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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Faculdade de Direito – Sociologia Geral – MG1
São Paulo, 16 de maio de 2021
Profª Dora Nogueira Porto
Ana Beatriz Mendes Simon Machado, Beatriz Camargo Ferreira de Castilho, Bruna Furlan Pedrosa, Júlia Mello Pinheiro, Karoline Torres Ferreira.
Atividade II: Relacionar o filme A Classe Operária Vai Ao Paraíso com os conceitos de Karl Marx
O filme A Classe Operária Vai ao Paraíso, publicado no ano de 1971 e dirigido por Elio Petri, militante do Partido Comunista Italiano, é protagonizado por outro militante comunista, Gian Maria Volonté, que faz o papel de Lulú Massa, um operário da fábrica BAN. O filme é marcado por um forte caráter político e ideológico, dado que está inserido no contexto da polarização da Guerra Fria e do crescimento do movimento esquerdista, esse que lutava contra as opressões do sistema capitalista, pautado na luta de classes, na concentração de capital nas mãos dos proprietários do meio de produção e na exploração dos operários que eram sujeitados a salários miseráveis e exaustivas jornadas de trabalho. Ainda é importante ressaltar que o filme relaciona-se ao contexto de implantação do neoliberalismo, no qual há a diminuição dos direitos trabalhistas, dado o processo de desregulamentação da força de trabalho e o enfraquecimento das forças sindicais.
No longa, é retratado o modelo capitalista taylorista-fordista que, apesar de promover um aumento da produtividade, é pautado na dissociação do processo de trabalho das especialidades e na produção em massa, o que aliena e explora os trabalhadores, negando qualquer manifestação criativa da parte deles. Por esse motivo, esse modelo era alvo de críticas por Karl Marx, filósofo, sociólogo, historiador, economista, jornalista e revolucionário socialista, que estudava o modo de produção capitalista e buscava problematizar suas contradições.
 Em diversas cenas do filme, podemos observar aspectos relacionados aos conceitos teorizados por Karl Marx: a mais-valia, a luta de classes, a alienação do proletariado e a exploração do trabalho são alguns desses conceitos presentes nas relações de produção do protagonista e dos outros trabalhadores da fábrica. Suas constantes reivindicações por melhores condições de trabalho representam a situação exploratória de trabalho na época e remetem às ideias do filósofo, contrárias à exploração promovida pelo modo de produção do sistema capitalista.
Lulú Massa, é um trabalhador exemplar, destaca-se dentre os demais funcionários e é admirado por seus chefes por sua agilidade e pelo bom trabalho. O protagonista trabalha em um sistema que tem como base a produtividade, isto é, o sistema de metas de produção, pautado pelo ritmo da máquina, de modo que evidencia-se no filme, que o trabalho era mais influenciado pelo ritmo da máquina do que pelo do ritmo do homem. 
Ademais, é retratado no filme a difícil jornada dos trabalhadores nas fábricas, que vendiam sua força de produção para conseguirem seu sustento e o da família. As longas horas, as condições insalubres nas quais trabalhavam e os salários baixos mostram a difícil situação vivenciada pelos trabalhadores na década de 70 abordados no filme, inclusive, demonstrando a relação entre a burguesia, proprietária dos meios de produção, e o proletariado, o proprietário da força de trabalho. Notamos que assim, o maquinário é mais digno de respeito do que o próprio ser humano. Além do trabalho, é importante mencionar a condição de seus deslocamentos até a fábrica, predominantemente de ônibus, que demonstrava também um momento de sofrimento, visto que esse era lotado e sujo. 
É importante ressaltar que as atividades na fábrica interferem diretamente nas relações pessoais dos trabalhadores, de maneira que o tempo para o lazer e para a família ficam comprometidos, sendo praticamente exíguos. Nesse contexto, pode-se estabelecer uma relação com os conceitos de infraestrutura e superestrutura elaborados por Karl Marx, haja vista que o filme evidencia a fundamentação da superestrutura pela infraestrutura. Sob essa ótica, a infraestrutura consiste na base real fundamentada pelo sociólogo, cuja representação é a da estrutura econômica de uma sociedade, composta pelas forças produtivas, que são os meios de produção somados à força de trabalho, além das relações sociais de produção, que é a produção de bens necessários para a sobrevivência. 
Sob esse panorama, é ímpeto também dizer que a infraestrutura fundamenta a superestrutura, a qual relaciona-se diretamente ao âmbito pessoal da vida dos indivíduos, que compreende os componentes ideológicos, familiares, políticos e culturais de suas vidas, ou seja, são as formas sociais determinadas pela consciência. Assim, as relações pessoais dos operários retratados no filme, inclusive do protagonista, passam a ser afetadas pelo trabalho na fábrica que, pautado na produtividade, limita o tempo que eles têm para suas famílias e para desfrutar de outras atividades exteriores ao trabalho.
Ainda sobre as relações sociais de Lulu, a forma com que ele trata sua esposa, colocando-a em segundo plano em sua vida, pode ser relacionada ao conceito de “forma fantástica” elaborado por Marx. Esse termo alude à “coisificação” das relações sociais dos seres humanos, principalmente daqueles inseridos em um contexto tão marcado pelas relações produtivas. Dessa forma, as relações sociais de Lulu passam a configurar uma relação entre coisas, de modo que ignora sua esposa da mesma forma que ignora um objeto que não apresenta tanta relevância em sua vida.
Tendo em vista a influência que o trabalho na fábrica exerce em todos os aspectos da vida dos homens, Lulú compara o indivíduo com uma fábrica, ao passo que faz uma analogia entre o sistema digestório humano e uma máquina. Ademais, o filme mostra que a realidade vivida pelo protagonista é marcada pela pobreza e pela necessidade de sobrevivência. Dessa forma, o trabalho na fábrica passa de uma obrigação para uma necessidade, fazendo com que os trabalhadores se submetam a trabalhos mal remunerados e sem acréscimos proporcionais ao aumento das horas de trabalho para sobreviver.
As falas do filme “Trabalhadores são oito da manhã, quando saírem já terá escurecido” e “A luz do sol não brilhará para vocês” representam a exploração vivenciada pelos empregados da fábrica. As muitas horas de trabalho não correspondem aos míseros salários, visto que o sistema visava o lucro e a produtividade, que eram obtidos por meio de descontos dos salários dos operários. Nesse sentido, o conceito de mais-valia, parte da teoria Marxista, pode ser associado a essa situação, pois a mais-valia conceitua-se como o valor obtido pelo capitalista por meio do trabalho excedente, que é aquele trabalho considerado além do necessário para subsistência do proletariado.
Ainda sobre o contexto, Marx aborda sobre o trabalhador e a alienação, uma vez que - de tanto ficar imerso nas tarefas repetitivas e, ao mesmo tempo, estar excluído do próprio resultado da riqueza que o operário gera - é perdido qualquer noção de seu lugar nas relações de produção e sobre a sua função social como um ser humano ativo e crítico. No filme A Classe Operária Vai ao Paraíso, algumas falas revelam essa alienação por parte dos operários da fábrica: “Para que servem tanto as peças? Fazemos milhões.”. Nesse sentido, nota-se que, apesar do proletariado trabalhar muitas horas por dia, não possui conhecimento sequer sobre a finalidade das coisas que produz, de modo que contempla o processo de produção de forma fragmentada.
Um fator importante que também evidencia essa alienação é a postura de Lulú, que mesmo vivenciando péssimas condições de trabalho, não era revoltado, pois tinha orgulho do trabalh
o que exercia sendo assim, exemplo para os outros trabalhadores. Nesse sentido, é importante ressaltar uma cena do filme em que Lulú ensinava aos dois novos operários como trabalhar na fábrica, contando que tivera duas intoxicações por causa do verniz das máquinas, pigarro e uma úlcera, e mesmo assim, falava que não se importa detrabalhar por quinze anos no mesmo local que o envenena gradualmente, causando uma grave exaustão psicológica. A esse fato pode ser relacionado o conceito de suma que, elaborado por Karl Marx, discorre sobre os impactos da economia capitalista na vida dos indivíduos, elucidando que ela substitui na consciência dos produtores o qualitativo pelo quantitaivo. Desse modo, Lulu preferia prezar pela quantidade e ter muitas horas de trabalho acumuladas, mesmo que isso causasse prejuízos a sua saúde, do que horas de trabalho que fossem qualitativas e respeitassem os limites de seu corpo.
O ponto de virada da narrativa consiste no momento em que Lulú perde seu dedo trabalhando, posto que muda seu posicionamento em prol da fábrica e passa a ter consciência, ou seja, compreende a realidade em que está inserido e a exploração a que está submetido. Tal conceito é desenvolvido por Marx, que conceitua a consciência como resultado material das forças produtivas ou das relações do homem com a natureza, de modo que influencia a forma como os homens pensam de si mesmos e dos outros. Nesse contexto, o episódio em questão fez com que o comitê dos operários, em conjunto com o movimento estudantil, organizasse uma greve, fazendo o uso do acidente como pretexto, fator que fez com que muitos outros aderissem à luta pela abolição da produtividade.
Dessa forma, as manifestações e greves são formas de reivindicações de direitos dos operários na luta de classes. Entretanto, a força policial reprime brutalmente essas lutas organizadas pelos operários, que lutavam em busca de melhores condições trabalhistas, e por esse motivo, os grevistas acreditavam que a violência operária deveria ser a resposta para a exploração que sofriam. Sendo assim, as reivindicações dos proletários são evidenciadas nas falas "mais salário e menos trabalho", "se querem aumentar meu rendimento devem aumentar o salário", "pensa que estamos em uma prisão? tem que discutir conosco… com os trabalhadores". A insatisfação dos trabalhadores com o sistema vigente é o motor para a revolução que, defendida por Marx, tem o objetivo de levar à ditadura do proletariado e extinguir as classes de uma sociedade, encerrando a luta de classes que é o motivo das muitas contradições presentes na história, segundo o filósofo. 
Por meio das frases: “A luta não terminou”, “Operários rebelem-se, o que conseguiram hoje não foi graças aos sindicatos, mas a sua vontade para a luta", é possível estabelecer uma reflexão sobre os impasses e as interpretações que o movimento sindical executa no contexto do filme. Nesse viés, é exequível questionar se os sindicatos realmente lutam pelos operários ou se são apenas uma organização que, em certa medida, cede em algumas reivindicações, mas continua reproduzindo a ordem capitalista.
Em meio a sua loucura, Lulu começa a ver os móveis e as decorações de sua casa e se questiona o porquê de possuir quatro despertadores. Isso revela a alienação do proletariado, visto que há uma grande preocupação com o trabalho e com a produtividade, que não é percebido o que se passa ao seu redor, inclusive dentro de sua própria casa. Além disso, observa-se a obsessão de Lulu com o trabalho, visto que tinha quatro despertadores com o objetivo de não perder o horário do trabalho.
Nesse episódio de insanidade, há um momento em que Lulu, ao se deparar com um boneco inflável do Tio Patinhas, exclama “Quer me assustar? Disse o foco, te afundo, o que controla? Tu não vai me controlar.” e passa a espancar o boneco, dizendo “Quero ver quem controla agora”. Sob esse panorama, ao conectar o filme com a figura do Tio Patinhas, que representa um típico capitalista selvagem, cujo dinheiro transforma-se em seu valor fundamental. Esse protótipo é associado a um indivíduo que busca incessantemente pela reprodução ampliada do capital, tal como teorizada por Marx. Dessa maneira, o capitalista é mal visto por certos setores da sociedade simplesmente pelo pertencimento de classe, por ser um burguês, já que isso significa ser explorador dos trabalhadores, como no caso do protagonista, através da exploração da mais valia, ou no imaginário popular, ser rico. O episódio de destruição do boneco revela que Lulú tomou consciência da exploração que sofria, revoltando-se sobre ela.
No momento em que Lulu é readmitido na fábrica, depois de ter sido demitido e acusado de beirar a loucura, um de seus companheiros afirma: "Esse é o resultado da unidade sindical”, “Hoje somos mais fortes, mais conscientes. Nos temem", revelando que os trabalhadores tomaram consciência da exploração que sofriam nas fábricas e reivindicaram a garantia de seus direitos laborais, de modo que os patrões perceberam a força da unidade sindical e passaram a temer essa união dos trabalhadores. Nessa perspectiva, Marx acreditava que os trabalhadores poderiam mudar as organizações sociais do mundo capitalista justamente por meio dessas lutas, que configuram a revolução do proletariado.
Em suma, o termo “paraíso” escrito no título do texto é bastante contraditório, haja vista que as condições de trabalho eram extremamente abusivas. Assim, o protagonista percebe aos poucos, e de forma traumática, que a classe operária, não vai e nunca irá ao paraíso, de forma que esteja sempre inserida na esfera do trabalho até a completa exaustão, já que esse se engloba em uma ordem capitalista taylorista-fordista de maneira impregnada, na qual conceitos como mais-valia, usados como forma de controle, se sobrepõe a qualidade de vida do trabalhador; esse que está constantemente na luta para que seus direitos sindicais sejam garantidos. Dessa forma, o filme reflete a grande dúvida do protagonista sobre o destino dos operários, buscando responder essa pergunta evidenciando o destino de toda uma classe movimentada pela exploração ininterrupta.

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