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1 2 Sumário ....................................................................................................................................................... 1 Classificadores em Libras .............................................................................................................. 3 O que são classificadores? ....................................................................................................... 3 Acessibilidade em Libras é obrigatória .............................................................................. 39 ( Texto de : Tanya A. Felipe ) ................................................................................................... 78 Intensificador e Advérbio de modo ....................................................................................... 105 3 Classificadores em Libras O que são classificadores? Para as línguas de sinais a reprodução da forma, do movimento de sua relação espacial é fundamental, logo a criação de sinais icônicos é um fenômeno natural e é o que chamamos também de Classificadores em Língua de Sinais. Os classificadores permitem tornam mais claro e compreensível o significado do que se quer enunciar. Em Libras os classificadores descritivos “desempenham uma função descritiva podendo detalhar som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, formas em geral de objetos inanimados e seres animados”. (PIMENTA e QUADROS, p.71, 2006). 4 Um classificador (CL) é uma forma que estabelece um tipo de concordância em uma língua. Nas línguas do mundo as classificações podem se manifestar de várias formas. Podem ser: • uma desinência, como em português, que classifica os substantivos e os adjetivos em masculino e feminino: menina - menino; • pode ser uma partícula que se coloca entre as palavras; • e ainda pode ser uma desinência que se coloca no verbo para estabelecer concordância. Ao se atribuir uma qualidade a uma coisa como, por exemplo: arredondada, quadrado, cheio de bolas, de listras e etc, isso representa um tipo de classificação porque é uma adjetivação descritiva, mas isso não quer dizer que seja, necessariamente, um classificador como se vem trabalhando este conceito nos estudos lingüísticos. Para os estudiosos deste assunto, um classificador é uma forma que existe em número restrito em uma língua e estabelece um tipo de concordância. Já sabemos que para as línguas de sinais a descrição, a reprodução da forma, o movimento e sua relação espacial, são fundamentais, pois tornam mais claros e compreensíveis os significados do que se quer enunciar, estamos nos referindo então aos classificadores em Libras. Na LIBRAS, os classificadores são formas representadas por configurações de mãos que, relacionadas à coisa, pessoa e animal, funcionam como marcadores de concordância. Assim, na LIBRAS, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as precedem, pode vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Portanto os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA. 5 Leitura obrigatória: FELIPE, T. (2002) Sistema de flexão verbal na libras: os classificadores enquanto marcadores de flexão de gênero. Anais do Congresso Nacional do INES de 2002. O uso do espaço é uma característica fundamental nas línguas visual- espaciais e está presente em todos os níveis de análise. No que se refere ao nível fonológico, um mesmo sinal pode ser realizado em diferentes locais, dentre eles o espaço neutro, que corresponde à área localizada na frente do sinalizante. Dependendo do ponto utilizado no espaço para a realização de um sinal, pode haver a produção de sinais com diferentes referentes. Referente é o que é indicado/referido no contexto relacionado com os interlocutores no discurso. Para saber mais sobre 6 a Teoria da Referência veja http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia _da_linguagem Quando se quer ser específico quanto ao referente, é possível realizar um sinal em uma determinada localização. Além disso, se o mesmo sinal for reproduzido em diferentes pontos do espaço, estaremos entrando no campo morfológico, pois poderemos estar incorporando movimentos que indicam marcação de plural e flexão verbal. No nível sintático, o uso do espaço é explorado para estabelecer as relações gramaticais entre os referentes. No eixo temático de estudos lingüísticos e línguas de sinais IV, estaremos aprofundando ainda mais estas questões, pois o uso do espaço é um dos componentes mais importantes das línguas de sinais, além de ser universal, ou seja, todas as línguas de sinais estudadas até então apresentam esse componente lingüístico visual-espacial. A definição de Grinevald (1996) sugere os quatro critérios seguintes para distinguir verdadeiros classificadores de fenômenos classificadores relacionados: (a) Classificadores são morfemas explícitos. (b) Eles constituem um subsistema morfossintático. (c) Eles são sistemas de classificação semanticamente motivados que não classificam todos os substantivos. 7 (d) Eles são sujeitos a condições de uso pragmático- discursivas. 8 Tabela de Classificadores: CL-D Classificador Descritivo: refere-se ao tamanho e forma. Usualmente produzido com ambas as mãos para formas simétricas e assimétricas (não descreve posição ou movimento). Exemplo: - A forma e o desenho de um vaso; - Desenho de um papel de parede; - A altura e largura de uma caixa; - A descrição da roupa ou itens que estão no corpo CL-ESP Classificador que especifica o tamanho e forma de uma parte do corpo. Descreve tamanho, textura e forma do corpo de animais ou pessoas (não descreve posição ou movimento). Exemplo: - As orelhas de um elefante; - Bicos de aves diversas, - Nariz de uma pessoa; - Pêlo de gato; - Penteado de uma pessoa; CL-PC Classificador de uma parte do corpo. Retrata uma parte especifica do corpo em uma posição determinada ou fazendo uma ação. A configuração da mão retrata a forma de uma parte do corpo (descreve posição ou movimento). - A ação da boca do hipopótamo; - As orelhas de um cavalo em movimento; - Os olhos de alguém em movimento; - A cabeça de alguém repousando no seu ombro; - Ação dos pés andando na lama; - A posição das pernas de alguém sentado em uma cadeira. CL-L Classificador Locativo ou Semântico: descreve um objeto em um lugar determinado. A configuração da mão pode retratar uma parte ou o objeto todo ironicamente. Exemplo: - Uma prateleira onde estão copos ou livros; - Chão onde caiu um lápis; - A cabeça de alguém batida por uma bola; - Alvo onde voa uma flecha; - Gol onde entra uma bola. 9 CL-I Classificador Instrumental: mostra como se usa alguma coisa, ou seja, manipulando um objeto. Exemplo: - Carregando um balde pela alça; - Puxando uma gaveta; - Tocando a campainha da porta; - Virando uma página; - Limpando com um pano. CL- C Classificador do Corpo: é similar ao CL-L, porém não mostra nem a manipulação nem o toque aos objetos. Exemplo: - Acenando com a mão para alguém; - Atravessando os braços com beijos espichados; - Coçando a cabeça com perplexidade; - Movendo os braços como em correr. CL-P Classificador Plural: Indica movimento ou posição de um número determinado/indeterminado de objetos, pessoas ou animais. Exemplo: - Três pessoas andando juntas (numero determinado); - Pessoas sentadas na plateia; - Uma fila cumprida de pessoas avançando lentamente; - Muitos carros estacionados na rua. CL-E Classificador de Elemento: descreve o movimento de elementos ou coisas não sólidas. Exemplo: - Água gotejando na torneira; - Luz piscandocomo sinal de advertência; - O movimento de um líquido num copo; - O vapor subindo de uma xícara de chá quente. CL-N° CL-NOME Esses classificadores utilizam a configuração de letras ou números, mas não são partes de uma descrição. Exemplo: - Números e nome na camisa de futebol; - Um título de um livro; - Insígnia em um boné; - Uma sigla escrita na porta de um banco. 10 Os classificadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número. Os classificadores para COISA representam, através da concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal. Muitos classificadores são icônicos em seu significado pela semelhança entre a sua forma ou tamanho do objeto a ser referido. As vezes o CL refere-se ao objeto ou ser como um todo, outras refere-se apenas a uma parte ou característica do ser. (FERREIRA BRITO, 1995). O valor semântico de cada sinal dependerá da sua localização no espaço, pois, como vimos nos exemplos apresentados, o fato de apontar altera significativamente o entendimento de um sinal dentro de um contexto interativo. A informação a ser dada sobre um determinado referente dependerá do local em que o sinal será produzido, por isso, o espaço é elemento distintivo do que se quer dizer em qualquer que seja a língua de sinais. Classificadores, em geral, são formas que estabelecem um tipo de concordância, que evidenciam uma característica física, atribuindo-lhe uma adjetivação, por meio da qual os elementos sinalizados são representados., Nas línguas de sinais eles são representados por configurações de mãos usadas para expressar formas de objetos, pessoas e animais, bem como os movimentos e trajetórias percorridas por eles. Os classificadores são, portanto, tipos de morfemas que representam objetos, pessoas e animais, descrevendo-os quanto à forma, ao tamanho e incorporando-lhes ações Em se tratando dos classificadores usados para PESSOA e ANIMAL é importante ressaltar que eles podem ter plural. Nesse caso, o plural é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente 11 com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número. No caso dos classificadores para COISA, estes são representados através da concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal. Os classificadores podem vir junto de verbos de movimento e de localização para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Eles exercem a função de marcadores de concordância de gênero para pessoas, animais ou coisas. Como vimos, os classificadores exercem um papel crucial na Libras, pois eles ajudam a construir sua estrutura sintática através de recursos corporais que possibilitam relações gramaticais abstratas. 12 13 Atividades Configuração de Mão: profmagnoemouralsb.blogspot.com 14 Desenvolvido por Nelson Pimenta. 15 Atividade com Configuração de mão. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________ 16 Objetivos específicos- Conhecer as Configurações de mãos que formam os sinais. Reconhecer nos sinais uma das unidades mínimas. Conteúdo Formação dos sinais Configuração de Mãos. Estratégias: Mostrar a tabela de Configuração de Mãos e explicar que com esses formatos de mãos podemos construir vários sinais da Libras. Dar as cartas de CM para os alunos escolherem uma. Cada aluno com sua carta- pede-se que na ordem do círculo cada uma faz três sinais que conhecem com aquela CM. O aluno que não lembrar de três sinais sai da roda. Ganha o jogo o aluno que conseguir ficar por último na roda. Recursos materiais Tabela de Configuração de Mãos. 17 18 Os classificadores fazem uso das configurações de mãos para fazer referência a algum tipo de propriedade física de uma classe, seja elaobjeto, pessoa ou animal. Em sua conclusão, Schembri declara que as CMs usadas em construções de línguas de sinais parecem constituir um tipo de subsistema morfossintático que tem algumas propriedades similares a tipos de palavras que são encontrados em algumas línguas orais, como classes nominais ou termos de medida; entretanto, por causa da seleção de uma CM particular ser parcialmente motivada por características perceptíveis de um referente, e por causa de o uso dessas CMs não ter uma função classificatória primária, elas não podem ser consideradas verdadeiros classificadores da forma como são definidos em línguas orais. Configuração de mão (CM) usada em classificadores em Libras em resposta ao estímulo Ferreira-Brito identificou alguns dos classificadores mais produtivos em Libras, os quais são descritos na Tabela 1: Configuração de mão Uso e exemplos 19 Y Usada para representar uma pessoa gorda andando, objetos largos de forma irregular (como telefone, bule de café, salto de sapato, ferro de passar roupas, avião, submarino, chifre de boi), roupas, alimentos e outros objetos em uma casa. B CM com algumas variações quanto ao dedo polegar estendido ou não, usada para representar coisas planas, lisas ou superfícies onduladas (como veículos, o telhado de uma casa, um pé num sapato, um livro, uma casa ou rodas de trem[?]). 20 ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 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classificadores em Libras ? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ - 2- Existe Classificadores nas Línguas Orais? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________ 3- Como acontecem os classificadores em Libras? ________________________________________________ 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importância dos classificadores em línguas de sinais. b) _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 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Na língua de sinais brasileira, assim como verificado na ASL (Siple, 1978) , as relações gramaticais são especificadas através da manipulação dos sinais no espaço. As sentenças ocorrem dentro de um espaço definido na frente do corpo, consistindo de uma área limitada pelo topo da cabeça e estendendo-se até os quadris. O final de uma sentença na língua de sinais brasileira é indicado por uma pausa. A figura (1) ilustra o espaço de realização dos sinais na língua de sinais brasileira, conforme Langevin e Ferreira Brito (1988) A língua de sinais brasileira, assim como qualquer língua de sinais, é organizada espacialmente, de forma bastante complexa. O uso do espaço é uma característica fundamental nas línguas visual-espaciais e está presente em todos os níveis de análise. No que se refere ao nível fonológico, um mesmo sinal pode ser realizado em diferentes locais, dentre eles o espaço neutro, que corresponde à área localizada na frente do sinalizante. Dependendo do ponto utilizado no espaço para a realização de um sinal, pode haver a produção de sinais com diferentes referentes vejam osexemplos em sinais Vejam que a realização de um sinal em um determinado ponto no espaço implica em mudanças de significados relacionadas com o referente, ou seja, está ligada a questões semânticas. Quando se quer ser específico quanto ao referente, é possível realizar um sinal em uma determinada localização. Além disso, se o mesmo sinal for reproduzido em diferentes pontos do espaço, estaremos entrando no campo morfológico, pois poderemos estar incorporando movimentos que indicam marcação de plural e flexão verbal. No nívelsintático, o uso do espaço é explorado para estabelecer as relações gramaticais entre os referentes notaremos que todas as línguas de sinais estudadas até então apresentam esse componente lingüístico visual-espacial. 33 Para melhor entendimento segue abaixo texto de leitura obrigatória.. FELIPE, T. (2002) Sistema de flexão verbal na libras: os classificadores enquanto marcadores de flexão de gênero. Anais do Congresso Nacional do INES de 2002 Chama-se classificador um afixo utilizado, em particular nas línguas negro- africanas, para indicar a que classe nominal pertence uma palavra (sin.: índice de classe).Dubois Eles se realizam como morfemas na estrutura de superfície sob condições específicas; eles têm significado, já que os classificadores denotam alguma característica saliente ou imputada a uma entidade que é referida por um nome. Material: a) Animado (animais e pessoas, essas também reclassificadas como mulher, homem e criança) b) Inanimado (árvores, objeto de madeira, etc) Formato Subdividida em objetos longos, planos e arredondados (que podem ser em uma, duas ou três dimensões) e se associa com outras categorias, como consistência, textura, etc. Existem três subcategorizações, como proeminência de curva exterior, objetos com o interior vazio, e também tem relação com a quantia. Consistência Tem três subdivisões: flexível, rígido e não-definido. Está associada a material e forma. Tamanho 34 É subdivida em grande e pequeno/a e está associada à forma. Localização Relaciona um lugar e está associada com o tipo de objeto. Arranjo Relaciona objetos colocados de uma maneira específica. Quantia Relaciona uma quantidade e é subdividida em coleção, volume, peso e tempo. Morfossintática Várias línguas apresentavam diversas categorias, como determinantes, quantificadores, modificadores, de medida, de espécie (de Lyons, em 1977), e outras denominações. Lingüístas, como Allan, em 1977, estabeleceram os critérios para definir as suas classificações Na conclusão de Allan, os sistemas de classificadores existentes nas línguas faladas constituem um conjunto completo e universal e, por isso, agrupam-se em quatro tipos, conforme observado em mais de cinqüenta línguas classificadoras. São eles: 1 línguas de classificador numeral . 2 línguas de classificador concordante . 3 línguas de classificador predicativo . 4 línguas de classificador intra-locativo . 35 Línguas de classificador numeral São línguas em que um classificador é obrigatório em muitas expressões de quantidade e em expressões anafóricas e dêiticas, como, por exemplo, a língua Thai 2 línguas de classificador concordante São línguas em que os classificadores são afixados (geralmente prefixos) aos nomes e seus modificadores, predicados e pró-formas como, por exemplo, em muitas línguas africanas (Bantu e Semi-Bantu) e australianas. 3 línguas de classificador predicativo . São línguas que possuem verbos classificadores, que variam seu radical de acordo com as características das entidades que participam enquanto argumentos do verbo como, por exemplo, os verbos de movimento/localização em Navajo, Hoijer (1945), e verbos classificadores em outras línguas Athapaskan. 4 línguas de classificador intra-locativo . São línguas nas quais classificadores nominais são embutidos em expressões locativas que obrigatoriamente acompanham nomes em muitos contextos. Existem apenas três línguas: Toba, uma língua sul- americana, Eskimo e Dyirbal, uma língua do noroeste da Austrália. 36 37 Atividade Leitura obrigatória: FELIPE, T. (2002) Sistema de flexão verbal na libras: os classificadores enquanto marcadores de flexão de gênero. Anais do Congresso Nacional do INES de 2002. A - Leia o texto de FELIPE e faça um levantamento de mais três exemplos da LIBRAS para cada tipo de classificador encontrado nessa língua: • Especificadores de tamanho e forma • Classificador semântico • Classificador corpo • Classificador parte do corpo • Classificador instrumento ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ______________________________________________________ 38 Faça uma pesquisa, dando outros 10 exemplos para os seguintes classificadores : - Classificador de tamanho e forma - Classificador de entidades - Classificador de verbos manuais ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 39 Acessibilidade em Libras é obrigatória Em janeiro de 2016 entrou em vigor a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). A lei promove mudanças significativas em diversas áreas como educação, saúde, mobilidade, trabalho, moradia e cultura. Uma das conquistas importantes é do acesso a informação, agora que os sites precisam estar acessíveis. Além disso, também é exigido que os serviços de empresas ou órgãos públicos ofereçam acessibilidade para as pessoas com deficiência. Na LIBRAS, os classificadores são formas representadas por configurações de mãos que, relacionadas à coisa,pessoa e animal, funcionam como marcadores de concordância. Assim, na LIBRAS, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as precedem, pode vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Portanto os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA. Os classificadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número. Os classificadores para COISA representam, através da concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal. EXEMPLOS: 1- MESA COLOCAR (copo, prato, talher...) 2- 2- CARRO (mover um atrás do outro) 3- 3- M-A-R-I-A A-L-E-X (passar um pelo outro) Portanto não se deve confundir os classificadores, que são algumas configurações de mãos incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos que, nas línguas de sinais, por estas serem espaços-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. Por exemplo, para dizer nestas línguas que “uma pessoa está vestindo uma blusa de bolinhas, quadriculada ou listrada”, estas expressões 40 adjetivas serão desenhadas no peito do emissor, mas esta descrição não é um classificador, e sim um adjetivo que, embora classifique, estabelece apenas uma relação de qualidade do objeto e não relação de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA, que é a característica dos classificadores na LIBRAS, como também em outras línguas orais e de sinais. Muitos classificadores são icônicos em seu significado pela semelhança entre a sua forma ou tamanho do objeto a ser referido. As vezes o CL refere-se ao objeto ou ser como um todo, outras refere-se apenas a uma parte ou característica do ser. (FERREIRA BRITO, 1995). Na LIBRAS podemos encontrar dez tipos de classificadores CLassificador Descritivo: CL-D Se refere ao tamanho e forma; utiliza para descrever a aparência de um objeto, isto é, forma, o tamanho, a textura ou o desenho de um objeto. Usualmente produzido com ambas mãos, para formas simétricas ou assimétricas. Exemplos: - A forma e o desenho de um vaso - o desenho de papel de parede - a altura e a largura de uma caixa - a descrição da roupa ou dos itens que estão no corpo. (Não tem movimento) 41 CLassificador que especifica o tamanho e da forma de uma parte do corpo: CL-ESP A função é similar ao CL-D mas é utilizado para descrever a forma, o tamanho, e a textura de uma parte do corpo de pessoas ou animais. Exemplos: - as orelhas de um elefante –bicos de aves diversas - o pelo de um gato – o penteado de uma pessoa - bochechas gordas de um bebê (Não tem movimento) CLassificador de uma Parte do Corpo: CL-PC Retrata uma parte especifica do corpo em uma posição determinada ou fazendo uma ação. A configuração da mão retrata a forma de uma parte do corpo. Exemplos: - a ação da boca de um hipopótamo - as orelhas de um cavalo em movimento - os olhos de alguém em movimento - a cabeça de alguém repousando no seu ombro - os dedos do pé sacudindo - a ação de pés andando na lama - a posição das pernas de alguém sentada em uma cadeira (Tem movimento) 42 CLassificador Locativo: CL-L Retrata um objeto como lugar determinado em relacionamento a outro objeto. Exemplos: - uma prateleira onde estão copos ou livros - o chão onde caiu um lápis - a cabeça de alguém batida por uma bola - o alvo onde voa uma flecha - o gol onde entra a bola CLssificador Semântico: CL-S Função similar ao CL-L por retratar um objeto em um lugar especifico (as vezes indicando movimento). A configuração da mão retrata o objeto todo e o retrata abstratamente (muito pouco ou não se relaciona a aparência do objeto) Exemplos: - C copos na prateleira de um armário - B veículos ou objetos planos - 1 uma pessoa andando em uma direção determinada - Y um avião ou objetos no lugar fixo - V reta ou dobrada retratando a orientação do corpo ou das pernas de um animal ou de uma pessoa e/ou suas ações. 43 CLassificador Instrumental: CL-I Esse classificador mostra como se usa alguma coisa. Exemplos: - carregando um balde pela alça. - puxando uma gaveta - tocando a campainha da porta - virando uma pagina - limpando com um pano (Pegar objeto) CLassificador do Corpo: CL-C A parte superior do corpo se torna o classificador na qual a parte superior (do sinalizador) “desempenha” o verbo da frase, especialmente os braços. CL-C é similiar a CL-I salvo CL-C não mostra nem a manipulação nem o toque de objetos. Exemplos: - acenando com a mão para alguém - atravessando os braços com beiço espichado - coçando a cabeça com perplexidade - movendo os braços como em correr (Não tem pegar objeto) CLassificador do Plural: CL-P 44 Indica o movimento ou a posição de um numero de objetos, pessoas, ou animais. Pode ser um numero determinado ou não determinado. Indica o movimento ou a posição de um numero de objetos, pessoas, ou animais. Pode ser um numero determinado ou não determinado. Exemplos: - três pessoas andando juntas (numero determinado) - pessoas sentadas na platéia (numero não determinado) - uma fila comprida de pessoas avançando lentamente - muitos carros estacionados na rua - dois gatos em cima de um muro CLassificador de Elemento: CL-E Esses classificadores retratam movimentos de “elementos” ou coisas que não são sólidas, isto è, ar, fumaça, água/liquido, chuva, fogo, luz. Exemplos: - água gotejando da torneira - luz piscando no sinal de advertência - o movimento de um liquido no corpo ou dentro do corpo - o vapor subindo de uma xícara de chá quente. Classificar de Nome e Número: CL-Nº CL-NOME Esses classificadores utilizam as configurações das mãos do alfabeto manual ou os números, mas são parte de uma descrição. 45 Exemplos: - números e nome na camisa de futebol - um titulo de um livro - insígnia em um boné - uma sigla escrita na porta de um banco Acerca do uso dos verbos na gramática da Língua Brasileira de Sinais, relacione os tipos de verbos na primeira coluna aos verbos na segunda coluna. 46 A sequência correta é a) 3 ‒ 1 ‒ 1 ‒ 2 ‒ 3. b) 1 ‒ 2 ‒ 2 ‒ 3 ‒ 2. c) 3 ‒ 2 ‒ 1 ‒ 3 ‒ 2. d) 1 ‒ 3 ‒ 2 ‒ 1 ‒ 3. e) 2 ‒ 1 ‒ 1 ‒ 3 ‒ 2. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 47 ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________ 48 Atividades: Dadas as afirmativas sobre identidades surdas, I. Na identidade flutuante, o surdo se espelha na demonstração hegemônica do ouvinte, na tentativa de se adequar ao mundo do ouvinte. II. II. Na identidade inconformada, o surdo não consegue compreender a representação da identidade ouvinte, hegemônica, e se sente numa identidade subordinada. III. III. Na identidade híbrida, os surdos que nasceram ouvintes e ficaram surdos têm duas línguas numa dependência dos sinais e do pensamento na língua oral. IV. IV. Na identidade surda, ser surdo é estar no mundo visual e adquirir a língua de sinais, assumindo uma identidade tal como se apresenta. verifica-se que está(ão) correta(s) A) II, apenas. B) I e II, apenas. C) I e III, apenas. D) III e IV, apenas. E) I, II, III e IV. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 49 ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 50 Os efeitos de modalidade que envolvem a língua oral e a língua de sinais no processo de interpretação requerem A) o abandono dos recursos gestuais. B) a inclusão de uma pedagogia visual. C) a indiferença entre os interlocutores. D) o distanciamento de formas híbridas de linguagem. E) a inclusão secundária de uma perspectiva visual-espacial. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 51 Quanto aos conceitos de tradução e interpretação, em suas diferentes modalidades, é correto afirmar: A) tradutores e intérpretes devem dominar não apenas as línguas envolvidas, mas também as expressões orais/corporais presentes em ambos os idiomas, sem necessariamente dominar o assunto alvo em seu trabalho. B) a prática da tradução e da interpretação exige o conhecimento das línguas, bem como o seu repertório linguístico que permita transitar de uma língua a outra, sem necessidade de se utilizar conhecimentos da cultura. C) os conceitos de tradução e interpretação, em suas diferentes modalidades, não são complementares, ainda que as condições de trabalho dos sujeitos envolvidos sejam as mesmas. D) conceitualmente, o termo tradução pode englobar as modalidades de interpretação e ser considerada distinta em relação a ela. E) simultânea, consecutiva e sussurrada são consideradas modalidades de interpretação e de tradução. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 52 Os efeitos de modalidade que envolvem a língua oral e a língua de sinais no processo de interpretação requerem A) o abandono dos recursos gestuais. B) a inclusão de uma pedagogia visual. C) a indiferença entre os interlocutores. D) o distanciamento de formas híbridas de linguagem. E) a inclusão secundária de uma perspectiva visual-espacial. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 53 Existe a formação de palavras por derivação e por composição, veremos alguns exemplos de palavras por derivação: cadeira é derivado de sentar por meio do movimento repetido do primeiro; bonitinho é derivado de bonito por intermédio da adjunção da expressão facial ~~ , marca de grau aumentativo; bonitão é derivado de bonito por meio da adjunção do afixo expressão facial Ô, marca de grau diminutivo; falar-sem-parar é derivado de falar por meio da adjunção da mão esquerda e do alongamento dos movimentos, marca de aspecto continuativo; pegar-bola é derivado de pegar por meio da adjunção do afixo Cl:5, classificador para objetos redondos grandes; pegar-agulha é derivado de pegar por meio da afixação do morfema gramatical Cl:F, classificador para objetos pequenos e pequenos; não poder é derivado de poder por meio do afixo negativo, movimentos da cabeça para os lados; impossível é derivado de possível por meio da inversão do movimento de para baixo para os lados, afixo também negativo; não saber é derivado de saber por meio da afixação de um movimento da mão para fora, morfema negativo também. Por meio desses exemplos, observa-se que as primeiras palavras são formadas a partir de seus radicais aos quais se juntam afixos ou morfemas gramaticais, pelo processo de derivação. As palavras ou sinais em LIBRAS também podem ser formados pelo processo de composição, isto é, pela adjunção de dois sinais simples em formas compostas. Por exemplo: Casa + Cruz = Igreja; mulher + pequeno = menina; homem + pequeno = menino.Alguns sinais como sentar e cadeira são distintos quanto à forma para as categorias verbo e nome, porém, a maioria deles não se distingue quanto às categorias verbo, nome, adjetivo e advérbio. O que vai defini-las como tal é sua função na sentença. Podemos, entretanto, ilustrar alguns casos de palavras que poderiam ser derivadas de outras como é o caso de construir e construção, em português. Por exemplo, nas sentenças abaixo, identificamos um mesmo item lexical como nome ou verbo, dependendo da sentença em que aparecem: ele não limpar-chão-Cl:Y (com escova) = (Ele não limpou com escova o chão); ele limpar-chão-Cl:Y (com escova) NÃO-Y = (Ele não fez a limpeza do chão com a escova). No primeiro exemplo, o item lexical limpar-chão-Cl:Y tem uma função verbal. Entretanto, na segunda sentença, limpar-chão-Cl:Y tem uma função nominal, ou seja, é um substantivo porque vem acompanhado de um verbo leve, não-Y, que devido à sua natureza de verbo sem valência 54 não pode ser considerado um nome. Nesse caso, como os verbos chamados leves sempre vêm acompanhados de um nome e como o único item capaz de preencher esta função nominal é o sinal limpar-chão-Cl:Y, diremos que ele pode pertencer a ambas categorias: limpar-chão-Cl:Y (verbo) e limpar-chão-Cl:Y (nome). O mesmo ocorre com as demais categorias: adjetivo, advérbio. ( portal da Educação) 55 Atividades: Quanto aos conceitos de tradução e interpretação, em suas diferentes modalidades, é correto afirmar: A) tradutores e intérpretes devem dominar não apenas as línguas envolvidas, mas também as expressões orais/corporais presentes em ambos os idiomas, sem necessariamente dominar o assunto alvo em seu trabalho. B) a prática da tradução e da interpretação exige o conhecimento das línguas, bem como o seu repertório linguístico que permita transitar de uma língua a outra, sem necessidade de se utilizar conhecimentos da cultura. C) os conceitos de tradução e interpretação, em suas diferentes modalidades, não são complementares, ainda que as condições de trabalho dos sujeitos envolvidos sejam as mesmas. D) conceitualmente, o termo tradução pode englobar as modalidades de interpretação e ser considerada distinta em relação a ela. E) simultânea, consecutiva e sussurrada são consideradas modalidades de interpretação e de tradução. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 56 Classificadores verbais Propriedades dos classificadores verbais Os classificadores verbais aparecem no verbo categorizando o referente dos seus argumentos em termos de forma, consistência, tamanho, estrutura, posição e animacidade. Eles sempre se referem ao argumento de um predicado e podem co-ocorrer com ele. A escolha de um classificador é geralmente uma escolha semântica, sendo que cada substantivo de um língua não necessariamente precisa de um classificador verbal. Alguns substantivos podem ser associados a mais de um classificador. A escolha de um classificador é baseada muito mais em uma seleção lexical do que em relação à concordância gramatical, ficando muitas vezes limitada a grupos semânticos de verbos. Sistema de flexãoverbal na libras: os classificadores enquanto marcadores de flexão de gênero1 1. OS CLASSIFICADORES NAS LÍNGUAS ORAIS-AUDITIVAS O ser humano, em seu processo de apreensão do mundo, percebe as entidades a partir de características essenciais ou contextuais e as coloca em classes ou paradigmas. As culturas e suas línguas concretizam esta significância através de sistemas semióticos. Assim, as línguas refletem esta cognição através da categorização: o universo é representado através de palavras que estão em classes que se combinam para expressar entidades, que são mostradas como coisas, eventos, qualidades em um contexto. Há línguas com sistemas mais complexos para 57 mostrar, fono-morfo-sintático-semântico-pragmaticamente, estas entidades e, por isso, fazem outras sub-classificações separando as coisas em animadas (pessoas, animais) e inanimadas (não-pessoas, coisa, veículos); estas coisas podem ser ainda re-classificadas quanto ao gênero (masculino, feminino, neutro), quanto ao número (singular, dual, trial, plural; unidade, grupo); quanto à visibilidade ou proximidade em relação ao emissor (perto, mais ou menos distante, distante / visível, não-visível / aqui, aí, lá), quanto ao formato, à consistência, ao tamanho, quanto ao caso (nominativo, acusativo, genitivo, etc), quanto ao papel temático (agente, paciente, etc); os eventos são re-classificados em ações, processos e estados, podendo ser mostrados também em relação ao modo, tempo, aspecto, e seu sistema de flexão para a concordância com seu(s) argumento(s). As línguas que fazem estas classificações e subclassificações, mencionadas acima, através das categorias gramaticais estão sendo denominadas de línguas de classes nominais ou não-classificadoras e as que, além destas classes gramaticais (nomes, verbos, adjetivos, advérbios, pronomes, etc), fazem uso de um sistema de morfemas obrigatórios, que especificam nestas classes gramaticais algumas ou várias das subclassificações também mencionadas acima, estão sendo denominadas de línguas classificadoras Como as gramáticas tradicionais, baseadas em uma tradição greco-latina que descreveram as línguas indo-européias a partir do modelo proposto para a língua latina, incluíram os processos morfológicos da declinação (desinências para gênero, número, pessoa, caso para os nomes, adjetivos e pronomes) e conjugação (desinências para número, pessoa, tempo, modo e aspecto para os verbos), as línguas que possuem estes tipos de flexões não vêm sendo nomeadas de línguas classificadoras. Mas se percebermos com mais profundidade, comparando com as línguas que estão sendo chamadas de classificadoras, estas línguas que têm sistemas de morfemas para representarem morfo-sintático-semanticamente estas 58 características das coisas e eventos em contextos também deveriam estar no grupo daquelas línguas classificadoras. O fato é que esta terminologia começou a ser utilizada por lingüistas, que pesquisando línguas de famílias indígenas, africanas, australianas e asiáticas, descobriram que muitas possuíam sistemas de morfemas obrigatórios para classificar outras propriedades não mencionadas pelas gramáticas tradicionais e passaram a ser chamadas de línguas classificadoras. E interessante observar que os pesquisadores destas línguas, que começaram a estabelecer esta distinção, são falantes de língua inglesa e nesta língua não há flexão de gênero para os nomes, adjetivos e artigos, e as flexões verbais são em pequeno número comparadas com as línguas neolatinas, a alemã, o polonês, entre outras. Analisando estas pesquisas, pode-se perceber que todas têm mostrado também que os classificadores, enquanto categoria semântica, podem ser realizados, na estrutura de superfície, ou como item lexical ou como morfema, mas somente estão sendo denominadas línguas classificadoras as que têm um sistema de morfemas obrigatórios, ou seja, um sistema de gramemas formantes presos ou dependentes. Hjelmslev (1956), em seu trabalho Animado e Inanimado, Pessoal e Não Pessoal, fez um estudo da categoria gramatical gênero e estabeleceu uma diferença entre as línguas que possuem um sistema de gênero - como as várias línguas indo-européias, americanas, do nordeste do Cáucaso, semítico, Bantu, Tâmul e Santali - e as que possuem um sistema numerativo, como o chinês, japonês, siamês e malaio. Embora não tenha estabelecido, explicitamente, os termos “classificador” e “língua classificadora”, estudando a evolução da categoria de gênero nas línguas eslavas, fez uma distinção entre línguas com classificador numérico e línguas com classificador para gênero animado / inanimado, pessoal / não- pessoal, masculino / feminino / neutro. Neste estudo comparativo- histórico, Hjelmslev foi buscar questões teóricas e dados nos estudos dos primeiros pesquisadores que abordaram esta questão3. Atualmente, o termo “classificador” vem sendo utilizado, às vezes, destacado somente o seu aspecto morfológico, mas não especificando 59 precisamente o que ele representa semântico-sintaticamente, ou seja, qual sua significação-função em um dado contexto e o que esta estrutura representa em relação ao sistema de uma determinada língua. Esta é a perspectiva de Dubois et all (1993:112) que o definem: “Chama-se classificador um afixo utilizado, em particular nas línguas negro-africanas, para indicar a que classe nominal pertence uma palavra (Sin.: índice de classe).” Esta conceituação, além de não especificar que tipo de afixo pode ser um classificador, menciona somente uma família de língua como exemplo. Lyons (1977), agrupando os classificadores com as categorias determinantes e quantificadores, analisa-os enquanto modificadores. Mostra que em línguas como Tzeltal, Mandarin chinês e Vietnamita, os classificadores são obrigatórios em frases contendo numeral, em relação à primeira língua, e com demonstrativos, no caso das duas últimas. Divide os classificadores em: de espécie (sortal classifier), que individualizam o que eles referem em termos de tipo de entidade; e os classificadores de medida (mensural classifier), que individualizam em termos de quantidade. Os classificadores de espécie, segundo Lyons (1977:464), na sua maioria, utilizadas pelas línguas classificadoras, são nomes, embora de um subtipo particular e, como ressalva, é este o fato, mais do que outro, que motiva a distinção entre línguas classificadoras e línguas de classe de nome (noun- class language). Outra característica dos classificadores de espécie é que, na maioria das línguas classificadoras, eles podem ser usados também com função pronominal ou quase-pronominal em referência dêitica e anafórica. Assim, esse tipo de classificador pode ser núcleo ou modificador, o que faz considerá-lo como uma espécie de determinante já que este também, a despeito do tratamento convencional como modificadores de nomes com os quais ocorrem, podem ser considerados, sob um ponto de vista sintático, como núcleos mais do que modificadores. Devido ao modo como são utilizados, pode-se perceber uma conexão sintática e semântica tanto entre os classificadores de espécie e os determinantes de um lado quanto entre os classificadores de medida e os quantificadores por outro lado, por isso para se ter um ponto de vista que pretenda diferenciar estas três categorias deve-se partir não apenas da estrutura de superfície, mas encontrar na estrutura profunda a diferença. 60 Allan (1977) definiu os classificadores a partir de dois critérios: 1. eles se realizam como morfemas na estrutura de superfície sob condições específicas; 2. eles têm significado, já que os classificadores denotam alguma característica saliente ou imputada a uma entidade que é referida por um nome. Tendo pesquisado mais de cinqüenta línguas classificadoras, Allan concluiu que os sistemas de classificadores encontrados constituemum conjunto completo e universal em línguas que foram agrupadas em quatro tipos: 1. línguas de classificador numeral: são línguas em que um classificador é obrigatório em muitas expressões de quantidade e em expressões anafóricas e déiticas como, por exemplo, a língua Thai; 2. línguas de classificador concordante: são línguas em que os classificadores são afixados (geralmente prefixos) aos nomes e seus modificadores, predicados e pró-formas como, por exemplo, em muitas línguas africanas (Bantu e Semi-Bantu) e australianas; 3. línguas de classificador predicativo: são línguas que possuem verbos classificadores, que variam seu radical de acordo com as características das entidades que participam enquanto argumentos do verbo como, por exemplo, os verbos de movimento/localização em Navajo, Hoijer (1945), e verbos classificadores em outras línguas Athapaskan; 4. línguas de classificador intra-locativo: são línguas nas quais classificadores nominais são embutidos em expressões locativas que obrigatoriamente acompanham nomes em muitos contextos. Existem apenas três línguas: Toba, uma língua sul-americana, Eskimo e Dyirbal, uma língua do noroeste da Austrália. 61 O número de classificadores nas línguas pode variar, mas sete categorias de classificação podem ser encontradas: (i) material; (ii) formato; (iii) consistência; (iv) tamanho; (v) localização; (vi) arranjo e (vii) quanta. Os classificadores podem combinar duas ou mais destas categorias e elas podem ser também subdivididas. A categoria material pode ser sub-classificada em animado: línguas Thapaskan, Nootka, Ojibway e Yucatec) e inanimado. Segundo Allan, provavelmente todas as línguas que possuem a categoria material fazem esta distinção. Há línguas que sub-classificam ainda mais a categoria material animado, dividindo-a em animais (línguas orientais, africanas e algumas ameríndias, como Tzeltal e Yurok) e pessoas (línguas orientais, da Oceania). Estas ainda podem ser re-classificadas em mulher, homem e criança. A categoria inanimado quase sempre é representada por vários morfemas diferentes, mas o mais comum é o usado para árvores, objetos de madeira, geralmente barco. Estes morfemas podem ser sincretizados, ou seja, conectados com outros tipos como, por exemplo, com formato. A categoria formato é geralmente subdividida em objetos longos, planos e arredondados, mas tem-se preferido a denominação em objetos de uma, duas ou três dimensões que geralmente podem ser associados com outras categorias, como consistência, textura, etc. As línguas ameríndias têm sido classificadas como as que mais possuem este tipo de classificador e a Taracan só possui este tipo. Associado a estas três dimensão dos objetos, há três subcategorização: 1. em relação à proeminência de curva exterior, ou seja, objetos de determinada dimensão que são amontoados, ou são montes, estão empilhados, etc. Por exemplo:Yucatec, Navajo, Proto-Banto, etc; 1. em relação a um classificador quanta, ou seja, mais do que a forma, o objeto está também associado a quantidade. Ex Taih; 62 1. em relação a ser oco ou vazio, ou seja, classificadores que representam conteiners, objetos com o interior vazio. Como exemplo, pode-se pensar em classificadores para objetos como barco, potes, bambu, etc. A categoria consistência possui três subdivisões: flexível, rígido e não- definido. esta categoria geralmente está associada às de material e forma. A categoria tamanho está subdividida em grande e pequena/o e também está quase sempre associada a de forma. A categoria localização especifica um lugar que pode estar associado com o tipo de objeto. Como nas línguas Yucatec, Kiriwina, Burmese, Núngetc, que têm classificador para pontos na terra e, também, muitas línguas orientais que têm classificadores específicos para país, jardim, campos, cidades, etc. A categoria arranjo especifica objetos colocados de uma maneira específica. Esta classificação pode estar incorporada semanticamente ao verbo, como na LIBRAS e em português: enrolar, empilhar, enfileirar, amontoar, etc A categoria quanta especifica uma quantidade e pode ser subdividida em classificadores para coleção, volume, peso e tempo. As categorias arranjo e quanta, por não classificarem propriedades inerentes de objetos, não estão limitadas somente às línguas classificadoras e podem estar associadas uma com a outra; assim, nas línguas de classificadores de predicado e coordenantes podem aparecer as subclassificações para número e gênero como, por exemplo, na LIBRAS que pode acrescentar à raiz principal um classificador com um quanta simultaneamente: pessoaPASSAR; 2 pessoasPASSAR; 3 pessoasPASSAR. Destas divisões e subdivisões de classificadores pode-se perceber que elas se baseiam, também, na perspectiva do falante em relação ao contexto, 63 portanto o nível pragmático da língua deve ser, também, avaliado porque não se trata somente de morfemas específicos para objetos específicos mas, em alguns casos, de morfemas associados a objetos a partir de um determinado contexto, o que implica, a utilização da língua, enquanto sistema: relações sintagmáticas e correlações paradigmática em todos os níveis: fono-morfo-sitático-semântico-pragmático, que possui um conjunto de morfemas obrigatórios. Kiyomi (1992), a partir das definições de classificadores e das classificações de línguas classificadoras propostas por Adams e Conklin (1973), Denny (1980), Allan (1977) e Shachter (1985), mostra que os classificadores da língua Jacaltec, que são morfemas livres, não poderiam ser assim considerados devido ao fato da definição de Allan contemplar somente morfemas que são formas presas, e propõe, por isso, uma divisão dos classificadores em: 1. morfemas livres, que incluiriam os classificadores de número e os classificadores não-numerais; 2. morfemas presos, que incluiriam os classificadores coordenantes, os de predicado (nos verbos classificadores) e os intra-locativos. Analisando, mais profundamente, os classificadores de predicado, Kiyomi, a partir das pesquisas de Hoijer (1945), Carter (1966), e Haas (1967), afirma que eles estão limitados às línguas Athapaskan (Navaho, Chipewyan e Hupa) e que as categorias animado e forma estão entre as categorias semânticas encontradas nos classificadores destas línguas e conclui que os classificadores para as categorias animado e forma são categorias semânticas fundamentais e independentes e que, embora não haja universal implicacional em relação ao seus usos, elas estão sempre presentes em todos os sistema de classificador e, realmente, isso pode ser comprovado em relação as línguas de sinais, tomando como exemplo a LIBRAS e a ASL. Hoijer (1945:15) descobriu que os verbos classificadores em Navaho estão distribuídos em doze raízes: objetos redondos longos, seres vivos, conjunto de objetos, conteiner rígido com conteúdos, objeto de 64 fabricação, objeto volumoso, conjunto de objetos em paralelo, massa, massa de madeira, objeto como corda, objeto como lama. Por esta classificação pode-se perceber que a categoria inanimado está associada à subcategoria de forma: longo, arredondado e como corda. Estes classificadores são prefixos de raízes de verbos classificadores, pois estes variam de acordo com a classe do(s) seu(s) argumento(s), ou seja, se o verbo for intransitivo, o prefixo varia com relação à classe do sujeito, se for transitivo, varia com relação ao objeto. Na LIBRAS, os predicados classificadores também concordam desta maneira. Carter (1966), pesquisando a língua Chipewayan, também como Hoijer, diferenciou raízes verbais em função do tipo de classificador mas, embora algumas raízes coincidam com as de Hoijer, os dez padrão encontrados são, na maioria diferentes: seres acordados (rã, aranha, urso sentado, pessoa sentada, etc), seres dormindo (pessoa, bebê, urso, garota, etc), seres mortos(pessoa, carcaça de urso, cachorro, peixe, etc), objetos sólidos inanimados (lagoa, faca, pedra, laranja, etc), líquidos (lama, sangue, leite, água fervendo, café, etc), massas granulares (monte de areia, de açúcar, ovos, peixe, etc), objetos como corda, objetos em conjuntos ou plural de objetos ( corda, livro, jogando cartas, óculos, etc), objetos como varas ou containers vazios (avião, caixa vazia, canoa, cadeira, etc), conteiners com conteúdo (caixa com algo dentro, lata de cerveja, pacote de cigarros, etc) e objetos de fabricação (calendário, luvas, folha de papel, etc). Haas (1967:360) fez um estudo comparativo dos classificadores de número em Yurok com os classificadores de predicado em Hupa e concluiu que, embora eles estejam agrupados em classes sintáticas diferentes, eles têm categorias semânticas similares e mostrou o que eles possuíam em comum: 65 Classificadores Numerais em Yurok Classificadores de predicado em Hupa Seres humanos, Animais Seres Vivos (humanos e animais) Objetos finos ou como vara Objetos longos ou como vara Objetos como corda Objetos como corda (ou muitos objetos) Objetos arredondados Objetos arredondados Friedrich (1970), em seu estudo sobre a língua Tarascan, uma língua ameríndia, fala sobre verbos classificadores também e, através de vários exemplos, mostra o que ele chamou de verbos classificadores encobertos (covertly classificatory verbs). Este tipo de verbo traz semanticamente, e não sintaticamente, uma classificação e por isso podem conter na sua significação o caso instrumento, paciente ou tema. Pode-se comparar estes verbos com verbos em Português como perfurar, parafusar, cavar, pentear, escovar, etc, que está implícito em seu significado o tipo de instrumento usado na ação. Mas este tipo de verbo não poderia ser considerado verbo classificador no sentido que está sendo utilizado pelos pesquisadores acima porque aqui a classificação do referente está somente em um nível semântico, no plano de conteúdo, não havendo um sistema de morfemas a nível morfológico, enquanto paradigma desta língua para uma subclasse de verbos que concordam com seu sujeito ou objeto em relação às categorias material, forma, etc. O mesmo acontece em relação a verbos que trazem semanticamente incorporada a categoria 66 arranjo, como nos verbos mencionados acima: empoleirar, amontoar, enfileirar, etc. Como será visto no capítulo 3, estes verbos incorporam o caso modal. Na LIBRAS esta incorporação, no nível semântico, se dá com verbos que possuem um processo mimético na sua formação enquanto item lexical Felipe (1998). Pode-se concluir, a partir de todas estas pesquisas apresentadas, que existe uma certa regularidade em relação à utilização dos classificadores associados aos tipos de língua classificadora e, embora as pesquisas tenham apontado diferentes tipos de classificadores, eles estão associados a uma função morfo-sintática, já que o processo de classificar, através deles, se dá ou como acréscimo a um radical nominal ou verbal, ou como uma derivação interna de raiz, ou mesmos em todos os elementos da frase, como nas línguas classificadoras coordenantes. Nesta perspectiva morfo-sintática, estes morfemas classificadores podem ser vistos como marca de concordância de gênero, ou de número ou de caso, ou de lugar. Levando-se em conta as tipologias para classificadores das línguas orais- auditivas, alguns lingüistas que estão pesquisando línguas de sinais, perceberam que existiam também classificadores nas línguas de sinais. 2. OS CLASSIFICADORES NAS LÍNGUAS GESTUAIS-VISUAIS Vários lingüistas, que têm pesquisado línguas de sinais, têm demonstrado que estas línguas possuem vários tipos de classificadores e, como os lingüistas que têm pesquisando sobre classificadores nas línguas orais- auditivas, aqueles também estão tendo posicionamentos diferenciados ao fazerem tipologias dos classificadores ou especificar as funções que eles exercem. O ponto em comum está na definição de classificador como sendo certas configurações de mãos que funcionam como morfemas que marcam certas características de um objeto nas línguas de sinais. Frishberg (1975), Kegl e Wilbur (1976) e Supalla (1978/79). As divergências estão nos enfoques em relação a estes morfemas classificadores: 67 1. Klima & Bellugi et all (1979) apresentaram um sistema de configurações de mãos que seriam classificadores na ASL, ou seja, as configurações de mãos especificariam uma característica do objeto ou do modo como se seguraria um objeto; 1. Kegl (1985) apresentou estas configurações como sendo clíticos formantes das raízes verbais, existindo o clítico de proeminência e o de fundo; 1. Padden (1990) apresentou verbos classificadores, que possuem configurações de mãos que concordam com o sujeito ou objeto na frase, mas não especificou qual seria este tipo de concordância; 1. Pedersen & Pedersen (1983) preferem o termo pró-forma ao em vez de classificador como Edmondson (1990), que analisando o fenômeno na língua de sinais dinamarquesa, concluiu que as configurações nos verbos de movimento e localização seriam morfemas que caracterizariam os referentes, de modo icônico, em situações estáticas ou dinâmicas, já que a iconicidade4 estaria mais em relação às categorias animado/inanimado, dimensionalidade, orientação, entre outras, do que em relação à forma. Todas estas pesquisas apresentaram ou aspectos fonológicos ou morfológicos ou sintáticos dos classificadores enquanto afixos ou itens lexicais. Na tipologia e morfologia dos Classificadores da ASL de Supalla (1986), pesquisa que sistematiza seus trabalhos anteriores e que tem sido ponto de referência para vários pesquisadores, os classificadores foram divididos em: 1. Especificadores de tamanho e forma: são configurações de mãos 68 que representam vários aspectos do referente. Estes classificadores foram subdivididos em especificadores de tamanho e forma estáticos (SASSes): objetos longo, redondos, etc; e especificadores de tamanho e forma em traço: a mão, movendo-se no espaço, traça as linhas do referente em duas ou três dimensões; 2. Classificador semântico: são configurações de mãos que representam os referentes enquanto categorias semânticas: classificadores de objetos com pernas (pessoa, cachorro, aranha, etc); classificadores de objetos horizontais, verticais, etc; 3. Classificador corpo: todo o corpo do emissor pode ser usado para representar seres animados, sendo esta classe uma marca de concordância nominal; 4. Classificador parte do corpo: a mão ou alguma outra parte do corpo do emissor é usada para representar uma parte do corpo de referente. A parte do corpo é uma localização. Este tipo de classificador foi dividido em: especificadores de tamanho e forma de parte do corpo (dentes na boca, listras de um tigre) e classificadores dos membros (mãos e antebraço; pernas e pé); 5. Classificador instrumento: uma representação mimética ou visual- geométrica do instrumento mostra o objeto sendo manipulado, mas este não é diretamente referido. Este tipo foi subdividido em: classificador mão como instrumento - usados para contrastar os vários meios que a mão interage com objetos sólidos de tamanho e formato diferentes; classificadores ferramenta - usados para operar ferramentas manualmente; 6. Morfemas para outras propriedades de classes de nomes: usados para mostrar consistência e textura (líquido, gasoso, macio, etc); integridade física (quebrado, espedaçado, etc); quantidade (coleção, muitas pessoas, etc); posição relativa (uma pessoa acima de outra, status, etc) Relacionando estes classificadores com verbos de movimento e de localização, Supalla apresenta a raiz destes verbos como sendo formada por: um pequeno número de movimento possíveis (existência, localização 69 oumovimento); um pequeno número de paths (linear, arco e círculo); um morfema classificador (mão ou outra parte do corpo, configurando uma forma particular e localizada em um lugar particular e orientada ao longo de um path) e relações locativas entre o nome central (objeto que move - tema) e o secundário (o objeto fundo). A forma da mão nestes verbos referem-se à classe do objeto que está envolvido no evento. Os morfemas internos destes verbos seriam o morfema classificador, o movimento e os pontos básicos e os externos seriam a flexão de número e aspecto. 2.1. Revendo a tipologia de SUPALLA Embora o estudo de Supalla (1988) tenha sido muito detalhado, resumido acima, tenha contribuído para as pesquisas sobre classificadores e tenha servido de base para outros trabalhos, já mencionados acima, alguns pontos precisam ser revistos: 2.1.1. Classificadores semânticos Primeiramente, como também observou Edmondson (1990), a divisão dos classificadores em semânticos é redundante, já que classificador é uma categoria semântica que se concretiza em itens lexicais ou em tipos de morfemas específicos para cada língua, portanto todo classificador é semântico e, conseqüentemente, o que deve ser pesquisado é em que nível da língua (morfológico ou sintático) se realiza esta representação semântica e como ela se dá. Relacionando as sete categorias de classificação, encontradas nas cinqüenta línguas pesquisadas por Allan (1977), com a proposta de gêneros de Hjelmslev - animado/inanimado: pessoal/não-pessoal, seria mais universal especificar, como nas línguas orais-auditivas, o que Supalla denominou de classificador semântico, como sendo o que Allan denominou de categoria material (animado/inanimado). A categoria material, portanto, nas línguas de sinais, tomando como exemplo a LIBRAS e a ASL, está subdividida em animado: pessoal e não- pessoal (animal), e o inanimado: veículo e coisa (formato: objetos planos, longos, arredondados, etc; tamanho: grande, médio, pequeno). Esta última subcategoria da categoria material (coisa), em verbos de raiz mimética5, sempre vem sincretizada com uma ou mais das outras quatro 70 categorias de classificação encontradas por Allan (1977), ou seja: consistência: flexível, rígido, não-definido,etc; localização; arranjo: enrolado, em círculo, empilhado, enfileirado, etc; e quanta: coleção, volume, peso, etc. O classificador quanta também pode ser sincretizado na categoria material animado, por isso um verbo classificador pode flexionar para concordar com o número: dual, trial, quatrial, plural. A partir desse estudo comparativo sobre classificadores tanto em línguas orais-auditivas tanto em línguas de sinais, podemos verificar que o sistema de classificador nas línguas gestuais-visuais está relacionado ao gênero que, em uma sub-classe de verbos, é marcado através de morfemas obrigatórios que devem ser utilizados morfo-sintaticamente, presos às raízes verbais, para concordar com o argumento do verbo. Na LIBRAS pode ser, assim, esquematizar em relação `as configurações de mão: pessoal (configurações: G; 1; V ) 6 pessoal + quanta (configurações: V; W; 4) animado não-pessoal: animais (configurações 5; 5; B1) coisas (configurações: G; 1; B; B; B; B; C; O; L, A, S inanimado veículos (configurações 3; B; B; Como em línguas orais-auditivas, nas línguas de sinais também ocorre o sincretismo das categorias de classificação, concorrem, assim, com estes morfemas do sistema de gênero acima (configurações de mãos), outras que estão que podem estar iconicamente representadas na raiz Movimento ou na orientação ou no ponto de localização (onde um caminho (path) começa e finda ou onde a coisa é localizada). Como se verá mais à frente, todos estes componentes fazem parte do sistema de flexão verbal da LIBRAS. Estes morfemas sempre estão presos a uma raiz 71 verbal, que é o movimento (+ /-) e anaforicamente concordam com o referente que precede o verbo enquanto argumento: sujeito e/ou objeto. A nível sintático, os morfemas classificadores ocupam o lugar específico para a concordância (I), onde também ficam os clíticos: IP / \ / \ NP I’ / \ / \ I VP / \ / \ V NP marca de gênero Portanto estes morfemas classificadores de gênero não têm uma função sintática, eles se realizam como desinências que vêm sempre afixadas a raízes verbais e, anaforicamente, estabelecem concordância de gênero com o referente que é argumento do verbo. Em verbos intransitivos, eles concordam com o sujeito - caso nominativo, em verbos transitivos, eles concordam com o objeto - caso acusativo. Por isso a mesma configuração de mão como, por exemplo, “G”/”D” ou “1” (quantidade), pode arbitrariamente representar entidade animado pessoal e inanimado não- pessoal porque o tipo de verbo e o contexto impedem a ambigüidade. 72 Quando uma destas configurações está representando entidade animado pessoal, ela anaforicamente concorda com o referente animado (pessoa) que, nos verbos intransitivos, será o sujeito: caso ergativo e, nos verbos transitivos, o referente animado pode ter o sujeito: caso nominativo ou o objeto: caso acusativo, com as regras temáticas agente ou objetivo; mas quando esta configuração está representando um referente inanimado (coisa), ela só pode estar no caso acusativo, associado às regras temáticas objetivo ou Locativo7. 2.1.2. Especificadores de tamanho e forma traçados Em relação ao sistema proposto por Supalla (1986), outra questão que precisa ser revista são os especificadores de tamanho e forma traçados porque estes, também, não podem ser considerados classificadores, no sentido que se vem trabalhando este termo para línguas orais-auditivas, porque eles não formam um sistema fechado e obrigatório que deve ser sempre especificado, através de gramemas, para serem afixados a lexemas. Estes traços feitos no espaço neutro são os próprios lexemas nas línguas de sinais, são itens lexicais que podem ter a função de adjetivos ou expressões adjetivas como, em português: em listras, listrado, forma de estrela, quadrado, triangular, etc. Eles funcionam, enquanto morfemas livres, como modificadores que qualificam o nome sendo, portanto, um sintagma adjetival deste nome, enquanto sintagma nominal. Ao se traçar um formato com um tamanho no espaço neutro, este traço tem autonomia morfologia não podendo ser classificado como afixo e muito menos obrigatório. Seria como se dissesse, em português: camisa listrada, planície ondulada, cerca, etc. Esses adjetivos ou nomes, como certos verbos, já mencionados, acima, também possuem uma raiz mimética, ou sejam, sua configuração se dá através da imitação do próprio objeto ou um atributo a um determinado objeto. 2.1.3. Classificadores “corpo e parte do corpo” Outra questão ainda que precisa também ser revista é o que Supalla chamou de classificadores “corpo e parte do corpo” que também não são classificadores, mas itens lexicais que são as próprias partes corpo. Quando se fala de mão, mostra-se a mão, quando se fala de cabeça, olho, orelha, etc, mostra-se estes órgãos, as partes internas podem ter sinais ou 73 usada a datilologia. Por exemplo, quando se quer dizer que se deu um soco no olho / barriga / face de alguém, basta mimeticamente fazer um gesto com a mão com o ponho fechado indo em direção ao olho, barriga ou cabeça. Estas partes do corpo, contextualizadas em frases, são itens lexicais que funcionam como argumentos para o verbo que possui concordância de lugar, não há, portanto, um classificador na configuração de mão deste verbo e a configuração “ponho cerrado” é uma raiz verbal de derivação zero: suco -> esbofetear. As línguas de sinais mostram o próprio corpo ao em vez de criar um sinal arbitrário, esta parte do corpo funciona como um ponto de referência da Raiz Movimento. Porexemplo, se se quer dizer, em LIBRAS, que alguém deu um soco no olho esquerdo de outra pessoa, a frase terá a estrutura : SOV, trazendo a raiz verbal toda a informação mimeticamente representada por um movimento da mão com ponho fechado simulando um soco no olho esquerdo do emissor da frase. Como já foi mostrado, Felipe(1998), este processo mimético de formação de palavras é muito produtivo e não pode ser confundido com um sistema de classificadores. 2.1.4. Classificadores para instrumento A mesma confusão, no sistema de Supalla, ocorreu ainda em relação ao que ele chamou de classificadores para instrumento porque não se trata, também, de classificadores, enquanto morfemas presos que anaforicamente concordam com um referente que é um argumento do verbo classificador. Ocorrem, na verdade, dois processos diferentes na formação de verbos que possuem configurações de mãos que representam mimética ou iconicamente o objeto, enquanto instrumento, ou a forma de se pegar um objeto: 1. neste primeiro caso, as configurações de mãos que representam instrumentos são, juntamente com os outros parâmetros, itens lexicais nominais mas, em determinado contexto, através do processo de derivação zero, esses item lexicais nominais exercem a função de verbo, trazendo implícito semanticamente o caso instrumental; a incorporação é, portanto, semântica e não morfo- 74 sintática. Quando se diz ‘tomar café’, em LIBRAS, a frase apresentada é CAFÉ BEBER-COM-XÍCARA. O item lexical XÍCARA, neste contexto, tornasse verbo; quando se diz cortar em LIBRAS, há sempre, semanticamente, a incorporação do instrumento porque é a coisa cortante que se torna o próprio verbo: LÂMINA > CORTAR- COM-LÂMINA; FACA > CORTAR-COM-FACA; TESOURA > CORTAR- COM-TESOURA. Pode-se comparar este caso instrumento implícito que aparece em certos tipos de verbos, na LIBRAS, com verbos, em português, que trazem, também, semanticamente, o instrumento incorporado, como por exemplo: pentear, que quer dizer “passar pente”; escovar “passar a escova”; marretar “bater com marreta”;. Este processo de derivação zero na LIBRAS pode ser enquadrado no que Friedrish (1970) chamou de verbos classificadores encobertos, comentado anteriormente; 1. no segundo caso, a forma de segurar/pegar um objeto, que é o instrumento, a configuração das mãos é um dos semas do significado do verbo, está portanto a nível semântico, também, e não morfo-sintático, não se tratando aqui também de um sistema de classificadores. É como se dissesse, em português: ensacar “colocar no saco”; parafusar “colocar parafuso” unhar “arranhar com as unhas”; ciscar, bicar, beijar, abraçar, pinçar, agarrar, segurar, maquiar, tricotar, etc. Como as línguas de sinais possuem uma iconicidade visual, seus sinais para representar estas ações e outras que trazem a idéia de ‘manipulação de uma determinada maneira’, são mais transparentes, motivados, e as configurações de mão mostram icônica ou mimeticamente esta manipulação. Este caso também deve ser analisado como sendo verbos classificadores encobertos, ou seja, é no nível semântico e não no morfo-sintático que se realiza a classificação. Após estas reflexões, retirando o que impropriamente foi considerado classificador, ficam somente algumas configurações de mãos que, sendo morfemas, serão consideradas nesta pesquisa como sendo desinências de gênero. Assim, nas línguas de sinais, tomando como exemplo a LIBRAS, há um sistema complexo de desinências que estabelece as flexões verbais. 3. A FLEXÃO VERBAL NA LIBRAS Cada língua, a partir de uma Gramática Universal, possui a sua gramática 75 particular. As estruturas fono-morfo-sintáticas são portanto idiossincrasias lingüísticas específicas a cada língua, assim cada língua tem seu sistema de flexão formado por morfemas presos ou livres que são relevantes para a sua sintaxe e suas regras transformacionais.8 A partir do exposto anteriormente, pode-se sistematizar um sistema de flexão específico para a LIBRAS. Em trabalhos anteriores, Felipe (1988, 91a, 93a) apresentou alguns verbos da LIBRAS que possuem concordância, e eles foram denominados direcionais, seguindo uma nomenclatura americana: Friedman, Fischer, Padden, Suppala entre outros. Aqui, nesta pesquisa, eles serão agrupados de maneira diferente. 1. Flexão número-pessoal No sistema de flexão verbal da LIBRAS há o parâmetro direcionalidade que é um marcador de flexão de pessoa do discurso. Por exemplo, quando de diz “eu pergunto para você” a direção do movimento é do emissor para o receptor, primeira e segunda pessoas respectivamente; se a frase é “você pergunta a mim” a direção é a oposta, e se a frase for “eu pergunta a ele”, a direção será para um ponto convencionado para a terceira pessoa do discurso (Felipe, 1988). Este sistema é o mesmo para todos os verbos que possuem este tipo de flexão. Nesta flexão para pessoa do discurso, pode-se dizer que a desinência que concorda com o sujeito e o objeto é simultânea à raiz-M verbal porque este tipo de flexão é expresso pela direcionalidade (caminho “path”) da Raiz- Movimento, mas há também uma sequencialidade já que sempre o ponto inicial concorda com o sujeito-agente e o final com o objeto- objetivo.Exemplos: (1) 1sPERGUNTAR2s “eu pergunto a você”, (2) 2sPERGUNTAR1s “você me pergunta”, (3) 3sPERGUNTAR1s “ela me pergunta”, 76 2. Flexão para locativo 1. Além do parâmetro direcionalidade, o ponto de articulação também é um tipo de flexão verbal porque pode concordar com a localização nos verbos que possuem uma valência com locativo intrínseco. Para se compreender esta flexão verbal precisa-se fazer uma distinção em relação a este parâmetro porque há dois tipos de ponto de articulação a ser considerado: o ponto que faz parte da configuração sígnica do verbo, que é somente traço distintivo, estando somente em um plano fonológico da língua, e um morfema que tem uma função e um significado morfo-sintático-semântico. Neste segundo caso, o ponto de realização sígnica é um local real ou convencionalizado onde o movimento termina e este Locativo é marca de concordância com um argumento do verbo, ou seja, é um sintagma de preposição obrigatório. . São verbos que começam ou terminam em um determinado lugar que se refere ao lugar de uma pessoa, coisa, animal ou veículo, que está sendo colocado, carregado, etc. Portanto o ponto de articulação marca a localização. Alguns desses verbos podem ter também classificadores. Exemplos: (4) MESAk COPO coisa-arredondadaCOLOCARk “colocar copo na mesa”. (5) CABEÇAk ATIRARk. ëu atiro na minha cabeça” (6) MESAi COPO objeto-arredondadoCOLOCARi “eu coloco o copo na mesa”(9) 77 3. Flexão para gênero Assim, na LIBRAS, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as precedem, pode vir junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Portanto os classificadores na LIBRAS são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA. Os classificadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente com as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número. Os classificadores para COISA representam, através da concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal, exemplos: (7 ) pessoaCAIR, veículo CAIR, coisa-redondaCAIR, coisa-planaCAIR, (8 ) coisa-fina-e-longaCAIR; (10); (9 ) pessoaANDAR, veículoANDAR/MOVER, animalANDAR ; (10) COPO MESAk objeto arredondadoCOLOCARk; (11) 2 CARRO veículoANDAR-UM-ATRÁS-DO-OUTRO (md) veículoANDAR (me) (12) M-A-R-I-A A-L-E-X pessoaPASSAR-UM-PELO-OUTRO (md) pessoaPASSAR (me) A configuração de mão, como foi visto acima, também em relação a outras línguas de sinais, quando associada a verbos classificadores, é uma flexão de gênero,que pode ser sincretizada a um quanta. 78 Concluindo, pode-se esquematizar o sistema de concordância verbal, na LIBRAS, da seguinte maneira: 1. concordância número-pessoal => parâmetro orientação 2. concordância de gênero e número => parâmetro configuração de mão 3. concordância de lugar => parâmetro ponto de articulação ( Texto de : Tanya A. Felipe ) “-Para se entender Libras é necessário que o intérprete saiba usar os classificadores!” 79 Um pequeno percurso na fonologia da Libras Como reflexo do quadro internacional, os autores, ao se referirem à Libras, também apresentam o mesmo quadro fonológico que as demais línguas de sinais. Por essa razão, apresentaremos dois estudos que são referência em fonologia da Libras. O primeiro estudo linguístico da Libras é o de Ferreira-Brito (1995). De acordo com ela, embora haja outras classificações fonológicas para a ASL e as demais línguas de sinais, para a Libras tem-se “como parâmetros primários a Configuração da(s) Mão(s), o Ponto de Articulação e o Movimento, e como parâmetros secundários a Região de contato, a Orientação da(s) Mão(s) e Disposição das Mãos” (FERREIRA-BRITO, 1995, p.36) A configuração da(s) mão(s) corresponde às diversas formas que a(s) mão(s) assume(m) na realização do sinal, no caso da Libras são 46 configurações (Figura 5). O ponto de articulação é a região onde é realizado o sinal; e o movimento, como o próprio nome diz, é a movimentação do pulso, dedos ou da mão na produção do sinal. Segundo a autora, o movimento é um dos parâmetros mais complexos, esse pode ser classificado como: (i) movimento interno, quando os dedos se movem ocasionando a mudança na configuração da mão;, (ii) o movimento da(s) mão(s), produzido no espaço ou no corpo em linha reta, curvas e círculos e (iii) os movimentos direcionais que traçam direções no espaço da sinalização. Com relação aos parâmetros região de contato, orientação da(s) mão(s) e a disposição das mãos, as noções são as mesmas que as de Klima e Bellugi (1979). 80 (Língua Brasileira de Sinais) ufsj.edu.br Figura 5: As 46 Configurações de Mãos da Libras (FERREIRA-BRITO, 1995, p. 220) Ao lado desses parâmetros, a autora ainda destaca a importância dos Componentes Não-manuais: São elementos muito importantes, ao lado dos parâmetros primários e secundários. Existe mesmo a possibilidade de que a expressão facial ou o movimento do corpo sejam outros parâmetros, dada a sua importância para diferenciar significados. […] É importante notar que tanto os parâmetros primários, como os secundários e os componentes não- manuais podem estar presentes simultaneamente na organização do sinal. (FERREIRA-BRITO, 1995, p.41) Nota-se, com isso, que Ferreira-Brito mantém a mesma proposta de análise de Klima e Bellugi para os parâmetros na Libras; embora, em um primeiro momento, a autora coloque como parâmetro secundário a orientação da(s) mão(s), que será considerado como parâmetro primário por Quadros e Karnopp (2007) Já os estudos de Quadros e Karnopp (2007) não apresentam a distinção entre os parâmetros primários e secundários. Elas consideram que os constituintes da língua de sinais brasileira são: a configuração de mãos, movimento, localização ou ponto de articulação, orientação da mão e 81 expressões não-manuais ou componentes não-manuais. Sendo que os três primeiros são os principais. Figura 6: Pares mínimos na língua de sinais brasileira (QUADROS & KARNOPP, 2007, p. 52) De acordo com Quadros e Karnopp (2007), as línguas de sinais, embora sejam de modalidade distinta, não deixam de ter as mesmas características que uma língua de modalidade oral: O fato de as línguas de sinais mostrarem estrutura dual (isto é, unidades com significado (morfemas) e unidades sem significado (fonemas)), apesar de o conjunto de articuladores ser completamente diferente daquele das línguas orais, atesta a abstração e a universalidade da estrutura fonológica nas línguas humanas. (QUADROS e KARNOPP, 2007, p.53) 82 Para elas, as línguas de sinais, assim como as línguas orais, apresentam os três principais aspectos que podem ser investigados: “os princípios e universais lingüísticos compartilhados entre línguas de sinais e línguas orais; as especificidades de cada língua; e as restrições devidas à modalidade de percepção” (QUADROS e KARNOPP 2007, p.62). Em decorrência disso, segundo elas, autores já vêm propondo – para a fonologia – o estudo dos traços distintivos em que os sinais são um feixe de elementos para formar a configuração de mão, o movimento e a localização; e esses resultaram na constituição dos itens lexicais. Essa análise tem tentado saber quantos traços existem nas línguas de sinais em contraste com as línguas orais. Outro modelo usado nas descrições fonológicas, segundo Quadros e Karnopp (2007), é a fonologia da dependência que consiste em analisar a assimetria binária entre o elemento regente, núcleo, e o dependente. Essa relação núcleo-dependente busca generalizações neutras que respeitem a modalidade de percepção e produção (QUADROS e KARNOPP, 2007, p. 65). Outra proposição desse modelo é a discussão sobre a importância do movimento na formação dos sinais e a sequencialidade dos elementos, a fim de explanar como eles são ordenados e distribuídos de forma linear. Mais recentemente, o modelo autossegmental de Liddell (1984) e Liddell & Johson (2000[1989]) foi utilizado por Xavier (2006) para analisar a Libras com a seguinte prerrogativa: Aqui cabe ressaltar uma das mais significativas diferenças entre o modelo de Stokoe e seus seguidores, e o modelo de Liddell & Johnson. Para os primeiros, configuração de mão, localização, orientação da palma e movimento equivalem, em função, aos fonemas das línguas orais, diferenciando-se destes por serem estruturados e realizados simultaneamente. Para Liddell & Johnson, os três primeiros aspectos equivalem aos traços articulatórios que constituem conjunta e simultaneamente cada um dos fonemas das línguas sinalizadas (que podem ser do tipo movimento ou suspensão), enquanto que o último 83 deles representa um dos dois tipos de segmentos existentes nessas línguas (XAVIER, 2006, p. 24-25) Para Xavier, o modelo de Liddell e Johnson faz conexão entre os aspectos concretos e os abstratos da estrutura fonológica das línguas de sinais. Nele os sinais são constituídos de um único segmento de suspensão ou movimento, ou uma sequência desses dois tipos. Enfim, aqui buscamos abordar de modo bem introdutório os modelos fonológicos que estão sendo utilizados para descrever a Libras e também as línguas de sinais. As pesquisas nessa área ainda precisam se expandir e sanar algumas questões fonológicas. 84 Atividade Faça uma pesquisa nas histórias infantis, fábulas, narrativas, etc, sobre a importância dos classificadores neste contexto. - ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 85 Atividade Pesquise e escolha de um a dois exemplos de classificadores no You Tube (nacional ou estrangeiro). Identifique os seguintes classificadores abaixo : Classificadores descritivos Classificadores especificadores Classificadores de plural Classificadores instrumentais Classificadores de corpo ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 86 Para Felipe (2006, p. 202) dentre os processos de flexão de pessoa, aspecto verbal e a de gênero, esta última ocorre por meio de uma configuração específica de mão que funciona como um classificador. O mesmo acontece com a incorporação do intensificador MUITO ou casos modais, eles alteram a RaizM pela frequência do movimento, incorporando um advérbio ou intensificador. Ainda segundo Felipe (2006), por ser uma língua gestual-visual, outro processo de formação de palavra produtivo na Libras é o mimético, já que faz uso de expressões faciais e corporais na complementação de itens lexicais; e, embora sejam icônicos, eles respeitam as regras fono-morfo- sintáticas e estão no plano da expressão. A partir dele podem-se derivar outros verbos quando acrescentamos à RaizM expressões faciais e corporais, como é o caso dos verbos SALTITAR, DESFILAR, CAMBALEAR derivados de ANDAR. E por fim, Felipe apresenta três tipos de composição por justaposição19: o de justaposição de dois itens lexicais, como nos exemplos de CAVALO^LISTRA-PELOCORPO (CAVALO + LISTRA-PELO-CORPO = “zebra”); MULHER^BEIJO-NA-MÃO (MULHER + BEIJO-NA MÃO = “mãe”); CASA^ESTUDAR (CASA + ESTUDAR “escola”). ASSINAR^SEPARAR (ASSINAR + SEPARAR = “divórcio”); COMER^MEIODIA (COMER + MEIO-DIA = “almoço”)20, justaposição de um classificador e item lexical, em que o classificador é um clítico, por exemplo nos sinais, coisa- pequena^PERFURAR “alfinete”; coisa-pequena^APLICAR-NO-BRAÇO “agulha”; DORMIR^pessoa + “alojamento”21, e justaposição da datilologia da palavra, como em COSTURAR-COMAGULHA^ A-G-U-L-H-A “agulha” 87 Panorama dos estudos sobre classificadores nas línguas de sinais Dentre as primeiras pesquisas realizadas acerca de uma língua de sinais, talvez um dos primeiros relatos sobre classificadores tenha sido apresentado por Klima e Bellugi, em 1979; embora os autores não os tenham descrito com detalhes, pois na época as análises linguísticas estavam mais voltadas para estudos fonológicos e sintáticos das línguas de sinais. Mesmo assim os autores já falavam da existência de tal fenômeno na ASL e que ele desempenhava um papel importante na língua; contudo, eles apresentam o fenômeno, mas não a definição. A princípio eles dizem que: Os classificadores, em particular, são usados para especificar localização espacial e arranjos, e maneiras, direções, e as cadências de movimento. Os classificadores podem demostrar, por exemplo, o caminho e o modo pelo qual uma pessoa, animal ou objeto se movimentam de um lugar para outro - saltando, galopando, se arrastando, tropeçando, tecendo dentro e para fora, enrolando, movendo para cima, para baixo, ou do outro lado. 22 (KLIMA e BELLUGI, 1979, p.13-15) (Tradução nossa) Outro estudo que analisou os classificadores em ASL foi o de Liddell (1980), no livro American Sign Language Syntax. Nessa obra, o autor descreve a ordem sintática da ASL que, segundo ele, é SVO; embora o objeto possa ser topicalizado e formar a sequência OVS. O autor ainda aponta outra sequência possível em que o classificador está presente e que altera a ordem SVO. De acordo com ele, essas construções são do tipo OBJETO-SUJEITO-VERBO e não há marcação de tópico; sendo, portanto, denominadas de estruturas complexas ou verbos complexos em que se têm uma sentença encaixada dentro de si. Além disso, os classificadores, para esse autor, estabelecem uma relação espacial de localização entre os elementos da cena. Especificadores de Tamanho e Forma (Size and Shape Specifiers – SASS); as mãos ou parte delas são morfemas dos verbos de movimento ou de 88 localização que classificam diferentes aspectos ou dimensões da estrutura visual-geométrica dos nomes a que se referem, como: longo, fino, redondo, etc. De acordo com Supalla, esses classificadores são subdivididos em (i) especificadores de forma e tamanho do primeiro nível estático; (ii) especificadores de forma e tamanho do segundo nível estático; (iii) especificadores de forma e tamanho do terceiro nível estático e (iv) especificadores de forma e tamanho traçado. Cada uma dessas subdivisões representará as características dimensionais dos objetos, para isso é necessário que seja adicionado fonologicamente à mão mais um dedo. Exemplo disso é que, ao sinalizar com o dedo indicador, temos o sinal para ponto ou algo com aspecto de linha reta; mas, ao acrescentarmos o dedo polegar, o sentido expresso por esse novo classificador é de que o objeto é redondo. Suppalla (1986, p. 187) ressalta que: As demais configurações de mão em SASS são derivadas dos próximos dois níveis morfofonológicos. Os classificadores de níveis superiores são tanto semântica e fonologicamente mais complexos do que as anteriores que são formas derivadas. O conjunto de características semânticas incorporados nos primeiro e segundo níveis derivacionais indica que a hierarquia semântica dos níveis anteriores só pode representar objectos de no máximo duas dimensões. Os classificadores semânticos, são mais abstratos que os de forma e tamanho (SASS), por representarem um único morfema com a mão inteira, além de serem de movimento. Eles estão subdivididos em: (i) classificadores de objetos com perna ou patas, os quais representam amaneira que um objeto, animal ou homem se locomove em uma trajetória; (ii) classificadores de objetos manobráveis, os quais requerem diferentes morfemas para representar o curso da trajetória do objeto que pode ser na horizontal ou na vertical e (iii) classificadores de objetos de coluna, em que o antebraço é combinado com a mão e os dedos para se referir a uma árvore. 89 Os classificadores de corpo, diferentemente dos outros, são morfemas articulados independentes para marcarem o argumento nominal que se refere a uma pessoa. Eles podem ser: (i) classificadores de parte do corpo, em que a mão marca a parte do corpo, enquanto o componente de localização é o próprio corpo para marcar a orientação espacial, por exemplo, dar um soco no olho (Figura 12 HIT-IN-THE-EYE); (ii) SASS de parte do corpo é a união de SASS com localização no corpo, por exemplo, o sinal de zebra ou onça; e (iii) classificadores de membro que se referem a algum membro do corpo de um ser animado, representando a sua postura ou atitude, como o sinal para coelho ou urso, Figura 12 “CLAWS e PAWS” Classificadores de instrumento: dizem respeito à forma como o objeto é manipulado, sendo divididos em (i) classificador instrumental de mão em que a configuração de mão representa vários sólidos de diferentes formas e tamanhos – esse classificador demonstra a interação do agente com a ação de manipular o objeto – e (ii) classificador de ferramenta, que incorpora características miméticas de como se manipular um instrumento; nesse caso, o classificador demonstra a interação entre a “mão do agente” e o objeto, por exemplo chave de fenda, tesoura e faca Classificadores de textura, consistência e textura tátil (ou morfema classificador de textura): são classificadores de forma e tamanho (SASS) que descrevem propriedades de solidez e rigidez Os classificadores de X-tipo de objeto: Segundo Ferreira-Brito (1995, p. 109), “são usados para descrever a forma e o tamanho dos objetos ou seres referentes e também a maneira como a ação se dá”. Ainda segundo ela, esse tipo de classificador incorpora-se ao verbo, descrevendo e substituindo o nome; e também localiza os referentes. Um exemplo é o classificador com a configuração de mãos em “Y”, representado na Figura16, que indica: 90 pessoas gordas, objetos altos e largos de forma irregular (bomba de gasolina, lata de óleo, gancho de telefone, bule de café ou chá, sapato de salto alto, jarra, veículo aéreo, submarino, ferro de passar roupa, chifre de touro ou vaca), roupas, comidas e outros objetos da casa variados, bonitos e bons. 91 Figura 16: Configuração de mão em forma de ‘Y’ 92 Felipe (2002) conclui que, na Libras, há algumas configurações de mãos que, sendo morfemas, podem ser consideradas classificadores. Essas, segundo ela, serão consideradas como desinências de gênero, 93 Atividade : Descreva cinco exemplos quanto ao papel dos classificadores nos seguintes itens: A) Semântica B) Sintaxe C) Morfologia 2. _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 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____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 97 As CMs determinam os referentes principais a serem classificados. Entretanto, elas, por si só, não constituem o CLASSIFICADOR. O componente semântico completo só é interpretado a partir do momento em que a CM se articula como UL. Elas são lingüisticamente definidas e estão intimamente relacionadas à entidade que descrevem por meio de relações icônicas e/ ou metafóricas, cognitivamente determinadas pelos falantes da LSB. A modalidade vísuo-espacial da LSB favorece a incorporação de várias funções ao CLASSIFICADOR, pois os CLs, de acordo com a forma e a posição que assumem no discurso, preenchem estruturas sintáticas com associações que vão de SUJEITO- VERBO a SUJEITO-VERBO-OBJETO- INTRUMENTO-MODO-ASPECTOLOCATIVO. (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p. 118) Classificadores nominais são subdivididos em: Classificadores nominais descritivos e Classificadores nominais especificadores. Os descritivos (Quadro 2), como o próprio nome diz, descrevem entidades, ou partes delas, que sejam indivíduos36 animados ou inanimados, superfícies, paisagens, sentimentos e lugares. Caso o classificador seja de pessoa, e essa se encontra no plural, ele se modifica a depender da quantidade de pessoas no discurso. Caso ele represente qualquer outra das categorias já mencionadas, a forma de plural terá a noção de coletivo/ coleção, volume, peso e tempo. CLASSIFICADORES NOMINAIS DESCRITIVOS ATRIBUTOS PASSÍVEIS DE DESCRIÇÃO -forma: estrutura (unidimensional, bidimensional e tridimensional), plana, silhueta, perfil, reta, curva, ondulada, “esburacado”, espiralada, helicoidal, ziguezagueada, geométrica (quadrada, redonda, arredondada, triangular, oval) etc. 98 -tamanho: comprimento (comprido e curto), largura (largo e estreito), altura (alto e baixo), todas as dimensões (grande, pequeno, microscópio) etc. -textura: macia, áspera, etc -consistência: líquida, pastosa, cremosa, compacta (maciça), espumante, flexível (mole), rígida (dura), espessa etc. -espessura: grossa, fina, oco/ vazia -tonalidade: clara, escura, desbotada, viva -odor: perfumado, fétido -paladar: doce, salgado. Amargo, azedo/ ácido Quadro 2: Classificadores Nominais Descritivos (tipos de atributos) (FARIA- NASCIMENTO, 2009, p.119) Os classificadores nominais especificadores (Quadro 3), diferentemente dos descritivos, não descrevem atributos dos referentes, mas suas funções são de: a localização de elementos 'de' ou 'em' um referente (números, símbolos etc); ou (ii) o modo como os referentes “arranjam-se”, dispõem-se, distribuem-se ou espalhamse no espaço; o modo como os referentes estão dispostos em dado lugar ou contexto, por exemplo: enrolados, em círculos, empilhados, enfileirados, espalhados etc. (cf. ALLAN, 1977) (FARIA-NASCIMENTO, 2009, 121). ESPECIFICADORES DE LOCALIZAÇÃO NÚMERO- -EM-CAMISA-DE-FUTEBOL 99 -EM-RESIDÊNCIA -EM-TELEFONE -DE-CANAL-DE-TV -DE-CELULAR ESPECIFICADORES DE MODO FUMAÇA- -DE-CIGARRO-ESPALHANDO -DE-CHURRASCO-SUBINDO -DE-CHAMINÁ-ESPALHANDO LIVROS - EMPILHAD@ ENFILEIRAD@ ESPALHAD@ CADEIRAS- -EM-CÍRCULO -ENFILEIRAD@ POTE(S-LADO-A-LADO QUADRO(S) -ESPALHAD@ (EM ORDEM) 100 -ESPAHAD@ (SEM ORDEM) PRATO(S)-ENCAIXAD@-NO-ESCORREDOR TALHERE(S-POSTOS-NA-MESA Classificadores Nominais Especificadores (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p.121) Classificadores verbais, ou verbos manuais, constituem os predicados complexos, podendo ocorrer sozinhos ou com um classificador nominal; ao serem realizados nesse último caso, eles são sintagmas nominais que incorporam sintagmas verbais ou vice-versa. A incorporação se realiza quando o sintagma verbal é seguido de um argumento externo em função de sujeito. Classificadores homônimos são aqueles que têm a mesma forma, mas têm significado diferente; e é por meio do contexto que se determina o significado. Como no quadro apresentado por Faria-Nascimento (2009, p.127): CLASSIFICADORES HOMÔNIMOS PESSOA-DEITADA x PESSOA-DORMINDO-MAL x PESSOA-SE MEXENDO-NA CAMA PESSOA-FAZENDO-EXERCÍCIO (com as pernas) x PESSO- DEITADAPERNAS-PARA-CIMA x PESSOA-OLHANDO-PARA-CIMA MODELODESFILANDO x PESSOA-PASSANDO-POR-CIMA-DA-PONTE Classificadores Homônimos (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p.127) As considerações sobre classificadores feitas por Faria-Nascimento não 101 divergem muito das dos demais autores, a não ser pela nomenclatura e que incorporação em Libras está relacionada à simultaneidade ou sobreposição de informações sintático-semânticas; porém a literatura tem apresentado que a simultaneidade em línguas de sinais é aquela em que os fonemas são realizados ao mesmo tempo, enquanto nas línguas orais a pronúncia dos fonemas é linear. A respeito desse assunto, nesta pesquisa, consideramos que a Libras é predominantemente simultânea e este diz respeito à sinalização (pronúncia) dos fonemas na língua, ao invés de uma sobreposição sintático-semântica. Nota-se, assim, que contrastar duas línguas de modalidades distintas não significa encontrar nas línguas visuais as mesmas fórmulas já existentes nas línguas orais; mas compreender como funcionam, respeitando suas diversidades e analisando de que forma os fenômenos linguísticos ocorrem nas línguas. Ao contrastarmos a Libras com as línguas orais queremos analisar as suas semelhanças com as línguas orais, bem como sua diversidade no que diz respeito aos aspectos morfológicos 102 Intensificadores em Libras Segundo os autores, a intensificação de adjetivos é geralmente expressa por meio de modificações que tornam sua forma visivelmente diferente de sua realização basal. As modificações identificadaspor Wilbur, Malaia e Shay, listadas no quadro (1), se referem a modificações referentes à tensão e movimentação de partes do corpo. Aumento na tensão das mãos e da face; Aumento na tensão das mãos e da face; Modificações no movimento: Acréscimo ou aumento da trajetória do movimento; - Demora na soltura do início do movimento; Modificações nas expressões não-manuais (ENMs) (face, cabeça, corpo): Modificações nas expressões não-manuais (ENMs) (face, cabeça, corpo): Franzimento da face; Inclinação da cabeça. Modificações na forma de adjetivos para expressar intensidade (traduzido de WILBUR; MALAIA; SHAY, 2012: 95) A expressão de intensidade na libras é um tema ainda pouco investigado. Uma das primeiras menções a esse processo na referida língua provém do trabalho de XAVIER (2006). Dentre os 2274 sinais do dicionário de CAPOVILLA e RAPHAEL (2001) que analisou, o autor identificou, assim como 103 que têm intensidade e ou advérbio de modo em um sinal. JOHNSTON e SCHEMBRI (1999) na língua de sinais australiana, alguns sinais monomanuais cuja intensificação parece implicar sua realização com duas mãos Há possibilidade de utilizar a classificador e o verbo dentro do intensificador e advérbio de modo em libras com contextualizar das expressões faciais e corporais nas frases. Exemplo: ESTA PESSOA COMER (devagar) EU ESPERAR (muito) NÃO PODER ATRASAR TRABALHAR. E devem utilizar cinco parâmetros em juntar as palavras 104 ATIVIDADE Escolha uma palavra que tem dentro da intensificador e ou advérbio de modo e juntar uma frase para fazer em libras, e fale se é intensificador ou advérbio de modo. ELA PÃO COMER (???) HOMEM LIVRO LER (???) MULHER ESCOVAR DENTE (???) ELA PENTEAR CABELO (???) MENINO PAPEL RASGAR (???) ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ___________________________________________________________ 105 Intensificador e Advérbio de modo a. Configuração de mão b. Movimento c. Ponto de Articulação d. Orientação da mão e. expressão corporal e/ou facial ATIVIDADE: Criar três frases que relaciona Intensificador e adverbio de modo e faça um vídeo. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 106 Intensificador e advérbios de modo Como já foi informado anteriormente, na Libras, há substantivo e verbo que são representados pelo mesmo sinal. Isso também acontece com alguns adjetivos. Sintaticamente, a diferença entre eles está também na possibilidade dos adjetivos e verbos poderem incorporar um intensificador (muito) e dos verbos poderem incorporar advérbios de modo, que são expressos através da modificação do movimento. O intensificador \u201cmuito\u201d e alguns advérbios de modo podem ser expressos também através das expressões facial e corporal. Há uma diferença entre \u201cmuito\u201d (intensificador) e \u201crápido\u201d (advérbio de modo). Para intensificar uma ação, há uma repetição do sinal correspondente a esta ação e uma incorporação de um movimento lento. Já para estabelecer um modo RÁPIDO de se realizar a ação, há uma repetição do sinal da ação e a incorporação de um movimento acelerado. Há, ainda, a incorporação do intensificador \u201cmuito\u201d ou de advérbios de modo, que alteram, também, o movimento, através de um alongamento do movimento, como por exemplo, em: BONIT@-muito, CANSAD@- muito; ou de uma mudança do movimento, como por exemplo: ANDAR- cambaleando, ANDAR- saltitando, ANDAR- apressadamente; ANDAR. 107 108 109 Sistema de Transcrição para a Libras As línguas de sina is têm características próprias e por isso vem sendo utilizado mais o vídeo para sua reprodução à distância. Existem sistemas de convenções para escrevê-las, mas como geralmente eles exigem um período de estudo para Este sis tema, que vem sendo adotado por pesquisadores de línguas de sinais em outros países e aqui no Brasil, tem este nome porque as palavras de uma língua oral-auditiva são utilizadas para representar aproximadamente os sinais. 110 Exemplos: SAUDAÇÕES Em todas as línguas há o ritual da saudação. Dependendo do contexto, esse cumprimento será mais formal ou informal e geralmente é complementado por gestos. A Libras tem também sinais específicos para cada uma dessas situações. Assim podem-se utilizar os seguintes sinais: BOM DIA, BOA TARDE, BOA NOITE, OI, TCHAU, acompanhados ou não de gestos para cumprimentos: 111 112 Expressões interrogativas e advérbio de frequência Estas expressões geralmente são utilizadas nesse contexto de ano sideral e, por isso, ébom conhecê-las: *QUANTA-VEZ? *1-VEZ/2-VEZ/3-VEZ/4-VEZ *MUITAS-VEZ *1-VEZ Diferente de: *PRIMEIRA-VEZ *PRIMEIRO *PRIMEIRAMENTE 113 114 Comparativo de igualdade, superioridade e inferioridade Em Libras, também, pode ser comparada uma qualidade ou uma ação a partir de três situações: igualdade, inferioridade e superioridade. Para expressões comparativas de superioridade e inferioridade, usa-se os sinais MAIS e MENOS antes do adjetivo comparado, seguido da conjunção comparativa DO-QUE, ou seja comparativo de superioridade: X MAIS ----ADJ-- --DO-QUE Y; *comparativo de inferioridade: X MENOS ----ADJ- ---DO-QUE Y; Essa expressão comparativa “do que” tem flexão para as pessoas do discurso e, por isso, a orientação para aonde o sinal aponta indicará a segunda pessoa/objeto/animal comparados. Para o comparativo de igualdade, podem ser usados dois sinais: IGUAL (dedos indicadores e médios das duas mãos roçando um no outro) e IGUAL (duas mãos em B, viradas para frente encostadas lado a lado), geralmente no final da frase. 115 116 117 Pronomes indefinidos e quantificadores 118 119 Advérbios de tempo (freqüência) Na Libras, há expressões específicas para representar freqüência de uma ação e algumas são expressões idiomáticas: *NUNCA, N-U-N-C-A, NUNCA-M-A-I-S, NUNCA-VI, NUNCA-V-I *FREQUÊNTE E FREQUENTEMENTE possuem a mesma configuração de mão, mas para a segunda idéia que tem o aspecto contínuo, o sinal é feito repetidamente; *SEMPRE (CONTINUAR) e MESM@ possuem a mesma configuração de mão, mas para o primeiro há um movimento para frente do enunciador, enquanto o segundo fica no mesmo ponto de articulação inicial; *MESM@-IGUAL é um sinal composto formado pelo sinal MESM@ mais o sinal igual, com o sentido de “sempre”, “mesma coisa”. 120 Os classificadores e os adjetivos descritivos na libras *uma partícula que se coloca antes ou depois da raiz; *uma desinência que se coloca no verbo para estabelecer concordância. Ao se atribuir uma qualidade a uma coisa como, por exemplo: arredondada, quadrado, cheio de bolas, de listras, entre outras, isso representa um tipo de classificação porque é uma adjetivação descritiva, mas isso não quer dizer que seja, necessariamente, um classificador como se vem trabalhando este conceito nos estudos lingüísticos. Para os estudiosos deste assunto, um classificador é uma fo rma que existe em número restrito em uma língua e estabelece um tipo de concordância. Na Libras, os classificadores, como foi visto acima, são configurações de mãos que, relacionadas à coisa, pessoa, animal e veículo, funcionam como marcadores de concordância. Assim, na Libras, os classificadores são formas que, substituindo o nome que as precedem, podem ser presa à raiz verbal para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Portanto, os classificadores na Libras são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA, VEÍCULO. Os classif icadores para PESSOA e ANIMAL podem ter plural, que é marcado ao se representar duas pessoas ou animais simultaneamente co m as duas mãos ou fazendo um movimento repetido em relação ao número. Os classificadores para COISA representam, através da concordância, uma característica desta coisa que está sendo o objeto da ação verbal. 121 Atividades Observe as quatro gravuras e faça as descrições utilizando classificadores para cada categoria na LIBRAS (utilize o quadro de configurações de mão): A - Descrição de superfície B - Descrição do corpo associado ao olhar ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 122 Descreva cinco exemplos quanto ao papel dos classificadores nos seguintes itens: A) Semântica B) Sintaxe C) Morfologia ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 123 Escolha no youtube algumas cenas dos Surdos que apresentam classificações e tente traduzir. Explicite as dificuldades e as facilidades na tradução dos classificadores. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ __ 124 Bibliografia http://www.libras.ufsc.br colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica fatecc.com.br O processo de formação de palavra na Libras. ETD-Educação temática digital. Campinas, v. 7, no. 2, p 200-217, jun-2006. Disponível em : http://www.slideshare.net/asustecnologia/formao-depalavras-em-libras. Acesso em: 15 jun. 2011. FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Linguística e Filologia, 1995. __________. Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS. In: BRASIL, Ministério de Educação e Cultura. Secretaria de Educação Especial. Língua brasileira de sinais. (Série Atualidades Pedagógicas). Brasília, v. 3, n. 4 , p. 19- 61,1998. __________. LANGEVIN, R. Sistema Ferreira-Brito-Langevin de transcrisção de sinais. In: FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Linguística e Filologia, 1995. QUADROS, R.M. KARNOPP, L.B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. SOUSA, W.P.A. 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