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74 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) base na Bíblia. d) clérigos, como P. Vieira, se mostravam indecisos quanto às atitudes que deveriam tomar em relação à escravidão negra, pois a própria Igreja se mantinha neutra na questão. e) havia formas de discriminação religiosa que se sobrepunham às formas de discriminação racial, sendo estas, assim, pouco significativas. Questão 04 (Ufsm 2015) Os hábitos alimentares variam não só conforme as diferentes culturas, mas também conforme as condições socioeconômicas das pessoas e suas crenças religiosas. É a isso que se refere Padre Antônio Vieira no excerto do Sermão de Santo Antônio ou dos Peixes: Mas ainda que o Céu e o Inferno se não fez para vós, irmãos peixes, acabo, e dou fim a vossos louvores, com vos dar as graças do muito que ajudais a ir ao Céu, e não ao Inferno, os que se sustentam de vós. Vós sois os que sustentais as 1Cartuxas e os 2Buçacos, e todas as santas famílias, que professam mais rigorosa austeridade; vos os que a todos os verdadeiros cristãos ajudais a levar a penitência das quaresmas; vós aqueles com que o mesmo Cristo festejou a Páscoa as duas vezes que comeu com seus discípulos depois de ressuscitado. Prezem-se as aves e os animais terrestres de fazer esplêndidos e custosos os banquetes dos ricos, e vós gloriai-vos de ser companheiros do jejum e da abstinência dos justos! Tendes todos quantos sois tanto parentesco e simpatia com a virtude, que, proibindo Deus no jejum a pior e mais grosseira carne, concede o melhor e mais delicado peixe. E posto que na semana só dois se chamam vossos, nenhum dia vos e vedado. Um só lugar vos deram os astrólogos entre os signos celestes, mas os que só de vós se mantêm na terra, são os que têm mais seguros os lugares do Céu. Glossário 1Cartuxas e 2Buçacos: os pertencentes a essas Ordens Religiosas, as quais são conhecidas por sua austeridade. A partir desse fragmento, assinale a alternativa correta. a) Por meio de uma alegoria, Vieira dirige-se, no sermão, aos peixes, mostrando que estes merecem apenas elogios, ao passo que os homens merecem apenas repreensões. b) Como se vê pelo excerto, Vieira dirige-se aos peixes de forma geral, sem fazer menções a espécies de peixes em particular, o que também ocorre no restante do sermão. c) Vieira, no excerto, estabelece uma antítese entre céu e inferno que é reproduzida simbolicamente na contraposição entre peixe e carne. d) O objetivo de Vieira no “Sermão dos Peixes”, conforme se vê pelo excerto, e reforçar nos fiéis católicos a importância de jejuar nos dias santos como forma de aproximarem-se de Deus. e) Contrariamente ao que se esperaria de um texto dessa época, o fragmento do “Sermão dos Peixes” não apresenta um estilo rebuscado, muito menos o emprego de uma linguagem rica em conceitos. Questão 05 (Ufpr 2017) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal! (Antônio Vieira, Sermão de Santo Antônio, em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000033.pdf>.) O texto trabalha fundamentalmente com duas metáforas: o sal e a terra, que representam, respectivamente, os pregadores (aqueles que deveriam propagar a palavra de Cristo) e os ouvintes (aqueles que deveriam ser convertidos). O tema central do texto é a reflexão sobre as possíveis causas da ineficiência dos pregadores. Para tanto, o autor levanta algumas hipóteses. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmativas: 1. Os pregadores não pregam o que deveriam pregar. 2. Os ouvintes se recusam a aceitar o que os pregadores pregam. 3. Os pregadores não agem de acordo com os valores que pregam. 4. Os ouvintes agem como os pregadores em vez de agir de acordo com o que eles pregam. 5. Os pregadores promovem a si mesmos na pregação ao invés de promover as palavras de Cristo. Constituem hipóteses levantadas pelo autor do texto: a) 1 e 3 apenas. b) 3 e 5 apenas. c) 1, 2 e 4 apenas. d) 2, 4 e 5 apenas. e) 1, 2, 3, 4 e 5. Questão 06 (Ufpr 2017) Vieira é um homem do século XVII. É possível detectar, no texto de Vieira, características da língua portuguesa que divergem de seu uso contemporâneo. Pensando nessa diferença entre o português atual e o português usado por Vieira, considere as seguintes afirmativas: 1. Diferentemente de hoje, o pronome pessoal oblíquo átono antecedia a negação. 2. O “porque” é empregado no texto como conjunção explicativa e sua grafia é a mesma usada atualmente. 3. A conjunção “ou” tem no texto um uso que não é o de alternância. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. b) Somente a afirmativa 3 é verdadeira. c) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. Questão 07 (Enem PPL 2014) Sermão da Sexagésima Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, Aula 8 - Barroco III 75 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir. VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2. São Paulo: Edameris, 1965. No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo principal a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão. b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações. c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas. d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações. e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões. Questão 08 Leia o seguinte fragmento, extraído do "Sermão de Santo Antônio", de Pe. Vieira "(...) o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuamente se come: isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem,em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem (...)" A) o texto é típico exemplo do estilo conceptista, ao apresentar um vocabulário rebuscado e excesso de inversões sintáticas. B) finaliza com uma gradação decrescente (comam, traguem, devorem) a fim de dar ênfase à voracidade da exploração sofrida pelos pequenos. C) constrói a argumentação por meio da analogia, o que constitui um traço característico da prosa vieiriana. D) afirma, ao estabelecer uma comparação entre os humildes e o pão, alimento de consumo diário, que a exploração dos pequenos é aceitável porque cotidiana. E) apresenta um estilo cultista, caracterizado pela exploração das relações lógicas, da argumentação. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Questão 01 (Espm 2014) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado¹, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro. (Sermão da Sexagésima, Pe. Antonio Vieira) ¹empeçado: com obstáculo, com empecilho. Assinale a incorreta sobre o texto de Padre Vieira: a) vale-se do estilo conceptista do Barroco, voltando-se para a argumentação e raciocínio lógicos. b) ataca duramente os pregadores cultistas, devido ao estilo pomposo, de difícil acesso, e aos exageros da ornamentação. c) critica o sermão que está preocupado com a suntuosidade linguística e estilística. d) defende a pregação que tenha naturalidade, clareza e distinção. e) mostra que, seguindo o exemplo de Cristo, pregar e semear afetam o estilo, porque ambas são práticas da natureza. Questão 02 (Fac. Albert Einstein - Medicin 2017) Concedo-vos que esse índio bárbaro e rude seja uma pedra: vede o que faz em uma pedra a arte. Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe, e depois que desbastou o mais grosso, toma o maço, e o cinzel na mão, e começa a formar um homem, primeiro membro a membro, e depois feição por feição, até a mais miúda: ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afia-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta- lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos: aqui desprega, ali arruga, acolá recama: e fica um homem perfeito, e talvez um santo, que se pode pôr no altar. VIEIRA, Antônio. Sermões. Porto: Lello & Irmão, 1959. O texto, escrito no século XVII, pode ser interpretado como a) o reconhecimento da humanidade intrínseca dos indígenas e africanos, que deveriam possuir os mesmos direitos dos europeus. b) uma analogia entre o trabalho de evangelização desenvolvido nas colônias e a criação do homem por Deus. c) a exigência da escravização dos indígenas que, através do trabalho forçado, poderiam alcançar a salvação eterna. d) um discurso contra o trabalho desenvolvido nas missões jesuíticas implantadas pelos europeus nas colônias americanas. Questão 03 Texto para as próximas duas questões Sermão do Bom Ladrão “O texto de Santo Agostinho fala geralmente de todos os reinos, em que são ordinárias semelhantes opressões e injustiças, e diz que, entre os tais reinos e as covas dos ladrões — a que o santo chama latrocínios — só há uma diferença. E qual é? Que os reinos são latrocínios, ou ladroeiras grandes, e os latrocínios, ou ladroeiras, são reinos pequenos? É o que disse o outro pirata a Alexandre Magno. Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu- o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim. — Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? — Assim é. O roubar pouco é 76 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome. Se o Rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.” Padre Antônio Vieira Em relação à estratégia argumentativa empregada por Vieira nesse trecho do sermão, pode-se afirmar que: a) o autor utiliza uma linguagem preciosista, a fim de intimidar o fiel e convencê-lo da veracidade de sua mensagem. b) recorre a torcadilhos e jogos de palavras, com a intenção de impressionar o ouvinte com a força da palavra divina. c) constroi uma espécie de alegoria, recurso típico de sua prática retórica, para construir uma mensagem com intenção moralizante. d) prejudica a compreensão da mensagem pelo ouvinte, por conta das inúmeras inversões sintáticas e do excesso de figuras de linguagem. e) faz uso do argumento de autoridade, ao citar Sêneca, para defender a prática dos imperadores e condenar a prática dos piratas. Questão 04 O poeta Fernando Pessoa dizia que Padre Antônio Vieira foi o imperador da Língua Portuguesa. No Sermão acima, o orador critica um aspecto da sociedade de sua época que ainda hoje se mantém atual e é também criticado na charge: A) http://belverede.blogspot.com.br/2013_11_01_archive.html Acesso: 16\03\2014 B) http://barradoriachonews.blogspot.com.br/2011/07/charge-politica- kkkkkkkkkk.html Acesso: 16\03\2014 C) http://imagensface.com.br/frases-e-mensagens/charge-politica/2 Acesso: 16\03\2014 D) http://paulgettynascimento.blogspot.com.br/2012/03/charge- politica.html Acesso: 16\03\2014 E) http://rizzolot.wordpress.com/2010/07/ Acesso: 16\03\2014 Questão 05 (Enem 2012) Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio. VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado). http://belverede.blogspot.com.br/2013_11_01_archive.html http://barradoriachonews.blogspot.com.br/2011/07/charge-politica-kkkkkkkkkk.html http://barradoriachonews.blogspot.com.br/2011/07/charge-politica-kkkkkkkkkk.html http://imagensface.com.br/frases-e-mensagens/charge-politica/2 http://paulgettynascimento.blogspot.com.br/2012/03/charge-politica.html http://paulgettynascimento.blogspot.com.br/2012/03/charge-politica.html http://rizzolot.wordpress.com/2010/07/ Aula 8 - Barroco III 77 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta ConcorrênciaO trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros. b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana. c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios. d) o papel dos senhores na administração dos engenhos. e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar. Questão 06 Quando jovem, Antônio Vieira acreditava nas palavras, especialmente nas que eram ditas com fé. No entanto, todas as palavras que ele dissera, nos púlpitos, na salas de aula, nas reuniões, nas catequeses, nos corredores, nos ouvidos dos reis, clérigos, inquisidores, duques, marqueses, ouvidores, governadores, ministros, presidentes, rainhas, príncipes, indígenas, desses milhões de palavras ditas com esforço de pensamento, poucas - ou nenhuma delas - havia surtido efeito. O mundo continuava exatamente o de sempre. O homem, igual a si mesmo. Ana Miranda, BOCA DO INFERNO “...milhões de palavras ditas com esforço de pensamento.” Essa passagem do texto faz referência a um traço da linguagem barroca presente na obra de Vieira; trata-se do: a) gongorismo, caracterizado pelo jogo de idéias. b) cultismo, caracterizado pela exploração da sonoridade das palavras. c) cultismo, caracterizado pelo conflito entre fé e razão. d) conceptismo, caracterizado pelo vocabulário preciosista e pela exploração de aliterações. e) conceptismo, caracterizado pela exploração das relações lógicas, da argumentação. Questão 07 "Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. (...) O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, para; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar para, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele". Padre Antônio Vieira Em Padre Vieira fundem-se a formação jesuítica e a estética barroca, que se materializam em sermões considerados a expressão máxima do Barroco em prosa religiosa em língua portuguesa, e uma das mais importantes expressões ideológicas e literárias da Contrarreforma. No trecho acima se percebe na construção da argumentação: a) a utilização da analogia, com o objetivo de condenar a ganância do ser humano. b) o uso recorrente de antíteses e paradoxos, com o intuito de ressaltar os conflitos humanos. c) a utilização da alegoria, como recurso oratório, visando à persuasão do ouvinte da supremacia dos animais sobre os homens. d) a comparação entre o homem e os elementos da natureza para comprovar a grandeza moral e espiritual do ser humano. e) a negação da afirmação inicial, contrariando a tese da pequenez do homem, que passa ser exaltado pela sua humildade. Questão 08 O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa, em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque ou a desatendem, ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons, ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um ... (Padre Vieira, "Sermão da Sexagésima") Pode-se dizer que os sermões de Vieira revestem-se de um jogo intelectual no qual se vê o prazer estético do autor para pregar a palavra de Deus, por meio de uma linguagem altamente elaborada. No sermão acima, percebe-se os seguintes recursos expressivos típicos do barroco: a) antíteses e paradoxos. b) alegoria e hipérbatos. c) analogias e espalhamento e recolha. d) perífrases e vocabulário erudito. e) metáforas e hipérboles. Questão 09 (Ufscar 2004 - Adaptada) O pregar há-de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. (...) Todas as estrelas estão por sua ordem; mas é ordem que faz influência, não é ordem que faça lavor. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte há-de estar branco, da outra há-de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há-de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão-de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão-de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão-de estar sempre em fronteira com o seu contrário? Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. (Vieira, "Sermão da Sexagésima".) No texto, Vieira critica um certo estilo de fazer sermão, que era comum na arte de pregar dos padres dominicanos da época. O uso da palavra xadrez tem o objetivo de a) defender a ordenação das idéias em um sermão. b) fazer alusão metafórica a um certo tipo de tecido. c) comparar o sermão de certos pregadores a uma verdadeira prisão. d) mostrar que o xadrez se assemelha ao semear. e) criticar o uso recorrente de antíteses. 78 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) Questão 10 (Fatec 2005) Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. A palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz, que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus são as pedras e os espinhos. E por quê? - Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar alantarias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar quem os não pica. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesar da dureza, nasce nas pedras. (Padre Antônio Vieira, "Sermão da Sexagésima". Texto editado.) Considere as afirmações seguintes sobre o texto de Vieira. I - Trata-se de texto predominantemente argumentativo, no qual Vieira emprega as metáforas do espinho e da pedra para referir-se àqueles em que a palavra de Deus não prospera. II - Nota-se no texto a metalinguagem, pois o sermão trata da própria arte da pregação religiosa. III - À vista da construção essencialmente fundada no jogo de idéias, fazendo progredir o tema pelo raciocínio, pela lógica, o texto caracteriza-se como conceptista. IV - Efeito da Revolução Industrial, que reforçou a perspectiva capitalista e o individualismo, esse texto traduz a busca da natureza (pedras, espinhos, .....) como refúgiopara o eu lírico religioso. V - Vincula-se ao Barroco, movimento estético entre cujos traços destaca-se a oscilação entre o clássico (de matriz pagã) e o medieval (de matriz cristã), a qual se traduz em estados de conflito religioso. Estão corretas apenas as afirmações a) I, II e III. b) I, III e V. c) II, III e IV. d) II, III, IV e V. e) I, II, III e V. Questão 11 (Ufv) Leia atentamente o fragmento do sermão do Padre Antônio Vieira: A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande [...]. Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é não só da razão, mas da mesma natureza, que, sendo criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria, e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer. VIEIRA, Antônio. "Obras completas do padre Antônio Vieira: sermões". Prefaciados e revistos pelo Pe. Gonçalo Alves. Porto: Lello e Irmão - Editores, 1993. v. III, p. 264-265. O texto de Vieira contém algumas características do Barroco. Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela em que NÃO se confirmam essas tendências estéticas: a) A utilização da alegoria, da comparação, como recursos oratórios, visando à persuasão do ouvinte. b) A tentativa de convencer o homem do século XVII, imbuído de práticas e sentimentos comuns ao semipaganismo renascentista, a retomar o caminho do espiritualismo medieval, privilegiando os valores cristãos. c) A presença do discurso dramático, recorrendo ao princípio horaciano de "ensinar deleitando" - tendência didática e moralizante, comum à Contra-Reforma. d) O tratamento do tema principal - a denúncia à cobiça humana - através do conceptismo, ou jogo de idéias. e) O culto do contraste, sugerindo a oposição bem x mal, em linguagem simples, concisa, direta e expressiva da intenção barroca de resgatar os valores greco-latinos. Questão 12 (Ufrs 2006) Considere as seguintes afirmações sobre o padre Antônio Vieira I - Possui um estilo antigongórico, conceptista, caracterizado pela clareza e pelo rigor sintático, dialético e lógico. II - Recusa, como cultista, o elemento imagístico, transformando-o em mero instrumento de convencimento dos fiéis. III - Recontextualiza passagens do Evangelho, uma vez que as vincula às ideias que quer expressar, explorando a analogia. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. Questão 13 – (Unifesp 2016) Leia o excerto do “Sermão de Santo Antônio aos peixes” de Antônio Vieira (1608-1697). A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo