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R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Seção 4.3 Objetivo Entender o processo de centralização política dos hebreus e a posterior fragmentação. Termos e conceitos • Monarquia • Diáspora 82 U n id ad e A • D a P ré -h is tó ri a às p ri m ei ra s ci vi liz aç õe s do O ri en te DOC. 1 Os hebreus antigos: política e sociedade O período dos juízes Ao retornar à região de Canaã, na Palestina, os hebreus travaram intensas lutas com os cananeus e, mais tarde, com os filisteus, povos aramaicos que ocupavam essa região. Na luta pela posse da região, os hebreus destruíram antigas cidades, como Jericó e Harzor. Isso ocorreu entre 1230 e 1220 a.C. Com a ocupação de Canaã, se iniciou, segundo a Bíblia, o período dos juízes, que se estendeu de 1220 a 1030 a.C. Nessa época, os hebreus esta- vam divididos em doze tribos, marcadas pela ausência de um governo central. Em épocas de grandes conflitos surgiam líderes, os “juízes”, que assumiam um papel militar e religioso, porém sem conseguir unificar as tribos. A monarquia hebraica No final do século XI, os filisteus, que dominavam o uso do ferro, invadiram a Cananeia. Para defender-se e resistir à invasão dos vizinhos, as tribos tiveram de se organizar sob a liderança de um rei. Com o primeiro rei, Saul, escolhido por sorteio, houve uma divisão entre as tribos de Israel (ao norte) e as tribos de Judá (ao sul). Israel e Judá entraram em guerra, opondo os partidários de Saul e as tribos de Judá sob a liderança de Davi. O jovem rei Davi, que governou de 1000 a 962 a.C., conseguiu unificar as tribos rivais, derrotando os filisteus e conquistando a cidade de Jerusalém, que se transformou na capital do reino. Após a morte de Davi, seu filho, Salomão, levou a monarquia ao máximo esplendor, incentivando o comércio no lugar das guerras e adotando o luxo e o refinamento das realezas orientais. Seu longo reinado (962-924 a.C.) ficou conhecido como um período de paz e prosperidade. Sob o reinado de Salomão, a monarquia consolidou-se, com a fortificação das cidades, a reorganização do exército e a construção do Templo de Jerusalém [doc. 1]. Muro das Lamentações e a Cúpula dos Rochedos. Jerusalém, Israel, 2007. O Templo de Jerusalém O Templo de Jerusalém, construído por ordem de Salomão, no século XI a.C., era o local de culto religioso central da cultura judaica, considerado a morada de Yahveh, onde era cultuado e se ofereciam sacrifícios a ele. Em 586 a.C., o tem- plo foi totalmente destruído por Nabucodonosor II da Babilônia. Décadas mais tarde (c. 516 a.C.), foi reconstruído no mesmo local e novamente destruído pelos romanos no ano 70 da nossa era. Desse segundo templo restou um muro exter- no conhecido como Muro das Lamentações, local considerado sagrado e muito visitado hoje por judeus e não judeus do mundo todo, que lá rezam e depositam seus desejos por escrito. HIST_PLUS_UN_A_CAP_04.indd 82 18.08.10 14:29:31 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 83 C ap ít u lo 4 • H eb re us , f en íc io s e pe rs as 1. Menorah. O candelabro de sete braços é aceso todo ano no Festival das Luzes (Hanukah), que comemora a reconstrução do Templo de Jerusalém. 2. Torá. O livro sagrado da lei, que contém os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Reis, Levítico e Deuteronômio. 3. Estrela de Davi. Segundo a tradição, era o símbolo presente no escudo de Davi quando derrotou o gigante filisteu Golias. Sociedade e economia dos hebreus Dois avanços técnicos possibilitaram a fixação dos hebreus em Canaã: a domesticação do camelo e a difusão de instrumentos de ferro. Canaã era uma terra árida, sem muitos recursos hídricos. Por ser um animal que necessita de pouca água, o camelo era o meio fundamental de transporte e de comunicação no deserto. Já o uso de ferramentas de ferro permitiu a perfuração de poços e cisternas para armazenar a água da chuva, usada para irrigar os campos. A passagem da vida nômade à vida sedentária e o início da monarquia implicou várias mudanças sociais e econômicas. À medida que se sedentari- zavam, os hebreus deixavam de ser povos pastores nômades e se tornavam agricultores, comerciantes e artesãos. Começavam a aparecer as divisões sociais, pois naquele momento instituiu-se a ex- ploração familiar da terra. Porém, a terra não era considerada ainda uma propriedade privada. Vista como sagrada, a terra pertencia ao clã familiar, e o proprietário tinha apenas o usufruto dela. Nas cidades, os artesãos e os artistas se orga- nizavam em corporações formadas de acordo com o ofício de cada um: padeiros, fiadores, tecelões, droguistas, alfaiates, oleiros etc. Alguns ofícios emergiram a partir das descobertas arqueológicas, como uma queijaria do século VII a.C., descoberta na cidade israelense de Tel Gat. A dominação externa Após a morte de Salomão, por volta de 924 a.C., não foi possível manter a unidade política dos he- breus. As dez tribos do norte se separaram formando o Reino de Israel, com capital em Samaria. Ao sul, as duas tribos restantes formaram o Reino de Judá, com capital em Jerusalém. Por volta de 722 a.C., as tribos do norte foram conquistadas pelos assírios e seus moradores se dispersaram. Tinha início a primeira diáspora dos hebreus. Os habitantes do norte passaram a ser co- nhecidos como samaritanos (habitantes de Samaria), considerados inferiores pelos hebreus por terem se misturado com os estrangeiros. Os habitantes do Reino de Judá, ao sul, passaram a ser conhecidos como judeus. O Reino de Judá sobreviveu até 586 a.C., quando o rei babilônico Nabucodonosor conquistou a região e ordenou a destruição do Templo de Jerusalém. Depois disso, houve uma sucessão de domínios estrangeiros: persa, a partir do século V a.C., mace- dônico, no século IV a.C., e por fim romano, depois de 63 a.C. As tribos judaicas assimilaram costumes e valores de outros povos, correndo o risco de perder sua identidade cultural dada pelo monoteísmo e a lei mosaica. Na ausência de uma unidade política duradoura, era necessário escrever e documentar tudo, criando uma memória que garantisse a preservação da sua cultura e o sentimento de partilhar um passado co- mum. É essa memória, corporificada num conjunto de tradições escritas e numa história comum, que constitui a identidade cultural que caracteriza os judeus até a atualidade [doc. 2]. Vocabulário histórico Diáspora A palavra “diáspora” é de origem grega e significa disper- são ou deslocamento de grandes massas populacionais de uma área fixa para diferentes áreas. O termo foi utilizado pela primeira vez na tradução da Bíblia judaica para o grego, designando exclusivamente as diásporas judaicas. A primeira dispersão aconteceu em 722 a.C., quando o Reino de Israel foi invadido e destruído pelos assírios. A segunda aconteceu com a invasão de Nabucodonosor da Babilônia, em 586 a.C., e a terceira, com o domínio romano, no século I da era cristã. 1. Quais mudanças ocorreram na sociedade hebraica com a instalação da monarquia? 2. O que os símbolos do judaísmo representam para a história dos judeus [doc. 2]? QUESTÕES Símbolos do judaísmoDOC. 2 HIST_PLUS_UN_A_CAP_04.indd 83 18.08.10 14:29:36 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 84 U n id ad e A • D a P ré -h is tó ri a às p ri m ei ra s ci vi liz aç õe s do O ri en te CONTROVÉRSIAS A Bíblia e as pesquisas arqueológicas A crença nas histórias bíblicas é, principalmen- te, uma questão de fé e não de ciência. A desco- berta de evidências científicas que confirmam essas histórias, contudo, contribui para elevar a autoridadeda Bíblia. Por isso, muitos arqueólogos, influenciados pela religião, buscam vestígios que atribuam valor de verdade aos relatos bíblicos. Outros, porém, colocando a arqueologia à frente da religião, fazem descobertas que refutam as histórias contadas na Bíblia. “O relato da Bíblia sobre o rei Davi é tão conhecido que até mesmo as pessoas que raramente abrem o Livro Sagrado provavelmente têm uma ideia de sua grandeza. Davi, segundo a Escritura, era um líder militar tão soberbo que não só capturou Jerusalém, mas também transformou a cidade na sede de um império, unificando os reinados de Judá e Israel. Assim começou a era gloriosa, mais tarde ampliada por seu filho, o rei Salomão, cuja influência se estendeu da fronteira do Egito até o Rio Eufrates. Depois, veio a decadência. Mas e se a descrição da Bíblia não estiver de acordo com as evidências do solo? E se Jerusalém de Davi era, na realidade, um vilarejo rural atrasado, e a grandeza de Israel e de Judá estivesse num futuro longínquo? Recentemente, as autoridades em arqueologia de Israel têm feito essas afirmativas, falando do ponto de vista das descobertas recentes de escavações do passa- do antigo. ‘Da maneira que vejo as descobertas, não há evidência alguma de uma grande e unida monarquia, nem de Jerusalém governando vastos territórios’, disse Israel Finkelstein, diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv. A Jerusalém do rei Davi, acrescentou Finkelstein, ‘não era nada além de uma pobre vila na época’. [...] Sítio arqueológico em Jerusalém, Israel, em 2009. As pesquisas arqueológicas são continuamente confrontadas com os textos bíblicos, tanto para confirmá- -los quanto para questioná-los. 1. Como a arqueologia, em Israel, tem se relaciona- do com a Bíblia ao longo do tempo? 2. A Bíblia foi escrita com base na tradição oral dos hebreus. Como esses registros devem ser trata- dos para o conhecimento histórico desse povo? 3. É possível conciliar o conhecimento arqueológico com os relatos bíblicos? QUESTÕES Em um contexto maior, o discurso de Finkelstein reflete uma mudança surpreendente que vem ocorrendo entre alguns arqueólogos de Israel. Suas interpretações contestam algumas das histórias mais conhecidas da Bíblia, como, por exemplo, a conquista de Canaã por Josué. Outras descober- tas dão informações suplementares à Escritura, como o que aconteceu com Jerusalém depois que foi capturada pelos babilônios há 2.600 anos. Em entrevista por e-mail do sítio de Megiddo, Finkelstein disse que, antes, ‘a história bíblica ditava o curso da pesquisa, e a arqueologia era usada para ‘provar’ a narrativa bíblica’. Dessa forma, disse, a arqueologia tornou-se uma discipli- na secundária. ‘Acho que chegou a hora de colocarmos a arqueologia na linha de frente’. [...] As práticas do passado às quais aludiu podem ser ilus- tradas por uma observação feita por Yigael Yadin, general israelense que se voltou para a arqueologia. Certa vez ele declarou que entrava em campo com uma espada em uma mão e a Bíblia na outra. Muitos arqueólogos, tanto antes da fundação do Estado moderno de Israel quanto depois, tinham o mesmo tipo de estratégia: buscar evidências diretas de histórias bíblicas. Essa maneira de ver era gerada por suas convicções religiosas [...].” Bíblia é reprovada no teste da arqueologia. The New York Times, 9 jul. 2000. Disponível em www.historianet.com.br. Acesso em 21 jul. 2010. HIST_PLUS_UN_A_CAP_04.indd 84 18.08.10 14:29:38