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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS CENTRO DE ESTUDO E PESQUISA APLICADA À EDUCAÇÃO – CEPAE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA JOYCI VIEGAS DE FREITAS SILVA Ditadura Militar no Brasil: a consciência histórica de estudantes de uma escola pública GOIÂNIA 2022 2 3 JOYCI VIEGAS DE FREITAS SILVA Ditadura Militar no Brasil: a consciência histórica de estudantes de uma escola pública Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação da Universidade Federal de Goiás, para obtenção do título de Mestre em Ensino na Educação Básica. Área de Concentração: Ensino na Educação Básica Linha de Pesquisa: Práticas escolares e aplicação do conhecimento Orientador(a): Dr. Glauco Roberto Gonçalves GOIÂNIA 2022 4 5 6 DEDICATÓRIA Dedico essa pesquisa a todos os estudantes das escolas públicas, que mesmo contra todas as previsões caminham persistentes e lutam por uma educação de qualidade. Dedico às professoras e aos professores que atuam cotidianamente na formação de sujeitos comprometidos com a transformação social. Dedico aos jovens secundaristas que ocuparam suas escolas e nos deixaram novos olhares sobre os espaços e relações que se criam a partir da luta autêntica. Por fim, dedico ao meu avô Athayde, que sempre me incentivou a leitura, aos estudos e a busca por novos conhecimentos. Agradeço por suas conversas, histórias e grande sabedoria. Muito obrigado, vovô. 7 AGRADECIMENTOS Neste momento, gostaria de agradecer a muitas pessoas que acompanharam a minha trajetória pessoal, profissional e acadêmica e que de alguma forma se envolveram com meu trabalho. Agradeço à minha mãe e ao meu pai, Vânia e Paulo por sempre estarem presentes, cuidando e me incentivando nos estudos. Caminhando ao meu lado em todos os momentos e sendo exemplos de força, amor e luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Agradeço aos meus avós maternos e paternos que com toda a sua sabedoria e vivência encheram minhas memórias de infância com boas lembranças e exemplos de respeito às gerações e de curiosidade pelas pessoas do mundo. Agradeço ao meu marido e companheiro Thiago, pelas longas conversas sobre a pesquisa, por suas ponderações, acolhimento e pelo amor cotidiano. Aos meus filhos Mariá, Arthur, Rafael e Clarice que, quase sempre, compreenderam as horas em que não podia lhes dar atenção necessária e por ser a razão pelo qual desejo me tornar uma pessoa um pouco melhor para o mundo. Agradeço aos meus irmãos Frederico e Victor Hugo, grandes amigos e parceiros de todas as horas. A toda a minha família, tios, tias, primos e primas, em especial a minha prima Larissa que muito contribuiu com seu olhar de historiadora e professora para o desenvolvimento dessa dissertação. A todas as minhas amigas e mulheres incríveis, Camila, Julia, Nayara, Ana Flávia, Isadora, que com muitas palavras de incentivo e apoio me fortaleciam e me faziam ver que era possível finalizar esse mestrado, que se mostrou um grande desafio em minha vida. Ainda agradeço à minha sogra, Denise, que sempre torceu por mim. Ao professor, orientador e amigo Glauco que me acolheu desde o início do ingresso neste programa, que reconheceu meu potencial, possibilitando-me viver a pós-graduação de uma maneira mais afetuosa e sensível. Contribuindo efetivamente para o desenvolvimento do meu trabalho de pesquisa. Não posso deixar de agradecer à professora Anna Maria que com suas palavras na qualificação e nas aulas do mestrado muito enriqueceram meu olhar sobre a pesquisa em ensino de história, e ao professor Rafael Saddi, agradeço pela parceria de longa data. Agradeço o seu convite para participar do projeto PIBID na Faculdade de História da UFG, e a diversos outros projetos, que possibilitam minha constante reflexão acerca do meu papel de professora de história em nossa sociedade. 8 Aos colegas da Turma do mestrado 2019/01 e demais colegas, pelos momentos compartilhados nesta jornada, bem como pelas trocas intelectuais e de vivências tão ricas. Agradeço a todos os estudantes que por mim passaram, eles são os sujeitos fundamentais no processo constante de me tornar professora. E aos colegas de trabalho na escola, que dividem comigo uma rotina com momentos de exaustão perseverança, angústia e esperança. Agradeço a todos aqueles que, mesmo não mencionando nominalmente, contribuíram de alguma forma, estando presentes nesta jornada. Meus sinceros agradecimentos. Obrigada! 9 “Fôssemos infinitos Tudo mudaria Como somos finitos Muito permanece” (Se fôssemos infinitos, Bertolt Brecht, 2000) 10 SILVA, Joyci Viegas de Freitas. DITADURA MILITAR NO BRASIL: A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DE ESTUDANTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA. 2022. 175f. Dissertação (Mestrado em Ensino na Educação Básica) – Programa de Pós Graduação em Ensino na Educação Básica, Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO. RESUMO Esse estudo selecionou o tema da Ditadura Militar no Brasil para investigar o processo de desenvolvimento da consciência histórica, a partir do ensino de história nas escolas de educação básica. Vive-se atualmente o acirramento do debate nacional acerca de temas sensíveis relacionados à nossa memória. A consciência histórica torna-se, neste sentido, um importante referencial para o ensino de história, dentro da teoria da Didática da História. A partir desta perspectiva o presente texto (fruto da pesquisa desenvolvida no âmbito do Programa de Pós- Graduação em Ensino na Educação Básica da UFG) analisou o processo de execução de um projeto de extensão de formação de professores de história (PIBID): os personagens da Ditadura Militar em uma escola pública de Goiânia. Através de variados registros elaborados pelos estudantes, sejam desenhos, testemunhos transcritos ou gravados, relatos, cartazes políticos ou pequenos vídeos, verificou-se que muito permanece desse período no cotidiano juvenil, destacando o abuso da violência policial nas cidades contra a juventude e a problemática do acesso à informação. Esses registros também possibilitaram a análise da forma como o estudo de um tema histórico desse passado inconcluso influencia na formação da orientação histórica desses sujeitos no presente. Os resultados foram analisados e elaborou-se um Produto Educacional, denominado “Ensinar sobre ditadura com democracia”. Tal Produto Educacional traz duas propostas de ensino desse conteúdo, buscando dar um sentido diferente aos espaços da escola a partir do protagonismo estudantil. Assim, espera-se que o professor de história, ao ensinar Ditadura Militar, possibilite aos estudantes uma formação permeada de vivências democráticas e estímulo à autonomia na construção do seu próprio conhecimento e agir no mundo presente. Palavras-Chave: Consciência Histórica. Ditadura Militar. Autonomia. Democracia. 11 SILVA, Joyci Viegas de Freitas. MILITARY DICTATORSHIP IN BRAZIL: THE HISTORICAL CONSCIOUSNESS OF STUDENTS FROM A PUBLIC SCHOOL. 2022. 134f. Dissertation (Master Degree in Basic Education Teaching) – Graduate Program in Basic Education Teaching, Center for Teaching and Applied Research in Education, Federal University of Goiás, Goiânia, GO. ABSTRACT This study selected the theme of the Military Dictatorship in Brazil to investigate the process of development of historical consciousness, from the teaching of history in basic education schools. We arecurrently experiencing the intensification of the national debate on sensitive topics related to our memory. Historical awareness becomes, in this sense, an important reference for the teaching of history, within the theory of Didactics of History. From this perspective, the present text (the result of research developed within the scope of the Graduate Program in Teaching in Basic Education at UFG) analyzed the process of executing an extension project for the formation of history teachers (PIBID): the characters of the Military Dictatorship in a public school in Goiânia. Through various records made by students, whether drawings, transcribed or recorded testimonies, reports, political posters or small videos, it was found that much remains of this period in the youth daily life, highlighting the abuse of police violence in cities against youth and the problem of access to information. These records also made it possible to analyze the way in which the study of a historical theme from this unfinished past influences the formation of the historical orientation of these subjects in the present. The results were analyzed and an Educational Product was elaborated, called “Teaching about dictatorship with democracy”. Such Educational Product brings two proposals for teaching this content, seeking to give a different meaning to the school spaces from the student protagonism. Thus, it is expected that the history teacher, when teaching Military Dictatorship, allows students a formation permeated by democratic experiences and stimulus to autonomy in the construction of their own knowledge and acting in the present world. Keywords: Historical Consciousness. Military Dictatorship. Autonomy. Democracy. 12 LISTA DE IMAGENS IMAGEM 1 - Desenho violência policial durante a Ditadura Militar grupo 1…..…………...68 IMAGEM 2 - Desenho violência policial durante a Ditadura Militar, grupo 2….…………...68 IMAGEM 3 - Desenho violência policial durante a Ditadura Militar, grupo 3….…………...69 IMAGEM 4 - Desenho violência policial durante a Ditadura Militar, grupo 4…..……….….69 IMAGEM 5 - Desenho censura durante a Ditadura Militar, grupo 1………………………...70 IMAGEM 6 - Desenho censura durante a Ditadura Militar, grupo 2………………..……….70 IMAGEM 7 - Desenho censura durante a Ditadura Militar, grupo 3………………………...70 IMAGEM 8 - Foto de ato em defesa da educação……………………………………………85 IMAGEM 9 - Foto de poesia para Matheus…………………………………………………..87 13 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AEE – Atendimento Educacional Especializado AERP – Assessoria Especial de Relações Públicas AI – Ato Institucional ALN- Ação Libertadora Nacional AP – Ação Popular AP-ML – Ação Popular Marxista Leninista BNCC- Base Nacional Comum Curricular CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior CCC- Comando de Caça aos Comunistas CENIMAR – Centro de Informações da Marinha CEPAE - Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação CIE – Centro de Informação do Exército CISA – Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica CODI-DOI – Destacamento de operações e Informações- Centro de Operações e Defesa Interna COLINA – Comando de Libertação Nacional DCDP – Divisão de Censura de Diversões Públicas DC-GO – Documento Curricular para Goiás DF - Distrito Federal DI –GB – Dissidência – Guanabara E.E – Escola Estadual ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio FH – Faculdade de História HUGO – Hospital de Urgências de Goiás IBAM - Instituto Brasileiro de Administração Municipal IH – Instituto Histórico IPES – Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais LGBTQI + - Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, trans, queers, peansexuais, agêneros, pessoas não binárias e intersexo por mais visibilidade MAR – Movimento de Ação Revolucionária MNR – Movimento Nacionalista Revolucionário MOLIPO – Movimento de Libertação Popular 14 MR -8 – Movimento Revolucionário 8 de outubro ORM – POLOP – Organização Revolucionária Marxista Política Operária OS `s – Organizações Sociais PCB – Partido Comunista Brasileiro PCBR – Partido Comunista do Brasil PCdoB- AV- Partido Comunista do Brasil PCR – Partido Comunista Revolucionário PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência POC – Partido Operário Comunista PPGEEB - Pós-Graduação Ensino na Educação Básica PPP - Projeto Político Pedagógico PRT – Partido Revolucionário dos Trabalhadores REDE – Resistência Democrática SNI – Serviço Nacional de Informação UFG – Universidade Federal de Goiás UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro VAR – PALMARES – Vanguarda Armada Revolucionária- Palmares VPR – Vanguarda Popular Revolucionária 15 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 18 1. CAPÍTULO I - POR UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA: O ENSINO DE HISTÓRIA E A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA SOBRE A DITADURA MILITAR NO BRASIL. 25 1.1 - O ensino de história, a consciência histórica e o cotidiano escolar. 25 1.1.1 - Por uma escola democrática: As experiências dos movimentos de ocupação das escolas em 2015/2016. 33 1.1.2 - O processo de discussão e registro do estudo sobre a Ditadura Militar no Brasil na escola. 37 1.2. A Ditadura Militar no Brasil: Discussão historiográfica e o ensino da história na escola. 43 1.2.1 - Acesso aos arquivos de documentação sobre a Ditadura Militar no Brasil. 50 1.2.2 - O Ensino da Ditadura Militar na escola. 51 2 CAPÍTULO 2: ENSINO DE HISTÓRIA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: UMA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM SOBRE A DITADURA MILITAR DO BRASIL. 54 2.1 - Projeto PIBID História: Os personagens da Ditadura Militar no Brasil. 55 2.1.1 - O PIBID/ História chegando à escola. 55 2.1.2 - Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil. 62 2.2 - Análise da abordagem dos grupos. 72 2.2.1 - A construção de narrativas e a consciência histórica: Memória de tortura censura, trauma e resistência. 72 2.2.1.1 - Grupo: Resquícios da Ditadura Militar: Memórias de Tortura. 73 2.2.1.2 - Grupo: Censura às artes e aos meios de comunicação. 76 2.3 - As experiências dos grupos de trabalho: a construção da autonomia e consciência histórica. 90 3 - CAPÍTULO 3: UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA: ENSINAR SOBRE DITADURA COM DEMOCRACIA 94 3.1 - Apresentação 94 3.2 - SEQUÊNCIA DIDÁTICA 1: ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO CARTAZES POLÍTICOS 95 3.2.1. Índice Sequência didática 1 96 16 3.2.2 Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil 97 3.2.3 Aula 1: DITADURA MILITAR NO BRASIL? 97 3.2.4 Aula 2: LIBERDADE DE EXPRESSÃO! 98 3.2.5 Memórias inconclusas e a luta por um mundo melhor 99 3.2.6 Aula 3: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA: UM DESAPARECIDO POLÍTICO 99 3.2.7 Aula 4: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA E A VIOLÊNCIA POLICIAL 100 3.2.8 Os cartazes dessa história 101 3.2.9 Aula 5: A HISTÓRIA NAS PAREDES 101 3.2.10 Aula 6: OS CARTAZES DA NOSSA HISTÓRIA 102 3.2.11 Atividades da Sequência Didática 1 103 3.2.12 Atividade 1: Marco Antônio Dias Baptista e a violência policial 103 3.2.13 Atividade 2: ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA 104 3.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA 2: ENSINAR DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO VÍDEOS NA ESCOLA109 3.3.1 Índice Sequência Didática 2 110 3.3.2 A escrita do Roteiro 111 3.3.3 Aula 1: OFICINA DE ROTEIRO I 111 3.3.4 Aula 2: OFICINA DE ROTEIRO II 114 3.3.5 Produção, filmagem e exposição dos vídeos 115 3.3.6 Aula 3: OCUPANDO E FILMANDO OS ESPAÇOS DA ESCOLA 115 3.3.7 Aula 4: MOSTRA DE VÍDEOS 115 3.3.8 Atividades da Sequência Didática 2 116 3.3.9 Atividade 1: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR. 116 17 3.3.10 Atividade 2: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR 118 CONSIDERAÇÕES FINAIS 120 ANEXOS 126 APÊNDICE 1 – Produto Educacional: Ensinar sobre ditadura com democracia 18 INTRODUÇÃO Esta investigação se inicia a partir de observações do cotidiano de uma escola pública de ensino fundamental, como professora-pesquisadora de história. E de inquietações acerca do processo de ensino/aprendizagem sobre a Ditadura Militar do Brasil nessa instituição. Tema sensível que instiga contradições e traz para a sala de aula as polêmicas, os discursos e embates que evidenciam uma crise geral: de uma memória histórica nacional própria ao regime militar e de uma escola como detentora da nobre tarefa de transmitir os conhecimentos históricos e preceitos sociais das antigas para as novas gerações. Circulam nas principais mídias sociais, ideias e opiniões diversas e opostas sobre esse tema no Brasil, tendo como pano de fundo a disputa de um discurso da “verdade”. A escola pública tem sido vista como uma instituição, assim como a Universidade pública, que corrompe as crianças e jovens que estão à disposição de professores que abusam de uma “escuta cativa” dos alunos e os oferecem uma educação “militante”. Os professores da área de humanas e de história atualmente se encontram cada vez mais isolados na escola e muitas vezes evitando assuntos “polêmicos”, mas, ao mesmo tempo, extremamente necessários, para a formação integral desse aluno, pois se estabeleceu uma rede de vigilância para que esse profissional da educação não saia do seu papel tecnicista de transmissor de conteúdos. Criando relações de autoritarismo e hierarquia, baseadas na execução e repetição de tarefas, no medo do diálogo e na desconfiança entre professor e estudante. Mas momentos de crise também trazem novas reflexões, e investigar uma nova forma de ensino e aprendizagem de história sobre a Ditadura Militar é relevante, na medida em que esse tema abarca muitas questões que ainda permanecem na nossa sociedade. O professor ao invés de se intimidar deve buscar um novo ou aprofundado olhar sobre o ensino desse tema, envolvendo os sujeitos escolares a partir do cotidiano da escola. Percebendo nesses conflitos e contradições a potência de transformação da consciência histórica dos sujeitos, fortalecendo práticas e relações de autonomia entre os pares e com o conhecimento, tão importantes para a construção de uma sociedade democrática. Essa pesquisa buscou analisar a partir do desenvolvimento e dos resultados gerais do projeto do Programa de Iniciação à Docência (PIBID), desenvolvido na escola campo, em parceria com a Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás, durante o ano de 2017, como os estudantes de uma escola pública, a partir do processo de construção de uma 19 consciência histórica acerca da Ditadura Militar no Brasil, conseguem perceber permanências e transformações desse passado no seu presente, e alterar essas permanências. E assim atuando na organização do seu espaço cotidiano (a escola) de forma mais autônoma e na busca por um conhecimento do passado que lhes façam se orientar e desenvolverem a ideia de pertencimento daquela história, sociedade e comunidade local. Jorn Rüsen, segundo Schmidt, Barca e Martins (2010) estabelecem relações entre a Didática da História e o processo de construção da consciência histórica e espaço de memória para a formação de um sujeito educando autônomo. A ênfase do projeto se dá a partir do olhar dos estudantes a respeito desse conteúdo específico, e da relação que eles estabelecem com os monitores, com a professora regente de história e com os espaços da escola sendo esses sujeitos escolares analisados a partir da sua realidade, considerando-se sua heterogeneidade e as experiências, referências e conhecimentos que eles trazem para o ambiente escolar. Partimos, então, para o questionamento sobre que tipo de conhecimento esse sujeito escolar traz sobre a Ditadura Militar no Brasil: a quais informações ele tem acesso? Quais as relações que ele estabelece com o passado ditatorial e o seu cotidiano no presente? Deve-se estabelecer uma análise da relação desses sujeitos com a disciplina História e com os conteúdos já estudados, para compreender como os conhecimentos são transmitidos e apresentados também por professores ao longo da história escolar do estudante, em suas inter-relações. Rüsen (2010, p. 140) afirma que “consciência histórica é uma categoria geral que não apenas tem relação com o aprendizado e o ensino de história, mas cobre todas as formas de pensamento histórico, através dela se experiência o passado e se o interpreta como história”. O principal objeto da Didática da História é, portanto, a investigação da aprendizagem histórica, porém não se limita a ela sendo a consciência histórica uma categoria geral de como o sujeito experiência o passado e o interpreta como história. Sobre essa problemática vale, ainda, ressaltar que o tema da Ditadura Militar foi escolhido como abordagem pelo fato de estar contido no currículo das séries finais do ensino fundamental II. Na maioria das vezes, essa temática é abordada de forma superficial e no final do ano letivo. Ao longo dos anos percebe-se um processo de precarização do trabalho do professor na escola, pressionado a trabalhar “todo o conteúdo” do currículo, deixando pouco ou nenhum tempo para uma maior liberdade de criação de atividades, ou de projetos transdisciplinares ou interdisciplinares. Projetos como o PIBID ou Residência Pedagógica trazem uma maior dinamicidade para esse professor, e para a possibilidade de o aluno entrar 20 em contato com novos conhecimentos e se aprofundar em temas específicos que muito contribuem para a sua formação. Ainda vale destacar que o estudo histórico sobre o período da Ditadura Militar é recente, o que dificulta ainda mais uma abordagem mais abrangente em sala de aula. Os estudos sobre o Golpe de 1964 e o regime militar eram divididos em dois momentos: uma primeira fase inspirada pela vertente norte-americana da Ciência Política, em que muitos estudiosos buscavam explicar, em termos nominalistas, as crises militares no Brasil e uma segunda fase memorialística — a primeira tentativa de construção de uma narrativa histórica sobre o período, de acordo com Fico (2004). Enquanto os historiadores tiveram acesso a arquivos e depoimentos que, antes, eram sigilosos, várias perspectivas surgem na pesquisa histórica, como, por exemplo, as análises marxistas ou a valorização do papel dos militares. Entretanto, esse movimento ainda se mostra incipientejá que todo conhecimento produzido sobre o período histórico da Ditadura Militar ainda não se aplica ao estudo escolar, segundo Fico (2004). Assim, discutir essa temática em sala de aula é um desafio, pois, além da dificuldade conceitual na produção historiográfica, temos o desafio de trazer esse conhecimento acadêmico para o ambiente da escola. Outro aspecto que deve ser considerado é que a temática remete a um período do nosso passado recente silenciado em grande medida. Quais seriam os principais marcos desse período para os estudos desses temas na escola? Essa pesquisa identificou três marcos para se pensar e retomar o estudo da Ditadura Militar na escola, devido a estudos atualizados sobre os temas, e a existência de diversas confusões acerca dos mesmos: O Golpe civil militar de 1964; O significado do Ato Institucional número 5 para movimentos de oposição ao regime sejam eles da luta armada ou dos grupos de minorias que muito foram perseguidos pelos militares: movimento indígena, negro e de mulheres, além da censura e concomitantemente o colaboracionismo da imprensa ao regime. Outro ponto seria a transição do regime ditatorial para a democracia, de forma conciliatória (Lei da Anistia) silenciando uma parte do movimento pelo fim da Ditadura Militar. O relativo desconhecimento, reforçado pelo trauma político do período da Ditadura Militar no Brasil, intensifica diversos conflitos como, por exemplo, a disputa dos conceitos básicos sobre o ano de 1964 ser considerado um golpe militar, um golpe civil militar ou uma revolução militar. Outra consequência da falta de sentido histórico é a naturalização da violência policial, principalmente nos grandes centros urbanos, fato diretamente relacionado, 21 por exemplo, no consentimento civil ao exército brasileiro, da proibição do exército brasileiro a documentos oficiais da época, dentre outras dificuldades. Essas disputas refletem, em certa medida, o trauma desse período, evidenciando a necessidade de elaboração do nosso passado com a crítica ao presente prejudicado, para evitar que esse passado se mantenha ou se repita. Portanto, o estudo sobre períodos traumáticos — Ditadura Militar, escravidão —, deve ser realizado com uma reflexão cuidadosa para que confusões, vazios de discurso e atenuações de situações injustificáveis não se solidifiquem no conhecimento discutido em sala de aula. O ensino da história, assim, deve vir atravessado por responsabilidade social perante os estudantes. O professor deve se comprometer com o passado a ser apresentado e se preparar com pesquisas e estudos, conhecendo a base do que se propõe a ensinar, para ter clareza do que e de como ensinar. Para que isso se efetive, além de valorizar o conhecimento prévio do estudante, deve-se, sobretudo, estabelecer um conhecimento significativo para esse estudante relacionando-o com suas vivências e, gradualmente, desenvolver ideias mais aprofundadas acerca do conhecimento histórico. O principal objetivo na Didática da História é elaborar uma orientação relacionada com a construção da identidade de cada um e, também, organizar a própria atuação nas lutas coletivas no presente. Na medida em que o estudante tem acesso a um aparato conceitual da história, esse jovem se desenvolve de forma objetiva, fundamentado na análise crítica da evidência e de suas próprias interpretações de mundo social, permitindo que, assim, melhor se oriente no seu tempo. Para Rüsen (2010), aprender história significa contar a História, isto é, significa narrar o passado a partir da vida no presente. No processo de construção de conhecimento, não se deve perder de vista o objetivo de formação emancipatória. O sujeito orientado no tempo possui a capacidade de autonomia no que se refere à prática social e ao exercício do pensamento, elementos necessários à prática educativa emancipatória. Esse sujeito autônomo busca o seu próprio caminho de aprendizado, onde se emancipa a partir do seu método, do seu objeto de interesse, mantendo a potência da exposição ao mundo com todas as contradições necessárias para se ter uma experiência entre iguais. Nesse processo, o professor tem o papel de interrogar, de provocar a manifestação do que o estudante se torna capaz. O professor deve aumentar a visão de mundo, expor outros sentidos ao estudante. Deve também garantir um espaço para renovar a ordem social, para habitar o mundo de outra maneira. (KOHAN, 2017). 22 Desta forma como professora de história da escola campo que foi analisada, me tornei pesquisadora também da minha própria prática em busca de novas referências no significado do ensino aprendizagem de história, nas relações que podem ser cultivadas com os estudantes e no incentivo a constituição de um sujeito que estabeleça relações com o conhecimento histórico, que se efetive em uma transformação da sua realidade. Portanto, essa pesquisa partiu da perspectiva da construção do conhecimento histórico sobre a Ditadura Militar a partir da autonomia do aluno e de vivências em um ambiente democrático. É pela perspectiva da criação de narrativas produzidas pelos alunos ao longo do decorrer do ano letivo, sejam desenhos, testemunhos transcritos ou gravados, relatos, cartazes políticos ou pequenos vídeos, experiências de aprendizagem histórica que aconteceram dentro de um contexto político, cultural, social e institucional. A pesquisa analisou como foi o processo de construção de uma consciência histórica nos estudantes das turmas dos 9º anos da escola — campo acerca da Ditadura Militar no ano de 2017. Durante os quatro encontros mensais foram desenvolvidas atividades em diversos espaços da escola e fora da sala de aula, de forma horizontal e democrática. Os diálogos, produções e debates foram, na medida do possível, filmados e relatados. Todo o material produzido e gravado pelos estudantes foi utilizado para a análise final de cada grupo de pesquisa. E partindo da investigação do conhecimento prévio dos estudantes acerca da Ditadura Militar no Brasil, foram selecionados dentro do escopo da Ditadura Militar dois subtemas principais que mais chamaram sua atenção e que mais se relacionaram, sem dúvida, com o presente dos estudantes: A permanência de uma violência policial constante contra a juventude marginalizada e a censura dos meios de comunicação e expressões culturais. A partir dos subtemas se destacaram os processos de seleção de fontes históricas e de formas de registro dos encontros dos grupos, que eram semanais. Na maioria dos grupos se estabeleceram relações democráticas de horizontalidade e liberdade de expressão de opiniões. Buscou-se ampliar o repertório dos grupos a partir de análise de trechos de testemunhos de vítimas da tortura e da leitura de relatos de colaboradores da tortura. Teve-se acesso as peças de teatro que foram alvo da censura e também se problematizou o documento oficial que justificava essa mesma censura. Assistiram a documentários de desaparecidos políticos e trechos de vídeos da Comissão da Verdade que, entre outras atividades, investigou o local em que se encontram os indícios dos corpos dessas vítimas além de convidarem familiares de desparecidos políticos para uma roda de conversa. 23 A escola precisa elaborar novas frentes de conhecimento e de ligação entre o jovem, o mundo e a própria escola. Os estudantes buscam, cada vez mais, participar, intervir e criar conhecimentos nos espaços educativos e a tecnologia pode propiciar essa mudança no ambiente escolar. O processo de desenvolvimento do projeto na escola deixou clara a necessidade de se buscar novas formas de diálogo com os estudantes, estabelecendo novas formas de se buscar os conhecimentos históricos. A Ditadura Militar traz uma ótima oportunidade de se vivenciar na prática a democracia a partir de um momento de profundo autoritarismo político. A sequência didática buscou fornecerelementos para que o professor de história possa estabelecer momentos diversos em que os estudantes a partir das suas realidades, participem ativamente da escolha do caminho do aprendizado que eles percorrerão. Ao final foi disponibiliza uma proposta de sequência didática que forneça ferramentas para que o educador trabalhe essa temática na escola, inspirando-se em atividades que foram significativas para os estudantes e participantes do projeto e que se adéquam à realidade de professores de história de qualquer escola de ensino fundamental. O primeiro capítulo se inicia na análise da relação entre ensino de história e formação de consciência histórica do estudante. Examina a formação desse sujeito escolar e defende uma escola pública em que o estudante exerça o livre pensar e criar na busca por autonomia e emancipação. Também, buscou-se discutir a relação entre o ensino de história, o uso da linguagem audiovisual, a partir de uma perspectiva da Mídia-Educação, no estudo da Ditadura. Percebendo a presença de diversos dispositivos tecnológicas na escola, principalmente o celular, que permite o registro, no hábito de “filmar” cenas do cotidiano escolar, pelos estudantes. Cabe destacar que o projeto de estudo, utilizou basicamente o registro de vídeos e fotos registrados pelos celulares dos estudantes, monitores e participantes da proposta, o que muito colaborou para sua análise posterior. No segundo momento foram trazidas discussões dos mais recentes estudos sobre Ditadura Militar no Brasil, sua constância no debate nacional atual, advindo principalmente por grupos da direita conservadora no Brasil que relativizam conceitos e marcos desse passado, trazendo sérias consequências para os estudos históricos desse período. Por fim se atenta à importância de se trabalhar esse conteúdo em sala de aula nas aulas de história. Elaborando as marcas deixadas por esse período com os estudantes na formação de uma consciência histórica que possibilite agir em uma sociedade que permanece, pois, também herdaram desse momento, traços de autoritarismo e diversas violências cotidianas. 24 O segundo capítulo descreve e analisa as etapas de desenvolvimento do projeto PIBID/História na escola campo, além de fazer uma diagnose da última, buscando contextualizar a importância de projetos de extensão na escola pública para os estudantes do ensino básico e para os futuros professores de história, estudantes de graduação. A análise foi dividida em dois momentos de análise das atividades mais significativas do projeto ao longo do ano letivo. Destacaram-se alguns elementos como: o protagonismo dos estudantes, a experiência da autonomia em relação aos espaços da escola e a construção do seu próprio aprendizado e a constituição de vivências democráticas e de participação política no espaço escolar. O terceiro capítulo consiste na proposta de uma sequência didática que traz um roteiro de como se trabalhar o tema da Ditadura Militar com práticas de democracia na escola. Os planos das aulas se fundamentaram nas discussões teóricas e atividades analisadas no primeiro e segundo capítulos e que se mostraram mais significativas para os estudantes. Por fim nas considerações finais foram expostas as principais contribuições da pesquisa ao ensino de história sobre a Ditadura Militar no Brasil, que se atenta à importância de se trabalhar esse tema em sala de aula e nas aulas de história. Com experiências que promovam a autonomia dos sujeitos educandos, elaborando as marcas deixadas por esse período. Contribuindo na formação de uma consciência histórica que possibilite o agir em uma sociedade democrática, mas que ainda mantém — pois, também herdaram desse momento, características de autoritarismo e inúmeras violências cotidianas. 25 1. CAPÍTULO I - POR UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA: O ENSINO DE HISTÓRIA E A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA SOBRE A DITADURA MILITAR NO BRASIL. 1.1 - O ensino de história, a consciência histórica e o cotidiano escolar. Compreender a importância do ensino de história em nossa sociedade traz uma primeira reflexão ao professor: para que ensiná-la, afinal? A história traz em suas origens uma ideia de afirmação da identidade nacional em um mundo global de identidades fluidas, uma identidade coletiva que se mostra cada vez mais desagregada. Atualmente vivemos uma crise ligada ao problema da identidade. Ao mesmo tempo que o nacionalismo ainda marca grande parte da vida escolar do estudante que, por exemplo, aprende o hino nacional na semana da independência, ou a biografia de “heróis” como Tiradentes e Dom Pedro I, conhece as cores e significado da bandeira nacional, enfeita a escola de verde e amarelo em ano de Copa do Mundo, conhece culturas e tradições regionais na época da Festa Junina, entre outros momentos. Esse sujeito também vive uma realidade de crise econômica, disputas políticas, falta de perspectivas profissionais de inserção no mercado de trabalho, pressões sociais, entre outros problemas, que o levam muitas vezes a “desacreditar” num progresso coletivo nacional. Em nossa sociedade a construção de identidade (da infância à vida adulta) acaba se vinculando a história escolar, que abarca grande parte da vida do estudante nesse momento de formação de identidade do indivíduo. Na escola devemos considerar esse momento de “entrave”, problematizar questões que trazem ações que auxiliem o estudante a aprender a reconhecer a sua história e produção de um nacionalismo e, ao mesmo tempo, identificar os limites, problemas e avanços que a formação de uma consciência histórica nacional impacta em sua realidade social. Compreender que a formação de um nacionalismo, passa pelo processo de criticar momentos históricos cristalizados em nossa própria história. (CERRI, 2011, p. 110). Nesse sentido, o ensino de história na escola faz o trabalho de memória e não de racionalização (CARRETERO, 2007). Havendo uma convivência conflitiva entre história escolar e história como disciplina que busca alcançar o conhecimento científico do passado. Para o debate da consciência histórica (CERRI, 2011), porém, não se espera pela escola para ter uma orientação temporal, ela se inicia muito antes da escolarização, a criança chega à escola com ideias de mundo e preconceitos estabelecidos. 26 Nesse sentido, o ensino de história tem a função de orientação no tempo do ser humano e na prevenção da formação de identidades não razoáveis, no alargamento de horizontes e aumento das formas plurais de pensamento, preparando o indivíduo para que ele não seja captura tão fácil para manipulações de interesses alheios. As identidades não razoáveis que devemos prevenir trazem como características identidades baseadas em um nacionalismo cego, em um cientificismo que se apropria da verdade como dogma. (CERRI, 2011). O ensino de história busca, sobretudo, por uma identidade baseada em uma razão relacional, comunicativa e dialógica, na interação entre sujeitos buscando um consenso mínimo. Esse consenso se torna possível de ser construído, respeitando ao máximo as diferenças, evitando as indiferenças em relação a uma coletividade, superando a intolerância, visando e a construção de uma responsabilidade e a vivência respeitosa pelos outros sujeitos. Ao ensinar história nas escolas temos condições de possibilitar aos estudantes o debate, a negociação, o confronto, a abertura, a ampliação e a transformação de uma consciência histórica já formada, antes desse sujeito chegar à escola, através dos meios de comunicação, criação familiar e outros elementos que devemos considerar na educação histórica. A história na escola acumula as funções de colaborar para haver um estabelecimento de sentidos entre o passado e o presente. Ler e interpretar o mundo através da própria consciência histórica pode levar os estudantes a também divergir da opinião do professor, que deveriapartir de uma concepção freiriana destacar o diálogo, rever suas próprias concepções e também aprender com esse sujeito. Torna-se fundamental que o professor se envolva nesse processo educacional dialógico. (...) O respeito à autonomia e a dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. (...) è nesse sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente sendo exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos. (FREIRE, 2018, p. 58-59). A partir da relação do ensino de história e do desenvolvimento da consciência histórica, como uma forma de consciência relacionada com a vida humana prática, sendo o elemento tempo fundamental nesse processo, o ser humano precisa se apropriar do tempo para realizar mudanças no seu agir no presente. A consciência histórica vai passando por uma mudança estrutural ao longo da aprendizagem histórica, em que competências são adquiridas de forma progressiva, mudando a forma com que lidamos e utilizamos a experiência e o conhecimento da realidade do passado, transitando entre as formas tradicionais de pensamento ao modo genético. (RUSSEN, 2010). 27 O desenvolvimento da consciência histórica se torna um pré-requisito para mediar os valores e a realidade pela ação do sujeito, compreender a realidade passada para compreender o próprio presente. A consciência histórica através da elaboração de uma narrativa propícia ao sujeito se referir ao passado, compreender o presente e avaliar uma perspectiva futura. Sua função prática é de uma orientação temporal, interna e externa. A narração, ou o relato de uma história, é uma competência específica e fundamental para a consciência histórica, que se desenvolve ao longo da vida do sujeito, e busca dar sentido ao passado, se define em três elementos que constituem uma narração histórica: 1) em relação ao conteúdo, a competência para a experiência histórica; 2) em relação à forma, a competência para interpretação histórica; e 3) em relação à função, a competência para orientação histórica. Esses três elementos trazem a competência narrativa, em linhas gerais, uma maior sensibilidade histórica, uma noção de temporalidade da vida humana e a capacidade de guiar a ação através de noções de mudança temporal, mobilizando a memória histórica, articulando a identidade humana com o conhecimento histórico, combinando a identidade no enredo e na própria história concreta do conhecimento histórico. (RUSSEN, 2010) A Narrativa histórica é uma competência essencial à consciência histórica, e é uma habilidade para narrar uma história pela qual a vida prática recebe uma orientação no tempo. (RUSSEN, 2010). Na teoria da didática da história, se desenvolve uma tipologia com quatro tipos de consciência histórica, que para o ensino de história se torna importante, porém não é um objetivo da educação histórica formar a consciência histórica dos estudantes, mas possibilitar o diálogo, o debate e a abertura para a reelaboração de atribuir sentido ao tempo. Se pensarmos em como o conceito de consciência histórica influi sobre os objetivos educacionais, o conceito de competência narrativa é muito mais importante. O objetivo da educação histórica, não é formar uma consciência histórica, no sentido de pressupor que ela não existe no educando, para poder cria-la. Também não é fazer com que todos” cheguem” ao nível da “consciência histórica genética”, por que as pessoas não são ou estão em um dos tipos de geração de sentido histórico. Uma forma de geração de sentido pode ser predominante ou mais frequente nas narrativas produzidas por um grupo. (CERRI, 2011. p.128-129). Para fins dessa pesquisa, faz-se importante identificar os quatro tipos de consciência histórica, sendo elas: o tradicional, exemplar, crítico e genético. Eles se relacionam com os seis elementos e fatores que constituem cada uma delas sendo: 1) seu conteúdo; 2) as formas de significação histórica; 3) o modo de orientação externa, 4) o modo de orientação interna; 5) a relação de orientação histórica com os valores morais e 6) sua relação com a razão moral. Sendo o ponto de partida do ensino de história o cotidiano imediato do estudante, não podemos perder de vista os temas que trazem as ideias de alteridade e diversidade como 28 fundamentais nesse ensino. A aprendizagem escolar da história é, sobretudo, aprendizagem da identidade coletiva mais ampla (CERRI, 2011 p. 121). Também, os temas distantes ou sensíveis são elementos primordiais na formação do estudante como cidadão, com uma visão crítica da nossa sociedade, conhecer formas de vida, organizações e povos diferentes e distantes. Ter uma cultura de conhecimento do outro se faz fundamental para o próprio conhecimento e o exercício do respeito que se adquire muitas vezes com o saber histórico. (CERRI, 2011) Portanto, a história na escola contribui de diversas maneiras, desde a compreensão da própria realidade e a formação da identidade, a compreensão da diferença, da alteridade, na elaboração de uma perspectiva do passado. Reconhecer projetos vencidos, da história das ideias do mundo, trazendo ao estudante outras formas de se pensar a organização social, estimulando a mente para imaginar o mundo diferente e atuar para a construção desse mundo, sendo estabelecido, sobretudo pela ação humana de forma coletiva. As experiências do tempo presente é o impulso para que o sujeito recupere esse passado em busca de orientação na vida prática atual. O ensino de história contribui para a formação da consciência histórica, desenvolvendo competências narrativas, não tendo necessariamente um ponto de chegada e nem mesmo um caminho preestabelecido. Torna-se necessário incluir nesse debate o conceito de sujeitos escolares, cotidiano escolar o conhecimento escolar. A constituição do sujeito educativo tem como base sua, relação com o conhecimento produzido no espaço escolar, a partir da participação do sujeito na constituição da situação escolar e, ao mesmo tempo, a constituição do próprio sujeito por esta participação, mediado pelos conhecimentos escolares. (EDWARDS, 1993) O sujeito que chega à escola é heterogêneo, e, sobretudo um ser do cotidiano; a vida se desenvolve em sua forma imediata, a partir de em um conjunto de atividades, o sujeito tem acesso a realidades não imediatas a partir do cotidiano. O cotidiano escolar de pequenas atividades constantes, repetitivas e imediatas é em grande medida o ponto de apoio do estudante com a sociedade. Um sujeito social, numa relação de mútua interação, ele se constitui e constitui o mundo mediado pelas significações sociais, como a linguagem, por exemplo. Outra esfera que forma o sujeito é a de classe social, ele ou ela pertence a uma classe social, a setor específico, a uma divisão social e técnica do trabalho, que o situa numa posição social. O sujeito está determinado por suas condições cotidianas de vida, pela classe à qual pertence, pelo grupo imediato através do qual pertence a ela, pelo lugar que ocupa na 29 divisão do trabalho, por seu lugar na família e por sua história escolar... Em parte. Em parte, por que o sujeito também contribui para a constituição de todas essas situações. (EDWARDS, 1993. P.15) Em nossa sociedade capitalista a dimensão da alienação do sujeito, como uma consciência irreflexiva em relação a sua dependência dos poderes nos quais se apegou, determina as relações sócias de produção, o sujeito assim se apropria da alienação ao nascer em um mundo já feito, isso é o que lhe permite uma nova elaboração que inclui e nega (EDWARDS, 1993). A superação dessa alienação é um processo de conquista permanente, esse sujeito, portanto, se mostra multifacetado, incoerente e heterogêneo,determinado pelas mesmas estruturas, mas a particular elaboração do sujeito faz as consequências das múltiplas determinações serem diferentes em cada sujeito. O sujeito escolar, portanto, faz parte e constitui o ambiente escolar, que possui desde a sua criação função e forma apropriada. Partimos da análise do significado da escola na contemporaneidade, dos sujeitos que a constituem, as relações que estabelecem com o conhecimento, a partir de um cotidiano que esse espaço escolar proporciona a esses sujeitos no desenvolvimento de uma consciência histórica. Analisar o conhecimento produzido no espaço escolar se torna necessário, pois demonstra na maioria, ser realizado entre pares, estudante-estudante, estudante-professor, professor-estudante, essas formas de conhecimento mostram sujeitos construindo sua própria relação com a realidade. As formas de conhecimento, apesar de as maiorias das propostas educacionais oficiais proporem o contrário, não são transmitidas somente de forma geral e abstrata, pois possuem um determinado sentido de interação entre a lógica do conteúdo e a lógica da interação das relações sociais na escola. Os conhecimentos são construções históricas, relativas e expressam diferentes visões de mundo. Edwards (1993) define de forma esquemática três tipos de conhecimento escolar, sendo eles a tópica, operacional e situacional. A escola, portanto, abarca como instituição de visões contraditórias e heterogêneas, em relações com o conhecimento que se constroem de forma exterior ou de forma interior. A relação de exterioridade do conhecimento referente ao sujeito se dá no conhecimento tópico e operacional, em que o estudante produz uma simulação da apropriação do conteúdo. A relação de interioridade do sujeito estabelece uma relação significativa com o conhecimento em que se necessita da ampla participação do estudante, não só para repetir ou decorar, mas, sobretudo para produzir conhecimento. 30 Vale ainda destacar a importância das três categorias de conhecimento desenvolvida por Edward (1993), sendo o conhecimento tópico caracterizado, por apresentar um caráter de verdade incontestável, se utilizando de uma linguagem estranha aos estudantes, por exemplo, a científica. Apresenta-se mais por termos do que de conceitos, sendo que se dá muita importância para a nomeação correta do termo isolado, ou em uma determinada ordem, ou sequência. As respostas são únicas e precisas, sendo a elaboração do estudante excluído desse processo. O Conhecimento como operação, se apresenta numa linguagem científica e técnica, buscando superar a lógica do conhecimento tópico, esse conhecimento busca eficiência e permite uma economia do pensamento a partir de uma aplicação rápida. Esta se dá partir da apresentação de certos conhecimentos gerais, sendo aplicadas em situações específicas para se obter um produto. O terceiro tipo de conhecimento escolar, o situacional, inclui o sujeito para quem significa. Apresenta-se em torno do interesse do conhecer uma situação. Sendo que uma realidade se constitui uma situação para um sujeito, ela faz referência a um conjunto de relações a partir do sujeito e a envolve nelas. A referência para o sujeito é o mundo que o assim significa, mediado pela situação. Os diferentes tipos de conhecimento escolar desenvolvidos por Edwards podem acrescentar a discussão do papel da história ensinada a partir dos conceitos de consciência histórica e competência narrativa. Sendo o ponto de partida para o estudo da história como uma disciplina escolar, a experiência vivida do cotidiano, e o espaço escolar como um dos principais espaços de vivência do estudante. Faz-se necessário também analisar a escola como uma instituição, não dicotômica, no encontro entre os elementos que fazem o sujeito escolar reproduzir as condições sociais e, ao mesmo tempo, muitas vezes resistir a reprodução dessas mesmas condições sociais. A ligação entre esses elementos com o sujeito que elabora a própria narrativa a partir do presente, do passado e busca uma atuação no futuro. Uma importante autora (HELLER, 1929) que analisa essa dinâmica dos sujeitos no cotidiano, afirma que, não existe “perfeita submissão” na sociedade, em qualquer tipo de instituição que represente a força da manipulação da burocracia ou da indústria cultural. A vida cotidiana é um lugar de dominação, mas de rebeldia e até mesmo de revolução. Os sujeitos escolares possuem sua existência concreta, e redefinem os lugares os transformando material e simbolicamente, pois onde quer que existam relações de poder e dominação, pode questioná- las, resistir e transformá-las. (PATTO, 1990) 31 Tirando a análise da escola desse lugar de dicotomia que em certa medida simplifica a realidade da escola. Que lugar a escola como instituição ocupa atualmente? O que faz da escola uma escola? É importante pensar a escola em um exercício de pensar o sentido de “trazer ao mundo” aspectos da escola, do estar na escola, do ordinário da escola de uma memória escolar em suas atualizações, do repetitivo na escola, enfim, de tudo o que a compõe e a faz existir como lócus para o espaço e tempo livre. (LARROSA 2017) A escola permanece em disputa no discurso e nas políticas atuais, por grupos que ora a classificam como ultrapassada a realidade moderna, anunciando seu abandono, ora afirmam sua importância histórica e geracional. Em todo caso, ela continua resistindo, potente na sua forma e função. A escola consiste, então, em uma associação de pessoas e coisas como um modo de lidar com, prestar atenção a, cuidar de alguma coisa obter e estar em sua companhia na qual esse cuidado implica em uma exposição. A escola nesse sentido é em si mesma a materialização de uma crença utópica: cada um pode aprender tudo. Sendo esse o ponto de partida. (MASSCHELEIN, 2017. p.22). Os sujeitos do cotidiano escolar, os estudantes e trabalhadores da educação são reunidos em um espaço público, a partir dessa perspectiva, em meio a um arranjo particular de pessoas, tempo, espaço e matéria. Não se pretende idealizar o passado da escola e nem muito menos retornar ao passado, mas, sobretudo problematizar a forma/função da escola. Utilizando uma linguagem particular, colocando a próxima geração como a nova geração, se buscando a emancipação dos sujeitos na sociedade (SIMONS, MASSCHELEIN, 2017). A escola, muitas vezes, se apresenta mais como uma de forma precária e provisória em relação à montagem de dinâmicas e relações heterogêneas, do que o reflexo de processos infra e supraestruturais de controle total (DUSSEL, 2017). Ainda afirma esse autor que mesmo nesse contexto provisório a escola ainda consegue se manter de pé e se estabiliza em alguns momentos. A regra da escola É essa estabilidade provisória que permite que a montagem produza certos efeitos, que podemos chamar, segundo Castells, subjetivações, mas que também podem remeter às aprendizagens e êxitos que se alcançam pela organização de instituições e fluxos sociais. É o movimento de uma rede social, que com muito trabalho se mantém junta e orientada. (DUSSEL, 2017) Escola como uma construção material, como uma montagem provisória, instável, de artefatos e pessoas, ideias, que capturou algumas dessas táticas e estratégias para educar o cidadão. Há muitos fazeres ordinários, cotidianos (Chartier, 2000), os quais é preciso destacar para analisar como é que esta consegue sustentar-se como instituição relativamente estável. (DUSSEL, 2017. P.92).Na escola que educamos a atenção, que se produz ou se promove, um tipo de trabalho e olhar para o mundo que não temos em outros espaços. A escola é um espaço de iguais, um 32 espaço de suspensão do tempo para profanar sobre o saber estabelecido, e convidar os sujeitos a questioná-los a partir de outros lugares. Mas quais seriam essas condições que tornam possível esse momento de suspensão e de desacato ao conhecimento reconhecido oficialmente? Um projeto de integração cultural traz a escolarização como parte fundamental desse processo. Uma educação da atenção, em que não se exclui, segundo Crary (2017), não se exclui a desatenção ou a distração. Em uma sociedade em que a atenção fragmentária e dispersa domina a indústria cultural e a sociedade da tecnocultura, em que medida a escola tem chances de trabalhar uma atenção que exige outras perspectivas e temporalidades (organização pedagógica e material da aula) de um mundo permeado pela lógica do consumo? (DUSSEL, 2017) Faz-se necessário trazer a escola como âmbito de construção do comum. Precisamos na escola ter momentos de atenção sobre as hierarquias e os algoritmos, a simplificação e o aplainamento do mundo, tendo espaços de trabalho com as tecnologias digitais, transformando em objetos de profanação, problematizar, questionar e olhá-las em diferentes perspectivas. Benjamin (2012) sugere que essas novas formas verticais da cultura reinstalam uma relação de culto religioso com os seus produtos. Olhamos as imagens de publicidade ou os meios com o mesmo fascínio com que e olhavam as imagens sagradas. Esse movimento de alerta sobre as tecnologias digitais nos fazem estabelecer um corte na padronização, isso fornece meios para novas montagens provisórias, cortes para novas montagens, podendo-se abrir o sentido em perspectivas consideráveis. Busca-se criar relações de horizontalidade, de igualdade, nesse acesso e problematização do objeto de cultura que é colocado em relação — sejam eles um texto, uma imagem ou um filme. A escola como o lugar de aprender a cortar, a deter-se, a criar uma série distinta, e exercitar-se nisso. Seria preciso ensinar a perdurar nesses gestos, e daí o valor do exercício cotidiano. “O elogio da precariedade” da escola passa por apreciá-la, cuidar dela, expandi-la, para que não se estabilize nem no efêmero, nem no descartável, mas como uma condição vital de uma montagem que está sempre à beira da destruição, mas também em movimento, aberto capaz de apresentar o mundo e de ajudar a criar montagens no futuro (DUSSEL, 2017). A escola como espaço de iguais deveria convidar todos a se aproximarem de novo, como nova experiência, desses objetos que habilitam um encontro distinto com o mundo, e permite a cada um apropriar-se dele, encontrar um lugar nele, acessar suas linguagens como modo de representação das experiências humanas. 33 1.1.1 - Por uma escola democrática: As experiências dos movimentos de ocupação das escolas em 2015/2016. Um local de suspensão, de profanação do conhecimento e de convivência em um lugar de iguais, traz nas experiências dos movimentos de ocupações das escolas em 2015, um exemplo desse movimento de estar aberto a novas montagens e da atualidade das escolas na sociedade contemporânea. Ao longo da história podemos observar diversas experiências educacionais democráticas em vários momentos históricos e países diferentes. A Escola Democrática, em geral, faz uma crítica à educação moderna tradicional que provoca a normatização e a sujeição do sujeito em uma sociedade disciplinar. Trazendo práticas que propiciam novas vivências no espaço escolar, como, por exemplo, uma gestão participativa, a partir de assembleias, votações e discussões de regras, com a participação de todos os sujeitos escolares. Possibilita também ao estudante uma maior liberdade na escolha do seu percurso de aprendizagem. Tendo a liberdade como meio norteador de todas as instâncias da escola, percebida como uma instituição que promove o exercício da democracia dos sujeitos. A partir das inúmeras experiências das escolas democráticas, retratadas no livro República das crianças de Helena Singer (2010), para esse estudo destacamos as experiências das escolas ocupadas no Brasil nos anos de 2015 e 2016, em São Paulo e em Goiânia, buscando esses elementos de vivências democráticas. O movimento de ocupação das escolas realizado por secundarista em 2015, que trouxe importantes práticas para se analisar a formação de consciência histórica a partir do cotidiano escolar. A partir do estudo de Antônia M Campos, Jonas Medeiros e Márcia Ribeiro, no livro Escolas de Luta (2016), em que os autores evidenciam e analisam algumas características desse movimento a partir da ocupação do espaço escolar, em protesto contra a reorganização das escolas no estado de São Paulo. Podemos perceber uma perspectiva diferente do uso oficial de uma escola, de apropriação do espaço escolar seja material, seja simbólico pelos estudantes que participaram desse movimento. Em uma ocupação, de forma geral, as pessoas se disponibilizam a viverem juntas em um determinado espaço de tempo, determinado ou indeterminado, tendo que se organizarem no 34 dia-a-dia suas necessidades de infraestrutura, alimentação, higiene, atividades culturais, para que as ocupações se mantenham vivas, portanto, para que o coletivo possa alcançar o seu objetivo neste caso, a derrubada da reorganização escolar, ou no caso de Goiás da implantação de Organizações Sociais (OS’s) empresas terceirizadas nas escolas estaduais. Os secundaristas assim tentavam conceber as ocupações como espaços democráticos e horizontais, buscando que a escola fosse um espaço diferente do que costumavam viver na escola. As ocupações foram geridas na maioria de forma horizontal, sendo que isso tende a fazer com que toda a atividade ou decisão, por mínima que seja se torne uma experiência no exercício da democracia e da horizontalidade. Através da assembleia emergiu o aprendizado no que se refere a conviver com opiniões diferentes e como é preciso exercer ao máximo a capacidade de compreensão, argumentação e síntese. O aprendizado percebido é de diferentes ordens: vai do político ao psicológico e rompe radicalmente com o que aprendiam nas escolas. (CAMPOS, MEDEIROS, RIBEIRO, 2016) Essa experiência causou rupturas quanto à obediência exigida pela escola, e a união rompeu com o individualismo da experiência escolar. Subverteu toda a lógica anterior das relações entre os estudantes, inclusive muitos vieram a se conhecer apenas nas ocupações. Na ocupação, os estudantes passam a se ver uns aos outros como pessoas com um interesse comum devido à mesma situação social compartilhada - a de ser um estudante de uma escola pública. Outra questão que chamou a atenção foi à contribuição dos movimentos de ocupação em relações as questões de gênero e o respeito e reconhecimento com as questões LGBTQI+. Foram observados sobre a questão de gênero que as meninas eram as mais indicadas pelos companheiros de ocupação para servirem de porta-vozes e frequentemente exerciam um papel informal de liderança dos grupos. Esta subversão das relações de gênero foi uma surpresa positiva e parte da experiência mais ampla de formação do coletivo unido. A formação em termos de igualdade de gênero e questões LGBTIQ+ aconteceu pelo contato com conhecimentos trazidos de fora pelas atividades educativas e culturais que aconteciam nas ocupações. Foram consideradas por muitos estudantes como oportunidades únicas de tratar de questões estigmatizados no cotidiano da juventude periférica, democratizando os espaços da escola. As ocupações se mostraram um processo de apropriação da escola, tanto concreto quanto simbólico, com um propósito de luta pela educação pública. Os estudantes passaram a ver os espaços e momentos de aprendizagem de forma mais ampla,como vivências de democracia a partir de aulas mais livres, participação da gestão escolar, nos conselhos escolares, 35 reivindicando a livre liberdade de expressão e o fim de métodos punitivos e atitudes discriminatórias da diretoria. (CAMPOS: MEDEIROS, RIBEIRO, 2016) As ocupações nas escolas mostraram que a experiência escolar e de aprendizado pode ser uma coisa prazerosa e que valorize e reconheça os estudantes como sujeitos e seres humanos, rompendo assim com o individualismo e padronização próprios da maioria dos processos de escolarização. As experiências com diversas oficinas, shows, rodas de conversa com voluntários nas ocupações contrastam com a falta de paciência, cuidado e acolhimento de muitos professores e gestão escolar. Segundo os autores, a partir das entrevistas e relatos podemos concluir que as ocupações nas escolas trouxeram para os estudantes em geral o desejo de uma escola que trate os alunos como seres humanos, que estimule a realização plena de suas capacidades intelectuais e inclua no seu papel social a formação de cidadãos (não somente trabalhadores). (E.E DR Eloy de Miranda Chaves- Facebook- 28/11/15). O que queremos? Uma educação de qualidade. Uma educação que nos ensine a pensar e não a obedecer. Queremos ser ouvidos, queremos continuar na escola que nós escolhemos, queremos mais qualidade nas escolas públicas. Queremos sim a chance de ter um bom preparo para passar na faculdade, mas sabemos que nossa educação não pode se limitar ao treinamento paras uma prova. “Aqui, dentro da ocupação ELOY, estamos tendo experiência de aulas mais livres, mais abertas, mais democráticas que todos estão convidados a participar.” (CAMPOS, 2016). As ocupações no estado de Goiás, no ano de 2015 também trouxeram em grande medida essas experiências retratadas nas obras do livro Escolas de luta. Em São Paulo a luta foi contra a reorganização escolar e em Goiás a luta foi contra a implementação das OS’s no gerenciamento das escolas públicas do estado. Como professora da rede estadual desde 2011, pretendi tecer algumas considerações sobre o que vivi como apoiadora desse movimento que considero de grande importância na história da educação em Goiás e particularmente, um “divisor de águas” na minha prática profissional, na busca constante da construção de uma relação democrática com os estudantes. Na transformação da visão do que, torna uma escola, de fato, uma escola, as relações dos sujeitos com o conhecimento, o que seria o conhecimento escolar produzido nesse espaço tão potente da escola. Os estudantes ao longo de diversos debates, reuniões públicas e manifestações compreenderam a urgência de se ocupar as escolas como uma estratégia urgente frente ao processo de abertura da licitação para a entrada de OS’s nas escolas. Em dezembro de 2015 foi ocupada a primeira escola na capital de Goiás, em seguida o movimento foi se massificando inclusive com o apoio de toda a comunidade em torno das escolas ocupadas e da sociedade em geral, além dos movimentos sociais da educação. Foram 36 ocupadas cerca de quinze escolas em todo o Estado, mas a quantidade não consegue abarcar o que acontecia em cada escola ocupada. Como apoiadora do movimento secundarista participei de algumas assembleias, atividades culturais, atividades de formação, aulas para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) entre diversas outras atividades em que foram ressignificando muitos símbolos da escola. Objetos de controle se tornaram objetos de resistência; como as cadeiras que em dias de aula servem para delimitar e controlar o corpo desse jovem no espaço da sala de aula, mas nas manifestações serviam para proteção, para descanso e como elemento estético, um chamado a população de que aquela luta era por uma educação pública, uma defesa da escola, como se esses jovens estivessem carregando a educação nas “costas”. A cozinha da escola também foi outro ambiente transformado pelas ocupações secundaristas, ali se discutiam desde o cardápio do dia, as divisões de tarefas, a quantidade de comida para todos da ocupação. A cozinha era lugar do diálogo, quem por ali passava não seria o mesmo de antes, se questionavam os papéis de gênero, a questão da alimentação e sua importância para educação. Era a história, misturada com a sociologia, gastronomia, educação financeira, história; política, arte, ciências, matemática; todas essas matérias em discussões que resultavam uma convivência muito mais significativa do que as proporcionadas pelas escolas normais. Esse movimento vivenciou o aprendizado de forma radical, tomando a escola como uma montagem provisória e precária no sentido tratado nas reflexões anteriores. Trata-se de um exemplo de como o cotidiano escolar transforma a consciência histórica de estudantes que a partir de uma análise da sua realidade, agiu no seu presente, em defesa da escola pública, transformando-a mesmo que de forma breve em um “espaço de iguais”. Pode-se considerar que as ocupações promoveram vivências pedagógicas, na sua forma e organização, tendo como base a contestação política (Gonçalves, 2016). A construção de uma escola possível, a partir de práticas de horizontalidade e autogestão, promoviam sujeitos que construíam sua autonomia, na forma de produzir o conhecimento, como por exemplo, assembleias, oficinas, rodas de conversa, saraus e almoços coletivos, como o tipo de conhecimento que era abordado, que muito se relacionava com a realidade que os estudantes estavam vivendo nas suas ocupações, com problemáticas que iam desde política educacional, repressão policial, questões culturais e cotidianas. Se a forma de organização das escolas ocupadas promoveu práticas pedagógicas que nos permite falar em Pedagogia da ocupação, não menos real e coerente é pensar uma 37 certa ocupação da pedagogia, pois estes estudantes não ocuparam somente o espaço físico da escola, ocuparam seus conteúdos e suas práticas de ensino e de produção de conhecimento. De certo modo, por um lapso de tempo, ocuparam e tomaram para si a realização da educação. (GONÇALVES, 2016, p 80) A escola se torna eminentemente política (KOHAN, 2012), pois o ato de criação de uma escola por uma comunidade já pé um ato político, pois nela se estabelece um espaço para renovar a ordem social, sem que mesmo os “criadores originários” dessa escola tenham domínio sobre essa renovação. A escola é política na sua experiência, pois permite uma projeção que toma uma distância do mundo como ele é ocupado para poder ocupá-lo de outras maneiras. 1.1.2 - O processo de discussão e registro do estudo sobre a Ditadura Militar no Brasil na escola. O objeto de análise dessa dissertação é o processo de desenvolvimento da consciência histórica dos estudantes nos desdobramentos do projeto ao longo do ano. Sua relação com os espaços da escola, com o conhecimento escolar e suas inter-relações com o cotidiano escolar e sua realidade. Mas a discussão audiovisual também permeou todo o desenvolvimento do projeto, pois ao final foi proposta aos estudantes a elaboração de um vídeo de curta-metragem sobre o tema estudado. Porém, a riqueza de registros e matérias que os grupos produziram acerca das atividades desenvolvidas, roda de conversa, palestras, desenhos, entrevistas, áudios, vídeos, entre outros, se mostrou de grande importância para esse estudo final. A relação entre linguagem audiovisual e ensino de história se constitui como um campo de reflexão atual. Apesar de as novas gerações possuírem mais fácil acesso a filmes, curta- metragem, longas-metragens, animações, e diversas formas de linguagem audiovisual, a escola permanece em grande parte fechada na linguagem oral/escrita. Essa tensão acaba por se manifestar em um cotidiano desinteressante, trazendo em vários momentos certa indisciplina, desinteresse entre outros aspectos negativos. (SILVA, 2017) Algunspesquisadores apontam, como Guillermina Tiramonti, para a possibilidade de colocar a linguagem audiovisual, na sua utilização no ambiente escolar, como uma situação a ser vivenciada constantemente pelos professores. Sem uma oposição entre mídia e escola, linguagem audiovisual e linguagem escrita, o desafio na atualidade é despertar nos estudantes uma postura reflexiva e crítica frente aos textos e aos hipertextos e, sobretudo, as imagens hegemônicas, no cotidiano do tempo presente. Para 38 Tiramonti essa postura é indispensável para a formação de uma cidadania ativa dos estudantes como sujeitos desse novo mundo sociocultural. (SILVA, 2017) Ainda que o cinema esteja presente nas escolas em muitos momentos ao longo do ano letivo, seja para momentos de lazer, nas aulas de história para retratar momentos históricos, ou para trabalhar temas da cultura juvenil. Muitos desses momentos acontecessem com um olhar despretensioso, sem uma maior preocupação para um desenvolvimento de uma análise da linguagem do cinema. O potencial da inclusão do cinema nos processos educativos é plural e complexo, e vai muito além de assistir filmes. Para além de dialogar sobre os preceitos básicos da linguagem cinematográfica, o ensino de história tem o papel de problematizar a postura do sujeito consumidor/espectador, propondo atividades de desconstrução, elaboração e participação, desse objeto de análise, sendo o cinema em seus diversos formatos. Na relação entre cinema e história na sala de aula podemos perceber inúmeros avanços e possibilidades. A utilização de filmes passa a ser um instrumento pedagógico de muita importância para se desenvolver, a partir da crítica, a competência narrativa dos estudantes sobre a história brasileira. Na relação cinema – história há dois eixos fundamentais de questionamento: a leitura histórica do filme - analisar o filme a luz do período em que foi produzido - e a leitura cinematográfica da história - a história lida através do cinema”. Sendo que a última coloca para o historiador uma questão: Sua própria leitura do passado. (JUNIOR, 2009, p.53). Um importante autor que contribuiu para essa discussão foi Marc Ferro, trazendo o cinema como uma possibilidade de revelar o inverso da sociedade, especificamente a partir da origem social de grupos excluídos, se tornando uma “arma de combate”. A ideia é que o filme seja concebido como um projeto, uma imagem — objeto (FERRO, 2010). O filme assim se torna um objeto de análise, e no ambiente escolar pode ser trabalhado com a história do cinema, a história no cinema e a história com cinema, que utiliza os filmes como documentos e fonte de informação (OLIVEIRA, ALMEIDA, FONSECA, 2012). Como, por exemplo, a exibição de filmes e curtas-metragens fora do eixo tradicional, à formação de cine clubes ou a produção de vídeos escolares, entre outros tipos de ações ligadas são algumas das possibilidades do cinema na escola. Esse espaço se mostra como um espaço de resistência na exibição, discussão, formação, produção e divulgação do cinema, de vídeos, da linguagem audiovisual, em muitos momentos restritos a uma elite social, que frequenta os cinemas, em sua grande maioria localizada em shoppings e festivais de cinema universitário (PINTO, 2019). 39 A presença do cinema na escola traz inúmeras reflexões e direcionamentos na busca por uma educação emancipatória e na construção de relações mais horizontais. No processo da construção do conhecimento escolar, possibilita para os sujeitos escolares vivências mais significativas. A produção audiovisual escolar é tema de reflexão de um importante crítico e cineasta Bergala (2008). O referido autor propõe que os alunos produzam cinema na escola, porque se preocupa com o desenvolvimento do aspecto criativo/inventivo dos estudantes e, enxerga, no cinema, uma possibilidade para o seu desenvolvimento. A produção de vídeos de registros do cotidiano escolar pode ser usada para que o aluno conheça sua realidade, produzindo narrativas, elaborando as tensões e conflitos sociais além de desenvolver uma consciência histórica frente ao seu tempo. Fazer o cinema na escola demanda uma postura reflexiva diante das produções audiovisuais, e dos temas retratados nas suas obras, fazer cinema também tira o aluno do lugar- comum e o torna produtor, criador de conhecimento, narrativas, imagens e sensações. Traz uma versão de produção de conhecimento mais horizontal em que os sujeitos envolvidos partem da curiosidade, de um interesse em comum, demanda um maior senso de coletividade, pois quanto mais discutida, mais representativo será o caminho e o produto final daquela realidade, sendo ela uma obra de ficção, histórica ou documental. Essa prática audiovisual na escola seria chamada por pedagogia do cinema, esse autor apresenta uma ideia, a partir do conceito de montagem cinematográfica, através do diálogo e da interação de saberes para defender a necessidade de uma pedagogia em sentido horizontal (MIGLIORIN, 2016 apud PINTO, 2019). Criando uma atmosfera que estimule o estudante a criar, imaginar, tendo o não saber como lugar de partida, partilhado ao longo do processo o protagonismo entre os estudantes e toda comunidade escolar. O estudante aprende a arte “fazendo arte” na escola (FRESQUET, 2008). A arte de fazer filmes sejam eles vídeos, curtas, adaptações, se torna um instrumento de mediação entre professor e estudante. Em que se devem criar meios para que o estudante produza uma narrativa, produza conhecimento através dos filmes. A criação de uma narrativa fílmica traz uma nova linguagem para o ambiente escolar, contribuindo com a formação integral desse sujeito, na forma de viver no mundo, de ver o mundo. Para além do estudo da Ditadura Militar no Brasil, o projeto do PIBID na escola, refletia como esses sujeitos escolares poderiam se apropriar dos espaços da escola, para discussões 40 sobre os temas do projeto, ou para as filmagens das discussões e atividades que seria elaborado pelo grupo, em uma vivência cotidiana, uma “pedagogia da ocupação” no sentido político das ocupações secundaristas de 2015. A luta contra a reorganização em São Paulo e a terceirização em Goiás trouxe à cena política os estudantes na luta pela educação pública. (GONÇALVES, 2016) Ao participarem das ocupações, transformaram as escolas e se apropriaram de seus espaços. Durante as ocupações foram desenvolvidas inúmeras atividades de formação, como rodas de conversa, oficinas de teatro, de percussão, campeonatos de futebol, apresentações culturais. As escolas se tornaram centros de convivência de informação e formação. A proposta era de estudar sobre o período da ditadura Militar no Brasil, vivenciando o espaço escolar de forma mais livre. Além de uma incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de habilidades em filmagens pelo celular, destacando a importância do enquadramento, do som, entre outras características que envolvem o audiovisual. Com a compreensão de que, sobretudo a escola pública, ainda é um espaço privilegiado de trocas de experiências, de compartilhamento de novas ideias e de construção de um conhecimento que busque ser um convite ao nomear, inspirar, fazer falar, (MASSCHELEIN; SIMON, 2017), foi trabalhada a visão da escola como espaço de “suspensão” em constante construção, com interesses distintos e diversos. Ao se considerar os interesses e curiosidades de cada sujeito, foram assegurados que as atividades propostas tomassem outros caminhos ao longo do trajeto. O processo de construção do conhecimento escolar como fundamento de aprendizagem significativa incentivou os estudantes a serem ativos na busca pelo conhecimento e na vivência de novas experiências. Essa experiência demonstrou a possibilidade real de uma parceria entre ações de formação e extensão da Universidade pública com a escola pública, que carece de iniciativas consistentese interessantes de formação com as linguagens audiovisuais, sejam o cinema ou as artes. Essa experiência, em certa medida, partiu da perspectiva da importância de se trabalhar com a linguagem audiovisual na escola, a partir de uma forma que tem, entre outros princípios: consideração do saber dos estudantes e compreensão do processo de construção de conhecimento como algo social, coletivo e horizontal. O caráter autoral da linguagem audiovisual escolar, pensada e produzida pelos próprios estudantes e pela comunidade da escola, transforma esta ferramenta em algo mais acessível e democrático. 41 A experiência de transformação dos espaços da escola foi compartilhada por todos os participantes do projeto, o que contribuiu para o desenvolvimento da consciência histórica dos estudantes. Em vários momentos do projeto se utilizou o aparelho celular para filmar trechos das discussões, das palestras, filmes e entrevistas que os alunos produziram. Sendo que nesse projeto o uso do celular foi utilizado como instrumento pedagógico, mesmo sendo um instrumento “proibido” na escola. Os professores e gestores educacionais precisam superar e gerenciar esse aparelho tão presente na vida de grande parte da nossa sociedade. Uma forte aliada para se pensar sobre o uso dessas novas tecnologias na escola é a discussão da mídia-educação, sendo um importante aliado no processo de construção do conhecimento. A Mídia-Educação pretende, a partir de uma mediação pedagógica, a capacitação de estudantes e professores para uma produção responsável, reflexiva, uma recepção mais ativa e crítica sobre o que assistem, acessa, compartilham e interagem (FANTIM, 2011). Esse campo se mostra transdisciplinar e dialoga também com outros campos do conhecimento como Ciências da Comunicação, Sociologia, Estudos Culturais, Tecnologia da Educação entre outros. No contexto educacional as mídias contribuem para a democratização do conhecimento e na construção da cidadania em nossa sociedade. Diante disso, uma abordagem mais ampla da mídia educação pode ser entendida a partir de três perspectivas: educar sobre/ para os meios (perspectiva crítica), com os meios (perspectiva instrumental) e através dos meios (perspectiva expressivo produtiva) (FANTIN, 2011, p. 30). A Mídia-Educação permite se apropriar, manipular as mídias e seus recursos. Dominar suas técnicas e linguagens, na formação de educadores. Como síntese, poderíamos listar três fios que tecem a perspectiva de mídia-educação: cultura (ampliação e possibilidades de diversos repertórios culturais), crítica (capacidade de análise, reflexão e avaliação) e criação (capacidade criativa de expressão, de comunicação e de construção de conhecimentos) (FANTIN, 2011, p.30). As escolas em geral sofreram um grande impacto com a entrada desses aparelhos no dia a dia da escola e da sala de aula. Com os celulares é possível, mediar conversas pelo WhatsApp, buscar informações pelo Google, traduzir palavras via programas de tradução. O uso do celular para produção de conteúdos pedagógicos trouxe para sala de aula um novo olhar para esse dispositivo tecnológico. Trazer esse aparelho para uma atividade escolar nos lança reflexões acerca da relação entre a educação, à vida social e a produção de conhecimento. 42 O celular permite publicar instantaneamente momentos na escola, na sala de aula, durante o recreio, em eventos da escola, sendo um grande meio de comunicação e interatividade de toda comunidade escolar e da sociedade. O celular promove o acesso às mídias (internet, televisão), é programado para dar suporte para receber diferentes mídias (fotografia, vídeo) e também promove a produção de suas próprias mídias (fotografar, filmar) (BARRAL, 2012). Durante o projeto os estudantes filmaram, registraram e gravaram inúmeras atividades desenvolvidas. Cenas do cotidiano escolar, rodas de conversa, entrevistas, palestras feitas por convidados do projeto, debate de filmes e relatos. Todo esse material foi analisado e organizado posteriormente pelos monitores, que em conjunto com os estudantes organizaram as imagens e produziram pequenos vídeos que contam a história desse projeto. Vale destacar que somente um grupo conseguiu entregar o produto final de um curta- metragem, mas destaco que esse estudo pretende analisar, sobretudo o processo de transformação da consciência histórica desses estudantes a partir do desenvolvimento desse projeto que utilizou diversas metodologias que extrapolam a didática da história e a linguagem audiovisual. Um ponto que contribuiu para a didática da história foi à perspectiva da pedagogia do cinema, que envolve uma prática reflexiva e de pesquisa por parte dos estudantes, que tiveram contato com testemunha da época, com grupos de rap, foram à universidade, conversaram com vítimas de violência policial. Os estudantes também vivenciaram o significado das marcas da Ditadura Militar no Brasil, nos tempos atuais. A visão da escola ocupada, na construção de um espaço livre, de forma temporária, durante os encontros com os monitores e as aulas de história semanais, trouxe uma nova vivência para os estudantes do que é a escola, do que é o conhecimento e da relação que o mesmo tem com a transformação da realidade. Assim, buscamos vincular o ensino de história com o desenvolvimento de uma consciência histórica que proporcionasse a orientação do sujeito no tempo presente. Através de uma discussão da produção audiovisual e tudo que ela acarreta. Na capacidade de apresentar o passado, a partir de questões do presente, os estudantes puderam construir novos conhecimentos, problematizar questões importantes para o seu cotidiano, como a violência policial contra a juventude periférica, censura do livre pensar, a 43 democracia simbólica e material (ou a falta dela) de espaços, como a escola, as praças e lugares públicos de lazer e cultura, tanto durante a Ditadura Militar como no tempo presente. 1.2. A Ditadura Militar no Brasil: Discussão historiográfica e o ensino da história na escola. Durante as aulas de história busquei discutir a Ditadura Militar no Brasil a partir de alguns marcos temporais, e suas discussões teóricas em relação com o presente. Foram Selecionados alguns momentos importantes, relacionados à História do Presente, que se mantêm expressivos na nossa cultura política: 1) A Lei da Anistia (1979) e a implementação da Comissão da Verdade em 2012; (2) a execução do Ato Institucional número 5 (1968), que representou o embrutecimento da repressão, na prática, ainda maior, da tortura e da censura; e por fim (3) a política orquestrada de desestabilização do Governo de João Goulart (1961 – 1964), baseada na luta contra o anticomunismo, no contexto de Guerra Fria. Esse tema está em plena disputa na sociedade brasileira, que passa por uma crise institucional, em que alguns grupos da sociedade questionam, por exemplo, a validade da Constituição de 1988, ou questionam o equilíbrio dos três poderes e desejam a volta da Ditadura, em que se idealiza um passado em que se tinha ordem e progresso, e se vivia em uma sociedade sem violência. Decretando assim o fim da Democracia, considerada uma “bagunça”. Desenvolver esse tema é desconstruir inúmeras ideias consolidadas desse passado e “apontar o dedo” na ferida, da nossa sociedade que insiste em silenciar, e não discutir de forma comprometida esse período da nossa história. Os grupos políticos conservadores brasileiros colocam em dúvida a existência de um golpe de Estado no ano de 1964. Declarações de autoridades políticas corroboram para essas batalhas ideológicas, que acabam por desqualificar consolidados estudos historiográficos da nossa história. No ano de 2018, Dias Toffoli, Presidente do Supremo Tribunal Federal afirmou durante uma palestra sobre os 30 anos da Constituição Brasileira, que em 1964 não houve um golpede estado, nem uma revolução; foi apenas um “movimento”. O termo movimento traz um caráter revisionista, o termo se refere ao ato ou efeito de mover-se, deslocação, agitação, confusão. Em termos historiográficos, o termo “movimento” só ganha sentido se agregado a um adjetivo, como, por exemplo: movimento feminista, movimento operário, sendo um conceito 44 muito vago e inadequado, para denominar um acontecimento que marcou a nossa história recente por 21 anos (PRADO, 2021). O período histórico da Ditadura Militar no Brasil (1964 – 1985), ainda é uma fratura exposta em nossa história recente. A política de conciliação a partir do alto, sem mudanças expressivas no cotidiano do cidadão fez com que esse período de extrema violência saísse de cena quase despercebido. O Brasil foi o único país da América Latina que perdoou os militares sem exigir da parte deles nem reconhecimento dos crimes cometidos, nem pedido de perdão (KEHL, 2010). O Exército, em grande medida ainda mantém uma postura de defesa do golpe militar, sendo justificado pelo “perigo comunista”. Também vem mantendo uma postura relativista em relação à família dos desaparecidos políticos e dos presos e torturados da resistência armada que sobreviveram a esse período, com o argumento de que “fatos históricos têm diferentes interpretações, dependendo da ótica dos seus protagonistas” (CERRI, 2011). Os pontos do passado coletivo que implicam situações de ruptura e violência acabam por gerar memórias ou esquecimentos traumáticos (Cerri, 2011). O esquecimento da tortura produz uma naturalização da violência como grave sintoma social no Brasil, e instala o ressentimento em relação aos poderes instituídos, em uma relação ambivalente de cumplicidade entre oprimidos e opressores, em forma de uma revolta passiva, ou vingança adiada (KHEL, 2010). Mantém-se assim um frágil consenso social, que segundo Janine (1999), foi marcado por dois momentos de extrema violência: 1) em séculos de exploração colonial e 2) no período imperial da crueldade da escravidão. O Brasil é um dos únicos países que não julgou seus torturadores, que não buscou seus desaparecidos políticos e não abriram de forma completa todos os documentos da época da Ditadura Militar. O debate da anistia surge ainda sob o regime do general Geisel através da Campanha da Anistia, organizado pelo Movimento Feminino pela Anistia (1975) ganhando força partir de diversas manifestações estudantis. Seu lema era por uma anistia ampla geral e irrestrita (FICO 2012). Tal movimento foi marcado pela esperança da sociedade civil, da volta dos exilados, soltura dos presos políticos e condenação dos torturadores. Tal movimento trouxe a necessidade de um maior controle dos militares do processo de abertura do regime, que se tornou lenta, gradual e segura, principalmente a partir da atuação dos generais Geisel, Golbery e do Ministro Petrônio Portela. Em 1979 a aprovação da Lei da 45 Anistia marcou o enfraquecimento do movimento de oposição ao regime, que concedeu o perdão aos torturadores e garantiu a impunidade para os militares sobre os desmandos da Ditadura Militar (FICO, 2012). A Lei número 6. 683, de 28 de agosto de 1979, trazia em seu texto: (BRASIL 1979). O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares. § 1º - Consideram-se conexos, para efeito deste artigo, os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes políticos ou praticados por motivação política. § 2º - Excetuam-se dos benefícios da anistia os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, seqüestro e atentado pessoal. § 3º - Terá direito à reversão ao Serviço Público a esposa do militar demitido por Ato Institucional, que foi obrigada a pedir exoneração do respectivo cargo, para poder habilitar-se ao montepio militar, obedecidas as exigências do art. 3º. Art. 9º Terão os benefícios da anistia os dirigentes e representantes sindicais punidos pelos Atos a que se refere o art. 1º, ou que tenham sofrido punições disciplinares incorrido em faltas ao serviço naquele período, desde que não excedentes de 30 (trinta) dias, bem como os estudantes. Art. 10.Os servidores civis e militares reaproveitados, nos termos do art. 2º, será contado o tempo de afastamento do serviço ativo, respeitado o disposto no art. 11. Tais trechos acima da Lei da Anistia trazem elementos que demonstram o perdão sem distinção para os militantes de esquerda, chamados de terroristas, os militares, torturadores, sindicalistas, estudantes e servidores públicos. A também chamada “anistia recíproca” (D’ARAUJO, 2012) onde os militantes da resistência armada e dos militares torturadores, cristaliza uma ideia muito comum atualmente, de que a tortura foi um mal necessário, justificado pelo extremismo dos grupos de esquerda, trazendo nessa afirmação uma legitimidade da tortura, sendo que tal prática deve ser combatida e eliminada de nossa sociedade. A Lei da Anistia, em 1979, beneficiou vítimas e opressores e funcionou como um escudo de proteção contra crimes praticados pelo governo. (D’ARAUJO, 2012) A Anistia se torna presente, em momentos políticos em que se faz necessário o mínimo de convivência entre dois grupos distintos e importantes das sociedades ao longo da história, uma espécie de “política de sobrevivência imediata” (GAGNEBIN, 2010, p. 180), no caso do Brasil a imposição de um silenciamento e a não diferenciação dos grupos opositores da Ditadura, considerados terroristas, com os seus torturadores, que seguiram após o fim da ditadura com sua integridade intocável. Tal situação traz inúmeros conflitos, principalmente as famílias de desaparecidos e os sobreviventes da tortura que por não serem reconhecidos, vivem uma espécie de sensação de 46 irrealidade, no que se refere à radicalidade da dor sofrida e da despersonalização que viveram, mas também porque as práticas infames dos torturadores nunca foram reconhecidas ou reparadas publicamente. (KHELL, 2010, p. 126). A anistia representa uma incrível pretensão de manipulação da memória pública, e no Brasil pressupôs o silêncio. O esquecimento da tortura produz, segundo Maria Rita Khell (2010, p. 124), a naturalização da violência como grave sintoma social no Brasil. A impunidade não produz apenas a repetição da barbárie: tende a provocar uma sinistra escalada de práticas abusivas por parte dos poderes públicos. Outro elemento que resultou de uma anistia em que se ignoraram, e tentaram igualar, os diferentes interesses políticos, grupos sociais e forças reais de atuação, sendo ela armada ou não, trouxe um sentimento de frustração (FICO, 2012) de algo novamente inconcluso, inacabado. A sensação de uma transição política inconclusa, que ainda não se tornou realidade de fato. As forças armadas conseguiram seus objetivos no processo de transição seguro, lento e gradual e marcou profundamente a história de nosso país com a prática da impunidade e com um legado de descaso cultural a defesa dos direitos humanos, básicos de uma sociedade. A historiadora Maria Celina D’Araujo (2012) afirma: Nossa hipótese é que a existência de uma grande autonomia militar antes, durante e depois da ditadura, associada aos baixos níveis de respeito aos direitos humanos na sociedade brasileira e ao baixo interesse do Congresso e do Governo em geral pelo tema das ForçasArmadas, garantiram espaços para que a corporação militar atuasse como veto player sempre que tentou rediscutir ou rever a Lei da Anistia, de 1979, ou algumas prerrogativas da corporação. (D`ARAUJO, 2012. P.39). Ainda segundo essa autora foram algumas tentativas de se tratar o tema da Anistia, que, para os militares, sempre foi um tabu, e sempre atuaram no sentido de desmobilização política em torno desse tema. A primeira iniciativa aconteceu em 1995 com a criação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos os Políticos, em 2001 foi criado a comissão da Anistia, em 2008 a Lei de Acesso à Informação, em 2011 se sancionou a criação da Comissão da Verdade, que começou a atuar finalmente em 2012. Com a criação da Comissão Nacional da Verdade (LEI 12528/2011) cujo objetivo era apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridos entre 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988. Foi em muitos aspectos contestada pelo exército, porém não tinha o poder de julgamento e nem poderia obrigar ninguém a depor contra sua vontade. Sobre o tema de reparação política no Brasil podemos perceber uma grande desmobilização social em relação à Comissão, temos uma sintomática apatia social, em que a sociedade civil pouco participou desse processo além dos familiares e sobreviventes a Ditadura. 47 A Comissão de Verdade e Reconciliação na África do Sul, tem um exemplo oposto à mobilização da Comissão no Brasil, pois ela visou o relato mesmo que insuportável dos acontecimentos, apontando para a necessária reintegração de todos na comunidade humana e política no país (GAGNEBIN, 2012 p.182). Mas a reparação da anistia no Brasil mobilizou, em contrapartida, movimentos de oposição da direita conservadora em defesa dos torturadores. Assim as Forças Armadas também possuíram força para manter o veto sobre esse assunto no país. Exemplos como de demissão do Ministro da Defesa José Viegas (2004), organização de seminário das Forças Armadas nomeado Lei da Anistia: alcances e consequências (2010), onde se defendeu o golpe de 1964, a guerra suja contra a oposição em que segundo Jair Bolsonaro “o erro da tortura foi não matar”, a anistia irrestrita que trouxe segundo as forças armadas uma pacificação ao país e a possibilidade de “ex-terroristas” chegarem ao poder. Ainda podemos citar ameaças de renúncias de cargos no Governo, causando uma desestabilização, algo que demonstra a prática de chantagem e repressão a qualquer tentava de tirar a história da ditadura a limpo. Mantendo uma tradição de esquecimento, pacificação e frágil conciliação em nosso país (D´ARAUJO 2012). Outro importante momento de discussão sobre o tema da Ditadura Militar que se expressa até os dias atuais seria o embrutecimento da repressão à sociedade, a partir do Ato Institucional número 5, decretado em fins do Governo Costa e Silva em que os grupos militares se articulam e promovem um golpe no golpe (FICO 2014). Levando ao poder a vertente mais linha dura do exército e promovendo assim a repressão escancarada a toda a oposição a Ditadura. Vale lembrar que desde seu início em 1964, com a deposição do presidente João Goulart e a nomeação de Mazzilli a presidência provisória do país. A Repressão já se mostrava uma importante forma de se evitar o perigo comunista que ao contexto de uma recente revolução socialista em Cuba, trazia riscos reais para que isso pudesse acontecer em toda a América dominada pela potência capitalista norte-americano. Portanto, desde Castelo Branco a Costa e Silva a repressão era presente para efetivar o golpe ainda civil militar no Brasil (FICO, 2014). Logo após a efetivação do golpe militar temos alguns exemplos de tentativa de resistência da manutenção do governo do João Goulart. Em 1964, na Praça da República, estudantes da faculdade de Direito do Rio de Janeiro protestavam contra o golpe. Foram vítimas de tiros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) dois estudantes, Ari Cunha e Labib Abduch. 48 No Nordeste, em Pernambuco, logo após a deposição de Miguel Arraes, estudantes saem em protesto e dois estudantes também são assassinados durante a manifestação pela polícia, Jonas Barros e Ivan Aguiar. Tais fatos reorganizam alguns debates acerca da natureza do golpe civil militar Brasil ter sido sem violência e o resultado de alguns telefonemas. A realidade se colocou de forma muito mais complexa, segundo Fico (2014) em abril de 1964 muitos opositores morreram, foram presos de forma arbitrária, foram interrogados de forma violenta, presos e torturados. A tese de um golpe asséptico e banal relaciona-se a persistência do mito da história incruenta e corrobora a leitura segundo a qual nos primeiros anos do regime militar não teria havido tortura. Isso realmente não é verdade (FICO, 2014). A brutalidade do golpe de Estado de 1964 esta evidenciado pelo sangue das pessoas que morreram deve se morreram deve ser denunciada não apenas por outras formas de violência, inclusive a da natureza institucional, mas também pela grande quantidade de ações arbitrárias que tomaram conta do país naquele início de abril. Não houve assepsia que a tese da “batalha de telefonemas” pressupõe. O golpe de 1964 não foi marcado pela banalidade. (FICO, 2014, p. 59). Outro ponto importante seria que, para um regime autocrático se tornar efetivo ele tem que ser capaz de manter a sociedade sob uma permanente ameaça de tortura e violência, sendo a prática da tortura a própria base desse tipo de regime social (KHELL, 2012). Vale destacar ainda que o AI-5 promoveu, no Brasil, uma ruptura a uma jovem geração que vivia os anos de 1960, que de forma geral trouxeram novos ares ao Brasil, nas letras e ritmos das músicas, no teatro, na literatura, poesia, cinema, educação e política. Essa geração viveu o que podemos considerar uma fase de intensa efervescência e foi de certa maneira reprimida de forma abrupta, pelo regime militar. Também no campo de oposição ao golpe e da luta política, certo número de militantes optou nesse período pela resistência armada, a chamada Nova Esquerda (1961 – 1971). A ação de grupos guerrilheiros como a Ação Libertadora nacional ou a Vanguarda Popular Revolucionário (VPR), ou a Resistência Democrática (REDE), possuíam uma prática real de resistência à ditadura militar apesar de propor em seus documentos internos uma ofensiva revolucionária (RIDENTI, 2004). Pretende-se assim desmistificar a ação de grupos armados no Brasil, destacando seu caráter de resistência a ditadura militar, destacando também outras organizações de esquerda como Ação Popular (AP), e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que se mantiveram críticas a alternativa armada que era desenvolvida. Nesse sentido o pesquisador deve tomar cuidado para não cair em armadilhas e mitos a esse respeito. Outro aspecto que vale uma breve análise é a crise do Governo Jango e o desenvolvimento do golpe civil militar que traz uma nova estruturação política para o Brasil. 49 O movimento de desestabilização do Governo Jango tem alguns aspectos analisados somente nos últimos anos, em que se tiveram acesso a diversos novos documentos da época, que demonstram a participação direta dos Governos, norte-americano, de Kenedy, Jhonson em uma operação chamada Brother Sam (FICO, 2014). O Instituto Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAM), também foram importantes disseminadores de materiais pseudocientíficos que produziam materiais anti-Jango, do qual participou um dos cabeças do estruturador da política de repressão no Brasil, o General Golbery Couto e Silva. Personagens fundamentais que segundo Fico (2014) desde o Movimento de 1935 (Intentona Comunista) vinha fazendo um trabalho de propaganda anticomunista no Brasil, disseminando uma áurea de medo e de caos estabelecido quase intensificou no Governo de Jango a partir do discurso em defesa das Reformasde base em 1963. As chamadas “Reformas de Base” foram uma política que dentre outras medidas propunha a reforma agrária para o fortalecimento do modelo capitalista no Brasil, porém foi o suficiente para que forças conservadoras da burguesia brasileira se movimentassem e destituíssem o presidente nos meses seguintes. O movimento de descontentamento com as medidas das reformas de base foi liderado por alas conservadoras da Igreja Católica que organizaram diversas marchas em oposição a Goulart: É possível detectarmos nas “Marchas da Família, com Deus pela Liberdade” um componente de manipulação e evidente propaganda anticomunista e contrária a Goulart. Mas o movimento ultrapassou esses limites e expressou um autentico sentimento de insatisfação da classe média. (...) As líderes do movimento ficariam pejorativamente conhecidas como marchadeiras. Essas mulheres já vinham se organizando tinha algum tempo. A CAMDE tinham ligações com o IPES desde 1962(...) Foram realizadas dezenas de marchas, em todo o país, ao longo dos meses de abril, maio e junho, comemorando a vitória dos golpistas de 1964 (FICO, 2014, p.63). Quando o general Mourão movimenta suas tropas de Minas Gerais a Brasília, em 30 de março de 1964, vivíamos, portanto, no Brasil um momento de profunda incapacidade de decisão no setor político, de “paralisia decisória” (FICO, 2014). Que se estabeleceu devido a diversos motivos, interesses internos e externos. 1.2.1 - Acesso aos arquivos de documentação sobre a Ditadura Militar no Brasil. Outro ponto muito importante que trataremos nesse capítulo será a dificuldade de acesso aos arquivos de documentação sobe a Ditadura Militar, aspectos que influenciam na pesquisa/estudo/produção dessa História do Presente. Desde o acesso a conteúdos pessoais, até 50 a falta de localização desses documentos e a dificuldade de acessar tais conteúdos. E frente a essas dificuldades, quais tipos de documentos estão disponíveis para os historiadores nos dias atuais. Uma parte significativa desses documentos é considerada arquivos sensíveis, (QUADRAT, 2012), documentos que contém informações preciosas sobre os grupos responsáveis pela violência política. São arquivos que envolvem disputas tais como, vítimas de um Estado autoritário, familiares de desaparecidos e vítimas, políticos, pesquisadores e militares, que não possuem um consenso sobre esses documentos. Os documentos produzidos pelo Estado autoritário trazem consigo uma intenção política de criminalização de seus opositores, de torná-los terroristas, na defesa de valores cristãos, de uma sociedade ocidental. Mesmo ao ter acesso a esses documentos deve-se lembrar que houve muitas ações clandestinas e secretas não documentadas. Tais documentos, segundo Quadrat (2012) falam mais sobre o funcionamento da própria estrutura repressiva do que sobre as pessoas e organizações de oposição que foram vigiadas. O estudo dessa documentação traz alguns avanços consideráveis para as vítimas que auxiliam na recomposição das identidades rompidas nessa situação limite. Servem também como uma espécie de conforto as vítimas, pois comprovam suas denúncias diante de uma sociedade que mantém uma memória idealizada e positiva da Ditadura Militar. Apesar da dificuldade de acesso a esses arquivos, sobre outros documentos disponíveis podemos citar o projeto "Marcas da Memória: História Oral da Anistia no Brasil", que tem, por objetivo construir um amplo acervo, de depoimentos de pessoas que foram de alguma forma, afetadas pela questão da anistia. Valorizando o registro oral, para a escrita da história recente, em momentos históricos de violência e repressão (ARAUJO; SILVA; 2012). Foram organizados 44 testemunhos, que se realizaram na Universidade Federal do rio de Janeiro (UFRJ), ou na própria casa dos participantes, entrevistas filmadas, gravadas e transcritas pelo Grupo de História oral do Instituto de História da UFRJ, e se encontra a disposição do público no Instituto de História (IH da UFRJ). As entrevistas representam uma pluralidade de memórias e se utilizou também da metodologia da História Oral, auxiliando na compreensão dos usos políticos do passado. Esse acervo tem o objetivo de valorizar o testemunho de pessoas envolvidas com o tema da Ditadura Militar, dando um lugar histórico ao depoimento das vítimas de tortura e que lutaram contra a Ditadura. 51 Essa documentação é também considerada um acervo sensível (ARAUJO, SILVA, 2012), pois trata da violência política, sensível pelo conteúdo dos depoimentos, pelo período que se trata, pelos personagens envolvidos, pelos temas que levanta, pela dor que revela; por que remete ao trauma, ao arbítrio, as graves violações cometidas pelo Estado. O conhecimento histórico a partir da história oral traz a contribuição de três aportes específicos: a noção de memória, trajetória e subjetividade. (ARAUJO, SILVA, 2012). “A relação entre história e histórias de vida é uma das bases da História Oral. A análise dos depoimentos nos permite construir um personagem a partir de uma subjetividade inserida num tempo histórico” (ARAUJO; SILVA, 2012 p. 271). A censura promovida pelo regime militar possuía dois eixos: 1) oficial e moral, em que se combatia tudo que era considerado perversão pelos bons costumes, palavrões no teatro, sexo no cinema, mulheres seminuas em programas de televisão ou letras de duplo sentido A partir do AI-5 também começaram a atuar em filmes políticos, músicas de protesto e peças engajadas. A também conhecida por Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Já por órgão como o Serviço Nacional de Informação (SNI), o Centro de Informações do Exército (CIE) exercia a censura política, considerada revolucionária, seus alvos eram os jornais, que, inicialmente, eram censurados por telefonemas ou de “bilhetinhos” que chegavam às redações com proibições para que tal assunto não fosse publicado. Essa atividade foi centralizada mais tarde pelo Ministério da Justiça e teve seu ápice de 1968–1974. 1.2.2 - O Ensino da Ditadura Militar na escola. O conteúdo de Ditadura Civil Militar no Brasil, de forma geral é tratado timidamente pelo professor de história, no final do ano de forma breve. Esse tema é considerado um tema sensível, polêmico e tem-se colocado no debate público nacional por grupos que assumem uma perspectiva negacionista e revisionista em relação ao trabalho do historiador profissional, seja na produção acadêmica, seja na sala de aula. (PRADO, 2021) A leitura do passado se vincula a projetos contemporâneos de sociedade, e ao futuro nacional. Faz-se necessário questionar o uso que é feito da história, passado e presente do tempo vivido coletivamente. O estudo da Ditadura Militar do Brasil na escola é também um dos conteúdos presentes na Base Nacional Comum Curricular na disciplina de História, e o professor não poderia abdicar do estudo desse período, principalmente nas turmas do 9° ano. 52 A implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em Goiás, originou o Documento Curricular para Goiás (DC-GO) sendo o documento oficial que norteia o trabalho dos professores que atuam nas escolas estaduais de Goiás desde 2018. O DC-GO mantém a organização estrutural da BNCC, mas tenta aproximar as habilidades e objetivos de aprendizagem ao contexto de Goiás. Busca-se trabalhar as especificidades do nosso estado, contextualizando o que se denomina Goianidade. Segundo o organograma do DC-GO temos os textos introdutórios; introdução; Marcos Legais; Goianidade; a construção do DC-GO. O ensino fundamental se divide em duas maiores áreas: 1) Alfabetização; 2) Áreas do conhecimento e componentes curriculares. Estas se subdividem em Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas, onde se inserem a Geografia e finalmente a História. O conteúdo Ditadura Militar no Brasil, tem que ser trabalhadonos anos finais do Ensino Fundamental II, nas turmas dos 9° anos, e se mostra dentro da unidade temática: Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Os Objetos de conhecimento são: A ditadura civil-militar e os processos de resistência. As questões indígenas e negras na Ditadura. As habilidades a serem desenvolvidas são: compreender o processo político, e econômico e social que resultou na ditadura civil militar no Brasil, como reconhecer a importância da memória das violações e atrocidades no período militar no Brasil. Conhecer e relacionar fontes históricas formais e informais com o processo de resistência ao regime militar. Discutir sobre a Guerrilha do Araguaia, em Goiás. E por fim conhecer e relacionar as políticas públicas, as demandas indígenas e quilombolas no Brasil e em Goiás como forma de contestação ao modelo desenvolvimentista da Ditadura. (GOIÁS, p. 502) Lembrar ou esquecer os dilaceramentos da nação realizados sob as ditaduras militares não é, escolher entre passado e futuro, mas sim escolher entre distintas articulações de passado, presente e futuro (CERRI, 2011). A consciência histórica, não se resume somente ao passado e as memórias, mas as projeções que fazemos para o nosso futuro. Nessa dinâmica, a minha identidade (constituída em grande parte pela minha história) e a identidade coletiva (constituída na maioria pela história nacional) são fundamentais. E aqui está à ligação entre consciência histórica e o ensino de história, bem como os vários usos sociais que o conhecimento histórico assume. (CERRI, 2011). 53 Esse estudo vem em certa medida, através do ensino da história retomar esse passado recente, utilizando metodologias que proporcionem que os estudantes pesquisem a partir de fontes históricas personagens que marcaram a época da Ditadura Militar no Brasil, ou que ainda não estejam conhecidos ou estudados. Com essas fontes em mãos, eram esperados, que os estudantes se tornassem capazes de problematizar, questionar e elaborar uma narrativa histórica desses sujeitos. A linguagem audiovisual (elaboração de vídeos escolares) veio nesse sentido diversificar a forma de se contar a história, de se elaborar esse passado ainda tão presente na vida da maioria da juventude brasileira. 54 2 CAPÍTULO : ENSINO DE HISTÓRIA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: UMA EXPERIÊNCIA DE APRENDIZAGEM SOBRE A DITADURA MILITAR DO BRASIL. . Este capítulo busca analisar uma experiência escolar de ensino de história em uma escola pública de Goiânia. Dando ênfase ao processo de desenvolvimento da produção/construção de conhecimento histórico, sobre a Ditadura Militar no Brasil, e ao desenvolvimento da consciência histórica a partir da ocupação pelos estudantes de novos espaços de conhecimentos, físicos, sociais e simbólicos no ambiente escolar. Essa experiência foi realizada no ano de 2017, através de uma parceria entre a Universidade Federal de Goiás e a escola campo, por meio do PIBID. A partir dos seus registros e desdobramentos foram elaboradas reflexões sobre as possibilidades da didática da história no desenvolvimento da consciência histórica. Essa experiência teve como objetivo final a produção de vídeos feitos pelos estudantes sobre os personagens da Ditadura Militar. Mas a análise se concentrou no processo de desenvolvimento do projeto, que se mostrou rico em possibilidades de vivências e práticas de aprendizagem histórica. Nessa pesquisa se analisou também que tipo de conexões se estabeleceram entre os estudantes da escola campo com os conhecimentos históricos sobre a Ditadura Militar no Brasil, com os monitores, comigo (a professora que vos fala), com os sujeitos e espaços escolares. A maioria das reflexões foi feita a partir de relatórios semestrais do projeto, imagens elaboradas pelos estudantes, áudios, vídeos e fotos, feitas pelos monitores, estudantes e por mim, as quais mostravam o desenvolvimento das atividades e as relações dos grupos no espaço escolar. Foram selecionados os registros mais significativos, no que se refere ao ensino e aprendizagem de história e o desenvolvimento da consciência histórica sobre a Ditadura Militar. O caminho de investigação se inicia a partir da análise da chegada do PIBID a escola campo, seguida a identificação do conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil. Logo após serão analisadas algumas atividades desenvolvidas por três grupos participantes do projeto, e, por fim, será feita uma reflexão acerca da importância de se garantir espaços, em que se possibilite ao estudante um processo de desenvolvimento da consciência histórica a partir de experiências de autonomia. 2.1 - Projeto PIBID História: Os personagens da Ditadura Militar no Brasil. 55 2.1.1 - O PIBID/ História chegando à escola. O projeto de pesquisa sobre Personagens da Ditadura Militar chegou à comunidade escolar pela parceria pública entre a Escola e o curso de História da Universidade Federal de Goiás. O PIBID foi relevante no processo de formação dos futuros professores, pois representava uma ponte entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento escolar. Os principais objetivos do PIBID são: (1) inserir os licenciados no cotidiano de escolas da rede pública de educação; (2) proporcionar oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar; (3) contribuir na superação de problemas identificados no processo de ensino- aprendizagem; (4) incentivar escolas públicas de Educação Básica, mobilizando seus professores como co-formadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério, e; (5) contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura (CAPES, 2013). O PIBID promovia tanto uma troca quanto uma produção de saberes, entre o conhecimento escolar e os conhecimentos acadêmicos. Os estudantes de licenciatura ao vivenciarem o cotidiano escolar durante as aulas, oficinas, atividades e até mesmo no recreio, poderiam se aproximar do conhecimento e dinâmica escolar, que será própria do seu futuro ofício de professor de educação básica. Abaixo seguem algumas reflexões, dos bolsistas participantes, sobre a importância do PIBID para a formação de novos professores: O Programa de Iniciação à Docência é de grande relevância para a licenciatura em geral e, sobretudo a licenciatura em história. Nessa nossa experiência vimos o PIBID formar um corpo orgânico dos atuantes na educação, pois, fez uma ponte da Universidade pública à escola pública fazendo trabalhar em conjunto os licenciandos, os professores da rede pública e os estudantes dessas escolas. Em específico ao curso de história o PIBID nos proporciona uma experiência única com esse projeto, e nos faz perceber o quanto auxilia na formação docente dos licenciandos bolsistas do projeto, mas não só, pois traz discussões únicas pra dentro da faculdade nos seminários que além de contribuírem na formação de todos/as que participam através de um contato com o projeto e nossas experiências, contribuem também para revisarmos a formação do/a professor/a de história e possíveis engajamentos da nossa faculdade com a educação básica da rede pública.. Nesse sentido, o PIBID tem contribuído imensamente com a Faculdade e as perspectivas da Didática da História. Vale salientar aqui, que a não continuação do projeto implica numa grande compactuação com a precarização do ensino público e da formação do professor (relatório PIBID/acervo da autora 12/12/2017). A importância que o Programa do Pibid tem para o curso de licenciatura a objetividade e de proporcionar, as experiências e compreender no âmbito escolar, desenvolvendo disciplinas e conteúdoreferente a temas estudados nas escolas sendo de suma valência na formação acadêmica de cada um de nós “Alunos”. 56 Onde podemos dar ênfase à importância de vivenciar os diversos conflitos presentes no meio escolar. Fazendo com que os alunos façam projetos e desenvolva os conteúdos e promovendo debates em sala de aulas. Além de contribuir com a sociedade mostrando os diversos discursos de uma sociedade não igualitária. A partir do momento que entramos no Pibid tivemos experiências extraordinárias em transmitir o conhecimento aos alunos e proporcionar a eles uma retórica e um questionamento de como lidar em sociedade; além de aprendermos com os eles onde eles puderam contribuir para nossa formação e nós para a formação deles (Relatório PIBID/ acervo da autora, 14/12/2017). Vale ressaltar que o PIBID foi finalizado em março de 2018, dando origem a Residência Pedagógica, mas esse projeto foi de fundamental importância para um maior diálogo entre os cursos de graduação de licenciatura e as escolas de ensino básico. Durante o desenvolvimento desse projeto na escola foi possível à prática de diversos momentos de aprendizado muito peculiares em comparação ao cotidiano escolar “normal”. A escola campo foi escolhida, pois essa experiência foi toda documentada, registrada e discutida por um grupo de professores e estudantes de história, sendo possível uma futura análise acadêmica do desenvolvimento desse projeto, o que acabou sendo feito. Outro ponto importante é que trabalho na escola campo e leciona aulas de história desde o ano de 2013, para as turmas do ensino fundamental II do 6° ao 9° ano. No ano de 2017 fui também coordenadora do turno vespertino, cargo que promove uma aproximação muito grande com a família dos estudantes. Na função de coordenadora de turno temos tarefas de investigar os alunos faltosos, seus motivos e questões familiares, promover a conscientização das crianças acerca das regras básicas de convivência na escola, como questão de higiene, horários, comportamento durante o recreio, saída dos alunos entre outras inúmeras questões e conflitos que acontecem no cotidiano escolar. Lecionar aulas no período matutino e estar coordenadora no período vespertino me fez vivenciar dias inteiros nesse espaço escolar. Proporcionando também uma grande convivência com alunos, pais, professores e os alunos bolsistas do PIBID, que tinham certo trânsito na escola e que puderam realizar suas atividades em horários fora dos turnos de aula, com a autorização dos responsáveis dos alunos. O ambiente escolar, em geral, não abre muitos espaços para projetos extracurriculares fora do horário das aulas, por uma questão logística e também por uma visão de educação que hierarquiza os conteúdos acima da convivência e experiência de novas formas de conhecimentos. Para o projeto era necessário conceder o espaço escolar para os estudantes e isso foi um desafio ao longo do desenvolvimento do projeto. 57 A escola campo se localiza na região central da cidade de Goiânia e oferece além do ensino fundamental II (6° ao 9° ano), o ciclo fundamental I (1° a 5° ano), com um total de 227 alunos no período matutino e 229 alunos no período vespertino. O público recebido na escola é bastante heterogêneo; são pessoas que vêm das regiões periféricas e centrais da cidade, oriundas da classe C e D. Trabalhadores, agricultores, familiares, extrativistas e pescadores, povos indígenas, comunidades quilombolas, desempregados em que boa parte da família enfrenta grandes dificuldades. Muitos apresentam carência afetiva e nutricional o que reflete no desenvolvimento emocional, cognitivo, físico. Percebemos que alguns desses alunos não dispõem de orientação familiar em relação a regras e valores de conduta necessária em todo e qualquer ambiente (Projeto Político Pedagógico, 2018). A escola atende a muitos filhos de trabalhadores informais do centro da cidade, de vendedores ambulantes, feirantes, catadores de materiais recicláveis; outro grupo que a escola atende são jogadores de futebol, que treinam na cidade e são tutelados por times de futebol, outra curiosidade é a permanência dos alunos desde o primeiro ano da educação infantil até o 9 ° ano. Eles vivem toda essa primeira fase escolar na mesma escola, o que acaba trazendo laços muito fortes desses alunos com a instituição. A escola possui uma forte atuação na questão da inclusão escolar, possui uma sala de Assuntos de Educação Especial (AEE) exclusiva e diversos alunos que se inserem em todas as salas da escola, com acompanhamento de professores de apoio, estes com formação em pedagogia e especialização na área de inclusão escolar. A escola conta com uma equipe de profissionais da primeira fase como pedagogos e professores de todas as áreas do conhecimento, além da equipe gestora, e da equipe da alimentação e limpeza. A estrutura física possui oito salas de aula, todas bem cheias e com pouca ventilação, uma biblioteca, com laboratório de informática disponível, mas sem internet disponível para os alunos, um pátio de tamanho pequeno e não possui uma quadra de esportes. O ambiente fora das salas é bem pequeno, isso faz com que qualquer ação diferente na escola impacte o andamento de todos os espaços da escola, seja o barulho, seja uma maior movimentação dos alunos entre outros. O pátio costuma ficar bem cheio nos horários de recreio e saída dos alunos. Não possui um parquinho, ou área de lazer, ou brinquedos disponíveis para as crianças. A entrada dos alunos segue uma mesma norma diariamente, eles se organizam em filas, cada um na sua turma. Quando bate o sinal eles se levantam fazem uma oração em agradecimento ao início do dia e são levados para a sua turma, orientados pelo professor regente. Essa mesma prática segue no término do recreio também, mas sem a oração. 58 Esse momento traz uma reflexão acerca da importância da organização do espaço como elemento estruturante da vida escolar, sendo uma forma rígida, vivida como determinação externa tanto para os estudantes como para os professores. A posição e ordenação dos corpos assinalam para papéis prefixados dos professores e alunos, os professores na frente da fila orientam a fila de estudantes, uma atrás da outra até a sala de aula. Isso pressupõe uma hierarquia a ser seguida e assinala o fato de que se está fora da sala de aula, o aluno deve cumprir regras rígidas de comportamento e até mesmo de movimentação dentro daquele espaço. Ao se questionar o sentido dessa prática a gestão da escola, a justificativa é o pequeno espaço físico, em que não caberiam todos os alunos caso não fossem feitas essas filas na entrada e no fim do recreio. A escolha político-pedagógica da escola de manter o estudante estritamente na sala de aula, por falta de espaço externo, se possível realizando atividades tradicionais (ler, copiar ou fazer contas), gera, em certa medida, uma desmotivação nos professores e alunos no sentido de organizar ou participar de atividades externas. A constituição da situação escolar se mostra através da interação entre sujeitos com práticas heterogêneas. As relações desses sujeitos se estabelecem em suas interações e suas relações com o conhecimento, mas também se estrutura a partir do tempo e do espaço escolar. Esses dois últimos elementos podem ser considerados estruturantes dessa situação, de forma diferente para o professor e para o estudante. O professor possui certo domínio sobre o espaço e o tempo da escola, podendo mudá-lo como exceção, mas também é determinado por ele, isso é algo que permeia o seu uso pelo currículo que deve seguir e pela própria arquitetura da escola. (EDWARDS, 1993) O espaço em que se realiza a atividade escolar é uma ordenação estruturada da realidade, assim como o tempo que vai estruturar significações específicas que se cruzam às práticas desenvolvidas na escola. A divisão dotempo em horas aulas e o recreio baseia um determinado uso do tempo, que contém uma mensagem implícita de valoração. O tempo e o espaço possuem um duplo significado; como meios de controle ou de permissividade, mas não são suficientes para compreender ou definir a relação entre professores e estudantes, esses segundo Edwards (1993) são definidos também pela forma do conhecimento e lógica de interação. No projeto se envolveram oito estudantes de licenciatura em história, uma professora da rede pública (coordenadora na escola), e dois professores universitários (coordenadores do 59 projeto). O tema foi discutido com todo o grupo participante, que tinha como um dos principais objetivos desenvolver a consciência histórica sobre o período da Ditadura Militar no Brasil, a partir da produção de vídeos pelos estudantes. Atuei nesse projeto como coordenadora na escola, como professora regente, e pude acompanhar todo o processo de desenvolvimento das atividades e discussões, além de assegurar, na medida do possível, a estrutura para o bom desenvolvimento dos encontros semanais. Trabalhava também no sentido de mobilizar os estudantes para a importância da sua participação, e da realização das atividades propostas. Como professora pesquisadora também buscava aprender os novos conhecimentos e ideias que os estudantes traziam para a sala de aula. O espaço da escola, nesse projeto se tornou estratégico durante o processo de desenvolvimento do projeto do PIBID, pois no momento de encontro com os bolsistas e os estudantes, todo o espaço da escola era disponibilizado para os quatro grupos que participaram do projeto. Sair da sala de aula e escolher os lugares em que se iam desenvolver as atividades do grupo, seja uma discussão, uma leitura, uma gravação, fez com que, gradualmente, os grupos tomassem os espaços da escola para além da sala de aula, desenvolvendo um maior sentido de pertencimento com o ambiente escolar. O tempo também foi regulado com maior autonomia pelos estudantes, os 50 minutos de uma aula tradicional não seguiam um cronograma fechado, mas organizado pelo próprio grupo, que decidia de forma coletiva a próxima atividade do encontro seguinte. Isso transformou a dimensão do uso do tempo dos grupos, pois em 50 minutos, muitas vezes, se aprendia muito mais em um debate proposto pelo próprio grupo do que copiando um texto do quadro, por exemplo. Essas ações foram feitas de forma deliberada, pois ter o tempo e o espaço vivenciado e manejado pelo próprio aluno não faz com que esse espaço e esse tempo sejam mal utilizados, ou que fique barulhento, ou bagunçado ou coisas do tipo, pelo contrário, os alunos vivenciam de forma íntegra aquele espaço, aquele momento de discussão livre, permitindo a expressão da singularidade dos sujeitos que participam do projeto. Em dia de aula normal, sem o projeto do PIBID ou algo do tipo, todos os professores podem disponibilizar um tempo e os espaços da escola para uma livre vivência dos estudantes. A autonomia vai se constituindo a partir de construção de momentos em que esse sujeito se apropria do tempo de aprendizagem, do seu espaço de vivência. 60 O sujeito se torna autônomo, a partir de oportunidades de praticar esse exercício, que o ambiente escolar pode, por uma opção político-pedagógico, proporcionar aos estudantes, em diversos momentos ao longo do ano letivo. O docente pode muitas vezes orientar o manejo do tempo, organizar o ambiente escolar para que o estudante seja o protagonista do seu próprio aprendizado. Momentos fora da sala de aula trazem aos estudantes maiores oportunidades de auto-organização dos estudantes, enquanto o professor torne o seu papel mais flexível na interação professor - aluno e que incentive seu aluno a organizar o tempo da aula em conjunto com o professor, por exemplo. O projeto se iniciou com alunos que cursavam o 9° ano do ensino fundamental II, sendo duas turmas de cerca de 30 alunos cada. Formaram-se grupos com a orientação de dois monitores para cada grupo (estudantes de licenciatura em história na Universidade Federal de Goiás - UFG) e grande parte dos alunos participou ativamente do projeto em reuniões semanais com os monitores. Foi escolhido, o recorte histórico da Ditadura Militar no Brasil (1964 – 1985). O desenvolvimento do tema com as turmas escolhidas foi feito através de algumas reflexões, sendo a primeira o fato de que o conteúdo da Ditadura Militar está previsto no currículo (DC- GO) das séries finais do ensino fundamental II. Mas a partir da minha prática como professora de história e de conversas informais com vários outros profissionais da educação, o estudo histórico sobre o período da Ditadura Militar na escola quase sempre não acontece, devido a inúmeros motivos: o conteúdo é trabalhado quase sempre, nos últimos meses do ano, em que se acumulam diversas atividades de recuperação do aluno e de fechamento de notas para o professor, sendo esse tema trabalhado de forma breve e conteudista. Outro aspecto seria a dificuldade de tempo do próprio professor para a pesquisa de fontes históricas sobre esse período, na falta de fontes disponíveis e adaptadas ao ambiente de sala de aula. O professor conta muitas vezes somente com a sua determinação, no sentido de construir atividades de forma mais completa e planejada. Na falta de tempo e incentivo pedagógico e estrutural básico, na sobrecarga de trabalho, temos, por exemplo, a dificuldade de xerocar as atividades, essas elaboradas, muitas vezes, na madrugada ou aos finais de semana, pois a escola não possui uma máquina de Xerox disponível. Outro aspecto que dificuldade trabalhar esse tema na escola seria que os estudos acadêmicos sobre esse assunto são recentes, em certa medida, o que inviabiliza ainda mais uma abordagem mais abrangente em sala de aula. 61 Sobre a produção acadêmica temos, os estudos sobre o Golpe de 1964 e o regime militar sendo divididos em dois momentos: uma primeira fase inspirada pela vertente norte-americana da Ciência Política, em que muitos estudiosos buscavam explicar, em termos nominalistas, as crises militares no Brasil e uma segunda fase memorialística — a primeira tentativa de construção de uma narrativa histórica sobre o período (FICO 2004). Na medida em que os historiadores tiveram acesso a arquivos e depoimentos que antes eram sigilosos, várias perspectivas surgiram na pesquisa histórica, como, por exemplo, as análises marxistas ou a valorização do papel dos militares. Entretanto, esse movimento ainda se mostra incipiente já que todo o conhecimento produzido sobre o período histórico da Ditadura Militar ainda não se aplica ao estudo escolar (FICO 2004). A inconsciência social, reforçada pelo trauma político do período da Ditadura Militar no Brasil, intensificou diversos conflitos como, por exemplo, a disputa dos conceitos básicos sobre o ano de 1964 ser considerado um golpe militar, um golpe civil militar ou uma revolução militar. Outra consequência da falta de sentido histórico é a naturalização da violência policial, principalmente nos grandes centros urbanos, fato diretamente relacionado, por exemplo, com a proibição ao acesso a documentos do exército brasileiro, dentre outras dificuldades. Assim, discutir essa temática em sala de aula é um desafio, pois, além das dificuldades citadas anteriormente, a temática remete a um período do nosso passado recente que foi silenciado em grande medida. O projeto do PIBID trouxe a oportunidade de trabalhar durante o ano todo sobre uma temática sensível à sociedade brasileira. Buscou-se, assim, abordar esse tema contribuindo com o conhecimento histórico escolar, relacionando-o ao presente dos estudantes. O estudo acerca deste tema possibilita que o estudante vivencie a experiência de conhecer de forma mais profunda esse momento da nossa história e seus reflexos em seu cotidiano. Além deconstruir sua própria narrativa do processo a partir da elaboração de um vídeo. Segundo Rüsen (2010) aprender história significa contar a História, isto é, significa narrar o passado a partir da vida no presente. O principal objetivo na didática da história é elaborar uma orientação relacionada à construção de identidade de cada um e, também, organizar a própria atuação nas lutas e ações do presente, individual e coletivamente. A formação de uma narrativa histórica se complementa ao conceito de consciência histórica, já que só podemos narrar àquilo que nos faz sentido e que nos orienta. O aprendizado 62 histórico a partir do presente desenvolve em certa medida essa competência de dar sentido ao tempo analisando-o para ser significativo. O projeto se desenvolveu com encontros semanais entre os grupos, que planejavam suas atividades a partir das demandas dos estudantes, dos seus questionamentos, suas curiosidades e pesquisas realizadas ao longo da semana. O PIBID História chega à escola campo com a proposta de uma intervenção que poderia despertar novas situações em um ambiente em grande parte organizado para que o aluno seja treinado para obedecer às regras impostas e que os conteúdos são transferidos. 2.1.2 - Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil. Durante as primeiras visitas dos monitores do PIBID à escola, na conversa com os estudantes, enfatizou-se a importância da participação de todos durante pesquisa, sem ser uma atividade obrigatória, mas que seria um momento de buscar novas formas de produzir conhecimento. O objetivo da apresentação do projeto às duas turmas foi de instigar os estudantes a participar de um momento de construção coletiva. Já que na maioria das iniciativas de atividades fora da sala de aula, em grupo e sem uma promessa de nota ou avaliação, até aquele momento, observa-se pouca adesão dos alunos. Eles não possuíam o hábito e quase sempre foram proibidos de sair de dentro da sala ou de participar de eventos culturais, apresentações ou palestras com toda a escola. Com a chegada dos monitores, a apresentação do projeto permitiu diálogos e trocas interessantes sobre realidades distintas e os estudantes assim demonstraram uma maior expectativa para participar do projeto. O ponto de partida foi o conhecimento prévio dos estudantes a respeito da Ditadura Militar, aspecto este fundamental para traçar as ações de pesquisa do projeto e desenvolver os temas e as competências da consciência histórica. Foi solicitado que os grupos entregassem uma imagem sobre o que eles acreditavam que representasse a Ditadura Militar no Brasil, sem se preocupar com o conteúdo certo ou errado, o objetivo era investigar esse conhecimento prévio dos alunos. Tendo como principal problemática a consciência histórica sobre a Ditadura Militar no Brasil partimos, então, para o questionamento sobre que tipo de conhecimento esse sujeito traz 63 sobre a Ditadura Militar no Brasil: a quais informações ele tem acesso? Quais as relações que ele estabelece com o passado ditatorial e o seu cotidiano no presente? Quais eram as impressões ou conhecimentos desses estudantes sobre esse período da nossa história? O que eles já ouviram falar? Quais histórias eles conheciam? Esse dado pautou todo o processo de pesquisa dos grupos e o recorte do tema, assim como a escolha dos documentos lidos, dos vídeos assistidos e debates realizados. Buscou-se discutir com o coletivo do PIBID que para se aprender/ ensinar história é preciso lidar com narrativas, argumentações, e explicações que relacionem passado-presente-futuro com os quais os estudantes vivem em seu cotidiano. A partir da investigação do conhecimento prévio dos estudantes, os monitores se colocam como um investigador social, que busca compreender e transformar as ideias históricas dos estudantes, baseadas na aula-oficina (BARCA 2004). Uma das maiores contribuições de se dar importância ao conhecimento prévio dos estudantes, como uma referência e suporte para a tematização dos conteúdos do projeto, e o recorte dos temas a serem estudados, é servir de ponto de partida para a seleção de fontes, problematizações e matérias que serão trabalhadas nos encontros (SCHMIDT, 2006). Partimos, também para a possibilidade de se elaborar um conjunto de categorias para análise de narrativas históricas elaboradas pelos estudantes. Esse ponto de partida traz em seu contexto a possibilidade de superação da “cultura do silêncio” (FREIRE, 1987), buscando ouvir as vozes de todos os sujeitos envolvidos na relação ensino e aprendizagem de história, além de envolvê-los no processo de produção do conhecimento. (SCHMIDT, 2006) Os monitores e os professores envolvidos no projeto são colocados como “investigador social”, “orientador de atividades” que problematizam o conhecimento prévio desse estudante, que é visto como agente de sua própria formação, com ideias e experiências diversas, um sujeito heterogêneo; o conhecimento histórico é considerado a partir de sua natureza múltipla, sendo utilizados recursos e formas de avaliação que se concentra em toda a produção dos alunos, focando seus efeitos nos agentes sociais. Os sujeitos narram a história, se localizam e se orientam no tempo; o ensino de história afirma que: aprender para construir-se, em um triplo processo de hominização (tornar-se homem), de singularização (tornar-se exemplar único de homem), de socialização (tornar-se membro de uma comunidade, partilhando seus valores e ocupando um lugar nela) (CHARLOT, 2000). 64 Existem basicamente três questões para se escutar os pensamentos do aluno sobre História: “(...) é através da consciência histórica que o homem experiencia e recorre a ela para experienciar sua posição presente” (BONETE, 2013), assim, ela faz parte do fundamento humano, e se constrói fora do espaço escolar. Essa concepção é compartilhada com: Heller (1993), Rusen (2001) e Cerri (2011). Argumentando sobre este pensamento, Heller salienta que a historicidade abrange três categorias: tempo, espaço e mortalidade. Dessas condições decorrem as nossas indagações: “de onde viemos, o que somos e para onde vamos?”. O estudante chega à escola como um sujeito multifacetado, heterogêneo, com visões de mundo e experiências únicas e coletivas, que devem ser consideradas na abordagem da Didática da História. A partir da elaboração dessas imagens dos grupos, tentou-se analisar como o pensamento histórico desses sujeitos, era formado para além-muros da escola, em toda história de vida desse sujeito, meio social, meios de comunicação que se tem acesso, comunidade, tradições, visão política entre outros elementos que permeiam a construção de uma consciência histórica, pautada em toda experiência desse sujeito. O ensino de história possui na escola elementos para sistematizar esse conhecimento e estabelecer meios de o estudante acessar o método investigativo da história que se baseiam em pesquisa de fontes, vestígios históricos que questionam em certa medida essa memória social, que muitas vezes não consideram métodos científicos. Mas essa linguagem deve dialogar com o que o estudante traz como visão daquele período histórico que será estudado. Outro aspecto desse trabalho é que todo o processo foi entendido como um duplo momento de pesquisa e ensino. A pesquisa não era somente uma ferramenta pedagógica, mas um princípio de toda atividade. O projeto trouxe a ideia de pensar o ensino e a pesquisa de forma relacional, em que os monitores e os estudantes realizassem uma reflexão e produzissem um conhecimento como sujeitos sociais e sujeitos produtores de conhecimento. A consciência histórica articula ações do presente com o passado, porém, não tem poder para antever o futuro e fazer da História um evento calculado no tempo e no espaço. Outra contribuição da consciência históricaé a criação da identidade coletiva que conduz a uma interpretação de si próprio, da sociedade e da coletividade, valorizando os saberes escolares e não escolares e especialmente, compreendendo que cada um compõe a sua história e juntos a história coletiva e o senso de coletividade. 65 Outra autora que contribui na discussão sobre educação histórica trazendo elementos importantes para o desenvolvimento do projeto é Schmidt (2009), desenvolvendo a ideia de que a educação histórica busca a interpretação histórica, transformando o presente do ponto de vista individual e coletivo, para construir uma orientação para a ação e intervenção na realidade social. A partir dessas considerações, percebe-se uma estreita relação entre aprendizagem histórica e narrativa na explicação histórica. Utilizando o estudo da Ditadura Militar, o estudante vivencia a experiência de conhecer de forma mais profunda, esse momento da nossa história e seus reflexos em seu cotidiano. Realizamos um processo que passa pelas seguintes fases de investigação: 1) Elaboração do instrumento, investigação e avaliação desse conhecimento prévio; 2) análise e discussões de diversas fontes históricas, feitas nos encontros semanais; 3) desenvolvimento de uma reflexão da construção do próprio pensamento sobre a Ditadura Militar no Brasil; 4) elaboração de um produto final, a partir de uma narrativa audiovisual, que evidencie a transformação da consciência histórica. A proposta da atividade aos estudantes foi elaborada a partir da premissa de que seria interessante que os grupos entregassem fotos, imagens representando momentos, cenas, cenários, objetos que trouxessem a noção histórica sobre esse período. Já buscando uma ponte para desenvolver um olhar fílmico, já que na fotografia se encontra oculto o “filme sonoro” (BENJAMIN, 1924). Mas exigir uma foto, até mesmo no celular, sem ser impressa, traria uma dificuldade para a maioria dos estudantes que ainda não tinham um aparelho celular, não possuíam um acesso constante à internet e não poderiam imprimir essa foto no tempo estipulado para a realização da atividade, que foi de uma semana. Frente a essa situação, abrimos para os grupos a elaboração de qualquer tipo de imagem. A maioria das imagens foi elaborada de duas formas: como desenhos, ao todo foram elaboradas e entregues 10 imagens, e como colagens de imagens, ao todo foram entregues 5 imagens disponíveis na internet, da época da Ditadura. Os temas e personagens abordavam temas que se relacionavam com: a violência policial, censura aos meios de comunicação, expressões culturais. O desenho como um elemento da investigação histórica traz a possibilidade de se interpretação de diversas histórias. O professor de história deve considerar as operações 66 cognitivas que o estudante utilizou ao usar a imaginação para tentar criar um raciocínio histórico, uma ligação entre o passado e o presente. Na investigação do conhecimento prévio também deve se levar em consideração a relação entre a imagem e sua representação a partir do discurso histórico do estudante. O processo de desenhar está interligado com a capacidade de ver (percepção) e está relacionado ao desenvolvimento das cinco habilidades necessárias à capacidade de percepção: desenhos de meros contornos (percepção e arestas); espaço negativo e formas positivas (percepção de espaços), proporção e perspectivas (percepção dos relacionamentos); luzes e sombras (volumes) e o Gestalt (sendo a percepção do todo ou sistema de leitura visual da forma a última habilidade surge como resultado da aquisição das outras quatro) (EDWARDS, 2005). No mundo em que vivemos estamos rodeados de imagens, vivemos no mundo visual, necessitamos de uma reeducação visual, pois as imagens têm o poder de sensibilizar o nosso olhar, que influenciam a forma de leitura que se faz do mundo (MACIEL, 2015). Nesse momento era muito importante criar um ambiente de confiança e liberdade entre os monitores e os estudantes dos grupos de modo que, como coordenadora, organizei os espaços de discussão e não participei das discussões dos grupos, por isso trago as reflexões a partir dos relatórios dos monitores, que elaboraram uma diagnose dos grupos a partir da discussão que tiveram com os estudantes sobre as imagens entregues. Esses relatórios apresentavam trechos das discussões sobre as imagens e análises das dificuldades e noções da história desse período que os alunos traziam de suas experiências. Durante a discussão percebeu-se que os estudantes apresentavam dificuldades para explicar conceitos e categorias importantes para o estudo da Ditadura Militar no Brasil, pois não haviam estudado sobre isso, recebendo então uma atenção particular dos monitores durante os encontros e nas aulas de história. E também não se mobilizaram para pesquisar de forma autônoma o tema. Conceitos como, ditadura, golpe político, ideologia, grupos de direita e grupos de esquerda, resistência armada, socialismo, capitalismo, entre outros conceitos. Esse seria um desafio para o projeto, pois os conceitos são muito importantes na construção da visão de mundo dos sujeitos, sendo que: Aprender conceitos não significa acumular definições ou conhecimentos formais, mas construir uma grade que auxilie o aluno na sua interpretação e explicação da realidade social. No ensino de História, a elaboração de grades conceituais pelo aluno pode facilitar a leitura do mundo em que vive (SCHIMIDT, 1999, p 149). Para o ensino de história importa tentar perceber quais são os conceitos fundamentais para que os estudantes da educação fundamental tenham uma formação histórica que os ajude 67 em sua vivência como cidadãos. Sendo importante nesse processo que os estudantes tenham acesso a fontes, que eles consigam interpretar inclusive fontes diversas sobre o período histórico. Que eles vivenciem momentos de exposição, trabalhos em grupos e debates. Enquanto o estudante tem acesso a um aparato conceitual da história, esse jovem se desenvolve de forma objetiva, fundamentado na análise crítica da evidência e de suas próprias interpretações de mundo social, permitindo que, assim, melhor se oriente no seu tempo. A Didática da História fornece, assim, os objetivos e as formas de educação histórica dentro de um dado contexto político, social, institucional e cultural. Ela se diferencia da metodologia da instrução histórica que estabelece os meios práticos pelos quais esses objetivos são alcançados (RÜSEN, 2010). Rüsen (2010, p. 140) afirma que “consciência histórica é uma categoria geral que não apenas tem relação com o aprendizado e o ensino de história, mas cobre todas as formas de pensamento histórico, através dela se experiência o passado e se o interpreta como história”. O principal objeto da Didática da História é, portanto, a investigação da aprendizagem histórica, porém não se limita a ela sendo a consciência histórica uma categoria geral de como o sujeito experiência o passado e o interpreta como história. A História entendida como um processo busca problematizar a vida social, tendo como ponto de partida uma investigação produtiva e “criativa”, buscando identificar as relações sociais de grupos locais, regionais, nacionais de outros povos perceber os conflitos e contradições, as igualdades e desigualdades existentes na sociedade, posicionando-se de forma crítica no seu presente, e buscando suas relações com o passado. Os monitores e o professor assumem assim uma postura de investigador social, explorando o mundo conceitual ou pré-conceitual dos estudantes para ajudá-los a reformular ou elaborar as suas ideias em História. Um segundo aspecto observado foi que os estudantes sabiam que se tratava de um período violento, em que o nacionalismo exacerbado foi estimulado, porém, não entendiam que se tratava de um conflito armado externo. Tais resultados chamam a atençãopara a necessidade de uma abordagem que instigue o estudante a buscar o conhecimento que ele ainda não possui. As aulas quase sempre trabalham de forma tradicional a relação do estudante com o conhecimento, sendo que o professor transfere o novo conhecimento para o estudante que recebe tal conteúdo. Quando o professor, no cotidiano da sala de aula, tem como objetivo um ensino renovado de História, procurando diferenciar a sua prática com a utilização de documentos e diferentes linguagens, ele precisa ter, como um dos pressupostos do seu 68 trabalho, a aquisição, construção e utilização dos conceitos históricos pelos alunos (SCHIMIDT, 1999, p. 147) Russen (2010) categoriza os tipos de conhecimento histórico que nesse caso pode ser comparado ao processo tradicional e exemplar a partir das reações estabelecidas com as formas de significação histórica, da orientação da vida interior e sua relação com os valores morais. As imagens foram formuladas a partir de questões do presente para elaborar problemas do passado. Mas ainda não se percebeu uma relação dialógica com esse conteúdo, caracterizando o conhecimento tópico ou conhecimento como operação (EDWARDS, 1993). As imagens que foram feitas a partir de colagens também trouxeram elementos para se analisar a noção que eles teriam da época da Ditadura Militar no Brasil. Já que para que houvesse colagem de imagens da internet, os estudantes pesquisaram sobre o tema, o que em certa medida se torna um ponto que demonstra uma tentativa de elaborar essa imagem, mesmo que sendo uma cópia da internet. Outro ponto, mais pragmático, é que esses alunos teriam a possibilidade de um acesso à rede de internet e a impressora. De qualquer forma, podemos perguntar para esses alunos o porquê da escolha daquela imagem frente a centenas de outras disponíveis na internet. A justificativa dos estudantes para a escolha das imagens como representação do significado da Ditadura Militar demonstrou a capacidade de identificar elementos desse período, como revoltas populares e o poder dos militares. Os estudantes compreendiam a importância de que, para viver em uma sociedade democrática é fundamental o livre acesso à informação dos meios de comunicação, nesse caso sendo representado pelo jornal. Sobre as imagens que tratavam da censura, foi possível observar que os estudantes, perceberam esse jogo de forças que a ditadura impunha à sociedade na totalidade, e o jogo das relações sociais entre o indivíduo e a sociedade, imposto pelo regime. As tensões entre as relações dos militares com a imprensa e com os movimentos culturais. . 69 Tema1: Violência policial. As quatro imagens produzidas pelos grupos possuem em comum uma situação de violência, entre as forças policiais e jovens, homens e mulheres. As expressões dos personagens policiais possuem uma expressão fechada e sisuda em ações de repressão. Em dois desenhos é mostrada a cena de um policial pisando na cabeça de uma jovem próxima a um caixão e de um jovem no ponto de ônibus, demonstrando uma forte cena de agressão física. Imagens que retratam certa naturalização da violência policial em nossa sociedade, na medida em que os estudantes se identificaram com essas situações em seu cotidiano. A presença constante de policiais que abordam jovens nas ruas, nos pontos de ônibus, de forma muitas vezes truculenta é uma constante na vida de grande parte dos estudantes. O artigo “Representações fílmicas de uma instituição policial violenta: resquícios da ditadura Militar em Tropa de Elite” (2010), das autoras Ângela Marques e Simone Rocha, traz elementos importantes para compreender essa temática da violência policial que permanece nos dias atuais, tendo como alvo os jovens da periferia dos grandes centros urbanos. 70 O filme Tropa de Elite se tornou uma referência para se discutir ações da polícia na sociedade. Muitos jovens a partir desse filme sonham em se tornar um policial de alta patente. Ao mesmo tempo, em que os estudantes relatam inúmeras abordagens policiais no caminho para a escola, ou trabalho em que eles são parados por estarem de boné, ou uma calça mais larga, por serem negros, por estar um grupo falando alto, por exemplo. Nesse sentido esse artigo se relaciona com a consciência histórica que os estudantes trazem das grandes mídias para a escola. O filme traz a violência como um ato de comunicação em um conflito, cuja solução não se pode contar com forças institucionais do Estado, a violência é uma expressão de uma situação limite. As autoras afirmam a naturalização de padrões simbólicos que representam resquícios das estratégias repressoras que atuavam na Ditadura Militar. Os policiais lidam com os cidadãos pobres e marginalizados a partir do abuso do poder, e o uso da agressão física para eliminar o “inimigo”. As imagens de violência transmitidas pela mídia de massa no país chamam a atenção para o crescimento da truculência policial para combater a criminalidade nos grandes centros urbanos. O imaginário social do policial como “exterminador de bandidos” é constantemente alimentado por um aparelho opressor que ainda recorre a táticas repressivas e reativas oriundas da Ditadura Militar. (MARQUES; ROCHA, 2010, p. 49 - 58) Herdamos da época da Ditadura Militar, uma prática de segurança social, uma polícia que se baseia em matar de forma indiscriminada e encoberta desde assaltantes, traficantes, sujeitos suspeitos de qualquer natureza. Essa prática acaba reforçando uma herança de violação dos Direitos Humanos vindos da ditadura como a tortura, desaparecimento, sequestro e morte de opositores ao regime militar. Tema 2: Censura aos meios de comunicação. 71 As três imagens acima tratam em comum da censura, nos órgãos de imprensa, na televisão e a própria liberdade de expressão. O desenho sobre o jornal traz um jornal rasgado como um corpo de um militar que vigia as notícias, já a segunda, menos elaborada, traz a boca fechada por um x e um rosto sem expressão. Na terceira imagem temos uma televisão sendo censurada. Podemos observar múltiplas formas e instituições que promoveram a censura durante a Ditadura Militar (FICO 2004). Temos o Sistema Nacional de informações (SNI), a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), o Centro de Informação do Exército (CEI). Esses órgãos promoveram dois tipos de censura: a moral e política, a legal e a revolucionária. A censura política ia dos jornais a programas de televisão, músicas e peças teatrais engajadas, já a censura moral se colocava como guardiã da “moral e dos bons costumes do cidadão de bem”, e censurava tudo o que se referia às diversões públicas como músicas de duplo sentido, cenas de sexo no cinema entre outros. A censura política a imprensa foi negada até 1973, embora o regime a praticasse, sendo o seu auge nos anos de 1968 – 1974. Com a edição do AI-5 o regime assume abertamente o caráter político-ideológico da censura, que se mantém por um período considerável que varia também em intensidade, mas que perde força (não sendo totalmente desarticulada) com a instauração do processo de abertura. Outro elemento a se destacar é que parte da imprensa também apoiou a Ditadura Militar. Os jornais foram “colaboracionistas”, no sentido de se comprometer com o regime militar, a autora Beatriz Kushnir (2004), traz uma análise da atuação do Jornal da Tarde, do grupo Folha de São Paulo, que retrata as diversas forças que atuavam nesses espaços, mas afirma a grande diferença entre os donos dos jornais e os jornalistas, sendo o dono do jornal um grande agente de censura, O Jornal da tarde era conhecido como o jornal “de maior tiragem” e também era conhecido como “a delegacia”. 72 Ao analisarmos a censura desse período, devemos considerar os diversos agentes da sociedade civil e do regime militar, a censurapolítica à imprensa era considerada revolucionária pelos órgãos do regime que acreditavam estarem promovendo uma ação saneadora, curando o “organismo social”, de modo a destruir o comunismo. Atualmente, os debates acerca da censura às manifestações artísticas retornam ao cenário público. Obras de arte, exposições, apresentações de teatro são rejeitadas, fechadas e proibidas. Nas últimas eleições o debate sobre censura se acirrou colocando em oposição grupos que defendem a liberdade de expressão artística, a grupos que defendem a moral e o conservadorismo. Nesse contexto, o período da ditadura vem sendo retomado em tons patrióticos, redesenhando o imaginário sobre o regime e tornado suspeitas palavras como democracia e liberdade. 2.2 - Análise da abordagem dos grupos. 2.2.1 - A construção de narrativas e a consciência histórica: Memória de tortura censura, trauma e resistência. Ao longo do desenvolvimento do projeto foram gravados áudios e vídeos, como registros de relatos orais das diversas discussões e atividades organizadas pelos grupos. Esse registro oral se tornou uma importante fonte histórica, pois através da sua transcrição, percebem-se os múltiplos olhares que os temas sobre a Ditadura Militar trouxeram na formação dos estudantes envolvidos. A partir da transcrição de alguns áudios, analisaremos como eles iniciam esse processo de elaboração de uma narrativa histórica, a partir do contato com múltiplas fontes. A abordagem da análise possui a perspectiva de compreender como os estudantes desenvolvem suas ideias a partir de conceitos relacionados com a Ditadura Militar no Brasil. A formação histórica, no movimento de aprendizagem da objetividade para a subjetividade significa uma flexibilização dos próprios pontos de vista do sujeito, ao apropriar-se de experiências do passado. Posições baseadas em percepções rígidas são preparadas para transformar-se pela argumentação aberta. Isso demanda o aumento da capacidade de empatia e a condição para perceber a sua própria identidade histórica, abrindo espaço para a alteridade dos sujeitos que passamos a conhecer, manter e se relacionar. (RUSSEN, 2007) 73 O processo de formação por aprendizado da consciência histórica se dá através do discurso elaborado por meio da narrativa. Nessa elaboração temos uma dupla experiência (MARTINS, 2010): 1) O contato com o legado da ação humana, acumulada ao longo do tempo; 2) através do contato com a experiência escolar, onde se aprende com o que encontramos e aprendem conosco aqueles que convivemos, a partir de ações na vida prática, produz-se no mundo cotidiano uma realidade transformadora. As operações de aprendizado histórico e para o desenvolvimento da consciência histórica, se dão através de operações de experiência, interpretação e orientação (RUSSEN, 1994). Mas o aprendizado histórico não pode ser compreendido como um processo uniforme, e o que representa essa operação é a constituição de uma narrativa histórica, como uma determinada construção de sentido sobre a experiência no tempo. O aprendizado histórico pode, portanto, ser compreendido como um processo mental de construção de sentido sobre a experiência do tempo através da narrativa histórica, na qual as competências para tal narrativa surgem e se desenvolvem. (RUSSEN, 2010, p. 43) A respeito dos grupos anteriormente citados, seguem suas descrições, análises e reflexões: 2.2.1.1 - Grupo: Resquícios da Ditadura Militar: Memórias de Tortura. Esse grupo definiu o seu tema a partir de uma votação, organizada pelos próprios estudantes, sendo a tortura o tema escolhido. A metodologia para analisar as fontes e os documentos históricos, vídeos e testemunhos foi dividir os por subgrupos que pesquisaram os torturados, os torturadores e os instrumentos de torturas, sendo grupos rotativos ao longo do ano. Os estudantes produziram uma linha do tempo do período da ditadura Militar em que pesquisaram os principais acontecimentos desse período e elaboraram cartazes, que foram posteriormente discutidos por todo o grupo. Em uma das atividades realizadas pelo grupo, os estudantes assistiram o depoimento de uma série produzida pela TV Assembleia e pela Comissão Nacional da Verdade do estado de São Paulo (2013) em que uma atriz (Fernanda Azevedo) encena a biografia de Ana Rosa Kuscinsk (9m.9s), uma militante de oposição ao regime militar, desaparecida desde 1974. E viram também trechos do depoimento de Cláudio Guerra a Comissão Nacional de Verdade-Brasília DF em 2014, ex-servidor do exército e policial civil em 1971, um dos agentes da repressão. (2 h.06.m. 16 s). 74 Seguiram-se as seguintes impressões dos estudantes: Por que na época não era assim: “ah, te bati”, não era essa agressão, era tortura realmente, né? Era chegar assim, das pessoas ficarem com um psicológico bem diferente… (A. L. 9º B. Áudio gravado, no dia 11/04 na E.E Gracinda de Lourdes, disponível em acervo da autora). Eu acredito que pessoas choram até hoje, por causa, lembrando, sabe? Por que isso é algo na cabeça que não dá pra esquecer mesmo, porque você sentiu na pele, tem gente que fica com cicatrizes daquilo. Então toda vez que você for olhar algo assim, aí você vê, sabe... (D. F. 9º B. Áudio gravado, no dia 11/04 na E.E Gracinda de Lourdes, disponível em acervo da autora). Eu acho que assim, não tem só a tortura psicológica, porque vocês falaram dos barulhos e tals, tipo, tem as cicatrizes, muitas cicatrizes no corpo, quando você olha pra cicatriz tú lembra, aí vem àquela lembrança horrível da pessoa fazendo a tortura com você, né? (H. L. 9º B. Áudio gravado, no dia 11/04 na E.E Gracinda de Lourdes, disponível em acervo da autora). Podemos identificar alguns elementos em comum, como, o reconhecimento da tortura tanto física como psicológica, a questão do trauma representada nas cicatrizes deixadas no corpo, revela essa tensão entre o lembrar e o esquecer-se de uma situação limite em que se ouve sobre a dor e a perda. Identificamos também sentimento de indignação e empatia ao verem os relatos, o que abre a possibilidade de uma elaboração mais significativa, do que se refere ao conhecimento histórico desse período. Fontes históricas que mobilizam o estudante, que chamam sua atenção fazem com que esse sujeito busque soluções no presente ou questionamentos para ressignificar essa realidade vivida no passado. No caso da Ditadura Militar o uso das fontes através de testemunhos de torturados ou torturadores possibilita, através da metodologia de análise da história oral, que essa memória seja fonte e objeto de estudo. Sendo a subjetividade considerada como algo intrínseco dessa fonte, principalmente no que se refere ao que falta nesse testemunho. Sendo considerado o registro de um sobrevivente, devemos nos atentar não somente para o que se encontra, mas, sobretudo para o que falta nesses testemunhos. (ARAUJO, SILVA, 2012) O estudo da Ditadura Militar traz no ano de 1968, ano de execução do Ato Institucional número 5, um importante marco temporal desse período. Esse ato foi uma expressão vitoriosa de um anseio de parte do exército, considerado linha dura que desde o golpe de 1964 vinham ganhando espaço no regime, como um grupo de “força autônoma”, de oficiais superiores que implantavam uma “operação limpeza”, defendendo a suspensão dos direitos constitucionais para que os comunistas e os corruptos fossem eliminados do país. A paulatina adoção de práticas repressivas cada vez mais violentas, pelo regime militar, não aconteceu, segundo (FICO,2004) por motivos políticos conjunturais. Como as eleições de governadores opositores ao regime militar, em 1965, ou a prática da luta armada nos eixos urbanos, como se costumava pensar. Esses eventos foram pretextos manipulados pelas “forças 75 autônomas” para seguirem com seu projeto de limpeza social. O AI-5 retomou a operaçãolimpeza como instrumento definitivo em 13 de dezembro de 1968, institucionalizando os diversos sistemas repressivos. Em 1969 o Sistema Centro de Operações de Defesa Interna- Destacamento de Operações de Informações (CODI-DOI), oficializou a prática de prisão seguida de tortura, (feitas desde 1964), e muitas vezes de mortes, realizado pelos policiais dos departamentos de ordem política estadual e pelos agentes de três centros de informações dos antigos ministérios militares: CIE, CISA (Centro de Informações da Segurança da Aeronáutica) e o CENIMAR (Centro de Informações da Marinha). No debate historiográfico atual temos, em geral, uma visão de que nesse período se estabeleceu um confronto entre a luta armada e a repressão. Porém, segundo Fico (2012) “isso está muito longe da realidade”. O historiador busca uma interpretação mais completa e aprofundada desse período histórico e chama a atenção para além da dicotomia entre repressão/ vitimização, afirmando que essa leitura acaba sendo reducionista, pois não somente os militares, mas empresários, legistas e toda uma rede operou para que a tortura política fosse efetiva no Brasil. Além disso, a heroificação dos que sofreram a repressão, e foram vítimas de uma história de resistência e sofrimento, acabaram assumindo um papel romantizado na memória construída por eles. Trouxe para a centralidade do debate a questão da violência do regime e da sua censura, em que se escondiam as ações repressivas e ilícitas, da população. Sentimentos que restaram em relação à Ditadura no Brasil são muitas vezes de inconclusão, injustiça, silenciamento, frustração e impunidade (FICO, 2012), ressentimento (GRIN, 2012), trauma (KHELL, 2010) sendo alguns dos sentimentos que a discussão sobre os testemunhos desse período retoma. Tornam-se necessários, portanto, o registro da história, o resgate da memória, revelação e esclarecimento, responsabilização, anistia, perdão, punição e justiça (ARAUJO, 2012). É importante nesse sentido para as novas gerações que através da escola, como um espaço privilegiado de formação e ressignificação da memória, esse passado ainda tão marcado seja desmistificado e retomado como um produto da nossa história e da nossa cultura política, para se tornar indutor de novos caminhos para a nossa sociedade. Revelar essas marcas do passado para as gerações procedentes, contribui na superação desse trauma, elaborando o nosso passado com a crítica ao presente prejudicado, para evitar que esse passado se mantenha ou se repita. 76 Portanto, o estudo sobre períodos traumáticos — Ditadura Militar, escravidão, genocídio indígena —, deve ser realizado com uma reflexão cuidadosa para que confusões, vazios de discurso e atenuações de situações injustificáveis não se solidifiquem no conhecimento discutido em sala de aula. Para Prost (2002), Para Prost (2002), [...] o tempo da história constrói-se contra o da memória. Contrariamente ao que se escreve frequentemente, a história não é uma memória. […] O registro frio e sereno da razão toma o lugar do registro mais caloroso e tumultuado das emoções, em vez de reviver trata-se de compreender. […] Fazer história é construir um objeto científico, historicizá-lo, que consiste em construir sua estrutura temporal, espaçada, manipulável, uma vez que entre as ciências sociais, a dimensão diacrônica é o próprio da história (PROST, 2012, p. 106). A memória de temas recentes como A Ditadura Militar no Brasil se mantém em disputa, assim como o seu debate histórico e traz inúmeras consequências para a construção de uma sociedade democrática no Brasil (REIS, 2004). Reconhecer esse momento tão recente de nossa história é um exercício de cidadania e, em certa medida, de transmissão de experiência entre gerações. “Da experiência como sentido que uma coletividade é capaz de extrair a partir do que seus antepassados viveram, ou de narrativas que seus contemporâneos trouxeram”. (KHEL, 2009). 2.2.1.2 - Grupo: Censura às artes e aos meios de comunicação. Esse grupo iniciou a discussão dos temas a partir de sugestões de alguns recortes dos monitores, como música, cinema, teatro, tortura, mulheres entre outros. Depois dessas sugestões, por meio de um grupo no WhatsApp, nós pedimos para que os estudantes votassem o tema. Com o empate entre música e teatro, depois de uma longa discussão optaram por teatro. Foi sugerido então o nome de duas peças: O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, e Roda viva de Chico Buarque. Após a escolha pela peça Roda Viva, pedimos que os alunos procurassem na internet sobre a ditadura militar para eles irem se familiarizando com o tema, até procurarmos leituras e informações sobre a obra escolhida. Assim procuramos explorar em diálogos e mesa redonda o que eles traziam de pesquisa sobre o assunto, fatos, pessoas, questionamentos. Outra estratégia foi dividir os estudantes em duplas e tentar fazer com que eles conhecessem cada um dos presidentes do regime militar, quem eram qual o papel de cada um dentro do regime e seus feitos. Durante essa estratégia procuramos não fazer juízo de valores como, "esse foi bonzinho", "esse foi mal", deixando que os estudantes tirassem suas próprias 77 conclusões, para tentarmos entender as ideias históricas dos alunos sobre o tema, por si só, a seu modo, sem interferência. Para esta atividade foi utilizado um material paradidático da própria escola, uma coleção chamada "Os Presidentes", esta uma minibiografia sobre cada presidente. Foi dado um livro para cada dupla e a atividade do próximo encontro seria que cada dupla destacasse os pontos que achou mais interessantes sobre vida de cada presidente. De uma maneira informal, em uma roda de conversa, no próximo encontro, foi aparecendo a impressão de cada um sobre cada presidente, o que se tornou uma oportunidade muito rica de troca de conhecimento, pois entre eles mesmos foram surgindo perguntas e questionamentos sobre atos e fatos dos presidentes a respeito de atos institucionais, cassação de direitos políticos. O momento se tornou uma batalha de história, em que cada um queria saber mais sobre os fatos. A partir dos resultados dessa discussão, partimos para a estratégia de ligar esse conhecimento sobre os presidentes com a peça Roda Viva e com a questão da tortura e perseguição que continuava a chamar a atenção deles e a deixá-los instigados. Para tanto, resolvemos extrair elementos da própria peça para explorar o que chamou mais a atenção deles. Decidimos levar um documento produzido na época que mostrasse a censura em relação aos artistas da peça e da própria peça, integrando a peça e os temas da tortura e da perseguição e mais o que eles extraíram das minibiografias, ou seja, tentamos trazer o que eles leram dentro de cada biografia, e procuramos na peça vestígios sobre os atos de cada presidente. Para isso, levamos cópias do texto da peça Roda Viva para os alunos. Esta obra foi escrita por Chico Buarque no final de 1967 e estreou no Rio de Janeiro no início de 1968, sob a direção de José Celso Martinez Correa. Fizeram parte do elenco de Roda Viva, Marieta Severo, Heleno Prestes e Antônio Pedro. Já na segunda temporada e considerada um símbolo da resistência contra a ditadura Militar contava no elenco com Marilia Pera, André Valle e Rodrigo Santiago. O espetáculo conta a história de um ídolo da canção que decide mudar de nome para agradar ao público, em um contexto de uma indústria cultural e televisiva nascente no Brasil dos anos 60. O personagem é a representação de uma figura manipulada — pela indústria fonográfica e/ou imprensa — que promove uma reflexão acerca da sociedade de consumo. A peça é encenada em dois atos, contando a ascensão e queda de Benedito Silva, que passou a adotar o nome de Ben Silver. 78 Em julho de 1969, um grupo de pessoas ligadas ao Comando de caça aos Comunistas (CCC), invadiu o TeatroGalpão em São Paulo, depredou o cenário e agrediram vários artistas, o espetáculo acabou sendo proibido pela censura. O espetáculo foi considerado pela censura como "degradante" e "subversivo". Segundo o censor responsável, Mario F. Russomano, Chico Buarque "criou uma peça que não respeita a formação moral do espectador, ferindo de modo contundente todos os princípios de ensinamento de moral e de religião herdados de nossos antepassados". Pedimos que eles lessem e destacassem o que foi considerado mais interessante, e procurassem elementos da peça que eles achavam que incomodavam tanto os militares, a ponto de censurá-la. Alguns alunos trouxeram as cópias grifadas nesses trechos, alguns até escreveram sobre o porquê supunham que aquele ponto do texto incomodou tanto os militares. Para finalizar essa parte em que os alunos fizeram uma análise interna e externa do documento, no caso, através da peça teatral, pedimos que, para o próximo encontro, eles pesquisassem sobre a peça em si, quando foi criada, por quem foi criada, em que período, para qual finalidade eles acreditam que foi criada, etc., e isto funcionou plenamente. No encontro seguinte, em uma conversa procuramos comparar o que foi feito pelos alunos, uma comparação entre os pontos principais sobre a criação da peça e os trechos principais por eles destacados no próprio texto da obra, suas anotações nas cópias deste. Eles identificaram alguns elementos importantes sobre peça como: o título remete a um fatalismo dos dias, porque a roda viva tudo devora, e sempre em proporções gigantescas sobre tudo, sonhos, ideias e os modos de pensar das pessoas e, claro, remete também à ditadura e a toda a sua opressão, mostra o jogo de interesse financeiro e mercadológico de empresários do show business. Neste sentido, a partir de uma crítica interna do documento histórico, que seria a peça Roda Viva, os alunos constataram esse jogo de forças e relações que a ditadura impunha à sociedade como um todo e entre o indivíduo e a sociedade. A partir desse ponto da atividade, apresentamos um texto encontrado na internet, um documento, o qual censurava a peça e relatava os motivos para tal. Nós lemos e debatemos o texto, destacamos algumas coisas. Surgiu a ideia de apresentar o documento em forma de teatro. Os alunos participaram ativamente, da organização e ensaio da peça, uns quiseram encenar o espião, outros, a plateia, outros, o inspetor de polícia. Foi um momento bem criativo e divertido, mas nosso recurso audiovisual para a gravação era bem simples, o que foi uma pena, pois a imagem, por exemplo, ficou sem qualidade. 79 Abaixo, vamos analisar o áudio transcrito de um vídeo gravado, em que um participante desse grupo comenta suas principais impressões, sobre o período estudado: Teve um jovem de 16 anos em protesto contra os militares, ele acabou sendo morto, aí como ele foi morto, ele acabou ganhando o respeito das pessoas, e foi feita a Passeata dos Cem Mil, que foi feito em uma praça lá em São Paulo que eles estavam em luto por causa da morte desse jovem. Entre isso várias opressões de pessoas que eram contra a ditadura aconteceram, muitos militares também morreram, famílias presenciaram a morte de seus familiares, mas o povo estava indignado. Os dois lados estavam errados, os militares por estarem atacando as pessoas e as pessoas por estarem revidando isso de uma forma errada (J. D. 9º A. Vídeo feito dia 06/11/2017 na E.E Gracinda de Lourdes, disponível em acervo da autora). No começo do regime militar a economia do Brasil cresceu bastante e os militares usavam aquilo a favor deles. Que o Brasil estava daquele jeito por causa deles. Na copa do mundo quando o Brasil ganhou eles disseram que foi obra deles. E muita das vezes eles passavam programas na televisão, propaganda dizendo assim o Brasil ame- o ou deixe-o, querendo mostrar que o que eles estavam fazendo com o Brasil era uma coisa boa, incentivando. Mas as pessoas estavam indignadas, pois sabiam o que estava atrás disso. E eles também reprimiam as notícias sobre eles que mostravam nos jornais. Se a pessoa pegasse um jornal e tivesse um espaço em branco ela sabia que naquele lugar “tava” alguma coisa que os militares não queriam mostrar. E vários cantores de MPB, eles faziam músicas contra os militares, mas de uma forma discreta, eles pegavam e cantavam suas músicas, então eles pegavam e cantavam suas músicas como que se fossem códigos querendo se referir diretamente aos militares de uma forma indireta então isso os militares não percebiam quando a música passava para eles simplesmente eles achavam que era uma música como outra normal (J. D. 9º A. Vídeo feito dia 06/11/2017 na E.E Gracinda de Lourdes, disponível em acervo da autora). Percebe-se nesse trecho a referência ao jovem Edson Luiz, assassinado em 1968 pela polícia em um protesto contra os militares, e à Passeata dos Cem mil como resultado dessa “injustiça”. O estudante problematiza também a questão da opressão e da resistência, e consegue perceber a tensão da relação entre os resistentes e os opressores. Edson Luis de Lima Souto, de dezessete anos era secundarista, de origem pobre e não tinha militância política. No momento em que recebeu um tiro de um policial estava defendendo o restaurante onde comia, o “Calabouço”. Esse refeitório, ou bandejão existia desde 1946 e reunia no centro da cidade, perto do aeroporto, basicamente secundaristas e estudantes que fariam o vestibular. Sua comida era nutritiva e barata, porém insossa. Tinha fama em 1968 de um centro de agitadores e estudantes profissionais, quando na realidade era apenas um refúgio para pessoas que não tinham o que comer. A morte desse estudante desencadeou uma série de manifestações de grupos organizados ou não contra o regime militar, organizações de esquerda, artistas, estudantes. Que organizaram uma passeata no Rio de janeiro, que ficou conhecida com a Passeata dos Cem Mil, que teve seu ponto de partida na Cinelândia. Havia nela os grupos dos artistas, a ala dos padres, o grupo dos deputados, escritores e escritoras entre várias personalidades e pessoas comuns. 80 Já o segundo áudio, o estudante chama a atenção para como a censura aos jornais e músicas engajadas, foi alvo da censura política. Ele identifica uma das inúmeras formas que a sociedade artística tentava burlar a censura “através de códigos”. Ele cita o Milagre econômico e como a propaganda foi utilizada, durante o regime, construindo os argumentos para demonstrar a censura a jornais e a músicas da época. Vale destacar que a censura institucionalizou a censura política a imprensa, em que se passou a ocultar ou manipular as notícias, problemas e conflitos do Regime militar da maioria da população. Que também foi forjada através da propaganda política, associada a Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) e pelo SNI. A primeira instituição foi criada inicialmente para melhorar a imagem do marechal Costa e Silva, possuía uma atuação mais pedagógica e assumia ações consideradas “civilizadoras”. Sua missão era educar e defender a sociedade brasileira de ataques a “moral e aos bons costumes”. As suas propagandas vinculavam o Brasil e os brasileiros como alegres, otimistas e cordiais. Campanhas como “O Brasil merece nosso amor”, “Ninguém segura o Brasil”, foram desenvolvidas pela AERP, durante o governo do General Emílio Garrastazu Médici. Já o SNI possuía uma atuação mais “saneadora”, eliminavam mesmo fisicamente, comunistas, subversivos e corruptos. Essa instituição levava a televisão discursos de militantes da resistência armada arrependidos, feitos prisioneiros. Ela criou campanhas como “Brasil: Ame-o ou deixe-o”. O aluno traz uma narrativa desse período bem cronológica e tradicional, se atentando a fatos considerados importantes sem se colocar no papel daqueles sujeitos, ou ter algum tipo de juízo de valor.Sobre os militares ou sobre a oposição. Tendo uma narrativa de mediação de conflitos e conciliação histórica, dando exemplos de como os artistas “burlavam” a censura. Ele não dicotomiza as forças envolvidas nesse conflito, mas, ao mesmo tempo, não se posiciona como um sujeito do presente olhando um passado de práticas autoritárias e antidemocráticas. Em certa medida ele ainda demonstra uma aprendizagem cronológica da vida política numa memorização, incoerente, sem realizar nenhuma ligação com o presente. (SCHMIDT, 2009) Um dos principais desafios do ensino de história é auxiliar no desenvolvimento da consciência histórica, no que diz respeito à aquisição das três dimensões do aprendizado histórico — experiência, interpretação e orientação. Não é só uma capacidade, mas múltiplas capacidades articuladas e equilibradas (RUSSEN, 2011). 81 Muitas vezes se negligencia a capacidade de interpretação e orientação, em benefício do saber empírico. Se deixa de lado o fato de que o saber histórico é um produto da experiência e da interpretação, resultado de síntese, e não um mero conteúdo a ser decorado. (RUSSEN; 2011 p. 111) 2.2.1.3 - Grupo: De Marco Antônio a Mateus: A violência policial institucionalizada contra a juventude. Esse grupo desenvolveu suas primeiras atividades depois da elaboração, instrumento de cognição histórica a partir de discussões sobre conceitos históricos, tanto do conteúdo específico da ditadura Militar no Brasil como de conceitos de “segunda ordem” (Lee, 2005), como desenvolvimento, progresso, continuidade, que seriam importantes para compreensão do passado, partindo da realidade dos estudantes. A aprendizagem histórica que parte dessa perspectiva critica a aprendizagem tradicional, que possui algumas características como: centralidade na figura do professor, a passividade do aluno, e a memorização dos conteúdos, centrada somente no conhecimento do passado. O conceito de consciência histórica, a partir de Russen (1993) é o modo pelo qual a relação dinâmica entre experiência do tempo e intenção no tempo se realiza no processo da vida humana. A história tem uma função de fornecer elementos para uma orientação, interpretação e para uma “contra — internalização”, que não se esgote somente na crítica ou na negação, mas em uma “contra-consciência”. (SCHIMIDT, 2009) A formação dessa contra-consciência deve considerar os sujeitos escolares, os jovens estudantes, como uma categoria historicamente construída. A relação entre o que eles estabelecem como conhecimento devem ser pensados a partir desses pressupostos. (SCHIMIDT, 2009) Os áudios abaixo foram gravados a partir de algumas discussões desses conceitos: A Ditadura Militar pra mim foi um período de muitas guerras, destruições, mortes inúteis, um período triste porque além de pessoas, homens, ter ido lutar na guerra, pessoas morriam pelo conflito que não era necessário, não só acabando com uma vida mais também com os familiares e amigos. (A. L. 9º B. Áudio gravado, no dia 11/04 na E.E Gracinda de Lourdes, disponível em acervo da autora). A época da ditadura militar meu tio serviu o exército ele via o que acontecia lá dentro e ele também fala que eles era treinado para guerra só que eu me pergunto eles foi treinado para guerra só que não tem guerra?’ (A. L. 9º B. Áudio gravado, no dia 11/04 na E.E Gracinda de Lourdes, disponível em acervo da autora) Podemos identificar nessas falas algumas referências que tratam da Ditadura Militar como uma “guerra”, com pessoas que serviam o exército e eram preparados para a guerra e pessoas que morriam nesse conflito. Essas referências podem indicar o início da construção de 82 uma ideia de resistência, de oposição ao regime, que mesmo com toda força militar, não obteve apoio total da população. A resistência armada foi um movimento, representante da oposição ao regime militar no Brasil, ela era formada basicamente por organizações da “Nova Esquerda” que se formaram no Brasil a partir de 1961 a 1971, eram organizações clandestinas que surgiram como alternativa ao PCB, e que tinham como principal objetivo dirigir as lutas sociais e políticas, no sentido de liquidar com a exploração social, da dominação do capital externo e na construção de uma sociedade socialista. (REIS, 2006) O período que vai de 1961 a 1971 traz características específicas das organizações de esquerda do país. Em geral, se defendia a ação das vanguardas políticas na liderança do processo revolucionário, frente à luta de classes. A nova esquerda rompia com uma tradição de luta que vinha desde 1922, centralizada pelo PCB, e ao invés da conciliação de classe, se entendia que se deveria ter uma postura de desconfiança e denúncia sobre a burguesia. A Nova Esquerda também trazia a ideia de que a luta de classes era possível somente através da luta armada e da destruição das instituições burguesas, da “liquidação como classe dos senhores da terra”, e dos grandes empresários associados ao capital internacional. Eles também negavam as experiências de lutas da esquerda anteriores a eles, inclusive associavam aos erros do PCB a vitória do golpe militar. (REIS, 2006) Essas novas organizações reivindicavam novos modelos internacionais de revolução, como a Revolução Cubana de 1959 e a Revolução Chinesa de 1949. Trazendo também novos valores políticos como: dedicação 24 horas para a revolução, o igualitarismo entre dirigentes e dirigidos, o espírito de sacrifício e ascetismo, a confiança na ação e na intervenção vanguardista. No ensino de história deve-se ter em mente essas especificidades ao se trabalhar testemunhos de torturados, ou de ex-militantes de organizações de oposição a Ditadura Militar, considerando todo esse contexto que caracteriza a resistência armada no Brasil. Independentemente da vontade revolucionária das esquerdas armas, pode-se constatar em retrospecto que elas eram frágeis demais para tomar o poder. Fizeram parte de um arco amplo e heterogêneo de oposição a ditadura, que pode ser chamado de “resistência”. As oposições nunca chegaram a se unificar, por vezes havia divergências irreconciliáveis entre elas, pois a única afinidade existente era o fim da ditadura. (RIDENTINI, 2004 p. 57) Havia uma multiplicidade de organizações e partidos da nova esquerda, elas se originavam a partir cinco troncos principais (REIS, 2006). O primeiro é formado pela Organização Revolucionária Marxista-Política Operária (ORM-POLOP), e organizações dissidentes ou que se formaram sob sua inspiração: VPR, Comando de Libertação nacional 83 (COLINA); o Partido Operário Comunista (POC) e o Movimento nacionalista Revolucionário (MNR). O segundo se origina da AP, vindo dela o Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT); Ação Popular marxista – Leninista (AP-ML). O terceiro tronco provinha do Partido Comunista Brasileiro (PC do B); vinham a Ala Vermelha do PC do B (PC do B-AV) e o Partido Comunista Revolucionário (PCR). O quarto vinha do PCB se subdividindo em duas seções: as Dissidências e as Correntes. A primeira geraria organizações regionais como: a de São Paulo ingressaria na ALN; a da Guanabara formaria a Dissidência Comunista da Guanabara (DI-GB), que mais tarde seria o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8). O segundo daria origem ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e ao Movimento de Libertação Popular (MOLIPO). O último tronco reivindicaria o legado trotskista, sendo representado pelo Movimento Estudantil 1° de Maio. E por último, as experiências do Movimento de Ação Revolucionária (MAR), formado por militantes do PCB e do MNR e da Vanguarda Armada Revolucionária- Palmares (Var-Palmares). Durante a Ditadura Militar assistimos a uma centralização e unificação do poder do estado e da polícia política, do outro lado atestamos a fragmentação da esquerda. Esse paradoxo se deu, após o Golpe de 1964,por inúmeros motivos, de acordo com Reis (2004): 1) A nova esquerda passou a priorizar a prática frente à discussão, só com atos e ações se encontraria o caminho da reunificação da esquerda e da derrota dos militares. 2) A influência da Revolução Cubana e sua estratégia de guerra de guerrilhas e o foquismo. Assim como a luta armada no campo a partir da experiência revolucionária chinesa, inspirou de diferentes maneiras as dezenas de organizações que surgiram nesse período. 3) O choque de gerações dentro da Nova Esquerda, muitos militantes tinham entre 20 a 22 anos, a derrota de 1964 retirou do cenário político uma grande parte de militantes de esquerda mais “experientes”, os que haviam chegado em 1963, 1964 viram-se com responsabilidade de direção. Isso trouxe um rompimento de referenciais histórico de luta para os novos militantes que no geral rejeitavam todas as tradições construídas pela esquerda no Brasil ao longo dos anos anteriores. A partir desse panorama sobre a resistência armada no Brasil, iremos retornara as atividades do grupo em análise que, partiu para a escolha do tema a partir de um documentário que muito sensibilizou os estudantes, Marco: o encontro de uma comunidade com um desaparecido político (29m:32s). 84 Eles assistiram ao documentário e decidiram pesquisar sobre a vida desse desaparecido político: Marco Antônio Dias Batista. Os estudantes se mobilizaram e ficaram curiosos; pois como um adolescente de 17 anos representaria um perigo tão grande a um Estado militar tão fortemente armado? Como esse jovem nunca foi encontrado? Por que a família dele nunca o encontrou? Eles também se identificaram com ele, pois ele era de Goiânia, um estudante de 15 anos, de uma escola pública, “ele poderia ser qualquer um de nós”, os alunos afirmavam. As atividades do projeto foram se desenvolvendo, cada grupo com sua especificidade e dinâmica. Mas abrirei uns parênteses nessa análise para destacar dois momentos importantes que aconteceram na escola, e marcaram essa experiência, como um momento muito significativo para todos os envolvidos no projeto. Vamos tratar de forma breve dois acontecimentos, pois eles ilustram alguns impactos que o estudo do passado de forma significativa, interfere no cotidiano escolar, e como a consciência histórica dos estudantes se transformou, a partir de uma postura passiva e de conformidade para uma atuação questionadora e transformadora da sua própria realidade, que é o ambiente da escola e os sujeitos escolares. Os dois momentos vão se relacionar com o contexto político nacional da época em que Michel Temer estava na presidência do Brasil e tinha propostas de mudanças na área do trabalho e da previdência. Essas propostas acabaram provocando uma forte oposição dos trabalhadores e movimentos organizados, pois, na prática, essas reformas significariam a perda de direitos importantes para garantir uma mínima estabilidade ao trabalhador. A primeira experiência foi no dia 15 de março, dentro de um calendário nacional de lutas organizado pelos movimentos dos trabalhadores, sendo que as escolas estaduais aprovaram uma paralisação em repúdio às propostas das reformas trabalhistas e previdenciárias, porém a escola campo não aderiu á paralisação. Os estudantes primeiramente questionaram o fato de estarem em sala de aula, sendo que a maioria das escolas paralisou. Após serem esclarecidos sobre o movimento de defesa dos direitos dos trabalhadores, eles começaram a perguntar sobre esse movimento, e quais seriam os direitos que os trabalhadores estavam perdendo. A partir de uma explicação no início da aula de história, eles compreenderam que, não somente os direitos dos atuais trabalhadores estavam sendo retirados, mas que como futuros trabalhadores eles seriam muito prejudicados e não entenderam o fato de os professores da escola não terem se mobilizado. 85 Por iniciativa própria eles conversaram com os coordenadores, passaram nas demais salas e mobilizaram depois do recreio uma paralisação de 3 minutos na escola inteira. Os estudantes organizaram uma “paralisação na escola”, inicialmente de 3 minutos contra as reformas. Eles, a partir da convivência fora da sala de aula, das relações do período estudado com o presente, do conhecimento de organizações estudantis no passado, de movimentos de resistência à ditadura militar, perceberam a força de mobilização e de organização que eles no seu espaço possuíam. Faz toda diferença conhecer, a história das coisas que nos cercam, e com as quais interagimos (objetos, ideias, situações, instituições, leis) ao tomar nossos posicionamentos diante dos múltiplos aspectos da nossa realidade. Entender as coisas como uma construção, com uma duração própria, é necessário para quem quer agir nelas. Afinal, as coisas como dados prontos e acabados fora do tempo, como fatos naturais, aos quais só resta submeter-se são a descrição da postura conformista. (CERRI, 2011) Quando tocou o sinal, os alunos do 9° ano e os demais estavam em fila no pátio; os estudantes fizeram falas no microfone em solidariedade aos trabalhadores, pediram uma pausa para o silêncio de 3 minutos de toda a escola. Momento que já foi surpreendente, já que todos os alunos fizeram silêncio — momento raro de acontecer em qualquer escola. Após a pausa e tendo conseguido organizar em poucas horas os estudantes para uma simples manifestação, os estudantes do 9° ano se recusaram a voltar para a sala, pois não viam sentido em não paralisar suas atividades já que grande parte dos trabalhadores e professores havia parado naquele dia. Eles se reconheciam estudantes em defesa da melhoria da educação e de seus direitos na escola. Eles então fizeram cartazes com mensagens de solidariedade aos trabalhadores da educação, como: Força; Estamos com vocês; Somos resistência; entre varias outras mensagens. Eles então fizeram cartazes com mensagens de solidariedade aos trabalhadores da educação, como: força; estamos com vocês; somos resistência; entre várias outras mensagens. Eles se sentaram no chão e assim ficaram no pátio da escola, até o horário da saída (cerca de 3 horas), mesmo sendo pressionados de todas as formas para saírem daquele local pela direção, por alguns professores, eles se mantiveram firmes em solidariedade ao movimento contra a Reforma Trabalhista. Os cartazes políticos (SACCHETTA, 2012) se tornou um importante documento sobre a história da resistência ao Regime Militar, na época em questão, tinha a finalidade de fazer 86 circular ideias, causas, frentes de luta e denúncias de crime de Estado, sendo instrumento de agitação e propaganda. Trazem como inspirações uma estética de realismo socialista e com o clima tropical cubano, segundo afirma Chico Homem de Melo. Foram feitos em sua maioria fora do Brasil e de forma clandestina e influência manifestações políticas e culturais até os dias de hoje. Imagem 8 Fonte: (Acervo da autora/2017) Esse ato simbólico chama a atenção, pois a partir de práticas cotidianas que rompem com a normalidade, que ameaçam o autoritarismo, potencializam a cooperação e consciência de suas ações. Essas diretrizes causam uma mudança efetiva nas relações de poder no ambiente escolar, os “submissos”, em tese, se tornam sujeitos críticos e questionadores, denunciam uma ordem opressora conseguindo sair do discurso e irem para a prática da mudança, de melhorias das suas condições. (Albuquerque, 2017). Mesmo não tendo uma elaboração e estética dos “cartazes políticos” de 1964, traz ideais de solidariedade aos trabalhadores e de protagonismo estudantil no ambiente escolar. Pensar e agir historicamente leva a compreensão do que significa a história (CERRI, 2011, p. 60): a sucessão do inesperado, do novo, do inusitado e da criação constante, e não apenas a determinação, a permanência, a continuidade. O segundo momento, está relacionada ao dia 28de abril, em que aconteceram diversas manifestações por todo o Brasil, no contexto de uma greve geral organizada por trabalhadores e apoiadores contra as Reformas Trabalhistas e da Previdência. Nessa ocasião em Goiânia o estudante universitário de ciências sociais, Mateus Ferreira da Silva (33), foi vítima de violenta ação policial, em um ato considerado bárbaro, foi atingido por um pedaço de madeira na cabeça, o que ocasionou um traumatismo cranioencefálico e várias fraturas no seu corpo, em uma manifestação em Goiânia. 87 A internação e quase morte de Mateus provocou centenas de manifestações de solidariedade, em forma de cartazes e mensagens que eram levadas e deixadas na frente do Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO), onde Mateus havia sido internado. A aula organizada teria alguns jornais em que tivessem como capa a manifestação (Diário da Manhã, O Popular, Folha de São Paulo e Correio Brasiliense). Um roteiro de análise do discurso e a discussão sobre o caso. Todos os alunos se envolveram na atividade que tinha como ação final produzir um cartaz em solidariedade a Mateus. Num total de 13 dias de internação do Mateus até a sua recuperação e saída do hospital. Esse acontecimento me mobilizou como professora e apoiadora do movimento contra as reformas trabalhistas e previdenciárias. A extrema violência a qual esse estudante foi submetido havia me indignado, e a partir das manchetes dos principais jornais da semana planejei uma roda de debates com as turmas dos 9° anos sobre o que havia acontecido. O objetivo inicial era elaborar em conjunto com os estudantes, a partir da seleção de quatro capas de jornal que tivessem como capa essa manifestação e a agressão ao estudante Mateus, uma análise do discurso e uma discussão sobre o caso. Foram utilizados os seguintes jornais: Diário da Manhã, O Popular, Folha de São Paulo e Correio Brasiliense. A turma foi dividida em quatro grupos cada um com um jornal, e um roteiro de análise, com questões norteadoras. A discussão durou cerca de três aulas (por pedido dos próprios estudantes, o planejado era 50 minutos), a primeira parte eu participei da análise, depois chegaram dois monitores na escola que mediaram os debates nas horas seguintes. Foram feitas inúmeras relações entre esse caso, o caso do estudante Marco Antônio Dias Batista e o cotidiano da maioria dos estudantes, que vivenciam a violência policial e urbana; eles relacionaram a violência à falta de acesso aos direitos básicos (educação, saúde, moradia), e analisaram o papel da mídia na criminalização desses movimentos sociais. Como produto final do debate, os alunos — também por iniciativa própria — elaboraram cartazes e mensagens de solidariedade ao estudante Mateus, levadas mais tarde para o hospital em que ele estava internado. Uma estudante produziu o seguinte cartaz fruto desse debate: Imagem 9 88 Fonte: Acervo da autora/2017 “No meio da multidão Vi um cara sem visão Sem revolta no coração Sem força de expressão, Calado parado parte de um sistema tático, rápido, simples e prático. O Mateus foi jogado no chão Jogado, estilhaçado, engraçado. Não era preto nem favelado Mas mesmo assim foi deixado de lado. PM folgado, cachorro mandado Família chorou, Brasil se chocou Ignorância prolongou e uma vida ele quase tirou O sistema sempre falha A proteção não é a farda è o ataque da senzala aquele que a gente não esperava] Esperava proteção e só vem humilhação Indignação tomou conta do meu coração. Mateus te peço perdão Meus antepassados contribuirão para essa agressão. 89 Sem estudo, sem visão, a mídia com a opressão, Pessoas foram votar contribuindo com a perdição. Amigos e parentes sendo controlados Não aguento mais ficar calado! Você não se calou, você lutou Você foi a revolução A revolta por amor. Mateus amado sei que o coração tá amargurado a dor insuportável Mas vamos lá Mas uma luta para ganhar Mais uma inspiração para dar Sampaio não espera recuperar Levante! Levante pra mostrar Que a força da resistência não vai acabar. (S. S. 9°B) Os cartazes são vistos, em geral, por pessoas transitando em espaços públicos. Suas mensagens trazem uma linguagem gráfica, uma postura ativa de contestação, durante a Ditadura Militar os cartazes traziam símbolos importantes, para os movimentos de resistência contra a ditadura como o punho fechado, a pomba, o punho acorrentado, símbolos que remetem a uma memória de resistência. O grupo após esse episódio de agressão ao estudante Matheus, mudou o seu tema para: de Marco a Mateus a violência policial institucionalizada contra a juventude. Ainda tivemos, ao longo do ano uma roda de conversa com o estudante Matheus na Universidade Federal de Goiás (UFG), no mês de junho. E em agosto convidamos o jornalista Renato Dias, irmão de Marco Antonio Dias Batista para uma palestra na escola. Os estudantes teriam a oportunidade de conhecer um testemunho vivo sobre a sua pesquisa no projeto. 90 2.3 - As experiências dos grupos de trabalho: a construção da autonomia e consciência histórica. A partir das primeiras atividades, em que os alunos elaboraram as imagens, buscamos estabelecer que o estudo e pesquisa desse tema na escola seria o mais livre possível, no incentivo ao exercício da autonomia e do pensar livre, em oposição a uma cultura escolar em que o estudante pesquisa ou apresenta um tema pré-determinado pela escola, ou pelo professor da matéria. Cada grupo tentaria na busca de personagens ou temáticas próprias desse período, discutir em coletivo e escolher o que discutir e pesquisar, o que seria retratado nos vídeos que seriam produzidos ao final do projeto. Os estudantes inicialmente estranhavam o fato de terem que escolher os temas a serem pesquisados, sobre a Ditadura Militar. Faziam apontamentos legítimos, tais como a dificuldade de pesquisar sem conhecer o assunto que ainda não tinham estudado, ou certa dificuldade em escolher o tema de pesquisa sem o auxílio de um tutor, seja ele professor ou monitor. Tais dúvidas se refletem a partir de um ambiente escolar que não considera o reconhecimento do ser condicionado. O professor, que ensina história e “mata” a curiosidade do estudante em nome da memorização mecânica dos conteúdos, tolhe a liberdade do estudante, sua capacidade de se aventurar, não forma, doméstica. (FREIRE, 2002) É preciso ter a consciência de que ensinar não é transferir conhecimento (FREIRE, 2002), estimulando um ambiente democrático no ambiente escolar, de livre expressão, de construção de conhecimentos, de descoberta de novas visões de mundo, de vivenciar a prática da solidariedade e do respeito ao próximo. Sendo esta antagonista de um projeto de educação fatalista, neoliberal, que imprime nos sujeitos a acomodação e o desinteresse. Como professora das turmas envolvidas no projeto, ao ouvir esses questionamentos, organizamos uma roda de conversa acerca dos temas que poderiam ser pesquisados. A ideia era, a partir das demandas dos estudantes e dos grupos ir caminhando para um recorte de um tema que poderia ser estudado. Na roda de conversa ouvimos músicas da época em que foram censuradas e músicas atuais que retratam aquele período da nossa história, a partir da discussão dessas músicas escrevemos palavras chaves no quadro que serviriam de temas para a pesquisa dos grupos. O interessante nesse processo é a troca de papéis. Não teria sentido a professora ou os monitores escolherem os temas, já que os estudantes escreveriam o roteiro, as entrevistas, 91 pesquisar as imagens, a trilha sonora e montar os vídeos. Buscou-se, assim, que os estudantes exercitassem a sua autonomia no processo de escolha dos temas. Após essa roda de conversa os estudantes ficaram mais confiantes para pesquisar os temas de interesse, sendo que os grupos se definiram a partirde: (1) A representação da ditadura militar nas músicas de rap no Brasil; (2) Marco Antônio e a violência policial institucionalizada; (3) Roda Viva: Censura e perseguição no Teatro brasileiro durante a Ditadura Militar, e: (4) O que resta da ditadura militar: Memórias da tortura. Outro aspecto de estranhamento inicial foi sair da sala e não ter nenhum “vigia”. Este foi o momento que eles tiveram com seus monitores para falar o que queriam e isso foi muito benéfico ao longo do tempo. Observou-se uma gradual qualificação dos debates, com estudantes demonstrando opiniões mais embasadas e maior maturidade nos questionamentos e embates nas aulas e na escola. Um ponto importante é que quando uma escola mantém uma gestão autoritária, esvaziada de participação da comunidade escolar, ao refletir esse modelo, os espaços da escola se tornam lugares “mortos”, sem nenhum conflito aparente, onde tudo fica aparentemente ordenado, todos na sala. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminuem essas mesmas forças (em termos políticos de obediência) (FOUCAULT, 2009). Portanto, sair da sala de aula também possibilitou que os estudantes se apropriassem do espaço da escola. Os grupos se estabeleceram e ocuparam a escola à medida que percebiam espaços vazios. Um exemplo desse processo foi a apropriação, pelos estudantes, de espaços que antes ficavam trancados, como a biblioteca, ou vazios como a quadra. Ocupar esses espaços sem nenhum tipo de “vigilância” desencadeou um processo de vinculação do estudante com a sua escola, que há muito tempo não lhe pertencia. Nesse processo de ocupação e redescoberta de espaços, os estudantes se tornaram responsáveis pelo uso e gestão dos mesmos. Para isso, eles tiveram que buscar cadeiras em outras salas, achar tomadas que ainda funcionavam, requerer aos gestores da escola sobre manutenção de ventiladores, etc. Tudo isso sem um tutor, somente na presença dos monitores que abriam o espaço para esses estudantes vivenciarem aquele momento. Os estudantes se sentiam responsáveis por aquele espaço e isso mudava sua relação com o espaço da escola. 92 Quando esses estudantes participantes do projeto saem da sala eles fazem barulho, discutem, riem, brincam, levam cadeiras para lá e para cá, usam os materiais da escola, esse lugar retoma a sua “vida”. Aos poucos essa ocupação do espaço vai mudando positivamente a formação cidadã do estudante que, por sua vez, começa a reconhecer seus direitos e usufruir da escola a que pertence. Ao participarem das atividades os alunos puderam conhecer e se reconhecer nos espaços da escola, descobriram lugares e não lugares transformando seus olhares. A partir dessa atividade, portanto, trazemos o conceito de consciência histórica e vida prática desenvolvida por Rüsen (2001). O primeiro trata de uma preocupação sobre o sentido da História nos dias atuais, a falta de orientação no tempo característica do nosso tempo, sendo que o desenvolvimento de uma consciência histórica permite ao sujeito que ele se oriente no tempo e relacione diferentes histórias. Ao aprender história esse sujeito, precisa se orientar no tempo e no espaço, refletir sobre os diferentes sujeitos e objetos que compõem a realidade social. Já o segundo conceito trata em linhas gerais da preparação do indivíduo para a vida prática, pois se os sujeitos conseguem orientar-se historicamente, eles podem agir no mundo intencionalmente (RÜSEN, 2007). Podemos citar como exemplos de construção da autonomia, momentos em que os estudantes sugerem o tema da aula à professora, quando o grupo muda o tema de pesquisa de imagem da Ditadura Militar nas músicas de rap, para a “tortura de mulheres no regime militar”. Quando os estudantes decidem fazer uma votação para escolher o tema de pesquisa, quando os alunos entrevistam, um policial do batalhão escolar, quando eles organizam uma manifestação por melhorias na escola entre vários outros momentos que permearam o ano de 2017 na escola e através do projeto do PIBID. Deve-se estabelecer também uma análise da relação desses sujeitos com a disciplina História e com os conteúdos estudados anteriormente em outras séries, para se compreender como os conhecimentos são transmitidos e apresentados por professores ao longo da história escolar do estudante, em suas interligações. No processo de construção de conhecimento, não se deve perder de vista o objetivo de formação emancipatória. O sujeito orientado no tempo possui a capacidade de autonomia no que se refere à prática social e ao exercício do pensamento, elementos necessários à prática educativa emancipatória. 93 Esse sujeito autônomo quebra, portanto, o ciclo do embrutecimento, onde se emancipa a partir do seu próprio método, do seu objeto de interesse, trazendo, contudo, toda a contradição necessária para se tornar igual ao outro em uma sociedade de desiguais (RANCIÉRE, 2010). Nesse processo, o professor tem o papel de interrogar, de provocar a manifestação da inteligência que se ignorava em certa medida. Com perguntas, o professor deve guiar de forma discreta a inteligência do estudante. Ranciére (2010, p. 52) afirma que “quem quer emancipar um homem deve interrogá-lo à maneira dos homens e não à maneira dos sábios, para instruir- se a si próprio e não para instruir outro”. Já para Adorno (1995, p. 117), “a desbarbarização da humanidade é o pressuposto imediato da sobrevivência''. Este deve ser o objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu alcance e possibilidades”. Durante este projeto buscou-se o incentivo à construção, pelos estudantes, de uma narrativa própria a respeito do período da Ditadura Militar. Isto por meio da produção de imagens; leitura de documentos; discussão sobre pessoas que foram torturadas; leitura dos relatos de torturadores e no intenso debate em que se incentivava a construção de argumentos. Todo esse processo foi muito importante e formativo para todo o grupo participante do projeto. 94 3. CAPÍTULO 3: UMA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA: ENSINAR SOBRE DITADURA COM DEMOCRACIA 3.1 APRESENTAÇÃO Essa proposta de sequência didática é resultado da pesquisa do Programa de Pós- Graduação em Ensino na Educação Básica da Universidade Federal de Goiás. Trata-se de propostas fundamentadas em uma experiência de ensino de história sobre a Ditadura Militar no Brasil em uma escola pública. Esse material é destinado a todos os professores e professoras de história da educação básica, visto que atualmente se trata de um tema que encontramos inúmeros desafios para tratar em sala de aula. As atividades foram desenvolvidas levando em consideração alguns princípios gerais como o protagonismo dos estudantes, vivências de autonomia e práticas democráticas no ambiente escolar. As propostas foram adaptadas à realidade escolar, em que o tema a Ditadura Militar se adequa a conteúdos pertencentes à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e é trabalhado no período em média de uma quinzena na escola básica. As aulas foram pensadas a partir de uma realidade escolar em que se apresenta um professor regente em sala de aula, diferentemente do projeto do PIBID que foi realizado com o auxílio de oito monitores e uma coordenadora na escola campo, além de dois professores coordenadores da Universidade do curso de História. Também serão disponibilizados os documentos utilizados no projeto, os links com todas as atividades, o passo a passo de cada discussão e exercício proposto. A dinâmica das atividades foram planejadas para se realizar em 50 minutos, tempo em que o professor normalmente fica em sala de aula. Essas propostas foram pensadas para auxiliar o trabalho do professor e tornar possível desenvolver esse tema em sala de aula e em tempo hábil. Tive uma preocupaçãode escrever as informações e orientações gerais das aulas da forma mais acessível e condizente com a realidade escolar possível, para que o professor que tenha contato com as duas propostas as tornem viáveis diante da sua realidade enquanto profissional da educação. Por isso, em alguns momentos a proposta de aula não trará informações tradicionais, que algumas vezes levam em consideração mais um ambiente acadêmico do que (não menos importante) um ambiente escolar. Levamos em conta 95 importantes informações para que o professor compreenda a dinâmica da aula e coloque em prática as atividades elaboradas nesse produto educacional em sua escola. As duas propostas de ensino trazem em comum os princípios de possibilitar vivências democráticas entre os sujeitos no espaço escolar, seja elas em sala de aula, no recreio, no pátio, na quadra, na entrada ou saída da escola. Traz o mesmo objeto de análise o curta-metragem Marco: o encontro de uma comunidade com um desaparecido político (2013), por permitir desenvolver inúmeras relações dos estudantes entre o passado ditatorial e seu cotidiano. O artefato final se diferencia nas duas sugestões de trabalho, sendo a primeira um cartaz político e a segunda um vídeo produzido com um celular. O processo é fundamental nas propostas que tentam articular o conhecimento desse período por meio de uma sensibilização do passado e suas relações com o presente para um agir no mundo, a partir da constituição de uma hábil consciência histórica. 3.2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA 1: ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO CARTAZES POLÍTICOS A Sequência Didática 1 se divide em três momentos: 1) A investigação do conhecimento prévio dos alunos sobre a Ditadura Militar. 2) O recorte temático da tortura e violência policial a partir da história do desaparecimento político do estudante Marco Antônio Dias Batista. 3) A produção de cartazes políticos sobre a realidade dos estudantes. Ao final, disponibilizamos as duas atividades propostas ao longo das aulas, para impressão ou projeção em sala de aula. Serão expostos em 6 aulas no total de 50 minutos que poderá ser ministrada pelo professor regente de história de qualquer instituição escolar. Produto Educacional/Sequência didática/ 9°ano: Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1964. Por: Joyci Viegas de Freitas Silva/abril de 2022. Código: HIS9_19UND02 Sobre a Sequência Didática: 96 Esta sequência didática foi produzida como resultado do Programa de Pós Graduação em Ensino na Educação Básica PPGEEB-CEPAE-UFG. Professora: Joyci Viegas Orientador: Prof . Dr. Glauco Roberto Gonçalves Ano: 9º ano do Ensino Fundamental. Unidade temática: Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946. Objeto(s) de conhecimento: “Os anos 1960: revolução cultural?”; “A ditadura civil-militar e os processos de resistência”; “As questões indígena e negra e a ditadura". Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 - Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura; didática da história; autonomia; democracia. 3.2.1. Índice Sequência Didática 1 1. Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil Aula 1 :Ditadura Militar no Brasil? Aula 2 : Liberdade de Expressão! 2. Memórias inconclusas e a luta por um mundo melhor. Aula 3 :Marco Antônio Dias Baptista: um desaparecido político. Aula 4 : Marco Antônio e a violência policial. 3. Os cartazes dessa história. Aula 5: A história nas paredes. Aula 6: Os cartazes da nossa história. 4. Atividades da Sequência Didática 1 97 Atividade 1- Marco Antônio e a violência policial: Aula 3 e 4. Atividade 2- A história nas paredes: Aula 5. 3.2.2 Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil. 3.2.3 Aula 1: DITADURA MILITAR NO BRASIL? Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: quadro branco e pincel ou quadro negro e giz. Orientações para o professor: Escrever destacado no quadro no início da aula a pergunta: Ditadura Militar no Brasil? A partir da pergunta escrita no quadro, o professor irá perguntar por fila qual a primeira palavra que vem na mente do aluno quando escuta o termo Ditadura Militar. Vale destacar que neste momento não existe certo ou errado. Cada palavra dita será escrita no quadro pelo professor. Essa dinâmica de “chuva de ideias” é uma atividade que permite ao professor fazer uma breve diagnose das ideias que os alunos trazem sobre qualquer tema histórico. E, a partir desse momento, traçar estratégias de abordagens que façam mais sentido a realidade do seu aluno e do próprio conteúdo a ser trabalhado em sala de aula. Ao final o professor irá ler em voz alta todos os vocábulos e sintetizar junto com os alunos algumas palavras chaves que por exemplo podem ser: militarismo, guerra, segurança, violência, milagre econômico, corrupção, entre outras. Nessa aula o professor vai tentar estabelecer qual linha de raciocínio sobre esse período tem a turma, quais fontes os estudantes têm acesso, que tipo de conhecimento eles trazem das suas vivências fora da escola sobre a Ditadura Militar. A partir da seleção de três ou quatro palavras chaves o professor irá comunicar que na próxima aula será montado um mural na sala sobre esse tema, com imagens relacionadas às palavras chaves que a turma trouxe durante a discussão. 98 3.2.4 Aula 2: LIBERDADE DE EXPRESSÃO! Tempo sugerido: 50 minutos divididos em 30 minutos de produção da imagem e 20 minutos de montagem do mural. Materiais necessários: folha A4, revistas antigas, jornais antigos, tesoura, cola, os desenhos elaborados durante a aula. Organização da sala: sentados em círculo ou semicírculo. Orientações para o professor: Escrever destacado no início da aula a frase: “Liberdade de expressão!” Retomar o conteúdo discutido na aula passada a partir das palavras-chave. Colocar à disposição dos estudantes o material para que cada aluno elabore uma imagem a partir do que foi discutido na aula passada. Essa aula vai propiciar o livre pensar dos alunos, a partir da produção que represente a ideia de cada um da sala. O momento é de compartilhar os conhecimentos que eles trazem sobre a Ditadura Militar no Brasil . É importante que os trabalhos sejam valorizados e a turma desenvolva uma relação de respeito à livre expressão. Ao final todos irão montar o mural na parede da sala e comentar seus trabalhos com a turma. O professor nesse momento deve incentivar o diálogo entre os estudantes e interferir o mínimo possível. Essa roda de conversa traz ao professor a possibilidade de ouvir as relações que os alunos fazem entre o passado e o presente, as vivências familiares, escolares, as principais referências culturais e até mesmo morais. Por isso, é importante que o professor não demonstre qualquer juízo relacionado à realidade dos alunos, ou demonstre o mínimo possível. O objetivo é que ele estabeleça um ambiente seguro e respeitoso de expressão dos alunos e entre os mesmos. Além disso, a montagem do mural irá possibilitar que todos, professor e estudantes, retomem o conteúdo sempre que necessário, transformando possíveis ideias equivocadas sobre o tema e ressignificando esse conteúdo histórico. 99 3.2.5 Memórias inconclusas e a luta por um mundo melhor 3.2.6 Aula 3: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA: UM DESAPARECIDO POLÍTICO Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: Televisão com entrada USB ou data show para exibir o documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político (2013).Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=r-ljaft7gGs&t=3s. Duração de 29 minutos. Acesso em 16.07.2022. Organização da sala: em filas. Orientações para o professor: Escrever no quadro em destaque o tema da aula e o título do documentário: “Marcos Antônio Dias Baptista e o desaparecimento político.” e “Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político.” Fazer uma leitura coletiva da Atividade 1 (localizada ao final da Sequência Didática 1), antes de iniciar a exibição do curta, orientar que todos irão responder perguntas da atividade, portanto, devem ir anotando no caderno ao longo da exibição as possíveis respostas. Passar o documentário e discutir a partir das anotações dos alunos, sem uma grande sistematização por parte do professor, destacando as impressões e questionamentos dos próprios estudantes. Para você saber mais: 1) Um dossiê organizado pela Comissão da Verdade possui um breve relato da biografia de Marco Antônio e todo o processo de luta de sua família e principalmente de sua mãe Maria Batista em busca do corpo do seu filho desaparecido. Ele ainda contém 100 documentos oficiais, reportagens, e diversas imagens da época do desaparecimento de Marco Antônio.1 2) Música Desaparecido de Itamar Correia (4m10s) Itamar Corrêa fez essa canção em homenagem a Marco Antônio Dias Batista o mais jovem desaparecido político da Ditadura Militar. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KND7634uutg 3.2.7 Aula 4: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA E A VIOLÊNCIA POLICIAL Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: Projetar ou imprimir Atividade 1. Organização da sala: em 3 grupos, de 5 a 7 alunos. Orientações para o professor: Escrever no quadro em destaque: Documentário “Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político”. Nesse momento é importante que o professor construa com os grupos uma análise minuciosa do documentário. Chamando a atenção para os detalhes da trilha sonora, a direção e roteiro do documentário, passando pela fotografia, enredo e principais problemáticas do documentário. Cada grupo irá apresentar a resposta de quatro perguntas do questionário. Todos os grupos irão responder a questão número treze. A aula deve ser dividida em dois momentos: para responder e para apresentar as perguntas. O professor deve assegurar na medida do possível que todos os alunos respondam as questões solicitadas e tirem todas as dúvidas em relação ao conteúdo do vídeo. Na medida em que eles forem comentando as respostas, o professor irá observar a necessidade de comentar, reforçar ou esclarecer as respostas dadas pelos grupos. 1 Disponível em: http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/upload/001-dossie-cemdp-marcos-antonio-dias- baptista.pdf. Acesso em 16.07.2022. 101 3.2.8 Os cartazes dessa história 3.2.9 Aula 5: A HISTÓRIA NAS PAREDES. Tempo sugerido: 50 minutos. Material necessário: Imprimir ou projetar Atividade 2. Organização da sala: em grupos de 3 a 5 pessoas. Orientações para o professor: Escrever no quadro em destaque: “A história nas paredes”. Explique que estamos finalizando o estudo do período da Ditadura Militar e que ao final os grupos irão elaborar um cartaz político. Distribuir a Atividade 2 e deixar alguns minutos livres para o grupo explorar o texto e as imagens sem um direcionamento do professor. Logo em seguida, chamar a atenção da turma para o contexto do surgimento de cartazes políticos na história contemporânea. Analisar as imagens a partir do roteiro disponível na atividade e pedir que ao final os grupos decidam os temas dos seus cartazes para a próxima aula. Os temas devem se relacionar com aspectos que foram desenvolvidos durante a sequência didática e com cotidiano dos alunos, lembrando que os cartazes que eles irão produzir devem conter um caráter de protesto e transformação de questões que os mesmos considerem importantes. Para você saber mais: assista à matéria sobre a produção do livro Os cartazes desta História: Memória gráfica e resistência à Ditadura Militar e da Redemocratização (1964- 1985). Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Hj_GZ63eT68. Acesso em 16.07.2022. 3.2.10 Aula 6: OS CARTAZES DA NOSSA HISTÓRIA 102 Tempo sugerido: 50 minutos. Material necessário: Cartolina, revistas, tesoura, cola, canetão, lápis de cor, canetas. Aula fora da sala de aula, nos espaços da escola. Orientações para o professor: Os grupos serão retomados e irão elaborar um cartaz político. Essa aula deve ser mais livre e sem muita intervenção do professor, somente se ele for solicitado. Cada grupo irá escolher o lugar da escola em que será produzido o cartaz, pode ser sentado no chão (no pátio, na quadra, na área de convivência), ou com cadeiras e mesas trazidas da sala de aula. Outros espaços que podem ser utilizados são a biblioteca ou sala de estudo. É importante que cada grupo tenha a autonomia de escolher em qual espaço vai elaborar a atividade, que não seja na sua própria sala de aula, e cabe ao professor garantir que eles ocupem cada espaço escolhido. Outro aspecto importante é liberar o uso de material de pesquisa pelo celular, caso a escola disponibilize a internet, mas chamar a atenção para o tempo de entrega da atividade ao final da aula e da importância do uso da criatividade para a originalidade dos cartazes. Os alunos irão finalizar a atividade, suas frases e imagens e irão escolher um lugar na escola para colar os cartazes. Ao final, registre com fotos os cartazes de cada grupo. Observação: O objetivo dessa atividade se localiza na potencialidade dos cartazes de gerar alguns debates importantes na escola, as reivindicações dos grupos devem ser respeitadas e problematizadas, como um meio de desenvolver um olhar crítico e relacional desse jovem com o seu cotidiano, suas demandas sociais e orientação no tempo. Uma forma de desenvolver a discussão seria incentivar uma busca pela “solução” dos problemas, por exemplo, quais sujeitos são responsáveis por tal política, seja ambiental, educacional, cultural? Quais são os sujeitos que devem ser cobrados? Qual o papel dos estudantes nesse processo de vivência em uma sociedade democrática? Como os estudantes no passado se expressaram frente a alguma demanda social? Como os estudantes lutaram por transformações sociais no passado? Como os estudantes podem lutar por melhorias sociais na atualidade? Esses seriam alguns questionamentos que o professor pode trazer ao dialogar com os estudantes. 103 3.2.11 Atividades da Sequência Didática 1 ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, Didática da história, autonomia, democracia. 3.2.12 Atividade 1: Marco Antônio Dias Baptista e a violência policial. Análise do documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político O filme conta a história do líder secundarista, desaparecido político em Goiás no mês de maio de 1970, Marco Antônio Dias Batista. Ele era membro da organização de luta armada contra a ditadura civil-militar Var-Palmares. 30 min. Direção: Marcelo Benfica. Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista. Produção: Profa Ms. Bruna Maria da Cunha Oliveira. Ficha técnica do documentário. Direção: Marcelo Benfica Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista Produção: Profa Ms. Bruna Maia da Cunha Oliveira, Rosângela F. Braga e todo o corpo docente. Fotografia:Kassia Cristina Damasceno, Ricardo Alves, Pedro Vinícius Moreira. Alunos: Ana Clara Goncalves, Eduardo Bruno, Flávio Dias Letícia Barroso. Edição: Dam Cabral. Trilha Sonora: Desaparecido de Itamar Corrêa. 104 Arte: Carlos Salício, Vasconcelos Neto. Responda as questões abaixo: 1) Quantos anos tinha o Marco Antônio? Como era sua personalidade? 2) Em que momento da nossa história ele viveu? O que aconteceu com ele? 3) Como Marco Antônio era conhecido? Quem foi Mao Tse Tung? 4) Escreva o nome de pelo menos três pessoas que conheceram o Marco Antônio e deram o seu testemunho no documentário. 5) Qual é o ambiente que é mostrado todo o tempo no filme? Justifique. 6) O que seria um desaparecido político? 7) Quem foi Maria de Campos Batista? Por que ela deixava a porta da sua cozinha sempre aberta? 8) Comente sobre os bastidores do documentário. Quem participou das filmagens? 9) Com quem dona Maria Batista foi conversar para tentar encontrar seu filho desaparecido? 10) O que aconteceu com a mãe de Marco Antônio? 11) O que é a Comissão Nacional da Verdade? E a Comissão dos Direitos Humanos? 12) O que mais chamou a atenção sobre a opinião dos alunos da escola sobre o documentário de Marco Antônio Dias Batista? 13) Qual mensagem você deixaria para Marco Antônio nos dias de hoje? Vale a pena lutar por um mundo melhor? Lutar por uma transformação social? 3.2.13 Atividade 2: ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. 105 Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, memória, direitos humanos. Atividade 2: A História nas Paredes. A Revolução Francesa (1789) é o marco inicial de uma história gráfica dramática, vibrante. Abrindo o século XX tivemos a Revolução Russa (1917), à qual seguiram-se a Revolução Chinesa (1949), a Cubana (1959), os protestos contra a Guerra do Vietnã (1968), a revolta de maio de 1968 em Paris/França, e tantos outros movimentos de contestação política que nos deixam acervos de cartazes memoráveis. Cartazes são vistos por pessoas transitando em espaços públicos, é uma linguagem gráfica na escala do corpo. Nenhuma outra modalidade de mídia imprensa tem mais afinidade com a política do que o cartaz, nenhuma se aproxima mais da postura ativa inerente a qualquer movimento de contestação. O cartaz é a gráfica da ação por excelência. SACCHETTA, Vladimir. Organização. Os Cartazes desta história: memória gráfica e resistência à Ditadura e a redemocratização (1964-1985). São Paulo: Instituto Vladimir Herzog e Escrituras Editora, 2012, p. 244) Observe os cartazes políticos elaborados durante a Ditadura militar no Brasil: 1) Ditadura Militar (1964-1985) Imagem I - Pessoas protestam contra a ditadura no Brasil em 1968 106 Fonte: Arquivo Nacional, Imagem de uma manifestação contra a ditadura militar, 1968. Disponível em: www.dw.com/pt-br/mour%C3%A3o-ri-ao-ser-questionado-sobre-torturas-na-ditadura/a-61507416. Acesso em 16.07.2022. Imagem 2 - Cartazes estudantis contra a truculência da repressão Fontes das Imagens: Arquivo Nacional, Correio da Manhã, Sem data, PH FOT 02007 085. Disponível em: https://www.ufrgs.br/vozesdaditadura/?page_id=470. Acesso em 17.07.2022. 107 Imagem 3 - Manifestação de artistas contra a censura Fonte: Memorial da Democracia, 1968. Disponível em: http://memorialdademocracia.com.br/card/teatros-fazem- greve-contra-a-censura. Acesso em 16.07.2022. Imagem 4 - Desaparecidos políticos durante a ditadura militar 108 Fonte: Cartaz disponível em: DEL ROIO, J. L.; CARVALHO, R. Os cartazes desta história, 2012, publicado pelo Instituto Vladimir Herzog. Imagem 5 - Cartaz de crítica às ditaduras latino-americanas Fonte: Cartaz criado pelo cartunista Nani. Sem data. Disponível em: https://valor.globo.com/eu- e/noticia/2012/10/31/livro-reune-mais-de-200-cartazes-contra-ditaduras-na-america-latina.ghtml. Imagem 6 - Cartaz pela anistia 109 Fonte: Cartaz de Ltávio Roth, 1979, produzido pela Comissão Nacional de Anistia. Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/15089-cartazes-da-exposicao-direitos. Acesso em 17.07.2022. Questões para o debate: 1. Identificar o contexto de cada uma das imagens, sendo o momento 1 a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). 2. Identificar as palavras de ordem e reivindicações de cada um dos cartazes. 3. Identificar os sujeitos que aparecem ou são representados nas imagens. 4. Diferenciar o tipo de imagem: fotografia, desenho, charge. Agora que você já conheceu algumas histórias das lutas no passado durante a Ditadura Militar, junto com seu grupo crie um cartaz de protesto sobre um tema que considerem importante para todo o coletivo em que vocês vivem. Tentem identificar alguns problemas em comum que vocês vivem na escola e que podem ser solucionados a partir da união dos interesses de todos. Bom trabalho! 3.3 SEQUÊNCIA DIDÁTICA 2: ENSINAR DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO VÍDEOS NA ESCOLA 110 Esta sequência didática foi produzida como resultado do Programa de Pós Graduação em Ensino na Educação Básica PPGEEB-CEPAE-UFG. A Sequência Didática 2 foi dividida em três momentos: Momento 1: Discussão e análise do documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político. Momento 2 : Escrita do roteiro. Momento 3: Filmagem do vídeo e exposição para a sala e ou escola. Ao final disponibilizam as duas atividades propostas (localizadas ao final da Sequência Didática 2) ao longo das aulas, para impressão ou projeção em sala de aula. Os conteúdos serão expostos em 6 aulas de 50 minutos que poderá ser ministrada pelo professor regente de história de qualquer instituição escolar. É importante destacar que essa proposta se inicia com a abordagem do curta metragem, Marco: o encontro de uma comunidade com um desaparecido político. Possui a mesma abordagem da proposta 1, se diferenciando no resultado final. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano: Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1964 Por: Joyci Viegas de Freitas Silva/abril de 2022. Código: HIS9_19UND02. Professora: Joyci Viegas. Orientador: Prof. Dr. Glauco Roberto Gonçalves. Ano: 9º ano do Ensino Fundamental. Unidade temática: Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946. Objeto(s) de conhecimento: Os anos 1960: revolução cultural? A ditadura civil-militar e os processos de resistência. As questões indígena e negra e a ditadura. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. 111 Palavras-chave: Ditadura, didática da história, autonomia, democracia. 3.3.1 Índice Sequência Didática 2 1. A escrita do roteiro. Aula 1: Oficina de Roteiro I. Aula 2: Oficina de Roteiro II. 2. A produção, filmagem e exposição dos vídeos na escola. Aula 3: Ocupando e filmando os espaços da escola. Aula 4: Mostra de curtas metragens. 3. Atividades da Sequência Didática 2: Atividade 1: Questionário Marco. Atividade 2: Oficina de Roteiro: para vídeos de 1 minuto. 3.3.2 A escrita do Roteiro 3.3.3 Aula 1: OFICINA DE ROTEIRO I A aula de oficina de Roteiro deve ser proposta após as aulas três e quatro da Sequência Didática 1, que são, respectivamente: “Aula 3: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA:UM DESAPARECIDO POLÍTICO” e “Aula 4: MARCOS ANTONIO DIAS BAPTISTA E A VIOLÊNCIA POLICIA”. Como as aulas já foram apresentadas no capítulo anterior, não as 112 repetiremos aqui, mas é de fundamental importância que os estudantes tenham assistido e pensado sobre o documentário Marco: o encontro de uma comunidade com um desaparecido político antes das aulas de produção de vídeos e roteiros. Tempo sugerido de 50 minutos. Materiais necessários: Televisão ou data show Organização da sala: em 5 grupos de 3 pessoas. Orientações para o professor: O professor deve iniciar a aula escrevendo no quadro: Oficina de roteiro. Logo depois retomar a discussão do curta metragem estabelecendo relações da vida de Marco com os estudantes e provocando as reações e ideias dos estudantes sobre esse assunto. Logo em seguida o professor deve distribuir a Atividade 2 para os grupos e iniciar o estudo do roteiro. Interpretação do roteiro - Atividades e respostas para o professor. 1. Identifique o nome e o diretor/ roteirista do filme. O nome do curta é “Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político”, o diretor é Marcelo Benfica. 2. Durante 1 minuto temos a descrição de quantas cenas? Temos cinco cenas durante 1 minuto do filme. 3. Qual é o local e o tempo que se passam as cenas do filme? O local se dá nos espaços da escola, nos espaços abertos e os depoimentos acontecem em salas com fundo cinza. 4. Quais são os personagens que aparecem nessas cenas? Os personagens são: os estudantes, Marco Antônio Dias Batista, Renato Dias e Silvino Dias. 5. Quem é o personagem central do filme? Ele aparece em que momento? Justifique. O personagem central é o estudante Marco Antônio Dias Batista. Ele não aparece presencialmente, somente em fotos e relatos de antigos conhecidos. Ele é o desaparecido político mais jovem da Ditadura Militar no Brasil que aconteceu de 1964 a 1985. 113 6. Quem são Renato Dias e Silvino Dias? Renato e Silvino são irmãos de Marco Antônio. 7. Sobre o relato de Renato Dias: a) Como Renato é mostrado para o telespectador:? Qual sua roupa e cenário? Renato surge vestido com uma blusa cinza (de forma informal) e um fundo cinza, dentro de uma sala provavelmente. b) Qual a principal marca do seu testemunho? Ele traz uma abordagem mais histórica do desaparecimento do seu irmão. Citando o nome da organização que ele fazia parte e mostrando a imagem da presidente Dilma que também fazia parte dessa organização. c) Qual é a expressão que ele demonstra ao longo do seu testemunho? Renato demonstra uma expressão neutra como de um historiador apresentando os fatos estudados. d) Qual personagem histórico ele cita em seu testemunho? Ele cita a presidente Dilma Rousseff, que governou o Brasil de 2011 a 2016, sendo afastada do seu cargo por meio de um processo de impeachment. e) O que mais chama a sua atenção em relação a imagem da ex-presidente Dilma Rousseff? A imagem é uma foto preta e branca da jovem Dilma sendo julgada pelos tribunais da ditadura e seus juízes escondendo o rosto com a mão. 8. Sobre o relato de Silvino Dias: a) Como Silvino é apresentado ao telespectador? Sua roupa e cenário? Silvino aparece com um terno cinza (mais formal) , em uma sala cinza, assim como Renato. b) Qual a principal marca do seu testemunho? Silvino aparece muito angustiado e relata a dor da sua família por não saber onde está o seu irmão que era uma criança quando foi levada ao desaparecimento. c) Quais são as feições que ele demonstra ao longo do seu testemunho? 114 Silvino demonstra muita angústia, olhos baixos, cabeça baixa, como se tivesse dificuldade de falar sobre o assunto. 9. Por que o rosto dos estudantes não aparece nesse momento do curta? Levante hipóteses sobre essa abordagem. O diretor tenta passar a imagem de que o estudante Marco Antônio de 15 anos, um desaparecido político, poderia ser qualquer um daqueles estudantes que aparecem no filme. Mais algumas orientações: O roteiro é uma escrita da linguagem cinematográfica, é a forma de escrever a história do filme. A atividade de leitura de um roteiro, no caso de um minuto do documentário Marco, possibilita ao estudante ter acesso a essa escrita. Lembrando que tudo que é escrito no roteiro tem que aparecer na imagem do filme, é uma escrita visual, escrever a palavra pensando na imagem, essa é uma grande característica de um roteiro. Geralmente para um minuto de filme temos uma página de roteiro. Os alunos irão produzir um curta de 1 minuto ao final da proposta, devem assim ter acesso à escrita de um roteiro para que eles próprios produzam o roteiro do seu curta. No caso se inicia com o local (interno/externo), com a período do dia (manhã , tarde e noite). Os personagens devem ser nomeados e suas falas centralizadas, todos esses aspectos são demonstrados na atividade 2. Existem vários vídeos no youtube sobre a escrita de um roteiro, vou indicar esse que é um dos menores: Como escrever um roteiro de um curta-metragem, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EhHfUfx6iCc. Acesso em 16.07.2022. Para saber mais: Indicação de sites que disponibilizam curtas de 1 minuto e curtas metragens: Festival do Minuto. Disponível em: http://www.festivaldominuto.com.br/. Acesso em 16.07.2022. Porta Curtas. https://portacurtas.org.br/. Acesso em 16.07.2022. 3.3.4 Aula 2: OFICINA DE ROTEIRO II. Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: canetão, quadro e giz. 115 Orientações para o professor: Retomar a aula passada e propor que cada grupo escreva o roteiro de um filme de 1 minuto sobre o Marco Antônio Dias Batista. Iniciar com algumas sugestões que devem ser obrigatórias: o cenário deve ser dentro da escola, o roteiro deve ser entregue ao professor no modelo trabalhado na aula passada, assim como o vídeo finalizado deve ter 1 minuto e vir com os créditos. Ao final da aula os grupos devem entregar o tema do vídeo e iniciar a escrita do roteiro. Propor alguns temas que os grupos podem desenvolver, por exemplo: Como foi o último dia de aula de Marco Antônio antes do desaparecimento? O que aconteceu com Marco no caminho de volta para a escola? Como foi a última conversa de Marco com seu melhor amigo da escola? Como foi a última conversa de Marco com seu/sua professor( a) preferido(a). Qual foi a última conversa com sua melhor amiga na escola? Qual foi o último livro que Marco leu na escola? Escrever uma carta de Marco sobre o que ele desejava para o futuro. Os créditos devem conter: Direção; Roteiro; Diretor de arte; Diretor de fotografia; Montagem; Som e Trilha sonora. 3.3.5 Produção, filmagem e exposição dos vídeos. 3.3.6 Aula 3: OCUPANDO E FILMANDO OS ESPAÇOS DA ESCOLA. Tempo sugerido: de 3 a 5 aulas de 50 minutos. Materiais necessários: roteiro finalizado, celular com câmera. Orientações para o professor: 116 Os grupos devem circular livremente pela escola e espaços que serviram de cenário do curta de cada grupo. O professor deve nesse momento auxiliar em pequenos conflitos que possam surgir, mas deve, sobretudo, ajudá-los na produção e finalização do curta. Talvez seja necessário solicitar mais de uma aula para as filmagens, cabe ao professor garantir esse tempo e os espaços da escola disponíveis para a realização deste trabalho. Serão em média cinco curtas por turma, que ao final da aula tem que ter sido finalizado. A finalização pode ser enviada para o montador/editor. 3.3.7 Aula 4: MOSTRA DE VÍDEOS. Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: cabo, televisão e internet. Organização da sala: em círculo. Orientações para o professor: Após assistirem os vídeos os alunos devem ser incentivados a falar sobre a experiência, as dificuldades, as novidades e os momentos marcantes das filmagens. A roda de conversadeve ser um momento de compartilhar conhecimentos e experiências sobre o processo de filmagem, as relações entre os grupos, às relações dos grupos com a comunidade escolar, com outros professores, com outras turmas, com a direção da escola, com os trabalhadores da merenda e limpeza e com os espaços da escola. Ao final serão produzidos em média 4 a 5 curtas. A finalização da atividade deve se dar nessa roda de conversa. 3.3.8 Atividades da Sequência Didática 2: 3.3.9 Atividade 1: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR. Questionário Marco. 117 Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura; memória; direitos humanos. Análise do documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político Sinopse: “O filme conta a história do líder secundarista, desaparecido político em Goiás no mês de maio de 1970, Marco Antônio Dias Batista. Ele era membro da organização de luta armada contra a ditadura civil- militar Var- Palmares. 30 min. Direção; Marcelo Benfica. Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista. Produção: Profa Ms. Bruna Maria da Cunha Oliveira.” Ficha técnica do documentário: Direção: Marcelo Benfica. Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista. Produção: Profa Ms. Bruna Maia da Cunha Oliveira, Rosângela F Braga e todo o corpo docente. Fotografia: Kassia Cristina Damasceno, Ricardo Alves, Pedro Vinícius Moreira. Alunos: Ana Clara Goncalves, Eduardo Bruno, Flávio Dias Letícia Barroso. Edição: Dam Cabral. Trilha Sonora: Desaparecido de Itamar Correa. Arte: Carlos Salício, Vasconcelos Neto. Responda as questões abaixo: 1) Quantos anos tinha o Marco Antônio? Como era sua personalidade? 2) Em que momento da nossa história ele viveu? O que aconteceu com ele? 3) Como Marco Antônio era conhecido? Quem foi Mao Tse Tung? 118 4) Escreva o nome de pelo menos três pessoas que conheceram o Marco Antônio e deram o seu testemunho no documentário. 5) Qual é o ambiente que é mostrado todo o tempo no filme? Justifique. 6) O que seria um desaparecido político? 7) Quem foi Maria de Campos Batista? Por que ela deixava a porta da sua cozinha sempre aberta? 8) Comente sobre os bastidores do documentário. Quem participou das filmagens? 9) Com quem dona Maria Batista foi conversar para tentar encontrar seu filho desparecido? 10) O que aconteceu com a mãe de Marco Antônio? 11) O que é a Comissão Nacional da Verdade? E a Comissão dos Direitos Humanos? 12) O que mais chamou a atenção sobre a opinião dos alunos da escola sobre o documentário de Marco Antônio Dias Batista? 13) Qual mensagem você deixaria para Marco Antônio nos dias de hoje? Vale a pena lutar por um mundo melhor? Lutar por uma transformação social? 3.3.10 Atividade 2: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR. Oficina de Roteiro: para vídeos de 1 minuto. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. 119 Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, memória, direitos humanos. Oficina de Roteiro I e II Roteiro: Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político. Marcelo Benfica Roteiro de 1 minuto do curta - metragem: 5.21 a 6.21. Cena1: Manhã- exterior/dia Um estudante aparece em pé em frente a câmera, vestido com uma blusa de frio e o uniforme por baixo. Ele segura em frente ao seu rosto a imagem de uma foto do estudante Marco Antônio que esconde seu próprio rosto. Ao seu lado aparece uma grade e ao fundo um espaço aberto com duas salas. Voz off ( quando aparece a voz de um personagem que não está inicialmente na cena Cena 2: Interior/cenário cinza Renato Dias aparece com uma blusa cinza e um cenário ao fundo cinza. Renato Dias Batista Marco Antônio Dias Batista em 1968 participou das manifestações estudantis que explodiram no Brasil, na Europa e na Ásia. Em 1970 ele integrante da Vanguarda Armada revolucionária palmares, a mesma organização da atual presidente da República Dilma Rousseff, que defendia a luta armada para derrubar a ditadura civil- militar e implantar o socialismo no Brasil. Aparece a imagem da presidente Dilma Rousseff sendo julgada na época em que participou do movimento de resistência contra a Ditadura militar. Cena 3: manhã / exterior/ dia Uma estudante aparece em pé em frente a câmera vestida com uma blusa vermelha, segurando em frente ao seu rosto a imagem do estudante Marco Antônio. Ao fundo aparece uma área verde, com uma árvore, um pequeno gramado e um banco. Voz Off. Cena 4: interior/ cenário cinza Silvino aparece de terno cinza e ao fundo de um cenário cinza. 120 Silvino Batista Todos os irmãos sentem até hoje o peso da mão da Ditadura. Essa mão que nos tirou do seio da família uma criança que até hoje a gente não aceita. Cena 5:exterior- manhã/dia Musica “desaparecido” toca ao longo dessa cena. Quatro estudantes sendo acompanhados com a mochila nas costas caminhando pelos corredores da escola, encontram amis dois estudantes, calçando tênis e chinelos, brincam livremente com a câmera. Interpretação do roteiro: Atividades: 1. Identifique o nome e o diretor/ roteirista do filme. 2. Durante 1 minuto temos a descrição de quantas cenas? 3. Qual é o local e o tempo que se passam as cenas do filme? 4. Quais são os personagens que aparecem nessas cenas? 5. Quem é o personagem central do filme? Ele aparece em que momento? 6. Quem são Renato Dias e Silvino Dias? 7. Sobre o relato de Renato Dias: a) Como Renato é mostrado para o telespectador:? Qual sua roupa e cenário? b) Qual a principal marca do seu testemunho? c) Qual é a feição que ele demonstra ao longo do seu testemunho? d) Qual personagem histórico ele cita em seu testemunho? 121 e) O que mais chama a sua atenção em relação a imagem da ex- presidente Dilma Rousseff? 8. Sobre o relato de Silvino Dias: a. Como Silvino é apresentado ao telespectador? Sua roupa e cenário? b. Qual a principal marca do seu testemunho? c. Quais são as feições que ele demonstra ao longo do seu testemunho? 9. Como aparecem os estudantes da escola durante o curta metragem? CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todo o exposto, observamos que o ensino da Ditadura Militar do Brasil na atualidade, suscita importantes discussões necessárias, relacionadas ao cotidiano escolar, e os sujeitos que nele se formam. O espaço escolar como um espaço de convivência a partir da diversidade, pode acrescentar a prática do professor de história oportunidades de se vivenciar momentos de autonomia e democracia junto ao estudante. A Ditadura Militar ainda nos deixa inúmeras marcas históricas e a escola pública possuem meios de reelaborar algumas dessas marcas, pois é um espaço por excelência pertencente a toda sociedade brasileira. O professor de história pode problematizar nesse espaço diversas relações hierarquizadas que incentivam práticas de violências simbólicas e até mesmo físicas, pode identificar também diversas opressões, censuras que desrespeito a livre expressão do sujeito formativo, através do estudo desse conteúdo e sua relação com o que ainda permanece em nossos espaços públicos. A partir do acesso a diferentesfontes e a abordagem da didática da história, ao longo do estudo desse período, autoritário. Traz a possibilidade desses sujeitos em diversos momentos se esbarrarem no próprio cotidiano de um presente carregado de elementos repressivos. Esse tema sensível chega à escola básica, a partir de diversas polêmicas e dificuldades, o professor de história está nesse cenário como importante figura, para que esse passado seja elaborado pelas novas gerações. 122 A Didática da História com a discussão sobre consciência histórica, narrativas e aprendizado histórico contribui em grande medida para o estudo de “temas sensíveis” de nossa sociedade, permitindo um diálogo entre professor e estudante que busca a ressignificação de tais momentos em nosso cotidiano e uma maior relação do passado com o presente do sujeito educando. Essa situação possibilita o caminho em que pode se praticar a autonomia, a liberdade e a emancipação na escola, a partir de um exemplo histórico de autoritarismo, censura repressão aos sujeitos e a sociedade brasileira. Sendo assim o objetivo desse estudo foi a partir da Didática da História identificar, a elaboração de narrativas, o desenvolvimento da consciência histórica sobre Ditadura Militar no Brasil. Transformando elementos sensíveis contidos nessa narrativa, em meios de transformação do cotidiano escolar e da realidade dos estudantes. Buscamos apresentar a discussão historiográfica sobre a Ditadura Militar na atualidade, seus avanços e dificuldades, demonstrando que memórias com espaços em “branco”, “vazios” de significado, são facilmente cooptados por significados simplistas e até mesmo negacionistas que diz muito mais ao significado que esse sujeito dá ao seu presente cotidiano, as suas relações na sociedade e a forma em que esse sujeito lida com o conhecimento. Nesse sentido possibilitar ao sujeito educando vivências democráticas traz diferentes referências para o mesmo, que passa grande parte da sua vida em uma instituição escolar que, muitas vezes, oprime esses sujeitos. A partir de diversos registros da produção dos estudantes, temos uma variedade de possibilidades sobre o ensino da Ditadura Militar, buscando outra visão sobre os espaços escolares e as relações que podem se estabelecer com a construção do conhecimento escolar e a constituição da consciência histórica. Esperamos que este trabalho possa de alguma forma contribuir com a efetivação de novas práticas no ensino de história, voltadas para a formação de sujeitos protagonistas, autônomos e conscientes das situações sociais do presente. Concluo esta pesquisa certa de que a mesma poderá contribuir para a difusão de um ensino de história comprometido com a defesa do ensino público, que possa combater todo tipo de violência, autoritarismo e censura no espaço escolar e que promova relações entre os sujeitos escolares que renovem os princípios democráticos em nossa sociedade. 123 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, T. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1995. 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Análise do documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político “O filme conta a história do líder secundarista, desaparecido político em Goiás no mês de maio de 1970, Marco Antônio Dias Batista. Ele era membro da organização de luta armada contra a ditadura civil- militar Var- Palmares. 30 min. Direção; Marcelo Benfica. Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista. Produção: Profa Ms. Bruna Maria da Cunha Oliveira.” Ficha técnica do documentário. Direção: Marcelo Benfica Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista Produção: Profa Ms. Bruna Maia da Cunha Oliveira, Rosângela F Braga e todo o corpo docente. Fotografia Kassia Cristina Damasceno, Ricardo Alves, Pedro Vinícius Moreira. Alunos; Ana Clara Goncalves, Eduardo Bruno, Flávio Dias Letícia Barroso. Edição: Dam Cabral Trilha Sonora: Desaparecido de Itamar Correa Arte: Carlos Salício, Vasconcelos Neto Responda as questões abaixo: 129 1) Quantos anos tinha o Marco Antônio? Como era sua personalidade? 2) Em que momento da nossa históriaele viveu? O que aconteceu com ele? 3) Como Marco Antônio era conhecido? Quem foi Mao Tse Tung? 4) Escreva o nome de pelo menos três pessoas que conheceram o Marco Antônio e deram o seu testemunho no documentário. 5) Qual é o ambiente que é mostrado todo o tempo no filme? Justifique. 6) O que seria um desaparecido político? 7) Quem foi Maria de Campos Batista? Por que ela deixava a porta da sua cozinha sempre aberta? 8) Comente sobre os bastidores do documentário. Quem participou das filmagens? 9) Com quem dona Maria Batista foi conversar para tentar encontra seu filho desparecido? 10) O que aconteceu com a mãe de Marco Antônio? 11) O que é a Comissão Nacional da Verdade? E a Comissão dos Direitos Humanos? 12) O que mais chamou a atenção sobre a opinião dos alunos da escola sobre o documentário de Marco Antônio Dias Batista? 13) Qual mensagem você deixaria para Marco Antônio nos dias de hoje? Vale a pena lutar por um mundo melhor? Lutar por uma transformação social? 130 ANEXO 2 ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, memória, direitos humanos. Atividade 2: A História nas Paredes. A Revolução Francesa (1789) é o marco inicial de uma história gráfica dramática, vibrante. Abrindo o século XX, tivemos a Revolução Russa (1917), à qual seguiram-se a Revolução Chinesa 91949), a Cubana (1959), os protestos contra a Guerra do Vietnã (1968), a revolta de maio de 1968 em Paris/ França, e tantos outros movimentos de contestação política que nos deixam acervos de cartazes memoráveis. Cartazes são vistos por pessoas transitando em espaços públicos-é linguagem gráfica na escala do corpo. Nenhuma outra modalidade de mídia imprensa tem mais afinidade com a política do que o cartaz, nenhuma se aproxima mais da postura ativa inerente a qualquer movimento de contestação. O cartaz é a gráfica da ação por excelência. SACCHETTA, Vladimir. Organização. Os Cartazes desta história: memória gráfica e resistência à Ditadura e a redemocratização (1964-1985). São Paulo: Instituto Vladimir Herzog e Escrituras Editora, 2012, pagina, 244) Observe os cartazes políticos elaborados durante a Ditadura militar no Brasil: 1) Ditadura Militar (1964-1985). 131 132 Imagem 1: www.dw.com/pt-br/mour%C3%A3o-ri-ao-ser-questionado-sobre-torturas-na- ditadura/a-61507416 Imagem 2: www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/14688-o- ensino-da-ditadura-civil-militar-nas-escolas Imagem 3: memorialdademocracia.com.br/card/teatros-fazem-greve-contra-a-censura Imagem 4: documentosrevelados.com.br/cartazes-da-história-memoria-da-anistia-e- movimentos-sociais/ Imagem 5: valor.globo.com/eu-e/noticia/2012/10/31/livro-reune-mais-de-200-cartazes-contra- ditaduras-na-america-latina.ghtml Imagem 6: valor.globo.com/eu-e/noticia/2012/10/31/livro-reune-mais-de-200-cartazes-contra- ditaduras-na-america-latina.ghtml Questões para o debate: 1)Identificar o contexto de cada uma das imagens, sendo o momento 1 a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). 2)Identificar as palavras de ordem e reinvindicações de cada um dos cartazes. 3)Identificar os sujeitos que aparecem ou são representados nas imagens. 4) Diferenciar o tipo de imagem: fotografia, desenho, charge. Agora que você já conheceu algumas histórias das lutas no passado durante a Ditadura Militar, Junto com seu grupo crie um cartaz de protesto sobre um tem que considera importante para todo o coletivo em que vocês vivem. Tentem identificar alguns problemas em comum que vocês vivem na escola e que podem ser solucionados a partir da união dos interesse de todos. Bom trabalho! 133 O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VIDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR. Atividade 2.1: Oficina de Roteiro: para vídeos de 1 minuto. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, memória, direitos humanos. Oficina de Roteiro I e II Roteiro: Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político. Marcelo Benfica Roteiro de 1 minuto do curta - metragem: 5.21 a 6.21. Cena1: Manhã- exterior/dia Um estudante aparece em pé em frente a câmera, vestido com uma blusa de frio e o uniforme por baixo. Ele segura em frente ao seu rosto a imagem de uma foto do estudante Marco Antônio que esconde seu próprio rosto. Ao seu lado aparece uma grade e ao fundo um espaço aberto com duas salas. Voz off ( quando aparece a voz de um personagem que não está inicialmente na cena Cena 2: Interior/cenário cinza Renato Dias aparece com uma blusa cinza e um cenário ao fundo cinza. Renato Dias Batista Marco Antônio Dias Batista em 1968 participou das manifestações estudantis que explodiram no Brasil, na Europa e na Ásia. Em 1970 ele integrante da Vanguarda Armada revolucionária palmares, a mesma organização da atual presidente da República Dilma Rousseff, que defendia a luta armada para derrubar a ditadura civil- militar e implantar o socialismo no Brasil. Aparece a imagem da presidente Dilma Rousseff sendo julgada na época em que participou do movimento de resistência contra a Ditadura militar. 134 Cena 3: manhã / exterior/ dia Uma estudante aparece em pé em frente a câmera vestida com uma blusa vermelha, segurando em frente ao seu rosto a imagem do estudante Marco Antônio. Ao fundo aparece uma área verde, com uma arvore um pequeno gramado e um banco. Voz Off. Cena 4: interior/ cenário cinza Silvino aparece de terno cinza e ao fundo de um cenário cinza. Silvino Batista Todos os irmãos sentem até hoje o peso da mão da Ditadura. Essa mão que nos tirou do seio da família uma criança que até hoje a gente não aceita. Cena 5:exterior- manhã/dia Musica “desaparecido” toca ao longo dessa cena. Quatro estudantes sendo acompanhados com a mochila nas costas caminhando pelos corredores da escola, encontram amis dois estudantes, calçando tênis e chinelos, brincam livremente com a câmera. Interpretação do roteiro: Atividades: 1)Identifique o nome e o diretor/ roteirista do filme. 2)Durante 1 minuto temos a descrição de quantas cenas? 3) Qual é o local e o tempo que se passam as cenas do filme? 4)Quais são os personagens que aparecem nessas cenas? 5)Quem é o personagem central do filme? Ele aparece em que momento? 6) quem são Renato Dias e Silvino Dias? 7) Sobre o relato de Renato Dias: a) Como Renato é mostrado para o telespectador:? Qual sua roupa e cenário? b) Qual a principal marca do seu testemunho? c) Qual é afeição que ele demonstra ao longo do seu testemunho? d) Qual personagem histórico ele cita em seu testemunho? 135 e) O que mais chama a sua atenção em relação a imagem da ex- presidente Dilma Roussef? 8: Sobre o relato de Silvino Dias: a) Como Silvino é apresentado ao telespectador? Sua roupa e cenário? b) Qual a principal marca do seu testemunho? c) Quais são as feições que ele demonstra ao longo do seu testemunho? 9)Como aparecem os estudantes da escola durante o curta metragem? 136 APÊNDICE 1 PRODUTO EDUCACIONAL 137 JOYCI VIEGAS DE FREITAS SILVA SEQUÊNCIA DIDÁTICA:Ensinar sobre ditadura com democracia GOIÂNIA 2022 138 JOYCI VIEGAS DE FREITAS SILVA SEQUÊNCIA DIDÁTICA: Ensinar sobre ditadura com democracia Produto Educacional apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica como requisito para obtenção para o título de Mestre(a) em Ensino na Educação Básica Área de Concentração: Ensino na Educação Básica Linha de Pesquisa: Práticas escolares e aplicação do conhecimento Orientador (a): Dr. Glauco Roberto Gonçalves GOIÂNIA 2022 139 140 141 TIPO DE PRODUTO EDUCACIONAL (De acordo com a Resolução PPGEEB/CEPAE Nº 001/2019) Desenvolvimento de material didático e instrucional (propostas de ensino tais como sugestões de experimentos e outras atividades práticas, sequências didáticas, propostas de intervenção, roteiros de oficinas; material textual tais como manuais, guias, textos de apoio, artigos em revistas técnicas ou de divulgação, livros didáticos e paradidáticos, histórias em quadrinhos e similares, dicionários, relatórios publicizados ou não, parciais ou finais de projetos encomendados sob demanda de órgãos públicos); Especificação: Sequência Didática DIVULGAÇÃO ( ) Filme ( ) Hipertexto ( x ) Impresso ( x ) Meio digital ( ) Meio Magnético ( ) Outros. Especificar: ___ FINALIDADE PRODUTO EDUCACIONAL Sequência Didática abordando o tema Ditadura Militar no Brasil e o ensino de história. PÚBLICO ALVO DO PRODUTO EDUCACIONAL Principalmente professores de história e áreas afins, podendo alcançar toda a comunidade escolar. IMPACTO DO PRODUTO EDUCACIONAL 142 O Produto Educacional apresenta : ( x ) Alto impacto – Produto gerado no Programa, aplicado e transferido para um sistema, no qual seus resultados, consequências ou benefícios são percebidos pela sociedade. ( ) Médio impacto – Produto gerado no Programa, aplicado no sistema, mas não foi transferido para algum segmento da sociedade. ( ) Baixo impacto – Produto gerado apenas no âmbito do Programa e não foi aplicado nem transferido para algum segmento da sociedade. Área impactada pelo Produto Educacional: ( x ) Ensino ( x ) Aprendizagem ( ) Econômico ( ) Saúde ( x ) Social ( ) Ambiental ( ) Científico O impacto do Produto Educacional é: ( ) Real - efeito ou benefício que pode ser medido a partir de uma produção que se encontra em uso efetivo pela sociedade ou que foi aplicado no sistema (instituição, escola, rede, etc). Isso é, serão avaliadas as mudanças diretamente atribuíveis à aplicação do produto com o público-alvo. 143 ( x ) Potencial - efeito ou benefício de uma produção previsto pelos pesquisadores antes de esta ser efetivamente utilizada pelo público-alvo. É o efeito planejado ou esperado. O Produto Educacional foi vivenciado (aplicado, testado, desenvolvido, trabalhado) em situação real, seja em ambiente escolar formal ou informal, ou em formação de professores (inicial, continuada, cursos etc)? ( x ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, descreva essa situação. O produto foi disponibilizado em uma Escola Estadual na cidade de Goiânia. REPLICABILIDADE ABRANGÊNCIA DO PRODUTO EDUCACIONAL O Produto Educacional pode ser repetido, mesmo com adaptações, em diferentes contextos daquele em que o mesmo foi produzido. ( x ) Sim ( ) Não A abrangência territorial do Produto Educacional, que indica uma definição precisa de sua vocação, é ( ) Local ( ) Regional ( x ) Nacional ( ) Internacional COMPLEXIDADE DO PRODUTO EDUCACIONAL O Produto Educacional possui : ( x ) Alta complexidade - O produto é concebido a partir da observação e/ou da prática do profissional e está atrelado à questão de pesquisa da dissertação/tese, apresenta método claro. 144 Explica de forma objetiva a aplicação e análise do produto, há uma reflexão sobre o produto com base nos referenciais teórico e teórico-metodológico, apresenta associação de diferentes tipos de conhecimento e interação de múltiplos atores - segmentos da sociedade, identificável nas etapas/passos e nas soluções geradas associadas ao produto, e existem apontamentos sobre os limites de utilização do produto. ( ) Média complexidade - O produto é concebido a partir da observação e/ou da prática do profissional e está atrelado à questão de pesquisa da dissertação/tese. Apresenta método claro e explica de forma objetiva a aplicação e análise do produto, resulta da combinação de conhecimentos pré-estabelecidos e estáveis nos diferentes atores - segmentos da sociedade. ( ) Baixa complexidade - O produto é concebido a partir da observação e/ou da prática do profissional e está atrelado à questão de pesquisa da dissertação/tese. Resulta do desenvolvimento baseado em alteração/adaptação de conhecimento existente e estabelecido sem, necessariamente, a participação de diferentes atores - segmentos da sociedade. ( ) Sem complexidade - Não existe diversidade de atores - segmentos da sociedade. Não apresenta relações e conhecimentos necessários à elaboração e ao desenvolvimento do produto. INOVAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL O Produto Educacional possui: ( x ) Alto teor inovativo - desenvolvimento com base em conhecimento inédito. ( ) Médio teor inovativo - combinação e/ou compilação de conhecimentos pré-estabelecidos. ( ) Baixo teor inovativo - adaptação de conhecimento existente. 145 FOMENTO Houve fomento para elaboração ou desenvolvimento do Produto Educacional? ( ) Sim ( x ) Não Em caso afirmativo, escolha o tipo de fomento: ( ) Programa de Apoio a Produtos e Materiais Educacionais do PPGEEB ( ) Cooperação com outra instituição ( ) Outro. Especifique: ___________________________________ REGISTRO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL Houve registro de depósito de propriedade intelectual ( x ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, escolha o tipo: ( ) Licença Creative Commons ( x ) Domínio Público ( ) Patente ( ) Outro. Especifique: ____ Informe o código de registro: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/br/ 146 TRANSFERÊNCIA DO PRODUTO EDUCACIONAL O Produto Educacional foi transferido e incorporado por outra instituição, organização ou sistema, passando a compor seus recursos didáticos/pedagógicos? ( ) Sim ( x ) Não Em caso afirmativo, descreva essa transferência DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DO PRODUTO EDUCACIONAL O Produto Educacional foi apresentado (relato de experiência, comunicação científica, palestra, mesa redonda, etc) ou ministrado em forma de oficina, mini-curso, cursos de extensão ou de qualificação etc. em eventos acadêmicos, científicos ou outros? ( ) Sim ( x ) Não Em caso afirmativo, descreva o evento e a forma de apresentação: O Produto Educacional foi publicado em periódicos científicos, anais de evento, livros, capítulos de livros, jornais ou revistas? ( ) Sim ( x ) Não Em caso afirmativo, escreva a referência completa de cada publicação: 147 REGISTRO(S) E DISPONIBILIZAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL Produto Educacional Registrado na Plataforma EduCAPES com acesso disponível no link: http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/585754 Produto Educacional disponível, como apêndice da Dissertação de Mestrado do qual é fruto, na Biblioteca de Teses e Dissertações da Universidade Federal de Goiás (UFG). Link para acesso: Outras formas de Registro: SILVA, Joyci Viegas de Freitas, SEQUÊNCIA DIDÁTICA: ENSINAR DITADURA COM DEMOCRACIA. 2022. 48f. Produto Educacional relativo à Dissertação(Mestrado em Ensino na Educação Básica) – Programa de Pós Graduação em Ensino na Educação Básica, Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO. Outras formas de acesso: 148 SILVA, Joyci Viegas de Freitas. Ensinar sobre ditadura com democracia. 2022. 39f. Produto Educacional relativo à Dissertação Ditadura Militar no Brasil: a consciência histórica de estudantes de uma escola pública (Mestrado em Ensino na Educação Básica) – Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica, Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO. RESUMO Este Produto Educacional é parte integrante da dissertação denominada “Ditadura Militar: a consciência histórica de estudantes de uma escola pública”. Construído em forma em forma de sequência didática apresenta duas propostas de ensino de história sobre a Ditadura Militar no Brasil, tendo como eixo experiências democráticas nas escolas de ensino fundamental. Ao professor de história será disponibilizado um material que possui o objetivo de proporcionar aos estudantes vivências democráticas estimulando sua autonomia na construção do seu próprio conhecimento e agir no mundo presente. Vive-se atualmente o acirramento do debate nacional acerca de temas sensíveis relacionados à nossa memória. A consciência histórica torna-se, neste sentido, um importante referencial para o ensino de história dentro da teoria da Didática da História. A partir desta perspectiva, o presente estudo, oriundo de pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica da UFG, analisou o processo de execução de um projeto de extensão de formação de professores de história (PIBID) denominado “Os personagens da Ditadura Militar: problemas do passado e do presente” em uma escola pública de Goiânia. Através de variados registros elaborados pelos estudantes, entre eles desenhos, testemunhos transcritos ou gravados, relatos, cartazes políticos ou pequenos vídeos, verificou-se que muito permanece desse período no cotidiano juvenil, destacando o abuso da violência policial nas cidades contra a juventude e a problemática do acesso à informação. Esses registros também possibilitaram a análise da forma como o estudo de um tema histórico desse passado inconcluso influencia na formação da orientação histórica desses sujeitos no presente. A sequência didática com duas formas de abordagens, intituladas “Ensinar Ditadura com Democracia” e “O ensino da Ditadura Militar: a produção de vídeos nos espaços da escola” segue o eixo desta pesquisa, e busca relacionar o que ainda permanece desse passado inconcluso no presente dos estudantes, sobretudo no cotidiano escolar. A reelaboração desse passado ditatorial se torna nesse contexto uma importante contribuição do professor de história à sociedade democrática. Palavras-Chave: Ensino de história. Democracia. Autonomia. Cotidiano escolar. 149 ABSTRACT Didactic sequence: teaching dictatorship with democracy This Educational Product is an integral part of the dissertation called “Military Dictatorship: the historical consciousness of students in a public school”. Constructed in the form of a didactic sequence, it presents two proposals for teaching history about the Military Dictatorship in Brazil, having as its axis democratic experiences in elementary schools. The history teacher will be provided with material that aims to provide students with democratic experiences, stimulating their autonomy in building their own knowledge and acting in the present world. We are currently experiencing the intensification of the national debate on sensitive topics related to our memory. Historical awareness becomes, in this sense, an important reference for the teaching of history within the theory of Didactics of History. From this perspective, the present study, based on research carried out within the scope of the Graduate Program in Teaching in Basic Education at UFG, analyzed the process of carrying out an extension project for the training of history teachers (PIBID) called " The characters of the Military Dictatorship: past and present problems” in a public school in Goiânia. Through various records made by students, including drawings, transcribed or recorded testimonies, reports, political posters or small videos, it was found that much remains of this period in the youth daily life, highlighting the abuse of police violence in cities against youth and problem of access to information. These records also made it possible to analyze the way in which the study of a historical theme from this unfinished past influences the formation of the historical orientation of these subjects in the present. The didactic sequence with two forms of approaches, entitled "Teaching Dictatorship with Democracy" and "The teaching of the Military Dictatorship: the production of videos in school spaces" follows the axis of this research, and seeks to relate what still remains of this unfinished past in the present of students, especially in the school routine. The re-elaboration of this dictatorial past becomes, in this context, an important contribution of the history teacher to democratic society. Keywords: History teaching. Democracy. Autonomy. School daily life. 150 SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO…………………………………………………………....…………..13 2. SEQUÊNCIA DIDÁTICA 1: ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO CARTAZES POLÍTICOS……..….…14 2.1. Índice Sequência didática 1 ……………………………………………………………...15 2.2 Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil...16 2.2.1 Aula 1: DITADURA MILITAR NO BRASIL?...............................................................16 2.2.2 Aula 2: LIBERDADE DE EXPRESSÃO!.......................................................................17 2.3 Memórias inconclusas e a luta por um mundo melhor……………………………….…..18 2.3.1 Aula 3: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA: UM DESAPARECIDO POLÍTICO…………………………………………………………………………………....18 2.3.2 Aula 4: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA E A VIOLÊNCIA POLICIAL………19 2.4 Os cartazes dessa história…………………………………………………………………20 2.4.1 Aula 5: A HISTÓRIA NAS PAREDES………………………………………………...20 2.4.2 Aula 6: OS CARTAZES DA NOSSA HISTÓRIA…………...………………………..21 2.5 Atividades Sequência Didática 1……………………………..…………………………..21 2.5.1 Atividade 1: Marco Antônio Dias Baptista e a violência policial………………………22 2.5.2 Atividade 2: Ensinar sobre a ditadura com democracia………………………………...24 3. SEQUÊNCIA DIDÁTICA 2: ENSINAR DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO VÍDEOS NA ESCOLA………………………………………28 3.1 Índice Sequência Didática 2………………………………………………………………29 3.2 A escrita do Roteiro……………………………………………………………………....29 3.2.1 Aula 1: OFICINA DE ROTEIRO I……………………………………………………..29 3.2.2 Aula 2: OFICINA DE ROTEIRO II……………………………………………………33 3.3 Produção, filmagem e exposição dos vídeos……………………………………………..34 3.3.1 Aula 3: OCUPANDO E FILMANDO OS ESPAÇOS DA ESCOLA………………….34 3.3.2 Aula 4: MOSTRA DE VÍDEOS………………………………………………………..34 3.4 Atividades da Sequência Didática 2………………………………………………...……35 3.4.1 Atividade 1: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR………………………………………………………..…35 151 3.4.2 Atividade 2: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR…………………………………………………………..37 1. APRESENTAÇÃO Essa proposta de sequência didática é resultado da pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica da Universidade Federal de Goiás. Trata-se de propostas fundamentadas em uma experiência de ensino de história sobre a Ditadura Militar no Brasil em uma escola pública. Esse material é destinado a todos os professores e professoras de história da educação básica, visto que atualmente se trata deum tema que encontramos inúmeros desafios para tratar em sala de aula. As atividades foram desenvolvidas levando em consideração alguns princípios gerais como o protagonismo dos estudantes, vivências de autonomia e práticas democráticas no ambiente escolar. As propostas foram adaptadas à realidade escolar, em que o tema a Ditadura Militar se adequa a conteúdos pertencentes à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e é trabalhado no período em média de uma quinzena na escola básica. As aulas foram pensadas a partir de uma realidade escolar em que se apresenta um professor regente em sala de aula, diferentemente do projeto do PIBID que foi realizado com o auxílio de oito monitores e uma coordenadora na escola campo, além de dois professores coordenadores da Universidade do curso de História. Também serão disponibilizados os documentos utilizados no projeto, os links com todas as atividades, o passo a passo de cada discussão e exercício proposto. A dinâmica das atividades foram planejadas para se realizar em 50 minutos, tempo em que o professor normalmente fica em sala de aula. Essas propostas foram pensadas para auxiliar o trabalho do professor e tornar possível desenvolver esse tema em sala de aula e em tempo hábil. Tive uma preocupação de escrever as informações e orientações gerais das aulas da forma mais acessível e condizente com a realidade escolar possível, para que o professor que tenha contato com as duas propostas as tornem viáveis diante da sua realidade enquanto profissional da educação. Por isso, em alguns momentos a proposta de aula não trará informações tradicionais, que algumas vezes levam em consideração mais um ambiente acadêmico do que (não menos importante) um ambiente escolar. Levamos em conta importantes informações para que o professor compreenda a dinâmica da aula e coloque em prática as atividades elaboradas nesse produto educacional em sua escola. As duas propostas de ensino trazem em comum os princípios de possibilitar vivências democráticas entre os sujeitos no espaço escolar, seja elas em sala de aula, no recreio, no pátio, na quadra, na entrada ou saída da escola. Traz o mesmo objeto de análise o curta-metragem Marco: o encontro de uma comunidade com um desaparecido político (2013), por permitir desenvolver inúmeras relações dos estudantes entre o passado ditatorial e seu cotidiano. O artefato final se diferencia nas duas sugestões de trabalho, sendo a primeira um cartaz político e a segunda um vídeo produzido com um celular. O processo é fundamental nas propostas que tentam articular o conhecimento desse período por meio de uma sensibilização do passado e suas relações com o presente para um agir no mundo, a partir da constituição de uma hábil consciência histórica. 2. SEQUÊNCIA DIDÁTICA 1: ENSINAR SOBRE A DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO CARTAZES POLÍTICOS A Sequência Didática 1 se divide em três momentos: 1) A investigação do conhecimento prévio dos alunos sobre a Ditadura Militar. 2) O recorte temático da tortura e violência policial a partir da história do desaparecimento político do estudante Marco Antônio Dias Batista. 3) A produção de cartazes políticos sobre a realidade dos estudantes. Ao final, disponibilizamos as duas atividades propostas ao longo das aulas, para impressão ou projeção em sala de aula. Serão expostos em 6 aulas no total de 50 minutos que poderá ser ministrada pelo professor regente de história de qualquer instituição escolar. Produto Educacional/Sequência didática/ 9°ano: Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1964. Por: Joyci Viegas de Freitas Silva/abril de 2022. Código: HIS9_19UND02 Sobre a Sequência Didática: Esta sequência didática foi produzida como resultado do Programa de Pós Graduação em Ensino na Educação Básica PPGEEB-CEPAE-UFG. Professora: Joyci Viegas de Freitas Silva Orientador: Prof . Dr. Glauco Roberto Gonçalves Ano: 9º ano do Ensino Fundamental. Unidade temática: Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946. Objeto(s) de conhecimento: “Os anos 1960: revolução cultural?”; “A ditadura civil-militar e os processos de resistência”; “As questões indígena e negra e a ditadura". Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 - Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura; didática da história; autonomia; democracia. 2.1. Índice Sequência Didática 1 Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil Aula 1 :Ditadura Militar no Brasil? Aula 2 : Liberdade de Expressão! Memórias inconclusas e a luta por um mundo melhor. Aula 3 :Marco Antônio Dias Baptista: um desaparecido político. Aula 4 : Marco Antônio e a violência policial. Os cartazes dessa história. Aula 5: A história nas paredes. Aula 6: Os cartazes da nossa história. Atividades da Sequência Didática 1 Atividade 1- Marco Antônio e a violência policial: Aula 3 e 4. Atividade 2- A história nas paredes: Aula 5. 2.2 Investigando o conhecimento prévio dos estudantes sobre a Ditadura Militar no Brasil. 2.2.1 Aula 1: DITADURA MILITAR NO BRASIL? Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: quadro branco e pincel ou quadro negro e giz. Orientações para o professor: Escrever destacado no quadro no início da aula a pergunta: Ditadura Militar no Brasil? A partir da pergunta escrita no quadro, o professor irá perguntar por fila qual a primeira palavra que vem na mente do aluno quando escuta o termo Ditadura Militar. Vale destacar que neste momento não existe certo ou errado. Cada palavra dita será escrita no quadro pelo professor. Essa dinâmica de “chuva de ideias” é uma atividade que permite ao professor fazer uma breve diagnose das ideias que os alunos trazem sobre qualquer tema histórico. E, a partir desse momento, traçar estratégias de abordagens que façam mais sentido a realidade do seu aluno e do próprio conteúdo a ser trabalhado em sala de aula. Ao final o professor irá ler em voz alta todos os vocábulos e sintetizar junto com os alunos algumas palavras chaves que por exemplo podem ser: militarismo, guerra, segurança, violência, milagre econômico, corrupção, entre outras. Nessa aula o professor vai tentar estabelecer qual linha de raciocínio sobre esse período tem a turma, quais fontes os estudantes têm acesso, que tipo de conhecimento eles trazem das suas vivências fora da escola sobre a Ditadura Militar. A partir da seleção de três ou quatro palavras chaves o professor irá comunicar que na próxima aula será montado um mural na sala sobre esse tema, com imagens relacionadas às palavras chaves que a turma trouxe durante a discussão. 2.2.2 Aula 2: LIBERDADE DE EXPRESSÃO! Tempo sugerido: 50 minutos divididos em 30 minutos de produção da imagem e 20 minutos de montagem do mural. Materiais necessários: folha A4, revistas antigas, jornais antigos, tesoura, cola, os desenhos elaborados durante a aula. Organização da sala: sentados em círculo ou semicírculo. Orientações para o professor: Escrever destacado no início da aula a frase: “Liberdade de expressão!” Retomar o conteúdo discutido na aula passada a partir das palavras-chave. Colocar à disposição dos estudantes o material para que cada aluno elabore uma imagem a partir do que foi discutido na aula passada. Essa aula vai propiciar o livre pensar dos alunos, a partir da produção que represente a ideia de cada um da sala. O momento é de compartilhar os conhecimentos que eles trazem sobre a Ditadura Militar no Brasil . É importante que os trabalhos sejam valorizados e a turma desenvolva uma relação de respeito à livre expressão.Ao final todos irão montar o mural na parede da sala e comentar seus trabalhos com a turma. O professor nesse momento deve incentivar o diálogo entre os estudantes e interferir o mínimo possível. Essa roda de conversa traz ao professor a possibilidade de ouvir as relações que os alunos fazem entre o passado e o presente, as vivências familiares, escolares, as principais referências culturais e até mesmo morais. Por isso, é importante que o professor não demonstre qualquer juízo relacionado à realidade dos alunos, ou demonstre o mínimo possível. O objetivo é que ele estabeleça um ambiente seguro e respeitoso de expressão dos alunos e entre os mesmos. Além disso, a montagem do mural irá possibilitar que todos, professor e estudantes, retomem o conteúdo sempre que necessário, transformando possíveis ideias equivocadas sobre o tema e ressignificando esse conteúdo histórico. 2.3 Memórias inconclusas e a luta por um mundo melhor 2.3.1 Aula 3: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA: UM DESAPARECIDO POLÍTICO Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: Televisão com entrada USB ou data show para exibir o documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político (2013). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=r-ljaft7gGs&t=3s. Duração de 29 minutos. Acesso em 16.07.2022. Organização da sala: em filas. Orientações para o professor: Escrever no quadro em destaque o tema da aula e o título do documentário: “Marcos Antônio Dias Baptista e o desaparecimento político.” e “Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político.” Fazer uma leitura coletiva da Atividade 1 (localizada ao final da Sequência Didática 1), antes de iniciar a exibição do curta, orientar que todos irão responder perguntas da atividade, portanto, devem ir anotando no caderno ao longo da exibição as possíveis respostas. Passar o documentário e discutir a partir das anotações dos alunos, sem uma grande sistematização por parte do professor, destacando as impressões e questionamentos dos próprios estudantes. Para você saber mais: Um dossiê organizado pela Comissão da Verdade possui um breve relato da biografia de Marco Antônio e todo o processo de luta de sua família e principalmente de sua mãe Maria Batista em busca do corpo do seu filho desaparecido. Ele ainda contém documentos oficiais, reportagens, e diversas imagens da época do desaparecimento de Marco Antônio.2 Música Desaparecido de Itamar Correia (4m10s) Itamar Corrêa fez essa canção em homenagem a Marco Antônio Dias Batista o mais jovem desaparecido político da Ditadura Militar. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KND7634uutg 2.3.2 Aula 4: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA E A VIOLÊNCIA POLICIAL Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: Projetar ou imprimir a Atividade 1. Organização da sala: em 3 grupos, de 5 a 7 alunos. Orientações para o professor: Escrever no quadro em destaque: Documentário “Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político”. 2 Disponível em: http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/upload/001-dossie-cemdp-marcos-antonio-dias- baptista.pdf. Acesso em 16.07.2022. Nesse momento é importante que o professor construa com os grupos uma análise minuciosa do documentário. Chamando a atenção para os detalhes da trilha sonora, a direção e roteiro do documentário, passando pela fotografia, enredo e principais problemáticas do documentário. Cada grupo irá apresentar a resposta de quatro perguntas do questionário. Todos os grupos irão responder a questão número treze. A aula deve ser dividida em dois momentos: para responder e para apresentar as perguntas. O professor deve assegurar na medida do possível que todos os alunos respondam as questões solicitadas e tirem todas as dúvidas em relação ao conteúdo do vídeo. Na medida em que eles forem comentando as respostas, o professor irá observar a necessidade de comentar, reforçar ou esclarecer as respostas dadas pelos grupos. 2.4 Os cartazes dessa história 2.4.1 Aula 5: A HISTÓRIA NAS PAREDES. Tempo sugerido: 50 minutos. Material necessário: Imprimir ou projetar Atividade 2. Organização da sala: em grupos de 3 a 5 pessoas. Orientações para o professor: Escrever no quadro em destaque: “A história nas paredes”. Explique que estamos finalizando o estudo do período da Ditadura Militar e que ao final os grupos irão elaborar um cartaz político. Distribuir a Atividade 2 e deixar alguns minutos livres para o grupo explorar o texto e as imagens sem um direcionamento do professor. Logo em seguida, chamar a atenção da turma para o contexto do surgimento de cartazes políticos na história contemporânea. Analisar as imagens a partir do roteiro disponível na atividade e pedir que ao final os grupos decidam os temas dos seus cartazes para a próxima aula. Os temas devem se relacionar com aspectos que foram desenvolvidos durante a sequência didática e com cotidiano dos alunos, lembrando que os cartazes que eles irão produzir devem conter um caráter de protesto e transformação de questões que os mesmos considerem importantes. Para você saber mais: assista à matéria sobre a produção do livro Os cartazes desta História: Memória gráfica e resistência à Ditadura Militar e da Redemocratização (1964- 1985). Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Hj_GZ63eT68. Acesso em 16.07.2022. 2.4.2 Aula 6: OS CARTAZES DA NOSSA HISTÓRIA Tempo sugerido: 50 minutos. Material necessário: Cartolina, revistas, tesoura, cola, canetão, lápis de cor, canetas. Organização da sala: aula fora da sala de aula, nos espaços da escola. Orientações para o professor: Os grupos serão retomados e irão elaborar um cartaz político. Essa aula deve ser mais livre e sem muita intervenção do professor, somente se ele for solicitado. Cada grupo irá escolher o lugar da escola em que será produzido o cartaz que pode ser sentado no chão (no pátio, na quadra, na área de convivência), ou com cadeiras e mesas trazidas da sala de aula. Outro espaço que pode ser utilizado seria a biblioteca, ou sala de estudo. É importante que cada grupo tenha a autonomia de escolher em qual espaço vai elaborar a atividade, que não seja na sua própria sala de aula e cabe ao professor garantir que eles ocupem cada espaço escolhido. Outro aspecto seria liberar o uso de material de pesquisa pelo celular, caso a escola disponibilize a internet mas chamar a atenção para o tempo de entrega da atividade ao final da aula e da importância do uso da criatividade e originalidade dos cartazes.Os alunos irão finalizar a atividade, suas frases e imagens e irão escolher um lugar na escola para colar esses cartazes. Ao final, registre por fotos os cartazes de cada grupo. Observação: O objetivo dessa atividade pode gerar alguns debates importantes na escola, as reivindicações dos grupos devem ser respeitadas e problematizadas, como um meio de desenvolver um olhar crítico e relacional desse jovem com o seu cotidiano, suas demandas sociais e orientação no tempo. Uma forma de desenvolver a discussão seria incentivar uma busca pela “solução'' dos problemas, por exemplo: quais sujeitos são responsáveis por tal política, seja ambiental, educacional, cultural? Quais são os sujeitos que devem ser cobrados? Qual o papel dos estudantes nesse processo de vivência em uma sociedade democrática? Como os estudantes no passado se expressaram frente a alguma demanda social? Como os estudantes lutaram por transformações sociais no passado? Como os estudantes podem lutar por melhorias sociais na atualidade? Essas seriam alguns questionamentos que o professor pode trazer ao dialogar com os estudantes. 2.5 Atividades Sequência Didática 2.5.1 Atividade 1: Marco Antônio Dias Baptista e a violência policial Produto Educacional/ Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, Didática da história, autonomia, democracia. ATIVIDADE 1: Marco Antônio Dias Baptista e a violência policial. Análise do documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político Sinopse: “O filme conta a história do líder secundarista, desaparecido político em Goiás no mês de maio de 1970, Marco Antônio Dias Batista. Ele era membro da organização de luta armada contra a ditadura civil- militar Var-Palmares. 30 min. Direção; Marcelo Benfica. Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista. Produção: Profa Ms. Bruna Maria da Cunha Oliveira.” Ficha técnica do documentário: Direção: Marcelo Benfica Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista Produção: Profa Ms. Bruna Maia da Cunha Oliveira, Rosângela F. Braga e todo o corpo docente. Fotografia Kassia Cristina Damasceno, Ricardo Alves, Pedro Vinícius Moreira. Alunos: Ana Clara Goncalves, Eduardo Bruno, Flávio Dias Letícia Barroso. Edição: Dam Cabral. Trilha Sonora: Desaparecido de Itamar Correa. Arte: Carlos Salício, Vasconcelos Neto. Responda as questões abaixo: 1. Quantos anos tinha o Marco Antônio? Como era sua personalidade? 2. Em que momento da nossa história ele viveu? O que aconteceu com ele? 3. Como Marco Antônio era conhecido? Quem foi Mao Tsé Tung? 4. Escreva o nome de pelo menos três pessoas que conheceram o Marco Antônio e deram o seu testemunho no documentário. 5. Qual é o ambiente que é mostrado todo o tempo no filme? Justifique. 6. O que seria um desaparecido político? 7. Quem foi Maria de Campos Batista? Por que ela deixava a porta da sua cozinha sempre aberta? 8. Comente sobre os bastidores do documentário. Quem participou das filmagens? 9. Com quem dona Maria Batista foi conversar para tentar encontrar seu filho desaparecido? 10. O que aconteceu com a mãe de Marco Antônio? 11. O que é a Comissão Nacional da Verdade? E a Comissão dos Direitos Humanos? 12. O que mais chamou a atenção sobre a opinião dos alunos da escola sobre o documentário de Marco Antônio Dias Batista? 13. Qual mensagem você deixaria para Marco Antônio nos dias de hoje? Vale a pena lutar por um mundo melhor? Lutar por uma transformação social? 2.5.2 Atividade 2: Ensinar sobre a ditadura com democracia Atividade 2: A História nas Paredes. A Revolução Francesa (1789) é o marco inicial de uma história gráfica dramática, vibrante. Abrindo o século XX tivemos a Revolução Russa (1917), à qual seguiram-se a Revolução Chinesa (1949), a Cubana (1959), os protestos contra a Guerra do Vietnã (1968), a revolta de maio de 1968 em Paris/França, e tantos outros movimentos de contestação política que nos deixam acervos de cartazes memoráveis. Cartazes são vistos por pessoas transitando em espaços públicos, é uma linguagem gráfica na escala do corpo. Nenhuma outra modalidade de mídia imprensa tem mais afinidade com a política do que o cartaz, nenhuma se aproxima mais da postura ativa inerente a qualquer movimento de contestação. O cartaz é a gráfica da ação por excelência. SACCHETTA, Vladimir. Organização. Os Cartazes desta história: memória gráfica e resistência à Ditadura e a redemocratização (1964-1985). São Paulo: Instituto Vladimir Herzog e Escrituras Editora, 2012, p. 244). Observe os cartazes políticos elaborados durante a Ditadura militar no Brasil: 1) Ditadura Militar (1964-1985) Imagem I - Pessoas protestam contra a ditadura no Brasil em 1968 Fonte: Arquivo Nacional, Imagem de uma manifestação contra a ditadura militar, 1968. Disponível em: www.dw.com/pt-br/mour%C3%A3o-ri-ao-ser-questionado-sobre-torturas-na-ditadura/a-61507416. Acesso em 16.07.2022. Imagem 2 - Cartazes estudantis contra a truculência da repressão Fontes das Imagens: Arquivo Nacional, Correio da Manhã, Sem data, PH FOT 02007 085. Disponível em: https://www.ufrgs.br/vozesdaditadura/?page_id=470. Acesso em 17.07.2022. Imagem 3 - Manifestação de artistas contra a censura Fonte: Memorial da Democracia, 1968. Disponível em: http://memorialdademocracia.com.br/card/teatros-fazem- greve-contra-a-censura. Acesso em 16.07.2022. Imagem 4 - Desaparecidos políticos durante a ditadura militar Fonte: Cartaz disponível em: DEL ROIO, J. L.; CARVALHO, R. Os cartazes desta história, 2012, publicado pelo Instituto Vladimir Herzog. Imagem 5 - Cartaz de crítica às ditaduras latino-americanas Fonte: Cartaz criado pelo cartunista Nani. Sem data. Disponível em: https://valor.globo.com/eu- e/noticia/2012/10/31/livro-reune-mais-de-200-cartazes-contra-ditaduras-na-america-latina.ghtml. Imagem 6 - Cartaz pela anistia Fonte: Cartaz de Ltávio Roth, 1979, produzido pela Comissão Nacional de Anistia. Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/15089-cartazes-da-exposicao-direitos. Acesso em 17.07.2022. Questões para o debate: 1. Identificar o contexto de cada uma das imagens, sendo o momento 1 a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). 2. Identificar as palavras de ordem e reivindicações de cada um dos cartazes. 3. Identificar os sujeitos que aparecem ou são representados nas imagens. 4. Diferenciar o tipo de imagem: fotografia, desenho, charge. Agora que você já conheceu algumas histórias das lutas no passado durante a Ditadura Militar, junto com seu grupo crie um cartaz de protesto sobre um tema que considerem importante para todo o coletivo em que vocês vivem. Tentem identificar alguns problemas em comum que vocês vivem na escola e que podem ser solucionados a partir da união dos interesses de todos. Bom trabalho! 3. SEQUÊNCIA DIDÁTICA 2: ENSINAR DITADURA COM DEMOCRACIA NA ESCOLA: PRODUZINDO VÍDEOS NA ESCOLA Esta sequência didática foi produzida como resultado do Programa de Pós Graduação em Ensino na Educação Básica PPGEEB-CEPAE-UFG. A Sequência Didática 2 foi dividida em três momentos: Momento 1: Discussão e análise do documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político. Momento 2 : Escrita do roteiro. Momento 3: Filmagem do vídeo e exposição para a sala e ou escola. Ao final disponibilizam as duas atividades propostas (localizadas ao final da Sequência Didática 2) ao longo das aulas, para impressão ou projeção em sala de aula. Os conteúdos serão expostos em 6 aulas de 50 minutos que poderá ser ministrada pelo professor regente de história de qualquer instituição escolar. É importante destacar que essa proposta se inicia com a abordagem do curta metragem, Marco: o encontro de uma comunidade com um desaparecido político. Possui a mesma abordagem da proposta 1, se diferenciando no resultado final. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano: Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1964 Por: Joyci Viegas de Freitas Silva/abril de 2022. Código: HIS9_19UND02. Professora: Joyci Viegas. Orientador: Prof. Dr. Glauco Roberto Gonçalves. Ano: 9º ano do Ensino Fundamental. Unidade temática: Modernização, ditadura civil-militar e redemocratização: o Brasil após 1946. Objeto(s) de conhecimento: Os anos 1960: revolução cultural? A ditadura civil-militar e os processos de resistência. As questões indígena e negra e a ditadura. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, didática da história, autonomia,democracia. 3.1 Índice Sequência Didática 2 A escrita do roteiro. Aula 1: Oficina de Roteiro I. Aula 2: Oficina de Roteiro II. A produção, filmagem e exposição dos vídeos na escola. Aula 3: Ocupando e filmando os espaços da escola. Aula 4: Mostra de curtas metragens. Atividades da Sequência Didática 2: Atividade 1: Questionário Marco. Atividade 2: Oficina de Roteiro: para vídeos de 1 minuto. 3.2 A escrita do Roteiro 3.2.1 Aula 1: OFICINA DE ROTEIRO I A aula de oficina de Roteiro deve ser proposta após as aulas três e quatro da Sequência Didática 1, que são, respectivamente: “Aula 3: MARCO ANTONIO DIAS BAPTISTA: UM DESAPARECIDO POLÍTICO” e “Aula 4: MARCOS ANTONIO DIAS BAPTISTA E A VIOLÊNCIA POLICIAL”. Como as aulas já foram apresentadas no capítulo anterior, não as repetiremos aqui, mas é de fundamental importância que os estudantes tenham assistido e pensado sobre o documentário Marco: o encontro de uma comunidade com um desaparecido político antes das aulas de produção de vídeos e roteiros. Tempo sugerido de 50 minutos. Materiais necessários: Televisão ou data show Organização da sala: em 5 grupos de 3 pessoas. Orientações para o professor: O professor deve iniciar a aula escrevendo no quadro: Oficina de roteiro. Logo depois retomar a discussão do curta metragem estabelecendo relações da vida de Marco com os estudantes e provocando as reações e ideias dos estudantes sobre esse assunto. Logo em seguida o professor deve distribuir a Atividade 2 para os grupos e iniciar o estudo do roteiro. Interpretação do roteiro - Atividades e respostas para o professor. 1. Identifique o nome e o diretor/ roteirista do filme. O nome do curta é “Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político”, o diretor é Marcelo Benfica. 2. Durante 1 minuto temos a descrição de quantas cenas? Temos cinco cenas durante 1 minuto do filme. 3. Qual é o local e o tempo que se passam as cenas do filme? O local se dá nos espaços da escola, nos espaços abertos e os depoimentos acontecem em salas com fundo cinza. 4. Quais são os personagens que aparecem nessas cenas? Os personagens são: os estudantes, Marco Antônio Dias Batista, Renato Dias e Silvino Dias. 5. Quem é o personagem central do filme? Ele aparece em que momento? Justifique. O personagem central é o estudante Marco Antônio Dias Batista. Ele não aparece presencialmente, somente em fotos e relatos de antigos conhecidos. Ele é o desaparecido político mais jovem da Ditadura Militar no Brasil que aconteceu de 1964 a 1985. 6. Quem são Renato Dias e Silvino Dias? Renato e Silvino são irmãos de Marco Antônio. 7. Sobre o relato de Renato Dias: a) Como Renato é mostrado para o telespectador:? Qual sua roupa e cenário? Renato surge vestido com uma blusa cinza (de forma informal) e um fundo cinza, dentro de uma sala provavelmente. b) Qual a principal marca do seu testemunho? Ele traz uma abordagem mais histórica do desaparecimento do seu irmão. Citando o nome da organização que ele fazia parte e mostrando a imagem da presidente Dilma que também fazia parte dessa organização. c) Qual é a expressão que ele demonstra ao longo do seu testemunho? Renato demonstra uma expressão neutra como de um historiador apresentando os fatos estudados. d) Qual personagem histórico ele cita em seu testemunho? Ele cita a presidente Dilma Rousseff, que governou o Brasil de 2011 a 2016, sendo afastada do seu cargo por meio de um processo de impeachment. e) O que mais chama a sua atenção em relação a imagem da ex-presidente Dilma Rousseff? A imagem é uma foto preta e branca da jovem Dilma sendo julgada pelos tribunais da ditadura e seus juízes escondendo o rosto com a mão. 8. Sobre o relato de Silvino Dias: a) Como Silvino é apresentado ao telespectador? Sua roupa e cenário? Silvino aparece com um terno cinza (mais formal) , em uma sala cinza, assim como Renato. b) Qual a principal marca do seu testemunho? Silvino aparece muito angustiado e relata a dor da sua família por não saber onde está o seu irmão que era uma criança quando foi levada ao desaparecimento. c) Quais são as feições que ele demonstra ao longo do seu testemunho? Silvino demonstra muita angústia, olhos baixos, cabeça baixa, como se tivesse dificuldade de falar sobre o assunto. 9. Por que o rosto dos estudantes não aparece nesse momento do curta? Levante hipóteses sobre essa abordagem. O diretor tenta passar a imagem de que o estudante Marco Antônio de 15 anos, um desaparecido político, poderia ser qualquer um daqueles estudantes que aparecem no filme. Mais algumas orientações: O roteiro é uma escrita da linguagem cinematográfica, é a forma de escrever a história do filme. A atividade de leitura de um roteiro, no caso de um minuto do documentário Marco, possibilita ao estudante ter acesso a essa escrita. Lembrando que tudo que é escrito no roteiro tem que aparecer na imagem do filme, é uma escrita visual, escrever a palavra pensando na imagem, essa é uma grande característica de um roteiro. Geralmente para um minuto de filme temos uma página de roteiro. Os alunos irão produzir um curta de 1 minuto ao final da proposta, devem assim ter acesso à escrita de um roteiro para que eles próprios produzam o roteiro do seu curta. No caso se inicia com o local (interno/externo), com a período do dia (manhã , tarde e noite). Os personagens devem ser nomeados e suas falas centralizadas, todos esses aspectos são demonstrados na atividade 2. Existem vários vídeos no youtube sobre a escrita de um roteiro, vou indicar esse que é um dos menores: Como escrever um roteiro de um curta-metragem, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EhHfUfx6iCc. Acesso em 16.07.2022. Para saber mais: Indicação de sites que disponibilizam curtas de 1 minuto e curtas metragens: Festival do Minuto. Disponível em: http://www.festivaldominuto.com.br/. Acesso em 16.07.2022. Porta Curtas. https://portacurtas.org.br/. Acesso em 16.07.2022. 3.2.2 Aula 2: OFICINA DE ROTEIRO II Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: canetão, quadro e giz. Orientações para o professor: Retomar a aula passada e propor que cada grupo escreva o roteiro de um filme de 1 minuto sobre o Marco Antônio Dias Batista. Iniciar com algumas sugestões que devem ser obrigatórias: o cenário deve ser dentro da escola, o roteiro deve ser entregue ao professor no modelo trabalhado na aula passada, assim como o vídeo finalizado deve ter 1 minuto e vir com os créditos. Ao final da aula os grupos devem entregar o tema do vídeo e iniciar a escrita do roteiro. Propor alguns temas que os grupos podem desenvolver, por exemplo: Como foi o último dia de aula de Marco Antônio antes do desaparecimento? O que aconteceu com Marco no caminho de volta para a escola? Como foi a última conversa de Marco com seu melhor amigo da escola? Como foi a última conversa de Marco com seu/sua professor( a) preferido(a). Qual foi a última conversa com sua melhor amiga na escola? Qual foi o último livro que Marco leu na escola? Escrever uma carta de Marco sobre o que ele desejava para o futuro. Os créditos devem conter: Direção; Roteiro; Diretor de arte; Diretor de fotografia; Montagem; Som e Trilha sonora. 3.3 Produção, filmagem e exposição dos vídeos. 3.3.1 Aula 3: OCUPANDO E FILMANDO OS ESPAÇOS DA ESCOLA. Tempo sugerido: de 3 a 5 aulas de 50 minutos. Materiais necessários: roteiro finalizado, celular com câmera. Orientações para o professor: Os grupos devem circular livremente pela escola e espaços que serviram de cenário do curta de cada grupo. O professor deve nesse momento auxiliar em pequenos conflitos que possam surgir, mas deve, sobretudo, ajudá-los na produção e finalização do curta. Talvez seja necessário solicitar mais de uma aula para as filmagens,cabe ao professor garantir esse tempo e os espaços da escola disponíveis para a realização deste trabalho. Serão em média cinco curtas por turma, que ao final da aula tem que ter sido finalizado. A finalização pode ser enviada para o montador/editor. 3.3.2 Aula 4: MOSTRA DE VÍDEOS. Tempo sugerido: 50 minutos. Materiais necessários: cabo, televisão e internet. Organização da sala: em círculo. Orientações para o professor: Após assistirem os vídeos os alunos devem ser incentivados a falar sobre a experiência, as dificuldades, as novidades e os momentos marcantes das filmagens. A roda de conversa deve ser um momento de compartilhar conhecimentos e experiências sobre o processo de filmagem, as relações entre os grupos, às relações dos grupos com a comunidade escolar, com outros professores, com outras turmas, com a direção da escola, com os trabalhadores da merenda e limpeza e com os espaços da escola. Ao final serão produzidos em média 4 a 5 curtas. A finalização da atividade deve se dar nessa roda de conversa. 3.4 Atividades da Sequência Didática 2: 3.4.1 Atividade 1: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR. Questionário Marco. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura; memória; direitos humanos. Análise do documentário Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político Sinopse: “O filme conta a história do líder secundarista, desaparecido político em Goiás no mês de maio de 1970, Marco Antônio Dias Batista. Ele era membro da organização de luta armada contra a ditadura civil- militar Var- Palmares. 30 min. Direção; Marcelo Benfica. Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista. Produção: Profa Ms. Bruna Maria da Cunha Oliveira.” Ficha técnica do documentário: Direção: Marcelo Benfica. Realização: Escola Marcos Antônio Dias Batista. Produção: Profa Ms. Bruna Maia da Cunha Oliveira, Rosângela F Braga e todo o corpo docente. Fotografia: Kassia Cristina Damasceno, Ricardo Alves, Pedro Vinícius Moreira. Alunos: Ana Clara Goncalves, Eduardo Bruno, Flávio Dias Letícia Barroso. Edição: Dam Cabral. Trilha Sonora: Desaparecido de Itamar Correa. Arte: Carlos Salício, Vasconcelos Neto. Responda as questões abaixo: 1) Quantos anos tinha o Marco Antônio? Como era sua personalidade? 2) Em que momento da nossa história ele viveu? O que aconteceu com ele? 3) Como Marco Antônio era conhecido? Quem foi Mao Tse Tung? 4) Escreva o nome de pelo menos três pessoas que conheceram o Marco Antônio e deram o seu testemunho no documentário. 5) Qual é o ambiente que é mostrado todo o tempo no filme? Justifique. 6) O que seria um desaparecido político? 7) Quem foi Maria de Campos Batista? Por que ela deixava a porta da sua cozinha sempre aberta? 8) Comente sobre os bastidores do documentário. Quem participou das filmagens? 9) Com quem dona Maria Batista foi conversar para tentar encontrar seu filho desparecido? 10) O que aconteceu com a mãe de Marco Antônio? 11) O que é a Comissão Nacional da Verdade? E a Comissão dos Direitos Humanos? 12) O que mais chamou a atenção sobre a opinião dos alunos da escola sobre o documentário de Marco Antônio Dias Batista? 13) Qual mensagem você deixaria para Marco Antônio nos dias de hoje? Vale a pena lutar por um mundo melhor? Lutar por uma transformação social? 3.4.2 Atividade 2: O ENSINO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL: A PRODUÇÃO DE VÍDEOS NO ESPAÇO ESCOLAR. Oficina de Roteiro: para vídeos de 1 minuto. Produto Educacional / Sequência didática/ 9°ano/ Modernização, Ditadura civil- militar e redemocratização: O Brasil após 1946. Habilidade(s) da BNCC: EF09HI19 Identificar e compreender o processo que resultou na ditadura civil-militar no Brasil e discutir a emergência de questões relacionadas à memória e à Justiça sobre os casos de violação dos direitos humanos. Palavras-chave: Ditadura, memória, direitos humanos. Oficina de Roteiro I e II Roteiro: Marco: O encontro de uma comunidade com um desaparecido político. Marcelo Benfica Roteiro de 1 minuto do curta - metragem: 5.21 a 6.21. Cena1: Manhã- exterior/dia Um estudante aparece em pé em frente a câmera, vestido com uma blusa de frio e o uniforme por baixo. Ele segura em frente ao seu rosto a imagem de uma foto do estudante Marco Antônio que esconde seu próprio rosto. Ao seu lado aparece uma grade e ao fundo um espaço aberto com duas salas. Voz off ( quando aparece a voz de um personagem que não está inicialmente na cena Cena 2: Interior/cenário cinza Renato Dias aparece com uma blusa cinza e um cenário ao fundo cinza. Renato Dias Batista Marco Antônio Dias Batista em 1968 participou das manifestações estudantis que explodiram no Brasil, na Europa e na Ásia. Em 1970 ele integrante da Vanguarda Armada revolucionária palmares, a mesma organização da atual presidente da República Dilma Rousseff, que defendia a luta armada para derrubar a ditadura civil- militar e implantar o socialismo no Brasil. Aparece a imagem da presidente Dilma Rousseff sendo julgada na época em que participou do movimento de resistência contra a Ditadura militar. Cena 3: manhã / exterior/ dia Uma estudante aparece em pé em frente a câmera vestida com uma blusa vermelha, segurando em frente ao seu rosto a imagem do estudante Marco Antônio. Ao fundo aparece uma área verde, com uma árvore, um pequeno gramado e um banco. Voz Off. Cena 4: interior/ cenário cinza Silvino aparece de terno cinza e ao fundo de um cenário cinza. Silvino Batista Todos os irmãos sentem até hoje o peso da mão da Ditadura. Essa mão que nos tirou do seio da família uma criança que até hoje a gente não aceita. Cena 5:exterior- manhã/dia Musica “desaparecido” toca ao longo dessa cena. Quatro estudantes sendo acompanhados com a mochila nas costas caminhando pelos corredores da escola, encontram amis dois estudantes, calçando tênis e chinelos, brincam livremente com a câmera. Interpretação do roteiro: Atividades: 1. Identifique o nome e o diretor/ roteirista do filme. 2. Durante 1 minuto temos a descrição de quantas cenas? 3. Qual é o local e o tempo que se passam as cenas do filme? 4. Quais são os personagens que aparecem nessas cenas? 5. Quem é o personagem central do filme? Ele aparece em que momento? 6. Quem são Renato Dias e Silvino Dias? 7. Sobre o relato de Renato Dias: a) Como Renato é mostrado para o telespectador:? Qual sua roupa e cenário? b) Qual a principal marca do seu testemunho? c) Qual é a feição que ele demonstra ao longo do seu testemunho? d) Qual personagem histórico ele cita em seu testemunho? e) O que mais chama a sua atenção em relação a imagem da ex- presidente Dilma Rousseff? 8. Sobre o relato de Silvino Dias: a. Como Silvino é apresentado ao telespectador? Sua roupa e cenário? b. Qual a principal marca do seu testemunho? c. Quais são as feições que ele demonstra ao longo do seu testemunho? 9. Como aparecem os estudantes da escola durante o curta metragem?