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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 1 VESTIBULARES Exasiu Prof. Luana Signorelli Aula 02 – Barroco e Arcadismo Barroco e Arcadismo. Características gerais. Contexto em Portugal e no Brasil. Gregório de Matos (tipos de poesia). Padre Antonio Vieira (sermões e cartas). Arcadismo. Características gerais. Contexto em Portugal: Bocage. Contexto no Brasil: Cláudio Manuel da Costa; Tomás Antônio Gonzaga; Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Artes: Barroco Artístico e Neoclassicismo. estretegiavestibulares.com.br vestibulares.estrategia.com EXTENSIVO 2024 Exasi u ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 5 1. BARROCO 5 1.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO BARROCO 6 1.2. CONTEXTO HISTÓRICO GERAL 12 2. BARROCO EM PORTUGAL 15 2.1. AUTORES E OBRAS DO BARROCO PORTUGUÊS 16 3. BARROCO NO BRASIL 19 3.1. AUTORES E OBRAS DO BARROCO BRASILEIRO 20 4. ARTE BARROCA 25 4.1. ROCOCÓ 27 4.2. A ARTE BARROCA NO BRASIL 28 4.3. INTERPRETAÇÃO DE OBRA DE ARTE BARROCA 29 5. ARCADISMO 30 5.1. APRESENTAÇÃO 31 5.2. CONTEXTO HISTÓRICO GERAL: O ILUMINISMO 32 5.3. A RACIONALIDADE NA LITERATURA 34 5.4. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ARCADISMO 35 6. ARCADISMO EM PORTUGAL 37 6.4. AUTORES E OBRAS DO ARCADISMO PORTUGUÊS 38 7.0 ARCADISMO NO BRASIL 43 7.1. AUTORES E OBRAS DO ARCADISMO BRASILEIRO 44 8. A ARTE NEOCLÁSSICA 48 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 3 Professora Luana Signorelli 8.1. NEOCLASSICISMO EM PORTUGAL 50 8.2. INTERPRETAÇÃO DE OBRA DE ARTE NEOCLÁSSICA 50 9. QUADRO SINÓPTICO 51 10. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO LITERÁRIO 56 10.1. INTERPRETAÇÃO DE PROSA BARROCA PORTUGUESA 56 10.2. INTERPRETAÇÃO DE POESIA BARROCA BRASILEIRA 57 10.3. INTERPRETAÇÃO DE POESIA ARCÁDE BRASILEIRA 60 11. GRAMÁTICA APLICADA À LITERATURA 62 12. CRÍTICA LITERÁRIA 63 13. QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 65 14. GABARITO 100 15. QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 101 16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 152 17. CONSIDERAÇÕES FINAIS 153 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 4 Professora Luana Signorelli Luana Signorelli @luanasignorelli1 @luana.signorelli Professora Luana Signorelli /luana.signorelli ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 5 F o n te : P ix a b a y . F o n te : P ix a b a y . INTRODUÇÃO Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso de Literatura para ENEM 2023. Lembrem-se sempre do nosso lema: “O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte: AULA TÓPICOS ABORDADOS AULA 02 Barroco e Arcadismo Descrição do conteúdo programático da aula: Barroco e Arcadismo. Características gerais. Contexto em Portugal e no Brasil. Gregório de Matos (tipos de poesia). Padre Antonio Vieira (sermões e cartas). Arcadismo. Características gerais. Contexto em Portugal: Bocage. Contexto no Brasil: Cláudio Manuel da Costa; Tomás Antônio Gonzaga; Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Artes: Barroco Artístico e Neoclassicismo. A metodologia dessa aula irá se pautar na contextualização do período histórico, tanto brasileiro quanto português, e em características gerais dos movimentos. Além disso, iremos estudar os movimentos artísticos no geral do período. Hoje em particular vocês ainda encontrarão um quadro sinóptico, para sedimentar os conhecimentos estudados. Ao fim da aula, temos nossas seções complementares: Interpretação de Texto, Gramática aplicada à Literatura e Crítica Literária. Além das questões, tão importantes para o seu estudo. Então, vamos lá! Não percamos tempo! 1. BARROCO Considera-se Barroco o movimento artístico que se segue ao Classicismo ou à arte Renascentista. Ninguém formou um Movimento Literário chamado “Barroco” de caso pensado. Os artistas, entusiasmados com a qualidade alcançada nas gerações anteriores, procuraram imitar os mestres pesando a mão nas técnicas. Posteriormente, críticos e autores perceberam que os artistas dos séculos XVII e XVIII eram exagerados e lhes dedicaram esse nome que até hoje não se sabe o que significa. Acredita-se que o termo “Barroco” se aplique a uma pérola de forma irregular, ou seja, a arte desse período, caracterizada pelo exagerado, seria algo meio deformado. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 6 1.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO BARROCO Alguns temas são recorrentes nesse movimento literário. Elas podem ser conferidas abaixo. • Trata-se do tema mais marcante da poesia barroca; há vários poemas em que o eu lírico se dirige a Jesus numa espécie de oração. • Principais dualidades: pecado x perdão; espiritualidade x materialidade (sensualidade). RELIGIOSIDADE • Uma certa obsessão pelo comportamento ético-cristão torna-se evidente nesse movimento literário. • A poesia satírica, fescenina (de baixo calão) e encomiástica (laudatória), tem como objetivo exaltar ou criticar as pessoas pelos seus vícios ou virtudes, tendo como parâmetro a moral católica. MORALISMO CRÍTICO • A noção de efemeridade da vida leva a uma proximidade com a ideia de morte. • Olhar mais pessimista sobre o mundo, visto como um lugar de sofrimento, em comparação com a vida celestial, que seria repleta de felicidade. • Por isso também muitas obras barrocas exploram o lado mais doloroso e cruel da vida humana. Há atração por cenas trágicas e aspectos grotescos do cotidiano. PESSIMISMO E FEÍSMO • O homem barroco é fruto de uma religiosidade medieval e uma racionalidade renascentista. Sua angústia vem dessa sua visão entre o teocentrismo e o antropocentrismo. • Principais dualidades: fé x razão; vida x morte; corpo x alma; erotismo x espiritualidade; luz x sombra. DUALIDADE SAGRADO X PROFANO • Como consequência em que os artistas se encontram, suas obras tentam aproximar mundos opostos e extremos, conciliando-os ao mesmo tempo que expõe os contrastes. • Imagens como a aurora e o crepúsculo podem aparecer como expressão dos contrastes. CONTRASTE ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 7 Ao lado, um hipogrifo, um ser medieval híbrido, junção de leão com águia. Entre as características do pessimismo e do feísmo, encontra-se também o hibridismo. Quanto à forma no Barroco, ou seja, o modo com que as obras são escritas, há duas correntes que se destacam: o cultismo e o conceptismo. CULTISMO CONCEPTISMO • Predominante na poesia. • Envolve o leitor por meio dos sentidos. • Tendência caracterizada pela elaboração da linguagem, muito rebuscada e trabalhada. • Uso da norma culta da língua de maneira poética. • Jogos de palavras (exemplo: trocadilhos) • Jogos de imagem (exemplo: figuras de linguagem) • Jogos de construção (exemplo: inversão da ordem) Exemplo O todo sem a parte não é todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga que é parte, sendo o todo. Nesse caso, o eu lírico fica dizendo a mesma coisa e brinca com as palavras. • Predominante na prosa. • Envolve o leitor por meio da argumentação, da construção de raciocínio lógico. • Apelo à retórica, ou seja, à eloquência. • Há organização sintática rigorosa dos textos, visando ser didático, educativo. • Jogos de ideias (exemplo: paradoxos) • Jogos de conceitos (exemplo: analogias) Exemplo Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Agora sim, o eu líricode fato diz alguma coisa, ele pretende provar algo. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 8 Portanto, independentemente da corrente a que se filiam, os autores barrocos fazem grande uso de figuras de linguagem, principalmente antítese, comparação, hipérbole, hipérbato, metáfora, paradoxo e prosopopeia. Vamos lembrar o significado de cada uma delas? Antítese Ocorre quando há a presença de termos de sentidos opostos numa mesma oração. Exemplo: faça chuva ou faça sol, sairemos hoje. Há aqui duas palavras opostas: “chuva” e “sol”. Elas são conjugadas na oração e posicionadas próximas. Nesta construção, as palavras não formam uma única expressão, apenas estão lado a lado na oração. Outros exemplos: Não sei dizer o que é verdade e o que é mentira. “E onde queres bandido, sou herói” (Caetano Veloso) “Depois da Luz se segue a noite escura” (Gregório de Matos) Comparação Quando se estabelece confronto entre dois termos a partir do que eles têm de semelhante. Exemplo: seus olhos são como o céu. Os olhos e o céu têm uma relação de semelhança: a cor. Em vez de escrever “os olhos são azuis”, parte-se desse ponto comum entre eles (a cor) para garantir maior expressividade. Outros exemplos: Ele é teimoso que nem uma mula. “Meu coração tombou na vida / tal qual uma estrela ferida” (Cecília Meireles) “Oh nunca foram tantos nem tão fortes meus males como as ondas.” (Gregório de Matos) ATENÇÃO: essa figura de linguagem vem sempre acompanhada de um conectivo: como, assim como, tal qual, que nem. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 9 Hipérbole Ocorre quando há o uso de uma expressão exagerada, claramente simbólica. Exemplo: eu estava morta de cansaço. Evidentemente, não se pode estar verdadeiramente “morta”, senão não a pessoa não poderia falar sobre seu estado. “morta de cansaço” é uma expressão idiomática, que torna mais evidente a profundidade daquilo que se diz. É equivalente a dizer “Eu estava muito cansada”. Outros exemplos: Tentei resolver esse exercício um milhão de vezes. “Chega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma / tem mil faces secretas sob a face neutra” (Carlos Drummond de Andrade) “E eu também me resisto, há mais de mil auroras aos vaivéns da fortuna” (Gregório de Matos) Hipérbato (inversão) Ocorre quando há inversão da ordem normal das palavras em uma oração ou da ordem das orações em um período. Exemplo: está pronto o almoço. Na ordem normal, essa frase seria “O almoço está pronto”. Aqui, há uma inversão dos termos, sem, no entanto, prejudicar o entendimento do significado. Outros exemplos: “Terminou o Carnaval” “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante” (Hino Nacional) “Se formosa a Luz é, por que não dura?” (Gregório de Matos) → Na ordem direta, esse período seria “Se a Luz é formosa, porque não dura? Metáfora É uma comparação subentendida: emprega-se um termo com significado de outro a partir da semelhança entre ambos. Exemplo.: a notícia foi um balde de água fria. “Água fria” é algo que assusta, que pode apagar o fogo, que pode acordar alguém dormindo, entre outras possibilidades. Aqui, a expressão é empregada simbolicamente para significar algo que causou desânimo: a notícia desanimou as pessoas, “apagou o fogo”. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 10 F o n te : P ix a b a y Outros exemplos: A história era apenas a ponta do iceberg. “Amor é fogo que arde sem se ver” (Luís de Camões) “Se és fogo (...) se és neve” (Gregório de Matos) Paradoxo Ocorre quando são apresentadas ideias de sentidos opostos formando um todo de sentido, ou seja, é uma expressão formada por palavras cujos significados são aparentemente excludentes. Exemplo: o silêncio é eloquente. “silêncio” significa a ausência de sons e “eloquente” significa capacidade de expressar-se bem. Apesar de aparentemente se negarem, a construção com essas duas palavras tem um objetivo: afirmar que, por vezes, não dizer nada também é uma resposta. Por isso, há aqui uma expressão paradoxal e que forma um todo de sentido. Outros exemplos: “Estou cego e vejo./Arranco os olhos e vejo.” (Carlos Drummond de Andrade) “Só sei que nada sei” (Sócrates) “E na alegria sinta-se tristeza” (Gregório de Matos) ATENÇÃO: apesar de semelhantes antítese e paradoxo possuem significados diferentes! Comparação: Sua boca é como um túmulo. Metáfora: Sua boca é um túmulo. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 11 Personificação (prosopopeia) Ocorre quando se atribuem características humanas a seres inanimados ou irracionais. Exemplo: o dia acordou triste. “acordar” e “sentir tristeza” são ações humanas. O dia, como fragmento temporal, não pode sentir nada nem agir de maneira alguma. Neste caso, há a atribuição de um sentimento humano a algo inanimado. Outros exemplos: O céu chorava de alegria. “Em vão me tento explicar, os muros são surdos.” (Carlos Drummond de Andrade) “E quando o mar vomita, o mundo arrasa.” (Gregório de Matos); ou como na figura ao lado em que o mar engole a faixa de terra sem respeitar a placa. ATENÇÃO: muitas vezes, a personificação é a projeção do sentimento de quem fala. No exemplo “O dia acordou triste”, por exemplo, possivelmente o falante acordou triste naquele dia e projetou no recorte temporal seu próprio sentimento. É como se estivesse dizendo “Acordei triste neste dia”. Antítese: Termos opostos na mesma oração. Paradoxo: Ideias opostas formando expressão aparentemente absurda. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 12 1.2. CONTEXTO HISTÓRICO GERAL Perceberam qual é o contexto, não é mesmo? A Reforma e a Contrarreforma. Em 1527, Lutero se revolta contra a Igreja e dá início a um movimento protestante que abala o século XVII com consequências não previstas pelos atores históricos envolvidos. A Igreja Católica reage (daí no nome Contrarreforma). Haverá um banho de sangue vergonhoso em toda a Europa. Se até então os cristãos podiam se orgulhar de terem submetidos os pagãos e gentios, agora eram cristãos que matavam cristãos, algo que envergonharia o próprio evangelho. O Barroco será a arte que representará esse momento sombrio. No caso de Portugal e, portanto, do Brasil, pode-se dizer que o Barroco é a arte da luta contra o herege protestante. Trata-se, portanto, de uma manifestação artística perpassada pelo poder. Quem estava perdendo poder? A Igreja estava sendo ameaçada pelos protestantes e os nobres que já percebiam a burguesia em ascensão. O papa estava perdendo seus fiéis e os nobres católicos poderiam perder o poder político até então bem alicerçado pela teoria política católica e escolástica. Como eles reagiram? 1517 1534 1534- 1546 Descontentamento com os abusos da Igreja Renascimento: possibilidade de duvidar Lutero prega as 95 teses na porta da Igreja de Winttenberg, Reforma alemã Calvino dá Início à Reforma na França A Inglaterra rompe com o Vaticano; Henrique VIII cria a Igreja Anglicana Concílio de Trento: Contenção dos Abusos Reafirmação dos dogmas Reativado o Tribunal do Santo Ofício Livros proibidos (Index) Cisão da Cristandade Guerras e perseguições religiosas ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 13 Fonte das imagens: Pixabay. TRAÇOS NA LITERATURA MEDO/TEMAS OSTENTAÇÃO/ORNAMENTOS • Pecadoversus Perdão • Morte • Vaidade (vanitas); carpe diem • Crítica moral • Hipérbole • Metáfora • Antítese • Cultismo/conceptismo LATINISMOS BARROCOS Memento mori. O termo significa “lembra-te da morte” e se refere à morte como algo natural e certo, que não deve ser temido, mas sim para o qual nos preparamos. Exemplo: “ser ou não ser? Eis a questão.” (Shakespeare – Hamlet). Chiaroscuro. É uma expressão em italiano, na verdade. Significa luz e sombra ou, mais literalmente, claro-escuro. A problematização da luz leva os artistas do Barroco a considerar as implicações psicológicas. Vanitas. A palavra latina significa vacuidade, futilidade. Pode ser compreendida como uma alusão à efemeridade da vida, da futilidade de agradar, e da certeza da morte. Locus horrendus. É o oposto de locus amoenus. Significa lugar horrível. Construção de um cenário horrível para expressar sentimentos mais angustiantes. Para completar essa explicação, basta acrescentar dois tópicos: a dualidade entre teocentrismo e antropocentrismo e o aspecto sensualista dessa estética. Controle através do medo: Vigilância do comportamento. Acusação Moral. Reafirmação dos pecados. Sensibilização através de uma arte de “massa”; espetáculo. Controle aravés da ostentação: Ênfase nos objetos que realçavam o status. Cultura como capital de diferenciaçãoo ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 14 A questão religiosa passa a ocupar o primeiro plano na cultura europeia, mas não da mesma forma como ocorria na Idade Média. Tratava-se de uma questão política, de manutenção de poder. Mais do que conquistar corações e mentes, a Igreja precisava reafirmar seu poder mundano. Como fazer isso depois das Grandes Navegações e do próprio Renascimento? Culturalmente, a ideia de antropocentrismo tinha se espalhado pelo continente. A própria Igreja foi condescendente com o movimento cultural, manifestando uma posição ambígua diante do Renascimento. Quando ocorre a Reforma, o Vaticano entende que tinha ido longe demais na sua tolerância. Mas qual seria o empecilho para o retorno para uma cultura teocêntrica? O antropocentrismo econômico. Durante mais de um século, os europeus expandiram seus domínios: compraram, venderam, escravizaram, criaram colônias artificiais etc. Tal empreendimento fundava-se num empreendedorismo típico do “homem que faz”, daquele que acredita na força de sua própria ação e previsão. Ou seja, não havia mais volta para aquela situação anterior ao Renascimento. A Igreja vai agir a partir do externo, da aparência. A força da Inquisição e do poder político do Papa deixa marcas profundas. A heresia será condenada pela Inquisição; o orgulho, a arrogância, a falta de hierarquia serão condenados nos púlpitos da Igreja. Surge daí essa oposição tão exaltada segundo uma tradição literária: A Igreja Católica se deparava com o seguinte dilema: como atingir o maior número de fiéis? Diante de uma massa de iletrados, a melhor forma de disseminar as ideias da Contrarreforma é tornando-as compreensíveis, apelando às sensações. A ideia é de que, através da materialidade das coisas, o fiel poderia entender o que é invisível aos olhos. Para se ter uma ideia do que isso significava, podemos considerar a obra de San Juan de La Cruz (1542-1591), frade místico espanhol que escreveu uma poesia, na qual se valia de representações do encontro sexual para indicar o encontro da alma (feminina) com Cristo (masculino). Observe o poema abaixo. Antropocentrismo versus Teocentrismo Antítese e Paradoxo (figuras que expressam conflito entre posições contrárias) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 15 Na dureza do peito atormentada, Na sede dos alívios consumida, No sono da preguiça amodorrada, No desmaio à razão amortecida, Nos temores da morte trespassada, No soluço do pranto esmorecida, Já morro, já feneço, já termino. Vão-me chamar o Médico Divino. Referência espiritual (Sóror Maria do Céu) Sóror é uma forma de tratamento usada para freiras professas; soror, irmã, madre. Na Idade Média, as mulheres também escreviam. Percebam que a poetisa se vale de sensações físicas, “sede”, “sono”, “desmaio” para configurar uma doença, mas no fundo, isso é uma metáfora da doença espiritual, o que a leva a solicitar a intervenção de Deus. 2. BARROCO EM PORTUGAL O Barroco começa em Portugal em 1580 e vai até 1756. Difícil falar em um Barroco português e outro brasileiro. No final do século XVI, o Brasil era apenas uma colônia de exploração com uma formação cultural ainda incipiente. Padre Antonio Vieira, português, viveu muito tempo no Brasil. Gregório de Matos, nascido no Brasil, viveu muito tempo em Portugal. Apesar disso, para melhor compreensão, consideraremos a separação sobretudo em virtude da obra de Gregório de Matos, que só pode ser bem compreendida no contexto do Brasil colônia. Abaixo, segue uma apresentação visual da época compreendida como barroca. Alguns eventos são de grande importância para a Literatura. Sensualismo ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 16 Não se pode entender o espírito do catolicismo ibérico ou mesmo brasileiro sem destacar a importância da Companhia de Jesus. Santo Inácio de Loyola, fundador da companhia, cria uma espécie de exército espiritual de combate ao protestantismo, e, logo, essa ordem se espalha atuando junto com os colonizadores nas regiões colonizadas. Nesse período, começa o ciclo do açúcar, que tornará Salvador a cidade mais importante da colônia. Ao mesmo tempo, Portugal perderá parcialmente sua autonomia, pois o trono português passa para o rei de Espanha. A restauração da monarquia portuguesa, a ascensão de Pombal e o ouro do Brasil marcam a decadência do barroco literário. Segundo Massaud Moisés, crítico literário, o Barroco português não manifesta o brilho do movimento anterior. Observa-se um ou outro escritor de destaque, mas que não se filiam a nenhum movimento em comum. “Falta à época uma ‘atmosfera’ comum, tão dispersos estão os intelectuais, guiados por clichês, ou padrões estéticos de alambicamento e de forçado sentido literário”. Outro fator parece determinar a qualidade literária dos textos, seu caráter utilitário. Os textos incluem prosa moralista ou mística, sermões, poemas religiosos ou satíricos etc. Essa variedade de gêneros é atravessada pelo viés filosófico doutrinário que impregnava culturalmente os países sob a Contrarreforma. 2.1. AUTORES E OBRAS DO BARROCO PORTUGUÊS Para se ter uma ideia do caráter doutrinário da literatura barroca portuguesa, tomemos dois autores do período: D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666) e sóror Mariana do Alcoforado (1640-1723). As obras, escritas em prosa, deixam transparecer uma literatura de circunstância. 1534 1580 1640 1697 1750 Morte de D. Sebastião. União das Coroas: Portugal e Espanha Criação da Cia de Jesus Holandeses tomam Recife e Olinda Restauração da Monarquia Portuguesa Portugal se torna submisso à Espanha 1630 Início do ciclo do açúcar Começa a exploração de ouro em Minas Marques de Pombal torna-se ministro reformador Barroco 1756 Arcadismo 1550 ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 17 Pode-se observar que a produção deles, embora manifestem qualidades literárias, atendiam a circunstâncias específicas e não tinham como finalidade a produção de um texto literário por si. Até mesmo o grande escritor desse momento, reconhecido até por Fernando Pessoa como um escritor mestre, Padre Antonio Vieira, não escapa desse viés. A obra do padre tinha finalidade moralista. Padre Antonio VieiraPadre Antonio Vieira (1608-1697) foi o maior expoente do Barroco na prosa. Nasceu em Lisboa, veio para o Brasil com apenas 7 anos. Enfrentou várias polêmicas. Quando houve a invasão holandesa, primeiro destacou o custo da reação contra a Holanda, depois incentivou a reação contra os protestantes. Caiu em desgraça ao defender os judeus perante dominicanos e jesuítas. Em 1641, vai para Portugal, iniciando carreira diplomática e consegue apoio do Rei João IV. Defendeu os cristãos novos e entrou em conflito com o Santo Ofício. Entre 1653 e 1661, esteve no Brasil, comandando missões no Maranhão e Pará, onde defendeu a liberdade dos índios. Isso lhe valeu a oposição dos senhores de escravos da região e teve que voltar a Portugal. Em 1662. Ascendeu ao poder D. Afonso VI que não era afeito ao padre; assim, Vieira perdeu o apoio contra seus inimigos. Entrou em choque com a Inquisição portuguesa por defender o sebastianismo (crença na volta do rei D. Sebastião que morreu em batalha em 1580). Foi condenado e teve que permanecer recluso em um colégio jesuíta. Em 1668, recebeu o perdão das penas e um ano depois partiu para Roma. Deslumbrou a Cúria com seus sermões. Criticou a Inquisição portuguesa diante do papa e conseguiu a façanha de parar o Santo Ofício em Portugal por sete anos e de conseguir sua absolvição diante do Santo Tribunal. Em 1675, voltou para Portugal e, em 1681, parte definitivamente para o Brasil, onde morre, não sem antes organizar sua obra. Vieira deixou por escrito cerca de 200 sermões e 700 cartas. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 18 Sermão da Sexagésima (1655). Padre Antonio Vieira esclarece como deve ser a arte de pregar. Condena aqueles que pregam só para provocar espanto no público, mas não produzem qualquer efeito purificador no ouvinte. Critica o estilo cultista dos pregadores. Contudo, a crítica reconhece que Vieira utiliza de recursos similares. Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda (1640). Nesse sermão, Vieira incentiva seus ouvintes a reagir contra a Holanda, contra os protestantes. Sermão de Santo Antônio aos peixes (1654). O orador faz uma alegoria entre a comunidade de peixes e a comunidade dos homens, destacando que os peixes comem uns aos outros. Criticava os colonos que escravizam os índios. 1. (Questão Autoral Inédita – 2021 – Professora Luana Signorelli) Leia o texto a seguir para responder à questão. Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: [...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome. Padre Antonio Vieira é conhecido por um tipo de texto predominantemente argumentativo e repetitivo, pois, sendo o gênero que escrevia o sermão, tendia ao convencimento. Essa tendência se chama: a) feísmo. b) catequismo. c) cultismo. Sermões mais importantes ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 19 d) conceptismo. e) abusismo. Comentários Questão de conhecimento do movimento literário/interpretação de texto literário. Alternativa “a”: incorreta. O feísmo é mesmo uma característica barroca, a qual diz respeito à representação de seres grotescos e deformados, mas ela não se observa no texto acima. Alternativa “b”: incorreta. O Barroco, enquanto movimento literário no geral, é de fato teocêntrico, já que a Igreja Católica demonstrava seu poderio. Porém, o texto é uma crítica sobre o abuso de poder. Alternativa “c”: incorreta. O cultismo também é uma das tendências barrocas; porém, mais frequente na poesia. Trata-se do jogo de ideias, inversões e trocadilhos. Alternativa “d”: correta – gabarito. O texto é narrativo e argumentativo, pois primeiro parte de uma situação particular para depois ser formulada uma hipótese geral. As repetições se verificam, por exemplo, no verbo “roubar” nominalizado: “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres”. Alternativa “e”: incorreta. Esse termo nem existe. É certo que o texto é altamente crítico, pois Padre Antonio Vieira parte de uma anedota em que o pirata afronta Alexandre, o grande, dizendo que este era tão ladrão quanto o próprio pirada. Vieira termina o texto com uma máxima (frase sintética): “o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome”: o nome de ladrão. Gabarito: D. 3. BARROCO NO BRASIL A primeira obra barroca escrita em terra pátria data de 1601, Prosopopeia, de Bento Teixeira. O período barroco em literatura termina com a publicação de Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa em 1768. Nesse período, Salvador e Olinda tornaram-se as cidades mais importantes do Brasil. Entre 1580 e 1640, o negócio do açúcar vai de vento em popa. No começo do século XVII, o país é o maior exportador do produto. Salvador vai se tornando opulenta. Porém, na década de 40 do mesmo século, a invasão holandesa dá início à decadência do que se convencionou chamar de “ciclo da cana”. Os elevados custos da produção num país em batalha contra o invasor e a concorrência com o açúcar das Antilhas torna o açúcar brasileiro menos atrativo. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 20 Acima, eis uma figura da cidade, uma versão colorizada de Salvador em 1640, de John Ogilby, da ilustração Urbs Salvador, publicada em 1671, na obra de Arnoldus Montanus. É uma ilustração de domínio público. A Literatura Barroca irá refletir essas condições históricas. Os autores vivem em cidades cujas marcas de opulência estão presentes ao mesmo tempo que se sente o clima de decadência. A população letrada dos raros centros urbanos demanda algum tipo de cultura letrada, que é fornecida por bacharéis ou clérigos formados em Portugal. Percebem-se, portanto, três grandes vertentes temáticas no Brasil: a descrição muitas vezes crítica das condições nativas, reverberação dos temas ligados à tradição literária portuguesa e a expressão da religiosidade própria desse período de luta religiosa. Dada a ligação profunda com Portugal, fala-se em literatura nativa, na medida em que as descrições do cotidiano da colônia podem ser percebidas claramente sem que isso expresse algum tipo de nacionalismo. 3.1. AUTORES E OBRAS DO BARROCO BRASILEIRO Bento Teixeira (1561-1600) Sabe-se pouco a respeito do autor. Sua família era de cristãos-novos (judeus convertidos) que aportaram no Brasil em 1567. Escreveu Prosopopeia, publicada postumamente em 1601. Prosopopeia é um poema épico inspirado em Os Lusíadas que conta a história de Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco. O poema conta com um aspecto nativista que viria a se tornar marca de outras escolas literárias no futuro. Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) Primeiro escritor nascido no Brasil. Sua principal obra é Música do Parnaso (1705). A obra é bem variada em formas poéticas (sonetos, oitavas, décimas etc). Como todo bom barroco, o poeta faz uso de antíteses e paradoxos e desenvolve um tópico comum ao movimento: a instabilidade do mundo. O principal poema da obra é o “A Ilha da Maré”: poemaque descreve as frutas, vegetais e legumes do Brasil. É a primeira vez que a natureza é louvada em uma obra poética escrita no Brasil. As laranjas da terra poucas azedas são, antes se encerra tal doce nestes pomos, que o tem clarificado nos seus gomos; mas as de Portugal entre alamedas são primas dos limões, todas azedas. (In.: A ilha de Maré) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 21 Gregório de Matos (1636-1696) Mais importante poeta barroco do Brasil. Nasceu em Salvador, filho de uma família abastada. Foi para Portugal em 1651, onde estudou em Lisboa e Coimbra. Exerceu alguns cargos importantes na metrópole: juiz, representante da Bahia e procurador. Voltou ao Brasil em 1679, com 43 anos. Foi nomeado desembargador eclesiástico e, posteriormente tesoureiro-mor da Sé (1682). Como não quisesse usar a batina, foi destituído das funções. Conta-se que a partir desse momento começou a levar a sério a verve satírica já demonstrada em Portugal em algumas circunstâncias. Começa a satirizar os costumes do povo e de algumas autoridades. Ficou conhecido como Boca do Inferno. Desenvolve também outros tipos de poesia: fescenina (erótica), lírica, religiosa e existencial. Em 1685, foi denunciado à Inquisição. Em 1694, tendo acumulado várias inimizades, é deportado para Angola. Volta para o Brasil, mais especificamente para Recife, já que em Salvador é considerado persona non grata e foi proibido de desembarcar. Morre em Pernambuco devido à febre contraída em Angola. Esse é o gênero pelo qual Gregório se tornou mais conhecido. Criticava os padres, as freiras, algumas autoridades da cidade da Bahia, os mulatos e indígenas. Suas críticas eram moralistas. Condenava o comportamento hipócrita e o orgulho inapropriado de uma classe vinda dos estamentos mais baixos, mas que se comportava como a fina flor da nobreza. Gregório desenvolve ainda uma outra subcategoria da satírica, a fescenina (obscena). Nesse tipo, ele usa palavras de baixo calão para desqualificar seus inimigos. Poesia satírica ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 22 O POETA DESCREVE A BAHIA A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha*; Não sabem governar sua cozinha E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha**, Para o levar à praça e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia***, Estupendas usuras**** nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. *vinha: terreno plantado com videiras. **esquadrinha: examina minuciosamente. ***picardia: falha de caráter. ****usuras: agiotagem, empréstimo a juros superiores ao que é legal. Gregório de Matos crítica nesse poema o provincianismo de Salvador de uma forma muito viva. Ao começar o soneto com a expressão “a cada canto um grande conselheiro”, faz com que o leitor imagine vivamente uma cidade na qual o esporte predileto é ocupar-se da vida alheia. As duas primeiras estrofes desenvolvem essa ideia, ao final do oitavo verso o leitor é obrigado a perceber a grande ironia na expressão “grande conselheiro”. Na terceira estrofe, destaca-se o aspecto sensual dos mulatos segundo a visão eurocêntrica de que, nas colônias, predominava a licenciosidade. Finalmente, na última estrofe, o poeta expressa a última tópica da falta de caráter dos habitantes de Salvador: a desonestidade. Somente aqueles que roubavam, inclusive através da usura, é que conseguiam viver bem. Considera-se esse gênero como o típico do Barroco. Costuma ser um tipo de poesia bastante cobrado, por indicar a visão teocêntrica barroca. O eu lírico, expressando profunda reverência pela Igreja ou por Jesus, destaca sua submissão, procurando alcançar o perdão divino de forma, às vezes, desesperada. Trata-se de poemas bem elaborados com forte apelo sensorial e retórico. São poesias de alto grau de elaboração. Poesia religiosa ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 23 O POETA NA ÚLTIMA HORA DA SUA VIDA Meu Deus, que estais pendente em um madeiro*, Em cuja lei protesto de viver, Em cuja santa lei hei de morrer Animoso**, constante, firme e inteiro. Neste lance, por ser o derradeiro, Pois vejo a minha vida anoitecer, É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura*** de um Pai manso Cordeiro. Mui grande é vosso amor, e meu delito, Porém, pode ter fim todo o pecar, E não o vosso amor que é infinito. Esta razão me obriga a confiar, Que por mais que pequei, neste conflito Espero em vosso amor de me salvar. *pendente em um madeiro: equivalente a pendurado na cruz. **Animoso: corajoso, forte. ***brandura: ternura, carinho. Notem a construção belíssima desse poema, no qual o eu lírico demonstra seu desejo de ser perdoado. Na primeira estrofe, invoca-se a imagem de um crucifixo no qual Jesus está pendente. Os dois versos paralelos “Em cuja lei protesto de viver,/ Em cuja santa lei hei de morrer” trazem em seu interior a antítese entre vida e morte. Na segunda estrofe, o eu lírico torna a situação mais dramática, pois se trata de um lance derradeiro, ele aproxima-se da morte (“pois vejo a minha vida anoitecer”). A situação é descrita como a última oportunidade para que o eu lírico consiga o perdão divino. O desespero do poeta contrasta com a figura de Cristo, ele é retratado como brando, “manso cordeiro”, dotado de um grande amor que jamais cessa, pois é infinito. Sente-se, na poesia, o acolhimento desejado pelo eu lírico. Gregório de Matos desenvolve ainda dois outros temas que parecem ser uma imitação de Camões. Aliás, algo bastante verossímil, já que os poetas barrocos se consideravam imitadores da poesia clássica. Camões alcançou notoriedade com poemas dedicados ao estudo do amor em si (poesia lírica) e aqueles em que discute a desestabilização do viver (a constante mudança das coisas). Poesia à moda camoniana ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 24 Poesia lírica (amorosa, erótica) SONETO A DONA ÂNGELA DE SOUSA PAREDES Não vira em minha formosura, Ouvia falar dela todo dia, E ouvida me incitava, e me movia A querer ver tão bela arquitetura: Ontem a vi por minha desventura* Na cara, no bom ar, na galhardia** De uma mulher, que em Anjo se mentia; De um Sol, que se trajava em criatura: Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me, Se esta a cousa não é, que encarecer-me Sabia o mundo, e tanto exagerar-me: Olhos meus, disse então por defender-me, Se a beleza heis de ver para matar-me, Antes olhos cegueis, do que eu perder-me. *Desventura: desgraça, adversidade ** Galhardia: nobreza, grandeza Observem o tema do amor que cega e mata bem ao gosto camoniano. Gregório de Matos acrescenta alguns traços de sensualidade que tornam a tensão entre amor espiritual e físico mais acentuada, aliás traço típico do Barroco. A mulher tem anjo no nome (Angélica), mas o tempo todo o poeta destaca sua aparência física, tanto que chega a afirmar textualmente que ela “em Anjo se mentia”. A possibilidade de o eu lírico sofrer por essa atração física despertada por Angélica leva-o a concluir: “Antes olhos cegueis, do que eu perder-me”. Poesia existencial Essa é a primeira estrofe de um soneto de Gregório de Matos, no qual ele retoma o tema da mudança. Camões já o havia desenvolvido de uma forma muito semelhante, destacando as antíteses e paradoxos que expressam a mudança angustiante que nos leva o que temos de mais caro: o dia, a formosura, a alegria etc. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 25 A INSTABILIDADE DAS COISAS NO MUNDO Nasce o Sol, e nãodura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. Essa é a primeira estrofe de um soneto de Gregório de Matos, no qual ele retoma o tema da mudança. Camões já o havia desenvolvido de uma forma muito semelhante, destacando as antíteses e paradoxos que expressam a mudança angustiante que nos leva o que temos de mais caro: o dia, a formosura, a alegria etc. 4. ARTE BARROCA O Barroco Artístico perdura entre 1550 e 1750. A arte barroca tem início, na Europa, no final do século XVI e vai até meados do século XVIII, chegando às Américas pelas mãos dos colonizadores. O movimento, através da arquitetura grandiosa, dos afrescos impressionantes e das pinturas dramáticas, expressa poder e glória. Camõe s ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 26 “L iç ã o d e A n a to m ia ” d e R e m b ra n t (1 6 0 6 -1 6 6 9 ) O afresco acima, “A Apoteose de Santo Inácio de Loyola”, exemplifica bem essas características do Barroco artístico. Pode ser visto na Igreja de Santo Inácio, em Roma. Foi pintado por Andrea Pozzo (1642-1709). Na imagem, o Santo fundador da Companhia de Jesus é observado por representações alegóricas dos quatro continentes, inclusive da América. A impressão que se tem é de que o teto da Igreja se abre para os céus. As figuras se contorcem e parecem flutuar no ar. A técnica é rebuscada e ilusionista. Surpreende saber que essa imagem foi pintada no plano. Esse afresco resume várias das características do Barroco. Trata-se de uma arte com forte apelo sensorial e emocional. Para manter parte do rebanho que não havia se tornado protestante, a Igreja vale-se da arte como propaganda do seu poder e dos seus dogmas. O público analfabeto poderia ter uma representação bastante vívida do que era dito em latim nas missas. Ao mesmo tempo, a grandiosidade da arte e da arquitetura barroca mostrava ao fiel o seu lugar no mundo. Os pintores e escultores se valeram de várias técnicas para dar o efeito de movimento e dramaticidade às cenas. As esculturas são contorcidas, as roupas detalhadas em que se observam as mínimas dobras dos tecidos, os rostos apresentam expressão exagerada como se fosse retratado um ator no clímax de sua atuação. Nos quadros, o pintor explora o claro/escuro, as linhas diagonais e circulares. Além disso, costuma haver imagens assimétricas, com vários pontos de fuga (centros do olhar do espectador). D is p o n ív e l e m : h tt p s :/ /t in y u rl .c o m /y ff k c m l4 . A c e s s o e m : 2 1 s e t. 2 0 2 0 ) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 27 Na arquitetura não é muito diferente. Percebe-se a relevância da curva em oposição à linha reta; exagero no uso de abóbadas, arcos e contrafortes; jogo de luz e sombra, dada a quantidade de janelas; diálogo entre arquitetura e pintura, criando um ambiente dramático. Havia ainda outras manifestações artísticas como a de casas de espetáculos chamadas de “teatro italiano”, locais equipados para produzir efeitos especiais. É importante destacar que tanto o balé quanto a ópera foram criações cênicas do Barroco. 4.1. ROCOCÓ Dentro do próprio Barroco, surge um estilo mais suave marcado pela leveza e suavidade, inicialmente usado para decoração de interiores. O fato de essas obras atenderem a vida mundana e não religiosa permite que os artistas não exagerem tanto nos efeitos artísticos, pois não é preciso impressionar o espectador e sim encantá-lo com uma certa simplicidade. Para alguns, ele perdurou por pouco tempo de 1720 a 1780. O termo deriva da palavra “concha”, pois as linhas curvas e suaves dela parecem inspirar o formato ou desenho de várias obras. Era uma arte própria da corte Francesa no período de Luís XV e Luís XVI. Reflete uma sociedade fútil e encantada com objetos decorativos. Os temas mais comuns são: cenas eróticas, mitológicas, pastorais, ornatos baseados na sugestão vegetal. Os traços mais importantes são: linhas curvas e suaves; cores leves; temas tirados da vida mundana e das festas galantes; caráter intimista; elegância, alegria, frivolidade. Na arquitetura, percebe-se a suavidade da exuberância barroca, em edifícios menores, com apenas dois andares, fachadas sem tantos enfeites, telhados de duas águas, decoração de portas e janelas, simbiose entre arquitetura e decoração interior e exterior (jardins). F o n te : P ix a b a y ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 28 4.2. A ARTE BARROCA NO BRASIL O Barroco Artístico chegou ao Brasil quase 100 anos depois de ter dado frutos na Europa e também perdurou por mais tempo, vai até o início do século XIX. Na época em que começa o Arcadismo no Brasil (1768), os grandes nomes no barroco nacional, Aleijadinho e Mestre Ataíde, estavam começando sua produção. O movimento chega com os padres e atende às necessidades da Igreja Católica no país. Prosperou no contexto da luta de conquista do território, seja em relação aos índios, seja em relação ao invasor europeu. As marcas do barroco arquitetônico são irregulares, as primeiras igrejas são simples e continuam assim nos lugares afastados dos ciclos econômicos. O açúcar permitiu a construção de Igrejas cheias de ouro em Salvador. O ciclo do ouro teve o mesmo efeito em Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesses lugares, observa-se uma arte mais sofisticada, mas, mesmo assim, sem as grandes elaborações da europeia. Aqui, o Barroco foi adaptado apresentando uma cor local. Nos projetos arquitetônicos mais ousados, há uma mistura de curvas e retas em igrejas de porte médio e, ao mesmo tempo, portentosas. Comportam algum tipo de frontaria, e portas esculpidas. Observam-se pilastras, colunas e frontão. Na pintura e escultura, predomina o tema sacro e narrativo, com representações sobretudo da paixão e do sofrimento de Cristo. As imagens muitas vezes expressam traços físicos que lembram o de mulatos ou índios. O gosto pelo desmedido pode ser observado pelas cores fortes e pela dramatização das cenas que muitas vezes comprometem até mesmo a proporção das figuras humanas. A importância do Barroco como expressão cultural é tamanha que muitos o consideram como a essência do sentimento nacional até hoje. O escritor Affonso Romano de Sant’Anna referia-se ao movimento como sendo expressão da “alma do Brasil”. F o n te : P ix a b a y F o n te : P ix a b a y ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 29 No Brasil houve ecos do Barroco europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e formas do barroquismo ibérico e italiano. Na segunda metade do século XVIII, porém, o ciclo do ouro já daria um substrato material à arquitetura, à escultura e à vida musical, de sorte que parece lícito falar de um “Barroco brasileiro”, e, até mesmo, “mineiro”, cujos exemplos mais significativos foram alguns trabalhos do Aleijadinho, de Manuel da Costa Ataíde e composições sacras de Lobo de Mesquita, Marcos Coelho e outros ainda mal identificados. Sem entrar no mérito destas obras, pois só a análise interna poderia informar sobre o seu grau de originalidade, importa lembrar que a poesia coetânea delas já não é, senão residualmente, barroca, masrococó, arcádica e neoclássica, havendo portanto uma discronia entre as formas expressivas, fenômeno que pode ser variamente explicado. Aleijadinho O BARROCO NO BRASIL Acho razoável a hipótese de que o nível de consciência dos produtores de literatura arcádica se achava muito mais próximo da Ilustração burguesa europeia do que o dos mestres-de-obra e compositores religiosos de Minas e Bahia (cujos modelos remontam ao Barroco seis-setecentista).Assim, o Aleijadinho, que esculpe e constrói nos fins do século XVIII, ignora o Neoclassicismo; e a música de Lobo de Mesquita e de Marcos Coelho Neto lembra Vivaldi e Pergolese e quando nos sugere cadências de Haydn, trata-se antes do Haydn sacro, melódico e italianizante (logo, ainda barroco) do que do mestre da sinfonia clássica. De qualquer modo, é possível distinguir: a) ecos da poesia barroca na vida colonial (Gregório, Botelho, as academias) e b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas permitiu o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina, ou deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro. Fonte Bibliográfica: BOSI, Alfredo. História concisa da literatura. 50. ed. São Paulo: Cultrix, 2015, p. 34-35, grifos nossos. 4.3. INTERPRETAÇÃO DE OBRA DE ARTE BARROCA Pois bem, alunos. Agora vocês já têm uma ideia geral do que é o Barraco e podem reconhecê-lo. As características típicas costumam ser: Exagero; Assimetria; Predomínio de linhas esféricas; Dramaticidade; Jogo de claro/escuro; Elementos sensoriais. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 30 Depois de reconhecido o movimento artístico, procurem fazer a interpretação da obra. Sigam os passos subsequentes. 5. ARCADISMO E enfim, o Barroco cansou. Os escritores da segunda metade do século XVIII deram-se conta de que os exageros artísticos dos poetas anteriores eram puro artifício, cujas técnicas tornavam a arte algo de mau gosto, a “hidra de mau gosto”. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 31 É com base no mito da Arcádia que erguem suas doutrinas: destruindo a “hidra do mau gosto”, os árcades procuram realizar obra semelhante à dos clássicos antigos. Daí a imitação dos modelos greco-latinos ser a primeira característica a considerar na configuração da estética arcádica. (Massaud Moisés. A literatura portuguesa, 1992. Adaptado.) Como antídoto, os artistas voltaram-se para os preceitos poéticos da antiguidade, principalmente para as regras de comedimento dos poetas romanos como Ovídio, que, “de quebra”, tematizavam a simplicidade do campo. Isso explica o outro nome do movimento “Neoclassicismo”, ou seja, os poetas acreditam estar resgatando os traços mais puros da estética desenvolvida no Renascimento e vão beber nas fontes da poesia antiga. 5.1. APRESENTAÇÃO Ainda impressionado com o Barroco e lembrando as características do movimento anterior, tente ler o poema abaixo e perceber o que ele tem de diferente. Lembre-se de que você pode considerar a forma ou o tema. Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’ expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal*, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! (Marília de Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga) *casal: tipo de propriedade rural. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 32 PASSOS PARA A INTERPRETAÇÃO DA POESIA ÁRCADE No caso do poema acima, o eu lírico se identifica como sendo um vaqueiro que não guarda gado dos outros, ou seja, ele é dono dos seus meios de vivência, é um proprietário. Dirige-se à Marília, com quem conversa, usando um vocabulário menos rebuscado do que era usual no Barroco. O poeta até mesmo utiliza o diminutivo como sinal de uma conversa quase “ao pé do ouvido”. O texto parece ser descritivo e, tirando o fato de haver ficção poética, não há figuras de linguagem evidentes. O poema não impressiona, não foi escrito para deslumbrar o leitor. Realmente, o poema está longe da afetação barroca. A chave para entender o poema está num conceito: “razão”. O elogio da racionalidade tem a ver com o momento histórico. 5.2. CONTEXTO HISTÓRICO GERAL: O ILUMINISMO O século XVIII ficou conhecido como o século das Luzes. O banho de sangue que se abateu sobre a Europa por motivos religiosos durante os séculos XVI e XVII, afinal resultaria em alguma reação. Pensadores, intelectuais e cientistas perceberam que a religião como guia social poderia se tornar extremamente perigosa, pois apoiava-se na fé, na crença e na tradição. O antídoto? O pensamento racional. Os eventos enumerados abaixo são representativos do que ia pela cabeça dos Europeus. O terremoto de Lisboa abalou a fé dos católicos. A tragédia foi de grandes proporções, a cidade ficou arrasada. Como um país tão religioso poderia ser devastado de tal forma? Naturalmente, não se tratava de punição divina. Foi algo natural. A Revolução Industrial começou a mostrar quais eram as possibilidades que se poderiam alcançar através de técnicas baseadas no cálculo. E os dois eventos, Declaração da Independência dos EUA e a Revolução Francesa, vão abalar decisivamente a forma de se viver. Ambos os fatos políticos foram profundamente influenciados pelo Iluminismo. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 33 Vocês devem ter percebido que, para Literatura, de tudo o que ocorreu no século em questão, o Iluminismo foi o fenômeno mais relevante. A mola propulsora desse movimento cultural foi a razão. “Luz” deve ser entendida como luz natural no sentido de que haveria uma centelha divina na mente humana capaz de fazer qualquer pessoa compreender o que seria verdadeiro no sombrio mundo dos fenômenos. Isso seria a garantia de que o homem poderia conhecer a realidade. Haveria, portanto, dois livros divinos, a própria Bíblia (1) adequada aos assuntos da fé; e a (2) natureza que deveria ser lida pela perspectiva da racionalidade matemática. Essa nova concepção deu muitos frutos em todas as áreas do conhecimento. A observação da natureza desenvolveu a ciência de maneira surpreendente, seja com Isaac Newton na Inglaterra, seja com Lavoisier na França, só para mencionar alguns exemplos. (1751-1775) Projeto da Encyclopédia Pensadores: Rousseau, Voltaire, D’Alembert, Rousseau, Lavoisier, Isaac Newton, Hobbes, Locke , 1755 1760 1776 1789 Terremoto em Lisboa Revolução Industrial E Declaração Independência EUA Revolução Francesa Ilu Iluminismo & Ciência Valorização da razão ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 34 5.3. A RACIONALIDADE NA LITERATURA Na cultura, esse preceito de luz natural seria mais problemático. Como imitar a natureza no que diz respeito aos sentimentos humanos? A resposta dada nas artes pode até parecer paradoxal, mas faz sentido. Em vez de observar quase cientificamente como os homens se comportam, os escritores se voltaram para aqueles que eram considerados os grandes investigadores da alma humana, os artistas greco-romanos. Como a ênfase deveria ser dada na natureza, esses autores foram além, procuraram na tradição clássica a representação do meio pastoril. O homem em contato com o campo se tornaria pleno da Luz Natural e, portanto, teria uma vida mais racional.Onde eles encontraram o modelo? Em Horácio e Virgílio e na mitologia. Na mitologia? Mas mitologia não é fantasia, o contrário da razão? Acontece que o Arcadismo empregava a racionalidade e ao mesmo tempo a mitologia e a ficção, pois eram criados eu líricos pastores, quando na verdade os poetas não eram pastores de verdade. Por isso é que, embora racional e equilibrado, o Arcadismo também foi um movimento essencialmente idealista. Vamos entender a lógica. O poeta deveria estar em contato com a natureza para poder expressar de forma mais racional seus sentimentos e sua percepção de vida. Ora, no século XVIII, as cidades passam a ter um papel importante na vida cultural da Europa. O escritor vive no espaço urbano. Como atender ao requisito de uma vida pastoril? Por meio da imaginação, da ficção. Os gregos tinham um modelo perfeito para essa ficção. Segundo a mitologia, haveria dois lugares agradáveis no cosmo: o Olimpo, onde habitavam os deuses e a Arcádia, país imaginário habitado por pastores que viviam em paz e tranquilidade. O poeta do século XVIII imaginava ser pastor da Arcádia, juntava-se a outros poetas numa agremiação literária e usava um codinome grego ou romano como uma espécie de senha para se transportar para esse novo mundo. E o nome do movimento? Compreender o alcance ideológico e estético do Arcadismo implica conhecer suas relações com o quadro de transformações por que passaram as sociedades europeia e brasileira no século XVIII. “Árcade” é o genitivo e significa literalmente “de Arkás” (’Arkάς), filho de Calisto e de Júpiter que o transformou na Ursa Menor. Fonte do Infográfico: Showeet. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 35 5.4. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ARCADISMO Dentro dessa ficção, havia até mesmo topos ou tópicos pré-determinados. A isso chamamos de FORMALISMO. Esse termo se refere ao fato de que a expressão interior deve se submeter a aspectos formais já determinados previamente: tipo de poema, tipo de métrica, maneira de escrever e temas. PARÂMETROS DE ESCRITA Bucolismo. “Bucólico” é um adjetivo que se relaciona à vida e costumes dos pastores; à vida no campo, sua paisagem, seus costumes; ao meio campestre; a algo que faz parte ou está próximo da natureza ou da vida natural (dicionário Aulete). No contexto do Arcadismo, refere-se ao modo de viver no ambiente rural. As poesias descrevem a simplicidade da vida rural, destacando as belezas da vida campestre e da natureza. Pastoralismo. O eu lírico assume uma outra identidade como pastor, vaqueiro ou alguma atividade ligada ao campo. Poesia lírica. O amor equilibrado é o grande tema do amor árcade. Assim como o poeta assume um codinome, ele adota um nome feminino, Marília, por exemplo, que revela perfeição da mulher amada. LATINISMOS ÁRCADES (TEMAS) Aurea mediocritas. O termo significa medida de ouro e se refere ao princípio de equilíbrio no uso das figuras de linguagem e no efeito provocado na leitura. O poeta deve ser comedido, não ser sentimental demais nem ser apático. Fugere urbem. A expressão latina significa “fugir da cidade”. O eu lírico convida a amada para fugir da corte. Locus amoenus. A melhor tradução para o termo seria “lugar ameno ou aprazível”. Já que o poeta recusa a cidade, resta a ele indicar o melhor lugar para “os pombinhos” se encontrarem, nesse caso, o ambiente rural. Carpe diem. O termo significa “aproveitar o momento”. Isso poderia ser feito de duas maneiras: ou contemplando a natureza ou de forma sensual. Observam-se no Arcadismo essas duas vertentes, uma poesia libertina ao lado de uma poesia contemplativa. F o n te : P ix a b a y . ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 36 Inutilia truncat. Ou seja, cortar o que é inútil, cortar aquilo que é rebuscado. O repúdio às técnicas barrocas é evidente. TRAÇOS ROMÂNTICOS As várias regras para se produzir poesia acabaram por tornar a produção desse período bastante pobre do ponto de vista da expressividade. Os críticos literários tendem a valorizar os autores que extrapolam esses elementos, embutindo em seus poemas algum traço de sentimentalismo que vai contra o preceito de racionalidade. Estudaremos o Romantismo na próxima aula, mas pode ser que, para resolver alguns exercícios, você precise lembrar-se de algumas características para poder assinalar quando o texto puder ser classificado como pré- romântico. subjetivismo, observável sobretudo pelo uso excessivo do pronome “eu” nos poemas, pode ser explícito ou implícito – vários verbos conjugados na primeira pessoa (mais de 3 vezes); sentimentalismo, expresso por vários recursos: uso de substantivos e adjetivos relacionados a sentimentos, uso de pontuação expressiva (reticências, ponto de exclamação, ponto de interrogação), advérbios de ênfase (só, apenas, tão), uso de figuras de linguagem que amplificam a ideia (hipérbole, metáfora); locus horrendus (lugar horrível), construção de um cenário horrível para expressar sentimentos mais angustiantes. COMO ESSAS CARACTERÍSTICAS CONDUZEM À RACIONALIDADE? Para vocês entenderem o resultado de todo esse procedimento literário, voltemos ao poema de Tomás Antônio Gonzaga. O poeta era juiz e ouvidor em Vila Rica. Tinha se apaixonado por Maria Dorotéia, sua musa inspiradora, a quem ele dedicou o poema, chamando- lhe de Marília. Ele tinha 38 anos e ela 16. Evidentemente, havia um conflito amoroso, digno da expressão trágica romântica, na qual o poeta pranteia seu destino amoroso desfiando uma série de infortúnios. O eu lírico não faz nada disso. Colocando-se no lugar de um vaqueiro, ele simplesmente conversa com a amada. Usa argumentos para convencê-la de que ele é um “bom partido”. Percebam a ficção. Ele é juiz, mas no poema é vaqueiro. Seguindo essa lógica, ele diz que não “guarda alheio gado”, ou seja, tem uma situação econômica independente. A seguir, ele oferece um outro motivo. E não é de “tosco trato”, expressão que pode ser entendida de duas maneiras: ele é carinhoso (não usa expressões grosseiras) ou ele não tem traços físicos grosseiros que poderiam lembrar a ascendência indígena ou negra. A última interpretação pode ser confirmada pelo verso “Não sou algum vaqueiro... Dos frios gelos, e dos sóis queimado”. Ou seja, ele é branco e autossuficiente. Conclusão: ele é o melhor marido que Maria Dorotéia poderia escolher. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 37 1750 1789 1814 1798 1755 Reforma do Ensino Expulsão dos Jesuítas Ocupação Francesa: Vinda da Família real 1758 Decadência da produção de Ouro MG Inconfidência Mineira Marques de Pombal torna- se ministro reformador 1756 Arcadismo Terremoto em Lisboa Conjuração Baiana 1808 1822 Independência do Brasil 1825 1836 Valendo-se de um “faz de conta literário”, o poeta consegue ser racional e procura convencer a amada. Você acha isso estranho?! Nem tanto assim. A lógica desse movimento está muito próxima daqueles jogos de RPG (Roling Play Game), nos quais as pessoas interpretam personagens, criando narrativas. Basta lembrar que, nesse caso, é um jogo poético e que as regras já são definidas de antemão. 6. ARCADISMO EM PORTUGAL O Arcadismo começa em Portugal em 1756 e vai até 1825 e no Brasil compreende o período entre 1768 e 1836. Nesse período, percebe-se uma diferenciação mais acentuada entre as literaturas brasileira e portuguesa. Apesar disso, a cultura nativa ainda é fruto de fatos que tornam metrópole e colônia indissociáveis. Vamos aos fatos. O fato mais marcante e notável em relação aos novos ares culturais que sopram sobre Lisboa tema ver com a ascensão do Marquês de Pombal. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 38 Portugal entra no século XVIII como o mais atrasado, religioso e inculto dos países europeus. Para se ter uma ideia do que isso significa, basta considerar que no universo de três milhões de habitantes, quase 8% da população vivia em mais de 500 mosteiros. Em 1850, D. José I assume o trono. Como não gostasse de exercer o poder, delega a direção política ao todo poderoso Ministro ilustrado Sebastião José de Carvalho e Melo, depois conhecido como Marquês de Pombal. O superministro moderniza Portugal em todos os sentidos. O terremoto de Lisboa permite que a cidade seja reconstruída com o ouro do Brasil e com o estilo neoclássico em voga nos países mais desenvolvidos do Norte. Expulsa os Jesuítas e procede a reforma do ensino no país. Lança as bases para o ensino secular. Introduz a formação profissional, incluindo disciplinas como matemática e ciências no currículo. Essa modernização tem um alto preço. O que era bom para a metrópole não era bom para a colônia. A necessidade do ouro que patrocinava o desenvolvimento português teve como contrapartida a exploração mais acentuada do ouro mineiro; por outro lado, a expulsão dos Jesuítas levou à desorganização do sistema educacional. Cresce no Brasil o sentimento antilusitano que desemboca em duas revoltas (Inconfidência Mineira e Conjuração Baiana) e, posteriormente, na Independência do país. O movimento literário tem seu marco relacionado com a fundação da primeira agremiação de poetas árcades, a Arcádia Lusitana. Os agremiados tinham como lema a expressão inutilia truncat, ou seja, cortar o que é inútil, cortar aquilo que é rebuscado. O repúdio às técnicas barrocas é evidente. Os membros da Arcádia adotam nomes pastoris e vivem imaginariamente num país habitado por deuses e ninfas, no qual a natureza é calma e perfeita. Em certa medida, a poesia parece uma espécie de Torre de Marfim, pois não se percebem os conflitos históricos e sociais. Ali nos poemas, reina a paz de amores tranquilos, mesmo que o mundo possa estar desabando. Apesar disso, mantém-se a tradição de uma poesia satírica, na qual poetas como Bocage podem se expressar sobre o mundo real com todas as suas contradições. 6.4. AUTORES E OBRAS DO ARCADISMO PORTUGUÊS Os poetas árcades estavam ligados às duas agremiações mais importantes de Portugal: Arcádia Lusitana e Nova Arcádia. Dado o caráter quase cartorial desse movimento, a poesia produzida nessa época parece-nos monótona e repetitiva. Os critérios de produção, tão estreitos e específicos, produzem uma literatura sem criatividade. Nesse sentido, não é de se surpreender que a crítica irá valorizar justamente aqueles autores que não seguiram à risca o movimento. F o n te : P ix a b a y ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 39 Filinto Elísio (1734-1819) Esse, na verdade, é o codinome de Francisco Manuel do Nascimento. Viveu intensamente as contradições de sua época. Em 1778, foi denunciado à Inquisição, o que o levou a se refugiar na França, onde viveu com certa dificuldade. Apresenta alguns traços pré-românticos e influenciou Almeida Garrett. Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) Bocage é considerado um dos maiores poetas portugueses em Língua Portuguesa. Nasceu em 1765 e morreu em 1805. Teve uma vida bastante movimentada. O poeta alistou-se na Marinha de Guerra em 1783, período em que esteve nas colônias além-mar, mas acaba por desertar do serviço militar, vivendo de forma irregular em Lisboa. Imortalizou seu amor trágico. Antes de partir para o serviço na Marinha, apaixonara-se por Gertrudes, por quem ansiava encontrar na volta à pátria e, de fato, encontrou-a... casada com seu próprio irmão! Em Lisboa, entregou-se à boemia, entrou para a Nova Arcádia com o pseudônimo de Elmano Sadino. Depois, rompeu com os colegas de associação. Foi um inconformado. Seu comportamento libertino e suas poesias satíricas lhe valeram a prisão pelo poder inquisitorial. Cumpriu a pena em várias instituições, a última era dirigida pelos Beneditinos. Ao sair, mudou seu comportamento. Na miséria e já bastante fragilizado em relação à saúde, o poeta se arrepende do seu comportamento voluptuoso pregresso. A produção de Bocage é bastante complexa. Produziu poemas em que ele segue os preceitos árcades, segundo as convenções neoclássicas. Mas essa forma não dá conta dos sofrimentos do poeta, alguém que se vê marcado pela tragicidade e perseguido pelo destino cruel. Adota outros tópicos, tirados das figuras horrendas (topus horrendus) da literatura clássica para dar conta de sua angústia existencial. Os poemas tornam-se sentimentais, quase chorosos, traço que faz com que alguns críticos percebam semelhanças entre essa produção e a dos românticos. Por esse motivo, costuma-se a classificar sua obra em árcade e pré-romântica. Poesia lírica ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 40 Percebam como as imagens de escuridão e sofrimento lembram a segunda geração romântica, também chamada de Ultrarromantismo ou mal do século. Há morbidez e pessimismo. Marília é um nome comum e geral usado como musa para os poetas árcades, tanto brasileiros quanto portugueses. Oh retrato da Morte, oh Noite amiga, Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga! Pois manda Amor que a ti somente os diga, Dá-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar me obriga. E vós, oh cortesãos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar meu coração de horrores. Poesia árcade Observem o poema abaixo. Nas duas primeiras estrofes, o eu lírico descreve uma cena bucólica. Com a chegada da Primavera, o vento do nordeste varre os céus deixando sem nuvens. O próprio Tejo se tinge de azul. O prado fica florido cheio de boninas, flores brancas que desabrocham na primavera (“O prado ameno de boninas veste”). Depois disso, o poeta se dirige à mulher amada, Marília, e a convida para aproveitar essa beleza, contemplando a cena (“...vem lograr comigo/ Destes alegres campos a beleza”). Trata- se do tema típico do locus amoenus. A seguir, o eu lírico emenda o fugere urbem, ao suplicar à mulher que deixe de “louvar da corte (cidade) a vã (fútil) grandeza.” Já se afastou de nós o Inverno agreste Envolto nos seus húmidos vapores; A fértil Primavera, a mãe das flores O prado ameno de boninas veste: Varrendo os ares o subtil nordeste Os torna azuis: as aves de mil cores Adejam entre Zéfiros, e Amores, E torna o fresco Tejo a cor celeste; Vem, ó Marília, vem lograr comigo Destes alegres campos a beleza, Destas copadas árvores o abrigo: Deixa louvar da corte a vã grandeza: Quanto me agrada mais estar contigo Notando as perfeições da Natureza! ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 41 SENTIMENTALISMO EXACERBADO Poesia pré-romântica Considerem o poema abaixo. Nele, observa-se claramente o sentimentalismo característico do Romantismo. Comentando a própria obra, o eu lírico admite que seus versos são “desentoados” e “chorosos”, pois são resultado da “Desventura”. Na segunda estrofe, ele reconhece que nem todos entenderão sua poesia, principalmente aqueles que procuram a paz e a tranquilidade típica do bucolismo. Entende que somente os “desgraçados”, aqueles que já sofreram estarão capacitados para ler sua poesia. O terceto final completa o raciocínio. Os versos são assim, pois decorrem de um “um peito, de gemer cansado e rouco.” Chorosos versos meus desentoados, Sem arte, sem beleza e sembrandura, Urdidos pela mão da Desventura, Pela baça Tristeza envenenados: Vede a luz, não busqueis, desesperados, No mudo esquecimento a sepultura; Se os ditosos vos lerem sem ternura, Ler-vos-ão com ternura os desgraçados. Não vos inspire, ó versos, cobardia Da sátira mordaz o furor louco, Da maldizente voz a tirania. Desculpa tendes, se valeis tão pouco; Que não pode cantar com melodia Um peito, de gemer cansado e rouco. E POR QUE ESSE NÃO É UM POEMA ROMÂNTICO? Faltam alguns traços do próximo movimento literário, corujinha inconformada. Notem que o poeta não utiliza a primeira pessoa. O sujeito do poema são os versos e não ele mesmo. Um dos traços mais marcantes do Romantismo é o subjetivismo exacerbado. Há outro traço ainda. O poeta é conhecido como um dos melhores sonetistas em Língua Portuguesa. Ora, o soneto é a forma clássica por excelência. E por último, é importante destacar que Bocage usa e abusa da ideia de uma instância acima do indivíduo que o toma como se fossem os deuses a brincar com a vida humana, construindo cenas do topus horrendus. Observem as duas estrofes de um outro soneto do poeta português. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 42 F o n te : P ix a b a y . Há um medonho abismo, onde baqueia, A impulsos das paixões a Humanidade; Impera ali terrível divindade, Que de torvos ministros se rodeia. Rubro facho a Discórdia ali meneia, Que a mil cenas de horror dá claridade; Com seus sócios, Traição, Mordacidade, Range os dentes a Inveja escura e feia. O uso de letras maiúsculas para sentimentos transforma-os em forças supra-humanas que parecem determinar o destino do indivíduo: “Discórdia”, “Traição”, “Mordacidade”. Ao mesmo tempo essas emoções parecem participar de uma espécie de festim diabólico para que a desgraça se abata sobre o eu lírico. Ao enfrentar um texto de Bocage, lembrem-se dos seguintes tópicos. POESIA DE CONFISSÃO SOLIDÃO EM FACE DO MUNDO SONDAGEM DA MORTE FATALISMO, O FADO, O DESTINO PARECE COMO TERRÍVEL USO DE LETRA MAIÚSCLA PARA PERSONIFICAR SENTIMENTOS: AMOR, DISCÓRDIA, MORDACIDADE ETC. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 43 F o n te : S h u tt e rs to c k . Bocage, em Portugal, ficou conhecido por essa vertente poética. Foi o Boca do Inferno de Portugal. Usava de palavras de baixo calão e desfiava críticas aos seus inimigos a ponto de incomodá-los. Nesse tipo de poesia, revela destreza e capacidade de observação. A título de exemplificação, segue abaixo a primeira estrofe de um poema cujo título já diz tudo, “Soneto de Todos os Cornos”. Não lamentes, Alcino, o teu estado, Corno tem sido muita gente boa; Corníssimos fidalgos tem Lisboa Milhões de vezes cornos têm reinado. 7.0 ARCADISMO NO BRASIL O movimento no Brasil confunde-se com a própria Inconfidência Mineira, já que pelo menos dois dos grandes representantes do Arcadismo estiveram envolvidos na revolta. A insurreição ocorreu devido à “derrama”, um imposto coletado obrigatoriamente para completar a contribuição devida a Portugal. Os inconfidentes pretendiam libertar Minas Gerais da condição de colônia, fundando uma república – inspirados também pela independência dos Estados Unidos. Por aí já se percebe em que medida podemos dizer que se trata de um movimento nativista. Tanto Cláudio Manuel da Costa quanto Tomás Antônio Gonzaga estudaram em Portugal e voltaram ao Brasil. Trouxeram de lá as ideias iluministas que os influenciaram tanto na produção literária quanto na postura antilusitana. Dado o caráter elitista dos pressupostos da revolta, não é possível falar ainda em nacionalismo. O mesmo se observa nas poesias. Os poetas exaltam em alguma medida a natureza brasileira, mas não a elevam a símbolo nacional. Mesmo os outros dois poetas importantes do Arcadismo que não se envolveram com Inconfidência, Basílio da Gama e Santa Rita Durão, darão toques peculiares à literatura nativa, pois são os primeiros a desenvolverem a temática indianista. Poesia satírica ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 44 TRAÇOS DO NATIVISMO LITERÁRIO Os principais autores árcades brasileiros podem ser divididos a partir do tipo de poesia a que se dedicaram majoritariamente: Poesia lírica: Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga; Poesia épica: Basílio da Gama e Santa Rita Durão. 7.1. AUTORES E OBRAS DO ARCADISMO BRASILEIRO Cláudio Manuel da Costa (1734-1819) Foi um abastado minerador e jurista. Aos vinte anos, foi para Portugal, onde estudou. Exerceu o cargo de procurador da Coroa na colônia por duas vezes. Participou na Inconfidência como uma das lideranças do movimento. Morreu na cadeia, não se sabe se a causa foi natural, suicídio ou assassinato. Ele escrevia suas poesias sob o pseudônimo Glauceste Satúrnio. A sua obra lírica mais conhecida é “Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio”, posteriormente editada já com o nome do próprio Claudio Manuel da Costa. Na sua obra, encontram-se sonetos amorosos, muitos deles denotando influência de Camões, e sonetos de louvor à natureza. Mas é sobretudo pelo tom de nativismo relacionado com a natureza brasileira que seu nome é lembrado na Literatura. DESCRIÇÃO DA NATUREZA BRASILEIRA INDIANISMO CONSTRUÇÃO DE UM HERÓISMO NACIONAL; POESIA ÉPICA CRÍTICA AOS PORTUGUESES ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 45 Vila Rica Este é o rio, a montanha é esta, Estes os troncos, estes os rochedos; São estes inda os mesmos arvoredos; Esta é a mesma rústica floresta. Tudo cheio de horror se manifesta, Rio, montanha, troncos, e penedos; Que de amor nos suavíssimos enredos Foi cena alegre, e urna é já funesta. Oh quão lembrado estou de haver subido Aquele monte, e as vezes, que baixando Deixei do pranto o vale umedecido! Tudo me está a memória retratando; Que da mesma saudade o infame ruído Vem as mortas espécies despertando. A grande novidade nesse poema se traduz nessa descrição que não reflete a paisagem bucólica típica da Europa. O eu lírico deixa claro de que se trata de uma “rústica floresta”. A descrição das montanhas, rochedos e árvores são bastante apropriadas à paisagem mineira, mas pouco tem a ver com os campos pacíficos da Arcádia. Na verdade, essa natureza serve como elemento que o liga a um amor passado relacionado a sofrimento amoroso (“lembrado estou de haver subido/ aquele monte.../deixei do pranto o vale umedecido)”. Os temas da natureza, de um amor suave e que, supõe-se, provocou pranto, organizam-se no grande tópico da “saudade” que aparece na última estrofe. Tomás Antônio Gonzaga (1734-1819) O poeta nasceu em Portugal, mas logo veio para Pernambuco e depois para a Bahia. Voltou a Portugal para se formar em Direito em 1761. Voltou ao Brasil em 1782, para Vila Rica, onde foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes. Apaixonou-se pela adolescente Maria Doroteia. Em 1786, pediu a jovem em casamento. Participa da Inconfidência Mineira e, por conta disso, é preso antes de se casar. Fica três anos na Ilha das Cobras no Rio de Janeiro, seus bens foram confiscados. Parte da sua mais famosa obra Marília de Dirceu foi concluída na prisão. Em 1792, a pena é comutada, e ele parte para o degredo em Moçambique, onde se casa com Ana Mascarenhas, filha de um comerciante de escravos. Escreveu também um poema satírico, Cartas Chilenas, cuja autoria não foi assumida pelo poeta, mas que posteriormente foi-lhe atribuída. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 46 Os temas árcades são muito presentes nessa obra. Há uma construção da natureza como um lugar ameno, onde o amor pode se construir. Além disso, há também muitas referências àfauna e flora. Nesta lira, vamos ver como o poeta trabalha a ideia do carpe diem: Marília de Dirceu: Parte 1 – Lira XIV Minha bela Marília, tudo passa; A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça Ah! enquanto os Destinos impiedosos Não voltam contra nós a face irada, Façamos, sim façamos, doce amada, Os nossos breves dias mais ditosos. Esse poema de linguagem fácil e escrito em ordem direta exemplifica muito bem a diferença entre Barroco e Arcadismo. Há antíteses (males/ventura; prazeres/desgraça), mas sem exageros e dentro de um argumento bastante claro. O eu lírico lembra a mulher amada que tudo é efêmero, segue-se a conclusão da segunda estrofe: “façamos, sim façamos, doce amada/ Os nossos breves dias mais ditosos”. Esse é o tom do livro como um todo, algo um pouco monótono. A crítica destaca uma alteração na segunda parte que teria sido escrita na prisão, na qual se observam traços que lembram o sentimentalismo romântico. Cartas Chilenas é uma obra crítica aos desmandos do governador de Minas, Luís Cunha de Meneses. Para escapar de qualquer tipo de represália, o poeta faz uma espécie de paródia. Ele seria Critilo, que escreve cartas ao amigo Doroteu falando do despotismo do Fanfarrão Minésio (governador de Minas). Usa o recurso típico do Arcadismo de criar uma ficção literária para falar da realidade, na medida em que ambienta toda situação em Santiago do Chile (na verdade, Vila Rica). Poesia lírica Poesia satírica ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 47 Basílio da Gama (1741-1795) Nasceu em Lisboa, veio para o Brasil, onde teve uma educação jesuítica no Rio de Janeiro. Por sua ligação com a ordem religiosa, na época da expulsão da Companhia de Jesus, foi perseguido. Para evitar o exílio, produz uma obra de apoio a Pombal, O Uraguai. Trata-se de um longo poema épico, no qual o eu lírico conta a história da Batalha dos portugueses contra os jesuítas em Sete Povos das Missões. Os feitos do general Gomes Freire de Andrade são descritos heroicos, enquanto os jesuítas são representados como exploradores dos índios. Nesse poema, os portugueses são tratados como heróis guerreiros; os índios também são retratados de maneira positiva. Em contrapartida, os jesuítas são tratados como vilões, cujo interesse maior é enganar os indígenas. O protagonismo indígena tem característica do bom selvagem, termo que expressa a ideologia que conferia ao nativo americano bons sentimentos pelo fato de estar em contato com a natureza e de não ser corrompido pela civilização. Uma das cenas mais impressionantes imortaliza a morte da índia Lindóia. A indígena, depois de perder o amado, é obrigada pelo jesuíta Balda a casar-se com o filho ilegítimo do padre, numa manobra para conquistar a tribo. Lindóia procura na selva uma serpente e deixa-se ferir pelo ofídio. Santa Rita Durão (1722-1784) Frei José de Santa Rita Durão foi um dos primeiros escritores a elevar o índio à condição de herói, manifestando em sua obra traços que foram mais bem desenvolvidos no indianismo romântico. O religioso também foi perseguido durante o expurgo do Marquês de Pombal, só que, diferentemente de Basílio da Gama, não tentou conquistar seus perseguidores através da literatura. Fez o contrário. Através da epopeia O Caramuru, o poeta exalta a colonização como esforço religioso, destacando a catequese como processo civilizatório. A história gira em torno de Diogo Álvares Correia (chamado pelos índios de Caramuru) que teria sofrido naufrágio passando a viver com os índios. Apaixona-se por Paraguaçu, índia que será batizada no final do enredo. O texto inclui várias referências históricas e geográficas, expressando o caráter descritivo e informativo da obra. Também brilha uma heroína indígena que morre por amor. No momento em que o Caramuru volta para a Europa junto com sua amada, a índia Paraguaçu, as mulheres apaixonadas pelo português se atiram ao mar. Moema morre exausta, nadando para alcançar seu amado. Victor Meirelles – Moema (1866) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 48 8. A ARTE NEOCLÁSSICA Começa em meados do século XVIII e começo do século XIX. A luta da burguesia pelo poder político no final do século XVIII e começo do século XIX acaba por impactar a cultura em geral. Os novos senhores da economia queriam se distinguir da esbanjadora e decadente nobreza. A arte barroca, cheia de volteios desnecessários, não poderia se adequar à forma racionalista e prática dos burgueses. Esse ímpeto leva a burguesia não só a abraçar o Iluminismo, que minava o alicerce ideológico da nobreza (a religião), como também a financiar os salões onde se discutiam os mais variados temas sob a perspectiva da razão. Nesse contexto surge Napoleão. Esse plebeu chega ao ápice do poder e o mantém atendendo os interesses da burguesia. A expansão do poder francês exige uma arte que expresse os novos valores. Culturalmente, a resposta mais apropriada à burguesia só será dada no Romantismo. Mas, nesse momento, os artistas ainda não sabem como expressar os valores dessa nova classe. Os artistas, sem muitas opções, voltam-se para a Antiguidade Clássica, extraindo daquele período o que há de mais racional. Os pintores acreditam que a realidade simples não fornece os elementos necessários para a beleza superior, mas sim as representações tais quais os gregos ou os renascentistas fizeram. Decorre dessa perspectiva a tentativa de imitar os grandes mestres. A escultura que segue, “Psiquê reanimada pelo beijo do amor”, ilustra bem essa nova estética. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 49 A escultura foi feita por Antonio Casanova (1757-1822), um dos melhores representantes do Neoclassicismo na escultura. O tema foi tirado do mito do amor entre Psiquê e Eros. O corpo de Psiquê nitidamente foi inspirado nas esculturas gregas. Não há exagero no planejamento e, apesar da torção dos corpos, o beijo em si não é exagerado, manifesta um ato suave enquadrado de forma simétrica e equilibrada entre dois rostos que quase se tocam. O maior representante desse movimento na pintura foi Jacques-Louis David (1748-1825), entusiasta da Revolução Francesa, tendo sido amigo de revolucionários como Marat. Posteriormente, tornou-se amigo de Napoleão e pintor oficial do Império, tendo caído em desgraça quando os Bourbons voltaram ao poder. Ele conseguiu equilibrar emoção e realismo sóbrio. A história de David demonstra o vínculo entre essa arte e o projeto burguês nos moldes do Iluminismo e das aspirações de Napoleão. No quadro “Bonaparte atravessando os Alpes”, David retrata um Napoleão idealizado. A figura humana ocupa o lugar central no quadro, sendo representada de forma sóbria, mas segundo padrões da perfeição e simetria da pintura renascentista. O fundo serve simplesmente como enquadramento da figura principal. Napoleão levanta o braço direito, numa atitude de líder que comanda sua tropa. O cavalo empina, dando movimento à cena e contrapondo à solidez inabalável do protagonista. Por fim, pode-se destacar a expressão facial do imperador francês, impassível, mas humano, sem os exageros do contorcionismo dramático dos barrocos. Eros e Psiquê Eros tinha se encantado pela mortal Psiquê. Afrodite, enciumada, exige o sacrífico de Psiquê. Ela teria que conviver com um monstro, na verdade, Eros, com a condição de que ela jamais veria o rosto do esposo. As irmãs invejosas fazem com que Psiquê olhe para o marido, fato que leva a mortal a ser expulsa do leito de Eros. Desesperada, ela deixa se abater pela morte. Eros, que era apaixonado por Psiquê, pede a Zeus que a transforme em Imortal, o que de fato ocorre. Eros e Psiquê se tornaram indissociáveisno Olimpo. F o n te : P ix a b a y ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 50 Jacques-Louis David – Marat (1793) 8.1. NEOCLASSICISMO EM PORTUGAL Em 1755, em plena era pombalina, um grande terremoto se abateu sobre Lisboa. Primeiramente a terra tremeu, em seguida um grande maremoto com ondas de até 20 metros devastaram a cidade. Em seguida, a cidade ardeu por 5 dias. A reconstrução foi comandada pelo Marquês de Pombal, então Secretário de Estado de Negócios Estrangeiros e de Guerra. O ouro do Brasil poderia financiar e, de fato, financiou a reconstrução da cidade. A Lisboa de ruas estreitas, medieval, cedeu espaço para uma cidade atravessada por avenidas largas e retilíneas. Os prédios públicos manifestam um traçado retilíneo com arcos ou cúpulas clássicas, mas sem exagero. As construções da Baixa Pombalina mantêm a simetria e a regularidade. Predominam pilastras como ornamento, varandas, arcadas no piso e balaústres. Nos monumentos, observam-se claramente referências a modelos clássicos com inspiração na tradição greco-latina. A imagem do Arco da Rua Augusta no Paço da Baixa (acima) em Lisboa dá uma ideia do que seja a arquitetura Neoclássica. 8.2. INTERPRETAÇÃO DE OBRA DE ARTE NEOCLÁSSICA As obras neoclássicas dão a impressão de que são uma imitação mais delicada do que se observa no Renascimento. Os temas são mais próximos do mundanismo próprio do século XVIII, mas representados a partir da mitologia grega para conferir grandiosidade às ações humanas. Parece sempre uma manifestação artificial, talvez devido ao formalismo. Na arquitetura, realmente vale a pena prestar atenção às linhas retas e à utilização sóbria de arcos ou enfeites. Na mistura entre arquitetura e algum tipo de enfeite ornamental, é fácil perceber o neoclassicismo, pois as figuras representadas lembrarão fortemente o estilo greco-romano. Para ajudá-los a identificar esse tipo de obra, segue um roteiro. Praça do Comércio, Lisboa, estilo neoclássico Fonte: Shutterstock. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 51 9. QUADRO SINÓPTICO BARROCO ANTROPOCENTRISMO O centro do mundo é o ser humano (do grego ἄνθρωπος, anthrōpos, “homem”). Essa visão de mundo predominou no Classicismo (1500) e vai ser retomada no Neoclassicismo ou Arcadismo (1700). TEOCENTRISMO O centro do mundo é Deus (do grego Θεός, Teós, “Deus”). Essa visão de mundo é predominante no Barroco (1600), em que a Igreja Católica tentava resgatar poderio com a Contrarreforma. Fonte: Showeet ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 52 PORTUGAL AUTOR OBRAS CARACTERÍSTICAS Padre Antonio Vieira Sermões e Cartas (Prosa) Estilo: Conceptista. Parte de uma tese, divide o tema em duas partes, de preferência opostas e faz um jogo de ideias entre elas. Uso e abuso da antítese; função moralista. BRASIL AUTOR OBRAS CARACTERÍSTICAS GREGÓRIO DE MATOS POESIAS Estilos cultista e conceptista. Poesia religiosa, satírica, fescenina (erótica), lírico- amorosa e existencial. Uso de hipérbole, antítese, paradoxo, inversão sintática, mistura sensualidade e espiritualidade. Ficou conhecido como Boca do Inferno por criticar a Bahia. ARTES PLÁSTICAS PINTURA/ESCULTURA Vários pontos de fuga (núcleos de observação). Dramaticidade. Contorcionismo. Assimetria. Jogo de claro e escuro. Dramaticidade. F o n te : P ix a b a y Características principais Arte da sinuosidade, do exagero, do excesso de ornamentação, arte didática com apelo retórico. Velázquez – O triunfo de Baco (1626- 1628) Fonte: Pixabay. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 53 ARQUITETURA ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO Ig re ja d e S ã o N ic o la u ( P ra g a ) F o n te : P ix a b a y Linhas curvas e linhas retas; utilização de cúpulas, janela e vitrais que permitem jogo de claro e escuro; internamente o espaço é preenchido com pinturas e esculturas que dialogam com o ambiente. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 54 PORTUGAL AUTOR OBRAS CARACTERÍSTICAS BOCAGE POESIAS Poesia Lírica e Satírica. Poesia Lírica: duas fases, árcade e pré-romântica. Fase árcade: bucolismo, fugere urbem, locus amoenus. Fase pré-romântica: sentimentalismo (angústia, sofrimento, imagens da morte) e locus horrendus. Poesia confessional e de arrependimento (últimos poemas do autor). BRASIL AUTOR OBRAS CARACTERÍSTICAS CLÁUDIO MANUEL DA COSTA POESIAS Poesia nativista: o autor troca as cenas bucólicas típicas da paisagem europeia pelas cenas mineiras. Temas: amor e saudade. Participou da Inconfidência Mineira. TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA POESIAS MARÍLIA DE DIRCEU CARTAS CHILENAS Poesia Satírica e Lírico-amorosa. Marília de Dirceu: longo poema em que o eu lírico, um vaqueiro, declara seu amor a Marília. Cartas Chilenas: poema no qual o eu lírico tece críticas ao governador de Santiago, na verdade Vila Rica. SANTA RITA DURÃO POESIA ÉPICA O CARAMURU Longo poema Narra a história de Diogo Álvares Correia, herói, náufrago, viveu entre os índios e se apaixonou por Paraguaçu. Obra com temática indianista. Exaltação do esforço religioso de colonização. BASÍLIO DA GAMA POESIA ÉPICA O URAGUAI Longo poema que narra os feitos do general Gomes Freire na luta contra os jesuítas. Obra antijesuítica. Temática indianista. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 55 Uso de linhas retas, colunas, frontões com desenhos geométricos lembrando a arquitetura greco-latina, adornos com temas tirados da mitologia. Equilíbrio, simetria, definição do corpo humano, plano principal, temas da mitologia grega ou de feitos nacionais ilustrados à moda dos clássicos. ARTES PLÁSTICAS PINTURA/ESCULTURA ARQUITEUTRA F o n te : P ix a b a y Características principais Racionalidade, imitação dos artistas da Renascença ou da antiguidade clássica. Capitólio, Washington, EUA (começo da construção 1893) F o n te : P ix a b a y ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 56 10. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO LITERÁRIO 10.1. INTERPRETAÇÃO DE PROSA BARROCA PORTUGUESA Os textos de Padre Antonio Vieira consistem numa prosa difícil, que exige leitura atenta. Por isso, vamos considerar um texto dele. SERMÃO DE VIEIRA Será porventura o não fazer fruto hoje a palavra de Deus, pela circunstância da pessoa? Será por que antigamente os pregadores eram santos, eram varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores são eu, e outros como eu? – Boa razão é esta. A definição do pregador é a vida e o exemplo. Por isso Cristo no Evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semeia. Reparai. Não diz Cristo: saiu a semear o semeador, senão, saiu a semear o que semeia. (...) Entre o semeador e o que semeia há muita diferença: uma coisa é o soldado e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador, e outra o que semeia; uma coisa é o pregador e outra o que prega. O semeador e o pregador é nome; o que semeia e o que prega é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o Mundo. VIEIRA, Antônio (Pe). Os Sermões. Seleção de Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Melhoramentos, 1963, p. 80. Tentem interpretar o sermão a partir dos passos a seguir. ESTRATÉGIA VESTIBULARES– BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 57 10.2. INTERPRETAÇÃO DE POESIA BARROCA BRASILEIRA O primeiro passo para a interpretação de um poema é apreender seu tema. Sabendo de antemão os possíveis temas, fica mais fácil enquadrar a interpretação do texto. Lembrem-se, no Barroco, os temas são os seguintes: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 58 Fonte do Infográfico: Showeet. Depois disso, tentem perceber qual intencionalidade do poeta; há dois casos. Caso 1. Ele pode estar fazendo um poema-ostentação, ou seja, um texto cuja mensagem é até simplória, mas que serve de pretexto para que o escritor mostre todo seu domínio sobre a língua portuguesa. A isso chamamos de cultismo (o poeta quer mostrar o quanto ele é culto, o quanto conhece de sinônimos e de figuras de linguagem). Caso 2. O poeta deseja criticar ou defender uma ideia e, para tanto, faz um raciocínio tortuoso, para provar sua tese. Como ler cada um tipo de poesia dessas? Caso 1. Observe as figuras de linguagem e as recriações ou aproximações inusitadas que o poeta consegue a partir desse expediente. Provavelmente, você encontrará várias antíteses, metáforas, hipérboles e expressões de sinonímia. Você deve perceber a reafirmação de uma ideia pelo excesso de repetição. Caso 2. Observe como o poeta desenvolve o argumento. Se ele utiliza antíteses, como elas se articulam com a tese principal. Religiosidade: Pecado x perdão Lírica: Amor cruel; Sensualidade Satírica: Crítica moralizante Existencial: Passagem do tempo, Morte A ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 59 Seis horas enche e outras tantas vaza A maré pelas margens do Oceano, E não larga a tarefa um ponto no ano, Depois que o mar rodeia, o sol abrasa. Desde a esfera primeira opaca, ou rasa A Lua com impulso soberano Engole o mar por um secreto cano, E quando o mar vomita, o mundo arrasa. Muda-se o tempo, e suas temperanças. Até o céu se muda, a terra, os mares, E tudo está sujeito a mil mudanças. Só eu, que todo o fim de meus pesares Eram de algum minguante as esperanças, Nunca o minguante vi de meus azares. O próprio título já dá a dica do tema. O eu lírico vai falar dos seus males. Não se trata de uma poesia satírica nem religiosa. O seu mal pode ser de amor. Aí o jeito é conferir, lendo o poema. Na leitura, percebe-se que o eu lírico não fala de amor. Na primeira estrofe, o leitor se depara com de descrição do ritmo do mar. Ora, no Barroco não é comum que o poeta destaque a natureza a não ser como metáfora, metonímia (a parte pelo todo) ou comparação. No caso, trata-se de uma metonímia. A mudança da maré alta para a minguante é parte da mudança que ocorre em toda a natureza. É possível observar isso claramente no final da terceira estrofe, “E tudo está sujeito a mil mudanças.” É só na última estrofe que identificamos os males aos quais o título se referia. No terceto final, ele compara sua trajetória com o ciclo da natureza. Se há nos mares minguante e cheia, para ele há cheia de azares e minguante de esperanças. O tema é existencial. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 60 10.3. INTERPRETAÇÃO DE POESIA ARCÁDE BRASILEIRA A poesia árcade não apresenta muitos desafios para o intérprete. A ordem geralmente é direta. O poeta usa de forma equilibrada as figuras de linguagem. Carpe Diem, aproveitar o momento Lírica amorosa: expressão do amor Exaltação da vida simples do campo Sofrimento sem muito exagero TEMAS F o n te d o In fo g rá fi c o : S h o w e e t. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 61 Soneto Os teus olhos gentis, encantadores, Tua loira madeixa delicada, Tua boca por Vênus invejada, Onde habitam mil cândidos amores: Os teus braços, prisão dos amadores, Os teus globos de neve congelada, Serão tornados breve a cinza!… a nada!… Aos teus amantes causarão horrores!… Céus! e hei-de eu amar uma beleza, Que à cinza reduzida brevemente Há-de servir de horror à Natureza!… Ah! mandai-me uma luz resplandecente, Que minha alma ilumine, e com pureza Só ame um Deus, que vive eternamente. (José da Natividade Saldanha. Poemas oferecidos aos amantes do Brasil. 1822.) No Neoclassicismo, a mulher é vista como um musa inspiradora perfeita próxima da divindade. Esses traços podem ser observados na escolha dos adjetivos para qualificar a imagem da mulher e na comparação feita entre os lábios da mulher e os de Vênus. No que diz respeito ao estilo, seria possível destacar ainda a ordem direta e simplicidade de escrita, além, do recurso comum no Arcadismo de entabular uma conversa com a amada numa relação eu/tu. O poeta se vale de vários recursos para expressar sentimentalismo e subjetividade. uso do eu em vários momento : sujeito de “hei”, como objeto direto em “mandai-me” e como pronome adjetivo “minha alma” (subjetivismo); uso de pontuação expressiva, ponto de exclamação e reticências (sentimentalismo); uso de interjeição “Ah! (sentimentalismo)”; nomeação de sentimento “horror à Natureza” (sentimentalismo). ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 62 11. GRAMÁTICA APLICADA À LITERATURA Muito se pensa que o Arcadismo Brasileiro foi apenas lírico, ou seja, que nele se escreveu apenas poesia. Porém, selecionei um texto de uma abordagem diferente para trabalharmos aqui nesta seção: uma peça de teatro árcade. Cláudio Manuel da Costa – O Parnaso obsequioso (1768). CORO – Já despede a fria noite Toda a sombra, todo o horror; Torna ao mundo o novo dia, Que enche a terra de esplendor. APOLO – Douram-se os montes, MERCÚRIO – Riem-se os vales, AMBOS – Das claras fontes Brilha o licor. TODOS – Oh! que alegre mudança que tudo... Floresce... Esclarece... TODOS – Na gala e na cor. APOLO – Mas que é isto? Inda as Musas em silêncio No Parnaso se veem? Não ouço ainda O número sonoro, A métrica harmonia, Que deve festejar tão fausto dia! Acaso entre vós outras Se ignora, ó Musas, que hoje o lustro quinto Se completa, em que aquele Ramo ilustre dos ínclitos Noronhas, Para glória do Luso, Nascer se viu lá onde o fresco Tejo Banha, rendendo aos mares o tributo, A cidade que erige o Grego astuto? (...) Por mais que seja teatro escrito em versos, o texto ainda é predominantemente dramático. Personagens do panteão da mitologia greco-latina são ficcionalizados, como Apolo e Mercúrio, por exemplo. Dois recursos gramaticais são predominantemente utilizados: Hipérbato: inversão da ordem direta. Exemplos: “Já despede a fria noite”, quando a ordem seria: “A fria noite despede já”; “Das claras fontes /Brilha o licor”, quando a ordem direta seria: “O licor brilha das fontes claras”. No caso, a função da inversão é a ênfase. Voz reflexiva: em “Douram-se os montes” e “Riem-se os vales”. O destaque é dado à natureza, ressaltando essa característica árcade. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 63 12. CRÍTICA LITERÁRIA Pois bem, concurseiros. O ideal é que a Crítica Literária dialogue com os termos abordados em cada aula. Nesse sentido, hoje escolhi os seguintes textos: Mikhail Bakhtin – A cultura popular na idade média e no renascimento. Antonio Candido – Formação da literatura brasileira. TEXTO I Os festejos do carnaval, com todos os atos e ritos cômicos que a ele se ligam, ocupavam um lugar muito importante na vida do homem medieval. Além dos carnavais propriamente ditos, que eram acompanhados de atos e procissões complicadas que enchiam aspraças e as ruas durante dias inteiros, celebravam-se também a "festa dos tolos" (festa stuttorum) e a "festa do asno"; existia também um "riso pascal" (risus paschalis) muito especial e livre, consagrado pela tradição. Além disso, quase todas as festas religiosas possuíam um aspecto cômico popular e público, consagrado também pela tradição. Era o caso, por exemplo, das "festas do templo", habitualmente acompanhadas de feiras com seu rico cortejo de festejos públicos (durante os quais se exibiam gigantes, anões, monstros, e animais "sábios"). A representação dos mistérios e soties dava-se num ambiente de carnaval. O mesmo ocorria com as festas agrícolas, como a vindima, que se celebravam igualmente nas cidades. O riso acompanhava também as cerimônias e os ritos civis da vida cotidiana: assim, os bufões e os "bobos" assistiam sempre às funções do cerimonial sério, parodiando seus atos (proclamação dos nomes dos vencedores dos torneios, cerimônias de entrega do direito de vassalagem, iniciação dos novos cavaleiros, etc.). Nenhuma festa se realizava sem a intervenção dos elementos de uma organização cômica, como, por exemplo, a eleição de rainhas e reis "para rir" para o período da festividade. Todos esses ritos e espetáculos organizados à maneira cômica apresentavam uma diferença notável, uma diferença de princípios, poderíamos dizer, em relação as formas do culto e as cerimônias oficiais sérias da Igreja ou do Estado feudal. Ofereciam uma visão do mundo, do homem e das relações humanas totalmente diferente, deliberadamente não oficial, exterior à Igreja e ao Estado; pareciam ter construído, no lado do mundo oficial, um segundo mundo e uma segunda vida aos quais os homens da Idade Média pertenciam em maior ou menor proporção, e nos quais eles viviam em ocasiões determinadas. Isso criava uma espécie de dualidade do mundo e cremos que, sem levá-la em consideração, não se poderia compreender nem a consciência cultural da Idade Média nem a civilização renascentista. Ignorar ou subestimar o riso popular na Idade Média deforma também quadro evolutivo histórico da cultura europeia nos séculos seguintes. A dualidade na percepção do mundo e da vida humana já existia no estágio anterior da civilização primitiva. No folclore dos povos primitivos encontra-se, paralelamente aos cultos sérios (por sua organização e seu tom), a existência de cultos cômicos, que convertiam as divindades em objetos de burla e blasfêmia ("riso ritual"); paralelamente aos mitos sérios, mitos cômicos e injuriosos; paralelamente aos heróis, seus sósias paródicos. Há pouco tempo que os especialistas do folclore começaram a interessar-se pelos ritos e mitos cômicos. (BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento (1987, p. 4-5). ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 64 Mikhail Bakhtin (1895-1975) foi um filósofo russo que estudou linguagem e literatura. O texto acima é importante para se entender o dualismo que dominava a Idade Média até o Barroco. O período do carnaval europeu, por exemplo, era uma ocasião em que as fronteiras oficiais eram abolidas para surgirem costumes não oficiais. O modelo literário de análise para Bakhtin é o escritor François Rabelais (1494- 1553), cujas principais obras foram Gargantua e Pantagruel. Lembrando que o Barroco também foi uma expressão artística europeia e algum escritor da Literatura Universal pode ser cobrado. Era comum no imaginário da época representação de banquetes excessivos, verdadeiramente barrocos. Esse tipo de comilança também é satirizada na poesia de Gregório de Matos, por exemplo. José Miguel Wisnik, em texto introdutório à poesia gregoriana, menciona como que a sátira pode advir justamente do choque entre um mundo normal e outro que é aparentemente absurdo. TEXTO II É, no sentido estrito, o Arcadismo, que deu nome ao período e deve ser considerado, mais que um conjunto de gêneros literários, verdadeira filosofia de vida, interpretando o mito da idade de ouro, que começava então a passar de retrospectivo a prospectivo, uma vez que a noção de homem natural dava lugar à ideia de progresso, passando-se da nostalgia à utopia. Escolhendo a designação de Arcádia Lusitana para o seu grêmio, os reformadores da literatura portuguesa se conformavam ao exemplo italiano; ao cultivarem o gênero bucólico, ou adotarem nomenclatura bucólica nos seus poemas, integravam-se numa corrente, também de inspiração italiana imediata, mas de boas, excelentes raízes portuguesas; corrente que parecia a própria condição de um movimento cujo escopo era restabelecer a simplicidade e desbaratar a joalharia falsa do Cultismo decadente. O que havia mais simples, mais natural, que a vida dos pastores e a contemplação direta da natureza? Se os gêneros bucólicos propriamente ditos não constituem todo o Arcadismo, constituem sem dúvida uma das suas notas características – quer nos poetas que os praticaram como Cruz e Silva, Quita e Cláudio Manuel, quer nos que vazaram o lirismo em imagens pastorais, como Garção, Gonzaga, Silva Alvarenga. A poesia pastoral, como tema, talvez esteja vinculada ao desenvolvimento da cultura urbana, que, opondo as linhas artificiais da cidade à paisagem natural, transformava o campo num bem perdido, que encarna facilmente os sentimentos de frustração. Os desajustamentos da convivência social se explicam pela perda da vida anterior, e o campo surge como cenário de uma perdida euforia. A sua evocação equilibra idealmente a angústia de viver associada à vida presente, dando acesso aos mitos retrospectivos da idade de ouro. Em pleno prestígio da existência citadina os homens sonham com ele à maneira de uma felicidade passada, forjando a convenção da naturalidade como forma ideal de relação humana. Os costumes setecentistas refletem bem esse desejo de recuperação natural e exprimem o quanto tinha de artificioso. Brincadeiras pastoris, festas campestres, renascimento do ar livre e, ao mesmo tempo, amenização da etiqueta barroca, simplificação do vestuário, valorização das atitudes sentimentais. (CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Momentos decisivos (1750-1880). Rio de Janeiro; São Paulo: Ouro sobre Azul; FAPESP, 2017, p. 62). ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 65 Antonio Candido (1918-2017) foi professor Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). A sua visão crítica é que o Arcadismo foi o primeiro movimento literário verdadeiramente brasileiro, pois já era composto de uma geração de escritores nascidos aqui. O nativismo é o passo inicial para o nacionalismo. Nesse sentido, o crítico literário faz uma distinção entre retrospectivo e prospectivo. Porém, não são todos que compartilham de sua visão. Haroldo de Campos, por exemplo, escreveu um livro chamado de O sequestro do barroco na formação da literatura brasileira, justamente explicando o quão problemático é simplesmente excluir a literatura seiscentista do panorama da formação da Literatura Nacional. 13. QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS Prezados alunos, eis algumas informações práticas antes de começarem. A aula de hoje abordou muitos tópicos essenciais para a sua compreensão de texto. Vamos trazer exercícios variados para a sua fixação. Então, vamos resolver questões das seguintes fontes: • Aproveitem o momento dos comentários e correções para aprenderem, pois os(as) autores do cânone devemos conhecer. Informações adicionais sobre os movimentos literários especificamente, vocês encontrarão na videoaula. • Outra dica: após fazer os exercícios da sua banca, procure fazer os de outra com cobrança parecida, o que se encontra na lista complementar que preparei para vocês. • Tentei trazer imagens com qualidade boa, o que pode não acontecer no dia da prova. Caso no dia vocês não consigam ler ou entender algo, vocês devemse dirigir ao fiscal da sala. Para complementar seu estudo cada vez mais, vocês vão encontrar questões ao longo da teoria e no final dela, com e sem gabaritos. Além disso, também temos simulados inéditos e gratuitos todo fim de semana. Isso quer dizer que vamos focar bastante na prática! 01. (FUVEST/2022/1ª fase) Largo em sentir, em respirar sucinto, Peno, e calo, tão fino, e tão atento, Que fazendo disfarce do tormento Mostro que o não padeço, e sei que o sinto. O mal, que fora encubro, ou que desminto, Dentro no coração é que o sustento: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 66 Com que, para penar é sentimento, Para não se entender, é labirinto. Ninguém sufoca a voz nos seus retiros; Da tempestade é o estrondo efeito: Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Mas oh do meu segredo alto conceito! Pois não me chegam a vir à boca os tiros Dos combates que vão dentro no peito. Gregório de Matos e Guerra No soneto, o eu lírico: a) expressa um conflito que confirma a imagem pública do poeta, conhecido pelo epíteto de “o Boca do Inferno”. b) opta por sufocar a própria voz como estratégia apaziguadora de suas perturbações de foro íntimo. c) explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao ser impedido de dar expressão aos seus sentimentos. d) estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre as metáforas da natureza e da guerra. e) revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza de seu sofrimento. 02. (FUVEST/2020/1ª fase) A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso gabo*: Contemos esta regra por primeira, Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo. Na quinta torce agora a porca o rabo; A sexta vá também desta maneira: Na sétima entro já com grã** canseira, E saio dos quartetos muito brabo. Agora nos tercetos que direi? Direi que vós, Senhor, a mim me honrais Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei. Nesta vida um soneto já ditei; Se desta agora escapo, nunca mais: Louvado seja Deus, que o acabei. Gregório de Matos *louvor **grande ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 67 Tipo zero Você é um tipo que não tem tipo Com todo tipo você se parece E sendo um tipo que assimila tanto tipo Passou a ser um tipo que ninguém esquece Quando você penetra num salão E se mistura com a multidão Você se torna um tipo destacado Desconfiado todo mundo fica Que o seu tipo não se classifica Você passa a ser um tipo desclassificado Eu até hoje nunca vi nenhum Tipo vulgar tão fora do comum Que fosse um tipo tão observado Você ficou agora convencido Que o seu tipo já está batido Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado Noel Rosa O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem a) o processo de composição do texto. b) a própria inferioridade ante o retratado. c) a singularidade de um caráter nulo. d) o sublime que se oculta na vulgaridade. e) a intolerância para com os gênios. 03. (FUVEST/2017/1ª fase) Senhor, não mereço isto. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 68 Não creio em vós para vos amar. Trouxestes-me a São Francisco e me fazeis vosso escravo. Não entrarei, senhor, no templo, seu frontispício me basta. Vossas flores e querubins são matéria de muito amar. Dai-me, senhor, a só beleza destes ornatos. E não a alma. Pressente-se a dor de homem, paralela à das cinco chagas. Mas entro e, senhor, me perco na rósea nave triunfal. Por que tanto baixar o céu? por que esta nova cilada? Senhor, os púlpitos mudos entretanto me sorriem. Mais que vossa igreja, esta sabe a voz de me embalar. Perdão, senhor, por não amar-vos. Carlos Drummond de Andrade *O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”, que integra a edição crítica de Claro enigma. São Paulo: Cosac Naify, 2012. Analise as seguintes afirmações relativas à arquitetura das igrejas sob a estética do Barroco: I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para assaltar de uma vez os sentidos, de modo que o público não possa escapar. II. O arquiteto procurava surpreender o observador, suscitando nele uma reação forte de maravilhamento. III. A arquitetura e a ornamentação dos templos deviam encenar, entre outras coisas, a preeminência da Igreja. A experiência que se expressa no poema de Drummond registra, em boa medida, as reações do eu lírico ao que se encontra registrado em a) I, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 69 04. (FUVEST/1995/1ª fase) Os sonetos de Bocage que transpõem poeticamente a experiência do autor na região colonial de Goa apresentam alguns traços semelhantes aos dos poemas em que, anteriormente, Gregório de Matos enfocara a sociedade colonial da Bahia. Sob esse aspecto, são traços comuns a ambos os poetas: a) presunção de superioridade, crítica da vaidade, preconceito de cor. b) sensualismo, crítica da presunção, elogio da mestiçagem. c) presunção de superioridade, elogio da nobreza local, sátira da mestiçagem. d) sensualismo, crítica da nobreza antiga, preconceito de cor. e) estilo tropical, crítica da vaidade, elogio da mestiçagem. 05. (FUVEST/1987/1ª fase) “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia. Depois da luz, se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristeza a alegria.” Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos e Guerra, a principal característica do Barroco é: a) o culto da Natureza. b) a utilização de rimas alternadas. c) a forte presença de antíteses. d) o culto do amor cortês. e) o uso de aliterações. 06. (FUVEST/1981/1ª fase) A respeito do Pe. Antonio Vieira, pode-se afirmar: a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana, não se ocupou de problemas locais. b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava. c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos. d) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-O para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais. e) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos. 07. (PUC-Camp/2016) Personagem frequente dos carros alegóricos, d. Pedro surgia, nos anos 1880, ora como Pedro Banana ou como Pedro Caju, numa alusão à sua falta de participação nos ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 70 últimos anos do Império. Mas é só com a queda da monarquia que se passa a eleger um rei do Carnaval. Com efeito, o rei Momo é uma invenção recente, datada de 1933. No século XIX ele não era rei, mas um deus grego: zombeteiro, pândego e amante da galhofa. Nos anos 30 vira Rei Momo e logo depois cidadão. Novos tempos, novos termos. (SCHWARCZ, Lilian Mortiz. As barbas do Imperador: Dom Pedro II , um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 281) A crítica galhofeira a autoridades e a pessoas de prestígio foi uma arma contundente de que se valeu a) o poeta barroco Gregório de Matos, em sua poesia satírica. b) Claúdio Manuel da Costa, nas cartas que escreveu ao mandatário de Minas Gerais. c) o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos ácidos versos de Claro enigma. d) Clarice Lispector, na prosa provocadora de A hora da estrela. e) a geração de 45, reagindo contra os chamados “papas” do modernismo. 08. (PUC-Camp/2016) Também no Brasil o século XVIII é momento da maior importância, fase de transição e preparação para a Independência. Demarcada, povoada, defendida, dilatada a terra, o século vai lhe dar prosperidade econômica, organização política e administrativa, ambiente para a vidacultural, terreno fecundo para a semente da liberdade. (...) A literatura produzida nos fins do século XVIII reflete, de modo geral, esse espírito, podendo- se apontar a obra de Tomás Antônio Gonzaga como a sua expressão máxima. (COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: EDLE, 1972, 7. Ed. p. 127 e p. 138) Considera-se um aspecto importante da poesia arcádica e neoclássica de Tomás Antônio Gonzaga no seguinte segmento crítico: a) na Lira dos vinte anos, combinam-se magistralmente as tendências lírica e satírica do poeta. b) sua arte religiosa exalta a intuição anímica, identificada como uma visão dos olhos da alma. c) seus poemas mais característicos devem ser elencados entre os da mais alta expressão dos ideais românticos. d) seus versos sofridos evocam o remorso do monge devorado pelos mais abjetos impulsos carnais. e) persiste nos versos de Marília de Dirceu um ânimo sossegado, o equilíbrio iluminista de uma felicidade caseira. 09. (PUC-Camp/2013) A valorização de paisagens bucólicas, idealizadas pelo equilíbrio e harmonia da natureza, expressa-se em versos como estes: I. Formoso e manso gado, que pascendo A relva andais por entre o verde prado, ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 71 Venturoso rebanho, feliz gado, Que à bela Antandra estais obedecendo. II. Não sou um diamante nato Nem consegui cristalizá-lo: Se ele te surge no que faço Será um diamante opaco. III. Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento. Atendem ao enunciado os versos que se encontram em a) I, II e III. b) I e II, somente. c) I e III, somente. d) II e III, somente. e) III, somente. 10. (PUC-Camp/2012) O prestígio do bucolismo em pleno Iluminismo setecentista pode ser constatado, dentro da literatura brasileira, a) nos sermões de Antonio Vieira, sobretudo quando neles dá ênfase à exuberância da natureza tropical. b) nos poemas de Gregório de Matos em que o poeta barroco enaltece os contornos de sua amada Bahia. c) em sonetos de Cláudio Manuel da Costa, nos quais o idealismo da paisagem arcádica é tomado como poderoso parâmetro estético. d) nos documentos de missionários e viajantes estrangeiros, que arrolavam, entusiasmados, a profusão de nossas riquezas naturais. e) nas descrições dos nossos primeiros romances românticos, em que a beleza natural da terra traduz bem as exaltações do nacionalismo. 11. (PUC-Camp/2009) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Sob a perspectiva histórica, o que faz Cláudio Manuel da Costa um homem de seu tempo é a nítida identificação com a terra natal (...). Revela-se nele o dilaceramento interior do intelectual que vê com olhos críticos a paisagem natal, como nestes versos de um soneto seu: Destes penhascos fez a natureza O berço, em que nasci: oh quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 72 (Sonia Salomão Khéde. “Apresentação” a Cláudio Manuel da Costa. Rio de Janeiro: Agir, Nossos Clássicos, 1983. p. 15) Salienta-se, no trecho acima, a) o interesse em exaltar a natureza nativa, vista como símbolo da pujança da cultura nacional. b) o sentimento nacionalista, que caracterizou as primeiras produções do nosso romantismo. c) o sentimento nativista, que se propagou entre escritores brasileiros do período neo-clássico. d) o ressentimento dos intelectuais brasileiros, por conta de seu desprestígio na ordem cultural do Primeiro Reinado. e) a melancolia dos nossos pré-românticos, influenciados pela derrota dos movimentos libertários na Europa do século XVIII. 12. (PUC-Camp/2009) Nos versos citados no trecho acima, o poeta Cláudio Manuel da Costa expressa a a) solidez que sua linguagem poética empresta à paisagem evanescente. b) ternura que lhe inspiram as características de seu berço natal. c) influência que sua poesia exerce sobre seus compatriotas. d) oposição entre seu temperamento e a natureza local. e) homologia entre a natureza local e seus sentimentos. 13. (Estratégia Vestibulares 2020/Questão Autoral/Professora Celina Gil/1º Simulado UNICAMP 2021) Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer. Muitos dos maiores homens, tendo afastado todos os obstáculos e renunciado às riquezas, a seus negócios e aos prazeres, empregaram até o último de seus dias para aprender a viver, contudo muitos deles deixaram a vida tendo confessado ainda não sabê-lo – e muito menos ainda o sabem os que mencionei acima. SÊNECA, Sobre a brevidade da Vida. São Paulo: L&PM, 2006. Com base no excerto anterior e na leitura dos três Sermões de Quarta-feira de Cinza, é correto afirmar que a) por não ser Sêneca um filósofo cristão, Padre António Vieira discorda de seu pensamento, principalmente quanto à necessidade da confissão. b) aprender a morrer é importante para ambos os escritores, pois o modo de viver a vida bem e aproveitar dos prazeres que ela proporciona. c) ambos os autores entendem que por ser a vida um grande aprender a morrer, ela se torna frustrante e a morte se torna um fardo ao homem. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 73 d) Padre António Vieira se alinha às ideias de Sêneca no que tange à ideia de que é preciso preparar-se para uma boa morte ao longo da vida. 14. (PUC-SP/1997) AOS AFETOS, E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM SONETO Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de águas disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo, em cristais aprisionado; Quando cristal em chamas derretido. Se és fogo como passas brandamente, Se és neve, como queimas com porfia? Mas ai, que andou Amor em ti prudente! Pois para temperar a tirania, Como quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu parecesse a chama fria. Considere atentamente as seguintes afirmações sobre o poema de Gregório de Matos: I. O par fogo e água, que figura amor e contentação, passa por variações contrastantes até evoluir para o oxímoro. II. O poema evidencia a "fórmula da ordem barroca" ditada por Gérard Genette: diferença transforma-se em oposição, oposição em simetria e simetria em identidade. III. O poema inscreve, no âmbito da linguagem, o conflito vivido pelo homem do século XVII. De acordo com o poema, pode-se concluir que: a) são corretas todas as afirmações. b) são corretas apenas as afirmações I e II. c) são corretas apenas as afirmações I e III. d) é correta apenas a afirmação II. e) é correta apenas a afirmação III. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 74 15. (PUC-MG/1997) Relacione este trecho ao seu respectivo estilo, de acordo com as informações contidas nas alternativas a seguir: "Sou pastor, não te nego; os meus montados São esses, que aí vês; vivo contente Ao trazer entre a relva florescente A doce companhia dos meus gados." a) BARROCO: O homem barroco é angustiado, vive entre religiosidade e paganismo, espírito e matéria, perdão e pecado. As obras refletem tal dualismo, permeado pela instabilidade das coisas. b) ARCADISMO: Em oposição ao Barroco, esse estilo procura atingir o ideal de simplicidade. Os árcades buscam na natureza o ideal de uma vida simples, bucólica, pastoril. c) ROMANTISMO: A arte romântica valoriza o folclórico, o nacional, que se manifesta pela exaltação da natureza pátria, pelo retorno ao passado histórico e pela criação do herói nacional. d) PARNASIANISMO: A poesia é descritiva, com exatidão e economia de imagens e metáforas. e) MODERNISMO: Original e polêmico,o nacionalismo nele se manifesta pela busca de uma língua brasileira e informal, pelas paródias e pela valorização do índio verdadeiramente brasileiro. 16. (PUC-MG/1997) Texto I "Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo claramente Na vossa ardente vista o sol ardente, e na rosada face a aurora fria; Enquanto pois produz, enquanto cria Essa esfera gentil, mina excelente No cabelo o metal mais reluzente, E na boca a mais fina pedraria. Gozai, gozai da flor da formosura, Antes que o frio da madura idade Tronco deixe despido o que é verdura. Que passado o zenith da mocidade, Sem a noite encontrar da sepultura, É cada dia ocaso da beldade." (Gregório de Matos) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 75 Texto II "Minha bela Marilia, tudo passa; A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça. Estão os mesmos deuses Sujeitos ao poder do ímpio Fado: Apolo já fugiu do Céu brilhante, Já foi pastor de gado. Ah! enquanto os Destinos impiedosos Não voltam contra nós a face irada, Façamos, sim façamos, doce amada, Os nossos breves dias mais ditosos, Um coração, que frouxo A grata posse de seu bem difere, A si, Marília, a si próprio rouba, E a si próprio fere. Ornemos nossas testas com as flores; E façamos de feno um brando leito, Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de sãos Amores. Sobre as nossas cabeças, Sem que o possam deter, o tempo corre; E para nós o tempo, que se passa, Também, Marilia, morre." (Tomás Antônio Gonzaga) O texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é correto afirmar, EXCETO: a) os barrocos e árcades expressam sentimentos. b) as construções sintáticas barrocas revelam um interior conturbado. c) o desejo de viver o prazer é dirigido à amada nos dois textos. d) os árcades têm uma visão de mundo mais angustiada que os barrocos. e) a fugacidade do tempo é temática comum aos dois estilos. 17. (UFMS/2022) Leia atentamente o poema a seguir: “Lira XIX” Enquanto pasta alegre o manso gado, Minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 76 Um pouco meditemos Na regular beleza, Que em tudo quanto vive, nos descobre A sábia natureza. (...) Repara, como cheia de ternura Entre as asas ao filho essa ave aquenta, Como aquela esgravata a terra dura, E os seus assim sustenta; Como se encoleriza, E salta sem receio a todo o vulto, Que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, Quando der ao filhinho o peito brando, E refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando Disser consigo: “É esta “De teu querido pai a mesma barba, “A mesma boca, e testa.” Que prazer não terão os pais ao verem Com as mães um dos filhos abraçados; Jogar outros luta, outros correrem Nos cordeiros montados! Que estado de ventura! Que até naquilo, que de peso serve, Inspira Amor, doçura! GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas. Ed. crít. M. Rodrigues Lapa. São Paulo: Ed. Nacional, 1942. Livros do Brasil, 5. Delimitando sua atenção na primeira e na terceira estrofes do poema transcrito acima, aponte a alternativa correta. a) Nessas estrofes estão claras as características do Arcadismo, como a paixão desenfreada, a vida urbana agitada e a sensualidade. b) As duas estrofes apresentam características do Arcadismo, como vida contemplativa, reconhecimento dos bons atributos da Natureza e amor entre duas pessoas, sem ignorar a sensualidade, como no binômio “esposa-amante”. c) As duas estrofes representam apenas os devaneios da mãe orgulhosa ao ver que o filho se parece com o pai, o amante distante. d) As duas estrofes contêm sentido oposto, uma vez que, na primeira estrofe, o eu do poema (eu lírico) convida sua amada para a contemplação reflexiva sobre a Vida e a Natureza e, na terceira, apenas exalta os prazeres amorosos e o desejo da mãe. e) As duas estrofes contêm sentidos complementares, uma vez que a alegria do gado diante da natureza exuberante se reflete no semblante do poeta ao ver sua imagem refletida no rosto de seus futuros filhos. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 77 18. (UFMS/2017) *Socrócio: roubalheira. Usura: juros, rendimento de capital. Néscio: ignorante, estúpido. *Sandeu: demente, louco, sem razão. Cabedal: bens materiais, riquezas. Considere as seguintes afirmações: I – Trata-se de um poema composto de ovillejos, forma poética que remete a Cervantes e é composta por dez versos agrupados em duas seções, uma de seis versos e outra de quatro versos. II – A primeira parte de cada ovillejo é composta de três versos pareados, formados cada um por uma pergunta e sua resposta em eco. III – Na primeira parte, as rimas são consoantes, o que gera o efeito de eco da resposta à pergunta que o antecede. IV – As rimas finais dos versos quinto e sexto se repetem nos versos sétimo e décimo de cada ovillejo, fazendo com que as duas partes se unam. V – A segunda parte de cada ovillejo é composta, predominantemente, por quatro versos em redondilha menor, ou seja, cinco sílabas poéticas. Assinale a alternativa correta: a) É correto o que se afirma apenas em I. b) É correto o que se afirma apenas em III e V. c) É correto o que se afirma apenas em IV e V. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 78 d) É correto o que se afirma apenas em I, II, III e IV. e) É correto o que se afirma em I, II, III, IV e V. 19. (UFMS/2017) Sobre o poema de Gregório de Matos, assinale a alternativa correta: a) Expressa a faceta lírica do escritor, na medida em que, apesar de expor questões sociais prementes em sua época, o faz de modo poético por meio de um eu lírico que condensa em si o amor próprio do lirismo neoclássico. b) Expressa a faceta sacra do escritor, na medida em que, ao não fazer uso de imagens cristãs no fragmento, separa sua poesia daquela de denúncia social, própria do período barroco. c) Expressa a face poética do escritor, na medida em que se percebe o fazer da “arte pela arte”, haja vista o rigor métrico da criação, fazendo com que o poema refira-se exclusivamente ao fazer poético, de modo autotélico. d) Expressa a face lírica do escritor, na medida em que, ao resgatar expedientes cervantinos, como os ovillejos, faz menção direta ao amor cavalheiresco, próprio da atualização que o barroco promovia do ideário medieval. e) Expressa a faceta satírica do escritor, na medida em que expõe as mazelas sociais, por meio do jogo de linguagem operado nos versos que denunciam condições de corrupção e exploração de povos, por meio do mercado escravagista. 20. (UFMS/2017) Leia atentamente o poema de Gregório de Matos: Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 79 O soneto, de Gregório de Matos, sintetiza algumas das ditas características do período barroco, como o jogo de oposição entre luz e sombra, promovido, no poema, por construções de caráter contraditório, como: “um dia” versus “noite escura”; “tristeza” versus “alegria”; e “constância” versus “inconstância”. A esse expediente, denomina-se: a) Quiasma. b) Rima. c) Metonímia. d) Antítese. e) Paráfrase.21. (UFMS/2017) Leia atentamente o soneto de Claudio Manuel da Costa, a seguir. Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo, Porás a ovelha branca, e o cajado; E ambos ao som da flauta magoado Podemos competir de extremo a extremo. Principia, pastor; que eu te não temo; Inda que sejas tão avantajado No cântico amebeu: para louvado Escolhamos embora o velho Alcemo. Que esperas? Toma a flauta, principia; Eu quero acompanhar-te; os horizontes Já se enchem de prazer, e de alegria: Parece, que estes prados, e estas fontes Já sabem, que é o assunto da porfia Nise, a melhor pastora destes montes. Nota-se, no soneto, em questão a proposição do eu lírico de uma cena em que se apresentam os elementos (a sanfona, a ovelha branca, o cajado, o pastor) e um cenário (os prados, as fontes). Às imagens, somam-se, virtualmente, os sons evocados pelo poema, materializados pelas rimas finais empregadas, mas também evocados pelos instrumentos musicais. Todo esse arranjo visa a uma discussão (porfia) cujo assunto é Nise, para os quais os horizontes já se enchem de prazer e alegria. Essa composição exemplifica: a) A construção de um locus amoenus, em clara relação ao aspecto bucólico materializado na imagem dos prados e dos pastores. b) A construção de uma poesia sinestésica, ao criar imagens que cruzam os sentidos do paladar e do olfato aos da visão. c) Ao uso de construções truncadas, em alusão às convulsões próprias do amor romântico, cujo idealismo se materializa em Nise. d) Ao cavalheirismo medieval, presente na contenda pela amada, que provoca a porfia “de extremo a extremo”, como índice da retomada de temas da antiguidade clássica. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 80 e) O amor carnal, materializado metaforicamente por meio dos instrumentos musicais, como recurso do eufemismo que sintetiza a estética neoclássica. 22. (IFSP/2016) Leia o soneto abaixo, de Gregório de Matos Guerra, para responder à questão. Fábio: que pouco entendes de finezas: Quem faz só o que pode, a pouco se obriga Quem contra os impossíveis se fatiga, a esse cede o Amor em mil 1ternezas. Amor comete sempre altas empresas: Pouco amor, muita sede não mitiga: Quem impossíveis vence, esse é que instiga vencer por ele muitas estranhezas. As durezas da cera, o Sol abranda, a da terra as branduras endurece: Atrás do que resiste, o raio é que anda. Quem vence a resistência, se enobrece: Quem faz o que não pode, impera e manda: Quem faz mais do que pode, esse merece. 1ternezas: ternuras GUERRA, Gregório de Matos. A um namorado, que se presumia de obrar finezas. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 65-66. A leitura atenta do texto permite afirmar que a) se trata de soneto em versos decassílabos e que, portanto, escapa, em alguma medida, à forma e à temática do Barroco. b) a temática da mitologia clássica – Amor, ou Eros, presente nos dois primeiros quartetos – é o que caracteriza o soneto acima como Barroco. c) a recorrência do pronome “quem”, ao longo dos dois primeiros quartetos, que culmina na última estrofe, revela as contradições típicas do Barroco. d) o fato de o eu lírico dirigir-se a “Fábio” e de fazer-lhe recomendações, na forma de soneto, assevera sua matriz contraditória e, portanto, barroca. e) a oposição entre fazer apenas o possível, de um lado, e fazer o impossível, de outro, confere feição barroca ao poema, pontilhando-o de antíteses. 23. (IFSP/2016) Considerando o Barroco, assinale a alternativa correta. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 81 a) Padre Antônio Vieira caracterizou-se por sua poesia satírica, sendo os sermões obras de insignificativa importância. b) Gregório de Matos é reconhecido por seus sermões religiosos, nos quais pregava a importância da fé e da manutenção das práticas da burguesia, uma classe verdadeira e honesta. c) Um aspecto central da vida de Gregório de Matos era o equilíbrio. O amor nunca foi tema de suas poesias, já que era casado e extremamente fiel à esposa. d) Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos foram importantes autores do Barroco. e) Padre Antônio Vieira nunca se envolveu com a política, uma vez que acreditava que seu trabalho era exclusivamente clerical e o sofrimento da população não despertava seu interesse. 24. (IFSP/2015/Janeiro) Se acaso for assim — o que vos não permitais — e está determinado em vosso secreto juízo, que entrem os hereges na Bahia, o que so vos represento humildemente, e muito deveras, e que, antes da execução da sentença, repareis bem, Senhor, no que vos pode suceder depois, e que o consulteis com vosso coração enquanto e tempo, porque melhor será arrepender agora, que quando o mal passado não tenha remédio.[...] Padre Antonio Vieira. Padre Antonio Vieira é responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do Barroco. O texto acima é um trecho do “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda-1640”. Assinale a afirmativa que não diz respeito à produção desse conhecido pregador. a) Escreveu cerca de duzentos sermões em estilo conceptista, isto e, que privilegia a retórica e o encadeamento lógico de ideias e conceitos. b) Sua obra era impregnada de filosofia, o que o levava a se considerar um filósofo. c) Autor de cerca de 500 cartas, que tratam de assuntos sobre a relação de Portugal e Holanda, a Inquisição e os cristãos-novos. d) Seus sermões valorizavam o folclórico, o nacional, tudo que se manifesta pela exaltação da natureza pátria, pelo retorno ao passado histórico e pela criação do herói nacional. e) Seus sermões eram polêmicos, criticava, entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influência negativa que o Protestantismo exerceria na colônia. 25. (IFSP/2015/Janeiro) Escreva R para o que se refere ao movimento renascentista e B para o que se refere ao movimento Barroco. Em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ( ) Esse movimento significou um retorno as formas e as proporções da antiguidade greco-romana. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 82 ( ) As esculturas, nessa fase, mostravam faces humanas marcadas pelas emoções, principalmente pelo sofrimento. ( ) Os artistas europeus dessa fase literária valorizavam as cores, as sombras e a luz e representavam os contrates. ( ) Indo de encontro ao saber baseado na autoridade, tradição e inspiração religiosa, durante esse movimento, a razão passa a ser a base do conhecimento. a) R/ R/ B/ R b) R/ B/ B/ R c) B/ B/ R/ B d) B/ B/ B/ R e) B/ R/ R/ B 26. (IFSP/2015/Janeiro) Sobre o poema de Gregório de Matos abaixo, analise as assertivas abaixo. Amor fiel Ó tu do meu amor fiel traslado Mariposa entre as chamas consumida, Pois se à força do ardor perdes a vida, A violência do fogo me há prostrado. Tu de amante o teu fim hás encontrado, Essa flama girando apetecida; Eu girando uma penha endurecida, No fogo que exalou, morro abrasado. Ambos de firmes anelando chamas, Tu a vida deixas, eu a morte imploro Nas constâncias iguais, iguais nas chamas. Mas ai! que a diferença entre nós choro, Pois acabando tu ao fogo, que amas, Eu morro, sem chegar à luz, que adoro. I. Usando a linguagem metafórica, o poeta compara o destino da mariposa ao destino do poeta. II. É um soneto descritivo que traduz o conflito entre o que o poeta sente e o que gostaria de sentir. III. Encontra-se, nesses versos, uma das características do Barroco, o conceptismo, que ocorre principalmente nos poemas; é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, que utiliza uma retórica aprimorada. É correto o que se afirma em a) I e III, apenas. b) III, apenas. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCOE ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 83 c) I apenas. d) II, apenas. e) I, II e III. 27. (IFSP/2014) Leia o soneto do escritor barroco Gregório de Matos. Descrição da Cidade de Sergipe d’El-Rei Três dúzias de casebres remendados, Seis becos, de 1mentrastos entupidos, Quinze soldados, rotos e despidos, Doze porcos na praça bem criados. Dois conventos, seis frades, três letrados, Um juiz, com bigodes, sem ouvidos, Três presos de piolhos carcomidos, Por comer dois meirinhos esfaimados. As damas com sapatos de 2baeta, Palmilha de tamanca como frade, Saia de 3chita, cinta de raqueta. O feijão, que só faz 4ventosidade Farinha de pipoca, pão que greta, De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade. (DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.) 1mentrasto: tipo de erva 2baeta: tecido felpudo 3chita: tecido de algodão de pouco valor 4ventosidade: que provoca flatulência Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o poeta a) critica veladamente o governo português por ter escolhido essa cidade para ser a sede administrativa da colônia. b) escreve esse poema para expor as angústias vividas durante o período em que cumpria a primeira ordem de desterro. c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, visto que sempre apreciou as mulheres brasileiras. d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, pois elas organizariam moralmente a cidade. e) descreve as condições do local, mostrando que os habitantes vivem rusticamente e com poucos recursos. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 84 28. (IFSP/2013/Janeiro) O culto exagerado da forma, o rebuscamento, a riqueza de pormenores, o conflito entre o profano e o sagrado são características a) do Renascimento. b) da Ilustração. c) do Realismo. d) do Barroco. e) do Simbolismo. 29. (IFSP/2012) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelo e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha estrela! (fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm, adaptado) A análise do trecho permite afirmar que o eu lírico a) valoriza os trajes ricos da cidade. b) despreza a vida humilde. c) manifesta preocupação religiosa. d) valoriza os benefícios de sua vida no campo. e) apresenta a vida na cidade como mais desejável do que a vida no campo. 30. (IFSP/2012) Pode-se afirmar que se destaca no poema a) o racionalismo, característica do Barroco. b) o conceptismo, característica do Arcadismo. c) o cultismo, característica do Barroco. d) o teocentrismo, característica do Barroco. e) o pastoralismo, característica do Arcadismo. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 85 31. (IFPE/2015/Julho) Os textos a seguir são do escritor barroco Gregório de Matos que encarnou em sua literatura as tensões espirituais do homem da época. Analise as afirmações e marque a correta. Pintura Admirável de uma Beleza Vês esse Sol de luzes coroado? Em pérolas a Aurora convertida? Vês a Lua de estrelas guarnecida? Vês o Céu de Planetas adorado? O Céu deixemos; vês naquele prado A Rosa com razão desvanecida? A Açucena por alva presumida? O Cravo por galã lisonjeado? Deixa o prado; vem cá, minha adorada, Vês desse mar a esfera cristalina Em sucessivo aljôfar desatada? Parece aos olhos ser prata fina? Vês tudo isto bem? pois tudo é nada À vista do teu rosto, Caterina. MATOS, G. de. Disponível em: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/gmatos.htm. Acesso em: 03/06/2015. À Cidade da Bahia Triste Bahia! Ó quão dessemelhante Estás, e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado, Tanto negócio e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh se quisera Deus, que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote! MATOS, G. de. Disponível em: http://poesiacontraaguerra.blogspot.com.br/2007/01/cidade-da- bahia.html. Acesso em: 03/06/2015. I. Os textos acima estão escritos em prosa, apesar de conterem certa carga lírica e de trazerem algumas características formais consideradas poéticas, tais como métrica e rima. II. O primeiro texto pode ser considerado um poema lírico-religioso, pois, apesar de tratar da expressão amorosa do eu-lírico por sua musa Caterina, o amor se mantém casto, longe dos apelos sexuais, obedecendo portanto aos ideais religiosos da época. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 86 III. O segundo texto, apesar de ser classificado como parte da obra satírica do autor, não faz apenas uma crítica contundente ao lugar. Observa-se também um tom de lirismo, trazido à tona pelos sentimentos de nostalgia e angústia que permeiam todo o texto. IV. O segundo poema, além de ter sido escrito sob a forma do soneto, tem sua composição ainda mais enriquecida pelo o uso das antíteses que retratam os estados anteriores e atuais das duas personagens principais: a cidade e o eu-poético. V. A apóstrofe, recurso estilístico bastante usado pelo autor, está presente nos dois textos. Pode-se observar que em ambos o eu-lírico dialoga com “alguém” (Caterina e a Bahia, respectivamente) para enfatizar sua relação com o interlocutor. Estão corretas: a) III, IV e V b) II, III e IV c) I, II e III d) I, IV e V e) I, II e V 32. (IFMG/2015/Julho) Em relação ao Arcadismo, é verdadeiro afirmar que foi uma corrente literária a) cujas principais características foram a exaltação à natureza e ao homem puro, racionalismo, inspiração greco-latina e linguagem simples. b) que valorizava aspectos urbanos da nova sociedade que surgia assim como seu enriquecimento e novos conceitos. c) baseada na exaltação do sentimentalismo da época e que empregava em seus textos temas ligados à morte, destino eterno e sofrimentos humanos. d) que buscava a valorização da vida terrena do homem, registrando-a em textos de vocabulário rico e de difícil compreensão. 33. (IFCE/2019) Leia o poema de Gregório de Matos Guerra, autor também conhecido como “Boca do Inferno”. Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda flor sua pisada. Oh, não aguardes, que a madura idade Te converta essa flor, essa beleza, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. São características da escola literária da qual o autor faz parte a) jogo metafórico do Barroco, a respeito da brevidade da vida, valorizando o gozo do momento. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 87 b) caráter de jogo verbal próprio da poesia lírica do século XVI, apresentando uma crítica à preocupação feminina com a beleza. c) estilo didático da poesia parnasiana, corroborando com as reflexões do autor sobre as mulheres maduras. d) os traços da escrita romântica, uma vez que fala de flores, terra, sombras. e) a abordagem de uma existência mais materialista do que espiritual, típica da visão simbolista. 34. (IFCE/2011) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Velho papel pode estar com os anos contados Já imaginou, daqui a algumas décadas, seu neto lhe perguntando o que era papel? Pois é, alguns pesquisadores já estão trabalhando para que esse dia chegue logo. A suposta ameaça à fibra natural não é o desajeitado e-book, mas o papel eletrônico, uma 'folha' que você carregaria dobradano bolso. Ela seria capaz de mostrar o jornal do dia – com vídeos, fotos e notícias atualizadas –, o livro que você estivesse lendo ou qualquer informação antes impressa. Tudo ali. Desde os anos 70, está no ar a ideia de papel eletrônico, mas as últimas novidades são de duas semanas atrás. Cientistas holandeses anunciaram que estão perto de criar uma tela com 'quase todas' as propriedades do papel: leveza, flexibilidade, clareza, etc. A novidade que deixa o invento um pouco mais palpável está nos transistores. No papel do futuro, eles não serão de silício, mas de plástico – que é maleável e barato. Os holandeses dizem já ter um protótipo que mostra imagens em movimento em uma tela de duas polegadas, ainda que de qualidade 'meia-boca'. Mas não vá celebrando o fim do desmatamento e do peso na mochila. A expectativa é que um papel eletrônico mais ou menos convincente apareça só daqui a cinco anos. Folha de S. Paulo, 17 dez. 2001. Folhateen, p. 10. Em uma das opções, a afirmação refere-se ao Barroco. a) O homem se mostra feliz consigo mesmo e se acha o centro do mundo. b) As mensagens dos textos revelam que o homem está angustiado e dividido entre o bem e o mal, a matéria e o espírito. c) O estilo era simples e, nos textos, prevalecia a objetividade. d) Os textos traziam mensagens de otimismo e baseavam-se no princípio de “gozar a vida”. e) Os escritores, embora vivessem na cidade, recomendavam a vida no campo. 35. (UFPR/2019) O Uraguai foi publicado pela primeira vez antes da independência do Brasil, em 1769, e narra as disputas entre espanhóis e portugueses pelos territórios do sul do continente, envolvendo os índios e os jesuítas. No fragmento abaixo, podemos conferir um trecho da fala do comandante português: O nosso último rei e o rei de Espanha ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 88 Determinaram por cortar de um golpe, Como sabeis, neste ângulo da terra, As desordens de povos confinantes, Que mais certos sinais nos dividissem. (GAMA, Basílio da. “Canto Primeiro”. O Uraguai. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 47.) O talento de Basílio da Gama, que transforma o árido assunto em matéria literária, recebe, cem anos depois, o elogio de Machado de Assis. Ao compará-lo com seu contemporâneo, Tomás Antônio Gonzaga, o escritor afirma: “Não lhe falta, também a ele, nem sensibilidade, nem estilo, que em alto grau possui; a imaginação é grandemente superior à de Gonzaga, e quanto à versificação nenhum outro, em nossa língua, a possui mais harmoniosa e pura” (MACHADO DE ASSIS. A nova geração. In. Obras completas. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1973. p.815). Sobre o poema de Basílio da Gama, considere as seguintes afirmativas: 1. O contexto histórico trabalhado no poema de Basílio da Gama é fundamental para o seu entendimento: a descentralização do poder colonial, protagonizada pelo Marquês de Pombal, e a disputa de territórios coloniais entre Espanha e Portugal, mediada e pacificada pelos jesuítas, na segunda metade do século XVIII. 2. Ao longo dos cinco cantos de O Uraguai, compostos em decassílabos sem rima, podemos perceber a marca da epopeia, na narração da guerra e dos feitos dos heroicos portugueses, e a presença da sátira, na caricatura dos jesuítas, particularmente na figura do Padre Balda. 3. O grande destaque dado aos índios e à defesa da sua terra, a exaltação lírica da natureza e a centralidade do par amor/morte, presente na relação de Lindoia e Cacambo, deram ao poema de Basílio da Gama o lugar de inaugurador do romantismo em todos os manuais de história da literatura brasileira. 4. Para narrar acontecimentos reais da ação de portugueses e espanhóis na disputa dos territórios delimitados pelo rio Uruguai, que hoje correspondem ao noroeste do Rio Grande do Sul e ao norte da Argentina, Basílio da Gama toma o cuidado de inserir apenas personagens ficcionais no seu poema, para não se comprometer. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. b) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 36. (UFPR/2018) Sobre o “Sermão de Santo Antônio aos peixes” (século XVII), do Padre Antônio Vieira, assinale a alternativa correta. a) Trata-se de um texto barroco, o que se nota pelo reaproveitamento intertextual que faz de um texto clássico, isto é, do sermão que três séculos antes o próprio Santo Antônio havia pregado. b) O sermão é dirigido aos outros pregadores, indicando o que devem fazer para ser o sal da terra, ou seja, para que sejam eficazes em sua ação. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 89 c) Na segunda metade do sermão, ao apontar os defeitos dos peixes, o Padre Antônio Vieira relaciona esses defeitos aos problemas das sociedades humanas. d) Os peixes voadores são louvados no sermão, já que superam suas limitações de peixe para se levantarem o quanto possível na direção do céu, aproximando-se de Deus. e) Vieira se refere a peixes mencionados por santos, pela Bíblia e por autores clássicos, mas não a peixes da costa brasileira, o que denota seu desinteresse por temas locais. 37. (UFPR/2017) Com base na leitura integral do “Sermão de Santo Antonio aos peixes”, de Antonio Vieira, assinale a alternativa correta. a) O texto se estrutura através de uma rede de analogias em que os peixes são equiparados à própria palavra de Deus. b) A palavra de Deus é comparada ao sal da terra, mas nunca consegue fertilizá-la, porque falta à terra a leveza dos peixes. c) Depois de ser lançado ao mar pelos homens, Santo Antonio foi reconduzido à praia pelos peixes, tornando-se exemplo da conduta cristã. d) O sal da terra é a palavra de Cristo e, segundo a parábola citada no sermão, ele preferiu pregar para os peixes a pregar para os homens. e) A terra, mesmo infértil, poderia ser melhor cultivada, caso houvesse pregadores que soubessem semear a boa palavra. 38. (UFPR/2017) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal! (Antônio Vieira, Sermão de Santo Antônio, em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000033.pdf>.) O texto trabalha fundamentalmente com duas metáforas: o sal e a terra, que representam, respectivamente, os pregadores (aqueles que deveriam propagar a palavra de Cristo) e os ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 90 ouvintes (aqueles que deveriam ser convertidos). O tema central do texto é a reflexão sobre as possíveis causas da ineficiência dos pregadores. Para tanto, o autor levanta algumas hipóteses. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas: 1. Os pregadores não pregam o que deveriam pregar. 2. Os ouvintes se recusam a aceitar o que os pregadores pregam.3. Os pregadores não agem de acordo com os valores que pregam. 4. Os ouvintes agem como os pregadores em vez de agir de acordo com o que eles pregam. 5. Os pregadores promovem a si mesmos na pregação ao invés de promover as palavras de Cristo. Constituem hipóteses levantadas pelo autor do texto: a) 1 e 3 apenas. b) 3 e 5 apenas. c) 1, 2 e 4 apenas. d) 2, 4 e 5 apenas. e) 1, 2, 3, 4 e 5. 39. (UFPR/2016) O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu: Seis horas enche e outras tantas vaza A maré pelas margens do Oceano, E não larga a tarefa um ponto no ano, Depois que o mar rodeia, o sol abrasa. Desde a esfera primeira opaca, ou rasa A Lua com impulso soberano Engole o mar por um secreto cano, E quando o mar vomita, o mundo arrasa. Muda-se o tempo, e suas temperanças. Até o céu se muda, a terra, os mares, E tudo está sujeito a mil mudanças. Só eu, que todo o fim de meus pesares Eram de algum minguante as esperanças, Nunca o minguante vi de meus azares. De acordo com o poema, é correto afirmar: a) A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 91 b) A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano. c) A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável. d) A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a aurea mediocritas. e) A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito. 40. (UFPR/2014) Leia atentamente o poema: Soneto Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, Que as bestas andam juntas mais ousadas, Do que anda o engenho mais profundo. Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos. O prudente varão há de ser mudo, Que é melhor neste mundo, mar de enganos, Ser louco c’os demais, que só, sisudo. A poesia satírica de Gregório de Matos emprega modelos e procedimentos variados. José Miguel Wisnik indica que ela pode ser entendida como “uma luta cômica entre duas sociedades, uma normal e outra absurda”. (WISNIK, J. M. “Prefácio”. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.23). Com base nisso, é correto dizer que este soneto: a) apresenta a imagem de um “mundo às avessas”, em que a maioria aceita a sociedade absurda como se fosse a ideal. b) desenha a sociedade ideal e utópica, que deverá ser alcançada no futuro. c) explora a dualidade conflituosa entre corpo e espírito e associa a vertente satírica à sacro- religiosa. d) apresenta um sujeito poético “sisudo e só”, o que retira do soneto o tom cômico que caracteriza a sátira. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 92 e) apresenta a crítica aberta e racional como solução para o estado insano do mundo. 41. (UFPR/2013) Considere o soneto a seguir, de Gregório de Matos: Descreve com galharda propriedade o labirinto confuso de suas desconfianças Ó caos confuso, labirinto horrendo, Onde não topo luz, nem fio achando; Lugar de glória, aonde estou penando; Casa da morte, aonde estou vivendo! Oh voz sem distinção, Babel* tremendo; Pesada fantasia, sono brando; Onde o mesmo que toco, estou sonhando; Onde o próprio que escuto, não o entendo; Sempre és certeza, nunca desengano; E a ambas pretensões com igualdade, No bem te não penetro, nem no dano. És ciúme martírio da vontade; Verdadeiro tormento para engano; E cega presunção para verdade. *Babel: bíblico, torre inacabada por castigo divino; quando de sua construção os homens viram seus idiomas se confundirem, gerando o desentendimento que os obrigou a se dispersarem. Por extensão, desentendimento, confusão. (MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção e organização: José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 219.) O soneto transcrito apresenta características recorrentes da poesia de Gregório de Matos e do período literário em que ele o escreveu, o Barroco. Acerca desse soneto, é correto afirmar: a) O poema descreve um labirinto e, de modo semelhante à imagem descrita, utiliza uma linguagem em que a ideia central só se apresenta no fim do texto. b) O poema se apropria de duas imagens, Babel e labirinto, com a intenção de tematizar um sentimento conturbado: a presunção. c) O poema se estrutura como um soneto típico, em que a ideia central está apresentada no primeiro quarteto. d) As figuras de linguagem utilizadas associam ideias contrárias, o que se contrapõe às imagens do labirinto e de Babel. e) O poema apresenta nos quartetos duas imagens concretas, dissociadas das abstrações apresentadas nos tercetos. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 93 42. (UFPR/2012) Considerando a poesia de Gregório de Matos e o momento literário em que sua obra se insere, avalie as seguintes afirmativas: 1. Apresentando a luta do homem no embate entre a carne e o espírito, a terra e o céu, o presente e a eternidade, os poemas religiosos do autor correspondem à sensibilidade da época e encontram paralelo na obra de um seu contemporâneo, Padre Antônio Vieira. 2. Os poemas erótico-irônicos são um exemplo da versatilidade do poeta, mas não são representativos da melhor poesia do autor, por não apresentarem a mesma sofisticação e riqueza de recursos poéticos que os poemas líricos ou religiosos apresentam. 3. Como bom exemplo da poesia barroca, a poesia do autor incrementa e exagera alguns recursos poéticos, deixando sua linguagem mais rebuscada e enredada pelo uso de figuras de linguagem raras e de resultados tortuosos. 4. A presença do elemento mulato nessa poesia resgata para a literatura uma dimensão social problemática da sociedade baiana da época: num país de escravos, o mestiço é um ser em conflito, vítima e algoz em uma sociedade violentamente desigual. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. 43. (UFRGS/2017) Assinale a alternativa correta sobre o Sermão do bom sucesso das armas e o Sermão de Santo Antônio, do padre Antônio Vieira. a) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador constrói argumentos para desqualificar o interlocutor e, então, provar seu erro em proteger os holandeses. b) No Sermão de Santo Antônio, o orador dirige-se aos peixes, a fim de destacar suas virtudes, inexistentes nos homens. c) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula uma interpelação a Deus para conclamar os maranhenses a lutarem contra os holandeses. d) No Sermão de Santo Antônio, o orador, simulando dirigir-se aos peixes, repreende, entre outras coisas, a tendência dos homens a se entredevorarem. e) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula a vitória dos holandeses, a fim de destacar a necessidade de os brasileiros abandonarem seus pecados. 44. (UFRGS/2014) Leia o trechodo “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de Gregório de Matos Guerra a seguir. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 94 Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir – responde por ele o mesmo santo que o arguiu – porque se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu argumento nas palavras antecedentes, com energia para Deus muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: Se eu fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer como Deus em me perdoar? Ainda disse e quis dizer mais: Peccavi, quid faciam tibi? Pequei, que mais vos posso fazer? E que fizestes vós, Jó, a Deus em pecar? Não lhe fiz pouco, porque lhe dei ocasião a me perdoar, e, perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer, e ele dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar. A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa piedade me despido; Porque, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada: Cobrai-a, e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. Assinale a alternativa correta a respeito dos textos. a) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, elogiam a autoridade divina capaz de perdoar os pecados, mesmo que à custa de sua glória e de seu discernimento. b) Jó, de acordo com Vieira, argumenta que há tanta glória em perdoar como em não perdoar, enquanto, para Gregório, o perdão concedido ao pecador renitente é a prova da glória de Deus. c) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, inibem a autoridade divina que se vê constrangida a aceitar os argumentos de dois pecadores. d) Jó, de acordo com Vieira, considera que a ocasião e a sorte impediram que a graça divina se manifestasse, enquanto para Gregório a graça divina não sofre restrições. e) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, reforçam seus argumentos a favor do perdão como garantia da glória divina. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 95 45. (IBMEC/2017) I – Obra de Caravaggio (1571 – 1610) (www.caravaggio-foundation.org) II – Soneto de Gregório de Matos Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Gregório de Matos, Poemas escolhidos (seleção e organização José Miguel Wisnik). São Paulo: Companhia das Letras, 2010) A leitura comparativa da obra e do poema permite identificar como característica comum a ambos o a) reconhecimento da efemeridade da vida, o que abranda os dilemas existenciais. b) apego ao transcendental, como forma de escapar aos sofrimentos do mundo real. c) jogo dos contrastes, expressando os conflitos dualistas do homem seiscentista. d) equilíbrio na representação, com a descrição concisa dos desejos humanos. e) desencanto do homem seiscentista pela vida, com o declínio do Renascimento. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 96 46. (IBMEC-SP-Insper/2010/Julho) Marília de Dirceu Enquanto pasta, alegre, o manso gado, minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos Na regular beleza, Que em tudo quanto vive nos descobre A sábia Natureza. Atende como aquela vaca preta O novilhinho seu dos mais separa, E o lambe, enquanto chupa a lisa teta. Atende mais, ó cara, Como a ruiva cadela Suporta que lhe morda o filho o corpo, E salte em cima dela. Repara, como cheia de ternura Entre as asas ao filho essa ave aquenta, Como aquela esgravata a terra dura, E os seus assim sustenta; Como se encoleriza, E salta sem receio a todo o vulto, Que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, Quando der ao filhinho o peito brando, E refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando Disser consigo: "É esta "De teu querido pai a mesma barba, "A mesma boca, e testa." Que gosto não terá a mãe, que toca, Quando o tem nos seus braços, c'o dedinho Nas faces graciosas, e na boca Do inocente filhinho! Quando, Marília bela, O tenro infante já com risos mudos Começa a conhecê-la! Que prazer não terão os pais ao ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 97 verem Com as mães um dos filhos abraçados; Jogar outros luta, outros correrem Nos cordeiros montados! Que estado de ventura! Que até naquilo, que de peso serve, Inspira Amor, doçura. (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: Proença Filho, Domício. Org. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1996, p. 605.) É correto afirmar sobre esses versos a) O cenário bucólico e pastoril, típico dos poemas árcades, contrasta com a seleção de palavras de baixo calão como “vaca”, “teta” e “cadela”. b) Inspirado nos clássicos greco-latinos e renascentistas, o poeta recorre a uma linguagem rebuscada e extravagante para valorizar a técnica barroca. c) Embora tenha a estrutura de um diálogo, os versos devem ser interpretados como um monólogo no qual o poeta reflete sobre a sabedoria da natureza, tomada como modelo de equilíbrio. d) O eu-lírico expressa seu ufanismo, pois idealiza a pátria e sua amada, Marília, de forma a antecipar os ideais do Romantismo. e) O poeta envolve sua amada numa atmosfera onírica para enfatizar a transfiguração do amor. 47. (ENEM DIGITAL/2020/1o dia) Leia a posteridade, ó pátrio Rio, Em meus versos teu nome celebrado, Por que vejas uma hora despertado O sono vil do esquecimento frio: Não vês nas tuas margens o sombrio, Fresco assento de um álamo copado; Não vês ninfa cantar, pastar o gado Na tarde clara do calmoso estio. Turvo banhando as pálidas areias Nas porções do riquíssimo tesouro O vasto campo da ambição recreias. Que de seus raios o planeta louro Enriquecendo o influxo em tuas veias, Quanto em chamas fecunda, brota em ouro. COSTA, C. M. Obras poéticas de Glauceste Satúrnio. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 out. 2015. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 98 A concepção árcade de Cláudio Manuel da Costa registra sinais de seu contexto histórico, refletidos no soneto por um eu lírico que a) busca o seu reconhecimento literário entre as gerações futuras. b) contempla com sentimento de cumplicidade a natureza e o pastoreio. c) lamenta os efeitos produzidos pelos atos de cobiça e pela indiferença. d) encontra na simplicidade das imagens a expressão do equilíbrio e da razão. e) recorre a elementos mitológicos da cultura clássica como símbolos da terra. 48. (ENEM/2018) Quantos há que os telhados têm vidrosos E deixam de atirar sua pedrada, De sua mesma telha receiosos.Adeus, praia, adeus, ribeira, De regatões tabaquista, Que vende gato por lebre Querendo enganar a vista. Nenhum modo de desculpa Tendes, que valer-vos possa: Que se o cão entra na igreja, É porque acha aberta a porta. GUERRA, G. M. In: LIMA, R. T. Abecê de folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (fragmento). Ao organizar as informações, no processo de construção do texto, o autor estabelece sua intenção comunicativa. Nesse poema, Gregório de Matos explora os ditados populares com o objetivo de a) enumerar atitudes. b) descrever costumes. c) demonstrar sabedoria. d) recomendar precaução. e) criticar comportamentos. 49. (ENEM/2016) Soneto VII Onde estou? Este sítio desconheço: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 99 Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado: Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! COSTA, C. M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012. No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma a) angústia provocada pela sensação de solidão. b) resignação diante das mudanças do meio ambiente. c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido. d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem. e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra. 50. (ENEM/2014) Quando Deus redimiu da tirania Da mão do Faraó endurecido O Povo Hebreu amado, e esclarecido, Páscoa ficou da redenção o dia. Páscoa de flores, dia de alegria Àquele povo foi tão afligido O dia, em que por Deus foi redimido; Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. Pois mandado pela alta Majestade Nos remiu de tão triste cativeiro, Nos livrou de tão vil calamidade. Quem pode ser senão um verdadeiro Deus, que veio estirpar desta cidade O Faraó do povo brasileiro. DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – BARROCO E ARCADISMO AULA 2 – BARROCO E ARCADISMO 100 Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por a) visão cética sobre as relações sociais. b) preocupação com a identidade brasileira. c) crítica velada à forma de governo vigente. d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo. e) questionamento das práticas pagãs na Bahia. 14. GABARITO 1) E 2) C 3) E 4) A 5) C 6) B 7) A 8) E 9) C 10) C 11) C 12) D 13) D 14) A 15) B 16) D 17) B 18) D 19) E 20) D 21) A 22) E 23) D 24) D 25) B 26) C 27) E 28) D 29) D 30) E 31) A 32) A 33) A 34) A 35) B 36) C 37) E 38) E 39) B 40) A 41) A 42) C 43) D 44) E 45) C 46) C 47) C 48) E 49) E 50) C ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 101 15. QUESTÕES COM COMENTÁRIOS LISTA DE QUESTÕES ESPECÍFICAS DA BANCA COMENTADA 01. (FUVEST/2022/1ª fase) Largo em sentir, em respirar sucinto, Peno, e calo, tão fino, e tão atento, Que fazendo disfarce do tormento Mostro que o não padeço, e sei que o sinto. O mal, que fora encubro, ou que desminto, Dentro no coração é que o sustento: Com que, para penar é sentimento, Para não se entender, é labirinto. Ninguém sufoca a voz nos seus retiros; Da tempestade é o estrondo efeito: Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Mas oh do meu segredo alto conceito! Pois não me chegam a vir à boca os tiros Dos combates que vão dentro no peito. Gregório de Matos e Guerra No soneto, o eu lírico: a) expressa um conflito que confirma a imagem pública do poeta, conhecido pelo epíteto de “o Boca do Inferno”. b) opta por sufocar a própria voz como estratégia apaziguadora de suas perturbações de foro íntimo. c) explora a censura que o autor sofreu em sua época, ao ser impedido de dar expressão aos seus sentimentos. d) estabelece, nos tercetos, um contraponto semântico entre as metáforas da natureza e da guerra. e) revela-se como um ser atormentado, ao mesmo tempo que omite a natureza de seu sofrimento. Comentários Esse poema expressa a intensidade do sentimento do eu-lírico que pode ser comparada a tiros de combates. Ele não revela o motivo de tal tumulto interior, por isso não é possível classificar o poema nem como lírico-amoroso, nem como de circunstância. Alternativa A está incorreta. Nesse poema, ele não critica nem ironiza qualquer personagem da Bahia, traço típico da poesia que o tornou conhecido como “Boca do Inferno”. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 102 Alternativa B está incorreta. O poeta não diz que procura sufocar seus sentimentos, pelo contrário, ao escrever ”Ninguém sufoca a voz nos seus retiros”, ele está querendo dizer que, dentro de si, ninguém consegue sufocar os sentimentos. Alternativa C está incorreta. O poeta discute a expressão de seus sentimentos internos, sem mencionar qualquer motivo externo para retê-los. Não há, portanto, qualquer referência à censura externa. Alternativa D está incorreta. As metáforas da natureza não se contrapõem à metáfora da guerra: assim como o estrondo da tempestade ecoa no mar, e os tiros do combate ecoam na guerra, os sentimentos ecoam dentro do eu-lírico. Alternativa E está incorreta. A referência ao tormento e ao silêncio em relação a ele são claros no primeiro terceto “Largo em sentir, em respirar sucinto,/Peno, e calo, tão fino, e tão atento,/Que fazendo disfarce do tormento/Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.” Ou seja, ele sofre, mas se cala. Gabarito: E. 02. (FUVEST/2020/1ª fase) A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso gabo*: Contemos esta regra por primeira, Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo. Na quinta torce agora a porca o rabo; A sexta vá também desta maneira: Na sétima entro já com grã** canseira, E saio dos quartetos muito brabo. Agora nos tercetos que direi? Direi que vós, Senhor, a mim me honrais Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei. Nesta vida um soneto já ditei; Se desta agora escapo, nunca mais: Louvado seja Deus, que o acabei. Gregório de Matos *louvor **grande Tipo zero Você é um tipo que não tem tipo Com todo tipo você se parece E sendo um tipo que assimila tanto tipo Passou a ser um tipo que ninguém esquece Quando você penetra num salão E se mistura com a multidão Você se torna um tipo destacado Desconfiado todo mundo fica Que o seu tipo não se classifica ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 103 Você passa a ser um tipo desclassificado Eu até hoje nunca vi nenhum Tipo vulgar tão fora do comum Que fosse um tipo tão observado Você ficou agora convencido Que o seu tipo já está batido Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado Noel Rosa O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem a) o processo de composição do texto. b) a própria inferioridade ante o retratado. c) a singularidade de um caráter nulo. d) o sublime que se oculta na vulgaridade. e) a intolerância para com os gênios. Comentários Questão de interpretação de texto; Literatura Comparada e conhecimento sobre a obra obrigatória no vestibular desse ano (Gregório de Matos - Poemas Escolhidos). Atenção: essa obra se mantém na lista de 2022, mas o Barroco no geral não cai com frequência na FUVEST. Alternativa A está incorreta. O primeiropoema é metalinguístico, ironiza a composição; o segundo não. Alternativa B está incorreta. Os dois eu líricos criticam o personagem que descrevem, portanto, não se inferiorizam. Alternativa C está correta. Pode-se observar que se fala de indivíduos de caráter nulo, observando-se os títulos: “A certa personagem desvanecida” (poema 1) e “Tipo zero” (texto 2). Além disso, ao dar características das pessoas criticadas, os eu líricos singularizaram as personalidades descritas. Alternativa D está incorreta. Nada há de sublime nos personagens descritos. Alternativa E está incorreta. Os personagens criticados não são geniais. Gabarito: C. 03. (FUVEST/2017/1ª fase) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 104 Senhor, não mereço isto. Não creio em vós para vos amar. Trouxestes-me a São Francisco e me fazeis vosso escravo. Não entrarei, senhor, no templo, seu frontispício me basta. Vossas flores e querubins são matéria de muito amar. Dai-me, senhor, a só beleza destes ornatos. E não a alma. Pressente-se a dor de homem, paralela à das cinco chagas. Mas entro e, senhor, me perco na rósea nave triunfal. Por que tanto baixar o céu? por que esta nova cilada? Senhor, os púlpitos mudos entretanto me sorriem. Mais que vossa igreja, esta sabe a voz de me embalar. Perdão, senhor, por não amar-vos. Carlos Drummond de Andrade *O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas de Vila Rica”, que integra a edição crítica de Claro enigma. São Paulo: Cosac Naify, 2012. Analise as seguintes afirmações relativas à arquitetura das igrejas sob a estética do Barroco: I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para assaltar de uma vez os sentidos, de modo que o público não possa escapar. II. O arquiteto procurava surpreender o observador, suscitando nele uma reação forte de maravilhamento. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 105 III. A arquitetura e a ornamentação dos templos deviam encenar, entre outras coisas, a preeminência da Igreja. A experiência que se expressa no poema de Drummond registra, em boa medida, as reações do eu lírico ao que se encontra registrado em a) I, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. Comentários Questão de Linguagens e Códigos; Literatura Comparada e julgar itens. Afirmação I: verdadeira. Nas Igrejas, procurava-se provocar todas as sensações através da luminosidade (arquitetura), cores (pinturas) e formas (escultura). O eu lírico refere-se a isso quando afirma “Vossas flores e querubins/ são matéria de muito amar.” Afirmação II: verdadeira. No Barroco, a finalidade é provocar a admiração do fiel. Isso fica claro nos seguintes versos “Mas entro e, senhor, me perco/ na rósea nave triunfal.” Afirmação III: verdadeira. A proeminência da Igreja é expressa no seguinte trecho “...vossa igreja, esta/ sabe a voz de me embalar. Gabarito: E. 04. (FUVEST/1995/1ª fase) Os sonetos de Bocage que transpõem poeticamente a experiência do autor na região colonial de Goa apresentam alguns traços semelhantes aos dos poemas em que, anteriormente, Gregório de Matos enfocara a sociedade colonial da Bahia. Sob esse aspecto, são traços comuns a ambos os poetas: a) presunção de superioridade, crítica da vaidade, preconceito de cor. b) sensualismo, crítica da presunção, elogio da mestiçagem. c) presunção de superioridade, elogio da nobreza local, sátira da mestiçagem. d) sensualismo, crítica da nobreza antiga, preconceito de cor. e) estilo tropical, crítica da vaidade, elogio da mestiçagem. Comentários Questão sobre conhecimentos do movimento literário/autor e obra do cânone. Alternativa A: correta – gabarito. Tanto nas produções poéticas de Bocage, tanto nas de Gregório de Matos, é possível identificar tais críticas, exibidas através de um cunho satírico. Alternativa B: incorreta. Diferentemente de Bocage, Gregório de Matos não faz um elogio da mestiçagem. O autor, inserido na Bahia colonial, é favorável ao sistema escravista. Alternativa C: incorreta. Os poeta não elogiam as nobrezas locais, ao contrário, satirizam- nas. Alternativa D: incorreta. Gregório de Matos não critica o preconceito de cor. Alternativa E: incorreta. Bocage não possui estilo tropical. O autor, que viveu na Ásia e em Portugal, assume um tipo poético que não se inspira nas influências tropicais, como ocorre com Gregório de Matos. Gabarito: A. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 106 05. (FUVEST/1987/1ª fase) “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia. Depois da luz, se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristeza a alegria.” Na estrofe acima, de um soneto de Gregório de Matos e Guerra, a principal característica do Barroco é: a) o culto da Natureza. b) a utilização de rimas alternadas. c) a forte presença de antíteses. d) o culto do amor cortês. e) o uso de aliterações. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Essa seria uma característica romântica ou árcade. Alternativa B: incorreta. Rimas alternadas são aquelas que seguem o esquema ABAB, e a estrofe segue o esquema ABBA (rimas opostas ou interpoladas). Alternativa "c": correta – gabarito. A antítese é uma figura de linguagem que marca a oposição, verificada no texto por meio do jogo de luz e sombra (chiaroscuro). Alternativa D: incorreta. O amor cortês é um código de conduta que preza pelo cavalheirismo e pela honra. Trata-se de uma característica trovadoresca e não barroca. Alternativa E: incorreta. Aliteração é uma figura de linguagem em que há repetição de sons consonantais. Trata-se de uma característica principalmente simbolista. Gabarito: C. 06. (FUVEST/1981/1ª fase) A respeito do Pe. Antonio Vieira, pode-se afirmar: a) Embora vivesse no Brasil, por sua formação lusitana, não se ocupou de problemas locais. b) Procurava adequar os textos bíblicos às realidades de que tratava. c) Dada sua espiritualidade, demonstrava desinteresse por assuntos mundanos. d) Em função de seu zelo para com Deus, utilizava-O para justificar todos os acontecimentos políticos e sociais. e) Mostrou-se tímido diante dos interesses dos poderosos. Comentários Questão de conhecimentos biográficos sobre autor importante do cânone. Alternativa A: incorreta. Na carta de Padre Antonio Vieira ao rei D. João VI de 1654, por exemplo, Padre Antonio Vieira fala da desigualdade social no Brasil, sobretudo quanto à exploração dos indígenas. Alternativa B: correta – gabarito. A realidade barroca do século XVII. Alternativa C: incorreta. Como o Barroco tratou de dualismos, os textos de Vieira procuram adequar racionalidade com espiritualidade, como é o caso do Sermão da Quarta-Feira de Cinzas. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 107 Alternativa D: incorreta. Cuidado com os absolutismos: “todos”. Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: era afrontoso; atacava autoridades. No “Sermão do bom ladrão”, por exemplo, critica Alexandre, o grande, acusando-o indiretamente de roubo. Gabarito: B. 07. (PUC-Camp/2016) Personagem frequente dos carros alegóricos, d. Pedro surgia, nos anos 1880, ora como Pedro Banana ou como Pedro Caju, numa alusão à sua falta de participação nos últimos anos do Império. Mas é só com a queda da monarquia que se passa a eleger um rei do Carnaval. Com efeito, o rei Momo é uma invenção recente, datada de 1933. No século XIX ele não era rei, mas um deus grego: zombeteiro, pândego e amante da galhofa. Nos anos 30 vira Rei Momo e logo depois cidadão. Novos tempos, novos termos. (SCHWARCZ, Lilian Mortiz. As barbas do Imperador: Dom Pedro II , um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras,1998, p. 281) A crítica galhofeira a autoridades e a pessoas de prestígio foi uma arma contundente de que se valeu a) o poeta barroco Gregório de Matos, em sua poesia satírica. b) Claúdio Manuel da Costa, nas cartas que escreveu ao mandatário de Minas Gerais. c) o poeta Carlos Drummond de Andrade, nos ácidos versos de Claro enigma. d) Clarice Lispector, na prosa provocadora de A hora da estrela. e) a geração de 45, reagindo contra os chamados “papas” do modernismo. Comentários Atenção: questão sobre Literatura Comparada; conhecimento sobre movimentos literários e autores e obras importantes do cânone. Não se preocupem, alguns assuntos serão retomados nas aulas sobre Modernismo. Alternativa A: correta – gabarito. Esse é o gênero pelo qual Gregório se tornou mais conhecido. Criticava os padres, as freiras, algumas autoridades da cidade da Bahia, os mulatos e indígenas. Suas críticas eram moralistas. Condenava o comportamento hipócrita e o orgulho inapropriado de uma classe vinda dos estamentos mais baixos, mas que se comportava como a fina flor da nobreza. Alternativa B: incorreta. Tomás Antônio Gonzaga é o autor das caratas escritas a Minério Fanfarrão, na realidade, Luís da Cunha Meneses. Alternativa C: incorreta. A obra Claro enigma de Drummond contratas com Rosa do povo no que diz respeito à temática de compromisso social e dá espaço ao questionamento sobre temas e formas a serem assumidas no sentido de um novo projeto literário. Alternativa D: incorreta. Clarice Lispector representa a vertente literária que cultiva a prosa intimista, por meio de narrativas em que o foco principal incide na exploração dos aspectos humanos e no tempo psicológico dos personagens envolvidos na trama, como em A hora da estrela. Alternativa E: incorreta. A geração de 45 reuniu artistas preocupados em buscar uma nova expressão literária, mediante experimentação e inovações estéticas, temáticas e linguísticas. Gabarito: A. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 108 08. (PUC-Camp/2016) Também no Brasil o século XVIII é momento da maior importância, fase de transição e preparação para a Independência. Demarcada, povoada, defendida, dilatada a terra, o século vai lhe dar prosperidade econômica, organização política e administrativa, ambiente para a vida cultural, terreno fecundo para a semente da liberdade. (...) A literatura produzida nos fins do século XVIII reflete, de modo geral, esse espírito, podendo- se apontar a obra de Tomás Antônio Gonzaga como a sua expressão máxima. (COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: EDLE, 1972, 7. Ed. p. 127 e p. 138) Considera-se um aspecto importante da poesia arcádica e neoclássica de Tomás Antônio Gonzaga no seguinte segmento crítico: a) na Lira dos vinte anos, combinam-se magistralmente as tendências lírica e satírica do poeta. b) sua arte religiosa exalta a intuição anímica, identificada como uma visão dos olhos da alma. c) seus poemas mais característicos devem ser elencados entre os da mais alta expressão dos ideais românticos. d) seus versos sofridos evocam o remorso do monge devorado pelos mais abjetos impulsos carnais. e) persiste nos versos de Marília de Dirceu um ânimo sossegado, o equilíbrio iluminista de uma felicidade caseira. Comentários Atenção: questão sobre Literatura Comparada; conhecimento sobre movimentos literários e autores e obras importantes do cânone. Não se preocupem, alguns assuntos serão retomados nas aulas sobre Romantismo. Alternativa A: incorreta. A obra Lira dos Vinte Anos foi escrita pelo poeta ultrarromântico Álvares de Azevedo. Alternativa B: incorreta. O autor não é reconhecido pela produção de artes religiosas, e sim pelos poemas de exaltação à sua amada lírica, Marília de Dirceu. Alternativa C: incorreta. O autor se enquadra no movimento Neoclássico ou Árcade. O movimento romântico ocorrerá somente depois na história literária. Alternativa D: incorreta. Os poemas feitos por Tomás Antônio Gonzaga não exaltam valores carnais e tampouco possuem monges como eu líricos. A poesia exalta valores bucólicos, típicos do movimento. Alternativa E: correta – gabarito. Tomás Antônio Gonzaga é o autor da obra Marília de Dirceu. Trata-se de um poema narrativo em 3 partes. A primeira, com 33 “liras”, apresenta características marcadamente árcades. Na voz de um simples campesino em diálogo com sua pastora, o eu lírico expressa a satisfação do amante que valoriza o momento presente, manifesta o desejo de uma vida simples, casado e com filhos, em perfeita harmonia com a natureza amena. Gabarito: E. 09. (PUC-Camp/2013) A valorização de paisagens bucólicas, idealizadas pelo equilíbrio e harmonia da natureza, expressa-se em versos como estes: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 109 I. Formoso e manso gado, que pascendo A relva andais por entre o verde prado, Venturoso rebanho, feliz gado, Que à bela Antandra estais obedecendo. II. Não sou um diamante nato Nem consegui cristalizá-lo: Se ele te surge no que faço Será um diamante opaco. III. Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento. Atendem ao enunciado os versos que se encontram em a) I, II e III. b) I e II, somente. c) I e III, somente. d) II e III, somente. e) III, somente. Comentários Questão de Literatura Comparada; julgar itens e conhecimento sobre o movimento literário. Afirmação I: correta. São os primeiros versos do soneto XV de Cláudio Manoel da Costa. As alusões a gado, relva, prado e rebanho evidenciam o bucolismo. Afirmação II: incorreta. Esses versos pertencem ao poema “Camarada diamante!”, do modernista da geração de 45 João Cabral de Melo Neto. Há valorização pela forma, pelo objeto. Afirmação III: correta. É o soneto I de Obras Poéticas de Glauceste Satúrnio. A mera menção a montes indica o apreço pela natureza. Gabarito: C. 10. (PUC-Camp/2012) O prestígio do bucolismo em pleno Iluminismo setecentista pode ser constatado, dentro da literatura brasileira, a) nos sermões de Antonio Vieira, sobretudo quando neles dá ênfase à exuberância da natureza tropical. b) nos poemas de Gregório de Matos em que o poeta barroco enaltece os contornos de sua amada Bahia. c) em sonetos de Cláudio Manuel da Costa, nos quais o idealismo da paisagem arcádica é tomado como poderoso parâmetro estético. d) nos documentos de missionários e viajantes estrangeiros, que arrolavam, entusiasmados, a profusão de nossas riquezas naturais. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 110 e) nas descrições dos nossos primeiros romances românticos, em que a beleza natural da terra traduz bem as exaltações do nacionalismo. Comentários Questão de conhecimentos do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Aqui, predominam as tendências do cultismo (jogo de palavras) e conceptismo (jogo de ideias). Alternativa B: incorreta. Não só, mas a lírica de Gregório de Matos pode ser classificada como satírica, religiosa, camoniana e existencial. Alternativa C: correta – gabarito. No bucolismo, as poesias descrevem a simplicidade da vida rural, destacando as belezas da vida campestre e da natureza. Alternativa D: incorreta. Essas características mais se associam ao Quinhentismo. Alternativa E: incorreta. O romance e o livro surgem no romantismo, mas o nacionalismo irá ser exaltado por meio de um outro projeto estético. Gabarito: C. 11. (PUC-Camp/2009) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES Sob a perspectiva histórica, o que faz Cláudio Manuel da Costa um homem de seu tempo é a nítida identificação com a terra natal (...). Revela-se nele o dilaceramento interior do intelectual que vê com olhos críticos a paisagem natal, como nestes versos de um soneto seu: Destes penhascos fez a natureza O berço, em que nasci: oh quem cuidara Que entre penhas tãoduras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza. (Sonia Salomão Khéde. “Apresentação” a Cláudio Manuel da Costa. Rio de Janeiro: Agir, Nossos Clássicos, 1983. p. 15) Salienta-se, no trecho acima, a) o interesse em exaltar a natureza nativa, vista como símbolo da pujança da cultura nacional. b) o sentimento nacionalista, que caracterizou as primeiras produções do nosso romantismo. c) o sentimento nativista, que se propagou entre escritores brasileiros do período neo-clássico. d) o ressentimento dos intelectuais brasileiros, por conta de seu desprestígio na ordem cultural do Primeiro Reinado. e) a melancolia dos nossos pré-românticos, influenciados pela derrota dos movimentos libertários na Europa do século XVIII. Comentários Questão de Literatura Comparada/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. A natureza em destaque no texto evidencia não características de pujança, mas elementos de falta e dureza, evidente a partir da expressão “penhas tão duras”. Alternativa B: incorreta. Cláudio Manuel da Costa foi um escritor pertencente ao movimento árcade. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 111 Alternativa C: correta – gabarito. Dentre os escritores do período, alguns eram emigrados de Portugal, que vinham ao Brasil e expressavam através da poesia os sentimentos de saudade, engrandecendo um sentimento nativista próprio da poesia árcade brasileira. Alternativa D: incorreta. O texto não salienta fatores referentes ao desprestígio motivados por uma ordem cultural; expressa o descontentamento do autor por estar longe de sua terra natal, Portugal. Alternativa E: incorreta. O texto não se refere à derrota de movimentos libertários. Expressa uma melancolia proveniente da saudade das características da sua terra natal, como os “penhascos” e as “penhas tão duras”. Gabarito: C. 12. (PUC-Camp/2009) Nos versos citados no trecho acima, o poeta Cláudio Manuel da Costa expressa a a) solidez que sua linguagem poética empresta à paisagem evanescente. b) ternura que lhe inspiram as características de seu berço natal. c) influência que sua poesia exerce sobre seus compatriotas. d) oposição entre seu temperamento e a natureza local. e) homologia entre a natureza local e seus sentimentos. Comentários Questão de interpretação de texto/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Evanescente significa efêmero, passageiro. A paisagem relatada no texto expressa solidez e uma longa existência, através da palavra “penhascos” e da expressão “penhas tão duras”. Alternativa B: incorreta. A imagem fornecida pelo seu berço natal é de rigidez, que diverge com a “alma terna” e o “peito sem dureza” do eu lírico. Alternativa C: incorreta. A poesia fala somente do eu lírico. Não há citação aos compatriotas. Alternativa D: correta – gabarito. O texto destaca o temperamento do eu lírico, marcado pelos termos “alma terna” e “peito sem dureza” em contraste à imagem rígida de uma paisagem de penhascos e com “penhas tão duras”. Alternativa E: incorreta. Os sentimentos e a natureza não são homólogos, são divergentes. O autor questiona como uma terra tão dura foi capaz de produzir uma alma terna e um peito sem dureza. Gabarito: D. 13. (Estratégia Vestibulares 2020/Questão Autoral/Professora Celina Gil/1º Simulado UNICAMP 2021) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 112 Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer. Muitos dos maiores homens, tendo afastado todos os obstáculos e renunciado às riquezas, a seus negócios e aos prazeres, empregaram até o último de seus dias para aprender a viver, contudo muitos deles deixaram a vida tendo confessado ainda não sabê-lo – e muito menos ainda o sabem os que mencionei acima. SÊNECA, Sobre a brevidade da Vida. São Paulo: L&PM, 2006. Com base no excerto anterior e na leitura dos três Sermões de Quarta-feira de Cinza, é correto afirmar que a) por não ser Sêneca um filósofo cristão, Padre António Vieira discorda de seu pensamento, principalmente quanto à necessidade da confissão. b) aprender a morrer é importante para ambos os escritores, pois o modo de viver a vida bem e aproveitar dos prazeres que ela proporciona. c) ambos os autores entendem que por ser a vida um grande aprender a morrer, ela se torna frustrante e a morte se torna um fardo ao homem. d) Padre António Vieira se alinha às ideias de Sêneca no que tange à ideia de que é preciso preparar-se para uma boa morte ao longo da vida. Comentários Questão de interpretação de texto/conhecimento de autores do cânone. A alternativa A está incorreta, pois em todos os sermões, Vieira assume a influência dos estoicos, ainda que não seja total justamente pela divergência religiosa. A alternativa B está incorreta, pois o objetivo de aprender a morrer é não sofrer com a morte e não adquirir mais tempo de vida. A alternativa C está incorreta, pois não é o pensamento sobre a morte que torna a vida sofrida. Para Vieira, a vida simplesmente é sofrimento e a morte pode ser o fim desses sofrimentos. A alternativa D está correta, pois ambos os autores pensam sobre a preparação para a morte. Preparar-se para a morte significa aceitar sua inevitabilidade, pois ela é o destino de todos os homens. Gabarito: D. 14. (PUC-SP/1997) AOS AFETOS, E LÁGRIMAS DERRAMADAS NA AUSÊNCIA DA DAMA A QUEM QUERIA BEM SONETO Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de águas disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo, em cristais aprisionado; Quando cristal em chamas derretido. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 113 Se és fogo como passas brandamente, Se és neve, como queimas com porfia? Mas ai, que andou Amor em ti prudente! Pois para temperar a tirania, Como quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu parecesse a chama fria. Considere atentamente as seguintes afirmações sobre o poema de Gregório de Matos: I. O par fogo e água, que figura amor e contentação, passa por variações contrastantes até evoluir para o oxímoro. II. O poema evidencia a "fórmula da ordem barroca" ditada por Gérard Genette: diferença transforma-se em oposição, oposição em simetria e simetria em identidade. III. O poema inscreve, no âmbito da linguagem, o conflito vivido pelo homem do século XVII. De acordo com o poema, pode-se concluir que: a) são corretas todas as afirmações. b) são corretas apenas as afirmações I e II. c) são corretas apenas as afirmações I e III. d) é correta apenas a afirmação II. e) é correta apenas a afirmação III. Comentários Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e julgar itens. Afirmação I: correta. O oxímoro é uma “figura em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir‐se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão” (HOUAISS, 2001). Afirmação II: correta. Os contrastes fazem parte da dinâmica e da estética barrocas. Afirmação III: correta. Um conflito espiritual entre o teocentrismo e o antropocentrismo. Gabarito: A. 15. (PUC-MG/1997) Relacione este trecho ao seu respectivo estilo, de acordo com as informações contidas nas alternativas a seguir: "Sou pastor, não te nego; os meus montados São esses, que aí vês; vivo contente Ao trazer entre a relva florescente A doce companhia dos meus gados." a) BARROCO: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 114 O homem barroco é angustiado, vive entre religiosidade e paganismo, espírito e matéria, perdão e pecado. As obras refletem tal dualismo, permeado pela instabilidade das coisas. b) ARCADISMO: Em oposição ao Barroco,esse estilo procura atingir o ideal de simplicidade. Os árcades buscam na natureza o ideal de uma vida simples, bucólica, pastoril. c) ROMANTISMO: A arte romântica valoriza o folclórico, o nacional, que se manifesta pela exaltação da natureza pátria, pelo retorno ao passado histórico e pela criação do herói nacional. d) PARNASIANISMO: A poesia é descritiva, com exatidão e economia de imagens e metáforas. e) MODERNISMO: Original e polêmico, o nacionalismo nele se manifesta pela busca de uma língua brasileira e informal, pelas paródias e pela valorização do índio verdadeiramente brasileiro. Comentários Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e associação. Atenção: conhecimentos sobre outros movimentos literários serão aprendidas nas suas respectivas aulas. Alternativa A: incorreta. O texto não reflete as antíteses características do Barroco. Expõe, ao contrário, a alegria do pastor diante da sua paisagem bucólica. Alternativa B: correta – gabarito. O texto exprime as características de um texto bucólico: eu lírico pastor, paisagem bucólica, campestre, além da vida simples e frugal. Alternativa C: incorreta. Apesar da referência à natureza, o texto não evidencia características que possibilitem relacionar a natureza aos elementos patrióticos. Alternativa D: incorreta. O texto não é descritivo. Busca expor as características do modo de vida do pastor em sua paisagem. Alternativa E: incorreta. O texto não possui características polêmicas. Além disso, a linguagem é formal. Não há índios no texto. Gabarito: B. 16. (PUC-MG/1997) Texto I "Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo claramente Na vossa ardente vista o sol ardente, e na rosada face a aurora fria; Enquanto pois produz, enquanto cria Essa esfera gentil, mina excelente No cabelo o metal mais reluzente, E na boca a mais fina pedraria. Gozai, gozai da flor da formosura, ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 115 Antes que o frio da madura idade Tronco deixe despido o que é verdura. Que passado o zenith da mocidade, Sem a noite encontrar da sepultura, É cada dia ocaso da beldade." (Gregório de Matos) Texto II "Minha bela Marilia, tudo passa; A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça. Estão os mesmos deuses Sujeitos ao poder do ímpio Fado: Apolo já fugiu do Céu brilhante, Já foi pastor de gado. Ah! enquanto os Destinos impiedosos Não voltam contra nós a face irada, Façamos, sim façamos, doce amada, Os nossos breves dias mais ditosos, Um coração, que frouxo A grata posse de seu bem difere, A si, Marília, a si próprio rouba, E a si próprio fere. Ornemos nossas testas com as flores; E façamos de feno um brando leito, Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de sãos Amores. Sobre as nossas cabeças, Sem que o possam deter, o tempo corre; E para nós o tempo, que se passa, Também, Marilia, morre." (Tomás Antônio Gonzaga) O texto I é barroco; o texto II é arcádico. Comparando-os, é correto afirmar, EXCETO: a) os barrocos e árcades expressam sentimentos. b) as construções sintáticas barrocas revelam um interior conturbado. c) o desejo de viver o prazer é dirigido à amada nos dois textos. d) os árcades têm uma visão de mundo mais angustiada que os barrocos. e) a fugacidade do tempo é temática comum aos dois estilos. Comentários Questão de interpretação de texto literário, Literatura Comparada e conhecimentos dos movimentos literários. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 116 Alternativa A: incorreta. De fato, tanto os barrocos quanto árcades, expressam sentimentos no poema, embora os sentimentos barrocos sejam mais conturbados e intensos, enquanto os árcades, mais simples e amenos. Alternativa B: incorreta. O interior do eu lírico conturbado reflete seu antagonismo diante de uma realidade dual e complexa. Alternativa C: incorreta. Em ambos os textos podemos identificar a devoção pela amada. Alternativa D: correta – gabarito. Pelo contrário, a visão de mundo dos árcades é muito mais simples e reflete paz, diferentemente da visão dos barrocos, que apresentam uma visão de mundo muito mais angustiada. Alternativa E: incorreta. Tanto o Barroco quanto o Arcadismo veem o tempo como algo essencialmente passageiro e rápido. Gabarito: D. 17. (UFMS/2022) Leia atentamente o poema a seguir: “Lira XIX” Enquanto pasta alegre o manso gado, Minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos Na regular beleza, Que em tudo quanto vive, nos descobre A sábia natureza. (...) Repara, como cheia de ternura Entre as asas ao filho essa ave aquenta, Como aquela esgravata a terra dura, E os seus assim sustenta; Como se encoleriza, E salta sem receio a todo o vulto, Que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, Quando der ao filhinho o peito brando, E refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando Disser consigo: “É esta “De teu querido pai a mesma barba, “A mesma boca, e testa.” Que prazer não terão os pais ao verem Com as mães um dos filhos abraçados; Jogar outros luta, outros correrem Nos cordeiros montados! Que estado de ventura! ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 117 Que até naquilo, que de peso serve, Inspira Amor, doçura! GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas. Ed. crít. M. Rodrigues Lapa. São Paulo: Ed. Nacional, 1942. Livros do Brasil, 5. Delimitando sua atenção na primeira e na terceira estrofes do poema transcrito acima, aponte a alternativa correta. a) Nessas estrofes estão claras as características do Arcadismo, como a paixão desenfreada, a vida urbana agitada e a sensualidade. b) As duas estrofes apresentam características do Arcadismo, como vida contemplativa, reconhecimento dos bons atributos da Natureza e amor entre duas pessoas, sem ignorar a sensualidade, como no binômio “esposa-amante”. c) As duas estrofes representam apenas os devaneios da mãe orgulhosa ao ver que o filho se parece com o pai, o amante distante. d) As duas estrofes contêm sentido oposto, uma vez que, na primeira estrofe, o eu do poema (eu lírico) convida sua amada para a contemplação reflexiva sobre a Vida e a Natureza e, na terceira, apenas exalta os prazeres amorosos e o desejo da mãe. e) As duas estrofes contêm sentidos complementares, uma vez que a alegria do gado diante da natureza exuberante se reflete no semblante do poeta ao ver sua imagem refletida no rosto de seus futuros filhos. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Vida na cidade não. Tanto é que um dos lemas árcades, cujo modo de vida se sintetiza em latinismos, é fugere urbem (fugir da cidade). Os poetas árcades acreditavam que a cidade era um espaço de imundície, corrupção e aparência, expressando seu desejo de fugir dela, resguardando-se no campo. Alternativa B: correta – gabarito. Dirceu é um pastor que se declama para Marília, sua interlocutora. A Natureza é um templo sagrado, onde o casal repousa e contempla (carpe diem, aproveitando o dia). A ave protege sua cria, porque essa é uma ação natural. Há um erotismo brando (e não exacerbado, como seria no Romantismo), que se verifica na confusão entre as figuras da amante e da mãe. Alternativa C: incorreta. Cuidado com absolutismos: "apenas". Alternativa D: incorreta. Não apresentam sentido oposto. Alternativa E: incorreta. Não são necessariamente seus futuros filhos. Os pais e os filhos estão sendo generalizados, além de serem termos empregados na linguagem metafórica. Gabarito: B. 18. (UFMS/2017) ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 118 *Socrócio:roubalheira. Usura: juros, rendimento de capital. Néscio: ignorante, estúpido. *Sandeu: demente, louco, sem razão. Cabedal: bens materiais, riquezas. Considere as seguintes afirmações: I – Trata-se de um poema composto de ovillejos, forma poética que remete a Cervantes e é composta por dez versos agrupados em duas seções, uma de seis versos e outra de quatro versos. II – A primeira parte de cada ovillejo é composta de três versos pareados, formados cada um por uma pergunta e sua resposta em eco. III – Na primeira parte, as rimas são consoantes, o que gera o efeito de eco da resposta à pergunta que o antecede. IV – As rimas finais dos versos quinto e sexto se repetem nos versos sétimo e décimo de cada ovillejo, fazendo com que as duas partes se unam. V – A segunda parte de cada ovillejo é composta, predominantemente, por quatro versos em redondilha menor, ou seja, cinco sílabas poéticas. Assinale a alternativa correta: a) É correto o que se afirma apenas em I. b) É correto o que se afirma apenas em III e V. c) É correto o que se afirma apenas em IV e V. d) É correto o que se afirma apenas em I, II, III e IV. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 119 e) É correto o que se afirma em I, II, III, IV e V. Comentários Questão de interpretação de texto literário/julgar itens. Afirmação I: correta. O ovillejo é uma estrofe de dez versos que se popularizou nos séculos XVI e XVII. Os primeiros conhecidos foram 3 cantados pelo personagem Cardeno em Dom Quixote. Afirmação II: correta. A última palavra da pergunta rima com a palavra das respostas. Afirmação III: correta. Segundo o dicionário informal, a rima consoante é um tipo de rima em que os sons se correspondem perfeitamente, ocorrendo repetição de sons vocálicos e de sons consonantais. Afirmação IV: correta. No caso: “ponha/Vergonha” e “exponha/Vergonha”. Afirmação V: incorreta. Não há padrão. Em “No-tá-vel-des-ven-tu-ra”, há 6 sílabas poéticas. Gabarito: D. 19. (UFMS/2017) Sobre o poema de Gregório de Matos, assinale a alternativa correta: a) Expressa a faceta lírica do escritor, na medida em que, apesar de expor questões sociais prementes em sua época, o faz de modo poético por meio de um eu lírico que condensa em si o amor próprio do lirismo neoclássico. b) Expressa a faceta sacra do escritor, na medida em que, ao não fazer uso de imagens cristãs no fragmento, separa sua poesia daquela de denúncia social, própria do período barroco. c) Expressa a face poética do escritor, na medida em que se percebe o fazer da “arte pela arte”, haja vista o rigor métrico da criação, fazendo com que o poema refira-se exclusivamente ao fazer poético, de modo autotélico. d) Expressa a face lírica do escritor, na medida em que, ao resgatar expedientes cervantinos, como os ovillejos, faz menção direta ao amor cavalheiresco, próprio da atualização que o barroco promovia do ideário medieval. e) Expressa a faceta satírica do escritor, na medida em que expõe as mazelas sociais, por meio do jogo de linguagem operado nos versos que denunciam condições de corrupção e exploração de povos, por meio do mercado escravagista. Comentários Questão de conhecimento sobre o movimento/gênero literário. Alternativa A: incorreta. O tipo de poesia é a satírica, gênero pelo qual Gregório se tornou mais conhecido. Criticava os padres, as freiras, algumas autoridades da cidade da Bahia, os mulatos e indígenas. Alternativa B: incorreta. Na poesia religiosa ou sacra, o eu lírico, expressando profunda reverência pela Igreja ou por Jesus, destaca sua submissão, procurando alcançar o perdão divino de forma, às vezes, desesperada. Trata-se de poemas bem elaborados com forte apelo sensorial e retórico. São poesias de alto grau de elaboração. Alternativa C: incorreta. Poética e lírica nesse caso podem ser consideradas como sinônimos. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 120 Alternativa D: incorreta. O Barroco não dialoga com o Trovadorismo nesse sentido. O amor cavalheiresco correspondia ao amor cortês. Alternativa E: correta – gabarito. Os jogos de linguagem se enquadram nas tendências cultistas e conceptistas do Barroco. Gabarito: E. 20. (UFMS/2017) Leia atentamente o poema de Gregório de Matos: Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. O soneto, de Gregório de Matos, sintetiza algumas das ditas características do período barroco, como o jogo de oposição entre luz e sombra, promovido, no poema, por construções de caráter contraditório, como: “um dia” versus “noite escura”; “tristeza” versus “alegria”; e “constância” versus “inconstância”. A esse expediente, denomina-se: a) Quiasma. b) Rima. c) Metonímia. d) Antítese. e) Paráfrase. Comentários Questão de interpretação de texto literário/Gramática aplicada à Literatura (figura de linguagem). Alternativa A: incorreta. Uma figura de linguagem que representa o cruzamento entre termos análogos. Alternativa B: incorreta. Rima é um recurso musical baseado na semelhança sonora de palavras no final de versos (rima externa) e, às vezes, no interior de versos (rima interna). Alternativa C: incorreta. Metonímia é uma figura de linguagem que ocorre quando há uma substituição da parte pelo todo, ou seja, utiliza-se um termo para representar outro, pois há uma relação estabelecida entre eles. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 121 Alternativa D: correta – gabarito. A antítese ocorre quando há a presença de termos de sentidos opostos numa mesma oração, como, por exemplo, em sol versus sombra, lua versus escura, tristeza versus alegria etc, o que na realidade já foi explicitado no comando. Alternativa E: incorreta. A paráfrase é uma técnica, não uma figura de linguagem. Consiste numa maneira diferente de dizer algo que foi dito; frase sinônima de outra (dicionário Houaiss). Gabarito: D. 21. (UFMS/2017) Leia atentamente o soneto de Claudio Manuel da Costa, a seguir. Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo, Porás a ovelha branca, e o cajado; E ambos ao som da flauta magoado Podemos competir de extremo a extremo. Principia, pastor; que eu te não temo; Inda que sejas tão avantajado No cântico amebeu: para louvado Escolhamos embora o velho Alcemo. Que esperas? Toma a flauta, principia; Eu quero acompanhar-te; os horizontes Já se enchem de prazer, e de alegria: Parece, que estes prados, e estas fontes Já sabem, que é o assunto da porfia Nise, a melhor pastora destes montes. Nota-se, no soneto, em questão a proposição do eu lírico de uma cena em que se apresentam os elementos (a sanfona, a ovelha branca, o cajado, o pastor) e um cenário (os prados, as fontes). Às imagens, somam-se, virtualmente, os sons evocados pelo poema, materializados pelas rimas finais empregadas, mas também evocados pelos instrumentos musicais. Todo esse arranjo visa a uma discussão (porfia) cujo assunto é Nise, para os quais os horizontes já se enchem de prazer e alegria. Essa composição exemplifica: a) A construção de um locus amoenus, em clara relação ao aspecto bucólico materializado na imagem dos prados e dos pastores. b) A construção de uma poesia sinestésica, ao criar imagens que cruzam os sentidos do paladar e do olfato aos da visão. c) Ao uso de construções truncadas, em alusão às convulsões próprias do amor romântico, cujo idealismo se materializa em Nise. d) Ao cavalheirismo medieval,presente na contenda pela amada, que provoca a porfia “de extremo a extremo”, como índice da retomada de temas da antiguidade clássica. e) O amor carnal, materializado metaforicamente por meio dos instrumentos musicais, como recurso do eufemismo que sintetiza a estética neoclássica. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 122 Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: correta – gabarito. Locus amoenus é o “lugar ameno ou aprazível”. Já que o poeta recusa a cidade, resta a ele indicar o melhor lugar para “os pombinhos” se encontrarem, nesse caso, o ambiente rural. Alternativa B: incorreta. A sinestesia é uma figura de linguagem que se caracteriza pela mistura de sensações (audição, olfato, paladar, tato, visão). No caso, não há paladar nem olfato. Alternativa C: incorreta. Uma das características do Romantismo é o sentimentalismo extremado, mas trata-se de um poema árcade, não romântico. Alternativa D: incorreta. O cavalheirismo medieval e o amor cortês são compostos por uma série de convenções e código de conduta moral. No caso, há um apelo para a sua interlocutora, Nise. Alternativa E: incorreta. Não é carnal porque o poema se mantém no apelo, num diálogo dirigido, endereçado a uma 2ª pessoa, mas que não sabemos se irá ou não responder ao eu lírico. Gabarito: A. 22. (IFSP/2016) Leia o soneto abaixo, de Gregório de Matos Guerra, para responder à questão. Fábio: que pouco entendes de finezas: Quem faz só o que pode, a pouco se obriga Quem contra os impossíveis se fatiga, a esse cede o Amor em mil 1ternezas. Amor comete sempre altas empresas: Pouco amor, muita sede não mitiga: Quem impossíveis vence, esse é que instiga vencer por ele muitas estranhezas. As durezas da cera, o Sol abranda, a da terra as branduras endurece: Atrás do que resiste, o raio é que anda. Quem vence a resistência, se enobrece: Quem faz o que não pode, impera e manda: Quem faz mais do que pode, esse merece. 1ternezas: ternuras GUERRA, Gregório de Matos. A um namorado, que se presumia de obrar finezas. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 65-66. A leitura atenta do texto permite afirmar que a) se trata de soneto em versos decassílabos e que, portanto, escapa, em alguma medida, à forma e à temática do Barroco. b) a temática da mitologia clássica – Amor, ou Eros, presente nos dois primeiros quartetos – é o que caracteriza o soneto acima como Barroco. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 123 c) a recorrência do pronome “quem”, ao longo dos dois primeiros quartetos, que culmina na última estrofe, revela as contradições típicas do Barroco. d) o fato de o eu lírico dirigir-se a “Fábio” e de fazer-lhe recomendações, na forma de soneto, assevera sua matriz contraditória e, portanto, barroca. e) a oposição entre fazer apenas o possível, de um lado, e fazer o impossível, de outro, confere feição barroca ao poema, pontilhando-o de antíteses. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Os versos são decassílabos, mas isso não escapa, mas condiz. O Barroco tem uma estética rebuscada e frequentemente utiliza formas fixas como a do soneto. Alternativa B: incorreta. Embora o amor esteja personificado, deificado (transformado em divindade), uma vez que ele está escrito com letra maiúscula, mas essa temática é mais comum ao Arcadismo do que ao Barroco. Alternativa C: incorreta. Culmina no jogo de ideias chamado cultismo. Alternativa D: incorreta. Trata-se de um poema mais voltado para o sentimental: os conselhos a Fábio dizem que só recebe o amor quem for merecedor dele. Alternativa E: correta – gabarito. O Barroco foi caracterizado, sobretudo, pelo conflito. Assim, era comum observar nos poemas várias antíteses, que demarcam justamente uma oposição. Nesse soneto de Gregório de Matos podemos observar uma oposição entre as ideias de fazer apenas o possível e de fazer o impossível. Assim, o poeta constrói essa oposição a partir das estruturas “quem faz só o que pode” e “quem contra os impossíveis se fatiga” e cria variações destas ao longo do poema. Esse conflito confere justamente uma feição barroca ao poema. Gabarito: E. 23. (IFSP/2016) Considerando o Barroco, assinale a alternativa correta. a) Padre Antônio Vieira caracterizou-se por sua poesia satírica, sendo os sermões obras de insignificativa importância. b) Gregório de Matos é reconhecido por seus sermões religiosos, nos quais pregava a importância da fé e da manutenção das práticas da burguesia, uma classe verdadeira e honesta. c) Um aspecto central da vida de Gregório de Matos era o equilíbrio. O amor nunca foi tema de suas poesias, já que era casado e extremamente fiel à esposa. d) Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos foram importantes autores do Barroco. e) Padre Antônio Vieira nunca se envolveu com a política, uma vez que acreditava que seu trabalho era exclusivamente clerical e o sofrimento da população não despertava seu interesse. Comentários Questão de conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. O Padre Antônio Vieira destacou-se por seus sermões de críticas à má conduta. Alternativa B: incorreta. Gregório de Matos é reconhecido por sua poesia religiosa e satírica, marcada por muita ironia. Nela, o autor criticava a sociedade e suas práticas. Também escreveu poemas filosóficos e amorosos. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 124 Alternativa C: incorreta. Gregório de Matos escreveu poemas de amor, no qual explorava, sobretudo, o conflito entre o amor carnal e o amor de alma. Alternativa D: correta – gabarito. O primeiro na lírica e o segundo na sermonística, tendo escrito cartas também. Alternativa E: incorreta. Além dos sermões religiosos, o Padre Antônio Vieira também se envolveu com a política, criticando a escravidão e corrupção no Brasil. Gabarito: D. 24. (IFSP/2015/Janeiro) Se acaso for assim — o que vos não permitais — e está determinado em vosso secreto juízo, que entrem os hereges na Bahia, o que so vos represento humildemente, e muito deveras, e que, antes da execução da sentença, repareis bem, Senhor, no que vos pode suceder depois, e que o consulteis com vosso coração enquanto e tempo, porque melhor será arrepender agora, que quando o mal passado não tenha remédio.[...] Padre Antonio Vieira. Padre Antonio Vieira é responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do Barroco. O texto acima é um trecho do “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda-1640”. Assinale a afirmativa que não diz respeito à produção desse conhecido pregador. a) Escreveu cerca de duzentos sermões em estilo conceptista, isto e, que privilegia a retórica e o encadeamento lógico de ideias e conceitos. b) Sua obra era impregnada de filosofia, o que o levava a se considerar um filósofo. c) Autor de cerca de 500 cartas, que tratam de assuntos sobre a relação de Portugal e Holanda, a Inquisição e os cristãos-novos. d) Seus sermões valorizavam o folclórico, o nacional, tudo que se manifesta pela exaltação da natureza pátria, pelo retorno ao passado histórico e pela criação do herói nacional. e) Seus sermões eram polêmicos, criticava, entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influência negativa que o Protestantismo exerceria na colônia. Comentários Questão de conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Vieira deixou por escrito cerca de 200 sermões e 700 cartas; o conceptismo também pode se definir assim. Os sermões de Vieira combinam duas tendências: apresentam não só o conceptismo, como também o cultismo. Alternativa B: incorreta. Eleera um pregador e se sentia a serviço da Igreja. Alternativa C: incorreta. É nas suas cartas que ele apresenta veio crítico e histórico. Alternativa D: correta – gabarito. Ele não vai se voltar para o nacionalismo português. De qualquer maneira, veio muito jovem para o Brasil (com 7 anos) e inclusive irá morrer aqui. Alternativa E: incorreta. O despotismo, a corrupção e a usura eram indignações gerais do povo na época, cuja crítica também se encontra nos poemas satíricos de Gregório de Matos. Gabarito: D. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 125 25. (IFSP/2015/Janeiro) Escreva R para o que se refere ao movimento renascentista e B para o que se refere ao movimento Barroco. Em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ( ) Esse movimento significou um retorno as formas e as proporções da antiguidade greco-romana. ( ) As esculturas, nessa fase, mostravam faces humanas marcadas pelas emoções, principalmente pelo sofrimento. ( ) Os artistas europeus dessa fase literária valorizavam as cores, as sombras e a luz e representavam os contrates. ( ) Indo de encontro ao saber baseado na autoridade, tradição e inspiração religiosa, durante esse movimento, a razão passa a ser a base do conhecimento. a) R/ R/ B/ R b) R/ B/ B/ R c) B/ B/ R/ B d) B/ B/ B/ R e) B/ R/ R/ B Comentários Questão de conhecimento de movimento literário/associação. Atenção: Renascimento é sinônimo de Classicismo. Afirmação I: Renascimento. A harmonia e o equilíbrio, bem como o paganismo, marcam o Renascimento. O épico Os Lusíadas de Camões irá utilizar personagens como Afrodite, por exemplo. Afirmação II: Barroco. A deformação, o exagero e a valorização do trágico marcavam obras de artistas como Aleijadinho e Mestre Ataíde. Afirmação III: Barroco. Como é o caso da técnica italiana chiaroscuro, utilizada por Caravaggio. Afirmação IV: Renascimento. O que também foi marcado na sobreposição do antropocentrismo (humanismo), em detrimento do teocentrismo. Gabarito: B. 26. (IFSP/2015/Janeiro) Sobre o poema de Gregório de Matos abaixo, analise as assertivas abaixo. Amor fiel Ó tu do meu amor fiel traslado Mariposa entre as chamas consumida, Pois se à força do ardor perdes a vida, A violência do fogo me há prostrado. Tu de amante o teu fim hás encontrado, Essa flama girando apetecida; Eu girando uma penha endurecida, ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 126 No fogo que exalou, morro abrasado. Ambos de firmes anelando chamas, Tu a vida deixas, eu a morte imploro Nas constâncias iguais, iguais nas chamas. Mas ai! que a diferença entre nós choro, Pois acabando tu ao fogo, que amas, Eu morro, sem chegar à luz, que adoro. I. Usando a linguagem metafórica, o poeta compara o destino da mariposa ao destino do poeta. II. É um soneto descritivo que traduz o conflito entre o que o poeta sente e o que gostaria de sentir. III. Encontra-se, nesses versos, uma das características do Barroco, o conceptismo, que ocorre principalmente nos poemas; é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, que utiliza uma retórica aprimorada. É correto o que se afirma em a) I e III, apenas. b) III, apenas. c) I apenas. d) II, apenas. e) I, II e III. Comentários Questão de interpretação de texto literário/julgar itens. Afirmação I: correta. Linguagem metafórica é sinônimo de denotativa e figurada. Embora haja figuras distintas, um “eu” e um “tu” (a borboleta), o eu lírico assemelha as ações desta com os sentimentos dele próprio. Ao final, ele volta a marcar as diferenças. Afirmação II: incorreta. O conflito é entre o que ele sente e o que sente a mariposa; como ele queria ser como a mariposa, a quem ele julga ter um destino mais bem-aventurado do que o dele. Afirmação III: incorreta. Não ocorre principalmente nos poemas, mas sim nos sermões. Gabarito: C. 27. (IFSP/2014) Leia o soneto do escritor barroco Gregório de Matos. Descrição da Cidade de Sergipe d’El-Rei Três dúzias de casebres remendados, Seis becos, de 1mentrastos entupidos, Quinze soldados, rotos e despidos, Doze porcos na praça bem criados. Dois conventos, seis frades, três letrados, Um juiz, com bigodes, sem ouvidos, Três presos de piolhos carcomidos, ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 127 Por comer dois meirinhos esfaimados. As damas com sapatos de 2baeta, Palmilha de tamanca como frade, Saia de 3chita, cinta de raqueta. O feijão, que só faz 4ventosidade Farinha de pipoca, pão que greta, De Sergipe d’El-Rei esta é a cidade. (DIMAS, Antônio. Gregório de Matos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.) 1mentrasto: tipo de erva 2baeta: tecido felpudo 3chita: tecido de algodão de pouco valor 4ventosidade: que provoca flatulência Pela leitura do soneto, é correto afirmar que o poeta a) critica veladamente o governo português por ter escolhido essa cidade para ser a sede administrativa da colônia. b) escreve esse poema para expor as angústias vividas durante o período em que cumpria a primeira ordem de desterro. c) comenta a elegância e a sensualidade das damas, visto que sempre apreciou as mulheres brasileiras. d) lamenta a inexistência de instituições religiosas, pois elas organizariam moralmente a cidade. e) descreve as condições do local, mostrando que os habitantes vivem rusticamente e com poucos recursos. Comentários Questão de interpretação de texto literário. Alternativa A: incorreta. Nunca Sergipe foi sede administrativa da colônia, mas por inferência, pode-se presumir que o rei tivesse cogitado tal mudança. Por outro lado, os versos fazem uma dura crítica à região ao descrever sua miséria. Alternativa B: incorreta. O desterro é o castigo de viver fora de seu país de origem, contudo os versos falam de uma região daqui mesmo do Brasil. Alternativa C: incorreta. Ao contrário, os versos criticam as roupas feias usadas por pessoas muito simples. Alternativa D: incorreta. Há uma descrição de uma cidade erma e atrasada, com dois conventos e seis frades. Alternativa E: correta – gabarito. Os versos mostram que os habitantes vivem rusticamente, porém com a ironia característica do Boca do Inferno, apelido do poeta barroco. Gabarito: E. 28. (IFSP/2013/Janeiro) O culto exagerado da forma, o rebuscamento, a riqueza de pormenores, o conflito entre o profano e o sagrado são características a) do Renascimento. b) da Ilustração. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 128 c) do Realismo. d) do Barroco. e) do Simbolismo. Comentários Questão de conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. As características principais do Renascimento são: equilíbrio, harmonia e valorização da cultura/mitologia greco-latina. Alternativa B: incorreta. Ilustração é sinônimo de iluminismo e não corresponde à nenhuma escola literária propriamente dita. Preza pela liberdade, pela razão e pela crença no indivíduo. Alternativa C: incorreta. As características principais do Realismo são: objetividade; razão e psicologismo; retrata e critica, é sutil e sugere. Alternativa D: correta – gabarito. O Barroco é a arte do conflito, do contraste de imagens, palavras e conceitos: fé versus razão, corpo versus alma, religião versus ciência. A linguagem rebuscada e o uso exagerado de recursos estilísticos, como hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos caracterizam a vertente cultista do Barroco, estilo também chamado de Gongorismo. Alternativa E: incorreta. As características principais do Simbolismo são: irracionalismo, subjetividade e imprecisão. Gabarito: D. 29. (IFSP/2012) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelo e dos sóis queimado. Tenho própriocasal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha estrela! (fredb.sites.uol.com.br/lusdecam.htm, adaptado) A análise do trecho permite afirmar que o eu lírico a) valoriza os trajes ricos da cidade. b) despreza a vida humilde. c) manifesta preocupação religiosa. d) valoriza os benefícios de sua vida no campo. e) apresenta a vida na cidade como mais desejável do que a vida no campo. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 129 Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: os árcades queriam fugir da cidade (fugere urbem), desprezando seus costumes, o que pode ser verificado no verso “De tosco trato, de expressões grosseiro”. Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: bucolismo (simplicidade) e pastoralismo são os principais traços da estética árcade. Alternativa C: incorreta. A tipologia de lírica religiosa está mais presente no Barroco, essencialmente católico. No Arcadismo, há valorização do paganismo (mitologia greco-latina). Alternativa D: correta – gabarito. O eu lírico dirige-se à mulher objeto da sua afeição e enumera-lhe as razões pelas quais se considera uma pessoa de sorte: ter boa aparência e ser dono de uma propriedade rural que lhe dá boas rendas. Assim, depreende-se que o eu lírico valoriza os benefícios da vida no campo. Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: a cidade corrompe, ao passo que o campo seria o lugar ideal de repouso e contemplação. Gabarito: D. 30. (IFSP/2012) Pode-se afirmar que se destaca no poema a) o racionalismo, característica do Barroco. b) o conceptismo, característica do Arcadismo. c) o cultismo, característica do Barroco. d) o teocentrismo, característica do Barroco. e) o pastoralismo, característica do Arcadismo. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Racionalismo é uma característica do Classicismo. Alternativa B: incorreta. Conceptismo (jogo de ideias e conceitos) é uma tendência barroca. Alternativa C: incorreta. Cuidado: o cultismo é, sim, uma tendência do Barroco; porém, trata-se de um poema árcade. Alternativa D: incorreta. O teocentrismo está presente no Barroco, mas a poesia religiosa é apenas uma das tipologias dessa estética, que também conta com a satírica, por exemplo. Alternativa E: correta – gabarito. O Arcadismo, escola literária surgida na Europa no século XVIII e, por isso, também denominada setecentismo ou neoclassicismo, valoriza a vida simples, bucólica e pastoril (locus amoenus), refúgio para quem sentia a opressão dos centros urbanos dominados pelo regime do absolutismo monárquico. Gabarito: E. 31. (IFPE/2015/Julho) Os textos a seguir são do escritor barroco Gregório de Matos que encarnou em sua literatura as tensões espirituais do homem da época. Analise as afirmações e marque a correta. Pintura Admirável de uma Beleza ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 130 Vês esse Sol de luzes coroado? Em pérolas a Aurora convertida? Vês a Lua de estrelas guarnecida? Vês o Céu de Planetas adorado? O Céu deixemos; vês naquele prado A Rosa com razão desvanecida? A Açucena por alva presumida? O Cravo por galã lisonjeado? Deixa o prado; vem cá, minha adorada, Vês desse mar a esfera cristalina Em sucessivo aljôfar desatada? Parece aos olhos ser prata fina? Vês tudo isto bem? pois tudo é nada À vista do teu rosto, Caterina. MATOS, G. de. Disponível em: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/gmatos.htm. Acesso em: 03/06/2015. À Cidade da Bahia Triste Bahia! Ó quão dessemelhante Estás, e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado, Tanto negócio e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh se quisera Deus, que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote! MATOS, G. de. Disponível em: http://poesiacontraaguerra.blogspot.com.br/2007/01/cidade-da- bahia.html. Acesso em: 03/06/2015. I. Os textos acima estão escritos em prosa, apesar de conterem certa carga lírica e de trazerem algumas características formais consideradas poéticas, tais como métrica e rima. II. O primeiro texto pode ser considerado um poema lírico-religioso, pois, apesar de tratar da expressão amorosa do eu-lírico por sua musa Caterina, o amor se mantém casto, longe dos apelos sexuais, obedecendo portanto aos ideais religiosos da época. III. O segundo texto, apesar de ser classificado como parte da obra satírica do autor, não faz apenas uma crítica contundente ao lugar. Observa-se também um tom de lirismo, trazido à tona pelos sentimentos de nostalgia e angústia que permeiam todo o texto. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 131 IV. O segundo poema, além de ter sido escrito sob a forma do soneto, tem sua composição ainda mais enriquecida pelo o uso das antíteses que retratam os estados anteriores e atuais das duas personagens principais: a cidade e o eu-poético. V. A apóstrofe, recurso estilístico bastante usado pelo autor, está presente nos dois textos. Pode-se observar que em ambos o eu-lírico dialoga com “alguém” (Caterina e a Bahia, respectivamente) para enfatizar sua relação com o interlocutor. Estão corretas: a) III, IV e V b) II, III e IV c) I, II e III d) I, IV e V e) I, II e V Comentários Questão de interpretação de texto literário, Literatura Comparada, conhecimento de movimentos literários e julgar itens. Afirmação I: incorreta. Não estão escritos em prosa (parágrafo), mas sim em verso (poesia). Afirmação II: incorreta. O primeiro poema é lírico, sentimental, amoroso, ao passo que o segundo é satírico. Afirmação III: correta. A nostalgia por meio do uso do adjetivo “triste”; o eu lírico lamenta a mudança de estado da cidade. Afirmação IV: correta. O uso de figuras de linguagem é frequente na estética barroca. Afirmação V: correta. A apóstrofe é uma figura de linguagem que ocorre quando há a invocação de alguém, um chamamento. Há o aparecimento do vocativo. Gabarito: A. 32. (IFMG/2015/Julho) Em relação ao Arcadismo, é verdadeiro afirmar que foi uma corrente literária a) cujas principais características foram a exaltação à natureza e ao homem puro, racionalismo, inspiração greco-latina e linguagem simples. b) que valorizava aspectos urbanos da nova sociedade que surgia assim como seu enriquecimento e novos conceitos. c) baseada na exaltação do sentimentalismo da época e que empregava em seus textos temas ligados à morte, destino eterno e sofrimentos humanos. d) que buscava a valorização da vida terrena do homem, registrando-a em textos de vocabulário rico e de difícil compreensão. Comentários Questão de conhecimento do movimento literário. Alternativa A: correta – gabarito. Entre os principais traços estão: o bucolismo, o pastoralismo e a valorização de expressões do latim como fugere urbem (fuga da cidade) e carpe diem (aproveite o dia). ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 132 Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, criticavam a futilidade da vida nas cidades, os costumes da corte, os excessos e os abusos. Alternativa C: incorreta. Esses são traços mais ligados à segunda geração romântica, conhecida como ultrarromantismo ou mal do século. Alternativa D: incorreta. Os textos árcades prezavam pela simplicidade. Gabarito: A. 33. (IFCE/2019) Leia o poema de Gregório de MatosGuerra, autor também conhecido como “Boca do Inferno”. Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda flor sua pisada. Oh, não aguardes, que a madura idade Te converta essa flor, essa beleza, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. São características da escola literária da qual o autor faz parte a) jogo metafórico do Barroco, a respeito da brevidade da vida, valorizando o gozo do momento. b) caráter de jogo verbal próprio da poesia lírica do século XVI, apresentando uma crítica à preocupação feminina com a beleza. c) estilo didático da poesia parnasiana, corroborando com as reflexões do autor sobre as mulheres maduras. d) os traços da escrita romântica, uma vez que fala de flores, terra, sombras. e) a abordagem de uma existência mais materialista do que espiritual, típica da visão simbolista. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: correta – gabarito. Gregório de Matos foi um poeta do Barroco, movimento artístico caracterizado sobretudo pela contradição. Assim, o tema do respeito da brevidade da vida, valorizando o gozo do momento era comum em sua obra, em oposição às restrições impostas pela Igreja. Alternativa B: incorreta. Trata-se da literatura clássica, cujas principais características são a harmonia e o racionalismo. A lírica de Camões se divide em amorosa e filosófica; porém, Gregório é barroco. Alternativa C: incorreta. As características principais do Parnasianismo são: objetivismo, cientificismo, arte pela arte, busca pela perfeição. Alternativa D: incorreta. As principais características do Romantismo são: sentimentalismo, evasão, nacionalismo e subjetivismo. Alternativa E: incorreta. As características principais do Simbolismo são: irracionalismo, subjetividade e imprecisão. Gabarito: A. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 133 34. (IFCE/2011) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Velho papel pode estar com os anos contados Já imaginou, daqui a algumas décadas, seu neto lhe perguntando o que era papel? Pois é, alguns pesquisadores já estão trabalhando para que esse dia chegue logo. A suposta ameaça à fibra natural não é o desajeitado e-book, mas o papel eletrônico, uma 'folha' que você carregaria dobrada no bolso. Ela seria capaz de mostrar o jornal do dia – com vídeos, fotos e notícias atualizadas –, o livro que você estivesse lendo ou qualquer informação antes impressa. Tudo ali. Desde os anos 70, está no ar a ideia de papel eletrônico, mas as últimas novidades são de duas semanas atrás. Cientistas holandeses anunciaram que estão perto de criar uma tela com 'quase todas' as propriedades do papel: leveza, flexibilidade, clareza, etc. A novidade que deixa o invento um pouco mais palpável está nos transistores. No papel do futuro, eles não serão de silício, mas de plástico – que é maleável e barato. Os holandeses dizem já ter um protótipo que mostra imagens em movimento em uma tela de duas polegadas, ainda que de qualidade 'meia-boca'. Mas não vá celebrando o fim do desmatamento e do peso na mochila. A expectativa é que um papel eletrônico mais ou menos convincente apareça só daqui a cinco anos. Folha de S. Paulo, 17 dez. 2001. Folhateen, p. 10. Em uma das opções, a afirmação refere-se ao Barroco. a) O homem se mostra feliz consigo mesmo e se acha o centro do mundo. b) As mensagens dos textos revelam que o homem está angustiado e dividido entre o bem e o mal, a matéria e o espírito. c) O estilo era simples e, nos textos, prevalecia a objetividade. d) Os textos traziam mensagens de otimismo e baseavam-se no princípio de “gozar a vida”. e) Os escritores, embora vivessem na cidade, recomendavam a vida no campo. Comentários Questão de interpretação de texto/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: predominava na época o teocentrismo (Deus como centro do universo), em detrimento do humanismo/antropocentrismo (homem como centro do universo). Alternativa B: correta – gabarito. “Barroco” é o nome dado ao estilo artístico que floresceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII. No Brasil, iniciou-se nos séculos XVII, a partir do ciclo do ouro. O rebuscamento da arte barroca é reflexo do dilema em que vivia o homem do seiscentismo (os anos de 1600). Daí as preferências por temas opostos: espírito e matéria, perdão e pecado, bem e mal, céu e inferno. As temáticas do carpe diem e locus amoenus, como se alude em “d” e “e”, serão exploradas no movimento artístico subsequente, o Arcadismo. Alternativa C: incorreta. É justamente o oposto: prevaleciam o rebuscamento da forma, o exagero, o refinamento. Alternativa D: incorreta. O mote latino carpe diem (aproveite o dia) é uma expressão utilizada no Arcadismo, não no Barroco. Alternativa E: incorreta. Cuidado: essa afirmação é verdade, mas ela se aplica ao Arcadismo, e não ao Barroco. Gabarito: A. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 134 35. (UFPR/2019) O Uraguai foi publicado pela primeira vez antes da independência do Brasil, em 1769, e narra as disputas entre espanhóis e portugueses pelos territórios do sul do continente, envolvendo os índios e os jesuítas. No fragmento abaixo, podemos conferir um trecho da fala do comandante português: O nosso último rei e o rei de Espanha Determinaram por cortar de um golpe, Como sabeis, neste ângulo da terra, As desordens de povos confinantes, Que mais certos sinais nos dividissem. (GAMA, Basílio da. “Canto Primeiro”. O Uraguai. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 47.) O talento de Basílio da Gama, que transforma o árido assunto em matéria literária, recebe, cem anos depois, o elogio de Machado de Assis. Ao compará-lo com seu contemporâneo, Tomás Antônio Gonzaga, o escritor afirma: “Não lhe falta, também a ele, nem sensibilidade, nem estilo, que em alto grau possui; a imaginação é grandemente superior à de Gonzaga, e quanto à versificação nenhum outro, em nossa língua, a possui mais harmoniosa e pura” (MACHADO DE ASSIS. A nova geração. In. Obras completas. Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1973. p.815). Sobre o poema de Basílio da Gama, considere as seguintes afirmativas: 1. O contexto histórico trabalhado no poema de Basílio da Gama é fundamental para o seu entendimento: a descentralização do poder colonial, protagonizada pelo Marquês de Pombal, e a disputa de territórios coloniais entre Espanha e Portugal, mediada e pacificada pelos jesuítas, na segunda metade do século XVIII. 2. Ao longo dos cinco cantos de O Uraguai, compostos em decassílabos sem rima, podemos perceber a marca da epopeia, na narração da guerra e dos feitos dos heroicos portugueses, e a presença da sátira, na caricatura dos jesuítas, particularmente na figura do Padre Balda. 3. O grande destaque dado aos índios e à defesa da sua terra, a exaltação lírica da natureza e a centralidade do par amor/morte, presente na relação de Lindoia e Cacambo, deram ao poema de Basílio da Gama o lugar de inaugurador do romantismo em todos os manuais de história da literatura brasileira. 4. Para narrar acontecimentos reais da ação de portugueses e espanhóis na disputa dos territórios delimitados pelo rio Uruguai, que hoje correspondem ao noroeste do Rio Grande do Sul e ao norte da Argentina, Basílio da Gama toma o cuidado de inserir apenas personagens ficcionais no seu poema, para não se comprometer. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. b) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. c) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. Comentários Questão de conhecimentos sobre a obra obrigatória/julgar itens. Afirmação 1: incorreta. Os jesuítas posicionaram-se a favordos índios e os apoiaram na luta contra os colonizadores. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 135 Afirmação 2: correta. Basílio da Gama se inspira na tradição literária dos clássicos para criar a sua epopeia; Afirmação 3: incorreta. O poema de Basílio da Gama é reconhecido por sua relevância para o movimento árcade, ao trabalhar a valorização da natureza e a linguagem direta, sem rebuscamento, aspectos caros aos poetas árcades. Afirmação 4: incorreta. No poema, estão presentes personagens históricos que participaram ativamente da luta. Gabarito: B. 36. (UFPR/2018) Sobre o “Sermão de Santo Antônio aos peixes” (século XVII), do Padre Antônio Vieira, assinale a alternativa correta. a) Trata-se de um texto barroco, o que se nota pelo reaproveitamento intertextual que faz de um texto clássico, isto é, do sermão que três séculos antes o próprio Santo Antônio havia pregado. b) O sermão é dirigido aos outros pregadores, indicando o que devem fazer para ser o sal da terra, ou seja, para que sejam eficazes em sua ação. c) Na segunda metade do sermão, ao apontar os defeitos dos peixes, o Padre Antônio Vieira relaciona esses defeitos aos problemas das sociedades humanas. d) Os peixes voadores são louvados no sermão, já que superam suas limitações de peixe para se levantarem o quanto possível na direção do céu, aproximando-se de Deus. e) Vieira se refere a peixes mencionados por santos, pela Bíblia e por autores clássicos, mas não a peixes da costa brasileira, o que denota seu desinteresse por temas locais. Comentários Questão de conhecimentos sobre a obra obrigatória/interpretação de texto literário. Alternativa A: incorreta. Trata-se de um texto barroco marcado pelo rebuscamento retórico, o uso de antíteses e paralelismo em sua estruturação. Alternativa B: incorreta. Outros pregadores são exortados, no entanto o sermão é dirigido aos poderosos e às autoridades do período. Alternativa C: correta. Ao operar por meio de metáforas e comparações, padre Antonio Vieira expõe as debilidades e as vaidades humanas. Alternativa D: incorreta. Os peixes voadores são apresentados no texto para criticar a vaidade. Apesar de ser caracterizado como “voador”, o peixe continua com a sua essência de peixe. Alternativa E: incorreta. O autor utiliza os peixes como uma alegoria universal para desenvolver o tema do sermão, direcionado aos colonos do Maranhão. Gabarito: C. 37. (UFPR/2017) Com base na leitura integral do “Sermão de Santo Antonio aos peixes”, de Antonio Vieira, assinale a alternativa correta. a) O texto se estrutura através de uma rede de analogias em que os peixes são equiparados à própria palavra de Deus. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 136 b) A palavra de Deus é comparada ao sal da terra, mas nunca consegue fertilizá-la, porque falta à terra a leveza dos peixes. c) Depois de ser lançado ao mar pelos homens, Santo Antonio foi reconduzido à praia pelos peixes, tornando-se exemplo da conduta cristã. d) O sal da terra é a palavra de Cristo e, segundo a parábola citada no sermão, ele preferiu pregar para os peixes a pregar para os homens. e) A terra, mesmo infértil, poderia ser melhor cultivada, caso houvesse pregadores que soubessem semear a boa palavra. Comentários Questão de conhecimentos sobre a obra obrigatória/interpretação de texto literário. Alternativa A: incorreta. Os peixes são os homens. No sermão, é construída uma crítica aos homens que estavam no poder e compactuavam com as injustiças. Alternativa B: incorreta. Sal da terra refere-se aos pregadores da palavra de Deus, aqueles que devem fazer a diferença e lutar contra as corrupções desta terra. Alternativa C: incorreta. Santo Antonio decide pregar aos peixes após sofrer o desprezo dos chamados “infiéis”. Alternativa D: incorreta. O sal da terra são aqueles que assumem o compromisso de pregar a palavra de Deus para todos. Alternativa E: correta. Na crítica do Padre Antonio Vieira, cabe aos pregadores assumirem seu papel de sal e fazer a diferença nos lugares em que estão inseridos, começando pelo combate às injustiças. Gabarito: E. 38. (UFPR/2017) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal! (Antônio Vieira, Sermão de Santo Antônio, em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000033.pdf>.) O texto trabalha fundamentalmente com duas metáforas: o sal e a terra, que representam, respectivamente, os pregadores (aqueles que deveriam propagar a palavra de Cristo) e os ouvintes (aqueles que deveriam ser convertidos). O tema central do texto é a reflexão sobre as possíveis causas da ineficiência dos pregadores. Para tanto, o autor levanta algumas hipóteses. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 137 1. Os pregadores não pregam o que deveriam pregar. 2. Os ouvintes se recusam a aceitar o que os pregadores pregam. 3. Os pregadores não agem de acordo com os valores que pregam. 4. Os ouvintes agem como os pregadores em vez de agir de acordo com o que eles pregam. 5. Os pregadores promovem a si mesmos na pregação ao invés de promover as palavras de Cristo. Constituem hipóteses levantadas pelo autor do texto: a) 1 e 3 apenas. b) 3 e 5 apenas. c) 1, 2 e 4 apenas. d) 2, 4 e 5 apenas. e) 1, 2, 3, 4 e 5. Comentários Questão de conhecimentos sobre a obra obrigatória; interpretação de texto literário e julgar itens. Todas as hipóteses foram levantadas por Padre Antônio Vieira, como indicam os trechos a seguir: [1] Verdadeiro, como se verifica em: “Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina (...)”. [2] Verdadeiro, como se verifica em: “ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber”. [3] Verdadeiro, como se verifica em: “os pregadores dizem uma cousa e fazem outra”. [4] Verdadeiro, como se verifica em: “os ouvintes querem antes imitar o que eles [pregadores] fazem, que fazer o que dizem”. [5] Verdadeiro, como se verifica em: “os pregadores se pregam a si e não a Cristo”. Gabarito: E. 39. (UFPR/2016) O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu: Seis horas enche e outras tantas vaza A maré pelas margens do Oceano, E não larga a tarefa um ponto no ano, Depois que o mar rodeia, o sol abrasa. Desde a esfera primeira opaca, ou rasa A Lua com impulso soberano Engole o mar por um secreto cano, E quando o mar vomita, o mundo arrasa. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 138 Muda-se o tempo, e suas temperanças. Até o céu se muda, a terra, os mares, E tudo estásujeito a mil mudanças. Só eu, que todo o fim de meus pesares Eram de algum minguante as esperanças, Nunca o minguante vi de meus azares. De acordo com o poema, é correto afirmar: a) A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si. b) A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano. c) A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável. d) A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a aurea mediocritas. e) A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. O eu lírico observa o movimento de transformação da natureza, em que os ciclos compõem o processo harmônico do mundo. Alternativa B: correta - gabarito. A proposição está correta uma vez que a consciência de estagnação do eu lírico eclode diante da passagem constante e inevitável do tempo. Alternativa C: incorreta. Não se trata de uma oposição, mas da interação orgânica dos elementos da natureza. Alternativa D: incorreta. A linguagem do poema é marcada pelo rebuscamento das ideias e a valorização dos detalhes. Alternativa E: incorreta. O eu-poético não se identifica com a transmutação natural do mundo, antes lamenta a sua condição de estagnação. Gabarito: B. 40. (UFPR/2014) Leia atentamente o poema: Soneto Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 139 Que as bestas andam juntas mais ousadas, Do que anda o engenho mais profundo. Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos. O prudente varão há de ser mudo, Que é melhor neste mundo, mar de enganos, Ser louco c’os demais, que só, sisudo. A poesia satírica de Gregório de Matos emprega modelos e procedimentos variados. José Miguel Wisnik indica que ela pode ser entendida como “uma luta cômica entre duas sociedades, uma normal e outra absurda”. (WISNIK, J. M. “Prefácio”. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.23). Com base nisso, é correto dizer que este soneto: a) apresenta a imagem de um “mundo às avessas”, em que a maioria aceita a sociedade absurda como se fosse a ideal. b) desenha a sociedade ideal e utópica, que deverá ser alcançada no futuro. c) explora a dualidade conflituosa entre corpo e espírito e associa a vertente satírica à sacro- religiosa. d) apresenta um sujeito poético “sisudo e só”, o que retira do soneto o tom cômico que caracteriza a sátira. e) apresenta a crítica aberta e racional como solução para o estado insano do mundo. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: correta – gabarito. O texto defende, no último terceto, o ponto de vista de que para sobreviver entre os insanos, é necessário tornar-se um deles. Alternativa B: incorreta. O texto descreve a sociedade contemporânea ao eu lírico, rodeada por “insanos” e “loucos”. Trata-se, portanto, de uma descrição próxima à realidade e distante dos ideais utópicos. Alternativa C: incorreta. O texto não exprime o tema a partir de uma vertente sacro- religiosa. Alternativa D: incorreta. O eu lírico do poema defende que para evitar ser sisudo e só, deve-se ser “louco c´os demais”. Além disso, o eu lírico que se modifica para pertencer à sociedade dos louco fortalece o caráter satírico do poema. Alternativa E: incorreta. O texto não relata uma crítica do eu lírico. Exprime suas sensações e transformações necessárias para pertencer a um mundo que, de acordo com ele, é habitado por “loucos” e “insanos”. Gabarito: A. 41. (UFPR/2013) Considere o soneto a seguir, de Gregório de Matos: ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 140 Descreve com galharda propriedade o labirinto confuso de suas desconfianças Ó caos confuso, labirinto horrendo, Onde não topo luz, nem fio achando; Lugar de glória, aonde estou penando; Casa da morte, aonde estou vivendo! Oh voz sem distinção, Babel* tremendo; Pesada fantasia, sono brando; Onde o mesmo que toco, estou sonhando; Onde o próprio que escuto, não o entendo; Sempre és certeza, nunca desengano; E a ambas pretensões com igualdade, No bem te não penetro, nem no dano. És ciúme martírio da vontade; Verdadeiro tormento para engano; E cega presunção para verdade. *Babel: bíblico, torre inacabada por castigo divino; quando de sua construção os homens viram seus idiomas se confundirem, gerando o desentendimento que os obrigou a se dispersarem. Por extensão, desentendimento, confusão. (MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção e organização: José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 219.) O soneto transcrito apresenta características recorrentes da poesia de Gregório de Matos e do período literário em que ele o escreveu, o Barroco. Acerca desse soneto, é correto afirmar: a) O poema descreve um labirinto e, de modo semelhante à imagem descrita, utiliza uma linguagem em que a ideia central só se apresenta no fim do texto. b) O poema se apropria de duas imagens, Babel e labirinto, com a intenção de tematizar um sentimento conturbado: a presunção. c) O poema se estrutura como um soneto típico, em que a ideia central está apresentada no primeiro quarteto. d) As figuras de linguagem utilizadas associam ideias contrárias, o que se contrapõe às imagens do labirinto e de Babel. e) O poema apresenta nos quartetos duas imagens concretas, dissociadas das abstrações apresentadas nos tercetos. Comentários Questão de interpretação de texto literário. Alternativa A: correta – gabarito. O texto, baseado em subordinações entre as frases, gera ao leitor a sensação de confusão semelhante à confusão intrínseca ao labirinto. Alternativa B: incorreta. As metáforas do labirinto e de Babel agem como elementos de representação do sentimento de confusão, não de presunção. Alternativa C: incorreta. A ideia central expressa-se no segundo quarteto, forma típica da apresentação argumentativa dos sonetos. Alternativa D: incorreta. A associação de imagens contrárias vão de acordo com as imagens do labirinto e de Babel, a fim de revelar a confusão do eu lírico. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 141 Alternativa E: incorreta. Os quartetos apresentam somente abstrações, como “verdade”, “igualdade”, “tormento”, contrariando a tese exposta na alternativa. Gabarito: A. 42. (UFPR/2012) Considerando a poesia de Gregório de Matos e o momento literário em que sua obra se insere, avalie as seguintes afirmativas: 1. Apresentando a luta do homem no embate entre a carne e o espírito, a terra e o céu, o presente e a eternidade, os poemas religiosos do autor correspondem à sensibilidade da época e encontram paralelo na obra de um seu contemporâneo, Padre Antônio Vieira. 2. Os poemas erótico-irônicos são um exemplo da versatilidade do poeta, mas não são representativos da melhor poesia do autor, por não apresentarem a mesma sofisticação e riqueza de recursos poéticos que os poemas líricos ou religiosos apresentam. 3. Como bom exemplo da poesia barroca, a poesia do autor incrementa e exagera algunsrecursos poéticos, deixando sua linguagem mais rebuscada e enredada pelo uso de figuras de linguagem raras e de resultados tortuosos. 4. A presença do elemento mulato nessa poesia resgata para a literatura uma dimensão social problemática da sociedade baiana da época: num país de escravos, o mestiço é um ser em conflito, vítima e algoz em uma sociedade violentamente desigual. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. Comentários Questão de conhecimento de movimento literário/julgar itens. Afirmação 1: correta. A antítese foi uma figura de linguagem amplamente explorada no período literário barroco, e era evidente não apenas na poesia, como também nos sermões religiosos. Afirmação 2: incorreta. A poesia erótico-irônica de Gregório de Matos apresenta a mesma riqueza de recursos que a utilizada em poemas líricos ou religiosos. Afirmação 3: correta. Uma das linhas de estrutura textual presentes no barroco era o cultismo, forma de expressão caracterizada pelo rebuscamento da linguagem, e que se encontra também em alguns poemas de Gregório de Matos. Afirmação 4: correta. Gregório expõe algumas das contradições sociais notáveis na Bahia do período colonial. Gabarito: C. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 142 43. (UFRGS/2017) Assinale a alternativa correta sobre o Sermão do bom sucesso das armas e o Sermão de Santo Antônio, do padre Antônio Vieira. a) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador constrói argumentos para desqualificar o interlocutor e, então, provar seu erro em proteger os holandeses. b) No Sermão de Santo Antônio, o orador dirige-se aos peixes, a fim de destacar suas virtudes, inexistentes nos homens. c) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula uma interpelação a Deus para conclamar os maranhenses a lutarem contra os holandeses. d) No Sermão de Santo Antônio, o orador, simulando dirigir-se aos peixes, repreende, entre outras coisas, a tendência dos homens a se entredevorarem. e) No Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula a vitória dos holandeses, a fim de destacar a necessidade de os brasileiros abandonarem seus pecados. Comentários Questão de conhecimento de obra do cânone. Alternativa A: incorreta. Em Sermão do bom sucesso das armas, o orador não pretende proteger os holandeses; ao contrário: critica a falta de ação de Deus a respeito da invasão ocorrida no nordeste brasileiro. Alternativa B: incorreta. Em Sermão de Santo Antônio, o interlocutor são os peixes; porém, tanto os peixes quanto os homens apresentam defeitos e virtudes. Alternativa C: incorreta. Em Sermão do bom sucesso das armas, o orador interpela Deus para que Ele impeça o avanço holandês contra os católicos. Alternativa D: correta – gabarito. Em Sermão de Santo Antônio, um dos comportamentos criticados por Vieira é o combate dos homens contra eles mesmos, assim como os peixes se entredevoram. Alternativa E: incorreta. Em Sermão do bom sucesso das armas, o orador simula o ataque dos holandeses, profanando e violentando todos os pilares defendidos pelos valores católicos. Gabarito: D. 44. (UFRGS/2014) Leia o trecho do “Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda”, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de Gregório de Matos Guerra a seguir. Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir – responde por ele o mesmo santo que o arguiu – porque se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu argumento nas palavras antecedentes, com energia para Deus muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: Se eu fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer como Deus em me perdoar? Ainda disse e quis dizer mais: Peccavi, quid faciam tibi? Pequei, que mais vos posso fazer? E que fizestes vós, Jó, a Deus em pecar? Não lhe fiz pouco, porque lhe dei ocasião a me perdoar, e, perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer, e ele dever-me-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 143 A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa piedade me despido; Porque, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada: Cobrai-a, e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. Assinale a alternativa correta a respeito dos textos. a) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, elogiam a autoridade divina capaz de perdoar os pecados, mesmo que à custa de sua glória e de seu discernimento. b) Jó, de acordo com Vieira, argumenta que há tanta glória em perdoar como em não perdoar, enquanto, para Gregório, o perdão concedido ao pecador renitente é a prova da glória de Deus. c) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, inibem a autoridade divina que se vê constrangida a aceitar os argumentos de dois pecadores. d) Jó, de acordo com Vieira, considera que a ocasião e a sorte impediram que a graça divina se manifestasse, enquanto para Gregório a graça divina não sofre restrições. e) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, reforçam seus argumentos a favor do perdão como garantia da glória divina. Comentários Questão de conhecimento de obra do cânone. Alternativa A: incorreta. Pe. Vieira e Gregório de Matos compartilham a ideia de que perdoar pecados é glorificante. Para Vieira “é grande e não vulgar a glória que adquire em perdoar pecados”; para Gregório de Matos não perdoar significa “Perder na vossa ovelha a vossa glória.” Alternativa B: incorreta. A frase mencionada no comentário acima serve para mostrar que aquilo que se diz na B é falso. Para Pe. Vieira, só há glória em perdoar. Alternativa C: incorreta. No poema de Gregório de Matos, percebe-se essa intencionalidade malandra de constranger Deus, mas no caso do Pe. Vieira, a intenção do autor é mostrar como Deus, por ser perdoador, atinge maior glória. Alternativa D: incorreta. Pe. Vieira nem menciona circunstância ou sorte. O que ele afirma sobre o perdão divino tem abrangência atemporal. Alternativa E: correta – gabarito. Nos tercetos, Gregório usa o argumento da ovelha perdida. Se Deus fica alegre com o retorno da ovelha perdida, deve aceitá-lo e perdoá-lo. No ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 144 caso de Pe. Vieira, o argumento centrado em Jó é evidente, já que logo no início do fragmento, o autor deixa claro que usará o argumento de Jó para provar sua tese de que o perdão divino se associa à glória. Gabarito: E. 45. (IBMEC/2017) I – Obra de Caravaggio (1571 – 1610) (www.caravaggio-foundation.org) II – Soneto de Gregório de Matos Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Gregório de Matos, Poemas escolhidos (seleção e organização José Miguel Wisnik). São Paulo: Companhia das Letras, 2010) A leitura comparativa da obra e do poema permite identificar como característica comum a ambos o ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 145 a) reconhecimento da efemeridade da vida, o que abranda os dilemas existenciais. b) apego ao transcendental, como forma de escapar aos sofrimentos do mundo real. c) jogo dos contrastes, expressando os conflitos dualistas do homem seiscentista. d) equilíbrio na representação, com a descrição concisa dos desejos humanos. e) desencanto do homem seiscentista pela vida, com o declínio do Renascimento. Comentários Questão de Linguagens e Códigos. Alternativa A: incorreta. Não é possível auferir esta afirmação somente com a observação do quadro. Sem outras informações, por exemplo o nome da obra, não se pode afirmar que ela fale sobre a efemeridade da vida. Alternativa B: incorreta. Apesar de ser este um traço do barroco, ele não está presente especificamente nestas obras. Alternativa C: correta – gabarito. A principal característica que une ambos é o uso de contrastes: no quadro, através da presença de luz e sombra (também chamado por vezes de “chiaroscuro”); no poema, pelo uso de termos e expressões opostas (ex.: luz e noite escura; tristezas e alegrias; firmeza inconstância) Alternativa D: incorreta. Não há descrição dos desejos humanos, mas sim seus questionamentos. Alternativa E: incorreta. O desencanto do homem está, neste caso, ligado à passagem do tempo e efemeridade da vida, não ao fim de um período histórico. Gabarito: C. 46. (IBMEC-SP-Insper/2010/Julho) Marília de Dirceu Enquanto pasta, alegre, o manso gado, minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos Na regular beleza, Que em tudo quanto vive nos descobre A sábia Natureza. Atende como aquela vaca preta O novilhinho seu dos mais separa, E o lambe, enquanto chupa a lisa teta. Atende mais, ó cara, Como a ruiva cadela Suporta que lhe morda o filho o corpo, E salte em cima dela. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 146 Repara, como cheia de ternura Entre as asas ao filho essa ave aquenta, Como aquela esgravata a terra dura, E os seus assim sustenta; Como se encoleriza, E salta sem receio a todo o vulto, Que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, Quando der ao filhinho o peito brando, E refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando Disser consigo: "É esta "De teu querido pai a mesma barba, "A mesma boca, e testa." Que gosto não terá a mãe, que toca, Quando o tem nos seus braços, c'o dedinho Nas faces graciosas, e na boca Do inocente filhinho! Quando, Marília bela, O tenro infante já com risos mudos Começa a conhecê-la! Que prazer não terão os pais ao verem Com as mães um dos filhos abraçados; Jogar outros luta, outros correrem Nos cordeiros montados! Que estado de ventura! Que até naquilo, que de peso serve, Inspira Amor, doçura. (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: Proença Filho, Domício. Org. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1996, p. 605.) É correto afirmar sobre esses versos a) O cenário bucólico e pastoril, típico dos poemas árcades, contrasta com a seleção de palavras de baixo calão como “vaca”, “teta” e “cadela”. b) Inspirado nos clássicos greco-latinos e renascentistas, o poeta recorre a uma linguagem rebuscada e extravagante para valorizar a técnica barroca. c) Embora tenha a estrutura de um diálogo, os versos devem ser interpretados como um monólogo no qual o poeta reflete sobre a sabedoria da natureza, tomada como modelo de equilíbrio. d) O eu-lírico expressa seu ufanismo, pois idealiza a pátria e sua amada, Marília, de forma a antecipar os ideais do Romantismo. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 147 e) O poeta envolve sua amada numa atmosfera onírica para enfatizar a transfiguração do amor. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. No caso, vocabulário de baixo calão é mais típico da poesia satírica. Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, uma linguagem mais simples para se opor ao rebuscamento barroco. Alternativa C: correta – gabarito. Há uma interlocução com uma 2ª pessoa, mas há ênfase no eu lírico. Alternativa D: incorreta. Cuidado: nacionalismo e ufanismo (nacionalismo exacerbado) irão ser características românticas. Alternativa E: incorreta. O amor não é transfigurado, mas sim equilibrado, na estética árcade. Gabarito: C. 47. (ENEM DIGITAL/2020/1o dia) Leia a posteridade, ó pátrio Rio, Em meus versos teu nome celebrado, Por que vejas uma hora despertado O sono vil do esquecimento frio: Não vês nas tuas margens o sombrio, Fresco assento de um álamo copado; Não vês ninfa cantar, pastar o gado Na tarde clara do calmoso estio. Turvo banhando as pálidas areias Nas porções do riquíssimo tesouro O vasto campo da ambição recreias. Que de seus raios o planeta louro Enriquecendo o influxo em tuas veias, Quanto em chamas fecunda, brota em ouro. COSTA, C. M. Obras poéticas de Glauceste Satúrnio. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 out. 2015. A concepção árcade de Cláudio Manuel da Costa registra sinais de seu contexto histórico, refletidos no soneto por um eu lírico que a) busca o seu reconhecimento literário entre as gerações futuras. b) contempla com sentimento de cumplicidade a natureza e o pastoreio. c) lamenta os efeitos produzidos pelos atos de cobiça e pela indiferença. d) encontra na simplicidade das imagens a expressão do equilíbrio e da razão. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 148 e) recorre a elementos mitológicos da cultura clássica como símbolos da terra. Comentários Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Não é fama nem reconhecimento que busca o eu lírico. Alternativa B: incorreta. Cuidado: o pastoralismo e o bucolismo foram as principais características árcades, mas esse poema em particular não trata da visão bela e positiva da natureza. Pelo contrário, o "vasto campo" se torna um campo de ambições, processo motivado pela exploração do Ciclo de Ouro em voga no século XVIII em Minas Gerais. Alternativa C: correta - gabarito. No Arcadismo, o locus amoenus (lugar ameno) pode se transformar em um locus horrendus (lugar horrível). Essa transformação ocorre no poema, pois elementos que antes viviam seu curso natural - "pátrio Rio", "álamo", "gado", "vasto campo" - agora estão suscetíveis à ação antrópica. A cobiça se observa nesses versos: "Nas porções do riquíssimo tesouro/ O vasto campo da ambição recreias"; e a indiferença nesse: "O sono vil do esquecimento frio". Alternativa D: incorreta. Pelo contrário, há imagens fortes e marcantes: "Enriquecendo o influxo em tuas veias, /Quanto em chamas fecunda, brota em ouro." Alternativa E: incorreta. A única figura personificada no poema é o "pátrio Rio", que está sendo usado com letra maiúscula. Porém, nesse poema em questão, não há alusões a divindades mitológicas. Gabarito: C. 48. (ENEM/2018) Quantos há que os telhados têm vidrosos E deixam de atirar sua pedrada, De sua mesma telha receiosos. Adeus, praia, adeus, ribeira, De regatões tabaquista, Que vende gato por lebre Querendo enganar a vista. Nenhum modo de desculpa Tendes, que valer-vos possa: Que se o cão entra na igreja, É porque acha abertaa porta. GUERRA, G. M. In: LIMA, R. T. Abecê de folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003 (fragmento). Ao organizar as informações, no processo de construção do texto, o autor estabelece sua intenção comunicativa. Nesse poema, Gregório de Matos explora os ditados populares com o objetivo de a) enumerar atitudes. b) descrever costumes. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 149 c) demonstrar sabedoria. d) recomendar precaução. e) criticar comportamentos. Comentários Questão de reconhecimento de tipo de texto/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Conectivos de enumeração poderiam ser: primeiro; segundo; terceiro etc. por exemplo Alternativa B: incorreta. Um texto do gênero descritivo busca expor ou relatar. Pode-se descrever uma série de assuntos diferentes: uma pessoa, física e psicologicamente; um objeto; uma obra de arte; um lugar ou época histórica; um acontecimento. Alternativa C: incorreta. Trata-se da poesia satírica de Gregório de Matos. Esse é o gênero pelo qual Gregório se tornou mais conhecido. Criticava os padres, as freiras, algumas autoridades da cidade da Bahia, os mulatos e indígenas. Suas críticas eram moralistas. Alternativa D: incorreta. Precaução é uma medida antecipada que visa prevenir um mal; prevenção, cuidado; qualidade de quem é precavido; prudência, cautela, cuidado (dicionário Houaiss). Alternativa E: correta – gabarito. Na primeira estrofe do excerto, Gregório de Matos estabelece intertextualidade com o provérbio “Quem tem telhado de vidro não atira pedras ao do vizinho” para explicar a razão de muitos reconhecerem os males sociais, mas não os denunciarem: ou porque estão envolvidos diretamente com os mesmos, ou por medo das consequências pessoais que podem surgir a partir desta denúncia. Gabarito: E. 49. (ENEM/2016) Soneto VII Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado: Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! COSTA, C. M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 150 No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma a) angústia provocada pela sensação de solidão. b) resignação diante das mudanças do meio ambiente. c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido. d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem. e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra. Comentários Questão de interpretação de texto/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. Não é um poema sentimental, e o impacto sofrido pelo eu lírico é em relação aos efeitos negativos do progresso, sua relação com a natureza, portanto, não a solidão em si. Alternativa B: incorreta. Resignação não: ele se mostra chocado pela situação, abala-se com ela, não permanecendo indiferente. Alternativa “c”: incorreta. O espaço é conhecido, é sua terra, mas que está mudando para pior, devido à força maior do progresso. Alternativa D: incorreta. Não é um poema saudosista; a paisagem surge aqui para representar a ação do progresso, no caso, negativa. Alternativa E: correta – gabarito. Ao longo do soneto, o eu lírico manifesta estranheza pelas mudanças que observa na natureza: “Quem fez tão diferente aquele prado?”, “Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço”, “Ali em vale um monte está mudado”, “Nem troncos vejo agora decadentes”. No último terceto, reconhece que também nele aconteceu a mesma deterioração que encontra na natureza: “Mas que venho a estranhar, se estão presentes/Meus males, com que tudo degenera!”. Nesse sentido, deduz-se que existe empatia entre os sofrimentos do eu lírico e a deterioração da terra. Gabarito: E. 50. (ENEM/2014) Quando Deus redimiu da tirania Da mão do Faraó endurecido O Povo Hebreu amado, e esclarecido, Páscoa ficou da redenção o dia. Páscoa de flores, dia de alegria Àquele povo foi tão afligido O dia, em que por Deus foi redimido; Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. Pois mandado pela alta Majestade Nos remiu de tão triste cativeiro, Nos livrou de tão vil calamidade. Quem pode ser senão um verdadeiro ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 151 Deus, que veio estirpar desta cidade O Faraó do povo brasileiro. DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006. Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por a) visão cética sobre as relações sociais. b) preocupação com a identidade brasileira. c) crítica velada à forma de governo vigente. d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo. e) questionamento das práticas pagãs na Bahia. Comentários Questão de interpretação de texto/conhecimento do movimento literário. Alternativa A: incorreta. O ceticismo é a doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real (dicionário Houaiss). Alternativa B: incorreta. Há a comparação do governador terreno, humano, falho, com o divino, Deus. O “Faraó brasileiro” não remete a um choque de culturas, mas sim à representação da autoridade máxima. Alternativa C: correta – gabarito. O poeta Gregório de Matos escreveu muitos poemas denunciando a corrupção e a injustiça da sociedade baiana e colonial da época. A população era composta de muitos negros escravos e brancos pobres que em sua maioria conviviam com pouquíssimas famílias influentes e ricas vindes de Portugal que dominavam a colônia que crescia à custa de muita exploração humana. Depois de infernizar essa elite escravagista com seus versos, quando mais velho Gregório se volta ao catolicismo. Este poema é desta fase, neste, especificamente, faz um paralelo entre a sociedade baiana que não melhorava por conta de seus governantes ao faraó do Egito do velho testamento. Alternativa D: incorreta. Os dogmas do Cristianismo são divinos, supremos e inquestionáveis para o eu lírico. Alternativa E: incorreta. A alusão à Bíblia descreve a ação de Deus no Egito como governador supremo, divino. O paganismo não é mencionado aqui). Gabarito: C. ESTRATÉGIA VESTIBULARES – LITERATURA AULA 2 – Barroco e Arcadismo 152 16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. Disponível em: http://tinyurl.com/y5d7eheb. Acesso em: 21 set. 2020. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 1987. 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