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Indaial – 2022 do EsportE Prof. Lucas Barreto Klein 1a Edição pEdagogia Elaboração: Prof. Lucas Barreto Klein Copyright © UNIASSELVI 2022 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: K64p Klein, Lucas Barreto Pedagogia do esporte. / Lucas Barreto Klein – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 192 p.; il. ISBN 978-85-515-0513-7 ISBN Digital 978-85-515-0514-4 1. Educação Física Escolar. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 796 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo a mais uma disciplina do nosso curso. Convidamos você para começar os estudos em Pedagogia do Esporte. Este livro será seu guia de estudos e foi preparado especialmente para você! Aqui vamos conversar sobre o tema da Pedagogia do Esporte em suas diferentes abordagens e perspectivas voltadas ao contexto da Educação Física Escolar. Esperamos que seja uma jornada rica e prazerosa pelos caminhos do universo investigativo, e que este material possa proporcionar momentos de aprendizagem, reflexão e crítica sobre o tema estudado. Na Unidade 1, aprenderemos conceitos e definições sobre os princípios introdutórios ao esporte e a pedagogia a partir do contexto sócio-histórico do surgimento do esporte na modernidade e os elementos de transição para o esporte contemporâneo, do papel da pedagogia do esporte, e a base de conhecimento para intervenção no esporte. Em seguida, na Unidade 2, conheceremos as diferentes manifestações e divisões de práticas dos esportes coletivos e individuais e suas potencialidades pedagógicas a partir de uma análise da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Por fim, na Unidade 3, estudaremos sobre as novas tendências e abordagens em Pedagogia do Esporte, trazendo para você acadêmico, orientações didático- metodológicas para o ensino dos esportes. Ao final desta disciplina esperamos que você se sinta preparado para avançar em suas pesquisas e práticas pedagógicas! Boa leitura e bons estudos! Prof. Lucas Barreto Klein APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - PRINCÍPIOS E INTRODUÇÃO AO ESPORTE E À PEDAGOGIA ...........1 TÓPICO 1 - CONTEXTO SÓCIO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO ESPORTE ....... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 O ESPORTE COMO FENÔMENO MODERNO: GÊNESE E DIFUSÃO ......................4 3 ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO DO ESPORTE MODERNO PARA O ESPORTE CONTEMPORÂNEO..................................................................................................8 4 PROCESSO DE ESPORTIVIZAÇÃO DE PRÁTICAS CORPORAIS: A CONSTITUIÇÃO DO ETHOS ESPORTIVO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................11 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 15 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 16 TÓPICO 2 - O PAPEL DA PEDAGOGIA DO ESPORTE ........................................... 19 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19 2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA PEDAGOGIA DO ESPORTE .............................20 3 PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS DA PEDAGOGIA DO ESPORTE..............23 4 PRINCIPAIS METODOLOGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DOS ESPORTES .....26 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................32 TÓPICO 3 - BASE DE CONHECIMENTO PARA INTERVENÇÃO NO ESPORTE....... 35 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................35 2 O PROFESSOR ENQUANTO PEDAGOGO DO ESPORTE ....................................36 3 CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO PEDAGOGO DO ESPORTE ............. 41 4 AS PRINCIPAIS FONTES DE APRENDIZAGEM DO PEDAGOGO DO ESPORTE ........44 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 47 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 51 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................52 REFERÊNCIAS .......................................................................................................54 UNIDADE 2 — A PRÁTICA DOS ESPORTES COLETIVOS E INDIVIDUAIS ............59 TÓPICO 1 — OS 4 TIPOS DE MANIFESTAÇÕES ESPORTIVAS ............................. 61 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................61 2 ESPORTE EDUCACIONAL .................................................................................62 3 ESPORTE DE PARTICIPAÇÃO ............................................................................66 4 ESPORTE DE RENDIMENTO ..............................................................................69 5 ESPORTE DE FORMAÇÃO ...................................................................................71 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 77 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................78 TÓPICO 2 - DIVISÃO DOS ESPORTES .................................................................. 81 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 81 2 ESPORTES DE CAMPO E TACO ..........................................................................82 3 ESPORTES DE COMBATE ..................................................................................83 4 ESPORTES DE INVASÃO ....................................................................................86 5 ESPORTES DE MARCA E PRECISÃO .................................................................88 6 ESPORTES DE PAREDE E REDE .......................................................................90 7 ESPORTES TÉCNICO-COMBINATÓRIOS ..........................................................92 RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................95 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................96 TÓPICO 3 - CONVERSANDO COM A BNCC ...........................................................99 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................99 2 POTENCIALIDADES PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DOS ESPORTES ........102 3 ORGANIZAÇÃO DO CONTEÚDO “ESPORTE ESCOLAR” ................................. 107 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................ 112 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................119 AUTOATIVIDADE .................................................................................................120 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 122 UNIDADE 3 — TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DOS ESPORTES .......................... 127 TÓPICO 1 — NOVAS TENDÊNCIAS EM PEDAGOGIA DO ESPORTE .................... 129 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 129 2 PEDAGOGIA TRADICIONAL X PEDAGOGIA NOVA ..........................................130 3 PRINCÍPIOS DAS NOVAS TENDÊNCIAS EM PEDAGOGIA DO ESPORTE ....... 136 4 ENSINO DE HABILIDADES PARA A VIDA POR MEIO DO ESPORTE ................140 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................146 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 147 TÓPICO 2 - NOVAS ABORDAGENS EM PEDAGOGIA DO ESPORTE ...................149 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................149 2 A INICIAÇÃO ESPORTIVA UNIVERSAL ...........................................................150 3 O JOGO COMO EIXO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM .............. 156 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................161 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 162 TÓPICO 3 - ORIENTAÇÕES DIDÁTICO-METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DOS ESPORTES ................................................................................................... 165 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 165 2 PLANEJAMENTO: O QUE, POR QUÊ E COMO ENSINAR? ............................... 166 3 ESTRATÉGIAS E POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÕES NA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ................................................................... 172 4 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DE ENSINO .................................................. 179 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................182 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................186 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 187 REFERÊNCIAS .....................................................................................................189 1 UNIDADE 1 - PRINCÍPIOS E INTRODUÇÃO AO ESPORTE E À PEDAGOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer elementos que definem o esporte enquanto fenômeno da cultura; • identificar o papel da pedagogia do esporte; • selecionar as principais fontes de conhecimento do professor; • avaliar os princípios introdutórios do esporte e da pedagogia. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONTEXTO SÓCIO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO ESPORTE TÓPICO 2 – O PAPEL DA PEDAGOGIA DO ESPORTE TÓPICO 3 – BASE DE CONHECIMENTO PARA INTERVENÇÃO NO ESPORTE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CONTEXTO SÓCIO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DO ESPORTE 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 - UNIDADE 1 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo(a) ao Livro Pedagogia do Esporte. Você está tendo o primeiro contato com o conteúdo que será abordado durante a disciplina de Pedagogia do Esporte, e já que estamos iniciando esta unidade, vamos introduzir você ao primeiro tema que será apresentado. Vamos lá? Esta é uma unidade de base essencialmente teórica que abordará os princípios introdutórios do esporte e da pedagogia, e para atendermos a estes objetivos organizamos para você três tópicos de estudos. No Tópico 1, vamos tratar do contexto sócio histórico do surgimento do esporte. O objetivo deste tópico é proporcionar a você, acadêmico, conhecimentos relacionados as características que definem o esporte enquanto fenômeno da cultura moderna, apresentar elementos e características de transição do esporte moderno para o esporte contemporâneo, e falar sobre o processo de esportivização de práticas corporais no contexto da Educação Física Escolar. No Tópico 2, abordaremos sobre o papel da pedagogia do esporte, enfatizando os seguintes conteúdos: • Conceitos e definições da pedagogia do esporte • Principais correntes teóricas da pedagogia do esporte • Principais metodologias de ensino-aprendizagem dos esportes Por fim, no Tópico 3, faremos análises a partir da base de conhecimento para intervenção no esporte, enfatizando os seguintes conteúdos: • O professor enquanto pedagogo do esporte • Conhecimentos e competências do pedagogo do esporte • As principais fontes de aprendizagem do pedagogo do esporte 4 LEMBRETE O Livro Didático será seu guia de estudos! Nele vamos encontrar o conteúdo necessário para aprendizagem, autoatividades, dicas e encaminhamentos para você buscar se aprofundar no tema apresentado. Mas, você sabe quando o termo esporte surgiu? Apesar do avanço científico e tecnológico em nossos tempos atuais, é realmente difícil precisar com exatidão uma data que defina o tal surgimento dos esportes, principalmente pelo fato de que há teorias que defendem que as raízesdo esporte se encontram na era dos seres primitivos em diferentes culturas que relacionavam o movimento humano como andar, correr, nadar e saltar com as atividades de sobrevivência, tais como a caça, as lutas e a pesca, entre outras atividades, e aos rituais e práticas religiosas dos diferentes povos da antiguidade (TUBINO, 1993). Neste Livro Didático, não apenas para avançarmos na linha do tempo histórico, abordaremos o conceito de esporte enquanto fenômeno e produto da cultura humana, mostrando como a sociedade capitalista industrial passou a institucionalizar as práticas corporais, os rituais religiosos e os jogos pré-desportivos já existentes. 2 O ESPORTE COMO FENÔMENO MODERNO: GÊNESE E DIFUSÃO Segundo Bracht (2005, p. 13), “o esporte moderno refere-se a uma atividade corporal de movimento com caráter competitivo surgida no âmbito da cultura europeia por volta do século XVIII, e que com esta, expandiu-se para o resto do mundo”. A gênese do termo esporte moderno aparece na obra dos sociólogos Norbert Elias e Erick Dunning, A busca da excitação: desporto e lazer no processo civilizacional, de 1986. Contrariamente aos jogos populares tradicionais, práticas e rituais religiosos que ocorriam durante as atividades festivas do dia a dia nos momentos de lazer nas civilizações antigas, os autores mostram que os esportes modernos têm como característica a formulação de tempos, locais e regras específicas (MARTINS; ALTMANN, 2007). 5 Segundo Martins e Altmann (2007), as principais características do esporte moderno são: • Ser um jogo. • Apresentar elementos de competição. • Ser uma atividade formadora. • Proporcionar igualdade formal de chances entre os participantes. • Criação de tempo e espaços próprios para a prática, como por exemplo: estádio, pista, quadra etc. • Possuir um código universal das regras e um calendário próprio para que a atividade seja padronizada em qualquer lugar que aconteça. INTERESSANTE Elias e Dunning (1986) mostram em seus estudos que a primeira atividade que apresentou as características do esporte moderno foi a caça à raposa, que ocorria, com mais frequência, na Inglaterra do século XVIII e início do século XIX. Essa prática se tornou altamente especializada, com a criação de organizações e convenções próprias. Num contexto de transformação dos padrões e estilo de vida social na Europa do século XVII e XVIII, sobretudo, pelo fato do crescimento do movimento de urbanização e industrialização que ocorria nos grandes centros capitalistas acarretou, consequentemente, no declínio das funções dos jogos tradicionais populares, que estavam relacionados as festas comemorativas ou religiosas e rituais de guerra (BRACHT, 2005). Trazemos como exemplo o Harspatum, apresentado a seguir na Figura 1, um jogo atlético praticado pelos antigos romanos no século III A.C, disputado por duas equipes em um terreno retangular demarcado e dividido pela metade por uma linha, no qual os jogadores de cada equipe podiam passar uma pequena bola entre eles, e o objetivo do jogo era enviar a bola ao campo contrário. INTERESSANTE Diversos povos da antiguidade registram jogos culturais com uso de bolas e aspectos similares aos esportes modernos e brincadeiras populares existentes até hoje, como por exemplo: o Epísquiro praticado na Grécia Antiga, o Kemari no Japão, o Pok ta Pok pela civilização Maia (México), o Tsu- chu na China, entre outros. 6 FIGURA 1 – HARPASTUM (ROMA, SÉC. III A.C) FONTE: <http://guerrafriapoliticafutebol.blogspot.com/2014/06/origem-do-futebol-harpastum.html>. Acesso em: 16 dez. 2021. O clássico historiador holandês Johan Huizinga, autor da obra Homo Ludens, publicada originariamente em 1938, afirma que o elemento lúdico do jogo é uma dimensão própria da existência humana e sua apropriação, mas também de outras de suas manifestações culturais por estruturas organizadas com base na competição e na busca da melhor performance, é um processo que se instala efetivamente na Europa do final do século XVIII. Impulsionado pela consolidação de um ideário de valorização da atividade muscular, com vistas ao aprimoramento físico-mental-espiritual do novo homem, concebido pelos ideais iluministas (JESUS, 1999). É neste contexto que os jogos populares passam por um processo de ressignificação, pois ao serem classificados pelo poder do Estado como violentos e perigosos, sendo proibidos de serem praticados em locais públicos, o único lugar possível de ser praticado foi no interior das escolas. Ao passarem a ocupar o tempo livre dos estudantes da burguesia inglesa, os jogos populares foram sendo regulamentados e se tornando próximos daquilo que chamamos hoje de esporte moderno (BETTI, 1991; BRACHT, 2005). Já em meados do século XIX o modelo esportivo predominante passou a ser aquele praticado pela classe média europeia emergente, que deu origem aos vários jogos esportivos e sua organização de regras, associações, federações, técnicas e padrões de conduta para os praticantes. 7 Importante destacar que nos anos de 1830 a Educação Física encontrava- se amplamente presente nas escolas públicas inglesas, e com ela, havia o incentivo oficial para a prática de tradicionais jogos populares que, submetidos a uma crescente regulamentação e institucionalização, resultaram na criação de diversas modalidades esportivas de ampla aceitação mundial até os dias de hoje, tais como o futebol e o rúgbi. Foi neste período que as escolas públicas inglesas funcionaram como uma espécie de laboratório de invenção dos esportes modernos (AUGUSTIN, 1995). INTERESSANTE Associação Cristã de Moços (ACM), entidade religiosa fundada no ano de 1844 em Londres (Inglaterra), que tem suas ramificações também no Brasil, foi responsável pela criação das primeiras regras oficiais do futsal. Esta mesma entidade é também considerada inventora do basquetebol e do voleibol nos Estados Unidos. Pode-se dizer então que a gênese do esporte moderno está associada ao resultado de uma mudança dos elementos presentes na cultura corporal de movimento das classes populares e burguesas da Inglaterra dos séculos XVII e XVIII e sua difusão aconteceu, inicialmente, a partir da regulamentação e sistematização destas práticas no interior das escolas públicas da época (BRACHT, 2005). Ainda que a igreja tenha sido uma forte aliada neste processo difusor, pois com o objetivo de atrair cada vez mais fiéis, construíam ao lado de seus templos campos de futebol, onde eram disputadas partidas após as cerimônias nos finais de semana (SIGOLI; DE ROSE JR, 2004). IMPORTANTE O esporte moderno se desenvolveu paralelamente ao processo de urbanização e industrialização presente na época, herdando deles as características de racionalização, sistematização, a orientação para o resultado e as comparações objetivas entre indivíduos ou equipes. A partir deste ponto vista teórico conceitual, os esportes modernos podem ser considerados como um produto da sociedade industrial capitalista. E o que difere mais precisamente os esportes modernos dos jogos antigos é sua natureza e finalidade. 8 Os esportes modernos, em resumo, apresentam grande estrutura jurídico- organizacional, estatuto internacional, regras precisas, aperfeiçoamento constante dos atletas em busca de resultados e recordes, e realiza-se em espaços especificamente elaborados para tal fim, com medições e formas precisas (ELIAS; DUNNING, 1986). 3 ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO DO ESPORTE MODERNO PARA O ESPORTE CONTEMPORÂNEO Certamente você já experimentou a sensação de torcer para seu time quando ele passava por um momento decisivo em busca de uma vitória ou título importante, certo? Seja no sofá de sua casa assistindo televisão, ou em meio ao público no estádio, essa via chamada de esporte espetáculo ou esporte de entretenimento é uma das principais características em nossa sociedade contemporânea, no qual, mesmo de longe podemos acompanhar competições e consumir o produto que nos é ofertado. Vamos entenderum pouco sobre como ocorreu essa transição de um esporte (moderno) voltado para constituição de grupos sociais e ocupação do tempo livre da burguesia, para um esporte que é capaz de influenciar nossos hábitos e costumes mesmo quando nos tornamos apenas torcedores! Com a criação de uma forma de cultura universal, com regras padronizadas e normas de conduta que se pautam na competição entre indivíduos e entidades, o esporte moderno foi capaz de produzir inúmeros tipos de práticas e se espalhar rapidamente pelo mundo. Porém, assim como qualquer outro produto da cultura, o esporte vem sofrendo transformações graduais em seus sentidos e significados sociais. Tais mudanças passaram a ocorrer de forma mais significativa a partir da segunda metade do século XX, em um período marcado por adventos históricos importantes, como o final da segunda guerra mundial e início da guerra fria, no qual o uso político, a popularização, mundialização e espetacularização do esporte passaram a tomar maiores proporções (PRONI, 1998; MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008). IMPORTANTE O esporte foi utilizado como potente ferramenta política, principalmente ao longo do século XX no período entre guerras, devido a sua capacidade de comparações de performances e de enfrentamento entre nações, sobretudo nas edições dos jogos olímpicos. Ganhar medalhas, tornou-se um símbolo não somente de orgulho nacional, mas também da superioridade de um sistema político sobre o outro. 9 Nesse período ocorre também o fortalecimento da perspectiva espetacular do esporte, pois para que seu uso político fosse eficiente, era necessário fazer desse fenômeno uma manifestação cultural e econômica importante. Tal movimento ampliou os limites geográficos e culturais do esporte, tornando mais conhecido e valorizado em todo o planeta (PRONI, 1998; MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008). Proporcionando, inclusive, a criação de novas formas de manifestação de práticas corporais, devido esse fenômeno ter alcançando diferentes povos e culturas, tais como o surf, skate entre outros que passaram a reivindicar seu status de esporte e atualmente tornaram-se modalidades olímpicas. FIGURA 2 – SKATISTAS EM SÃO PAULO (1978) FONTE: <http://horadoskate.com/skate-no-brasil/>. Acesso em: 29 dez. 2021. Estados e investidores da iniciativa privada contribuíram para a transformação desse fenômeno num mundo de mercado, aproveitando-se do interesse do público pelo espetáculo esportivo e sua capacidade de dialogar com inúmeras formas de cultura. O esporte assume então um status de produto e criador de novos mercados e bens associados a ele, expandindo seus limites geográficos e causando impacto direto na vida social em diferentes povos e culturas (MARQUES, 2011). O crescimento da globalização e a hegemonia do mercado capitalista conduziram o esporte a um modelo atual mais unificado de organização, que se faz ligado à comercialização, disseminação e divulgação das práticas esportivas, sendo este um fenômeno ligado tanto as práticas de lazer, como atividade amadora ou quanto espetáculo de consumo (MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008). 10 Os grandes eventos esportivos da atualidade, não apenas os tradicionais jogos olímpicos, copas do mundo de futebol, NBA, entre outros, são produtos do movimento de globalização que atingem milhões de espectadores em praticamente todas as nações do planeta. Ao final do século XX os esportes se tornaram uma potente ferramenta de publicidade, empresas como Adidas, Nike e outras, passaram a investir maciçamente em atletas, clubes, federações e competições, em paralelo a isso, as redes internacionais de televisão passaram a pagar cada vez mais caro pela transmissão de eventos esportivos (PRONI, 1998). INTERESSANTE Você sabia que a copa do mundo de futebol realizada em 1994 nos Estados Unidos, edição em que a seleção brasileira conquistou o tetracampeonato, bateu todos os recordes de público mantidos até os dias de hoje. Este fato foi proporcionado pelo alto investimento da indústria norte-americana em publicidade e propaganda no evento. Por fim, outra característica importante presente no esporte contemporâneo é a institucionalização de sentidos, que transcendem a hegemonia do alto rendimento, ligando os indivíduos ao universo da prática esportiva enquanto ação promotora da saúde, de valores educacionais, inclusão social, lazer, entre outros. Nesse movimento o esporte contemporâneo se apresenta sob diversos aspectos comerciais de possibilidades de práticas, tais como as academias ou arenas de esportes, pelo consumo de artigos esportivos, entre outros (TUBINO, 1992; PRONI, 1998). Para Bracht (2005), neste modelo de esporte existe uma preocupação com a visão do corpo como constitutiva de um homem integral. Nota-se essa transformação, por exemplo, na mudança do paradigma pedagógico frente ao esporte, no qual, no início do século XX, o ideal da prática esportiva para crianças na escola e em clubes tinha ligação com a formação precoce de atletas e a busca por talentos, visando formar representantes da pátria ou homens fisicamente ativos, prontos para o trabalho. Questões presentes em inúmeras reflexões da sociologia e pedagogia do esporte nos dias de hoje, como a refutação à especialização precoce e a busca por promoção do bem-estar do aluno perante a prática, não eram temas frequentemente abordados. Porém, há hoje em dia, uma maior preocupação com a educação para o esporte, voltada a possibilitar a prática de forma interessante e prazerosa para a criança, buscando incorporá-la em seu estilo de vida, independe de ela se tornar atleta ou não (GONZALEZ; PEDROSO, 2012). 11 DICA Antes de avançarmos em nossos estudos, vamos assistir um breve vídeo sobre a origem da Educação Física moderna? confira neste link do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=TQ7ho5MO2Kk 4 PROCESSO DE ESPORTIVIZAÇÃO DE PRÁTICAS CORPORAIS: A CONSTITUIÇÃO DO ETHOS ESPORTIVO NA EDUCAÇÃO FÍSICA Atualmente, o esporte é motivo de importantes investimentos em recursos financeiros e materiais nas escolas públicas e privadas, sendo considerado um fator fundamental para a educação de crianças e jovens, atribuindo-se a ele, inclusive, o papel de livrar as pessoas do consumo de drogas (BASSANI; TORRI; VAZ, 2003). Destacamos que as práticas culturais presentes em nossa sociedade atual vêm sendo escolarizadas como um dos temas de ensino da Educação Física. Sabemos também que a Educação Física, enquanto disciplina escolar, trata pedagogicamente os temas da cultura corporal, tais como os jogos, a ginástica, as danças, as lutas, os esportes etc. e que ao longo do tempo modificou sua forma de pensar e intervir (COLETIVO DE AUTORES, 1992; KUNZ, 2001). Diversas correntes e movimentos filosófico-pedagógicos influenciaram a Educação Física escolar brasileira, que vem se legitimando desde o final do século XIX. As abordagens educacionais da Educação Física, apesar de terem sofrido importantes modificações e influências de diversas frentes teóricas, de algum modo, ainda hoje atravessam a formação do profissional e suas práticas pedagógicas. INTERESSANTE Você sabia que a Universidade de São Paulo (USP) foi quem criou a primeira turma em nível superior para o curso de Educação Física no ano de 1934? Anterior a esse período, desde 1910, havia somente a possibilidade de formar-se no curso provisório do exército, no qual participavam, em sua maioria, militares e tinham como professores ex-atletas e médicos, tendo o curso duração de apenas cinco meses. 12 Para melhor nos localizarmos no tempo histórico de evolução e legitimação da Educação Física escolar brasileira, associado ao tema dos esportes como ferramenta didática de ensino, a seguir apresentamos um breve resumo das principais abordagens que contribuíram para a disseminação e legitimação da disciplina nos currículos escolares, desde seu surgimento até os dias atuais: • Abordagem higienista (até 1930): concepção dominante da Educação Físicadesde seu surgimento, nela a preocupação principal é com os hábitos de higiene e saúde, valorizando tanto o desenvolvimento físico quanto moral dos estudantes, a partir dos exercícios ginásticos fundamentados pelas escolas alemãs, francesas e suecas. • Abordagem militarista (1930 a 1945): no modelo militarista, a Educação Física escolar é utilizada em um projeto de eugenia e de formação de uma geração para a defesa da pátria e construção de uma identidade relacionada a ordem moral e cívica. As atividades se pautavam essencialmente na prática de exercícios físicos, não havendo distinção entre as aulas de Educação Física e formação militar. • Abordagem pedagogicista (1945 a 1964): concepção também chamada de biopsicossocial, em oposição contrária à escola tradicional, foi inspirada nos fundamentos da Escola Nova e buscava efetivar um caráter mais liberal educacional à Educação Física, sendo esta capaz de produzir uma prática para além do sentido da promoção da saúde e da disciplina moral. • Abordagem esportivista (1964 a 1985): concepção na qual se observou a ascensão do esporte no interior das escolas, a Educação Física passa a ser sinônimo de esportes, havendo quase que uma exclusão de outros conteúdos de ensino. Nessa época, os governos militares que assumiram o poder, passaram a investir pesadamente nas políticas de esporte, na tentativa de fazer da Educação Física uma base ideológica de promoção de resultados esportivos. • Abordagem sociocultural (predominância atual): a partir das críticas teóricas e conceituais sobre as abordagens anteriormente citadas da Educação Física escolar, surgem novas discussões sobre diversos temas e objetivos possíveis para a elaboração de projetos de intervenção da disciplina nos currículos escolares, tais como, o sedentarismo, as infecções sexualmente transmissíveis, o combate às drogas, os primeiros socorros, as práticas alternativas, entre outros. Nesse contexto são criados importantes documentos e parâmetros que influenciam fortemente as novas propostas pedagógicas da Educação Física escolar, entre eles a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da educação) os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), presentes atualmente nos projetos políticos pedagógicos das unidades escolares. A partir, sobretudo do uso do esporte como ferramenta de polarização política, e sua consequente disseminação nas escolas brasileiras, destacamos que os elementos que compõem a estrutura interna dos esportes de rendimento, tais como: competição, seletividade, respeito às regras, etc. tornaram-se dominantes, porém, consequentemente, a relação do saber técnico sobre a presença do esporte na escola passou a receber críticas e a ser repensado a partir do final da década de 1980. 13 ESTUDOS FUTUROS Na Unidade 3 deste Livro Didático retomaremos a discussão sobre as novas tendências em pedagogia do esporte e sua crítica ao modelo tradicional de ensino. O período que estamos falando (segunda metade do século XX) é marcado por um grande processo de disseminação e desenvolvimento quantitativo do esporte, no qual este passa a se tornar elemento hegemônico da cultura de movimento, não apenas no interior das aulas de Educação Física. No Brasil, as condições para o desenvolvimento do esporte, quais sejam, o desenvolvimento industrial, com a consequente urbanização da população e a ampliação dos meios de comunicação de massa, estavam mais do que antes, presentes. É exatamente a partir do grande desenvolvimento do esporte pelo mundo que, para Bracht (2005), irá dar-se o fato mais marcante na história da Educação Física escolar, que é a sua subordinação ao esporte de rendimento, sendo a ela colocada a tarefa de fornecer a base para o esporte de alto rendimento, ou seja, a escola passa a ser vista como a base da pirâmide esportiva. FIGURA 3 – MODELO DE PIRÂMIDE ESPORTIVA FONTE: <https://www.efdeportes.com/efd207/educacao-fisica-escolar-e-esporte-se-tornaram- sinonimos.htm>. Acesso em: 21 dez. 2021. ESPORTE DE RENDIMENTO ESPORTE DE MASSA (CLUBES) ESPORTE ESCOLAR 14 É neste período esportivista, justamente, que a Educação Física conquista sua legitimidade pedagógica enquanto disciplina obrigatória nos currículos escolares, porém, segundo a teoria crítica, ela consequentemente perde sua autonomia ao servir os ideários políticos e atendendo aos interesses da indústria do entretenimento esportivo. Para Gonzalez e Pedroso (2012), ainda hoje percebemos que a principal estratégia de ensino dos conteúdos escolares na Educação Física brasileira é a prática e a reprodução de modalidades esportivas, por vezes sem o aprofundamento necessário para garantir a qualidade do processo de ensino e aprendizagem do aluno. 15 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O esporte moderno se desenvolveu a partir da ressignificação de elementos da cultura popular presente nos povos da antiguidade, tais como os jogos com bola e rituais religiosos, em meados do século XVIII, sobretudo no interior das escolas e igrejas que passaram a regulamentar as práticas corporais, criando assim um cenário favorável a disseminação dos esportes por meio de disputas locais e até internacionais. • O esporte apresenta características próprias que o diferem do jogo e da brincadeira, tais como: possuir regras fixas, ser uma prática regulamentada por um órgão superior (federações, entre outros), ser uma atividade competitiva, possuir tempo e espaços pré-definidos, proporcionar a igualdade formal de chances entre os participantes e ser uma atividade formadora. • O movimento de globalização e o uso político dos esportes, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, que contribuíram para a disseminação e quantificação das práticas esportivas em diferentes culturas, o que acabou influenciando, consequentemente, nos conteúdos da educação física escolar. • As características internas do esporte fizeram com que ele se tornasse conteúdo hegemônico da Educação Física escolar, contribuindo para sua legitimidade enquanto disciplina pedagógica obrigatória no componente curricular. RESUMO DO TÓPICO 1 16 1 Vimos ao longo deste tópico que existem elementos que diferenciam o conceito de esporte, sobretudo em sua origem histórico cultural, da relação com os jogos praticados pelos povos da antiguidade, chamados pela literatura de jogos pré- desportivos. Com base no que você aprendeu, assinale a alternativa CORRETA que apresenta os fatores que originaram os esportes modernos no contexto da sociedade europeia do século XVIII: a) ( ) O processo de globalização que dominou o período da revolução industrial foi um dos fatores determinantes para a expansão dos esportes. b) ( ) A proibição dos jogos populares, que passaram a ser praticados no interior dos clubes associativos. c) ( ) O processo de industrialização, urbanização e a regulamentação das práticas culturais nas escolas e igrejas. d) ( ) A criação de eventos esportivos que passaram a atrair novos praticantes dos esportes em diversos locais do mundo. 2 Considerando o conteúdo estudado e o que você aprendeu sobre as principais características que definem o conceito de esporte, analise as sentenças a seguir e assinale apenas as alternativas CORRETAS: I- O esporte é uma atividade de caráter competitivo, que precisa, necessariamente, possuir regras universais. II- O esporte é praticado desde a antiguidade, em jogos populares e rituais religiosos que existiam em diferentes povos humanos. III- O esporte promove a igualdade formal de chances, buscando o máximo da eficiência técnica de seus participantes. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 17 3 Vimos que a Educação Física escolar passou por diversas transformações ao longo do tempo, sendoela influenciada por diferentes concepções teórico filosóficas em relação a sua prática e objetivos. Com base concepções históricas da Educação Física escolar apresentadas anteriormente, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) No período da abordagem esportivista ocorreu um grande avanço quantitativo no desenvolvimento da Educação Física escolar, com os esportes tendo se tornado elemento central no conteúdo trabalhados nas escolas. ( ) O período higienista trouxe para o plano da Educação Física escolar discussões críticas acerca de temas relacionados ao sedentarismo, sexualidade, uso de drogas, construção de hábitos de vida saudáveis, entre outros. ( ) O período pedagogicista, também chamado de biopsicossocial, que defendia o sentido da Educação Física enquanto promotora da educação para além da promoção da saúde, nasceu como movimento contrário a militarização, que promovia o sentido da formação moral e cívica nas aulas de Educação Física. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Sabemos que a globalização é um processo de aproximação entre as diversas sociedades e nações existentes por todo o mundo, seja no âmbito econômico, social, cultural ou político. Neste contexto, vimos que o esporte foi fortemente influenciado por esse processo de transformação social ocorrido a partir da segunda metade do século XX. Baseado nesta afirmação, disserte sobre o período em que o esporte se tornou ícone central na indústria do entretenimento. 5 A partir da Figura 3, que apresenta a indicação de pirâmide de desenvolvimento do esportista de alto rendimento, tendo em sua base o esporte escolar, vimos que foi justamente nesse período que a Educação Física passou a ter representatividade pedagógica nos currículos escolares. A partir desta afirmação, disserte sobre as causas de consequências deste período da história da Educação Física escolar. 18 19 PAPEL DA PEDAGOGIA DO ESPORTE 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 TÓPICO 2 - O Olá, acadêmico! Vamos dar continuidade aos nossos estudos em Pedagogia do Esporte, este é o segundo tópico da Unidade 1 de nosso Livro Didático. Você está preparado? A partir deste momento nossos estudos serão direcionados para a importância e o papel da pedagogia do esporte, para isso, vamos trazer para o debate conceituados autores da literatura científica e exemplos práticos que ajudam a tornar mais rico, objetivo e dinâmico o nosso plano de estudos. Para dar destes objetivos específicos, este tópico está dividido em outros três subtópicos: • Conceitos e definições da pedagogia do esporte • Principais correntes teóricas da pedagogia do esporte • Principais metodologias de ensino-aprendizagem dos esportes Por fim, após um breve resumo geral do tópico estudado, vamos realizar as autoatividades para fixar nossos conhecimentos sobre o assunto! Mesquita, Pereira e Graça (2009) mostram que há um ponto de inflexão quanto ao processo de ensino, aprendizagem e treinamento (E-A-T) dos esportes coletivos, ocorrido a partir do movimento reformador dos métodos de ensino dos jogos esportivos coletivos iniciado no final da década de 1960 e início dos anos 1970, sendo redobrado ao longo dos anos 1990, sobretudo no contexto da produção científica-acadêmica no continente europeu. Estes movimentos, segundo Ghidetti (2020), são inspirados em novas teorias de aprendizagem, cognitivistas e construtivistas, e influenciaram decisivamente na legitimação do subcampo da Pedagogia do Esporte também no Brasil. Apenas para tomar como exemplo, Galatti et al. (2019) mostram que 2% das publicações em destacados periódicos científicos de Educação Física (119 de 2738 artigos) tinham como tema central a “Pedagogia do Esporte” entre os anos de 2010 e 2015, o que mostra que há um avanço em termos de estudos e publicações nesta área de estudos, porém, há também lacunas a serem preenchidas. 20 2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA PEDAGOGIA DO ESPORTE Antes de falarmos especificamente sobre conceitos e definições da pedagogia do esporte, avaliamos ser necessário apresentar o conceito mais amplo de pedagogia, pois é esta quem fornece a base para nossos estudos. A pedagogia é a ciência que tem como objeto de estudo a educação e o processo de ensino e aprendizagem. Definido a partir de González e Fensterseifer (2005), a pedagogia é ciência da reflexão crítica e, ao mesmo tempo, experiência permanente dirigida do sistema de conjunto das medidas organizacionais e dos procedimentos didáticos, que devem conduzir um coletivo de educadores e educandos ao pensamento e à ação coletivas. Para Libâneo (2002), a pedagogia não se refere única e exclusivamente ao modo como se ensina, sua área de conhecimento e objeto de investigação superam as perspectivas metodológicas e procedimentais, constituindo-se como teoria prática e prática teórica, designando ao professor as responsabilidades de um pedagogo, as quais podem se resumir em dar-lhe um tratamento, uma direção pedagógica (intencional, consciente, organizada), transformando os conhecimentos produzidos pelos homens em meio as suas constantes interações. ATENÇÃO Podemos então sintetizar que a palavra pedagogia está conectada para além da simples condução ao saber, ao conhecimento sistematizado e com tal finalidade utiliza várias formas, meios e métodos para atingir o seu fim. Neste sentido, as ciências pedagógicas se interessam pelas práticas esportivas corporais, por estas também serem elementos da civilização e campo de criação da humanidade, revelando genuinamente sua natureza humana, suas razões e padrões, intencionalidades, metas e valorizações sociais, implicando na educabilidade do sujeito no e pelo esporte, na obrigação de fazer na humanidade a humanização dos seres humanos, registrando o sujeito em cada sujeito (SCAGLIA, 1999; GRAÇA, 2001; BENTO, 2006). Sendo assim, a pedagogia do esporte pode ser definida como um campo de conhecimento que estuda a intervenção do processo de ensino, treinamento e aprendizagem relacionados ao esporte e a educação. 21 Ou seja, a pedagogia do esporte atua na elaboração de fundamentos teóricos a respeito da sistematização, organização e análises referentes a aplicação de diferentes metodologias para a prática dos esportes, com objetivo de aprimorar o desenvolvimento humano e a qualidade de vida. Assim, a pedagogia do esporte pode ser classificada como uma ciência, em uma subárea da Educação Física, que focaliza as intervenções educacionais intencionais no contexto do esporte e do movimento humano (BARBANTI, 2003). Nesse cenário ela assume a responsabilidade de conduzir a relação didática entre teoria e prática, atendendo ao “para quê”, “porquê”, “quê”, “quando” e “como” ensinar esporte, levando em consideração os diferentes ambientes de ensino e prática, e as distintas faixas etárias. DICA Antes de avançarmos em nossos estudos, vamos assistir um breve vídeo sobre o que é Pedagogia do Esporte? A partir de uma interpretação pro professor Dr. Lucas Leonardo, criador do canal Pedagogia do Esporte no Youtube? Confira no link: https://www.youtube.com/watch?v=5iDcb1mkFzs. Neste canal você vai encontrar outros vídeos que podem ajudá-lo nos estudos e compreensão sobre a temática! Segundo Bento (1991), o esporte por si só é pedagógico e, por consequência, educativo, sobretudo pelo fato de que proporciona obstáculos, exigências, desafios para se experimentar, observando regras e lidando com o outro. Ainda para este autor, a pedagogia do esporte deve se assumir enquanto área responsável por estruturar o processo de ensino e aprendizagem dos esportes, tanto em ambiente de educação formal, quanto no informal e não formal. DICA Para Gohn (2006, p. 28), a educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente demarcados; a informal como aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização– na família, bairro, clube, amigos etc., carregada de valores e cultura própria, de pertencimento e sentimentos herdados; e a educação não formal é aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas. 22 Mas, você sabe quais os objetivos da pedagogia do esporte? Resumidamente, ela tem como objetivos contribuir para o desenvolvimento social e a formação intelectual dos estudantes, proporcionando experiências práticas que exercitem habilidades de trabalho em grupo, mas também habilidades individuais. Tomando o esporte enquanto ferramenta pedagógica, podemos trabalhar fatores morais como o respeito, a persistência, o cumprimento de regras, saber vencer e perder, lidar com as emoções, entre outros fatores importantes. E, para além dos valores morais e sociais citados anteriormente, a partir da pedagogia do esporte é possível também desenvolver a saúde das crianças, dos jovens, dos adultos e idosos, tendo em vista que no cenário atual em que vivemos as pessoas estão cada vez mais conectadas aos aparelhos móveis, favorecendo o sedentarismo, e acabam deixando de lado atividades físicas antes comuns em nosso dia a dia. Neste contexto, não somente a Educação Física escolar, mas também as escolas de esportes, academias, entre outros espaços, têm como tarefa a boa utilização de ferramentas pedagógicas para o desenvolvimento de habilidades e técnicas corporais importantes para a promoção da saúde e construção hábitos de vida, tais como: resistência, força, equilíbrio, coordenação etc. FIGURA 4 – TECNOLOGIA E INFÂNCIA NA ATUALIDADE FONTE: <https://projetomedicina.com.br/blog-redacao/temas/as-consequencias-do- sedentarismo-infantil-na-atualidade/>. Acesso em: 30 dez. 2021. Diante desta realidade, a escola, obviamente, assume a principal responsabilidade de apresentar a prática esportiva para as crianças, tendo no professor de Educação Física a figura central nesse processo. 23 A seguir, vamos trazer as principais correntes teóricas que influenciaram, e ainda influenciam, a constituição da práxis pedagógica do professor e como podemos utilizar este conhecimento para qualificar nossas intervenções. 3 PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS DA PEDAGOGIA DO ESPORTE As correntes pedagógicas são concepções que contribuem para a condução de um trabalho docente mais consciente. Historicamente tanto o esporte, quanto a Educação Física em geral, foram fortemente influenciadas pela pedagogia tecnicista tradicional, que privilegiava excessivamente a transmissão e repetição de conteúdos, muitas vezes desenvolvidos de forma autoritária pela figura do professor e sem qualquer vínculo com o contexto social a que se destinava. Você já deve ter ouvido falar sobre o termo tecnicismo, então vamos conhecer um pouco mais sobre o jeito tecnicista de ensinar? Em reportagem a revista Nova Escola (2014), o pedagogo Dr. Alcides Scaglia, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), traz importantes apontamentos sobre o assunto, ao dizer que não é pecado seguir o método tradicional e tecnicista de ensino, mas é um grave erro desenvolver este método sem compreender suas bases teóricas. Ou seja, utilizar-se do método tecnicista significa acreditar que o mundo é construído por padrões e comportamentos manipuláveis, entendendo que o ser humano veio vazio ao mundo e que este precisa ser modelado uniformemente a partir da transmissão de saberes de alguém mais experiente, no caso, o professor. Neste sentido, ser professor é ser responsável pelo preenchimento do aluno, de modo a obter padrões e comportamentos ditos como ideais. 24 FIGURA 5 – ENSINO DA TÉCNICA PADRÃO NO FUTEBOL FONTE: <http://carlosbizzocchi.blogspot.com/2017/04/o-intelectual-o-futebol-e-educacao.html>. Acesso em: 30 dez. 2021. Ainda segundo este autor, podemos encontrar na literatura o termo metodologia tecnicista ou analítica, na qual ambas concentram suas preocupações no desenvolvimento e aperfeiçoamento meramente técnico do movimento humano. Partindo de um olhar mais abrangente sobre este método, o clássico e genuíno tecnicista, ao elaborar seu plano de aula, busca fragmentar o todo (jogo) em partes, onde cada fração é trabalhada de forma descontextualizada da exigência do todo, tendo como objetivo central o desenvolvimento do automatismo de um movimento técnico a ser aplicado no jogo. Outra característica marcante na abordagem tradicional (tecnicista/analítica) é o fato de ela não contemplar a possibilidade de desordem, pois ela se fundamenta nos pressupostos do controle, da ordem e do progresso contínuo do ensino e da aprendizagem. Em oposição a esta vertente de ensino surgem outros movimentos na Educação Física escolar, principalmente a partir do final da década de 1970. Atualmente coexistem diversas concepções de ensino na área da Educação Física, todas elas tendo em comum a tentativa de romper com a pedagogia tradicional. Para elaboração deste material selecionamos cinco abordagens para serem brevemente apresentadas: 25 • Psicomotricidade: a educação psicomotora refere-se a formação de base indispensável a toda criança e foi o primeiro movimento mais articulado que surge a partir da década de 1970 em contraposição ao modelo esportivista até então dominante. Nele o compromisso da Educação Física é com o desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, ou seja, busca garantir a formação integral do aluno (Soares, 1996). Essa concepção inaugura uma nova fase de preocupações para o professor de Educação Física que extrapola os limites biológicos e de rendimento corporal, passando a incluir e a valorizar o conhecimento de origem psicológica. O autor que mais influenciou o pensamento psicomotricista no país foi sem dúvida, o francês Jean Le Boulch (1982). • Desenvolvimentista: este modelo é explicitado, no Brasil, principalmente na obra Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista (Tani et al, 1988). A proposta explicitada é uma abordagem dirigida especificamente para crianças de quatro a quatorze anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a Educação Física escolar, na tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora e, em função dessas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes para a estruturação da Educação Física escolar. Grande parte do modelo conceitual desta abordagem relaciona-se com o conceito de habilidade motora e como estas habilidades mudam ao longo da vida do indivíduo, desde a concepção até a morte. • Construtivista: o livro Educação de corpo inteiro (1989) do professor João Batista Freire teve papel determinante na divulgação das ideias construtivistas da Educação Física, embora o autor tenha também recebido outras influências, como da psicomotricidade, por exemplo. No construtivismo, a intenção é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, numa relação que extrapola o simples exercício de ensinar e aprender. Essa abordagem teve o mérito de levantar a questão da importância de a Educação Física escolar considerar o conhecimento que a criança já possui, independentemente da situação formal de ensino, porque a criança, como ninguém, é uma especialista em brinquedo. Na proposta construtivista o jogo como conteúdo e estratégia tem papel privilegiado, sendo considerado o principal modo de ensinar, um instrumento pedagógico, um meio de ensino, pois enquanto joga ou brinca a criança aprende. Sendo que esse aprender deve ocorrer num ambiente lúdico e prazeroso para a criança. • Crítico-superadora: a proposta crítico-superadora utiliza o discurso da justiça social como ponto de apoio e é baseada no marxismo tendo recebido na Educação Física grande influência dos educadoresJosé Libâneo e Demerval Saviani. O trabalho mais marcante dessa abordagem foi publicado em 1992, no livro intitulado Metodologia do ensino da Educação Física, publicada por um Coletivo de autores. Essa pedagogia levanta questões de poder, interesse, esforço e contestação. Acredita que qualquer consideração sobre a pedagogia mais apropriada deve versar não somente sobre questões de como ensinar, mas também sobre como adquirimos esses conhecimentos, valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico. Esta percepção é fundamental na medida em que possibilitaria a compreensão, por parte do aluno, de que a produção da humanidade expressa uma determinada fase e que houve mudanças ao longo do tempo. 26 • Crítico-emancipatória: uma das principais obras publicadas dentro desta perspectiva é de autoria do professor Elenor Kunz (1989) intitulada Transformação didático- pedagógica do esporte. Nesse livro, o autor busca apresentar uma reflexão sobre as possibilidades de ensinar os esportes pela sua transformação didático-pedagógica, de tal modo que a Educação Física contribua para a reflexão crítica e emancipatória de crianças e jovens. Para o autor, o ensino escolar necessita, dessa forma, basear-se numa concepção crítica. Assim, a tarefa da Educação Física crítica é a de promover condições para que essas estruturas autoritárias sejam suspensas e o ensino possa caminhar no sentido de uma emancipação, possibilitada pelo uso da linguagem. DICA Para aprofundar seu conhecimento sobre as diferentes correntes e teorias presentes na história da Educação Física você deve buscar na íntegra os autores e suas obras apresentadas! Há disponível na internet também Lives e resumos sobre o conteúdo apresentado. 4 PRINCIPAIS METODOLOGIAS DE ENSINO- APRENDIZAGEM DOS ESPORTES Chegamos ao final deste tópico de estudo e aqui traremos uma revisão bibliográfica presente a obra de Reverdito, Scaglia e Paes (2009) faz um panorama e análises conceituais sobre as principais abordagens clássicas em Pedagogia do Esporte, além de outras importantes referências investigativas. Este conhecimento é necessário para avançarmos em nossos estudos! Vamos lá? Quando buscamos referências clássicas sobre a teoria dos jogos esportivos coletivos percebemos que existem importantes obras e autores, que partem de distintas abordagens, mas que, no fim das contas, buscam atender aos mesmos objetivos metodológicos, principalmente em permitir uma iniciação e formação esportiva consciente, crítica e reflexiva, fundamentada sobre os pilares da diversidade, inclusão, cooperação e autonomia dos indivíduos, sustentando sua prática pedagógica na transcendência sobre a simples repetição do movimento humano, a partir das inteligências múltiplas, dos aspectos psicológicos, princípios filosóficos e da aprendizagem social (REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2009). 27 Ou seja, do ponto de vista conceitual, temos uma ruptura com o modelo de ensino tradicional citado no subtópico anterior. Neste contexto, as metodologias de ensino-aprendizagem dos esportes estão condicionadas à essencialidade complexa do jogo, em que o jogar somente se aprende jogando, portanto, utiliza-se de atividades lúdicas, jogos pré-desportivos, brincadeiras populares, jogos reduzidos, jogos condicionados e situacionais, que envolvem o praticante em um ambiente rico e estimulante de desenvolvimento e aprendizagem (PAES; BALBINO, 2005). Vamos mostrar a você algumas das principais obras que atendem a essa perspectiva: • O ensino dos desportos colectivos (BAYER, 1994). Esta pode ser considerada uma das primeiras obras a trazer uma abordagem para os esportes coletivos a partir do ensino das estruturas do jogo: os princípios operacionais (ataque, defesa, transições), as regras de ação e os gestos técnicos que, segundo o autor, encontram-se presente nas famílias dos jogos coletivos e são passíveis de transferência de aprendizagem. • O ensino dos jogos desportivos. Os autores Garganta (1995) e Graça (1995) trazem em suas obras a caracterização de uma abordagem em pedagogia do esporte sobre o jogo e o indivíduo que joga, sendo o jogo formativo por excelência quando, dependendo da metodologia, induz ao desenvolvimento da cooperação e da inteligência, nas quais é referencial para uma cultura esportiva, articulando os aspectos fundamentais dos jogos e o conceito à natureza aberta das habilidades, regulada pelos constrangimentos surgidos dos fatores exteriores. Sua prática pedagógica está pautada pela especificidade de equipe, entendida como um microssistema social complexo e dinâmico, articulando os aspectos fundamentais dos jogos e pelos conhecimentos gerais em pedagogia. Contudo, em Garganta (1995) e Graça (1995), mesmo sendo possível em sua caracterização visualizar uma linha de pensamento, no qual permite aproximar a prática científica e pedagógica e que nos permite entendê-las enquanto abordagens, nas estratégias-metodologias os autores trazem conceitos e orientações que revelam singularidades específicas de suas obras. Para Garganta (1995), a estratégia-metodologia orientada para o ensino do esporte, especificamente os jogos coletivos, deverão acontecer por meio dos jogos condicionados, unidades funcionais, orientados para compreensão do jogo (razões do fazer) e integrado a sua especificidade técnica (modo de fazer), contemplando uma prática transferível a partir da assimilação dos princípios comuns nos jogos, através de formas jogadas acessíveis, motivantes e desafiadoras. Em Graça (1995), a estratégia-metodologia esta pautada para a aprendizagem das habilidades básicas para os jogos, para o desenvolvimento da capacidade de jogo, por meio de jogos, atividades simplificadas e modificadas, combinando a exercitação e formas de jogos, facilitando a transferência da exercitação para os jogos, através de situações que exijam duplas tarefas (o que e como), em função das especificidades das habilidades abertas para os jogos e seu caráter multidimensional. A fundamentação trazida 28 pelos autores em suas obras está para uma teoria dos jogos esportivos coletivos, sustentados por uma abordagem fenômeno-estrutural, para uma prática transferível das similitudes comuns aos jogos, e sistêmica para a compreensão, operacionalização e otimização da totalidade complexa fenomenal do jogo. • Escola da bola: um ABC para iniciantes nos jogos esportivos (KRÖGER; ROTH,2002); Iniciação esportiva universal I: da aprendizagem motora ao treinamento técnico (GRECO, 1998); Iniciação esportiva universal II: metodologia da iniciação esportiva na escola e no clube (GRECO; BENDA, 1998). Encontramos consensos dentre as suas obras para uma abordagem em pedagogia do esporte apenas em sua fundamentação. Na caracterização de sua obra para a pedagogia do esporte, de acordo com Kröger e Roth (2002), constitui-se de uma ação pedagógica orientada para o desenvolvimento da cultura do jogar, uma escola da bola natural, livre e variada, orientada e universal a todos os esportes. Em suas estratégias-metodologias, Kröger e Roth (2002), defendem o ensino dos jogos coletivos por meio de jogos situacionais e de uma aprendizagem incidental, para o desenvolvimento da capacidade de jogo e das capacidades coordenativas, privilegiando os fatores de pressão (tempo, precisão, complexidade, organização, variabilidade, carga), determinantes da motricidade, para o desenvolvimento das habilidades com bola e da construção de movimentos específicos aos esportes (técnica). Enquanto que, em Greco e Benda (1998) e Greco (1998), apresenta-se para a iniciação esportiva universal, pautada em uma aprendizagem incidental, sobre o controle e desenvolvimento das capacidades, em meio às interrelações estabelecidas entre professor e aluno, facilitar o desenvolvimento das capacidades coordenativas, fundamentais para a construção e constituição do potencial do indivíduo, oferecendo-lhe a possibilidade de compartilhar decisões e conscientização político-social,contextualizada em sua ação. Greco e Benda (1998) e Greco (1998), defendem um proposta orientada para o desenvolvimento das capacidades coordenativas, inicialmente da aprendizagem motora ao treinamento da técnica, através de jogos e exercícios dirigidos, de perseguição e estafetas, em conformidade com o desenvolvimento da capacidade de jogo ao treinamento tático, por meio de jogos funcionais e situacionais, privilegiando fatores de pressão (tempo, precisão, complexidade, organização, variabilidade e carga), determinantes da motricidade. Entretanto, tanto Kröger e Roth (2002) e Greco e Benda (1998) e Greco (1998) fundamentam suas obras sobre uma visão na qual compreendem como progressista, na integração entre as ciências biológicas e pedagógicas, subsidiados pelas teorias de controle e aprendizagem motora, da psicologia geral e cognitiva, nas áreas da aprendizagem formal e incidental e criatividade. • O futebol que se aprende e o futebol que se ensina (SCAGLIA, 1999); O futebol e o jogo/brincadeira de bola com os pés: todos semelhantes, todos diferentes (SCAGLIA, 2003); Pedagogia do futebol (FREIRE, 2003). Estes autores trazem em suas obras a caracterização de uma abordagem em pedagogia do esporte pautada em princípios pedagógicos, em que o processo seja estabelecido em função do sujeito que joga, respeitando suas motivações intrínsecas e humanitude, no comprometimento com o ensinar e com a sua transformação, promovendo o desenvolvimento de sua autonomia, criticidade e a compreensão do fazer, integrada à sua cultura corporal e social. A prática 29 pedagógica sustenta-se sobre a diversidade e os princípios pedagógicos do ensinar esportes a todos, ensinar esporte bem a todos, ensinar mais que esportes e ensinar a gostar de esportes. Sua estratégia-metodologia está pautada na aprendizagem do jogo por meio do jogo jogado, sendo o ensino orientado para compreensão do jogo, com o objetivo do desenvolvimento da capacidade tática (cognitiva) em direção à especificidade técnica (motora específica), privilegiando situações de jogos e brincadeiras populares da cultura infantil, metodicamente orientados pelo jogo- trabalho. Os autores apoiam-se nos fundamentos das abordagens interacionista e do pensamento sistêmico-complexo, para as bases da teoria do jogo, privilegiando o aprendizado na interação entre a capacidade de aprender e das diferentes produções culturais já existentes, sendo o jogo principal ambiente dessa interação. DICA Vale pena assistirmos a este seminário no canal Pedagogia do Futsal, no Youtube. Você encontra no link: https://www.youtube.com/watch?v=fuFJEdtJmQw sobre o tema jogar para aprender! Com a participação dos professores Alcides Scaglia, Lucas Leonardo e Wilton Santana. Nesse canal, você vai encontrar também outros vídeos que podem ajudar nos estudos e compreensão sobre a temática! As obras citadas acima fundamentam os principais estudos atuais em Pedagogia do Esporte, sobretudo por apresentarem características de transformação e problematização, orientadas para o processo de formação de sujeitos conscientes, críticos e reflexivos por meio do esporte. Tais metodologias trazem o compromisso com o ensinar, nos quais o processo é estabelecido em função do sujeito que joga, valorizando sua cultura corporal e social, sobre os pilares da diversidade e orientada para todos, além da contextualização e a valorização de um ambiente formativo, mediado e facilitado pela ação do professor-educador. Segundo Ghidetti (2020), na mediação dos saberes corporais produzidos nos jogos esportivos, o subcampo da Pedagogia do Esporte avançou significativamente em conceitos que se interrelacionam e possibilitam uma probabilidade de resolver a questão da função social da Educação Física, atuando não apenas na questão da reprodução de gestos motores, técnicas e regras presentes nos esportes de alto rendimento, mas na transformação da própria prática esportiva. 30 ESTUDOS FUTUROS Retomaremos, de forma mais aprofundada, os estudos das tendências pedagógicas de ensino dos esportes na Unidade 3 deste Livro Didático! 31 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A pedagogia é a ciência que estuda um conjunto de técnicas, princípios, métodos e estratégias da educação e do ensino produzidos pela humanidade ao longo tempo, tendo a pedagogia do esporte como uma de suas subáreas. • A pedagogia do esporte pode ser definida como um campo de conhecimento que estuda os diferentes métodos de intervenção do processo de ensino, treinamento e aprendizagem relacionados ao esporte e a educação. • A pedagogia tradicional de ensino da Educação Física e dos esportes, também chamada de tecnicismo, possui elementos importantes para a história desta disciplina, porém, atualmente, exigentes diversas correntes e abordagens críticas que superam seu modo de intervir, tanto do ponto de vista teórico, quanto prático. • É importante que o professor de Educação Física adquira conhecimento sobre as diferentes correntes e abordagens produzidas ao longo da história, para que ele possa selecionar e desenvolver a forma coerente de intervenção na sua prática pedagógica. 32 1 Vimos que a pedagogia é a ciência que tem como objeto de estudo a educação e o processo de ensino e aprendizagem e que a pedagogia do esporte pode ser definida como um campo de conhecimento que estuda a intervenção do processo de ensino, treinamento e aprendizagem relacionados ao esporte e a educação, sendo classificada como uma ciência, em uma subárea da Educação Física. A partir desta afirmação, assinale a alternativa CORRETA sobre os objetivos da pedagogia do esporte: a) ( ) Organizar espaços de formação e desenvolvimento das habilidades esportivas no contexto escolar. b) ( ) Contribuir para o desenvolvimento social e a formação intelectual dos estudantes, promover a saúde a partir do desenvolvimento de habilidades e técnicas corporais. c) ( ) Promover disputas e desenvolver a performance máxima de crianças e adolescentes, sendo elas atletas de rendimento ou não. d) ( ) Identificar, selecionar e promover talentos esportivos desde a iniciação no contexto da Educação Física escolar. 2 Ao final deste tópico de estudo apresentamos a revisão de importantes obras e autores presentes na literatura científica que trazem um panorama geral, e análises conceituais sobre as principais abordagens atuais em pedagogia do esporte, a partir do que você aprendeu, analise as sentenças a seguir: I- Escola da bola: um ABC para iniciantes nos jogos esportivos (KRÖGER; ROTH,2002) defende a elaboração de uma ação pedagógica orientada para o desenvolvimento da cultura do jogar, uma escola da bola natural, livre e variada, orientada e universal a todos os esportes. II- O ensino dos desportos colectivos (BAYER, 1994) pode ser considerada uma das primeiras obras a trazer uma abordagem para os esportes coletivos a partir do ensino das estruturas do jogo: os princípios operacionais (ataque, defesa, transições), as regras de ação e os gestos técnicos que, segundo o autor, encontram-se presente nas famílias dos jogos coletivos e são passíveis de transferência de aprendizagem. III- Pedagogia do futebol (FREIRE, 2003) apresenta a iniciação esportiva universal, pautada em uma aprendizagem incidental, sobre o controle e desenvolvimento das capacidades, em meio às interrelações estabelecidas entre professor e aluno, tendo como objetivo facilitar o desenvolvimento das capacidades coordenativas, fundamentais para a construção e constituição do potencial do indivíduo, oferecendo-lhe a possibilidade de compartilhar decisões e conscientização político-social, contextualizada em sua ação. AUTOATIVIDADE 33 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Em oposição ao modelo tradicional tecnicistade ensino da Educação Física, sobretudo a partir do final da década de 1970, surgem outros movimentos que coexistem atualmente, tendo todas elas em comum a tentativa de romper com a pedagogia tradicional. A partir dessa afirmação classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Crítico-superadora: refere-se a formação de base indispensável a toda criança e foi o primeiro movimento mais articulado que surge a partir da década de 1970 em contraposição ao modelo esportivista até então dominante. ( ) Psicomotricidade: a proposta explicitada é uma abordagem dirigida especificamente para crianças de quatro a quatorze anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a Educação Física escolar, na tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem motora e, em função dessas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes para a estruturação da Educação Física escolar. ( ) Crítico-emancipatória: uma das principais obras publicadas dentro desta perspectiva é de autoria do professor Elenor Kunz (1989) intitulada Transformação didático-pedagógica do esporte. Nesse livro, o autor busca apresentar uma reflexão sobre as possibilidades de ensinar os esportes pela sua transformação didático- pedagógica, de tal modo que a Educação Física contribua para a reflexão crítica e emancipatória de crianças e jovens. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Vimos que as correntes pedagógicas são concepções que contribuem para a condução de um trabalho docente mais consciente. Historicamente tanto o esporte, quanto a Educação Física em geral, foram fortemente influenciadas pela pedagogia tecnicista tradicional, que privilegiava excessivamente a transmissão e repetição de conteúdos, muitas vezes desenvolvidos de forma autoritária pela figura do professor e sem qualquer vínculo com o contexto social a que se destinava. A partir dessa afirmação disserte esta forma de ensino na Educação Física escolar. 34 5 Vimos que as ciências pedagógicas se interessam pelas práticas esportivas corporais, por estas também serem elementos da civilização e campo de criação da humanidade, revelando genuinamente sua natureza humana, suas razões e padrões, intencionalidades, metas e valorizações sociais, implicando na educabilidade do sujeito no e pelo esporte, na obrigação de fazer na humanidade a humanização dos seres humanos, registrando o sujeito em cada sujeito, nesse sentido ela assume a responsabilidade de conduzir a relação entre teoria e prática, atendendo ao “para quê”, “porquê”, “quê”, “quando” e “como” ensinar esporte, levando em consideração os diferentes ambientes e as distintas faixas etárias. A partir do que foi estudado, disserte sobre o papel da pedagogia do esporte. 35 TÓPICO 3 - BASE DE CONHECIMENTO PARA INTERVENÇÃO NO ESPORTE 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 1 Olá, acadêmico! Chegamos ao último tópico da nossa primeira Unidade do Livro Didático da disciplina de Pedagogia do Esporte. Você está pronto para começarmos? A partir deste momento nossos estudos serão direcionados para a base de conhecimento necessária para intervenção no esporte por parte de professores de Educação Física e pedagogos do esporte, para isso, vamos trazer conceituados autores e exemplos práticos para tornar mais objetivo e dinâmico o nosso plano de estudos. Este tópico está dividido em outros três subtópicos. No primeiro, falaremos sobre o papel do professor enquanto pedagogo do esporte. No segundo, apresentaremos conhecimentos e competências do pedagogo do esporte. No terceiro, falaremos sobre as principais fontes de aprendizagem do pedagogo do esporte. Em seguida traremos uma Leitura Complementar sobre o tema central desta Unidade de estudo e, por fim, após um breve resumo geral do tópico estudado, vamos realizar as autoatividades para fixar nossos conhecimentos sobre o assunto! Freire (1996), destaca algumas responsabilidades, obrigações e princípios, quando aponta certas exigências em relação ao ato de ensinar: • Ensinar exige rigorosidade metódica. • Ensinar exige pesquisa. • Ensinar exige respeito aos saberes do educando. • Ensinar exige criticidade. • Ensinar exige estética e ética. • Ensinar exige corporeificação das palavras pelo exemplo. • Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. • Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. 36 • Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando. • Ensinar exige bom senso • Ensinar exige reconhecimento e a assunção da identidade cultural. • Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Ao professor é importante aprender a gostar do que faz antes de realizar qualquer ensinamento (FREIRE, 2003). DICA Assista esse breve vídeo sobre as teorias do desenvolvimento e da aprendizagem no canal do Youtube do professor João Batista Freire, segue o link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=8vADCHJBHkg. Neste canal você vai encontrar outros vídeos que podem ajudar nos estudos e compreensão sobre a temática! 2 O PROFESSOR ENQUANTO PEDAGOGO DO ESPORTE Você sabe qual o papel do professor enquanto pedagogo do esporte? Ao tratarmos o esporte pedagogicamente, os conteúdos abordados, além de terem significados aos praticantes, precisam ultrapassar a esfera da prática motora, sendo parte de um processo de ensino, vivência e aprendizagem que privilegie o ensino de valores e comportamentos, questões históricas e culturais sobre o esporte e as modalidades aprendidas, a discussão sobre a ética no esporte, a influência da mídia, o respeito, entre outros conhecimentos que fazem parte do universo esportivo e contribuem para o aspecto educacional e social da prática esportiva (MACHADO; GALATTI; PAES, 2014). Conforme mostramos anteriormente, em instituições de ensino formal (escolas e universidades) e não formal (clubes, prefeituras e projetos sociais), o trabalho com o esporte deve ser organizado e sistematizado a partir de objetivos educacionais intencionalmente estruturados, visando o pleno desenvolvimento dos participantes (MACHADO; GALATTI; PAES, 2014). Entre as diferentes maneiras de organizar os conteúdos estudados daremos ênfase aos procedimentos adotados a partir de três referenciais da Pedagogia do Esporte: • Técnico-tático: que trata das questões motoras, físicas, fundamentos e sistemas de cada modalidade, além da escolha metodológica para sua aplicação prática. • Histórico-culturais: que trata das regras, histórias sobre o esporte e as modalidades esportivas. 37 • Socioeducativo: que trata dos valores e modos de comportamento que podem ser estimulados se intencionalmente organizados e sistematizados como conteúdo esportivo, que visa fortalecer o trato pedagógico com os conteúdos esportivos na medida em que busca tratar dos conhecimentos que caracterizam o esporte como um elemento cultural e social. O quadro a seguir, retirado de Machado, Galatti e Paes (2014), adapto das obras de partes das obras de Galatti, Darido e Paes (2010), Machado (2012) e Machado, Galatti e Paes (2014), sintetizam os três referenciais da Pedagogia do Esporte que ajudam na compreensão do papel do professor enquanto pedagogo: QUADRO 1 – REFERENCIAIS DA PEDAGOGIA DO ESPORTE FONTE: Machado, Galatti e Paes (2014, p. 407) Neste sentido, o professor de Educação Física, enquanto pedagogo do esporte, independente do espaço de atuação, deve atuar enquanto mediador e facilitador da aprendizagem dos conteúdos a serem trabalhados. 38 FIGURA 6 – PROFESSOR ENQUANTO MEDIADOR DA APRENDIZAGEM FONTE: <https://br.guiainfantil.com/educacao-fisica/186-iniciacao-da-crianca-no-esporte.html>. Acesso em: 30 dez. 2021. Seja no contexto escolar ou em outros locais de ensino de modalidades esportivas (academias, clubes etc.), vimosque atualmente o professor deve fundamentar suas atividades em metodologias ativas de aprendizagem, com foco na dinâmica e funcionalidade das lógicas internas do jogo, conduzindo o processo de ensino com base nas relações de cooperação e oposição, tanto nas ações coletivas quanto individuais. NOTA As metodologias ativas de aprendizagem consistem em formas de ensino nas quais os estudantes são estimulados a participarem do processo de forma mais direta. Tendo como objetivo estimular o sujeito a sair de sua zona de conforto e colocá-lo como protagonista do processo de aprendizagem. Ao desenvolver a autonomia e o protagonismo em seu processo de formação, o estudante passa a exercer um papel ativo em seu próprio desenvolvimento, criando laços e memórias afetivas positivas com a prática esportiva, para tanto é importante também que o núcleo familiar possua hábitos de vida saudáveis e bom relacionamento com a prática esportiva. 39 FIGURA 7 – BOAS PRÁTICAS EM FAMÍLIA FONTE: <https://br.freepik.com/vetores-gratis/familia-feliz-fazendo-atividades-ao-ar-livre-design- de-personagem_4450414.htm>. Acesso em: 30 dez. 2021. Frente a este cenário, o professor deve atuar enquanto mediador da aprendizagem dos diferentes esportes individuais e coletivos, estimulando na interação de seus aprendizes entre o já conhecido e o novo, direcionando o estudante a compreender os princípios da lógica interna dos esportes e da elaboração de técnicas e estratégias que levem a eficiência de ação do aprendiz diante da situação de aprendizagem, para que ele possa utilizar o conhecimento adquirido ao longo de toda a vida. Ou seja, o que deve ser ensinado nos esportes é algo que vá além do aprendizado puramente do jogo em si e de seus fundamentos e habilidades específicas. Deve- se, claro, ampliar a aquisição de condutas motoras dos aprendizes, mas também seu entendimento crítico do esporte enquanto produto da cultura, promovendo por meio da práxis pedagógica sentimento de solidariedade, cooperação, autonomia, criatividade, hábitos saudáveis de vida, valores éticos, estéticos, sociais e morais. Você sabe quais são as melhores estratégias para reter a aprendizagem? O médico psiquiatra norte-americano William Glasser (1925-2013), desenvolveu a terapia da realidade e a teoria da escolha, a partir da abordagem pedagógica conhecida por pirâmide de aprendizagem, a fim de evidenciar os níveis de retenção de aprendizagem de um indivíduo de acordo com a forma que ele se relaciona com o conteúdo. 40 FIGURA 8 – PIRÂMIDE DE APRENDIZAGEM ATIVA FONTE: <https://econexao.com.br/sem-titulo-2/>. Acesso em: 28 dez. 2021. Neste sentido, o professor que segue as metodologias ativas de aprendizagem pode utilizar diferentes estratégias de ensino de habilidades técnicas, táticas e sociais, para uso do esporte como ferramenta de formação para a vida! Segundo consta na BNCC, os benefícios das metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem estão em reconhecer-se em seu contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo e responsável. ESTUDOS FUTUROS Retomaremos este tema, de forma mais aprofundada, na Unidade 3 deste Livro Didático, ao trazermos exemplos de propostas de ensino dos esportes associados às habilidades para a vida (life skills). 41 3 CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO PEDAGOGO DO ESPORTE Para se tornar um bom professor em esportes, é preciso dominar as habilidades técnicas da modalidade. Correto? Vamos refletir sobre esta afirmação. Se isso fosse uma verdade absoluta, o professor de Educação Física escolar não conseguiria dar conta dos conteúdos a serem trabalhados ao longo dos anos de formação de seus estudantes, ou então, apenas para tomarmos como ilustração, o Pelé (rei do futebol) deveria ser considerado o melhor professor de futebol de todos os tempos, pois ainda não surgiu ninguém capaz de superar seu desempenho atlético, e assim seria também com Falcão, no futsal, Gustavo Kuerten, no tênis, Airton Senna, na fórmula 1, entre tantos outros exemplos. Para se tornar um bom professor é preciso adquirir habilidades específicas, que chamamos de competência docente. Mas, você sabe o que é competência docente? O conceito de competência é multidimensional e interdependente na relação entre o professor, os estudantes, o contexto cultural e os valores sociais. Em educação, o conceito de competência surge como alternativa a aptidão, conhecimento e habilidade. É a competência que permite ao professor aprender a enfrentar e regular adequadamente um conjunto de tarefas e situações educativas. Neste sentido, entendemos que a competência profissional do professor de Educação Física envolve sua capacidade de articular o conhecimento teórico à execução prática, tendo percepção crítica e reflexiva sobre o que e como desenvolver o conteúdo de ensino. A competência docente é resultado de vários elementos da prática pedagógica que envolve os sujeitos nela presentes. De acordo com o presidente da Associação Ibero-americana de Didática Universitária, Miguel Ángel Zabalza, há dez competências essenciais para a atuação do docente, sendo estas: • Planificar o processo de ensino e aprendizagem: competência fundamental que organiza o que se espera ensinar e o que se espera que se aprenda. • Selecionar e apresentar os conteúdos disciplinares: muito mais que apenas aplicar um manual, é necessário saber selecionar os recursos e os conteúdos da aula. • Oferecer informações e explicações compreensíveis: saber explicar e dar exemplos. • Manejar as novas tecnologias: os docentes devem crescer neste sentido para poder aproveitar as ferramentas no ensino e oferecer uma educação que esteja adaptada à realidade atual. 42 • Administrar as metodologias do trabalho didático: é importante que os professores conheçam diversas metodologias para poder aplicar em diferentes situações (seja na aula magistral ou em trabalhos de grupo, seja em metodologias mais atuais ou como suporte). • Relacionar-se construtivamente com os estudantes: uma boa relação e comunicação com os alunos ajuda ao processo formativo, dando a atenção requerida individual e ampliando a possibilidade de transmitir o conhecimento. • Orientar os estudantes e os colegas: é um processo básico na educação a orientação ao aluno. Mais ainda, o professor deve conseguir orientar os colegas, num trabalho colaborativo, além de poder assistir a classes de outros, poder trabalhar em projetos conjuntos, comentar as dificuldades etc. • Avaliar o aprendizado, e o processo usado: é importante saber avaliar bem se o conhecimento foi adquirido. • Refletir e pesquisar sobre o ensino: para atuar profissionalmente, devemos estar continuamente aprendendo. E essa aprendizagem vem da pesquisa e da reflexão sobre a prática docente. • Implicar-se institucionalmente com o centro de educação e o trabalho em equipe: esta é uma competência transversal, sendo importante que o professor se envolva com os colegas e participe de um objetivo comum, sendo esta espécie de obrigação moral. IMPORTANTE Para se tornar pedagogo do esporte não é preciso apenas dominar o conteúdo específico da modalidade! FIGURA 9 – PROFESSOR PRECISA TER DIDÁTICA FONTE: <http://edfcompartilhaprofessor.blogspot.com/2019/02/o-treinador-de-futsal.html/>. Acesso em: 28 dez. 2021. 43 Já Milistetd (2015), em sua tese de doutorado, mostra que os currículos dos cursos de graduação em Educação Física, em sua maioria, caracterizam as competências a serem desenvolvidas de forma generalizada, assumindo com similaridades a atividade profissional nos diversos contextos de atuação do profissional de Educação Física. Tendo como os seguintes princípios básicos: • Intervir profissionalmente de forma ética no contexto onde está inserido. • Zelar pela segurança dos participantes. • Planejar atuar e avaliar programas e atividades de esporte, lazer e saúde. • Observar, tomar decisões,gravar e avaliar. • Dominar recursos, conhecimentos e competências técnicas da sua ação. • Empregar pedagogia adequada. • Compreender implicações socioculturais, políticas, econômicas e ambientais inerentes a sua intervenção profissional. • Alinhar princípios de formação humana e social. • Desenvolver autonomia para a autoaprendizagem. • Refletir e aprender. • Coordenar e gerir equipes técnicas e multidisciplinares. • Organizar equipes de trabalho. • Liderar e influenciar. • Gerir relações. • Ser um educador inovador. • Desenvolver a capacidade de liderança e comunicação. • Contribuir para o desenvolvimento de valores humanos, políticos e ético e morais. • Contribuir para a produção de novos conhecimentos. Apesar das competências identificadas nos currículos de formação em nível superior em Educação Física não serem destinadas somente para a atuação em pedagogia do esporte, este autor mostra que há uma forte correspondência entre estes princípios e as competências exigidas pela International Sport Coachinh Framework (ISCF), entidade referência em formação de treinadores esportivos. 44 NOTA Na tentativa de oferecer uma linguagem comum e de equalizar as necessidades e os objetivos formativos de treinadores esportivos, o Conselho Internacional para a Excelência de Treinadores (ICCE) em conjunto com a Associação de Federações Internacionais de Esportes Olímpicos de Verão (ASOIF) e a Universidade Metropolitana de Leeds (LMU), publicou recentemente o International Sport Coaching Framework (ISCF). O objetivo do ISCF é servir como uma referência para o desenvolvimento de treinadores ao redor do mundo. O Framework se apresenta como um modelo ajustável às necessidades de diferentes esportes, países e organizações, fornecendo parâmetros para a preparação e certificação de treinadores. Dentre as áreas de atuação dos treinadores esportivos, o Framework destaca dois contextos principais: Esporte Participação e Esporte Rendimento. O Esporte Participação possui o foco na prática esportiva como meio para o desenvolvimento da saúde e do lazer, promovendo aprimoramento pessoal, adoção de estilo de vida saudável, socialização e divertimento entre participantes. O Esporte Rendimento possui o foco no aumento das capacidades de desempenho esportivo, desde atletas emergentes até de atletas de alto rendimento (MILISTEDT, 2015). 4 AS PRINCIPAIS FONTES DE APRENDIZAGEM DO PEDAGOGO DO ESPORTE No Brasil, a formação universitária é reconhecida pela Lei 9696 de 1º de setembro de 1998, também conhecida como Lei do CREF, que dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. De acordo com este marco regulatório nacional, recai aos cursos em nível superior, oferecer formação ampla com bases humanas, pedagógicas, biológicas e sociais aos futuros profissionais. Para tanto, os cursos devem utilizar variadas formas de ensino, como aulas teóricas e práticas, práticas pedagógicas curriculares, estágios curriculares, entre outras experiências de aprendizagem para o desenvolvimento de conhecimentos e competências dos futuros profissionais de Educação Física (MILISTEDT, 2015). Interessa nesse momento compreender de que forma os pedagogos esportivos aprendem e desenvolvem suas habilidades pedagógicas. Com base em pressupostos da área da educação, Nelson et al. (2006) utilizam três tipos de aprendizagem: • Aprendizagem formal: certificações em instituições de ensino, tais como as universidades, institutos, entre outros. • Aprendizagem não-formal: certificações em atividades organizadas como seminários, cursos livres, clínicas etc. • Aprendizagem informal: experiências diárias, interação com seus pares, observação, conversas etc. 45 DICA Nos últimos anos cresceu exponencialmente as possibilidades de acesso a informações e conteúdos ricos em aprendizagem, principalmente por meio de plataformas virtuais como as Lives, Podcasts, entre outras ferramentas. Milistedt (2015) mostra que, mais recentemente, ampliou-se o entendimento sobre os tipos de aprendizagem profissional, demonstrando ser mais viável utilizar os termos “contextos de aprendizagem” e “situações de aprendizagem”. Enquanto que o contexto se refere ao cenário onde ocorre o processo de aprendizagem, a situação é a percepção do indivíduo sobre a própria aprendizagem neste cenário. Essa definição avança no entendimento de que a aprendizagem é um processo individual, pois a filtragem das informações externas irá depender da biografia (estrutura cognitiva) de cada indivíduo, suas expectativas e motivação (orientação para a aprendizagem). Neste sentido, Trudel et al. (2013) justificam que a utilização dos termos situações mediadas, situações não-mediadas e situações internas de aprendizagem são mais adequadas para definir as vias pelas quais os profissionais da área esportiva aprendem. • Situações mediadas: caracterizadas como oportunidades de aprendizagem que não são definidas pelo aprendiz, no qual o contexto é controlado por outras pessoas, entre os quais, experts e instrutores que definem o conteúdo a ser trabalhado e a forma do seu desenvolvimento. • Situações não-mediadas: definidas como oportunidades de aprendizagem escolhidas pelos próprios agentes, sendo uma aprendizagem não estruturada que pode ocorrer de forma inconsciente, por meio da experiência adquirida ou pela socialização com outros atores no próprio ambiente esportivo. • Situações internas: oportunidades de aprendizagem que não estão relacionadas às informações externas, mas aos momentos em que os agentes reorganizam o conhecimento advindo de diferentes experiências em sua estrutura cognitiva e, consequentemente, atingem níveis profundos de aprendizagem. Importante destacar que, ao estar fundamentada na perspectiva de como o pedagogo do esporte aprende, a formação vislumbra a possibilidade de oferecer oportunidades de aprendizagem mais significativas aos agentes, onde o novo conhecimento emerge com base nos conhecimentos e experiências prévias de cada indivíduo. 46 A importância de utilizar diferentes situações de aprendizagem coloca o profissional de Educação Física como um agente ativo na construção do seu conhecimento, partilhando suas experiências com colegas e instrutores, discutindo problemas reais e experimentando novos caminhos na tentativa ampliar sua capacidade de intervenção e, consequentemente, atingindo níveis profundos de aprendizagem (MILISTEDT, 2015). FIGURA 10 – PROFESSOR PESQUISADOR FONTE: <https://nossaciencia.com.br/oportunidades/professor-substituto-de-artes-desenho-e- design-digital/>. Acesso em: 28 dez. 2021. IMPORTANTE Recai aos estudantes, professores ainda em formação, buscarem outras fontes de experiência e aprendizagens para qualificar sua trajetória formativa e ampliar a rede de relações, importante para a inserção no mercado profissional. 47 O FUTEBOL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: PROPOSTA PEDAGÓGICA BASEADA EM JOÃO BATISTA FREIRE João Batista Freire “Quando vejo uma criança, ela me inspira dois sentimentos, ternura pelo que ela é, e respeito pelo que pode ser”. Jean Piaget Para Freire (2006), o futebol brasileiro foi gerado nos centros urbanos, onde se jogavam as famosas “peladas” nas chamadas várzeas. Com o processo de urbanização nas grandes metrópoles brasileiras, essas várzeas onde as crianças brincavam e jogavam bola foram desaparecendo. Então, as crianças que viviam nas grandes cidades encontraram nas quadras de futebol de escolas, clubes, condomínios, igrejas e locais possíveis para a prática, um refúgio para brincar e jogar bola, orientadas por professores ou não. Na rua e nos “rachas” no campinho as crianças são livres, agem segundo a sua determinação, criam seu mundo de fantasias. Todo mundo ensina todo mundo, criança ensina criança, mais velho ensina mais novo. Até demonstram malícia e crueldade. Como afirmamos anteriormente, o futebol é um fenômeno urbano,que era jogado na rua. Devido à eliminação desses espaços onde praticavam brincadeiras referentes ao futebol, com frequência cada vez maior, os alunos chegavam às escolas sem a experiência adequada, o que não permitia uma base para desenvolver suas habilidades esportivas. Portanto, a escola deve trabalhar as formas básicas de movimentos para enriquecer a motricidade da criança ou do adolescente. Como apresenta Freire (2006, p.08), “escola não é rua e nunca será demais repetir isto. Professores são profissionais especialistas em ensinar e devem se orientar por ideias, teorias, princípios”, sem desconsiderar conhecimentos trazidos pelo aluno. Concordamos com o mesmo autor em trabalhar com quatro princípios básicos norteadores: ensinar futebol a todos, ensinar futebol bem a todos, ensinar mais que futebol a todos e ensinar a gostar do esporte. LEITURA COMPLEMENTAR 48 As práticas comuns do futebol na várzea, nos clubes ou nas escolas, costumam dar atenção somente para os mais habilidosos. O futebol deve ser ensinado a “todos”, “[…] de modo que aqueles que já sabem jogar futebol devem ser orientados para aprender a jogar melhor; aqueles que sabem muito pouco ou nada de futebol devem receber toda a atenção até que aprendam, no mínimo, o suficiente” (FREIRE, 2006, p.9). É preciso ensinar futebol bem a todos. O autor acredita que todos podem jogar futebol de qualidade, alguns em menor, outros em maior tempo. Todo processo pedagógico exige paciência, mas se ensinarmos o mesmo, bem a todos, os alunos mostrarão habilidades para jogar futebol. Além disso, devem ensinar mais que futebol a todos, mas também promoverem atividades onde os alunos aprendam a conviver em grupo, construir regras, discuti- las e até discordar, podendo mudá-las, para que haja uma rica contribuição para seu desenvolvimento moral e social. Contribuir para o desenvolvimento da inteligência do aluno, não pensando apenas no craque, mas em sua condição humana; discutir sobre os acontecimentos da aula, colocando-o em situações desafiadoras, estimulando-o a criar suas próprias soluções para situações- problemas e falar sobre elas, levando-o a compreender suas ações. Devemos ensinar ao aluno gostar do esporte, ensinar o futebol com brincadeiras, com diversão, com carinho, com atenção, com liberdade, pois antes de qualquer ensinamento, o aluno precisa aprender a gostar do que faz, sem precisarmos enganar os alunos com promessas de um futuro glorioso e levá-los a engolir treinamentos exaustivos, práticas desagradáveis, tristes, repetitivas ou autoritárias e fazer com que acreditem que isso os transforme em futuros craques. É fácil entender que o aluno costuma gostar mais daquilo que lhe é prazeroso do que aquilo que lhe causa sofrimento. Saber ensinar as crianças de uma maneira simples e de fácil entendimento, para que elas gostem do esporte e tenham prazer em praticá-lo, desenvolvendo suas habilidades com qualidade e competência. E principalmente transformar essa criança num futuro cidadão é uma das mais difíceis e desgastantes tarefas humanas – quem ensina sabe disso. A escola não é o único lugar onde aprendemos e desenvolvemos coisas importantes. As brincadeiras de rua, jogos infantis, histórias/experiências de vida e muitas outras atividades fora do âmbito escolar serão fundamentais para o desenvolvimento motor e intelectual do aluno. Uma bagagem de experiências formará bases sólidas para a inteligência, afetividade e sociabilidade do aluno; por outro lado, uma bagagem pobre levará ao comprometimento dessas estruturas. 49 Na escola devemos promover atividades com qualidade para o aprendizado, preservando o lúdico. Preservar esse espaço lúdico, trazendo essa cultura para dentro da escola, é de grande mérito e prestígio para que esse aprendizado não perca seu ambiente natural. Mas é evidente e inevitável que adaptações sejam necessárias para se ensinar futebol na escola. O autor Freire (2006) diz que esse conhecimento trazido pelo indivíduo durante toda a sua vida de fora do ambiente escolar não pode ser ignorado pelos professores. Temos que trabalhar em cima deste conhecimento durante as aulas de educação física escolar. Essa meta de construção de conhecimento, respeitando o universo cultural dos alunos, explorando a gama múltipla de possibilidades educativas de sua atividade lúdica, propõe tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras. “O construtivismo na área de educação física tem o mérito de considerar o conhecimento que o aluno previamente já possui, resgatando sua cultura de jogos e brincadeiras. A abordagem busca envolver essa cultura no processo de ensino e aprendizagem, aproveitando as brincadeiras de rua, os jogos de regras, as rodas cantadas e outras atividades que compõem o universo cultural dos alunos. Ela representa uma alternativa aos métodos diretivos de ensino, pois o aluno constrói o seu conhecimento a partir da interação com o meio, resolvendo problemas” (DARIDO; SANCHES NETO, 2005, p. 11). Portanto, a proposta privilegia o jogo como principal conteúdo, porque enquanto se joga ou brinca, a criança aprende em um ambiente lúdico e prazeroso. E a avaliação caminha no sentido de evitar punições, com ênfase no processo de autoavaliação (DARIDO; SANCHES NETO, 2005). Como mostra os Parâmetros Curriculares Nacionais, é preciso saber que: “A proposta teve o mérito de levantar a questão da importância de se considerar o conhecimento que a criança já possui na Educação Física escolar, incluindo os conhecimentos prévios dos alunos no processo de ensino aprendizagem. Essa perspectiva também procurou alertar os professores sobre a importância da participação ativa dos alunos na solução de problemas” (BRASIL, 1998, p.24). Podemos perder um pouco desse ambiente de aprendizagem das brincadeiras de rua, mas com a inclusão de bons profissionais nas escolas, podemos produzir um efeito real positivo, para se ensinar futebol. Não precisamos ter pressa. Principalmente quando se trata de criança, nada pode ser mudado na vida dela de um dia para o outro. Como cita Freire (2006, p.23), “[…] a criança, quando chega à escola de esportes, deve continuar brincando de esportes, sendo que as sistematizações para aquisição de técnicas devem ocorrer lentamente, sutilmente”. Seguindo o pensamento e adaptando nas aulas de educação 50 física, precisamos que o aluno brinque de praticar esportes, jogos, lutas, ginástica; desenvolvam conhecimento sobre o próprio corpo; sejam expostos a atividades rítmicas e expressivas, blocos de conteúdos que devem ser trabalhados nas aulas de educação física apresentados (BRASIL, 1998). O brincar de praticar esportes faz com que o aluno aprenda a construir suas habilidades motoras, combinar essas habilidades e socializá-las, enriquecer sua motricidade, favorecendo as construções intelectuais, sociais e motoras do (FREIRE, 2006). Apresentamos uma proposta pedagógica, fundamentada por João Batista Freire, buscando acrescentar algo na formação dos profissionais que atuam na educação física escolar, para que tratem a disciplina com mais atenção e respeito, transformando a educação física em uma disciplina respeitada pelos alunos e corpo escolar, que não seja só a hora da diversão, mas da aprendizagem e do desenvolvimento psicomotor, socioafetivo e cognitivo-moral. Bibliografia BRASIL, Ministério de Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: Educação física / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC / SEF, 1998. DARIDO, S. C.; SANCHEZ NETO, L. O contexto da educação física na escola. In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2005. FREIRE, J. B. Pedagogia do futebol. 2° ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2006. FONTE: <https://universidadedofutebol.com.br/2009/06/01/o-futebol-nas-aulas-de-educacao- fisica-escolar-proposta-pedagogica-baseada-em-joao-batista-freire/>.Acesso em: 27 dez. 2021. 51 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O professor deve atuar enquanto figura mediadora da aprendizagem dos esportes, estimulando na interação de seus aprendizes entre o conhecido e o novo, direcionando o estudante a compreender os princípios da lógica da elaboração de técnicas e estratégias que levem a eficiência de ação do aprendiz diante da situação de aprendizagem. • O conceito de competência pedagógica é multidimensional e interdependente na relação entre o professor, os estudantes, o contexto cultural e os valores sociais. • De que forma os pedagogos esportivos aprendem e desenvolvem suas habilidades para elaboração de suas intervenções práticas. 52 1 Vimos ao longo deste tópico sobre a importância de o professor de Educação Física atuar em conexão com seus estudantes e projetos de ensino, sobretudo a partir das diferentes metodologias ativas de aprendizagem existentes e produzidas por autores presentes na literatura científica. Com base nessa afirmação, assinale a alternativa correta sobre a pirâmide de aprendizagem de William Glasser: a) ( ) Temos mais de 20% de chance de aprender quando lemos sobre o conteúdo que estamos estudando. b) ( ) Temos cerca de 95% de chance de aprender quando ensinamos o conteúdo que estamos estudando aos outros. c) ( ) Aprendemos cerca de 70% quando vemos e ouvimos sobre o conteúdo que estamos estudando. d) ( ) Temos cerca de 30% de chance de aprender quando vemos e ouvimos sobre o conteúdo estudado. 2 Vimos também que o conceito de competência é multidimensional e interdependente na relação entre o professor, os estudantes, o contexto cultural e os valores sociais. Sobre esta afirmação, analise as sentenças a seguir que trazem as competências docente para o professor Miguel Ángel Zabalza: I- Selecionar e apresentar os conteúdos disciplinares; avaliar o aprendizado, e o processo usado; manejar as novas tecnologias. II- Planificar o processo de ensino e aprendizagem; relacionar-se construtivamente com os estudantes, orientar os estudantes e os colegas; implicar-se institucionalmente com o centro de educação e o trabalho em equipe. III- Oferecer informações e explicações compreensíveis; administrar as metodologias do trabalho didático, refletir e pesquisar sobre o ensino. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a alternativa I. b) ( ) Alternativas II e III. c) ( ) Alternativas I e III. d) ( ) Somente alternativa II. e) ( ) Todas as alternativas estão corretas. AUTOATIVIDADE 53 3 No Brasil, a formação universitária é reconhecida pela Lei 9696 de 1º de setembro de 1998 que dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. De acordo com este marco regulatório nacional classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Recai aos cursos em nível superior, oferecer formação ampla com bases humanas, pedagógicas, biológicas e sociais aos futuros profissionais. ( ) Os cursos de Educação Física devem atuar como certificadores e regulamentadores, exclusivamente, de treinadores esportivos que pretendem atuar no esporte de alto rendimento. ( ) Os cursos devem utilizar variadas formas de ensino, como aulas teóricas e práticas, práticas pedagógicas curriculares, estágios curriculares, entre outras experiências de aprendizagem para o desenvolvimento de conhecimentos e competências dos futuros profissionais de Educação Física. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F -V. 4 Disserte sobre o texto O futebol nas aulas de Educação Física escolar: proposta pedagógica baseada em João Batista Freire apresentado na Leitura Complementar, abordando os principais tópicos estudados neste tópico. 5 Vimos sobre a importância de utilizar diferentes situações de aprendizagem para colocar o profissional de Educação Física como um agente ativo na construção do seu conhecimento. Neste contexto, disserte sobre as atitudes esperadas pelo professor em formação na busca de sua qualificação e atualização. 54 REFERÊNCIAS AUGUSTIN, J. P. Sport, Geographie et Aménagement. Bordeaux: Édition Nathan, 1995. BASSANI, J.J.; TORRI, D.; VAZ, A. F. Sobre a presença do esporte na escola: paradoxos e ambiguidades. Movimento, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 89-112, 2003. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.2811. Disponível em: https://bit.ly/3CakZHN. 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No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – OS 4 TIPOS DE MANIFESTAÇÕES ESPORTIVA TÓPICO 2 – DIVISÃO DOS ESPORTES TÓPICO 3 – CONVERSANDO COM A BNCC Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 60 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 61 TÓPICO 1 — OS 4 TIPOS DE MANIFESTAÇÕES ESPORTIVAS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à segunda unidade do nosso Livro Didático da disciplina Pedagogia do Esporte; e já que estamos iniciando mais uma etapa de estudos, vamos introduzir você aos temas que serão abordados. Vamos lá? A unidade 2 tem como tema central apresentar definições conceituais e exemplos sobre a prática dos esportes coletivos e individuais, e para atendermos a estes objetivos organizamos para você três tópicos de estudos. No Tópico 1, abordaremos sobre os tipos de manifestações esportivas vigentes em nossa legislação, sendo estes: • Esporte educacional. • Esporte de participação. • Esporte de rendimento. • Esporte de formação. No Tópico 2, apresentaremos a divisão e a categorização dos diferentes esportes coletivos e individuais existentes, sendo estes: • Esportes de campo e taco. • Esportes de combate. • Esportes de invasão. • Esportes de marca e precisão. • Esportes de parede e rede. • Esportes técnico-combinatórios. Por fim, no Tópico 3, faremos análises das potencialidades pedagógicas e da organização do conteúdo dos esportes no contexto escolar em conversa com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 62 LEMBRETE O Livro Didático será seu guia de estudos! Nele vamos encontrar o conteúdo necessário para aprendizagem, autoatividades, dicas e encaminhamentos para você buscar se aprofundar no tema apresentado. Neste primeiro tópico utilizamos como base a Lei 9615/98, também conhecida como Lei Pelé, que institui as normas e diretrizes gerais do desporto nacional, inspirado nos fundamentos constitucionais do Estado brasileiro. INTERESSANTE A Lei Pelé foi promulgada em 24 de março de 1998, substituindo a Lei Zico de 1993. Ela surgiu durante o governo Fernando Henrique Cardoso, quando Pelé era Ministro dos Esportes, por isso ela ficou conhecida por este nome. Assim como as demais Leis em vigência no território nacional, a Lei Pelé sofreu algumas alterações ao longo dos últimos anos. Precisamos ficar atentos as atualizações! 2 ESPORTE EDUCACIONAL “É uma irresponsabilidade pedagógica trabalhar o esportena escola que tem por consequências provocar vivências de sucesso para uma minoria e vivências de insucesso ou de fracasso para a maioria.” (Elenor Kunz) Conforme apresenta a Lei Pelé, fundamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que estabelece que a Educação Física é obrigatória no currículo da educação básica, o esporte educacional deve ser praticado, prioritariamente, nos estabelecimentos escolares, mas também pode se manifestar fora da escola, como por exemplo em programas e projetos que utilizam o esporte como ferramenta de inserção social. Além disso, a Constituição Federal vigente desde 1988 determina que, em matéria de esportes, ele tenha prioridade na distribuição dos recursos públicos (SANTOS, 2018; TUBINO, 2010). IMPORTANTE O principal objetivo do esporte educacional é o desenvolvimento integral do indivíduo e sua formação para o exercício da cidadania e prática do lazer. Para isso, deve-se evitar a seletividade, a competitividade excessiva e a especialização precoce de seus participantes, conforme veremos ao longo deste tópico de estudos (NOGUEIRA; MENDONÇA, 2015). 63 Para Tubino (2010) o conceito de esporte educacional é fruto do modo como intelectuais e organismos internacionais de diversas áreas do conhecimento denunciaram o uso político-ideológico do esporte e avaliaram as exacerbações do alto rendimento. O esporte aparece em matérias de grandes organismos internacionais pontuando a necessidade de todos participarem de atividades físicas, não como uma obrigação, mas como um direito a presença de um esporte que fomente a participação, ao invés da seleção dos mais aptos, a defesa das práticas esportivas como ferramenta de educação moral e o papel do Estado no fomento de atividades físicas e esportivas (NOGUEIRA; MENDONÇA, 2015). LEMBRETE Você se lembra que na unidade anterior deste Livro Didático falamos sobre o uso dos esportes como ferramenta de ideologia política? Pois o conceito de esporte educacional surge justamente para combater esta ideia, sendo elaborada a partir da Carta Internacional da Educação Física e esporte da Unesco, publicada no ano de 1978. Este importante documento apresenta alternativas para transcender a visão do esporte apenas como performance e busca por resultado, estando fundamentado em valores como coeducação, emancipação, participação e cooperação. Tendo também como objetivo alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo, a partir dos quatro pilares da educação: Conhecer, Conviver, Fazer e Ser, para a formação de competências à cidadania plena, na busca da inclusão e transformação social. 64 FIGURA 1 – OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO (UNESCO) FONTE: <https://cristofani.org/blog/qual-o-alvo-dos-quatro-pilares-da-educacao>. Acesso em: 12 jan. 2022. Em paralelo a isso, por ocasião das disputas dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBS), primeira competição de cunho escolar de abrangência nacional, que se iniciou no ano de 1969, ganha força o debate sobre o esporte educacional. Os jogos escolares, que deveriam ter um caráter eminentemente educativo, apresentam outro significado, ou seja, o de competições de alto rendimento reproduzindo todas as suas características, inclusive desfigurando o conceito de esporte educação, levando como consequência a exclusão e a competitividade exacerbada. Tubino (2001, p. 38) ainda completa dizendo que, neste contexto de atuação, deve ser “evitada à seletividade, a segregação social e a hipercompetitividade, com vistas a uma sociedade livremente organizada, cooperativa e solidária”. Somente em 1993, a Lei n° 8672/1993 e o Decreto n° 981/1993 reforçam o conceito de esporte educacional ao afirmar que a hipercompetitividade e a alta seletividade invalidam a prática esportiva educacional. 65 Em 1995, com a criação do Ministério Extraordinário do Esporte e do INDESP (Instituto Nacional do Desenvolvimento do Esporte), foi elaborado um documento- ensaio com os princípios fundamentais do esporte educacional, sendo estes: • Princípio da coeducação: concepção da educação que, como um processo unitário de integração e modificação recíproca, considera a heterogeneidade (sexo, idade, nível socioeconômico, condição física etc.) dos atores sociais envolvidos e, fundamenta-se nas experiências vividas de cada um dos participantes, estruturando a atuação pedagógica apoiada na ação e reflexão. • Princípio da cooperação: união de esforços no exercício constante da busca do desenvolvimento de ações conjuntas para a realização de objetivos comuns, fundamentada no potencial cooperativo e no sentimento comunitário de cada um dos participantes do processo, estreitando, assim, os laços de solidariedade, parceria e confiança mútua, de forma a fortalecer as habilidades em perseverar, em compartilhar sucessos e insucessos, em compreender e aceitar o outro, como elementos constitutivos do processo de coevolução do homem. • Princípio da emancipação: busca da independência, autonomia e liberdade do ser humano, fundamentando-se nos princípios da educação transpessoal, pelo qual o aprendiz é encorajado a despertar, a se tornar autônomo, a indagar, a explorar todos os cantos e frestas da experiência consciente, a procurar os significados, a testar os limites exteriores, a verificar as fronteiras e as profundidades do próprio eu oportunizando assim, o desenvolvimento por intermédio da criatividade e da autenticidade, da capacidade de discernir criticamente e elaborar genuinamente as suas próprias razões de existir. • Princípio da participação: valorização do processo de interferência do homem na realidade na qual está inserido, fundamentado nos princípios de cogestão, corresponsabilidade, integração e favorecendo seu comprometimento, como ator- construtor dessa mesma realidade, propiciando o gerenciamento das questões de seu interesse, tendo em vista o processo de organização social decorrente do exercício de seus direitos e responsabilidades. • Princípio do regionalismo: respeito, proteção e valorização das raízes e heranças culturais, como sinergias constitutivas do todo, considerando a singularidade inerente aos diversos mundos culturais, surgidos da relação intrínseca entre seus elementos, de forma a resgatar e preservar a sua identidade cultural, no processo de construção do coletivo. • Princípio da totalidade: fortalecimento da unidade do homem (consigo, com o outro e com o mundo), considerando a emoção, a sensação, o pensamento e a intuição como elementos indissociáveis, favorecendo assim o desenvolvimento do processo de autoconhecimento, autoestima e autossuperação, visando a preservação de sua individualidade em relação às diversas outras individualidades, tendo em vista o contexto uno e diverso no qual está inserido. 66 Neste contexto há um reconhecimento da importância da presença do esporte na escola, no entanto se enfatiza a necessidade de priorizar o desenvolvimento do indivíduo e não apenas o desenvolvimento de habilidades técnicas dos esportes. O esporte educacional, voltado prioritariamente às crianças e adolescentes que se encontram regularmente matriculadas nas escolas, mas também para jovens e adultos universitários, tem como objetivo o desenvolvimento integral, respeitando- se as dimensões física, moral e mental, e, ainda, atua como ferramenta de inclusão social. Ele está relacionado diretamente à aplicação das aulas de Educação Física como instrumento científico de orientação, controle e desenvolvimento das capacidades e habilidades dos alunos (SANTOS, 2018; SEVEGNAMI et al., 2019). INTERESSANTE Estudos apontam que o esporte é um fator de motivação escolar. Por isso, investir na prática esportiva, além de ser um caminho certeiro para inspirar cada vez mais alunos a se dedicarem às diferentes modalidades, descobrirem novos estilos de vida e aprenderem sobre valores fundamentais à vida em sociedade, também pode ser uma estratégia para que os jovens mantenham o interesse na educação (SOARES; SILVA, 2019).3 ESPORTE DE PARTICIPAÇÃO O esporte de participação, segundo tipo de manifestação esportiva vigente, é aquele praticado de modo voluntário, livremente pelas pessoas, sem que haja necessidade de se cumprir as regras oficiais das modalidades, estando associado intimamente com o lazer e o tempo livre e ocorre em espaços não comprometidos com o tempo e fora das obrigações da vida diária (TUBINO, 2001). Este mesmo autor ainda faz referência a essa dimensão do esporte dizendo que a integração entre povos através de parcerias e alianças desenvolvidas entre as comunidades é que fortalece esses grupos (comunidades). Por tudo isso, é que podemos perceber que essa dimensão juntamente com o esporte educação, quando trabalhado seguindo seus preceitos e objetivos reais, podem estar mais interrelacionadas com os caminhos democráticos em relação a prática do esportiva (SEVEGNAMI et al., 2019). Sendo assim, seu principal objetivo é influenciar positivamente, a partir do princípio do prazer lúdico, nas interações entre as pessoas, sendo fundamental para contribuir nos aspectos da vida social, buscando a promoção da saúde, preservação do meio ambiente e a educação relacional para todos (SANTOS, 2018). 67 IMPORTANTE Fica evidente que nesta dimensão do esporte há preocupação com o prazer, diversão, e integração social entre povos, e não o comprometimento exacerbado em obter vitórias ou novos êxitos, sendo um espaço de práticas onde as pessoas podem praticar e sentir-se bem. Para Almeida e Gutierrez (2008), esse tipo de manifestação esportiva apresenta as seguintes características aos praticantes: • Favorecer uma prática esportiva que elimine diferenças no sentido de democratizar o bem-estar. • Perceber a facilidade de acesso à prática das atividades físicas e esportivas oferecidas por uma estrutura de funcionamento organizada com segurança para a integridade pessoal de todos. • Realizar atividades físicas sem pretensão de superar índices individuais, ou seja, para apenas sentir-se integrado ao meio ambiente. • Sentir-se satisfeito pela convivência com as pessoas. • Ser atraído para a prática de um esporte despojado de comparações atléticas. • Tornar possível a realização do convívio social e seu aproveitamento, decorrente do esporte. Ainda que o esporte de participação esteja relacionado a forma mais livre de sua prática, podemos considerá-lo também como um potente mercado de trabalho para os profissionais de Educação Física. Sabemos que há programas governamentais que utilizam esta ferramenta como forma de desenvolvimento social, e que, além disso, há uma crescente procura de jovens e adultos em aprender as técnicas e regras de esportes para o lazer, principalmente em esportes de areias, tais como o beach tennis, beach soccer, futevôlei, vôlei, entre outros. 68 FIGURA 2 – PROGRAMA ESPORTE PARA TODOS FONTE: <http://paulista.pe.gov.br/site/noticias/detalhes/1964>. Acesso em: 12 jan. 2022. FIGURA 3 – AULA DE BEACH TENNIS FONTE: <https://www.mogidascruzes.sp.gov.br/noticia/parque-da-cidade-tem-inscricoes-abertas- para-aulas-gratuitas-de-beach-tennis>. Acesso em: 12 jan. 2022. INTERESSANTE O esporte de participação ganhou força a partir do movimento Esporte para Todos (EPT), que surgiu no Brasil em 1973, fundamentado em princípios que defendiam a democratização das atividades físicas e esportivas. O principal objetivo do EPT era conduzir as condutas da população, disseminando práticas esportivas orientadas para o lazer e a recreação (TEIXEIRA, 2009; (SEVEGNAMI et al., 2019). 69 4 ESPORTE DE RENDIMENTO O esporte de rendimento, terceiro tipo de manifestação esportiva, é caracterizado como esporte de alta competitividade, ou esporte-espetáculo, tendo sua atividade centrada na finalidade de obter resultados, o que equivale a dizer obter resultados provenientes dos mais altos rendimentos. Este tipo de esporte pode ser praticado de maneira profissional, quando o atleta recebe salário, ou de forma não profissional (amadora). LEMBRETE Vimos na unidade 1 deste Livro Didático sobre a transformação das práticas corporais e dos jogos populares em esportes e, consequentemente, no mercado esportivo, tendo este tipo de manifestação ganhado destaque em nossa cultura e influenciando fortemente nossos hábitos de consumo. Neste sentido, o esporte de rendimento compreende as modalidades esportivas praticadas conforme regras nacionais e internacionais, com vistas à obtenção de resultados e à competição entre seus praticantes, tendo como finalidade a integração entre as pessoas e comunidades de diferentes nações. São exemplos dessa manifestação esportiva as modalidades disputadas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, como o atletismo, o basquete, o futebol, entre outros. Mas também aqueles organizados por confederações, federações e ligas amadoras. De acordo com a Lei Pelé, o Sistema Nacional do Desporto deve reunir pessoas físicas e jurídicas, assim como instituições privadas com ou sem fins lucrativos para determinar as responsabilidades necessárias para o aprimoramento do esporte de rendimento. Sendo assim, funções de coordenação, administração e normatização dos esportes de rendimento devem ficar sob responsabilidade de instituições como: • Comitê Olímpico Brasileiro (COB). • Entidades nacionais (Ex.: Confederação Brasileira de Basketball – CBB). • Entidades regionais (Ex.: Federação Catarinense de Futsal – FCFS). • Ligas regionais e nacionais. • Comitê Brasileiro de Clubes (CBC). • Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos (CBCP). 70 IMPORTANTE Darido e Rangel (2008) fazem referência a essa dimensão do esporte expondo que o mesmo apresenta uma tendência a ser praticado pelos talentos esportivos selecionados, o que marca o seu caráter antidemocrático. Nessa tendência o esporte segue uma linha que quem o pratica são considerados os melhores, pois um dos objetivos é a vitória, deixando de lado o caráter de democracia, onde quem quisesse praticar poderia praticar. É justamente a partir dessas características que quando o esporte de rendimento é trabalhado dentro das escolas a literatura crítica fica aguçada, mostrando que essa dimensão pode trazer malefícios para os alunos, como por exemplo, a especialização precoce, o selecionamento e a exclusão daqueles considerados não aptos para a prática dos esportes. A crítica surge a partir da supervalorização dos esportes no contexto escolar, potencializado pela realização dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), que nasceu em 1976, sendo realizado anualmente até 2004 e tendo retornado ao programa do governo no ano de 2021. Segundo o Conselho Nacional do Esporte, o evento proporciona aos estudantes-atletas o desenvolvimento dos valores do esporte, intercâmbio esportivo e cultural e a chance de se tornarem atletas profissionais, tendo como objetivos: • Contribuir para o desenvolvimento integral do aluno como ser social, autônomo, democrático e participante, estimulando o pleno exercício da cidadania por meio do esporte. • Fomentar a prática do esporte escolar com fins educativos. • Garantir o conhecimento do esporte de modo a oferecer mais oportunidade de acesso à prática do esporte escolar aos alunos. • Possibilitar a identificação de talentos esportivos nas escolas. Associado aos eventos esportivos de alto rendimento destacamos também a existência de programas de incentivo, como o bolsa atleta, criado no ano de 2005. Dentre as diversas categorias, atualmente em vigência, duas chamam a atenção por tratar do esporte de rendimento aos jovens em idade escolar: categoria atleta estudantil e categoria atleta de base. Ambas as categorias possuem o pré-requisito de atender ao público jovem entre 14 e 20 anos de idade, devidamente matriculados em escolas públicas ou privadas. Para concorrer a esta bolsa o jovem atleta deverá comprovar sua participação e obtenção de resultados esportivos em competições federativas no ano anterior ao pleito. Por vezes há uma confusão na interpretação desta relaçãoentre esporte de rendimento, esporte escolar e esporte de formação. Vamos falar um pouco mais sobre este assunto! 71 5 ESPORTE DE FORMAÇÃO O esporte de formação, quarto tipo de manifestação esportiva, se caracteriza por ser aquele que oferece iniciação esportiva aos atletas que buscam adquirir conhecimentos para aperfeiçoar sua capacidade técnica esportiva, não somente para fins competitivos, mas também com finalidade recreativa. LEMBRETE Vimos na Unidade 1 deste Livro Didático que o processo de iniciação e formação esportiva, principalmente o treinamento com crianças e adolescentes, não deve visar apenas o alto rendimento, mas um processo de ensino-aprendizagem integral, ou seja, um processo pedagógico que auxilie no desenvolvimento dos aspectos atléticos e sociais. Segundo a literatura acadêmica tradicional (ZAKHAROV; GOMES, 1992; WEINECK, 1999; GRECO, 2000; BOMPA, 2001), independentemente de seu potencial esportivo, os indivíduos devem percorrer determinadas fases em seu processo de formação, sendo estas: • Iniciação básica geral: que procure desenvolver todas as capacidades e habilidades motoras básicas, priorizando um trabalho multilateral e variado até aproximadamente 11/12 anos de idade (início da primeira fase puberal – pubescência), na qual as crianças e adolescentes que não têm potencial para o esporte de alto rendimento devem ser orientadas para que o utilizem como forma de lazer e saúde. • Especialização ou formação específica: que consiste em treinamento físico, técnico e tático específico para a modalidade escolhida, a partir dos 13 anos de idade, período no qual o adolescente se aproxima da segunda fase puberal. • Alto rendimento: estabilização e aprimoramento dos aspectos desenvolvidos na fase anterior com o objetivo de performance, recomendado para a fase final da adolescência. • Direção: fase de readaptação do atleta após encerrar sua carreira esportiva para que ele utilize o esporte como lazer e saúde. NOTA Greco (2000) acrescenta ainda a fase de orientação, que sob a base da iniciação básica geral, pode-se começar com a orientação técnica de duas modalidades esportivas, de preferência complementares. 72 Por se tratar de um importante tema da Educação Física, vamos nos aprofundar um pouco mais na questão da iniciação esportiva, chamando a atenção para os possíveis malefícios da especialização precoce. A iniciação esportiva é definida como um período em que a criança começa a aprender, de forma específica e planejada, determinada prática esportiva (SANTANA, 2005), sendo considerado, como visto anteriormente, o primeiro passo na formação esportiva, onde se procura ensinar os aspectos básicos de uma ou mais modalidades. Para Oliveira e Paes (2004), é um período que abrange desde o momento em que as crianças se iniciam nos esportes, geralmente na escola, até a decisão por praticarem uma modalidade específica. FIGURA 4 – INICIAÇÃO ESPORTIVA ESCOLAR FONTE: <https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/iniciacao-esportiva-desperta-gosto-pela- atividade-fisica-em-criancas/50829>. Acesso em: 18 jan. 2022. Quando falamos em crianças em idade escolar, consideramos este ser o período da vida em que a aprendizagem de habilidades ou desenvolvimento de aptidões e competências se faz de forma mais facilitada (LOPES; MAIA, 2000). 73 IMPORTANTE Côté et al. (2005) relatam a existência de períodos chave no desenvolvimento desportivo e enfatizam que a participação da criança numa ampla variedade de atividades esportivas colabora com o enriquecimento de seu repertório motor. Essa diversificação das práticas permite também fomentar habilidades, providenciando uma contribuição ativa no que diz respeito ao desenvolvimento psicomotor e multilateral dos aprendizes. Este tipo de abordagem multilateral facilita o desenvolvimento da motivação intrínseca, a qual está relacionada com a longevidade desportiva e proporciona estímulos diversos que permitem uma aquisição motora geral. Importante falarmos também sobre as diferentes abordagens encontradas na literatura acadêmica com relação as etapas da formação esportiva. Autores como Almeida (1996), Arena e Bohme (2000), Paes (2001) e Greco e Benda (1998) classificam as fases a partir da idade cronológica. Já Freire (2003) prefere levar em consideração a bagagem cultural do aprendiz, como podemos ver a seguir: • Almeida (1996) defende que a iniciação esportiva deve ser dividida em três fases: a primeira chamada de iniciação esportiva deve ocorrer entre os 8 e 9 anos de idade e tem como objetivo a aquisição de habilidades motoras e destrezas específicas e globais, realizada através de formas básicas de movimento e de jogos pré-esportivos. A segunda fase chamada de aperfeiçoamento esportivo, deve ocorrer entre os 10 e os 11 anos de idade e tem como objetivo introduzir os elementos técnicos fundamentais, táticas gerais e regras através de jogos educativos e atividades esportivas com regras. Já a terceira e última fase, deve ocorrer entre os 12 e 13 anos de idade e tem como objetivo o aperfeiçoamento das técnicas individuais, dos sistemas táticos, além da aquisição das qualidades físicas necessárias à prática dos esportes. • Arena e Bohme (2000) desenvolveram sua proposta no sentido de alertar sobre os problemas que podem advir de uma especialização precoce. Desta forma, consideram que o processo de treinamento seja realizado através de uma preparação planejada e sistematizada. Segundo as autoras, isso deve ocorrer em três fases: a primeira sendo a iniciação e formação básica geral (12-13 anos), a segunda o treinamento específico (período destinado ao aprimoramento dos gestos específicos da modalidade) a partir dos 13 anos de idade, e a terceira fase sendo a estabilização das capacidades coordenativas com o aumento otimizado das capacidades condicionais (a partir dos 17-18 anos de idade). • Paes (2001) centra a atenção nas aulas de Educação Física. Essa proposta de iniciação esportiva apresenta um caráter multidisciplinar e está dividida em quatro fases: a primeira compreende os alunos de 07 e 08 anos de idade, no qual o trabalho enfatiza o domínio corporal e a manipulação de bolas e objetos. A segunda os alunos com idades entre 09 e 10 anos, no qual as habilidades a são desenvolvidas mais especificamente. A terceira entre os 11 e 12 anos idade, no qual o trabalho é centrado nos fundamentos básicos das principais modalidades esportivas. Por último, com os alunos entre 13 e 14 anos de idade, trabalha-se o jogo e os sistemas ofensivos e defensivos. 74 • Greco e Benda (1998) dividem o processo de ensino-aprendizagem-treinamento a longo prazo em fases, no qual cada fase possui referências etárias e conteúdo específicos que devem ser trabalhados em função das características do praticante e da tarefa, sendo que o processo é dividido em nove fases: pré-escolar (4 a 6 anos), com vivências diversificadas de movimentos, a fim de desenvolver um repertório motor extenso; fase universal (6 a 12 anos), voltada a uma preparação geral, a fim de criar uma base ampla e variada de movimentos que ressaltam o aspecto lúdico; fase de orientação (12 a 14 anos), no qual ocorre a automatização de grande parte dos movimentos trabalhados na fase anterior, liberando a cognição para a realização de movimentos concomitantes; fase de direção (14 a 16 anos) com vivências de duas ou três modalidades esportivas diferentes, porém complementares em um sentido psicomotor e início do aperfeiçoamento e especialização de técnicas específicas para cada modalidade esportiva; fase de especialização (16 a 18 anos) no qual ocorre a concretização da especialização da modalidade escolhida, com otimização e aperfeiçoamento dos conhecimentos técnico e tático; fase de aproximação/ integração (18 a 21 anos) no qual ocorre a transição do jovem para uma possível carreira esportiva; fase de alto nível (a partir dos 21 anos) no qual ocorre o máximo do desempenho esportivo; fase de readaptação com o objetivode destreinar de maneira saudável um atleta que por qualquer motivo tenha deixado de seguir no treinamento de alto nível; fase de recreação e saúde, em destaque para pessoas com mais de 16 anos que optem por ter o esporte em um nível de menor comprometimento, ou seja, em participação de programas de atividade física que assegurem os efeitos positivos na manutenção da função fisiológica. • Freire (2003) apresenta uma abordagem específica para o futebol e divide em seis fases de formação. A primeira compreende crianças entre os 6 e 7 anos de idade. Nessa fase, o importante é o brincar, todavia já deve haver um conceito de regras a fim de que as mesmas possam assimilar, conhecer e obedecer as regras. Na segunda fase (7 aos 9 anos), o número de brincadeiras diminui e o número e complexidade de regras aumenta. Na terceira fase, com crianças entre os 9 e os 11 anos, através de atividades lúdicas, inicia-se o rodízio de posições para que os alunos experimentem todas as posições no campo de jogo. Dos 11 aos 13 anos, durante a quarta fase, introduz-se o conceito de táticas e o rodízio de posições deve ser ainda trabalhado. Na quinta fase (13 aos 15 anos), início da preparação física e conceitos de ataque-defesa e defesa-ataque. Na última fase (15 aos 16 anos) se deve trabalhar os conceitos de tática, além de intensificar a preparação física e o aprimoramento técnico. Notamos que as etapas de formação esportiva, mesmo que fundamentadas por diferentes bases teóricas, apresentam uma lógica comum em seu desenvolvimento. Neste sentido, a utilização de uma ou de outra tem relação com o contexto e as possibilidades nas quais o professor estiver inserido. Queremos deixar evidente a importância de uma iniciação esportiva que busque o desenvolvimento amplo do ser humano, sendo a mesma apresentada por uma divisão etária, exigindo assim do professor o estabelecimento de objetivos, conteúdos, metodologias e avaliações diferenciadas, principalmente para evitar a especialização precoce. 75 Você sabe a diferença entre iniciação esportiva e especialização precoce? Pois bem, vimos até aqui que é altamente positivo e recomendado que a criança, desde a muito cedo, passe a ter convívio com a prática esportiva, no entanto, é importante destacarmos sobre os cuidados com sua prática excessiva e unilateral. NOTA A iniciação ou especialização esportiva precoce caracteriza-se por cargas de treino muito intensas, que promovem rápidos desenvolvimentos da prestação desportiva nas fases iniciais, mas que levam a um esgotamento prematuro da capacidade de rendimento, promovendo aquilo que se designa por barreiras de desenvolvimento. A especialização precoce se refere ao resultado da aplicação de sistemas de treino não adequados ou a utilização dos sistemas de treino dos adultos com crianças ou jovens. Voser, Neto e Vargas (2007) definem iniciação desportiva precoce como atividade esportiva desenvolvida antes da puberdade, caracterizada por uma alta dedicação aos treinamentos (mais de 10 horas semanais) e principalmente por ter uma finalidade eminentemente competitiva. Os problemas relacionados com a especialização precoce na iniciação esportiva na vida de uma criança vão além de apenas problemas relacionados ao desenvolvimento físico e motor de uma criança. Segundo aponta Kunz (1989), a formação escolar deficiente e a reduzida participação em atividades, brincadeiras e jogos do mundo infantil, indispensáveis para o desenvolvimento da personalidade na infância, poderão afetar de forma negativa e significativa o futuro de uma criança. 76 FIGURA 5 – ESPECIALIZAÇÃO ESPORTIVA PRECOCE FONTE: <https://www.cienciadabola.com.br/blog/especializacao-esportiva-precoce>. Acesso em: 18 jan. 2022. Este tipo de treinamento acontece possivelmente por dois motivos: a falta de conhecimento do professor e/ou as ações (pressões, ideias, valores) oriundas do sistema, na qual ao observar um grande potencial na criança, os professores se preocupam com a elevação do seu rendimento e incentivam a obtenção de resultados imediatos na modalidade. 77 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A Lei Pelé, de 1998, dividiu as manifestações esportivas em 4 tipos: esporte educacional, esporte de participação, esporte de rendimento e esporte de formação. • O esporte educacional consiste, basicamente, naquele que se encontra inserido obrigatoriamente nos currículos escolares, mas também se manifesta no ensino superior e em ambientes fora da escola. • O esporte de participação consiste, basicamente, naquele praticado em forma de lazer e ocupação do tempo livre, podendo também estar associado a programas sociais e aulas particulares. • O esporte de rendimento consiste, basicamente, naquele praticado por atletas profissionais ou amadores, com vistas a obtenção de resultados e máxima performance atlética. • O esporte de formação consiste, basicamente, naquele praticado por crianças, adolescentes e jovens em idade escolar, que tem sua iniciação esportiva na escola, mas também podem praticar em espaços paralelos que oferecem formação especializada em determinada modalidade. 78 1 Com base nos quatro tipos de manifestações esportivas apresentadas neste tópico de estudos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O esporte de formação atende, preferencialmente, ao público de crianças, adolescentes e jovens em idade escolar, que buscam a aprendizagem de determinadas modalidades esportivas. b) ( ) O esporte escolar deve, exclusivamente, atuar no campo da aprendizagem e desenvolvimento dos aspectos motores de seus alunos praticantes. c) ( ) O esporte de participação busca, exclusivamente, o desenvolvimento dos aspectos sociais de seus participantes. d) ( ) O esporte de rendimento atende, preferencialmente, ao público de crianças, adolescentes e jovens em idade escolar, que buscam a aprendizagem de determinadas modalidades esportivas. 2 Considerando as fases do desenvolvimento esportivo (ZAKHAROV; GOMES, 1992; WEINECK, 1999; GRECO, 2000; BOMPA, 2001) presentes na literatura acadêmica tradicional e resumidas neste tópico de estudos, analise as sentenças a seguir: I- A fase de alto rendimento busca a readaptação do atleta após encerrar sua carreira esportiva para que ele utilize o esporte como lazer e saúde. II- A especialização ou formação específica consiste em treinamento físico, técnico e tático específico para a modalidade escolhida, sendo recomendada a partir dos 13 anos de idade aproximadamente, na segunda fase puberal do adolescente. III- A iniciação básica considera a estabilização e aprimoramento dos aspectos desenvolvidos precocemente pela criança. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 79 3 O esporte de rendimento, terceiro tipo de manifestação esportiva, é caracterizado como esporte de alta competitividade, ou esporte-espetáculo, tendo sua atividade centrada na finalidade de obter resultados, o que equivale a dizer obter resultados provenientes dos mais altos rendimentos. Baseado nesta afirmação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O esporte de rendimento compreende as modalidades esportivas praticadas conforme regras nacionais e internacionais, com vistas à obtenção de resultados e à competição entre seus praticantes, tendo como finalidade a integração entre as pessoas e comunidades de diferentes nações. ( ) De acordo com a Lei Pelé, a responsabilidade pela gestão do Sistema Nacional do Desporto, é de instituições privadas com ou sem fins lucrativos, tais como como as confederações, federações e ligas amadoras. ( ) São exemplos dessa manifestação esportiva as modalidades disputadas nos Jogos Olímpicos, Paralímpicos e Escolares, sendo que este último deve ser tratado de formaexclusiva na organização curricular do ensino dos esportes no contexto escolar. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Ao longo deste tópico estudamos sobre os diferentes tipos de manifestações esportiva, alertando a você, acadêmico, sobre a importância da organização do conteúdo a ser trabalhado com crianças em fase de iniciação esportiva. A partir daquilo que você aprendeu, disserte sobre a questão da especialização esportiva precoce, trazendo sua definição e possíveis consequências. 5 Conforme apresenta a Lei Pelé, fundamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que estabelece que a Educação Física é obrigatória no currículo da educação básica, o esporte educacional deve ser praticado, prioritariamente, nos estabelecimentos escolares, mas também pode se manifestar fora da escola, como por exemplo em programas e projetos que utilizam o esporte como ferramenta de inserção social. Além disso, a Constituição Federal vigente desde 1988 determina que, em matéria de esportes, ele tenha prioridade na distribuição dos recursos públicos. Neste contexto, disserte sobre os princípios que fundamentam o esporte educacional. 80 81 DIVISÃO DOS ESPORTES 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 2 TÓPICO 2 - Olá, acadêmico! Vamos dar continuidade aos nossos estudos em Pedagogia do Esporte, este é o segundo tópico da Unidade 2 do nosso Livro Didático. Você está preparado? A partir deste momento abordaremos sobre a divisão dos esportes, mostrando suas diferentes definições e exemplificando suas múltiplas possibilidades enquanto conteúdo de ensino da Educação Física escolar. INTERESSANTE Os esportes são popularmente divididos por esportes coletivos e individuais, mas você sabia que existem categorizações que buscam construir uma relação de aproximação entre as diferentes modalidades? Esta divisão mais detalhada nos ajuda na distribuição dos conteúdos de ensino, conforme veremos no último tópico desta unidade. Para dar conta destes objetivos específicos, este tópico está dividido em outros seis subtópicos: • Esportes de campo e taco • Esportes de combate • Esportes de invasão • Esportes de marca e precisão • Esportes de parede e rede • Esportes técnico-combinatórios 82 IMPORTANTE Fique atento não somente nas descrições e definições dos diferentes tipos de esportes, as figuras ilustrativas mostram que não é necessário o uso de materiais e espaços especializados para serem trabalhados os conteúdos, você, futuro professor, poderá utilizar de objetos alternativos de fácil acesso, como por exemplo: caixas de papelão, balões, garrafas plásticas, tampinhas, entre outros! 2 ESPORTES DE CAMPO E TACO Os esportes de campo e taco são definidos por modalidades que têm como objetivo a proteção de sua base de jogo e rebater a bola de forma que a equipe adversária demore a assumir o seu controle, buscando percorrer o maior número de vezes as bases (ou a maior distância entre as bases) enquanto os defensores não recuperam o controle da bola e, assim, somar pontos em busca da vitória. São exemplos de esportes de campo e taco: • Beisebol • Críquete • Golfe • Tacobol • Softbol Estes esportes possuem habilidades motoras em comum, e para realização de suas partidas é necessário ter objetos como taco e bola. Vamos ver alguns exemplos desses esportes sendo trabalhados na Educação Física escolar? 83 FIGURA 6 – BEISEBOL NA ESCOLA FONTE: <http://blogdaprozu.blogspot.com/2016/01/beisebol-no-contexto-escolar.html/>. Acesso em: 20 jan. 2022. FIGURA 7 – TACOBOL NA ESCOLA FONTE: <https://noticias.itapevi.sp.gov.br/jei-inicia-competicao-de-jogo-de-taco-em-itapevi/>. Acesso em: 20 jan. 2022. 3 ESPORTES DE COMBATE Os esportes de combate são as lutas e artes marciais transformadas em esportes, sendo que cada uma das modalidades possui suas regras e técnicas predefinidas. O objetivo dos esportes de combate é realizar pontos superando seu adversário, seja dominando-o ou levando-o ao nocaute. Podendo estes serem realizados no corpo a corpo ou com uso de objetos. 84 São exemplos de esportes de combate: • Boxe • Capoeira • Caratê • Esgrima • Jiu-jitsu • Judô • Kendo • Kung-fu • Luta Greco-romana • Luta Livre • MMA • Muay Thai • Taekwondo NOTA Existem diversas outras possibilidades de esportes de combate, devido suas ramificações e origens culturais. Listamos aqui apenas alguns exemplos destas práticas! Vamos ver alguns exemplos desses esportes sendo trabalhados na Educação Física escolar? 85 FIGURA 8 – BOXE NA ESCOLA FONTE: <http://lisoboxe.blogspot.com/2016//>. Acesso em: 20 jan. 2022. FIGURA 9 – CAPOEIRA NA ESCOLA FONTE: <https://www.sismmac.org.br/noticias/10/alem-dos-muros-da-escola/8233/oficina-de- capoeira-em-escolas-retorna-com-foco-na-musicalidade>. Acesso em: 20 jan. 2022. INTERESSANTE Entre os esportes citados, a capoeira está presente na cultura brasileira desde o tempo dos escravos. A capoeira é mais do que um esporte, é um misto de luta, arte, dança, ritmos e música, é uma forma de expressão cultural que reúne nossas raízes históricas, tradição e muitos benefícios para a saúde! 86 FIGURA 10 – ESGRIMA NA ESCOLA FONTE: <http://ivanesporte.blogspot.com/2016/01/esgrima.html>. Acesso em: 20 jan. 2022. 4 ESPORTES DE INVASÃO Os esportes de invasão possuem como objetivo principal o ataque ao campo adversário e a conquista de sua meta. Nesses esportes é possível perceber, entre outras semelhanças, que as equipes jogam em quadras ou campos retangulares. Em uma das linhas de fundo (ou num dos setores ao fundo), fica a meta a ser atacada, e na outra linha de fundo a que deve ser defendida. Para atacar a meta do adversário, uma equipe precisa, necessariamente, ter a posse de bola (ou objeto usado como bola) para avançar sobre o campo do adversário (geralmente fazendo passes) e criar condições para fazer os gols, cestas ou touchdown. Só dá para chegar lá conduzindo, lançando ou batendo (com um chute, um arremesso, uma tacada) na bola, ou no objeto usado como bola, em direção à meta. Nesse tipo de esporte, ao mesmo tempo em que uma equipe tenta avançar a outra tenta impedir os avanços. E para evitar que uma chegue à meta defendida pela outra, é preciso reduzir os espaços de atuação do adversário de forma organizada e, sempre que possível, tentar recuperar a posse de bola para daí partir para o ataque (GONZÁLEZ; BRACHT, 2012). São exemplos de esportes de invasão: • Basquetebol • Futebol americano • Futebol • Futsal • Hóquei • Polo aquático • Rugby 87 Talvez estes sejam os esportes mais praticados no ambiente escolar, sobretudo pela popularidade e praticidade de suas práticas. Já que, basicamente, é necessário ter uma bola, equipes e alvos! Vamos ver alguns exemplos desses esportes sendo trabalhados na Educação Física escolar? FIGURA 11 – BASQUETEBOL NA EDUCAÇÃO INFANTIL FONTE: <https://miudinhos.com.br/aulas-especializadas/>. Acesso em: 20 jan. 2022. FIGURA 12 – FUTSAL ADAPTADO NA ESCOLA (INCLUSÃO) FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/18613/inclusao-com-educacao-fisica-adaptada- professor-ensina-sobre-acessibilidade>. Acesso em: 20 jan. 2022. 88 FIGURA 13 – RÚGBY NA ESCOLA FONTE: <https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/rugby-ganha-forca-nas-escolas- municipais/24789>. Acesso em: 20 jan. 2022. 5 ESPORTES DE MARCA E PRECISÃO Os esportes de marca são aqueles em que os competidores disputam através da comparação entre suas marcas ou registros em tempos, distâncias ou pesos. Nas corridas, por exemplo, vence quem realizar o percurso no menor tempo possível. Nos arremessos, a meta é atingir a maior distância. Já nos levantamentos de peso, vence quem levantar a maior quantidade de peso. Já os esportes de precisão têm como objetivo atingir ou se aproximar de um alvo fixo ou móvel. São caracterizados pelo arremesso ou lançamento de um objeto com o objetivo de acertá-lo ou aproximá-lo de um alvo específico,estático ou em movimento. O objeto que deve acertar o alvo pode ser projetado de diferentes maneiras dependendo da modalidade, por exemplo, pode ser projetado por uma arma, como no caso do tiro e do arco e flecha ou pode ser golpeado com um taco, como no golfe e na sinuca, ou lançado com as mãos, como a bocha. São exemplos de esportes de marca: • Atletismo • Automobilismo • Canoagem • Ciclismo • Natação • Crossfit • Escalada 89 • Esqui alpino • Hipismo • Levantamento de peso • Remo • Salto de esqui • Triatlo • Vela São exemplos de esportes de precisão: • Bocha • Boliche • Curling • Dardo • Tiro • Sinuca INTERESSANTE Pra você entender melhor as diferenças e semelhanças entre os esportes de marca e precisão, assista este breve vídeo no Youtube, no endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=R_m5cnUqTs8 Você verá as inúmeras possibilidades presentes para pensar o contexto do desenvolvimento motor a partir desses esportes. Vamos ver alguns exemplos desses esportes sendo trabalhados na Educação Física escolar? FIGURA 13 – ARREMESSO DE PESO NA ESCOLA FONTE: <https://jornalmaisbraganca.com.br/2020/03/11/1-circuito-escolar-de-atletismo-foi- realizado-no-final-de-semana/>. Acesso em: 22 jan. 2022. 90 FIGURA 14 – PAREDÃO DE ESCALADA FONTE: <https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2012/10/22/criancas-da-emei-agostinho- pattaro-ganham-paredinha-de-escalada-da-fef/>. Acesso em: 22 jan. 2022. FIGURA 15 – BOLICHE COM GARRAFAS PET FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/5717/com-boliches-dados-e-argolas-a-turma- aprende-a-fazer-calculos/>. Acesso em: 22 jan. 2022. 6 ESPORTES DE PAREDE E REDE Os esportes de parede são aqueles em que os competidores alternam-se atacando a bola e rebatendo-a contra uma parede de rebote, como no caso do squash. O ponto ocorre quando um dos jogadores não consegue responder aos ataques adversários. 91 Já esportes de rede possuem como objetivo geral, jogar a bola por cima de uma rede para o campo adversário, de modo a dificultar a sua devolução. São caracterizados pelo lançamento ou rebatimento da bola em direção à quadra adversária quando os oponentes não podem devolvê-la da mesma forma. São exemplos de esportes de parede e rede: • Badminton • Beach Tennis • Futevôlei • Padel • Squash • Tênis • Tênis de mesa • Vôlei Vamos ver alguns exemplos desses esportes sendo trabalhados na Educação Física escolar? FIGURA 16 – BADMINTON (PETECA) FONTE: <https://campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=26451/>. Acesso em: 22 jan. 2022. 92 FIGURA 17 – VÔLEI NA ESCOLA FONTE: <https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/atleta-olimpico-de-volei-visita-escola-municipal- e-alunos-do-pase/36370/>. Acesso em: 22 jan. 2022. 7 ESPORTES TÉCNICO-COMBINATÓRIOS Os esportes técnicos-combinatórios são aqueles em que atletas cumprem uma rotina de movimentos e são avaliados por uma banca de juízes. Os juízes julgam o grau de dificuldade da execução e a precisão dos movimentos. São modalidades nas quais o importante é a realização técnica do movimento. Este é analisado e comparado aos movimentos realizados por outros e julgado segundo padrões técnicos estabelecidos de acordo com a modalidade. São exemplos de esportes técnico-combinatórios: • Breakdance • Ginástica artística • Ginástica rítmica • Patinação artística • Saltos ornamentais • Slackline • Surfe Vamos ver alguns exemplos desses esportes sendo trabalhados na Educação Física escolar? 93 FIGURA 18 – GINÁSTICA AO AR LIVRE FONTE: <https://www.redeicm.org.br/auxiliadora/educacao-infantil-motricidade-ginastica-geral/>. Acesso em: 22 jan. 2022. FIGURA 19 – SLACKLINE FONTE: <https://www.cep.pr.gov.br/Noticia/Nas-aulas-de-slackline-estudantes-treinam-o- equilibrio-e-concentracao/>. Acesso em: 22 jan. 2022. 94 IMPORTANTE Os esportes técnico-combinatórios, assim como as múltiplas variedades presentes no atletismo (esporte de marca), possuem elementos básicos fundamentais para o desenvolvimento das capacidades condicionais (força, velocidade, resistência e flexibilidade) e das capacidades coordenativas (agilidade, equilíbrio, memória motora, orientação tempo-espaço, reação e ritmo) das crianças! 95 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Os esportes são divididos em categorias que buscam construir uma relação de aproximação entre as regras, espaços, objetos e habilidades presentes nas diferentes modalidades. • As seis categorias existentes são: esportes de campo e taco; combate; invasão; marca e precisão; parede e rede; técnico-combinatórios. • A divisão dos esportes tem a função de auxiliar o professor de Educação Física na montagem e distribuição dos conteúdos de ensino. • O professor poderá trabalhar os diferentes tipos de esportes a partir da reutilização e adaptação de materiais e espaços, tendo como pano de fundo as definições gerais de cada categoria de esporte existente. 96 1 Com base nas características e definições apresentadas sobre os esportes de combate, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os esportes de combate são lutas e artes marciais, portanto fazem uma apologia à violência e não devem ser trabalhadas no contexto escolar. b) ( ) O objetivo dos esportes de combate é dominar e levar ao nocaute, de forma agressiva, qualquer adversário. c) ( ) Os esportes de combate são as lutas e artes marciais transformadas em esportes, sendo que, cada uma das modalidades possui suas regras e técnicas pré-definidas. d) ( ) Os esportes de combate são as lutas e artes marciais transformadas em esportes, sendo geridas por uma única confederação internacional que universaliza suas regras. 2 Considerando as características e definições apresentadas sobre os esportes de invasão, analise as sentenças a seguir: I- Nesses esportes é possível perceber, entre outras semelhanças, que as equipes jogam em quadras ou campos retangulares. II- São exemplos de esportes de invasão: basquetebol, futebol, handebol e voleibol. III- Os esportes de invasão possuem como objetivo principal o ataque ao campo adversário e a conquista de sua meta. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 97 3 Com base nas características e definições apresentadas sobre os esportes de campo e taco, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os esportes de campo e taco são definidos por modalidades que têm como objetivo a proteção de sua base de jogo e rebater a bola de forma que a equipe adversária demore a assumir o seu controle, buscando percorrer o maior número de vezes as bases (ou a maior distância entre as bases) enquanto os defensores não recuperam o controle da bola e, assim, somar pontos em busca da vitória. ( ) Os esportes de campo e taco são aqueles em que os competidores alternam-se atacando a bola e rebatendo-a contra uma parede de rebote, como no caso do squash. O ponto ocorre quando um dos jogadores não consegue responder aos ataques adversários. ( ) São exemplos de esportes de campo e taco: beisebol, padel e tênis de mesa. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Vimos ao longo deste tópico que a Educação Física escolar apresenta múltiplas possibilidades de intervenção, sobretudo a partir da utilização de diferentes de tipos de esportes. Com relação a este tema estudado, disserte sobre as divisões dos esportes, o motivo da existência destas categorizações, e de que forma estes podem ser trabalhados no contexto escolar. 5 Os esportes técnicos-combinatórios são aqueles em que atletas cumprem uma rotina de movimentos e são avaliados por uma banca de juízes. Os juízes julgam o grau de dificuldade da execução e a precisão dos movimentos. São modalidades nas quais o importante é a realizaçãotécnica do movimento. Este é analisado e comparado aos movimentos realizados por outros e julgado segundo padrões técnicos estabelecidos de acordo com a modalidade. A partir dessa definição, disserte sobre a importância desses esportes para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, exemplificando possibilidades de modalidades que podem ser trabalhadas no contexto escolar. 98 99 TÓPICO 3 - CONVERSANDO COM A BNCC 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 2 Olá, acadêmico! Chegamos ao último tópico deste Livro Didático. Aqui, vamos realizar apontamentos sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e suas relações com a Educação em geral, e com a Educação Física e o ensino dos esportes em específico. Para darmos conta destes objetivos separamos este tópico em outros dois subtópicos: • Potencialidades pedagógicas para o ensino dos esportes • Organização do conteúdo “esporte escolar” Ao final deste tópico, traremos também uma leitura complementar, além do resumo e de autoatividades que nos ajudam a fixar o conteúdo estudado. Antes de começarmos, vamos falar um pouco sobre a trajetória da BNCC no contexto da educação nacional. Você está preparado? A BNCC tem sido um dos assuntos mais falados na educação nos últimos anos e começou a ser elaborada no ano de 2015, a partir de uma análise sobre os documentos curriculares brasileiros realizada por especialistas indicados por secretarias municipais e estaduais de educação e por universidades. Nos anos de 2015 e 2016 foram realizadas consultas públicas sobre as necessidades de melhorias no documento, possibilitando a participação mais direta da população. Esta iniciativa fez com que mais de 12 milhões de contribuições, a maioria realizada por profissionais da área da educação, fossem enviadas ao Ministério da Educação (MEC). INTERESSANTE Você sabia que a BNCC é documento oficial que mais recebeu sugestões e contribuições na história do país? 100 Devido à alta demanda de críticas e sugestões, somente no ano de 2017 o MEC concluiu a sistematização dos conteúdos e encaminhou a terceira versão do texto ao Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão responsável por regulamentar o sistema nacional de educação, instituir e orientar a implementação da BNCC e realizar audiências públicas regionais sobre o documento. Ao final deste mesmo ano o texto introdutório da Base e as partes referentes à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental foram aprovadas e oficializadas, já o texto sobre o Ensino Médio foi homologado somente em 2018. Mas, você sabe o que é a BNCC? A BNCC é um documento que pretende apontar as diretrizes sobre o que é ensinado nas escolas do Brasil, englobando todas as fases da educação básica, desde a Educação Infantil até o final do Ensino Médio. Trata-se de uma espécie de referência dos objetivos de aprendizagem de cada uma das etapas de sua formação. Longe de ser considerado um currículo, a BNCC é uma ferramenta que busca orientar a elaboração do currículo específico de cada escola, considerando as particularidades metodológicas, sociais e regionais de cada instituição. Ou seja, a Base estabelece os objetivos de aprendizagem que se quer alcançar, por meio da definição de competências e habilidades essenciais, enquanto o currículo irá determinar como esses objetivos serão alcançados, traçando as estratégias pedagógicas mais adequadas. O principal objetivo da Base é garantir a educação com equidade, por meio da definição das competências essenciais para a formação do cidadão em cada ano da educação básica. INTERESSANTE Apesar de sua recente elaboração e definição, a ideia de uma base curricular comum às escolas de todo o Brasil já existe desde a promulgação da Constituição de 1988, cujo artigo 210 prevê a criação de uma grade de conteúdos fixos a serem estudados no Ensino Fundamental. Entre os anos de 1997 e 2000, segundo estabelecido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), foram criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para os Ensinos Fundamental e Médio. Somente mais tarde, por meio do Programa Currículo em Movimento, incluiu-se uma proposta para o desenvolvimento de uma grade também para a Educação Infantil. 101 Vamos aprender como está estruturado cada etapa da educação básica! O texto da Educação Infantil é organizado por campos de experiências e se baseia em seis direitos da criança à aprendizagem e ao desenvolvimento: • Brincar. • Conhecer-se. • Conviver. • Explorar. • Expressar. • Participar. E em cinco campos de experiências: • Corpo, gestos e movimento. • Escuta, fala, pensamento e imaginação. • Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. • O eu, o outro e o nós, • Traços, sons, cores e formas. FIGURA 20 – BNCC EDUCAÇÃO INFANTIL FONTE: <https://www.somospar.com.br/bncc-base-nacional-comum-curricular/>. Acesso em: 25 jan. 2022. Por sua vez, o Ensino Fundamental, é dividido em cinco áreas do conhecimento: • Ciências da Natureza (Ciências). • Ciências Humanas (Geografia e História). • Ensino Religioso. • Linguagens (Artes, Educação Física, Língua Portuguesa e Língua Inglesa). • Matemática. 102 FIGURA 21 – BNCC ENSINO FUNDAMENTAL FONTE: <https://www.somospar.com.br/bncc-base-nacional-comum-curricular/>. Acesso em: 25 jan. 2022. Por fim, o documento referente ao Ensino Médio é organizada em quatro áreas do conhecimento: • Ciências da Natureza e suas Tecnologias. • Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. • Linguagens e suas Tecnologias. • Matemática e suas Tecnologias. IMPORTANTE O documento que oferece a Base aos currículos nacionais vem sofrendo constantes alterações em seu texto ao longo dos anos. Fique atento as suas atualizações! A seguir vamos falar sobre o lugar da Educação Física, e dos esportes, na BNCC. 2 POTENCIALIDADES PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DOS ESPORTES Ao considerar que o esporte desenvolvido na escola seja apropriado como um elemento da cultura a ser vivenciado ao longo da vida, a referência precisa ser o esporte praticado a partir de códigos como a saúde, a sociabilidade e o divertimento. Nesse sentido, essa perspectiva assume uma interface com uma das competências que o documento traz sobre o usufruto das práticas corporais de forma autônoma, visando potencializar o envolvimento do aprendiz em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde (BRASIL, 2018). 103 Consta no documento oficial da BNCC (2018) que a Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. A partir desta concepção, o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo. Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos aprendizes a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma confiante e autoral na sociedade (BRASIL, 2018). Importante destacar que a Educação Física oferece uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas, que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica dos saberes científicos que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na escola. Experimentar e analisar as diferentes formas de expressão que não se alicerçam apenasnessa racionalidade é uma das potencialidades desse componente na Educação Básica (BRASIL, 2018). Há três elementos fundamentais comuns às práticas corporais: movimento corporal como elemento essencial; organização interna (de maior ou menor grau), pautada por uma lógica específica; e produto cultural vinculado com o lazer/entretenimento e/ ou o cuidado com o corpo e a saúde. Portanto, entende-se que essas práticas corporais são aquelas realizadas fora das obrigações laborais, domésticas, higiênicas e religiosas, nas quais os sujeitos se envolvem em função de propósitos específicos, sem caráter instrumental (BRASIL, 2018). Cada prática corporal propicia ao sujeito o acesso a uma dimensão de conhecimentos e de experiências aos quais ele não teria de outro modo. A vivência da prática é uma forma de gerar um tipo de conhecimento muito particular e insubstituível e, para que ela seja significativa, é preciso problematizar, desnaturalizar e evidenciar a multiplicidade de sentidos e significados que os grupos sociais conferem às diferentes manifestações da cultura corporal de movimento. Logo, as práticas corporais são textos culturais passíveis de leitura e produção. Esse modo de entender a Educação Física permite articulá-la à área de Linguagens, resguardadas as singularidades de cada um dos seus componentes, conforme reafirmado nas Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2018). 104 Na BNCC, cada uma das práticas corporais tematizadas compõe uma das seis unidades temáticas abordadas ao longo do Ensino Fundamental. Cabe destacar que a categorização apresentada não tem pretensões de universalidade, pois se trata de um entendimento possível, entre outros, sobre as denominações das manifestações culturais tematizadas na Educação Física escolar, tais como: brincadeiras, danças, esportes, ginásticas, jogos, lutas, entre outros (BRASIL, 2018). Neste ponto, a unidade temática Esportes reúne tanto as manifestações mais formais dessa prática quanto as derivadas. LEMBRETE Conforme estudamos na Unidade 1, o esporte é uma das práticas mais conhecidas da contemporaneidade por sua grande presença nos meios de comunicação e se caracteriza por ser orientado pela comparação de um determinado desempenho entre indivíduos ou grupos (adversários), regido por um conjunto de regras formais, institucionalizadas por organizações (associações, confederações e federações), as quais definem as normas de disputa e promovem o desenvolvimento das modalidades em todos os níveis de competição. No entanto, essas características não possuem um único sentido ou somente um significado entre aqueles que o praticam, especialmente quando o esporte é realizado no contexto do lazer, da educação e da saúde. Como toda prática social, o esporte é passível de recriação por quem se envolve com ele (BRASIL, 2018). As práticas derivadas dos esportes mantêm, essencialmente, suas características formais de regulação das ações, mas adaptam as demais normas institucionais aos interesses dos participantes, às características do espaço, ao número de jogadores, ao material disponível etc. Isso permite afirmar, por exemplo, que, em um jogo de dois contra dois em uma cesta de basquetebol, os participantes estão jogando basquetebol, mesmo não sendo obedecidos os 50 artigos que integram o regulamento oficial da modalidade (BRASIL, 2018) Portanto, na estruturação dessa unidade temática, é utilizado um modelo de classificação baseado na lógica interna, tendo como referência os critérios de cooperação, interação com o adversário, desempenho motor e objetivos táticos da ação. Esse modelo possibilita a distribuição das modalidades esportivas em categorias, privilegiando as ações motoras intrínsecas, reunindo esportes que apresentam exigências motrizes semelhantes no desenvolvimento de suas práticas. Assim, são apresentadas sete categorias de esportes, note-se que as modalidades citadas na descrição das categorias servem apenas para facilitar a compreensão do que caracteriza cada uma das categorias. Portanto, não são prescrições das modalidades a ser obrigatoriamente tematizadas na escola (BRASIL, 2018). 105 É importante destacar que a organização das unidades temáticas se baseia na compreensão de que o caráter lúdico está presente em todas as práticas corporais, ainda que essa não seja a finalidade da Educação Física na escola. Ao brincar, dançar, jogar, praticar esportes, ginásticas ou atividades de aventura, para além da ludicidade, os estudantes se apropriam das lógicas intrínsecas (regras, códigos, rituais, sistemáticas de funcionamento, organização, táticas etc.) a essas manifestações, assim como trocam entre si e com a sociedade as representações e os significados que lhes são atribuídos. Por essa razão, a delimitação das habilidades privilegia oito dimensões de conhecimento: • Análise: associada aos conceitos necessários para entender as características e o funcionamento das práticas corporais (saber sobre). Essa dimensão reúne conhecimentos como a classificação dos esportes, os sistemas táticos de uma modalidade, o efeito de determinado exercício físico no desenvolvimento de uma capacidade física, entre outros. • Compreensão: associada ao conhecimento conceitual, refere-se ao esclarecimento do processo de inserção das práticas corporais no contexto sociocultural, reunindo saberes que possibilitam compreender o lugar das práticas corporais no mundo. Em linhas gerais, essa dimensão está relacionada a temas que permitem aos estudantes interpretar as manifestações da cultura corporal de movimento em relação às dimensões éticas e estéticas, à época e à sociedade que as gerou e as modificou, às razões da sua produção e transformação e à vinculação local, nacional e global. Por exemplo, pelo estudo das condições que permitem o surgimento de uma determinada prática corporal em uma dada região e época ou os motivos pelos quais os esportes praticados por homens têm uma visibilidade e um tratamento midiático diferente dos esportes praticados por mulheres. • Construção de valores: vincula-se aos conhecimentos originados em discussões e vivências no contexto da tematização das práticas corporais, que possibilitam a aprendizagem de valores e normas voltadas ao exercício da cidadania em prol de uma sociedade democrática. A produção e partilha de atitudes, normas e valores (positivos e negativos) são inerentes a qualquer processo de socialização. No entanto, essa dimensão está diretamente associada ao ato intencional de ensino e de aprendizagem e, portanto, demanda intervenção pedagógica orientada para tal fim. Por esse motivo, a BNCC se concentra mais especificamente na construção de valores relativos ao respeito às diferenças e no combate aos preconceitos de qualquer natureza. Ainda assim, não se pretende propor o tratamento apenas desses valores, ou fazê-lo só em determinadas etapas do componente, mas assegurar a superação de estereótipos e preconceitos expressos nas práticas corporais. • Experimentação: refere-se à dimensão do conhecimento que se origina pela vivência das práticas corporais, pelo envolvimento corporal na realização das mesmas. São conhecimentos que não podem ser acessados sem passar pela vivência corporal, sem que sejam efetivamente experimentados. Trata-se de uma possibilidade única de apreender as manifestações culturais tematizadas pela Educação Física e do estudante se perceber como sujeito “de carne e osso”. Faz parte dessa dimensão, 106 além do imprescindível acesso à experiência, cuidar para que as sensações geradas no momento da realização de uma determinada vivência sejam positivas ou, pelo menos, não sejam desagradáveis a ponto de gerar rejeição à prática em si. • Fruição: implica a apreciação estética das experiências sensíveis geradas pelas vivências corporais, bem como das diferentes práticas corporais oriundas das mais diversas épocas, lugares e grupos. Essa dimensão está vinculada com a apropriação de um conjunto deconhecimentos que permita ao estudante desfrutar da realização de uma determinada prática corporal e/ou apreciar essa e outras tantas quando realizadas por outros. • Protagonismo comunitário: refere-se às atitudes/ações e conhecimentos necessários para os aprendizes participarem de forma confiante e autoral em decisões e ações orientadas a democratizar o acesso das pessoas às práticas corporais, tomando como referência valores favoráveis à convivência social. Contempla a reflexão sobre as possibilidades que eles e a comunidade têm (ou não) de acessar uma determinada prática no lugar em que moram, os recursos disponíveis (públicos e privados) para tal, os agentes envolvidos nessa configuração, entre outros, bem como as iniciativas que se dirigem para ambientes além da sala de aula, orientadas a interferir no contexto em busca da materialização dos direitos sociais vinculados a esse universo • Reflexão sobre a ação: refere-se aos conhecimentos originados na observação e na análise das próprias vivências corporais e daquelas realizadas por outros. Vai além da reflexão espontânea, gerada em toda experiência corporal. Trata-se de um ato intencional, orientado a formular e empregar estratégias de observação e análise para: resolver desafios peculiares à prática realizada; apreender novas modalidades; e adequar as práticas aos interesses e às possibilidades próprios e aos das pessoas com quem compartilha a sua realização. • Uso e apropriação: refere-se ao conhecimento que possibilita ao aprendiz ter condições de realizar de forma autônoma uma determinada prática corporal. Trata- se do mesmo tipo de conhecimento gerado pela experimentação (saber fazer), mas dele se diferencia por possibilitar ao aprendiz a competência necessária para potencializar o seu envolvimento com práticas corporais no lazer ou para a saúde. Diz respeito àquele rol de conhecimentos que viabilizam a prática efetiva das manifestações da cultura corporal de movimento não só durante as aulas, como também para além delas. Visto as potencialidades pedagógicas para o ensino dos esportes no contexto escolar, vamos trazer agora orientações sobre a organização deste conteúdo! 107 3 ORGANIZAÇÃO DO CONTEÚDO “ESPORTE ESCOLAR” Considerando os pressupostos apresentados anteriormente, e em articulação com as competências gerais da educação básica e as competências específicas da área de Linguagens, o componente curricular de Educação Física deve garantir aos alunos o desenvolvimento de competências específicas. Apesar de não serem definidos como Educação Física, a BNCC menciona aprendizados essenciais relacionados ao corpo na educação de crianças entre 0 e 5 anos e 11 meses de idade, grupo este que compõem a etapa da Educação Infantil. Vejamos alguns pontos em destaque: Os bebês (zero a 1 anos e 6 meses) devem aprender a: • Imitar gestos e movimentos de outras crianças, adultos e animais. • Movimentar as partes do corpo para exprimir corporalmente emoções, necessidades e desejos. • Perceber as possibilidades e os limites de seu corpo nas brincadeiras e interações das quais participam. • Utilizar os movimentos de preensão, encaixe e lançamento, ampliando possibilidades de manuseio de diferentes objetos. • Vivenciar diferentes ritmos, velocidades e fluxos nas interações e brincadeiras (em danças, balanços, escorregadores etc.). As crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) devem aprender a: • Desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros. • Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes naturezas. • Explorar formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo orientações. As crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) devem aprender a: • Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música. • Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música. • Demonstrar valorização das características de seu corpo e respeitar as características dos outros (crianças e adultos) com os quais convivem. 108 Vejamos algumas possibilidades de trabalhar o conteúdo Esporte a partir destes eixos de aprendizagem! FIGURA 22 – GINÁSTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL FONTE: O autor (2018) FIGURA 23 – JUDÔ NA EDUCAÇÃO INFANTIL FONTE: O autor (2018) 109 A etapa seguinte da educação básica, o Ensino Fundamental, traz para a Educação Física competências específicas (BRASIL, 2018) e descreve melhor suas funções e objetivos: • Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual. • Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. • Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes. • Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas. • Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam. • Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo. • Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos. • Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário. • Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais. • Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da saúde. Neste contexto, a sugestão dada pela Base ao conteúdo Esporte na distribuição ao longo do currículo, é intervir no 1º e 2º anos do Ensino Fundamental a partir de: • Discutir a importância da observação das normas e das regras dos esportes de marca e de precisão para assegurar a integridade própria e as dos demais participantes. • Experimentar e fruir, prezando pelo trabalho coletivo e pelo protagonismo, a prática de esportes de marca e de precisão, identificando os elementos comuns a esses esportes. Já para o 3º ao 5º ano: • Diferenciar os conceitos de jogo e esporte, identificando as características que os constituem na contemporaneidade e suas manifestações (profissional e comunitária/lazer). 110 • Experimentar e fruir diversos tipos de esportes de campo e taco, rede/parede e invasão, identificando seus elementos comuns e criando estratégias individuais e coletivas básicas para sua execução, prezando pelo trabalho coletivo e pelo protagonismo. Para o 6º e 7º anos: • Analisar as transformações na organização e na prática dos esportes em suas diferentes manifestações (profissional e comunitário/lazer). • Experimentar e fruir esportes de marca, precisão, invasão e técnico-combinatórios, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. • Planejar e utilizar estratégias para solucionar os desafios técnicos e táticos, tanto nos esportes de marca, precisão, invasão e técnico-combinatórios como nas modalidades esportivas escolhidas para praticar de forma específica. • Praticar umou mais esportes de marca, precisão, invasão e técnico-combinatórios oferecidos pela escola, usando habilidades técnico-táticas básicas e respeitando regras. • Propor e produzir alternativas para experimentação dos esportes não disponíveis e/ ou acessíveis na comunidade e das demais práticas corporais tematizadas na escola. Por fim, para o 8º e 9º anos: • Experimentar diferentes papéis (jogador, árbitro e técnico) e fruir os esportes de rede/parede, campo e taco, invasão e combate, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. • Formular e utilizar estratégias para solucionar os desafios técnicos e táticos, tanto nos esportes de campo e taco, rede/parede, invasão e combate como nas modalidades esportivas escolhidas para praticar de forma específica. • Identificar as transformações históricas do fenômeno esportivo e discutir alguns de seus problemas (doping, corrupção, violência etc.) e a forma como as mídias os apresentam. • Identificar os elementos técnicos ou técnico-táticos individuais, combinações táticas, sistemas de jogo e regras das modalidades esportivas praticadas, bem como diferenciar as modalidades esportivas com base nos critérios da lógica interna das categorias de esporte: rede/parede, campo e taco, invasão e combate. • Praticar um ou mais esportes de rede/parede, campo e taco, invasão e combate oferecidos pela escola, usando habilidades técnico-táticas básicas. • Verificar locais disponíveis na comunidade para a prática de esportes e das demais práticas corporais tematizadas na escola, propondo e produzindo alternativas para utilizá-los no tempo livre. Na última etapa da educação básica, o Ensino Médio, a BNCC orienta que os alunos experimentem novas brincadeiras, esportes, danças, lutas, ginásticas e práticas corporais de aventura. Mas nessa etapa de ensino, eles precisam ser desafiados a refletir sobre essas práticas de modo social ou cultural. 111 Neste sentido, os professores devem colaborar na conscientização sobre as potencialidades e os limites do corpo, a importância de uma vida ativa e a manutenção da saúde. É importante também discutir a utilização dos espaços públicos e privados para o desenvolvimento de práticas corporais, em prol da cidadania e seu protagonismo comunitário. Esse conjunto de experiências poderá desenvolver o autoconhecimento e o autocuidado com o corpo e a saúde, a socialização e o entretenimento. Neste contexto, os esportes assumem grande potencial na tomada de decisões éticas em defesa dos direitos humanos e dos valores democráticos. Assim como na Educação Infantil, o documento da BNCC não traz um direcionamento específico para a Educação Física na etapa do Ensino Médio, devendo ela, e o conteúdo Esportes, serem ampliadas e aprofundas em interlocução com as demais unidades temáticas. INTERESSANTE Sobre a Educação Física na BNCC para o Ensino Médio assista a este breve vídeo no Youtube, que você encontra no endereço eletrônico: https://www.youtube. com/watch?v=wPPU9_NKdLU Este canal oferece outros materiais com explicações e exemplificações sobre as atualizações da Base. 112 PRESSUPOSTOS ORIENTADORES PARA O ENSINO DOS “FUTEBÓIS” NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR... Ricardo Rezer Inicialmente, penso ser necessário esclarecer a concepção de “futebóis” que orienta este texto. Se por um lado, futsal e futebol são modalidades específicas, há a necessidade de uma mediação pedagógica para o ensino de seus elementos no contexto escolar. Na concepção aqui assumida, “futebóis” apresenta-se como uma possibilidade que permite a EF tratar pedagogicamente o futebol e o futsal a partir de uma compreensão crítica que lhe confira o status de conhecimento da cultura corporal de movimento, sendo tratado como um objeto de estudo do professor e, consequentemente, como um tema importante a ser ensinado na EF escolar, sem desconsiderar seus elementos específicos. Concordando com Damo (2007), “futebóis” não é simplesmente um neologismo de ocasião. Porém, é um termo usado com pouca frequência e resgata o reconhecimento da diversidade desse fenômeno, manifesto na linguagem cotidiana como: futebol de várzea, de salão, de praia, de botão, futevôlei, totó, futsal, “pelada”, “racha”, entre outros. A seguir, apresento (com todo o risco que isso pressupõe) alguns referenciais orientadores para o ensino dos “futebóis” que venho desenvolvendo conjuntamente com estudantes do curso de EF da Unochapecó, na disciplina de “Teoria, Prática e Metodologia do Futebol e do Futsal”, em articulação com o Grupo de Pesquisas Pedagógicas em EF (GPPEF). A seguir, apresento seis tematizações que podem ser desenvolvidas em diferentes fases escolares da EF: Brincadeiras de bola com os pés, Resgate de jogos populares/de rua, Jogos esportivos, Aprofundamento técnico-tático, Jogos eletrônicos e Jogos de salão. FASE I – Tematizações sugeridas do 1º. Ao 5º. Ano (ou Pré a 4ª. Série) do Ensino Fundamental, aproximadamente entre 06 e 11 anos de idade Brincadeiras de bola com os pés… Em diferentes línguas, jogar e brincar são expressos em uma única palavra. Tais manifestações podem ser muito interessantes para constituir situações de ensino na EF escolar, resgatando uma riqueza inalienável no contexto da infância. Ou como bem se refere Benjamin (2002), onde as crianças brincam, há tesouros enterrados. Assim, LEITURA COMPLEMENTAR 113 podemos aprender a descobrir diferentes tesouros e, concordando com Kunz (1994), o jogo pode representar possibilidades para viver experiências bem-sucedidas nesse âmbito com desdobramentos para toda a vida. Nessa direção, o jogo passa a representar uma importante possibilidade pedagógica para a EF, conforme a seguir: • Período propício para experimentação e descoberta: importante constituir espaços para experimentar as possibilidades de relação com a bola, em diferentes situações, em que seja possível ousar nas possibilidades interpretativas e a bola venha a constituir-se como um brinquedo prazeroso na relação com o próprio corpo. • Propostas de aulas desenvolvidas com diversidade de materiais: é importante destacar a articulação da bola com outros materiais (cordas, bambolês, bastões etc.), de modo que as crianças tenham possibilidade de explorar intensamente as possibilidades dos arranjos materiais (sobre arranjos materiais, ver KUNZ, 1994). • Conhecimento a ser ensinado: “novas” formas de relacionamento com a bola, individual e coletivamente (permitir a socialização das experiências entre os alunos, em que eles aprendam com o professor e também entre si). • Explorar a capacidade mimética dos alunos, entendendo mimeses como a possibilidade de representar algo que não somos, ou como se refere Benjamin (1994, p. 108), “[...] é o homem que tem a capacidade suprema de produzir semelhanças”. Encenações proporcionam um adentrar a um mundo mágico, imaginário e extremamente desafiante, onde somos introduzidos nos mistérios do mundo lúdico. Ou então, “como um leão chuta a bola?”. • Fomentar o “Eu consigo”. O desenvolvimento de vivências positivas pode permitir uma ampliação da participação dos alunos nas aulas. Geralmente gostamos daquilo que conseguimos realizar com certa “eficiência”, o que se trata de tarefa pedagógica para a EF. • Introdução à tática: tema pouco explorado nessa fase escolar, por ser considerada como muito complexo. Porém, se considerarmos a tática como uma capacidade de leitura de jogo, que venha a permitir maiores possibilidades para resolver os problemas nele apresentados, por meio da decisão mais adequada (REZER; SAAD, 2005), é possível desafiar os alunos sobre “como se resolve os problemas do jogo?”, mesmo que se trate de um simples jogo de “bobinho”, em que ele precisa decidir para quem, quando e de que forma joga a bola. Esses desafios podem ser considerados no coletivo e proporcionados aos alunos na forma de questionamentos que podem ser alvo de reflexões a serem desenvolvidas em aula. Resgate de jogos populares/de rua… A questão anterior,“o-que-fazer”, será agora revisitada a partir de um processo de exploração das memórias dos estudantes – do que brincam fora da escola, quais os “jogos de bola” experienciados, enfim, suas experiências –, em um processo de resgate de jogos populares/de rua de “futebóis”. Isso possibilita a vivência, em aula, de memórias individuais que se manifestaram no coletivo, em um processo de socialização de conhecimentos construídos fora da escola, onde se evidencia a preocupação em “olhar” 114 por cima do muro da escola. Na EF escolar, o jogar precisa apresentar-se como espaço para aquisição de conhecimentos em um planejamento com fins a serem alcançados. Essa intencionalidade pedagógica permite diferenciar o jogo da rua do jogo da EF. Tais experiências pedagógicas podem caracterizar-se como um lugar para ampliar de forma crítica o conhecimento sobre jogo/esporte, resgatando e socializando conhecimentos oriundos “da rua”. Nessa direção, promover a possibilidade de que os alunos organizem seus próprios jogos, pode permitir um interessante exercício de cidadania (discussão, problematização e acordos), de respeito às diferenças (gênero, raça, etnia, colegas com maior facilidade ou dificuldade para jogar), bem como a desconstrução de tabus (por exemplo, o erro – percebido como algo “negativo”, é um indicativo vivo da necessidade de aprender mais; rendimento – bastante questionado, “render mais” é uma possibilidade interessante, quando compreendido como o aumento do arcabouço de conhecimentos para lidar com os desafios do cotidiano, por exemplo, na EF). As tematizações de experiências podem ser abordadas a partir dos próprios estudantes, observando a importância do professor não “ficar refém” dessas experiências. Porém, observar essas referências evidencia uma tendência de forte significado para os “autores” dos jogos, em que eles provavelmente, por se sentirem sujeitos do processo, participarão das aulas. Nessa direção, o professor trata com o conhecimento trazido de “fora para dentro”, a “partir disso”, sem “ficar nisso”. Respeitar e resgatar a cultura lúdica, articulada com o que a EF escolar tem a ensinar (ver tematização anterior, por exemplo), parece apresentar-se como uma equação possível de contribuir com a eficácia de uma intervenção. Um resgate da cultura lúdica dos estudantes pode “fazer aparecer” o que se “faz” fora da aula, trazendo uma riqueza que não pode ser desprezada. FASE II – Tematizações sugeridas para alunos de 6º. Ao 9º. Ano (5ª. A 8ª. Séries) do Ensino Fundamental, aproximadamente entre 11 e 14 anos de idade Jogos esportivos (o jogo fica “sério”)... Os jogos esportivizados constituem-se como uma construção humana, dotada de um arcabouço de conhecimentos a serem tratados no âmbito escolar. Nesse momento, torna-se pertinente maiores aproximações da EF com o esporte institucionalizado, em um processo que se assemelha à aquisição de conhecimentos de, por exemplo, língua portuguesa, que permitam ao sujeito ler e a escrever com correção, clareza e coerência. Para que seja possível aos estudantes estabelecerem relações de diálogo com situações sistematizadas do futebol/futsal, cabe trabalhar tais conteúdos em aula. Isso pode permitir um grau de autonomia, em que os estudantes tenham condições de “jogar bem” (isso não quer dizer que os estudantes precisam se tornar jogadores de excelência ou profissionais, mas que consigam, ao final de 12 anos no âmbito da EF escolar, reconhecer e se relacionar de forma competente e crítica com o futebol/ futsal, tanto como espectadores, leitores ou jogadores). Dessa forma, ensinar conhecimentos relativos aos “futebóis” em suas manifestações sistematizadas trata-se de uma responsabilidade da EF. Isso traz, como tema de aula, conhecimentos específicos que permitam um “olhar” mais apurado dos estudantes para esse conteúdo. Da mesma 115 forma que se faz necessário um processo de alfabetização, que permita a comunicação linguística entre os seres humanos, se faz necessário um processo de alfabetização esportiva, que permita uma relação de diálogo entre os jogadores no plano do futsal/ futebol. Para isso, a ênfase em jogos que desafiem a resolução de problemas de ordem tática pode permitir a ampliação da capacidade de leitura de jogo e, por consequência, uma ampliação das experiências dos estudantes, que permitam uma ampliação de seu conhecimento específico, a partir de uma ampliação da capacidade de “leitura de jogo”. Nessa direção, esse período escolar deve possibilitar condições objetivas para jogar bem e sentir-se bem, tanto como sujeito como parte integrante de um coletivo que joga. Isso implica discutir as relações dialéticas e contraditórias entre competição e cooperação, lembrando que não é possível haver jogo sem princípios mínimos de cooperação. Por exemplo, se uma equipe não cooperar e aceitar jogar com outra, não há jogo. Ou, se não houver um mínimo de cooperação entre a própria equipe, o jogo acaba na primeira cobrança de lateral, em razão do fato de a bola ter de ser passada para que o jogo reinicie, entre outras situações que poderiam ser citadas. Isso permite considerar a importância de articular o jogar coletivamente com o outro time e não somente contra o outro. Essa assertiva permite considerar também a possibilidade de uma infinidade de argumentos relativos aos valores que (ainda) podem ser preconizados com a prática esportiva. Jogos eletrônicos... Esse tema pode apresentar-se como uma perspectiva interessante de ser abordada na EF escolar. Nesse caso, é importante considerar que mesmo escolas públicas já apresentam uma estrutura que paulatinamente vem incorporando laboratórios de informática em seu cotidiano. Essa assertiva deve-se muito mais a partir de minhas experiências com formação permanente/continuada de professores de escolas públicas de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, do que em dados oficiais. Embora considere equivocada a ideia (simplificada) de que os jogos eletrônicos estão presentes na vida de todos os alunos, que eles não brincam mais, entre outros chavões que carecem de maior contextualização, penso que as escolas vêm implementando esforços na direção de socializar as possibilidades de acesso à tecnologia. Portanto, explorar o conhecimento que se apresenta nos jogos eletrônicos, merece maior atenção da EF escolar. Como bem afirma Costa (2006), os educadores devem estar atentos para não se tornarem vulneráveis ante as linguagens e conhecimentos tecnológicos não dominados por eles, mas dominados pelos estudantes. No que se refere às possibilidades que os jogos eletrônicos representam em situações de aula, é possível considerar uma gama de conhecimentos presentes, por exemplo, no jogo Fifa13, em que podem ser abordados: sistemas de jogo e equilíbrio entre atacar e defender (o “técnico” precisa “armar” seu time); regras (número de substituições, punições, infrações, entre outros); organização esportiva (fórmulas de campeonatos/torneios, eliminatória simples, dupla, chaves, todos contra todos etc.); acordos internos entre os envolvidos (tempo, fórmula de disputa, calendário etc.); sem contar na destreza motora para concatenar as exigências do jogo com os procedimentos e operações realizadas no joystick ou no teclado do computador. 116 Mesmo que se perceba certa diabolização dos jogos eletrônicos, como se fossem essencialmente “do mal” e “alienantes”, considero que é preciso compreender melhor como lidar com as possibilidades que eles podem representar. O fato é que eles seduzem crianças, jovens e adultos de diferentes camadas sociais, o que pode servir como justificativa para um olhar mais atento da EF escolar sobre as considerações aqui estabelecidas. FASE III – Tematizações sugeridas para o 9º. Ano (ou 8ª. Série) do Ensino Fundamental e o Ensino Médio (I, II e III anos), aproximadamente dos 14 aos 17 anos Aprofundamento técnico-tático… Nessa fase escolar, a tradição construída no âmbito do esporte institucionalizadoocupa um espaço mais central no conteúdo desenvolvido nas aulas, articulando desde conhecimentos “periféricos” até conhecimentos específicos. Inicialmente, para abordar essa fase, considero necessário compreender conceitualmente técnica e tática a partir de uma relação de indissociabilidade, em que elas se apresentam nas situações corriqueiras do jogo na aula. Ampliar a compreensão dos fenômenos pela linguagem pode permitir uma ampliação das relações dos seres humanos entre si e com o mundo. Bem como ampliar as possibilidades de intervenção pedagógica começa pela ampliação da percepção da complexidade do fenômeno em questão. Nessa direção, compreender a técnica a partir de uma ampliação do prisma de percepção pode promover desdobramentos importantes no “chão da quadra/sala de aula”. Lembrando Boukharaeva, citado por Fensterseifer (2001), “a técnica é o meio de solução dos problemas e não um objetivo em si mesmo” (p. 255). Portanto, jogar coletivamente exige uma relação de indissociabilidade entre técnica e tática, resgatando a compreensão grega da tecné16, proporcionando uma amplitude das possibilidades de ação, no sentido de instrumentalizar o estudante a resolver problemas inerentes ao jogo. Pode ser pensado a partir da construção de situações com modificação de algumas estruturas (número de jogadores, tamanho de quadra), com superioridade/ inferioridade numérica, com “curingas”, entre outros. A preocupação com o rendimento dos estudantes deve ser considerada, visto que o aluno precisa aprender mais do que sabe nas experiências de aula. Para isso, também é necessário compreender “rendimento” como a possibilidade de resolver, com sucesso, problemas do cotidiano, nesse caso, desafios do futsal/futebol. Daí a importância de ressaltar que nas aulas de EF é preciso considerar o rendimento do aluno, mas considerando essa expressão com uma conotação diferente da compreensão hegemônica de rendimento (deslocando o epicentro da aula de um lês-se-fair ou de um rendimento máximo, para um rendimento possível). Mesmo assim, concordando com Freire (2003), situações lúdicas deverão continuar a fazer parte das propostas de aula, porém, a ênfase nesse momento terá como referência o conhecimento específico. 117 FASE IV – Tematização sugerida para as diferentes fases escolares, com níveis de complexidade definidos de acordo com cada contexto Jogos de Salão... Jogos de salão são considerados aqueles desenvolvidos em espaços fechados, com representações reduzidas de jogadores (o botão, no futebol de botão, por exemplo), tabuleiros (dama, por exemplo), implementos (tais como a raquete do tênis de mesa), com menor amplitude de movimento que os jogos normalmente desenvolvidos em aulas de EF na quadra/ campo. Considero que este seja um conteúdo de riqueza muito grande. É possível perceber, em diferentes contextos, a presença corriqueira dos jogos de salão em aulas de EF (quando chove, quando é muito frio ou calor, quando a quadra não está acessível, entre outros). Obstante a isso, também corriqueiramente é explorado muito mais no sentido “ocupativo” e recreativo do que no sentido de um conhecimento importante a ser ensinado. Essa é uma questão que percebo como importante: jogos de salão possuem um grande arcabouço de conhecimentos técnicos e culturais. Sem contar que podem representar outras formas de ensinar elementos dos “futebóis”. Como exemplo, no caso do jogo de botão, a técnica e tática também se fazem presentes, de outra forma, mas sempre presentes. Assim, o tema “jogos de salão” pode superar uma “atividade” de caráter meramente “ocupativo” e pode representar, em uma proposta séria, um conhecimento digno de ser ensinado em um contexto escolar, fruto de um planejamento e de uma hierarquização de saberes (culturais e técnicos) a serem tratados pedagogicamente em aulas. Concordando com Costa (2006), essas experiências podem contribuir com o rompimento da necessidade de brincar com objetos, passando para o brincar com os outros, o que, indubitavelmente, trata-se de uma nobre tarefa a ser tratada pela EF escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS... A amplitude dos conhecimentos presentes nos “futebóis” pode originar vários conteúdos a serem trabalhados em aula. Isso corrobora com as ideias apresentadas por Vago (1996) com relação à possibilidade de construir uma cultura escolar para o ensino do esporte. Considero que esse processo se dá em meio a uma tensão permanente entre aquilo que existe e precisa ser ensinado (tradição) e aquilo que pode ser construído (em aberto). Este texto procura participar do movimento de pensar e propor perspectivas para lidar com essas questões na EF escolar, a fim de contribuir com a construção de uma nova cultura para o ensino dos “futebóis”. É possível considerar esse esforço análogo a um processo de alfabetização, nesse caso, um processo de alfabetização esportiva, que pode permitir, a partir de uma abordagem crítica e da tematização de diferentes conhecimentos presentes nos “futebóis”, uma apropriação significativa dessa parcela da cultura corporal de movimento, no sentido de possibilitar ao aluno relacionar-se com ela em diferentes situações, permitindo a ele, como afirma Betti (2003), possibilidades de usufruir essa cultura de maneira crítica e autônoma. 118 É importante considerar, nesse contexto, que as fronteiras entre jogo e esporte não são tão rígidas como comumente parece. As relações entre um e outro dependem de diversos aspectos, entre eles, os códigos, sentidos e significados que se constroem nas relações entre os jogadores. Essa relação paradoxal merece maior aprofundamento da comunidade acadêmica, de novos estudos que ampliem a compreensão de fenômenos tão complexos e imbricados. Outro ponto de chegada deste texto, que pode originar novas investidas, reside na questão de que precisamos avançar no esforço de construir propostas curriculares para o ensino da EF escolar, com níveis de complexidade crescente e com hierarquização dos conhecimentos a serem abordados nos 12 anos escolares, no sentido de superar o “jogar pelo jogar”, as “atividades recreativas” ou aulas de caráter “ocupativo”, para, em seu lugar, construir coletivamente uma EF que possa enfrentar proficuamente os desafios e problemas que a angustiam. Cabe destacar que, para isso, não é necessário deixar de jogar ou se divertir nas aulas de EF, mas sim, entender que a função da EF escolar não é simplesmente constituir espaço para divertir e deixar jogar. Ainda assim, é preciso considerar que abrir espaço para a vivência lúdica nas aulas significa, como princípio, marcar no próprio corpo experiências da “vida vivida”, deixando marcas, saberes e conhecimentos que nunca mais se perdem. Finalizando, os pressupostos apresentados podem contribuir com novos olhares que venham a avançar no movimento de construir propostas de ensino na EF escolar, contribuindo com o trabalho de professores e professoras, ampliando o movimento de interlocução entre teoria e prática, dilema tão presente no cotidiano da EF brasileira. FONTE: REZER, R. Pressupostos orientadores para o ensino dos “futebóis” na educação física escolar... Cadernos de Formação RBCE, Rio de Janeiro, v. 1 p. 71-87, 2009. 119 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento elaborado coletivamente que visa orientar a elaboração dos currículos das escolas. • A Educação Física é parte integrante da área de Linguagens, tendo seus objetivos e competências a serem desenvolvidas ao longo das três etapas da educação básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. • O conteúdo Esporte recebe maior evidência no período do Ensino Fundamental, devendo este ser trabalhado a partir de suas divisões e potencialidades pedagógicas. • Apesar de não serem tratados especificamente pelo documento da Base, o conteúdo Esporte deve ser trabalhado de forma introdutória na etapa da Educação Infantile de forma aprofundada, analítica e crítica na etapa do Ensino Médio. 120 1 A partir do que aprendemos sobre a elaboração e os objetivos da constituição da Base Nacional Comum Curricular para as escolas brasileiras, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O principal objetivo da BNCC é definir diretrizes e conteúdos sobre o que é ensinado nas escolas do Brasil, sendo considerado como currículo obrigatório da educação básica. b) ( ) A BNCC estabelece os objetivos de aprendizagem que se quer alcançar, por meio da definição de competências e habilidades essenciais, enquanto o currículo irá determinar como esses objetivos serão alcançados, traçando as estratégias pedagógicas mais adequadas. c) ( ) A BNCC é um documento que determina as diretrizes e conteúdos sobre o que é ensinado nas escolas do Brasil, englobando desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. d) ( ) A BNCC determina os objetivos de aprendizagem que se quer alcançar, sendo considerado como currículo obrigatório da educação básica. 2 Vimos que no documento da BNCC a Educação Física encontra-se na área de Linguagens, sendo que suas definições e objetivos atravessam diversos campos de experiências e aprendizagens no contexto da educação básica. A partir desta afirmação, analise as sentenças a seguir: I- Para a Educação Infantil, o documento da BNCC não traz direcionamentos específicos para a Educação Física, portando não deve ser trabalhado o conteúdo Esportes. II- Nas etapas de educação básica, da Educação Infantil ao Ensino Superior, a temática dos Esportes deve ser trabalhada, exclusivamente, a partir de suas práticas e gestos técnicos. III- Na última etapa da educação básica, o Ensino Médio, a BNCC para a Educação Física orienta que os alunos experimentem novas brincadeiras, esportes, danças, lutas, ginásticas e práticas corporais de aventura, sendo desafiados a refletir sobre essas práticas de modo social ou cultural. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 121 3 A partir do que aprendemos sobre as competências específicas da Educação Física para o Ensino Fundamental, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Um dos objetivos da Educação Física é compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos com a organização da vida coletiva e individual dos aprendizes. ( ) A Educação Física não busca Interpretar e recriar valores, sentidos e significados atribuídos às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam. ( ) Um dos objetivos da Educação Física é identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas corporais e aos seus participantes. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 Disserte sobre as potencialidades pedagógicas para o ensino dos esportes a partir das habilidades que privilegiam as oito dimensões do conhecimento. 5 A partir da leitura complementar do texto “Pressupostos orientadores para o ensino dos “futebóis” na Educação Física escolar”. Disserte sobre as possibilidades de transformação didático-pedagógica para o ensino dos esportes no contexto escolar. 122 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. A. B.; GUTIERREZ, G. L. A nova dimensão esportiva: Uma leitura do esporte e do lazer. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, nº 116, janeiro de 2008. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd116/uma-leitura-do-esporte-e- do-lazer.htm Acesso em: 22 jan. 2022. ALMEIDA, L. T. P. Iniciação esportiva na escola – a aprendizagem dos esportes coletivos. Perspectivas em Educação Física Escolar, Rio de Janeiro, especial: 41- 51, 1996. 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Acesse o QR Code abaixo: 129 TÓPICO 1 — NOVAS TENDÊNCIAS EM PEDAGOGIA DO ESPORTE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à terceira unidade do nosso Livro Didático da disciplina Pedagogia do Esporte, e já que estamos iniciando nossa última etapa de estudos, vamos introduzir você aos temas que serão abordados. Vamos lá? A unidade 3 tem como tema central apresentar atuais definições teórico- conceituais sobre pedagogia do esporte e trazer orientações didáticas para sua aplicabilidade no contexto da Educação Física Escolar. Para atendermos a estes objetivos organizamos para você três tópicos de estudos. No Tópico 1, abordaremos sobre as novas tendências em pedagogia do esporte, sendo este dividido em: • Pedagogia tradicional x pedagogia nova. • Princípios das novas tendências em pedagogia do esporte. • Ensino de habilidades para a vida por meio do esporte. No Tópico 2, apresentaremos novas abordagens em pedagogia do esporte, sendo este dividido em: • A iniciação esportiva universal. • O jogo como processo de ensino-aprendizagem. Por fim, no Tópico 3, traremos orientações didático-metodológicas para o ensino dos esportes no contexto da Educação Física Escolar, sendo este dividido em: • Planejamento: o que, por que e como ensinar? • Estratégias e possibilidades de intervenções na prática da Educação Física Escolar. • Ferramentas de avaliação do ensino. 130 LEMBRETE O Livro Didático será seu guia de estudos! Nele vamos encontrar o conteúdo necessário para aprendizagem, autoatividades, dicas e encaminhamentos para você buscar se aprofundar no tema apresentado. Neste primeiro tópico vamos recordar o conteúdo que estudamos na Unidade 1 e aprofundar nossos conhecimentos em pedagogia do esporte. Você está preparado? 2 PEDAGOGIA TRADICIONAL X PEDAGOGIA NOVA DICA Antes de iniciar, faça uma releitura sobre as principais correntes teóricas da pedagogia do esporte, que estudamos no Tópico 2 da Unidade 1 deste Livro Didático. Já sabemos que, em resumo, o método de ensino tradicional, ou concepção pedagógica tradicional, é aquela em que a figura do professor é representada de forma autoritária e transmissora de um saber fragmentado, desfocado do contexto sociocultural dos aprendizes. Além disso, sua base do processo didático é dedutiva e universal, na qual os alunos são elementos passivos em seu processo de ensino e aprendizagem. Enquanto isso, as novas tendências pedagógicas buscam justamente superar estes princípios limitantes, conforme mostramos no quadro a seguir: 131 QUADRO 1 – PEDAGOGIA TRADICIONAL X PEDAGOGIAS INOVADORAS PEDAGOGIA DO ESPORTE TRADICIONAL PEDAGOGIA DO ESPORTE INOVADOR Centrada na técnica (ensina com atividades/treinos) Centrada na lógica tática (ensina por meio de jogos) Busca reproduzir modelos (padrões e técnica perfeita) Busca criar situações diversificadas (estimula processos criativos) Repetição de movimentos para automação Explora movimentos para enriquecer acervo de soluções, gerando condutas motoras Busca mecanizar o gesto (jogadores como robôs pré-programados) Busca humanizar o gesto (cada jogador cria a sua técnica e conduta motora) Produz pobre acervo de possibilidades de respostas e tomadas de decisões Produz rico acervo de possibilidades de respostas e tomadas de decisões (motoras, cognitivas, afetivas, sociais, morais, éticas etc.) Descarta a solução eficaz, partindo da solução eficiente Parte da solução eficaz para transformá-la em solução eficiente Necessita de pré-requisitos Não necessita de pré-requisitos (aprende a partir do que já sabe) Seletivo e restrito Aberto Gera dependência Possibilita autonomia FONTE: Adaptado de Brasil (2004) IMPORTANTE Independentemente do método escolhido, as novas tendências pedagógicas buscam construir ambientes positivos de aprendizagens, adaptando conteúdos de ensino ao contexto sociocultural dos aprendizes. Além disso, o professor atua na função de mediador do conhecimento, sendo o aprendiz guiado pelo caminho das descobertas. No sentido de buscar melhor explicar o quadro anterior, podemos afirmar que a pedagogia tradicional de ensino dos esportes é prioritariamente centrada no processo de ensino e aprendizagem da técnica, buscando a padronização de gestos e comportamentos motores, ou seja, é uma metodologia tecnicista que defende a ideia de que para aprender a jogar os esportes é necessário primeiramente dominar um certo número de movimentos estereotipados e classificados como universais.132 NOTA Não estamos desconsiderando a importância da técnica nos esportes, sobretudo naqueles que exigem movimentos precisos, refinados e sincronizados como no caso do atletismo, ginásticas, natação, entre outros. Estudos em biomecânica e cinesiologia, em paralelo ao avanço tecnológico contribuíram significativamente para as avaliações de movimentos, o aperfeiçoamento técnico e a redução dos riscos de lesões em atletas de alta performance e amadores. FIGURA 1 – FASES BIOMECÂNICAS DA CORRIDA FONTE: <https://blog.focoradical.com.br/voce-sabe-quais-sao-as-fases-da-corrida/>. Acesso em: 14 fev. 2022. A perspectiva tradicional traz a ideia de que para se aprender determinada modalidade esportiva é necessário dividir as partes do esporte e trabalhar separadamente suas técnicas, estratégias táticas, componentes físicos, entre outros elementos. Ou seja, o processo de ensino e aprendizagem ocorre a partir da soma de todas as partes que compõem o objeto a ser estudado. Por exemplo, em uma aula de handebol, retiram-se os gestos técnicos do jogo (arremesso, controle de bola, passe, entre outros) e os ensinam de maneira analítica (separada do contexto do jogo), para depois, ao final da aula, pensar em juntá-los para se ter com isso uma melhora no jogo formal. Ainda nesta perspectiva, o melhor professor só será capaz de ensinar se dominar perfeitamente os movimentos exigidos pelo jogo, reforçando a noção tecnicista deste modelo. 133 A metodologia tradicional enxerga o processo de ensino e aprendizagem como um quebra-cabeças, no qual a soma das partes busca representar o todo, e se pensarmos nos planos de aulas que se pautam nesta abordagem encontramos esses divididos em três ou quatro partes: • 1ª Parte: destinada para alongamentos e aquecimento. • 2ª Parte: destinada para o ensino de uma ou mais técnicas do esporte. • 3ª Parte: destinada para a realização do jogo formal no caso dos esportes coletivos ou experimentações no caso dos esportes individuais. • 4ª Parte: destinada para a volta à calma, roda de conversa, entre outros. Você deve estar familiarizado com este modelo de aula, correto? Existe até uma máxima divulgada pelos defensores do modelo tecnicista, em que os jogadores iniciantes devem repetir e reproduzir os movimentos até sua automação (ou automatização), para que quando exigidos no jogo não seja necessário pensar. INTERESSANTE Utiliza-se como analogia o processo de aprendizagem de um aprendiz de condutor de veículos, que após passar pelas aulas da autoescola e mecanizar os movimentos de aceleração, trocas de marchas etc. acaba memorizando o comportamento e dirigindo seu veículo de forma automática, sem pensar previamente nas ações que está realizando. Ora... será que um jogo de basquetebol, que envolve relações entre adversários, companheiros, regras, torcida, pressão por resultados, entre outros elementos, é possível de ser comparado ao simples fato de ligar um carro e se deslocar para o trabalho? A partir dessas ideias, a pedagogia tradicional tem potencial para produzir excepcionais jogadores no que diz respeito ao domínio de um restrito acervo de habilidades motoras. Assim, por exemplo, se falássemos do ensino do futebol, poderíamos dizer que ela produziria excelentes malabaristas com a bola nos pés e limitados jogadores no quesito resolução de problemas, principalmente em um jogo que exige uma conduta motora diferente e aleatória a cada nova situação desencadeada pelo acaso de sua desordem e complexidade. Dando sequência, podemos dizer que a pedagogia tradicional descarta o fato de que, principalmente, nos jogos coletivos seu processo de organização sistêmico não pressupõe uma conduta motora a priori. Ou seja, essa conduta motora é construída à medida que os jogadores interpretam a sempre nova situação-problema e buscam solucioná-la a partir de suas competências e habilidades. 134 Segundo Araújo (2008) a valorização do gesto técnico eficiente acaba por impedir que os iniciantes jogadores desenvolvam suas respectivas condutas motoras que irão enriquecer suas habilidades, ao mesmo tempo em que desenvolvem competência interpretativa. Nesse sentido, parte-se de um hipotético gesto eficiente em detrimento de um possível gesto eficaz. Por fim, a pedagogia tradicional exige pré-requisitos, logo é seletiva, pois aqueles que não conseguirem reproduzir os movimentos serão considerados como não aptos. Desta forma, são os aprendizes que se adaptam às exigências da aula e não o contrário. Ao final do processo de ensino-aprendizagem teremos cada vez mais jogadores dependentes, que necessitam de respostas prontas dadas por alguém de fora (exterior ao jogo), que deverão ser seguidas sem questionamento, pois sempre foi assim e assim deverá continuar a ser (ARAÚJO, 2008). IMPORTANTE Vimos que o modelo de aula tradicional têm por objetivo reproduzir movimentos por meio da repetição e automatização de gestos e comportamentos. Em outros termos, formam-se jogadores que repetem movimentos de maneira mecânica. Podemos dizer isso porque esse processo impede que os alunos criem suas próprias estratégias e repertórios técnicos. Contrariamente ao que foi apresentado anteriormente, as abordagens inovadoras se centram no ensino da lógica do esporte em detrimento dos seus movimentos particulares. Não que elas não considerem a existência de técnicas esportivas (movimentos específicos que aparecem com mais frequência nos jogos), mas essas, ao invés de estarem evidenciadas e enfatizadas no início do processo de ensino, são alocadas para o final, pois assim se prioriza que os alunos construam seus movimentos, a partir de particulares interpretações, que gerarão condutas motoras diversificadas, e consequentemente um rico acervo de possibilidades de respostas para os jogos. 135 FIGURA 2 – BRINCANDO DE ATLETISMO (SALTOS) FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/8561/pequenos-campeoes>. Acesso em: 14 fev. 2022. Do ponto de vista prática, é possível pensar que este modelo busca incluir todos os aprendizes no processo de ensino-aprendizagem de determinada modalidade esportiva, pois ela parte daquilo que sabe para aquilo que se pode alcançar. FIGURA 3 – COBRANÇA DE PÊNALTI EM AULA INCLUSIVA FONTE: <https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/professor-inclui-aluno-cadeirante-em-jogo-e- video-viraliza/54041>. Acesso em: 14 fev. 2022. 136 Ao invés de os alunos aprenderem movimentos específicos e estereotipados por repetição exaustiva, eles são instigados, por meio de situações-problemas, a explorar e criar suas próprias respostas e condutas motoras como forma devolutiva às exigências do esporte, caracterizando não a automação mais sim a humanização dos gestos. Os professores nas abordagens inovadoras não devem dar respostas prontas aos seus alunos, e muito menos ensinar perdendo de vista o real contexto do esporte a que se propõem ensinar. Ou seja, ensina-se a jogar um determinado esporte jogando. Se o objetivo é ensinar a jogar basquete, por exemplo, obviamente não se partirá de filas para o desenvolvimento da bandeja, mas de sua compreensão lógica no interior do processo de organização específico gerado pelo jogo de basquete, e assim cria-se um jogo que exigirá do aluno pensar e executar um gesto similar à bandeja (caracterizando-se um gesto eficiente, que ao longo do processo de ensino irá se tornar eficaz à medida que o jogador amplia o seu nível de competência interpretativa). IMPORTANTE Os alunos iniciam o processo de ensino-aprendizagem com exatamente aquilo que sabem, ficando por responsabilidade do professor adequar sua aula no nível de competência e habilidade de seus alunos. Com isso, as aulas são sempre destinadas a todos, não exigindo pré-requisitos. Enfim, a todo momento as abordagens inovadoras priorizam a autonomia e a tomada de consciência das ações engendradas ao longo do processo de ensino dos esportes. Alunos autônomos e detentores de ricos acervos de possibilidades de respostas para osjogos, consequentemente, desenvolverão sobremaneira suas respectivas inteligências para o jogo e, concomitantemente, para o mundo, pois só formaremos um cidadão independente (porém consciente de sua dependência social), responsável e crítico, quando esse se entender consciente e competente para agir, interagir e ressignificar a realidade em seu entorno (BRASIL, 2004). 3 PRINCÍPIOS DAS NOVAS TENDÊNCIAS EM PEDAGOGIA DO ESPORTE Num contexto atual, entre as principais tendências da Educação, o que mais se destaca é sua relação com as tecnologias. Ferramenta esta que deve ser utilizada para potencializar o processo de ensino-aprendizagem, tanto de novos professores (cursos, lives, plataforma de ensino a distância, entre outros) quanto para o próprio ensino dos esportes (análise de vídeos, marketing e mídia esportiva, produção de conteúdos etc.). 137 E o que vem sendo observado na prática efetiva do professor de Educação Física nas escolas é que nem sempre o professor se preocupa com o método no seu planejamento. Ou seja, o professor trabalha apenas com um rol de atividades e não se dá conta da importância do método para que esse conteúdo possa levá-lo a atingir seu objetivo. É preciso considerar a associação entre estes elementos, ou como na visão de Libâneo (2002) os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Para Almeida (2017), são considerados inovadores os docentes de Educação Física que conseguem diminuir a distância entre o grande avanço teórico da área nas últimas décadas, principalmente após as propostas pedagógicas que foram elaboradas durante o movimento renovador, e a dificuldade de materializar essas mudanças na organização da prática pedagógica no chão da escola. O autor ainda ressalta que esses professores estão criando uma nova tradição para o componente, já que planejam e organizam as suas ações didáticas sem tratar de forma separada o pensamento e o movimento. Neste sentido, tratamos os princípios das novas tendências em Pedagogia do Esporte a partir de três referenciais: o técnico-tático, o socioeducativo e o histórico- cultural. Pois, ao pensarmos uma Pedagogia do Esporte que, segundo Machado; Galatti; Paes (2014) se direcione nos caminhos da formação da cidadania e da autonomia dos alunos, é fundamental a inclusão deste terceiro referencial, que reforça os outros dois já existentes, direcionando processos de ensino, vivências e aprendizagens de modalidades esportivas que respeitam a integralidade do esporte e, sobretudo, de quem o prática. • Referencial técnico-tático: diz respeito à organização e sistematização pedagógica das modalidades esportivas para a vivência e prática das mesmas, além da escolha metodológica para sua aplicação e o ensino de suas técnicas, estratégias táticas e regras. • Referencial socioeducativo: diz respeito ao trato com valores e modos de comportamento no processo de ensino, vivências, aprendizagens e do próprio treinamento esportivo. Diversos autores compartilham que ensinar o esporte deve estar balizado com a formação de cidadãos críticos, autônomos, capazes de produzir, reproduzir e ressignificar a cultura esportiva. • Referencial histórico-cultural: este referencial objetiva resgatar no trabalho do pedagogo do esporte questões que fazem parte da história de cada modalidade, já que o esporte é um patrimônio cultural da humanidade construído e ressignificado constantemente pela sociedade, e que precisa ser compreendido pela mesma. 138 IMPORTANTE Fique atento caro acadêmico! Para o esporte ser um dos contribuintes para a formação integral do aluno-jogador, é fundamental que as aulas sejam pautadas de forma equilibrada nos três referenciais citados anteriormente: no metodológico, no socioeducativo, também no histórico-cultural. Seguindo estas diretrizes, o aprendiz tem condições de percorrer seu caminho ligado ao esporte de maneiras distintas, conforme interesses pessoais e possibilidades de alcance, podendo atuar futuramente como atleta profissional, árbitro, comentarista ou jornalista esportivo, empresário esportivo, espectador e consumidor crítico, dirigente, praticante de esporte como ferramenta de lazer, professor de Educação Física, treinador esportivo, dentre outras opções em que a formação estará pautada tanto na parte físico-motora, quanto na afetivo-social e também na histórico-cultural (MACHADO; GALATTI; PAES, 2014). ATENÇÃO Se o método de trabalho escolhido não faz parte da reflexão que envolve o ato de planejar, corre-se o risco de cometer alguns equívocos que são capazes de comprometer uma abordagem de ensino dos esportes de natureza crítica. Fique atento aos exemplos a seguir e tente fazer uma comparação com as aulas que você costuma presenciar! Dimensões pedagógicas dos esportes (BRASIL, 2004): • Alunos em fila: muito se critica a forma linear de atividade como sendo uma forma mecânica, repetitiva e distante da realidade da situação de aprendizagem de determinado jogo, para se ensinar um esporte qualquer. Vamos imaginar um professor de futebol que opta pelo trabalho em fila (estafeta) para o fundamento de condução da bola. Esse professor organiza duas colunas de alunos, cada uma delas com uma bola e que, ao sinal, os alunos que se encontram no início da fila devem iniciar a condução da bola, percorrer uma distância de aproximadamente dez metros, contornar um obstáculo (cone), retornar à sua coluna, passar a bola para o segundo aluno e se localizar no último lugar da fila aguardando a sua vez. Normalmente a estafeta supõe uma disputa entre as duas colunas para garantir a motivação. Podemos indicar uma série de equívocos, como, por exemplo, o fato de que o trabalho em fila em nada se assemelha com o jogo em si. Outro problema desse método de trabalho é o fato de o aluno ter apenas alguns minutos de atividade e ficar, a maior parte do tempo, esperando a próxima vez de atuar. Nesse caso, o professor, 139 muitas vezes, se esquece que o seu objetivo era o de proporcionar a vivência da condução da bola no jogo de futebol e passa a se preocupar com a disciplina dos alunos que saem da fila para melhor visualizar a disputa do companheiro e que gritam motivando a vitória da sua equipe. É bastante comum que, quando isso acontece, o professor interrompa a atividade para reorganizar a fila e se distancie do seu objetivo inicial. Podemos aproveitar o mesmo exemplo para abordar o fato de que para a divisão das duas equipes é necessário que o professor se preocupe em evitar que ocorra, pelos alunos, uma seleção dos mais aptos e a rejeição daqueles alunos que não apresentam habilidade com o material utilizado, ou que, por algum motivo, se diferenciam do grupo. Ou seja, é necessário buscar uma forma de trabalho que não se afaste da essência do jogo. • Associação do erro com derrota: na prática de um determinado esporte, muitas vezes o erro pode significar um ponto para a equipe adversária. Entretanto, nas nossas aulas devemos considerar que o erro faz parte do aprendizado do aluno. Vamos utilizar o exemplo de uma aula de voleibol em que o professor opta por trabalhar com o jogo de vôlei em si, e que o aluno, por algum motivo, erra o saque. É preciso considerar que, além da angústia de errar, pode existir uma certa reclamação do grupo que acaba por agravar a preocupação desse aluno que errou e, em virtude da preocupação exagerada, acaba por repetir o movimento inadequado e erra outras vezes. Pode ocorrer, nesse caso, um sentimento de incompetência por parte de quem errou e a classificação de que é um mal jogador por parte do grupo. O professor quando opta por trabalhar nessa perspectiva deve resguardar a diferença entre sua aula e a prática daquele esporte com o seu conjunto de regras, para que possa dar ao erro uma conotação de aprendizado e não a de derrota. Uma sugestão é que, a cada erro,o professor intervenha corrigindo ou adequando o movimento, sem que tal intervenção possa favorecer alguma equipe. Para tanto é necessário deixar claro, desde o início, que o objetivo da aula não é o resultado do jogo, mas sim que aquele jogo contribua para o aprendizado. • Limitação das aulas pela ausência de quadra ou material: muitos professores são levados a pensar que uma boa aula depende de um local adequado e farto material. Na verdade, seria ótimo se todas as condições fossem perfeitas. Entretanto, a falta de uma quadra não pode impedir o trabalho do professor, que deve buscar analisar as condições da escola e de suas imediações. Se não existe espaço suficiente para uma aula de futebol, vôlei ou atletismo, verifique se estas modalidades não podem ser praticadas em um terreno ao lado, em uma praia ou em um campo próximos. Outro aspecto que costuma limitar algumas metodologias é a falta de material. Nesse caso é preciso verificar se é possível utilizar material alternativo como, por exemplo, bolas improvisadas a partir de meias velhas. É importante deixar a imaginação funcionar antes de abandonar um projeto. • O professor não se ocupa de todos os alunos: outro equívoco identificado em alguns métodos é o fato de o professor não se preocupar com todo o grupo que trabalha. O método adotado, além de ser utilizado para melhor desenvolver o conteúdo, deve considerar o número de alunos e a natureza do terreno onde se está trabalhando, de forma a garantir que o professor possa estar atento a cada um de seus alunos individualmente e o desenvolvimento do grupo como um todo. 140 É preciso refletir antes de adotar ou recusar qualquer prática! NOTA Outro aspecto a ser discutido é a confusão que se faz em torno dos termos autoritarismo e autoridade. Quando falamos em autoritarismo queremos evidenciar o exagero ou uma concepção exacerbada e rígida. De fato, é bastante questionado o autoritarismo presente nas práticas antigas de professores e treinadores esportivos que, neste texto, estamos tratando de métodos tradicionais. Sabemos por ver ou por ouvir dizer que, além dos castigos físicos, alguns desses professores agrediam fisicamente os seus alunos e exigiam em troca a passividade e a subserviência. Continuamos criticando severamente a prática desses professores, entretanto queremos deixar claro que combater o autoritarismo não significa abrir mão da autoridade diante do grupo de aprendizes, que é inerente ao papel do professor. O uso da autoridade, sobretudo no papel das novas tendências pedagógicas, é esperado daquele que dá direção ao processo de ensino e aprendizagem, e a negação desta autoridade pode resultar em aspectos negativos no desenvolvimento do trabalho pedagógico do professor. O professor lança mão da autoridade desde o momento que decide que conteúdo trabalhar, até quando se faz necessário conter algum excesso por parte do aluno. É necessário buscar o equilíbrio para evitar que o uso da autoridade resulte na prática do autoritarismo! 4 ENSINO DE HABILIDADES PARA A VIDA POR MEIO DO ESPORTE Para finalizar este tópico e reforçar a noção de que o esporte é capaz de trazer uma perspectiva de Desenvolvimento Positivo de Jovens (DPJ), que surge para valorizar os talentos, as qualidades e os interesses da juventude para potencializar um futuro de sucesso, associando valores técnico-táticos, socioeducativos e histórico-culturais, vamos apresentar esta perspectiva de ensino e trazer exemplos práticos para as aulas (MILISTEDT et al., 2020). A perspectiva do DPJ tem por finalidade elencar estratégias que favoreçam a transição adequada da juventude para uma vida adulta saudável e bem-sucedida. Tais estratégias se concentram em estruturar ambientes capazes de promover experiências positivas aos aprendizes. 141 São nesses ambientes que os alunos estabelecem relações, afloram suas potencialidades e estão aptos a desenvolver domínios de comportamento. Esses domínios podem ser definidos como 5Cs que, nomeadamente, são: competência, confiança, conexão, caráter e cuidado (MILISTEDT et al., 2020). FIGURA 4 – OS 5Cs FONTE: Milistedt et al. (2020, p. 7) Sob a perspectiva do DPJ, o desenvolvimento dos 5C’s representa a eficiência dos ambientes que se propõem em favorecer comportamentos positivos na juventude. Uma vez desenvolvidos, os jovens estão aptos a praticá-los em situações da vida diária, contribuindo com o convívio em sociedade. Essa contribuição representa o sexto “C” e passa a ser reconhecido como o resultado final do processo de DPJ (MILISTEDT et al., 2020). 142 FIGURA 5 – CONTRIBUIÇÃO DOS 5Cs FONTE: Milistedt et al. (2020, p. 8) ATENÇÃO Reconhecida a importância de desenvolver os 5Cs no ambiente educacional, o questionamento a ser respondido é: quais ambientes permitem o desenvolvimento dos 5Cs e podem potencializar o DPJ? Para responder a esse questionamento, iniciamos identificando os ambientes em que os jovens se encontram inseridos. De maneira geral, a família e a escola são exemplos de ambientes onde estes estão engajados por mais tempo durante a juventude. Para além desses ambientes, atividades organizadas como programas de orientação das artes, apoio acadêmico, serviço comunitário e o esporte, também podem ser identificados pelo que é denominado como estruturas do DPJ (MILISTEDT et al., 2020). Ressalta-se que a simples inserção nessas estruturas é, por muitas vezes, insuficiente para que os jovens desenvolvam os 5Cs necessários ao DPJ. Para isso, essas estruturas devem possuir clima emocionalmente seguro e positivo aos jovens e adotar estratégias intencionais que favoreçam o desenvolvimento dos 5Cs. 143 Desse modo, as estruturas devem possuir agentes com a iniciativa de favorecer os domínios de comportamento. Esses agentes são reconhecidos como recursos do DPJ. Assim, considerando a família, a escola e o esporte como exemplos de estruturas do DPJ, identificamos os pais, os professores e os treinadores esportivos, como os recursos presentes nessas estruturas FIGURA 6 – AMBIENTES FAVORÁVEIS AO DESENVOLVIMENTO FONTE: Milistedt et al. (2020, p. 9) O esporte enquanto estrutura do DPJ tem se destacado entre outras atividades organizadas por ser uma atividade atrativa e ter grande chance de obter a fidelidade participativa dos jovens. Além disso, o esporte se apresenta como uma atividade com a capacidade de despertar a motivação e exigir a concentração de seus praticantes (MILISTEDT et al., 2020). Esses aspectos são fundamentais para favorecer a aprendizagem das competências relacionadas aos 5Cs. Visualizar o desenvolvimento dos 5Cs por meio do esporte também se justifica por algumas características de seu contexto. A presença e a necessidade do respeito às regras, companheiros e adversários, retratam normas de condutas sociais exigidas aos jovens praticantes durante a prática esportiva. Compor equipes em esportes coletivos aflora o senso de pertencimento a grupos e potencializa a cooperação e o trabalho em equipe. Por sua vez, a iniciativa e a tomada de decisão são competências exigidas perante a complexidade e aleatoriedade das ações dentro de um contexto esportivo (MILISTEDT et al., 2020). 144 IMPORTANTE Mesmo diante de tais características, a má estruturação e orientação do esporte podem oferecer experiências negativas e desenvolver comportamentos desfavoráveis ao DPJ. Por esse motivo, a estruturação de programas e instituições esportivas baseadas intencionalmente para promover o DPJ tende a favorecer resultados positivos. Tal intencionalidade pode ser evidenciada por meio da elaboração de diretrizes que tornem seus objetivos explícitos (MILISTEDT et al., 2020). Comportamentos positivos, atitudes, competências, valores e habilidades para a vida (life skills) são componentes essenciais do DPJ para auxiliar crianças e jovens em desafios da vida diária (MILISTEDT et al., 2020). Exemplos de habilidades para a vida incluem: controle emocional, disciplina, gestão de tempo,honestidade, liderança, respeito, trabalho em equipe, entre outras. Quando estas são aplicadas somente no contexto esportivo, são nomeadas de habilidades esportivas. Contudo, quando são transferidas para contextos além do esporte (como casa, escola e comunidade), tornam-se habilidades para a vida (MILISTEDT et al., 2020). FIGURA 7 – TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZADOS FONTE: Milistedt et al. (2020, p. 15) No intuito de promover o ensino destes elementos no âmbito esportivo, pedagogos devem buscar integrá-los com os aspectos técnico-táticos presentes nas sessões de treino. Assim, o ensino de habilidades para a vida pode ser realizado de maneira explícita ou implícita. 145 O ensino explícito de habilidades para a vida compreende ações sistematizadas do professor para promover a discussão e prática destas no contexto esportivo e a facilitação da transferência para outros contextos. Já o ensino implícito representa a ausência de ações do treinador neste sentido e a aprendizagem de habilidades para a vida como consequência do envolvimento de praticantes neste ambiente de regras, desafios e interações sociais (MILISTEDT et al., 2020). Sugestões didáticas para o ensino de habilidades para a vida por meio dos esportes (MILISTEDT et al., 2020): • Aproveite situações espontâneas para o ensino de habilidades para a vida. • Cultive um clima de aula positivo. • Envolva os alunos no processo da aula. • Tenha um comportamento exemplar. 146 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As diferenças conceituais básicas entre a pedagogia tradicional do ensino dos esportes e as novas tendências pedagógicas. • Que as novas tendências pedagógicas possuem métodos ativos que buscam construir ambientes positivos de aprendizagens, adaptando conteúdos de ensino ao contexto sociocultural dos aprendizes. • Os princípios das novas tendências em Pedagogia do Esporte se dão a partir de três referenciais: o técnico-tático, o socioeducativo e o histórico-cultural. • O esporte é capaz de trazer uma perspectiva de Desenvolvimento Positivo de Jovens (DPJ), que surge para valorizar os talentos, as qualidades e os interesses da juventude para potencializar um futuro de sucesso, associando valores técnico- táticos, socioeducativos e histórico-culturais. 147 RESUMO DO TÓPICO 1 1 Aprendemos neste tópico de estudos que quando falamos em autoritarismo queremos evidenciar o exagero ou uma concepção exacerbada e rígida, de fato é bastante questionado o autoritarismo presente nas práticas antigas de professores e treinadores esportivos que, neste texto, estamos tratando de práticas pedagógicas tradicionais. A partir desta afirmação, a alternativa CORRETA: a) ( ) O professor ou treinador esportivo deve fazer uso de sua autoridade, sobretudo para garantir a disciplina em aula, devendo, inclusive, utilizar castigos e punições como forma de exemplos aos demais aprendizes. b) ( ) O professor ou treinador esportivo não deve fazer uso de sua autoridade em aula, devendo deixar o ambiente de ensino e aprendizagem livre e aberto aos aprendizes. c) ( ) O professor ou treinador esportivo deve fazer uso da autoridade e, sobretudo no papel das novas tendências pedagógicas, é esperado que ele de a direção ao processo de ensino e aprendizagem, já que a negação desta autoridade pode resultar em aspectos negativos no desenvolvimento do trabalho pedagógico do professor. d) ( ) O professor ou treinador esportivo deve fazer uso de sua autoridade de forma autoritária, sobretudo no papel da pedagogia tradicional, que historicamente mostrou sua eficiência no processo de ensino e aprendizagem dos alunos. 2 Vimos que a metodologia tradicional enxerga o processo de ensino e aprendizagem como um quebra-cabeças, no qual a soma das partes busca representar o todo, e se pensarmos nos planos de aulas que se pautam nesta abordagem encontramos esses divididos em três ou quatro partes. Com base nessas definições, analise as sentenças a seguir: I- Tradicionalmente as aulas de Educação Física são divididas em: parte de alongamentos e aquecimentos, parte destinada para o ensino de uma ou mais técnicas do esporte, parte destinada para a realização do jogo formal no caso dos esportes coletivos ou experimentações no caso dos esportes individuais e parte destinada para a volta à calma, roda de conversa, entre outros. II- Nas abordagens inovadoras, ao invés de os alunos aprenderem movimentos específicos e estereotipados por repetição exaustiva, eles são instigados, por meio de situações-problemas, a explorar e criar suas próprias respostas e condutas motoras como forma devolutiva às exigências do esporte, caracterizando não a automação mais sim a humanização dos gestos. III- Nas abordagens inovadoras, por serem contrárias ao método tradicional de ensino dos esportes, as aulas não possuem conexão com a realidade do aprendiz, ocorrendo o ensino das técnicas a partir da imitação de gestos motores padrões. AUTOATIVIDADE 148 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Sobre o ensino dos esportes a partir dos princípios das novas tendências pedagógicas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As abordagens inovadoras se centram no ensino da lógica do esporte em detrimento dos seus movimentos particulares. Não que elas não considerem a existência de técnicas esportivas (movimentos específicos que aparecem com mais frequência nos jogos), mas essas, ao invés de estarem evidenciadas e enfatizadas no início do processo de ensino, são alocadas para o final, pois assim se prioriza que os alunos construam seus movimentos, a partir de particulares interpretações, que gerarão condutas motoras diversificadas, e consequentemente um rico acervo de possibilidades de respostas para os jogos. ( ) Do ponto de vista prática, é possível pensar que este modelo não busca incluir todos os aprendizes no processo de ensino-aprendizagem de determinada modalidade esportiva, pois ela parte daquilo que o professor sabe para aquilo que o aluno deve aprender. ( ) Os princípios das novas tendências em Pedagogia do Esporte se dão a partir de três referenciais: o técnico-tático, o socioeducativo e o histórico-cultural. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 A partir daquilo que estudamos, disserte sobre os possíveis equívocos presentes no ato de planejar uma aula de Educação Física baseado nas dimensões pedagógicas tradicionais de ensino dos esportes. 5 Aprendermos que os esportes possuem potencialidades para serem trabalhados a partir do ensino de habilidades para a vida, termo chamado na literatura de Life Skills. Neste contexto, disserte sobre a perspectiva do Desenvolvimento Positivo de Jovens apresentada neste tópico de estudos. 149 NOVAS ABORDAGENS EM PEDAGOGIA DO ESPORTE 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 3 TÓPICO 2 - Olá, acadêmico! Vamos dar continuidade aos nossos estudos em Pedagogia do Esporte, este é o segundo tópico da Unidade 3 do nosso Livro Didático. LEMBRETE Vimos na Unidade 1, que nas décadas de 1970 e 1980, os métodos de ensino- aprendizagem dos esportes passaram a ser repensados, sobretudo a partir da crítica ao modelo tecnicista e analítico e, consequentemente, com a criação de pedagogias ativas que colocavam o aprendiz o no centro do processo de ensino-aprendizagem. No início dos anos 1980, uma publicação revolucionou a concepção pedagógica do ensino dos esportes. Apresentado por Bunker e Thorpe (1982), o Teaching Games for Understanding (TGfU), traduzido como ensino do jogo pela compreensão, se consolidou por apresentar as seguintes características: • Do ensino centrado na tarefa (analítico) para o ensino centrado no aluno. • Do ensino a partir daprogressão tática para a aprendizagem técnica. • Do ensino a partir da compreensão do esporte (conhecimento tático declarativo). • Da ação do professor que objetiva questionar e demandar do aluno via análise da situação de aprendizagem. Para Greco et al. (2020), o conceito original do TGfU se espalhou pelo mundo e emergiram adaptações e modificações que, apoiadas na matriz inicial, apresentam diferentes interpretações relacionadas as questões culturais e específicas de cada modalidade esportiva. Em síntese, no final dos anos 1990, quando já consolidadas as bases dos métodos ativos de ensino-aprendizagem dos esportes, com premissas oriundas da psicologia, da relação cognição-cérebro-aprendizagem, das interações aprendiz- tarefa-ambiente, somadas aos pressupostos do diálogo das funções executivas com a aprendizagem e das descobertas nas neurociências, se apresentam à comunidade acadêmica novos conceitos pedagógicos e metodológicos para o ensino dos esportes (GRECO et al., 2020). 150 Para aprofundarmos neste tópico de estudos selecionamos duas importantes abordagens pedagógicas baseadas em métodos ativos de ensino-aprendizagem dos esportes no contexto escolar, sendo estas: • A iniciação esportiva universal • O jogo como eixo do processo de ensino-aprendizagem DICA Antes de iniciar, faça uma releitura sobre as principais metodologias de ensino-aprendizagem dos esportes que estudamos no tópico 2 da Unidade 1 deste Livro Didático. Você está preparado? 2 A INICIAÇÃO ESPORTIVA UNIVERSAL O método da Iniciação Esportiva Universal (IEU) direciona-se principalmente para crianças e adolescentes de quatro a 14 anos de idade. Sendo considerado um método ativo de ensino-aprendizagem por ter seu foco centrado no aprendiz, na aprendizagem incidental, na descoberta guiada, na integração dos processos de aprendizagem tática e motora e na ação tática de jogar (GRECO et al., 2020). Segundo Greco et al. (2015), o jogar para aprender jogando da IEU promove a criatividade, amplitude e complexidade crescente da percepção, produção e busca por soluções no ambiente de desenvolvimento dos esportes. Para Lages (2018), a IEU constitui-se como uma proposta pedagógica que descreve um processo metodológico referenciado prioritariamente nos processos de aprendizagem incidental. A proposta metodológica da IEU sugere uma interação de conteúdos nos momentos A-B ou seja, de aprendizagem tática (A) e de aprendizagem motora (B), e de progressão desse conteúdos no momento do treinamento tático e técnico (C). De forma que todos eles conformam um A-B-C que se apresenta em interação, momentos e relacionados entre si por um aspecto em comum, os Jogos de Inteligência e Criatividade Tática (JICT). 151 Os JICT ocupam destaque na proposta da IEU, por um lado, por ser uma proposta de resgate das brincadeiras e jogos populares que as crianças têm acesso nos mais diversos locais (campos, pátios, praias, ruas etc.), por outro, pela adaptação desses jogos na sua lógica tática às exigências táticas (processos cognitivos de percepção, atenção, memória) e motoras (especialmente, coordenativas) presentes nas modalidades esportivas, configurando-se numa base de experiências afetivas, cognitivas, motoras e sociais fundamentais ao desenvolvimento das crianças (GRECO, 2012). IMPORTANTE Os métodos ativos em geral, assim como a IEU, se fomentam no selecionamento de atividades associadas pela tríade: objetivos-conteúdos- método. Ou seja, jogar por si só, sem mediação ou planejamento, pode não provocar a aprendizagem esperada pelo professor. Para alcançar os objetivos em IEU, a função do professor caminha a partir da intencionalidade pedagógica, por meio do selecionamento de atividades que provocarão o aprendizado incidental dos aprendizes. NOTA Aprendizagem incidental é quando o aprendiz se abre para as oportunidades já existentes e as que ainda virão para descobrir, se aprofundar e criar. Neste método, o professor é responsável por criar, de forma intencional, um ambiente de aprendizagem incidental. Como dito anteriormente, o método da IEU utiliza na organização do processo de ensino-aprendizagem-treinamento incidental a metáfora de uma alfabetização esportiva ABC-D (GRECO et al., 2015; GRECO et al., 2020) no qual: • A: quais conteúdos a serem ensinados? (estrutura substantiva). • B: quando ensinar determinados conteúdos? (estrutura temporal). • C: como ensinar os conteúdos? (estrutura metodológica). • D: finalidade intencional a partir dos elementos presentes nas respostas universais sobre o método ABC (Jogos de Inteligência e Criatividade Tática). 152 No jogo do ABC-D da IEU, a concepção metodológica (C) se constrói nas interações entre os processos de aprendizagem tática ao treinamento tático (A), da aprendizagem perceptivo-motora ao treinamento técnico (B) e do treinamento técnico- tático (C). Na prática, estes processos se relacionam e estimulam via JICT (D). A proposta se constrói didaticamente idealizada numa sequência de alfabetização esportiva, um jogo do ABC-D no qual se objetiva desenvolver a leitura tática do jogo via aprendizagem tático-técnica (GRECO et al., 2015; GRECO et al., 2020). DICA Você sabe por que este método é universal? Pois a proposta se direciona ao universo dos diferentes tipos de esportes que estudamos no tópico 2 da Unidade 2 deste Livro Didático, vale a pena você retomar esta leitura! Neste método se descarta uma sequência padronizada de exercícios ou de jogos previamente fabricados para que todos os realizem da mesma forma. Ao contrário, sugere-se que o professor adapte as atividades e jogos a realidade cultural e de movimentos da criança e do próprio esporte em uma organização compartilhada entre professor-aprendiz, preconizando a variedade das atividades em substituição a monótonas repetições (GRECO et al., 2015; GRECO et al., 2020). Mas como operacionalizar a atenção do aprendiz em ações de jogo para que ocorra o bom desempenho técnico-tático? Greco et al. (2020) preconiza de duas formas: • Por meio do direcionamento da atenção do aprendiz: exercícios que incentivem a criança a descobrir os sinais relevantes ao jogo, por exemplo, quando deve sair de sua posição no campo para realizar a abordagem de marcação ao adversário, ou qual a posição do corpo mais adequada para iniciar determinadas ações que proporcionem maiores chances de acerto técnico. • Por meio do desvio da atenção do aprendiz: retirando a atenção da situação ou do movimento, adicionando tarefas por meio de atividades em que a tomada de decisão e/ou a motricidade estejam sobre pressão. No handebol, por exemplo, realizar lançamentos por cima de um obstáculo que dificulta a visão, ou realizar o lançamento a determinado ângulo, sinalizado pelo goleiro (pressão tempo e precisão). Realizar passes entre jogadores com duas bolas, com defensor. Realização de tarefas alheias ao movimento durante sua execução, como a realização de operações matemáticas (por exemplo, o treinador pergunta, 7x2? durante o arremesso no basquetebol), ou colocar locais a se observar durante a realização motora. 153 Quando falamos em estruturação de aulas a partir da IEU destacamos que o processo de ensino-aprendizagem se centra no aprendiz, a aula se inicia com jogos e brincadeiras de abordagens táticas, realiza-se também exercícios técnicos coordenativos, e volta-se ao jogo. Logo, neste modelo, se veiculam jogos reduzidos em igualdade ou superioridade numérica para facilitar ao aprendiz a compreensão dos princípios táticos comuns dos diferentes grupos ou famílias de esportes (GRECO et al., 2015; GRECO et al., 2020). Na proposta, contempla-se também uma interação da aprendizagem tática (desenvolvimento das capacidades táticas, e das estruturas funcionais gerais e direcionadas) com os processos direcionados a aprendizagem motora (desenvolvimento da coordenação e das famílias de habilidades). Os processos de aprendizagem motora visam a facilitação adaptativa ao treinamento técnico(GRECO, 2012; CARLOS et al., 2018; LAGES, 2018). Segundo a proposta, o saber “o que fazer” relaciona-se com a compreensão da situação, compreender a lógica do jogo, realizar a denominada “leitura” tática do jogo (GRECO, 2012), e implica no desenvolvimento da capacidade tática do praticante (para tal que este gradativamente consiga declarar de forma verbal e/ou escrita qual a melhor decisão a ser tomada e o porquê) (GRECO, 2012; CARLOS et al., 2018; LAGES, 2018). O saber “como fazer”, corresponde com o processo de aprendizagem motora, ou seja, realizar a ação motora, que na IEU refere-se a aprendizagem motora a ser desenvolvida por meio do processo de ensino-aprendizagem-treinamento das capacidades coordenativas, indicado para a faixa etária de 04 até 12-14 anos (GRECO, 2012), e das famílias de habilidades esportivas (CARLOS et al., 2018; LAGES, 2018). INTERESSANTE Para Greco et al. (2020), no alto nível de rendimento esportivo o treinamento tático-técnico objetiva a melhoria da tomada de decisão e adequada solução motora para obter o resultado (nem sempre representada pelo movimento ideal). Nos jogos esportivos coletivos, por exemplo, realizar uma técnica implica relacionar a tomada de decisão, com o grau de dificuldade da tarefa (condições do atleta realiza-la), com a situação de jogo (parâmetro decisional). Particularmente, nos esportes de invasão, de rede e de combate, o comportamento decisional está impregnado de intencionalidade. Destacamos também sobre as possibilidades e variedades presentes em tarefas de aula. Na IEU emerge a necessidade de recorrer ao uso de diferentes materiais (bambolês, bancos, bolas coletes, colchão, cordas, cones, sacolas, entre outros) e de diferentes habilidades como arremessar, correr, saltar e se equilibrar, para fins de desenvolvimento da coordenação das habilidades corporais e esportivas via motricidade (CARLOS et al., 2018; LAGES, 2018). 154 FIGURA 8 – JOGO COOPERATIVO FONTE: <https://gge.com.br/web/confira-as-fotos-das-turmas-do-7-ano-no-projeto-jogos- cooperativos-juntos-somos-mais-fortes/>. Acesso em: 14 fev. 2022. O “jogar para aprender” no paradigma da IEU tem como pressupostos básicos fortalecer a aquisição de experiências cooperativas, com a valorização do engajamento social via jogo, a experimentação de forma livre, com recurso ao resgate de jogos da cultura popular (utilizando, por exemplo, brincadeiras de pegar e esconder), que se remodelam apropriados ao nível de cada participante, com objetivo a facilitar a compreensão de futuros problemas específicos do esporte (GRECO et al., 2015; GRECO et al., 2020). As atividades com esse objetivo referenciam-se na proposta da Escola da Bola, formulada por Kröger e Roth (2002), a qual se pauta em exercícios que objetivam relacionar as informações captadas do ambiente (por meio dos sentidos: visual, tátil, acústico, sinestésico e vestibular) com as emergências necessárias à motricidade (resposta motora), isto é, das características condições de pressão presentes no ambiente para realizar a ação (ou seja, do conjunto de condicionantes da motricidade, tempo, precisão, organização ou simultaneidade, complexidade ou sequência, variabilidade e carga). Como segundo conteúdo, também referenciado em Kröger e Roth (2002), no processo de aprendizagem motora, se apresentam atividades direcionadas a melhorar as denominadas famílias de habilidades esportivas, consideradas como um conjunto de atividades que objetivam por meio de sua práxis a melhoria das habilidades técnicas (KRÖGER; ROTH, 2002) na realização de ações nos esportes. As mesmas estão relacionadas ao conjunto de modalidades esportivas, e constituem a base para o posterior aprendizado das técnicas do esporte a ser escolhido (GRECO, 2012). 155 O aprendiz, enquanto arquiteto ativo da sua própria aprendizagem, se desenvolve percebendo sinais relevantes nas estratégias táticas dos jogos e gradativamente melhora sua execução motora. Ou seja, ocorre a melhoria da coordenação técnica e da interpretação sobre as estratégias táticas presentes nas famílias dos esportes a partir do crescente aumento do nível de complexidade das tarefas propostas pelo professor (GRECO et al., 2015; GRECO et al., 2020). Nos jogos com bola, por exemplo, a IEU defende a construção da gradativa das interações entre o aprendiz e a bola, com o espaço, com o colega, com o adversário, com o contexto da situação (tomada de decisão tática). Se recorre aos parâmetros comuns (universais) dos jogos esportivos coletivos, a bola, o espaço, o objetivo do jogo (cestas, gols, metas etc.), os colegas, os adversários, o público, a arbitragem, as regras do jogo, entre outros (BAYER, 1994). Tomando como referências modificações e variações básicas gerais em relação aos espaços de jogo, tempos, regras de ação, número de jogadores, técnicas exigidas, estratégias táticas de ação e tomadas de decisão (GRECO et al., 2015; GRECO et al., 2020). IMPORTANTE O ABC-D que trabalha a organização do processo de aprendizagem do como fazer do aprendiz constitui-se dos tópicos de desenvolvimento das famílias dos esportes e de exigências na coordenação de habilidades motoras. Nos processos de ensino-aprendizagem-treinamento não se objetiva desenvolver a técnica, na acepção de um modelo ideal de movimento, e sim formas gestuais que se realizem de forma espontânea, experimentando, para permitir uma ampla bagagem de experiências motoras, de forma que o aprendiz possa relacionar a ação adequada na tríade tempo-espaço- energia para resolver questões motoras em situações de tomadas de decisão (GRECO et al., 2020). Vale lembrar que a coordenação é necessária não somente para a aprendizagem dos esportes, mas também na vida cotidiana, como por exemplo, andar de bicicleta, dirigir um automóvel, entre outras ações comuns da rotina. DICA Os modelos de ensino-aprendizagem pela compreensão dos jogos, particularmente o TGfU e IEU se disseminaram timidamente no Brasil, nesse contexto observa-se a notoriedade da obra de Gonzalez e Bracht (2012) intitulada Metodologia do Ensino dos Esportes Coletivos. Vale a pena você conferir! 156 3 O JOGO COMO EIXO DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Para finalizarmos esta etapa de estudos vamos aprofundar nosso conhecimento sobre o uso do jogo como eixo do processo de ensino-aprendizagem- treinamento dos esportes. LEMBRETE Vimos que na fase de iniciação esportiva a criança encontra-se em construção do seu repertório motor, portanto, é preciso levar em consideração aspectos importantes para o sistema ensino-aprendizagem-treinamento, tais como o fato de não existir um padrão único de execução das habilidades técnicas (se existisse, por exemplo, não seriam inventados novos dribles no futebol!), neste sentido, o sistema ensino- aprendizagem-treinamento na fase de iniciação esportiva deve ser estruturado a partir da experimentação, com estímulos de caráter aberto e variado. Além disso, o brincar é o modo primário pelo qual as crianças aprendem sobre seus corpos e potencialidades de movimento, logo, o jogo e a brincadeira devem ser o ponto de partida na elaboração do seu plano de aula. Conforme aprendemos na Unidade 1, um dos principais métodos que utiliza o jogo como eixo central do processo de ensino-aprendizagem-treinamento dos esportes é chamado de pedagogia do jogo. Proposta desenvolvida pelo professor Alcides Scaglia e colaboradores na Universidade Estadual de Campinas. Tendo como pressuposto fundamental a compreensão do jogo como um sistema complexo com propriedades específicas e com uma lógica de funcionamento própria, que exige de quem joga o seu reconhecimento. Para isso é necessário que o jogador (aprendiz) possua um saber estratégico-tático- técnico, que se manifesta no ato de jogar, como uma ação intencional, em um ambiente de jogo que pressupõe a existência de quatro características básicas: • Desafio. • Desequilíbrio. • Imprevisibilidade. • Representação. Em outras palavras, o jogo nãose restringe apenas às suas características funcionais (lógica interna) e estruturais (adversários, bola, companheiros, espaço, meta e regras do esporte) da atividade, como é concebido pelo método tradicional. Mas, é como um estado, ou seja, um estado de imersão e de engajamento do aprendiz, chamado na literatura de estado de jogo, em que o jogador está entregue e focado em solucionar o problema proposto pelo jogo, valendo-se para isto de seus principais recursos estratégicos, táticos e técnicos (qualidades e habilidades) (THIENGO, 2020). 157 Em síntese, a pedagogia do jogo transporta o jogo de uma instância objetiva e o traz para a esfera da subjetividade. Portanto, na pedagogia do jogo, a aprendizagem significativa ocorre quando as atividades acontecem na intersecção entre o ambiente de aprendizagem (caracterizado pela organização e planejamento dos respectivos conteúdos) e o ambiente do próprio jogo (THIENGO, 2020). IMPORTANTE Crianças aprendem mais quando o brinquedo as envolve afetivamente, ou ainda, quando estão interessadas pelo brinquedo e pela brincadeira! FIGURA 9 – JOGO DA MEMÓRIA DOS ESPORTES FONTE: O autor (2019) As crianças apropriam-se de forma ativa, por meio do processo de internalização, dos comportamentos e relações sociais e dos acervos materiais e simbólicos dos contextos socioculturais (VIGOTSKI, 2014). Nesse sentido, Vigotski (2014) e Elkonin (2009) estabelecem que as práticas de mediação são fundamentais para a aprendizagem, uma vez que as crianças aprendem e se desenvolvem a partir da interação com seus pares, familiares e educadores e da manipulação e ressignificação de objetos e elementos semióticos. Desse modo, o jogo é uma atividade cultural, produtora de significados, valores e gestos, que são apreendidos pelas crianças em consonância com a conjuntura na qual se constituem (FABIANI; SCAGLIA, 2018). 158 Para Huizinga (1996), o jogo pode ser considerado como uma atividade livre não séria, mas que é capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total para seu meio. Caillois (1990) também define o jogo como uma atividade livre, incerta, improdutiva e fictícia. Embora o jogo se apresente como uma atividade livre como defendido anteriormente, para Suits (1967) o conceito de jogo aponta a importância das regras específicas, tornando-as indissociáveis do objetivo do jogo, pois estas regem as condições necessárias para o objetivo ser alcançado, ou seja, a possibilidade de vitória do jogo só existe quando o jogo é jogado e não se pode jogar sem que se obedeça a suas regras. As reflexões de Suits (1967) agregam as ideias defendidas por Freire (2002), afirmando que não pode considerar qualquer manifestação ao jogo, sendo que o seu ato de jogar revela o jogo, em que este só será jogo quando for jogado plenamente pelos seus jogadores, por meio do desafio, do desequilíbrio, da imprevisibilidade e da representação. Além disso, Freire e Scaglia (2003) apresentam o jogo como uma categoria maior que esportes e brincadeiras. Para os autores o jogo é uma espécie de simulação da realidade com um caráter lúdico, que se manifesta quando as pessoas praticam esportes, quando lutam, quando dançam, quando fazem ginástica e também quando brincam. Portanto, para se ter uma compreensão do jogo, deve-se compreender a sua totalidade, permear as áreas do conhecimento que ele faz parte (FREIRE, 2002; SCAGLIA et al., 2013) e com isso, entender o jogo em uma perspectiva sistêmica e complexa, sendo que é o contexto (ambiente) que determina o que é jogo. IMPORTANTE Cabe destacar, que o jogo no âmbito da escola não é comumente utilizado como um recurso pedagógico para o processo de ensino e de aprendizagem, mas sim como uma mera distração para os alunos (FREIRE, 2002), sem que se compreenda a seriedade deste fenômeno complexo. Para que haja uma ruptura paradigmática, é fundamental termos em mãos as teorias que sustentam o jogo como um fenômeno sistêmico complexo, sendo este investigado e utilizado em sua totalidade. Encontramos em Pereira et al. (2018) definições atuais sobre a relação entre jogo e Educação Física. Para o autor, apesar de o jogo ter suas inúmeras facetas, e maneiras de ser conceituado, um local onde é utilizado como recurso norteador para a aprendizagem dos educandos é a escola! 159 Contudo, Freire (2002) destaca que a escola utiliza o jogo de maneira indevida, utilizando-o na maioria das vezes fora do currículo, como uma espécie de recreação, ou também como forma de sedução para ensinar conteúdos de sala de aula que o educador não conseguiu, sem se preocupar com seu trato pedagógico. Isso se caracteriza pelo fato de que a escola ainda se preocupa apenas com parte da aprendizagem, não se detendo no significado dos conteúdos, o que realmente os educandos irão aprender e como farão isso. Muitos educadores não utilizam o jogo em suas aulas por medo de perder o controle sobre seus educandos, ou também por não compreenderem este fenômeno, optando por estratégias de ensino mais rígidas e monótonas. Conforme Brougére (1998), o jogo necessita ser valorizado pelos educadores, ser apresentado aos educandos, deixar que se jogue plenamente, sendo este construído e modificado por seus jogadores, e com isso suprir uma necessidade básica da criança na escola, que é o ato de jogar. No que tange ao contexto da Educação Física, o jogo como uma função educativa está ao alcance do educador, podendo ser trabalhado em todas as faixas etárias e níveis de ensino, mas havendo um equilíbrio entre a função educativa e a sua função lúdica (KISHIMOTO, 1994). Nesse equilíbrio, o educador pode fornecer ao educando diversas possibilidades de jogo e, com isso, poder estimular a criatividade e expressar sua personalidade que emerge pelo desejo de jogar. Em suma, Freire (2002) afirma que a criança tem o desejo de jogar e, quando resolve o problema estabelecido, é uma satisfação de conquista. O autor exemplifica que quando uma criança consegue fazer, por exemplo, um pião girar, é similar ao sentimento de conquista que emerge quando uma situação problema do jogo é resolvida. Segundo Pereira et al. (2018), este aprendizado deve ser movido pela satisfação, seduzindo o educando pelo caráter lúdico, por isso, o jogo apresenta contribuições pedagógicas tão variadas para o processo de ensino e de aprendizagem como evidenciamos abaixo: • A aula fica centrada no educando, pois ele é quem irá resolver as situações problemas que emergem a partir de leituras complexas destas situações de jogo. • As habilidades motoras e cognitivas surgem pelo confronto com os problemas decorrentes do jogo. • As regras podem ser construídas coletivamente, como também podem ser geradas pelas circunstâncias do jogo. • Desenvolve a criatividade e a autonomia de seus praticantes. • Gera liberdade de expressão e escolha. • O conhecimento prévio do educando é considerado. 160 • O jogo é desafio • O jogo não deixa esquecer o que foi aprendido e faz a manutenção do que se aprendeu. • Promove a superação. • Promove interação dos seus praticantes. • Tem caráter imprevisível gerando tensão e atenção Para que estes resultados sejam alcançados, as aulas devem ser sistematizadas explorando todas as vertentes de conteúdos da Educação Física a serem trabalhados (SCAGLIA, 2007; PEREIRA et al., 2016). Nesse contexto, a Educação Física apresenta diversos conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio do jogo, por exemplo: • Jogo associado aos esportes e pré-desportivos. • Jogo associado as danças. • Jogo associado as ginásticas. • Jogo associado as lutas. • Jogos e brincadeiras tradicionais. • Jogos cooperativos. • Jogos eletrônicos. • Jogos de tabuleiro e salão. O jogo engajado a uma prática organizada e sistematizada é um elemento estratégico pedagógico ao alcance do professor. Os conteúdos têm relação entre eles e podem ser trabalhados pelas semelhanças, características, repetição de jogos, variações e o aumento da complexidade dos jogos.O educador que irá sistematizar este conteúdo, encontrando jogos para desenvolvê-los, diminuindo ou aumentando o nível de complexidade de acordo com os seus educandos e com a realidade em que se encontra. Em síntese, existem inúmeras possibilidades em inserir o jogo de maneira séria no cenário da educação, mais precisamente se tratando da Educação Física Escolar, se configuram à medida que se compreende o jogo em sua totalidade, atribuindo este fenômeno a um sistema complexo, que oferece um ambiente de aprendizado como também reflexões sobre a sua utilização de maneira apropriada, não o restringindo de seus jogadores principais, as crianças e adolescentes (PEREIRA et al., 2018). Portanto, os processos de ensino, vivência e aprendizagem do jogo, constituintes da pedagogia do jogo, desenvolvem-se na relação do ambiente de jogo, engajamento decorrente do ato de jogar e da ludicidade, com o ambiente de aprendizagens, competências e conhecimentos engendrados no jogo de maneira intencional ou incidental a partir das relações (FABIANI; SCAGLIA, 2018). 161 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As novas abordagens em pedagogia do esporte sustentam-se nos processos de aprendizagem incidental (do aprendiz), fundamentado por métodos ativos e intencionais do professor. • O método da Iniciação Esportiva Universal tem como base o ABC-D para o processo de ensino-aprendizagem-treinamentos dos esportes individuais e coletivos. • A pedagogia do jogo proporciona uma ampla e variada gama de possibilidades de ensino-aprendizagem-treinamento dos esportes a partir dos princípios do desafio, desequilíbrio, imprevisibilidade e da representação. • As novas abordagens em pedagogia do esporte atuam em construção e interação entre conteúdos, objetivos e métodos, com diversidade de campos de aplicação, postulando o princípio do processo de ensino-aprendizagem-treinamento a partir do jogar para aprender e aprender jogando. 162 1 Vimos que o método da Iniciação Esportiva Universal (IEU) direciona-se principalmente para crianças e adolescentes de quatro a 14 anos de idade. Sendo considerado um método ativo de ensino-aprendizagem por ter seu foco centrado no aprendiz, na aprendizagem incidental, na descoberta guiada, na integração dos processos de aprendizagem tática e motora e na ação tática de jogar. A partir desta afirmação, assinale a alternativa CORRETA sobre as características do processo metodológico da IEU: a) ( ) A proposta metodológica da IEU sugere padronizações das ações técnico-táticas durante o processo de ensino-aprendizagem-treinamento de novas habilidades esportivas. De forma que todos eles conformam um A-B-C que se apresenta em interação, momentos e relacionados entre si por um aspecto em comum, os Jogos de Inteligência e Criatividade Tática (JICT). b) ( ) A proposta metodológica da IEU sugere adaptações de conteúdos nos momentos de aprendizagem tática e aprendizagem motora, além de progressões desses conteúdos no momento do treinamento especializado para tal modalidade. De forma que todos os aprendizes devam seguir o modelo padrão de ensino- aprendizagem-treinamento dos saberes da modalidade trabalhada. c) ( ) A proposta metodológica da IEU sugere uma interação de conteúdos nos momentos A-B ou seja, de aprendizagem tática (A) e de aprendizagem motora (B), e de progressão desse conteúdos no momento do treinamento tático e técnico (C). De forma que todos eles conformam um A-B-C que se apresenta em interação, momentos e relacionados entre si por um aspecto em comum, os Jogos de Inteligência e Criatividade Tática (JICT). d) ( ) A proposta metodológica da IEU sugere uma interação de conteúdos nos momentos A-B ou seja, de aprendizagem tática (A) e de aprendizagem motora (B), e de progressão desse conteúdos no momento do treinamento tático e técnico (C). De forma que todos os aprendizes devam seguir o modelo padrão de ensino-aprendizagem-treinamento dos saberes da modalidade trabalhada. 2 Quando falamos em planejamento e estruturação de aulas de Educação Física a partir das características dos métodos ativos em pedagogia do esporte, sobretudo da IEU, colocamos em pauta a ruptura do modelo de aula tradicional. A partir desta afirmação, analise as sentenças a seguir: I- Nas aulas a partir da IEU destacamos que o processo de ensino-aprendizagem se centra no aprendiz. A aula se inicia com jogos e brincadeiras de abordagens táticas, realiza-se também exercícios técnicos coordenativos, e volta-se ao jogo. Logo, neste modelo, utilizam-se atividades seriadas, com objetivos exclusivamente voltados para a aprendizagem de habilidades técnico-motoras dos aprendizes. AUTOATIVIDADE 163 II- Nas aulas a partir da IEU destacamos que o processo de ensino-aprendizagem se centra na tarefa estabelecida pelo professor. A aula se inicia com jogos e brincadeiras de abordagens táticas, realiza-se também exercícios técnicos coordenativos, e volta-se ao jogo. Logo, neste modelo, se veiculam atividades seriadas de princípios técnicos e táticos que padronizam os comportamentos do aprendiz. III- Nas aulas a partir da IEU destacamos que o processo de ensino-aprendizagem se centra no aprendiz. A aula se inicia com jogos e brincadeiras de abordagens táticas, realiza-se também exercícios técnicos coordenativos, e volta-se ao jogo. Logo, neste modelo, se veiculam jogos reduzidos em igualdade ou superioridade numérica para facilitar ao aprendiz a compreensão dos princípios táticos comuns dos diferentes grupos ou famílias de esportes. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 A pedagogia do jogo tem como pressuposto fundamental a compreensão do jogo como um sistema complexo com propriedades específicas e com uma lógica de funcionamento própria, que exige de quem joga o seu reconhecimento. Para isso é necessário que o jogador (aprendiz) possua um saber estratégico-tático-técnico, que se manifesta no ato de jogar, como uma ação intencional, em um ambiente de jogo que pressupõe a existência de quatro características básicas. A partir desta afirmação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As quatro principais características do jogo são: competitividade, desequilíbrio, imprevisibilidade e representatividade. ( ) As quatro principais características do jogo são: desafio, desequilíbrio, imprevisibilidade e representatividade. ( ) As quatro principais características do jogo são: desafio, desequilíbrio, disputas e representatividade. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 164 4 Vimos que na pedagogia do jogo o aprendizado deve ser movido pela satisfação, seduzindo o educando pelo caráter lúdico, por isso o jogo apresenta contribuições pedagógicas tão variadas para o processo de ensino e de aprendizagem. A partir desta afirmação disserte sobre as evidencias positivas apresentadas por Pereira et al. (2018), trazendo exemplos de conteúdos que podem ser desenvolvidos por meio do jogo. 5 Vimos que as novas abordagens em pedagogia do esporte são criadas a partir da crítica ao modelo tradicional de ensino, sobretudo a partir da década de 1980. Fato este que fez emergir diversos métodos, conhecidos atualmente por métodos inovadores ou ativos de aprendizagem. Neste contexto, disserte sobre o método pioneiro e as caraterísticas básicas que contribuíram para a crítica ao modelo tradicional de ensino dos esportes que contribuíram para a elaboração da IEU e pedagogia do jogo estudadas neste tópico. 165 TÓPICO 3 - ORIENTAÇÕES DIDÁTICO-METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DOS ESPORTES 1 INTRODUÇÃO UNIDADE 3 Olá, acadêmico! Chegamos ao último tópico de estudos de nosso Livro Didático da disciplina Pedagogia doEsporte. Para o fechamento desta Unidade, vamos trazer para você orientações didático- metodológicas para o ensino dos esportes, sobretudo a partir de conceitos, definições e exemplos práticos de atividades para as aulas de Educação Física Escolar. Para dar conta dos objetivos, dividimos este tópico em outros três subtópicos, sendo estes: • Planejamento: o que, por que e como ensinar? • Estratégias e possibilidades de intervenções na prática da Educação Física Escolar. • Ferramentas de avaliação do ensino. Ao final deste tópico, traremos também uma leitura complementar, além do resumo e de autoatividades que nos ajudam a fixar o conteúdo estudado. IMPORTANTE Caro acadêmico, as orientações didático-metodológicas apresentadas neste tópico de estudos visam contribuir para elaboração do seu planejamento de ensino, trazendo orientações de como sistematizar suas propostas. O plano de estudos aqui apresentado servirá de apoio para auxiliar no enfrentamento dos desafios diários das relações pedagógicas no contexto escolar que você irá enfrentar, que vão desde a seleção de conteúdos ao cumprimento da missão institucional na qual você estará inserido profissionalmente, tendo em vista a importância e a intencionalidade do ato de educar. 166 2 PLANEJAMENTO: O QUE, POR QUÊ E COMO ENSINAR? Planejar em Pedagogia do Esporte implica relacionar conteúdos, objetivos e os métodos de ensino que já estudamos, com o nível de conhecimento e rendimento do aprendiz, considerando, principalmente: • As faixas etárias (fase temporal) dos aprendizes. • A frequência e a duração de aulas por semana. • As instalações e os materiais disponíveis. • O contexto cultural da escola, do professor e do aprendiz. • O tipo de esportes a ser trabalhado (combate, invasão, técnico combinatório etc.). IMPORTANTE Nossa principal argumentação em favor do planejamento é que este nível de organização facilita a nossa tarefa. É bastante angustiante assumirmos um trabalho e não sabermos exatamente como atuar! Em síntese, o planejamento é uma preparação prévia de como você deve agir perante as suas aulas ou, como costumamos dizer, é um ato que representa uma antecipação dos resultados do trabalho docente. Existem basicamente três formas de planejamento que devem garantir uma estreita articulação interna e devem ser realmente utilizados como instrumentos de ação, sendo estes: • O plano da escola. • O plano de ensino. • O plano de aula. A seguir vamos ver cada uma destas três formas de planejamento. O plano da escola, chamado atualmente de Projeto-Político-Pedagógico (PPP), existe desde a década de 1980, profissionais da área da educação escolar se ocuparam em desenvolver novos instrumentos de planejamento para dar conta da complexidade da prática educativa. 167 LEMBRETE Vimos na Unidade 2 que existem documentos que orientam os currículos escolares, dentre eles se destacam os PCNs e a BNCC, que trazem apontamentos gerais e instruções para a construção e execução dos planejamentos das unidades escolares em todo o território nacional. O PPP é uma importante iniciativa no sentido de construir a identidade de uma instituição, na medida em que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar (GUEDES, 2021). A elaboração do PPP é sempre um processo coletivo e democrático entre membros que compõem a instituição e a comunidade educativa, não sendo caracterizado como um documento definitivo, ou seja, ele se atualiza e se aperfeiçoa com o passar do tempo, de maneira a garantir sempre uma releitura da realidade da escola. Sendo que o diagnóstico e a programação são revistos a cada ano. A abrangência diz respeito ao fato de que o PPP funciona como uma espécie de “guarda-chuva” para outros projetos, atuando, para tanto, como uma referência geral ao corpo docente e a comunidade escolar (GUEDES, 2021). Segundo Vasconcellos (2002), o PPP tem as seguintes finalidades: • Ajudar a construir a unidade (e não a uniformidade), superando o caráter fragmentário das práticas em educação e a mera justaposição. • Colaborar na formação dos participantes. • Dar um referencial de conjunto para a caminhada; aglutinar pessoas em torno de uma causa comum; gerar solidariedade e parceria. • Diminuir o sofrimento; aumentar o grau de realização/concretização (e, portanto, de satisfação) do trabalho. • Fortalecer o grupo para enfrentar conflitos, contradições e pressões, avançando na autonomia (“caminhar com as próprias pernas”) e na criatividade (descobrir o próprio caminho). • Possibilitar a continuidade da linha de trabalho na instituição. • Propiciar a racionalização dos esforços e recursos, utilizados para atingir os fins essenciais do processo educacional. • Resgatar a intencionalidade da ação, possibilitando a (re)significação do trabalho. • Ser um canal de participação efetiva; superar as práticas autoritárias e/ou individualistas. Ajudar a superar as imposições ou disputas de vontades individuais na medida em que há um referencial construído coletivamente. • Ser um instrumento de transformação da realidade; resgatar a potência da coletividade e gerar esperança ao grupo de trabalho. 168 Já o plano de ensino é a organização das unidades didáticas e pode ser elaborado para um ano ou para um semestre letivo. Sua elaboração deve representar o momento de reflexão a respeito do trabalho pedagógico e a concepção pessoal do professor a respeito do papel da escola, devendo este conter: • Objetivos gerais. • Objetivos específicos. • Unidades temáticas a serem trabalhadas. • Metodologia. • Ferramentas de avaliação. IMPORTANTE A coerência de um bom plano de ensino se dá a partir da associação desses elementos! Tanto os objetivos gerais e específicos, quanto a unidade temática selecionada, a metodologia aplicada e quanto a ferramenta de avaliação selecionada, devem convergir no mesmo sentido do PPP da escola. Por fim, no plano de aula é aquilo que podemos chamar de um detalhamento do plano de ensino. A orientação para o objetivo de uma aula vem do plano de ensino, enquanto os conteúdos explicitados, também no plano de ensino, são desmembrados e detalhados para serem trabalhados em uma ou mais aulas. O planejamento das aulas é fundamental tanto para orientar as ações do professor quanto para viabilizar reavaliações, adequações e aprimoramentos em relação à realidade concreta em que se dá a ação educativa. Para a elaboração das aulas, é preciso ter bastante claro os objetivos gerais, a sequência dos conteúdos e o desenvolvimento metodológico, explicitados no plano de ensino. De acordo com esse entendimento, podemos afirmar que o plano de ensino passa a ser um documento bastante consultado pelo professor durante o ano. É a partir dessa contínua consulta que o professor vai garantir que cada aula seja uma continuação da anterior! 169 LEMBRETE Para fechar este tópico, vamos relembrar questões fundamentais para a elaboração de um bom planejamento em Pedagogia do Esporte. O que ensinar do esporte? O que deve ser ensinado é, além do aprendizado do jogo em si e de seus fundamentos dentro do seu contexto, a aquisição de condutas motoras (ampliando- se o repertório de possibilidades de respostas para os jogos), e o entendimento do esporte como um fator cultural (por consequência, humano), estimulando sentimentos de solidariedade, cooperação, autonomia e criatividade (FREIRE, 2003; FREIRE; SCAGLIA, 2003). Valores éticos, sociais e morais também devem ser ensinados, para que se possa fazer do aprendiz um agente transformador do seu tempo, preocupado com uma cidadania que lhe permita viver consciente e mais autonomamente possível em qualquer que seja o caminho do esporte escolhido por ele a seguir (FREIRE, 2003; FREIRE; SCAGLIA, 2003). Para quem ensinar esportes? No interior da escola o esporte deve ser ensinado a todos! Todos os alunos dentro de uma sala de aula têm o direito de aprender e com igualdades de condições. ATENÇÃO Um número significativode profissionais que se envolvem com o esporte infantil e juvenil acredita ser difícil pensar que o esporte escolar possa ter outras características, outros objetivos, além de revelar talentos nacionais. Para esses é mais fácil, e com melhores resultados, “ensinar” na escola só os mais talentosos, os mais altos, os mais fortes (BRASIL, 2004). Aprendemos que não cabe mais aos profissionais de Educação Física reproduzir esse pensamento, pois mais importante que revelarmos recordistas infantis, é possibilitar o acesso criando condições a todos os alunos de desenvolverem uma cultura esportiva (BRASIL, 2004). 170 Inserido nesse processo, nada impede o craque de se desenvolver e os outros de se beneficiarem dos proveitos que o esporte traz. Contudo os dois devem sair do processo de ensino, conscientes de suas respectivas ações, em seus respectivos contextos. Portanto, por que ensinar esportes na escola? Em síntese, para adquirir uma cultura esportiva e um hábito que se carregará para toda a vida. O esporte, se ensinado e aprendido bem, o aprendiz só colherá satisfação e proveito de sua prática, tanto se ele se tornar um especialista, como um praticante amador, ou mesmo um espectador, tendo a possibilidade de assumir uma posição autônoma e crítica diante do fenômeno esportivo. IMPORTANTE Obviamente, queremos mostrar que aprender a jogar futebol, por exemplo (ou qualquer outro esporte), não é diferente de aprender matemática ou português na escola, pedagogicamente analisando (BRASIL, 2004). Para finalizar, vamos ver um exemplo de planejamento participativo nas séries iniciais do Ensino Fundamental a partir do relato retirado de Farias et al. (2019, p. 7): “Tenho construído ao longo de nove anos de docência, lecionando em algumas redes de ensino no Estado de São Paulo, uma forma de atuar que objetiva promover a criticidade das crianças sobre as manifestações corporais em suas dimensões sociopolítico/culturais. Todavia, nem sempre foi assim. Ao sair da faculdade e adentrar nas salas reais, com turmas heterogêneas, recorri aos circuitos, às aulas sem discussões, a aprendizagem motora, ou seja, a reprodução e movimento. Hoje, após quatro anos de estudos, me aprofundando em literaturas que discutem as práticas pedagógicas e mais expressivamente tendo contato com outros/as colegas de docência, venho aprendendo a rever minha forma de atuar, deixando de ser um mero reprodutor de práticas, muitas vezes descontextualizadas e, passando a reconhecer os conhecimentos que as crianças trazem como ponto inicial para ampliar e aprofundar as discussões sobre as manifestações da cultura corporal. Atualmente busco a compreensão da EFE (Educação Física Escolar) como um componente curricular da Educação Básica, antes vista como algo sempre deslocado na escola, como algo diferente. A maior alteração que ocorreu na minha prática pedagógica foi a de planejar os conteúdos que serão tematizados com a estratégia do planejamento participativo. Nesse sentido, ao ter contato com os/as estudantes na primeira aula, criei formas para que as crianças possam participar efetivamente do que será planejado para aquele ano letivo. Com isso, trago algumas cenas do meu cotidiano escolar, em forma de relato de experiência, que foi realizado em uma escola pública municipal da cidade de Santo André - SP, com uma turma de 5º ano, no segundo semestre de 2017. A minha relação com essa turma já dura há três anos. Assim sendo, ressalto que as crianças inicialmente tinham grande resistência à minha forma de entender a Educação Física na escola, pois, diferente daquilo que eles/as estavam acostumados, eu trago para a sala de aula discussões de elementos que estão além da dimensão procedimental dos conteúdos. Esse fato provocou um grande estranhamento e até confusão para os/as estudantes. Diante desse cenário, se apropriando dos pensamentos de Paulo Freire (1979), um trabalho de descodificação e codificação foi iniciado para que as crianças pudessem ampliar a ideia de Educação Física vivenciada antes da minha chegada, e juntos, professor e alunos/as, de forma dialogada, fomos construindo um olhar mais qualificado sobre as práticas corporais. Tivemos que rever aquilo que as crianças conheciam por EFE, pois elas nunca tinham tratado os 171 conhecimentos do componente curricular de forma a discutir, interpretar e buscar se aprofundar sobre as tematizações. Antes da minha chegada nessa escola, tudo era feito de forma bem mecânica, ou seja, as crianças eram conduzidas até a quadra, realizavam a atividade proposta pelo educador e eram entregues na sala após o termino da aula. O objetivo da aula era simplesmente colocar as crianças em movimento. Então, a ideia foi desenvolver e estimular a participação mais efetiva das crianças na elaboração e concretização das aulas de EFE, dando voz a elas para que pudessem entender na prática como esse diálogo seria possível, tomando a práxis como elemento central, onde o/a docente de Educação Física precisa promover vivências, debates e estudos de diferentes aspectos das práticas corporais, possibilitando a sua transformação constante junto às crianças (FRANÇOSO; NEIRA, 2014). Para dar o primeiro passo, solicitei que cada criança deveria ter um caderno de registros, onde conseguisse registrar os conhecimentos que foram aprendidos durante as aulas, ou seja, esse instrumento seria um dos elementos em que os discentes, de forma autoral, construiriam suas anotações de itens que eles considerassem importantes. É claro que, como toda criança que vive em um sistema que pouco estimula sua autonomia e criatividade, no início do trabalho os/as estudantes queriam copiar aquilo que eu ia pontuando no quadro. Esse é um processo que tenho tido dificuldade de romper, mas em passos pequenos, estou estimulando que os/as discentes registrem os conhecimentos mais importantes e que façam sentido para eles, acabando com a concepção de cópia daquilo que o docente escreve na lousa. A utilização do caderno de registro já é uma prática que venho realizando há algum tempo e colhido bons frutos com essa estratégia didática. Iniciei o projeto educativo trazendo as possibilidades temáticas que a EFE possui, então, em sala de aula, comecei algumas discussões sobre a prática de alguns jogos e esportes em si e quais os outros elementos que estão para além do fazer, e que necessitam de atenção para entender de fato as diferentes manifestações da cultura corporal. Nessa lógica, de forma intencional, destaquei os jogos, brincadeiras e os esportes, já que fui percebendo nas falas das crianças, em momentos descontraídos no pátio da escola e também fora da aula de EFE, que queriam aprender sobre determinados jogos e esportes. Essa percepção acabou e transformando em uma forma de mapear o interesse deles/as. Para dar andamento no planejamento e na sequência de aulas, solicitei que os alunos e as alunas realizassem uma pesquisa com os familiares sobre jogos que eles praticavam quando crianças, além de pontuar se essa prática era realizada predominantemente por meninas ou meninos. A intenção dessa atividade era fazer os/as discentes dialogarem com os seus familiares sobre elementos de sua história de vida, como um recordatório, além de trazer assuntos que pudessem ser discutidos nas aulas de Educação Física como, por exemplo, as gestões de gênero. Notei que 23 crianças, em um universo de 28, retornaram na próxima aula com a pesquisa realizada. Me reuni com os/as discentes ais uma vez em sala para organizar nossas próximas aulas e tarefas, tais como trabalho em grupo, avaliações e debates. Nesse momento, solicitei que cada estudante contasse os resultados da sua pesquisa com a família. Utilizando o caderno de registros, cada aluno e aluna foi narrando sua experiência, criando assim uma lista de jogos que seriam utilizados no planejamento das aulas. Essa forma de construir o planejamento tem sido extremamente significativa na minha prática pedagógica e maisainda para as crianças. Após a exposição de todos/as, eu parabenizei o empenho na tarefa e informei que estava estruturado nosso planejamento, então, utilizando o caderno de registro, eles anotaram cada jogo, autor, onde a cada aula esse/a aluno/a deverá se organizar para apresentar o jogo, suas regras, seus materiais e mediar a efetivação do mesmo. No momento de apresentação dos discentes eu me torno um mediador do processo de ensino e aprendizagem (FARIAS et al., 2019). 172 3 ESTRATÉGIAS E POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÕES NA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Neste subtópicos vamos conversar sobre estratégias e possibilidades de intervenções práticas para a Educação Física Escolar. Veja o exemplo no quadro a seguir: QUADRO 2 – POSSÍVEIS TEMAS ESPECÍFICOS PARA A PRÁTICA DE JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS Temas Competências/ Objetivos Estratégias de prática Dinâmicas Exemplos Basquetebol; Handebol; Futsal; Voleibol. Conhecer a história, as regras básicas e as lógicas de cada modalidade, focando suas especificidades de forma introdutória. Exercícios; Situações de jogo; Jogo modificado; Jogo formal. Vivência da modalidade específica dentro das condições contextuais do aprendiz. Adaptações dos espaços, estruturas, tempos e regras do jogo formal. FONTE: Adaptado de Galatti (2006, p. 70-71) Vamos aos exemplos práticos? Ao partir da premissa de que qualquer processo de ensino-aprendizagem que se pauta na interação deva iniciar exatamente algo que o aluno já domina, nada mais coerente do que começar a ensinar esportes na escola por meio dos inúmeros jogos da cultura popular. Jogo dos 10 passes (BRASIL, 2004): • Esse jogo consiste numa disputa entre duas equipes, sendo que o objetivo dessas é trocar dez passes consecutivos, sem a interceptação da outra, marcando desse modo 1 ponto. Não existe alvo, ou melhor, o alvo seria a realização de dez trocas de passe. Uma análise superficial diria que esse é um jogo simples, mas um olhar mais atento logo descobrirá que esse talvez seja o jogo mais importante para aqueles que um dia queiram realmente aprender sobre jogo de invasão. 173 FIGURA 10 – JOGO DOS 10 PASSES FONTE: http://moveinet.weebly.com/jogos-preacute-desportivos1.html>. Acesso em: 17 fev. 2022. O jogo dos 10 passes é um jogo de basquete sem alvos, um jogo de futebol sem gols e feito com as mãos, ou um jogo de hockey, entre tantas outras possibilidades. A lógica do passe executada no jogo dos 10 passes é a mesma entre os diversos tipos de esportes de invasão, atribuindo a ele noções de cooperação, comunicação, deslocamentos, precisão, marcação etc. Se o jogo por si só já apresenta essas qualidades pedagógicas, com algumas adaptações e variações se potencializa em muito o aprendizado dos jogos coletivos que se objetiva, tanto se for executado com os pés ou com as mãos, por exemplo. Alterando-se o espaço do jogo (diminuindo ou aumentando), criar-se-á situações-problema que possibilitarão o surgimento de passes mais longos ou passes mais curtos e rápidos. Limitando ainda mais o número de passes, aumenta-se a velocidade e a dificuldade do jogo. Reduzindo o número de toques que os jogadores podem dar na bola, levará ao surgimento de um número muito maior de tabelas e passes de primeira. Mas as possibilidades do jogo dos 10 passes não param por aqui. Pode-se criar outras situações-problema que, como a tradicional, mantêm a essência de todos os jogos de invasão, possibilitando o aprendizado de suas técnicas dentro do seu real contexto. Como por exemplo: • Jogo dos 10 passes com três campos: são demarcados três campos do mesmo tamanho (o tamanho deverá ser de acordo com os objetivos específicos). Inicia-se apenas em um (da direita ou esquerda), as duas equipes jogam entre si, aquele que conseguir trocar dez passes primeiro ganha o espaço de mais um campo (ou seja, agora o espaço aumentou, gerando novas organizações táticas, tanto para a defesa quanto para o ataque). A outra equipe, se pegar a bola, deve voltar ao campo inicial, 174 pois ainda não pode utilizar o campo dois. Dessa forma o jogo segue, sendo que a cada dez passes aumenta-se o tamanho. Ganha o jogo a equipe que conseguir marcar pontos (dez passes) no espaço menor (1 campo), médio (2 campos) e grande (3 campos). Vale destacar que esse jogo pode ser feito com as mãos ou com os pés, com bolas de diferentes tamanhos, pesos e formas (bola de rúgbi ou futebol americano). • Jogo dos 10 passes com gols e alvos: já neste jogo a organização é a mesma, porém, uma pequena alteração nas regras traz consequências riquíssimas para o processo de ensino-aprendizagem, pois aqui uma das equipes para marcar seu ponto, deverá trocar dez passes consecutivos sem interceptação, mas a outra deverá somente marcar gol ou acertar o alvo definido (sem que para isso tenha de trocar “x” números de passes). Este jogo, logicamente, levará os aprendizes a construírem diferentes organizações táticas para obtenção de sucesso no jogo. As situações geradas pelo jogo levarão aqueles que devem manter a posse de bola a não o fazer próximo do gol e sim, do lado oposto, pois dessa forma não correm o risco de, ao perderem a bola, sofrerem imediatamente um gol. Então, à medida que os alunos compreenderem a lógica do jogo, certamente assim procederão. • Jogo dos 10 passes com gols (ou alvos): nessa variação as equipes só podem marcar pontos (acertar o alvo) depois de trocar dez passes. Esse alvo pode ser um gol (pequeno ou grande), um arco (pensando na ideia do estímulo ao uso da sola dos pés para o jogo de futsal), uma cesta de basquete, um cone, ou seja, qualquer objeto definido pelo grupo ou professor de acordo com os objetivos específicos. E não necessariamente uma equipe deva defender um e atacar o outro, talvez seja interessante quebrar com esta lógica tradicional e permitir marcar pontos em quaisquer dos alvos. Essa modificação possibilitaria a criação de novas ações e pensamentos táticos diversificados sobre o jogo, exigindo novas regras de ações. Outro exemplo: • Pega-pega com bola e pique: possui movimentos e representações, com grande semelhança e proximidade com outros jogos que se valem de corridas, perseguições, gingas e ludibriações, como movimentos determinantes para a execução de uma de suas mais importantes técnicas, o drible. Uma criança que sabe jogar pega-pega terá apenas de aprender a manipular a bola para realizar com eficiência o seu drible. O mesmo vale para os jogos que exigem o uso dos pés para a realização de seus dribles. Assim, aprender o pega-pega poderia ser considerado pré-requisito para os dribles futuros nos jogos de invasão. Tomando o pega-pega como exemplo, utilizamos como ferramenta inicial no processo de ensino-aprendizagem dois preceitos pedagógicos fundamentais. O primeiro se refere ao fato de partir de um jogo já conhecido pelos alunos. Conhecido no sentido de eles já dominarem o jogo e sua lógica. Já o segundo diz respeito ao fato com o qual iniciamos esta reflexão, ou seja, a lógica, a dinâmica e parte da organização do jogo que são muito semelhantes às ações desenvolvidas nos jogos de invasão. 175 Todavia, apesar de a ação de driblar em todos os jogos de invasão ser semelhante, existem particularidades que distinguem os dribles do jogo de basquete dos exigidos no jogo de handebol. A mesma reflexão pode ser aplicada para os dribles executados no jogo de futebol de campo em relação aos realizados no jogo de futsal. E serão essas particularidades que garantirão as especificidades das ações em cada jogo de invasão. Para isso, o pega-pega pode ser realizado também das seguintes maneiras: • Pega-pega com bolas e piques: pegador sem bola, fugitivos com bola, arcos espalhados pelo chão, campo reduzido delimitado. Pegador corre para pegar fugitivos, enquanto eles podem utilizar os arcos espalhados com piques (local onde não podem ser pegos). Quem for pego entrega a sua bola, quem deixar a bola sair doespaço delimitado vira pegador também. • Pega-pega do pegador com bola: nesta variação o campo também deve ser delimitado e pequeno, os fugitivos correm sem bola, já o pegador deve pegá-los com a bola nos pés (junto ao pé). Nestes dois exemplos, as situações-problema geradas pelo jogo fazem com que os alunos sejam levados a utilizar mais a sola dos pés (técnica comum em praticantes de futsal), pois se assim não procederem não conseguirão controlar a bola dentro do espaço delimitado, nem muito menos escapar mudando constantemente de direção sem estar com ela sob os pés. Consequentemente, o professor não precisa necessariamente explicar ou mesmo exigir que seus alunos utilizem a sola dos pés, nem muito menos criar um jogo em que, pela sua funcionalidade, corra-se o risco de perder suas características essenciais, dentre as quais a ludicidade e a liberdade de expressão, fazendo com que o jogo se transforme numa série repetitiva e monótona de atividades. Enfim, cabe ao professor, com seus conhecimentos a respeito dos jogos e suas respectivas lógicas, em consonância com seus objetivos dentro do processo de ensino- aprendizagem dos esportes coletivos e individuais construir inúmeras outras variações. Para uma aula que, seguindo uma organização didático-pedagógica, possa dar conta de todo o conhecimento destacado anteriormente, sugerimos sua divisão em partes, as quais não devem ser entendidas como etapas, mas sim momentos inter-relacionados que privilegiem o aprendizado do conhecimento previamente destacado pelo plano de ensino. Para tanto, se o tempo de aula for de noventa minutos ou mais, apresentamos como sugestão a divisão da aula em cinco partes estritamente dependentes uma das outras e, concomitantemente, interligadas às aulas anteriores e posteriores. A primeira é destinada à formação de uma roda de conversa na qual o professor expõe e explica a aula, trazendo sempre um tema a ser discutido (como, por exemplo, alguma coisa importante que aconteceu no futebol ou no esporte em geral, que o professor vê como necessário para os alunos refletirem e discutirem sobre o ocorrido, tomando consciência e desenvolvendo o espírito crítico). Nesse momento, o professor 176 pode também propor que os alunos destaquem jogos/brincadeiras que eles conheçam, os quais atendam às exigências do tema de aula escolhido. É importante destacar a necessidade de interação dos alunos na construção das aulas, e essa primeira parte caracteriza-se como um dos momentos mais oportunos, não o único, pois a interação deve acontecer sempre que possível nas aulas. Exemplos de conversas nas rodas de conversas iniciais: • Resgatando a aula anterior: o que aconteceu na aula passada, por que fizemos isso e aquilo? por que jogamos determinado jogo para desenvolver certo tema? • Conectando a aula: explicações sobre o tema da aula de hoje e suas ligações com a aula anterior e também com a próxima aula. • Tema esportivo polêmico: algum fato importante que aconteceu na semana e que precisa ser discutido com os alunos (por exemplo: brigas entre jogadores, brigas entre torcedores, problemas no esporte local, dirigentes corruptos etc.). • Recortes de jornal: discutir temas a partir da leitura de pequenas matérias publicadas em jornais ou revistas (essas podem ser trazidas pelo professor como também pelos alunos). Na segunda parte realiza-se um jogo adaptado dando-se ênfase a uma das particularidades do jogo, de preferência a última trabalhada na aula passada, pois em cada aula se destacam dois fundamentos para serem trabalhados (nessa parte pode- se aplicar por exemplo um jogo de futebol com a restrição aos jogadores de dar apenas dois toques na bola, pois assim joga futebol, mas enfatiza-se mais o fundamento de passe do que os demais, porém, sem excluí-los). Outros exemplos de jogos para a segunda parte da aula: • Handfute: jogo realizado com as mãos, porém as finalizações devem ser feitas com os pés. Os jogadores movimentam-se como no jogo de handebol (com seus passes, dribles e trifásicos), todavia para se marcar o gol um jogador deve ajeitar a bola para outro finalizá-la, porém isto deve acontecer sem que a bola caia no chão (se isso acontecer, deve-se pegar a bola com as mãos). Os jogadores podem controlar a bola antes do chute e também podem finalizar dentro da área. Os times não têm um goleiro apenas, pois, com a regra que permite o uso das mãos, todos podem desempenhar tal função. Não é permitido o gol de cabeça, nem tirar a bola das mãos do adversário. • Jogo de toques regressivos: divisão da turma em equipes. Inicia-se o jogo como o futebol, com as mesmas regras básicas, ou seja, com quantidade ilimitada de toques na bola para cada jogador, porém, a cada gol convertido a equipe terá os seus toques individuais (de cada jogador) reduzidos. Após o primeiro gol, cada jogador da equipe que converteu deve dar até 6 toques na bola (a outra equipe ainda não terá seus toques limitados, somente após marcar o seu gol). Depois do segundo, cinco, do terceiro, quatro e assim sucessivamente, até uma das equipes converter o gol com a permissão de se dar apenas um toque na bola. 177 Já na terceira parte, exercita-se uma das habilidades do futebol, ou seja, uma nova não enfatizada na aula anterior (porém esses jogos enfatizam um ou outro fundamento sem excluir os demais e perder a proximidade com o contexto em que esse fundamento será utilizado no jogo de futebol formal). Portanto, pode-se conceber que as partes (fundamentos técnicos) devam ser ensinadas jogando. Um exemplo de jogo para a terceira parte da aula: • Base 4: divide-se a turma em duas equipes. Uma equipe se dispõe em fila ao lado do gol e a outra se espalha na quadra. O campo é organizado da mesma forma que o Base 4, ou seja, risca-se no chão quatro pequenas bases, que devem ser percorridas pelos jogadores para obtenção dos pontos. O primeiro jogador da fila chuta para qualquer lugar (menos para trás) e sai correndo para percorrer as bases (nesse jogo não tem piques, assim ele não pode parar em nenhuma das bases). O segundo da fila vira goleiro. O time espalhado pela quadra deve recuperar a bola sem utilizar as mãos e tentar marcar o gol no goleiro (do time da fila). Se marcarem o gol antes de o jogador completar as quatro bases, ele estará queimado (eliminado apenas da rodada). Se o goleiro agarrar a bola em definitivo, o jogador nem precisa completar a corrida, pois já marcou o ponto. Agora se chutarem a bola para fora o corredor deverá parar na base à frente mais próxima. Rebote do goleiro, o jogo continua. Na sequência do jogo, o goleiro (segundo da fila) vira chutador/corredor, dando lugar ao terceiro da fila assumir as funções de seu protetor. Novamente, após todos chutarem e serem goleiros, troca-se. O final do jogo deverá ter seu número de rodadas estipulado antes do início. FIGURA 11 – BASE 4 FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/34496680>. Acesso em: 17 fev. 2022. 178 No quarto momento deve-se realizar novamente o jogo formal de futebol que pode conter ou não algumas regras adaptadas. Enfim, se os alunos buscam aprender a jogar futebol, os mesmos devem sair da aula com a sensação de que jogaram muito futebol (em todas as partes da aula), configurando-se um processo de ensino do jogo pelo jogo. Exemplos de jogos para a quarta parte da aula: • Jogo formal: duas equipes divididas jogando o futebol com suas regras básicas, porém sem a exigências oficiais, principalmente a do impedimento. • Jogo das 4 traves: são constituídos quatro metas nas extremidades laterais da quadra. A turma é dividida em duas equipes (ou mais). O jogo desenvolvesse com as regras básicas do futebol, porém as equipes não têm metas determinadas para defender ou atacar. Mas a cada gol convertido a equipe poderá optar em marcar um ponto ou contratar um jogador da outra equipe. A aula se encerra sempre com uma roda de conversa, momento em que ela é discutida e avaliada pelo grupo em conjuntocom o professor, além da possibilidade de o professor encaminhar algum trabalho que deve ser desenvolvido em casa, como, por exemplo, assistir a um determinado jogo e analisar determinadas situações, ou mesmo trazer para próxima aula um jogo inventado para o desenvolvimento de determinadas habilidades para o futebol, ou, então, fazer uma análise crítica da ação de determinado jogador de futebol em certo contexto. Exemplos de possíveis tarefas que podem ser realizadas pelos alunos sobre o futebol: • Assistir ao futebol pela TV: analisar os comentários do narrador e do comentarista e comparar ao que está acontecendo de verdade no jogo. • Assistir ao futebol no campo: a partir de um roteiro, analisar a função de determinados jogadores dos dois times, ou (dependendo da idade) fazer observações e comentários sobre o esquema tático adotado pelas equipes para posteriormente compará-los com os divulgados pelos jornais. • Brincar de rebatida: reunir os amigos e encontrar um espaço em casa, na rua, na praça, no bairro... locais que ofereçam condições para que o jogo aconteça. • Criar jogos de bola com os pés: criar jogos para o ensino do futebol que serão utilizados nas próximas aulas. • Futebol e minha vida: escrever uma redação sobre a importância do futebol na sua vida, levando em consideração as pessoas com quem convive diariamente (pais, tios, vizinhos...) • Futebol e sociedade: escrever sua opinião sobre as relações entre o futebol e a sociedade ao seu redor. • Futebol solitário: descobrir uma forma de jogar futebol sozinho em casa. • Pesquisa sobre torcidas: por que pessoas torcem para um time e não por outro? Por que os torcedores brigam em razão do resultado de uma partida de futebol? 179 NOTA Trouxemos uma ilustração para pensarmos a intervenção prática em aulas de futebol e esportes de invasão. A partir dessas orientações didático- metodológicas você será capaz de criar suas próprias estratégias de ensino-aprendizagem! Por fim, o fato de o professor poder organizar sua aula em uma, duas, três ou mais partes dependerá do tempo de aula, da dinâmica organizacional desencadeada pela motivação dos próprios alunos e, principalmente, dos objetivos elencados pelo professor ou pelo grupo para ser atingido. 4 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DE ENSINO De acordo com as concepções críticas atuais, a avaliação não é apenas a realização de provas e a atribuição de notas, na medida em que uma mensuração quantitativa serve também para oferecer dados que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. Freire (2003) propõe uma possível forma de avaliação objetiva dos alunos em meio ao seu processo de aprendizagem do jogo. Essa avaliação tem por finalidade mensurar de forma qualitativa e quantitativa a evolução dos aprendizes, por meio de observações subjetivas de aulas e competições e testes práticos específicos, segundo os fundamentos do esporte em contexto de jogo. Segundo Libâneo (2002), a avaliação é um componente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguinte. De acordo com este mesmo autor, a avaliação cumpre as funções Pedagógico- Didáticas, de diagnóstico e de controle. A seguir vamos explicar cada uma das funções: • Controle é aquela função à qual já estamos habituados, que é a de controlar quantitativamente o avanço do aprendiz, ou seja, a nota. • Diagnóstica é a função da avaliação que permite ao professor saber o nível inicial do aluno e, a partir daí, acompanhar o seu crescimento. • Pedagógico-didática é a função da avaliação que permite ao aluno assimilar e fixar o que existe de essencial no conteúdo ensinado. 180 É necessário considerar que também na Educação Física e no Esporte a avaliação deve atender a tais funções. Um bom sinal identificado entre os professores da área é o fato de que a participação é apontada como critério de avaliação, o que sinaliza para um aspecto qualitativo na prática avaliativa. Entretanto é preciso considerar que as funções pedagógico-didática e diagnóstica da avaliação é que vão pontuar uma nova prática na Educação Física e no Esporte Outra ferramenta potencial de avaliação e auto avaliação é relatar experiências nas aulas de Educação Física Escolar. Ao escrever um relato de experiência, o professor reflete sobre as suas ações pedagógicas, adquirindo maior compreensão do processo de ensino e aprendizagem e das situações didático-pedagógicas que foram vivenciadas naquele período letivo. Além disso, esses professores colocam a sua prática pedagógica em domínio público, permitindo que outros possam aprender com as suas ações didáticas e produzir críticas construtivas sobre o seu trabalho (CONTRERAS, 2016). Também nos cabe ressaltar que durante muitas décadas os pesquisadores que lecionavam nas Universidades ou os “especialistas” que atuavam nas instâncias administrativas de diferentes redes de ensino foram os responsáveis por escrever os currículos e materiais didáticos para embasar a prática pedagógica dos professores que atuavam na escola. Por conta disso, muitos professores foram considerados despreparados para sistematizar a sua prática pedagógica com autonomia e criticidade (NEIRA, 2017). Entretanto, ainda na visão de Neira (2017), aquilo que acontece efetivamente nas escolas é bem mais complexo do que qualquer previsão que ocorra por aqueles que elaboram as políticas educacionais, já que a escola é um ambiente repleto de histórias e os professores são narradores, personagens e autores das experiências didáticas que organizam cotidianamente durante as suas aulas. Assim, concordando com Bracht (2017) que diz que o cotidiano da escola é marcado por contradições, particularidades, necessidades e interesses diversos e, quando os professores publicam na literatura científica relatos de experiência que rompem com a tradição físico-esportiva da área, esses professores se tornam produtores de conhecimento e elaboradores de experiências e não meros aplicadores das ideias de seus pares. Outro ponto importante a ser considerado é que ao relatar os projetos educativos que ocorrem nas aulas de EFE, não estamos apresentando somente situações exitosas que aconteceram nas experiências educativas, pois os profissionais que trabalham na escola vivenciam dificuldades diversas em âmbito social, cultural, institucional, organizacional e pedagógico que prejudicam a sua atuação profissional (MALDONADO; SILVA, 2017). 181 É por conta de todas essas questões abordadas que acreditamos no potencial das experiências pedagógicas que estão correndo em escolas espalhadas por todo o Brasil e defendemos a ação do professor pesquisador. 182 A DIFERENÇA ENTRE DRIBLAR OU FINTAR UM CONE E UMA PESSOA João Batista Freire Rafael Castellani A escola não é a Rua. Tampouco a rua é a escola. A rua é outro ambiente, com outra orientação, outro modo de fazer as coisas, e onde as relações se estabelecem de outra forma. Diferente. Nem melhor, nem pior. Aprender a controlar bem a bola em uma brincadeira de rua, não significa que fazer do mesmo jeito na escola levará ao mesmo resultado. Principalmente porque não será possível fazer do mesmo jeito. A Rua, isto é, o espaço de convivência de crianças (mas também de adolescentes e adultos em diversas situações), tem características irreprodutíveis. Quando a prática da Rua vai para a aula na escola – por exemplo, uma brincadeira – ela é, ou deveria ser, pedagogizada. Significa que servirá a propósitos diferentes, porque a escola, ou qualquer outra instituição de ensino, tem compromissos com a sociedade fora dela mesma. Ela prepara conscientemente para uma vida em sociedade (mesmo que esse trabalho não seja bem feito); a Rua não tem essa orientação. A brincadeira de Rua esgota-se nela mesma, é jogo apenas, isto é, aquele tipo de acontecimento que não temqualquer compromisso além dele mesmo. Isso não quer dizer que as aprendizagens da Rua não terão repercussões em diversas outras situações ao longo do tempo futuro, inclusive na escola. Porém, na Rua não há esse propósito, afinal, a Rua não é uma instituição cujos propósitos e ideologias estão declarados. Mais especificamente no caso do Futebol, quando o ensino é institucionalizado, tal como se busca fazer principalmente nas escolas de futebol e categorias de base dos clubes, é possível ocorrer uma orientação pedagógica totalmente desvinculada da cultura da Rua, assim como é possível também adotar uma orientação pedagógica que procura reproduzir a Rua ou tê-la como referência. É comum vermos, independente da instituição/espaço na qual se ensina o futebol às crianças e adolescentes, cones dispostos simetricamente em filas para serem fintados ou driblados. Vale ressaltar que tal prática também é notada, com frequência, no âmbito do futebol profissional com adultos. Diante destas circunstâncias, não há risco, não há mobilidade nos cones, não há ameaças, não há um tempo imprevisível para realizar a finta ou drible, não há tensão, não há diversão, não há jogo. O cone simplesmente fica ali, inerte, no lugar em que o colocaram, dócil, não mais que uma LEITURA COMPLEMENTAR 183 referência para repetições mecânicas de gestos previamente determinados. Sua função é simular a presença de uma pessoa, algo que nem de longe consegue. Quando muito, resta, para quebrar a monotonia, uma ou outra fantasia que meninos e meninas produzam, intimamente, sem que ninguém saiba disso além deles mesmos. Julgam os inventores da tal pedagogia do cone, que isso levará os praticantes ao conhecimento e desenvolvimento de determinadas ações técnicas relacionadas ao futebol, tal qual a finta, drible, condução, entre outras. Há método nisso, claro, mesmo que esse método não habite a consciência do inventor. Nada se faz sem método. Trata- se de um método de transmissão, pura e simples. Um professor ou treinador diz para um aluno ou atleta repetir o gesto de contornar os cones, porque, dessa maneira, o aluno/ atleta repetidor aprenderá a conduzir a bola e driblar um adversário. O adversário, no caso, é o cone, e o repetidor terá que realizar um enorme esforço criativo (talvez consiga, talvez não) para imaginar que o cone é seu adversário. É esperado pelo inventor, ou mero reprodutor, da pedagogia do cone que, como resultado desses exercícios, os jogadores (repetidores), quando estiverem participando de um jogo contra um time adversário, possam aplicar o conhecimento de conduzir e fintar cones diante de pessoas de carne e osso. Há algum sentido nisso? Com tal procedimento os meninos e meninas aprenderão o difícil gesto de fintar e driblar adversários em jogos de futebol? Sim, é impossível que nada se aprenda agindo dessa maneira. Os pés dos meninos e meninas se ajustarão ao gesto, que ficará mais refinado. Há um objetivo nisso que orientará o modo de tocar a bola, de se ajustar a ela, de mantê-la sob controle enquanto a pessoa muda de direção etc. As repetições filtrarão o gesto, eliminarão resíduos e, ao final, algum conhecimento restará. Alguns dirão que o gesto técnico estará refinado! Ainda assim, de que forma se espera que crianças e jovens se envolvam em exercícios como esse? Com alegria e prazer? Ou com tédio e impaciência diante do “interminável” tempo de espera nas filas? Porém, é bom que se esclareça: embora ocorra alguma aprendizagem a respeito da arte de fintar, driblar ou conduzir a bola, neste caso específico, essa arte se aplica, antes de tudo, aos cones, não às pessoas. Considerando que cones são pouco semelhantes às pessoas, quando, no jogo, no lugar de cones houver adversários de carne e osso, a generalização desse conhecimento será, provavelmente, muito pequena, ou insignificante. Convenhamos que é bem diferente fintar um cone e fintar uma pessoa! Ou seja, de que adianta um(a) jogador(a) possuir uma técnica refinada para determinados gestos se este não poderá ser reproduzido no contexto do jogo? Imaginemos agora outra situação: meninas e meninos aprendendo a fintar ou driblar pessoas. Uma professora propôs um jogo em que seus alunos serão incentivados a fintar ou driblar e conduzir uma bola durante uma prática muito divertida. Eles tentam fazer gols, mas há mais defensores que atacantes. E qualquer gol feito após uma finta vale o dobro. 184 Como difere esta situação da anterior, em que os praticantes (sejam eles crianças, adolescentes e até mesmo adultos que já praticam o futebol profissionalmente) tinham que conduzir a bola e fintar ou driblar cones, não é mesmo?! Os adversários não estão dispostos estaticamente em filas. O risco de perder a bola é permanente, os adversários não param de se movimentar, o tempo para agir é mínimo, a imprevisibilidade é a marca de todas as ações, a tensão é constante, mas, ainda assim cria diversão, há jogo, há alegria, há prazer. Os adversários são de carne e osso, não ficam inertes, dóceis e os gestos de quem vai fintar não podem ser previamente determinados. Imaginemos, também, que, na mesma aula/treino, a criança viveu, não uma, mas dez ou quinze situações em que teve que enfrentar um adversário e decidiu fintá- lo. A cada vez, seus gestos, mesmo sendo semelhantes a gestos anteriores, não eram iguais. Não eram iguais, porque seus oponentes eram diferentes, a posição no espaço era diferente, as reações dos adversários eram sempre diferentes, e porque ela, a cada vez, mantinha uma relação estreita com o adversário, suas reações tornavam-se sempre diferentes. Algumas vezes ela conseguia fintar, em outras não, e tudo isso se incorporava ao seu baú de repertórios, ao seu leque de oportunidades. Em uma única aula ela acumulou em seu repertório, talvez, centenas de novos movimentos, somente em relação à finta. Claro que todos esses movimentos guardam semelhanças, pois têm em comum o gesto mais geral da finta (ou drible), mas que, na vida de ações práticas, não existe; é apenas um esquema geral que une todas as ações de fintar, pois nunca um gesto para fintar será igual a qualquer gesto anterior. Seguramente, a criança que fintava pessoas repetiu muito mais vezes o gesto de fintar, durante uma aula, que a criança que fintava cones, mas em ambas as situações, as repetições eram de caráter completamente diferentes. Sob nosso entendimento, é muito mais significativo o enriquecimento das coordenações que formam a habilidade de fintar (ou driblar e conduzir a bola, por exemplo) quando se trata de fintar pessoas. Sem contar que consideramos apenas o plano das coordenações motoras. Sequer discutimos (e isso deverá ser feito em outro momento), por exemplo, o plano afetivo, afinal, não é preciso ter coragem para fintar um cone, mas é preciso ter coragem para fintar uma pessoa. Um cone não dá medo, uma pessoa pode dar, e assim por diante. Tentemos traduzir em um exemplo aquilo que vimos buscando explicitar. Imagine uma menina, criança, de apenas nove anos de idade, chamada Cinara. Cinara tinha frequentado durante seis meses uma escola de futebol. Nessa escola de futebol, seus maiores oponentes eram cones. E ela aprendeu a fintar cones. Tornou-se exímia dribladora de cones. Mas Cinara pediu para deixar a escola de futebol depois do primeiro jogo contra a equipe de outra escola de futebol, pois ela não conseguiu driblar ninguém e nem marcou gols. Deu “tudo errado” e saiu do jogo chateada. Sua mãe ouviu falar de uma escola de futebol que as crianças adoravam e matriculou Cinara nessa outra escola. Ela começou a aprender a jogar futebol de outro jeito, não havia cones, parecia mais 185 difícil, mas a professora inventava um monte de brincadeiras de driblar e as crianças se divertiam muito. Erravam bastante e, num primeiro momento, Cinara errava muito mais do que quando driblava cones, mas também acertava bastante. Quando foram fazer o primeiro jogo contra outra equipe, Cinara conseguiu driblarvárias vezes e saiu muito feliz do jogo. Até hoje ela está nessa escola de esporte. Quando a Cinara, ou qualquer outra criança, jovem ou adulto em fase de aprendizagem, conduz a bola durante o jogo e para na frente do adversário, ela pode ter várias opções, mas tem um tempo mínimo para se colocar diante de tais opções e escolher a melhor. Isso não quer dizer que, conscientemente, colocará à sua frente todas as opções de gestos que acumulou. Trata-se de um processo quase que inteiramente inconsciente. Vamos supor que ela tenha escolhido como melhor opção fintar seu oponente. Novamente, vale ressaltar, o adversário não é um cone, é uma pessoa e tem um tamanho diferente de todos os outros adversários. Seu oponente se mexe, ele não fica parado como um cone, e isso dificulta tudo. Cinara experimenta se mover para o lado direito, o adversário faz o mesmo e a cerca, ela volta, para, movimenta-se para frente e volta, imediatamente sai pela esquerda, para, retrocede, avança pela esquerda de novo e consegue enganar seu(sua) rival. Ao contrário do que ocorria quando tinha que driblar um cone, ela fez, não um, mas dezenas de gestos diferentes. Teve êxito, mas poderia não ter tido. Mas se fracassasse, o enriquecimento de seu repertório para fintar, ainda assim, seria enorme. Cada gesto feito ficou guardado, como em um banco de dados. Nas próximas vezes em que ela tiver que enfrentar a situação de fintar, poderá recorrer a um repertório maior que nas vezes anteriores. Na rua dribla-se ou finta-se cones? Não! Aprende-se a fintar e driblar os adversários na rua? Muito! Então, o que podemos levar pedagogicamente da rua para as escolas e clubes onde se almeja o aprendizado ou aperfeiçoamento do futebol? Esperamos ter respondido a esta pergunta no decorrer deste texto. FONTE: https://universidadedofutebol.com.br/2020/12/18/a-diferenca-entre-driblar-ou-fintar- um-cone-e-uma-pessoa/ 186 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A importância do planejamento relacionado aos conteúdos, objetivos e métodos de ensino com o contexto do ambiente escolar. • Alternativas para estruturação e organização dos planos de ensino e de aulas na Educação Física Escolar. • Adquiriu ferramentas básicas para criação de atividades para suas intervenções práticas em Pedagogia do Esporte. • A importância do uso de diferentes ferramentas de avaliação sobre o processo de ensino-aprendizagem. 187 1 A partir do que estudamos sobre as ferramentas de avaliação do processo de ensino- aprendizagem assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O relato de experiências é ferramenta de avaliação e auto avaliação pouco utilizada para a compreensão do processo de ensino e aprendizagem e das situações didático-pedagógicas que foram vivenciadas no período letivo. b) ( ) Na Educação Física Escolar as ferramentas de avaliação devem atender, exclusivamente, aspectos do aprendizado técnico conceitual dos esportes. c) ( ) O relato de experiências é uma importante ferramenta de avaliação e auto avaliação, pois, ao escrever um relato de experiência, o/a docente reflete sobre as suas ações pedagógicas, adquirindo maior compreensão do processo de ensino e aprendizagem e das situações didático-pedagógicas que foram vivenciadas naquele período letivo. d) ( ) Na Educação Física Escolar as ferramentas de avaliação devem priorizar aspectos do aprendizado técnico conceitual dos esportes. 2 Considerando que planejar em Pedagogia do Esporte implica relacionar conteúdos, objetivos e métodos de ensino com o nível de conhecimento e rendimento do aprendiz, analise as sentenças a seguir sobre o que deve ser levado em conta no planejamento do professor: I- As faixas etárias (fase temporal) dos aprendizes; a frequência e a duração de aulas por semana; as instalações e os materiais disponíveis. II- O contexto cultural da escola, do professor e do aprendiz; o tipo de esportes a ser trabalhado. III- A organização de equipes para disputas de torneios e participações em eventos esportivos; o aperfeiçoamento das técnicas e a busca pela alta performance nos diferentes esportes. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 188 3 A partir daquilo que estudamos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas, sobre por que ensinar esportes na escola: ( ) Para inserir o espírito competitivo, fundamental para os futuros profissionais que estarão inseridos no mercado de trabalho, em qualquer área ou carreira escolhida. ( ) Para adquirir hábitos saudáveis e desenvolver o espírito competitivo, tornando o aprendiz capaz de se tornar um adulto disciplinado e individualista. ( ) Para adquirir uma cultura e um hábito para a vida, pois se ensinado e aprendido bem, esse aprendiz só colherá satisfação e proveito de sua prática esportiva, tanto se ele se tornar um especialista, como um praticante amador do esporte, ou mesmo um espectador, tendo a possibilidade de assumir uma posição autônoma e crítica diante do fenômeno esportivo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F. b) ( ) V - F - V. c) ( ) F - V - F. d) ( ) F - F - V. 4 O PPP é uma importante iniciativa no sentido de construir a identidade de uma instituição, na medida em que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. A elaboração do PPP é sempre um processo, ou seja, nunca é definitiva. Ela se aperfeiçoa com o passar do tempo, de maneira a garantir sempre uma releitura da realidade da escola, a partir dessa afirmação disserte sobre as finalidades do PPP na escola. 5 Para uma aula que, seguindo uma organização didático-pedagógica, possa dar conta do conhecimento estudado ao longo deste tópico, sugerimos sua divisão em partes, as quais não devem ser entendidas como etapas, mas sim momentos inter- relacionados que privilegiem o aprendizado do conhecimento previamente destacado pelo plano de ensino. Neste contexto, disserte sobre as etapas sugeridas. 189 REFERÊNCIAS ARAÚJO, R. V de. Pedagogia do esporte: obstáculos, avanços, limites e contradições. 2008. Monografia (Especialização em Educação Física) – Universidade Federal de Goiás, Goiás, 2008. ALMEIDA, F. Q. Educação Física Escolar e práticas pedagógicas inovadoras: uma revisão. Corpoconsciência, Cuiabá, v. 21, n. 3, p. 7-16, set./dez. 2017. BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994. 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