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VESTIR 323 VIGIAR
de uma couraça. [...] e tomou vestes de vingança por
vestidura” (Is 59.17). Deus está “vestido de glória e
de majestade” (Sl 104.1). Jó disse: “Cobria-me de
justiça, e ela me servia de veste” (Jó 29.14).
Estas qualidades abstratas são às vezes negati
vas: "O príncipe se vestirá de amargura” (Ez 7.27).
"Teus aborrecedores se vestirão de confusão” (Jó
8.22). “Vistam-se os meus adversários de vergo
nha” (Sl 109.29). Uso figurativo muito importante
de lãbash é encontrado em Jz 6.34, onde a forma
estativa do verbo traz a seguinte tradução: “Então,
o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão”. A idéia
parece ser que o Espírito do Senhor se encarnou em
Gideão e, assim, o capacitou.
VIGIAR
A. Verbo.
nãtsar (~i>'p): “vigiar, guardar, manter”. Comum
ao hebraico antigo e moderno, este verbo também é
encontrado no ugarítico antigo. Ele aparece umas 60
vezes no Antigo Testamento hebraico. O termo
nãtsar é achado pela primeira vez no texto bíblico
em Êx 34.7, onde tem o sentido de “guardar com
fidelidade”. Este significado é encontrado quando o
homem é o sujeito: “observar” o concerto (Dt 33.9);
"observar” a lei (Sl 105.45, e 10 vezes no Sl 119);
'guardai'" o mandamento dos pais (Pv 6.20).
Freqüentemente, nãtsar é usado para expressar
a idéia de “guardar” algo, como uma vinha (Is 27.3)
ou uma fortaleza (Na 2.1). “Vigiar” o que se fala é
preocupação freqüente, por isso conselho é dado
para "guardar” a boca (Pv 13.3), a língua (Sl 34.13)
e os lábios (Sl 141.3). Muitas referências são feitas
a Deus como Aquele que “preserva” Seu povo dos
perigos de todos os tipos (Dt 32.10; Sl 31.23). Em
geral, nãtsar é sinônimo próximo do verbo muito
mais comum, shãmar, “guardar, atender”.
Às vezes, "guardar” tem o significado de “siti
ar". como em Is 1.8: “Como cidade sitiada".
shãmar “guardar, tomar conta, observar,
rrier". Este verbo aparece na maioria dos idiomas
íricos to aramaico bíblico atesta somente um
- -bstamivo formado deste verbo), o hebraico bíbli-
. : o atesta ao redor de 470 vezes e em todos os
períodos.
O verbo shãmar quer dizer “guardar” no sentido
ae "lomar conta" e cuidar. Deus pôs Adão “no jar-
cim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn 2.15,
rm oeira ocorrência). Em 2 Rs 22.14, Harás é cha-
~iai:> "guarda das vestiduras” (os artigos do ves-
:_an :> sacerdotal i. Satanás foi orientado a “guardar”
ou “cuidar” (para não permitir que fosse destruída)
a vida de Jó: “Eis que ele está na tua mão; poupa,
porém, a sua vida” (Jó 2.6). Neste mesmo sentido.
Deus é descrito como o “guarda” de Israel (Sl 121.4).
A palavra também significa “guardar” no senti
do de “zelar” ou prestar atenção. Davi repreende
Abner ironicamente por não proteger Saul, dizen
do: “Porventura, não és varão? E quem há em Isra
el como tu? Por que, pois, não guardaste tu o rei,
teu senhor?” (1 Sm 26.15). Em aplicação amplia
da, esta ênfase chega a significar “vigiar, obser
var”: “E sucedeu que, perseverando ela em orar
perante o SENHOR, Eli fez atenção [observou] à
sua boca" (1 Sm 1.12). Outro uso estendido do
verbo relacionado com esta ênfase aparece em con
textos de concerto. Em tais casos, “guardar” quer
dizer “vigiar” no sentido de cuidar que a pessoa
observe o concerto, de não afastar a pessoa do
concerto. Deus diz de Abraão: "Porque eu o tenho
conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a
sua casa depois dele, para que guardem o caminho
do SENHOR, para agirem com justiça e juízo” (Gn
18.19). Como Deus tinha dito anteriormente: “Tu,
porém, guardarás o meu concerto, tu e a tua se
mente depois de ti, nas suas gerações” (Gn 17.9).
Quando usado em relação estreita com outro ver
bo, shãmar significa fazer com cuidado ou atenção
essa ação: “E ele respondeu e disse: Porventura,
não terei cuidado de falar o que o SENHOR pôs na
minha boca?” (Nm 23.12). A palavra shãmar não
só significa “vigiar”, mas também fazê-lo na fun
ção de guardião no sentido de cumprir uma res
ponsabilidade: “E viram os espias um homem que
saía da cidade” (Jz 1.24).
Em um terceiro grupo de passagens este verbo
significa “guardar” no sentido de “reter” ou “con
servar” . Quando José contou à sua família o so
nho que teve, “seus irmãos, pois, o invejavam;
seu pai, porém, guardava este negócio no seu
coração” (Gn 37.11). Jacó o “conservou” mental
mente. José disse a Faraó que designasse inspe
tores para ajuntar todo tipo de alimento: “E amon-
toem trigo debaixo da mão de Faraó , para
mantimento nas cidades, e o guardem:' (Gn 41.35),
para que não fosse distribuído, mas fizesse que
fosse “retido” em armazenamento.
Em três passagens shãmar parece ter o mesmo
significado que a raiz acadiana “venerar”. Assim o
salmista diz: “Aborreço aqueles que se entregam
[veneram] a vaidades enganosas; eu, porém, confio
no SENHOR” (Sl 31.6).
VIGIAR 324 VINGAR
B. Substantivos.
mishtnãr ("'OStfõ): "‘guarda, guardião”. Na primeira
de suas 22 ocorrências, mishtnãr quer dizer “guar
da”: “E entregou-os à prisão [mishtnãr], na casa do
capitão da guarda, na casa do cárcere” (Gn 40.3). A
palavra implica “guarda” em Ne 7.3. A palavra tam
bém se refere a homens da '‘guarda” (Ne 4.23) e a
grupos de assistentes (Ne 12.24).
mishmeret (nicçç): “guardador, obrigação”. Este
substantivo aparece 78 vezes. Em 2 Rs 11.5, a pa
lavra se refere a “aqueles que guardam”: "Uma terça
parte de vós, que entra no sábado, fará a guarda, da
casa do rei-’. Em Gn 26.5, a palavra diz respeito a
“obrigação”: “Porquanto Abraão obedeceu à minha
voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos,
os meus estatutos e as minhas leis”.
Alguns outros substantivos estão relacionados com
o verbo shãmar. O substantivo slfmarím sc refere a
“sedimento de vinho, borra”. Uma das quatro ocor
rências desta palavra está em Is 25.6: “E o SENHOR
dos Exércitos dará, neste monte, a todos os povos
uma festa com animais gordos, uma festa com vinhos
puros, com tutanos gordos e com vinhos puros, bem
purificados”. O substantivo shãmrãh significa “guar
da, sentinela”. A única ocorrência desta palavra está
no Sl 141.3. O termo shimmurtm quer dizer “vigília
noturna”. Em Êx 12.42, esta palavra traz o significado
de “vigília noturna” no sentido de “noite de vigilân
cia”: “Esta noite se guardará ao SENHOR, porque
nela os tirou da terra do Egito; esta é a noite do SE
NHOR, que devem guardar todos os filhos de Israel
nas suas gerações”. Este substantivo ocorre duas ve
zes nesta ocasião e em nenhum outro versículo. O
vocábulo ’asmurãh (ou 'asmõret) alude a “observar”.
Este substantivo aparece sete vezes e em Êx 14.24 se
refere à “vigília da manhã”: “E aconteceu que, na vigí
lia daquela manhã, o SENHOR, na coluna de fogo e
dc nuvem, viu o campo dos egípcios”.
VINGAR
A. Verbo.
nãqam (□?:): “vingar, tomar vingança, castigar”.
Esta raiz e seus derivados ocorrem 87 vezes no
Antigo Testamento, com muita freqüência no
Pentateuco, Isaías e Jeremias; ocorre ocasionalmen
te nos livros históricos e nos Salmos. A raiz tam
bém ocorre no aramaico, assírio, árabe, etiópico e
hebraico recente.
A canção da espada de Lameque é um desafio
depreciativo aos seus companheiros e um descara
do ataque à justiça de Deus: “Porque eu matei um
varão, por me ferir, e um jovem, por me pisar. Por
que sete vezes Caim será vingado', mas Lameque.
setenta vezes sete” (Gn 4.23,24).
O Senhor reserva a vingança como esfera de Sua
ação: “Minha é a vingança e a recompensa, [...] por
que [Ele] vingará o sangue dos seus servos, e sobre
os seus adversários fará tornar a vingança” (Dt
32.35,43). A lei proibia a vingança pessoal: “Não te
vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu
povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Eu sou o SENHOR” (Lv 19.18). Por conseguinte, o
povo do Senhor levava o seu caso a Ele, como fez
Davi: “Julgue o SENHOR entre mim e ti [Saul] e
vingue-me o SENHOR de ti; porém a minha mão
não será contra ti” (1 Sm 24.12).
O Senhor usa os homens para tomar vingança,
como disse a Moisés: “Vinga aos filhos deIsrael
dos midianitas. [...] Falou, pois, Moisés ao povo.
dizendo: Armem-se alguns de vós para a guerra e
saiam contra os midianitas, para fazerem a vingança
do SENHOR nos midianitas” (Nm 31.2,3). A vin
gança para Israel é a vingança do Senhor.
A lei declarava: “Se alsuém ferir a seu servo ou a
sua serva com vara, e morrerem debaixo da sua mão.
certamente será castigado [nãqam]'' (Êx 21.20). Em
Israel, esta responsabilidade era dada ao “vingador
do sangue” (Dt 19.6). Ele era responsável por pre
servar a vida e a integridade pessoal do seu parente
mais próximo.
Quando alguém era atacado por ser servo de
Deus, ele com justiça podia pedir vingança dos seus
inimigos, como Sansão que orou pedindo força: “Para
que de uma vez me vingue dos filisteus, pelos meus
dois olhos” (Jz 16.28).
No concerto, Deus advertiu que Sua vingança
podia cair sobre o Seu próprio povo: “Porque trarei
sobre vós a espada, que executará a vingança do
concerto” (Lv 26.25). Isaías assim diz de Judá: “Por
tanto. diz o SENHOR Deus dos Exércitos: [...]
Consolar-me-ei acerca dos meus adversários, e vin-
gar-me-ei dos meus inimigos” (Is 1.24).
B. Substantivo.
nãqãm (Epp:) “vingança”. O substantivo é usado
pela primeira vez na promessa do Senhor a Caim:
“Assim, qualquer que matar a Caim será vingado
sete vezes” (Gn 4.15, ARA).
Em algumas ocasiões, um homem pode pedir
“vingança” dos seus inimigos, corno quando outro
homem comete adultério com sua esposa: “Porque
furioso é o ciúme do marido; e dc maneira nenhuma
perdoará no dia da vingança” (Pv 6.34).
VINGAR 325 VINHO
Os profetas falam da “vingança” de Deus dos
Seus inimigos: Is 59.17; Mq 5.15; Na 1.2. Virá na
hora marcada: “Porque será o dia da vingança do
SENHOR, ano de retribuições, pela luta de Sião”
(Is 34.8).
Isaías reúne a “vingança” e a redenção de Deus
na promessa de salvação messiânica: “O Espírito
do Senhor JEOVÁ está sobre mim; [...] enviou-me
[...] a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia
da vingança do nosso Deus” (Is 61.1,2). Quando
Jesus anunciou que isto se cumpriu nEle, Ele parou
antes de ler a última cláusula; mas Seu sermão clara
mente antecipou a “vingança” que Israel receberia
por tê-lo rejeitado. Isaías também disse: “Porque o
dia da vingança estava no meu coração, e o ano dos
meus redimidos é chegado” (Is 63.4).
VINHA
kerem (□"??): “vinha”. Esta palavra hebraica está
relacionada com outros idiomas sem íticos (o
^cadiano kartnu, o árabe karm). A palavra está dis
tribuída uniformemente ao longo do Antigo Testa
mento e é usada 92 vezes. A primeira ocorrência
está em Gn 9.20.
Isaías faz uma descrição vivida do trabalho en-
■ olvido no preparo, plantio e cultivo de uma “vi
nha" (Is 5.1-7). A “vinha” estava localizada nas
rampas de uma colina (Is 5.1). A terra era limpa de
pedras antes que as mais tenras vinhas fossem plan-
:adus i Is 5.2). Uma torre de vigia provia visibilidade
- :bre a "vinha” (Is 5.2) e um lagar e local para esma
gar as uvas eram talhados de uma pedra (Is 5.2).
Quando todos os preparativos haviam sido feitos, a
■ inha" estava pronta e em alguns anos esperava-sc
produzisse frutos. Enquanto isso, o kerem exi
gi- poda regular (Lv 25.3,4). O tempo entre o plan
tio e a primeira colheita era de tanta importância,
_ _e era motivo para liberar o dono do dever militar:
"E qual é o homem que plantou urna vinha e ainda
rio logrou fruto dela?” (Dt 20.6).
A época da colheita era um período de trabalho
a_r : e grande alegria. O prazer da “vinha” era uma
: êr.çl; de Deus: "E edificarão casas e as habitarão;
mamarão vinhas e comerão o seu fruto” (Is 65.21).
I fracasso da "vinha” em produzir ou a transferên-
- - da propriedade da "vinha” para outrem eram
. ~ . ãerados julgamento de Deus: “Portanto, visto
: _.r risais o pobre e dele exigis um tributo de trigo,
ra_:'.:areií casas de pedras lavradas, mas nelas não
'.areii: desejáveis plantareis, mas não
■: ?r"r:s à: seu vinho" (Am 5.11; cf. Dt 28.30).
As palavras “vinha” e “olival” (zayit) são encon
tradas freqüentemente juntas no texto bíblico. Estas
forneciam as duas principais atividades agrícolas per
manentes no Israel antigo, visto que ambas exigiam
muito trabalho e tempo antes do início das colheitas.
Deus prometeu que a propriedade das “vinhas” e
pomares dos cananeus passaria para o Seu povo como
bênção da parte dEIe (Dt 6.11,12). O julgamento de
Deus para Israel estendeu-se às “vinhas”. A alegria
na “vinha” cessaria (Is 16.10) e a “vinha” cuidado
samente cultivada viraria em moita com espinhos e
matagal (cf. Is 32.12,13). A “vinha” seria reduzida a
esconderijo de animais selvagens e lugar de pastagem
para cabras e jumentos selvagens (Is 32.14). A espe
rança depois do Exílio jazia nas bênçãos de Deus nas
atividades agrícolas do Seu povo: “E removerei o
cativeiro do meu povo Israel, e reedificarão as cida
des assoladas, e nelas habitarão, e plantarão vinhas. e
beberão o seu vinho, e farão pomares, e lhes comerão
o fruto” (Am 9.14).
As “vinhas” se localizavam principalmente na
região montanhosa e nos montes mais baixos. A
Bíblia menciona a “vinha” em Timna (Jz 14.5),
Jezreel (1 Rs 21.1). no monte de Samaria (Jr 31.5) e
até em En-Gedi (Ct 1.14).
O uso metafórico de kerem permite o profeta
Isaías fazer uma analogia entre a “vinha” e Israel:
“Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa
de Israel” (Is 5.7). Também foi sugerido que a “vi
nha” em Cantares de Salomão seja melhor entendida
metaforicamente como “pessoa”: “Não olheis para
o eu scr morena, porque o sol resplandeceu sobre
mim. Os filhos de minha mãe se indignaram contra
mim e me puseram por guarda de vinhas; a vinha
que me pertence não guardei.” (Ct 1.6).
VINHO
yayin (?';): “vinho”. Os cognatos desta palavra
aparecem no acadiano, ugarítico, aramaico, árabe e
etiópico. Ocorre por volta de 141 vezes e em todos
os períodos do hebraico bíblico.
Esta é a palavra hebraica habitual para se referir à
uva fermentada. É, em geral, traduzida por “vinho".
Tal “vinho” era bebido comumente como refresco:
“E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho''
(Gn 14.18; cf. Gn 27.25). Passagens como Ez 27.18
nos informam que o “vinho” era urri artigo de comér
cio: “Damasco negociava contigo, por causa da mul
tidão das tuas obras, por causa da multidão de toda
sorte de fazenda, com vinho de Helbom e lã branca".
As fortalezas eram abastecidas de “vinho” para o
VINHO 326
caso de assédio (2 Cr 11.11). Provérbios recomenda
que os reis evitem o “vinho” e a bebida forte, mas que
ele seja dado aos atribulados para que bebam e se
esqueçam dos problemas (Pv 31.4-7). O “vinho” era
usado para dar alegria, para fazer a pessoa se sentir
bem sem ficar intoxicada (2 Sm 13.28).
Segundo, o “vinho” era usado na alegria perante
o Senhor. Uma vez por ano todo o Israel tinha de se
reunir em Jerusalém. O dinheiro percebido pela ven
da do dízimo de toda a colheita seria gasto “por
tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ove
lhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o
que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SE
NHOR, teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa” (Dt
14.26). O “vinho” era oferecido a Deus em Seu
mandamento como parte do ritual prescrito (Êx
29.40). Portanto, fazia parte dos suprimentos do
Templo disponíveis para serem adquiridos pelos
peregrinos, de forma que eles o oferecessem a Deus
(1 Cr 9.29). Os pagãos usavam “vinho” em sua ado
ração, mas “o seu vinho é ardente veneno de dra
gões e peçonha cruel de víboras” (Dt 32.33).
O termo yayin descreve claramente uma bebida
intoxicante. Isto é evidente em sua primeira ocor
rência bíblica: “E começou Noé a ser lavrador da
terra e plantou uma vinha. E bebeu do vinho e
embebedou-se" (Gn 9.20,21). Em Os 4.11, a pala
vra é usada como sinônimo de tiros, “vinho novo”
ou “mosto". onde é claro que ambas podem ser
intoxicantes. A palavra tiros é distinta de yayin no
que se refere apenas ao vinho novo não completa
mente fermentado (mosto). O termo yayin diz respeito a “vinho” em qualquer fase. Em Gn 27.28
(primeira ocorrência bíblica da palavra), a bênção de
Jacó incluía o favor divino de uma abundância de
vinho novo. Em 1 Sm 1.15, yayin é paralelo de sekâr,
“bebida forte”. Nos tempos primitivos, sekãr in
cluía “vinho” (Nm 28.7), mas passou a ter o signifi
cado de bebida forte feita de qualquer fruta ou grão
(Nm 6.3). As pessoas, em estado especial de santi
dade, eram proibidas de beber “vinho”, como os
nazireus (Nm 6.3), a mãe de Sansão (Jz 13.4) e os
sacerdotes que se aproximavam de Deus (Lv 10.9).
Em Gn 9.24, yayin significa embriaguez: “E des
pertou Noé do seu vinho".
VIOLÊNCIA
A. Substantivo.
hãmãs (cçn): “violência, maldade, malignidade,
agravo”. Esta palavra ocorre por volta de 60 vezes e
em todos os períodos do hebraico bíblico.
Basicamente, hãmãs conota o rompimento ca
ordem das coisas divinamente estabelecida. Tem
ampla extensão de acepções dentro desta esfera le
gal. A expressão “testemunha no caso de maldade
violenta [transgressão]”, significa alguém que dá tes
temunho num caso em que ele tem a ver com ia.
ofensa (cf. Dt 19.16). Neste contexto a veracidade
da testemunha não é estabelecida, exceto sob inves
tigação adicional (Dt 19.18). Assim que ficava esta
belecido que ele era uma testemunha falsa, a per.a
para o crime concernente ao que ele dera falso teste
munho seria executada contra o mentiroso (cf. L~
19.19). Em Êx 23.1, Israel foi avisado: “E não pori
a tua mão com o ímpio, para seres testemunha fal
sa”, ou seja, a testemunha que acusa alguém de cri
me violento tem o propósito de ver o acusado puni
do severamente.
O termo hãmãs conota uma “maldade violenta'
que não foi corrigida, sendo que a culpa da qual >e
encontra numa região inteira (seus habitantes) q_e
quebraram sua relação com Deus e, assim, interfi
ram com Suas bênçãos.
E este último sentido que aparece na frase "a
terra estava cheia de violência”: “A terra, porém,
estava corrompida diante da face de Deus; e en
cheu-se a terra de violência" (Gn 6.11, primeira ocor
rência da palavra). Em Gn 16.5, Sarai apela a Deu-
que julgue entre Abrão e ela, porque o patriarca n l :
agiu corretamente para com ela mantendo Agar em
submissão: “Meu agravo [meu feito] seja sobre ú
Minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela, agora,
que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos. G
SENHOR julgue entre mim e ti”. Abrão, como juu
de Deus (no lugar de Deus), aceita a justeza do cas
dela e entrega Agar aos cuidados de Sarai para que
esta seja tratada adequadamente.
B. Verbo.
O verbo hãmãs significa “tratar com violência"
Este verbo, que ocorre sete vezes no hebraico bfblr-
co, tem cognatos no aramaico, acadiano e árabe. Esta
palavra aparece em Jr 22.3 com o significado de
“não fazer violência”: “E não oprimais ao estrangei
ro, nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência.
nem derrameis sangue inocente neste lugar”.
VIR
hô’ (íóB): “entrar, vir, ir”. Esta raiz aparece na
maioria dos idiomas semíticos, mas com significa
dos variados. Por exemplo, o significado de “vir'
aparece nas tabuinhas babilônias de Mári (1750-
1697 a.C.). A palavra ugarítica correspondente
V IR 327 VIRAR
1550-1200 a.C.) tem o mesmo significado de sua
contraparte hebraica, enquanto que a raiz fenícia
começando ao redor de 900 a.C.) significa “sair,
aparecer”. A palavra bô’ ocorre aproximadamente
2.570 vezes no Antigo Testamento hebraico.
Primeiro, este verbo conota movimento no espa
ço de um lugar para outro. O significado “entrar”
aparece em Gn 7.7, onde lemos que Noé e sua famí
lia ''entraram” na arca. No radical causativo, este
erbo pode significar “meter” ou “fazer entrar” (Gn
6.19) ou “trazer” (o significado em sua primeira
ocorrência bíblica, Gn 2.19). Em Gn 10.19, o verbo
e usado mais absolutamente na frase “indo para
Sodoma”. De maneira interessante, este verbo tam
bém pode significar “vir” e “voltar”. Abrão e sua
família “vieram” à terra de Canaã (Gn 12.5), en-
ccanto que em Dt 28.6 Deus abençoou o piedoso
cce "sai" (para trabalhar de manhã) e “entra” (em
cisa à noite).
As vezes, bô’ diz respeito ao “descer” ou “pôr”
do sol (Gn 15.12). Pode conotar morrer, no sentido
ce "ir aos seus pais” (Gn 15.15). Outro uso especi-
il é "entrar na mulher de alguém” ou “coabitação”
Gn 6.4i. A palavra bô’ também pode ser usada
ocrc. aludir ao movimento no tempo. Por exemplo,
: s profetas falam da “vinda” do dia do julgamento
I Sm 2.31). Finalmente, o verbo pode ser emprega-
c : o^ra se referir à “vinda” de um evento, como o
-o E predito por um falso profeta (Dt 13.2).
Há três sentidos nos quais é dito que Deus “vem”.
2*ecs "vem" na forma de um anjo (Jz 6.11) ou outro
>eo encimado (cf. Gn 18.14). Ele “vem” e fala aos
o : ~eni em sonhos (Gn 20.3) e em outras manifes-
Te> factuais (Êx 20.20). Por exemplo, durante o
■ . :do. Deus “vinha” na nuvem e na coluna de fogo
c _r diante do povo (Êx 19.9).
E~ segundo lugar, Deus promete “vir” ao crente
rre e onde quer que este o adore corretamente
Eo 2!.24). Os filisteus sentiam que Deus tinha
oco" ao acampamento dos israelitas quando a
--oc c do Concerto chegou (1 Sm 4.7). Este uso asso-
i cc: com a adoração formal aparece em Sl 24.7,
■ ce es:i escrito que as portas de Sião se abrem
: era. cce o rei da glória “entre” em Jerusalém. Ou-
rc-sscm. o Senhor "virá" ao novo templo descrito
£ 3 £z 43.2.
Finalmente. há um grupo de quadros proféticos
oí - iodai” divinas. Este tema pode ter se origina-
- dos hinos cantados que dizem que Deus está
oco' o crc udar Seu povo na guerra (cf. Dt 33.2).
; 5c_m:s por exemplo, Sl 50.3) e nos profetas
(por exemplo, Is 30.27), o Senhor “vem” em julga
mento e bênção — figura de linguagem poética em
prestada da antiga mitologia do Oriente Próximo
(cf. Ez 1.4).
O termo bô’ também é usado para se referir à
“vinda” do Messias. Em Zc 9.9, o rei messiânico é
retratado “montado” sobre um asninho, filho de uma
jumenta. Algumas das passagens apresentam pro
blemas especialmente difíceis, como Gn 49.10, que
profetiza que o cetro permanecerá em Judá “até que
venha Silo”. Outra passagem difícil é E z21.27: “Até
que venha aquele a quem pertence de direito”. Uma
profecia bastante conhecida que usa o verbo bô’ é a
concernente à “vinda” do Filho do Homem (Dn 7.13).
Finalmente, há a “vinda” do último dia (Am 8.2) e o
Dia do Senhor (Is 13.6).
A Septuaginta traduz este verbo com muitas
palavras gregas paralelas às conotações do verbo
hebraico, mas sobretudo com palavras que signifi
cam “vir”, “entrar” e “ir”.
VIRAR (1)
A. Verbos.
hãphak (7?n): “virar, converter, mudar, trans
formar, voltar para trás”. Palavra comum ao longo
dos vários períodos do hebraico, este termo aparece
cm outros idiomas semíticos, inclusive no acadiano
antigo. É encontrado quase 100 vezes no hebraico
bíblico. Usado pela primeira vez no texto bíblico
cm Gn 3.24, a forma verbal hebraica indica que há
ação reflexiva: “E uma espada inflamada que andava
ao redor [“que se revolvia”, ARA; “que girava” )".
Em seu significado mais simples, hãphak expres
sa o giro de um lado para o outro, como o “virar” as
costas (Js 7.8), ou “Como quem limpa a escudela a
limpa e a vira sobre a sua face” (2 Rs 21.13). Seme
lhantemente, Oséias diz que Israel é como “um bolo
que não foi virado” (Os 7.8). O significado de
“transformação” ou “mudança” é ilustrado com cla
reza na história do encontro de Saul com o Espírito
de Deus. Samuel prometeu a Saul: “E [tu] te muda-
rás em outro homem” (1 Sm 10.6), e, assim, quando
o Espírito entrou nele, “Deus lhe mudou o coração
em outro” (1 Sm 10.9). Outros exemplos de mudan
ça são o coração de Faraó que “mudou” (Ê \ 14.5:
literalmente, “o coração de Faraó foi virado”); a vara
dc Arão que “se tornou” em cobra (Êx 7.15); a dan
ça que “virou” lamento (Lm 5.15); a água “transfor
mada” em sangue (Êx 7.17); e o sol que “se conver
teu” em trevas e a lua, em sangue (J12.31). O Sl 41.3
apresenta difícil problema de tradução com o uso
VIRAR328 VIRAR
do verbo hãphak. Literalmente, se lê: “Toda a sua
cama, tu [Jeová], mudas em doença”. Devido ao
paralelismo poético envolvido, o significado deve
ser restauração de saúde. Assim, podemos traduzir:
“Na sua doença, tu curas todas as suas enfermida
des”. Talvez apenas um renovo da cama é o que se
quer dizer: “Tu renovas a sua cama na doença” (“Na
doença, tu lhe afofas a cama”, ARA).
A tradução de Is 60.5 soa estranha aos nossos
ouvidos modernos: “A abundância do mar se torna
rá a ti”. O significado é melhor capturado assim:
“As riquezas do mar serão esbanjadas em ti".
sãbab (3DÇ): “voltar, rodear, virar (mudai- de di
reção)”. Este verbo só ocorre no hebraico (incluindo
o hebraico pós-bíblico) e no ugarítico. Os substan
tivos que usam estes radicais aparecem no árabe e
no acadiano. O hebraico bíblico atesta a palavra em
todos os períodos e por volta de 160 vezes.
Basicamente, este verbo descreve um movimen
to circular: “dar uma volta”. Primeiro, refere-se de
modo geral a tal movimento. A primeira ocorrência
de sãbab com este significado está em Gn 42.24,
onde José “se retirou” (“se voltou”) dos irmãos e
chorou. Aqui o verbo não diz a direção precisa da
sua saída, só que ele deixou a presença deles. Do
mesmo modo, quando Samuel ficou sabendo que
Saul foi para o Carmelo e “fez volta, e passou, e
desceu a Gilgal” (1 Sm 15.12), não nos é informado
se ele inverteu a direção a fim de voltar de sua ori->
gem para o Carmelo e Gilgal. Deus conduziu Israel
fora do caminho habitual (por uma rota fora de uso),
quando Ele os levou à Terra Prometida. Ele quis
evitar que o povo tivesse de guerrear com os filisteus,
evento que seria inevitável se tivessem ido para a
Palestina diretamente pelo norte do Egito. Por isso,
Ele os conduziu pelo deserto — uma rota distante e
remota em direção à terra: “Mas Deus fez rodear o
povo pelo caminho do deserto perto do mar Verme
lho" (Êx 13.18). Talvez uma das passagens onde
este significado esteja mais claro, sejaPv 26.14, que
fala de uma porta que “se revolve” em suas dobradi
ças. Uma extensão deste significado ocorre em l Sm
5.8,9, “retirar, levar embora”: “E responderam: A
arca do Deus de Israel dará volta [será levada embo
ra dc] a Gate. Assim, a rodearam com a arca do
Deus de Israel. E sucedeu que, desde que a rodea
ram com ela..." (cf. 2 Rs 16.18).
Uma segunda ênfase de sãbab é “rodear” no sen
tido de avançar ou ser organizado em círculo. José
fala à sua família: “E eis que o meu molho se levan
tava e também ficava em pé; e eis que os vossos
molhos o rodeavam e se inclinavam ao meu molho"
(Gn 37.7). Eles se moviam de maneira a circundar o
molho de José. Esta é a ação imaginada quando Isra
el sitiou Jericó, exceto com a acepção adicional de
circundar numa marcha religiosa e em procissão:
“Vós, pois, todos os homens de guerra, rodear eis a
cidade, cercando a cidade uma vez” (Js 6.3). “Via
jar” e “voltar” são usados juntos para descrever
viajar em circuito. Samuel disse que ele viajava anu
almente “em circuito” (1 Sm 7.16; “uma volta".
ARA). Outra variação desta ênfase é “rodear" um
território a fim de evitar atravessar por ele: “Então,
partiram do monte Hor, pelo caminho do mar Ver
melho, a rodear a terra de Edom; porém a alma do
povo angustiou-se neste caminho” (Nm 21.4).
O termo sãbab também é usado para se referir a
conclusão deste movimento, o estado de circundar
literal ou figurativamente algo ou alguém. A primei
ra ocorrência bíblica da palavra traz este sentido i ce
acordo com muitos estudiosos): “O nome do pri
meiro é Pisom; este é o que rodeia [corre ao redor
de] toda a terra de Havilá, onde há ouro” (Gn 2.11
Juizes 16.2, onde os gazitas “foram, pois, em roda
[de Sansão] e toda a noite lhe puseram espias a
porta da cidade-’, representa outra ocorrência desia
acepção. Quando Davi falou sobre as cordas (como
as de armadilha) do sheol que o “cingiam” (2 Sm
22.6), ele quis dizer que, na verdade, as cordas o
tocavam e o mantinham preso. A palavra sãbab é
usada para aludir a se sentar em volta de uma mesa.
Assim Samuel disse a Jessé que fosse buscar Davi.
“porquanto não nos assentaremos em roda da mesa
até que ele venha aqui” (1 Sm 16.11).
Um terceiro uso deste verbo é “mudar de dire
ção”. Pode ser mudança de direção para: “Assim. a
herança não passará de uma tribo a outra" (Nm
36.9); a direção habitual de passar em uma herança
tem linhas de família, e a ordem de Deus para que a>
filhas de Zelofeade se casassem dentro das famílias
do pai delas, tornaria certo que este movimento de
coisas não seria interrompido. Esta ênfase aparece
mais claramente em 1 Sm 18.11: “Porém Davi se
desviou [fugiu] dele por duas vezes". É certo que
Davi está pondo o maior espaço possível entre ele e
Saul. Ele está “fugindo” ou “virando-se em direção
contrária” (cf. 1 Sm 22.17). O verbo sãbab também
se aplica a uma mudança de direção, como em Nrr.
34.4: “F. este termo vos irá rodeando”.
Há três acepções especiais sob este significado.
Primeiro, o verbo quer dizer “percorrer sem rumo”
como o explorador que procura água: “E andaram
v i r a r 329 VIRAR
rodeando [fizeram um circuito] com uma marcha de
sete dias, e o exército e o gado que os seguia não
tinham água" (2 Rs 3.9). Alguns estudiosos suge
re” que seja esta a idéia expressa em Gn 2.11 —
que o Pison percorria por Havilá em vez. de rodeá-
'.a. Segundo, sãbab é usado para descrever “passar
cargo)" para alguém. Adonias disse acerca de
Salomão: “O reino era meu, [...] ainda que o reino se
:rsnsferiu e veio a ser de meu irmão” (1 Rs 2.15).
Terceiro, sãbab é empregado para designar “mudar
u transformar uma coisa em outra”: “Toda a terra
em redor se tornará em planície, desde Geba até
Rmnom. ao sul de Jerusalém” (Zc 14.10).
B. Substantivos.
sãbíb (T2D): “área em volta de, circuito”. Esta
r^lavra aparece cerca de 336 vezes no hebraico bí-
:'.:co. A palavra é usada como substantivo, mas
^parece normalmente como advérbio ou preposi-
-2o. Em 1 Cr 11.8, sãbíb se refere às “partes em
c ita de”: “E edificou a cidade ao redor, desde Milo
me completar o circuito”. A palavra também é usa-
m para se referir a “circuitos” : “Continuamente vai
girando o vento de volta fazendo os seus circuitos”
Ec 1.6). A primeira ocorrência bíblica da palavra
está em Gn 23.17 e diz respeito a “dentro do circui
to de”.
Outros substantivos estão relacionados com o
erbo sãbab. Os termos sibbãh e nesibbãh se refe
rem à "mudança de situação” — sibbãh é encontra
do em 1 Rs 12.15 e ncsibbãh, em 2 Cr 10.15. O
substantivo müsab ocorre uma vez com o significa-
do de "passagem circular”: “O caracol do templo
subia mui alto por todo o redor do templo” (Ez
41.7). A palavra mesab ocorre quatro vezes e diz
respeito a “aquilo que cerca ou é redondo”. O vocá
bulo mesab se refere a uma “mesa redonda” (Ct
1.12) e a “lugares em volta de” Jerusalém (2 Rs
23.5).
\TRAR (2)
A. Verbo.
pãnãh (np2): “virar, virar para trás, virar ao con
trário, apegar-se, passar, preparar”. Este verbo tam
bém aparece no siríaco, no hebraico pós-bíblico e
no aramaico pós-bíblico. Os verbos relacionados,
os quais têm os mesmos radicais com um significa
do um tanto quanto diferente, aparecem no árabe e
etiópico. A Bíblia atesta pãnãh por volta de 155
vezes e em todos os períodos.
A maioria das ocorrências deste verbo leva o sen
tido de "virar em outra direção”. Trata-se de verbo
de movimento físico ou mental. Usada para se refe
rir a movimento físico, a palavra significa virar no
que tange a mudar para outra direção: “Tendes já
rodeado bastante esta montanha; virai-vos para o
norte” (Dt 2.3). O termo pãnãh também significa
virar para encarar ou olhar algo ou alguém: “E acon
teceu que, quando falou Arão a toda a congregação
dos filhos de Israel, e eles se viraram para o deser
to, eis que a glória do SENHOR apareceu na nu
vem” (Êx 16.10). “Virarem direção” a algo também
quer dizer olhar ou ver: “Lembra-te dos teus servos
Abraão, Isaque e Jacó; não atentes[não olhes] para
a dureza deste povo, nem para a sua impiedade,
nem para o seu pecado” (Dt 9.27). Extensão adicio
nal do significado é vista em Ag 1.9, onde pãnãh
significa “procurar” ou esperar: “Olhastes para
muito, mas eis que alcançastes pouco”.
Outro enfoque do significado é “virar para trás"
a fim de ver. Isto é encontrado em Js 8.20: “E, vi-
rando-se os homens de Ai para trás, olharam”. Em
outras passagens, o verbo quer dizer “virar ao con
trário” no sentido de olhar em todas as direções.
Moisés “E olhou a uma e a outra banda, e, vendo
que ninguém ali havia, feriu ao egípcio, e escondeu-
ona areia” (Êx 2.12).
No sentido de “virar ao contrário”, pãnãh tam
bém é usado para aludir a mudar de direção a fim
sair de cena. “Então, viraram aqueles varões o ros
to dali e foram-se para Sodoma” (Gn 18.22, primei
ra ocorrência bíblica do verbo).
Usado para se referir à virada intelectual e espi
ritual, este verbo significa apegar-se a algo. Deus
ordenou Israel: “Não vos virareis para os ídolos,
nem vos fareis deuses de fundição” (Lv 19.4). Eles
não deviam mudar a atenção e se apegar aos ídolos.
Em uso até mais forte, este verbo representa a de
pendência de alguém: “Para lhes trazer à lembrança
a sua iniqüidade, quando olharem para trás [depen
derem] deles” (Ez 29.16). Às vezes, “virar ao con
trário” significa prestar atenção em alguém. Jó fala a
seus amigos: “Agora, [...] olhai para mim; e vede se
minto em vossa presença” (Jó 6.28).
Em ênfase diferente, a palavra conota a “passa
gem” de algo, como o afastamento do dia: “E Isaque
saíra a orar no campo, sobre a tarde” (Gn 24.63).
Semelhantemente, a Bíblia fala do amanhecer como
a “virada da manhã” (Êx 14.27). A “virada do dia” é
o fim do dia (Jr 6.4).
Usado em contexto militar, pãnãh significa dei
xar de lutar ou fugir diante do inimigo. Por causa do
pecado de Acã, o Senhor não estava com Israel na
VIRAR 3 30 VIRGEM
batalha de Ai: “Pelo que os filhos de Israel não
puderam subsistir perante os seus inimigos; vira
ram as costas diante dos seus inimigos, porquanto
estão amaldiçoados” (Js 7.12).
No radical intensivo, o verbo quer dizer “remo
ver”, levar embora: “O SENHOR afastou os teus
juízos, exterminou o teu inimigo” (Sf 3.15). “Lim
par a casa” (colocar as coisas em ordem) é o meio
pelo qual se preparam acomodações para os convi
dados: “E disse: Entra, bendito do SENHOR, por
que estarás fora? Pois eu já preparei a casa e o lugar
para os camelos” (Gn 24.31). Outra acepção é “pre
parar” um caminho para a marcha de vitória. Isaías
diz: “Preparai o caminho do SENHOR; endireitai
no ermo vereda a nosso Deus” (Is 40.3; cf. Mt 3.3).
B. Substantivos.
pinnãh (nps): “canto”. Este substantivo ocorre
30 vezes no Antigo Testamento. Em Êx 27.2, a pa
lavra se refere a “cantos”: “E farás as suas pontas
nos seus quatro cantos”. Em 2 Rs 14.13, a palavra
se aplica a uma torre de canto, e em Jz 20.2, pinnãh
é usado figurativamente para designar a “parte su
perior” ou o “cimo” como o “canto” ou defesa do
povo.
O substantivo pãmm também está relacionado
com o verbo pãnãh. Ocorre 2.100 vezes e se refere
ao “rosto” ou “face" de algo. A primeira ocorrência
da palavra está em Gn 17.3.
C. Adjetivo.
penimt (’D'J3): “interno, dentro”. Este adjetivo
ocorre em torno de 33 vezes e diz respeito à parte
de um edifício, normalmente um templo. Temos uma
ocorrência deste adjetivo em 1 Rs 6.27: “E pôs es
tes querubins no meio da casa de dentro”.
D. Advérbio.
p'nimah (nçrps): “dentro”. Esta palavra ocorre
por volta de 12 vezes. Identificamos uma ocorrên
cia deste advérbio em 1 Rs 6.18: “E o cedro da casa
por dentro era lavrado de botões e flores abertas”.
Aqui a palavra se refere ao interior da casa.
VIRGEM (1)
betülãh (rrê-iro): “moça solteira, virgem”. Os
cognatos desta palavra aparecem no ugarítico e no
acadiano. Suas 50 ocorrências bíblicas estão distri
buídas ao longo de todo o período da literatura do
Velho Testamento.
Esta palavra significa “virgem”, como está claro
em Dt 22.17, onde diz que se um homem acusar:
“Não achei virgem tua filha”, o pai deveria dizer:
“Porém eis aqui os sinais da virgindade de minha
filha [betülím]”. O texto continua: “E estenderá:
lençol diante dos anciãos da cidade”. O marido se-1
castigado e multado (que era dado ao pai da m o:;
“porquanto divulgou má fama sobre uma virgen: de
Israel” (Dt 22.19). Se fosse descoberto que ela nl
era “virgem”, ela seria apedrejada até a morte, "p:
fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa ce
seu pai” (Dt 22.21).
Em várias passagens, esta palavra significa me
ramente uma menina crescida ou “moça”. O te n r :
identifica sua idade e estado marital. Os protV_
que denunciam Israel por desempenhar o papel de
prostituta, também a chamaram de betidãh de Jec .
ou b'tülãh (filha) de Israel (Jr 31.4,21). As ouir_
nações também são chamadas de Iftidôth: Is 23.11
Sidom; Is 47.1, Babilônia; Jr 46.11, Egito. Est^;
nações não são recomendadas por sua pureza! N_
literatura ugarítica, a palavra é usada para aludir i
deusa Anate, irmã de Baal, e dificilmente virgem. I
que era verdade sobre ela, e de modo figurativo s>
bre estas nações (inclusive sobre Israel), era que e..
era uma jovem vigorosa na plenitude de suas facili
dades e solteira. Assim, brtidãh é usado muitas ve
zes em paralelismo com o termo hebraico bãhú-
que significa jovem, independente de ser virgem oc
não, a qual está na plenitude de suas faculdades i Eh
32.25). Em tais contextos, a virilidade, e não a vir
gindade, está em vista. Por causa desta ambigüida
de, Moisés descreveu que Rebeca era moça (na ‘arã>:
“mui formosa à vista, virgem [bctCdãh], a quem va-
rão não havia conhecido” (Gn 24.16, primeira ocor
rência da palavra).
Ambas as formas masculina e feminina apare
cem em Is 23.4: “Eu não tive dores de parto, nem
dei à luz, nem ainda criei jovens [b'tidim], nem edu
quei donzelas [bctülôt\”. Ocorrência similar é encon
trada em Lm 1.18: “Vede a minha dor; as minhas
virgens e os meus jovens se foram para o cativeiro"
(cf. Lm 2.21; Zc 9.17).
A edição standard do léxico de William Gesenius.
editado por Brown, Driver e Briggs (BDB). obser
va que a palavra assíria batultu (masculino: batulu i
é um cognato de bctülãh. Esta palavra assíria signifi
ca “moça solteira” ou “jovem solteiro”.
A maioria dos estudiosos concorda que bUülãh e
batultu estão foneticamente relacionados, ainda que
discordem sobre se são verdadeiros cognatos. Vários
contextos do Antigo Testamento indicam que frtülãh
deveria ser traduzido mais freqüentemente por "moça
solteira” do que por “virgem”. Se é verdade, a
etimologia de BDB está provavelmente correta.
VIRGEM 331 VISITAR
VIRGEM (2)
'almãh (na1??): “virgem, moça” . Este substanti-
•• o tem um cognato ugarítico, embora a forma mas
culina também apareça no aramaico, siríaco e árabe.
A forma feminina da raiz ocorre nove vezes. As
urdcas duas ocorrências da forma masculina ( ‘elem)
estão em Primeiro Samuel. Isto sugere que esta pa
lavra era usada raramente, talvez porque outras pa
lavras tivessem significado semelhante.
Que 'almãh signifique “virgem” está bastante
claro em Ct 6.8: “Sessenta são as rainhas, e oitenta,
as concubinas, e as virgens, sem número”. É com
este termo que todas as mulheres são descritas na
corte. A palavra 'almãh descreve aquelas que são
eiegíveis para casamento, mas que não são esposas
rainhas) nem concubinas. Todas estas “virgens”
amavam o rei e desejavam ser escolhidas para estar
: :m ele (ser a noiva), como ocorreu com a sulamita
aue se tomou sua noiva (Ct 1.3,4). Em Gn 24.43, a
r^Javra descreve Rebeca, de quem é dito em Gn
1-.16 que ela era “solteira” com quem nenhum ho-
~em havia tido relações sexuais. Salomão escreveu
;ue o processo de galantear uma mulher lhe era mis
terioso (Pv 30.19). Naqueles dias, com certeza, o
■ :mem galanteava aquela que ele considerava ser
■virgem". Há vários contextos, nos quais a virgin-
aade de uma jovem está expressamente em vista.Assim, ‘almãh parece ser usado mais para aludir
a: conceito “virgem”, do que ao estado “solteiro”,
não obstante sempre se referindo a uma mulher que
não tivera dado à luz. Isto torna a palavra ideal para
ser usada em Is 7.14, visto que a palavra htulãh
enfatiza a virilidade mais que a virgindade (embora
seja também usada em ambos os sentidos). Nos dias
c_e precederam o nascimento de Jesus, o leitor de
Is ” .14 leria que uma “virgem que é solteira” conce-
rena um filho. Este era um uso possível, mas irre-
rclar. visto que a palavra só pode se referir ao esta-
a: ãe solteiro. No texto, a criança imediatamente
r —i vista era o filho do profeta e sua esposa (cf. Is
; 5 l que servia como sinal para Acaz de que os
e_s inimigos iriam ser derrotados por Deus. Por
: _ro lado. o leitor daqueles dias devia ter se senti-
c : extremamente incômodo com este uso da pala-
ra. já que sua conotação primária é “virgem” e não
"solteira”. Assim, a tradução clara do grego em Mt.
. -13. por meio da qual esta palavra é traduzida por
■ zrgem". satisfaz sua implicação mais plena. En-
-ã:. não havia nenhum constrangimento para Isaías
c _ a n io sua esposa concebeu um filho dele, consi-
lenuiio que a palavra 'almãh permitia esse senti
do. Também não há confusão no entendimento que
Mateus tem da palavra.
VISÃO
A. Substantivos.
hãzôn (liin): “visão”. Nenhuma das 34 ocorrênci
as desta palavra aparece antes de 1 Samuel, e a sua
maioria está nos livros proféticos.
O termo hãzôn quase sempre significa um meio de
revelação divina. Primeiro, diz respeito ao meio em si,
a uma “visão” profética pela qual as mensagens divi
nas são comunicadas: “Prolongar-se-ão os dias, e pe
recerá toda visão?" (Ez 12.22). Segundo, esta palavra
descreve a mensagem recebida por “visão” profética:
“Não havendo profecia [visão], o povo se corrompe;
mas o que guarda a lei, esse é bem-aventurado” (Pv
29.18). Finalmente, hãzôn retrata a totalidade da men
sagem profética, como está escrito: “Visão de Isaías,
filho de Amoz” (Is 1.1). Assim, a palavra inse-
paravel mente relacionada com o conteúdo de uma co
municação divina, enfoca o meio pelo qual tal mensa
gem é recebida: “E a palavra do SENHOR era de muita
valia naqueles dias; não havia visão manifesta” (1 Sm
3.1, primeira ocorrência da palavra). Em Is 29.7, esta
palavra significa sonho não profético.
hizzãyôn (irjn): “visão”. Este substantivo, que
ocorre nove vezes, em JI 2.28 diz respeito a uma
“visão” profética: “E há de ser que, depois, derra
marei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos
filhos me vossas filhas profetizarão, os vossos ve
lhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões".
Em 2 Sm 7.17 (primeira ocorrência bíblica), hizzãyôn
se refere à comunicação divina e, em Jó 4.13, a um
sonho comum.
B. Verbo.
hãzãh (rnn): “ver, escolher por si mesmo, procu
rar”. Este verbo aparece 54 vezes e em todos os pe
ríodos do hebraico bíblico. Os cognatos desta pala
vra aparecem no ugarítico, aramaico e árabe. Significa
“ver” em geral (Pv 22.29). “ver” uma visão profética
(Nm 24.4) e “selecionar por si mesmo” ou “procu
rar” (Êx 18.21, primeira ocorrência da palavra).
Em Lm 2.14, a palavra quer dizer “ver” em rela
ção à visão dos profetas: “Os teus profetas viram
para ti vaidade e loucura e não manifestaram a tua
maldade”.
VISITAR
A. Verbo.
pãqad ("i?3): “numerar, visitar, estar preocu
pado com, cuidar, fazer uma busca, castigar”. Esta
VISITAR 332 VIVER
mesma palavra semítica antiga é encontrada no
acadiano e no ugarítico muito antes de aparecer
no hebraico. É usada mais dc 285 vezes no Anti
go Testamento. A primeira ocorrência está em Gn
21.1 (“o SENHOR visitou a Sara”) no sentido
especial de "intervir em benefício de”, de modo a
demonstrar a intervenção divina no curso normal
dos eventos para ocasionar ou cumprir um inten
to divino. Esta intervenção é feita por meios mi
lagrosos.
O verbo é usado numa expressão que é única no
hebraico e que mostra grande intensidade de signifi
cados. Tal ocorrência aparece em Ex 3 .16ss, onde é
usada duas vezes em duas formas gramaticais dife
rentes para retratai a intensidade da ação. O texto lê
(literalmente): “Cuidando, eu cuidei” (“Certamente
vos tenho visitado e visto”, Êx 3.16). O uso se refe
re à intervenção de Deus quando libertou os filhos
de Israel da escravidão do Egito. O mesmo verbo em
expressão semelhante também é usado para aludir à
intervenção divina com o fim de castigo: “Por estas
coisas [Eu] não os visitaria?” (Jr 9.9), que significa,
literalmente: “Por estas coisas Eu não os castiga
ria?’
O uso hebraico também permite um uso que se
aplica àquele que fala em sentido quase passivo.
Este uso é chamado reflexivo, visto que retrocede
àquele que fala. O termo pãqad é empregado em tal
sentido com o significado de “perder-se, faltar-se”,
como em 1 Sm 25.7: "Nem coisa alguma lhes faltou
todos os dias que estiveram no Carmelo”.
Contudo, o uso mais geral do verbo em todo o
Antigo Testamento é o sentido de “formar, reunir
ou numerar” tropas para a marcha ou guerra (Êx
30.12 e com muita freqüência em Números; com
muito menos em 1 e 2 Samuel). Algumas traduções
tendem a usar o significado “levantar censo”, mas
este equivalente parece abranger só parte do signifi
cado real. O verbo é usado neste sentido 100 vezes
nos livros históricos.
O termo tem tamanha amplitude dc aplicação de
significados gerais, que a Septuaginta grega e as ver
sões da Vulgata latina usam vários termos para tra
duzir esta singular palavra hebraica.
B. Substantivo.
pãqid (Tp3): “cuidador”. Este substantivo, deri
vado dc pãqid no sentido de “numerar, reunir, for
mar (tropas)”, significa possivelmente “aquele que
forma as tropas”, por conseguinte “oficial, comis
sário” (2 Cr 24.11). Outro exemplo deste significa
do ocorre em Jr 20.1: “E Pasur, filho de Imer, o
sacerdote, que havia sido nomeado presidente na
Casa do SENHOR”.
VIÚVA
'almãnãh (npo/N): “viúva”. Os cognatos desia
palavra aparecem no aramaico, árabe, acadiano.
fenício e ugarítico. O hebraico bíblico a atesta 55
vezes e em todos os períodos.
A palavra descreve uma mulher que, por causa
da morte do seu marido, perdeu a posição social e
econômica. A gravidade da situação era aumentada
se ela não tivesse filhos. Em tal circunstância. ela
voltava para casa do pai e era sujeita à lei do leviratc.
por meio da qual um parente próximo masculino
que sobrevivesse ao mando deveria gerar um filhe
por ela em nome do marido dela: “Então, disse Juda
a Tamar, sua nora: Fica-te viúva na casa de teu pai.
até que Selá, meu filho, seja grande” (Gn 38.11.
primeira ocorrência da palavra). Estas palavras cons
tituem uma promessa a Tamar de que a desgraça ce
estar sem marido e sem filhos seria removida, quar.-
do Selá tivesse crescido o suficiente para se casar
Mesmo que crianças tivessem nascido antes da morte
do marido, a sorte da viúva não era nada feliz (2 Sm
14.5). Israel foi advertido a tratar com justiça as
“viúvas” e outras pessoas socialmente em desvan
tagem, pois o próprio Deus era o protetor delas (Êx
22.21-24).
As vezes, esposas cujos maridos as confinar"
longe de si mesmos são chamadas “viúvas”: “Vin
do, pois, Davi para sua casa, a Jerusalém, tomou o
rei as dez mulheres, suas concubinas, que deixara
para guardarem a casa, e as pôs numa casa em guar
da, e as sustentava; porém não entrou a elas; e esti
veram encerradas até ao dia da sua morte, vivendo
como viúvas'’ (2 Sm 20.3).
A Jerusalém destruída e saqueada é chamada
“viúva” (Lm 1.1).
VIVER
A. Verbo.
hãyãh (n;n): “viver” . Este verbo, que tem
cognatos na maioria dos outros idiomas semíticos
(menos no acadiano), aparece 284 vezes no hebraico
bíblico e em todos os períodos. No radical básico
este verbo conota “ter vida”: “E Adão viveu cento e
trinta anos” (Gn 5.3). Significado semelhante ocor
re em Nm 14.38 e Js 9 .21.
A forma intensiva de hãyãh significa “preser. ar
vivo”: “Dois de cada espécie meterás na arca. para
os conservaresvivos contigo” (Gn 6.19). Esta pa