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Clínica Médica ENF.° RAFAEL MINHÓS DE SOUZA ROCHA O que é a clínica médica? Conhecida também como medicina interna, a clínica médica é o setor do hospital onde ficam os pacientes maiores de 12 anos em estado semicrítico e crítico, hemodinamicamente estáveis e sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos. Neste local, eles recebem atendimento completo, ou seja, diagnóstico e tratamento da sua condição de saúde. Qual o papel da enfermagem neste setor? O técnico de enfermagem é um personagem de extrema importância para a clínica médica. Este profissional, responsável por avaliar continuamente o estado do paciente, é quem propicia maior bem-estar e qualidade de vida a ele durante o período de internação. Quais são as melhores práticas de enfermagem em clínica médica? Determinantes Sociais de Saúde: processo saúde doença O que é saúde? Segundo o conceito de 1947 da Organização Mundial da Saúde (OMS), com ampla divulgação e conhecimento em nossa área, a saúde é definida como: “Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade. Pode-se então descrever a condição de saúde, didaticamente, segundo a soma de três planos: Subindividual: normalidade - anormalidade / funcionalidade - disfunções. Individual: variar entre um extremo de mais perfeito bem- estar até o extremo da morte, c Coletivo: divisões orgânicas e sociais Determinantes da saúde ao longo da História Dependem: Tipo de conhecimento vigente Tipo de organização social E geram: Diferentes modelos explicativos Diferentes estratégias de intervenção Determinantes da saúde ao longo da História • Dependem: Tipo de conhecimento vigente Tipo de organização social • E geram: Diferentes modelos explicativos Diferentes estratégias de intervenção Determinantes Sociais da Saúde • Diferentes Dimensões de análise do processo saúde – doença; Esses diferentes olhares convivem, complementam-se e disputam espaços de compreensão e intervenção. A diversidade das práticas em saúde tem relação com as formações sociais e econômicas, os significados atribuídos, o conhecimento disponível e com cada época. Em cada sociedade histórica, os determinantes da saúde são identificados, valorizados e hierarquizados em: Determinantes Naturais Determinantes Individuais Determinantes Sociais Pré-História – descoberta do Fogo Eram nômades, caçadores, viviam em bandos e a sobrevivência estava associada à disponibilidade de água e alimento. As doenças e agravas que não podiam ser entendidos como resultado do cotidiano era vistos como influência do sobrenatural, deuses, demônios e espíritos malignos. Pensamento mágico-religioso – Esse é responsável pelo desenvolvimento inicial da prática médica. • Práticas eram feitas pelos iniciados da época: Ia além do conhecimento farmacobotânico, uma forma de cuidado integral do indivíduo. • Hoje em dia diversas linhas de pesquisas e intervenções práticas de saúde procuram resgatar essa dimensão subjetiva envolvida nos processos terapêuticos que o pensamento positivista e mecanicista do modelo biomédico aboliu. Período Neolítico Pastor e/ou agricultores – Fixaram-se próximos a rios e vales férteis. Originou os aldeamentos; houve a domesticação dos animais para o trabalho ou para a alimentação – Isso ocasionou novas doenças . EX: variola e tuberculose do gado para o homem; gripo do porco e aves e resfriado comum do cavalo. Esses pequenos aglomerados de pessoas havia armazenamento de alimentos e acúmulo de dejetos aproximando os vetores do ser humano. • Excedente deu origem ao comércio o que aumentou o contato entre as pessoas; aumentou a circulação de parasitas e doenças. • Percebemos que a medida que diferentes civilizações vão se desenvolvendo e se consolidando surgem novas formas de enfrentar os problemas. • Ex: descobertas: 4000 aC encontrou-se que indícios de planejamento urbano, ordenamento de casas, ruas largas e canais de esgoto. • 3000 aC no Egito, havia descarga para lavatórios e esgotos; 1200 dC, encontraram os mesmos vestígios na civilização Inca. • No Brasil ainda hoje encontramos essa visão mágica / religiosa de enxegar a saúde e a doença. • Ex: simpatias, benzedeiras, chás, oferendes, ritos e oferendas destinadas aos santos e deuses. • Esse conhecimento é de fundamental importância para a formação do formação do profissional de saúde que atua diretamente com o povo; para respeitar suas crenças e saberes e viabilizar o encontro de saberes, conferindo maior efetividade nas ações. • Primeiras interpretações : ANTIGUIDADE • 1ª vertente = Concepção dos assírios, egípcios, caldeus, hebreus e outros povos: corpo humano como receptáculo de elemento externo; penetrando-o irá produzir a doença sem que o homem participe ativamente do processo; elementos tanto naturais como sobrenaturais sistemas filosóficos de compreensão do mundo: caráter religioso, ●observações empíricas relativas ao aparecimento da doença e função curativa das plantas e recursos naturais eram revestidas de caráter religioso • 2ª vertente - representada pela Medicina hindu e Medicina chinesa: doença vista como desequilíbrio entre os elementos/humores que compõem o organismo humano causa buscada no ambiente influência dos astros, clima, insetos e outros animais sistema complexo de correspondência entre os cinco elementos(madeira, metal, terra, fogo e água) e orgãos-sede • Saúde para os chineses: equilíbrio entre os princípios Yang e Yin; causas externas, internas e mistas causam o seu desequilíbrio. recuperação= restabelecer o equilíbrio de energia • o homem desempenha papel ativo no processo e as causas perdem o caráter mágico e religioso, são naturalizadas • 2ª vertente - representada pela Medicina hindu e Medicina • chinesa: doença vista como desequilíbrio entre os elementos/humores que compõem o organismo humano causa buscada no ambiente influência dos astros, clima, insetos e outros animais sistema complexo de correspondência entre os cinco elementos(madeira, metal, terra, fogo e água) e orgãos-sede Saúde para os chineses: equilíbrio entre os princípios Yang e Yin; causas externas, internas e mistas causam o seu desequilíbrio. recuperação= restabelecer o equilíbrio de energia o homem desempenha papel ativo no processo e as causas perdem o caráter mágico e religioso, são naturalizadas Explicações racionais – Medicina Hipocráticas • A civilização Grega representa o rompimento com a superstição e com as práticas mágicas e surge as explorações mais racionais. • Gregos: Panteístas – Os médicos também eram filósofos – Além de cuidar da saúde procuravam entender as relações do homem com a natureza.Procuravam interpretar a saúde e a doença como resultados de processos naturais e não sagrados. Panacéia preconizava a medicina curativa, prática terapêutica baseada em intervenções sobre indivíduos doentes, mediante manobras físicas, encantamentos, preces e uso de medicamentos, enquanto … Higéia, defendia a saúde como resultante da harmonia entre os homens e ambientes, e buscava promovê-la por meio de ações preventivas” • Através da observação da natureza que obtiveram os elementos centrais para a organização de um novo modo de conceber saúde e doença. • Hipócrates: 460 – 377 aC - Ares, Água e Lugares: Neste livro denomina; Endêmicas – doenças que observou a ocorrência de um número contínuo e reular de casos entre os habitantes. • Epidemia – o surgimento repentino e explosivo de um grande número de casos. • Caracterizou os fatoresresponsáveis pela endemicidade: local, clima, solo, água, modo de vida e nutrição. • Os Filósofos médicos – atuavam no sentido de restituir a harmonia e equilíbrio do homem de forma integral. Medicina Hipocrática Relação com o meio ambiente é um traço fundamental dos postulados Hipocráticos. Observação das funções do organismo com o meio natural e social. Saúde é uma Homeostasia entre o homem e o Meio. Doenças: desequilíbrios entre linfa, sangue, bile amarela e bile negra. Teoria dos Miasmas – doenças surgida da emanação do ar de regiões insalubres: Ex: Malária – maus ares. Devemos lembrar que as bases da semiologia já existiam nesta época: Ausculta e manipulação sensorial; anamnese; raciocínio diagnóstico; procedimentos terapêuticos e prognóstico. Época Romana Observaram a Med. Grega mas incrementaram pouco a mesma, contudo a Engenharia Sanitária e a administração tiveram grandes avanços. Sexto Julio – Aqueduto da Cidade Romana – descreve os benefícios para a saúde adquiridos com a implantação dos aquedutos. Banhos romanos extensivos atos de higiene e saúde. Sistema de esgoto – Cloaca Máxima. Entretanto nas regiões mais pobres a degradação ambiental, o amontoado de cortiços e os dejetos humanos nas ruas indicavam tempos sombrios Construção dos primórdios da saúde do trabalhador – Pois, diversos poetas e naturalistas atribuíam o adoecimento dos mineiros a pobre ventilação da minas e aos fluídos e vapores tóxicos. Idade Média – Castigo e Redenção Caí o Império Romano e ascende o Período Feudal Significa – Declínio da cultura urbana; decadência da organização e das práticas de saúde pública. Ascensão e Fortalecimento da Igreja Católica. Período de muitas Epidemias. Catolicismo – Afirmava a existência de uma conexão entre doença e pecado. Mundo – Lugar de expiação. Doença = Pecado / expiação de um mal cometido / possessão demoníaca / castigo de Deus Curas Realizadas pelos religiosos ou invés dos filósofos-médicos. Ao invés de chás, ervas, exercícios, repouso, banhos e etc, eram prescritas rezas, penitências, invocações aos Santos, exorcismos e UNÇÕES. • Função: Purificar a Alma. • Para a Igreja os estudos da medicina eram uma blasfêmia que deveria • ser julgada pela inquisição Doenças Periodo onde as doenças assolavam toda a população: Ex: varíola, tuberculose, sarampo, difteria, influenza, escabiose,eripsela, lepra e peste bulbônica. Lepra = impureza diante de Deus – Quem a possuísse deveria ser retirado do convívio social e enviado para os leprosários. Peste bulbônica = deu origem ao nome do período, Idade das Trevas. Ações de Saúde Pública: Suprimento de água para beber e cozinhar Visão geral da época Aglomeração de pessoas convivendo junto com os animais; Deposição de dejetos humanos e de animais nas ruas; Cheiro de matéria em putrefação misturado a urina e fezes; Contaminação e poluição das fontes de água; Ausência de esgoto; Péssimas condições de higiene. Final da idade media Criação dos Códigos Sanitários: Normatização da localização dos chiqueiros e matadouros; Normatização para o despejo de restos e dejetos oriundos da população; Normas para o recolhimento do lixo; Pavimentação das ruas; Canalização dos dejetos para poços cobertos. Entretanto: A população mantendo os mesmos hábitos tornou inócuas as medidas. Hospitais na Idade Média • Serviam para abrigar os pobres e doentes que ficavam nas ordens monásticas e sob sua direção. • Foi Instituído o período de quarentena com o objetivo de deter o avanço das doenças – Experiência obtida com o isolamento dos leprosos. • Continuava em voga a Teoria Miasmática, apesar da nítida natureza comunicável das doenças – Por imposição da Igreja. Renascimento • Apesar de todas as normas e proibições que a Igreja mantinha, o que contribuiu para o atraso das práticas de saúde individual e pública, foi no seio desta que se preservou no Ocidente o conhecimento Greco- Romano. • Pois, apesar de disporem de instalações, hábitos e regulamentos de higiene, no final da Idade Média, alguns mosteiros começaram a abrigar as primeiras Universidades. • Surgimento da Burguesia. • Fundação da Academias – As Universidade, sob domínio da Igreja Católica,servia apenas para passar conhecimento não descobri-lo e produzi-lo. Teoria dos Germes de Contagio Girolano Fracastoro – 1530 com a obra De Contagione. • Descrevia sobre a hipótese de contágio da sífilis. • Hipotisava sobre agentes específicos para cada doença Contagionistas X Não Contagionistas • Um embate com repercursões até hoje na saúde pública. • Contagionistas: Há um princípio causal para cada doença. Tiveram grande evolução no século XIX com o avento da Bacteriologia. • Não Contagionistas: Acreditavam no desequilíbrio da constituição atmosférica e corporal. Esse pensamento, evoluiu para as condições objetivas de vida construídas no espaço social. Polêmica ajudou a firmas as bases da clínica moderna e do método científico. Modelo Unicausal • Representou um reducionismo do fenômeno saúde / doença. Aboliu o Subjetivo a favor do Objetivo; • Aboliu os aspectos Qualitativos em prol dos Quantitativos. • Hiper valorização da fisiologia, anatomia, patologia e farmacologia, que se tornaram bases do pensamento médico. • Racionalidade Científica: Explicações dos fenômenos tem que ter base no estudo de mudanças objetivas: morfológicas, orgânicas e estruturais Figura 1 – Modelo unicausal Para o modelo positivista de ciência, a emergência do modelo unicausal conferia o estatuto de cientificidade que se julgava faltar às explicações sociais. A desqualificação destas, mediante o advento da bacteriologia, impediu que fossem estudadas as relações entre o adoecer humano e as determinações econômicas, sociais e políticas. A prática médica resultante desse modelo é predominantemente curativa e biologicista. Consequências • Uma causa = Um agravo ou seja; Um agente = Uma doença. • Reduziu a doença a ação de um agente específico; • Impediu o estudo das relações humanas e as determinações econômicas, sociais e políticas no adoecer = Modelo curativo e biologista. • Desqualificou o social na determinação do adoecer e das doenças. Modelo Multicausal • Após a Segundo Grande Guerra houve um declínio do Modelo Unicausal. Motivo: • Não explicava as doenças associadas a múltiplos fatores de risco. • Neste período houve uma transição epidemiológica. • Ou seja, diminuiu a incidência das doenças Infecto parasitárias para aumentar das crônicas degenerativas. Figura 2 – Modelo multicausal: a tríade ecológica Força do Postulado Contraponto do modelo biomédico, centralizado no conhecimento anatomopatológico, visão mecanicista do corpo, compartimentalizado, desconectado, com um modelo assistencial centrado no indivíduo e na doença, no hospital e no médico. • Defende: Universalidade – Integralidade – Equidade. • Princípios de um novo sistema de saúde – SUS. • Além de fomentar a descentralização, a regionalização e a participação social. Constituição de 1988 e Saúde Reflete o ambiente político de redemocratização do país, principalmente, a força do movimento sanitário na luta pela ampliação dos direito sociais. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Brasil, 1988: 37). Notamos claramente, nesta concepção, a explicitação dos Determinantes Sociais da Saúde e da Doença. Determinantes Sociais da Saúde Incluem: condiçõesmais gerais de uma sociedade (socioeconômicas, culturais e ambientais), e se relacionam com as condições de vida e trabalho de seus membros (habitação, saneamento, ambiente de trabalho, serviços de saúde e educação) e, também, com a trama de redes sociais e comunitárias. • Importante: Determinante é mais complexo que causa. Ex: o Bacilo de Koch causa a tuberculose, mas, são os determinantes sociais que explicam porque certa parcela da população é mais susceptível que outra.