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Para estabelecer essa regionalização, foram consi- derados os seguintes aspectos: • a quantidade de recursos tecnológicos avançados (redes de telecomunicações e de energia, equi- pamentos de informática); • o volume de atividades econômicas modernas nas áreas financeira (bancos, bolsas de valo- res, corretoras de títulos), comercial (shopping centers, empresas de e-commerce), de serviços (provedores de acesso à internet, agências de publicidade, consultorias, centros de pesquisas, empresas ligadas à mídia, universidades), indus- trial (empresas que utilizam robôs e sistemas automatizados); • a situação da agropecuária em relação à mecani- zação e à integração com a indústria. Dessa forma, Milton Santos e sua equipe de pesquisa estabeleceram uma divisão regional em “quatro Brasis”: Região concentrada: composta de denso sistema de fluxos, em razão dos elevados índices de urbaniza- ção, por atividade comercial intensa e alto padrão de consumo doméstico e de muitas empresas. É centro de tomada de decisões do território brasileiro, abrigando atividades modernas e globalizadas, como alguns seto- res financeiros e de serviços (figura 12). Centro-Oeste: nele estão presentes características da modernização, em razão do emprego de alta tecno- logia na produção agropecuária, marcadamente expor- tadora e com ampla utilização de insumos agrícolas, comercializados por grandes empresas multinacionais (figura 13). O Centro-Oeste está plenamente integrado à economia globalizada. Nessa região, o desenvolvimento do agronegócio e a instalação da capital federal (Brasília) contribuíram para o estabelecimento de uma rede urbana integrada por sistemas de transportes e de telecomunicações. Nordeste: excetuando-se o período de grande desenvolvimento da economia canavieira (séculos XVI e XVII), de modo geral a atividade econômica teve pouco dinamismo em razão da agricultura pouco intensiva e da urbanização irregular, restrita a alguns pontos do território, sobretudo o litoral. Nessa região, as atividades econômicas modernas e o uso de recursos tecnológicos avançados ainda são relativamente pontuais, restritos às regiões metropoli- tanas e integradas de desenvolvimento e às cidades médias – Campina Grande (PB); Feira de Santana (figura 14), Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus (BA); Caruaru e Petrolina (PE); Mossoró (RN); Arapiraca (AL); Juazeiro do Norte, Sobral, Crato (CE). Figura 12. A Av. Brigadeiro Faria Lima é um dos centros finan- ceiros e comerciais da cidade de São Paulo (SP). Está próxima à Marginal Pinheiros, importante eixo de circulação da cidade. Fotografia de 2012. Figura 13. O Centro-Oeste abriga grande quantidade de agroindús- trias, processadoras de mercadorias agrícolas e oriundas da criação de animais. Na imagem, setor industrial em Rio Verde (GO), 2010. Figura 14. Feira de Santana (BA) é um dos principais entronca- mentos rodoviários do Brasil. Fotografia de 2016. S E R G IO I S R A E L/ P U LS A R I M A G E N S C A D U G O M E S /C B /D .A P R E S S S E R G IO P E D R E IR A /P U LS A R I M A G E N S 237Capítulo 10 – Brasil no século XXI e regionalização do território TS_V3_U4_CAP10_220_241.indd 237 5/23/16 7:12 PM Esses recursos também estão presentes nas áreas de agricultura mais modernas, como o oeste baiano, o sul do Piauí e do Maranhão, e nas regiões de fruticultura irrigada do Vale do São Francisco, entre Bahia e Pernambuco, e do Vale do Açu, no Rio Grande do Norte, entre outros. Amazônia: trata-se de uma região de baixa densidade demográfica e poucos recur- sos tecnológicos. A atividade extrativa, com beneficiamento dos produtos da floresta, é uma atividade econômica importante, podendo ser ambientalmente sustentável e gerar renda para a população local, inclusive para os povos da floresta (figura 15). As áreas destinadas à agricultura mecanizada e a outras atividades agropecuárias modernas são pontuais e estão presentes mais na porção leste do estado do Pará. A Zona Franca de Manaus – que concentra parte da indústria eletrônica instalada no país –, a indústria extrativa mineral e a metalurgia de alumí- nio são os polos de maior expressão econômica. O uso de satélites e radares que norteiam e fiscalizam a sua ocupação contrasta com a baixa densidade técnica instalada no território. Extensão territorial e fronteiras Com um território de 8.515.767,049 km2, de acordo com o IBGE (2015), o Brasil está entre os cinco maiores países do mundo em superfície4, abaixo apenas da Rússia, do Canadá, da República Popular da China e dos Estados Unidos. Sua área é equivalente à da Oceania, a 47% de toda a extensão da América do Sul e não é muito menor que a da Europa, e por isso é chamado de “país continente”. Do extenso território também fazem parte as ilhas oceânicas nos arquipélagos de Fernando de Noro- nha, Abrolhos, Penedos de São Pedro e São Paulo. A extensão da fronteira5 terrestre de 15.719 km permite a vizinhança direta com dez países da Amé- rica do Sul, excetuando-se o Chile e o Equador. Além disso, o litoral Atlântico possui extensão considerá- vel de 7.367 km. A proximidade com muitos países, apesar de favorecer maior integração econômica 4 Embora as fronteiras terrestres estejam consolidadas, o mesmo não ocorre com a fronteira marítima do Brasil. Sobre o tema, consulte o Capítulo 10 do Volume 1 desta coleção. 5 O Brasil tem a terceira maior linha de fronteira terrestre, atrás apenas da Rússia e da China. Se julgar necessário, peça aos estudantes que observem o planisfério no final deste volume e comparem a área dos cinco maiores países em extensão territorial: Rússia, Canadá, China, Estados Unidos e Brasil. com a América do Sul, agrega a inconveniência e a incapacidade brasileira de fiscalizar e controlar o intenso fluxo de pessoas, armas, drogas e outras mercadorias que entram ilegalmente no país. A faixa de fronteira corresponde a uma exten- são territorial com 150 km de largura que acom- panha o limite territorial brasileiro terrestre. Tra- ta-se de uma porção do território, estratégica ao Estado como área de segurança nacional, onde estão cerca de 10 milhões de brasileiros, corres- pondendo a aproximadamente 27% do território nacional. Nessa faixa de fronteira, o governo fede- ral estabeleceu três grandes arcos como áreas de planejamento: arco norte (do estado do Amapá até o estado do Acre), arco Central (Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) e arco sul (do Paraná até o Rio Grande do Sul). Figura 15. Beneficiamento da cas- tanha-do-pará em cooperativa na cidade de Lábrea (AM), 2015. E D M A R B A R R O S /F U T U R A P R E S S 238 unidade 4 | Brasil: perspectivas e regionalização TS_V3_U4_CAP10_220_241.indd 238 5/23/16 7:12 PM Na faixa de fronteira estão as cidades-gêmeas (uma de cada lado da linha de limite entre os terri- tórios), que possibilitam uma maior integração eco- nômica, comercial e cultural entre os países frontei- riços. São vários, também, os problemas verificados na faixa de fronteira: contrabando, tráfico de drogas, tráfico de animais, ingresso ilegal de imigrantes, entre outros. Observe algumas dessas informações sistema- tizadas e cartografadas no mapa a seguir. Brasil: território, faixa de fronteira, arcos e cidades-gêmeas – 2011 60° O TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO EQUADOR 0° R io B ra n co Rio Negro R io P urus Rio Japurá Rio M ad ei ra Rio Solimões R io J u ru e n a R io Ta pa jó s Ri o Iri ri Rio A maz ona s R io T o c a n ti n s R io A ra g u ai a Rio Para naíba R io P a ra g u a y R io X in g u R io Guaporé Rio Paraná R io S ã o F ra n ci sc o SURINAME GUIANA Saint George‘s/ OiapoqueLethen/ Bonfim Santa Elena/ Pacaraima Letícia/Tabatinga Islândia/ Benjamin Constant Santa Rosa/ Santa Rosa do Purus Cobija/ BrasileiaIñapari/ Bolpebra/ Assis Brasil Guayaramerín/ Guajará-Mirim San Matias/ Cáceres Puerto P. Chica/ Porto Murtinho ARGENTINA BOLÍVIA PERU COLÔMBIA VENEZUELA CHILE PARAGUAI URUGUAI Ype-Jhú/ Paranhos Ciudad del Este/ Puerto Iguazu/ Foz do Iguaçu Puerto Suarez/ Corumbá P.J.Caballero/Ponta Porã Capitan Bado/Cel. Sapucaia Salto del Guayra/Guaíra/ Mundo Novo Bernardo Irigoyen/ Barracão/ Dionísio Cerqueira San Javier/Porto Xavier Santo Tomé/São Borja Artigas/Quaraí Rivera/Livramento Acegua/Aceguá Rio Branco/ Jaguarão Chuy/Chuí Bella Vista/Bela Vista AM RO RR AP PA ARCO NORTE ARCO CENTRAL ARCO SUL MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS TO GO DF MS MT AC Guiana Francesa (FRA) Alvear/Itaqui Paso de Los Libres/Uruguaiana Bella Union/ Montes Caseros/ Barra do Quaraí Fluvial com ponte Fluvial sem ponte Terrestre Cidades-gêmeas Faixa de fronteira Principais rios Limites internacionais Tipo de articulação BOA VISTA MANAUS RIO BRANCO BELÉM MACAPÁ FORTALEZA TERESINA CAMPO GRANDE NATAL RECIFE MACEIÓ ARACAJU SALVADOR VITÓRIA SÃO PAULO CURITIBA FLORIANÓPOLIS PORTO ALEGRE BELO HORIZONTE BRASÍLIA PORTO VELHO SÃO LUÍS CUIABÁ CAMPO GRANDE JOÃO PESSOA RIO DE JANEIRO CURITIBA PORTO ALEGRE BELO HORIZONTE GOIÂNIA BRASÍLIA PALMAS N 0 360 km Fonte: Ministério da Integração Nacional. Bases para uma proposta de desenvolvimento e integração da faixa de fronteira 2010. p. 20 e 23. Disponível em: <www.mi.gov.br>. Acesso em: fev. 2016. 1. Observando o mapa e considerando também as informações do texto, analise a presença de diversas cidades- -gêmeas com articulações terrestre e fluvial com ponte, na perspectiva da participação do Brasil em blocos econômicos regionais. 2. Levando-se em conta o que foi abordado na questão anterior e também a distribuição das atividades econômicas no território brasileiro, considerando as regiões e os estados brasileiros com paisagens mais transformadas e com maior presença de indústrias e áreas mais amplas de agropecuária modernizada, a que conclusão se pode chegar? 3. Por que no Arco Norte a densidade de cidades-gêmeas com articulações terrestre e fluvial com ponte é menor? S O N IA V A Z 239Capítulo 10 – Brasil no século XXI e regionalização do território TS_V3_U4_CAP10_220_241.indd 239 5/23/16 7:12 PM