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LIBRAS Professora Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Professora Me. Marília Ignatius Nogueira Carneiro Professora Esp. Beatriz Ignatius Nogueira Soares GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; NOGUEIRA, Clélia Maria Ignatius; CARNEIRO, Marília Ignatius Nogueira; SOARES, Beatriz Ignatius Nogueira. LIBRAS. Clélia Maria Ignatius Nogueira; Marília Ignatius Nogueira Carneiro; Beatriz Ignatius Nogueira Soares. Maringá - PR: Unicesumar, 2017. Reimpresso em 2023. 425 p. “Graduação - EaD”. 1. Libras 2. Linguagem . 3. Sinais 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0705-3 CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Marcia Maria Previato Souza Designer Educacional Isabela Agulhon Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Daniel Fuverki Hey Fernando Henrique Mendes Qualidade Textual Pedro Afonso Barth Kaio Vinicius Cardoso Gomes Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Pós-graduação Bruno do Val Jorge Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. A U TO R A S Professora Esp. Beatriz Ignatius Nogueira Soares Especialista em Educação Especial – Instituto Paranaense de Ensino e Faculdade Maringá. Licenciada em Artes Visuais pela Unicesumar e Licenciada em Letras Libras pela UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Professora de Libras da UFPR – Universidade Federal do Paraná – Campus de Palotina. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Surdez e Ensino de Matemática, da Universidade Estadual Paranaense – UNESPAR e Coordenadora do Projeto de Apoio a Difusão da Libras – Palotina - UFPR. Para maiores informações, acesse o link disponível em: <http://lattes.cnpq. br/9086666373114923>. Professora Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Doutora em Educação pela UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Mestra em Matemática pela USP – Universidade de São Paulo. Licenciada em Matemática pela FAFIT – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Tupã, SP. Professora de Libras da Unicesumar desde 2010. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Surdez e Ensino de Matemática, da Universidade Estadual Paranaense – UNESPAR; do Projeto de Apoio a Difusão da Libras do Departamento de Língua Portuguesa da UEM e do Projeto de Apoio a Difusão da Libras – Palotina – UFPR. Para maiores informações, acesse o link disponível em: <http://lattes.cnpq. br/7001703570357441>. Professora Me. Marília Ignatius Nogueira Carneiro Mestra em Educação pela UEM. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Surdez e Ensino de Matemática, da Universidade Estadual Paranaense – UNESPAR, Campus de Campo Mourão. Licenciada em Letras Libras pela UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Bacharel em Gastronomia pela Unicesumar – Maringá. Professora de Libras do Departamento de Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Maringá e Coordenadora do Projeto de Apoio a Difusão da Libras – UEM. Para maiores informações, acesse o link disponível em: <http://lattes.cnpq. br/4034205128370041>. SEJA BEM-VINDO(A)! Olá caro(a) aluno(a)! Você certamente deve estar se perguntando por que estudar a Lín- gua Brasileira de Sinais, a Libras. Afinal, essa é a língua dos surdos brasileiros e provavel- mente você nem conhece ninguém surdo! Algo que você provavelmente não sabe é que atualmente existem no Brasil cerca de 5.7 milhões de pessoas surdas e que, segundo dados do MEC - Ministério da Educação, em 2001, existiam 50 mil estudantes surdos matriculados no Ensino Fundamental, a maioria deles em classes comuns, em escolas inclusivas, vivenciandouma situação de fracasso escolar, principalmente porque a metodologia mais utilizada ainda é a explicação oral. Este dado de 2001 é importante porque deu origem a diversas ações do Ministério da Educação do Brasil, mudando, radicalmente e para melhor, a educação do surdo brasi- leiro. Dentre elas, destacamos o Decreto Federal 5626 de 22 de dezembro de 2005, que tornou obrigatório o ensino de Libras - Língua Brasileira de Sinais - em todos os cursos de formação de professores e também de fonoaudiologia do Brasil, além de se constituir como disciplina optativa dos demais cursos. É por isso que você está tendo esta disci- plina! A surdez pode ser caracterizada de duas maneiras distintas: seguindo o modelo médico, em que ela é vista como uma deficiência, uma limitação de natureza patológica, com o surdo sendo rotulado por aquilo que não é capaz de fazer, ou seguindo a concepção sócio-antropológica da surdez, como uma diferença linguística, encarando o surdo a partir de suas possibilidades, que poderão ser mais ou menos aproveitadas em função da educação que lhe for ofertada. Ao elaborar este livro texto, procuramos atender prioritariamente a três grandes ob- jetivos: proporcionar a constituição de uma imagem positiva da surdez e dos surdos; favorecer a inclusão educacional e social do surdo e promover a difusão da Libras. Pelo nosso sobrenome, você já deve ter percebido que nós três somos parentes! É verda- de. Somos mãe (Clélia) e filhas. A mãe é ouvinte e as filhas são surdas e nós vivenciamos um período muito difícil na educação do surdo brasileiro, no qual os professores não aprendiam a se comunicar com seus alunos e mais, os próprios surdos eram proibidos de usar a Libras! Esse período foi muito difícil e isso acontecia porque as pessoas, incluídas aí os profes- sores e a família, acreditavam que aprender falar oralmente era a única forma do surdo - que naquela época era designado por deficiente auditivo - se integrar à sociedade. Atualmente, muita coisa mudou. Até a maneira de se referir aos surdos, e na Introdução da Unidade I, nós vamos discutir isso melhor. Vamos mostrar porque hoje os surdos não querem mais ser chamados de deficientes auditivos e mais, vamos mostrar porque a maneira como nós utilizamos as palavras é importante! Sem uma boa discussão parece implicância querer que se utilizem algumas palavras. A tal da história do “politicamente correto”, afinal, o que isso importa, se as pessoas entendem do que estamos falando, independente da palavra usada? Esta resposta está lá, na Introdução da Unidade I. APRESENTAÇÃO LIBRAS Com a Unidade I - O surdo, a surdez, a educação, a cultura e identidades surdas - nosso objetivo é introduzir você no mundo surdo, mostrando, por exemplo, que nem sem- pre os surdos tiveram direito à educaçãoe que, que começou somente por volta do século XV, quando os surdos começam a ser educados e, desde seu início, a grande discussão sempre foi se esta educação deveria ser feita sustentada essencialmente na oralização ou se poderia ser apoiada em gestos. Em seguida, o objetivo é discutir como se efetiva a educação do surdo no Brasil atual. Quais são as políticas, as leis e os programas públicos de atendimento edu- cacional ao surdo, além dos recursos tecnológicos para a sua inclusão social e edu- cacional. Estes temas são abordados na Unidade II, que trata, como o próprio título indica, de maneira direta, e Legislação, Políticas Públicas e Recursos Tecnológicos para a Educação de Surdos. Na terceira unidade - Aspectos Gerais e Fonológicos da Libras -, começamos a apre- sentar a Libras, em seus aspectos gerais e fonológicos e, já a partir da introdução da Unidade III, você vai ficar sabendo que a Libras é uma língua com gramática própria e proporciona para os surdos tudo que a língua oral proporciona aos ouvintes. E ain- da, que cada país tem a sua língua de sinais. A Libras é a Língua Brasileira de Sinais, falada pelos surdos brasileiros. Finalizamos a parte teórica da Unidade III discutindo as restrições para a criação de sinais em Libras. Nesta unidade também iniciamos a construção do seu vocabulário em Libras, com o Léxico de Categorias Semânticas, isto é, sinais para um grupo de palavras relacionadas entre si por um grande tema. Esta construção de vocabulário também está presente nas Unidades IV e V. Em fun- ção da limitação de espaço em um texto como este, nos limitamos ao vocabulário mais básico para a sala de aula. Para o estudo dessas três unidades, os vídeos são fundamentais, assim como a consulta aos sites indicados. Na Unidade IV - Aspectos Morfológicos da Libras - o objetivo principal é discutir as re- gras que determinam a formação de sinais abordando, também, os Classificadores, poderosos auxiliares da Libras. Na Unidade V - Aspectos Sintáticos da Libras -, o objetivo é apresentar a sintaxe es- pacial, ou seja, como se caracteriza o “espaço gramatical” em Libras; discutindo as regras para a formação de frases em Libras, por exemplo. Tratamos também da mo- dulação de sinais em Libras como processo análogo ao da entonação na Língua Portuguesa. Sabemos que aprender Libras é uma tarefa difícil e quase impossível de acontecer só com esta disciplina. Nós esperamos que você se interesse pelos surdos, pela sua língua e procure estudar mais e mais! Finalizamos esta apresentação com esta frase que nos faz refletir: “O que importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira surdez, a incurável surdez é a da mente” (FERDINAND BERTHIER, surdo francês, 1854). Abram suas mentes e bons estudos! APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS 15 Introdução 16 História da Educação de Surdos 22 Abordagens Educacionais para Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo 32 Cultura e Identidades Surdas 41 Considerações Finais 47 Referências 49 Gabarito UNIDADE II LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS 53 Introdução 54 Inclusão como Princípio da Educação Especial 57 A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos 71 A Educação de Surdos e as Políticas Públicas do Brasil 77 Tecnologias de Acessibilidade para a Comunicação do Surdo 85 Considerações Finais 92 Referências 94 Gabarito SUMÁRIO 10 UNIDADE III ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS 97 Introdução 98 Paralelos Entre Libras e Língua Portuguesa 109 Aspectos Fonológicos da Libras 130 Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza 145 Considerações Finais 153 Referências 154 Gabarito UNIDADE IV Aspectos morfológicos da Libras 157 Introdução 158 Aspectos Morfológicos da Libras 175 Classificadores 190 Léxico de Categorias Semâticas II 261 Considerações Finais 266 Referências 267 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS 271 Introdução 272 O Espaço Gramatical 295 Verbos em Libras 300 Léxico De Categorias Semânticas III 416 Considerações Finais 422 Referências 423 Gabarito 424 Conclusão U N ID A D E I Professora Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Professora Me. Marília Ignatius Nogueira Carneiro Professora Esp. Beatriz Ignatius Nogueira Soares O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Objetivos de Aprendizagem ■ Refletir sobre o percurso histórico da Educação de Surdos. ■ Cotejar as principais abordagens pedagógicas na Educação de Surdos. ■ Refletir sobre cultura e processo de construção de identidades surdas. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ História da educação de surdos ■ Abordagens educacionais para surdos: oralismo, comunicação total e bilinguismo ■ Cultura e identidades surdas INTRODUÇÃO Apesar de, aparentemente, não ter importância a denominação escolhida para designar uma pessoa ou um grupo de indivíduos, ela revela nossa concepção, a maneira como consideramos a pessoa,o grupo ou o fenômeno a que nos referimos. É comum entre as pessoas, por exemplo, a utilização da expressão surda-muda para designar a pessoa surda. A palavra mudo não corresponde à realidade do surdo, pois ele não é mudo, no sentido de possuir comprometimentos no sistema fonoarticulatório, mas, a maioria das vezes, a pessoa surda não fala porque não consegue aprender, pois não possui o feedback auditivo. Há casos de pessoas que ouvem (portanto, não são surdas), mas têm um distúrbio da fala e, em decorrência disso, não falam, são mudas. A expressão deficiente auditivo está ligada ao período que refletia a concepção do Modelo Médico, que entendia o surdo como deficiente e, para torná-lo efi- ciente, a ênfase no trabalho era a de reabilitação (trabalho de reabilitar a audição e a fala, na tentativa de minimizar os efeitos provocados pela alteração auditiva). Atualmente, dentro da concepção defendida por diversos autores como Carlos Skliar (1998), Ronice Quadros (1997), Lucinda Brito (1995), Paula Botelho (2002), Gladys Perlin (2004) entre outros, a surdez é entendida muito mais como uma “diferença” do que como deficiência. Segundo esses estudiosos, a surdez é uma experiência visual “e isso significa que todos os mecanismos de processamento da informação e todas as formas de compreender o universo em seu entorno, se constroem como experiência visual” (SKLIAR, 1998, p. 28). Nesta primeira unidade, vamos estudar a história da educação de surdos, para compreendermos melhor a evolução dessa educação e das diferentes aborda- gens ou filosofias educacionais; o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo, bem como suas consequências para a formação da identidade da pessoa surda. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS A principal questão da educação dos surdos, desde seu início, sempre foi se os surdos deveriam desenvolver a aprendizagem utilizando a língua de sinais ou a língua oral. E essa decisão, durante muito tempo, foi tomada pelos ouvintes. Só recentemente, os surdos podem dizer como preferem ser educados, e a maioria decidiu que o melhor para eles é a língua de sinais. Como não é possível viver no mundo dos ouvintes sem o conhecimento da língua pátria, os surdos defendem que a língua de sinais (no caso do Brasil, a Libras) deve ser considerada sua primeira língua e depois devem aprender o português, de preferência na modalidade escrita. Mas, para os surdos poderem conquistar o direito de se expressarem em Libras, que hoje é língua oficial brasileira desde 2002, eles lutaram muito e por séculos! Os poucos relatos encontrados sobre a educação dos surdos durante a Antiguidade e por quase toda a Idade Média falavam de curas milagrosas dizendo que qualquer sucesso dos sur- dos era devido à “interferência divina”. Durante muito tempo, os surdos eram considerados incapazes de ser ensi- nados, por isso, eles não frequentavam escolas. As pessoas surdas, principal- mente as que não falavam, eram excluídas da sociedade, sendo proibidas de casar, possuir ou herdar bens e viver como as demais pessoas. Até o final do século XV não havia escolas com ensino especializado para surdos, mas, na verdade, a figura do preceptor (professor particular) era muito comum para todas as crianças e jovens, principalmente das famílias ricas. Famílias nobres e influentes que tinham um filho surdo contratavam os serviços de pro- fessores particulares para que ele aprendesse a falar, pois a aprendizagem de uma Figura 1 - Livro Arte para ensinar © sh ut te rs to ck História da Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 língua era essencial para que os surdos pudessem herdar os títulos e as proprie- dades de suas famílias. É apenas no início do século XVI que se começa a acreditar que os surdos podiam aprender mediante a educação e aparecem relatos de educadores que apresentam resultados obtidos com seus trabalhos utilizando diferentes métodos. Uma pessoa importante para a educação dos surdos no século XVI é o médico, matemático e astrólogo italiano Gerolamo Cardano (1501-1576), que tinha um filho surdo. Ele é considerado um educador de surdos, mas seus estudos eram mais relacionados à medicina. Cardano afirmou que a escrita poderia represen- tar os sons da fala e as ideias do pensamento e, por isso, o fato de não falar não era impedimento para que o surdo adquirisse conhecimento. Assim, Cardano já recomendava o uso de sinais e o ensino da linguagem escrita. O espanhol Pedro Ponce de Leon (1520-1584) é considerado o primeiro pro- fessor de surdos por ter ensinado crianças surdas da nobreza espanhola. Frei Ponce de Léon usava na educação dos surdos, sinais, treinamento de voz e leitura labial. Quarenta anos após a morte de Frei Ponce de Leon, já no século XVII, Juan Pablo Bonet publicou o que seria o primeiro livro do mundo para ensi- nar língua de sinais a surdos, contendo o alfabeto manual. Bonet dava grande importância à expressão e ao treino oral nos primeiros anos de vida da pessoa e sempre utilizava a comunicação gestual. A primeira intervenção pedagógica de Bonet com seus alunos era ensinar o alfabeto gestual e as letras correspon- dentes na forma escrita. Posteriormente, Bonet ensinava a articulação das letras para, finalmente, apresentar as estruturas gramaticais. Os gestos eram considerados importantes para os surdos entenderem o significado das palavras e como ele adotava os ges- tos para ajudar os surdos a falarem, o método de Bonet pode ser considerado a base para a Comunicação Total, que é utilizada até os dias de hoje e que estuda- remos no próximo tópico. No século XVIII, a educação dos surdos avança bastante, principalmente com os trabalhos do Abade Charles Michel De L’Epée, na França; de Thomas Braidwood, na Inglaterra e de Samuel Heinicke, na Alemanha. Apesar de uti- lizarem metodologias diferentes, o que os aproxima é o fato de terem criado as primeiras escolas coletivas para surdos em seus países. Fonte: Bonet (1680)1. O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Thomas Braidwood fundou, em 1760, em Edimburgo, a primeira escola para surdos de toda Grã-Bretanha. Braidwood utilizava um alfabeto digital envolvendo ambas as mãos para apoiar o ensino da escrita e da fala. Este alfabeto ainda é utilizado na Inglaterra. Samuel Heinicke criou, em 1778, uma escola em Liepzig, na Alemanha. A sua meto- dologia defendia que a coisa mais importante no ensino da criança surda seria a linguagem falada e que a linguagem por meio de ges- tos poderia prejudicar esta aprendizagem. Heinicke é considerado o fundador do ora- lismo (que vamos estudar melhor na seção seguinte) e de uma metodologia que ficou conhecida como o “método alemão”. Na época era comum manter em segredo o modo como se conduzia a educação dos surdos. Cada professor trabalhava sozinho e não era comum trocar experiências, por isso, conhecemos pouco do “método alemão” de Heinicke. Ele mesmo escreveu que seu método de educação não era conhe- cido por ninguém, exceto por seu filho, pois ele dizia ter passado por muitas dificuldades para criar seu método e por isso não pretendia dividir suas con- quistas com ninguém. Considerando que os estudos linguísticos objetivam conhecer os princípios de funcionamento das línguas, suas semelhanças e diferenças, podemos dizer que os estudos linguísticos acerca das línguas de sinais tiveram início com o abade francês Charles De L’Epée, no final do século XVIII.O abade, a partir da observação de grupos de surdos, verificou que estes desenvolviam um tipo de comunicação apoiada no canal viso-gestual, que era muito satisfatória. Partindo dessa linguagem gestual, ele desenvolveu um método educacional, apoiado na linguagem de sinais da comunidade de surdos franceses, acrescentou alguns sinais que tornavam a estrutura da língua dos surdos mais parecida com o fran- cês e denominou esse sistema de “sinais metódicos”. Fonte: Bonet (1680, on-line)1 História da Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Em 1775, De L’Epée fundou uma escola para surdos, a primeira em seu gênero, com aulas coletivas, na qual professores e alunos usavam os chamados sinais metó- dicos. A proposta educativa da escola era que os professores deveriam aprender tais sinais para se comunicar com os surdos. Os professores aprendiam com os surdos e, utilizando os “sinais metódicos”, ensinavam o francês falado e escrito. Diferente de Heinecke, que escondia seu método, De L’Epée divulgava seus trabalhos em reuniões periódicas e propunha-se a discutir seus resultados. Em 1776, publicou um livro no qual divulgava suas técnicas. Seus alunos usavam bem a escrita, e muitos deles ocuparam mais tarde o lugar de professores de outros surdos. Nesse período, alguns surdos se destacaram e ocuparam posições impor- tantes na sociedade de seu tempo. Alguns deles, como por exemplo, Ferdinand Berthier, escreveram vários livros falando de suas dificuldades de comunicação e dos problemas causados pela surdez. Ainda no século XVIII, o abade Roch Sicard (1742-1822), que havia estudado com De L’Epée, objetivando ser pro- fessor de surdos, criou uma escola em 1782, na cidade de Bordéus, na França. Escreveu o livro A Teoria dos Signos, acerca dos sinais metódicos e também publicou um dicionário. A partir do século XVIII, dois grupos foram criados na educação de sur- dos: um grupo que defendia o oralismo puro, não permitindo o recurso gestual e outro que buscava a aquisição da língua oral, tendo como suporte a linguagem gestual (metodologia combinada). No início do século XIX, Thomas Hopkins Gallaudet criou a primeira escola para surdos dos Estados Unidos da América usando sinais. Em 1835, a língua americana de sinais (ASL) foi reconhecida como língua dos surdos dos Estados Unidos e oficializada como língua americana, feito que os surdos brasileiros só conseguiram em 2002, com a oficialização da Libras. As duas abordagens metodológicas avançaram, surgindo, então, encontros mundiais de educadores de surdos, para divulgação das práticas pedagógicas. O primeiro desses encontros foi o I Congresso Internacional sobre a Instrução de Surdos, realizado em 1878, em Paris. Nesse congresso, apesar de todos os participantes entenderem que era melhor usar sinais, vários grupos defendiam que o oralismo era muito importante para a criança poder se comunicar com O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 os ouvintes. É somente a partir deste congresso em Paris que os surdos adquiri- ram o direito de assinar documentos. Os debates sobre qual metodologia era mais adequada para a educação dos surdos continuaram, e, em 1880, foi realizado o II Congresso Internacional, em Milão, que provocou uma reviravolta nas práticas pedagógicas para o ensino dos surdos. Organizado praticamente apenas por oralistas, o objetivo velado do Congresso de Milão era tornar o oralismo obrigatório na educação de surdos. Nesse congresso, o inventor do telefone Graham Bell exerceu enorme influên- cia a favor do oralismo. Para conseguirem seus objetivos, os oralistas apresentaram diversos sur- dos que falavam bem e, na assembleia de encerramento, realizada no dia 11 de setembro de 1880, com exceção dos cinco membros americanos e de um pro- fessor britânico, todos os participantes, em sua maioria europeus e ouvintes, votaram por aclamação a aprovação do uso exclusivo e absoluto da metodolo- gia oralista, proibindo, a partir de então, a utilização da linguagem de sinais na educação de surdos. Assim, a partir do Congresso de Milão, no mundo todo, com exceção do Instituto Gallaudet nos Estados Unidos, o oralismo foi o referencial assumido e suas práticas educacionais foram amplamente desenvolvidas e divulgadas, não sendo questionadas por quase um século. Todavia, o trabalho educacional realizado na abordagem oralista não mostrou bons resultados, pois a maioria dos surdos profundos não conseguiu desenvolver uma linguagem oral que lhe permitisse conviver em sociedade, além de apresen- tarem muitas dificuldades para aprender ler e escrever. Apesar desse fracasso evidente, o oralismo ganhou nova força na década de 50 do século XX quando, com o avanço da tecnologia, surgem os primeiros apa- relhos de audição para crianças surdas muito pequenas, os AASI - Aparelhos de Amplificação Sonora Individual. Os oralistas acreditavam que, com a pro- tetização (uso dos aparelhos) desde muito cedo, os surdos poderiam “ouvir” e, então, aprender a falar. Todavia, isso também não se concretizou, na prática, para todas as crianças. Com o passar do tempo, a garantia do direito de todos à educação e o avanço da tecnologia dos aparelhos auditivos fizeram com que as crianças surdas de História da Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 diversos países passassem a ser encaminhadas para as escolas regulares comuns. No Brasil, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação passaram a coor- denar o ensino das crianças com necessidades educacionais especiais e surgiram as Salas de Recursos e Classes Especiais para surdos, além de algumas Escolas Especiais, com recursos públicos ou privados. Na década de 1960 surgiu, no Brasil, o primeiro estudo linguístico sobre lín- guas de sinais, não considerada até então uma língua verdadeira. Realizado por William Stokoe, Klima e Bellugi, nos Estados Unidos, este estudo demonstrou as características que fazem da linguagem de sinais uma língua equivalente à oral. Entre 1960 e 1970, chega ao Brasil a Comunicação Total, que basicamente tirava a língua oral como o grande e principal objetivo da educação de surdos, considerando mais importante a comunicação. Para isso, todos os recursos eram usados, como gestos convencionados no próprio grupo, língua de sinais, leitura orofacial, alfabeto manual, leitura e escrita etc. Em 1969, temos a primeira tentativa de registrar a Língua de Sinais falada no Brasil, por meio de um pequeno dicionário, Linguagem das Mãos - orga- nizado pelo missionário americano Eugênio Oates -, que apresentou um bom índice de aceitação por parte dos surdos. Somente em 1980 iniciaram os Estudos Linguísticos no Brasil sobre a Língua de Sinais, saindo o primeiro boletim do GELES - Grupo de Estudos sobre Linguagem, Educação e Surdez-, da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife. Em 1986, a Língua de Sinais passou a ser defendida no Brasil por profissio- nais influenciados pelos estudos divulgados pela Gallaudet University. Nessa mesma época, a língua de sinais utilizada pelos surdos das capitais do Brasil foi denominada pela sigla LSCB - Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros. Também foi descoberta a existência de outra língua de sinais no Brasil, a LSUK - Língua de Sinais dos índios Urubus-Kaapor. Os avanços nas pesquisas sobre as línguas de sinais recomendam que a criança surda tenha acesso o mais cedo possível à língua de sinais e que, poste- riormente, aprenda a língua de seu país, se necessário, apenas na modalidade escrita. Essa filosofia de educação dos surdos é a que está valendo atualmente e se chama Bilinguismo. Para que os surdos brasileiros pudessemter direito a uma educação bilíngue, muitas lutas aconteceram. O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 Um acontecimento importante foi a criação da FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), em 1987, que é uma entidade sem fins lucrativos, a máxima representativa dos surdos, que trabalha em prol da socie- dade surda garantindo, entre outras coisas: a inclusão do surdo no mercado de trabalho, pesquisas para a sistematização e padronização do ensino de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para ouvintes e a defesa dos direitos linguísticos e culturais da comunidade surda. Em 2001, foi lançado em São Paulo, o Dicionário Enciclopédico Ilustrado de Libras, em projeto da USP – Universidade de São Paulo, e em 2002 o Dicionário LIBRAS/Português em CD-ROM, trabalho realizado pelo INES/MEC, com apoio da FENEIS. Nacionalmente, a Libras foi recentemente oficializada através da Lei 10.436/2002, enquanto língua dos surdos brasileiros, marcando o início de uma nova e promissora era no que diz respeito à pessoa surda, sua capacidade, iden- tidade e formação. Essa lei reconhece não somente a Libras como uma Língua e que como tal deve ser respeitada, mas que a comunidade surda, sua cultura e sua identidade devem ser respeitadas. Com tantos avanços, a discussão da educação dos surdos agora se prende a Inclusão ou Escolas Especiais. Mas essa é outra história. ABORDAGENS EDUCACIONAIS PARA SURDOS: ORALISMO, COMUNICAÇÃO TOTAL E BILINGUISMO Conforme vimos no texto anterior, até o Congresso de Milão, as duas principais correntes metodológicas da educação de surdos, o oralismo e o gestualismo (con- forme era denominada na época) conviviam “pacificamente” e o objetivo maior dessa educação era que o surdo aprendesse a língua que falavam os ouvintes da sociedade na qual viviam. Abordagens Educacionais para Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 Em seu início, a educação de surdos além da atenção dada à fala, enfa- tizava também a língua escrita e, por isso, os alfabetos digitais eram muito utilizados. Esses alfabetos digitais eram inventados pelos próprios professores, que defendiam a ideia de que se o surdo não podia ouvir e nem se expressar na língua falada, ele podia comu- nicar-se pela escrita. Mesmo os professores de surdos que defendiam o oralismo iniciavam o ensina- mento de seus alunos pela leitura e escrita e, com este apoio, utilizavam diferentes técni- cas para desenvolver outras habilidades, tais como leitura labial e articulação das palavras. Apesar desses aspectos em comum, já no começo do século XVIII, começa a sur- gir uma brecha que “[...] se alargaria com o passar do tempo e que separaria irreconciliavelmente oralistas de gestualistas” (LACERDA, 1998, p. 70). De maneira ampla, o que diferencia oralistas de gestualistas é que os pri- meiros exigiam que os surdos falassem e se comportassem como se não fossem surdos. Os gestualistas entendiam melhor as dificuldades do surdo com a língua falada e perceberam que os surdos desenvolviam uma linguagem que permi- tia a comunicação e “[...] lhes abria as portas para o conhecimento da cultura, incluindo aquele dirigido para a língua oral” (LACERDA, 1998, p. 70). O que é importante destacar dessa divergência entre os defensores do oralismo e do gestualismo é o fato de que existem diferentes maneiras de se enfrentar as consequências da surdez e que ainda não existem estudos que permitam deter- minar com certeza, se uma única abordagem metodológica seria a mais indicada para a educação de todos os surdos. O ideal seria que a família, juntamente com os profissionais, conhecendo as particularidades de cada criança, pudessem esco- lher qual abordagem ou mesmo uma combinação delas seria mais indicada. © sh ut te rs to ck O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 De maneira geral, costuma ser indicado para as crianças que possuem resíduos auditivos, isto é, as que conseguem ouvir alguma coisa, uma educação que favoreça a aquisição da fala, ou seja, uma abordagem oral e; para aquelas que não possuem um resíduo auditivo suficiente ou que possuem muita dificuldade para desenvol- ver a oralidade, o indicado é uma abordagem que privilegia a Língua de Sinais. Atualmente, são três as principais abordagens que fundamentam diferentes metodologias na educação de surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo. ORALISMO O alemão Heinicke, que viveu no século XVIII, é considerado o fundador do oralismo por ter criado uma metodologia que ficou conhecida como o “método alemão”. Para Heinecke, o pensamento dependeria da língua oral para existir e assim, a língua escrita deveria ser aprendida somente após a língua oral. O oralismo entende a surdez como uma deficiência que precisa ser direcio- nada para a normalidade, mediante à estimulação auditiva e à reabilitação da fala da criança surda, buscando assemelhá-la o máximo possível à criança ouvinte e assim integrá-la na comunidade (GOLDFELD, 1997). Segundo Goldfeld (1997), o objetivo do oralismo, ou filosofia oralista, é a integração da criança surda na comunidade de ouvintes, mediante o desenvol- vimento da língua oral, o português, no caso do Brasil. Mesmo com o avanço das pesquisas linguísticas sobre as línguas de sinais, alguns oralistas continuam defendendo que para a criança surda se comunicar com o mundo ela precisa ser oralizada, isto é, precisa saber falar. Assim, a abordagem de enfoque oralista é contra o uso da Língua de Sinais ou de qualquer código gestual, porque acredita que com a utilização de “gestos” os surdos se acomodariam e não iriam se esforçar para aprender a língua oral. Os oralistas vão além, e afirmam que o uso da língua de sinais torna impossível o desenvolvimento de hábitos orais corretos. Nessa abordagem, a educação do surdo deve começar com os bebês e deve aproveitar todos os recursos disponíveis para se desenvolver a linguagem interior, da mesma forma como acontece aos ouvintes, isto é, utilizando apoios sonoros de forma que os resíduos auditivos e a amplificação sonora sejam explorados Abordagens Educacionais para Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 ao máximo. Também são incentivados e treinados à exaustão, a leitura labial, a percepção das vibrações vocais e demais recursos que favoreçam a emissão e a recepção da língua oral. Ensinar e aprender a falar não são tarefas fáceis e exigem muita dedicação da família e da escola, além de muito esforço por parte da criança, sem que, con- tudo, se possa garantir sucesso. Dentro da filosofia oralista existem correntes que se diferem, tanto na teo- ria quanto na prática, originando diversas metodologias de oralização: método acupédico, método Perdoncini, Método Verbotonal, entre outros, porém, qual- quer que seja a metodologia adotada, um programa oralista se fundamenta nos seguintes pressupostos: Entretanto, as pesquisas apontam que crianças com perda auditiva pro- funda, mesmo atendendo à risca as orientações para aprender a falar, realizando incansavelmente exercícios de voz e de articulação, em sua grande maioria, não conseguem desenvolver a fala com fluência. Mesmo com treinamento para realizar leitura labial, o período crítico para a aquisição de linguagem (até os 4 anos, aproximadamente) seria perdido, por causa da complexidade dessa aprendizagem, com preju- ízos importantes para o desenvolvimento cognitivo e o desempenho escolar da criança (REILY, 2004, p. 122).■ O único meio de comunicação aceito é a língua oral. ■ O trabalho para a aquisição da fala deve ser iniciado assim que se descobre a surdez da criança, atualmente, com o “teste da orelhinha”, seria desde o seu nascimento. ■ A educação oral deve começar no lar, exigindo a dedicação de todas as pessoas que convivem com a criança, especialmente a mãe, durante todas as horas de cada dia do ano. ■ O trabalho de aquisição da fala ou educação oral necessita de fonoau- diólogos e pedagogos especializados para atender o aluno e orientar e acompanhar a ação da família ■ A educação oral requer equipamentos especializados como o apare- lho de amplificação sonora individual. O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 Enfim, a aquisição da língua portuguesa oral depende do grau e natureza da perda auditiva, do bom uso dos resíduos auditivos proporcionados pelo AASI e do apoio de profissionais e família. No entanto, também os AASI não são “mágicos”, isto é, não basta protetizar a criança (colocar o aparelho). É necessá- rio ensiná-la a ouvir. E de novo, precisa-se de recursos, métodos e profissionais especializados para realizar o treinamento auditivo. Um aparelho auditivo que é colocado, mesmo que esteja conforme as necessi- dades da criança, sem o devido treinamento, pode inclusive prejudicar a criança, pois esta passará a receber uma intensidade de estímulos sonoros simultâneos que precisam ser inicialmente identificados para que em seguida ela selecione aqueles aos quais vai direcionar sua atenção auditiva. Portanto, nem sempre o uso do aparelho auditivo permite que a criança escute a voz humana, e mesmo que a escute que faça o uso correto desta informação, pois [...] os aparelhos não atuam na decodificação instantânea da lin- guagem apenas ao serem agregados ao ouvido, do mesmo modo que uma pessoa completamente cega, por exemplo, não passa a en- xergar utilizando óculos ou lentes de grau (GESSER, 2009, p. 75). O implante coclear, muitas vezes apresentados pela mídia em matérias carrega- das de emoção, ainda é visto com muita desconfiança pelos surdos, familiares e profissionais, pois a recuperação da surdez não depende apenas do sucesso da intervenção cirúrgica, mas de inúmeras variáveis como idade do surdo, tempo de surdez, condições do nervo auditivo, época de instalação da surdez, adapta- ção anterior ao AASI, trabalho com fonoaudiólogo etc. Mas, o que é preciso ficar claro é que os surdos, mesmo com surdez profunda, podem apresentar uma comunicação oral funcional, desde que se submetam aos procedimentos adequados e, principalmente, se assim o desejarem, pois de acordo com Gesser (2009, p. 56): [...]o grande problema herdado da filosofia oralista é o efeito colateral que se instaurou na comunidade surda, ou seja, o sentimento de indig- nação, frustração, opressão e discriminação entre usuários dos sinais, uma vez que, durante as sessões de fala e treinos repetitivos pregados pelo oralismo do passado, a língua de sinais foi banida e rejeitada em prol do uso exclusivo da língua oral. Abordagens Educacionais para Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 Como já dissemos anteriormente, ao final de várias décadas, o trabalho educa- cional realizado na abordagem oralista não apresentou bons resultados, pois a maioria dos surdos profundos não conseguiu desenvolver uma linguagem oral satisfatória que lhe permitisse conviver em sociedade, além apresentarem mui- tas dificuldades na aquisição das habilidades de leitura e escrita. Vimos também que mesmo diante desse fracasso visível, o oralismo ganhou nova força na década de 50 do século XX, quando, com o avanço da tecnologia, surgem os primeiros aparelhos de audição para crianças surdas muito peque- nas. Os oralistas acreditavam que com a protetização (uso dos aparelhos) desde muito cedo, os surdos poderiam “ouvir” e, então, aprender a falar. Contudo, isso também não se concretizou na prática, para todas as crianças. Essa crença de que o aparelho de amplificação “resolve” o problema dos sur- dos persiste até hoje, porém, não basta a colocação do aparelho para que o surdo escute. O som que “entra” pelo aparelho é o som total do ambiente, como o som da gravação que fazemos de uma aula, que, juntamente com a voz do profes- sor, traz ruídos de folhas de caderno sendo viradas, cadeiras arrastadas, veículos passando pela rua, sussurros dos alunos, risadas e passos no corredor etc.; difi- cultando a compreensão do que foi dito pelo mestre. Para poder se beneficiar da prótese auditiva, o surdo precisa passar por um longo processo de “treina- mento auditivo”, para desenvolver sua atenção auditiva e poder identificar os diferentes sons. O predomínio do oralismo começou a diminuir na década de 60 do século passado, a partir de fortes críticas a esta abordagem, principalmente pelos edu- cadores e pesquisadores dos Estados Unidos e pela realização de diversos estudos sobre as línguas de sinais que as comunidades de surdos desenvolviam apesar da proibição de sua utilização no espaço escolar. Desses estudos surgiram as abor- dagens gestualistas para a educação de surdos. GESTUALISMO O principal criador do que se conhece como abordagem gestualista foi abade francês Charles M. De L’Epée, que no século XVIII, na mesma época em que O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 Heinecke, criava o “método alemão”, criou o “método francês” de educação de surdos, que ficou conhecido como “sinais metódicos”. Para De L’Epée, a lingua- gem de sinais seria a língua natural dos surdos e possibilitaria o desenvolvimento do pensamento e sua comunicação. Falamos aqui em “linguagem” de sinais e em abordagem “gestualista”, porque em seu início, os sinais eram confundidos com gestos e a comunicação por sinais ainda não possuía o status de língua. Atualmente, já está comprovado que sinais não são gestos e que as línguas de sinais possuem todos os requisitos para serem reconhecidas como “idiomas”. Esses aspectos são tratados com mais detalhes em nossa terceira unidade, mas adiantamos aqui, a distinção entre sinais e gestos. Em função de suas características, os sinais podem parecer movimentos aleatórios de mãos e corpo, acompanhados por expressões faciais variadas, ou seja, seriam apenas “gestos”. De acordo com Pereira et al. (2011, p. 18), esta des- crição para sinais seria equivalente a descrever uma língua oral como “ruídos” feitos com a boca. Além disso, os gestos são traços das línguas orais, isto é, acom- panham as línguas orais e favorecem a comunicação. Os sinais são produzidos combinando-se, simultaneamente, configuração de mãos, ponto de articulação ou localização, movimento, orientação das palmas das mãos e componentes não manuais, que são os parâmetros constituintes da língua de sinais, conforme você verá na Unidade III. Assim, daqui em diante, não utilizaremos mais a palavra gestualismo. Duas são as principais abordagens sustentadas na utilização de sinais a Comunicação Total, que ganhou impulso nos anos 1970, e o Bilinguismo, que é a mais ado- tada atualmente no mundo todo. COMUNICAÇÃO TOTAL Na Comunicação Total, como o próprio nome indica, todos os esforços são empre- gados no sentido de uma comunicação mais efetiva entre surdos e entre surdos e ouvintes, utilizando, portanto, modelos auditivos, manuais e orais. Apesar da oralização não ser o principal objetivo da educação de surdos nessa abordagem, seus defensores entendem que tudo o que é falado pode ser expresso por gestos Abordagens Educacionais para Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo Re pr od uç ão p ro ibid a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 e mímica, ou seja, pode ser visualizado e, dessa forma, os sinais são utilizados como apoio para a aquisição da língua oral e da escrita. A filosofia da Comunicação Total tem como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e surdos, e entre surdos e ouvin- tes. Essa filosofia também se preocupa com a aprendizagem da língua oral pela criança surda, mas acredita que os aspectos cognitivos, emo- cionais e sociais, não devem ser deixados de lado em prol do aprendi- zado exclusivo da língua oral. Por esse motivo, esta filosofia defende a utilização de recursos espaço-visuais como facilitadores da comunica- ção (GOLDFELD, 1997, p. 35). A Comunicação Total foi adotada no Brasil, no final da década de 1970, parti- cularmente nos estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Um dos aspectos considerados pelos defensores da Comunicação Total é que crianças que foram educadas segundo o oralismo, desde muito cedo, não tiveram desenvolvimento social e emocional satisfatório, mesmo quando con- seguiam relativo sucesso na aprendizagem da língua oral. A surdez é entendida pelos defensores da Comunicação Total não como uma patologia (doença), nem como uma deficiência que precisa ser normali- zada, como os oralistas entendem, mas como uma “marca” com “significações sociais” (CICCONE, 1990, p. 7). A família, da mesma forma que no oralismo, desempenha papel fundamen- tal na educação dos surdos segundo a Comunicação Total, mas aqui, a família não desempenha o papel de profissional especializado na aquisição da lingua- gem, mas o de compartilhar experiências, valores e significados, contribuindo, assim, para o desenvolvimento social e emocional do surdo. De acordo com Ciccone (1990), um programa de Comunicação Total uti- liza técnicas e recursos para: ■ Estimulação auditiva. ■ Adaptação de aparelho de ampliação sonora individual (AASI - prótese auditiva). ■ Leitura labial. ■ Oralização. ■ Leitura e escrita. O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 Além desses procedimentos, a Comunicação Total utiliza também a datilologia e a língua de sinais. Autores como Sanches (1990) e Dorziat (1997), acreditam que o maior problema desta metodologia ou filosofia, seria a mistura das duas línguas (Português + Língua de Sinais), que resultaria numa terceira modalidade que é o Português Sinalizado. Os resultados obtidos com essa abordagem não foram satisfatórios, nem para a aquisição da língua oral e nem para a escrita. Esses resultados e o apro- fundamento dos estudos realizados sobre línguas de sinais foram direcionando a educação dos surdos para uma abordagem bilíngue. Porém, [...]o que a comunicação total favoreceu de maneira efetiva foi o conta- to com sinais, que era proibido pelo oralismo, e esse contato propiciou que os surdos se dispusessem à aprendizagem das línguas de sinais, externamente ao trabalho escolar. Essas línguas são frequentemente usadas entre os alunos, enquanto na relação com o professor é usado um misto de língua oral com sinais (LACERDA, 1998, p. 76). BILINGUISMO A abordagem bilíngue tem como ponto de partida que os surdos podem desenvolver uma língua que permite uma comunicação eficiente. Essa lín- gua, apoiada na visão e utilizando as mãos, a Língua de Sinais, é, para os bilinguistas, a primeira língua dos surdos, que a aprendem com naturali- dade e rapidez. O bilinguismo começou a ganhar força a partir da década de 1980 e, no Brasil, a partir de 1990. Na Suécia esta filosofia já é adotada há bastante tempo e no Uruguai e na Venezuela o bilinguismo é adotado de maneira oficial, ou seja, nas instituições públicas, a exemplo do que está ocorrendo atualmente no Brasil. Todavia, assim como a inclusão, a adoção do bilinguismo nas escolas públicas brasileiras ainda é incipiente, reduzida exclusivamente à presença de intérpretes em sala de aula, e, eventualmente, a um Atendimento Educacional Especializado – AEE, no contraturno, cuja proposta de funcionamento apresen- tarmos na Unidade II. Abordagens Educacionais para Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 De acordo com essa filosofia, a criança surda deve adquirir, o mais cedo pos- sível, primeiro a língua de sinais, considerada a sua língua natural. Essa aquisição deve ser feita com a comunidade surda. Somente como segunda língua deve- ria ser ensinada, na escola, a língua oficial do país, mas de preferência, na sua forma escrita. Apenas quando as condições forem favoráveis deve ser ensinada a Língua Portuguesa na modalidade oral. Para alguns estudiosos do bilinguismo, a criança surda deve adquirir a língua de sinais e aprender a língua falada de maneira separada (com pessoas e locais diferentes), o mais cedo possível e, só depois, deve aprender a língua escrita. Para outros, o que importa é o desenvolvimento cognitivo, social e emocional do surdo, o que só seria possível mediante a consolidação da língua de sinais. Assim, nesse último caso, a criança primeiro deve adquirir a língua de sinais e depois, no momento adequado, ser alfabetizada e não se ensinar a língua falada. O bilinguismo entende a surdez como diferença linguística e não como uma deficiência a ser normalizada por meio da reabilitação como o oralismo. E assim, os surdos constituiriam uma comunidade particular, com cultura e língua pró- prias, como veremos no último texto que compõe esta primeira unidade. Para os bilinguistas a “problemática global do surdo” é “[...] intimamente dependente de seu desenvolvimento lingüístico” e “[...] só mesmo o respeito à língua de sinais conduzirá a um maior sucesso educacional e social do surdo” (FERREIRA-BRITO, 1995, p. 16). O bilingüismo tem como pressuposto básico que o surdo deve ser Bilíngüe, ou seja, deve adquirir como língua materna a língua de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos e, como segunda língua, a língua oficial de seu país (GOLDFELD , 1997, p. 39). Tornar-se letrado numa abordagem bilíngüe pressupõe a utilização de língua de sinais para o ensino de todas as disciplinas. [...]. Faz também parte do projeto bilíngüe que todo o corpo de funcionários da escola, surdos e ouvintes, e os pais, aprendam e utilizem a língua de sinais (BOTELHO, 2002, p. 112). O bilingüismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se pro- põem a tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Os estudos têm apontado para essa proposta como sendo a mais adequa- da para o ensino das crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como língua natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita (QUADROS, 1997, p. 27). O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Ainda segundo Quadros (1997), a preocupação do bilinguismo é respeitar a auto- nomia das línguas de sinais organizando-se um plano educacional que respeite a experiência psicossocial e linguística da criança com surdez. Por essas razões atualmente se dá tanta importância ao fato do professor ouvinte conhecer e usar a Língua de Sinais, no caso do Brasil, a Libras. A comuni- cação adequada entre professores ouvintes e alunos surdos é a condição primeira para uma escola realmente inclusiva. CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Já vimos que a partir do Congresso de Milão e durante quase todo o século XX, a Educação dos Surdos teve o oralismo como ideologia dominante, pensando no surdo como deficiente, não considerando sua diferença linguística. A educação oferecida aos surdos dava muita importância à oralização, e os educadoresficavam tão ocupados ensinando os surdos a falar, que não perce- biam a importância da formação da Identidade e Cultura Surda para o Surdo. Assim, a educação não formava os surdos como cidadãos críticos e muito pouco se discutia a importância de se buscar a igualdade sem, entretanto, eli- minar a diferença. Os surdos educados no oralismo não se reconheciam como surdos, mas sim como não ouvintes, não normais. Ele era visto e obrigado a se ver a partir da pers- pectiva do que ele não podia fazer, e toda tentativa de formação de identidade cultural era considerada como uma tentativa de formação de guetos e segrega- ção e, portanto, desprezada e mesmo proibida. Isso acontecia porque para o ouvinte a surdez significa a perda de comunica- ção, e assim, o surdo seria alguém que não pode fazer parte do mundo ouvinte. É alguém que é menos do que aquele que ouve e precisa ser sempre ajudado. Dessa forma, as escolas e entidades de ouvintes para os surdos sempre basea- ram suas ações na filantropia e no assistencialismo. Cultura e Identidades Surdas Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Quando se fala em identidade e em cultura surda, estamos pensando na surdez como uma diferença. Primeiro é preciso entender que diferença não é o contrário de igualdade. O contrário de igualdade é desigualdade. A diferença não deve ser entendida como uma coisa que é contrária à normalidade. Entender a surdez como diferença significa a uma minoria linguística que faz uso de outra língua - Língua de Sinais -, e constituem uma comunidade específica. Entender o surdo como deficiente auditivo, é considerar que ele tem uma patologia e necessita de especialista para aprender a falar e ficar o mais parecido possível com o ouvinte. Assim, o que se faz é não reconhecer o direito do surdo de ser diferente, é não aceitar a Língua de Sinais, a Cultura e as Identidades Surdas. Durante muito tempo se acreditou que a linguagem oral era a única respon- sável pelo funcionamento cognitivo humano, e a dificuldade encontrada pelos surdos para falar foi considerada como quase impeditiva do desenvolvimento do pensamento. A língua de sinais durante muito tempo foi confundida com mímica e assim, estaria presa ao mundo concreto, não permitindo a compreen- são de conceitos abstratos. Por isso, o oralismo dominou em todo o mundo, até a década de 1970. Porém, outros estudos sobre cognição e linguagem, como os de Piaget e de Vygotski mostraram que o que é importante é a comunicação e não a língua que se usa. Assim, a surdez não torna a criança um ser que tem possibilidades a menos, ou seja, ela tem possibilidades diferentes e não menores. Ao reconhe- cer a língua de sinais como língua natural dos surdos e admitir sua condição bilíngue, emerge outra questão: a do biculturalismo, uma vez que o surdo vivencia dois grupos culturais distintos, o dos surdos e o dos ouvintes. Ora, esse trânsito entre dois “mundos” culturalmente diferentes acaba por fazer emergir uma discussão que até antes da adoção do bilinguismo não existia: como se processa a construção da identidade do sujeito surdo, ante a exposi- ção a dois modelos culturais? Partindo disso, entra em questão um novo fator, pois, junto com uma lín- gua distinta para os surdos, surge também uma nova cultura, ou seja, junto ao bilinguismo, veio o biculturalismo, revelando um processo antes ignorado, que é o processo de construção da identidade cultural surda, uma vez que o surdo tem contato com dois grupos culturais distintos, o ouvinte e o surdo. O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 Somente a partir da década de 1980 é que foi entendida a necessidade de reconhecer o verdadeiro valor da cultura e da linguagem surda para o desenvol- vimento cognitivo e da identidade dos surdos. Existem muitas formas de definir identidade, mas o significado melhor para o caso dos surdos é o da busca pelo direito de ser surdo. Gladis Perlin é uma pesquisadora surda que escreve muito sobre cultura e identidades surdas e diz que a influência do poder ouvintista prejudica a cons- trução da identidade surda. Ela também fala que a oralização foi imposta aos surdos pelos ouvintes. Na educação oralista, as crianças surdas eram proibidas de ter contato com surdos adultos que sinalizavam e, como a maioria das crianças surdas são filhas de pais ouvintes, por vontade da família ou mesmo por vontade própria, os sur- dos tentavam oralizar e mesmo surdos profundos falavam que ouviam. Não existia uma identidade definida. Com o bilinguismo e com o reconhecimento da Libras como uma língua oficial do Brasil, há contato com os surdos adultos sinalizadores e todos come- çam a se identificar como surdos. Ao sinalizarem e conviverem em um grupo no qual todos sinalizam, ou seja, na comunidade surda, os surdos não mais querem se parecer com os ouvintes, agora querem a interpretação das falas dos ouvin- tes em Libras. No oralismo é desenvolvido no surdo o desejo de ouvir. Tanto o processo de aquisição da fala, quanto o de treinamento auditivo são complexos, o surdo sofre muito e fica sempre se sentindo deficiente e incapaz. Na educação oralista, também se praticava a integração escolar, com os surdos estudando em salas comuns, sem apoio algum, gerando uma situação de não aprendizagem. O surdo então, não apenas se sentia um fracassado, mas também tinha a construção da sua identidade prejudicada, pois o modelo ideal a ser seguido era o do ouvinte. Assim, o surdo construía sua identidade em um mundo no qual se via como diferente das outras pessoas, com o estigma de incapacidade e de deficiência. O surdo ficava transitando em dois mundos e não se sentia parte de nenhum. Não fazia parte do mundo ouvinte, porque não sabia se comunicar bem, e também não participava de um mundo surdo, porque era proibido de usar a língua de sinais, processo denominado pelo estudioso Carlos Skliar (1998) de identidade flutuante. Cultura e Identidades Surdas Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 Felizmente, alguns surdos conseguiram sobreviver a toda essa relação de poder e lutaram muito para estabelecer e defender a cultura surda, que é fun- damental para a construção da identidade surda. Para isso, no mundo todo, o Movimento Surdo criou Associações de Surdos como uma resistência contra a cultura dominante, contra a ideologia ouvintista. Existe uma história de lutas na qual se procura marcar, entre os próprios surdos e na sociedade em geral, discussões sobre a língua de sinais, a cultura e as identidades surdas. Essa luta e as conquistas alcançadas têm permitido que a cultura surda se fortaleça e, por causa disso, identidades surdas sejam construídas. Para Perlin (1998, p. 52), a identidade é algo em questão, em construção, uma construção móvel que pode frequentemente ser transformada ou estar em movimento. A construção da identidade depende de modelos e da forma como o outro enxerga o sujeito. Assim, é de fundamental importância defender a cul- tura surda porque é dentro dela que se constrói a identidade surda. Mas, a existência da cultura surda depende da língua de sinais. A aquisição da Libras pelo surdo é de extrema importância para o desenvolvimento de uma identidade pessoal surda. Para acontecer a construção de nossa identidade, como somos seres sociais, precisamos identificar-nos com uma comunidade social específica e, com ela, interagir de modo pleno, ou seja, precisamos de uma iden- tidade cultural, e, para isso, não basta uma língua e uma forma de alfabetização, mas, sim, um conjunto de crenças, conhecimentos comuns a todos. Não podemos separar a noção de cultura da de grupo e classes sociais, pois cultura é o espaço no qualse dá a luta pela manutenção ou superação das divi- sões sociais. Talvez seja por isso, por exemplo, que podemos falar de uma cultura surda. É dentro desse espaço que os sujeitos surdos passam a se identificar como sujeitos culturais. O estudo do mundo dos surdos mostra que as capacidades do homem - lin- guagem, pensamento, comunicação e cultura - não se desenvolvem de maneira automática, não se compõem apenas de funções biológicas, mas também têm origem social e histórica. Essas capacidades são, como diz Sacks (1998), um presente - o mais maravilhoso dos presentes - de uma geração para outra, refor- çando a importância do grupo, da cultura surda para a construção da identidade e desenvolvimento cognitivo do surdo. O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 Para podermos compreender o que é “cultura surda”, é preciso estabelecer o que estamos considerando como “cultura”. De acordo com o senso comum, existiria “A” cultura, no singular, se refere às manifestações artísticas e às tra- dições de um povo, representadas (e contadas) em lendas, festas, trajes típicos, ritos, comida e língua. Atualmente, os estudiosos admitem a existência de múltiplas culturas inte- ragindo entre si, sendo possível a multiplicidade de manifestações e grupos culturais de naturezas diferentes, ampliando o conceito de cultura e permitindo falar de cultura no plural. De acordo com Strobel (2008, p.17): [...]a humanidade, ao longo do tempo, adquire conhecimento através da língua, crenças, hábitos, costumes, normas de comportamento den- tre outras manifestações. Partindo do suposto que cultura é a herança que o grupo cultural transmite a seus membros através de aprendiza- gem e de convivência, percebe-se que cada geração e sujeito também contribuem para ampliá-la e modificá-la. Outro uso da palavra cultura está relacionado à agricultura, ao cultivo da terra. Falamos em “cultura da cana-de-açúcar”; “cultura de milho” etc. O termo cultura está tão rela- cionado à lavoura, que compõe literalmente o termo agriCULTURA. Considerando este outro uso para a palavra cultura, Strobel (2008, p. 18) afirma que “o cultivo da linguagem e da identidade são, então, elementos fundamentais de uma cultura”. Mas não é fácil definir o que é cultura surda. Para entender a cultura surda é necessário enxergar o surdo como diferente e não deficiente. Segundo Perlin (2004), ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva. E viver uma experiência visual é ter como primeira língua a Língua de Sinais, uma língua visual, pertencente à outra cultura, que é tam- bém visual. A identidade surda se constrói dentro de uma cultura visual. Essa é também a visão de Quadros e Karnopp (2004, p. 10), para quem a cultura do povo surdo “é visual, ela traduz-se de forma visual”. Na história, constata-se que os surdos sofreram perseguições pelas pessoas ouvintes, que não aceitavam as diferenças e exigiam uma cultura única por meio do modelo ouvintista ou ouvintismo. São muitas as lutas e histórias nas comu- nidades surdas, em que o povo surdo se une contra as práticas dos ouvintes que não respeitam a cultura surda (STROBEL, 2008). Cultura e Identidades Surdas Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 Ainda hoje, muitos ouvintes tentam diminuir os surdos para que vivam iso- lados e assumam a cultura ouvinte, como se esta fosse uma cultura única; ser “normal” para a sociedade significa ouvir e falar oralmente. Os ouvintes não pres- tam atenção aos surdos que se comunicam por meio da Libras. Consequentemente, não acreditam que os surdos sejam capazes de estudar em faculdade ou realizar mestrado e doutorado, por exemplo. “Os sujeitos ouvintes veem os sujeitos sur- dos com curiosidade e, às vezes, zombam por eles serem diferentes” (STROBEL, 2008, p. 22). Ainda de acordo com Strobel (2008), os surdos constituem uma comuni- dade que se caracteriza particularmente pela sua diferença linguística, que gosta de interagir entre si, e “criam” espaços para desenvolverem, em conjunto, dife- rentes atividades de educação, trabalho, esporte e lazer. Os espaços “dos surdos” são associações e clubes de surdos, além de ambientes escolares e religiosos onde podem manifestar-se livremente em sua língua, constituindo, ao mesmo tempo, refúgio e trincheira da língua de sinais, da identidade e da cultura surda. Se não é fácil definir o que é a cultura surda, podemos mostrar que ela existe e a sua presença pode ser confirmada pelas transformações culturais e cotidianas dos surdos. Percebe-se que o sujeito surdo está descentrado da cultura domi- nante e possui outra cultura. Diante da comunidade majoritariamente ouvinte, as comunidades surdas apresentam suas próprias condutas linguísticas e seus valores culturais. A comunidade surda tem uma atitude diferente diante do déficit auditivo, já que não leva em conta o grau de perda auditiva de seus membros. Pertencer à comunidade surda pode ser definido pelo domínio da língua de sinais e pelos sentimentos de identidade grupal, fatores que consideram a surdez como uma diferença, e não como uma deficiência (PEREIRA et al., 2011, p. 34). Em seus espaços, em sua língua, da mesma forma que acontece em qualquer comunidade minoritária, os surdos compartilham valores, crenças, comporta- mentos e, constroem, preservam e difundem sua cultura. Para Perlin (2004) a língua de sinais é uma das maiores produções culturais dos surdos. Para Perlin (2004), cultura surda é a diferença que contém a prática social dos surdos e que comunica um significado. É o caso de ser surdo homem, de ser surdo mulher, deixando evidências de identidade, o predomínio da ordem, O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 como, por exemplo, o jeito de usar sinais, o jeito de ensinar e de transmitir cul- tura, a nostalgia por algo que é dos surdos, o carinho para com os achados surdos do passado, o jeito de discutir a política, a pedagogia etc. Para Strobel (2008, p. 24), “Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo enten- der o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-o com suas percepções visuais”, que contribuem para a definição das identidades surdas e das ‘almas’ das comunidades surdas. Apesar da luta constante da comunidade surda pelo respeito e aceitação como grupo cultural distinto, ainda há uma dificuldade muito grande de desen- volvimento, da inclusão dos surdos com base no respeito a suas diferenças. Há que se considerar, por exemplo, que a maioria das crianças surdas (mais de 90%) possui pais ouvintes, o que causa maiores dificuldades na construção das iden- tidades, pois os modelos não estão dentro de casa. Além disso, a dificuldade de comunicação entre pais e filhos surdos causa, às vezes, problemas de ordem social e cognitiva. Esses problemas poderiam ser minimizados se houvesse, por parte dos familia- res ouvintes, disposição em assumir formas de comunicação e intervenção que considerem mais as particularidades da surdez do que as dificuldades inerentes à ausência de audição. Partindo disso, é fundamental que instituições escolares, os pais, enfim, todos que estão perto da criança surda, preocupem-se em entender o modo pelo qual ela se comunica, para que as trocas possam existir de forma satisfatória para ambas as partes. Durante muito tempo os próprios surdos não compreenderam a importân- cia da Língua de Sinais para o processo de construção de sua identidade cultural. Em sua opinião, esta situação está mudando? Cultura e Identidades Surdas Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro de 19 98 . 39 Assim, em função da existência de barreiras na comunicação entre o mundo surdo e o mundo ouvinte, existem dificuldades para o desenvolvimento cultu- ral; por isso, é necessário que se construam meios especiais para a sua realização, como, por exemplo, que os ouvintes conheçam a Libras. Por isso o Decreto 5626, que vamos estudar na próxima unidade e que, na prática, vai permitir que muitos mais ouvintes aprendam porque Libras é tão importante para os surdos. Ele representa um grande avanço para o desenvolvi- mento pleno do surdo. E traz de volta os professores surdos que desapareceram depois do Congresso de Milão. Com professores surdos, as crianças surdas terão modelos para se identificar! É importante que os ouvintes entendam a importância do professor surdo e respeite esse espaço. É como se fosse ensinar japonês, o que seria melhor? Um japonês que conhece seu idioma na forma correta e tem o português como segunda língua, conhecendo as semelhanças e diferenças entre as duas línguas, para ensinar japonês aos brasileiros, ou um brasileiro que aprendeu japonês como segunda língua? Há, ainda, as novas tecnologias, como centrais telefônicas, celular digital, por- teiros luminosos, facilidades para a vida dos surdos. Em algumas cidades, raros lugares estão fora do alcance da cultura surda, inclusive o preconceito está dimi- nuindo. Os surdos não estão mais escondidos, estão surgindo novas maneiras de ser surdo, com seu modo de comprar, olhar, comunicar, escolher, socializar. É preciso e necessário, para um adequado desenvolvimento tanto físico quanto psíquico dos surdos, que os ouvintes deixem de se considerar modelo de normalidade e percebam que diferença não significa inferioridade. Importa salientar a diferença das pessoas. Respeitá-las como surdas, índias, nômades, negras, brancas... Importa deixar os surdos construí- rem sua identidade, assinalarem suas fronteiras em posição mais soli- dária do que crítica. A educação, ainda que já esteja saindo do domínio do oralismo, tem que desaprender um grande número de preconceitos, entre eles o de querer fazer do surdo um ouvinte. Novas hipóteses podem ser levantadas, novos achados são necessários. Entre eles sobressai a urgência de dizer que o surdo é sujeito surdo (PERLIN, 1998, p. 72). O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 Atualmente buscamos relacionar o processo educacional e as experiências cul- turais dos surdos, para que seu desenvolvimento alcance maior êxito. Como consequência, a discussão sobre as formas de atenção às pessoas e aos grupos surdos tem sido deslocada do campo da educação especial para o campo antro- pológico, pois a educação deveria dar acesso aos bens culturais de acordo com as características singulares decorrentes da surdez. Por isso, a inclusão escolar dos surdos precisa ser bem discutida, pois a relação da surdez com as sociedades culturalmente ouvintes é constituída pelas barreiras de comunicação e participação. Assim, o campo da surdez pode ser comparado com uma situação de pobreza e, reclama da falta de acesso a uma educação de qualidade, condições dignas de vida, informações adequadas e ao respeito a sua língua, cultura e identidade. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS Começamos esta primeira unidade pela história da educação dos surdos, des- tacando que a decisão sobre qual deveria ser a melhor maneira de educar esses sujeitos, ou seja, se a educação de surdos deveria ser sustentada na oralização ou no uso de sinais foi, durante séculos, tomada pelos ouvintes. Como, para o ouvinte, ouvir e falar são fundamentais na interação social, os profissionais (ouvintes) envolvidos com a Educação de Surdos, durante séculos estabeleceram que o melhor para os surdos seria a oralização e o oralismo, como abordagem educacional, chegando ao abuso ocorrido no Congresso de Milão, com a proibição da utilização de sinais nas escolas. Para compreendermos melhor alguns conceitos abordados em nossa uni- dade: Identidade surda: constitui-se no interior da cultura surda. Está em situação de dependência, de necessidade do outro surdo. As identidades surdas são multifacetadas, fragmentadas, em constante mudança; jamais se encontra uma identidade mestra, um foco. Os surdos passam a ser surdos por meio da experiência visual, de adquirir certo jeito de ser surdo. Diferença: por exemplo, se perguntarmos: porque os surdos querem es- colas de Surdos? A resposta identifica a caminhada para a diferença: “para tornarem-se sujeitos de sua história”, saírem da exclusão, construírem sua identidade em presença do outro surdo, para terem direito à presença cul- tural própria. Língua de Sinais: uma das maiores produções culturais dos surdos refere- -se a língua de sinais. Os estudos mais recentes sobre ela têm atestado a incomensurabilidade da sua riqueza linguística. Fonte: Perlin (1998, p. 53). O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 Só recentemente os surdos puderam opinar sobre sua própria educação e optaram pelo ensino em língua de sinais. No caso do Brasil, pela educação bilín- gue: Libras e Língua Portuguesa, essa última, preferencialmente na modalidade escrita. Conquistaram este direito, razão pela qual os futuros professores agora precisam aprender Libras. É certo que a Libras é um conhecimento necessário que visa uma melhor qualificação para o exercício profissional na Educação Básica, uma vez que, com a implementação das propostas inclusivistas, a escola já vem recebendo muitos surdos, os quais muitas vezes não conseguem prosseguir na sua escolarização porque o contexto escolar não atende às suas especificidades linguísticas. Porém, apenas ter uma comunicação funcional em Libras no contexto escolar não é sufi- ciente para a atuação pedagógica com os surdos. É importante também ter conhecimento sobre a história da educação de sur- dos e sobre as diferentes abordagens educacionais criadas para os alunos com surdez, pois estes conhecimentos permitem a compreensão da forte relação existente entre a especificidade linguística dos surdos, suas interações sociais e a formação de sua identidade. Conhecer os aspectos legais e as políticas públicas da educação de surdos tam- bém é fundamental, razão pela qual são abordados em nossa próxima unidade. 43 O texto a seguir foi publicado na revista ETD – Educação Temática Digital. Escolhemos alguns fragmentos, pois este é um relato importantíssimo para o futuro professor. A PRESENÇA DE UMA ALUNA SURDA EM UMA TURMA DE OUVINTES: POSSIBILIDADE DE (RE)PENSAR A MESMIDADE E A DIFERENÇA NO COTIDIANO ESCOLAR Carmen Sanches Sampaio Investigo, em uma escola pública do Estado do Rio de Janeiro, o processo alfabetizador experienciado por uma turma formada por crianças ouvintes e uma criança surda. A presença, nesta escola, de uma aluna surda tornou mais visível, para algumas pro- fessoras, a característica de toda sala de aula – a diferença. A surdez dessa aluna não pode ser ignorada e nem tão pouco facilmente apagada como tantas outras diferenças constitutivas do espaço-tempo escolar. Seu modo de ser – alguém que não escuta e não se comunica através da linguagem oral – tem desafiado a escola a pensar e praticar ou- tros modos outros de se relacionar e compreender a alteridade. Nesse sentido, algumas questões têm surgido: como pensar uma escola que, de fato, reconheça as singulari- dades linguísticas e culturais, ao invés de apenas se propor a incluir uma aluna surda? Como reconhecer politicamente a surdez como diferença? Em 2003, participando de um Conselho de Classe a fala, angustiada, de uma das profes-soras alfabetizadoras, chama minha atenção: “Eu não sei o que fazer [...] Há quase dois anos estou com Carla. É muito difícil, para mim, trabalhar com uma aluna surda! Como avaliar? Ela é uma criança alegre, se dá bem com todos os colegas, mas... A turma está lendo, menos ela”. Como alfabetizar uma aluna que não ouve se o dizer, o pensar e o conhecer, no dia-a- -dia da sala de aula, nessa escola, como em tantas outras, são mediados pela oralidade, linguagem ainda privilegiada no processo de ensinar/aprender? Sua fala/pedido de so- corro ecoava pela sala de reunião mediante o silêncio existente. A responsabilidade pelo trabalho com essa aluna era, basicamente, dela, professora de turma, pois as crianças que não “acompanham a turma”, as que não aprendem e/ou não se comportam de acor- do com as expectativas da escola/professoras, as que fogem dos padrões compreendi- dos como “normais”, são selecionadas, destacadas e encaminhadas para atendimentos “especiais” dentro e/ou fora da escola. Com essa aluna não era diferente. A força da ar- madilha que nos captura para a compreensão da diferença como deficiência é forte. A professora que trabalha com a aluna surda, desde 2004, quando, juntas, começamos a investigar o processo alfabetizador vivenciado por esta aluna e seus colegas ouvintes, desenvolve uma ação alfabetizadora que investe na dialogicidade, na produção de tex- tos escritos e orais, de modo que as crianças possam aprender a ler e a escrever usando, praticando e experienciando a linguagem escrita, procurando fugir de uma prática pe- dagógica que tem a memorização e a repetição como eixos do trabalho. Carla, provoca- da a participar das atividades realizadas, dentro e fora da sala de aula, foi evidenciando 44 a subordinação do currículo ao ensino da oralidade e, ao mesmo tempo, foi instigan- do-nos a pensar e a compreender a surdez como uma experiência visual, embora se comportasse como se ouvinte fosse, pois praticamente não convivia com surdos. Várias vezes, quando solicitada a ler, lia emitindo sons incompreensíveis e se posicionando (desde segurar o papel ou livro, até o movimento com o corpo) como seus colegas ou- vintes faziam. Em casa e na escola usava gestos mímicos, desenhava, dramatizava, re- corria à datilologia (dizia as palavras utilizando o alfabeto manual em Língua de Sinais), usava sinais. Ela e os que com ela conviviam usavam de todos os recursos possíveis de modo a garantir a comunicação. A pressão exercida junto a Gerência de Inclusão e equipe técnico-pedagógica da escola garantiu, quase no final do 1º semestre do ano de 2005 a contratação de uma professora surda para atuar nesta turma. A surpresa vivenciada por Carla foi evidente. [...] Interagir com a professora surda, mais do que qualquer outra experiência vivida no cotidiano da escola, foi crucial para que começasse a se perceber como surda, pois foi o encontro surdo/surdo. A presença na escola de uma professora surda tem evidenciado a dificuldade encon- trada, pelas próprias professoras, em lidar com essa questão. Era comum, em 2005, nas reuniões pedagógicas, se a aluna bolsista, usuária da língua de sinais não estivesse pre- sente, a exclusão da professora surda. Inexistia a preocupação em falar mais devagar (essa professora é oralizada e “lê” os lábios) e de frente para professora surda ou uma das professoras da escola, usuária da língua de sinais, realizar a “tradução” das discussões em andamento. Mesmo sem perceber, a própria professora surda e a aluna bolsista, (que atuava como intérprete) por várias vezes, se colocavam em uma posição física na sala de reuniões mais afastadas do grupo e fora da roda de discussão. Inclusive a própria professora surda ao ser solicitada a falar, por mais de uma vez resistiu alegando não ter o que dizer. Eu e Ana Paula, professora de Carla, insistimos e a provocamos para que participe efetivamente das discussões e estudos realizados, embora a língua pela qual se expressa e constrói conhecimentos não seja a língua dos professores e profissionais ouvintes da escola. A investigação com o cotidiano, a partir de uma perspectiva complexa, possibilita a per- cepção e o aprendizado de que a mesmidade da escola proíbe e não proíbe a diferença, pois a permanente tensão entre os conhecimentos, regulação e emancipação, presente no cotidiano escolar, revela o confronto entre ações que legitimam relações com o outro que, a todo momento, demonstram: está mal ser o que se está sendo ou está bem ser o que nunca poderá ser e, ações com a alteridade que nos desafiam a experienciar uma edu- cação, uma relação pedagógica inspirada em dois princípios radicalmente novos: “não está mal ser o que se é e não está mal ser além daquilo que já se é”. 45 1. Considerando a História da Educação dos Surdos, qual foi a conquista mais importante para eles? 2. Estabeleça as diferenças entre as concepções de surdez dos defensores do oralis- mo, da comunicação total e do bilinguismo. 3. Qual a importância da comunidade e da cultura surda para o desenvolvimento das identidades surdas? 4. Em sua opinião é importante para o professor de uma escola inclusiva conhecer Libras? Por quê? 5. O século XVIII foi importantíssimo para a educação dos surdos graças à atuação de três grandes educadores. Quais foram, qual sua nacionalidade, qual abor- dagem educacional seguiam e qual fato tinham em comum, além de serem educadores de surdos? MATERIAL COMPLEMENTAR LIBRAS? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda Audrei Gesser Editora: Parábola, 2009 Sinopse: para complementar seus estudos sobre o tema, indicamos o livro de autoria da doutora em linguística Audrei Gesser e professora da Unicamp. Esse livro é uma leitura obrigatória para quem pretende conhecer um pouco do mundo surdo e dessa língua tão exótica, que é a Libras. A própria autora insiste em dizer que muito do que ela traz aos leitores é o óbvio, mas que ainda precisa ser dito. E, no prefácio do livro, Pedro Garcez complementa, “[...] precisa ser dito para que mais ouvintes tenham conhecimento do rico universo humano que se faz nas línguas de sinais, com as línguas de sinais, e particularmente com a Língua Brasileira de Sinais, essa LIBRAS que nos toca de perto, se soubermos escutar para vê-la”. Biblioteca Virtual do INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos Ao acessar a Biblioteca Virtual do INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos e clicar em pesquisas bibliográficas, você encontrará muitas informações acerca de todo o conteúdo dessa disciplina. Acesse o link: <www.ines.gov.br/Paginas/biblioteca.asp>. Acesso em: 19 jun. 2016. 47 REFERÊNCIAS BOTELHO, P. 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Para os defensores da comunicação total, a surdez é um estigma, uma marca com consequências sociais, e para os que assumem o bilin- guismo, a surdez é uma diferença linguística, uma experiência visual. 3. A convivência com surdos adultos estabelece modelos para as crianças, adoles- centes e jovens surdos, colaborando para o desenvolvimento das identidades surdas. A cultura surda, aqui entendida como a maneira do surdo ver o mundo, também estabelece vínculos entre os iguais, favorecendo o desenvolvimento das identidades surdas. 4. Porque, em primeiro lugar, demonstra o respeito do professor pela identidade do aluno surdo e, em segundo lugar, permite não apenas uma ação pedagógica mais efetiva, mas também o estabelecimento de laços afetivos essenciais para o sucesso da ação docente. 5. Foram os educadores: Samuel Heinecke, alemão e oralista; Charles Michell de L’Epée, francês e precursor da adoção da Língua de Sinais; Thomas Braidwood, inglês, adotava um método combinado, próximo à comunicação total. Em co- mum, tinham o fato de que os três criaram, em seus países de origem, escolas coletivas para surdos. U N ID A D E II Professora Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Professora Me. Marília Ignatius Nogueira Carneiro Professora Esp. Beatriz Ignatius Nogueira Soares LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a inclusão como princípio da Educação Especial. ■ Conhecer e refletir sobre a Legislação Educacional brasileira referente aos surdos. ■ Conhecer as Políticas Públicas para a educação dos surdos brasileiros. ■ Conhecer as novas tecnologias disponíveis para a comunicação e educação dos surdos. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Inclusão como princípio da Educação Especial ■ A Legislação brasileira referente à educação de surdos ■ A Educação de Surdos e as Políticas Públicas do Brasil ■ Tecnologias de acessibilidade para a comunicação do surdo INTRODUÇÃO Em qualquer congresso, palestra, atividades de formação continuada ou grupo de estudos destinados a professores da Educação Básica, de maneira direta ou indireta, atualmente, se fala de escola inclusiva. Embora a inclusão diga res- peito a qualquer estudante que encontra barreiras para aprender ou ter acesso ao que a escola oferece - em qualquer momento da escolarização -, a maioria das pessoas envolvidas ou não com a educação acredita que a escola inclusiva se destina apenas àqueles com necessidades educativas especiais. A principal razão para isso é que nessas crianças, as diferenças são mais específicas e exigem ações pedagógicas igualmente específicas, para as quais os professores, em geral, jul- gam estar despreparados. Em uma escola inclusiva, todos são considerados iguais e têm o mesmo valor. Assim, a escola que é inclusiva está em contínuo processo de mudança para se adaptar aos diferentes alunos que recebe, pois incluir significa muito mais do que a simples presença física da criança na sala de aula. Infelizmente, ainda não saímos do discurso para a prática, uma vez que nossa escola pública continua excluindo os pobres, os culturalmente diferentes e, principalmente, os que pos- suem necessidades educativas especiais. Dentre os alunos com necessidades educativas especiais que encontram maiores dificuldades nesse processo de inclusão estão os surdos, pois o processo de ensinar e aprender ainda se sustenta quase que exclusivamente na comuni- cação oral. Como a comunicação oral é sensivelmente prejudicada, a educação de surdos apresenta dificuldades e limitações, exigindo práticas pedagógicas diferenciadas, que mudaram radicalmente ao longo dos anos. Apresentamos nesta unidade a legislação e as Políticas Públicas brasileiras para a Educação de Surdos, discutindo desde os princípios da educação especial que sustentam a proposta inclusiva até os principais recursos tecnológicos que constituem parte da tecnologia assistiva para a educação de surdos. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 53 LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E54 INCLUSÃO COMO PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Atualmente, as agências gover- namentais e os especialistas recomendam a inclusão como a principal estratégia educacional para as pessoas com deficiência. Da maneira como são apresen- tadas as propostas de inclusão, temos a impressão de que elas são resultados apenas dos estu- dos científicos ou são “bondade” dos governantes. Isso não é ver- dade. A proposta de inclusão que hoje ocupa o centro das discus- sões da Educação Especial é resultado de longas e difíceis batalhas das pessoas com deficiência ao longo da história. A Educação Especial é uma modalidade de educação escolar integrante da educação geral direcionada a indivíduos com necessidades especiais. Educação Especial, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – lei 9394/96, é a modalidade de educação escolar, ofereci- da preferencialmente na rede regular de ensino para educandos que por possuírem necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondentes a sua idade, requer recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas e adaptadas para que possam apropriar-se dos conhecimentos oferecidos pela escola. As diferenças ocorrem em função de altas habilidades, con- dutas típicas, deficiência física motora, visual, auditiva, mental, bem como condições de vida material precária (SHIMAZAKI; MORI, 2012, p. 31, GRIFO NOSSO). Observe que a LDB estabelece que a Educação Especial deva ser ofertada, pre- ferencialmente, na rede regular de ensino, ou seja, a Educação Especial não se opõe à escola regular. Existe um equívoco muito grande neste sentido, pois as pessoas consideram que a escola que não é especial, seria a escola regular. Uma ©shutterstock Inclusão como Princípio da Educação Especial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 escola é regular quando oferece o ensino seriado, isto é, todos (ou alguns) anos referentes à Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio). Temos escolas especiais que são regulares, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), especializado na educação de surdos oferecendo ensino regular desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. A modalidade de educação que se opõe ao ensino regular é o ensino supletivo, que se caracteriza por não ser seriado e sim concretizado por meio de componentes curriculares ou disciplinas isoladas. Assim, a educação de pessoas com deficiência pode ser realizada no Brasil em escolas regulares especiais, escolas comuns, escolas supletivas comuns, escolas supletivas especializadas ou, como se pretende atualmente, em escolas inclusivas. Para compreender esta caminhada, iniciamos pela caracterização da inclusão como princípio da Educação Especial. Para isso, apresentamos, primeiramente, os princípios de Normalização e de Integração, por serem os princípios dos quais teve origem a inclusão. O princípio de Normalização surgiu na Dinamarca, com uma lei de 1959 que estabelecia: “É necessário criar condições de vida para a pessoa retardada mental semelhantes, tanto quanto possível, às condições normais da sociedade em que vive”. O espírito da lei se referia a criar condições normais da sociedade e não do indivíduo. Porém, a partir de diferentes interpretações, a maioria equivocadas, passou-se a considerar que o princípio da normalização se aplicava à pessoa com deficiência e, assim, a Educação Especial buscava tornar a criança especial o mais normal possível. No caso específico da surdez, isso significava que o surdo deve- ria aprender a falar e, assim, o oralismo passou a ser a principal metodologia de trabalho para com os surdos. Apesar dessas interpretações equivocadas, o princípio da normalização foi muito importante para o desenvolvimento da Educação Especial. Novos estu- dos, realizados a partir do princípio da Normalização, foram surgindo, fazendo com que as pessoas com deficiência, naquela época, chamadas de excepcionais, fossem enxergadas com direitos e deveres iguais, passando a “exigir” as mesmas condições de vida dos demais seres humanos. Na década de 1970, passou-se a falar em Integração como um novo princípio, o que foi questionado pelos estudiosos. Para eles, Normalização era o objetivo e a LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E56 Integração era o processo, ou seja, era como se poderia alcançar a Normalização. As crianças especiais passaram, a partir da proposta de Integração, a fre- quentar, senão classes comuns, pelo menos classes especiais em escolas comuns, embora, na maioria das vezes, com horários de entrada e de saída diferentes dos demais alunos. As classes especiais não ofereciam escolarização regular e era comum que estudantes, particularmente os surdos, passassem anos em uma classe especial e quando deixavam a escola, depois de mais de dez anos de estudo, não recebiam nenhum certificado, pois não se sabia qual “série” haviam concluído. Para se determinar o nível de escolaridade do aluno surdo, era preciso sub- metê-lo a um exame classificatório realizado pelas Secretarias Estaduais, o que nem sempre acontecia. Quando isto acontecia, o surdo educado segundo o oralismo e sem acesso a tratamentos fonoaudiológicos e a uma prótese adequada, dificilmente conse- guia certificação além dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A situação era tão desanimadora que se dizia que uma criança surda entrava na educação pela porta da classe especial e nunca mais saía. Entretanto, a prática da Integração, com todas as suas dificuldades e pro- blemas, foi importante para fazer surgir novos estudos e pesquisas no campo da Educação Especial, tanto nos aspectos administrativos, quanto nos que se refe- rem aos processos de ensino e de aprendizagem. Foi desses estudos e pesquisas que originou o princípio da Inclusão, ou a proposta da escola inclusiva que estamos vivenciando atualmente. De maneira bastante ampla, podemos dizer que quando se trata de inclusão, o que se preconiza é que a sociedade, de maneira geral, e a escola, de maneira particular, necessitam se modificar para receber a criança especial em seu meio. No que se refere à surdez: garantia de currículo adaptado; critério diferen- ciado para a correção de provas discursivas e de Língua Portuguesa; conhecimento de Libras para uma comunicação funcional por parte dos professores e a pre- sença do intérprete de Libras. A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA REFERENTE À EDUCAÇÃO DE SURDOS Veja que, cada vez mais, os estudos na área da Educação Especial apontam a relevância da parceria família-pro- fissional, não só do ponto de vista da promoção do desenvolvimento da pes- soa com necessidades especiais, mas também como suporte social para todos os envolvidos. Todavia, os mesmos estu- dos que apontam para a importância da parceria família-escola, apontam para a dificuldade de se conseguir o envolvimento ideal, tendo como um dos principais motivos a “distância” dos profissionais da Educação Especial em relação à família. Distanciamento este, na maioria das vezes, inconsciente. Os profissionais, de maneira geral, e os professores, em particular, precisam ter clareza de que a participação da família é fundamental para o sucesso do seu trabalho e, ainda mais, precisam entender qual é o seu papel nesse processo. A principal maneira de se conseguir a participação da família na educação da criança especial é firmando parceria entre esta, a escola e a sociedade. Essa não é uma tarefa fácil, e cabe ao professor intermediar para que a família se apro- xime da escola e se sinta segura nessa aproximação. De fato, o professor é o agente principal dessa parceria e deve ser capaz de orientar os pais sobre a deficiência de seu filho, sobre os programas de atendimento disponíveis, sejam eles educacionais, de saúde, psicologia ou assistência social. É de responsabilidade do professor, a orientação sobre a atuação da família em toda a vida do filho com necessidades especiais, daí a necessidade do pro- fessor conhecer a legislação e as políticas públicas que contemplam os surdos. Outro fator fundamental para que os professores conheçam a legislação acerca dos direitos dos surdos é que, muitas vezes, são estes os únicos profissionais ©shutterstock LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E58 aos quais a família tem acesso que, além de possuírem o conhecimento teóri- co-prático, estão de posse da serenidade emocional que as famílias demoram a conseguir, quando se deparam com o imprevisto da chegada de uma criança com necessidades especiais na família. Só recentemente passamos a ter legislação destinada especificamente aos surdos. A maioria da legislação brasileira referente às garantias de direitos à educação, saúde, trabalho, acessibilidade etc. não contemplam diretamente os surdos, mas sim a totalidade das pessoas com deficiência, independentemente de suas particularidades, muitas vezes gerando tensão entre os diferentes seg- mentos que constituem esse conjunto de pessoas. Apresentamos, a seguir, trechos ou comentários acerca da legislação educa- cional brasileira que contempla os direitos dos surdos, particularmente aquelas referentes à Educação. Começamos pela Constituição Federal de 1988, conside- rada um marco no que se refere aos direitos humanos no Brasil, e terminamos com a apresentação da Lei 13.146/2015,a Lei Brasileira de Inclusão da pessoa com Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, passando pela discus- são do Decreto 5.626, de 2005, responsável pela inclusão da disciplina de Libras nos currículos dos cursos de licenciatura. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 A Constituição Brasileira de 1988 é considerada uma das mais avançadas do mundo no que se refere aos Direitos Humanos, e pode ser considerada um ins- trumento eficaz na contemplação de especificidades referentes a gênero, raça, cor, idade e deficiência, com o estabelecimento de garantias de direitos específi- cos e diferenciados. Os artigos da Constituição Federal que mais nos interessam são 205 e 208. Art. 205 – A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. [...] A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 Art. 208: III – Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público e subjetivo. V – Acesso aos níveis mais elevados de ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. LEI Nº 7.853 DE 1989 Nesta lei, há previsão de matrícula compulsória (obrigatória) em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoa com deficiência capaz de se integrar no sistema regular de ensino. Estabelece, ainda, que é crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que este porte. LEI 9.394 DE 1996 – LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Esta lei define as diretrizes para educação nacional brasileira e, no que se refere aos educandos com necessidades especiais, estabelece que o estado brasileiro garanta: Art. 4º - III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. [...] Art. 58: Entende-se por educação especial, para efeitos desta Lei, a mo- dalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede re- gular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. [...] Art. 60: Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E60 Parágrafo Único: O Poder Público adotará, como alternativa preferen- cial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades es- peciais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo. PORTARIA Nº 1.679 DE 2 DE DEZEMBRO DE 1999 Dispõe sobre os requisitos de acessibilidade a pessoas portadoras de deficiência para instruir processos de autorização e de reconhecimento de cursos e creden- ciamento de instituições de ensino superior. A partir dessa portaria, para que uma Instituição de Ensino Superior tenha autorização de funcionamento para qualquer curso de graduação e mesmo o reconhecimento de cursos já autoriza- dos, uma das exigências a ser cumprida são as condições de acesso (concurso vestibular) e de permanência de pessoas com deficiência nos cursos superiores. LEI FEDERAL Nº 10.098, DE 2000 Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobi- liário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. Entende-se por acessibilidade, a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunica- ção, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. É importante destacar o capítulo VII, artigos 17, 18 e 19, que tratam especifi- camente da acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização, e abordam o direito à informação das pessoas surdas. A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 61 LEI FEDERAL Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 Esta lei oficializou a Língua Brasileira de Sinais – Libras. A partir dessa lei, não mais se escreve a palavra Libras com todas as letras maiúsculas como se fazia anteriormente, quando ela representava uma sigla: LÍngua BRAsileira de Sinais – LIBRAS. Nessa lei, também estão estabelecidas as condições que caracterizam uma escola inclusiva para surdos. A essência das disposições federais contidas nessa lei está distribuída em quatro artigos: Art. 1º: É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º: Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e em- presas, concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunida- des surdas do Brasil. Art. 3º: As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e trata- mento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º: O sistema educacional federal e os sistemas educacionais es- taduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Bra- sileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curri- culares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. A Lei nº. 10.436/2002 marca o início de uma nova e promissora era no que diz respeito à pessoa surda, sua capacidade, identidade e formação. Essa lei reconhece não somente que a Libras é uma Língua e que como tal deve ser LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E62 respeitada, mas que a comunidade surda, sua cultura e sua identidade tam- bém devem ser respeitadas. As leis da acessibilidade, de 2000, e a da Libras, de 2002 foram regulamen- tadas pelos Decretos 5296 de 2004 e pelo Decreto nº 5.626 de 2005. DECRETO FEDERAL Nº 5296 DE 2004 Apesar deste Decreto, que regulamenta a Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibili- dade não se referir especificamente à educação, destacamos os artigos 5º e 6 º. No primeiro está estabelecido quem são as pessoas com surdez, que neste Decreto voltama ser denominadas de deficientes auditivas e a ter sua caracterização esta- belecida pelo modelo médico, em contraposição aos avanços conquistados com a Lei da Libras, de 2002, que caracteriza a surdez como experiência visual. No artigo 6º determina-se como deve ser o atendimento prioritário para pessoas com deficiência (conforme estabelecido na Lei 10.048, de 8 de novembro de 2000): Art. 5o Os órgãos da administração pública direta, indireta e funda- cional, as empresas prestadoras de serviços públicos e as instituições financeiras deverão dispensar atendimento prioritário às pessoas por- tadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. §1o Considera-se, para os efeitos deste Decreto: I - pessoa porta- dora de deficiência, além daquelas previstas na Lei no 10.690, de 16 de junho de 2003, a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes categorias: [...] b) deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz [...] Art. 6o O atendimento prioritário compreende tratamento diferen- ciado e atendimento imediato às pessoas de que trata o art. 5o. §1o O tratamento diferenciado inclui, dentre outros: III - serviços de atendimento para pessoas com deficiência auditiva, prestado por intér- pretes ou pessoas capacitadas em Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e no trato com aquelas que não se comuniquem em LIBRAS, e para pessoas surdocegas, prestado por guias-intérpretes ou pessoas capaci- tadas neste tipo de atendimento. A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 63 Além de retroceder na denominação e definição das pessoas com surdez, o Decreto 5296 de 2004, também continua utilizando a grafia da Libras, com mai- úsculas, como uma sigla, não considerando a substantivação procedida pela Lei da Libras. Estes fatos demonstram que nem sempre os especialistas em surdez participam da elaboração da legislação e das políticas públicas destinadas a este segmento da população. DECRETO FEDERAL Nº 5.626 DE 2005 Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visu- ais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. O Decreto 5.626 estabelece o que é preciso fazer que a abordagem bilíngue seja adotada nas escolas públicas e particulares do país. Define ainda que escola ou classe bilíngue são aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam as línguas utilizadas no ensino. Também é este Decreto que torna obrigatório o ensino de Libras para os futuros professores e para os fono- audiólogos. Destacamos, a seguir, de forma resumida, a essência das disposições contidas no Decreto 5.626. • A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magis- tério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. • Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conheci- mento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considera- dos cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. • A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos de- mais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E64 O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de for- mação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa. O Decreto nº 5.626 estabelece ainda que as instituições federais de ensino devam garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas, acesso à comunicação, informação e educação nos processos seletivos, atividades e conteúdos curricu- lares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior. A programação visual dos cursos de nível médio e superior, preferencial- mente os de formação de professores, na modalidade de educação a distância, deve dispor de sistemas de acesso à informação como janela com tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subtitulação por meio do sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as mensagens veiculadas às pessoas surdas. DECRETO 6.949 DE 2009 Quando o Brasil participa de algum evento internacional e assina o documento resultante das discussões, para que o compromisso assumido pelo país tenha força de Lei, é necessário de que o documento seja aprovado pelo Congresso Nacional e seja sancionado pela Presidência da República. O Decreto 6.949 de 2009, da Presidência da República, promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. O entendimento do que são pessoas com deficiência avançou muito com esta convenção, transferindo o foco das dificuldades do indivíduo para as con- dições do entorno em que ele vive, a saber: pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 65 A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma indepen- dente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medidas apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural. No que se refere ao direito à informação temos uma manifestação explícita de inclusão quando estabelece que cabe ao Estado: ■ Aceitar e facilitar, em trâmites oficiais, o uso de línguas de sinais, Braille, comunicação aumentativa e alternativa, e de todos os demais meios, modos e formatos acessíveis de comunicação, à escolha das pessoas com deficiência. ■ Garantia de que a educação de pessoas, em particular crianças cegas, surdocegas e surdas, seja ministrada nas línguas e nos modos e meios de comunicação mais adequados ao indivíduo e em ambientes que favore- çam ao máximo seu desenvolvimento acadêmico e social. A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para empregar professores, inclusive professores com deficiência, habilitados para o ensino da língua de sinais e/ou do Braille, e para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de ensino. Apesar da Política Nacional de Educação, em especial na perspectiva inclu- siva, ter sido estabelecida em 2008, portanto um ano anterior ao Decreto 6949, que é de 2009, ela foi orientadapela Convenção, que aconteceu em 2007. DECRETO 7.611, DE 2011 A promulgação deste decreto contou com intensa participação da comunidade surda, mediante a FENEIS, seu órgão representativo. Este decreto estabelece as diretrizes que normatizam o dever do Estado para com a população-alvo da edu- cação especial, garantindo a manutenção de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às escolas especializadas, que estavam sob a iminência de extinção em LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E66 função da proposta inclusiva. O Decreto, no parágrafo 2º do artigo 1º garante todas as diretrizes e princípios dispostos no decreto 5.626 de 2005. LEI 13.146 DE 2015 Esta Lei, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto das Pessoas com Deficiência), deixa claro quais são os direitos das pes- soas com deficiência e quais os deveres que o Estado (aqui entendidos como os poderes públicos Federal, Estadual e Municipal) tem para com esta parcela da população. Para se constituir em Lei, o projeto do Estatuto das Pessoas com Deficiência tramitou por muitos anos, uma vez que não havia unanimidade nem mesmo entre as pessoas com deficiência sobre a pertinência deste documento. Para os defensores do Estatuto, um documento específico que daria mais visibilidade às pessoas com deficiência, além de facilitar ações reivindicatórias de seus direitos, pois estariam todos condensados em um único documento, sem necessidade de se recorrer ao conjunto de leis estabelecidas. Para outros, o Estatuto deixaria explícito a exclusão desse segmento do con- junto das demais pessoas da sociedade. Isto porque, enquanto o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso se remetem a cidadãos em fases específicas de sua vida, ou seja, os que ainda exercerão plenamente seus direitos em sua fase adulta e os que buscam a extensão de seus direitos para a velhice, as pessoas com deficiência, enquanto crianças, adolescentes, adultos e idosos gostariam de ter seus direitos garantidos da mesma forma que os demais indivíduos. Assim, por exemplo, no ECA deveriam estar estabelecidos os direi- tos da criança e do adolescente com deficiência, assim como em toda legislação e políticas públicas brasileiras. A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 67 No que se refere especificamente à educação, a Lei 13.146 de 2015, em seus artigos 27 e 28, preconiza o atendimento na perspectiva inclusiva, mas garante aos surdos, no inciso IV do art. 28, o direito de estudar em escolas bilíngues, ou seja, as escolas especializadas. Destacamos, também, o que se refere ao desenvolvi- mento de tecnologias assistivas, pela importância que elas assumem na educação de surdos, razão pela qual, finalizamos esta unidade com um texto sobre este tema. Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, as- segurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e apren- dizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desen- volvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessi- dades de aprendizagem. Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade es- colar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, imple- mentar, incentivar, acompanhar e avaliar: [...] IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas; [...] VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva; VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de aten- dimento educacional especializado, de organização de recursos e servi- ços de acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia assistiva; [...] XI - formação e disponibilização de professores para o atendimen- to educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio; XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e participação; LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E68 [...] § 2o Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se observar o seguinte: I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio completo e certificado de proficiência na Libras; II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-gradu- ação, devem possuir nível superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras. [...] [...] Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e permanência nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior e de educação profissional e tecnológica, públicas e privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas: I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos serviços; II - disponibilização de formulário de inscrição de exames com campos específicos para que o candidato com deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários para sua partici- pação; III - disponibilização de provas em formatos acessíveis para atendi- mento às necessidades específicas do candidato com deficiência; IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnologia as- sistiva adequados, previamente solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência; V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência, tanto na realização de exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação e comprovação da necessidade; VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação que considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade escrita da língua portuguesa; VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Libras. A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 69 O acesso à comunicação e informação, é estabelecido em um capítulo específico da Lei 13.146 de 2015, destacamos os artigos que interessam diretamente ao surdo: Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade que, entre outras tec- nologias assistivas, possuam possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de todas as operações e funções disponíveis. Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros: I - subtitulação por meio de legenda oculta; II - janela com intérprete da Libras; III - audiodescrição. Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo à pro- dução, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusiveem publicações da administração pública ou financiadas com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à comunicação. § 1o Nos editais de compras de livros, inclusive para o abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de impedimento à participação de editoras que não ofertem sua produção também em formatos acessíveis. § 2o Consideram-se formatos acessíveis os arquivos digitais que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada, ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em Braille. § 3o O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e a produção de artigos científicos em formato acessível, inclusive em Libras.[...] LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E70 Art. 70. As instituições promotoras de congressos, seminários, ofici- nas e demais eventos de natureza científico-cultural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, os recursos de tecnologia assistiva previstos no art. 67 desta Lei. Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os demais eventos de natureza científico-cultural promovidos ou financiados pelo poder público devem garantir as condições de acessibilidade e os recursos de tecnologia assistiva. Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos a serem desenvolvidos com o apoio de agências de financiamento e de órgãos e entidades integrantes da administração pública que atuem no auxílio à pesquisa devem contemplar temas voltados à tecnologia assistiva. Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em parceria com or- ganizações da sociedade civil, promover a capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais habilitados em Braille, audiodescrição, estenotipia e legendagem. O capítulo III da Lei 13.146 de 2015 aborda a tecnologia assistiva, estabelecendo a garantia de acesso da pessoa com deficiência a produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida, mediante, por exemplo, o acesso a crédito especializado subsidiado para a aquisição individual desses recursos. Finalmente, o resumo da legislação aqui apresentado teve a intenção de informar o futuro professor e de destacar que, atualmente, são muitas as ações governamentais que buscam melhorar a educação e a vida social dos surdos. Por isso, já podemos imaginar, em um futuro não muito distante, um mundo em que a diferença linguística não seja mais considerada uma deficiência, mas como particularidade que não diminui a pessoa surda. A Educação de Surdos e as Políticas Públicas do Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 71 A EDUCAÇÃO DE SURDOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DO BRASIL Um dos discursos educacionais atuais é o da inclusão, e uma das discussões mais presen- tes quando se fala de atitudes “politicamente corretas” são as que abordam a diversidade cultural e social de indivíduos e grupos. Respeitar as diferenças se tornou mais do que um objetivo a ser alcançado, passou a ser estratégia nas políticas públicas educa- cionais brasileiras. Se conhecer a Legislação acerca da edu- cação de surdos no Brasil é fundamental para o professor orientar seus alunos e familiares, conhecer as políticas públicas educacionais para o surdo brasileiro cumpre também esta função. Além disso, esse conheci- mento é importante para que o professor possa reivindicar melhores condições de trabalho. A primeira política pública para a educação dos surdos em nosso país pode ser considerada a Decisão Imperial de 26 de setembro de 1857, quando o governo de D. Pedro II criou o Instituto Nacional de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro, atual Instituto Nacional de Educação do Surdo (INES), que adotava a língua de sinais. Essa escola foi fundada por Ernest Huet – professor surdo francês que che- gou ao Brasil com o objetivo de aqui iniciar a educação dos surdos. Porém, seguindo a tendência determinada pelo Congresso de Milão (1880), em 1911, o INES estabeleceu o oralismo como método de educação dos surdos. Atualmente, a filosofia educacional adotada pelo INES é o bilinguismo. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, na qual, em diferentes artigos, são garantidos os direitos das pessoas com deficiência, foram propos- tas políticas para que a atuação dos diferentes órgãos governamentais pudesse estar em conformidade com os dispositivos constitucionais. ©shutterstock LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E72 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL DE 1994 Nesse documento, aparecem, pela primeira vez de forma explícita, propostas de apoio à utilização da Língua Brasileira de Sinais (Libras), na educação de alunos surdos e incentivo à oficialização da Libras. Lei nº 10.172/01 – Plano Nacional de Educação O Plano Nacional de Educação estabelece vinte e sete objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades educativas especiais. Sinteticamente, essas metas tratam: ■ Das ações preventivas na área visual e auditiva, até a generalização do atendimento aos alunos na educação infantil e no ensino fundamental. ■ Do atendimento extraordinário em classes e escolas especiais ao atendi- mento preferencial na rede regular de ensino. ■ Da educação continuada dos professores que estão em exercício à forma- ção em instituições de ensino superior. O Plano Nacional de Educação de 2001 indica como meta, ainda, capacitar pes- soas para dar atendimento aos educandos especiais e como meta nº 11: implantar, em cinco anos, e generalizar, em dez, o ensino da Língua Brasileira de Sinais para alunos surdos e, sempre que possível, para seus familiares e para o pessoal da unidade escola, mediante um programa de formação de monitores, em par- cerias com organizações não governamentais. PROGRAMA NACIONAL DE APOIO À EDUCAÇÃO DE SURDOS - 2001 No cenário de reformas e propostas educacionais, temos o Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos, que foi o resultado de uma proposição da SEESP/ MEC e Secretarias de Estado da Educação e Secretarias Municipais de Educação (das capitais) visando à melhoria da educação de alunos surdos matriculados no A Educação de Surdos e as Políticas Públicas do Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 73 Ensino Fundamental. Um de seus focos de trabalho foi a formação de professo- res ouvintes para o uso da Libras. O Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos buscava atender aos 50 mil estudantes surdos matriculados no Ensino Fundamental naquele momento e possuía três metas: 1. Organizar cursos de capacitação para profissionais da educação - subdi- vidida em 3 etapas; a primeira, a ser realizada em Brasília, consistia no curso de instrutores surdos; a segunda, a ser realizada nos estados, con- sistia no curso de língua de sinais para professores da rede pública e no curso de língua de sinais para novos instrutores e a terceira, a ser reali- zada no INES, em curso de intérprete de línguas de sinais para professores da rede pública (a curto prazo). 2. Implantar o centro de apoio à capacitação dos profissionais e à educação de surdos CAP a ser cumprida em médio prazo. 3. Modernizar as salas de recursos paraatendimento dos surdos (a médio prazo). Como resultado material deste Programa, foi produzido pelo MEC, em conjunto com pesquisadores e com a FENEIS – Federação Nacional de Escolas e Instituições de Surdos, o material didático “Libras em Contexto”, composto de livro do aluno, livro do professor e fitas de vídeo. Foi o primeiro material de características ofi- ciais para o ensino de Libras do Brasil, que em 2009, teve publicada sua 9ª edição. POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA – PNEE 2008 A Educação Especial, modalidade escolar que atende, preferencialmente na rede regular de ensino, educandos com "deficiência, transtornos globais do desen- volvimento e altas habilidades ou superdotação” é explicitamente considerada, atualmente no Brasil, na perspectiva inclusiva e regida pela Política Nacional de Educação Especial – PNEE, de 2008. De acordo com a PNEE- 2008 a atua- ção da Educação Especial deve ser articulada com o ensino comum e, se efetiva LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E74 mediante o atendimento às necessidades educacionais especiais dos educandos constituintes de seu público alvo, com a oferta, em contraturno, do Atendimento Educacional Especializado – AEE. Na Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva inclusiva, de 2008, o MEC reconhece que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar alter- nativas para superá-las, e, assim, a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na supe- ração da lógica da exclusão. A partir dos referenciais para a construção de sistemas educacionais inclu- sivos, a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alu- nos tenham suas especificidades atendidas. O documento é claro na orientação de que não sejam mais criadas escolas especiais e orienta que as já existentes transformem-se em centros educacionais especializados para ofertar AEE. As principais justificativas para a “extinção” das escolas especializadas apresentadas na PNEE são: A Educação Especial se organizou tradicionalmente como atendimento educacional especializado substitutivo ao ensino comum, evidencian- do diferentes compreensões, terminologias e modalidades que levaram a criação de instituições especializadas, escolas especiais e classes es- peciais. Essa organização, fundamentada no conceito de normalidade/anor- malidade, determina formas de atendimento clínico terapêuticos for- temente ancorados nos testes psicométricos que definem, por meio de diagnósticos, as práticas escolares para os alunos com deficiência (BRASIL, 2008, p. 06). De acordo com a PNEE – 2008 deve ser garantido “[...] direito de todos os alu- nos pertencerem a uma mesma escola, de estarem todos juntos aprendendo e participando sem nenhum tipo de discriminação” e suas particularidades seriam atendidas mediante a oferta do AEE. Assim, o trabalho pedagógico com os alunos com surdez nas escolas comuns deve ser desenvolvido em um ambiente bilíngue, ou seja, em um espaço em que se utilize a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa. Um período adicional de A Educação de Surdos e as Políticas Públicas do Brasil Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 75 horas diárias de estudo é indicado para a execução do Atendimento Educacional Especializado (DÁMAZIO, 2007)1. Nele destacam-se três momentos didáti- co-pedagógicos: Momento do Atendimento Educacional Especializado em Libras; Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras e Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa. No Atendimento Educacional Especializado em Libras na escola comum, todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares são explicados nessa língua por um professor, sendo ele preferencialmente surdo. A organiza- ção didática desse espaço de ensino implica o uso de muitas imagens visuais e de todo tipo de referências que possam colaborar para o aprendizado O Atendimento Educacional Especializado em Libras oferece ao aluno com surdez segurança e motivação para aprender, sendo, portanto, de extrema importância para a inclusão do aluno na classe comum. Já no Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras na escola comum, os alunos com surdez têm aulas de Libras, favorecendo o conhe- cimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Esse trabalho é realizado pelo professor e/ ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de desenvolvimento da Língua de Sinais em que o aluno se encontra. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhe- cimento que o aluno tem a respeito da Língua de Sinais. O professor e/ou instrutor de Libras organiza o trabalho do Atendimento Educacional Especializado, respeitando as especificidades dessa língua, princi- palmente o estudo dos termos científicos a serem introduzidos pelo conteúdo curricular. Eles procuram os sinais em Libras, investigando em livros e dicioná- rios especializados, internet ou mesmo entrevistando pessoas adultas com surdez. O professor surdo no ensino de Libras oferece aos alunos com surdez melho- res possibilidades do que o professor ouvinte porque o contato de crianças e jovens surdos com adultos com surdez favorece não apenas a aquisição dessa língua como também a construção de identidades surdas. No Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa são trabalhadas as especificidades dessa língua para pessoas com surdez. O ensino é desenvolvido por um professor, preferencialmente, formado LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E76 em Língua Portuguesa, que conheça os pressupostos linguísticos teóricos que norteiam o trabalho, e que, sobretudo, acredite nesta proposta, estando disposto a realizar as mudanças para o ensino do Português aos alunos com surdez. O que se pretende no Atendimento Educacional Especializado é desenvol- ver a competência gramatical ou linguística, bem como textual, nas pessoas com surdez, para que sejam capazes de gerar sequências linguísticas bem formadas. Além disso, o AEE deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua Portuguesa. Para completar a descrição do modelo atual de inclusão dos surdos brasi- leiros, resta comentar a presença de Intérprete de Libras na sala de aula, que é fundamental para a inserção das pessoas com surdez, que são usuárias da Língua de Sinais. O intérprete deve conhecer com profundidade, cientificidade e criticidade sua profissão, a área em que atua, as implicações da surdez, as pessoas com sur- dez, a Libras, os diversos ambientes de sua atuação a fim de que, de posse desses conhecimentos, seja capaz de atuar de maneira adequada em cada uma das situ- ações que envolvem a tradução, a interpretação e a ética profissional. O ideal é que o professor conheça Libras, mesmo com a presença de intér- pretes. Não é viável que a aula seja ministrada em Libras, mas deve existir comunicação, mesmo que funcional, entre o professor e o aluno. Além disso, o intérprete geralmente não domina todo conteúdo de todas as disciplinas e é preciso ter certeza de que o que está sendo repassado aos alunos é o que está de fato sendo explicado pelo professor. Considerando a importância dos recursos tecnológicos para a inclusão social e educacional dos surdos e que o acesso a tais recursos é garantido pela Lei Brasileirade Inclusão da Pessoa com Deficiência - Lei 13.146 de 2015, que inclusive estabelece dispositivos para fomentar pesquisas nesta área. Por isso, destinamos, a seguir, um texto específico para analisar os avanços nesta área, no que se refere aos surdos. Tecnologias de Acessibilidade para a Comunicação do Surdo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 77 TECNOLOGIAS DE ACESSIBILIDADE PARA A COMUNICAÇÃO DO SURDO1 As tecnologias atuais permitiram um enorme aumento da boa qualidade de comunicação entre surdos e entre ouvintes e surdos, das quais, o princi- pal exemplo é o celular, por permitir o envio de mensagens escritas, dentre outras facilidades. 1 Texto resumido do Capítulo 2, de mesmo título, da dissertação de mestrado: O uso social das tecnologias de comunicação pelo surdo: limites e possibilidades para o desenvolvimento da linguagem, de autoria de Marília Ignatius Nogueira Carneiro, constante das referências. Para conhecer mais alguns decretos vinculados à questão dos direitos das pessoas com deficiência, pesquise por: Decreto Nº 186/2008 - Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Decreto Nº 6.215/07 - Institui o Comitê Gestor de Políticas de Inclusão das Pessoas com Deficiência. Decreto Nº 6.571/08 - Dispõe sobre o atendimento educacional especiali- zado. Decreto nº 3.298/99 - Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Porta- dora de Deficiência. Decreto nº 3.952/01 - Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Decreto nº 5.296/04 - Regulamenta as Leis n° 10.048 e 10.098 com ênfase na Promoção de Acessibilidade. Decreto nº 3.956/01 – (Convenção da Guatemala) Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência Fonte: as autoras. LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E78 O precursor do celular foi o PAGER ou BIP. Este equipamento não foi criado pensando nos surdos, mas, por utilizar a escrita e possibilitar que o surdo tivesse acesso à mensagem pela via visual, foi adotado por muitos integrantes da comu- nidade surda, gerando muita esperança. Todavia, além de ser cara, sua utilização não era prática. Como as mensagens escritas apenas podiam ser emitidas pelas telefonistas, não havia possibilidade de troca efetiva de comunicação. Os ouvin- tes ligavam para uma central de comunicações do BIP, os telefonistas recebiam os recados e enviavam as mensagens para os aparelhos dos surdos, que não tinham como responder. Infelizmente, esses equipamentos tecnológicos foram falhos para a comunicação dos surdos, embora servissem para que esses recebessem recados. Beatriz e Marília tiveram um deste, porque a mãe, Clélia, desejava man- dar recados, por exemplo, quando saiam à noite. Às vezes, a mãe queria saber se estava tudo bem, então mandava mensagens no Pager e elas telefonavam de um orelhão para casa. Não era possível conversar, mas apenas por a ligação, a mãe sabia que estava tudo bem. Era um código combinado entre a família. Este exemplo ilustra bem as dificuldades de comunicação que os surdos vivenciaram ao longo dos tempos, de maneira que consideramos que é muito mais fácil ser surdo no momento atual, repleto de ferramentas tecnológicas! Em 1998, surgiu o TDD (Telecommunications Devices for the Deaf), que foi anunciado como um grande avanço na comunicação dos surdos. Entretanto, esta tecnologia não foi muito utilizada por eles. Primeiro, porque era de difícil aquisi- ção, de maneira que apenas associações, entidades governamentais e algumas não governamentais possuíam os aparelhos. Além disso, sua utilização não apresentava praticidade. Para usufruir os serviços do TDD, o surdo, quando queria ligar para um ouvinte, digitava o número e a mensagem, que era recebida por um atendente e transmitida oralmente na ligação de telefone comum para o ouvinte. O ouvinte respondia e esta mensagem era escrita pelo atendente e encaminhada para o surdo via TDD e assim, o procedimento continuava. O processo demorado de troca de mensagens e seu custo alto inviabilizou a utilização deste recurso em larga escala. A partir do TDD, outros recursos tecnológicos sustentados no Português escrito foram disponibilizados para a comunidade surda. Muitos, inclusive, não necessitaram de nenhum tipo de adaptação e foram utilizados indistintamente por surdos e ouvintes. Tecnologias de Acessibilidade para a Comunicação do Surdo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 79 Um exemplo desses recursos é o Facebook. Este aplicativo para redes sociais é o de maior acesso no mundo. Com características individuais, permite também a formação de grupos de usuários que possuem interesses em comum. Atualmente, os smartphones estão bastante acessíveis e os aplicativos de men- sagens instantâneas vêm sendo aperfeiçoados, fazendo parte do cotidiano das pessoas e facilitando ainda mais a vida social dos surdos, como exemplo temos o ICQ, o WhatsApp, o Instangram e o Telegram. Constantemente novos recursos tecnológicos, que favorecem a comunica- ção de pessoas surdas, são apresentados à comunidade científica. Um exemplo disso é a pulseira Lepee, apresentada por alunos do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O dispositivo consiste em um aparelho vibratório que se conecta a qualquer celular e pisca e vibra quando o Smartphone recebe notificação de mensagem, por exemplo, o alarme do carro ou uma campainha wireless. Segundo o jornal “Gazeta do Povo” (2015, on-line)2. “O funcionamento de pulseira Lepee tem potencial para provocar uma minirre- volução na relação das pessoas surdas com a tecnologia”. O Instagram é semelhante ao Facebook e é uma rede social on-line de compartilhamento de fotos e vídeos, acessível apenas para smartphones e que não permite a criação de grupos. Oferece duas opções: público ou fechado. Se público, qualquer pessoa pode ter acesso ao que for disponibilizado na página do usuário. Se fechado, só as pessoas adicionadas podem ver suas postagens. Os surdos costumam postar fotos e vídeos curtíssimos, de no máximo dois minutos. Apesar de ser possível postar vídeos em Libras, a maioria dos surdos faz apenas postagem de fotos. O Telegram é considerado um dos principais concorrentes do WhatsApp, porque possui funções semelhantes, como o envio e recebimento de conteúdos em texto, vídeo, áudio e imagem por meio de um pacote de dados ou de uma conexão Wi-Fi. Uma primeira vantagem deste aplicativo é o fato de não estar vinculado a nenhuma grande empresa da internet. Como o Telegram utiliza a rede móvel para mandar e receber as mensagens, ele é gratuito. O Telegram apresenta ainda suporte para GIFs (Graphics Interchange Format ou, em português: formato de intercâmbio de gráficos animados). Possui dispo- sitivos de busca para pesquisa de imagens (animadas ou estáticas) diretamente LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E80 no aplicativo e apresenta um sistema de citação de outros usuários durante uma conversa, ideal para ser utilizada em um grupo. Atualmente, um grupo de surdos brasileiros2 utiliza o Telegram para uma pesquisa que tem por objetivo convencionar sinais em Libras para diferentes áreas do conhecimento, como, por exemplo, a Matemática. Os recursos descritos anteriormente são utilizados pelos surdos letrados, entretanto, temos também os surdos que são analfabe- tos, que não sabem ler e escrevermensagens, ou mesmo os que possuem um conhecimento insuficiente do Português, o que inviabiliza a comunicação com ouvin- tes, desacostumados com a redação dos surdos. Assim, além das ferramentas tecnológicas que permitem a exploração de vídeos em geral, permitindo, portanto, a comunicação em língua de sinais, algumas ferramen- tas tecnológicas foram adaptadas ou mesmo criadas para os surdos. São as que utilizam ou a Libras ou o SignWriting. As que permitem a utilização da Libras são as preferidas pelos surdos, pois, por meio delas, podem se valer de um poderoso recurso de comuni- cação muito valorizado pela comunidade surda, que são as expressões visuais. A importância de poder se comunicar mediante imagens, ou seja, por meio de vídeos, além de per- mitir ao surdo se expressar em sua língua natural, se adapta melhor ao desenvolvimento cognitivo e afetivo dos surdos, pois, como já abordamos na Unidade I, atualmente, surdez é entendida como uma experi- ência visual. Dessa forma, a Libras é concebida pelas experiências visuais dos surdos, os quais se sentem confortáveis ao utilizar ferramentas tecnológicas em que podem se expressar na sua língua. Por exemplo, os ouvintes leem e escrevem, 2 O grupo de Lexicologia e terminologia em Libras desenvolve seus trabalhos por meio do Telegram. Muitos surdos, de diferentes estados brasileiros, reúnem-se e discutem, para produzir um novo sinal. Aproximadamente 38 pessoas surdas da área de linguística e fluentes em Libras. O Telegram permite que os usuários se comuniquem sem sair de casa, com a vantagem de que este aplicativo permite o envio de vídeos de mais ou menos 6 minutos de gravação, que podem ser compartilhados com o grupo. ©shutterstock Tecnologias de Acessibilidade para a Comunicação do Surdo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 81 mas eles falam ao telefone e se sentem bem em ouvir as vozes de seus interlo- cutores, da mesma forma, os surdos, para se sentirem próximos da pessoa com quem se comunicam, precisam vê-la e observar suas expressões faciais. Seria o equivalente para os ouvintes, a ouvir a voz, e, pela entonação, perceber as varia- ções de humor de seus interlocutores. As novas tecnologias em Libras são importantes para o uso social dos cida- dãos surdos, pois a facilidade de acesso às informações pode incentivar a busca pelo conhecimento científico e social pelos surdos. Vários recursos tecnológicos, com uso da Libras, estão disponíveis para os surdos. A seguir, apresentamos os recursos tecnológicos com Libras que os sur- dos mais utilizam. TV com Intérpretes. Seguramente esta foi a primeira ferramenta tecnológica a disponibilizar o acesso dos surdos à informação em sua língua natural, no caso do Brasil, a Libras. Para isto, alguns canais da TV, ou determinados programas, apresentam a tradução simultânea com o intérprete de Libras em destaque no canto da tela, em um espaço denominado “janela de interpretação” a WebCam e chats com vídeo. Não são ferramentas específicas para surdos. São recursos dos diferentes aplicativos e redes sociais, que permitem aos surdos visualizarem o diálogo sinalizado simultaneamente. O software Skype. Muito utilizado atualmente para conferências, palestras e até mesmo realização de bancas de defesa de mestrado e doutorado, em que os participantes da banca não podem estar presentes, pois permite a comunicação simultânea com imagens e sons. Para estabelecer contato, é necessário possuir uma conta de e-mail. Na tela aparecem duas imagens, uma pequena corresponde à primeira pessoa, que vê sua própria imagem; a imagem maior mostra a ima- gem do interlocutor, ou seja, daquele com quem se está comunicando. O Skype possibilita ainda a comunicação escrita, na ausência de câmeras. O programa é grátis e é acessível apenas para computadores e tablets. Muitos surdos utilizam esta forma de comunicação. A webcam do celular. Permite a utilização de alguns aplicativos simples e efetivos, como, por exemplo, o Imo Video Free. Este programa de download gra- tuito é um grande sucesso entre os usuários em geral, por permitir chamadas de voz e de vídeo com alta qualidade se estiver conectado à internet 3G, 4G ou LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E82 Wi-Fi. Também permite mensagens escritas, bate papo em grupo e figuras para enriquecer as comunicações escritas. O aplicativo permite ainda a formação de grupos para bate-papo e compartilhamento de fotos e vídeos. Entretanto, é a possibilidade de se expressar em Libras, pois a imagem é trans- mitida simultaneamente, que torna o IMO o aplicativo preferido dos surdos. É a telefonia móvel para a comunicação entre usuários da Libras. Dentre as ferramentas tecnológicas específicas para utilização pelos surdos, destacamos o Viável Brasil. O Viável é o nome comercial de uma tecnologia adap- tada para os surdos, semelhante ao aplicativo Skype. Esta ferramenta necessita de um equipamento próprio, que precisa estar ligado à internet. Além do custo do aparelho e da internet, há a necessidade de pagamento de uma taxa de serviços, que se destina ao pagamento de intérpretes que permanecem em uma central. É um telefone específico para clientes surdos. Tem dois tipos: um oferece tecnolo- gia para videoconferência para dois ou três surdos conversarem, com webcam. O outro disponibiliza intérprete em língua de sinais. Para a utilização do sistema Viável, o surdo que deseja ligar para um ouvinte, pode digitar normalmente o número de telefone, e o intérprete atua como mediador, interpretando em voz para o ouvinte e sinalizando no vídeo para o surdo ver. Também tem bate papo em linguagem escrita. Outro recurso tecnológico atualmente disponível são os softwares de tradu- ção simultânea de texto e voz da Língua Portuguesa para Libras, disponíveis sob a denominação PRODEAF e HandTalk. Ambos são aplicativos muito inovadores. Os novos softwares ajudam bastante a comunicação entre ouvintes e surdos, pois a pessoa fala ao celular e o programa traduz automaticamente em Libras, mediante uma animação, para os surdos. Apesar do grande avanço, estes aplica- tivos ainda precisam ser refinados e enriquecidos, pois não permitem a tradução da Libras nem para o Português oral, nem para escrito, mas permitem ao surdo responder por escrito. Assim, de um lado, representa um grande avanço, pois facilita a comunicação quando o surdo é o receptor, ao traduzir o que o ouvinte diz ao surdo, mas, por outro lado, ainda necessita que o surdo possua conheci- mento do Português escrito para poder ser o emissor da mensagem. O PRODEAF foi desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco por alunos do curso de ciência da computação. O grupo envolvido fundou a empresa Tecnologias de Acessibilidade para a Comunicação do Surdo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 83 Proativa Soluções e negócios, que conta com o apoio e parceria da Wayra Brasil - Telefônica, Microsoft, Sebrae e CNPq. O Hand talk foi apresentado em 2012. O aplicativo é parecido com o PRO- DEAF. Nele, o Hugo, personagem 3D torna a comunicação interativa e de fácil compreensão. No que se refere à educação de surdos, as ferramentas tecnológicas facilitam sua comunicação e aprendizagem. Um exemplo, são os livros didáticos traduzidos para a Libras, que permitem aos surdos entenderem “rapidamente” os textos em Português, com o auxílio da tradução para a Libras em um DVD que acompanha o livro. Um problema dessas traduções é que, para serem fiéis aos textos escritos, os intérpretes acabam realizando mais o Português Sinalizado3 do que a Libras. Em outros países, em particular em alguns europeus, já está disponívelum recurso tecnológico, por meio do qual na sala de aula, por meio de um monitor de tele- visão com um aplicativo semelhante ao PRODEAF, a língua oral seja traduzida para a língua de sinais. O professor fala sempre em um microfone específico e o software traduz para a língua de sinais, mediante a animação de um intérprete. Esse sistema é mais efetivo do que a interpretação tradicional, pois a tradução é simultânea e evita conversas paralelas entre o surdo e o intérprete. No Brasil, ainda está sendo desenvolvido o projeto TLIBRAS buscando a implantação de recursos semelhantes. 3 O português sinalizado corresponde a uma tentativa de tradução termo a termo, de Libras para Português, obedecendo à estrutura da língua portuguesa, mas que não corresponde à sintaxe da Libras. Possuindo inúmeras falhas quanto à estrutura e qualidade no ensino, você acha que as escolas brasileiras são capazes de atender satisfatoriamente os requisitos de uma escola inclusiva para surdos? LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E84 A imagem que segue demonstra o funcionamento desse recurso. Figura 1 – TLIBRAS - Interprete de Libras na TV Fonte: adaptada de Alcântara (2015, on-line)3. Outro recurso educacional decorrente das ferramentas tecnológicas são os dicionários virtuais em Libras, muito importantes para alunos surdos e para aprendizes ouvintes. Como a Libras se sustenta no movimento, os dicionários somente são possíveis em razão das tecnologias digitais. Esses dicionários pode- riam ser explorados pelas escolas bilíngues para o ensino da Língua Portuguesa escrita para crianças surdas, da mesma maneira que os dicionários tradicionais são explorados para a construção do vocabulário de crianças ouvintes. Assim, da mesma forma que esses recursos favorecem o aprendizado da Libras para pessoas ouvintes, os surdos também podem ver os sinais de Libras e apren- der português escrito. DESCRIÇÃO DE IMAGENS PÁGINA 84 – Figura 1 – TLIBRAS - Intérprete de Libras na TV INÍCIO DESCRIÇÃO – TLIBRAS - Intérprete de Libras na TV. Na imagem em desenho, temos uma lousa negra e um professor em perfil escrevendo no quadro uma fórmula, de frente para esse quadro temos três pessoas sentadas sendo vistas por suas costas. Em uma seta diretiva temos a classificação para a pessoa sentada ao lado direito na ponta, nomeada como: Aluno surdo. Ao lado direito do quadro temos uma mesa com um computador, CPU e monitor. No monitor temos uma pessoa, sendo classificada por uma seta como: Programa traduzido para língua de sinais através de animação gráfica a fala do professor. O CPU está classificado por uma seta, como: Computador. Temos um ponto ao lado da lousa, sendo nomeado como: Microfone. Uma seta liga o professor a classificação, como: Professor ministrando a aula em português. Uma linha sinuosa liga o microfone ao computador. FIM DESCRIÇÃO. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 85 Outros dicionários virtuais de Libras estão disponíveis, como o Dicionário de Libras. Este material é muito útil, pois além da simples tradução de sinais para palavras escritas em português e vice-versa, apresenta também planejamento para aulas temáticas, que auxiliam muito o professor de Libras para ouvintes. Os dicionários virtuais já estão avançando, e é possível encontrar dicioná- rios temáticos, por área de conhecimento, como o dicionário virtual em Libras para termos filosóficos, elaborado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG, finalizado em 2008. O material tem como objetivo auxiliar professores da graduação e do Ensino Médio. A UTFPR de Londrina criou um dicionário virtual para termos científicos da área de Biologia ([2017], on-line)4. A PUC/MG estuda atualmente a possibilidade de elaboração de dicionários para as disciplinas de Biologia e História. CONSIDERAÇÕES FINAIS A adoção da língua de sinais constitui, sem dúvida, um avanço importante na medida em que se elimina um grande obstáculo à aprendizagem do surdo. Mas não é suficiente para garantir o desenvolvimento das operações formais sem a defasagem encontrada em relação ao ouvinte. Existem outros fatores que preci- sam ser compreendidos no desenvolvimento cognitivo do surdo. Os surdos adultos não se diferenciam significativamente, em termos cog- nitivos, dos adultos ouvintes. Isso significa que, de alguma forma, a defasagem cognitiva encontrada na idade escolar não permanece para sempre no desen- volvimento do surdo. Mas, isso quer dizer também que a escola, no geral, não está colaborando para a mudança dessa situação. LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E86 A língua de sinais possibilita aos surdos uma comunicação mais efetiva com seus pares. Isso é uma condição fundamental para o desenvolvimento cognitivo, não porque a linguagem seja a única responsável pelo desenvolvimento cogni- tivo do surdo, mas porque permite a interação com o outro e, principalmente, a interação com seus iguais, no sentido dos interesses comuns próprios de cada fase de desenvolvimento. Qual o papel da escola nesse sentido? Dar cada vez mais qualidade a essa interação, sem impor à criança ideias prontas ou soluções baseadas na autori- dade. O professor deve ser, antes de tudo, aquele que coloca as perguntas certas, organiza situações adequadas, e não aquele que oferece as respostas certas. Apesar de ser imprescindível que os surdos aprendam, o mais cedo possí- vel, a língua de sinais, a sua educação necessita ainda de um cuidado especial. A escola não deve se limitar apenas a “traduzir”, para a língua de sinais, meto- dologias, estratégias e procedimentos da escola comum, mas deve continuar a se preocupar em organizar atividades que proporcionem o salto qualitativo no pensamento dos surdos. O que não se pode deixar de considerar é que o surdo não ficará livre das restrições impostas pela surdez apenas com a aceitação da sua peculiaridade linguística e cultural. 87 O texto a seguir foi extraído da Revista Arqueiro n. 13, publicada em novembro de 2006, pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos. ENTREVISTA Professor Surdo e Alunos Universitários (um surdo e um ouvinte) João Lázaro (professor) Marcus Vinicius Freitas Pinheiro (aluno surdo) Rafael Lebra (aluno ouvinte) Vanessa Bartolo (intérprete) Com o Decreto nº 5.626, de 22/12/2005, a disciplina de Libras será obrigatória nos cur- sos de licenciatura, pedagogia, fonoaudiologia, e opcional nos demais. Após um ano de vigência, as instituições deverão ter em seus quadros um tradutor e intérprete de Libras, para atuarem nos processos seletivos e nas salas de aula. Do mesmo modo, o Sistema Único de Saúde – SUS e os órgãos públicos federais terão que reservar 5% de suas vagas para servidores e funcionários tradutores ou intérpretes de Libras. Neste número da revista Arqueiro, convidamos um professor surdo, um aluno surdo universitário e um aluno ouvinte, colega de classe do segundo, para se manifestarem a respeito desse acontecimento que, a partir dessa data, reescreve a história da educação de surdos no país. 1) Queremos, primeiramente, parabenizá-los por esta grande conquista e saber que mudanças poderão vir a ocorrer com este Decreto? Professor surdo: São muitas as mudanças, a começar pelas vantagens e benefícios que os indivíduos surdos receberão, tendo uma aceitação maior, por parte da sociedade, da Língua de Sinais, uma vez que a maioria dos surdos de nosso país se comunica por meio da Libras. Além do mais, creio que haverá maior acessibilidade para todos nós nos diversos serviços públicos oferecidosem nosso país. 2) Pelo que rege o Decreto, escolas e universidades terão que contratar intérpretes e/ou monitores para os alunos surdos. A difusão da Libras é agora uma realidade a ser respeitada e mantida. Como você vê a preparação e capacitação de pessoal para este fim? Professor surdo: Vejo que ainda não estamos preparados devidamente para colocar- mos intérpretes nas instituições, pois há controvérsias nas interpretações de alguns. Acredito que, com as universidades criando cursos de graduação e pós-graduação para esta área, talvez futuramente tenhamos intérpretes fiéis ao que os surdos dizem. 88 3) Sabemos que muitos universitários surdos contratam intérpretes para que te- nham um maior entendimento do que lhes é transmitido nas universidades, vis- to que algumas delas ainda não contrataram esse tipo de profissional. Agora isso deverá mudar. O que mais será necessário para que se efetive uma mudança sig- nificativa no que diz respeito ao acesso pleno das pessoas surdas à educação uni- versitária? Professor surdo: Esta questão é constantemente discutida nos corredores universitá- rios. Como professor da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, que contratava intérpretes, houve problemas devido a alguns desses profissionais quererem escolher para quem interpretar e uns surdos brigarem com outros pelo intérprete que queriam. Por causa desta discussão, a instituição resolveu parar de contratar intérpretes, deixan- do a cargo de cada aluno a sua contratação por conta própria. Também há outro proble- ma: muitos tentam ganhar um salário maior ou igual ao de um professor universitário, o que grande parte das instituições de ensino não aceita. Além do mais, eles têm que compreender que não são contratados apenas para interpretar, mas para ajudar no que for necessário e muitos não aceitam. Aí surge o problema: se o aluno falta, o intérprete não faz nada; se o aluno mata a aula, o intérprete não faz nada; se o aluno não tiver aula naquele dia, o intérprete não vai ou comparece apenas para ficar sentado sem fazer nada. Prefiro parar por aí, já que os questionamentos são muitos. Aluno surdo: O professor, em sala de aula precisa conhecer o universo do surdo, pre- parar aulas que integrem surdos e ouvintes. Professores e alunos precisam entender e respeitar a cultura dos surdos. 4) Como você encara a proposta de provimento das escolas com professores e/ ou instrutores de Libras, tradutor e intérprete – Libras / Língua Portuguesa e profes- sor regente de classe com conhecimento das singularidades linguísticas dos sur- dos neste imenso território nacional? Professor surdo: É uma boa proposta, desde que seja posta em prática, respeitando as identidades de cada indivíduo e suas reais necessidades. No entanto, é preciso que os professores saibam que eles também precisam saber utilizar a Libras como forma de comunicação e expressão, senão aquela relação professor-aluno nunca existirá na sala de aula. 5) Qual é a sua expectativa quanto ao cumprimento do Decreto? Aluno surdo: Infelizmente, acho que vai demorar para que as pessoas cumpram o de- creto, mas tenho esperança de que isso possa acontecer logo. 89 6) Como você vê a inclusão da Libras no currículo universitário e como é assistir a aulas com um intérprete de Libras na sala de aula ? Aluno ouvinte: Vejo a inclusão de Libras como uma nova possibilidade de comunicação e avanço na consolidação da cidadania. O Intérprete é um auxiliar de comunicação do professor com o aluno e até mesmo com outros alunos; é claro que não atrapalha a aula, pois o interesse de comunicação é de ambos. 7) Você acredita que, com a regulamentação da Libras e sua obrigatoriedade nos Cursos Normais e de Licenciatura, as barreiras de comunicação serão eliminadas? Professor surdo: Isso dependerá da aceitação por parte de nossa sociedade. Gostaria que este decreto fosse estendido também para os médicos otorrinolaringologistas, pois muitos aconselham as famílias de surdos a não deixá-los aprender a Língua de Sinais, o que muitas famílias seguem à risca. Mas creio que já será um grande passo para as comunidades surdas, uma vez que pode ajudar a quebra de preconceitos e também a nossa aceitação e respeito por parte da sociedade brasileira. Aluno surdo: Depende de como serão as aulas. Se a Libras for ensinada de modo super- ficial, dificilmente essas barreiras acabarão. E também para que a barreira da comunica- ção seja eliminada, é preciso que todos saibam Libras, não só alguns. Fonte: INES – Instituto Nacional de Educação para Surdos (2006, on-line)5. 90 Depois de uma primeira leitura, retome os textos e faça uma nova leitura, para res- ponder as seguintes questões: 1. No que se refere à educação de surdos, as ferramentas tecnológicas facilitam sua comunicação e aprendizagem. Neste contexto, analise as afirmações a se- guir e assinale a alternativa correta: I - Um recurso educacional decorrente das ferramentas tecnológicas são os dicionários virtuais em Libras, muito importantes para alunos surdos e para aprendizes ouvintes. II - Um recurso tecnológico atualmente disponível são os softwares de tradução simultânea de texto e voz da Língua Portuguesa para Libras. III – O Brasil já produz tecnologias para surdos, como por exemplo, a pulseira Lepee, criada por alunos da Universidade Tecnológica Fe- deral do Paraná. IV- Os recursos tecnológicos como o ICQ, o WhatsApp, o Instan- gram e o Telegram podem ser utilizados por qualquer surdo que a eles tenha acesso. a. ( ) Somente I, II e III são verdadeiras. b. ( ) Somente I, II e IV são verdadeiras. c. ( ) Somente II, III e IV são verdadeiras. d. ( ) Somente I, III e IV são verdadeiras. e. ( ) Todas são verdadeiras. 2. O que você entende por inclusão? Por que este movimento está tão forte atual- mente, no que se refere às pessoas com deficiência? 3. Que fatores, além da Libras, devem ser considerados na educação de surdos? 4. Qual seria, em sua opinião, a maior dificuldade do trabalho docente com os surdos? Explique 5. Como a pessoa surda é considerada no Decreto 5.626 de 2005? Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Você pode obter gratuitamente a Série Atualidades Pedagógicas – Educação Especial: Deficiência Auditiva, publicada pelo MEC e composta de cinco volumes, um dos quais destinado especificamente à aprendizagem da Libras, acessando o link: <www.ines.gov.br/ines_livros/livro.html>. Acesso em: 20 jun. 2016. Para saber mais sobre os surdos, sua educação, a proposta inclusiva e sobre educação e diversidade acesse <www.editora-arara-azul.com.br>. Acesso em 20 jun. 2016. A política educacional de integração/inclusão: um olhar do egresso surdo Paulo Cesar Machado Editora: EdUFSC, 2008 Sinopse: O autor do livro atua há mais de duas décadas na área da Educação de Surdos, em diferentes cursos e níveis de ensino. Neste texto, conforme consta da contracapa, em apresentação de Vilmar Silva, “[...] caminha com os surdos no labirinto da política de inclusão/integração” e nos faz acreditar que é possível criar espaços inclusivos em que a normalização do surdo seja buscada, mediante o debate, a pesquisa, a ação e o compromisso político, histórico e social de todos os envolvidos. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. ______. Decreto n° 5.626. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras – e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, Diário Oficial da União, 22 dez. 2005. ______. Decreto nº 5.296, de 22 de dezembro de 2005. Regulamen- ta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Bra- sileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezem- bro de 2000. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 23 jun. 2017. ______. Decreto n° 6949. Promulga a ConvençãoInternacional sobre os Direi- tos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Brasília, Diário Oficial da União, 25 ago. 2009. ______. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação es- pecial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Brasília, 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/ decreto/d7611.htm>. Acesso em: 23 jun. 2017. ______. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela juris- dicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Brasília, 1989. Disponí- vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7853.htm>. Acesso em: 23 jun. 2017. ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 23 jun. 2017. ______. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e crité- rios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiên- cia ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm>. Acesso em: 23 jun. 2017. _____. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Edu- cação e dá outras providências. Brasília, 2017. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. Acesso em: 23 jun. 2017. ______. Lei nº13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 2015. Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146. htm>. Acesso em: 23 jun. 2017. REFERÊNCIAS 93 ______. Ministério da Educação – Secretaria de Educação Especial. Polí- tica nacional de educação especial na perspectiva da educação in- clusiva. Brasília: MEC, 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov. br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2017. ______. Portaria nº 1.679, de 2 de dezembro de 1999. Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reconhecimento de cursos, e de credenciamento de institui- ções. Brasília, 1999. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/ c1_1679.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2017. CARNEIRO, M. I. N. O uso social das tecnologias de comunicação pelo sur- do: limites e possibilidades para o desenvolvimento da linguagem. Dissertação. (Mestrado em Educação). Universidade Estadual de Maringá, Pós-graduação em Educação, 2016. SHIMAZAKI, E. M.; MORI, N. N. R. Fundamentos da educação especial. In: MORI, N. N. R. M.; CEREZUELA, C. (Org.). Fundamentos da educação especial. 1. ed. Maringá: EDUEM, 2012, v. 1, p. 31-41. Referências on-line: 1Em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016. 2Em: <http://www.gazetadopovo.com.br/saude/alunos-da-utfpr-criam-pulseira-pa- ra-surdos-ac1f3w4qb5ffti2psrz9bpw0j>. Acesso em: 20 jun. 2016. 3Em: <http://tecnologiasnaeducacaoinclusiva.blogspot.com.br/>. Acesso em: 20 jun. 2016. 4Em: <http://epeem.cp.utfpr.edu.br/site/>. Acesso em: 20 jun. 2016. 5Em: <http://www.ines.gov.br/uploads/publicacoes/revista-arqueiro/arqueiro_13. pdf>. Acesso em: 20 jun. 2016. GABARITO 1. Alternativa (a): apenas as afirmações I, II e III estão corretas. Os recursos ICQ, WhatsApp, Instangram e Telegram só podem ser utilizados por surdos letra- dos, que ainda não constituem a maioria. As questões 2, 3 e 4 tem como propósito proporcionar sua reflexão sobre os temas estudados. Aproveite para discutir suas respostas com seus colegas, nos espaços apropriados. Entretanto, algumas respostas são esperadas, como: 2. Inclusão se refere a proporcionar o acesso de QUALQUER estudante a tudo que a escola oferece. Este movimento está tão forte, em relação às pessoas com de- ficiência em função da luta deste segmento da população para ter acesso a uma educação de qualidade, que culmina, no Brasil, com a PNEE – Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, de 2008. 3. A cultura surda; maior exploração de atividades visuais; a própria exploração pedagógica da Libras etc... 4. Aqui, realmente é para você refletir e se colocar no lugar de um professor que tem um aluno surdo em sala de aula e imaginar o que seria mais difícil para você: a comunicação. Preparar atividades que explorem a percepção visual? Aprender Libras? Interagir com o intérprete? Condicionar o tempo de aula ao tempo do aluno surdo? Enfim, são muitas as possibilidades. Estabeleça a sua e explique porque você a considera a maior dificuldade no trabalho docente com surdos. 5. O Decreto Federal nº 5.626 de 2005 considera a pessoa surda como aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. U N ID A D E III Professora Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Professora Me. Marília Ignatius Nogueira Carneiro Professora Esp. Beatriz Ignatius Nogueira Soares ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a Libras em seus aspectos gerais. ■ Compreender a Libras em seus aspectos fonológicos. ■ Instrumentalizar os licenciandos para o estabelecimento de uma comunicação funcional com pessoas surdas. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Paralelos entre Libras e a Língua Portuguesa ■ Aspectos fonológicos da Libras ■ Léxico de categorias semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza INTRODUÇÃO A Libras é uma língua com gramática própria e com condições de proporcionar não apenas a comunicação efetiva entre os surdos, como, também, a expres- são de sentimentos; a composição de poesias; a discussão filosófica, enfim, um idioma completo. Porém, principalmente devido às suas características icônicas, é comum o pensamento de que as línguas de sinais são iguais em todo o mundo. Também é comum aos ouvintes pressupor que as línguas de sinais sejam versões sinalizadas das línguas orais. No entanto, embora haja semelhanças ou aspectos comuns entre as diferentes línguas de sinais, e entre as línguas de sinais e as orais, os chamados “universais linguísticos”, as línguas de sinais são autônomas, possuindo peculiaridades que as distinguem umas das outras e das línguas orais. Nesta unidade, vamos estabelecer paralelos entre Libras e Língua Portuguesa e iniciar os estudos da Libras em seus aspectos linguísticos. Assim, após você ter sido apresentado ao mundo surdo na Unidade I e conhecer a realidade educa- cional do surdo brasileiro na Unidade II, nesta terceira unidade você vai iniciar sua caminhada no aprendizado desta fascinante língua. Como os sinais exigem movimento para serem executados, é importante que você observe atentamente as fotos, pois quando temos duas ou mais fotos que não estão separadas por um espaço em branco, significa que a primeira foto é como o sinal começa e a segunda indica com que configuração de mão ele ter- mina. As setas indicam a direção do movimento. Procure estudar esta unidade acompanhada do seu vídeo, pois cada um dos sinais é apresentado, na mesma ordem em que aparecem no texto. Repita, atentamente, cada sinal e procure comunicar-se em Libras, com seus colegas, familiares etc. Lembre-se, aqui, como na aprendizagem de qualquer outra língua, é fundamental praticar muito. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .610 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 97 ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E98 PARALELOS ENTRE LIBRAS E LINGUA PORTUGUESA Não ouvir faz o surdo criar uma maneira própria de se comunicar, mas não o impede de adquirir uma língua e nem de desenvolver sua capacidade de repre- sentação. Isso provavelmente envolve mecanismos mentais, diferentes dos da pessoa ouvinte. Todavia, a comunicação com as mãos não teve início com os surdos e nem é exclusividade deles. De fato, a língua de sinais não começou com os surdos, pois, de acordo com Vygotsky os homens pré-históricos se comunicavam por meio de gestos e apenas quando começaram a utilizar ferramentas, ocupando as mãos é que começaram a utilizar a comunicação oral. Assim, antes de utilizarem a palavra, os seres humanos usavam as mãos para interagir, demonstrando a naturalidade da comunicação por sinais. Podemos então dizer que o processo inverso, isto é, a passagem da língua oral para a manual foi reinventado pelo homem, sempre que necessário e não apenas no caso dos surdos. ©shutterstock Paralelos Entre Libras e Lingua Portuguesa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 99 Você sabia que existem varias linguagens manuais criadas em diversos momentos da história da humanidade, para uso em contextos variados, tendo em vista possibilitar a comunicação e a interação em situações em que a fala era inviável, proibida ou impossível? Mergulhadores, por exemplo, criaram um sistema de códigos gestuais para se comunicar debaixo d' água, onde a fala não é possível. Consi- derando os riscos de uma comunicação equivocada em circunstâncias perigosas, fica evidente o quanto essa comunicação deve ser bem as- similada durante os cursos de mergulho para garantir a segurança no meio líquido (REILY, 2004, p. 113). No Brasil, Lucinda Ferreira Brito iniciou, em 1982, os estudos linguísticos sobre a Língua de Sinais dos índios Urubu-Kaapor da floresta amazônica brasileira e, após um mês de convivência, documentando em filme sua experiência, consta- tou que se tratava de uma legítima língua de sinais. O interessante de se observar, no caso dos Urubu-Kaapor, é que os ouvintes da aldeia “falam” a língua de sinais e a língua oral enquanto que os surdos se restringem à língua de sinais. Assim, os ouvintes da aldeia se tornam bilíngues, enquanto os surdos se man- têm monolíngues. De acordo com Reily (2004), os indígenas do planalto americano também desenvolveram uma língua de sinais para estabelecer uma comunicação entre tribos distintas, que não falavam a mesma língua, e precisavam de uma forma convencional de comunicação. Assim, desenvolveram, ao longo do tempo, um conjunto de sinais bastante eficiente, com o qual conseguiam realizar alianças e comércios. Um sistema de sinais também foi desenvolvido no período medieval por mon- ges nos mosteiros europeus, que faziam o voto do silêncio, sendo que, mesmo atualmente, algumas comunidades de monges utilizam gestos em suas ativida- des cotidianas no mosteiro. Veja como se concebia a função do silencio no período monástico, segundo regras, registradas por São Basílio Magno, de que a palavra só poderia ser utilizada em caso de necessidade e estando as mãos ocupadas com algum trabalho, o que permite inferir que a comunicação gestual por eles utilizada era bastante eficiente. É bom para os noviços também a prática do silêncio. Se dominam a língua, darão simultaneamente boa prova de temperança. Com o silên- cio aprenderão junto dos que sabem usar da palavra, com concisão e ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E100 firmeza, como convém perguntar e responder a cada um. Há um tom de voz, uma palavra comedida, um tempo oportuno, uma propriedade no falar, peculiares e adequados aos que praticam a piedade. Não os aprende quem não tiver abandonado aquilo a que estiver acostumado. O silêncio traz consigo o esquecimento da vida anterior, em consequ- ência da interrupção, e proporciona lazer para o aprendizado do bem. Assim, a não ser por questão especial atinente ao bem da própria alma, ou por inevitável necessidade de um trabalho em mãos, ou por negócio urgente, guarde-se o silêncio, excetuada, é claro, a salmodia. (Basílio Magno, apud REILY, 2004, p. 114). Assim, conforme já mencionamos anteriormente, a língua de sinais é um idioma completo. Porém, talvez, principalmente devido às suas características icônicas (uma representação da realidade, por ícones) e, pela forte influência da língua oral - tanto na estrutura gramatical, quanto lexical - são muitas as interpretações equivocadas sobre as línguas de sinais em geral e sobre a Libras em particular. “LIBRAS É LÍNGUA”. Foi este o título escolhido para a palestra apre- sentada por uma linguista em um evento cujo público alvo era o es- tudante do curso de letras. Uma professora que trabalha na área da surdez, mencionando o título, fez o seguinte comentário: “De novo? Achei que essa questão já estivesse resolvida!” (GESSER, 2009, p. 9). Embora mais de cinquenta anos tenham passado desde que a língua de sinais é mundialmente reconhecida, do ponto de vista linguístico, como uma verdadeira língua, no Brasil, mesmo após a promulgação da Lei Federal 10.436, de 24 de abril de 2002, ainda é necessário afirmar e reafirmar esta legitimidade. Mas, por que insistir tanto nesta questão de que a Libras é uma língua? Afinal, o que isso significa? Língua e linguagem é a mesma coisa? O surdo “fala” em Libras? Por linguagem, designamos o sistema abstrato, articulado, fenômeno univer- sal, independente da situação cultural, que diferencia o ser humano das demais espécies. Chamamos de língua, o sistema abstrato, articulado utilizado por um grupo ou uma comunidade específica, por exemplo, a Língua Portuguesa. O modo particular e individualizado de exercitar a língua é o que denominamos de fala. “A fala é o exercício material da língua levado a cabo por este ou aquele indivíduo pertencente a uma comunidade linguística específica” (BASTOS; CANDIOTTO, 2007, p. 15). http://pt.wiktionary.org/wiki/%C3%ADcone Paralelos Entre Libras e Lingua Portuguesa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 101 De acordo com Bastos e Candiotto (2007, p. 15), a linguagem é a capacidade do ser humano de comunicar-se com os semelhantes por meio de signos. É ao mesmo tempo física, psicológica e social e é realizada sempre dentro do âmbito de uma língua, “inseparável de um contexto cultural específico, particular, de uma comunidade linguística” . Considerando, então, só o que estabelecemos anteriormente, é possível admi- tir que a Libras é uma língua, porque permite que uma comunidade linguística particular, a comunidade surda, exerça sua capacidade de comunicação, e ainda mais, se a fala é o modo de um elemento de uma comunidade linguística exer- citar sua língua, o surdo fala em Libras. Mas, não foram considerações simplistas como as que fizemos aqui que per- mitiram afirmar, em bases científicas, que a Libras é uma língua, sendo que este reconhecimento linguístico tem início com os estudos descritivos do linguista americano William Stokoe em 1960. Antes disso, as línguas de sinais não eram vistas como uma língua verdadeira, com gramática própria. No Brasil, conforme afirmamos anteriormente, os primeiros estudos sobre a Libras foram realizados na década de 1980, por Lucinda Ferreira-Brito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Tanya Mara Felipe, da Universidade Federal de Pernambuco e da FENEIS – Federação Nacional de Escolas e Instituições de Surdos, entidade representativa máxima dos surdos brasileiros.Para poderem chegar à conclusão de que as línguas de sinais constituem um idioma, foram feitos muitos estudos. Também para poder estabelecer uma compara- ção entre a Libras e a Língua Portuguesa, os linguistas realizaram diversos estudos. Quadros e Karnopp (2004, p. 15) definem linguística como “[...] o estudo científico das línguas naturais e humanas. As línguas naturais podem ser enten- didas como arbitrária e/ou como algo que nasce com o homem”. “LIBRAS É LÍNGUA”. Reafirmamos isso muitas vezes nessa unidade. Para mui- tas pessoas que trabalham na área, esta questão já deveria estar resolvida. Para você, existe consenso acerca desta afirmação? (adaptado de Audrei Gesser). ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E102 A parte da linguística que faz a comparação entre duas ou mais línguas cha- ma-se linguística contrastiva. A linguística contrastiva é uma parte da linguística geral, que estuda as similaridades (coisas parecidas) e diferenças estruturais entre a língua materna (de um grupo de alunos) e uma língua estrangeira. Essa comparação é feita nos níveis de articulação da linguagem a saber: fonológico, semântico, morfológico e sintático. Fonológico: estuda os fonemas, que são a menor unidade distintiva da pala- vra – por exemplo, na palavra fala a letra f representa o fonema fê -, se refere aos sons numa língua oral. Semântico: estuda o significado ou sentido das palavras e da sentença. A semântica, além de estudar as ironias e metáforas, [...] é a parte da linguística que estuda a natureza do significado in- dividual das palavras e do agrupamento das palavras nas senten- ças, que pode apresentar variações regionais e sociais nos diferen- tes dialetos de uma língua (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 163). Morfológico: estudo da estrutura interna das palavras, isto é, como os elementos se combinam entre si para formar as palavras. Sua unidade mínima é o mor- fema que é a unidade mínima significativa. Por exemplo: estud/ei; estud/amos e estud/ante. A identidade de significado das três formas é devido ao morfema estud, que é igual nas três palavras. A Morfologia (área da Linguística) estuda, ainda, as “[...] diversas formas que apresentam tais palavras quanto à categoria de número, gênero, tempo e pessoa” e a “[...] origem das palavras, apresentando- -se a seguinte questão: Como as palavras são criadas?” (QUADROS, KARNOPP, 2004, p. 16-20). Sintático: estuda como as palavras são organizadas numa frase. De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 20), Sintaxe é “[...] a parte da linguística que estuda a estrutura interna das sentenças e a relação interna entre as suas partes”. Para as mesmas autoras, [...] o conhecimento linguístico dos seres humanos caracteriza-se pela existência de uma gramática que apresenta um conjunto finito de princípios (regras) que possibilitam a compreensão e produção de um número infinito de combinações em uma determinada língua (QUA- DROS, KARNOPP, 2004, p. 21). Paralelos Entre Libras e Lingua Portuguesa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 103 Ao se estabelecer comparações entre a Língua Portuguesa e a Libras, percebem- -se uma série de diferenças, das quais destacamos: ■ A língua de sinais é visual-espacial e a Língua Portuguesa é oral-auditiva. ■ A língua de sinais é baseada nas experiências visuais das comunidades sur- das mediante as interações culturais surdas, enquanto a Língua Portuguesa constitui-se baseada nos sons. ■ A língua de sinais apresenta uma sintaxe espacial incluindo os chamados classificadores. A Língua Portuguesa usa uma sintaxe linear utilizando a descrição para captar o uso de classificadores. ■ A língua de sinais não tem marcação de gênero, isto é, não tem sinais dife- rentes para feminino e masculino, enquanto que na Língua Portuguesa o gênero é marcado a ponto de ser redundante, por exemplo, na frase A MULHER é professorA, o feminino é utilizado diversas vezes, o que não era necessário para se entender. ■ A língua de sinais atribui um valor gramatical às expressões faciais. As expressões faciais não são essenciais na Língua Portuguesa, apesar de poderem ser substituídas pela prosódia, que significa a pronúncia cor- reta das palavras com acentuação ou intensidade. ■ Coisas que são ditas na língua de sinais não são ditas usando o mesmo tipo de construção gramatical na Língua Portuguesa. Assim, às vezes uma grande frase em Língua Portuguesa é necessária para dizer poucas pala- vras em Libras e vice-versa. ■ A língua de sinais utiliza a estrutura tópico-comentário, associada ao mecanismo gramatical da topicalização. De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 146), tal “[...] mecanismo está associado à mar- cação não-manual com a elevação das sobrancelhas”, isto é, para destacar o tópico (de que ou quem se fala), do argumento (o que se está falando), se utiliza a expressão facial de elevação das sobrance- lhas. A estrutura tópico-comentário evidencia a função gramatical das componentes não manuais, no caso, da expressão facial. Por exemplo, na frase DE FUTEBOL JOÃO GOSTA, que em Libras fica FUTEBOL JOÃO GOSTAR, o sinal para João vem acompanhado da elevação das sobrancelhas. ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E104 ■ A língua de sinais utiliza a estrutura de foco que de acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 170) “[...] envolve construções duplas em que o ele- mento duplicado ocupa a posição final”, isto é, significa destacar a parte mais importante da conversa, por meio de repetições sistemáticas. Este processo não é comum na Língua Portuguesa. ex: eu ter dois cachorros dois. A ênfase está na quantidade de cachorros, portanto, ela se repete. ■ A língua de sinais utiliza as referências anafóricas, isto é, sobre quem se está falando, mostrando ou indicando pontos específicos no espaço, o que exclui ambiguidades que são possíveis na Língua Portuguesa. A lín- gua de sinais usa apontamentos para indicar um referente e isso não cria ambiguidades como na Língua Portuguesa. ■ A escrita da língua de sinais, denominada Signwriting, não é alfabética. Ao se observar as produções em línguas orais e de sinais, no nosso caso particu- lar, entre a Língua Portuguesa e a Libras, percebem-se uma série de semelhanças, das quais destacamos: ■ Arbitrariedade: as línguas orais são maioritariamente arbitrárias, não se depreende a palavra simplesmente pela sua representatividade, mas é necessário conhecer o seu significado. A iconicidade encontra-se presente nas línguas de sinais, mais do que nas orais, mas a sua arbitrariedade con- tinua a ser dominante. Embora, nas línguas de sinais, alguns sinais sejam totalmente icônicos, é impossível, como nas línguas orais, depreender o significado da grande maioria dos sinais, apenas pela sua representação. ■ Comunidade: as línguas orais têm uma comunidade que as adquirem, como língua materna, cujo desenvolvimento se faz através de uma comu- nidade de origem, passando pela família, a escola e as associações. Todas as línguas orais têm variações linguísticas. Todas as línguas de sinais pos- suem estas mesmas características. ■ Sistema linguístico: as línguas orais são sistemas regidos por regras. O mesmo acontece com as línguas de sinais. ■ Produtividade: as línguas orais possuem as características da produ- tividade e da recursividade, sendo possível aos seus falantes nativos produzirem e compreenderem um número infinito de enunciados, mesmo que estes nunca tenham sido produzidos antes. Acontece o mesmo com Paralelos Entre Libras e Lingua Portuguesa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 105as línguas de sinais, sendo encontradas a criatividade e produtividade nas produções, por exemplo, da Libras, pelos seus sinalizadores nativos, pare- cendo não haver limite criativo. ■ Aspectos contrastivos: as línguas orais possuem aspectos contrastivos, isto é, as unidades fonológicas do sistema de determinada língua estabele- cem-se por oposições contrastivas, ou seja, em pares de palavras, em que a substituição de uma unidade fonológica (uma letra) por outra altera o significado da palavra (por exemplo: jarra e barra). Acontece o mesmo nas línguas de sinais, sendo que em vez de unidade fonológica, muda um pequeno aspecto do sinal. ■ Evolução e renovação: as línguas orais modificam-se, como no caso das palavras que caem em desuso, outras que são adquiridas, a fim de aumen- tar o vocabulário e ainda no caso da mudança de significado das palavras. O mesmo acontece nas línguas de sinais, a fim de responder às necessi- dades que a evolução socio-cultural impõe. ■ Aquisição: a aquisição de qualquer língua oral é natural, desde que haja um ambiente propício desde nascença. Na língua de sinais acontece da mesma forma, não tendo o surdo que exercer esforço para aprender uma língua de sinais, ou necessidade de qualquer preparação especial. ■ Funções da linguagem: as línguas orais podem ser analisadas de acordo com as suas funções. O mesmo acontece com as línguas de sinais. As funções são: a função referencial, a emotiva, a conotativa, a fática, a meta- linguística, e a poética. ■ Processamento: embora usando modalidades de produção e percep- ção, as línguas orais e de sinais são processadas na mesma área cerebral. ■ Dupla articulação: tanto as línguas orais possuem um número finito de unidades (fonemas para as primeiras e quiremas para as segundas) que não possuem significado quando consideradas isoladamente. Por exemplo, os sons f, v, c, e a, não possuem significado por si só, mas quando combina- dos, por exemplo, como vaca, cava e faca, adquirem sentidos diferentes. No que se refere às especificidades das línguas de sinais em geral e da Libras em particular, destacamos: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fun%C3%A7%C3%B5es_da_linguagem http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rebro ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E106 ■ Em função de suas características, os sinais podem parecer movimentos aleatórios de mãos e corpo, acompanhados por expressões faciais varia- das, ou seja, seriam apenas “gestos”. De acordo com Pereira et al. (2001, p. 18), esta descrição para sinais seria equivalente a descrever uma língua oral como “ruídos” feitos com a boca. Além disso, os gestos são traços das línguas orais, isto é, acompanham as línguas orais e favorecem a comu- nicação. Portanto, os sinais não são gestos. ■ A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para permitir aos seus usuá- rios expressar-se sobre qualquer assunto, em qualquer situação, domínio do conhecimento e esfera de atividade. ■ As línguas de sinais são línguas de modalidade viso-motora ou espaço- -visual ou, ainda, visuoespacial, pois a informação linguística é produzida pelas mãos e recebida pelos olhos. ■ A comunicação manual é algo inerente ao ser humano e já existia entre os hominídeos pré-históricos, sendo, portanto, natural. Dizemos que uma língua é artificial, quando é construída por um grupo de indivíduos com um objetivo específico, como o caso do Esperanto, língua criada pelo russo Ludwik Zamenhof em 1887, com o objetivo de estabelecer uma comuni- cação internacional fácil. De maneira semelhante, foi criado o Gestuno, com a intenção de ser uma língua de sinais universal e que foi apresentado, pela primeira vez em 1951, no Congresso Mundial da Federação Mundial dos Surdos, mas que não conseguiu aceitação plena entre os surdos, por ser inventada. Portanto, a língua de sinais não é artificial! ■ A língua de sinais não é icônica, apesar de grande parte dos sinais serem icônicos, isto é, são parecidos com o que estão representando (o que poderia significar que a língua de sinais não seria arbitrária e resultante de convenção, como as línguas orais, em que não existe uma relação de semelhança entre a palavra e o conceito que representa), não podemos afirmar que a língua de sinais seja icônica, pois apesar da relação direta, quase transparente entre um sinal e o conceito que este representa, as modificações por eles sofridas ao longo do tempo e na combinação com outros sinais resultam em perda de iconicidade, se tornando, portanto, arbitrários. ■ A Libras é uma língua, com gramática própria e com condições de Paralelos Entre Libras e Lingua Portuguesa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 107 proporcionar, não apenas a comunicação efetiva entre os surdos, como, também, a expressão de sentimentos; a composição de poesias; a discus- são filosófica, enfim, um idoma completo, não se tratando, absolutamente, de um conjunto de gestos, mímica ou de Português sinalizado (repro- duzir, utilizando sinais, a Língua Portuguesa, conservando suas regras gramaticais). ■ As línguas de sinais não são iguais em todo o mundo, isto é, existe dife- rença entre as línguas de sinais utilizadas em países diferentes. No caso do Brasil, a língua brasileira de sinais é denominada Libras e é, portanto, brasileira, não podendo ser considerada como uma língua estrangeira. Dito de outra forma, língua de sinais é universal, mas, existe uma dife- rença importante entre as línguas de sinais e as orais. Quando surdos de diferentes nacionalidades se encontram, mesmo um não conhecendo a língua de sinais do outro, acabam se comunicando com mais facilidade que os ouvintes. ■ As línguas de sinais, por comprovação científica, cumprem todas as fun- ções de uma língua natural, mesmo assim ainda sofrem preconceito e são desvalorizadas diante das línguas orais, sendo consideradas como uma derivação da gestualidade espontânea, como uma mescla de pantomima e sinais icônicos. ■ A língua de sinais não é subordinada à língua oral majoritária do país. As línguas de sinais são completamente independentes das línguas orais dos países onde são produzidas. Como exemplo, as línguas de sinais do Brasil e dos Estados Unidos possuem uma raiz comum a língua de sinais francesa, embora o Português e o Inglês não possuam as mesmas raízes, sendo o primeiro um idioma de origem latina e o segundo, anglo-saxão. ■ A Libras é uma língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos brasileiros, devendo, portanto ser conhecida, pelo menos em seus aspec- tos fundamentais pelos professores. ■ A Libras é falada de boca fechada! As pessoas ouvintes, que não são fluen- tes em Libras, costumam misturar as duas línguas na comunicação com surdos e acabam por utilizar os sinais da língua de sinais, mas com a estru- tura da Língua Portuguesa. Normalmente, o surdo não compreende essa mistura de línguas, pois a construção de sentido depende da estrutura e, portanto, da fidelidade à gramática da língua de sinais. ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E108 Sempre que se comparam duas línguas, aparece uma série de regularidades e, a partir dessas regularidades foram estabelecidos alguns descritores para a busca de similaridades e diferenças entre as línguas. São eles: a) Que existem alguns aspectos que estão presentes na base de todas as línguas naturais, consideradas similaridades comportamentais que não precisam ser explicitados. b) Que se duas línguas têm muitas similaridades tipológicas, estas poderão servir de base para as primeiras ideias sobre o significado das formas em língua estrangeira; como, por exemplo,o Português e o Espanhol. Se você conhece bem o Português, possui um vasto vocabulário, certamente você terá facilidades para compreender o Espanhol. c) Quanto às diferenças, se elas acontecem sempre nas mesmas coisas – por exemplo, Inglês quase não tem masculino e feminino e Português quase sempre tem. Saber no que as línguas são diferentes ajuda a entender me- lhor a língua estrangeira. Fonte: as autoras Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 109 ASPECTOS FONOLÓGICOS DA LIBRAS No texto anterior estabelecemos semelhanças e diferenças entre línguas de sinais e línguas orais. Neste capítulo, destacamos mais uma e talvez a semelhança mais importante entre elas: [...] ambas seguem os mesmos princípios pelo fato de possuírem um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais e uma gramática, ou seja, um sistema de regras que rege o uso desses símbolos (PEREIRA et al. 2011, p. 59). Foi o linguista americano Stokoe, conforme vimos no texto anterior, o primeiro estudioso a constatar, na década de 1960, que a língua de sinais, no caso, a Língua de Sinais Americana – LSA ou ASL – American Sign Language preenchia todos os requisitos linguísticos de uma língua, isto é, possuía um léxico (vocabulário), uma sintaxe (regras gramaticais) e uma capacidade de gerar uma quantidade infinita de sinais e sentenças. De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 47), a “[...] primeira tarefa da fonologia para as línguas de sinais é determinar quais são as unidades mínimas que formam os sinais” e a segunda tarefa, ainda segundo as mesmas autoras “[...] é estabelecer quais são os padrões possíveis de combinação entre essas unida- des” e as variações possíveis. ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E110 Um sinal não é holístico, isto é, não se constitui em um “todo indivisível”, ao contrário, ele é constituído pela combinação dos movimentos das mãos, com um determinado formato e orientação das palmas, em um determinado lugar, que pode ser um ponto específico do corpo ou um espaço à frente do sujeito que sinaliza. Dito de outra forma, os sinais são constituídos por unidades mínimas, também chamadas de parâmetros, que se combinam mediante alguns padrões. Em suas pesquisas, Stokoe estabeleceu que cada sinal é composto por três parâmetros básicos: a configuração das mãos (CM); o movimento das mãos (M) e o ponto de articulação (PA) ou Locação (L), que é o lugar do espaço onde as mãos se movem. Parâmetro é um componente de um sinal, uma unidade mínima que, se for alterado, altera o significado da palavra ou sinal. Os parâmetros, nas línguas de sinais, correspondem aos fonemas nas línguas orais, e, em analogia, Stokoe propôs inicialmente o termo quirema para tais parâmetros. A partir da década de 1970 foram aprofundados os estudos fonológicos sobre a ASL dos quais resultou a descrição de um quarto parâmetro: a orientação (O) e, posteriormente, mais um parâmetro foi acrescentado: os componentes não manuais ou expressões não manuais (ENM). Esse contraste de dois itens lexicais com base em um único componen- te recebe, em linguística, o nome de “par mínimo”. Nas línguas orais, por exemplo, pata e rata se diferenciam significativamente pela altera- ção de um único fonema: a substituição do /p/ por /r/. No nível lexical, temos em LIBRAS pares mínimos como os sinais grátis e amarelo (que se opõem quanto à CM), churrascaria e provocar (diferenciados pelo M), ter e Alemanha (quanto à L) (GESSER, 2009, p. 15). Quadros e Karnopp (2004) apresentam alguns dos aspectos fonológicos da Língua Brasileira de Sinais e são: ■ As línguas de sinais são visuoespaciais (ou espaço-visuais), pois a infor- mação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos. ■ Os elementos mínimos constituintes da língua de sinais (parâmetros) são processados simultaneamente e não linearmente como ocorre na língua oral. ■ Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se movi- mentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 111 locações nesse espaço. Entretanto, os movimentos do corpo e da face tam- bém desempenham funções. ■ Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. No caso de uma mão, a articulação ocorre pela mão dominante. ■ Um mesmo sinal pode ser produzido pela mão esquerda ou direita. Assim, conforme vimos anteriormente, unidades mínimas (parâmetros) podem ser produzidas simultaneamente e a variação de uma delas pode alterar o sig- nificado do sinal. Elas não têm significado isoladamente. Um sinal pode ser constituído por mais de uma unidade mínima, por exemplo, o sinal de “tele- visão” envolve, simultaneamente, configuração de mão, ponto de articulação, movimento e a orientação de mão. TELEVISÃO A Libras tem sua estrutura gramatical organizada a partir de cinco parâmetros que estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos: a Configuração da(s) mão(s)-(CM), o Movimento - (M), o Ponto de Articulação ou Locação - (PA) ou (L) e a Orientação das mãos (O) e as Componentes não manuais ou Expressões não manuais (CNM) ou (ENM) que são as expressões faciais e corporais. ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E112 Configuração de mão (CM): a configuração de mão é o ponto de partida da articulação do sinal. São as formas que as mãos assumem na produção dos sinais que podem ser as do alfabeto digital ou outras. Uma mesma configuração de mão possibilita a produção de vários sinais, por exemplo, a configuração mão em “L” está presente nos sinais de “televisão”, “trabalho”, “papel”, “educação”, entre outros. Ferreira-Brito (1995) propõe 46 configurações de mão. Atualmente, o dicionário digital de Língua Brasileira de Sinais organizado pela Acessibilidade Brasil (disponível em: <www.acessobrasil.org.br>. Acesso em: 20 jun. 2016) apre- senta 73 configurações, conforme quadro a seguir: Apresentamos a seguir, 38 configurações de mão sendo 28 que compõem o Alfabeto Digital, e 10 que se referem aos algarismos: http://www.acessobrasil.org.br Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 113 A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V X W Y Z ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E114 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 A Libras não se resume a escrever as palavras utilizando o alfabeto digital. A escrita datilológica, que é como é denominada esse tipo de escrita, só é utili- zada para nomes próprios ou para palavras que ainda não possuemum sinal ou que não pode ser facilmente representada por um classificador icônico. Outro Acesse e veja o material que preparamos especialmente para você! Acesse e veja o material que preparamos especialmente para você! Fonte: as autoras. https://vimeo.com/172599883/9cc0a43881 https://vimeo.com/172586865/7ebff99ec2 Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 115 aspecto a se destacar é que a escrita datilológica não é a escrita de sinais, isto é, se utiliza a escrita datilológica na fala, em conversas. A datilologia é uma forma de comunicação em Libras fundamentada essencialmente no alfabeto datiloló- gico e é diferente da soletração. A soletração é feita em Libras, letra por letra, da mesma forma que na Língua Portuguesa, por exemplo, soletrando com a mão, o nome Maria (escrita ou fala) – M-a-r-i-a (soletração). M A R I A É aconselhável soletrar devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as pala- vras soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a palavra já soletrada para o lado. A datilologia difere da soletração porque não reproduz todas as letras da palavra, mas, dito de maneira simplificada, soletra um resumo da palavra, para agilizar a comunicação. Por exemplo, PAI, fica em datilologia P-I, sem o A. observe os exemplos a seguir: Soletração: PAI Datilologia: PI Soletração: VAI Datilologia: VI Nesse exemplo, o que distingue a datilologia da palavra VAI (VI) da soletração da palavra VI é o contexto em que ocorre a conversação. ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E116 Os nomes podem ser transmitidos por datilologia, quando o surdo está alfabetizado, mas a comunidade surda prefere a prática de atribuir um sinal que identifica cada pessoa. Esse sinal adjetiva características físi- cas da pessoa. Por isso, dois meninos chamados Jonatas, por exemplo, podem ter sinais diferentes um do outro, porque um tem uma covinha no queixo e o outro tem o cabelo encaracolado. Também pode aconte- cer de dois alunos de nomes diferentes terem o sinal parecido (REILY, 2004, p. 132). Ressaltamos que o alfabeto digital é um recurso utilizado pelos surdos sinaliza- dores para soletrar manualmente as palavras (soletração e datilologia). Assim, apesar de possuir uma importante função na interação entre sinalizadores, o alfabeto digital não é uma língua e sim apenas um código para a representação manual das letras alfabéticas. Detalhe importante: a soletração só é possível entre interlocutores alfabetizados. É nesse sentido que as crianças surdas, ainda em processo de alfabeti- zação da escrita oral, poderão ter também dificuldade com essa habi- lidade. Mais uma prova para desconstruir a crença de que a língua de sinais pudesse ser o alfabeto manual/datilologia, afinal, para ser com- preendido e realizado o abecedário precisa ser ensinado formalmente (GESSER, 2009, p. 33). O alfabeto digital da Libras não é o mesmo que é utilizado pelos surdos-cegos que precisam pegar na mão do interlocutor para nela produzir o sinal. Uma observação: como a Libras não admite flexão de gênero, na transcrição dos sinais utilizamos o símbolo @, isto é, o símbolo @ está sendo utilizado para representar sinais que, diferentemente do Português, não possuem marca para gênero (masculino/feminino). Assim, o sinal traduzido por fei@ pode tanto ser usado para feio ou feia. Observe as fotos. Para compor um sinal, a expressão facial é importante, por exemplo, para o sinal feio, a expressão do rosto deve indicar isso. Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 117 FEI@ Ponto de Articulação (PA) ou Localização (L): O ponto de articulação é a segunda principal unidade mínima. É o lugar do corpo ou do espaço em que é realizado o sinal. Os sinais podem ser produzidos envolvendo quatro pontos de articulação: tronco, cabeça, mão e espaço neutro. Muitos sinais envolvem um movimento, indo de um ponto de articulação para outro. Mesmo assim, considera-se que cada sinal tem apenas um ponto de articulação, mesmo que ocorra um movi- mento de direção. Se dois sinais possuem a mesma configuração de mão e mesmo movimento, mas pontos de articulação diferentes, eles são diferentes, como por exemplo, os sinais para amar, ouvir, aprender e laranja, diferem entre si apenas pelo ponto de articulação. Ex: LARANJA e APRENDER. LARANJA Mesmo movimento e Configuração da Mão, mas outro Ponto de Articulação. Observe: ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E118 APRENDER Mesma CM, M com pouca diferença e PA é diferente; CACHORR@ e CULPA. Observe: CAHORR@ CULPA MOVIMENTO (M) De acordo com Nogueira, Carneiro e Nogueira (2010, p. 104), “[...] movimento é uma importante unidade mínima. Além de participar ativamente na produ- ção do sinal, ele dá graça, beleza e dinamismo a essa língua”. Para que haja movimento, é preciso haver objeto e espaço. Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do enunciador representa(m) o objeto, enquanto o espaço em que o movimento se realiza (o espaço de enunciação) é a área em torno do corpo do enunciador [...]. O movimento é definido como um parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direções, desde o movimento interno da mão, os movimentos dos pulsos e os movimentos direcionais no espaço (QUADROS; KAR- NOPP, 2004, p. 54). Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 119 As pessoas ouvintes, ao usarem a língua de sinais, o fazem, normalmente, de maneira mais estática. Isso ocorre porque o movimento, embora seja uma parte integrante da língua, é realizado com mais propriedade pelos surdos, que são visu- ais, mais fluentes em relação aos ouvintes e conhecem a língua profundamente. Sabe-se que associar à produção do sinal aspectos como o movimento e as expressões não-manuais não é algo simples, para os ouvintes. Essa habilidade exige muita competência e fluência na língua, além de uma boa coordenação motora, domínio do movimento e orientação no espaço. Ainda segundo Nogueira, Carneiro, Nogueira (2010, p. 105), para os ouvin- tes, que são usuários de língua oral-auditiva, [...] o domínio dessas habilidades é algo bem complexo. Os sur- dos, por serem seres visuais, adquirem essas habilidades com muito mais naturalidade e facilidade do que os ouvintes. Cabe destacar, então, que para que haja movimento, é preciso haver espaço. Portanto, o movimento é indissociável do espaço, entretanto, um sinal tam- bém pode ser realizado sem movimento, exemplos: Ajoelhar Em pé Pensar As variações do movimento servem para diferenciar itens lexicais, como, por exemplo, nome e verbo, para indicar a direcionalidade do verbo, por exemplo, o verbo “olhar” (e olhar para) e para indicar variação em relação ao tempo dos verbos, como, por exemplo, olhe para, olhe fixo, observe, olhe por um longo tempo, olhe várias vezes. Os movimentos se diferenciam pela direcionalidade, tipo, maneira e frequ- ência. Vamos abordar aqui, apenas a direcionalidade e o tipo. Quanto à direcionalidade um movimento pode ser: a. Unidirecional: movimento em uma única direção no espaço, durante a realização de um sinal. Ex.: PROIBID@, MANDAR. ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E120 PROIBIR MANDAR b. Bidirecional: movimento realizado por uma ouambas as mãos, em duas direções diferentes. Ex.: JULGAMENTO, GRANDE, DISCUTIR, TRA- BALHAR, BRINCAR. DISCUTIR GRANDE JULGAMENTO Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 121 BRINCAR TRABALHAR c. Multidirecional: movimentos que exploram várias direções no espaço, durante a realização de um sinal. Ex.: INCOMODAR, PESQUISAR. INCOMODAR PESQUISAR Você pode perceber esses movimentos com mais clareza, consultando os vídeos. TIPOS DE MOVIMENTOS Ferreira-Brito (1995) identificou seis tipos diferentes de movimento, a saber: de contorno ou forma geométrica; interação; contato, torcedura, dobramento e interno das mãos. Vamos abordar aqui, apenas o tipo que se refere ao contorno ou forma geométrica, que é a forma do movimento no espaço. Nessa categoria de contorno ou forma geométrica os movimentos podem ser: ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E122 a. movimento retilíneo: VER MANDAR DEVER b. movimento helicoidal: Alt@ Importante Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 123 c. movimento circular: BRINCAR BICICLETA NADAR d. movimento semicircular: Saúde Surd@ Coragem ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E124 e. movimento sinuoso: NAVIO f. movimento angular: DIFÍCIL Observe esses movimentos nos seus vídeos. Orientação das mãos: é a direção para a qual a palma da mão aponta na pro- dução do sinal. É possível identificar seis tipos de orientações da palma da mão na Língua Brasileira de Sinais: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita ou para a esquerda. Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 125 Também pode ocorrer a mudança de orientação durante a execução de um sinal. Exemplo: MONTANHA, BAIXA. MONTANHA BAIXA COMPONENTES OU EXPRESSÕES NÃO MANUAIS (CNM OU ENM) Além desses parâmetros, a Libras conta com uma série de componentes não manuais, como a expressão facial ou o movimento do corpo, que muitas vezes podem definir ou diferenciar significados entre sinais. As expressões não-manu- ais envolvem movimento da face, dos olhos, da cabeça e do tronco. A expressão facial e a corporal podem traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc., dando mais sentido à Libras e, em alguns casos, determinando o significado de um sinal. Essa unidade mínima é também muito importante linguisticamente, pois marca as sentenças interrogativas. Ex.: o dedo indicador com a configuração de mão da letra G do alfabeto digital [G] sobre a boca, com a expressão facial calma e serena, significa silên- cio; o mesmo sinal usado com um movimento mais rápido e com a expressão de zanga, significa uma severa ordem: Cale a boca! ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E126 SILÊNCIO CALE A BOCA Em outros casos, utilizamos a expressão facial e corporal para negar, afirmar, duvidar, questionar etc. Duas expressões podem ocorrer ao mesmo tempo, como, por exemplo, as marcas de interrogação e negação, que podem envolver franzir de sobrancelhas e projeção da cabeça, por exemplo. As componentes não-manuais possuem duas funções nas línguas de sinais: marcação de construções sintáticas (marcam sentenças interrogativas sim-não, interrogativas QU: que, quem, qual, quando) e diferenciação de itens lexicais. No caso de diferenciação de itens lexicais, o sinal convencional é modificado, sendo realizado na face, disfarçadamente. Exemplos: ROUBO, ATO-SEXUAL. ATO SEXUAL LADRÃO Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 127 As expressões faciais são muito importantes na realização dos classificadores, pois intensificam seu significado. Por exemplo: ■ Bochechas infladas e olhos bem abertos para coisas grandes ou grossas. ■ Olhos semifechados com o franzir da testa, ombros levantados e inclina- ção da cabeça para frente, para coisas estreitas ou finas. ■ Expressão facial normal para tamanhos médios. Observe a seguir, as diferentes emoções de expressões faciais: IRONIA ALEGRIA ESPANTO BRAVA RAIVA CUMPLICIDADE QUE COISA, HEIN! PENA TRISTEZA ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E128 CANSADO ENFADO, TÉDIO SUSTO As expressões faciais também são utilizadas para indicar advérbios de intensi- dade e tamanho. INTENSIDADE DINHEIRO RICO MILIONÁRIO MULTIMILIONÁRIO Aspectos Fonológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 129 TAMANHO Até o momento você estudou as unidades mínimas de um sinal e viu que, apesar de cada uma dessas unidades mínimas (ou parâmetros), a saber, configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação das mãos e componen- tes não manuais não possuírem significado isoladamente, quando se compõem, passam a constituir sentido. Entretanto, essa composição não é livre. Ela deve seguir regras, dentre as quais se encontram aquelas que restringem ou limitam a formação de sinais, ou seja, a combinação das unidades mínimas. “Algumas dessas restrições são impostas pelo sistema perceptual (visual) e outras pelo sis- tema articulatório (fisiologia das mãos)” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 78). Considerando que os sinais que utilizam apenas uma das mãos podem ser produzidos indistintamente pela mão direita ou esquerda, as condições de restri- ção se referem aos sinais produzidos por ambas as mãos. Para sinais produzidos com as duas mãos, temos duas possibilidades: (a) as duas mãos são ativas e (b) uma mão é ativa (mão dominante) e a outra serve como locação. Assim, as con- dições de restrição se referem a essas possibilidades de produção de sinais com as duas mãos e são, de acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 79): a. Condição de simetria: caso as duas mãos se movam na produção de um sinal, então determinadas restrições aparecem, a saber: a CM deve ser a mesma para as duas mãos, a locação de ser a mesma ou simétrica, e o movimento deve ser simultâneo ou alternado. b. Condição de dominância: se as mãos apresentam distintas CM, então a mão ativa produz o movimento, e a mão passiva serve de apoio, apre- sentando um conjunto restrito de CM (não marcadas). As restrições na formação de sinais, derivadas do sistema de percepção visual e da capacidade de produção manual restringem a complexidade dos sinais para que eles sejam mais facilmente produzidos e percebidos. O resultado disso é uma maior previsibilidade na formação de sinais e um sistema com complexidade controlada. Destacamos que a condição de simetria se refere tanto à percepção visual, pois as duas mãos sendo ativas seria muito difícil a percepção dos movimentos, se eles não fossem simétricos, quanto ao sistema articulatório visto ser extremamente difícil a produção simultânea de sinais distintos para cada uma das mãos. Com ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E130 o estudo das restrições na formação de sinais, encerramos esta parte relacionada à fonologia das línguas de sinaisem geral e da Libras em particular. Em nossa próxima unidade, abordaremos os aspectos morfológicos da Libras. LÉXICO DE CATEGORIAS SEMÂNTICAS I – TEMPO E ELEMENTOS DA NATUREZA A partir desta terceira Unidade, iniciamos a construção do seu vocabulário (léxico) em Libras. Para isso, apresentamos os sinais reunidos por temas (catego- rias semânticas). Assim, começamos com a categoria Tempo, na qual reunimos o calendário; as horas; as estações do ano; clima, fenômenos climáticos, astros e elementos da natureza. Procure estudar esses sinais em conjunto com os vídeos para observar o movimento. CALENDARIO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 131 QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA SÁBADO DOMINGO TODO DIA FAZ TEMPO DIA ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E132 SEMANA DUAS SEMANAS TRÊS SEMANAS QUATRO SEMANAS UM DIA DOIS DIAS Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 133 TRÊS DIAS QUATRO DIAS QUANTOS DIAS? UM DIA (QUEM SABE UM DIA) ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E134 MÊS ANO (DATA) JANEIRO FEVEREIRO FEVEREIRO M Ç O ABRIL OU Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 135 M I O JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO OU ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E136 DEZEMBRO (MÊS DIA ANO) DURAÇÃO ANO QUE VEM ANO PASSADO AMANHÃ HOJE Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 137 ONTEM MANHÃ TARDE NOITE HORAS (RELÓGIO) HORAS (DURAÇÃO) ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E138 ANTES / ANTECIPAR ATRASO / DEPOIS DEMORA Acesse e veja o material que preparamos especial- mente para você! https://vimeo.com/172586870/e45d54fea0 Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 139 ESTAÇÕES DO ANO – ESTADOS DO TEMPO TEMPO PRIMAVERA VERÃO OUTONO ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E140 FRIO / INVERNO OU FRIO / INVERNO FENÔMENOS METEREOLÓGICOS – ASTROS – NATUREZA CHUVA ARCO-IRIS CHUVOSO RELÂMPAGO TROVÃO OU Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 141 NUVEM NUBLADO VENTO FURACÃO TERREMOTO ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E142 ASTROS LUA SOL ESTRELA Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo e Elementos da Natureza Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 143 ELEMENTOS DA NATUREZA ÁRVORE FLOR FLORESTA CACHOEIRA JARDIM / GRAMA ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E144 TERRA (PLANETA) TERRA PEDRA MONTANHA LAGO Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 145 RIO CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa unidade talvez seja a que contém maior número de informações desconhe- cidas por você, dentre as quais, destacamos: ■ A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para permitir aos seus usuá- rios expressar-se sobre qualquer assunto, em qualquer situação, domínio do conhecimento e esfera de atividade. ■ A Libras é uma língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos, devendo, portanto ser conhecida, pelo menos em seus aspectos funda- mentais pelos professores. ■ A Libras é uma língua, com gramática própria e com condições de propor- cionar, não apenas a comunicação efetiva entre os surdos, como, também, a expressão de sentimentos; a composição de poesias; a discussão filosó- fica, enfim, um idoma completo. ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E146 ■ As línguas de sinais, por comprovação científica, cumprem todas as fun- ções de uma língua natural, mesmo assim, ainda sofrem preconceito e são desvalorizadas diante das línguas orais, sendo consideradas como uma derivação da gestualidade espontânea, como uma mescla de panto- mima e sinais icônicos. ■ A língua de sinais não é subordinada à língua oral majoritária do país. As línguas de sinais são completamente independentes das línguas orais dos países em que são produzidas. ■ Na sua casa, com a ajuda de um espelho, treine a expressão facial e cor- poral, isso ajuda muito em Libras. Também abordamos, nesta Unidade III, a organização fonológica dos sinais, des- tacando, as unidades mínimas e, também, as restrições na formação de sinais, além de estabelecer uma comparação entre as línguas de sinais e as línguas orais. Falamos muito aqui em língua natural, razão pela qual recomendamos o estudo atento do texto que trouxemos como Leitura Complementar, que aborda essa questão. Outra novidade dessa nossa terceira unidade é o início da construção de seu vocabulário em Libras, com a apresentação da categoria semântica Tempo e Elementos da Natureza. 147 Apresentamos a seguir um fragmento do Capítulo 2 do livro: Tenho um aluno surdo e agora?, que apresentamos como material complementar. O capítulo 2, cujo título é Li- bras: apresentando a língua e suas características, é de autoria de Kathryn Marie Pa- checo Harrison. Essa parte selecionada estabelece com clareza, o significado de “língua natural”, além de caracterizar a modalidade visuoespacial. O ESTATUTO DA LIBRAS ENQUANTO LÍNGUA NATURAL Kathryn Marie Pacheco Harrison Ao ler o subtítulo acima, pode-se perguntar o que significa a palavra “natural”. Seria legí- timo pensar que é uma língua que surge espontaneamente quando a pessoa nasce com uma perda auditiva, mas seria uma ideia errônea. Na verdade, o termo “natural” designa a característica das línguas orais e sinalizadas utilizadas pelos seres humanos em suas diversas interações sociais e, se diferencia do que se chama de “linguagem formal”; isto é, linguagens construídas pelo ser humano, como as linguagens de programação de computador ou a linguagemmatemática. Outro fator que explicita a característica natural das línguas de sinais é a sua organização cerebral. Estudos desenvolvidos no Laboratório de Neurociências Cognitivas da Univer- sidade da Califórnia com surdos com [...] lesões cerebrais estabeleceram que o hemisfério esquerdo subserve as funções linguísticas para língua de sinais, apesar de que a ASL utiliza distinções espaciais e ser processada visualmente - domínio para os quais os hemisférios direitos de pessoas ouvintes têm sido encontrados como dominantes (EMMOREY; BELLUGI; KLIMA, 1993, p. 19). Em outras palavras, significa que, embora as línguas de sinais sejam produzidas princi- palmente por movimentos das mãos no espaço (o que em pessoas que ouvem e falam é percebido pelo hemisfério direito do cérebro), esses movimentos são percebidos pelo hemisfério esquerdo das pessoas surdas que usam língua de sinais, justamente porque são entendidos como língua e não como gesticulação ou movimento corporal aleatório. 148 Para que esses e outros estudiosos das línguas de sinais pudessem chegar a essas con- clusões, houve um primeiro estudo, o estudo linguístico fundador, realizado pelo lin- guista americano William Stokoe, em 1960. A partir de sua observação de surdos sina- lizando na universidade em que lecionava, ele, curioso, resolveu estudá-la. Seria uma língua? Para obter a resposta a essa pergunta, aplicou os rigorosos métodos de pesquisa da linguística estrutural. Os resultados de seus estudos demonstraram evidências de que, ao contrário do que se pensava até então, a língua e sinais dos surdos têm estrutura e função semelhante às demais línguas. Para descrever uma língua antiga, produzida em uma modalidade tão diferente das lín- guas faladas e nunca antes estudada, criou alguns termos próprios para definir os ele- mentos constituintes da ASL, como: • Sinal: a menor unidade da língua de sinais com significado. • Gesto: movimento comunicativo não analisável linguisticamente. • Quirema (do grego: kiros = mãos): conjunto de posições, configurações ou movimen- tos que tenham a mesma função na linguagem, o ponto de estrutura da língua de sinais (análogo ao “fonema” nas línguas orais). • Alocação: qualquer um do conjunto de configurações, movimentos ou posições, isto é, quirema, que sinaliza identicamente na língua. Além disso, propôs a decomposição dos sinais da ASL em três parâmetros formacionais: configuração de mão (CM); locação da mão (L); e movimento da mão (M). O trabalho de Stokoe teve grande repercussão nos meios linguísticos ao redor do mundo e nos movimentos de surdos, que a partir de então tinham em mãos uma evidência científica de que sua comunicação sinalizada apresentava o estatuto de língua semelhante ao das línguas orais e, portanto, merecedora de respeito. A MODALIDADE VISUOESPACIAL Quando falamos, um complexo sistema de órgãos e funções entra em ação, basicamen- te: lábios, língua, dentes, nariz (para articular as palavras), a laringe (para produzir a voz) e os pulmões, que produzem o ar que passa pela laringe e depois pela boca e, finalmen- te as palavras se deslocam pelo ar, para chegar aos nossos ouvidos, onde as escutamos e compreendemos. Além disso, os sons da fala (os fonemas) são produzidos um depois do outro, pois é impossível anatomicamente produzir dois sons ao mesmo tempo. Por essa razão, dizemos que a fala é produzida sequencialmente no tempo. 149 As línguas de sinais, por outro lado, são produzidas por movimentos das mãos, do corpo e expressões faciais em um espaço à frente do corpo, chamado de espaço de sinaliza- ção. A pessoa “recebe” a sinalização pela visão, razão pela qual as línguas de sinais são chamadas de visuoespaciais ou espaço-visuais. Dependendo do tipo de enunciado pro- duzido, dos sinais utilizados, do que se deseja expressar, se pode obter uma sinalização em que vários sinais podem ser feitos simultaneamente, pois, no caso dos movimentos envolvidos, não há impedimento anatômico. Em outros momentos, os sinais são produ- zidos um após o outro, sequencialmente. Os estudos linguísticos demonstram, além do mais, que as línguas de sinais, e aí está inserida a Libras, possuem as mesmas características e qualidades de qualquer outra língua, ou seja: 1. Versatilidade e flexibilidade: são qualidades que as línguas possuem de poder expres- sar qualquer sentimento, emoção, fazer indagações, fazer referência ao passado, presen- te ou futuro, ou até mesmo à fatos e coisas que não existem. 2. Arbitrariedade: é a característica segundo a qual a forma da palavra (seja falada, escri- ta ou sinalizada) não tem relação direta com seu significado. Se ouvirmos uma palavra em língua estrangeira, o som dela não nos ajudará a saber seu significado. Da mesma maneira, ver um sinal não ajudará a conhecer o que significa, a não ser que conheçamos a língua. 3. Criatividade/produtividade: são possibilidades que as línguas possuem de produzir infinitos enunciados a partir de um número finito de fonemas ou quiremas. 4. Dupla articulação: é a característica das línguas de possuir um número finito de unida- des (fonema ou quirema) que isoladamente não têm significado. Apenas se forem com- binadas a outros fonemas/quiremas adquirem significado. Por exemplo, os sons o, p, t, a, isolados, não têm significado, mas ao serem combinados, como em pato ou topa ou opta, ganham diferentes sentidos. Pode-se compreender, então, que há duas camadas nas palavras, uma de unidades menores e outra de unidades maiores. Fonte: Harrison (2013). 150 1) Estude o alfabeto manual. Faça cada configuração de mãos de frente ao espelho. Lembre-se: o sinal deve ser feito “virado” para o seu interlocutor, e não para você. Assim, olhando no espelho, você deve enxergar o sinal tal como se apresenta no texto. Soletre cada uma das seguintes palavras: CASA, PAULO, ÁRVORE, CARRO, LIQUIDIFICADOR, SÃO PAULO, MARIA, ANA MARIA, COMPORTAMENTO. 2) Em sua opinião, existem mais semelhanças ou diferenças entre a Libras e a Língua Portuguesa? Justifique. 3) Considerando que as restrições para a formação de sinais podem ser exempli- ficadas em sinais produzidos pelas duas mãos, analise as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta: I – Condição de simetria estabelece que se ambas as mãos são ativas, a CM deve ser a mesma para as duas. II – As restrições diminuem a complexidade dos sinais facilitando sua produção e percepção. III- Se apenas uma das mãos é ativa, a mão não dominante serve de apoio para a mão dominante. IV – No caso de ambas as mãos serem ativas, o ponto de articulação deve ser o mes- mo ou simétrico. a) ( ) Somente I, II e III são verdadeiras. b) ( ) Somente I, II e IV são verdadeiras. c) ( ) Somente II, III e IV são verdadeiras. d) ( ) Somente I, III e IV são verdadeiras. e) ( ) Todas são verdadeiras. 151 4- A comunicação pelas mãos teve início apenas com os surdos, ou seja, foram os surdos os primeiros seres humanos a se comunicar usando gestos. Esta informação pode ser considerada verdadeira? Justifique sua resposta baseando-se nos conheci- mentos adquiridos ao longo desta unidade. 5- Cada parâmetro da Libras, de maneira isolada, não possui significado. Apenas quando se compõem é que passam a constituir sentido. Entretanto, essa composi- ção não é livre. Nesse contexto, analise as afirmações a seguir e assinale a alter- nativa correta. I - Os sinais que utilizam apenas uma das mãos podem ser produzidos indistinta- mente pela mão direita ou esquerda. II - As condições de restrição se referem aos sinais produzidos por ambas as mãos e temos duas possibilidades. III – Quando as duas mãos se movem na produção de um sinal, então as condições de composição dependem de a CM ser a mesma para ambas as mãos ou não. IV - A condição de simetria se refere tanto à percepção visual, quanto ao sistema articulatório. a) ( ) Somente I, II e III são verdadeiras. b) ( ) Somente I, II e IV são verdadeiras. c) ( ) Somente II, IIIe IV são verdadeiras. d) ( ) Somente I, III e IV são verdadeiras. e) ( ) Todas são verdadeiras. MATERIAL COMPLEMENTAR Tenho um aluno surdo e agora? Introdução à Libras e educação de Surdos. Cristina Broglia Feitosa de Lacerda e Lara Ferreira dos Santos (Org.) Editora: EdUFSCAR, 2013 Sinopse: ganhador do Prêmio Jabuti na categoria Educação, este livro reúne texto de autores diversos que atuam na área da surdez, com a intenção de possibilitar uma visão ampla a respeito da surdez, da Libras e da educação de surdos. Conforme as organizadoras destacam, na contracapa, o objetivo que as orientaram na produção deste livro foi “[...] oferecer um conhecimento inicial acerca da educação de surdos e da Libras, bem como dar subsídios para a atuação do professor da educação básica junto a alunos surdos”. Leitura fascinante, fácil e quase que obrigatória aos futuros professores. Você encontra muitas informações acerca da Libras, referências bibliográficas, links importantes, pesquisas atuais, e entre outros diversos conteúdos disponíveis em: <www.dicionariolibras.com. br> e <aprendolibras.blogspot.com>. Acesso em: 20 jun. 2016. REFERÊNCIAS BASTOS, C. L.; CANDIOTTO, K. Filosofia da Linguagem. São Paulo: Vozes, 2007. FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro: Tem- po Brasileiro, 1995. GESSER, A. Libras? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009, p. 9. HARRISON, K. M. P. Libras: apresentando a língua e suas características. In: LACERDA, C. B. F. de L. ; SANTOS, L. F. dos S. (Org.) Tenho um aluno surdo e agora? Introdu- ção à Libras e educação de Surdos. São Carlos – SP: EduUFSCAR, 2013. LACERDA, C. B. F. de; SANTOS, L. F. dos (Org.). Tenho um aluno surdo e agora?: Introdução à Libras e educação de surdos. São Carlos - SP: EdUFSCAR, 2013. NOGUEIRA, C. M. I.; CARNEIRO, M. I. N.; NOGUEIRA, B. I. Surdez, Libras e educação de surdos: introdução à língua brasileira de sinais. Maringá: EDUEM, 2010. PEREIRA, M. C. C.; CHOI, D.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.; NAKASATO, R. Libras: conheci- mento além dos sinais. São Paulo: Pearsons Prentice Hall 2011. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. REILY, L. Escola Inclusiva: linguagem e mediação. 4. ed. Campinas, SP: Papirus, 2004. Referências on-line 1 Em: < http://www.acessobrasil.org.br/>. Acesso em: 27 jun. 2017. (Verificar site – estava fora do ar). 153 GABARITO 1) Atividade prática. Espero que tenha conseguido fazer, se teve dificuldade é só treinar um pouco mais. 2) Questão subjetiva em que ambas as possibilidades são verdadeiras. No texto, destacamos DEZ semelhanças entre as línguas de sinais e as línguas orais e DEZ particularidades das línguas de sinais, de maneira que a resposta depende do que você considerou mais marcante, as semelhanças ou as diferenças. 3) Alternativa (e): todas estão corretas. 4) A comunicação com as mãos não começou com os surdos, pois, de acordo com Vygotsky, os homens pré-históricos se comunicavam por meio de gestos e apenas quando começaram a utilizar ferramentas, ocupando as mãos, é que começaram a utilizar a comunicação oral. 5) Alternativa (e): todas estão corretas. U N ID A D E IV Professora Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Professora Me. Marília Ignatius Nogueira Carneiro Professora Esp. Beatriz Ignatius Nogueira ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a Libras em seus aspectos morfológicos. ■ Apresentar os classificadores. ■ Instrumentalizar os licenciandos para o estabelecimento de uma comunicação funcional com pessoas surdas. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Aspectos Morfológicos da Libras ■ Classificadores ■ Léxico de categorias semânticas II INTRODUÇÃO Atualmente, são muitas as pesquisas sobre a Libras e sobre como os surdos adqui- rem a língua de sinais como L1 (primeira língua - língua natural) e a Língua Portuguesa como L2 (segunda língua – língua estrangeira). Existem estudos tam- bém sobre o ensino de uma segunda língua de sinais (ASL – Língua Americana de Sinais, por exemplo) como LE (Língua Estrangeira) para surdos, mas ainda são poucos os estudos sobre como os ouvintes aprendem Libras como L2. O que se faz, de maneira geral, é adaptar os métodos de ensino para línguas estrangeiras, mas isso não é suficiente porque no caso do ensino de LE, as duas línguas são auditivo-orais, isto é, utilizam as mesmas informações sensoriais e no caso da Libras como L2, que é viso-motora, isso não acontece, dificultando o processo. No ensino de Libras para futuros professores, outra dificuldade que podemos observar, levando em conta os estudos sobre o ensino de LE, é que a aprendi- zagem de outra língua acontece quando a pessoa quer aprender, quando a nova língua faça sentido para ela, que ela sinta prazer em usar essa língua. Como a Libras foi introduzida nos currículos pelo Decreto 5626/2005, nem sempre os futuros professores entendem porque eles devem aprender uma língua estranha, falada por um grupo de pessoas que talvez ele nunca conheça. Na ausência de uma metodologia específica para o ensino da Libras como L2 para ouvintes, procuramos adaptar metodologias utilizadas no ensino de uma LE. Essa metodologia é mais eficiente na modalidade presencial, mas podemos obter bons resultados a distância. Para isso, você precisa ficar atento e observar se as suas configurações de mão estão corretas e não procure uma explicação lógica para o sinal, porque nem sempre ela existe, em função da arbitrariedade da língua. Finalizamos a terceira unidade apresentando as restrições para a formação de sinais e nesta nossa quarta unidade o foco está nas regras para a formação de sinais. Tratamos ainda dos classificadores e da construção do seu vocabulário. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 157 ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E158 ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 86), por Morfologia entendemos “[...] o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, assim como das regras que determinam a formação de palavras” ou sinais. Como vimos na uni- dade anterior, os fonemas nas línguas orais e os parâmetros, nas de sinais, não possuem significado isoladamente. O morfema é a unidade mínima do significado. Ainda considerando o que estudamos na Unidade III, as línguas de sinais satis- fazem todos os requisitos linguísticos de uma língua, isto é, possuem um léxico (vocabulário), uma sintaxe (regras gramaticais) e uma capacidade de gerar uma quantidade infinita de sinais e sentenças. As regras que determinam essa geração de sinais é o que estudaremos nesta Unidade IV, enquanto que as regras grama- ticais, para a formação de sentenças e discursos, serão estudadas na Unidade V. Uma forma simples de criação de sinais, é o empréstimo lexical. Empréstimos lexicais não são sinais nativos da Libras e sim “inspirados em outras línguas”. Destacamos aqui três tipos de Empréstimos Lexicais: Empréstimos Lexicais de soletração manual completa ou de parte das pala- vras em Língua Portuguesa como os sinais para B-A-R; MÇO; JN (JUNHO); JL (JULHO). Empréstimos lexicais de inicialização: utilização de uma CM que corres- ponde, no alfabeto manual, à primeira letra da palavra equivalente em Língua Portuguesa. Apesar da Libras ser indepen- dente da Língua Portuguesa, alguns sinais são originários das iniciais da representação escrita de seus signifi- cados, demonstrando que, da mesma forma que nas línguas orais em que uma língua influencia a criação de novas palavras (exemplo: deletar) a Libras é influenciada pela LínguaPortuguesa. Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 159 “F” FERRO FLOR FUTURO “P” PRESIDENTE PROFESSOR PEDAGOGIA Empréstimos de itens lexicais de outras línguas de sinais, isto é, sinais de outras línguas de sinais que foram agregadas ao léxico da Libras, como o sinal para laranja, que utiliza a CM em “O” “O”, referente à “Orange”, que é um pos- sível empréstimo da Língua de Sinais Americana – ASL ou da Língua de Sinais Francesa (LSF). ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E160 Da mesma forma que nas línguas orais, em que uma palavra é polissêmica, isto é, admite diferentes significados, existem sinais em Libras que também admitem diferentes significados. O contexto em que são usados que estabelece as diferen- ças. Exemplos: SÁBADO LARANJA – ALARANJADO Observando a figura a baixo, para você, qual a importância da língua de si- nais e do bilinguismo para os surdos? Quais as conclusões você consegue tirar sobre? Figura 1 – A evolução do Surdo Fonte: Adaptado de ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE SURDOS([2017] on-line)1. Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 161 Um aspecto importante que reafirmamos aqui, apesar de já termos tratado desse tema na Unidade III, é que sinais não são gestos! Os gestos são considerados tra- ços paralinguísticos ou extralinguísticos das línguas orais, isto é, movimento ou expressão que ou complementa a palavra falada (como no caso da linguagem corporal, os gestos que um professor utiliza para deixar mais claro o que deseja explicar para seu aluno) ou mesmo permite que se tenha uma mínima comuni- cação, contextualizada e quase sempre referente a coisas concretas, como a que ocorre entre pessoas que não falam a mesma língua. Os processos ou recursos para a formação de sinais em Libras são: deriva- ção, composição e incorporação. Na derivação um novo sinal é obtido pelo enriquecimento do radical (raiz) com vários movimentos e contornos no espaço. A maneira mais comum de cria- ção de novos sinais em Libras é realizar mudanças no movimento para derivar verbos de substantivos e vice-versa. O movimento dos substantivos repete e encurta o movimento dos verbos. Uma das principais funções da morfologia é a mudança de classe, isto é, a utilização da ideia de uma palavra em outra classe gramatical. Forma- -se um novo sinal para se utilizar o significado de um sinal já existente num contexto que requer uma classe gramatical diferente. Um tipo de processo bastante comum na língua de sinais brasileira é aquele que deriva nomes de verbos (ou vice-versa). O português pode formar no- mes de verbos pela adição de um sufixo, por exemplo, programar – pro- gramador ou pela mudança de acento (fabrica – fábrica) (QUADROS; KARNOPPP, 2004, p. 96). Pereira et al. (2011, p. 70) apresentam como exemplo para este fato os sinais para sentar e cadeira, que são constituídos pela mesma CM, mesmo PA e mesma orientação de mãos. “O movimento, no entanto é diferente: mais longo em sen- tar e mais curto e repetido em cadeira”. Outros exemplos são: voar e aeroporto; ouvir e ouvinte etc. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E162 CADEIRA SENTAR AVIÃO VOAR AEROPORTO Outra forma bastante usual para a criação de novos sinais em Libras é a compo- sição, em que, como o próprio nome indica, dois ou mais sinais se combinam para criar um novo sinal. Este é um processo comum na língua de sinais brasi- leira. O sinal @, conforme já foi explicitado na Unidade III é utilizado porque a marcação de gênero em Libras não acontece naturalmente e sim mediante a composição de sinais e o sinal ^ indica exatamente a composição dos sinais. Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 163 Exemplos: Da composição de sinais para estabelecimento de gênero: MASCULINO ^Benção = PAI FEMININO ^Benção = MÃE Outros exemplos: Dermatologia= Médic@^Pele Oftalmologia =Médic@^Olho Cardiologia = Médic@^Coração Escola = Casa^Estudar ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E164 Vendedor de roupa = Trabalha^Vender^Roupa Carteiro = Bicicleta^Carta^Entrega Zebra = Cavalo^Listrado Mecânic@ para automóvel = trabalha^Conserta^Carro Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 165 AÇOUGUE = CASA^CARNE IGREJA = CASA^CRUZ A criação de novos sinais em Libras também é possível pela incorporação na raiz de um argumento, um numeral ou de uma negação. Devido às características visuais e espaciais da Libras, é comum a incorpo- ração de argumentos, como, por exemplo, o sinal de escovar se modifica e se adapta de acordo com o objeto que está sendo escovado. Isto é o que significa incorporação de argumento. ESCOVAR CABELO ESCOVAR DENTES De acordo com Quadros e Karnopp (2004), quando a configuração de mão muda para expressar a quantidade e o ponto de articulação, o movimento e a ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E166 orientação das mãos continuam os mesmos, temos uma incorporação de nume- ral. Por exemplo, temos uma mudança na configuração de mãos para indicar uma, duas, três semanas. SEMANA DUAS SEMANAS TRÊS SEMANAS A incorporação de negação se dá, pela mudança na direção do movimento do sinal, quase sempre para fora e com a palma das mãos também virada para fora. QUER NÃO QUER A incorporação de negação também pode se efetivar pela assimilação do movi- mento de negação (oscilação), como acontece em ter e não ter, por exemplo. TER NÃO TER Ainda podemos ter, além da incorporação da negação nos sinais, a negação que incorpora somente a expressão facial, sem alteração de nenhum dos demais Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 167 parâmetros. Entretanto, qualquer que seja a forma de negação utilizada, a expres- são facial é importante, como sobrancelhas levemente franzidas. Negação sem alterar nenhum parâmetro: com o rosto balançando ou o dedo (significando não), por exemplo: conhecer e não conhecer; pensar e não pen- sar; casar e não casar. OU / E FLEXÕES NOMINAL E VERBAL São oito os processos de flexão descritos pelos linguistas que estudaram a Língua de Sinais Americana, a ASL, entretanto, vamos considerar neste estudo, refe- rente à Libras, apenas as flexões de pessoa (dêixis), de número, a de gênero e a de aspecto temporal, descritas a seguir, considerando Quadros e Karnopp (2004) e Pereira et al. (2011): Flexão de pessoa (dêixis): flexão que muda as referências pessoais no verbo. Flexão de número: flexão que indica o singular, o dual, o trial e o múltiplo. Flexão de gênero: quando necessária, é marcada pelo sinal de masculino ou feminino antecedendo o substantivo, conforme vimos quando estudamos a composição de sinais. Flexão de aspecto temporal: indica distinções de tempo, tais como, regu- larmente, continuamente, incessantemente, repetidamente etc. A flexão de pessoa, se refere a dêixis, que é uma palavra grega que significa apontarou indicar. Descreve uma “[...] forma particular de estabelecer nomi- nais no espaço” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 112), que denominamos de apontação e é utilizada, entre outras funções, para estabelecer os pronomes, ou referentes conforme segue: ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E168 Pronomes pessoais: VOCÊ EU ELE NÓS TODOS VOCÊS ELES/ELAS Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 169 Pronomes demonstrativos: EST@ / AQUI - olhar para o lugar apontado, perto da 1ª pessoa. ■ ESS@ / AÍ - olhar para o lugar apontado, perto da 2ª pessoa. ■ AQUEL@ / LÁ - olhar para o lugar distante apontado. De acordo com Quadros e Karnopp (2004), a apontação pode ser explícita, [...] envolvendo referentes presentes e não presentes. Para os re- ferentes presentes, a apontação é feita à frente do sinalizador di- recionada para a posição real do referente. Quando os referentes não estão presentes, são estabelecidos pontos arbitrários no espaço, respeitando-se, por exemplo, no caso de localizações específicas, as posições topográficas. Assim, por exemplo, para se indicar um ponto no espaço que represente o estado do Amazonas, será apontado um ponto no alto, em ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E170 referência ao Norte do Brasil, enquanto que para o Rio Grande do Sul, o ponto estaria abaixo. Além da apontação, a direção do olhar e a posição do corpo tam- bém servem para estabelecer referentes, por exemplo, no sinal de “entregar para alguém”, o olhar acompanha o movimento da mão ativa. De acordo com Pereira et al. (2011, p.87), a flexão de plural nos substantivos é obtida, na maioria das vezes, pela repetição dos sinais, pela sinalização anterior ou posterior ao sinal do substantivo, de sinais referentes às quantidades, ou pelo “movimento semicircular que deve abranger as pessoas ou os objetos envolvidos”. ■ Dual: a mão ficará com o formato de dois. ■ Trial: a mão assume o formato de três. Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 171 ■ Quatrial: o formato será de quatro. A flexão de número quando se refere a pessoas, é feita utilizando-se a aponta- ção, porém a quantidade fica explícita pela quantidade de dedos (configuração de mãos). ■ Singular: EU - apontar para o peito do enunciador (a pessoa que fala). ■ Dual: NÓS – 2. ■ Trial: NÓS – 3. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E172 ■ Quatrial: NÓS – 4. ■ Plural: NÓS - GRUPO NÓS - TOD@. Segunda pessoa: A lógica aqui é a mesma do caso da primeira pessoa, para o dual, trial etc. ■ Singular: VOCÊ - apontar para o interlocutor (a pessoa com quem se fala). ■ Dual: VOCÊ – 2 . ■ Trial: VOCÊ - 3. ■ Quatrial: VOCÊ - 4. ■ Plural: VOCÊ - GRUPO VOCÊ - TOD@. Terceira pessoa: mesmo forma das anteriores. ■ Singular: EL@ - apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencional. ■ Dual: EL@ - 2. ■ Trial: EL@ - 3. ■ Quatrial: EL@ - 4. ■ Plural : EL@ - GRUPO EL@ - TOD@. Aspectos Morfológicos da Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 173 Quando se quer falar de uma terceira pessoa presente, mas deseja-se ser discreto, por educação, não se aponta para essa pessoa diretamente. Ou se faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça em direção à pessoa mencionada ou aponta-se para a palma da mão (voltada para a direção onde se encontra a pessoa referida). A flexão de aspecto temporal nos verbos está relacionada com as formas e a duração dos movimentos. A Libras, assim como outras línguas orais e de sinais, modula o movimento dos sinais para distinguir entre os aspectos pontual, con- tinuativo ou durativo e iterativo, que são diferenciados, segundo Ferreira-Brito (1995), por meio de alterações do movimento e/ou da configuração da mão. O aspecto pontual se caracteriza por se referir a uma ação ou evento que aconteceu e terminou em algum momento bem definido no passado. Por exem- plo, em português, quando dizemos que “Ele falou com você ontem”, sabemos que a ação de falar aconteceu no passado, no momento “ontem”. Em Libras tam- bém é parecido: “Ele falar você ontem”. O aspecto durativo ou continuativo se refere a uma ação que continua, que não para no tempo. Por exemplo: “Ele fala sem parar na aula” A Libras não usa o mesmo sinal que usou para a frase “Ele falar você ontem”. A Libras tem um sinal diferente para “falar sem parar”. Então é um sinal para “falar” e um para “falar sem parar”. Mas são sinais parecidos, o que muda é a intensidade e as expressões faciais e corporais. “Falar sem parar” é derivado de “falar” pela adjunção da mão esquerda e o alongamento dos movimentos. O aspecto iterativo é quando a ação ou evento acontece muitas vezes. Por exemplo: “Marcelo viajar Curitiba ontem” é aspecto pontual e o sinal é o de via- jar. Para dizer que “Marcelo viajar muitas vezes” o sinal é modificado em alguns parâmetros. A Libras usa também modulações de olhar e expressões faciais e corporais para transmitir a intensidade do verbo apresentado e sua significação no con- texto. Então, o verbo olhar, por exemplo, pode ser representado rapidamente para dizer que a pessoa apenas avistou ou longamente, significando que a pes- soa olhou com atenção. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E174 Os principais desafios para o ensino de libras como L2 para ouvintes, em particular para futuros professores são: 1. Falta de motivação para a aprendizagem. 2. Autocensura quanto ao uso do corpo. 3. Falta de uma metodologia específica fundamentada em pesquisas. 4. Dificuldade do aluno de organizar a própria aprendizagem, como fazer anotações e estudar em casa. Com relação às duas primeiras dessas dificuldades, entendemos que o fato do professor de Libras ser surdo, de imediato o aluno vai ver uma realidade que era desconhecida para ele. Com discussões sobre a cultura e a comuni- dade surda, é possível despertar a curiosidade por uma língua exótica e a conscientização em relação aos direitos e possibilidades de aprendizagem dos surdos, criando a motivação e favorecendo a compreensão de que o próprio corpo é um importante elemento para a comunicação, conscien- tizando o educando da importância de suas expressões faciais e corporais para a Libras e minimizando a autocensura quanto ao uso do corpo. Fonte: as autoras Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 175 CLASSIFICADORES CLASSIFICADORES - C L Para as línguas de sinais a descrição, a reprodução da forma, do movimento e da relação espacial do que se quer enunciar são fundamentais, pois torna mais claros e compreensíveis seu significado. Essa é a principal função dos classifi- cadores em Libras. Assim, o classificador é um poderoso auxiliar da língua de sinais, para deter- minar as especificidades e “dar vida” a uma ideia ou a um conceito ou signos visuais. Isto significa que o Classificador representa forma e tamanho dos refe- rentes, assim como características dos movimentos dos seres em um evento, tendo, pois, a função de descrever o referente. A nomeação Classificadores (CLs), para esses “auxiliares” importantíssi- mos para as línguas de sinais, foi atribuída pela comunidadede linguistas para comparar com as funções da língua falada ou oral e suas estruturas gramaticais. Um classificador (Cl) é uma forma que estabelece um tipo de concordância em uma língua. Nas línguas orais, os classificadores são morfemas gramaticais que são afixados (juntados) aos morfemas lexicais (palavras – substantivos, adje- tivos e verbos) para especificar aquilo a que a palavra se refere, como a classe a que pertence; o gênero; a forma, tamanho etc. Na língua portuguesa, as classificações podem se manifestar de várias formas, como uma desinência, para classificar os substantivos e adjetivos em masculino e feminino; indicar tamanho, número, ou ainda, ou que se coloca no verbo para estabelecer concordância, como, por exemplo, a letra a que é afixada à palavra professor para indicar o gênero feminino: professorA. Outros exemplos são os ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E176 sufixos inho, ão, que se referem ao tamanho etc. Para os pesquisadores surdos, essa estrutura gramatical da Libras ainda está à procura de uma definição ade- quada para nomeá-la de acordo com as perspectivas visuoespaciais. Na Libras, os classificadores são formas representadas por configurações de mão que podem vir junto de verbos de movimento e de localização para classi- ficar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Os classificadores permitem tornar mais compreensível o significado do que se quer enunciar e desempenham uma função descritiva podendo detalhar som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, formas em geral de objetos inani- mados e seres animados etc. Os classificadores são icônicos em seu significado pela semelhança entre a sua forma ou o tamanho do objeto a ser referido. Como os classificadores obe- decem a regras de construção e são representados sempre por configurações de mãos específicas associadas a expressões faciais, corporais e à localização, isto é, aos parâmetros da Libras, apesar de serem icônicos, não podem ser conside- rados como mímica. Exemplos: árvore, forte, carro, telefone, borboleta, mesa, revolver, sorriso, triste, pensar, beijo, vestir. ÁRVORE FORTE CARRO Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 177 TELEFONE BORBOLETA MESA REVÓLVER PENSAR BEIJO VESTIR ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E178 Esses sinais são muito parecidos com as coisas que estão representando, mas não é mímica porque usa configuração de mãos, movimento, orientação, ponto de articulação e expressões não-manuais. O fato da Libras utilizar classificadores icônicos e mesmo de possuir um grau elevado de sinais icônicos não significa dizer que a libras é mímica, pois “a ico- nicidade é utilizada de forma convencional e sistemática” (FERREIRA- BRITO, 1995, p. 108). Além disso, nas línguas orais também estão presentes palavras com carac- terísticas icônicas. “Podemos verificá-la no clássico exemplo das onomatopeias como pingue-pongue, tique-taque, zumzum, cujas formas representam, de acordo com cada língua, o significado” (GESSER, 2009, p. 24). Em uma interpretação ou aula existem algumas palavras que não possuem um sinal próprio e é aí que são usados sinais icônicos, ou que possuem seme- lhança com o que estão descrevendo. No contexto escolar os classificadores são importantes em todas as disciplinas, principalmente na Física ou na Matemática. Sabemos que para essas matérias muito dos conteúdos não têm sinais corres- pondentes aos termos utilizados, mas a explicação pode ser compreendida se usarmos os classificadores corretamente. A expressão facial e a corporal são muito importantes para os classificadores. Dito de outra forma, classificador é uma representação da Libras que mos- tra claramente detalhes específicos, permitindo a descrição de pessoas, animais e objetos, bem como sua movimentação ou localização. Os classificadores são muito importantes, pois ajudam construir a estrutura sintática da Libras. No geral, ainda existem poucos estudos exclusivamente sobre os classificado- res na Libras, especialmente no que se refere a explicá-los de um ponto de vista funcional - tipológico. Para alguns estudiosos, que se baseiam principalmente em estudos feitos na ASL - American Sign Langage, os classificadores podem ser: ■ Classificador Descritivo: refere-se ao tamanho, forma e textura. É usado para descrever aparência de um objeto. Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 179 ■ Classificador que especifica o tamanho e a forma de uma parte do corpo: refere-se ao tamanho, forma e textura de uma parte do corpo de um ani- mal ou pessoa. ■ Classificador de Parte do Corpo: retrata uma parte específica do corpo em uma posição determinada ou fazendo uma ação. ■ Classificador de Localização: retrata um objeto em um determinado lugar em meio a outros objetos. ■ Classificador Instrumental: mostra como é usado algum objeto. ■ Classificador do Corpo: a parte superior do corpo do sinalizador se torna o classificador que exprime o verbo da frase, especialmente os braços. ■ Classificador Semântico: retrata um objeto em um lugar específico. ■ Classificador do Plural: ele indica o movimento ou a posição de um número de objetos, pessoas ou animais. ■ Classificador de Elemento: retrata o movimento de elementos ou coisas que não são sólidas como: ar, água, fumaça, chuva, fogo etc. ■ Classificador de nome: utiliza as configurações das mãos, do alfabeto manual ou dos números, mas é parte de uma descrição. De maneira geral os classificadores podem ser: predicativos, descritivos ou de características sintáticas e semânticas. 1) Predicativos: quando representam mais de “uma palavra” ou sinal, quando representam verbos que ocupam parte do predicado em uma frase. Estes verbos são chamados verbos de movimento ou de localização, indicando o objeto que se move ou é localizado. Exemplos: A frase em lingua portuguesa “O carro bateu no poste” pode ser representada por um classificador predicativo, significando, em Libras: “Carro bater poste”. Aqui, temos o verbo em movimento. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E180 Da mesma forma, a frase “Os pratos estão empilhados”, corresponde o classi- ficador predicativo em Libras: “Pratos Empilhados” e o verbo em localização. PRATOS EMPILHADOS O COPO FOI GUARDADO NO ARMARIO Alguns autores chamam alguns classificadores predicativos de descritivos locati- vos, para indicar uma ação que determina um objeto em relação a outro objeto, animado ou inanimado. Por exemplo: carro bateu no poste, moto correndo na pista, árvore sendo cortada. 2) Classificadores descritivos: as descrições visuais podem ser captadas de acordo com as imagens dos objetos animados ou inanimados. Observam-se aspectos tais como: som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, “olhar”, sen- timentos ou formas visuais, bem como a localização e a ação incorporada ao classificador. Veja os exemplos a seguir: Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 181 JANELA BANDEJA MESA COPO VASO GROSSO SAPATOS SALTOS BOI AVIÃO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E182 JARRA GOTAS DE ÁGUA CANO FINO BOTÕES MOEDA COBRA MORDIDA DE COBRA Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d efe ve re iro d e 19 98 . 183 CACHORRO MORDIDA DE CACHORRO OPEROU O CORAÇÃO OPEROU OS OLHOS Alguns autores consideram que os classificadores descritivos podem ser subdi- vididos em: 2.1) Classificadores instrumentais: furadeira, escova de cabelo, escova de dentes. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E184 FURADEIRA ESCOVA CABELO ESCOVA DENTES 2.2) Classificadores especificadores: os classificadores especificadores, como o próprio nome indica, especificam eventos, logomarcas e elementos, como por exemplo, fumaça, telefone tocando, bomba atômica, Volkswagen, Chevrolet. FUMAÇA TELEFONE TOCANDO Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 185 BOMBA ATÔMICA VOLKSWAGEN CHEVROLET 2.3) Classificadores de plural: livros, casas, carros, árvores, pessoas. FLORESTA (MUITAS ÁRVORES) MULTIDÃO ANDANDO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E186 MUITAS CASAS 2.4) Classificadores de corpo: andar de pessoas, andar do elefante, andar do gato etc., podem também indicar características como cabelão, leão bravo. PESSOA PESSOA ANDANDO SOZINHA ANDAR (cruzar com outra pessoa) DUAS PESSOAS AN- DANDO JUNTAS Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 187 ELEFANTE ELEFANTE ANDANDO GATO GATO ANDANDO 2.5) Classificadores de semântica: quando quer especificar como uma ação foi realizada, por exemplo: dormir mal. DORMIR DORMIR MAL 2.6) Classificadores de sintaxe: esses classificadores podem incorporar algum tipo de ação, por exemplo: verbo “escovar” e, devemos saber a qual objeto será aplicado à ação: sapato, dente, cabelo, tapete; comer, beijar, voar etc. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E188 ESCOVAR SAPATO ESCOVAR DENTES ESCOVAR CABELO COMER (PRATO EXECUTIVO) COMER MACARRÃO Classificadores Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 189 COMER MAÇÃ COMER (COXA DE FRANGO) BEIJAR NO PESCOÇO BEIJAR NA BOCHECHA BEIJAR NA BOCA BEIJAR NA MÃO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E190 VOAR (PÁSSARO) VOAR (AVIÃO) LÉXICO DE CATEGORIAS SEMÂTICAS II Continuamos, aqui, com a construção do seu vocabulário em Libras. Ressaltamos a importância de você estudar esta parte, acompanhando os vídeos, para que os movimentos fiquem evidentes. Depois, procure repetir os movimentos defronte a um espelho, enfatizando suas expressões faciais. IDENTIFICAÇAO PESSOAL Os principais sinais utilizados na identificação pessoal são: eu, você, nome (para o nome da pessoa em Língua Portuguesa) e sinal, para o sinal correspondente à pessoa em Libras. Esse sinal, não é a tradução do nome para a Libras, é um novo nome, e, geralmente, se relaciona à alguma característica física ou profissional da pessoa, ou ainda, à inicial do seu nome. Observe as frases a seguir, prestando muita atenção na expressão interrogativa. Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 191 VOCÊ NOME (Expressão interrogativa) QUAL É O SEU NOME? VOCÊ IDADE (Expressão interrogativa)> QUAL É A SUA IDADE? VOCÊ SINAL (Expressão interrogativa)> QUAL É O SEU SINAL? ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E192 SAUDAÇÕES COTIDIANAS OI SAUDADES TCHAU TUDO BEM? BOM DIA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 193 BOA TARDE BOA NOITE ABRAÇOS BEIJOS BEM VINDO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E194 CONHECER^GOSTAR PRAZER POR FAVOR / LICENÇA OBRIGADA DE NADA FAMÍLIA Apresentamos a seguir, os componentes de uma família e possíveis relações entre eles. Lembre-se de que em Libras não temos gênero (masculino ou feminino). Assim, por exemplo, em português sabemos que é tia - ti”A” é mulher, e ti”O” é homem. Como fazemos em Libras? Utilizamos dois sinais, um para a palavra e o outro para indicar o gênero. Por exemplo, para TIO temos Ti@ ̂ homem; para Mamãe = Mulher ^ benção (genitor). Como se forma uma família? Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 195 FAMÍILIA HOMEM / MASCULINO MULHER / FEMININO PAQUERA CONHECER CONVERSA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E196 NAMORO NOIVADO CASAR FAZER AMOR GRÁVIDA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 197 NASCER(BEBÊ) BEBÊ CRIANÇA FILHO FILHA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E198 PAI MÃE PADRASTO MADRASTA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 199 IRMÃO IRMÃ MEIO-IRMÃO CUNHADO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E200 CUNHADA SOGRO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 201 SOGRA TIO TIA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E202 SOBRINHO SOBRINHA NETO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 203 NETA PRIMO PRIMA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E204 VOVÔ VOVÓ BISAVÔ BISAVÓ Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 205 FILHO ADOTIVO FILHA ADOTIVA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E206 AMANTE CASAL SEPARADO SEPARAÇÃO VIÚV@ SOLTEIR@ AMIG@ Acesse e veja o material que preparamos especial- mente para você! https://vimeo.com/172599880/80c905a246 Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 207 LAR: ESPAÇO FÍSICO - MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS – OBJETOS – VESTIMENTAS – CORES. ESPAÇO FÍSICO LAVANDERIA BANHEIRO COZINHA SALA DE TELEVISÃO QUARTO DE CASAL ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal eLei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E208 QUARTO DE SOLTEIRO CHURRASQUEIRA ESCRITÓRIO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 209 MÓVEIS PIA DO BANHEIRO PRATELEIRA BERÇO CAMA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E210 ARMÁRIO GUARDA-ROUPA ESTANTE/RACK SOFÁ Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 211 CADEIRA MESA ELETRODOMÉSTICOS APARELHO DE SOM IMPRESSORA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E212 FAX COMPUTADOR CELULAR TELEFONE DVD TELEVISÃO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 213 ABAJUR LÂMPADA / LUZ CHUVEIRO ASPIRADOR ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E214 BATEDEIRA LIQUIDIFICADOR MÁQUINA DE LAVAR ROUPA FREEZER GELADEIRA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 215 FOGÃO ELETRODOMÉSTICO/ELETRICIDADE OBJETOS OBJETO COISAS ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E216 COLHER GARFO FACA PANELA BANDEJA BANDEJA XÍCARA/CAFÉ PRATO COPO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 217 ASSADEIRA JORNAL ESPELHO FLOR FOTO PORTA-RETRATO QUADRO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E218 VESTIMENTAS VESTIDO GRAVATA-BORBOLETA GRAVATA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 219 TERNO TÊNIS SAPATO SALTO CHINELO SAPATO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E220 BÍQUÍNI SUNGA SUTIÃ CALCINHA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 221 CUECA MAIÔ MACACÃO SAIA BERMUDA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E222 ROUPA SOCIAL MEIA CALÇA JEANS CACHECOL BONÉ CHAPÉU Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 223 POLO LUVA JAQUETA CASACO LÃ COTTON ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E224 CAMISA CINTO CAMISETA MANGA COMPRIDA MANGA TRÊS QUARTOS MANGA CURTA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 225 CORES CORES AMARELO AZUL BEGE BRANCO CINZA MARROM ROXO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E226 ALARANJADA PRETO VERDE OU VERDE VERMELHO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 227 ALIMENTOS E BEBIDAS COMIDA/COMER LANCHES HOT-DOG (CACHORRÃO) MISTO QUENTE ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E228 X-SALADA X-FRANGO ALMÔNDEGA AZEITONA ROXA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 229 AZEITONA VERDE OVO CARNE CARNE DE FRANGO CARNE DE PORCO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E230 CARNE DE PEIXE CHURRASCO QUEIJO RALADO MOLHO DE TOMATE Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 231 MACARRÃO PIPOCA SOPA PIZZA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E232 PASTEL VINAGRE ÓLEO/AZEITE PRESUNTO QUEIJO PÃO MANTEIGA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 233 BISCOITOS/BOLACHAS SALGADO FRITAR ASSAR COZINHAR ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E234 DOCES DOCE/AÇUCAR PIRULITO PUDIM/GELATINA CHICLETE OVO DE PÁSCOA (CHOCOLATE) Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 235 CHOCOLATE BOMBOM BALA PICOLÉ SORVETE ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E236 BOLO ^ ANIVERSÁRIO > BOLO DE ANIVERSARIO MEL CEREAIS FARINHA DE TRIGO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 237 AMENDOIM ERVILHA MILHO SOJA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E238 FEIJÃO ARROZ FEIJOADA LEGUMES/VERDURAS PEPINO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 239 PIMENTÃO VERDE PIMENTÃO VERMELHO PIMENTÃO AMARELO PIMENTA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E240 ALHO OU ALHO ABÓBORA BATATA-DOCE BATATA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 241 CENOURA TOMATE CEBOLA COUVE-FLOR ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E242 COUVE REPOLHO MANDIOCA ALFACE Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 243 FRUTAS CAQUI PÊRA JABUTICABA CANA-DE-AÇUCAR ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E244 MARACUJÁ GOIABA MELÃO MAMÃO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. Art . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 245 UVA ABACATE LIMÃO CAJU TANGERINA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E246 MORANGO MELANCIA MANGA LARANJA COCO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 247 BANANA ABACAXI PINHÃO BEBER (COPO) BEBER (GARRAFA) CACHAÇA/PINGA ÁLCOOL ÁGUA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E248 GELO BATIDA VINHO CHAMPANHE UÍSQUE CERVEJA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 249 IOGURTE COCA-COLA GUARANÁ LATA GARRAFA (REFRIGERANTE) ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E250 SUCO LEITE CAFÉ CHÁ Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 251 ANIMAIS DOMÉSTICOS E SILVESTRES – AVES – INSETOS – ANIMAIS MARINHOS E PEIXES. BOI VACA BODE PORCO ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E252 CARNEIRO/OVELHA CARACOL RATO BURRO CAVALO COELHO GATO CACHORRO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 253 COBRA JACARÉ CANGURU HIPOPÓTAMO RINOCERONTE CAMELO BÚFALO ANTA MACACO GORILA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E254 GIRAFA ELEFANTE ZEBRA LOBO VEADO URSO Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 255 PUMA TIGRE ONÇA-PINTADA SAPO TARTARUGA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E256 LEÃO MOSQUITO FORMIGA ARANHA ABELHA BORBOLETA BARATA PÁSSAROS Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 257 AVESTRUZ POMBA PICA-PAU BEIJA-FLOR ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E258 TUCANO PAVÃO PAPAGAIO CORUJA PERU GALINHA Léxico de Categorias Semâticas Ii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 259 PATO PINGUIM SIRI CARANGUEJO CAMARÃO OSTRA ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E260 FOCA GOLFINHO TUBARÃO PEIXE Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 261 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, apresentamos as principais regras morfológicas da Libras, isto é, mostramos a estrutura interna dos sinais. Esperamos que, na medida em que nos aprofundamos mais na teoria, os aspectos linguísticos da Libras vão se tor- nando mais evidentes e, qualquer dúvida que você ainda pudesse ter a respeito da Libras ser efetivamente uma língua, esteja ficando cada vez mais elucidada. Nesta quarta unidade a construção de seu vocabulário foi bastante ampliada. Trabalhamos aqui, no que se refere ao léxico, praticamente apenas com substan- tivos. Estamos fazendo mais ou menos como quando uma criança adquire sua língua natural: primeiro ela aprende palavras isoladas, particularmente os subs- tantivos, para depois aprender as ações (verbos) e a construir frases. Dentre os substantivos, as crianças aprendem primeiro a designar os elementos da famí- lia, os móveis de sua casa, os alimentos e os animais. Todavia, precisa ficar claro para você, que neste curso, estamos apenas fazendo uma introdução ao ensino da Libras. Você está adquirindo conhecimento para uma comunicação funcional em libras, que pode auxiliar em seu fazer pedagógico. Ninguém se torna fluente em outra língua com apenas algumas horas de estudo. São necessários anos. Só pra você ter uma ideia do que estamos falando, nos Estados Unidos existe uma escola que atende surdos desde a Educação Infantil até pós-graduação em nível de doutorado, chamada Gallaudet. Lá, todos os professores e funcionários são obrigados a conhecer a ASL – Língua Americana de Sinais e, apesar de já terem noções básicas dessa língua, quando iniciam seu trabalho na Gallaudet, os servidores ainda têm seis anos para ser tornarem fluentes. Se, neste prazo, eles não conseguirem, então, são demitidos. Veja bem, são seis anos! Portanto, se você pretende conhecer um pouco de Libras, pratique o máximo que você puder o que estamos lhe apresentando e procure manter contato com a comunidade surda da sua cidade. 262 Apresentamos, a seguir, uma adaptação de um fragmento do capítulo 4, intitulado Ensi- no da língua brasileira de sinais do livro Libras: conhecimento além dos sinais. METODOLOGIAS DE ENSINO DA LIBRAS Para tratar de metodologias de ensino da Libras, parece interessante conhecer antes um pouco sobre as metodologias geralmente usadas no ensino de línguas estrangeiras. Martins-Cestaro (1999) apresenta uma retrospectiva das metodologias comumente em- pregadas no ensino do francês como língua estrangeira. Nela fica evidente que, até a década de 1980, dava-se ênfase ao código da língua. A aprendizagem da língua estrangeira era vista como uma atividade intelectual em que o aprendiz deveria aprender e memorizar as regras e os exemplos, com o propósito de dominar a morfologia e a sintaxe. Os alunos recebiam e elaboravam listas exaustivas de vocabulário. As atividades propostas consistiam em exercícios de aplicação das regras de gramática. Submetiam-se os alunos ao ensino gradual de estruturas frasais por meio de exercícios estruturais. Os alunos repetiam as estruturas apresentadas na sala de aula, buscando à memorização e ao uso. O professor controlava e dirigia o comportamento linguístico dos alunos. Com base nos princípios da teoria comportamentalista, a aquisição de uma língua era considerada um processo mecânico de formação de hábitos. Ao aluno não era permitido errar. Nos últimos anos, observam-se tentativas de mudança na concepção de língua no ensi- no de línguas estrangeiras. O foco no ensino passa a ser o uso da língua, o que deu origem ao método comunicati- vo, cujo objetivo é ensinar o aluno a se comunicar (MARTINS-CESTARO, 1999). Saber se comunicar significa, como lembra Martinez (2009), ser capaz de produzir enunciados linguísticos de acordo com a intenção de comunicação (pedir permissão, por exemplo), e conforme a situação de comunicação (status, escala social do interlocutor etc.). Os exercícios formais e repetitivos deram lugar, na metodologia comunicativa, aos exercí- cios de comunicação real ou simulada, mais interativos. As atividades gramaticais estão a serviço da comunicação. Nesse sentido, a tarefa do professor não é corrigir o aluno buscando à adequação mor- fossintática, mas inseri-lo em atividades discursivas nas quais ele seja exposto à língua e não a vocábulos isolados. O professor deixa de ocupar o papel principal no processo ensino-aprendizagem,de detentor do conhecimento, para assumir o papel de “orientador”, “facilitador”, “organiza- dor” das atividades de classe. 263 Passando para as metodologias de ensino das línguas de sinais, os primeiros cursos para ensino da língua de sinais americana consistiam na apresentação de um vocabulário básico de sinais, sendo a orientação relativa aos traços não manuais a de usar muita expressão facial, como relatam Wilcox e Wilcox (2005). Com relação ao ensino da Libras, a ênfase no vocabulário ainda é bastante comum. Os aprendizes são expostos à listas de sinais; esses sinais são, depois, combinados em ora- ções propostas pelo professor, as quais seguem uma ordem de complexidade crescente, das mais simples para as mais complexas. O objetivo é que os aprendizes memorizem as estruturas trabalhadas e as usem. Como foi referido, essa forma de ensino predominou até recentemente também nas aulas de línguas estrangeiras. Mais recentemente, observam-se propostas de ensino da Libras que enfatizam o uso da língua de sinais em diálogos. O objetivo é que os aprendizes aprendam a se comunicar. Ao usar a Libras, os aprendizes terão a oportunidade não só de entender e produzir os sinais, mas também de combiná-los em estruturas frasais e em pequenos relatos. Wilcox e Wilcox lembram que, enquanto ambientes naturais aceleram a aquisição de habilidades comunicativas, os ambientes formais permitem o aprendizado de regras explícitas que o aluno pode aplicar adequadamente em situações específicas. Eles des- tacam que a visibilidade é essencial nas aulas de língua de sinais — daí a necessidade de atenção para o arranjo das cadeiras. As cadeiras em semicírculo possibilitam aos alunos visualizar e interagir com os colegas, e todos com o professor. Se, como sugere o Decreto n. 5.626, os professores forem Surdos, os alunos terão a opor- tunidade de ter contato com pessoas Surdas, podendo, assim familiarizar-se com aspec- tos culturais das comunidades de Surdos. Wilcox e Wilcox referem que as aulas do curso básico da língua de sinais Americana não oferecem espaço adequado para questões que os ouvintes frequentemente têm em relação à comunidade Surda. Essas questões, segundo Wilcox e Wilcox, precisam ser le- vantadas e respondidas provavelmente na língua nativa dos alunos. Assim, os autores sugerem que sejam oferecidas aulas nas quais os alunos estejam livres para fazer per- guntas em sua língua oral. Nesses cursos, os alunos poderão discutir suas dúvidas sobre a surdez e as pessoas Surdas, assim como sobre a língua de sinais. Cabe ressaltar que um curso básico da Libras deve possibilitar aos alunos não apenas o aprendizado da Libras, mas também um panorama que contemple o percurso histórico das línguas de sinais na educação de Surdos, aspectos culturais das comunidades Sur- das e aspectos linguísticos da Libras. Outros aspectos poderiam ser incluídos, depen- dendo da carga horária destinada à disciplina. Fonte: Pereira et al. (2011). 264 1- Na sua casa, com a ajuda de um espelho, treine a expressão facial e corporal, isso ajuda muito em Libras. 2- Estude cada conjunto de palavras apresentado: Família, Lar, Alimentos e Animais. Reproduza cada sinal ou frase sempre em frente a um espelho. Lembre-se: o sinal deve ser feito “virado” para o seu interlocutor e não para você. Assim, olhando no espelho você deve enxergar o sinal ou a frase tal como se apresenta no texto. 3- Ensine os sinais para os membros de uma família e para seus familiares. 4- Ensine as cores para pelo menos duas pessoas da sua família, amigos ou colegas de trabalho. 5- Em sua opinião, qual conjunto de sinais aprendidos nesta seção que são mais icônicos? Por quê? 6- Descreva, usando sinais, algumas receitas de alimentos, por exemplo, para um bolo, para uma feijoada etc. 7- Escreva com suas próprias palavras o que você entendeu acerca dos classificado- res. 8- Reproduza para alguns amigos, os sinais de cinco animais e de cinco frutas que você mais gosta. 9- Tente “criar” alguns classificadores. Imagine a situação como realmente acontece- ria e faça sinais icônicos. Mostre para alguém e veja se a pessoa consegue entender o que você está tentando comunicar. Compare suas “criações” com os classificadores adequados. - GATO MORDEU X CACHORRO MORDEU. - COMI COXA DE FRANGO X COMI MACARRÃO. - MATEI (REVÓLVER) X MATEI (FACA). - OPEREI OLHO X OPEREI JOELHO. - BEIJO NA MÃO X BEIJO NA BOCHECHA. - O LEÃO CORRE X ELEFANTE CORRE. - CARRO BATEU NO POSTE . - OSSO (OMBRO) FRATUROU. - EU VI O AVIÃO. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Libras: conhecimento além dos sinais Maria Cristina da Cunha Pereira; Daniel Choi; Maria Inês Vieira; Priscilla Gaspar; Ricardo Nakasato Editora: Pearson Sinopse: o livro apresenta a Libras em seus aspectos gerais e linguísticos, mas, seguindo a concepção socioantropológica da surdez, aborda de maneira clara, porém sucinta, a história da educação dos surdos, sua cultura e sua comunidade, destacando a importância da língua de sinais para a constituição das identidades surdas. Repleto de ilustrações e com texto claro e dinâmico é especialmente indicado para alunos ouvintes que estão em busca de um conhecimento geral do mundo surdo e da Libras. Você pode obter gratuitamente a Série Atualidades Pedagógicas – Educação Especial: Deficiência Auditiva, publicada pelo MEC e composta de cinco volumes, um dos quais destinado especificamente à aprendizagem da Libras, disponível em: <www.ines.gov.br/ines_livros/livro. html>. Acesso em: 20 jun. 2016. REFERÊNCIASREFERÊNCIAS FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro: Tem- po Brasileiro, 1995. GESSER, A. Libras? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.2009, p. 9). MARTINEZ, P. Didática de línguas estrangeiras. São Paulo: Parábola, 2009. MARTINS-CESTARO, S. O ensino da língua estrangeira – história e metodologia. Vide- tuR, USP, v.6, p. 45-56,1999. PEREIRA, M. C. C.; CHOI, D.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.: NAKASATO, R. Libras: conheci- mento além dos sinais. São Paulo: Pearsons Prentice Hall, 2011. QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísti- cos. Porto Alegre: Artmed, 2004. WILCOX,S.; WILCOX, P.P. Aprendendo a ver: o ensino da ASL como segunda língua. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005 Referências on-line: 1 Em: <http://www.apsurdos.org.pt/>. Acesso em: 20 jun. 2016. 266 REFERÊNCIAS 267 GABARITO As atividades de autoestudo propostas nessa unidade são práticas ou pessoais, ra- zão pela qual não apresentamos gabarito pronto. Todavia, não deixe de fazê-las, pois ajudarão a compreender melhor a Libras. U N ID A D E V Professora Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira Professora Me. Marília Ignatius Nogueira Carneiro Professora Esp. Beatriz Ignatius Nogueira Soares ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender a Libras em seus aspectos sintáticos. ■ Estudar o comportamento dos verbos. ■ Instrumentalizar os licenciandos para o estabelecimento de uma comunicação funcional com pessoas surdas. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O espaço gramatical ■ Verbos em Libras ■ Léxico de Categorias Semânticas III INTRODUÇÃO Até o momento você já foi apresentado ao mundo do surdo na Unidade I; conhe- ceu, na Unidade III, a legislação e as políticas públicas brasileiras que orientam a educação dos surdos e começou a estudar Libras a partir da Unidade III, que aborda os aspectos gerais e fonológicos desta língua, enquanto que a Unidade IV tratou dos aspectos morfológicos. Esta Unidade V, a última de nosso livro, apresenta os aspectos sintáticos da Libras, ou seja, vamos estudar sua estrutura gramatical. Na Unidade III você viu que a língua de sinais não é universal e ainda mais, que a Libras não é a tradução da Língua Portuguesa em sinais, repetindo a estru- tura gramatical. Istoseria como já foi anteriormente explicitado, Português Sinalizado. De acordo com Góes e Campos (2013, p. 65), o Português Sinalizado foi difundido na década de 1970 pela Comunicação Total (também conhecida por bimodalismo), com o “[...] objetivo de utilizar os sinais como ferramentas para o aprendizado da língua majoritária e recurso para o desenvolvimento da leitura e da escrita”. Desta forma, não se considerava a estrutura gramatical própria da Libras que, repetimos, não é uma adaptação da gramática da Língua Portuguesa. A língua de sinais brasileira é organizada espacialmente de uma forma bem complexa e apresenta possibilidades de estabelecimento de estruturas gramati- cais no espaço de diferentes formas. É importante lembrar que a Libras não pode ser estudada tendo como base a Língua Portuguesa, porque sua sintaxe é diferenciada, independente da língua oral. A ordem dos sinais na construção de um enunciado obedece regras pró- prias que refletem a forma de o surdo processar suas ideias, com base em sua percepção visual-espacial da realidade, ou seja, a sintaxe da Libras é espacial. Nesta quinta unidade você vai conhecer, de maneira geral, a sintaxe espa- cial da Libras. Também vai estudar sobre o comportamento dos verbos, além de continuar construindo seu vocabulário. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 271 ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E272 O ESPAÇO GRAMATICAL O uso do espaço e a simultaneidade (usar mais de um fonema ou morfema ao mesmo tempo) são muito importantes para a Libras, pois tornam o discurso compreensível. Falamos em espaço gramatical ou sintaxe espacial porque as relações gra- maticais são especificadas pela manipulação dos sinais no espaço. As relações ocorrem dentro de um espaço definido, na frente do corpo, em uma área limi- tada pelo topo da cabeça e que se estende até os quadris, sendo que o final de uma sentença na Libras é indicado por uma pausa. A Libras utiliza mecanismos espaciais que fazem com que a informação gra- matical se apresente simultaneamente com o sinal. Esses mecanismos envolvem dois aspectos: a incorporação, que você estudou na Unidade IV e é conside- rada um mecanismo produtivo na Libras e usada, por exemplo, para expressar localização, número, pessoa e o uso de sinais não–manuais, como movimen- tos do corpo e expressões faciais. As expressões faciais e corporais e outros mecanismos espaciais usados junto com os sinais são fundamentais nas línguas de sinais, pois determinam relações sintáticas e semânticas/pragmáticas. Há várias maneiras de estabelecer os pontos no espaço, a mais comum é a apontação explícita envolvendo referentes presentes (apontação feita à frente do sinalizado direcionada para a posição real do referente) e não-presentes (apon- tam-se pontos arbitrários no espaço). Todos os referentes estabelecidos no espaço ficam à disposição do discurso para serem referidos novamente. Além da apontação, a direção do olhar e a posição do corpo também servem para estabelecer referentes, por exemplo, no sinal de “entregar para alguém”, o olhar acompanha o movimento da mão ativa. Qualquer referência usada em uma conversa ou discurso precisa de uma localização no espaço de sinalização, que é o espaço na frente do sinalizador. Este local pode ser, de acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 127-128), indi- cado por vários mecanismos espaciais: a) Fazer o sinal em um local particular (se a forma do sinal permitir; por exemplo, o sinal casa pode acompanhar o local que o sinalizador quer indicar). O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 273 b) Direcionar a cabeça e os olhos (e talvez o corpo) em direção a uma localização particular simultaneamente com o sinal de um substantivo com a apontação para o substantivo. c) Usar a apontação ostensiva antes do sinal de um referente específico (por exemplo, apontar para o ponto ‘A’ associando esta apontação com o sinal CASA; assim o ponto ‘A’ passa a referir CASA). d) Usar um pronome demonstrativo (a apontação ostensiva) numa loca- lização particular quando a referência for óbvia; por exemplo, mostrar a casa e sinalizar apenas NOVA. AQUI ALI (LÁ) ESTE e) Usar um classificador (que representa aquele referente) em uma locali- zação particular, como, por exemplo, na frase “os carros se cruzaram”. f) Usar um verbo direcional (com concordância) incorporando os referentes previamente introduzidos no espaço. Veremos esse tema em detalhes um pouco mais adiante, porém, de maneira geral, segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 130), esses verbos concordam “[...] com o sujeito e/ou com o objeto indireto/ direto da frase”. Além disso, “[...] há uma relação entre os pontos estabelecidos ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E274 no espaço e os argumentos que estão incorporados ao verbo”. Como exemplo, citamos o verbo dar. DAR (EU D@ VOCÊ) DAR (VOCÊ D@ PARA MIM) No que se refere ao uso do sistema pronominal, os sinalizadores estabelecem os referentes associados a localização no espaço, sendo que tais referentes podem estar fisicamente presentes ou não. Depois de serem introduzidos no espaço, os pontos específicos podem ser referidos posteriormente no discurso. Quando os referentes estão presentes, os pontos no espaço são estabelecidos baseados na posição real ocupada pelo referente. Por exemplo, o sinalizador aponta para si, indicando a primeira pessoa, aponta para o interlocutor, indicando a segunda pessoa e para os outros, indicando a terceira pessoa. Quando os referentes estão ausentes da situação de enunciação, são estabeleci- dos pontos abstratos no espaço (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 130). O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 275 Como a informação linguística é recebida pelos olhos, os sinais são construídos de acordo com as possibilidades perceptuais do sistema visual humano. Logo, as relações espaciais nas línguas de sinais são muito complexas. Usuários de sinais da comunidade surda são ótimos contadores de his- tória. A expressividade da face e dos movimentos corporais, aliada às configurações de mão, cria a dinâmica do relato que o ouvinte produz com a cadência da voz. Quem domina a Libras é capaz de materializar a imagem do pensamento diante dos olhos do seu interlocutor. Dife- rentemente do ouvinte, que usa a modulação da voz e a gramática, as modalidades para produzir sentidos em sinais são visuais, espaciais e rítmicas (REILY, 2004, p. 132). Com relação à sintaxe, o uso do espaço tem papel importante, pois dentro do “espaço sinalizado” (a área em que os sinais são feitos), os sinais podem ser movi- dos de uma localização para outra, indicando diferenças no sujeito e no objeto. Isto significa que é possível estabelecer localizações no espaço para dois personagens. Por exemplo, mover a mão relacionada a um destes personagens para o outro, indicando algo, ou seja, uma relação de receptor e transmissor da mensagem. ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E276 A ideia de representar graficamente as línguas de sinais teve origem num sistema para escrever passos de dança, criado pela coreógrafa americana Valerie Sutton, que acabou despertando, em 1974, o interesse de pesqui- sadores da Língua de Sinais dinamarquesa que estavam procurando uma forma de escrever os sinais. Embora não tenha sido o primeiro sistema de escrita para línguas gestuais, o SignWriting foi oprimeiro que conseguiu representar adequadamente as expressões faciais e as nuances de postu- ra do sinalizador. O SignWriting pode registrar qualquer língua de sinais do mundo sem passar pela tradução da língua falada. Cada língua de sinais vai adaptá-lo a sua própria ortografia. Além disso, o SignWriting possui um alfa- beto que pode ser comparado com o alfabeto usado para escrever qualquer língua verbal que seja expressa no alfabeto romano. Existe um aplicativo denominado EditSW gratuito para esta escrita. Exemplo: Fonte: Nogueira, Carneiro e Nogueira (2012). O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 277 SISTEMA PRONOMINAL Alguns aspectos do sistema pronominal da Libras, como os pronomes pessoais, por exemplo, foram apresentados anteriormente, quando estudamos a morfo- logia desta língua, particularmente no que se refere à incorporação de número. Entretanto, optamos por reapresentá-los neste momento, como forma de dar unidade ao estudo dos pronomes. a) Pronomes pessoais: a Libras possui um sistema pronominal para repre- sentar as seguintes pessoas do discurso: VOCÊ EU ELE/ELA NÓS TODOS ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E278 VOCÊS ELES/ELAS No singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo; o que difere é a orientação da mão. No plural, o formato do numeral – dois, três, qua- tro, até nove – apontando para pessoas ou lugares a quem se fez refe- rência é interpretado como nós, vocês ou eles, dois, três, quatro, até nove (PEREIRA et al, 2011, p. 80). Primeira pessoa ■ Singular: EU - apontar para o peito do enunciador (a pessoa que fala). ■ Dual: NÓS – 2 O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 279 ■ Trial: NÓS – 3 ■ Quatrial: NÓS – 4 ■ Plural: NÓS - GRUPO NÓS - TOD@S Segunda pessoa: A lógica aqui é a mesma do caso da primeira pessoa, para o dual, trial etc. ■ Singular: VOCÊ - apontar para o interlocutor (a pessoa com quem se fala). ■ Dual: VOCÊS – 2 ■ Trial: VOCÊS - 3 ■ Quatrial: VOCÊS - 4 ■ Plural: VOCÊS - GRUPO VOCÊS - TOD@S ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E280 Terceira pessoa: Mesma forma das anteriores. ■ Singular: EL@ - apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencional. ■ Dual: EL@S - 2 ■ Trial: EL@S - 3 ■ Quatrial: EL@S - 4 ■ Plural: EL@S - GRUPO EL@S - TOD@S Quando se quer falar de uma terceira pessoa presente, mas deseja-se ser discreto, por educação, não se aponta para essa pessoa diretamente: ou se faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça em direção à pessoa mencionada ou aponta-se para a palma da mão (voltada para a direção onde se encontra a pessoa referida). a. Pronomes demonstrativos: na Libras os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar tem o mesmo sinal, sendo diferenciados no contexto. Configuração de mão [G]. ■ EST@/AQUI - olhar para o lugar apontado, perto da 1ª pessoa. O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 281 ■ ESS@/AÍ - olhar para o lugar apontado, perto da 2ª pessoa. ■ AQUEL@/LÁ - olhar para o lugar distante apontado. Tipos de referentes: ■ Referentes presentes. Ex.: EU, VOCÊ, EL@ etc. ■ Referentes ausentes com localizações reais. Ex.: MARINGÁ, PREFEITURA, EUROPA etc. Referentes ausentes sem localização. b. Pronomes possessivos: também não possuem marca para gênero e estão relacionados às pessoas do discurso e não à coisa possuída, como acon- tece em Português. Exemplos: EU: ME@ (batendo no peito do emissor) ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E282 VOCÊ : TE@ (movimento em direção à pessoa referida) ELE / ELA : SE@ (movimento em direção à pessoa referida) Observação: para os possessivos no dual, trial, quadrial e plural (grupo) são usa- dos os pronomes pessoais correspondentes. NOSSO/NOSSA SEUS/SUAS DELES/DELAS O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 283 c. Pronomes indefinidos: ■ NINGUÉM/NADA (1) (mãos abertas esfregando-se uma na outra): é usado para pessoas e coisas. ■ ALGUM, ALGUÉM ■ QUALQUER Pronomes interrogativos: os pronomes interrogativos QUE, QUEM, ONDE etc. se caracterizam, essencialmente, pela expressão facial interrogativa feita simul- taneamente ao pronome. ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E284 ■ O QUÊ? ■ QUAL? ■ POR QUÊ? ■ COMO? O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 285 ■ QUE / QUEM? (Usados no início da frase.) ■ QUEM – QUAL PESSOA? DE QUEM? (Usados no final da frase) ■ QUANDO: a pergunta com quando está relacionada a um advérbio de tempo (hoje, amanhã, ontem) ou a um dia de semana específico. Exemplos: EL@ VIAJAR RIO QUANDO-PASSADO (interrogação) EL@ VIAJAR RIO QUANDO-FUTURO (interrogação) EU CONVIDAR VOCÊ VIR MINH@ ESCOLA. VOCÊ PODER D-I-A (interrogação) QUANDO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E286 ■ QUE-HORAS? / QUANTAS-HORAS? Para se referir às horas aponta- -se para o pulso e relaciona-se o numeral para a quantidade desejada. Exemplos: CURSO COMEÇAR QUE-HORAS AQUI (interrogação) Resposta: CURSO COMEÇAR HORAS DUAS. Para se referir a tempo gasto na realização de uma atividade, sinaliza-se um círculo ao redor do rosto, seguido da expressão facial adequada. Ex.: VIAJAR RIO-DE-JANEIRO QUANTAS-HORAS (interrogação) POR QUE / PORQUE Como não há diferença entre ambos, o contexto é que sugere, por meio das expressões faciais e corporais, quando estão sendo usados em frases interroga- tivas ou explicativas. ■ ONDE? EM QUE LUGAR? ONDE O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 287 MAS OU TALVEZ SE ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E288 ORDEM DOS SINAIS EM UMA FRASE Quadros e Karnopp (2004, p.1 333) estabelecem que a ordem das palavras [...] é um conceito básico relacionado com a estrutura da frase de uma língua. O fato de que as línguas podem variar suas ordenações das palavras apresenta um papel significante nas análises linguísticas” e acrescentam que existem seis combinações possíveis de sujeito (S), objeto (O) e verbo (V), sendo que algumas são mais frequentes do que outras. Veja os exemplos: 1. Os alunos usam uniformes > SVO 2. Os alunos uniformes usam > SOV 3. Uniformes os alunos usam > OSV 4. Uniformes usam os alunos > OVS 5. Usam uniformes os alunos > VOS 6. Usam os alunos uniformes > VSO Todas essas construções estão corretas, entretanto, a ordem SVO, da frase (1) é a mais comum, seguida da ordem SOB (2) e VSO (6), embora esta última esteja presente mais na forma culta da língua. De acordo ainda com Quadros e Karnopp( 2004, p. 135) a Libras “[...] apre- senta certa flexibilidade na ordem das palavras”, não sendo portanto trivial o estabelecimento de uma ordem básica para as frases. Com relação à ordem da frase na Língua Brasileira de Sinais, de acordo com Quadros eKarnopp (2004), a construção SVO (sujeito – verbo – objeto) é a mais comum, embora sejam encontradas também construções do tipo SOV e OSV. Entretanto, nossa experiência pessoal nos permite afirmar que entre os sujeitos surdos não letrados, a ordem OSV, em frases como: CARRO VOCÊ TER é muito utilizada. O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 289 Outra observação importante em relação à ordem das frases é que os advér- bios temporais e de frequência não podem interromper uma relação entre o verbo e o objeto. Os advérbios temporais podem estar antes ou depois da ora- ção (por exemplo: João comprar carro amanhã ou Amanhã João comprar carro). Os advérbios de frequência podem estar antes ou depois do complemento (por exemplo: Eu bebo leite algumas vezes ou Eu algumas vezes bebo leite). TIPOS DE FRASES As frases em Libras, a exemplo da Língua Portuguesa podem ser afirmativas, exclamativas, interrogativas e negativas. Como não existe entonação (ou modu- lação) em Libras, que é o que especifica as diferenças entre frases afirmativas, exclamativas, imperativas e interrogativas na Língua Portuguesa (a modulação do som), são as expressões faciais e corporais que estabelecem os diferentes tipos de frases em Libras. Assim, as expressões faciais são essenciais para determinar o tipo de frase, isto é, se a frase é afirmativa, a expressão facial é neutra. Para frases exclamati- vas, as sobrancelhas devem ficar levantadas e acompanha um ligeiro movimento da cabeça inclinando-a para cima e para baixo. AFIRMATIVA – expressão facial é Neutra. ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E290 EXCLAMATIVA: sobrancelhas levantadas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima e para baixo. INTERROGATIVA: sobrancelhas franzidas e um ligeiro movimento da cabeça inclinando-se para cima. e/ou Frase interrogativa – a cabeça que se movimenta para cima. As estruturas inter- rogativas são constituídas a partir das seguintes propriedades: ■ Os elementos interrogativos (o que, quem, como, onde etc...) podem ser movidos para o final da sentença ou serem mantidos na posição original. Exemplo: João gosta de quem? ou Quem gosta de Maria? ■ “O que?” com a boca como “U” com a cabeça movimenta cima também. O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 291 NEGATIVA: ela pode ocorrer por meio de duas maneiras: alterando o parâme- tro movimento (por exemplo: ter e não ter) e incorporando a expressão facial ao sinal sem alterar nenhum parâmetro, mas em qualquer tipo de negativa, a expressão facial é importante, como sobrancelhas levemente franzidas. Negação sem alterar nenhum parâmetro: com o rosto balançando ou o dedo (significando não), por exemplo: conhecer e não conhecer; pensar e não pen- sar; casar e não casar e/ou Alterando parâmetros: o sinal já tem a negação, como por exemplo: ter e não ter; gostar e não gostar; querer e não querer. Não precisamos falar NÃO VER por- que o sinal é diferente. Observe. VER ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E292 VER NÃO VER QUER NÃO QUER SABER NÃO SABER O Espaço Gramatical Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 293 PODE NÃO PODE TER NÃO TER ■ IMPERATIVA: a ordem é dada pelo sinal convencional acompanhado de expressão séria ou zangada: Saia! Cala a boca! Vá embora! As expressões faciais são essenciais também para pronomes pessoais, demons- trativos e advérbios de lugar, mas são mais importantes ainda para os pronomes interrogativos, que se caracterizam, essencialmente, pela expressão facial inter- rogativa feita simultaneamente ao pronome. Para se referir a tempo gasto na realização de uma atividade, por exemplo, sinaliza-se um círculo ao redor do rosto, seguido da expressão facial adequada. Ex.: VIAJAR RIO-DE-JANEIRO QUANTAS-HORAS (interrogação) ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E294 No caso dos pronomes POR QUE/PORQUE, como não há diferença entre ambos, o contexto é que sugere, por meio das expressões faciais e corporais, quando estão sendo usados em frases interrogativas ou explicativas. As expressões faciais e corporais são também responsáveis pela modulação de intensidade e advérbios de modo, muitas vezes acompanhadas da repetição exagerada do sinal. O advérbio muito pode ser expresso por meio das expressões faciais (inflar as bochechas) e corporal, pelo sinal de muito, ou por uma modi- ficação no movimento do sinal. Enfim, esses são alguns exemplos das modulações de sinais pelas expres- sões faciais na Libras. A partir da análise desses parâmetros, podemos perceber que as lín- guas orais e as línguas de sinais são similares em seu nível estrutural, os seja, são formadas a partir de unidades simples que, combinadas, formam unidades mais complexas. [...] Diferem quanto à forma como as combinações das unidades são construídas. Enquanto as línguas de sinais, de uma maneira geral (mas não exclusiva!), incorporam as uni- dades simultaneamente: as línguas orais tendem a organizá-las sequen- cialmente/linearmente (GESSER, 2009, p. 19). Os sinais são classificados em categorias gramaticais, entre outras, como substan- tivos, advérbios, adjetivos, verbos, pronomes, com as três últimas apresentando particularidades em relação ao uso do espaço de sinalização. Os adjetivos não recebem marcação de gênero nem de número, mas podem variar em intensidade, com a utilização de componentes não manuais, como no exemplo a seguir, para rico, muito rico, milionário, em que o sinal é o mesmo e o que muda são as expressões faciais. RICO RIQUÍSSIMO MILIONÁRIO Verbos em Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 295 Os adjetivos são, em sua maioria, descritivos e, por expressarem características do objeto, em geral, reproduzem a qualidade descrita, “desenhando-a no ar ou mostrando-a no objeto ou no corpo do emissor”. Assim, para dizer que alguém está vestindo uma camisa listrada, o emissor desenhará listras no próprio corpo (PEREIRA et al., p. 78). Acesse e veja o material que preparamos especialmen- te para você! VERBOS EM LIBRAS Os verbos na Libras dividem-se praticamente em três classes: verbos simples, verbos com concordância ou direcionais e verbos espaciais. Os verbos simples utilizam apenas o espaço para a elaboração do sinal, ou seja, o ponto de articulação e movimento. Os verbos simples não se flexionam em pessoa e número e não aceitam afi- xos locativos, por exemplo, os verbos conhecer, amar, aprender. CONHECER AMAR https://vimeo.com/172599884/c2181bd0e5 ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E296 Os verbos com concordância flexionam-se em pessoa, número e aspecto, mas não incorporam afixos locativos, por exemplo, os verbos responder, perguntar e dar. DAR (EU D@ VOCÊ) DAR (VOCÊ D@ PARA MIM) RESPONDER (EU RESPOND@) Verbos em Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 297 RESPONDER (VOCÊ RESPOND@ PARA MIM) Os verbos espaciais são os que têm afixos locativos, por exemplo, colocar, ir e che- gar e utilizam o espaço para isso. Isso significa que ao sinal do verbo é acrescentado, por exemplo, o que foi colocado; ou para onde sevai. Exemplos; viajar, ir e chegar. IR Quadros e Karnopp (2004, p. 205) acrescentam ainda, os verbos “manuais” como aqueles que envolvem uma configuração de mão em que se representa estar segurando um objeto na mão. Esses verbos sempre finalizam a frase. “Primeiro situa-se sobre o que se está falando e, em seguida, define-se que tipo de verbo manual será usado, como nas construções tópico-comentário”. Exemplo: eu pintei no caderno com o lápis, ficaria assim em Libras: Caderno pintar- lápis. Pintar com lápis é um verbo manual. Flexão de número é realizada, normalmente, pela repetição do movimento (exemplo: João entregar livro para alguém, para duas pessoas, para três, para todos). A flexão de aspecto está relacionada com as formas, movimento e veloci- dade (por exemplo: cuidar incessantemente, cuidar de forma ininterrupta, cuidar ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E298 de maneira habitual). Têm-se várias dimensões descritas sobre a forma: direção/ eu entregar você (uso do espaço), velocidade/diariamente. A Libras usa também modulações de olhar e expressões faciais-corporais para transmitir a intensidade do verbo apresentado e sua significação no contexto. O verbo olhar, por exem- plo, pode ser representado rapidamente para dizer que a pessoa apenas avistou ou longamente, significando que a pessoa olhou com atenção. A marcação dos tempos verbais em Libras se resume a presente, passado e futuro, podendo ser enfatizados, caso seja presente, os sinais de agora ou já e, em seguida, o sinal do verbo que se deseja enunciar; caso seja passado, utiliza- -se os sinais de ontem ou muito tempo atrás, seguido do sinal do verbo e, caso seja futuro, sinaliza-se amanhã ou um futuro mais distante, seguido do sinal do verbo. A ordem pode ser invertida em qualquer dos casos, sinalizando-se pri- meiro o verbo e depois o advérbio de tempo. FUTURO AMANHÃ PRESENTE Verbos em Libras Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 299 HOJE/AGORA FAZ TEMPO ONTEM JÁ PASSADO Existe também em Libras o gerúndio, que é sempre um sinal composto do sinal do verbo, acrescido do sinal para “presente” ou “vivo”, para indicar que a ação está acontecendo naquele momento. Também temos as modulações de grau e de intensidade, por meio das expressões faciais, que podem ser consideradas gramaticais. Essas marcações são chamadas de marcações não-manuais. A sinalização é sempre acompanhada pela posição da cabeça, por movimentos da cabeça, pela postura do corpo e, principalmente, pela expressão facial. ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E300 Muitos sinais apresentam como traço diferenciador a expressão facial e a cor- poral em sua configuração, como por exemplo, os sinais de ALEGRE e de TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha, como LADRÃO e ATO SEXUAL. A expressão facial e corporal pode indicar alegria, tristeza, raiva, amor, encan- tamento entre outros sentimentos, dando mais sentido à Libras e, até mesmo determinando o significado de um sinal. Por exemplo: o dedo indicador em [G] sobre a boca, com a expressão facial calma e serena significa silêncio. O mesmo sinal usado com o movimento mais rápido e com a expressão zangada significa uma ordem severa: Cale a boca! Outro exemplo: a mão aberta, com o movi- mento lento e a expressão serena, significa calma; o mesmo sinal com movimento brusco e com expressão séria significa para. LÉXICO DE CATEGORIAS SEMÂNTICAS III 1. Corpo Humano, Higiene Corporal, Saúde, Deficiências, Emoções e Religiões. A maioria dos sinais referentes ao corpo humano são icônicos e classificadores, portanto, são de fácil compreensão. CORPO HUMANO VEIA / ARTÉRIA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 301 SANGUE CÉREBRO OSSO FÍGADO BEXIGA PULMÃO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E302 CORAÇÃO RIM INTESTINO DELGADO ÂNUS ESTÔMAGO ESÔFAGO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 303 LARINGE EREÇÃO PÊNIS ESPERMATOZÓIDE PELOS TESTÍCULOS ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E304 GRÁVIDA ÚTERO OVÁRIOS VAGINA SEIO TROMPAS Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 305 MEMBROS SUPERIORES OMBRO BRAÇO COTOVELO MÃO PULSO DORSO UNHA DEDO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E306 MEMBROS INFERIORES PÉ PERNA QUADRIL COXA NÁDEGAS Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 307 PESCOÇO CABEÇA QUEIXO BOCHECHA ORELHA LÍNGUA DENTE NARIZ BOCA SOBRANCELHA CABELO OLHO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E308 HIGIENE HIGIENE ESCOVA DE DENTES PASTA ESCOVA DE CABELO TOALHA DESODORANTE SABONETE Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 309 SHAMPOO PERFUME OU PERFUME BELEZA RÍMEL BATOM PÓ DE ARROZ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E310 SAÚDE SAÚDE DOENTE - DOENÇA VACINA REMÉDIO DOR DEPRESSÃO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 311 RAIO-X ENJOO FRATURA DOR DE BARRIGA POMADA DOR DE CABEÇA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E312 CÂNCER AIDS CÓLICA VÔMITO TOSSE GRIPE FEBRE Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 313 DEFICIÊNCIA/PESSOA COM DEFICIÊNCIA DEFICIENTE CEGUEIRA/CEG@ CEG@ DOWN MENTAL CADEIRA DE RODAS AUTISTA APAE ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E314 SURDEZ/SURD@ SENTIMENTOS E EMOÇÕES EMOÇÃO SENTIR/SENTIMENTO MATURIDADE/MADUR@ TEIMOSIA/TEIMOS@ Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 315 SORTE/SORTUD@ COITAD@ SORRIDENTE REBELDIA (REBELDE) QUIET@ PREGUIÇA/PREGUIÇOS@ SONOLENT@ FAMINTO /FOME ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E316 SEDENT@/SEDE MULHERENGO CARINHO/CARINHOS@ LIMPEZA/LIMP@ INOCÊNCIA/INOCENTE LIBERDADE/INDEPENDENTE/LIVRE Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P enal e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 317 HUMILDADE/HUMILDE JUSTO/HONESTIDADE/HONEST@ FOFOCA EDUCAD@ FOFOCA / FOFOQUEIR@ CHAT@ METID@/ESNOBE CONFUSÃO/CONFUS@ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E318 EGOÍSTA CHORAR ENGRAÇAD@/PIADA BOB@ CRIANÇA CORAGEM VERDADE Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 319 CALMA/ACALMAR BARULHO BRUTO CALM@ IDIOTA VINGANÇA/VINGATIV@ FINGIR / FINGIMENTO/FINGID@ RESPONSABILIDADE/ RESPONSÁVEL ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E320 FALS@ / TRAIÇÃO PIOR SURPRESA/SURPRES@ MELHOR SUSTO/ASSUSTAD@ CONFIANÇA/CONFIAR SÓ /SOZINH@/ APENAS SOLIDÃO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 321 DESPREZAR / DEIXA PRA LÁ /DESPREZAD@ PAZ PROBLEMA PREOCUPAÇÃO/PREO- CUPAD@ ANSIEDADE PACIÊNCIA ARREPENDIMENTO MEDO GUERRA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E322 CURIOSIDADE INTERESSANTE CONFIAR / ACREDITAR CULPA TIMID@ TIMID@/VERGONHA BRAV@ RAIVA ZANGAD@/BRAV@ CIÚMES Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 323 DÓ/PENA INVEJA MÁGOA TRISTE/TRISTEZA NERVOS@ ORGULHOS@/ VAIDOS@ GRATIDÃO MIMAD@ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E324 AMADO FELIZ DESEJO / VONTADE PRAZER / ORGULHO ALEGRE EXCITANTE IRA (MUITA RAIVA) Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 325 RELIGIÃO RELIGIÃO DEUS ORAR ORAÇÃO / REZAR PROFETA FÉ RESSURREIÇÃO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E326 PECADO DIABO ALTAR ALMA JESUS BÍBLIA (PALAVRA DE DEUS) Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 327 JUDEUS / HEBREUS BATISTA LUTERANA MACUMBA ADVENTISTA TESTEMUNHA DE JEOVÁ PROTESTANTE/CRENTE PASTOR BATISMO (CRENTE) ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E328 ATEU BISPO FREIRA ESPIRITO SANTO CATÓLIC@ ÍDOLOS ANJO SANT@ Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 329 BUDA PAPA PADRE MARIA BATISMO (CATÓLICA) COMUNGAR CRUZ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E330 IGREJA ADJETIVOS E ADVÉRBIOS USADOS NO COTIDIANO VAZI@ CHEI@ (SATISFEIT@) Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 331 APERTAD@ PEQUEN@ GRANDE PRES@ DEIXAR OU LIBERDADE QUENTE GELAD@ / FRI@ POBRE RIC@ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E332 VELH@ NOV@ NOV@ / JOVEM / ADOLESCENTE POUCO MUITO PERTINHO / PERTÍSSIMO PERTO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 333 MUITO LONGE / LONGE DEMAIS LONGE SEC@ MOLHAD@ SUJO LIMPO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E334 PESAD@ LEVE PRIMEIR@ ULTIM@ DIFERENTE IGUAL OU IGUAL SORTE AZAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 335 MAGR@ GORD@ FRAC@ FORTE OU FORTE ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E336 MOLE DUR@ DEPRESSA / RAPID@ DEVAGAR FÁCIL FÁCIL DIFÍCIL INTELIGENTE Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 337 COMPRID@ CURT@ CLAR@ ESCUR@ ERRAD@ CERT@ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E338 BARAT@ CAR@ BOM / BOA FEI@ BONIT@ INIMIG@ Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 339 MACI@ ÁSPER@ BAIX@ ALT@ OU ALT@ EDUCAÇÃO: ESCOLA – NÍVEIS DE ENSINO - ESPAÇO FÍSICO – DISCIPLINAS – MATERIAL ECOLAR ESCOLA ALUN@ ESTUDAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E340 FACULDADE UNIVERSIDADE DOUTORADO MESTRADO PÓS-GRADUAÇÃO 1º GRAU 2º GRAU 3º GRAU OU 1º GRAU 2º GRAU 3º GRAU Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 341 ANO/SÉRIE 1ºANO 2º ANO 3º ANO 4ºANO 5º ANO 6º ANO 7ºANO 8º ANO 9º ANO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E342 APROVAÇÃO REPROVAÇÃO REUNIÃO CERTIFICADO FORMATURA CURSO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 343 NOTA VESTIBULAR REDAÇÃO PROVA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E344 ESPAÇO FÍSICO COMPUTAÇÃO LABORATÓRIO SALA DE AULA BIBLIOTECA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 345 DISCIPLINAS DISCIPLINA ESTUDOS RELIGIOSOS FILOSOFIA ESPANHOL ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E346 INGLÊS FRANCÊS QUÍMICA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA EDUCAÇÃO FÍSICA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 347 HISTÓRIA OU HISTÓRIA SOCIOLOGIA GEOGRAFIA OUGEOGRAFIA BIOLOGIA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E348 CIÊNCIAS PORTUGUÊS MATEMÁTICA MULTIPLICAÇÃO DIVISÃO SUBTRAÇÃO ADIÇÃO DESCONTO SOMA (CALCULAR) Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 349 MATERIAL ESCOLAR UNIFORME MOCHILA APONTADOR TESOURA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E350 COLA LÁPIS LÁPIS DE COR RÉGUA LIVRO / REVISTA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 351 CADERNO CANETA BORRACHA Acesse e veja o material que preparamos especial- mente para você! https://vimeo.com/172586869/ddf65d5d57 ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E352 ATIVIDADES HUMANAS: ESPORTE E PROFISSÕES ESPORTE CAMPO SALÃO CAMPO FUTEBOL CAMPEONATOS CORRER NATAÇÃO BASQUETE VÔLEI Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 353 PROFISSÕES FARMACÊUTIC@ ENFERMEIR@ BANCÁRI@ ENGENHEIR@ JORNALIST@ FOTÓGRAF@ ATOR/ATRIZ MONITOR@ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E354 INSTRUTOR DE LIBRAS DENTISTA INFORMÁTICA AEROMOÇA MOTORISTA JUIZ ADVOGAD@ Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 355 CANTOR/CANTORA CHEFE CONTABILIDADE ADMINISTRAÇÃO MÉDIC@ INTÉRPRETE ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E356 ENCANADOR MECÂNIC@ EMPREGAD@ DOMÉSTIC@ Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 357 PINTOR DE PAREDES COMPRADOR VENDEDOR AÇOUGUEIR@ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E358 CARTEIR@ PADEIRO GARÇOM/GARÇONETE PEDREIR@ FAXINEIR@ Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 359 SECRETÁRI@ BOMBEIRO POLICIAL DIRETORIA FONOAUDIÓLOG@ ASSISTENTE SOCIAL PSICOLOGIA PROFESSOR TRABALHO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E360 MEIOS DE TRANSPORTES, ATIVIDADES E LOCAIS PÚBLICOS MEIOS DE TRANSPORTES FOGUETE TRATOR ÔNIBUS ARTICULADO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 361 CARROÇA ÔNIBUS TÁXI METRÔ HELICÓPTERO TREM ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E362 BARCO NAVIO CAMINHÃO BICICLETA AVIÃO MOTO CARRO CINEMA TEATRO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 363 PRÉDIO OU PRÉDIO ACADEMIA ASSOCIAÇÃO FENEIS DEE (DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL) SEED (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO) ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E364 BAR ZOOLÓGICO PARQUE DE EXPOSIÇÃO CEMITÉRIO SHOPPING LOJA EMPRESA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 365 FÁBRICA CIRCO FEIRA GOVERNO PREFEITURA AEROPORTO PADARIA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E366 SORVETERIA LANCHONETE BANCO RESTAURANTE BIBLIOTECA RODOVIÁRIA CORREIO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 367 HOSPITAL ENFERMARIA FÓRUM AÇOUGUE IGREJA FARMÁCIA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E368 SUPERMERCADO HOTEL CADEIA BANCOS E ECONOMIA ITAÚ SANTANDER Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 369 SICREDI BANCO REAL BRADESCO BANCO DO BRASIL CAIXA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E370 LUCRO PORCENTAGEM JUROS BANCO COMPRAR PAGAR ALUGAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 371 PARCELAR PARCELA SALÁRIO APOSENTADO APOSENTAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E372 RECEBER CÉDULAS CARTÃO MAGNÉTICO CHEQUE CENTAVOS REAL DÓLAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 373 DINHEIRO ECONOMIA LOCALIZAÇÃO: PONTOS CARDEAIS- ESTADOS BRASILEIROS E SUAS CAPITAIS PONTOS CARDEAIS OESTE LESTE NORTE SUL ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E374 ESTADOS BRASILEIROS E CAPITAIS BRASIL BRASÍLIA ESTADO CAPITAL CIDADE REGIÃO NORTE RORAIMA RONDONIA MANAUS / AMAZONAS Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 375 ACRE AMAPÁ PARÁ REGIÃO NORDESTE PIAUÍ PARAÍBA MARANHÃO RIO GRANDE DO NORTE SERGIPE / ARACAJU FORTALEZA / CEARÁ ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E376 ALAGOAS PERNAMBUCO / RECIFE SALVADOR/BAHIA REGIÃO SUL FLORIANOPÓLIS /SC PORTO ALEGRE RIO GRANDE DO SUL Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 377 CURITIBA PARANÁ REGIÃO SUDESTE RIO DE JANEIRO / RIO DE JANEIRO RIO DE JANEIRO / RIO DE JANEIRO ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E378 SÃO PAULO / SÃO PAULO MINAS GERAIS BELO HORIZONTE ESPIRITO SANTO VITÓRIA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 379 REGIÃO CENTRO-OESTE MATO GROSSO DO SUL MATO GROSSO GOIÂNIA / GOIÁS ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N ID A D E380 MUNDO: CONTINENTES, PAÍSES E CAPITAIS CONTINENTES ÁSIA EUROPA AMÉRICA AMÉRICA CENTRAL AMÉRICA DO SUL AMÉRICA DO NORTE AUSTRÁLIA/OCEANIA ÁFRICA PAÍS/NAÇÃO Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 381 ALGUNS PAÍSES SUL-AMERICANOS VENEZUELA URUGUAI PERU PARAGUAI COLÔMBIA CHILE BOLÍVIA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E382 ARGENTINA AMÉRICA DO NORTE MÉXICO ESTADOS UNIDOS CANADÁ Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 383 ALGUNS PAÍSES EUROPEUS SUIÇA ITÁLIA PORTUGAL SUÉCIA INGLATERRA RÚSSIA FRANÇA NORUEGA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E384 HOLANDA ESPANHA ESPANHA DINAMARCA ESCÓCIA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 385 ALEMANHA ÁFRICA EGITO ISRAEL ÁSIA CHINA ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E386 JAPÃO ARÁBIA ÍNDIA Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 387 PRINCIPAIS VERBOS USADOS NO COTIDIANO ABRIR (JANELA) FECHAR (JANELA) APRENDER ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E388 ACHAR ANTECIPAR ATRASAR ANDAR/APROVEITAR ANDAR (ANIMAL) AJUDAR AJUDAR AGRADECER Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 389 APAGAR ACENDER AJOELHAR ACORDAR ENCONTRAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E390 ABRIR (CONSERVA) ABRIR (PORTA) FECHAR (PORTA) ACUSAR ACONTECER OU ACONTECEU ADMIRAR AFASTAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 391 ACOMPANHAR APROVEITAR AGUENTAR ACREDITAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E392 ACONSELHAR ACEITAR ACOSTUMAR ABANDONAR / DESISTIR COMPRAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 393 CONVERSAR COMER CHUTAR CHEIRAR / RESPIRAR CHEGAR CANTAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E394 CAIR BRINCAR BRIGAR (BATER) BRIGAR (DISCUSSÃO) BEIJAR (BOCHECHA) BEIJAR (BOCA) Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 395 BEBER (ÁGUA) BEBER (PINGA) BEBER (BEBIDA) APRESENTAR / CONVI- DAR MOSTRAR / APRESEN- TAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E396 COMEMORAR (FESTA) PARABENIZAR ENTENDER COMEÇAR COMEÇAR PRENDER (CADEIA) CANSAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 397 CONFUNDIR COMBINAR (ROUPAS) COMBINAR (MARCAR) CURAR / SUMIR CUIDADO CUIDAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E398 PROTEGER CANTAR CORRER DAR DAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 399 DANÇAR IR PRECISAR AGRUPAR FALAR FALAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E400 FUNDAR / PLANTAR INVENTAR (TER IDEIAS) COSTURAR (MÁQUINA) COSTURAR (BORDAR) COZINHAR PINTAR QUADRO / PAPEL Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 401 COPIAR DESCULPAR DESCANSAR FICAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E402 ERRAR CONTINUAR ENSINAR VIGIAR PEDIR/POR FAVOR DECORAR DISTRAIR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 403 DIMINUIR/DECRESCER DESENVOLVER/CRESCER DUVIDAR DORMIR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E404 DORMIR DÍVIDA DEVER (DE TER DÍVIDA) DEVER (PRECISAR) SEGUIR / GUIA DISCUTIR PULAR SENTAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 405 FICAR EM PÉ / LEVANTAR ESTAR FAZER DESCONFIAR FALTAR (ESTAR AUSENTE - PESSOA) ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E406 FALTAR (FALTAR ALGUMA COISA) EXPLICAR TENTAR / EXPERIMENTAR EVITAR ESTUDAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 407 ESPIAR / TRAIR VIVER ESQUECER ESPERAR ESCONDER ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E408 ESCREVER MANDAR RESPONDER PESQUISAR PERGUNTAR PRECISAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 409 PENSAR PENDURAR POR FAVOR - PEDIR LICENÇA - PEDIR PEDIR PAQUERAR PASSEAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E410 OU PARAR PARAR NÃO OUVIR OUVIR OPINAR VER OLHAR OBEDECER Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 411 NASCER NADAR NAMORAR BUSCAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E412 TRAZER LEVAR MORRER MORAR ESMOLAR MATAR (FACA) CONVIDAR/APRESENTAR ASSAR LIMPAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 413 LER LÁBIOS LER CASAR INTERROMPER INFLUENCIAR MENTIR GRITAR SONHAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de1998. VU N I D A D E414 GOSTAR NÃO GOSTAR GASTAR CONSEGUIR FOTOGRAFAR Léxico de Categorias Semânticas Iii Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 415 RECEBER FUGIR INTEGRAR ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E416 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta quinta unidade você estudou a sintaxe dos verbos e a modulação de sinais além do léxico relacionado à educação e outros temas que talvez não seja parte integrante de sua conversação cotidiana, mas que são essenciais para uma comu- nicação funcional eficiente em sala de aula. A Língua Brasileira de Sinais é uma língua que tem ganhado espaço na socie- dade em função da contínua luta dos movimentos surdos em prol de seus direitos. Uma luta que vem desde muito tempo, mas que se concretiza, no Brasil, parti- cularmente, depois da criação da Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos - FENEIDA, em 1986, entidade que, já no ano seguinte, em 1987, adotando o modelo das suas congêneres em outros países, muda seu nome para Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – FENEIS. Esta instituição foi criada com o objetivo de preencher a lacuna no contexto político, social, cultural e educacional que se apresentava (e se apresenta, ainda), aqui no Brasil, no campo da política dos Surdos. Capitaneada pela FENEIS, há muitos anos o povo surdo luta contra os padrões de cidadão impostos pela sociedade majoritária. É uma luta de muitos anos pelo reconhecimento de que o povo surdo é um povo com cultura e língua própria, possuidor de especificidades linguísticas, sociais e culturais. Atualmente, o povo surdo conquistou o direito de usar sua língua que possi- bilita não só a comunicação, mas também sua efetiva participação na sociedade. Mas, para que esta mudança se efetive, é necessário que cada vez mais pes- soas conheçam e utilizem a Libras. Faça a sua parte! Considerando tudo o que você estudou, nas cinco unidades de nosso livro texto, quais são, em sua opinião, as principais justificativas para a inserção da Libras como componente curricular obrigatória em seu curso? 417 Neste livro texto, frisamos o tempo todo que a Libras é uma língua, capaz de cumprir to- das as funções de uma língua oral, inclusive, a de produções literárias. Por isso, apresen- tamos como leitura complementar, um fragmento adaptado de uma apostila destinada aos alunos do Curso de Licenciatura Letras/Libras, sobre Literatura Surda, e autoria da professora Lodenir Karnopp. LITERATURA SURDA Enquanto a Libras não era reconhecida ou enquanto era proibida de ser usada nas esco- las, também não existiam publicações ou o reconhecimento de uma cultura surda ou de uma literatura surda. O ensino priorizava o aprendizado da fala e da língua portuguesa. Nas escolas, não havia espaço nem aceitação para as produções literárias em sinais. No entanto, acreditamos que entre os surdos circulavam histórias sinalizadas, piadas, po- emas, histórias de vida, mas em espaços que ficavam longe do controle daqueles que desprestigiavam a língua de sinais. Em geral, naqueles contextos escolares ou clínicos nos quais não se tolera a língua de sinais e/ou a cultura surda há um completo desco- nhecimento dos processos e dos produtos que determinados grupos de surdos geram em relação ao teatro, ao humor, à poesia visual, enfim, à literatura produzida em língua de sinais. A Língua de Sinais Brasileira é uma língua visual-gestual e recentemente seus usuários têm utilizado a escrita dessa língua em seu cotidiano. A escrita dos sinais (SignWriting) é a forma de registro das línguas de sinais, mas raras são as obras literárias produzidas que utilizam essa escrita. Além disso, também são poucas as escolas que incluem a escrita dos sinais em seus currículos. As publicações na escrita dos sinais (Sign Writing) têm sido uma inovação na tradição de contar e recontar histórias e, por outro lado, divulgam e imprimem materiais na Libras. No entanto, um dos problemas é a abrangência do público leitor nessa língua (Libras), já que poucos são usuários desse sistema, mesmo nas comunidades de surdos. Além da importância dos registros na Libras, encontramos uma vasta e diversificada li- teratura, presente em associações de surdos, em escolas, em pontos de encontro da co- munidade surda. Algumas dessas histórias são contadas e resgatadas por surdos idosos e/ou por surdos contadores de histórias. Uma pequena parcela dessas produções cultu- rais tem sido registradas em fitas de vídeo, na Libras ou, então, traduzidas para a língua portuguesa. As narrativas, os poemas, as piadas e os mitos que são produzidos servem como evidências da identidade e da cultura surda. As produções culturais de pessoas surdas envolvem, em geral, o uso de uma língua de si- nais, o pertencimento a uma comunidade surda e o contato com pessoas ouvintes, sen- do que esse contato linguístico e cultural pode proporcionar uma experiência bilíngue a essa comunidade. Neste sentido, além da escrita da língua de sinais, a escrita da língua portuguesa, também faz parte do mundo surdo, indispensável aos surdos brasileiros 418 para a escolarização, a defesa dos seus interesses e cidadania. Pode-se pensar que a es- crita pode contribuir para a destruição da riqueza em sinais; mas a escrita, por si só, não é necessariamente um fator contrário, já que se pode pensar na escrita como a busca por tradução das raízes culturais, associada a outras formas de arte, como teatro e vídeo. Além do registro das produções culturais de pessoas surdas através da escrita em língua de sinais (sign writing) e de traduções para a escrita da língua portuguesa, outras formas de documentação, como filmagens, são fundamentais para o registro de formas literá- rias que vão se perdendo ou se transformando. Para uma comunidade de surdos manter o leque de possibilidades artísticas e expressões da língua de sinais, os registros visuais são indispensáveis a criação de bibliotecas visuais e podem contribuir para uma escri- ta posterior, através da escrita dos sinais e/ou através de traduções apropriadas para o português. Contar histórias é um hábito tão antigo quanto a civilização. Contar histórias é um ato que pertence a todas as comunidades: comunidades indígenas, comunidades de sur- dos, entre outras. Contar histórias, piadas, episódios em línguas de sinais pelos próprios surdos é um hábito que acompanha a história das comunidades surdas. Cabe, então, coletar as narrativas que surgem nessas comunidades, para que não desapareçam com o tempo. Surdos reúnem-se frequentemente para contar histórias e, entre as preferidas, estão as histórias de vida, as piadas e aquelas que incluem elementos da cultura surda, com per- sonagens surdos, com tramas que, em geral, envolvem as diferenças entre o mundo surdo e o ouvinte. 419 A comunidade surda é diferente de outras comunidades linguísticas em muitos aspec- tos, já que eles não estão geograficamente em uma mesma localidade, mas estão espa- lhados em várias partes do mundo. Pessoas surdas não trabalham em um mesmo local. Em alguns centros urbanos, eles encontram seus pares surdos somente duas ou três vezes por semana e passam a maior parte de seu tempo em um mundo ouvinte. Esse fato produz um padrão de comunidade em que o tempo que os surdos permanecem juntos é fragmentado; por outro lado, são extremamente próximos uns dos outros. Essa característica social faz com que pessoas surdas mantenham suas vidas na comunidade surda, participando da associação de surdos, realizando atividades conjuntas, estudan- do em uma mesma escola, empreendendo lutas e reivindicações conjuntas. Essas considerações são importantes para entendermos a produção literária em sinais. Pessoas surdas, convivendo com ouvintes, em seu ambiente de trabalho ou com a famí- lia,se apropriam de meios visuais para entender o mundo e se relacionar com as pessoas ouvintes. Essa experiência visual, além do uso da língua de sinais, implica dividir a comu- nicação e isto também caracteriza a cultura surda. Para escaparem da ridicularização da língua de sinais e de seus bens culturais, de ações intolerantes e até proibitivas, os surdos se organizam em comunidades, buscando o for- talecimento da língua de sinais, da identidade e da cultura surda. Nessa perspectiva, a literatura surda adquire também o papel de difusão da cultura surda, dando visibilidade às expressões linguísticas e artísticas advindas da experiência visual. Fonte: adaptado de Karnopp (2008, on-line)1. 420 1- Repetiremos aqui, algumas das atividades anteriores: na sua casa, com a ajuda de um espelho, treine a expressão facial e corporal, isso ajuda muito em Libras. 2- Estude cada conjunto de palavras apresentado: Pessoa, Adjetivos e Advérbios, Educação, Atividades Humanas, Meios de Transportes, Atividades e Locais Públicos, Localização: pontos cardeais - estados brasileiros e suas capitais. Mundo: continen- tes, países e capitais; e Verbos. Reproduza cada sinal ou frase sempre em frente a um espelho. Lembre-se: o sinal deve ser feito “virado” para o seu interlocutor e não para você. Assim, olhando no espelho você deve enxergar o sinal ou a frase tal como se apresenta no texto. 3- Ensine os sinais para os membros de sua família, para seus familiares. 4- Ensine as profissões para pelo menos duas pessoas da sua família, amigos ou co- legas de trabalho. 5- Ensine os sinais dos estados e as capitais brasileiras a seus familiares, amigos e colegas de trabalho. 6- Em sua opinião, qual conjunto de sinais aprendidos nesta seção que são mais icônicos? 7- Escreva com suas próprias palavras o que você entendeu acerca dos verbos. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Se você quiser conhecer ainda mais sobre os surdos, sua educação, sua cultura e sua língua, além de todos os endereços que já disponibilizamos, acesse o site disponível em: <www.libraselegal. com.br>. Acesso em: 20 jun. 2016. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos Ronice Müller de Quadros e Lodenir Becker Karnopp Editora: Artmed, 2004. Sinopse: este livro foi a principal referência para a produção deste texto, no que se refere aos aspectos linguísticos da Libras. Suas autoras, linguistas e fluentes em Libras descrevem e analisam a Libras, em seus aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos, proporcionando uma fonte importante para aprendizagem, compreensão, análise e uso desta língua. Com uma redação clara e repleto de exemplos, o livro ainda é ricamente ilustrado com fotos realizadas com rigoroso cuidado técnico, com a intenção de dar ao leitor uma ideia dos movimentos envolvidos no sinal. REFERÊNCIAS GESSER, A. Libras? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. GÓES, A. M.; CAMPOS, M. de L. I. L. Aspectos da gramática da Libras. In: LACERDA, C; SANTOS, L. F. (Org.). Tenho um aluno surdo, e agora? Introdução à Libras e educa- ção de surdos. São Carlos: EdUFSCar, 2013. NOGUEIRA, C. M. Ignatius; CARNEIRO, M. I. N.; NOGUEIRA, B. I. Surdez, Libras e Edu- cação de Surdos: Uma introdução à Língua Brasileira de Sinais. Maringá, EDUEM, 2012. PEREIRA, M. C. C.; CHOI, D.; VIEIRA, M. I.; GASPAR, P.; NAKASATO, R. Libras: conheci- mento além dos sinais. São Paulo: Pearsons Prentice Hall, 2011. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. REILY, L. Escola Inclusiva: Linguagem e mediação. 4. ed. Campinas, SP: Papirus, 2004 Referências on-line: 1- Em: <http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/ literatu raVisual/assets/369/Literatura_Surda_Texto-Base.pdf> Acesso em: 25 jun. 2016. REFERÊNCIAS 423 GABARITO Questões: 1, 2, 3, 4, 5. As questões 1, 2, 3, 4 e 5 foram pensadas com o intuito de fazer você praticar a Li- bras. Por isso é importante que as faça. Lembre-se: Libras necessita de muita prática, portanto, procure alguém para conversar! Desta forma, as cinco primeiras questões são destinadas a favorecer a sua prática. Questão 6: para essa questão, a resposta pode ser subjetiva, embora a resposta esperada seja “o conjunto de sinais que se referem ao corpo humano”. Questão 7: para essa questão, você deve tratar dos verbos simples, com concordân- cia e os espaciais, além dos verbos “manuais”. É importante você abordar também, a marcação dos tempos verbais. CONCLUSÃO Prezado(a) aluno(a)! Finalizamos a nossa disciplina. Muito haveria ainda para ser es- tudado acerca da Libras, dos surdos e da sua educação, todavia, para isso, existem cursos específicos, como a Licenciatura em Letras/Libras, com quatro anos de dura- ção ou a Graduação em Educação Especial – área da surdez, também com quatro anos de duração. Nosso objetivo nas duas primeiras unidades deste livro foi introduzir você no mun- do surdo, o que foi feito na primeira Unidade e apresentar a legislação e as políticas públicas brasileiras para a educação de surdos, bem como a importância dos recur- sos tecnológicos para a inclusão social e educacional dos surdos. A partir da terceira unidade, o objetivo principal foi instrumentalizar o futuro pro- fessor para uma comunicação funcional em Libras de maneira a facilitar sua atuação profissional, bem como favorecer a aprendizagem dos educandos surdos inclusos. Desta forma, as três últimas unidades de nosso texto abordam os aspectos gerais e linguísticos da Libras, além da construção de vocabulário mediante categorias se- mânticas. Em função da complexidade da Libras, certamente, não será apenas com esta dis- ciplina que você estará apto a ser um sinalizador. Afinal, este não é um curso de Especialização em Libras, é apenas uma disciplina em um curso de graduação para que você conheça, ao menos um pouco, sobre quão ela é importante. Enfim, esperamos ter convencido você de como a língua de sinais é imprescindível para o desenvolvimento cognitivo e social do surdo, sendo importantíssimo que a criança aprenda a língua de sinais bem cedo, para que seu desempenho escolar seja equivalente ao de crianças ouvintes. Afinal, atualmente, o povo surdo conquistou o direito de usar sua língua, o que pos- sibilita não só a comunicação, mas também sua efetiva participação na sociedade. Entretanto, muito ainda necessita ser feito para que essa mudança se efetive. Faça a sua parte! As autoras. CONCLUSÃO _GoBack h.2et92p0 h.3dy6vkm h.4d34og8 h.17dp8vu h.3rdcrjn h.26in1rg h.lnxbz9 h.35nkun2 h.1ksv4uv h.44sinio h.2jxsxqh h.z337ya h.3j2qqm3 h.1y810tw UNIDADE I O SURDO, A SURDEZ, A EDUCAÇÃO, A CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Introdução História da Educação de Surdos Abordagens Educacionais para Surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo CULTURA E IDENTIDADES SURDAS Considerações Finais GABARITO UNIDADE II LEGISLAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA A EDUCAÇÃO DE SURDOS Introdução Inclusão como Princípio da Educação Especial A Legislação Brasileira Referente à Educação de Surdos A EDUCAÇÃO DE SURDOS E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DO BRASIL Tecnologias de Acessibilidade para a Comunicação do Surdo Considerações Finais Referências Gabarito UNIDADE III ASPECTOS GERAIS E FONOLÓGICOS DA LIBRAS Introdução Paralelos Entre Libras e Lingua Portuguesa Aspectos Fonológicos da Libras Léxico De Categorias Semânticas I – Tempo E Elementos Da Natureza Considerações Finais Referências Gabarito UNIDADE IV Aspectos morfológicos da Libras Introdução Aspectos Morfológicos da Libras Classificadores LÉXICO DE CATEGORIAS SEMÂTICAS II Referências Gabarito UNIDADE V ASPECTOS SINTÁTICOS DA LIBRAS Introdução O ESPAÇO GRAMATICAL Verbos em Libras LÉXICO DE CATEGORIAS SEMÂNTICAS III Considerações Finais Referências GABARITO Conclusão