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REALISMO: O que se via diante da realidade Contexto Histórico O realismo foi um movimento literário e artístico que teve início em meados do século XIX, na França. Como o próprio nome sugere, essa manifestação cultural significou um olhar mais realista e objetivo sobre a existência e as relações humanas, surgindo como oposição ao neoclassicismo e ao romantismo com sua visão idealizada da vida. A vertente se manifestou principalmente na literatura, sendo seu marco inicial o romance francês e realista Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857. Filhos de seu tempo, os realistas abraçaram a ciência como grande patrona do século XIX, substituindo as idealizações e anseios de liberdade do romantismo por uma postura analítico científica, dissecando a realidade que se via em constante transformação. Em Portugal, entende-se que o movimento realista tem início com a questão de Coimbrã, em que foram publicadas as obras “Odes Modernas” de Antero de Quental e “Tempestades Sonoras" de Teófilo Braga, em 1860. Características do realismo · Valorização da objetividade extrema dos fatos, marcado pela razão. · Impessoalidade, apagamento das ideias do autor; · Descrições de tipos sociais ou situações típicas, como as classes sociais desfavorecidas e ações coletivas. · Fim das idealizações românticas, retratando o adultério, a miséria e fracasso social, a opressão, a corrupção, etc. · Prevalência das formas do romance e do conto; · Frequentes críticas à moralidade da nova classe dominante, a burguesia; · Aceitação da realidade tal como ela é, em oposição aos anseios de liberdade dos românticos; · Esteticismo: linguagem culta, simples, estilizada, escrita com proporção e elegância; · Tentativa de explicar o real, recorrendo muitas vezes à ciência ou ao determinismo (de que o homem ou a mulher é influenciado (a) pelo meio). · Abordagem psicológica das personagens como composição da realidade que veem. · Ironia como marca retórica: Especialmente na obra de Machado de Assis, é possível perceber um claro traço de ironia nas descrições e narrativas. Em geral, essa figura de retórica expõe críticas diversas ao grupo social representado na narrativa, isto é, à burguesia vigente. · O Positivismo Comteano teve grande influência nas obras do realismo e no pensamento da época de modo geral: tratava-se de uma concepção de mundo científica, que propunha que a apreensão da realidade deveria ser objetiva, empírica, como nos procedimentos de análise das ciências naturais. O progresso, ideal maior dos positivistas, só viria por meio da ciência. · Materialismo e universalismo. LANGLEY, WALTER. O filho de um pescador, 1884. Realismo em Portugal Em Portugal, entende-se que o movimento realista tem início com a questão de Coimbrã, em que foram publicadas as obras “Odes Modernas” de Antero de Quental e “Tempestades Sonoras" de Teófilo Braga, em 1860. Autores do realismo em Portugal Antero de Quental Antero de Quental, um dos principais autores e introdutor do realismo em Portugal, afirmou que a poesia era a voz da revolução. Suas principais obras foram: Odes Modernas (1885) e Primeiras Românticas (1872). A sua poesia “vagou" pelo mundo da idealização e neoplatonismo (influência, ainda da fase Romântica); pela crítica e realidade objetiva do mundo, na obra: HINO À RAZÃO. ANTERO DE QUENTAL. Eça de Queirós Eça de Queiros foi um dos principais autores do Realismo em Portugal e seu projeto literário retratava as cenas cotidianas da vida portuguesa. De maneira incisiva, abordou os aspectos da realidade social. As principais obras foram: O crime do Padre Antônio/Amaro; O primo Basílio e Os Maias. O crime do Padre Amaro – nessa obra, Eça de Queirós critica especialmente a Igreja, retratando a história do Padre Amaro e como ele se tornou amante de Amélia, moça que engravidou do padre e morre com a chegada do filho. O primo Basílio – nessa obra, Eça de Queirós conta a história de Luísa, jovem típica do romantismo que se deixa apaixonar pelo Primo Basílio, se tornando uma mulher adúltera , que ia contra os princípios da época. No final da obra, Luísa se arrepender, demonstrando a moralização do realismo.EÇA DE QUEIRÓS Realismo no Brasil O realismo no Brasil inicia-se em 1881, com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. No Brasil, o realismo ocorre apenas na prosa – não houve poesia realista como em Portugal e França. A correspondência poética ao Realismo, no Brasil, foi o Parnasianismo. O movimento literário surge: · no período em que o cientificismo, o positivismo e as teorias sociais vindas da Europa. · com o abolicionismo, com a assinatura da Lei Áurea. · a Guerra do Paraguai. · a substituição da mão de obra escrava pela assalariada (principalmente dos imigrantes que chegaram ao Brasil). · o ideal republicano e a crise da monarquia caracterizavam a segunda metade do século XIX. Principal autor realista brasileiro O principal autor do movimento realista, no Brasil, é Machado de Assis, fundador da academia brasileira de letras. Machado de Assis As Fases da estética de Machado de Assis A estética literária de Machado de Assis é dividida em duas fases: · Na primeira fase predomina a literatura Romântica, na qual o autor ainda demonstra características típicas do romantismo. Nessa fase se destacar as obras: “Ressurreição”; “A mão e a Luva"; “Helena" e “Iaiá Garcia". · Na segunda fase machadiana predomina o aspecto realista inaugurado pela obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas". Essa fase tem como cenário, a capital do império, Rio de Janeiro; e os temas focam na traição, pessimismo e a falsidade. Pertencem a essa fase também: Dom Casmurro, Quintas Borba, Memorial de Aires e Esaú e Jacó. As duas principais obras realistas de Machado de Assis MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (2⁰ fase machadiana – História dos subúrbios) Resumo A obra Memórias Póstumas de Brás Cubas narra a história de Brás Cubas, um burguês elitista da cidade do Rio Janeiro do século XIX, que decide começar a contar sua história a partir da morte e como sua vida não se concretizou como ele queria. Ele inicia pelo seu delírio e morte, depois conta o seu nascimento e vai alternando, sem qualquer critério lógico, episódios de diversas fases da sua vida, sempre com uma alta dose de humor e visão pessimista. Conta como se envolveu com a prostituta Marcela e tem um amor extraconjugal com Virgília, vivendo um “jogo perigoso". Termina a obra ironizando sua morte e seus fracassos, afirmando que a vida é uma miséria e que não vale a pena perpetua-la a partir da família. Narrador A narração é feita em primeira pessoa (não onisciente) e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém. A grande mudança do romance realista em detrimento de outros, é exatamente a mudança de narrador (personagem). Esse fato faz com que o leitor tenha desconfiança do que é narrados ao longo do romance realista. Foco Narrativo Com a narração em primeira pessoa, a história é contada partindo de um relato do narrador-observador e protagonista, que diversas ve,zes conversa com o leitor. Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos permitirão ter acesso aos bastidores da sociedade carioca do século XIX. Tempo A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária (imparcial), com digressões(volta dos capítulos) e manipulando os fatos à revelia, sem seguir uma ordem temporal llinear. O grande choque se dá por causa da sequência ALINEAR da obra. A morte, por exemplo, é contada antes do nascimento e dos fatos da vida, diferença com a “escrita de Moisés” Ironia Repleto de ironias, metáforas e eufemismos, Machado conseguiu representarnessa obra diversas críticas sociais, inclusive à elite da época. A ironia é um dos principais recursos usado pelo defunto-autor para contar sua história e a imoralidade da burguesia da época, uma vez que o narrador está para além do terreno e consegue, assim, evitar qualquer tipo de julgamento para ele. Romance social e psicológico Pessimismo A característica mais marcante deste livro é o pessimismo. Tudo é analisado a partir de uma visão negativa, seja em relação ao comportamento social ou aos dramas psicológicos das personagens. Imagens Capítulo 1 – Dedicatória Dom Casmurro Narração Em Dom Casmurro, a narração é na primeira pessoa: Bento Santiago, o narrador-protagonista, já velho, escreve sobre o seu passado. Assim, toda a narração está dependente da sua memória, os fatos são contados segundo o seu ponto de vista. Devido a este caráter subjetivo e parcial da narração, o leitor não consegue distinguir a realidade e a imaginação de Santiago, duvidando da sua fiabilidade enquanto narrador. Desta forma, o romance abre a possibilidade ao leitor de interpretar os fatos e se posicionar a favor ou contra o protagonista, face à possível traição. Espaço O enredo tem lugar no Rio de Janeiro de meados / final do século XIX. Sede do império desde a Independência em 1822, a cidade assistia à ascensão da burguesia e pequeno-burguesia carioca. Santiago e sua família, pertencentes a uma classe social de posses, habitam várias ruas e bairros históricos do Rio de Janeiro Paródia Uma das formas mais clássicas que assume o humor e a ironia de Machado de Assis é a paródia. Uma paródia seria uma imitação cômica de um outro texto literário (pode ser também de uma música, filme, estilo, filosofia, etc.) já consagrado pela tradição. Em “Dom Casmurro”, temos três grandes paródias: 1 Iliada de Homero 2. Otelo de Shaskpeare 3 o mito de Abraão e Isaac Tempo O tempo da narrativa é psicológico, e não cronológico. O tom do romance, que é construído em flashback, é de uma pessoa desiludida e amargurada, e sua visão dos fatos narradas é totalmente subjetiva e unilateral. image4.jpeg image5.jpeg image6.jpeg image7.jpeg image1.jpeg image2.jpeg image3.jpeg