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Natalia Quintino Dias O parto Anatomia Durante o parto, o assoalho pélvico sustenta a cabeça fetal, enquanto o colo do útero se dilata para permitir a saída do feto. Pode haver lesão do períneo, do músculo levantador do ânus e dos ligamentos da fáscia da pelve durante o parto. Os músculos pubococcígeo e puborretal, e as partes principais e mediais do músculo levantador do ânus, são os que se rompem com maior frequência. O enfraquecimento dessas estruturas pode ocasionar incontinência urinária de esforço. Pelve É constituída por quatro ossos que possuem forma anelar e, através deles, o peso corporal é transmitido aos membros inferiores: o sacro, o cóccix e os dois ossos ilíacos, lateralmente. Esses ossos articulam-se por meio de três articulações: a sínfise púbica, a sacroilíaca e a sacrococcígea. A pelve materna é subdividida em pelves maior e menor. Essas duas são separadas pela linha inominada, uma margem óssea encurvada que vai do promontório sacral até a margem superior da sínfise púbica. Assim, a linha terminal delimita a abertura superior da pelve menor, ou bacia obstétrica. A pelve maior é circundada pela parte superior do cíngulo do membro inferior, e é ocupada pelas vísceras abdominais inferiores. A pelve menor (bacia obstétrica), é circundada pela parte inferior do cíngulo do membro inferior, que forma a estrutura óssea dos compartimentos da cavidade pélvica e do períneo no tronco, separados pelo diafragma da pelve. Para a avaliação da via de parto, é necessário apenas o conhecimento das dimensões da bacia menor, que é dividida nos estreitos superior, médio e inferior. No sentido da progressão fetal, os estreitos têm importância nas distocias ósseas (causadas por alterações na bacia obstétrica). Estreito superior O diâmetro anterior de maior interesse obstétrico é a conjugata vera obstétrica, traçado do promontório à face posterior da sínfise púbica, medindo de 10,5 a 11 cm. É considerado o trajeto real da cabeça fetal, entretanto, não é possível medir este diâmetro, sendo, então, estimado a partir da medida da conjugata diagonalis, que é o diâmetro traçado do promontório à borda inferior da sínfise púbica. A conjugata diagonalis é 1,5 cm maior do que a conjugata vera obstétrica e, após ser mensurada, é possível, através da Regra de Smellie (CO = CD – 1,5 cm), calcular o valor da conjugata obstétrica. Os valores médios das conjugatas diagonalis e obstétrica são 12 cm e 10,5 cm, respectivamente. Calcula-se o valor da conjugata diagnoalis (CD) pelo exame de toque, e a técnica baseia-se em tocar o promontório da paciente até a borda inferior da sínfise púbica. Introduzindo o dedo indicador, aplica-se seu extremo sobre a saliência do promontório e marca-se, com o dedo da outra mão, o ponto de encontro entre a face anterior do púbis e a mão que já o tocava. Retirada a mão que realiza o toque de dentro da vagina, mede-se com o pelvímetro a conjugata diagonalis. Se o promontório for inatingível, deduz-se que a conjugata diagonalis é maior do que 12 cm, e que a conjugata vera obstétrica é maior do que 10,5 cm. E, portanto, não se espera distocia de estreito superior. Estreito médio É delimitado, no sentido posteroanterior, pela concavidade do osso sacro com a borda inferior do osso púbico e, lateralmente, pelas espinhas Natalia Quintino Dias isquiáticas. O diâmetro anteroposterior é o sacromediopúbico, que vai do meio da concavidade do osso sacro até o meio da face posterior da sínfise púbica, medindo 12 cm. O diâmetro transverso é o biespinha isquiática, que se estende de uma espinha isquiática à outra, medindo 10,5 cm e é o ponto de maior estreitamento de todo o canal de parto, que coincide com o Ponto 0 de De Lee. Estreito inferior É delimitado, anteriormente, pela borda inferior do osso púbico, lateralmente, pelos músculos sacroilíacos e, posteriormente, pelo músculo isquiococcígeno. O menor diâmetro é a conjugata exitus (diâmetro anteroposterior) e mede cerca de 9,5 cm. No entanto, na fase final da expulsão fetal, após a deflexão da cabeça fetal, há retropulsão do cóccix materno, e esta medida amplia-se em 2 ou 3 cm. Tipos de bacia Classificação de acordo com Caldwell & Moloy (1933), que define quatro tipos fundamentais, classificados com base na forma do estreito superior. Bacia ginecoide É a pelve feminina típica, e corresponde a cerca de 50% das bacias femininas. Possui o melhor prognóstico para o parto vaginal. Bacia antropoide Representa aproximadamente 25% das bacias femininas. Não apresenta bom prognóstico para o parto vaginal, mas, ocorrendo insinuação, evolui bem. Bacia androide Apresenta características da bacia masculina normal e representa cerca de 20% das bacias femininas. O parto por via baixa também não tem bom prognóstico, pois a distocia é crescente com a descida. Bacia platipeloide Corresponde a 5% das bacias femininas. Esse tipo é achatado no sentido anteroposterior. A distocia é maior na insinuação, mas amenizada depois, não impossibilitando o parto pela via vaginal. Estática fetal Compreende as relações espaciais entre o organismo materno e o feto. São avaliadas atitude, situação, apresentação e posição do feto. Atitude fetal É a relação das diversas partes fetais entre si e depende da disposição dos membros e da coluna vertebral. A atitude fisiológica nas apresentações cefálicas é a flexão generalizada, com mento encostado no esterno. Em situações anômalas, pode haver extensão da coluna com deflexão do polo cefálico, levando às apresentações defletidas de 1º, 2º e 3º graus. A atitude fisiológica na apresentação pélvica é a chamada pélvica completa, com as coxas fletidas e aconchegadas ao abdome, e as pernas fletidas junto às coxas. As situações anômalas incluem o modo de nádegas (ou agripina), quando as pernas estão estendidas sobre a barriga fetal, ou, ainda mais raro, o modo de joelhos ou de pés. Natalia Quintino Dias Situação fetal É a relação entre o maior eixo fetal com o maior eixo da cavidade uterina, o que leva a três possibilidades de situação fetal: • longitudinal (95% dos casos); • transversa; • oblíqua. Posição fetal É a relação do dorso fetal com o abdome materno. Pode ser dorso à esquerda ou à direita, na situação longitudinal, ou dorso anterior ou posterior, na situação transversa. Apresentação fetal A apresentação é definida como a região fetal que ocupa a área do estreito superior da pelve materna, e nela vai se insinuar. Na situação longitudinal, as apresentações são cefálica (95% dos casos) ou pélvica. Na situação transversa, a apresentação é denominada córmica. Variedade de posição Relaciona um ponto de referência da apresentação fetal com um ponto de referência ósseo da bacia materna. Os pontos de referência são variáveis, sempre a depender do tipo de apresentação, e convencionou-se o emprego de duas ou três letras para a nomenclatura: A primeira letra diz respeito ao ponto de referência da apresentação fetal: O (occipício), B (bregma), N (naso), M (mento), S (sacro) e A (acrômio). → Na apresentação cefálica fletida, o ponto de referência é a fontanela posterior, lambda ou occipício (O). O menor diâmetro é o suboccipitobregmático, com 9,5 cm. → Na deflexão de 1º grau, o ponto de referência é o bregma (B). O prognóstico para parto via baixa ainda é bom. O menor diâmetro é o occipitofrontal, com 11 cm. → Na deflexão de 2º grau, a chamada apresentação de fronte, o ponto de referência é a glabela ou raiz do nariz, chamado naso (N). É o caso com pior prognóstico de parto por via baixa, pois o menor diâmetro é occipitomentoniano, com 13,5 cm. → Na deflexão de 3º grau, a chamada apresentação de face, o ponto de referência é o mento(M). O menor diâmetro é suboccipitobregmático, com 9,5 cm. → Na apresentação pélvica, o ponto de referência fetal é o sacro (S). → Na apresentação córmica, o ponto de referência é o acrômio (A). A segunda letra refere-se ao lado materno para o qual está voltado o ponto de referência fetal Natalia Quintino Dias (posição): D (direita) e E (esquerda), e esta letra é suprimida nas variedades anteroposteriores (sacral e púbica). De modo geral, as posições esquerdas são mais frequentes. A terceira letra indica a variedade de posição, estando o ponto de referência fetal voltado para o ponto de referência ósseo da bacia materna: A (anterior), T (transversa), P (posterior ou púbis) e S (sacro). Altura É determinada pelos Planos de De Lee. Manobras de Leopold-Zweifel Primeiro tempo: Deprime o fundo uterino para delimitá-lo e determina a situação fetal. Segundo tempo: Desliza as mãos do fundo uterino para o polo inferior do útero com o objetivo de sentir o dorso fetal e os braços e pernas, determinando sua posição. O dorso é uma região maciça e contínua. Terceiro tempo: Determina a apresentação fetal, ou seja, o polo fetal que se apresenta ao estreito superior da bacia, e sua mobilidade. Com o polegar e os dedos, imprimem-se movimentos laterais e, quando não está encaixada, a apresentação será palpada como um corpo móvel, geralmente a cabeça fetal. Se estiver encaixada, a mobilidade é pequena. Quarto tempo: Determina a insinuação, ou seja, o grau de penetração da apresentação na pelve materna. O examinador exerce pressão em direção ao eixo da entrada pélvica. Natalia Quintino Dias Fases clínicas do parto O parto é caracterizado por contrações das fibras miometriais, cujas principais funções são a dilatação cervical e a expulsão do feto através do canal de parto. Essas contrações são dolorosas; porém, antes do seu início, o útero sofre modificações fisiológicas e bioquímicas locais, concomitantes ao aumento da frequência de contrações indolores (Contrações de Braxton Hicks), até que o verdadeiro trabalho de parto seja deflagrado. Alterações que definem o diagnóstico do trabalho de parto: presença de contrações dolorosas e rítmicas (no mínimo de 2 em 10 minutos, com duração de 50 a 60 segundos cada); que levam a modificações progressivas no colo uterino (apagamento e dilatação). O parto pode ser dividido em 4 fases clínicas. 1º período: Dilatação O início do trabalho de parto (TP) depende da presença de contrações uterinas ritmadas combinadas e de mudanças progressivas do colo uterino (esvaecimento e dilatação). Nas primíparas, ocorrem nessa ordem, sucessivamente: primeiro o esvaecimento, de cima para baixo, e depois, a dilatação do orifício interno. Já nas multíparas, geralmente ocorrem simultaneamente. O primeiro período do trabalho de parto (dilatação) começa com as contrações iniciais e termina com a dilatação total de 10 cm. É dividido em duas fases: - Fase latente: período de tempo não necessariamente contínuo, no qual são identificadas contrações dolorosas com alterações cervicais, incluindo dilatação de até 5 ou 6 cm. - Fase ativa: contrações ritmadas e dolorosas, que promovem alterações cervicais progressivas de 5 a 6 cm até a dilatação total. Assistência ao 1º período É recomendado que a admissão hospitalar seja realizada na fase ativa do trabalho de parto. Sendo o melhor momento, quando apresenta: ● Contrações uterinas com intensidade moderada a forte, ritmo de 3 contrações a cada 10 minutos e duração superior a 40 ou 50 segundos. ● Dilatação cervical superior a 5 centímetros ou velocidade de dilatação de 1 cm/h mantida por, pelo menos, 2 horas. Se a paciente estiver em pródromos de TP, deve ser liberada para casa. Se na fase latente: reexaminar em 1 ou 2h para avaliar ritmo e intensidade das contrações e progressão da dilatação do colo. Está liberada a dieta com alimentos nutritivos e de fácil ingestão, além de líquidos. O acesso venoso deve ser feito apenas se houver necessidade de administração de drogas, analgesia ou em casos de indução do parto. O decúbito dorsal deve ser evitado, pois diminui o retorno venoso; portanto, a deambulação é livre. A tricotomia não é recomendada, e a lavagem intestinal (enema) também não deve ser realizada. A amniotomia (rotura artificial das membranas ovulares) só deve ser feita quando houver indicação, e não rotineiramente. O toque deve ser realizado com a menor frequência possível, principalmente em casos de bolsa rota, pois toques excessivos aumentam o risco de infecção. O trabalho de parto deve ser registrado em prontuário, iniciando em partograma (na fase ativa). A ausculta intermitente com sonar deve ser realizada a cada 30 minutos, iniciada imediatamente após uma contração, e mantida por pelo menos 2 contrações subsequentes (antes, durante e após as contrações) e 3 minutos contínuos. Nas pacientes de alto risco, a ausculta deve ser realizada a cada 15 minutos. A cardiotocografia deve ser realizada se houver indicação, como: • Alterações na ausculta intermitente. • Taquicardia materna (FC > 120 bpm). • Febre (T > 37,5ºC). • Suspeita de corioamnionite. • Dor suspeita referida pela paciente, não associada a contrações. • Presença de mecônio com significado clínico. • Sangramento vaginal. • Hipertensão arterial. Natalia Quintino Dias • Primeiro estágio do parto prolongado (dilatação < 0,5 cm/hora). • Presença de contrações com duração > 60 segundos ou frequência > 5 contrações em 10 minutos. • Uso de ocitocina endovenosa. Uso de ocitocina: apenas se indicação precisa. A medicação não deve ser usada rotineiramente, já que o uso indevido pode aumentar o risco de taquissistolia, ruptura uterina, sofrimento fetal e embolia de líquido amniótico. Usada apenas se parada de progressão do TP, por hipocontratilidade uterina (dilatação < 1 cm em 2h). O achado de líquido amniótico meconial, isoladamente, não é indicação de cesariana. Métodos não farmacológicos para alívio da dor podem ser utilizados, tais como banho morno, bola de pilates, massagem e música. A analgesia via bloqueio peridural, no geral, pode ser feita a partir de 4 ou 5 cm de dilatação; porém, não é um procedimento de rotina, já que pode trazer complicações como vômitos, hipotensão, retenção urinária e período expulsivo prolongado, com maior uso do fórceps. Respeita-se o limiar individual de dor. A presença constante de um acompanhante durante todo o parto é direito da parturiente. Exames admissionais: tipagem sanguínea ABO, fator Rh (caso a gestante não tenha documentado), coombs indireto se Rh negativo, VDRL e do teste rápido para HIV. 2º período: Expulsão Inicia-se quando a dilatação é total, ou seja, quando atinge 10 cm, e termina quando ocorre a completa expulsão do feto. Nessa fase, o feto é expelido do útero por meio da ação combinada das contrações uterinas e das contrações voluntárias e, aqui, ocorre o mecanismo de parto. Nesse período, são esperadas 5 a 6 contrações em 10 minutos, com cerca de 50 ou 60 mmHg e duração de 60 a 80 segundos. A duração média em primípara é de 50 minutos e em multípara, de 20 minutos. Podem ocorrer os puxos, comparáveis à “vontade de empurrar”, como na evacuação ou micção dificultadas. Período expulsivo prolongado: Ultrapassadas 3 horas de dilatação total sem nascimento, nas primíparas, ou 2 horas, nas multíparas. Se a paciente estiver sob analgesia, adiciona-se 1 hora. Assistência ao 2º período A paciente pode escolher a posição que se sentir mais confortável. No entanto, as posições verticalizadas são mais recomendadas do que a posição de litotomia. A ausculta cardíaca intermitente deve ser realizada com intervalos menores. De 15/15 min se riscohabitual, e 5/5 min se alto risco. A antissepsia da região perineal e a colocação dos campos estéreis podem ser realizadas (não é obrigatório). Para proteção do períneo, a manobra de Ritgen* modificada pode ser realizada. *A Manobra de Ritgen modificada é tecnicamente realizada comprimindo-se a parte de baixo da musculatura perineal com uma compressa na mão, enquanto a outra mão controla a deflexão da cabeça. A realização de episiotomia como rotina não é mais indicada, pois está associada com perdas sanguíneas aumentadas, infecções, dor no pós- parto e deiscência. Indicações relativas para a realização do procedimento: sofrimento fetal, parto instrumentalizado (uso de fórceps ou vácuo extrator), distocia de ombros, macrossomia fetal e identificação de risco aumentado de lesão perineal no momento do coroamento do polo cefálico. Quando indicada, a episiotomia deve ser médio lateral. A paciente deve ser informada sobre o procedimento, e a decisão pela sua realização deve ser compartilhada. A Manobra de Kristeller (compressão do fundo uterino) é proibida devido aos riscos de rotura hepática materna, de rotura uterina e de trauma fetal. Natalia Quintino Dias Após o nascimento do bebê, em situações de normalidade, o clampeamento tardio do cordão umbilical tem benefícios para o recém-nascido: melhora das reservas de ferro e dos níveis de hemoglobina nos primeiros seis meses de vida. Não há evidência sobre o tempo ideal para deixar o cordão intacto. A maioria dos estudos recomenda de 2 a 5 minutos, mas não se observam malefícios em manter o cordão até que pare de pulsar ou até a dequitação placentária. Na ausência de complicações maternas ou fetais, o recém-nascido deve ser entregue diretamente à mãe após o nascimento. O contato pele a pele precoce oferece benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê. Se possível, algum membro da equipe de assistência pode secar o bebê e colocar campos aquecidos, para que ele não tenha queda na temperatura corporal. A amamentação na sala de parto deve ser estimulada, se não houver contraindicações. 3º período: Secundamento (dequitação) É o período em que ocorre o descolamento, a descida e a expulsão da placenta. A duração média é de 5 a 30 minutos após o período expulsivo. Há dois tipos de dequitação: ● Baudelocque-Schultze: mais comum, o descolamento é central e a face fetal é vista primeiro pela rima vulvar. Há formação de hematoma retroplacentário e o sangramento sai depois da placenta. ● Baudelocque-Duncan: menos comum, o descolamento é marginal ou periférico. A face materna é vista saindo pela rima vulvar, e o sangramento escoa antes da saída completa da placenta. Assistência ao 3º período Condutas recomendadas: - 10 UI ocitocina IM pós-expulsão fetal. - Tração controlada de cordão. - Manobra de Fabre: avalia se a placenta já descolou. Coloca-se a mão no fundo do útero da paciente e faz-se leve tração de cordão. - Procedimento de Harvey: leve compressão do segmento inferior do útero para auxiliar a descida da placenta pelo canal vaginal. - Manobra de Jacob-Dublin: leve tração e torção axial da placenta para auxiliar no descolamento durante exteriorização. - Manobra de Credé (risco de inversão uterina, não deve ser feita): expressão uterina visando auxiliar o descolamento placentário. - Evitar: tração intensa do cordão e compressão intensa do fundo uterino. - Realizar revisão do canal de parto (laceração). 4º período: Greenberg (1ª hora pós-parto) Inicia-se imediatamente após a dequitação, sendo, dessa forma, a primeira hora do puerpério. É o período com maior risco de hemorragias e deve-se pensar nos 4Ts: 1) Tônus; 2) Trauma – Recomenda-se a revisão do trajeto, sempre que fizer um parto; 3) Tecido – É importante a verificação para ver se ficou algum resto placentário; 4) Trombina – A possibilidade de haver algum problema de coagulação deve ser checada. Trata-se de uma ocorrência mais rara, só deve ser avaliada após a exclusão dos demais possíveis problemas. Natalia Quintino Dias A hemostasia ocorre por 3 mecanismos: - Miotamponagem (contração uterina: ligaduras vivas de Pinard). - Trombotamponagem (coagulação do sangue). - Contração uterina fixa (globo de segurança de Pinard). Mecanismo de parto É um processo dinâmico, com acontecimentos concomitantes. 1º tempo: Insinuação A insinuação indica a passagem do maior diâmetro da apresentação fetal pelo estreito superior da bacia materna (plano 0 de De Lee). O maior diâmetro na apresentação cefálica é o biparietal, e na apresentação pélvica é o bitrocantérico. Nesse período, ocorre a redução dos diâmetros fetais, o que, no caso da apresentação cefálica, consiste na flexão (mais frequente) ou deflexão da cabeça. Nas primigestas, a insinuação do feto geralmente se dá cerca de 15 dias antes do parto; já nas multíparas, pode ocorrer a qualquer momento. Há, ainda, movimentos de flexão lateral, já que um dos ossos parietais atravessará o estreito superior antes do outro; essa situação é denominada de assinclitismo. Assinclitismo posterior (de Litzman): Quando a linha sagital se aproxima do púbis. Assinclitismo anterior (de Naegele): Quando a linha sagital se aproxima do sacro. Sinclitismo: Quando a linha sagital fica equidistante do púbis e do sacro. 2º tempo: Descida Passagem da apresentação fetal do estreito superior para o estreito inferior da pelve. A descida é acompanhada pelos Planos de De Lee, onde será verificada a altura da apresentação, sendo considerada: • Móvel: superior ao De Lee -3. • Ajustada/fixada: em De Lee -3, -2 ou -1. • Insinuada: De Lee 0. • Fortemente insinuada: De Lee +1, +2 ou +3. • Baixa: De Lee +4 ou +5 cm. 3º tempo: Rotação interna A rotação interna da cabeça tem o objetivo de coincidir o maior diâmetro do polo cefálico com o maior diâmetro da bacia, ou seja, fazer com que o polo cefálico se alinhe com o púbis. 4º tempo: Desprendimento cefálico O polo cefálico está em flexão, sendo necessário que ocorra movimento de deflexão ou extensão da cabeça para ocorrer exteriorização do maciço frontal. A fronte do feto rechaça o cóccix, aumentando esse diâmetro, o que se denomina retropulsão coccígea. 5º tempo: Restituição (rotação externa) Consiste em novo movimento, que acontece logo após o desprendimento total da cabeça fetal, quando o occipício se volta para o lado materno que ocupava no interior do canal de parto. Ao final deste processo, a sutura sagital apresenta-se em sentido transversal ao da fenda vulva. Ao mesmo tempo, as espáduas rodam, trazendo o diâmetro biacromial para o diâmetro anteroposterior do estreito inferior. Assim, o ombro anterior fica sobre a arcada púbica e o posterior fica em contato com o cóccix materno. Natalia Quintino Dias 6º tempo: Desprendimento do ovoide córmico Nessa parte final da expulsão fetal, há o desprendimento das espáduas, no qual, primeiramente, a espádua anterior aparece no orifício vulvar, seguida pela liberação da espádua posterior. Com a saída das espáduas, há liberação de todo o tronco fetal. Distócia de ombros A distocia de ombros (distocia biacromial) pode acontecer quando ocorre o desprendimento cefálico, sem progressão para desprendimento do diâmetro biacromial, após 60 segundos. Há o impacto do ombro anterior fetal atrás da sínfise pública, impedindo o seu desprendimento. O sinal da tartaruga, que é a visualização da retração da cabeça fetal contra o períneo materno durante contrações, pode ser observado com frequência. Fatores de risco • Episódio anterior de distócia de ombro. • Diabetes gestacional. • Pós-datismo. • Macrossomia fetal (>4500 g). • Baixa estatura materna. • Ganho de peso materno excessivo durante o pré-natal (IMC> 30). • Pelves anômalas. • Trabalho de parto prolongado. Complicações Podem ser maternas (hemorragia, lesão de reto, laceração de vagina e colo, atonia vesical, fístula, rotura uterina, disjunção púbica e neuropatia femural) e/ou fetais (escoriações, lesão plexo braquial, fratura úmero e clavícula, paralisia facial e do diafragma, sofrimento fetal, encefalopatia hipóxico-isquêmica e óbito). Conduta A correção da distócia objetiva aumentar o diâmetro anterior-posterior da pelve materna, diminuir o diâmetro biacromial do feto e alterar as relações entre a pelve materna e o biacromial fetal. -- Manobra de McRoberts: realiza-se o aumento do agachamento (na parturiente em posição vertical), ou a hiperflexão das coxas sobre o abdome (parturiente deitada). -- Manobra de Rubin I: pressão suprapúbica feita pelo auxiliar, sobre o lado do dorso fetal. Pode ser realizada ao mesmo tempo que a Manobra de McRoberts. Deve ser realizada por 30 segundos de forma contínua na diagonal, na tentativa de aduzir o ombro anterior. Se não houver sucesso, manter a manobra por mais 30 segundos em pulsos (como uma massagem cardíaca). A manobra pode ser realizada com o punho fechado ou com a mão espalmada. -- Manobra de Gaskin (all fours): caso as medidas não alcancem sucesso, coloca a parturiente em quatro apoios, para aumentar o diâmetro anteroposterior da pelve, além de permitir a mudança das relações entre os diâmetros fetais e maternos. Repete-se a manobra para desprendimento do polo cefálico, desta vez, através do ombro posterior. -- Posição de running start: solicitar que a parturiente eleve e dobre o joelho do lado do dorso fetal, como a posição de início de corrida, para maximizar a mobilidade da pelve. Em caso de insucesso, deve-se partir para manobras internas. -- Manobra de Rubin II: inicia-se com a colocação dos dedos indicador e médio sobre a escápula posterior fetal, empurrando o concepto para um Natalia Quintino Dias diâmetro oblíquo, com leve tração da cabeça (simultânea) para provocar o desprendimento. -- Manobra de Woods: se não houver resposta, os dedos sobre a escápula posterior devem ser mantidos, e os dedos indicador e médio da mão contralateral devem posicionar-se sobre a clavícula fetal, anteriormente, repetindo a tentativa de rotação no mesmo sentido. -- Manobra de Jacquemier: retirada do braço posterior para transformar o diâmetro biacromial em axiloacromial, de menor tamanho, causando a rotação do feto, que é retirado em OS. Se nenhuma dessas medidas, realizadas isoladamente ou em conjunto, for suficiente, medidas de resgate devem ser iniciadas: • Fratura da clavícula anterior. • Clidotomia: secção da clavícula com tesoura. • Manobra de Zavanelli: consiste em rodar a cabeça para a OP, fleti-la e reintroduzi-la lentamente na pelve materna, até as espinhas isquiáticas, e proceder para cesariana. Há evidências de que, na extração fetal com duração além de 7 a 8 minutos, há maior probabilidade de danos neurológicos permanentes para o feto, além do risco de óbito neonatal. Parto pélvico Incidência: 3-4%. A frequência dessa apresentação é maior, quanto menor for a idade gestacional. Há 3 tipos de apresentações pélvica: É indicação de cesárea nas seguintes situações: • Peso fetal estimado entre 750 e 2.000 g. • Idade gestacional < 34 semanas. • Fetos macrossômicos (> 4.000g). • Vício pélvico. • Cesariana anterior. • Amniorrexe prematura. • Malformação fetal (compatível com a vida). • Obstetra inexperiente. • Procidência de membros. Mecanismo de parto pélvico Cuidados gerais Não tracionar o feto, pois pode defletir a cabeça, impondo dificuldades ao parto. Solicitar a presença de anestesiologista, neonatologista e médico auxiliar. Manter a bolsa íntegra até a dilatação total. Realizar monitorização fetal rigorosa. Manter o dorso fetal orientado anteriormente (as costas do feto viradas para a frente da mãe). Realizar alça de cordão umbilical após a saída parcial do tronco. Considerar realização rotineira de episiotomia ampla e tardia. O polo pélvico mantém-se alto, até que o trabalho de parto se encontre bastante avançado, muitas vezes até a dilatação total e a rotura da bolsa amniótica. Os tempos do mecanismo de parto diferem das apresentações cefálicas: ocorrem insinuação, descida e rotação do polo pélvico, desprendimento das espáduas e desprendimento da cabeça. Na evolução fisiológica do trabalho de parto pélvico, três manobras podem ser realizadas: ● Manobra de Thiessen: recomendada para o sucesso da expulsão fetal, que será em bloco. Consiste em pressionar o períneo para impedir o desprendimento da pelve fetal por 2 ou 3 contrações e, com isso, o aumento da pressão interna promove a dilatação completa do colo. ● Manobra de Bracht: adota-se atitude passiva, sem tracionar, apenas orientando o feto, que é rebatido sobre o abdome da mãe. Faz a elevação do dorso fetal ao encontro do abdome materno e a retirada suave dos braços, auxiliada pelo obstetra, ou espera do desprendimento espontâneo com a ajuda de pressão suprapúbica, realizada pelo assistente. Quando desprendida a cabeça, o auxiliar mantém a pressão suprapúbica, enquanto o operador acentua a lordose fetal. Natalia Quintino Dias Manobras para o desprendimento das espáduas Manobra clássica: apreende-se um dos braços fetais e o traciona pela face anterior do tórax fetal. Manobra de Deventer-Müller: são feitos movimentos pendulares de abaixamento e elevação do corpo fetal, para que o ombro anterior se encaixe no subpúbis e, em seguida, seja feita a manobra clássica. Manobras para o desprendimento da cabeça derradeira Manobra de Liverpool: consiste em deixar o corpo do feto pendendo, sem sustentação, por 20 segundos, a fim de promover a descida do polo cefálico. Após esse período, o feto é levantado de tal forma que sua cabeça gire em torno da sínfise materna. Deve ser associada à Manobra de McRoberts. Manobra de McRoberts: hiperflexão das coxas da parturiente sobre o seu ventre. Alinha-se a coluna lombar da paciente, reduzindo a lordose e ampliando os estreitos médio e inferior da pelve. Caso seja necessário o uso do fórceps, a escolha será pelo Fórceps de Piper. Partograma É uma representação gráfica do trabalho de parto, obrigatório pela OMS. É possível acompanhar e documentar a evolução do parto, diagnosticar alterações (distocias) e evitar intervenções desnecessárias. O partograma deve ser aberto na fase ativa do trabalho de parto. ∆: dilatação da paciente e evolução em horas. : corresponde a 1h. O: representa a altura da apresentação. A descida será acompanhada pelos Planos de De Lee. Outras variáveis documentadas no partograma são Frequência Cardíaca Fetal (FCF), número de contrações (e sua intensidade), condições da bolsa das águas e do líquido amniótico, uso ou não de ocitocina e de medicamentos, fluidos e anestesia, além da assinatura do examinador. É necessário traçar duas linhas que irão avaliar a evolução da dilatação: Linha de Alerta: traçada na hora seguinte da dilatação inicial: precisa tangenciar o primeiro registro de dilatação do colo uterino (não é para cruzar o triângulo). Ao cruzar essa linha, é preciso que haja maior observação clínica sobre esse trabalho de parto. Linha de Ação: traçada 4 horas depois da linha de alerta. Quando a curva de dilatação cruza a Linha de Ação, significa apenas que alguma intervenção deve ser feita, não necessariamente a resolução por via alta. Distócias de dilatação Fase ativa prolongada Ocorre quando a dilatação progride, porém lentamente, < 1cm/hora. Geralmente está associada a distócia funcional -> contrações ineficientes. Pode-se ter um útero que contrai pouco, ou de maneira desregulada. A opçãopossível para correção é melhorar o padrão contrátil, seja com deambulação, ocitocina ou amniotomia. Parada secundária de dilatação A dilatação não progride em dois toques consecutivos, intervalados em, pelo menos, 2 horas. Pode ser decorrente de desproporção cefalopélvica absoluta, quando o tamanho do feto é maior do que a bacia materna, ou relativa, Natalia Quintino Dias quando há deflexão e o diâmetro do feto é maior, ou, ainda, nas variedades de posição transversas ou posteriores. Se desproporção cefalopélvica absoluta, o parto via alta é a melhor alternativa. Se descartado DCP, pode ser feita amniotomia, deambulação ou analgesia. Parto precipitado O parto precipitado (taquitócico) é aquele em que a dilatação, a descida e a expulsão fetal ocorrem em 4 horas ou menos. É causado por taquissistolia e hipersistolia, que podem ser espontâneas ou iatrogênicas, pelo uso inadequado de ocitocina. Pode estar associado a sofrimento fetal agudo e lacerações do canal de parto. Já não há tempo do trajeto adaptar-se à descida, o que predispõe a hemorragia pós-parto. Quando é iatrogênico, suspende-se a ocitocina até as contrações se normalizarem e, quando espontâneo, pode-se colocar a paciente em DLE, hidratá-la e colocar oxigênio em cateter nasal. Distocias do período pélvico No período pélvico ou expulsivo, as distocias só podem ser identificadas na presença de dilatação total do colo uterino. Período pélvico prolongado Ocorre quando a dilatação é completa, mas a descida da apresentação é lenta. A causa é a contratilidade uterina deficiente (o útero está empurrando pouco, ou seja, há falha no motor). É possível corrigir com ocitocina, amniotomia ou fórcipe, quando há indicação. As posições verticalizadas também ajudam na descida. Parada secundária da descida A parada secundária de descida ocorre quando há dilatação completa e a descida não progride em 2 toques sucessivos, em pelo menos 1 hora. As contrações geralmente estão boas, e a causa mais comum é a desproporção cefalopélvica. E, nesse caso, a opção é fazer uma cesárea. Parto vaginal instrumentalizado Fórceps De forma geral, o fórceps apresenta uma colher, um ramo e um cabo. A colher apresenta a curvatura cefálica; o ramo, a zona articular; e o cabo, o local em que o tocólogo realiza a tração. Seu uso é restrito a algumas situações e tem a função de apreender o polo fetal, tracionar e rodar. Indicações: - Sofrimento fetal ou BCF não tranquilizadores. - Exaustão materna. - Cardiopatias maternas, para abreviar o período expulsivo. - Cicatriz uterina prévia. - Comorbidades maternas que contraindiquem a Manobra de Valsalva (doença cardíaca classe III ou IV, crises hipertensivas, miastenia gravis, lesão de medula, retinopatia proliferativa). Natalia Quintino Dias - Variedade de posição anômala como OS ou OT. - Apresentação anômala, como a apresentação de face. Para o uso desse instrumento, algumas condições devem estar garantidas, como ausência de desproporção cefalopélvica; bolsa rota; conhecer a variedade de posição; dilatação total; feto insinuado e vivo. A pega correta é a biparietomalomentoniana: Se for necessário o uso do fórceps, alguns cuidados devem ser realizados após o parto, como: fazer a revisão de colo e das paredes vaginais e sutura de eventuais lacerações; fazer exame de toque retal antes e depois da episiorrafia; examinar o recém- nascido para avaliar possíveis lesões; fazer paracetamol ou AINE como analgesia, se necessário; monitorar diurese, até́ 12 horas pós- parto, principalmente se analgesia regional for realizada, e em casos de retenção urinária; avaliar volume residual; oferecer fisioterapia pélvica para prevenir incontinência urinária. Classificação O fórceps médio é utilizado quando apenas 1/5 da cabeça fetal é palpável na região abdominal. O polo cefálico está insinuado, porém não atingiu o Plano +2 de De Lee. O fórceps baixo é usado quando a cabeça fetal está no Plano +2 de De Lee, ou abaixo dele, porém ainda não atingiu o assoalho pélvico. O fórceps de alívio é empregado quando o couro cabeludo é visualizado no introito vaginal, sem, contudo, entreabrir os grandes lábios. Tipos Simpson-Braun: Utilizado nas variedades de posição anteriores e posteriores, sem bossa importante, em que se deva proceder rotação de, no máximo, 45°, para resolver o período expulsivo prolongado. Kielland: Pode ser aplicado em todas as condições (variedades oblíquas, diretas e transversas), mas, de preferência, nas posições transversas, pois com ele é possível rodar o feto (grandes rotações de 90º e 135º), ou nas posições anteriores e posteriores com bossa serossanguínea significativa, uma vez que permite uma pega assimétrica. Piper: Indicado no desprendimento da “cabeça derradeira” no parto pélvico, ou seja, quando há dificuldade de desprendimento do polo cefálico. Vácuo extrator O vácuo causa menos traumas maternos do que o fórceps, porém aumenta o risco de céfalo- hematomas e hemorragias intracranianas. Contraindicações Prematuridade: não deve ser utilizado abaixo de 34 semanas. Apresentações pélvica, de face, de fronte ou transversa. Dilatação incompleta. Feto não insinuado. Suspeita de DCP. Indução do parto Consiste em estimular artificialmente o preparo do colo e as contrações uterinas coordenadas e efetivas antes de seu início espontâneo, levando ao desencadeamento do trabalho de parto, em mulheres a partir da 22ª semana de gestação. Indicações ● Gestação prolongada (> 41 semanas): para reduzir a mortalidade perinatal e a síndrome de aspiração meconial. ● Diabetes: para diminuir a incidência de macrossomia fetal e suas complicações. ● RPMO (> 34 semanas ou antes na vigência de infecção): para reduzir o risco de corioamnionite e endometrite e admissão em UTI neonatal. Natalia Quintino Dias Contraindicações absolutas Desproporção cefalopélvica, apresentação fetal anômala, cicatriz uterina, placenta prévia, obstrução do canal de parto, carcinoma cervical invasivo, macrossomia, sofrimento fetal, prolapso de cordão, herpes genital com lesões ativas, malformações uterinas. Para a indução dar certo, o colo precisa estar maduro. Essa maturação é quantificada através do Índice de Bishop, que avalia as características do colo (dilatação, apagamento, posição e consistência) e a altura da apresentação (Planos de De Lee). Índice > 6: colo maduro e favorável. Índice ≤ 6: o colo é considerado imaturo e desfavorável. Nessa situação, a maturação cervical não foi completa, com baixa probabilidade de parto vaginal após a indução, sendo necessária, então, a utilização de métodos artificiais para se atingir a maturação cervical. Maturação cervical Pode ser feita por métodos farmacológicos ou não farmacológicos, os métodos mecânicos. Prostaglandinas: O uso de misoprostol (prostaglandina sintética E1) análogo à dinoprostona é o método de escolha para o preparo cervical, através da via vaginal. Existem várias apresentações disponíveis (uso vaginal ou oral; apresentação de 25 a 200 mcg). A dose empregada para indução de partos a termo, com feto vivo, é de 25 mcg. A técnica consiste na administração de 1 cp de 25 mcg a cada 4 a 6 horas, por via vaginal, em fundo de saco posterior. O uso de doses maiores está associado a um maior risco de taquissistolia (5 ou mais contrações em 10 min, detectadas por duas vezes consecutivas, em 20 min, ou presença de contração uterina ≥ 120s), rotura uterina e, consequentemente, sofrimento fetal (cardiotocografia de categorias II e III). Está contraindicado em pacientes com cirurgia uterina ou cesariana anterior. A administração de ocitocina só pode ser iniciada após 4 a 6 horas douso do misoprostol, sendo contraindicado o uso concomitante pelo efeito sinérgico apresentado, aumentando os riscos de complicações. Dilatadores Osmóticos (Laminária): são dispositivos compostos de materiais hidrofílicos naturais ou sintéticos que, ao absorver água, aumentam gradativamente de espessura e promovem dilatação cervical. São indicados quando o método farmacológico não pode ser utilizado. A principal complicação associada é a infecção, seja endometrite ou sepse neonatal, principalmente com o uso de laminária marinha, pois patógenos podem estar presentes, mesmo após o processo de esterilização. Descolamento digital de membranas: é um método clinicamente muito conhecido e utilizado tanto para a maturação cervical como para estimular o início do trabalho de parto espontâneo. Porém, tem nível de evidência baixo. Aparentemente, ocorre um aumento de prostaglandinas no local de descolamento e na circulação materna, o que seria responsável pelo início das contrações uterinas. -> É feito o toque vaginal e, ao se ultrapassar o orifício interno do colo, realiza-se movimento circular com o objetivo de separar as membranas amnióticas da parte inferior do segmento uterino. Balão transcervical (Krause): utilizado quando o misoprostol é contraindicado (paciente com cicatriz uterina). Uma sonda vesical de grosso calibre é inserida acima do orifício interno do colo, através de exame de toque ou com espéculo vaginal, e se insufla com água destilada. A ação mecânica direta sobre o colo uterino promove estímulo à liberação de prostaglandinas, pela separação causada na membrana do cório, Natalia Quintino Dias princípio semelhante ao se realizar o “descolamento digital” da bolsa. A presença de amniorrexe (membranas rotas) é uma contraindicação relativa o uso do método. -> A técnica consiste em limpar o colo e a vagina com solução antisséptica (clorexidina aquosa); inserir a sonda de foley número 16 ou 18 e encher o balão com 60 mL de soro fisiológico a 0,9%; tracionar e fixar a sonda na face interna da coxa da paciente (com esparadrapo); manter o balão tracionado por, no máximo, 24 horas. Indução com ocitocina A ocitocina é um análogo sintético idêntico à ocitocina endógena, que é um hormônio sintetizado nos núcleos paraventriculares e supraóptico do hipotálamo, e liberado de forma pulsátil pela neuro-hipófise. Ocorre uma melhor resposta nas últimas semanas de gestação, quando há aumento do número de receptores no útero. É a medicação de escolha para indução do trabalho de parto em colos maduros (estimula as contrações uterinas). Deve ser administrada, preferencialmente, em Bomba de Infusão Contínua (BIC). A administração é feita, diluindo-se 5 UI de ocitocina (1 ampola) em 500 mL de soro glicosado a 5%, , formando uma solução com concentração de ocitocina de 10 mUI/mL. Inicia-se a indução com infusão de 2 mUI/min (12 mL/h em BIC ou 4 gotas/min, se BIC indisponível). Aumenta-se 2 mUI a cada 15 minutos, até se obter padrão de contração uterina adequado, ou até atingir a dose máxima de 32 mUI/min. Apesar da ação rápida (3 a 5 minutos), tanto para início da estimulação quanto da sua cessação quando a infusão é suspensa, não é usualmente indicada quando o colo ainda é imaturo. A avaliação da vitalidade fetal deve ser feita com o uso da cardiotocografia. Caso haja taquissistolia, a infusão de ocitocina deve ser completamente suspensa e a correção é feita com medidas de ressuscitação intraútero, como hidratação rápida e vigorosa, oxigênio em cateter nasal de O2 e decúbito lateral esquerdo. Se necessário, o uso de terbutalina está indicado para tocólise.