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VERSÃO REVISADA - 2024-2025
(C) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. USO EXCLUSIVO DOS ALUNOS DO CURSO.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 1
http://psicanaliseclinica.com
Módulo IV - O Método Psicanalítico
Índice
1. A técnica da psicanálise para Freud 8
1.1. Freud e a Técnica da Psicanálise 8
2. O método da Associação Livre 13
2.1. O início da Psicanálise e a Associação Livre hoje 14
2.2. A gênese da Associação Livre 15
2.3. O significado de “Livre” 17
3. O início do tratamento e as entrevistas preliminares 21
3.1. O que Freud chamou de “tratamento de ensaio” 23
3.2. Para que servem as Entrevistas Preliminares? 26
4. O “meio” do tratamento: seu manejo 31
4.1. Resistências, transferência e contratransferência 32
4.2. A Psicanálise Selvagem 33
4.3. O erro e o dado em Psicanálise 35
4.4. Alteridade: o outro e o Grande Outro 41
5. Recursos e ferramentas que podem integrar a Associação Livre 47
5.1. O recurso da Atenção Flutuante 48
5.2. O método socrático (maiêutica) em Psicanálise 50
5.3. O recurso da interpretação dos sonhos 53
5.4. O recurso da análise dos mecanismos de acesso ao inconsciente 55
6. Uma síntese sobre os Procedimentos de Análise 59
7. Fim do Tratamento em Psicanálise e a ideia de Cura 63
7.1. O que não é cura em psicanálise? 64
7.2. A cura psicanalítica para Freud 66
7.3. A cura psicanalítica para Lacan 67
7.4. Análise terminável e interminável 69
7.5. Sobre o conceito de Alta 71
7.6. Encaminhamento de paciente a psiquiatra 74
7.7. Recusa ou interrupção do tratamento pelo psicanalista 76
7.8. Os objetivos de um tratamento em psicanálise 78
7.9. Reconhecer (ou constituir) seu próprio desejo 79
8. Mecanismos de acesso ao inconsciente 85
8.1. Chistes 86
8.2. Atos falhos 90
8.2.1. Definição de ato falho 91
8.2.2. Tipos de atos falhos 94
8.2.2.1. Atos falhos de linguagem 95
8.2.2.2. Atos falhos de esquecimento 97
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 2
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8.2.2.3. Atos falhos de comportamento 99
9. Teoria Topográfica: Primeira Tópica Freudiana 102
9.1. Conceituação da Teoria Topográfica 103
9.1.1. Como representar a Teoria Topográfica? 106
9.2. Instâncias psíquicas da teoria topográfica 106
9.2.1. O Consciente 106
9.2.2. O Pré-Consciente 114
9.2.3. O Inconsciente 119
9.3. Processo primário e processo secundário 125
9.4. Processos de funcionamento do Inconsciente 134
9.5. A topografia de personalidade 139
10. Teoria Estrutural: a segunda tópica freudiana 141
10.1. Em que consiste a Teoria Estrutural? 141
10.2. Instâncias psíquicas da teoria estrutural 143
10.2.1. O Id 144
10.2.2. O Ego 148
10.2.3. O Superego 151
10.3. O funcionamento das instâncias 154
10.3.1. O funcionamento do Id 154
10.3.2. O funcionamento do Ego 158
10.3.3. O funcionamento do Superego 164
10.4. A personalidade e sua dinâmica na Teoria Estrutural 167
11. Uma representação visual para as duas tópicas 169
11.1. Revisão: Primeira e Segunda Tópicas 171
12. Quizzes (Enquetes) 175
13. Referências bibliográficas 187
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Introdução
Esta é a apostila base referente ao módulo IV da parte teórica do Curso.
Nesse módulo, vamos aprofundar alguns conceitos centrais que estruturam a
clínica psicanalítica, isto é, começaremos a abordar a metapsicologia freudiana
(ou seja, a psicanálise falando de si mesma, analisando-se enquanto método) e
da relação entre analista e analisando.
Ao longo da apostila, logo ao final de alguns capítulos, estão indicadas
leituras, vídeos e/ou filmes que são importantes para o curso de formação, haja
vista a relevância desses conteúdos no desenvolvimento profissional. Quando
as leituras forem opcionais, haverá a indicação no próprio material.
Temos também vídeo-aulas e lives de revisão dos módulos (na área de
membros), que resumem os assuntos dos módulos. Para fins de realização de
prova, a leitura das apostilas é suficiente. Na fase final do Curso (Supervisão),
isto é, após você concluir os 12 módulos teóricos, você terá encontros ao vivo
por videoconferência (transmissões ao vivo por vídeo), em que serão debatidos
estudos de casos, a dinâmica da clínica psicanalítica e suas técnicas, bem
como serão revisados alguns conceitos teóricos essenciais à melhor
interpretação dos casos.
À primeira vista, você pode pensar que a leitura desta apostila é muito
extensa. Porém, a organização dos conteúdos foi feita para ser bastante
didática. Você vai perceber que a leitura flui bem, porque a apostila faz revisões
frequentes, traz resumos, mapas mentais e enquetes, com o objetivo de fixar
os conteúdos mais importantes.
Na fase final do Curso (Supervisão), isto é, após você concluir os 12
módulos teóricos, você terá encontros ao vivo por vídeo-conferência
(transmissões ao vivo por vídeo), em que serão debatidos estudos de casos, a
dinâmica da clínica psicanalítica e suas técnicas, bem como serão revisados
alguns conceitos teóricos essenciais à melhor interpretação dos casos.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 4
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Estamos adicionando quizzes ou enquetes nos módulos. Este módulo 4
já tem enquetes, ao final desta apostila. As enquetes servem para revisar e
fixar conteúdos.
Importante: a prova do módulo (contendo 10 perguntas de múltipla
escolha e uma redação) é diferente das enquetes (que são perguntas de
verdadeiro ou falso). O que constata que você de fato terminou um módulo é
fazer a prova deste módulo (10 questões de múltipla escolha + redação).
Depois de ter feito a prova de um módulo, você já pode imediatamente
começar os estudos do módulo seguinte.
Para todos os módulos, a parte obrigatória do Curso de Formação são
Apostilas + Vídeo e Provas (questões + redação) cujos links foram marcados
com flechas em vermelho (acima). Estude a apostila e faça a prova (10
questões + uma redação) para concluir um módulo (então, faça o módulo
seguinte, até o módulo 12). Já os materiais complementares (indicados com
flechas azuis acima) são opcionais.
Dedique-se ao máximo às leituras e demais materiais. Embora a
formação on-line possibilite uma autonomia de tempo e andamento para a
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compreensão dos conteúdos, a qualidade do entendimento das temáticas
fundamentais à formação e prática profissional depende muito do
comprometimento e da seriedade com que você irá se dedicar.
Aproveite bem os materiais e bons estudos!
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IMPORTANTE
Estamos constantemente revisando e melhorando nosso material.
Você está recebendo esta que é a nova versão da apostila do Módulo 4,
atualizada para 2023-2024.
Nossos materiais são revisados e melhorados com certa frequência.
Recomendamos que, após concluir o Curso, você revise os módulos já
estudados: servirá para você aprofundar seu aprendizado e para verificar
novas versões de nossos materiais.
Este material pertence ao Curso de Formação em Psicanálise Clínica
(www.psicanaliseclinica.com). Sua divulgação paga ou gratuita não é
permitida sem prévia autorização do nosso Instituto Brasileiro de
Psicanálise Clínica (CNPJ 28.447.037/0001-81). Informe-nos qualquer uso
não autorizado, pelo e-mail contato@psicanaliseclinica.com.
Este material é parte das aulas do Curso de Formação em Psicanálise.
Proibida a distribuição onerosa ou gratuita por qualquer meio, para não alunos
do Curso.
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mailto:contato@psicanaliseclinica.com
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1. A técnica da psicanálise para Freud
Embora haja uma modificação dos conceitos teóricos de Freud ao longode sua obra, dois pontos são mantidos no que concerne à sua importância:
● o papel central da sexualidade, que se origina desde a vida infantil; e
● o inconsciente.
No que diz respeito à técnica da Psicanálise, após passar a adotar o
método da associação livre, Freud não abandonará mais este método. Este
método é, também, uma constante na obra de autores pós-freudianos.
Ao associar livremente suas ideias, o paciente no decorrer do tratamento
vai superando as suas resistências e deste modo os conteúdos do inconsciente
são trazidos para a consciência.
1.1. Freud e a Técnica da Psicanálise
O paciente neurótico é aquele no qual o conflito psíquico entre
consciente e inconsciente é intenso. O recalque incide sobre o neurótico e sua
satisfação é realizada nas “formações de compromisso”, principalmente por
meio dos sintomas.
Segundo Freud, a mola mestra da clínica psicanalítica é a
transferência, que é ambígua, ou seja, positiva e negativa: amor transferencial
e hostilidade.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 8
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A transferência é, então, a “permissão” que o analisando concede para
que o analista esteja imerso na rede de significados deste analisando,
permitindo ao analista indagar e propor interpretações.
É através dessa inserção do psicanalista na cadeia de representações
do paciente que o psicanalista pode, por meio da interpretação e construção,
dar prosseguimento à análise.
Como a doença (ou sintoma, ou demanda) inicial do paciente não é
estática, com a transferência ela se transforma em neurose de transferência.
Segundo Freud, “eliminar essa neurose equivale a eliminar a doença inicial”.
A construção designa a atividade do analista de completar aquilo que
foi esquecido, a partir dos traços que foram deixados pelo paciente
(analisando). A interpretação indica o desejo.
A psicanálise pelo método da associação livre se contrapõe à sugestão
hipnótica; esta tenta solucionar os sintomas por meio de sugestões, e por
outro lado o seu próprio emprego acarreta no encobrimento do recalque.
A psicanálise é uma análise causal, isto é, busca identificar evidenciar
as relações entre causa e consequência, sendo:
● a causa: aquilo que está recalcado (a representação-meta);
● a consequência: os sintomas ou os incômodos que o paciente relata
(as representações substitutas daquilo que foi interditado no
inconsciente).
A Psicanálise se propõe a identificar e remover suas causas. Apesar
disso, a Psicanálise não incide só sobre as raízes dos fenômenos, mas possa
também refletir sobre as consequências (a forma de ver os sintomas, por
exemplo).
Deste modo, a Psicanálise com seu arcabouço teórico se insere no
campo da ética, e, como tal, se revela a ética do impossível, já que não impõe
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 9
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uma determinada moral aos seus pacientes, mas deixa a cargo dos mesmos
tomar a decisão por si mesmos.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
Em algumas de nossas apostilas, indicaremos artigos relacionados aos
assuntos do módulo. A leitura desses artigos é opcional para fins de prova,
mas recomendamos que você busque sempre essas (e outras) fontes para
se aprofundar nos temas abordados.
● Artigo: O que é o Método Psicanalítico?
● Artigo: Etapas da Terapia Psicanalítica
● Artigo: Conceito de Representação em Freud
LIVES
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https://www.psicanaliseclinica.com/o-que-e-metodo-psicanalitico/
https://www.psicanaliseclinica.com/etapas-terapia/
https://www.psicanaliseclinica.com/representacao/
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Acesse sua área de membros e, depois, clique em “Lives & Gravações”.
Você terá acesso a dezenas de lives gravadas, muitas delas abordando
assuntos debatidos neste Módulo.
Além disso, também na área de membros você encontra vídeo-aulas sobre
os assuntos deste Módulo.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 12
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2. O método da Associação Livre
Teremos oportunidade de aprofundar outros aspectos da clínica
psicanalítica, como transferência, contratransferência e resistência. Faremos
isso nos módulos seguintes e nos estudos de casos práticos na etapa de
Supervisão do nosso Curso.
Por ora, convém abordar a essência da clínica psicanalítica, que é a
técnica ou método da associação livre.
Vimos nos módulos anteriores que Freud substituiu a primazia da
sugestão hipnótica em favor da associação livre. Isso significa dizer que a
associação livre passa a ser o método psicanalítico por excelência, o que
permanecerá durante toda a trajetória de Freud. Em outras palavras, a
associação livre é a forma mais notadamente psicanalítica para conduzir uma
sessão de análise.
O paciente fala e, falando, já há um alívio psicofísico, pelo simples fato
da mobilização mecânica descarregar parte da tensão psíquica. Mas, além
deste aspecto quantitativo, há a dimensão qualitativa, isto é, do conteúdo:
falando o que lhe vier na cabeça (sem autocensura, sem censuras do
analista e sem censuras das representações sociais ou morais), o
paciente “distrai” seus mecanismos de defesa, permitindo aflorar
aspectos inconscientes.
Nesse sentido, não há certo ou errado, não há “perder o foco”. Ou
melhor, Freud diria que “perder o foco” é exatamente a chave para encontrar
o inconsciente. Afinal, os sonhos, os atos falhos e os chistes são exemplos
desses ricos “erros”.
Nós nos basearemos na contribuição de LAPLANCHE & PONTALIS,
para aprofundarmos a reflexão sobre a associação livre.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 13
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A associação livre é um método que consiste em exprimir
indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao espírito, quer
a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho,
qualquer representação), quer de forma espontânea.
O processo de associação livre é constitutivo da técnica psicanalítica.
Não é possível definir uma data exata de sua descoberta, que se deu de modo
progressivo entre 1892 e 1898, e por diversos caminhos.
2.1. O início da Psicanálise e a Associação Livre
hoje
Vimos nos módulos anteriores que Sigmund Freud, nos seus trabalhos
com Jean-Martin Charcot e Josef Breuer, usou da sugestão hipnótica e do
método catártico. Vimos também que, mesmo nessa fase inicial, já existiam
sinais de uma nascente associação livre. E que, depois que Freud seguiu sua
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 14
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atuação mais autônoma, rejeitou a hipnose e a sugestão, para desenvolver
reflexões sobre o seu método definitivo: a associação livre.
Então, hoje não é possível o psicanalista “escolher” qual método usar,
pois aconselhamentos, sugestões e hipnose não integram fazer psicanalítico,
embora tudo isso tenha uma importância na gênese da psicanálise como
campo do saber.
Também, a nosso ver, a atenção flutuante, a interpretação dos
sonhos ou a maiêutica não são outros métodos da psicanálise. A nosso ver,
são ferramentas que podem integrar a Associação Livre. Falaremos sobre
todos estes assuntos a seguir.
2.2. A gênese da Associação Livre
Como é demonstrado pelos Estudos sobre a histeria (Freud, 1895), a
associação livre emana de métodos pré-analíticos de investigação do
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 15
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inconsciente que recorriam à sugestão e à concentração mental do paciente
em uma determinada representação; a procura insistente do elemento
patogênico desaparece em proveito de uma expressão espontânea do
paciente (entenda melhor este aspecto lendo os comentários de Freudao caso
Emmy Von N., abaixo sintetizado). Os Estudos sobre a histeria põem em
evidência o papel desempenhado pelos pacientes nesta evolução.
Paralelamente, Freud utiliza o processo de associação livre na sua
auto-análise e particularmente na análise dos seus sonhos. Aqui, é um
elemento do sonho que serve de ponto de partida para a descoberta das
cadeias associativas que levam aos pensamentos do sonho.
As experiências anteriores à Freud consistiam no estudo das reações e
dos tempos de reação (variáveis segundo o estado subjetivo) a palavras
indutoras. Isto é, o analista sugeria algumas palavras e o analisando respondia
rapidamente, com o que lhe vinha à cabeça.
Carl Gustav Jung põe em evidência o fato de que as associações que
assim se produzem são determinadas pela totalidade das idéias em relação a
um acontecimento particular dotado de uma coloração emocional, totalidade à
qual dá o nome de complexo.
Freud, em A história do movimento psicanalítico (1914), admite o
interesse dessas experiências “para se chegar a uma confirmação
experimental rápida das constatações psicanalíticas e para mostrar
diretamente ao estudante esta ou aquela conexão que um analista apenas
pode relatar”.
Talvez convenha ainda fazer referência a uma fonte que o próprio Freud
indicou em Uma nota sobre a pré-história da técnica analítica (1920): o
escritor Ludwig Börne, que Freud leu na juventude, recomendava, para alguém
“se tornar um escritor original em três dias”, escrever tudo o que ocorre ao
espírito, e denunciava os efeitos da autocensura sobre as produções
intelectuais.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 16
http://psicanaliseclinica.com
Essas ideias, sem dúvidas, influenciaram a livre associação de Freud,
que, depois, aproveitaria a noção da livre expressão de ideias como forma de
minimizar a autocensura. Além disso, Freud não focaria no processo de induzir
o paciente com palavras sugestivas de forma aleatória, mas sim aproveitando
de conteúdos trazidos pelo próprio analisando (seus sonhos, seus atos falhos,
seus desejos relatados etc.).
No mais das vezes, a iniciativa das escolhas sobre o que falar se
originavam do próprio analisando, sendo o analista alguém que faz
apontamentos curtos, em geral na forma de perguntas que provocam no
analisando o sentido por trás de suas associações.
2.3. O significado de “Livre”
Nesse sentido, a título de conclusão, o termo “livre” na expressão
“associação livre” exige as seguintes observações:
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 17
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● Mesmo nos casos em que o ponto de partida é fornecido por uma
palavra indutora (experiência de Zurique) ou por um elemento do sonho
(método de Freud em A interpretação de sonhos, 1900), pode-se
considerar que é “livre” o desenrolar das associações, na medida
em que esse desenrolar não é orientado e controlado por uma
intenção seletiva;
● Essa “liberdade” acentua-se no caso de não ser fornecido qualquer
ponto de partida. É nesse sentido que se fala de regra de associação
livre como sinônimo de regra fundamental para a Psicanálise.
● Na verdade, não se deve tomar liberdade no sentido de uma
indeterminação: a regra de associação livre visa em primeiro lugar
eliminar a seleção voluntária dos pensamentos, ou seja, segundo os
termos da primeira tópica freudiana, pôr fora de jogo a censura dos
processos secundários (entre o consciente e o pré-consciente). A
associação livre ajudaria a revelar, assim, as defesas
inconscientes, quer dizer, a ação da primeira censura (entre o
pré-consciente e o inconsciente), a censura daquilo que está mais
profundamente recalcado.
● Por fim, o método das associações livres destina-se a pôr em evidência
uma ordem determinada do inconsciente: “Quando as
representações-metas conscientes são abandonadas, são
representações-metas ocultas que reinam sobre o curso das
representações”, diz Freud.
Explicando esta última frase de Freud: uma ideia fixa trazida à terapia
(por exemplo, uma fobia específica) é uma representação consciente, isso
pode ir se relacionando a outras ideias (livremente associadas), de modo a
sugerir um sistema de funcionamento psíquico que motivaria a fobia e todo
aquele constructo, até então oculto.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 18
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Verifique esta ideia sobretudo no que Freud nos relata da sua paciente
Emmy Von N. Respondendo à solicitação insistente de Freud, que busca a
origem de um sintoma, ela lhe diz “... que [Freud] não deve ficar sempre
perguntando de onde vem isto ou aquilo, mas deixá-la contar o que tem para
contar” (Estudo sobre a histeria, 1895).
Sobre a mesma paciente, Freud nota que ela parece ter-se apropriado
do seu processo”:
“As palavras que me dirige [...] não são tão inintencionais como parecem;
reproduzem antes com fidelidade as recordações e as novas impressões que
agiram sobre ela desde a nossa última conversa e emanam muitas vezes, de
modo inteiramente inesperado, de reminiscências patogênicas de que ela se
liberta espontaneamente pela palavra.” (idem)
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 19
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: O Método da Associação Livre em Psicanálise
● Artigo: Associação Livre para Freud e a Psicanálise
● Artigo: Freud, Charcot e a Hipnose na paciente Emmy Von N.
● Artigo: Freud e o Inconsciente
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https://www.psicanaliseclinica.com/metodo-da-associacao-livre-em-psicanalise/
https://www.psicanaliseclinica.com/associacao-livre-freud/
https://www.psicanaliseclinica.com/freud-charcot-e-a-hipnose-na-paciente-emmy/
https://www.psicanaliseclinica.com/freud-e-o-inconsciente/
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3. O início do tratamento e as entrevistas
preliminares
Quando dizemos que uma pessoa está fazendo análise, queremos
dizer que esta pessoa está fazendo um tratamento clínico com psicanálise, ou
seja, ela faz terapia com um psicanalista.
Neste texto, você aprenderá como é o início de um processo de
análise, e falaremos também sobre a diferença entre demanda e desejo.
Utilizaremos a teoria de Freud e algumas elaborações de Jacques Lacan,
fazendo referência principalmente a Jacques Alain Miller.
Também a Psicanálise se utiliza das entrevistas em seu método clínico,
porém o faz com algumas peculiaridades em relação às terapias de natureza
comportamentais.
Vejamos alguns pontos centrais. 
Na Psicanálise, para que seja possível o início do tratamento, é
recomendado que seja realizado durante um período entrevistas preliminares.
Durante esse período, é realizada uma sondagem diagnóstica para que seja
possível iniciar o tratamento. Essa sondagem não se resume a um questionário
de anamnese com perguntas e respostas no formato “sim” ou “não”. Mas um
diálogo entre potenciais analista-analisando no qual seja possível o sujeito
fazer uma narrativa de sua própria vida, da sua história.
As entrevistas preliminares podem durar uma única sessão, ou mesmo
algumas semanas. São necessárias para que se possa conhecer as
motivações que levaram o paciente a procurar o Psicanalista. Algumas vezes,
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 21
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● uma sessão é suficiente para o início de uma compreensão inicial e
para firmar o contrato terapêutico,
● embora algumas sessões seguintes ainda façam parte de uma
compreensão mais completa, nesta fase de tratamento de ensaio.
Aqui, neste texto, quando falarmos da entrevista psicanalítica estaremos
entendendo, via de regra, não somente a primeira sessão, mas sim as
primeiras sessões necessárias para cumprir os objetivos do tratamento de
ensaio.
Além de ter a motivação diagnóstica, de possibilitar a identificação, ou
pelomenos, gerar uma suspeita de qual tipo de estrutura Psíquica (neurose,
psicose ou perversão) o sujeito está enquadrado, é o período em que o
profissional traça a direção do tratamento mais adequado para aquele paciente.
A sondagem diagnóstica possibilita diferenciar se os sintomas
apresentados são de uma neurose histérica ou obsessiva, ou de o início de um
desencadeamento de uma psicose, que só poderá ser percebido após um
período, ou pelo menos crie suspeitas desse possível diagnóstico. A
Psicanálise não é composta de métodos pré-definidos, com causas e efeitos
determinados.
MÓDULO IV - CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE. (c) psicanaliseclinica.com. Pág. 22
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3.1. O que Freud chamou de “tratamento de
ensaio”
Freud, em “Sobre o início do tratamento” (1913), menciona a importância
do que chamava de tratamento de ensaio. Este ocorria antes da análise
propriamente dita, e nesta etapa Freud decidia se aceitaria ou não o
paciente. Posteriormente, Lacan irá falar em entrevistas preliminares, que
seriam correlatas ao tratamento de ensaio de Freud. Esta fase seria anterior ao
paciente “deitar-se no divã”, ou seja, é a fase de estabelecimento do contrato
psicanalítico. Veja que, como “contrato”, entende-se a formação de um
“acordo de entendimento” sobre o paciente (e suas demandas iniciais), o
analista, os horários, os pagamentos e o funcionamento do método da
associação livre. Isso não significa um contrato escrito.
Assim, embora existam diferenças entre autores, é possível
compreender como sinônimos:
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Tratamento de Ensaio
Entrevistas Preliminares
Entrevista Psicanalítica ou Analítica
Formação do contrato psicanalítico
Início do tratamento
O objetivo principal das entrevistas preliminares consiste em
● direcionar a transferência àquele analista específico;
simultaneamente, serve para
● elaborar uma hipótese diagnóstica, a produção de um sintoma
analítico – o qual não é necessariamente aquele do qual o sujeito chega
se queixando – e a produção de uma demanda de análise propriamente
(Quinet, 1991). 
As entrevistas preliminares marcam que o início de uma análise não se
dá com a entrada do paciente (também chamado de analisando) no consultório
do analista. É o fim das entrevistas preliminares que cumpre a função de
estabelecer um corte, marcando a entrada no discurso analítico. 
Numa primeira vista, essa diferença pode não ser facilmente perceptível,
pois as entrevistas preliminares seguem as mesmas regras da análise:
também nas entrevistas preliminares o sujeito deve associar livremente,
isto é, mencionar livremente “o que lhe vier à cabeça”.
Contudo, não se interpreta o discurso do paciente durante essas
entrevistas. Nesse momento, o analista fala o mínimo possível, apenas o
suficiente para que o sujeito prossiga em seu discurso. Isto porque está em
jogo a questão diagnóstica: deixa-se o paciente falar para que uma hipótese
possa ser formulada acerca da estrutura do sujeito (neurose, perversão,
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psicose), e também porque é próprio paciente quem introduz os significantes
que irão “guiar” sua análise. 
É nesse momento que o analista decide se irá ou não acatar aquela
demanda de análise. “O fato de receber alguém em seu consultório não
significa que o analista o tenha aceito em análise” (Quinet, 1991, p.15).
O analista pode recusar-se a autorizar uma análise se, por exemplo,
perceber uma estrutura psicótica (se entender que há riscos de
desencadeamento de um surto, pelo qual terá que se responsabilizar), ou
porque o paciente já se encontra num estágio que o analista acha por bem não
levar adiante – lembremo-nos daquela máxima que uma análise só vai até o
ponto onde foi a análise do analista.
É importante reforçar que a informação anterior foi apenas a título de
exemplo. Há psicanalistas que trabalham com pacientes psicóticos.
Vamos reforçar este aspecto: o analista, após formado, segue fazendo
sua própria análise, isto é, deve ser ele analisando de outro psicanalista.
Além disso, deve ter vínculo com Instituto, Associação ou Psicanalista mais
experiente, que lhe acompanhe na supervisão dos casos que estiver
atendendo.
Se o analista não enfrenta suas questões em sua análise e supervisão
e, depois, se depara com um paciente cujas demandas vão além daquelas que
o próprio analista já estudou e analisou em si mesmo (junto a outro
profissional), dizemos que a análise foi além do ponto de análise do analista,
este analista não estará apto para aceitar aquele paciente. A rigor, sem ser
analisado e ser supervisionado, o analista não pode seguir atuando.
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3.2. Para que servem as Entrevistas Preliminares?
As entrevistas preliminares servem também para que se configure o
sintoma analítico enquanto tal. O sintoma do qual o sujeito chega ao
consultório se queixando expressa, geralmente, uma demanda de cura, ou
demanda de amor (no sentido de “ter a dedicação de atenção” do analista),
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mas não uma demanda de análise: esta deverá ser produzida através da
retificação subjetiva. 
Quando o sujeito procura o analista, ele se apresenta a este através de
seu sintoma: um significante. Por exemplo, se a demanda do paciente é uma
angústia insuportável, este é o significante a partir do qual a entrevista partirá.
É este significante que irá representar o paciente, num primeiro
momento, ao menos para o analista. O paciente é esta angústia. O analista,
por sua vez, é um outro significante, um significante qualquer fabricado pelo
analisando em sua fantasia.
Como regra, o analisando atribui ao analista um significante de
autoridade, ou de alguém que irá resolver suas dores, ou de alguém que não
levará o paciente a lugar nenhum: essas ideias são criadas pelo paciente em
decorrência de sua trajetória, de sua formação mental e deste contato inicial
com o psicanalista. Este analista passa a ser, na visão do paciente, o que
Jacques Lacan chama de sujeito suposto-saber. Isto é, o analista é o sujeito
que o analisando supõe ter um notório saber e que poderá “resolver seu
problema”. Isso, no início, é fundamental para a formação do par analítico
(analista-analisando) e da relação transferencial.
Assim, o sujeito, no início do processo, acredita que o analista detém um
saber ou um poder de cura, e coloca o analista no lugar de autoridade, que
Lacan denominou de sujeito suposto-saber. 
Se no início do processo a demanda do sujeito é a de se desvencilhar,
de se curar de um sintoma, a retificação subjetiva fará com que o sintoma
inicial passe ao estatuto de sintoma analítico (ou seja, um sintoma que agora
estabelece o vínculo entre analista e analisando), constituindo uma demanda
de análise propriamente dita, endereçada àquele analista específico.
Ao mesmo tempo, estabelece-se a transferência, que tem um caráter
simbólico, em relação ao analista. Este fenômeno é essencial para que se dê
uma análise. Ao se configurar o sintoma analítico, este passa a ser um enigma
a ser decifrado pelo sujeito analisando (com o suporte do analista). Este
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enigma aponta para uma divisão do analisando: uma parte de si é o paciente
que livre-associa, a outra parte de si é aquele enigma (sintoma) que buscará
ser desvendado. É o que se chama de histericização do discurso. 
É como se a energia afetiva do paciente se voltasse menos para o
sintoma em si e mais para o sintoma analítico (aquele demandado pelo
analisando e sintetizado pelo par analítico nas entrevistas preliminares)e para
a forma como esse sintoma analítico ajudou a criar o vínculo de transferência
com o analista.
Esse sintoma analítico é a imagem inicial criada pelo par analítico que
responde à demanda do analisando e que resume respostas a perguntas
como: “qual ideia inicial sobre mim mesmo?” e “qual sintoma me identifica
ou me define?”. Obviamente que este sintoma analítico tende a ser
constantemente reformulado (via de regra, complexificando-se) com o
andamento das sessões.
Assim, resumidamente, as entrevistas preliminares cumprem as
seguintes funções:
● instaurar a transferência num nível simbólico e estabelecer o vínculo
terapêutico (diz-se que a transferência é o motor da análise);
● apresentar a demanda de cura, que inicialmente é acolhida pelo
analista (por exemplo, quando o sujeito diz “tenho depressão”);
● realizar a retificação subjetiva dessa demanda, transformando a
demanda de amor ou de demanda de cura em demanda de análise;
● implicar (isto é, comprometer) o sujeito (analisando) no sintoma, para
que se configure um sintoma analítico (“você disse que tem depressão,
mas como é para você ‘ter depressão’?”);
● colocar o sujeito a questionar-se sobre seu sintoma, histericizando seu
discurso e
● permitir a elaboração, por parte do analista, de uma hipótese
diagnóstica inicial.
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Resumindo, sobre o começo do tratamento:
Quando ocorrem as
entrevistas
preliminares?
A partir do momento em que o potencial analisando
procura o psicanalista, com uma demanda analítica
ou demanda de cura.
Quanto tempo
duram?
Pode durar uma sessão, duas sessões, um mês
etc. Não há tempo pré-definido. As Entrevistas
Preliminares duram o tempo necessário para o
psicanalista criar uma hipótese terapêutica e o
analisando se localizar no ambiente de confiança
para livre-associar.
Para que servem? - Estabelecer o vínculo terapêutico
- Recolher e retificar a demanda de cura
- Permitir uma hipótese diagnóstica inicial
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: Entrevistas preliminares e o início do tratamento
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https://www.psicanaliseclinica.com/inicio-do-tratamento/
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4. O “meio” do tratamento: seu manejo
No tópico anterior, abordamos o início do tratamento: as entrevistas
preliminares.
Não há um marco muito objetivo para se saber quando acaba este
tratamento de ensaio e começa o "meio do tratamento". De toda forma, esse
"meio" aconteceria depois de já haver um reconhecimento inicial: sobre o
paciente, sobre sua demanda inicial e, pelo paciente, sobre o funcionamento do
método da associação livre e sobre o analista.
É importante lembrar que tudo que vamos falar nos próximos tópicos
sobre “meio do tratamento” se aplicam também ao início e ao fim do
tratamento. Não há um método diferente para cada “etapa” do tratamento. O
tratamento, inclusive, é marcado por muitas idas e vindas, sendo que a ideia
positivista de progresso precisa ser vista com cautela.
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4.1. Resistências, transferência e
contratransferência
O que entendemos é que este “meio” é normalmente a parte mais
extensa de um tratamento, onde tudo relacionado à análise pode acontecer.
Por ser mais extenso, é onde a análise se complexifica e onde ficam mais
nítidos fenômenos como:
● resistências: por exemplo, o paciente empregando os mecanismos de
defesa durante as sessões de terapia, para interditar um maior
aprofundamento sobre suas dores e seus desejos;
● transferência: haveria um fortalecimento do vínculo entre analista e
analisando, o que pode se dar tanto pelo que Freud chama de
transferência negativa (o tratamento arredio ou fechado que o
analisando pode adotar para com o terapeuta) quanto a transferência
positiva (que é o aspecto deste vínculo que favorece o analisando
sentir-se mais seguro na análise e livre-associar mais);
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● contratransferência: é possível que o analista tente implicar no seu
próprio desejo e na sua visão de mundo (do analista) o analisando.
Também é possível que o analista assuma um lugar de "conselheiro", o
que é indesejável à psicanálise.
Sobre os mecanismos de defesa (vistos em módulos anteriores), é
importante destacar que integram a vida psíquica do sujeito dentro e fora da
terapia. Quando ocorrem na terapia, costuma-se dizer que estão funcionando
como resistências à clínica.
Como regra, a contratransferência tende a ser prejudicial ao progresso
da análise, pois rompe com os princípios da neutralidade e abstinência pelo
analista. Lembrando que o analisando não precisa ser neutro, mas isso é um
princípio ou uma meta na ética do analista.
4.2. A Psicanálise Selvagem
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Em conexão com o tema da contransferência, há o que Freud chamou
de psicanálise selvagem; tal psicanálise seria aquela conduta despreparada e
apressada do psicanalista em interpretar e “oferecer respostas” ao analisando.
Além da pressa na análise, o psicanalista selvagem usa ideias de
conceitos entendidos superficialmente para definir o analisando. É nítido que a
psicanálise selvagem é um ato narcisista do analista, porque o analista se
coloca como o juiz e como a medida de todas as coisas, mesmo quando seu
conhecimento ainda se encontra em um nível raso para isso.
O psicanalista selvagem age como Procusto, no mito clássico grego,
em que as vítimas precisavam ter o tamanho exato do leito ou cama desse
carrasco:
● se fossem menores que o leito, Procusto as esticava até ficarem do
tamanho da cama;
● se fossem maiores, Procusto serrava parte de seus corpos (cabeça ou
pernas);
De um jeito ou de outro, as vítimas ficavam do tamanho exato do leito de
Procusto. Trata-se de uma alegoria da psicanálise selvagem e também da
pretensão humana de aniquilar as diferenças e as especificidades, adequando
à visão de mundo do intérprete aquilo tudo que lhe é exterior e lhe seria
desconhecido. Uma forma de reconhecer o desconhecido.
Entende-se que a contratransferência indevida e a psicanálise selvagem
são evitadas (ou atenuadas) quando o analista leva a sério sua atuação,
seguindo o método psicanalítico e seguindo seu tripé psicanalítico, mesmo
depois de formado:
● aprendendo e revisando constantemente a teoria psicanalítica, por
meio do estudo de novos cursos e livros;
● sendo supervisionado por psicanalista mais experiente, para debater
os casos que estiver atendendo; e
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● fazendo sua própria análise pessoal, para resolver suas questões, junto
a outro psicanalista.
4.3. O erro e o dado em Psicanálise
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Inicialmente, precisamos propor uma diferenciação entre erro e dado.
Nosso objetivo é demonstrar que uma posição em favor do dado é mais
propícia ao aprendizado, tanto nos estudos da linguagem quanto na
Psicanálise.
Para os objetivos deste texto, entende-se:
● Erro: o oposto de “certo” ou de “acerto”. Então, adotar uma postura
apressada de julgar algo como certo ou errado pode muitas vezes limitar
nosso aprendizado acerca não só do objeto estudado, mas também
acerca do comportamento dos sujeitos que o observam.
● Dado: elemento que possa se tornar informação e, depois,
analisado para tornar-se conhecimento. Assim, o objeto observado
não é visto como certo ou errado, mas sim como um dadopotencialmente informacional.
Não estamos aqui defendendo uma postura “isencionista”. Nossa mente
trabalha também por meio de julgamentos. E há muitas situações diárias em
que a definição de um certo ou errado é colocada a nós (mas tentemos ser
menos apressados ao atribuir essa definição).
Também não defendemos a ideia de que o dado seja independente do
sujeito: não existe dado em si, não existe dado “transparente”, pois os dados
dependem dos sujeitos que os olham. Coletar um dado em vez de outro é uma
atitude do sujeito.
Então, o dado:
● não é apenas objetivo (da coisa analisada),
● mas é também subjetivo (permeado pelo sujeito que o observa ou
mesmo que o cria).
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Se adotarmos a postura do erro ou se simplemente tentarmos
“corrigi-lo”, vamos encerrar o debate e pouco aprenderemos além do que já
sabemos. Já se adotarmos a postura do dado, vamos ter uma oportunidade de
nos perguntar sobre o que levou àquele “erro”. Esta última perspectiva
parece-nos mais adequada ao método científico.
Se o psicanalista tem seus conceitos teóricos ou morais muito
rigidamente formados, poderá julgar o analisando a partir de seus critérios
absolutos. Assim, o analista estará atento aos “erros” do analisando, isto é, às
ocasiões em que o analisando extrapole a moral do analista ou não se encaixe
aos conceitos que o analista decorou.
Por outro lado, se o analista enxerga um elemento como um dado (e
não como um erro), terá a oportunidade de lançar um novo olhar sobre o
analisando e a terapia. Assim, observará a relação do evento com outros
eventos, dentro de um sistema de valores mais contextualizado àquele
analisando.
Claro que poderá haver um certo ou um errado, quando adotamos a
postura de priorizar um dado. Mas esse certo ou errado será dentro de um
contexto do próprio analisando e será enunciado depois de atenuadas as
nossas armaduras.
Vamos pensar nas três partes da psique humana conforme propostas
por Freud na segunda tópica:
● ego: a instância de maior vocação racional, que responde para o mundo
e para o próprio ser “quem eu sou?”, que possibilita o atendimento das
demandas do mundo exterior ao ser e que também “negocia” (dentro do
possível) um “acordo de interesses” entre as duas outras instâncias;
● id: a instância que é totalmente inconsciente, pulsional, “selvagem”, uma
instância que busca a pura satisfação e que não se expressa numa
linguagem clara aos padrões da racionalidade, tampouco se submete
aos padrões de temporalidade e espacialidade.
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● superego: uma instância que é uma especialização de Freud
responsável pelos valores morais (certo/errado) e impõe ao ego uma
dimensão de sacrifício do prazer em prol dos benefícios que o ego terá
com a divisão social do trabalho, possibilitada pela vida em sociedade.
O erro, então, é inerente à psique humana. Afinal, essas instâncias da
mente não se comunicam numa mesma “linguagem” e com base em iguais
interesses. É impossível não pensar que o erro seja um fator constante na
interação entre essas instâncias.
Mesmo quem desconfie se nossa psique funciona mesmo assim, é
inegável a ideia de que temos vozes interiores discrepantes, que nos
constituem. E a existência dessas vozes configuram barreiras a qualquer ideia
de uniformidade mesmo individual, quanto mais uma ideia uniformidade entre
duas pessoas diferentes, ou na sociedade.
Algumas perguntas que servem como antídoto a esta rotulação
apressada (e também antídotos à contratransferência imprópria e à psicanálise
selvagem), e que podem ser usadas no setting analítico:
● é certo ou é errado do ponto de vista de quem?
● definir isso como errado (ou como certo) me permite aprender o quê a
respeito do objeto ou dos sujeitos?
● o que este suposto erro (ou acerto) pode me “revelar”? como posso
aprender com ele?
● como isso afeta a vida do analisando, sua vida psíquica, sua
autopercepção, seus relacionamentos?
● ao identificar algo como errado (ou como certo), estou mobilizando quais
princípios e ideologias?
● quem acha certo (ou errado)? como? para quem? por quê? quando?
quanto? quão relevante?
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4.4. Alteridade: o outro e o Grande Outro
Assim, o erro é uma possibilidade trazida pela diferença. E é um fator
de enriquecimento psíquico e social. Muitas vezes, a aniquilação do erro é um
erro ainda maior: a aniquilação da diferença e do outro. Em última instância, o
erro é o desejo de um ditador em aniquilar as diferenças relevantes, em
aniquilar a alteridade (a perspectiva de outro).
Este “outro” pode ser:
● a) O outro de nós mesmos (com “o” minúsculo), nosso
desconhecido, nosso inconsciente ou mesmo nosso id. Vimos que este
“outro” está presente na terapia. Por exemplo, quando o analisando diz
que não consegue cumprir as metas que ele mesmo se impõe. Isso
sugere haver pelo menos dois “eus”: o que quer o cumprimento da meta
(talvez um superego) e o que não quer cumpri-las (talvez um id).
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● b) O Grande Outro (com “O” maiúsculo), conforme definição de
Jacques Lacan. Para Lacan, o Grande Outro é o lugar daquilo que nos
faz dizer “eu sou, eu sei, eu quero, eu posso”. Veja que isso independe
de regras ou leis escritas, nem depende necessariamente de punição. É
o lugar do outro que é internalizado em nós e que nos orienta em nossas
decisões, nos nossos medos e desejos, até na forma com que sentimos
e nos relacionamos. Por exemplo, uma paciente pode revelar grande
apreço pelos ensinamentos de seu pai, ou de um professor, ou de um
amigo, ou de um pensador, ou de uma ideologia, ou de uma religião.
Todos esses exemplos de “heróis” ou “ideais de verdade” representam o
Grande Outro, que estabelece um ideal superegoico do que este
sujeito deve ser, fazer ou desejar.
Um exemplo do “outro” com “o” minúsculo é o do próprio analisando no
setting analítico. O analisando é, ao mesmo tempo:
● o “eu” (aquele que toma a palavra para falar com o psicanalista e que,
pelo menos em tese, busca uma “melhora” ou uma “cura”),
● mas é também o “outro” (aquele que é analisado, seu enigma, seu
sintoma).
E, como exemplo do Grande Outro na terapia: quando o paciente se
diz desvinculado de uma pessoa, uma ideologia política ou religiosa (como uma
religião ou um ideal político ou o pai) mas que pode ainda estar exercendo
inconscientemente os ditames deste Grande Outro. Assim, é como se este
Grande Outro passasse a fazer parte de seu “ideal de eu”, um superego a
reger sua conduta. Isso é internalizado na vida psíquica pela palavra (pelo
discurso, que é a palavra aplicada à vida social).
Pode até mesmo ocorrer de o psicanalista se tornar o Grande Outro
de seu paciente. Como quando o paciente tenta dizer para o analista coisas
que, na visão desse analisando, passariam pelo crivo do analista, muitas vezes
até mesmo usando o discurso e vocabulário do analista. É como se o
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analisando só se expressasse depois de refletir sobre a imagem que ele faz da
imagem que o analista faz dele (analisando). Veja que a atribuição do sujeito
suposto-saber é recorrente e, de certa forma, favorável à relação transferencial
do início de tratamento. Entretanto, o excesso pode verter esse suposto-saber
em uma autoridade ainda maior, “sagrada”, do Grande Outro.
Essa conduta via de regrainconsciente do analisando em tomar o
analista como o Grande Outro poderá ser uma resistência a ser vencida, como
uma racionalização. Vencendo-a, permite-se que o analisando revele-se mais
sobre si mesmo e sobre seu desejo.
Veja como a alteridade nos constitui como sujeitos. Isto é, nós somos
a imagem que fazemos da imagem que o (O)outro faz de nós. Isto é bastante
óbvio na cultura. A rigor, não escolhemos nossa língua materna, nem nossa
forma de nos vestir ou pensar, nem nossas crenças religiosas.
Ainda por uma linha lacaniana, podemos dizer que até mesmo o
nome-do-pai (o prenome que escolheram para nós e o sobrenome que
herdamos via de regra da linhagem paterna) é escolha que outros nos fizeram.
Portanto, já nascemos imersos em discursos (e desejos) dos outros, que
depois incorporamos como discursos (e desejos) nossos. E toda essa reflexão
estará, obviamente, presente na terapia, dentre os relatos e demandas de
nossos analisandos.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: O Erro e o Dado em linguística e psicanálise
● Artigo: Procusto: o mito e seu leito na mitologia grega
● Artigo: Psicanálise Freudiana: 50 principais conceitos resumidos
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https://www.psicanaliseclinica.com/erro-e-dado/
https://www.psicanaliseclinica.com/procusto/
https://www.psicanaliseclinica.com/psicanalise-freudiana/
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● Artigo: Racionalização como mecanismo de defesa
● Artigo: O que é Alteridade em linguística e psicologia
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https://www.psicanaliseclinica.com/racionalizacao/
https://www.psicanaliseclinica.com/o-que-e-alteridade/
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5. Recursos e ferramentas que podem
integrar a Associação Livre
Existem alguns princípios que regem a associação livre, como vimos
anteriormente. Entretanto, não há um arcabouço rígido do que pode ser
usado no setting analítico. Por exemplo, “fazer perguntas ao analisando” é
uma técnica bastante útil para favorecer a livre associação, embora não seja
um recurso específico da psicanálise.
A rigor, quaisquer recursos que não contrariem os princípios da
associação livre e da Psicanálise podem ser usados, com o objetivo de
quebrar resistências (do analisando e do analista) e favorecer a livre
associação.
Veremos a seguir algumas ferramentas que entendemos que possam
complementar o método psicanalítico. Tais ferramentas integram uma lista não
exaustiva, isto é, são apenas exemplos.
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5.1. O recurso da Atenção Flutuante
A atenção flutuante é muitas vezes chamada de método psicanalítico, o
que a nosso ver não estaria correto. Isso porque não é algo diferente da
associação livre, mas sim é um conjunto de ferramentas ou recursos que
integram a associação livre.
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Assim, de uma forma simplificada, podemos dizer que:
● o paciente livre-associa,
● enquanto o analista mantém sua atenção flutuante.
A atenção flutuante do analista é importante para:
● minimizar a contratransferência imprópria, quando o analista não decide
ele mesmo quais temas serão tratados na análise;
● sem se prender a uma ideia fixa, o analista poderá “fisgar” ideias
lançadas pelo analisando e elaborar estruturas sistêmicas (em relação
ao que o analisando disse em outras sessões).
Estas elaborações interpretativas que o analista faz não são imposições. O
interessante é que sejam propostas (como na forma de perguntas ao
analisando). Pois, o essencial é haver tempo e elementos para o próprio
analisando realizar uma ideia sobre si, sobre sua trajetória e sobre o que virá a
ser, o que em psicanálise se chama de perlaboração.
Assim, a atenção flutuante pressupõe que o analista não se prenda a
padrões rígidos de julgamento ou de auto-certezas, nem limite assuntos fixos
que o analisando poderá trazer. Deve, sim, o analista oferecer ao analisando
uma presença atenta (com perguntas, implicações e análises) em que a
associação livre possa reverberar e ir tomando linhas de significados.
Concluímos que a atenção flutuante não é um método da
psicanálise. É, sim, um conjunto de ferramentas e técnicas que integram o
método da associação livre, como a interpretação dos sonhos e as técnicas da
maiêutica. Em contrapartida à fala livre que faz o analisando, a atenção
flutuante representa uma “escuta livre” que faz o psicanalista, por isso a
atenção flutuante rege a conduta e a ética do psicanalista no setting. E isso
integra o método psicanalítico maior da Associação Livre.
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5.2. O método socrático (maiêutica) em Psicanálise
Sabemos que a associação livre é o método psicanalítico por
excelência. Trata-se de oportunizar ao analisando o espaço seguro para falar
livremente sobre si, sua infância, suas experiências mais recentes, seus
valores, seus ideais, seus desejos e suas frustrações.
O método socrático pode ser um recurso adicional dentro do método
da livre associação. Isso porque é uma forma de ajudar a trazer avanços nesta
parte do "meio do tratamento". Não se opõe ao método da associação livre;
pode, sim, ser ferramenta adicional para favorecer a livre associação do
paciente.
Dá-se este nome a uma dinâmica conversacional inspirada no estilo
dialógico de perguntas e respostas atribuído a Sócrates, conforme relatos de
obras de Platão.
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Sócrates (470 – 399 a.C.) foi um filósofo ateniense do período clássico
da filosofia grega. Considerado um dos precursores da filosofia, inspirou tanto
Platão quanto Aristóteles.
Em pedagogia e filosofia, entende-se método socrático como sendo o
método indutivo de ensino-aprendizado e reflexão. Por este método, o
“mestre” realiza perguntas, muitas delas já de certa forma direcionadas, para
que o aprendiz responda (usando o raciocínio lógico) e chegue às suas
próprias conclusões. Supõe-se que Sócrates usava este método com seus
discípulos; algumas dessas lições chegariam até nós pela escrita de Platão,
que buscou reproduzir em partes os diálogos socráticos.
Do ponto de vista pedagógico, o método socrático (também chamado de
maiêutica socrática ou método dialógico) é interessante por:
● engajar o aprendiz no processo de ensino-aprendizado;
● ao concluir, o aprendiz psicologicamente considera o aprendizado
como sendo “seu”, potencializando a internalização desse
conhecimento.
Então, em Pedagogia, podemos dizer que um professor que seja mais
expositivo possivelmente não aplicará o método socrático. Já um professor que
elabora perguntas para os alunos responderem e a partir disso vá criando uma
elaboração indutiva de construção do conhecimento estará usando o método
socrático.
Em comparação com o método socrático, podemos dizer que existem
semelhanças e diferenças em relação ao método psicanalítico da associação
livre.
Semelhanças entre associação livre e método socrático
● a associação livre é também um método indutivo,
● a associação livre existem idas e vindas de perguntas e respostas
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● existe a elaboração psíquica-intelectual do “aprendiz” (no caso, o
analisando),
● há o suporte do “mestre” (no caso, o analista),
● é fundamental o interesse do aprendiz (analisando),
● valorizam-se as falas do analisando e a perlaboração(que é uma forma
de internalizar o autoconhecimento).
Diferenças entre associação livre e método socrático
● o analista precisa evitar direcionar o pensamento do analisando,
● não há um aprendizado final que seja igual para todos os analisandos,
● não deve haver uma ideia de sugestão moral de “certo” ou “errado” pelo
analista (apenas o analisando é medida de si),
● não há mestre/aprendiz no setting analítico (embora o analisando atribua
ao analista o lugar de sujeito suposto-saber),
● o setting terapêutico tem suas especificidades e seus objetivos
diferentes do simples ensino-aprendizado ou da “transmissão de
conceitos”.
Então, há várias semelhanças do método socrático com o método da
associação livre.
Apesar disso, é importante reforçar que o diálogo terapêutico possui
elementos diferentes a outras interações verbais (como o
ensino-aprendizado), pois existem especificidades quanto ao setting analítico,
à formação do par analítico e às técnicas próprias de manejo da resistência,
transferência e contratransferência.
O analisando não é “aprendiz” (embora estejamos todos em constante
aprendizado) e o analista não é “professor” ou “mestre”. Ainda que o
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analisando atribua este lugar de sujeito suposto-saber (de “mestre”), o analista
não deve usar desta atribuição para exercer este papel, nem para ser um
conselheiro.
Ressalte-se que, na maiêutica, muitas vezes o mestre está conduzindo o
aprendiz por um caminho falsamente livre. O mestre pode já saber as
respostas ao perguntar, sendo que suas perguntas ao aprendiz funcionariam
como se fossem perguntas retóricas. Já em psicanálise, essa condução
guiada pelo analista seria um exemplo desastroso de psicanálise selvagem e
de contratransferência imprópria.
Apesar dessas diferenças, consideramos que algumas aplicações do
método socrático (ou maiêutica) podem ser proveitosas na reflexão sobre o
fazer do método psicanalítico.
5.3. O recurso da interpretação dos sonhos
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Vimos que a psicanálise não usa mais técnicas de sugestão hipnótica,
nem usa de aconselhamentos. Costuma-se dizer que a psicanálise usa apenas
dois métodos:
● o método da associação livre pelo analisando e
● a interpretação dos sonhos.
Porém, a rigor, entendemos que a Psicanálise enquanto método
resume-se tão-somente à associação livre, porque a interpretação de
sonhos se dá na terapia e também mediada pela livre associação. Afinal, o
analisando irá falar na terapia sobre seus sonhos usando a livre associação,
como poderia falar sobre quaisquer assuntos.
Falaremos especificamente sobre a interpretação dos sonhos nos
módulos seguintes do nosso Curso de Formação. Por enquanto, nossa ideia de
trazer este tema é apontar que a interpretação dos sonhos não seria um
método diferente (muito menos discordante) do que é a Associação Livre.
Afinal, a interpretação dos sonhos (para as finalidades psicanalíticas)
aconteceria dentro da terapia, isto é, no setting analítico, entre analista e
analisando.
Não significa que o analisando conheça tudo isso de maneira consciente
(pois, como sabemos, há grande parte inconsciente). Mas, por múltiplas
aproximações e correlações sistemáticas, vai se chegando a um sistema
psíquico do analisando, com a ajuda da interpretação do psicanalista.
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5.4. O recurso da análise dos mecanismos de
acesso ao inconsciente
Vamos ampliar um pouco o que falamos no início do tópico anterior. Há
também quem entenda que a psicanálise usa de dois métodos:
● o método da associação livre pelo analisando e
● a interpretação dos sonhos, chistes, sintomas e atos falhos.
Sobre a interpretação dos sonhos, já falamos no tópico anterior. Agora,
precisamos pontuar que, a nosso ver, a interpretação de chistes, atos falhos e
sintomas não são métodos diferentes da associação livre.
Novamente, reforçamos que o método psicanalítico resume-se
tão-somente à associação livre. Afinal, a interpretação de sonhos, chistes,
sintomas e atos falhos se dá na terapia e também mediada pela livre
associação.
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A interpretação dos sonhos será aprofundada nos módulos futuros do
Curso. Já sobre os outros mecanismos de acesso ao inconsciente (chistes,
atos falhos e sintomas) serão abordados mais adiante neste Módulo. E teremos
ainda um módulo específico sobre psicopatologias, em que a temática do
sintoma será aprofundada.
Anteriormente neste Módulo, falamos sobre erro e dado em Psicanálise.
Os erros podem ser motivados por causas potencialmente inconscientes
Vamos retomar esta discussão, agora sob a perspectiva de entendermos como
o analista pode manejar esses erros como dados, com o objetivo de
quebrar resistências e propiciar novos conteúdos de análise.
Assim:
● os sonhos, tão valorizados pela interpretação dos sonhos em
psicanálise, “erram” a lógica lúcida, como ao modificar as relações de
causa-efeito, espacialidade e temporalidade;
● os chistes e os atos falhos (que abordaremos mais adiante neste
Módulo) são “erros” potencialmente reveladores do desejo etc.;
● os sintomas psicossomáticos são “erros” na forma como o corpo
converte a energia psíquica recalcada em uma manifestação
física/corporal;
● as interações entre nossas instâncias psíquicas (ego, id e superego)
não se baseiam em uma linguagem unívoca e num acordo de interesses
que tenham reais chances de resultarem num “acerto”.
Da mesma forma, especificamente quanto ao método psicanalítico:
● a associação livre, método psicanalítico por excelência, explora a ideia
de que as relações de verdade começam a ser estabelecidas quando
analista e analisando se esforçam (sem pressa) para depurar (e até
mesmo realçar) os aparentes erros e irrelevâncias que emergem da fala
do analisando no setting analítico;
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● a atenção flutuante, forma de proceder do analista no setting analítico,
pressupõe que o analista não se prenda a padrões rígidos de julgamento
ou de auto-certezas, nem limite assuntos fixos que o analisando poderá
trazer, mas oferecer ao analisando uma presença atenta (com
perguntas, implicações e análises) em que a associação livre possa
reverberar e ir tomando linhas de significados.
E estes são apenas alguns exemplos, poderíamos citar muitos outros de
como a Psicanálise valoriza o “erro” como um “dado”.
E ainda temos o Complexo de Édipo. Este complexo baseia-se na
história mítica de um erro: do filho (Édipo) que “sem querer” mata o pai (Laio)
para desposar a mãe (Jocasta). E Freud pinça este “erro” trágico como um
dado, que é compreendido como uma informação. E, depois, Freud ainda verte
esta informação em um conhecimento, ao alegorizar essa narrativa em um
Complexo útil à compreensão sobre o desenvolvimento humano.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: O que é Complexo de Édipo? Conceito e História
● Artigo: Livro Os Chistes e sua Relação com o Inconsciente
● Artigo: Atos falhos
● Artigo: A Interpretação dos Sonhos: análise do livro de Freud
● Artigo: Atenção flutuante
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https://www.psicanaliseclinica.com/conceito-complexo-de-edipo/
https://www.psicanaliseclinica.com/chistes/
https://www.psicanaliseclinica.com/atos-falhos/
https://www.psicanaliseclinica.com/a-interpretacao-dos-sonhos/
https://www.psicanaliseclinica.com/atencao-flutuante-significado/
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6. Uma síntesesobre os Procedimentos de
Análise
Os psicanalistas praticam técnicas específicas e que se valem,
acessoriamente, de vários outros conhecimentos para atuar sobre a dinâmica
humana definida como Psíquica e que se caracteriza por ser uma realidade
absoluta de natureza intangível e idiossincrática (individualizada).
Falamos do não tangível apenas para, de saída, reforçarmos a
dificuldade do nosso trabalho, pois, se os males a que nos contrapomos são
reais, tudo o mais que temos de considerar é impalpável, simbólico e de
complexo acesso, uma vez que lidamos com o emocional e um emocional, na
maioria das vezes, desconhecido por ser inconsciente.
Nós, psicanalistas, não usamos instrumentos físicos e, tratando de
pessoas, não as tocamos, não lhes ministramos qualquer droga, nem ao
menos lhe damos conselhos. Ainda assim, os procedimentos da psicanálise
são capazes de provocar melhoras significativas e, para alguns casos, a
cura para sintomas geradores de mal-estar.
Daí dizermos que o nosso ofício é uma arte, desafiadora, é verdade, e
que, por isso mesmo, exige de nós uma total dedicação, o máximo de horas de
estudo, supervisão, pesquisa e análise pessoal.
Segundo Freud,
“Os processos psíquicos são, em si mesmos, inconscientes e os processos
conscientes são atos isolados, frações da vida psíquica total. Os processos da
vida psíquica inconsciente, são dominados, na maior parte, pelas tendências
que podem ser qualificadas de sexuais, no sentido restrito ou lato do termo.
Este último pressuposto é, na realidade, a característica fundamental da
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Psicanálise, que consiste, essencialmente, na tentativa de explicar a vida
inteira do homem e não só aquela privativa ou individual, mas também a
pública e a social, recorrendo a uma única força que é o instinto sexual ou
libido, no sentido técnico deste termo.”
Temos que ter sempre presente que, mesmo sendo dedicadamente
estudiosos, jamais teremos atingido o grau desejável de conhecimento, pois
nunca nos firmaremos num diagnóstico a partir do estudo de peças
anatômicas, nem de filmes radiográficos, nem de exames laboratoriais, nem da
descoberta de novas drogas, nem de testes psicométricos, uma vez que o
nosso paciente é um ser humano ímpar, que veio de um ambiente familiar
ímpar e que se desenvolveu ajustando-se às condições ímpares, influenciadas
pela maneira ímpar como ele entendeu o que atuou sobre ele de forma
continuada ou então lhe aconteceu por uma fração de segundo, num abrir e
fechar de olhos.
Concluindo, como sugestão para o “meio da análise”, é o psicanalista
estar atento aos sonhos, chistes, atos falhos e sintomas trazidos pelo
analisando, bem como às suas dores e desejos (diretos ou latentes).
Essas sugestões aqui permitem evitar o esvaziamento da terapia:
● refletir sobre as resistências, transferências e contratransferências
que emergem das sessões de psicanálise;
● pedir para que o analisando conte seus sonhos, e buscar possíveis
interpretações reveladoras do padrão psíquico do analisando;
● abordar os chistes e atos falhos do analisando, inclusive atos falhos
cometidos pelo paciente durante as sessões; se um paciente troca uma
palavra, esquece-se de um nome ou acha graça de alguma coisa, são
assuntos potencialmente relevantes à sua vida psíquica, sobre os quais
o psicanalista poderá perguntar;
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● aprofundar-se sobre os autodiagnósticos trazidos pelo analisando
acerca de sua condição (como “tenho depressão”, perguntando-lhe “o
que para você é ter depressão?”) e refletir sobre as causas dos
sintomas relatados pelo analisando (como fobias, angústias,
ansiedades e compulsões);
● refletir sobre os comportamentos ou “repetições” de conduta do
analisando: aquilo que ele sempre diz fazer ou como ele sempre se diz
sentir (como os hábitos, manias ou compulsões);
● refletir sobre as frustrações e os desejos do analisando (lembrando
que desejos mais profundos podem ser reconhecidos e afirmados
quando a análise já está mais avançada);
● pensar seus relacionamentos com os outros (na infância, na
adolescência, hoje…);
● refletir sobre como o analisando define a si, define os outros e como
se relaciona com os Grandes Outros de sua vida atual ou pregressa;
● refletir sobre como o analisando define certos conceitos relevantes
para sua vida psíquica (como quando o psicanalista lhe pergunta: “o
que é depressão para você?”; “você entende que havia amor neste
acontecimento que você trouxe?”).
Tudo isso pode ser feito sem perder de vista a atenção flutuante e as
perguntas inspiradas no método socrático.
Por esvaziamento, entende-se a perda do desejo do analisando em
continuar em análise, o que pode ter muitas razões.
O silêncio não é necessariamente um sinal do esvaziamento; então, o
analista não deve se preocupar em preencher cada brecha mínima de silêncio.
Muitas vezes, o silêncio é um momento de interiorização e reflexão necessário
ao analisando, para elaborar conteúdos antes abordados em terapia, ou sobre
o que de relevante ele trará depois (em palavras) para a análise.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: Recordar, repetir, elaborar
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https://www.psicanaliseclinica.com/recordar-repetir-e-elaborar/
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7. Fim do Tratamento em Psicanálise e a
ideia de Cura
A ideia de cura em psicanálise pressupõe uma resolução da dor
psíquica do sujeito. Mas, será possível uma solução completa para todas as
dores psíquicas? Se partirmos das ideias de que somos sujeitos desejantes e
de que o inconsciente não pode ser totalmente acessado, sempre restará um
lugar não resolvido para as dores psíquicas.
Falar em cura em psicanálise, segundo Sigmund Freud e Jacques
Lacan, significa em certa medida falar em uma significativa melhora. Isto é,
reduzir determinados sintomas psíquicos que antes eram definidoras do sujeito
(como “eu sou muito depressivo”), em favor de um quadro de melhora em que
esse sintoma (no exemplo, “depressão”) deixe de resumir o próprio sujeito
analisando, da perspectiva desse sujeito.
Afinal, não há uma medida exata para saber se a pessoa está de fato
curada, por serem aspectos subjetivos. A autopercepção do sujeito-analisando
será fundamental.
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7.1. O que não é cura em psicanálise?
Antes de falar o que é, vamos começar falando o que não é.
A cura em psicanálise NÃO é:
● Inserir o sujeito em um esquema de normalidade ou normatividade que
seja alheio ao desejo do próprio sujeito.
● O sujeito ter domínio completo sobre si mesmo, algo impossível
exatamente pelas dimensões do inconsciente e do desejo.
● Um progresso linear (a terapia é um processo sujeito a idas e vindas).
● Uma panaceia (solução para todos os males).
● Um “ensino”, algo que se ensina a outra pessoa, nem mesmo um
analista pode ensinar a cura a um analisando.
● O analista desejar algo para o analisando, ou seja, não é dizer o que o
analisando deve desejar.
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Começamos pelas definições negativas: o que não é. Porém, sabemos
que, da perspectiva da filosofia, o conceito terá mais força se sua definição for
positiva: o que é.
Então, o que é cura em psicanálise?
Qual a definição de cura ou conceito de cura? Qual sua real
possibilidade?
Correntes psicanalíticas terão diferentes concepções sobre cura ou
melhora psíquica ou término do tratamento, como:
● Melanie Klein: uma “cura” seria elaborar sobre percepção/posição
depressiva.● Donald Winnicott: uma “cura” seria desenvolver o verdadeiro self.
● Escola da Psicologia do Ego: uma “cura” seria maior adaptabilidade do
ego às suas zonas não conflituosas.
Aprofundaremos estas três abordagens acima em outra oportunidade.
Por enquanto, vamos focar nas concepções de cura para Freud e para
Lacan.
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7.2. A cura psicanalítica para Freud
Para Sigmund Freud, o objetivo do tratamento é o que chamou de cura
prática, ou uma “melhora significativa”.
Esta cura ou melhora pode ser vista:
● por um aspecto qualitativo (mudança de estado) e
● por um aspecto quantitativo (redução do “quantum” de dor do sintoma).
Grosso modo, a psicanálise tem como objetivo tornar consciente o que
estava inconsciente, isso inclui ampliar a visão do sujeito sobre si mesmo e
sobre seu mal-estar.
Então, no processo analítico, o sintoma passa a ter uma dupla
dimensão:
● Parte consciente: possíveis causas do mal-estar vão se tornando
conhecidas; elaborar esse conhecimento a partir da personalidade do
sujeito é um dos caminhos para a melhora psíquica.
● Parte inconsciente: mesmo fazendo análise, muitos elementos
continuarão inconscientes. Afinal, é no inconsciente que está a maior
parte de nossa vida psíquica. Então, é de se supor que parte das causas
do sintoma continue não sabidas.
Mas, ainda que o sintoma não desapareça, a psicanálise ajudará o
sujeito a passar por um processo em que não se estigmatize nem se
incapacite como alguém definido pelo sintoma (reduzido ao sintoma). Isso
significa que, se um analisando chegou à clínica dizendo “sou depressivo”, um
sinal de melhora seria, ao final, ele não se definir mais assim.
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E isso, ainda que não seja uma cura em termos absolutos, será uma
melhora possível, uma cura prática ou uma cura relativa que será possível
alcançar e que vai melhorar a vida do sujeito.
Ainda para Freud, as mais importantes tarefas da psicanálise seria esta
ideia de melhora, que passaria principalmente por:
● Fortalecimento do ego: para que o ego consiga cumprir suas funções
de identidade, da ordem desejante nos conflitos entre id e superego e
das demandas da realidade externa.
● Recuperação das capacidades de amar (gozar) e realizar (trabalhar,
agir sobre o mundo).
7.3. A cura psicanalítica para Lacan
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Para Jacques Lacan, a demanda de cura vem da voz de um sofredor.
Nesse sentido, a voz do analisando é central para determinar se um tratamento
está caminhando para cura/melhora ou para piora.
O desejo é muitas vezes disforme. Uma maneira de entender o desejo
de alguém é quando esta pessoa consegue reduzir o seu desejo a uma
demanda. Por exemplo, “eu quero X”.
Cabe ao analista recolher essas demandas trazidas pelo analisando.
E, no processo clínico, elaborar essas demandas, com o objetivo que o
analisando encontre-se consigo.
Encontrar-se consigo seria, em resumo, encontrar-se com seu
desejo: reconhecer os desejos que lhe causem satisfação (ou menos tensão) e
afirmá-los.
Então, para Lacan, a cura em psicanálise é uma melhora que passa
também por um fortalecimento do ego, que pode ser expresso
principalmente por dois termos lacanianos:
● Travessia da fantasia: percurso sobre a significância e autodefinição do
próprio ser, com o sujeito sendo capaz de se afirmar como ser desejante
(“eu sou…”).
● Destituição subjetiva: no setting analítico, significa que o analisando
vai “destronar” (retirar do trono) o sujeito suposto-saber do analista;
este lugar em que, de início, o analisando colocou o analista para o bem
da análise e para a formação dos laços transferenciais.
De forma similar à destituição subjetiva, a cura ou melhora passará por
um movimento do analisando em destituir o equivalente ao sujeito
suposto-saber também de fora do setting (fora da terapia). Isso implica
deixar de reverenciar todos os outros Grandes Outros e o desejo dos outros,
colocando no lugar o desejo do próprio analisando.
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7.4. Análise terminável e interminável
Uma psicanálise pode ser interminável?
No caso específico da Psicanálise, embora costume ser uma terapia de
longo prazo, isso não significa necessariamente uma análise interminável.
Sabemos que há psicanalistas que seguem uma linha de psicanálise
breve, o que pode ser questionável e até correr o risco de uma “psicanálise
selvagem”. A psicanálise breve adota uma tese de ser possível um caminho
mais ágil para um encerramento do tratamento, focado em demandas iniciais
específicas.
Entendemos que a duração de uma psicanálise dependerá muito:
● das demandas trazidas pelo analisando e
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● da forma que ele entenda o sempre perigoso termo “progresso”.
Há analisandos que fazem análise há anos (ou mesmo décadas); em
grande medida, conseguiram resolver suas principais demandas, sentem-se
melhor, mas querem continuar fazendo análise enquanto viverem,
exatamente em razão da dimensão inesgotável que é a experiência humana.
Se certos analisandos entenderem que, apesar de sua melhora nos
aspectos mais urgentes de suas dores psíquicas, a psicanálise deverá seguir
por toda a vida, que assim o façam. Os analisandos que pensam assim
provavelmente terão uma percepção interessante sobre si e sobre a dinâmica
do método psicanalítico: novas demandas vão surgindo, o desenvolvimento
psíquico é contínuo, ninguém poderá supor estar pronto(a).
Quanto aos tipos de término de uma terapia psicanalítica, podemos
dizer que a análise pode ser:
● interrompida, quando o analisando abandona a análise, mesmo
sentindo que não alcançou a resolução sequer parcial das demandas
iniciais ou decorrentes da terapia. A interrupção pode ocorrer por
inúmeros motivos, muitas vezes ligados às resistências do analisando e
à falta de vínculo transferencial no setting analítico.
● concluída, isto é, encerrar a terapia por um caminho que se costuma
chamar de “alta”, quando o analista e o analisando convencionam que a
terapia cumpriu ao menos parte de seu propósito e que, também por
inúmeras razões, outras demandas parecem não surgir, ou o analisando
estabeleceu resistências rígidas demais para novas questões.
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7.5. Sobre o conceito de Alta
A visão de ser possível uma análise concluída é questionada por linhas
da psicanálise, que concebem que psicanalista não dá alta, só o analisado.
Porém, está ideia é um pouco reducionista, porque:
● o conceito de “alta” tem uma semântica médica; pode-se optar por não
usá-lo em psicanálise, mas usá-lo como sendo escolha do paciente,
parece-nos um desvio bastante significativo, sendo melhor falar em
interrupção, neste caso, sobretudo quando o analista (a outra parte do
par analítico) não corrobora este término;
● há técnicas (como a psicanálise breve), escolas e autores da psicanálise
que defendem a ideia de que seja possível chegar a uma situação de
“fechamento” (ainda quando prefiram não usar o termo “alta”);
● entender uma situação de fechamento por motivos de certo
esgotamento das demandas de cura do analisando em razão de sua
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melhora, ou do esgotamento do desejo do analisando com a terapia ou
até mesmo do esgotamento da capacidade do analista, não resulta em
considerar que o analisando esteja “pronto”, mas apenas considerar
que aquele par analítico cumpriu certo propósito, dadas certas
condições.Além disso, um fechamento pode significar que as demandas de cura
que definiam o analisando foram pelo menos parcialmente atendidas.
Se levarmos a sério a ideia de que é o analisando quem define sua
melhora, há que se considerar que o analisando também possa decidir por
interromper ou fechar um tratamento.
Não significa um fechamento definitivo, sobretudo porque este
analisando pode retomar sua análise no futuro, com novas demandas, no
mesmo par analítico ou em um novo par analítico.
As interrupções ou fechamentos (vindos do analisando, do analista ou
da convenção entre ambos) não significam necessariamente cura. Podem
significar:
● uma melhora do analisando, que pode considerar retomar a terapia no
futuro (com o mesmo ou com outro analista),
● uma incompatibilidade do analisando para com o método psicanalítico
da livre associação,
● uma dificuldade na construção de uma relação transferencial ou
contratransferencial adequada,
● um esgotamento da capacidade técnico-pessoal do analista para o
caso,
● entre outros fatores.
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Podemos entender que a cura em psicanálise é o analisando retomar a
capacidade de realizar tarefas?
Há que se ter cuidado em pensar a Psicanálise como uma resposta
prática a tarefas e tomadas de decisões, isso é mais do feitio de linhas
comportamentais (como terapia cognitivo-comportamental ou TCC), não de
linhas analíticas (como a psicanálise).
Esta divisão costuma trabalhar duas grandes linhas metodológicas
diferentes, a saber:
● uma linha mais comportamental: terapia focada em mudança de
hábito e comportamentos, como a TCC),
● outra linha mais analítica: terapia focada no entendimento sobre o ser,
como a psicanálise.
São percursos diferentes, ambos válidos, embora a psicanálise entenda
como mais efetivo o viés analítico.
Por sua própria natureza analítica e subjetiva, é tão mais ingênuo tentar
determinar parâmetros rígidos e universais para a ideia de cura em
psicanálise.
Indiretamente, o alisando poderá apresentar uma maior disposição para
realizar tarefas e mudar hábitos. Mas isso será consequência do
fortalecimento de seu ego e da compreensão dos desejos do próprio
analisando. Pois, a Psicanálise entende que a mera realização de tarefas
impostas pelos outros resulta em um superego rígido demais, causando dores
psíquicas a um sujeito que não aprendeu a dar vazão pelo menos parcial a
seus desejos.
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7.6. Encaminhamento de paciente a psiquiatra
Um psicanalista pode encaminhar seu paciente para um psiquiatra?
Antes de mais nada, é importante distinguir:
● psicanalista: é o analista formado em curso de formação em
psicanálise e que, depois de formado, segue obrigatoriamente
desenvolvendo-se, isto é, estudando a teoria, sendo supervisionado por
outro psicanalista e sendo analisando (paciente) de outro psicanalista.
● psiquiatra: é o médico com especialização em psiquiatria; pode ou não
atuar com psicanálise também. É o único profissional da área de saúde
mental que pode receitar medicamentos.
E o que dizer se o analisando disser, durante a terapia, que já está
sendo acompanhado por psiquiatra e que faz uso de medicamentos, como
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antidepressivos ou ansiolíticos? Resposta: que o psicanalista recomende que
o analisando continue com este acompanhamento com o psiquiatra.
O psicanalista deve reforçar que a terapia psicanalítica atuará em
complemento com os medicamentos. O psicanalista deve reforçar que apenas
o psiquiatra pode prescrever e suspender o uso de medicamentos. Claro que o
analisando pode trazer o debate sobre como se sente usando medicamentos.
Pode até dizer ao psicanalista que está tendente a parar de usar
medicamentos. Mas, é importante ressaltar que, a nosso ver:
● não deve o psicanalista dizer “então pare!”, pois não cabe ao
psicanalista suspender medicação, nem mesmo de forma indireta;
● o psicanalista poderá, sim, dizer: “você pode dizer ao seu
psiquiatra que deseja parar”.
E se o analisando perguntar em terapia a opinião do analista sobre o
analisando começar um acompanhamento com psiquiatra? Ou se o
psicanalista observar que esta colaboração do psiquiatra pode ser importante,
mas o analisando tem uma resistência ao uso dos medicamentos?
Nestes casos, é interessante conversar em terapia com o analisando.
Pode ser que o analisando tenha alguma resistência quanto à busca
também de um psiquiatra (que é quem avaliará a necessidade de
medicamentos). Não seria, de toda forma, um encaminhamento que o
psicanalista estaria fazendo; seria no máximo um apontamento para que o
analisando considere a respeito.
Em muitos casos, os medicamentos terão uma atuação mais rápida na
promoção de um bem-estar psíquico. E isso permitirá que a terapia
psicanalítica tenha mais tempo e tranquilidade para prosseguir com as
questões existenciais do paciente.
De toda forma, é importante o psicanalista reforçar ao analisando que
medicamentos não são panaceias. E que, no campo da qualidade de vida
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mental, o autoconhecimento que a terapia psicanalítica possibilita é o que trará
resultados a longo prazo.
7.7. Recusa ou interrupção do tratamento pelo
psicanalista
Um psicanalista pode recusar um paciente ou interromper um
tratamento?
Sim. O psicanalista pode recusar um analisando (no início ou no meio do
tratamento). Isso se dá especialmente em dois casos:
● se o analista entender que a terapia chegou a um ponto de uma
resistência inquebrável, ou
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● se o analista considerar que não tem os recursos técnicos
necessários para atender determinado paciente.
Essas avaliações e decisões podem ser feitas tanto no início do
tratamento (e o psicanalista recusar um paciente) quanto no decorrer de uma
análise.
Quanto ao aspecto da resistência: ela é parte do processo
terapêutico. Pode ser um sinal de que a terapia está se preparando para saltos
mais qualitativos, como pelo fortalecimento da transferência ou da quebra de
temas tabus.
Tanto analista quanto analisando devem ter cuidado para não
abandonarem o tratamento logo nas primeiras resistências. Quando as
resistências ficarem fortes demais, ainda assim, entendemos que será preciso
prosseguir por mais algumas sessões, até que se constate que a relação
terapêutica esteja completamente esgotada.
Pode acontecer também de o analista considerar não ter os recursos
técnicos para conduzir o tratamento com determinado paciente. Reconhecer
isso não é sinal de fraqueza. O contrário (isto é, não reconhecer) poderá ser
um gesto narcísico do analista. Para que o analista tenha elementos para gerar
melhores resultados ao analisando, bem como para reconhecer os casos de
recusa de tratamento, é preciso que o analista atue com qualidade e
responsabilidade. E, para isso, é fundamental o psicanalista:
● seguir estudando a teoria, por meio de leituras e novos cursos;
● ser supervisionado por outro psicanalista mais experiente, com
quem possa debater os casos que estiver atendendo; e
● ser analisando de outro psicanalista, isto é, fazer sua própria análise
pessoal.
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Estes três elementos (teoria, supervisão e análise) compõem o tripé
psicanalítico. Nenhum psicanalista pode se chamar assim se não estiver em
desenvolvimento permanente, neste tripé.
7.8. Os objetivos de um tratamento em psicanálise
Mas, em síntese, o que é cura para a psicanálise? Mesmo não havendo
uma ideia exata de cura, comopodemos saber se uma psicanálise atingiu seus
objetivos em relação a um determinado analisando?
Na psicanálise, as mudanças de hábitos são consequências nem
sempre diretamente visíveis. Alguns dos objetivos principais associados à
psicanálise são:
● o entendimento do “ser” (um autoconhecimento),
● a construção de sentidos sobre possíveis padrões inconscientes que
determinem o sujeito,
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● os significados atribuídos à história de vida, às pessoas, às coisas,
à cadeia de significantes etc.,
● o fortalecimento do ego e
● a identificação com o seu próprio desejo.
Avanços nestas perspectivas acima listadas serão vistos pelo
analisando como melhoras psíquicas. Mesmo quando, pela própria natureza
humana concebida pela psicanálise, não seja possível falar em um ser humano
“perfeito”, acabado e com todas as suas questões resolvidas.
Afinal, a própria hipótese psicanalítica da existência de um
inconsciente deveria demover tanto analista quanto analisando da ideia de
“total controle” e “total conhecimento de si”.
7.9. Reconhecer (ou constituir) seu próprio desejo
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A Psicanálise é uma teoria sobre as consequências do desejo em
nós. Isso significa que somos:
● os desejos que realizamos e
● os desejos que não realizamos.
O desejo é central no processo identitário de um sujeito. E, assim, o será
também como medida para o bem-estar do sujeito. Será, por isso, um fator
central trabalhado em terapia.
Afinal, a complexidade do desejo implica que o sujeito pode:
● não saber o que deseja,
● ter desejos ambivalentes ou
● desejar os desejos dos outros.
Uma citação atribuída ao grego Hipócrates: “é mais importante saber
que tipo de pessoa tem uma doença do que saber que tipo de doença
uma pessoa tem”. A psicanálise seguirá também esta ideia, no sentido de
identificar que um sintoma terá uma causa relacionada à constituição psíquica
e à personalidade do analisando. Ou seja, é mais importante conhecer a
pessoa do doente (os pensamentos, acontecimentos e hábitos que a
adoeceram) do que conhecer que doença a pessoa tem.
O desejo do analisando em saber mais sobre si o “habilita” a ser um
analisando em psicanálise, isto é, a buscar o tratamento psicanalítico. Esse
sujeito desconfia de que não entende tudo sobre o que lhe causa a dor. E
identifica que precisa de um olhar de fora.
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Se, pela perspectiva lacaniana, o sintoma é a realização substitutiva
do desejo (isto é, a forma de um desejo reprimido se manifestar), entender o
desejo atinge o sintoma, no sentido de superá-lo ou minimizá-lo.
O processo analítico deve propiciar uma autonomia para que o
analisando diga “sim”, “não” (e, às vezes, “sim/não”) em seus próprios termos,
não a partir do desejo do outro.
Afinal, o que significa “cura” para você?
Você pode se sentir frustrado ou desolado por ter descoberto que a ideia
de cura quando pensamos na psique humana não é tão objetiva assim. Esta
parte do nosso Curso teve como finalidade afastar o maniqueísmo entre “estar
doente” e “estar curado”.
Inclusive, Freud e a psicanálise nos ensinam que o patológico é também
parte da personalidade. E que os extremos “patológico” e “normal” são, na
verdade, separados por limites bem tênues e subjetivos. Por exemplo:
● a perversão é parte da sexualidade de todo ser humano, mas o excesso
pode acarretar dor ao sujeito e aos outros;
● os traços do narcisismo constituem o ego, mas o narcisismo
exacerbado prejudica o desenvolvimento psicossocial do sujeito;
● a sublimação é importante para o sujeito se reconhecer no que faz,
mas o exagero pode resultar num superego hiperrígido e nas
compulsões (como a do workaholic).
Normal e patológico não se diferenciam essencialmente pelo aspecto
qualitativo, mas principalmente pelo “quanto” e pela autopercepção do sujeito
sobre como aquilo lhe causa tensão.
Então, é importante o analista perguntar ao paciente que quer uma
resposta se está curado: “o que significa cura para você?“. As reflexões
sobre esta pergunta valem mais do que qualquer rótulo.
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Refazemos esta pergunta ao leitor: o que significa cura para você? Se
a resposta for:
● Propiciar uma significativa melhora ou mesmo uma autopercepção
do analisando de que superou uma dor psíquica: sim, a psicanálise
pode “curar”. Perceba que isso passará pelo analisando entender que tal
condição foi superada ou atenuada, não é o desejo ou o suposto-saber
do psicanalista que lhe dará um “carimbo” de cura.
● Propiciar total autocontrole ao paciente, para que ele não tenha
nenhuma tensão psíquica interna: não, a psicanálise não pode curar,
exatamente porque há a dimensão do inconsciente e há uma psique
viva, em que novas questões (e às vezes as mesmas questões) sempre
poderão surgir ou ressurgir.
Quando o analisando afirma que pessoas de sua família começaram a
dizer que ele “piorou” depois que começou a fazer terapia, isso pode ser
um bom sinal. Isso nos permite perguntar:
● A terapia psicanalítica “piorou” este analisando do ponto de vista de
quem?
● Será que este familiar estaria dizendo isso porque o analisando está
mais adequado ao próprio desejo e não ao desejo dos outros?
Para J. D. Nasio, a psicanálise não cura em definitivo. O sofrimento é
irredutível à vida e necessário a ela. Por haver as dimensões do inconsciente e
do desejo, sempre haverá uma incompletude potencialmente geradora de
dores psíquicas.
Para J. D. Nasio, a psicanálise leva o sujeito a amar-se como é. Isso
significa ser mais tolerante consigo e com seu entorno mais próximo. Isso
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significa reduzir a angústia do que lhe falta e do que ele não entende, e
valorizar o que elaborou acerca de sua própria ordem desejante.
"O que importa não é tanto curar um sintoma, mas sim dar uma nova vida ao
sujeito, uma nova direção, uma nova forma de relacionar-se com o
sofrimento." (J.-D. Nasio, "Os Olhos de Beatriz: Conversas sobre o olhar e o
despertar do sujeito", 2003, p. 66; grifo nosso).
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: O tripé psicanalítico
● Artigo: Diferenças psiquiatra, psicanalista e psicólogo
● Artigo: Conceitos de Lacan: 7 ideias fundamentais
● Artigo: Sublimação: significado em Psicanálise
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https://www.psicanaliseclinica.com/tripe-da-psicanalise/
https://www.psicanaliseclinica.com/qual-diferenca-entre-psicologo-psiquiatra-e-psicanalista/
https://www.psicanaliseclinica.com/conceitos-de-lacan/
https://www.psicanaliseclinica.com/sublimacao/
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● Artigo: Narcisismo: conceito e exemplos na Psicanálise
8. Mecanismos de acesso ao inconsciente
Anteriormente, falamos que as interpretações de sonhos, chistes, atos
falhos e sintomas são os quatro meios que Freud entendia úteis para revelar
padrões inconscientes do analisando.
A teoria psicanalítica desenvolvida por Freud sempre enfatizou a
importância das camadas mais obscuras da psique humana, que abrigam
impulsos e desejos primitivos que não são facilmente trazidos à consciência.
Na sua Primeira Tópica, Freud propôs que a mente possui uma instância
chamada inconsciente, na qual são armazenados:
● os conteúdos delicados que foram recalcados,
● e uma força motriz chamada id que impulsiona a psique em direção ao
prazer.
Visto que o inconsciente não tem uma linguagem acessível e uma
temporalidade para sefazer conhecer diretamente, à Psicanálise restaria
interpretar os sonhos, os chistes, os atos falhos e os sintomas, que são as
consequências conscientes de causas inconscientes.
Nosso objetivo, antes (neste Módulo), foi entender como isso pode ser
feito em terapia, como ferramentas integrantes do método psicanalítico.
Agora, vamos explicar melhor dois desses mecanismos potencialmente
reveladores do inconsciente: os chistes e os atos falhos. Lembrando que
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https://www.psicanaliseclinica.com/narcisismo-na-psicanalise/
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falaremos mais sobre sonhos e sobre sintomas (psicopatologias) em módulos
futuros do nosso Curso de Formação.
8.1. Chistes
Em sua obra "A Psicopatologia da Vida Cotidiana" (1901), Freud realizou
um estudo detalhado sobre os comportamentos humanos que, inicialmente,
poderiam ser interpretados como enganos ou distrações. Ele percebeu que
esses pequenos equívocos do cotidiano, na verdade, eram manifestações dos
desejos inconscientes que encontravam uma maneira de se expressar.
São “psicopatologias” porque se assemelham a sintomas. Mas, para
Freud, o patológico não é tão distinto do normal; esses extremos variam mais
em quantidade do que em qualidade nos sujeitos. Todos temos uma porção
de neurose, embora isso só seja percebido como um mal-estar para os
propriamente neuróticos. Para Freud, essas psicopatologias exploradas nos
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chistes e nos atos falhos revelam a presença do inconsciente, por isso são
também “cotidianas”, não apenas “patológicas”.
No livro “Os Chistes e sua relação com o inconsciente” (1905), Freud
escreve sobre o prazer existente no humor dos chistes:
“O chiste é, antes de tudo, uma brincadeira, um jogo, e, como tal, um prazer
em si mesmo. [...] Os chistes são, em geral, tendenciosos, e o prazer que
proporcionam tem uma finalidade; mas, como veremos, isso só ocorre porque,
no chiste tendencioso, os meios são mais artísticos e, por isso, permitem obter
uma maior soma de prazer.”
Mas, apesar do aspecto engraçado, os fatos inconscientes revelados
podem ser dos mais diversos e desagradáveis. Assim, o chiste seria uma
“permissão” que o aparelho psíquico concede para um elemento do
inconsciente, que tem a chance de vir à tona, à consciência. Mas vem à tona
na forma de humor; por isso, nem sempre o emissor do chiste perceberá como
isso pode ser revelador de outra coisa recalcada.
“A psicanálise nos ensina que o efeito cômico dos chistes tendenciosos
consiste em serem eles a expressão de pensamentos recalcados, que passam
à consciência sob a forma de chistes."
Em "Os Chistes e sua relação com o Inconsciente", Freud analisou
piadas, sarcasmo e outras formas de humor. Segundo ele, essas
manifestações também serviam como válvulas de escape para desejos
inconscientes ou memórias desagradáveis que foram recalcadas.
Freud examina conceitos cruciais para entender por que as piadas nos
fazem rir e o que nos leva a achar algo engraçado.
Freud examinou a técnica subjacente às piadas e concluiu que elas
compartilham a mesma função e origem dos sintomas psíquicos neuróticos,
sonhos e atos falhos. As piadas, especialmente as tendenciosas, serviriam
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como meios de liberar pensamentos reprimidos, ou seja, aqueles que
foram objeto de recalque.
Quando alguém ri ou gargalha em resposta ao humor, estaria, de certa
forma, satisfazendo parte de seus próprios desejos ou vivências. O “achar
graça” seria decorrência de reconhecer uma verdade inconsciente que veio
à tona. E, ao rir, é como se quiséssemos destituir publicamente (ou para nós
mesmos) aquela verdade.
Ou seja, é como se pensássemos que aquela “verdade” não é
exatamente verdade, o riso é uma tentativa de “empurrão”, uma segunda
tentativa de recalque. Mas, ao mesmo tempo, o riso é também uma aceitação,
porque rimos daquilo que já foi contado e que, de certa forma, emergiu para o
mundo da consciência.
No livro "Os Chistes e sua Relação com o Inconsciente" (1905), Freud
investiga a conexão entre as piadas e suas motivações subjacentes, buscando
compreender as razões pelas quais são contadas. Ele identificou seis técnicas
básicas usadas nos chistes:
● Condensação – combinação de duas palavras ou expressões para criar
ambiguidade;
● Deslocamento – mudança do significado de uma expressão no
discurso;
● Duplo sentido – expressão ou palavra com múltiplos significados;
● Uso do mesmo material – emprego de palavras para gerar um novo
sentido;
● Trocadilho ou chiste por semelhança – uma expressão faz referência
a outro sentido;
● Representação antinômica – afirmar algo e, em seguida, negá-lo.
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Freud destacou a escassez de estudos sobre o humor, tanto na
psicologia quanto na filosofia. Há outros autores que trabalharam o tema do
humor, como o linguista russo Mikhail Bakhtin e o filósofo francês Henri
Bergson. Ainda assim, a obra de Freud continua como uma das referências
sobre a teoria do humor, ao associar o humor com o interdito e o
inconsciente.
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8.2. Atos falhos
Em 1901, Freud publicou mais uma obra que viria a se tornar
mundialmente conhecida: A Psicopatologia da Vida Cotidiana. Após publicar
no ano anterior (1900), A Interpretação dos Sonhos, o criador da psicanálise
expandiu as suas teses sobre o inconsciente para englobar comportamentos
aparentemente “estranhos” que estão presentes no dia-a-dia não patológico.
Se até então ele havia defendido a existência do inconsciente, do desejo
e da repressão (ou recalque) nos sonhos e nos sintomas dos neuróticos, o seu
objetivo com a obra de 1901 foi mostrar como o inconsciente aparece em erros
e falhas cotidianas, em especial os chamados atos falhos.
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8.2.1. Definição de ato falho
Em “Psicopatologia da Vida Cotidiana” (1901), Sigmund Freud assim
definiu os atos falhos:
“Os atos falhos constituem uma exceção entre os processos psíquicos porque
são capazes de nos proporcionar, de modo quase regular, a capacidade de
inferir, a partir de seu resultado, o processo inconsciente que está na origem
deles."
Essa ideia de Freud sugere que, diferentemente de outros mecanismos
de acesso ao inconsciente (como os sonhos e os sintomas), os atos falhos
nos sugerem de maneira quase direta que existe algo além,
potencialmente no inconsciente. Isso não significa que sejam mais fáceis
de serem explicados, quanto às causas inconscientes que levaram à falha.
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Por exemplo, quando alguém troca a palavra “falho” pela palavra “fálico”,
seria simples questionar “tem alguma coisa aí para você ter feito essa troca”.
Seria, também, relativamente fácil supor uma dimensão do desejo relacionada
ao “falo” (pênis). Mas, ainda assim, as causas inconscientes dependeriam do
contexto e da história de vida de cada analisando. Dessa forma, a nosso ver, a
dificuldade de uma interpretação profunda dos atos falhos se impõe tanto
quanto a interpretação de sintomas, chistes ou sonhos.
Segundo a definição de LAPLANCHE & PONTALIS, o ato falho:
“É o ato em que o resultado explicitamente visado não é atingido, mas se vê
substituído por outro. Fala-se de atos falhos não para designar o conjunto das
falhas da palavra, da memória e da ação, mas para as ações que
habitualmente o sujeito consegue realizar bem, e cujo fracasso ele tende a
atribuir apenas à sua distraçãoou ao acaso. Freud demonstrou que os atos
falhos eram, assim como os sintomas, formações de compromisso* entre a
intenção consciente do sujeito e o recalcado.”
Observe que Freud dá ao erro um valor de dado. Isto é, quando vemos
o erro como um simples erro ou simples acaso, podemos simplesmente julgá-lo
como erro, mas não tiramos nenhum aprendizado dele, o que só acontece
quando atribuímos ao erro uma dignidade científica, isto é, encaramos-o como
um dado.
Em português, utilizamos o termo ato falho para designar:
● erros na linguagem (escrita, fala, leitura),
● erros de memória (esquecimentos) e
● erros no comportamento (tropeçar, cair, quebrar, etc).
Em inglês, estes erros ficaram conhecidos como Freudian Slips ou
parapraxis.
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Esses erros não seriam por acaso, mas sim sinais das formações de
compromisso (vínculo) entre o inconsciente e o consciente. É um tipo de “sem
querer” mas “querendo”: conscientemente, a pessoa julgaria não querer
cometer tal erro de linguagem, memória ou comportamento; mas,
inconscientemente, haveria uma explicação causal. 
Em alemão, a língua de certa forma traz uma unidade entre esses erros
através do prefixo ver-.
● Erros na fala (versprechen),
● Erros na escrita (verschreiben),
● Erros de leitura (verlesen),
● Erros de memória ou esquecimentos (vergessen),
● Erros no comportamento ou ações desastradas (vergreifen).
Freud escreve sobre o lapso de linguagem, que é um dos tipos de atos
falhos. Freud sugere que esse tipo de lapso revela que existem conteúdos
inconscientes. E esses conteúdos que geram os atos falhos são da mesma
natureza daqueles que geram os sintomas:
“Se nos tornamos capazes de explicar um erro tão trivial como um lapso de
língua pelo jogo de forças psíquicas, que o determinam segundo leis fixas,
também nos tornamos capazes de compreender as manifestações patológicas
mais graves e as perturbações mais obscuras da vida anímica.”
Nesse sentido, de acordo com LAPLANCHE & PONTALIS,
"... disso se deduz que, em outro plano, o chamado ato falho é um ato
bem-sucedido: o desejo inconsciente realiza-se nele, muitas vezes, de uma
forma bastante clara. A expressão “ato falho” traduz a palavra alemã
Fehlleistung, que para Freud engloba não apenas ações stricto sensu, mas
todo tipo de erros, de lapsos na palavra e no funcionamento psíquico. (...)
Note-se que antes de Freud o conjunto desses fenômenos marginais da vida
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cotidiana não tinha sido agrupado nem conotado por um mesmo conceito; foi a
sua teoria que fez surgir a noção". [grifo nosso]
Tais erros não são apenas erros, falhas sem significado. Se
investigarmos o porquê de acontecerem, veremos que – por um outro ponto de
vista – o erro é um acerto indireto. A famosa frase do pequeno Shakespeare
(Chespirito), criador do personagem Chaves, expressa muito bem: “Foi sem
querer, querendo”.
Um ato falho foi sem querer (conscientemente falando) mas também
foi querendo (inconscientemente).
8.2.2. Tipos de atos falhos
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No livro A Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), estudamos os três tipos
de atos falhos, portanto:
● 1) Atos falhos na linguagem (fala, escrita, leitura);
● 2) Atos falhos de esquecimento (falha na memória);
● 3) Atos falhos no comportamento (cair, quebrar, derrubar, tropeçar, etc),
enfim, perturbações do controle motor.
Para ficar claro, vamos exemplificar os três tipos, abaixo.
8.2.2.1. Atos falhos de linguagem
São os atos falhos mais conhecidos. Um exemplo seria quando as
pessoas chamam “ato fálico” (em vez do correto “ato falho”): é como se
inconscientemente elas soubessem a justificativa fálica/sexual para um
determinado comportamento.
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A respeito dos atos de linguagem, Freud escreveu em “Psicopatologia
da vida cotidiana” (1901):
”Os lapsos de língua são muito mais facilmente produzidos em conversas
íntimas e informais do que em falas públicas e solenes, nas quais o orador,
naturalmente, dedica maior atenção ao controle de sua expressão.”
De volta à frase “isso foi um ato fálico”, vemos que a pessoa trocou a
palavra “falho” por “fálico” (pênis). Um erro na fala que se, formos investigar,
poderemos encontrar um significado inconsciente para ela.
Cabem aqui duas críticas ao risco de generalizar tal entendimento,
provas contrárias à aplicação do conceito de ato falho na linguagem.
As pessoas podem não ter acesso (nem mesmo inconsciente) a esta
troca de palavras. Pode ser, mesmo, um mero acaso ou erro linguístico: uma
analogia é com um corretor ortográfico, que propõe trocas de palavras sem
uma motivação inconsciente.
Obviamente, dentro do contexto de terapia, e sem impor uma
interpretação unívoca, o analista pode buscar motivações inconscientes ao
fenômeno do ato falho.
Em uma apresentação na faculdade, no primeiro período, uma aluna
estava falando sobre Freud.
Ela disse: “Foi assim que o Fraude”…
Também teríamos que investigar porque a aluna considera o Freud uma
fraude, mas é obviamente um exemplo de um ato falho. Agora, há que se
pensar que, se a aluna não conhecia a pronúncia correta do nome de Freud,
será que ela nutriria por Freud alguma desavença inconsciente, uma recusa de
sua teoria como se essa recusa fosse um mecanismo de defesa?
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8.2.2.2. Atos falhos de esquecimento
No Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), Freud dá diversos
exemplos dos três tipos de atos falhos. Logo no início, ele menciona e analisa
um ato falho de esquecimento que aconteceu com ele mesmo.
Nesta obra, Freud revela o caráter não casuístico do esquecimento:
”O que se esqueceu não era sem importância; apenas o próprio sujeito a
considera como tal. Desejamos esquecer algo, portanto esquecemo-lo, e a
seguir consideramos aquilo como sem importância.”
Também, para Freud, o esquecimento que lhe interessa não é um traço
de caráter, como quando dizemos: “aquela pessoa é muito esquecida”. Freud
entende que pessoas com ótima memória também cometem lapsos de
esquecimento, e que isso seria uma mostra do inconsciente presente em todos:
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”As pessoas às quais se atribui a qualidade de desatentas e esquecidas
geralmente mostram, nas coisas que lhes interessam, uma memória e uma
atenção invejáveis."
Visitando a catedral de Orvieto, Freud se esquece do nome do pintor
dos afrescos. Ele procura buscar em sua memória, os nomes que aparecem
são Botticelli e Boltraffio, mas ele reconhece que ambos não são o nome
correto.
Uma outra pessoa lhe informa o nome: Signorelli, e Freud
imediatamente reconhece-o como o nome correto. Analisando o porquê do
esquecimento, ele vê que na conversa anterior falavam dos costumes na
Bósnia e Herzegovina. Os temas relacionados eram a morte e a sexualidade.
As palavras Herzegovina e Herr (“senhor” em alemão, “signor” em
italiano, Signorelli), que estavam na conversa anterior interferiram na cadeia
associativa e afetaram a sua memória.
Para Freud (“Psicopatologia…”):
”Os esquecimentos momentâneos de nomes próprios são bastante comuns e,
como regra, têm pouca importância; quando, porém, são acompanhados de
circunstâncias que os tornam notáveis, é mais provável que se devam a
motivos inconscientes."
Um exemplo mais simples consiste quando esquecemos de ligar para
alguém. O esquecimento é um erro, mas se formos investigar a fundo a causa
do esquecimento, veremos que seria como se “uma parte” de nós não quisesse
realmente ligar.O ato falho pode sugerir um componente inconsciente do
desejo.
Por isso, o ato falho é um erro, mas também um acerto (do ponto de
vista do desejo inconsciente).
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8.2.2.3. Atos falhos de comportamento
O último tipo de ato falho (vergreifen) é traduzido para o português como
equívocos na ação. Como mencionamos acima, são perturbações do controle
motor que, se analisados, nos conduzem também a uma formação de
compromisso entre o inconsciente e o consciente.
No capítulo VIII da Psicopatologia, Freud nos dá o seguinte exemplo:
“Em anos anteriores, quando eu visitava o paciente em domicílio com maior
frequência que hoje, ocorria-me muitas vezes, ante a porta em que eu deveria
bater ou tocar a campainha, tirar do bolso as chaves da minha própria casa e,
logo em seguida, tornar a guardá-las, quase envergonhado. Quando considero
os pacientes em cujas casas isso acontecia, sou forçado a supor que esse ato
falho – apanhar minha chave em vez de tocar a campainha – tinha o sentido de
uma homenagem à casa onde eu cometia esse erro. Era equivalente ao
pensamento: ‘Aqui me sinto em casa’, pois só ocorria em lugares onde eu me
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havia afeiçoado ao doente” (É óbvio que não toco a campainha da minha
própria casa).
Um exemplo de uma pessoa dita “desastrada” também por ser um
exemplo: ela pode não estar fazendo aquilo que inconscientemente ela gostaria
de fazer, então o inconsciente vai de encontro a obstáculos.
* * *
É importante notar que, apesar das diferenças entre os três tipos de atos
falhos, eles possuem uma unidade na linguagem, pois não só os atos falhos
linguísticos (fala, escrita, leitura) são erros deste tipo.
Quando nos esquecemos de um nome ao ter que apresentar uma
pessoa ou não lembramos de enviar um e-mail, estamos vivenciando um
conflito entre um traço mnêmico (um representante da pulsão ou um
significante) e, igualmente, os atos falhos comportamentais são ocasionados
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por uma formação de compromisso entre dois significantes, um do lado do
desejo e o outro do lado da repressão.
Quais as implicações dos atos falhos durante a análise? O analista deve
estar atento a sinais aparentemente casuais que o analisando lhe trouxer.
Hábitos ditos como errados ou desastrados. Ou mesmo erros que o analisando
realiza sem saber. E, daí, investigar (por meio de perguntas ao paciente, por
exemplo) se determinado erro poderia estar sugerindo algum conteúdo
inconsciente, recalcado, desejado.
INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: Atos falhos: significado e exemplos
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https://www.psicanaliseclinica.com/atos-falhos/
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9. Teoria Topográfica: Primeira Tópica
Freudiana
A teoria psicanalítica tem a particularidade de não considerar os atos
psíquicos da mesma maneira que o faz a psicologia clássica. A Psicanálise
estuda como elementos justapostos e associados.
A Psicanálise concebe a vida psíquica como evolução incessante de
forças elementares, antagônicas, compostas ou resultantes, com um conceito
dinâmico do psiquismo.
Fala-se de duas tópicas freudianas, sendo
● a primeira (topográfica) aquela em que a distinção principal é feita entre
inconsciente, pré-consciente e consciente, e
● a segunda (estrutural) a que distingue três instâncias: o id, o ego e
superego.
O termo “topográfico” significa uma teoria dos lugares, vem do grego
topos (singular) ou topoi (plural), que quer dizer “lugar” / “lugares”.
A hipótese freudiana de uma tópica psíquica tem origem em todo um
contexto científico de debates, avaliações, observações que vai de 1891 a
1900, quando Freud apresenta a primeira concepção tópica do aparelho
psíquico no capítulo VII de A Interpretação de Sonhos (1900).
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9.1. Conceituação da Teoria Topográfica
Em que consiste esta teoria?
Freud propôs dividir o aparelho psíquico. De acordo com esta Teoria,
devem existir três partes que fundamentam nosso sistema mental, cada uma
delas se caracterizando por sua relação com a consciência.
Vamos apresentar a caracterização, segundo Freud:
● Sistema Ics: Inconsciente.
● Sistema Pcs: Pré-Consciente.
● Sistema Cs: Consciente.
O primeiro sistema, chamado Inconsciente (Ics), abrange os elementos
psíquicos cuja acessibilidade à consciência é muito difícil ou impossível.
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Ou seja, não podemos trazer ao nível racional, “lúcido”, ao nível da nossa
concentração ativa.
O segundo sistema, denominado Pré-consciente (Pcs), compreende os
elementos mentais prontamente acessíveis à consciência. Como exemplo, as
coisas em que não estamos pensando agora, mas que podemos pensar assim
que quisermos. São fatos não conscientes ao momento atual, mas que não
foram recalcados ou “esquecidos”, e que poderemos levá-los à conciência
conforme haja uma mobilização mental para isso.
O terceiro sistema, chamado Consciente (Cs), inclui tudo que é
consciente em determinado momento. Entretanto, considera-se que todo
material que fora consciente, no momento seguinte passa para o
pré-consciente. Consideramos, também, que certas experiências, conscientes,
ao serem vencidas, em parte são gravadas no pré-consciente, enquanto outra
parte é recalcada no inconsciente.
Entre os sistemas Ics e Pcs, opera uma censura intersistêmica que
faculta ao Pcs excluir elementos indesejáveis do sistema Ics e recusar-lhes o
ingresso no sistema Cs.
A idéia central da Teoria Topográfica é de que o aparelho psíquico pode
ser dividido em sistemas baseando-se na relação entre os mesmos e a
consciência. Quando nos perguntamos sobre o nível de consciência que
temos de certos fatos ou atos, estamos inseridos nas questões freudianas da
Primeira Tópica.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: As Três Instâncias do Aparelho Psíquico
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https://www.psicanaliseclinica.com/instancias-psiquicas/
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9.1.1. Como representar a Teoria Topográfica?
Concebemos uma figura única constituída de camadas, sendo a mais
estreita atribuída ao sistema Cs. Um pouco mais abaixo aparece uma camada
igualmente estreita, que atribuímos ser o sistema Pcs. O centro da figura, a
parte maior em termos cúbicos, compreendemos ser o sistema Ics. Assim, o
inconsciente passa a ser o miolo e a parte mais importante do aparelho mental.
9.2. Instâncias psíquicas da teoria topográfica
São três as instâncias psíquicas da primeira tópica ou teoria topográfica:
inconsciente, pré-consciente e consciente.
9.2.1. O Consciente
O consciente é o sistema de percepção para as impressões que nos
absorvem no momento e deve ser considerado como um sistema sensorial
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situado no limite entre o interno (da pessoa) e o externo (do mundo), com
capacidade para perceber processos de uma ou outra procedência.
Freud, em sua teoria metapsicológica, usa a expressão sistema
percepção – consciência (Pc – Cs). [Nota: aqui Pc significa Percepção, não
confundir com Pcs: Pré-Consciente].
Do ponto de vista funcional, o sistema percepção – consciência
opõe-se ao sistema de traços mnésicos que são o inconsciente e
pré-consciente. Do ponto de vista econômico, caracteriza-se pelo fato de dispor
de umaenergia livremente móvel. Isto é, a energia consciente (mecanismo do
foco e da atenção) do indivíduo pode tratar de centenas ou milhares de
assuntos durante um único dia.
Para LAPLANCHE & PONTALIS,
“Segundo a teoria metapsicológica de Freud, a consciência seria função de um
sistema, o sistema percepção-consciência (Pc-Cs). Do ponto de vista tópico, o
sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico,
recebendo ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as
provenientes do interior, isto é, as sensações que se inscrevem na série
desprazer-prazer e as revivescências mnésicas [da memória]. Muitas vezes Freud liga
a função percepção-consciência ao sistema pré-consciente, então designado como
sistema pré-consciente-consciente (Pcs-Cs). (...)
A teoria psicanalítica se constitui recusando definir o campo do
psiquismo pela consciência, mas nem por isso considerou a consciência como
um fenômeno não essencial.
Freud criticou a psicologia behaviorista (comportamentalista)
exatamente por ela considerar exclusivamente a dimensão do consciente:
“Uma tendência extrema, como por exemplo a do behaviorismo, nascida na
América, pensa poder estabelecer uma psicologia que não tenha em conta
este fato fundamental!” (FREUD, Compêndio da Psicanálise, 1938).
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É muito importante que o psicanalista perceba este aspecto essencial da
Teoria e Prática Clínica da Psicanálise.
● Para muitas escolas da psicologia, das ciências humanas e das ciências
naturais, o ser humano é uma única coisa, uma coisa só, indivíduo,
indivisível, dono de suas vontades e responsável por todos os seus
atos. Para essas correntes teóricas, o sujeito seria unicamente
consciente.
● Para a Psicanálise, o sujeito é dividido, cindido. A ideia de haver um
inconsciente é a ideia discordar do sujeito unívoco das escolas que
mencionamos no parágrafo anterior. O sujeito não é senhor de si. É, ao
mesmo tempo, sujeito e sujeitado: por suas memórias, por sua trajetória,
pelas imposições sociais, por seus relacionamentos, por suas
experiências durante o desenvolvimento psicossexual, por seus desejos
etc. Mas, ainda assim, não é possível dizer que o sujeito é puramente
inconsciente, já que a Psicanálise considera também a dimensão
consciente.
Se você tem alguma dúvida de que o ser humano é um sujeito dividido,
propomos uma experiência empírica, pela qual você certamente já passou.
Você está estudando e, paralelamente, surge o desejo pelo prazer (de estar
descansando ou passeando ou fazendo qualquer outra atividade que lhe dê
mais prazer). O seu “eu” agora está dividido, correto? Mentalmente, você
formaliza uma frase imperativa: “Continue estudando!”. Ora, se você não fosse
dividido, precisaria lhe dar esta ordem? Claro que não, pois o seu desejo
coincidiria exatamente com o que você estaria fazendo. Mas, ao dar uma
ordem a si mesmo, na verdade você já se tornou dois: um “eu” racional/moral
que demanda o estudo, um “eu” pulsional que demanda o prazer.
A escolha teórica entre um sujeito indivíduo ou um sujeito dividido tem
implicações em vários campos: nas artes, no direito, nas relações sociais, no
mundo trabalho, no convívio interpessoal, nos processos de
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ensino-aprendizagem (educação), na política e, obviamente, no tipo de terapia
e suas técnicas.
Freud considera a consciência como uma função do sistema Pc-Cs e
um dado da experiência individual que se oferece à intuição imediata, e não
renova sua descrição.
Quando se fala de consciência, todos sabem, imediatamente, por
experiência, do que se trata.
Para que um ato psíquico seja consciente, é necessário que percorra
todos os níveis do sistema psíquico. O sonho, por exemplo, as representações
de objetos pertencentes ao inconsciente devem associar-se às representações
pré-conscientes correspondentes. Só depois de vencer a estrutura instalada
entre os dois campos, entram em contato com esse sistema e chegam ao
conhecimento do indivíduo.
O sujeito não reage a todo estímulo. Tem-se impressão de que o
sistema consciente conta com um dispositivo especial, capaz de protegê-lo de
certas excitações que poderiam perturbar seu equilíbrio, que Freud chamou de
detector ou amortecedor de estímulos. Se um estímulo externo é
excessivamente intenso para o psiquismo, ele é captado pelo aparelho protetor
amortecido e transmitido de forma econômica e gradual.
Em síntese, o aparelho protetor recebe o estímulo do exterior,
amortece-o e transmite-o gradualmente, evitando que o equilíbrio psíquico do
organismo se perturbe. O amortecedor de excitações é o que capacita o sujeito
regular sua vida psíquica, mediante uma distribuição econômica das cargas
energéticas, o que lhe permite conservar o repouso e manter em equilíbrio
adequado sua tensão energética.
Apesar de não ser a instância única a escolher o que será recalcado, a
consciência desempenha um papel importante na dinâmica:
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● do conflito: evitação consciente do desagradável, regulação mais
discriminadora do princípio de prazer; e
● do tratamento: função e limite da tomada de consciência.
Observe que, para Freud, há duas visões principais sobre o consciente,
e isso demandará a necessidade da formulação de uma teoria que inclua
também o consciente:
● o Cs é apenas parte de nossos processos psíquicos, sendo que
nossa vida mental é, de maioria, inconsciente;
● o Cs não é irrelevante, também não é irrelevante o fato de algo ser
consciente ou não, já que a consciência marca o indivíduo e é preciso
estudar porque algumas coisas são conscientes enquanto outras não.
A ideia de que o Cs é a porta de entrada da percepção e é a conexão
entre o universo interior e o universo exterior de um sujeito será mantida por
Freud no decorrer de toda a sua obra.
No fenômeno da consciência essa tese dá uma prioridade à percepção,
e principalmente à percepção do mundo exterior: “O acesso à consciência está
antes de mais nada ligado às percepções que os nossos órgãos sensoriais
recebem do mundo exterior”, escreveu Freud.
A questão se complexifica quando relacionamos a consciência com a
memória e os processos de representações. Aí, são mobilizados elementos
pré-conscientes e inconscientes que interferem a forma atual como a pessoa
vê e recebe uma percepção.
“Para que seja conferida uma qualidade [aos processos de pensamento], estes
são associados, no homem, às recordações verbais, cujos restos qualitativos
são suficientes para atrair a atenção da consciência; a partir daí um novo
investimento móvel se dirige para o pensamento.” (FREUD, Estudos sobre a
histeria)
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Ou seja, o “órgão” (como Freud chamava) do consciente percebe a
realidade externa, mas essa precisa ser simbolizada, não pode ser apenas
uma coisa. São as memórias (representadas por restos de palavras)
pré-existentes que absorvem a percepção ao sistema psíquico do sujeito.
Afirma Freud:
“A regra biológica da atenção enuncia-se assim para o ego: quando aparece
um indicador de realidade, o investimento de uma percepção que está
simultaneamente presente deve ser sobre-investido”.
Na segunda tópica, Freud vai relacionar o sistema Pc-Cs como sendo
uma tarefa do ego. O ego precisa investir ao máximo sua energia para novos
fatos relevantes do mundo, como um mecanismo de sobrevivência (“regra
biológica”).
Podemos entender como duas ações principais do ego:
1) perceber de forma vívida (como vimos no parágrafo anterior);
2) amortecer o excesso de informações, como vimos quando falamos
do sistema detector e amortecedor de estímulos.
No início da obra freudiana,era possível supor que o consciente fazia o
trabalho de “esquecer” o que seria insuportável lembrar, ou seja, que era o
consciente (e somente ele) quem promovia o recalcamento. Mas, depois,
houve uma “ênfase cada vez maior dada ao caráter pelo menos parcialmente
inconsciente das defesas e da resistência que se exprimem no tratamento”
(LAPLANCHE & PONTALIS).
Na teoria do tratamento, a problemática da tomada de consciência e da
sua eficácia permaneceu um tema primordial de reflexão na obra freudiana. Ou
seja, mesmo tendo modificado muitas de suas ideias, permaneceu em Freud a
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noção de que a terapia deve permitir ao analisando “tomar consciência” de uma
causa, e essa tomada de consciência promoveria a cura de seus sintomas.
Porém, a passagem à consciência não implica por si só uma cura, pode
não haver uma verdadeira integração do recalcado no sistema pré-consciente.
Ou seja, não basta o psicanalista “contar” ao analisando que o sintoma Y é
causado pelo fato X, que fora recalcado. É preciso que isso seja construído e
que faça sentido ao analisando, por isso é preciso “todo um trabalho que
dissipe as resistências que impedem a comunicação entre os sistemas
inconsciente e pré-consciente, e capaz de estabelecer uma ligação cada vez
mais estreita entre os traços mnésicos [memórias] inconscientes e a sua
verbalização” (L&P).
Este tempo para o analisando derrubar as resistências, incorporar o
“aprendizado” ao seu pré-consciente para, só depois, verbalizar isso como uma
tomada de consciência própria dele (analisando) é chamado por Freud de
perlaboração.
Sem este tempo, uma mera revelação interpretativa do analista ao
analisando poderá ser um ato de prepotência do analista e (ainda que
“verdadeira”) não será verdadeira ao analisando, porque não terá sido
amadurecida enquanto tal pelo analisando.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente
9.2.2. O Pré-Consciente
Termo utilizado por Freud no quadro da sua primeira tópica. Como
substantivo, designa um sistema do aparelho psíquico nitidamente distinto do
sistema inconsciente (Ics); como adjetivo, qualifica as operações e conteúdos
desse sistema pré-consciente (Pcs).
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Estes não estão presente no campo atual da consciência e, portanto,
são inconsciente no sentido “descritivo” do termo, mas distingue-se dos
conteúdos do sistema inconsciente na medida em que permanecem de direito
acessíveis à consciência (conhecimento e recordações não atualizados por
exemplo).
Ou seja, os conteúdos pré-conscientes estão disponíveis ao consciente,
só não estão conscientes agora. Um exemplo: você se esqueceu do nome de
uma pessoa, mas você tem certeza de que você sabe o nome, apenas não se
lembra dele agora. Quando o nome lhe é revelado por outra pessoa, você
sabia que o nome existia na sua mente.
O pré-consciente está localizado entre o consciente e o inconsciente,
e nele ficam as idéias, os pensamentos, experiências passadas e outras
impressões que podem, com algum grau de esforço, ser trazidos à consciência.
As impressões do mundo exterior também são radicadas no Pcs, em forma de
representações fonéticas e verbais.
É o sistema pré-consciente que leva as tendências e representações
objetivas inconscientes à consciência, só que nesta função, associa-se em
forma de representações verbais, adquiridos na realidade. Como o
pré-consciente se relaciona com a realidade externa e também com o
inconsciente, no decorrer do sonho, são usados fatos reais, uma idéia
concebida em estado de vigília, a fim de expressar um desejo inconsciente.
Enquanto o sistema inconsciente é regido pelo processo primário
(inconsciente), o pré-consciente (também com suas leis próprias) é regido pelo
processo secundário, que compreende:
● A elaboração de sucessão cronológica nas representações;
● A descoberta de uma relação lógica;
● O preenchimento de lacunas existentes entre idéias isoladas;
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● A introdução do fator causal, ou seja, relação de coexistência e
sucessão entre os fenômenos: relação causa-efeito.
Durante o sono, essa tarefa se cumpre no pré-consciente, tal como
acontece nos estados de vigília, em que a atividade se constitui o ato de
pensar.
Afirma NUMBERG:
“As idéias pré-conscientes aparecem enxertadas nos impulsos
inconscientes, e daí surge a necessidade de distinguir a essência da
enfermidade daquilo que é o resultado da elaboração secundária”.
Do ponto de vista metapsicológico, o sistema Pcs difere do Ics pelo fator
da censura:
● Enquanto o Ics é inacessível ao Cs, não está construído sobre ideias
lógicas do ponto de vista espacial e temporal, restando interditado ao Cs
em função do recalque;
● O Pcs é acessível ao Cs, é construído sob a lógico espácio-temporal.
● O Ics pode passar para o Pcs, porém após processos de transformação.
Enquanto na Primeira Tópica este conceito tem o status de um dos três
pilares da psique humana, na Segunda Tópica Freud falará de “pré-consciente”
apenas como adjetivo, para qualificar o que escapa à consciência atual mas
que não se tornou inconsciente no sentido estrito do termo.
Por ser um sistema psíquico, só é possível entender Pcs, Ics e Cs
quando os comparamos entre si. Nesse sentido, o Pré-Consciente tem uma
semelhança:
● do ponto de vista descritivo, com o Inconsciente: tanto o Pcs quanto o
Ics não estão presentes na nossa consciência atual;
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● do ponto de vista funcional, com o Consciente: tanto o Pcs quanto o Cs
representam memórias que podem ser postas em palavras e que não
foram recalcadas.
Uma outra forma bastante interessante de entender o Pcs é
identificarmos a diferença entre os dois tipos de censura:
● Primeira Censura ou Censura propriamente dita: barreira existente
entre o Ics e Pcs, é uma transição complexa, porque há transformações
que precisam ser feitas (o Ics não se revela tal como é, por ter suas leis
e linguagens próprias); baseia-se no princípio da transformação
(“deformando” os conteúdos que escapam do Ics);
● Segunda Censura: barreira existente entre o Pcs e Cs, é uma
transição mais simples, sem transformações significativas, já que há
coincidências entre a lógica Pcs e a lógica Cs; baseia-se no princípio da
seleção (isto é, o Cs precisa atender suas necessidades atuais e vai
buscar informações necessárias no Pcs).
Quando a Psicanálise falar apenas “censura”, é a primeira censura que
provavelmente estará sendo abordada (por isso é chamada de “censura
propriamente dita”). Apesar disso, Freud diferenciou esses dois tipos de
censura, exatamente para a melhor compreensão da dinâmica Ics - Pcs - Cs.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: Recalque, Repressão e Censura
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9.2.3. O Inconsciente
O conceito de o inconsciente é empregado no sentido daquilo que
nunca foi observado diretamente. Mas ao mesmo tempo é um conceito
empírico (da experiência), pelo fato de representar uma indiferença
imprescindível para explicar, de maneira lógicae sistemática, um grande
número de observações.
Será difícil, portanto, dar uma definição categórica de algo cuja a
natureza só se desconhece intimamente e cujo conhecimento só se pode
obter de forma indireta, mediante os dados que nos são fornecidos pelos
sonhos, os atos falhos, os chistes, a associação livre, os testes projetivos e a
história de sintomas neuróticos e psicóticos.
Praticamente se conhece o inconsciente em expressão do pouco que
chega (e chega distorcido) ao pré-consciente e ao consciente.
Os psicanalistas não são os únicos que admitem a existência de um
inconsciente: filósofos e os psicólogos admitem a existência de um
inconsciente, mas muitos o fazem de modo negativo: aquilo que não é
consciente e não é racionalizável, por isso ficando de fora do campo de saber
de inúmeras ciências.
Mas, para a Psicanálise, o inconsciente é psiquicamente positivo, ou
seja, é algo em relação ao qual a teoria pode afirma o que é, e não só o que
não é.
Nesse sentido, o Ics é um sistema em constante evolução e investido de
energia psíquica. Segundo o conceito de Freud, é simplista definir o
inconsciente somente como o contrário do consciente, como dizia Lipps.
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Também é errôneo definir o Ics como o degradé ou o latente, como afirmam os
filósofos da introspecção e da intuição. Pelo contrário, o Ics é o grau
preparatório do consciente e, ainda mais exatamente, é o verdadeiro
psiquismo, o psiquismo real (Freud), a maior parte da nossa vida psíquica é
pertinente à instância Ics.
Para LAPLANCHE & PONTALIS,
“Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, seria
incontestavelmente na palavra inconsciente, pois em psicanálise é a estrutura
psíquica que compreende os impulsos e sentimentos dos quais o indivíduo não
tem consciência; é a pedra do fecho de toda teoria da psicanálise, em alemão
é o não sabido.”
O inconsciente é desconhecido para o indivíduo, mas partes de seu
conteúdo podem, às vezes, passar à pré-consciência e daí virem manifestar no
consciente. A maior parte dos textos freudianos anteriores à Segunda tópica
associam o inconsciente àquilo que é recalcado (Ics = recalcado).
Ao modo de atuar no inconsciente dá-se o nome de processo primário
por ser a primeira forma de atuação, a mais primitiva do psiquismo. A teoria
psicanalítica considera os processos psíquicos essencialmente inconscientes e
que antes de chegarem a ser conscientes devem sofrer um complicado
processo, que tem suas leis determinantes, regras de gramática especial e
lógica primitiva que regem esse sistema, e que neste caso são as do processo
primário.
No processo primário devem-se considerar os elementos que atuam,
levando-se em conta que no aparelho psíquico o que chega a ser consciente
provém do inconsciente. Ou seja, existe uma dinâmica que, como tal, deve ser
regras que a regem.
No sentido 'tópico' ou funcional, isto é, como parte da estrutura psíquica
da Primeira Tópica, o conceito de inconsciente designa um dos sistemas
definidos por Freud no quadro desta 1a Tópica (modelo topográfico).
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É constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso
ao sistema pré-consciente e consciente pela ação do recalque. Não haveria
inconsciente sem recalque, como só faz sentido dizer que haja recalque se
houver um “lugar” (Ics) para onde recalcar.
Podemos resumir do seguinte modo as características essenciais do
Inconsciente como sistema (ou Ics):
a) os seus 'conteúdos' são 'representantes' das pulsões, ou seja,
estão em contato direto com energias psíquicas primitivas;
b) estes 'conteúdos' são regidos por mecanismos específicos do
processo primário, principalmente a condensação e o deslocamento
(abordaremos esta temática no capítulo seguinte, neste Módulo);
c) fortemente investidos pela energia pulsional, os conteúdos Ics
procuram retornar à consciência e à ação; mas só podem ter acesso ao
sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso, depois de terem sido
submetidos às deformações da censura. [formações de compromisso: quando
se forma o vínculo entre um conteúdo recalcado no Ics e um sintoma
perceptível no nível Pcs-Ics]
d) os conteúdos Ics são, mais especialmente, desejos da infância que
conhecem uma fixação no inconsciente.
No quadro da Segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado
sobretudo na sua forma adjetiva: efetivamente, inconsciente deixa de ser o que
é próprio de uma instância especial (como ocorre na 1a Tópica).
Na Segunda tópica, “inconsciente” qualifica o id (principalmente) e o ego
e o superego (em partes).
Mas convém notar, conforme propõem LAPLANCHE & PONTALIS:
● as características atribuídas ao sistema Ics na primeira tópica são de
um modo geral atribuídas ao id na segunda tópica;
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● o bloco relativo a Pcs e Cs terá uma parte consciente e uma parte
inconsciente na segunda tópica.
O inconsciente freudiano brotou da experiência do tratamento. Este
mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos
'conteúdos' só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas
resistências.
Freud revelou que a vida psíquica era “... cheia de pensamentos
eficientes embora inconscientes, e que era destes que emanavam os
sintomas”, o que o levou a supor a existência de 'grupos psíquicos separados'
(em três partes, como vimos) e, de modo mais geral, a admitir o inconsciente
como um 'lugar psíquico' particular que deve ser concebido não como uma
Segunda consciência, mas como um sistema que possui conteúdos,
mecanismos e, talvez, uma 'energia' específica.
Mas, quais serão esses conteúdos inconscientes, que tipo de
“informação” há lá?
No artigo O Inconsciente, Freud denomina-os 'representantes da
pulsão'. A pulsão está na fronteira entre corpo e mente, é o inconsciente que
traz a energia da pulsão de fato para dentro da psique ou da mente.
As representações inconscientes são dispostas em fantasias, histórias
imaginárias em que a pulsão se fixa e que podemos conceber como
verdadeiras encenações do desejo.
Outro aspecto classicamente reconhecido é o do inconsciente
relacionado àquilo que é infantil em nós, mas também aqui se impõe uma
reserva. Nem todas as experiências infantis estão destinadas ao Ics. Para
Freud, é pela ação do recalque infantil que se opera a primeira clivagem
(separação) entre o inconsciente e o sistema Pcs-Cs.
Sabe-se que o sonho foi para Freud o caminho por excelência da
descoberta do inconsciente. Os mecanismos do sonho (deslocamento,
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condensação, simbolismo) evidenciados em A Interpretação de Sonhos
(1900) são também constitutivos do processo primário e do Ics em geral e das
formações que revelam o Ics (atos falhos, chistes, lapsos, sintomas etc.).
Quando Freud procura definir o inconsciente como sistema, resume
assim as suas característica específicas:
● é um processo primário e que é móvel (não se fixa a um objeto claro
de desejo, característica de uma energia livre);
● tem ausência de negação ou de dúvida, por possuir um elevado de
grau de certeza;
● é indiferente perante a realidade (tem sua própria realidade), e
● tem sua regulação exclusivamente pelo princípio de desprazer-prazer,
não se baseia por preceitos morais (certo-errado).
As considerações tópicas (isto é, do Ics, Pcs e Cs cada qual em seu
lugar) não devem fazer-nos perder de vista o valor dinâmico do inconsciente
freudiano, que o seu autor tantas vezes sublinhou. Devemos nas distinções
tópicas o meio de explicar o conflito fenômenos do nosso aparelho psíquico,
não vermos essas partes de uma forma dogmática e estanque.
Sabe-seque, a partir de 1920, a teoria freudiana do aparelho psíquico
foi profundamente remodelada. Foram introduzidas novas distinções tópicas
que já não coincidiam com as do inconsciente, pré-consciente e consciente.
Com efeito, se é verdade que reencontramos na instância do id as principais
características do sistema Ics, também nas outras instâncias - ego e superego -
há uma parte inconsciente.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: O lado oculto da mente
● Artigo: Freud e o Inconsciente: um guia
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https://www.psicanaliseclinica.com/lado-oculto-mente/
https://www.psicanaliseclinica.com/freud-e-o-inconsciente/
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9.3. Processo primário e processo secundário
São os dois modos de funcionamento do aparelho psíquico, tais como
foram definidos por Freud em sua primeira tópica. Podemos distingui-los
radicalmente:
a) do ponto de vista tópico (ou seja, do ponto de vista das partes que
integram o modelo topográfico):
● o processo primário caracteriza o sistema inconsciente e
● o processo secundário caracteriza o sistema pré-consciente-consciente;
b) do ponto de vista econômico-dinâmico:
● no processo primário, a energia psíquica escoa-se livremente, passando
sem barreiras de uma representação para outra, segundo os
mecanismos de deslocamento e condensação; tende a reinvestir
plenamente as representações ligadas às vivências de satisfação
constitutivas do desejo (alucinação primitiva);
● no processo secundário, a energia começa por estar “ligada” antes de se
escoar de forma controlada; as representações são investidas de uma
maneira mais estável, a satisfação é adiada, permitindo assim
experiências mentais que põem à prova os diferentes caminhos
possíveis da satisfação.
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c) do ponto de vista do princípio que rege cada processo:
● o processo primário rege-se pelo princípio do prazer, buscando
satisfação imediata e evitar o desprazer;
● o processo secundário rege-se pelo princípio da realidade, buscando a
sobrevivência (que é uma forma de satisfação no médio e longo prazo).
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Associe assim:
Processos primários Processos secundários
Instância Ics Instâncias Pcs e Cs
Energia livre: passa de uma
representação a outra, por meio de
mecanismos de condensação e
deslocamento.
Energia ligada a representações mais
fixas (estáveis).
Busca a satisfação imediata, só se
guia pelo mecanismo do prazer e de
evitar o desprazer.
Permite adiar a satisfação com base
em critérios sociais/morais, buscando
caminhos de compensação da
satisfação (ex.: a segurança social é
compensação para o sujeito abrir
mão de fazer tudo o que deseja, pois,
se o fizesse, seria socialmente
punido).
Princípio do prazer Princípio da realidade
Os termos “primário” e “secundário” têm implicações temporais (o
primário vem antes), e mesmo genéticas (o primário está mais ligado ao
organismo, enquanto o secundário está ligado às experiências de vida).
Estas implicações acentuam-se em Freud no quadro da segunda tópica,
em que o ego é definido como resultado de uma diferenciação progressiva do
id. Ou seja, o ego é um desenvolvimento tardio do id. Como o id (relacionado
ao Ics) antecede o ego, os processos inconscientes são chamados de
primários.
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A questão, no entanto, está presente desde a primeira tópica. É assim
que os dois tipos de processos parecem corresponder não apenas a modos de
funcionamento ao nível das representações, mas a duas etapas na
diferenciação do aparelho neurônico (formação física da mente) e mesmo
na evolução do organismo.
O processo primário é assim designado por ser o primeiro dos dois
padrões de funcionamento mental no quadro da Teoria Topográfica.
Desde os primeiros momentos da vida, quando o sistema Ics
compreende praticamente a totalidade do aparelho psíquico, sua maneira de
funcionar é, também, a única maneira de funcionar da mente. Um pouco mais
tarde, começa a aparecer um meio de funcionamento diferente, a que se dá o
nome de processo secundário.
Para muitos intérpretes de Freud, os qualificativos primário e secundário,
exprimem, apenas, uma conotação temporal e biológica, pelo que não se deve
considerar o caráter de importância que pode sugerir a nomenclatura. Um dos
processos é chamado primário por ser eminentemente imediatista (buscar
satisfação imediata), enquanto o outro seria secundário por aceitar adiar sua
satisfação e admitir uma mediação social (é justamente no adulto que
prepondera o processo secundário, quando as regras sociais morais foram
introjetadas via superego).
A principal característica do processo primário é a tendência de
apresentar descargas totais e imediatas das energias mentais. Assim, essas
energias exercem pressão contínua no sentido de serem descarregadas. Isto
pode ser observado ante os desejos instintivos da primeira infância, que é
quando o processo primário predomina sobre a mente. Seu campo de ação se
desenrola dentro do Ics.
No inconsciente, devem ser considerados os seguintes mecanismos:
● deslocamento;
● condensação;
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● projeção e
● identificação.
É importante observar que a Psicanálise é uma ciência da interpretação.
O que mais se interpretam são fatores aparentemente “por acaso” como tendo,
na verdade, motivações reveladoras do inconsciente.
Nesse sentido,
● são causas: os fenômenos do Ics, que geram uma formação de
compromisso (um vínculo) com as consequências.
● são consequências: os sonhos, os sintomas (como fobias e angústias),
os atos falhos, os chistes, os lapsos;
O estudo da formação dos sintomas e a análise dos sonhos levam Freud
a reconhecer um tipo de funcionamento mental que apresenta os seus
mecanismos próprios, que é regido por certas leis e é muito diferente dos
processos de pensamento que se oferecem à observação psicológica
tradicional.
Em A interpretação dos sonhos (1900), Freud propõe os mecanismos
de formação dos sonhos. Esses mecanismos, na verdade, foram muito além:
serviram para explicar o funcionamento do Ics na formação do vínculo com
todas as consequências, pois explicavam mecanismos reveladores de como o
inconsciente trabalha.
Este modo de funcionamento, particularmente evidenciado pelo sonho,
caracteriza-se não por uma ausência de sentido, como afirmava a psicologia
clássica, mas por um incessante deslize de sentidos.
Vejamos quais são esses mecanismos que sustentam os sonhos e,
também, os processos primários e o próprio Ics. Aprofundaremos esta
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temática em Módulos seguintes do nosso Curso de Formação, em que
aprofundaremos os mecanismos dos sonhos.
a) O deslocamento
Consiste na mobilização e mudança de lugar de uma carga psíquica, um
deslocamento da importância de uma unidade para outra.
No deslocamento, a uma representação muitas vezes aparentemente
insignificante podem ser atribuídos todo o valor psíquico, o significado e a
intensidade originalmente atribuídos a outra.
No exemplo dos sonhos, para Freud um elemento significante do sonho
levava a um outro significado, como na poesia a palavra “casa” não reflete
apenas “casa” (pode significar “proteção”, por exemplo).
b) A condensação
Consiste na união de vários elementos separados que tem uma certa
afinidade.
Na condensação, para uma representação única podem confluir todos
os significados trazidospelas cadeias associativas que se cruzam ali.
No exemplo dos sonhos, “sonhar com caixão” (p.ex.) pode condensar
uma série de fobias, angústias, ambivalências (como um complexo de Édipo
mal resolvido que implique metaforicamente o desejo pela morte do pai).
c) A projeção
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Produz-se tipicamente na paranoia, em que o sujeito projeta seus
impulsos agressivos sobre outro ou outros, e depois sente-se perseguido e
acusado por esses mesmos impulsos que ele projetou.
d) A identificação
A identificação ou transferência da ênfase do objeto para o sujeito
constitui uma manifestação psíquica geral. Diz Numberg: “em todo momento
nos identificamos com alguém”.
Mediante esse processo, uma pessoa considera-se, em certa medida,
semelhante a outra, o menino copia o modo de agir do pai, e esse processo de
identificação parece ser a possibilidade de uma mútua compreensão humana.
Tanto a identificação como a projeção constituem modos de
deslocamento, daí se dizer que são dois os mecanismos principais que regem
o funcionamento do Ics: (1) o deslocamento (incluindo projeção e
identificação) e (2) a condensação.
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INDICAÇÃO DE LEITURA (OPCIONAL)
● Artigo: Formas de acessar o inconsciente
● Artigo: Freud e o Inconsciente: um guia
● Artigo: Princípio do Prazer e Princípio da Realidade
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https://www.psicanaliseclinica.com/como-acessar-o-inconsciente/
https://www.psicanaliseclinica.com/freud-e-o-inconsciente/
https://www.psicanaliseclinica.com/principio-do-prazer-realidade/
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9.4. Processos de funcionamento do
Inconsciente
Ainda relacionado ao processo primário do inconsciente, devemos
listar as seguintes características:
a) Ausência de cronologia
No inconsciente, a cronologia não existe, e tampouco no sonho. Na
vivência onírica, podem ocorrer casos em que o tempo e o espaço estejam
totalmente ausentes.
Carecendo de sentido cronológico, o inconsciente não reconhece
passado nem futuro, mas apenas um presente. Por exemplo, um evento
traumático da infância é guardado no Ics como se estivesse ocorrendo agora.
Todas as tendências são vividas pelo inconsciente no tempo atual,
inclusive quando se referem ao passado ou ao futuro. Outro exemplo: um
paciente de quarenta anos lutava inconscientemente contra a autoridade
paterna, apesar de seu pai ter falecido quando ele tinha apenas oito anos de
idade.
b) Ausência de conceito de contradição
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O princípio lógico da não-contradição não funciona no inconsciente, pois
nele não há lugar para negação, a negação só acontece pelo trabalho da
censura na fronteira dos três sistemas Ics e Pcs. Inconscientemente, podem
viver ódio e amor ao mesmo tempo, sem que um atrapalhe o outro, nem
mesmo parcialmente. Podem existir ao mesmo tempo um sim e um não...
c) Linguagem simbólica
Quando o inconsciente tem que dizer, expressa-se em forma arcaica,
utilizando símbolos (será abordado com maior detalhe no módulo sobre
sonhos).
Na Psicanálise, só é considerado símbolo se o simbolizado estiver
reprimido. Um significante (palavra, imagem etc.) revelado estaria no lugar de
um significante oculto, cabendo ao analista propor esse deslocamento.
d) Igualdade de valores para a realidade interna e
a externa, ou supremacia da primeira
Nos psicóticos e neuróticos, a realidade interna é tão ou mais valorizada
que a externa.
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O psicótico que vive a fantasia de ser outra pessoa tem nela algo que é
tanto ou mais válido do que sua personalidade real. Portanto, é perfeitamente
natural que atue como tal.
Também o psicótico que se crê milionário vive uma realidade interna
mais válida do que a externa; está convencido de que comprou todos os rios e
campos do país e, num gesto de generosidade, que nele é autêntico,
presenteia um amigo com duas fazendas e um outro com um rio inteiro. Isso
parece engraçado, mas, para o homem cuja ação psíquica está condicionada
pelo processo primário, é algo tão sério e tão concreto quanto seria para um
sujeito não psicótico que efetivamente vivencia tal situação.
e) Predomínio do princípio do prazer
O sujeito normal aprende a esperar e a acomodar-se a fim de conseguir
a satisfação dos instintos: por exemplo, é capaz de estudar por anos na
perspectiva de uma recompensa profissional futura.
Por outro lado, o neurótico e sobretudo o psicótico que se encontrem
dominados pelo processo primário não podem suportar o desprazer
momentâneo, pois estão presos a processos primários inconscientes que
demandam a satisfação imediata, sem preocupar-se com as conseqüências
que essa satisfação possa apresentar. Esse imperativo constitui o que se
denomina de predomínio do princípio do prazer.
Dentro do sistema inconsciente, é necessário levar em conta uma
porção, uma parte dele, que se encontra integrada por elementos de uma
natureza tal que, se chegassem a ser consciente, apresentariam notáveis
diferenças em relação aos demais. Esses elementos diferentes, que não têm
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livre acesso ao sistema consciente, constituem o que se denomina
inconsciente reprimido.
Portanto, no inconsciente podem ser consideradas, hipoteticamente,
● uma parte composta por elementos que se encontram temporariamente
nele e estão, por conseguinte, submetidos às suas leis, mas que podem
a qualquer momento tornar-se conscientes; e
● uma parte reprimida cujos elementos não podem aflorar ao consciente
mas chegam, mesmo assim, a produzir determinados efeitos por vias
indiretas, alcançando a consciência sob forma de sintomas, sonhos, atos
falhos, chistes ou sonhos.
Todo o reprimido tem que permanecer inconsciente mas não forma por
si só todo o conteúdo desse sistema. O conteúdo reprimido é, portanto, uma
parte do inconsciente (o inconsciente reprimido), segundo Freud.
De acordo com o sistema hipotético,
● o id em sua totalidade é inconsciente;
● parte do ego e parte do superego são inconscientes;
● a outra parte do ego e a outra parte do superego são conscientes.
Quando estudamos a Teoria Topográfica, chegamos à conclusão de que
a idéia central dominante é de que o aparelho psíquico pode ser dividido em
sistemas (Ics, Pcs e Cs), a partir da relação existente entre os mesmos e a
consciência.
Freud estabeleceu que a Teoria Topográfica reflete, em grande parte, a
sua experiência ao analisar neuróticos e que, em decorrência dessa
experiência, a sua teoria retrata a mente humana em geral, dividida em três
sistemas distintos, a partir da acessibilidade à consciência.
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Dito isto, podemos, agora, detalhar mais, assim:
● o somatório da energia mental investida num processo ou
representação, é chamada de sua catexização;
● o aspecto do funcionamento mental que se relaciona com a energia
mental empenhada em determinado fenômeno psíquico é chamado de
aspecto econômico (ou seja, quantitativo) desse fenômeno.
● tendo sido a energia mental definida como originária dos impulsos
instintivos e desencadeadora da atividade mental, podemos, então,
presumir que a gratificação instintiva, resulta em uma descarga de
energia mental e que qualquer tipo de atividade psíquica costuma
fazer-se acompanhar de transferência de seu fluxo de energia
mental.
INDICAÇÃODE LEITURA (OPCIONAL)
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● Artigo: Influências do inconsciente no comportamento
● Artigo: “7 Minutos Depois da Meia Noite”: análise do filme
9.5. A topografia de personalidade
Ainda estamos abordando a primeira tópica ou teoria topográfica de
Freud. A divisão topográfica da Personalidade compreende o Consciente, o
Pré-consciente e o Inconsciente, como vimos.
● Consciente: inclui as porções da vida mental a que o indivíduo tem
acesso de forma imediata, pelo emprego de sua atenção ou foco. Inclui,
também, grande parte (mas não a totalidade) do Ego.
● Pré-consciente: inclui as partes da vida mental que podem ser trazidas
ao consciente após um esforço de concentração da atenção e uma
“busca na memória”. Na segunda tópica, esta parte compreenderá,
principalmente, o Ego.
● Inconsciente: é desconhecido para o indivíduo, apesar de que partes
do seu conteúdo possam, às vezes, passar para a pré-consciência e daí
virem a se manifestar no consciente, de maneira “distorcida” (na forma
de sintomas, elementos do sonho etc.). Na segunda tópica, o
inconsciente englobará todo o id e parte do ego e do superego.
Veremos, a seguir, a segunda tópica ou teoria estrutural, que não
descarta a teoria topográfica (acima), apenas representa uma nova forma com
que Freud passou a abordar o sistema psíquico humano.
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https://www.psicanaliseclinica.com/7-minutos-depois-da-meia-noite/
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Resumindo a Teoria Topográfica (1ª Tópica):
Inconsciente Pré-consciente Consciente
Processos primários Processos secundários Processos secundários
Representação de coisa Representação de
palavra e de coisa
Representação de
palavra e de coisa
Funcionamento
atemporal, ambivalente
e composto só de
afirmações
Fronteira entre Ics e Cs Linguagem racional,
temporal e espacial
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10. Teoria Estrutural: a segunda tópica
freudiana
Freud a ela se refere nos anos de 1923, 1926, 1932 e 1940.
Encontramos referências espalhadas em vários textos, porém sem uma
estruturação sistemática. A sistematização coube aos estudiosos de Freud.
Para comparar a 1ª e a 2ª tópicas, vamos retomar um quadro trabalhado
em módulos anteriores de nosso Curso.
Associe:
Modelo Instâncias
Primeira Tópica Topográfico Ics, Pcs e Cs
Segunda Tópica Estrutural Ego, Id e Superego
10.1. Em que consiste a Teoria Estrutural?
A Teoria Estrutural (ou Segunda Tópica) divide o aparelho psíquico em
ego, id e superego.
As três partes podem ser pensadas nesses blocos:
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● Um chamada de Id – acha-se diretamente relacionada com os impulsos
instintivos, ao passo que
● O outro – denominada Ego – é mais coerente e mais organizada. Ela
regula ou opõe-se aos impulsos, exercendo função mediadora entre
estes e as exigências do mundo externo.
● Na verdade, a segunda parte – o Ego – é já constituído pela ação do
mundo externo sobre as idiossincrasias da pessoa em desenvolvimento.
Desse modo, parece melhor colocar a terceira parte desta Teoria, a vir
ser chamada de Superego, como o mediador, permitindo que o Ego
seja desenvolvido de um modo socialmente possível.
O que embasa a organização de cada Tópica?
● Na primeira tópica, Freud dividiu as instâncias de acordo com a relação
com o grau de acesso à consciência.
● Na segunda tópica, a divisão proposta corresponde ao que é possível
observar-se do funcionamento da mente em situações de conflito em
torno de um impulso instintivo.
Explicando melhor a questão do conflito, na segunda tópica.
● De um lado deste conflito, encontra-se o desejo instintivo com as
lembranças e fantasias a ele associadas, localizadas no id.
● Do outro lado deste conflito, estão as forças anti-instintivas da mente,
tanto morais (superego) como racionais/defensivas (ego).
A Teoria Estrutural cria uma segunda divisão dentro do próprio Ego,
separado do resto do Ego, aquelas funções que podem ser chamadas de
morais. A estas dá-se o nome de Superego. Esta divisão corresponde aos
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conflitos auto-punitivos, isto é, aos conflitos com o id que precisam ser
evitados, para assim evitar uma punição externa (social).
A Teoria Estrutural, portanto, divide a mente em três grupos de funções,
denominada o Id, o Ego e o Superego.
A divisão faz-se de tal maneira que os principais tipos de conflitos
mentais com os quais estamos familiarizados possam ser descritos como
ocorrendo entre:
● O Id de um lado e o Ego/Superego do outro lado.
● Às vezes, o conflito pode ser também entre o Superego e o Ego.
Entendemos, contudo, que o Superego tem natureza de mediador de
conflitos. No que estamos apresentando, cada grupo de funções é comumente
chamado de estrutura mental, de onde vem o nome de Teoria Estrutural.
Passamos a apresentar a caracterização desta Teoria Estrutural.
10.2. Instâncias psíquicas da teoria
estrutural
A teoria estrutural ou segunda tópica freudiana divide o aparelhos
psíquico em id, ego e superego.
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10.2.1. O Id
De acordo com LAPLANCHE & PONTALIS, o id é:
“Uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria do
aparelho psíquico. O id constitui o pólo pulsional da personalidade. Os seus
conteúdos, expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado
hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos.
Do ponto de vista econômico, o id é, para Freud, o reservatório inicial da
energia psíquica; do ponto de vista dinâmico, entra em conflito com o ego e o
superego que, do ponto de vista genético, são as suas diferenciações.”
O id é formado pelos representantes mentais dos impulsos instintivos.
Representa a grande fonte de energia mental para o aparelho psíquico,
considerado em seu todo.
Ou seja, o id (em traduções no português também chamado de “isso”)
responde pela nossa motivação para agir. Imagine uma situação em que uma
pessoa é extremamente motivada no trabalho. Muitos aspectos poderiam ser
discutidos, mas, vamos nos prender ao aspecto da energia mental. Essa
pessoa pode estar se empenhando de forma consciente. Mas, para Freud,
ainda assim, a energia dessa consciência tem sua origem na energia do id.
A energia do id buscaria sua satisfação imediata. Mas, uma vez
refreada, essa energia transfere-se ao ego. O ego, por sua vez, sabe que não
pode realizar o prazer a qualquer custo, inclusive porque o superego torna
presente a ameaça da punição.
Assim, a energia precisa se realizar de alguma forma, e isso ocorre,
neste exemplo, na forma de uma sublimação: uma energia para o trabalho, que
é uma ação considerada legítima aos olhos da sociedade (“olhos” que o
superego incorpora no aparelho psíquico do indivíduo).
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Os desejos do Id exigem gratificação, e assim fazendo, impelem as
funções do Ego à ação. O essencial é saber que o impulso e a energia do Ego
provêm do Id (o que reforça que não são instâncias isoladas).
O termo id foi introduzido com a remodelação a que Freud sujeitou a
sua tópica nos anos de 1920-23. Podemos considerar aproximadamente (mas
não exatamente) equivalentes:
● o lugar ocupado pelo id na segunda tópica e
● o lugar do sistema inconsciente (Ics) na primeira; com algumas
diferenças, porém, que podemos especificar assim:
Se excetuarmos certos conteúdos ou esquemas adquiridos
geneticamente (biologicamente),o inconsciente da primeira tópica coincidirá
com o recalcado. Ou seja, o id é parte pulsão (surgida desde o nascimento),
parte conteúdos vividos (sobretudo na infância) e que foram recalcados.
Em O ego e o id (cap. I), pelo contrário, Freud destaca o fato de que a
instância recalcante — o ego — e as suas operações defensivas são
igualmente, na sua maior parte, inconscientes. Ou seja, o ego precisa ter parte
inconsciente para comunicar-se com a instância recalcada (id), que é
inconsciente.
Daí resulta que o id passa a abranger a partir de então os mesmos
conteúdos anteriormente abrangidos pelo Ics, mas já não o conjunto do
psiquismo inconsciente inteiro, já que o Cs e o Pcs também possuem partes
inconscientes.
Por isso, os mecanismos de defesa não atacam (na nova teoria) o
inconsciente, mas sim o polo pulsional da personalidade (o id).
É neste sentido que o id é concebido como “o grande reservatório” da
libido e, mais geralmente, da energia pulsional. A energia do ego advém
também do id, porque o id é reservatório da energia pulsional de todo o
aparelho psíquico.
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De acordo com esta Teoria, também chamada de “Dualidade dos
Instintos” (Freud, 1920), supõe-se que a energia do Id seja de dois tipos:
● energia agressiva, decorrente do instinto agressivo, e
● a libido, proveniente do instinto erótico.
Terá o id um modo de organização, uma estrutura interna específica? O
próprio Freud afirmou que o id era “um caos”: “Ele se enche de uma energia
proveniente das pulsões, mas não tem organização, não promove qualquer
vontade geral...” (FREUD).
As características do id só se definiriam, de forma negativa, isto é,
afirmando o que ele não é, por oposição ao modo de organização do ego (que
pode ser melhor conhecido).
Na verdade, convém ressaltar que Freud retoma, a propósito do id, a
maior parte das propriedades que definiam, na primeira tópica, o sistema Ics:
● processo primário
● ausência de negação ou de dúvida
● realidade própria
● regulação pulsional
● ambivalência.
A ambivalência que rege o id é agora representada pela convivência de
duas pulsões no id: pulsão de vida e pulsão de morte.
A ausência de organização do id é, pois, apenas relativa. O id não tem
as relações lógicas evidentes do ego, mas também possuiria um mecanismo
(embora mais primitivo), que se caracteriza antes de mais nada pelo fato de
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que “nela subsistem, lado a lado, moções [pulsionais] contraditórias, sem se
suprimirem uma à outra ou se subtraírem uma da outra” (FREUD).
É a ausência de sujeito coerente o que melhor caracteriza, como
enfatizou Daniel Lagache, a organização do id, e que é expressa pelo pronome
neutro escolhido por Freud para designá-lo, como sendo algo próximo ao
desconhecido, inalcançável.
Finalmente, é a diferença das perspectivas genéticas em que se
inscrevem que melhor permite compreender a passagem do inconsciente da
primeira tópica para o id da segunda tópica.
O inconsciente ia buscar a sua origem no recalcamento, que, sob o seu
duplo aspecto histórico e mítico, introduzia no psiquismo a cisão radical entre
os sistemas Ics e Pcs-Cs.
Com a segunda tópica, este momento da separação entre as instâncias
perde a sua característica fundamental. A gênese das diferentes instâncias é
antes concebida como uma diferenciação progressiva, uma emergência dos
diferentes sistemas.
Daí a preocupação de Freud em insistir na continuidade, na gênese que
leva da necessidade biológica ao id e, deste, tanto ao ego como ao superego.
É neste sentido que a nova concepção freudiana do aparelho psíquico se
presta mais facilmente do que a primeira a uma interpretação “biologizante” ou
“naturalizante”.
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10.2.2. O Ego
O ego é, falando em sentido figurado, uma camada diferenciada que se
desenvolveu a partir do id. Para aqueles que compreendem a estrutura
psíquica como um contínuo, o ego é a parte que nasce do id e se especializa
ainda na infância, para que o sujeito possa lidar com o mundo externo.
O ego não está separado do id de forma nítida; na sua parte inferior, [o ego]
mistura-se com ele [id]. Mas o recalcado mistura-se igualmente com o id, do
qual é apenas uma parte. O recalcado só se separa do ego de forma clara
pelas resistências de recalcamento, e pode comunicar-se com ele pelo id. (...)
[O ego é] a parte do id que foi modificada sob a influência direta do mundo
exterior, por intermédio do sistema percepção-consciência.” (FREUD)
O ego é a instância que Freud, na sua segunda teoria do aparelho
psíquico (segunda tópica), distingue do id e do superego.
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Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência:
● tanto para com as reivindicações do id,
● como para com os imperativos do superego e exigências da realidade.
Embora se situe como mediador, encarregado dos interesses da
totalidade da pessoa, a autonomia do ego é apenas relativa.
Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no
conflito neurótico, o pólo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série
de mecanismos de defesa, estes motivados pela percepção de um afeto
desagradável (sinal de angústia), que precisa ser evitado, escondido.
O ego, então, empurra a presença deste afeto desagradável para o id,
que é um lugar que não vem à tona do consciente, permitindo ao ego “seguir
em frente” com a vida prática, apesar dos sintomas que a manutenção deste
recalcamento no id irá causar.
Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de ligação
entre os processos psíquicos (isto é, o ego “cuida” de si mesmo e faz a
mediação entre as demandas sociais do superego e as demandas pulsionais
do id).
Em comparação à primeira tópica, na segunda o ego é mais vasto do
que o sistema pré-consciente/consciente, na medida em que as suas
operações defensivas são em grande parte inconscientes. Ou seja, apesar do
ego ser responsável por boa parte do que a 1ª tópica atribuía ao par Pcs-Cs,
ego (na 2ª tópica) é mais amplo que isso, porque, além da dimensão do
consciente, também lida com os imperativos morais (superego) e com os
mecanismos de defesa (em boa parte, inconsciente) que conduzem o “lixo”
consciente para o id.
De um ponto de vista histórico, o conceito tópico do ego é o resultado de
uma noção constantemente presente em Freud desde as origens do seu
pensamento.
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O papel determinado pelo Ego na vida psíquica desenvolve-se
gradativamente. A princípio, o ego é representado por um grupo de funções
sensoriais e motoras que atuam como reservas obedientes do id e, assim
dizendo, como suas representantes junto ao mundo externo. Parece fora de
dúvida que numerosos fatores acham-se envolvidos na evolução do ego para
uma organização coerente das funções mentais.
Um desses fatores é o amadurecimento do sistema nervoso.
Igualmente indispensável ao desenvolvimento normal do ego são o que
chamamos de boas relações objetais primitivas. Queremos referir-nos aqui a
um conjunto de experiências com pessoas de seu meio ambiente capaz de
oferecer ao indivíduo, enquanto bebê, gratificação e frustração em doses
adequadas ou favoráveis (Spitz, 1945 e Kris, 1950).
Um passo especialmente significativo no desenvolvimento do Ego é a
aquisição da linguagem, que segundo Freud, é um processo elaborado pelo
ego que resulta em incalculável facilitação do pensamento.
Não confundir o ego com narcisismo (ego narcísico ou ego
narcisista). O ego é parte essencial de autoproteção, de desenvolvimento
psicossocial, de aprendizadoe de autoidentificação (“saber quem sou”). Para
isso, o ego transforma a energia pulsional do id para usá-la como energia
motriz para todas ações humanas (como o trabalho, a arte, a religiosidade, o
estudo, o lazer, o afeto amoroso, a amizade, a participação política etc.). Já o
narcisismo é uma condição “patológica” do ego, quando esta pulsão libidinal do
ego volta-se excessivamente para o próprio ego, isto é, o sujeito volta sua
energia basicamente em favor de si mesmo (o sujeito que ama coincide com o
sujeito amado), o que o coloca em confronto com o mundo e numa condição de
distorção da realidade.
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10.2.3. O Superego
Da mesma forma que o ego, o superego não constitui uma instância
francamente autônoma do id; em grande parte inconsciente, o superego
“mergulha no id” (nas palavras de Freud).
Pode ser definido como grupo de funções psíquicas ligado às aspirações
ideais [ideal: aquilo que “deveria ser”], aos padrões de exigências e às
proibições morais. Podemos acrescentar que constituem o Superego todo o
processo de educação e controle da sociedade, exercido de modo sistemático
e assistemático.
O Complexo de Édipo é uma metáfora da formação do Superego: o
filho deseja a mãe e rivaliza com o pai; mas, como não pode vencer o pai,
acaba se sujeitando e buscando aprendizado e autodesenvolvimento fora desta
relação. Mas, antes, para de fato poder “seguir em frente”, deverá aceitar a
hegemonia do pai.
Como regra, tanto na psicanálise quanto no senso comum, temos a
figura do pai como aquela ligada à moral (certo ou errado) e à sanção pelo
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descumprimento desta moral, enquanto à mãe atribui-se mais um papel da
permissão e da acolhida.
Encontramos o rival edipiano (o pai) como a fonte principal das
identificações que formam o núcleo do superego. A mesma voz “autoritária” do
pai vai ser, depois, percebida pela criança em outros contextos sociais, nas
figuras: do professor, da autoridade religiosa (como um padre ou um pastor), da
propaganda (nossos ideais de consumo e de estética), da pátria (suas regras e
leis), enfim, de outras fontes de padrões de conduta moral, de normas para
funcionamentos de grupos sociais, entre outros.
Freud imaginou o superego como sendo uma parte especializada do
Ego. Assim como o Ego se desenvolve do Id, o Superego seria uma
especialização do Ego, isto é, uma parte do Ego destinada a reger a
internalização das condutas, dos padrões ideais e das punições. O sentimento
de culpa é um exemplo de regras que o superego interiorizou no aparelho
psíquico.
No livro “O mal-estar da civilização” (também traduzido como “O
mal-estar da cultura”), Freud dirá que, após sobreviver ao Complexo de Édipo,
o sujeito vê que precisa aceitar adiar a satisfação imediata do desejo (id) e
admitir as regras externas, para usufruir dos benefícios menos explosivos
porém mais perenes (permanentes) da ajuda mútua que (ao menos
teoricamente) a vida em sociedade lhe oferece.
Normalmente, atribui-se a psicopatas a característica de não terem um
superego interiorizado e, em função disso, não terem regras morais rígidas
tampouco empatia (que também é uma afeição socialmente aprendida). Assim,
esses sujeitos dão satisfação imediata às suas pulsões de libido e de
agressividade instintiva em relação a outras pessoas. Como o superego não
internalizou as regras morais, só resta a punição social exterior para lhes ser
aplicada. Tal punição é exterior em relação a esses psicopatas, mas será
internalizada por outros sujeitos (servindo de “exemplo”), pois a punição reforça
em outras pessoas a necessidade de ter um superego bem formado.
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Assim, constitui-se para Freud a noção de “civilização” (sinônimo de
“cultura”), em oposição à barbárie (que é um contexto em que prevalece os
instintos do id dos indivíduos mais fortes). Pela instância do superego, Freud
faz uma ponte entre a dimensão do indivíduo e a dimensão sociológica,
firmando a Psicanálise como
(a) método terapêutico,
(b) teoria sobre o sujeito e
(c) forma de interpretar a cultura e as relações sócio-históricas (uma
teoria social).
A atividade do Superego pode manifestar-se de várias maneiras. Assim,
pode reger as atividades do Ego – em particular as atividades anti-instintivas
(isto é, de adiamento do prazer) – de acordo com os seus padrões morais. O
Superego funciona, também, de maneira a dar origem, dentro do Ego, a um
sentimento de culpa, de remorso, ou a um desejo de penitenciar-se ou de fazer
uma reparação.
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10.3. O funcionamento das instâncias
Veremos a seguir o funcionamento do id, ego e superego.
10.3.1. O funcionamento do Id
O id constitui o pólo pulsional da personalidade. Os conteúdos,
expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e
inatos (nascidos com o sujeito), e por outro, recalcados e adquiridos (resultado
das experiências da vida). Do ponto de vista econômico, o id é, para Freud, o
reservatório inicial da energia psíquica.
A denominação id foi introduzida na terminologia psicanalítica por
George Groddeck, que por sua vez a tomou de Nietzsche, sendo legitimada por
Freud em seu livro “O ego e o id”, ao lhe conferir um determinado conteúdo
conceitual.
O id está integrado pela totalidade dos impulsos instintivos. Tem
conexão íntima com o biológico, de onde extrai as energias distintivas que, por
intermédio do id, adquirem sua exteriorização psíquica.
As tendências do id coexistem de forma independente e não são regidas
por nenhuma organização unitária. Tudo o que se desenvolve no id está
submetido ao processo primário, por isso é regido pelo princípio do prazer e
é, em suma, o ser primitivo sem freios.
Isso nos leva à questão do instinto, o qual é considerado um excitante
interno contínuo que produz, quando é respondido de forma adequada, um
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gozo específico. Os instintos fazem parte do id, que está totalmente submerso
no inconsciente, são regidos pelas leis desse sistema.
Todo instinto tende a chegar a um fim – estado de prazer, sendo o
exemplo mais típico o do orgasmo genital. Os instintos têm características que
lhe são próprias e distintivas: fonte de origem, impulso, objeto e fim. Quando
este estado de prazer lhe é vedado, sua energia passa à instância do ego, para
ser elaborada na forma de sintoma ou outra forma de ação.
Para Freud, são características do id (em muito semelhantes ao que
Freud propôs ao Ics, na 1ª tópica):
1. O id é o responsável pelo processo primário. Diante da
manifestação do desejo, forma, no plano do imaginário, objeto que permitirá
sua satisfação.
Um exemplo ilustrativo é o sonho, onde os desejos vão tentando uma
satisfação alucinatória ao nível das imagens geradas. Um desejo corresponde
a uma carência que, ao ser satisfeita, gerará prazer.
2. O id funciona pelo princípio do prazer. Busca a satisfação imediata
das necessidades. Não questiona qualquer aspecto da adaptação do desejo à
realidade física, social ou moral. As interdições virão do ego ou do superego,
jamais do id. O id sempre manterá o modelo de querer, e de querer a qualquer
preço.
3. No id, inexiste o princípio da não-contradição, que é o princípio
racional e lógico por excelência. Como não é dimensionado pela realidade,
podem estar presentes desejos ou fantasias mutuamente excludentes do ponto
de vida lógico, como o de desejar uma pessoa e, ao mesmo tempo, desejar
sua morte. Não fosse a “civilização” promovida pelo ego e superego, haveria a
“barbárie” provocadapelo id.
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Voltemos aos sonhos, que são a melhor maneira de exemplificarmos os
processos do id. Neles podemos estar mortos e vivos ao mesmo tempo.
Podemos entrar no fogo, e o fogo ser frio. Podemos nos ver em dois lugares ao
mesmo tempo. Na medida em que o princípio da não-contradição inexiste,
todas as coisas são possíveis ao nível do id.
4. O id é atemporal. A única dimensão da vivência é o presente. Não há
passado ou futuro. Existe a elaboração de uma única dimensão, vivida como
presente. Reviver (recordar) é o mesmo que viver nos sonhos, a recapitulação
de um acidente é vivida como o próprio acidente.
Nos sonhos, um projeto de realização futura ou os eventos passados
são vividos como realização presente: exemplo é quando o sujeito sonha com
filhos e netos que ainda não nasceram, ou quando sonha com antepassados já
falecidos há anos. Nos próprios devaneios que temos, ou seja, quando
sonhamos acordados, transformamos em realizações presentes os desejos
com perspectivas realizações futuras.
Fantasiamos também em relação aos desejos socialmente produzidos,
como por meio da propaganda. Quando o sujeito compra um bilhete de loteria
faz planos para a utilização do dinheiro, “vivenciando” a ilusão de real daquele
sonho (pelo menos no mundo mental e por uma fração pequena de tempo).
5. O id não é verbal. Funciona pela produção de imagens e, para alguns
psicanalistas, por frações de palavras, mas sem formar um discurso coerente.
Temos utilizado os sonhos para exemplificar o Id. Mas quando nos recordamos
de um sonho, já efetuamos uma elaboração secundária sobre ele, ou seja, já o
reduzimos ao domínio da linguagem. Em sua forma original, os sonhos são
basicamente plásticos. As imagens são criadas, fragmentadas, deslocadas,
combinadas, de forma a se adequarem à satisfação do desejo. O enredo do
sonho é o que nos é acessível, mas os mecanismos que geraram o sonho
permanecem inalcançáveis.
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6. O id funciona basicamente pelos processos de condensação e
deslocamento, que são os processos básicos do inconscientes.
Na condensação, agrupamos, dentro de uma imagem, características
pertencentes a vários processos inconscientes, como fragmentos empilhados
uns sobre os outros.
No deslocamento, as características de uma imagem são transferidas
para outra, com a qual o sujeito estabelece relações como se fosse a primeira.
A diferenciação é enquanto modelo, porque dentro do funcionamento
real os processos de condensação e deslocamento são superpostos,
simultâneos.
7. Finalmente, o id é uma instância estruturalmente inconsciente, está
todo imerso no inconsciente. O ego e o superego também têm parte
inconsciente, porém essas instâncias têm uma outra parte consciente, que o id
não tem. Isto é, todos os processos descritos sobre o id são estruturados sem
percepção ou participação do consciente.
Os desejos oriundos do id podem ser percebidos pela consciência
(podem alcançar o ego), quando não sofrem repressão. Por exemplo, o sujeito
pode perceber que parte de sua angústia advém de reprimir um determinado
desejo sexual. Às vezes, o desejo toma uma forma compulsiva de realização:
um exemplo seria um sujeito com um desejo sexual reprimido que “realiza” o
desejo de forma deslocada, por meio da compulsão (por comida, por bebida,
por trabalho ou por hábitos ilógicos de TOC, por exemplo).
Veremos a seguir que as outras instâncias, o Ego e o Superego, são em
parte consciente e inconsciente.
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Associe assim (demais colunas serão preenchidas mais abaixo, nesta apostila):
Características do id:
Processo primário
Princípio do prazer
Não segue a lógica
Atemporal
Não é verbal
Processos de
condensação e
deslocamento
Nível inconsciente
10.3.2. O funcionamento do Ego
De um ponto de vista histórico, o conceito tópico do ego é o resultado de
noção constantemente presente em Freud desde as origens do seu
pensamento, mas que se tornou mais evidente no contexto da segunda tópica.
Para Freud, o ego nada mais é do que uma parte do id modificada
pelo impacto ou interação das pulsões internas e dos estímulos externos.
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Durante as primeiras etapas da Psicanálise, identificava-se todo o ego
com o consciente. Mas posições posteriores do próprio Freud colocaram essa
instância como tendo partes que no pré-consciente e até mesmo no
inconsciente.
O principal papel do ego, portanto, é coordenar funções e impulsos
internos, e fazer com que os mesmos possam expressar-se no mundo exterior
sem conflitos.
Uma força do ego – que foi tomada do id – opõe-se aos impulsos
instintivos que tentam expressar-se. O ego dispõe de uma organização e é
capaz de dirigir todas as tendências do id para uma finalidade determinada.
O ego representa eminentemente, no conflito neurótico, o pólo
defensivo da personalidade. Isto é, usa de mecanismos de defesa para
refrear o id e para reprimir afetos desagradáveis, chamados de sinais de
angústia.
Freud não teve a preocupação de delimitar pedagogicamente as
características do Ego. De seus vários trabalhos, podemos enumerar as
seguintes características como constituintes do Ego:
1. O ego dá o juízo de realidade ou senso de realidade, funcionando
pelo processo secundário. Vimos que o id dá o nível do desejo, o nível do
querer, independentemente das possibilidades reais de o desejo ser satisfeito
ou não. Já o ego partirá do desejo da imagem formada pelo processo primário,
para tentar construir na realidade caminhos que possibilitem a satisfação do
desejo (ou uma consumação real do desejo ou, se não for possível, o ego
buscará realizar o desejo da forma permitida, por meio de trabalho, arte, lazer,
sintomas etc.).
2. Num esquema mais simples, o processo seria assim:
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Diante da manifestação do desejo, duas proibições podem opor-se: (1)
as proibições morais (oriundas do superego) e as (2) interdições da realidade
objetiva (não ser possível ou factível a realização do desejo). Por exemplo, é
um sonho humano voar. Quantas vezes, nos nossos sonhos magicamente
alçamos voo sem que tenhamos asas. O desejo não conhece proibições. É
necessário que o Ego, instância de realidade, nos estabeleça limites, ou
possibilita-nos a aquisição de instrumentos de vôo. Se estivermos apenas no
nível do desejo, faríamos de tudo para realizar tal desejo, mas o ego (e sua
dimensão moral: o superego) surgem para mostrar que determinado ato não é
permitido ou não é factível por outras razões lógicas. Daí, o ego vai buscar uma
outra forma de dar vazão à energia que lhe chegou a partir do desejo não
realizado.
Cabe exatamente ao Ego efetuar a conciliação entre os desejos e
proibições internas e os desejos e proibições da realidade objetiva, de
forma a possibilitar a atuação conciliatória mais produtiva para o sujeito, dentro
dos cenários possíveis.
3. O ego é o segmento mais organizado e atual da personalidade.
Mais “atual” no sentido de estar presente, de se confundir com o que sabemos
sobre nós. Vimos que o id é uma matriz instintiva, é uma estrutura arcaica,
filogenética. O superego contém proibições que também são oriundas da
evolução, por exemplo, os tabus contra o incesto, o parricídio (morte ao pai), o
matricídio (morte à mãe), o filicídio (morte ao filho). Os valores morais a serem
internalizados são o produto dos valores morais dos diversos grupos sociais ao
qual o sujeito pertence (família, escola, igreja, mídia e outros grupos que o
sujeito escolha ou não pertencer), portanto, sãovalores também anteriores a
ele.
Cabe ao Ego organizar uma síntese atual, tornando o sujeito único e
original (ou melhor, dando-lhe esta ilusão de “exclusividade”) e permitindo-lhe
uma adaptação ativa ao mundo presente em que vive.
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4. O ego domina a capacidade da síntese. Aqui englobam todas as
funções lógicas do funcionamento mental, que para a Psicanálise são atributos
do Ego. A memória e o desenvolvimento do pensamento lógico e operatório
(isto é, a habilidade técnica) estão aqui contidos. Resta lembrar que o
conhecimento epistemológico da construção do real é obra de Piaget. Para a
Psicanálise, a organização destas funções interessa especialmente ao nível
individual, quando as perturbações afetivas comprometem seu funcionamento.
5. O ego detém o domínio da motilidade (capacidade do indivíduo se
mover). O domínio do esquema corporal instrumental (o domínio das praxias)
é uma função do Ego. A nossa atuação corporal é o nosso instrumento prático
de realização do processo secundário. E é exatamente por estar o domínio
da motilidade situado no Ego, que quando o ego se vê enfraquecido por
distúrbios afetivos a atuação corporal fica prejudicada, rígida, estereotipada,
perturbada em suas relações práxicas. Exemplos de transtorno desta função é
quando há movimentos aparentemente involuntários, como ocorre na histeria
ou na síndrome da perna inquieta ou na paralisia corporal temporária após um
forte abalo emocional.
6. O ego organiza a simbolização. O processo primário do id é plástico,
não forma discursos complexos e coerentes. Já o processo secundário, ao qual
o ego está associado, é responsável por organizar a linguagem, organizar o
domínio sobre a realidade física e psíquica, formar gêneros e discursos que
permitem as ideias serem elaboradas e comunicadas, além do fato de que
esses discursos formam a própria subjetividade das pessoas.
7. O ego é uma sede da angústia, isto é, quando alguém relata que tem
uma angústia, é no ego que este sintoma se manifesta, ainda que, na origem,
tal fato tenha surgido no id. Como instância adaptativa, o Ego é o responsável
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pela detecção dos perigos reais e psicológicos que ameacem a integridade do
indivíduo. De acordo com a origem do perigo, classificamos a angústia em:
a) Angústia real – normalmente denominada “medo”. É o sinal que mobiliza
o indivíduo diante da perspectiva de uma agressão real. Tem inclusive
uma dimensão biológica bem definida. Diante do perigo, uma descarga
de adrenalina na corrente sanguínea mobiliza uma vasodilatação
muscular e uma vasoconstrição periférica e visceral, propiciando ao
organismo condições para lutar ou fugir.
b) Angústia neurótica. É o temor existente no ego de que o id, ou seja, os
desejos, prevaleçam sobre os dados da realidade. Na prática isto
acontece numa espécie de sentimento de que estamos enlouquecendo,
ou de que não resistiremos ao impulso de matar alguém ou de aceitarmos
uma dimensão reprimida de nossa sexualidade ou de fazer quaisquer
atos em que estejamos fora do controle.
c) Angústia moral. É um sentimento acusatório no qual sentimos que
erramos, que somos maus, e nada mais poderá ser feito a não ser expiar
a culpa. Este sentimento provém da atuação de um superego rigoroso
que, ao perceber os desejos que condena, passa a punir
permanentemente o sujeito que deseja, como se a transgressão
houvesse já ocorrido. A confissão dos pecados por pensamento existe
em diversas religiões, é um bom exemplo do processo. Por imaginar um
ato desonesto, a acusação superegóica de criminoso nos perseguirá, ao
imaginar uma atuação sexual nos sentimos imorais e desmerecedores do
amor das outras pessoas.
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Associe assim (a última coluna será preenchida mais abaixo, nesta apostila):
Características do id Características do ego
Processo primário Processo secundário
Princípio do prazer Princípio da realidade
Não segue a lógica Segue a lógica, detém
capacidade de síntese
Atemporal Temporal
Não é verbal Verbal, discursivo,
organiza o simbólico;
controla a motilidade
Processos de
condensação e
deslocamento
Responde pela nossa
autoimagem (“eu sou”)
e negocia com o id a
possibilidade de realizar
os desejos, por isso é
também onde se
formam as angústias.
Nível inconsciente Nível consciente e
inconsciente
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10.3.3. O funcionamento do Superego
Para os teóricos, é uma parte do ego que pertence ao desenvolvimento
mental considerado sadio. Está integrado ao id e ao ego. É comparado a um
filtro ou sensor, e é influenciado pelos princípios religiosos, cultural, história do
povo etc.
Esse estatuto para “viver bem em relação” denomina-se “consciência”
ou “voz da consciência”, e é o conhecido na nomenclatura psicanalítica, desde
a publicação de o Ego e o Id, de Freud, em 1923, como superego, a terceira
das instâncias em que consiste o aparelho psíquico na teoria estrutural de
Freud.
Para ficar mais claro, vamos usar uma imagem pertinente ao imaginário
popular. Na cena (muito comum dos desenhos animados) em que um diabinho
e um anjinho ficam tentando convencer uma pessoa (um de cada lado do seu
ombro), o diabinho seria o id (seus desejos de libido ou agressão, seus
instintos), o anjinho seria o superego (suas regras de conduta) e a pessoa
“concreta” seria o ego (que vai mediar os conflitos do superego e do id,
atendendo-os na medida do possível).
O Superego representa todas as restrições morais e todos os impulsos
para a perfeição (ideal do que é certo, do que é belo etc.).
O conhecimento de sua existência e suas formas de atuação constitui
uma grande ajuda para a compreensão de diferentes sintomas, da conduta
social do homem, das ciências humanas (sociologia, pedagogia, artes, história,
economia, filosofia etc.) e de problemas sociais agudos, como a delinquência e
a criminalidade.
Segundo Freud, a formação do superego é correlativa do declínio do
Complexo de Édipo.
A criança, renunciado a satisfação dos seus desejos edipianos
marcados pela interdição, transforma seu investimento nos pais em
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identificação com os pais, isto é, a criança interioriza a interdição e “segue
sua vida”, buscando outros objetos (pessoas, coisas, profissão etc.) para
investir seu desejo.
Um Complexo de Édipo não superado ou mal resolvido (fase fálica)
tende a estar na base de um superego fragilizado.
Por outro lado, um superego extremamente rígido impõe ao sujeito e à
sociedade resultados nada agradáveis, como a angústia pela autocobrança, a
autopunição, o autoflagelo, o perfeccionismo exacerbado, a inação (dificuldade
em tomar decisões e praticar ações), a baixa autoestima (por não alcançar os
ideais de padrão), a tendência ao autoritarismo, o fanatismo, o aniquilamento
do desejo do outro, o antropocentrismo e o desrespeito à diversidade (cultural,
sexual, racial e de gênero).
Em síntese, são funções do Superego: a auto-observação, autocrítica,
a consciência moral, a censura onírica, a influência principal na repressão e a
exaltação dos ideais (criação dos “padrões”, como morais e estéticos).
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Associe assim:
Características do id Características do ego Características do
superego
Processo primário Processo secundário Processo secundário
Princípio do prazer Princípio da realidade Princípio da realidade
Não segue a lógica Segue a lógica, detém
capacidade de síntese
Segue a lógica,detém
capacidade de síntese
Atemporal Temporal Temporal
Não é verbal Verbal, discursivo,
organiza o simbólico;
controla a motilidade
Verbal, discursivo,
organiza o simbólico
especialmente em
relação à moral e aos
padrões
Processos de
condensação e
deslocamento
Responde pela nossa
autoimagem (“eu sou”)
e negocia com o id a
possibilidade de realizar
os desejos, por isso é
também onde se
formam as angústias.
É uma derivação do
ego, por isso tem muito
em comum com ele.
Recebe, organiza e
interioriza as regras de
conduta e os ideais.
Nível inconsciente Nível consciente e
inconsciente
Nível consciente e
inconsciente
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10.4. A personalidade e sua dinâmica na Teoria
Estrutural
A energia psíquica, de que, mais acima, já se falou, aparece,
subjetivamente, nas manifestações de força, de motivação e de entusiasmo. É
universal e indiscutivelmente reconhecida, mas é, também, intraduzível em
termos fisiológicos. Constitui-se uma hipotética força propulsora originária no
id, responsável por todas as ações psicológicas.
No interior da personalidade, encontram-se, em plena atividade, os
instintos e a ansiedade pela não vazão desses instintos. Os instintos emanam
do id, dispostos de dois pólos pulsionais: o sexual e o agressivo.
● O Sexual (libido, instinto de vida; Eros: o deus grego do amor)
compreende o conjunto de energias instintivas que produzem a
gratificação individual e a perpetuação da espécie. Sua parte principal
está relacionada ao impulso sexual, que tem suas fontes nas zonas
erógenas do corpo (genital, oral e anal), cujo estímulo ou manipulação
pode produzir sensações agradáveis. Temos como derivados desse
instinto: o afeto, o amor, o prazer sexual, o desejo de reprodução, a
necessidade de nos associarmos à outras pessoas, a criatividade no
trabalho, a prática das artes etc.
● O Agressivo (instinto de morte, Thanatos: o deus grego da
destruição): compreende todas as forças destrutivas e hostis da psique
humana e seus derivados compreendem o impulso de auto-afirmação, a
ambição, a competição, o desejo de vencer, o impulso para rivalizar e
para triunfar.
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Frequentemente ocorrem fusões entre os impulsos sexuais e os
agressivos, que é o que se observa quando alguém compete na conquista de
alcançar um objeto de amor, ou quando luta para preservar a integridade do lar
e, ainda, as atividades sadomasoquistas. Constituem exemplos da fusão
referida, com a agressão contra os outros ou ao próprio ego.
Quanto à ansiedade, sob condições normais, ela previne contra um
perigo iminente, pois ao ser despertada motiva a pessoa a se pôr em
condições de luta ou fuga. Mas, quando perpetuada, acarreta um mal-estar,
porque a energia pulsional não encontra a adequada liberação.
Há três tipos de ansiedade:
● A ansiedade real, que é o medo de perigos reais do mundo exterior,
assim é que, ao sentirmos o cheiro da fumaça, teremos o fogo.
● A ansiedade neurótica: que é o medo de que os instintos escapem do
controle, obrigando a pessoa a fazer algo que não a leve a punição. É o
caso do indivíduo que odiando um chefe, tema que por meio de seus
atos transpareça o ódio, o que poderia resultar na sua demissão do
emprego.
● A ansiedade moralística: que é o medo do Superego, que sente o
indivíduo quando faz algo que fira seu código moral.
Pode acontecer que a ansiedade neurótica se torne em ansiedade
livremente flutuante. Isso ocorre quando os sentimentos ansiosos que
emanam de um conflito específico se expandem para uma série de situações
aparentemente neutras ou irrelevantes, de tal modo que o indivíduo não
consegue explicar qualquer ligação entre os sentimentos ansiosos e quaisquer
outras situações específicas. A ansiedade se generaliza e o indivíduo fica aflito
em relação a situações diversificadas da vida.
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11. Uma representação visual para as duas
tópicas
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Vamos comentar a imagem acima, que servirá para fazermos uma
revisão da matéria estudada neste Módulo.
O id é a primeira instância psíquica da vida do sujeito. O sujeito é puro
desejo e instinto, busca a satisfação imediata (“eu quero”), impulsionado pela
pulsão sexual (Eros ou libido) e a pulsão de agressividade (Tânatos). Com o
amadurecimento da vida psíquica (ainda na primeira infância), o id se desdobra
em ego (a autoconsciência) e o superego (as limitações de autopunição e os
ideais de padrão), aquilo que o sujeito pode/deve e não pode/deve ser e fazer.
O id, que, desde o nascimento da pessoa, era apenas pulsional, com o
amadurecimento do sujeito (ainda na infância) passa a ser também o lugar dos
conteúdos reprimidos. Para isso, o ego se baseará nas regras e padrões do
superego para adiar a satisfação imediata, para direcionar a energia do id para
“afetos legítimos” de serem realizados e para reprimir ao id aquelas dores que
seriam insuportáveis à consciência.
A figura acima mescla a teoria estrutural (sintetizada no parágrafo
anterior) e a teoria topográfica. Em tal mescla, o id estaria todo inconsciente
(e muito do que falamos sobre o Ics na 1ª tópica se aplicaria ao id na 2ª
tópica), enquanto o ego e o superego seriam parte consciente, parte
inconsciente. Por exemplo, o superego tem uma parte consciente (das regras
morais e dos padrões ideais que estão presentes no “eu” consciente) e uma
parte inconsciente (as ameaças de punição e os padrões ideais que foram
interiorizados como regras que o sujeito incorporou como legítimos, como se
fossem originariamente seus, sem mais questioná-los).
Ainda considerando a figura acima, o ego tem uma parte consciente
que responde pelo racional e pela vida prática (self) e outra que gerencia os
mecanismos de defesa e que ajudam a empurrar para as profundezas do id os
conteúdos que devam ser reprimidos.
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11.1. Revisão: Primeira e Segunda Tópicas
Vamos repassar alguns dos principais pontos estudados sobre Primeira
e Segunda Tópicas Freudianas.
Esta é a diferenciação entre 1a e 2a tópicas freudianas:
● Primeira Tópica: primeira fase da obra de Freud, em que ele dividia as
instâncias do aparelho psíquico em Consciente, Pré-Consciente e
Inconsciente.
● Segunda Tópica: segunda fase da obra de Freud, em que o autor
estabelece as instâncias do aparelho psíquico como sendo Id, Ego e
Superego.
Sobre os termos mais relacionados a cada tópica:
Modelo Instâncias
Primeira Tópica Topográfico Ics, Pcs e Cs
Segunda Tópica Estrutural Ego, Id e Superego
São as três instâncias do aparelho psíquico de acordo com a 1a tópica
(modelo topográfico):
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● Inconsciente (Ics): Constituído por conteúdos reprimidos e que não têm
acesso direto ao sistema Pcs/Cs.
● Pré-consciente (Pcs): instância que mantém conteúdos acessíveis ao
nível consciente, ou seja, disponibiliza os conteúdos, mas não pertence
à consciência no atual momento. Mantém parte de sua estrutura ligada
tanto ao Ics quando ao Cs.
● Consciente (Cs): Instância que se relaciona aos estímulos/informações
provenientes do mundo externo e do mundo interno. É responsável pela
percepção, atenção e raciocínio.
Um quadro comparativo entre as três instâncias da 1a tópica:
Inconsciente Pré-consciente Consciente
Processos primários Processos secundários Processos secundários
Representação de coisa Representação de
palavra e de coisa
Representação de
palavra e de coisa
Funcionamento
atemporal, ambivalentee composto só de
afirmações
Fronteira entre Ics e Cs Linguagem racional,
temporal e espacial
As três instâncias psíquicas de acordo com a Segunda Tópica:
● ID: instância psíquica mais profunda e vasta, a qual contém reservada a
energia psíquica, ou seja, as pulsões que, aqui, se configuram regidas
pelo princípio do prazer, em busca da satisfação do desejo, alheios à
realidade e à moral.
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● EGO: instância psíquica que tem como principal função buscar um
equilíbrio entre as descargas de excitações. Orientado pelo princípio da
realidade, o ego é um regulador que busca atender os desejos,
considerando as condições objetivas da realidade. Portanto, situa-se
entre a satisfação do id e as impossibilidades advindas do superego.
Além disso, atua como um supervisor dos processos psíquicos, evitando
um sofrimento psíquico exacerbado que leve à desorganização, a
exemplo das censuras presentes nos sonhos.
● SUPEREGO: instância psíquica que busca a regulação moral
condicionada pelas exigências sociais e culturais. Surge com a
internalização de conteúdos como limitações, proibições e autoridade,
em geral a partir da relação com os pais.
Sobre as características mais marcantes de cada uma das instâncias da
teoria estrutural:
Características do id Características do ego Características do
superego
Processo primário Processo secundário Processo secundário
Princípio do prazer Princípio da realidade Princípio da realidade
Não segue a lógica Segue a lógica, detém
capacidade de síntese
Segue a lógica, detém
capacidade de síntese
Atemporal Temporal Temporal
Não é verbal Verbal, discursivo,
organiza o simbólico;
controla a motilidade
Verbal, discursivo,
organiza o simbólico
especialmente em
relação à moral e aos
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padrões
Processos de
condensação e
deslocamento
Responde pela nossa
autoimagem (“eu sou”)
e negocia com o id a
possibilidade de realizar
os desejos, por isso é
também onde se
formam as angústias.
É uma derivação do
ego, por isso tem muito
em comum com ele.
Recebe, organiza e
interioriza as regras de
conduta e os ideais.
Nível inconsciente Nível consciente e
inconsciente
Nível consciente e
inconsciente
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12. Quizzes (Enquetes)
Estamos adicionando quizzes (enquetes) nos módulos. O módulo 4
conta com as enquetes abaixo. Servem para revisar e fixar conteúdos.
Importante: a prova do módulo (contendo 10 perguntas de múltipla
escolha e uma redação) é diferente das enquetes (que são perguntas de
verdadeiro ou falso). As partes obrigatórias para você concluir o Curso de
Formação são as 12 provas (uma por módulo), não as enquetes abaixo. As
enquetes são opcionais: servem de revisão e fixação do aprendizado, mas não
fazem parte de nenhuma avaliação para fins de conclusão do Curso.
As enquetes abaixo são somente afirmações, sobre as quais você deve
responder Verdadeiro ou Falso. A resposta é feita no Telegram do projeto
Psicanálise Clínica. Isso porque o Telegram tem o recurso interativo de
enquetes: você responde e, depois, pode verificar se acertou e pode também
ler um comentário explicando a questão.
Você deve clicar no link da enquete abaixo usando um celular com
Telegram instalado (o Telegram é gratuito e você pode baixar em qualquer
“loja” de aplicativos, como Google Play ou Apple Store), ou estando conectado
no Web Telegram no seu computador.
Como ver a resposta? Depois de responder, atualize a página do
Telegram (ou clique em outra conversa do Telegram e depois volte ao canal
Psicanálise Clínica no Telegram) e clique no desenho de lâmpada que
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aparecerá entre a pergunta e a resposta, do lado direito: você já verá o gabarito
com um breve comentário.
[Módulo 4, Quiz 1] Na obra "A Psicopatologia da Vida Cotidiana" (Freud, 1901), o
inconsciente aparece relacionado a erros e falhas do dia-a-dia, como nos chamados
atos falhos.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1771
Obs.: Depois de responder cada quiz no telegral, clique no desenho de lâmpada que
aparecerá entre a pergunta e a resposta, para ver o gabarito comentado.
[Módulo 4, Quiz 2] Os atos falhos designam erros na linguagem (escrita, fala, leitura).
Já os erros de memória e de comportamento não são atos falhos, mas sim chistes.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1778
[Módulo 4, Quiz 3] O erro que surge dos atos falhos é, de certa forma, um acerto. É
sem querer (conscientemente falando) mas também é querendo (inconscientemente).
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1793
[Módulo 4, Quiz 4] Quanto à Primeira Tópica, o consciente é a instância psíquica cuja
acessibilidade à consciência é, para muitos autores, impossível de ser acessada de
forma direta, racional e clara.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1797
[Módulo 4, Quiz 5] O inconsciente compreende os elementos mentais prontamente
acessíveis à mente atenta; segundo a metáfora freudiana do iceberg, esta instância
seria a parte do iceberg que fica para fora d'água.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1800
[Módulo 4, Quiz 6] No Pré-Consciente, está o material que fora consciente, e no
momento seguinte passou para o PCs. É instância intermediária. Nela estão
conteúdos que não estão conscientes, embora possam se tornar conscientes sem
barreiras do recalque.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1806
[Módulo 4, Quiz 7] O deslocamento é um mecanismo de elaboração do Inconsciente
que consiste na mobilização e mudança de lugar de uma carga psíquica.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1812
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[Módulo 4, Quiz 8] A condensação é um mecanismo de elaboração do consciente
que agrupa vários elementos separados sem a mínima afinidade.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1817
[Módulo 4, Quiz 9] A projeção é mecanismo de elaboração do inconsciente que
nunca se produz na paranoia: o sujeito projeta seus impulsos agressivos sobre outro
ou outros, e depois sente-se perseguido e acusado por esses mesmos impulsos que
ele projetou.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1825
[Módulo 4, Quiz 10] A identificação ou transferência da ênfase do objeto para o
sujeito constitui mecanismo em que uma pessoa se considera, em certa medida,
semelhante a outra, como quando o menino imita certos modos de agir do pai.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1829
[Módulo 4, Quiz 11] A ausência de cronologia é um processo secundário do
inconsciente. No ICs, tempo e espaço estariam desorganizados ou seriam até mesmo
inexistentes.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1833
[Módulo 4, Quiz 12] Em Psicanálise, entende-se que o inconsciente não reconhece
passado nem futuro, mas apenas uma espécie de "presente", elaborado numa
“linguagem” própria que seria distintado tempo-espaço da lógica racional.
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( ) Verdadeiro
( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 13] Um dos processos primários do ICs é a ausência do juízo de
contradição. O princípio da não-contradição não funciona no inconsciente, pois neste
não haveria lugar para negação.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1846
[Módulo 4, Quiz 14] A linguagem simbólica é parte do processo primário do ICs. O
ICs expressa-se de forma lógica, raramente usando símbolos, por isso é possível
conhecer a exatidão lógico-racional da mensagem inconsciente.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1851
[Módulo 4, Quiz 15] Nos psicóticos e neuróticos, a realidade interna tende a ser tão
ou mais valorizada que a externa. Isso é mais severo no psicótico, que literalmente
"vive" sua fantasia.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1855
[Módulo 4, Quiz 16] É um princípio entre psicanalistas freudianos e lacanianos que o
analista não deve negar nenhum paciente, por isso seria desnecessária a entrevista
psicanalítica preliminar.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 17] O imperativo do prazer a qualquer custo constitui o que se
denomina o predomínio do princípio do prazer. Sua total supressão representaria um
superego hiper-rígido e o aniquilamento do desejo.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1865
[Módulo 4, Quiz 18] De acordo com a teoria estrutural, o id em sua totalidade, parte
do ego e parte do superego estão fora do sistema inconsciente.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1868
[Módulo 4, Quiz 19] Direcionar a transferência a um analista específico e elaborar
uma hipótese diagnóstica são algumas das tarefas das entrevistas preliminares, mas
não se aplicam ao tratamento de ensaio.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1874
[Módulo 4, Quiz 20] O método da associação livre foi abandonado por Freud em favor
da atenção flutuante, que mescla o método catártico e a sugestão hipnótica.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1880
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[Módulo 4, Quiz 21] No modelo estrutural ou segunda tópica freudiana, há uma
instância psíquica que nos ajuda a entender o Complexo de Édipo, as regras morais e
os ideais de perfeição.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1886
[Módulo 4, Quiz 22] Na visão de Laplanche & Pontalis: “Se fosse preciso concentrar
numa palavra a descoberta freudiana, seria incontestavelmente na palavra
consciente".
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1894
[Módulo 4, Quiz 23] A estrutura psíquica inconsciente compreende os impulsos e
sentimentos dos quais o indivíduo não tem consciência. É a base para entendimento
de toda a teoria da psicanálise. Em alemão, é o não sabido.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1897
[Módulo 4, Quiz 24] São definições corretas sobre os processos primários:
correspondem ao nível inconsciente, regem-se pelo princípio da realidade e usam
mecanismos como condensação e deslocamento.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1906
[Módulo 4, Quiz 25] Freud propôs o ego como sendo uma parte especializada do
superego, destinada a reger a internalização das condutas, dos padrões ideais e das
punições.
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( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1909
[Módulo 4, Quiz 26] O ideal de eu e o sentimento de culpa são exemplos de regras
que o id interiorizou no aparelho psíquico.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1916
[Módulo 4, Quiz 27] Tendo em vista que Freud utilizou os métodos catártico e da
sugestão hipnótica, o psicanalista hoje pode escolher um desses dois métodos para
sua atuação.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1921
[Módulo 4, Quiz 28] A atenção flutuante, a interpretação dos sonhos e a maiêutica
são métodos da psicanálise, em oposição à Associação Livre.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1930
[Módulo 4, Quiz 29] Depois de praticar a associação livre, o analisando aprende a
"falar tudo o que lhe vem à cabeça" em qualquer ambiente de sua vida social, sem se
preocupar em como isso afeta os outros.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1935
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[Módulo 4, Quiz 30] Podemos entender como ideias equivalentes em muitos autores:
"tratamento de ensaio", "entrevistas psicanalíticas" ou "entrevistas preliminares".*
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1941
[Módulo 4, Quiz 31] Nas entrevistas preliminares, o analista deverá decidir se irá ou
não acatar aquela demanda de análise. O fato de receber alguém em seu consultório
não significa que o analista já o tenha aceito em análise.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1944
[Módulo 4, Quiz 32] Quando o sujeito procura o analista, ele se apresenta a este
através de seu sintoma, que é expresso como um significante. Esta demanda traz
consigo uma demanda de cura, por vezes chamada também de demanda de amor.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1955
[Módulo 4, Quiz 33] O analista passa a ser, na visão do analisando (paciente), o
sujeito suposto-saber. Isto é, o analista é o sujeito que o analisando (via de regra)
supõe ter um notório saber e uma capacidade para encaminhar sua demanda.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1961
[Módulo 4, Quiz 34] A retificação subjetiva fará com que o sintoma inicial trazido pelo
analisando passe ao estatuto de sintoma analítico: um sintoma que agora estabelece o
vínculo entre analista e analisando e que constitui uma demanda ao analista.
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( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1968
[Módulo 4, Quiz 35] No início do tratamento, ao se configurar o sintoma analítico, este
passa a ser um enigma a serdecifrado exclusivamente pelo analista, nas duas
sessões seguintes.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1971
[Módulo 4, Quiz 36] Em análise, há uma cisão do analisando: uma parte de si é o
paciente que livre-associa, a outra parte de si é aquele enigma (sintoma) que buscará
ser desvendado. É o que se chama de histericização do discurso.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1977
[Módulo 4, Quiz 37] Instaurar a transferência num nível simbólico e estabelecer o
vínculo terapêutico são dois dos objetivos das entrevistas preliminares.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1981
[Módulo 4, Quiz 38] No início do tratamento, o analisando apresenta a demanda de
cura, acolhida pelo analista; depois, realiza-se a retificação subjetiva dessa demanda,
transformando a demanda de cura em demanda de análise.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1986
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[Módulo 4, Quiz 39] A chamada histerização do discurso pelo analisando coloca-o a
questionar-se sobre seu sintoma, permitindo certo "olhar de fora" durante a análise.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
Responda no Telegram: https://t.me/psicanaliseclinica/1991
[Módulo 4, Quiz 40] A entrevista preliminar dura exatamente uma sessão. Nela, o
psicanalista falará por quase todo o tempo, explicando sobre o método psicanalítico, o
preço do serviço e os horários de atendimento.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 41] Dentre os objetivos do tratamento de ensaio, temos: estabelecer
o vínculo terapêutico, recolher e retificar a demanda de cura e firmar o diagnóstico
definitivo baseado em CID ou DSM.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 42] Os princípios da neutralidade e abstinência devem ser
rigorosamente seguidos pelo analisando durante as sessões.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 43] A conduta identificada como “psicanálise selvagem” revela certo
narcisismo do analista: este se coloca como apressado em julgar o analisando,
apresentando-se como paradigma à ordem desejante do analisando.
( ) Verdadeiro
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( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 44] Em psicanálise, concebe-se a existência do outro em nós
mesmos: nosso desconhecido, inconsciente ou mesmo nosso id.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 45] O Grande Outro é o lugar daquilo que rege consciente ou
inconsciente nossos valores (como os morais e estéticos) e nosso ideal de eu. Para
isso, é preciso que exista uma norma escrita e a ameaça de punição física.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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[Módulo 4, Quiz 46] Numa linha lacaniana, nascemos imersos em discursos (e
desejos) de outras pessoas, que incorporamos como discursos (e desejos) nossos.
( ) Verdadeiro
( ) Falso
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Este material é parte das aulas do Curso de Formação em Psicanálise.
Proibida a distribuição onerosa ou gratuita por qualquer meio, para não alunos
do Curso.
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13. Referências bibliográficas
COLLIN, C.; GRAND, V.; BENSON, N.; LAZYAN, M.; GINSBURG, J.; WEEKS,
M. O livro da Psicologia. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2012.
FINE, R. A história da psicanálise. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1981.
FREUD, S. Estudos sobre a histeria (1893). Obras completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ A interpretação dos sonhos (1900). Obras completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ Psicopatologia da vida cotidiana (1901). Obras completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ Chistes e a sua relação com o Inconsciente (1905). Obras
completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ Sobre o início do tratamento (1913). Obras completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ A história do movimento psicanalítico (1914). Obras completas
de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ Recordar, repetir e elaborar (1914). Obras completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
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________ Além do princípio do prazer (1920). Obras completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ Uma nota sobre a pré-história da técnica analítica (1920). Obras
completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ Um estudo autobiográfico (1925). Obras completas de Sigmund
Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ Análise terminável e interminável (1937). Obras completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FULGENCIO, L. Por que Winnicott? São Paulo, Editora Zagodoni, 2016.
LAPLANCHE, J; PONTALIS, J. B. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
ROUDINESCO, E. História da psicanálise na França (vol. 2). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1988.
QUINET, A. A descoberta do inconsciente: do desejo ao sintoma (1991).
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica.
Porto Alegre: Artmed, 1999.
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