Prévia do material em texto
ADMINISTRAÇÃO O roteiro para um plano vencedor O desafio de preparar e apresentar um plano de negócios inteligente é comum a executivos e empreendedores. Não importa se o objetivo é le- vantar capital para dar início a uma empresa ou conseguir um financiamento da matriz. O Guia Definitivo do Plano de Negócios vai ajudá-lo a apresentar a informação que os tomadores de decisão realmente precisam. Texto acessível para iniciantes e com detalhes suficientes para planejadores mais experientes, este best seller internacional explica como montar um plano com as informações corretas e capaz de atender objetivos específicos. Se você quer contar com o investimento de parceiros, precisa de um plano de negócios com con teúdo suficiente para resistir a um exame detalhado. Neste livro conceituado e abrangente, Richard Stutely vai ajudá-lo a elaborar um plano robusto o sufi ciente para começar, dar continuidade ou revitalizar qualquer empreendimento. BERKUN, S. A Arte do Gerenciamento de Projetos GRAY, C. F.; LARSON, E. W. Gerenciamento de Projetos, 4.ed. KERZNER, H. Gestão de Projetos: As Melhores Práticas, 2.ed. KERZNER, H.; SALADIS, F. P. Gerenciamento de Projetos Orientado por Valor KERZNER, H.; SALADIS, F. P. O que os Executivos Precisam Saber sobre Gerenciamento de Projetos KERZNER, H.; SALADIS, F. P. O que os Gerentes Precisam Saber sobre Projetos HARPER-SMITH, P.; DERRY, S. Via Expressa para o Sucesso em Gerenciamento de Projetos MOORE, J. H.; WEATHERFORD, L. R. Tomada de Decisão em Administração com Planilhas Eletrônicas, 6.ed. NOKES, S; KELLY, S. O Guia Defi nitivo do Gerenciamento Projetos, 2.ed. A D M I N I S T R A Ç Ã O 25682 Guia Definitivo Plano de Negocios.indd 1 03/10/2011 16:26:42 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 S937p Stutely, Richard. O guia definitivo do plano de negócios [recurso eletrônico] : planejamento inteligente para executivos e empreendedores / Richard Stutely ; tradução: Francisco Araújo da Costa ; revisão técnica: Cassio Sclovsky Grinberg. – 2. ed. rev. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-407-0063-5 1. Administração. 2. Plano de negócio. I. Título. CDU 658:005.51 O que é tudo isso? 29 Aceitamos qualquer moeda, mas não cheques As moedas são um pesadelo. Deixando de lado as taxas de câmbio, qual delas devo usar neste livro? Não conheço sua moeda favorita. Pensei em usar dólar/franco/libra (em ordem alfabética – sem favo- ritismos, desculpe-me se esqueci a sua), mas ficava muito comprido. Experimentei com o euro. Até tentei inventar um nome para uma nova moeda. Com o tempo, como você vai ver, acabei me decidindo pelo dólar. É a unidade contábil em alguns países africanos, Austrália, Canadá, Fiji, Hong Kong, Nova Zelândia, Cingapura, Taiwan e até nos Esta- dos Unidos. É uma escolha bem internacional. Espero que isso não o distraia. Não uso nenhum linguajar específico neste livro. Uso o que parece menos ambíguo e mais con- ciso. Por exemplo, acho que a palavra estoque é melhor do que inventário e que passivo é melhor do que pendência. Os termos empresa e corporação são usados como sinônimos. Em geral, falo de áreas de negó- cios, um agrupamento formal ou informal de atividades inter-relacionadas. Você provavelmente deve produzir um plano de negócios para cada área, mais um para o conjunto geral dos negócios. Um plano de alto nível pode cobrir um empreendimento, no qual todas as atividades estão relacionadas, ou uma holding, para negócios que aparentemente não têm relação entre si. Esses itens são apresentados no Capítulo 3 e discutidos em mais detalhes no Capítulo 6. As referências ao executivo-chefe devem ser interpretadas como ao “executivo mais graduado da organização”. Nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, esse provavelmente seria o Diretor, Presidente e/ou CEO. Na Grã-Bretanha, o cargo é chamado de MD (managing director, ou diretor- -gerente) – ver Capítulo 4. Solução rápida ou ferramenta de longo prazo? Este livro trata principalmente da redação de um plano de negócios. Ao enfrentar a demanda por um plano, muitos executivos ocupados querem apenas colocá-lo no papel o mais rápido possível. Este livro oferece um caminho acelerado exatamente para isso. Ao mesmo tempo, sua abordagem pragmática deve ser útil para todos que têm tempo para uma reflexão mais aprofundada, assim como todos os vetera- nos da redação de planos de negócios anteriores. Minha intenção principal não é oferecer instruções detalhadas sobre como realizar a análise, estratégia e planejamento envolvidos na construção de um pla- no. Isso tudo é um assunto muito maior. No entanto, um livro sobre a criação de um plano precisa sim descrever o processo de planejamento de negócios em si. Identifiquei os passos principais e tentei incluir o material mais instigante pos- sível. Tentei me concentrar em ideias úteis e importantes que funcionaram para mim. Espero ter criado um guia prático para planejamento e documentação. Se este livro tem um tema central, é que o planejamento de negócios deve ser va- lorizado e incentivado. Se você realizar o processo, documentar o plano e usá-lo como ferramenta de gestão, talvez este livro ajude-o e administrar seu negócio de modo mais eficaz. Espero que sim. O que é um plano, afinal? Eu sei que você odeia elas, mas lá vai a única definição de dicionário deste livro: Um plano de negócios estabelece um método para se administrar uma atividade específica durante um período futuro específico. Stutely_01.indd 29Stutely_01.indd 29 19/09/11 17:1019/09/11 17:10 30 O guia definitivo do plano de negócios A atividade específica pode ser as operações de um negócio individual ou de um grande conglomerado internacional, todo o empreendimento ou apenas uma pe- quena divisão, um projeto comercial, uma instituição de caridade ou algum outro tipo de organização sem fins lucrativos. O período futuro pode ser os primeiros seis meses na vida de um novo em- preendimento, cinco anos na vida de uma empresa tradicional ou todo o tempo de um projeto específico, tais como os 18 meses de atividades intensas que culminam em uma mostra e conferência de duas semanas. Em geral, estabelecemos foco detalhado nos próximos 12 meses, em contraste com um plano mais geral para os próximos três a cinco anos. Normalmente, o plano repassa o estado atual da organização e estabelece uma estratégia de negócios geral para, digamos, cinco anos, com um plano operacional e financeiro mais detalhado para o primeiro ano. A estratégia e o plano cobrem todas as áreas de negócios. Os pontos mais importantes mudam de empresa para empresa, mas em geral o foco prin- cipal está em gestão, produto, marketing e vendas. Por que isso é importante? Muitos acham que o objetivo central por trás de qualquer negócio é a maximização do lucro (mas essa premissa costuma estar errada – ver Capítulo 6). No entanto, maximizar o lucro a curto prazo provavelmente acaba por matar o negócio a longo prazo, a menos que os lucros sejam reinvestidos de maneira inteligente na atualização e substituição de equipamentos, maquinário, capital humano e proprie- dade intelectual, todos os quais sofrem desgaste e ficam desatualizados. Em outras palavras, é preciso focar adequadamente no desenvolvimento de produtos, marketing de longo prazo, treinamento, recrutamento e substituição de bens de capital. Um grande problema é que os executivos estão sobrecarregados com a exigência de tomar decisões diárias sobre questões operacionais e administrativas: o que fazer quanto a esse pedido, como consertar aquela máquina que estragou, quem vai cobrir o turno do Fulano enquanto ele está de férias, como resolver uma picuinha entre o marketing e a produção e assim por diante. As decisões estratégicas críticas para a saúde de longo prazo da empresa não cha- mam a atenção. Elas ficam em segundoplano, em silêncio, tentando passar desperce- bidas. Quando alguém tropeça nelas, a resposta para toda essa negligência é arruinar o negócio. Os executivos são forçados a realizar ações corretivas para evitar o desastre, decisões estas que podem ser muito caras. Quantas vezes você já ouviu “se ao menos tivéssemos nos preparado para isso”? Além do mais, as empresas estão enfrentando uma série de novos problemas, incluindo a desregulamentação, erosão de fronteiras nacionais, velocidade de co- municação, avanços tecnológicos e o fluxo de capital internacional. Talvez você possa ignorar esses fatores em curtíssimo prazo, mas eles serão devastadores se negligenciados por muito tempo. Stutely_01.indd 30Stutely_01.indd 30 19/09/11 17:1019/09/11 17:10 O que é tudo isso? 31 Como já deve ter percebido, não acredito no dogma “o mundo está mudan- do tão rápido que meus planos ficam desatualizados imediatamente, então não tenho por que fazer planos”. A própria velocidade das mudanças torna o planeja- mento essencial. Você precisa se afastar da pressão cotidiana de superar os obstáculos e analisar longa e profundamente o que vem pela frente. Os negócios de mais sucesso são aqueles que implementam processos de planejamento adequados. Este livro vai mostrar como fazê-lo. Um negócio a prova de recessão O importante no planejamento de negócios é a jornada. O plano é seu ponto de partida. Ele traça um caminho até seu destino. Identifica quais os principais riscos e perigos a evitar no caminho. Oferece estratégias para lidar com vendavais e obstáculos. Apresenta marcos para confirmar o seu progresso. Ajuda a esperar o inesperado. Com um bom plano de negócio, você sabe onde começou, aonde está indo e como chegar lá. Se você está por baixo, use este livro e crie um plano para sair do buraco. Leve o plano para o seu gerente do banco e prove que merece mais um empréstimo. Se tudo está bem, use o plano para ter certeza de que vai evitar as armadilhas pelo caminho. O ciclo econômico está vivo e bem, não deixe uma recessão cíclica pegá-lo desprevenido e atirá-lo em um buraco. Principais objetivos do seu plano Os planos de negócios são usados com muitos propósitos diferentes. Na prática, eles podem ser considerados: ♦ uma expressão formal do processo de planejamento; ♦ uma solicitação de financiamento; ♦ uma estrutura para aprovação; ♦ uma ferramenta para gestão de negócios operacional. Onde o seu plano se encaixa? O ideal seria que atendesse todos os objetivos acima. Vale a pena analisá-los em mais detalhes. Documentação formal Documentar ou não o plano pode fazer uma grande diferença. O exercício formal de colocar os planos no papel ajuda a destacar riscos e oportunidades e a reve- lar inconsistências. Além disso, depois de formalizado, o plano de negócios serve como guia para operações e para reagir a eventos reais. A redação do plano nunca deve ser um exercício burocrático, que não serve de nada para ninguém. Mas se tantas pessoas quanto possível, dentro de um limite razoável, puderem se envol- ver com o desenvolvimento e a revisão do plano, a equipe de gestão tem maior probabilidade de entender melhor sobre para onde ele vai, com uma melhor visão compartilhada e um senso de propósito comum a todos. Stutely_01.indd 31Stutely_01.indd 31 19/09/11 17:1019/09/11 17:10 32 O guia definitivo do plano de negócios Financiamento Sempre existe um motivo de financiamento por trás de todos os planos. O plano pode ser utilizado para levantar capital de risco para um novo negócio, mais finan- ciamento por participação acionária para um negócio existente, empréstimos para um empreendimento ou mesmo crédito comercial. A ideia pode ser incentivar um parceiro (um fornecedor, por exemplo) a participar em uma joint venture. Ele pode ser redigido para apoiar atividades de fusão e aquisição. O plano também pode ser usado para justificar a alocação de recursos in- ternos (provavelmente lucros retidos) para uma atividade específica, talvez o seu projeto pessoal. Considere o custo de oportunidade de alocar os fundos dessa ma- neira. Por exemplo, pode ser financeiramente mais prudente encerrar as operações e investir o capital em um depósito bancário. O plano ajuda a identificar esse tipo de situação e, em caso positivo, normalmente demonstra por que existe um bom motivo para ignorar o prejuízo financeiro de curto prazo em prol de um ganho a longo prazo ou de algum outro objetivo. Um banco japonês muito conhecido tem ativos de mais de 8 bilhões de dó- lares. Com tanto dinheiro disponível, tente imaginar o retorno sobre investimento (ROI) da instituição. Cinco porcento, talvez? Ou 25%, quem sabe? Na verdade, em 1997, o retorno foi de apenas 0,3%. Comercialmente, teria feito mais sentido fechar o banco, liquidar os ativos e depositá-los em um banco rival, onde renderia, digamos, 5% ao ano. Obviamente, o banco esperava ter um futuro melhor e havia considerações políticas, incluindo o possível efeito sobre o nível de desemprego, que impediam a organização de fechar as portas. Em última análise, não importa de onde vêm os fundos, o plano também pode ser usado para arrebatar uma fatia de um orçamento organizacional maior. Aprovações Obviamente, um plano documentado cria uma estrutura para aprovação. O pro- prietário de uma pequena empresa que se dá ao trabalho de documentar o plano provavelmente também é responsável pela sua aprovação. O mais comum é que um conselho diretor ou comitê gestor aprove um plano enquanto declaração cole- tiva de suas intenções. Em outros casos, um diretor solitário em algum outro ponto da organização aprova o plano de terceiros. Os processos de aprovação e financiamento têm um alinhamento próximo. No mundo corporativo, a aprovação de um plano costuma significar o mesmo que a aprovação do financiamento. No entanto, o contrário não é necessariamente ver- dade. Um fornecedor de capital que aprova uma solicitação de financiamento com base em um plano não está dizendo que o plano em si está correto. Os proprietários e executivos sempre são responsáveis pela administração do negócio em si. Gestão operacional Um plano cria uma estrutura de gestão, estabelecendo um método para tudo, des- de a estratégia geral até diretrizes para atividades cotidianas. O nível de detalha- mento varia de acordo com o grau de mensuração e controle necessário. Nesse contexto, a parte financeira do plano começa como justificativa para financiamen- to e se transforma em orçamento operacional. Stutely_01.indd 32Stutely_01.indd 32 19/09/11 17:1019/09/11 17:10 O que é tudo isso? 33 Enquanto ferramenta, o plano oferece um padrão de comparação. Ele define metas e limites contra os quais medir o desempenho real. Se forem excedidos ou não forem alcançados, inicialmente temos a oportunidade de corrigir o plano, a estratégia ou mesmo as próprias metas. É muito comum que os aspectos de gestão e controle do plano sejam esque- cidos. Depois de muita atividade, o plano acaba mofando em uma gaveta. Para os gerentes, é fácil se perder no cotidiano de fazer vendas, produzir geringonças, procurar registros e sabe-se lá o que e acabar esquecendo que o processo de plane- jamento tem um propósito maior do que satisfazer as demandas anuais do chefe, do gerente do banco ou dos acionistas. O plano de negócios é uma ferramenta essencial para a administração e não parte de uma grande conspiração para destruir florestas. Este livro ajuda a atender esses quatro obje- tivos básicos e a produzir um documento vivo e funcional para que você e seu negócio tenham sucesso no mercado. Seu público-alvo Dada a variedade de usos para um plano de negócios, é preciso deixar claro que ele tem muitos públicos-alvo diferentes. Na medida do possível, é preciso conhecer seu público, saber o que ele está procurando e como vai interpretar o que ler. Em geral, é uma questão de classificar os leitores de acordo com a profissão e a experiência. Os capitalistas de riscoestão procurando uma proposta sólida, sinais de boa gestão, um bom plano de marketing e um ponto de saída (um modo de receberem seu dinheiro de volta). O chefe de uma empresa sabe que sua equipe de gestão tem capacidade para fazer o que for proposto e provavelmente está mais interessado em ver que o plano operacional vai ajudar a realizar os objetivos. O banqueiro vai amar a análise financeira. Além disso, qualquer plano provavelmente será lido por muitas pessoas dife- rentes. É importante lembrar que todo leitor é moldado por experiências diferen- tes, possui conhecimentos diferentes, estará interessado em informações diferentes e vai interpretá-las de modos diferentes. Conhecer os indivíduos envolvidos permite a você adaptar o conteúdo. O tra- balhador de uma divisão operacional provavelmente vai prestar mais atenção à se- ção de despesas para descobrir como você vai gastar o dinheiro. O leitor orientado para o marketing vai passar para a seção de receita para tentar entender de onde vem o dinheiro. O contador tende a preferir os números, enquanto leitores menos entendidos de matemática lerão a história, e assim por diante. Dez passos para um plano de negócios de sucesso O primeiro passo para desenvolver seu plano é responder a uma pergunta óbvia: o que você está planejando e por quê? Quando definir isso concisamente, você estará muito mais próximo de produzir um plano válido. A seguir, realize todo o processo de planejamento. Stutely_01.indd 33Stutely_01.indd 33 19/09/11 17:1019/09/11 17:10 34 O guia definitivo do plano de negócios Não se assuste com a lista a seguir (ver também Figura 1.1), as tarefas são todas relativamente simples e diretas quando enfrentadas individualmente e na ordem apresentada. 1. Defina suas atividades de negócios. 2. Defina o estado atual do negócio. 3. Defina o mercado externo, a concorrência e seu posicionamento de mercado. 4. Defina seus objetivos para o período do plano. 5. Desenvolva uma estratégia para alcançar os objetivos. 6. Identifique os riscos e oportunidades. 7. Desenvolva uma estratégia para limitar os riscos e aproveitar as oportunidades. 8. Transforme as estratégias em planos de trabalho. 9. Realize projeções de custos e receitas e desenvolva um plano financeiro. 10. Documente o plano de forma concisa. O processo é iterativo. A identificação de riscos e oportunidades pode fazer com que você volte atrás e altere a estratégia para atingir os objetivos. Os planos em si ou o resultado final (fluxo de caixa, lucro ou prejuízo) podem revelar novos riscos. Mais dois passos para fazer tudo funcionar É possível adicionar dois outros passos aos dez itens anteriores: 11. Obtenha aprovação. 12. Use o plano. A maior parte deste livro se concentra nos passos 1 a 10. Os Capítulos 12 e 13 analisam os passos 11 e 12. No mundo real, estes últimos podem ser os mais im- portantes de todos. Colocando no papel Tendo criado um plano, agora você precisa colocá-lo no papel. Não é um exercício pequeno, mas é simples se você abordar o problema do ângulo certo. Não gosto muito de dizer isso, mas planejar como escrever um plano de negócios é quase tão importante quanto o modo como planejou o negócio em si. No mínimo de páginas possível, é preciso cristalizar anos de experiências e talvez vários meses de análise, estratégia e planejamento. No processo, você provavelmente terá que resolver conflitos entre o plano e sua documentação. Estratégias que parecem ótimas no quadro branco podem não funcionar ao serem analisadas e documentadas. Em parte, isso acontece porque a documentação e o planejamento são iterativos. Na realidade, parte do plano pode ser redigido no começo do processo de planejamento. Por exemplo, se você come- ça o processo com a documentação do histórico e do estado atual do negócio, a situação de mercado e sua missão, você tem um ponto de partida bastante sólido, além de já completar alguns capítulos do plano final. Stutely_01.indd 34Stutely_01.indd 34 19/09/11 17:1019/09/11 17:10 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. ADMINISTRAÇÃO O roteiro para um plano vencedor O desafio de preparar e apresentar um plano de negócios inteligente é comum a executivos e empreendedores. Não importa se o objetivo é le- vantar capital para dar início a uma empresa ou conseguir um financiamento da matriz. O Guia Definitivo do Plano de Negócios vai ajudá-lo a apresentar a informação que os tomadores de decisão realmente precisam. Texto acessível para iniciantes e com detalhes suficientes para planejadores mais experientes, este best seller internacional explica como montar um plano com as informações corretas e capaz de atender objetivos específicos. Se você quer contar com o investimento de parceiros, precisa de um plano de negócios com con teúdo suficiente para resistir a um exame detalhado. Neste livro conceituado e abrangente, Richard Stutely vai ajudá-lo a elaborar um plano robusto o sufi ciente para começar, dar continuidade ou revitalizar qualquer empreendimento. BERKUN, S. A Arte do Gerenciamento de Projetos GRAY, C. F.; LARSON, E. W. Gerenciamento de Projetos, 4.ed. KERZNER, H. Gestão de Projetos: As Melhores Práticas, 2.ed. KERZNER, H.; SALADIS, F. P. Gerenciamento de Projetos Orientado por Valor KERZNER, H.; SALADIS, F. P. O que os Executivos Precisam Saber sobre Gerenciamento de Projetos KERZNER, H.; SALADIS, F. P. O que os Gerentes Precisam Saber sobre Projetos HARPER-SMITH, P.; DERRY, S. Via Expressa para o Sucesso em Gerenciamento de Projetos MOORE, J. H.; WEATHERFORD, L. R. Tomada de Decisão em Administração com Planilhas Eletrônicas, 6.ed. NOKES, S; KELLY, S. O Guia Defi nitivo do Gerenciamento Projetos, 2.ed. A D M I N I S T R A Ç Ã O 25682 Guia Definitivo Plano de Negocios.indd 1 03/10/2011 16:26:42 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 S937p Stutely, Richard. O guia definitivo do plano de negócios [recurso eletrônico] : planejamento inteligente para executivos e empreendedores / Richard Stutely ; tradução: Francisco Araújo da Costa ; revisão técnica: Cassio Sclovsky Grinberg. – 2. ed. rev. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Bookman, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-407-0063-5 1. Administração. 2. Plano de negócio. I. Título. CDU 658:005.51 120 O guia definitivo do plano de negócios O que é estratégia? Há uma certa confusão em torno da definição de estratégia. Alguns livros sobre gestão dizem que as estratégias têm a ver com temas importantes, de longo prazo ou alta prioridade. O que você acha? Na minha opinião, a estratégia é um mapa. Ela mostra onde você quer ir e como pretende chegar lá, mas não lhe diz como dirigir ou como lidar com todos os pequenos incômodos que vai en- contrar pelo caminho. Esse segundo grupo de informações entra no seu plano tático (ou operacional). A estratégia é tão importante para o curto prazo quanto para o longo. Ela deve orientá-lo pelos obstáculos imediatos e em direção a seus objetivos finais com o máximo de precisão possível. E ela deve ser documentada mostrando aos usuários do plano como devem reagir quando o resultado de algum evento futuro finalmente se materializar. Uma estratégia em ação Uma nova empresa de software desenvolveu uma estratégia dividida nos seguintes passos. 1. Customizar um aplicativo para certas empresas. 2. Monitorar o sucesso de vendas em cada um dos setores do mercado. 3. Adaptar o aplicativo ainda mais para atender os mercados de maior sucesso. 4. Construir uma unidade de negócios para atender um desses mercados (ex.: hospitais). 5. Vender a unidade para uma empresa maior, especializada em sistemas médicos. 6. Repetir os passos 4 e 5 em outros setores da economia. A estratégia não dizia ao gerente de vendas emarketing o que fazer ou onde ven- der. Mas ela apresentava diretrizes que, apoiadas por feedback e monitoramento adequados, permitiram que ele e os desenvolvedores de software da empresa coo- perassem com sucesso. “Os negócios, mais do que qualquer outra ocupação, são um cálculo contínuo, um exer- cício instintivo de previsão.” Henry R. Luce Stutely_06.indd 120Stutely_06.indd 120 19/09/11 17:1319/09/11 17:13 O núcleo do seu plano 121 O caminho acelerado para uma estratégia e um plano operacional Analise o portfólio de negócios Revise objetivo central, visão, missão, competências principais, vantagens competitivas e SWOT. Analise o portfólio de produtos Desenvolva a estratégia de negócios Desenvolva estratégias departamentais Identifique recursos necessários Defina objetivos estratégicos Desenvolva plano operacional para o negócio Desenvolva plano operacional para os departamentos Documente a estratégia e o plano operacional Calcule o custo dos planos (próximo capítulo) Estratégia de portfólio: que negócios você deveria ter? Até aqui, escrevi como se você tivesse somente um produto ou área de negócios e apenas toquei no assunto de múltiplos produtos e negócios no Capítulo 3. Chegou a hora de voltar a essa complicação e analisar como alocar prioridades entre um portfólio de diversos interesses de negócios. Agora estamos discutindo negócios, no plural. Depois de analisar uma série de negócios, repita o mesmo raciocínio para os produtos dentro de cada área. Em outras palavras, trabalhe esta seção uma vez, depois volte ao começo e faça tudo de novo, apenas substituindo a palavra “negócio” por “produto”. Algumas das modalidades de análise de portfólio são incrivelmente comple- xas. Felizmente, não precisamos nos preocupar com elas. A técnica descrita aqui é simples e eficaz. Basicamente, você está investigando como seus negócios (ou pro- dutos) combinam uns com os outros. O box a seguir indica os passos necessários. Stutely_06.indd 121Stutely_06.indd 121 19/09/11 17:1319/09/11 17:13 122 O guia definitivo do plano de negócios Quatro passos para analisar seu conjunto de negócios 1. Reflita sobre a atratividade de cada área de negócios. Essa parte já foi realizada nos Capítulos 4 e 5. A Figura 6.1 mostra uma maneira de reunir todos os resultados. Além disso, basta desenhar bolhas no diagrama (como descrito no texto) para obter uma boa representação visual do seu estado atual. 2. Reveja a sinergia entre negócios. Você está procurando áreas nas quais possa ex- plorar ao máximo suas competências principais e vantagens estratégicas. O box da página 102 indica algumas áreas de sinergia mais óbvias. 3. Compare riscos e retornos. Analise em que casos os riscos compensam e os retor- nos complementam uns aos outros. Por exemplo, uma empresa com uma linha de produtos ampla e madura está mais bem preparada para enfrentar os riscos de lançar um novo produto do que um empreendimento fundado especialmente para isso. Um fabricante de equipamentos que se dá bem durante um boom seria complementa- do por uma empresa que prestasse serviços de manutenção durante uma recessão, quando os clientes adiam despesas com equipamentos novos. 4. Procure um fluxo de caixa secundário de apoio. É muito comum ver negócios que parecem ter sucesso e estar em expansão sofrerem por causa de custos de estoque, processamento de pedidos e cobrança de contas a receber. Os novos negócios pre- cisam de fundos para o investimento inicial. Aqui entra a galinha dos ovos de ouro (Fi- gura 6.1): ela fornece o fluxo de caixa necessário para cultivar e expandir as crianças problemáticas e estrelas do seu portfólio. A Figura 6.1 combina diversos métodos famosos de se avaliar a atratividade de um negócio. Apesar de muito simplificada, ela ainda é bastante útil. A figura apresenta uma maneira fácil e simples de visualizar as forças em jogo. Para cada área de ne- gócios, analise as medidas de atratividade do setor e da sua força competitiva (ver exemplos abaixo) e marque sua posição no gráfico. Por exemplo, se o setor tem pouca atratividade mas sua posição competitiva é forte, seu negócio pertence ao quadrante inferior direito. Nesse caso, você está com uma vaca leiteira nas mãos. Não faça investimentos pesados, apenas aprovei- te tudo o que o negócio atual puder lhe oferecer. As possibilidades entre os quatro extremos são muito variadas. Com um pou- co de inteligência, é possível explorar a área central e demarcar uma série de con- clusões e estratégias provisórias. “O cavalo que corre um quilômetro, alguns segundos mais rápido que os outros, vale o dobro. Aquele pouquinho a mais tem o máximo de valor.” John D. Hess Stutely_06.indd 122Stutely_06.indd 122 19/09/11 17:1319/09/11 17:13 O núcleo do seu plano 123 Ao comparar vários negócios diferentes, desenhe bolhas no diagrama: grandes para os maiores, pequenas para os negócios que considere menos importante. Você vai ver imediatamente a relação de uma área com a outra. Atratividade do setor: ♦ o mercado é grande ♦ o mercado está crescendo rapidamente ♦ a concorrência é fraca ♦ barreiras para entrada afastam os concorrentes ♦ o mercado não é dado a recessões cíclicas graves, etc. Sua posição competitiva: ♦ você tem boa participação de mercado ♦ seu produto é um sucesso ♦ você é dono de marcas, patentes, etc. ♦ você tem custos baixos/lucros altos ♦ você tem capacidade ociosa ♦ você tem acesso a habilidades e recursos importantes. É fácil focar nos negócios que você já tem e acabar ignorando aqueles que poderia ter. Talvez seja preciso pensar diferente para garantir que você cobriu todas as opções. A lista final conterá todos os negócios (e produtos) que você vai querer aproveitar, expandir, adquirir ou desinvestir. Sua próxima ação é desenvolver estratégias de negócios para ajudá-lo a rea- lizar todos esses desejos. Criança problema Desinvestir ou construir Abacaxi Sair do negócio Estrela Proteger e apoiar Vaca leiteira Aproveitar ao máximo ForteFraco Fo rt e Fr ac oA tr at iv id ad e d o se to r Sua posição competitiva Figura 6.1 Qual a posição do seu negócio? Stutely_06.indd 123Stutely_06.indd 123 19/09/11 17:1319/09/11 17:13 124 O guia definitivo do plano de negócios Seis exemplos de sinergia Habilidade, competência ou vantagem Exemplos de sinergia conquistada com a aplica- ção em dois negócios diferentes 1. Gerência Explorar habilidades de gestão de, por exemplo, lojas de varejo, desenvolvimento de software, etc. 2. P&D Alavancagem de habilidades de desenvolvimento de plásticos, microcomponentes, etc. 3. Integração vertical Benefícios vindos do controle de suprimentos e/ou canais de mercado. 4. Gestão de marca Uso de um nome estabelecido para promover um produto diferente. 5. Marketing e vendas Trabalhar a partir de recursos para venda direta. 6. Administração Combinação de recursos para redução de custos. Estratégias de negócios para atender aos seus desejos Agora voltemos a discutir seu plano como se você tivesse apenas um negócio. Conhecemos os seus desejos. Chegou a hora de desenvolver uma estratégia. Para ajudá-lo a organizar seu raciocínio, os boxes das páginas 125 a 128 apresentam 12 estratégias de negócios pré-prontas. Como todas as listas do tipo, as estratégias são relativamente simplistas e genéricas. O objetivo principal é estimular suas ideias. Cada box lista três de cada tipo: ♦ estratégias de integração (para trás, horizontal e para frente); ♦ estratégias de mercado (penetração de mercado e desenvolvimento de mercados e produtos); ♦ estratégias de diversificação (concêntrica, horizontal e por conglomerado); ♦ estratégias defensivas (joint ventures, redução de despesas e desinvestimento). Não se preocupe muito com os nomes. Por exemplo, a formação de joint ventures com outros parceiros é listada como uma estratégia defensiva, mas seu propósito não raro é ofensivo. Além disso, não se esqueça queexiste um oposto para cada uma das estraté- gias listadas aqui. Considere a primeira, por exemplo, integração para trás, na qual você passa a controlar sua cadeia de abastecimento. Ela pode fazer muito sentido, mas o seu contrário (a terceirização) está muito na moda. O mesmo vale para os conglomerados, cuja divisão aparece muito mais do que a construção na literatura atual (no entanto, uma boa estratégia de negócios muito comum é criar uma nova unidade com o objetivo de vendê-la em alguns anos). Acima de tudo, é importante lembrar que essas não são as únicas estratégias de negócios à sua disposição, e que a sua estratégia detalhada pode envolver uma mistura de diversas abordagens diferentes. A lista a seguir mostra critérios que podem ser usados para avaliar e mensurar sua estratégia. Stutely_06.indd 124Stutely_06.indd 124 19/09/11 17:1319/09/11 17:13 O núcleo do seu plano 125 Sete critérios para avaliação de estratégias 1. Retorno sobre investimento (ROI). 2. Risco de perder o investimento. 3. Propriedade e controle (do que se precisa desistir?). 4. Potencial para crescimento. 5. Estabilidade de emprego e lucros. 6. Prestígio. 7. Responsabilidade social. Três estratégias de integração/redução de custos Estratégia Ação Considere seguir se Integração para trás Adquirir for- necedores ♦ seus insumos são caros, pouco confiáveis, se atrasam ou têm algum outro problema ♦ você precisa de mais controle sobre seus insumos ♦ os fornecedores são poucos, os concorrentes são muitos ♦ o mercado está crescendo rapidamente (o contrário é mais importante: em um mercado em contração, a inte- gração para trás limita sua capacidade de diversificação) ♦ os fornecedores têm margens de lucro altas Integração horizontal Adquirir con- correntes ♦ maior participação de mercado aumenta o seu poder (cuidado com a legislação antitruste) ♦ o mercado está crescendo rapidamente ♦ as economias de escala seriam benéficas ♦ seu alvo possui os recursos ou habilidades importan- tes de que você necessita ♦ você possui recursos ou habilidades que beneficia- riam o alvo Integra- ção para frente Adquirir os canais de mercado ♦ os canais atuais são caros, pouco confiáveis ou têm algum outro problema ♦ a escassez de canais confere uma vantagem compe- titiva ao proprietário ♦ o mercado está crescendo rapidamente (o contrário é mais importante: em um mercado em contração, a integração para frente limita sua capacidade de di- versificação) Seja objetivo Ao desenvolver ou revisar uma estratégia, tente ser objetivo. Imagine que você con- cluiu sua revisão hoje e uma oportunidade incrível surja no horizonte. Ela não fazia Stutely_06.indd 125Stutely_06.indd 125 19/09/11 17:1319/09/11 17:13 126 O guia definitivo do plano de negócios parte da sua estratégia, mas parece muito tentadora. O que fazer? Uma análise cuidadosa, é claro. Seja flexível, mas faça perguntas inteligentes antes de mudar de direção. A sereia pode não passar de um peixe-boi (e eles não dão leite). Três estratégias de mercado Estratégia Ação Considere seguir se Penetração de mercado Aumentar sua participação em mercados existentes ♦ os mercados atuais não estão saturados com o seu produto ♦ você poderia vender mais para os usuários atuais ♦ os mercados estão crescendo e/ou a participação de mercado dos concorrentes está diminuindo ♦ o retorno sobre investimento é alto ♦ o volume maior produziria economias de escala Desenvol- vimento de mercados Entrar em no- vos mercados ♦ existem canais de mercado atraentes ♦ você tem bastante sucesso nos mercados atuais ♦ os mercados inexplorados estão chamativos ♦ você tem os recursos humanos e financeiros ne- cessários ♦ você tem capacidade de produção ociosa ♦ seu setor está se tornando mais globalizado Desenvol- vimento de produtos Melhorar pro- dutos existen- tes ou lançar novos ♦ você tem forte capacidade de pesquisa e desen- volvimento ♦ você pode trabalhar a partir de sua marca/imagem atual ♦ os produtos no seu setor estão mudando rapida- mente ♦ a concorrência tem produtos melhores ♦ seu mercado está crescendo rapidamente O exemplo mais óbvio seria um negócio que é um abacaxi. Você se agarra a ele porque é parte da sua tradição, ou porque mais um investimento pode fazer ele dar a volta por cima ou por uma série de outros motivos. O velho conselho continua valendo: não olhe para trás enquanto anda para frente. Preste atenção no seu destino e em como irá chegar lá. O que passou, passou. Continuar a investir em um negócio moribundo ou se agarrar a um setor decadente da economia podem ser estratégias desastrosas. Stutely_06.indd 126Stutely_06.indd 126 19/09/11 17:1319/09/11 17:13 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. PLANO DE NEGÓCIOS II Ana Clara Aparecida Alves de Souza Cuidados na elaboração de um plano de negócios Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os principais cuidados que se deve ter ao elaborar um plano de negócios. Selecionar fontes de pesquisa para elaborar um plano de negócios. Evitar os erros na elaboração de um plano de negócios. Introdução O mundo dos negócios é um espaço de extrema complexidade. Muitos empreendimentos são concebidos pelo sonho de quem os projeta, mas sem considerar a estruturação necessária para enfrentar o desafio que eles representam. A consideração de ideias soltas no desenvolvimento do negócio, a formulação de expectativas de lucros inconsistentes com a realidade e a desconsideração do baixo capital para investimento são alguns erros comuns relacionados à falta de um planejamento organizacio- nal adequado. Considerando-se as constantes transformações promovidas pela globalização da informação, essa complexidade tende a aumentar. Compreendendo esse desafio, é necessário conhecer a relevância que o plano de negócios pode ter para a estruturação das ações em uma organização. A identificação clara dos objetivos, a compreensão da concorrência, a identificação dos recursos disponíveis e a formulação de estratégias são fundamentais para a sistematização do plano e para os encaminhamentos do negócio. Deve-se considerar que o plano de negócios é um documento flexível, que pode ser ajustado à medida que as tarefas definidas anteriormente vão sendo executadas. A elaboração de um plano de negócios permite ao gestor e aos demais envolvidos uma oportunidade de pensar no negócio de ma- neira ampla e reflexiva, considerando diversas áreas, além de aspectos como análise ambiental (interna e externa), viabilidade econômica, forças e fraquezas, entre outros. Embora a estruturação de um documento aprimorado possa tomar tempo e demandar dedicação, o plano de negócios é um guia fundamental para empreender ou manter saudável um negócio já encaminhado. Considerando os pontos destacados e a relevância do planejamento para o sucesso de um empreendimento, neste capítulo, você vai estudar os principais cuidados que se deve ter ao elaborar um plano de negócios. Você vai compreender como selecionar fontes de pesquisa para a elabo- ração desse plano e quais são os cuidados a serem tomados para se evitar erros na sua concepção, de maneira a não estruturar um documento que prejudique as atividades, em vez de beneficiá-las. 1 Principais cuidados Cada organização tem características próprias que vão compor o seu ambiente interno, assim como há fatores ambientais do cenário em que ela vai operar que infl uenciarão no seu desempenho. Uma premissa fundamental ao em- preendimento é compreender esses ambientes, para, então, traçar caminhos condizentes com o contexto de atuação. O processo de elaboração do plano de negócios de uma organização requer diversos cuidados, que são observados à medida que o documento é concebido. O plano de negóciosé uma das ferramentas mais utilizadas para aproveitar as oportunidades econômicas dos dias atuais (CIUCESCU, 2016). Esse plano pode ser desenvolvido para servir a três funções, de acordo com Hashimoto e Borges (2014): A primeira função é o desenvolvimento de ideias a respeito de como o negócio pode ser conduzido (refinar estratégias, visualizar erros antes da execução, verificar a viabilidade financeira, mercadológica e operacional). A segunda função destaca o plano de negócios como ferramenta retros- pectiva, que permite avaliar o desempenho de uma empresa ao longo de um tempo determinado e verificar os rumos tomados (nessa perspectiva, o plano pode ser usado como base para o planejamento estratégico). A terceira função do desenvolvimento desse plano é obter apoio; a maior parte dos investidores deseja conhecer bem o negócio no qual aplicará dinheiro, e esse documento cumpre papel central na transferência de informações necessárias ao processo. Cuidados na elaboração de um plano de negócios2 O plano de negócios é uma ferramenta fundamental tanto para novas organizações quanto para organizações já existentes, no sentido avaliativo de suas práticas (BERNARDI, 2014). Ele deve ser lido e relido diversas ve- zes, buscando o alinhamento das informações nele contidas com a prática organizacional, conforme alerta Zavadil (2013). Os resultados financeiros esperados das atividades desempenhadas vão depender da forma como elas foram conduzidas. Nesse sentido, o documento mestre nesse processo necessita do maior refinamento possível. Todo empreendimento, como destaca Bernardi (2014), passa por ciclos que necessitam de constante acompanhamento e avaliação, para que boas práticas de gestão sejam implementadas e executadas conforme o momento vivido pela empresa. Esses ciclos são compostos por etapas que vão desde a concepção do negócio, passando por fases de existência, decolagem, manutenção ou crescimento, maturidade e, por fim, renovação ou fim do empreendimento. Todas essas etapas necessitam de acompanhamento, e o plano de negócios é ideal para essa tarefa. Quanto à atenção aos clientes, por exemplo, que faz parte dos tópicos do plano de negócios, Zavadil (2013) ressalta o cuidado que se deve ter para buscar identificar as necessidades futuras dos clientes, pois isso permitirá identificar possíveis diferenciais, que proporcionarão um destaque diante da concorrên- cia. As organizações que estruturam planos de negócios pensando apenas na identificação atual das necessidades dos clientes não estão estabelecendo a projeção de futuro necessária ao alcance de objetivos maiores. Geraldo e Gama (2019) destacam a relevância que o plano de negócios tem, não apenas para consulta interna da organização quanto às etapas necessárias às suas atividades. Os autores ressaltam que esse documento é também requerido por bancos, investidores e sociedades de capital de risco, com vistas a melhor analisar o negócio para o qual poderão fazer algum aporte financeiro. Dessa forma, o cuidado necessário ao desenvolvimento do plano vai além de um mero preciosismo da organização. Um cuidado fundamental para a eficácia do plano de negócios é a atenção que a organização deve ter para não se distanciar do contexto no qual o documento foi desenvolvido. Para isso, postura e ação são premissas fundamentais. As perguntas realizadas sistematicamente durante o processo de desenvolvimento do plano de negócios devem se manter ativas, pois permitirão a identificação de ajustes necessários, algo essencial ao plano. Não se trata de um documento estático, mas, pelo contrário, extremamente dinâmico (ZAVADIL, 2013). Conforme Hashimoto e Borges (2014), o plano de negócios, quando pen- sado como um documento que um investidor vai consultar, deverá ser claro sobre o que se deseja, mas pode deixar vagas as informações sobre o quanto 3Cuidados na elaboração de um plano de negócios o negócio está disposto a ceder. O documento deverá ser dinâmico, para que possa sofrer mudanças constantes à medida que os cenários forem se alte- rando. As informações que vêm de fora da empresa necessitam de contínuo acompanhamento e incorporação nas orientações do negócio. Dessa forma, é preciso haver um cuidado para que o plano de negócios nunca termine, para que seja um documento sempre disponível como guia para a organização. Dois critérios podem ser estabelecidos como bons momentos para iniciar a escritura de um plano de negócios (HASHIMOTO; BORGES, 2014): quando há o risco de o negócio atingir um tamanho proporcionalmente alto para o empreendedor; quando o empreendedor precisar convencer alguém a apoiar o negócio. Esses critérios independem do tamanho do negócio e não limitam a ne- cessidade de desenvolvimento do plano, no sentido de melhor guiar as ações desenvolvidas. Como destacado na discussão deste capítulo, existem diversas formas de estruturar um plano de negócios. O modelo ou padrão mais ade- quado deverá ser definido pelo empreendedor juntamente com a sua equipe, considerando aspectos como contexto de atuação, porte da empresa, número de funcionários e áreas, tempo de mercado, recursos financeiros, entre ou- tros. Caso a empresa tenha um perfil de preferir definir as ações com pouco tempo para execução e agir sobre cada demanda ocorrente, deve decidir que, estruturando um plano de negócios, terá disciplina suficiente para segui-lo; caso contrário, o esforço poderá ser prejudicial. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), como fazem outras organizações que oferecem suporte para a gestão, apresenta um modelo para plano de negócios que pode ser acessado gratuitamente. O foco está nos pequenos empreendedores. O Sebrae aponta que esse documento pode dar suporte para passos mais firmes no início de novos negócios. Esse guia disponibilizado pelo Sebrae é bastante completo, pois, além de apresentar a noção conceitual de plano de negócios, apresenta as suas etapas, suportadas por vídeos que indicam como elaborá-las. Ao final, é disponibilizado um arquivo que pode ser utilizado como modelo pelo empreendedor. Acesse esse material por meio do link a seguir. https://qrgo.page.link/6qe8o Cuidados na elaboração de um plano de negócios4 2 Fontes de pesquisa Existem diversas fontes de pesquisa que podem ser consultadas para a ela- boração de um plano de negócios. Desde os tradicionais livros-manuais da administração, passando por consultas on-line a modelos já desenvolvidos, vídeos e artigos científi cos, há muita informação disponível, mas que precisa ser fi ltrada para se adequar à necessidade de cada negócio e ao seu contexto de ação. Caso a organização prefi ra, pode também optar por serviços de consultoria, que proporcionam o acompanhamento por etapas da elaboração do plano de negócios. Essencialmente, na definição das fontes mais relevantes para o negócio, é importante que a organização faça um primeiro levantamento amplo daquilo que pode ser útil. À medida que há um refinamento dessa informação levantada, ela pode ser sistematicamente alinhada ao perfil do negócio e ao ambiente no qual a empresa opera. Os objetivos principais para o momento de elaboração do plano de negócios também devem ser um filtro para a seleção dessas fontes. Conforme destacado por Bernardi (2014), o plano de negócios em si não garante o sucesso ou a lucratividade da empresa. Mas, quando desenvolvido com cuidado e qualidade, permite uma melhor compreensão do empreendi- mento e das necessidades e ajuda no monitoramento das estratégias definidas. O bom desenvolvimento do documento exige a precisa definição de fontes que sirvam como uma base sólida à sua estruturação. Estudos desenvolvidos podem servir como fontes de pesquisa que trarão bons insights. Geraldo e Gama (2019), por exemplo, investigaram o que os investidores procuram em um plano de negócios de uma startup. Considerando o crescimento que essas organizações vêm tendo no mercado, érelevante compreender essas questões. Os autores identificaram que um tipo de investidor considera mais relevante, ao analisar o plano de negócios, a informação sobre a equipe empreendedora; outros tipos de investidores consideram mais relevante a informação sobre o mercado em que o negócio se insere. Tais informações estarão contidas em planos de negócios de organizações que se preocuparam em estruturar um texto que abranja desde questões mais amplas, como análise macroambiental, até questões mais particulares, como informações sobre quem atua na organização. Ferreira e Pinheiro (2018) propõem a elaboração do plano de negócios a partir do modelo circular, ilustrado na Figura 1, uma metodologia ativa no ensino de empreendedorismo. O plano de negócios circular apresentado pelos autores foi desenvolvido durante oficinas, a partir de uma experiência vivenciada por 160 participantes, que desenvolveram 48 ideias de negócios. 5Cuidados na elaboração de um plano de negócios Esse tipo de dinâmica é uma fonte estimuladora de ideias, que pode ser re- produzida no ambiente organizacional com os colaboradores. Ela permite aproveitar o máximo de ideias e refiná-las para o melhor alinhamento com a proposta da organização. Figura 1. Plano de negócios circular. Fonte: Adaptada de Ferreira e Pinheiro (2018). Para Zavadil (2013), a melhor forma de iniciar um plano de negócios é pela análise do mercado no qual a organização vai operar. Para isso, é necessário já saber o produto ou serviço que será oferecido. O conhecimento das infor- mações do mercado depende de a empresa já existir ou ser um novo negócio. No sentido de melhor conhecer o mercado em que opera ou no qual vai operar, a organização pode recorrer a fontes de informação, como dados públicos oficiais contextualizados (global, local, regional, municipal, entre outros), e levantar informações sobre a concorrência — como ela se comporta, quais são os produtos, como se comunica nos diversos canais. Muitas dessas fontes são acessadas de forma gratuita pela internet. Ionut (2015) apresenta a relação entre estudo de visibilidade e plano de negócios, algo que pode ser fundamental a um gestor que precisa clarear cer- Cuidados na elaboração de um plano de negócios6 tas dúvidas nesse sentido. O estudo de viabilidade, como documento menos complexo desenvolvido antes do plano de negócios, pode contribuir para a redução de riscos econômicos para o negócio. As informações do estudo de viabilidade podem ser incorporadas ao plano de negócios. Ao considerar artigos científicos como fontes interessantes para a elaboração de planos de negócios, os empreendedores poderão encontrar diferentes teori- zações sobre o assunto e também aplicações práticas, relacionadas à análise de casos reais. Porém, as diferentes teorias apontam para etapas razoavelmente semelhantes relacionadas ao desenvolvimento do plano. Com base em Ferreira e Pinheiro (2018) e a partir do modelo do plano de negócios circular, pode-se apontar os seguintes tópicos como fundamentais ao plano de negócios: 1. Sumário executivo; descrição da oportunidade de negócio. 2. Descrição da empresa; características; conceito e missão do negócio. 3. Plano operacional; produtos e serviços oferecidos. 4. Análise do mercado consumidor (diagnóstico). 5. Análise da concorrência; construção de cenários; estratégias de mercado (diagnóstico); análise do ambiente. 6. Plano de desenvolvimento; planejamento da produção e das operações; plano operacional; cronograma de implantação; produção e operações. 7. Plano de marketing; planejamento de marketing e vendas; avaliação estratégica. 8. Descrição da equipe; planejamento de recursos humanos; estrutura organizacional e operacional; organização e gestão. 9. Riscos críticos; plano financeiro; avaliação do plano de negócios; avalia- ção e controle; projeções financeiras; pedido de financiamento; finanças. 10. Fechamento e anexos. 3 Erros na elaboração de um plano de negócios O desenvolvimento de um plano de negócios pode trazer uma série de benefí- cios, quando bem elaborado. Bernardi (2014) destaca que a elaboração desse documento obriga o empreendedor a se dedicar à compreensão da análise do ambiente de negócios e de vários outros aspectos, como estratégia, com- petências, estrutura disponível, objetivos, recursos necessários, viabilidade, entre outros. Considerando-se a complexidade envolvida na elaboração desse documento, percebe-se que erros podem ocorrer no processo, devendo ser minimizados ao máximo, para amenizar seus efeitos negativos. 7Cuidados na elaboração de um plano de negócios Zavaldi (2013) ressalta que todos os elementos do plano de negócios devem ser vistos com a mesma relevância. Dessa forma, priorizar mais algumas seções do que outras poderá ser um erro, com implicações cruciais quando esse documento for avaliado por um investidor, por exemplo. Isso porque, para esse stakeholder, determinadas seções podem ser mais importantes do que outras, e, entre essas, podem estar aquelas que foram pouco desenvolvidas na elaboração. Um dos erros relevantes que podem comprometer o plano de negócios e as ações que se configuram a partir dele é o tempo dedicado à elaboração (BERNARDI, 2014). Quando o empreendedor está iniciando, acaba por ficar muito envolvido com problemas cotidianos e vulnerabilidades do começo do empreendimento; isso é comum a pequenas e médias empresas. Tais problemas podem demandar o tempo que seria necessário para o desenvolvimento de um bom plano de negócios, que acabará sendo comprometido. Isso é um problema que Bernardi (2014) classifica como paradoxal, dado que o empreendedor necessita urgentemente estruturar um plano de ações, mas, como está envol- vido com urgências cotidianas, acaba por não destinar tempo e esforço para a estruturação do plano de negócios de maneira consistente. O autor ressalta que sistematizar soluções instrumentais para urgências imediatas não é fazer um planejamento. Este exige maior formalidade e dedicação durante a elaboração. Outro erro destacado por Bernardi (2014) e que se alinha ao anterior é a justificativa da incerteza para não fazer o planejamento. Ora, mas quanto maior a incerteza sobre e para o negócio, maior a necessidade de estabelecer um planejamento. Entretanto, muitos empreendedores vão se resguardar nessa desculpa e seguir sempre, ou por algum tempo, definindo ações pontuais e tratando isso como planejamento emergencial a cada dia. Para Bernardi (2014), a adoção do planejamento deve ser repensada quando: a complexidade inibe a ação e paralisa a empresa; a forma prevalece sobre a essência; o que é crítico e vital se torna secundário ou implícito; direciona-se somente a oportunidades em detrimento do foco; é utilizado para solucionar problemas cotidianos; inicia um engessamento da empresa. Se esses pontos são identificados na organização, o plano desenvolvido foi um esforço empregado sem qualquer utilidade posterior. Dessa forma, o empreendedor necessita ter clara a sua necessidade e fazer o uso do seu potencial para a melhoria contínua do negócio. Cuidados na elaboração de um plano de negócios8 As questões apresentadas são fundamentais para qualquer negócio, seja iniciante ou experiente em seu mercado. Entretanto, ao definir um modelo a seguir, a organização deverá ter claro qual é o seu porte e estágio, de maneira a não cometer erros como tentar adequar-se a um modelo que foi desenvolvido para organizações maiores e mais consolidadas. Embora a empresa possa e deva se inspirar em negócios de sucesso, cada organização deverá conhecer e respeitar o seu contexto e adaptar o plano à medida que atinja determinados crescimentos (ZAVADIL, 2013) Hashimoto e Borges (2014) convidam o empreendedor à reflexão de que, embora ele possa conhecer muito sobre uma área do seu negócio (existente ou pretendido), isso não quer dizer que ele tenha a visão ampla necessária. Dessa forma, a insistênciaem acreditar que tudo o que sabe sobre o seu negócio é suficiente pode ocultar erros fundamentais, que vão comprometer o sucesso do empreendimento. Conhecimentos sobre gestão de pessoas, finanças, marketing, entre diversos outros, devem estar sob domínio da equipe que vai coordenar a organização. O plano de negócios permite uma sistematização e uma visão integrada dessas informações multidisciplinares. Um erro central no processo de elaboração de um plano de negócios é não estudar claramente o que é esse plano, qual é o seu objetivo e o que ele con- templa. Há confusões que levam o empreendedor a acreditar que planejamento estratégico, plano de projeto, plano de marketing, business case e modelo de negócios, que também são sistematizações fundamentais à organização, são planos de negócios (HASHIMOTO; BORGES, 2014). Ao optar por seguir sistematizações documentais que podem melhor direcionar o negócio, o empre- endedor deve ter claro do que se trata aquilo pelo qual está optando e consultar modelos, manuais ou especialistas sobre quais são as etapas necessárias ao desenvolvimento do documento. Ele deve ter noção da complexidade e da dedicação que serão requeridas no processo. No momento de criação de um plano de negócios, os seguintes erros devem ser evitados (AGÊNCIA SEBRAE DE NOTÍCIAS SP, 2015): desconhecer o ramo de atuação; não pesquisar o mercado consumidor; desconhecer o mercado fornecedor; desconhecer o mercado concorrente; indefinição de produtos e serviços; não analisar a localização da empresa; desconhecer o processo operacional; desconhecer o volume de produção e de vendas ou serviços; 9Cuidados na elaboração de um plano de negócios não dar atenção à necessidade de pessoal; não fazer a análise de viabilidade da empresa. A revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios considera o plano de negócios uma ferramenta fundamental de suporte à gestão. Na matéria intitulada “Plano de Negócios é o primeiro passo para empreender”, são apresentados dados sobre o surgimento de novos empreendimentos anualmente, especialmente no que se refere a micro e pequenas empresas. Ressalta-se que não basta ter uma boa ideia para empreender, é preciso estruturá-la. O plano de negócios, nesse sentido, pode ser um caminho fundamental para guiar o empreendedor e a sua equipe na jornada que o negócio vai seguir. A matéria traz ainda, ilustrando por meio de casos, como essa ferramenta pode ser relevante para o sucesso de um empreendimento. Acesse o link a seguir e leia a matéria. https://qrgo.page.link/zZ9bH O campo da administração apresenta diversas ferramentas que têm sido continuamente aprimoradas, não apenas por elaborações teóricas, mas tam- bém pela inclusão de recursos digitais. Todos esses esforços visam a permitir ao empreendedor o amplo acesso a informações que possam orientá-lo na criação e na manutenção da sua empresa. O plano de negócios é um desses recursos que se apresenta como fundamental no processo de sistematização das informações não apenas sobre o empreendimento, mas sobre o ambiente geral no qual ele está inserido. Embora algumas opiniões desconsiderem a relevância dessa ferramenta e busquem argumentar que há diversos negócios que nunca fizeram tal planeja- mento, o conhecimento geral reforça a relevância desses documentos-guia para a melhor gestão. O empreendedor que desejar melhor conhecer a complexidade de informações que orbitam o seu negócio, independentemente de seu porte ou setor, tem no plano de negócios e nos planos a ele associados ferramentas essenciais para enfrentar os desafios mercadológicos. Cuidados na elaboração de um plano de negócios10 AGÊNCIA SEBRAE DE NOTÍCIAS SP. 10 dicas para evitar erros na hora de criar um plano de negócios: como começar. Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, 2015. Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Como-comecar/noticia/2015/09/10-dicas-para- -evitar-erros-na-hora-de-criar-um-plano-de-negocios.html. Acesso em: 23. jan. 2020. BERNARDI, L. A. Manual de plano de negócios: fundamentos, processos e estruturação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014. CIUCESCU, N. Business plan: management tool of the entrepreneur. Studies and Scientific Researches, Economics Edition, n. spe., 2016. FERREIRA, F. M.; PINHEIRO, C. R. M. S. Plano de negócios circular: instrumento de ensino de empreendedorismo e desenvolvimento do perfil empreendedor. Gestão & Produção, v. 25, n. 4, p. 854-865, 2018. Disponível em: scielo.br/pdf/gp/v25n4/0104-530X-gp-0104- 530X2326-18.pdf. Acesso em: 23 jan. 2020. GERALDO, J. V.; GAMA, P. M. O que é que os investidores procuram no plano de ne- gócios de uma 'Startup'? Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, v. 8, n. 3, p. 231-255, 2019. HASHIMOTO, M.; BORGES, C. Empreendedorismo: plano de negócio em 40 lições. São Paulo: Editora Saraiva, 2014. IONUT, C. The importance of the feasibility study for the business plan. In: CONSTANTIN BRÂNCUSI DAY, 2015, Târgu Jiu. Proceedings […]. Romania: University of Târgu Jiu, 2015. Disponível em: http://www.utgjiu.ro/revista/ec/pdf/2015-Special%20ECOTREND/85_Ce- ausescu%20Ionut.pdf. Acesso em: 23 jan. 2020. ZAVADIL, P. R. Plano de negócios: uma ferramenta de gestão. Curitiba: Intersaberes, 2013. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 11Cuidados na elaboração de um plano de negócios INOVAÇÕES CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS EM ESTÉTICA E COSMÉTICA Soraya Juliane da Silva Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever casos de inovação em empresas. � Identificar casos de empreendedorismo em empresas. � Analisar os resultados obtidos nos casos de inovação e empreende- dorismo estudados. Introdução Inovação e empreendedorismo são termos cada vez mais comuns, não apenas na literatura especializada, mas no nosso próprio cotidiano. Cada vez mais se consolida a noção de que empreender e inovar são elementos intimamente relacionados com o sucesso, e isso não é sem motivos: os resultados obtidos por empreendedores ousados, criativos e determina- dos a superar as mais diversas adversidades são inspiradores. Aliás, é difícil dissociar a história das empresas da biografia das pessoas que as fundaram. E embora, muitas vezes, tais pessoas sejam vistas como detentoras de poderes sobre-humanos, a realidade é que os empreen- dedores são pessoas comuns, mas dotadas de perspicácia para perceber tendências e compreender que inovação e empreendedorismo são faces da mesma moeda: devem, portanto, caminhar juntos. Neste capítulo, você conhecerá casos de inovação e de empreen- dedorismo de empresas do Brasil e do mundo, bem como perceberá semelhanças e diferenças entre eles e como isso reflete no sucesso dos negócios. Inovação: casos de sucesso As recorrentes mudanças sociais, econômicas e tecnológicas que caracterizam o contexto no qual as empresas operam demandam uma capacidade cada vez maior de adaptação aos novos desafios que se apresentam. Aliás, mais do que simplesmente se adaptar, o sucesso dos negócios está intimamente relacionado à competência organizacional para antecipar as mudanças, prevendo, ou até mesmo criando, tendências. Neste contexto, a inovação desempenha um papel fundamental: empresas que inovam se saem melhor do que as outras, sobretudo em parâmetros como crescimento, desempenho financeiro e emprego (TIDD; BESSANT, 2015). A literatura possui definições múltiplas sobre o que é inovação e como ela ocorre. Embora existam diferenças conceituais, uma forma simples de compreendera inovação é representada pela seguinte equação: inovação = ideia + implementação + resultado (MOREIRA; QUEIROZ, 2007). Inovar, portanto, requer competências múltiplas, que incluem criatividade, capacidade de mobilizar recursos e estabelecer parcerias, habilidade para realizar a gestão dos processos e desenvolver ferramentas para monitorar os resultados. Tais competências ficam evidentes nos casos de três empresas internacio- nalmente reconhecidas por suas culturas de inovação: 3M, Apple e O Boticário. 3M: Cultura da inovação em ação Ainda que o nome da empresa possa não ser conhecido por muitos, você provavelmente é um cliente da 3M. Acredite, os produtos da companhia estão intimamente relacionados ao nosso cotidiano: estamos falando do Post-it que grudamos por aí com lembretes, ou usamos para marcar páginas de livros, da polivalente fita crepe e da Scotch-Brite, esponja com vasta presença nas pias de louça dos mais diversos lares. O fato é que esses e outros produtos são apenas a ponta do iceberg da multinacional, respondendo por meros 15% do faturamento da empresa, que é mundialmente referência quando o assunto é inovação. A Mineração e Manufatura de Minnesota, atualmente conhecida como 3M, é uma multinacional fundada em 1902, em Minnesota, Estados Unidos. Cinco empreendedores uniram-se, na intenção de vender minérios para a indústria de abrasivos (lixas): dois executivos atuantes nas indústrias de ferrovias, um médico, um açougueiro e um advogado — observe como a diversidade está presente na própria gênese da 3M. Da venda de minérios, a empresa passou à Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas2 fabricação dos abrasivos, em 1905, e, desde então, seu portfólio de produtos tem sido ampliado de maneira exponencial, possuindo atualmente mais de 55 mil itens (SOARES; REIS; CUNHA, 2016). O espírito de inovação que caracteriza a 3M foi moldado e incentivado por seus diversos diretores ao longo dos anos. Um nome de destaque é o de William McKnight, contratado para trabalhar no setor de contabilidade da empresa em 1907 — ele se tornou presidente da companhia, em 1929, ocupando o cargo até 1966. Em sua gestão, ele encorajava a inovação e a autonomia dos colaboradores da empresa, aceitando com tolerância erros e estimulando o intraempreendedorismo. As diretrizes da empresa envolvem o uso da ciência para melhorar a vida das pessoas, ao mesmo tempo que se trabalha continu- amente na atualização da linha de produtos. Essa forma de gestão norteia a atuação dos 8,2 mil profissionais que trabalham nas unidades de Pesquisa e Desenvolvimento da 3M ao redor do mundo (VASCONCELOS, 2016). Um dos casos mais curiosos, e que reflete muito da cultura de inovação da 3M, refere- -se à origem do Post-it. Em 1968, o cientista Spencer Silver pesquisava e criava uma nova cola para as fitas adesivas da 3M, mas sem chegar a um resultado satisfatório; o adesivo era fraco à pressão, a cola não aderia bem e a fita adesiva se soltava facilmente. O invento não interessou a ninguém, sendo visto como um produto sem utilidade comercial, até que uma pesquisa mais profunda demonstrou qualidades interessantes: a cola podia ser reutilizada e facilmente removida de superfícies sem deixar resíduos. Havia um produto em potencial. A cola de Spencer Silver permaneceu sem uma aplicação real até o ano de 1977, quando Art Fry, também inventor da 3M, teve a necessidade de utilizar o produto. Acontece que ele cantava no coral de sua igreja, e os papéis que usava para marcar as páginas do seu livro de cânticos insistiam em cair: ou ele cantava, ou juntava os papéis que saíam voando. Fry procurava uma maneira de manter a papelada no lugar, mas todos os adesivos da 3M possuíam uma aderência muito forte, o que acabava danificando as páginas. A cola de Spencer Silver foi a solução perfeita. 3Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas A 3M realizou, então, pesquisas com seus consumidores, e percebeu que as pessoas não percebiam a utilidade de um papel grudento. Em 1978, a empresa passou a distribuir amostras grátis do produto, demonstrando sua utilização como pequenos bilhetes e notas, e o produto passou a ser aceito com mais naturalidade pelos consumidores. A primeira versão do Post-it foi lançada oficialmente em 1980, e hoje a marca conta com mais de uma centena de produtos, espalhados por mais de 100 países, com variados tamanhos, formatos e cores. O desenvolvimento do Post-it, um dos ícones do sucesso da empresa, ilustra muitos aspectos da cultura de inovação que caracteriza a 3M. Alguns pontos dessa cultura que se destacam, na percepção de Soares, Reis e Cunha (2016), são os seguintes: � inovação é a essência da visão estratégica; � inovação é visivelmente a peça central do ambiente da empresa, ocu- pando 15% do tempo; � acesso a múltiplas tecnologias, seja por meio da conexão entre depar- tamentos ou dos Centros Tecnológicos Corporativos; � criação de uma rede de inovação dentro da organização; � plano de desenvolvimento bem definido para a comunidade técnica, com reconhecimentos associados; � métricas e responsabilidades claras, representadas pelo Índice de Vi- talidade de Novos Produtos, que mede o percentual das vendas totais, que advém de produtos inovadores lançados nos últimos cinco anos. Criada pelos técnicos da 3M nos anos 1980, é uma forma de medida utilizada hoje por companhias como Apple, Braskem e Natura; � conexão com o cliente, representada pela proposta de criar produtos que fascinem os consumidores. As inovações da 3M, conforme Vasconcelos (2016), são classificadas em três categorias: incremental, adjacente e radical. As inovações incrementais incluem, por exemplo, uma nova versão da Scotch-Brite, com melhor desem- penho. As de categoria adjacente, por sua vez, são representadas por produtos e tecnologias já existentes, mas que sofreram modificações ou passaram a ser direcionados a um novo mercado: é o caso de um filtro industrial, desenvolvido pela empresa com base em outros filtros já existentes em seu portfólio para o mercado de petróleo e gás. Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas4 A inovação radical é representada pelos itens inéditos, criados para atender a um segmento de mercado em que a empresa ainda não atuava. Entre tais inovações, podemos mencionar um líquido supressor de poeira, dirigido às indústrias mineradoras, desenvolvido pelos pesquisadores da 3M no Brasil. Esse produto é aspergido nos vagões transportadores de minério de ferro, que são abertos, formando uma película protetora para reter a poeira e impedir o desperdício de material pelo caminho durante o deslocamento do trem. O produto foi criado para o mercado local, mas já é produzido em outras localidades nas quais a 3M está presente. De acordo com Soares, Reis e Cunha (2016), estima-se que 70 a 80% das inovações geradas pela 3M são incrementais e adjacentes, estando relacionadas a melhorias de processo, produto ou serviço, com a finalidade de gerar maior valor econômico. Essas inovações são proporcionadas pelo relacionamento entre a equipe do centro técnico e os usuários da tecnologia (clientes): a equipe técnica vai até o cliente, acompanha a utilização dos produtos e busca identificar as oportunidades de melhoria incremental, gerando um processo permanente de inovação incremental. As inovações radicais, por sua vez, originam-se nas pesquisas de base, desenvolvidas no laboratório central ou por pesquisadores locais, e representam uma das grandes fortalezas da empresa. Apple Inc. A Apple Inc. nasceu em abril de 1976, em Cupertino, Califórnia (EUA), fundada por Steve Jobs, Steve Wozniak e Ronald Wayne. Steve Wozniak era aficionado por eletrônica e havia trabalhado na HP, onde aprendeu sobre engenharia de tecnologia — o que o colocou como o primeiro desenvolvedor da empresa em nascimento. Steve Jobs trabalhou por um período como desenvolvedor da Atari, a gigante dos videogames, mas sempre possuiu talento para marketinge para a criação de produtos. Wayne, entretanto, desistiu de sua participação na empresa por algo em torno de US$ 800, deixando o trabalho apenas para Jobs e Wozniack e perdendo o que atualmente teriam se transformado em aproximadamente US$ 22 bilhões. Os fundadores da Apple desenvolveram um kit de eletrônica (o Apple I), inaugurando a era dos computadores pessoais. Na época, houve quem questio- nasse a coerência dessa proposta: afinal de contas, para que alguém iria querer um computador em casa? Mas o fato é que a empresa atraiu investidores e decolou com o lançamento do Apple II, em 1977, criando uma máquina capaz 5Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas de rodar programas gráficos, jogos eletrônicos e utilitários e passível de ser utilizada pelos consumidores comuns, sem profundos conhecimentos em informática. Isso desencadeou uma revolução na indústria dos computadores, que atingiu vendas de mais de US$ 1 bilhão em menos de 3 anos (INACIO, 2011). E, de lá para cá, o rol de produtos da Apple não parou de crescer, como você certamente já sabe. Isaacson (2012, documento on-line), biógrafo de Steve Jobs, conta que: […] quando Jobs levou a equipe do Macintosh original para seu primeiro retiro, um membro do grupo perguntou se deviam fazer um estudo de mercado para ver o que o consumidor queria. “Não”, respondeu Jobs, “pois o consumidor não sabe o que quer até que nós lhe mostremos”. E citou a famosa frase de Henry Ford: “Se tivesse perguntado ao cliente o que ele queria, ele teria dito: ‘Um cavalo mais rápido!’” Hoje, resta alguma dúvida de que Jobs tinha razão? O sucesso alcançado pelas inovações e pelos produtos da Apple fala por si só. É importante mencionar, contudo, que a história da Apple é marcada por altos e baixos. A indústria na qual a empresa se insere é caracterizada por intensa concorrência, e, após o lançamento do Apple II, a entrada da IBM no segmento de computadores, em 1981, afetou profundamente a liderança que a companhia de Jobs exercia até então. Uma sequência de lançamento de produtos que não atingiram o desempenho de mercado esperado, associada a outras questões — que incluíam o temperamento complexo de Steve Jobs — levaram a empresa a decidir por afastar Jobs do comando dos negócios, em 1985. Essa decisão, no entanto, não surtiu os efeitos esperados: por mais de uma década, a Apple entrou em uma espiral de resultados negativos, que quase a levaram à falência. Em 1996, Steve Jobs é reconduzido ao comando da Apple, e seu regresso inicia uma nova era na empresa, com uma série de decisões estratégicas que mudariam a face da companhia, devolvendo-lhe o sucesso. As mudanças foram drásticas, as quais incluíram alterações na estratégia dos negócios, na organização do portfólio de produtos, nas formas de precificação, distribuição e comunicação, na organização da cadeia de valor e na reestruturação da própria empresa. Ainda que alguns traços da cultura organizacional da Apple a acompanhem desde sua fundação, como o gosto pela inovação e a originalidade, algumas mudanças culturais promovidas por Jobs foram decisivas para o sucesso da empresa, destacando-se os fatores a seguir. Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas6 � O debate interno de novas ideias foi encorajado e promovido; dessa forma, era incentivado o espírito de equipe e a gestão de conflitos. � Foram criados mecanismos de transmissão das ideias e objetivos por toda a empresa, garantindo que todas as áreas atuem de maneira alinhada às estratégias desta. � Foram instituídos incentivos e recompensas para os bons resultados. Essas modificações, além de proporcionarem aos colaboradores a percepção da importância do trabalho que desempenham, criaram condições para que se trabalhasse de forma mais descontraída e livre, ainda que com uma atitude profissional. Como consequência, tem-se um ambiente propício à inovação e à criatividade, com partilha de ideias e debates (INÁCIO, 2011). De modo específico, no que se refere à inovação, é interessante constatar que a Apple investe bem menos em inovação quando comparada a outras empresas conhecidas; em compensação, gerencia com impecável eficiência o seu processo de inovação, orquestrando de forma produtiva equipes multi- disciplinares. Além disso, outra estratégia da empresa que chama a atenção consiste no fato de, ao longo dos anos, a Apple não ter optado por ser pioneira nos segmentos em que atua. Na verdade, conforme observado por Inácio (2011), a Apple especializou-se em ser a “segunda a chegar” no mercado. Observe que o iPhone, que revolucionou o conceito de smartphone, não foi o primeiro smartphone a surgir no mercado; da mesma forma, o iPod não foi o primeiro leitor de música portátil a ser lançado (lembra-se do Walkman?), embora tenha transformado para sempre o conceito de música digital. O iPad também não foi o primeiro tablet do mundo, muito embora seu lançamento tenha dado o impulso a esse segmento de produto. O fato é que a Apple foi a responsável por revolucionar cada um desses segmentos de produto, com mudanças profundas inclusive no comportamento e nas interações humanas, mas partiu sempre de conceitos existentes. Seus méritos residem na competência para reinventar os equipamentos a partir das vantagens competitivas que a caracterizam: design de vanguarda, experiência do usuário, imagem da marca e diferenciais tecnológicos. O Boticário O Boticário é uma das empresas brasileiras de maior sucesso, e sua trajetória é marcada pela capacidade de inovação de seus colaboradores, inspirados pela figura do bioquímico Miguel Krigsner, fundador da companhia. No ano de 1977, recém-formado, Miguel Krigsner resolveu empreender, abrindo 7Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas uma farmácia de manipulação na rua Saldanha Marinho, centro da capital paranaense, em Curitiba. Ao escolher o nome para o negócio, ele decidiu homenagear os antigos farmacêuticos que manipulavam receitas de forma artesanal — quase mágica. Assim, nasceu O Boticário. Em seu início, o negócio era focado em medicamentos dermatológicos. No entanto, percebendo que a maior parte dos clientes eram mulheres, Miguel Krigsner decidiu inovar, por meio da criação de cremes faciais à base de algas marinhas e colágeno, os quais ele misturava em uma batedeira de bolos nos fundos da farmácia. O sucesso das fórmulas logo se espalhou pela cidade, mudando em definitivo os rumos do negócio. Um ponto decisivo para a história de O Boticário aconteceu em 1979, quando os caminhos de Miguel Krigsner e de Silvio Santos se cruzaram. O dono da emissora de televisão SBT havia desistido de abrir uma marca de perfumes no Brasil, e possuía 60 mil frascos em forma de ânfora, mas a oferta era levar tudo ou nada. De forma ousada, como ocorre em boa parte das histórias de negócios de sucesso, Miguel propôs comprar o estoque sob a condição de devolvê-lo caso não pudesse pagar pela compra — já que não tinha nem dinheiro nem espaço para armazenar tantos itens. O espírito inovador novamente entra em ação, na busca por desenvolver uma fragrância leve, suave e que também tivesse personalidade. Da mistura de ingredientes, testada e incrementada diversas vezes, nasceu Acqua Fresca, uma das fragrâncias mais vendidas no mundo. O ano de 1979 foi marcado ainda por outra iniciativa inovadora da empresa: a abertura da loja que iniciou a maior rede de franquias do Brasil. O lugar escolhido foi o Aeroporto Internacional de Curitiba, um ponto estratégico para disseminar a empresa e seus produtos pelos quatro cantos do mundo. O potencial de expansão da empresa é consolidado em 1982, quando a primeira fábrica de O Boticário é aberta, em São José dos Pinhais, interior do Paraná (BOTICÁRIO, [2018]). A inovação é um dos aspectos mais valorizados pelo Grupo Boticário, que atualmente reúne as marcas O Boticário, Eudora, Quem disse, Berenice?, The Beauty Box, Multi B e Vult. E o mercado reconhece essa vocação: em 2014, OBoticário foi considerado a empresa mais inovadora do Brasil pelo ranking elaborado pela consultoria DOM Strategy Partners, e, mais recente- mente, a empresa recebeu o Prêmio Valor Inovação 2016, que a considerou a sexta empresa mais inovadora do contexto nacional. Esse reconhecimento é consequência de características do grupo, especificadas em seu Relatório de Sustentabilidade (GRUPO BOTICÁRIO, [2017]), tais como: Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas8 � cerca de 70% dos produtos encontrados nas lojas são inéditos no portfólio; � 94,7% dos lançamentos anuais são bem-sucedidos; � o Centro de Pesquisa & Desenvolvimento do grupo é capaz de desen- volver 2.500 projetos ao mesmo tempo; � a integração de Pesquisa & Desenvolvimento com Marketing, Comu- nicação e outras áreas de suporte faz a inovação ser contínua; � a empresa investe em processos de produção que equilibram inovação e sustentabilidade: é o caso das emulsões corporais, que utilizam tecno- logia a frio — reduzindo o uso de matéria-prima em 48% e diminuindo o tempo de fabricação e o consumo de energia em 72%; � O Boticário reconhece que a busca por novidades é propulsora do sucesso e investe 2,5% da receita anual em inovação. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Boticário, inaugurado em 2010, na unidade de São José dos Pinhais (PR), é um dos mais modernos do setor no mundo, contando com 242 colaboradores com diferentes formações e 331 parcerias com universidades e instituições. Essa estrutura, que opera a partir do conceito de inovação aberta, consolida uma história de pioneirismo e inovação: em 2006, a empresa se tornou a primeira no Brasil a desenvolver produtos cosméticos com nanotecnologia aplicada; em 2008, inaugurou o Laboratório de Biologia Molecular, um dos mais avançados do mundo para estudos dos fenômenos bioquímicos envolvidos no envelhecimento da pele e de ingredientes naturais da biodiversidade brasileira (ROS, 2016). No desenvolvimento de novos produtos, O Boticário atua em três frentes principais: matérias-primas, formulações e embalagens. Nesse contexto, uma especial atenção é dedicada a processos que possam contribuir para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis; em 2017, de acordo com o Relatório de Sustentabilidade do Grupo Boticário, 76% de todos os projetos aprovados observavam aspectos de sustentabilidade, e 52% dos produtos efetivamente desenvolvidos reúnem essas características (GRUPO BOTI- CÁRIO, [2017]). Atributos de sustentabilidade são observados em todas as fases do processo, desde a seleção de matérias-primas e fornecedores, a fim de que questões ambientais e sociais sejam consideradas ao longo do desenvolvimento de novos cremes, até maquiagens, loções e fragrâncias mais amigáveis ao meio ambiente. 9Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas O perfil inovador de O Boticário não se resume a seus produtos: a empresa é nacio- nalmente reconhecida por inovar também na publicidade. Em 2015, ao veicular sua campanha para o Dia dos Namorados, O Boticário acabou se tornando alvo de muita polêmica. As peças publicitárias divulgavam a edição limitada das fragrâncias unissex Egeo 7 Tentações, e as propagandas traziam casais heterossexuais e homossexuais trocando presentes. A iniciativa gerou tanta controvérsia que a campanha acabou parando no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR). Embora essa não tenha sido a primeira propaganda brasileira a tratar da diversidade, a atitude demonstra a sensibilidade do Grupo Boticário para lidar com o público nos novos tempos. Empreendedorismo: histórias reais e inspiradoras Empreender é algo tão fascinante quanto desafiador, pois identificar oportuni- dades de negócios e construir soluções para os problemas observados demanda uma potente mistura de visão, paixão, energia, entusiasmo, insight, julgamento e muito trabalho. Assim, boas ideias se tornam realidade, e produzem histórias que encantam e motivam. O empreendedorismo é uma característica humana que mistura estrutura e paixão, planejamento e visão, o acesso a ferramentas e a sabedoria para utilizá-las como estratégia e energia — além de bom-senso e da disposição para assumir riscos (TIDD; BESSANT, 2015). Por vezes, o esforço que o empreendedorismo envolve acaba diluído por impressões e promessas que, em muitos casos, não correspondem à realidade. Quando se pensa em empreender, popularmente, imagina-se uma vida lúdica de aventuras empresariais, na qual uma boa ideia e o devido trabalho transformam uma realidade desinteressante em um sonho próspero e excitante. Obviamente, essa pode ser a verdade para o empreendedor, mas, antes de isso acontecer, é natural que ocorram muitos tropeços, erros, dificuldades e, acima de tudo, muito mais trabalho do que se pode supor. Se, por definição, empreendedo- rismo é o processo de iniciar novos negócios ou implementar inovações em empresas já existentes, trata-se, portanto, de algo que também envolve risco. É necessário, então, combater a falsa impressão de que o empreendedorismo é algo simples e intuitivo, compreendendo que é preciso superar muitas coisas até chegar ao sucesso. Empreender significa percorrer um caminho árduo, Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas10 porém pleno em possibilidades, que pode, sim, com todas essas variantes, converter-se em um futuro próspero e melhor. Para ilustrar esses argumentos, conheça dois casos de empreendedorismo no contexto brasileiro: a Cacau Show e o Instituto Beleza Natural. Cacau Show A história da Cacau Show está intimamente relacionada à história de seu funda- dor, Alexandre Tadeu da Costa. Filho caçula de um casal empreendedor — pai tecelão e mãe revendedora porta a porta —, Alê Costa demonstrou desde muito jovem o perfil que o levou ao sucesso no comando de uma das maiores redes de lojas de chocolates do mundo. Aos 13 anos, calibrava pneus em um posto de gasolina às sextas-feiras, e, dessa forma, conseguiu comprar sua primeira bicicleta. Além disso, aos 14 anos, auxiliava sua mãe nas vendas, coordenando o registro de pedidos e providenciando a embalagem e a entrega dos itens. Em 1988, quando Alexandre estava com apenas 17 anos, decidiu reven- der chocolates de uma indústria, perspectivando conquistar independência financeira, aproveitando a Páscoa daquele ano. Emprestou de seu tio o valor necessário para a aquisição da matéria-prima, e, em sua primeira incursão autônoma, visitou clientes de pequenos estabelecimentos comerciais e vendeu, em poucos dias, 2 mil ovos de chocolate. O que Alexandre não havia previsto era que, muito embora em seu catálogo estivesse anunciado que a empresa fabricante produzia ovos de 50 gramas, na realidade os produtos não eram fabricados com esse tamanho, e a fornecedora não teria condições de atender ao pedido. Com receio de que isso compro- metesse seu nome no ramo, saiu em busca de uma solução para o problema, praticamente às vésperas da Páscoa. Comprou a matéria-prima e, contando com a ajuda de uma senhora que fazia chocolates caseiros (D. Cleuza, que se solidarizou com seu problema), após dois dias e duas noites de trabalho ininterrupto, os pedidos foram entregues conforme prometido. Essa experiência revelou a Alexandre a existência de um nicho de mercado inexplorado: o de chocolates artesanais. Percebendo o potencial de consumo e as boas margens de lucro dos produtos, em 1989 nascia oficialmente a Cacau Show, com uma trajetória de crescimento inspiradora para qualquer empreendedor. Visando a não depender de demandas sazonais — como é o caso da Páscoa, para os chocolates —, Alexandre buscou desenvolver outros produtos, além daqueles oferecidos nesse período. Assim, o primeiro produto da empresa vendido ao longo do ano foi o Cerejão, um bombom com recheio 11Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas mais barato do que a massa de chocolate, podendo ser oferecido ao mercado consumidor por um preço mais acessível. A distribuiçãoera feita em padarias e pequenos mercados do próprio bairro no qual estava instalada a sede da empresa, e o próprio Alexandre levava os produtos para os balcões dos estabelecimentos, onde aguardava na fila para ser atendido. Essa proximidade com o mercado foi importante para a Cacau Show, por proporcionar a Alexandre o conhecimento sobre o perfil dos compradores de chocolates recheados e quais as dificuldades e oportunidades do negócio, e essa expertise contribuiu para a elaboração do planejamento da empresa, bem como para o treinamento da força de vendas que atuava diretamente nas ruas. O conhecimento do mercado consumidor foi complementado pela busca de informações técnicas sobre o produto: como fabricar, conservar, embalar, entre outras questões. Primando pela qualidade dos produtos, Alexandre realizou diversos cursos, desde aqueles oferecidos por grandes fornecedo- res até capacitações normalmente voltadas para donas de casa. Assim, com apenas dois anos de existência, em 1990, a Cacau Show fechou contrato com as Lojas Brasileiras, grande rede nacional de varejo, passando a integrar a Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Balas e Derivados (Abicab), que é responsável por agregar as principais empresas e indústrias brasileiras do setor, promovendo produtos, trabalhando em conjunto com agências regulamentadoras (p. ex., com ações como controle de padrões de qualidade), entre outras atividades. Com uma perspectiva visionária e um foco intenso no controle dos custos da empresa, Alexandre planejou para 1996 o aumento da capacidade de pro- dução, a redução dos custos fixos, a automatização da produção, bem como a padronização dos produtos. Tudo isso resultou no aumento do faturamento da empresa, e, com o crescimento dos negócios, o empreendedor percebeu que deveria delegar tarefas rotineiras, o que resultou em uma estrutura ad- ministrativa ágil e enxuta. A proposta inicial da Cacau Show, ao produzir chocolates artesanais, consistia em atrair uma massa de consumidores que estava fora do radar da empresa referência do ramo: a Kopenhagen. Com chocolates que custavam um quinto dos produtos semelhantes na concorrência, a Cacau Show atingiu consumidores principalmente na classe econômica C, que representam uma expressiva parte da população brasileira. A partir dessa oportunidade existente, um fato marcante para o ritmo de expansão da Cacau Show aconteceu no ano de 2003: a empresa passou a utilizar o modelo de franquias para ampliar sua cobertura de mercado. Com o modelo de franquia, a empresa pôde atingir os ganhos de escala necessários para manter os preços dos produtos acessíveis Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas12 a uma classe C com um poder de consumo cada vez maior (REZENDE; MELLO, 2016). O fato é que os produtos da Cacau Show se popularizaram inclusive entre as classes A e B, e isso teve reflexos óbvios para o crescimento dos negócios. Em 2008, ano em que foram abertas quase 300 lojas, as receitas da Cacau Show superaram pela primeira vez as da Kopenhagen, que faturou R$ 154 milhões com suas 250 lojas. Atualmente, a Cacau Show conta com mais de 2 mil lojas, entre franqueadas e lojas próprias, além de trabalhar com a venda direta e vendas in-company. Por ano, são produzidas em média 22 mil toneladas de chocolate, e, em 2017, o faturamento da empresa chegou a R$ 3,3 bilhões. Com uma concepção de que não vende chocolates, mas sim momentos especiais, a Cacau Show prepara-se agora para internacionalizar os negócios. Instituto Beleza Natural O cabelo é um dos elementos mais visíveis e destacados do corpo, pois, por ser uma expressão de personalidade, determina diferenças culturais e biológicas e reforça a autoestima. Os cabelos são um ícone identitário, com simbologias que variam entre distintas culturas, e, em todo e qualquer grupo étnico, apresentam características como visibilidade, crescimento, diferentes cores e texturas, possibilitando o uso de diversas técnicas de manipulação. No caso dos cabelos crespos e volumosos, a cultura ocidental, por muito tempo — e ainda hoje —, impôs a necessidade de alisamento dos fios, e, prin- cipalmente, as mulheres se submeteram ao uso de produtos diversos com essa finalidade. É o caso da carioca Heloisa Assis, conhecida como Zica: nascida em uma família humilde com 12 irmãos, foi babá, faxineira e empregada doméstica, e afirma que, muito embora quisesse manter seu cabelo crespo natural, precisou alisar os fios para ser aceita em empregos. Sem se conformar com essa situação, e ciente de que o mercado não oferecia produtos capazes de tratar adequadamente cabelos como o seu, Zica Assis passou a perseguir um sonho: desenvolver um produto que efetivamente tratasse os cabelos crespos e volumosos. O primeiro passo no caminho para transformar o sonho em realidade foi dado aos 21 anos, quando Zica conseguiu um emprego em um salão de beleza, com o desejo de conhecer melhor o próprio fio. A empreendedora passou, então, a desenvolver seu produto em casa: com- prou matéria-prima, e com uma bacia e uma colher de pau, começou a fazer testes no próprio cabelo e no de seu irmão mais novo. Passados 10 anos, muitos experimentos e muita queda de cabelo, Zica finalmente chegou à fórmula do Super-Relaxante. O produto realmente funcionava, e isso não passou desper- 13Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas cebido: amigas e conhecidas passaram a pedir a Zica o produto, pois também queriam sentir a sensação de cabelos soltos e brilhantes balançando nas costas. Isso trouxe uma nova ideia: abrir o próprio salão, especializado em cabelos crespos e cacheados. Nascia assim o Beleza Natural. O primeiro desafio do negócio consistiu em levantar o dinheiro necessário para começar a empresa. Assim, Zica e seu marido, Jair Conde, venderam o único bem da família, um Fusca. Entraram na sociedade também o irmão de Zica, Rogério Assis, e sua amiga, Leila Velez. Além de um pequeno aporte financeiro, ambos contribuíram com a empresa de uma forma inusitada: por serem ex-funcionários do McDonald’s, trouxeram um processo completamente inovador para a prestação dos serviços, semelhante a uma linha de montagem, além da preocupação com o atendimento e os rígidos padrões de qualidade. Para empresas do segmento, na época, essa proposta era inédita, e contribuiu de maneira decisiva para o sucesso dos negócios. O primeiro salão foi aberto no Rio de Janeiro, em 1993, e não demorou para as filas começarem a se formar e a equipe precisar trabalhar até de ma- drugada para atender a toda a demanda. Os anos que se seguiram foram de muito trabalho, e o pequeno salão de beleza de Zica virou o Instituto Beleza Natural, maior rede de salões especializada em cabelos crespos e ondulados no Brasil. Hoje, são mais de 40 unidades de negócios, que atendem a mais de 130 mil clientes por mês, com mais de 50 produtos de tratamento para ajudar mulheres a viverem seus dias com mais autoestima e cachos soltos. A empresa possui, ainda, um Centro de Desenvolvimento Técnico (CDT), que ministra cursos para os colaboradores (MELO, 2015). Em 2013, a revista americana Forbes incluiu Zica Assis na lista das 10 mulheres de negócios mais poderosas do Brasil. Em 2014, Leila Velez foi escolhida pelo Fórum Econômico de Davos como uma das jovens líderes (menos de 40 anos) mais influentes no mundo. E, em 2017, um marco histórico para a empresa: é inaugurado o primeiro instituto em Nova York, nos Estados Unidos, começando a expansão internacional do Beleza Natural. Inovação e empreendedorismo: a chave para o sucesso Inovação e empreendedorismo são fatores que devem caminhar juntos. Ino- vação é a ferramenta específica dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram as oportunidades para um negócio ou serviço diferente. Assim como a inovação é importante para os novos negócios, o empreendedorismo Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas14 é relevante para as empresas já estabelecidas,que precisam renovar o que oferecem e as formas como criam e entregam essa oferta. Empreendedores internos, também conhecidos como intraempreendedores, fornecem a ini- ciativa, a energia e a visão necessárias para gerar e implementar ideias novas, por vezes arriscadas, mas necessárias para a competitividade e a sobrevivência dos negócios (TIDD; BESSANT, 2015). Os casos de inovação e de empreendedorismo apresentados neste capítulo são excelentes exemplos disso. Observe como nem sempre é fácil separar uma coisa da outra: Miguel Krigsner, fundador do Grupo Boticário, é empreendedor ou inovador? E Steve Jobs? E Zica Assis? De fato, o sucesso alcançado pelas empresas mencionadas é resultado de uma mescla desses atributos, uma vez que eles são empreendedores com um contínuo e renovado potencial de inovação. A cultura da inovação que caracteriza a 3M, por exemplo, proporciona à empresa benefícios e resultados das mais diversas ordens. Para além dos resultados financeiros, que obviamente movem o mundo dos negócios, as estra- tégias de inovação da 3M já foram premiadas, por diversas vezes, em rankings, como o do prêmio Best Innovator, um estudo realizado pela consultoria A.T. Kearney em parceria com a Época Negócios no Brasil. O prêmio investiga 5 pilares da organização (SOARES; REIS; CUNHA, 2016). � A estratégia de inovação é desenvolvida e implementada pela alta gestão? � A cultura de inovação está firmemente inserida dentro da organização como um fator-chave na competência de inovação? � Um rigoroso processo de gestão do ciclo de vida da inovação aumenta as margens de lucro provenientes da inovação? � A empresa alavanca fatores que permitem implementar com sucesso as inovações? � A inovação é continua e é implementada com sucesso? Esse tipo de reconhecimento favorece a atuação empresarial, na medida em que fortalece a marca junto a clientes, colaboradores, fornecedores e in- vestidores, o que acaba impulsionando os negócios e reforçando as condições para a inovação. Isso se reflete em investimentos constantes em Pesquisa e Desenvolvimento por parte da empresa. Para que você tenha uma noção, em 2015, a 3M investiu cerca de 6% das vendas mundiais em P&D, o que corresponde a US$1,8 bi- lhão. Como resultado, além da constante renovação do portfólio da empresa, foram registradas dezenas de patentes e lançados de 80 a 100 novos produtos por ano apenas no Brasil. Isso acaba tendo reflexos para a competitividade e 15Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas para a saúde financeira dos negócios: 35% das vendas globais da 3M vem de produtos lançados nos últimos cinco anos, e a meta da empresa é elevar esse índice para 40% (VASCONCELOS, 2016). Outro importante benefício proporcionado pelo investimento em inovação reside na possibilidade de ditar as tendências de mercado. Isso é particularmente observado no caso da Apple, pois, embora atue em segmentos absurdamente competitivos, a empresa se destaca a ponto de a concorrência procurar produzir equipamentos semelhantes, os varejistas lutarem para obter a exclusividade na comercialização de seus produtos e os clientes investirem somas expressivas de dinheiro para adquirir os cobiçados itens da marca — que, aliás, figura entre as mais valiosas do mundo. É interessante observar que, diante do estrondoso sucesso observado em anos recentes, em julho de 1997, a Apple havia acumulado prejuízos de cerca de US$ 1,6 bilhão, as receitas caíam a um ritmo constante, as demissões eram frequentes — como uma tentativa de reduzir custos — e os analistas previam que a empresa decretaria falência em, no máximo, 6 meses. As mudanças implementadas por Steve Jobs, notadamente no que se refere à construção de um clima favorável à inovação e à retomada dos processos criativos, proporcio- naram a guinada que a Apple precisava para voltar a ser lucrativa (INCIO, 2011). Aliás, aqui cabe uma reflexão: será que teríamos o mesmo patamar tecno- lógico nas indústrias da música, do cinema, da televisão e da telefonia móvel se não fossem as inovações proporcionadas pela Apple e por seu visionário fundador? Para Gallo (2010), a resposta é não: a probabilidade é que ainda não teríamos uma experiência boa de navegação no telefone, por exemplo, e não desfrutaríamos dos aplicativos de terceiros em relação a qualquer ferro-velho que as operadoras nos davam. Para a autora (2010), sem Steve Jobs, o mundo seria um lugar menos colorido; e precisamos concordar com ela. Se, por um lado, a inovação permite ditar tendências, como no caso da Apple, inovar também é relevante para acompanhar as mudanças sociais e econômicas, e o caso de O Boticário ilustra bem esse argumento. Os investi- mentos feitos pelo Grupo Boticário na inovação de seus produtos permitem que a empresa esteja alinhada a importantes tendências recentes, tais como as citadas por Ros (2016) a seguir: � A busca por qualidade de vida, saúde, bem-estar e melhoria da imagem pessoal é cada vez mais expressiva, demandando sofisticação tecnológica dos produtos voltados a esses fins. � Os consumidores têm se mostrado a cada dia mais preocupados com o uso de matérias-primas e princípios ativos de origem natural, com a Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas16 não utilização de animais nas pesquisas e preferindo embalagens reci- cláveis. Ou seja, produtos pautados em princípios da sustentabilidade — como preconizado pelo Grupo Boticário — terão maior aceitação pelos consumidores. � Além disso, existe uma parcela da população disposta a pagar mais por produtos exclusivos, que se ajustem às necessidades específicas de cada indivíduo, desde faixa etária (crianças, adolescentes, idosos), passando por diferenças de sexo e até de etnia (pele negra, hispânica, etc.). Para acompanhar tais tendências, os processos de inovação devem ser permanentes, e o Grupo Boticário tem demonstrado grande competência na implementação dessa concepção. Tem dúvidas sobre a veracidade dessa afirmação? Os números da empresa falam por si: são mais de 4 mil lojas, 40 toneladas de matérias-primas e mais de 300 milhões de itens produzidos em 2017, além da presença em 12 países, empregando 10 mil colaboradores diretos e outros 30 mil indiretos. Em 2017, apesar das oscilações vividas pelo mercado de cosméticos — que teve um pequeno crescimento de 2,8% depois de 2 anos de queda, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) —, o Grupo Boticário cresceu 7,5% em relação a 2016, alcançando um faturamento de R$ 12,3 bilhões. Foram lançados, ainda, 1.438 produtos, além de destinar 2,5% do faturamento para Pesquisa e Desenvolvimento. Foram abertos 127 novos pontos de venda, 61 deles lojas novas, mais do que o dobro planejado (GRUPO BOTICÁRIO, [2017]). Outro fator crucial para o sucesso dos negócios consiste na capacidade da empresa de construir e consolidar sua marca. Se, internacionalmente, a Apple é uma referência nesse quesito, no contexto brasileiro a Cacau Show merece reconhecimento. Sua marca é top of mind na categoria lojas de chocolate pelo Datafolha. Esse resultado, obviamente, não é fruto do acaso, mas sim consequência de um trabalho que inclui investimentos em publicidade, mas não se resume a eles; mais do que as propagandas, o reconhecimento da Cacau Show por parte dos consumidores deriva dos investimentos da empresa em qualidade de chocolate e em design — o empreendimento de Alexandre Costa ganhou oito prêmios de design entre 2010 e 2011. O sucesso da empresa é, em grande medida, reflexo do perfil de seu funda- dor, que preside a empresa e a comanda, atualmente com uma equipe composta por dois vice-presidentes e 14 diretores, um quadro muito enxuto em relação ao porte do negócio, que lhe proporciona um processo interno de decisão muito rápido. Os produtos, originalmente pensados para atender à classe C, possuem qualidade que supre os níveis de exigência da classe A, mas com 17Casos de inovaçãoe empreendedorismo nas empresas preços competitivos para as classes B e C. Para Alexandre Costa, a Cacau Show resolveu o dilema entre produtos para consumo e para presente, com o seguinte mix de vendas: a classe C compra Cacau Show 65% para presente e 35% para consumo; a classe B compra os produtos da empresa com intenções meio a meio; e classe A compra 65% para consumo e 35% para presente (REZENDE; MELLO, 2016). O posicionamento estratégico diferenciado da Cacau Show, que direciona seus produtos a diferentes classes de consumidores com uma mesma proposição de valor, em vez de escolher somente um segmento, é um ponto marcante no sucesso dessa empresa brasileira em vias de expansão internacional. E, sem dúvidas, a dedicação e o emprenho de Alexandre Costa, empreendedor nato, foram atitudes importantes para que a empresa pudesse superar desafios e conquistar espaço no tão competitivo mercado de chocolates. O fato é que, no mundo dos negócios, não há “receita de bolo” a ser seguida: se, para a Cacau Show, a amplitude de público-alvo funciona, no caso do Instituto Beleza Natural, a realidade é bem diferente. Ao direcionar esforços para mulheres com cabelos cacheados e crespos, a empresa atua de maneira absolutamente focada em seu público-alvo e demonstra como a escolha de um segmento específico também pode representar uma estratégia bem-sucedida. A opção por esse público pelo Beleza Natural, obviamente, é pautada na existência de um amplo mercado; embora não existam dados oficiais em relação ao tipo de cabelo predominante no Brasil, de acordo com o IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) se autodeclara negra. Apoiadas em pesquisas internas, as sócias do Instituto acreditam que 7 a cada 10 pessoas possuem cabelos de ondulados a crespos. O sucesso do Instituto Beleza Natural também deriva de sua capacidade de estabelecer parcerias, com entidades que incluem a Endeavor, a Universidade de Brasília (UnB) e o GP Investiments. Tais instituições proporcionaram ao negócio aporte financeiro e conhecimentos sobre o mercado e sobre a gestão dos negócios, viabilizando a criação de planos de expansão e de divulgação do Instituto. Com um faturamento anual na casa dos milhões de reais, a história de empreendedorismo do Instituto Beleza Natural é inspiradora por nos fazer perceber o quão longe uma doméstica, um taxista e dois atendentes de lanchonete conseguiram chegar. Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas18 BOTICÁRIO. Histórias que tocam a pele: e o coração. O Boticário, São Paulo, [2018]. Disponível em: https://www.boticario.com.br/nossa-historia. Acesso em: 25 maio 2019. GALLO, C. A arte de Steve Jobs: princípios revolucionários sobre inovação para o sucesso em qualquer atividade. São Paulo: Lua de Papel, 2010. GRUPO BOTICÁRIO. Relatório de sustentabilidade 2017: o valor da beleza transforma o mundo ao nosso redor. [S. l.: s. n.], [2017]. Disponível em: http://www.relatoriogrupo- boticario.com.br/wp-content/uploads/2017/12/BOT-rel2017-PORTcompl-120918ic.pdf. Acesso em: 24 maio 2019. INÁCIO, M. S. do C. Como a estratégia seguida pela Apple se tornou um caso de sucesso. 2011. Dissertação (Mestrado em Gestão) — Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa, 2011. Disponível em: https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/4077/1/APPLE_MIRIAM. pdf. Acesso em: 24 maio 2019. ISAACSON, W. As verdadeiras lições de liderança de Steve Jobs. Harvard Business Review, [s. l.], 4 abr. 2012. Disponível em: http://hbrbr.uol.com.br/as-verdadeiras-licoes-de- -lideranca-de-steve-jobs/. Acesso em: 25 maio 2019. MELO, L. Beleza natural: a história da rede de cabelereiros que levantou a autoestima das brasileiras. Rio de Janeiro: Primeira Pessoa, 2015. MOREIRA, D. A.; QUEIROZ, A. C. S. (coord.). Inovação organizacional e tecnológica. São Paulo: Thomson Learning, 2007. REZENDE, J. F.; MELLO, S. Um show de cacau. GV casos: Revista Brasileira de Casos de Ensino em Administração, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 1–15, jul./dez. 2016. DOI: http://dx.doi. org/10.12660/gvcasosv6n2c18. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index. php/gvcasos/article/view/64545/63213. Acesso em: 25 maio 2019. ROS, A. R. O crescimento da indústria de cosméticos no Brasil no século XXI. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Economia) — Universidade Federal do Pa- raná, Curitiba, 2016. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/45699. Acesso em: 25 maio 2019. SOARES, J. M.; REIS, D. R.; CUNHA, J. C. A utilização da ambidestralidade como vantagem competitiva sustentável: uma investigação do processo de inovação da 3M do Brasil. Revista Espacios, [s. l.], v. 37, n. 18, p. 22, 2016. Disponível em: http://www.revistaespacios. com/a16v37n18/16371822.html. Acesso em: 25 maio 2019. TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da inovação. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. VASCONCELOS, Y. Renovação intensa. Revista Pesquisa Fapesp, São Paulo, ed. 243, maio 2016. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/2016/05/19/renovacao-intensa/. Acesso em: 25 maio 2019. 19Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas Conteúdo: EMPREENDEDORISMO Ligia Maria Affonso Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer que a ação básica do empreendedorismo abrange uma nova entrada. Identificar como os recursos estão envolvidos na geração de oportunidades. Analisar como uma empresa pode criar um pacote de recursos valioso, raro e inimitável. Introdução O ambiente turbulento, a volatilidade dos mercados, as mudanças de comportamento do consumidor, os ciclos de vida mais curtos de pro- dutos e serviços, o avanço da tecnologia e o crescente aprimoramento da concorrência exigem das empresas atitudes proativas no sentido de lançar novidades que atendam às necessidades do mercado, saindo na frente e se destacando junto à concorrência. No entanto, as empresas devem estar atentas a todos os aspectos que envolvem a geração e a exploração de novas entradas, uma vez que qualquer falha nesse sentido pode expor o empreendedor a um grande risco, tornando o novo produto, serviço ou empresa inviável financeiramente. Neste capítulo, você vai estudar aspectos relacionados à nova entrada de um produto, serviço ou empresa no mercado. Você vai também verificar o papel dos recursos na geração de oportunidades e como a empresa pode criar um pacote de recursos valioso, raro e inimitável. Empreendedorismo e a nova entrada O cenário atual tem sido marcado por muitas transformações, que acontecem em um ritmo cada vez mais acelerado e que afetam diretamente a vida das pessoas, das sociedades e das empresas. Tais transformações têm modifi cado também a forma como as pessoas consomem produtos e serviços, que se tornam ultrapassados mais rapidamente, gerando nos consumidores novas necessidades a serem atendidas. Essas necessidades exigem das empresas maior capacidade de adaptação e de inovação e novas formas de fazer negócio. Nesse sentido, todo o esforço direcionado para a satisfação das necessidades do mercado é fundamental para a sobrevivência e competitividade das empresas. Ou seja, todo esforço empreendido pode ser considerado estratégico e necessário para que a empresa continue no mercado. Estratégia é a ação ou o caminho que guia as decisões e ações da empresa no sentido de seus objetivos. Ou seja, sua explicitação mostra o que se deseja para o futuro da empresa e os meios para alcançar o objetivo desejado, conforme lecionam Nickels e Wood (1999). Por sua vez, a competitividade é a capacidade que a empresa possui de elaborar e implementar estratégias que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, sua sustentabilidade no mercado frente à concorrência, conforme apontam Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1995). Assim, a criação de algo novo é o que alimenta a expectativa de as empresas aumentarem suaparticipação no mercado e sua lucratividade. Cabe destacar que a vantagem competitiva de uma empresa está diretamente relacionada à sua capacidade de introduzir algo novo no mercado que atraia a atenção dos consumidores e que remunere os investimentos feitos pela empresa, conforme leciona Baxter (2003). Mas, você sabe o que é vantagem competitiva? Vamos destacar aqui duas definições do termo: Para Maximiano (2012), trata-se do conjunto de atributos da empresa e de seus produtos e serviços que influenciam a decisão do cliente, ou seja, é o motivo pelo qual os clientes preferem um produto ou serviço, em vez de outro. Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas2 Para Porter (1985), a vantagem competitiva é o resultado do valor que a empresa cria para seus clientes em oposição ao custo que tem para criá-la. Dessa forma, a elaboração de uma estratégia competitiva é essencial para a empresa criar uma posição única e valiosa. Cabe destacar que a empresa pode obter vantagem competitiva pelos se- guintes meios: inovação, eficiência na administração de custos, eficácia de suas ope- rações e qualidade de seus produtos, serviços e processos; informação e conhecimentos disponíveis; tecnologia; relacionamento que mantém com seus clientes; estratégias de diferenciação de produtos e serviços; entre outros. Obter vantagem competitiva por meio da diferenciação de produtos e serviços, por exemplo, é oferecer produtos ou serviços que agreguem valor ao cliente e que atendam exatamente às suas necessidades — nem mais, nem menos do que elas. É também trabalhar com preços que aumentem a lucratividade da empresa — compreendendo todos os custos envolvidos — e, principalmente, criar um diferencial que seja difícil de ser imitado, conforme apontam Kotler e Keller (2007). A diferenciação, em sua forma mais básica, refere-se aos atributos que um produto possui e que o distinguem do produto da concorrência, tornando-o único e difícil de ser copiado, conforme lecionam Kotler e Keller (2007). Você já sabe que o empreendedorismo possui papel importante na economia de um país, uma vez que a criação de novas empresas impulsiona o mercado, gerando novas opções de produtos ou serviços que atendam às necessidades dos consumidores. Nesse sentido, podemos definir empreendedorismo como a capacidade de reconhecer uma oportunidade para a criação de algo novo, um novo mercado, um novo modo de produção ou o uso de uma nova matéria- -prima, conforme lecionam Baron e Shane (2007). 3Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas Assim, conforme Hisrich, Peters e Shepherd (2014), a nova entrada é con- siderada umas das ações mais básicas do empreendedorismo e se refere à: oferta de um novo produto em um novo mercado ou em um mercado já existente; oferta de um produto existente em um mercado novo; ou criação de uma nova empresa. É preciso ter em mente que o “novo”, seja um produto, um mercado ou uma empresa, possui dois lados antagônicos. De um lado, o “novo” representa a possibilidade de a empresa se diferenciar da concorrência. Por outro lado, o “novo” pode ser um desafio para o empreendedor, pois gera incerteza em torno do novo produto ou serviço, requerendo a mobilização de mais recursos que permitam que a nova entrada seja explorada com sucesso, conforme lecionam Hisrich, Peters e Shepherd (2014). A criação de algo novo, seja um produto, serviço ou empresa, ou a extensão destes em uma nova versão, deve representar uma melhoria radical das opções atuais, capaz de captar novos clientes e mercados, não se limitando a substituí-las, conforme apontam Norton e Kaplan (1997). Cabe destacar que, para gerar e explorar uma nova entrada, é necessário ter uma estratégia empreendedora, que podemos definir como um conjunto de decisões, ações e reações cujo foco está nos benefícios do novo produto, serviço, mercado ou empresa, bem como na redução de seus custos, segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2014). Veja na Figura1 os componentes de uma estratégia empreendedora e seus principais estágios. Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas4 Figura 1. Estratégia empreendedora: geração e exploração de oportunidades de novas entradas. Fonte: Hisrich, Peters e Shepherd (2014, p. 47). Estágio 3: malha de realimentação de recursos Estágio 1: geração da nova entrada Estágio 2: exploração da nova entrada Conhecimento Outros recursos Pacote de recursos Estratégia de entrada Avaliação da nova oportunidade de entrada Estratégia de redução de riscos Organização Desempenho da empresa Ainda de acordo com Hisrich, Peters e Shepherd (2014), os principais estágios da estratégia empreendedora são: Estágio 1 — geração de uma nova oportunidade de entrada: é decorrente da combinação de conhecimentos e outros recursos que o empreendedor possui, que gera um pacote raro, valioso e difícil de ser imitado. Estágio 2 — exploração de uma nova oportunidade de entrada: exige uma estratégia de entrada e de redução de riscos e depende da organi- zação da empresa e da competência do empreendedor e de sua equipe administrativa para o bom desempenho nesse sentido. Estágio 3 — malha que retroalimenta as informações sobre a geração e a exploração de uma nova entrada voltada para o estágio 1: o empreen- dedor deve estar sempre preparado para gerar e explorar várias novas entradas ao longo do tempo, pois, ao se limitar a apenas uma nova entrada, corre o risco de levar a empresa a uma situação de declínio, quando o ciclo de vida útil do produto entrar na maturidade e decair. Isso quer dizer que as empresas precisam introduzir continuamente algo novo para evitar que concorrentes mais agressivos tomem parte de seu mercado, conforme aponta Baxter (2003). 5Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas Segundo Porter (1985), não existe uma receita ou método padrão para as empresas alcançarem vantagem competitiva, mas é preciso saber onde buscar os ingredientes. Recursos na geração de novas oportunidades Você sabe que uma empresa não funciona sem recursos, certo? São eles os elementos básicos para que qualquer empresa possa ter um desempenho satisfatório e sustentável. Podemos defi nir recurso como uma força que ajuda a empresa a por em prática suas estratégias competitivas. Trata-se de ativos tangíveis e intangíveis de uma empresa, como os profi ssionais e a cultura organizacional, respectivamente, que ajudam no alcance dos objetivos de forma efi ciente e efi caz. Assim, é possível dizer que os recursos são fontes de vantagem competitiva, uma vez que exercem impacto direto na atratividade da empresa, levando a mesma a alcançar altos níveis de rentabilidade, conforme apontam Barney e Hesterly (2010) e Oliver (1997). Você pode estar se perguntando: de que forma os recursos podem influen- ciar a rentabilidade da empresa? Existem quatro pontos de vista que podem explicar esse fato, segundo Wernerfelt (1984): Recursos como inputs (entradas): a produção e o controle a montante dos recursos por um número reduzido de produtores (ou mesmo por um grupo monopolista) leva à redução dos retornos para quem adquire/ utiliza tais recursos. Recursos como outputs (saídas): a empresa que utiliza determinado recurso para atender a um único mercado de escoamento (ou seja, um único cliente) ganha menos do que ganharia caso tivesse mais clientes a quem vender o seu produto. Recursos alternativos fazem com que os retornos esperados do detentor de determinado recurso sejam diminuídos. O fato de uma empresa dispor de um recurso ainda não disponível aos seus concorrentes (ou seja, a posição de pioneiro) cria vantagens competitivas na forma de custos adicionais e/ou limitação nos bene- Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas6 fícios para os adquirentes posteriores, caracterizando-se como uma proteção ou barreira de posição do recurso, permitindo,assim, retornos potencialmente elevados. Assim, quanto maior for a capacidade de um recurso, de forma direta ou indireta, de aumentar as dificuldades dos concorrentes, aumentar os ganhos da empresa que o detém e gerar vantagem competitiva, maior será sua atrati- vidade. A experiência de produção, as patentes e a liderança tecnológica são exemplos de recursos, conforme aponta Wernerfelt (1984). Os recursos podem ser classificados de diversas formas. Veja a classificação de acordo com Grant et al. (2006): recursos financeiros; físicos; humanos; tecnológicos; reputação; organizacionais. Barney e Hesterly (2010), por sua vez, subdivide os recursos em três grupos: recursos físicos, que são os equipamentos, máquinas e materiais; recursos humanos, que são as pessoas, com suas experiências e relações; e recursos organizacionais, como o planejamento, a coordenação, etc. Com relação aos atributos dos recursos, conforme lecionam Dierickx e Cool (1989), para que os recursos sejam capazes de atingir vantagem competitiva, eles devem ser não comercializáveis, sendo produzidos e criados internamente na empresa, não imitáveis, ou seja, difíceis de serem imitados, e não substituí- veis, ou seja, serem únicos. Já para Grant et al. (2006), os recursos devem ser: duradouros, ou seja, demorar a perder sua utilidade; ocultos, dificultando sua cópia pela concorrência; não transferíveis, ou seja, difíceis de serem adquiridos; não imitáveis, sendo desenvolvidos internamente pela empresa. No entanto, para que os recursos atuem como vantagem competitiva sus- tentável para uma empresa, ou seja, para que se forme um pacote de recursos que leve a empresa a um desempenho superior, segundo Barney e Hesterly (2010) e Hisrich, Peters e Shepherd (2014), tais recursos devem ser: 7Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas Valiosos: devem possibilitar a busca de oportunidades, minimizando os efeitos das ameaças, bem como permitir que a empresa ofereça produtos ou serviços com valor agregado aos clientes e aumentar a rentabilidade da empresa, reduzindo os custos. Raros: devem ser escassos, ou seja, disponíveis a poucos ou a nenhum concorrente ou possível concorrente. Inimitáveis: devem ser difíceis de serem reproduzidos, ou onerosos demais para a concorrência ou os possíveis concorrentes. Não substituíveis: ou seja, devem ser únicos. Cabe destacar que esses recursos, para que se traduzam em um pacote de recursos significativo para o empreendedor, devem ser combinados. Isso quer dizer, por exemplo, que uma equipe de profissionais altamente experien- tes e competentes, combinada a uma cultura organizacional que estimule o trabalho em equipe, a comunicação e a criatividade, pode gerar um impacto muito maior na empresa. Ou seja, os recursos assumem maior amplitude se combinados adequadamente. Em resumo, para que contribuam para o alto desempenho de uma empresa, destacando-se como um diferencial competitivo junto à concorrência e por um longo período de tempo, os recursos devem ser valiosos, raros, inimitáveis e insubstituíveis, conforme lecionam Barney e Hesterly (2010) e Hisrich, Peters e Shepherd (2014). Segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2014), o termo recurso empreendedor corresponde à possibilidade de se obter e, depois, recombinar os recursos em um pacote valioso, raro e inimitável. Pacote de recursos Você já viu que os recursos são componentes fundamentais para o sucesso de qualquer empreendimento, seja ele pequeno, médio ou grande, principalmente quando estes são combinados e bem administrados, formando um pacote de recursos valioso, raro e inimitável. Porém, você já se perguntou qual seria a Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas8 base desse recurso empreendedor tão relevante e essencial nos dias de hoje? Se você respondeu que é o conhecimento, acertou! O conhecimento é a base do recurso empreendedor e, por si só, já é valioso. O conhecimento adquirido ao longo do tempo, por meio da experiência, e que está na mente do empreendedor, é diferenciado, ou seja, é único na vida dessas pessoas e, por isso, é raro. Este é um conhecimento difícil de ser transmitido a outras pessoas e, por isso, é mais difícil de ser copiado. Isso explica o por- quê de o conhecimento ser tão importante para gerar um pacote de recursos que possibilite que um novo empreendimento seja criado com sucesso e se mantenha sustentável. Mas, você pode estar se perguntando: apenas os empreendedores e/ou em- presas experientes é que geram as novas entradas? Claro que não! Pesquisas afirmam que as inovações mais radicais surgem no ambiente externo às empresas. Cabe destacar que o conhecimento formal também é importante para o empre- endedor, pois o reconhecimento de uma oportunidade resulta da combinação entre conhecimentos formais e as experiências que o empreendedor possui. Assim, o conhecimento é importante não só no processo de reconheci- mento de uma oportunidade como também na geração de novas entradas. Geralmente, ao pensar em criar algo novo, o empreendedor recorre primeiro ao conhecimento adquirido com a experiência, aquele que está nele, que é único e não está em nenhum manual ou sala de aula, conforme lecionam Hisrich, Peters e Shepherd (2014). O empreendedor precisa ter o hábito de pesquisar e buscar conhecimentos na área em que atua para poder inovar. A criatividade, sozinha, não é capaz de transformar boas ideias em oportunidades de negócios e boas oportunidades em novas entradas que criem um diferencial competitivo e gerem valor ao cliente, conforme aponta Dornelas (2013). Agora eu lhe pergunto: que tipo de conhecimento é relevante para a geração de novas entradas? Se você respondeu que é o conhecimento do mercado e da tecnologia, você está correto. Conhecer o mercado significa possuir infor- mações, tecnologia, know-how e competência necessárias para analisá-lo e aos seus clientes. Conhecer o mercado e os clientes desse mercado possibilita 9Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas uma análise mais aprofundada, necessária para a identificação dos problemas dos clientes em relação aos produtos ou serviços existentes. Isso vai permitir aos empreendedores a criação de algo novo, que solucione o problema, ou seja, algo novo que satisfaça por completo às necessidades dos consumidores. É importante destacar que esse conhecimento que o empreendedor deve ter sobre o mercado deve ser mais amplo do que aquele que se obtém por meio da pesquisa de mercado. Esta possui uma eficiência limitada, uma vez que, geralmente, é difícil para os clientes apontarem os problemas básicos enfrentados com um produto ou serviço. Assim, é condição fundamental para os empreendedores conhecer o mercado, os consumidores, suas atitudes e seu comportamento, para que oportunidades atraentes para novos produtos, serviços ou mercados possam ser criadas, conforme lecionam Hisrich, Peters e Shepherd (2014). O conhecimento tecnológico também é uma base essencial para gerar novas oportunidades de negócio e também requer do empreendedor informações, tecnologia, know-how e competência necessárias para que uma análise mais aprofundada possa ser realizada e novas formas de criar conhecimento pos- sam ser identificadas. Ou seja, o conhecimento tecnológico pode gerar nova tecnologia, que servirá de base para a criação de uma nova entrada, mesmo que a sua aplicação no mercado não seja óbvia. Um exemplo disso é o laser, inventado há mais de 30 anos e que estimulou o surgimento de novas opor- tunidades de negócio, uma vez que quem possui conhecimento sobre a sua tecnologia pode adaptá-la para ser utilizada em várias áreas, como navegação, cirurgias, fibra óptica, entre outras. Ou seja, o empreendedor que conhece sobre tecnologia terá mais chances de fazer uso das que já existem para criar algo novo e que atenda às necessidades dos consumidores, conforme apontam Hisrich,Peters e Shepherd (2014). O empreendedor não precisa ser um expert em tecnologia, mas, para poder identificar e explorar boas oportunidades e novas entradas, precisa ser curioso e buscar informações sobre tendências, estando atento aos problemas que a evolução tecnológica vem gerando, para que possa sair na frente e buscar soluções. Ou seja, mesmo que o mundo da tecnologia não seja a área em que o empreendedor deseja investir, é necessário ter a consciência de que a evo- lução da tecnologia impacta diretamente em seu trabalho e negócio. Por isso, é recomendável que o empreendedor acompanhe de perto os acontecimentos na área, para não se tornar refém dessa evolução que vem transformando o mundo, conforme leciona Dornelas (2013). Quanto maior for o conhecimento prévio que o empreendedor possui do mercado e da tecnologia utilizada para criar um possível novo negócio, Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas10 maior sua capacidade de avaliar se o novo é atrativo ou não. Dessa forma, o empreendedor pode aumentar seu conhecimento por meio de pesquisas. Quanto maior for seu conhecimento, mais eficiente será seu processo de pesquisa, uma vez que saberá onde buscar as informações necessárias para transformá-las em conhecimento útil para a avaliação. Em relação ao tempo de pesquisa, quanto maior for o período de pesquisa, maiores as chances de o empreendedor obter informações seguras que o permitam avaliar se seus recursos são valiosos, raros e inimitáveis. Ou seja, a maior quantidade de informações permite ao empreendedor avaliar com precisão a quantidade necessária do produto e impedir que a concorrência o imite. Por outro lado, quanto maior for o tempo gasto com pesquisa, maiores os custos financeiros e de tempo, pois o tempo que o empre- endedor gasta pesquisando para tomar a melhor decisão quanto à atratividade do produto pode fazê-lo perder uma oportunidade promissora. Isso quer dizer que as oportunidades surgem e, se não forem aproveitadas, o empreendedor poderá perdê-las. É a chamada janela de oportunidades. Segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2014), quando a janela de oportunidades se abre, significa que o ambiente está propício à exploração de algo novo ou de um novo mercado para algo que já existe. No entanto, essa janela pode se fechar, tornando o ambiente desfavorável para a exploração de oportunidades. Assim, após combinar recursos, verificar seu valor e avaliar o poder de atração do produto, serviço ou mercado, o empreendedor pode explorar a oportunidade e desenvolvê-la. Lembrando que todas essas ações dependem do nível de informações obtidas pelo empreendedor ao longo de suas pesquisas, possibilitando a tomada de decisão mais precisa, conforme lecionam Hisrich, Peters e Shepherd (2014). Podemos dizer, então, que a base de sustentação para um novo negócio é um pacote de recursos valioso, raro e inimitável, formado pelo empreendedor a partir de seus conhecimentos sobre o mercado e sobre a tecnologia, que, combinados a outros recursos, permitem à empresa alcançar um desempenho superior. 11Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva: conceitos e casos. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. (Edição do Kindle). BARON, R. A.; SHANE, S. A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thompson Learning, 2007. BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2003. DIERICKX, I.; COOL, K. Asset stock accumulation and sustainability of competitive advantage. Management Science, v. 35, n. 12, p. 1504–1511, Dec. 1989. DORNELAS, J. Empreendedorismo para visionários: desenvolvendo negócios inovadores para um mundo em transformação. Rio de Janeiro: LTC, 2013. FERRAZ, J. C.; KUPFER, D. S.; HAGUENAUER, L. Made in Brasil: desafios competitivos para a indústria. Rio de Janeiro: Campus, 1995. GRANT, R. M. et al. Dirección estratégica. 1st ed. Cizur Menor, Navarra: Thomson Civitas, 2006. HISRICH, R. D.; PETERS, M. P.; SHEPHERD, A. D. Empreendedorismo [recurso eletrônico]. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2007. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria Geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. NICKELS, W. G.; WOOD, M. B. Marketing: relacionamentos, qualidade, valor. Rio de Janeiro: LTC, 1999. NORTON, D.; KAPLAN, R. A estratégia em ação: Balanced Scorecard. Rio de Janeiro: Campus, 1997. OLIVER, C. Sustainable competitive advantage: combining institutional and resource- -based views. Strategic Management Journal, v. 18, n. 9, p. 697–713, Dec. 1997. PORTER, M. E. Competitive advantage. 1st ed. New York: Free Press, 1985. WERNERFELT, B. A resource-based view of the firm. Strategic Management Journal, v. 5, n. 2, p. 171–180, Apr./June, 1984. Leituras recomendadas DORNELAS, J. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 7. ed. São Paulo: Empreende, 2018. SILVA, F. A. Geração de valor. Rio de Janeiro: Sextante, 2014. Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas12 Conteúdo: Plano de negócios – Parte 01 Capa Ficha catalográfica O que é uma plano, afinal? Por que isso é importante? Principais objetivos do seu plano Documentação formal Financiamento Aprovações Gestão operacional Seu público-alvo Dez passos para um plano de negócios de sucesso Mais dois passos para fazer tudo funcionar Acesse na íntegra Plano de negócios – Parte 02 Cuidados na elaboração de um plano de negócio Casos de inovação e empreendedorismo nas empresas Estratégia empreendedora - geração e exploração de novas entradas