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ÉTICA
Resultado de Aprendizagem: Justificar 
posicionamentos éticos em relação a situações 
práticas da sua vivência cidadã e profissional.
Jelson Roberto de Oliveira
AUTOR
Lattes
Jelson Oliveira, professor do Programa de Pós-Graduação 
em Filosofia da PUCPR, possui mestrado em História 
da Filosofia Moderna e Contemporânea e doutorado em 
Filosofia. Realizou estágio pós-doutoral na Universidade 
de Exeter.
No vídeo a seguir, Jelson Oliveira apresenta os principais modelos éticos, além de demonstrar 
a importância de compreender e aplicar esses conceitos no dia a dia.
Ética – Introdução
https://www.youtube.com/watch?v=UhnR-u9ZDGw&feature=youtu.be
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4770950D2
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4770950D2
Ética
Desafios éticos: as crises contemporâneas e a 
convergência tecnológica
Muitos pensadores têm classificado nosso tempo como tempo de crises. Motivos para isso não 
faltam: vivemos a maior crise sanitária dos últimos tempos com a pandemia do novo Coronavírus. 
Assim, estamos diante de uma emergência climática sem precedentes, uma vez que a tecnologia 
promete alterar, significativamente, o nosso modo de vida a curto e médio prazo.
Essas são crises significativas, que trazem questões importantes para o campo da ética, 
reconhecida como uma reflexão sobre as nossas ações no mundo. Podemos afirmar, todavia, 
que a crise contemporânea tem um sentido muito mais profundo, porque suas raízes estão na 
nossa forma de existência: trata-se, por isso, de uma crise ética, no sentido de que o nosso tempo 
vive a crise dos fundamentos, dos valores e das virtudes que orientaram a vida social até agora.
É como se vivêssemos um tempo em que perdemos o sentido e a orientação da nossa vida: não 
sabemos muito bem o que é certo e o que é errado, não conseguimos definir, com clareza, o bem 
e o mal, a ambiguidade das nossas ações aumenta e o seu poder de impacto multiplica o perigo 
de suas consequências. Conforme expressou o filósofo alemão Hans Jonas: “agora trememos 
na nudez de um niilismo no qual o maior dos poderes se une ao maior dos vazios; a maior das 
capacidades, ao menor dos saberes sobre para que utilizar tal capacidade” (JONAS, 2006, p. 
65). Ou seja, temos muito poder, mas não temos orientação sobre como usá-lo: é assim que a 
crise ética se articula com o problema da tecnologia. Vejamos, a seguir, como isso se efetiva.
4
Um tempo de crises
A situação em pauta faz com que o nosso tempo seja descrito com palavras pouco honrosas: 
era dos extremos (Eric Hobsbawm), era do vazio, sociedade da decepção (Gilles Lipovetsky), 
era do efêmero, sociedade individualizada, sociedade do cansaço (Byung-Chul Han), tempos 
líquidos (Zygmunt Bauman), tempo de perplexidades e de depressão (Frei Betto).
Essas expressões refletem algumas características centrais da nossa vida ética: nenhuma lei 
definitiva (antinomismo), ausência de regras definitivas aceitas pela maioria (amoralismo ou 
mesmo imoralismo), reivindicação de liberdade absoluta (libertinismo), promoção de certa 
apatia diante dos problemas comuns, desinteresse pelo espaço público, prisão ao presente 
(imediatismo), hostilidade ou indiferença em relação à natureza, crença cega nos poderes da 
tecnologia, consumismo etc.
Essa crise teria começado precisamente no final do século XIX, quando vários pensadores 
tematizaram aquilo que ficou conhecido na filosofia com o nome de niilismo. Em latim, nihil 
significa “nada” e expressa um vazio, um esvaziamento, uma perda completa do sentido das coisas. 
O niilismo, embora tenha começado na literatura, principalmente nas obras dos russos Dostoievsky 
e Ivan Tourgueniev, chegou até a filosofia por meio do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, cujas 
obras podem ser consideradas uma espécie de diagnóstico da crise que se abatia sobre a cultura.
5
Nesse contexto, as cláusulas pétreas da civilização ocidental estavam em colapso, porque a 
humanidade teria perdido três de seus valores centrais: a ideia de finalidade, de verdade e de 
unidade. Tudo o que nós compreendemos como civilização ocidental estaria embasado nessas 
três ideias: a finalidade é aquilo que dá sentido à nossa vida, que impõe uma meta às nossas 
ações e orienta o que pode e o que não pode ser feito; a verdade é o que se torna inspiração, 
é o que confirma que estamos no caminho certo, é o que fundamenta as nossas crenças; a 
unidade tem a ver com a capacidade que temos de compreender o mundo ao nosso redor, de 
reunir aquilo que é múltiplo e complexo, em algo unitário, de tornar compreensível a realidade.
Todas essas ideias estão no fundamento da nossa crise: perdemos o sentido da vida reduzido 
a obrigações burocráticas e a desejos consumistas e individualistas; perdemos a inspiração 
e a crença na verdade com letra maiúscula e passamos a acreditar em pequenas mentiras, 
que nos levaram ao mundo das Fake News e da chamada pós-verdade, de forma a nos induzir a 
substituir o senso crítico pelo conforto e bem-estar das notícias simples que nos chegam dos 
nossos amigos e membros das nossas “bolhas de opinião”. Aqui, inclusive, primamos pelo acordo 
afetivo e não pelo debate de ideias que sempre inclui a discordância; já não somos mais capazes 
de compreender a complexidade do mundo e, por isso, acabamos por optar, muitas vezes, pela 
ignorância, fechando os olhos para a nossa tendência ao conhecimento.
Nietzsche traduziu a situação por meio de uma metáfora que ficou amplamente famosa e 
polêmica: no fragmento 125 de seu livro A Gaia Ciência, de 1882, ele afirmou que “Deus morreu”. 
Deus, nesse caso, significa o fundamento último, a autoridade maior que servia de orientação 
para as nossas ações no mundo. Não se trata simplesmente do Deus religioso, por isso. Trata-
se da autoridade das autoridades, do fundamento último dos nossos ideais de mundo, das 
nossas expectativas, das nossas esperanças e de nossas utopias. Afirmar que “Deus morreu” é 
expor que todos os fundamentos se perderam ou se esvaziaram. É como se o homem estivesse 
sozinho no mundo e, agora, tivesse de reconstruir a partir de si mesmo – e somente a partir de 
si mesmo – um caminho capaz de conduzi-lo para a vida boa, ou seja, à felicidade.
A crise das autoridades parentais
6
Para Nietzsche, nem a filosofia racional herdada de Platão e Aristóteles, tampouco o cristianismo 
e a modernidade foram capazes de oferecer esse caminho. Por esse motivo, tem-se a crise 
como parte da descrença em relação às suas promessas. Para ele, sozinho no mundo, caberia 
ao ser humano construir alternativas a partir de si mesmo, com base sempre na ideia de que a 
vida precisa ser afirmada, independentemente do que ela seja.
A crise dos três fundamentos que nós denominamos cláusulas pétreas da cultura ocidental 
acabou, por isso, levando à crise das autoridades parentais, ou seja, daquelas autoridades cujo 
respeito atravessou a nossa história e traduziu os nossos ideais de mundo. Podemos afirmar, de 
forma resumida, que são cinco as instituições que nos ajudavam a decidir o caminho do bem, 
que transmitiam os valores de uma geração para outra, que orientavam as nossas ações no 
mundo: a família, a escola, o emprego, as igrejas e o estado. Nessas instituições, a humanidade 
explicitou os desafios da vida ética ao longo dos tempos. Cada uma delas guarda uma autoridade 
parental: no caso da família, o pai; da escola, o professor; do emprego, o patrão; das igrejas, 
o papa, o padre ou pastor; e, do estado, o político, o presidente, o parlamentar. Curiosamente, 
todas essas autoridades começam com a letra P. Por essa razão, podemos compreender que 
estamos diante do problema do P.
Agora, vivemos no tempo em que essas autoridades precisam se reinventar. Trata-se de uma 
espécie de encruzilhada: o que fomos até agora já não serve mais e não sabemos qual é o 
caminho que devemos tomar. Paira um grande nevoeiro sobre a nossa estrada e nãoconseguimos 
enxergar muito bem o que deve ser feito, o que é o melhor a fazer. Esse é o nosso dilema; essa 
é a nossa missão: ao pensar sobre a nossa crise, precisamos redescobrir maneiras de refundar 
essas autoridades, dar-lhes um novo sentido.
Ninguém quer mais um pai que senta na ponta da mesa e dite todas as regras ou um político 
autoritário, ou um modelo de professor que quebre uma régua nas nossas mãos. No seu lugar, 
queremos lideranças comprometidas, que nos ajudem a crescer no diálogo, na democracia, 
na construção conjunta de alternativas para a nossa vida. Eis a tarefa que nos cabe agora, 
precisamente a nós que estamos atravessando essa crise.
7
Podemos afirmar que a crise do niilismo alcançou o seu auge nos eventos em torno da Segunda 
Guerra Mundial. Com esse acontecimento, a crise dos fundamentos atingiu o seu auge na negação 
da própria essência ou natureza do ser humano. Nenhum momento foi tão expressivo quanto a 
Segunda Guerra Mundial nesse sentido. De um lado, esvaziamos a dignidade humana criando os 
campos de concentração, o nazismo, e todas os experimentos com seres humanos realizados aí. 
Quando alguém é simplesmente condenado à morte em uma câmara de gás, porque simplesmente 
nasceu sendo quem é, sem nenhuma culpa moral que não aquela inserida na sua própria essência 
enquanto ser humano, então, nesse caso, o que se nega e o que se repreende e condena constituem 
mais do que o ato de uma pessoa, mas é o fato mesmo de que ela exista. Foi exatamente o que 
fizeram com os judeus, os ciganos, os homossexuais e outros indesejados sociais.
Além disso, a Segunda Guerra Mundial explicitou como a racionalidade humana poderia ser maléfica 
para a vida em geral. Com a invenção da bomba atômica, a humanidade experimentou o gosto 
amargo dessa racionalidade: usada, agora, para o empoderamento tecnológico, tal racionalidade 
se expressou pela via da destruição e da morte não apenas dos seres humanos, mas dos seres vivos 
em geral. Com a bomba atômica, os seres humanos descobriram o grande poder em suas mãos: 
um poder que precisa, como nunca, de um controle capaz de orientar o seu uso responsável. Do 
contrário, não haveria justificativa para não usá-lo. Em outras palavras, nesse caso, se podemos 
destruir povos inteiros ou mesmo a espécie humana como um todo, por que não devemos fazer? 
Essa é a pergunta que a ética agora precisa enfrentar: cabe a ela justificar e fundamentar as ações 
humanas em um novo patamar, aquele que nasce do uso das tecnologias.
Os campos de concentração e o evento da bomba atômica são os dois maiores eventos 
técnicos do século XX e, concomitantemente, podemos afirmar que são os dois maiores crimes 
éticos desse mesmo século. Nas palavras de Octavio Paz, esse foi um tempo de contradição: 
“o século da saúde, da higiene, dos contraceptivos, das drogas milagrosas e dos alimentos 
sintéticos é também o século dos campos de concentração, do Estado policialesco, da 
exterminação atômica e da morder story” (PAZ, 2004, p. 62). 
Os desafios éticos da tecnologia: o sentido ético dos 
campos de concentração e da bomba atômica
8
Depois da Segunda Guerra Mundial, foi precisamente a tecnologia que cresceu exponencialmente. 
Chegamos ao século XXI com poderes inéditos, em todos os âmbitos da existência, do micro 
até o macrocosmos. Inventamos procedimentos, objetos e processos impressionantes que 
nos dão condições de alterar geneticamente a vida, de melhorar (pretensamente) o ser humano 
incluindo nele novas capacidades, habilidades e aumentando a sua performance, de retardar o 
envelhecimento e, até mesmo, curar o ser humano da morte, de fazer upload de nossas mentes 
em uma máquina ou em um corpo sintético, de inventar novos seres em laboratório, de conectar 
células vivas a máquinas, de viajar pelo universo descobrindo novas galáxias e horizontes nunca 
antes imaginados.
Atualmente, discutimos acerca da manipulação genética, de controle do comportamento, de 
clonagem, de hipercognição, de transplante de cabeça, de criogenia, de cirurgias estéticas. 
Nossas máquinas estão cada vez mais poderosas e, diante disso, talvez devemos nos perguntar 
se um dia elas não tomaram de fato, como alguns sugerem, o controle.
A tecnologia como nova utopia
9
Obviamente, a sociedade industrial que se iniciou no século XVII, com o uso das máquinas, 
também chegou ao nosso tempo provocando o desgaste da natureza e o esgotamento dos 
recursos naturais. As máquinas precisam de energia para se movimentar e, após usá-la, devolvem 
à atmosfera resíduos na forma de gases poluentes, principalmente advindos da queima do 
petróleo, do gás natural e do carvão. Ao esgotar os recursos naturais e gerar poluição, a sociedade 
industrial acabou por trazer o grande desafio das mudanças climáticas para o centro da pauta 
ética. Precisamos, agora, preocupar-nos com nossas ações não apenas no âmbito intra-humano 
e do presente, mas no âmbito extra-humano e no âmbito do futuro. O que fazemos agora precisa 
estar em conexão de responsabilidade com os demais seres vivos e com as gerações que ainda 
virão, sobre as quais temos uma ligação, embora não direta, pelo menos de responsabilidade.
O filósofo alemão Hans Jonas explicitou essa questão por meio de um novo imperativo ético: “Aja 
de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica 
vida humana sobre a terra” (JONAS, 2006, p. 47). Para ele, o princípio orientador das nossas 
ações, diante desses novos poderes, deveria ser a responsabilidade no seu uso: não significa 
que a tecnologia deveria ser cancelada, mas que deveríamos usá-la de forma parcimoniosa e 
cuidadosa, a fim de evitar ao máximo suas consequências danosas que poderiam colocar em 
risco o meio ambiente, a vida no futuro. Não se trata de ter uma atitude tecnofóbica, portanto. 
Trata-se de que todos os agentes da tecnologia estejam dispostos ao compromisso responsável 
com a vida.
Todos nós sabemos que esses novos poderes estão já presentes no nosso dia a dia, seja na forma 
dos nossos eletrodomésticos, da internet das coisas, das redes de comunicação, da medicina, dos 
estudos sobre a ação e o poder do nosso cérebro. Esse movimento tem sido denominado convergência 
tecnológica e tem atuado decisivamente no objetivo de promover mudanças na performance 
do ser humano: agora, trabalham, de forma convergente, a biotecnologia, a nanotecnologia, a 
infotecnologia e as ciências cognitivas. Essas quatro áreas da tecnologia, juntas, deram ao ser 
humano um poder imenso, que passou a substituir as antigas utopias religiosas ou políticas. 
A convergência tecnológica e o desafio de uma 
convergência ética
10
Ética – Debate 01: 
O avanço dos poderes tecnológicos
Atualmente, se pensarmos no melhoramento do mundo, tais promessas estão nas mãos 
da tecnologia. O modo como nascemos, como vivemos e como morremos depende dela. 
O futuro está sendo desenhado a partir delas. É por isso que precisamos estar atentos para o 
seu uso: interesses financeiros ou ideológicos nunca poderão estar à frente da ética e do bem 
comum.
A intenção dessa articulação das tecnologias é reformar o homem, gerenciar sua condição, 
definir seu futuro, suas esperanças, a legitimidade de suas ações e a medida de seus poderes. 
Tal processo tem sido conhecido como transumanismo, um movimento que reúne filósofos 
e cientistas que acreditam que o ser humano deve usar a tecnologia para aprimorar suas 
capacidades. Esses chamados bioliberais (porque defendem a liberdade plena na manipulação 
da vida) são contrapostos aos bioconservadores (em geral, eticistas que chamam a atenção para 
os riscos desses procedimentos e para a responsabilidade diante desses processos).
No vídeo a seguir, conversamos com uma especialista da área de biotecnologia para avaliarmos 
os desafios éticos trazidos por essa realidade.
Embora essas ideias não sejam novas na cultura, tal movimento tem sua origem em 2002, 
quandoé publicado, nos Estados Unidos, o relatório Converging Technologies for Improving 
Human Performance. Nanotechnology, Biotechnology, Information Technology and Cognitive 
Science (CT-NBIC), seguido pela publicação de um segundo relatório, em 2004, por parte da 
União Europeia, intitulado Converging Technologies – shaping the future of European Societies, 
que se opunha à euforia que marcava o documento norte-americano em torno das chamadas 
ambições transhumanistas e anunciava que tal tarefa não deveria ser assumida como prioritária 
e que as tecnologias deveriam ser mantidas em seu uso exclusivamente terapêutico.
https://youtu.be/KdRPnu_5ps8
11
Em 2009, um novo relatório é publicado pelo Parlamento Europeu sob o título Human Enhancement, 
no qual são diluídas as diferenças entre terapia e melhoramento e que reconhece o transumanismo 
como um ator central no debate em todos os níveis – filosófico-religioso, ético, político. Esse 
relatório de 2009 define o Human Enhancement nas seguintes palavras:
Vemos, assim, que estamos diante de um enorme desafio para o campo da ética. Até onde podemos 
ir no uso desses poderes? Qual é o limite dessas mudanças? Podemos alterar definitivamente o 
ser humano? O que restará da humanidade se, por acaso, essas mudanças forem implementadas? 
Temos o direito de uma aposta tão séria? Até onde vai a nossa responsabilidade? Essas são 
questões centrais de nossa época que precisamos estar prontos(as) para responder. Afinal, a 
tecnologia precisa estar a nosso favor – e não o contrário.
O termo guarda-chuva “aprimoramento humano” se refere a uma ampla gama de 
tecnologias visionárias, existentes e emergentes, incluindo produtos farmacêuticos: 
neuroimplantes que fornecem uma substituição para a visão ou outros sentidos 
artificiais, drogas que aumentam o poder do cérebro, engenharia de linha germinal 
humana e tecnologias reprodutivas existentes, suplementos nutricionais, novas 
tecnologias de estimulação do cérebro para aliviar o sofrimento e controle do humor, 
doping genético no esporte, cirurgia estética, hormônios de crescimento para crianças 
de baixa estatura, medicamentos de antienvelhecimento e aplicações protéticas 
altamente sofisticadas que podem fornecer a entrada de estímulos sensoriais 
especializados ou a saída mecânica. Todas essas tecnologias assinalam a tese da 
diluição das fronteiras entre terapia reparadora e intervenções que visam trazer 
melhorias que se estendem para além de tal terapia. Como a maioria delas derivam 
do domínio médico, eles podem aumentar as tendências sociais da medicalização 
quando usadas cada vez mais para tratar condições não patológicas (COENEN et 
al., 2009, p. 6, tradução nossa).
12
NIILISMO E TECNOLOGIA
ARTIGO
Leia com atenção o texto sobre Niilismo e tecnologia, destacando os pontos 
que articulam a crise ética com o avanço da tecnologia. Tente fazer uma lista 
dos principais desafios éticos que você consegue compreender a partir do 
texto.
Disponível em: 
http://revistas.unisinos.br/index.php/filosofia/article/view/fsu.2020.211.07
Fonte: OLIVEIRA, J. R. de. Nihilism and technology. Filosofia Unisinos, v. 21, 
n. 1, p. 72-78, 2020.
UM ADÃO BIOTECNOLÓGICO: SOBRE A SECULARIZAÇÃO DOS
ANTIGOS IDEAIS RELIGIOSOS PELO TRANS-HUMANISMO
ARTIGO
Leia o texto, com especial atenção sobre o processo de substituição dos 
ideais religiosos pelos ideais tecnológicos. Pense sobre quais seriam os 
efeitos dessas questões na sua vida cotidiana, caso essas previsões viessem 
a se efetivar.
Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/4497/449755240015.pdf
Fonte: OLIVEIRA, J. R. de. Um Adão biotecnológico: sobre a secularização 
dos antigos ideais religiosos pelo trans-humanismo. Revista Pistis & Praxis: 
Teologia e Pastoral, v. 9, n. 3, p. 861-886, 2017.
Fique de Olho
http://revistas.unisinos.br/index.php/filosofia/article/view/fsu.2020.211.07
https://www.redalyc.org/pdf/4497/449755240015.pdf
13
Ética – Debate 02: 
A diferença entre ética e moral
Ética, moral e lei
Precisamos fazer uma distinção entre os conceitos de ética, moral e lei, para bem compreender 
o que cada um deles significa. Para começar essa reflexão, vamos ouvir a opinião de um Head 
de Desenvolvimento Humano para ver como esses conceitos são vividos na sua realidade de 
trabalho.
Comecemos pela distinção entre ética e moral. Por mais que no dia a dia utilizamos tais expressões como 
sinônimos, do ponto de vista didático, é necessário diferenciar o que é ética daquilo que compreendemos 
por moral. Obviamente, essa diferença tem por objetivo demonstrar o potencial questionador que é 
necessário que cada um de nós tenha, como cidadão e cidadã, diante dos padrões morais estabelecidos 
pela sociedade, muitos dos quais já estavam estabelecidos antes de que chegássemos aqui e devem 
continuar sem nós. Com essa afirmação, já podemos começar a pensar essa diferença: se a ética 
tem um papel crítico, de questionamento e de análise, a moral geralmente busca a padronização e 
a normatização dos comportamentos, principalmente por meio da definição de valores e virtudes 
estabelecidas em função dos interesses de determinada comunidade, em determinado tempo histórico.
A moral depende desses interesses e é produto dos esforços dos indivíduos para satisfazer as 
suas necessidades em um tempo e lugar específicos e, com isso, alcançar o bem-estar social. 
Isso ocorre, porque nenhuma sociedade pode viver sem normas, ou seja, onde tem seres 
humanos reunidos, é preciso que tal reunião seja orientada por determinadas regras, que sempre 
demandam dos indivíduos determinados “sacrifícios” pessoais em benefício da segurança e da 
felicidade no âmbito do coletivo.
https://youtu.be/LWFwOWz1Itw
14
Um dos autores a problematizar essa questão foi Sigmund Freud: segundo ele, sempre trocamos 
um pouco de nossa felicidade individual, por mais segurança e tranquilidade na vida social. 
Essa troca, embora possa trazer insatisfação, é necessária para que não apenas realizemos 
as nossas vontades e desejos mais íntimos, mas para que possamos nos realizar como seres 
sociais. Nenhuma coletividade pode se fundar, afinal, unicamente sobre os anseios, impulsos 
e instintos individuais e egoístas.
Como todos os indivíduos, os seres humanos podem ser considerados animais políticos, no 
sentido em que são gregários e dependem uns dos outros, então eles também precisam se 
comportar segundo determinadas normas. É esse conjunto de normas que denominamos moral.
A moral corresponde aos padrões, às regras e às normas que orientam o comportamento 
dos indivíduos em sociedade. A ética, por sua vez, é uma reflexão sobre esses valores, uma 
análise detalhada de como eles são criados, dos interesses que os fundam, dos conceitos que 
representam, dos seus benefícios e malefícios, das mudanças históricas e geográficas que eles 
provocam. Todas as vezes que fazemos uma análise desse tipo, estamos fazendo ética. Todas 
as vezes que simplesmente obedecemos às normas sociais, estamos praticando a moral.
15
A ética é uma disciplina de filosofia, ao lado de outras, como estética, filosofia política, 
epistemologia, ontologia etc. Aliás, se a estética poderia ser também denominada uma filosofia 
da arte ou uma filosofia do belo, a ética também poderia ser chamada de uma filosofia da 
moral – esse é o outro nome da ética, porque, como ciência do agir, ela coloca em questão a 
ação humana, ela é uma ciência (ou seja, um conhecimento, uma reflexão) sobre o agir (a ação, 
as atitudes e os comportamentos). Foi por isso que Aristóteles considerou a ética, ao lado da 
política, como as duas ciências práticas, que seriam distintas das ciências produtivas (aquelas 
que produzem coisas) e das ciências teóricas (que são meramente contemplativas). Nesse caso, 
a ética é prática, precisamente porque está ligada à ação do ser humano no mundo.
No dia a dia, encontramos pendurados nas paredes de nossas empresas ou escritos nos panfletos 
que são distribuídosaos clientes os chamados códigos de ética. Repare, entretanto, que esses 
códigos, na verdade, pretendem orientar ou, muitas vezes, padronizar o comportamento dos 
colaboradores de tal empresa ou organização e, sendo assim, tal código de ética seria, mais 
corretamente, um código de moral. Mesmo sabendo dessa diferença, não quebraremos os 
quadros ou rasgar os documentos, mas compreender o seu sentido mais profundo e, ao fazer 
isso, praticar o que chamamos de ética.
Filosofia da moral: o outro nome da ética
16
Obviamente, essa distinção se torna importante para compreender porque a ética exige sempre 
um raciocínio, uma análise e um exame das ações, acreditando que, com isso, poderemos 
encontrar melhores motivos e razões para justificar o nosso comportamento, o qual, assim 
compartilhado, pode ser direcionado para o bem comum. Pensando sobre o que fazemos, 
fazemos melhor, ou seja, conseguimos nos comportar em vista do bem de todas as pessoas 
com as quais compartilhamos a vida.
Por esse motivo, a ética sempre primou pelo uso da razão, em equilíbrio com os afetos, em vista 
do controle dos nossos sentimentos morais. Embora tenhamos ódio, inveja e violência, não 
podemos deixar que esses sentimentos sejam exteriorizados, isto é, convertem-se em ações e 
influenciam nossos comportamentos no dia a dia. Para tanto, precisamos avaliar o que fazemos 
para garantir que o bem, a vida boa ou, em outras palavras, a felicidade, realize-se. Aliás, foi 
também Aristóteles quem explicou que a felicidade é a meta da ética, como a ciência do sumo 
bem, ou seja, do bem mais importante de todos. Veremos isso, com mais eficácia, adiante.
Por ora, deixemos claro que, como disciplina filosófica, a ética é um convite ao pensamento. 
Sua matéria consiste nos comportamentos humanos em sociedade. Em outras palavras, o 
assunto, o tema e a questão central da ética constituem a própria moral. Isso significa que não 
fazemos ética a todo momento e, por isso, precisamos ser convocados para o pensamento. No 
cotidiano, geralmente, obedecemos ou não às regras sociais e fazemos isso de forma mais ou 
menos natural ou automática, sem que tenhamos de dar explicações sobre isso, porque, afinal, 
é isso que a sociedade espera de nós e preparou para que todos fizessem.
A maior parte de nossas atitudes não precisa de uma análise racional, pois costumamos introjetar, 
dentro de nós, essas regras. A ética, contudo, não gosta desse tipo de atitude impensada: ao 
contrário, a ética pretende acordar o ser humano de dois “sonos” – o sono da maioria (quando 
fazemos sempre aquilo que todos os outros fazem) e o sono interior (quando as regras são 
seguidas de forma cega).
A ética é um convite ao pensamento sobre 
nossas ações
17
Para a ética, essas atitudes não são boas, porque significa que não pensamos por nós mesmos, 
mas apenas seguimos o que os outros esperam de nós. Ora, quem não pensa por si mesmo 
e costuma seguir a maioria corre grandes riscos de errar, uma vez que, quando participa de 
um grupo social em que determinada atitude é tida como correta, aceita e pratica tal coisa; 
mas, ao se mudar de um grupo social e os seus membros têm outros valores, então tal pessoa 
facilmente muda de lado.
Eis o papel de nossa disciplina: a ética pretende ao mesmo tempo nos ajudar a pensar sobre 
o que fazemos e oferecer argumentos que fundamentam essas ações. Em outras palavras, se 
todos somos animais políticos, isso significa que todos nós agimos em sociedade e interferimos 
no seu destino. Todavia, essa interferência precisa ser analisada, refletida, para que bons 
resultados sejam alcançados. Ademais, a situação se agrava: quanto mais se evidencia o poder 
de impacto de nossas ações, por exemplo, dependendo do cargo que ocupamos na sociedade, 
as consequências das ações podem ser maiores do que aquelas praticadas por um cidadão 
“comum”, isso exige uma maior responsabilidade das lideranças, as quais devem zelar mais por 
suas atitudes. É pertinente destacar que, no mundo contemporâneo, o poder de intervenção, 
em especial no âmbito da vida (com a biotecnologia), exige uma responsabilidade ampliada para 
evitar possíveis consequências danosas.
Do ponto de vista etimológico, a palavra ética vem do grego ethos, que significa caráter ou modo 
de ser. Moral, por sua vez, vem do latim morus, que significa costume. De um lado, portanto, 
aquilo que nos identifica como seres humanos racionais. Do outro, os costumes e as regras 
sociais. Para o grego, o caráter de um indivíduo, ou seja, aquilo que ele é em sua essência, seria 
manifestado pelo seu comportamento. Por isso, a ética tem a ver tanto com esse lado mais 
interior (do caráter) quanto com seu comportamento exterior (o costume). Ao traduzir a ideia 
de ethos para o latim, priorizou-se o fato de que o comportamento de um indivíduo, portanto, 
aquilo que ele é na sua essência, deve se adaptar e ser moldado pelos costumes da sociedade 
na qual ele está inserido.
Ética: entre o caráter e os costumes
18
Nesse sentido, outra definição para ética seria o fato de ela ser um conjunto de conhecimentos 
que nascem justamente do exame desses comportamentos humanos e da tentativa de explicar 
como surgem e se mantêm as normas sociais e os padrões de comportamento. Nessa mesma 
perspectiva, a moral seria o conjunto de regras usadas no cotidiano para orientar as ações. A 
partir dessas regras, pode-se avaliar se uma coisa é certa ou errada, moral ou imoral, se está 
encaminhada para o bem ou para o mal.
Podemos mesmo afirmar que definir o bem e o mal de uma ação, a partir de uma análise criteriosa 
de suas motivações e consequências, é a tarefa própria da ética. Aliás, sobre isso, cabe uma 
explicação: muitas pessoas usam a expressão “falta de ética” ou mesmo “antiético” para expressar 
uma crítica ou advertência em relação a um comportamento de um determinado indivíduo. 
Ponderamos, por exemplo, que uma pessoa é sem ética, que faltou ética a tal político, que aquela 
ação é antiética. Na verdade, em todos esses casos, estamos nos referindo a algo imoral, ou 
seja, a uma atitude contrária às regras estabelecidas, portanto, contrário à moralidade, àquilo 
que a sociedade esperava que tais indivíduos fizessem.
Na vida social, além das regras morais, somos obrigados a respeitar as leis. A diferença entre 
a moral e a lei é que a primeira tem regras simbólicas, enquanto a segunda tem um caráter 
obrigatório; é fundamentada em uma relação de justiça ou de direito entre os vários indivíduos 
de uma sociedade. No caso das leis, estão previstos os impedimentos e as punições para usar 
atos considerados ilegais, ou seja, socialmente indesejados. Embora seja necessário reconhecer 
que nem tudo que está na lei é justo, depreende-se que ela não resume a ideia de justiça e o 
seu cumprimento não significa que seja suficiente para garantir o bem comum. As leis são, no 
fundo, apenas um meio para isso.
O caráter obrigatório das leis e a perspectiva 
simbólica da moral
19
Nesse sentido, a própria definição de lei inclui tanto o fato de ela ser uma prescrição escrita 
quanto o fato de emanar de uma autoridade concedida pelo povo sobre o qual compete a 
obrigação de cumpri-la, sob o risco de penas e sanções previstas na própria lei, que inclui tanto 
o que deve ser feito quanto o que acontecerá com quem não cumpre o previsto. Trata-se, como 
prevê a etimologia latina da palavra (lex), de uma obrigação imposta. A lei, sendo norma escrita, 
implica sempre o poder e a solenidade do direito.
Segundo a Constituição Federal (BRASIL, 1988), no art. 5º do inciso II, a lei obriga os indivíduos a 
fazerem ou não fazerem determinada coisa – e só perante a ela os cidadãos estariam obrigados 
a abrir mão de seus interesses próprios, de nada mais. Como norma escrita, a lei envolve tanto 
a Constituição quanto as suas emendas, as leis complementares, ordinárias, delegadas, as 
medidas provisórias, os decretos legislativos, as resoluçõese todos os demais processos que 
envolvem as obrigações dos indivíduos perante a sociedade.
Enquanto a moral age, na maior parte das vezes, com punições do tipo simbólico, a lei impõe 
obrigações legais – e as duas podem estar em desacordo. Vejamos um exemplo: do ponto de 
vista legal, o divórcio está previsto e é um direito de qualquer cidadão que resolve romper um 
contrato afetivo amparado legalmente; do ponto de vista moral, em determinados grupos, 
mesmo previsto legalmente, o divórcio pode ser repreendido ou a pessoa divorciada por sofrer 
diversas punições simbólicas.
20
CONTRA O ABUSO DA ÉTICA E DA MORAL
ARTIGO
Leia o texto e tente destacar porque, segundo o autor, temos de ter cuidado 
com o uso exacerbado dos termos ética e moral no nosso cotidiano. Você 
concorda com os argumentos do autor? Em que você não concordaria?
Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
73302001000300006&script=sci_arttext
Fonte: ROMANO, R. Contra o abuso da ética e da moral. Educação & Sociedade, 
v. 22, n. 76, p. 94-105, 2001.
O QUE É ÉTICA
LIVRO
Autor: Álvaro L. M. Valls
Ano: 2017
ISBN: 9788511351200
Editora: Brasiliense
Sinopse: No livro, tem-se uma análise detalhada do conceito de ética. A obra 
apresenta sete capítulos que abordam as origens e a estruturação da ética, 
juntamente com conceitos que se desenvolveram ao longo da História Ocidental.
Leia a obra pensando sobre o conceito de ética e como ele ajuda a orientar 
as nossas escolhas nos dias atuais.
Fonte: VALLS, Á. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2017.
Fique de Olho
21
Modelos éticos
Os modelos éticos são formas resumidas que ajudam a compreender como determinada 
época elaborou orientações para a vida moral, ou seja, a respeito do bem e do mal. Levando 
em consideração que a ética se pergunta sobre os fundamentos a partir dos quais as ações 
humanas são avaliadas, podemos afirmar que, ao longo da história ocidental, alguns modelos 
(compreendidos como referência) foram elaborados. Podemos identificar, pelo menos, quatro, 
destacados na figura a seguir:
A mudança nesses modelos acompanha a mudança no cenário social e, principalmente, naquilo 
que foi considerado como necessidade, anseio ou emergência de um povo em um determinado 
tempo histórico. Foi assim que esses modelos se desenvolveram e, embora possamos identificar 
as suas raízes históricas, eles continuam em vigor até os nossos dias, já que algumas pessoas 
podem agir dando preferência para um ou outro deles, mesmo por vários ao mesmo tempo. 
Trata-se – mais uma vez – do modo como escolhemos as matrizes a partir das quais decidimos 
o que é certo e o que é errado. Obviamente, como já salientamos, trata-se de uma abreviação 
que, enquanto tal, é bastante limitada, servindo para um uso meramente didático.
22
Um dos primeiros modelos éticos que precisamos discutir diz respeito ao que chamamos de 
ética das virtudes. No geral, esse modelo serve de orientação das práticas humanas a partir de 
uma concepção de que o próprio ser humano, por meio do hábito e das práticas, orientado pela 
liberdade de deliberar a respeito de si mesmo, poderia encontrar o caminho do bem. Isso significa 
que esse modelo está baseado no uso da racionalidade como potencial capaz de dominar os 
instintos e as emoções, em vista do alcance de um resultado favorável ao bem comum, em vista 
daquilo que podemos chamar de felicidade. Entre os autores desse modelo, desenvolvido no 
mundo grego, estão Platão e Aristóteles, além de outros filósofos desse momento da história 
da filosofia, que inclui o denominado período helenístico, com o epicurismo e o estoicismo.
No seu livro Ética a Nicômaco, Aristóteles define a virtude como “uma disposição de caráter 
relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual 
é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática” (1973, 
p. 273). Isso significa, primeiro, que a virtude depende da vontade do indivíduo de conduzir as 
suas ações da melhor maneira possível.
Como uma disposição, a virtude é algo que precisa ser adquirido constantemente e praticado, de tal 
forma que se torne um hábito e funde uma espécie de “segunda natureza” que se integre ao nosso 
caráter. Por isso, o filósofo acrescenta: “a virtude do homem será a disposição de caráter que o 
torna bom e que eu faz desempenhar bem a sua função” (ARISTÓTELES, 1973, p. 272). Além disso, 
tal definição deixa evidente que essa orientação das ações está relacionada com a possibilidade de 
uma escolha refletida, ou seja, de uma deliberação por parte de cada indivíduo. Ora, toda escolha, 
como ato de liberdade, está fundada no uso da racionalidade: usamos a razão para escolher os 
meios que estão em nosso poder e que podem nos conduzir para a prática do bem.
Outra questão importante que aparece na definição de virtude proposta por Aristóteles é o conceito 
de mediania. Para ele, “virtude diz respeito às paixões e ações em que o excesso é uma forma de 
erro, assim como a carência, ao passo que o meio termo é uma forma de acerto digna de louvor” 
(ARISTÓTELES, 1973, p. 273). Assim, para que uma ação seja considerada virtuosa, ela deve fugir 
tanto do excesso quanto da falta: por exemplo, se consideramos a coragem uma virtude, isso 
ocorre porque ela não é o medo (que é a sua falta), nem é a temeridade (que é o seu excesso).
Ética das virtudes
23
A justa medida, portanto, deve orientar todas as ações humanas no mundo e ela tem a ver com 
uma sabedoria prática, ou seja, não com uma norma fixa que valha para todos em todos os 
tempos, mas com a capacidade de cada indivíduo avaliar o bem conforme a ocasião, ou seja, 
“na ocasião apropriada, com referência objetos apropriados, para com as pessoas apropriadas, 
pelo motivo e da maneira conveniente” (ARISTÓTELES, 1973, p. 273).
Obviamente, tal capacidade de sabedoria depende do uso da racionalidade e isso significa que o 
princípio racional ajuda a avaliar e compreender bem as circunstâncias e decidir o que deve ser 
feito. Por isso, a sabedoria prática é, ela mesma, um tipo de virtude que envolve a capacidade 
de deliberar e avaliar bem as circunstâncias sobre as quais é necessário que se decida fazer 
alguma coisa. Trata-se de uma capacidade cotidiana, não de uma regra geral e universal, mas 
de um empenho do próprio indivíduo em buscar o bem na sua vida.
Para Aristóteles, dessa capacidade, nasceria a conquista da felicidade, tida por ele como o 
sumo bem, ou seja, o bem mais importante. Ora, esse bem é precisamente, segundo o filósofo, 
o objeto principal da ética, enquanto ciência do agir. Aristóteles, no seu livro, elenca uma série 
de ciências para as quais a sua finalidade (para que elas existem) é o seu bem: por exemplo, 
o bem da economia seria a riqueza, algo que também é a sua finalidade, ou seja, a economia 
existe para que as pessoas e mesmo a sociedade possam ser mais ricas (qualquer coisa que 
isso signifique) e não para que elas sejam mais pobres e miseráveis. Assim, o bem e a finalidade 
da economia é a riqueza.
Outro exemplo: a finalidade da medicina é a saúde – esta também é o seu bem. Isso significa que 
deveria ser obrigação de todo médico promover a saúde e esse é o bem central da ciência que 
ele pratica. A arte da guerra também é uma ciência e é descrita por Aristóteles: sua finalidade 
e, portanto, seu bem é a vitória – ninguém planeja uma guerra sem o objetivo de vencê-la, ou 
seja, essa é a finalidade do planejamento.
Ocorre que a riqueza, a saúde e a vitória são bens menores, importantes, mas não centrais 
para a conquista da felicidade. Como bens, a sua conquista dependeria de um raciocínio, 
de um saber, de uma ciência própria. Ora, todos esses bens menores estariam fundados no 
sumo bem, ou seja, sobre a finalidade última e mais importante da vida humana, sobre o bem 
maior, aquele que está acima de todos esses bens: Aristóteles chama isso de felicidade.24
Significa que a riqueza, a saúde e a vitória na guerra são importantes, porque nos ajudam a 
encontrar a felicidade – e não detêm a felicidade em si mesma. É fácil entender que o dinheiro 
é importante para sermos felizes, por exemplo, mas não é uma garantia para isso – há muita 
gente rica que não é feliz e, inversamente, muita gente pobre que é feliz.
Aristóteles destaca, ainda, que, enquanto os bens menores são conquistados a partir das ciências 
particulares, o sumo bem, ou seja, o maior bem de todos, seria conquistado precisamente pela 
ética. Portanto, a ética é, para esse autor tão relevante na nossa cultura, a ciência do sumo bem, 
porque ela nos ajuda a conquistar a felicidade, precisamente por meio da prática das virtudes.
Outro autor importante para exemplificarmos esse tipo de modelo ético é Epicuro. Embora tenha 
escrito muita coisa, restou-nos desse autor alguns poucos fragmentos, entre eles, um texto 
muito famoso conhecido como Carta sobre a felicidade ou, também, como Carta a Meneceu 
(que era seu amigo). Como explica nessa carta, para Epicuro, a meta da vida seria a busca do 
prazer e a fuga da dor. Essa busca, contudo, deveria ser equilibrada racionalmente: existiriam, 
para ele, os prazeres naturais e necessários; os prazeres naturais, mas não necessários; e os 
prazeres que não são nem naturais, nem necessários. Por exemplo, seria um prazer natural e 
necessário; comer muito seria natural, mas não necessário; viver de luxo não seria nem natural, 
nem necessário.
Para esse autor, os prazeres deveriam ser ponderados em vista da escolha dos prazeres 
de primeiro tipo, ou seja, os prazeres naturais e necessários, os quais, em resumo, são os 
mais simples. Entre esse tipo de prazer, estariam, por exemplo, a vida entre os amigos, o 
aproveitamento de uma refeição ou a simplicidade da vida no campo. Epicuro, não por acaso, 
vivia em uma espécie de chácara na periferia de Atenas, junto com seus amigos. Para ele, a 
experiência da vida feliz poderia ser resumida nesses prazeres simples.
A vida conduzida pela virtude seria o único caminho capaz de levar à felicidade e ela poderia 
ser alcançada com uma vida autoanalisada, com o exercício da liberdade entre os amigos. Em 
outras palavras, ser livre, ter amigos e levar uma vida sempre racionalmente avaliada (poderíamos 
afirmar que isso é, também, viver filosoficamente) poderiam contribuir para que o ser humano 
pudesse alcançar o sumo bem. Nesse caso, à ética, compete ajudar o ser humano a praticar as 
virtudes capazes de aproximar a luz da felicidade.
25
A ética do dever está baseada na concepção de que o homem, sozinho, não pode alcançar o bem e 
que, por isso, deve obedecer a uma força exterior a si mesmo. Tal modelo pode ser compreendido 
a partir de dois momentos históricos diferentes: a era medieval e a era moderna.
A ética do dever na era medieval
Ao contrário do que aconteceu entre os gregos, a ascensão do cristianismo na cultura ocidental 
trouxe uma alteração também no campo da ética. Trata-se, agora, não mais de acreditar que o 
ser humano poderia, sozinho, encontrar o caminho do bem; ao contrário: compreendido como um 
ser imperfeito, pecador e incompleto, o ser humano jamais poderia fazer isso sem contar com a 
ajuda externa, representada pela figura de Deus. O pano de fundo dessa concepção é uma espécie 
de visão negativa sobre o ser humano, reconhecido em sua tendência para o mal, contra a qual a 
racionalidade, embora importante, não seria suficiente.
Por isso, autores como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino desenvolvem uma teoria segundo a 
qual o homem deveria seguir as orientações de Deus, caso quisesse encontrar o caminho do bem. 
Nesse caso, não é mais a prática das virtudes, mas a obediência às normas advindas do criador e 
salvador que conduziria um homem a uma vida boa, a uma vida feliz, geralmente associada à ideia 
de beatitude no pós-morte. Esse modelo ético, conhecido, então, como ética do dever, explica-se, 
precisamente, porque exige a obediência a uma norma exterior, que está baseada na interpretação 
da palavra de Deus por parte da igreja medieval.
Como nessa época a Bíblia só podia ser lida pelas autoridades máximas da igreja, então, a ética 
também passou a ser orientada por essas autoridades. Ao homem comum, cabe o esforço da fé, 
tida como a primeira das virtudes teologais, porque, sem fé, o ser humano não se abriria para a 
mensagem de Deus e correria sério risco de andar pelo caminho que leva ao pecado e à maldade.0
É como se o ser humano fosse uma espécie de copo de água pela metade: essa “água” pode ser 
a racionalidade, cuja quantidade ainda é insuficiente para matar a sede humana de verdade e de 
bem. Precisa-se, portanto, preencher esse copo com a “água” que vem de Deus, a fim de que a 
saciedade seja plena. Por isso, em Santo Agostinho, é a falta de bem, ou seja, o fato de o homem 
virar as costas para Deus e achar que pode encontrar o caminho do bem sozinho que o leva ao erro.
Ética do dever
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Ética – Debate 03: 
A ética do dever e a religião na sociedade
É a verdade divina revelada, portanto, que orienta a ética medieval. O apelo ao amor, à compaixão e 
à benevolência deveria orientar o cristão a partir do reconhecimento de que o outro é seu irmão e 
o seu próximo, ao qual ele está ligado pelo amor filial que vem de Deus, tendo como recompensa a 
bem-aventurança futura. O estilo de vida, agora orientado pelas ideias de salvação, de criação, de 
amor incondicional, mostra como o caminho do bem depende da mensagem advinda da sabedoria 
divina.
Para Santo Agostinho, no período denominado Patrística, a moralidade cristã é orientada pela 
ideia do livro arbítrio: cada ser humano pode escolher, porque Deus lhe deu esse potencial, mas 
suas escolhas precisam ser encaminhadas, segundo as normas advindas do criador.
Para Tomás de Aquino, a moralidade deveria ser esclarecida, ou seja, contar também com 
argumentos racionais. Todo o esforço desse autor (que vive no século XIII, período da escolástica), 
reunido na sua obra Suma Teológica, tem como objetivo conciliar a fé e a razão. São Tomás 
reconhece a natureza racional do homem como algo doado por Deus, embora também reconheça, 
no livre-arbítrio, a raíz de todo mal. Nesse caso, a ação deliberada do homem é a origem do mal cuja 
saída seria a obediência às normas divinas. Para ele, a virtude é uma boa ação que torna melhor 
aquele que a pratica, dependendo, também, do hábito, a fim de evitar o vício.
Podemos afirmar que o mote central desse modelo ético é a crença no amor fomentada pelo 
imperativo do outro que está, por sua vez, inspirada no sacrifício de Cristo que dá a vida pelo ser 
humano. Assim, Deus inspira o homem na prática do bem, oferecendo-lhe uma redenção final, 
associada à ideia de felicidade.
Para exemplificarmos melhor o papel da religião na orientação moral da sociedade , veja, a seguir, 
como um religioso compreende esse tema e como ele pensa sobre os desafios éticos das religiões 
e das Igrejas no mundo contemporâneo.
https://youtu.be/nT4y7XNNya4
27
A ética do dever na modernidade
A ética do dever assume uma nova face na era moderna: todos sabemos que a partir do Renascimento, 
ou seja, de meados do século XV em diante, a sociedade ocidental se volta novamente para o mundo 
grego em busca das referências capazes de orientar a vida humana sem contar necessariamente 
com o horizonte teológico da Idade Média.
Assim, autores como Hobbes, Locke, Rousseau e Kant formularam teorias que pretendiam pensar 
a ética ainda sob a perspectiva do dever, embora não mais de um dever religioso, mas um dever 
humano, de tipo civil, por assim dizer. A formulação desses autores de um estado, de contratos, 
pactos, normas e constituições, mais ou menos independentes da figura divina, mostra o esforço 
de formulação de um modelo de orientação da ação humana cujo fundamento consiste nos acordos 
voluntários e associativos entre os próprios homens.Se a era moderna começa com uma celebração da força da racionalidade por meio do filósofo 
francês René Descartes, esses ideais emancipatórios da razão foram importantes no movimento do 
Iluminismo, na reforma protestante, nos novos descobrimentos de mundos, no avanço da ciência e 
mesmo nas revoluções francesas e americanas. Um dos autores mais importantes desse momento 
será o alemão Immanuel Kant. Seu conceito de Alfklärung, ou seja, de esclarecimento, exige que o 
ser humano faça um movimento de saída da sua menoridade, em direção a uma tomada das rédeas 
da sua própria vida, por meio do uso da razão autônoma, liberta das tutelas vindas da religião, da 
política e da pedagogia. Para ele, permanecer dependentes dessa tutela seria, no mínimo, um ato 
de covardia, preguiça e comodismo.
O esclarecimento, portanto, deve ser compreendido como uma exigência, dado que todo ser 
humano é detentor do princípio universal da racionalidade. Por isso, o ser humano deveria utilizar 
a razão para controlar os seus instintos naturais e corporais. Afinal, no reino da natureza, não 
haveria moralidade, sendo esta um produto do chamado reino da razão. Como o homem não é 
apenas pertencente ao reino da razão, mas também da natureza (porque tem um corpo), nele, estão 
sempre em conflito a necessidade e a liberdade. Ora, para Kant, todas as decisões, as escolhas 
e mesmo as normas morais são produtos do reino da liberdade, ou seja, da racionalidade. Nesse 
caso, a virtude seria produto da capacidade que um indivíduo tem de impor as decisões do reino 
da liberdade sobre o reino da necessidade.
28
Para tanto, o filósofo alemão formulou o chamado imperativo categórico, ou seja, uma norma 
universal capaz de orientar as práticas dos seres humanos: “aja apenas segundo uma máxima 
tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, 1973, p. 223). Como 
imperativo, tal norma impõe um dever ao ser humano: ele só pode fazer aquilo que ele gostaria 
que todos fizessem. Em outras palavras, por que não devo roubar? Porque eu não gostaria que 
todos roubassem. Por que não posso matar? Porque eu não gostaria que toda sociedade também o 
fizesse, inclusive contra mim. E assim por diante. Ou seja, todas as ações deveriam ser orientadas 
por esse princípio, que se impõe como uma norma, isto é, um critério que deve ser obedecido por 
todos os seres humanos.
A ética proposta por Kant, nesse caso, é uma ética de tipo deontológica, ou seja, ela primeiro 
estabelece o que é obrigatório e correto, para, só depois, encontrar o bem. Além disso, para que 
uma ação seja moral, ela deve, segundo Kant (1973), ser realizada em respeito ao dever. Em outras 
palavras, qualquer indivíduo só pode ser reconhecido como um agente moral se aquilo que ele faz 
está de acordo com aquilo que está previsto no dever. Ou seja, vale a norma, vale a lei. Por exemplo: 
não interessa se alguém, na sua subjetividade, gosta de pessoas negras ou de homossexuais; o 
que interessa é que a sociedade na qual ele vive (a sociedade humana) o obriga a cumprir uma 
norma que diga que ele precisa respeitar os direitos de todas as pessoas.
Contudo, Kant introduz a ideia de boa vontade: o agir deve ser determinado por ele mesmo, ou seja, 
o próprio querer deve estar orientado para o bem, sem que seja necessário recorrer à avaliação 
dos resultados de sua ação. Isso significa que não é porque alguma ação possa trazer algum tipo 
de benefício que ela deve ser praticada, mas, simplesmente, porque o ser humano está obrigado 
a fazer o que está previsto na norma, independentemente das consequências.
Nota-se, assim, como o modelo deontológico proposto por Kant é um exemplo de como a 
modernidade pensou um modelo ético no qual o ser humano deve obedecer a normas que advêm 
de fora, embora seja necessário reconhecer que tal fato não compromete o conceito de liberdade 
(que é central na modernidade): obedecer, no fundo, é obedecer a uma norma criada pelo próprio 
ser humano – não por mim, nem por você, talvez, mas por todos nós como membros da espécie 
humana. Obedecer à lei, portanto, não coloca em xeque a nossa liberdade. É precisamente o 
contrário: quanto mais obedecemos a lei, notoriamente, mais exercemos a nossa liberdade, porque 
a lei é produto do reino da razão e, da liberdade, o reino da ética.
29
Um terceiro modelo ético que devemos levar em consideração é o modelo utilitarista. Essa corrente, 
ligada a Jeremy Bentham (1979) e, mais precisamente, a John Stuart Mill, especialmente em sua 
obra Utilitarismo, de 1861, diz respeito a um padrão de comportamento que busque sempre o 
maior índice de felicidade para o maior índice de pessoas. Nesse caso, a ética seguiria a ideia de 
que a ação útil é a mais valiosa, precisamente pelo índice de satisfação que ela pode promover. O 
lema que poderia resumir essa teoria prevê que o indivíduo deve agir sempre de forma a produzir 
a maior quantidade de bem-estar para o maior número de pessoas.
Dessa forma, o que determinaria se uma ação é conduzida para o bem ou se uma decisão é correta 
seria o benefício que ela trouxesse à coletividade: quanto maior for esse benefício em termos de 
felicidade geral e quanto maior for o número de pessoas que pudessem acessá-la, maior seria 
a correção moral dessa ação. Assim, todas as ações humanas seriam julgadas segundo as suas 
consequências no que tange ao bem-estar coletivo.
O critério geral da validade moral de uma ação, nesse caso, seria precisamente o seu benefício em 
termos de bem-estar, de felicidade, de bem e de beleza. Como se deduz facilmente, a racionalidade 
tem papel importante para que essa ação seja bem equalizada, segundo a sua utilidade geral, que 
está ligada aos prazeres e à redução do sofrimento.
Para Mill (2000), as regras seriam valiosas precisamente na medida em que trouxessem não apenas 
uma maior quantidade de prazeres, mas, sobretudo, uma intensificação na sua qualidade. Dessa 
forma, não se trata apenas de buscar mais prazer, mas de encontrar mais intensidade do prazer 
– e esse seria o critério principal para avaliar a ação moral.
Nota-se que essa corrente está muito ligada à reflexão sobre as consequências dos atos humanos. 
Por isso, muitos de seus preceitos dizem respeito ao consequencialismo ético (que se distingue do 
principialismo precisamente porque, enquanto este diz respeito ao princípio que orienta a ação, 
aquele se preocupa mais com as consequências dessa ação). O que diferencia o utilitarismo e 
o consequencialismo talvez seja o fato de que o utilitarismo pretende trazer o maior bem-estar 
para todos os indivíduos igualmente, incluindo aí, segundo uma corrente mais contemporânea, 
os animais não humanos, segundo as ideias desenvolvidas por Peter Singer.
Ética da utilidade
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Observa-se, também, como o utilitarismo está pautado em um elemento importante herdado 
da ética das virtudes, segundo a qual a felicidade era considerada como o princípio relevante da 
ação moral. A maximização do bem, por isso, é apresentada sempre como elemento central dessa 
teoria, porque seus arautos acreditam que a felicidade é o produto do bem e este, por sua vez, é 
alcançado por meio de escolhas orientadas pelo princípio do que é útil para o bem-estar geral.
A ética da responsabilidade é o modelo mais contemporâneo do pensamento ético. Embora o 
conceito de responsabilidade seja usado desde Aristóteles, sua importância ganhou destaque 
a partir do século XVII. A novidade principal dessa corrente está ligada à ascensão dos poderes 
tecnológicos, cuja consequência tem sido destacada como um grande risco, tendo em vista a 
ambiguidade e a magnitude da tecnologia nos nossos dias.
Em outras palavras, levando em consideração que toda ação humana é assunto da ética, o 
modelo da responsabilidade parte de uma leitura bastante acurada das novas dimensões dos 
poderes trazidos pela tecnologia, que não são apenas inéditos em termos de impactos futuros, 
mas também emse tratando das consequências geográficas. Ou seja, como nossos poderes 
de impacto no tempo e no espaço aumentaram de forma impressionante nos últimos séculos, 
também a nossa responsabilidade deve aumentar, dando conta de fornecer orientações para 
o uso desses poderes.
Um dos autores centrais dessa teoria é o filósofo alemão Hans Jonas. Nascido em 1903 e falecido em 
1993, esse autor atravessou o século XX e pode assistir de perto o cenário das duas grandes guerras, 
o agravamento da crise dos valores e o crescimento da ciência e da tecnologia, principalmente a 
partir dos anos 1970. A preocupação de Jonas diz respeito tanto ao tema do meio ambiente, das 
mudanças climáticas e da extinção da vida no planeta quanto ao uso da medicina e da biotecnologia 
na mudança e na alteração genética dos seres humanos e não humanos.
De um lado, a sua preocupação se dirige aos impactos da chamada civilização tecnológica sobre 
o âmbito da natureza e à obrigação incondicional do ser humano de cuidar dos outros seres e 
das condições da vida, legado que ele precisa repassar para as gerações futuras; de outro lado, 
Ética da responsabilidade
31
ele precisa examinar até onde os procedimentos de intervenção na genética, no controle de 
comportamento, no prolongamento da vida e em todos os demais procedimentos da moderna 
biotecnologia não colocariam em risco a existência de uma autêntica vida humana no futuro.
Assim, a ética da responsabilidade parte de um dado ontológico, ou seja, que está ligado à 
essência do ser humano, como um ser capaz de responsabilidade – o único, na verdade, capaz 
disso. Essa capacidade, pelo simples fato de existir no ser humano, torna-se uma obrigação: 
se o ser humano pode, ele deve, então, assumir essa responsabilidade, para que possa, afinal, 
realizar-se plenamente como ser humano. Negar essa responsabilidade seria negar esse dado 
ontológico que lhe é mais próprio. Assim, a responsabilidade deveria ser usada como instrumento 
não apenas para impor o que Jonas chama de “freios voluntários”, lá onde a ação tecnológica 
se torne perigosa e arriscada demais, mas, sobretudo, para levar em consideração os riscos 
das ações tecnológicas.
Por isso, para Jonas, trata-se de desenvolver um modelo ético que não esteja mais limitado 
ao horizonte do antigo antropocentrismo que marcava as éticas tradicionais (afinal, agora, 
precisamos cuidar da vida como um todo e não apenas do ser humano); da visão de neutralidade 
ética da natureza (porque os novos poderes elevam as possibilidades de que a ação humana 
interfira de forma decisiva no mundo natural); da constância da entidade “homem” (agora 
objeto da técnica reconfiguradora, embora sem uma imagem capaz de orientar essa tarefa); 
o curto prazo do planejamento da ação (agora, precisamos prever, em longo prazo no tempo, 
as consequências das nossas ações); e ao círculo imediato da ação (atualmente, precisamos 
pensar nas gerações futuras, porque muitas de nossas ações se estendem no tempo de forma 
sequer calculável).
Esse modelo ético tem como intenção enfrentar um dogma do pensamento filosófico 
contemporâneo, que negava qualquer fundação metafísica dos valores. Para Jonas, ao contrário, 
o princípio ético da responsabilidade parte de uma antiga pergunta filosófica fundamental, 
formulada por Leibniz: “por que o Ser e não antes o nada?”.
Tal pergunta, contudo, assume um novo sentido no cenário tecnológico: se temos o poder de 
destruir a vida como um todo, quais são os critérios capazes de nos impedir de fazê-lo?; ou, em 
outras palavras, se podemos matar a vida, por que não o fazer?; por que, afinal, a vida merece 
ser preservada e por que devemos orientar os nossos atos em direção à sua preservação?
32
A ética proposta por Jonas adquire, portanto, uma base tanto ontológica quanto metafísica, 
na medida em que ela parte de uma pergunta sobre o Ser que se apresenta em sua forma viva, 
por assim dizer. É onde a sua ética se apoia em sua ontologia: a vida, segundo Jonas, diz sim 
a si mesma e, como é parte da história evolutiva do espírito, o ser humano é o único ser de 
responsabilidade porque ele é aquele que, tendo ascendido a graus superiores de espiritualidade, 
pode entender essa afirmação e assumir a sua responsabilidade sobre os demais, até porque 
ele se tornou um perigo para si e para as demais formas de vida.
Com isso, Jonas enfrenta um dos principais dogmas da filosofia: ele afirma que, diante da 
emergência dos novos tempos, é não apenas possível, como necessário, que retiremos do Ser 
um dever ser. A ética deve, agora, pela primeira vez, garantir a existência de seu próprio objeto.
Para Jonas, a responsabilidade evoca três questões centrais: precisamos reconhecer a vulnerabilidade 
da natureza e as novas dimensões do poder humano, que tornam muito perigosa qualquer intervenção; 
precisamos prever os danos possíveis antes de que eles aconteçam (a responsabilidade, nesse caso, 
não é apenas imputabilidade, mas tem a ver com a previsibilidade, ou seja, com a capacidade de 
vislumbrar os efeitos em longo prazo das nossas ações); e, em terceiro lugar, perante a previsão, 
dar preferência para o prognóstico negativo e alterar a ação, a fim de evitá-lo.
Para tanto, a nova ética deve reunir o máximo de informações advindas das demais ciências, 
a fim de forjar um diagnóstico o mais preciso possível dos danos que atingem, no momento 
presente, a vida como um todo. Ademais, é preciso combater a ingenuidade das promessas do 
progresso tecnológico que acabam forjando uma versão limitada e enganosa dos benefícios 
futuros das ações técnicas do presente; para isso, é preciso dar preferência ao prognóstico 
negativo, por meio daquilo que Jonas chama de “heurística do temor” (JONAS, 2006, p. 70), ou 
seja, em termos técnicos, o reconhecimento do malum deve ter preferência ao do bonum.
Cabe à ética, afinal, prever os efeitos distantes da ação técnica, operando por meio de 
“diagnósticos hipotéticos relativos ao que se deve esperar, ao que se deve incentivar ou ao que 
se deve evitar” (JONAS, 2006, p. 70). A partir daí, tal ética precisa mobilizar um sentimento de 
responsabilidade, capaz de orientar as ações do presente para que o mal futuro seja evitado: “o 
efeito final imaginado deve conduzir à decisão sobre o que fazer agora e ao que renunciar”, algo 
que, afinal, “justifique a renúncia a um desejável efeito próximo em favor de um efeito distante” 
(JONAS, 2006, p. 74), a fim de que ele não nos atinja jamais.
33
Para Jonas (2006), a responsabilidade tem, por isso, um horizonte maior do que a obrigação, 
na medida em que ela está amparada no valor da previsão: a “previsibilidade de certo usos e 
suas consequências” pode – e, em boa parte dos casos, deve – levar a um “exercício negativo” 
da responsabilidade. Cabe a ele fazer um balanço entre essa “responsabilidade negativa” (não 
fazer algo em função de seus perigos) e a “responsabilidade positiva” (“servir, com a pesquisa, 
a fins benéficos, promotores da vida” [JONAS, 2006, p. 89]).
Tal balanço traz à tona, evidentemente, a ambiguidade da ciência e, com ela, o cientista deve 
lidar: há, nesse ciência, tanto utilidade quanto risco de dano, pois “todo poder é poder para 
ambas as coisas e amiúde provoca ambas sem a vontade de quem o exerce” (JONAS, 2006, p. 
89). É essa ambiguidade, unida à magnitude dos novos poderes, que torna a previsibilidade um 
dos valores centrais da ética do futuro.
Por esse motivo, Jonas forja uma ética pautada em um “dever primário com o Ser, em oposição ao 
nada” (2006, p. 87), interpretado, agora, como o risco do nada absoluto, ou seja, o desaparecimento 
das várias formas de vida no planeta. Tal perspectiva leva à formulação de um novo imperativo, 
cujo cerne é a prudência e cuja formulação parte do dever de existir da própria humanidade no 
futuro: “aja de modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma 
autêntica vida humana sobre a Terra”(JONAS, 2006, p. 47).
A ética da responsabilidade pretende, por isso, deter o saque, a depauperação de espécies e a 
contaminação do planeta que estão se desenvolvendo a toda velocidade, além de prevenir um 
esgotamento de suas reservas, inclusive uma mudança insana no clima mundial causada pelo 
homem. Para isso, propõe-se “uma nova austeridade em nossos hábitos de consumo e uma nova 
parcimônia no uso e na aquisição de nossos poderes” (JONAS, 2006, p. 49).
34
UTILITARISMO
LIVRO
Autor: Tim Mulgan
Ano: 2007
ISBN: 978-85-326-4480-0
Editora: Vozes
Sinopse: No livro, tem-se um resumo do utilitarismo clássico, bem como a evolução 
dos principais temas do pensamento utilitarista no decorrer do século XX.
Leia a Introdução e o Capítulo 2 da obra, tentando compreender o que é o 
utilitarismo e quais são as suas raízes históricas.
Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=Ld
wbBAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT2&dq=o+que+%C3%A9+utilitarismo&ots=2
CClYmW0aF&sig=NHXzubpPEYbL55yjYtllWfE8rug#v=onepage&q=o%20
que%20%C3%A9%20utilitarismo&f=false
Fonte: MULGAN, T. Utilitarismo. Petrópolis: Editora Vozes, 2012.
CONFISSÕES
LIVRO
Autor: Santo Agostinho
Ano: 2017
ISBN: 9788532655684
Editora: Vozes
Sinopse: O livro Confissões, de Santo Agostinho, é mais do que um dos 
primeiros relatos autobiográficos da História Ocidental; ele representa, 
Fique de Olho
35
O HOMEM COMO OBJETO DA TÉCNICA
ARTIGO
Leia o texto analisando como o homem deixou de ser apenas um sujeito para 
se tornar também um objeto da tecnologia. Veja quais as três formas dessa 
passagem no mundo contemporâneo e quais os riscos que cada um deles 
traz como desafio ético.
Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/index.php/problemata/article/view/16966
Fonte: OLIVEIRA, J. R. de. O homem como objeto da técnica segundo Hans 
Jonas: o desafio da biotecnologia. Problemata: Revista Internacional de 
Filosofia, v. 4, n. 2, p. 13-38, 2013.
também, uma espécie de testamento da importância central que Deus 
desempenha na vida ética da Era Medieval.Leia a obra, tentando identificar 
as características da ética do dever, presentes na reflexão agostiniana.
Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=o4w
wDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT360&dq=santo+agostinho+confiss%C3%B5e
s&ots=buwQUBBL5a&sig=BkXwbPNU583goyQthgm6oa3Dj8U#v=onepage
&q=santo%20agostinho%20confiss%C3%B5es&f=false
Fonte: AGOSTINHO, S. Confissões. Petrópolis: Editora Vozes, 2017.
https://periodicos.ufpb.br/index.php/problemata/article/view/16966
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Ética – Debate 04: 
Ética e direito
Dilemas éticos
Como vimos até aqui, a ética é a ciência do agir e sua intenção é contribuir para que as ações 
humanas sejam realizadas e encaminhadas da melhor maneira possível, tendo em vista, 
principalmente, a realização do bem-estar humano, ou seja, a sua felicidade. A ética existe, 
precisamente, para nos ajudar diante daquilo que nós chamamos de dilemas éticos: momentos 
e situações nas quais somos desafiados pelo cotidiano e precisamos tomar alguma atitude. Em 
outras palavras, os dilemas éticos são as situações que exigem de nós uma tomada de decisão 
e que, pela gravidade das suas consequências e pela ambiguidade das questões envolvidas, 
torna-se difícil alcançar a certeza sobre se o caminho seguido é o correto. Aparecem, portanto, 
questões como “fazer ou não fazer”, “o que e como fazer”, qual é a melhor escolha, quais são as 
consequências de tal ação etc.
Obviamente, esse tipo de pergunta está constantemente em nosso entorno. Desde a hora em que 
levantamos até a hora em que vamos dormir, somos seres de escolhas e precisamos fazer com 
que essas escolhas sejam as melhores possíveis. Tudo que nós fazemos, portanto, exige essa 
capacidade de pensamento crítico, de avaliação e escolha. Ocorre que, em alguns momentos 
da nossa vida individual e da nossa vida coletiva, ou seja, da nossa vida em sociedade, essas 
decisões são muito mais delicadas, seja pela gravidade das consequências, seja pelo impacto 
e os efeitos que uma escolha errada pode ter sobre nós e sobre as outras pessoas com as quais 
convivemos, seja com a natureza em geral, seja com as pessoas que ainda sequer existem, como 
é o caso das gerações do futuro. Quanto mais cresce o poder desse impacto, maior é a obrigação 
de resolvermos esses dilemas da melhor forma possível. Agora, veja, no vídeo a seguir, a opinião 
de um Especialista em Direito Contemporâneo sobre as leis e a orientação ética.
https://youtu.be/XJF151Xbks0
37
Muitas vezes, o dilema aparece, pois estamos diante de um paradoxo no qual a nossa escolha 
pode ser entre dois ou mais imperativos morais ou modelos éticos, em que nem tudo está 
claramente decidido, isto é, não basta apenas o recurso à lei ou à consciência, sendo necessário 
realizar uma reflexão bem mais aprofundada, a fim de evitar, ao máximo, um possível dano. 
Geralmente, esses dilemas colocam em xeque os sistemas éticos e o cálculo racional cuidadoso 
se torna imprescindível. Temas como eutanásia, adultério, suicídio, aborto, prisão perpétua, 
pena de morte, clonagem, direitos dos animais e da natureza em geral e/ou procedimentos 
melhorísticos ligados ao aumento e à melhoria da performance humana estão entre os casos 
que sempre traduzem esses paradoxos.
Diante desses casos, quando, principalmente, referem-se a decisões cujo impacto se relaciona 
com a vida ou a morte de outros seres, impacto que é, geralmente, irreversível, precisamos 
ampliar nossa capacidade de pensamento crítico e de exame da situação, não bastando apenas 
boa vontade no cumprimento das leis e das normas, mas, sobretudo, um conhecimento profundo 
dos vários modelos éticos, das argumentações e dos debates desenvolvidos por especialistas de 
todas as áreas, para que possamos ter uma decisão mais clara possível em vista do bem comum.
Dessa forma, os dilemas éticos podem ser resolvidos com o uso da racionalidade, ora para 
desvendar possíveis enganos que se impõem à situação, ora para mostrar que o dilema não existe 
enquanto tal, ora para verificar qual é o fundamento ou a referência preferível (ou seja, as teorias 
disponíveis e os modelos que podem ajudar a decidir o que é o bem e o mal) quando se trata de 
solucionar o dilema. Nesses casos, no geral, precisamos encontrar alternativas criativas que 
levem em consideração o maior número possível de informações sobre o caso, comparando-o 
com outros modelos e outras situações nas quais as respostas encontradas obtiveram sucesso.
Em casos como esse, o dilema ético que, aparentemente, é um problema, pode ser mais desejado 
do que o absolutismo dogmático de uma única resposta, que pode ser perigosa na medida em 
que se oferece como uma “saída fácil” ou uma “resposta pronta”. Muitas vezes, os dilemas incluem 
contradições entre imperativos e sua análise envolve um conhecimento do contexto e das teorias 
e, no final, há um ganho ético, porque o raciocínio pode criar o que, no direito, denominamos 
“jurisprudência”: as respostas encontradas podem ajudar a inspirar e a resolver outros dilemas.
38
Um exemplo de dilema ético diz respeito à obrigação de alimentar a família, mas, para que isso 
seja necessário, um indivíduo acaba roubando alimentos de um supermercado. O que seria mais 
adequado: roubar alimento para salvar a família (poderia, nesse caso, utilizar os argumentos da 
ética da utilidade) ou seguir o imperativo que proíbe, radicalmente, o roubo (como poderia ser 
o caso do modelo da ética do dever)?
Como decidir, sem levar em consideração o conflito em seu contexto adequado? Muitas vezes, 
para solucionar esse tipo de dilema, devemos fazer trocas de prioridades e tomar decisões 
pautadas na revisão dos argumentos e, como já salientamos, na análise de dilemas semelhantes 
já vividos no passado.
Assiduamente, como a decisão pode ser tomada tendo em vista uma exposição ideológica ou 
mesmo uma disputa ligada às várias classes que formam uma sociedade, não é raro que os dilemaséticos se tornem também parte das divisões políticas econômicas nas quais os indivíduos são 
envolvidos por lutas recorrentes entre facções, partidos ou grupos sociais diferentes. Disso, 
decorre-se que a saída do dilema ético deve evitar essa ideologização e ter sempre em vista 
o bem comum, ou seja, o bem de toda a sociedade e não apenas de um grupo em específico. 
Ora, para que isso seja possível, precisamos de instituições sérias que nos ajudem a “organizar” 
essas decisões, legitimando e justificando as respostas encontradas.
39
Um dilema ético pode ser facilmente detectado quando somos convidados a pensar sobre: o 
que fazer diante de uma situação moral? Sócrates, no diálogo de Platão denominado Críton, 
enfrenta a questão: ele está preso, condenado injustamente pela sociedade na qual ele vive e 
seus amigos trazem a notícia de que uma fuga era possível e, mais ainda, que havia um consenso 
de que ele deveria fugir – porque, afinal, era inocente. Por que, mesmo assim, Sócrates não 
fugiu (como se sabe, ele é condenado a beber a cicuta e morreu envenenado)? Essa questão é 
o mote central da reflexão de Platão que pode nos ajudar a entender como solucionar os nossos 
próprios dilemas éticos.
Platão começa lembrando aquilo que podemos chamar de as três premissas da ética socrática: 
não se deixar influenciar pela emoção – usar sempre a razão; não se deixar influenciar pelo 
consenso, porque os outros podem errar – devemos pensar por nós mesmos; não se deixar 
influenciar pelas consequências – usar o critério do certo e errado da moral, aqui e agora.
Além disso, Platão levanta três argumentos utilizados por Sócrates para não violar as leis: nunca 
lesar ninguém (a fuga de Sócrates lesaria o Estado pela transgressão da lei à qual ele jurou 
fidelidade); sempre manter as nossas promessas (Sócrates vivia no Estado e havia aceitado 
as suas regras); e sempre obedecer aos pais e mestres (Sócrates considerava que o Estado é 
o pai ou mestre). Nesse caso, se fugisse, Sócrates estaria, portanto, ofendendo a sociedade, 
faltando a uma promessa, desobedecendo ao seu pai e mestre.
Ao ter em vista essas três premissas e esses três argumentos, diante do dilema ético (fugir ou 
não fugir), note-se como Sócrates faz uso do raciocínio, pensa muito sobre o assunto, avalia e 
pondera as consequências, sempre tentando encontrar um caminho próprio e não simplesmente 
seguindo a opinião dos outros – mesmo que confiasse nos seus amigos. Esse é um exemplo 
típico de um raciocínio ético.
No exemplo de Sócrates, os três argumentos conduzem a uma mesma conclusão. Há casos em 
que isso não ocorre: muitas vezes, há “conflitos de deveres” em que as regras não convergem e 
que o dilema se agrava ainda mais. É precisamente, aí, que precisamos apelar para a precedência 
de uma regra sobre a outra, perguntando: qual é a mais importante?
O exemplo de Sócrates
40
Em outro texto, intitulado Apologia de Sócrates, Platão esclarece o que fez Sócrates: ele 
teria escolhido uma regra como mais importante: diz que ele não pode cumprir a vontade do 
Estado (parar de ensinar) porque Apolo lhe atribuiu essa tarefa, porque seus ensinamentos são 
necessários para o bem do Estado. Nesse caso, em que há um conflito de deveres, ele criou 
uma ordem de precedência que o leva tanto a afirmar que ele está no caminho certo quanto 
a obedecer a lei imposta pelos seus conterrâneos. Sócrates morre, pois decide não ferir os 
argumentos que ele acreditava, depois de muita análise, serem os mais corretos.
Podemos nos indagar: “no lugar de Sócrates, o que eu faria?”
Obviamente, poucos de nós viveremos uma situação tão delicada em que a nossa vida e a nossa 
morte estejam em jogo. Mas, mesmo assim, é muito comum que precisemos usar esse tipo de 
raciocínio para encontrar o caminho mais correto diante de uma situação moral.
Uma das ocasiões mais comuns para o surgimento de dilemas éticos é a nossa vida profissional. Embora 
muitas regras da prática das profissões estejam previstas nos códigos e nos estatutos específicos 
de cada profissão (como é o caso dos chamados “códigos de ética” que orientam as decisões dos 
médicos, advogados, psicólogos etc.), muitas vezes, as situações concretas não podem ser resolvidas 
simplesmente lendo essas normas. Como nossa dinâmica social é instável e marcada por muitas 
mudanças que afetam diretamente nossa vida profissional, também, nesses casos, estamos diante de 
desafios complexos que exigem decisões rápidas e legítimas. Há ocasiões, além disso, que o próprio 
seguimento das normas previstas nesses regulamentos acaba por levar os profissionais a serem 
considerados “antiéticos” por parte de seus pares ou, até mesmo, da população em geral.
Casos desse tipo são muito comuns. Por exemplo, um dilema comum tem a ver com a denúncia 
de práticas escusas realizadas por um colega de trabalho: se descubro que isso está ocorrendo, 
como agir? Se não denuncio, estou quebrando o contrato que fiz com minha organização ou 
empresa, que espera de mim o cumprimento das normas éticas previstas; mas, se o denuncio, 
pode ser que as relações pessoais dentro da empresa fiquem abaladas e, em nome da amizade, 
muitos passem a me considerar um traidor. Aceitar ou pagar suborno tem sido outra ocasião na 
qual nossa vida profissional é contraposta com as exigências éticas da nossa profissão.
Os dilemas éticos da vida profissional
41
Os casos de corrupção que aparecem na grande mídia, geralmente ligados aos políticos, são 
gestados nas práticas cotidianas da nossa vida e na dificuldade que temos de solucionar os 
dilemas éticos que vivenciamos nas nossas realidades profissionais. Outro caso bastante 
comum tem a ver com a política de metas das empresas, em que, muitas vezes, a competição 
gera práticas extremamente questionáveis e disputas que fogem das regras previstas, levando 
a dilemas imprevisíveis vividos pelos indivíduos, os quais devem optar por esse tipo de prática 
em nome da garantia do emprego.
Nesses casos e em tantos outros, o único caminho a fazer é ser transparente, contar com a 
ajuda e com a experiência das demais pessoas, ser humilde e reconhecer erros, esforçando-
se sempre para evitar o mal e para corrigir os equívocos e recompensar os prejuízos. Ninguém 
de nós está livre de tomar decisões erradas; ao contrário, todos nós podemos facilmente 
incorrer em equívocos. Errar é humano, como se afirma. Mas permanecer no erro, manter-se no 
caminho errado, é algo que devemos sempre evitar. Nunca é tarde para corrigir os problemas 
que aparecem nas nossas vidas e, certamente, seremos melhores profissionais não apenas 
porque não erramos, mas, sobretudo, porque aprendemos com nossos erros e os utilizamos 
para ajudar outras pessoas a evitarem os seus próprios equívocos.
CRÍTON
LIVRO
Autor: Platão
Ano: 1972
ISBN: 19725217
Editora: Clássicos Cultrix
Sinopse: O livro traz a antologia de alguns dos mais importantes diálogos de Platão, 
a qual reúne Defesa de Sócrates, Um banquete, Êutifron, Critão e O dever e Fédon.
Fique de Olho
42
Leia a obra de Platão, tentando compreender como Sócrates enfrentou o 
dilema ético central de sua vida: aceitar a condenação à morte ou fugir?
Disponível em: 
https://saudeglobaldotorg1.files.wordpress.com/2013/08/te1-platc3a3o-
crc3adton.pdf
Fonte: PLATÃO. Diálogos. Tradução de Jaime Bruna. Clássicos Cultrix, 1972.
APOLOGIA DE SÓCRATES
LIVRO
Autor: Platão
Ano: 2002
ISBN: 3237000001783
Editora: Escala
Sinopse: Apologia de Sócrates é uma obra literária desenvolvida pelo filósofo 
Platão. Neste livro, Platão (427-347 a.C.) apresenta Sócrates, considerado 
um dos seus discípulos mais dedicados. A obra está estruturada sob a forma 
de diálogos. Na primeira parte, exposta no link, temos a apresentação da 
defesa de Sócrates.
Leia o texto e tente detectar as razões pelas quais, segundo Platão, Sócrates 
decidiu morrer e não fugir, como os seus amigos propunham. Preste atenção 
no tom do texto: Platão estátecendo comentários que elevam o ato do seu 
mestre. Por quê?
Disponível em: 
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/270801/mod_resource/content/1/
platao%20apologia%20de%20socrates.pdf
Fonte: PLATÃO. Apologia de Sócrates. Tradução de Maria Lacerda de Souza. 
São Paulo: Editora Escala, 2002.
https://saudeglobaldotorg1.files.wordpress.com/2013/08/te1-platc3a3o-crc3adton.pdf
https://saudeglobaldotorg1.files.wordpress.com/2013/08/te1-platc3a3o-crc3adton.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/270801/mod_resource/content/1/platao%20apologia%20de%20socrates.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/270801/mod_resource/content/1/platao%20apologia%20de%20socrates.pdf
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Ética – Conclusão
Considerações finais
Vimos, como a ética exige um raciocínio diante de situações decisivas de nossa vida. Como 
ciência do agir, ao longo da história ocidental, foram desenvolvidos vários modos de enfrentar 
essas dificuldades. Os modos de responder a esses problemas são conhecidos como modelos 
éticos: no mundo grego, prevaleceu o que denominamos “ética das virtudes”; no modelo medieval, 
a “ética do dever”; na modernidade, além da “ética do dever”, tem-se a “ética da utilidade”; e, no 
mundo contemporâneo, há a “ética da responsabilidade”.
Todos esses modelos éticos são importantes para que nós possamos enfrentar os chamados 
“dilemas éticos”, situações que, pela complexidade, exigem raciocínios cuidadosos e profundos, 
análises e julgamentos adequados e, sobretudo, parcimônia e humildade.
Veja, no vídeo a seguir, as considerações finais que Jelson Oliveira nos traz pontuando as 
principais discussões em torno dos modelos éticos.
https://youtu.be/9XuLzvQkUQ8
44
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril S/A Cultural e Industrial,1973
BENTHAM, J. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da 
República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 29 jun. 2020.
COENEN, C. et al. Human Enhancement: study. Bruxelas: European Parliament, 2009. Disponível 
em: https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/etudes/join/2009/417483/IPOL-JOIN_
ET(2009)417483_EN.pdf. Acesso em: 29 jun. 2020.
JONAS, H. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. 
Tradução de Marijane Lisboa e Luiz Barros Montez. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os 
Pensadores).
MILL, J. S. O utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2000.
PAZ, O. El labirinto de la soledad. Posdata. Vuelta a “El labirinto de la soledad”. 3. ed. Cidade do 
México: FCE, 2004.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/etudes/join/2009/417483/IPOL-JOIN_ET(2009)417483_EN.pdf
https://www.europarl.europa.eu/RegData/etudes/etudes/join/2009/417483/IPOL-JOIN_ET(2009)417483_EN.pdf

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