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As influências da fenomenologia e do existencialismo na psicologia O pensamento de EDMUND HUSSERL (1859-1938) deu origem à fenomenologia Essa corrente influenciou decisivamente o movimento filosófico e cultural que se propagou na Europa após o fim da Segunda Guerra Mundial, conhecido como existencialismo. Husserl propõe para a filosofia uma atitude radicalmente crítica, em que, para que algo seja admitido, exige-se que se mostre com toda a sua evidência. A “atitude fenomenológica”, ou filosófica no sentido próprio, deve ater-se apenas àquilo que se dá à experiência, tal como se dá: o que chamamos de fenômeno. A fenomenologia de Husserl enfatiza a prioridade da intuição sobre o pensamento conceitual. A intuição é a via de acesso ao fenômeno. O procedimento intuitivo é considerado como o elemento essencial da atitude filosófica. A fenomenologia pode ser compreendida como a descrição das estruturas gerais da consciência, não do sujeito empírico estudado pela psicologia, mas do sujeito transcendental, que é a condição ONTOLÓGICA de possibilidade das experiências humanas concretas nos diversos níveis e regiões de realização da existência. A partir da fenomenologia “pura” de Husserl, muitos pesquisadores desenvolveram aplicações “regionais” do método fenomenológico, dirigidas a dimensões específicas da correlação entre o sujeito e o mundo: as fenomenologias da percepção, da imaginação, da emoção, da linguagem, bem como as fenomenologias das religiões, das relações interpessoais, dos distúrbios psíquicos etc. A influência da fenomenologia no campo das ciências humanas é bastante vasta e heterogênea, incluindo disciplinas como a história, a sociologia, o direito, a antropologia e a psicologia. No campo específico da psicologia, as influências mais diretas da fenomenologia se deram sobre a psicologia da Gestalt e sobre a psiquiatria. O existencialismo enquanto movimento filosófico e cultural surge no período entre as duas guerras mundiais, de 1918 a 1945, no eixo intelectual entre a Alemanha e a França. Seu principal articulador é o filósofo francês Jean-Paul Sartre. O movimento ganha difusão pela Europa e Estados Unidos no pós-guerra, principalmente na década de 1950. O ser do homem consiste em sua própria existência singular, sua subjetividade, que é pura liberdade de escolha. Filosofar é afirmar a existência enquanto liberdade e assumir a responsabilidade pelas próprias escolhas Heidegger tem um papel fundamental na articulação entre fenomenologia e existencialismo. Para ele, não é suficiente voltar-se para a existência singular em suas circunstâncias sempre específicas a cada situação histórica concreta. É preciso elaborar uma interpretação ontológica do existir humano em geral, isto é, uma interpretação que diga respeito às estruturas que constituem o ser do homem enquanto existente. De acordo com a obra “O ser e o nada”, Sartre divide os entes em duas regiões ontológicas radicalmente distintas, segundo os seus modos de ser: o “ser em si” e o “ser para si”. O “em-si” diz respeito às coisas em si mesmas, fora de qualquer relação com a consciência, fora, portanto, de qualquer relação de sentido. O “para-si” é o mundo da consciência, diz respeito à existência, no sentido específico que lhe dá o existencialismo. De acordo com a obra “Ser e tempo”, Heidegger aborda “a questão do ser” por caminhos radicalmente diferentes daqueles percorridos até então pela tradição, pois não interroga “o que é o ser”, mas “qual o seu sentido”. O objetivo da ontologia, de investigar a essência dos entes, transforma-se, então, em uma questão HERMENÊUTICA. O termo HERMENÊUTICA designa a arte ou ciência da interpretação. O sentido que se desvela através do homem, nunca se dá a partir de algum a priori transcendental, é sempre interpretação. Embora seja compreensível a aproximação entre fenomenologia existencial e humanismo, como muitas vezes se pode verificar pela fusão dos termos na expressão “psicologia existencial humanista”, é preciso analisar com maior cuidado tal associação. O humanismo tem como principal matriz a filosofia romântica que exalta a contemplação estética, o intuicionismo afetivo e a superação, por fusão empática, da dicotomia entre sujeito e objeto. A fenomenologia não entende a experiência direta dos fenômenos como algo que diga mais respeito ao âmbito afetivo do que ao racional, e muito menos abre mão do rigor e da dimensão crítica. REFERÊNCIAS Alves, Paulo Eduardo Rodrigues. (2013). O método fenomenológico na condução de grupos terapêuticos. Revista da SBPH, 16(1), 150-165. Heidegger, M. (1976 [1959]) Acheminement vers la parole. Paris: Gallimard. Heidegger, M. (1979) Conferências e escritos filosóficos (Coleção “Os Pensadores”). São Paulo: Abril Cultural. Husserl, E. (2002) A crise da humanidade européia e a filosofia. Porto Alegre: EDIPUCRS. Sartre, J. P. (1997) O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Vozes image1.png image2.png image3.png image4.png image5.png image6.png image7.png image8.png image9.png image10.png