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S é r i e C u r s o d e R a d i o l o g i a tECNOLOGIA RADIOLÓGICA e DIAGNÓSTICO POR IMAGEM Almir Inacio da Nobrega Organizador Volume 4 RADIOLOGIA - OUTRAS APLICAÇÕES do - ro - us - mn - rt - rv - ri Difusão Editora guia para ensino e aprendizado Recomendada para Concursos Públicos QR-Code de imagens anatômicas Acesso ao aplicativo Educação Facilitada para Todos, com material adicional Disponível para dispositivos com Android e iOS Tecnologia radiológica e diagnóstico por imagem guia para ensino e aprendizado Tecnologia radiológica e diagnóstico por imagem volume 4 RADIOLOGIA - OUTRAS APLICAÇÕES 7ª Edição do - ro - us - mn - rt - rv - ri Difusão Editora Almir Inacio da Nobrega organizador autores Aimar Aparecida Lopes Alessandra das Dores Marcicano Alex Cosentino de Almeida Amaury de Castro Junior Anderson Fernandes de Moraes Edeilson Salomão dos Santos Gisela André Paganini Gisele Corrêa Zulliani Jean Randal Rodrigues Castro Maria de Fátima A. A. Lage Milton Kolber Phillip Patrick Dmitruk Ricardo Andreucci São Caetano do Sul, SP - 2018 guia para ensino e aprendizado A responsabilidade civil ou criminal pelos procedimentos técnicos em Radiologia, bem como todas as informações contidas nos capítulos desta obra, são de encargo dos autores. A editora e o organizador desta série não se responsabilizam pelos erros ou omissões, nem por eventuais consequências da aplicação incorreta das informações contidas nos quatro volumes desta obra. Av. Sen. Roberto Simonsen, 743 – São Caetano do Sul – SP – CEP 09530-401 E-mail: difusao@difusaoeditora.com.br – www.difusaoeditora.com.br Fone/fax: (11) 4227-9400 Copyright © 2018. Difusão Editora. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo que parcial, por qualquer meio e processo, sem a prévia autorizacão escrita da Difusão Editora. Volume 4 ISBN: 978-85-7808-433-2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Tecnologia radiológica e diagnóstico por imagem [livro eletrônico] : guia para ensino e aprendizado : volume 4 / organização Almir Inacio da Nobrega, organizador. -- 7. ed. -- São Caetano do Sul, SP : Difusão Editora, 2019. -- (Série curso de radiologia) - 22,4Mb. Obra em 4 v. Vários autores. Ed. em e-book baseada na ed. impressa de 2018. Bibliografia. ISBN 978-85-7808-433-2 1. Radiologia médica I. Nobrega, Almir Inacio da. II. Série. Índices para catálogo sistemático: 1. Radiologia e diagnóstico por imagem : Bases físicas : Medicina 616.0757 Maria Paula C. Riyuzo – Bibliotecária – CRB-8/7639 19-28734 CDD-616.0757 Há pouco mais de 100 anos o professor Wilhelm Conrad Röentgen descobriu os raios X. Essa forma de energia foi tão importante para a humanidade que, logo após seu surgimento, passou a ser utilizada em todos os continentes, em uma época em que a globalização não existia nem mesmo em dicionários. Desde então, a Medicina passou a contar com uma poderosíssima ferramenta de diagnóstico por imagem e, assim, o corpo humano se tornou transparente e, por con- sequência, menos misterioso. Com o desenvolvimento da Radiologia, outras formas de energia passaram a ser utilizadas com o propósito de obter imagens e realizar terapias por radiações, sendo incorporadas a diversos segmentos da sociedade. A área da saúde é, sem dúvida, aquela em que encontramos a maior aplicação dos métodos de diagnósticos, com destaque para o radiodiagnóstico médico, odontológi- co e de medicina veterinária. O uso das radiações em terapia pode ser observado nas áreas de radioterapia e de medicina nuclear. Na área industrial, as radiações ionizantes e ultrassons têm sido utilizados nos processos produtivos, de controle da qualidade e em diversos mecanismos de resposta em automação industrial. Outras aplicações das radiações podem ser encontradas na irradiação de alimen- tos, esterilização de materiais, processos de polimerização de produtos, perfilagem e cimentação de poços de petróleo e como ferramenta auxiliar nos processos de segurança de produtos e de pessoas em portos, aeroportos, órgãos públicos e ins- tituições de fronteira. 5 Apresentação Compilar todas as informações desse grandioso universo está fora do escopo desta coleção. No entanto, abordar em cada área do diagnóstico as principais técnicas, de forma atualizada, e as principais tendências em cada segmento foi o propósito que norteou a construção desta obra. Conseguimos, assim, reunir profissionais altamente qualificados que se esmeraram para apresentar o que julgaram mais significativo em suas respectivas áreas, a partir das experiências pessoais obtidas no campo de trabalho e em atividades de docência. Como resultado deste árduo, mas gratificante trabalho, conseguimos concluir Tecnologia Radiológica e Diagnóstico por Imagem. Uma obra atual, abrangente e, por seu conteúdo, indispensável para quem se inicia nesta área do diagnóstico. É destinada também aos profissionais que já atuam neste segmento, seja como fonte de pesquisa, seja para aprimoramento das técnicas mais utilizadas. Eventuais desacertos podem estar presentes nesta obra. Agradecemos de antemão toda crítica, sugestão e contribuição que possa melhorar o conteúdo da coleção. Tecnologia Radiológica e Diagnóstico por Imagem vem definitivamente preencher uma enorme lacuna na área das técnicas em diagnóstico por imagem e de terapias por radiação. Sua leitura e consulta se tornam, portanto, indispensáveis para todos quan- tos desejam se aprofundar nesta área do conhecimento. Almir Inacio da Nobrega Organizador 6 Apresentação Almir Inacio da Nobrega é mestre em Engenharia Biomédica, especialista em Fisiologia Humana. Também é bacharel e licenciado em Biologia e técnico em Radiologia. Professor de Radiologia Digital, Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética no Centro Universitário São Camilo, SP e na Faculdade Método de São Paulo, SP. Autor do Manual de Técnicas Radiológicas publicado pela Difusão Editora. Dados do Organizador Prefácio As técnicas radiológicas e de obtenção de diagnósticos por imagem vêm sofrendo grandes transformações. Surgem, a cada dia, novas tecnologias e, com elas, novos equipamentos, novos desafios. Neste contexto, é preciso destacar a figura dos profis- sionais que, ao lado dos médicos radiologistas, têm a responsabilidade de operar essas máquinas, extraindo delas o que de melhor podem oferecer, numa busca incansável pela qualidade das imagens e, em consequência, pelo benefício do paciente. Os profissionais que atuam na área das técnicas radiológicas e de diagnósticos por imagem podem, a partir de agora, contar com uma valiosa colaboração. A coleção Tecnologia Radiológica e Diagnóstico por Imagem, organizada por Almir Inacio da Nobrega, profissional das técnicas radiológicas, também biólogo e professor, abrange um grande universo da tecnologia empregada nesta área e não para por aí. Explora ainda conteúdos ligados às ciências radiológicas, à formação básica dos profis- sionais e, de forma surpreendente, ao uso das técnicas radiológicas na área industrial. Tem ainda outras grandes virtudes. É uma obra elaborada por autores nacionais, profissionais ligados à área da Radiologia, muitos dos quais, docentes de técnicas ra- diológicas e tecnologia em instituições de ensino médio e superior. Por tudo isso e pela obstinação de seu organizador em construir uma obra reu- nindo profissionais renomados e de experiência em suas respectivas áreas, estamos certos de que este material não só será de fundamental importância para aqueles que escolheram o exercício das técnicas radiológicas como profissão, mas também servirá como uma rica fonte de consulta para outros profissionais. Dr. Fernando Alves Moreira Presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) – Gestão 2005 – 2008. 7 A Difusão Editora informa que a coleção Tecnologia Radiológica e Diagnóstico por Imagem tem um perfil de modernidade. Poressa razão, posicionamentos em desuso, como os substituídos por outras técnicas (US, TC e RM), não estão contemplados na obra que aborda a realidade praticada nos centros de diagnósticos por imagem de todo o País. Nota do editor VOLUME 4 CAPÍTULO 1 – Imagem por Ressonância Magnética .................................... 15 1. Princípios de Imagem por Ressonância Magnética (IRM) .................................... 17 2. Segurança em RMN ............................................................................................. 25 3. Tecnologia em RMN ............................................................................................ 27 4. O exame de imagem por ressonância magnética ................................................ 29 Exames por ressonância magnética ..................................................................... 31 RM do encéfalo ............................................................................................ 31 Outros exames de RM do crânio ........................................................................ 36 Mastoide ........................................................................................................ 36 Hipófise ......................................................................................................... 36 Órbita ............................................................................................................ 37 ATM (articulação temporomandibular) ......................................................... 37 RM do plexo braquial .................................................................................... 38 RM da coluna ................................................................................................. 39 RM da coluna cervical .................................................................................... 39 RM da coluna torácica ................................................................................... 41 RM de coluna lombar .................................................................................... 41 Articulação sacroilíaca ................................................................................... 42 RM do sistema musculoesquelético .............................................................. 42 RM do quadril ................................................................................................ 43 RM do joelho ................................................................................................. 44 Artro-RM do joelho ....................................................................................... 45 RM do tornozelo ........................................................................................... 46 Artro-RM do tornozelo ................................................................................. 47 9 Sumário RM do retropé e médio pé ........................................................................... 47 RM do antepé ................................................................................................ 47 RM de MMSS-MMII (coxas, pernas, braço e antebraço) ............................... 47 RM da região esternoclavicular ..................................................................... 48 RM do ombro ................................................................................................ 49 Artro-RM do ombro...................................................................................... 50 RM do cotovelo ............................................................................................. 50 RM do punho ................................................................................................. 51 Artro-RM do punho ...................................................................................... 53 RM do abdome superior ............................................................................... 53 RM de pelve (masculina) ............................................................................... 55 RM de pelve (feminina) ................................................................................. 56 Colangiorressonância .................................................................................... 57 Urorressonância ............................................................................................ 58 RM Tórax ...................................................................................................... 59 RM Mama ...................................................................................................... 60 5. Ressonância Magnética Cardíaca ................................................................... 61 Referências .......................................................................................................... 72 CAPÍTULO 2 – Angiografia por subtração digital ......................................... 75 1. Introdução ..................................................................................................... 77 2. Método .......................................................................................................... 78 3. Técnica .......................................................................................................... 78 4. Equipamento de ASD .................................................................................... 79 5. O exame de hemodinâmica .......................................................................... 80 6. Principais patologias abordadas em hemodinâmica ....................................... 81 7. Exames com finalidade diagnóstica ............................................................... 82 8. Exames com finalidade terapêutica ............................................................... 83 9. Tratamento das imagens digitais .................................................................... 85 10. Protocolos ..................................................................................................... 88 Referências .......................................................................................................... 93 CAPÍTULO 3 – Densitometria óssea ............................................................. 95 1. Introdução ..................................................................................................... 97 2. Histórico........................................................................................................ 98 3. Osteoporose ................................................................................................. 98 10 Sumário 4. Método de obtenção de imagem na investigação da densidade óssea ........ 101 5. Composição dos equipamentos de densitometria óssea ............................ 103 6. Princípios básicos de um densitômetro ....................................................... 104 7. Iniciando o exame ....................................................................................... 108 8. Protocolos de posicionamento .................................................................... 108 9. Diagnóstico e análise do exame .................................................................. 113 10. Contraindicações do exame de densitometria óssea .................................. 115 11. Proteção radiológica .................................................................................... 115 12. Ultrassonometria......................................................................................... 116 13. Imagenologia na densitometria óssea .......................................................... 116 Anexo I – Posições oficiais 2006 ........................................................................ 118 Referências ........................................................................................................ 127 CAPÍTULO 4 – Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais ................................................................129 1. Introdução ................................................................................................... 131 2. Anatomia em Radiografias Odontológicas ................................................... 138 3. Características da Radiologia Odontológica ................................................ 144 4. Técnicas Radiográficas na Odontologia ....................................................... 145 5. Técnica Periapical da Bissetriz ..................................................................... 148 6. Técnicas Radiográficas Intrabucais .............................................................. 155 7. Técnicas Radiográficas Intrabucais Oclusais ................................................ 158 8. Métodos de localização radiográfica: Clark ................................................. 161 9. Métodos de localização radiográfica: Donovan ........................................... 162 10. Métodos de localização radiográfica: Le Master ......................................... 163 11. Métodos de localização radiográfica: Miller-Winter .................................... 164 12. Métodos de localização radiográfica: Parma ............................................... 166 Referências ........................................................................................................ 167 CAPÍTULO 5 – Ultrassonografia .................................................................. 171 1. Princípios da ultrassonografia ...................................................................... 173 2. Tecnologia em ultrassonografia ................................................................... 179 3. Aplicações clínicas da ultrassonografia ........................................................ 181 Obstetrícia................................................................................................... 181 Ginecologia .................................................................................................. 185 Mastologia ................................................................................................... 187 Abdominal ................................................................................................... 188 Avaliação dos rins ........................................................................................ 188 Avaliação do sistema hepático portal .......................................................... 189 Volume 411 12 Capítulo 1 Próstata ....................................................................................................... 191 Músculo esquelético .................................................................................... 192 Diagnóstico de displasia e deslocamento da articulação do quadril (coxofemoral) .................................................................................. 193 Diagnóstico de lesões na articulação do ombro .......................................... 193 Articulação do joelho .................................................................................. 193 Vascular ....................................................................................................... 195 Transcraniano .............................................................................................. 198 Cardiologia .................................................................................................. 199 Referências .............................................................................................................. CAPÍTULO 6 – Medicina Nuclear ................................................................ 207 1. Radioatividade ............................................................................................. 209 2. Formação das imagens ................................................................................ 213 3. A reconstrução tomográfica ........................................................................ 233 4. Protocolos ................................................................................................... 237 Referências ........................................................................................................ 244 CAPÍTULO 7 – Radioterapia ........................................................................ 247 1. O que é radioterapia? .................................................................................. 249 2. Modalidades de tratamento ........................................................................ 249 3. Breve história da teleterapia ....................................................................... 250 4. Equipamentos de teleterapia ....................................................................... 250 5. Tratamento .................................................................................................. 252 6. Simulador convencional ............................................................................... 257 7. Planejamento tridimensional ou conformacional ........................................ 260 Referências ........................................................................................................ 264 CAPÍTULO 8 – Radiologia em Medicina Veterinária .................................. 267 1. Introdução ................................................................................................... 269 2. Aparelho e acessórios ................................................................................. 271 3. Sala de exames ............................................................................................ 272 4. Pedido de exames ....................................................................................... 274 5. Restrições físicas e químicas de cães e gatos ............................................... 274 6. Posicionamento radiográfico ....................................................................... 275 7. Contrastes radiográficos ............................................................................. 282 Biologia celular e microbiologia médica 13 8. Radiologia de equinos .................................................................................. 293 9. Outros animais ............................................................................................ 296 Referências ........................................................................................................ 301 CAPÍTULO 9 – Radiologia industrial ........................................................... 305 1. Técnicas radiológicas na indústria ............................................................... 307 2. Radiografia industrial ................................................................................... 308 3. Radioscopia industrial .................................................................................. 326 4. A Proteção Radiológica na indústria ............................................................ 327 5. Medidores nucleares ................................................................................... 331 6. Irradiadores de grande porte ...................................................................... 332 Referências ........................................................................................................ 337 CONTEÚDO EXTRA: Bioética e diagnóstico por imagem Disponível no aplicativo do Projeto Educação Facilitada para Todos, da Difusão Editora. INSTRUÇÕES: Localize o aplicativo na loja do seu dispositivo – utilize o QR-Code ao lado ou busque por Difusão Editora. Após a instalação, abra o menu do aplicativo e clique em ACESSO para fazer o login. Na janela que será exibida, você deve inserir um código para baixar os conteúdos extras: CÓDIGO: 9788578083113 NOTA DA EDITORA O conteúdo adicional disponível no App do Projeto Educação Facilitada para Todos e as imagens acessadas por meio do QR Code do capítulo de Anatomia Humana são umacortesia da Difusão Editora, oferecida por tempo limitado. https://goo.gl/VPi8JWhttps://goo.gl/DFhdF5 Imagem por Ressonância Magnética Capítulo 1 Phillip Patrick Dmitruk Aimar Aparecida Lopes Edeilson Salomão dos Santos Phillip Patrick Dmitruk é físico na área médica. Supervisor de proteção radioló- gica na Irmandade da Santa Casa de Mise- ricórdia de São Paulo (ISCMSP). Docente da Escola de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde mi- nistra as disciplinas Física Radiológica e Ressonância Magnética Nuclear. Aimar Aparecida Lopes é Técnica em Radiologia com experiência em radiolo- gia convencional, raios X contrastados, radiologia digital, mamografia, tomogra- fia computadorizada, ressonância mag- nética e ultrassonografia. Edeilson Salomão dos Santos. Graduado em Tecnologia em Radiologia pelo Cen- tro Universitário São Camilo. Colabora- dor em Pesquisas nas Áreas de Ciências Radiológicas na Universidade Federal de São Paulo desde 2006. Atua como Tecnólogo em Radiologia nas áreas de Tomografia Computadorizada e Resso- nância Magnética no Hospital Santa Ca- tarina, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Alvorada e Hospital Paulistano Unidade Diagnóstica. Imagem por Ressonância Magnética Capítulo 1 17 Phillip Patrick Dmitruk Aimar Aparecida Lopes Edeilson Salomão dos Santos A Ressonância Magnética Nuclear (RMN) toma por base a física do átomo e a física quân- tica. Neste capítulo será feita uma abordagem simplificada do processo de formação de Ima- gem por Ressonância Magnética (IRM). 1. Princípios de ressonância magnética (RM) O átomo é composto por subpartículas – prótons, nêutrons e elétrons. Essas partículas estão distribuídas no núcleo atômico e na ele- trosfera, como segue: – Partículas do núcleo atômico: prótons (p), com carga elétrica positiva (+), e nêu- trons (n) com carga elétrica neutra. – Partículas da eletrosfera atômica: elétrons (e) com carga elétrica negativa, rotacionando no seu próprio eixo e em translação em torno do núcleo. A formação da imagem por ressonância mag- nética está baseada na troca de energia entre núcleos de átomos de hidrogênio e ondas ele- tromagnéticas que apresentam, em particular, as mesmas frequências oscilatórias (frequência da onda eletromagnética é igual à frequência do movimento dos átomos de hidrogênio). 18 Capítulo 1 Em ressonância magnética, o núcleo do elemento hidrogênio é de fato o núcleo ati- vo considerado para a aquisição de imagens. Possui apenas um próton (Z=1), é abundante na matéria orgânica e apresenta um momento magnético razoavelmente grande, caracterís- tica determinante para a sensibilidade à res- sonância magnética. O hidrogênio apresenta também um campo magnético que é forma- do pela rotação do próton, que é uma carga positiva em movimento, fato verificado pelas Leis do Eletromagnetismo de Maxwell. Esse diminuto campo magnético promovido pelo próton em movimento age com um pequeno magneto com seus polos magnéticos norte (N) e sul (S), como verificamos na Figura 1. Figura 1 O próton de hidrogênio se comporta como um ímã O campo magnético efetivo para os núcleos de hidrogênio possui propriedades vetoriais cuja intensidade, direção e sentido são representados por um vetor de magnetização. A direção dos Figura 2 Alinhamento dos núcleos de hidrogênio a um campo magnético externo (B) S N m H NS m momentos magnéticos dos núcleos de hidrogê- nio é aleatória, no entanto, quando submetidos à campo magnético externo, sofre alinhamento, conforme demonstrado na Figura 2. Unidade [B] = [T] 1 T (tesla) = 10000 Gauss B Campo magnético aplicado externamente Antiparalelo Paralelo A energia, segundo Plank-Einstein, é com- posta de pequenos “pacotes” (quantidades discretas de energia) denominados “fótons de energia”, onde E = m.c2. Essa definição quântica da energia pode ser aplicada aos prótons ou núcleos de hi- drogênio, proporcionando a eles dois estados discretos de energia (ou níveis populacionais de energia): alto e baixo. Os núcleos de alta energia alinham-se em antiparalelo e os de baixa energia, em paralelo às linhas de Campo Magnético Externo (B), sendo assim: Imagem por Ressonância Magnética 19 BAIXA ENERGIA ALINHAMENTO PARALELO ROTAÇÃO POSITIVA (SPIN UP) ALTA ENERGIA ALINHAMENTO ANTIPARALELO ROTAÇÃO NEGATIVA (SPIN DOWN) A magnetização e consequente alinhamen- to sofrem a interferência de duas variáveis determinantes, a potência do campo magné- tico (B) e o nível de energia térmica dos nú- cleos magnetizados. Essas variáveis são determinantes para a ocorrência de alinhamento paralelo ou antipa- ralelo; contudo, a variável térmica é presente em condições de aumento da temperatura do paciente e não pode ser efetivamente con- trolada externamente. Por outro lado, a po- tência do campo magnético externo (B) pode ser controlada e modificada para ampliar a qualidade da aquisição de imagens por RMN. Considerando-se uma condição de equilíbrio térmico, verifica-se que os núcleos de baixa energia estão em maior número. Esse excesso determina a magnetização resultante dos nú- cleos, condição que chamamos magnetização efetiva dos núcleos na orientação paralela. Sua grandeza é representada pelo Vetor de Mag- netização Efetiva (VME). Observe a Figura 3: Vetor de Magnetização Efetiva (VME) Figura 3 VME dos núcleos de hidrogênio alinhados ao campo magnético externo 20 Capítulo 1 Figura 4 Momento magnético do hidrogênio. Paralelo e antiparalelo Alinhamento Antiparalelo a BAlinhamento paralelo a B A movimentação dos vetores que determi- nam o momento magnético dos núcleos de Hi- drogênio (H) em relação a B é conhecida como precessão. Esse movimento é um dos princípios básicos da RM. A intensidade, ou módulo da frequência de pre- cessão, é descrita por Larmor na equação abaixo: W = g x B (Equação de Larmor) Onde, W = frequência de precessão ou frequência de Larmor. g = razão giromagnética do hidrogênio. B = intensidade do campo magnético prin- cipal. Para o núcleo de hidrogênio, a constante g tem valor 42,57MHz/T; logo, a frequência de Larmor (W) do núcleo de hidrogênio inserido num campo magnético de intensidade B igual a 1T será de 42,57MHz, ou de 42,57x106 ciclos por segundo. Assim, as grandezas em RM são as seguintes: B Intensidade do campo magnético externo g Razão giromagnética do hidrogênio W Frequência de precessão ou de Larmor Os princípios básicos que envolvem RM es- tão relacionados com: • Interação do VME em relação a B • Frequência de Larmor • Troca de energia entre núcleos de hidrogê- nio e pulsos de radiofrequência. O fenômeno de ressonância é obtido quan- do um objeto está sujeito a uma perturbação Imagem por Ressonância Magnética 21 ou oscilação que possua intensidade igual à sua frequência de oscilação natural. Por essa razão é importante determinar a frequência de Larmor dos núcleos de hidrogênio, pois a ressonância ocorre apenas quando a frequên- cia de excitação aplicada for igual à frequência desses núcleos. No caso da IRM, utilizamos circuitos indu- tores de radiofrequência ou de pulsos de radio- frequência (RF), os quais excitam os núcleos de hidrogênio sujeito a B. Para provocar a ressonância magnética dos núcleos de hidrogênio alinhados a B aplicamos pulsos de RF, processo que denominamos exci- tação por RF. Nesse processo os núcleos de H absorvem a energia dos pulsos RF e podem ser levados a um estado de energia superior, modi- ficando sua probabilidade de frequentar as po- pulações em energia spin up, levando-os a um estado energético equivalente às populações em spin down. Assim: a) A ressonância magnética dos núcleos H ocorre quando aplicamos uma RF de in- tensidade igual ao valor dos núcleos ali- nhados a B. b) Uma vez excitados, o VME desses núcle- os passará do plano longitudinal para o plano transverso. c) A energia de excitação será aplicada na frequência de Larmor dos núcleos H que estejamna mesma fase. d) Segundo Faraday, quando colocamos um condutor elétrico no campo de ação de um campo magnético em movimento, este gera uma diferença de potencial (DDP) no condutor. Essa DDP é sensível quando o VME está em fase, e sua inten- sidade é proporcional a W. O VME em movimento à frequência de Lar- mor (W) no plano transverso induz então uma voltagem, ou DDP, numa bobina condutora ou receptora posicionada em sua vizinhança. Esta voltagem constitui o sinal da RM, que oscila segundo o campo magnético da bobina recep- tora. A amplitude desse sinal é proporcional ao grau de magnetização que atua no plano transverso, e sua frequência é proporcional à frequência de Larmor (W). Com o desligamento do pulso RF de exci- tação, os núcleos iniciam o processo de per- da de coerência de fases, e o VME tende a se realinhar com o campo magnético principal B. Durante esse processo a DDP induzida na bobina receptora diminui gradativamente. Todo esse processo é denominado relaxa- mento do VME. A consequente recuperação da magneti- zação longitudinal do VME é conhecida por relaxação, e este processo é denominado recuperação da magnetização longitudinal. A recuperação T1 ocorre com a emissão de energia dos núcleos excitados para o am- biente, com efetivo relaxamento do spin, promovendo uma recuperação da magneti- zação longitudinal dos núcleos H em cresci- mento exponencial e constante, denominado T1. O T1 corresponde ao tempo necessário para recuperação de 63% da magnetização longitudinal que ocorre no tecido biológico. A redução efetiva da magnetização trans- versa do VME é conhecida por declínio, e o consequente declínio do sinal promovido na bobina é conhecido por declínio da indu- ção livre. O processo que leva ao declínio da magnetização no plano transverso é de- nominado declínio T2, resultado da troca de energia entre núcleos vizinhos que in- teragem segundo seus campos magnéticos, em relaxação spin-spin. O declínio gera uma perda da magnetização transversa, em pro- cesso igualmente exponencial em razão do tempo de relaxação T2. O tempo de declí- 22 Capítulo 1 nio, ou relaxação T2, corresponde ao decai- mento da magnetização no plano transverso em até 37% do seu valor total. Os parâmetros T1 e T2 são escalas tempo- rais, tempos de recuperação longitudinal e para declínio transversal, respectivamente. Assim, ao considerar uma sequência simples de pulsos RF, os tempos e sinais serão apresentados de forma mais simplificada, como sugerem as Figu- ras 5A, 5B e 5C, a seguir: Plano longitudinal Plano tranversoPlano tranverso Plano longitudinal VME VME Plano tranverso RFPlano longitudinal Figura 5A Magnetização no plano transverso Figura 5B Recuperação T1 RF Figura 5C Declínio T2 Concretamente, não tratamos de pulsos RF, mas como todas as ondas eletromagnéticas (OEM) tratam de períodos de tempo com de- pendência direta do comprimento de onda, faze- mos uma analogia com os tempos de recupera- ção e declínio, T1 e T2, respectivamente. Na IRM denomina-se tempo de repetição e tempo de eco os tempos que são aplicados às necessidades de reconstrução de imagens com referência ou valorização dos parâmetros T1 ou T2 da imagem. RF Em fase Fora de Fase Imagem por Ressonância Magnética 23 Figura 6 Sequência de pulsos predominantes da IRM O intervalo de tempo entre um pulso de RF e outro aplicado na sequência é denominado Tempo de Repetição (TR). Sua unidade de me- dida é o milissegundo (ms), ou 10-3 segundo. Uma vez aplicado o Pulso RF, verificamos um aumento do sinal induzido na bobina indo a seu valor máximo e posterior declínio. O intervalo de tempo entre a aplicação do pulso de RF e o valor máximo do sinal induzido nas bobinas é denominado Tempo de Eco (TE). Os valores associados a TR e TE constituem os principais parâmetros para a aquisição de imagens por ressonância magnética e determinam os dife- renciais de contraste ou ponderações que pos- sibilitam realçar imagens por RM. O contraste na IRM está relacionado com a intensidade e a amplitude dos sinais adquiridos. Grosseiramente podemos classificar as imagens como hiperintensas (claras), se o sinal for in- tenso, ou hipointensas (escuras), se o sinal for fraco. As variações na intensidade de sinal pos- síveis entre os extremos claro e escuro da ima- gem determinam os valores equivalentes aos tons de cinza intermediários, para cada região anatômica ou tecido estudado. A mecânica de formação das imagens está relacionada com as componentes T1 e T2 de magnetização, relaxamento e declínio, respec- tivamente. Uma outra possibilidade está rela- cionada à quantidade de núcleos hidrogênio que está presente na anatomia em estudo por IRM. Essa relação de quantidade é denominada densi- dade de prótons, ou de spins, uma vez que tra- tamos de núcleos de hidrogênio que possuem um único próton formando seu núcleo (1H). A densidade está relacionada com a quantidade de prótons que ocupam o volume de tecido estu- dado. Observe as Figuras 7 e 8, abaixo: TR TE Sinal Sinal de tensão bobina (T2) Pulso RF (T1) Figura 7 Representação da recuperação T1 para os extremos gordura e água Figura 8 Representação do declínio T2 para os extremos gordura e água Recuperação T1 no tecido adiposo e na água B VME Tecido adiposo VME Água Tempo TR curto TR longo R Declínio de sinal no tecido adiposo Declínio de sinal na água Tempo T2 curto T2 longo 24 Capítulo 1 Percebemos nas Figuras 7 e 8 um mecanis- mo de formação de sinal de IRM representado por componentes temporais diferentes. O T1 e o T2 são curtos para o caso de tecido adiposo presente e longos para a presença de água. No tecido adiposo há um equilíbrio molecu- lar mais lento, o que possibilita uma recupera- ção mais rápida da magnetização longitudinal, por perda de energia do spin para o ambiente e, consequentemente, rápido declínio de sinal, por interação spin-spin, ou seja, os núcleos vizinhos interagem de forma igualmente rápida na saída de fase. Assim, no tecido adiposo, a recuperação T1 e o declínio T2 são intervalos curtos no tempo. Na água há um rápido equilíbrio molecular e iônico que requer um tempo de recuperação mais elevado, ou recuperação lenta da magne- tização longitudinal, e, consequentemente, per- da lenta de fase do spin. Verificamos tempo de recuperação T1 e declínio T2 longos no tempo. Conhecendo esse mecanismo de interação do spin com o meio e do spin a spin, consegui- mos relacionar a possibilidade de contraste na IRM para T1 e para T2, respectivamente. O TR controla a efetiva ponderação T1 e, sendo curto, valoriza-se a ponderação. Analo- gamente, o TE controla a ponderação T2 e, então, para uma valorização da ponderação T2, aplicamos um TE longo. Podemos verificar ainda uma ponderação por densidade de núcleos de hidrogênio ou de prótons quando tratamos de TR longo e TE curto, implicando na redução da ponderação influenciada por T1 e T2. Com essa possibili- dade, o contraste na imagem se deve às quan- tidades de prótons ou densidade de prótons por volume de tecido estudado, em que: 1. regiões com mais densidade de prótons presentes trarão uma imagem brilhante 2. regiões com reduzido valor de densidade de prótons trarão imagens escuras. Observe as figuras a seguir: Figura 9 Características de contraste T1 Intensidade do sinal na bobina T1 TRTR T1 curto Contraste T1 na água Contraste T1 no tecido adiposo Tempo (ms) Diferença em T1 Figura 10 Características de contraste T2 Diferença em T2 Intensidade do sinal na bobina Contraste T2 na água Contraste T2 no tecido adiposo tempo (ms) TE longo TE curto T2 curto T2 longo As relações entre os tempos TR e TE estão associadas com o tipo de contraste a ser defini- do ou valorizado: T1 ou T2 (Tabela 1). Imagem por Ressonância Magnética 25 Tabela 1 Características importantes para definir a ponderação da imagem Exagerar o T1 Manter TR Curto Manter TE CurtoExagerar o T2 Manter TR Longo Manter TE Longo Exagerar DP Manter TR Longo Manter TE Curto Ponderação T1 Ponderação T2 Ponderação por densidade de prótons Assim, com essas variáveis temporais, pode- mos buscar as imagens que mais se aproximam da necessidade diagnóstica em estudo. 2. Segurança em RM Não há dados que explicitem danos bioló- gicos importantes provocados pela exposição à RM, seja pelo campo magnético estático ou pelos gradientes e campos de radiofrequência. Para maior segurança, o campo magnético deve estar limitado a uma potência 3T. Para esse limite não há alterações importantes na morfologia dos tecidos vivos nem na sua fisio- logia. Os campos dessa ordem geram poten- ciais magnéticos que devem ser considerados no caso de instalação de equipamentos que possam apresentar alterações significativas em seu funcionamento. O marcapasso é um exemplo, pois pode ter sua sincronia de fun- cionamento alterada por esses campos. Partículas em movimento perpendicular a um campo magnético podem gerar pequenos potenciais elétricos. Esses efeitos podem ser observados em traçados de ECG de pacien- tes que se submetem a exames por IRM, e são pouco significativos para provocar alte- rações cardiovasculares. Efeitos mais significativos e reversíveis fo- ram observados apenas em pessoas expostas a campos magnéticos com potências superio- res a 2T, entre eles hipotensão, irritabilidade, cefaleias e estado de fadiga. Casos de urgência e emergência Qualquer procedimento que necessite de atendimento de urgência deve ocorrer fora do alcance do magneto principal, pois alguns equipamentos utilizados nesses procedi- mentos, quando acionados, podem interagir violentamente com o campo magnético pre- sente na sala de RM. Materiais ferromagnéticos w Objetos metálicos w Projéteis de armas de fogo e seus estilhaços w Implantes metálicos, grampos e pinos cirúrgicos w Próteses e aparelhos ortopédicos. Quaisquer objetos com características fí- sicas ferromagnéticas podem interagir com o campo magnético e ser atraídos com força e velocidade com possibilidade de causar fe- rimentos extremamente graves, lembrando que, quanto maior a massa de um objeto fer- romagnético, maior a força de atração. Todo material que necessitar adentrar a sala do magneto deve ser testado quanto a seu po- tencial de magnetização. Um ímã pode ser mui- to útil para essa finalidade. Normalmente os materiais utilizados em RM são construídos em 26 Capítulo 1 alumínio, acrílico ou materiais não ferromagné- ticos, como aço inox e outros, para que não in- terajam com os campos magnéticos produzidos. No caso de prótese metálica ou implante no paciente, devemos nos preocupar com a capa- cidade de esses materiais gerarem aquecimen- to, ou mesmo artefatos de imagem. Efeitos repentinos de atração magnética po- dem ser muito violentos e causar danos irrepa- ráveis no paciente. Materiais vasculares w clipes intracranianos w grampos extracranianos w filtros e guias intravasculares w stents intravasculares w valvas cardíacas w marcapasso A grande parte dos materiais utilizados nos procedimentos cardiovasculares não apresenta contraindicação para exames de IRM. No entanto a ressonância não está in- dicada na presença de clips e marcapasso; neste caso outros procedimentos de ima- gem médica podem ser adotados. Materiais odontológicos w aparelhos ortodônticos w materiais metálicos usados no tratamento dentário Os materiais odontológicos não contraindi- cam a realização do exame de IRM; no entan- to, esses materiais podem provocar artefatos na imagem, mesmo que não afetados signifi- cativamente pelo campo magnético e pelos pulsos de radiofrequência. Sua influência no resultado da imagem deve ser considerada para evitar erros diagnósticos devidos à má qualidade da imagem adquirida. Materiais otológicos e oftalmológicos w implantes oculares w implantes cocleares w presença de corpos estranhos metálicos em olhos e ouvidos Muitos desses tipos de implantes podem ser atraídos pelo campo magnético principal, po- dendo causar danos ao paciente e muito des- conforto no procedimento. Devemos avaliar os riscos quando o paciente apresentar corpos estranhos ferromagnéticos na região dos olhos. Materiais urológicos w implantes penianos Certos tipos de implantes podem apresen- tar susceptibilidade ao campo magnético e levar desconforto do paciente durante o estudo por IRM. Esses pacientes precisam ser bem anali- sados e monitorados durante o procedimento. Estimuladores w neuroestimuladores w bombas de perfusão para drogas implantadas w desfibriladores cardíacos implantados w estimuladores de crescimento ósseo. A maioria dos estimuladores sofre a ação do campo magnético, compondo uma forte con- traindicação para o uso em IRM. Imagem por Ressonância Magnética 27 Aspectos gerais de segurança em RM A passagem da corrente elétrica nas bobinas de gradiente produz um ruído que é bastante desconfortável para o paciente. O ruído pro- duzido no interior do magneto pode atingir, em alguns sistemas, níveis tão elevados quanto 100dB, que é potencialmente perigoso para a audição humana. Para melhora do conforto e proteção do sistema auditivo do paciente, de- vemos oferecer-lhe protetores auriculares. É importante a informação clara e precisa sobre o procedimento de IRM. A radiofrequência apresenta potencial de excitação de átomos e moléculas com conse- quente geração de calor no local. O risco de aquecimento está associado ao aumento do potencial aplicado e está limitado pela taxa de absorção específica (SAR – Specific Absortion Rate), calculada em função do peso do paciente. Observar o paciente e manter comunica- ção é muito importante para que acidentes no interior da sala de exames sejam minimizados tanto quanto possível. Deve-se estar atento aos riscos mecânicos e elétricos envolvidos, que implicam a necessidade de manutenções preventivas regulares e corretivas. Não há evidência ou estudo que comprove o risco para gestantes que trabalham no setor de RM. Recomenda-se, em princípio, que esse tipo de procedimento seja retardado para um período superior ao primeiro trimestre. 3. Tecnologia em RMN O projeto técnico de um sistema de RM apresenta em sua composição física: a) Magneto principal b) Gerador de radiofrequência c) Sistema de processamento de dados e imagens d) Sistemas de computação e roteador de dados e) Sistemas de arquivamento e impressão de imagens Figura 11 Organograma técnico de um sistema de IRM Sistema de computação e roteador de dados Criogerador Unidade de força Gradientes X,Y,Z Amplificador de RF Magneto principal Bobinas de RM Arquivo de imagens Sistema operacional Mesa de exames O magneto de RM necessita gerar campo magnético intenso. A tecnologia utilizada para gerar altos campos magnéticos pode ser: • Magneto permanente, para campos de até 0,2T • Magneto resistivo, para campos de até 0,5T • Magneto supercondutor, para campos de até 3T Nos magnetos resistivos, a corrente elétrica que atravessa o condutor principal gera campo magnético cuja intensidade é proporcional à cor- rente que atravessa o condutor. Nos equipamen- tos de magnetos supercondutores a passagem da corrente elétrica é facilitada pela ausência de resis- 28 Capítulo 1 tência, podendo gerar correntes no condutor prin- cipal com intensidade de até 1300 ampéres. Para se obter a supercondutibilidade é ne- cessário o resfriamento do condutor a tem- peraturas que podem alcançar -270° C, ou 4 graus Kelvin. Esses fios são compostos por ligas espe- ciais de alumínio, níquel e cobre que, por sua vez, promovem o alto potencial do campo magnético. O hélio líquido é utilizado para reduzir a temperatura dos condutores e eli- minar a resistência elétrica dos fios. O cam- po magnético gerado em equipamento de imagem normalmente apresenta linhas de força na orientação horizontal e no sentido da cabeça para os pés do paciente. O campomagnético principal, gerado em estruturas razoavelmente pequenas, não se mantém homogêneo, de tal sorte que são necessários equipamentos reforçadores de campo, denominados bobinas de reforço, que atuam minimizando os distúrbios de ho- mogeneidade do campo magnético estático. O mapeamento do sinal em RM é obtido pela ação de bobinas gradientes que codifi- cam o sinal emitido pelo paciente em uma das direções da imagem pela fase e na outra dire- ção pela frequência. Caso ocorra uma falha na bobina de gradiente, a imagem gerada poderá conter distorções geométricas de formação. Estão associados vários tipos de bobinas às necessidades do estudo por IRM: a) Bobina corporal É uma bobina volumétrica que transmite o pulso de RF e recebe o sinal emitido pelo paciente. Fica localizada no corpo do mag- neto principal e é utilizada principalmente nos exames do tórax e abdômen. b) Bobina para cabeça Bobina de volume que transmite e recep- ta pulsos de RF. É utilizada principalmente em exames da cabeça, da face e em angio- ressonância cerebral. c) Bobina de superfície São bobinas planas de recepção do sinal que são posicionadas em contato com a re- gião anatômica de interesse. Como são me- nores, reduzem a probabilidade de perda na qualidade da imagem por captarem menor quantidade de ruído. d) Bobina de arranjo de fase (phased array) São bobinas transmissoras e receptoras de sinal de amplo uso na IRM. São constituídas de múltiplos receptores de sinais que aumen- tam a qualidade da imagem gerada na IRM, também denominadas bobinas de multicanal. Figura 12 Equipamento de RM Imagem por Ressonância Magnética 29 O operador deve se certificar de que não há nenhuma parte da bobina em contato com os tecidos do paciente. Os pulsos são aplicados segundo uma ordem de gradiente selecionado e amplificado por um sistema de amplificação dos pulsos de RF. O computador é dotado de um processa- dor veloz para os cálculos da transformada de Fourier que gera a imagem e a envia para o monitor de vídeo. 4. O exame de imagem por ressonância magnética Fatores que afetam a qualidade de imagem Na realização de um exame de ressonân- cia magnética muitas variáveis devem ser le- vadas em consideração. O sucesso do exame depende fundamentalmente da habilidade Figura 13 Bobinas de IRM. (A) Bobina de crânio de transmissão e recepção de sinal. (B) Bobina de superfície flexível. (C) Bobina volumétrica de quadratura (joelho). (D) Bobina de arranjo de fase (coluna) A B C D 30 Capítulo 1 do operador, da cooperação do paciente, das características do equipamento e dos recursos disponíveis. w Fornecer ao paciente insumos e outros dispositivos que possam garantir sua segurança e conforto, como protetores auditivos, dispositivos de alarme, comunicadores, cobertores etc. w Certificar-se de que o paciente não apresenta nenhuma contraindicação ao procedimento, como presença de marcapasso, clips de aneurisma ou objetos metálicos que possam inviabilizar a sua entrada no sistema. A colaboração do paciente é outro fator im- portante para o sucesso do exame. w Durante o procedimento, o paciente deve se manter relaxado e imóvel para evitar artefatos de movimentos. w O paciente deve realizar apneias sempre que solicitado (especialmente nos exames de abdome e tórax). w Também deve relatar eventuais desconfortos que venha a sentir durante o exame. w Deverá entrar em contato com o operador do sistema, caso fique ansioso ou apresente algum tipo de fobia. Características do equipamento, bobinas e acessórios w Quanto maior o campo magnético principal do sistema de RM, melhor o sinal emitido pelo paciente. Equipamentos de RM de alto campo geram as melhores imagens, com menor ruído e permite a obtenção de sequências mais rápidas. w As bobinas de arranjo de fase produzem melhor sinal que as bobinas de superfície. Quanto menor a bobina e quanto mais próxima da região de interesse estiver, melhor será a imagem produzida. Figura 14 Sistema de RM. Visão de console e magneto O operador do sistema de RM deve possuir as seguintes habilidades: w Ter bom conhecimento da anatomia da região a ser estudada. w Conhecer as hipóteses diagnósticas e história clínica do paciente e saber escolher o protocolo mais indicado para o procedimento. w Atuar nos diversos parâmetros que possam influenciar na melhoria da qualidade das imagens. w Escolher as bobinas mais adequadas, conforme a estrutura anatômica e os objetivos do exame. w Posicionar o paciente da forma mais confortável possível e utilizar almofadas, coxins, espumas, fitas etc. w Manter diálogo com o paciente durante todo o procedimento. Imagem por Ressonância Magnética 31 Em sistemas de RM, é freqüente o uso de bobinas que se ajustam às características anatômicas do paciente. w O uso de dispositivos de compensação respiratória permite a aquisição de imagens sem os artefatos produzidos por esse movimento. w A sincronização cardíaca contribui para que as imagens do tórax e, em particular, do coração, possam se apresentar sem a presença dos artefatos de movimento produzidos pelo batimento cardíaco. Figura 15 Bobina de crânio ajustada para uso em sistema de RM Algumas dicas são úteis para a obtenção de resultados satisfatórios em um exame de RM. w posicionar o paciente, entrando primeiramente com os pés. w ajustar o espelho da bobina de crânio para que o paciente tenha uma visão do ambiente externo. w permitir a entrada de um acompanhante, desde que este também passe pela verificação de segurança em RM. w usar o intercomunicador, conversar com o paciente nos intervalos do exame para que ele não se sinta enclausurado. w utilizar fones de ouvido e outros dispositivos audiovisuais (quando disponibilizados pelo serviço) para que o paciente possa proteger a sua audição ou ouvir música enquanto realiza o exame. Exames de imagem por ressonância magnética RM do encéfalo A IRM do encéfalo é certamente o método de DI mais completo e eficaz para a maioria das patologias que afetam essa região. Entre as principais indicações clínicas, pode se destacar: w cefaleia w esclerose múltipla (EM) w convulsão/epilepsia w avaliação de tumor primário e/ou metástases w toxoplasmose w doenças inflamatórias w doenças infecciosas w acidente vascular cerebral (AVCI, AVCH, AIT) w trauma w hidrocefalia w malformação SNC 32 Capítulo 1 Figura 16 Bobina de crânio Figura 17 Bobina neurovascular a) Equipamento Bobina de crânio (de quadratura ou phased-array) b) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito dorsal. Cabeça apoiada no suporte de crânio. Estabelecimento do ponto de referência “zero” na glabela. A cabeça deve estar fixada com fitas ou velcros, e o uso de almofadas laterais pode ajudar na imobilização. Algumas bobinas de crânio possuem espelhos que poderão ser ajustados para que o paciente tenha uma visão externa do sistema. Isso diminui a sensação de claustrofobia Figura 18 Paciente na bobina de crânio Figura 19 Paciente na bobina de crânio, usan- do espelho retrovisor Imagem por Ressonância Magnética 33 n Protocolos para encéfalo I. Rotina básica (sem contraste) w Cefaleia w Indicações inespecíficas II. Rotina básica completa (sem e com contraste) w Doenças inflamatórias w Doenças infecciosas w Avaliação de tumor primário e/ou metástases w SIDA (AIDS) – toxoplasmose III. Esclerose múltipla (EM) IV. Convulsão/epilepsia V. Acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI), acidente isquêmico transitório (AIT), acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH) VI. Malformação do SNC Figura 20 Crânio planejamento Figura 21 Crânio axial T2 Figura 22 3D cérebro RM Tabela 2 Protocolos de exame sugeridos para RM de encéfalo CRÂNIO SAG T1 Objetivos: Rotina s/ contraste Rotina c/ contraste Esclerose múltipla (EM) Epilepsia/ convulsões AVCi / AVCh Malformação AXIAL FLAIR AXIAL T2 AXIAL T1 CORONAL T2 AXIAL T1 COM CONTRASTECORONAL T1 COM CONTRASTE SAG FLAIR COR FLAIR COR I.R. DIFUSÃO AXIAL T2* VOLUME 3D 34 Capítulo 1 RM do encéfalo nas sequências vasculares/ estudo do fluxo liquórico. RM de carótida Estudo do fluxo liquórico Estudos com técnicas de obtenção do fluxo liquórico são adotados em pacientes que apre- sentam dilatação dos ventrículos cerebrais e pa- cientes portadores de hidrocefalia. O exame completo deve ser iniciado com um estudo da rotina básica do encéfalo. Acrescem-se às sequências da rotina básica sequências específi- cas para avaliação do fluxo liquórico. As sequências para a avaliação do fluxo liquórico utilizam sincro- nização cardíaca e podem inclusive ser feitas com dispositivos periféricos (peripheral gating). A aquisição é feita em um único plano de imagem, no modo CINE de aquisição. A ima- gem é adquirida no plano sagital mediano. A apresentação dessa sequência pode ser feita em fita cassete ou em CD, mostrando a movimen- tação do fluxo liquórico. Angiorressonância cerebral arterial O estudo da angiorressonância cerebral ar- terial está especialmente indicada nas pesquisas de AVCI/AVCH, aneurismas, arterites etc. Neste estudo em particular, algumas sequên- cias do protocolo básico devem ser realizadas, en- tre elas cabe destaque: a sequência de Difusão, o Flair e o Axial T2*. A ângio-RM arterial é obtida em aquisição volumétrica 3DTOF, na região do polígo- no arterial cerebral (Polígono de Willys). Angiorressonância cerebral venosa A ângio-RM venosa cerebral está especial- mente indicada na pesquisa da trombose venosa. Rotinas do protocolo básico também devem ser realizadas. A aquisição é multiplanar, em técnica 2DTOF, podendo ainda ser adquiridas sequências vasculares por contraste de fase (ângio-PC) e se- quências 3DTOF pós-contraste endovenoso. Angiorressonância de carótidas A ângio-RM de carótidas pode ser obtida sem contraste, com a técnica multiplanar 2DTOF. No entanto, a técnica angiográfica com meio de contraste endovenoso (gadolínio) é preferível, pois apresenta melhor resolução das imagens dos vasos dessa região e são obtidas em tempos relativamente curtos, inferior a 30 segundos. Figura 23 Crânio ângio-RM arterial Imagem por Ressonância Magnética 35 Figura 24 Crânio ângio-venosa RM Figura 25 Ângio-RM carótidas com gadolínio Tabela 3 Angiorressonância cerebral/carótida – fluxo liquórico. Protocolos sugeridos CRÂNIO ÂNGIO-RM SAG T1 Objetivos: Ângio RM arterial Ângio-RM venosa Ângio carótida s/ contraste Ângio carótida c/ contraste Fluxo liquórico AXIAL FLAIR AXIAL T1 FAT/SUP ANGIO COM CONTRASTE DIFUSÃO FLUXO LIQUÓRICO PC ÂNGIO 3D-TOF ÂNGIO 2D-TOF 36 Capítulo 1 Outros exames de RM do crânio Mastoide O exame da mastoide/orelha interna por RM está indicado nos quadros de deficit auditivo, zumbidos, neurinomas e outras doenças dessa região. Adotam-se protocolos com cortes de pequena espessura. O uso de meio de contras- te em geral está indicado. Hipófise O exame da hipófise se aplica às investigações de microadenoma, macroadenoma, disfunções hipofisárias e na avaliação pós-operatória dessa região. Esse exame é realizado com meio de con- traste. A aquisição das imagens no pós-contraste deve ser dinâmica, isto é, adquirem-se cerca de 5 sequências imediatamente após a injeção do gadolínio, em até dois minutos. Após a aquisição Figura 26 Mastoide – Neurinoma do acústico. Após uso de contraste Figura 27 Mastoide – Axial T2 Figura 28 Hipófise – Coronal T1 Figura 29 Hipófise – Coronal T2 Imagem por Ressonância Magnética 37 dinâmica, devem ser obtidas sequências normais pós-contraste. As sequências coronais com cortes de pe- quena espessura, menor do que 3mm, são as mais importantes. Órbita Estudos da órbita são realizados na pre- sença de massas locais, neurite óptica, proptose e distúrbios visuais importantes. A bobina de crânio poderá ser utilizada; no entanto, estudos com bobinas de superfície devem ser considerados. Planos axiais e co- ronais com 3mm de espessura são usuais. O T2 deve ser obtido com técnica de supres- são de gordura. ATM (articulação temporomandibular) Estudos da articulação temporomandibular estão relacionados com luxações dessa arti- culação, limitação funcional, dor local, estalos e diagnósticos prévios de lesão da cartilagem articular. O exame é realizado com sequências em boca fechada e boca aberta. Figura 26 Bobina de ATM Figura 27 Paciente posicionado Figura 28 ATM RM Bf – T1 Figura 29 ATM RM Ba – T2 38 Capítulo 1 – Bobina de ATM Nas aquisições com a boca aberta, o pa- ciente deve ser orientado a fazer abertura total da boca e manter-se imóvel durante a aquisição das imagens. Para tal, pode-se usar o acessório de abertura de boca, disponíveis em alguns equipamentos, ou utilizar palitos abaixadores de língua. RM do plexo braquial a) Indicações clínicas w Diagnóstico e caracterização das lesões do plexo braquial, originadas por traumas ou secundárias a carcinoma mamário e brônquico w Síndrome do desfiladeiro torácico b) Equipamentos Bobina neurovascular Bobina de arranjo de fase (torso array). Tabela 4 Protocolos sugeridos para RM de mastoide, hipófise, órbita e ATM MASTÓI- DE/HIPÓ- FISE ÓRBITA / ATM SAG T1 Objetivos: Mastoide Hipófise Órbitas ATM AXIAL T1 3 MM AXIAL T2 3 MM CORONAL T1 3 MM CORONAL T2 3 MM CORONAL PÓS- CONTRASTE DIN AXIAL T1 COM CONTRASTE CORONAL T1 COM CONTRASTE SAG T1 COM CONTRASTE SAG T2 FAT/ SUP CINE GRE Figura 30 Bobina torso Imagem por Ressonância Magnética 39 Tabela 5 Protocolo sugerido para RM de plexo braquial PLEXO BRAQUIAL LOCALIZADOR 3 PLANOS AXIAL T1 AXIAL T2 (FAT/SUP) CORONAL T1 CORONAL OBLÍQUO T2 (FAT/SUP) SAGITAL OBLÍQUO T1 SAGITAL OBLÍQUO T2 (FAT/SUP) Objetivos: Plexo c) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito dorsal, posicionado sobre a bobina, com o centro de referência sobre as articulações esternoclaviculares. A cabeça e a coluna cervical devem estar alinhadas. Manter os dois braços do paciente na mesma posição, para obter imagens simétricas bilaterais. Para isso, pedir ao paciente que apoie a palma das mãos na lateral das coxas e usar faixas de fixação. RM da coluna O exame da coluna vertebral pela resso- nância magnética está especialmente indicado nos quadros de compressão medular, radicu- lopatia, estenose de canal, tumor, metástases, processos infecciosos, más-formações e escle- rose múltipla. Para estudos com objetivos em tumores e processos infecciosos e no pós-ope- ratório da coluna, devem ser acrescentadas se- quências com contraste em pelo menos dois planos: sagital e axial, preferencialmente obti- Figura 32 Bobina de coluna CTLFigura 31 Bobina de coluna cervical das com técnicas de supressão de gordura. No caso de traumas, sequências por ponderação STIR poderão trazer informações adicionais. RM da coluna cervical O exame da coluna cervical usualmente é feito em três sequências: sagital T1, sagital T2 e axial T2. Bobina de coluna cervical Bobina CTL Array – Bobina de quadratura 40 Capítulo 1 a) Posicionamento do paciente Supino Cabeça entrando primeiro no gantry Cabeça e coluna cervical alinhadas com o centro de referência Centro de referência na linha do queixo Orientar o paciente a não engolir saliva nem fazer movimentos com a boca durante os períodos de ruído, para evitar artefatos de movimento. Plano de exame: Figura 33 Col cervical sag T1 Figura 34 Col cervical sag T2 Figura 35 Col cervical planejamento axial RM Imagem por Ressonância Magnética 41 RM da coluna torácica Sequências de rotina no exame da coluna to- rácica incluem: sagital T1, sagital T2 e axial T2. a) Equipamentos Bobina CTL Array – Bobina de arranjo de fase Bobina de superfície Figura 36 Bobina de superfície b) Posicionamento do paciente Supino Cabeça entrando primeiro no gantry Cabeça, coluna cervical e dorsal alinhadas com o sistema Centro de referênciano apêndice xifoide. Figura 37 Coluna torácica RM T2 RM de coluna lombar As compressões radiculares, hérnias de disco e protrusões, são as causas mais frequentes da RM da coluna lombar. O protocolo básico inclui dois planos sagitais (T1 e T2) e dois axiais (T1 e T2). a) Equipamentos Bobina CTL Array (arranjo de fase) Bobina de superfície b) Posicionamento do paciente Supino Cabeça entrando primeiro no gantry Cabeça e toda coluna alinhada com o sistema de RM Centro de referência quatro dedos acima da crista ilíaca. Plano de exame: Figura 39 Col lombar planejamento axial Figura 38 Col lombar sag T1 42 Capítulo 1 Figura 40 Col lombar axial T1 RM COLUNA CTL/ SACROILÍACAS LOCALIZADOR 3 PLANOS SAGITAL T 1 SAGITAL T 2 CORONAL T 1 AXIAL T 1 AXIAL T2 CORONAL T2 (FAT/SUP) Objetivos: Coluna cervical Coluna torácica Coluna lombar A. sacroilíaca Tabela 6 Protocolos sugeridos para RM de coluna vertebral Articulação sacroilíaca Exames da articulação sacroilíaca têm por in- dicação principal a sacroileíte. a) Equipamentos Bobina CTL Array – Bobina de arranjo de fase Bobina de superfície. b) Posicionamento do paciente Supino Cabeça entrando primeiro no gantry Cabeça e toda coluna alinhada com o RC RC entrando na altura da crista ilíaca. RM do sistema musculoesquelético a) Considerações gerais O sucesso no exame do sistema musculoes- quelético em RM depende de alguns detalhes extremamente importantes: 1. Obter uma anamnese detalhada – com uma história bem feita, é possível direcionar o exame, fazendo sequências e planos de cor- tes que melhor possam mostrar a patologia. 2. Ter conhecimento das patologias mais comuns que acometem a área que está sendo estudada para poder escolher o melhor protocolo. 3. Manter o posicionamento do paciente de forma confortável e anatômica para que ele suporte o tempo de exame sem se mexer. 4. Ao fazer a programação dos cortes, aten- tar aos planos anatômicos convencionais para que as estruturas possam ser mais bem visualizadas e para que não sejam si- muladas “falsas lesões”. 5. Usar FOV e espessura de acordo com o ta- manho da região de interesse. Por exemplo, lesão muscular na coxa – apesar de a coxa ser uma estrutura grande, se a lesão for peque- na, pode-se fazer uma sequência abrangendo toda a coxa e as demais, direcionadas para a área em questão. Dessa forma, faz-se um es- tudo com melhor resolução de imagem. 6. Usar a bobina de acordo com a estrutura, Imagem por Ressonância Magnética 43 FOV e espessura desejados. Por exem- plo, se solicitado 1/3 distal da coxa, po- de-se usar bobina de joelho que permita FOV e espessura menores em relação à bobina de corpo. 7. Preferencialmente, realizar estudos unila- terais, em que as imagens se apresentem com melhor resolução em função de me- nores FOVs adotados. 8. Marcar o local da queixa do paciente. Dessa forma, será possível direcionar a programação de cortes com mais segu- rança e auxiliará o médico radiologista em suas conclusões diagnósticas. 9. Após injetar contraste, fazer aquisições nos planos em que a lesão for mais bem visualizada e, preferencialmente, com técnica de supressão de gordura (FAT SAT). RM do quadril A RM do quadril tem por objetivo avaliar dor local, traumas, lesões de cartilagem/labrum, bursites, necroses, entre outras. a) Equipamentos Bobina torso (bilateral) Bobina flex (unilateral) b) Posicionamento do paciente Decúbito dorsal Pés entrando primeiro Pés em discreta rotação interna Fixar os pés com fita adesiva para que permaneçam na mesma posição durante todo o exame RC entrando dois dedos abaixo da crista ilíaca Plano de exame: Figura 41 Bobina flexivel Figura 42 Quadril cor T1 Figura 43 Quadril sag T2 Figura 44 Quadril planejamento Figura 45 Quadril axial T2 44 Capítulo 1 RM do joelho A RM do joelho é possivelmente o exame de articulação mais solicitado nesse método. As principais indicações estão relacionadas com: lesões ligamentares, lesões meniscais, lesão de cartilagem, lesões degenerativas diversas, der- rames articulares e tumores locais. Figura 46 Bobina de joelho Figura 47 Bobina de joelho a) Equipamento Bobinas de joelho b) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito dorsal, posicionado de modo que a região do ápice da patela fi- que no centro da bobina de joelho. O pé fica com uma discreta rotação interna, fazendo com que a patela fique centralizada no fê- mur. O joelho fica ligeiramente flexionado para facilitar a visualização do LCA. Usar apoio, para que o pé se mantenha na posição correta e fixar o joelho com espumas para evitar seu movimento durante a aquisição das imagens. Orientar o paciente a se manter imóvel du- rante todo o procedimento e com a musculatu- ra relaxada, pois ligeiras contrações musculares podem prejudicar as imagens, causando artefa- tos de movimentos. Imagem por Ressonância Magnética 45 Figura 48 Joelho sag T1 Figura 49 Joelho sag T2 Fat Figura 51 Joelho planejamentoFigura 50 Joelho cor DP Fat Na presença de objetos metálicos nessa arti- culação, caso de algumas cirurgias, não realizar sequências com supressão de gordura, pois as distorções magnéticas locais impedem a satura- ção da gordura de forma homogênea. Artro-RM do joelho A RM do joelho com contraste intra-articu- lar, artro-RM, apresenta, em comparação ao exame de rotina, maior acurácia e eficiência diagnóstica, especialmente na detecção de pe- quenas lesões da cartilagem e dos meniscos. Posicionamento do paciente: O paciente é posicionado da mesma forma como no exame de rotina. No exame de artro-RM do joelho, injeta-se Plano de exame 46 Capítulo 1 cerca de 20 ml de solução na bolsa sinovial. (So- lução diluída de 0,5 ml de gadolínio em 100mL de soro fisiológico) Após a injeção de contraste, o paciente po- derá ser orientado a caminhar em marcha por cerca de 30 minutos. Este procedimento faci- lita a absorção do contraste e pode evidenciar pequenas lesões do menisco. Já na pesquisa de lesões de cartilagem recomenda-se que se proceda à aquisição da imagem imediatamente após a injeção. RM do tornozelo A RM do tornozelo tem por indicação os en- torses, tendinites, fascites, lesões cartilaginosas, processos infecciosos, processos degenerativos e tumores dessa articulação. a) A bobina de joelho (Figuras 46/47) poderá ser utilizada. b) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito dorsal, com o torno- zelo posicionado dentro da bobina de joelho, colocando a extremidade do maléolo lateral no centro da bobina. Para estudo do Tendão de Aquiles – Posicionar o pé de modo a formar um ângulo de 90° com a perna. Fixar o pé com fita adesiva e/ou usar supor- tes laterais de espuma para imobilização. Para lesão de ligamentos e nos quadros in- flamatórios, evitar o ângulo reto do tornozelo e permitir uma posição de repouso, esticando a ponta do pé para frente. Usar espumas para facilitar a fixação. Plano de exame: Figura 52 Tornozelo sagital T1 Figura 53 Tornozelo sagital T2 Fat Figura 55 Tornozelo planejamento dos cortes coronais e axiaisFigura 54 Tornozelo axial T1 Imagem por Ressonância Magnética 47 Artro-RM do tornozelo A artro-RM do tornozelo realça as lesões condrais e ligamentares. O posicionamento é o mesmo do tornoze- lo-rotina. Para a realização da artro-RM do tornozelo são injetados cerca de 5mL de solução (0,7mL de gadolínio em 100mL de soro fisiológico). Após a injeção de contraste, iniciar a aquisi- ção das imagens imediatamente. Dessa forma, evita-se que a cartilagem absorva o contraste e dificulte sua visualização. RM do retropé e médio pé a) Pode ser utilizada a bobina de joelho ou bobina própria, quando houver. b) Posicionamento do retropé: Paciente em decúbito dorsal, com o pé posicionado dentro da bobina de joelho, co- locando o maléolo lateral no 1/3 superior da bobina. Posicionar o pé em repouso, estican- do a ponta do pé para frente. Usar espumaspara facilitar a fixação. RM do antepé a) Indicações clínicas w Fraturas w Neuroma de Morton w Metatarsalgia w Sesamoidite b) Equipamentos Pode ser usada bobina de joelho ou bobina específica para antepé, quando houver. c) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito ventral, com o antepé posicionado no centro da bobina de joelho. Usar espumas para facilitar a fixação. RM de MMSS – MMII (coxas, pernas, braço e antebraço) a) Indicações clínicas w Lesões musculares w Lesões ósseas w Tumor w Infecção w Metástases b) Bobina Usar bobina compatível com a estrutura que será analisada, levando em consideração o FOV e a espessura de corte desejados. c) Posicionamento do paciente Ao posicionar o paciente, além da preocupação com a relação anatômica, deve-se deixá-lo o mais confortável possível, para evitar artefatos de movimentos. d) Programação de cortes Entre os planos sagital e coronal, escolher o plano que melhor demonstre a lesão e pro- gramar sequências em T1 e STIR ou T2 FAT SAT, com FOV grande, abrangendo toda a estrutura. Em seguida, direcionar as demais sequências para a área da queixa ou de alte- ração de sinal. 48 Capítulo 1 Figura 57 Coxa axial T1. Marcador externo na região do adutor indicando o local da dor RM da região esternoclavicular a) Indicações clínicas w Artrose w Infecção w Tumor b) Equipamentos Bobina Ctl Array Bobina de superfície. Figura 56 Coxa coronal T1 Tabela 7 Protocolos sugeridos para RM de membros inferiores RM ARTICU- LAÇÕES M. INFERIORES LOCALIZA- DOR 3 PLANOS SAGITAL T 1 SAGITAL T 2 (FAT/SUP) CORO- NAL T1 CORONAL T2 (FAT/SUP) AXIAL T 1 AXIAL T2 (FAT/SUP) AXIAL OBLÍQUO T2 (FAT/SUP) AXIAL T1 FAT / SUP Objetivos: Quadril Opcional Joelho Artro joelho Tornozelo Artro tornozelo Médio pé Antepé Coxa/perna c) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito ventral, com os bra- ços posicionados ao longo do corpo ou acima da cabeça, de forma simétrica. A região a ser estudada deve estar no centro da bobina. A po- sição em decúbito ventral faz com que a área de interesse fique mais próxima da bobina, melho- rando o sinal e diminuindo os artefatos causa- dos pela respiração do paciente. Imagem por Ressonância Magnética 49 RM do ombro a) Indicações clínicas w Lesão do manguito rotador w Lesão de Labrum Figura 59 Bobina de ombroFigura 58 Bobina de ombro de superfície w Traumas, fraturas e luxações w Processos inflamatórios locais w Lesões ligamentares w Tumor ou infecção. b) Equipamento Bobina de ombro c) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito dorsal, com a palma da mão colocada na lateral do quadril e fixada com faixa imobilizadora. Usar um apoio sob a cabeça para que esta não se mova para os lados. Colo- car espumas sob o braço, para que este fique no plano do tórax. Posicionar a bobina centra- lizada no ombro. Orientar o paciente a manter a musculatura relaxada e respirar suavemente para evitar artefatos de movimentos. Planos de cortes Figura 60 Ombro cor T1 Figura 61 Ombro cor T2 Fat 50 Capítulo 1 Figura 62 Ombro sag DP Figura 63 Ombro planejamento dos planos coronal oblíquo e sagital oblíquo Artro-RM do ombro a) Indicações clínicas w Lesão de Labrum w Slap Lesion w Luxação recidivante. b) Equipamento Bobina de ombro c) Posicionamento do paciente O mesmo do ombro-rotina. Para a realização da Artro-RM do ombro, in- jetam-se cerca de 10mL de solução (0,7mL de gadolínio em 100mL de soro fisiológico). Ime- diatamente após a injeção de contraste, iniciar a aquisição das imagens. Dessa forma, evita-se que a cartilagem absorva o contraste e dificulte sua visualização. RM do cotovelo a) Indicações clínicas w Processos inflamatórios locais w Epicondilite medial e/ou lateral w Lesões ligamentares w Tumor ou infecção w Fraturas b) Equipamentos Bobina flexível (flex coil) Bobina própria para cotovelo Bobina de joelho c) Posicionamento do paciente Bobina de joelho/própria – paciente em de- cúbito ventral, em posição de nadador, com o braço estendido acima da cabeça. Cotovelo no centro da bobina procurando manter a posição anatômica, sem girar o antebraço. Bobina flexível – paciente em decúbito dor- sal, com o braço estendido ao longo do corpo, com o cotovelo no centro da bobina, procu- rando manter a posição anatômica, sem girar o antebraço. Imagem por Ressonância Magnética 51 RM do punho a) Indicações clínicas w Processos inflamatórios (tendinite/sinovite) Figura 64 Cotovelo cor T1 Figura 65 Cotovelo cor T2 – Fat/Sup Figura 66 Cotovelo sagital T1 Figura 67 Cotovelo planejamento w Síndrome do túnel do carpo w Traumas/fraturas w Lesão de cartilagem Plano de exame 52 Capítulo 1 b) Equipamentos Bobina própria para punho Bobina flexível (flex coil) Bobina de joelho Figura 68 Bobina de punho c) Posicionamento do paciente Bobina de joelho – paciente em decúbito ventral, em posição de nadador, com o braço estendido acima da cabeça, com o punho no centro da bobina, procurando manter a posição anatômica, sem girar o antebraço. Bobina flexível – paciente em decúbito dor- sal, com o braço estendido ao longo do corpo, com o punho no centro da bobina, procuran- do manter a posição anatômica, sem girar o antebraço. Plano de exame: Figura 69 Punho coronal T1 Figura 70 Punho coronal T2 Figura 71 Punho axial T1 Figura 72 Punho planejamento Imagem por Ressonância Magnética 53 Artro-RM do punho a) Indicações clínicas w Síndrome do túnel do carpo w Fraturas w Lesão de cartilagem b) Posicionamento do paciente O mesmo adotado no exame de rotina. Tabela 8 Protocolos sugeridos para RM de membros superiores Para a realização da artro-RM são injeta- dos cerca de 5mL de solução (0,7mL de ga- dolínio em 100mL de soro fisiológico). Após a injeção de contraste, iniciar a aquisição das imagens imediatamente. Dessa forma, evita- -se que a cartilagem absorva o contraste e dificulte sua visualização. RM ARTICULA- ÇÕES SUPERIOR LOCALIZA- DOR 3 PLANOS SAGITAL T 1 SAGITAL T 2 (FAT/SUP) CORO- NAL T 1 CORONAL T2 (FAT/SUP) AXIAL T 1 AXIAL T2 (FAT/SUP) CORO- NAL T2 * AXIAL T1 FAT /SUP CONTRASTE Objetivos: Esterno- clavicular Ombro Obliquo Oblíquo Oblíquo Oblíquo Artro- ombro Oblíquo Oblíquo Oblíquo Cotovelo Punho Artro- punho Braço/ante- braço RM do abdome superior a) Principais indicações w Avaliação e estadiamento de tumores w Pesquisa de hemangioma hepático w Avaliação de vias biliares w Avaliação de nódulos e/ou cistos renais w Avaliação de processos inflamatórios locais. b) Equipamentos Bobina torso (arranjo de fase) Bobina de corpo (body coil) c) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito dorsal. Braços ao longo do corpo. Apêndice xifoide no centro da bobina. Utilizar cinta de compensação respiratória. A cinta de compensação respiratória (respi- ratory gating) deve ser posicionada no abdome ou no tórax do paciente, no local de maior am- plitude de expansão em função da respiração. Esse cuidado é necessário a fim de se obter o registro mais fiel da respiração do paciente. Ou- tro cuidado que se deve ter é quanto à orienta- ção do padrão respiratório durante o exame. O paciente deve ser orientado a manter uma res- piração tranquila, calma e compassada, evitan- do inspirações profundas ou alteração de seu ritmo. Em algumas sequências, ele será instru- ído a respirar fundo e prender a respiração. É igualmente importante orientar o paciente que esse procedimento deve ser feito sempre com a mesma intensidade. 54 Capítulo 1 Plano de exame: Exames do abdome superior são, em ge- ral, realizados com meio de contraste. A inje- ção do contraste é dinâmica, com aquisições de imagens nos tempos: arterial, portal e de equilíbrio. Essas imagens são frequentemente comparadas com as obtidas pela tomografia computadorizada. Figura 73 Abdome axial T2 1o Eco (supressão de gordura) Figura 74 Abdome axial T2 2o Eco Figura 75 (A, B, C) RM Dinâmica Ax.Pré-contraste Figura 76 RM Coronal SSFSE A B C Imagem por Ressonância Magnética 55 RM de pelve (masculina) a) Indicações clínicas w Tumor de próstata w Doenças da bexiga w Processos infecciosos. b) Equipamentos Bobina torso Bobina pélvica Bobina endorretal. c) Posicionamento do paciente Paciente em decúbito dorsal, com os braços acima da cabeça, ou sobre o tórax. Usar cinta de compensação respiratória. Os cuidados com esse dispositivo são os mesmos adotados para o abdome superior. Exames da pelve masculina podem ser re- alizados com uso de bobina endorretal. Essas bobinas aumentam a relação sinal-ruído local e conferem melhor qualidade às imagens, parti- cularmente nos exames da próstata. Figura 77 Bobina endorretal Figura 77 Próstata. Coronal com bobina pélvica Figura 78 Próstata. Sagital T2 com bobina endorretal Figura 79 Próstata. Sagital T1 com bobina endorretal 56 Capítulo 1 Figura 82 Pelve coronal T2 com supressão de gordura Figura 83 Pelve sagital T2 w Cistos complexos de ovário. b) Posicionamento da paciente Paciente em decúbito dorsal, com os braços acima da cabeça ou sobre o tórax. O uso da cinta de compensação respiratória é também indicado para esse exame. Nas sequên- cias pélvicas para indivíduos do sexo feminino, é importante a aquisição de imagens com ponde- ração T1 e supressão de gordura. A presença de pequenos sangramentos e processos hemorrági- cos ocorre com frequência nessa região. Na pelve feminina também está indicado fazer os três planos em ponderação T2 e um deles com supressão de gordura. Plano de exame: Figura 81 Pelve axial T2 Figura 80 Pelve axial T1 FAT/SUP RM de pelve (feminina) a) Indicações clínicas w Mioma uterino w Endometriose w Tumores pélvicos Imagem por Ressonância Magnética 57 Figura 84 Colangiorressonância Figura 85 Colangiorressonância Tabela 9 Protocolos sugeridos para RM de abdome e pelve RM ABDOME E PELVE LOCALI- ZADOR 3 PLANOS CORO- NAL T2 SSFSE (AP- NEIA) AXI- AL T 1 AXIAL T 2 (1o ECO) (FAT/ SUP) AXIAL T2 (ECO TARDIO) AXIAL IN / OUT GRE (APNEIA) AXIAL T1 G R E CON- TRASTE E.V. (FAT/SUP) (APNEIA) COR T2 SAG T2 Objetivos: Abdome superior 4 aquisições - Pré-contraste - Pós (30s) - Pós (60s) - Pós (3min) Pelve fem. Fat/sup Pelve masc. Pelve Bob. endorretal Cortes finos Cor- tes finos Cor- tes finos Colangiorressonância O exame das vias biliares pela ressonância, a colangio RM, normalmente está inserido na ro- tina do exame do abdome superior. A apresen- tação das vias biliares pela RM explora duas téc- nicas principais, a sequência single shot fast spin echo – SSFSE com apneia e corte espessos (40 a 60mm) e a sequência SSFSE de cortes finos e aquisição volumétrica sincronizada com a respi- ração. Normalmente o exame das vias biliares não necessita de uso de meio de contraste e é um procedimento relativamente rápido. O cor- tes são planejados tomando-se como referência a região da papila de Water no duodeno onde desembocam o colédoco e ducto pancreático. Na aquisição multiplanar são realizadas pelo menos aquisições nos planos coronal, oblíqua acompanhando a cabeça do pâncreas e oblíquo no plano da vesícula biliar. 58 Capítulo 1 Urorressonância O exame de urorressonância costuma ser de longo tempo. Aquisições na região da pel- ve em T1 e em T2 e no abdome superior com as mesmas ponderações devem preceder a etapa principal do exame. As vias excretores são demonstradas por duas técnicas. Através do uso da sequência SSFSE em aquisição co- ronal com largo FOV incluindo desde os rins até a bexiga e cortes espessos (40 à 80mm) e após uso de meio de contraste em aquisição tardias de 5min, 10min, e 15min usando se- quências gradiente de sensibilidade vascular. Obtidas as sequências de excreção um tra- tamento volumétrico deve ser realizado para apresentar as vias excretores em múltiplas projeções. Especial atenção deve ser dada aos exames de paciente que apresentam re- tardo na excreção. Às vezes sequência tardias de até uma hora podem ser necessárias. O posicionamento da bobina deve ser de forma tal que posso obter sinal de todo o sistema excretor (rins até bexiga). Figura 86 Urorressonância Figura 87 Urorressonância Imagem por Ressonância Magnética 59 RM Tórax O exame do tórax por RM não é comum. Todavia, quando houver interesse em lesões na parede torácica e lesões expansivas no medias- tino o exame poderá estar bem indicado. Nessa região por conta do movimento respiratório e do batimento cardíaco será im- prescindível usar dispositivos que minimizem os artefatos de movimento. A compensação respiratória é feita por meio de dispositivos expansores que informam o sistema sobre a inspiração e expiração do paciente. Durante o período de inspiração os sinais obtidos são codificados pelos gradientes que codificam os sinais na periferia do espaço “K”. Na expira- ção os sinais são codificados pelos gradiente que codificam os sinais na região central do espaço “k”. O uso de cintas de compensação respiratória deve ser feito com critério para obtenção da real expansão do tórax durante a respiração. A cinta deve ser posicionado na região de maior amplitude de movimento to- rácico e deve estar livre para poder expandir e contrair livremente. Para evitar os artefatos decorrentes do ba- timento cardíaco é feita a monitoração do pa- ciente por eletrodos de eletrocardiagrama. A curva de ECG deve destacar a onda “R” e para isso a derivação usualmente aceita é a DII. O disparo da radiofrequência para aquisição dos sinais é feito com a identificação da onda R. O protocolo do exame de tórax inclui sé- ries axiais T1 e T2, coronais T1 e T2 e um plano sagital T2. Se for utilizado meio de contraste as aqui- sição pós devem ser feitas com sequências do tipo gradiente eco e com apnéia do paciente. Figura 88 RM Tórax. Axial T1 60 Capítulo 1 RM Mama O exame da mama na ressonância mag- nética apresenta duas indicações principais: a pesquisa de nódulos tumorais e a investiga- ção da integridade de próteses. Na pesquisa de nódulo o exame é feito com contraste em injeção dinâmica de múltiplas aquisições. O exame da avaliação de próteses não necessita de meio de contraste é e feito com técnicas de supressão de gordura e de água. Posicionamento: A paciente assume uma posição bastante desconfortável durante o exame ficando em decúbito ventral e com os braços para cima. As mamas são encaixadas dentro das cavidades da bobina e a paciente deve permanecer nessa posição por cerca de 20 à 40 minutos. Figura 89 Mama Sagital GRE – Pré-contraste Figura 91 Mama Sagital T2 (fat/sup). Cistos Figura 90 RM Mama – Contraste 90 segundos Figura 92 Mama Sagital STIR – Prótese Imagem por Ressonância Magnética 61 5. Ressonância Magnética Cardíaca A Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) é uma técnica que apresenta muitas vantagens no estudo de diversas patologias miocárdicas. Dentre elas, a não utilização de radiações io- nizantes, a possibilidade de aquisição de ima- gens em todos os planos anatômicos, a capa- cidade de caracterizar tecidos e a avaliação qualitativa e quantitativa dos movimentos de sístole e diástole e do fluxo sanguíneo. Os protocolos para realização da RMC estão em constante evolução, as sequências gradiente eco com baixo tempo de aquisição tornou possível os estudos de movimento de parede com alta resolução espacial e tempo- ral. As sequências de perfusão e realce tardio destacam – se na RMC como padrão ouro no estudo de isquemias e infartos. Os estudos com técnicas de ressonância funcional estão cada vez mais presente nos estudos cardíacos, hoje é possível realizar espectroscopia e difu- são com tractografia no miocárdio. Todos os avanços tecnológicos trazidos pela ressonância magnética fazem da RMC um mé- todo muito promissor no diagnostico diferen- cial de uma variedade de patologias cardíacas. 5.1. Eixos anatômicospara o estudo cardíaco O estudo anatômico por ressonância magnética baseia – se nos planos três planos anatômicos; sagital, coronal e axial. Em res- sonância cardíaca, os três planos anatômicos não são suficientes para um estudo efetivo das estruturas anatômicas, devido ao seu formato e disposição no mediastino. O coração é um órgão de formato aproxi- madamente cônico, com a base voltada para trás e para a direita, e o ápice voltado para frente e para a esquerda, dois terços do seu volume estão situados à esquerda da linha sa- gital mediana. Devido a essas características, tornou – se necessária a criação de planos de cortes anatômicos específicos para os exa- mes cardíacos (1; 7). A nomenclatura utilizada para definir os planos de corte em RMC possui variações. No Brasil, as denominações mais utilizadas na pratica clinica são: eixo curto, eixo longo e quatro câmaras. Os três planos anatômicos utilizam como referência a linha formada pelo septo interventricular. As imagens em eixo curto e quatro câmaras são adquiridas perpendicularmente, e as de eixo longo são adquiridas paralelamente ao septo interventricular. 5.1.1 Eixo curto O eixo curto normalmente é o primeiro plano adquirido, porque serve como referên- cia para a programação dos outros dois planos. As imagens são adquiridas perpendiculares ao septo interventricular, partindo do ápice para a base do coração (Figura 93). 5.1.2 Eixo longo Nas sequencias de eixo longo são adquiridos cortes paralelos ao septo interventricular co- brindo toda a área cardíaca (Figura 94). 5.1.3 Quatro câmaras A programação para a sequência de quatro câmaras utiliza como referência a linha do septo visualizado no eixo curto previamente adquiri- do. Os cortes iniciam ao nível da face diafrag- mática e terminal na altura da bifurcação da ar- téria pulmonar (Figura 95). 62 Capítulo 1 Figura 93 – planejamento do eixo curto Figura 94 – Planejamento do eixo longo Figura 95 – Planejamento do quatro câmaras Imagem por Ressonância Magnética 63 5.2. Equipamentos e posicionamento do paciente Para a realização de uma RMC são neces- sários alguns requisitos técnicos. Somente os equipamentos mais modernos dispõem dos softwares e hardwares necessários para aquisi- ção das imagens. Muitos dos recursos utilizados no exame de RMC são comercializados como pacotes, que podem ser adquiridos como op- cionais na compra de um equipamento de RM. Para a execução de um protocolo básico de RMC é necessários dispor de: n Bobina de corpo/ bobinas de volume com arranjo de fase; n dispositivo de Sincronização Cardíaca (gating); n dispositivo de Sincronização Respiratória; n eletrodos de alta fixação para sincronização cardíaca; n sequências de pulso especificas para avaliação cardíaca. O exame é realizado com o paciente em de- cúbito dorsal na mesa de exame e entrado com os pés em direção ao magneto, monitorado com os dispositivos de sincronização cardíaca e respiratória. O paciente deve ser posicionado de modo que a luz de alinhamento longitudinal fique na linha média e a luz de alinhamento hori- zontal passe ao nível da quarta vértebra torácica ou dos mamilos (11). A bonina deve ser posiciona- da de modo que gere sinal satisfatório do ápice pulmonar ao pólo superior do rim esquerdo. 5.2.1 Sincronização (Gating) com ECG O coração é órgão difícil de ser estudado pela RM porque está em constante movimento e gera muitos artefatos de imagem. Os movi- mentos de sístole e diástole ocorrem de ma- neira repetitiva mantendo – se quase sempre, a mesma frequência e amplitude, devido a es- ses movimentos cíclicos é possível sincronizar o disparo de radiofrequência (RF) e a leitura do sinal de RM. A sincronização é feita por meio de um de eletrocardiograma (ECG), desta for- ma, cada imagem sempre é adquirida na mesma fase do ciclo cardíaco reduzindo os artefatos e o mapeamento incorreto decorrente do movi- mento cardíaco (1; 7; 11). Os dados do ECG são apresentados de for- ma gráfica como ondas especificando cada fase do movimento com as letras PQRST (Figura 96), na curva do ECG, as letras representam os eventos elétricos de ativação do miocárdio, que não são o mérito deste capitulo. A onda R do ECG é a que apresenta maior amplitude e por isso é utilizada como referencia para a aquisição das imagens, o sistema de RM utiliza a onda R como ponto inicial para sincronizar o disparo de RF e a leitura do sinal. Figura 96 – Representação gráfica da curva do ECG O posicionamento dos eletrodos de ECG para ressonância magnética é diferente do uti- lizado na pratica clinica, de modo geral, são utilizados quatro pontos de monitoração com códigos de cores específicas para a sua identifi- 64 Capítulo 1 cação. Nem todos os sistemas adotam o mes- mo código de cores, embora o princípio de sua colocação seja o mesmo. Os eletrodos podem ser posicionados na parede anterior ou poste- rior do tórax, o posicionamento anterior é mais simples porque os marcos anatômicos são mais fáceis de localizar. Alem disso, se os eletrodos forem colocados no dorso da paciente, o pa- ciente fica sobre eles durante o exame e isso é desconfortável para ele. As cores utilizadas para identificar os eletro- dos são: preto, branco vermelho e verde. Os eletrodos branco e vermelho são colocados em pontos opostos do coração, de modo que a di- ferença de voltagem entre os dois produza o traçado eletrocardiográfico. O eletrodo verde deve ser colocado o mais próximo possível da derivação vermelha, sem encostar na mesma, porque atua como terra. A derivação de cor preta também atua como terra(11). 5.2.2 Sincronizaçao com vetores inde- pendentes Dependendo do posicionamento dos ele- tros, é possível gerar duas curvas de ECG independentes, esta técnica chamada de sin- cronização com vetores independentes. Neste caso, os eletrodos preto e verde não atuam como dispositivo de aterramento, mas sim, como geradores de uma segunda curva de ECG. A sincronização com vetores indepen- dentes é muito utilizada nos exames cardíacos, porque o sistema passa a ter duas curvas como referência e utiliza a que apresentar a melhor reprodutibilidade (1). A sincronização com vetores independen- tes consegue eliminar um problema pontual nas curvas de ECG. Quando o paciente entra em contato com o campo magnético forte, em muitos casos, ocorre uma súbita elevação da onda T causando um colapso do sistema, que passa a mostrar frequências extremamente al- tas e falsas arritmias (11). Na sincronização de vetores independentes, deve ser alterado apenas o posicionamento dos eletrodos preto e verde. 5.2.3 Fatores que melhoram o traçado do ECG Abaixo estão numerados alguns fatores que podem melhoram o traçado do ECG: n Fixação dos eletrodos à parede torácica – Nos pacientes de sexo masculino, é preciso raspar os pelos existentes na região onde os eletrodos serão colocados e a pele deve ser limpa com álcool. n As derivações devem ser fixadas firmemente nos adesivos na ordem correta. n Se o traçado não for satisfatório, o posicionamento dos eletrodos pode ser invertido. Inicialmente inverte – se o preto e o branco ou o vermelho e o verde. n Os pés do paciente devem ser colocados primeiro no interior do magneto por que diminui os problemas de elevação da onda T. 5.3. Sequências de pulso para avaliação miocárdica As sequencias de pulso de avaliação cardí- aca têm por finalidade estudar a viabilidade do miocárdio. Um estudo básico de viabili- dade do miocárdio deve conter as seguintes sequências: Imagem por Ressonância Magnética 65 n Sequencia Wall Motion (Movimento de Parede); n Sequencia First Pass (Primeira Passagem) também conhecida como perfusão; n Sequencia Delayed Enhancement (Realce Tardio); A sequencia Wall Motion demonstra as infor- mações funcionais e anatômicas do coração. A sequencia First Pass demonstra a perfusão mio- cárdica. A terceira sequência, Delayed Enhance- ment, é utilizada paradeterminar as áreas do miocárdio que estão viáveis (vivas) e não viáveis (enfartadas e isquêmicas) (1; 6; 8; 11). 5.3.1 Wall motion (movimento de parede) As sequencias wall motion permitem a visua- lização da função cardíaca, do fluxo cardíaco e do movimento das paredes cardíacas. Nos estudos wall motion são adquiridas ima- gens sincronizadas com o ECG durante múlti- plas fases do ciclo cardíaco, fornecendo ima- gens dos movimentos sistólicos e diastólicos. Essa técnica também é conhecida como ima- gens de múltiplas fases. São adquiridas em me- dia 20 imagens na mesma locação de diferentes fases do batimento cardíaco (1). Quanto mais cortes são adquiridos durante o ciclo cardíaco, melhor a resolução temporal. Para obter essa grande quantidade de imagens em um curto espaço de tempo são utilizadas se- quências gradiente eco. Os estudos em cine e tagging são as princi- pais técnicas utilizadas para as sequencias de wall motion. As aquisições em cine são exce- lentes para demonstrar a anatomia e o fluxo cardíaco, o tagging é utilização para avaliar a variação de movimento de parede em even- tos isquêmicos. 5.3.1.1 Cine Nas aquisições em cine normalmente é uti- lizado a sequencia de pulso Fast Imaging Em- ploying Steady State Acquisition (Formação de Imagens Rápidas com o Uso da Aquisição de Estado Estável – FIESTA) (1). A nomenclatura uti- lizada para descrever a série pode variar entre os fabricantes, mas os princípios físicos são os mesmos. Esta sequencia de pulso é totalmente equilibrada e é capaz de produzir imagens em estado estável, com alta Relação Sinal – Ruído (SNR) em períodos sequenciais muito curtos. A sequencia FIESTA utiliza gradientes totalmente equilibrados para refazer a magnetização trans- versal no final de cada intervalo de tempo de repetição (TR) mantendo o contraste e a inten- sidade do sinal em todas as imagens. Essa ca- racterística torna a sequência FIESTA excelente para aquisições de cine em exames cardíacos (1). Nos exames do coração o cine é adquirido nos três planos anatômicos específicos, ou seja, é rea- lizado cine em eixo curto, eixo longo e quatro câ- maras. A figura 97 demonstra uma aquisição em cine do eixo curto utilizando sequencia FIESTA. 66 Capítulo 1 Figura 97 – Aquisição cine do eixo curto utilizando sequência FIESTA Imagem por Ressonância Magnética 67 5.3.1.2 Tagging A sequencia Tagging utiliza um recurso de aquisição chamado Modulação Espacial de Magnetização. Esse recurso tem a função de modular ou variar o campo magnético na região do coração, com ondas. A Modu- lação Espacial de Magnetização é realizada por meio da emissão de uma onda de RF que estimula somente os tecidos de uma deter- minada frequência. Nesse processo, são emi- tidas ondas de excitação moduladas a fim de gerar imagens estriadas. A modulação pode ser aplicada ao longo de várias direções que irão determinar o for- mato na imagem. Se a modulação for aplica- da ao longo de dois eixos perpendiculares, a imagem resultante deverá ter um aspecto de grelha (4; 6; 8; 11). A modulação espacial de magnetização nor- malmente é utilizada associada à sequencia de pulso Fast CINE GRE com sincronização cardí- aca e aquisições em múltiplas fases (1). A sequencia tagging é utilizada para avaliar a função da parede cardíaca após infarto do miocárdio. As imagens são adquiridas com técnica de múltiplas fases que permitem a vi- sualização de estrias ou grelhas que aparecem com a movimentação das paredes do miocár- dio. Em um miocárdio normal, as grelhas e es- trias tendem a desaparecer com o movimento do miocárdio após alguns segundos. Entretan- to, nas áreas de infarto do miocárdio, a mus- culatura da parede cardíaca não se move nor- malmente. Nesse caso, as estrias ou grelhas permanecem na imagem e não desaparecem. Esse fenômeno fornece informações sobre a função cardíaca, (Figura 98) (4; 6; 8; 11). Figura 98 – Demonstração de uma sequencia tagging evidenciando o desaparecimento das grelhas com o passar do tempo Fonte: Computers in Cardiology (Madrid, 33:61 – 64, 2006). 68 Capítulo 1 5.3.2 First Pass (Perfusão Cardíaca) O objetivo da sequencia first pass ou perfu- são é analisar comparativamente o miocárdio sadio e o infartado ou isquêmico. A perfusão é realizada no plano eixo curto, com a injeção de contraste de forma dinâmica. As imagens são adquiridas evidenciando a chegada contraste em todo miocárdio. Os infartos e isquemias são caracterizados por defeitos de preenchimento ou por regiões que apresentam baixo sinal. Em alguns casos, nos estudos de perfusão, são utilizadas drogas indutoras de estresse. As drogas mais utilizadas são a Dobutamina e o Di- piridamol. A utilização destas drogas causa uma diminuição da perfusão em áreas de isquemia, quando comparada ao miocárdio normal. Por- tanto, o estresse farmacológico ajuda na visuali- zação de áreas isquêmicas. Para a perfusão, é utilizada a sequencia de pulso Fast Gradient Echo – Echo Train (FGRET) cuja tradução é Gradiente Eco Rápido com Trem de Ecos. A FGRET é uma sequencia Fast Gradient Echo (FGRE) com formato de leitura semelhante ao da sequência eco planar (EPI). A FGRET utiliza uma sequência de pulso Gra- diente eco com tempo de repetição (TR) cur- to e capacidade de adquirir varias imagens por TR, utilizando um trem de eco (ET) de EPI. Os recursos das sequências FGRE e EPI foram combinados para a utilização em estudos de perfusão em RMC (1; 6; 8; 11) . 5.3.3 Delayed Enhancement (Realce Tardio) O Delayed Enhancement é utilizado para determinar as áreas do miocárdio que estão viáveis (vivas) e não viáveis (enfartadas e is- quêmicas). Áreas do miocárdio em processo isquêmico podem não apresentar realce ao contraste durante a perfusão, mas se essa área ainda for viável, é possível observar um nível de realce cinco minutos após a injeção do meio de contraste. A sequência de pulso que avalia essa impregnação do miocárdio após a perfusão é chamada de Realce Tardio. A sequência de pulso utilizada é a Fast GRE com preparo de recuperação da inversão (IR Prep). O IR Prep, nesse caso especifico, é uma opção de imagem que aumento o contraste en- tre o miocárdio normal e as áreas isquêmicas. A sequência de realce tardio pode ser rea- lizada nos três planos de estudo anatômico do coração. O realce tardio em eixo curto dever ser adquirido cinco minutos após a injeção do contraste. Em seguida as quatro câmaras e o eixo longo com dez e quinze minutos, respec- tivamente (1; 6; 8). 5.4. Protocolos Especiais Desde a sua origem, a ressonância sempre mostrou – se extremamente inovadora, os protocolos estão cada vez mais completos e complexos. Os estudos deixaram ser mera- mente anatômicos e passaram a trazer muitas informações funcionais. Esta revolução ini- ciou – se com os estudos neurológicos e tem se estendido cada vez maia as outras áreas de investigação por RM. A ressonância Magnética Funcional, que antes era exclusiva da Neuro- radiologia, passou a ser usada nos exames de medicina interna, músculo esquelético e estu- dos cardiovasculares. A Difusão, os estudos com Tensores de Difusão e reconstrução tractográfica, a es- pectroscopia, os estudos de quantificação de minerais e a perfusão estão começando a fa- zer parte da rotina de diferentes áreas. Esses métodos de estudos funcionais apresentados mostram – se muito promissores na investiga- Imagem por Ressonância Magnética 69 ção de diferentes patologias cardíacas. Neste capitulo será abordado algumas destas inova- ções tecnológicas aplicas à RMC. Hoje, com a utilização de sequências de pulso ultra – rápidas, é possível realizar exa- mes de angioressonância com qualidade cada vez mais próxima da angiografia digital. É pos- sível adquirir imagens dos vasos cardíacos, in- clusive das artérias coronárias, com alta reso- lução espacial e contraste. 5.4.1 Angioressonância das artérias coronárias A Angiografia por Ressonância Magnética (ARM) das artérias coronáriascomeçou a ser realizada em 1991 com o desenvolvimento de um novo grupo de sequencias de pulsos rápidas. A ARM coronariana desde então tor- nou – se uma opção de imagem muito usada na pratica clinica, detectando doenças e varia- ções anatômicas. No Brasil, a utilização desta técnica tem se mostrado muito discreta, não é comum a solicitação deste tipo de exame; por esse motivo, o método não se tornou tão po- pular. A angiografia digital e a tomografia com- putadorizada são consideradas padrão ouro no estudo as artérias coronárias, talvez esse tam- bém seja uma das causas da pouca procura da ARM coronariana (2; 3). As sequências gradiente eco tridimensio- nais com injeção dinâmica do contraste para- magnético Gadolínio (Gd), tornaram possível a realização das ARM coronarianas e dos gran- des vasos da base cardíaca. As sequencias 3D Spoiled Gradient Echo (SPGR) e 3D Fast Time of Flight Spoiled Gradient Echo (Fast TOFSPGR) são as mais utilizadas neste tipo de estudo. A grande vantagem das sequências SPGR é o baixo tempo de aquisição, tornando possível a realização de imagens sem sincronização com poucos artefatos de movimento (1; 5). O tempo de aquisição de uma ARM co- ronariana com alta resolução pode demorar em média 12 segundos, este tempo é relati- vamente baixo, porém não é suficiente para uma aquisição livre de artefatos. As sequ- ências SPGR possuem uma opção de preen- chimento do espaço K denominado Elliptical Centric, este recurso torna possível a aquisi- ção de imagens angiográficas cardíacas com tempo alto de aquisição livres de artefatos de movimento. Isso é possível porque são reali- zadas múltiplas varreduras durante a aquisi- ção, nas primeiras; são lidas as ondas de alta frequência, que são responsáveis pelo con- traste da imagem, no restante das varreduras, são lidas as ondas de baixa frequência, que geram um efeito de mascara (3). A técnica Fast Imaging Employing Steady Sta- te Acquisition (FIESTA) utilizada nas aquisições em cine também pode ser utilizada para a ge- ração de imagens angiográficas, isso é possível devido à característica de realce do sangue, intrínseco a sequencia FIESTA. A aquisição é realizada em 3D com alta resolução espacial e temporal. Para minimizar os artefatos de mo- vimento é utilizada a sincronização cardíaca e respiratória simultaneamente. A sincronização respiratória é feita por um navegador de ecos que determina o disparo da radiofrequência e leitura do sinal, considerando uma posição fixa para o diafragma, tornando possível a execu- ção da sequencia em respiração livre. A figura 99 demonstra um estudo comparativo entre a ARM coronariana e a angiografia digital. 70 Capítulo 1 5.4.2 Espectroscopia Cardiáca A ressonância magnética convencional uti- liza os átomos de Hidrogênio H como fonte para a aquisição das imagens. É possível ob- ter imagens e dados de outros átomos, entre deles, e o Fósforo – 31 (31P) é o átomo utili- zado nos estudos de espectroscopia cardíaca. Dois metabolitos importantes na função cárdia possuem átomos de 31P em sua composição: A adenosina – 5 – trifosfato (ATP) e a Fosfocre- atina (PCr). A ATP é a fonte de energia direta para todas as reações e a PCr é importante para o armazenamento de energia e transpor- te de algumas substancias (4; 9). A ressonância identifica três Fósforos na molécula de ATP (alfa, beta e gama), PCr, 2,3 – difosfaglicerato (2,3 – DPG) e o fosfato PDE resultante de fosfolipídios. Dentre os metabo- litos apresentados, o mais importante é a rela- ção ATP – PCr, esta relação é extremamente sensível ao estado energético do coração: A relação ATP – PCr diminui em poucos segun- dos após o inicio de um processo isquêmico. Isso ocorre porque quando a demanda de oxi- gênio supera o suprimento disponível, as con- centrações de PCr diminuem muito antes de as concentrações de ATP começarem a dimi- nuir, tornando possível a demonstração gráfica dessas variações por meio de uma curva de espectroscopia (Figura 100) (4; 9). Os estudos de espectroscopia cardíaca apresentam melhor qualidade quando execu- tados em equipamentos de 3 teslas, uma alta homogeneidade de campo e alto sinal de bobi- na de superfície são primordiais. Para manter o coração mais próximo da bobina, a sequência de espectroscopia normalmente é realizada em decúbito ventral, o voxel utilizado para a leitu- ra deve ser programado em um localizador de três planos, para certificar – se que o fígado não será incluso no estudo(4; 9). Figura 99 – ARM de coronária (esquerda) e angiografia digital (direita) demonstrando lesão na bifurcação da ateria descendente anterior e na circunflexa esquerda. Fonte: The New England; Journal of medicine (nº 26, p. 1867). Imagem por Ressonância Magnética 71 5.4.3 Tractografia A tractografia cardíaca é uma técnica capaz de evidenciar a organização das microestrutu- ras do miocárdio. Essa técnica foi desenvolvida inicialmente para estudar o trajeto dos tratos nervosos no sistema nervoso central, porém vem sendo utilizadas em diversas áreas. A tractografia cardíaca está baseada nos mesmos princípios físicos da tractografia neurológica, ambas as técnicas utilizam o movimento ale- atório das moléculas de água (Difusão) como base para a formação das imagens. A técnica Diffusion Tensor Imaging (DTI) é capaz de es- tudar o sentido do movimento de Difusão das moléculas de água no corpo, o movimento de difusão costuma ser randômico, porem foi ob- servado que esse movimento tem certa ten- dência de ocorrer no sentido de tratos nervos e de fibras musculares (4; 10). Por meio da técnica DTI é possível gerar reconstruções tridimensionais evidenciando o trajeto das fibras musculares cardíacas em dife- rentes planos anatômicos (Figura 101). Figura 101 – Tractografia do eixo curto evi- denciando o trajeto das fibras musculares. Fonte: Journal of Cardiovascular Magnetic Resonance (November 2009 1 – 15). As imagens são adquiridas utilizando a téc- nica DTI com 25 direções para aplicação dos gradientes. A aquisição pode ser sincronizada com o ECG, desde que esta opção esteja dis- ponível no sistema. Figura 100 – Demonstração do plano de programação e da curva de espectroscopia de uma RMC. Fonte: Oxford, Heart Metab (2009; 44:17 – 20). 72 Capítulo 1 5.4.4 Pesquisa de ferro no coração A talassemia é uma doença caracterizada pela deposição progressiva de Ferro (Fe) em diferen- tes tecidos. O coração é um dos órgãos alvo des- ta patologia, a deposição de Fe no coração pode causar insuficiência cardíaca e arritmias (4; 12). A RMC é um importante método para diag- nosticar a deposição de Fe no coração. As se- quências gradiente eco ponderadas em T2* são muito sensíveis à variação de suscetibilidade magnética gerada pela presença de Fe no mio- cárdio. As áreas com deposição de Fe são ca- racterizadas por apresentar um maior grau de enegrecimento que as áreas vizinhas (4; 12). As sequências de múltiplos ecos também são muito utilizadas no diagnostico da talassemia. Os tecidos com deposito de Fe apresentam decaimento do T2 maior que o tecido sadio, devido a essa característica, é possível avaliar o decaimento T2 dos tecidos alterando a ponde- ração da imagem. São realizadas múltiplas aqui- sições com ponderações de T1 até T2* pesado, variando de forma crescente o Tempo de Eco (TE) e mantendo constante o TR. As aquisições de múltiplos ecos propiciam a geração de ma- pas e gráficos evidenciando de forma detalhada as áreas de deposição Fe(4; 12). Referências DOYON, D.; CABANIS, E. A. Diagnóstico por imagem em ressonância magnética. Rio de Ja- neiro: Medsi, 2000. HAAGA, J. R. ; LANZIERI, C. F.; SARTORIS, D. J.; ZERHOUNI, E. A. Tomografia computadorizada e ressonância magnética do corpo humano. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. IEC 60601-2-33. Medical electrical equipment. Part 2-33: Particular requirements for the safety of magnetic ressonance equipment for medical diagnosis. 2002. IEC 60601-2-33:am1. Amendment1. Medical electrical equipment. Part 2-33: Particular require- ments for the safety of magnetic ressonance equipment for medical diagnosis. 2006. LUFKIN, R. B. Manual de ressonância magnética. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. NOBREGA, A. I. Técnicas em ressonância magnética nuclear. São Paulo: Atheneu, 2006. ROCHA, M. S. Tomografia computadorizada, ressonância magnética: gastroenterologia. São Paulo: Sarvier, 1997. STARK, D. D.; BRADLEY, W. G. Magnetic ressonance imaging. Mosby, 1988. WESTBROOK, C.; KAUT, C. Ressonância magnética prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. Imagem por Ressonância Magnética 73 Referências do item 5 1. BOGAERT S.; DYMARKOWSKI S.; TAYLOR A. M. Clinical Cardiac MRI. 1. ed. Berlin: Springer, 2005. 549 p. 2. DUERINCKX A. J. Coronary Magnetic Resonance Angiography. 1ed. New York: Springer, 2002. 342 p. 3. KIM W. Y et al. Coronary Magnetic Resonance Angiography for the Detection of Coronary Ste- noses. 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Metabolic Imaging – Department of Cardiovascular Medicine of Oxford, p 17- 20, May 2009. 10. SOSNOVIK D.; WANG R.; DAI G.; REESE T. G.; WEDEEN V. J. Diffusion MR Tractography of the Heart. Journal of Cardiovascular Magnetic Resonance. Boston. p.1 – 15, November 2009. 11. WESTBROOK C. Manual de Técnicas de Ressonância Magnética. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 408p. 12. WETWOOD M.; ANDERSON L.; FIRMIN D.; GATEHOUSE P. A Single Breath – Hold Multie- cho T2* Cardiovascular Magnetic Resonance Technique for Diagnosis of Myocardial Iron Over- load. Journal of Magnetic Resonance Imaging, London, 18:33 – 39, 2003. Angiografia por subtração digital Capítulo 2 Jean Randal Rodrigues Castro Pós-graduado em Tomografia Compu- tadorizada e Ressonância Magnética pela Universidade de Santo Amaro (UNISA). Tecnólogo em Radiologia pelo Centro Universitário São Camilo. Atua como tec- nólogo em radiologia no Hospital Santa Catarina, nas áreas de Ressonância Mag- nética, Tomografia Computadorizada, He- modinâmica e Radiologia Convencional, e no setor de Tomografia Computadorizada e Radiologia Convencional do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Angiografia por subtração digital Capítulo 2 77 Jean Randal Rodrigues Castro Em julho de 1927, Egas Moniz (neurocirur- gião português) apresentou a angiografia ce- rebral pela introdução de contraste na artéria carótida no pescoço. Na Sociedade de Neuro- logia de Paris, ele disse: “Nós tinhamos conquistado um pouco do des- conhecido, aspiração suprema dos homens que trabalham e lutam no domínio da investigação”. 1. Introdução A angiografia por subtração digital (ASD) é o estudo radiológico contrastado das artérias e veias com realce das imagens dos vasos e sub- tração de estruturas que não apresentam inte- resse. Neste método, os vasos são visualizados por receberem contraste radiológico iodado, e Figura 1 ASD Cerebral - Lateral estruturas, como ossos, ar e vísceras são elimi- nadas da imagem por meio de técnicas compu- tadorizadas de subtração digital. 78 Capítulo 2 2. Método O método consiste inicialmente na realiza- ção de uma imagem digital da região de interes- se e, em seguida, na realização de nova imagem digital da mesma região, após a introdução de um meio de contraste. As duas imagens digitais podem ser processadas por computador. Entre essas imagens, a única diferença é a presença de contraste, que aparece apenas na segunda. O trabalho no computador, através da técnica de subtração digital, é extrair da segunda imagem os sinais comuns a ambas. Feito isto, uma ter- ceira imagem é produzida com evidência apenas dos vasos impregnados com contraste. O sinal da imagem digital pode ser definido como uma função f(x). A técnica da subtração pode ser representada pela seguinte expressão: h(x) = f(x) – g(x) Na expressão acima, h(x) está relacionado com o sinal da imagem final subtraída, f(x) com o sinal da imagem na primeira exposição, e g(x) com o sinal da imagem na segunda exposição, após a introdução do meio de contraste. Por- tanto, a ASD produz imagens de sinal h(x). 3. Técnica O passo inicial na ASD é a confecção da más- cara. Essa primeira imagem realizada no processo é obtida sem nenhum meio de contraste. Ela será subtraída da imagem produzida após a injeção do contraste. É importante que entre a imagem-más- cara e a imagem-pós-contraste não haja diferença no posicionamento do paciente; caso contrário, a imagem final poderá não apresentar subtração. Por essa razão, a imobilização do paciente é de absoluta importância. Na prática, as imagens-máscaras são reali- zadas segundos antes da injeção do contraste e, não raramente, planejadas de forma simultâ- nea. Quanto menor o intervalo de tempo entre a máscara e a imagem contrastada, melhor o processo de subtração. Uma vez obtida a máscara, pode-se iniciar a aquisição da segunda imagem, a contrastada. Convém esclarecer que nos exames de rotina de ASD não se faz apenas uma segunda ima- gem. Realiza-se uma grande quantidade de imagens que serão processadas por subtração digital e poderão evidenciar fases arteriais, fases arteriovenosas e fases venosas tardias. A esco- lha dependerá do protocolo utilizado. As técnicas utilizadas para a contrastação dos vasos são as de cateterização seletiva, feitas através de cateteres vasculares levados até o lo- cal de interesse, ou técnicas de punção direta, que são menos comuns. Na técnica de cateterização, o cateter é intro- duzido em grandes vasos e conduzido por mani- pulação pelo médico intervencionista até o local de interesse. Esse procedimento é auxiliado por radioscopia todo o tempo. Nas arteriografias do tórax e do abdome, a via de entrada mais frequente é a artéria femoral. O método de punção utilizado neste caso é conhecido como Técnica de Seldinger. A definição do tipo de cateter depende do estudo que será realizado e da região a ser examinada. Figura 2 Método de aquisição digital direta Fluoroscopia Raios X Raios X intensificador de imagem elétron tubo TV imagem analógicatubo detector digital Raios X Raios X tubo imagem digital detector Angiografia por subtração digital 79 Técnica de Sendinger para introdução do cateter em hemodinâmica Passo 1 • inserção da agulha: A agulha, com uma câ- nula interna, é colocada em uma pequena incisão e avançada de modo a puncionar ambas as paredes do vaso. Passo 2 • colocação da agulha na luz do vaso: A co- locação da agulha na luz do vaso é obti- da com a remoção da cânula interna e a retirada lenta da agulha até que um fluxo sanguíneo retome através da agulha. Passo 3 • inserção do guia metálico: Quando o fluxo sanguíneo desejado retoma através da agulha, a extremidade flexível de um guia metálico é inserida através da agulha e avançada cerca de 10 cm no interior do vaso. Passo 4 • remoção da agulha: Após o posicionamen- to do guia metálico, a agulha é removida pela retirada dessa sobre a porção do guia metálico que permanece externamente ao paciente. Passo 5 • condução do cateteraté a área de interes- se: O cateter é então conduzido sobre o guia metálico até a área de interesse sob controle fluoroscópico. Passo 6 • remoção do guia metálico: Quando o ca- teter estiver localizado na área desejada, o guia metálico é removido do interior do ca- teter. O cateter então permanece em seu posicionamento como uma conexão entre o exterior do corpo e a área de interesse. 4. Equipamento de ASD O equipamento utilizado em ASD é compos- to de: mesa de exames, tubo de raios X, con- junto gerador, tubo intensificador de imagens, monitor de radioscopia, sistema de conversão analógico-digital e processador de imagens. O tubo de raios X, bem como o gerador, tubo intensificador e monitor de radioscopia, não diferem muito dos sistemas convencionais. O conversor analógico-digital é o dispositi- vo encarregado de transformar cada ponto da imagem que chega ao tubo intensificador em corrente elétrica proporcional à sua energia ini- cial. Desta forma, o sinal representado pela cor- rente gerada constituirá o sinal digital que será processado por sistemas computacionais. O processador de imagem é o dispositivo do computador encarregado de realizar as subtra- ções digitais do sistema. As imagens subtraídas são enviadas normalmente para um segundo monitor, para análise e interpretação. Passo 1: Inserção da agulha (com cânula interna) Passo 3: Inserção do guia metálico Passo 5: Condução do cateter até a área de interesse Parte 2: Colocação da agulha na luz do vaso (cânula interna removida) Passo 4: Remoção da agulha Passo 6: Remoção do guia metálico Figura 3 Técnica de Sendinger 80 Capítulo 2 Figura 4 Sala de exame de ASD 5. O exame de hemodinâmica O exame de hemodinâmica é um procedi- mento invasivo, devendo ser realizado apenas por médico com especialização nessa área. No procedimento de hemodinâmica, os profissio- nais de enfermagem ficam encarregados de promover a assistência necessária para a rea- lização do estudo na sua área de competência. Após o término do procedimento, deve-se fa- zer compressão no local para evitar hemorra- gias e outras complicações. Os pacientes são orientados a manter repouso por pelo menos quatro horas, período em que são monitorados e acompanhados até receberem alta. Os profissionais das técnicas radiológicas ficam encarregados dos procedimentos que envolvem a operação e a manipulação do equi- pamento, além da geração, aquisição, docu- mentação e armazenamento das imagens. Sala de exames A sala de exames deve estar preparada para realizar a maior variedade possível de proce- dimentos, equipada com cateteres, agulhas e guias de vários tipos e espessuras, que serão utilizados nos diversos exames. Deverá conter ainda suprimento de oxigênio e fonte de aspiração, além de equipamentos de suporte para os casos de emergência. Bomba injetora de contraste Esse dispositivo de injeção de contraste é utilizado de forma rotineira em ASD. O uso do dispositivo ajuda a vencer a pressão arterial sis- têmica e manter uma uniformidade da concen- tração de contraste dentro dos vasos. Angiografia por subtração digital 81 Contraste A quantidade de contraste a ser injetada depende dos vasos que serão examinados, mas na maioria dos casos, utiliza-se entre 5mL a 10mL por aquisição. Exames de ASD em ge- ral utilizam grandes quantidades de contras- te; por esse motivo, é recomendável que os meios utilizados nessa área apresentem os menores níveis de toxicidade e causem o mí- nimo de dor possível. Contrastes não iônicos e de baixa osmolalidade são os mais indicados para esses procedimentos. 6. Principais patologias abordadas em hemodinâmica Aterosclerose A aterosclerose é uma doença das grandes e médias artérias do corpo formada por pla- cas fibrogordurosas denominadas ateroma. A placa ateromatosa característica é uma lesão elevada que tem início na íntima e que invade o lúmen das artérias. Microscopicamente as pla- cas consistem em cápsulas fibrosas superficiais que contém leucócitos com tecido gorduroso denso cobrindo um núcleo necrótico contendo células mortas, lipídeos, colesterol, macrófagos e proteínas plasmáticas. A angiografia com contraste arterial é a técni- ca mais precisa para avaliação de anormalidades intrínsecas da vascularização cervicocraniana (OSBORN, 1999). A doença vascular ateroscle- rótica é vista na angiografia como irregularidade do vaso, alongamento ou tortuosidade e estrei- tamente ou oclusão franca. Embora essas alte- rações morfológicas possam ser prontamente identificadas, os três objetivos mais importantes na angiografia cervicocraniana são: • Oclusão do vaso. • Estenose clinicamente significativa. • Vaso normal ou com estenose mínima. A angiografia por cateter é um método que permite o estudo dos vasos de maneira seletiva e dinâmica, com sensibilidade, especificidade e reprodutibilidade alta para doenças vasculares (CARNEVALE, 2006). Figura 5 Cateteres utilizados em ASD Figura 6 Fio introdutor 82 Capítulo 2 Trombose A trombose é um processo patológico carac- terizado pela presença de coágulo intravascular. Pode surgir em decorrência de traumas, cirur- gias, processos infecciosos e até mesmo pelo uso inadequado de certos medicamentos. Os trombos produzidos podem ser potencialmen- te perigosos se migrarem para áreas nobres como a circulação pulmonar causando trombo- embolismo local e, no encéfalo, causando aci- dentes vasculares isquêmicos que podem trazer grandes prejuízos ou até mesmo serem letais. Aneurisma O aneurisma consiste em uma dilatação vas- cular que pode ser do tipo fusiforme ou sacu- liforme que surge em resultado de processos obstrutivos distais, hipertensão vascular, este- noses e turbulências luminais. Os aneurismas podem ser classificados em verdadeiros, quan- do as suas paredes estão intactas; falsos, quan- do todas as suas camadas estão dissecadas ou em pseudo-aneurismas, quando apenas uma ou duas de suas camadas encontram-se dissecadas. O aneurisma dissecante, na verdade um pseu- doaneurisma, constitui uma situação de urgência médica e pode ser bem demonstrado na angio- grafia. A rotura do aneurisma constitui-se em uma situação de extrema emergência cirúrgica. 7. Exames com finalidade diagnóstica Angiografia transpercutânea por punção direta (angiografia seletiva) A angiografia transpercutânea por punção direta é a abordagem vascular seletiva obtida diretamente com agulhas de punção de longa extensão. Esse procedimento é pouco realiza- do na rotina de trabalho sendo feito com algu- ma frequência nas solicitações de emergência e onde os recursos são escassos. Angiografia transluminal percutânea (cateterismo) A angiografia guiada por cateter também de- nominada Angiografia Transluminal Percutânea é o exame com finalidade diagnóstica de rotina no serviço de angiografia por subtração digital. Esse exame consiste na introdução de um cateter fle- xível normalmente na artéria femoral no mem- bro inferior ou na artéria braquial no membro su- perior. O cateter é levado até a área de interesse por manipulação realizada pelo médico interven- cionista. Quando o cateter encontra-se posicio- nado no seu alvo injeções de contraste permitem a visualização da vascularização da região. Figura 7 Angio Artéria Mesentérica Cineangiocoronariografia A cinenagiocoronariografia é o exame dinâmico contrastado das artérias e veias coronárias e das cavidades cardíacas. A ci- Angiografia por subtração digital 83 neangiocoronariografia de rotina consiste na cateterização e injeção de contraste seleti- vamente nas artérias coronária direita, tronco da coronária esquerda e seus ramos e ventrí- culo esquerdo de forma dinâmica e em múlti- plas projeções. A documentação do exame se faz em CDs, DVDs podendo ainda ser comple- mentada em filmes 35 x 43 cm. Figura 9 Vias Biliares na ASD 8. Exames com finalidade terapêutica Angioplastia transluminal percutânea A técnica de colocação de prótese endovas-cular (stent) nas estenoses com dilatação endo- luminal através de um cateter balão (angioplastia) é indicada com frequência na prevenção secun- dária do acidente vascular cerebral isquêmico (CARNEVALE, 2006). As indicações para angio- plastia são, atualmente, um consenso entre a ci- rurgia endovascular e a céu aberto. As recomendações clássicas (PEREIRA, 2006) para angioplastia e implantes de stent no seg- mento cervicocranial, incluem: • Radioterapia prévia • Reestenose crítica após endarterectomia • Estenoses altas • Fibrodisplasia • Lesões próximas à emergência do arco aórtico. Figura 8 Coronária Direita Colangiopancreatografia retrógrada via endoscópica (CPRE) No serviço de angiografia por subtração digital exames não vasculares com finalidade diagnóstica ou terapêutica podem ser realiza- dos como é o caso da colangiopancreatogra- fia retrógrada via endoscópica. Nesse exame um aparelho de endoscopia é introduzido via transoral até a região duodenal onde é aco- plado à papila de Vater. Neste local a injeção de meio de contraste permite a visualização do colédoco, da árvore biliar intra-hepática e do ducto pancreático. 84 Capítulo 2 Implante de endoprótese A introdução e fixação de endopróteses vas- culares associados ou não a “stents” metálicos é procedimento realizado com frequência em serviços de angiografia digital. Implante de “stent” Os “stents” são estruturas metálicas em forma de gaiola que servem para moldar a luz interna dos vasos mantendo a sua abertura e permitindo o fluxo de sangue local. Stents podem ser do tipo autoexpansíveis ou acoplados a balões de angio- plastia. Quando acoplados à balões são introdu- zidos de forma fechada envolvendo a ponta dos cateteres e liberados na região de interesse onde são gradualmente abertos até sua total fixação. Figura 10 Técnica da Angioplastia – Cuidados prévios Antes de realizar a angioplastia translumi- nal percutânea o paciente deve ser submeti- do a uma avaliação clínica e realizar exames laboratoriais incluindo hemograma completo, coagulograma e contagem de plaquetas. Além disso deverá fazer durante os 4 dias que pre- cede o exame uso de um comprimido por dia de ácido acetilsalicílico na dose de 200 mg (CARNEVALE, 2006). Embolização e Quimioembolização A embolização consiste na obstrução de vasos com finalidade terapêutica para impe- dir a nutrição de tumores vascularizados, mal- -formações arteriovenosas, enfim, impedir a irrigação sanguínea de uma área de interesse. Os materiais utilizados podem ser do tipo “molas intravasculares” ou substâncias quími- cas denominadas “colas” que aderem na pare- de dos vasos causando sua obstrução ou ainda substâncias que agem liberando fármacos e que são denominados quimioembolizadores. Figura 11 STENT – Implantação Cateter do balão inserido através do vaso estenosado, depois insuflado Balão insuflado pressionando a placa contra a parede do vaso, depois o balão é retirado. Angiografia por subtração digital 85 Implante de “filtro venoso” Filtros venosos são fixados nas paredes dos vasos para impedir a passagem de coágulos que possam eventualmente atingir a circulação pul- monar e cerebral. O filtro de veia cava é fixa- do à parede da veia cava inferior para impedir trombos provenientes dos membros inferiores. TIPS (Derivação porto-sistêmica intra-hepática transjugular) A hipertensão da veia porta promove a dila- tação do sistema portal intra-hepático forman- do varizes que dificultam o retorno do sangue para a veia cava. O TIPS consiste na derivação do sangue do sistema portal diretamente para a veia cava inferior por meio de um “stent” colocado entre o ramo principal da veia porta intra-hepática e a veia cava. A via de acesso uti- lizada para esta técnica é transjugular. Pacientes portadores de TIPS devem ser acompanhados clinicamente pois podem desenvolver encefalo- patia hepática em virtude do sangue não sofrer metabolização no fígado. Figura 12 TIPS Drenagem percutânea A drenagem consiste na introdução percutâ- nea e fixação de cateteres especiais em cavidades com conteúdo líquido como coleções intraperi- toneais, coleções pleurais ou áreas de ressecção cirúrgica. Drenagens podem ainda ser feitas por punção direta com agulhas de longa extensão. Retirada de corpo estranho A retirada de corpos estranhos se faz por meio de cateteres especiais que conseguem aprisionar o objeto permitindo a sua extração via transpercutânea. A ponta desses cateteres podem apresentar garras especiais, arranjos em forma de pequenos cestos ou dispositivos para laçar os objetos. Implante de marca-passo e eletrodos temporários Os serviços de angiografia/hemodinâmica apresentam caráter intervencionista e permi- tem a realização de pequenos procedimentos cirúrgicos como o implante de marca-passo, implante de eletrodos, colocação de porto-ca- ths para acesso venoso central e outros peque- nos procedimentos de natureza invasiva. 9. Tratamento das imagens digitais As imagens geradas na ASD podem facilmen- te ser tratadas por computador. Medidas de distâncias, espessuras, estenoses e ângulos são procedimentos comuns de pós-processamen- to. As imagens podem ainda ser disponibilizadas para redes digitais como o Picture Archive and 86 Capítulo 2 Communication System (PACS), ou segmentos de redes locais, ou ainda armazenadas em dis- cos ópticos, CDs, DVDs, filmes etc. Algumas técnicas mais sofisticadas incluem: Road-mapping Road-mapping é uma técnica que permite a manipulação da imagem radioscópica sobre um modelo de subtração digital já construído. A imagem digital subtraída ocupa a tela do mo- nitor e permite que o médico intervencionista use a radioscopia sobre essa imagem. Essa técnica é bastante útil nos procedimentos de cateterismo, pois facilita os trabalhos de cateterização seletiva com menor quantidade de contraste. Nas mudanças de posicionamento do pa- ciente ou mesmo no estudo de novos vasos, a técnica road-mapping deve ser refeita, gerando uma nova imagem com subtração digital (más- cara fluoroscópica digital). Pixel shift Se o paciente se movimentar entre a ima- gem-máscara e a imagem contrastada, a técnica de subtração será sensivelmente afetada. Se o movimento feito pelo paciente for amplo, não há como obter uma imagem de subtração com qualidade, mas, se o movimento for discreto, é possível, com o recurso Pixel Shift (deslocamen- to do pixel), ajustar a máscara à imagem com contraste, fazendo coincidir a anatomia em co- mum. Esse recurso digital é amplamente utiliza- do para “limpar” imagens de subtração. Zoom/inversion Técnica digital que permite manipular o ta- manho da imagem e a inversão da escala de cin- za. Esses procedimentos são rotineiros em ASD. Figura 14 Zoom MF 2.0 Figura 16 A. cerebral – imagem positiva Figura 15 A. cerebral – imagem negativa Figura 13 Zoom MF 1.0 Angiografia por subtração digital 87 Análise vascular Os equipamentos de angiografia por sub- tração digital permitem que sejam analisados eventuais áreas de estenoses, aneurismas, obs- truções ou mesmo a ruptura de vasos, com recursos de softwares. As análises incluem me- didas do diâmetro dos vasos, medidas da ex- tensão de estenoses, percentual de obstrução, entre outras. Paisagem (landmarking) Técnica de subtração parcial. Essa técnica é útil para mostrar pontos de referência anatômi- cos. A imagem a seguir apresenta uma angiogra- fia por subtração digital, mostrando as imagens dos ossos da pelve. Figura 18 Com black shutter Figura 19 Sem black shutter Figura 17 Artérias Ilíacas – paisagem. Subtração parcial Black shutter As imagens de ASD podem ser tratadas com o “fechamento” de áreas, permitindo o enegre- cimento de áreas de fundo da imagem. Essa téc- nica é denominada black shutter. 88 Capítulo 2 10. Protocolos A maioria dos equipamentos possuem pro- tocolos predefinidos para vasos específicos ou regiões do corpo. Esses protocolos servem como referênciae até podem ser utilizados, mas, dependendo das circunstâncias e dos ob- jetivos diagnósticos, podem e devem ser alte- rados, visando a melhor técnica em cada caso. Parâmetros como quantidade de imagens por segundo, número de máscaras, tempo total de aquisição e fatores de exposição, como kV e mAs, devem ser analisados e, se necessário, ajustados para cada aquisição. O protocolo do exame de angiografia deve levar em consideração se há interesse na de- monstração apenas dos vasos arteriais ou se a fase venosa também deve ser incluída; nes- te caso, a aquisição das imagens exigirá maior demanda de tempo para permitir o retorno do contraste pelos vasos venosos e sua conse- quente visualização. O tempo de atraso na aquisição (delay) re- fere-se ao tempo entre a injeção do meio de contraste e o início da aquisição das imagens. Esse tempo poderá, no protocolo do exame, assumir um valor negativo, situação que ocor- re quando o cateter encontrar-se no vaso de interesse. Nesse caso, a aquisição das imagens deverá anteceder a infusão do contraste sendo essas imagens utilizadas como máscara no pro- cesso de subtração digital. Principais protocolos Os protocolos a seguir servem apenas como referência. Foram obtidos em equipamentos detectores digitais de alta potência. Deve-se, portanto, levar em consideração as característi- cas e os recursos de cada equipamento. Aortografia Abdominal (abdome) No exame da aorta abdominal o cateter é levado a partir da artéria femoral até o plano superior às artérias renais. O contraste deve evidenciar a aorta abdominal, as artérias re- nais, a artéria mesentérica superior e as arté- rias ilíacas. Figura 20 Aorta abdominal Arteriografia Ilíaca (Pelve) Nesse exame, o cateter deve estar posicio- nado acima da bifurcação da aorta. Visualiza-se as artérias ilíacas, as artérias pudendas e a por- ção proximal das artérias femorais Arteriografia seletiva dos membros inferiores O exame dos membros inferiores poderá ser feito seletivamente nas artérias femorais, artérias poplíteas, artérias tibiais, artérias do pé. A injeção do contraste se dá na aorta ab- dominal antes do plano da bifurcação. O estu- do é bilateral e comparativo dos membros. O atraso na aquisição (delay) é de aproximada- mente: 3 segundos para as artérias femorais, 8 segundos para as artérias poplíteas, 12 se- gundos para as artérias tibiais e 15 segundos para as artérias do pé. Angiografia por subtração digital 89 Protocolos: • Artéria Femoral FOV 50 cm Tempo de aquisição: 60 segundos (Com fase venosa ) Imagens por segundo: 2 Atraso na aquisição: 3 segundos • Artéria Poplítea FOV 30 cm Tempos de aquisição: 50 segundos (Com fase venosa) Imagens por segundo: 2 Atraso na aquisição: 8 segundos • Artéria Tibial FOV 40 cm Tempo de aquisição: 40 segundos (Com fase venosa) Imagens por segundo: 1 Atraso na aquisição: 12 segundos • Artérias do Pé FOV 30 cm Tempo de aquisição: 20 segundos (Com fase venosa) Imagens por segundo: 1 Atraso na aquisição: 15 segundos Arteriografia dos membros inferiores pela técnica “Bolus Chasing” A técnica “bolus chasing” consiste de dis- positivo automático de deslocamento da mesa e aquisição de imagens após injeção do bolo de contraste. Essa técnica permite uma aquisi- ção mais rápida e com menor uso de contraste comparada à arteriografia seletiva, ao mesmo tempo, permite uma apresentação panorâmi- ca comparativa da vascularização dos mem- bros inferiores. Figura 21 Angio MMII (Bolus Chasing) Protocolo: FOV 100 cm Imagens por segundo: 1 Tempo de aquisição: 30 segundos Atraso na aquisição: 3 segundos Programar os passos. (Tripla localização) Aortografia torácica Na aortografia torácica o cateter deverá estar posicionado na aorta ascendente de forma a realçar, após a injeção do contraste, todo o arco e os vasos supra-aórticos entre esses o tronco braquiocefálico, a artéria ca- rótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. 90 Capítulo 2 Figura 22 Arco aórtico Protocolo: FOV 30 cm Imagens por segundo: 3 Tempo de aquisição: 15 segundos Atraso na aquisição: 0,5 segundo. Arteriografia do membros superiores Da mesma forma como com os membros inferiores, os membros superiores poderão ser estudados de forma seletiva em artérias bra- quiais, artérias radiais e artérias da mão, ou pela técnica “bolus chasing” em aquisição automáti- ca com movimento sincronizado da mesa. Po- rém, diferentemente dos membros inferiores, o membro superior é estudado unilateralmente pela cateterização seletiva da artéria subclávia correspondente. Protocolos: • Arteriografia Braquial: FOV 40 cm Imagens por segundo: 2 Tempo de aquisição: 40 segundos (com fase venosa) Atraso na aquisição: 0,5 segundo • Arteriografia Radial FOV 30 cm Imagens por segundo: 2 Tempo de aquisição: 30 segundos (com fase venosa) Atraso na aquisição: 3 segundos • Arteriografia da Mão FOV 30 cm Imagens por segundo: 2 Tempo de aquisição: 20 segundos (com fase venosa) Atraso na aquisição: 5 segundos Figura 23 ASD Mão. Mostrando ausência de circulação no IV dedo Arteriografia Carótida A arteriografia carótida é feita de forma se- letiva com o cateter na raiz da carótida de in- teresse. Mais de um plano de aquisição poderá ser realizado, neste caso em projeções diferen- tes podendo ser de frente, de perfil e em pro- jeções oblíquas. Angiografia por subtração digital 91 Figura 25 ASD cerebral. Tempo Venoso Protocolo: FOV 30 cm Imagens por segundo: 3 Tempo de aquisição:15 segundos Atraso na injeção: -1 segundo. Arteriografia Vertebral A arteriografia vertebral é feita também de for- ma seletiva, algumas vezes em múltiplos planos. Protocolo: FOV 30 cm Imagens por segundo: 3 Tempo de aquisição: 15 segundos Atraso na injeção: -1 segundo. Arteriografia Cerebral A arteriografia cerebral constitui-se em exame de grande demanda em serviços de angiografia por subtração digital. O estudo da vascularização cerebral é feito de forma sele- tiva entre os hemisférios direito e esquerdo e a fossa posterior. A abordagem de cada he- misfério se faz pela carótida interna de cada lado do encéfalo em projeções frontal, perfil e oblíquas. A fossa posterior é estudada pela arteriografia do sistema vertebrobasilar que pode ser acessado pela cateterização seleti- va de pelo menos uma das artérias vertebrais ou, com mais frequência, a partir de ambas artérias vertebrais também em aquisições multiplanares. O exame de arteriografia cerebral eviden- cia de forma detalhada os principais vasos encefálicos e boa parte de suas ramificações com destaque para o círculo arterial cerebral, artérias cerebrais médias, artérias cerebrais anteriores, artérias cerebrais posteriores, ar- térias comunicantes, artérias cerebelares e artérias pericalosas. Protocolo: FOV: 20 cm Imagens por segundo: 3 Tempo de aquisição: 30 segundos (Com fase venosa) Atraso na aquisição: 0 segundo Figura 24 ASD Cerebral. Tempo Arterial Cineangiocoronariografia O exame de cineangiocoronariografia evi- dencia as principais artérias que irrigam o co- ração com destaque para a artéria coronária direita, tronco da coronária esquerda e os seus principais ramos compreendidos entre artéria interventricular anterior, artéria dia- gonal e artéria marginal; evidencia ainda as 92 Capítulo 2 quatro câmaras cardíacas representadas pe- los átrios e ventrículos. É o exame de urgên- cia no quadro do infarto agudo do miocárdio e é o exame de rotina para pacientes que apresentam quadros de hipertensão arterial crônica e angina peitoral. No exame de cineangiocoronariografia, as tomadas de imagens são realizadas sempre em múltiplas projeções de forma a demonstrar eventuais estenoses, obstruções, calcificações vasculares, e outras enfermidades, em diferen- tes ângulos, facilitando desta forma as possíveis condutas terapêuticas em cada caso. Protocolo: FOV: 20 cm Imagens por segundo: 15 (cine) Atraso na aquisição: -1 segundo. Figura 26 Coronária esquerdae seus ramos Figura 27 Ventriculografia Angiografia por subtração digital 93 Referências BONTRAGER, K. L. Tratado de técnica radiológica e base anatômica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. CARNEVALE, F. C. Radiologia intervencionista e cirurgia endovascular. 1. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2006. LOBATO, A. C. et al. Tratamento endovascular da doença obstrutiva carotídea em pacientes de alto risco: resultados imediatos. Jornal Vascular Brasileiro, v. 5, n.1, p. 23-29, 2006. MONNIER, J. P.; TUBIANA, J. M. Manual de diagnóstico radiológico. 5. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1999. NOVELLINE, R. A. Fundamentos de radiologia de Squire. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. OSBORN, A. G. Diagnóstico neurorradiológico. Rio de Janeiro: Revinter, 1999. Densitometria óssea Capítulo 3 Anderson Fernandes de Moraes Tecnólogo em Radiologia. Técnico em Radiologia Médica e Radiodiagnóstico. Di- retor do Departamento de Medicina Nu- clear da Associação de Tecnologia Radio- lógica do Estado de São Paulo (ATRESP) para o biênio 2005-2007. Presidente do Centro Acadêmico de Tecnologia em Ra- diologia Médica do Centro Universitário São Camilo para o ano de 2006. Técnico em Medicina Nuclear da Cedimen - Cen- tro Diagnóstico em Medicina Nuclear. Professor de Técnicas Radiológicas do Centro de Ensino Método. Densitometria óssea Capítulo 3 97 Anderson Fernandes de Moraes 1. Introdução A densitometria óssea é o método de diagnóstico que avalia o grau de mineraliza- ção óssea do esqueleto ou de segmentos do esqueleto. Seus resultados são comparados com a densidade mineral óssea (DMO) da média populacional. O estudo por segmentos é mais frequente, sendo comum a avaliação da densidade óssea da coluna lombar e do quadril direito. A densidade mineral óssea (DMO) é ex- pressa em g/cm2 e representa a massa de cálcio expressa em gramas em uma área de 1 centímetro quadrado de tecido. Os valores obtidos junto à população e que representam a média populacional são importantes para as análises referenciais. Esses valores precisam ser significativos, e isto requer cuidados na amostragem. É necessário ainda que os valo- res sejam distribuídos por faixa etária e peso e que as características regionais da população sejam consideradas. Os valores de DMO usados como referen- cial estão relativamente bem definidos para as mulheres e foram obtidos com base nos valores da população feminina americana. A quantidade de exames DMO no Brasil ainda é muito baixa para se traçar um perfil confiável de sua média populacional. O exame de densitometria está especial- mente indicado na avaliação da osteoporose, estado em que os ossos perdem cálcio; na osteopenia, estado em que ocorre redução do número de osteócitos no tecido ósseo; e nas patologias em que está presente a hiper- calcificação. A osteoporose é uma doença que pode se manifestar sem etiologia definida ou de forma secundária associada a outras doenças, tais como: hipotireoidismo, insuficiência renal e hepática, mielomatose, anemia, imobilizações prolongadas, situações essas que podem de- sencadear estado de osteoporose. As mulheres na menopausa e os homens acima de 60 anos apresentam, não raramente, índices significati- 98 Capítulo 3 vos de osteoporose. Normalmente a osteopo- rose é precedida da osteopenia. A densitometria óssea e os chamados bio- marcadores do metabolismo (exames de sangue e de urina) vêm sendo utilizados para fornecer informações que nos permitem saber o perfil evolutivo dessa enfermidade. 2. Histórico Em 1963, os Drs. Cameron e Sorensen pu- blicaram na revista Science (1963; 142:230-2) os primeiros trabalhos de que se tem notícia sobre a densitometria óssea contemporânea, realizada através da técnica denominada Single Photon Absorptiometry, ou SPA. Apesar disso, a história nos mostra que o interesse da ciência com a densidade óssea é bem mais antiga. Em 1895, Röentgen publicava seus primeiros estu- dos sobre os raios X e, surpreendentemente, em 1897 – apenas dois anos após os trabalhos de Röentgen – um pesquisador americano de nome Dennis J. publicou na revista Dental Cosmos um artigo intitulado “A new system of measurement of bone opacity” (1897, p. 445), ou seja, um novo sistema para a mensuração da opacidade óssea. Ao descrever o método como “novo”, é sugerida a existência prévia de outro método capaz de indicar a opacida- de do osso, o qual não nos foi possível encon- trar na literatura médica consultada. Price W.A. (1901, v. 43, p. 483), em 1901, novamente na revista Dental Cosmos, parece ter sido quem empregou o termo “densitometria” pela pri- meira vez. Este parece ter sido o momento em que esse campo do conhecimento humano realmente se iniciou. No artigo de Price, des- tinado à odontologia, fica claro que um tubo de raios X era introduzido na boca do cliente, e o filme, um padrão de alumínio, posicionado ao lado da mandíbula. Esses são os primórdios da técnica conhecida como “absorciometria ra- diográfica”, hoje com uso limitado aos estudos epidemiológicos de ossos periféricos. Uma boa referência histórica da densitometria, ainda em seu nascedouro, pode ser encontrada na Re- vista Americana de Nutrição Clínica, publicada por Garn SM, em 1962. O título do artigo é “An annotated bibliography on bone densito- metry” (1962, v. 10, p. 59), ou seja, um relato bibliográfico sobre densitometria óssea. Data, portanto, do início da década de 1960 a história contemporânea da densitometria. Os anos 80, com o desenvolvimento da Dual X-Ray Absorptiometry (DXA) foram especiais. Já em 1992, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preocupava-se em reunir seus consultores para avaliar cientificamente a extensão da capacidade da densitometria enquanto recurso clínico. Em 1994, em publicação histórica, a OMS propõe que o diagnóstico da osteoporose seja estabelecido tendo como base os resultados da densitometria expressos em desvios padrão (T-Scores) em relação a referenciais de normali- dade para adultos jovens e saudáveis. Esse novo conceito, embasado em nume- rosa literatura científica, determinou uma nova fase na atenção clínica a essa enfermidade. 3. Osteoporose A osteoporose é uma doença complexa cujas causas não são totalmente conhecidas. É uma doença que leva ao enfraquecimento dos ossos, tornando-os vulneráveis aos peque- nos traumas. A osteoporose é assintomática, lenta e progressiva. Seu caráter silencioso faz com que, usualmente, ela não seja diagnosticada até que ocorram as fraturas, principalmente nos ossos do punho, do quadril e da coluna verte- Densitometria óssea 99 bral. O osso é um tecido vivo e em constante renovação ao longo da vida humana. O proces- so de destruição e reconstrução, chamado de remodelação óssea, se mantém de acordo com o equilíbrio de cálcio no organismo. A massa ós- sea do ser humano atinge seu pico aos 35 anos. A partir daí, começa a decrescer em virtude do declínio no processo de reconstituição. A perda lenta e gradual de massa óssea, ou osteopenia, é considerada normal em ambos os sexos. O fato preocupante para as mulheres é a perda acentu- ada logo após a menopausa, em função do declí- nio na produção de hormônios estrogênios em seu organismo. Quando a perda de densidade atinge 30% da massa óssea, a osteoporose está instalada e é possível encontrar diminutas cavi- dades nos ossos. Se não tratada, a doença dei- xa o esqueleto com aspecto de “queijo suíço” (Figura 1). O osso perde densidade e espessura (Figura 2), torna-se extremamente frágil e pode romper-se ao menor movimento ou esforço ou em decorrência de pequenas quedas. Figura 1 Osso normal e com osteoporose Fonte: Stevenson (1992, p. 60) Figura 2 Osso com perda de densidade e espessura Fatores que podem acelerar perda óssea Estilo de vida – Vida sedentária – Tabagismo – Etilismo – Regime de emagrecimento – Dieta baixa em cálcio, alta em cafeína e alto consumo proeico. Status menstrual– Menopausa fisiológica ou precoce – Oligomenorreia/amenorreia induzida por exercício físico ou insuficiência de estrógeno – Hiperprolactinemia Medicamentos – Corticoesteroides – Anticonvulsivantes (fenitoína e fenobarbital) – Heparina (longo prazo) 100 Capítulo 3 Doenças endócrinas – Doença de Cushing – Hipogonadismo – Tireotoxicose – Doença de Addisson – Diabetes melito insulino-dependente – Hiperparatireoidismo primário Doenças hematológicas – Linfomas/leucoses – Mielomatose – Thalassemia As mulheres têm um risco quatro vezes maior de desenvolver osteoporose porque, após a menopausa, apresentam diminuição da produção do hormônio estrogênio, que é im- portante para a fixação do cálcio nos ossos. Os homens também podem desenvolver os- teoporose, embora menos frequentemente, em decorrência de distúrbios hormonais ou do uso de alguns medicamentos. Consequências Na fase inicial, pode ser assintomática. To- davia, podem ocorrer dores nos ossos, encur- vamento da coluna (hipercifose torácica – cor- cunda) devido a fraturas de vértebras (Figura 3). Fraturas de colo de fêmur (mais frequentes) e de outros ossos podem ocorrer devido à fragi- lidade óssea. O osso cortical se afina gradual- mente e os buracos do osso trabecular se tor- nam cada vez maiores e irregulares (Figura 4). Figura 3 Hipercifose Figura 4 Osso com perda de densidade do osso cortical e osso normal Prevenção e tratamento Sem dúvida, o melhor tratamento é a pre- venção. O exercício físico, dentro dos limites de cada pessoa, representa uma boa medida preventiva. Caminhar durante 30 a 60 minu- tos, 3 a 4 vezes por semana, pode ser o sufi- ciente. Os exercícios para tonificar a muscu- latura das costas também são úteis. Deve-se aumentar a ingestão de cálcio, seja por produ- tos lácteos, seja pela administração de sais de cálcio. As necessidades mínimas de vitamina D Densitometria óssea 101 também devem ser supridas. Na menopausa, a reposição hormonal (com estrogênio) dimi- nui significativamente a perda de massa óssea e reduz a incidência de fraturas vertebrais e dos quadris (em aproximadamente 60%). Ademais, diminui os sintomas menopáusicos e reduz em até 50% a incidência de doen- ças cardiovasculares. Esse tipo de tratamento exige a realização de controles ginecológicos e mamários a cada 12 meses. Quando não é possível empregar os estrogênios (idosos, mu- lheres com mais de cinco anos de menopausa e homens que não requerem testosterona), podem ser administrados difosfonatos ou cal- citonina. Esses medicamentos também têm se mostrado eficazes na prevenção da perda de massa óssea e na diminuição da incidência de fraturas vertebrais e dos quadris. Os episó- dios de dor (fraturas) devem ser tratados com analgésicos e repouso durante duas semanas (dependendo de cada caso). Pode ser útil apli- car calor local e usar cintas ortopédicas. Figura 5 O melhor tratamento é a prevenção 4. Método de obtenção de imagem na investigação da densidade óssea Radiografia convencional do esqueleto A radiografia convencional (Figura 6) é re- lativamente insensível e a perda de massa ós- sea é aparente apenas quando a massa óssea diminuiu cerca de 30%-50%. Uma radiografia simples é inadequada para se planejar interven- ção terapêutica na pós-menopausa. Entretanto, existem várias técnicas semiquantitativas, que permitem avaliar a morfologia trabecular óssea. Nesse sentido, a mais utilizada até o momento tem sido a do índice de Singh, que avalia marcas trabeculares no fêmur proximal. Essa técnica mostrou-se útil em estudos epidemiológicos de fraturas do fêmur proximal, mas apresenta va- lor limitado em mulheres jovens. Figura 6 A perda de massa óssea é aparente apenas quando diminuiu cerca de 30%-50% Single Photon Absorptiometry (SPA) Os estudos pioneiros de Cameron & Soren- son, no início da década de 1960, permitiram o 102 Capítulo 3 desenvolvimento dos primeiros equipamentos de SPA (Fotografia 1). Essa técnica baseia-se na medição da atenuação de um feixe de fótons com um único nível de energia emitido por uma fonte externa de NA 125I ou 241AM. No SPA, a atenuação causada pelas partes moles não é cor- rigida, o que limita seu emprego ao esqueleto apendicular (rádio, ulna, metacarpo e calcâneo), no qual a quantidade de tecidos moles é mínima. Tendo em vista essa limitação e o fato de que a massa óssea nesses locais não indica com muita exatidão o estado metabólico dos locais críticos para fraturas (ou seja, coluna e fêmur proximal), a aplicabilidade clínica do SPA tem sido limitada. Fotografia 1 Equipamento SPA (década de 1960) Fonte: Stevenson (1992, p. 70) Dual Photon Absorptiometry (DPA) Nas últimas duas décadas desenvolveu-se a DPA (Fotografia 2), técnica que se baseia na análise da atenuação de um feixe puntiforme de radiação de uma fonte externa de gadolí- nio (153Gd), com dois níveis de energia (44 e 100keV). Esse feixe atravessa o indivíduo no sentido posteroanterior e é captado por um detector de cintilação. A relação entre a atenuação dos dois picos de energia permi- te corrigir a contribuição das partes moles, possibilitando o acesso à medição da massa óssea de regiões de maior interesse clínico – coluna lombar e fêmur proximal – com al- gum erro de precisão. Fotografia 2 Equipamento DP3 que utiliza o método DPA Fonte: Stevenson (1992, p. 72) Dual Energy X-ray Absorptiometry (DEXA) A introdução da tecnologia DEXA (Figura 9) apareceu com o objetivo de superar as limita- ções da DPA. A fonte de 153Gd foi substituí- da por uma fonte de raios X, que possui um aumento substancial na intensidade da saída do fluxo de radiação, possibilitando um exa- me mais rápido (4-6 min), com menor erro de precisão (~1%), menor dose de radiação para o cliente e melhor resolução das imagens. Du- rante a realização do exame, o detector, mo- vendo-se juntamente com a fonte de radiação, amostra os fótons que passam através do corpo do cliente. O programa calcula a densidade de Densitometria óssea 103 cada amostra a partir da radiação que alcança o detector em cada pico de energia, de acordo com a equação de transmissão de fótons. O sis- tema é calibrado para expressar os resultados em gramas por centímetros quadrados (g/cm2; gramas de mineral ósseo/cm2 de área analisada – BMD). Esses dados são utilizados na constru- ção de uma imagem que permite a identificação e a análise de regiões de interesse. Fotografia 3 Equipamento DPX/IQ que utiliza o método DEXA 5. Composição dos equipamentos de densitometria óssea Hardware Mesa escaneadora: composta de uma mesa e um braço escaneador, contém supri- mentos de força, circuitos eletrônicos, meca- nismos motorizados e a fonte de raios X. O braço escaneador consiste de um detec- tor e um braço – suporte que serve de cabo condutor entre o detector e a mesa – e inclui um painel de controle equipado com dois in- terruptores de posicionamento que permitem a movimentação do braço examinador e detec- tor. O interruptor BACK/FRONT (para trás / frente) permite a movimentação do detector no sentido longitudinal da mesa, e o interrup- tor LEFT/RIGHT permite a movimentação do detector para a esquerda e para a direita. É im- portante saber o significado de alguns símbolos que indicam, por exemplo: botão de parada de emergência, força ligada, laser ligado, obturador aberto, raios X ligado etc. Computador: armazena e analisa dados. Possui controles de comunicação entre ele e a mesa e entre o monitor e a impressora. Monitor: permite visualizar as telas do software Lunar, das imagens escaneadas e dos dados escaneados. Teclado: permite a comunicação com o computador. É usado para digitar os comandos e realizar as funções do computador. Impressora: permite a criação de uma cópia no papel da imagem escaneada e da análise dos resultados. Fotografia 4 Equipamento de densitometria óssea 104 Capítulo3 Software Os vários fabricantes de equipamentos de densitometria óssea disponilizam programas para a realização de exames da coluna, fêmur, antebraço e de corpo inteiro. Esses programas apresentam submenus operacionais que orien- tam o usuário na elaboração e impressão do re- latório de análise densitométrica. Figura 7 Software Lunar Figura 8 Software Challenger 6. Princípios básicos de um densitômetro A densitometria mede a quantidade de ra- diação absorvida pelo corpo ou segmento de- sejado, calculando a diferença entre a radiação emitida pela fonte de radiação e a que sensibili- za um detector de fótons. O princípio de dupla emissão de raios X baseia-se no fato de que as características de atenuação diferem no osso e nos tecidos moles em função da energia dos feixes de raios X. A diferença na atenuação entre o osso e o tecido mole é maior no feixe de baixa energia. Um contorno de atenuação é então formado, permitindo a quantificação do mineral e da massa de tecidos moles (massa magra e massa gorda). Fotografia 5 Tubo de raios X Tubo de raios X (anodo fixo) Densitometria óssea 105 Fotografia 6 Colimador Fotografia 7 Detecção dos raios X Fotografia 8 Placas de controle O colimador pode apresentar um feixe único, ou um feixe em leque; no caso do feixe único, ou PENCIL BEAM, os movimentos são lineares de um lado para o outro. E, no caso do feixe em leque, ou FAN BEAM, o movimento é único, de varredura sobre o cliente, com menor tempo. A dose de radiação do exame é de apenas 1 a 3MSV, dependendo do local da aquisição. Figura 10 Feixe único (Pencil Beam) Fonte: Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica. Bloco de colimação Colimador Shutter (obturador) Detector de raios X (iodeto de sódio) 106 Capítulo 3 Figura 9 Feixe em leque (Fan Beam) Cuidados com o densitômetro w A temperatura do equipamento deve variar de 18º a 25º (sem oscilação maior que 2º nas 24 horas do período de controle). w A umidade deve variar de 20% a 80% (sem oscilação nas 24 horas do período de controle). w Poeira, fumo, névoas e corpos estranhos devem ser evitados. w Ao limpar o aparelho, o uso de solventes deve ser evitado. w Verificar se os cabos estão bem dispostos e protegidos. w A corrente elétrica deve e manter estável. w Os dados devem ficar armazenados (é necessário efetuar backup das informações). • Procedimentos de controle da qualidade devem ser implantados (são importantes para detectar alterações precoces). Além desses cuidados, é importante não dei- xar cair líquido no computador, não usar força para manusear o braço escaneador e não co- mer na sala de exame. Controle da qualidade do densitômetro A validade da quantidade de massa óssea determinada depende da precisão de algu- mas medidas. Os dois fatores básicos que afetam a precisão são: – performance dos instrumentos usados para fazer as medidas – performance dos operadores que adqui- rem e analisam o exame. A performance dos operadores e dos equipa- mentos precisa ser cuidadosamente monitorada e controlada para que se obtenham informações confiáveis. Procedimentos de controle da quali- dade, geralmente implantados pelo fabricante a fim de monitorar o processo e manter a qualida- de no nível ótimo, são fundamentais na avaliação da densitometria óssea. A precisão é importante porque permite ao sistema gerar os mesmos re- sultados de medidas repetidas. Por esse motivo, é necessário realizar alguns testes da qualidade, entre os quais: w Testes de calibração (realizados pelos fabricantes antes de enviar o equipamento ao cliente). w Testes especiais após reparo ou calibração dos equipamentos. w Testes de controle diário. Testes de controle diário (QA – quality assurance) em equipamentos Lunar O controle da qualidade (QA) nos equipa- mentos DEXA-LUNAR utiliza um bloco de ca- libração (Figura 19) que possui três câmaras de material equivalente a osso de conteúdo mineral conhecido, que deve ser escaneado diariamente na mesma posição. O sistema de- termina os valores de calibração escaneado das três câmaras e determina o conteúdo mi- neral ósseo (BMC) e o diâmetro de cada canal. detector linear feixe em leque fonte de raios X Densitometria óssea 107 Os valores de BMC dos três canais são os va- lores padrão (standard values), e o computador calcula um valor de inclinação das três medidas (slope value) para converter os dados do scan em resultados calibrados. Esses canais atuam após o detector peak test e avaliam as condições mecânicas e eletrônicas da mesa de exame. Os motores movem o bra- ço longitudinal e transversalmente e, em segui- da, são testados. O tissue value mede a câmara do bloco QA, que contém material equivalente a tecido mole. Após os resultados dos valores padrão, o programa calcula a média (SD) e o coeficiente de variação (CV) para cada valor en- contrado nas câmaras de bloco de calibração. Todos os CV devem ser menores que 1%. O CV mede a precisão do equipamento e deve ser bem observado após o término do QA. Fotografia 9 Phantom para calibração diária Teste de controle diário nos equipamen- tos Hologic Nos aparelhos Hologic, recomenda-se o escaneamento diário do phantom de coluna (Fotografia 9) pelo fabricante. O tamanho do ROI (região de interesse) utilizado deverá per- manecer igual dia a dia. Os resultados desses exames são introduzidos no banco de dados do controle da qualidade. No momento da insta- lação, são realizados 10 scans do phantom de coluna do Hologic cujos dados são arquivados no banco de dados do controle da qualidade. Esses resultados são dispostos como uma linha que atravessa o gráfico do controle e servem de base para o sistema de calibração. Resultados com variações maiores que 1,5% (mais ou menos) indicam problemas com o siste- ma. A posição quanto à calibração do equipamento pode ser checada pelo fator de calibração (CF), que é um número que aparece à direita “escaneada”. Esse número deverá permanecer constante, exce- to quando o aparelho for recalibrado após reparos. Fotografia 10 Phantom para calibração diária Fatores que afetam os resultados em DMO w Técnica do operador para posicionamen- to e análise do exame. w Calibração inadequada do equipamento. w Presença de outras fontes de radiação no ambiente. w Desconhecimento da história do cliente. w Presença de artefatos (botões, zíperes etc.). w Endurecimento do feixe de raios X, 108 Capítulo 3 processo que ocorre progressivamen- te, com o tempo. w Contraste oleoso (mielografia) pode per- manecer depositado no organismo por vários anos. w Calcificações na aorta abdominal. w Cálculos renais e biliares. w Contrastes baritados (deve-se aguardar 5 dias para se fazer a densitometria). w Área de análise inadequadamente sele- cionada. w Variação de temperatura na sala. w Envelhecimento do detector de cintilação. w Exames de medicina nuclear recentes. w Uso recente de comprimido de cálcio. w Distorções da arquitetura esquelética: doença degenerativa discal, espondilolis- tes, cifoescoliose, fraturas vertebrais. 7. Iniciando o exame Após realizar os testes, iniciar a rotina. Verificar se a sala de exame está preparada para receber o cliente, certificando-se de que a tempe- ratura e a umidade estejam nos seguintes níveis: – Temperatura: 18 a 25 graus (sem varia- ção nas 24 horas) – Umidade: 20% a 80% (sem variação nas 24 horas) Com o cliente em sala, identificar seu nome e data de nascimento, conferindo esses dados com um documento. É importante perguntar se o cliente já fez esse exame. Caso já tenha feito, solicitar os exames an- teriores, que ficam retidos para comparação (se solicitado pelo médico) e são devolvidos ao cliente juntamente com o resultado atual. Caso seja a primeira vez, tranquilizar o clien- te explicando como o exame é realizado. Vale lembrar os pré-requisitos exigidos para a realização do exame, a saber: a clientenão pode estar grávida nem ter recebido contraste nos últimos 3 a 6 dias. Questionar o cliente sobre a ingestão de cálcio, principalmente se essa ingestão tiver antecededido em até 2 horas o exame de den- sitometria, o que compromete a imagem. Pedir ao cliente que tire os sapatos e/ou qual- quer tipo de metal que possa interferir no exame, tais como fivelas, botões, sutiãs com aro metálico, roupas com zíperes, colchetes e, se necessário, re- comendar o uso de avental. Verificar peso e altura. 8. Protocolos de posicionamento Coluna lombar anteroposterior (AP) Posicionar o cliente à mesa de modo que fique em decúbito dorsal (barriga para cima), observan- do que a linha central da mesa deve estar no cen- tro do cliente. A cabeça deve estar abaixo da linha horizontal, na cabeceira da mesa, ou seja, do mes- mo lado em que se encontra o braço escaneador. Os braços devem estar posicionados ao lon- go do corpo, com as mãos voltadas para baixo. Colocar as pernas do cliente sobre o bloco para retificar a coluna lombar, ajudando na separa- ção das vértebras, de modo que esse bloco fique no ângulo de 60 a 90 graus em relação à mesa. Iniciar o exame, observando a aquisição da imagem na tela do computador. Se a imagem estiver satisfatória, prosseguir o exame. Se não, interromper o exame, ajustar a imagem e reiniciar o procedimento. Adquirida a imagem da coluna, retirar o blo- co de apoio e preparar para iniciar a aquisição da imagem do fêmur. É de grande importância certificar-se do modo de aquisição: Densitometria óssea 109 SLOW ou GORDO (>25cm) MEDIUM ou STANDARD-DM (15-25cm) FAST ou MAGRO (<15cm) Verificar também o parâmetro de medição: Comprimento (cm) e largura (cm). Fotografia 11 Posicionamento para coluna lombar Figura 10 Exame de coluna lombar IMPORTANTE: Itens a serem avaliados numa boa aquisição de imagem da coluna: A coluna deve estar centrada e retificada. As cristas ilíacas devem aparecer um pouco e estar alinhadas. Visualização do último par de costelas e par- te de T12. Ausência de ar. Ausência de artefatos: metais e/ou próteses de silicone nas mamas e/ou glúteos. Importante saber que, com relação à análise da coluna, as linhas intervertebrais devem se al- terar o mínimo possível, movendo-se, portanto, somente se necessário, pois desse modo a chan- ce de minimizar um erro é grande. E a região a ser utilizada para estudo é L1-L4, excluindo-se vértebras eventualmente afetadas por artefatos. Fêmur Para exame do fêmur, ainda com o cliente deitado, ajustar o suporte triangular do se- guinte modo: Com as mãos, fazer um movimento de ro- tação interna, observando, com uma das mãos do lado externo da coxa, o grande trocanter, e prender o pé cuja perna será analisada na par- te inclinada do suporte, imobilizando o mem- bro. O outro pé deve ficar reto/alinhado com o suporte do lado contralateral, ficando a perna reta longitudinalmente paralela à linha central da mesa. Posicionar a luz do laser aproximada- mente 7,5cm abaixo do grande trocanter e no centro da perna. Esse posicionamento propicia um espaço suficiente entre os ossos isquiofe- mural para uma análise correta. Observar na tela do computador se está ad- quirindo uma boa imagem e proceder do mes- mo modo citado no exame de coluna. Terminado o exame, retirar o apoio dos pés e aguardar o retorno do braço escaneador. 110 Capítulo 3 Fotografia 12 Rotação interna Figura 11 Exame de fêmur IMPORTANTE: Itens a serem avaliados numa boa aquisição de imagem do fêmur: Rotação da perna suficiente para análise ade- quada. Preservação das janelas 25-35 linhas na parte inferior e superior. Retificação do fêmur. Ausência de metal. O fêmur direito geralmente é escolhido. No caso de este não ser adequado por dificuldade de posicionamento, uso de prótese e/ou qual- quer outro motivo que dificulte ou impossibilite a execução do exame, escolher o fêmur con- tralateral (esquerdo). Se este também não for adequado, realizar exame do antebraço. OBSERVAÇÃO: Com relação à análise do fêmur, devemos deixar a área de interesse de análise que o aparelho oferece na posição ini- cial, alterando, se necessário, o mínimo possí- vel, inclusive quanto à rotação e aproximação ou afastamento da cabeça do fêmur, minimi- zando o erro. Outros itens a que devemos ficar atentos são as regiões de interesse no fêmur proximal, usando a região de menor valor. Antebraço Colocar o cliente sentado ao lado da mesa de exame, certificando-se de que suas costas este- jam eretas e que o ombro esteja alinhado com o centro vertical do posicionador. Medir o compri- mento do antebraço. Essa medida deve ser feita desde o processo estiloide da ulna (osso locali- zado no pulso na parte externa) até o olecrano (osso do cotovelo). O antebraço escolhido é o não dominante, isto é, o braço contrário à mão que se escreve. A peça de apoio (posicionador) deve ser colocada sobre a mesa e o antebraço deve ser posicionado sobre ela, conforme figura ao lado. É importante recomendar ao cliente que deixe o pulso relaxado e feche as mãos. Com esse movimento, ele é retificado, colaborando com o exame. Posicionar o feixe do laser no centro do pul- so, alinhado com o processo do cúbito estiloi- de, a 1cm abaixo do processo estiloide da ulna. Prendê-lo com velcro, mantendo a posição, e, finalmente, iniciar o exame. Verificar na tela do computador se a ima- gem escaneada está adequada. Observar se o membro está centralizado, retificado e pa- ralelo e se uma pequena porção dos ossos da mão está presente. Densitometria óssea 111 Terminado o exame, soltar o braço do clien- te e aguardar o braço escaneador retornar à posição inicial. Figura 12 Posicionamento de antebraço Figura 13 Exame de antebraço Fonte: Sociedade Brasileira de Densitometria Clínica. O exame de antebraço deve ser realizado quando não é possível o exame de coluna e/ ou do fêmur pelo fato de o cliente ser obeso (peso acima dos limites especificados para o equipamento DXA usado), pela presença de próteses etc. A região do rádio 33% (às vezes chamada de rádio 1/3) é a região de interesse, pois outras regiões do antebraço não são recomendadas. Coluna lombar perfil O exame da coluna lombar na projeção late- ral permite que se excluam as estruturas pos- teriores dos corpos vertebrais, minimizando os efeitos somatórios da doença osteodegenerati- va sobre a densidade mineral óssea. Porém, a dificuldade de posicionar o cliente e as defor- midades torácicas comuns em idosos tornam a reprodutibilidade do exame inaceitável. Portan- to, o exame lateral não é indicado para o diag- nóstico de osteoporose e é usado apenas em condições especiais. Fotografia 13 Posicionamento de coluna lombar perfil 112 Capítulo 3 Figura 14 Posicionamento adequado Corpo inteiro Posicionar o cliente em decúbito dorsal (dei- tado de barriga para cima), de modo que ele fi- que no centro da mesa, isto é, deve-se verificar se a linha central divide o cliente ao meio. A cabeça deve estar do mesmo lado que o braço escaneador, logo abaixo da linha hori- zontal marcada no colchão da mesa de exame (distância de mais ou menos 1,5cm da cabeça). Os braços devem ficar estendidos ao longo do corpo, com as mãos voltadas para baixo, repou- sando sobre a mesa. Prendem-se os pés e as pernas com o auxílio de velcros, de modo que o velcro menor fique na altura dos pés e o maior, na altura dos joe- lhos, a fim de se evitarem movimentos durante o exame. Fotografia 14 Imobilização de MMII Figura 15 Imagem de corpo inteiro IMPORTANTE: lembrar que, se o cliente tiver dimensões maiores que a habitual, ultra- passando os limites, pode-se usar como recurso colocar as mãos sob os quadris (debaixo). Terminado o exame, retirar os velcros e aguar- dar o braço escaneador retornar à posição inicial. Verificar se os cortes de corpo inteiro estão posicionados do seguinte modo: – Cabeça: o corte de cabeça está localiza- do imediatamente abaixodo queixo. – Braço esquerdo e direito: ambos os cortes de braços passam pelas axilas e Densitometria óssea 113 se localizam o mais próximo possível do corpo. Os cortes devem separar as mãos e os braços do corpo. – Antebraço esquerdo e direito: os cor- tes de ambos os antebraços são tão próxi- mos do corpo quanto possível e separam os cotovelos e os antebraços do corpo. – Coluna esquerda e direita: ambos os cortes de coluna devem ficar o mais pró- ximo possível da coluna, sem incluir a cai- xa torácica. – Pélvis esquerda e direita: ambos os cortes da pélvis passam pelos colos fe- morais e não tocam na pélvis. – Topo da pélvis: o corte de topo da pél- vis localiza-se imediatamente acima do limite superior da pélvis. – Perna esquerda e direita: ambos os cortes de perna separam as mãos e an- tebraços das pernas. – Entrepernas: o corte entrepernas sepa- ra a perna direita da esquerda. 9. Diagnóstico e análise do exame Os critérios de normatização diagnóstica suge- ridos pela OMS em 1994 constituíram um marco no emprego clínico da densitometria. Classificam- -se em quatro grupos distintos segundo o número de desvios-padrão (T-Score), para coluna lombar em AP (ou PA), fêmur proximal (colo, total ou trocanter) e rádio distal, segmento 33% (ou 1/3). Até –1 SD, entende-se o resultado densito- métrico como Normal Abaixo de –1 SD até 2,5 SD, classifica-se como Osteopenia Abaixo de – 2,5 SD, o termo Osteoporose é aplicável, e Abaixo de – 2,5 SD, associado à fratura óssea, atribui-se o termo Osteoporose estabelecida. Figura 16 Coluna lombar com valores de BMD, T-Score e Z-Score Figura 17 Fêmur com valores de BMD, T-Score e Z-Score A OMS e a ISCD recomendam que o diagnós- tico densitométrico se baseie na análise de pelo menos dois sítios diferentes. Devem ser usados coluna lombar AP (ou PA) e fêmur proximal. Para aprimorar a precisão e a exatidão (acu- rácia) dos laudos diagnósticos densitométricos, aconselha-se adotar as maiores regiões de inte- resse (ROIs), como L1-L4 em coluna lombar AP ou PA; e no fêmur proximal, adotar para diag- nóstico o sítio que apresentar o menor SD em colo femoral, fêmur total ou trocanter, disponí- veis atualmente na maioria dos equipamentos. Para os monitoramentos sequenciais, aconse- 114 Capítulo 3 lha-se utilizar o fêmur total, pois essa ROI apre- senta melhor precisão graças à sua maior área de amostragem. A área de Ward não deve ser utilizada para diagnóstico e/ou monitoramento. O diagnóstico densitométrico da osteo- porose em mulheres pré-menopáusicas é um tema ainda controverso, uma vez que outras etiologias de massa óssea baixa devem ser consideradas. Os critérios da OMS são aplicáveis, especifi- camente, a mulheres pós-menopáusicas. Mulheres pré-menopáusicas com deficiência estrogênica podem apresentar massa óssea bai- xa ou perdas de massa óssea (ou mesmo os- teoporose), contudo, não existem critérios de diagnóstico densitométrico bem estabelecidos para esse grupo populacional. Alguns autores recomendam os critérios de intervenção terapêutica propostos pela NOF (T< -1,5 com fatores de risco e -2,0, mesmo sem esses fatores), em vez dos critérios da OMS para intervenção clínica nesses clientes. Em equipamentos Hologic, T-Scores e Z-Scores em mulheres pré-menopáusicas são usualmente muito próximos. Contudo, em equipamentos Lu- nar, esses valores podem ser diferentes devido a ajustes de etnia e peso (quando habilitados). O risco de fraturas em mulheres pré-meno- páusicas permanece baixo, mesmo com baixa massa óssea, principalmente se considerado o fato de que mulheres nessa fase da vida, estando com seus ciclos hormonais regulares, não devem sofrer perdas progressivas da BMD. Por essa razão, o significado de baixa massa óssea nesse grupo e a capacidade de essa informação predi- zer riscos de fratura ainda não são muito claros. “O monitoramento da densidade óssea de clientes perimenopáusicas brancas e assintomá- ticas, de grande risco para fraturas futuras, na vigência da instauração de terapia de reposição hormonal (TRH), tem sido demonstrado de gran- de efetividade quanto ao custo-benefício” (SB- DENS, 2006) Quanto aos critérios de diagnósti- co nas diferentes etnias (caucasianos, asiáticos e negros), alguns centros recomendam o emprego dos critérios da OMS aos diferentes grupos popu- lacionais (com a devida observação nos laudos). Embora muitos serviços empreguem os mesmos critérios de corte (T-Score) para di- ferentes etnias, a questão é controvertida em razão das diferenças raciais. Alguns fabricantes adotam ajustes para raça (Hologic, Norland), mas outros (GE/Lunar), ainda não. Critérios específicos A coluna lombar em AP (ou PA) deve ser avaliada se houver pelo menos duas vértebras analisáveis. Vértebras alteradas significativa- mente por artefatos, fraturas ou degenerações devem ser excluídas. O antebraço 33% pode ser empregado como opção, caso ambos os fêmures (ou a co- luna) não sejam analisáveis. O T-score é a densidade mineral óssea (DMO) expressa em termos do número de desvios-pa- drão (DP) acima ou abaixo (números negativos) da média para mulheres jovens. A medição da DMO é necessária para documentar a osteopo- rose, exceto em clientes com fratura vertebral. Para emprego do T-Score, ajustes para raça (se disponíveis) não devem ser utilizados, uma vez que, na maioria das vezes, a classificação ét- nica é equivocada e pouco consistente. O cálculo do Z-Score não deve ser ajustado ao peso e etnia, uma vez que não são validados para nossa população, podendo criar conflitos entre os resultados de T e Z-Scores. Até que mais dados epidemiológicos estejam disponíveis, os critérios diagnósticos definidos para mulheres podem ser utilizados para homens, empregando-se banco de dados masculino. Densitometria óssea 115 Nas avaliações evolutivas é muito importan- te levar em consideração o modo de aquisição, a região a ser analisada, a operadora técnica, o aparelho e o local de trabalho. No posiciona- mento do cliente à mesa, deve-se ter cuidado redobrado, tentando deixar a imagem atual o mais semelhante possível à anterior. É importante saber que, com relação à análise da coluna, as linhas intervertebrais devem se al- terar o mínimo possível, movendo-se, portanto, somente se necessário, pois desse modo a chan- ce de minimizar um erro é grande. E a região a ser utilizada para estudo é L1-L4, excluindo-se vértebras eventualmente afetadas por artefatos. Quanto à análise do fêmur, devemos deixar o box de análise que o aparelho oferece na posição inicial, alterando-se o mínimo possível, inclusive em relação à rotação e aproximação ou afastamento do box da cabeça do fêmur, minimizando o erro. Também devemos ficar atentos às regiões de inte- resse no fêmur proximal, e usar a de menor valor. O exame do antebraço deve ser realizado quan- do o exame de coluna e do fêmur não puder ser interpretado, em clientes obesos (acima dos limites especificados para o equipamento DXA-Lunar). A região do rádio 33% (às vezes chamada de rádio 1/3) é a região de interesse; não se reco- menda outra região no antebraço. 10. Contraindicações do exame de densitometria óssea a) Impossibilidade de manter o cliente em de- cúbito dorsal (deitado de costas para a mesa) b) Cliente com espessura excessiva na re- gião de exame (DPX-IQ 30cm) c) Altura acima do permitido pelo programa para o corpo inteiro (DPX-IQ 1,96cm) d) Clientes adultos com menos de 25kg ou mais de 120kg podem gerar resultados menos exatos e) Uso de contraste prévio f) Gestante Observação: No exame de densitometria óssea, um dos itens mais importantes é o bom posicionamento do cliente durante o exame, o que permite uma melhor análise posterior e, consequentemente, um laudo mais preciso. 11. Proteção radiológica Os procedimentos para redução da expo- sição podem ser sintetizados em redução do tempo, distância e blindagem. No que diz respeito à densitometria óssea,as medidas envolvidas são: – Controle de qualidade: a aferição dos equipa- mentos dentro do preconizado para cada equipa- mento é de fundamental importância não somente na instalação de aparelhos novos, mas também no dia a dia. Deve-se assegurar que a quilovoltagem do aparelho e a leitura do miliamperímetro este- jam corretas e o controle automático do tempo de exposição funcione adequadamente. Além disso, usar filtros que adequadamente separem o feixe polienergético dos raios X em feixe de alta e baixa energia e adequar a colimação do feixe de raios X para reduzir a radiação espalhada. – Distância: o operador deve observar uma distância adequada entre o equipamento e o computador na aquisição das imagens. O posicio- namento adequado do cliente antes de iniciar o procedimento implica reduzir a exposição à ra- diação pelo fato de tornar desnecessários reposi- cionamentos posteriores após várias tentativas de aquisição e eventuais abortamentos de imagens. Exposição à radiação Doses de radiação para o cliente Os valores das doses recebidas pelo cliente em estudos de densitometria óssea variam muito 116 Capítulo 3 de um equipamento para outro, principalmente entre os sistemas Pencil Beam e Fan Beam. As doses para um Hologic QDR-4500 (Fan Beam) são em torno de 10 vezes maiores que para um sistema QDR-1000 (Pencil Beam). Já um Lunar Expert-XL (wide fan beam) apresenta doses maiores que um sistema DPX (Pencil Beam). Por outro lado, sistemas do mesmo tipo apresentam diferenças de dose entre marcas diferentes. Por exemplo, sistemas Lunar DPX apresentam doses menores que os Hologic QDR-1000. Doses de radiação para operadores Vários estudos mostram que, para uma média de 2 clientes/hora para sistemas Pencil Beam e 4 clientes/hora para sistemas Fan Beam, um operador receberia, a 1 metro de distância, taxas de dose de 0,12 mSv/h para o QDR-1000 e 40,12 mSv/h para o Expert-XL. Supondo-se uma carga de trabalho de 2.000 horas/ano, o operador receberia 0,24 mSv/ano, consideran- do, por exemplo, o equipamento QDR-1000 e 8 mSv/ano no caso do Expert-XL. A Norma CNEN-NE-3.01, “Diretrizes Básicas de Radioproteção”, estabelece uma dose máxima de 1mSv/ano para pessoas do público. Ou seja, no exemplo acima, esse limite estaria plenamente sa- tisfeito; porém, os sistemas Wide Fan Beam pode- riam ultrapassar esse limite sob as condições cita- das acima. Isso torna necessária a utilização de salas de exame amplas, onde o operador possa ficar a pelo menos 2 ou 3 metros de distância do cliente. 12. Ultrassonometria O ultrassom quantitativo avalia a velocida- de e a atenuação do som ao atravessar o osso. Como as medidas de QUS apresentam baixa correlação com a BMD, acredita-se que o ul- trassom avalie alterações da qualidade óssea, embora isso nunca tenha sido comprovado. Fotografia 15 Equipamento UBIS 5000 Figura 18 Imagem calcâneo 13. Imagenologia na densitometria óssea Figura 19 Pre- sença de con- traste radiológi- co, neste caso, mais concen- trado no cólon transverso (A), causando grande aumento da den- sidade medida em L3, mas subestimando os valores das demais vértebras. Compare com o novo exa- me (B), obtido 13 dias após o primeiro (A) (B) Densitometria óssea 117 Figura 20 O zíper projeta-se sobre a coluna lombar (A). Exame sem o artefato na Figura (B) Figura 21 Nota-se a aparência tremida. O cliente movimentou-se durante o exame (A). Aquisição correta (B) (A) (B) (A) (B) Figura 22 Artefatos do fêmur proximal encontrados, mais frequentemente no bolso da calça, sobretudo em clientes do sexo masculino. A sombra que aparece na Figura (A) corresponde à carteira no bolso do cliente. Após repetição do exame (B), grande diferença nos valores da densidade Figura 23 Ísquio não foi incluído na área de aquisição, tendo sido necessária sua repetição (A) (B) (A) (B) 118 Capítulo 3 A Sociedade Internacional de Densitome- tria Clínica (ISCD) elaborou em 2005, em Vancouver, Canadá, um evento onde posições oficiais, previamente discutidas em eventos e por comitês da entidade de diversos países, fossem votadas. Essas posições, hoje já publi- cadas, foram discutidas em 2005 e 2006 pelo Painel Ibero-Americano da ISCD no intuito de avaliar sua aplicabilidade específica dentre os países existentes nesses países. O documento final aprovado pelo Painel Ibero-Americano foi, então, discutido em âmbito nacional e, a coor- denação científica da SBDens indicou relatores para apresentarem suas visões sobre cada pon- to em um evento especificamente preparado, com prévia e ampla divulgação aos profissionais de densitometria brasileiros. Durante o even- to, cada tema pôde ser debatido em profundi- dade e os ajustes necessários foram propostos, seguindo-se de ampla votação por sistema in- terativo eletrônico. De acordo com os resultados da votação, seis conclusões possíveis foram definidas: A – Aprovado por Unanimidade; B – Aprovado por Maioria Absoluta; C – Aprovado por Maioria Simples; D – Rejeitadas por Maioria Simples; E – Rejeitadas por Maioria Absoluta; F – Rejeitadas por Unanimidade. Os resultados de todo esse processo de elaboração são transcritos abaixo, passando a representar, até futura revisão, as posições oficiais da Sociedade Brasileira de Densitome- tria – SBDens, apoiadas pelas entidades afins, apoiadoras do evento (Sociedade Brasileira de Estudos do Metabolismo Ósseo e Mineral – SO- BEMOM, Sociedade Brasileira de Osteoporose – SOBRAO, Colégio Brasileiro de Radiologia – CBR, Sociedade Brasileira de Reumatologia – SBR, Comitê de Doenças Osteometabólicas da Sociedade Brasileira de Ortopedia – SBOT, Federação Brasileira de Sociedades de Gine- cologia e Obstetrícia – FEBRASGO, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo – SBEM, Sociedade Paulista de Geriatria e Ge- rontologia – SPGG, Sociedade Paulista de Fisia- tria e Reabilitação – SPFR). 1. Indicações para avaliação de densida- de óssea (Menção B) 1.1. Mulheres de idade igual ou superior a 65 anos. 1.2. Mulheres na pós-menopausa, ainda que abaixo de 65 anos, e Homens entre 50 e 70 anos, com fatores de risco. 1.3. Homens com idade igual ou superior a 70 anos. 1.4. Adultos com história de fratura por fra- gilidade. 1.5. Adultos com doença ou condição asso- ciada à baixa massa óssea ou à perda óssea. 1.6. Adultos usando medicamentos associa- dos à baixa massa óssea ou perda óssea. 1.7. Pessoas para as quais são consideradas intervenções farmacológicas para osteoporose. 1.8. Indivíduos em tratamento para osteopo- rose, para monitorar a eficácia do tratamento. 1.9. Pessoas que não estejam realizando tra- tamento, nas quais a identificação de perda de massa óssea possa determinar a indicação do tratamento. Anexo 01 Posições Oficiais 2006 Densitometria óssea 119 Observação: Mulheres interrompendo a terapia (de re- posição) hormonal devem ser considera- das para densitometria de acordo com as indicações acima. 2. Base de dados de referência para T-Scores (Menção B). 2.1. Para mulheres, deverá ser utilizada base de dados de normalidade para mulheres cau- cásicas (não ajustar para a etnia), para todos os grupos étnicos. 2.2. Para homens, deverá ser utilizada base de dados de normalidade para homens caucá- sicos (não ajustar para a etnia), para todos os grupos étnicos. 2.3. A base de dados NHANESIII deve ser utilizada para derivação de T-Score no fêmur proximal. 3. Diagnóstico densitométrico central (Menção B). 3.1. As referências internacionais da OMS, para o diagnóstico da osteoporose é um TS- core de -2.5 ou inferior, ao nível do fêmur proximal, embora a coluna lombar e o rádio distal (sítio periférico) possam ser emprega- dos para essa finalidade. 3.1.1. A referência padrão a partir da qual o T-Score é calculado é de mulheres, brancas, de idade entre 20 e 29 anos, segundo os dados do estudo NHANESIII. 3.2. Osteoporose pode ser diagnosticada em mulheres pós-menopáusicas e em homens de50 ou mais se um T-Score na coluna lombar, fê- mur total ou colo femoral for <-2.5, utilizando- -se as referências ajustadas ao sexo. 3.2.1. Em certas circunstâncias, o Rádio 33% (também chamado Rádio 1/3) pode ser utilizado. 3.3. Sítios esqueléticos que devem ser medidos: 3.3.1. Devem ser avaliados a Coluna Lombar PA e Fêmur Proximal em todos os pacientes. 3.3.2. O antebraço deve ser medido nas se- guintes circunstâncias: 3.3.2.1. Quando a Coluna ou Fêmur proxi- mal não puderem ser medidos ou interpretados; 3.3.2.2. Hiperparatireoidismo; 3.3.2.3. Pacientes muito obesos (acima do limite de peso do equipamento DXA utilizado). 4. Regiões de interesse na coluna lom- bar PA (Menção A). 4.1. Deve ser utilizado o segmento L1-L4. 4.2. Devem ser, portanto, utilizadas todas as vértebras avaliadas (L1 até L4) e apenas ex- cluída uma ou mais vértebras que estejam afe- tadas por alterações morfológicas e estruturais ou artefatos. Três vértebras devem ser usadas se não for possível usar quatro, e duas se não for possível usar três. 4.3. A utilização de classificação diagnóstica não deve ser realizada baseando-se em uma única vértebra. 4.4. Se apenas uma vértebra lombar for avaliável, após excluídas as demais, o diagnós- tico deverá ser baseado em outro sítio esque- lético válido. 4.5. Vértebras anatomicamente anômalas podem ser excluídas da análise se: 4.5.1. Forem claramente anômalas e/ou não avaliáveis dentro da resolução do sistema em- pregado; ou 4.5.2. Se for observada diferença de mais de um (1) desvio-padrão (T-Score) entre a vérte- bra em questão e a adjacente. 4.6. Quando for excluída alguma vértebra, a Densidade Mineral Óssea (DMO) das rema- nescentes será utilizada para derivar o T-Sco- 120 Capítulo 3 re. Um mínimo de duas vértebras é exigido para fins de diagnóstico. 4.7. A avaliação densitométrica da Coluna Lombar em Lateral não deve ser usada para diag- nóstico, mas pode ser útil no monitoramento. 5. Regiões de interesse no fêmur proxi- mal (Menção B). 5.1. Entre o Colo Femoral ou o Fêmur Total, use o que apresentar T-Score mais baixo. 5.2. Podem ser medidos ambos os fêmures. 5.3. As regiões de Ward e trocânter não de- vem ser usadas para diagnóstico. 5.4. Não existem dados suficientes para su- portar a utilização da média dos T-Scores de ambos os fêmures para diagnóstico. 5.5. Para monitoramento, a região de inte- resse “Fêmur Total” deve ser preferida. 6. Regiões de interesse no antebraço (Menção A). 6.1. O Rádio 33% (Rádio 1/3) do antebraço não dominante deve ser utilizado para diagnós- tico. Outras regiões de interesse do antebraço não são recomendadas. 7. Avaliação do risco de fraturas (Menção B). 7.1. Distinção deve ser feita entre classifica- ção diagnóstica e o uso da DMO para avaliação do risco de fraturas. 7.2. Para avaliação do risco de fraturas qual- quer técnica adequadamente validada pode ser utilizada, incluindo medidas de mais de um sítio, uma vez que isso tem demonstrado be- nefícios na avaliação de risco. 8. Utilização do termo “osteopenia” (Menção B). 8.1. O termo “osteopenia” é aplicável, mas “baixa massa óssea” ou “baixa densidade óssea” deve ser preferida. 8.2. Pessoas com baixa massa óssea, ou baixa densidade, não apresentam, necessariamente, elevado risco de fraturas. 9. Densitometria óssea periférica (Men- ção B). 9.1. Os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o diagnóstico da Oste- oporose e Osteopenia não devem ser usados com métodos de medida de DMO periférica, com única exceção para o Rádio 33% (1/3), medido por DXA. 9.2. Outras medidas periféricas: 9.2.1. São úteis para avaliação do risco de fraturas. 9.2.2. Não podem ser aplicados à prática clínica enquanto pontos de corte específicos para cada equipamento não sejam estabele- cidos. Tais técnicas podem, teoricamente, ser utilizadas para rastrear, na população, pacientes com pouca chance de ter osteo- porose e/ou pacientes que possam ter indi- cação para tratamento. 9.2.3. Não devem ser utilizados para moni- toramento. 10. Laudos densitométricos em mulhe- res pós-menopáusicas e homens de idade igual ou superior a 50 anos (Menção A). 10.1. T-Scores devem ser utilizados para classificação diagnóstica. 10.2. A classificação da OMS é aplicável. Densitometria óssea 121 11. Laudos densitométricos em mulhe- res pré-menopáusicas e homens entre 20 e 50 anos (Menção B). 11.1. Devem ser usados Z-Scores. 11.2. Um Z-Score de -2.0 ou inferior é de- finido como “abaixo da faixa esperada para a idade” e um Z-Score acima de -2.0 deve ser classificado como “dentro dos limites espera- dos para a idade”. 11.3. Z-Scores devem ser definidos para população específica sempre que referências adequadas existirem. Para o propósito do cál- culo do Z-Score, a etnia definida pelo próprio paciente deve ser utilizada. 12. Diagnóstico em crianças e adolescen- tes de idade inferior a 20 Anos (Menção B). 12.1. T-Scores não devem ser utilizados; em seu lugar, devem ser utilizados os Z-Scores. 12.2. T-Scores não devem aparecer nos rela- tórios ou, mesmo, nos impressos DXA. 12.3. O termo “osteoporose” não deve ser utilizado em crianças e adolescentes baseando- -se unicamente no critério densitométrico. 12.4. Terminologias como “baixa massa ós- sea para a idade cronológica” ou “abaixo da fai- xa esperada para a idade” podem ser utilizadas se o Z-Score for menor que -2 DP. 12.5. Z-Scores devem ser interpretados à luz do melhor banco de dados pediátrico de controles ajustados para a idade. A base de da- dos utilizada deve ser citada no relatório. 12.6. Coluna Lombar PA e Corpo Total são os sítios esqueléticos preferíveis para medida em crianças e adolescentes. 12.7. O valor da DMO para predizer fraturas em crianças não está claramente determinado. 12.8. Não existe consenso com relação aos ajustes da DMO ou Conteúdo Mineral Ósseo (CMO) para fatores como tamanho do osso, estadiamento puberal, maturidade esquelética, e composição corporal. 12.9. Medidas seriadas de DMO devem ser realizadas na mesma máquina usando o mesmo modo de aquisição, software e análise quando apropriado. Mudanças nesses parâme- tros podem ser requeridas com o crescimento do indivíduo. 12.10. Qualquer desvio nos protocolos pa- drão de aquisição, tais como uso de software de análise “low-density” e ajustes manuais de re- gião de interesse, devem ser indicados no laudo. 13. Medidas seriadas de DMO (Men- ção A). 13.1. Medidas seriadas de DMO são ferra- mentas de grande utilidade para determinar quando o tratamento deve ser iniciado em pa- cientes que não estejam em tratamento, uma vez que perdas significativas podem significar a indicação para tratamento. 13.2. Medidas seriadas de DMO podem mo- nitorar a resposta ao tratamento detectando estabilidade ou ganhos de densidade óssea. 13.3. Medidas seriadas de DMO podem iden- tificar ausência de resposta ao tratamento caso seja observada perda de DMO, sugerindo neces- sidade de ser reavaliada a opção de tratamento, bem como, a necessidade de avaliação de causas secundárias de osteoporose e perda óssea. 13.4. A Mínima Variação Significativa (MVS) deve ser utilizada para avaliar as variações ob- servadas entre medidas seriadas da DMO e seu resultado informado no laudo. 13.5. O período de intervalo entre exa- mes deve ser determinado de acordo com a condição clínica de cada paciente. Tipi- camente, um ano após o início ou mudan- ça do tratamento, nova medida de DMO é 122 Capítulo 3 apropriada. Maiores intervalos deverão ser observados quando a eficácia terapêutica já estiver estabelecida. 13.6. Em condições associadas à perda óssea rápida, tais como tratamento com glicocorticoi- des, exames mais frequentes são apropriados. 14. Avaliação de phantom e calibração (Menção B). 14.1. O Programa de Controle de Qualidade (CQ) deve incluir a observância às recomen- dações de cada fabricante para a manutenção dos sistemas e, em adição, se não recomendado pelo fabricante em seu protocolo,os seguintes procedimentos de CQ são recomendados. 14.2. Realize periodicamente (pelo menos uma [1] vez por semana) exames de phantom, para qualquer sistema DXA, como uma avalia- ção independente da calibração do sistema (al- guns equipamentos requerem a realização de exame de phantom diariamente). 14.3. Imprima e revise os dados de calibra- ção e exames de phantom. 14.4. Verifique a média da DMO do phan- tom após cada reparo ou manutenção do den- sitômetro. 14.5. Estabeleça e determine limiares que motivem ações corretivas e acionamento de serviços de manutenção. 14.6. Mantenha arquivados os relatórios (logs) de serviço e manutenção. 14.7. Atenda às inspeções governamentais, levantamentos radiométricos e requerimentos regulatórios. 15. Avaliações de precisão (Menção B). 15.1. Cada clínica de Densitometria deve determinar seu próprio erro de precisão e cal- cular a MVS. O erro de precisão indicado pelo fabricante não deve ser considerado. 15.2. Se uma clínica de DXA tiver mais de um operador, um erro de precisão médio, com- binando os dados de todos os operadores deve ser usado para estabelecer o erro de precisão e a MVS para o centro, desde que o erro de pre- cisão de cada operador esteja dentro de faixas aceitáveis de performance preestabelecidas. 15.3. Cada operador deve realizar estudo de precisão in vivo usando pacientes representati- vos da população rotineira da clínica. 15.4. Cada operador deve realizar um estu- do de precisão completo após ter preparação básica para a realização dos exames (i.e., treina- mento do fabricante) e após ter realizado apro- ximadamente 100 exames em pacientes. 15.5. Novo estudo de precisão deve ser rea- lizado sempre que um novo equipamento DXA for instalado. 15.6. O estudo de precisão deve ser repe- tido se o nível de habilidade do operador for modificado ou a cada dois anos. 15.7. Para realizar um estudo de precisão: 15.7.1. Meça quinze (15) pacientes três (3) vezes, ou trinta (30) pacientes duas (2) vezes, reposicionando o paciente entre as aquisições. 15.7.2. Calcule a raiz quadrada da média dos desvios-padrão para o grupo (Coeficiente de Variação – CV). 15.7.3. Calcule a MVS para o grupo usando o intervalo de confiança de 95%. 15.8. As precisões mínimas aceitáveis (CV) para um operador, individualmente, são: 15.8.1. Coluna Lombar PA: 1.9% 15.8.2. Fêmur Total: 1.8% 15.8.3. Colo Femoral: 2.5% 15.9. Novo treinamento do operador será necessário se sua precisão for pior que esses valores 15.10. O estudo de precisão deve ser pa- dronizado na prática clínica. Não é pesquisa e Densitometria óssea 123 pode, potencialmente, beneficiar os pacientes. Não deve requerer aprovação por comitês de ética. Contudo, os requerimentos de seguran- ça radiológica locais devem ser observados. A realização de estudos de precisão requer o consentimento dos pacientes participantes. 16. Calibração cruzada de sistemas DXA (Menção A). 16.1. Quando partes do equipamento (hardware) forem trocadas, mas não o sis- tema inteiro, ou quando todo o equipamen- to for substituído por outro, com a mesma tecnologia (Fabricante e Modelo), estudos de calibração cruzada devem ser realizados realizando-se 10 aquisições de phantom, pelo mesmo operador, com reposicionamento an- tes e após a troca do hardware. 16.2. Se, na comparação entre as médias, for observada uma diferença maior que 1% conta- te o fabricante para correção do problema. 16.3. Quando todo o sistema for substituído por outro do mesmo fabricante, mas que utilize tecnologia diferente, ou quando a substituição for feita por sistema de outro fabricante, uma abordagem aceita para a calibração cruzada é: 16.4. Obtenha aquisições de 30 pacientes representativos da realidade populacional aten- dida pela clínica uma vez no equipamento ante- rior e duas vezes no equipamento novo dentro de um período de 60 dias. 16.5. Avalie os sítios comumente medidos na prática clínica, sabidamente coluna lombar PA e Fêmur Proximal. 16.6. As clínicas devem observar as disposi- ções legais relativas ao método DXA. 16.7. Calcule a relação entre as médias da DMO e do MVS entre o equipamento anterior e o novo usando a planilha de Cálculo de Cali- bração Cruzada da ISCD/SBDens. 16.8. Use MVS como referência para com- parações entre exames realizados no equipa- mento anterior e o novo. Comparações quan- titativas entre sistemas somente podem ser realizadas se uma calibração cruzada for reali- zada em cada sítio medido. 16.9. Uma vez que a nova avaliação de pre- cisão for realizada no novo sistema, todos os exames comparativos futuros (entre exames re- alizados no sistema novo) deverão levar em con- sideração o novo MVS intrassistema calculado. 16.10. Se a calibração cruzada não for rea- lizada, não se pode realizar comparação quan- titativa com o equipamento anterior. Conse- quentemente, uma nova DMO de base e MVS intrassistema deverão ser estabelecidos. 17. Comparação entre centros (Men- ção B). 17.1. Não é possível comparar quantitativa- mente a DMO ou calcular a MVS entre clínicas diferentes sem realizar a calibração cruzada. 18. Avaliação de fraturas vertebrais (VFA) – Nomenclatura (Menção B). 18.1. Avaliação de Fraturas Vertebrais (VFA) é o termo correto para denotar a aquisição de imagem da coluna, realizada com o objetivo de detectar fraturas vertebrais. 19. Indicações para VFA (Menção B). 19.1. Considere realizar exame de VFA quando os resultados puderem influenciar a conduta clínica. 19.2. Quando a medida da DMO for indicada, a realização de estudo de VFA deve ser considerada 124 Capítulo 3 em situações clínicas que possam estar associadas a fraturas vertebrais. Citam-se como exemplos: 19.2.1. Perda de estatura documentada, su- perior a 2 cm ou perda histórica superior a 4 cm desde a idade adulta jovem. 19.2.2. História de fraturas após os 50 anos de idade. 19.2.3. Uso prolongado de glicocorticoides orais ou parenterais. 19.2.4. História e/ou achados sugestivos de fratura vertebral não documentada por estudo radiológico prévio. 20. Métodos para definição e laudo de VFA (Menção B). 20.1. A metodologia utilizada para identifi- cação e elaboração de laudos de fraturas ver- tebrais por VFA deve ser similar à abordagem radiológica padrão. 20.2. O diagnóstico de Fratura deve basear- -se em avaliação visual e incluir indicação de grau/gravidade. O uso de morfometria sem ava- liação visual não é recomendado devido a não ser segura para o diagnóstico. 20.3. A gravidade das fraturas vertebrais pode ser determinada usando os critérios de avaliação semiquantitativa (SQ) desenvolvida por Genant [Genant HK et al. J Boné Miner Res. 1993; 8: 1137-1148.]. A gravidade das de- formidades pode ser confirmada pelas medidas morfométricas, se desejado. 21. Indicações de complementação diag- nóstica após exame de VFA (Menção B). 21.1. A decisão de recomendar/realizar estudos complementares adicionais deve ser baseada no quadro geral de cada paciente em particular, incluindo os resultados de VFA. 21.2. Considere avaliações complementares adicionais quando: 21.2.1. Houver dúvida quanto à existência de fratura. 21.2.2. Existirem vértebras não identificáveis entre T7-L4. 21.2.3. Existam alterações escleróticas ou líticas, ou achados sugestivos de outras condi- ções que não osteoporose. Nota: A metodologia VFA foi desenvolvida para detectar fraturas vertebrais e não outras anormalidades. 22. Laudo inicial DXA: Requerimentos mínimos (Menção B). 22.1. Dados demográficos (Nome, Registro do Paciente, Data de Nascimento, Sexo). 22.2. Origem do paciente e profissional so- licitante. 22.3. Fabricante e modelo do equipamento usado. 22.4. Qualidade técnica e limitações do es- tudo, esclarecendo o porquê um sítio ou região de interesse específica (ROI) apresenta-se invá- lida ou não foi incluída. 22.5. DMO em g/cm2 para cada sítio. 22.6. Sítios esqueléticos, ROI(S) e, se apro- priado, o lado que foi avaliado. 22.7. O T-Score e/ou Z-Scorequando apro- priado. 22.8. Classificação diagnóstica segundo o cri- tério da OMS em mulheres pós-menopáusicas e em homens acima dos 65 anos ou acima de 50 com outros fatores de risco. 22.9. Uma informação geral sobre possível necessidade médica de considerar/avaliar causas secundárias de baixa DMO pode ser apropriada. 23. Laudo de monitoramento: Requeri- mentos mínimos (Menção B). Densitometria óssea 125 23.1. Declaração sobre que exame ou exa- mes anteriores e região/regiões de interesse estão sendo usadas para comparação. 23.2. Declaração sobre a MVS do seu cen- tro e a significância estatística da(s) compara- ção (ões). 23.3. Relate variações significativas, se al- guma, entre o exame atual e o imediatamente anterior e/ou prévios estudos em g/cm2 e em porcentagens. 23.4. Comentários sobre exames anteriores realizados em outros centros, incluindo fabri- cante e modelo de equipamento nos quais es- ses exames foram realizados e a impossibilidade da comparação. 24. Laudos DXA: Itens opcionais (Men- ção A). 24.1. Indicações clínicas para o exame. 24.2. Recomendações para outros exames complementares, tais como Raios X, RNM, TC etc. 24.3. Resultados percentuais comparativos à população de referência. 24.4. Recomendações específicas para ava- liação de causas secundárias de osteoporose. 24.5. Fatores de risco incluindo informações relativas a fraturas não traumáticas prévias. 24.6. Informação sobre risco de fraturas. Importante: Qualquer uso de risco relativo de fraturas no laudo deve ser acompanhado de esclarecimento relativo à população usada para comparação (i.e., adultos jovens ou ajus- tado para a idade). A ISCD/SBDens consideram apropriado o uso de risco absoluto quando es- tas metodologias estiverem estabelecidas. 24.7. Recomendações para a necessidade e periodicidade mínima para o futuro estudo DXA. 24.8. Diagnóstico em único laudo para as di- ferentes regiões de interesse estudadas. Observações específicas O densitometrista pode recomendar ava- liações complementares adicionais em termos gerais, especialmente em casos onde a inves- tigação de causas secundárias de osteoporose possa beneficiar as decisões clínicas a serem to- madas para cada indivíduo em particular. 25. Laudos DXA: Itens que não devem ser incluídos (Menção A). 25.1. Declaração de que existe perda óssea sem o conhecimento da densidade óssea de exames anteriores. 25.2. Menção de osteopenia ou osteoporo- se “leve”, “moderada”, “grave”, “marcada” ou outros adjetivos. 25.3. Expressões como “Ela apresenta ossos de uma pessoa de 80 anos de idade”, se a pa- ciente não tiver 80 anos de idade. 25.4. Resultados de sítios esqueléticos que não são tecnicamente válidos. 25.5. Variações de DMO se não houver variação significativa baseada no erro de pre- cisão e MVS. 26. Componentes dos laudos de VFA (Menção B). 26.1. Identificação do paciente, médico so- licitante, indicação (ões) para o exame, quali- dade técnica, segmento vertebral incluído e interpretação. 26.2. Relato das deformidades apresentadas, tipos e gravidade. 26.3. Opcionalmente – informações sobre risco de futuras fraturas. 26.4. Laudos de exames de VFA de mo- nitoramento devem incluir adicionalmente informação sobre a comparabilidade dos es- 126 Capítulo 3 tudos e a significância estatística das mudan- ças, se alguma houver. 26.5. Componentes opcionais do laudo de VFA incluem informação sobre o risco de fra- turas e recomendação para estudos adicionais. 27. Nomenclaturas em densitometria (Menção A). 27.1. DXA – não DEXA. 27.2. VFA – não LVA / IVA ou IVA-HD. 27.3. T-Score – não T-Score, t-Score, ou t Score. 27.4. Z-Score – não Z-Score, z-Score, ou z Score. 28. Casas decimais para valores DXA (Menção A). 28.1. DMO: 3 casas decimais (exemplo, 0.927 g/cm2). 28.2. T-Score: 1 casa decimal (exemplo, -2.3). 28.3. Z-Score: 1 casa decimal (exemplo, 1.7). 28.4. CMO: 2 casas decimais (exemplo, 31.76 g). 28.5. Área: 2 casas decimais (exemplo, 43.25 cm2). 28.6. % dados de referência: Inteiro (exem- plo, 82%). 29. Indicações de exames de densitome- tria em osteoporose induzida por glicocor- ticoides (Menção B). 29.1. Homens e mulheres em uso ou com previsão de glicocorticoides orais por mais de três (3) meses. 29.1.1. Importante para diagnóstico e para monitoramento futuro. 29.2. Pulsoterapia endovenosa. 29.3. Glicocorticoides inalatórios em altas doses. 30. Indicações de monitoramento em osteoporose induzida por glicocorticoides (Menção A). 30.1. A cada seis meses no primeiro ano. 30.2. A cada doze meses após estabilização da densidade mineral óssea. 31. Indicações de VFA em osteoporose induzida por glicocorticoides (Menção B). 31.1. Monitorar a altura (recomendação ge- ral importante). 31.2. Avaliação de fratura vertebral – VFA. 31.3. Pacientes em uso de doses maiores de 5mg por dia ou mais, por mais de três (3) meses. Observações a. O uso das referências NHANESIII para cálculo de T-Score é recomendado en- quanto não houver valores de referên- cia nacionais consistentes. b. Fatores Clínicos de Risco: Em virtude da existência de outros foros de delibera- ção desta matéria, nos seus documen- tos oficiais, a SBDens refere-se aos fa- tores clínicos de risco para osteoporose vigentes no país. c. Não há recomendação para que se igno- re o trocânter. Esta ROI deve continuar sendo avaliada, mas, deste momento em diante, até que dados científicos se- jam disponíveis, considera-se que o uso da ROI trocânter para diagnóstico não é suportado pelas evidências científicas disponíveis atualmente. Densitometria óssea 127 Referências ANIJAR, J. R. Densitometria óssea na prática médica. São Paulo: Savier, 2003. BONTRAGER, K. Tratado de técnica radiológica e base anatômica. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan, 2003. p. 745-8. GALI, J. C. Osteoporose. Acta ortop.bras., 9(2). São Paulo, 2001. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-78522001000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 mai 2006. JOHNSTON, C. C.; MELTON, L. J.; LINDSAY, R. Clinical indications for bone mass measurements. A report from the Scientific Advisory Board of the National Osteoporosis Foundation. J Bone Miner Res, 4:1-28, 1989. KELLIE, S. E. Measurement of bone density with dual energy X-ray absorptiometry. Barcelona: JAMA, 1992. p. 267; 286-94. MEIRELLES, E. S. Diagnóstico por imagem na osteoporose. Arq Bras Endocrinol Metab, 43(6). São Paulo, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004- -27301999000600006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 jul 2006. SBDENS. Disponível em: <http://www.sbdens.org.br/sbdens/pdf_posicoes_oficiais/2_18.pdf>. Aces- so em: 20 jan 2007. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DENSITOMETRIA CLÍNICA. Departamento de Densitometria Ós- sea do Colégio Brasileiro de Radiologia. Apostila do curso para operadores. STEVENSON, J. C; MARSH M. S. An atlas of osteoporosis. New Jersey-USA: Parthenon, 1992. p. 27-84. d. A base de dados NHANESIII deve ser usada para cálculo de Z-Score apenas em países onde bases de dados nacionais não sejam disponíveis. e. Além das indicações listadas para reali- zação de estudos VFA, há razoável su- porte científico para indicação de VFA em mulheres pós-menopáusicas ou ho- mens após os 50 anos de idade com um T-Score igual ou inferior a -3.5, devido à elevada prevalência de fraturas verte- brais nesses indivíduos. f. Dor nas costas, de característica agu- da, em homens e mulheres após os 65 anos de idade são, também, indica- ções aceitas. g. Indicação a ser considerada em conjunto com outros fatores de risco. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais Capítulo 4 Gisela André Paganini Graduada em Odontologia pelo Cen- tro Universitário Hermínio Ometto (1994). Mestre em Radiologia Odon- tológica pela Faculdade de Odontolo- gia da Unicamp (1997). Doutora em Odontologia pela Universidade Estadu- al de Campinas (2001).Possui Atualiza- ção e Aperfeiçoamento em Ortodontia e Ortopedia dos Maxilares pelo Instituto Mineiro de Pós-Graduação. Foi profes- sora titular pelo Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIARARAS de 02/2002 a 06/2008 nas seguintes disci- plinas: Radiologia Odontológica/Imagi- nologia, Ciências Sociais, Parasitologia e Trabalho de Conclusão de Curso – Me- todologia de Ensino e Pesquisa. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais Capítulo 4 131 Gisela André Paganini 1. Introdução Em relação à história da radiologia odonto- lógica tem-se que, no Brasil, o primeiro apare- lho de raios X odontológico foi adquirido pelo professor José Carlos Pires e o primeiro pro- fessor catedrático de Radiologia Odontológica no Brasil foi o Prof. Dr. Cyro A. Silva em 1932 e o primeiro livro de Radiologia Odontológica foi escrito por Carlos Newlands. Os raios X são uma modalidade de diagnós- tico muito importante e amplamente utilizada na medicina e na odontologia. Normalmente, pode-se dizer que sem a disciplina de Radiologia/Imaginologia Odonto- lógica não se consegue trabalhar em nenhuma outra especialidade da Odontologia visto que, não se pode realizar um tratamento endo- dôntico (de canal), uma exodontia (extração dentária), uma restauração mais profunda, um 132 Capítulo 4 tratamento periodontal (problemas de gengi- va e osso de suporte), um tratamento orto- dôntico, sem o auxílio da radiografia. Ou seja, somos todos dependentes deste método que, embora antigo, é ainda muito eficaz no diag- nóstico dos problemas que podem acometer os pacientes dentro da área odontológica. Assim sendo, os profissionais que trabalham com radiação ionizante têm um papel mui- to importante e uma grande responsabilidade referente à condução do exame radiográfico, pois, sabe-se que erros durante a realização destes exames no paciente irá resultar em uma maior exposição destes aos fatores deletéricos que a radiação é responsável. Filmes e Métodos de Processamento Radiográfico Os primeiros filmes radiográficos foram pro- duzidos pela Kodak em 1913. Eles tinham a emulsão em um só lado e eram envoltos em um papel preto. Atualmente, os fil- mes radiográficos possuem dupla emulsão, são envoltos em papel preto internamente e prote- gidos por uma embalagem plástica. Assim, têm grande resistência à luz, são protegidos da umi- dade (sempre devendo lembrar que hoje em dia, a Biossegurança preconiza envolver estes filmes em saquinho plástico ou ainda embalá-los em filme de PVC), são muito sensíveis aos raios X ainda possuindo uma proteção às radiações secundárias oriundas dos tecidos do paciente, representado pela lâmina de chumbo. Filmes Radiográficos Constituição Base de poliéster, coberta em um ou ambos os lados com gelatina impregnada de sais halo- genados de prata, formando a parte sensível do filme, e sobre esta vem a capa protetora. Embalagem dos Filmes Intrabucais É constituída de papel preto, opaco à luz, possuindo uma lâmina de chumbo na parte posterior que tem a finalidade de proteger o fil- me contra a radiação secundária produzida nos tecidos bucais que estão após a película duran- te a exposição, reduzir o “véu”, proporcionar maior dureza ao filme; ainda possui decalque (espinha de peixe/ marca de roda de carro ou formas geométricas) que deverá indicar quan- do o filme for exposto do lado errado. Estes componentes se encontram conti- dos em um envelope à prova de luz e tam- bém à prova de água. Lingueta ou Corte em V Serve para indicar a região onde o filme deve ser aberto pelo profissional. Nesta face também se encontram a indicação do tipo de filme quanto à sensibilidade, quantidade e marca comercial. A- revestimento protetor B- emulsão C- adesivo D- base plástica transparente Figura 1 Esquema da constituição do filme radiográfico Figura 2A Foto de um filme radiográfico sendo aberto. Note o papel preto e a lâmina de chumbo Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 133 Figura 2B Foto do filme radiográfico intra- -bucal oclusal. Note a seta do lado colorido do filme indicando onde a embalagem deverá ser aberta na hora do processamento radiográfico. Este lado também contém a lâmina de chumbo Classificação quanto ao tamanho Os filmes intrabucais são subdivididos em periapicais, interproximais e oclusais. Os periapicais se apresentam em 3 tama- nhos, os interproximais em 5 tamanhos e os oclusais com somente um tamanho como se pode observar na tabela abaixo. Tabela 1 Dimensões dos filmes radiográficos intrabucais Periapical Dimensões (em milímetros) 1,0 22,20 x 34,90 1,1 23,80 x 39,70 1,2 31,00 x 40,90 Interproximal Dimensões (em milímetros) 2,0 (posterior) 22,20 X 34,90 2,1 (anterior) 23,80 X 39,70 2,1 (posterior) 23,80 X 39,70 2,2 (posterior) 31,00 X 40,90 2,3 (posterior) 26,60 X 53,60 Oclusal Dimensões (em milímetros) 3,4 57,20 x 76,20 Adaptado de: Freitas; Rosa; Souza (2000). Tabela 2 Dimensões dos filmes radiográficos extrabucais Tipo Dimensões (em milímetros) a 13 x 18 b 18 x 24 c 24 x 30 d 30 x 40 E (panorâmico) 15 x 30 ou 12 x 30 Adaptado de: Freitas; Rosa; Souza (2000). Figura 4 Foto dos componentes do filme radiográfico periapical. (1) Base do filme radio- gráfico; (2) papel preto opaco à luz; (3) lâmina de chumbo; (4) envelope de plástico Figura 5 Foto dos componentes do filme radiográfico periapical já removidos da emba- lagem. (1) Base do filme radiográfico; (2) papel preto opaco à luz; (3) lâmina de chumbo; (4) envelope de plástico 134 Capítulo 4 Armazenamento dos filmes radiográficos Os filmes radiográficos periapicais da marca Kodak são envoltos em um laminado à prova de umidade. Os da marca comercial Agfa vêem acopla- dos dentro de uma caixa plástica. Existe uma cinta plástica que estabiliza a carga para que na manipulação da embalagem e remo- ção das películas, as mesmas não se espalhem. Na parte externa da embalagem iremos en- contrar a data de vencimento do produto, fator que sempre deverá ser observado antes do pro- cedimento radiográfico pois, se usarmos filmes vencidos, poderemos perder a qualidade da ima- gem com prejuízo no contraste e na densidade. O melhor é armazenar os filmes entre 10 e 210C, sempre evitando temperaturas ex- cessivas, umidade, radiações perdidas como as secundárias. Os filmes radiográficos extrabucais são arma- zenados em caixas de papelão com embalagem plástica interna e em número de 50 a 100 pelícu- las variando conforme o tamanho do filme. A técnica oclusal exige um posicionamento adequado da cabeça do paciente. Para a radio- grafia oclusal da maxila, o plano sagital mediano deve estar perpendicular ao plano horizontal e a linha tragus-asa do nariz, paralela ao plano ho- rizontal. Já para a radiografia de mandíbula, o plano sagital mediano deve estar perpendicular ao plano horizontal e a linha tragus-canto ex- terno da boca a 90º, com o plano horizontal, inclinando a cabeça para trás. Processamento Radiográfico Sabemos que existem dois métodos de pro- cessamento radiográfico: o método automático e o manual. O primeiro utiliza uma processa- dora automática com uma manutenção especial e maior custo do processo. O segundo utiliza tanques onde as soluções reveladora, água e fi- xadora são inseridas. No método automático, o filme é removido do chassi e inserido na processadora aonde passa por uma solução reveladora, fixadora e pela lava- gem final e secagem. No processamento manual, o filme é acoplado numa colgadura e então inse- rido na solução reveladora, faz-se um banho in- termediário, a fixação, a lavagem final e aí, então, a radiografia vai para uma secadora automática. Câmara escura É um local específico para se realizar o pro- cessamento radiográfico, devendo conter luz filtrada e ventilação apropriada. Devem existir tanques para soluções (re- velador/água/fixador) ou uma processadora automática. Figura 6 Fotos de filmes intrabucais adulto (A) e infantil (B)Figura 7 Foto de filme oclusal Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 135 Tipo de Câmara escura Podem ser de 3 maneiras: 1) Portátil: compradas em casas especia- lizadas (dentais) mas somente utilizadas em consultórios odontológicos; 2) Quarto: quando se faz o aproveitamento de um cômodo do próprio consultório; 3) Labirinto: sala especialmente construída com alguns detalhes na entrada para a mesma. Equipamentos da Câmara escura Alguns equipamentos são necessários para um bom processo de processamento radio- gráfico manual. Dentre eles podemos citar: Mesa ou bancada manipuladora: aonde ha- verá o identificador de radiografias e onde se recarrega o chassi porta-filmes. Filtro de segurança (lanterna de teto ou pa- rede): luzes especiais com filtro vermelho para se poder visualizar os componentes da câmara escura sem ocorrer o velamento dos filmes Tanques de processamento com tampas: onde serão colocados os líquidos de revelador, fixador e água. Suportes ou colgaduras para acoplar os fil- mes para serem inseridos nos tanques de pro- cessamento. Figura 8 Câmara escura portátil somente utili- zada para processamento de filmes periapicais Figura 9 Bancada para manipulação dos chassis e filmes Figura 10 Colgadura para filmes 18 x 24 Figura 11 Colgadura para filmes 12 x 30 Figura 12 Luz de segurança com filtro 136 Capítulo 4 Figura 13 Tanque manual de processamento com compartimento para a solução reveladora, água e fixadora Figura 16 Estufa para secagem dos filmes ra- diográficos (em A, aberta e em B, fechada) Figura 14 Relógio alarme Figura 15 Negatoscópio dentro da câmara escura Termômetro de imersão: para medir a tem- peratura dos líquidos de processamento antes da revelação (usado no método temperatura- -tempo que será descrito a seguir). Relógio alarme: que dispara quando o tempo de revelação acabar. Soluções de Processamento Radiográfico As soluções podem se apresentar de algumas maneiras: prontas para uso, concentradas e em pó, podendo sofrer degradação que seria a dete- rioração pelo oxigênio do ar, pela luz de seguran- ça, pelo tempo de preparo da solução e número de radiografias processadas onde se acaba obser- vando uma mudança de cor desta solução. As soluções também podem apresentar a exaustão, que seria a perda da capacidade da solução reveladora de reduzir sais de prata à prata metálica ou do fixador de dissolver os cristais não reduzidos. Aqui cabe considerar um fator que seria a quantidade de filmes processa- dos nesta solução. Métodos de Processamento Radiográfico Automático O tempo utilizado varia de 2 a 7 minutos. Algumas vantagens que podemos citar são: a rapidez do processo, uniformidade nos resulta- dos e pequeno espaço requerido. As soluções Negatoscópio: para visualização das imagens radiográficas. Estufa de secagem: para secar as radiografias que saem da água. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 137 Figura 17 Processadora automática aberta Figura 18 Em A, será inserida a solução reveladora e em B, a fixadora Figura 19 Três tipos de colgaduras. Em A, a unitária utilizada em radiografias periapicais, interproximais e oclusais, em B, colgadura para 14 radiografias periapicais e em C, para radiografia extrabucal Figura 20 Dentro da câmara escura portátil, os compartimentos de revelador, água e fixador da esquerda para a direita Figura 21 Dentro da câmara escura (quarto), um tanque de processamento com os compartimentos de revelador, água e fixador da esquerda para a direita reveladoras são mais concentradas e trabalham em temperatura mais elevada (35° C). Dentro da processadora automática aconte- ce a revelação, a fixação, o banho final e a seca- gem da radiografia, podendo-se observar que não ocorre o banho intermediário neste méto- do de processamento. Manual Neste tipo de processamento, serão utiliza- dos os suportes porta-filmes (colgaduras), exis- tindo neste processo a lavagem intermediária preconizada em 20 segundos. O processo de fixação será de 10 minutos e a lavagem final de 5 minutos em água corrente. 138 Capítulo 4 2. Anatomia em Radiografias Odontológicas Como conhecer o anormal sem o per- feito conhecimento da normalidade? O conhecimento é imprescindível para a in- terpretação radiográfica correta. Conhecer as estruturas, as variações morfo- lógicas, as dimensionais e as posições é impres- cindível para se poder diferenciar as alterações patológicas daquelas tidas como dentro do limi- te da normalidade. Antes de começarmos a abordar a anatomia radiográfica propriamente dita, iremos definir radiopaco e radiolúcido: - Imagens radiolúcidas (RL): imagens de es- truturas que pouco absorvem os raios X, ou seja, a radiação passa por elas e expõe com maior intensidade o filme radiográfico. - Imagens radiopacas (RO): estruturas de maior poder de absorção dos raios X, assim, pouca radiação passa por elas indo incidir na pe- lícula radiográfica. Estruturas anatômicas radiográficas-dentes Esmalte É a estrutura mais mineralizada do dente (96% minerais, 4% matérias orgânicas e água). Radiograficamente é visualizado como uma imagem radiopaca (RO) bem definida, dispos- ta como casquete sobre a coroa apresentando um adelgamento em direção à margem cervical, onde termina. O seu grau de radiopacidade é o sinal mais importante em diagnóstico precoce de cárie. Cortical Alveolar (Lâmina dura/eminência alveolar) Compreende a porção da parede do alvéolo onde se inserem as fibras periodontais. Radiograficamente se apresenta como uma linha RO que contorna as raízes dos dentes, uniforme, com variações conforme a morfolo- gia da raiz dentária. Forma a crista alveolar sem haver interrup- ção, sendo este detalhe um elemento valioso no estudo das doenças periodontais. Dentina Estrutura menos radiopaca que o esmalte (69 a 72% de mineral), e recoberta e prote- gida pelo mesmo onde encontramos o limite amelodentinário. Consiste na maior porção de tecidos duros do dente, podendo apresentar variações no pa- drão radiográfico devido sua fisiologia. Exem- plo: a dentina aumenta a sua radiopacidade com o aumento da idade do indivíduo. Cemento Em condições normais, o cemento se apre- senta como uma estrutura delgada e radiografica- mente impossível de ser diferenciado da dentina. Sua visualização somente ocorre nos casos de hiperplasia que é denominado de hiperce- mentose. Osso alveolar de suporte (esponjoso) Radiograficamente: trabéculas ósseas (RO) limitadas por espaços medulares (RL). Idade/ mastigação e condições sistêmicas: fa- tor atuante para a mineralização. Mandíbula: trabéculas mais horizontais e es- paços medulares mais amplos. Maxila: trabéculas mais irregulares e espaços medulares menores. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 139 Cavidade pulpar (câmara coronária e condutos radiculares) Radiograficamente: imagem radiolúcida que ocupa o centro do dente (tecido mole) guardan- do a conformação anatômica da coroa e da raiz. Com o avanço da idade, a conformação e tamanho diminuem devido a deposição de den- tina secundária. Espaço periodontal ou pericementário Radiograficamente apresenta-se como uma linha contínua, radiolúcida que circunda o dente representando o espaço entre a raiz e a lâmina dura. Quando ocorre o seu espessamento na re- gião periapical, pode-se estar diante de uma pericementite e seu espessamento na região in- terproximal poderá indicar um trauma oclusal. Estruturas anatômicas radiográficas-maxila: Forames nasais Estas cavidades apresentam-se radiografica- mente como imagens radiolúcidas na região de incisivos superiores e são dispostas simetrica- mente acima dos ápices radiculares e separa- das por uma faixa radiopaca espessa que seria o osso Vômer ou septo nasal. Podem apresentar no seu interior estruturas menos radiolúcidas que são denominados de cornetos inferiores. Sombra das narinas Nas radiografias de algunscasos aparecem duas sombras radiolúcidas arredondadas que é a superposição das narinas sobre o osso alveo- lar e o ápice nasal aparece como um aumento do grau de radiopacidade devido a sua consti- tuição cartilaginosa. O profissional deverá sempre ficar mui- to atento devido ao fato da imagem radio- paca da cartilagem na radiografia periapical poder, muitas vezes, ser confundida com a imagem do rebordo ósseo alveolar, podendo o mesmo diagnosticar como perdas ósseas erroneamente. Figura 22 Pontos e setas identificando as regiões que constituem os dentes e osso adjacente Figura 23 Como em condições normais o cemento não pode ser visualizado, a figura acima mostra um caso de hipercementose no elemento 15 aonde se encontra sinalizado com pontos brancos. Observe o acúmulo de material radiopaco na região da raiz deste elemento : esmalte dental (RO). : dentina (RO). : polpa (câmara pulpar) - (RL). : polpa (conduto radicular) - (RL). : osso alveolar (RO). : contorno da lâmina dura (RO). : contorno do espaço pericementário (RL). 140 Capítulo 4 Espinha Nasal Anterior Radiograficamente, apresenta-se como uma pequena área radiopaca em forma de V, vista abaixo do septo nasal, correspondendo à superposição da maxila na borda inferior da fossa nasal. Canal incisivo e Forame incisivo Pode aparecer ocasionalmente em radio- grafias de incisivos e caninos superiores. Radiograficamente apresenta-se como duas linhas radiolúcidas delimitadas por linhas radiopacas que são as paredes laterais. Os canais incisivos terminam no forame palatino anterior, localizados entre as raízes dos incisivos superiores. Sutura Intermaxilar Aparece especialmente em pacientes jo- vens. Em adultos nem sempre se encontra bem definida. Radiograficamente: linha ra- diolúcida de regularidade geométrica, sendo possível de se confundir com traço de fratura. Figura 24 Pontos e setas identificando as regiões que constituem os dentes e osso adjacente Figura 25 Círculo preto indica os canais nasolacrimais deste paciente : forames nasais (RL). : cornetos inferiores (conchas nasais inferiores). : delimita o forame incisivo (RL). : contorno da sombra das narinas (cartila- gem) - (RO). : espinha nasal anterior (RO). : sutura intermaxilar (RL). Fosseta Mirtiforme ou Fossa subnasal Caracteriza-se por uma depressão óssea ou fóvea entre caninos e incisivos laterais su- periores, limitada posteriormente pela emi- nência canina. Radiograficamente apresenta-se como uma área radiolúcida alongada ao nível dos ápices dos incisivos laterais superiores. Canal nasolacrimal Esta estrutura somente pode ser observada em radiografias oclusais da maxila. Radiograficamente compreende uma área ra- diolúcida bem definida, de forma arredondada, próximo à região dos molares superiores. O profissional tem que ter cuidado para não confundir com o canal palatino posterior. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 141 Figura 27 Pontos pretos indicam o seio maxi- lar e as setas brancas indicam os septos do seio Figura 28 Círculo branco mostra o hámulo do pterigóideo e os pontos delimitam o processo cortonoide da mandíbula Figura 26 Círculo preto indica a região de fosseta mirtiforme deste paciente Seio Maxilar É tido como o maior seio paranasal. Radiograficamente se apresenta como uma área radiolúcida que pode ir da região de inci- sivo lateral ou canino até a região de túber da maxila ou extensões palatinas ou ainda para o sentido do osso alveolar (rebordo). Septos do seio maxilar Aparecem dividindo o seio maxilar em mais de uma cavidade, denominadas divertículos. Radiograficamente se apresentam como uma linha radiopaca de direção e altura variáveis. Túber da Maxila Compreende o limite posterior da apófise al- veolar. Radiograficamente, a região é limitada por uma linha radiopaca de concavidade superior que representa união das corticais bucal e palatina. Pode ser ocupada pelo prolongamento do seio maxilar deixando a área com pouca resistência. Processo Zigomático da maxila e osso zigomático Observado em radiografias da região de mo- lares superiores. Radiograficamente: imagem ra- diopaca em forma de V ou U sobre as raízes dos molares que se continua como uma imagem de menor radiopacidade que é o osso zigomático. Hâmulo Pterigóideo Particularidade anatômica observada nas ra- diografias da região mais posterior da maxila (posterior ao Túber da maxila). Localiza-se na asa interna da apófise pteri- góide do osso esfenoide. Radiograficamente: imagem radiopaca em forma de gancho, cujo comprimento, largura e forma variam de indivíduo para indivíduo. Processo Coronoide da mandíbula É uma estrutura anatômica da mandíbula que aparece nas radiografias posteriores da maxila. Radiograficamente é referido como uma imagem radiopaca de forma triangular, abaixo ou superposta à região do túber da maxila. 142 Capítulo 4 Figura 29 Círculo branco mostra a região de túber da maxila, os pontos mostram o processo zigomático da maxila e círculo preto, o osso zigomático Figura 30 Os pontos indicam a imagem do Y invertido de Ennis Figura 31 Pontos brancos: linha oblíqua (RO), pontos cinzas: linha miloioidea (RO). Circulo preto: delimita a fóvea submandibular (RL). Setas brancas: delimitam o canal mandibular (RO nas margens e RL internamente). Setas pretas: base da mandíbula Y invertido de Ennis Esta estrutura pode ser observada em ra- diografias dos dentes caninos e incisivos late- rais superiores. Formado pelas corticais do seio maxilar e fossa nasal. Radiograficamente: imagem radiopaca em forma de Y invertido na região em questão. Linha Oblíqua Esta estrutura é a continuação da borda an- terior do ramo ascendente da mandíbula que cruza a superfície externa do corpo da man- díbula à altura do terço médio das raízes dos dentes molares. Radiograficamente: linha radiopaca que cru- za transversamente o corpo da mandíbula. Linha Miloioidea Nesta região se encontra a inserção ao mús- culo miloióideo. Tem origem na porção média do ramo e cruza diagonalmente até atingir a borda anterior da sínfise mentoniana. Radiograficamente: linha radiopaca identifica- da quando cruza as regiões retromolar e molar. Fóvea submandibular: Área côncava, situada na face lingual da mandíbula abaixo dos dentes molares onde se aloja a glândula submandibular. Radiograficamente: área radiolúcida pouco definida na região de molares inferiores. Canal da Mandíbula: É o maior canal nutritivo localizado na re- gião posteroinferior. Radiograficamente: espessa linha radiolúcida, delimitada por bordas radiopacas se estenden- do do forame mandibular ao forame mental. Base da Mandíbula: Ás vezes vista em radiografia periapical quan- do o filme é colocado profundamente na boca do paciente ou ocorre excesso de angulação vertical. Radiograficamente: linha bastante radiopa- ca na região mais inferior da mandíbula. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 143 Figura 31 Círculo delimita o forame mentual entre as raízes dos pré-molares Figura 34 Imagem RO circundada é o tubérculo mentual e seu centro Figura 32 Imagens delimitadas por setas demonstram canais nutrícios na região de canino inferior Forame Mentual Localiza-se na região de pré-molares infe- riores na altura dos ápices desses dentes. Às vezes pode ser confundido com lesão peria- pical. Radiograficamente: imagem radiolúcida arredondada ou oval. Canais Nutrícios Estas estruturas correspondem ao trajeto intraósseo das arteriolas ou veias. Radiografica- mente: linha radiolúcida de direção variável. Tubérculo Mentual São saliências ósseas que se localizam na face lingual, em pontos equidistantes entre a borda superior e inferior da mandíbula onde ocorrem a inserção dos músculos genioglos- so e genioideo. Radiograficamente: aparecem nas radiogra- fias de incisivos inferiores como anel radiopaco na linha mediana, abaixo dos ápices dos dentes.Foramina Lingual Corresponde ao orifício de entrada de um ramo da artéria lingual. Radiograficamente: ponto radiolúcido no centro da área radiopaca do Tubérculo Geni. Protuberância Mentual Proeminência que se estende de pré-molar até a sínfise mental possuindo uma forma de pirâ- mide triangular, cuja base é a borda da mandíbula. Radiograficamente: linhas radiopacas na re- gião anterior da mandíbula. 144 Capítulo 4 3. Características da Radiologia Odontológica Equipamentos e Acessórios A radiologia odontológica se constitui basi- camente de aparelho de raios X periapical, um aparelho panorâmico e um aparelho capaz de realizar radiográficas cefalométricas, postero- anterior, anteroposterior, inferossuperior, seios da face e carpal (mão e punho) e radiografia das ATMs (articulação temporomandibular). Ainda podemos incluir aparelho de tomografia linear e, mais recentemente, aparelhos de tomografia computadorizada. Com os aparelhos de raios X periapical po- de-se realizar as radiografias periapicais, inter- proximais, métodos de localização, oclusais e as transcranianas conforme o tempo de expo- sição, kVp e mA do aparelho. Figuras 35 e 36 Aparelho de raios X odontológico periapical. Na figura 1 com pés e em B com fixação de parede Figuras 37 e 38 Cabeçote do aparelho de raios X odontológico e o corpo do aparelho aonde se encontram as partes elétricas Figuras 39 e 40 Paciente sendo posicionada para a realização de radiografia periapical Figuras 41 e 42 Aparelhos modernos de raio X panorâmico Cabeçote Parte elétrica do corpo Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 145 4. Técnicas Radiográficas na Odontologia Quando se fala em técnicas intrabucais enten- de-se por técnicas que utilizam os filmes radiográ- ficos posicionados dentro da cavidade bucal. Dentro desta categoria, teremos três técnicas: 1- Periapical (Paralelismo e Bissetriz); 2- Interproximal (Bite-wing); 3- Oclusais. Vamos começar introduzindo alguns conceitos: Lado sensível do filme radiográfico intrabucal Este lado sempre deverá estar em contato com a região a ser radiografada (dente, maxila ou man- díbula) e sempre deverá ser voltado para o feixe de raios X. É o lado branco do filme. Figura 43 Paciente posicionada para a realização de radiografia panorâmica Figura 44 Paciente sendo posicionada para a telerradiografia lateral. Observe a presença do cefalostato que a difere da lateral de cabeça Figuras 46 e 47 Paciente posicionado para radiografias oclusais totais da maxila e da man- díbula com aparelho de raios X periapical Figura 45 Paciente posicionada para radiografia interproximal. Uso de posicionador radiográfico Figura 48 Lado sensível de filmes radiográficos intra-bucais (superfície branca) 146 Capítulo 4 Picote: é uma sobressaliência/convexidade que deve ser voltada para as superfícies oclusais (em dentes posteriores) e incisais (em dentes anteriores). Quando utilizado o posicionador radiográfico, o picote deverá sempre ser dire- cionado para o bloco de mordida do mesmo. Figura 49 Esquema do filme radiográfico intrabucal periapical com picote Sempre é bom lembrar que os dentes a serem radiografados devem ser centralizados na película radiográfica. Como exemplo, se precisamos ra- diografar os molares, os dois dentes desta região devem estar posicionados o mais centralizado possível na película radiográfica. Técnica Periapical do Paraleleismo Esta técnica foi introduzida por Price em 1904 e divulgada por McCormack em 1911. Consiste no emprego de suportes especiais que possuem dispositivo para a manutenção do filme e um anel localizador que facilita a determinação dos ângulos horizontais e verticais e a área de incidên- cia, melhorando o paralelismo entre dente e filme resultando numa imagem com menor grau de dis- torção e a manutenção do filme sendo realizada pela oclusão do paciente no suporte localizador. Figura 50 Radiografia periapical da região de molares inferiores direitos. Obsreve que os dois dentes se encontram centralizados na película radiográfica Figura 51 Localizadores para técnica periapical do paralelismo. O mais centralizado na foto é indicado para radiografias de dentes anteriores e os dois lateralmente são utilizados para as regiões posteriores Figuras 52 e 53 Localizadores para as regiões posteriores e anteriores respectivamente com os filmes já posicionados. Lembrar que o picote deverá sempre ser direcionado para o bloco de mordida Vantagens desta técnica – Maior simplicidade na execução do exame radiográfico; Lado branco voltado para os raios X e picotes para oclusal ou incisal Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 147 Figura 54 Esquema da técnica do paralelismo. Observe o paralelismo entre longo eixo do dente e do filme Figura 55 Posicionamento para molares supe- riores. Observe que a técnica consiste em po- sicionar o anel localizador paralelo ao cilindro do aparelho dos raios X Figura 56 Posicionamento para pré-molares superiores Figuras 57 e 58 Posicionamento para caninos superiores Figuras 59 e 60 Posicionamento para incisivos superiores Figura 61 Posicionamento para molares inferiores Desvantagens Leve desconforto para o paciente devido ao volume do suporte. Maior custo operacional devido ao uso dos suportes porta-filmes. Essa desvantagem precisa ser avaliada, visto que os suportes são reutilizáveis após esterilização. Posicionamentos – Menor grau de ampliação da imagem; – Exame radiográfico padronizado; – Determinação dos ângulos horizontais e ver- ticais pelo posicionamento do localizador porta- -filmes. 148 Capítulo 4 Figura 61 Posicionamento para pré-molares inferiores Figura 63 Posicionamento para caninos inferiores Figura 64 Posicionamento para incisivos inferiores Figura 66 Esquema demonstrando a técnica da bissetriz segundo o princípio de Cieszynski anteriormente citado Nesta técnica será que existe alguma padro- nização da cabeça do paciente? Sabe-se que não, pois, todos os planos e ângulos bem como os pontos de incidência do feixe de raios X central já se encontram dentro dos parâmetros previamente estabele- cidos no posicionador. 5. Técnica Periapical da Bissetriz Esta técnica foi preconizada por Cieszynski em 1907. É conhecida também como a “Técni- ca da Isometria”. Seu princípio é o seguinte: O feixe de Raios X é orientado perpendicu- larmente ao plano bissetor, formado pelo pla- no do dente e do filme, com o objetivo de que o resultado radiográfico apresente as mesmas proporções do objeto examinado Posicionamento da cabeça do paciente Para o posicionamento da cabeça do pacien- te, utilizamos planos antropológicos e linhas de referências com o objetivo de se poder repro- duzir a imagem radiográfica em épocas dife- rentes. Por exemplo, um periodontista obtém as radiografias iniciais do seu paciente antes de proceder ao tratamento. Após alguns meses ou Figura 65 Posicionamento Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 149 Figura 68 Paciente posicionado com o plano de camper paralelo ao solo, demarcado em branco Figura 69 Paciente posicionado com a linha trágus-comissura palpebral paralelo ao solo. Plano demarcado em branco anos, ele poderá solicitar outros exames para acompanhar a evolução do caso. Plano Sagital Mediano Este plano divide a cabeça do paciente em lado direito e esquerdo, devendo ser perpendi- cular ao plano horizontal (solo). Plano de Camper Este plano é usado para radiografias peria- picais da maxila. Ele passa pelo Pório e Espinha nasal anterior no crânio. Em tecido mole é orien- tado da linha do trágus à asa do nariz, sendo posi- cionado paralelo ao plano horizontal (solo). Para posicioná-lo com maior facilidade, deve-se solici- tar ao paciente para que olhe para baixo. Linha Trágus à Comissura Labial Esta linha é utilizada quando se quer obter radiografias periapicais da mandíbula. Esta linha deverá serposicionada paralela ao plano horizontal (solo). É importante lembrar que seu posicionamento deve-se dar com o paciente já de boca aberta para que não ocorram erros neste plano de orientação. Para posicioná-lo com maior facilidade, deve-se solicitar ao paciente para que olhe para cima. Ângulos de incidência do feixe de raios X Eles existem para que as radiografias sejam realizadas com menor grau de distorção e de- terminam a posição do feixe em relação à linha de oclusão (ângulos verticais) e ao plano sagital mediano (ângulos horizontais). Ângulos Verticais Os ângulos verticais são determinados pelo movimento do cilindro do aparelho de raios X em relação à linha de oclusão sendo mensura- dos pelo goniômetro. - Maxila: ângulos positivos (+) - Mandíbula: ângulos negativos (-) Figura 67 Paciente posicionado com o plano sagital mediano perpendicular ao solo. Plano demarcado em branco 150 Capítulo 4 Tabela 3 Ângulos verticais determinados para cada região maxilo-mandibular Tabela 4 Ângulos horizontais determinados para cada região maxilo-mandibular Caso ocorram erros nas angulações verti- cais, poderemos ter dois tipos de distorções nas imagens radiográficas resultantes: Figura 70 Com o aumento da angulação vertical, a imagem ficará encurtada Figura 72 Se a angulação vertical for colocada de maneira correta, objeto e imagem deverão ter proporções muito próximas Ângulos Horizontais Realiza-se o movimento o cilindro do apa- relho de raios X em relação ao plano sagital mediano sendo um movimento horizontal do cabeçote do aparelho. Deverá ocorrer o paralelismo entre o feixe central de raios X e as faces interproximais dos dentes. Com este procedimento, evita-se a su- perposição de imagens nas faces interproximais. Fonte: Adaptado de Langland; Langlais (2002). Figura 71 Esquema mostrando o que acontece com a diminuição da angulação vertical – a imagem ficará alongada Maxila Mandíbula Molares +200 a +300 00 a -50 Pré-molares +300 a +400 -50 a -100 Caninos +400 a +450 -100 a -150 Incisivos +450 a +500 -150 a -200 Maxila Mandíbula Molares 80° a 90° 80° a 90° Pré-molares 70° a 80° 70° a 80° Caninos 60° a 75° 45° a 50° Incisivos 0° 0° Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 151 Figura 73 Esquema mostrando, representado pelas setas, a incidência do feixe de raios X central em relação às superfícies interproximais dos dentes radiografados Figura 75 Representação de todos os pontos de incidência do feixe de raios X central para a mandíbula Figura 74 Representação de todos os pontos de incidência do feixe de raios X central para a maxila Pontos de Incidência do Feixe de Raios X Central Este ponto seria a representação de onde se deve incidir o feixe de raios X central proveniente do centro do cilindro localizador. Para a maxila: - Região de molares: 1 cm atrás da comissura palpebral externa interseccionando com o Pla- no de Camper. - Região de pré-molar: centro da pupila inter- seccionando com o Plano de Camper. - Região de Canino: asa do nariz. - Região de Incisivos: ápice nasal. Para a mandíbula: - Região de molares: 1 cm atrás da comissura palpebral externa e 0,5 cm acima da borda inferior. - Região de pré-molar: centro da pupila e 0,5 cm acima da borda inferior. - Região de Canino e Incisivo Lateral: linha baixada da asa do nariz e 0,5 cm acima da borda inferior. - Região de Incisivos: sulco mentolabial. Fonte: Adaptado de Langland; Langlais (2002). M M M2 1 P P P C C C C I I P M 152 Capítulo 4 Posicionamento dos Filmes Radiográficos Maxila: posição do longo eixo do filme: - Molar e Pré-molar: paralelo ao Plano Horizontal - Canino e Incisivos: perpendicular ao Plano Horizontal Mandíbula: - Molar e Pré-molar: paralelo ao Plano Horizontal - Canino e Incisivos: perpendicular ao Plano Horizontal O posicionamento deverá abranger os dentes da região de interesse de maneira centralizada. Deverá haver uma margem de segurança onde o filme radiográfico ultrapassará a face oclusal ou incisal de 4/5 mm. Figura 76 Posicionamento dos filmes radiográficos Figura 79 Observe a área de margem de segurança delimitado pela caixa cinza. Isto evita o corte da imagem na região incisal ou oclusal Figuras 77 e 78 Paciente mantendo o filme radiográfico dentro da cavidade bucal durante a exposição aos raios X 1 1 2 2 4 3 6 5 Inf. Sup. Fonte: Adpatado de Langland; Langlais (2002). Fonte: Adpatado de Langland; Langlais (2002). Fixação dos Filmes Radiográficos - Na maxila: polegar da mão do lado oposto. - Na mandíbula: indicador da mão do lado oposto. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 153 Figura 82 Maneira correta da colocação do filme radiográfico dentro da cavidade bucal em relação à margem de segurança Figuras 86 e 87 Paciente posicionado para radiografia de pré-molares da maxila Figuras 89 e 90 Paciente posicionado para radiografia de canino e incisivo lateral superior Figuras 88 Resultado radiográfrico para a região de pré-molares superiores Região de Caninos e Incisivo Lateral Superiores: Figura 85 Resultado radiográfico para a região de molares superiores Região de Pré-molares Superiores: Figuras 83 e 84 Paciente posicionado para radiografia de molares da maxila Procedimentos Técnicos Região de Molares Superiores: Figuras 80 e 81 Maneira errada da colocação do filme radiográfico na cavidade bucal em relação à margem de segurança. Observe a grande margem de segurança e uma margem insuficiente onde, com certeza, ocorrerá o corte da região incisal da imagem radiográfica 154 Capítulo 4 Figura 91 Resultado radiográfico para a região de canino e incisivo lateral da maxila Região de Incisivos Centrais Superiores: Figuras 92 e 93 Paciente posicionado para radiografia de incisivos centrais superiores Figuras 95 e 96 paciente posicionado para radiografia de molares inferiores Figuras 98 e 99 Paciente posicionado para radiografia de pré-molares inferiores Figura 97 Resultado radiográfico para a região de molares da mandíbula Região de Pré-molares Inferiores: Figura 94 Resultado radiográfico para a região de incisivos centrais da maxila Região de Molares Inferiores: Figura 100 Resultado radiográfico para a re- gião de pré-molares da mandíbula Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 155 Figuras 101 e 102 Paciente posicionado para radiografia de canino inferior Região de Canino Inferior: Figuras 104 e 105 Paciente posicionado para radiografia de incisivos inferiores Figura 107 Esquema representando o posicio- namento do filme e incidência do feixe de raios X central para a técnica interproximal. Obser- ve a angulação vertical de +10° Figuras 103 Resultado radiográfico para a região de canino inferior Região de Incisivos Inferiores: 6. Técnicas Radiográficas Intrabucais Técnica Interproximal (Bite-Wing) Esta técnica foi preconizada por Rapper em 1925. É indicada para o exame das faces inter- proximais dos dentes posteriores (molares e pré- -molares) e dentes anteriores e das cristas ósseas alveolares, tendo como finalidade a detecção de cáries, avaliação de adaptação marginal de res- taurações e presença de lesões periodontais. Nesta técnica são utilizados filmes com “asas de mordida”. O tamanho da película pode ser, quando comprados prontos: - Para dentes anteriores: 2,4 x 4,0 cm - Para dentes posteriores: 5,4 x 2,7 cm Pode-se realizar uma adaptação nesta técni- ca utilizando-se filmes intrabucais convencionais com dimensões 3 cm x 4 cm confeccionando a asa de mordida com cartolina e fita adesiva ou ainda, somentecom fita-crepe. Figura 106 Resultado radiográfico para a região de incisivos inferiores raio central +10° asa de mordida do filme filme 156 Capítulo 4 Quando se utiliza o filme próprio para a técni- ca interproximal, somente uma película é neces- sária para cada lado da boca do paciente devido à sua maior dimensão. Quando se faz a utiliza- ção de filmes periapicais convencionais (3 cm x 4 cm), têm que se usar 2 películas para cada lado do paciente, sendo uma para a região de pré- -molares e outra para a região de molares. Figura 108 Esquema mostrando a utilização de películas interproximais convencionais Figura 109 Esquema mostrando a utilização de películas periapicais convencionais – técnica adaptada Figuras110 (1), 111 (2), 112 (3), 113 (4) e 114 (última foto) Sequência de procedimen- tos para realização da técnica interproximal com filme periapical convencional com asa de mordida confeccionada com fita-crepe Em 110 (1) – filme sendo colocado na ca- vidade bucal do paciente, lembrando sempre de adaptá-lo primeiro na mandíbula. 111 (2) – paciente sendo orientado a fechar a boca e o profissional tracionando o filme pela haleta de mordida. (112) 3 – paciente ocluindo na hale- ta. 113 (4) – cilindro do aparelho de raios X posicionado com o feixe de raios X central in- cidindo na haleta de mordida com angulação vertical de + 100. 114 (última imagem) – foto mais aproximada da técnica para visualização de maiores detalhes. Posicionamento da Cabeça do Paciente O Plano Sagital Mediano deverá ser posicio- nado perpendicular ao Plano Horizontal e a Li- nha Trágus-comissura labial paralela a este plano (ao solo) como para a técnica periapical da bis- setriz para regiões da mandíbula. Posicionamento e Manutenção do Filme Radiográfico para a Técnica da haleta de mordida O filme deve ser posicionado primeiro na mandíbula para não machucar o paciente, visto que este que é o osso móvel. Pedir ao paciente para ir fechando a boca de- licadamente, procurando, por tração, adaptar o filme radiográfico às faces linguais dos dentes superiores e inferiores. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 157 Figura 115 Esquema mostrando o posicionamento do filme dentro da boca do paciente e a incidência do feixe de raios X central com sua respectiva angulação vertical para a região de molares Figura 117 Resultado radiográfico da técnica interproximal para molares Figura 118 Resultado radiográfico da técnica interproximal para molares e pré-molares Fonte: Freita, Rosa e Souza (2000). Figura 116 Esquema mostrando o posicionamento do filme dentro da boca do paciente e a incidência do feixe de raios X central com sua respectiva angulação vertical para a região de pré-molares Região de pré-molares Angulação Vertical e Horizontal Para dentes molares: feixe de raios X incide perpendicular à face interproximal dos molares na linha Trágus/comissura labial. Pré-molares: feixe de raios X incide perpen- dicular à face interproximal dos pré-molares. Angulação Vertical: + 100. Região de Molares Posicionamento e Manutenção do Filme Radiográfico para a Técnica com o Posicionador Radiográfico Existe no Kit de posicionadores, um que é destinado às radiografias interproximais. O filme deve ser posicionado determinando- -se o picote com alguma referência pessoal (por exemplo, sempre para frente). O filme é acoplado no suporte e posterior- mente posicionado na boca do paciente que manterá suporte-filme pela oclusão. O cilindro é posicionado de maneira que uma haste divida o cilindro superoinferiormente em partes iguais e a outra haste seja posicionada no raio do cilin- dro posicionador. 158 Capítulo 4 Figuras 119 e 120 Paciente posicionada para radiografia interproximal com o posicionador Figuras 123 e 124 Posicionamento do filme para radiografias oclusais totais Figura 125 Posicionamento do filme para radiografias oclusais parciais Figuras 121 e 122 Filme oclusal. Note que o lado branco é o lado sensível da película e o lado oposto, é o lado que possui a lâmina de chumbo e indica a velocidade (sensibilidade) do filme 7. Técnicas Radiográficas Intra- bucais Oclusais Esta técnica foi preconizada por Simpson em 1916. É um exame complementar às técnicas intrabucais onde se utiliza um filme de dimen- sões 5,7 x 7,5 cm. Tem como principais indicações: - Pacientes edêntulos: investigação de raízes re- siduais, dentes inclusos, supranumerários ou gran- des áreas patológicas. Fraturas dos maxilares, sialolitos nas glândulas salivares submandibulares. Posicionamento da Cabeça do Paciente A cabeça do paciente terá sempre seu Plano Sa- gital Mediano perpendicular ao Plano Horizontal. - Para exame oclusal da maxila: Plano de Cam- per paralelo ao Plano Horizontal. - Para exame oclusal da mandíbula: Linha trágus à comissura labial a 450 com o Plano Horizontal. Manutenção do filme O posicionamento difere conforme região a ser radiografada. A superfície rugosa corres- ponde àquela voltada para o feixe de raios X (lado sensível do filme). - Em paciente dentado – a fixação é feita pela oclusão do paciente. - Paciente edêntulo (desdentado) – paciente fixará o filme com os dedos polegares. Posicionamento do filme Exame Oclusal Total: Maior eixo do filme perpendicular ao Plano Sagital Mediano. Exame Oclusal Parcial: Maior eixo do filme paralelo ao Plano Sagital Mediano e deslocado para a região que deverá ser radiografada. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 159 Figuras 127 e 128 Paciente posicionado para a realização da radiografia oclusal total da maxila Figura 131 Paciente posicionada para a realiza- ção da radiografia parcial de caninos da maxila Figuras 129 e 130 Resultados radiográficos de oclusais totais da maxila. Na primeira imagem, o paciente é edêntulo Figura 126 Posicionamento para radiografias oclusais totais e parcial de canino Classificação dos exames oclusais - Maxila 1) Total 2) Dentes incisivos 3) Dentes caninos 4) Pré-molares e molares 5) Assoalho do seio maxilar 6) Região do Túber Áreas de incidência dos Raios X - Total da maxila: Glabela. - Dentes incisivos: Ápice nasal. Oclusais - técnica Oclusal de maxila Oclusal de canino Oclusal de mandíbula RC +65° +60° 90° RC RC Tabela 5 Ângulos verticais e horizontais para as técnicas oclusais da maxila Â. vert. Â. horiz. Total +65° 0° Dentes incisivos +65° 0° Dentes caninos +65° 45° Pré-molares e molares +65° 90° Assoalho do seio maxilar +80° 0° Região do túber +45° 45° - Dentes caninos: Forame infraorbitário. - Pré-molares e molares: Forame infraorbitário. - Assoalho do seio maxilar: Forame infraorbitário. - Região do Túber da maxila: 3 cm atrás da comis- sura palpebral externa. Oclusal Total da Maxila 160 Capítulo 4 Figuras 132 e 133 Resultados radiográficos da oclusal de caninos e pré-molares da maxila Figura 137 Resultado radiográfico da oclusal total da mandíbula Figura 138 Resultado radiográfico da oclusal parcial da mandíbula Fonte: Freita, Rosa e Souza (2000). Figuras 134, 135 e 136 Pacientes posicionados para a realização da radiografia oclusal total da mandíbula. Observe o ângulo reto (90°) formado entre o feixe de raios X e a película radiográfica Classificação dos exames oclusais – Mandíbula 1) Total 2) Parcial 3) Região de sínfise Áreas de incidência dos Raios X Total: Porção mediana do assoalho bucal. Parcial: Lado da mandíbula interessado no exame. Região de sínfise: Sínfise mandibular. Oclusal Total da Mandíbula Fonte: Freita, Rosa e Souza (2000). Tabela 6 Ângulos verticais e horizontais para as técnicas oclusais da mandíbulaÂ. vert. Â. horiz. Total -90° 0° Parcial -90° 0° Região de sínfise -55° 0° Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 161 Fonte: Freita, Rosa e Souza (2000). Fonte: Rosa e Tavares (1994). Fonte: Rosa e Tavares (1994). 8. Métodos de Localização Radiográfica: Clark Os Métodos de Localização Radiográfica são empregados quando se quer visualizar, de maneira mais detalhada, algum dente ou processo patológi- co na região maxilo-mandibular. Têm-se várias técnicas que ajudam o profissio- nal Cirurgião-Dentista num planejamento cirúrgi- co ou endodôntico mais preciso e seguro. Método de Localização de Clark Este método segue o princípio físico da parala- xe: quando 2 objetos encontram-se alinhados em relação ao observador, o mais próximo encobrirá o mais distante. Na prática, o objeto mais distante se desloca no mesmo sentido do observador. Para este método, usa-se de duas a três expo- sições radiográficas: uma radiografia ortorradial, uma radiografia mésio ou distorradial ou a associa- ção das três. Indicações: - Endodontia – dissociação de raízes (PMS, MS, MI) - Dentes inclusos e corpos estranhos (vestíbulo- -palatal) - Processos patológicos e pontos anatômicos Figuras 139 e 140 Posicionamento e resultado radiográfico da oclusal de sínfise mandibular Figura 142 O esquema acima mostra a inclinação do cilindro localizador Figura 141 Esquema mostrando o princípio do método de localização de Clark Neste método, o cabeçote do cilindro localiza- dor deverá ser inclinado em torno de 200 para a mesial ou distal, lembrando-se que o ponto de in- cidência deverá ser sempre o mesmo que o utiliza- do para a técnica ortorradial para que se proceda um diagnóstico correto. Ortorradial 20° A B Mesiorradial Distorradial Figura 143 Esquema de dissociação de raízes de um pré-molar superior Fonte: Freita, Rosa e Souza (2000). 162 Capítulo 4 Nas figuras 145 e 146 anteriores, pode-se observar que em B o conduto mésio-lingual foi projetado mais para a esquerda da radiografia, conforme a teoria de que o objeto mais distante acompanha o movimento do cabeçote do apa- relho de raios X. Na imagem B, pode-se visualizar a imagem que obteríamos de uma radiografia ortorradial, onde a raiz vestibular encontra-se sobre a raiz palatina, encobrindo-a. Na imagem A, uma “radiografia” mesiorradial, onde o cilindro localizador foi movimentado em sentido mesial do paciente e pode-se observar que a raiz palatina, a mais distante do observa- dor, acompanhou o movimento do cilindro, des- locando na “imagem radiográfica” para mesial. Já em C, o esquema demonstra o procedi- mento para uma radiografia distorradial. Ob- serva-se que o cilindro localizador foi deslocado para a distal e, novamente, a raiz palatina acom- panhou o movimento do cilindro, deslocando- -se para a distal. O mesmo pode-se visualizar na Figura 4. Agora temos um esquema de um dente molar inferior, onde os condutos mésio-vestibular e mésio-lin- gual, quando da tomada da radiografia ortorradial, encontram-se sobrepostos (figura B). Na imagem A, observa-se o procedimento para a realização da exposição distorradial onde, com o cilindro deslocado para a distal, têm-se o conduto mésio-lingual acompanhando o mo- vimento do cabeçote localizador, ou seja, ele se posiciona em direção à raiz distal. Na figura C, com o cabeçote inclinado para a mesial, pose-se visualizar o conduto mésio-lingual posicionado mais para mesial na imagem radiográfica. Figura 144 Esquema de dissociação de raízes de um pré-molar superior Figuras 145 e 146 Radiografias de um dente molar inferior do lado direito onde em A, tem-se a imagem de uma exposição ortorradial e em B, uma distorradial Fonte: Rosa e Tavares (1994). Fonte: Rosa e Tavares (1994). 9. Métodos de Localização Radiográfica: Donovan Este método será empregado sempre que a radiografia oclusal do método de Miller-Winter não mostrar, inteiramente, as raízes do terceiro molar inferior. O procedimento realizado é a posição oblí- qua do filme, tocando a sua parte posterior a mucosa do ramo ascendente e a parte anterior na superfície oclusal dos dentes molares, sendo que a incidência do feixe de raios X deve ser perpendicular ao filme. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 163 Para se realizar o Método de Localização de Donovan, o paciente deverá ser orientado para que vire a cabeça para o lado oposto ao lado a ser radiografado, com a intenção de se posicionar o cilindro localizador na região de ângulo da mandíbula. Figura 147 Esquema demonstrando o posicionamento do filme e incidência do feixe de raios X centrais para este método de localização Figura 152 As letras A e C demonstram as radiografias oclusais com filmes periapicais onde pode-se observar o corte na imagem do terceiro molar inferior e em B e D, aplicado o método de localização de Donovan onde pode-se visualizar, com isto, as raízes destes elementos Figuras 148 e 149 Filme posicionado em um manequim odontológico. Observe a parte mais posterior do mesmo tocando no ramo ascenden- te e a parte mais inferior na região oclusal do primeiro molar inferior Figuras 150 e 151 Em A, paciente segurando o filme radiográfico para a realização da técnica e em B, o cilindro localizador posicionado com a cabeça do paciente inclinada para o lado oposto que será radiografado Fonte: Rosa e Tavares (1994). 10. Métodos de Localização Radiográfica: Le Master Este método de localização é empregado pois nas radiografias de molares superiores ocorre muito a superposição do processo zi- gomático da maxila e arco zigomático sobre os ápices radiculares dos dentes. Com esta técnica se consegue um melhor paralelismo do filme 164 Capítulo 4 em relação ao dente, proporcionando o des- locamento destas estruturas anatômicas para uma região superior da imagem radiográfica ha- vendo a liberação das raízes dos molares. Indicações: quando ocorrer esta superposi- ção de imagens. Procedimento - Deve-se colocar de um a dois roletes de al- godão na parte inferior da película, na região do picote da película radiográfica, fixando-o (os) com um pedaço de fita adesiva. - A película deverá ser normalmente posicio- nada na boca do paciente como se fosse pro- ceder à técnica radiográfica da bissetriz, mas a angulação vertical deverá ser diminuída devido ao maior paralelismo que ocorrerá entre dente e filme radiográfico. 11. Métodos de Localização Radiográfica: Miller-Winter Este método é indicado para localização de dentes inclusos, corpos estranhos e processos patológicos na região posterior da mandíbula (canino a terceiro molar). Na realidade, esta técnica nos dá uma “vi- são tridimensional” em apenas duas películas radiográficas: seria uma visão superoinferior e anteroposterior na radiografia periapical con- vencional e uma visão vestíbulo-lingual na ra- diografia oclusal. O procedimento compreende um método de dupla incidência, ou seja, realiza-se uma ra- diografia periapical convencional da região de interesse e uma radiografia oclusal com um fil- me periapical 3 x 4 cm. O paciente deverá manter o filme com a oclu- são dos dentes e a incidência do feixe de raios X deverá ser perpendicular ao filme radiográfico. Figura 153 Filme posicionado em manequim odontológico para visualização do posicionamento do algodão e filme corretamente colocados Figuras 154 e 155 As figuras A e B mostram esquemas para visualizarmos o método Le Master. Em A, a técnica da bissetriz propriamente dita e em B, o rolete adaptado à película. Observe o maior paralelismo entre dente e filme no segundo esquema e a simulação da projeção do processo zigomático da maxila (PZM) Fonte: Rosa; Tavares (1994). Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais165 Figuras 156 e 157 As figuras mostram em A, a posição do filme radiográfico em um manequim odontológico para a radiografia periapical convencional e em B, a posição do filme para a radiografia oclusal com filme periapical. Observe que o lado sensível (lado branco) da película deverá estar sempre voltado para a região de interesse da mandíbula (para baixo) Figura 158 Paciente posicionado para a realização da radiografia periapical convencional pela técnica da bissetriz Figuras 160 Paciente posicionado para a realização da radiografia oclusal com filme periapical. Note a manutenção do filme pela oclusão do mesmo e o feixe de raios X centrais direcionados perpendicularmente ao filme radiográfico Figura 159 Esquema mostrando o posicionamento da cabeça e incidência do feixe de raios X para a realização da segunda exposição para o método de localização de Miller-Winter Figuras 161 e 162 Radiografias pelo método de Miller-Winter de um pré-molar inferior. Observe que a coroa está voltada para distal Figuras 163 e 164 Objeto metálico colocado em crânio seco. Pela radiografia A, pode-se observar a posição do mesmo em relação à altura e posição anteroposterior e em B, a posição vestibular do objeto Fonte: Rosa e Tavares (1994). Fonte: Rosa e Tavares (1994). Fonte: Rosa e Tavares (1994). 166 Capítulo 4 Figuras 165 e 166 Objeto metálico colocado em crânio seco. Pela radiografia A, pode-se observar a posição do mesmo em relação à altura e posição anteroposterior e em B, a posição lingual do objeto Figuras 169 e 170 A radiografia A foi obtida com o filme em posição convencional onde observa-se o corte da imagem na região do terceiro molar. Em B, foi utilizado o método de localização de Parma onde pode-se observar a abrangência de toda a estrutura dental do dente 38 Figura 167 O esquema mostra o filme (desenho pontilhado) na posição original para a técnica da bissetriz e / ou paralelismo e o filme (traço contínuo) posicionado para o método de localização de Parma Figura 168 Filme posicionado em um manequim odontológico Fonte: Rosa e Tavares (1994). Fonte: Rosa e Tavares (1994). 12. Métodos de Localização Radiográfica: Parma Este método também tem sua aplicação em localização de terceiros molares inferiores. É usado a incidência radiográfica periapical con- vencional para os terceiros molares inferiores não mostra o referido dente por inteiro. O procedimento compreende em inclinar o filme, de modo que seu maior eixo fique em ângulo com o plano oclusal onde a incidência do feixe de raios X deve ser a mesma usada pelo método periapical convencional. Radiologia odontológica: técnicas radiográficas intrabucais 167 Referências ALVARES, L. C.; TAVANO, O. Curso de radiologia em odontologia. 4. ed. São Paulo: Livraria Santos, 1998. 248p. FERREIRA, A. S. A evolução do filme radiográfico dentário. Kodak Brasileira Comércio e Indústria Ltda. Depto. Produtos para diagnóstico, 1982 (informativo técnico). FREITAS, A.; ROSA, J. E.; SOUZA, I. F. Radiologia odontológica. 5. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2000. 748p. FREITAS, L. Radiologia Bucal: técnicas e interpretação. 2. ed. São Paulo: Pancast, 2000. 391p. GIBILISCO, J. A. Diagnóstico radiográfico bucal de Stafne. 5. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1986. 494p. GOAZ, P. W.; WHITE, S. C. Oral radiology: principles and interpretation. 3. ed. St. Louis: Mosby, 1994. 720p. HARING, J. 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Tratado de patologia bucal. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1984. 837p. STAFNE, E. C. GIBILISCO, J. A. Diagnóstico radiográfico bucal. 4. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1982. 434p. 2. ed. Springfield: Charles, 1984. 668p. TOMMASI, A. F. Diagnóstico bucal. São Paulo: MEDISA, 1977. 649p. WUERHRMANN, A. H.; MANSON-HING, L. R. Dental Radiology. 5. ed. St. Louis: Mosby, 1981. Sites de referências: http://www.if.ufrgs.br/ http://www.abrr.hpg.ig.com.br http://www.cefetsc.edu.br http://www.ufpel.tche.br http://www.scielo.cl/pdf/rchradiol www.umw.edu. www.bibliotecasvirtuales.com www.ecr.org/conferences Ultrassonografia Capítulo 5 Alex Cosentino de Almeida Tecnólogo em Radiologia Médica pelo Centro Universitário São Camilo, Espe- cialista em Informática em Saúde pela EPM/Unifesp, Especialista em aplicação de produtos em Ultrassonografia, Neu- ro-sonografia e Radiologia Digital para a América Latina. Membro do Conselho Brasileiro de Telemedicina (CBTms), Membro da Sociedade Brasileira de In- formática em Saúde (SBIS), Membro da Sociedade de Neurociências e Compor- tamento (SBNeC), Membro da Inter- national Brain Research Organization (IBRO) e Membro da American Institute of Ultrasound in Medicine (AIUM). Ultrassonografia Capítulo 5 173 Alex Cosentino de Almeida 1. Princípios da ultrassonografia Aspectos históricos A história do ultrassom remonta a 1794, quan- do Lazzaro Spallanzini demonstrou que os morce- gos se orientavam mais pela audição do que pela visão para localizar obstáculos e presas. Em 1880, Jacques e Pierre Curie deram uma contribuição valiosa para o estudo do ultrassom, descrevendo as características físicas de alguns cristais. O estudo do ultrassom foi impulsionado com objetivos militares e industriais e a pesquisa so- bre aplicações médicas se deu após a Segunda Guerra Mundial. Um dos pioneiros nesse campo foi Douglas Howry que, juntamente com W. Roderic Bliss, construiu o primeiro sistema com objetivo mé- dico durante os anos de 1948-49, tendo produ- zido a primeira imagem seccional em 1950. No início, as imagens eram em preto e bran- co, sem gradações. Um novo entusiasmo surgiu em 1971 com a introdução da escala de cinza na imagem, por Kossof, na Austrália, quando diver- sos níveis de intensidade de ecos foram repre- sentados por diferentes tons de cinza na tela. Desde a década de 1980, a ultrassonografia foi impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, que transformou esse método em um importan- te instrumento de investigação diagnóstica. A ultrassonografia (US) é um dos métodos de diagnóstico por imagem mais versáteis, de aplicação relativamente simples, com excelente relação custo-benefício. As principais peculiaridades do método ul- trassonográfico são: • Um método não invasivo, ou minimamente invasivo • As imagens seccionais podem ser obtidas em qualquer orientação espacial • Não apresenta efeitos nocivos significativos dentro do uso diagnóstico na Medicina • Não utiliza radiação ionizante 174 Capítulo 5 • Possibilita o estudo não invasivo da hemodinâmica corporal através do efeito Doppler • A aquisição de imagens é realizada praticamente em tempo real, permitindo o estudo do movimento de estruturas corporais. O método ultrassonográfico baseia-se no fenômeno de interação de som e tecidos, ou seja, a partir da transmissão de onda sonora pelo meio, observamos as propriedades mecâ- nicas dos tecidos. Som O som é a propagação de energia através da matéria por ondas mecânicas (vibraçãomecâni- ca/fontes vibratórias produzem ondas sonoras). De forma simplificada, pensemos num diapasão que, através das vibrações de suas hastes (vi- bração mecânica), produz movimentos harmô- nicos das moléculas do ar. Por definição, a onda sonora necessita de um meio para se propagar, ao contrário da energia eletromagnética. O som possui propriedades ondulatórias, à semelhança das ondas eletromagnéticas, como a luz, apresentando diversos efeitos de interação com o meio, tais como reflexão, refração, ate- nuação, difração, interferência e espalhamento. As características do fenômeno sonoro são relacionadas à sua fonte e ao meio de propa- gação. Variáveis como pressão, densidade do meio, temperatura e mobilidade das partículas definem o comportamento da onda sonora ao longo da sua propagação. Assim, provoca vibra- ções no meio material, produzindo deflexões em relação à direção de propagação do som, com áreas de compressão e rarefação. Estas de- flexões podem ser no eixo transversal ou lon- gitudinal. Como na água e nos gases, em que a transmissão aplicada ao meio ocorre apenas por compressões e rarefações ao longo do eixo longitudinal, os métodos ultrassonográficos em Medicina utilizam apenas as ondas longitudinais. Qualquer som é resultado da propagação dessas vibrações mecânicas através de um meio material, carregando energia, e não matéria. Ou seja, não há fluxo de partículas no meio, mas oscilações destas em torno de um ponto de repouso. Formação da imagem Os equipamentos de ultrassonografia diag- nóstica possuem uma unidade básica denomina- da transdutor (ou sonda). Esse elemento básico converte uma forma de energia em outra. Os transdutores são montados de maneira a pro- duzir e receber os ecos gerados pelas diversas interfaces. Eles são compostos por materiais piezoelétricos (cristais/ cerâmicas), por aparato eletrônico (eletrodos para a excitação dos cris- tais e captação dos ecos), por uma lente acús- tica, por material que acopla a lente aos cristais e por um material de amortecimento posterior (que absorve as frequências indesejáveis produ- zidas eventualmente). Os elementos piezoelé- tricos (cristais ou cerâmicas) que compõem os transdutores têm a capacidade de emitir eletri- cidade, quando pressionados e, ao mesmo tem- po, transformam energia elétrica em mecânica (onda sonora), que é chamado efeito piezoe- létrico inverso. São, portanto, transmissores e receptores simultaneamente. Existem diversos tipos de transdutores, cada um adequado para um tipo de exame. Por exem- plo, o transdutor convexo, mais adequado para o exame de abdome e pelve; o linear, mais adequa- do para o exame de pequenas partes, músculo esquelético, tireoide e mamas, e o endocavitário, para exames ginecológicos e da próstata. Ultrassonografia 175 O princípio pulso-eco refere-se à emissão de um pulso curto de ultrassom pelo transdutor. À medida que atravessa os tecidos, esse pulso é parcialmente refletido pelas interfaces de volta ao transdutor. Em geral, 1% da energia sonora incidente é refletida, e o restante continua sua trajetória através dos tecidos. O equipamento guarda o tempo gasto entre a emissão do pulso e a recepção do eco, transformando-o em dis- tância percorrida, na representação do eco na tela, já estando calibrado para uma velocidade fixa de 1540m/s. Assim, quanto maior o tem- po gasto para receber o eco de uma interface, mais longe da superfície da imagem ele a coloca. Dessa forma, quanto mais longe a estrutura es- tiver da superfície do transdutor, mais inferior a situação em que ela aparecerá na tela. Após a emissão de pulsos de ultrassom, eles interagem com os tecidos, e os ecos refletidos ou dispersos são transformados em energia elétrica pelo transdutor e processados eletronicamente pelo equipamento para formação da imagem. Essa forma de processar os ecos refletidos (em imagem bidimensional) é denominada modo-B (brilho). Além dessa forma de processamento dos ecos, existem outras, como os gráficos de ampli- tude (modo-A, muito utilizado em Oftalmologia) e gráficos de movimentação temporal (modo-M, bastante empregado em ecocardiografia). Existem diversos efeitos físicos implicados na interação do som-tecido para formação da imagem. É importante conhecer essas caracte- rísticas para melhor entendimento da formação da imagem ultrassonográfica. Iniciaremos pelas principais características físicas das ondas sonoras, que são: 1. comprimento de onda 2. frequência (f) 3. período (T) 4. amplitude (A) 5. velocidade. Comprimento de onda Distância entre fenômenos de compressão e rarefação sucessivos, medida em metros. O com- primento de onda depende da velocidade do som no meio e da frequência utilizada. Esse conceito está diretamente relacionado à resolução espa- cial da imagem. A resolução espacial no campo diagnóstico representa a capacidade de identificar duas interfaces (interface é o limite entre duas es- truturas) muito próximas uma da outra (o menor espaço entre dois pontos distinguíveis [reconhe- cíveis] numa imagem, como dois pontos separa- dos). Na ultrassonografia, existem vários tipos de resolução que podem ser definidos num apare- lho, destacando-se duas principais: w Resolução espacial axial (capacidade de discriminar dois pontos próximos ao longo do eixo de propagação do feixe ultrassônico) w Resolução espacial lateral (capacidade de discriminar dois pontos próximos no eixo perpendicular ao da propagação do feixe ultrassônico). Figura 1 (A) Esquema demonstrando a resolução axial e a resolução lateral. (B) Ilustração demonstrando feixe ultrassônico e sua correlação com a resolução axial e lateral Elevação Resolução Axial Resolução Lateral AXIAL LATERAL RESOLUÇÃO (A) (B) 176 Capítulo 5 Frequência (f) Número de ciclos completos de oscilação (ciclos) produzidos num segundo, medido em Hertz (Hz). De acordo com a frequência, o som é dividido em três categorias: infrassom (f< 20 Hz), som audível (f entre 20 e 20.000Hz) e ultras- som (f> 20.000Hz). A frequência do transdutor influencia diretamente na resolução espacial e é característica inerente ao cristal que o compõe. Quanto maior a frequência do transdutor, me- nor o comprimento da onda sonora e melhor a resolução espacial. Na prática, os transdutores de menor frequência (de 3,5MHz) são utilizados para o exame de tecidos profundos, por exem- plo, o exame de abdome (fígado, vesícula, baço, rins) ou pélvico (bexiga, útero, ovários, próstata, obstétrico). Os transdutores de frequência ele- vada (maiores que 7,5MHz) são utilizados para exame de tecidos superficiais, como a mama, ti- reoide, pele, testículo etc. Período (T) Tempo característico em que o mesmo fenô- meno se repete (inverso da frequência). Amplitude (A) Magnitude ou intensidade da onda sonora proporcional à deflexão máxima das partículas do meio de transmissão. Essa característica de- termina a intensidade da onda sonora, ou seja, a energia que atravessa o tecido, referindo-se, no campo diagnóstico, aos efeitos biológicos. Velocidade É a constante de cada material. Depende das propriedades elásticas da densidade. Por exem- plo, a velocidade de propagação do som no ar é, em média, de 340m/s, no líquido de 1200m/s e nos sólidos de 5000m/s. O cálculo da veloci- dade de transmissão do som através dos cons- tituintes do corpo humano tem a média calcula- da em 1540m/s, uma vez que suas velocidades são muito semelhantes, exceto a do ar (pulmão, intestino) e dos ossos. Dessa forma, os equipa- mentos ultrassonográficos são calibrados para esse padrão de velocidade constante (1540m/s). Tabela 1 Velocidade, densidade e impedância do som de diferentes meios MEIO VELOCIDADE (m/s) DENSIDADE (g/cm3) IMPEDÂNCIA (g/cm2/s o x 10-5) AR 331 0,0012 0,0004 ÁGUA 1480 1 1,48 SANGUE 1570 1,03 1,61 MÚSCULO 1585 1,07 1,70 OSSO 4080 1,91 7,8 Velocidade média utilizada nas unidades de ultrassom: 1540 m/s Outros conceitos inerentes ao fenômeno de interação som-tecidodevem ser considerados, como a impedância acústica e a atenuação. A impedância acústica de um meio está rela- cionada com a resistência ou dificuldade do meio à passagem do som. Corresponde ao produ- to da densidade do material pela velocidade de seu som. Quando o feixe sonoro atravessa uma interface entre dois meios com a mesma impe- dância acústica, não há reflexão, e a onda é toda transmitida ao segundo meio. É a diferença de impedância acústica entre dois tecidos que defi- ne a quantidade de reflexão na interface, promo- vendo sua identificação na imagem. Por exemplo, um nódulo no fígado será mais facilmente iden- tificado se sua impedância acústica for bastante diferente do parênquima hepático ao redor; ao contrário, quanto mais próxima sua impedância acústica do parênquima hepático normal, mais dificuldade teremos em identificá-lo, porque pouca reflexão sonora ocorrerá. Resumindo, quanto maior a diferença de impedância entre duas estruturas, maior a intensidade de reflexão. Ultrassonografia 177 Atenuação A atenuação do feixe sonoro nos tecidos moles é compensada pelos controles de ga- nho do equipamento, de tal forma que a ima- gem se apresenta homogênea em toda a sua profundidade. Entretanto, estruturas com alta atenuação e/ou com índice de reflexão elevado levam a uma acentuada redução de amplitude de ecos transmitidos, resultando em sombra acústica posterior. Da mesma forma, estruturas com baixa atenuação ou com menor velocida- de de propagação em relação aos tecidos moles levam a um aumento relativo da amplitude de ecos, que se chama “reforço posterior”. A atenuação do feixe sonoro por interface pode ser parcial, levando apenas a uma diminui- ção da densidade de estruturas posteriores a ela ou a uma degradação de imagem. Quando o feixe atravessa o tecido fibroso e a gordura da fissura do ligamento venoso, o lobo caudado pode pa- recer hipoecoico, simulando a presença de mas- sa em sua topografia. Pequenas bolhas de ar e gordura podem ser responsáveis pela atenuação parcial do som, causando sombra posterior com ecos difusos e indefinidos, pela reflexão espalhada que produzem. O uso de uma frequência mais baixa diminui ou suprime a sombra. Essa técnica pode obliterar uma patologia real. O mais indica- do é examinar a região em questão sob diferentes ângulos, procurando fugir da interface que apre- sente maior atenuação. Diversas interfaces produzem sombras acús- ticas posteriores. Na interface partes moles-gás, 99% do som é refletido, e a sombra observada é “suja” pela presença das reverberações descritas anteriormente. Entretanto, a sombra produzida na interface tecido mole-osso possui um aspecto “limpo”, pois o osso absorve praticamente toda a energia sonora e as reflexões não têm ampli- tude suficiente para produzir a reverberação. A sombra identificada a partir dos bordos de es- truturas líquidas e/ou esféricas são resultantes da reflexão e da refração que neles ocorrem. Sobre a formação de sombra acústica poste- rior, em investigações in vitro, todo o cálculo pro- duz sombra acústica, o que nem sempre ocorre in vivo. Um fator importante é a localização do cálculo em relação à zona focal do transdutor. Quando o cálculo está na zona focal, o feixe é totalmente ocluído, produzindo uma sombra níti- da. Quando localizado fora da zona focal ou ape- nas parte do feixe o atinge, uma quantidade de energia sonora passa ao redor do cálculo, impe- dindo a formação da sombra acústica posterior. Portanto, é necessário colocar o cálculo na zona focal, examinando a vesícula e o rim, com angulações diferentes do transdutor. O reforço é observado posteriormente às estruturas líquidas por sua baixa atenuação e pela refração convergente que elas podem produzir. Como o líquido não atenua o feixe sonoro nem as partes moles, o equipamento compensa, através dos ganhos, uma atenuação existente, reforçando os ecos das estruturas lo- calizadas posteriomente. Reflexão Uma imagem de ultrassom é formada pelo equipamento através da recepção e do proces- samento dos ecos refletidos nas diversas interfa- ces dos tecidos. Muitos artefatos se dão através da reflexão do feixe sonoro, tais como reverbe- ração, trajetória múltipla e imagem em espelho. Isso ocorre quando o feixe sonoro encontra uma interface cujos meios apresentam uma grande diferença de impedância acústica. Quando o eco de alta amplitude atinge o cristal, é parcialmente absorvido e transformado em sinal para a forma- ção da imagem, mas uma parte significativa é re- fletida pelo próprio transdutor de volta ao tecido, percorrendo pela segunda vez o mesmo trajeto. 178 Capítulo 5 Essas múltiplas reflexões são chamadas “reverbe- rações”. Cada vez que atinge o cristal, o eco de reverberação gera um sinal que é transformado em imagem. O equipamento não tem poder de distinguir o sinal verdadeiro dos sinais de reverbe- ração. O único fator que leva em consideração é o tempo de chegada dos sinais, que são duas, três, quatro ou mais vezes o tempo do primeiro sinal. A representação da reverberação na imagem é dada através de linhas paralelas equidistantes, com in- tensidades proporcionalmente menores. A rever- beração é observada com mais frequência junto à parede anterior da bexiga, ou cistos, por causa de suas interfaces. Quando a interface está distante, apenas uma reverberação pode ser identificada, como ocorre entre o útero e o gás no retossig- moide, estando a segunda reverberação a uma profundidade maior do que a alcançada pela ima- gem. Nesse caso, pode haver erro de interpreta- ção da imagem e, com o objetivo de esclarecer o diagnóstico, é necessário examinar o paciente sob vários ângulos ou repetir o exame no dia seguinte. Podem ocorrer reverberações também nas interfaces que são refletoras especulares per- pendiculares à direção do feixe e estão próximas ao transdutor, gerando, assim, artefatos lineares no tecido subjacente, principalmente em pacien- tes obesos. Outro tipo de reverberação ocorre quando existe grande diferença acústica entre o objeto e a estrutura adjacente, sem ser por múltiplas refle- xões. Conhecido como “cauda de cometa”, o ar- tefato é identificado na imagem como uma trilha densa de pequenos ecos lineares, como ocorre entre a parede de alça intestinal e gás no seu lúmen ou entre o diafragma e o pulmão aerado. Recen- temente, alguns autores descreveram um artefato tipo “cauda de cometa” na presença de colesterol no sistema biliar, sob a forma de cálculo ou pólipo. A reflexão de um feixe sonoro pode não ser direta ao transdutor. Assim, os ecos podem ser registrados em profundidade irreal na imagem. Esse artefato contribui para uma degradação geral da imagem, mas não chega a causar er- ros grosseiros na localização das estruturas. Um exemplo que podemos citar é o diafragma: o som é refletido do diafragma para outro refle- tor e deste de volta ao diafragma, para então retornar ao transdutor. Como o aparelho inter- preta que o feixe sonoro caminha em linha reta, o refletor infradiafragmático é projetado acima do diafragma, no eixo de emissão do som. Refração A mudança de direção do feixe sonoro ao atra- vessar uma interface entre dois meios, cujas ve- locidades são diferentes, é chamada de refração. Pode resultar no posicionamento impróprio da interface ou na distorção do refletor. Alguns au- tores demonstraram a localização lateral errônea de estruturas em phantoms devido ao fenômeno da refração. Estudos in vivo mostram ruptura e duplicação da imagem da parede da vesícula bi- liar e distorções na ecocardiografia, confirmando in vitro a hipótese de que a cartilagem costal atua como lente acústica, dispersando o feixe. Na pelve é identificado um tipo de artefato peculiar à distribuição anatômica dos músculos reto-abdominais e da gordura localizada na li- nha média, chamado de fantasma ou imagem dupla. Examinando-se a pelve com o transdu- tor na linha média, observa-se a duplicação da parede posterior dabexiga e o alargamento ou duplicação das estruturas posteriores a ela, por exemplo, um duplo saco gestacional falso no interior da cavidade endometrial. O útero e a próstata mais largos que a imagem real podem ser identificados. Esse artefato é causado pela refração do som na interface entre os músculos reto-abdominais e a gordura posterior a eles. Outro artefato importante é a sombra que ocorre posteriormente aos bordos de áreas lí- Ultrassonografia 179 quidas ou esféricas com velocidade de propaga- ção diferente do meio circundante. É causado por reflexão e refração do feixe, dependendo do ângulo de incidência sobre o bordo da área e da velocidade de propagação de seu conteúdo. A incidência sobre o bordo, além de um ângulo crítico, resulta na reflexão completa para fora, de tal forma que o feixe não volta ao transdutor. Ao mesmo tempo, parte do feixe sofrerá refração, cuja direção dependerá da velocidade do conteú- do da área em relação à do tecido adjacente. Quando a velocidade é menor, a refração concentra a energia e os ecos distais apresentam maior intensidade. Como não há transmissão do feixe para as estruturas posteriores ao bordo dessa área, nessa topografia não haverá reflexão e o equipamento interpretará como sombra. Isso é observado com frequência posteriormente aos bordos da vesícula biliar ou cistos, nos quais a re- flexão e a refração convergentes são responsáveis pelo aparecimento de uma fina sombra acústica posterior aos bordos e pelo reforço posterior à área líquida. Quando o feixe atravessa de um meio de menor velocidade para um de maior, o efeito é a refração divergente do feixe, resultando no aparecimento de uma sombra posterior larga. Esse efeito é observado quando o som passa do líquido amniótico para a calota craniana fetal. 2. Tecnologia em ultrassonografia Terminologia A terminologia utilizada para descrever o exa- me ultra-sonográfico é consequência da interação do som com os tecidos. Dessa forma, para des- crever a intensidade dos ecos na imagem, ou sua ecogenicidade, são empregados vários termos. Chamamos imagens ecogênicas, hipereco- gênicas ou ecorrefringentes aquelas em que os ecos são de alta intensidade, ou seja, são cinza- -claras ou brancas. As imagens hipoecogênicas são aquelas de ecos com baixa intensidade, e aparecem cinza-escuras. As imagens anecogêni- cas permitem a passagem do eco sem reflexão, sem ecos. Ocorrem nas estruturas líquidas, como bexiga, vasos sanguíneos, ascite etc. Em várias situações, podemos descrever uma es- trutura com base no padrão textural do tecido normal ao redor ou em relação ao padrão nor- mal observado naquele órgão. Exemplificando, um nódulo na tireoide pode ser isoecogênico em relação ao parênquima tireoideano normal, ou seja, apresenta a mesma intensidade de re- flexão do som que o parênquima normal e pode ser caracterizado (destacado dele) pela forma- ção de um halo periférico ou de uma lobulação no contorno da glândula. Assim, podemos ob- servar que tecidos diferentes podem ter a mes- ma ecogenicidade. Artefatos Artefatos são definidos como erros na apresentação da imagem e podem resultar de três fatores: w Problemas no equipamento w Interação do som com os tecidos w Técnica utilizada. Onda refratada Onda refletida M1 M2 Figura 2 Esquema ilustrativo demonstrando o comportamento da onda refletida e da onda refratada 180 Capítulo 5 Entre os vários artefatos possíveis, destaca- remos aqueles que auxiliam no diagnóstico ul- trassonográfico. a) Sombra acústica posterior: ocorre em tecidos com alta atenuação e/ou índice de refle- xão elevado, resultando na redução importante da amplitude dos ecos transmitidos, impedindo o estudo das estruturas posteriores. Aparece como uma imagem escura, posterior a cálcu- los biliares, cálculos renais, calcificações e osso. Mas pode ser menos intensa e formar o que chamamos “sombra suja”, ocorrendo nos gases intestinais (devido à interface intestino/gás). b) Reforço acústico posterior: da mes- ma forma que a sombra acústica, esse artefato ocorre em estruturas com baixa atenuação ou com menor velocidade de propagação do som em relação aos tecidos moles. Esse fenômeno se manifesta como uma faixa mais clara posterior à estrutura líquida que o forma, ocorrendo na be- xiga, na vesícula biliar, nos vasos sanguíneos etc. c) Imagem em espelho: decorrente da reflexão em grandes interfaces, como no dia- fragma e no pulmão. O som é refletido do diafragma e as imagens, abaixo do diafragma. Nesse caso, o fígado é projetado acima dele, sendo frequente observarmos a imagem do parênquima hepático acima do diafragma. d) Imagem dupla ou fantasma: ocasiona- da pela refração. Um exemplo disso é a refração do som na interface entre os músculos reto-ab- dominais e a gordura posterior a eles, provo- cando a formação de imagem dupla, como a do saco gestacional duplo na cavidade uterina. Podemos observar que, além do equipa- mento adequado, esse método é operador- -dependente, em função do conhecimento, da técnica e da interpretação da imagem adquiri- da durante o exame. Doppler Christian Andréas Doppler descreveu o fenômeno em 1841. O efeito Doppler é uma maneira de quantificar a velocidade do moni- toramento relativo entre a fonte de um fenô- meno periódico e um observador. No caso da ultrassonografia, fonte e ob- servador são um mesmo objeto, o transdu- tor, sendo observadas as estruturas refletoras móveis dentro do corpo, notadamente o fluxo sanguíneo. Dessa maneira, é possível estudar a presença de fluxo sanguíneo em determina- do vaso, ou se este vaso está preenchido por trombo, bem como mensurar a velocidade do fluxo sanguíneo dentro dele, quantifican- do o grau de estenose que ele apresenta, por exemplo. Existem algumas modalidades (tipos) de Do- ppler, porém, os mais empregados atualmente são o Doppler pulsado e o Doppler colorido. É importante ressaltar que neste capítu- lo estão resumidos aspectos sobre a ultras- sonografia; suas aplicações são muito mais amplas. Cada vez mais, as pesquisas desen- volvidas apontam um novo horizonte para atuação do método diagnóstico ultrassono- gráfico, enaltecendo a rapidez na sua execu- ção e ótima relação custo-benefício. Ultrassonografia 181 3. Aplicações clínicas da ultrassonografia A ultrassonografia é uma técnica não invasiva de realização de imagens médicas em tempo real. O exame ultrassonográfico pode ser uti- lizado na avaliação de diversas áreas do sis- tema orgânico. Neste capítulo transmitimos uma ideia geral das aplicações do ultrassom em alguns exames realizados nas seguintes áreas da Medicina: w Obstetrícia w Ginecologia w Mastologia w Medicina Interna w Próstata w Músculo Esquelético w Vascular w Neurologia w Cardiologia. Obstetrícia O exame ultrassonográfico fetal foi talvez a maior contribuição dessa técnica na área mé- dica. A Medicina Fetal, hoje um dos ramos de estudo da Medicina, surgiu após o advento do ultrassom. Com ele tornou-se possível visuali- zar o feto e compreender melhor seu desen- volvimento intrauterino. Além disso, a grande vantagem é a possibilidade de diagnosticar más- formações e principalmente o sofrimento fetal, muitas vezes a tempo de evitar o óbito, o que era impossível antes do ultrassom obstétrico. Hoje, o exame obstétrico ultrassonográfico é realizado rotineiramente, de preferência uma vez por trimestre de gestação, compreenden- do a análise dos seguintes tópicos, com as res- pectivas finalidades: Movimento Frequência média Parado Alta frequência Baixa frequência Fd = 2f0 V cos q C Figura 3 (A) Esquema ilustrativo demonstrando como a onda sonora comporta-se ao se aproximar e ao se distanciar de um ponto em comum. (B) Esquema ilustrativo demonstrando o interior de um vaso sanguíneo e como é a incidência de um feixe ultrassônico e sua equação para cálculos do vaso (A) (B) 182 Capítulo 5 1. Localização espacial do feto 2. Verificação da anatomia fetal: a) Polo Cefálico– estudar a anatomia do sis- tema nervoso central e de órbitas, nariz, lábios, além de visualizar o perfil do feto b) Coluna – analisar toda a coluna do feto a fim de diagnosticar possíveis defeitos de fecha- mento do tubo neural c) Tronco – estudar a área cardíaca (incidên- cia em quatro câmaras), verificar a integridade do diafragma, visualizar estômago, seio venoso, rins e bexiga, e identificar o sexo, quando possí- vel (a partir da 24a semana de gestação) d) Membros – identificar membros superio- res e inferiores, bem como demonstrar o nú- mero de dedos. 3. Análise da placenta e do cordão umbilical: A placenta é classificada quanto à sua textura ecográfica, além de se medir sua espessura para verificação de parâmetros vitais ao desenvolvi- mento fetal. 4. Análise do líquido amniótico: Calcula-se o índice amniótico para obter pa- râmetros da quantidade de líquido que circun- da o feto, indicativa de diversas anormalidades importantes quando o líquido se encontra fora da faixa normal. 5. Cálculo da biometria fetal: Medem-se os comprimentos ósseos de os- sos longos do feto e calculam-se os diâmetros cranianos e abdominais para cálculo do peso fetal e da idade gestacional e analisa-se o desen- volvimento geral do feto. Além disso, para uma avaliação da vitalida- de fetal, pode-se fazer o exame vascular em vasos de maior importância ao feto, além do exame cardiotocográfico. Neste, obtém-se a frequência cardíaca fetal com um teste basal (feto em repouso) e um teste com estímulo sonoro para se ter uma resposta de suas ati- vidades funcionais. O exame é feito com transdutor convexo de 3,5MHz, via transabdominal ou endovaginal, durante o primeiro trimestre de gestação, com transdutor endovaginal de 6,5MHz. Para realizar um bom diagnóstico das es- truturas e das atividades fetais via ultrassom, é necessário um conhecimento geral do funciona- mento do organismo. Doppler em Obstetrícia O Doppler ultrassônico é usado no estudo do fluxo sanguíneo fetal a partir do segundo tri- mestre de gestação. A introdução dessa tecnologia na Medicina perinatal desenvolveu a compreensão sobre a fi- siologia fetal e possibilitou a realização de pesqui- sas no campo da hemodinâmica feto-materna. A aplicação do princípio Doppler em obste- trícia constitui um método não invasivo para o estudo da dinâmica circulatória fetal, tanto em condições fisiológicas como em patológicas, proporcionando dados diretos sobre as circu- lações uteroplacentária e fetoplacentária, fre- quentemente relacionadas com o desenvolvi- mento adequado e bem-estar do feto. Na gestante, principalmente na de alto ris- co, a avaliação do ambiente fetal e das condi- ções que interferem em seu desenvolvimento normal tornaram possível uma intervenção precoce, reduzindo drasticamente a morbi- -mortalidade perinatal. A Dopplermetria é uma metodologia es- sencialmente qualitativa e procura interpretar o perfil da velocidade do sangue nos vasos. Através deste método é possível estabelecer o grau de resistência ao fluxo nas circulações útero e fetoplacentárias, permitindo indireta- mente avaliar a perfusão placentária e os níi- veis de troca materno-fetais. Ultrassonografia 183 O perfil da velocidade do sangue reproduz a variação da velocidade instantânea das hemá- ceas no vaso em função do tempo, adotando valores positivos, negativos ou zero, conforme a velocidade do fluxo das hemáceas tenha o sentido a favor, contrário ou nulo, respectiva- mente, em relação ao transdutor. A dopplermetria revela o comprometi- mento fetal antes que ocorram danos irre- versíveis ao feto. É possível, então, fazer uma avaliação das condições circulatórias em diversos órgãos fetais, objetivando detectar principalmente o estado de centralização. Os vãos analisados são: w Artéria cerebral w Artérias umbilicais w Artéria aorta abdominal. O feto em estado de hipóxia (deficiência de oxigênio) aciona mecanismos de defesa. O principal desses mecanismos redireciona o fluxo arterial para as áreas mais nobres (cora- ção, cérebro e fluxo arterial) em detrimento de outras áreas menos essenciais (intestinos, fígado, musculatura e pele). Este processo pode ser detectado no es- tudo hemodinâmico fetal através do Doppler, pela demonstração da vasodilatação das arté- rias cerebrais fetais e vasoconstrição da artéria aorta abdominal. Ao acionar esses mecanismos de defesa, o feto compensa temporariamente a hipóxia, porém, apresenta fluxo diastólico final redu- zido, ausente ou mesmo reverso na artéria umbilical, como evidências de sofrimento fe- tal que devem ser seguidas prontamente de conduta obstétrica adequada. Utilizando o sistema colorido de mape- amento de fluxo (CFM), a identificação das artérias é bastante facilitada. Após encontra- da a artéria, faz-se uma amostragem do fluxo e através do Doppler são calculados índices relativos à velocidade do sangue. Os valores desses índices (pulsatilidade e resistividade), quando comparados a valores normais-pa- drão já estabelecidos, remetem a uma avalia- ção qualitativa do estado vital do feto. Exemplos de imagens de ultrassonografia em Obstetrícia Biometria fetal (comprimento do fêmur) Modo B Biometria Fetal (Circunferência cerebral e abdominal) 184 Capítulo 5 Exemplos de imagens de ultrassonografia em Obstetrícia US Doppler – Polígono de Willis US Doppler – Vasos Renais US Doppler – Cordão Umbilical Imagem modo B longitudinal do feto Imagem modo B longitudinal do feto 3D Fetal Ultrassonografia 185 Ginecologia O exame ginecológico permite uma visualiza- ção do aparelho reprodutor feminino anatômica e funcionalmente de acordo, inclusive, com to- das as fases do ciclo menstrual e reprodutivo. O aparelho reprodutor feminino é basi- camente formado pelo útero, ovários, tuba uterina, vagina, vulva e mamas (estudadas separadamente). O exame pode ser realizado com trans- dutor convexo de 3,5MHz ou com transdu- tor endovaginal de 6,5MHz. O ultrassom trans ou endovaginal fornece uma verificação detalhada da morfologia de massas pélvicas – tecidos modificados que se desenvolvem na região pélvica. Uma massa pélvica é primeiramente ava- liada no modo B, sendo caracterizada por seu padrão ultrassônico dominante em cística (con- teúdo líquido), sólida ou composta. Em seguida, a textura interna é verificada para se detectar presença de projeções papilares ou septações ou ecos de baixo nível. Finalmente, faz-se uma busca de sinais secundários de malignidade (como ascite, implantes pélvicos, entre outros). O útero e os ovários têm suas três dimensões documentadas e seu conteúdo, minuciosamen- te avaliado. A verificação da imagem ultrassono- gráfica do endométrio – tecido de revestimento interno do útero – permite caracterizar o perí- odo menstrual da mulher. Doppler em Ginecologia O diagnóstico com CFM e análise es- pectral Doppler é baseado na detecção de neovascularização anormal, principalmente em massas pélvicas. Essa neovascularização consiste na geração de novos vasos capilares a partir de vasos existentes normais ou anor- mais, sendo mais característica de lesões tu- morais malignas. Portanto, o CFM e o Dop- pler têm importante papel na diferenciação entre lesões benignas e malignas. Com essas duas técnicas, visualizam-se também os vasos pélvicos que suprem os ovários, além dos vasos intraparenquimais. Os vasos mais estudados são as artérias ova- rianas e uterina. A análise espectral permi- te a correlação com processos fisiológicos, como a vasodilatação ou a vasoconstricção, que podem dar indício de patologia. Sendo assim, essas duas técnicas ajudam na loca- lização de vasos e na caracterização do pa- drão vascular. Uma das grandes vantagens do ultrassom é a monitorização por meio de uma guia (agulha) de biópsia para retirada de conte- údo líquido de cistos na região do útero e dos ovários. Em inúmeros casos, isso evita a necessidade de cirurgias, sendo de grande valia para médicos e pacientes. 186 Capítulo 5 Exemplosde imagens de ultrassonografia em Ginecologia US Doppler – Vascularização uterina US Doppler – Artéria uterina Útero via transvaginal Útero via transvaginal Modo B transversal transvaginal do útero Modo B transversal transvaginal do ovário Ultrassonografia 187 Mastologia As mamas são glândulas sudoríparas modi- ficadas e constituídas de tecido fibroso e gor- dura, a qual dá suporte e contém nervos, vasos sanguíneos e linfáticos. As glândulas mamárias são órgãos acessórios do sistema reprodutor feminino especializado na secreção de leite após a gravidez. Estão lo- calizadas no tecido subcutâneo peitoral. A glân- dula mamária é constituída de 15 a 20 lobos de formato irregular, cada um com glândulas alveolares e um ducto que conduz ao mamilo. Os lobos são separados por um denso tecido conjuntivo que suporta as glândulas, ligando-as aos tecidos dos músculos peitorais. Outro teci- do conjuntivo que forma os ligamentos suspen- sórios estende-se da pele até o tecido peitoral para suportar o peso da mama. As estruturas constituintes da mama são descritas abaixo: w Tecido glandular w Tecido gorduroso w Ducto lactiferoso w Lóbulos glandulares w Ligamento suspensório w Músculo peitoral w Mamilo. O exame de mama é realizado com trans- dutor linear de 7,5MHz, que fornece uma ex- celente imagem em níveis bem superficiais, inclusive da região posterior do mamilo. Durante o exame, são analisados os tecidos mamário glandular e adiposo. Procuram-se espe- cialmente sinais de malformações, infecções (mas- tite, galactocele, necrose gordurosa), mastopatias funcionais, cistos, tumores benignos e malignos. O exame é feito de forma rotacional em sentido horário, com o transdutor posiciona- do transversal ou longitudinalmente. À me- dida que se localiza uma imagem modificada da estrutura mamária normal, esta deve ser medida e sua localização documentada como a marcação de horas em um relógio – exem- plo: cisto de 0,70x0,56cm às 9h. Costuma-se também dividir a mama em quatro quadran- tes, facilitando ainda mais a exata localização de uma lesão mamária. O exame inclui a ava- liação da região axilar. Na imagem ultrassonográfica, os tecidos fibroso e adiposo são mais ecogênicos (mais “esbranquiçados”) que o glandular, e próteses mamárias aparecem escuras e com reforço posterior (imagem mais clara sob a prótese). As imagens patológicas mais encontradas são: a) Fibrose: grande alteração da ecogenicida- de, projetando-se no tecido glandular b) Adenose: aparecimento de nódulos com interior líquido, hipoecogênico e com superfí- cie irregular c) Mastopatia fibrocística: aparecimento de cistos – dilatações de ductos osbtruídos – de formato esférico e imagem hipoecoica d) Fibroadenoma: formação sólida, mais ecogênica que as estruturas mamárias, sem imagem de reforço posterior; é um tipo de tu- mor benigno e) Carcinoma: formação sólida com imagem hiperecoica apresentando atenuação posterior; é um tipo de tumor maligno. No diagnóstico diferencial de tumores benig- nos e malignos, avalia-se principalmente a pre- sença de sombra lateral na imagem ecogênica da estrutura diferenciada (indicativa de lesões be- nignas) ou de atenuação posterior à imagem, ou ainda da presença de neovascularização no in- terior da lesão (próprias de tumores malignos). 188 Capítulo 5 Exemplos de imagens de ultrassonografia em Mastologia Abdominal O ultrassom abdominal permite o estudo não invasivo de órgãos, como fígado, baço, pâncreas, vesícula biliar e rins, além de toda a vascularização local. Utiliza-se o transdu- tor convexo de 3,5MHz para adultos e a fre- quência de 5,0MHz opcional para bebês. Avaliação dos rins O tamanho do rim e seu aspecto no modo B são fatores importantes no estudo duplex renal. Os rins devem ser medidos na maior seção longitudinal. A medula no centro do rim (de cor clara) deve ser nitidamente diferenciada do córtex renal. O sistema coletor geralmente não é visto em rins normais. A presença de grandes áreas ecolucentes no hilo renal e no meio do rim pode significar hidronefrose. Quaisquer cistos ou massas visualizados devem ter suas medidas e localização documentadas, além de amostrados com o CFM e o Doppler, a fim de verificar a eventual presença de vascularização. A detecção de fluxo pode significar que a lesão é cancerosa. Contornos irregulares ou adelga- çamento cortical são marcadores de diversas formas de disfunção renal. Doppler nas artérias renais O exame ultraabdominal, contando a van- tagem da técnica do CFM, possibilita um estu- do aprofundado da rica vascularização renal. O primeiro objetivo é identificar lesões es- tenóticas nas artérias renais que possam con- tribuir para uma hipertensão renovascular. Vários tipos de lesões da artéria renal po- dem ser identificadas, quantificadas, diferen- ciadas e localizadas com o exame CFM/Dop- pler da artéria renal. Imagem panorâmica da mama Imagem panorâmica da mama Ultrassonografia 189 Lesões ateroscleróticas, resultantes da formação de placa de ateroma geralmente na origem da artéria, são as que mais comu- mente se encontram. Também é comum en- contrar lesões de displasia fibromuscular. A avaliação do fluxo sanguíneo no inte- rior do rim pode ajudar na diferenciação da estenose da artéria renal de diversas outras disfunções não específicas do parênquima renal. Além disso, os sinais de fluxo obtidos no hilo renal (onde a artéria renal distal en- tra no parênquima) também podem ser úteis na identificação de uma estenose significati- va da artéria renal. Através do cálculo de ín- dices de relação velocidade de pico sistólica nas artérias aorta abdominal e renal, estabe- lece-se o grau de estenose da artéria renal. Avaliação do sistema hepático portal Uma das aplicações do CFM e do Doppler nessa área é a avaliação do sistema hepáti- co portal, que envolve diversos vasos, com a identificação de sua anatomia normal ou anormal, e a análise do fluxo nesses vasos. Esse exame tem como indicações a hi- pertensão portal, trombose da veia porta, análise de transplante de fígado, cirrose, sín- drome de Budd-Shiari, exame pré ou pós- -dissecção do fígado ou do pâncreas. A veia porta, principal vaso desse sistema, transporta sangue rico em nutrientes para dentro do fígado. Junto a ela são também analisadas as veias esplênica, mesentérica superior e inferior e veias hepáticas princi- pais, além dos vasos portais. Exemplos de imagens de ultrassonografia abdominal Modo B transversal do fígado e vasos hepáticos Modo B transversal do fígado 190 Capítulo 5 Exemplos de imagens de ultrassonografia abdominal Modo B transversal do fígado Modo B longitudinal da vesícula biliar US Doppler – Vasos hepáticos Modo B longitudinal do rim US Doppler – Vasos renais US Doppler – Vasos renais Ultrassonografia 191 Próstata O carcinoma de próstata é uma doença que assusta muitos homens de idade avan- çada. O diagnóstico precoce pode melhorar consideravelmente o prognóstico. Com o uso do ultrassom, a próstata pode ser visualizada e muitas mudanças súbitas podem ser docu- mentadas. Portanto, o ultrassom da próstata é uma ferramenta muito importante para diag- nóstico, como guia-biópsia e como um follow- -up de monitorizações dos efeitos do trata- mento de carcinoma da próstata. A próstata é uma glândula localizada infe- riormente à bexiga e está próxima da uretra proximal. Sua face anterior é separada da sínfi- se púbica e dos ossos púbicos por gordura e te- cidos fasciais contendo vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. Posteriormente, uma mem- brana fascial separa a glândula da parede retal. Quatro vias de acesso podem ser usadas para se ter a imagem da próstata: a via abdo- minal (suprapúbica), a transperineal, endou- retral e a endorretal, cada qual fornece um tipo de imagem da próstata. Os exames por via abdominal e transperineal são feitos com transdutor convexo de 3,5MHz enquanto as outras duas técnicas exigem transdutores específicos. A via endorretal é omelhor método de var- redura da próstata pela grande proximidade do transdutor da área de interesse. O exame transretal é realizado em 2 planos: axial e longitudinal. A próstata normal tem aparência hipereco- gênica com relação às vesículas seminais e uma estrutura homogênea. Quanto à imagem de tumores prostáticos, existem controvérsias. Muitos carcinomas de próstata têm aparência hipoecoica. Pode-se con- siderar também que a ecogenicidade do câncer prostático muda com o crescimento do tumor, tornando-se mais ecogênico de acordo com seu maior tamanho. Alguns tumores maiores, mais in- vasivos podem ter uma imagem hiperecoica pela mistura de tecido manual, maligno e benigno. Quando se suspeita de uma lesão carcinoma- tosa, é importante verificar se há abaulamento na cápsula prostática, já que tumores frequen- temente causam assimetria na glândula. Outra consideração importante é a exata localização do tumor suspeito dentro da próstata. Biópsia A biópsia é o método mais definitivo de se confirmar a malignidade das lesões prostáticas em pacientes com suspeita de câncer. A biópsia é realizada via transretal, sendo a agulha acoplada ao transdutor, guiada pela ima- gem ultrassônica. Dessa forma, a biópsia pode ser realizada de modo seguro, preciso e rápido. Os conhecimentos recentes do câncer pros- tático, aliados à qualidade da imagem ultrassôni- ca, tornaram possível a detecção de lesões pe- quenas, não palpáveis e potencialmente curáveis. O ultrassom transretal da próstata promete ser um método importante na detecção preco- ce de carcinoma de próstata. 192 Capítulo 5 Exemplos de imagens de ultrassonografia da próstata Músculo esquelético O diagnóstico ultrassonográfico de doen- ças e lesões do sistema musculoesquelético é limitado pelas propriedades de reflexão e absorção do som no osso. Na interface en- tre dois tecidos orgânicos, sendo o segundo o osso, o ultrassom penetrará neste com alta velocidade, e pouquíssimas ondas com infor- mação de imagem retornarão ao transdutor, o que dificultará a obtenção de imagens de estruturas ósseas ou através delas. Por isso, embora o ultrassom diagnóstico te- nha assumido papel de importância em muitas outras especialidades médicas, sendo aperfei- çoado cada vez mais, durante muitos anos deu- -se comparativamente menos atenção a seu uso em ortopedia. Essa situação só mudou quando o exame ul- trassônico da articulação do quadril em bebês se estabeleceu como uma sólida indicação des- sa técnica nessa área. O ultrassom do quadril é superior aos métodos diagnósticos conven- cionais em vários tipos de pesquisas, especial- mente em bebês com menos de três meses e até dez meses, quando o desenvolvimento ósseo começa a limitar o uso desse exame. Além dessa área, o ultrassom também está sendo usado na avaliação de lesões em tecidos moles pelo fato de ter uma boa penetração em músculos, tendões, tecido conjuntivo e cartila- gem hialina e fibrosa. Modo B transretal de próstata Ultrassonografia 193 Diagnóstico de displasia e deslocamento da articulação do quadril (coxofemoral) No exame de recém-nascidos e bebês com menos de três meses, utiliza-se o transdutor linear de 7,5MHz, que, com sua alta resolução, produz uma ótima imagem das finas estruturas – bastante próximas da superfície – do quadril dos bebês. Com a incidência paralela do feixe de ultras- som nas estruturas ósseas, formam-se sombras em locais específicos (por exemplo, borda su- perior do acetábulo), o que contribui para a identificação de marcos anatômicos do quadril infantil e a formulação de um bom diagnóstico. A varredura com o transdutor linear dá ao médico uma melhor noção do plano de imagem, facilitando, a seguir, uma técnica de exame. O primeiro passo para um bom diagnóstico é obter uma identificação anatômica das estruturas relevantes da articulação coxofemoral, entre elas: w Cabeça do acetábulo w Porção cartilaginosa do acetábulo w Porção óssea do pescoço do fêmur w Convexidade do acetábulo ósseo. O ultrassom possibilita uma avaliação precisa dos componentes ósseos e cartilaginosos do ace- tábulo em suas porções anterior, central e pos- terior, além da realização de medidas específicas dos componentes da articulação para a confirma- ção de diagnósticos. Com isso, pode-se estabele- cer uma padronização das formas de displasia do quadril do ponto de vista ultrassônico. É possível também reconhecer um mau “ama- durecimento” do quadril logo após o nascimento e controlar continuamente seu desenvolvimento. Diagnóstico de lesões na articulação do ombro A ultrassonografia também é valiosa na de- monstração de variações na articulação do ombro. Em cortes “tomográficos” do ombro, variações patológicas do osso, da interface arti- cular e dos tecidos moles podem ser claramen- te demonstradas. O diagnóstico de uma lesão no manguito rotador é bastante seguro quando a articulação está cheia de líquido. O ultrassom do manguito rotador é de gran- de valia no diagnóstico de ruptura deste, o qual é dado quando se tem uma imagem de lesão ecogênica focal. Alguns estudos realizados des- te exame mostraram uma precisão, uma sensi- bilidade e uma especificidade superiores a 90% em relação a achados cirúrgicos. Achados acidentais nas lesões assintomáticas não são infrequentes. Estudam-se rotineira- mente ambos os ombros e, em alguns casos, é possível descobrir doenças bilaterais. Articulação do joelho Outra aplicação do ultrassom em exames musculoesqueléticos é a análise da articula- ção do joelho. O ultrassom é um método de primeira linha, eficaz e simples de se estudar traumatismo no joelho. Pode ser realizado em todos os casos que apresentam inchaço doloroso do joelho sem evidências radiográ- ficas de fraturas. As lesões da articulação do joelho estão frequentemente associadas a lesões cápsulo- -ligamentosas, produzindo inchaço doloroso e instabilidade prolongada da articulação. Nesses casos, o diagnóstico precoce de rup- tura do ligamento é importante para que se faça uma cirurgia de correção e tratamento fisioterapêutico. A radiografia plana é ineficaz nessas condi- ções, já que é impossível se obter uma imagem do lugar lesado: o valor da radiografia nesses casos está na possibilidade de detectar fraturas. As vantagens do ultrassom são a não-utilização de radiação e a boa aceitação pelo paciente com dor, aliados à boa imagem obtida. 194 Capítulo 5 Exemplos de imagens de ultrassonografia em músculo esquelético Imagem panorâmica do músculo supraespinhal Imagens bidimensionais do tendão calcâneo Imagens bidimensionais do músculo supraespinhal – bilateral Imagens bidimensionais do tendão calcâneo Ultrassonografia 195 Vascular O exame vascular compreende o estudo das artérias carótidas e vertebrais, das veias e artérias dos membros superiores e dos membros inferio- res. Nesses exames, usa-se o transdutor linear de 7,5MHz, com opção de 5,5MHz para pacientes muito obesos, na análise de vasos mais profundos. Exame das artérias carótidas As artérias carótidas internas e externas são as quatro principais artérias do pescoço e ca- beça. A entrada dessas artérias no crânio se faz por duas regiões: o seio carotídeo, que moni- tora a pressão sanguínea, e o corpo carotídeo, que monitora o conteúdo de oxigênio no san- gue e ajuda a regular a respiração. As artérias carótidas comuns se dividem em artérias carótidas interna e externa logo após o bulbo carotídeo. A artéria carótida interna entra na caixa craniana para suprir o cérebro e os olhos. Na base do cérebro, as duas caró- tidas internas e a artéria basilar juntam-se para formar um anel de vasos sanguíneos chamado “Polígono de Willis”. As artérias carótidas externas dão diversos ramos que suprem os tecidos da face, couro cabeludo, boca e mandíbula. As principais arté- rias que se originam das carótidas externas são: artéria tireoide superior, artéria lingual, facial, occipital e artéria auricular posterior. As caróti- das externasterminam dividindo-se em artéria maxilar e temporal superficial. Nesse exame, são usadas duas orientações básicas de varredura dos vasos: transversal e longitudinal. O objetivo é avaliar as artérias caró- tidas comuns, o bulbo carotídeo, as artérias ca- rótidas internas e externas bilateralmente. Além disso, posteriormente podem-se também avaliar as artérias vertebrais no nível do pescoço. Na imagem modo B, visibiliza-se a artéria carótida. Muitas vezes é possível delimitar sua parede interna e localizar possíveis lesões este- nosantes. De acordo com a imagem formada da placa de ateroma, pode-se inclusive classificá-la em gordurosa ou calcificada. O CFM e o Doppler permitem o estudo das va- riáveis hemodinâmicas desses vasos, com a quanti- ficação do grau de estenose presente no vaso. Para o cálculo das velocidades dos fluxos, deve-se res- peitar um ângulo ideal de insonação do ultrassom, que deve estar entre 30 a 60° em relação à parede do vaso, valor este indicado na tela com a imagem. Em geral, estabelece-se que os sinais re- fletidos pelo fluxo arterial distanciando-se do transdutor são mostrados em cor vermelha e o fluxo venoso, aproximando-se do transdutor, em azul. Essas cores podem mudar, se o trans- dutor estiver invertido em relação ao paciente. As áreas de maior velocidade são indicadas em tonalidades mais claras, possibilitando áreas de maior velocidade no vaso. Quando existe uma placa de ateroma no vaso, ou seja, depósito de gordura na parede vascular, a velocidade do sangue tanto dentro como logo após a lesão de estenose é bem maior. Fazendo uma amostragem do fluxo sanguíneo nesses pon- tos, tem-se o espectro de velocidade, curva que projeta as variações sistólicas e diastólicas da ve- locidade do fluxo de sangue em função do tempo. A análise espectral fornece informações sobre a velocidade e a direção do fluxo sanguíneo. A par- tir daí, é estabelecido o grau de estenose em rela- ção às alterações da velocidade do fluxo. Velocidades sistólicas maiores que 100cm/s no local da lesão sugere estenose de mais de 50% em diâmetro, enquanto velocidades dias- tólicas maiores que 100cm/s indica estenose maior que 80% em diâmetro. Este estudo hemodinâmico dos vasos preten- de prever e evitar embolias cerebrais, acidentes vasculares cerebrais, tromboses e infartos he- modinâmicos causados por estenose, entre tan- tas outras complicações cerebrovasculares. 196 Capítulo 5 Veia jugular As veias jugulares localizam-se dos dois lados do pescoço, profundamente, próximas às ca- rótidas comuns. Através delas, o sangue veno- so retorna da cabeça ao coração. Por estarem quase paralelas às carótidas comuns, também são visualizadas no exame cerebrovascular. Vascular periférico nos membros superiores Considerando que grande parte das embo- lias pulmonares (por volta de 90%) é prove- niente de coágulos nos membros inferiores, o estudo hemodinâmico dos vasos dos membros superiores não é tão comum quanto o dos membros inferiores. Mas, como uma parte das embolias pulmonares pode ocorrer devido a coágulos nos braços, a avaliação de trombo- se vascular nos braços também é bastante útil. Além disso, procura-se avaliar as veias cefálica e basílica para uso como material de enxerto, e a artéria subclávia, para análise de aneuris- ma, embora seja menos comum de ocorrer nos membros superiores. São avaliadas também fístulas arteriovenosas feitas para hemodiálise, inclusive quando se usa material sintético para fazer o enxerto. Em pacientes com história de cateterização pela artéria subclávia, usam-se o CFM e o Dop- pler na avaliação das veias centrais antes da colo- cação de um acesso arteriovenoso. O transdutor usado é o linear de 7,5MHz e os modos principais de ultrassom são o CFM e o Doppler. Estudo dos vasos dos membros inferiores O interesse desse exame é avaliar a circu- lação dos membros inferiores e avaliar o com- prometimento de prováveis tromboses que possam ocorrer nessa circulação. Os vasos mais analisados são: w Artéria ilíaca externa, artéria femoral comum, artéria femoral profunda, artéria femoral superficial, artéria poplítea, artérias tibial anterior e posterior e artéria fibular w Veia ilíaca externa, veia femoral comum, veias femoral superficial e profunda, veia safena magna, veia poplítea, veia safena parva, veias tibial anterior e posterior, veia fibular. O exame é feito usando-se um transdutor li- near de 7,5MHz, com opção para 5,0MHz para uso em pacientes muito obesos. Uma das grandes vantagens do Doppler no estudo desses vasos é a possibilidade de avaliar o fluxo sangüíneo mesmo em vasos profundos, em região de grande complexidade, e achar problemas, como trombose venosa profunda em apenas um dos ramos desses vasos. O CFM e o Doppler permitem a análise da direção do fluxo nos vasos e ajudam na avaliação do suces- so de diversas cirurgias vasculares. Faz-se uma varredura do leito vascular, co- meçando pela região inguinal e continua per- correndo os vasos até a região distal da tíbia e fíbula. Pode-se percorrer os vasos transversal ou longitudinalmente, sendo, respectivamente, o primeiro modo mais usado para estudo veno- so e o segundo para as artérias. Com o uso do Doppler e do CFM, pode-se avaliar a situação hemodinâmica da região para o diagnóstico de várias doenças vasculares periféricas. No caso das artérias, procura-se por uma estenose ou oclusão arterial e nas veias, a existência de trom- bose venosa profunda, ou avalia-se, no caso da veia safena, material de enxerto em potencial. Ultrassonografia 197 Exemplos de imagens de ultrassonografia vascular US Color Doppler da Artéria Carótida Comum Modo B Longitudinal da Artéria Carótida Comum US Doppler Pulsado da Artéria Vertebral US Doppler Pulsado da Artéria Carótida Comum US Doppler Pulsado da Artéria Aorta Abdominal US Color Doppler da bifurcação da artéria carótida comum 198 Capítulo 5 Transcraniano O Doppler Transcraniano (TCD) mede pa- râmetros fisiológicos do fluxo sanguíneo nas artérias intracranianas principais. O TCD usa o sistema Doppler pulsado com transdutor pha- sed array de 2,5MHz para obter as velocidades das artérias intracranianas através do forame craniano e regiões mais finas do crânio. Cal- culam-se, então, os valores de pico sistólico, médias e índices de pulsatilidade. São obtidos melhores resultados diagnósti- cos comparando-se os índices de pulsatilidade e as velocidades das artérias dos hemisférios cerebrais; ou comparando os cálculos dos va- sos na mesma região em tempos diversos e sob diferentes condições de estimulação fisiológica. O exame pode ser repetido várias vezes, de forma segura, permitindo a detecção de varia- ções no tempo e diversas mudanças fisiológicas, farmacológicas e posicionais. As desvantagens são as variações anatômicas e a deslocação e posição das artérias, o que às vezes dificulta a distinção de uma doença arte- rial. Doenças simétricas bilaterais, grandes regi- ões de vasoconstricção ou estenose são difíceis de detectar. O TCD deve ser usado para res- ponder a questões específicas sobre o fluxo nas artérias intracranianas. O ultrassom transcraniano e a angiografia são os únicos sistemas que fornecem informa- ção sobre o fluxo nas artérias intracranianas. A angiografia faz uma imagem anatômica das lesões das artérias intra e extracranianas e de seus ramos próximos, profundos e superficiais. O exame TCD fornece informação sobre a fi- siologia do fluxo nas artérias intracranianas ba- sais, sendo de grande valor para: a) Detectar estenose severa (maior que 65%) b) Visualizar a extensão e a forma da circulação colateral em pacientes com regiões conhecidas de estenose severa ou oclusão c) Avaliar e acompanhar pacientes com vasoconstricção de qualquer causa, incluindo aterosclerose d) Detectar e estudar as artérias e modelos de fluxo sanguíneo e) Detecção direta de microembolia intracraniana f) Avaliação de danos na hemodinâmica cerebralcausados por traumatismos cranianos g) Confirmação de morte cerebral com a interrupção da circulação cerebral h) Detecção de malformações arteriovenosas. O exame das artérias intracranianas basais pode ser realizado através de várias “janelas” cranianas naturais. A janela transtemporal per- mite o exame da artéria cerebral média (MCA), artéria cerebral anterior proximal (ACA), arté- ria cerebral posterior proximal (PCA) e artéria carótida interna distal (ICA). Pela janela do fo- rame magno examina-se a circulação vertebro- basilar e pela janela transorbital vê-se a artéria oftálmica e o sifão carotídeo. Em recém-nascidos, o exame permite a moni- toração não invasiva das estruturas intracranianas, diagnostica hemorragia intracraniana, grande cau- sadora de mortalidade de recém-natos. Nestes, o TCD colorido (com CFM) também pode ser utilizado para examinar o sistema venoso intracra- niano através da fontanela anterior. Por ser um sis- tema bastante sensível, consegue visualizar o fluxo de baixa velocidade dos vasos venosos. Ultrassonografia 199 Exemplos de imagens de ultrassonografia transcraniana Cardiologia Os modos usados para ecocardiografia são o modo B, M, Doppler e CFM. Os transdutores utilizados para essa categoria de exame são os do tipo phased array, de 2,5, 3,5, e 7,5MHz (este último para uso pediátrico) e os pencil probes, para uso com Doppler contínuo sem imagem. O ultrassom do coração conta com a opção de ECG, que permite ao operador congelar a imagem cardíaca sincronizada com o sinal de um eletrocardiograma feito direto no paciente. Isso é essencialmente importante para uma compa- ração do funcionamento das câmaras e válvulas cardíacas em determinado tempo do ciclo cardí- aco, com maior segurança de diagnóstico. Modo M É o modo de movimento. A informação ul- trassonográfica é obtida de uma linha de var- redura das estruturas cardíacas e mostrada em um eixo de tempo. O modo M é usado para a avaliação de estruturas em movimento no orga- nismo, especialmente o coração. US Doppler pulsado – a. cerebral média US Doppler – a. cerebral média US Doppler Pulsado da artéria cerebral anterior e artéria cerebral média US Doppler Pulsado da artéria cerebral anterior e artéria cerebral média 200 Capítulo 5 Na ecocardiografia feita com modo M, o ECG pode ser gravado concomitantemente. Isto torna possível avaliar a funcionalidade car- díaca durante um ciclo cardíaco completo. O modo M também é usado para calcular a fre- quência cardíaca. Modo Doppler Com o Doppler e o CFM faz-se o estudo hemodinâmico da circulação sangüínea com uma informação mais detalhada do trabalho e da qualidade das artérias e das veias do corpo humano. Através de recursos de softwares, é possível medir e determinar diversas características do fluxo sanguíneo, como velocidade, aceleração cardíaca e diversos outros índices de interesse da função cardíaca. Para a avaliação do fluxo sanguíneo, duas técnicas podem ser usadas: Doppler de onda pulsada e Doppler de onda contínua. No pri- meiro, fazem-se cálculos da análise espectral com a visualização simultânea da imagem em modo B. No Doppler de onda contínua, faz-se a monitorização contínua do fluxo sangüíneo, sendo possível a captação de velocidades san- guíneas mais altas, pois não existe o problema de PRF do Doppler de onda pulsada. No exame cardíaco, as medições de fluxo são feitas mais freqüentemente com o modo contínuo, pelas altas velocidades do sangue no coração. Exame ecocardiográfico No ecocardiograma, diversos aspectos po- dem dificultar o exame. O coração fica dentro da caixa torácica. As costelas protegem o co- ração, mas como ossos não permitem a passa- gem do ultrassom, é necessário “olhar” entre as costelas para visualizar o coração. Por esse motivo, o transdutor phased array (com maior campo de visão setorial e pequeno tamanho de membrana) é o ideal para uso cardíaco. É importante saber a orientação do transdu- tor e a orientação da imagem resultante. São utilizadas quatro posições-padrão para exami- nar o coração nos modos B e M: w Supraesternal: o transdutor é posicionado sobre o supraexterno w Paraesternal: coloca-se o transdutor na área entre a clavícula esquerda, o esterno e a região apical w Apical: posicionamento sobre o ápice do coração w Subcostal: o transdutor é posicionado próximo à linha média do corpo e abaixo da última costela. A imagem obtida dependerá também de três diferentes orientações: a) Vista do eixo longo do coração: é obtida a partir de duas posições de varredura: api- cal e paraesternal. Representa uma varre- dura mais longitudinal do coração b) Vista do eixo curto: pode ser obtida com a posição paraesternal ou subcostal. Essa vista fornece uma varredura mais trans- versal do coração c) Vista das quatro câmaras: pode ser obtida com o transdutor na posição apical ou sub- costal. Mostra as quatro câmaras cardíacas (átrios esquerdo e direito, ventrículos di- reito e esquerdo) e o septo, permitindo o estudo das válvulas atrioventriculares e das velocidades dos fluxos cardíacos. Varredura de rotina do coração A vista do eixo longo paraesternal é ge- ralmente a primeira a ser feita. No modo B, observa-se a proporção das estruturas cardí- acas e tem-se uma visão geral do movimento cardíaco. Pontos importantes de análise são as válvulas aórtica e mitral, as paredes do coração e o ventrículo esquerdo. Ultrassonografia 201 No modo M, obtém-se uma varredura do coração desde a válvula aórtica até o ápice do coração. É possível, então, fazer os seguintes cálculos, entre outros: w LVIDd = mensuração interna do ventrículo esquerdo no final da diástole w LVIDs = mensuração interna do ventrículo esquerdo no final da sístole w RVDd = maior dimensão do ventrículo direito na diástole w IVSs = tamanho do septo interventricular no final da diástole w LVPWd = tamanho da parede posterior do ventrículo esquerdo w MVd = diâmetros 1 e 2 da válvula mitral. As informações fornecidas com os modos Doppler pulsado, contínuo e CFM são mais bem obtidas na vista de quatro câmaras. Com essas técnicas, são feitos os cálculos dos índi- ces de funcionamento do ventrículo esquerdo. Indicações importantes de anormalidades vistas no modo M Várias disfunções podem ser diagnosticadas através da análise do modo M no exame eco- cardiográfico, entre elas: w Calcificação do anel da válvula mitral w Prolapso da válvula mitral w Válvula mitral em sopro de Austin-Flint w Estenose mitral w Ruptura do cordão tendinoso da válvula mitral w Estenose com calcificação da aorta w Vegetações na válvula aórtica w Hipertrofia simétrica do ventrículo esquerdo w Doença de Ebstein w Tumor no átrio esquerdo w Vegetações na válvula tricúspide. Aplicações do Doppler e CFM em ecocardiografia As medições de fluxo com o Doppler têm importante papel nos exames cardiovasculares. Entre tantas outras, são realizadas as medidas de: w Máximas velocidades de fluxo nas quatro válvulas cardíacas em adultos e crianças w Análise do funcionamento de válvulas artificiais com o estudo das velocidades de fluxo através das válvulas w Avaliação do débito cardíaco w Pressão de enchimento do ventrículo esquerdo w Detecção de sinais velocimétricos arteriais indicativos de ataque cardíaco. O uso CFM permite a separação visual de fluxos locais complexos, com a diferenciação de velocidades e tempo com o Doppler contí- nuo. Pode-se verificar a regurgitação do sangue, identificar sua origem e determinar a área do jato de sangue e sua base. A avaliação não invasiva da “performance” do ventrículo esquerdo em pacientes com do- ença cardíaca crônica é essencial no controle de terapias e do progresso da doença, evitando-se repetidos procedimentos invasivos de outras técnicas de imagem. Ecocardiografia fetal É de grande valia no estudo da vitalidade do feto. Considera-se que uma avaliação ecocar- diográfica mínima, incluindo uma vista das qua- tro câmaras, uma vista das cincocâmaras, deve fazer parte de exames obstétricos de rotina, sempre que possível. O estudo cardíaco fetal assegura o aumento da taxa de detecção prévia de anormalidades cardíacas em exames obstétricos de rotina. 202 Capítulo 5 Transesofágico É um exame ecocardiográfico realizado com transdutor transesofágico de 5,0MHz. A sensibilidade dessa técnica é muito maior do que a da transtorácica, pelo fato de fornecer uma qualidade de imagem superior, obtida com a eliminação da interferência das estruturas torácicas e com a utilização da fre- quência mais alta possível pela proximidade do transdutor com as estruturas analisadas. O advento da técnica transesofágica me- lhorou a precisão dos diagnósticos ecocar- diográficos em pacientes com endocardites e trouxe o conhecimento de novas caracte- rísticas ultrassônicas das estruturas cardíacas. Isso possibilitou o diagnóstico de endocardi- tes infecciosas problemáticas. Existem várias controvérsias quanto à uti- lização das duas técnicas de ultrassom cardí- aco. O exame transesofágico, somente pelo fato de fornecer uma precisão de informa- ções muito superior, é bem menos utilizado por ser, de certa forma, invasivo, o que não acontece com o transtorácico. Intracoronariano É uma técnica relativamente nova que permite uma visão mais precisa do tamanho e da composição das artérias coronarianas. A técnica é realizada com cateter ultrassôni- co mecânico intravascular de 30,0MHz. A angiografia coronária quantitativa é um método de referência para verificação das dimensões intracoronárias, fornecendo me- didas precisas e reprodutíveis dos diâmetros intraluminais da lesão. Além dos dados quantitativos, o ultrassom intracoronário fornece imagens “tomográficas” da luz e da parede arterial e possibilita a detec- ção de lesões íntimas até mesmo em regiões das artérias coronárias normais angiograficamente. Na comparação das duas técnicas, notam-se ainda algumas limitações nas medidas de área transversal dos vasos arteriais com significati- vo grau de estenose, quando analisados pelo ultrassom. Essa técnica ainda se encontra em desenvolvimento e poderá trazer uma maior compreensão da fisiologia e da fisiopatologia da árvore vascular coronária. Ultrassonografia 203 Exemplos de imagens de ultrassonografia em Cardiologia Modo B – 04 Câmaras CardíacasModo B Transversal – Valva Mitral US Doppler Tissular Modo M Eco de STRESS Modo M Anatômico 204 Capítulo 5 Exemplos de imagens de ultrassonografia em Cardiologia US Color Doppler – 04 Câmaras CardíacasModo B com Contraste US Doppler Tissular – 04 Câmaras CardíacasUS Doppler Tissular – 04 Câmaras Cardíacas US Doppler Contínuo US Doppler Contínuo Ultrassonografia 205 Referências BRASCHO, D. J.; SHAWKER, T. H. Abdominal ultrasound in the cancer patient. New York: John Wiley & Sons, 1982. CERRI, G. G.; MOLNAR, V. Doppler. São Paulo: Sarvier, 1999. CERRI, G. G.; PASTORE, A. R. Ultrassonografia em Obstetrícia e Ginecologia. São Paulo: Sarvier, 1997. CERRI, G. G.; ROCHA, D. C. Ultrassonografia abdominal. São Paulo: Sarvier, 1996. FLEISCHER, K. Diagnostic sonography: principles and clinical applications. 2. ed. New York: Saunders, 2000. FLEISHER, A. et al. Sonography in Obstetrics and Gynecology. 5. ed. New York: Appleton & Lange, 1996. HAGEN, A. Textbook of diagnostic ultrasonography. 25 Silver Anniversary Edition. 5. ed. New York: Mosby, 2002. v.1 e 2. KREMKAU, F. W. Diagnostic ultrasound: principles and instruments. 5. ed. New York: Saunders, 1998. KREMKAU, F. W. Doppler ultrasound: principles and instruments. 2. ed. New York: Saunders, 2000. McGAHAN, G. Diagnostic ultrasound: a logical approach. New York: Lippincott-Raven. 2001. PALMER, P. E. S. Manual of diagnostic ultrasound. London: Churchill Livingstone, 1999. RUMACK, R. et al. Tratado de ultrassonografia diagnóstica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan, 1999. v.1 e 2. TAYLOR, E; BURNS, W.; WELLS, J. Doppler. London: Marban, 2001. Medicina Nuclear Capítulo 6 Amaury de Castro Junior Mestre em Medicina Nuclear pela USP. Graduado em Física pela UFSCar. Espe- cialista em Medicina Nuclear pela ABFM. Sócio-consultor da Rad Dimenstein Controle de Qualidade. Coordenador do curso de Tecnologia em Radiologia do Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE), onde também é professor de Medicina Nuclear e Processamento de Imagens Digitais. Medicina Nuclear Capítulo 6 209 Amaury de Castro Junior A modalidade de imagens chamada Medicina Nuclear utiliza fontes radioativas incorporadas às moléculas utilizadas no funcionamento celu- lar de determinados tecidos do corpo. Com a técnica, é possível acompanhar a dinâmica da molécula marcada durante sua trajetória fisio- lógica, permitindo determinar se o tecido é hi- percaptante ou hipocaptante, ou seja, se tem grande ou pequena utilização do metabólito, respectivamente. Essa informação é fundamen- tal para se avaliar o funcionamento dos órgãos e dos tecidos do corpo. A característica principal da formação da imagem de Medicina Nuclear, a cintilografia, é que a fonte de radiação está no interior do corpo do paciente, ao contrário das técnicas que utilizam raios X (e por isso chama- das ‘imagens de emissão’). Abordaremos neste capítulo os conceitos básicos relacionados aos materiais radioativos, a instrumentação utilizada na Medicina Nuclear, os ambientes de um serviço de Medicina Nucle- ar, os radiofármacos mais utilizados e exemplos de protocolos de exames e orientações de ra- dioproteção. 1. Radioatividade Em 1896, o físico francês Henri Becquerel descobriu uma propriedade de alguns átomos até então desconhecida: a radioatividade. Pesquisan- do o urânio, Henri descobriu que esse material emitia radiações semelhantes às descobertas por Röentgen um ano antes. Concomitantemente, Marie Curie descobriu as mesmas propriedades em outros materiais: no rádio, que deu origem à palavra radioatividade, e no polônio, que recebeu esse nome em homenagem a Marie Curie, que era polonesa. A radioatividade está relacionada a uma instabilidade nuclear, ou seja, há átomos que possuem excesso de energia em seu núcleo. Esses átomos, chamados radioativos, emitem radiações para poder se estabilizar. Na natureza há vários 210 Capítulo 6 exemplos de materiais radioativos, entre eles tó- rio-232, urânio-238, urânio-235, rádio-226 e po- tássio-40. No entanto, os materiais radioativos mais utilizados na Medicina – tecnécio-99m, iodo- 123, iodo-131, gálio-67, tálio-201, flúor-18, entre outros – são artificiais. Os isótopos radioativos de um elemento químico podem ser chamados ra- dioisótopos. Por exemplo, o elemento químico iodo pode ter massas diferentes: Iodo-131, Iodo- 132 etc. Diz-se que são isótopos do Iodo. ou seja, existem vários tipos de decaimento radio- ativo. Os modos de decaimento dos principais elementos utilizados na Medicina Nuclear são: Emissão (b - g) Esse processo de decaimento envolve a con- versão de um nêutron em próton, com a emissão de um elétron (partícula beta-) e um antineutri- no. São exemplos de radionuclídeos que decaem por esse processo: 131I, 133Xe e 137Cs. A figura a seguir mostra o esquema de decaimento do 133Xe. Notar que existem três emissões beta com energias diferentes e seis emissões gama possíveis. Em todo o processo de decaimento, estimam-se estatisticamente as probabilidades de emissão de cada uma das radiações. Figura 1 À esquerda, isótopos estáveis de um elemento químico. À direita, os radioisótopos do mesmo elemento químico Decaimento radioativo “O decaimento radioativo resulta não ape- nas na transformação de uma espécie nuclear em outra, mas também na transformação de massa em energia” (David Sorenson). Um material radioativo torna-se estável pela emissão de radiação, pois dessa forma ele perde energia (radiação gama) e/ou massa (partículas alfa e beta). Esse processo é chamado de desintegra- ção nuclear. Cada materialradioativo tem seu pró- prio esquema de desintegração; alguns emitem apenas o raio gama (tecnécio-99m), outros, além do raio gama, também o alfa e/ou beta (iodo-131), Figura 2 Esquema de decaimento do 133Xe Transição isomérica (g) e conversão in- terna (Auger) A transição isomérica é uma forma de de- caimento intermediária que ocorre com certos elementos radioativos. Na Medicina Nuclear, o mais importante é o caso do 99mTc. O m que aparece junto ao número de massa significa metaestável, ou seja, entre a transformação do 99Mo em 99Tc por decaimento beta existe esse estado temporário do tecnécio, que, ao se esta- bilizar, não muda seu número atômico e emite um raio gama com energia de 140,5 keV. Os raios g podem ou não interagir com os elétrons das órbitas do átomo (em 89% das 133 54Xe b1 b2 b3 133 55Cs 0.384 MeV 0.161 MeV 0.081 MeV 0 }Q=0.427 MeVg4 g5 g6 g3 g1 g2 Elemento químico Núcleos estáveis Núcleos com excesso de energia (radioativos) Excesso de energia emitida em forma de matéria (partículas) radiação a radiação b emitida em forma de ondas eletromagnéticas radiação g Medicina Nuclear 211 vezes isso não ocorre) e provocar conversão interna, na qual o raio g transmite sua energia para o elétron (Auger), que é ejetado, produ- zindo a emissão de raios X característicos. Captura eletrônica (EC, g) Esse processo é representado pela reação nuclear abaixo. O elétron da camada mais in- terna do átomo reage com um próton do nú- cleo. Desta interação resulta um nêutron que permanece no núcleo, um neutrino e energia que são emitidos do núcleo. A lacuna deixa- da pelo elétron ao interagir com o núcleo é instantaneamente preenchida por um elétron de uma camada mais externa, com emissão de raios X característicos. p+ + e- n + n + E São exemplos de radionuclídeos que decaem por captura eletrônica: 57Co, 125I, 67Ga e 201Tl. Emissão de pósitrons (b+, g) A emissão de pósitrons provoca uma redu- ção no número atômico, mantendo o número de massa, como pode ser visto na reação abai- xo. Um próton se desintegra dando origem a um nêutron, que permanece no núcleo, ao pósitron e a um neutrino que são emitidos ao núcleo com a energia restante. O pósitron (e+), ou beta positivo, é uma partícula que possui a mesma massa do elétron, porém, com a carga do próton. Quando o pósitron encontra o elétron, acontece um fenômeno chamado aniquilação: duas partículas desapa- recem e são emitidos dois fótons com ener- gias iguais a 511keV e em sentidos opostos. p+ n + e+ + n + E Figura 3 Emissão de fótons em sentido diametralmente opostos e esquema de decaimento do 18F O que torna um material radioativo perigo- so ou não é a quantidade e a energia da radia- ção por ele emitida. Todo material radioativo possui certa atividade, ou seja, um número de desintegrações por segundo. Quanto maior a atividade de uma mostra de material radioa- tivo, mais perigoso o material. Em homena- gem aos descobridores da radioatividade, as unidades de medida de atividade receberam os seguintes nomes: Becquerel: 1Bq = 1 desintegração por segundo Curie 1Ci = 3,7 x 1010 Bq Uma conversão amplamente utilizada em Medicina Nuclear é: 1mCi = 37MBq Para se ter uma ideia da atividade fornecida aos pacientes em diagnóstico, em um exame de cintilografia cerebral, utilizam-se aproximada- mente 20mCi de 99mTc. Já em iodoterapia, trata- mento de disfunções das glândulas tireoides com iodo-131, a atividade pode chegar a 300mCi. 18 9 F EC 18 8 0 Q=1.655 MeV}=0.633 MeVE max b b +0.511 MeV 0.511 MeV e- b+0 212 Capítulo 6 Por segurança, os locais onde são utiliza- dos esses materiais devem ser sinalizados com o símbolo internacional da radiação ionizan- te (Figura 4), conforme a Portaria no 453, de 1/6/1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, e a Norma CNEN NN 3.01 – Diretrizes Básicas de Proteção Radioló- gica, da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Tabela 1 Velocidade de desintegração de materiais radioativos Cada material radioativo tem certa veloci- dade de desintegração. Isto significa que um material se desintegra mais rápido do que ou- tro. O parâmetro físico que determina essa velocidade é a meia-vida: tempo necessário para que metade dos átomos de uma amos- tra radioativa tenha decaído. O tecnécio-99m, por exemplo, tem meia-vida de seis horas, en- quanto a do césio-137 é de 30,7 anos. O grá- fico abaixo mostra o decaimento de uma dose de tecnécio-99m. Note que a cada seis horas haverá metade da atividade inicial. Figura 5 Decaimento de uma dose de tecnécio-99m 25,00 20,00 10,00 15,00 5,00 0,00 0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 54 57 60 63 Decaimento 99mTc A tiv id ad e (m C i) Fonte: Thrall, J.H. and Ziessman H.A. in Medicina Nuclear. Figura 4 Símbolo internacional da radiação ionizante RADIONUCLÍDEO DECAIMENTO PRINCIPAL T½ ENERGIA DO FÓTON PRINCIPAL (keV) E ABUNDÂNCIA PRODUÇÃO Molibdênio-99 Beta negativo 2,8 dias 740 (12%) Reator Tecnécio-99m Transição isomérica 6 horas 140 (89%) Gerador de 99Mo Iodo-131 Beta negativo 8 dias 364 (81%) Acelerador Iodo-123 Captura eletrônica 13,2 horas 159 (83%) Acelerador Gálio-67 Captura eletrônica 78,3 horas 93 (37%) 185 (20%), 300 (17%), 395 (5%) Acelerador Tálio-201 Captura eletrônica 73,1 horas 69-83 (Hg raios X) 135 (2,5%) e 167 (10%) Acelerador Índio-111 Captura eletrônica 2,8 dias 171 (90%) e 245 (94%) Acelerador Xenônio-127 Captura eletrônica 36 dias 172 (26%), 203 (7%) e 375 (17%) Acelerador Xenônio-133 Beta negativo 5,2 dias 81 (37%) Reator Cobalto-57 Captura eletrônica 272 dias 122 Acelerador Medicina Nuclear 213 A função matemática que descreve o proces- so de decaimento de um material radioativo é: A(t) = Ao e -l t Onde A(t) é a atividade do material no tem- po (t); Ao, a atividade inicial, e l a constante de decaimento do material, que está relacionada com a meia-vida da seguinte maneira: T1/2 = Uma maneira prática de determinar a atividade é multiplicar a atividade pelo fator de decaimento (F), A(t) = AoxF A tabela abaixo mostra os fatores de decai- mento para o tecnécio. Tabela 2 Fatores de decaimento para o 99mTc Temos que: Ao = 20 mCi Das 8h30 às 10h se passou uma hora e trinta minutos. Na tabela, 1h30 corresponde a um fa- tor de decaimento de 0,841. Logo: F = 0,841 A atividade às 10h será: A = Ao x F A = 20 x 0,841 A = 16,8 mCi 2. Formação das imagens O tecnécio A formação da imagem em Medicina Nucle- ar parte da administração do radiofármaco e sua fixação no alvo. O radiofármaco é um com- posto formado por uma solução fisiológica cujo metabólito (molécula especial) é utilizado pelas células do tecido que se quer estudar, agrega- do a um radioisótopo de meia-vida curta e que se associe facilmente à solução. Por exemplo, na imagem do miocárdio é utilizada a solução de Metoxiisobutilisonitrila (MIBI) com 99mTc, em que o MIBI é o marcador do miocárdio e o 99mTc (tecnécio), o radioisótopo. Aliás, o tec- nécio é o material radioativo mais utilizado em Medicina Nuclear. Pode-se dizer que mais de 90% dos protocolos o utilizam. O tecnécio é um emissor de radiação gama puro, ou seja, não emite radiação corpuscular. Isso faz com que a dose de radiação no tecido que está sendo estudado seja pequena. Por es- sas razões, e pelo fato de ele se associar rapi- damente com vários marcadores de tecidos, é o material mais utilizado nos procedimentos. O tecnécio é produzido em geradores de molib- dênio, que no Brasil são produzidos pelo IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). Outros radioisótopos são produzidos em reato- res nucleares (131I) ou em cíclotrons (18F). Exemplo – Considere uma seringa de 10mL de tecnécio, de um frasco cuja atividade era 20mCi às 8h30 da manhã. Qual será sua ativida- de às 10h da manhã? 0 1.000 0.891 0.794 0.707 0.630 0.561 0.500 0.445 0.397 0.354 0.315 0.281 0.250 15 0.972 0.866 0.771 0.687 0.612 0.545 0.486 0.433 0.385 0.3430.306 0.273 0.243 30 0.944 0.841 0.749 0.667 0.595 0.530 0.472 0.420 0.375 0.334 0.297 0.264 0.236 45 0.917 0.817 0.727 0.648 0.578 0.515 0.459 0.408 0.364 0.324 0.289 0.257 0.229 MINUTOS HORAS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 0,693 l 214 Capítulo 6 Figura 6 Gerador de Molibdênio-99/Tecnécio-99m O processo de extração do 99mTc (eluição) baseia-se na passagem de uma solução salina (0,9% NaCl) pela coluna de vidro que contém uma resina à base de alumina. A Figura 6 mostra os dois frascos utilizados no processo: um con- tém a solução salina e o outro, vácuo. À medida que o 99Mo decai (meia-vida de 2,8 dias), cresce Fonte: Thrall, J.H. and Ziessman H.A. in Medicina Nuclear. Fotografia 1 Embalagem de transporte do gerador de 99Mo/99mTc a quantidade de 99mTc na coluna, de forma que se deve ter um critério que estabeleça os horários das eluições ao longo do dia. Um gerador pode ser utilizado por aproximadamente duas sema- nas. Após esse período, deve ser devidamente segregado (armazenado). A fotografia abaixo mostra a embalagem de transporte do gerador. Observe as sinalizações obrigatórias. Frasco com solução salina Frasco coletor a vácuo Na99m Te01 Blindagem de chumbo Gerador de Tecnécio AGENTE 99mTc-pertecnetato de sódio 99mTc-enxofre coloidal (filtrado) 99mTc-enxofre coloidal 99mTc-pirofosfato 99mTc-difosfonato 99mTc-MAA (macroagregado de albumina) 99mTc-hemácias 99mTc-soroalbumina humana 99mTc-pentetato (ácido dietilenotriaminopentacético – DTPA) APLICAÇÃO Detecção de divertículo de Meckel Cintilografia de glândulas salivares e de tireoide Cintilografia de fígado e baço; detecção de hemorragia digestiva; cintilografia da medula óssea Linfocintilografia Infarto agudo do miocárdio Cintilografia óssea Cintilografia de perfusão pulmonar cintilografia de perfusão arterial Ventriculografia radionuclídica; detecção de hemorragia digestiva e de hamagioma hepático Imagem do compartimento sanguíneo (como a ventriculografia) Cintilografia renal e do trato urinário Ventilação pulmonar Tabela 3 Resumo dos principais agentes marcados com 99mTc e suas respectivas aplicações clínicas Medicina Nuclear 215 Laboratório A marcação do material, mistura do fárma- co com o radioisótopo, é feita no laboratório de Medicina Nuclear, também chamada “sala quente”. Nesse local são necessários procedi- mentos de radioproteção, pois ali se manipu- lam fontes radioativas não seladas, o que gera um risco de contaminação para o profissional e para o ambiente. Fotografia 3 (A), (B) e (C): Áreas de armaze- namento e descarte de materiais radioativos Fotografia 2 Laboratório de Medicina Nuclear do Hospital Israelita Albert Einstein Como se pode observar na foto do labora- tório, utilizam-se forrações que ajudam no pro- cesso de descontaminação e sinalizações dos locais onde existem materiais radioativos. (A) (B) (C) 216 Capítulo 6 Os materiais utilizados nos procedimentos de Medicina Nuclear são considerados rejeitos radioativos e devem ser armazenados adequa- damente em locais blindados e sinalizados. O serviço deve ter no local um livro de registros de movimentação de materiais radioativos que descreva exatamente as quantidades, as concen- trações de atividade, os materiais desprezados, locais de armazenamento e datas de segregação e liberação. Esses registros são obrigatórios e fazem parte de uma série de apontamentos exi- gidos pela norma CNEN NN 3.05 – Radioprote- ção em Serviços de Medicina Nuclear. Fotografia 5 Blindagem para flúor em PET Deve-se tomar um cuidado maior em PET (Pósitron Emission Tomography), particularmente quando se manipula [18F]-FDG (fluordesoxigli- cose), pois as energias dos fótons da aniquilação do pósitron são de 511keV, o que exige uma blindagem mais espessa. A imagem acima mos- tra um castelo (verde) de chumbo onde é ar- mazenado o 18F, e na sua frente um visor com dois vidros plumbíferos preenchidos com um gel atenuador. Abaixo, o castelo utilizado para seu transporte. Fotografia 4 Laboratório de manipulação de materiais radioativos A foto acima mostra uma capela de fluxo la- minar que, além de proteger o profissional das radiações emitidas pelos radiofármacos, ao pre- parar o paciente, também impede a inalação de elementos radioativos voláteis, como o 131I. Fotografia 6 Castelo de chumbo onde a dose de flúor é transportada Medicina Nuclear 217 Após a marcação, deve-se medir a atividade do material radioativo. Para isto, existe no labo- ratório um equipamento chamado curiômetro, ou calibrador de doses. O curiômetro é um de- tector de radiação do tipo câmara de ionização capaz de medir a atividade de vários radionuclí- deos utilizados na rotina da Medicina Nuclear. A medida da atividade é muito importante para que se saiba exatamente a dose administrada no paciente. Por isso, o procedimento correto é fa- zer a leitura da atividade diretamente na seringa pouco antes da injeção. Pode se fazer a leitura a qualquer momento se a atividade for corrigida considerando o decaimento radioativo. Fotografia 8 Geiger-Müller e sonda pancake A imagem As técnicas de imagens por Medicina Nucle- ar dividem-se em imagens planas, Single Photon Emission Computadorized Tomographic (SPECT) e Positron Emission Tomography (PET). A principal característica da formação da imagem em Medi- cina Nuclear é que a fonte de radiação está no interior do corpo do paciente, e o equipamen- to responsável pela formação da imagem tem por objetivo encontrar a distribuição do mate- rial radioativo no corpo, como na figura abaixo, que mostra a distribuição de 99mTc no miocárdio. Quanto mais precisa essa determinação, mais se- gurança o médico terá ao diagnosticar. Fotografia 7 Curiômetro Além do curiômetro, também são utilizados o contador Geiger-Müller e a sonda pancake, que são os detectores de radiação responsá- veis pelas medidas de taxa de exposição e con- taminação, respectivamente. Seu uso é diário. Recomendam-se duas medidas ao dia, uma pela manhã, antes de iniciar o trabalho, e outra no meio do dia, em pontos predeterminados e de provável contaminação. Esse procedimento evita exposição desnecessária à radiação. Fotografia 9 Cintilografia do miocárdio: cortes que representam o eixo menor cardíaco 218 Capítulo 6 As cintilografias têm por objetivo, na maior parte das vezes, avaliar o funcionamento meta- bólico dos tecidos e órgãos, ou seja, a fisiologia, enquanto as demais técnicas, como a tomogra- fia e a ressonância, buscam principalmente de- talhes anatômicos. É por essa razão que a fusão de imagens multimodalidade tornou-se tão im- portante. É o caso do PET/CT, que une imagem de PET (fisiológica) com imagem de CT (anatô- mica), possibilitando ao médico analisar numa mesma imagem a atividade funcional e a locali- zação precisa. Em oncologia, por exemplo, esse recurso contribui para a diferenciação entre um tumor maligno e um benigno. A formação da imagem deve necessariamen- te seguir a sequência: Amostragem angular Tempo por projeção Ângulo varrido Raio de rotação Modo byte ou Word Colimador Processamento • Reconstrução tomográfica • Redução de ruído • Evidenciamento do contraste • Restauração da resolução espacial • Detecção e evidenciamento de bordas • Classificação e extração de padrões • Cálculo de parâmetros metabólicos e funcionais • Fusão de imagens Fotografia 10 Equipamento SPECT de duas cabeças Os equipamentos utilizados para formar ima- gens em Medicina Nuclear podem ser chama- dos de gama-câmara, câmara Anger ou câmara de cintilação. Esses equipamentos consistem em um detector de radiação gama, um sistema digital de processamento dos sinais e um computador. Em SPECT, o detector é composto pelo colima- A qualidade da imagem produzida depen- de da execução de cada etapa da formação da imagem acima. Caso ocorra erro em uma das etapas, isso provocará uma alteração chamada “artefato”, que poderá induzir a diagnóstico fal- so positivoou falso negativo. Por isso, é funda- mental prestar atenção aos fatores que podem interferir na imagem. Abaixo uma relação de procedimentos a observar. Administração do radiofármaco Especificidade do radiofármaco – Órgão de interesse Dose administrada (atividade) – ALARA Extravasamento Aquisição da imagem Tempo de concentração do radiofármaco Posicionamento do paciente Ajuste dos parâmetros de aquisição Janela de energia Tamanho da matriz Tempo de concentração do radiofármaco Administração do radiofármaco Aquisição da imagem Processamento da imagem Medicina Nuclear 219 dor, que tem função parecida com a da grade no equipamento de raios X, ou seja, impedir que fótons espalhados entrem na imagem; o cristal, que converte o raio gama em luz (normalmente é de NaI(Tl) – iodeto de sódio ativado com tálio), e válvulas fotomultiplicadoras, que convertem a luz proveniente do cristal em pulso elétrico. Um aparelho pode ter uma ou duas cabeças de de- tecção, ou seja, um ou dois detectores. A grande vantagem de um aparelho de duas cabeças é po- der adquirir a imagem em um tempo menor, pois ele detecta o dobro da quantidade de radiação quando comparado com o de uma cabeça. Em todo sistema formador de imagens exis- te um transdutor, que é o instrumento que converte um tipo de energia em outro. Assim é com as imagens de ultrassom, nas quais o trans- dutor é uma cerâmica piezoelétrica que con- verte pulsos mecânicos (ultrassom) em sinais de voltagem. Em SPECT, esse processo é executa- do pela câmara cintilográfica que, grosso modo, detecta e converte um pulso de raio gama em sinal elétrico. Na realidade, existem na câmara dois transdutores: o cristal de NaI(Tl), que cap- tura um fóton de raio gama e emite uma cin- tilação, e as fotomultiplicadoras, que recebem o fóton da cintilação e, por um processo de amplificação, emitem sinais elétricos. A Figura 7 mostra os principais componentes do sistema de formação de imagens em SPECT. Figura 7 Sistema de formação de imagens em SPECT Colimador Cristal – NaI (TI) Fotomultiplicadoras Raio g Câmaras digitais Pré-amplificador A D C Pulso X Pulso Y COMPUTADOR Display Circuito diferença “Posição” Multicanal Circuito soma “Energia” Pulso Z 220 Capítulo 6 A função da câmara cintilográfica é detectar a quantidade de fótons emitidos por compostos marcados com radionuclídeos concentrados em algum órgão ou tecido de interesse e selecio- nar os fótons que devem compor a imagem. Sua composição, normalmente usada no processo de aquisição em Medicina Nuclear, é a seguinte: a) Colimador b) Cristal de NaI(Tl) c) Conjunto de fotomultiplicadoras d) Pré-amplificador e) Circuitos eletrônicos Figura 8 Componentes da câmara cintilográfica CIRCUITOS ELETRÔNICOS – Analisados de altura de pulso – Circuitos de soma – Circuitos de diferença Pré-amplificador Conjunto de fotomultiplicadoras Cristal de NaI (TI) Colimador Medicina Nuclear 221 A função básica do colimador é selecionar os fótons incidentes no plano da câmara de acordo com sua energia e direção. Os fótons encon- tram o cristal e, consequentemente, provocam cintilação. Assim, são projetados colimadores para cada aplicação. O colimador caracteriza-se por sua geo- metria e pelo material de que é constituído. O colimador mais usado é o de furos paralelos, constituído de chumbo ou de alguma liga metá- lica. A geometria do colimador, ou seja, o com- primento e o diâmetro dos furos e a espessura da parede septal, influi bastante na qualidade da imagem adquirida, particularmente na resolução espacial. Quanto maior o diâmetro e menor o comprimento, mais fótons entrarão pelos furos, conforme ilustrado na Figura 9, quando o ideal seria que penetrassem apenas os fótons cujas di- reções fossem paralelas ao furo. Assim, a resolu- ção espacial é pior do que com um colimador de menor diâmetro e maior comprimento. Os coli- madores de furos paralelos mais comuns são os de alta resolução, ultra-alta resolução, alta sen- sibilidade e de baixa energia e propósito geral. Além do colimador de furos paralelos, exis- tem também os colimadores convergentes, divergentes e os de um único furo em forma de cone (pinhole). Cada um tem aplicações específicas funcionando ora com lentes de au- mento ora como lentes de redução. No cristal, após a absorção de energia do fó- ton incidente, através de ionização e excitação, há a reemissão da energia. Essa reemissão se faz de várias formas, entre elas pela emissão de luz visível, processo conhecido como lumines- cência. Os materiais dotados dessa capacidade são, então, chamados de cintiladores, e os de- tectores compostos por eles são chamados de detectores de cintilação. O detector cintilador de NaI(Tl) é utiliza- do para detecção de radiação gama (100keV a 3MeV) por apresentar alta eficiência, pois pro- duz um fóton de luz visível com aproximada- mente 30eV de energia absorvida, por sua alta densidade, que lhe confere alto poder de frea- mento, e seu alto número atômico, que aumen- ta a probabilidade do efeito fotoelétrico. Um detector típico de NaI(Tl) utilizado para detecção de raios gama é constituído de um sistema eletrônico que contém, além do cristal, uma válvula fotomultiplicadora, uma base com circuito divisor de tensão, um pré-amplificador, um circuito amplificador e um analisador multi- canal, como mostra a figura a seguir. Figura 9 Colimadores de furos paralelos Alta Resolução Ultra-Alta Resolução Uso normal 222 Capítulo 6 Figura 10 Eletrônica envolvida no sistema de detecção com NaI(Tl) Através de interações do fóton (raio g) com o cristal, por efeito fotoelétrico ou espalhamen- to Compton, são produzidas cintilações. Estas são detectadas pelas válvulas fotomultiplicado- ras que produzem pulsos de corrente que são amplificados, retificados e convertidos pelo ADC em sinais lógicos (código binário). Estes são organizados em um histograma através do analisador multicanal. Com o histograma (espectro de energia) for- mado é possível obter dados sobre o detector e a fonte emissora. Para fins de processamento de imagens em Medicina Nuclear, o cristal de NaI(Tl) deve ter diâmetro grande (~ 40cm) e espessura bem de- finida, aproximadamente 9,5mm, pois esta influi sensivelmente na qualidade da imagem, espe- cialmente na resolução espacial. Essa influência é bastante simples de se verificar, pois quanto mais espesso o cristal, maior a probabilidade de o fóton de cintilação sofrer um espalhamento e não encontrar a janela óptica (Figura 11), ou en- tão, registrar uma posição diferente da original. Figura 11 Ampliação do sistema detector A figura abaixo mostra uma válvula foto- multiplicadora de 10 dinodos. Há uma varie- dade de modelos no mercado, cada qual com uma finalidade. Figura 12 Válvula fotomultiplicadora O funcionamento do tubo fotomultiplica- dor baseia-se no efeito fotoelétrico e no espa- lhamento Compton. Quando passa pela janela óptica, o fóton de luz encontra o fotocatodo, no qual ocorrerá o efeito fotoelétrico, surgin- do deste um fotoelétron. Este é atraído ao primeiro dinodo devido a uma diferença de potencial elétrico provocada por um circuito divisor de tensão. Então, quando atinge o di- nodo, o elétron provoca o aparecimento de novos elétrons livres, por efeito Compton. Es- tes agora são atraídos para o próximo dinodo, NaI (TI) ns Pré- Amplificador ~50ms 1m s Analisador multicanal Alta-tensão BaseFotomulti- plicadora Fotomultiplicador Janela óptica Luz visível (cintilação) Cristal NaI (TI) Refletor Colimador Centro luminescente Dinodo Anodo Janela óptica Fotocatodo Foco Blindagem Medicina Nuclear 223 também por diferença de potencial, de forma que esse processo de reação em cadeia ampli- fica o número de elétrons a cada dinodo. No final, esse sinal de corrente é convertido em um sinal de voltagem no anodo. A câmara cintilográfica utiliza várias válvulas deste tipo para cobrir toda a área delineada pelo cristal.Algumas câmaras utilizam fotomul- tiplicadoras de formato hexagonal, outras em formato circular e há ainda aquelas que usam os dois tipos. Existe uma relação direta entre o número de fotomultiplicadoras e a resolução do sistema detector. Além disso, cada válvula é regulada para aumentar/diminuir a amplificação do sinal (ganho). Uma característica do detector da câmara cintilográfica, NaI(Tl) com fototubo, é a produ- ção de sinais com baixa amplitude. Além disso, esse sistema, assim como os demais detectores de radiação, oferece uma impedância de saída alta. O objetivo do pré-amplificador é justa- mente amplificar e retificar o sinal proveniente do detector. Os circuitos eletrônicos mais importantes da câmara são: o circuito de diferença (ou de posi- cionamento) e o circuito de soma (ou de ener- gia). O circuito de posicionamento trabalha com uma rede de capacitores ligados em sé- rie com as fotomultiplicadoras e em paralelo entre si. Sua função é determinar a posição de uma cintilação sobre o cristal através de uma média ponderada. O circuito soma, ou de energia, cuida da se- leção dos fótons pela energia. Esta é propor- cional à altura do sinal (Z). Para isso utiliza-se um analisador multicanal que seleciona a região do espectro de energia que formará a imagem. Normalmente adota-se um intervalo de +/- 20% em relação ao fotopico, dependendo da sensibilidade do sistema. A esse intervalo dá- -se o nome de janela de energia. Por exemplo, para o 99mTc onde o fotopico se encontra em 140keV, serão contados fótons para formação da imagem de energia entre 112keV e 168keV. A largura da janela não pode ser muito grande (>20%) – pois ela entra na região de fótons secundários (espalhamento) – nem pequena demais (<10%), pois o número de fótons con- tados seria baixo. As características de desempenho do sistema detector e da eletrônica do siste- ma apresentam limitações intrínsecas e extrínsecas. As limitações intrínsecas são aquelas devidas a mau funcionamento do equipamento. Por exemplo, diferença de calibração do ganho das fotomultiplicado- ras, resposta do circuito de posicionamento que não corresponde com a posição real da cintilação, problemas com o ADC. Já as li- mitações extrínsecas correspondem à fonte emissora, por exemplo, na análise da uni- formidade com uma fonte plana, a própria fonte pode não ser totalmente plana e ter regiões de maior concentração de material radioativo, além do ruído randômico provo- cado por baixas taxas de contagem. Nesta seção discutiremos alguns parâmetros utili- zados para medir a performance da câmara e os níveis mínimos de aceitação convencio- nados por órgãos nacionais e internacionais. Não linearidade As câmaras de cintilação dificilmente de- terminam com precisão o posicionamento da cintilação. Essa imperfeição resulta em não- -linearidades, que é uma limitação intrínseca do equipamento. Essas não linearidades, por sua vez, provocam não uniformidades na ima- 224 Capítulo 6 gem. A não lineariadade pode ser causada por distorções: do tipo almofada ou do tipo barril, como mostra a Figura 13. pela possibilidade de causar falsos positivos ou falsos negativos, ou seja, diagnósticos er- rôneos. Portanto, deve-se verificar a unifor- midade diariamente. Algumas causas primárias de não uniformi- dades: 1) Não uniformidade da eficiência de detec- ção causada principalmente pela pequena diferença no espectro de altura de pulso ou pela falta de sintonia das fotomultipli- cadoras (calibração) 2) A não linearidade é o fator mais impor- tante, pois causa falsas regiões “quentes” devido ao efeito almofada, ou “frias”, pelo efeito barril, no centro da imagem 3) O mau funcionamento dos instrumentos, como a não uniformidade do brilho ou impressões digitais no tubo de raios ca- tódicos (CRT) 4) Mau posicionamento da janela em rela- ção ao fotopico. Uma forma de contornar o problema da não uniformidade é ajustar os ganhos dos tu- bos fotomultiplicadores individualmente, atra- vés do deslocamento da janela do analisador de altura de pulso em relação ao fotopico. Al- gumas câmaras usam circuitos computadoriza- dos, microprocessadores programáveis, para corrigir e arquivar imagens; portanto, é possí- vel efetuar correções muito mais rapidamente. Para análise de uniformidade, frequentemente se usa uma matriz pequena (64x64) para guar- dar a imagem em formato digital na forma de densidade de informação (contagem/área). Então, quando a densidade aumenta (e a área diminui), melhoram as condições de avaliação da uniformidade. Sobre essa matriz são feitas operações que objetivam normalizar a ima- gem, ou seja, aumentar a intensidade de regi- ões frias e diminuir a de regiões quentes. Esses artefatos são detectados quando a câmara é Figura 13 Tipos de distorções do sistema de formação de imagens que causam não linearidades As causas de não linearidades mais frequentes são aquelas que decorrem da diferença da eficiên- cia entre tubos fotomultiplicadores (variação do ganho), uma vez que todas devem responder da mesma forma a uma mesma cintilação, ou de de- feitos de fabricação das fotomultiplicadoras. A detectabilidade de uma não lineariadade é feita, por exemplo, com a aquisição da imagem de um phantom de barras paralelas. É um mé- todo subjetivo, pelo fato de ser visual. As cor- reções propostas para as não linearidades são realizadas por hardware ou por software. Ajus- tar o mapa de ganho das fotomultiplicadoras é uma forma de correção por hardware existente na maioria das câmaras. A correção por software baseia-se em um método de reposicionamen- to dos pontos através da adição de um fator de deslocamento, usando, para isto, matrizes de correção para cada coordenada x e y. Não uniformidade A não uniformidade é o maior problema na utilização de imagens em Medicina Nuclear, Tipo almofada Tipo barril Medicina Nuclear 225 submetida a uma fonte de radiação uniforme, como uma fonte pontual ou uma fonte plana. Atualmente, as câmaras modernas, também chamadas digitais, usam um microprocessador que programa as matrizes de correção para di- ferentes regiões do espectro de altura-de-pulso e para distorções de posição, de forma que a correção é feita já no processo de aquisição da imagem. Esse microprocessador utiliza medidas de fabricação para a calibração do ganho das fo- tomultiplicadoras. As vantagens desse método são as seguintes: primeiro, em termos quantita- tivos, permite gerar imagens nas quais o núme- ro de eventos registrados por unidade de área é representado com maior precisão e, segun- do, as matrizes de correção são estáveis com o tempo, aplicáveis a todos os radionuclídeos e condições da imagem, enquanto o primeiro método exige diferentes matrizes de correção para diferentes radionuclídeos, bem como dife- rentes janelas de energia. O cálculo da uniformidade segundo o pro- tocolo da Associação Nacional de Fabricantes de Equipamentos Elétricos (NEMA) de 1980 se divide em uniformidade integral e uniformidade diferencial. A equação através da qual se calcula a uniformidade integral é: I+ = (Cmáx - Cm)/Cm x 100% e I- = (Cmín - Cm)/Cm x 100% onde Cmáx e Cmín são as contagens nos pi- xels máximo e mínimo, respectivamente, e Cm a contagem média. Ou, de acordo com Graham et al. (1995), UI = (Cmáx - Cmín)/(Cmáx + Cmín ) x 100% O cálculo da uniformidade diferencial é dado pela equação: D = ∆C/M x 100% onde ∆C é a máxima diferença na contagem de dois pixels adjacentes e M é a maior conta- gem dos dois pixels. Em SPECT, o problema da não uniformidade é ainda mais grave do que o caso de imagens planas. Uma não uniformidade da ordem de 1% numa projeção plana pode gerar uma não uniformidade tomográfica da ordem de 10%, justamente porque SPECT faz a sobreposição dessas projeções planas. Assim, é necessário que as projeções sejam corrigidas para não uni- formidades antes da execução do algoritmo de reconstrução. As instituições nacionais e inter- nacionaisque cuidam do controle de qualidade em Medicina Nuclear sugerem que o nível de não uniformidade não passe de 5% em SPECT. Resolução espacial A resolução espacial é uma característica da câmara cintilográfica que define a habilidade do equipamento em distinguir duas fontes de radia- ção próximas. A medida da separação das fontes dá o valor da resolução espacial da câmara. Define- -se como resolução espacial intrínseca a resolução obtida sem o colimador e extrínseca, com o coli- mador. Na forma intrínseca o número de fótons detectados aumenta bastante, porém, o ruído é evidenciado. Além disso, quando temos altas taxas de contagens também surgem problemas, como a diminuição do contraste; portanto, perda da re- solução espacial, e o principal deles, o efeito de empilhamento (pulse-pileup), que causa perdas de contagem e aumenta o tempo morto (Figura 14). A resolução espacial intrínseca tem as se- guintes dependências: 1) Flutuações estatísticas: A distribuição de fótons de luz que incidem sobre a foto- multiplicadora varia, de acordo com a dis- tribuição de Poisson, de um evento para outro, da mesma forma que o problema do decaimento radioativo. 2) Espessura do cristal: Quanto mais fino, mais precisa a localização da cintilação. 226 Capítulo 6 3) Energia da fonte: A resolução espacial é diretamente proporcional à energia da fonte, por exemplo, quando a energia da fonte é baixa (número de fótons re- duzido), aumenta a flutuação estatística e portanto, a resolução diminui. 4) Número de tubos fotomultiplicadores. FWHM na função de dispersão pontual (PSF) ou linear (LSF), conforme ilustrado abaixo: Figura 14 Efeito de pulse-pileup (empilhamento) quando o número de contagens aumenta A resolução espacial total do sistema é obti- da com a combinação entre a resolução do de- tector (intrínseca) e a resolução do colimador (extrínseca). A expressão que fornece a resolu- ção do sistema [Sorenson87], a FWHM (largura máxima a meia altura do fotopico), como é nor- malmente conhecida, é dada por: onde Rs, Ri e Rc são as resoluções do siste- ma, intrínseca e do colimador, respectivamente. A resolução espacial intrínseca do detector e a resolução do colimador são determinadas com o uso de uma fonte pontual ou linear. A resolu- ção é encontrada manualmente calculando-se a Figura 15 Fonte pontual e respectiva PSF A resolução espacial também tem uma re- lação direta com a distância da fonte até o de- tector, como mostra o gráfico da Figura 16. Além dos fatores acima, deve-se incluir nos cálculos da resolução um fator de espalha- mento devido à detecção de fótons secundá- rios, de forma que a expressão da resolução dada acima fique assim: Figura 16 Dependência da resolução espacial com a distância da fonte Razão de Temp PSF FWHM Ri=8 Ri=4mm Ri=0 Distância da fonte (cm) Rs 1. 1. 0. 0. 0 2 6 10 14 18 Medicina Nuclear 227 Sensibilidade A sensibilidade do sistema detector, cristal e colimador é sua capacidade de detectar e contar fótons que são emitidos pela fonte. Quantitativa- mente, a sensibilidade pode ser encontrada di- vidindo-se o número de fótons registrados pelo número de fótons emitidos pela fonte. Resolução energética A resolução energética está vinculada ao tipo de detector que está sendo utilizado. Para a de- tecção de radiação gama, os dois detectores mais utilizados são os cintiladores e os semicon- dutores. Os detectores semicondutores, como o Ge(Li), têm uma resolução energética muito superior à do NaI(Tl). Porém, do ponto de vis- ta prático, eles são bastante complicados (por exemplo, na necessidade de operar em tempe- raturas da ordem do nitrogênio líquido). Essas e outras limitações dos semicondutores tornam o NaI(Tl) mais viável. Perde-se em resolução, mas ganha-se em eficiência. O cálculo da resolução energética é bastante simples. Encontramos a FWHM do espectro de energia e então a dividimos pela energia do fó- ton do fotopico (Eg), ou seja: corrigido de duas formas: através de uma ca- libração das fotomultiplicadoras por um ajuste óptico ou por radiação, ajuste fino, ou através de software [King85], centralizando o centroi- de do fotopico de todos eventos e fazendo sua composição. Esta correção é feita através de uma matriz constituída de um mapa de ganhos locais obtidos individualmente para cada foto- multiplicadora. Centro de rotação O centro de rotação é um parâmetro do processo de aquisição das imagens em SPECT que muito influi no processamento. O algo- ritmo de reconstrução tomográfica utiliza um valor para o centro de rotação que precisa coincidir com as coordenadas físicas. Quando isso não acontece, justamente porque o cen- tro de rotação não foi corretamente ajustado, as imagens reconstruídas perdem contraste, ocorrem distorções na forma, deslocamentos laterais, no caso de aquisições em 180°, como no exame de perfusão miocárdica. Controle da qualidade Como a formação da imagem em Medicina Nuclear envolve muitas variáveis, em cada fase do processo – da fabricação do radiofármaco à impressão da imagem final – é necessário con- trolar alguns parâmetros condicionantes da boa qualidade. Existem vários protocolos de garan- tia da qualidade que servem de diretriz para a rotina de um serviço de Medicina Nuclear, entre eles as publicações do: TecDoc da IAEA (1991), NEMA (2001), AAPM – Associação Americana de Física Médica (1987) e CNEN (1996). A importância do controle da qualidade é evidente, pois, se em algum momento um A baixa resolução em energia das gama-câ- maras guia a uma mistura na detecção de fótons primários e espalhados que são indistinguíveis após a aquisição. Além disso, distorções no sis- tema de formação de imagens fazem o centroi- de do fotopico de energia variar ao longo das fotomultiplicadoras. Essas variações degradam o espectro de energia e, consequentemente, a resolução energética. Esse problema pode ser 228 Capítulo 6 dos parâmetros divergir consideravelmente dos valores aceitáveis, certamente todo o processo de criação da imagem estará com- prometido. A falta de um controle de qualida- de rigoroso pode induzir a diagnósticos equi- vocados pela identificação de artefatos que na realidade inexistem. Anteriormente descrevemos alguns parâme- tros instrumentais que são avaliados no contro- le da qualidade. Os protocolos mencionados acima indicam a periodicidade com que estes testes devem ser executados, como na tabela abaixo, e os seus respectivos valores com as de- vidas tolerâncias. TESTES Medida da radiação de fundo Calibração de energia Uniformidade extrínseca Uniformidade intrínseca Resolução espacial extrínseca Linearidade Resolução energética Calibração do centro de rotação Tamanho do pixel PERIODICIDADE Diária Diária Diária Semanal Semanal Semanal Mensal Mensal Semestral Tabela 4 Tipos e frequência de testes de controle da qualidade recomendados para a câmara de cintilação Há duas maneiras de controlar a qualidade das imagens em Medicina Nuclear: uma delas é através da mensuração de algumas grandezas físicas relevantes no processo de aquisição e a outra através da habilidade do observador em detectar com nitidez a resolução e artefatos produzidos pelo sistema. Essas duas modalida- des são chamadas de forma objetiva e forma subjetiva, respectivamente. Os fatores utiliza- dos para caracterizar uma imagem são a resolu- ção espacial, o contraste e o ruído. A resolução espacial pode ser encontrada de duas maneiras. A primeira consiste em usar de um phantom de barras paralelas, ou um phan- tom de furos ortogonais, que tem diferentes dimensões e analisar visualmente qual a menor dimensão que pode ser reconhecida, portanto, uma forma subjetiva de analisar a resolução. A segunda utiliza o conceito de função de trans- ferência (MTF), que dá uma especificação mais detalhada da resolução espacial (SORENSON, 1987), que pode ser considerada a maneira ob- jetiva de análise da imagem. O contraste é medido pela diferençade tons de cinza determinados pela escala do histogra- ma ou pela intensidade do brilho. O contraste do filme e a atividade de fundo são fatores pre- ponderantes na avaliação do contraste. O con- traste é calculado para duas situações: a) Sem radiação de fundo Medicina Nuclear 229 onde R1 e Ro são, respectivamente, a razão de contagens na região de interesse e numa região adjacente. b) Com radiação de fundo (Rb) Alguns autores [Links93] afirmam que a fun- ção mais importante do processamento da ima- gem é reduzir o ruído e, dessa forma, aumentar a SNR (relação sinal-ruído), que, em Medicina Nuclear, é bastante baixa. Percebe-se claramente da expressão acima que o contraste diminui quando a radiação de fundo está presente. Porém, o espalhamento e a penetração septal são os maiores responsá- veis pela redução do contraste na imagem. O processo de reconstrução tomográfica contri- bui para a minimização desses efeitos, corrigin- do a superposição de atividade em diferentes estruturas, melhorando, dessa forma, o con- traste da imagem. O ruído existente no processo de aquisição da imagem provém de duas fontes: efeitos ins- trumentais, conhecidos como ruído estrutural, e o processo de decaimento radioativo que, por natureza, tem um comportamento aleatório. Este tipo de ruído é chamado estatístico. O ruí- do estatístico é definido em termos da densida- de de informação (cts/cm2) e segue a estatística de Poisson, como descrito a seguir. A densidade de informação é dada por ID (cts/cm2) = R.t onde R é a razão de contagem e t, o tempo de aquisição. O número de contagens registra- das será dado por N = A x ID onde A é a área. E o desvio do padrão, ou simplesmente desvio, no valor do pixel será dado por ou (relação sinal-ruído para imagem plana) (relação sinal-ruído para imagens de SPECT) onde R é o número de pixels reconstruídos que contêm contagens. Parâmetros de aquisição A aquisição de imagens em Medicina Nuclear envolve a escolha de vários parâmetros cuja combinação deve ser criteriosamente es- tudada para otimizar o processo de criação da imagem. Destacaremos nesta seção alguns des- ses parâmetros e seus significados. A janela de energia é a região de energia na qual o sistema irá reconhecer os fótons para a formação da imagem. A janela de energia é cen- tralizada no fotopico característico do radionu- clídeo em estudo com um delta que varia, de acordo com a resolução energética do sistema, de mais ou menos 10% a 20% da energia do fotopico. Podem ser incluídas outras janelas ao longo do espectro de energia com o objetivo de identificar o número de fótons espalhados que foram contados na janela do fotopico. Essa abordagem será detalhada mais adiante, na se- ção Correções. O tamanho da matriz e a amostragem angu- lar (número de projeções) são relacionados no teorema de amostragem dado pela equação 2.4 230 Capítulo 6 [Bailey95], ou seja, para uma gama-câmara cuja resolução for de aproximadamente 8-10mm, a matriz de amostragem linear seria de 4-5mm por pixel (FWHM/2). Um CFOV (Central Field of View) de aproximadamente 300mm de raio resultaria em uma matriz de 60x60. é balancear entre resolução e sensibilidade. Os colimadores de alta resolução são os mais indicados em SPECT, pois a perda em sensi- bilidade pode ser corrigida com a técnica de amplificação do sinal (SAT). onde M é o número de elementos amostra- dos na projeção, isto é, 64, 128, 256. O tempo por projeção é o tempo no qual o detector irá contar os fótons em cada projeção. Em SPECT esse tempo fica em torno de 20 se- gundos por projeção. Esse parâmetro é influen- ciado pela estatística de contagem, pela dose administrada ao paciente, que, pelo princípio ALARA, deve ser a menor possível, sem falar na posição do paciente, bastante incômoda. O ângulo varrido é o arco total no qual as pro- jeções serão adquiridas. Em SPECT este ângulo pode ser 180° ou 360° dependendo do tipo de estudo que está sendo realizado. Quando o ór- gão em estudo se encontra numa região perifé- rica de um lado do corpo, a aquisição deve ser realizada em 180°, como é o caso das imagens de perfusão do miocárdio com 201Tl. Para SPECT cerebral utiliza-se um arco de 360°. O raio de rotação deve ser o menor possí- vel, pois a resolução do sistema diminui com o aumento da distância, conforme gráfico mos- trado anteriormente. A escolha do colimador se divide entre re- solução e sensibilidade. Em geral, essas duas características são inversamente proporcio- nais, ou seja, um colimador de alta resolução tem baixa sensibilidade. Neste caso, a relação sinal-ruído (SNR) nos dados da aquisição piora. Por outro lado, os colimadores de baixa re- solução, mas de alta sensibilidade, reduzem o contraste na imagem. Portanto, a alternativa Figura 17 Colimadores Formação de Imagens em PET A tomografia por emissão de pósitrons (PET) assemelha-se ao SPECT no que diz respeito aos procedimentos de preparo do paciente, admi- nistração do radiofármaco e pelo fato de utilizar fontes radioativas. Porém, existem grandes di- ferenças no tipo de radiação, no mecanismo de detecção e no processamento. Em primeiro lu- gar, deve-se injetar um radioisótopo, que é um emissor b+ (pósitron), por exemplo, o 18F, que tem meia-vida de 110 minutos. Esse material é produzido em um cíclotron e, pelo fato de ter meia-vida curta, deve ser levado rapidamente ao hospital, o que restringe o uso do PET a hospitais situados a até 100 km do local onde é produzido. O pósitron emitido encontra um elétron (b- ), e então acontece um fenômeno chamado aniquilação, em que as partículas desaparecem e são produzidos dois fótons gama de energia igual a 511keV em sentidos opostos. A imagem Colimadores: Sensibilidade x Resolução Resolução Sensibilidade TIPOS: Ultra-alta resolução Alta resolução Propósito geral Alta sensibilidade FATORES GEOMÉTRICOS: Comprimento do furo Diâmetro do furo Espessura septal Medicina Nuclear 231 de PET será formada pela detecção em coinci- dência desses dois fótons. Utiliza-se na rotina a sigla FDG (fluordesoxiglicose), ou seja, flúor-18 marcado com glicose. Quanto maior a concen- tração de FDG no tecido, mais eventos de ani- quilação serão detectados, o que significa maior atividade metabólica. Porém, durante esse processo podem acontecer interações dos fótons com o corpo do paciente e, em função disso, existir even- tos verdadeiros e falsos. Os falsos eventos acontecem devido ao espalhamento Compton e a eventos chamados de randômicos, quan- do duas aniquilações são contadas como uma, mas em local errado. Esses falsos eventos pre- judicam a qualidade da imagem de PET, pois incluem contagens de eventos em locais ina- dequados. A figura abaixo mostra a diferença entre um evento verdadeiro, um provocado por espalhamento e outro randômico. Figura 18 Aniquilação – Pósitron encontra um elétron O processo de detecção dos fótons pelo equi- pamento de PET envolve um circuito de coinci- dência, que trabalha com uma janela de tempo de aproximadamente 10ns. Isso torna a eletrônica do PET bastante sofisticada. Quando um fóton é detectado, o circuito abre a janela de tempo. Se neste intervalo de tempo outro fóton for detec- tado, será registrado um evento de coincidência, conforme figura abaixo. Figura 20 Eventos: (1) Verdadeiro, (2) Randômico e (3) Espalhado 0.511 MeV 0.511 MeV e- b+0 1 3 2 2 Detector 1 Detector 2 18 F-FDG b+ Coincidência de detecção tempo Evento 2 Evento 1 pu lso 1 pu lso 2 ovelap g(511 KeV) g(511 KeV) b+ + e- Figura 19 Processo de detecção de fótons PET 3 2 232 Capítulo 6 Em PET a quantidade de eventos detectados é dividida entre eventos verdadeiros e falsos. Os falsos são compostos pelos espalhados e randômicos. A taxa de contagens total é dada pela soma, ou seja, Os eventos espalhados e randômicos são indesejados, pois incluem contagens em lo- cais indevidos. As quantidades desses eventos aumentam com a dose, de