueiro de Mogi, ás onze horas da
manhã trazendo consigo uma visita.
Vendo os empregados parados, quis
saber por que não trabalhavam. Eles
disseram que com o frio forte que
fazia ninguém conseguia ficar dentro
do poço para continuar a perfuração.
Durante a conversa tensa entre
patrão e empregados vamos
descobrindo os problemas: o
trabalho é perigoso e apenas Albino
tema prática necessária para fazê-
lo, mas é doente dos peitos. Quando
vai olhar o poço, Joaquim deixa sua
caneta valiosa cair e exige que
alguém vá pegá-la. Todos se
desesperam para recuperar a
valiosíssima caneta e o Albino
sacrifica-se na lama do fundo do
poço. As horas passam , o
sofrimento continua e Joaquim não
se abala, xinga, ofende, dá ordens
irracionais. Albino se esforça num
tormento insano e quando sai, eu
irmão enfrenta o patrão para impedir
que o serviço desumano continue.
Joaquim acaba por ceder.
Dois dias depois os empregados
encontram a caneta e vão devolvê-la
. Joaquim, sentado em seu escritório
, examina o objeto, testa-o e percebe
que não funciona: reclama por que
pisaram a sua caneta jogando-a no
lixo. De uma de suas gavetas tira
uma caixa contendo várias lapiseiras
e três canetas-tinteiro como aquela,
dentre as quais uma era de ouro
Este conto revela, na verdade, o
desprezo do patrão pela vida
humana, a qual vale menos do que
uma caneta. Mostra-nos o quanto a
relação de poder pode fazer com que
as pessoas percam o seu lado
humano e passem a tratar seus
subordinados como “exemplares
humanos”. Assemelha-se, essa
narrativa, ao que o avarento senhor
Scrooge, de Charles Dickens, faz
com seu empregado em uma fria
noite de natal. Esse tema da
indiferença humana é muito caro à
literatura e teve ainda mais força nas
mãos de autores que aprofundaram
a análise psicológica das
personagens, como Machado de
Assis.
Peru de Natal
A história passa-se poucos meses
depois da morte do pai de Juca.
Ainda sob a sombra do luto, o
narrador tem a idéia de possibilitar
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um pouco de alegria às suas “três
mães”: mãe, irmã e tia (note que
pode ser visto aqui um indício de
complexo de Édipo). Expressa o
desejo de comemorar o Natal com a
degustação de um peru.
Socialmente – não se deve esquecer
o luto – era uma ideia que poderia
ser reprovada, mas quem não
curtiria um pouco de prazer na vida?
Dessa forma, quando Juca expressa
tal desejo, serve de válvula de
escape para a família. Nenhuma
delas poderia ter feito aquele pedido,
mas o desejavam. Assim, com a
desculpa de que estavam
preocupadas em atender o desejo de
um “doidinho”, embarcam na
comemoração que também as
satisfaz (será essa a função do
artista: expressar o que os outros
têm reprimido, represado?).
• É quando o rapaz tem uma
excelente jogada. De uma forma que
pode ser entendida como hipócrita, o
narrador lembra que a mãe tinha
razão. Para tudo ficar perfeito, só
faltava mesmo a presença do
falecido, mas que onde quer que
este estivesse, estaria contente
vendo a família reunida. Com tal
expediente, em pouco tempo a
alegria retornava à mesa e todos
voltaram a devorar o peru, enquanto
o fantasma do pai começava a
diminuir.
Novamente temos aqui o retrato da
família de Juca. Desta vez vemos a
escravidão a que as relações
familiares submetem as pessoas,
sendo que a devoração do peru
simboliza a destruição da figura do
pai e, portanto, põe fim à
escravização da mãe. Para muitos
estudiosos da obra de Mário de
Andrade este conto é a obra-prima
dele em virtude do poder de síntese
alcançado pelo autor nesta narrativa.
Frederico Paciência
Novamente temos Juca como
narrador. O único texto em que Mário
de Andrade tematizou, ainda que de
forma tãotangencial, o
homossexualismo.
• Pegamos Juca na fase escolar, no
que hoje se chamaria a passagem
da 8ª série para todo o Ensino Médio.
Fase conturbada, dizem os
psicanalistas, pois é nela que se
afirma a identidade sexual, o que
implica lembrar que é nela em que tal
caráter está oscilante.
• A maneira como Juca descreve o
seu novo companheiro de escola,
Frederico Paciência, destacando seu
aspecto solar (alguns mitos
(provavelmente Mário de Andrade,
profundo estudioso desse assunto,
deveria conhecê-los) narram a
impossibilidade de relação amorosa
entre o sol e a lua, pois nunca se
encontram.
• E por aí os dois vão, deliciando-se
em passear abraçados da casa de
um para a casa de outro, a ficar no
sofá, cabeças unidas. Vivem na
proximidade do perigo, como faz
mademoiselle, de Atrás da Catedral
de Ruão. Era um recalque, assim
como o era a maneira como se
deliciavam em discutir e se
agredirem. Mas queriam apenas
intuir a sensualidade, sem jogar para
o consciente. Qualquer tentativa em
contrário era reprimida.
• Um dia, velório do pai de Frederico,
os dois tiveram um momento mágico
de sedução. Depois de expulsar um
homem preocupado, como abutre,
com negócios ligados ao
falecimento, Juca e seu amigo vão
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para o quarto. Frederico fica
conversando na semi-escuridão.
Juca perde-se admirando os lábios
carnudos de seu amigo, deitado.
Percebendo o lance, Frederico para
de conversar e levanta-se da cama.
Falta pouco, percebe-se, para os
dois entregarem-se.
• No entanto, a lembrança do pai,
ainda sendo velado, parece impor-se
entre os dois (semelhante à imagem
castradora do pai de O Peru de
Natal), esfriando completamente o
clima. A partir de então, a amizade
muda de rumo, perdendo a
intensidade.
• Por fim, o tanto vira nada.
Terminado o colégio, separaram-se,
Frederico indo para o Rio. Anos
depois, Juca fica sabendo da morte
da mãe de seu antigo amigo. Era a
grande chance de reatar tudo, sob o
pretexto de consolar o necessitado.
Mas termina por mandar um
telegrama formal, o que arrefece de
vez todo o relacionamento.
O conflito do conto deve-se ao fato
de que o narrador presente a
possibilidade de o relacionamento
entre os dois transformar-se em
homossexualismo, o que é insinuado
em vários momentos na história.
Temos aqui mais um dos “amores”
de Juca, assim como Maria, Rose e
Violeta. Para críticos como João Luis
Lafetá e Werneck Sodré, este conto
possui um tom autobiográfico, visto
que, segundo eles, o próprio Mário
de Andrade se denominava “um
vulcão de complicações”, sendo sua
luta na tentativa de sublimar a
homossexualidade de uma delas.
Nélson
Registro do comportamento insólito
de um homem sem nome. Num bar,
um grupo de rapazes exercita seu
"voyeurismo" pela curiosidade
despertada pelo estranho sujeito:
quatro relatos se acumulam, na
tentativa de decifrar a identidade e a
história de vida de uma pessoa que
vive ilhada da sociedade, ruminando
sua misantropia.
• Conto muito estranho, talvez por
ser o único que ainda não passou
pela revisão final do autor. Marcante
é a utilização de vários focos
narrativos, em que há uma técnica
cubista de colagem de várias
histórias, todas sobre o misterioso
personagem que frequenta o bar em
que todos estão.
O texto alterna os narradores e
várias versões são dadas para o
mesmo fato, revelando a existência
vazia de alguns que se preenche
com a fofoca e a especulação da
vida alheia. Este é mais um dos
temas bastante trabalhado na
literatura, tendo sido alvo (principal
ou secundário) de poemas de
Gregório de Matos, bem como de
romances como O Cortiço, de Aluízio
de Azevedo e Os Tambores
Silenciosos, de Josué Guimarães.
Tempo de camisolinha
Provavelmente seu narrador é o
mesmo dos outros três, apesar da
mudança de nome: Carlos.
• O título é uma referência à roupa
que o protagonista, ainda no início
da infância, usava, típica de criança
e que o irritava – claro sinal de que
já estava crescendo, apesar de sua
mãe não perceber. Nota-se que a
criança estava no limiar de sua idade
pelo fato de sempre estar brincando
com seu pênis, o que, dizem os
psicanalistas, equivale ao terceiro e
último momento da primeira infância,
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a fase genital. É interessante lembrar
que esse é justamente o momento
de socialização da criança: ou vai
haver um direcionamentoem sua
personalidade para o altruísmo, ou
haverá para o egoísmo.Coincidência
ou não, é este justamente o tema do
conto.
• A história passa-se numa rara
viagem de férias em Santos,
possibilitada apenas por causa de
um período de convalescença da
mãe do narrador (o pai do narrador
Carlos não era afeito a esses luxos,
o que faz lembrar o pai de Juca, de
O Peru de Natal, reforçando a tese
de se tratarem das mesmas
personagens).
• Em seus passeios, a criança, após
desafiar a santa (já se disse que
Carlos gostava de manipular seu
pênis. Mas era sempre repreendido
por sua mãe, sob a alegação de que
a santa (um quadro na parede) não
iria gostar. Nesse dia, Carlos,
aproveitando que ninguém estava
em casa, exibe com toda empáfia
seu diminuto membro para a
divindade, espantando-se por nada
acontecer. Rompia limites. Estava
crescendo), acaba ganhando de um
pescador três estrelinhas do mar. O
pobre homem havia dito, ao
presenteá- las, que serviam para dar
boa-sorte. O menino volta para casa
feliz, mesmo sem saber direito o que
era sorte, guardando as
preciosidades no quintal de sua
casa. Mas seu estado é tal que fica
toda hora indo visitar seus troféus.
• Até que, em outro de seus
passeios, conhece um português
infeliz. Fica sabendo que o sujeito
tinha “má sorte”: muitos filhos
pequenos, dificuldade para criá-los e
uma esposa paralítica. O menino
ficou penalizado. Num esforço
enorme, volta para sua casa, pega
suas estrelinhas e dá a mais bonita
para o infeliz.
• É o momento de dois grandes
aprendizados. O primeiro está na
ideia de que a nossa felicidade é
sempre diminuída pela infelicidade
que existe no mundo. O segundo é a
noção de altruísmo, mesmo que para
tanto deva diminuir seu bem-estar.
Temos aqui a singela história de um
menino que está descobrindo a si e
ao mundo e formando o seu caráter
que, como vemos pelo desfecho,
pende para o lado bom. Pode-se
dizer que esta é uma espécie de
história de aprendizagem, porém
sem a densidade existencial comum
a esse tipo de texto, como vemos em
alguns contos de Lygia Fagundes
Telles e Clarice Lispector.
- Juca: presente em vários contos na
condição de narrador, parece
funcionar como alter-ego do autor.
- 35: o protagonista sem nome de
“Primeiro de maio”, símbolo da festa
e da solidariedade que se opõem ao
estado repressivo.
- Frederico Paciência: personagem
do conto homônimo, síntese das
tentativas de vencer as barreiras
impostas pelo superego.
- Nelson: personagem do conto
homônimo, figuração da solidão.
- Mademoiselle: personagem de
“Atrás da Catedral de Ruão”,
figuração do desejo sexual
reprimido.
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- trabalhadores: presentes em “O
poço”, “Tempo da camisolinha” e
“Primeiro de maio”, evidenciam a
perspectiva social da literatura
modernista.
Contos de estrutura moderna, que
acolhem as principais correntes
ficcionistas que marcaram a
Literatura Brasileira das décadas de
30 e 40. Mais do que os fatos
exteriores, os relatos procuram
registrar o fluxo de pensamento das
personagens.
São Paulo, capital e interior, décadas
de 20 a 40; processo de urbanização
e industrialização (cidade);
patriarcalismo X progressismo
(ambiente rural).
Integra-se de forma dinâmica nos
conflitos das personagens. Por
exemplo, em "O poço", o frio cortante
do vento de julho, no interior paulista,
amplifica o tratamento desumano
que o fazendeiro Joaquim Prestes dá
a seus empregados.
Os contos podem ser classificados
em dois grandes grupos, segundo o
seu foco narrativo. Os de primeira
pessoa são quatro e têm como
protagonista o próprio narrador,
Juca. Eles se caracterizam pela
introspecção e pela sondagem
psicológica, de inspiração freudiana,
que repassa momentos significativos
da infância ("Tempo da
Camisolinha"), adolescência
("Frederico Paciência") e maturidade
do protagonista (caso de "O Peru de
Natal", o conto mais célebre do livro,
que trata do confronto de Juca com
a imagem e a memória do pai morto
e odiado).
Há neles um fundo autobiográfico,
sugerido pelo próprio Mário, que
chega a se auto-referir no primeiro
desses contos ("Vestida de Preto").
Os contos narrados em terceira
pessoa combinam o lirismo e a
investigação subjetiva com o
engajamento social, que se faz
bastante claro em "Primeiro de
Maio", "O Ladrão" e "O Poço".
Nesses casos, a inspiração de Mário
é não só humanitária, mas também
marxista, de denúncia da injustiça
social e da patética alienação do
trabalhador. Uma exceção nesse
grupo é "Atrás da Catedral de Ruão",
conto que se concentra na linha
psicológica e retrata o drama da
virgindade de Mademoiselle, uma
professora de francês de 43 anos.
Mário usou no texto muitas
expressões nesse idioma, que serve
curiosamente como um código
cifrado e disfarça, afinal, muito do
pudor do escritor.
Os Contos Novos têm sido
apreciados por razões diversas, que
vão da facilidade de sua leitura, do
realismo e da dicção coloquial das
narrativas, ao interesse ou à simples
curiosidade pela biografia e pelos
processos de composição de Mário.
O conjunto dos contos é porém muito
desigual, e eles não se incluem entre
os melhores momentos da prosa do
escritor, que estão em "Belazarte" e
"Macunaíma". Na verdade, os
Contos Novos parecem voltados à
defesa de uma estranha tese.
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O escritor afirmou, certa vez, que a
psicologia de um homem simples,
"do povo", era no fundo mais
complexa do que a de um
personagem de Proust, o grande
autor de "Em Busca do Tempo
Perdido". Apesar do empenho de
Mário de Andrade, a demonstração
literária de sua tese é bem pouco
convincente.
O traço comum aos contos narrados
em primeira pessoa é a presença de
um mesmo narrador, Juca. Sua
personalidade é formada a partir de
experiências marcantes de rejeição
e luta contra a repressão. Das
primeiras, destaca-se a relação
adolescente com a prima Maria de
“Vestida de preto”. Das segundas,
mais marcantes, os exemplos se
sucedem. Entre as imagens da
repressão, ganha destaque a figura
paterna, que aparece em “Tempo da
camisolinha” obrigando o narrador a
podar as madeixas – alegoria
simples da castração.
Em “Peru de natal”, o pai, já morto,
ainda representa a instância capaz
de anular a celebração e a liberdade.
A fama de louco que Juca adquire
com o tempo é uma reação ao rigor
familiar e superá-lo representa a
deglutição paterna de que trata
Freud.
A oposição entre prazer e repressão,
no entanto, nem sempre tem final
feliz: a relação com Frederico
Paciência termina sem conclusão e
sem nome porque as barreiras
sociais e psicológicas são fortes
demais para Juca. Mas o desejo de
libertação pode também ter
fornecido as bases para a estética
não convencional que o narrador
manifesta nos contos em sua
linguagem marcada pela oralidade.
Nos contos narrados em terceira
pessoa, duas imagens sobressaem:
de um lado, a solidão; de outro, a
solidariedade.
Solitário é Nelson, do conto
homônimo, cuja identidade se limita
ao título, já que no corpo da narrativa
ele não tem nome e nem sequer uma
história precisa. Sua condição se
acentua no interesse sádico e
desrespeitoso demonstrado pelos
rapazes que comentam sua vida, tão
passageiro quanto a comunhão
provocada pela correria de “O
ladrão”, depois da qual cada
morador retorna ao seu insulamento,
reforçando a solidão. Note-se, aliás,
que neste último conto o ladrão que
lhe dá título não é sequer visto –
marca de uma marginalização
contundente. Solitária é ainda a
Mademoiselle de “Atrás da Catedral
de Ruão”, envolvida em suas
fantasias sexuais e seus desejos
contidos.
Por outro lado, a solidariedade se
manifesta no universo do trabalho na
união dos empregados de “O poço”,
que enfrentam o fazendeiro –
imagem acabada doautoritarismo
paternalista e do desprezo elitista
pela vida humana. E também na
trajetória de 35, o protagonista de
“Primeiro de maio” que faz da
celebração da data uma forma de
oposição ao oficialismo – demarcado
no conto pela presença de policiais
pelas ruas de São Paulo,
representativa da opressão da
ditadura Vargas. O 35 busca
escapar, assim, de um trabalho
alienante para o qual a única saída
parece ser a solidariedade, evidente
em seu gesto final de auxílio ao
colega idoso.
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O Modernismo é o grande pano de
fundo de Contos Novos. A Semana
de Arte Moderna de 1922 havia
instaurado um tempo de agitação
cultural no país. A palavra de ordem
era mudar, experimentar formas,
transformar a linguagem,
transfigurá-la. Quase toda a
produção cultural da época tinha
esse caráter.
Mário de Andrade embarcou nessa
movimentação, brincou com formas
linguísticas com a estrutura
narrativa, com a construção de
personagens como Macunaíma, "o
herói sem caráter". Entretanto, não
sucumbiu ao frenesi novidadeiro do
primeiro momento do Modernismo.
Preocupou-se com a pesquisa
(folclórica e antropológica), com a
construção de teorias, com a
reflexão sobre os problemas
brasileiros. Seu farto epistolário (um
dos mais ricos entre autores
brasileiros) confirma essa
preocupação.
Obs: O movimento Pau-Brasil de
1924, o Verde-Amarelismo de Plínio
Salgado de 1926 e, mais tarde, a
Antropofagia de Oswald de Andrade,
além de uma série de correntes de
produção literária, pictórica,
dramática, musical, arquitetônica e
mesmo de comportamentos sociais
tinham em comum a criação de um
espírito mais brasileiro, menos
"importado", menos copiado dos
modelos europeus.
Em "Primeiro de Maio" e "O Poço",
a temática social aparece de forma
mais contundente. Trabalhadores
honestos vivem situações de
opressão acintosas e vão
descobrindo-se impotentes diante
dela. Em "Vestida de Preto",
algumas passagens que constroem
o pano de fundo do conto revelam
esse dilema:
"Aliás, um caso recente vinha se
juntar ao insulto pra decidir de minha
sorte. Nós seríamos até pobretões,
comparando com a família de Maria,
gente que até viajava na Europa.
Pois pouco antes, os pais tinham
feito um papel bem indecente, se
opondo ao casamento duma filha
com um rapaz diz-que pobre mas
ótimo. Houvera rompimento de
amizade, mal-estar na parentagem
toda, o caso virara escândalo
mastigado e remastigado nos
comentários de hora de jantar. Tudo
por causa do dinheiro."
O mesmo ocorre em "Tempo da
Camisolinha":
"O operário primeiro deu de ombros,
português, bruto, bárbaro, longe de
consentir na carícia da minha
pergunta infantil. Mas estava com
uns olhos tão tristes, o bigode caía
tanto, desolado, que insisti no meu
carinho e perguntei mais outra vez o
que ele tinha. 'Má sorte' ele
resmungou, mais a si mesmo que a
mim."
• Nos outros contos, embora essas
características também estejam
presentes, o que está focalizado é o
cotidiano medíocre, muitas vezes
patético, dos grupos sociais menos
favorecidos.
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• Em "O Ladrão", típicos
personagens de bairro encontram-se
e unem-se na perseguição de um
ladrão que sequer existe. Esse
acontecimento altera suas rotinas,
proporcionando-lhes um momento
de reunião festiva.
• Em "Atrás da Catedral de Ruão", o
personagem central – uma solitária
imigrante que precisa trabalhar
como preceptora para manter seu
humilde padrão de vida – contrasta
com os outros personagens a quem
ela presta serviços, componentes de
uma rica família, metida na política e
em viagens pela Europa.
• Em "O Peru de Natal", a família
classe-média prepara e consuma a
ceia de Natal, unida e emocionada.
• Em "Frederico Paciência", os dois
amigos pertencem a grupos
socioeconômicos diferentes – o que
incomoda muito o narrador-
personagem, pois é a sua família
que tem menos posses.
• Em "Nelson", pessoas simples se
reúnem para beber e falar da vida
dos outros, pois esse é seu único
lazer.
Os cenários não são
necessariamente brasileiros. São
ruas, cidades, casas ou ambientes
de trabalho que servem de palco
para o que realmente interessa: as
relações humanas que ali se
estabelecem e que delineiam a
progressão das tramas.
• Os contos falam das angústias, das
conquistas fugazes, dos dissabores
que a existência humana prova.
• Acontecimentos prosaicos, que
poderiam passar despercebidos, são
redimensionados, ganham vulto e
têm muita importância.
• Os estudos psicanalíticos do autor
aparecem nas entrelinhas, nas
ações e nos desejos dos
personagens, dando-lhes uma nova
dimensão.
• As influências religiosas também
estão presentes nos contos. Trata-
se de um universo de símbolos
cristãos que faziam parte da vida do
autor e da sociedade brasileira
daquela época.
1) O peru de Natal
O nosso primeiro Natal de família,
depois da morte de meu pai
acontecida cinco meses antes, foi de
consequências decisivas para a
felicidade familiar. Nós sempre
fôramos familiarmente felizes, nesse
sentido muito abstrato da felicidade:
gente honesta, sem crimes, Iar sem
brigas internas nem graves
dificuldades econômicas. Mas,
devido principalmente à natureza
cinzenta de meu pai, ser desprovido
de qualquer lirismo, duma
exemplaridade incapaz, acolchoado
no medíocre, sempre nos faltara
aquele aproveitamento da vida,
aquele gosto pelas felicidades
materiais, um vinho bom, uma
estação de águas, aquisição de
geladeira, coisas assim. Meu pai fora
de um bom errado, quase dramático,
o puro-sangue dos desmancha-
prazeres.
ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores
contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000.
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[Fragmento]
No fragmento do conto de Mário de
Andrade, o tom confessional do
narrador em primeira pessoa revela
uma
concepção das relações humanas
marcada por
A. distanciamento de estados de
espírito acentuado pelo papel das
gerações.
B. relevância dos festejos religiosos
em família na sociedade moderna.
C. preocupação econômica em uma
sociedade urbana em crise.
D. consumo de bens materiais por
parte de jovens, adultos e idosos.
E. pesar e reação de luto diante da
morte de um familiar querido.
2) UNICAMP Os trecho a seguir foi
extraído do conto FREDERICO
PACIÊNCIA, do livro Contos Novos,
de Mário de Andrade.
‘’(…) a mãe de Frederico Paciência
morrera. (…) É indizível o alvoroço
em que estourei, foi um
deslumbramento, explodiu em mim
uma esperança fantástica, fiquei tão
atordoado que saí andando solto
pela rua. (…) A mãe de Rico, que me
importava a mãe de Frederico
Paciência! E o que é mais terrível de
imaginar: mas nem a ele o
sofrimento inegável lhe importava: a
morte lhe impusera o desejo de mim.
Nós nos amávamos sobre
cadáveres.’’
a) A que passagem do conto refere-
se Juca quando afirma: “Nós nos
amávamos sobre cadáveres”?
b) Qual a importância da passagem
citada, e daquela que você
identificou ao responder ao item a,
acima, para compreender o
desenvolvimento da amizade entre
Juca e Frederico Paciência?
3) FUVEST ‘’Tinha piedade, tinha
amor, tinha fraternidade, e era só.
Era uma sarça ardente mas era
sentimento só. Um sentimento
profundíssimo, queimando,
maravilhoso, mas desamparado,
mas desamparado.’’
(Mário de Andrade, CONTOS NOVOS)
No fragmento acima, do conto
“Primeiro de Maio”, o narrador
refere-se à personagem principal, o
“35” e aos sentimentos deste.
a) Identifique e explique
sucintamente o recurso de estilo que
predomina na composição do
fragmento.
b) Contextualize esse fragmento,
explicando brevemente a relação
que existe entre os sentimentos da
personagem,aí referidos, e a
experiência que ela vive no conto.
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4) USC 2012 Leia os fragmentos do
conto “Primeiro de Maio”, do livro
Contos Novos, de Mário de Andrade.
No grande dia Primeiro de Maio, não
eram bem seis horas e já o 35 pulara
da cama, afobado. Estava bem
disposto, até alegre, ele bem
afirmara aos companheiros da
Estação da Luz que queria celebrar
e havia de celebrar. (p. 35)
(...) Deu um ódio tal no 35, um
desespero tamanho, passava um
bonde, correu, tomou o bonde sem
se despedir do 486, com ódio do
486, com ódio do primeiro de maio,
quase com ódio de viver. (p. 41)
(ANDRADE, Mário. Contos novos. 17. ed. Belo
Horizonte, Rio de Janeiro: Itatiaia, 1999.)
Em relação a essa narrativa,
considere as seguintes afirmações.
I -No início do conto, o 35 está
eufórico porque é Primeiro de Maio e
ele organizará uma grande festa
em homenagem aos trabalhadores.
II- O protagonista, ao longo da
narrativa, vai se decepcionando e
retorna para casa cansado, sem
voltar ao trabalho.
III- No fragmento em questão, a
mudança no registro ortográfico da
expressão primeiro de maio sugere
uma modificação da personagem
principal em relação a seu
sentimento sobre essa data.
Das afirmativas acima, pode-se dizer
que
a) apenas I está correta.
b) apenas III está correta.
c) apenas II e III estão corretas.
d) apenas I e III estão corretas.
e) I, II e III estão corretas.
5) São características da linguagem
de Mário de Andrade, exceto:
a) Mário de Andrade empenhou-se
em criar a “Língua Brasileira”. Tal
missão faz parte do projeto
nacionalista de Mário, no qual a
língua literária seria um importante
critério de brasilidade.
b) Para Mário, a língua é um fator de
identidade da nacionalidade,
importante instrumento de unificação
cultural. O projeto de nacionalizar a
linguagem pode ser percebida em
seus contos e em uma de suas mais
importantes obras, Macunaíma.
c) Mário propôs uma nova linguagem
poética, baseada no verso livre, nas
rupturas sintáticas, nos flashes
cinematográficos, nos neologismos,
na elisão e na fragmentação.
d) Por meio de uma linguagem
debochada, irônica e crítica, Mário
satirizava os meios acadêmicos e
também a burguesia, estabelecendo
uma profunda ruptura em relação à
cultura do passado.
6) UEL 2021 Leia o trecho retirado
da obra Contos novos, de Mário de
Andrade, e responda às questões
de 6 a 9
Estou lutando desde o princípio
destas explicações sobre a
desagregação da nossa amizade,
contra uma razão que me pareceu
inventada enquanto escrevia, para
sutilizar psicologicamente o conto.
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Mas agora não resisto mais. Está me
parecendo que entre as causas mais
insabidas, tinha também uma
espécie de despeito desprezador de
um pelo outro... Se no começo
invejei a beleza física, a simpatia, a
perfeição espiritual normalíssima de
Frederico Paciência, e até agora
sinto saudades de tudo isso, é certo
que essa inveja abandonou muito
cedo qualquer aspiração de ser
exatamente igual ao meu amigo. Foi
curtíssimo, uns três meses, o tempo
em que tentei imitá-lo. Depois
desisti, com muito propósito. E não
era porque eu conseguisse me
reconhecer na impossibilidade
completa de imitá-lo, mas porque eu,
sinceramente, sabei-me lá por quê!
Não desejava mais ser um Frederico
Paciência!
ANDRADE, Mário de. Frederico Paciência. In: Contos
novos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. p. 111-
112.
Com base no trecho e na leitura
integral do conto “Frederico
Paciência”, considere as afirmativas
a seguir.
I. O traço modernista no conto
acentua-se no trecho porque
inexistem maledicências e
preconceitos quanto ao
relacionamento homossexual entre
Juca e Frederico nessa passagem e
em outras do conto.
II. A descoberta da
homossexualidade de Frederico é o
motivo secreto que Juca, no
propósito de resguardar o amigo,
demora a revelar no trecho, o que
também o leva a desmanchar a
relação de amizade, já
comprometida naquele momento.
III. A ideia de desagregação da
amizade entre Frederico e Juca
requer explicações porque os laços
anteriormente expostos no conto são
fortes até mesmo para provocar
brigas violentas entre cada um deles
e um colega.
IV. O desejo de deixar de imitar
Frederico remete a um movimento
deliberado de afastar-se da
“perfeição espiritual” do amigo, o que
está em sintonia com o perfil
modernista de caracterização de
personagens.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são
corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são
corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são
corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III
são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV
são corretas.
7) A morte ronda o conto “Frederico
Paciência”, assim como o conto “O
peru de Natal”, também incluído em
Contos novos. Assinale a alternativa
que apresenta, corretamente, o
modo como a morte é abordada
nesses contos.
a) Tanto em “O peru de Natal”
quanto em “Frederico Paciência” as
mortes dos pais ocorrem no início
das narrativas, sem causar grande
comoção nas personagens que se
tornaram órfãs.
b) Em “O peru de Natal”, o pai já está
morto no início da narrativa,
enquanto que, em “Frederico
Paciência”, a morte dos pais de
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Frederico ocorre na segunda metade
do conto; em ambos os contos, o
narrador-personagem discorre sobre
essas mortes sem grande
sentimentalismo.
c) Em “O peru de Natal”, o pai morto
proporciona a possibilidade de
transformar a vida familiar, ao passo
que, em “Frederico Paciência”, a
morte dos pais de Frederico suscita
a liberdade de assumir o
envolvimento amoroso e sexual,
usufruído pelos amigos.
d) Em “O peru de Natal”, o filho, que
é também narrador, demonstra
enormes dificuldades para superar o
luto; já Frederico Paciência
desvencilha-se da dor com mais
facilidade e convida Juca para que
ambos vivam a homossexualidade
sem disfarces.
e) Em “O peru de Natal”, a morte do
pai é superada na ceia pelos
familiares; em “Frederico Paciência”,
a morte da mãe e do pai firma-se
como obstáculo decisivo para a
retomada do amor entre os amigos.
8) Sobre as correlações entre o
conto “Frederico Paciência”, do
volume Contos novos, de Mário de
Andrade, e Clara dos Anjos, de Lima
Barreto, considere as afirmativas a
seguir.
I. O trecho do conto “Frederico
Paciência” faz sobressair um ponto
de contato com Clara dos Anjos: a
desilusão, representada, na
narrativa de Lima Barreto, pelo
desmascaramento de Cassi Jones,
e, no conto de Mário de Andrade,
pelas descobertas de deslizes na
constituição moral do amigo do
narrador-personagem.
II. O trecho do conto “Frederico
Paciência” contém confissões da
fragilidade de seu narrador-
protagonista, que admite suas
mentiras e invenções sobre o amigo,
assim como Clara dos Anjos, que se
descontrola ao se ver ludibriada por
Cassi Jones no desfecho da
narrativa de Lima Barreto, apesar de
tê-lo enganado também.
III. O trecho do conto “Frederico
Paciência”, ao aludir à beleza física
do amigo, admitida literalmente pelo
narrador em primeira pessoa,
mantém na narrativa a atração e o
contato corporal entre os jovens,
materializados no episódio do beijo,
e que, em Clara dos Anjos, resultam
na gravidez da protagonista.
IV. O trecho do conto “Frederico
Paciência” cobre uma relação
complexa de amizade entre dois
jovens, apresentada pela
perspectiva de um dos rapazes, mais
livre das vulnerabilidades
sentimentais do que Clara dos
Anjos na narrativa homônima de
Lima Barreto.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são
corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são
corretas.
c) Somenteas afirmativas III e IV são
corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III
são corretas.
9) FUVEST “Se em ambos os contos
a dominação social é tema de
primeiro plano, cabe, no entanto,
fazer uma DISTINÇÃO: em um
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deles, ela é direta, e aparece sob a
forma do capricho e do arbítrio
patronais; já em outro, ela é mais
moderna – torna-se indireta e
anônima.”
A distinção realizada nesta
afirmação refere-se,
RESPECTIVAMENTE, aos
seguintes contos de Mário de
Andrade (“Contos novos”):
a) “Nelson” e “O poço”.
b) “O ladrão” e “O poço”.
c) “O ladrão” e “Nelson”.
d) “O poço” e “Primeiro de maio”
e) “Primeiro de maio” e “O ladrão”.
10) UNEMAT Em uma narrativa de
Mário de Andrade, que compõe a
coletânea Contos novos, um ex
fazendeiro do interior de Mato
Grosso chama a atenção pela
deformidade de parte do braço
devorada por piranhas.
Assinale a alternativa em que o
conto corresponde ao caso citado:
a) O poço.
b) O peru de natal.
c) Frederico Paciência.
d) Nelson.
e) Tempo da camisolinha
1) É possível identificar que no conto
de Mário de Andrade, o narrador e
personagem principal tenta lidar com
a morte do seu querido e ranzinza
pai, durante a noite de Natal (item E).
No texto em questão, é possível
determinar que o narrador está
sofrendo por dentro, pois o seu pai,
apesar da figura que não era muito
carinhosa ou envolvida com o Natal
e os bons sentimentos que rondam
esta data era presente.
A falta da sua presença na noite da
ceia foi algo que todos que estavam
por ali perceberam. O pai do
narrador é visto como um
"desmancha-prazeres", porém,
muito querido.
2) a) À passagem da morte do pai de
Frederico.
b) A amizade entre os dois surge e
se fortalece diante da necessidade
de consolo gerada pelas mortes.
3) a) Há repetições que inicia três
orações pelo verbo TER, conhecidas
por ANÁFORA. Ou elementos finais
como SÓ, que marca a EPÍSTROFE.
b) O personagem “35” tem a
esperança de que no Dia do
Trabalho haja uma confraternização
proletária; por outro lado, há o
Estado Novo oprimindo qualquer
movimento, menos a que acontecia
no Palácio das Indústrias.
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4) I - INCORRETA O 35 não irá
organizar uma festa, mas sim
comemorar o dia primeiro de maio
II - INCORRETA Embora o 35,
realmente, se decepcione, ele acaba
voltando para a estação, a fim de
trabalhar.
III - CORRETA O posicionamento de
35, ao acordar, é totalmente
diferente da posição que ele irá
tomar ao longo do conto.
5) Alternativa D
As características descritas na
alternativa dizem respeito ao escritor
Oswald de Andrade, que, ao lado de
Mário e Manuel Bandeira, formou a
conhecida tríade modernista. Mário
propôs a criação de uma língua
brasileira que romperia com a língua
portuguesa. Entretanto, uma de suas
principais características era a
serenidade, visto que discordava da
postura destruidora defendida por
Oswald e defendia que o passado
deveria ser revisitado, e não
radicalmente negado.
6) Alternativa C
Existem rumores de vínculo
homossexual entre Juca e Frederico
que chegam, inclusive, a causar
brigas físicas em passagens do
conto. Não se trata de desmanchar a
amizade o que está envolvido no
trecho.
7) Alternativa B
As mortes em “Frederico Paciência”
não ocorrem no início do conto, mas
na 2ª metade da narrativa. A
liberdade de assumir o envolvimento
amoroso e sexual não é usufruída
pelas personagens. O filho, em “O
peru de Natal”, não demonstra
dificuldade para superar o luto, o que
ocorre com Frederico Paciência. As
mortes dos pais em “Frederico
Paciência” não constituem em si
obstáculos para a realização
amorosa dos amigos.
8) Alternativa C
Não há, no conto, descobertas de
deslizes morais de Frederico
Paciência. Clara dos Anjos não
engana Cassi Jones no romance de
Lima Barreto.
9) Alternativa D
No conto “O Poço”, a dominação
social é direta, aparece sob a forma
do capricho e do arbítrio, pois
Joaquim Prestes exige que seus
empregados encontrem a caneta
que ele deixou cair no poço. Em
“Primeiro de Maio”, o carregador de
malas da estação da luz, o “35”,
percorre pontos da cidade de São
Paulo, buscando reconhecimento e
solidariedade, mas só encontra
comemorações oficiais, distantes do
que esperava. É interessante notar
que o protagonista é apenas referido
como 35, sendo denominado pela
função que exerce
10) Alternativa D
Como dito na análise do conto em
páginas anteriores: ‘’Em um bar,
alguns amigos conversam. De
repente, entra um sujeito estranho
que passa a ser alvo dos
comentários do grupo. Um deles,
Alfredo, afirma conhecer toda a sua
história. Trata-se de um ex-
fazendeiro do Mato Grosso...’’
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