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DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E SERVIÇO SOCIAL AULA 4 Prof.ª Valdirene da Rocha Pires 2 CONVERSA INICIAL Olá alunos e alunas! Nesta aula, trataremos de compreender termos e conceitos muito importantes ao Serviço Social. Inicialmente, vamos tratar sobre alguns pontos importantes acerca do capitalismo brasileiro, bem como sobre a formação sócio-histórica brasileira. Para o assistente social, compreender o significado de inclusão e exclusão, bem como a relação entre pobreza e desigualdade social, significa compreender a realidade social na qual irá atuar profissionalmente. Mas não apenas isso, pois estudar esses assuntos deve trazer clareza ao estudante, no sentido de conhecer as relações sociais em que está inserido. TEMA 1 – O DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL No Brasil, assim como em todos os países capitalistas, o desenvolvimento do capitalismo está relacionado ao processo de implantação do sistema industrial. Nesse sentido, podemos afirmar que a industrialização brasileira inicialmente surge para dar respostas à economia, principalmente em decorrência das crises deixadas pela Primeira Guerra Mundial e pela depressão dos anos 1930. Entre os anos de 1940-50, registra-se no Brasil um processo de aceleração do setor industrial, o que irá também levar ao processo de uma rápida urbanização. Vale lembrar que nesse período a população brasileira residia predominantemente na área rural, ainda que, “mesmo no primeiro momento de formação desse mercado de trabalho, já se registra uma abundância de mão de obra”. (Santos, 2013, p. 138) Outra característica sobre a formação do capitalismo brasileiro é que seu sistema de industrialização é conhecido como capitalismo tardio, por apresentar um atraso no processo de industrialização, quando comparado com outros países da Europa e Estados Unidos. Dessa forma, iremos abordar as três fases consideradas determinantes no processo industrialização brasileira. A primeira fase vai de 1860 a 1933, e é marcada pelo desenvolvimento das atividades industriais, centralizadas nos setores de bens de consumo não duráveis. Observa-se nesse período um início da atividade industrial, ainda que de forma muito tímida Segundo Curado e Cruz (2008), as atividades industriais dessa fase não eram suficientes para determinar o crescimento da economia, 3 pois o mercado internacional do café ainda era o nosso principal setor econômico. A segunda fase (1933-1955) apresenta a industrialização restringida, início do processo de industrialização no Brasil – o crescimento econômico passou a ser determinado pela expansão do setor industrial. Conforme apontam os autores, Verificou-se também um processo de diversificação da estrutura industrial, com aumento relativo dos setores produtores de bens de capital concomitantemente com a redução da importância relativa do setor de bens de consumo não-duráveis. Em outras palavras, a partir de 1933 o processo de acumulação de capital no interior da economia passou a se estruturar em um novo padrão. O ritmo de crescimento da economia não se encontrava mais vinculado à demanda externa, mas sim ao ritmo endógeno de acumulação de capital no setor industrial. (Curado; Cruz, 2008). É importante destacar que nesse período o crescimento econômico passa a ser determinado pela expansão da atividade industrial, ou seja, há uma transição do modelo agroexportador para o modelo urbano industrial. Em relação à terceira fase (1955-1980), considerada a fase da industrialização pesada, destaca-se a execução do Plano de Metas, cujo objetivo foi investir recursos estatais para acelerar o processo de industrialização de bens duráveis, para assim desenvolver o país no aspecto econômico e social. A partir da década de 1950, um dos setores industriais que ganha atenção do Estado é o setor automobilístico, instalado no país com expressiva abertura para o capital estrangeiro, o que levou à instalação de grandes corporações internacionais no Brasil, de modo que até não havia ocorrido. (Santos, 2013, p. 146) A década de 1960 é marcada pelos contrassensos do capitalismo periférico e pela instalação do Estado autoritário, lembrando que, em 1964, o Brasil sofreu um golpe militar. Em relação a esse aspecto, a professora Yazbek (2012, p. 299) nos lembra: “a opção pelo crescimento econômico acelerado, a partir de fontes de investimento externas, como base do desenvolvimento, abriu o país ao capital monopolista”. TEMA 2 – ESTADO E QUESTÃO SOCIAL NO CAPITALISMO MONOPOLISTA Segundo o Prof. José Paulo Netto (2006, p. 25), um dos grandes referenciais teóricos do Serviço Social brasileiro, “no capitalismo monopolista as 4 funções políticas do Estado imbricam organicamente nas suas funções com suas funções econômicas”. Nessa lógica de intervenção, a função estatal é direcionada para garantir o lucro dos monopólios; para atingir esse objetivo “como poder político e econômico, o Estado desempenho uma multiplicidade de funções”. (Netto, 2006. p. 25) Esta multiplicidade funções é efetivada por exemplo, por meio de “sua inserção como empresário nos setores básicos não rentáveis” – trata-se dos subsídios indiretos nos setores, como investimentos públicos em meios de transporte, infraestrutura (estradas, rodovias, redes de água energia) e a preparação da força de trabalho requerida pelas empresas, por meio da promoção de cursos técnicos. Mas quando é que o estado intervém da “questão social”? A questão social torna-se objeto de intervenção do Estado quando os conflitos de classes se tornam uma ameaça para a ordem monopólica. Ou seja, quando os trabalhadores reivindicam direitos, os humanos e sociais principalmente. Diante desse cenário, o Estado irá intervir de forma que, por um lado, atenda reinvindicações das classes populares, e de outro, atenda também o mercado, de modo que se movimente a economia capitalista. É com base nessa lógica que podemos afirmar que o Estado cumpre a função de mediar as crises econômicas e sociais. Isso significa que a “questão social” só se torna alvo de políticas públicas à medida que pode significar alguma ameaça à ordem capitalista, e também porque oferece possibilidade econômicas-sociais. Como? Quando o Estado cria políticas sociais, por exemplo, um programa habitacional, ou um programa de distribuição de renda (ex: Programa Minha Casa Vida, e Programa Bolsa Família), acaba atendendo uma demanda e um direito social, ao mesmo tempo que o Estado investe na iniciativa privada e no mercado, contratando empreiteiras e empresas do ramo da construção para construir as unidades habitacionais que serão destinadas à população, aos trabalhadores. Segundo Neto (2006, p. 25), “através da política social, o Estado burguês procura administrar as expressões da ‘questão social’ de forma a atender às demandas da ordem monopólica”, ou seja, movimenta-se a economia utilizando políticas sociais. 5 TEMA 3 – A RELAÇÃO ENTRE INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIAL Você já parou para pensar sobre a definição de “exclusão social”? Exclusão social é um termo que comumente utilizamos para definir situações vivenciadas por determinados grupos sociais, ou até mesmo por indivíduos que vivenciam a negação de acesso a seus direitos. É muito comum encontrarmos, em diferentes tipos de diálogos e propagandas, que este ou aquele projeto promove a inclusão social. Mas ora, então o que seria estar em situação de exclusão? Para José Rogério Lopes (2006, p. 13), a exclusão social caracteriza-se por um conjunto de fenômenos que se configuram no campo alargado das relações sociais contemporâneas: o desemprego estrutural, a precarização do trabalho, a desqualificação social, a desagregação identitária, a desumanização do outro, a anulação da alteridade, a população de rua, a fome,a violência, a falta de acesso a bens e serviços, entre outras. Conforme podemos verificar na análise do autor, há um conjunto de fatores sociais que definem a ideia de exclusão social. Além dos recursos financeiros e materiais, junta-se a outros fenômenos, como por exemplo: A discriminação (em suas diversas formas – étnica, de gênero, orientação sexual, por deficiência, por condição econômica, entre outras). Baixas qualificações profissionais – causadas pela ausência de condições para acessara a educação. Morar em áreas isoladas – segregação socioespacial. Por exemplo, os diversos bairro e vilas afastados da cidade; em geral essas populações deixam de acessar diversos serviços que são fundamentais para o exercício da cidadania, como educação, saúde e cultura. Ausência de emprego e renda – a condição econômica é um dos mais centrais determinantes que podem levar à exclusão social, pois a ausência de renda pode gerar uma série de outras expressões da questão social. Segundo Silva e Silva (2010), “a exclusão não é um fenômeno novo. É fruto do processo de acumulação capitalista [...]”. É próprio da dinâmica da sociedade capitalista incluir e excluir. A exclusão social produz mão de obra barata, e isto é interessante ao capital”. 6 Já as ações de inclusão social estão relacionadas às gestões da política econômica e, principalmente de política social. Isso significa que a inclusão social só ocorre à medida que essas políticas têm como foco a redução e o combate das desigualdades. Nesse aspecto, precisamos lembrar o papel do Estado – para que cumpra seu papel, é fundamental a inclusão social. Essas ações se configuram em políticas e programas sociais, por exemplo de distribuição de renda, que promovam o acesso à educação, o acesso à moradia adequada, à alimentação, entre outros. Ou seja, trata-se de um programa social com foco na inclusão social, com vistas à garantia de direitos. Leitura complementar LOPES, J. R. "Exclusão social" e controle social: estratégias contemporâneas de redução da sujeiticidade. Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 18, n. 2, mai./ago. 2006 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 71822006000200003>. Acesso em: 12 fev. 2019. TEMA 4 – POBREZA E DESIGUALDADE SOCIAL Do ponto de vista da teoria marxista, a pobreza é uma das expressões da “questão social”. Nesse sentido, é importante ressaltar que a “questão social” e suas expressões, como a pobreza e a miséria, são consequências da exploração do trabalho pelo capital. Mas o que isso significa? Se pensarmos que os produtos que utilizamos para suprir as necessidades humanas vêm dos meios de produção e da força de trabalho, como vimos anteriormente, chegaremos à conclusão de que, uma vez que os salários pagos aos trabalhadores não são suficientes para dar conta de todas as suas necessidades, como moradia, alimento, educação, vestimenta, entre outros, consequentemente uma parcela muito grande da população irá se encontrar em situação de pobreza. Assim, a noção de pobreza está relacionada à ausência de condições para suprir necessidades básicas, como alimento, saneamento básico, saúde, educação e cultura. Para a Professora Maria Carmelita Yazbek (2005, p. 217), no caso brasileiro, a pobreza é fruto das relações sociais que a produzem e reproduzem, “quer no plano socioeconômico, quer nos planos político e cultural, constituindo múltiplos mecanismos que “fixam” os pobres em seu lugar na sociedade”. Assim, 7 aborda-se a pobreza como expressão direta das relações vigentes na sociedade, localizando a questão no âmbito das relações constitutivas de um padrão de desenvolvimento capitalista, extremamente desigual, em que convivem acumulação e miséria. (Yazbek. 2005. 217) Para Amrtya Sen (1990, citado por Crespo, 2002), “a pobreza pode ser definida como uma privação das capacidades básicas de um indivíduo e não apenas como uma renda inferior a um patamar pré-estabelecido”. Em relação ao papel do Estado no que tange à redução da pobreza, cabe enfatizar que as ações focalizadas, com programas sociais de combate à fome e pobreza, não são suficientes para eliminá-las, uma vez que o objetivo desses programas é sempre a redução, e nunca a extinção da pobreza. Isso porque, como já apontamos anteriormente, a pobreza é fator fundamental para a reprodução do modo de produção capitalista. Já o conceito de desigualdade social remete à questão de distribuição de renda. Segundo Montaño (2012), na era dos monopólios, a desigualdade social é fruto do próprio incremento das forças produtivas, e não surge em decorrência do seu pouco desenvolvimento. A desigualdade é decorrente de uma perspectiva segundo a qual, mesmo com fartura de mercadorias, valoriza- se acumulação e empobrecimento. Segundo a análise do autor, podemos observar que pobreza e desigualdade social, apesar de estarem muito próximas, são conceitos diferentes, pois um país pode ser extremamente rico, como é o caso do Brasil, mas apresentar uma desigualdade social tão grande quanto sua riqueza. Leitura complementar YAZBEK. M. C. A pobreza e as formas históricas de seu enfrentamento. R. Pol. Públ., v. 9, n. 1, p.217-228, jul./dez. 2005. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3775 >. Acesso em: 12 fev. 2019. TEMA 5 – SOBRE A VULNERABILIDADE SOCIAL O conceito de vulnerável está relacionado àquilo que está exposto, ou suscetível à algum risco. No âmbito das políticas sociais, a vulnerabilidade se refere aos grupos de indivíduos considerados mais suscetíveis à violência, e/ou à privação de direitos. São considerados grupos vulneráveis, por exemplo: os idosos, as crianças, pessoas com de deficiência, o público LGBT – são grupos 8 que podem sofrer, tanto social quanto materialmente, as consequências da exclusão social. A noção de vulnerabilidade social exprime, ainda, várias situações de precariedade e não apenas a de renda. Podemos pensar, por exemplo, que uma idosa, ou uma criança, podem estar em situação de violência, e, portanto, de risco, por serem vulneráveis; elas não necessariamente precisam ser pobres para vivenciar tal situação. Nesse caso, a vulnerabilidade não estaria ligada à situação de renda. Como campo de intervenção do serviço social, a vulnerabilidade é utilizada para a criação de indicadores sociais ampliados, de modo a delimitar uma linha de pobreza, e assim criar mecanismos de proteção social. Esses indicadores são usados, por exemplo, na política de assistência social, na saúde e na educação. Como destaca Yasbek (2003, p. 19): uma definição econômica de vulnerabilidade social é insuficiente e incompleta, mas deve ser a base material para o seu enquadramento mais amplo, incluindo também outras precariedades, como a fragilização de vínculos afetivos, tanto os relacionais como os de pertencimento, decorrentes também das discriminações etárias, étnicas, orientação sexual, de gênero ou por deficiências, dentre outras. Nesse sentido, podemos afirmar que o conceito de vulnerabilidade social ultrapassa a situação econômica, apesar de, em muitos casos, estar à ela relacionado. Outras situações que envolvem a vulnerabilidade social são as fragilizações dos vínculos familiares e afetivos, muito comum quanto se trata de idosos. NA PRÁTICA Para fazer uma análise, aplicada à realidade prática, do conteúdo abordado nesta aula, propõe-se o seguinte exercício. Identifique onde estão localizados os grupos, as camadas ricas e pobres da cidade onde você mora. Agora reflita sobre a desigualdade social: como seria se todos tivessem as mesmas condições de acesso aos bens e serviço ofertados na cidade? Teríamos uma sociedade mais justa? 9 FINALIZANDO Nesta aula, vimos como o capitalismo monopolista domina o mercado e dessaforma exige a presença do Estado para atuar nas expressões da questão social, como produção da própria relação capital X trabalho. Vimos também que a pobreza se difere de desigualdade social. E ainda que a vulnerabilidade social diz respeito a grupos de riscos, e não trata necessariamente sobre renda. 10 REFERÊNCIAS CRESPO, A. P. A. A Pobreza como um Fenômeno Multidimensional. RAE eléctron., v. 1, n. 2, p. 2-12, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1676- 56482002000200003&script=sci_abstract&tlng=es>. Acesso em: 12 fev. 2019. CURADO. M.; CRUZ, M. J. V. Investimento Direto Externo e Industrialização no Brasil. Econ. contemp., Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 399-431, set./dez. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rec/v12n3/01.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2019. LOPES. J. R. “Exclusão social" e controle social: estratégias contemporâneas de redução da sujeiticidade. Psicol. Soc, v. 18, n. 2, mai./ago. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010271822006000200 003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 12 fev. 2019. MONTAÑO. C. Pobreza, "Questão Social" e Seu Enfrentamento. Serv. Soc. Soc. n. 110, abr./jun. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 66282012000200004>. Acesso em: 12 fev. 2019. NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e Serviço Social. Cortez. São Paulo. 2006. SANTOS. J. Questão Social: particularidades no Brasil. São Paulo: Editora Cortes, 2013. SILVA E SILVA, M.O. Serviço social e Popular. São Paulo: Cortez, 2010. YAZBEK, M. C. Classes subalternas e assistência social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003. YAZBEK. M. C. A pobreza e as formas históricas de seu enfrentamento. R. Pol. Públ., v. 9, n. 1, p.217-228, jul./dez. 2005. Disponível em: <http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/3775 >. Acesso em: 12 fev. 2019.