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Natalia Quintino Dias Doenças exantemáticas Exantema: é uma erupção cutânea generalizada aguda, de curta duração, associada a infecção sistêmica primária. Varia na sua distribuição, na sua progressão e em algumas características morfológicas. Formas de manifestação Tipos de exantemas Exantema maculopapular • Morbiliforme: máculas e pápulas avermelhadas, confluentes ou não, com áreas de pele sã de permeio, exantema típico do sarampo; • Urticariforme: erupção papuloeritematosa com contornos irregulares, pode se apresentar em placas, comumente relacionado a reações medicamentosas. • Escarlatiniforme: eritema difuso, puntiforme, uniforme, áspero (em lixa), sem áreas de pele sã. Normalmente, os exantemas desaparecem à digitopressão; • Rubeoliforme: semelhante ao morbiliforme, mas de coloração rósea e com pápulas menores, presente na rubéola e em enteroviroses. Ocorre áreas de eritema entremeadas com áreas de pele sã; • Papulovesicular: sucessão de máculo-pápulas em vesículas, vesicopústulas e crostas, como na varicela. • Petequial ou purpúrico: alterações vasculares (extravasamento de hemácias) com ou sem alterações das plaquetas ou da coagulação, como na meningococcemia. Formato dos exantemas Pápula: lesão sólida, circunscrita, elevada, < que 1cm de diâmetro, causada por processo dérmico, epidérmico ou misto; Mácula: alterações da cor da pele sem relevo ou depressão. Podem ser divididas em vasculossanguíneas, devido à congestão, dilatação ou constrição de vasos, ou pigmentares, devido ao extravasamento de hemácias ou acúmulo de melanina; • Febre tifoide; sífilis secundária; meningococcemia; doença de Lyme; rubéola; sarampo; adenovírus; alergia; eritema multiforme ou marginado; LES. Vesícula: elevação circunscrita da epiderme, contendo líquido claro, seroso, que pode se tornar amarelo, pustuloso, ou rubro, hemorrágico; • Varicela-zóster; gonococcemia; estafilococcemia; foliculites; enterovírus; parvovírus B19. Bolhas: vesículas maiores; Petéquia: mancha vermelha que não desaparece à vitropressão, causada pelo extravasamento de hemácias na derme, com até 1 cm de diâmetro. Na sua evolução, torna-se arroxeada e verde- amarelada. Natalia Quintino Dias • Meningococcemia; gonococcemia; tifo epidêmico; toxoplasmose congênita; rubéola; dengue; hepatite B; vírus Epstein-Barr; alergia; coagulopatia. As mais importantes são: sarampo, escarlatina, rubéola, eritema infeccioso, exantema súbito, varicela, mononucleose infecciosa, toxoplasmose, doença de Kawasaki, síndrome do choque tóxico e meningococcemia. Sarampo É uma condição infecciosa aguda, de natureza viral, transmissível e extremamente contagiosa, além de caracterizar-se por ser um exantema maculopapular. Etiologia É causado pelo vírus Paramyxovirus. As imunoglobulinas IgG e IgM estimuladas pela infecção ou vacina aparecem em torno do 12º ao 15º dia após o surgimento do rash e atingem o nível máximo do vigésimo primeiro ao 28º dia. Assim, IgM indica infecção ou vacinação recente, enquanto IgG indica infecção anterior ou imune. Transmissão O vírus dissemina-se com elevada frequência entre os suscetíveis por contato direto ou por partículas. O contágio se faz por gotículas contaminadas que entram em contato com as vias aéreas desde dois dias antes do início dos pródromos até quatro dias após o aparecimento do exantema. Os reservatórios naturais são o ser humano e os macacos. O sarampo manifesta-se, na maioria das vezes, em crianças ou adultos não vacinados. Fisiopatologia Após a penetração do vírus no organismo, pelas vias aéreas superiores ou mucosas, ocorre a viremia com proliferação em tecidos linfáticos, denominada de viremia primária, período de maior disseminação, período prodrômico, ou seja, antes da manifestação do exantema. Após sete a 11 dias, pela progressão da viremia, instala-se a viremia secundária, acometendo principalmente pele, conjuntiva e mucosa do trato respiratório. O achado patológico característico é representado pelas células gigantes disseminadas. Quadro clínico Durante o período de incubação: febre baixa a moderada, tosse seca, coriza e conjuntivite. Após, surgem as manchas de Koplik: pontos brancoacinzentados pequenos e com discreta hiperemia periférica que surgem à altura dos molares na mucosa jugal, desaparecendo em até 48hrs (aparecem de 1-2d antes do exantema e desaparecem de 2-3d após o início do exantema). A febre ainda se mantém até três ou quatro dias após o surgimento do exantema, com pico máximo no início do período exantemático (38,5 a 40,5 °C), declínio após 24 horas e posterior exacerbação, a queda ocorre após o 3º ou 4º dia do exantema. Febre persistente após o quarto dia do exantema, o que impõe minucioso exame clínico à procura de infecção bacteriana secundária. O quadro clínico é mais exuberante nos dois dias após o aparecimento do exantema: febre elevada, exantema difuso, manchas de Koplik possivelmente presentes, conjuntiva congesta, fotofobia, lacrimejamento, coriza abundante e tosse produtiva, constituindo a “fácies sarampenta”. O exantema é do tipo eritematoso, maculopapular e morbiliforme, com progressão craniocaudal, iniciando-se na região retroauricular e no pescoço, evoluindo para região torácica e dorso e, finalmente, para os membros. O exantema começa a esmaecer em torno do 3º ou 4º dia, na mesma sequência que apareceu, deixando manchas acastanhadas. As lesões exantemáticas evoluem para descamação furfurácea (farelo). O isolamento respiratório é recomendado para pacientes internados até 4 dias após o início do exantema. Natalia Quintino Dias Fator de risco para complicações: imunodeficiência, evidências de hipovitaminose A, cegueira noturna, manchas de Bitot ou xeroftalmia, doença intestinal, má absorção e desnutrição moderada. Sarampo modificado: acomete crianças parcialmente imunes, adolescentes e adultos vacinados. Apresenta sintomas discretos, e contágio mínimo. Sarampo atípico: mais comum em adultos, vacinados ou história de sarampo. Sintomas ocorrem, e as manchas evoluem no sentido contrário e podem ter complicações. Sarampo vacinal: reação vacinal à vacina, com febre e rash discreto (entre 6º e 12º dia). É não transmissível. Crianças imunocomprometidas: facilita complicações bacterianas (pneumonia, encefalite). Diagnóstico É clínico, suspeitar sempre que houver febre e exantema maculopapular, acompanhado de tosse e/ou coriza, conjuntivite com ou sem fotofobia. Se suspeita de sarampo -> notificação obrigatória imediata (dentro de 24hrs) + medidas de proteção e bloqueio do surto + isolamento. Exames laboratoriais A confirmação do caso será feita por testes laboratoriais: sorológicos e isolamento viral em duas amostras de sangue coletadas com intervalo de 28 dias. - IgM se torna positivo no terceiro dia após o aparecimento do rash, e negativo após 30 dias - IgG se torna positivo ao redor do sétimo dia após o aparecimento do rash, e tem seu pico no 14º dia da doença. - PCR viral positivo após 3º dia de rash, negativo entre 7º e 10º. Diagnóstico diferencial: todas as doenças exantemáticas, principalmente rubéola, exantema súbito, infecções enterovirais ou adenovirais, mononucleose infecciosa e toxoplasmose. Tratamento Se sem complicações: medida de apoio clínico e sintomático (antitérmicos, repouso ao leito, hidratação adequada). Vitamina A < 6 meses: 50mil UI – VO, 2 doses (1 no dia do diagnóstico e no dia seguinte); 6-11 meses e 29d: 100mil UI em cápsula VO, 2 doses; > 12 meses: 200mil UI em cápsula – 2 doses. Prevenção Vacina tríplice viral – sarampo, caxumba e rubéola (SCR) – crianças >12 meses + dose treta viral aos 15 meses, SCR + varicela. Profilaxia para contactantes Vacinaçãode bloqueio (até 72hrs da exposição), apenas se esquema vacinal incompleto. • Dose habitual da vacina SCR Indivíduos imunocomprometidos, grávidas susceptíveis e lactentes menores de 6: devem receber imunoglobulina IM ou EV, preferencialmente nas primeiras 96 horas após exposição, ou até 6 dias após o contato. • A dose de VZIG recomendada é de 0,5 mL/kg IM até um máximo de 15 mL. Complicações Principais: otite média, encefalite e pneumonia viral ou bacteriana. Suspeitar de complicação bacteriana se os sintomas não cederem após o 4º dia de exantema. Rubéola A rubéola é causada pelo togavírus, um vírus de RNA. Pode apresentar-se de duas formas: rubéola congênita, quando a transmissão ocorre de forma vertical durante a gravidez, e rubéola adquirida, quando a transmissão acontece horizontalmente. Rubéola congênita ou pré-natal Embora a maioria dos recém-nascidos (RNs) infectados apresente forma assintomática, em alguns casos a infecção pode ser grave, com morte intrauterina ou apresentar a sua forma congênita. Se a transmissão maternofetal ocorre nas primeiras 12 semanas de gestação, há 90% de chance de complicações, como malformações. Essa taxa diminui entre a 12ª e a 28ª semana de gravidez. Desse momento até o fim da gravidez, volta a aumentar, podendo chegar a 100% de transmissão para o feto. Quanto antes ocorre a infecção fetal, maiores e mais graves podem ser as sequelas. Entre elas, a tríade clássica formada por catarata, surdez neurossensorial e cardiopatia congênita. Retinopatia, glaucoma congênito, microcefalia, Natalia Quintino Dias meningoencefalite e retardo mental também podem ser observados. A rubéola congênita é uma doença crônica e progressiva, frequentemente silenciosa na sua evolução (o RN pode apresentar sinais – plaquetopenia, hepatite, pleocitose no LCE, transmitir a doença e excretar durante quase um ano em suas secreções). Rubéola adquirida Apresenta período de incubação de 12 a 23 dias após surgir a fase prodrômica, sendo subclínica em 25 a 40% dos casos. Quadro clínico - Podem surgir sintomas gripais, como secreção nasal após período de incubação. - Depois ocorre linfadenopatia retroauricular, cervical posterior e pós-occipital, dolorosa – dura até 1 semana ou mais, sempre precede o surgimento do exantema em pelo menos 24 horas. - O exantema tem evolução rápida, bem como sua duração. Inicia-se um a dois dias após os pródromos, começando pela face e progredindo rapidamente para tronco e membros. O tipo mais comum de exantema é o maculopapular róseo, mas pode se apresentar escarlatiniforme ou rendilhado como o do eritema infeccioso, parvovírus B19. A erupção costuma se esvaecer em até 3 dias do seu início. Quando há descamação, é discreta, e, eventualmente, ocorre rubéola sem haver o exantema. Algumas vezes, pode surgir o enantema logo antes do exantema, cerca de 20% dos casos. O enantema caracteriza-se por manchas róseas distintas no palato mole denominadas manchas de Forchheimer, que podem coalescer em uma única mancha vermelha. A mucosa faríngea e as conjuntivas podem apresentar-se discretamente inflamadas, porém, diferentemente do sarampo, não há fotofobia. - Poliartrite com artralgia, observada em 30% dos adultos (+ em adolescentes e mulheres), tumefação, dor à palpação e derrame articular podem acometer qualquer articulação, no entanto, as pequenas articulações são mais afetadas, com duração de alguns dias a duas semanas, não apresentando resíduos do processo após esse período, na grande maioria das vezes. Transmissão Ocorre por meio da inalação de gotículas respiratórias em suspensão no ar ou pelo contato direto com o caso-índice. Durante a doença aguda, o vírus está presente nas secreções nasofaríngeas, no sangue, nas fezes e na urina. O tempo de contágio inicia-se em até 5 dias antes da erupção e se mantém até 7 dias após o exantema. O isolamento para pacientes internados é respiratório e de contato para os casos adquiridos pós-parto, até sete dias após o exantema. As crianças com infecção congênita são consideradas infectantes até 1 ano de idade ou até que a pesquisa de vírus na nasofaringe e na urina se negative. Diagnóstico Clínico: erupção maculopapulosa craniocaudal, duração inferior a três dias, febre baixa ou inexistente e linfadenopatia precedendo o exantema. Os testes laboratoriais são reservados para grupos de risco ou pacientes com quadro clínico fora do habitual. Exames laboratoriais A detecção do agente causal é realizada pela cultura viral e pelos testes sorológicos para confirmar o aparecimento ou a persistência dos anticorpos. Deve-se obter soro na fase aguda o mais cedo possível, após o exantema, e outro em 21 dias. IgM: entre o 5º e 10º dia após o exantema, pico entre 20-30 dias. Não atravessa a placenta, podendo ser utilizado para diagnóstico de rubéola congênita – durante 4º e 5º mês de gestação e 3º e 5º mês após nascimento. IgG: títulos 4x maiores no soro. Diagnóstico diferencial: todas as doenças exantemáticas, quadros alérgicos, inclusive de origem medicamentosa, e enteroviroses. Tratamento Uso de sintomáticos, como antitérmicos e analgésicos, sem terapia antiviral específica. Prognóstico: O prognóstico da rubéola na infância, no caso da adquirida, é excelente, conferindo Natalia Quintino Dias imunidade permanente. No entanto, já se descreveram casos de reinfecção, em sua maioria, em indivíduos já vacinados, sendo raros naqueles que tiveram infecção natural. Complicações Complicações são raras, principalmente na infância. Pode ocorrer encefalite, púrpura trombocitopênica, e panencefalite. A complicação mais grave da rubéola é a síndrome da rubéola congênita. Prevenção Vacina aos 12 meses, com reforço aso 15 meses. Em adultos, a segunda dose pode ser realizada até 29 anos ou 1 dose de 30 a 49 anos. Mulheres que receberem a vacina, em idade fértil, deve aguardar 1 mês para engravidar. Gestantes não devem receber a vacina. Após a vacinação, podem ocorrer sintomas como febre, exantema, linfadenopatia e artralgia. Exantema súbito ou roséola infantil O exantema súbito, ou roséola infantil, ou sexta doença é causado pelo herpes-vírus humano tipos 6 (HHV-6) e 7 (HHV-7), vírus de DNA, que compartilha características em comum com o CMV. É uma doença típica da fase mais precoce da infância, com pico de prevalência de 6 a 15 meses, sendo mais comum em menores de 11 meses. Transmissão A transmissão ocorre a partir de indivíduos portadores e sadios por meio de saliva ou secreções e penetra no organismo hospedeiro pela mucosa oral, nasal ou conjuntival. Quadro clínico - Febre sem sinais localizatórios com duração de 3- 5d; - Aparecimento de exantema maculopapular difuso após 12-24hrs do último pico febril – com progressão crânio caudal e duração de 3-7 dias sem novos picos febris; - Pelas altas temperaturas pode cursar com crise convulsiva febril – o vírus responsável pelo exantema súbito é neurotrópico; Alguns casos, menos habituais, apresentam período prodrômico com sintomas respiratórios e alguns picos febril durante a fase exantemática, mas não é a história típica. Elementos para o diagnóstico: • BEG; • Febre presente (temperatura acima de 38°C), de curta duração (menor que 2 dias); • Rash maculopapular em pele sã; • Início tronco-crânio-extremidades; • FR normal; • Adenopatia; • Vômitos ausentes. O exantema é tipicamente maculopapular, iniciando-se no tronco e estendendo-se ao pescoço e à face, e ainda para os membros, de curta duração, 24 a 72 horas, sem descamação ou com discreta pigmentação residual. Não costuma ser pruriginoso e não ocorre nas formas de vesículas ou pústulas. Não há necessidade de nenhum tipo de isolamento para os pacientesinternados. Diagnóstico O diagnóstico de exantema súbito é clínico. Pode- se observar leucocitose inespecífica durante os primeiros dias de febre, mas há queda no número de leucócitos com o surgimento do exantema. Exames laboratoriais Testes específicos como sorologia, imunofluorescência, cultura viral, detecção de antígenos e PCR, reservado para grupos de risco ou pacientes com quadro clínico fora do habitual. Diagnóstico diferencial: outras doenças exantemáticas (sarampo, rubéola) – diferenciando com a diminuição da febre ao surgimento do exantema; drogas podem provocar reação de hipersensibilidade, cuja manifestação cutânea se confunde com exantema. Tratamento O quadro geralmente é autolimitado, utiliza-se somente antitérmicos. Ganciclovir Tem ação sobre o HHV-6, inibindo sua replicação. Pode ser utilizada em casos incomuns de exantema súbito ou casos em que há morbidade significativa - complicações neurológicas ou crianças imunocomprometidas. Complicações Complicações possíveis, porém, incomuns, são meningoencefalite, síndrome mononucleose-like e Natalia Quintino Dias hepatite. Em imunocomprometidos, podem ocorrer encefalite e pneumonite. Eritema infeccioso O eritema infeccioso, ou quinta doença é causado pelo parvovírus B19, membro da família Parvoviridae, vírus de DNA resistente ao calor e a solventes. Também denominado eritrovírus, só se propaga em células derivadas da medula óssea humana, necessita de fatores das células hospedeiras que estão presentes somente em células estimuladas por eritropoetina. O parvovírus B19 produz infecção clinicamente expressa por exantema e crises aplásicas, afeta principalmente crianças de 5 a 15 anos. Transmissão É transmitido por meio de gotículas grandes, provenientes da via respiratória, e por excreção viral nasofaríngea. Também pode ser transmitido em transfusões de sangue e hemoderivados. Quadro clínico O eritema infeccioso apresenta período de incubação que varia de quatro a 14 dias, podendo ser de até 28 dias. Após este período, inicia-se a fase prodrômica com febre, mal-estar e rinorreia. Em seguida, cerca de seis a dez dias após a inoculação, pode haver manifestação do exantema e de outros sintomas. Crianças com algum tipo de deficiência da imunidade humoral apresentam risco aumentado para manifestar aplasia eritroide crônica, assim como crianças que recebem quimioterapia para leucemia ou aquelas com imunodeficiência, neutropenia, trombocitopenia e insuficiência da medula óssea. O parvovírus B19 pode atravessar a placenta e causar infecção fetal a partir da sexta semana de gravidez, causando anemia fetal profunda, insuficiência cardíaca de alto débito, hidropisia fetal, aborto e óbito fetal. Nem todas as infecções são sintomáticas. A manifestação mais comum da infecção pelo parvovírus B19 é o eritema infeccioso. - Autolimitado e benigno; - Inicia-se com rubor facial eritematoso, face “esbofeteada”, que se estende ao tronco e partes proximais dos membros sob a forma de eritema maculoso, ao mesmo tempo em que há empalidecimento central das lesões recém- formadas, que passam a apresentar aspecto rendilhado, forma de “samambaia”. - Pode haver prurido, artralgia e recidiva do exantema após exercícios físicos, exposição ao sol, estresse e banhos quentes; - O exantema apresenta esses períodos de esvaecimento e de acentuação durante uma a três semanas, após este período tende a desaparecer sem ocorrer descamação. A infecção pelo parvovírus B19 pode produzir crise aplásica por parada transitória na produção de hemácias com contagem de reticulócitos próximo a zero e queda brusca da hemoglobina sérica, ocorrendo durante a viremia, e possui período de incubação menor do que o do eritema infeccioso. Esse tipo de crise é mais comum em indivíduos que apresentam anemia hemolítica crônica, como portadores de deficiência de G6PD, talassemia ou anemia falciforme. Diagnóstico O diagnóstico é clínico e pode ser confirmado por exame sorológico, reservado para grupos de risco ou pacientes com quadro clínico fora do habitual. Para o diagnóstico de eritema infeccioso: dosagem de IgM anti-B19, melhor marcador de infecção aguda ou recente; PCR e hibridização do ácido nucleico. Alterações no hemograma podem ser vistas, como diminuição da contagem de hemoglobinas e leucócitos e, principalmente, de reticulócitos (reticulopenia), que podem chegar a níveis não detectáveis. Elementos para o diagnóstico • Faixa etária: qualquer idade, com predomínio dos 5 aos 12 anos; • Período de incubação: 4-14 dias; • Pródromos: geralmente ausentes; • Manifestações clínicas – ausentes ou inespecíficas: febre, cefaleia, náuseas e dores articulares; Natalia Quintino Dias • Exantema maculopapular: recorrente, podendo envolver mãos e pés; • Sinal característico: face “esbofeteada” ou fácies “de palhaço”. Diagnóstico diferencial: todas as doenças exantemáticas – sarampo e rubéola, artrite reumatoide juvenil e lúpus eritematoso sistêmico, bem como outras doenças do tecido conjuntivo. Tratamento O eritema infeccioso é autolimitado, devendo ser usados somente sintomáticos, inclusive anti- histamínicos quando há prurido importante. Pode ser necessário suporte e eventuais transfusões de hemácias para pacientes com crise aplásica – portadores de anemia falciforme; em tto oncológico, e outras doenças hematológicas. Nos pacientes imunocomprometidos: pode-se utilizar imunoglobulina intravenosa (IgIV). • Dose de 2g/kg por 5 dias, havendo necessidade, em alguns casos, de dois cursos de IgIV. Prevenção Direcionadas aos grupos de risco para evitar o desenvolvimento das formas graves da doença. Em gestantes e portadores de anemias hemolíticas crônicas somente observação. Varicela-Zóster A varicela ou “catapora”, é causada pela infecção primária do vírus varicela-zóster (VZV). Trata-se de um herpes-vírus, cujo reservatório é o homem e apresenta neurotropismo. Por esse motivo, a infecção primária resulta em infecção latente nas células dos gânglios sensitivos em todos os indivíduos que apresentam, ou apresentaram, a infecção primária. Transmissão A transmissão ocorre por meio de secreções respiratórias, líquido das lesões cutâneas ou por propagação aérea, microgotículas e por transmissão vertical. As lesões cutâneas são decorrentes de uma segunda fase virêmica. Durante o final do período de incubação (10-21d), há transporte do vírus para mucosa respiratória e a consequente transmissão antes do exantema. Quadro clínico Ao final do período de incubação: principalmente, entre 24 e 48 horas antes da erupção das lesões cutâneas, como febre baixa, mal-estar, anorexia e cefaleia. Em seguida, surge exantema, podendo ocorrer persistência da febre durante os primeiros três ou quatro dias de sua ocorrência. O período de transmissão inicia-se de 24 a 48 horas antes do surgimento das lesões cutâneas e se estende até que todas as vesículas tenham desenvolvido crostas, geralmente, de sete a nove dias. As lesões cutâneas começam na face e no couro cabeludo e, inicialmente, constituem-se de máculas eritematosas intensamente pruriginosas. A seguir, transformam-se em vesículas com paredes muito finas que se rompem com facilidade, repletas de um líquido claro, semelhante à gota de orvalho, ao mesmo tempo em que as máculas continuam a surgir em sentido craniocaudal (tipicamente central, maior concentração no tronco e face). Segue-se, então, a formação de crosta após o rompimento das vesículas. Há uma marca registrada da varicela, que se denomina polimorfismo regional: é possível observar estágios diferentes da lesão - mácula, pápula, vesícula e crosta. Diagnóstico O diagnóstico é clínico através da identificação do polimorfismo regional.• Erupção papulovesiculosa pruriginosa concentrada no tronco e na face; • Rápida progressão de maculopápula em vesícula e crosta; • Lesões em grupos; • Presença de úlceras brancas rasas na mucosa da boca; • Formação de crostas nas lesões cutâneas. Exames laboratoriais: Hemograma (leucopenia típica nas primeiras 72h; enzimas hepáticas elevadas); Reação em cadeia polimerase (PCR) ou coloração imunohistoquímica direta (avaliação da presença do vírus). Diagnóstico diferencial: No caso do impetigo, no início, as lesões cutâneas são vesiculares, mas evoluem para crosta cor de mel, não aparecem em grupos e não acometem a mucosa oral. No estrófulo, lesões papulopruriginosas, sem aspecto vesiculoso, estão relacionadas à picada de insetos. Natalia Quintino Dias Na escabiose, as lesões são semelhantes às do estrófulo, mas se observam túneis entre os dedos pela presença do Sarcoptes scabiei. Tratamento Sintomático Antitérmicos, não salicilatos, anti-histamínicos para prurido. Manter unha curta e limpa para evitar infecção cutânea. Deve-se monitorizar e tratar prontamente qualquer complicação. Antiviral Uso do aciclovir em pacientes com risco de disseminação visceral (imunocomprometidos, adolescentes >12 que não estejam grávidas, crianças com doenças crônicas cutâneas ou pulmonares) ou quando há reativação do vírus latente – nesse caso pode ser VO. Via EV, por 7d ou até 48hrs do surgimento de novas lesões. Os possíveis efeitos colaterais do aciclovir incluem náuseas, vômitos, cefaleia e flebites no local da infusão. Complicações Comum em imunocomprometidos. • Superinfecção bacteriana (Staphylococcus aureus); • Fasciíte necrosante (Streptococcus beta- hemolítico do grupo A); • Síndrome de Reye; • Pneumonia; • Encefalite ou cerebelite; • Hepatite; • Ataxia cerebelar aguda; • Herpes-zóster; • Infecção durante a gravidez: efeito teratogênico e infecção grave no neonato. Prevenção Vacina administrada em todas as crianças > 12 meses. O SUS oferece na rotina duas doses de varicela: na tetra viral, aplicada aos 15 meses nas crianças que já receberam a primeira dose de tríplice viral e em formulação isolada, aos 4 anos (segunda dose). A vacina também pode ser utilizada como bloqueio nos casos em que o contato ocorreu até 72 horas e está indicada para contatos intradomiciliares, comunidades fechadas, colégios internos, creches, enfermarias, entre outros. Imunoglobulina específica As medidas preventivas, além da vacinação, incluem imunoglobulina específica (VZIg), se administrada dentro de 96 horas após exposição, podendo atenuar ou prevenir a doença. As indicações são: • Indivíduos imunocomprometidos sem história prévia de varicela; • RN de mãe que apresentou varicela cinco dias antes ou 48 horas após o parto; • Prematuros menores que 28 semanas; ou maiores que 28 semanas de gestação ou menores ou iguais a 1 kg, cuja mãe não tem história de varicela, com exposição pós-natal; • Gestantes suscetíveis de contato domiciliar contínuo ou contato hospitalar no mesmo quarto. Escarlatina A escarlatina é resultante da infecção bacteriana causada por estreptococo betahemolítico do grupo A – Streptococcus pyogenes – que produz toxinas eritrogênicas. É incomum em menores de 3 anos (devido a existência de anticorpos maternos circulantes e falta de receptores faríngeos para fixação estreptocócica). Transmissão A transmissão ocorre de pessoa a pessoa, por meio de gotículas de portadores sadios ou infectados, durante a doença aguda, mais comumente durante os meses frios e em locais com alguma aglomeração, como escolas e creches. Após o contato, o Streptococcus pyogenes adere às células epiteliais respiratórias e, pela ação das enzimas digestivas extracelulares, há a propagação da infecção e formação de exsudato com intenso processo inflamatório local. Quadro clínico A escarlatina está mais associada à faringite estreptocócica, podendo, em raras exceções, acompanhar lesões infectadas de pele. odinofagia, anorexia e má aceitação alimentar Pode ter febre elevada; Vômitos; Cefaleia; Pode haver dor abdominal – devido à adenite mesentérica; Natalia Quintino Dias Adenomegalia cervical e submandibular; O exame das tonsilas revela edema importante, hiperemia e exsudato purulento. Hiperemia pode estender-se às adjacências, como úvula e pilares amigdalianos. Petéquias no palato podem ser vistas em alguns casos. É comum que o paciente se encontre prostrado, em mau estado geral. Outros sinais característicos: • Língua saburrosa: inicialmente, a língua se apresenta esbranquiçada, evoluindo em um ou dois dias para a língua “em framboesa”; • Língua “em framboesa”: a camada esbranquiçada se desprende após o terceiro ou quarto dia de doença, surgindo hipertrofia e hiperemia das papilas linguais. • Exantema escarlatiniforme: o exantema surge de 12 a 24 horas após o início do quadro e se caracteriza pelo seu aspecto típico, micropapular, confluente e que confere à pele textura áspera, iniciando no pescoço e pregas cutâneas e se estendendo ao restante do corpo em cerca de 24 horas, poupando regiões palmares e plantares; • Sinal de Filatov: a palidez perioral contrasta com bochechas vermelhas e testa hiperemiada; • Sinal de Pastia: há petéquias e linhas hiperpigmentadas na superfície flexora dos braços e nas raízes das coxas; • Descamação: após aproximadamente 5-7d, inicia-se a descamação, que pode durar até 3-8 semanas, do tipo laminar nas extremidades. Diagnóstico É clínico, podendo ser realizado cultura de swab de orofaringe. A recomendação é que seja instituído o tratamento de todas as crianças com faringite que apresentam resultado positivo de cultura faríngea ou teste de antígeno rápido para estreptococo do grupo A, independentemente da apresentação ou não do quadro clássico de escarlatina. Tratamento Baseia-se na administração de antibiótico e antitérmico. Antibioticoterapia Penicilina benzatina – dose única IM < 25kg: 600.000 UI > 25kg: 1.200.000 UI Em caso de impossibilidade da utilização de penicilina benzatina, podem-se usar eritromicina, clindamicina ou até mesmo cefalosporina de primeira geração. Nesse caso, o tratamento deve se estender por um período de dez dias. Prevenção A prevenção é feita com o isolamento do paciente doente até 24 horas após a primeira dose do antibiótico. Após esse período a doença não é mais transmissível. Doença de Kawasaki Trata-se de uma vasculite sistêmica aguda em crianças, de origem desconhecida, envolvendo múltiplos órgãos, incluindo coração, pele, mucosa, trato gastrintestinal, sistema nervoso central, articulações e leito vascular periférico. É infrequente em lactentes com menos de 4 meses de vida, provavelmente pela existência de anticorpos maternos circulantes, ocorrendo, em sua maioria, em crianças com até 5 anos. Predomina em meninas, sendo mais comum em crianças de etnia asiática. A doença pode cursar com exantema, enantema, congestão conjuntival e adenopatia cervical. Cerca de 20% desses casos apresentam anormalidades das artérias coronárias sob forma de aneurismas, trombose coronariana, estenose, infarto do miocárdio e morte súbita. Quadro clínico - Febre elevada e refratária a ATB e costuma se estender por mais de 10d até 2 semanas. - Congestão conjuntival, os eritemas de mucosas oral e faríngea com língua “em framboesa”, o eritema e a tumefação de mãos e pés, o exantema – maculopapuloso, eritema polimorfo ou escarlatiniforme – que afeta mais intensamente a região inguinal e a linfadenopatia cervical não supurativa são alguns achados que sugerem fortemente a doença de Kawasaki. A descamação dos dedos das mãos e dos pés começa após uma a três semanas depois do início da doença e não poupaplantas e palmas. O envolvimento cardíaco é o aspecto mais importante da doença de Kawasaki e pode se apresentar sob a forma de miocardite, redução da função ventricular e taquicardia. Diagnóstico Critérios diagnósticos Febre persistente por mais de cinco dias + pelo menos 4 dos seguintes: Natalia Quintino Dias • Alteração de lábios e cavidade oral – eritema e fissuras labiais e/ou hiperemia difusa de mucosa orofaríngea e/ou “língua em framboesa ou morango”; • Hiperemia conjuntival – bilateral, bulbar, sem exsudato; • Alteração de extremidades – edema de dorso de mãos e pés e/ou eritema palmar ou plantar na fase aguda e/ou descamação periungueal ou da área perineal na fase subaguda; • Exantema polimorfo; • Linfadenopatia cervical maior ou igual a 1,5 cm, geralmente unilateral. Exames laboratoriais Testes não específicos: • Fase aguda: aumento da velocidade de hemossedimentação e PCR; • Fase subaguda: aumento das plaquetas e diminuição da velocidade de hemossedimentação e PCR; • Fase de convalescença: normalização dos exames dentro de seis a oito semanas. Diagnóstico diferencial: além das doenças exantemáticas e da artrite reumatoide juvenil, devem ser lembradas as reações medicamentosas de hipersensibilidade, que podem se apresentar como síndrome de Stevens-Johnson. Acompanhamento A monitorização quanto ao aparecimento de anormalidades das artérias coronárias deve ser feita por meio de ecocardiografia bidimensional. Tratamento Imunoglobulina humana intravenosa (IVIG) em dose única de 2g/Kg, até o décimo dia de febre, o que reduz a incidência de lesão coronariana. No entanto, a IVIG também deve ser administrada mesmo passados os dez dias, enquanto houver febre e elevação de VHS ou PCR. AAS deve ser associado em doses moderadas (30 a 50mg/Kg/dia) ou altas (50 a 80mg/kg/dia). Quando a criança estiver afebril por dois dias, o AAS deve ser reduzido para uma dose menor (3 a 5 mg/kg/dia), que tem ação de inibir a agregação plaquetária, por seis a oito semanas, mas devendo ser mantido indefinidamente em caso de anormalidades coronarianas. A American Heart Association sugere considerar a associação da metilprednisolona 2mg/Kg/dia intravenosa juntamente com a IVIG, até a resolução da febre, seguido pela prednisolona por via oral com desmame em duas a três semanas, nos casos de alto risco de aneurismas coronarianos. Complicações As principais complicações possíveis referem-se às alterações cardíacas, como coronariopatia: 50% dos aneurismas das artérias coronárias regridem espontaneamente em um a dois anos após a doença, mas podem permanecer alterações funcionais desses vasos. Aneurismas também foram descritos em outros vasos, e outras complicações, como alterações oftalmológicas e gastrintestinais, também podem ocorrer.