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Oswald de Andrade 
 
 
 
Oswald de Andrade (1890-1954) foi 
escritor e dramaturgo brasileiro. 
Representa uma das principais 
lideranças no processo de 
implantação e definição da literatura 
modernista no Brasil. Sua atuação 
ficou marcada pelo seu espírito 
irreverente, polêmico, irônico e 
combativo. Tornou-se figura 
fundamental dos principais 
acontecimentos da vida cultural 
brasileira na primeira metade do 
século XX. 
Sua obra apresenta de maneira 
geral, um nacionalismo que busca as 
origens, sem perder a visão crítica 
da realidade brasileira. Oswald 
defendia a valorização de nossas 
origens, de nosso passado histórico-
cultural de forma crítica, parodiando, 
ironizando e atualizando nossa 
história de colonização. 
O Rei da Vela é uma peça teatral 
escrita por Oswald de Andrade, um 
dos principais representantes do 
movimento modernista brasileiro. Foi 
redigido em 1933 com o objetivo de 
retratar a década de 30 e as 
preocupações e compromissos 
sociais da época. 
A peça foi considerada o primeiro 
texto modernista feito para teatro 
após a inserção da pintura abstrata 
nos cenários, afastando-os do 
realismo e do simbolismo. 
Anteriormente, apenas a encenação 
era considerada modernista, mas o 
texto de Oswald de Andrade aborda 
a sociedade decadente com a 
linguagem e o humor do 
modernismo. 
Trata da história de Abelardo I, 
agiota e proprietário de 
uma fábrica de velas, expõe, de um 
lado a aristocracia cafeeira de São 
Paulo e sua decadência, de 
outro, a ascensão de Abelardo I e 
suas artimanhas para obter status 
social, o que é feito por meio de 
alianças políticas com diferentes 
segmentos sociais. 
A ação dramática é desencadeada 
em 03 atos. O primeiro e terceiro ato 
são ambientados em 
São Paulo, no escritório do agiota 
Abelardo I, no segundo ato a cena 
transcorre no Rio de Janeiro. 
Para obter status social, Abelardo I 
casa-se com Heloísa, uma 
aristocrata, o casamento é apenas 
mais um negócio, como o que ele 
realiza com os seus clientes. Sua 
única função é assegurar a 
aliança entre burguesia e 
aristocracia, uma vez que Abelardo I 
tem o poder, tem dinheiro, mas não 
tem projeção/status social. Abelardo 
II, seu assistente, adepto das ideias 
socialistas o auxilia quando 
o assunto diz respeito aos clientes, 
dos quais é usurpado até o último 
centavo. 
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Primeiro ato 
O primeiro ato tem como cenário o 
escritório de Abelardo & Abelardo, 
uma firma de agiotagem comandada 
por Abelardo I, o protagonista. 
Clientes devedores saem de uma 
jaula e são recebidos por Abelardo II, 
sócio de Abelardo I, vestido de 
domador. Eles são tratados com 
desdém e brutalidade. Depois disso, 
aparece para uma visita Heloísa de 
Lesbos, membro da aristocracia 
agrícola e noiva de Abelardo I, com 
o qual firma o compromisso apenas 
para salvar a família da falência. 
Neste ato, as relações entre as 
personagens são demonstradas: 
Abelardo I enriquece a custa da 
pobreza dos outros; Abelardo II 
deseja tomar o lugar do sócio; os 
clientes são desesperados e 
considerados como animais. 
Segundo ato 
Tem como cenário uma ilha tropical 
na Baía de Guanabara, presente de 
Abelardo I à noiva, e apresenta um 
clima de grande liberdade sexual. 
Heloísa desenvolve intimidades 
sexuais com Mr. Jones, um 
americano com quem seu noivo faz 
negócios e que desperta interesse 
em Totó Fruta-do-Conde, irmão 
homossexual de Heloísa. Abelardo I 
passa uma noite de amor com a 
sogra, Dona Cesariana, e arranja um 
outro encontro sexual com a tia de 
Heloísa, Dona Poloca, uma virgem 
de sessenta anos. Além disso, há a 
presença de João dos Divãs, antes 
conhecida como Joana, a irmã 
lésbica de Heloísa, e seu primo 
Perdigoto, que consegue um 
empréstimo com Abelardo I a fim de 
montar uma milícia fascista para 
combater os fazendeiros que 
invadem sua propriedade. 
Terceiro ato 
O cenário novamente é o escritório 
de Abelardo & Abelardo. Abelardo I 
é vítima de um golpe e acaba indo à 
falência. Com a arma nas mãos e a 
noiva aos seus pés, o protagonista 
se dirige ao público e afirma que eles 
verão um final digno de dramalhão: 
um suicídio no terceiro ato. Porém, 
sem conseguir concluir o ato, pede 
ajuda ao Ponto (auxiliar de cena que 
fica fora das vistas do público e 
lembra ao ator suas falas, quando 
necessário), mas ele recusa-se. 
Fecham-se as cortinas; ouvem-se 
disparos de canhão e um grito de 
mulher. Quando as cortinas 
reabrem, Abelardo I está agonizando 
sobre uma cadeira e Heloísa, 
deitada sobre uma maca. 
Abelardo II entra em cena, agora 
com exageradas roupas de ladrão. 
Ele se apropria da posição de 
herdeiro dos negócios de agiotagem 
e também da noiva de Abelardo I. 
Abelardo II tenta presenteá-lo com o 
socialismo, mas Abelardo I recusa, 
chutando um rádio que toca a 
música da Internacional Comunista. 
Antes de morrer, Abelardo I delira e 
ouve sinos. Ele ordena que a jaula 
seja aberta e os devedores fogem, 
celebrando a vitória da revolução. O 
suicida pede uma vela e, ao recebê-
la, morre. 
Heloísa lamenta a morte do ex-
noivo, porém, a um gesto de 
Abelardo II, junta-se a ele. Toca a 
Marcha Nupcial, convidados entram 
e, completamente ignorando a 
presença do defunto Abelardo I, 
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celebra-se o casamento de Abelardo 
II e Heloísa de Lesbos. 
A obra foi escrita após a crise de 
1929, da Revolução de 30 e da 
Revolução Constitucionalista de 32 
manifestando o desgosto de Oswald 
passando por vários escritórios de 
agiotagem para manter-se 
financeiramente. Esse contato com 
agiotas foi o motivo da designação 
de um deles como Rei da Vela, nome 
que deu origem a peça. Mas o texto, 
além de trazer a experiência do 
escritor, fornece os recursos da 
estrutura socioeconômica do país. 
Informações da crise financeira e a 
necessidade de Oswald de Andrade 
procurar os agiotas são dados 
importantes para a construção 
estética e dramatúrgica do seu texto. 
Os elementos em destaque na 
cenografia, imaginados pelo autor, 
são demonstrados em suas 
anotações e, mais tarde, transferidos 
para o texto. 
Apenas depois de 30 anos, o Rei da 
Vela foi levado para os palcos 
paulistas introduzindo o movimento 
tropicalista. Sua primeira 
apresentação foi em 1968, causando 
grande impacto sobre o público que 
se manifestou de diferentes formas, 
desde declarações que 
classificavam o espetáculo como 
ridículo e pornográfico a opiniões 
que viam nele uma crítica a 
atualidade. 
A iniciativa começou com o Grupo 
Oficina sob direção de José Celso 
Martinez Correa. Sua passagem 
pelos palcos foi um símbolo na 
história do teatro brasileiro. 
Em o Rei da Vela, Oswald de 
Andrade retrata a sociedade em que 
vive, os intelectuais que se 
vendem ao poder, as alianças entre 
o imperialismo e a burguesia 
nacional, a hipocrisia da família 
reacionária brasileira, as relações da 
igreja com o poder, etc. Mostrando 
de forma cômica, satírica, e 
farsesca a tradição rural do país, que 
em meio a uma nascente 
industrialização e modernização da 
sociedade, continua arcaico e 
retrógrado. A peça investe contra 
uma burguesia que defende o pilar 
Tradição, família e propriedade, 
responsável por sustentar a 
estrutura desta sociedade hipócrita, 
mantendo seus mecanismos de 
poder funcionando como uma 
engrenagem. 
Sempre com posições radicais, em 
seu teatro está presente uma 
capacidade de experimentação nem 
sempre compreendida pelos seus 
contemporâneos. O humor, a 
autocrítica, o sarcasmo e a ironia 
foram elementos presentes em seu 
teatro, que caminhou na 
direção da fragmentação da 
estrutura dramática convencional, 
tornando-o muitas vezes um autor 
incompreendido, por estar à frente 
de seu tempo 
 
A peça foi escrita em 1933 e 
publicada em 1937, só foi encenada 
30 anos após sua publicação. 
Apenas foi encenada apenas em 
1967 pelo grupo teatral Oficina, sob 
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a direção de José Celso Martinez 
Corrêa, e causou uma verdadeira 
revolução da arte dramática 
brasileira. Oswald não chegou a 
assistir à montagem de suas peças, 
morreu em 1954. 
 
1) Visão desmistificadora do Brasil. 
2) Paródia e uso constante da ironia 
3) Personagens caricaturais 
4) Em lugar do culto ao passado, o 
gosto demolidor de todos os 
valores, sobretudo os burgueses 
5) Renega-se o tradicionalismo 
cênico, em busca de soluções 
cênicas metalinguísticas 
6) Espírito iconoclasta: forte teor 
satírico 
7) Carnavalização do Brasil 
colonizado e dependente do capital 
norte-americano: análise marxista 
 
Já no nome dos personagens é 
possível perceber as inversões e 
subversões. Os nomes de Heloísa 
de Lesbos, Joana, conhecida como 
João dos Divãs, e Totó Fruta-do-
conde suscitam uma inversão 
sexual, remetendo à 
homossexualidade. 
Nessa obra, Oswald de Andrade 
estabelece claro diálogo intertextual 
com a história de Abelardo e 
Heloísa, casal histórico que vive um 
romance trágico no final da Idade 
Média (A história das minhas 
calamidades), e a peça O Rei da 
Vela faz uma paródia dessa história, 
retirando esses personagens do 
contexto medieval e inserindo-os no 
contexto brasileiro das décadas de 
20 e 30. 
Heloísa, por exemplo, é uma 
personagem vulgar que se casará 
com Abelardo 1 para manter o status 
social, e se transforma em objeto 
sexual para manter tanto o seu 
status como o de sua família 
(aristocrata rural) falida. 
Com os personagens Heloísa de 
Lesbos, Abelardo I e Mr. Jones, 
Oswald de Andrade representa as 
três forças que regem o país: a 
aristocracia rural que se une à 
burguesia nacional, para melhor 
servir ao capital estrangeiro. Assim, 
temos clara uma crítica à submissão 
do Brasil aos outros países. 
Um caminho para entendermos o 
teatro de Oswald de Andrade é 
perceber a revelação da falsidade de 
um discurso liberal, as relações 
marcadas pelo interesse capital e 
material, a competição pelo lucro, as 
falsas relações amorosas, a 
distância entre a modernidade e o 
atraso, a metáfora de um país 
hipotecado ao imperialismo, o ócio 
brasileiro e a manutenção do poder, 
o espaço da casa. O Rei da Vela 
passa do modernismo à 
modernidade, a partir da ironia, da 
caricatura, do grotesco, da 
religiosidade, sexualidade, da 
paródia, da filosofia e do papel dos 
intelectuais. Portanto, essa peça 
contrasta com o que se passa 
através da sociedade brasileira. 
 
 
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1) Escrita por Oswald de Andrade, a 
peça “O rei da vela” é uma crítica à 
sociedade e à política de um Brasil 
que vivia a crise do café e as 
consequências do crack de 1929 da 
Bolsa de Nova York. Nela 
observamos: 
 
a) Prepotente, Abelardo pisa em 
quem pode, mas não sabe que é 
apenas “um feitor do capital 
estrangeiro 
b) A peça conta a história de um 
agiota inescrupuloso, Abelardo I, o 
Rei da Vela. Com negócios 
diversificados, sua especialidade 
são empréstimos. Aproveitando-se 
da crise econômica que flagela o 
país, Abelardo empresta dinheiro e 
cobra juros baixos. 
c) A forma pela qual o sistema de 
agiotagem não permite o 
enriquecimento de alguns em 
detrimento dos muitos que se tornam 
dependentes. 
 
d) A história de um agiota 
inescrupuloso, Abelardo I, o Rei da 
Vela. Com negócios diversificados, 
sua especialidade são empréstimos. 
Aproveitando-se da crise econômica 
que flagela o país, Abelardo 
empresta dinheiro e cobra juros 
escorchantes. 
2) Leia o trecho da peça de teatro a 
seguir 
O rei da vela - Oswald de Andrade 
 
Heloísa (Sonhando) Meu pai era o 
Coronel Belarmino que tinha sete 
fazendas, aquela casa suntuosa de 
Higienópolis… ações, automóveis… 
Duas filhas viciadas, dois filhos 
tarados… Ficou morando na nossa 
casinha da Penha e indo à missa 
pedir a Deus a solução que os 
governos não deram…Abelardo I 
Que não deram aos que não podem 
viver sem empréstimos. 
Heloísa Meus pais… meus tios… 
meus primos… 
Abelardo I Os velhos senhores da 
terra que tinham que dar lugar aos 
novos senhores da terra! 
Heloísa No entanto, todos dizem que 
acabou a época dos senhores e dos 
latifúndios… 
 
Abelardo I Você sabe que o meu 
caso prova o contrário. Ainda não 
tenho o número de fazendas que seu 
pai tinha, mas já possuo uma área 
cultivada maior que a que ele teve no 
apogeu. 
Heloísa Há dez anos… A saca de 
café a duzentos mil-réis! 
 
ANDRADE, Oswald. O Rei da Vela (1933). São Paulo, 
Editora Globo, 2003. 
Lembrando que o texto dramático, 
ou texto teatral, não possui um 
narrador, podemos afirmar que 
 
a) as falas são distribuídas pelo 
diretor teatral que diz quem está 
falando na peça de teatro, conferindo 
maior controle do que é dito. 
 
b) as falas estão em discurso direto 
e sem nenhuma intervenção na peça 
de teatro, pois não há quem narre ou 
controle a fala a não ser o autor. 
 
c) as falas são distribuídas pelos 
personagens no texto dramático, 
uma vez que há autonomia para 
improvisar e dizer livremente o que 
se quer. 
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d) as falas estão em discurso indireto 
e com breves interferências de um 
narrador onisciente, conferindo 
assim maior neutralidade a este tipo 
de texto. 
 
3) ENEM 2019 
HELOÍSA: Faz versos? 
PINOTE: Sendo preciso… 
Quadrinhas… Acrósticos… 
Sonetos… Reclames. 
HELOÍSA: Futuristas? 
PINOTE: Não senhora! Eu já fui 
futurista. Cheguei a acreditar na 
independência… Mas foi uma 
tragédia! Começaram a me tratar de 
maluco. A me olhar de esguelha. A 
não me receber mais. As crianças 
choravam em casa. Tenho três 
filhos. No jornal também não 
pagavam, devido à crise. Precisei 
viver de bicos. Ah! Reneguei tudo. 
Arranjei aquele instrumento (Mostra 
a faca) e fiquei passadista. 
ANDRADE, O. O rei da vela. São 
Paulo: Globo, 2003. 
O fragmento da peça teatral de 
Oswald de Andrade ironiza a reação 
da sociedade brasileira dos anos 
1930 diante de determinada 
vanguarda europeia. Nessa visão, 
atribui-se ao público leitor uma 
postura 
a) preconceituosa, ao evitar formas 
poéticas simplificadas. 
b) conservadora, ao optar por 
modelos consagrados. 
c) preciosista, ao preferir modelos 
literários eruditos. 
d) nacionalista, ao negar modelos 
estrangeiros. 
e) eclética, ao aceitar diversos 
estilos poéticos. 
 
1) Alternativa D 
A famosa peça “O rei da vela” pode 
ser compreendida como uma crítica 
à sociedade e à política de um Brasil 
que vivia em uma profunda crise. Isto 
ocorre durante a crise do ciclo 
cafeeiro, sendo que o preço vinha 
decaindo no mercado internacional. 
A peça conta a história de um agiota 
inescrupuloso, Abelardo I, o Rei da 
Vela. A sua grande especialidade 
eram os empréstimos. Ele 
aproveitava-se da crise econômica 
que flagela o país, 
2) Alternativa B 
Nos textos teatrais, há a existência 
de personagens e um enredo, assim 
como o clímax e a conclusão da 
história. 
Entretanto, a história é contada 
pelos próprios personagens, 
através de suas falas por meio de 
discurso direto. Isso é algo 
característico desse gênero textual, 
eles são representados e não 
contados por narradores. 
Nos textos dramáticos, a sua 
representação é por meio de poesias 
ou prosas. Estes textos são divididos 
por "atos", que identificam os 
"capítulos" e as mudanças de 
cenários da história envolvida. 
 
 
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3) Alternativa B 
Ao analisar o exposto no enunciado 
da questão, é possível perceber 
que o público leitor não aceitou de 
bom grado a inovação poética do 
modernismo, denominada de 
vanguarda futurista. 
Tal visão do tipo conservadora 
resultou no fato da poeta Pinote 
abandonar a inovação estética e 
com isso retomar as formas mais 
usuais e conhecidas, que pode ser 
exemplificada em: “Quadrinhos”... 
Acrósticos... Sonetos...Reclames”. 
 
O autor: todamateria.com 
A obra e contexto histórico: 
resumoescolar.com.br 
Proposta, resumo e elementos 
temáticos: ANPUH – XXII 
SIMPÓSIO NACIONAL DE 
HISTÓRIA 
Enredo e análise final: 
wikipedia.com 
Curiosidade: Blog bons livros para 
ler 
Questões discursivas: Instituto 
Federal De Educação Ciência e 
Tecnologia Ifma 
Características do modernismo 
presente na peça: 
literatura2pontos.blogspot.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Itamar Vieira Junior 
 
 
Nasceu em Salvador, em 1979. Na 
adolescência, residiu no estado de 
Pernambuco, e mais tarde na cidade 
de São Luís. Começou os estudos 
de geografia na graduação na 
Universidade Federal da Bahia 
(UFBA), sendo o primeiro aluno 
receptor da Bolsa Milton Santos, 
dedicada para jovens negros de 
baixa renda. Formou-se em 
geografia e concluiu mestrado. É 
doutor em estudos étnicos e 
africanos pela Universidade Federal 
da Bahia com estudo sobre a 
formação de comunidades 
quilombolas no interior do Nordeste. 
 
A história do romance tem como 
centro a família de Zeca Chapéu e 
Salustiana, e suas filhas Bibiana e 
Belonísia, descendentes de 
escravizados. O cenário da obra é a 
fictícia Fazenda Água Negra, um 
local que representa a síntese do 
sertão brasileiro e suas relações 
sociais, o latifúndio e o trabalho 
servil, marcados pela violência, a 
seca e também pelas crenças, 
lendas e religiosidades próprias da 
mestiçagem cultural e da 
ancestralidade africana. “Meu pai 
havia nascido quase trinta anos após 
declararem os negros escravos 
livres, mas ainda cativo dos 
descendentes dos senhores de seus 
avós 
 
Essa é uma história sobre duas 
irmãs Bibiana e Belonísia que se 
tornam extremamente próximas 
após um acidente que mutila a língua 
de uma delas. Isso vai para sempre 
determinar o destino delas, pois uma 
passa a ser a voz da outra. 
O acidente é muito importante 
durante toda a história. Ele acontece 
porque vive junto com as meninas a 
avó delas chamada Donana que está 
sempre com sua mala pronta para 
deixar a fazenda Água Negra e voltar 
à sua terra de origem. A curiosidade 
que elas possuem por saber o que 
tem na mala é um dos pontos 
centrais do livro. Nessa mala elas 
irão encontrar uma faca envolta em 
uma pano ensanguentado a ao 
brincar com o objeto acabam se 
mutilando. 
Elas crescem num contexto de 
trabalhadores descendentes de 
escravos em uma fazenda no Sertão 
da Bahia que continuam vivendo em 
um regime próximo à servidão entre 
as décadas de 70-80 no Brasil (mais 
abaixo vamos demonstrar a fundo 
como é possível determinar a época 
em que se passa a história narrada 
no livro). 
Em um resumo do livro Torto Arado, 
o que se vê ali é um regime quase 
que de servidão, no qual os donos da 
terra permitem que esses 
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trabalhadores ali residam, mas só 
enquanto trabalharem e fornecerem 
parte das suas colheitas e sem 
erguer casas de tijolos, pois eles 
poderiam representar que estavam 
ali para ficar. 
Com o passar dos anos, a percepção 
que cada uma tem daquele regime 
muda e isso acaba por afastar as 
irmãs. Uma delas vai embora da 
fazenda com o intuito de libertação e 
para lutar por condições melhores. 
Ela faz isso junto com o primo 
Severo, uma espécie de líder 
popular que começa a desafiar o 
regime em que vivem e a ter em seus 
ideais a busca pelos direitos que são 
negados àquele povo. 
A outra irmã, no entanto, também 
percebe aquele sistema injusto, 
porém fica para lutar ali mesmo por 
aquilo que considera o seu lar. 
Junte-se a isso a figura de seu pai, 
Zeca Chapéu Grande, uma espécie 
de líder místico entre os 
trabalhadores da fazenda, e da sua 
mãe, a parteira local. Assim, temos 
uma trama inesquecível, com 
protagonistas mulheres muito fortes. 
A mensagem por trás da história é 
um tapa na cara sobre problemas 
que ainda hoje persistem em nosso 
país. 
E mais, prepare-se para chorar, pois 
Torto Arado é um romance 
comovente que conta uma história 
de vida e morte, combate e 
redenção, de personagens que 
atravessaram o tempo sem nunca 
conseguirem sair do anonimato. 
 
O autor dá todas as pistas 
necessárias para compreendermos 
que os eventos acontecem em 
algum lugar da Chapada da 
Diamantina, no sertão baiano. Os 
principais fatos que corroboram essa 
conclusão é a citação frequente das 
festas de Jarê (uma religião de 
matriz africana praticadas com 
exclusividade na Chapada) e a 
menção de que os primeiros 
moradores chegaram ali atrás de 
diamantes. 
 
O livro possui 3 narradoras – 
Bibiana, Belonísia e Santa Rita 
Pescadeira. 
O primeiro capítulo do livro Torto 
Arado se chama Fio de Corte, com 
foco principal no acidente com a 
faca, e irá narrar a história das 
famílias sobre o ponto de vista de 
Bibiana. 
O segundo capítulo do livro se 
chama Torto Arado, homônimo ao 
livro, e conta a história pelo ponto de 
vista de Belonísia, com foco em sua 
relação com Tobias. Nessa parte 
também são demonstrados alguns 
abusos físicos e psicológicos que as 
mulheres sofrem ali naquela 
localidade. 
O terceiro e último capítulo de Torto 
Arado se chama Rio de Sangue e é 
narrado por uma entidade encantada 
chamada Santa Rita Pescadeira. 
Nessa parte teremos alguns insights 
da vida de Donana, Zeca Chapéu 
Grande, Severo, além de sermos 
apresentados à conclusão do 
conflito de terra que vai se 
desenhando desde o início do livro e 
entenderemos finalmente o motivo 
da faca estar guardada envolta por 
um pano cheio de sangue na mala 
de Donana. 
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Só será possível compreender o 
título Torto Arado e seu significado 
na metade do capítulo 2 da obra – 
narrado por Belonísia. 
Como ela foi mutilada pela faca, ela 
perdeu parte da capacidade de fala 
e as pessoas passam a não 
compreender mais o que sai de sua 
boca. 
Inconformada, ela decide que irá 
treinar uma palavra para começar a 
recuperar a fala, e uma das que ela 
mais gosta é a palavra “Arado”, 
mostrando a sua relação forte com a 
terra. 
Mas, mesmo após treinar várias 
vezes a palavra Arado, a 
protagonista não consegue 
pronunciar corretamente, e a palavra 
sai “torta”, ininteligível, de sua boca. 
Assim, Torto Arado. 
Importante: Não é à toa que a 
protagonista que não consegue falar 
em Torto Arado seja a mesma que 
passa por abusos psicológicos e vê 
outras mulheres sofrendo abusos 
físicos na fazenda. Isso é uma 
metáfora clara das mulheres que não 
são ouvidas, que são ignoradas e 
que não podem lutar contra esses 
abusos. 
 
 
 
Tentando fugir da ideia de mulher 
dominada, em Torto arado 
encontramos, na Fazenda fictícia 
Água Negra, personagens femininas 
que não aceitam imposições sociais 
e não são passivas diante dos 
acontecimentos da vida. Donana, a 
avó de Bibiana e Belonísia, marcada 
pela perda de dois maridos, chegou 
a assassinar o terceiro companheiro 
por este ter violentado sexualmente 
sua filha Carmelita. O crime foi 
cometido com a faca que havia 
roubado na Fazenda Caxangá, a 
mesma que Bibiana e Belonísia 
encontraram quando crianças e que 
causou a mudez da segunda. A faca 
causou desgraça, mas também era 
uma espécie de amuleto para 
Donana e, posteriormente, para as 
netas. 
A faca torna-se, assim, um objeto 
que representa a força daquelas 
mulheres. Para Donana, foi usado 
como arma contra um criminoso; 
para Belonísia, foi uma arma 
também, que apesar de ter 
provocado a perda de sua fala, 
contribuiu para que ela se tornasse 
uma mulher forte, não é à toa o 
fascínio que ela sente ao ver a faca. 
No romance, representa-se a vida 
das mulheres do campo, que não era 
nada fácil e, devido à jornada árdua,essas mulheres carregavam consigo 
semblantes cansados e 
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envelhecidos, consequência da 
rotina que levavam: “Todas nós, 
mulheres do campo, éramos um 
tanto maltratadas pelo sol e pela 
seca. Pelo trabalho árduo, pelas 
necessidades que passávamos, 
pelas crianças que paríamos muito 
cedo, umas atrás das outras, que 
murchavam nossos peitos e 
alargavam nossas ancas” (VIEIRA 
JR, 2020, p. 246). 
Além do trabalho duro na roça, a vida 
doméstica e as várias gestações, as 
mulheres ainda tinham que suportar, 
muitas vezes, um marido violento, 
como era o caso de Maria Cabocla, 
agredida constantemente pelo 
marido Aparecido que, por sua vez, 
culpava a bebida por seu 
comportamento agressivo. O caso 
de Maria Cabocla não é isolado. 
Sabe-se que a violência contra a 
mulher ocorre devido ao sistema 
patriarcal, em que a mulher é 
desrespeitada nas mais diversas 
instâncias e tratada como objeto do 
homem. 
 
Leia um trecho da entrevista com 
o autor Itamar Vieira Junior, para 
melhor compreensão da obra. 
"As relações de servidão ainda são 
muito presentes no campo brasileiro 
[...] Isso remonta ao nosso passado 
escravagista mal resolvido, que nos 
legou um racismo estrutural e 
relações de trabalho muito precárias, 
principalmente onde o Estado está 
ausente, a Justiça está ausente — e 
aí eu falo do campo brasileiro", diz 
Vieira em entrevista à DW Brasil. 
"O fato de meu trabalho ser 
diretamente ligado às pessoas que 
estão engajadas nesta luta, pela 
redução da desigualdade e tantas 
outras questões ligadas à terra, à 
luta pela terra, me ajudou a ter um 
olhar diferenciado sobre o assunto", 
afirma. 
DW Brasil: O livro apresenta 
famílias que vivem em condições 
de trabalho que, de certa forma, 
perpetuam um regime semi 
escravagista nos confins rurais 
brasileiros. Como foi o mergulho 
nessa realidade? Durante sua 
escrita, quanto havia 
de preocupação em fazer ressoar 
este universo como um problema 
social, muito além da literatura? 
 
As relações de servidão ainda são 
muito presentes no campo brasileiro, 
o resgate de trabalhadores em 
condição de escravidão ainda é uma 
constante em nosso cotidiano. Isso 
remonta ao nosso passado 
escravagista mal resolvido, que nos 
legou um racismo estrutural e 
relações de trabalho muito precárias, 
principalmente onde o Estado está 
ausente, a Justiça está ausente — e 
aí eu falo do campo brasileiro. O meu 
contato com essa realidade veio da 
minha atividade como servidor 
público, atuando com trabalhadores 
rurais há quase 15 anos. [Nesse 
período] eu pude encontrar 
trabalhadores em situação precária 
e tudo isso me marcou 
profundamente. 
 
No fundo, no fundo, eu queria contar 
a história das personagens 
[protagonistas do livro], mas essa 
história não poderia estar 
desconectada de um contexto do 
mundo em que vivemos. Se elas 
estavam ali, no sertão da Bahia, se 
viviam numa fazenda onde seu 
trabalho era explorado, 
inevitavelmente essa história iria ser 
contada como tal. É difícil escrever 
um romance desconectado do nosso 
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mundo. Então essas personagens 
estão conectadas ao mundo que nos 
cerca, e esse mundo ainda é um 
mundo de contrastes, onde pessoas 
têm seu trabalho explorado. 
 
Quando faço ficção, tudo o que me 
atravessa na vida de alguma forma 
se reflete na minha escrita. […] O 
fato de trabalhar como servidor, 
entre trabalhadores rurais, para mim 
de alguma forma é privilégio, porque 
permitiu que eu conhecesse meu 
país, meu Brasil, suas relações 
sociais, sua história mal resolvida. 
De uma maneira mais profunda. […] 
Tudo o que eu aprendi na vida se 
reflete naquilo que eu escrevo. 
Somos o que escrevemos. 
 
Torto Arado é também sobre a 
relação do homem com a terra. 
Por trabalhar no Incra, essa 
questão acaba lhe sendo mais 
pungente? Acredita que o acesso 
à terra no Brasil piorou nos 
últimos anos? 
 
A questão da terra é uma questão 
universal que atravessa todos os 
povos, de muitas origens, e a terra 
aqui é algo mais, que pode ser 
também metafórico. Afinal de 
contas, o chão de nossa casa, o solo 
que pisamos, é a terra onde 
estamos. O acesso à terra é um dos 
direitos mais elementares do ser 
humano, […] algo com que todos 
precisam lidar em algum momento. 
O fato de meu trabalho ser 
diretamente ligado às pessoas que 
estão engajadas nesta luta, pela 
redução da desigualdade e tantas 
outras questões ligadas à terra, à 
luta pela terra, me ajudou a ter um 
olhar diferenciado sobre o assunto. 
Acredito, sim, que o acesso à terra 
piorou no Brasil nos últimos anos. 
 
Tivemos dois planos de reforma 
agrária, um na década de 80, outro 
no começo dos anos 2000. Esses 
planos foram postos em prática mas 
abandonados depois por alguns 
governantes. 
 
A violência no campo é uma 
constante, a todo momento. E está 
relacionada à destruição de biomas, 
como a Amazônia e o Pantanal, 
pelos grandes latifundiários que 
produzem commodities. A questão 
da terra, do direito à terra, passa por 
muitas outras questões, como a 
ambiental e a da redução das 
desigualdades. Questões que nos 
afetam enquanto país e se tornam 
propulsoras das nossas imensas 
desigualdades. 
 
 
Sobre o livro "Torto Arado", 
responda as perguntas: 
1) Comente como o personagem 
Severo pode ser classificado como o 
antagonista da relação entre Bibiana 
e Belonísia na parte I do livro. 
 
 
 
 
 
2) Explique como Donana reage ao 
acidente das netas e qual a 
consequência futura para a 
personagem. 
 
 
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3) Exponha por qual motivo o 
argumento levantado por Severo 
para justificar a sua fuga da fazenda 
Água Negra faz sentido com o que é 
apresentado na obra. 
 
 
 
4) Belonísia é a figura presa à terra. 
Justifique essa afirmativa. 
 
 
 
5) Quais os aspectos sociais 
abordados na obra Torto Arado? cite 
trechos da obra. 
 
 
 
1. A obra Torto Arado conta a história 
de luta e resistência de Bibiana e 
Belonísia, duas irmãs que criaram 
uma conexão para além do verbo, 
após um acidente traumático ao 
encontrar, nas coisas de sua avó, 
uma faca afiada 
2. O sertão baiano, as relações de 
trabalho semiescravagistas, a 
discriminação racial e a questão da 
terra — temas inerentes à vida, aos 
estudos e ao trabalho de Vieira 
Junior — são pano de fundo para a 
trama de Torto Arado. 
3. A história de Belonísia vem 
primeiro, como perdeu a língua 
numa brincadeira de criança curiosa, 
símbolo da falta de voz daquele 
povo. A de Bibiana não é 
complementar, é uma outra visão de 
mundo, que era necessária. 
4.A obra, então, conta com o 
suspense, pois o leitor só descobre 
qual das irmãs perdeu a língua 
depois de ler boa parte do livro. Além 
disso, a literatura de Vierra retrata as 
desigualdades do Brasil e a luta 
pelos direitos da população 
sertaneja. 
5. Ele faz um resumo do sertão 
brasileiro e suas relações sociais, o 
latifúndio e o trabalho servil, e 
escravo é marcado pela violência, 
pela a seca e também pelas 
crendices populares, lendas e 
religiosidades fala da mestiçagem 
cultural e da nossa ancestralidade 
africana. 
 
 
Sobre a obra: 
saobernardo.sp.gov.br 
Narradoras, significado do título, 
tempo, espaço e resumo: 
Osmelhoreslivros.com.br 
Resistência da mulher negra: 
artigo da revista UNOESTE, escrito 
por Joelma de Araújo Silva, 
Resende, Margareth Torres de 
Alencar Costa e Maria Helena de 
Oliveira 
Entrevista: www.dw.com.br 
 
 
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Tomás Antônio Gonzaga 
 
 
 
Gonzaga nasceu no dia 11 de agosto 
de 1744 em Miragaia, no distrito do 
Porto, Portugal. Foi um dos 
importantes escritores do movimento 
árcade no Brasil. Ele é patrono da 
cadeira 37 da Academia Brasileira 
de Letras (ABL). Além de poeta, ele 
foi ativista político,advogado, juiz e 
participou da Inconfidência Mineira, 
em Minas Gerais. 
 
 
 
Esta é a história de Fanfarrão 
Minésio, governador da capitania do 
Chile, narrada por um certo Critilo, 
que da então colônia escreve ao 
amigo Doroteu, residente na 
Espanha. São treze "cartas" em 
versos que trazem personagens e 
fatos de um governo que deve nos 
causar repugnância por sua 
corrupção e crueldade. 
Foi justamente pelos efeitos do anti-
exemplo de Minésio que um 
anônimo do Brasil colonial resolveu 
traduzir o texto em nossa língua, 
após obter o manuscrito de certo 
cavalheiro que por aqui aportou, 
vindo da América espanhola. 
 
Pelo menos é o que diz o incógnito 
tradutor no "Prólogo" e na 
"Dedicatória" das Cartas chilenas, 
oferecidas aos governantes 
portugueses "para emenda dos 
mais, que seguem tão vergonhosas 
pisadas". 
 
Mas a própria sátira se encarrega de 
desfazer o irônico disfarce. 
Simulando falar sobre outro lugar, 
ela é uma voz da sociedade das 
Minas Gerais do final do século 
XVIII. Voz cintilante que, longe de 
ser um mero retrato daquele 
passado, nos diz muito de como 
esse passado enxergava a si 
mesmo. 
 
 
Composta de 13 cartas, as Cartas 
Chilenas foram escritas por Tomás 
Antônio Gonzaga, através do 
pseudônimo Critilo. 
Ele escreve para seu amigo Doroteu, 
que na realidade é o escritor árcade 
Cláudio Manuel da Costa. 
A obra é composta de versos 
decassílabos (dez silabas poéticas) 
e brancos (sem rimas). A linguagem 
utilizada é satírica, irônica e, por 
vezes, agressiva. 
 
 
Gonzaga finge escrever do Chile, 
contando a um amigo os abusos do 
governo, na cidade de Santiago. Mas 
percebe-se pelas circunstâncias 
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relatadas que o país não é Chile, 
mas retrata Minas Gerais; que a 
cidade não é Santiago, mas Vila Rica 
e que o amigo é Cláudio Manuel da 
Costa, cujo pseudônimo é Doroteu e 
que os abusos estavam 
acontecendo no governo de Cunha 
Meneses. 
 
As Cartas Chilenas contam as 
injustiças e violências que Cunha 
Meneses “Fanfarrão” executou em 
seu governo, de caráter faraônico, 
esse caráter faraônico retrata uma 
obra grandiosa em objetivos e 
despesas que são executadas para 
servir como marco de uma 
administração política 
engrandecendo quem as 
empreendeu. Essas Cartas 
circularam em Vila Rica pouco antes 
da Inconfidência Mineira, em 1789. 
Nelas podemos encontrar a sátira do 
poeta quando este num tom mordaz 
ou até mesmo agressivo, alude à 
mediocridade administrativa, no 
caso específico do governo de Minas 
Gerais e fazendo um paralelo 
podemos observar que enquanto no 
Brasil esse episódio acontecia 
próximo dos acontecimentos que 
deslancharam a Inconfidência, a 
Europa, mas especificamente a 
França, vivia a Revolução Francesa. 
Nesta obra encontramos: um 
prólogo, uma dedicatória, treze 
cartas e uma e epístola a Critilo. 
 
O prólogo é uma conversa com o 
leitor onde o autor explica do que se 
trata a obra, neste caso, ele diz que 
encontrou um cavalheiro instruído 
nas letras e que trazia com ele uns 
manuscritos onde eram relatadas 
todas as desordens no governo de 
Fanfarrão Minésio, general do Chile, 
então ele traduz esse manuscrito e 
confessa que mudou algumas coisas 
para melhor entendimento. 
 
 
A 4ª Carta faz referência a maldição de 
Doroteu pelo vício do poeta e faz alusão 
a fartura de alimentos tais como frutas, 
massas, sopa, doces finos e vinho, 
entretanto faz questão de deixa todas 
essas delícias para escrever alguns 
poemas, retorna a falar das cadeias, faz 
comentários paradoxal pobre x rico, 
comenta sobre o soldo que era pequeno e 
agora empresta dinheiro, faz alusão aos 
trastes, ricos, presos, fracos e fortes que 
não são conhecedores de descanso e que 
são atormentados pelos chefes, que 
busca uma nação digna valorizada 
pelos grandes-heróis. Mas uma vez 
vem ressaltar a diferença entre ricos 
e pobres, a insensatez de um 
comandante que pode se tornar 
néscio. 95 – Dos poderes que tem 
prezado amigo, / Quem ama a sã 
verdade busca meios / De a poder 
descobrir e o nosso chefe / Despreza 
os meios de poder achá-la. / 190 – 
Tu podes… mas, amigo, não 
gostamos / Todo o tempo em contar 
sentidas coisas, / Façamos menos 
triste a nossa história; /Misturemos 
os casos, que magoam, / Com 
sucessos, que sejam menos fortes. 
 
 
1ª Carta: Em que se descreve a entrada 
que fez Fanfarrão em Chile. 
Ah! pobre Chile, que desgraça esperas! 
Quanto melhor te fora se sentisses 
As pragas, que no Egito se choraram, 
Do que veres que sobe ao teu governo 
Carrancudo casquilho, a quem rodeiam 
Os néscios, os marotos e os peraltas! 
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2ª Carta: Em que se mostra a piedade 
que Fanfarrão fingiu no princípio do seu 
governo para chamar a si todos os 
negócios. 
As rédeas manejou, do seu governo, 
Fingir-nos intentou que tinha uma alma 
Amante da virtude. Assim foi Nero. 
Governou aos romanos pelas regras 
Da formosa justiça, porém logo 
Trocou o cetro de ouro em mão de 
ferro. 
3ª e 4ª Cartas: Em que se contam as 
injustiças e violências que Fanfarrão 
executou por causa de uma cadeia, a 
que deu princípio. 
Por uma civil morte se reputa. 
Que peito, Doroteu, que duro peito 
Não que deve ter um chefe, que 
atormenta 
A tantos inocentes por capricho? 
Que se arrisque o vassalo na campanha, 
É uma digna ação que a pátria exige, 
Nem este grande risco nos estraga 
O pundonor, que vale mais que a vida; 
5ª Carta: Em que se contam as 
desordens feitas nas festas que se 
celebraram nos desposórios do nosso 
sereníssimo infante, com a sereníssima 
infanta de Portugal. 
Os grandes desconcertos, que executam 
Os homens que governam, só motivam, 
Na pessoa composta, horror e tédio. 
Quem pode, Doroteu, zombar, contente, 
Do César dos romanos, que gastava 
As horas, em caçar imundas moscas? 
Apenas isto lemos, o discurso 
Se aflige, na certeza de que um César, 
De espíritos tão baixos, não podia 
Obrar um fato bom, no seu governo. 
6ª Carta: Em que se conta o resto dos 
festejos. 
Meu esperto boizinho, em paz te fica, 
Que o nosso chefe ordena te recolham 
Sem fazeres mais sorte, e te reserva 
Para ao curro saíres, quando forem 
Do Senhor do Bonfim as grandes festas. 
Agora sai um touro, que é prudente. 
Se o capinha o procura, logo foge. 
7ª Carta: Sobre as decisões arbitrárias 
de Fanfarrão. 
Enquanto ao conhecer destes despejos, 
Pespega à lei a boa inteligência, 
Que extensiva se chama. Sim, entende 
Que aonde o rei ordena que só haja 
Recurso a ele mesmo, nos faculta 
Recurso aos generais, pois que estes 
fazem, 
Em tudo, e mais que em tudo, as suas 
vezes. 
Ah! dize, meu amigo, se podia 
Dar-lhe outra inteligência o mesmo 
Acúrsio. 
8ª Carta: Em que se trata da venda dos 
despachos e contratos. 
Cada triênio, pois, os nossos chefes 
Levantam duas quintas ou beldades, 
E, quando o lavrador da terra inculta 
Despende o seu dinheiro, no princípio, 
Fazendo levantar, de paus robustos, 
As casas de vivenda e, junto delas, 
Em volta de um terreiro, as vis senzalas, 
Os nossos generais, pelo contrário, 
Quando estas quintas fazem, logo 
embolsam 
Uma grande porção de louras barras. 
9ª Carta: Em que se contam as 
desordens que Fanfarrão obrou no 
governo das tropas. 
Os corpos que governam, em sossego, 
Consiste em repartirem com mão reta 
Os prêmios e os castigos, pois que 
poucos 
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Os delitos evitam, porque prezam 
A cândida virtude. Os mais dos homens 
Aos vícios fogem, porque as penas 
temem. 
Ora ouve, Doroteu, o como o chefe 
Os castigos reparte aos seus guerreiros. 
Não há, não há distúrbio nesta terra, 
De que mão militar não seja autora. 
10ª Carta: Em que se contam as 
desordens maiores que Fanfarrão fez no 
seu governo. 
Eis aqui, Doroteu, o que nos nega 
Uma heróica virtude. Um louco chefe 
O poder exercita do monarca 
E os súditos não devemnem fugir-lhe 
Nem tirar-lhe da mão a injusta espada. 
Mas, caro Doroteu, um chefe destes 
Só vem para castigo de pecados. 
Os deuses não carecem de mandarem 
Flagelos esquisitos; quasi sempre 
Nos punem com as coisas ordinárias. 
O mundo inda não viu senão um corpo 
Em branco sal mudado, e só no Egito 
Fez novas penas de Moisés a vara. 
11ª Carta: Em que se contam as 
brejeirices de Fanfarrão. 
Uma mui grande parte destes chefes 
Assenta em procurar seu interesse 
Por todos os caminhos, e acredita 
Que o brio e pundonor, que nós 
prezamos, 
São umas vãs fantasmas, que só devem 
Honrar de simples voz aqueles homens, 
Que vêm de uma distinta e velha raca. 
Para estes a nobreza está nos termos 
Do sórdido monturo em que se deita 
Quanta imundície têm as velhas casas. 
12ª Carta: Imoralidade e atos 
prepotentes de Fanfarrão em prol de 
seus protegidos. 
Não penses, Doroteu, que o nosso chefe 
Comeu este dinheiro. Longe, longe 
De nós este tão baixo pensamento. 
Indo já no caminho, o seu Matúsio 
Passou, sobre Marquésio, certa letra. 
Para que se pagasse ao Santo Cristo. 
Agora considera se este fato 
Não mostra que ele zela a consciência 
13ª Carta: Existe apenas um curto 
fragmento. 
A nação, ignorante, se convence 
De que este seu profeta conhecia 
Os segredos do céu, por este meio. 
Não há, meu Doroteu, não há um chefe, 
Bem que perverso seja, que não finja, 
Pela religião, um justo zelo, 
E, quando não o faça por virtude, 
Sempre, ao menos, o mostra por 
sistema. 
 
 
 
Os movimentos “nativistas”, a 
Inconfidência Mineira, seus 
integrantes, em especial Tiradentes, 
foram redescobertos pela República 
para estabelecer uma conexão entre 
a “velha ordem”- o período colonial – 
e o “novo regime” – aquele que 
iniciava formando uma nova 
identidade nacional que visava opor-
se ao que lhe era exterior, neste 
caso a tradição lusitana. 
 
Assim, as revoltas, motins, as Cartas 
Chilenas, as revoltas do final do 
período setecentista, foram 
ressaltadas pelos historiadores 
republicanos tendo como propósito 
cunhar uma nacionalidade própria 
ao novo regime político. Contudo 
temos que ressaltar que as revoltas 
tidas como “nativistas” não foram 
evidenciadas como preconizadoras 
de um sentimento de brasilidade, 
pois se buscava o patriotismo sem 
construir uma oposição a Europa e 
ao Estado que se consolidava. 
(GUIMARÃES, 1988, p.5-7) 
 
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Movimento eminentemente poético, 
de repúdio às demasias perpetradas 
pelo Barroco, arregimentou pela 
primeira vez em nossa história 
literária um grupo de escritores mais 
ou menos coeso em seus desígnios 
e com um relativo sentido 
corporativo: Tomás Antônio 
Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, 
Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, 
Basílio da Gama, Frei José de Santa 
Rita Durão. 
 
Assim, nesse período em que a 
Europa vivia a Revolução Francesa, 
o Brasil também se agitava com os 
movimentos nativistas, como a 
própria história conta as Minas 
Gerais era uma verdadeira “mina” 
para a Coroa Portuguesa e o povo 
precisa ter vós, portanto, ninguém 
melhor que os homens letrados para 
despertar o sentimento nacional, 
pois só a Literatura consegue 
usando a sua matéria-prima dizer o 
que muitos já podem ter dito, de um 
jeito tão próprio que encanta aquele 
que percebe a maneira tão peculiar 
de usar a palavra. 
 
Importante: Entretanto, não se nota 
nas Cartas nenhuma rebeldia contra 
os alicerces do sistema colonial, nem 
mesmo uma revolta contra o 
colonizador; apenas se critica a má 
administração do governador Cunha 
Menezes. Seu significado político, 
todavia, permanece. Literariamente, 
é a obra satírica mais importante do 
século XVIII brasileiro e continua 
sendo o índice de uma época. 
 
 
O chamado dirigido a Doroteu 
transforma-se em um discurso 
enfático do autor para o leitor. Não é 
apenas Doroteu quem deve 
“acordar” para a realidade dos fatos 
de sua cidade, mas todos os leitores 
dessas cartas, vítimas de um 
governo violento e arbitrário. 
O recurso da ironia ganha ainda 
mais força na oitava carta, ao 
denunciar as arbitrariedades nas 
cobranças, muitas vezes indevidas, 
e o desrespeito não só às leis, como 
à dignidade do ser humano. 
 
Emotiva: o emissor transmite suas 
opiniões e impressões sobre as 
diversas condutas de Fanfarrão. 
Conativa ou apelativa: centrada em 
Doroteu, aparece nos inúmeros 
vocativos presentes no texto e nos 
vários imperativos com que o 
emissor se dirige ao receptor para 
persuadi-lo da verdade dos fatos que 
narra. 
Referencial: centrada em Fanfarrão 
Minésio, pretende informar ao 
receptor suas ações e condutas. 
Poética: presente nas escolhas 
feitas pelo poeta – uso do poema, 
com métrica regular (decassílabo), 
linguagem figurada e sem rimas. 
Dentre as várias funções de um texto 
literário, destaca-se em Cartas 
chilenas a intenção de denunciar a 
realidade, levar à reflexão e formar 
identidades. Provocar catarse é o 
que pretende também o escritor das 
mesmas pois, através do riso e do 
horror, pretende mudar o 
comportamento das pessoas. 
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Como poema representante do 
Arcadismo, nota-se nele a presença 
de citações clássicas (deuses, 
poetas, governantes), o verso 
decassílabo e o predomínio da 
razão. 
 
 
 
1) Upe-ssa 2016 Sobre a produção 
do Arcadismo no Brasil, analise as 
afirmativas a seguir e coloque V nas 
verdadeiras e F nas falsas. 
 
( ) Tomás Antônio Gonzaga é 
considerado, ao lado de Cláudio 
Manuel da Costa, ícone da 
Literatura Árcade. Contudo, os dois 
iniciaram suas produções poéticas 
de modo diverso: o primeiro como 
poeta árcade e o segundo ainda 
dentro dos preceitos do Barroco. 
 
( ) Tomás Antônio Gonzaga tem a 
obra poética pertencente a duas 
fases: a primeira é árcade, e a 
segunda tem traços românticos. 
Além disso, foi poeta satírico em As 
Cartas Chilenas, e lírico, em Marília 
de Dirceu. 
 
( ) Como poeta árcade, o autor de 
As Cartas Chilenas utiliza o 
pseudônimo de Dirceu, que 
nutre amor pela musa Marília. 
Envolvido com o movimento dos 
inconfidentes, é degredado para a 
África, apenas regressando ao Brasil 
no final da vida. 
 
( ) O autor de Liras de Dirceu revela 
sentimentalismo e emotividade em 
seus poemas, apontando, assim, 
para o pré-romantismo, que 
antecede o Arcadismo. 
 
( ) Tendo Tomás Antônio Gonzaga 
sido preso como inconfidente, 
continuou a escrever poemas mais 
emotivos e pessimistas, passando a 
falar de si mesmo e lastimando sua 
condição de prisioneiro. A poesia 
que produz nesse período é a que 
mais contém características do 
Romantismo. 
 
2) Sobre a obra Cartas Chilenas é 
correto afirmar: 
 
a) Foi escrita por Cláudio Manoel da 
Costa. 
 
b) Há uma sátira contra a 
administração de Luís da Cunha 
Menezes, conhecido por Fanfarrão 
Minésio. 
 
c) É composta de 12 cartas, que 
foram escritas por Tomás Antônio 
Gonzaga, através do pseudônimo de 
“Doroteu”. 
 
d) Para maior disfarce, o autor de 
Cartas Chilenas faz passar a ação 
na cidade do Rio de Janeiro. 
 
e) Critilo é o receptor das cartas, e 
Doroteu o emissor. A obra aponta 
temas que não estavam evidentes 
no período da Inconfidência Mineira. 
 
 
3) O que ocorre, verdadeiramente, 
no prólogo de Cartas Chilenas? 
 
 
 
 
 
4) Quais os pseudônimos usados 
nas cartas? 
 
 
 
 
 
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5) Trace um perfil de Luís da Cunha 
Meneses, de seu despotismo e das 
condições em que mantinha seus 
prisioneiros. 
 
 
 
 
 
 
6) FUVEST As chamadas Cartas 
Chilenas são obra anônima porque: 
 
a)os originais, assinados pelo autor, 
perderam-se em um terremoto do 
Chile. 
 
b) a ditadura que dominou o Brasil, 
entre 1937 e 1945, tornava perigosa 
a divulgação do nome de seu autor. 
 
c) seu conteúdo pornográfico, pouco 
condizente com a moral da época, 
desaconselhava a relação da 
autoria. 
 
d) contendo severascríticas ao 
governador de uma Província, seria 
imprudente a divulgação do nome de 
seu autor. 
 
e) nome do autor é substituído pelo 
pseudônimo Fanfarrão Minésio, que 
os críticos ainda não conseguiram 
identificar. 
 
 
7) A obra Cartas chilenas, de onde 
retiramos o trecho a seguir, 
apresenta duas personagens 
principais: Critilo, o autor das cartas, 
e Doroteu, destinatário delas, 
pseudônimos do próprio autor, 
Tomás Antônio Gonzaga, e de seu 
amigo e também escritor, Cláudio 
Manuel da Costa.As cartas relatam 
os desmandos do fictício governador 
chileno Fanfarrão Minésio, 
pseudônimo de Luís da Cunha 
Meneses, que governou Minas 
Gerais de 1783 a 1788. 
 
Leia o trecho a seguir com 
atenção.[...] 
 
Às vezes, Doroteu, se perde a conta 
Dos cem açoites, que no meio 
estava: 
Mas outra nova conta se começa. 
Os pobres miseráveis já nem gritam. 
Cansados de gritar, apenas soltam 
Alguns fracos suspiros, que 
enternecem. 
[...] 
Pois és, prezado Amigo, muito fraco; 
Aprende a ter o valor do nosso 
Chefe, 
Que à janela se pôs, e a tudo assiste. 
Sem voltar o semblante para a 
ilharga; 
E pode ser. Amigo, que não tenha 
Esforço para ver correr o sangue, 
Que em defesa do Trono se 
derrama. 
 
O autor da carta dialoga com seu 
destinatário, Doroteu, imaginando a 
reação dele à cena descrita, que 
sentido podemos atribuir à palavra 
"fraco" no verso: "pois és, prezado 
amigo, muito fraco?" 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 1 
 
I. Verdadeiro. Tomás Antônio 
Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa 
são os grandes nomes do Arcadismo 
brasileiro. A crítica literária indica 
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que, no início das atividades como 
poetas, o primeiro já inovava com o 
estilo árcade, mas o segundo ainda 
apresentava resquícios do conflito 
Barroco. 
 
II. Verdadeiro. A produção de Tomás 
Antônio Gonzaga é bastante 
marcada pela própria biografia do 
poeta. Em Marília de Dirceu, sua 
primeira parte é árcade; já a 
segunda, marcada pela prisão do 
autor, apresenta traços românticos, 
como a subjetividade e a presença 
da Morte. Cartas Chilenas, por sua 
vez, é a obra satírica em que o 
contexto da Inconfidência Mineira foi 
exposto. 
 
III. Falso. Dirceu é o pseudônimo 
empregado na obra lírica Marília de 
Dirceu, não em Cartas Chilenas; 
nesta obra, optou por Critilo. Além 
disso, o poeta faleceu no exílio. 
 
IV. Falso. Tomás Antônio Gonzaga 
realmente demonstra características 
pré-românticas, porém apenas na 
segunda parte de Marília de Dirceu. 
 
V. Verdadeiro. Marília de Dirceu está 
dividida em duas partes: a primeira 
parte é árcade; já a segunda, 
marcada pela prisão do inconfidente, 
apresenta traços românticos, como a 
subjetividade e a presença da Morte. 
 
2) Alternativa B 
 
a) Foi escrita por Cláudio Manoel da 
Costa : FALSO! Foi escrita por 
Tomás Antônio Gonzaga. 
 
b) Há uma sátira contra a 
administração de Luís da Cunha 
Menezes, conhecido por Fanfarrão 
Minésio. VERDADEIRO! A obra faz 
uma crítica ao governo de Luís da 
Cunha Menezes (governador de 
Minas até a Inconfidência Mineira) e 
utiliza o pseudônimo de Fanfarrão 
Minésio quando trata sobre o 
mesmo. 
 
c) É composta de 12 cartas, que 
foram escritas por Tomás Antônio 
Gonzaga, através do pseudônimo de 
“Doroteu”. FALSO! São 13 cartas e 
o pseudônimo de Tomás Antônio 
Gonzaga, na realidade, é "Critilo". 
 
d) Para maior disfarce, o autor de 
Cartas Chilenas faz passar a ação 
na cidade do Rio de 
Janeiro. FALSO! A história se passa 
no Chile, para maior disfarce. 
 
e) Critilo é o receptor das cartas, e 
Doroteu o emissor. A obra aponta 
temas que não estavam evidentes 
no período da Inconfidência Mineira. 
FALSO! Critilo é o emissor das 
cartas e Doroteu, o emissor. E a obra 
aponta temas que estavam SIM 
evidentes no período da 
Inconfidência Mineira. 
 
3) É um dos artifícios empregados na 
produção das Cartas Chilenas; não 
houve nenhum mancebo como 
portador delas, tampouco, seus 
originais foram escritos em 
castelhana. As cartas foram escritas 
por Tomás Antônio Gonzaga, em 
função de sua desavença com o 
governador de Minas Gerais Luís da 
Cunha Menezes. 
 
4) Doroteu (Cláudio Manuel da 
Costa) – vivia aparentemente na 
Espanha, Critilo (Tomás Antônio 
Gonzaga), Fanfarrão Minésio (Luís 
da Cunha Meneses) Critilo diz ser o 
general do Chile. Onde se lê Chile 
deve ser província de Minas Gerais, 
onde se lê Santiago deve ser Vila 
Rica (atual Ouro Preto). 
 
5) Luís da Cunha Meneses na é 
condizente com as leis do reino, ele 
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as extrapola com sua crueldade 
doentia; é apresentado como um 
sanguinário e torturador: “Estes 
tristes, mal chegam, são julgados / 
pelo benigno Chefe a cem açoites”. 
 
6) Alternativa D 
 
As chamadas "cartas chilenas" são 
uma obra anônima por dois motivos: 
o primeiro é que as cartas originais 
assinadas pelo autor se perderam 
durante um terremoto ocorrido no 
Chile, logo não se sabe exatamente 
quem as escreveu e, em segundo 
lugar, como as cartas contém um 
conteúdo crítico a um governador de 
Província, seria imprudente que a 
identidade do autor fosse revelada 
por medo de represálias violentas. 
 
Sendo assim, as cartas 
permaneceram sob a condição de 
anonimato, porém também se 
mantiveram relevantes com suas 
denúncias e críticas há um 
determinado período histórico. 
 
7) No trecho citado o autor fala de 
uma lembrança de uma cena muito 
forte, e a palavra "fraco" refere-se a 
fraqueza emocional e/ou intelectual 
de seu amigo. 
 
 
 
Estrutura da obra e sobre o autor: 
todamateria.com 
A obra: companhiadasletras.com 
Tempo, espaço e momento 
histórico: 
blog.portaleducacao.com.br 
Conteúdo das cartas: 
guiaestudo.com.br 
Discurso enfático e irônico: 
coladaweb.com 
Figuras de linguagem e período 
literário: 
ideiaspraticasparasaladeaula.blogs 
pot.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Bemardo Guimarães 
 
 
Bernardo Guimarães nasceu em 15 
de agosto de 1825, em Ouro Preto, 
Minas Gerais. Mas, com quatro anos 
de idade, sua família se mudou para 
Uberaba. Seu pai, João Joaquim da 
Silva Guimarães, também era 
escritor, filiado ao Arcadismo, e foi 
uma forte influência para o autor. 
As principais obras de Bernardo 
Guimarães apresentam elementos 
do romance regionalista do 
Romantismo brasileiro. Esse tipo 
de narrativa conta com um herói 
destemido e uma heroína idealizada. 
O amor é apresentado como sendo 
um sentimento superior, capaz de 
vencer todos os obstáculos. 
O espaço da narrativa é o meio 
rural, onde se encontram paisagens 
e personagens típicos de alguma 
região do país. Nessa perspectiva, a 
obra valoriza os elementos regionais 
para despertar o sentimento de 
nacionalidade no(a) leitor(a). Assim, 
com sentimentalismo e uma visão 
teocêntrica da realidade, o narrador 
mostra os costumes da sociedade 
rural brasileira. 
 
 
No interior de Minas Gerais, 
Eugênio, filho de fazendeiros, passa 
a infância ao lado de Margarida, filha 
de uma simples agregada da 
fazenda. Dessa convivência nasce o 
amor. Para evitar que o caso de 
amor progrida, os pais de Eugênio o 
internam em um seminário, 
obrigando-o a seguir a carreira 
eclesiática. O tempo passa mas 
Eugênio não esquece Margarida. 
Com a ajuda dos padres, seus pais 
inventam a notícia do casamento da 
moça, o que desilude Eugênio e o 
faz decidir-se pela vida de padre. 
 
Certo dia,porém, ao voltar para a vila 
natal, ele é chamado a socorrer uma 
moça doente. Era Margarida. Ela lhe 
conta toda a verdade: tinha sido 
expulsa da fazenda, com a sua mãe, 
já morta, passava necessidades e 
não tinha casado com ninguém, pois 
ainda o amava. A paixão renasce 
com aquela visita e no dia seguinte 
os dois entregam-se ao amor. 
 
Atormentado pelo remorso, Eugênio 
se prepara para rezar sua primeiramissa quando alguém o chama para 
encomendar um cadáver que 
acabou de chegar à igreja. Era o 
corpo de Margarida. Eugênio não 
resiste ao choque e na hora da missa 
enlouquece. 
 
 
 
Em O seminarista, Bernardo 
Guimarães faz um típico romance de 
tese, querendo provar o equívoco do 
celibato religioso, que deforma o 
homem, e do autoritarismo familiar, 
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que não permite ao jovem seu 
próprio caminho na vida. 
 
 
O romance está mais para um relato 
pastoral, uma história de amor 
iniciada na infância, em meio a um 
ambiente campestre onde os 
indícios da “desgraça”, prenunciados 
na aparição da serpente e somados 
à imposição dos pais, à educação, à 
formação no seminário, servem 
como sinal de desgraça futura. 
Apenas por conta de algumas 
qualidades, como sua dedicação e 
zelo pelas coisas da Igreja, Eugênio 
passa a ser visto como “o escolhido” 
para o serviço do altar. Assim, os 
pais impõem ao rapaz o caminho 
sacerdotal, pois viam no filho padre 
um meio de subir na escala social; o 
serviço do altar era uma carreira até 
que brilhante ou pelo menos a 
garantia de um ganha-pão para o 
sustento da família. Eugênio deixa-
se levar pela vontade alheia até o 
momento em que enfurecido por 
descobrir a mentira do pai – 
Margarida não se casou –e 
desesperado com a morte de 
Margarida, despoja-se das vestes 
sacerdotais, do ofício de padre e 
entrega-se à loucura. 
O narrador desenvolve uma espécie 
de esquematismo na narrativa que 
vai, de alguma maneira, determinar 
o comportamento de Eugênio. Esse 
esquematismo instaura-se na 
divisão dos espaços abertos e 
fechados. Os fechados revelam um 
sentimento sufocante e deprimente 
em Eugênio, como a casa do pai, o 
seminário... É nos abertos, porém, 
em meio aos campos, às luzes da 
tarde e na escuridão da noite que o 
enredo revela seus melhores 
momentos. 
Nos momentos finais, entretanto, 
esse esquematismo inverte-se: na 
cena do quarto de Margarida – o 
reencontro inesperado entre a 
amada enferma e o já padre 
Eugênio, cheio de boas lembranças 
e afagos; na cena de encomendação 
do corpo de uma mulher, que 
Eugênio reconhece ser Margarida – 
momento em que ele desiste do 
sacerdócio e foge para o espaço 
aberto, possesso de fúria e loucura. 
Esse romance deve ser lido como 
uma pastoral, um idílio aonde as 
pequenas nuvens vão se 
aglomerando de tal maneira que 
provocam uma imensa tempestade, 
que se transforma em escuridão o 
que há pouco era um dia radiante. 
 
O livro pertence a segunda geração 
do romantismo, cujo nome deu-se 
“mau-do-século”, pelo motivo que 
neste encontra-se o desejo de 
Margarida ao morrer ao saber que 
Eugênio havia se ordenado a Padre. 
O subjetivismo também é possível se 
encontrar, ao ver os versos que 
Eugênio fazia para Margarida; 
Trecho comprovante: “Poucos meses 
depois da morte de Umbelina, chegou 
aos ouvidos de Margarida a notícia, de 
que Eugênio havia tomado ordens. Dai 
em 
diante a desgraçada moça não contou 
mais com a vida.” 
*Subjetivismo: “Longe de teus lindos 
olhos, 
Ó Margarida, 
Passo a noite, passo o dia 
Em cruel melancolia; 
Ai! triste vida! 
Que importa estejas ausente 
Ó bem querida; 
O teu formoso semblante 
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Estou vendo a cada instante, 
Ó Margarida. 
Enquanto o nosso gado vai pastando 
A verde relva ao longo da ribeira, 
Vamos, Menalca, repousar um pouco 
A sombra da paineira. 
Ali tu ressoando a doce avena 
A Clore cantarás que é tua vida; 
E eu te escutando chorarei saudades 
Da minha Margarida. 
Mas basta; a sombra desce dos outeiros, 
E o sol se esconde atrás daquela ermida, 
É tempo de ir buscar o manso gado 
Da minha Margarida.” 
“O Seminarista” pode se observar 
que a tendência que mais prevalece 
na obra é o Romance regionalista ou 
rural. Essa tendência tem como 
características: valorização da 
cultura nacional, através da 
apresentação dos costumes, 
comportamentos e geografia de 
determinadas regiões do Brasil. 
Retrata também o cotidiano da vida 
nas fazendas do interior do Brasil. 
Trecho comprovante: em praticamente 
toda a obra,porém o trecho que mais 
deixa claro,falando sobre os costumes da 
população do interior retratando seus 
costumes e uma de suas comemorações 
é o seguinte: “Mutirão! só esta palavra 
nos faz ressoar aos ouvidos os alegres 
rumores dos descantos e folguedos da 
roça, o estrépito dos sapateados da 
dança camponesa por entre a zoada dos 
adufes e violas, e nos transporta ao meio 
das rústicas e singelas cenas de prazer 
da vida do sertanejo...” 
 
 
 
 
A narrativa desenvolve-se em 
terceira pessoa, com um narrador-
onisciente que algumas vezes 
também se mostra apenas 
observador, principalmente quando 
comenta, em primeira pessoa, os 
fatos com o leitor. 
 
 
 
Na época, o livro fez uma crítica 
social ao autoritarismo das famílias, 
do celibato clerical e do 
patriarcalismo no momento história 
que se debatia a questão religiosa 
 
 
EUGÊNIO: É o protagonista, o 
seminarista, a que o título se refere. 
“O rapaz era alvo, de cabelos 
castanhos, de olhar meigo e plácido 
e em sua fisionomia como em todo o 
seu ser transluziam indícios de uma 
índole pacata, doce e branda. Além 
disso, mostrava grande pendor para 
as coisas religiosas; 
MARGARIDA: Afilhada dos pais de 
Eugênio, “era morena, de olhos 
grandes, negros e cheios de 
vivacidade, de corpo esbelto e 
flexível como o pendão da imbaúba”; 
“por sua graça e gentileza, extrema 
docilidade e precoce vivacidade, era 
mui querida de todos; 
CAPITÃO FRANCISCO ANTUNES: 
Pai de Eugênio, “fazendeiro de 
medianas posses. Trabalhador, bom 
e extremoso pai de família, liso e 
sincero em seus negócios, partidista 
firme e cidadão sempre pronto para 
os ônus públicos”. Revela-se um 
homem capaz de mentir e enganar o 
próprio filho, para defender o status 
e os interesses familiares. 
Sra. ANTUNES: Mulher boa e 
carinhosa,era a mãe de Eugênio. 
Muito religiosa, “tinha o espírito 
propenso a acreditar em 
superstições e agouros.” 
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D. UMBELINA: Mãe de Margarida, 
“era uma matrona gorda e corada, de 
rosto sempre afável e prazenteiro [...] 
e fora casada com um alferes de 
cavalaria.” 
PADRE-MESTRE: É o responsável 
direto pela formação de Eugênio no 
seminário. Alia-se ao pai do rapaz e, 
além de pedir por ela, sustenta a 
mentira que engana o jovem até o 
capítulo XXII. 
LUCIANO: rapaz apaixonado por 
Margarida e rejeitado por ela. 
Discute com Eugênio no mutirão. 
“Um moço que teria a rigor os seus 
vinte e cinco anos, de bonita e 
agradável presença, tropeiro bem 
principiado, que já tinha alguns lotes 
de burros no caminho do Rio, e que 
além de tudo se tinha em grande 
conta de bonito, de rico e de bem 
nascido, pelo que não deixava de ser 
sumamente ridículo, quando não era 
insolente.” 
 
Terras do Sr. Antunes: Local aonde 
Eugênio mora com seus pais, e lá 
também encontrava-se as casas dos 
agregados destes → “Junto à ponte, 
de um lado e outro do caminho, 
viam-se duas corpulentas paineiras, 
cujos galhos, entrelaçando-se no ar, 
formavam uma arcada de verdura, à 
entrada do campo onde pastava o 
gado.” 
Seminário: Encontrava-se em 
Congonhas do Campo → “um 
grande edifício de sobrado, cuja 
frente se atravessa a pouca distância 
por detrás da igreja, tendo nos 
fundos mais um extenso lance, um 
pátio e uma vasta quinta. Das 
janelas do edifício se descortina o 
arraial, e a vista se derrama por um 
não muito largo, porém formoso 
horizonte. 
Colinas bastantemente acidentadas, 
cobertas de sempre verdes 
pastagens e marchetadas aqui e 
acolá de alguns capões verdes 
escuros formam o aspecto geral do 
país. Por entre elas estendem-se 
profundos vales, e deslizam 
torrentes de águas puras e frescas à 
sombra de moitas de verdura e 
bosquetes matizados de uma 
infinidadede lindas flores silvestres.” 
Quarto de Margarida: Neste local 
ocorre o desfecho da história → “No 
quarto da enferma, apesar da sua 
pobre simplicidade, reinava uma 
ordem e asseio, que contrastava 
com o aspecto miserável do resto da 
casa. O leito bem composto era 
guarnecido de um transparente 
cortinado cor-de-rosa, e em frente 
dele sobre uma pequena mesa de 
jacarandá de pés torneados, via-se 
um lindo oratório dourado, diante do 
qual ardia uma vela de cera entre 
duas jarras cheias de viçosas e 
fragrantes flores. Parecia mais uma 
gruta mística e perfumada, um 
voluptuoso ninho de amor, do que o 
quarto de uma moribunda.” 
Climax: O conflito final, entre 
Eugênio e Margarida, apresenta o 
clímax da narrativa, que termina com 
a morte dela e a loucura dele. 
 
 
Em 1871 (século XIX), o bispo do Rio 
de Janeiro suspendeu o padre 
Almeida Martins das ordens 
eclesiásticas por este ser maçon, 
fazendo-o abandonar a maçonaria. 
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Este fato provocou uma reação dos 
jornais contra os bispos, numa 
campanha de difamação e crítica 
que ficou conhecida como a Questão 
Religiosa. Como na época tudo que 
se referisse a igreja provocasse 
interesse e polêmica, e bem 
provável, dizem que os 
pesquisadores, que Bernardo 
aproveitou-se do momento para 
lançar, em 1872, seu romance. 
Apesar de Bernardo ser classificado 
pelo conjunto de sua obra, como 
escritor romântico, com o 
Seminarista, não obedece a linha 
ideológica do romance romântico. 
 Em O seminarista, Bernardo 
Guimarães faz uma crítica ao 
celibato religioso de uma sociedade 
apegada aos dogmas cristãos e ao 
comportamento familiar típico de 
uma sociedade patriarcal. O autor 
censura tanto o autoritarismo e a 
hipocrisia dos pais, quanto dos 
padres. Há também uma forte crítica 
à educação típica dos seminários, 
que mais embrutecia os jovens do 
que formava homens sociais. 
Bernardo Guimarães enriquece sua 
obra com a menção de crendices e 
comportamentos populares e de 
cunho folclórico, como a arte de 
enfeitiçar cobras, a mula sem cabeça 
e os mutirões. 
 
1) Leia o fragmento extraído do 
romance O seminarista, de Bernardo 
Guimarães. 
“Ah, celibato!... Terrível celibato!... 
Ninguém espera afrontar impunemente 
as leis da natureza! Tarde ou cedo, elas 
têm seu complemento indeclinável, e 
vingam-se cruelmente dos que 
pretendem subtrair-se ao seu império 
fatal!...”. 
(O seminarista, Bernardo Guimarães.) 
O fragmento acima e o livro como um 
todo expressam a seguinte 
conclusão, EXCETO 
A) Na tentativa de denunciar o 
celibato religioso, o autor compõe 
um drama de amor romântico não 
correspondido. 
 
B) O romance, considerado de tese, 
representa a vitória dos impulsos 
humanos sobre as leis sociais. 
C) O autoritarismo paterno e a 
hipocrisia dos dogmas religiosos são 
objetos de crítica do romance. 
D) A diferença de classes entre os 
amantes aparece também como 
argumento das críticas que constam 
do enredo do livro. 
2) IFSUL DE MINAS 2013 Assinale 
a afirmativa CORRETA sobre o livro 
O Seminarista, de Bernardo 
Guimarães. 
a) Há, no romance, características 
predominantes do Realismo, estilo 
que predominou na segunda metade 
do século XIX. 
b) O espaço do livro é o interior de 
Minas Gerais, especialmente a 
cidade de Congonhas, onde Eugênio 
cursa o seminário. 
c) O foco narrativo do romance está 
em primeira pessoa. Quem conta a 
história é Eugênio, em forma de 
flashback, quando, já adulto, 
relembra sua desventura amorosa. 
d) Quase não há diálogos no livro, o 
autor, assim como seus 
contemporâneos folhetinescos, 
privilegia do discurso indireto. 
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Leia e responda as questões 3, 4 
e 5 
[1] Dançava-se a quatragem no 
mutirão da tia Umbelina. 
 Margarida estava sentada junto de 
Eugênio, de cujo lado não se 
arredara desde que este havia 
chegado. 
 Ia-se formar nova roda de 
dançadores; Luciano, que tinha a 
viola em punho, dirigiu-se a 
Margarida, e convidou-a para a 
dança. Ela recusou-se protestando 
já ter dançado muito e achar-se 
fatigada. 
[5] – Então venha esse mocinho, 
que aí está com a senhora — disse 
Luciano. 
 Com este convite o rapaz 
procurava mesmo ocasião de travar-
se de razões com o estudante, a fim 
de desabafar o ciúme e o despeito 
que por dentro o corroíam. 
 – Eu não sei dançar — respondeu 
Eugênio com timidez. 
 – Deveras!... não me diga isso, 
moço; isso é desculpa; falta-nos uma 
pessoa; venha... não se faça de 
[10] rogado. 
 – É deveras; não sei dançar, nunca 
dancei em dias de minha vida. 
 – Então para que vem a estas 
funções?... 
 – Ora essa é boa!... para ver... 
 – Como quem vem aqui ver... mas 
ah! já o estou conhecendo; o senhor 
não é aquele coroinha, que 
[15] ultimamente tem ajudado à 
missa ao vigário lá na vila? 
 – É ele mesmo — acudiu 
Margarida, que já se impacientava 
com as grosserias —, é o filho do Sr. 
capitão Antunes. 
 – Do capitão Antunes?... ah!... e o 
que vem ele aqui fazer?... decerto 
aqui veio fugido de casa, e há de 
ser 
benfeito que o pai lhe passe uma 
dúzia de bolos, quando souber que 
já anda metido em súcias... 
(GUIMARÃES, Bernardo. O seminarista. São Paulo: 
Martin Claret, 2013. p. 70-1). 
3) UVA 2016 Antunes era o pai de: 
a) Umbelina. 
b) Luciano. 
c) Eugênio. 
d) Margarida. 
 
4) UVA 2016 Bernardo Guimarães é 
um autor: 
a) barroco. 
b) romântico. 
c) realista. 
d) naturalista. 
 
4) UVA 2016 Não é característica 
dessa Escola: 
a) zoomorfização do homem. 
b) historicismo. 
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c) nacionalismo. 
d) exaltação da natureza pátria 
 
1) Alternativa B 
A (correta) A denúncia do celibato é 
um dos principais temas do 
romance; o amor não correspondido 
se refere à união de Eugênio e 
Margarida que não se realizou por 
imposições paternas; o que 
acarretou o fim trágico da história. 
B (incorreto) O romance de Alencar, 
de fato, ensaia um romance de tese; 
entretanto não há a vitória dos 
impulsos humanos, mas sim a vitória 
das leis sociais, já que a vontade dos 
pais se sobrepôs ao desejo do filho. 
C (correta) A obra pode ser 
sintetizada com esses dois temas: 
autoritarismo paterno, que obriga 
filho a se tornar padre, e a crítica aos 
dogmas religiosos, mais 
especificamente o celibato, que priva 
o homem de seu instinto humano de 
concretização de sua sexualidade. 
D (correta) Uma das razões 
apresentadas pelos pais do 
protagonista para a não aceitação de 
um possível matrimônio é 
justamente a condição social inferior 
de dona Umbelina e de sua filha, 
mulheres que viviam como 
agregadas na fazenda. 
2) Alternativa B 
A) incorreta, pois na verdade a obra 
apresenta características do 
Romantismo brasileiro. 
B) correta, pois o narrador apresenta 
já no início da narrativa os 
personagens protagonistas e o 
espaço da história. 
C) incorreta, uma vez que a história 
é narrada por um narrador 
observador, atuando assim em 3° 
pessoa. 
D) incorreta, pois o que mais deixa a 
história mais dinâmica e atraente é a 
presença constante de diálogo entre 
os personagens. 
3) Alternativa C 
 Em "O Seminarista" temos uma 
relação fortíssima de amizade que 
vinha da infância, e que unia 
Eugênio, filho do fazendeiro 
Francisco Antunes, a Margarida, 
filha da viúva Umbelina. Filha e mãe 
eram agregadas na fazenda de 
Antunes. 
4) Alternativa B 
Foi considerado o criador do 
romance sertanejo e regional, 
ambientado em Minas Gerais e 
Goiás. 
5) Alternativa A 
Todas as outras alternativas se 
referem ao romantismo, mas 
zoomorfização do homem está 
contido no Naturalismo. 
 
O autor: mundoeducacao.uol.com 
Sobreo livro: algosobre.com.br/ 
Enredo: infoescola.com.br 
Personagens, contexto histórico 
e período literário: 
literaturavec.blogspot.com 
Foco narrativo: passeidireto.com 
Crítica existente: 
letras.biblioteca.ufrj.br 
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Fernando Pessoa 
 
 
 
Fernando Pessoa é um dos mais 
importantes escritores portugueses 
do modernismo e poetas de língua 
portuguesa. Destacou-se na poesia, 
com a criação de seus heterônimos 
sendo considerado uma figura 
multifacetada. Trabalhou como 
crítico literário, crítico político, editor, 
jornalista, publicitário, empresário e 
astrólogo. Fernando faleceu em sua 
cidade natal, dia 30 de Novembro de 
1935, vítima de cirrose hepática, 
com 47 anos. 
 
 
 
 
 
Fernando Pessoa pode ser 
classificado como modernista, já que 
foi um dos autores que introduziu o 
movimento em Portugal. Junto com 
escritores como Mário de Sá 
Carneiro, Luís de Montalvor e 
Ronald de Carvalho, Pessoa 
publicou a revista “Orpheu” em 1915, 
dando início ao modernismo no país. 
 
 
 
Apresentava reflexões sobre 
identidade, noções de verdade e 
existencialismo. Mas é importante 
perceber que como o escritor criou 
diferentes heterônimos, é possível 
encontrar na obra de Fernando 
Pessoa diferentes estilos. O autor 
escreveu poemas em inglês, poesias 
líricas e poesias históricas com 
caráter nacionalista. 
 
 
 
 
Fernando Pessoa, que inventou 
vários personagens-poetas, 
talentosos e dotados de 
individualidade. Esses personagens 
ficaram conhecidos como 
heterônimos, palavra de origem 
grega que indica “outros nome”. 
 
Conceitualmente, há uma diferença 
entre essa situação e a do uso do 
pseudônimo. Esse último é um nome 
diferente que autores podem se 
atribuir para ocultar a própria 
identidade. Os heterônimos indicam 
diversas personalidades que 
convivem no corpo de uma única 
pessoa. Quando Alberto Caeiro, por 
exemplo, escreve seus poemas, é a 
subjetividade desse autor, criada 
pelo indivíduo Fernando Pessoa, 
que aflora. 
 
Pessoa utilizou-se de vários 
heterônimos, como Alberto Caeiro, 
Ricardo Reis, Álvaro de Campos, 
Bernardo Soares, Alexander Search 
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(que só escrevia em inglês) e outros, 
com uma tendência distinta. 
 
Estudiosos afirmam que essa atitude 
refletia a descrença de Pessoa em 
uma personalidade integrada. Ele 
criou biografias diferentes para todos 
os seus heterônimos, cada uma com 
seu estilo de compor, suas 
influências e, em certos casos, até 
mesmo sua filosofia de vida. Três 
dos heterônimos de Pessoa se 
destacaram pela maestria do estilo e 
pela singularidade de composição 
na união desses elementos 
inventados por ele: Álvaro de 
Campos, Ricardo Reis e Alberto 
Caeiro. 
 
 
 
Observação: são MUITOS poemas, então 
neste material, demos prioridade as 
características dos heterônimos, cada 
‘’personagem’’ de Fernando escreve de 
forma diferente. A probabilidade de acertar 
a questão lembrando das características é 
maior que tentar adivinhar o poema que vai 
estar na prova! 
 
O guardador de rebanhos, do 
heterônimo Alberto Caeiro 
 
Eu nunca guardei rebanhos, 
Mas é como se os guardasse. 
Minha alma é como um pastor, 
Conhece o vento e o sol 
E anda pela mão das Estações 
A seguir e a olhar. 
Toda a paz da Natureza sem gente 
Vem sentar-se a meu lado. 
Mas eu fico triste como um pôr de sol 
Para a nossa imaginação, 
Quando esfria no fundo da planície 
E se sente a noite entrada 
Como uma borboleta pela janela. 
 
Escrito por volta de 1914, mas 
publicado pela primeira vez em 
1925, o extenso poema O guardador 
de rebanhos - representado abaixo 
por um breve trecho - foi o 
responsável pelo surgimento do 
heterônimo Alberto Caeiro. 
Nos versos o eu-lírico se apresenta 
como uma pessoa humilde, do 
campo, que gosta de contemplar a 
paisagem, os fenômenos da 
natureza, os animais e o espaço ao 
redor. 
Outra marca importante da escrita é 
a superioridade do sentimento 
sobre a razão. Vemos também uma 
exaltação ao sol, ao vento, à terra, 
de um modo geral dos elementos 
essenciais da vida campestre. 
 
 
Em O guardador de rebanhos é 
importante sublinhar a questão do 
divino: se para muitos Deus é um ser 
superior, no decorrer dos versos 
vemos como a criatura que nos rege 
parece ser, para Caeiro, a natureza. 
 
O Fingimento Artístico (Fernando 
Pessoa, Cancioneiro) 
 
O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 
E os que lêem o que escrevem 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm. 
. 
E assim nas calhas de roda 
Gira a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração. 
 
 
Na perspectiva pessoana, o artista, e 
especialmente o poeta, é um 
fingidor, no sentido em que o acto de 
escrever não é um acto directo e 
imediato. A dor, as emoções que são 
descritas no poema não foram as 
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sentidas pelo poeta no momento em 
questão, foram concepções 
intelectuais feitas através da análise 
da situação vivida. Ou seja, a poesia 
resulta da memória, da recordação e 
da sua reprodução racional, 
coerente e inteligente. Por isso, F. 
Pessoa afirma que o poeta finge 
todos os sentimentos que transpõe 
para o papel porque, no momento 
em que escreve, ele já não está a 
sentir o que sentiu no instante a que 
se refere na poesia. 
 
Podemos, então distinguir 3 dores: a 
dor sentida pelo poeta no momento 
em que acontece algo, a dor fingida 
pelo poeta quando se recorda do 
momento em que sofreu a dor 
sentida e a reproduz como texto, e a 
dor lida pelo leitor quando analisa o 
poema e interioriza as palavras do 
poeta. 
É importante frisar que «fingimento» 
utiliza-se num sentido de 
representar, é uma tentativa de 
transfigurar o que se sente naquilo 
que se escreve, utilizando 
paralelamente a imaginação e a 
intelectualidade. Fingir é inventar, 
criando conceitos que exprimam as 
emoções o melhor possível. 
 
Ao poeta cabe-lhe «sentir com a 
imaginação», ou seja, transformar a 
vivência real numa obra de arte, 
usufruindo da imaginação e o 
pensamento. As emoções são 
despersonalizadas e a sinceridade 
espontânea dá lugar à sinceridade 
intelectual. 
 
A Dor de Pensar (Fernando 
Pessoa, 1931) 
 
Gato que brincas na rua 
Como se fosse na cama, 
Invejo a sorte que é tua 
Porque nem sorte se chama. 
. 
Bom servo das leis fatais 
Que regem pedras e gentes, 
Que tens instintos gerais 
E sentes só o que sentes. 
. 
És feliz porque és assim, 
Todo o nada que és é teu. 
Eu vejo-me e estou sem mim, 
Conheço-me e não sou eu. 
 
Fernando Pessoa vive em constante 
conflito interior. Tendo consciência 
de que é um homem racional de 
mais, ele deseja arduamente pensar 
menos, ser mais inconsciente, 
aproveitar a vida sem questionar. 
Mas, como na realidade tem uma 
necessidade permanente de se 
questionar, de pensar, de 
intelectualizar toda e qualquer 
situação, ele sente-se frustrado. 
 
Podemos, então, falar de uma 
dualidade insconsciência e 
consciência e sentir/pensar. A 
pessoa inveja o gato porque o gato é 
feliz na sua ingenuidade, 
respondendo simplesmente a 
instintos. Pessoa inveja uma ceifeira 
simples porque ela canta só porque 
lhe apetece, alegremente. 
 
Ele nunca conseguirá ter estas 
reacções de abstracção para com o 
pensamento porque insatistafação e 
a dúvida acerca da importância da 
racionalidade são constantes. O que 
ele deseja é ser inconsciente, tendo 
consciência disso. Como isso é 
muito inconcebível, cada vez a dor 
de pensar é maior. 
 
 
2. Lisbon revisited, do heterônimo 
Álvaro de Campos 
Não: não quero nada 
Já disse que não quero nada. 
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Não me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer. 
Não me tragam estéticas! 
Não me falem em moral! 
Tirem-me daquia metafísica! 
Não me apregoem sistemas completos, 
não me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, 
das ciências!) — 
Das ciências, das artes, da civilização 
moderna! 
Que mal fiz eu aos deuses todos? 
Se têm a verdade, guardem-na! 
Sou um técnico, mas tenho técnica só 
dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito 
a sê-lo. 
Ricardo Reis ‘‘O epicurista triste’’ 
 Prefiro rosas, meu amor, à pátria, 
E antes magnólias amo 
Que a glória e a virtude. 
Logo que a vida me não canse, deixo 
Que a vida por mim passe 
Logo que eu fique o mesmo. 
Que importa àquele a quem já nada 
importa 
Que um perca e outro vença, 
Se a aurora raia sempre, 
Se cada ano com a Primavera 
As folhas aparecem 
E com o Outono cessam? 
E o resto, as outras coisas que os 
humanos 
Acrescentam à vida, 
Que me aumentam na alma? 
Nada, salvo o desejo de indiferença 
E a confiança mole 
Na hora fugitiva. 
 
Tabacaria, do heterônimo Álvaro 
de Campos 
Não sou nada. 
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada. 
À parte isso, tenho em mim todos os 
sonhos do mundo. 
Janelas do meu quarto, 
Do meu quarto de um dos milhões do 
mundo que ninguém sabe quem é 
(E se soubessem quem é, o que 
saberiam?), 
Dais para o mistério de uma rua cruzada 
constantemente por gente, 
Para uma rua inacessível a todos os 
pensamentos, 
Real, impossivelmente real, certa, 
desconhecidamente certa, 
Com o mistério das coisas por baixo das 
pedras e dos seres, 
Com a morte a pôr humidade nas 
paredes e cabelos brancos nos homens, 
Com o Destino a conduzir a carroça de 
tudo pela estrada de nada. 
 
Um dos poemas mais conhecidos do 
heterônimo Álvaro de Campos é 
Tabacaria, um extenso conjunto de 
versos que narram a relação do eu-
lírico consigo próprio diante de um 
mundo acelerado e a relação que 
mantém com a cidade durante o seu 
tempo histórico. 
As linhas abaixo são apenas a parte 
inicial desse longo e belo trabalho 
poético escrito em 1928. Com um 
olhar pessimista, vemos o eu-lírico 
discorrer sobre a questão da 
desilusão a partir de uma 
perspectiva niilista. 
O sujeito, solitário, se sente vazio, 
apesar de assumir que tem sonhos. 
Ao longo dos versos observamos um 
gap entre a situação atual e a que o 
sujeito poético desejaria estar, entre 
aquilo que se é e aquilo que gostaria 
de ser. É a partir dessas 
divergências que se constrói o 
poema: na constatação do lugar 
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atual e no lamento da distância para 
o ideal. 
 
Álvaro de Campos 
Apesar de português, o escritor foi 
educado em inglês, o que o faz 
sempre se sentir um estrangeiro. O 
poeta teve fases diferentes em sua 
literatura, no começo tinha 
proximidade com o simbolismo, 
depois com o futurismo e então a 
visão niilista ficou presente nas suas 
obras. 
Na primeira fase, é o tédio e a busca 
por experiências diferentes que 
marcam a poesia. A segunda é 
marcada pela otimismo da 
civilização. E a terceira é mais 
introspectiva e apresenta uma 
poesia pessimista. Campos 
apostava em uma linguagem ousada 
para a época, mais livre. 
Ao contrário da racionalidade de 
Ricardo Reis, Campos coloca 
emoção em seus escritos. É 
considerado o alter ego de Pessoa. 
Ricardo Reis 
O médico que acredita na monarquia 
tinha uma escrita mais tradicional, a 
linguagem utilizada pelo heterônimo 
é culta e apresenta um lado clássico. 
Ricardo foi viver no Brasil quando a 
república foi proclamada em 
Portugal. Os textos de Reis foram 
publicados na revista “Athena” e na 
“Presença”. 
O autor acredita na busca pela 
tranquilidade através do epicurismo, 
uma doutrina que acredita em evitar 
a dor, aproveitar a vida e não ter 
medo de morrer. E também do 
estoicismo, que acredita na 
importância da razão estar acima da 
paixão e na aceitação dos limites. 
Como Pessoa não determinou sua 
morte, José Saramago, outro 
importante autor português, 
escreveu o livro “O Ano da Morte de 
Ricardo Reis” 
Alberto Caeiro 
É um dos heterônimos mais 
importantes, apesar de ser um 
camponês sem estudo. É 
classificado, por Fernando Pessoa e 
os outros heterônimos, como um 
mestre. Caeiro tinha um estilo direto 
e simples, mas a compreensão é 
complexa, já que o poeta faz 
reflexões profundas em seus 
escritos. 
Alberto só escrevia poesia, não 
achava possível retratar a realidade 
através da prosa. Contra o 
pensamento filosófico, o escritor 
acredita que sentir é mais importante 
que pensar. Uma das obras mais 
conhecidas é “O Guardador de 
Rebanhos”. 
Bernardo Soares 
Um semi-heterônimo parecido com 
Álvaro de Campos, muito próximo 
de Fernando Pessoa. Segundo o 
escritor, Bernardo Soares tem uma 
parte de sua personalidade. 
 
1) FEI - SP 
Autopsicografia 
O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 
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E os que leem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm. 
E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração. 
Fernando Pessoa 
A palavra título indica que: 
a) o texto apresentará a visão do eu 
lírico sobre os outros com quem 
convive. 
b) o poema tecerá considerações 
sobre a subjetividade do próprio eu 
lírico. 
c) o texto discutirá a formação do 
leitor. 
d) o poema dialogará com os leitores 
em potencial. 
e) o poema tecerá considerações 
sobre o amor. 
2) Indique a alternativa que preenche 
corretamente as afirmações abaixo. 
Ao se destacar como um poeta 
múltiplo, Fernando Pessoa 
apresenta ____ com diferentes____ 
entre os quais Ricardo Reis e Álvaro 
de Campos, com obras de 
tendência, respectivamente, ____ e 
____. 
a) pseudônimos – imagens – 
clássica – simbolista 
b) heterônimos – linguagens – 
neoclássica – modernista 
c) pseudônimos – estilos – simbolista 
– modernista 
d) heterônimos – temáticas – 
romântica – futurista 
e) heterônimos – visões de mundo – 
surrealista – vanguardista 
 
3) Enem 2004 
 
 
A tirinha acima estabelece uma 
interessante relação dialógica com o 
poema de Fernando Pessoa, Eu sou 
do tamanho do que vejo 
Da minha aldeia vejo quanto da terra 
se pode ver no Universo... 
Por isso minha aldeia é grande como 
outra qualquer 
Porque sou do tamanho do que vejo 
E não do tmanho da minha altura... 
(Alberto Caeiro) 
A tira Hagar e o poema de Alberto 
Caeiro (um dos heterônimos de 
Fernando Pessoa) expressam, com 
linguagens diferentes, uma mesma 
ideia: a de que a compreensão que 
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temos do mundo é condicionada, 
essencialmente, 
a) pelo alcance de cada cultura. 
b)pela capacidade visual do 
observador. 
c) pelo senso de humor de cada um. 
d) pela idade do observador. 
e)pela altura do ponto de 
observação. 
 
4) URCA 2019 Texto (fragmento) 
pra a questão 
 Quem me dera que eu fosse os 
choupos à margem do rio 
E tivesse só o céu por cima e a água 
por baixo... 
 Quem me dera que eu fosse o 
burro do moleiro 
E que ele me batesse e me 
estimasse... 
Antes isso que ser o que atravessa 
a vida 
Olhando para trás de si e tendo 
pena... 
O fragmento acima é parte da Obra 
do heterônimo de Fernando Pessoa, 
Alberto Caeiro. 
São características de Caeiro e que 
estão presentes no texto, exceto: 
a) Ligação com a Natureza e desejo 
de integrar-se a ela; 
b) Valorização das sensações em 
detrimento a grandes reflexões; 
c) Subjetividade visual filosófica 
profunda pautada na clareza e 
confiança; 
d) Simplicidade do tão somente 
existir; 
e) Preferência pelo verso livre e pela 
linguagem simples. 
 
5) UNESP 2018 Ricardo Reis é, 
assim, o heterônimo clássico, ou 
melhor, neoclássico: sua visão da 
realidade deriva da Antiguidade 
greco-latina. Seus modelos de vida e 
de poesia, buscou-os na Grécia e em 
Roma. 
(Massaud Moisés. “Introdução”.In: 
Fernando Pessoa. O guardador de 
rebanhos e outros poemas, 1997.) 
Levando-se em consideração esse 
comentário, pertencem a Ricardo 
Reis, heterônimo de Fernando 
Pessoa (1888-1935), os versos: 
a) Nada perdeu a poesia. E agora há a 
mais as máquinas 
Com a sua poesia também, e todo o 
novo gênero de vida 
Comercial, mundana, intelectual, 
sentimental, 
Que a era das máquinas veio trazer para 
as almas. 
b) Súbita mão de algum fantasma oculto 
Entre as dobras da noite e do meu sono 
Sacode-me e eu acordo, e no abandono 
Da noite não enxergo gesto ou vulto 
c) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira 
do rio. 
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Sossegadamente fitemos o seu curso e 
aprendamos 
Que a vida passa, e não estamos de 
mãos enlaçadas. 
(Enlacemos as mãos.) 
d) À dolorosa luz das grandes lâmpadas 
elétricas da fábrica 
Tenho febre e escrevo. 
Escrevo rangendo os dentes, fera para a 
beleza disto, 
Para a beleza disto totalmente 
desconhecida dos antigos. 
e) O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente 
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 
 
 
1) Alternativa “b”. 
Autopsicografia significa dizer: auto, 
do grego autós, -ê, -ó, eu mesmo, ele 
mesmo. Exprime a noção de próprio, 
de si próprio, por si próprio. 
Psicografia. s. f.1. História ou 
descrição da alma. Podemos dizer 
que autopsicografia diz respeito a 
uma pessoa, no caso, o poeta 
Fernando Pessoa, que faz a 
descrição da sua própria alma, do 
fazer literário do poeta. 
2) Alternativa B 
Fernando Pessoa produziu por meio 
de vários heterônimos, uma vez que 
era uma pessoa de múltiplos 
desdobramentos do “eu”. A principal 
diferença entre os seus heterônimos 
é a linguagem utilizada por cada um, 
marca que dialoga, 
consequentemente, com a 
personalidade e história de cada 
heterônimo. Ricardo Reis e Álvaro 
de Campos, por exemplo, têm 
influências distintas em suas obras. 
As características neoclássicas 
ficam por conta de Ricardo e as 
características da modernidade são 
marcas de Álvaro. 
 
3) Alternativa A 
 Na tirinha, Hagar satiriza a crença 
do filho de que o mundo é redondo, 
já que, para Hagar, a realidade 
imediata (representada pela imagem 
do segundo quadrinho) sugeriria 
justamente o contrário. No 
fragmento de Caeiro, o eu lírico 
defende que ele é do tamanho do 
que vê, o que é uma maneira de 
mostrar que a interpretação da 
realidade depende dos valores de 
cada um. Os textos expressam a 
ideia de que a compreensão do 
mundo é condicionada, 
essencialmente, pelo alcance de 
cada cultura. 
 
4) Alternativa C 
Alberto Caeiro leva uma vida 
pautada no ''sensacionismo'': busca 
viver baseado apenas nos sentidos, 
evitando ao máximo utilizar a razão. 
A subjetividade visual filosófica, com 
clareza e confiança, exigiria uma 
razão bem construída do eu-lírico, 
uma vez que a filosofia se pauta na 
interpretação crítica do mundo. 
5) Alternativa C 
Esses versos têm intertextualidade 
com a tradição clássica, como indica 
a atitude estoica, imperturbável do 
eu lírico, a consciência da 
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efemeridade da vida e a 
necessidade de gozá-la, que 
caracterizam a tópica do carpe diem. 
Além do mais, É bom lembrar que 
Lídia era a musa de Ricardo Reis. 
Logo, qualquer trecho que cite esse 
nome é, com certeza, pertencente a 
esse heterônimo. 
 
Poemas: 
culturagenial.com 
notapositiva.com 
Heterônimos: 
guiadoestudante.com 
Período literário, estilo e 
características dos heterônimos: 
educacao.globo.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Paulina Chiziane 
 
 
 
 
 
Paulina Chiziane é um escritora 
moçambicana, nascida em 4 de 
junho de 1955, na vila de Manjacaze, 
no sul de Moçambique. Durante a 
sua juventude, participou ativamente 
da militância como membro da 
Frente de Libertação de 
Moçambique. Durante a Guerra Civil 
que assolou o país, Paulina atuou 
como enfermeira na organização 
Cruz Vermelha. A escrita foi a saída 
que encontrou para lutar, para 
ressignificar suas experiências 
enquanto mulher negra em um país 
dividido, marcado pela violência da 
colonização europeia. 
 
A literatura de Paulina Chiziane é 
não apenas um manifesto, mas 
também um marco. Ela foi a primeira 
mulher a publicar um romance em 
Moçambique, em 1990, “Balado de 
amor ao vento”. Graças à força de 
sua escrita, Paulina Chiziane foi 
nomeada, em 2005, como uma das 
vozes do movimento One Thousand 
Peace Women – movimento que foi 
indicado, no mesmo ano, ao Prêmio 
Nobel da Paz. 
Niketche — uma história de 
poligamia é a obra mais conhecida 
da escritora Paulina Chiziane e conta 
a história da narradora-personagem 
Rami, que se une às quatro amantes 
de seu marido, Tony, para formarem 
uma grande família. Desse modo, 
elas aceitam dividir o amor do 
mesmo homem. O livro é marcado 
pelo fluxo de consciência da 
personagem Rami, que analisa seu 
lugar de mulher na sociedade 
moçambicana do período pós-guerra 
civil. Assim, Paulina Chiziane ocupa 
seu espaço na história da literatura 
de Moçambique e se torna uma das 
principais autoras africanas. 
Em suas obras, incluída Niketche — 
uma história de poligamia, sobressai 
a voz feminina, que faz uma reflexão 
sobre a condição da mulher negra na 
sociedade moçambicana. Dessa 
forma, a narradora realiza uma 
crítica de costumes. 
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Dividido em 43 capítulos, o romance 
está centrado no fluxo de 
consciência da narradora-
personagem, que analisa, com uma 
linguagem lírica, sua condição e a de 
outras mulheres vinculadas à 
tradição de uma sociedade 
patriarcal. Assim, mostra uma 
realidade feminina marcada pela 
submissão e enriquecida pela 
pluralidade cultural. 
 
Rami: (Rosa Maria): narradora, 40 
anos, 5 filhos, mulher do sul, esposa 
dedicada e fiel que perceberá que 
vive com um marido poligâmico, que 
tem mais 4 mulheres. 
 
Tony: (António Tomás): 
machangana, 17 filhos, 50 anos, Dr. 
Comandante da polícia, poderoso 
esposo de Rami, ausente e 
polígamo. 
 
Ju: (Julieta): “segunda dama”, 6 
filhos, mulher do sul. 
Lu: (Luísa): “terceira dama”, 2 filhos, 
mulher do norte. 
Saly: “quarta dama”, maconde, 2 
filhos, mulher do norte. 
Mauá Sualé: “quinta dama”, 2 filhos, 
nortenha macua, por volta dos 19 
anos. 
 
Eva: mulata, estéril, rica, amante de 
Tony. 
 
Gaby: amante de Paris. Aparece em 
uma viagem de duas semanas que 
Tony faz para “consultar um médico” 
na França. 
Levy: irmão de Tony que irá efetuar 
o levirato. 
Saluá: beldade nhanja rejeitada por 
Tony ao final da narrativa. 
 
Após assinarem o Acordo Geral de 
Paz, em 1992, a Resistência 
Nacional Moçambicana (Renamo) 
continuou sendo uma força política 
de oposição ao governo da Frente de 
Libertação de Moçambique 
(Frelimo). Apesar do cessar-fogo, os 
conflitos entre os integrantes desses 
dois partidos continuaram, de forma 
a ameaçar a paz. 
Portanto, é nesse contexto de 
instabilidade política e social que a 
narrativa Niketche — uma história de 
poligamia se desenvolve. Como 
outras obras do período pós-
independência, busca valorizar a 
diversidade cultural, de forma a 
mostrar que ela deve ser usada não 
para separar, mas para fomentar a 
união do país. 
O tempo da narrativa não é 
especificado. No entanto, fica claro 
que a ação ocorre em um momento 
posterior à guerra civil 
moçambicana, isto é, após o ano de 
1992. Sobre o espaço, as mulheres 
de Tony se originam de localidades 
moçambicanas como Matutuíne, 
Zambézia, Nampula e Cabo 
Delgado, mas a ação principal se 
passa no sul de Moçambique, na 
cidade de Maputo. 
 
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Niketche conta a história de Tony, 
um alto funcionário da polícia, e sua 
mulher, Rami, casados há vinte 
anos. Certo dia, Rami descobre que 
o marido é polígamo: tem outras 
quatro mulheres e vários filhos com 
cada uma. As esposas de Tony 
estão espalhadas pelo país: em 
Maputo, em Inhambane, na 
Zambézia, em Nampula, em Cabo 
Delgado. Numa decisão 
surpreendente, Rami decide ir atrás 
de cada uma dessas mulheres. 
Antes de prosseguirmos, é 
fundamental fazermos uma inversão 
importante: Niketche não conta a 
história de Tony, mas sim a de Rami. 
É a sua voz e as suas palavras que 
constroem a narrativa, apresentam-
nos todas situações e as 
personagens e é através de sua 
mediação que conhecemos o marido 
infiel e as outras mulheres: Julieta, 
Lu, Saly e Mauá. 
 
O livro se abre com uma situação 
problemática: o filho de Rami é 
acusado, injustamente, de danificar 
o vidro de um carro. Ao tentar 
resolver a situação com o 
proprietário do veículo e também 
com a criança, a personagem se vê 
confrontada, conscientemente, com 
a ausência constante do marido. 
Ao precisar justificar publicamente a 
ausência de Tony, Rami percebe 
também a situação dolorosa de suas 
vizinhas. O primeiro movimento da 
personagem é, no entanto, de 
buscar a culpa. Quem eram os 
responsáveis dessas “fugas” e 
dessas ausências? Apesar de 
cogitar culpar o marido pelo seu 
sofrimento, Rami volta-se para si 
mesma, examina-se ao espelho, 
culpa-se. 
“Vou ao espelho tentar descobrir o 
que há de errado em mim. Vejo 
olheiras negras no meu rosto, meu 
Deus, grandes olheiras! Tenho 
andado a chorar muito por estes 
dias, choro até demais! Olho bem 
para a minha imagem. Com esta 
máscara de tristeza, pareço um 
fantasma, essa aí não sou eu.” 
Porém, apesar da tristeza e do 
cansaço, a personagem consegue, 
de alguma forma, entrever um 
vislumbre da sua força e de sua 
beleza. Pacifica-se, por ora. Mais 
tarde na narrativa, a personagem 
explica, em um diálogo com outra 
mulher, que, desde sua infância, ela 
nunca havia sido ensinada a ter 
amor-próprio, a amar-se e respeitar-
se. Pelo contrário, foi-lhe ensinado a 
subserviência, a obediência, a 
naturalização das hierarquias que 
colocam as mulheres à margem de 
tudo, em um segundo plano onde 
são permanentemente coadjuvantes 
de suas próprias vidas. 
De forma gradual, o exercício de 
olhar-se ao espelho, de dialogar 
consigo própria, de apropriar-se de 
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sua própria voz e de sua própria 
história vão restituindo a confiança 
de Rami. Entretanto, a busca por 
culpados prossegue ainda, por um 
tempo, e a personagem vai 
confrontar suas rivais, cada uma das 
mulheres com quem Tony mantém 
uma vida paralela. Essas outras 
mulheres, a princípio, são vistas 
como inimigas, como rivais que 
devem ser destruídas. 
“Penso muito nessa tal Julieta ou 
Juliana. Mulher bonita, ouvi dizer. 
Tem com o meu Tony muitos filhos, 
não sei quantos. É um segundo lar, 
sólido e fixo. Na minha mente correm 
ideias macabras. De repente, 
apetece-me ferver um pote de óleo e 
derramar na cara dessa Julieta ou 
Juliana, para eliminá-la do meu 
caminho. Apetece-me andar à 
pancadaria com uma peixeira. Rezo. 
Rezo com todo o fervor para que 
essa mulher morra e vá para o 
inferno. Mas ela não morre e nem o 
romance acaba.” 
Na primeira vez que se encontram, 
Rami e Ju brigam, agridem-se 
fisicamente, trocam insultos. Porém, 
quando se veem diante da 
possibilidade de uma conversa 
franca, as duas mulheres percebem 
que compartilham tristezas muito 
semelhantes. Há meses que Ju não 
vê Tony, ele é agressivo, pouco 
contribui para o sustento da casa e 
dos filhos. Além disso, Rami percebe 
que a situação de Ju é ainda mais 
precária. 
Diferentemente dela, que está 
amparada, de certa forma, pela 
formalidade de seu casamento, Ju 
não apenas é hostilizada pela 
sociedade, por ser a “concubina”, 
mas não tem nenhuma proteção 
jurídica, nem para si, nem para seus 
filhos. Para piorar a situação das 
duas mulheres, Ju anuncia a Rami 
que Tony tem uma terceira mulher 
que, além de tudo, apresenta uma 
questão cultural. Enquanto Rami e 
Ju são mulheres do sul, a terceira, 
Lu, é uma mulher do norte, onde a 
poligamia ainda é uma prática 
aceitável. 
Da mesma forma como fizera com 
Ju, Rami procura Lu. As duas 
confrontam-se, agridem-se, vão 
parar na delegacia. E, assim como 
acontecera com Ju, é através do 
diálogo – que não é, no entanto, 
pacífico ou passivo – que as duas 
mulheres se reconhecem, apesar 
das grandes diferenças culturais. 
Nesse momento do livro, pouco 
importa a qual cultura se refere, a do 
norte ou a do sul, o estatuto da 
mulher nessa sociedade é claro: é 
coadjuvante, satélite, subjugada, de 
modos diversos, para atender as 
necessidades e os caprichos de 
pais, maridos, amantes. A romaria 
de Rami não se encerra com Luísa, 
restam ainda outras mulheres que 
compartilham fragilidades e 
precariedades em seus 
relacionamentos com Tony. 
Progressivamente, Rami aproxima-
se das quatro mulheres, para 
conhecê-las e, sobretudo, para uni-
las. Em paralelo, a protagonista faz 
uma verdadeira enquete com as 
outras mulheres que conhece, 
familiares, vizinhas, frequentadoras 
dos mercados, a respeito da 
poligamia. Diante do quadro em que 
se encontra, Rami acredita que a 
melhor forma de garantir alguns 
direitos, para si e para as outras 
quatro mulheres, é a adoção desse 
regime. Após uma longa conversa, 
as cinco fazem uma decisão coletiva. 
“– Julieta, minha Ju, foste enganada. 
Arrancada da adolescência para a 
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velhice, sem meio-termo. A tua vida 
é um verão eterno. E tu, Luísa, 
minha Lu, serás desejada enquanto 
tiveres fogo nesse belo corpo. A vida 
é uma eterna mudança, um dia 
quente, outro dia frio. O que será de 
ti, quando o inverno chegar? Saly, tu 
és as usada nos momentos de 
pausa, és um petisco, uma refeição 
ligeira, intermédia, para quebrar a 
monotonia na ementa de amor. A 
Mauá é a mais amada, apenas de 
momento. Os amores do Tony são 
efêmeros, sabemos disso. 
Esta conclusão revolve uma torrente 
de sentimentos escondidos. Vejo 
lágrimas correndo, frustrações 
avolumando-se em cachos, 
incertezas espelhando-se no 
silêncio, a esperança ténue 
tremelicando nos horizontes do 
mundo. 
– Somos éguas perdidas galopando 
a vida, recebendo migalhas, 
suportando intempéries, 
guerreando-nos umas às outras. O 
tempo passa, e um dia todas 
seremos esquecidas. Cada uma de 
nós é um ramo solto, uma folha 
morta, ao sabor do vento – explico. – 
Somos cinco. Unamo-nos num feixe 
e formemos uma mão. Cada uma de 
nós será um dedo, e as grandes 
linhas da mão a vida, o coração, a 
sorte, o destino e o amor. Não 
estaremos tão desprotegidas e 
poderemos segurar o leme da vida a 
traçar o destino.” 
Ao decidirem aderir ao regime da 
poligamia, temos a impressão que as 
personagens estão apenas 
passando de uma forma patriarcal de 
opressão a outra. No entanto, esse 
primeiro momento, de garantia 
miníma de certos direitos, é apenas 
o início de uma revolução na vida 
dessas mulheres – que acontece 
graças à força e à empatia de Rami. 
Percebendo a penúria em que ainda 
viviam as outras quatro mulheres, 
principalmente em relação ao 
sustento de seus lares, a 
protagonista vai percebendo que o 
caminho para a autonomia é longo, 
demandando atividades que possam 
liberá-las economicamente, 
rompendo com a relação de 
dependência financeira que as 
prendem a Tony. 
“Um dia disse às minhas rivais: 
venham, venham todas exigir o pão 
quando vos falta, despertar o Tony à 
noite se por acaso aqui estiver 
quando as crianças têm febre, e 
quando, na escola, os professores 
exigem a presença do encarregado 
da educação. Venham todas em 
desfile, ele costuma estar e casa só 
à hora do almoço. Vocês são as suas 
mulheres e os vossos filhos são 
irmãos dos meus filhos.Começou a procissão das mães e 
das crianças. O Tony já não 
aguentava, fugia deles. Rami, 
aguenta tu com essa gentalha. 
Aguentei com elas até onde pude, 
até que lhes disse: Isto acontece 
porque não trabalham. Em cada sol 
têm que mendigar uma migalha. Se 
cada uma de nós tivesse uma fonte 
de rendimento, um emprego, 
estaríamos livres dessa situação. É 
humilhante para uma mulher adulta 
pedir dinheiro para sal e carvão. A 
Saly diiz que já teve negócios que 
faliram, porque usou todo o dinheiro 
que tinha na cura do filho que andou 
doente. A Lu diz que gostaria de ter 
uma loja de modas, que fora sempre 
esse o seu sonho. A Ju gosta de 
crianças. Diz que, no dia que 
procurar um emprego, vai ser para 
lidar com crianças. A Mauá diz que 
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não tem jeito para nada. Foi educada 
para ser esposa e dar carinho. Que 
não se imagina a trabalhar e nem 
quer envolver em tal situação. 
– Temos que trabalhar – diz a Lu –, 
ainda temos um pedaço de pão 
porque o Tony ainda está vivo. E 
quando ele morrer? Do luto até 
encontrar um novo parceiro vai um 
longo período de fome. É preciso 
prevenir o futuro. 
– O que vamos fazer? – diz a Mauá. 
– Eu nem tenho estudos e não sei 
fazer nada! 
– Ah, Mauá – diz a Saly –, todas as 
pessoas vendendo na esquina são 
mulheres como nós. Se alguém me 
emprestasse um dinheirinho iria 
começar já o meu negócio. 
– Mesmo eu – diz a Lu. – Venderia 
roupa, mesmo que fosse usada. 
Sempre sonhei ter uma loja de 
modas. 
Peguei num dinheiro que tinha 
guardado e emprestei a Saly. 
Comprava cereais em sacos e 
vendia em copos nos mercados 
suburbanos. Dois meses depois, ela 
devolvia-me o dinheiro com juros e 
uma prenda. Uma capulana, um 
lenço de seda, e uma rosa vermelha 
comprada na esquina. A Lu disse-
me: estou inspirada. Se a Salu 
conseguiu fazer o seu negócio 
render, também posso. Rami, 
emprestas-me algum dinheiro? 
Passei os fundos devolvidos pela 
Saly para as mãos dela. E começou 
a vender roupa em segunda mão. E 
começou a engordar, a sua voz a 
adoçar, o seu sorriso a crescer, o 
dinheiro nas mãos a correr. Três 
semanas depois devolvia-me o 
dinheiro com mais juros, um carinho 
e um bouquet de rodas. A Ju e a 
Mauá revoltaram-se. 
– Rami, por que não nos tratas de 
forma igual? – perguntou a Mauá. – 
Somos também mulheres pobres 
como a Lu e a Saly. Ajudaste-as. Por 
que não nos ajudas a nós também? 
Transferi o dinheiro das mãos da Lu 
para a Mauá e dei a Ju um dinheiro 
que o Tony me dera um dia para 
guardar. A Mauá começou a tratar 
dos cabelos, a desfrisar cabelos, 
coisa que ela entende muito bem. 
Começou na varanda da sua casa. 
Conseguiu angariar clientes. 
Aumentou o volume de trabalho e 
contratou duas ajudantes. A varanda 
era pequena e passou a usar a 
garagem da sua casa. Agora tem 
uma multidão de clientes, a Mauá. 
A Ju vai aos armazéns, compra 
bebida em caixa e vende a retalho. 
Dá muito lucro. Nesta terra as 
pessoas consomem álcool como 
camelos. Ela começou a sorrir um 
pouco e a ganhar mais confiança em 
si própria. O Tony reage mãe às 
nossas iniciativas mas nós fechamos 
os ouvidos e fazemos a nossa vida.” 
Esse trecho é um ótimo exemplo do 
que pode acontecer quando as 
mulheres ousam deixar de lado a 
rivalidade, que nos é ensinada desde 
muito jovens, para apoiarem-se 
umas nas outras, unindo-se contra 
aquilo que as oprime. O percurso de 
Rami, narrado de forma magistral 
por Paulina Chiziane, ilustra com 
muito lirismo, mas sem ocultar a 
violência desse processo, o poder 
revolucionário da sororidade. E não, 
o livro não é sobre o Tony e suas 
cinco mulheres, mas sim sobre cinco 
mulheres que conseguiram 
corajosamente (juntas!) se 
desprender de dois regimes que, de 
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formas diferentes, oprimem – e 
continuam oprimindo – mulheres. 
 
 
A autora retrata a vivência das 
mulheres que se encontram em um 
relacionamento poligâmico e como 
tal relacionamento é utilizado como 
forma de controle e de 
demonstração de poder masculino 
sobre corpos femininos, sendo 
mantido através do forte 
entrelaçamento cultural, social, 
histórico, econômico e religioso. A 
protagonista da obra, Rami, após 
descobrir que o marido mantinha 
uma relação poligâmica irá atrás das 
outras mulheres e em conjunto com 
elas irão tecer uma rede de união, 
autodescoberta e subversão da 
situação feminina em Moçambique 
(...) E sim, de mulheres que vivem 
em uma sociedade fortemente 
marcada pela colonização e tentam 
subverter, utilizando os métodos 
disponíveis, uma sociedade na qual 
a figura masculina deve ser tratada 
como um ser divino. 
 
É interessante observar que a obra 
inicia com o quebrar do vidro de um 
carro, o que gera um barulho que 
acorda Rami. O que poderia ser uma 
analogia para o que ocorreria na vida 
da própria Rami. A protagonista 
durante toda a obra demonstra ser a 
esposa modelo, submissa de todas 
as formas possíveis ao marido, boa 
mãe e uma boa dona de casa. Logo 
passa a questionar a falta de 
presença do marido na casa, o que 
leva ela a sair pelos lugares atrás de 
respostas para tal falta. Rami então 
passa a encontrar as outras esposas 
de Tony, esses encontros sempre 
resultam em violência no primeiro 
momento, entretanto iria ocasionar 
em uma relação de autodescobertas 
e construção do “eu”. Percebemos 
que Tony inicia tais relacionamentos 
depois que adquire poder financeiro 
ao ser promovido de cargo: 
 
Fiz dele o homem que é. Dei-lhe 
amor, dei-lhe filhos com que ele se 
afirmou nesta vida. Sacrifiquei os 
meus sonhos pelos sonhos dele. 
Dei-lhe a minha juventude, a 
minha vida. Por isso afirmo e 
reafirmo, mulher como eu, na sua 
vida, não há nenhuma! Mesmo 
assim, sou a mulher mais infeliz do 
mundo. Desde que ele subiu de 
posto para comandante da polícia e 
o dinheiro começou a encher as 
algibeiras, a infelicidade entrou 
nesta casa (CHIZIANE 2004, p. 14). 
 
Além de poder exercer tal prática, 
como é demonstrado através do 
discurso de um dos policiais amigo 
de Tony, pois a figura do homem 
tudo é aceitável: 
 
“-Se o seu marido a deixa, a senhora 
deve ser azeda, fria. Homem é 
homem, tem todo o direito de 
procurar em qualquer lugar o que em 
casa não há” (CHIZIANE 2004, p. 
52). 
 
O discurso de poder do homem 
sobre a mulher, que é utilizado para 
justificar a poligamia, Percebemos 
através desses discursos que a 
poligamia serve apenas ao homem, 
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a mulher cabe apenas o papel de 
servir e dá prazer, não receber. 
Segundo Foucault (2017) “Nas 
relações de poder, a sexualidade 
não é o elemento mais rígido, mas 
um dos dotados da maior 
instrumentalidade: utilizável no 
maior número de manobras, e 
podendo servir de ponto de apoio, 
de articulação às mais variadas 
estratégias.”. 
 
Tal estratégia de poder utilizada por 
homens polígamos é sustentada 
através da construção cultural da 
sociedade moçambicana, que é 
centrada no patriarcado colocando a 
figura masculina em um patamar de 
elevação máxima. De acordo com 
Kabengelê Munanga (1988, p. 14), 
a poligamia não se fundamenta no 
prazer sexual. A poligamia tem 
funções econômicas, políticas, 
religiosas, culturais e sociais 
importantíssimas. 
 
A construção de personagens 
femininas da Paulina Chiziane não é 
aquela que temos mais disseminado 
no nosso imaginário, não se trata da 
construção de uma personagem 
feminina europeia ou americana, 
que sabemos que irá ter esse 
despertar total e combater das 
maneiras possíveis o 
patriarcado/machismo. Rami possui 
um corpo e mente colonizados, é 
uma mulher silenciada e 
subalternizada, ela tenta se libertar, 
mas dentro do contexto histórico, 
sócio e cultural em que vive essa 
total libertação não é possível, logo 
ela busca outros meios de liberdade 
dentro de tal sistema. Rami éconstruída como um caminho que as 
outras mulheres seguem para sua 
libertação enquanto ela continua a 
mercê do sistema. Entretanto, isso 
não a torna mais fraca do que essas 
super-heroínas que nossa 
sociedade ocidental compra e 
venda, Rami é uma mulher que está 
trilhando e tecendo seu caminho de 
resistência, uma resistência 
marcada por uma desconstrução 
corporal, colonial, de gênero e 
localizada regionalmente, pois não 
podemos apagar a importância que 
é questionar tais normas sociais em 
um país que até pouco tempo atrás 
ainda era uma colônia, logo temos 
centenas de anos de domínio e tão 
poucos ainda do inicio de uma 
libertação. A Rami e as outras 
mulheres, mesmo que no campo da 
ficção, apresentadas em “Niketche: 
uma história da poligamia” são os 
reflexos dessa vontade e do 
processo de libertação. 
 
É preciso considerar que, nascida 
em Manjacaze, província de Gaza, 
em meados da década de 1950, foi 
uma das primeiras mulheres a virar 
escritora em Moçambique numa 
terra onde sempre prevaleceu a voz 
masculina. Paulina é apontada hoje 
como uma expoente em matéria de 
romance moçambicano. Assim 
como em outros países africanos, a 
literatura moçambicana foi uma 
maneira encontrada pelas mulheres 
para ampliarem a participação na 
vida pública do país. Os textos 
produzidos pela escritora são 
consumidos como uma literatura 
pós- colonialista, mas que apresenta 
reminiscências do imperialismo 
europeu. Sua literatura é uma 
espécie de retrato da atual 
sociedade de Moçambique, 
principalmente no que tange 
ao papel e à condição feminina na 
sociedade. 
 
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O romance “Niketche: uma história 
de poligamia” é um relato do 
cotidiano feminino em Moçambique. 
No enredo, Rami, personagem 
principal, criada com bases no 
catolicismo europeu e monogâmico 
descobre que o marido, Tony, é 
adepto da poligamia, tendo várias 
mulheres espalhadas ao redor do 
país, que simbolizam as diferentes 
manifestações culturais de 
Moçambique. Indignada e se 
sentindo ultrajada, Rami decide 
conhecer essas mulheres e ficar 
frente a frente com as qualidades 
das outras que fizeram com que o 
marido não se dedicasse 
exclusivamente a ela. 
 
A autora empresta sua voz para 
denunciar as contradições de uma 
sociedade que prega a monogamia 
dos valores ocidentais, mas não se 
apressa em suplantar a poligamia da 
cultura tradicional. Narrado em 
primeira pessoa por Rami, 
“Niketche” expõe a questão 
feminina, tenta promover uma 
espécie de descolonização da 
mulher moçambicana e uma 
libertação dos padrões sexistas 
deixados pelo dominador. Embora a 
figura feminina ocupe um papel de 
destaque, pois são vistas como 
símbolo de fertilidade pelos 
africanos, em contrapartida 
há uma terrível divisão social no que 
tange à tradição. Esta cultura alça a 
mulher a uma posição inferior ao 
homem na vivência cotidiana. Em 
Moçambique há uma divisão entre a 
tradição do sul, onde o 
patriarcalismo iimpera e a mulher é 
encarada como um ser submisso ao 
homem, sem voz ou poder de 
decisão, enquanto que no norte elas 
são vistas como um indivíduo que 
deve ser respeitado e adorado por 
conta de sua beleza e sensualidade. 
A cultura do norte permite que a 
mulher explore suas vaidades e 
desejos, enquanto que a do sul 
cerceia e reprime toda e qualquer 
manifestação feminina: 
 
No sul a sociedade é hábitada por 
mulheres nostálgicas. Dementes. 
Fantasmas. No sul as mulheres são 
exiladas no seu próprio mundo, 
condenadas a morrer sem saber o que 
é amor e vida. No sul as mulheres 
são tristes, são mais escravas. 
Caminham de cabeça baixa. 
Inseguras. Não conhecem a alegria 
de viver. [...] No norte ninguém 
escraviza ninguém, porque tanto 
homens quanto mulheres são filhos 
do mesmo Deus. (CHIZIANE, 2004, 
p. 176). 
A autora consegue trazer à cena 
uma história contemporânea e 
apresenta ao leitor uma mulher que 
é a personificação de um país 
essencialmente matriarcal, ou seja, 
delineado pelas mãos das mulheres 
na criação dos filhos e na 
manutenção dos lares, embora o 
patriarcado seja o regime legalmente 
reconhecido. A figura feminina 
acaba se vinculando ao ideário de 
nação como uma representação da 
tradição moçambicana e chama para 
a discussão o papel que essa mulher 
ocupa no país. O fato de Chiziane 
abordar temáticas voltadas para o 
universo feminino tem lhe 
rendido a alcunha de escritora 
feminista, pois coloca esse sujeito no 
centro das atenções e revela seus 
sentimentos mais secretos, dando 
voz a personagens fortes e que 
prenunciam um futuro onde a mulher 
poderá ter mais espaço social e, de 
fato, ser reconhecida como sujeito 
agente de um país em construção e 
em busca de sua própria identidade. 
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O eu enunciador de Niketche propõe 
através de sua subjetividade e 
submissão cultural, uma pretensa 
objetividade no reconhecimento de 
sua negritude e de sua 
condição de mulher enquanto 
agente social e representante de 
uma cultura híbrida. As mulheres 
criadas por Chiziane representam a 
nação, tornando-se ícones da 
resistência contra o colonizador e 
suas opressões. São mulheres cuja 
força para lutar pelo seu espaço na 
sociedade e por seu 
reconhecimento, pulsam cada vez 
mais forte, diferentemente das 
mulheres reais, ainda vítimas do 
medo e da repressão. 
1) UNICAMP 2022 Tudo na vida é 
mortal, tudo se apaga. Se a tua 
chama se apaga é em ti que está a 
falta. Faz o que te digo e magia 
nenhuma te derrubará nesta vida. Tu 
és feitiço por excelência e não deves 
procurar mais magia nenhuma. 
Corpo de mulher é magia. Força. 
Fraqueza. Salvação. Perdição. O 
universo inteiro cabe nas curvas de 
uma mulher. 
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.) 
 O excerto acima corresponde a uma 
das primeiras lições que a 
conselheira amorosa oferece a 
Rami, a personagem principal do 
romance. 
 Tendo em vista as várias peripécias 
vividas por Rami, essa lição é 
a)aceita pela protagonista, mas sua 
trajetória lhe ensina que o corpo 
feminino é, no fim das contas, 
perdição. 
b) abandonada pela personagem 
principal, uma vez que seu marido 
não se encanta com seus novos 
ardis. 
c) frustrada, pois Rami, ao conhecer 
suas rivais, percebe que não possui 
todos os atributos desejáveis. 
d) confrontada com a experiência 
pessoal de Rami e de suas rivais, 
transformando-as de modo 
significativo. 
1) Alternativa D 
Rami, desconsolada com as 
constantes ausências do marido 
Tony, matricula-se em um curso 
ministrado por uma conselheira 
amorosa e, durante a conversa, a 
narradora identifica uma série de 
faltas comportamentais em relação 
ao seu matrimônio e à sua vida 
sexual. A partir daí, Rami confronta 
sua vida, dependência, submissão e 
seu casamento com os novos 
aprendizados, que vai obtendo 
durante as aulas com a conselheira 
amorosa, e principia um processo de 
mudança existencial e 
comportamental, ao qual incorpora 
também as demais esposas de 
Tony. 
Enredo e sobre a autora: 
deliriumnerd.com 
Resumo, características do livro, tempo 
e espaço: infoescola.com 
Personagens: etapa.com 
Percepção da sexualidade feminina: 
artigo da Universidade Estadual da 
Paraíba, no site da editora Realize 
Feminino e a tradição em Niketche: 
artigo de Juliana Franco, do site 
todasasmusas.com 
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Carolina Maria de Jesus 
 
 
A autora é mineira, nasceu em 14 de 
março de 1914 e faleceu em 13 de 
fevereiro de 1977, em São Paulo. Foi 
moradora da antiga favela do 
Canindé. Relatou, em seu diário, o 
cotidiano miserável de uma mulher 
negra, pobre, mãe, escritora e 
favelada. Ela e seus filhos passaram 
por muitas dificuldades, como a fome 
e enfermidade.Em seus textos, 
denunciou as mazelas do Brasil e da 
desigualdade social. 
A partir da publicação do livro Quarto 
de despejo, a vida de Carolina Maria 
de Jesus melhorou. Conseguiu sair 
da favela e comprar uma casa de 
alvenaria, um dos seus maiores 
sonhos, além de poder dar educação 
e qualidade de vida para sua família. 
Publicou outros livros além desse, 
que não tiveram tanto sucesso: Casa 
de alvenaria (1961), Pedaços de 
fome (1963) e Provérbios (1963). 
Postumamente, foram publicados: 
Diário de Bitita (1977), Um Brasil 
para brasileiros (1982), Meu 
estranho diário (1996), Antologia 
pessoal (1996), Onde estaes 
felicidade? (2014) e Meu sonho é 
escrever – Contos inéditos e outros 
escritos (2018). 
Contudo, a carreira literária não a fez 
tornar-se abastada, tendo 
dificuldades para criar seus filhos. Ao 
longo da vida, dividiu-se entre 
escrever e vender livros, coletar 
materiais recicláveis, realizar faxinas 
e lavar roupas para fora. 
O livro de Carolina Maria de Jesus 
narra de modo fiel o cotidiano 
passado na favela. Em seu texto, 
vemos como a autora procura 
sobreviver como catadora de lixo na 
metrópole de São Paulo, tentando 
encontrar naquilo que alguns 
consideram como sobra o que a 
mantenha viva. Os relatos foram 
escritos entre 15 de julho de 1955 e 
1 de janeiro de 1960. As entradas no 
diário são marcadas com dia, mês e 
ano e narram aspectos da rotina de 
Carolina. Muitas passagens 
sublinham, por exemplo, a 
dificuldade de ser mãe solteira nesse 
contexto de extrema pobreza. 
Lemos num trecho presente no dia 
15 de julho de 1955: 
 
Aniversário de minha filha Vera 
Eunice. Eu pretendia comprar um 
par de sapatos para ela. Mas o custo 
dos generos alimenticios nos impede 
a realização dos nossos desejos. 
Atualmente somos escravos do 
custo de vida. Eu achei um par de 
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sapatos no lixo, lavei e remendei 
para ela calçar. 
 
Maria é mãe de três filhos e dá conta 
de tudo sozinha. Para conseguir 
alimentar e criar a família ela se 
desdobra trabalhando como 
catadora de papelão, metal, e como 
lavadeira. Apesar de todo o esforço, 
muitas vezes sente que não dá 
conta. Nesse contexto de frustração 
e extrema pobreza, é importante se 
sublinhar o papel da religiosidade. 
Diversas vezes, ao longo do livro, a 
fé aparece como um fator motivador 
e impulsionador da protagonista.Há 
passagens que deixam bem clara a 
importância da crença para essa 
mulher lutadora: 
 
Eu estava indisposta, resolvi benzer-
me. Abri a boca duas vezes, 
certifiquei-me que estava com mau 
olhado. 
 
Carolina encontra na fé força, mas 
também muitas vezes explicação 
para situações cotidianas. O caso 
acima é bastante ilustrativo de como 
uma dor de cabeça é justificada por 
algo da ordem do espiritual. 
 
Quarto de Despejo explora os 
meandros da vida dessa 
trabalhadora mulher e transmite a 
dura realidade de Carolina, o 
constante esforço contínuo para 
manter a família de pé sem passar 
maiores necessidades: 
 
Saí indisposta, com vontade de 
deitar. Mas, o pobre não repousa. 
Não tem o previlegio de gosar 
descanço. Eu estava nervosa 
interiormente, ia maldizendo a sorte. 
Catei dois sacos de papel. Depois 
retornei, catei uns ferros, uma latas, 
e lenha. 
 
Por ser a única a prover o sustento 
da família, Carolina trabalha dia e 
noite para dar conta da criação dos 
filhos. 
 
Os seus meninos, como ela costuma 
chamar, passam muito tempo 
sozinhos em casa e vira e mexe são 
alvo de críticas da vizinhança que 
dizem que as crianças "são mal 
inducadas". Embora nunca se diga 
com todas as letras, a autora atribui 
a reação das vizinhas com os seus 
filhos pelo fato de ela não ser casada 
("Elas alude que eu não sou casada. 
Mas eu sou mais feliz do que elas. 
Elas tem marido.") 
 
Ao longo da escrita, Carolina 
sublinha que sabe a cor da fome - e 
ela seria amarela. A catadora teria 
visto o amarelo algumas vezes ao 
longo dos anos e era daquela 
sensação que mais tentava fugir: 
 
Eu que antes de comer via o céu, as 
árvores, as aves, tudo amarelo, 
depois que comi, tudo normalizou-se 
aos meus olhos. 
 
Além de trabalhar para conseguir 
comprar comida, a moradora da 
favela do Canindé também recebia 
doações e buscava restos de 
alimento nas feiras e até no lixo 
quando era preciso. Em uma das 
suas entradas no diário, comenta: 
 
A tontura do álcool nos impede de 
cantar. Mas a da fome nos faz 
tremer. Percebi que é horrível ter só 
ar dentro do estômago. 
 
Pior do que a fome dela, a fome que 
mais doía era aquela que assistia 
nos filhos. E é assim, tentando 
escapar da fome, da violência, da 
miséria e da pobreza, que se 
constrói o relato de Carolina. Acima 
de tudo, Quarto de Despejo é uma 
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história de sofrimento e de 
resiliência, de como uma mulher lida 
com todas as dificuldades impostas 
pela vida e ainda consegue 
transformar em discurso a situação 
limite vivida. 
 
 
A redação de Carolina - a sintaxe do 
texto - por vezes foge ao português 
padrão e por vezes incorpora 
palavras rebuscadas que ela parece 
ter aprendido com as suas leituras. A 
escritora, em diversas entrevistas, se 
identificou como uma autodidata e 
disse que aprendeu a ler e a 
escrever com os cadernos e livros 
que recolhia das ruas. Na entrada do 
dia 16 de julho de 1955, por 
exemplo, vemos uma passagem 
onde a mãe diz para os filhos que 
não há pão para o café da manhã. 
Convém observar o estilo da 
linguagem utilizada: 
 
16 DE JULHO DE 1955 Levantei. 
Obedeci a Vera Eunice. Fui buscar 
agua. Fiz o café. Avisei as crianças 
que não tinha pão. Que tomassem 
café simples e comesse carne com 
farinha. 
 
Em termos textuais vale sublinhar 
que há falhas como a ausência de 
acento (em água) e erros de 
concordância (comesse aparece no 
singular quando a autora se dirige 
aos filhos, no plural). Carolina 
transparece o seu discurso oral e 
todas essas marcas na escrita 
ratificam o fato de ter sido 
efetivamente a autora do livro, com 
as limitações do português padrão 
de quem não frequentou 
integralmente a escola. 
 
Carolina Maria de Jesus – É a 
autora dos diários e a protagonista. 
Nascida no interior de Minas Gerais, 
foi morar em São Paulo, onde só 
encontrou lugar na favela do 
Canindé. Mãe de 3 filhos, solteira, 
era catadora de lixo e metal para 
sustentar sua casa e alimentar a 
família. 
Vera Eunice, João José, José 
Carlos – Filhos de Carolina. Era por 
eles que ela lutava e dava a vida. 
Vizinhos e autoridades políticas – 
Compõe a narração do quotidiano. 
 
A redação de Carolina - a sintaxe do 
texto - por vezes foge ao português 
padrão e por vezes incorpora 
palavras 
Carolina tinha constantes reflexões 
sobre política e sociedade, o que 
garante à obra passagens de grande 
valor para os leitores. Ela também 
tecia críticas aos políticos que só 
lembram da favela e dos seus 
pobres habitantes durante as 
eleições. 
Em sua obra, escreveu: 
“… As oito e meia da noite eu ja 
estava na favela respirando o odor 
dos excrementos que mescla com o 
barro podre. Quando estou na 
cidade tenho a impressão que estou 
na sala de visita com seus lustres de 
cristais, seus tapetes de viludos, 
almofadas de sitim. E quando estou 
na favela tenha a impressão que sou 
um objeto fora do uso, digno de estar 
num quarto de despejo” 
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Assim, percebe-se que o título 
escolhido para a obra é uma frase 
que resume toda a crítica a essa 
realidade. Mas, para além disso, 
retrata o sentimento da autora diante 
da vida. 
Carolina também expõe a 
invisibilidade social que ela, seus 
filhos e seus vizinhos viviam. Eram 
invisíveis, ignorados por aqueles de 
melhor condição, pelo Estado e até 
por quem pedia ajuda. 
Dessa forma, a escrita do diário 
serviu como válvula de escape e 
esperança, pois sonhava que 
alguém leria seudiário e se 
compadeceria, pensando nas várias 
outras pessoas que vivem em 
situação semelhante. Uma 
esperança para a vida. 
 
 
Carolina relata sua constante 
indisposição, seus momentos de 
raiva e crises emocionais, seus 
pesares, seu sentimentos por 
compreender a situação em que se 
encontrava. 
Porém, a autora sempre encontrava 
motivação e permanecia mais 
determinada em continuar lutando 
quando olhava para sua família: 
“Saí indisposta, com vontade de 
deitar. Mas, o pobre não repousa. 
Não tem o previlegio de gosar 
descanço. Eu estava nervosa 
interiormente, ia maldizendo a sorte. 
Catei dois sacos de papel. Depois 
retornei, catei uns ferros, uma latas, 
e lenha.” 
A moradora da favela do Canindé 
também vivia de doações e chegou, 
várias vezes, a ponto de buscar 
restos de alimento nas feiras e até no 
lixo. Nisso, notava a maldade que 
algumas pessoas depositavam sob 
os pobres necessitados: 
“Percebi que no Frigorífico jogam 
creolina no lixo, para o favelado não 
catar a carne para comer” 
Também relata que preferiu ser mãe 
solteira, não queria se relacionar 
com homem algum, pois só tinha o 
exemplo de casamento dos seus 
vizinhos: homens e mulheres 
constantemente alcoolizados para 
enganar a sensação de fome, o que 
gerava brigas, mortes e violência 
sem fim. 
No cenário de constantes 
frustrações e miséria, é importante 
ressaltar o papel da religiosidade. 
Ao longo do livro, a fé aparece como 
motivador da protagonista. 
Carolina encontra na fé força e 
explicações para situações 
cotidianas. 
 
 
Carolina escreveu seus diários na 
década de 1950, porém foi 
publicando na íntegra somente em 
1960. O diário se passa no período 
do governo Juscelino Kubitschek 
(1955-1960), dita como época de 
progresso da expansão do país, 
período dos “50 anos em 5”. Brasília 
era construída e era o símbolo do 
desenvolvimento do Brasil, que 
representava a ideologia da época. 
Nesse período, sobretudo São Paulo 
estava de fato em desenvolvimento, 
mas no que diz respeito à 
infraestrutura: grandes obras foram 
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construídas, avenidas foram 
alargadas, pontes foram construídas 
e túneis foram feitos. 
No entanto, tudo isso aumentou 
ainda mais a desigualdade social no 
país. Muitas pessoas vinham para a 
grande metrópole seguindo o sonho 
de conseguir um emprego e dar 
melhor condição de vida para suas 
famílias. A demanda de trabalho era 
pouca para tantas pessoas que 
vinham de outros estados e até de 
outros países. 
A fome é a principal temática 
abordada por Carolina, indissociável 
de uma crítica à política vigente na 
década de 50, ao descaso dos 
governantes com as pessoas mais 
pobres e à falta de empatia do outro. 
Ela sustentava seus filhos coletando 
papel e sucatas pelas ruas, mas, 
muitas vezes, voltava para casa de 
mãos vazias. Quando conseguia 
alimentos, era dia de festa em sua 
casa. Às vezes, recolhia verduras e 
legumes descartadas em feiras e 
mercados. Em outros momentos, 
buscava sobras de carnes e ossos 
descartados em frigoríficos, com os 
quais fazia uma sopa aguada, até 
que começaram a jogar creolina para 
que nada fosse recolhido. 
Muitas vezes, a autora e seus filhos 
tiveram que dormir com fome porque 
ela não conseguiu dinheiro para 
nada. Nesses dias, seus relatos são 
feitos com raiva, como se fossem 
uma válvula de escape para tudo 
que, angustiadamente, guardava 
dentro de si. De acordo com ela, a 
fome, que permeia todo diário, tem 
cor: 
“QUE EFEITO SURPREENDENTE 
FAZ A COMIDA NO NOSSO 
ORGANISMO! EU QUE ANTES DE 
COMER VIA O CÉU, AS ÁRVORES, 
AS AVES, TUDO AMARELO, 
DEPOIS QUE COMI, TUDO 
NORMALIZOU-SE AOS MEUS 
OLHOS”. 
Embora com pouca escolaridade, a 
autora apresenta uma visão muito 
crítica da sociedade e sempre lia 
jornais. Para ela, os políticos só se 
importavam com os mais pobres em 
época de campanha, quando 
apareciam na favelas fazendo 
promessa e distribuindo alguns itens 
de necessidade básica, aos quais 
todos deveriam ter acesso sempre. 
Além disso, a escritora critica a 
violência existente na favela. Para 
ela, a violência é fruto de um 
ambiente hostil, onde não há sequer 
alimento e água potável todo dia. Os 
atos violentos sempre estão ligados 
ao alcoolismo. Sobretudo os homens 
bebem muito e descontam em suas 
esposas, que apanham diante de 
toda favela, como se isso fosse um 
espetáculo, em um espaço onde não 
há muitas formas de entretenimento. 
Carolina ainda critica brevemente o 
papel dos homens na criação dos 
filhos e em um relacionamento. Ela 
menciona que prefere criar seus 
filhos sozinha do que viver repleta de 
problemas causados por eles, que, 
muitas vezes, são violentos e 
ausentes. 
 
Quem descobriu Carolina Maria de 
Jesus foi o repórter Audálio Dantas, 
quando foi produzir uma reportagem 
no bairro do Canindé. 
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Por entre os becos da favela que 
crescia a beira do Tietê, Audálio 
encontrou uma senhora com muita 
história para contar. 
Carolina mostrou cerca de vinte 
cadernos encardidos que guardava 
no seu barraco e os entregou ao 
jornalista que ficou estupefato com o 
manancial que havia recebido nas 
mãos. 
Audálio logo percebeu que aquela 
mulher era uma voz do interior da 
favela capaz de falar sobre a 
realidade da favela: 
"Escritor nenhum poderia escrever 
melhor aquela história: a visão de 
dentro da favela." 
Alguns trechos dos cadernos foram 
publicados em uma reportagem no 
Folha da Noite do dia 9 de maio de 
1958. Outra parte saiu na revista O 
cruzeiro publicada no dia 20 de junho 
de 1959. No ano a seguir, em 1960, 
surgiria a publicação do livro Quarto 
de Despejo, organizado e revisado 
por Audálio. 
O jornalista garante que o que fez no 
texto foi editar de modo a evitar 
muitas repetições e alterar questões 
de pontuação, de resto, diz ele, trata-
se dos diários de Carolina na íntegra. 
Com o sucesso de vendas (foram 
mais de 100 mil livros vendidos em 
um único ano) e com a boa 
repercussão da crítica, Carolina 
estourou e passou a ser procurada 
por rádios, jornais, revistas e canais 
de televisão. 
Muito se questionou na época sobre 
a autenticidade do texto, que alguns 
atribuíram ao jornalista e não a ela. 
Mas muitos também reconheceram 
que aquela escrita conduzida com tal 
verdade só poderia ter sido 
elaborada por quem tivesse 
vivenciado aquela experiência. 
O próprio Manuel Bandeira, leitor de 
Carolina, afirmou a favor da 
legitimidade da obra: 
"ninguém poderia inventar aquela 
linguagem, aquele dizer as coisas 
com extraordinária força criativa mas 
típico de quem ficou a meio caminho 
da instrução primária." 
Como apontou Bandeira, na escrita 
de Quarto de Despejo é possível 
localizar características que dão 
pistas do passado da autora e que 
demonstram ao mesmo tempo a 
fragilidade e a potência da sua 
escrita. 
"O Quarto de Despejo está vivo", 
afirma filha de Carolina Maria de 
Jesus 
 
 
Vera é filha caçula de Carolina de Jesus, 
professora de língua portuguesa e 
responsável 
pelo acervo da autora. 
Professora de língua portuguesa e 
filha da escritora, Vera Eunice de 
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Jesus Lima acredita que pouca coisa 
mudou na sociedade brasileira 
nesses 60 anos, mas a postura da 
população negra mudou. 
“O livro ‘Quarto de Despejo’ está 
completando 60 anos, mas o 
problema no Brasil continua o 
mesmo, por isso é um livro atual e 
será assim por muito tempo. O que 
eu tenho visto de mudança quanto 
ao ‘Quarto de Despejo’ e hoje é que 
hoje o negro é engajado, o negro é 
politizado, o negro é culto, o negro 
sabe o que quer, o negro quer atingir 
seus sonhos”, analisou. 
Brasil de Fato Pernambuco: 
Lançado em 1960, o livro "Quarto 
de Despejo: Diário de uma 
Favelada" completa 60 anos e até 
hoje é considerado um dos livros 
mais importantes da literatura 
brasileirae um dos primeiros 
escritos por uma mulher negra. 
Como você observa as mudanças 
que aconteceram na literatura afro 
brasileira nesse período? 
Vera Eunice: O livro “Quarto de 
Despejo” está completando 60 anos, 
mas o problema no Brasil continua o 
mesmo, por isso é um livro atual e 
será assim por muito tempo. O que 
eu tenho visto de mudança quanto 
ao “Quarto de Despejo” e hoje é que 
hoje o negro é engajado, o negro é 
politizado, o negro é culto, o negro 
sabe o que quer, o negro quer atingir 
seus sonhos. Inclusive eu estive no 
Nordeste e eu fiquei impressionada 
de como o negro é culto, como ele lê 
Carolina, como ele sabe a história da 
Carolina e desde o negro mais 
simples, como o que cata recicláveis, 
até o negro mais culto; e isso não só 
no Nordeste. 
Eu tenho percebido que o negro se 
espelha muito na Carolina, pelo que 
ela passou, pela história que ela 
tinha, porque muitos negros têm a 
história da Carolina. Eu vejo várias 
mulheres que são mães solteiras, 
empregadas domésticas, com pouco 
estudo ou com muito estudo; eu vejo 
adolescentes negras querendo 
alcançar o sonho igual a Carolina 
Maria de Jesus alcançou. 
Então, eu acho que a Carolina Maria 
de Jesus hoje é mesmo uma 
referência para a literatura negra e 
para os negros não só no Brasil, eu 
digo nisso negros americanos, 
negros de Paris, negros da 
Alemanha. Então, o meu objetivo 
hoje é colocar a Carolina Maria de 
Jesus na literatura, ao lado de 
Clarice Lispector, ao lado de Jorge 
Amado, para termos uma escritora 
negra compondo a nossa literatura 
brasileira. 
Quais são a lembrança mais 
marcante da sua infância com a 
sua mãe na favela do Canindé, em 
São Paulo? Já que muitas dessas 
histórias estão descritas no livro e 
contam a história da vida de 
Carolina e também da sua e dos 
seus irmãos. 
As lembranças que eu tenho da 
minha mãe na favela do Canindé 
são logicamente de uma mulher que 
vivia atrás de comida. Isso eu tenho 
claramente na minha memória a 
preocupação dela em alimentar os 
filhos, mas também tem partes muito 
alegres que eu lembro da Carolina: 
eu lembro da Carolina cantando com 
a gente, eu lembro da Carolina lendo 
para a gente, eu lembro da Carolina 
contando os causos. Ela tinha o livro 
“As Mil e Uma Noites” e lia todo dia 
uma história para a gente, então era 
uma mulher que queria passar a 
cultura para os filhos. A gente tocava 
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violão, ela tocava e a gente cantava 
junto. 
Mas também lembro de muitas 
partes, uma que me chocou muito no 
“Quarto de Despejo” é que a gente 
vivia pedindo comida, principalmente 
o meu irmão mais velho, ele pedia 
comida o tempo todo, como dizia a 
minha mãe - ela falava muito bem, 
então ela falava “esse famélico”. Eu 
lembro que ela chegou em casa com 
um pacote embrulhado num jornal e, 
quando ela chegava em casa, eu 
lembro que a gente já a cercava, a 
gente não tinha móveis – a gente 
tinha caixotes e caixas – e eu lembro 
que ela colocou aquele pacote na 
mesa e nós chegamos na mesa e 
quando ela abriu eram ratos mortos. 
Então, ela se desesperou, porque 
tinha dias que ela conseguia trazer 
comida, mas tinha dias que chovia, 
que ela não catava muito papel, 
então o dinheiro vinha muito curto. 
Ela sofria muito com isso, ela 
chorava até. 
Lembrança também com a minha 
mãe que eu tenho é aquela água, no 
Canindé quando chove, transborda 
por causa do rio. Então, minha mãe 
nos chamava - porque o barraco 
estava inundado – e a gente ia 
dormir em um albergue, então a 
gente ia para um albergue lá no 
centro de São Paulo, mas o albergue 
eu não recomendo para ninguém – 
não sei se melhorou hoje. 
A gente dormia naqueles lençóis mal 
cheirosos de urina, aquelas 
mulheres nuas correndo para tomar 
banho. Era um horror! Eu não 
suportava aquilo e nem ela! Então 
ela nos chamava – ela era muito alta, 
então ela se abaixava - e perguntava 
“vocês querem ficar aqui ou querem 
ir para a rua?”. A gente falava “então, 
vamos para a rua” e aí a gente ia 
para a rua. Mas a rua também 
ninguém merece, a rua também são 
noites longas, noites frias, terrível a 
rua também. Então, voltávamos para 
a favela. 
Ela jamais deixaria meus irmãos 
faltarem a escola, então o que ela 
fazia era os colocar pela janela 
quando o barco vinha buscar; 
quando o barco não vinha, ela os 
colocava nas costas e ia nadando; 
pegava uma roupinha e trocava lá 
quando chegava, mas ela não os 
deixava faltar a escola.Ela valorizava 
muito o estudo, ela valorizava muito 
o ensino e, conversando com 
Conceição Evaristo que faz parte do 
conselho dos novos lançamentos da 
Carolina que virão pela Companhia 
das Letras, achei interessante que 
ela pegou um trecho do diário da 
mãe dela que hoje tem 98 anos e ela 
começa a ler para a gente ali no 
grupo. Nossa! Fiquei muito 
emocionada, achei tão parecido, tão 
semelhante. E eu acho a história da 
Conceição muito parecida com a da 
Carolina, com a minha. Ela sempre 
diz que hoje ela é uma escritora, 
porque ela se inspira em Carolina 
Maria de Jesus. 
 
1) UNIMONTES/2014 O fragmento 
abaixo foi extraído do livro Quarto de 
despejo, de Carolina Maria de Jesus. 
Leia-o com atenção. 
1 DE JULHO... 
Eu percebo que se este Diário for 
publicado vai maguar muita gente. 
Tem pessoa que quando me ver 
passar saem da janela ou fecham as 
portas. Estes gestos não me 
ofendem. Eu até gosto porque não 
preciso parar para conversar. (...) 
Quando passei perto da fabrica vi 
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varios tomates. Ia pegar quando vi o 
gerente. Não aproximei porque ele 
não gosta que pega. Quando 
carregam os caminhões os tomates 
caem no solo e quando os 
caminhões saem esmaga-os. Mas a 
humanidade é assim. Prefere vê 
estragar do que deixar seus 
semelhantes aproveitar. (JESUS, 
1997, p. 69.) 
Sobre o excerto acima e sobre o livro 
Quarto de despejo, de Carolina 
Maria de Jesus, a única afirmativa 
INCORRETA é: 
A - Para a autora, os papéis 
colhidos nas ruas são sua fonte de 
sobrevivência e, mais tarde, a 
matéria-prima para a escrita dos 
seus diários. 
B - Os diários, além de uma forma 
de extravasamento da raiva e de 
fazer-se conhecer, eram, para a 
autora, um registro da memória. 
C - A dimensão social e humanística 
do romance é perceptível por meio 
da confissão diarística da narradora. 
D - A linguagem de norma culta e 
singular da escritora do povo legitima 
o lugar social de sua autora. 
 
2) UNIMONTES/2014 Sobre o livro 
Quarto de despejo, de Carolina 
Maria de Jesus, todas as afirmativas 
abaixo estão corretas, EXCETO: 
A - A autora – mulher, negra, mãe 
solteira – assinala a sua escrita com 
a consciência do que é estar no 
“quarto de despejo” da grande 
cidade de São Paulo. 
B - O ato cotidiano de recolher 
resíduos da sociedade paulistana é 
uma evasão de uma mulher que se 
sente marginalizada. 
C - O diário Quarto de despejo é 
constituído de fragmentos de vida 
reunidos em cadernos encontrados 
nas ruas. 
D - Os relatos diários são marcados 
por um olhar de denúncias e pela 
descrição da rotina marginal de sua 
autora. 
 
3) UEMA/2015 Na obra Quarto de 
despejo: diário de uma favelada, 
Carolina Maria de Jesus retrata, em 
uma dimensão sociológica e literária, 
suas impressões sobre o cotidiano 
dos moradores de uma favela. Para 
responder à questão, leia a seguir 
dois excertos, transcritos 
integralmente, da referida obra. 
TEXTO I 
20 DE MAIO 
(...)Quando cheguei do palácio que é 
a cidade os meus filhos vieram dizer-
me que havia encontrado macarrão 
no lixo. E a comida era pouca, eu fiz 
um pouco do macarrão com feijão. E 
o meu filho João José disse-me:– 
Pois é. A senhora disse-me que não 
ia mais comer as coisas do lixo.Foi a 
primeira vez que vi a minha palavra 
falhar.(...) 
TEXTO II 
30 DE MAIO 
(...)Chegaram novas pessoas para a 
favela. Estão esfarrapadas, andar 
curvado e os olhos fitos no solo 
comose pensasse na sua desdita 
por residir num lugar sem atração. 
Um lugar que não se pode plantar 
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uma flor para aspirar o seu perfume, 
para ouvir o zumbido das abelhas ou 
o colibri acariciando-a com seu frágil 
biquinho. O único perfume que exala 
na favela é a lama podre, os 
excrementos e a pinga. 
.Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: 
Diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007. 
O título do livro “Quarto de Despejo” 
pode sugerir algumas inferências. 
Assinale aquela que NÃO pode ser 
comprovada pelo relato. 
A - O ambiente onde escreve 
Carolina assemelha-se a um quarto 
de despejo. 
B - Tal qual os objetos que Carolina 
recolhe nas ruas, ela e seus filhos 
são restos ignorados pelo poder 
público. 
C - Os relatos da vida da autora são 
comparados aos pertences deixados 
em um quarto de despejo. 
D - Há uma alusão ao local onde 
vivem as pessoas que trabalham 
com serviços domésticos em casas 
de luxo. 
 
4) UERR 2020 
 16 DE JULHO 
Levantei. Obedecia a Vera Eunice. 
Fui buscar agua. Fiz café. Avisei as 
crianças que não tinha pão. Que 
tomassem café simples e comesse 
carne com farinha. Eu estava 
indisposta, resolvi benzer-me. Abria 
a boca duas vezes, certifiquei-me 
que estava com mau olhado. A 
indisposição desapareceu sai e fui 
ao seu Manoel levar umas latas para 
vender. Tudo quanto eu encontro no 
lixo eu cato para vender. Deu 13 
cruzeiros. Fiquei pensando que 
precisava comprar pão, sabão e leite 
para a Vera Eunice. E os 13 
cruzeiros não dava! Cheguei em 
casa, aliás no meu barracão, 
nervosa e exausta. Pensei na vida 
atribulada que eu levo. Cato papel, 
lavo roupa para dois jovens, 
permaneço na rua o dia todo. E 
estou sempre em falta. A Vera não 
tem sapatos. E ela não gosta de 
andar descalça. Faz uns dois anos, 
que eu pretendo comprar uma 
maquina de moer carne. E uma 
maquina de costura. 
 Cheguei em casa, fiz o almoço para 
os dois meninos. Arroz, feijão e 
carne. E vou sair para catar papel. 
Deixei as crianças. Recomendei-
lhes para brincar no quintal e não 
sair na rua, porque os pessimos 
vizinhos que eu tenho não dão 
socego aos meus filhos. Saí 
indisposta, com vontade de deitar. 
Mas, o pobre não repousa. Não tem 
o privilegio de gosar descanço. Eu 
estava nervosa interiormente, ia 
maldizendo a sorte (...) Catei dois 
sacos de papel. Depois retornei, 
catei uns ferros, uma latas, e lenha. 
Vinha pensando. Quando eu chegar 
na favela vou encontrar novidades. 
Talvez a D. Rosa ou a indolente 
Maria dos Anjos brigaram com meus 
filhos. Encontrei a Vera Eunice 
dormindo e os meninos brincando na 
rua. Pensei: são duas horas. Creio 
que vou passar o dia sem novidade! 
O João José veio avisar-me que a 
perua que dava dinheiro estava 
chamando para dar mantimentos. 
Peguei a sacola e fui. Era o dono do 
Centro Espirita da rua Vargueiro 103. 
Ganhei dois quilos de arroz, idem de 
feijão e dois quilos de macarrão. 
Fiquei contente. A perua foi-se 
embora. O nervoso interior que 
eu sentia ausentou-se. Aproveitei a 
minha calma interior para eu ler. 
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Peguei uma revista e sentei no 
capim, recebendo os raios solar para 
aquecer-me. Li um conto. Quando 
iniciei outro surgiu os filhos pedindo 
pão. Escrevi um bilhete e dei ao meu 
filho João José para ir ao Arnaldo 
comprar sabão, dois melhoraes e o 
resto pão. Puis agua no fogão para 
fazer café. O João retornou-se. 
Disse que havia perdido os 
melhoraes. Voltei com ele para 
procurar. Não encontramos. 
Quando eu vinha chegando no 
portão encontrei uma multidão. 
Crianças e mulheres, que vinha 
reclamar que o José Carlos havia 
apedrejado suas casas. Para eu 
repreendê-lo. 
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de 
despejo: diário de uma favelada.9 ed. 6 imp. 
São Paulo: Ática, 2007. 
Em se tratando do gênero textual do 
trecho retirado da obra Quarto de 
despejo: diário de uma favela, 
aponte a afirmativa correta. 
a) A linguagem textual é elaborada 
a partir de elementos comuns à 
poética, tendo em vista a 
sensibilidade com que o cotidiano é 
exposto. 
 
 
b) Os versos acentuam a pobreza 
comum à realidade humana em uma 
linguagem de exposição impessoal. 
 
c) A estruturação linguística do texto 
deixa evidente o caráter pessoal da 
descrição da vivência do cotidiano. 
 
d) Não é comum observar, na 
Literatura Brasileira, a escrita de 
textos utilizando o gênero diário. 
 
e) Por conta da captação da 
realidade na presente escrita de 
Carolina Maria de Jesus, podemos 
classificar o texto como crônica de 
comentário. 
 
5) Leia o texto a seguir: 
15 DE JULHO DE 1955 
Aniversário de minha filha Vera 
Eunice. Eu pretendia comprar um 
par de sapatos para ela. Mas o custo 
dos gêneros alimentícios nos 
impede a realização dos nossos 
desejos. Atualmente somos 
escravos do custo de vida. Eu achei 
um par de sapatos no lixo, lavei e 
remendei para ela calçar. 
Eu não tinha um tostão para comprar 
pão. Então eu lavei 3 litros e troquei 
com o Arnaldo. Ele ficou com os 
litros e deu-me pão. Fui receber o 
dinheiro do papel. Recebi 65 
cruzeiros. Comprei 20 de carne. 1 
quilo de toucinho e 1 quilo de açúcar 
e seus cruzeiros de queijo. E o 
dinheiro acabou-se. 
Passei o dia indisposta. Percebi que 
estava resfriada. A noite, o peito 
doía-me. Comecei tussir. Resolvi 
não sair a noite para catar papel. 
Procurei meu filho João José. Ele 
estava na Felisberto de Carvalho, 
perto do mercadinho. O ônibus atirou 
um garoto na calçada e a turba aluiu-
se. Ele estava no núcleo. Dei-lhe uns 
tapas e em cinco minutos ele chegou 
em casa. 
Ablui as crianças, aleitei-as e ablui-
me e aleitei-me. Esperei até as 11 
horas, um certo alguém. Ele não 
veio. Tomei um melhoral e deitei-me 
novamente. Quanto despertei o 
astro rei deslizava no espaço. Minha 
filha Vera Eunice dizia: - Vai buscar 
água mamãe!” 
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(Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: 
diário de uma favelada. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000). 
Considerando as informações 
apresentadas e os estudos sobre 
variação linguística, analise as 
afirmações a seguir. 
 
 
I. Nesse trecho do livro Quarto de 
despejo de Carolina Maria de Jesus, 
há variação linguística relacionada à 
posição social da escritora. 
 
II. Nesse trecho do livro Quarto de 
despejo de Carolina Maria de Jesus, 
há variação linguística relacionada 
ao grau de escolaridade da autora. 
III. A variação de registro, que se 
caracteriza pelo uso formal e 
informal da linguagem, apontam que 
os desvios gramaticais presentes no 
texto são propositais e inaceitáveis 
para esse gênero textual. 
É correto o que se afirma em: 
a) I apenas 
b) I e III apenas 
c) II apenas 
d) II e III apenas 
e) I e II apenas 
 
 
6) UFRGS 2020 Instrução: A 
questão refere-se à obra Quarto de 
despejo, de Carolina Maria de Jesus. 
Um tema em Quarto de despejo é 
encontrado também no poema “O 
bicho”, de Manuel Bandeira, 
transcrito a seguir. 
 O bicho 
Vi ontem um bicho 
Na imundície do pátio 
Catando comida entre os detritos. 
Quando achava alguma coisa, 
Não examinava nem cheirava: 
Engolia com voracidade. 
O bicho não era um cão, 
Não era um gato, 
Não era um rato. 
O bicho, meu Deus, era um homem. 
 
Assinale a alternativa que identifica 
esse tema recorrente nas duas 
obras. 
a) A revolta e a indignação daqueles 
que sofrem a miséria e a 
marginalização social. 
b) O problema da fome, que avilta a 
dignidade humana. 
c) A aceitação da pobreza, que se 
tornou uma condição inerente às 
sociedades modernas. 
d) A esperança como forma de 
enfrentar o sofrimento da fome e de 
garantir a sobrevivência. 
e) O ato de escrever funciona como 
modo de driblar a fome. 
 
 
7) Leia o trecho final da obra Quarto 
de despejo, de Carolina Maria de 
Jesus: 
... Eu fui fazer compras,porque 
amanhã é dia de ano. Comprei arroz, 
sabão, querosene e açucar. 
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O João e a Vera deitaram-se. Eu 
fiquei escrevendo. O sono surgiu, eu 
adormeci. Despertei com o apito da 
Gazeta anunciando o Ano Novo. 
Pensei nas corridas e no Manoel de 
Faria. Pedia a Deus para ele ganhar 
a corrida. Pedi para abençoar o 
Brasil. 
Espero que 1960 seja melhor do que 
1959. Sofremos tanto no 1959, que 
dá para a gente dizer: 
Vai, vai mesmo! 
Eu não quero você mais. 
Nunca mais! 
1 de janeiro de 1960 ... Levantei as 5 
horas e fui carregar agua. 
O texto autobiográfico de Carolina 
Maria de Jesus, escritora negra 
moradora da favela Canindé, em 
São Paulo, foi produzido entre as 
décadas de 1950 e 1960. Levando 
em consideração o contexto de 
produção da obra, analise como o 
final dos diários de Carolina de Jesus 
sintetiza a própria condição social da 
autora. 
 
 
 
 
 
8) Leia os seguintes fragmentos da 
obra Quarto de despejo, de Carolina 
Maria de Jesus: 
Texto I 
... As vezes mudam algumas famílias 
para a favela, com crianças. No inicio 
são iducadas, amaveis. Dias depois 
usam o calão, são soezes e 
repugnantes. São diamantes que 
transformam em chumbo. 
Transformam-se em objetos que 
estavam na sala de visita e foram 
para o quarto de despejo. 
Texto II 
Abri a janela e vi as mulheres que 
passam rapidas com seus agasalhos 
descorados e gastos pelo tempo. 
Daqui a uns tempos estes palitol que 
elas ganharam de outras e que de há 
muito devia estar num museu, vão 
ser substituidos por outros. É os 
politicos que há de nos dar. Devo 
incluir-me, porque eu também sou 
favelada. Sou rebotalho. Estou no 
quarto de despejo, e o que está no 
quarto de despejo ou queima-se ou 
joga-se no lixo. 
Redija um texto para explicar, pela 
concepção da própria autora, o 
significado metafórico do título da 
obra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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9) UFRGS 2019 Leia os fragmentos 
abaixo. 
 
Quando eu fui catar papel encontrei 
um 
preto. Estava rasgado e sujo que 
dava pena. Nos seus trajes rôtos êle 
podia representar-se como diretor 
do sindicato dos miseráveis. 
 
2 de maio de 1958 [...] Passei o dia 
catando papel. A noite meus pés 
doíam tanto que eu não podia 
andar. 
 
14 de junho ... Está chovendo. Eu 
não posso ir catar papel. O dia que 
chove eu sou mendiga. 
 
3 de maio ... Fui na feira da Rua 
Carlos de Campos, catar qualquer 
coisa. 
Depois fui catar lenha. Parece que 
vim ao mundo predestinada a catar. 
Só não cato a felicidade. 
 
Considere as seguintes afirmações 
sobre a ação de “catar”. 
 
I - Relaciona-se ao título da obra, 
uma vez que Quarto de despejo 
serve de metáfora à situação da 
própria personagem, que vive na 
favela como um objeto descartado. 
 
II - Associa-se à atividade da 
escritora, que recolhe da experiência 
de viver do lixo a própria matéria 
para a sua criação literária. 
 
III- Refere-se à descoberta dos 
diários de Carolina pelo jornalista 
Audálio Dantas, graças ao qual ela 
se torna uma escritora de grande 
sucesso editorial, condição que lhe 
garante sustentabilidade financeira e 
saída definitiva da miséria. 
 
Quais estão corretas? 
(A) Apenas I. 
(B) Apenas II. 
(C) Apenas III. 
(D) Apenas I e II. 
(E) I, II e II 
 
10) "Quarto de Despejo" Carolina de 
Jesus. O diário de Carolina de Jesus, 
Quarto de Despejo, retrata a vida da 
escritora. No livro percebe-se uma 
questão social historicamente 
combatida no mundo inteiro, que é a 
A) condição contrária à escravidão. 
B) alimentação tradicional das 
famílias. 
C) má distribuição de renda. 
D) caridade aos mais pobres. 
E) mudança climática. 
 
11) ENEM LIBRAS 2017 
Quarto de despejo l Carolina Maria 
de Jesus 
 Do diário da catadora de papel 
Carolina Maria de Jesus surgiu este 
autêntico exemplo de literatura-
verdade, que relata o cotidiano triste 
e cruel da vida na favela. Com uma 
linguagem simples, mas 
contundente e original, a autora 
comove o leitor pelo realismo e pela 
sensibilidade na maneira de contar o 
que viu, viveu e sentiu durante os 
anos em que morou na comunidade 
do Canindé, em São Paulo, com 
seus três filhos 
 Ao ler este relato — verdadeiro best-
seller no Brasil e no exterior — você 
vai acompanhar o duro dia a dia de 
quem não tem amanhã. E vai 
perceber com tristeza que, mesmo 
tendo sido escrito na década de 
1950, este livro jamais perdeu a sua 
atualidade. 
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JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma 
favelada. São Paulo: Ática, 2007. 
 Identifica-se como objetivo do 
fragmento extraído da quarta capa 
do livro Quarto de despejo 
a) retomar trechos da obra. 
b) resumir o enredo da obra. 
c) destacar a biografia da autora. 
d) analisar a linguagem da autora. 
e) convencer o interlocutor a ler a 
obra. 
12) IF SUL DE MINAS 2011 Quarto 
de despejo, de Carolina Maria de 
Jesus, tem como traço recorrente, 
EXCETO: 
a) denúncia contra o racismo 
b) crítica ao descaso do governo 
com a favela 
c) linguagem padrão 
d) repetição da rotina da autora 
 
13) Observe o poema ‘’Lixo Luxo’’ de 
Augusto de Campos. 
 
Qual a relação entre o poema 
concreto e a obra Quarto de 
despejo? 
 
 
14) UNICAMP 2 FASE 
Texto I 
(…) Contemplava extasiada o céu 
cor de anil. E eu fiquei 
compreendendo que eu adoro o meu 
Brasil. O meu olhar posou nos 
arvoredos que existe no início da rua 
Pedro Vicente. As folhas movia-se. 
Pensei: elas estão aplaudindo este 
meu gesto de amor a minha Pátria. 
(…) Toquei o carrinho e fui buscar 
mais papeis. A Vera ia sorrindo. E eu 
pensei no Casemiro de Abreu, que 
disse: “Ri criança. A vida é bela”. Só 
se a vida era boa naquele tempo. 
Porque agora a época está 
apropriada para dizer: “Chora 
criança. A vida é amarga”. 
(Carolina Maria de Jesus, Quarto de 
despejo. São Paulo: Ática, 2014, p. 
35-36.) 
RISOS 
Ri, criança, a vida é curta, 
O sonho dura um instante. 
Depois… o cipreste esguio 
Mostra a cova ao viandante! 
A vida é triste ̶ quem nega? 
̶ Nem vale a pena dizê-lo. 
Deus a parte entre seus dedos 
Qual um fio de cabelo! 
Como o dia, a nossa vida 
Na aurora ̶ é toda venturas, 
De tarde ̶ doce tristeza, 
De noite ̶ sombras escuras! 
A velhice tem gemidos, 
̶ A dor das visões passadas 
̶ A mocidade ̶ queixumes, 
Só a infância tem risadas! 
Ri, criança, a vida é curta, 
O sonho dura um instante. 
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Depois… o cipreste esguio 
Mostra a cova ao viandante! 
(Casemiro J. M. de Abreu, As 
primaveras. Rio de Janeiro: 
Tipografia de Paula Brito,1859, p. 
237-238.) 
a) Nas três linhas iniciais do texto I, 
a autora estabelece uma relação 
entre o sujeito da ação e o espaço 
em que ele se encontra. Mencione e 
explique dois recursos poéticos que 
compõem a cena narrativa. 
 
 
 
 
 
b) A representação da infância no 
texto I se aproxima e, ao mesmo 
tempo, difere daquela que se 
encontra no texto II. Considerando 
que o texto I é um excerto do diário 
de Carolina Maria de Jesus e o texto 
II é um poema romântico, identifique 
e explique essa diferença na 
representação da infância, com base 
nos períodos literários. 
 
 
 
 
 
 
15) UEL 2021 Leia o trecho de 
Quarto de despejo, de Carolina 
Maria de Jesus, e responda 
a questão 15 e 16 
 15 de maio 
Tem noite que eles improvisam uma 
batucada e não deixa ninguém 
dormir. Os visinhos de alvenaria já 
tentaram com abaixo assinado 
retirar os favelados. Mas não 
conseguiram. Os visinhos das casas 
de tijolos diz: 
– Os políticos protegem os 
favelados. 
Quem nos protege é o povo e os 
Vicentinos. Os políticos só aparecem 
aqui nas epocas eleitoraes. O senhor 
Cantidio Sampaio quando era 
vereador em 1953 passava os 
domingos aqui na favela. Ele era tão 
agradavel. Tomava nosso café, 
bebianas nossas xícaras. Ele nos 
dirigia as suas frases de viludo. 
Brincava com nossas crianças. 
Deixou boas impressões por aqui e 
quando candidatou-se a deputado 
venceu. Mas na Camara dos 
Deputados não criou um projeto para 
beneficiar o favelado. Não nos 
visitou mais. 
... Eu classifico São Paulo assim: o 
Palacio, é a sala de visita. A 
Prefeitura é a sala de jantar e a 
cidade é o jardim. E a favela é o 
quintal onde jogam os lixos. 
JESUS, Carolina Maria de. Quarto 
de despejo: diário de uma favelada. 
10ª ed. São Paulo: Ática, 2014. p.32. 
Assinale a alternativa que 
estabelece a exata correlação entre 
Quarto de despejo e os romances 
Casa de pensão, de Aluísio 
Azevedo, e Clara dos Anjos, de Lima 
Barreto 
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a) A miséria dos favelados de Quarto 
de despejo é experimentada 
também pelos moradores da pensão 
e pelos parentes do protagonista no 
romance Casa de pensão. 
b) As dificuldades enfrentadas pelas 
personagens de Quarto de despejo 
numa cidade grande como São 
Paulo têm pontos de contato com o 
individualismo que cerca as 
personagens de Casa de pensão. 
c) A distância do acesso ao poder 
representada em Quarto de despejo 
é equivalente ao caráter 
desprotegido que atinge o 
protagonista de Casa de pensão e as 
personagens que com ele convivem. 
d) A associação da favela ao lixo em 
Quarto de despejo é uma retomada 
das condições de moradia de 
personagens como Clara dos Anjos 
e Cassi Jones na narrativa de Lima 
Barreto. 
e) O descaso dos políticos focalizado 
em Quarto de despejo é o 
comportamento que conduz a 
protagonista Clara ao desespero 
quando ela se vê abandonada por 
Cassi Jones e pelas autoridades. 
 
16) Com base na leitura do trecho, 
considere as afirmativas a seguir 
 I. O trecho “bebia nas nossas 
xícaras” corresponde a uma imagem 
que busca no cotidiano e na alusão 
a seus objetos materiais a 
composição de uma cena que é 
desmascarada ainda no mesmo 
parágrafo. 
II. A expressão “frases de viludo” cria 
o contraste entre a fala sofisticada do 
político e o uso da linguagem a que 
recorre a própria autora em sua 
prática de escrita baseada na 
simplicidade e na autenticidade. 
III. A expressão “frases de viludo” 
revela afastamento em relação à 
norma culta, ao mesmo tempo em 
que demonstra desenvoltura da 
autora para exibir consciência 
política e índole poética. 
IV. O trecho “bebia nas nossas 
xícaras” comprova a capacidade da 
autora para construir passagens 
líricas, desvinculando-se da temática 
política e social e do tom ácido e 
inconformado. 
Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e II são 
corretas. 
b) Somente as afirmativas I e IV são 
corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são 
corretas. 
 
d) Somente as afirmativas I, II e III 
são corretas. 
e) Somente as afirmativas II, III e IV 
são corretas. 
 
17) Acerca dos recursos linguístico-
semânticos empregados no trecho, 
considere as afirmativas a seguir. 
 I. Em “Tomava nosso café, bebia 
nas nossas xícaras. Ele nos dirigia 
as suas frases de viludo. Brincava 
com nossas crianças”, o referente 
dos pronomes “nosso, nossas, nos” 
aparece no início do texto: 
“favelados”. 
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II. Em “E a favela é o quintal”, o 
conectivo “E” apresenta, a um só 
tempo, sentido de adição, de acordo 
com a sequência de períodos que o 
precede, e oposição, materializada 
nos substantivos “jardim”, “quintal” e 
“lixos”. 
III. A expressão “visinhos de 
alvenaria” é um exemplo que 
caracteriza uso de linguagem 
denotativa. 
IV. Em “E a favela é o quintal onde 
jogam os lixos”, o termo “onde” pode 
ser substituído por “aonde”, 
preservando o respeito à norma culta 
e ao sentido original. 
 Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e II são 
corretas. 
b) Somente as afirmativas I e IV são 
corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são 
corretas. 
 
 
d) Somente as afirmativas I, II e III 
são corretas. 
e) Somente as afirmativas II, III e IV 
são corretas. 
 
1) Alternativa D 
Vemos que a linguagem que 
Carolina utiliza em seus escritos é 
popular, e não culta, apresentando 
muitas marcas de oralidade e da fala 
coloquial. Além disso, todas as 
outras estão certas, pois Carolina 
encontrou um modo de extravasar 
sua raiva e de fazer uma denúncia 
social de um contexto no qual ela 
estava inserida por meio dos papéis 
que ela encontrou na rua. 
2) Alternativa B 
Não é o ato de recolher resíduos que 
seria uma evasão, e sim o ato de 
escrever e relatar seu cotidiano e 
sua situação social. Carolina 
recolhia resíduos porque uma de 
suas únicas fontes de renda era 
vendê-los. 
3) Alternativa D 
Carolina não dá nenhum enfoque 
especial às pessoas que trabalham 
em casas de luxo, e sim compara a 
favela com um quarto de despejo, 
porque lá seria um lugar que as 
pessoas ignoram, e em que os 
moradores são vistos como à 
margem da sociedade, ignorados e 
largados. Assim, Carolina faz uma 
forte denúncia social, ao trazer a fala 
de alguém do quarto de despejo para 
o olhar público. 
4) Alternativa C 
a) não é comum na poesia o uso da 
objetividade, é possível ver que a 
Carolina narra objetivamente, sem 
lirismos. 
 
b) não é impessoal, pois ela narra 
sua vivência no contexto de pobreza 
e miséria. 
d) é sim, diários são gêneros comuns 
e) não, é gênero no qual o autor 
interpreta um determinado assunto, 
com viés jornalístico. 
5) Alternativa A 
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I. Nesse trecho do livro Quarto de 
despejo de Carolina Maria de Jesus, 
há variação linguística relacionada à 
posição social da escritora. 
II. Nesse trecho do livro Quarto de 
despejo de Carolina Maria de Jesus, 
há variação linguística relacionada 
ao grau de escolaridade da autora. 
(Incorreto, a autora, embora semi-
analfabeta, emprega a forma culta 
da língua adequadamente) 
III. A variação de registro, que se 
caracteriza pelo uso formal e 
informal da linguagem, apontam que 
os desvios gramaticais presentes no 
texto são propositais e inaceitáveis 
para esse gênero textual. (Incorreto, 
não são inaceitáveis para esse 
gênero textual, trata-se de um diário) 
É correto o que se afirma em: I 
apenas 
6) Alternativa B 
A obra "Quarto de despejo", de 
Carolina Maria de Jesus, aborda o 
modelo do cotidiano da população 
no ambiente das favelas, onde a 
narradora tenta sobreviver nas ruas 
da grande São Paulo como catadora, 
procurando nos lixos as sobras dos 
demais. 
Nesse contexto, é abordada a ideia 
de que o que para uns é sobra, para 
outros é considerado ouro. Sendo 
assim, o tema que é abordado no 
livro, presente no texto apresentado, 
compreende a fome. 
Aviltar: Tornar-se indigno; perder a 
honra; 
7) Percebe-se, por meio da leitura, 
que não há saída possível para a 
miséria. Apesar de uma esperança 
de melhora por parte da autora, por 
causa do ano novo, a rotina da favela 
não se altera. É interessante abordar 
o cotidiano sofrido da catadora, 
acordando cedo, submetendo-se a 
trabalhos braçais pesados, 
carecendo de infraestrutura no 
barraco em que mora. É importante 
também demonstrar como o registro 
autobiográfico de Carolina de Jesus 
explicita a denúncia das péssimas 
condições de vida dos 
marginalizados, cujas vidas 
precárias não se alteram. 
8) O ponto de vista da escritora 
enfatiza como os ricos ignoram e 
descartam os mais pobres, por isso 
Carolina se considera também um 
despejo social. É importante 
confirmar essas ideias extraindo 
elementos dos excertos que 
comprovem a ideia referente à 
precariedade da vida dos 
marginalizados, que vivem de comer 
restos, alimentando-se do lixo, além 
dos materiais recicláveis que catam 
para obter alguma fonte de renda. 
9) Alternativa D 
 
Em Quarto de despejo, o verbo 
“catar” está associado à rotina de 
Carolina Maria de Jesuscomo 
catadora de lixo, vivendo em uma 
favela como objeto descartado, ao 
mesmo tempo que faz da 
experiência de viver do lixo a própria 
matéria para a sua criação literária. 
10) Alternativa C 
O diário de Carolina de Jesus, 
"Quarto de Despejo", retrata a vida 
da escritora. No trecho, percebe-se 
uma questão social historicamente 
combatida no mundo inteiro, que é a 
LETRA C (má distribuição de renda). 
Carolina Maria de Jesus, escritora, 
poetisa e compositora brasileira, 
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tendo o seu diário "Quarto de 
Despejo: Diário de uma Favelada", 
publicado em 1960, a obra mais 
famosa e reconhecida da sua 
carreira artística. Além disso, foi 
umas das primeiras mulheres pretas 
a serem lidas e consideradas 
autoras pela sociedade brasileira. 
Em seu diário, Carolina, com uma 
escrita simples e rotineira, narra a 
sua trajetória pobre na cidade de 
São Paulo. Ela, empregada e 
catadora de latinhas, trabalhava o 
dia todo para poder sustentar seus 
filhos em meio a uma vida de 
injustiças e violência. 
Carolina denunciava a pobreza e a 
desigualdade que assolam o Brasil e 
escreve de modo direto as suas 
dificuldades, relatava a fome, a 
pedofilia, a revolta com o mundo, a 
miséria, a vida nas favelas e vários 
outros assuntos de extrema 
importância. 
11) Alternativa E 
a) Falsa. No texto apresentado não 
há passagem alguma de trechos da 
obra. 
b) Falsa. Apesar de você ter uma 
apresentação sucinta da obra, não 
ocorre o resumo do seu enredo 
(creio que essa estaria certa caso 
houvesse um enfoque maior nos 
personagens e tal, mas não é isso 
que ocorre) 
c) Falsa. Caso esse fosse o objetivo 
do fragmento, o texto estaria 
desenvolvendo mais aspectos 
acerca da autora. 
d) Falsa. Em momento algum 
observamos o texto analisando a 
linguagem que a autora utiliza. 
e) Correta. Ao utilizar a interlocução, 
percebemos um contato direto com 
quem está lendo com o objetivo de 
instigar a pessoa a ler a obra. 
12) Alternativa C 
O texto foge da linguagem padrão, 
contendo marcar da linguagem 
informal e da variação social como 
forma de mostrar a condição social 
na qual vivia a autora. 
13) Além da situação de miséria 
retratada no livro "Quarto de 
despejo", no qual as personagens 
vivem em região de favela e a partir 
da qual é possível fazer leituras entre 
o teor do livro e o poema "Luxo", há 
ainda uma relação mais significativa 
entre as duas formas de 
composição. 
Ocorre que "Quarto de Despejo" é 
originado de um diário elaborado 
pela autora Carolina Maria de Jesus 
a partir de papéis que catava no lixo 
urbano. 
Aqui é possível fazer um jogo de 
sentidos com o poema "Luxo": 
enquanto que no poema se retrata o 
lixo que advém/resulta de práticas 
consumistas e que são consideradas 
luxuosas; no livro temos o inverso, a 
partir do lixo, da escassez é criada 
uma obra literária carregada, desde 
a seu material originário de 
composição, de sentidos profundos, 
ou seja, do lixo advém uma 
verdadeira peça de "luxo". 
14) a) Os dois recursos poéticos 
observáveis nas três primeiras linhas 
são: rima e personificação. Há rima 
entre “anil” e “Brasil” e 
personificação em dois momentos, a 
folhas aplaudem o amor à pátria e o 
olhar “pousou” nos arvoredos. 
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b) No Romantismo, a infância é 
idealizada, considerada como o 
momento da felicidade perdida. O 
texto de Carolina foi escrito na 
década de 50 na mesma período da 
Terceira Geração Modernista. Ou 
seja, sua obra é pulicada depois de, 
pelo menos, dois movimentos 
literários recusarem a idealização 
romântica: o realismo e o 
Modernismo. 
De certa forma, isso permitiu que 
Carolina pudesse registrar sem 
idealização o real sofrimento que se 
vive na infância, principalmente se a 
criança for extremamente pobre. 
 
15) Alternativa B 
Os moradores da pensão e, menos 
ainda, os parentes do protagonista 
do romance de Aluísio Azevedo 
não experimentam a miséria como 
os favelados de Quarto de despejo. 
O mesmo vale para o acesso ao 
poder, que não é equivalente. O 
lixo, em Clara dos Anjos, não é tão 
ostensivo quanto em Quarto de 
despejo. Não é o descaso dos 
políticos que leva Clara dos Anjos 
ao desespero, mão o abandono de 
Cassi Jones. 
16) Alternativa D 
A autora não se desvincula da 
temática política e social nem do 
modo ácido com que a aborda. 
17) Alternativa A 
 I. Correta. O referente dos 
pronomes destacados é citado na 
segunda e na quarta linha do texto: 
“favelados”. 
II. Correta. O conectivo “E” adiciona 
as ideias apresentadas no período, 
acrescentando informações ao leitor, 
ao mesmo tempo em que marca uma 
relação de oposição entre as 
condições de quem vive em cada 
“local” citado. 
III. Incorreta. A expressão 
caracteriza uso de linguagem 
conotativa. 
IV. Incorreta. O termo “onde” indica 
permanência em um lugar, não 
podendo ser substituído por “aonde”, 
que indica movimento “para” um 
lugar, usado com verbo cuja 
regência necessita de preposição, 
como “ir” (eu sei aonde queres ir) 
 
 
 
Enredo e escrita da autora: 
culturagenial.com 
Conflitos, religiosidade, 
publicação e personagens: 
beduka.com 
Sobre a autora, crítica social e 
contexto histórico: 
todoestudo.com. 
Entrevista: brasildefato.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
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Moacyr Jaime Scliar 
 
 
 
 
Moacyr Jaime Scliar nasceu a 23 de 
março de 1937, no hospital da 
Beneficência Portuguesa, em Porto 
Alegre (RS). Seus pais, José e Sara 
Scliar, oriundos da Bessarábia 
(Rússia), chegaram ao Brasil em 
1904. Filho mais velho do casal, que 
teve ainda Wremyr e Marili, desde 
pequeno demonstrou inclinações 
literárias. O próprio nome Moacyr já 
é resultado dessa afinidade. Foi 
escolhido por sua mãe Sara após a 
leitura de Iracema, de José de 
Alencar, significando “filho da dor”. 
Ele próprio dizia: “os nomes são 
recados dos pais para os filhos e são 
como ordens a serem cumpridas 
para o resto da vida”. 
 “Cada leitor da obra do Scliar tem 
seu gênero preferido. Mas todos 
reconhecem nele, acima de tudo, 
seja na ficção, no ensaio ou na 
crônica, um estilo altamente 
humanista, que o torna dono de 
valores universais”, segundo o 
escritor gaúcho Luiz Antônio Assis 
Brasil, para quem a ABL, ao aceitá-
lo como imortal, fez justiça não só ao 
Rio Grande do Sul, mas também ao 
grande escritor que ele foi, capaz de 
introduzir na literatura brasileira a 
contribuição que outros escritores de 
origem judaica deram à literatura 
mundial. Sua ficção insere a 
temática do imigrante judeu e urbano 
no imaginário da literatura sul-rio-
grandense. 
Moacyr Scliar é considerado um dos 
escritores mais representativos da 
literatura brasileira contemporânea. 
Os temas dominantes de sua obra 
são a realidade social da classe 
média urbana no Brasil, a medicina e 
o judaísmo. Suas descrições da 
classe média eram, frequentemente, 
inventadas a partir de um ângulo 
supra-real. 
 
Reúne crônicas ficcionais escritas 
por Moacyr Scliar, baseadas em 
notícias reais publicadas no jornal, 
para a Folha de S. Paulo, onde o 
escritor teve uma coluna por quase 
duas décadas. “Nestas 54 crônicas, 
publicadas entre 2004 e 2008, há 
textos extremamente reveladores da 
condição humana, como aqueles 
que falam do amor desgastado pelo 
tempo e do amor que se renova, ou 
dos que têm a vingança, a cobiça e 
traumas de infância como tema. Mas 
por mais sério que seja o assunto, 
Scliar consegue imprimir um toque 
de leveza e humor, como é 
característico de suas inúmeras 
colaborações para a imprensa. 
Nesta seleção, vê-se como 
banalidade do cotidiano, nas mãos 
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de um grande escritor, pode se 
tornar uma bela leitura”(Nota dos editores na primeira orelha do livro. 2019). 
 
A temática é bastante diversa, 
envolvendo relacionamentos, 
avanços tecnológicos, questões 
sociais, política e questões que 
poderiam ser triviais, mas tem graça 
e leveza pelos olhos de Scliar. 
Como exemplo, três crônicas com 
temas recorrentes na obra: 
• O carrinho ciumento= 
Tecnologia 
• O Futuro da geladeira= 
Crítica Social 
• O Amor é um jogo de tiro ao 
alvo= relacionamentos 
 
A Crônica é um gênero textual que 
tem como principal característica a 
compilação de fatos cotidianos. Ela 
possui uma ordem de sucessão no 
tempo, poucos personagens, é de 
curto tamanho, costuma gerar 
alguma reflexão e normalmente é 
publicada nos jornais e revistas. 
Ela é muito utilizada em textos 
cotidianos publicados por revistas, 
jornais ou blogs, porque as crônicas 
fazem parte de uma escrita mais 
simples e fácil de ser 
compreendida. Além disso, é 
responsável por tornar o texto mais 
próximo ao leitor. Isso permite que o 
texto se torne mais simples, como 
uma conversa entre amigos, 
tornando a leitura mais divertida. 
Dentre os diversos tipos de textos 
que possuímos, a crônica é a mais 
utilizada para descrever situações 
do nosso dia a dia. Em geral, as 
crônicas tratam de temáticas 
comuns sobre assuntos que estão 
na ‘boca do povo’. 
As características das crônicas: 
• narrativa curta; 
• uso de uma linguagem 
simples e coloquial; 
• presença de poucos 
personagens, se houver; 
• espaço reduzido; 
• temas relacionados a 
acontecimentos cotidianos. 
 
O futuro da geladeira 
Esta crônica, assim como todas as 
outras, nasce de uma notícia que foi 
veiculada no jornal, ou seja, um fato 
verídico. A notícia do jornal conta a 
história de uma mulher de 80 anos 
que desiste de seu sonho de 
ingressar em uma universidade por 
ter que escolher se pagaria a 
inscrição ou compraria uma 
geladeira. 
A partir desse fato, Scliar desenvolve 
a crônica. Nela, ele mostra um 
impasse entre o desejo da 
personagem do reconhecimento 
social e pessoal através dos estudos 
ou a consertar a geladeira que 
significaria continuar a manter a 
comida em sua casa. 
“Com o curso ela poderia tornar-se 
mesmo com idade avançada, uma 
daquelas dinâmicas executivas cuja 
foto via em jornais e em revistas.” (p. 
23)* 
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“ Era o curso ou a geladeira. Era 
apostar no futuro ou resolver os 
problemas do presente. Ou se 
inscrevia na universidade ou pagava 
a prestação na loja: tinha de 
escolher. Dilema penoso.” (p.24) 
A partir dos trechos citados e da 
leitura da crônica, podemos 
perceber uma crítica social. O autor 
coloca em dilema dois pontos que 
deviriam ser essenciais e 
asseguradas pelo Estado: educação 
e alimentação. O texto nos mostra 
que a personagem não tem nenhum 
deles assegurados. O dois 
elementos essenciais são colocados 
para decisão. 
Nesta caso temos: 
Educação X Alimentação 
Educação: como símbolo de 
prosperidade 
Alimentação: símbolo de 
sobrevivência 
Outro fator passível de análise é o 
próprio título “O Futuro da geladeira”, 
já que a personagem não consegue 
dar vasão aos seus anseios para o 
futuro, quem fica com o futuro 
garantido é a geladeira. 
O Amor é um jogo de tiro ao 
alvo 
A crônica nasce da seguinte notícia: 
 Nos Estados Unidos, a moda agora 
é fazer a festa de separação. As 
festas tornaram-se grande eventos, 
e algumas empresas estão se 
especializando nessa demanda que 
cresce. 
De reuniões discretas a festanças de 
arromba, de shows performáticos a 
viagens extravagantes, vale tudo na 
hora de comemorar essa nova fase 
da vida, inclusive jogar dardos na 
foto do ex. ( 03/12/2007) 
A crônica conta que após amargar 
uma separação dolorosa, a mulher 
decide, com o auxílio e pressão de 
suas amigas, mostrar ao mundo o 
seu novo estado: 
“ Finalmente ela saiu da fossa e, 
para mostra-lo ao mundo, resolveu 
dar uma festa de arromba, uma festa 
cuja lembrança incomodasse o ex 
pelo resto de seus dias. Teria de 
usar para isso todas as suas 
economias, mas certamente valeria 
a pena.” (p.35) 
O ponto principal escolhido para ser 
analisado no trecho citado é o de a 
motivação da festa era mostrar ao 
mundo. Ou seja, o desejo de festejar 
vinha com a necessidade de 
assegurar aos demais de que a 
personagem estava bem e que isso 
fizesse mal ao ex. 
A festa é realizada com grande 
sucesso, mas em dado momento, 
assim como traz a notícia, houve a 
hora de jogar os dardos na foto do 
ex-namorado: 
“ O mestre de cerimônia entregou à 
moça três dardos. Ela deveria atirá-
los na foto. E, quando o terceiro 
dardo ali se cravasse, ela poderia se 
considerar liberta daquela dolorosa 
ligação.” (p.36) 
A crônica parte para um ponto de 
tensão em que a personagem passa 
a errar os dardos na frente de todos. 
A pressão e grito dos convidados a 
deixam angustiada: 
“ Àquela altura estava transtornada 
de raiva e de desespero. Assim 
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como errara na vida, estava errando 
com os dardos. E isso não podia 
acontecer, não podia. Ela tinha de 
acabar com aquele maldito.” 
(SCLIAR,2019 p.37) 
Ao fim da crônica sabe-se que a 
personagem foi viver reclusa no 
interior junto aos pais. 
Diferente do início em que quer 
provar a todos que está bem e 
depois jogando os dardos quando 
diz que se sentia fracassada. 
Podemos analisar a crônica a partir 
da ideia de que a personagem busca 
uma imagem social adequada, em 
que não se pode sofrer por um 
relacionamento e nem se sentir 
fracassada. Até mesmo os 
sentimentos os sentimentos em 
relação ao ex vão se mostrando 
diferentes do que ela pretende 
mostrar para os amigos; 
Seguindo este pensamento, ainda 
podemos pensar nas temáticas: 
• Aparência X essência 
• Necessidade de aprovação 
social 
• Um mundo em que o fracasso 
não é permitido 
• Qualquer dor deve ser 
rapidamente suprida 
• Todos esses temas podem 
ser encontrados na crônica e 
corroboram para possíveis 
análises. 
O carrinho ciumento 
A crônica nasce a partir da seguinte 
notícia: 
 Carrinho de supermercado 
inteligente está destinado a se 
transformar em arma da luta contra a 
obesidade. Especialistas em 
tecnologia criaram um carrinho que 
alertará o cliente do supermercado 
assim que for colocado nele algum 
produto rico em gordura, açúcar ou 
sal. O carrinho possui uma tela 
interativa na qual os códigos de 
barras desses produtos, uma vez 
escaneados, ativarão uma luz 
vermelha de aviso. Quando o cliente 
introduzir seu “ cartão de fidelidade ” 
no supermercado onde faz 
normalmente suas compras, o 
carrinho “ saberá” imediatamente se 
ele é solteiro, casado e quantas 
vezes faz compras por semana. E 
“saberá” levar o cliente às prateleiras 
que estão mais de acordo com suas 
preferências. ( 26/11/2007) 
Embora a notícia seja de 2007, o 
tema mostro muitíssimo atual. 
Podemos pensar no impacto da 
tecnologia em nossas vidas e em 
nossas escolhas. A informação de 
alguns dados leva a inteligência de 
vários outros como à própria notícia 
anuncia. 
O personagem da crônica é um 
adepto do carrinho. Solteiro, com 
excesso de peso e fã de tecnologia, 
ele logo se encantou pelo carrinho. 
Além disso, o carrinho da tinha um 
diferencial: 
“ [...] o carrinho avisava-o da 
proximidade de um amigo ou de um 
companheiro de trabalho, 
acendendo uma luzinha verde, 
proporcionando amáveis encontros.” 
(p.33) 
 O homem encontra no 
supermercado a mulher dos seus 
sonhos, e embora tímido decide de 
arriscar e vai falar com ela. 
Mas houve um problema com o 
carrinho que ao chegar perto da 
moça: 
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“ A luz vermelha do carrinho 
começou a piscar furiosamente ao 
mesmo tempo em que uma espécie 
de sirena, de cuja existência ele nem 
sabia, soava insistentemente. (p.33) 
“A barulheira chamou a atenção da 
moça. Sorrindo,disse que o carrinho 
deveria estar estragado e sugeriu 
que ele o abandonasse num canto. 
(p.33) 
 Foi então que os dois começaram 
um relacionamento e não foram mais 
ao mercado. A crônica termina com 
humor: 
“Um dia o esperará na saída do 
prédio para jogar-se sobre ele e 
atropelá-lo. Carrinhos ciumentos são 
um perigo. (p.34) 
A crônica “O carrinho ciumento” traz 
dois temas relevantes: 
1- a tecnologia; neste caso, 
inicialmente o uso do carrinho 
parece facilitar muito a vida de seus 
usuários, mas depois revela-se uma 
ferramenta cerceadora. 
2- os relacionamentos: a tecnologia 
aliada ao interesse do ser humano 
em se comunicar e sentir-se melhor 
dão à crônica um direcionamento 
que recaí no humor. 
Análise geral 
Moacyr Scliar parte de notícias reais, 
relacionadas ao cotidiano de 
pessoas desconhecidas e de alguns 
fatos inusitados, para escrever cada 
uma das 54 crônicas publicadas 
nessa obra. Podemos encontrar 
desde a continuação imaginada pelo 
autor da história da notícia, como 
também um universo fantástico 
partindo da visão de seres 
inanimados, como, por exemplo, em 
O rádio Apaixonado e O carrinho 
ciumento, onde os objetos (o rádio 
e o carrinho) conduzem a narrativa: 
“’Minha querida dona, sei que você 
anda se queixando de mim, 
publicamente, até. Você não pode 
imaginar o sofrimento que isto me 
causa, mesmo porque você 
provavelmente acha que rádios são 
objetos inanimados, sem vida 
própria.” (Trecho de O rádio 
Apaixonado, p. 14, 2019). 
É importante lembrar que nesse 
livro, Scliar escreve em linguagem 
simples, por vezes em primeira 
pessoa, por vezes em terceira 
pessoa, com pouquíssimos diálogos, 
abrindo vez ou outra para as 
personagens falarem, através do 
discurso direto. Sendo assim, os 
textos contidos nessa obra têm as 
características do gênero literário 
crônica: narrativa curta, poucos 
personagens, linguagem simples ou 
coloquial e acontecimentos do 
cotidiano, acrescidos das 
características do gênero ficção, que 
traz uma narrativa imaginária e irreal, 
mesmo que partindo de um fato real 
para a sua criação. 
No início de cada crônica, o autor 
nos apresenta a notícia ou as 
notícias, que o inspirou para o texto. 
Notícias do Brasil e de outras partes 
do mundo. Com exceção de Depois 
do Carnaval, que é uma crônica 
escrita por diversos títulos de 
notícias do Brasil, sobre, por 
exemplo, questões políticas, 
ambientais e legais, que seriam 
resolvidas ou decididas somente 
depois do Carnaval. Todas as 
notícias dessa crônica têm 
destacado em negrito a expressão 
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depois do carnaval. Assim, Scliar 
evidencia o dito popular de que a ano 
no Brasil só começa realmente 
depois do carnaval. Nessa crônica 
não há ficção, mas fatos reais que 
até parecem fictícios. 
 
Scliar aborda o tema da corrupção 
brasileira nas crônicas Cueca-Cofre, 
baseada em três notícias sobre o 
muito conhecido “dinheiro na cueca”, 
em Torpedos, dividido em duas 
crônicas, que na primeira O torpedo 
no vestibular, escreve sobre o 
esquema de tentativas de fraude no 
vestibular para o curso de Medicina 
em universidades públicas, e em 
Massageando o Dorso Político, 
baseada em uma notícia sobre uma 
compra superfaturada de poltronas 
de massagem para vereadores em 
Espírito Santo. 
Já em O Futuro na Geladeira, com 
a notícia de uma senhora de 80 anos 
que adiou o sonho de fazer o 
vestibular para usar o dinheiro da 
inscrição para pagar a prestação da 
geladeira, Scliar nos 
traz a dura realidade de muitos 
brasileiros e muitas brasileiras, 
evidenciando a desigualdade social 
no nosso país. Porém, na sua obra 
fictícia, nos traz a esperançosa 
ilusão de que essa senhora poderá 
realizar o sonho no próximo ano, 
imaginado que ela guardaria a 
garrafa de champanhe da 
comemoração de uma possível 
aprovação em sua geladeira nova. 
No último parágrafo, podemos 
pensar que ele fala de guardar a 
garrafa no fundo da geladeira, mas 
também podemos interpretar como o 
sonho sendo congelado, se 
mantendo conservado, para em 
outro momento ser retomado: 
 
“Resolveu guardar a garrafa. Bem no 
fundo da geladeira. Um dia ela ainda 
ingressaria no curso de 
administração; um dia brindaria a 
seu futuro. Era só questão de 
esperar. 
Sem medo: Uma boa geladeira 
conserva qualquer champanhe.” (p. 
25). 
O humor contido em algumas 
crônicas se dá principalmente 
através da ironia e quebra de 
expectativa. É preciso relembrar, 
para análise de textos literários, que 
o humor aqui, não necessariamente 
nos causa muitas risadas. 
Como exemplo, podemos observar a 
crônica Conquistas Culinárias, que 
é baseada em uma reportagem de 
uma pesquisa sobre homens que 
sabem cozinhar e que são mais 
atraentes por isso. Na crônica, Scliar 
traz um homem que não sabia 
cozinhar e que aprende para 
conquistar uma paquera de muito 
tempo. Porém, o homem se envolve 
tanto com a culinária, e tentando 
solucionar o problema do prato que 
deu errado no tão esperado encontro 
com a mulher que ele desejava, que 
acaba deixando de lado a paquera, 
direcionando o seu interesse para a 
culinária. E é nesse final inesperado 
(quebra de expectativa) que 
encontramos o humor da crônica. 
Por fim, podemos encontrar entre os 
temas das crônicas a solidão, 
traição, sonhos, corrupção e a 
modernidade através das invenções 
científicas. Temas que permeiam a 
humanidade. Além disso, a obra nos 
permite pensar em como a vida 
realmente imita a arte, trazendo 
histórias reais que parecem ter saído 
da imaginação de alguém, 
percebendo o quão complexo é o ser 
humano, e tendo na ficção uma 
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continuidade e destaque, mantendo-
se vivas através da criatividade, 
sensibilidade e registro do autor 
 
 
O que é uma crônica: 
todamateria.com e beduka.com 
Enredo: pré-vestibular CEPV 
Temáticas e principais crônicas: 
slide disponibilizado por Renata 
Ferreira, pós-graduada na UEL 
Sobre o autor: ebiografia.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Mário de Andrade 
 
Mário de Andrade foi um escritor 
modernista, crítico literário, 
musicólogo, folclorista e ativista 
cultural brasileiro .Seu estilo literário 
foi inovador e marcou a primeira fase 
modernista no Brasil, sobretudo, 
pela valorização da identidade e 
cultura brasileira. Ao lado de 
diversos artistas, ele teve um papel 
preponderante na organização da 
Semana de Arte Moderna (1922). 
Mário Raul de Morais Andrade 
nasceu na cidade de São Paulo, no 
dia 09 de outubro de 1893. 
De família humilde, Mário possuía 
dois irmãos e desde cedo mostrou 
grande inclinação às artes, 
notadamente a literatura.Em 1917, 
estudou piano no “Conservatório 
Dramático e Musical de São Paulo”, 
ano da morte de seu pai, o Dr. Carlos 
Augusto de Andrade. Nesse mesmo 
ano, com apenas 24 anos, publica 
seu primeiro livro intitulado “Há uma 
Gota de Sangue em cada Poema”. 
Em 1938, muda-se para o Rio de 
Janeiro. Foi nomeado catedrático de 
Filosofia e História da Arte e ainda, 
Diretor do Instituto de Artes da 
Universidade do Distrito Federal. 
Retorna à sua cidade natal, em 
1940, onde começa a trabalhar no 
Serviço de Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional (SPHAN). Poucos 
anos depois, sua saúde começa a 
ficar frágil. No dia 25 de fevereiro de 
1945, aos 51 anos de idade, Mário 
de Andrade falece em São Paulo, 
vítima de um ataque cardíaco. 
 
Publicados postumamente, em 
1947, os contos desta obra trazem 
personagens, espaços e tipo de 
trama reveladores de um Mário de 
Andrade queacreditava na produção 
cultural como denunciadora da 
realidade, sem perder suas 
características artísticas e estéticas. 
Vestida de preto 
 
Nele, o narrador aborda um amplo 
período de sua vida. Tudo começa 
na infância. Flagramos Juca (o 
narrador) e sua prima, de família 
abastada (alguns estudiosos 
apontam as dificuldades do 
relacionamento Juca / Maria, 
provocadas pela diferença social, 
como um aspecto autobiográfico) 
brincando de família com outras 
crianças numa casa de vários 
cômodos. Deitados, o menino, 
posicionado atrás da companheira, 
acaba encantando-se com a vasta 
cabeleira que tem à sua frente, 
mergulhando a cabeça nela, 
enquanto Maria entrega-se, 
estorcendo-se de prazer, com o 
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contato dos lábios do menino em sua 
nuca. 
 
• São interrompidos com a chegada 
de Tia Velha (outro elemento 
autobiográfico. Mário de Andrade 
possuiu uma tia com as mesmas 
características de Tia Velha), que os 
flagra, dá-lhes uma bronca e ameaça 
delatá-los. O que acontece aqui é 
como a Queda do Paraíso (Mário de 
Andrade era muito católico). 
 
• Os dois separam-se, assustados e 
envergonhados, e nunca mais 
aquela sensação de êxtase e 
felicidade vai ser recuperada, apesar 
de as duas personagens buscarem, 
à sua maneira, recuperar esse bem 
perdido. 
 
• Interessante é notar o papel que a 
Tia exerce. Antes de sua chegada, a 
brincadeira não tinha nenhuma 
conotação indecente. 
 
• Maria se casa com um diplomata e 
vai morar no exterior. 
 
• Juca, na tentativa de mostrar seu 
valor, torna-se um estudioso 
obcecado e divide seu amor entre 
duas mulheres: Rosa para de noite e 
Violeta, como namoradinha oficial. 
 
• Muitos anos depois, chega a 
notícia da volta de Maria ao Brasil. 
Juca vai revê-la. No reencontro, todo 
o embaraço do passado volta e nada 
consegue dizer para quebrar a 
barreira erguida entre ambos , mas 
vendo-a vestida de preto um enorme 
desejo de possuí-la, o que não 
acontece. 
 
• Maria volta para o exterior e Juca 
continua guardando este grande 
amor. 
 
• Fica nas entrelinhas a idéia de que 
seria positiva a união dos dois, pois 
sossegaria o espírito afoito da 
mulher. 
 
Esse conto é narrado pelo próprio 
Juca, personagem que ainda 
aparece em outras duas histórias 
deste livro. As memórias do rapaz 
assemelham-se muito a fatos 
ocorridos na vida do autor, o que dá 
ao texto um certo tom autobiográfico. 
Além disso, vale observar a 
simplicidade da linguagem, marca 
típica tanto de Mário de Andrade 
quanto da primeira geração 
modernista. Nota-se também a 
simbologia dos nomes rosa é a flor 
símbolo da paixão e violeta, da 
amizade. 
 
 
O ladrão 
 
Sua narrativa é simples: toda uma 
vizinhança é acordada com a gritaria 
de perseguição a um ladrão. 
 
• Num primeiro momento, marcado 
pela agitação, os moradores reagem 
com atitudes que vão do medo ao 
pânico e à histeria, anulados pela 
solidariedade com que se unem na 
perseguição ao ladrão. 
 
• Num segundo momento, 
caracterizado pela serenidade e 
enleio poético, um pequeno grupo de 
moradores experimenta momentos 
de êxtase existencial. 
 
Os comportamentos se sucedem, 
numa linha que vai do instinto 
gregário ao esvaziamento trazido 
pela rotina. O engraçado é que 
ninguém chega a ver esse bandido, 
o que leva à dúvida sobre sua 
existência. No entanto, serviu para 
unir as pessoas em plena 
madrugada para viverem um pouco 
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da alegria coletiva, o que já estava 
começando a desaparecer na São 
Paulo da época de Mário de 
Andrade. 
 
• Chama a atenção nesse conto 
como o elemento coletivo é bastante 
vivo, chegando perto da técnica 
apresentada por Aluísio Azevedo em 
O Cortiço. (Intertextualidade) 
 
Narrado em 3ª pessoa, de forma 
despojada, este conto nos revela a 
tendência do ser humano de 
envolver-se nos fatos e emitir 
julgamentos sem mesmo saber do 
que se trata, fato que, muitas vezes 
gera grandes desastres e, em 
outras, como neste caso, acaba em 
festa. Ainda, este conto como em 
outros é anedótico, e na opinião de 
alguns criíticos, como Massaud 
Moisés, perde um pouco de sua 
função devido ao fato de o autor se 
ter alongado na história. 
 
Primeiro de Maio 
 
 Conflito de um jovem operário, 
identificado como "chapinha 35", 
com o momento histórico do Estado 
Novo. 35 vê passar o Dia do 
Trabalho, experimentando reflexões 
e emoções que vão da felicidade 
matinal à amargura e desencanto 
vespertinos. Mesmo assim, acalenta 
a esperança de que, no futuro, haja 
liberdade democrática para que 
"sua" data seja comemorada sem 
repressão. 
 
• O conto possui uma excelente ideia 
que pecou pelo aspecto panfletário. 
Sua personagem principal, 35 (a 
maneira como as personagens são 
nomeadas, por meio de números, 
não só indica a desumanização por 
que passam dentro do sistema 
capitalista, como também faz 
referência a datas importantes, como 
35 (ano em que foi decretado o 
feriado de Primeiro de Maio) 
 
• No momento em que vai para a 
Estação da Luz ele é comparado a 
uma negra em disponibilidade; isto é 
sem trabalho, vagabundeando 
 
É interessante notar neste conto que 
as personagens não têm nome, o 
que revela uma crítica á 
massificação do operariado, ideia 
que vai ao encontro das aspirações 
políticas do autor. Além disso, a 
história discute a ausência de 
sentido do feriado do Dia do 
Trabalhador, posto que par 35, nada 
de bom ou proveitoso acontece 
neste dia. É fundamental, também 
perceber que 35 é um trabalhador 
alienado, que não compreende as 
informações que lê nos jornais , 
mesmo assim sofre uma 
transformação ao fim do dia , embora 
não seja capaz de traduzi-la 
verbalmente. Por fim, o uso do 
discurso indireto livre é feito de forma 
muito bem empregada, dando voz 
aos confusos pensamentos da 
personagem. 
 
Atrás da catedral de Ruão 
 
Alda e Lúcia, duas adolescentes 
aprendem francês com uma 
quarentona , virgem transformada 
pela mãe. As aulas são pontuadas 
por insinuações maldosas sobre 
sexo, deixando a solteirona 
envergonhada e excitada ao mesmo 
tempo. As alunas, com suas 
conversas de duplo sentido, acabam 
fazendo com que mademoiselle que 
nunca desejara um homem, fique no 
“cio”. Um dia, as meninas começam 
a falar que viram um homem de 
barba atrás da catedral de Ruão, 
mas não conseguem terminar, pois a 
professora diz que já sabe o que 
acontece atrás de todas as 
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catedrais., Outro dia, tendo ido 
comprar remédio, sentiu-se 
arrastada em direção á catedral da 
Sé , numa “evocação bruta de carne 
vibrantes”, com medo e desejos 
confusos, desejando uma 
experiência maior. Tal experiência 
acontece numa noite , quando 
retornando da casa das meninas, ela 
se sente atraída para trás da 
Catedral de Santa Cecília. De uma 
das ruas surgem então dois homens 
e, em sua fantasia , Mademoiselle se 
vê atacada e violentada por eles, 
tudo é narrado como se fosse 
verdade Ao fim ela lhe dá dois 
níqueis , agradecendo-os pelo sexo 
que viveu em sua fantasia. 
 
Este conto nos revela tanto a fúria do 
desejo contido, “ a cruel necessidade 
de amar” , como diria Clarice 
Lispector, quanto prazer que o ser 
humano sente diante da desgraça 
alheia –vide o comportamento das 
meninas diante da solidão da 
professora. É bom lembrar, também, 
que esta temática da sexualidade 
reprimida aparece em outras obras 
de Mário de Andrade. 
 
O poço 
 
O velho Joaquim Prestes , 75 anos 
homem rico e viajado, chegou ao 
pesqueiro de Mogi, ás onze horas da 
manhã trazendo consigo uma visita. 
Vendo os empregados parados, quis 
saber por que não trabalhavam. Eles 
disseram que com o frio forte que 
fazia ninguém conseguia ficar dentro 
do poço para continuar a perfuração. 
Durante a conversa tensa entre 
patrão e empregados vamos 
descobrindo os problemas: o 
trabalho é perigoso e apenas Albino 
tema prática necessária para fazê-
lo, mas é doente dos peitos. Quando 
vai olhar o poço, Joaquim deixa sua 
caneta valiosa cair e exige que 
alguém vá pegá-la. Todos se 
desesperam para recuperar a 
valiosíssima caneta e o Albino 
sacrifica-se na lama do fundo do 
poço. As horas passam , o 
sofrimento continua e Joaquim não 
se abala, xinga, ofende, dá ordens 
irracionais. Albino se esforça num 
tormento insano e quando sai, eu 
irmão enfrenta o patrão para impedir 
que o serviço desumano continue. 
Joaquim acaba por ceder. 
 
Dois dias depois os empregados 
encontram a caneta e vão devolvê-la 
. Joaquim, sentado em seu escritório 
, examina o objeto, testa-o e percebe 
que não funciona: reclama por que 
pisaram a sua caneta jogando-a no 
lixo. De uma de suas gavetas tira 
uma caixa contendo várias lapiseiras 
e três canetas-tinteiro como aquela, 
dentre as quais uma era de ouro 
 
Este conto revela, na verdade, o 
desprezo do patrão pela vida 
humana, a qual vale menos do que 
uma caneta. Mostra-nos o quanto a 
relação de poder pode fazer com que 
as pessoas percam o seu lado 
humano e passem a tratar seus 
subordinados como “exemplares 
humanos”. Assemelha-se, essa 
narrativa, ao que o avarento senhor 
Scrooge, de Charles Dickens, faz 
com seu empregado em uma fria 
noite de natal. Esse tema da 
indiferença humana é muito caro à 
literatura e teve ainda mais força nas 
mãos de autores que aprofundaram 
a análise psicológica das 
personagens, como Machado de 
Assis. 
 
Peru de Natal 
 
A história passa-se poucos meses 
depois da morte do pai de Juca. 
Ainda sob a sombra do luto, o 
narrador tem a idéia de possibilitar 
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um pouco de alegria às suas “três 
mães”: mãe, irmã e tia (note que 
pode ser visto aqui um indício de 
complexo de Édipo). Expressa o 
desejo de comemorar o Natal com a 
degustação de um peru. 
Socialmente – não se deve esquecer 
o luto – era uma ideia que poderia 
ser reprovada, mas quem não 
curtiria um pouco de prazer na vida? 
Dessa forma, quando Juca expressa 
tal desejo, serve de válvula de 
escape para a família. Nenhuma 
delas poderia ter feito aquele pedido, 
mas o desejavam. Assim, com a 
desculpa de que estavam 
preocupadas em atender o desejo de 
um “doidinho”, embarcam na 
comemoração que também as 
satisfaz (será essa a função do 
artista: expressar o que os outros 
têm reprimido, represado?). 
 
• É quando o rapaz tem uma 
excelente jogada. De uma forma que 
pode ser entendida como hipócrita, o 
narrador lembra que a mãe tinha 
razão. Para tudo ficar perfeito, só 
faltava mesmo a presença do 
falecido, mas que onde quer que 
este estivesse, estaria contente 
vendo a família reunida. Com tal 
expediente, em pouco tempo a 
alegria retornava à mesa e todos 
voltaram a devorar o peru, enquanto 
o fantasma do pai começava a 
diminuir. 
 
Novamente temos aqui o retrato da 
família de Juca. Desta vez vemos a 
escravidão a que as relações 
familiares submetem as pessoas, 
sendo que a devoração do peru 
simboliza a destruição da figura do 
pai e, portanto, põe fim à 
escravização da mãe. Para muitos 
estudiosos da obra de Mário de 
Andrade este conto é a obra-prima 
dele em virtude do poder de síntese 
alcançado pelo autor nesta narrativa. 
 
Frederico Paciência 
 
 Novamente temos Juca como 
narrador. O único texto em que Mário 
de Andrade tematizou, ainda que de 
forma tãotangencial, o 
homossexualismo. 
 
• Pegamos Juca na fase escolar, no 
que hoje se chamaria a passagem 
da 8ª série para todo o Ensino Médio. 
Fase conturbada, dizem os 
psicanalistas, pois é nela que se 
afirma a identidade sexual, o que 
implica lembrar que é nela em que tal 
caráter está oscilante. 
 
• A maneira como Juca descreve o 
seu novo companheiro de escola, 
Frederico Paciência, destacando seu 
aspecto solar (alguns mitos 
(provavelmente Mário de Andrade, 
profundo estudioso desse assunto, 
deveria conhecê-los) narram a 
impossibilidade de relação amorosa 
entre o sol e a lua, pois nunca se 
encontram. 
 
• E por aí os dois vão, deliciando-se 
em passear abraçados da casa de 
um para a casa de outro, a ficar no 
sofá, cabeças unidas. Vivem na 
proximidade do perigo, como faz 
mademoiselle, de Atrás da Catedral 
de Ruão. Era um recalque, assim 
como o era a maneira como se 
deliciavam em discutir e se 
agredirem. Mas queriam apenas 
intuir a sensualidade, sem jogar para 
o consciente. Qualquer tentativa em 
contrário era reprimida. 
 
• Um dia, velório do pai de Frederico, 
os dois tiveram um momento mágico 
de sedução. Depois de expulsar um 
homem preocupado, como abutre, 
com negócios ligados ao 
falecimento, Juca e seu amigo vão 
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para o quarto. Frederico fica 
conversando na semi-escuridão. 
Juca perde-se admirando os lábios 
carnudos de seu amigo, deitado. 
Percebendo o lance, Frederico para 
de conversar e levanta-se da cama. 
Falta pouco, percebe-se, para os 
dois entregarem-se. 
 
• No entanto, a lembrança do pai, 
ainda sendo velado, parece impor-se 
entre os dois (semelhante à imagem 
castradora do pai de O Peru de 
Natal), esfriando completamente o 
clima. A partir de então, a amizade 
muda de rumo, perdendo a 
intensidade. 
 
• Por fim, o tanto vira nada. 
Terminado o colégio, separaram-se, 
Frederico indo para o Rio. Anos 
depois, Juca fica sabendo da morte 
da mãe de seu antigo amigo. Era a 
grande chance de reatar tudo, sob o 
pretexto de consolar o necessitado. 
Mas termina por mandar um 
telegrama formal, o que arrefece de 
vez todo o relacionamento. 
 
O conflito do conto deve-se ao fato 
de que o narrador presente a 
possibilidade de o relacionamento 
entre os dois transformar-se em 
homossexualismo, o que é insinuado 
em vários momentos na história. 
Temos aqui mais um dos “amores” 
de Juca, assim como Maria, Rose e 
Violeta. Para críticos como João Luis 
Lafetá e Werneck Sodré, este conto 
possui um tom autobiográfico, visto 
que, segundo eles, o próprio Mário 
de Andrade se denominava “um 
vulcão de complicações”, sendo sua 
luta na tentativa de sublimar a 
homossexualidade de uma delas. 
 
Nélson 
 
Registro do comportamento insólito 
de um homem sem nome. Num bar, 
um grupo de rapazes exercita seu 
"voyeurismo" pela curiosidade 
despertada pelo estranho sujeito: 
quatro relatos se acumulam, na 
tentativa de decifrar a identidade e a 
história de vida de uma pessoa que 
vive ilhada da sociedade, ruminando 
sua misantropia. 
 
• Conto muito estranho, talvez por 
ser o único que ainda não passou 
pela revisão final do autor. Marcante 
é a utilização de vários focos 
narrativos, em que há uma técnica 
cubista de colagem de várias 
histórias, todas sobre o misterioso 
personagem que frequenta o bar em 
que todos estão. 
 
O texto alterna os narradores e 
várias versões são dadas para o 
mesmo fato, revelando a existência 
vazia de alguns que se preenche 
com a fofoca e a especulação da 
vida alheia. Este é mais um dos 
temas bastante trabalhado na 
literatura, tendo sido alvo (principal 
ou secundário) de poemas de 
Gregório de Matos, bem como de 
romances como O Cortiço, de Aluízio 
de Azevedo e Os Tambores 
Silenciosos, de Josué Guimarães. 
 
Tempo de camisolinha 
 
Provavelmente seu narrador é o 
mesmo dos outros três, apesar da 
mudança de nome: Carlos. 
 
• O título é uma referência à roupa 
que o protagonista, ainda no início 
da infância, usava, típica de criança 
e que o irritava – claro sinal de que 
já estava crescendo, apesar de sua 
mãe não perceber. Nota-se que a 
criança estava no limiar de sua idade 
pelo fato de sempre estar brincando 
com seu pênis, o que, dizem os 
psicanalistas, equivale ao terceiro e 
último momento da primeira infância, 
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a fase genital. É interessante lembrar 
que esse é justamente o momento 
de socialização da criança: ou vai 
haver um direcionamentoem sua 
personalidade para o altruísmo, ou 
haverá para o egoísmo.Coincidência 
ou não, é este justamente o tema do 
conto. 
 
• A história passa-se numa rara 
viagem de férias em Santos, 
possibilitada apenas por causa de 
um período de convalescença da 
mãe do narrador (o pai do narrador 
Carlos não era afeito a esses luxos, 
o que faz lembrar o pai de Juca, de 
O Peru de Natal, reforçando a tese 
de se tratarem das mesmas 
personagens). 
 
• Em seus passeios, a criança, após 
desafiar a santa (já se disse que 
Carlos gostava de manipular seu 
pênis. Mas era sempre repreendido 
por sua mãe, sob a alegação de que 
a santa (um quadro na parede) não 
iria gostar. Nesse dia, Carlos, 
aproveitando que ninguém estava 
em casa, exibe com toda empáfia 
seu diminuto membro para a 
divindade, espantando-se por nada 
acontecer. Rompia limites. Estava 
crescendo), acaba ganhando de um 
pescador três estrelinhas do mar. O 
pobre homem havia dito, ao 
presenteá- las, que serviam para dar 
boa-sorte. O menino volta para casa 
feliz, mesmo sem saber direito o que 
era sorte, guardando as 
preciosidades no quintal de sua 
casa. Mas seu estado é tal que fica 
toda hora indo visitar seus troféus. 
 
• Até que, em outro de seus 
passeios, conhece um português 
infeliz. Fica sabendo que o sujeito 
tinha “má sorte”: muitos filhos 
pequenos, dificuldade para criá-los e 
uma esposa paralítica. O menino 
ficou penalizado. Num esforço 
enorme, volta para sua casa, pega 
suas estrelinhas e dá a mais bonita 
para o infeliz. 
 
• É o momento de dois grandes 
aprendizados. O primeiro está na 
ideia de que a nossa felicidade é 
sempre diminuída pela infelicidade 
que existe no mundo. O segundo é a 
noção de altruísmo, mesmo que para 
tanto deva diminuir seu bem-estar. 
 
Temos aqui a singela história de um 
menino que está descobrindo a si e 
ao mundo e formando o seu caráter 
que, como vemos pelo desfecho, 
pende para o lado bom. Pode-se 
dizer que esta é uma espécie de 
história de aprendizagem, porém 
sem a densidade existencial comum 
a esse tipo de texto, como vemos em 
alguns contos de Lygia Fagundes 
Telles e Clarice Lispector. 
- Juca: presente em vários contos na 
condição de narrador, parece 
funcionar como alter-ego do autor. 
- 35: o protagonista sem nome de 
“Primeiro de maio”, símbolo da festa 
e da solidariedade que se opõem ao 
estado repressivo. 
- Frederico Paciência: personagem 
do conto homônimo, síntese das 
tentativas de vencer as barreiras 
impostas pelo superego. 
- Nelson: personagem do conto 
homônimo, figuração da solidão. 
- Mademoiselle: personagem de 
“Atrás da Catedral de Ruão”, 
figuração do desejo sexual 
reprimido. 
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- trabalhadores: presentes em “O 
poço”, “Tempo da camisolinha” e 
“Primeiro de maio”, evidenciam a 
perspectiva social da literatura 
modernista. 
 
Contos de estrutura moderna, que 
acolhem as principais correntes 
ficcionistas que marcaram a 
Literatura Brasileira das décadas de 
30 e 40. Mais do que os fatos 
exteriores, os relatos procuram 
registrar o fluxo de pensamento das 
personagens. 
 
São Paulo, capital e interior, décadas 
de 20 a 40; processo de urbanização 
e industrialização (cidade); 
patriarcalismo X progressismo 
(ambiente rural). 
 
Integra-se de forma dinâmica nos 
conflitos das personagens. Por 
exemplo, em "O poço", o frio cortante 
do vento de julho, no interior paulista, 
amplifica o tratamento desumano 
que o fazendeiro Joaquim Prestes dá 
a seus empregados. 
 
 
 
Os contos podem ser classificados 
em dois grandes grupos, segundo o 
seu foco narrativo. Os de primeira 
pessoa são quatro e têm como 
protagonista o próprio narrador, 
Juca. Eles se caracterizam pela 
introspecção e pela sondagem 
psicológica, de inspiração freudiana, 
que repassa momentos significativos 
da infância ("Tempo da 
Camisolinha"), adolescência 
("Frederico Paciência") e maturidade 
do protagonista (caso de "O Peru de 
Natal", o conto mais célebre do livro, 
que trata do confronto de Juca com 
a imagem e a memória do pai morto 
e odiado). 
 
Há neles um fundo autobiográfico, 
sugerido pelo próprio Mário, que 
chega a se auto-referir no primeiro 
desses contos ("Vestida de Preto"). 
Os contos narrados em terceira 
pessoa combinam o lirismo e a 
investigação subjetiva com o 
engajamento social, que se faz 
bastante claro em "Primeiro de 
Maio", "O Ladrão" e "O Poço". 
Nesses casos, a inspiração de Mário 
é não só humanitária, mas também 
marxista, de denúncia da injustiça 
social e da patética alienação do 
trabalhador. Uma exceção nesse 
grupo é "Atrás da Catedral de Ruão", 
conto que se concentra na linha 
psicológica e retrata o drama da 
virgindade de Mademoiselle, uma 
professora de francês de 43 anos. 
Mário usou no texto muitas 
expressões nesse idioma, que serve 
curiosamente como um código 
cifrado e disfarça, afinal, muito do 
pudor do escritor. 
 
Os Contos Novos têm sido 
apreciados por razões diversas, que 
vão da facilidade de sua leitura, do 
realismo e da dicção coloquial das 
narrativas, ao interesse ou à simples 
curiosidade pela biografia e pelos 
processos de composição de Mário. 
O conjunto dos contos é porém muito 
desigual, e eles não se incluem entre 
os melhores momentos da prosa do 
escritor, que estão em "Belazarte" e 
"Macunaíma". Na verdade, os 
Contos Novos parecem voltados à 
defesa de uma estranha tese. 
 
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O escritor afirmou, certa vez, que a 
psicologia de um homem simples, 
"do povo", era no fundo mais 
complexa do que a de um 
personagem de Proust, o grande 
autor de "Em Busca do Tempo 
Perdido". Apesar do empenho de 
Mário de Andrade, a demonstração 
literária de sua tese é bem pouco 
convincente. 
 
 
 
O traço comum aos contos narrados 
em primeira pessoa é a presença de 
um mesmo narrador, Juca. Sua 
personalidade é formada a partir de 
experiências marcantes de rejeição 
e luta contra a repressão. Das 
primeiras, destaca-se a relação 
adolescente com a prima Maria de 
“Vestida de preto”. Das segundas, 
mais marcantes, os exemplos se 
sucedem. Entre as imagens da 
repressão, ganha destaque a figura 
paterna, que aparece em “Tempo da 
camisolinha” obrigando o narrador a 
podar as madeixas – alegoria 
simples da castração. 
Em “Peru de natal”, o pai, já morto, 
ainda representa a instância capaz 
de anular a celebração e a liberdade. 
A fama de louco que Juca adquire 
com o tempo é uma reação ao rigor 
familiar e superá-lo representa a 
deglutição paterna de que trata 
Freud. 
 
A oposição entre prazer e repressão, 
no entanto, nem sempre tem final 
feliz: a relação com Frederico 
Paciência termina sem conclusão e 
sem nome porque as barreiras 
sociais e psicológicas são fortes 
demais para Juca. Mas o desejo de 
libertação pode também ter 
fornecido as bases para a estética 
não convencional que o narrador 
manifesta nos contos em sua 
linguagem marcada pela oralidade. 
Nos contos narrados em terceira 
pessoa, duas imagens sobressaem: 
de um lado, a solidão; de outro, a 
solidariedade. 
 
Solitário é Nelson, do conto 
homônimo, cuja identidade se limita 
ao título, já que no corpo da narrativa 
ele não tem nome e nem sequer uma 
história precisa. Sua condição se 
acentua no interesse sádico e 
desrespeitoso demonstrado pelos 
rapazes que comentam sua vida, tão 
passageiro quanto a comunhão 
provocada pela correria de “O 
ladrão”, depois da qual cada 
morador retorna ao seu insulamento, 
reforçando a solidão. Note-se, aliás, 
que neste último conto o ladrão que 
lhe dá título não é sequer visto – 
marca de uma marginalização 
contundente. Solitária é ainda a 
Mademoiselle de “Atrás da Catedral 
de Ruão”, envolvida em suas 
fantasias sexuais e seus desejos 
contidos. 
 
Por outro lado, a solidariedade se 
manifesta no universo do trabalho na 
união dos empregados de “O poço”, 
que enfrentam o fazendeiro – 
imagem acabada doautoritarismo 
paternalista e do desprezo elitista 
pela vida humana. E também na 
trajetória de 35, o protagonista de 
“Primeiro de maio” que faz da 
celebração da data uma forma de 
oposição ao oficialismo – demarcado 
no conto pela presença de policiais 
pelas ruas de São Paulo, 
representativa da opressão da 
ditadura Vargas. O 35 busca 
escapar, assim, de um trabalho 
alienante para o qual a única saída 
parece ser a solidariedade, evidente 
em seu gesto final de auxílio ao 
colega idoso. 
 
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O Modernismo é o grande pano de 
fundo de Contos Novos. A Semana 
de Arte Moderna de 1922 havia 
instaurado um tempo de agitação 
cultural no país. A palavra de ordem 
era mudar, experimentar formas, 
transformar a linguagem, 
transfigurá-la. Quase toda a 
produção cultural da época tinha 
esse caráter. 
 
Mário de Andrade embarcou nessa 
movimentação, brincou com formas 
linguísticas com a estrutura 
narrativa, com a construção de 
personagens como Macunaíma, "o 
herói sem caráter". Entretanto, não 
sucumbiu ao frenesi novidadeiro do 
primeiro momento do Modernismo. 
Preocupou-se com a pesquisa 
(folclórica e antropológica), com a 
construção de teorias, com a 
reflexão sobre os problemas 
brasileiros. Seu farto epistolário (um 
dos mais ricos entre autores 
brasileiros) confirma essa 
preocupação. 
 
Obs: O movimento Pau-Brasil de 
1924, o Verde-Amarelismo de Plínio 
Salgado de 1926 e, mais tarde, a 
Antropofagia de Oswald de Andrade, 
além de uma série de correntes de 
produção literária, pictórica, 
dramática, musical, arquitetônica e 
mesmo de comportamentos sociais 
tinham em comum a criação de um 
espírito mais brasileiro, menos 
"importado", menos copiado dos 
modelos europeus. 
 
 
 Em "Primeiro de Maio" e "O Poço", 
a temática social aparece de forma 
mais contundente. Trabalhadores 
honestos vivem situações de 
opressão acintosas e vão 
descobrindo-se impotentes diante 
dela. Em "Vestida de Preto", 
algumas passagens que constroem 
o pano de fundo do conto revelam 
esse dilema: 
 
"Aliás, um caso recente vinha se 
juntar ao insulto pra decidir de minha 
sorte. Nós seríamos até pobretões, 
comparando com a família de Maria, 
gente que até viajava na Europa. 
Pois pouco antes, os pais tinham 
feito um papel bem indecente, se 
opondo ao casamento duma filha 
com um rapaz diz-que pobre mas 
ótimo. Houvera rompimento de 
amizade, mal-estar na parentagem 
toda, o caso virara escândalo 
mastigado e remastigado nos 
comentários de hora de jantar. Tudo 
por causa do dinheiro." 
 
 
 O mesmo ocorre em "Tempo da 
Camisolinha": 
"O operário primeiro deu de ombros, 
português, bruto, bárbaro, longe de 
consentir na carícia da minha 
pergunta infantil. Mas estava com 
uns olhos tão tristes, o bigode caía 
tanto, desolado, que insisti no meu 
carinho e perguntei mais outra vez o 
que ele tinha. 'Má sorte' ele 
resmungou, mais a si mesmo que a 
mim." 
 
• Nos outros contos, embora essas 
características também estejam 
presentes, o que está focalizado é o 
cotidiano medíocre, muitas vezes 
patético, dos grupos sociais menos 
favorecidos. 
 
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 • Em "O Ladrão", típicos 
personagens de bairro encontram-se 
e unem-se na perseguição de um 
ladrão que sequer existe. Esse 
acontecimento altera suas rotinas, 
proporcionando-lhes um momento 
de reunião festiva. 
 
 • Em "Atrás da Catedral de Ruão", o 
personagem central – uma solitária 
imigrante que precisa trabalhar 
como preceptora para manter seu 
humilde padrão de vida – contrasta 
com os outros personagens a quem 
ela presta serviços, componentes de 
uma rica família, metida na política e 
em viagens pela Europa. 
 
 • Em "O Peru de Natal", a família 
classe-média prepara e consuma a 
ceia de Natal, unida e emocionada. 
 
• Em "Frederico Paciência", os dois 
amigos pertencem a grupos 
socioeconômicos diferentes – o que 
incomoda muito o narrador-
personagem, pois é a sua família 
que tem menos posses. 
 
• Em "Nelson", pessoas simples se 
reúnem para beber e falar da vida 
dos outros, pois esse é seu único 
lazer. 
 
Os cenários não são 
necessariamente brasileiros. São 
ruas, cidades, casas ou ambientes 
de trabalho que servem de palco 
para o que realmente interessa: as 
relações humanas que ali se 
estabelecem e que delineiam a 
progressão das tramas. 
 
• Os contos falam das angústias, das 
conquistas fugazes, dos dissabores 
que a existência humana prova. 
 
• Acontecimentos prosaicos, que 
poderiam passar despercebidos, são 
redimensionados, ganham vulto e 
têm muita importância. 
 
• Os estudos psicanalíticos do autor 
aparecem nas entrelinhas, nas 
ações e nos desejos dos 
personagens, dando-lhes uma nova 
dimensão. 
 
• As influências religiosas também 
estão presentes nos contos. Trata-
se de um universo de símbolos 
cristãos que faziam parte da vida do 
autor e da sociedade brasileira 
daquela época. 
 
 
 
1) O peru de Natal 
 
O nosso primeiro Natal de família, 
depois da morte de meu pai 
acontecida cinco meses antes, foi de 
consequências decisivas para a 
felicidade familiar. Nós sempre 
fôramos familiarmente felizes, nesse 
sentido muito abstrato da felicidade: 
gente honesta, sem crimes, Iar sem 
brigas internas nem graves 
dificuldades econômicas. Mas, 
devido principalmente à natureza 
cinzenta de meu pai, ser desprovido 
de qualquer lirismo, duma 
exemplaridade incapaz, acolchoado 
no medíocre, sempre nos faltara 
aquele aproveitamento da vida, 
aquele gosto pelas felicidades 
materiais, um vinho bom, uma 
estação de águas, aquisição de 
geladeira, coisas assim. Meu pai fora 
de um bom errado, quase dramático, 
o puro-sangue dos desmancha-
prazeres. 
ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores 
contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000. 
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[Fragmento] 
 
 
No fragmento do conto de Mário de 
Andrade, o tom confessional do 
narrador em primeira pessoa revela 
uma 
concepção das relações humanas 
marcada por 
 
A. distanciamento de estados de 
espírito acentuado pelo papel das 
gerações. 
B. relevância dos festejos religiosos 
em família na sociedade moderna. 
C. preocupação econômica em uma 
sociedade urbana em crise. 
D. consumo de bens materiais por 
parte de jovens, adultos e idosos. 
E. pesar e reação de luto diante da 
morte de um familiar querido. 
 
 
2) UNICAMP Os trecho a seguir foi 
extraído do conto FREDERICO 
PACIÊNCIA, do livro Contos Novos, 
de Mário de Andrade. 
‘’(…) a mãe de Frederico Paciência 
morrera. (…) É indizível o alvoroço 
em que estourei, foi um 
deslumbramento, explodiu em mim 
uma esperança fantástica, fiquei tão 
atordoado que saí andando solto 
pela rua. (…) A mãe de Rico, que me 
importava a mãe de Frederico 
Paciência! E o que é mais terrível de 
imaginar: mas nem a ele o 
sofrimento inegável lhe importava: a 
morte lhe impusera o desejo de mim. 
Nós nos amávamos sobre 
cadáveres.’’ 
a) A que passagem do conto refere-
se Juca quando afirma: “Nós nos 
amávamos sobre cadáveres”? 
 
 
 
b) Qual a importância da passagem 
citada, e daquela que você 
identificou ao responder ao item a, 
acima, para compreender o 
desenvolvimento da amizade entre 
Juca e Frederico Paciência? 
 
 
 
 
 
 
3) FUVEST ‘’Tinha piedade, tinha 
amor, tinha fraternidade, e era só. 
Era uma sarça ardente mas era 
sentimento só. Um sentimento 
profundíssimo, queimando, 
maravilhoso, mas desamparado, 
mas desamparado.’’ 
(Mário de Andrade, CONTOS NOVOS) 
 
No fragmento acima, do conto 
“Primeiro de Maio”, o narrador 
refere-se à personagem principal, o 
“35” e aos sentimentos deste. 
 
a) Identifique e explique 
sucintamente o recurso de estilo que 
predomina na composição do 
fragmento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
b) Contextualize esse fragmento, 
explicando brevemente a relação 
que existe entre os sentimentos da 
personagem,aí referidos, e a 
experiência que ela vive no conto. 
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4) USC 2012 Leia os fragmentos do 
conto “Primeiro de Maio”, do livro 
Contos Novos, de Mário de Andrade. 
 
No grande dia Primeiro de Maio, não 
eram bem seis horas e já o 35 pulara 
da cama, afobado. Estava bem 
disposto, até alegre, ele bem 
afirmara aos companheiros da 
Estação da Luz que queria celebrar 
e havia de celebrar. (p. 35) 
(...) Deu um ódio tal no 35, um 
desespero tamanho, passava um 
bonde, correu, tomou o bonde sem 
se despedir do 486, com ódio do 
486, com ódio do primeiro de maio, 
quase com ódio de viver. (p. 41) 
 
(ANDRADE, Mário. Contos novos. 17. ed. Belo 
Horizonte, Rio de Janeiro: Itatiaia, 1999.) 
 
Em relação a essa narrativa, 
considere as seguintes afirmações. 
 
I -No início do conto, o 35 está 
eufórico porque é Primeiro de Maio e 
ele organizará uma grande festa 
em homenagem aos trabalhadores. 
 
II- O protagonista, ao longo da 
narrativa, vai se decepcionando e 
retorna para casa cansado, sem 
voltar ao trabalho. 
 
III- No fragmento em questão, a 
mudança no registro ortográfico da 
expressão primeiro de maio sugere 
uma modificação da personagem 
principal em relação a seu 
sentimento sobre essa data. 
Das afirmativas acima, pode-se dizer 
que 
 
a) apenas I está correta. 
b) apenas III está correta. 
c) apenas II e III estão corretas. 
d) apenas I e III estão corretas. 
e) I, II e III estão corretas. 
 
 
5) São características da linguagem 
de Mário de Andrade, exceto: 
 
a) Mário de Andrade empenhou-se 
em criar a “Língua Brasileira”. Tal 
missão faz parte do projeto 
nacionalista de Mário, no qual a 
língua literária seria um importante 
critério de brasilidade. 
 
b) Para Mário, a língua é um fator de 
identidade da nacionalidade, 
importante instrumento de unificação 
cultural. O projeto de nacionalizar a 
linguagem pode ser percebida em 
seus contos e em uma de suas mais 
importantes obras, Macunaíma. 
c) Mário propôs uma nova linguagem 
poética, baseada no verso livre, nas 
rupturas sintáticas, nos flashes 
cinematográficos, nos neologismos, 
na elisão e na fragmentação. 
 
d) Por meio de uma linguagem 
debochada, irônica e crítica, Mário 
satirizava os meios acadêmicos e 
também a burguesia, estabelecendo 
uma profunda ruptura em relação à 
cultura do passado. 
 
 
6) UEL 2021 Leia o trecho retirado 
da obra Contos novos, de Mário de 
Andrade, e responda às questões 
de 6 a 9 
Estou lutando desde o princípio 
destas explicações sobre a 
desagregação da nossa amizade, 
contra uma razão que me pareceu 
inventada enquanto escrevia, para 
sutilizar psicologicamente o conto. 
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Mas agora não resisto mais. Está me 
parecendo que entre as causas mais 
insabidas, tinha também uma 
espécie de despeito desprezador de 
um pelo outro... Se no começo 
invejei a beleza física, a simpatia, a 
perfeição espiritual normalíssima de 
Frederico Paciência, e até agora 
sinto saudades de tudo isso, é certo 
que essa inveja abandonou muito 
cedo qualquer aspiração de ser 
exatamente igual ao meu amigo. Foi 
curtíssimo, uns três meses, o tempo 
em que tentei imitá-lo. Depois 
desisti, com muito propósito. E não 
era porque eu conseguisse me 
reconhecer na impossibilidade 
completa de imitá-lo, mas porque eu, 
sinceramente, sabei-me lá por quê! 
Não desejava mais ser um Frederico 
Paciência! 
ANDRADE, Mário de. Frederico Paciência. In: Contos 
novos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. p. 111-
112. 
Com base no trecho e na leitura 
integral do conto “Frederico 
Paciência”, considere as afirmativas 
a seguir. 
 
I. O traço modernista no conto 
acentua-se no trecho porque 
inexistem maledicências e 
preconceitos quanto ao 
relacionamento homossexual entre 
Juca e Frederico nessa passagem e 
em outras do conto. 
 
II. A descoberta da 
homossexualidade de Frederico é o 
motivo secreto que Juca, no 
propósito de resguardar o amigo, 
demora a revelar no trecho, o que 
também o leva a desmanchar a 
relação de amizade, já 
comprometida naquele momento. 
 
III. A ideia de desagregação da 
amizade entre Frederico e Juca 
requer explicações porque os laços 
anteriormente expostos no conto são 
fortes até mesmo para provocar 
brigas violentas entre cada um deles 
e um colega. 
 
IV. O desejo de deixar de imitar 
Frederico remete a um movimento 
deliberado de afastar-se da 
“perfeição espiritual” do amigo, o que 
está em sintonia com o perfil 
modernista de caracterização de 
personagens. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
a) Somente as afirmativas I e II são 
corretas. 
 
b) Somente as afirmativas I e IV são 
corretas. 
 
c) Somente as afirmativas III e IV são 
corretas. 
 
d) Somente as afirmativas I, II e III 
são corretas. 
 
e) Somente as afirmativas II, III e IV 
são corretas. 
 
 
7) A morte ronda o conto “Frederico 
Paciência”, assim como o conto “O 
peru de Natal”, também incluído em 
Contos novos. Assinale a alternativa 
que apresenta, corretamente, o 
modo como a morte é abordada 
nesses contos. 
 
a) Tanto em “O peru de Natal” 
quanto em “Frederico Paciência” as 
mortes dos pais ocorrem no início 
das narrativas, sem causar grande 
comoção nas personagens que se 
tornaram órfãs. 
 
b) Em “O peru de Natal”, o pai já está 
morto no início da narrativa, 
enquanto que, em “Frederico 
Paciência”, a morte dos pais de 
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Frederico ocorre na segunda metade 
do conto; em ambos os contos, o 
narrador-personagem discorre sobre 
essas mortes sem grande 
sentimentalismo. 
 
c) Em “O peru de Natal”, o pai morto 
proporciona a possibilidade de 
transformar a vida familiar, ao passo 
que, em “Frederico Paciência”, a 
morte dos pais de Frederico suscita 
a liberdade de assumir o 
envolvimento amoroso e sexual, 
usufruído pelos amigos. 
 
d) Em “O peru de Natal”, o filho, que 
é também narrador, demonstra 
enormes dificuldades para superar o 
luto; já Frederico Paciência 
desvencilha-se da dor com mais 
facilidade e convida Juca para que 
ambos vivam a homossexualidade 
sem disfarces. 
 
e) Em “O peru de Natal”, a morte do 
pai é superada na ceia pelos 
familiares; em “Frederico Paciência”, 
a morte da mãe e do pai firma-se 
como obstáculo decisivo para a 
retomada do amor entre os amigos. 
 
 
8) Sobre as correlações entre o 
conto “Frederico Paciência”, do 
volume Contos novos, de Mário de 
Andrade, e Clara dos Anjos, de Lima 
Barreto, considere as afirmativas a 
seguir. 
 
I. O trecho do conto “Frederico 
Paciência” faz sobressair um ponto 
de contato com Clara dos Anjos: a 
desilusão, representada, na 
narrativa de Lima Barreto, pelo 
desmascaramento de Cassi Jones, 
e, no conto de Mário de Andrade, 
pelas descobertas de deslizes na 
constituição moral do amigo do 
narrador-personagem. 
 
II. O trecho do conto “Frederico 
Paciência” contém confissões da 
fragilidade de seu narrador-
protagonista, que admite suas 
mentiras e invenções sobre o amigo, 
assim como Clara dos Anjos, que se 
descontrola ao se ver ludibriada por 
Cassi Jones no desfecho da 
narrativa de Lima Barreto, apesar de 
tê-lo enganado também. 
 
III. O trecho do conto “Frederico 
Paciência”, ao aludir à beleza física 
do amigo, admitida literalmente pelo 
narrador em primeira pessoa, 
mantém na narrativa a atração e o 
contato corporal entre os jovens, 
materializados no episódio do beijo, 
e que, em Clara dos Anjos, resultam 
na gravidez da protagonista. 
 
IV. O trecho do conto “Frederico 
Paciência” cobre uma relação 
complexa de amizade entre dois 
jovens, apresentada pela 
perspectiva de um dos rapazes, mais 
livre das vulnerabilidades 
sentimentais do que Clara dos 
Anjos na narrativa homônima de 
Lima Barreto. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
a) Somente as afirmativas I e II são 
corretas. 
 
b) Somente as afirmativas I e IV são 
corretas. 
 
c) Somenteas afirmativas III e IV são 
corretas. 
 
d) Somente as afirmativas I, II e III 
são corretas. 
 
 
9) FUVEST “Se em ambos os contos 
a dominação social é tema de 
primeiro plano, cabe, no entanto, 
fazer uma DISTINÇÃO: em um 
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deles, ela é direta, e aparece sob a 
forma do capricho e do arbítrio 
patronais; já em outro, ela é mais 
moderna – torna-se indireta e 
anônima.” 
A distinção realizada nesta 
afirmação refere-se, 
RESPECTIVAMENTE, aos 
seguintes contos de Mário de 
Andrade (“Contos novos”): 
 
a) “Nelson” e “O poço”. 
b) “O ladrão” e “O poço”. 
c) “O ladrão” e “Nelson”. 
d) “O poço” e “Primeiro de maio” 
e) “Primeiro de maio” e “O ladrão”. 
 
 
10) UNEMAT Em uma narrativa de 
Mário de Andrade, que compõe a 
coletânea Contos novos, um ex 
fazendeiro do interior de Mato 
Grosso chama a atenção pela 
deformidade de parte do braço 
devorada por piranhas. 
Assinale a alternativa em que o 
conto corresponde ao caso citado: 
a) O poço. 
b) O peru de natal. 
c) Frederico Paciência. 
d) Nelson. 
e) Tempo da camisolinha 
 
 
 
1) É possível identificar que no conto 
de Mário de Andrade, o narrador e 
personagem principal tenta lidar com 
a morte do seu querido e ranzinza 
pai, durante a noite de Natal (item E). 
No texto em questão, é possível 
determinar que o narrador está 
sofrendo por dentro, pois o seu pai, 
apesar da figura que não era muito 
carinhosa ou envolvida com o Natal 
e os bons sentimentos que rondam 
esta data era presente. 
A falta da sua presença na noite da 
ceia foi algo que todos que estavam 
por ali perceberam. O pai do 
narrador é visto como um 
"desmancha-prazeres", porém, 
muito querido. 
2) a) À passagem da morte do pai de 
Frederico. 
b) A amizade entre os dois surge e 
se fortalece diante da necessidade 
de consolo gerada pelas mortes. 
3) a) Há repetições que inicia três 
orações pelo verbo TER, conhecidas 
por ANÁFORA. Ou elementos finais 
como SÓ, que marca a EPÍSTROFE. 
 
b) O personagem “35” tem a 
esperança de que no Dia do 
Trabalho haja uma confraternização 
proletária; por outro lado, há o 
Estado Novo oprimindo qualquer 
movimento, menos a que acontecia 
no Palácio das Indústrias. 
 
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4) I - INCORRETA O 35 não irá 
organizar uma festa, mas sim 
comemorar o dia primeiro de maio 
II - INCORRETA Embora o 35, 
realmente, se decepcione, ele acaba 
voltando para a estação, a fim de 
trabalhar. 
III - CORRETA O posicionamento de 
35, ao acordar, é totalmente 
diferente da posição que ele irá 
tomar ao longo do conto. 
5) Alternativa D 
As características descritas na 
alternativa dizem respeito ao escritor 
Oswald de Andrade, que, ao lado de 
Mário e Manuel Bandeira, formou a 
conhecida tríade modernista. Mário 
propôs a criação de uma língua 
brasileira que romperia com a língua 
portuguesa. Entretanto, uma de suas 
principais características era a 
serenidade, visto que discordava da 
postura destruidora defendida por 
Oswald e defendia que o passado 
deveria ser revisitado, e não 
radicalmente negado. 
 
 
6) Alternativa C 
Existem rumores de vínculo 
homossexual entre Juca e Frederico 
que chegam, inclusive, a causar 
brigas físicas em passagens do 
conto. Não se trata de desmanchar a 
amizade o que está envolvido no 
trecho. 
7) Alternativa B 
As mortes em “Frederico Paciência” 
não ocorrem no início do conto, mas 
na 2ª metade da narrativa. A 
liberdade de assumir o envolvimento 
amoroso e sexual não é usufruída 
pelas personagens. O filho, em “O 
peru de Natal”, não demonstra 
dificuldade para superar o luto, o que 
ocorre com Frederico Paciência. As 
mortes dos pais em “Frederico 
Paciência” não constituem em si 
obstáculos para a realização 
amorosa dos amigos. 
8) Alternativa C 
Não há, no conto, descobertas de 
deslizes morais de Frederico 
Paciência. Clara dos Anjos não 
engana Cassi Jones no romance de 
Lima Barreto. 
9) Alternativa D 
 
No conto “O Poço”, a dominação 
social é direta, aparece sob a forma 
do capricho e do arbítrio, pois 
Joaquim Prestes exige que seus 
empregados encontrem a caneta 
que ele deixou cair no poço. Em 
“Primeiro de Maio”, o carregador de 
malas da estação da luz, o “35”, 
percorre pontos da cidade de São 
Paulo, buscando reconhecimento e 
solidariedade, mas só encontra 
comemorações oficiais, distantes do 
que esperava. É interessante notar 
que o protagonista é apenas referido 
como 35, sendo denominado pela 
função que exerce 
 
 
10) Alternativa D 
 
Como dito na análise do conto em 
páginas anteriores: ‘’Em um bar, 
alguns amigos conversam. De 
repente, entra um sujeito estranho 
que passa a ser alvo dos 
comentários do grupo. Um deles, 
Alfredo, afirma conhecer toda a sua 
história. Trata-se de um ex-
fazendeiro do Mato Grosso...’’ 
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