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DIABETES MELLITUS GESTACIONAL (DMG) DMG: diabetes diagnosticado na gestação e origina-se da falta de reserva pancreática funcional para atender às demandas fisiológicas da gestação. Há dois tipos de hiperglicemia que podem ser identificadas na gestação: ➢ Diabete mellitus diagnosticado na gestação (DMDG) e ➢ Diabete mellitus gestacional (DMG). Diabetes Mellitus Gestacional (DMG): mulher com hiperglicemia detectada pela primeira vez durante a gravidez, com níveis glicêmicos sanguíneos que não atingem os critérios diagnósticos para DM fora do período gestacional. • DMG: estado transitório de intolerância aos carboidratos que se inicia no período gestacional, com gravidade variável, e que não preenche os critérios de DM franco Diabetes Mellitus diagnosticado na gestação (Overt Diabetes): mulher sem diagnóstico prévio de DM, com hiperglicemia detectada na gravidez e com níveis glicêmicos sanguíneos que atingem os critérios para a DM na ausência de gestação • DM franco: mulheres sem diagnóstico prévio de DM que evoluem com hiperglicemia em níveis que preenchem critérios para o diagnóstico de DM fora da gestação. Epidemiologia • A hiperglicemia é a complicação mais comum durante a gestação. • 18% das mulheres grávidas, assistidas no SUS, atinjam os critérios diagnósticos de DMG. Fisiopatologia A gestação é estado resistência à insulina • Essa condição, aliada à intensa mudança nos mecanismos de controle da glicemia, em função do consumo de glicose pelo embrião e feto, pode contribuir para ocorrência de alterações glicêmicas favorecendo o desenvolvimento de DM • Alguns hormônios produzidos pela placenta e outros aumentados pela gestação, tais como lactogênio placentário, cortisol e prolactina, podem promover redução da atuação da insulina em seus receptores e, consequentemente, um aumento da produção de insulina nas gestantes saudáveis. • Esse mecanismo, entretanto, pode não ser observado em gestantes que já estejam com sua capacidade de produção de insulina no limite. Essas mulheres têm insuficiente aumento de produção de insulina e, assim, podem desenvolver diabetes durante a gestação Fatores de risco No sexo feminino, o antecedente obstétrico de DMG é o principal fator de risco para o desenvolvimento de DM2 e síndrome metabólica ao longo da vida. Complicações O risco mais comumente associado ao DMG não tratado é o crescimento fetal excessivo • A macrossomia fetal ocorre porque a glicose, que cruza a placenta por mecanismo de difusão facilitada, passa em maior quantidade ao feto. • Como consequência, o feto desenvolve hiperglicemia e por ter um pâncreas normal desenvolve hiperinsulinemia. • Esta associação hiperglicemia-hiperinsulinemia estimula o crescimento fetal e a glicose em excesso é armazenada como gordura no feto causando a macrossomia, aumento da deposição de gordura no tórax-abdome, com consequente maior risco de distocia de ombro, que aumenta os riscos de tocotraumatismos e de intervenções cesarianas. • A hiperinsulinemia fetal parece também ser o fator etiológico do atraso na produção do surfactante pulmonar que leva ao aumento do desconforto respiratório As complicações neonatais mais graves são a síndrome do desconforto respiratório, a hipoglicemia e a hiperbilirrubinemia DIAGNÓSTICO A hiperglicemia na gestação deve ser investigada no início e na metade dela • Fatores clínicos de risco: A utilização de fatores clínicos de risco como forma de rastrear gestantes que devem ser submetidas a testes diagnósticos para DMG não é ideal, pois apresenta baixa sensibilidade. • Diagnóstico universal: deve-se proporcionar a todas as gestantes a possibilidade de diagnóstico de DMG. • Viabilidade financeira e disponibilidade técnica do teste proposto: o método diagnóstico a ser utilizado deve ser o melhor possível dentro da capacidade da região. • Teste com melhor sensibilidade/especificidade: TOTG As hemácias da gestante estão sob maior turnover, portanto a HbA1c não é um exame que participa formalmente do rastreio do DM na gestação. Cenários diagnósticos: • Diagnóstico de DMG em situação de viabilidade financeira e disponibilidade técnica TOTAL. • Diagnóstico de DMG em situação de viabilidade financeira e disponibilidade técnica PARCIAL. Situação de viabilidade financeira e disponibilidade técnica total Quando a situação financeira e a logística em torno da gestante não impuserem limitações diagnósticas, devemos realizar uma glicemia de jejum (GJ) até a 20ª semana de gestação. A partir da GJ, pode-se observar três desfechos: • GJ ≥ 126 mg/dL = DM prévio diagnosticado na gestação. • GJ 92 – 125 mg/dL = DMG. • GJ < 92 mg/dL = realização do TOTG com 75 g de glicose entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez. Se o pré-natal for iniciado tardiamente, devemos observar a semana gestacional atual para definir a conduta diagnóstica: • Pré-natal iniciado entre a 20ª e a 28ª semana TOTG entre a 24ª e a 28ª semana. • Pré-natal iniciado após a 28ª semana TOTG o mais brevemente possível Consoante o valor do TOTG, as pacientes serão classificadas em três categorias: DM prévio diagnosticado na gestação. ✓ Jejum ≥ 126 mg/dL; ou ✓ Glicemia da 2ª hora ≥ 200 mg/dL. DMG ✓ Jejum 92 – 125 mg/dL; ou ✓ Glicemia da 1ª hora ≥ 180 mg/dL; ou ✓ Glicemia da 2ª hora 153 – 199 mg/dL. TOTG normal (níveis glicêmicos inferiores aos limiares diagnósticos de DMG). Situação de viabilidade financeira e disponibilidade técnica parcial Quando houver limitações logísticas ou financeiras à realização do TOTG, devemos realizar a GJ tão logo o acompanhamento pré-natal seja iniciado. ➢ GJ ≥ 126 mg/dL: DM prévio diagnosticado na gestação; ➢ GJ 92 e 125 mg/dL: DMG ➢ GJ < 92 mg/dL: repetir a GJ entre a 24ª e a 28ª semana para a conclusão do processo de rastreamento TRATAMENTO Todas as gestantes com DM, independentemente do tipo de DM, devem ser acompanhadas em pré-natal de ALTO RISCO • As pacientes que sejam sabidamente portadoras de DM previamente à concepção deverão ter seus esquemas terapêuticos reavaliados e adaptados às limitações de segurança farmacológica impostas pela gravidez. • As pacientes com DM prévio diagnosticado na gestação receberão tratamento farmacológico. • As pacientes com DMG serão orientadas a realizar dieta de baixo teor glicêmico e atividade física, pois somente casos refratários a essas medidas receberão abordagem farmacológica Orientações iniciais para gestante com diabetes mellitus gestacional TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Terapia nutricional, atividade física e monitorização da glicemia. • Cerca de 70% das mulheres com diagnóstico de DMG conseguirão controlar os seus níveis glicêmicos com essas medidas. Dieta • Priorizar alimentos in natura ou minimamente processados e que tenham baixo teor glicêmico valor energético total (VET): • A gestante pode fracionar o VET entre 3 refeições principais (café, almoço e jantar) e 2 ou 3 lanches. • Ou seja, deve alimentar-se de 5 a 6 vezes ao dia e evitar intervalos superiores a 3 horas entre cada momento de alimentação. • Os adoçantes (edulcorantes) podem ser utilizados como alternativa ao açúcar (sacarose), desde que o consumo seja moderado e não ultrapasse o limite máximo de 6 sachês ou 15 gotas/dia. O ganho de peso pela gestante será determinado pelo IMC pré-gestacional • Quanto maior o IMC pré-gestacional, menos peso a gestante poderá ganhar ao longo da gestação) Atividade física prática diária de 20 a 30 minutos/dia na maioria dos dias da semana (idealmente, todos os dias). • ACOG recomenda que as pacientes com DMG realizem 30 minutos de exercício aeróbico de moderada intensidade durante pelo menos 5 dias da semana ou 150 minutos de atividade física ao longo da semana. Monitorização glicêmicaTRATAMENTO FARMACOLÓGICO A insulina é a primeira escolha no tratamento medicamentoso para o controle da hiperglicemia na gestação (independentemente do tipo de DM) Quando indicar a terapia com insulina? • Paciente sabidamente portadora de DM2 e que faça uso de antidiabéticos não insulínicos • DM prévio diagnosticado na gestação. • DMG refratária ao tratamento não farmacológico (quando ≥ 2 medidas de glicemia, avaliadas após 7 a 14 dias de terapia não farmacológica, estiverem acima da meta) Dose inicial e ajustes da insulinoterapia A dose inicial de insulina deve ser de 0,5 UI/kg/dia, e a necessidade de ajustes deve ser feita a cada 15 dias até a 30ª semana gestacional, e semanalmente após esse marco temporal. • Os ajustes baseam-se nos resultados do automonitoramento da glicemia capilar. Horários de aplicação: Dependendo da dose diária, esta deve ser distribuída em múltiplas (2 a 3) aplicações diárias, com a maior concentração pela manhã, antes do café da manhã, sempre por via subcutânea • insulina Regular: aplicada entre 30 e 40 minutos antes da refeição • Análogos Lispro e Aspart: aplicados na hora de início da refeição ou 15 minutos antes; Antidiabético oral Os antidiabéticos orais, apesar de não serem a droga de primeira escolha, podem ter seu uso considerado como monoterapia nos casos de inviabilidade de adesão ou acesso à insulina ou como adjuvante em casos de hiperglicemia severa que necessitam de altas doses de insulina para controle glicêmico • Metformina (todos os demais são contraindicados) • É RECOMENDADO que gestantes com DM 2 interrompam o tratamento não insulínico antes ou logo após o início da gestação, quando estiver garantida a imediata substituição pela insulinoterapia Conduta após o parto Após o parto, a puérpera deve ser orientada a suspender a terapia farmacológica antidiabética e retornar em 6 semanas para a realização de TOTG (viabilidade técnica total) ou glicemia de jejum (viabilidade técnica /financeira parcial). • A reclassificação deve ser feita, idealmente, seis semanas após o parto para todas as mulheres que tiveram DMG, utilizando-se os critérios padronizados para a população em geral