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BREVE HISTÓRIA DO ENCONTRO ENTRE A PSICOLOGIA E O DIREITO O encontro com a dupla Psicologia e Direito nos leva a refletir e analisar. Através de viagens e exploração, descobre-se a rica história por trás destes dois campos distintos, porém complementares. Nossa breve, mas produtiva jornada é uma grande promessa. Podemos construir teias de compreensão que conectarão a Psicologia e o Direito, reunindo conhecimento. Vamos explorar a história do encontro entre a Psicologia e o Direito. Temos alguns tópicos interessantes para discutir. Tópico 1: O que é Psicologia? Um breve percurso histórico. Para iniciar nossa conversa, vamos entender o que é a Psicologia e traçar um breve percurso histórico. A Psicologia é uma ciência que estuda o comportamento e os processos mentais humanos. Ela busca compreender como as pessoas pensam, sentem e se comportam em diferentes contextos. A definição de psicologia pode ser dada por sua origem grega: Psyche+logia.- Psyche quer dizer alma ou mente e também era o nome da Deusa Psiquê, onde, na mitologia grega era esposa de Eros, o nosso famoso cupido. Logia vem de logos, que quer dizer: discurso, conhecimento, ciência. Desse modo, Psicologia é a ciência da alma e da mente. Historicamente, a Psicologia teve suas raízes na filosofia e na fisiologia. Desde a Antiguidade até o século XIX, surgiram várias teorias e abordagens que buscavam entender a mente humana. No que diz respeito à Filosofia, Aristóteles foi um dos primeiros filósofos a fazer contribuições importantes para a psicologia, argumentando que a razão controla nossas ações com base nos dados dos sentidos. Descartes rompeu com o ideal monista de corpo e mente como uma entidade única e trouxe a posição dualista, em que corpo e mente são entidades de naturezas diferentes. O positivismo e o empirismo tornaram-se os fundamentos filosóficos de uma nova psicologia, na qual os fenômenos psicológicos eram constituídos por evidências factuais, observacionais e quantitativas. Essas filosofias ainda influenciam a psicologia contemporânea, que é considerada uma ciência. No que diz respeito à Fisiologia, propõe um estudo do homem como um ser organizado semelhante a outros seres que se organizam química e botanicamente, rejeitando assim o estudo da alma. A fisiologia concentra-se no estudo do cérebro, onde estão localizadas as propriedades e funções da alma. A mente consciente é, para ele, um fluxo constante, uma característica da mente em constante interação com o ambiente. Tópico 2: Psicologia científica e senso comum Agora, vamos falar sobre a relação entre a Psicologia científica e o senso comum. - O senso comum se baseia em crenças populares e experiências pessoais, enquanto a Psicologia científica busca validade e base empírica. É importante distinguir entre os dois para evitar conclusões precipitadas. A psicologia do senso comum refere-se ao conjunto de ideias, crenças e convicções transmitidas culturalmente que os indivíduos têm sobre o comportamento, sentimentos e pensamentos humanos. Fritz Heider argumentou que a psicologia do senso comum é um auxílio para a construção da teoria científica e uma fonte de hipóteses. – A Psicologia científica utiliza métodos rigorosos, como estudos experimentais e observacionais, para obter evidências confiáveis sobre o comportamento humano. Isso a diferencia do conhecimento baseado apenas no senso comum. A psicologia científica não deveria refutar a psicologia do senso comum, mas sim desenvolvê-la e sistematizá-la. Porém, a teoria científica dedica-se à descrição, explicação, previsão e controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo, que é o comportamento humano. A psicologia teve que aderir à lógica das ciências naturais para se estabelecer como uma ciência válida, mas acabou reduzindo o ser humano ao que pode ser visto e medido. Tópico 3: Objetos de estudo da Psicologia e fenômenos psicológicos Agora, vamos explorar os objetos de estudo da Psicologia e alguns fenômenos psicológicos. - A Psicologia estuda uma ampla gama de fenômenos, como percepção, memória, emoções, desenvolvimento humano, personalidade, motivação e saúde mental. Cada área tem suas teorias e métodos específicos de pesquisa. Além disso, a Psicologia também investiga transtornos mentais, como ansiedade, depressão e esquizofrenia, buscando compreender suas causas, sintomas e tratamentos. Tópico 4: Teorias da Psicologia Vamos agora discutir as teorias da Psicologia e como elas contribuem para a compreensão do comportamento humano. Quem deseja iniciar essa discussão? Existem várias teorias importantes na Psicologia. Por exemplo, a teoria psicanalítica de Sigmund Freud, que enfatiza o papel do inconsciente e dos conflitos internos na determinação do comportamento. A Psicanálise, influenciada pela Fisiologia, surgiu na década de 1890, com Sigmund Freud, médico austríaco interessado em encontrar um tratamento eficaz para pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos. Freud, conversando com os pacientes, acreditava que seus problemas decorriam da não aceitação cultural, reprimindo assim seus desejos inconscientes. Desde Freud, a Psicanálise se desenvolveu de muitas maneiras e, atualmente, são diversas as escolas que, mesmo discordando em alguns pontos da teoria freudiana, não refutaram a ideia de inconsciente, pedra angular da Psicanálise, e criaram suas próprias linhas de pesquisa. Os fatores inconscientes são essenciais à constituição de uma boa saúde mental, estando presentes nas mais diversas e ricas expressões do ser humano. Além disso, temos a abordagem behaviorista, que se concentra no estudo do comportamento observável e nas consequências que o moldam. E a abordagem cognitiva, que se concentra nos processos mentais, como o pensamento, a percepção e a resolução de problemas. O termo behaviorismo vem do inglês behavior, behavior. Em português, podemos dizer tanto behaviorismo quanto comportamentalismo. Para a psicólogo, a Psicologia não poderia utilizar elementos não observáveis para explicar o comportamento humano. O behaviorismo influenciado pelo funcionalismo tem como fundamento o estudo do comportamento animal controlado em laboratórios de acordo com os estímulos que lhes foram apresentados. Por exemplo, um aluno ao ser demandado a falar e apresentar em sala de aula seu ponto de vista, o faz com argumentos claros, transparentes, e por isso é valorizado e reconhecido pelo professor e colegas, tende a assumir esse comportamento como aceito e adequado e consequentemente repeti-lo. Temos também o humanismo. A Psicologia Humanística teve origem na década de 1950 e sua importância aumentou significativamente nas décadas de 1960 e 1970. Sendo um ramo da Psicologia e mais especificamente da psicoterapia, a Psicologia Humanística surgiu como uma reação à análise feita exclusivamente do behaviorismo. A Psicologia Humanística não pretende revisar ou adaptar conceitos psicológicos existentes, mas ser uma nova contribuição para o campo da Psicologia. Seus principais teóricos foram Carl Rogers e Abraham Maslow. Na esfera organizacional, Maslow, em 1962, desenvolveu o conceito de motivação atrelado ao modelo de hierarquia de necessidades construída com base numa pirâmide, na qual as necessidades são assim firmadas. Na base na pirâmide estão as necessidades fisiológicas, em seguida, as necessidades de segurança, necessidades sociais, de estima, e no topo da pirâmide, as de autorrealização. Outro grande teórico da Psicologia Humanista foi Carl Rogers (1902- 1987), americano, que baseou seu trabalho no indivíduo, criando a chamada terapia centrada na pessoa. Sua visão humanista surgiu por meio do tratamento de pessoas emocionalmente perturbadas. Ele trabalhou com um conceito semelhante ao de Maslow, a que deu o nome de tendência atualizante, que é a tendência inata de cada pessoa atualizar suas capacidades e potenciais. Para Rogers, indivíduos psicologicamente bem ajustados têm autoconceitos realistas e o sofrimento psicológico vem da desarmonia entre o autoconceito real (o que alguém realmente é) eo autoconceito ideal (o que alguém quer ser). Ele acreditava que o sujeito deveria dar direção e conteúdo ao tratamento psicológico, pois possuía recursos de autocompreensão suficientes para mudar seus conceitos. O Gestaltismo, influenciado pelo fisiologismo, é uma corrente que deu importante contribuição para a construção da Psicologia como ciência. O estado psicológico de quem percebe é um fator determinante da percepção, seus motivos, emoções e expectativas o fazem perceber, preferencialmente, determinados estímulos do ambiente. Eles acreditam que uma pessoa percebe uma situação inteira, em vez de sua elementos individuais. Para os psicólogos dessa linha teórica, toda percepção é uma gestalt, um todo que não pode ser compreendido separando-o em partes. Tópico 5: A Psicologia no Brasil Agora, vamos explorar a presença da Psicologia no Brasil. Quais são as contribuições e o desenvolvimento dessa área em nosso país? Em 1962, pela lei nº 4.119, foi criada e regulamentada a profissão de psicólogo com a função de adaptar, ajustar e adaptar o indivíduo ao mundo moderno, apesar de seu discurso psi já estar difundido, nas práticas cotidianas, na escola, no hospital e até mesmo o Judiciário. Das sete (07) Regionais iniciais, temos hoje 23 Conselhos Regionais. Em 20 de dezembro de 1971, pela lei nº 5.766, com o objetivo de orientar, fiscalizar e disciplinar, bem como zelar pela fiel observância dos princípios éticos e contribuir para o desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão, o Conselho Federal de Psicologia e sete (07) Conselhos Regionais. Em meados da década de 1980, marcada pela presença dos movimentos sociais, foram tentadas algumas incursões no campo da Psicologia Social, fortalecendo a relação indivíduo/sociedade. Atualmente, a Psicologia no Brasil abrange diversas áreas de atuação, como clínica, educacional, organizacional, social, esportiva, entre outras. Os profissionais contribuem para a promoção da saúde mental, o desenvolvimento humano e a compreensão dos fenômenos psicológicos em nossa sociedade. Tópico 6: A interseção entre a Psicologia e o Direito Por fim, vamos discutir a interseção entre a Psicologia e o Direito. Como essas áreas se relacionam e se complementam? - A interseção entre a Psicologia e o Direito é muito relevante. A Psicologia pode fornecer conhecimentos e avaliações psicológicas que auxiliam na tomada de decisões judiciais, como em casos de avaliação de capacidade mental, guarda de crianças e aconselhamento em situações de violência doméstica. Além disso, a Psicologia forense desempenha um papel importante nos tribunais, fornecendo avaliações e pareceres técnicos sobre a saúde mental de indivíduos envolvidos em processos judiciais. A interseção entre a Psicologia e o Direito mostra como essas áreas podem colaborar para uma abordagem mais abrangente e justa na resolução de questões legais. CAPÍTULO 2 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE PSICOLOGIA De acordo com o psicólogo institucional José Bleger, em seu livro Psicologia da Conduta, existem três mitos filosóficos que influenciaram as Ciências Humanas sobre a formação do Homem. São eles: O MITO DO HOMEM NATURAL: O homem tem uma “essência original” que é boa, mas por influência da sociedade, essas qualidades se perderiam, se manifestariam ou seriam modificadas. O MITO DO HOMEM ISOLADO: Propõe o homem como ser isolado, não social, que, aos poucos, desenvolve a necessidade de relacionarse com os outros indivíduos. O MITO DO HOMEM ABSTRATO: O homem é um ser cujas características independem de suas situações de vida. Nosso ponto de vista, neste livro, será o de que o homem não deve ser visto como natural, porque ele apresenta características históricas e não pode ser analisado como um ser isolado, porque se torna humano na sua relação com a sociedade. Além disso, não deve ser considerado abstrato porque ele é um conjunto de suas relações sociais. Vamos, agora, compreender como nos constituímos como indivíduos. A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO Vamos começar com uma frase para pensarmos: “[...] Cada indivíduo aprende a ser um homem.” (LEONTIEV, 2004, p. 285) O que este autor estaria querendo dizer com esta afirmativa? Acreditamos, com base nessa colocação, que nossa natureza é social, isto é, o ser humano não está só frente ao mundo que o cerca. Por exemplo, uma criança entra em relação com os fenômenos do mundo por intermédio de outras pessoas, ou seja, em um processo de comunicação com elas, em vários momentos históricos. Viver com outros humanos é uma condição para se humanizar e se individualizar. Essa condição implica no aprendizado de várias situações que vão além daquilo que poderíamos realizar sozinhos. É na sociedade que temos a oportunidade de entrarmos em contato com a cultura. É por meio de nossas relações sociais que vamos construindo nossa identidade, desenvolvendo aptidões, aprendendo a usar qualquer ferramenta ou objeto cultural, criando pertencimento à determinada sociedade. Desde o nascimento, os seres humanos vivem em curso de interação com os seus semelhantes denominado processo de interação social. E é com base nessa interação que vai sendo construído o processo de socialização. O indivíduo adquire padrões de comportamento que são habituais e aceitos nos seus grupos sociais. É nessa situação que aprendemos a ser membros de uma família, de uma comunidade ou de um grupo maior. Esse processo começa na infância e nos acompanhada por toda a vida. A cultura do meio em que o indivíduo vive influencia as características do seu comportamento, suas atitudes, seus valores, seus motivos. A família, no início deste desenvolvimento, é o maior agente socializante deste indivíduo, que é multideterminado. DESENVOLVIMENTO HUMANO Quando falamos “Essa menina está tão grande! Ela está bem desenvolvida!”, será que nos referimos ao desenvolvimento ou ao crescimento físico? Se você respondeu “crescimento físico”, acertou. Já o psicólogo, ao falar de desenvolvimento, considera os aspectos biológicos, emocionais, intelectuais e sociais. Desenvolvimento é um processo que tem início na concepção e só termina com a morte. O estudo do desenvolvimento humano é o conhecimento da história do homem desde o seu nascimento (mesmo antes dele), até a sua morte. Na verdade, é compreender o que ocorre em cada idade, cada fase da vida. Os psicólogos do desenvolvimento estudam a interação entre os padrões biologicamente pré-determinados e um ambiente dinâmico, em constante mudança. Mas, quais seriam os fatores importantes para o desenvolvimento humano? Os fatores básicos são dois: a hereditariedade e o ambiente. A hereditariedade é formada pela composição genética do indivíduo que influencia o crescimento e o desenvolvimento ao longo da vida. O ambiente pode ser constituído das influências dos familiares, das amizades, a educação, a nutrição e todas as experiências as quais as pessoas estão expostas. Ainda resta uma dúvida, como e em que medida hereditariedade e ambiente produzem efeitos no indivíduo? Essa pergunta foi proposta pela primeira vez como uma questão que opunha natureza X ambiente. Os psicólogos, atualmente, concordam que tanto a hereditariedade como o ambiente produzem padrões de desenvolvimento específicos. Ninguém está livre das influências ambientais, mas também não cresce sem ser afetado pela bagagem genética. Esse debate sobre as influências desses dois fatores permanece com diferentes abordagens e teorias que enfatizam, em maior ou menor grau, a hereditariedade ou o ambiente. Algumas teorias do desenvolvimento enfatizam o papel da aprendizagem no desenvolvimento; outras, o papel da hereditariedade e da maturação, produzindo modificação no desenvolvimento. Embora as teorias expressem diferenças, os psicólogos do desenvolvimento concordam com alguns fatores. Os fatores genéticos fornecem o potencial para que os comportamentos emerjam ou não. Os fatores ambientais, por sua vez, permitem que as pessoas alcancem as capacidades que sua base genética permitir. Os psicólogos do desenvolvimento usam diversas abordagens paradeterminar as influências dos diferentes fatores no comportamento. O estudo do desenvolvimento humano é muito importante para várias questões jurídicas que devem ser avaliadas a partir da etapa do desenvolvimento em que o indivíduo se encontra. Por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pressupõe certo entendimento sobre a infância e a adolescência; o Estatuto do Idoso abrange sujeitos que estão em outro ciclo vital, com características específicas; e, o Código Penal está fundamentado em questões da maioridade. Sem a presunção de esgotar o tema, e muito menos de afirmar que esta ou aquela teoria é a melhor ou a mais completa para explicar o desenvolvimento humano, apresentaremos algumas abordagens que nos parecem ser interessantes para a utilização em análises jurídicas, nesta área. Freud (já apresentado no capítulo anterior), no início do século XX, realizou estudos sobre o desenvolvimento humano, que geraram polêmica no meio científico. Para esse autor, os primeiros anos de vida são fundamentais na formação da personalidade. De acordo com Freud, é a partir da infância que se estrutura a vida adulta, tanto para a saúde mental e adaptação como para o comportamento patológico. Para ele, o ser humano passa por diferentes estágios, no seu desenvolvimento, que são marcados pela evolução da sua psicossexualidade. Mas, o que é essa psicossexualidade? Há, em todos nós, uma energia psíquica de natureza sexual denominada, por Freud, de libido. Em cada estágio do desenvolvimento há certa quantidade desta energia, que está ligada a uma zona corporal específica. Ao ocorrer um trauma, seja ambiental, constitucional, ou ambos, o desenvolvimento ficaria fixado nesta etapa. Esta energia participará de todos os aspectos da vida da pessoa: profissional, afetivo, religioso etc. A forma como este desenvolvimento ocorreu nos primeiros anos de vida será determinante no modo como o adulto irá se relacionar com o ambiente. De acordo com Freud, a cada estágio do desenvolvimento corresponde um padrão de comportamento. Quando, na idade adulta, a pessoa apresenta aspectos libidinosos de alguma fase anterior, que deveria estar superada sob o ponto de vista do desenvolvimento, chamamos de fixação da libido. Essa teoria afirma que frente a uma frustração, o indivíduo regride a essa etapa do desenvolvimento, buscando alívio ou solução para aquela situação. ESQUEMA DE DESENVOLVIMENTO DE ERIK ERICKSON Confiança X Desconfiança (até um ano de idade): Durante o primeiro ano de vida, a criança é substancialmente dependente das pessoas que cuidam dela, requerendo cuidado quanto à alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no mundo. Autonomia X Vergonha e Dúvida (segundo e terceiro ano): Neste período, a criança passa a ter controle de suas necessidades fisiológicas e a responder por sua higiene pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para tentar novas coisas sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de ser autônoma, provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja, a dependência. Iniciativa X Culpa (quarto e quinto ano): Durante este período, a criança passa a perceber as diferenças sexuais, os papéis desempenhados por mulheres e homens na sua cultura (conflito edipiano para Freud) entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade “sexual” e intelectual, natural, for reprimida e castigada, poderá desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos. Construtividade X Inferioridade (dos 6 aos 11 anos): Neste período, a criança está sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia o convívio com pessoas que não são seus familiares, o que exigirá maior sociabilização, trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades, o próprio grupo irá criticá -la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade. Identidade X Confusão de Papéis (dos 12 aos 18 anos): O quinto estágio ganha contornos diferentes devido à crise psicossocial que nele acontece, ou seja, Identidade Versus Confusão. Neste contexto, o termo crise não possui uma acepção dramática por tratar-se de algo pontual e localizado com polos positivos e negativos. Intimidade X Isolamento (jovem adulto): Neste momento, o interesse, além de profissional, gravita em torno da construção de relações profundas e duradouras, podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afetiva. Caso ocorra uma decepção, a tendência será o isolamento temporário ou duradouro. Produtividade X Estagnação (meia idade): Pode aparecer uma dedicação à sociedade à sua volta uma realização de valiosas contribuições, ou grande preocupação com o conforto físico e material. Integridade X Desesperança (velhice): Se o envelhecimento ocorre com sentimento de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos, do contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo trará tristeza e desesperança. A contribuição mais importante, na teoria de Erikson, foi o seu estudo sobre a adolescência e a construção de sua identidade. O desenvolvimento de suas ideias forma, até os dias atuais, o fundamento para muitos autores na área da infância e juventude fazerem uma leitura sobre o adolescente em conflito com a lei. Várias são as teorias do desenvolvimento e vários são os aspectos enfatizados em cada uma delas. Não há uma teoria melhor ou mais completa. O que temos são teorias em razão das Escolas nas quais os autores desenvolveram seus estudos. Você deve estar perguntando, neste momento, “qual teoria utilizar quando estiver trabalhando em um processo que requeira uma justificativa fundamentada no desenvolvimento humano?”. Assim como os psicólogos, os profissionais de outras áreas fazem uma escolha em relação à teoria que mais se adéqua à sua compreensão sobre o ser humano. O ideal, neste caso, é que você busque um auxílio especializado para a realização desse documento. No entanto, é importante que você tenha, pelo menos, noções sobre o desenvolvimento, entendendo que cada estágio é formado por um período de tempo que é definido por um conjunto de características físicas, emocionais, intelectuais e sociais, que são desenvolvidas e assimiladas de forma diferente e única por cada pessoa. A lguns autores da Psicologia Geral e do Desenvolvimento, como Holmes (1977), Bee (1997) e Tyson (1993), citados por Trindade (2007), dividiram os estágios do desenvolvimento e descreveram as características de cada etapa, segundo aspectos físicos, intelectuais, sociais e emocionais. Acreditamos que seja um material importante para o seu aprendizado, nesta área, e vamos apresentá-lo a seguir: Estágio pré-natal (concepção até nascimento): Formação da estrutura e órgãos corporais básicos. O crescimento físico é mais rápido do que nos demais períodos, havendo grande vulnerabilidade às influências ambientais. Primeira infância (nascimento até 3 anos): O recém-nascido é dependente, porém competente. Todos os sentidos funcionam a partir do nascimento, sendo rápidos o crescimento físico e o desenvolvimento das habilidades motoras. A compreensão e a linguagem desenvolvem-se velozmente. O apego aos pais e a outras pessoas familiares vai se alicerçando, e a autoconsciência se estabelece em torno do segundo ano. Posteriormente, o interesse por outras crianças aumenta. Segunda infância (3 a 6 anos): As forças e as habilidades motoras simples e complexas aumentam. Embora a compreensão da perspectiva dos outros vá aumentando progressivamente, o comportamento continua predominantemente egocêntrico.A imaturidade cognitiva leva a muitas ideias ilógicas acerca do mundo, expandindo-se através do brincar, da criatividade e da imaginação, que se tornam mais elaborados. A independência, o autocontrole e os cuidados próprios aumentam. A família ainda é o núcleo da vida, embora outras crianças comecem a se tornar importantes. Terceira infância (6 a 12 anos): O crescimento físico não é tão intenso como no período anterior, mas a aquisição de habilidades físicas aumenta e se aperfeiçoa. O egocentrismo diminui, e o pensamento organiza-se de modo mais lógico, embora ainda permaneça predominantemente concreto. A memória e as habilidades de linguagem aumentam. Os ganhos cognitivos são cumulativos e permitem um melhor aproveitamento da educação formal. A autoimagem aperfeiçoa-se, afetando a autoestima, e os amigos assumem importância fundamental, fazendo progredir o processo de socialização. Adolescência (12 a 20 anos): As mudanças físicas são rápidas e profundas. Atinge-se a maturidade reprodutiva. Desenvolve-se a capacidade de pensar abstratamente e de usar o pensamento científico. Nessa etapa, a busca de identidade constitui um fator primordial, justificando a vida em grupos de iguais, a adoção de modelos e de comportamentos estandardizados, que facilitam o caminho da identificação. Jovem adulto (20 a 40 anos): Como regra, a saúde física atinge o apogeu, decaindo ligeiramente nos anos posteriores. As habilidades cognitivas assumem maior complexidade. As decisões sobre relacionamentos ocupam o cenário principal, assim como a escolha vocacional e laboral devem encontrar melhor definição. Meia-idade (40 a 60 anos): Ocorre uma relativa deterioração da saúde física e inicia o declínio da resistência e da perícia das habilidades. Em geral, a capacidade de resolução de problemas práticos é acentuada pela experiência e sabedoria. Porém, a capacidade de resolver novos problemas declina. O senso de identidade continua a se desenvolver, com a dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e de pais idosos, fato que pode ser fonte de preocupações e de estresse. A partida dos filhos devolve o casal a si mesmo, podendo gerar sentimentos de vazio ou abandono. Para alguns, o sucesso na carreira e os ganhos atingem o ponto mais elevado, enquanto outros podem experimentar um esgotamento profissional. A busca pelo sentido da vida assume importância fundamental, podendo sobrevir a denominada crise da meiaidade, geralmente associada à consciência do tempo e da finitude. Terceira idade (60 anos em diante): A maioria das pessoas se mantém saudável e ativa, embora a saúde e a capacidade física apresentem tendência ao declínio. O retardamento do tempo de reação afeta muitos aspectos do funcionamento cognitivo, e a inteligência e a memória podem apresentar sinais de deterioramento em algumas áreas, levando à busca por modos alternativos de compensação. A aposentadoria pode criar mais tempo para o lazer, mas pode também significar diminuição da renda econômica, decrescendo ainda a capacidade laborativa. Nessa etapa, costuma haver o enfrentamento de algumas perdas e se agudiza a ideia de finitude. PERSONALIDADE Todos nós ouvimos, lemos e usamos, muitas vezes, a palavra personalidade. Geralmente, falamos: “Fulano tem uma personalidade forte.” e “Fulana, coitada, não tem personalidade”. Mas será que empregamos esse termo como o psicólogo estuda e entende? Existem vários significados para a palavra personalidade, dependendo do campo de estudo em que ela esteja sendo usada, por exemplo, no Direito, na Filosofia, na Teologia, na Sociologia, na Psicologia etc. Vamos, então, entender o que o psicólogo considera personalidade e como ele a avalia. Primeiro, vejamos a origem da palavra. A palavra personalidade parece ter se originado de persona. Este era o nome dado à máscara que os atores do antigo teatro romano usavam para representar seus papéis. Você deve estar percebendo que, pela origem da palavra, estamos falando de aparência externa da pessoa, assim como falamos no início do Fulano e da Fulana. Para os psicólogos, de uma forma geral, a personalidade pode ser definida como um padrão de características duradouras que produzem consistência nas atitudes, comportamentos e individualidade. Explicando melhor, nossa personalidade é única e nos diferencia dos outros. Para Trindade (2009, p. 64), “personalidade é um conjunto biopsicossocial dinâmico que possibilita a adaptação do homem consigo mesmo e com o meio, numa equação de fatores hereditários e vivenciais”. Você deve estar percebendo que, assim como o nosso desenvolvimento, nossa personalidade recebe influências do meio e de nossa bagagem genética. Nossa personalidade, então, está em contínua transformação, fundamentada em uma construção que tem início com a vida, se modificando e se aperfeiçoando ao longo do desenvolvimento. Não é um grupo de características adquiridas a partir do nascimento, que não se transformam. Como outra área da Psicologia que já vimos (Psicologia do Desenvolvimento), o estudo da personalidade, pela Psicologia, inclui várias abordagens. Para o profissional da área do Direito, é importante um conhecimento geral destes estudos, para que, em um trabalho interdisciplinar, este profissional possa entender o que o psicólogo está interpretando e, desta forma, possa utilizar melhor esse conhecimento em suas argumentações. Para que você se familiarize, segue um resumo das principais abordagens sobre personalidade na Psicologia, tomando como base as correntes já mencionadas no Capítulo 1. ABORDAGENS PSICODINÂMICAS DA PERSONALIDADE Essas abordagens se baseiam na ideia de que a personalidade é formada por forças e conflitos internos sobre as quais as pessoas têm pouco conhecimento e, consequentemente, sobre os quais têm pouco controle. Lembra-se da teoria do desenvolvimento psicossexual? Pois é, o mais importante e pioneiro nesta abordagem foi Freud. Para ele, nossa experiência consciente é apenas uma pequena parte de nossa estrutura de personalidade. A maior parte de nosso comportamento é motivada pelo inconsciente, que é uma fração de nosso mundo psíquico. Além disso, temos o pré-consciente contendo situações que não são ameaçadoras e, por isso, chegam facilmente à consciência. Freud descreveu a estrutura da personalidade em três componentes que são apresentados, de forma didática, em separado, mas são interativos e relacionados a aspectos conscientes e inconscientes. São eles: Id, Ego e Superego. Eles são conceitos abstratos que descrevem uma interação que motiva o nosso comportamento. Em linhas gerais, e para não nos estendermos em apenas uma teoria, o Id é a parte mais primitiva da personalidade, buscando o máximo de satisfação. O Ego busca equilibrar os desejos do Id e a realidade do mundo objetivo externo, mantendo o indivíduo em segurança e integrado à sociedade. E o Superego representa o que é certo e errado em uma sociedade, conforme o que foi apresentado pelo ambiente, que no início do desenvolvimento está representado pela família, professores e pessoas significativas para o indivíduo. Outros autores, dentro desta abordagem, desenvolveram ou rejeitaram algumas ideias de Freud, nesta área, dando origem a outras teorias. Abordagens sociocognitivas. Estas abordagens enfatizam a influência da cognição — pensamentos, sentimentos, expectativas e valores — e da observação do comportamento de outras pessoas na determinação da personalidade. Por exemplo, uma criança que vê uma pessoa importante na sua vida se comportando de forma agressiva, tenderá a se comportar de forma semelhante. Nessas teorias são desenvolvidos estudos, principalmente, sobre a autoeficácia e a autoestima. Abordagens Humanistas Os teóricos desta abordagem acreditam que a base da personalidade está na habilidade humana consciente e automotivada de mudar e se aprimorar. A bondade é inerente às pessoas, assim como a tendência humana de buscar propósitos mais elevados. As pessoas têm uma necessidade fundamental de buscar a autorrealização. Esse processo pode ser vitalício para alguns, e outros podem nuncaalcançar. Outra necessidade básica, nessas teorias, é o desejo de ser amado e respeitado. Um aspecto importante, nessas abordagens, diz respeito à consideração positiva incondicional em relação ao outro. Abordagens biológicas e evolucionistas. Essas abordagens sugerem que os componentes da personalidade são herdados. A personalidade é determinada, em parte, pelos nossos genes. Complementando, as características da personalidade que tiveram sucesso entre os nossos ancestrais apresentam mais chances de serem preservadas e passadas para as próximas gerações. A importância dos fatores genéticos, na personalidade, é demonstrada, nestas abordagens, por meio dos estudos com gêmeos. Alguns pesquisadores afirmam que existem genes específicos relacionados à personalidade. Será que a identificação de genes ligados à personalidade significa que estamos destinados a certos tipos de personalidade? É bem improvável, porque os genes interagem com o meio produzindo novas interações. Certos aspectos da personalidade apresentam componentes genéticos importantes, mas é a interação entre fatores genéticos e ambiente que determina a personalidade. Abordagem dos traços da personalidade. Você deve estar se perguntando, o que seriam traços e o que eles têm a ver com a nossa personalidade. Traços, para os teóricos dessa abordagem, seriam características do comportamento consistentes, que aparecem em diferentes situações. Estes estudos buscam identificar os traços básicos que formam a personalidade das pessoas. O grau em que os traços se apresentam nas pessoas variam. O principal desafio, para esses teóricos é identificar os principais traços predominantes em nossa personalidade. Estes estudos explicam a personalidade em termos de traços, mas diferem em termos de quais e quantos traços são considerados mais flexíveis. Uma das abordagens mais conhecidas nesta área de estudo é a dos cinco traços ou fatores. Estes traços são: socialização/amabilidade, extroversão, realização/conscenciosidade, abertura para experiências, e neuroticismo. Depois de estudarmos algumas abordagens em relação à personalidade, você deve estar questionando: Qual dessas abordagens fornece o estudo mais completo sobre a personalidade? Dada a complexidade de nossa personalidade, cada estudioso tentou analisar a personalidade sobre determinado ângulo, sobre um aspecto diferente, formador de nossa personalidade. Se olharmos as abordagens em conjunto, perceberemos que, apesar de analisarem aspectos diferentes, se complementam em suas colocações e nos mostram as várias possibilidades de explicarmos a nossa personalidade. E agora que já nos familiarizamos com alguns conceitos sobre a personalidade, cabe a indagação: Como o psicólogo avalia a personalidade de uma pessoa? Você deve se lembrar de como a Psicologia surgiu e quais os instrumentos utilizados pelo psicólogo para investigar o seu objeto de estudo naquela época. Se você ainda não se recordou, vamos ajudá-lo: eram instrumentos para medir e avaliar comportamentos específicos em laboratórios, que foram, gradativamente, dando origem a novos instrumentos denominados testes psicológicos. Os testes psicológicos são medidas criadas para avaliar o comportamento e a personalidade utilizadas pelos psicólogos. Eles devem ter fidedignidade e validade. Mas, será que podemos medir tudo o que somos? É lógico que não. No entanto, algumas características podem ser avaliadas. Vejamos, resumidamente, com quais instrumentos o psicólogo pode avaliar estas características: ENTREVISTAS — podem ser mais ou menos estruturadas, consistindo em um diálogo que possui um propósito definido. ESCALAS DE AVALIAÇÃO GRÁFICA — podem ser respondidas pela própria pessoa ou pelo avaliador; consistem em um registro em determinado ponto do gráfico um julgamento referente ao objeto de análise. INVENTÁRIOS DE PERSONALIDADE — são questionários bem extensos e minuciosos que o indivíduo responde fornecendo informações sobre si mesmo; pode medir uma ou várias características da personalidade. TESTES PROJETIVOS — caracterizam-se por respostas a estímulos pouco estruturados e bastante ambíguos; o objetivo dos testes projetivos é a revelação de aspectos inconscientes e profundos da personalidade. TESTES SITUACIONAIS — os psicólogos observam o comportamento do indivíduo numa situação simulada da vida real. A avaliação psicológica é feita com entrevistas e testes que embasam as entrevistas finais de orientação psicológica, além de um relatório por escrito. Este é um tema instigante, na Psicologia, e se você tiver interesse em aprender um pouco mais não deixe de ler o texto de Carvalho, Bartholomeu e Silva (2009). PSICOLOGIA SOCIAL No Capítulo 1, você teve contato com a Psicologia Social pelo viés da matriz sócio-histórica. Podemos entender, também, a Psicologia Social como um estudo das condutas humanas que são influenciadas por outras pessoas. Isto é, o seu objeto de estudo, somos nós mesmos, participando das mais variadas interações sociais. Como bem esclarece o psicólogo social Helmut Krüger (1986, p. 1): Definição de atitudes sociais Para o senso comum, atitude é sinônimo de comportamento. Por exemplo: Fulana tomou uma atitude com relação ao seu chefe. Em geral, a atitude de tornar a situação clara é coerente com o comportamento, por exemplo, de Fulana ir conversar com seu chefe. Você já deve ter percebido que atitude é uma predisposição mental e comportamento é a ação. Para ficar mais claro, podemos entender atitude como uma organização duradoura de pensamentos e crenças (cognições), dotada de uma carga afetiva pró ou contra um objeto social que predispõe o indivíduo para a ação. Os componentes das atitudes então serão: a cognição, o afeto e o comportamento. Retornando ao nosso exemplo anterior, a atitude de Fulana de gostar das situações esclarecidas tem origem nas suas experiências subjetivas, que incluíram uma avaliação da situação, influenciando o seu comportamento, que é ir conversar com seu chefe. As atitudes são construídas ao longo da história de vida do sujeito. São aprendidas por meio da vivência da pessoa, da imitação e da observação. Neste momento, torna-se necessário apresentar o seguinte esclarecimento: conhecer, poder explicar e prever são acontecimentos ligados a variáveis ideológicas, políticas e morais, que fazem parte de nossas atitudes. Agora, já podemos explicar preconceito, estereótipo e discriminação. Preconceito, estereótipo e discriminação. Considera-se preconceito uma atitude que apresenta duas características específicas: se forma sempre em torno de um núcleo afetivamente negativo; e é dirigido contra um grupo de pessoas. Estamos falando de preconceitos étnicos, religiosos, políticos, culturais, ideológicos e profissionais. Pela sua amplitude e gravidade, é de interesse social investigar as suas causas e construir técnicas psicológicas como forma de prevenção, controle ou extinção. Temos também os estereótipos que são colocações de certas características a pessoas pertencentes a determinados grupos sociais. Os estereótipos podem ser definidos por atitudes positivas ou negativas, em relação a estas pessoas. Comece a pensar em alguns estereótipos positivos e negativos. E, por fim, a discriminação, que é o comportamento que deriva do preconceito e do estereótipo. Geralmente, a discriminação é negativa e pode intensificar-se em situações de crise (política, econômica, social e emocional). Mas por que razão existem estereótipos, preconceitos e discriminações? Para a Psicologia, os estereótipos nos permitem simplificar a realidade social. Por meio deles, reconhecemos nos em determinado grupo e nos diferenciamos de outros grupos. Sempre que nos sentimos pertencentes a um grupo, desenvolvemos sentimentos de proteção com quem nos identificamos, e de hostilidade e rejeição em relação aos diferentes de nós. Como já vimos, a discriminação é o resultado dos dois fatores descritos, preconceito e estereótipo. Em cada cultura, em cada época, existem diferentes formas de discriminação e diferentes grupos-vítimas desta atitude. E o estigma?Qual a sua relação com todos estes conceitos? Estigma Na atualidade, segundo Goffman (1993), a palavra estigma representa algo de mal, que deve ser evitado. Uma ameaça à sociedade. A sociedade estabelece um modelo de categorias e tenta catalogar as pessoas de acordo com os atributos considerados naturais e comuns para ela. Alguém que demonstra pertencer a uma categoria com atributos incomuns ou diferentes e pouco aceitos pelo grupo social, ou em casos extremos, é considerado mau e perigoso. Dessa forma, essa pessoa estigmatizada é anulada quanto à sua produção técnica, científica e humana. A sociedade limita e delimita a ação do sujeito estigmatizado, marcando-o como desacreditado e determinando os malefícios que pode causar. Quanto mais visível for a “marca”, menor será a possibilidade de reverter esta situação. E agora, chegamos aos conceitos de normalidade e anormalidade ou comportamento patológico. QUESTIONAMENTOS SOBRE A NOÇÃO DE NORMALIDADE Esta é uma discussão antiga e atual, ao mesmo tempo. As ideias e os critérios de avaliação destes termos foram sendo construídas com base no desenvolvimento científico, na cultura e nos comportamentos daqueles que avaliam os indivíduos. Surge, então, uma questão: o conceito de normal e patológico é relativo. Sob o ponto de vista cultural, o que em uma sociedade é considerado normal, aceito e valorizado, em outra sociedade, ou na mesma sociedade, em outro momento histórico, pode ser considerado anormal, desviante ou patológico. Alguns critérios são estabelecidos para caracterizar a normalidade, no entanto, você não deve esquecer que eles dependem de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas. Para ilustrar essa questão tão controvertida, segue uma apresentação esquemática de como podemos estabelecer a normalidade. NORMALIDADE COMO AUSÊNCIA DE DOENÇA - O critério que se utiliza é de saúde como “ausência de sintomas, de sinais ou de doenças. Normal, desse ponto de vista, seria aquele indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. A normalidade é estabelecida não por aquilo que ela supostamente é, mas, sim, por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta. NORMALIDADE “IDEAL” - É estabelecido arbitrariamente uma norma ideal, o que é supostamente “sadio” e mais “evoluído”. Tratase de uma norma constituída e referendada socialmente. Depende de critérios socioculturais e ideológicos arbitrários. NORMALIDADE ESTATÍSTICA - É um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral — como peso, altura, tensão arterial, horas de sono etc. O normal passa a ser aquilo que se observa com maior frequência. NORMALIDADE COMO BEMESTAR - Determinada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). É um conceito criticado por ser muito vasto e muito impreciso. Bemestar é algo difícil de definir objetivamente. NORMALIDADE FUNCIONAL - O disfuncional provoca sofrimento para o indivíduo e para o seu grupo social. NORMALIDADE COMO PROCESSO - Leva em conta aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, organizações e reorganizações ao longo do tempo, crises e mudanças próprias dos períodos do desenvolvimento. NORMALIDADE SUBJETIVA: Percepção subjetiva do indivíduo em relação a sua saúde e vivências subjetivas. NORMALIDADE COMO LIBERDADE: Propõe conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial. A saúde mental estaria vinculada às possibilidades de transitar, com graus distintos de liberdade, sobre o mundo e sobre o próprio destino. NORMALIDADE OPERACIONAL - É um critério assumidamente arbitrário. Define-se o que é normal e patológico inicialmente, e busca-se trabalhar com tais conceitos. A discussão sobre normalidade revela o poder que a ciência tem de, com base em diagnóstico de um especialista, fundamentado em algum critério, no caso da Medicina ou da Psicologia, estabelecer o destino da pessoa rotulada, estigmatizada. Esse poder está fundamentado em conhecimentos polêmicos, porque em outros momentos históricos, na mesma sociedade ou em outras sociedades, não são considerados anormais. A Organização Mundial de Saúde — OMS — afirma que não existe definição “oficial” de saúde mental. As diferenças culturais, os julgamentos subjetivos e as diferentes teorias com relação a este tema afetam o modo como a “saúde mental” é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde mental pode incluir a capacidade de um indivíduo para apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as suas atividades e os seus esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais. Os seguintes itens foram identificados como critérios de saúde mental: 1. Atitudes positivas em relação a si próprio; 2 2. Crescimento, desenvolvimento e autorrealização; 3. Integração e resposta emocional; 4. Autonomia e autodeterminação; 5. Percepção apurada da realidade; 6. Domínio ambiental e competência social. RESILIÊNCIA PSICOLÓGICA A resiliência é um conceito psicológico emprestado da Física, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas — choque, estresse etc. — sem entrar em surto psicológico. No que diz respeito à doença mental, a polêmica persiste. Em Psiquiatria e em Psicologia prefere-se falar em transtornos ou perturbações ou disfunções ou distúrbios psíquicos no lugar de doença. Transtorno revela um conceito que descreve um comportamento diferente. A este termo são acrescentadas as palavras mental, psíquico e psiquiátrico para descrever qualquer anormalidade, sofrimento ou comprometimento de ordem psicológica e/ou mental. Os transtornos mentais são um campo de investigação interdisciplinar que envolve várias áreas das Ciências, como a Psicologia e a Psiquiatria. No entanto, o que fazem os profissionais nestas áreas? Quais as diferenças de tratamento em relação aos transtornos mentais? O psiquiatra é um profissional da Medicina que após ter concluído sua formação, opta pela especialização em Psiquiatria. Esta é realizada em 2 ou 3 anos e abrange estudos em Neurologia, Psicofarmacologia e treinamento específico para diferentes modalidades de atendimento, tendo por objetivo tratar os transtornos mentais. Ele é apto a prescrever medicamentos no seu tratamento. O psicólogo tem formação superior em Psicologia, ciência que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano. O curso tem duração de 4 anos para o bacharelado e licenciatura, e 5 anos para obtenção do título de psicólogo. No decorrer do curso, a teoria é complementada por estágios supervisionados que habilitam o psicólogo a realizar psicodiagnóstico, psicoterapia, orientação, entre outras atividades, relacionadas aos transtornos mentais. Como não é um médico, não pode prescrever medicamentos. É importante que você compreenda que, muitos transtornos mentais necessitam da prescrição de uma medicação específica, e o profissional mais adequado e preparado para esta situação, na área médica, é o psiquiatra. Muitas pessoas têm vergonha de ir ao consultório desses profissionais e acabam procurando outros especialistas que receitam medicamentos, nem sempre mais adequados, para o transtorno mental apresentado pelo indivíduo. Podemos dizer que, infelizmente, ainda existe discriminação em relação ao tratamento psiquiátrico, que, em geral, é o mais correto para certos transtornos mentais. Algumas abordagens críticas como a Antipsiquiatria e a Psiquiatria Social denunciaram o saber científico, nesta área, como manipulação, retirada da humanidade e dignidade dos portadores de transtornos mentais, além das condições inadequadas de tratamento e internação. Essas abordagens não negam que os transtornos mentais existam, mas se propõem a enfrentá-los, utilizando uma postura crítica aos métodos tradicionais. Acreditam que o portador de transtorno mental não é um monstro,por isso, não deve ser desumanizado, mas, sim, avaliado por meio de sua história de vida. A famosa frase de Franco Basaglia de que “a Psiquiatria é muito importante para ficar nas mãos só dos psiquiatras” não é uma declaração contra a Psiquiatria, é uma declaração antimanicomial. Com base nestas posições, no Brasil, também começou a se pensar na situação dos portadores de transtornos mentais e surgiu a lei antimanicomial. Passemos para esta área. AS FUNÇÕES DA LEI ANTIMANICOMIAL Você sabia que o portador de transtornos mentais tem direitos garantidos por uma lei especial? Em 1987, em um Encontro Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental, nasceu o Movimento da Luta Antimanicomial. Seu lema era “Por uma sociedade sem manicômios”. Nesta época, foram denunciados abusos e violações dos direitos humanos dos portadores de transtornos mentais dentro dos manicômios. A luta travada era pelo fim da internação e pela criação de atendimentos alternativos. Uma das conquistas deste Movimento foi a lei nº 10.216/2001, que determinou o fechamento progressivo dos hospitais psiquiátricos e a instalação de serviços substitutivos. A partir desta lei, o Brasil tem eliminado leitos psiquiátricos e substituído pelos serviços dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), residências terapêuticas, programas de redução de danos, centros de convivência, oficinas de geração de renda, entre outros programas. A lei nº 10.216/2001 surgiu como uma garantia de direitos e de reinserção social das pessoas estigmatizadas por serem portadoras de transtornos mentais. Ainda se faz necessária uma luta mais ampla pelo respeito e garantia de direitos à diversidade e à singularidade de cada um. CAPÍTULO 3 A FAMÍLIA A família e suas transformações: Um breve histórico O ser humano ao nascer é completamente dependente. Para se manter vivo, ele necessita de outro ser humano que o alimente, o mantenha aquecido, cuide dele física e emocionalmente. A família é, em princípio, o primeiro grupo ao qual o ser humano pertence. A família, enquanto instituição, pode ser entendida como uma construção social que varia ao longo da história da humanidade, portanto, vem sofrendo algumas importantes modificações no decorrer dos tempos. A Família na antiga Roma • A consanguinidade (o parentesco biológico) não era necessária para o pertencimento à família; • Não era composta apenas de marido, mulher e filhos. Ela se caracterizava como família extensa e poderia incluir parentes, criados, escravos, e todos aqueles que vivessem sob o comando do patriarca. • Tinha como principal objetivo a manutenção dos bens e o exercício de um ofício comum. O sentimento de família, como nós o conhecemos, começou a ser desenvolvido a partir do século XVI. Antes disso, a família não era entendida como um espaço privado. As relações sociais não permitiam a intimidade da vida familiar, e a casa da família era considerada, socialmente, um lugar público. A família pós-revolução Francesa: O período de supremacia do patriarcado permaneceu por vários séculos. Foi a partir da Revolução Francesa que tal forma de organização da sociedade começou a ser questionada. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade e o respeito à singularidade de cada um na rede social ganharam força e o patriarcado foi lentamente entrando em declínio. • Movimento denominado “individualismo” • Transformação na família oriental A família na modernidade: • Amor + sexualidade + casamento. Um novo ideal de conjugalidade fez do casamento o lugar de promessa de felicidade onde o amor e a sexualidade são condições fundamentais. Valoriza-se a complementaridade entre os gêneros, a fidelidade mútua, a atração sexual, a intenção de constituir família e perpetuá-la. Valoriza-se a intimidade e o caráter reparador de uma relação amorosa. A família no final do século XIX e início do século XX: a sociedade tornou-se mais permissiva e o modelo patriarcal começou a declinar. Como resultado, a relação entre pais e filhos mudou e as mulheres tornaramse a rainha do lar, enquanto os homens dominavam o espaço público. No entanto, apesar destas transformações, o modelo patriarcal permanece em vigor. A Família dos dias atuais: A sociedade contemporânea valoriza o individualismo, que pressiona os casais a terminarem relacionamentos que não se enquadram nos moldes de um casamento ideal. O vínculo conjugal só é mantido se proporcionar satisfação a ambos os parceiros, e novas formas de amar e de se relacionar estão sendo construídas para atender às novas demandas da sociedade. No entanto, a ênfase na autonomia e no prazer individual pode enfraquecer os espaços conjugais, levando ao isolamento emocional e à cultura do descarte. A busca pelo prazer constante pode resultar em sentimentos de insuficiência e fracasso, exacerbando o individualismo e gerando desafios na conjugalidade e na parentalidade. TIPOS DE FAMILIA ⦿ Família Nuclear: formada pelo casamento, dita tradicional. ⦿ Família Informal: formada pela união estável. ⦿ Família Monoparental: qualquer um dos pais com seu filho (ex.: mãe solteira e seu filho). ⦿ Família Anaparental: Sem pais, formadas apenas pelos irmãos. ⦿ Família recomposta ou família reconstruída: é aquela em que um dos parceiros ou ambos possuem filhos de relacionamentos anteriores. ⦿ Família homoafetivas: São as famílias decorrentes da união de pessoas do mesmo sexo. ⦿ A opção de não construir família: existe, ainda, outra situação que vem sendo observada com alguma regularidade e nos leva a desconstruir o conceito de casamento referido à formação de uma família. ALIENAÇÃO PARENTAL O termo foi utilizado em meados dos anos 1980 por Richard Gardner, indicando a existência de um distúrbio psíquico. O autor denominou de Síndrome de Alienação Parental (SAP) o que seria um distúrbio infantil provocado em menores de idade expostos às disputas judiciais entre seus pais. · Na lei nº 12.318/2010, ela é descrita como sendo a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou o adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com ele. · NA PRÁTICA > A criança demonstraria uma intensa rejeição a um dos genitores (o genitor alienado) como resultado de manipulação psicológica realizada pelo outro genitor (o genitor alienador), sem que houvesse uma justificativa para isso. ALIENAÇÃO PARENTAL Atualmente, questiona-se a classificação de tal comportamento como uma síndrome, pois se entende que existem muitos fatores que podem contribuir para sua ocorrência e não apenas a patologia dos genitores. FATORES A SEREM CONSIDERADOS · idade · sexo · características individuais das crianças e adolescentes · outros fatores presentes, no contexto familiar, que possam contribuir para minimizar os efeitos da separação e para auxiliar a criança a superar os efeitos do litígio entre os pais · FORMAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL (lei nº 12.318/2010, Art 2) · 1.Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; · 2. Dificultar o exercício da autoridade parental; · 3. Dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; · 4. Dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; FORMAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL (lei nº 12.318/2010, Art 2) · 5. Omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; · 6. Apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; · 7. Mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. COMENTÁRIOS: MARIA BERENICE DIAS · Ruptura da vida conjugal pode gerar, na mãe, sentimentos de abandono, de rejeição, de traição, surgindouma intensa tendência vingativa. · Quando ela não consegue elaborar adequadamente o luto da separação, um processo de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-cônjuge é desencadeado. · Ao perceber o interesse do pai em preservar a convivência com o filho, encontra aí um caminho para a vingança. · A criança, sentindo-se órfã do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor alienador e passa a aceitar como verdadeiro tudo que lhe é informado; · O fato de deter uma guarda unilateral acaba conferindo ao guardião um poder que pode ser utilizado para dominar a situação e provocar inúmeros constrangimentos ao outro genitor. · anteriormente, este tipo de guarda era de forma conservadora até então deferida à mãe e, talvez por isto encontremos um maior número de mulheres no lugar de alienado; · Entretanto, não são raras as situações nas quais o genitor alienador é o pai, principalmente em decorrência da humilhação por este sentida, quando a mulher sai de casa para viver com outro homem · Devido violência masculina durante o casamento, a mulher abandone o lar, deixando os filhos com o pai por temer suas ameaças. REFLEXÃO · Como podemos entender o que está envolvido nas situações que têm sido reconhecidas como alienação parental? · Que fatores emocionais estão presentes numa disputa judicial após uma separação conjugal? · Como o contexto familiar e social contribui para a intensificação das dificuldades que já existiam antes do processo de separação ser iniciado. · A separação costuma afetar a autoimagem de cada um e rompe com alguns ideais que estiveram presentes na construção do laço conjugal · Ameaçados em sua autoestima e duvidando de seu valor, os ex-cônjuges podem defensivamente negar as próprias fraquezas e exagerar as do ex-parceiro. · Sentimentos de abandono, de rejeição, de traição podem dar origem a estratégias de destruição, de desmoralização, de descrédito do ex-parceiro · A expectativa do alienador é que o outro desista de suas tentativas de aproximar-se do filho · Qualquer dos ex-cônjuges que pretenda sozinho preencher as funções de pai ou de mãe, excluindo deliberadamente o outro cônjuge estará comprometendo o desenvolvimento emocional de seus filhos. CAPÍTULO 4 ABORDAGEM PSICOLÓGICA DA VIOLÊNCIA A violência se faz presente nas relações interpessoais. As ações humanas são complexas e devem ser analisadas de acordo com o contexto onde estão inseridos., os estímulos internos e externos e também quem as pratica. Violência e Agressividade Na Psicologia, Bock, Furtado e Teixeira (1995, p. 283) definem violência como o uso desejado da agressividade, com fins destrutivos, podendo ser voluntário, racional e consciente ou involuntário, irracional e inconsciente. Mangini (2008), citada por Fiorelli, José Osmir; Mangini, Rosana C. Ragazzoni (2009, p. 266) diz que a violência ocorre quando a agressividade não está relacionada à proteção de interesses vitais, trazendo em si a ideia de destruição entre seres da mesma espécie quando outras vias de solução poderiam ser empregadas. A agressividade, segundo Mangini capítulo 4 • 73 (2008), citada por Fiorelli e Mangini (2010), é como se fosse uma força, um comportamento, algo que ajuda a sobrevivência e a adaptação do indivíduo. Para essa autora (Mangini, 2008), a agressividade é uma característica da personalidade que aparece no comportamento da pessoa. Agressividade muitas vezes entendida como comportamento, e desde muito tempo, o ser humano é ensinado a canalizar essa agressividade para algo produtivo, como por exemplo, os esportes, as artes. Já a violência traz a ideia de destruição entre seres da mesma espécie. A interpretação depende do contexto legal e sociocultural. Difícil também classificar comportamento agressivo e violento, pois muitas vezes, pessoas que sao vistas como agressivas não se tornam violentas. Assim como pessoas aparentemente tranquilas em certos momentos cometem atos de violência. Teorias sobre agressividade Começaremos pela Psicanálise. Esta teoria afirma que a agressividade é constitutiva do ser humano e, ao mesmo tempo, afirma-se a importância da cultura, da vida social, como reguladoras dos impulsos destrutivos. A função de controle dos impulsos destrutivos ocorre no processo de socialização em que é esperado que as ligações significativas com os outros sejam determinantes. Winnicott (2012), psicanalista inglês, afirma que a agressividade e a destrutividade humanas estão intrinsecamente relacionadas à questão da constituição do sentido da realidade externa. Atendo-se, sobretudo aos estágios iniciais do desenvolvimento, em que se mostram as raízes da agressividade. A Gestalt destaca este tema afirmando que a agressividade é resultado de uma percepção inadequada dos comportamentos realizados, ou seja, a pessoa não conseguiu discriminar os detalhes que diferenciam um comportamento agressivo de outro socialmente adaptado. O Behaviorismo explica que existe a possibilidade do comportamento agressivo ser aprendido por meio de um condicionamento operante por reforço positivo. Fiorelli e Mangini (2009, p. 271) fornecem um exemplo característico: o indivíduo apresenta um comportamento agressivo; consegue o que quer; ele volta a agredir pelo mesmo ou outro motivo e obtém novamente sucesso. Torna-se cada vez mais agressivo. A abordagem psicológica da linha social-cognitiva afirma que a agressividade pode ter origem nos modelos: a criança e o adolescente aprendem o que é considerado agressividade ou violência com os pais, colegas de escola, ídolos etc. A partir daí, passam a se comportar de forma a repeti-los, para estar “à altura deles” ou mais perto deles. Outros enfoques poderiam ter sido feitos, mas as possibilidades de explicação não se esgotam, como já mencionamos. O importante é você perceber que todas as perspectivas podem ser integradas. As visões teóricas da Psicologia não se contradizem, se complementam, reforçam-se e possibilitam a compreensão deste fenômeno sob diferentes visões Violência Urbana As formas de violência, tipificadas como violação da lei penal, como: 1) assassinatos, 2) sequestros, 3) roubos e, 4) outros tipos de crime contra a pessoa ou contra o patrimônio formam um conjunto que se convencionou chamar de violência urbana, porque se manifesta principalmente no espaço das grandes cidades. Um dos principais fatores que gera a violência urbana é o crescimento acelerado e desordenado das cidades. Como consequência, surgem graves problemas sociais como fome, miséria, desemprego e marginalização, que associados à ineficiência das políticas de segurança pública contribuem para o aumento dos atos de violência Violência institucional A violência institucional é aquela praticada nas instituições prestadoras de serviços públicos como hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias, judiciário. É perpetrada por agentes que deveriam proteger as vítimas de violência garantindo-lhes uma atenção humanizada, preventiva e também reparado Violência simbólica são relações estabelecidas entre grupos dominantes e dominados que aparecem de forma “naturalizada”. É possível exemplificar a violência simbólica com a frequente associação feita pela mídia entre o terrorismo e os povos árabes, a presença majoritária de pessoas de cor de pele branca em comerciais de TV, ou mesmo a difusão da ideia de que homens são mais fortes que mulheres o que “justifica” Violência doméstica A violência doméstica é o tipo de violência que ocorre no lar, compreendido como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporádicas. Abusos sexuais a crianças e maus tratos a idosos também constituem violência doméstica. Existem cinco tipos de violência doméstica: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. A negligência é o ato de omissão do responsável pela criança/idoso/ outra (pessoa dependente de outrem) em proporcionar as necessidades básicas, necessárias para a sua sobrevivência, para o seu desenvolvimento. Os danos causados pela negligência podem ser permanentes e graves. Violênciapsicológica Violência psicológica é um tipo de violência que geralmente ocorre de forma “indireta”, como humilhações, ameaças, palavrões, privação de liberdade, entre outras. Diferente da forma “direta” e explícita da violência física é importante ressaltar o caráter implícito da violência psicológica. A agressão não ocorre necessariamente em seu corpo, mas a violência gera transtornos de natureza psicológica, constrangendo a vítima a adotar comportamentos contra sua vontade ou tirando-lhe a liberdade. Neste caso, a pessoa agredida pode se sentir culpada pelos transtornos que lhe ocorrem, o que dificulta a posterior responsabilização dos autores dessa violência Violência sexual Encontramos também a violência sexual na qual o agressor abusa do poder que tem sobre a vítima para obter gratificação sexual, sem o seu consentimento, sendo induzida ou obrigada a práticas sexuais com ou sem violência física. A violência sexual acaba por englobar o medo, a vergonha e a culpa sentidos pela vítima, mesmo naquelas que acabam por denunciar o agressor, por essa razão, a ocorrência desses crimes tende a ser ocultada. Violência verbal Muitas pessoas confundem a violência verbal. Ela pode ocorrer através do silêncio, que muitas vezes é muito mais violento do que os métodos utilizados habitualmente, como as ofensas morais (insultos), depreciações e os interrogatórios infindáveis Violência física E para terminar nossa exposição sobre as formas de violência, temos a violência física, que é o uso da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. São comuns, murros, tapas e agressões com diversos objetos e queimaduras. Sem maiores aprofundamentos, estudiosos afirmam que além da investigação dos comportamentos violentos, deve-se buscar estratégias de implantação de comportamentos de paz, por uma cultura de não violência Comportamentos antissociais Neste item, vamos explicar as relações, às vezes, mal interpretadas entre problemas emocionais e violência, gerando comportamentos antissociais. As “doenças” mais frequentemente relacionadas com violência são os distúrbios da personalidade, as dependências de álcool e drogas e a deficiência mental. Existe alguma evidência de associação entre violência e psicose (este termo será desenvolvido mais tarde), especialmente, nos casos de ideação paranoide, mas somente uma pequena minoria de todos os doentes que praticam atos violentos são psicóticos e uma vasta maioria de pessoas mentalmente doentes não são mais perigosas do que os membros da população geral. Os quadros psiquiátricos onde mais comumente podemos encontrar comportamentos antissociais são: distúrbio explosivo da personalidade; distúrbio antissocial da personalidade (veremos separadamente, mais adiante); distúrbio borderline da personalidade; psicose; e episódio maníaco. Distúrbio Explosivo da personalidade No distúrbio explosivo da personalidade, encontramos, como característica mais marcante, a tendência a agir impulsivamente, desprezando as eventuais consequências do ato impulsivo, acompanhada de instabilidade afetiva. Os frequentes acessos de raiva podem levar à violência ou à explosões comportamentais. Essas situações podem ser desencadeadas mais facilmente quando as suas atitudes são criticadas ou impedidas pelos outros. Este distúrbio é caracterizado pela instabilidade do estado de ânimo com possibilidades de explosões de raiva, ódio, violência ou afeição. A violência pode ser física ou verbal e as explosões de raiva fogem ao controle destas pessoas. Entretanto, estes indivíduos não têm problemas de socialização, ao contrário, são simpáticos, bem-falantes, sociáveis e educados quando fora das crises. Há uma extrema sensibilidade aos aborrecimentos causados por pequenas situações ambientais que irão produzir, nos explosivos, respostas de súbita violência e agressividade sem controle. Normalmente, chamamos essas pessoas de “pavio-curto” ou de “cinco-segundos”. Distúrbio borderline da personalidade O distúrbio borderline da personalidade é um distúrbio mental com um padrão característico de instabilidade na regulação do afeto, no controle de impulsos, nos relacionamentos interpessoais e na imagem de si mesmo. O termo borderline, que na língua inglesa significa “fronteiriço” não se refere ao limite entre um estado normal e um psicótico, mas a uma instabilidade constante de humor. São indivíduos sujeitos a acessos de ira e verdadeiros ataques de fúria ou de mau gênio, em completa inadequação ao estímulo desencadeante. Essas crises de fúria e agressividade acontecem de forma inesperada, intempestivamente e costumam ter por alvo pessoas do convívio mais íntimo, como os pais, irmãos, familiares, amigos, namoradas, cônjuges etc. Psicose A psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido pela Psiquiatria, pela Psicologia Clínica e pela Psicanálise como um estado psíquico no qual se verifica certa “perda de contato com a realidade”. Nos períodos de crises mais intensas podem ocorrer (variando de caso a caso) alucinações (é a percepção real de um objeto inexistente), delírios (é um juízo falso da realidade), desorganização psíquica que inclui pensamento desorganizado, acentuada inquietude psicomotora (é caracterizada por um estado de excitação mental e atividade motora aumentadas), sensações de angústia intensa (estado psicológico de inquietação, de medo difuso, sem objeto aparentemente determinado e que pode ser acompanhado de manifestações orgânicas) e opressão e insônia severa (se caracteriza pela incapacidade de conciliar o sono e pode manifestar se em seu período inicial, intermediário ou final). Tal situação mental é frequentemente acompanhada por uma falta de “crítica” ou de “insight”, que se traduz numa incapacidade de reconhecer o caráter estranho ou bizarro do seu comportamento. Desta forma surgem também, nos momentos de crise, dificuldades de interação social e em cumprir normalmente as atividades de vida diária, podendo gerar comportamentos violentos, muitas vezes, defensivos e em função das alucinações ou delírios decorrentes de seu estado Episódio maníaco O episódio maníaco é caracterizado por uma excitação eufórica do humor, por uma intensa agitação motora, distraibilidade, logorreia e por uma reduzida necessidade de sono. O sujeito pode supervalorizar-se e fazer coisas que normalmente não faria, pois distorce a realidade de modo a não enxergar os perigos envolvidos em suas ações. A agitação predominante do humor pode ser a irritabilidade quando os desejos da pessoa são frustrados. Além disso, devido à elevação da autoconfiança, ideias grandiosas podem chegar a evoluir para delírios grandiosos ou religiosos de identidade ou papéis. Dependência de álcool e drogas Os transtornos por dependência de álcool e drogas exercem considerável impacto sobre os indivíduos, suas famílias e a comunidade, determinando prejuízo à saúde física e mental, comprometimento das relações, perdas econômicas e, algumas vezes, chegando a problemas legais. Vários estudos assinalam a associação entre transtorno do uso de substâncias psicoativas e álcool, e violência doméstica, acidente de trânsito e crime. Em um estudo realizado por Chalub e Telles (2006), a maior parte das pesquisas aponta a presença de associação entre transtornos do uso de substâncias e álcool e a criminalidade. É alta a proporção de atos violentos quando álcool ou drogas estão presentes entre agressores e suas vítimas, ou em ambos. Transtorno desafiador opositivo O transtorno desafiador opositivo, em geral, se manifesta antes dos 8 anos e, com frequência, não depois do início da adolescência. Os sintomas opositivos, em sua maioria, emergem no contexto doméstico, mas, com o tempo, podem aparecer também em outras situações. Podemos falar que é um padrão frequente de comportamento realizado pela criança considerado: negativista, desafiador, desobediente e hostil para com pessoas que representam autoridade para ela. Podemos caracterizar este transtorno, quando ele persiste, por pelo menos 6 meses, como o comportamento da criança. Emgeral, é percebido a ocorrência frequente de pelo menos quatro dos seguintes comportamentos: perder a paciência, discutir com adultos, desafiar ativamente ou recusar-se a obedecer a solicitações ou regras dos adultos, deliberadamente fazer coisas que aborrecem outras pessoas, responsabilizar outras pessoas por seus próprios erros ou mau comportamento, ser suscetível ou facilmente aborrecido pelos outros, mostrar-se enraivecido e ressentido, ou ser rancoroso ou vingativo. Em uma proporção significativa dos casos, o Transtorno Desafiador Opositivo é um antecedente do Transtorno de Conduta. Transtorno de Conduta este transtorno, basicamente, consiste em uma série de comportamentos que perturbam quem está próximo, com atividades perigosas e até mesmo ilegais. Esses jovens e crianças não se importam com os sentimentos dos outros nem apresentam sofrimento psíquico por atos moralmente reprováveis. Assim o comportamento deles apresenta maior impacto nos outros do que nos próprios. Essas crianças ou adolescentes costumam apresentar precocemente um comportamento violento, reagindo agressivamente a tudo e a todos, supervalorizando apenas o seu prazer, mesmo que em detrimento do bem-estar alheio. Elas podem também exibir um comportamento de provocação, ameaça ou intimidação, iniciando lutas corporais, inclusive com eventual uso de armas ou objetos capazes de causar sérios danos físico, como tacos e bastões, tijolos, garrafas quebradas, facas ou mesmo arma de fogo. Outra característica no comportamento do portador de transtorno de conduta é a crueldade com outras pessoas e/ou com animais. Não é raro que a violência física possa assumir a forma de estupro, agressão ou, em outros casos, homicídio. Alguns autores afirmam que o transtorno de conduta é uma espécie de personalidade antissocial na juventude. Como a personalidade não está formada, antes dos 18 anos, não se pode dar o diagnóstico de personalidade patológica para menores, mas a correspondência que existe entre a personalidade antissocial e o transtorno de conduta é muito próxima. Transtorno de Personalidade Antissocial De acordo com este autor (TRINDADE, 2007), o transtorno de personalidade antissocial é fruto de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Há uma predisposição genética para a impulsividade e a família e o contexto social podem não exercer o controle sobre esta impulsividade. Essas pessoas são muito inteligentes, com habilidades verbais, sociais e de racionalizar seu comportamento inadequado de modo a favorecê-lo e justificá-lo. Parece incapaz de beneficiar-se com o castigo ou com a punição, parecendo que estas não exercem nenhum efeito sobre ele. No transtorno de personalidade antissocial, costumamos encontrar indivíduos destrutivos e emocionalmente prejudiciais. Costumam desorganizar o meio e as relações sociais, causando sofrimento nas pessoas que vivem ao seu redor. Apesar de causar problemas para os outros, são pessoas que estão sempre bem, não sentindo culpa nem necessidade de reparar os prejuízos que causam. O mais conhecido tipo de indivíduo com transtorno de personalidade antissocial é o estelionatário, porém algumas pessoas com características antissociais podem jamais enfrentar problemas legais. Para este autor (TRINDADE, 2007), a criminalidade não é sinônimo de transtorno de personalidade antissocial. A psicopatia é um modelo particular de personalidade. Ela é resultado da interação de diferentes fatores, sociais e biológicos, como o transtorno de personalidade antissocial. O fato como agem em relação às normas sociais e jurídicas fez com que fossem também nomeados de sociopatas. Os psicopatas cometem delitos violentos que abalam a humanidade. É frequente a sobreposição de psicopatia, transtorno de personalidade antissocial e criminalidade. Nem todos os psicopatas são obrigatoriamente criminosos. Porém, quando o são, diferem qualitativamente. São mais frios, menos reativos, mais impulsivos e violentos. De acordo com a Escala Hare, os psicopatas preenchem os critérios para o transtorno, mas nem todos os indivíduos com este transtorno não preenchem os critérios para psicopatia. Em contextos forenses, há uma prevalência duas a três vezes maior de transtornos de personalidade antissocial do que de psicopatas. Bullying e assédio moral Em linhas gerais, não existe tradução exata para o bullying. Pode ser considerado um assédio moral. Podemos descrever como atos de denegrir, violentar, agredir, destruir a estrutura emocional de uma pessoa sem motivação alguma e de forma repetida. Para Cleo Fante, consiste em um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angústia e sofrimento. Os agressores (bullies) são descritos como pessoas que manifestam pouca empatia. Além disso, têm baixa resistência às frustrações, custando a adaptar-se às normas, porque gostam de poder e de controle e, assim, adotam condutas antissociais. As vítimas são pessoas consideradas diferentes ou “esquisitas”. Essas diferenças podem ser de raça, religião, opção sexual, desenvolvimento acadêmico, sotaque, maneira de ser e de se vestir. Assédio moral Podemos dizer que o assédio moral é uma coação social, que pode ser instalada em qualquer tipo de hierarquia ou relação que se sustente pela desigualdade social e pela autoridade. Na verdade, o assédio moral é um fenômeno antigo, no entanto sua importância atual deve-se ao novo cenário no trabalho, onde os vínculos e interesses próprios elevam sempre à uma disputa competitiva. Nossa realidade atual, no mundo do trabalho, requer sempre o aumento da produtividade e um alto nível de competitividade. O psicólogo e a violência Quanto ao papel do psicólogo, constata-se a necessidade de um olhar mais amplo, que contemple, além das demandas particulares de cada sujeito (tratamento do agressor e da vítima), um envolvimento maior com o social, pois não se pode isolar a violência do contexto social em que ela está inserida. Os profissionais, que trabalham com este fenômeno, devem estar mais flexíveis, dispostos a traçar novos caminhos, criar novas alternativas que possam contemplar as demandas trazidas da forma mais integrada possível. A violência, para o psicólogo, deve ser tratada e não punida. Ele utilizará a investigação das causas, usará as pesquisas já realizadas para, a partir de um trabalho em equipe, tornar viável a reestruturação da situação onde ocorreu a violência. É preciso, desta forma, uma maior qualificação, para o psicólogo, como profissional e como pessoa, para que ele possa trabalhar nesta área. Capítulo 5 - A Psicologia e suas interfaces com os sistemas jurídico e judiciário. Direito como um conjunto de normas da vida social, também desenvolvemos a noção de que justiça, dentre outros significados, tem o sentido de uma norma cumprida, observada e respeitada, Mafra (2005). Direito, para este autor (Cavalieri Filho, 2002) é um conjunto de princípios e regras destinado a realizá-la. Justiça envolve valores inerentes ao ser humano, tais como a liberdade, igualdade, fraternidade, o que vem sendo chamado de Direito natural desde a Antiguidade. O Direito, em contrapartida, é uma invenção humana, um fenômeno histórico e cultural, considerado uma técnica de pacificação social e de realização de justiça. A Justiça é um sistema aberto de valores, em constante modificação. Mas o que o psicólogo tem a ver com esta questão? Os princípios fundamentais do Código de Ética dos Psicólogos afirmam que o psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além disso, trabalhará visando a promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Justiça Restaurativa Como princípios importantes da Justiça Restaurativa,temos a voluntariedade, em que não há obrigação de participar, todos são convidados e devem sentir-se livres para aceitar o convite ou recusá-lo sem que isso cause prejuízo a nenhuma das partes. Pelos princípios da justiça restaurativa, busca-se alcançar a responsabilização do autor do ato infracional, sem deixar de oferecer-lhe o apoio de que necessita. Paralelamente, é oferecido à vítima atendimento e acolhimento de sua dor, bem como a oportunidade de ressignificação e restituição de dano, mesmo que simbolicamente. Conflitos No conflito, costumamos tratar os outros como inimigos ou adversários. Cada uma das partes envolvidas no conflito busca encontrar argumentos para reforçar suas posições e, desta forma, enfraquecer e destruir os argumentos da outra parte. É por causa deste estado emocional gerado pela disputa, que as pessoas não conseguem perceber que, mesmo nesta situação, têm interesses comuns. O conflito não deve ser considerado negativo. É quando compreendemos que o conflito é inevitável que vamos ser capazes de desenvolver soluções autocompositivas. Quando não encaramos o conflito com responsabilidade, a nossa tendência é convertê-lo em confronto ou disputa. Muitas pessoas pensam que o conflito deve ser suprimido ou eliminado da vida social porque, para elas, a paz social seria o resultado da ausência de conflito. Negociação. Chamamos de negociação quando pessoas com problemas e/ou processos entre elas lidam diretamente para a transformação e restauração de relações, buscando a solução para as suas disputas ou trocas de interesses. A negociação está baseada em princípios, sendo o mais importante a cooperação, buscando um acordo com ganhos mútuos. A mediação é um meio de solução de conflitos em que duas ou mais pessoas, com a colaboração de um terceiro, que é o mediador, expõem o problema. O mediador as escuta, questiona e vai trabalhando com elas a comunicação, de forma construtiva, para chegar, eventualmente, a um acordo. Esse profissional deve ser capacitado, imparcial, independente e escolhido ou aceito pelas partes. Os mediandos, na mediação, não são tratados nem devem se comportar como adversários, mas como coautores da solução daquele conflito, auxiliados pelo mediador. Outra situação que envolve um terceiro, na tentativa de ajudar a solucionar o conflito, é a conciliação. De acordo com o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, “a conciliação é um meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-las na construção de um acordo”. O conciliador é uma pessoa da sociedade que atua, de forma voluntária e após treinamento específico, como facilitador do acordo entre os envolvidos, criando um contexto propício ao entendimento mútuo, à aproximação de interesses e à harmonização das relações. Uma comunicação construtiva habilita as pessoas a negociações mais eficazes e à gestão de conflitos de forma mais positiva. Na sociedade atual, esse tipo de comunicação torna-se fundamental. Segundo Vasconcelos (2008), uma comunicação construtiva contempla dez preceitos, que, para este autor, significam elementos de uma linguagem para uma cultura de paz e de direitos humanos. Veremos a seguir: 1. Conotação positiva - A comunicação construtiva tem início com o acolhimento do outro por meio de uma linguagem estimulante e apreciativa sobre aquilo que a pessoa está relatando. Respeitar e acolher aquilo que o outro está comunicando é reconhecer o outro enquanto ser humano, independente de seus valores, direitos e obrigações. 2. Escuta ativa - A escuta ativa é uma escuta atenta daquilo que está sendo falado e sentido pelo outro. Por isso, deve ser levada em conta, também, a expressão corporal. Mas escutar ativamente não é apenas ouvir, é identificar-se com o outro, sem julgamentos e aceitar as suas contradições. As pessoas que se sentem escutadas também estarão dispostas a escutar. 3. Perguntas sem julgamento - As perguntas apropriadas acompanham o processo de escutar e reconhecer as pessoas. É por meio da pergunta que a pessoa continua narrando o que aconteceu e pode chegar a interpretar a forma como está se comportando. As perguntas ajudam a esclarecer, contextualizar as situações e capacitar a pessoa a pensar sobre o que está ocorrendo. 4. Reciprocidade discursiva - Deve ser estabelecido em uma relação, o direito de todos a falar. O equilíbrio no direito de expressão corresponde a um equilíbrio de poder na relação. . Mensagem como opinião pessoal - É importante, na comunicação, quando falamos sobre alguém, usemos a primeira pessoa. Desta forma, estamos evitando que se fale pelo outro. Uma expressão como: “Você não devia ter dito isso” se transforma em “Eu penso que isto poderia ter sido dito de outra forma”. 6. Assertividade - Ser assertivo não é ser agressivo. Ser assertivo é ter clareza e segurança nas suas respostas e posições. 7. Priorizar a relação - É sempre importante separar o problema pessoal do problema material. Quando houver um problema pessoal e material, o principal é restaurar a relação pessoal. 8. Reconhecimento da diferença - Quando se consegue sair de sua posição, com seus valores e sua forma de pensar, e se imaginar no lugar do outro (situação empática, já tratada anteriormente), a pessoa compreende as razões, as necessidades e os valores do outro. 9. Não reação - A não reação quer dizer reformulação de uma acusação injusta. A reformulação é uma prática transformadora de uma interação agressiva, em que é rompido o ciclo ofensa-reação. A reformulação pode ser feita por meio de uma pergunta. Ao perguntar, estamos dando oportunidade ao outro de reformular. 10. Não ameaça - Ameaçar o outro é levar o outro a provar que é mais forte e reduzir a relação a um jogo de ganha-perde. A ameaça, em geral, conduz à violência. CAPÍTULO 6 AS PRÁTICAS PSICOLÓGICAS E SUAS APLICAÇÕES NO JUDICIÁRIO A prática do psicólogo na área Cível e de Família · O psicólogo na área do Direito de Família trabalha assessorando o juiz, principalmente, nos casos de guarda e regulamentação de convivência nas separações que ocorrem de forma litigiosa. A separação implica no fim do relacionamento conjugal, como já vimos antes (Cp.3), mas não da parentalidade. Nas separações e divórcios não consensuais, em geral, podemos observar uma longa “batalha” por direitos que cada uma das partes supõe ter ou luta para manter, usando a Justiça para dar uma solução aos conflitos emocionais originários desta relação. A prática do psicólogo e as questões da infância, juventude e do idoso · Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) · A Adoção · O adolescente e o conflito com a lei · Idoso Atuação do Psicólogo nas Varas Criminais e no Sistema Penitenciário · Atuações: Inquérito Policial, efetuando avaliações em indiciados, para averiguar seu estado psíquico, sua eventual periculosidade etc. Nos Processos criminais realizando avaliações de incidente de insanidade mental, dependência toxicológica, entre outros. · A função do psicólogo na prisão participando de Comissões Técnicas de Classificação (CTCs) e realizando exames criminológicos (EC) é determinada pela Lei de Execução Penal (LEP). A prática do psicólogo nos juizados especiais criminais e juizado da violência doméstica e familiar contra a mulher · Os Juizados Especiais são um importante meio de acesso à justiça, pois permitem aos cidadãos buscarem soluções para seus conflitos cotidianos de forma rápida, eficiente e gratuita. Lei nº 9.099/1995. · A Lei Maria da Penha ou lei nº 11.340 de 7 de agosto de 2006, surgiu com o objetivo de responder às necessidades e anseios das mulheres vítimas de violência conjugal, diante dos problemas relativos à aplicação da lei nº 9.099 de 2005 (que você já tomou contato), em situações de violência doméstica. Tipos de violência · Violência Física · Violência Psicológica · Violência Sexual · Violência Matrimonial · Violência Moral O processo de avaliação psicológica no judiciário: questões fundamentais · O relacionamento do psicólogo com as pessoas,partes no processo, envolve uma avaliação psicológica, buscando compreender a realidade dos envolvidos nestas questões judiciais. Poderá, a partir daí, realizar intervenções, estabelecer recomendações, sempre dentro de sua área de atuação. É importante você saber que as técnicas de avaliação psicológica são instrumentos científicos, oferecendo ao examinador condições de apontar algumas características do examinado. Entretanto, a avaliação não deve ser usada para excluir ou segregar socialmente as pessoas. O psicólogo não é um adivinho nem tem respostas prontas e precisas para oferecer sobre o ser humano. Perito psicólogo x assistente técnico Perito · Profissional de confiança do juiz. · A função de perito existe sem o assistente técnico. · Não cabe fazer interpretações ou sugestões às partes. · Produz um documento para auxiliar o juiz em suas decisões. Assistente Técnico · Profissional de confiança das partes. · A função de assistente técnico não existe se não houver perito. · Faz interpretações e sugestões aos seus clientes. · A defesa do advogado está fundamentada no parecer que o assistente técnico faz sobre o trabalho do perito. Documentos elaborados pelo psicólogo no judiciário · Para a elaboração de documentos, resultados das avaliações no Judiciário, o psicólogo conta com a Resolução 007 /2003. Documentos elaborados pelo psicólogo no judiciário · Declaração: É um documento que informa a ocorrência de fatos e situações objetivas relacionadas ao atendimento psicológico. · Atestado: É um documento elaborado pelo psicólogo que informa determinada situação ou estado emocional da pessoa atendida. Na realidade, pode ser usado para justificar faltas, impedimentos, aptidões ou não para realizar atividades, afastamentos ou dispensas. · Relatório Psicológico ou Laudo Psicológico: É uma apresentação descritiva sobre situações e/ou condições psicológicas acompanhadas de suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais. Ele é formado pelos dados que foram colhidos na avaliação psicológica e analisados a partir de um referencial teórico e técnico, adotado pelo profissional. · Parecer: É um documento fundamentado e resumido sobre uma questão psicológica que se quer esclarecer. O resultado do parecer pode ser indicativo ou conclusivo. Questões éticas ligadas ao psicólogo no judiciário · Principio da dignidade da pessoa humana: Princípio que é estabelecido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos: liberdade, igualdade e integridade do ser humano. · Promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas e coletividades: Atuando contra a negligência, discriminação, opressão, violência e crueldade · Responsabilidade social. · Divulgação dos conceitos éticos e práticas psicológicas. · Reconhecimento das relações de poder nos contextos em que atua e os impactos destas relações. Considerações finais · Consideramos ao longo das leituras feitas para a elaboração do trabalho, a forma que a Psicologia atua no Direito e a forma que ambas podem se completar, visando sempre a melhora na qualidade de vida do indivíduo, isto é, lembrando sempre a importância de promover qualidade de vida independente da situação atual e tendo como base o código de ética civil e profissional.