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A neoplasia trofoblástica gestacional, que corresponde a um grupo de tumores placentários que se caracterizam por invasão agressiva do miométrio e propensão para metástases, também é conhecida como doença trofoblástica gestacional maligna. Histologicamente, esses tumores consistem em mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placen-tário e tumor trofoblástico epitelioide. Na maioria dos casos essa neoplasia se origina de uma ges-tação molar (50%), mas também pode se desenvolver a partir de aborto ou gravidez ectópica (25%) e gestações a termo ou pré-termo (25%), enquanto 95% dos casos de tumor do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide surgem a partir de aborto não molar ou gestação normal. → caracterizado pela manutenção ou elevação dos níveis da β-HCG identificada durante o se- guimento pós-molar O achado clínico mais comum na NTG é o sangramento irregular associado à subinvolução uterina, o qual pode ser contínuo ou intermitente. Algumas mulheres podem apre-sentar-se com lesões vaginais ou vulvares ou metástases a distância Aproximadamente 15% a 40% das pacientes desenvolvem NTG pós-molar, que é diagnosticada pela curva de regressão anormal de hCG, cujos critérios diagnósticos são apresentados a seguir: a) quatro valores ou mais de hCG em platô* em um período superior a três semanas, ou seja, nos dias 1, 7, 14 e 21; ou b) aumento** nos níveis de hCG por três medidas consecutivas ou mais, ao menos por duas semanas, ou seja, nos dias 1, 7, e 14; ou c) diagnóstico histológico de coriocarcinoma. *Platô = variação menor que 10% entre os valores de hCG. **Aumento = aumento de pelo menos 10% entre os valores de hC. Mola invasora As vilosidades da mola invadem o miométrio, por isso, é sempre uma sequela da mola hidatiforme Quando ela invade o miométrio tem risco de perfura o útero Raramente realiza metástase, então ela tem uma invasão local na parede uterina, mas se ocorrer metástase vai ser em pulmão e estruturas pélvicas O diagnóstico é habitualmente clínico, estabelecido durante o seguimento pós-molar em razão da elevação ou platô dos ní-veis de β-HCG associados ao achado ultrassonográfico 40% dos casos possuem resolução espontânea É uma neoplasia sensível à quimioterapia, mas se perfurar, é feita histerectomia Aqui está a mola, com as vilosidades invadindo o miométrio US: Ultrassonografia mostrando intensa vascularização miometrial em paciente com história de gravidez molar, que cursa com hemorragia genital e níveis ascendentes de gonadotrofina coriônica humana. Coriocarcinoma A constituição celular do coriocarcinoma é dimórfica, com sincício e citotrofoblasto, mas não forma estrutura vilosa Pode originar-se de qualquer tipo de gravidez: 50% em caso de gestação normal, 25% de mola hi- datiforme e 25% de abortamento e gravidez ectópica. Caracteriza-se por invadir profundamente o miométrio e os vasos sanguíneos, causando hemorragia e necrose. É um tumor extremamente agressivo e diferente do anterior normalmente desenvolve precocemente metástases hematogênicas, principalmente no pulmão e vagina. O diagnóstico é difícil devido ao quadro clínico é diverso, variando de acordo com a localização do tumor. Se observa titulação elevada de hCG Apresentam superfície vermelho-escura (devido às hemorragias frequentes, repetidas, e à destruição de vasos). Tumor sólido vermelho-escuro Tumor trofoblástico do sítio placentário Já é uma forma rara de neoplasia Ausência de vilosidade coriônica, com proliferação das células trofoblásticas intermediárias do sítio de implantação. As células do trofoblasto intermediário invadem o miométrio e produzem hCG (níveis baixos) e lactogênio placentário humano (hPL). O quadro clínico mais comum é o de amenorreia, seguida de sangramento vaginal e aumento do volume uterino. Em geral, o PSTT não é sensível à quimioterapia como as outras formas de NTG, sendo importante sua distinção histológica. É valiosa a sua caracterização imuno-histoquímica com positividade para hPL (Figura 21.13). A cirurgia assume papel crítico nesses casos; felizmente, na maioria das pacientes a doença está confinada ao útero e é curada pela histerectomia. Presença de grande metástase vaginal, sangrante. Tentou-se, sem sucesso, exérese da área tumoral, evolvendo a paciente a óbito por choque hemorrágico. *Aspecto polipoide? Tumor trofoblástico epitelioide Também é uma forma rara Histologica-mente semelhante ao tumor trofoblástico do sítio placen-tário, porém com células menores, mostrando menos pleo-morfismo. A histerectomia consiste na melhor forma de tratamento. Origina-se, com maior frequência, após gestação termo; e produz pouca quantidade de hCG, que em geral não ultrapassa 2.500 mUI/mL. Resistência à quimio → histerectomia Tumor trofoblástico epitelioide. Pode-se observar área neoplásica uterina. Histerectomia feita por quimiorresistência, na vigência de níveis baixos e persistentes de hCG. Tratamento A escolha do tratamento NTG é baseada na combinação do estadiamento anatômico Figo e o sistema de pontuação prognóstica da OMS. Os tumores são classificados em duas categorias: baixo e alto risco de desenvolvimento de resistência à quimioterapia com agente único, orientando a escolha do melhor esquema de quimioterapia de primeira linha. *Pacientes com pontuação igual ou maior a 12 apresentam maior mortalidade e são classificadas como ultra-alto risco, com tratamento sistêmico adaptado a essa condição. TTSP e TTE são classificados conforme o estadiamento anatômico Figo, sem escore de risco OMS, uma vez que o tratamento de eleição desses tumores é cirúrgico, e não quimioterápico. Gestação após a DTG Até o momento atual, a prevenção primária de qualquer DTG é não engravidar. As pacientes que tiveram remissão espontânea da MH apresentam 98% a 99% de chance de desenvolver gravidez normal subsequente. Há risco de 1% a 2% de nova MH, o qual, embora pequeno, é cerca de 4 a 50 vezes maior se comparado com a população em geral. Até o momento atual, a prevenção primária de qualquer DTG é não engravidar. Assim, diante de uma nova gravidez, as pacientes devem ser orientadas a ter especial atenção à realização de US no primeiro trimestre, a fim de detectar precocemente a evolução normal da gestação. Da mesma forma, ao término de qualquer gravidez, a paciente deve ser submetida a dosagem de hCG após 42 dias, a fim de afastar a rara possibilidade de NTG pós-parto Definição Este grupo inclui mola invasiva, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide. Esses tumores quase sempre se desenvolvem com algum tipo de gravidez diagnosticada ou após ela. Metade dos casos ocorre depois de molas hidatidiformes, um quarto após abortamento espontâneo ou gravidez tubária e o outro quarto após gestação pré-termo ou a termo (Goldstein, 2012). Embora esses quatro tipos de tumor sejam histologicamente diferentes, eles em geral são diagnosticados apenas com base nas elevações persistentes dos níveis séricos de β-hCG, pois comumente não se dispõe de tecidos para exame. Os critérios para o diagnóstico de NTG pós- molar Neoplasia trofoblástica gestacional é a expressão utilizada para designar lesões malignas que se originam das vilosidades coriais e do trofoblasto extraviloso. Sob esse epíteto encontram-se quatro formas clínicas distintas, com diferentes graus de proliferação, invasão e disseminação, representadas por mola invasora (MI) (Figura 14.16), coriocarcinoma (CCA) (Figura 14.17), tumor trofoblástico do sítio placentário (PSTT) (Figura 14.18) e tumor trofoblástico epitelioide (ETT) (Figura 14.19).44-46 O maior estudo epidemiológico realizado no Brasil observou evolução para NTG em 24,6% das pacientes com mola hidatiforme completa e em 7,6% após mola hidatiforme parcial.47 A maior parte dos casos deNTG é representada por MI e CCA. São formas da doença que cursam com elevados níveis de hCG, altamente responsivas à quimioterapia (QT), com taxas de cura superiores a 90%. Por outro lado, o PSTT e o ETT, mais raros, têm produção escassa de hCG e são relativamente resistentes à QT, o que torna a cirurgia sua primeira linha de tratamento.44-47 A neoplasia trofoblástica gestacional, que corresponde a um grupo de tumores placentários que se caracterizam por invasão agressiva do miométrio e propensão para metástases, também é conhecida como doença trofoblástica gestacional maligna. Histologicamente, esses tumores consistem em mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placen-tário e tumor trofoblástico epitelioide. Na maioria dos casos essa neoplasia se origina de uma ges-tação molar (50%), mas também pode se desenvolver a partir de aborto ou gravidez ectópica (25%) e gestações a termo ou pré-termo (25%), enquanto 95% dos casos de tumor do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide surgem a partir de aborto não molar ou gestação normal. Etiologia Aproximadamente 50% dos casos de NTG originam-se de gestações molares, 25% de abortamento ou gravidez ectópica e 25% de gestações a termo ou pré-termo.1,44-47 Já o PSTT e o ETT seguem gestações a termo ou abortamentos não molares em 95% das vezes.1,44-47 Mola invasora Outrora também denominada corioadenoma destruens, é uma doença confinada ao útero, caracterizada por vilosidades coriônicas hidrópicas com proliferação trofoblástica que invadem diretamente o miométrio (Figura 21.10). Raramente alcançam locais extrauterinos. A mola invasora é sempre sequela da mola hidatiforme. Pacientes com mola invasora podem apresentar resolução espontânea em 40% das vezes. O diagnóstico da mola invasora habitualmente é clínico (NTG não metastática), e não histológico. A ultrassonografia fornece subsídios de valor ao mapear pelo Doppler colorido a invasão do miométrio pelo trofoblasto (Figura 21.11). A dilatação e curetagem (D&C) diagnóstica deve ser evitada pela possibilidade de perfuração uterina. Mola invasora A mola invasora é caracterizada por vilosidades coriôni-cas hidrópicas com proliferação trofoblástica que invadem diretamente o miométrio, por vezes envolvendo peritônio, paramétrio ou cúpula vaginal, sendo rara a disseminação ex-trauterina, que se desenvolve a partir da mola hidatiforme. O diagnóstico é habitualmente clínico, estabelecido durante o seguimento pós-molar em razão da elevação ou platô dos ní-veis de β-HCG associados ao achado ultrassonográfico. Com o tratamento, a cura ocorre na totalidade dos casos, exceto para a doença metastática. Coriocarcinoma O coriocarcinoma pode originar-se de qualquer tipo de gravidez: 50% em caso de gestação normal, 25% de mola hi-datiforme e 25% de abortamento e gravidez ectópica. Histo-logicamente, existem elementos do cito e do sinciotrofoblasto e, quando este último predomina, os níveis da β-HCG en- contrados podem ser extremamente elevados. Trata-se de tumor extremamente agressivo que normalmente desenvolve precocemente metástases hematogênicas, sendo o pulmão e a vagina os sítios mais comuns. Menos frequentemente, vulva, rins, fígado, ovários, cérebro e intestinos também podem ficar comprometidos. Tumor trofoblástico do sítio placentário O tumor trofoblástico do sítio placentário se origina do lo-cal de implantação placentária após gravidez normal, aborto espontâneo ou induzido e gravidez ectópica ou molar. His-tologicamente, observam-se células trofoblásticas intermediá-rias, muitas das quais produtoras de lactogênio placentá-rio. Por esse motivo, os níveis da β-HCG são relativamen-te baixos. Os tumores com invasão local são resistentes à quimioterapia, e a histerectomia constitui a melhor opção terapêutica. Tumor trofoblástico epitelioide O tumor trofoblástico epitelioide é raro, histologica-mente semelhante ao tumor trofoblástico do sítio placen-tário, porém com células menores, mostrando menos pleo-morfismo. A histerectomia consiste na melhor forma de tratamento. Critérios de diagnóstico Aproximadamente 15% a 40% das pacientes desenvolvem NTG pós-molar, que é diagnosticada pela curva de regressão anormal de hCG, cujos critérios diagnósticos são apresentados a seguir: a) quatro valores ou mais de hCG em platô* em um período superior a três semanas, ou seja, nos dias 1, 7, 14 e 21; ou b) aumento** nos níveis de hCG por três medidas consecutivas ou mais, ao menos por duas semanas, ou seja, nos dias 1, 7, e 14; ou c) diagnóstico histológico de coriocarcinoma. *Platô = variação menor que 10% entre os valores de hCG. **Aumento = aumento de pelo menos 10% entre os valores de hC TRATAMENTO DA NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL Sistema de estadiamento da FIGO 2000 A escolha do tratamento da neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) com quimioterapia é baseada na combinação do estadiamento anatômico Figo e o sistema de pontuação prognóstica da OMS com base em fatores de risco. Os tumores são classificados em duas categorias: NTG de baixo risco (pontuação igual ou menor a 6 e estádio Figo I-III) e de alto risco (pontuação igual ou maior a 7, estádio I-III e em todos os casos de estádio Figo IV). A pontuação está associada ao risco de desenvolvimento de resistência à quimioterapia com agente único, orientando a escolha do melhor esquema de quimioterapia de primeira linha. Pacientes com pontuação igual ou maior a 12 apresentam maior mortalidade e são classificadas como ultra-alto risco, com tratamento sistêmico adaptado a essa condição. TTSP e TTE são classificados conforme o estadiamento anatômico Figo, sem escore de risco OMS, uma vez que o tratamento de eleição desses tumores é cirúrgico, e não quimioterápico. Antes de se iniciar o tratamento da NTG, é necessário estadiar a paciente conforme o sistema da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) 2000, como mostra a Tabela 20.1. Isso determinará os grupos prognósticos de NTG, baixo e alto risco, para resistência ao tratamento com QT por agente único. O estadiamento da NTG associa a distribuição anatômica da NTG (estádios I, II, III e IV) com o escore de risco da Organização Mundial da Saúde modificado, o qual utiliza fatores prognósticos para a resistência à QT por agente único. Um valor de 0, 1, 2 ou 4 é dado para cada fator de risco e o somatório desses valores classifica a paciente nos grupos de baixo ou alto risco: escore de 6 ou menos é doença de baixo risco, tratada com agente único de QT; escore de 7 ou mais é doença de alto risco e necessita de QT por múltiplos agentes (Ngan et al., 2002). O estádio IV é considerado NTG de alto risco e independe do valor do escore (Ngan et al., 2002). Tratamento da NTG de baixo risco (estádio I, II ou III: escore inferior a 7) As pacientes são tratadas inicialmente com agente único, metotrexato (MTX) ou actinomicina D (ACTD). Vários protocolos têm sido utilizados para o tratamento ambulatorial com MTX ou ACTD, a maioria fundamentada em estudos retrospectivos dos grandes centros de referência. Variação de 50% a 93% nas taxas de remissão completa ao tratamento quimioterápico de primeira linha reflete diferenças de dosagens, esquemas e vias de administração, bem como critérios de seleção das pacientes. Em geral, os protocolos MTX e ácido folínico (MTX/FA – oito dias, MTX 1 mg/kg nos dias 1, 3, 5 e 7 seguido por FA 0,1 mg/kg nos dias 2, 4, 6 e 8), MTX sem ácido folínico em regime de cinco dias (0,4 mg/kg – máximo de 25 mg por dia durante cinco dias) e ACTD (0,5 mg por dia em regime de cinco dias ou 1,25 mg2 a cada 15 dias) são mais efetivos que outros protocolos de agente único. Como a citotoxicidade desses medicamentos depende da fase do ciclo celular, quanto maior o tempo de exposição das células trofoblásticas ao quimioterápico, maior númerodessas células estarão em ciclo e serão destruídas Protocolos com uso do MTX são preferidos para tratamento de primeira linha da NTG de baixo risco pela eficácia, menor toxicidade e baixo custo. Em geral, a ACTD é tratamento de primeira linha na contraindicação para o uso do MTX (aumento das enzimas hepáticas, edema, derrames, cistos grandes de ovários ou quando as pacientes não tiverem condições socioeconômicas para aderir ao tratamento com MTX pela distância de seus domicílios). Além do tipo de protocolo de QT por agente único, outros fatores associados à falha do tratamento inicial incluem idade avançada, valor elevado de β-hCG pré-tratamento quimioterápico, antecedente de gravidez não molar, presença de doença metastática e escore de risco FIGO 5-6. Em geral, pacientes que desenvolvem resistência ao MTX são tratadas com ACTD (regime de cinco dias ou dose única a cada 15 dias). A observação de resistência da NTG de baixo risco para ambos, MTX e ACTD, indica tratamento com múltiplos agentes. A maioria dos especialistas recomenda consolidação do tratamento da NTG de baixo risco com três ciclos adicionais, depois de alcançado o primeiro valor normal do β-hCG (< 5 mUI/mL), quer tenha sido utilizado MTX ou ACTD – chamado de QT de consolidação. Isso é especialmente aconselhado para pacientes com estádio I, que necessitaram de agente único alternativo ou de múltiplos agentes, e para todas pacientes com metástase (estádio II ou III) (Lurain, 2011; Uberti et al., 2015; Michelin et al., 2007). A HTA é uma alternativa para tratamento inicial da NTG de baixo risco em pacientes de idade avançada (superior a 40 anos) e prole definida. Entretanto, é aconselhável uma dose de QT transoperatória e tratamento de consolidação pós-operatória, com três ciclos de QT, quando o resultado do exame anatomopatológico identifica CCA, uma vez que esse tumor apresenta característica invasora vascular precoce. Outras indicações de HTA seriam para tratamento das complicações do tumor, isto é, hemorragia genital, perfuração uterina e infecção pélvica. Além disso, é preconizado o tratamento cirúrgico para úteros com acometimento extenso por grande massa tumoral, posto que diminui a quantidade e a duração da QT. Tratamento da NTG de alto risco (estádio I, II ou III: escore ≥ 7; estádio IV) O protocolo EMA/CO (etoposídeo, MTX, ACTD na fase 1 e ciclofosfamida e vincristina na fase 2), formulado pelo grupo do Charing Cross Hospital (Londres, UK), apresenta-se como QT primária de escolha para NTG de alto risco, com taxas de resposta completa entre 70% e 80%. Alguns especialistas preferem o protocolo EP/EMA modificado (etoposídeo e cisplatina na fase 1 e etoposídeo, MTX e ACTD na fase 2, como primeira linha de tratamento para NTG de alto risco, considerando o efeito sinérgico da associação cisplatina e etoposídeo e o desenvolvimento de resistência na fase 2 (CO – ciclofosfamida e vincristina) do esquema EMA/CO (Seckl et al., 2013; Maestá et al., 2007). Independentemente do protocolo usado, a QT deve ser mantida por pelo menos três ciclos após a negativação do β-hCG, caracterizando o tratamento de consolidação, minimizando-se, assim, a NTG recidivante. Aproximadamente 30% das pacientes com NTG de alto risco desenvolvem resistência ou apresentam recidiva seguindo o uso do protocolo EMA/CO. Em geral, para essas pacientes, o tratamento de segunda linha é o protocolo EP/EMA, embora o grupo do Charing Cross Hospital tenha elaborado estudo prospectivo visando testar o protocolo TP/TE (paclitaxel/cisplatina-paclitaxel/etoposídeo), de menor toxicidade (em andamento). A cirurgia é útil para remoção de doença residual localizada e resistente ao tratamento quimioterápico em pacientes com NTG de alto risco, especialmente HTA e ressecção pulmonar. Também, na NTG recidivada, o resgate cirúrgico é apropriado para pacientes com foco isolado (solitário) de doença ativa. Importante salientar que, anteriormente ao procedimento cirúrgico, se deve propor o rastreamento da NTG por exames de imagem (TC de tórax, RM do abdome, pelve e cérebro – excluir RM do cérebro se não há metástase pulmonar – e quando disponível, o PET-CT). A finalidade é a de exclusão de múltiplas metástases, situação na qual somente a QT combinada é aplicada. Consolidação com tratamento quimioterápico é indicado dentro de uma a duas semanas após a cirurgia. Em alguns serviços, a radioterapia (RT), em combinação com a QT por múltiplos agentes, é indicada para o tratamento de metástases cerebrais e hepáticas, dependendo da extensão das lesões, por seu efeito hemostático e antitumoral. O uso do MTX intratecal é uma alternativa de tratamento para metástases cerebrais, em substituição à irradiação do crânio. Pacientes portadoras de NTG resistente são frequentemente expostas a grande quantidade de agentes e protocolos quimioterápicos. São exaustivamente tratadas, requerem QT intensiva, cirurgia e/ou RT. Nesses casos, pode ser necessário o uso de fator estimulante de colônias granulocíticas (GSF) para que se evite a descontinuidade do tratamento devido à neutropenia e possibilidade de resistência à QT. A administração de múltiplos agentes quimioterápicos exige apoio de um oncologista clínico, posto que são necessários habilidade e conhecimento para controle da toxicidade. A coordenação multidisciplinar por especialista com conhecimento geral de todas as modalidades terapêuticas da NTG, num centro de referência, melhora o prognóstico e a sobrevida das pacientes PROGNÓSTICO FUTURO REPRODUTIVO APÓS A DTG Até o momento atual, a prevenção primária de qualquer DTG é não engravidar. As pacientes que tiveram remissão espontânea da MH apresentam 98% a 99% de chance de desenvolver gravidez normal subsequente. Há risco de 1% a 2% de nova MH, o qual, embora pequeno, é cerca de 4 a 50 vezes maior se comparado com a população em geral. Assim, diante de uma nova gravidez, as pacientes devem ser orientadas a ter especial atenção à realização de US no primeiro trimestre, a fim de detectar precocemente a evolução normal da gestação. Da mesma forma, ao término de qualquer gravidez, a paciente deve ser submetida a dosagem de hCG após 42 dias, a fim de afastar a rara possibilidade de NTG pós-parto Após neoplasia trofoblástica gestacional, recomenda-se a anticoncepção para rastreio de eventuais recidivas por pelo menos 1 ano nas pacientes de baixo risco, 18 meses nas de alto risco e 5 anos nas pacientes de ultra alto risco, com metástase cerebral e/ou hepática, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide. A maior parte das pacientes com doença trofoblástica gestacional apresentará uma gestação subsequente com prognóstico semelhante a gestações de risco habitual.40,63,96,99,101 O risco de repetição de gestação molar em uma futura gravidez é de 1 a 2%, por isso é importante que seja realizada uma ultrassonografia precoce para confirmar que a gestação subsequente é normal.89,99,106 Contudo, parece ser fundamental que, para obter resultados satisfatórios em uma futura gestação, seja respeitado o prazo de 1 ano de anticoncepção. Alguns estudos têm demonstrado maior taxa de abortamentos espontâneos em pacientes que engravidaram com intervalo inferior a 6 meses em relação ao término da quimioterapia.41,100 Há um aparente aumento na incidência de natimortos nas gestações subsequentes de pacientes que foram submetidas a quimioterapia para neoplasia trofoblástica gestacional, no entanto, a causa ainda é desconhecida.99 Após o término de qualquer gestação após doença trofoblástica gestacional, deve ser confirmada a normalização do hCG após 4 a 6 semanas do término da gestação subsequente, pois há diversos relatos de progressão da neoplasia trofoblástica após novo evento gestacional. As mulheres com mola hidatidiforme prévia geralmente não têm prejuízo dafertilidade, e seus desfechos gestacionais costumam ser normais (Joneborg, 2014; Matsui, 2011; Sebire, 2003). Uma preocupação é o risco de 2% para o desenvolvimento de doença trofoblástica em gestação subsequente, o qual foi descrito anteriormente. O exame ultrassonográfico é recomendado no início da gravidez e a intervalos regulares, se houver indicação. As mulheres que completaram anteriormente com sucesso a quimioterapia para NTG são aconselhadas a postergar a gestação por 12 meses. A fertilidade e os desfechos da gravidez são tipicamente normais, e as taxas de anomalias congênitas não estão aumentadas (Berkowitz, 2000; Tse, 2012). Uma exceção é uma taxa mais alta e inexplicada de 1,5% de natimortos em comparação com uma taxa basal de 0,8% (Vargas, 2014). Após o tratamento para mola hidatidiforme ou NTG, na gestação subsequente, a placenta ou os produtos da concepção são enviados para avaliação patológica após o parto. Um nível sérico de β- hCG é medido 6 semanas após o parto Critérios de alto risco - Hipertireoidismo Mola de repetição Idade materna > 40 anos Embolização trofoblastica Cisto tecaluteínico > 6 cm Útero grande para IG Pré-eclampsia com inicio <20s hCG > 1000.000 mUi/mL em urina ou > 40.000 ml/mL de sangue Mola invasora As vilosidades da mola invadem o miométrio, por isso, é sempre uma sequela da mola hidatiforme Quando ela invade o miométrio tem risco de perfura o útero Raramente realiza metástase, então ela tem uma invasão local na parede uterina Coriocarnoma gestacional Secundário a mola ou egstação Ausencia de vilosidades Forma agressiva de rápida disseminação hematogênica Metástases frequentes O TST e TEP são formas raras, maioria é decorrente de gestação a termo Ou seja, houve malinização dessa placenta Tumor de sítio placentário Ausência de vilosidades Massas solidas no miom´[etrio padrão infiltrativo Restrita ao útero Pouca expressão de hCG Marcadores: HLP e Mel-CAM Ausência de p63 Disseminação por contiguidade Tumor epitelioide Ausência de vilosidades Padrão nodular Restrita ao útero Pouca expressão de hCG Forte marcação de p63 Ausência de hCG, HLP e Mel-CAM Metástase rara A apresentação clínica da NTG é mais importante do ponto de vista do tratamento e do prognóstico do que o diagnóstico histológico preciso.1,44-47 A mola invasora, outrora também denominada corioadenoma destruens, é doença confinada ao útero, caracterizada pela presença de vilosidades coriônicas hidrópicas, com proliferação trofoblástica que invade diretamente o miométrio. Raramente alcança locais extrauterinos. A mola invasora é sempre sequela da mola hidatiforme. Pacientes com mola invasora podem apresentar resolução espontânea em 40% dos casos.1,44-47 O diagnóstico de mola invasora é habitualmente clínico (NTG não metastática), e não histológico. A US fornece subsídios de valor ao mapear, por meio de Doppler colorido, a invasão do miométrio pelo trofoblasto, como mostra a Figura 14.20. A dilatação e a curetagem diagnóstica devem ser evitadas devido à possibilidade de perfusão uterina.1,44-47 Já a constituição celular do coriocarcinoma é dimórfica, com a presença de sincício e citotrofoblasto, mas não forma estrutura vilosa. É muito invasivo e metastático. Procede de qualquer tipo de gravidez: 50% de gestação normal, 25% de mola hidatiforme, 25% de abortamento e até de gravidez ectópica.1,44-47 Localizam-se coriocarcinomas em qualquer parte do útero. Apresentam superfície vermelho-escura (devido às hemorragias frequentes, repetidas, e à destruição de vasos). As dimensões variam de exíguas a volumosas massas, que deformam o órgão, e podem ser únicas ou múltiplas, irrompendo ou não para o peritônio. Algumas vezes mantêm relação com a cavidade do órgão; em outras oportunidades isso não ocorre, e é impossível o diagnóstico pela curetagem.1,44-47 A consistência é diminuída (há necrose em graus variados), e os tumores podem desagregar-se à realização do estudo anatomopatológico O tumor trofoblástico do sítio placentário foi inicialmente descrito como “pseudotumor trofoblástico” – uma lesão trofoblástica invasiva que se comportava benignamente e que surgia após gestação tópica normal.1,44-47 Mais tarde, esse blastoma foi denominado tumor trofoblástico do sítio placentário (placental site trophoblastic tumor – PSTT), caracterizado essencialmente por um trofoblasto intermediário (citotrofoblasto extravilositário) que se infiltrava no útero e nos vasos; raramente estão presentes vilos.1,44-47 Macroscopicamente, o PSTT forma massa branco-amarelada que invade o miométrio, podendo projetar-se para a cavidade uterina, assumindo aspecto polipoide. Forma rara de NTG, pode originar-se de qualquer tipo de gestação. Caracteriza-se pela ausência de vilosidades, com proliferação de trofoblasto intermediário (extraviloso), apresentando constituição celular monomórfica, o trofoblasto intermediário, caracterizado por célula grande, poligonal e irregular. O número de células de sinciciotrofoblasto mostra-se diminuído no PSTT, o que se reflete nos baixos níveis de hCG em geral encontrados.1,44-47 No PSTT, ao contrário do que ocorre no coriocarcinoma, não há tendência a invasão vascular precoce e generalizada. O coriocarcinoma compreende células trofoblásticas de origem vilosa, produtoras de hCG hiperglicosilado (hCG-H), com concentração variável de células sinciciotrofoblásticas multinucleadas secretoras de hCG regular.1,44-47 O PSTT, ao contrário, é neoplasia maligna do trofoblasto não viloso (intermediário), tecido morfológico e funcionalmente distinto, com citoplasma difuso denso. Em geral, o PSTT não é sensível à quimioterapia como as outras formas de NTG, daí a importância de sua distinção histológica. O PSTT geralmente apresenta quadro clínico de amenorreia ou de sangramento vaginal 2 a 5 anos após uma gestação normal, abortamento ou mola hidatiforme.50 Está associado a baixos níveis de hCG (< 200 UI/ℓ) e não cresce com o tempo, o que pode levá-lo a ser confundido com DTG quiescente.50 Embora o lactogênio placentário humano (hPL) possa ser útil para diagnosticar PSTT, seu uso está limitado à imuno-histoquímica e não como marcador tumoral plasmático. É valiosa a sua caracterização imuno-histoquímica com positividade para o hPL.1,44-47 A necrose celular está em geral ausente. Forma rara de NTG, apresenta características clínicas e terapêuticas diferenciadas, e seu diagnóstico requer estudo imuno-histoquímico de tecido tumoral. O PSTT apresenta positividade difusa para hPL e MEL-CAM (CD146) (anticorpo específico do trofoblasto intermediário), sendo fracamente positivo para hCG e PLAP (fosfatase alcalina placentária). O PSTT é produtor de hCG-β-livre, o que se traduz na urina por elevada concentração do fragmento b-core nessas pacientes. O hCG-β-livre > 35% é diagnóstico de PSTT [associado a níveis imuno-histoquímicos elevados de hPL (> +++)], o que o diferencia da DTG quiescente e do coriocarcinoma. A cirurgia assume papel crítico nesses casos e, felizmente, na maioria das pacientes a doença está confinada ao útero e é curada por meio de histerectomia, pois, comparado a outras neoplasias trofoblásticas, o PSTT é menos responsivo à quimioterapia.1,44-47 Já o tumor trofoblástico epitelioide (epithelioid trophoblastic tumor – ETT) é uma neoplasia de ocorrência rara e representa a mais nova categoria entre as neoplasias trofoblásticas gestacionais, relatada inicialmente como inúmeros nódulos uterinos de trofoblasto intermediário, ou ainda como coriocarcinoma atípico. Acomete, de modo geral, mulheres em idade reprodutiva, entre 15 e 48 anos, sendo raro na pós-menopausa. A apresentação clínica comum dos ETT consiste em sangramento transvaginal irregular após algum tipo de gravidez, notadamente gravidez a termo, abortamentoespontâneo e mola hidatiforme, mas recentemente foi relatada a presença de amenorreia. Metástases, geralmente nos pulmões, ocorrem em 25% dos casos. Existe elevação persistente de β-hCG em praticamente todos os casos de ETT, mas com valores baixos (< 2.500 UI/ℓ). Apesar de prognóstico favorável, observa-se evolução para óbito em 10% das pacientes com ETT. O intervalo de tempo entre a gravidez precedente e a manifestação do tumor varia de 1 a 18 anos (média de 6,2).1,44-47 O diagnóstico diferencial de ETT é feito entre coriocarcinoma, PSTT e carcinoma de células escamosas, e utilizam-se, além da avaliação clínica e ginecológica, o exame histopatológico e a imuno-histoquímica.1,44-47 O estudo imuno-histoquímico de ETT mostra imunoexpressão focal dos marcadores trofoblásticos hPL e hCG e positividade para citoqueratina 18, antígeno epitelial de membrana (EMA), p63, PLAP e inibina-alfa e taxa de proliferação celular (Ki-67) > 10%.1,44-47 Chamam a atenção relatos sobre pacientes com associação de ETT com focos de PSTT ou de coriocarcinoma, em 50% das vezes. Nesses casos, considera-se que os elementos trofoblásticos epitelioides levam à persistência de doença localmente invasiva e de resistência ao tratamento quimioterápico. Devido às semelhanças no comportamento biológico entre PSTT e ETT, o tratamento primário do ETT deve ser cirúrgico; diante de falha do tratamento cirúrgico, cogita-se quimioterapia.1,44-47 A apresentação clínica da NTG varia, a depender do evento gestacional que a originou, da extensão da doença e de seu diagnóstico anatomopatológico.1,44-47 Útero aumentado de volume, sangramento transvaginal irregular e persistência dos cistos tecaluteínicos nos ovários são sinais sugestivos de NTG.1,44-47 No entanto, mais de 50% das pacientes com NTG pós-molar não apresentam nenhum achado clínico e o diagnóstico é feito somente pelo platô ou aumento da hCG sérica dosada durante o seguimento após o esvaziamento uterino.51 Quando o CCA está associado a antecedente gestacional não molar, não há sinais e sintomas típicos, e estes são, em sua maioria, relacionados com a invasão do útero pelo tumor ou sítios de metástases, notadamente nos pulmões e na pelve.1,44-47 A disseminação da NTG ocorre pela via hematogênica,52 mais frequentemente para pulmão (80%) (Figura 14.21 A), vagina (30%) (Figura 14.21 B), cérebro (10%) (Figura 14.21 C) e fígado (10%) (Figura 14.21 D). As metástases pulmonares são, em geral, assintomáticas; porém, quando extensas, podem provocar dispneia, tosse, hemoptise e dor torácica.1,44-47 Nódulos vaginais metastáticos ocorrem mais frequentemente nos fórnices e na região suburetral. Podem causar leucorreia purulenta e sangramento de difícil controle, uma vez que apresentam exuberante vascularização.53 Sangramento resultante de perfuração uterina ou lesões metastáticas cursa com dor abdominal, hemoptise, melena e sinais e sintomas de aumento da pressão intracraniana (p. ex., cefaleia, convulsões, alterações na fala, distúrbios visuais e hemiplegia).1,44-47 A NTG é perfundida por circulação anômala, aberrante, com vasos frágeis que apresentam tendência a sangramento. Pelo elevado risco de hemorragia, não são recomendadas biopsias de sítios metastáticos.53 Em quase todas as pacientes com PSTT e ETT há sangramento uterino anormal, após longo período do evento gestacional anterior.54 São descritas também, ainda que em raras apresentações, virilização e síndrome nefrótica.55 Uma vez que os sintomas podem ser mínimos ou até mesmo ausentes, e o antecedente gestacional remoto, deve-se suspeitar de diagnóstico de NTG diante de toda mulher em idade reprodutiva com sintomas pulmonares ou sistêmicos inexplicáveis, notadamente na presença de metástases com sítio desconhecido de neoplasia primária.53