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1 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S 2 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S 3 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Gildenor Silva Fonseca PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua- ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S 6 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! . É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Bianca Dantas 7 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade aborda as Teorias da Comunicação apresentando- -as quanto ao contexto histórico em que foram criadas, bem como seus principais autores e as contribuições que esses estudos trouxeram para o entendimento dos meios de comunicação de massa e da sociedade. Nes- se sentido, estudamos historicamente como se desenvolveram os princi- pais meios de comunicação de massa no Brasil: a imprensa, o rádio e a televisão. Por fim, discutimos sobre o jornalismo digital e duas de suas fa- cetas: a fragmentação digital e as fake news. Desse modo, nesta unidade, poderemos compreender acerca desses temas de forma sintetizada e ino- vadora, onde, certamente, será de grande contribuição para sua formação teórico-profissional. Teorias da Comunicação. Meios de comunicação. Jornalismo digital. 9 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 AS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 13 20 23 24 26 28 30 32 34 Teoria da Agulha Hipodérmica _________________________________ Teoria Crítica __________________________________________________ Teoria Matemática _____________________________________________ Teoria Culturológica ____________________________________________ Teoria dos Estudos Culturais ____________________________________ O meio é a mensagem _________________________________________ Interacionismo Simbólico ______________________________________ Folkcomunicação ______________________________________________ Recapitulando _________________________________________________ Teoria Funcionalista ___________________________________________ 16 CAPÍTULO 02 A COMUNICAÇÃO DE MASSA E OS PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO NO BRASIL A Relação entre a História e a Imprensa ________________________ O Rádio no Brasil ______________________________________________ 38 41 10 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Recapitulando _________________________________________________ Fechando a Unidade ___________________________________________ Referências ____________________________________________________ 69 72 75 Fragmentação Digital ___________________________________________ Fake News: como elas acontecem e como checar a veracidade das informações ____________________________________________________ Projetos de Lei para o combate as Fake News no Brasil ___________ 56 58 65 CAPÍTULO 03 JORNALISMO DIGITAL, FRAGMENTAÇÃO DIGITAL E FAKE NEWS Jornalismo Digital _____________________________________________ A TV entre os Anos 1950 a 2000: da Inovação ao Cotidiano das Pessoas _______________________________________________________ Os Serviços de Streaming e Novas Formas de se ver Televisão ___ Recapitulando _________________________________________________ 56 46 48 51 11 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S A comunicação é algo inerente ao ser humano. Todos têm a necessidade de nos expressar e isso acontece de diversas formas, mas todas elas perpassam a comunicação. Em toda a sua história, a huma- nidade passou por processos, como o descobrimento da fala, os regis- tros do seu cotidiano através das pinturas rupestres, o surgimento da imprensa e dos meios de comunicação de massa (TV, rádio, etc.), assim como o nascimento da internet e todas as suas facetas (computadores, dispositivos móveis, aplicativos, redes sociais, etc.). Todos esses processos também foram mediados pela tecno- logia, entendida aqui como um conjunto de técnicas, meios e métodos que aperfeiçoaram a comunicação da humanidade. A comunicação não acontece somente apartir da fala, mas tudo que existe ao nosso redor. A maneira como os mais diversos gru- pos sociais difundem suas culturas, informar-nos sobre temas atuais, ler um livro, assistir a um filme ou série, ir ao supermercado e ver o preço dos produtos, ver um outdoor nas ruas ou mesmo ver a propaganda de uma marca, em tudo isso, a comunicação está presente. Nesse sentido, a comunicação é um importante parâmetro para compreendermos o comportamento dos seres humanos, e foi a partir disso que as Teorias da Comunicação surgiram. Neste módulo, vamos estudar todas elas, entendendo em que contexto elas foram concebidas e com que finalidade, assim como o que cada uma acreditava sobre a maneira que a humanidade determina seus processos comunicativos. Por isso, partindo do princípio de que a comunicação está em tudo e faz parte da nossa vida, faz-se necessário entender a importân- cia das Teorias da Comunicação e como elas refletem historicamente as épocas, a política, o comportamento e os hábitos de consumo da humanidade. Nesta unidade, vamos discutir os aspectos históricos das Teo- rias da Comunicação, bem como sua aplicação à cultura brasileira e ao jornalismo digital. No primeiro capítulo, vamos conhecer as Escolas de Comunicação e todas as Teorias da Comunicação, bem como seus principais teóricos. O segundo capítulo tem como proposta estudar a comunicação de massa e os principais meios de comunicação na cultura brasileira. Basearemos nosso estudo na Pesquisa Brasileira de Mídia, im- portante documento divulgado nos últimos anos pelo Governo Federal, com os hábitos de consumo dos brasileiros a respeito dos meios de comunicação. A partir dessa pesquisa, vamos conhecer um pouco da história desses meios na nossa cultura. O terceiro capítulo, por fim, abordará as Teorias da Comunica- 12 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S ção na perspectiva do jornalismo digital, onde estudaremos questões como a fragmentação das informações no meio digital e as fake news, por exemplo. Como material complementar, ao longo da unidade, você terá dicas de filmes, séries, podcasts, propagandas, sites e reportagens que te ajudem a compreender, na prática, a aplicação das Teorias da Comunicação. Bons estudos! 13 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A SNeste capítulo, vamos estudar as Escolas de Comunicação e o surgimento das Teorias da Comunicação numa perspectiva histórica, assim como os seus principais teóricos. Veremos que as Teorias da Co- municação foram muito importantes para compreender a influência dos meios de comunicação na sociedade e o comportamento dos indivíduos quanto aos processos comunicacionais. A TEORIA DA AGULHA HIPODÉRMICA A Teoria da Agulha Hipodérmica surgiu nos Estados Unidos du- rante a década de 1930. Ou seja, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, quando os governos dos principais países en- volvidos nos conflitos precisavam transmitir sua ideologia ao maior nú- mero de pessoas, eram os meios de comunicação de massa (ou mass media) que propagavam essas informações. Hitler, por exemplo, costu- mava usar o rádio para discursar às multidões na Alemanha. De acordo com Wolf (1999), AS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S 14 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S os mass media constituem, simultaneamente, um importantíssimo sector industrial, um universo simbólico objeto de um consumo maciço, um inves- timento tecnológico em contínua expansão, uma experiência individual quoti- diana, um terreno de confronto político, um sistema de intervenção cultural e de agregação social, uma maneira de passar o tempo, etc. (Wolf, 1999, s.p.). O autor também fala sobre a importância do conceito de socie- dade de massa, fundamental para a compreensão da Teoria da Agulha Hipodérmica. Existem vários conceitos sobre o que é a sociedade de massa. Para nosso estudo, ficaremos com a definição de Ortega y Gas- set (1930), apresentada por Wolf (1999): Ortega y Gasset (1930) descreve o homem-massa como sendo a antítese da figura do humanista culto. A massa é a jurisdição dos incompetentes, repre- senta o triunfo de uma espécie antropológica que existe em todas as classes sociais e que baseia a sua ação no saber especializado ligado à técnica e à ciência. Nesta perspectiva, a massa «é tudo o que não se avalia a si próprio - nem no bem nem no mal - mediante razões especiais, mas que se sente “como toda a gente” e, todavia, não se aflige por isso, antes se sente à von- tade ao reconhecer-se idêntico aos outros» (ORTEGA Y GASSET, 1930, p. 8 apud WOLF, 1999, s.p). Surgida na escola estadunidense durante as duas grandes Guerras Mundiais, a Teoria Hipodérmica entendia que o receptor dava, sem resistência, uma resposta imediata a todos os estímulos comunica- cionais. A partir desse entendimento, estudava-se como a propaganda influenciava as pessoas quanto ao entendimento e recepção dos con- teúdos ideológicos por ela propagados, tendo a passividade dos recep- tores como a principal característica dessa teoria. De acordo com Wolf (1999), Os principais elementos que caracterizam o contexto da teoria hipodérmica são, por um lado, a novidade do próprio fenómeno das comunicações de massa e, por outro, a ligação desse fenómeno às trágicas experiências to- talitárias daquele período histórico. Encerrada entre estes dois elementos, a teoria hipodérmica é uma abordagem global aos mass media, indiferente à diversidade existente entre os vários meios e que responde sobretudo à interrogação: que efeito têm os mass media numa sociedade de massa? A principal componente da teoria hipodérmica é, de facto, a presença explícita de uma «teoria» da sociedade de massa, enquanto, no aspecto «comunicati- vo», opera complementarmente uma teoria psicológica da ação. Além disso, pode descrever-se o modelo hipodérmico como sendo uma teoria da propa- ganda e sobre a propaganda; com efeito, no que diz respeito ao universo dos meios de comunicação, esse é o tema central. (WOLF, 1999, s.p.) 15 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Nesse sentido, a partir do fato dos meios de comunicação de massa estarem inseridos no cotidiano das pessoas para informá-las e entretê-las, a teoria ganhou esse nome pela concepção de que os re- ceptores das mensagens, ou seja, a massa, a audiência, recebia as in- formações da mesma maneira, como se tivessem tomado uma injeção cujo efeito fosse a passividade. A Teoria Hipodérmica enxergava o cenário comunicacional fundado na manipulação, já que acreditava que o poder estava com o emissor. Ou seja, de acordo com essa corrente teórica, as pessoas atin- gidas pelas mensagens (jornalísticas ou publicitárias) eram facilmente controladas, manipuladas e induzidas a agir. Os indivíduos eram vistos como seres isolados física e psico- logicamente. Para essa teoria, não existem relações interpessoais na sociedade. Ou, se existem, não são importantes ou muito menos defini- tivas no processo comunicativo. Assim, o grande objetivo dessa teoria era entender como a população tinha seu comportamento influenciado pela comunicação. A partir disso, seria possível criar estratégias de in- fluência no modo como as pessoas se comportariam. A Teoria Hipodérmica, através do behaviorismo (teorias psico- lógicas cujo principal objeto de estudo é o comportamento), analisava os meios de comunicação numa lógica muito limitada e simples, já que considerava os receptores de maneira homogênea, sem levar em con- sideração as especificidades como religião, política, história, etc. Partindo dos paradigmas clássicos que foram abordados, mui- tos avançosocorreram quanto aos estudos sobre a comunicação. No fim da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1948, nos EUA, Harold Las- swel, sociólogo e cientista político estadunidense que viveu entre os anos de 1902 e 1978, avançou na compreensão de que a comunicação ocorria em várias etapas e cada uma delas pode provocar um efeito diferente. Considerado o principal autor da Teoria da Agulha Hipodérmi- ca, Harold Lasswel enxergou falhas nos estudos até então realizados e propôs uma evolução nesse sentido. Ele defendia que, ao contrário do que se acreditava, as mensagens chegavam de modos diferentes para cada destinatário. O ser humano interpreta as informações de acordo com as suas especificidades, mas questões como o uso de apelos emo- cionais, por exemplo, tornam o processo de manipulação mais fácil. Nesse sentido, Laswell identificou cinco questões fundamentais para o entendimento da mensagem midiática: 1) quem?; 2) diz o quê?; 3) através de que canal?; 4) a quem?; 5) com que efeito? Para o autor, as respostas a essas perguntas caracterizavam como completas as mensa- gens. Abaixo, temos um quadro I geral sobre a Teoria Hipodérmica. 16 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Quadro I – Teoria da Agulha Hipodérmica Teoria da Agulha Hipodérmica Surgimento (local e ano) EUA – 1930. Principal teórico Harold Laswell. Paradigmas clássicos Sociedade de massa; Behaviorismo. Temas Estudar os efeitos dos meios de co- municação de massa sobre a socie- dade de massa. Estudar as etapas da comunicação. Conceitos Passividade, alienação, etapas da comunicação: quem, diz o quê, em que canal, a quem e com que efeito. Conclusões O emissor detinha o poder na comu- nicação. Efeitos diferentes em cada receptor. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. - Vídeo sobre a Teoria da Agulha Hipodérmica. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=xV5ZmwGpDGo - Filmes para ajudar na compreensão da teoria: A Onda (Dennis Gansel, 2009, Constantin Film / Highlight Film) O show de Truman (Peter Weir, 1998, Paramount Pictures) TEORIA FUNCIONALISTA Surgida nos Estados Unidos na década de 1950, a Teoria Fun- cionalista recebeu esse nome porque entendia a sociedade como um sistema, um organismo formado por várias partes. Todas essas, por sua 17 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S vez, têm uma função específica. Os estudos dessa teoria sofreram influências diretas do posi- tivismo de Augusto Comte, que tinha como objetivo interpretar os fatos ocorridos com os seres humanos partindo de uma discussão voltada para as ciências naturais. Outro autor que influenciou esses estudos foi o sociólogo Émile Durkheim, que entendia a sociedade como um orga- nismo composto por partes que garantem o funcionamento de um todo por meio de funções específicas. Destacam-se nesta teoria, autores como: Talcot Parsons, so- ciólogo estadunidense que viveu entre 1902 e 1979, e Paul Lazarsfeld, sociólogo americano que viveu entre 1901 e 1976. Contribuindo com o entendimento sobre a teoria funcionalista, Wolf (1999) explica no que ela consiste: A teoria funcionalista dos mass media constitui essencialmente uma aborda- gem global aos meios de comunicação de massa no seu conjunto; é certo que as suas articulações internas estabelecem a distinção entre géneros e meios específicos, mas acentua-se, significativamente, a explicitação das funções exercidas pelo sistema das comunicações de massa. (WOLF, 1999, s.p.). Nesse caso, as funções são os efeitos provocados no todo por uma das partes constituídas. Funcional é tudo que realiza seu trabalho de maneira repetitiva, garantindo, com isso, a estabilidade do sistema. A sociedade era vista como um todo, mas as características individuais eram ignoradas. Assim, surge a Teoria Funcionalista da Comunicação, visando analisar o funcionamento da sociedade através das contribuições dos meios de comunicação de massa. A questão social não são os efeitos, mas as funções sociais exercidas pela comunicação. Descobriu-se que o sistema da comunicação de massa funcio- na porque reforça os modelos de comportamento presentes na socieda- de. Assim, quando os estudos funcionalistas passaram a se aprofundar também nas ciências sociais, seu foco foi deixando de ser sobre o que os meios de comunicação de massa faziam com as pessoas para o que as pessoas faziam com eles. Anteriormente, vimos que a Teoria Hipodérmica acreditava que os meios de comunicação eram mecanismos de massificação social. Nesse sentido, Wolf (1999) expõe as inovações propostas pela Teoria Funcionalista: É este o aspecto em que mais se distancia das teorias precedentes: a questão de fundo já não são os efeitos, mas as funções exercidas pela 18 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S comunicação de massa na sociedade. Assim se completa o percurso seguido pela pesquisa sobre os mass media, que começara por se concentrar nos problemas da manipulação para passar aos da persu- asão, depois, à influência e para chegar precisamente às funções. A mudança conceptual coincide com o abandono da ideia de um efeito intencional, de um objetivo do ato comunicativo subjetivamente per- seguido, para fazer convergir a atenção nas consequências objeti- vamente averiguáveis da ação dos mass media sobre a sociedade no seu conjunto ou sobre os seus subsistemas. A isso correspon- de outra diferença importante relativamente às teorias precedentes: enquanto a segunda e a terceira tratavam essencialmente de situa- ções comunicativas de tipo «campanha» (eleitoral, informativa, etc.), a teoria funcionalista dos mass media -ao mesmo tempo que passa do estudo dos efeitos para o estudo das funções - refere-se a um outro contexto comunicativo. De uma situação específica como uma campanha informativa, passa-se para a situação comunicativa mais «normal» e usual da produção e difusão quotidiana das mensagens de massa. As funções analisadas não estão associadas a contextos comunicativos especiais, mas à presença normal dos mass media na sociedade. (WOLF, 1999, s.p.). Os mass media são efetivos quando as pessoas satisfazem suas necessidades. Desse modo, percebe-se que a audiência é tida como ativa, ao contrário do que defendia a Teoria Hipodérmica perante atitudes, princípios ou comportamentos dos indivíduos. Como funções dos meios de comunicação de massa, determi- nou-se: informar, promover a cultura e o entretenimento, alertar a popu- lação, atribuir status e manter as normas sociais. Quanto às disfunções, estabeleceu-se: alienação das massas devido à enorme quantidade de informações recebidas, tornando as pessoas também insensíveis frente a questões sociais. Aplicando essas concepções ao nosso dia a dia, você pode se perguntar: está conectado a algum aparelho de comunicação? Utiliza com frequência a TV, lê jornais e revistas ou ouve muito o rádio? Por exemplo: quando alguém aparece na mídia, sendo famosa ou não, a pessoa ganha grande visibilidade (tratando-se do alcance em relação ao tamanho da audiência). Isso também ocorre quando outros temas estão em evidência. Assim, os meios de comunicação podem reforçar os status de questões públicas, pessoas ou organizações. Nas últimas décadas, o mundo tem não só acompanhado como também vivenciado a internet se tornar o meio de comunicação que per- mitiu a inclusão digital de uma maioria da população. Nesse sentido, a internet também propiciou, por exemplo, que os mais diversos conteú- dos e indivíduos alcançarem ainda mais pessoas. 19 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Atualmente, é muito comum consumirmos informações através de influenciadores digitais, por exemplo. Redes sociais como o YouTu- be e o Instagram se apresentam como plataformas que permitemo sur- gimento e a consolidação desses novos profissionais da comunicação. No entanto, a internet também abre espaço para que as pes- soas acompanhem mais a vida dos influenciadores, seja em assuntos pessoais, profissionais ou mesmo posicionamentos sobre assuntos re- levantes. Recentemente, Gabriela Pugliesi, influenciadora digital que fala sobre vida fitness, após se curar da Covid-19, pandemia que assola todo o mundo, realizou uma festa em sua casa, contrariando as normas de isolamento e prevenção estabelecidas pelos órgãos de saúde. Além disso, ela também divulgou em suas redes sociais ima- gens da festa. Como resultado, sofreu inúmeras críticas por parte dos seus seguidores e chegou a perder contratos com algumas empresas que a patrocinavam. Assim, podemos pensar que o reforço das normas sociais está diretamente ligado ao que nós chamamos de moral pública, ou seja, regras e normas pré-estabelecidas na sociedade sobre como deveríamos nos comportar, relacionar e viver. Uma das funções da mí- dia é reforçar esses padrões por meio da exposição de condições que estão em desacordo com a moral pública. Por fim, a disfunção narcotizante é o processo que acontece com uma grande parcela da sociedade: ter preocupações superficiais com os problemas sociais. Como somos bombardeados pela mídia com uma grande quantidade de informações, essa disfunção torna os indi- víduos menos críticos diante dos problemas sociais. Abaixo, temos um quadro geral II sobre a Teoria Funcionalista. Quadro II – Teoria Funcionalista Teoria Funcionalista Surgimento (local e ano) EUA – 1950. Principais teóricos Talcot Parsons e Paul Lazarsfeld. Paradigmas clássicos A sociedade opera como um corpo onde cada parte desempenha uma função. Temas Compreender as funções dos mass media na sociedade, bem como a reação das pessoas perante eles. 20 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Conceitos Os MCM têm como funções: infor- mar, promover a cultura, alertar à população em casos de perigo, re- forçar as normas sociais. Também estuda as disfunções dos MCM. Conclusões Os MCM têm funções e disfunções e não são as únicas fontes de satisfa- ção das pessoas. Audiência ativa. Fonte: Elaborada pela autora. Filmes para ajudar na compreensão da teoria: Ilha das Flores (Jorge Furtado, 1989, Casa de Cinema de Porto Alegre) Coringa (Todd Phillips, 2019, Warner Bros. Pictures) TEORIA CRÍTICA A Teoria Crítica foi criada na Alemanha, na Escola de Frankfurt, durante a década de 1930, compreendendo o período entre as duas Guerras Mundiais e as ditaduras na Europa. Entre os seus principais objetivos, estava entender o papel dos meios de comunicação de massa no capitalismo, assim como mostrar como a indústria cultural funciona. Criticava o positivismo, o capitalis- mo e o mito da modernidade. Seus conceitos chaves envolviam a nar- cotização dos sentidos, a alienação dos sujeitos e a indústria cultural como sendo uma organização sistemática dos meios de comunicação de massa na produção e veiculação de produtos. Para essa teoria, os meios de comunicação de massa transmitiam a ideologia burguesa, como uma forma de manipular as classes dominadas e vender produtos 21 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S aos indivíduos. Nesse sentido, a arte tornava-se uma mercadoria. Seus principais integrantes eram Theodor Adorno, nascido em 1903, e Max Horkheimer, nascido em 1895. Esses autores desenvolve- ram o conceito de indústria cultural, a partir de reflexões sobre os efeitos dos avanços tecnológicos ocasionados pela Revolução Industrial e o capitalismo na arte. Em resumo, a indústria cultural trabalha com o pensamento de que a lógica de produção em massa feita na indústria também passou a ser utilizada na produção artística, criando um novo ponto de vista em relação à arte e à cultura na conjuntura capitalista. Nesse sentido, todas as artes seriam impactadas: o cinema, o teatro, a literatura, etc., influen- ciando na maneira em que os próprios artistas passaram a produzir e reproduzir suas manifestações artísticas. Foi assim que esses e outros pesquisadores passaram a estu- dar sobre a utilização da cultura para legitimar interesses das classes dominantes, que administravam a arte criando um padrão, uma lógica de que a cultura deveria fazer sucesso, gerar lucro. Podemos dizer que a indústria cultural tem cinco grandes características: 1) o lucro como seu objetivo, 2) normatização dos gostos e interesses do público, 3) a produção em massa dos produtos artísticos, 4) produtos fáceis de serem adquiridos pela população, 5) homogeneização dos produtos ar- tísticos (filmes, novelas, músicas, peças, etc.). Por que consumimos aquilo que não precisamos? Na indústria cultural, o que ocorre é a implantação da necessidade de consumo. As pessoas compram para alcançar o bem-estar. E os meios de comunica- ção de massa têm um papel decisivo nesse processo, já que incentivam os indivíduos a consumirem e estarem ligados a marcas. Outra maneira em que somos influenciados a consumir, nesse caso informações, é a necessidade saber das últimas notícias anuncia- das nos jornais. A indústria cultural já existia durante a Segunda Guerra, sendo utilizada por Hitler. Atualmente, esse conceito funciona através da lógica de que a felicidade está ligada ao consumo. Veja abaixo um quadro III sobre a Teoria Crítica: 22 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Quadro III – Teoria Crítica Teoria Crítica Surgimento (local e ano) Alemanha, Escola de Frankfurt – 1930. Principais teóricos Horkheimer e Adorno. Paradigmas clássicos Teoria marxista. Temas Compreender o papel dos meios de comunicação de massa no capitalis- mo, mostrar como funcionava a in- dústria cultural. Conceitos Criticava o capitalismo, narcotização dos sentidos, alienação dos sujeitos, a indústria cultural como sistema dos MCM para produção e veiculação de produtos, MCM transmitiam a ideolo- gia burguês. Também estuda as disfunções dos MCM. Conclusões A arte como mercadoria, crítica ao uso dos MCM para manipular ideo- logicamente e o consumo da popu- lação. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. Vídeo sobre a Teoria Crítica. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=2cRmI_bYEyc&t=2s Filmes para ajudar na compreensão da teoria: O sorriso de Monalisa (Mike Newell, 2003, Revolution Studios e Columbia Filmes). 23 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S A TEORIA MATEMÁTICA A Teoria Matemática da Comunicação, também chamada de Teoria da Informação, foi a primeira que começou a se desenvolver no contexto do pós-guerra, dentro de áreas como a matemática e a enge- nharia, ao nível das telecomunicações. De acordo com Wolf (1999), “a teoria matemática da comunicação é, essencialmente, uma teoria sobre a transmissão óptima das mensagens e o esquema do sistema geral de comunicação”. Claudio Shannon, matemático e engenheiro norte-americano que viveu entre 1916 e 2001, foi o seu principal autor. Ele elaborou o Sistema Geral da Comunicação, delineando uma comunicação com- posta com componentes específicos: a fonte como origem da informa- ção, a mensagem como o conteúdo da informação, o codificador, que transforma a informação em códigos, o canal como meio que transporta os códigos, o decodificador como receptor que transformava o códi- go recebido em informação, o destinatário como sendo quem recebe a mensagem transmitida. Essa teoria procurava desvendar os tipos de transmissão das mensagens entre o emissor e o receptor. Criada com o objetivo especí- fico de solucionar questões relacionadas a técnicas de armazenamento, foi desenvolvida em 1949, por dois engenheiros matemáticos: Claude Shannon e Warren Weaver. Segundo essa teoria,o grande intuído da comunicação era de reproduzir, de maneira exata, uma mensagem para outra pessoa. No entanto, mesmo que o emissor escolhesse livremente a mensagem transmitida ao seu receptor, a possibilidade de ocorrem ruídos nesse processo comunicativo ainda existia. Isso pode ser adaptado a qualquer processo de comunicação, como telefone, rádio, televisão, internet, etc., independentemente de suas características. A teoria se dividia em três níveis: técnico, semân- tico e eficácia. O primeiro nível envolvia as circunstâncias técnicas dos dispositivos usados para uma comunicação de qualidade. Já o segundo tratava de explicar que o significado da mensagem não era relevante, pois o que importava mesmo era o aquilo que foi transmitido e recebi- do. Por fim, o terceiro nível se preocupava com que a transmissão da mensagem pudesse acontecer sem ruídos ou desencontros. Desses, o mais importante é o nível técnico. Veja abaixo um quadro IV sobre a Teoria Matemática: 24 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Quadro IV – Teoria Matemática Teoria Matemática Surgimento (local e ano) EUA – 1940. Principais teóricos Claude Shannon. Paradigmas clássicos Matemática e engenharia. Temas A comunicação pode ajudar a encon- trar problemas e ruídos na troca das informações. Conceitos A comunicação como um procedi- mento sequencial: emissor – mensa- gem – canal – receptor. Conclusões Valorizava muito o emissor, esquema que permitia verificar a troca de infor- mação. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. Vídeo sobre a Teoria Matemática. Acesse em: https://www.youtube.com/watch?v=scW0_oPsLX8 TEORIA CULTUROLÓGICA Criada na França durante a década de 1960, a Teoria Cultu- rológica tem como seu principal autor Edgar Morin, um antropólogo, sociólogo e filósofo francês nascido no ano de 1921. Essa teoria entendia que a cultura nascia da associação entre o imaginário e o real, analisando, entre outras coisas, as consequên- cias sociais da introdução dos símbolos feita pela indústria cultural na sociedade de massa, que supostamente trariam felicidade ao resgatar a identidade de determinados grupos sociais. Por exemplo, em 2020, completa-se dez anos da morte do es- critor português José Saramago. A imprensa de vários países fez ma- térias jornalísticas, reportagens sobre a data numa tentativa de imagi- 25 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S nar o que o escritor diria sobre os temas da atualidade. Resgatando a imagem de um ícone, não ocorre bem uma imposição da mídia sobre a sociedade, mas ela se aproveita de um momento histórico, porque, se- gundo a teoria, ela apenas nos fornece o que a massa deseja. Ou seja, a literatura de José Saramago faz parte do imaginário social. Em seu livro O Espírito do Tempo, Morin procura refletir sobre a forma de cultura da sociedade contemporânea, frisando, em comple- mentação, os produtos culturais que circulam nos meios de comunica- ção de massa e sua capacidade de interferir no cotidiano. De acordo com Wolf (1999), A sua característica fundamental é o estudo da cultura de massa, distinguin- do os seus elementos antropológicos mais relevantes e a relação entre o consumidor e o objeto de consumo. Por conseguinte, a teoria culturológica não diz diretamente respeito aos mass media e, muito menos, aos seus efei- tos sobre os destinatários: o objeto de análise que, programaticamente, se procura atingir é a definição da nova forma de cultura da sociedade contem- porânea (WOLF, 1999, s.p.). Segundo a Teoria Culturológica, a cultura de massa não é so- berana, mas originada da cultura nacional. Ou seja, a cultura de massa não determina os padrões ou símbolos que a sociedade adota. Essa apenas utiliza da padronização desenvolvida espontaneamente pelo ideal popular para exploração em benefício próprio. Desse modo, para os culturólogos, a cultura de massa não dá novas origens, mas se adapta aos desejos da massa, ao mesmo tempo em que interfere neles. Nesse cenário, é possível enxergar, na prática, a ideia de “industrialização dos sonhos”, onde os meios de comunicação de massa exploram o que é suprimido da vida real, por exemplo, a reto- mada de coisas do passado, como músicas, roupas, filmes, etc. Esse retorno do popular antigo não é uma imposição, mas um resgate do símbolo socialmente intrínseco. Através do sentimento nos- tálgico causado, somado ao apreço que a sociedade tem nesses símbo- los, os meios de comunicação se aproveitam frequentemente para ven- der e revender o mesmo produto, com a mesma essência, apresentado de formas e em tempos diferentes. Músicas, filmes, programas de TV, moda, revistas, danças, etc. Na indústria de massa, a superficialidade está presente em tudo. Nas obras audiovisuais, por exemplo, é notável o conceito de final feliz que marca os filmes hollywoodianos, quanto às novelas brasileiras ou dese- nhos animados de diversos países buscam sempre apresentarem um final onde tudo termina bem. Ainda sobre essa ideia sobre tudo ser perfeito, Morin fala so- 26 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S bre os olimpianos, que trata da criação de “semideuses” da mídia, isto é, celebridades às quais todos devem submeter suas práticas. Essas criações representam a junção entre a realidade, os atos das pessoas comuns e o imaginário. Veja abaixo um quadro V sobre a Teoria Cultu- rológica. Quadro V – Teoria Culturológica Teoria Culturológica Surgimento (local e ano) França – 1960. Principais teóricos Edgar Morin. Paradigmas clássicos Arte, História e Mitologia. Temas Estuda a cultura de massa com o objetivo de estabelecer uma nova cultura. Conceitos A cultura é a reunião de símbolos, imagens, mitos e princípios respon- sáveis por construírem o imaginário coletivo. Conclusões A cultura de massa une o real e o simbólico numa perspectiva de três culturas: a tradicional, a de elite e a popular. Necessidades culturais de consumo: amor, felicidade, liberdade, bem-es- tar, etc. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. TEORIA DOS ESTUDOS CULTURAIS Os Estudos Culturais são um campo de pesquisas britânico desenvolvido na década de 1960 no Center for Contemporany Cultural Studies (CCCS), localizado na Universidade de Birmingham. O surgi- mento dessa teoria aconteceu após transformações dos princípios da classe operária. Seus principais teóricos foram Raymond Williams, aca- dêmico e crítico que viveu entre 1921 e 1988, e Stuart Hall, sociólogo jamaicano que viveu entre 1932 e 2014. Os elementos culturais anteriormente desvalorizados dos 27 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S meios de comunicação de massa e da cultura popular, bem como a vida cultural trabalhadora, eram aspectos estudados nessa teoria, que inaugurou a visão de que no contexto popular não existia somente a conformidade, a subordinação. Pelo contrário, existia também oposição e resistência. As contribuições de Raymond William foram essenciais para a teoria. Em seu texto Culture & Society: 1780-1950, ele difundiu, de um ponto de vista particular, a história da literatura, apresentando a ideia de que a cultura é fundamental para ligar os estudos relacionados à literatura e à sociedade. Outra contribuição dada por esse autor foi nas discussões sobre como os meios de comunicação de massa afetam a cultura na sociedade. Já Stuart Hall foi responsável por fomentar as investigações de hábitos de resistência em pequenas culturas, onde era possível identificar o papel fundamental dos meios de comunicação de massa nesse contexto. O grande foco de investigação dos estudos culturais diz res- peito a como a sociedade e a cultura contemporânea se relacionam. Como a teoria surgiu a partir da observação da realidade de operáriosingleses, eram as práticas de resistência cultural e identitárias desses grupos que figuravam como o cerne dessa teoria. A Teoria dos Estudos Culturais também analisava a cultura como algo manifestado de diferentes formas, variando de acordo com cada grupo ou com o período em que era vivenciada. Nesse sentido, a cultura também era vista como um fruto das interações sociais vividas no passado e no presente, podendo também exercer transformações no próprio futuro. Partindo desses princípios, a cultura envolvia as práticas erudi- tas, tradicionais, de elite e também a dos trabalhadores e microgrupos sociais, todos em busca de representação. Um dos pontos chave dessa teoria era contestar práticas culturais divididas hierarquicamente, como se uma fosse superior ou inferior a outra, como se uma tivesse mais qualidade do que a outra. Com o passar dos anos, a Teoria dos Estudos Culturais foi en- globando em seus estudos diversos temas de pesquisa. Além da cultura que se desenvolvia entre as relações sociais, temas como questões raciais, de gênero, de classe, etnia, identidade sexual, etc., questões de classe também passaram a compor o quadro desse campo de in- vestigação. Nesse sentido, é fundamental compreender que a cultura não pode ser estudada de uma maneira isolada, mas deve envolver a realidade de cada grupo analisado. A partir disso, é possível perceber a importância dessa teoria para os estudos da comunicação no geral. Todos os temas estudados 28 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S nesse campo de pesquisa colocaram essa teoria num lugar de desta- que internacional, o que ressalta ainda mais sua relevância e contribui- ção. Vejamos no quadro VI abaixo: Quadro VI – Teoria dos Estudos Culturais Teoria dos Estudos Culturais Surgimento (local e ano) Inglaterra – 1960. Principais teóricos Raymon Williams e Stuart Hall. Paradigmas clássicos Interdisciplinaridade entre sociolo- gia, marxismo e história. Temas Entende a cultura como uma fonte para os estudos de todos os aspec- tos de uma sociedade. Conceitos Estudar a cultura popular pode re- velar como se entrelaçam questões como a política, a economia, os mo- dos de vida, etc. Posteriormente, passam a estudar as construções das identidades das minorias e formas de resistências po- líticas. Conclusões Os estudos culturais devem contri- buir para desconstruir estereótipos gerados pelas desigualdades do ca- pitalismo. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. O MEIO É A MENSAGEM Seu principal teórico foi Marshall McLuhan (1911-1980), cana- dense filósofo, educador e teórico da comunicação. Seus estudos se destacaram, entre outras coisas, pela máxima de que o meio é a men- sagem, assim como pela criação do termo aldeia global. Ele estudou os impactos das novas tecnologias e os impactos dos meios de comunica- 29 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S ção na sociedade. Mashall McLuhan pensava mais em técnicas do que em comu- nicação. Foi pioneiro a chamar atenção para a ideia de que os meios que transmitiam as mensagens, ao invés das mensagens que eram re- passadas pelos meios. Ou seja, para o autor, o meio ao qual a men- sagem é levada ao conhecimento do público é mais importante que a própria mensagem. Outra característica desse teórico eram seus pensamentos vi- sionários. Ainda nos anos 1950, ele acreditava que, no futuro, uma rede mundial de computadores deixaria todas as informações disponíveis. Hoje isso parece normal, já que a internet faz parte do nosso cotidiano, mas o computador foi inventado na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, na época utilizada apenas para fins militares. Para McLuhan, os meios de comunicação operavam como uma extensão do corpo humano. Nos anos 1950, isso poderia parecer uma ideia muito moderna, mas, hoje, vivendo numa sociedade onde nós ouvimos música com um fone conectado às orelhas, podemos per- ceber que o corpo real e o virtual se tornam um só. Já nos anos 1960, McLuhan criou o conceito de aldeia global, onde ele compara o planeta a uma aldeia onde as pessoas poderiam se comunicar com facilidade mesmo estando em lugares diferentes do mundo, graças ao progresso tecnológico, o que nos remete à internet e à proporção que ela tomou nas nossas vidas hoje. Segundo Wolf (1999), por isso, McLuhan fala da «aldeia global» em que o mundo se transformou, precisamente como resultado das mutações provocadas pelos meios elec- trónicos: a territorialidade física é transposta pela mundovisão, assim como a distância se torna inexistente pela cobertura televisiva. Nesta perspectiva, os mass media são outras tantas expansões do homem, transformam-se nas mensagens que transmitem e essas modificam o receptor. Todas as tecnolo- gias comunicativas - no sentido lato - são, de facto, analisáveis como exten- sões do sistema físico e nervoso do homem (WOLF, 1999, s.p.). McLuhan também fez uma distinção entre meios quentes e meios frios. Pense como é a sua interação com a TV: quando você está assistindo, usa mais de um sentido, a visão e a audição. Assim, sua in- teração é maior e você leva menos tempo para entender a mensagem. A isso ele classificava como um meio frio. Já o rádio, por exemplo, usa apenas a audição. Qualquer dispersão compromete a mensagem. Exi- ge pouca interação, você pode estar ouvindo, mas vendo algo que cha- ma sua atenção e se dispersar. A isso ele chamava um meio quente, ou seja, o autor nos ensina a ver o meio de comunicação de uma maneira mais técnica. Vejamos abaixo no quadro VII: 30 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Quadro VII – O meio é a mensagem / Aldeia Global O meio é a mensagem / Aldeia Global Surgimento (local e ano) Canadá – 1960. Principais teóricos MacLuhan. Paradigmas clássicos Determinismo tecnológico. Temas As tecnologias comunicacionais transformam o mundo numa aldeia global conectada. A maneira que a mensagem chega e é interpretada sofre alterações pe- las características tecnológicas dos meios. Conceitos Meios quentes como prolongamentos de um sentido, aprofundando a infor- mação (rádio). Meios frios não saturam a informação (TV). Conclusões Os MCM são uma extensão do ho- mem e alteram a maneira de perce- ber o mundo. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. INTERACIONISMO SIMBÓLICO Surgida na Escola de Chicago, nos Estados Unidos, durante os anos 1950, o Interacionismo Simbólico estudava as relações humanas sob uma perspectiva sociológica onde os significados particulares de cada indivíduo se misturam durante as interações interpessoais. Seus principais teóricos foram: George Mead, filósofo ameri- cano que viveu entre 1863 e 1931; Peter Berger, sociólogo e teólogo austríaco que viveu entre 1929 e 2017; e Thomas Luckmann, sociólogo austríaco que viveu entre 1927 e 2016. 31 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S De acordo com o Interacionismo Simbólico, o modo como cada indivíduo significa e interpreta o mundo determina suas ações. Nesse sentido, o significado de cada coisa vai sendo criado ao mesmo tempo em que as relações sociais se desenvolvem, numa intepretação sobre como essas pessoas se comportam. Herbert Blumer (1969) estruturou as pesquisas dessa teoria da seguinte maneira: Essa teoria baseava-se em três premissas: a primeira estabelece que os seres humanos agem em relação ao mundo fundamentando-se nos significa- dos que este lhes oferece. A segunda consiste no fato de os significados de tais elementos serem provenientes ou provocados pela interação social que se mantém com as demais pessoas. A terceira, por fim, diz que tais significa- dos são manipulados por um processo interpretativo e por este modificado, utilizado pela pessoa ao se relacionar com os elementoscom que entra em contato. (BLUMER, 1969, p.2). Desse modo, entendemos que a vida de cada pessoa é fruto da sua capacidade comunicativa, bem como do contexto social em que está inserida. Ou seja, a vida social do indivíduo resulta da sua capaci- dade de se comunicar. Isso explica o fato de termos comportamentos diferentes em determinados ambientes ou com determinados grupos sociais. Assim, pode-se afirmar que as bases do Interacionismo Sim- bólico são as interações que acontecem nas relações sociais e como elas contribuem para elaborar o significado particular que cada indiví- duo carrega. Como sabemos, a comunicação vai muito além da simples tro- ca de informações. De acordo com essa teoria, os meios de comuni- cação são mecanismos de interação. Veja abaixo um quadro geral VIII com as principais informações sobre o Interacionismo Simbólico. Quadro VIII – Interacionismo Simbólico Interacionismo Simbólico Surgimento (local e ano) EUA – 1950. Principais teóricos Berger e Luckmann. Paradigmas clássicos Psicologia, sociologia do conheci- mento, sociologia social. Temas As interações sociais são muito im- portantes para a construção de sig- nificados nas trocas comunicativas. 32 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Conceitos A interação do “eu” com os outros, com os grupos dá sentido à comuni- cação e constrói novos signos. Conclusões São as relações sociais que ofere- cem repertórios às pessoas para que construam interpretações dos fenômenos à sua volta. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. FOLKCOMUNICAÇÃO Por fim, agora falaremos sobre a Folkcomunicação, a primeira contribuição brasileira às Teorias da Comunicação. Nos anos 1960, Luiz Beltrão iniciou suas pesquisas a fim de estudar os processos comunica- cionais da cultura, a folkcomunicação. A principal diferença dos estudos dessa teoria para as outras aqui abordadas é que seu foco de pesquisa está centrado em grupos à margem da sociedade, tanto economica- mente quanto culturalmente. A temática de sua tese caracterizava os objetos, desenhos e fotografias depositadas pelos fieis nos altares das igrejas como um ri- tual cultural. Beltrão, através da observação, faz a relação de que essa forma de expressão silenciosa era uma forma de comunicação. A folkcomunicação parte de um grupo social normalmente mar- ginalizado ou reprimido que começa a se expressar de diversas ma- neiras a partir disso. Como exemplos, podemos citar o tradicionalismo gaúcho, o carnaval, a festa junina, o grafite, a literatura de cordel, cos- tumes religiosos, etc. Essa teoria parte do pressuposto do fluxo comunicacional de Lazarsfeld, onde há um líder de opinião que desempenha a função de decodificar a mensagem filtrando as informações que interessam ao seu grupo. O comunicador folk, jornalista ou não, não tem a preocupa- ção com a imparcialidade. Ele defende os ideais do movimento em que está inserido, passando as informações através dos meios de comuni- cação desses grupos marginalizados. Mas, a teoria de Beltrão foi mais além. Os estudos da folkco- municação passaram a se relacionar com a internet, o que trouxe gran- de evolução para as pesquisas. Por fim, essa teoria envolve trocas de informações, ideias, pontos de vista e ações de grupos marginalizados, sejam eles urbanos ou rurais, diretamente ou indiretamente ligados ao 33 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S folclore. Beltrão menciona o autor Edison Carneiro para relacionar a comunicação popular ao folclore. “Sob a pressão da vida social, o povo atualiza, reinterpreta e readapta cons- tantemente os seus modos de sentir, pensar e agir em relação aos fatos da sociedade e aos dados culturais do tempo”, fazendo-o através do folclore, que é dinâmico porque “não obstante partilhar, em boa percentagem, da tra- dição e caracterizar-se pela resistência à moda... é sempre, ao tempo que uma acomodação, um comentário e uma reivindicação” (CARNEIRO, 1950, s.p. apud BELTRÃO, 1980, p. 24). Veja abaixo o quadro IX com as principais informações sobre a Folkcomunicação. Quadro IX - Folkcomunicação Folkcomunicação Surgimento (local e ano) Brasil – 1960. Principais teóricos Luís Beltrão. Campos de estudos A difusão da comunicação popular e folclore nos meios de comunicação de massa, comunicação de grupos rurais e urbanos culturalmente à margem da mídia. Fonte: Elaborada pela autora, 2020. 34 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2010 Banca: FUNCAB Órgão: DETRAN-PE Prova: Jornalista É correto afirmar que, para conceituar a segunda Teoria Crítica da Sociedade, Horkheimer e Adorno utilizam o termo “Indústria Cultu- ral” para se referir a: a) Indústrias interessadas na produção de bens culturais em massa. b) Técnicas específicas para a produção de bens culturais em massa. c) Técnicas de difusão dos bens culturais em massa. d) A transformação da cultura em mercadoria. e) A transformação da indústria em mercadoria. QUESTÃO 2 Ano: 2011 Banca: CESPE/CEBRASPE Órgão: Correios Prova: Ana- lista de Correios - Jornalismo De acordo com as teorias da comunicação, julgue os itens que se seguem. Tanto a teoria da agenda setting quanto a teoria hipodérmica tra- tam de efeitos comportamentais diretos e imediatos e consideram que o público é incapaz de reagir criticamente aos temas agenda- dos pelos meios de comunicação. ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 3 Ano: 2013 Banca: CESPE/CEBRASPE Órgão: BACEN Prova: Ana- lista - Gestão e Análise Processual Acerca das teorias da comunicação, julgue os itens a seguir. O paradigma da sociedade de massa está presente em diversas teorias da comunicação surgidas no século XVI. Apesar de dife- rentes em abordagens, a teoria hipodérmica, a teoria crítica e o agendamento, por exemplo, vinculam-se à ideia de que os meios de comunicação provocam forte efeito nos indivíduos. ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 4 Ano: 2017 Banca: CS-UFG Órgão: DEMAE - GO Prova: Propaganda e Marketing A teoria crítica situa-se dentro do que se convencionou chamar de Escola de Frankfurt e tem como fundamento: 35 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S a) O pensamento crítico à esquerda alemã, após a ascensão ao poder do nacional-socialismo. b) O estudo da atribuição do status de arte aos conteúdos veiculados pela mídia. c) A análise crítica à ótica economicista, buscando também uma refle- xão sobre sociedade e cultura. d) A compreensão dos meios de comunicação de massa como forma de emancipação operária. QUESTÃO 5 Ano: 2015 Banca: CESPE / CEBRASPE Órgão: FUB Prova: Produ- tor Cultural Acerca da teoria da comunicação, julgue o item a seguir. As questões culturais vividas no século XX — incluindo as guer- ras mundiais e seus desdobramentos — influenciaram o compor- tamento social da época e foram fundamentais para o desenvolvi- mento das teorias crítica e hipodérmica, entre outras. ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Reflita sobre uma das teorias abordadas no capítulo, bem como os seus principais autores, e disserte sobre como esses estudos contribuíram para os avanços das pesquisas em comunicação. É importante situar qual foi a teoria escolhida, bem como a sua contribuição e o porquê de escolha. TREINO INÉDITO Sobre a Teoria da Agulha Hipodérmica, é correto afirmar: a) Surgiu no Brasil para estudar os processos culturais e comunicacio- nais de grupos marginalizados. b) Seu principal autor foi Luckmann. c) Acreditava que os receptores tinham visão crítica frente às informa- ções recebidas. d) Defendia que os meios de comunicação de massa eram uma exten- são do corpo humano. e) Surgiu nos anos 1930, nos EUA, e acreditava que os receptores pas- sivamente às informações. 36 O S A SPE C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S NA MÍDIA BOLSA FAMÍLIA: GOVERNO TRANSFERE r$ 83,9 MILHÕES PARA INVESTIR EM PROPAGANDA O governo federal retirou R$ 83,9 milhões que seriam usados no pro- grama Bolsa Família para destinar à Secretaria Especial de Comunica- ção Social da Presidência (Secom). A medida atinge os recursos pre- vistos para a região Nordeste do País e causou críticas no Congresso por ocorrer durante a pandemia do coronavírus, quando muitas famílias estão sem fonte de renda. O dinheiro será utilizado para comunicação institucional, ou seja, para fazer publicidade das ações da gestão de Jair Bolsonaro. A portaria que prevê a transferência dos recursos do Orçamento foi pu- blicada na edição desta terça-feira, 2, no Diário Oficial da União (DOU). O ato foi assinado pelo secretário executivo do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues. Segundo técnicos do Congresso, como não há re- curso extra, apenas realocação dentro do Orçamento, não é preciso de aval dos parlamentares. O valor total destinado ao Bolsa Família no ano inteiro é de R$ 32,5 bilhões. Fonte: CORREIO BRAZILIENSE. Data: 04 jun. 2020. Leia a notícia na íntegra: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/06/04/ interna_politica,861188/bolsa-familia-governo-transfere-r-83-9-milhoes- -para-investir-em-propa.shtml NA PRÁTICA A publicidade infantil é um excelente exemplo da Teoria Hipodérmica, também conhecida como a Teoria da Bala Mágica. Isso porque na pu- blicidade infantil, por exemplo, na venda de produtos como o lego, as crianças estão em processo de formação psicológica e comportamen- tal, não tendo o discernimento e opinião sobre um assunto. A informa- ção chega até o receptor e é absorvida pelo mesmo. No caso das crian- ças, elas veem e ouvem o conteúdo, é despertado o desejo de possuir o objetivo. Fonte: https://portalintercom.org.br/anais/nordeste2013/resumos/R37- 0726-1.pdf 37 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Como já vimos, a comunicação de massa serviu, entre outras coisas, para disseminar as informações em grande escala de audiência. Essas informações podem ser de caráter jornalístico, como as notícias e reportagens, do ponto de vista do entretenimento, como as novelas ou reality shows, ou também sob o aspecto comercial, como é o caso das propagandas. Para que essa comunicação aconteça atingindo um público grande, foi preciso que os meios de comunicação passassem a fazer parte do cotidiano da sociedade. Isso foi possível após a produção dos mesmos enquanto produto, quando as pessoas puderam adquiri-los e inseri-los em seus lares, ambientes de trabalho ou mesmo de lazer. A seguir, vamos acompanhar a história dos principais meios de comunica- ção de massa no Brasil. A COMUNICAÇÃO DE MASSA & OS PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNI- CAÇÃO NA CULTURA BRASILEIRA O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S 38 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S A RELAÇÃO ENTRE A HISTÓRIA E A IMPRENSA A Família Real portuguesa desembarcou no Brasil no dia 08 de março de 1808. Cerca de um mês depois, a corte real criou a Imprensa Régia, responsável pela publicação de livros oficiais e da Gazeta do Rio de Janeiro. Antes da sua publicação, era terminantemente proibido a qualquer cidadão brasileiro o acesso a qualquer tipo de publicação. Primeiro jornal impresso a circular no país, a Gazeta do Rio de Janeiro, criada em 10 de setembro de 1808, tinha como objetivo divulgar assuntos vinculados ao governo ou à política internacional, por exem- plo, os conflitos napoleônicos ou a instabilidade das colônias espanho- las. Publicado duas vezes por semana, suas máquinas de impressão ficavam dentro de quartéis, onde era realizada uma censura prévia do jornal. Além de notícias, o impresso ainda contava com anúncios. Seus primeiros editores foram Tibúrcio José da Rocha, Manoel Ferreira de Araújo Guimarães e Francisco Vieira Goulart. O primeiro jornal independente e sem censura do Brasil foi o Correio Braziliense, publicado na Inglaterra por Hipólito da Costa e ven- dido clandestinamente no nosso país. O jornal era publicado mensal- mente e dividido em quatro sessões: política, literatura, ciência, comér- cio e artes, reflexões e correspondências. Nesse periódico, Hipólito da Costa defendia ideias liberais e dava ampla cobertura a acontecimentos políticos como a Revolução Pernambucana de 1817. Devido ao impacto causado pelo jornal, a Coroa Portuguesa chegou até a patrocinar um concorrente em Londres para minimizar os prejuízos causados pelo jornal. O Correio Braziliense esteve em circu- lação entre 01 de junho de 1808 até a independência do Brasil, quando perdeu sua utilidade. Ao todo, foram publicados 175 números, em 29 volumes, e editados em aproximadamente quinze anos. Em 1811, foi publicado o primeiro jornal da então província da Bahia, o Idade D’Ouro do Brasil, feito por Manuel Antônio Silva Serva. O impresso possuía quatro páginas e circulava às terças e sextas, entre os anos de 1811 e 1823. A sua linha editorial era conservadora, defendo o absolutismo monárquico português. A Revolução do Porto, ocorrida em Portugal em 1920, determi- nou a volta da Família Real à Europa e a instalação de uma monarquia constitucional e a liberdade de imprensa, liberdade que só viria chegar ao Brasil no dia 28 de agosto de 1821. A partir daí, o jornalismo impres- so cresceu muito. Nessa data, também acontece o fim da censura no Brasil, acompanhada da grande expansão que o jornalismo impresso tomou, 39 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S com a criação de títulos como O Bem e a Ordem, jornal que defendia ideias separatistas que circulou entre agosto e dezembro de 1821; o Diário do Rio de Janeiro, que inovou com a publicação de anúncios, mas tinha a linha editorial favorável à Independência do Brasil e circulou até 1878; já o Conciliador do Reino Unido, lançado em 1821, defendia a formação de um reino unido sob a forma de uma monarquia com direi- tos iguais entre Brasil e Portugal. Dentre outros exemplos de jornais impressos brasileiros no começo da história desse tipo de modalidade jornalística, também po- demos citar: A Reclamação do Brasil, jornal com ideias monarquistas criado em 1822; O Espelho, jornal que existiu entre 1821 e 1827 e publi- cava artigos de D. Pedro; Correio do Rio de Janeiro, com linha editorial democrata que durou de 1822 a 1823; A Malagueta, jornal liberal de forte oposição, etc. No Norte e no Centro-Oeste do Brasil, os jornais encontram várias dificuldades para a sua produção. Isso decorre da sua localiza- ção geográfica desfavorável ao desenvolvimento, dificuldades para ter o equipamento apropriado e uma população de muitos analfabetos (por isso mesmo, também poucos consumidores). Muitas tentativas de cria- ção de jornais na região foram feitas, mas a única exceção a esse qua- dro é o Distrito Federal, com jornais de maior expressão. Em abril de 1869, foi lançado o jornal O Rio Branco, que perten- cia aos Diários Associados, marcando o verdadeiro início da imprensa no Acre. No Amazonas, o Jornal do Comércio é o mais antigo e tradicio- nal, criado por Rocha dos Santos em 1904. Outros jornais importantes dessa região são os paraenses O Liberal e Tribuna da Calha. Gazeta de Rondônia e Brasil Norte são os principais jornais de Rondônia e Ro- raima, respectivamente. No Centro-Oeste, entre os jornais da capital brasileira se des- tacam: Diário Oficial, Jornal de Brasília, e, principalmente, o Correio Braziliense, fundado por Assis Chateaubriand em 1960 junto com a ci- dade. Os mato-grossenses Diário de Cuiabá, Folha do Estado, A Ga- zeta, Correio do Estado, fundadoem 1964 e Folha do Povo, ambos do Mato Grosso do Sul, junto com os goianos O Popular e Diário da Manhã completam os principais jornais da região. No Nordeste, desde o início, os periódicos foram propriedade de políticos influentes, como o Diário de Pernambuco, o mais antigo periódico em circulação na América Latina, que era controlado por Rosa e Silva, que usava o jornal para seus interesses políticos. Gazeta de Alagoas, principal jornal do Estado, foi fundada em 1934 pelo jornalista Luís Magalhães da Silveira. No final da década de 1940, ele foi vendido à Cooperativa Editora Publicitária de Alagoas, sendo pioneiro em tec- 40 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S nologia no Estado. Hoje, ele é associado ao ex-presidente Fernando Collor de Mello e segue sendo o principal jornal do Estado. No Maranhão, o Estado do Maranhão assume esse papel e tem como dono José Sarney, que comprou O Dia, mudando seu nome em 1959. Em 1987, ele passa a se modernizar como os jornais do Su- deste. Na Bahia, o Jornal da Bahia, periódico que circulou ente 1959 e 1994, teve como repórter o cineasta Glauber Rocha, que sofreu gran- des perseguições, entre 1969 e 1972, de Antônio Carlos Magalhães que utilizou meios jurídicos devido ao Ato Institucional nº 5. Entretanto, o jor- nal não mudou sua postura. Em 1994, ele faliu devido à má reputação. O jornal paraibano O Norte, fundado em 1908, considerado um dos mais modernos da época, por causa de dificuldades financeiras, passou a entrar em embates políticos apoiando o então candidato à presidência Epitácio Pessoa. O jornal foi fechado duas vezes: a primei- ra, na década de 1920, por ser favorável à Epitácio e a segunda, em 1930, por ser contra João Pessoa e apoiando Washington Luís, então presidente da República, voltando a circular apenas em 1935. No ano de 1954, ele é comprado pelo grupo Diários Associados. O Povo é o jornal cearense mais importante. Fundado em 1928, recebeu esse nome dos proprietários e tinha como proposta defender a sociedade contra as oligarquias dominantes da época e, assim, levar o desenvolvimento ao Ceará. As regiões Sul e Sudeste, apesar de serem as mais influentes do país, sofrem o impacto da presença dos grandes conglomerados que controlam as informações, como as Organizações Globo e os grupos paulistas Folha de São Paulo, O estado de São Paulo, Abril, RBS, Re- cord, etc. As Organizações Globo são o maior conglomerado de mídia e comunicação da América Latina. Elas começaram com o jornal O Glo- bo, em 1925. Hoje é dona dos jornais Extra, Expresso e Valor Econômi- co, além de doze revistas. Outro jornal de importância histórica é A Tribuna, criada pelo jornalista Carlos Lacerda em 1949. Nesse jornal, ele colocava suas opi- niões políticas contra Getúlio Vargas, João Goulart e, mais tarde, os mi- litares. No Sul, a RBS, fundada em 1953 é o principal grupo de mídia da região. São donos dos jornais mais importantes como Zero Hora, Diário Gaúcho, Diário Catarinense, A Notícia, Hora de Santa Catarina, etc. No entanto, é importante ressaltar o Diário dos Associados, fundado por Chateaubriand. Esse foi o primeiro conglomerado a nível nacional. Entre 1930 e 1970, era um império jornalístico que deu a Cha- teaubriand o título de “Rei do Brasil”. Ele usava seus 36 jornais, suas 18 revistas, suas 02 agências de notícias, além das 25 emissoras de rádio e 15 retransmissoras de TV para influenciar a sociedade. Esse grupo 41 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S entrou em decadência a partir de 1968 e hoje possui poucos jornais no Sudeste e no Sul. Neste tópico, vimos a relação entre a história e a imprensa, bem como os principais jornais do Brasil. Agora, veremos como o rádio se firmou no nosso país como um dos principais meios de comunicação. O RÁDIO NO BRASIL A história do rádio no Brasil começa com uma injustiça come- tida com um brasileiro. Quando se fala nos primeiros experimentos do rádio, surgem os nomes como os de Thomas Edison e Nikola Tesla, mas muita gente ainda não conhece o padre Roberto Landell de Moura. A partir do ano de 1893, antes dos europeus, ele teria construí- do e patenteado uma série de equipamentos de transmissão de ondas de rádio e até feito alguns experimentos bem-sucedidos de envio e re- cepção da voz humana. No entanto, a documentação da época sempre foi muito limitada, assim como os relatos também são raros. O evento mais famoso é de 1899, em São Paulo, quando ele conseguiu bater o recorde de distância de transmissão radiofônica da época com seu aparelho, o teleforo: 7 km. No entanto, a ideia não foi à frente. A Câmara dos Deputados de São Paulo negou o pedido do pa- dre por mais recursos para desenvolver os experimentos e começar a industrialização dos aparelhos. Ele ainda teve as patentes concedidas nos Estados Unidos muito mais tarde, em 1904, e acabou abandonando a carreira de inven- tor em 1910. Landell passou muito tempo esquecido, mas, felizmente, nos últimos anos, pesquisadores e biógrafos têm contado a sua história para manter viva a memória desse patrono do rádio brasileiro. Em 06 de abril de 1919, foi fundada a primeira emissora de rádio do Brasil: a Rádio Clube Pernambuco, inaugurada por um grupo de amigos fãs de rádio e telegrafia em Recife. Com discos emprestados e a presidência de Augusto Joaquim Pereira, eles transmitiam música para um receptor que só funcionava usando fones de ouvido, já que isso foi antes da chegada das válvulas. A primeira transmissão com equipa- mento próprio para os bairros da cidade só aconteceu três anos depois. O rádio estreou no Brasil em 07 de setembro de 1922, com um discurso do então presidente Epitácio Pessoa em alusão ao centenário da Independência do Brasil, no Rio de Janeiro, capital do país na época. O transmissor do rádio foi instalado no alto do Corcovado e emprestado pela Westinghouse, uma das maiores do mundo no setor radiofônico que espalhou 86 transmissores na capital carioca e também 42 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S em Petrópolis e Niterói. Uma das pessoas que se encantou com essa transmissão foi Edgar Roquette Pinto, um médico e professor. Depois de um ano insis- tindo com o governo, ele persuadiu a Academia Brasileira de Ciências a comprar equipamento próprio. Com isso, fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, segunda rádio do Brasil. Nesse começo da história do rádio, palestras e músicas clás- sicas dominavam a programação, já que as emissoras eram formadas por acadêmicos e intelectuais. A rádio foi doada por Roquette Pinto para o Ministério da Educação e Cultura. Após a doação, a rádio passou a se chamar Rádio MEC, com uma programação voltada a difundir a cultura brasileira, um pedido do próprio Roquette Pinto. A Rádio MEC existe até hoje nas frequências AM e FM e faz parte da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). Rádios clube e sociedade eram comuns na primeira década de rádio no país, já que seus consumidores eram grupos de apaixonados por tecnologia que se uniam para experimentar e acabavam criando o próprio negócio. Vieram em épocas próximas a Ceará Rádio Clube, a Sociedade Rádio Pelotense, a Rádio Clube Belo Horizonte, a Rádio Clube Paranaense, a Rádio Clube do Pará, etc. Em 1926, foi criada a Rádio Mayrinck Veiga, no Rio de Janeiro, uma das maiores da região, com foco em entretenimento com shows de calouros, apresentações ao vivo de contratados pela emissora, etc. Outra grande fundação dessa época em São Paulo foi a Rádio Record, em 1928. Ela foi vendida anos depois para Paulo Machado de Carvalho e o bispo Edir Macêdo. Outro grande salto do rádio aconteceu em 1932, no governo do presidente Getúlio Vargas. Foi ele quem autorizou as emissoras de rádio a terem 10% da programação reservada para publicidade, o quepermitiu que elas ganhassem dinheiro para sobreviver e se expandir. Isso proporcionou que emissoras se espalhassem por todo o país. An- tes já existiam anúncios nos programas, mas era algo informal. Com uma década de atraso, chega então a década de ouro do rádio no Brasil e ele vira o principal meio de comunicação para se infor- mar, passar o tempo, entreter-se de uma maneira geral. Em 22 de julho de 1935, estreia o Programa Nacional no ar até hoje, apesar da mudança de nome para Hora do Brasil, mudando no- vamente em 1962 para Voz do Brasil. O programa já passou por várias mudanças na programação. Começou quase como uma propaganda do governo, só com atos do governo. Em 1962, com o Código Brasileiro de Telecomunicações, o tempo passa a ser dividido entre notícias do Poder Legislativo. 43 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Nos anos 1970, a programação passou a abordar temas ge- rais, incluindo esportes. Hoje é voltada para notícias sobre política, mas com foco no que faz a diferença para o cidadão, com produção da EBC, Rádio Câmara e Rádio Senado, e sua abertura é a música O Guarani, de Carlos Gomes. A Voz do Brasil tem exibição obrigatória em todas as rádios do Brasil desde 1938. Em 1936, era criada a Rádio Nacional, que foi durante muito tempo o maior modelo de rádio no Brasil, principalmente, por ser finan- ciada pelo governo de Getúlio Vargas. Um acontecimento importante que podemos mencionar é que foi apenas em 1938 que os brasileiros pude- ram acompanhar a transmissão de uma Copa do Mundo pelo rádio. Leonardo Gagliano Netto, da Rádio Clube do Brasil, foi o único narrador que transmitiu os jogos realizados na França. A Itália foi bicam- peã, mas o Brasil ouviria muitas alegrias da seleção e dos seus clubes nas décadas seguintes. Galvão Bueno, Luciano do Valle, José Silvério, Osmar Santos são grandes locutores esportivos que começaram no rádio. Fausto Silva, mais conhecido como Faustão, também começou como repórter de campo na rádio Globo. Os anos 1940 são de mais expansão e grandes nomes. Um dos maiores é o de Henrique Foréis Domingues, o Almirante. Ele era cantor, compositor e radialista e comandou vários programas, tornan- do-se um ídolo nessa época. Sua especialidade era a música, mas ele experimentou vários temas de programas, inclusive terror. As cantoras de rádio eram as mais celebradas e tinham até um concurso próprio: o Rainha do Rádio, que durou vários anos. Essas artistas já eram famosas ou foram descobertas nos shows de calouros, aqueles onde novatos e amadores mostravam seus talentos e se arris- cavam entre ouvirem elogios ou piadas sobre o seu trabalho. Dentre os nomes que podemos citar, estão Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Dóris Monteiro, Ângela Maria e Carmem Miranda. Entre os homens, se destacaram Cauby Peixoto, Francisco Al- ves, Ary Barroso, Orlando Silva, etc. Havia também muitos humoristas, como Manuel da Nóbrega, Chico Anísio, Chacrinha, etc. Outro grande produtor que é tido como responsável por criar a linguagem brasileira do rádio foi Ademar Casé. Foi assim que começou o formato que foi muito utilizado no Brasil: as rádios novelas. A primeira foi “Em Busca da Felicidade”, que foi ao ar em 05 de junho de 1941. Nessa época, o rádio no Brasil sofria muita influência dos Estados Unidos. O maior clássico das rádios novelas foi “Direito de Nascer”, de- pois sendo exibida na televisão. Ela ficou dois anos no ar e tinha Paulo Gracindo como protagonista. As rádios novelas revelaram grandes ta- 44 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S lentos de atuação e de roteiro, já que eram muito criativas quanto a efei- tos sonoros que fazia com que o público se sentisse imerso na história. O Repórter Esso teve sua estreia em 28 de agosto de 1941, sendo o principal programa jornalístico do rádio brasileiro e depois da televisão, por muitos anos. Esse programa imortalizou o slogan “teste- munha ocular da história”, trazendo notícias sobre acontecimentos de todo o mundo, principalmente porque a Segunda Guerra Mundial estava em andamento. Dalmácio Jordão, Benedito Ruy Rezende, Luís Jatobá e Heron Domingues são alguns dos nomes mais famosos do jornal. A última edição do Repórter Esso no jornal foi em 1968, marcada pela emoção do locutor Roberto Figueiredo quando fazia um resumo dos aconteci- mentos anunciados pelo programa e precisou, inclusive, ser substituído no meio da fala. Em 18 de setembro de 1950, aconteceu a primeira transmissão da televisão no Brasil. As cores eram pretas e brancas e praticamente nenhum brasileiro tinha ao aparelho em casa. Por trás desse experi- mento, estava o empresário Assis Chateaubriand. Posteriormente, veremos as contribuições do rádio para a che- gada da televisão, mas, agora, é importante mencionar que, com esse novo meio de comunicação, o rádio precisou se reinventar. O Repórter Esso, por exemplo, fez com que o jornalismo fos- se uma das maiores utilidades do rádio. A partir dos anos 1960, várias emissoras investiram em matérias ao vivo, com os repórteres gravando diretamente das ruas, analistas políticos, etc. A Rádio Continental e a Rádio Jornal do Brasil foram as pioneiras nesse formato. Foi nessa época também que os rádios de pilha foram se po- pularizando no Brasil, permitindo que as pessoas levassem o aparelho a qualquer lugar. Outro fato importante da época foi a criação, em 1962, da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT). Vale mencionar que a função social do rádio nunca acabou. Pelo contrário, ela se transformou ao longo do tempo. No ano de 1961, Leonel Brizola, então o governador do Rio Grande do Sul, criou a Rede da Legalidade. Essa foi uma campanha feita após a renúncia de Jânio Quadros, então presidente da república, para que seu vice João Goulart assumisse o cargo. Brizola fazia boletins diários de notícias que eram transmitidos por várias emissoras em todo o Brasil. Já em 1970, terminam os projetos piloto da implantação do FM no Brasil. Com isso, a Rádio AM virou a rádio falada, de locutores e discursos nos programas, enquanto a FM, com maior qualidade de transmissão, era a rádio musical. As FM ganharam muito espaço nos anos 1980 com uma programação bem definida de música pelo rádio, 45 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S além dos programas e narrações de futebol. Dentre as novidades dos anos 1990, está a Rádio Bandei- rantes transmitindo via satélite AM e FM. Já em 1991, foi inaugurada a Central Brasileira de Notícias (CBN). Hoje, a CBN e a Band News são as principais em termos jornalísticos no meio, com grandes nomes que já passaram pelo rádio, como Ricardo Boechat, Carlos Alberto Sar- denberg, Juca Kfouri, Milton Jung, etc. A chegada da tecnologia e a internet nos anos 2000 vieram para mudar ainda mais o rádio. Nesse sentido, também podemos afir- mar que a televisão também não decretou o fim do rádio. Pelo contrário, o meio teve que se reinventar se modernizar quanto às técnicas e pro- gramação e isso também aconteceu com a chegada da internet. As transmissões foram ficando melhores e as rádios puderam se definir melhor quanto aos seus estilos e formatos. Muitas foram para a internet, onde o público pode continuar ouvindo ainda que sem o apa- relho. O Brasil ainda teve uma onda de internet via rádio, uma conexão alternativa para quem não tinha a opção em fibra ótica. Dentre as novidades recentes, a mais importante é o programa de conversão do AM em FM, um incentivo para as emissoras AM pas- sarem a para a outra frequência. O projeto começou em 2016 para fazer essas rádios sobreviverem e até adotarem o digital, mas ainda está em andamento. Ainda que a grande época do rádio tenha ficado no passado, esse meio de comunicação tão importante para o Brasil e os brasileirossegue vivo. Rádios de esporte, jornalismo, música e entretenimento ain- da existem, e são uma boa companhia para quem precisa. Hoje as distrações são muito maiores. É possível consumir- mos informações através de podcasts, jornais, revistas, redes sociais, portais de notícias, etc., mas ainda há quem prefira o rádio. Sua impor- tância para o desenvolvimento da comunicação do Brasil é inestimável, tanto no quesito informacional como de entretenimento. Considerando a história e a relevância do rádio para o mundo, o Dia Mundial do Rádio é comemorado oficialmente em 13 de fevereiro. A data eleita pela UNESCO corresponde ao ano de 1946, especificamente ao dia em que a Rádio ONU foi criada através de uma resolução das Nações Unidas, começando a transmitir desde a sede em Nova York em ondas curtas para o resto do mundo programas em cinco línguas: chi- nês, francês, inglês, espanhol e russo, durante 09h a 12h por dia. Segundo uma pesquisa feita Kantar IBOPE Media, 52 milhões de pessoas ouvem rádio no Brasil. Esse público está localizado em 13 regiões metropolitanas no país, sendo 52% mulheres e 48% homens. O horário em que que o meio atinge maior audiência é entre 10h e 11h da 46 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S manhã, alcançando cerca de 37 milhões de pessoas. Esse levantamento demonstra o que foi abordado nesta unida- de. O rádio sempre esteve presente nas nossas vidas nos mais diversos lugares. Em casa, no carro, no escritório, no jogo de futebol, naquela viagem de fim de semana, sempre informando e entretendo. No entanto, apesar disso, muitas pessoas ainda acreditam que os tempos mudaram e que, com a popularização da internet, dos dispo- sitivos móveis e da TV digital, o rádio já não tem mais tanto espaço. O que a realidade nos demonstra é o contrário. O rádio não só continua relevante e atual como segue evo- luindo e se adaptando à era digital, dialogando com as novas mídias e plataformas como tablets, relógios e caixas de som inteligentes que, com um simples comando de voz, permitem ao ouvinte sintonizar uma estação, pedir uma música ou enviar mensagens. Se antes o rádio era apenas uma caixinha quadrada ligada a uma tomada, hoje, ele assumiu as mais variadas formas. Transformou- -se em um meio quase onipresente na vida do ouvinte: está no compu- tador, na tv a cabo e, principalmente, nos celulares. Atualmente, mais de 136 milhões de brasileiros já têm um smartphone. Assim, o rádio continua presente se atualizando e se rea- daptando. Com os aplicativos das emissoras, o ouvinte pode escutar as programações de qualquer lugar do mundo, desde que conectado à internet. Agora vamos conhecer as principais inovações vividas pela televisão entre as décadas de 1950 e 2000, desde as tecnológicas ou quanto ao formato desse outro meio de comunicação que também faz parte do cotidiano dos brasileiros. A TV ENTRE OS ANOS 1950 A 2000: DA INOVAÇÃO AO COTIDIANO DAS PESSOAS Quando pensamos em que contexto a televisão foi inserida na cultura brasileira, percebemos que esse meio de comunicação ganhou não só um espaço de destaque na vida dos brasileiros, como acompa- nhou diversas mudanças tecnológicas que veremos a seguir. Há 70 anos a primeira emissora de televisão do Brasil, a TV Tupi, foi inaugurada. Compondo o Diários Associados, do jornalista e empresário Assis Châteuabriand, sua primeira exibição ocorreu no dia 18 de setembro de 1950. Segundo Cruz (2008), a TV Tupi colocou o Brasil numa posição de destaque, sendo o quarto país a ter uma emis- sora de TV com exibição diária, atrás apenas de países como EUA, 47 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Inglaterra e França. De acordo com Mattos (2002), a popularidade do rádio contri- buiu muito para o desenvolvimento da televisão no Brasil, que se es- pelhava na sua programação e utilizava bastante da sua estrutura e profissionais, já que ainda não existiam especialistas em TV no país. No primeiro momento, esse modelo influenciado pelo rádio foi o que prevaleceu na implantação da televisão. Os anos 1960 foram marcados pela chegada de novas tecno- logias que aperfeiçoaram a maneira de se “fazer” televisão, como as transmissões por link e o videotape. De acordo com Lorêdo (2000), a primeira transmissão por link aconteceu durante a inauguração de Bra- sília, em 21 de abril de 1960, ligando a então capital do país a cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Essa inovação trouxe à TV principalmente a instantaneidade, que hoje permite transmitir notí- cias de qualquer lugar. Enquanto isso, a chegada do videotape (VT) fez alavancar a produção das telenovelas, possibilitando a gravação prévia de vários capítulos e ajudando o telespectador a criar o hábito de assistir TV to- dos os dias. Como explica Mattos (2002), O uso do VT possibilitou não somente novelas diárias como também a im- plantação de uma estratégia de programação horizontal. A veiculação de um mesmo programa em vários dias da semana criou o hábito de assistir televi- são rotineiramente, prendendo a atenção do telespectador e substituindo o tipo de programação em voga até então, de caráter vertical, com programas diferentes todos os dias (MATTOS, 2002, p.87). Os anos 1970 também trouxeram outra novidade: era a televi- são em cores, inaugurada em 10 de fevereiro de 1972, com a exibição da Festa da Uva de Caxias do Sul-RS (Cruz, 2008). De acordo com Ma- ttos (2002), a década também foi marcada pela censura aos veículos de comunicação, garantida ao Poder Executivo Federal pela implantação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, assim, como pelo papel do telejornalismo em abrandar as notícias sobre a realidade do Brasil durante a ditadura. Entre o final dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, o país passava pela redemocratização. Com a promulgação da nova Consti- tuição, em 05 de outubro de 1988, as emissoras passaram a ter, como princípio, que sua programação envolvesse programas voltados à cul- tura, educação, etc. Em 29 de junho de 2006, o Decreto 5.820 do então presidente Luís Inácio Lula da Silva estabelecia a implantação do SBTVD-T (Sis- tema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre), um “conjunto de padrões 48 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S tecnológicos a serem adotados para transmissão e recepção de sinais digitais terrestres de radiodifusão de sons e imagens”. Essa inovação trouxe, principalmente, melhorias quanto à qualidade da imagem da te- levisão. Era o começo da televisão digital no país. A televisão se consolidou no Brasil e no mundo como um meio de comunicação importante nos quesitos entretenimento e informação, e há muito faz parte do cotidiano das pessoas. Segundo Borelli e Priolli (2000), a TV aberta estabeleceu o hábito de reunir toda a família para assistir a pro- gramas, principalmente no horário nobre, quando seus membros já estavam em casa. Com isso, as gerações foram se formando, no caso brasileiro, assistindo às novelas e aos telejornais noturnos, em especial os que eram apresentados entre as duas novelas, como o Jornal Nacional. A expressiva ampliação de vendas de televisores no período de 1994-1998 resultou no fato de que milhões de domicílios passaram a ter o seu primeiro aparelho já em contato com um novo contexto de produção televisual e novos hábitos de ver TV (BORELLI e PRIOLLI, 2000, p. 157). De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia (2016), a te- levisão ainda é o meio de comunicação mais utilizado pela população na busca de informação (89%), quando mencionada junto à internet. A pesquisa foi feita em 740 municípios, sendo respondida por 15.050 brasileiros, e também revelou que 77% dos entrevistados assistem TV todos os dias da semana. Quanto às horas assistidas por dia, 26% afir- mou ver de 60 a 120minutos de segunda a sexta-feira, e 21% declarou ver de 60 a 120 minutos de TV durante os finais de semana. Se tratando de emissoras abertas e pagas, a Rede Globo aparece como sendo a mais assistida no país, com 56%, contra o SBT, que surge no segundo lugar com 11%. Diante dos dados apontados pela Pesquisa Brasileira de Mídia (2016) e considerando que os telejornais brasileiros duram em média 45 minutos, é possível afirmar que a televisão ocupa um espaço conside- rável no cotidiano das pessoas, que dão ao veículo de comunicação a missão de não só informá-las, como também de entretê-las. SERVIÇOS DE STREAMING E NOVAS FORMAS DE SE VER TELE- VISÃO No entanto, hoje, já existem outras formas de ver televisão. Aqui nos deteremos à chegada dos serviços de streaming de vídeo, que inauguraram, em escala mundial, uma nova forma de ver televisão 49 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S porque, inclusive, não se resumem a apenas esse aparelho, mas se estende a celulares, tablets, computadores, etc., além de disponibilizar grande acervo de séries e filmes para os seus consumidores, oferecen- do autonomia de escolher o que e quando se quer assistir, sem depen- der da grade de programação fixa das emissoras de televisão, sejam elas abertas ou fechadas. Esses serviços de streaming também utilizam os dados sobre os hábitos de consumo dos usuários para produzir e direcionar conteú- dos que possam gostar. Então, se antes a criação de narrativas audiovi- suais passava por questões subjetivas de seus criadores ou referentes a custos de produção, etc., hoje, elas também podem nascer a partir das preferências do público consumidor. Mesmo contando milhões de assinantes no país, as platafor- mas de streaming de vídeo ainda estão longe de atingir a maior parte da população do Brasil, que, segundo o IBGE, já tem mais de 210 milhões de pessoas. Um dos motivos que explicam esse fato é que além do va- lor do plano dessas desse tipo de serviço, o usuário também deve arcar com os custos de uma internet. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017- 2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 44,8 milhões de pessoas em cerca de 16,5 milhões de famílias viviam com renda de até dois salários mínimos (R$ 1.908). Para esse grupo, os maiores gastos mensais eram com habitação (39,2%), ali- mentação (22,6%) e transporte (9,4%). A pesquisa também revelou que, numa média nacional, as fa- mílias investiam cerca de 2,5% em recreação e cultura. Segundo re- portagem da Folha de São Paulo, em 2020 o atual governo reajustou o salário mínimo de R$ 998 para R$ 1.045. Nesse sentido, mesmo com a expansão de serviços de streaming em todo mundo, no Brasil, se tratando de entretenimento, a preferência não é necessariamente a TV aberta, mas as necessidades econômicas dos brasileiros ainda a colo- cam num papel de grande importância nesse quesito. Em termos de programação, no Brasil, a Rede Globo se desta- ca na produção de novelas e seriados, principalmente se compararmos com outras emissoras de TV aberta, como o SBT e a Record. O SBT historicamente opta pela exibição de obras oriundas do México, como Maria do Bairro, A Usurpadora, ou mesmo o seriado Chaves; enquanto a Record investe em produções bíblicas, também pela sua relação com a igreja evangélica. A Globo tem uma variedade maior de narrativas, abordando temas atuais e em discussão na sociedade e investindo em adaptações de obras literárias. Para isso, também investe em estúdios de gravação, 50 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S cenários, etc. A emissora também já produz grande quantidade de se- riados para os seus canais fechados. O GNT, por exemplo, exibe séries como “Os Homens São de Marte e é pra lá que eu vou”, “Lili - a ex”, “Sessão de Terapia”, etc. Mesmo hoje aderindo ao streaming de vídeo com a plataforma digital GloboPlay, quanto ao entretenimento, a Globo se estabeleceu e ainda se destaca com as produções audiovisuais para a TV aberta, entre elas novelas e seriados. Neste capítulo, pudemos acompanhar os contextos históri- cos em que estavam inseridos os principais meios de comunicação de massa no Brasil: o jornal impresso, o rádio, a televisão. Nesse sentido, procuramos abordar as peculiaridades de cada meio, bem como as ino- vações vividas por cada um, para que você possa compreender como cada um ganhou espaço no nosso país e, assim, pensar em como as Teorias da Comunicação que abordamos no capítulo passado podem estar inseridas em todos eles, ajudando-nos a analisar e entender a nossa sociedade a partir dos meios de comunicação de massa. No próximo capítulo, vamos discutir o jornalismo digital do pon- to de vista da fragmentação digital e o surgimento das fake news no atual cenário político do nosso país. 51 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2016 Banca: IF-PE Órgão: IF-PE Prova: Jornalista A televisão foi um poderoso veículo de controle dos governos mili- tares brasileiros (1964- 1985), segundo Sérgio Caparelli, em virtude: a) De os presidentes Humberto Castelo Branco e Arthur da Costa e Sil- va viabilizarem grandes empréstimos junto a bancos estrangeiros para as televisões. b) Da mera identificação ideológica dos detentores das concessões com os militares. c) Das redes Globo, Tupi e Excelsior se modernizarem graças a investi- mentos de grupos estrangeiros patrocinadores do golpe de 1964. d) De os bancos estatais se tornarem os maiores financiadores da ex- pansão da mídia. e) Da presença de um sistema de censura nas redações dos principais canais de TV. QUESTÃO 2 Ano: 2016 Banca: IF-PE Órgão: IF-PE Prova: Jornalista A primeira transmissão de televisão no Brasil foi um marco na história da telecomunicação brasileira. A esse respeito, assinale a alternativa que contém a data desse acontecimento histórico e o nome da emissora responsável por esse feito. a) 20 de novembro de 1950, Tv Tupi. b) 01 de dezembro de 1950, Tv Excelsior. c) 18 de setembro de 1950, Tv Tupi. d) 19 de novembro de 1950, Tv Cultura. e) 18 de dezembro de 1950, Tv Tupi. QUESTÃO 3 Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: Banestes Prova: Analista de Comu- nicação Ao realizar uma pesquisa no setor de microfilmagem de uma biblio- teca, um grupo de estudantes se deparou com importantes aconte- cimentos da história do rádio no Brasil. Em determinada publicação, havia uma reportagem que destacava o papel de Edgar Roquette- -Pinto. Como se sabe, ele fundou, com o apoio da Academia Brasi- leira de Ciências, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Roquette- -Pinto, que era também antropólogo, médico e ensaísta, acreditava no potencial do suporte radiofônico para divulgação de notícias de natureza científica, cultural e educativa. A fim de complementar a 52 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S pesquisa dos estudantes, é possível citar um evento que antecedeu a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, qual seja: a) A formação do conglomerado de comunicação de Assis Chateau- briand, com destaque para a Rádio Tupi. b) A assinatura de um decreto-lei, pelo presidente Getúlio Vargas, per- mitindo a publicidade no rádio. c) O início das transmissões do Repórter Esso, tanto na versão de sín- tese noticiosa como na edição extraordinária. d) O retumbante sucesso das radionovelas e programas de auditório ao vivo da Rádio Nacional. e) A primeira transmissão radiofônica oficial em virtude da comemora- ção do centenário da independência do Brasil. QUESTÃO 4 Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: Câmara de Valinhos - SP Prova: Jornalista O rádio paulista teve importante participação na revolução de 32. César Ladeira, que ficou conhecido como a voz da Revolução Constitucionalista,procurava, autorizado pelo seu chefe Paulo Machado de Carvalho, encontrar formas de driblar a censura do governo Vargas e informar aos paulistas sobre os acontecimentos. Nessa época, César Ladeira e Paulo Machado de Carvalho estavam ligados à rádio: a) Record. b) Tupi. c) Bandeirantes. d) São Paulo. e) Piratininga. QUESTÃO 5 Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: Câmara de Piracicaba - SP Pro- va: Jornalista No dia 1° de outubro de 1991, entrou no ar, pela primeira vez, em São Paulo (780 AM) e no Rio de Janeiro (1180 AM), as primeiras emissoras no formato all news do Brasil. No lançamento, o bordão das emissoras era “a notícia na velocidade do som”. O nome des- sas emissoras é: a) CBN. b) PAN News. c) Band News. d) Trianon. e) Gazeta. 53 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Neste capítulo, estudamos sobre os principais meios de comunicação e o papel que eles desempenham na cultura brasileira. Escolha um des- ses meios de acordo com seus hábitos de consumo e disserte sobre ele. TREINO INÉDITO De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia, divulgada pela Presidên- cia da República em 2016, quais eram os meios de comunicação mais utilizados pelos brasileiros para se informar? a) Sites de notícias. b) Rádio. c) Redes sociais. d) Jornais impressos. e) TV e internet. NA MÍDIA ESTUDO MAPEIA O CONSUMO DE INFORMAÇÕES E NOVOS HÁ- BITOS DE CADA GERAÇÃO DURANTE A PANDEMIA Levantamento feito pela ioasys analisou as mudanças de hábito do bra- sileiro e descobriu que as pessoas gastam, em média, quatro horas por dia nas redes sociais. A ioasys, empresa especializada em transformação digital ágil, apre- senta uma pesquisa inédita sobre as mudanças de hábitos de compor- tamento e consumo dos brasileiros durante a pandemia, com a partici- pação de mais de 1300 pessoas de 13 a 81 anos de todos os estados do Brasil e classes sociais. O estudo revelou os hábitos digitais que as gerações têm ganhado du- rante esse período com a frequente aceleração da transformação di- gital. A Geração Z, por exemplo, tem usado a internet principalmente para assistir vídeos online (84,2%), séries e filmes (84,2%) e ouvir mú- sica (82,4%). É o grupo que mais têm assistido a Webinar e Videoaulas (56,1%). Mas, a pesquisa revelou também que apenas 38,5% estão se- guindo as recomendações de isolamento social à risca 100% do tempo. Fonte: SEGS Data: 03 jun. 2020 Leia a notícia na íntegra: https://www.segs.com.br/seguros/234343-estudo-mapeia-o-consumo- -de-informacoes-e-novos-habitos-de-cada-geracao-durante-a-pandemia 54 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S NA PRÁTICA Artigos e demais estudos que analisem os hábitos de consumo midiá- tico da população são importantes fontes para jornalistas digitais e de- mais pesquisadores. Essas pesquisas podem nos ajudar a entender historicamente como os principais meios de comunicação de massa se desenvolveram no Brasil e conhecer um pouco sobre os hábitos de con- sumo informacional dos brasileiros, nos permitindo perceber que as par- ticularidades do nosso país fizeram com que nossa população tivesse hábitos específicos quanto às informações que recebe, o que nos leva a refletir também como esses dados podem ajudar nos nossos estudos e no exercício das nossas profissões. Por exemplo, a partir do dado de que os brasileiros usam, principalmente, a televisão e a internet para se informar, é possível, a partir da cobertura de um fato, adaptar o conteú- do da informação de acordo com as necessidades de cada mídia, para que a linguagem seja mais clara e adequada para o entendimento das pessoas. Fonte: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2011/expocom/EX2 5-0940-1.pdf 55 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Ao longo desta unidade, vimos que as Teorias da Comunica- ção foram muito importantes para o entendimento dos meios de comu- nicação, da sua utilidade e de como eles podem influenciar no com- portamento dos indivíduos em sociedade. Nesse sentido, vimos que comunicação passa por transformações constantemente. Isso também acontece com o jornalismo e com a maneira de produção e consumo das informações. Com a internet, tudo ficou ainda mais rápido. As notícias e re- portagens, que antes eram produzidas apenas na rua ou via telefone, contaram com os diversos recursos dessa tecnologia: hoje, é possível, por exemplo, não só entrevistar pessoas com mais rapidez e praticida- de, mas, também, enviar fotografias e outros materiais de apoio com mais facilidade. JORNALISMO DIGITAL, FRAGMENTAÇÃO DIGITAL E FAKE NEWS O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S 56 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S JORNALISMO DIGITAL No entanto, as mudanças que a internet propiciou ao jornalis- mo não se restringem apenas à maneira de fazê-lo, mas, também, de consumi-lo. Antes, o público leitor de jornais ou revistas interagia com esses veículos apenas através do envio de cartas que poderiam ser publicadas ou não, a partir do que a empresa de comunicação julgasse interessante ou favorável a si mesma. Ainda sobre o quesito interação, hoje, os leitores podem inte- ragir através de comentários publicados nos portais de notícias ou nas redes sociais de cada veículo de comunicação. Muitos desses comen- tários, inclusive, são publicados sem revisão. Como em alguns casos as publicações têm inúmeros comentários, muitos portais não têm controle sobre esse volume. Financeiramente falando, a chegada da internet fez com que os meios de comunicação se reinventassem em vários aspectos. Os anúncios já fazem parte desses veículos há muito tempo. O lucro que vinha das assinaturas ou compras diretas nas bancas de jornais e revis- tas agora se apresenta de outras maneiras. Não é mais necessário se dirigir a um lugar para comprar um jornal ou revista. Um usuário faz isso quando quer, pelo prazer de ir até o local, interagir com as pessoas no caminho, etc. O que muitos jornais e revistas fazem hoje é limitar o acesso a certos conteúdos em seus si- tes. Há aquelas matérias que são abertas ao público em geral e outras que só podem ser lidas caso o usuário assine aquele conteúdo. Nesse sentido, nos últimos anos, a elaboração, a divulgação e o compartilhamento de notícias falsas, as chamadas fake news, têm sido ainda mais recorrentes graças ao meio digital. Posteriormente, va- mos entender como as fake news ocorrem nesse meio e como elas representam uma ameaça à democracia. Mas, antes disso, a partir das concepções de Gandour (2016), vamos entender como a fragmentação digital afetou o jornalismo. FRAGMENTAÇÃO DIGITAL Se a humanidade passou por processos como o descobrimen- to da fala, pinturas rupestres, o surgimento da imprensa e dos meios de comunicação de massa (TV, rádio, etc.), assim como o nascimento da internet, hoje, vive-se a era da fragmentação digital. Como explica Gandour (2016), a fragmentação digital ocorre quando as informações profissionalmente produzidas se misturam a 57 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S fofocas e boatos, dividindo a audiência e gerando quatro efeitos - po- larização, alfabetização midiática, consolidação e jornalismo sem fins lucrativos – que afetam o jornalismo tanto como atividade/profissão quanto como modelo de negócio. Como essa fragmentação desmembra a audiência, polariza os indivíduos e desperta uma necessidade cada vez mais rápida de tomar posição sobre determinado assunto, quase sempre na forma de “like” ou “deslike”, algo como “ame ou deixe-o”, sem, no entanto, checar a maioria das informações que nos levama tais escolhas. Já a alfabetiza- ção midiática discute a possibilidade de as pessoas estarem perdendo a capacidade de compreensão e reflexão frente às notícias que recebem. Afetado enquanto modelo de negócio, sofrerá os efeitos da con- solidação e do jornalismo sem fins lucrativos. Com o enfraquecimento dos veículos de comunicação de massa na qualidade de produtores das informações, as empresas jornalísticas se direcionam à consolidação para se manterem no mercado. Geralmente, são empresas com grande prestígio, mas com um faturamento reduzido em relação ao que já tiveram, que resolvem se fundir para se manterem no mercado. A fragmentação digital também fez crescer o jornalismo sem fins lucrativos, já que o público agora prefere buscar por informações que tratem dos seus interesses específicos. Gandour (2016) questiona: até que ponto a multidisciplinarida- de é benéfica para o jornalismo enquanto atividade? Com a queda nos lucros, as empresas jornalísticas passam por diversas reestruturações. Isso inclui também a redução no seu quadro de profissionais, o que aca- ba exigindo daqueles que ficam no desenvolvimento de funções acu- muladas. Por exemplo, um repórter que, além das entrevistas, também faça captação de imagens. A todos os profissionais da comunicação é interessante que se conheça de tudo um pouco, que trabalhem para ampliar o repertório dos seus conhecimentos porque irão retratar as mais variadas realidades no exercício das suas profissões. No entanto, conhecer várias culturas não indica que o profissional da comunicação deva acumular funções ou até mesmo ter seu salário desvalorizado, o que, provavelmente, acontece já que a combinação de funções nem sempre acarreta aumento no ven- cimento do jornalista. A história da comunicação e do jornalismo também foi marcada por ciclos transitórios praticamente imperceptíveis de uma mídia para outra. Esses ciclos trazem uma mensagem apocalíptica para a mídia que se torna antiga, pois a nova chega para superá-la naquilo que apa- renta obsoleto. Foi assim quando a televisão parecia acabar com o rádio, assim 58 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S como se sugeriu que a internet e as redes sociais destruiriam os meios de comunicação de massa. Esses, no entanto, não desaparecem. Pelo contrário, passam por constantes mudanças para se adaptarem ao mer- cado, principalmente, no tocante aos seus setores comerciais. Apesar desses ciclos, a grande transformação na comunica- ção hoje se dá na lógica em que ela estabelece, já que a sua matéria- -prima, a informação, passa por uma crise: mesmo sendo a moeda de troca nas relações sociais contemporâneas, as pessoas têm dificuldade de identificar o que é ou não informação, consequência trazida pela fragmentação digital. A fragmentação digital alimenta a polarização e vice-versa. Uma se apoia na outra e ambas interferem nos processos comunica- cionais. As redes sociais, por exemplo, formam um espaço público apa- rentemente democrático, porque oferece a todos os usuários a opor- tunidade de falarem sobre o que quiserem. Entretanto, essas opiniões nem sempre atingem um grande alcance, além de que, muitas vezes, quando polarizadas com outras contrárias, acabam propiciando deba- tes agressivos, desrespeitosos, assim como os discursos de ódio àquilo que é diferente. Todos esses fatores apresentados por Gandour (2016) geram o enfraquecimento dos veículos de comunicação em massa e a dificul- dade de se firmar uma agenda pública, de envolver os indivíduos em torno de um jornalismo que una as pessoas através de interesses em comum. Nas perspectivas levantadas pelo autor, é necessário que as escolas de jornalismo compreendam todas as transformações causa- das pela fragmentação digital como oportunidade de estudo e aperfei- çoamento das suas práticas e fundamentos. Assim, essa discussão nos leva a um importante tema dos dias atuais: as fake news. A seguir, vamos entender como elas ganharam espaço no mundo todo, assim como no Brasil. FAKE NEWS: COMO ELAS ACONTECEM E COMO CHECAR A VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES Para além da tradução da expressão “fake news”, quando le- mos, assistimos ou recebemos uma notícia, entramos em contato com um parecer sobre determinado assunto. Estamos nos atualizando, infor- mando-nos sobre um fato ou alguém. Podemos perceber que a notícia passa invariavelmente por aquele que está contando. Quando partimos do princípio de que algu- mas pessoas distorcem a verdade ou contam as suas versões sobre as 59 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S coisas, devemos entender: a notícia é dada por alguém e, obviamente, será carregada das intenções ou ideias dessa pessoa ou veículo de comunicação. Assim, quando alguém tem a intenção de forjar uma situação, é possível manobrar a notícia para atrair e convencer pessoas. A seguir, vamos a alguns exemplos. Uma reportagem da BBC1, de 2018, fala de três grandes casos de fake news que aconteceram e suas consequên- cias. Um dos casos era sobre a Ucrânia, que recentemente passou por um grave conflito interno juntamente com uma série de manifesta- ções contra o governo que acabou com a perda de uma parte do seu território chamado Crimeia para a Rússia. Na época, em 2014, para dar credibilidade à ação, a Rússia divulgou notícias que mostravam ucranianos crucificando crianças. De- pois, foi provado que isso era falso e nem mesmo a praça onde su- postamente aconteciam esses crimes era verdadeira. No entanto, na época, essas notícias falsas favoreceram muito a opinião pública para concordar com a invasão e a tomada do território ucraniano. Outro exemplo importante que podemos mencionar foi o pe- ríodo da Guerra do Golfo, ocorrida entre os Estados Unidos e o Iraque. Quando Iraque invadiu o Kuwait, os americanos não estavam certos se deveriam ou não participar dessa guerra, já que a invasão não tinha relação com os Estados Unidos. Como nesses casos é necessária uma opinião pública ao seu favor, foi feito um relato emocionante: uma menina kuwaitiana foi ao Congresso e falou sobre os horrores que estavam acontecendo em seu país, quase clamando ajuda aos americanos. Depois desse discurso, a opinião pública começou a mudar e legitimou a participação americana na Guerra do Golfo. Posteriormente, descobriu-se que o discurso era falso e que, na verdade, a menina testemunha era filha de Saud Nasir al Sabah, então embaixador do Kuwai em Washington. O último exemplo trazido pela reportagem da BBC foi o seguin- te: existe uma perseguição muito grande num país chamado Myanma. A população, chamada de rohingya, onde as pessoas não são conside- radas cidadãs e não tem direitos básicos. Para justificar a perseguição, foram usadas fotos de outros conflitos. A notícia falsa é uma estratégica de convencimento e de guer- ra. Durante a Segunda Guerra Mundial, existiu um agrupamento cha- mado The Ghost Army, ou exército fantasma. Esse grupo era composto por atores, designers, engenheiros, arquitetos, soldados, responsáveis por espalharem notícias falsas durante a guerra. Pequenas mentiras 1 Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-43895609 60 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S inventadas pelos americanos durante esse período fizeram com que os nazistas tivessem que se deslocarem várias vezes durante a guerra, enfraquecendo pontos onde a guerra realmente estava acontecendo. Com isso, podemos perceber que a ideia de se forjar notícias é antiga, importante e fez parte da história. É daí que nasce a necessida- de de se ter credibilidade. Num mundo onde uma notícia pode ter a in- tenção de quem está contando, qualquer pessoa pode querer implantar uma mentira deliberadamente e isso precisa ser fiscalizado. Mais uma grande importância para os meiosde comunicação. Diante da repercussão e disseminação de notícias falsas, prin- cipalmente quando se pensa nas últimas eleições presidenciais ocor- ridas no Brasil, o termo “fake news” esteve em evidência. Com isso, surge o Projeto de Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, conhecido pelo Projeto das Fake News – que será mais bem discutido a seguir. Esse projeto foi aprovado no Senado, neste ano, e tramita na Câmara dos Deputados em Brasília. É evidente que não somente pela tomada de decisão dos po- líticos, mas o projeto das fake news surge mediante as pressões da sociedade civil e instâncias jurídicas que veem na formulação de lei uma possibilidade de impedir a expansão de notícias falsas na internet. Atualmente, o projeto avança no debate, já que muitos especialistas opinam sobre pontos polêmicos e defendem o diálogo para a sanção do projeto. Os grandes jornais e revistas, as grandes emissoras de rádio e televisão, que são aqueles que informam a população, precisavam ter uma credibilidade muito forte. A credibilidade de quem fala é fundamen- tal num mundo onde há muito tempo se criam notícias. Assim, é impor- tante que cada pessoa tenha como referência um meio de comunicação em que confie, que tenha como referência de credibilidade. Muitas vezes, quando alguém quer espalhar uma fake news, é muito comum que a primeira atitude seja atacar a fonte, tentando tirar sua credibilidade. Assim, às vezes, emissoras, jornais e jornalistas con- solidados acabam sendo atacados, porque as pessoas entendem que atacar quem dá a notícia é uma forma de deslegitimá-la. Nesse sentido, o século XXI virou um novo campo para esse tipo de situação de notícia porque surgiram as redes sociais. Pensemos: por muito tempo, ao consumir uma notícia ou qualquer informação, as pessoas traziam as suas opiniões sobre o assunto apenas para quem estava próximo porque não tinha onde tornar público isso. Em resumo, grande parte da população só recebia as notícias e não tinha como opinar sobre elas. A menos que acontecessem protes- tos ou revoluções, não se sabia o que a população pensava. E foi esse 61 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S cenário que as redes sociais vieram para mudar. Por exemplo, depois de algum fato, qualquer pessoa pode es- crever nas redes sociais e ver sua opinião ganhar força, relevância, gerar curtidas, compartilhamentos e até fazer com que quem escreveu ganhe seguidores nessas redes. Isso é muito importante: agora, não só das corporações vivem as opiniões. A possibilidade de opinar sobre tudo também permite que as escolhas de pensamento possam ser di- ferentes e isso é fundamental numa época em que as pessoas podem dar opinião. Nesse sentido, as redes sociais permitiram essa troca: a no- tícia vem, mas a forma como encaramos e a devolvemos, seja como uma notícia boa ou ruim, agora parte da população também. Isso nos leva a outra questão: se existem as possibilidades de forjar notícias e de ter a população envolvida comentando sobre os acontecimentos, diante disso tudo, surge um novo campo que vai interessar a partidos políticos, a empresas e ao comércio no geral, que é o uso de dados para determinar o que as pessoas fazem e inventar coisas (ainda que isso seja antiético). As pessoas estão nas redes sociais exprimindo suas opiniões, deixando seus dados como CPF ao fazerem compras online, etc. Fala- mos algo perto de aparelhos celulares e, logo, começamos a ver pro- pagandas sobre o que falamos ou pesquisamos. Ou seja, o tempo todo estamos servindo dados, sendo mapeados. Imaginemos: as pessoas de uma cidade X são muito preocu- padas com segurança. A partir disso, pode ser feito um programa jor- nalístico para discutir a segurança naquela cidade. Isso é totalmente inteligente e legítimo, faz parte da realidade daquela população e é im- portante que esse tipo de dado sirva para boas iniciativas políticas e de comunicação. Contudo, podemos perceber que, na prática, informações es- tão sendo utilizadas para que robôs passem a divulgar notícias que não são verdadeiras, o que foi o caso das eleições presidenciais, já citadas anteriormente. Por exemplo, dentro desse contexto político que esta- mos pensando, se sabemos que um determinado grupo é contra uma determinada ação, é possível criar uma notícia falsa e espalhá-la como se fosse verdadeira inventando fontes, etc. Mas, por que muitas pes- soas acreditariam nisso? Porque as ferramentas usadas são as redes sociais, como o WhatsApp. Quando alguém que você confia te manda uma notícia, a chance de ela ter credibilidade é muito maior. Nos próximos meses, veremos uma avalanche de informações segmentadas sobre a política. Isso por causa da campanha eleitoral que já se aproxima. De fato, produzir conteúdo político em tempos de 62 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S pandemia será um dos maiores desafios que os profissionais da comu- nicação estarão enfrentando nos últimos tempos, ao passo que reco- nhecer as ferramentas digitais enquanto protagonistas das eleições, é o primeiro passo para embarcar nesse trabalho minucioso. Todavia, não basta reconhecer, é preciso estudar e saber ma- nusear tais ferramentas. Os leitores e usuários das redes estarão aten- tos, visto que eles também têm a liberdade de serem produtores de con- teúdo nesses espaços digitais. É por isso que o jornalismo carrega uma função social importante que é a de informar o público com a devida qualidade da informação. Será a apuração, junto à definição de perfis, públicos e conteúdos, que poderão converter esses consumidores em possíveis eleitores. O exemplo é político, mas equivale a qualquer área segmen- tada do jornalismo. Sabe-se que a rede social Twitter é uma das fontes primárias do jornalismo na internet. É a partir de um fragmento, print ou tweet, que o jornalista pode ir à busca de enriquecer o debate, a contextualização da informação, cujos caminhos são opostos aos das informações falsas. Mas, então, até onde nós podemos confiar nas notícias? Hoje em dia, existe uma prática muito comum: existem empresas e pessoas especializadas em verificar se as notícias são verdadeiras ou não. Num mundo onde é tão fácil forjar uma notícia, modificar uma foto, é muito importante conferir se a informação é verdadeira ou não. Como vimos, as fake news são notícias falsas que só trazem desinformação. São aquelas notícias que recebemos pelas redes sociais, geralmente, cheias de erros e exageros. Criadas com o objetivo de prejudicar alguém, acabam se espalhando facilmente na internet. Elas são prejudiciais em todos os âmbitos da sociedade. Na política, por exemplo, são uma ameaça à democracia. Durante as eleições – como já discutimos brevemente - elas podem ser muito perigosas ao ponto de causas tumultos e destruir re- putações em poucos segundos. As pessoas recebem as notícias em seus perfis nas redes sociais e compartilham sem perceber que se tra- tam de informações falsas. Assim, elas acabam criando uma rede de desinformação. Os brasileiros utilizam muito as redes sociais. Você já imaginou quanta gente recebe e repassa informações erradas, modifi- cadas e mentirosas? Em 2018, uma reportagem da Revista Forbes2 divulgou um re- latório do Reuters Institute Digital News Report, que investigou a con- fiança e a desinformação no consumo de notícias a nível mundial. O 2 Disponível em: https://forbes.com.br/listas/2018/06/12-paises-com-maior-exposicao-a- -fake-news/#foto1 63 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S estudo mostrou que pessoas com mais conhecimento ou interesses por notícias têm mais facilidade de reconhecer quando uma notícia é falsa. Esse estudo também mostrou que o Brasil é o terceiro país no mundo com maior consumo de fake news,ficando atrás apenas da Turquia (41%) e do México (43%). Os Estados Unidos ficaram em quar- to lugar, com 31%. Esse relatório foi feito com 74 mil pessoas em 37 países diferentes. Assim, por tudo que já discutimos nesta unidade, faz-se ne- cessário pensar como podemos verificar a veracidade das informações. Como fazer jornalismo digital na era das Fake News? Tradicionalmen- te, no jornalismo impresso, o fact-checking compreendia o processo de checagem de dados, bem como o cruzamento deles. Por exemplo, o cruzamento de duas fontes diferentes sobre o mesmo assunto. Com a era digital, a pressa e a redução das equipes de traba- lho, é cada vez mais comum que as pessoas deixem de checar e apurar as informações. Quando essa apuração é feita, pode ser com apenas uma fonte ou um instituto de pesquisa ou órgão representante do as- sunto e é nesse processo que ocorre o perigo da propagação de boatos, informações incorretas, dados inexistentes. Recentemente, o Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) do Rio ofereceu um curso sobre mídias sociais e jornalismo. No conteúdo, os palestrantes alertaram sobre como os jornalistas devem utilizar as mídias a seu favor, englobando um debate também sobre as ferramen- tas que podem fazer um trabalho no combate às fake news. Eles alerta- ram sobre higiene cibernética, o cuidado que o jornalista deve ter com as bolhas sociais, já que estar inserido somente em grupos específicos pode impedi-lo de enxergar outras realidades. Além do mais, as interações nas redes sociais podem resultar em notícias, no entanto há riscos e eles devem ser evitados. Atrelado às fake news, nós nos deparamos com os discursos de ódio nas redes so- ciais. Para as circunstâncias que se desdobram em casos de violência e ameaças aos próprios profissionais, existe a recomendação da procura de órgãos oficiais para a formalização da denúncia. Além do mais, órgãos como a OAB Nacional e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lançaram uma cartilha3 intitulada “Cartilha sobre medidas legais para a proteção de jornalistas contra ameaças e assédio online” que serve de guia para esses tipos de casos. A seguir, vamos acompanhar as etapas necessárias para a checagem de informações na produção da notícia jornalística. Em pri- 3 Disponível em: https://abraji.org.br/help-desk/cartilha-sobre-medidas-legais-para-a-pro- tecao-de-jornalistas-contra-ameacas-e-assedio-on-line https://abraji.org.br/help-desk/cartilha-sobre-medidas-legais-para-a-protecao-de-jornalistas-contra-ameacas-e-assedio-on-line https://abraji.org.br/help-desk/cartilha-sobre-medidas-legais-para-a-protecao-de-jornalistas-contra-ameacas-e-assedio-on-line 64 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S meiro lugar, o jornalista precisa checar a origem da informação, de onde ela veio. Tal informação é apenas uma opinião ou foi divulgado a um documento, relatório emitido por algum órgão competente ou instituição confiável? Uma das formas de saber a origem de um dado é verificar se ele foi compartilhado por outros canais. Por exemplo, se quando faze- mos uma busca por uma determinada notícia e ela está sendo comparti- lhado apenas em sites sensacionalistas ou pouco conhecido, esse é um indicativo de que essa informação é de má procedência. Em segundo lugar, é preciso saber quem está presente nessa informação. É um especialista no assunto abordado ou a matéria jorna- lística tem apenas opinião? Existem dados científicos embasados? O terceiro elemento importante a ser analisado é a estrutura da linguagem da notícia. Esse conteúdo tem erros de português? Tem um tom sensacionalista? As fontes foram citadas? As informações estão soltas? Há o uso de letras maiúsculas (popularmente conhecidas como “garrafais”) para chamar a atenção do leitor? Nesse sentido, outro aspecto importante a ser mencionado diz respeito à imagem e à arquitetura da informação. As notícias falsas não estão apenas em texto. Pelo contrário. Cada vez mais, aparecem as fake news no formato de fotos ou vídeos que foram manipulados para, por exemplo, parecer que algo foi dito por uma pessoa, no chamado deep fake (quando a inteligência artificial é utilizada para fazer uma si- mulação em um rosto para parecer que alguém disse determinada coi- sa). Esse é o nível mais alto de fake news existentes para simula- ção de movimentos faciais ou atribuições de fala de um perfil a outro. Quando falamos em detecção de fake news em imagens, podem ser uti- lizadas algumas ferramentas como o site TinEye, que permite, através da imagem inserida, buscar e verificar a primeira vez que uma imagem foi divulgada na internet. Outro aspecto muito importante para atentar-se na era digital são as ferramentas de monitoramento. Por exemplo, a BuzzMonitor possibilita o acompanhamento de hashtags em tempo real, checar se algum influenciador digital mencionou a sua marca, quem são os perfis mais influentes em determinado nicho, cadastrar um alerta para ser co- municado toda vez que o produto for citado, etc. Abaixo, disponibiliza- mos um quadro X com etapas que podem orientar as pessoas quanto à checagem das informações. 65 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S Quadro X – Etapas de orientação Etapas da checagem das informações 1 Cheque a fonte. 2 Que canal compartilhou? 3 Procure especialistas. 4 Verifique se o tom da informação é alarmista. 5 Busque fontes oficiais. Fonte: Elaborado pela autora, 2020. A propagação de notícias falsas na internet tem sido cada vez mais poderosa. Um estudo recente da empresa de segurança ciberné- tica Kapersky mostra que 62% dos brasileiros não sabem diferenciar se uma notícia é verdadeira ou não. PROJETOS DE LEI PARA O COMBATE ÀS FAKE NEWS NO BRASIL Pensando nisso, com o objetivo de garantir a liberdade de ex- pressão e a democracia na rede, o senador Alessandro Vieira (Cidada- nia-SE) apresentou o Projeto de Lei 2.630/2020 que traz uma série de normas e mecanismos de transparência para as redes sociais, incluindo serviços de mensagens privadas e conteúdos patrocinados para com- bater abusos, manipulações, perfis falsos e disseminação de fake news. Entre as normas apresentadas no Projeto de Lei 2.630/2020 estão a obrigação de que provedores de redes sociais com mais de 2 milhões de usuários divulguem relatório com o número de postagens e de constas destacadas, removidas ou suspensas com o esclarecimento dos motivos. O projeto ainda define sanções a serem aplicadas às pla- taformas que desrespeitem essas regras. A maioria dos provedores discorda da votação nesse momen- to. O Facebook afirmou que a plataforma defende que “projetos de leis sejam resultado de amplo debate público, para garantir que não repre- sentem ameaça à liberdade de expressão e para evitar que traga, inse- gurança jurídica ao setor”. O PL 2.630/2020, assim como o Projeto de Lei 1.429/2020, de autoria dos deputados Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tábata Amaral (PDT- -SP), pretende instituir a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Segundo o PL 2.630, a lei “estabelece normas, diretrizes e me- canismos de transparência de redes sociais e de serviços de mensage- 66 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S ria privada através da internet, para desestimular o seu abuso ou mani- pulação com potencial de dar causa a danos individuais ou coletivos”. Os objetos dessa lei, de acordo com o PL 2.630 são: I - O fortalecimento do processo democrático por meio do combate à desin- formação e do fomento à diversidade de informações na internet no Brasil; II – a busca por maior transparência sobre conteúdos pagos disponibilizados para o usuário; III - desencorajar o uso de contas inautênticas para dissemi- nar desinformação nas aplicações de internet. Atualmente, o PL2.630 está em tramitação. As notícias falsas representam uma ameaça à democracia porque são falsos recursos utilizados para deturpar a verdade, tirar a atenção daquilo que é mais importante e ofender a moral e a história das pessoas, principalmente entes públicos que por ventura estejam disputando um pleito eleitoral A partir do que discutimos nessa unidade, é importante pen- sarmos que novos caminhos são possíveis para o jornalismo digital, especialmente no nosso país onde as notícias falsas ganharam tanto espaço. Gandour (2016) discutia que a fragmentação digital afetava os profissionais do jornalismo, porque, por vezes, gerava um acúmulo de função. É importante que os profissionais da comunicação estejam sempre se atualizando quanto ao mercado de trabalho e isso também vale para o jornalismo digital. Mas, essa busca pelo conhecimento deve refletir na remuneração do profissional. No entanto, só isso não é suficiente. É urgente pensarmos em meios de educação midiática para a população brasileira, uma educa- ção que deve acontecer em todos os setores da sociedade, mas, prin- cipalmente, para aqueles setores onde os recursos não chegam, pois são neles onde as notícias falsas têm mais espaço para se espalharem. Diante do que foi abordado, além desses meios para educação midiática necessários para a população brasileira, também cabe ressal- tar a importância que o jornalismo e as escolas de jornalismo assumem nesse cenário. Segundo Gandour (2016), o jornalismo não é propriamente uma ciência, mas um método resultante da confluência de várias disciplinas, um amálgama de conceitos vindos de outros campos do conhecimento – como a história, as ciências sociais, a psicologia, a teoria do conhecimento e mais recentemente até a ciência da computação e a estatística. Tudo complementado por técnicas próprias da atividade, como as táticas de entrevista, de construção de texto, de edição de áudio e de vídeo. Há uma característica bem peculiar dessa profissão: o reforço do treinamento e do aprendizado com o decorrer da prática. Isto se verifica também em outros setores, e é comumente chamado de “on the 67 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S job training”. Mas no jornalismo tornou-se clássica a cena em que jovens repórteres ouvem histórias e ensinamentos de veteranos editores, ao longo de coberturas por dias e noites da redação. Há um sentimento de ritual e de liturgia no cumprimento das rotinas que compõem o método jornalístico, desde o planejamento da pauta, passando pelo fact-checking, pela seleção e validação de fontes até os critérios finais de edição de texto e imagens. Na transição para esse novo ambiente informativo, fragmentado e com a tendência de que as fronteiras entre jornalismo e não-jornalismo (publicida- de, advocacy etc.) se tornem turvas, o papel das escolas superiores e dos centros de pesquisa serão cada vez mais essências para a preservação dos fundamentos da profissão. Ou, como gostam de dizer alguns analistas de negócios, para a manutenção da “cultura” do setor. (Gandour, 2016, p. 39). Assim, podemos pensar a partir dos efeitos da fragmentação digital no jornalismo. É preciso que o jornalismo se reinvente mais uma vez em todas as esferas, ou seja, em todos os seus meios. Mesmo com todas as mudanças que essa atividade profissional tem vivido ao longo de décadas, seja no impresso, no rádio, na televisão e, agora, nos portais de notícia e nas redes sociais, as questões trazidas com a fragmentação digital não podem ser ignoradas. Opiniões polarizadas já são um fato no Brasil. As redes sociais vieram, sim, para democratizar o meio digital e dar oportunidade para que todos possam se expressar e discutir as questões pertinentes à sua realidade. Mas, como isso pode acontecer quando há a dificuldade de um debate respeitoso em relação às opiniões contrárias? Como isso pode acontecer apesar dos prejuízos causados pelas fake news? Nesse sentido, é urgente que o jornalismo, ou melhor, os pro- fissionais da comunicação repensem seu papel com a sociedade e com a defesa da democracia. Assim como as escolas de jornalismo assu- mem um papel de maior importância nesse momento. Dito de outro modo, para além das questões técnicas e tec- nológicas, para além das ferramentas que possam ser usadas no sen- tido de melhorar, tornar mais práticas as atividades comunicacionais, é preciso que o jornalista reflita, concomitantemente ao seu exercício profissional, como pode usar isso a favor não de determinados partidos políticos, mas a favor da democracia, da liberdade de expressão e do amplo e livre debate. Enquanto isso, às escolas de jornalismo cabe a missão de formarem profissionais ainda mais críticos, atentados às mais diversas realidades que habitam nosso país, porque a diversidade também é um critério da democracia. Quanto mais atento a essas realidades, maior será o repertório desse profissional. No âmbito acadêmico e educacional, isso se dá a partir de 68 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S discussões que envolvam as questões mais pertinentes à democracia, como a liberdade e o respeito às opiniões diferentes, o respeito aos di- reitos humanos e a reflexão sobre as diferenças econômicas, políticas e sociais existentes em nosso país. Entidades da sociedade civil também podem e devem parti- cipar desse processo de reflexão sobre os meios de comunicação e desenvolvimento de práticas comunicais voltadas para a democracia e a conscientização da população acerca de boas práticas midiáticas e comunicacionais, tais como a importância de checar as informações antes de compartilhar, por exemplo. Aos meios de comunicação cabe o importante papel de abordar e discutir constantemente todas essas questões, já que diante de outras ins- tituições como as escolas, a Igreja, as organizações não governamentais, etc., esses meios ainda são os que têm maior alcance. Por isso, temas como direitos humanos, diversidade, boas práti- cas comunicacionais, checagem dos fatos são tão importantes de serem discutidas. Esses debates não só fortalecem a democracia, mas educam a sociedade quanto ao seu papel nos espaços públicos. Nesta unidade, nosso objetivo foi primeiro situar você, aluno, quanto às Teorias da Comunicação em quesitos como contexto histórico, principais autores e as contribuições desses estudos para o entendimento dos meios de comunicação e da sociedade. Em seguida, retomamos como os principais meios de comunica- ção de massa se desenvolveram no Brasil: a imprensa, o rádio e a tele- visão, abordando hábitos de consumo da sociedade a partir da Pesquisa Brasileira de Mídia, além de falarmos também sobre como empresas de streaming de vídeo inauguraram outras formas de se ver televisão no mun- do. Por fim, neste terceiro capítulo discutimos as principais mudanças que o jornalismo sofreu com a chegada da internet, assim como os efeitos da fragmentação digital a partir das concepções de Gandour (2016) e a ascensão das fake news aos meios digitais, já que elas sempre existiram. É importante que você reflita sobre o legado deixado por cada teoria da comunicação e como cada uma está presente nos meios de comunicação que você consome. O que elas te ensinam sobre a mídia? O que elas te ensinam sobre suas práticas comunicacionais e informacionais? Esperamos que, após o estudo, você compreenda melhor tam- bém os principais meios de comunicação de massa no contexto brasileiro. Quem sabe isso não te ajuda a escolher com quais deles você pretende trabalhar? Quem sabe você não se encontra em um desses meios e de- senvolve sua carreira profissional? 69 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2019 Banca: IDECAN Órgão: IF-PB Prova: Jornalista O webjornalismo ou ojornalismo da internet pode ser considerado a nova televisão, pois o número de pessoas que navega na internet pode ser maior do que aquele que fica diante da televisão. Consi- derando essa realidade, o jornalista deve ter domínio de algumas características específicas em relação a aspectos do webjornalis- mo, entre essas, a) Informação factual, perenidade, entrevista coletiva, interatividade e entrevista pessoal. b) Personalização de conteúdo, entrevista em grupo, reportagem, anco- ragem e complemento. c) Multimidialidade, factualidade da narrativa, memória, descrição e citação d) Instantaneidade, interatividade, perenidade, multimidialidade, hiper- textualidade e personalização de conteúdo; e) Hipertextualidade, informação factual, reportagem, texto impressivo e entrevista em grupo. QUESTÃO 2 Ano: 2016 Banca: UFMT Órgão: UFMT Prova: Jornalista São consideradas características que diferenciam a veiculação da informação na internet em relação aos meios Televisão e Mídia Im- pressa, respectivamente: a) Independência de grade horária e espaço virtual ilimitado. b) Capacidade analítica dos fatos e hipertextualidade. c) Linguagem própria definida e junção multimídia (sons, imagens, texto). d) Distribuição sob demanda e imediatismo. QUESTÃO 3 Ano: 2018 Banca: AOCP Órgão: SECOM-PA Prova: Jornalista Os veículos de comunicação (sejam eles impressos, online ou tele- visão, por exemplo) sempre planejam, de alguma forma, suas edi- ções. Esse planejamento passa pela pauta, e pode ser considerado um procedimento padronizado. No que se refere à pauta, assinale a alternativa correta a) As matérias são programadas através das pautas e seguem somente os fatos que devem ser apurados. b) A pauta foi institucionalizada na década de 70 nos jornais brasileiros e, por isso, pode ser considerada como parte da imprensa neomoderna. c) As pautas frias são aquelas que não podem ser programadas, geral- 70 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S mente são realizadas sem antecipação do repórter d) A pauta tem como objetivo principal o planejamento das edições. e) Pautas diárias costumam ser preparadas e atualizadas ao final do expediente do dia anterior para garantir a edição do dia seguinte. QUESTÃO 4 Ano: 2020 Banca: FADESP Órgão: UEPA Prova: Técnico de Nível Superior - Comunicação Social Com o surgimento das novas tecnologias de informação e, con- sequentemente, das redes sociais, o jornalismo também acompa- nhou estas mudanças, inclusive com a divulgação de notícias em tempo real nas plataformas digitais, pautando as rádios, os jornais impressos e a televisão. Do ponto de vista prático, o jornalismo online, produzido para internet, é conhecido como: a) Webjornalismo. b) Jornalismo especializado. c) Jornalismo ao vivo. d) Jornalismo em tempo real. QUESTÃO 5 Ano: 2018 Banca: CESPE/CEBRASPE Órgão: IPHAN Prova: Analis- ta I - Área 1 A respeito de aspectos relacionados à mutação do jornalismo a partir do surgimento da internet e de novas mídias digitais, julgue o item que segue. A migração dos meios de comunicação para as plataformas digi- tais é um processo irreversível: as produções de jornalismo, tele- visão, rádio, publicidade e marketing operam majoritariamente em meio digital, dispensando bases analógicas e lineares. ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Todos os dias, você recebe muitas informações através de suas redes sociais, como o WhatsApp. Disserte sobre como você pode verificar se a uma informação é verdadeira antes de compartilhá-la com outras pessoas. TREINO INÉDITO Qual ou quais são os efeitos da fragmentação digital apontados por Gandour (2016) que atingem o jornalismo? 71 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S a) Fake news. b) Liberalismo econômico e ampla concorrência de mercado. c) Checagem das informações e compartilhamento desenfreado. d) Polarização, alfabetização midiática, consolidação e jornalismo sem fins lucrativos. e) Manutenção de antigos padrões no fazer jornalístico. NA MÍDIA LEI CONTRA “FAKE NEWS” É APOIADA POR 90% DOS BRASILEIROS Pesquisa realizada pelo Ibope e divulgada nesta terça-feira (02) indica que 90% dos brasileiros são a favor da existência de uma lei que obri- gue as plataformas de redes sociais a combater as “fake news”. O levantamento, feito por encomenda da ONG Avaaz, entrevistou por telefone, entre 28 e 30 de maio, cerca de mil pessoas com mais de 16 anos de idade, em todos os estados e no Distrito Federal. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. Nesta terça-feira, o Senado começa a analisar um projeto de lei do se- nador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) que trata sobre o assunto. O texto institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transpa- rência na Internet, estabelecendo normas e mecanismos de transparên- cia para redes sociais e serviços de mensagens da internet para comba- ter abusos. Outro projeto semelhante foi apresentado na Câmara. Fonte: PORTAL TERRA Data: 02 jun. 2020 Leia a notícia na íntegra: https://www.terra.com.br/noticias/brasil/poli- tica/lei-contra-fake-news-e-apoiada-por-90-dos-brasileiros,100df6a23a- ced68fa8b6510a955393be6kr8pxz8.html NA PRÁTICA Diariamente, somos bombardeados de informações e muitas delas podem ser falsas, dependendo do canal em que recebemos ou mes- mo da maneira como cada uma foi produzida. Esse artigo nos ajuda a compreender como se dá o fenômeno das notícias falsas no mundo, mostrando também os desafios da apuração jornalística na era digital. Assim, jornalistas que trabalhem no ambiente digital podem entender melhor sua profissão e o papel que o jornalismo comprometido com a verdade tem com a sociedade. Fonte: https://portalintercom.org.br/anais/nordeste2019/resumos/R67-1014-1.pdf 72 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S GABARITOS CAPÍTULO 01 QUESTÕES DE CONCURSOS 01 02 03 04 05 D ERRADO ERRADO C CERTO QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA A Folkcomunicação foi importante, em primeiro lugar, por colocar o Brasil como colaborador dos estudos da comunicação no mundo. Além disso, entre todas as teorias, é a única que se propõe a estudar a cultura do ponto de vista dos grupos marginalizados pela mídia e pela sociedade. Essa teoria estudava a difusão da comunicação popular e folclore nos meios de comunicação de massa, a comunicação de grupos rurais e ur- banos culturalmente à margem da mídia e colocava o líder comunitário como agente de retransmissão da mensagem através de um canal folk, além de discutir também os impactos da mídia sobre as manifestações culturais populares. TREINO INÉDITO Gabarito: E 73 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 02 QUESTÕES DE CONCURSOS 01 02 03 04 05 D C E A A QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA O rádio começou a fazer parte da minha vida ainda na infância, porque meus pais ouviam enquanto faziam suas atividades cotidianas. Muito se falava que a televisão iria substituir o rádio, já que seus recursos eram audiovisuais e, por isso, superavam o rádio. No entanto, o que a sociedade tem visto é que o rádio se reinventou e continua fazendo parte da vida das pessoas. Hoje, não precisamos de um aparelho de rádio para ouvi-lo. Com um celular, ou mesmo através de sites das rádios, podemos seguir acompanhando a programação das emissoras que mais gostamos. Há também a modalidade de rádio enquanto podcast, programas grava- dos e inseridos em plataformas digitais. Esses programas abordam as mais diversas questões, como política, saúde, cultura, economia, etc. TREINO INÉDITO Gabarito: E 74 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A CO M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 03 QUESTÕES DE CONCURSOS 01 02 03 04 05 D A D A CERTO QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO DE RESPOSTA Todos os dias, você recebe muitas informações através de suas redes sociais, como o WhatsApp. Disserte sobre como você pode verificar se uma informação é verdadeira antes de compartilhá-la com outras pessoas. Quando temos vontade de compartilhar uma informação recebida nas redes sociais é porque o assunto nos interessa ou acreditamos que ele seja importante para o conhecimento das demais pessoas que conhe- cemos. No entanto, sabendo de como uma notícia falsa pode trazer prejuízos à vida das vítimas, antes de compartilhar uma informação, eu seguiria as seguintes etapas a fim de verificar a veracidade desse conteúdo: 1) Checar a fonte, 2) Que canal compartilhou?, 3) Procurar especialistas, 4) Verificar se o tom da informação é alarmista, 5) Bus- car fontes oficiais. TREINO INÉDITO Gabarito: D 75 O S A SP E C TO S D A S TE O R IA S D A C O M U N IC A Ç Ã O - G R U P O P R O M IN A S ABREU, Thallisson Reis Nogueira; PELLEGRINI, Paulo Augusto Emery Sachse. O compartilhamento de informações falsas em um Brasil conectado. XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste. Maranhão: São Luís, 2019. Disponível em: https://portalinter- com.org.br/anais/nordeste2019/resumos/R67-1014-1.pdf. 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