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Esse processo de aumento de diversidade com novas adaptações é denominado radiação adaptativa. Nos capítulos 3 e 4 deste volume, veremos exemplos de radiação adaptativa que podem ser identi�cados no registro fóssil. O membro pentadáctilo (com cinco membros) do vertebrado terrestre ancestral sofreu modi�cações e adaptou-se a diferentes habitat. Arranjo de um membro pentadáctilo. dígitos # Figura 1.17 – Homologia nos membros anteriores de morcego, gol�nho, tamanduá, toupeira, cavalo, porco e macaco. Todos os membros seguem o mesmo padrão anatômico (cinco partes), mas foram selecionados ao longo do tempo, sofrendo modi�cações, e, atualmente, exercem diferentes funções. A estrutura destacada em laranja em todos os membros corresponde ao terceiro metacarpo. Os elementos não estão representados em proporção. Cores fantasia. Analogias Órgãos que desempenham funções semelhantes em diferentes seres vivos, mas que não foram herdados de um ancestral comum, também são uma evidência da seleção natural. Por exemplo, como explicar a semelhança entre as asas de uma ave e as de um inseto? Ou entre as barbatanas traseiras de um bacalhau, os apêndices traseiros (cauda) de uma baleia e os pés de um pinguim com membranas entre os dedos? Estruturas que têm origem evolutiva diferente, mas apresentam semelhanças anatômicas porque exercem a mesma função são denominadas analogias. As analogias evoluíram de forma independente nos organismos: seres vivos que habitavam ambientes pa- recidos ou submetidos a pressões seletivas semelhantes desenvolveram estruturas semelhantes. As analogias evidenciam como o ambiente pode atuar de forma similar sobre estruturas distintas. Nesse processo, chamado de evolução convergente, seres vivos que não compartilham um ancestral comum sofrem transformações em uma mesma direção, ou seja, convergem ao mesmo ponto (�guras 1.18 e 1.19). Imagine que em várias regiões de um continente, habitadas por diversos animais, há insetos que depositam seus ovos em troncos de árvores e que, após a eclosão suas larvas passam a viver ali, se alimentando da matéria vegetal. Devido ao seu teor nutritivo, essas larvas representam uma potencial fonte de alimentos para outros organismos. J e rr y C ri m s o n M a n n /W ik ip e d ia /W ik im e d ia C o m m o n s 3 .0 morcego (voar) gol�nho (nadar) cavalo (correr) porco (andar) macaco (agarrar) tamanduá (escavar) carpo deslocado toupeira (escavar) rádio-ulna osso de canhão osso da tala 25Fundamentos dos processos evolutivos 010a040_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap1_LA.indd 25010a040_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap1_LA.indd 25 21/09/2020 18:5921/09/2020 18:59 Em algumas dessas regiões, indivíduos de uma po- pulação de uma espécie de ave que apresentam o bico mais alongado conseguem retirar algumas das larvas das árvores. Em outras regiões, indivíduos de uma po- pulação de outra espécie de ave que também têm o bico mais alongado conseguem retirar algumas das larvas das árvores. O mesmo pode acontecer com in- divíduos de populações de espécies de mamíferos que tenham dedos e/ou garras alongados que lhes possibi- lita se alimentar das larvas. Por causa da presença de estruturas adequadas para retirar as larvas dos tron- cos, a frequência de indivíduos com estruturas simi- lares aumentou em populações de espécies distintas que não tinham relação de parentesco. E a rt h t h e a te r/ S h u tt e rs to ck barbatana traseira apêndices traseiros pés com membranas A rn d t S v e n -E ri k /A rt e rr a P ic tu re L ib ra ry /A la m y /F o to a re n a C h ri s ti a n M u s a t/ S h u tt e rs to ck # Figura 1.19 – A baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae; cerca de 15 metros de comprimento), o bacalhau (Gadus morhua; cerca de 1,5 metro de comprimento) e o pinguim (Spheniscus humboldti; até 66 centímetros de comprimento) deslocam-se na água. A barbatana traseira da baleia, os apêndices caudais do bacalhau e os pés com membranas do pinguim são analogias, ou seja, desenvolveram-se em resposta a pressões seletivas semelhantes. Órgãos vestigiais Um terceiro tipo de evidência anatômica da seleção natural são os órgãos vestigiais, ou seja, estruturas sem função aparente e presentes de forma reduzida em alguns organismos. Por exemplo, as baleias não apresentam mais membros traseiros desenvolvidos, porém é possível identi� - car ossos pélvicos de tamanho bastante reduzido em seu esqueleto (� gura 1.20). Da mesma forma, algumas serpentes têm ossos reduzidos, apesar de elas não terem mais membros. A presença desses ossos evidencia a relação com ancestrais comuns a todos os vertebrados tetrápodes. R 2 e d it o ri a l/ A rq u iv o d a e d it o ra # Figura 1.20 – Um exemplo de órgão vestigial são os ossos da bacia de baleias. Os elementos não estão representados em proporção. Cores fantasia. # Figura 1.18 – Asas de mamíferos, como o morcego da foto (Plecotus austriacus; cerca de 27 centímetros de envergadura), de aves e de insetos, como a borboleta (Morpho peleides; de 8 a 20 centímetros de envergadura), são consideradas analogias. Apesar de não terem origem em um ancestral comum, essas estruturas desses animais desenvolveram-se em resposta a pressões seletivas semelhantes. R u d m e r Z w e rv e r/ S h u tt e rs to ck O n d re j P ro s ic k y /S h u tt e rs to ck 26 Cap’tulo 1 010a040_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap1_LA.indd 26010a040_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap1_LA.indd 26 21/09/2020 18:5921/09/2020 18:59