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ASSOCIATIVISMO E 
COOPERATIVISMO
Prof. Me. ANDRÉ LUIZ DELGADO CORRADINI
1
Reitor
Márcio Mesquita Serva
Vice-reitora
Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva
Pró-Reitor Acadêmico
Prof. José Roberto Marques de Castro
Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária
Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva
Pró-reitor Administrativo
Marco Antonio Teixeira
Direção do Núcleo de Educação a Distância
Paulo Pardo
Coordenadora Pedagógica do Curso
Ana Lívia Cazane
Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico
B42 Design
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos 
que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.
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Universidade de Marília 
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G915b Sobrenome, Nome autor
 Titulo Disciplina [livro eletrônico] / Nome completo autor. - 
Marília: Unimar, 2020.
 PDF (XXX p.) : il. color.
 ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X
 1. palavra 2. palavra 3. palavra 4. palavra 5. palavra 6. 
palavra 7. palavra 8. palavra I. Título.
 CDD – 610.6952017
2
005 Aula 01:
017 Aula 02:
024 Aula 03:
036 Aula 04:
047 Aula 05:
057 Aula 06:
065 Aula 07:
073 Aula 08:
082 Aula 09:
093 Aula 10:
102 Aula 11:
111 Aula 12:
120 Aula 13:
127 Aula 14:
136 Aula 15:
145 Aula 16:
Conceitos e Definições 
Associativismo Rural 
Fundamentos para uma Parceria Eficiente 
Dificuldades do Associativismo 
Os Destaques das Ações Coletivas 
Modalidade de Associativismo 
Grupos Formais e Grupos Informais 
Cooperativismo Rural 
Principais Diferenças entre Cooperativismo e 
Associativismo
Organização Cooperativista 
Planejamentos em Cooperativas 
Gestão Estratégica em Cooperativas 
Cooperativismo e Negócio Rural 
Perspectivas para Cooperativas Rurais Brasileiras 
Casos de Sucesso no Cooperativismo Brasileiro 
Associativismo e Cooperativismo no Cenário 
Brasileiro
3
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4
01
Conceitos e Definições
5
Introdução
No mercado de trabalho, onde somos colocados à prova todos os dias, a gente vale o
quanto sabe. Engana-se quem pensa que é só no campo prático que se aprende o
necessário, que a teoria não ajuda em nada. Mas como colocar em prática aquilo que
não entendemos o que é e como funciona? Pois é, antes da prática vem a teoria.
A prática sem teoria é deficitária. Precisamos conhecer sobre aquilo que faz parte da
nossa atividade profissional. Por isso, esta aula será destinada a refletir sobre os
conceitos e as definições que dizem respeito a muitas atividades proporcionadas pelo
curso que você escolheu.
Agronegócio
O agronegócio respondeu por 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2019
(CEPEA, 2020, s/p). Ou seja, de cada R$ 10,00 da riqueza produzida naquele ano, R$
2,00 vieram do agronegócio. E o setor emprega praticamente um em cada três
trabalhadores do país. Não é pouca coisa. Por isso, que tal entender o que significa
agronegócio e o que ele engloba?
O termo deriva do inglês agribusiness, criado em 1957, pelos economistas John Davis e
Ray Goldberg (MENDONÇA, 2015), e consiste na integração da agricultura a setores da
indústria, começando pelos fornecedores de insumos usados na produção agrícola,
passando pelo processamento da produção até chegar à distribuição (RUFINO, 1999).
A Fundação de Economia e Estatística, vinculada ao governo do Estado do Rio Grande
do Sul, pontua a diferença entre agropecuária e agronegócio:
Enquanto a agropecuária está centrada nas atividades realizadas no
âmbito da propriedade rural, o conceito de agronegócio — de base
empresarial ou familiar — engloba toda a cadeia produtiva: antes da
porteira, dentro da porteira e depois da porteira da propriedade
rural (FEE, 2015).
6
Figura 1 - O que é agronegócio?
Fonte: FEE – Produção: FEE (NPM – CIC).
Assim, agronegócio é um conceito que engloba toda a cadeia produtiva, descrito na
Figura 1 em três fases:
1. antes da porteira, produção e fornecimento de insumos, máquinas e
equipamentos e serviços especializados;
2. dentro da porteira, preparo e manejo de solos, tratos culturais, irrigação,
colheita e criação animal;
3. depois da porteira, transporte, armazenagem, industrialização, distribuição e
comercialização (FEE, 2015).
7
Está evidente que o agronegócio é um campo da economia que promove a interação
dos três setores: primário (agricultura), secundário (industrialização das matérias-
primas, vacinas, fornecedores diversos, etc.) e terciário (transporte, serviços de
crédito, serviços veterinários, comercialização dos produtos, etc.).
Associativismo
A vida em sociedade é cheia de desafios. Nos bairros, por exemplo, têm vizinhos
chatos, violência, buracos na rua, iluminação pública deficitária. Sozinho seria difícil
resolver esses problemas todos. Por isso, os vizinhos se juntam para criar as
associações de moradores, para ter mais poder de negociação com as instâncias
públicas de poder. Esse é o espírito, se juntar para superar as dificuldades ou obter
benefícios mútuos.
“Associativismo é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne um grupo de
organizações ou pessoas com o objetivo de superar dificuldades e gerar benefícios
econômicos, sociais, científicos, culturais ou políticos” (ROMEU, 2002). Desse modo,
“revela a crença de que juntos é possível encontrar soluções melhores para os
desafios e conflitos que a vida em sociedade apresenta” (SALOMON, 2009 apud CNI,
2013, p. 9).
Em sentido amplo, o associativismo reporta-se à livre organização de
pessoas, sem fins lucrativos, com o intuito de buscar o
preenchimento de necessidades coletivas ou o cumprimento de
objetivos comuns, por meio da cooperação. Um significado mais
específico do termo associativismo refere-se à prática social da
criação de associações, como entidades jurídicas, formais ou
informais, reunindo pessoas físicas ou organizações para a
representação e a defesa de interesses dos associados (SALOMON,
2009 apud CNI, 2013).
A essência do associativismo está na cooperação movida por interesses coletivos,
embora ninguém precise abrir mão da individualidade e da autonomia, o que o
converte numa “forma de realização de objetivos comuns e, ao mesmo tempo, de
aprendizagem de atitudes compatíveis com os ideais de uma sociedade mais
sustentável” (CNI, 2013).
8
Acesse o link: Disponível aqui
Algumas associações de bairro estão investindo em tecnologia e formas
criativas para atrair os moradores e continuar fiscalizando o poder público e
melhorar a qualidade devida. Outras até criaram cartão fidelidade para
valorizar o comércio local. Leia a reportagem da Folha de S. Paulo.
Cooperativismo
As coisas não andavam bem para os trabalhadores ingleses no século XIX. As
condições de trabalho eram péssimas, com baixos salários e jornadas diárias de 16
horas. A Revolução Industrial piorou a situação, com demissões em massa devido à
mecanização da produção até então artesanal. Foi neste cenário de crise que surgiu
uma ideia inovadora na cidade de Rochdale, em 1844, no interior da Inglaterra.
Sem dinheiro para comprar o básico, 27 homens e uma mulher, a maioria tecelões, se
uniram para montar o seu próprio armazém. A ideia era comprar alimentos em
grande quantidade obtendo, assim, preços melhores, e dividir de forma igual entre
todos. Nascia a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale (Rochdale Society of
Equitable Pioneers), movimento alternativo e de oposição ao capitalismo que viria a se
chamar cooperativismo (SALES, 2010, p. 25).
A prática do cooperativismo é um contraponto entre os extremos do
capitalismo e do socialismo, cria uma forma de emancipação e
resgate da cidadania social e econômica dos que naquele tempo
eram explorados, alienados da produção em série, e hoje àqueles
que são deixados pelo caminho em nome de uma economia
globalizada e neoliberal (SALES, 2010, p. 33-34).
9
https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/morar/2017/12/1941820-associacoes-de-bairro-se-modernizam-com-aplicativo-e-cartao-fidelidade.shtml
Daí a Organização das Cooperativas Brasileiras defender a ideia de que o
cooperativismo não se resume a um modelo de negócios, é também uma filosofia de
vida para transformar o mundo num lugar mais justo e com melhores oportunidades
para todos. “O cooperativismo substitui a relação emprego-salário pela relação
trabalho-renda. Em uma cooperativa, o que tem mais valor são as pessoas e quem
dita as regras é o grupo” (OCB, s/d).
O cooperativismo é uma forma de somar capacidade dentro de um
mundo de concorrência. É uma forma de preservar a força
econômica e de vida dos indivíduos de um mesmo padrão e tipo, com
objetivos comuns e com as mesmas dificuldades. A cooperativa quase
sempre surge em momentos de dificuldades e da consciência de
fragilidade do homem dentro do mundo em que atua (SALES, 2010, p.
24).
O mundo aprendeu com os tecelões ingleses de Rochdale, que a partir de uma
proposta simples demonstraram que as pessoas, quando se juntam, são capazes de
produzir mais do que produziriam individualmente. Segue a lógica do “todos
constroem e ganham juntos” (OCB, s/d). O cooperativismo é hoje uma importante
força motora da economia global.
10
Economia Solidária
Ao criarem a primeira cooperativa moderna, em oposição ao capitalismo industrial, os
tecelões ingleses de Rochdale também inauguraram a economia solidária em
resposta à pobreza e ao desemprego gerados pela mecanização dos meios de
produção. As cooperativas eram a tentativa de recuperar trabalho e autonomia a
partir dos valores de igualdade e democracia do movimento operário (SINGER, 2002).
Nesse contexto, a economia criativa cresceu no lastro das transformações no mundo
do trabalho, a partir da década 1970, com a crise de modelos de produção que
resultaram em exclusão do mercado formal de trabalho, além da crise do Estado de
Bem-Estar Social e a ascensão do projeto neoliberal que aumenta a exclusão social,
que agrava o ciclo da pobreza e enfraquece os mecanismos de proteção social
(AZAMBUJA, 2009).
Assim, as iniciativas de Economia Solidária atingem aqueles que
estão excluídos ou em vias de exclusão do mercado formal de
trabalho e, também, pessoas historicamente excluídas pertencentes
às classes populares, que buscam alternativas para geração de renda
(AZAMBUJA, 2009, p. 283).
Como o autor expõe, essas iniciativas assumem formas as mais variadas, a exemplo
de cooperativas que atuam em vários setores da economia, pequenas empresas
familiares ou comunitárias, bancos populares, clubes comunitários de troca, entre
outras atividades econômicas que não seguem a lógica capitalista (AZAMBUJA, 2009).
A empresa solidária antagoniza a empresa capitalista, porque nega a separação entre
o trabalho e a posse dos meios de produção. Nesta, o poder de mando está nas mãos
do capitalista, que financia o negócio, controla os meios de produção e tem como
único fim obter o maior lucro possível sobre o capital investido, enquanto o capital da
empresa solidária pertence aos que nela trabalham (SINGER, 2002).
Ao contrário da economia capitalista, a economia solidária só acontece se houver
igualdade entre aqueles que se associam para produzir, comerciar, consumir ou
poupar (SINGER, 2002). De modo que a receita de sucesso é a cooperação entre iguais
11
(associados) em vez de um contrato entre desiguais (patrões e empregados). Sobre
isso, o autor observa:
Na cooperativa de produção, protótipo de empresa solidária, todos
os sócios têm a mesma parcela do capital e, por decorrência, o
mesmo direito de voto em todas as decisões. [...] Ninguém manda em
ninguém. E não há competição entre os sócios: se a cooperativa
progredir, acumular capital, todos ganham por igual. Se ela for mal,
acumular dívidas, todos participam por igual nos prejuízos e nos
esforços para saldar os débitos assumidos (SINGER, 2002, p. 9-10).
A empresa solidária não dá lucro, porque sua finalidade básica não é essa. Mas não é
só isso que a distingue. Também há diferenças na distribuição do excedente de
receita no fim do ano, chamado de sobra, empresa solidária e de lucro na empresa
capitalista. Nesta, a decisão cabe à assembleia de acionistas, em geral poucas
pessoas, enquanto na primeira são os sócios que decidem sobre a destinação das
sobras (SINGER, 2002).
O capitalismo divide a sociedade basicamente em duas classes: a dos que
possuem bens e capital e a dos que (por não dispor de capital) vendem sua
força de trabalho à primeira. O resultado é competição e desigualdade. Já a
economia solidária preconiza a propriedade coletiva ou associada do capital.
12
Autogestão e Heterogestão
Existem duas formas clássicas, e antagônicas, de gerir um negócio. Numa delas,
poucos mandam e muitos obedecem; na outra, prevalece a ausência de relações de
subordinação nos processos de produção e na divisão de trabalho. Uma busca
expandir-se visando à maximização do lucro a um número reduzido de pessoas, a
outra procura se apropriar dos meios de produção e redistribuir a riqueza para o
conjunto dos trabalhadores.
A heterogestão é forma de organização da produção e do trabalho
onde o lucro é apropriado pelos capitalistas individuais ou por
sociedades anônimas. A perspectiva é a maximização dos ganhos
obtidos por processos de extração de mais-valia absoluta, mais-valia
relativa ou combinação entre estas duas formas de apropriação
(VENTURA NETO, 2010, p. 12).
Como diz o autor, historicamente, esse modo de organização da produção de
riquezas cria desigualdades e injustiça social, pois os resultados não são distribuídos
de forma proporcional à classe trabalhadora, reduzida a uma força de trabalho, é
13
destinado só o necessário para sua subsistência. Já a autogestão se baseia num
sistema em que não há patrão e todos os envolvidos decidem de forma democrática
tudo o que for relacionado à empresa e à produção.
A autogestão é outro processo de organização da produção e do
trabalho, no entanto, sob esta perspectiva de gestão solidária, as
sobras são distribuídas pelo conjunto dos trabalhadores por meio de
processo de compartilhamento das decisões do que produzir, como
produzir e a forma de repartição dos dividendos, de modo que possa
haver equidade social (TAUILE, 2005 apud VENTURA NETO, 2010, p.
12).
As cooperativas são a mais clara representação da economia solidária, focadas na
autogestão. Isso não significa dizer, no entanto, que não se possam encontrar indícios
de heterogestão em organizações autogestárias. Não reconhecer isso pode “ofuscar a
compreensão de como autogestão e heterogestão se inter-relacionam em
empreendimentos da economia solidária”(BAPTISTA, 2012, p. 19).
14
Heterogestão ao contrário de Autogestão é caracterizada por uma
administração hierárquica, isto é, formada por vários níveis de autoridades.
Já a autogestão implica em reduzir esses níveis hierárquicos na organização,
para que as relações sejam horizontais.
Apesar de o termo autogestão ser considerado como uma alternativa nova
ao sistema capitalista, já foi discutida e experimentada há muito tempo.
De acordo com Guillerm e Bourdet (1976), Pierre-Joseph Proudhon (1809-
1865) pode ser considerado o “pai” da autogestão. Proudhon foi filósofo,
político e economista francês e um dos principais teóricos do anarquismo.
Fez críticas à sociedade capitalista e propôs uma sociedade autogerida.
Defendeu a criação de associações operárias de produção, em que as
empresas deveriam ser autogeridas e de propriedade coletiva dos
trabalhadores.
Nesta linha de pensamento, para Vieira (2006, p. 5) o conceito de autogestão
é:
um modelo de organização em forma de empreendimento
coletivo onde os colaboradores interagem nas atividades
produtivas, serviços e administração com o poder de
decisão sobre questões relativas ao negócio e ao
relacionamento social das pessoas diretamente envolvidas.
Esse tipo de gestão pode ser considerado uma das diretrizes da Economia
Solidária, na qual os grupos são organizados a partir da premissa das
cooperativas que visa à solidariedade, à igualdade, à justiça e à autogestão.
15
Caro aluno, com base no exposto nesta aula, espero que você tenha compreendido os
conceitos e as definições aqui aplicados ao assunto Associativismo e Cooperativismo.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
16
02
Associativismo Rural
17
Introdução
O político e pensador francês Alexis de Tocqueville foi o primeiro a tratar do
fortalecimento da democracia a partir do associativismo como organização autônoma
da sociedade civil, na obra “A democracia na América”, publicada em 1835. “A América
é o país do mundo em que se tirou maior partido da associação e em que se aplicou
esse poderoso meio de ação a uma diversidade maior de objetos” (TOCQUEVILLE,
2005, p. 219).
Uma das maneiras de impedir que o regime democrático liberal se
degenere é a união dos indivíduos que individualmente são fracos
para a realização de ações coletivas, por meio do associativismo, ou,
como Tocqueville denomina, da arte da associação (GANANÇA, 2006,
p. 6 – grifo nosso).
Este é apenas um dos aspectos do associativismo, que não se esgota em uma
atividade, apenas. Cabe um mundo de possibilidades dentro das definições dos
dicionários, que falam de combinação, junção, união, agrupamento de pessoas para
um fim ou interesse comum. Sobre essa diversidade de atuação falaremos na aula 9,
o que nos interessa agora são as associações criadas no espaço rural.
“O associativismo rural consiste em uma atividade organizacional coletiva que tem
como finalidade conquistar benefícios comuns para os sujeitos que a compõe, sem
nenhum fim lucrativo” (LISBOA; ALCANTARA, 2019, p. 23). Então, esse modelo de
organização social não pode ser reduzido apenas a atividades econômicas, embora
isso seja um erro bastante comum nas tentativas de defini-lo.
As práticas organizacionais coletivas no campo se constituem como
importante vetor no que diz respeito à percepção e busca de direitos.
Assim, pode-se afirmar que essa prática associativa é fruto da
constante luta social no espaço rural por melhores condições de vida,
por um reconhecimento que proporcione certa integração no cenário
social, econômico e cultural (LISBOA; ALCANTARA, 2019, p. 23).
18
No Brasil, as associações rurais estão mais presentes nos municípios com predomínio
de pequenas propriedades privadas e são compostas de agricultores familiares,
buscando a autonomia dos produtores e a sua inserção no mercado econômico. Elas
funcionam como uma estratégia de sobrevivência, diante da falta de incentivos para a
produção e das adversidades climáticas, como sempre acontece na Região Nordeste.  
Sabourin (2009) identifica a existência, no Brasil, das três formas clássicas de
organização profissional agrícola: o sindicato, a cooperativa e a associação de
produtores. Segundo o autor, a associação é o modelo de organização de agricultores
que mais se desenvolveu a partir da década de 1990. Isso se deve à conjunção de três
fatores:
a necessidade de as comunidades de poder contar com representações
jurídicas;      
a atuação de atores externos, tais como a Igreja, as ONGs, os serviços de
extensão rural e os projetos públicos;
a existência de apoios ou financiamentos reservados para projetos associativos
ou comunitários (SABOURIN, 2009, p. 97).
Não foi por acaso que esse crescimento se intensificou nos anos 1990, quando se
discutia mais fortemente o enfrentamento da questão agrária no país. Nesse
contexto, mais do que uma forma de organização com vistas a melhorar a produção e
a comercialização, o associativismo acabou se convertendo em uma ação política.
Não se pode ignorar, também, que as associações constituem um dos
mecanismos pelos quais os produtores familiares buscam respostas
para as demandas no seu cotidiano e, em maior ou menor grau,
questionam a ordem dominante (BESERRA, 2011, p. 42).
Para usar uma expressão que está na moda, o associativismo é um meio de
empoderamento do homem do campo. Isso porque “o trabalho associativo e a ação
organizada da população podem levar o agricultor familiar a sair da passividade e
escapar da tradicional dominação” (BESERRA, 2011, p. 43). Desse modo, numa
sociedade desigual e marcada pelo conflito, o associativismo significa a oportunidade
de inclusão desses novos atores à sociedade.
19
Com o princípio da descentralização institucionalizado na 
Constituição Federal de 1988 abre-se um espaço à participação da 
população através de diferentes mecanismos, nos quais se incluem 
as associações de pequenos produtores rurais (BESERRA, 2011, p. 43-
44).
Como salienta a autora (Beserra, 2011), a união de pequenos produtores em torno de
uma associação e sua consequente valorização pelos entes estatais é uma alternativa
ao combate à pobreza no campo. Esse reconhecimento pode ser medido, inclusive,
por meio do aparato jurídico em favor dos agricultores, o que foi construído ao longo
das últimas décadas.
O associativismo ganhou tamanha importância no Brasil que foi parar na lei maior do
país. O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 assegura a plena liberdade de
associação. E não para aí. O artigo 174 da Carta Magna garante apoio e estímulo ao
cooperativismo e outras formas de associativismo.
Ao construírem o texto constitucional depois de mais de duas décadas de uma
ditadura que reprimiu as liberdades individuais e a livre manifestação, os legisladores
procuraram assegurar esses direitos em cláusula pétrea da nossa lei maior. O
disposto no artigo 174 é o reconhecimento de que a participação do cidadão em
associações é uma das formas mais diretas e eficazes de decidir sobre as questões
que lhe dizem respeito.
Considerando o dispositivo constitucional, o Estado não faz mais do que a sua
obrigação ao incentivar o associativismo e outras formas de organização social. Não
se trata de favor, portanto. A Constituição assegura os direitos, mas são as leis que
irão estipular em quais termos eles deverão ser cumpridos. Para fazer cumprir esses
direitos, temos dois importantes dispositivos do Executivo federal.
A Portaria n.º 129, de 4 de julho de 2019, estabelece o programa de governo “Brasil
Mais Cooperativo”, instituindo uma política de governo ao reconhecer a necessidade
de oferecer condições de organização da agricultura familiar, do associativismo e do
cooperativismo rural, considerando sua importância para o agronegócio brasileiro.
Já o Decreto n.º 10.253, de 20 de fevereiro de 2020, ao reorganizar os cargos do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, manteve o apoio ao
associativismo e ao cooperativismo já previsto em legislações anteriores, desde o
início da década de 1990.
20
Acesse o link: Disponível aquiO vídeo a seguir mostra um caso de sucesso de uma Associação de
mulheres empreendedoras da região de Buriti.
Assista, vale a pena.
Terceiro Setor
A primeira associação criada no Brasil teve inspiração na experiência de Portugal. Foi
em 15 de julho de 1811, quando o governador da Capitania da Bahia, dom Marcos de
Noronha e Brito teve a ideia de instalar na praça de Salvador, uma instituição
semelhante às existentes em Lisboa e Porto, as duas maiores cidades portuguesas
(PORTO FILHO, 2011).  
Com a Associação Comercial da Bahia surgia no Brasil o embrião do que um século e
meio depois viria a se chamar terceiro setor. O primeiro setor é constituído pelo
Estado (os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), o segundo é formado pelos
entes privados com fins lucrativos (o mercado) e o terceiro setor são as organizações
privadas sem fins lucrativos prestadoras de serviços públicos, chamadas de ONGs
(organizações não governamentais).  
No Brasil, as associações são consideradas pessoas jurídicas de direito privado,
segundo o artigo 44 do Código Civil (BRASIL, 2002). Apenas fundações e associações
representam o terceiro setor, embora no momento da constituição do negócio as
21
https://www.youtube.com/watch?v=cuBAbZMqvEE
personalidades jurídicas incluem ainda cooperativa de trabalho, organizações
religiosas, partidos políticos e sociedades (atividade comercial ou empresarial com
fins lucrativos).
Fonte: Disponível aqui
As associações ocupam o vazio deixado pelo Estado na atenção às questões
sociais, e então, temos o princípio jurídico-filosófico da subsidiariedade. Isso
acontece quando o Estado se posiciona de forma subsidiária à sociedade e
atua apenas quando ela não tiver condições de atender às suas demandas
por conta própria.
22
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-mudaconforme-situacao.htm
Da secura à riqueza, um caso de sucesso.
Sabe o clichê “terra arrasada”? Ele bem caberia ao semiárido nordestino, a
zona mais seca do país, dada a escassez que castiga a região desde sempre.
Mas tem gente se juntando para mudar isso. Um pedaço importante do
semiárido baiano tem feito bonito na produção agrícola do MATOPIBA,
acrônimo resultante das siglas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia.
A porção baiana desta nova fronteira agrícola inclui nove municípios, entre
eles Barreiras e seus 155 mil habitantes (IBGE, 2019). Um dos catalisadores
do sucesso que vem do campo é a Associação de Agricultores e Irrigantes da
Bahia (Aiba) que saltou de 16 associados na sua fundação, em 1990, para
1.300 nas três décadas seguintes. Passou a congregar 95% da força
produtiva da região, com 2,25 milhões de hectares plantados.
A Aiba é uma das organizadoras da Bahia Farm Show, feira anual de
negócios e tecnologia agrícola realizada na cidade de Luís Eduardo
Magalhães. Na edição 2019, a feira atingiu a marca de R$ 1,9 bilhão em
volume de negócios, assumindo a segunda posição de vendas por visitantes
no país em eventos de agronegócio.
Caro aluno,   nesta aula começamos a construção de um conhecimento mais
específico sobre o associativismo rural.
Espero que você tenha compreendido os conteúdos aqui trabalhados.
Bons estudos!
23
03
Fundamentos para 
uma Parceria Eficiente
24
Introdução
Os modelos de negócios estão mudando, assim como a forma de interagir com o
consumidor. Os aplicativos de entrega, por exemplo, dão uma ideia das
transformações no mercado de trabalho e no mundo corporativo. Para funcionar, o
serviço de entrega via aplicativo precisa firmar parceria com uma rede de
fornecedores. Se o iFood, o Rappi ou o Uber Eats não fizerem isso, a pizza não chega
em sua casa.
São os novos tempos e as novas formas de parcerias em um mundo mais
competitivo. Nesse contexto, são muitos os motivos para estabelecer alianças entre
empresas ou outros tipos de organizações. Essas parcerias visam a otimizar custos,
expandir as atividades, agregar valor às marcas ou para ir além e gerar um novo
negócio.
As alianças podem se tornar uma importante arma competitiva, por meio da
cooperação entre organizações empresariais ou não. A vantagem inicial é que ela
pode ser firmada de forma rápida e com pouco investimento financeiro. O princípio
de uma parceria é que cada parte irá oferecer o que tem de melhor, em complemento
à outra. Assim, os pontos fortes de uma compensam os pontos fracos da outra.
O sucesso de uma parceria vai depender das bases com que será feita, devendo ser
bom para os dois lados. Antes mesmo de ficarem atentas aos movimentos do
mercado (algo essencial), as partes precisam ser transparentes sobre os seus
objetivos e a sua cultura de trabalho.
Para qualquer tipo de parceria, a sinergia entre as partes envolvidas
é de extrema importância para o sucesso da aliança. Divergências de
gestão, diferenças de cultura, dificuldade de entendimento entre os
executivos de ambos os lados são comuns. Por isso, levantar estas
dificuldades antes da consolidação é fundamental não apenas para
a sobrevivência, mas também para o efetivo sucesso da aliança
(FLAMIA, 2001, p. 12).
Desenvolver a confiança mútua é um problema das parcerias, em especial quando se
trata de compartilhar tecnologia, que pode ser a razão do sucesso de uma empresa
em seu segmento de mercado (FLAMIA, 2001). Significa abrir mão da exclusividade
25
desta tecnologia, mas, como pontua o autor, compartilhar o conhecimento é essencial
em uma aliança estratégica, seja qual for.
“Conhecer e desenvolver confiança e espírito de companheirismo é muito importante
não somente para o sucesso da parceria, mas para a manutenção da vida das
empresas” (FLAMIA, 2001, p. 28). Portanto, antes de ir adiante “é muito importante
que as empresas conheçam seus possíveis parceiros, seu histórico de negociação, sua
reputação, seus reais objetivos, suas forças e fraquezas e, principalmente,
desenvolver confiança mútua” (FLAMIA, 2001, p. 28).
As alianças podem ocorrer entre empresas de um mesmo setor, mas que competem
em mercados diferentes, ou entre empresas de segmentos distintos cujos serviços
são complementares. Neste último caso, tem a ver com os aplicativos de entrega que
acabamos de ver. Eles não fazem parte da linha de produção, mas fazem a
distribuição.
Há três formas clássicas de parcerias empresariais, conforme descrito por Flamia
(2001, p. 5):
Parcerias acionárias: aliança estratégica, mas com uma participação acionária;
Franquias: empresa-mãe fornece licença de uso de marca e proporciona às
licenciadas o acesso às novas tecnologias e novos produtos;
Joint ventures: alianças entre duas ou mais indústrias com a criação de uma
nova entidade independente, cuja propriedade, responsabilidades, riscos e
lucros são divididos para cada organização participante.
O jornalista Geoffrey James elaborou uma lista de dicas para estabelecer parcerias
melhores com base em uma entrevista com Ed Rigsbee, autor do livro The Art of
Partnering (A arte de fazer parcerias). Confira a lista no Quadro 01:
26
Quadro 01: Dicas para estabelecer boas parcerias
1. Ceda
parte do
controle
Estabelecer parcerias significa que você estará vulnerável aos
fracassos do seu parceiro. Ainda que goste de estar no controle,
terá de compartilhar conhecimento sobre sua limitação e algumas
fraquezas da empresa.
2. Entenda
seus
pontos
fortes e
fracos
Antes de considerar uma parceria, é preciso entender o que você
e sua empresa podem trazer para a negociação e, claro, o que
você precisa que o parceiro traga.
3. Escolha
o parceiro
certo
Procure empresas ou profissionais que tenham fraquezas que
sejam as suas forças e vice-versa. Se você tem ótimos produtos,
mas pouca experiência em vendas, procure um negócio que tenha
produtos medianos, mas uma história de sucesso em vendas.
4. Chegue
a um
consenso
Defina no acordo quem vai fazer o que e quando vai fazê-lo. Se a
parceria é formal, precisa de contrato. Mesmo informal, é
importante um documento com as atividades, expectativas e
responsabilidades de cada parceiro.
5. Adote
um código
de ética
Aregra central aqui é ser o parceiro que você gostaria de ter. A
ética é o que vai segurar essa parceria. E será ainda mais
importante quanto maior for o risco envolvido no negócio.
6. Faça
mais do
que o
acordo
As parcerias de sucesso envolvem confiança. A melhor maneira de
aumentar o nível de confiança é entregar um pouco mais do que
você disse que entregaria.
7. Seja
paciente
Se os problemas começarem a surgir, não se entregue à raiva ou à
frustração. Faça um esforço para ajudar seu parceiro. Evite levar
desavenças para os tribunais. Isso pode custar caro.
8.
Monitore e
A má comunicação leva parcerias ao fracasso. Faça um esforço
para que as duas partes possam monitorar a relação nos níveis
27
Fonte: adaptado de Geoffrey James (in SEBRAE, 2014).
meça micro e macro. Se um desafio aparecer, os dois poderão trabalhar
juntos para ultrapassá-lo.
9.
Comemore
sempre
Dê “combustível emocional” à parceria. Conforme ela progredir,
você e a outra parte precisarão investir tempo e energia para
manter e fortalecer o relacionamento. Celebre a cada conquista
importante da parceria.
Do Fio de Bigode à Legislação
Houve um tempo em que negócios eram firmados “no fio do bigode”. Nem precisava
assinar nada, bastava dizer “está feito” e o negócio estava feito – mas dependendo do
negócio, era preciso fazer os registros legais, claro. Porém, os tempos mudaram, o
volume de transações cresceu e se diversificou e os golpistas viram muitas janelas de
oportunidades.
Fechar um negócio ou uma parceria requer uma relação de confiança entre as partes.
Como o ditado “amigos, amigos, negócios à parte” ainda não perdeu a validade, o
melhor é pôr tudo no papel. Há leis para diferentes tipos de transação, e, no caso
específico da relação entre cooperativas e cooperados, temos a lei 13.288, de 16 de
maio de 2016.
Esta lei estabelece regras para o sistema de integração entre produtores rurais e
indústria, dando aos dois setores segurança para firmar parcerias que aumentem a
confiança mútua e a eficiência da produção agrícola. O dispositivo legal cria um
padrão de contratos que diminui divergências e permite a produtores e indústria
atuarem em parceria, tornando o processo produtivo mais ágil e eficiente.
A oferta de produtos agropecuários muitas vezes envolve disputas
judiciais entre o produtor rural e a indústria, devido à falta de uma
lei que regulamente as relações entre esses agentes. São motivos de
litígios, entre outras coisas, o fornecimento de insumos, dívidas
financeiras, responsabilização em caso de descumprimentos de
prazos ou problemas na atividade (SENADO, 2016, s/p).
28
Nenhum negócio está livre de uma má gestão e dos revezes da economia, por isso os
contratos dão garantia às partes envolvidas. Como a legislação até então estava em
descompasso com a modernização e as transformações das atividades agrícola e
agropecuária no país, a nova lei passou a estabelecer regras, limites e procedimentos
para esses contratos de integração.
A integração é uma relação contratual na qual o produtor rural se
responsabiliza por parte do processo produtivo, como a produção de
frutas ou criação de frango e suínos, e repassa essa produção à
agroindústria para que ela realize a etapa seguinte, de
transformação em produto final. O produtor também pode receber
insumos da indústria, como adubos, rações, medicamentos e
assistência técnica (SENADO, 2016, s/p).
Como determina a lei, os contratos de integração devem estabelecer a participação
econômica de cada parte, suas atribuições, os compromissos e os riscos financeiros,
os deveres sociais, os requisitos ambientais e sanitários, a descrição do sistema de
produção, os padrões de qualidade, bem como as exigências técnicas e legais para a
parceria (SENADO, 2016).
Conforme o texto da lei, no documento da parceria também devem constar as
condições para acesso de empregado do integrador (a indústria) nas áreas de
produção na propriedade rural, assim como do produtor rural nas dependências das
instalações industriais ou comerciais.
A lei estabelece também que todos os equipamentos e máquinas que
sejam disponibilizados pela indústria ao produtor continuarão de
propriedade do fornecedor, a menos que haja dispositivo no contrato
estabelecendo o contrário. Outra regra é que, em caso de
recuperação judicial ou falência do integrador, o produtor rural
integrado poderá pedir a restituição dos bens desenvolvidos até o
valor de seu crédito (SENADO, 2016).
De acordo com a lei, no caso de dano ambiental decorrente das atividades
desenvolvidas no âmbito desta integração, as responsabilidades de recuperação
deverão ser compartilhadas (SENADO, 2016). Contudo, se o dano for causado em
29
razão de alguma prática adotada pelo agricultor em desacordo com as
recomendações do integrador, a empresa estará desobrigada de qualquer ônus, que
caberá apenas ao produtor.
Cada setor das atividades agrossilvipastoris (pecuária, agricultura, silvicultura,
aquicultura, pesca e extrativismo vegetal) deve criar seus próprios fóruns voltados a
definir as diretrizes para acompanhar e desenvolver em sua área as parcerias entre
indústria e produtores. Nos termos da lei, trata-se do Fórum Nacional de Integração
(Foniagro), que deve ter composição paritária e ser composto pelas entidades
representativas de cada uma das partes.
A legislação busca equilibrar as decisões de produtores e indústria. Então, são os
Foniagros que definem os critérios de cálculo do valor de referência para o
pagamento dos produtores integrados. O cálculo será feito pelas Comissões para
Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs), órgãos
também de composição paritária que devem ser estabelecidos em todas as unidades
das empresas integradoras (SENADO, 2016).
Segundo a lei, também cabe às Cadecs “acompanhar o cumprimento das diretrizes
dos contratos, verificar o atendimento de padrões mínimos de qualidade, dirimir
questões e solucionar litígios entre os produtores integrados e a integradora e
formular planos de modernização tecnológica” (SENADO, 2016).
Acesse o link: Disponível aqui
Sem uma planilha de custos fixos e variáveis, pequenos produtores ficam
reféns da agroindústria. Por isso, o Fórum Nacional de Integração
Agroindustrial de Aves e Suínos (FONIAGRO) discutiu em 2018, a
padronização de uma planilha nacional de custos.
30
https://www.agrolink.com.br/noticias/foniagro-discute-padronizar-planilha-de-custos-de-granjas_412525.html
O Arrendamento e a Parceria
Rural
O Brasil possui terra que parece não acabar mais, mas nem todo brasileiro tem um
pedaço de chão para chamar de seu. A distribuição sempre foi desigual. O fim do
tráfico negreiro e a promulgação da Lei de Terras, em 1850, deixaram pobres uma
legião de ex-escravos e imigrantes sem um quinhão de terra para trabalhar. Aí está a
origem dos conflitos agrários no país.
Só em 1964, a questão da reforma agrária ganhou importância jurídica, por meio da
Lei n.º 4.504, conhecida como Estatuto da Terra, que assegura a oportunidade de
acesso à propriedade da terra, condicionada à sua função social, que, entre outras
coisas, busca favorecer o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela
labutam. Direito este previsto também no artigo 186 da Constituição Federal de 1988.
Apesar dos esforços da lei e da Constituição, nem todos os produtores rurais são
donos das propriedades que cultivam. Para aqueles que vivem do que plantam, há
dois tipos de contratos que asseguram o acesso à terra, mesmo que de empréstimo:
o arrendamento rural e parceria agrícola. Nos termos do artigo 1º do Decreto n.º
59.566, de 1966,
O arrendamento e a parceria são contratos agrários que a lei
reconhece, para o fim de posse ou uso temporário da terra, entre o
proprietário, quem detenha a posse ou tenha a livre administração
de um imóvel rural, e aquele que nela exerça qualquer atividade
agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista (BRASIL, 1966).
No artigo 3º, este Decreto apresenta uma definição conceitual mais ampla desta
modalidade de contrato agrário e osseus objetivos, antecipando aspectos que serão
regulamentados nos artigos seguintes:
31
Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se
obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo
de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros
bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nele ser
exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial,
extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, observados
os limites percentuais da Lei (BRASIL, 1966).
Ao resgatar os termos do artigo 96 do Estatuto da Terra, o Decreto 59.566 traz em seu
artigo 4º o detalhamento da outra modalidade de contrato agrário:
Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a
ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso específico de
imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não,
benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com o objetivo de nele ser
exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial,
extrativa vegetal ou mista; e ou lhe entrega animais para cria, recria,
invernagem, engorda ou extração de matérias-primas de origem
animal, mediante partilha de riscos do caso fortuito e da força maior
do empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos
nas proporções que estipularem, observados os limites percentuais
da lei (BRASIL, 1966).
A diferença entre os contratos de arrendamento e de parceria é que na segunda, o
proprietário da terra assume os riscos inerentes à exploração da atividade e partilha
os frutos ou os lucros na proporção previamente definida, enquanto no primeiro, o
arrendador não assume os riscos, pois recebe uma retribuição fixa pelo
arrendamento das terras.
32
Existem diferentes tipos de arrendamento, como, por exemplo: comercial,
urbano, mercantil ou leasing, royalty e o rural.
Para o nosso conteúdo, vamos entender sobre o arrendamento rural.
Consiste num contrato agrário no qual o arrendatário tem o direito de
desfrutar um bem rural. Esse tipo de transação tem como destino uma
produção rural, seja agrícola, pecuária, agroindústria, agrossilvopastoril
(uma integração entre lavoura, pecuária e floresta), etc. Esse tipo de contrato
segue regras do Estatuto da Terra e do Código Civil Brasileiro.
Parcerias Globais
As parcerias podem se dar nos mais diferentes níveis. Em escala global, países
também firmam acordos bilaterais ou em blocos para fluir seus produtos e serviços
de um lado para o outro, cada qual buscando um superávit na balança comercial. Isto
é, procuram vender mais do que comprar.
Uma parceria econômica entre os países tem como principal vantagem a redução ou
eliminação das tarifas de importação, o que permite a aquisição de produtos a um
preço menor. A circulação de pessoas e mercadorias também é estimulada com a
redução das tarifas alfandegárias.
Mas também há desvantagens. Se de um lado os produtores podem se beneficiar da
redução nas importações de matérias-primas, reduzindo os custos de produção e o
preço dos produtos, de outro, as empresas sem condições de concorrer com as rivais
em outros países do bloco irão à falência.
33
O Brasil integra um desses blocos, o Mercosul, criado em 1991, do qual também
fazem parte a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Já a União Europeia é o bloco
formado por 27 países europeus e é um dos principais modelos de blocos
econômicos. Há, ainda, outros blocos que integram outros países das Américas, da
Ásia, da África.
34
No mundo atual, existe uma infinidade de arranjos econômicos e políticos
que denominamos de Blocos Econômicos.
Para se protegerem da concorrência e das oscilações econômicas, os países
 se organizam em blocos, criando mercados regionais.
Esses blocos econômicos são associações que estabelecem relações
econômicas e políticas entre si.
A formação tem por objetivo impulsionar e estimular a economia no mundo
globalizado.
Ao fazerem parte de blocos econômicos, os países têm a chance de que seus
produtos e serviços alcancem outros lugares, ou seja, uma vantagem
competitiva decorrente dessa cooperação.
Caro aluno, nesta aula foi possível abordar alguns fundamentos para uma parceria
eficiente no contexto de Associativismo e Cooperativismo.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
35
04
Dificuldades do 
Associativismo
36
Introdução
Agricultores do Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, não imaginavam que cairiam
numa arapuca ao buscar no associativismo uma forma de melhorar os ganhos no
cultivo de grãos e na criação de suínos e bovinos. No fim, 5.744 sofreram uma rasteira
da Associação Santa-Cruzense dos Agricultores e Camponeses (Aspac) e do
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Em 2015, a Polícia Federal indiciou 14 pessoas por participação no golpe, que consistia
em desviar recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf). Segundo as investigações da PF, trabalhadores rurais eram induzidos pelas
entidades a fazer financiamentos em duas agências do Banco do Brasil e, juntos,
acabaram tendo um prejuízo de R$ 9,9 milhões.
Claro que episódios como este não podem servir de argumento para colocar as
associações sob suspeita. Contudo, se de um lado as ações coletivas significam um
meio de obter benefícios coletivos que resultem em vantagens individuais, de outro
há uma série de dificuldades que precisam ser expostas e corrigidas para não levar os
negócios água abaixo. No campo, esses contratempos têm levado ao encolhimento da
agricultura familiar.
Dois entre três trabalhadores do setor agropecuário brasileiro estão na agricultura
familiar, aponta o Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). São 10 milhões de agricultores atuando em 4 milhões de pequenas
propriedades, das quais 1 milhão são assentamentos da reforma agrária. Juntas, as
terras da agricultura familiar correspondem a 23% do território agrícola do país.
Segundo o Censo, oito entre dez estabelecimentos agropecuários do país se
enquadram nesta categoria, mas estão sendo engolidos pelo agronegócio. Conforme
o levantamento do IBGE, houve uma perda de 2,2 milhões de postos de trabalho e
uma redução de 9,5% no número de estabelecimentos no intervalo entre uma
pesquisa e outra, de 2006 a 2017. Em sentido contrário, houve ganho de 702 mil
empregos em médios e grandes empreendimentos agrícolas.
São os efeitos das dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores, submetidos
ao mesmo desafio de qualquer negócio: a viabilidade econômica. É nesse momento
que as ações coletivas se tornaram estratégia de inserção dos pequenos produtores
37
no mercado de consumo e distribuição para escoar a sua produção. Assim, o conceito
de governança coletiva chega ao campo.
Citando estudos de vários autores, Tierling e Schmidt (2016) identificam uma
crescente cooperação entre pessoas e organizações na atual dinâmica de mercado,
resultado da globalização e de mudanças políticas, sociais e culturais. Mudanças
marcadas pela revolução tecnológica que permitem o “desenvolvimento de inter-
relações de negócios, que leva à formação de estruturas complexas de governança
coletiva” (TIERLING; SCHMIDT, 2016, p. 4).
Essas cooperações surgem como “fenômeno fundamental das economias modernas
dos negócios agroalimentares” (SAUVÉE, 2002, apud TIERLING; SCHMIDT, p. 4). Essas
relações são essenciais porque o sucesso dos negócios e as futuras operações dessas
organizações dependem da interação com outros atores sociais, tais como empresas,
outras associações, governos ou mesmo indivíduos. A cooperação traz benefícios para
todos os envolvidos.
Ao buscar respostas de por que as pessoas se unem em coletivos se poderiam agir
sozinhas pelos seus interesses? Estudiosos concluem que nesses grupos “os
indivíduos poderiam também se beneficiar dos ganhos coletivos sem empregar
esforços, atuando como free-riders” (“caronas”, indivíduos oportunistas)   (TIERLING;
SCHMIDT, 2016, p. 4). Embora seja movida por interesses individuais, a conclusão é
que os ganhos são maiorescom a cooperação.
A lógica da ação coletiva, preconizada pelo economista norte-americano Mancur
Olson, em 1971, é a obtenção de benefícios coletivos que resultem em vantagens
individuais. Mas há riscos de perdas acarretadas por falhas. “Assim como ocorre com
os benefícios gerados pelo grupo, as falhas são arcadas por todos os indivíduos que
participam da ação coletiva e influenciam a manutenção e existência destas ações”
(TIERLING; SCHMIDT, 2016, p. 5).
A julgar pelas diferenças de caráter e de personalidade de um indivíduo para outro, é
razoável supor que haja conflitos mesmo quando pessoas se unem em busca de
benefícios comuns. As causas desse comportamento conflituoso estão na literatura
clássica da Teoria da Ação Coletiva, como descritos por Olson e outros pesquisadores
depois dele.
38
Simultaneamente à existência de ações coletivas estão as ações de
cooperação, competição, autointeresse, heterogeneidade de
interesses, disposições diferentes entre os indivíduos em cooperar,
ligações diferentes entre os indivíduos, tamanhos de grupos
diferenciados [...] todos estes fatores, quando combinados de formas
diferentes, podem refletir situações positivas ou negativas em relação
ao provimento de benefícios coletivos (TIERLING; SCHMIDT, 2016, p.
5).
Esses fatores contribuem para as falhas coletivas, que nem sempre são ruins porque
dá para aprender com elas. Citados por Tierling e Schmidt (2016, p. 5), os
pesquisadores norte-americanos Kathleen Eisenhardt e Jeffrey Martin avaliam que
“dificilmente os gestores aprendem com o sucesso e com grandes erros, pois estão
envolvidos com os resultados alcançados e os grandes erros bloqueiam o
aprendizado integral das causalidades”.
Desse modo, a conclusão é que o aprendizado se torna mais fácil com as pequenas
falhas por serem percebidas e identificadas com maior facilidade como causa do
problema. “As falhas organizacionais podem também ser vistas como oportunidade
de reconhecimento das potenciais crises e mecanismo de prevenção de problemas
futuros” (TIERLING; SCHMIDT, 2016, p. 5).
Em sua tese de doutorado, Sílvia Morales de Queiroz Caleman (2010) conclui, após
uma revisão bibliográfica, que as falhas organizacionais ocorrem sob forte influência
de quatro fatores: a) tempo de interação dos agentes, b) assimetria informacional, c)
falta de delineamento dos direitos de propriedade e d) nível de dependência entre os
agentes da transação. Veja o que significa cada um deles:
a) quanto menor o tempo de interação dos agentes, ou quanto menor a
frequência das transações, maior o risco de falhas organizacionais. Isto decorre
da impossibilidade de construção de reputação entre as partes e da
possibilidade de que os benefícios do fim da relação sejam maiores se
comparados aos ganhos potenciais da continuidade da relação.
b) quanto maior a assimetria informacional entre os agentes, maior a
possibilidade de falhas. Isso leva a comportamentos com risco moral, à seleção
adversa e ao oportunismo. A falta de estruturas de incentivos como prêmios e
bonificações e de sistemas de monitoramento contribuem para a ocorrência das
falhas.
39
c) a falta de clareza dos direitos de propriedade e da garantia do seu
cumprimento é determinante para a ocorrência de falhas. A redução nos custos
de mensuração, com mudanças institucionais, padronização ou mesmo pelo
advento de novas tecnologias, contribui para que os direitos de propriedade
sejam mais bem delineados e, assim, mais garantidos.
d) a menor dependência entre os agentes está relacionada à ocorrência das
falhas. Essa dependência decorre tanto do investimento em ativos específicos, à
possibilidade de captura de quase rendas e à necessidade de se criarem
salvaguardas contratuais, como da complementaridade dos recursos
estratégicos (CALEMAN, 2010, p. 46-47).
A autora identifica, ainda, seis tipos de natureza das falhas organizacionais, resultado
de aspectos internos e externos à empresa, associação e outras ações coletivas e que
se refletem de diversas formas no ambiente organizacional (Tierling e Schmidt (2016).
Confira uma síntese dessas falhas no Quadro 2:
40
Quadro 2 – Classificação da Natureza das Falhas Coletivas
Fonte: Tierling e Schmidt, 2016, p. 6, com base em Caleman (2010).
Tipos Formalização
Natureza
estrutural
Falhas se dão na frequência de transações e ativos
envolvidos. Quanto a produtos, nas questões de preço,
custo e escala e na dimensão de rotinas como
previsibilidade, flexibilidade, complementaridade e
variabilidade.
Natureza
cognitiva
Quando há limitação do indivíduo em lidar com incertezas
do ambiente externo para fazer cálculos de probabilidade
de risco e em se comunicar para codificar e decodificar
mensagens e diferentes modelos mentais.
Natureza
comportamental
Ocorre através do comportamento oportunista do indivíduo
ou de suas diferentes atitudes diante do risco.
Natureza
informacional
Ocorre quando há existência de racionalidade limitada e
comportamento oportunista do agente, que está
relacionado à assimetria de informação.
Natureza
institucional
Ocorre quando há fragilidade do ambiente institucional,
decorrente dos direitos de propriedade indefinidos ou não
garantidos.
Natureza
política
Ocorre quando há grupos de interesse ou de influência,
atividades de lobby e a rivalidade entre empresas.
41
A Lei 11.326/2006, ou Lei da Agricultura Familiar, define como
empreendimento familiar rural aquele que detém área de até 4 módulos
fiscais, que use mão de obra da própria família na atividade econômica
desenvolvida, que tenha renda familiar oriunda dessas atividades e cuja
gestão seja feita por alguém da família.
Acesse o link: Disponível aqui
Veja os detalhes do golpe contra o Pronaf que lesou mais de 5,7 mil
pequenos produtores do Vale do Rio Pardo e a relação das 14 pessoas
indiciadas pela Polícia Federal acusadas de serem as mentoras do esquema
fraudulento.
42
http://www.gaz.com.br/conteudos/regional/2019/10/25/156547-quem_sao_os_14_denunciados_pelo_mpf_no_caso_pronaf.html.php
Pontos Fortes do
Associativismo
O consultor de negócios Carlos Roberto Romeu auxiliou na formação de mais de 60
redes setoriais associativistas no Brasil (ROMEU, 2002). Essa atuação direta
possibilitou a ele o acúmulo de conhecimento capaz de identificar os pontos fortes e
os pontos fracos do associativismo. O autor destaca 10 pontos positivos em uma rede
associativista: união, aculturamento, compras conjuntas, marca forte, capacitação,
lucratividade, parcerias, conceitos de loja, patrocínio e competitividade (ROMEU,
2002).
Essa interação leva ao aculturamento do empresário, quando ele assimila os valores
do grupo ao qual se uniu. “Há um ganho significativo na cultura empreendedora da
grande maioria dos empresários que participam de uma rede associativista” (ROMEU,
2002, s/p). Esse envolvimento proporciona a realização de compras conjuntas em
grandes quantidades, o que possibilita maior poder de barganha e acesso a grandes
fornecedores, sem intermediários.
Para o consultor, utilizar uma marca forte na fachada do estabelecimento é um ponto
importante de uma rede associativa, pois a marca associa o negócio à rede, cujo
conceito, quando bem trabalhado na mídia, proporciona bons retornos. Na mesma
linha, a apresentação do estabelecimento proporciona melhoria no conceito de loja
dos associados. As recomendações vão desde uma fachada, um layout apropriado,
até a informatização, passando, ainda, pela uniformização e a aparência pessoal dos
funcionários.
Quando incorporados a uma rede associativa, empresários e funcionários atendem
ao apelo para uma necessária capacitação, “a fim de enfrentar a concorrência
impiedosa das grandes empresas” (ROMEU, 2002, s/p). Segundo o consultor, isso leva
a melhoras significativas na gestão do negócio e, consequentemente, à qualidade no
trabalho e no atendimento aos clientes.
O aumento no faturamento graças aos benefícios proporcionados pela rede, os
resultados com o desenvolvimento de produtos similares e melhores margens de
comercialização aumentam a lucratividade do negócio.Além disso, o empresário de
uma rede associativista torna-se mais competitivo ao comprar bem e barato,
melhorando o mix de produtos, ao entender as necessidades do cliente, treinar a
equipe e organizar o estabelecimento (ROMEU, 2002, s/p).
43
As ações realizadas de forma conjunta com fornecedores e distribuidores possibilitam
a realização de campanhas de promoção, com preços menores do que os
estabelecimentos não associados a uma rede associativa. “A parceria com uma
financeira, com juros e taxas menores, proporciona atratividade aos consumidores
para compras financiadas, ao mesmo tempo em que propicia um custo operacional
menor para a empresa” (ROMEU, 2002, s/p).
Por fim, o consultor de negócios salienta que várias redes desenvolvem boas
parcerias com os fornecedores e com isso obtêm patrocínio para seus eventos,
promoções, fachadas, melhorias no ponto de vendas, entre outras vantagens
(ROMEU, 2002).
Pontos Fracos do
Associativismo
Nem tudo é fácil no associativismo. Há obstáculos no caminho a dificultar o trabalho
em grupo. O consultor de negócios Carlos Roberto Romeu identificou seis desses
percalços: a ansiedade, a falta de qualidade dos associados, a disparidade de
faturamento entre os associados, os recursos financeiros escassos, a falta de
habilidade para decisões em conjunto e as especulações sobre as negociações
(ROMEU, 2002).
Ao longo de seu trabalho de apoio à criação de redes associativistas, ele concluiu que
os empresários costumam ser imediatistas, querem resultados muito rapidamente. “É
necessário um tempo de maturação para a consolidação do grupo. Deter essa
ansiedade é uma tarefa importante para o sucesso da rede” (ROMEU, 2002, s/p).
Segundo constatação do consultor, as redes que privilegiam a quantidade em vez da
qualidade no processo de seleção dos associados irão se ressentir no futuro, pois a
participação destes se revelará muito aquém do esperado. “A mentalidade
individualista, a inadimplência, a resistência às mudanças e o descumprimento das
normas fazem-se presentes nessas redes e contribuem para desmotivar os que estão
se empenhando para o sucesso da união” (ROMEU, 2002, s/p).
A desigualdade de faturamento entre os membros também é um problema para as
associações. Ter grandes, médios e pequenos estabelecimentos na mesma rede
dificulta as ações conjuntas, sobretudo quando há rateio dos custos. “Recomenda-se
44
que o grupo seja formado por empresas que possuam portes parecidos, para que as
ações propostas possam ser assimiladas e realizadas sem prejuízo. É importante que
se tenha em mente que a união deve ser feita para ajudar e não para prejudicar”
(ROMEU, 2002, s/p).
A falta de dinheiro é um percalço bastante comum entre membros de associações.
“Muitos associados ressentem-se da falta de recursos financeiros e, por essa razão,
não conseguem investir em sua loja e acompanhar a evolução do grupo associativista,
causando, consequentemente, um desgaste na imagem da rede” (ROMEU, 2002, s/p).
Também pesa contra as organizações associativas a falta de habilidade de parte dos
membros quanto às decisões em conjunto. “Todos nós elogiamos a democracia,
porém, no dia a dia das empresas, a autocracia impera” (ROMEU, 2002, s/p). Como
observa o consultor, o empresário que aceita participar de um grupo tem de saber
acatar a decisão da maioria e que precisa fundamentar bem as suas ideias para que
sejam aceitas.
O jeitinho brasileiro não cai bem em associações, mas isso acontece. Segundo o
consultor Carlos Roberto Romeu, um dos maiores problemas nas redes constituídas é
o de um associado querer levar vantagem sobre os demais. “Fatos assim acontecem
por sugestão dos próprios vendedores, que procuram aliciar para desestruturar o
grupo” (ROMEU, 2002, s/p). Pode acontecer de, cedo ou tarde, isso chegar ao
conhecimento de todos e é provável que esse associado seja excluído da associação.
45
No Código Civil e na Lei de Registros Públicos, a figura associativa é
caracterizada como pessoa jurídica de Direito Privado, registrada em
cartórios de registro civil de pessoas jurídicas e é composto pela união de
várias pessoas reunidas sem fins lucrativos. Como figura jurídica, seguem
algumas configurações determinadas pela legislação brasileira. E, em razão
dessa precisão jurídica, é possível delinear de forma estatística essa figura
associativa através de variáveis e informações que são disponíveis no
Cadastro Central de Empresas (Cempre), do IBGE.
Mas podemos perceber que as associações não se restringem a apenas essa
definição, uma vez que o associativismo quase sempre é relativo aos
aspectos econômicos que envolvem diferentes áreas da sociedade.
Caro aluno, nesta aula você pôde entender que nem tudo é fácil quando falamos de
Associativismo e Cooperativismo. Mas existem pontos fortes e relevantes que fazem
deste tipo de associação ter uma união e uma interação capaz de motivar esta rede
colaborativa.
Espero que você tenha compreendido o conteúdo abordado.
Bons estudos!
46
05
Os Destaques das 
Ações Coletivas
47
Introdução
Entre as omissões ou deficiências do Estado e a tendência excludente do mercado, há
um vazio preenchido por arranjos coletivos que buscam sobreviver entre um extremo
e outro. Não à toa, o século XXI é tido como a era das alianças, pois as organizações
dificilmente teriam um bom desempenho econômico sozinho, e precisam de
cooperação (AUSTIN, 2011 apud WENNINGKAMP; SCHMIDT, 2016, p. 414).
Esta cooperação pode se dar num âmbito macro, como joint venture entre gigantes
transnacionais, ou no âmbito local, para se resolver as questões mais emergentes do
dia a dia. Aqui entram os Arranjos Produtivos Locais (APLs), com a união de vários
atores em busca de benefícios comuns.
Em relação aos setores econômicos, Ménard (2004) e Zylbersztajn (2005, 2010)
apontam que o agronegócio, em seus variados Sistemas Agroindustriais (SAGs), tem
sido fortemente permeado pela presença dessas estruturas complexas de
governança sob a forma de redes, supply chain systems, netchains, clusters, arranjos
produtivos locais (APLs), marcas coletivas, parcerias, alianças, sistemas de cadeia de
suprimento, cooperativas, sindicatos, associações e empreendedorismo coletivo.
Arranjos Produtivos Locais
(APLs)
Segundo Cassiolato e Lastres (2003), a formação de arranjos e sistemas produtivos
locais encontra-se geralmente associada à trajetória histórica de construção de
identidades e de formação de vínculos territoriais (regionais e locais), a partir de uma
base social, cultural, política e econômica comum.
Os APLs são mais propícios a desenvolverem-se em ambientes favoráveis à interação,
à cooperação e à confiança entre os atores. A ação de políticas tanto públicas como
privadas pode contribuir para fomentar e estimular tais processos históricos de longo
prazo.
48
Castro (2009) disserta sobre algumas características que são consideradas quando se
fala em APLs, tais como território, especialização produtiva, aprendizagem e inovação,
cooperação e atores locais.
Território: o APL compreende um recorte do espaço geográfico (parte de um
município, um conjunto de municípios, bacias hidrográficas, vales, serras, entre
outros) e é passível de uma integração econômica e social no âmbito local.
Especialização produtiva: além da produção, esta característica leva em
consideração o conhecimento que pessoas e empresas têm sobre a atividade
econômica principal.
Aprendizagem e inovação: acontece quando há um intercâmbio sistemático de
informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas. Interação com outras
empresas, por meio de cursos, feiras.
Cooperação: há cooperação produtiva, que visa à economia de escala, e
cooperação inovativa, que diminui riscos, custo e tempo, dinamizando o
potencial inovativo dos APLs.
Atores locais: são instituições de promoção de financiamento e crédito;
instituições de ensino e pesquisa; centros tecnológicos; associações
empresariais; prestadores de serviços; organizações do terceiro setor; e
governos em todos os âmbitos.
49
O termo APL é uma definição brasileirapara alguns dos aglomerados locais
encontrados no país.
Arranjos Produtivos Locais são aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes.
Geralmente, envolvem a participação e a interação de empresas – que
podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de
insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços,
comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de
representação e associação. Incluem também diversas outras instituições
públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos
humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa,
desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento
(CASSIOLATO e LASTRES, 2003, p. 11).
As Redes Agroalimentares
Alternativas
As redes alternativas se diferenciam da lógica política e econômica das grandes redes
de produção e distribuição de alimentos por estarem centradas na produção
sustentável, preço justo, cadeias locais de produção e consumo, relações de confiança
e valorização de produtos singulares. Diversos estudos indicam a substituição
gradativa da quantidade pela qualidade, a reconexão de produtores e consumidores e
o reestabelecimento dos vínculos entre sociedade e natureza (CASSOL, 2013).
50
Nesse contexto, as redes agroalimentares são espaços onde atores locais e
instituições envolvidas na produção, processamento, distribuição e consumo de
alimentos estabelecem relações para criar mercados a partir de interações e valores
sociais e culturais dentro de um território delimitado (CASSOL, 2013). Os novos
arranjos associativos no meio rural ganharam evidência devido às mudanças de
percepções sobre os alimentos no campo e na cidade.
Na década de 1990, começaram a se intensificar as discussões sobre as novas
relações de produção e consumo no setor agroalimentar, dado o contexto de
concentração da produção e distribuição nas mãos de grandes corporações. Dessa
concentração derivaram debates sobre problemas ambientais, insegurança alimentar,
alimentos processados industrialmente e com baixo ou nenhum valor nutritivo.
Nos estudos rurais, tais discussões têm como pressupostos o
reconhecimento da capacidade proativa dos próprios atores sociais –
os agricultores – em organizarem-se coletivamente, criando
dispositivos e construindo redes de relações e mercados que lhes
possibilitem novas formas de produção e interação social, que
muitas vezes estão associadas a uma maior autonomia frente aos
processos de reprodução social e econômica destes atores (LONG e
PLOEG, 2011 apud CASSOL, 2013, p. 19).
Novas formas de comercialização e de mercado ganham destaque diante da
necessidade de transição de um modelo produtivista para um modelo pós-
produtivista de agricultura (PLOEG et. al., 2000 apud CASSOL, 2013). Diversos autores
consideram essas transformações “um novo paradigma de desenvolvimento rural e a
criação, operação e evolução destas ‘novas’ ou ‘alternativas’ redes de abastecimento
alimentar são expressões destes novos padrões” (CASSOL, 2013, p. 29).
Há nesses espaços, muito mais do que a mera relação de compra e venda, pois ali
subjaz a valorização das práticas tradicionais de produção e um contato mais direto
entre produtores e consumidores. “Ao interagirem nestes espaços, produtores e
consumidores trocam valores sociais e culturais que conferem significados e sentidos
às suas ações econômicas e valorizam variedades locais de alimentos” (CASSOL, 2013,
p. 21).
51
Você já parou para pensar de onde vem tudo que você consome? Como este
sistema agroalimentar funciona? São perguntas que merecem uma boa
reflexão.
O sistema agroalimentar ou rede agroalimentar vai desde a produção,
transformação, distribuição até o consumo dos alimentos. Nesse sistema
temos as cadeias agroalimentares longas a as cadeias agroalimentares
curtas.
As cadeias longas são caracterizadas pela grande distância entre os
produtores rurais e os consumidores finais. Já as cadeias curtas promovem
uma relação entre os agricultores com os consumidores, e acaba dando
mais visibilidade e fortalecimento das redes agroalimentares alternativas.
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Estudo de caso: a cooperativa que nasceu da luta pela terra
Quem vive em algum lugar da região Sul ou Centro-Oeste do Brasil talvez já
tenha se deparado com um produto da marca Terra Viva nas gôndolas dos
supermercados. As caixas de leite longa vida carregam a história de uma
ação coletiva bem-sucedida, não sem esforço. Tudo jogava contra, a
começar pela conquista à força da terra e a superação de desconfianças e
preconceitos.
No marco da luta pela terra, concomitante ao início da redemocratização do
país e da reforma agrária como prioridade política, a região Oeste de Santa
Catarina registrou uma série de ocupações. Após a primeira, em 1980, na
Fazenda Burro Branco, na cidade de Campo Erê, o Movimento dos Sem-terra
(MST) articulou as Operações Integradas de Ocupações Simultâneas,
reconfigurando a geopolítica local (FERNANDES, 2013).
Destas operações resultaram 14 assentamentos no Oeste catarinense em
1985. Entre esses trabalhadores sem-terra estavam 130 famílias assentadas
em São Miguel do Oeste, em 26 de outubro daquele ano. Eram “italianos,
alemães, caboclos (arrendatários, diaristas, agricultores) e que tinham em
comum o fato de compartilhar a situação de não terem uma propriedade
para produzir seu sustento” (FERNANDES, 2013, p. 70).
Essas famílias criaram a Associação 25 de Maio para buscar melhor preço na
venda dos produtos e na compra dos insumos. Não conseguiram porque
“comprometiam a venda dos produtos antes mesmo de colocá-los à
disposição para comercialização na associação” (FERNANDES, 2013, p. 70).
Então, dada à falta de estrutura física e financeira, as famílias focaram na
produção de leite, mais viável pelas condições das terras.
53
À época, a Cooperativa Alfa pagava R$ 0,10 por litro ao produtor, muito
abaixo do valor cobrado do consumidor. Havia ainda o problema da “cota-
extra”, segundo a pesquisadora Jocilaine Mezomo Fernandes. “O agricultor
precisava manter uma cota de produção de leite durante o ano todo, se essa
cota não fosse atingida os preços eram reduzidos e, consequentemente,
causavam prejuízos aos produtores” (FERNANDES, 2013, p. 72).
O MST realizou debates nos assentamentos para integrar as famílias. A
Associação 25 de Maio passou a concentrar a produção de leite dos
assentados. Surge então uma “pequena indústria de beneficiamento de leite
e produção de queijo para vender no mercado local, e concorrer com as
indústrias que já atuavam no mesmo segmento” (FERNANDES, 2013, p. 72).
Oito assentamentos se uniram para fundar a Cooperoeste (Cooperativa
Regional de Comercialização do Extremo Oeste Ltda.). Em seu mestrado,
Fernandes (2013) entrevistou cinco dos 256 fundadores. No início, as
famílias eram discriminadas por serem originárias do movimento sem-terra.
Levou 2 anos para que o Banco do Brasil aprovasse um crédito para
começar a indústria de processamento de leite (FERNANDES, 2013).
Criada em 1996, a Cooperoeste foi a primeira a processar leite tipo C dos
produtos Terra Viva. Esta marca pertence à Cooperativa Central de Reforma
Agrária de Santa Catarina, que congrega 13 associações e cooperativas.
A Cooperoeste paga royalties pelo uso da marca, que tem
como estratégia se fixar no mercado, além disso, essa
marca traz uma história de luta dos movimentos sociais na
qual a Cooperoeste também está integrada. A marca Terra
Viva surgiu como uma necessidade de melhor competir no
mercado com intuito de que todos os produtos oriundos da
reforma agrária tivessem a mesma marca possibilitando a
divulgação e a competição no mercado (FERNANDES, 2013,
p. 73).
Desde 2016, um mix de 18 produtos Terra Viva chega à mesa de mais de 1,7
milhão de pessoas nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil.
54
Ações Coletivas que Viram Lei
Imagine milhões de pessoas unidas em torno de uma única causa, cada uma
firmando seu compromissocom nome e CPF no papel para criar uma nova lei. A
Constituição Federal de 1988 inovou ao reconhecer os projetos de lei de iniciativa
popular como instrumento de participação do cidadão na vida pública. Embora o
dispositivo permita a qualquer brasileiro propor mudanças na estrutura sócio-política
do país, até hoje apenas quatro propostas do gênero viraram lei federal.
Foi assim que surgiu a Lei da Ficha Limpa, projeto de iniciativa popular para impedir
que candidatos condenados por órgãos colegiados da Justiça se elegessem a cargos
públicos. A iniciativa partiu do juiz Márlon Reis, mas não teria seguido adiante se não
houvesse uma eficiente ação coletiva. O projeto apresentado à Câmara dos
Deputados tinha 1,6 milhão de assinaturas e, desse modo, surgiu a Lei Complementar
n.º 135/2010.
Na mesma linha, outra lei de combate à corrupção na política foi criada 11 anos antes.
O projeto começou em 1997, com uma campanha de uma comissão da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para coibir o crime de compra de votos com a
cassação do mandato, de vereador a presidente. Trinta e duas entidades se uniram à
causa e o projeto chegou à Câmara Federal com 1,06 milhão de assinaturas, levando à
promulgação da Lei 9.840, em 1999.
Antes ainda, em 1992, o Movimento Popular por Moradia levou à Câmara um projeto
de lei com mais de 1 milhão de assinaturas. A proposta foi aprovada de forma
unânime em todas as comissões da Câmara entre 1997 e 2001, mas só foi sancionada
em 2005, dando origem à Lei 11.124/2005 e criando o Fundo Nacional de Habitação
de Interesse Social. O que se buscou foi o acesso da população de menor renda à
terra no meio urbano.
Também em 1992, um projeto de iniciativa popular obteve 1,3 milhão de assinaturas
para modificar a Lei de Crimes Hediondos (8.072, de 1990), que não tipifica o
homicídio qualificado. A autora de telenovelas Glória Peres lançou a campanha após a
filha, Daniella Perez, de 22 anos, ser brutalmente assassinada pelo colega de novela
Guilherme de Pádua e a esposa dele, Paula Nogueira Thomaz. Em 1994, o projeto foi
sancionado, dando origem à Lei 8.930/1994.
55
Para um projeto de iniciativa popular entrar na pauta de votação, precisa da
assinatura de 1% dos eleitores de todo o país no caso de proposição de uma lei
federal. O mesmo porcentual vale para as leis estaduais, só que restrito ao eleitorado
do estado em que a lei será criada. Já no caso de leis municipais, a proposta necessita
da assinatura de 5% dos eleitores do município.
Acesse o link: Disponível aqui
Políticos corruptos passaram a ter a candidatura impugnada e as penas para
crimes hediondos passaram a ser mais severas graças a leis criadas a partir
da iniciativa popular. No site da Câmara dos Deputados você encontra um
banco de ideias e um modelo para propor um projeto de lei.
Caro aluno, chegamos ao final de mais uma aula e com base no que foi exposto, você
compreendeu as ações coletivas que são destaques quando se fala em Associativismo
e Cooperativismo.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
56
https://www2.camara.leg.br/participacao/sugira-um-projeto
06
Modalidade de 
Associativismo
57
Introdução
Unir forças e interesses para atingir objetivos comuns está na história da civilização
humana. Os indivíduos procuram a vida em sociedade por conforto, por segurança,
por reconhecimento, e pela necessidade de ampliar sua capacidade de adaptação ao
meio e sobrevivência. A lógica do associativismo, no que diz respeito à origem do
termo, que vem do latim associare, juntar colaboradores ou companheiros, é
justamente o de proporcionar um engrandecimento mútuo entre os integrantes da
associação.
O associativismo, assim, está vinculado às características e interesses comuns.
Podemos estabelecer uma associação entre dois ou mais entes privados, que
apresentam personalidades distintas ou até características distintas de identidade
sociocultural, mas que se agrupam com uma determinada finalidade. Esta postura é
ampla e social. Nos associamos aos colegas de turma, presencial ou virtualmente,
para estabelecermos um grupo de estudo ou associação estudantil com a finalidade
máxima do aprendizado.
Contudo, quando nos deslocamos para o campo formal ou organizativo, ou seja, com
o mínimo de burocracia ou formalidade, adequamos este conceito para reunião de
grupos de indivíduos ou de pessoas jurídicas com interesses comuns. Assim,
conforme destaca Damásio (2004, p. 8), o conceito burocrático de associativismo está
“relacionado à utilização de métodos e técnicas específicas de trabalho capazes de
estimular a confiança, exercitar a ajuda mútua entre os participantes, estimular a
parceria, fortalecer o capital humano, melhorar a qualidade de vida”.
58
Dentre os elementos que integram as características de uma prática
associativa podemos destacar a adesão voluntária, uma determinada
autonomia dos integrantes sob o rol de medidas de estatuto, existe uma
integração e responsabilidade compartilhada dos membros da associação
no que diz respeito à gestão (SENAR, 2019, p. 32). Além disso, o patrimônio
da associação é social, com quotas similares entre os sócios ou integrantes.
Frente a isso, há ainda de se destacar os objetivos, que é o de mútuo
benefício, com fomento do acesso à informação entre os membros,
ampliação das forças e dos resultados em suas áreas de atuação, reunião de
integrantes para, a partir do volume e organização, conseguir poder de
barganha, ou ainda, de pressão, como nos casos das associações de
profissionais.
Assim, quando observamos do ponto de vista de intencionalidade, podemos destacar
dentre as propostas do associativismo atuar nos ramos vinculados à ação a terceiros
(SEBRAE, 2020). Neste caso, estamos destacando os tipos de associativismo
filantrópico – que apresentam com função a integração de voluntários e membros
para desenvolvimento de atividades de assistência social, e os de defesa à vida – que
podem ficar nos próprios membros ou em terceiros marginalizados socialmente.
Ainda, do ponto de vista da intencionalidade, podemos destacar os tipos de
associação sem fins lucrativos de interesses de grupos ou representatividade, como
os casos de pais e mestres – intenção de pleitear melhorias no ambiente de ensino,
com grau de integração e agrupamento de interesses ora do grupo de alunos ora do
grupo de docentes e pais – e os de classe – relacionados aos interesses de
determinadas categorias ou classes coesas – como o de representação de interesses
de categorias profissionais, ou ainda, de empresas de determinados ramos. Existem
ainda os formatos de associações culturais e esportistas, com interesses vinculados
ao aprendizado e ao desempenho físico.
59
Por fim, podemos categorizar os tipos de associação entre os que desempenham
finalidade de vantagens mútuas produtivas para seus membros, como são os casos
das associações de consumidores – e leia-se consumidores não apenas compradores
de produtos físicos como bens palpáveis, mas também consumidores de serviços e de
atividades governamentais; e os mais comuns no meio rural, que são as associações
de produtores (SEBRAE, 2020), que podem reunir pessoas físicas e artesãos, além de
pessoas jurídicas de pequeno e médio porte com o objetivo de garantir
representatividade produtiva ou política.
Separando pela Organização
Outra forma de categorizarmos as associações é pela forma de organização, que pode
ser formal ou informal, ou ainda, pode ser a partir de entes físicos e jurídicos. Neste
caso, um dos tipos de associativismo se dá por Consórcio e também pelo tipo
Sociedade de Propósitos Específicos.
O primeiro caso é um dos mais conhecidos como forma de união de diferentes
indivíduos com o objetivo de alcançar objetivos específicos como um tipo de
associação de consumidores, como mencionado anteriormente. Geralmente, como
destaca Almeida, os consórcios têm como objetivo o estabelecimento de novos
mercados internos e externos "com a redução de custos, gestão estratégica, maior
capacitação, acesso a créditos e a novas tecnologias" (CASTRO,2009, p. 45).
Mas calma lá, que o Consórcio de que estamos falando aqui não se restringe à
compra de moto ou de outros bens. É uma forma complexa de associativismo de
empresas para atingir determinados fins ou organizações, como é o caso de
municípios, por exemplo, que a partir de seus poderes Executivos, firmam um
consórcio para organização de um sistema de gestão de resíduos sólidos.
Os consórcios podem ser formados para reunir esforços empresariais de instituições
com capacidade e especialidade distintas para pesquisa, para participação de oferta
de serviço para poderes públicos, grandes empreendimentos como exploração de
atividade de minérios, serviços de transporte intermunicipal, da mesma forma como
mencionamos no caso da gestão de resíduos, e para obras de engenharia em escala
de grandes empreendimentos, como obras públicas.
60
Neste caso, mesmo sem ter uma personalidade jurídica, o Consórcio é inscrito no
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) (SENAR, 2015, p. 55), e nele os integrantes
ou empresas consorciadas estabelecem contratos com deveres e direitos. Assim, as
sociedades contratantes "costumam assumir obrigações de verter recursos para o
desenvolvimento do empreendimento e de contribuir com serviços ou bens"
(CASTRO, 2016, p. 150).
Esta nova forma associativa não interfere nos contatos ou formas de sociedade entre
as empresas que se organizam a partir do Consórcio, ou seja, as empresas
constituintes do novo empreendimento seguem com as mesmas regras de sociedade,
não restando responsabilidade entre os membros que não sejam as estabelecidas no
contrato do Consórcio.
Junto ao consórcio podemos ainda destacar o formato joint venture, estilo de
associativismo de empresas ou entidades para um fim específico ao longo de um
determinado tempo sem que isso interfira a finalidade ou especificidade de cada uma
delas. A associação de duas empresas gerando uma nova ou um novo
empreendimento é o que podemos usar como exemplificação de uma joint venture.
Um dos formatos mais comuns é a formação de um empreendimento em países
estrangeiros para facilitar o desenvolvimento de atividades frente à burocracia local,
evitando ter que criar filiais ou alterar o registro original da empresa. Um formato de
joint venture é a Sociedade de Propósito Específico (SPE) que é um modelo de união de
empresas com uma determinada finalidade com prazo e objetivo determinado.
61
Acesse o link: Disponível aqui
No estado do Paraná, por exemplo, um caso de SPE é a CS Bioenergia,
constituída pela estatal de saneamento, Sanepar, e uma empresa de
tecnologia em bioenergia, a Cattalini Bio Energia. A CS Bioenergia é uma
usina de aproveitamento de lodo do tratamento da água para geração de
energia elétrica. Os custos do empreendimento foram divididos e um
empreendimento novo e foi consolidado a partir destas duas entidades
jurídicas. Esta SPE é formada por um corpo diretivo, por presidência e por
uma estrutura burocrática distinta da Sanepar e da Cattalini. Assim, a SPE é
uma “empresa como outra qualquer e possui regras previstas na legislação e
varia de acordo com o tipo de sociedade que seus membros definiram para
nortear suas ações” (SENAR, 2015, p. 58). Ok, mas então consórcio é SPE?
Não, principalmente pela pessoa jurídica constituída depois da união das
empresas. Lembra que dissemos que no caso do consórcio não havia esta
burocracia? Pois bem, no caso das joint ventures ou SPE isso é diferente.
Um segundo bloco reúne tipos de associativismo cooperativos, como Empresa de
Participação Comunitária (EPC).   Antes de qualquer coisa, é bom esclarecer que
“comunitária” não está vinculado às ações beneficentes ou de filantropias, mas sim, o
de dar identidade a um determinado grupo de interesses e de características comuns,
geralmente o lucro e o benefício pecuniário.
Geralmente, as Sociedades Anônimas (SA) são consolidadas a partir do modelo
associativo de Empresas de Participação. O objetivo é reunir “investidores que
aplicam seus recursos na criação de novos negócios ou na capitalização dos já
existentes. Via de regra, são conhecidas como holdings ou empresas-mãe” (SEBRAE,
2016).
62
http://csbioenergia.com.br/quem-somos/
Neste caso, a EPC é resultante do agrupamento de investidores ou empresas que
investem em novos empreendimentos, com a capacidade democrática de
participação. Um dos principais elementos é a confiança, já que se trata de uma
parceria de mútuo benefício, mas que está calcada na proposta de cooperação,
sobretudo por se tratar de grupos de pequenos investidores.
Isso não significa que sua postura seja menos agressiva que a de grandes
empreendimentos. Pelo contrário, ainda mais por se tratar da fragilidade dos
pequenos investidores, neste caso, existe uma “exigência rigorosa em sua gestão em
relação ao lucro, segurança do capital investido e rentabilidade” (SENAR, 2015, p. 66).
Dentre as vantagens de se constituir uma EPC para os setores da agropecuária,
agroindústria, comércio, serviços e turismo, como acompanhamento dos resultados
sem impacto do mercado, reutilização dos recursos para novos empreendimentos e
ampliação do potencial financeiro, reunião de pequenos capitais para alcançar
volume para grandes investimentos.
Fonte: Disponível aqui
Já ouviu falar do ESPRI, o Polo Empresarial Spartcaco, em Cotia, região
metropolitana da capital paulista? É um exemplo de Empresa de
Participação Comunitária (EPC). Trata-se de uma empresa do setor industrial
que reúne outras tantas empresas com 3,9 mil acionistas. Como o próprio
polo destaca em seu site, a SA é constituída a partir da “contribuição de
milhares de pessoas que, inspiradas pelo lema “somos pobres, mas somos
muitos”. Esses muitos acreditaram e acreditam que apenas uma nova
economia, fundada sobre a égide da partilha. O empreendimento evoluiu a
ponto de se tornar uma incubadora de novos empreendimentos, um polo de
reunião de empresas parceiras, e uma comunidade ativa de suporte a
planos de negócios de empresas de pequeno e médio porte.
63
http://www.espri.com.br/
Por fim, podemos destacar como tipos de associação os grupos formais e informais.
As associações ou organizações são grupos, são formas de conectar indivíduos e
instituições com finalidades comuns. A formalidade e informalidade não estão
necessariamente relacionadas à estrutura jurídica ou tratamento, mas sim, à forma
de gestão dos recursos e do poder instituído.
Neste caso, grupos formais são aqueles que originam determinadas hierarquias ou
estruturas de comando, sendo usados como formas de auxílio no “desempenho de
tarefas complexas e/ ou interdependentes; desenvolver a criatividade dos membros
do grupo, visando novas ideias e soluções de problemas profissionais” (SENAR, 2015,
p. 69).
Na outra ponta, os grupos informais apresentam espontaneidade na formação e a
existência de lideranças que não são fixas. Junto ao associativismo informal, podemos
encontrar três tipos de organizações, sendo elas as de grupos de produção solidária –
em que há reunião do potencial produtivo da comunidade   – ; as redes   –   que
auxiliam o processo de compartilhamento e venda dos produtos  – ; e os grupos de
ação comunitária – em que a reunião não é só para agrupar esforços, mas para
conseguir volume para descontos e retorno de benefícios para o grupo (AMARAL,
2005, p. 10). Nos formais, são dois os tipos, sendo as associações e as cooperativas.
Caro aluno, por meio desta aula você compreendeu as modalidades de
associativismo.
Espero que você tenha assimilado todo o conteúdo aqui trabalhado.
Bons estudos!
64
07
Grupos Formais e 
Grupos Informais
65
Introdução
A somatória de esforços e de recursos para um fim comum, que pode ser benefício
comercial, como em caso de consórcios e de organizações de consumidores; pode ser
com fins de benefício a terceiros, como o caso de organizações filantrópicas; ou ainda,
de pesquisa e serviços públicos, como é o caso das organizações de sociedade
anônima em atividades licitatórias.
Em todos esses casos, o que temos são medidas associativas,que resultam em
formação de grupos sociais com fins de atividades laborais ou comerciais.
Os grupos podem apresentar determinadas regras ou modos de funcionamentos que
caracterizam sua forma de gestão e organização. Conforme destaca Robbins (2014, p.
150), "um grupo é definido como dois ou mais indivíduos interativos e
interdependentes que se juntam para atingir objetivos específicos”. O que vamos
abordar aqui é a forma como grupos associativos podem ser organizados em termos
de estrutura e forças do vínculo das ações.
Em termos de administração e de associativismo, definimos a formalidade ou
informalidade a partir da forma como o grupo se organiza e se institui. Neste caso,
estamos falando de grupos formais e informais.
Os grupos podem ser perenes ou com objetivos específicos, e sua função geralmente
está vinculada às resoluções de problemas dentro de uma organização. Sendo
formais ou não, algo fundamental para seu sucesso é a conexão entre os membros
que integram os grupos e, sobretudo, a sinergia e capacidade de atuarem em
conjunto. Ou seja, os membros do “grupo devem confiar uns nos outros. É necessário
que os integrantes do grupo tenham coesão, ou seja, tenham o desejo de permanecer
no grupo, defendê-lo e continuar trabalhando com as mesmas pessoas” (SENAR, 2015,
p. 70).
Assim, os membros devem ser identificados como pertencentes a um coletivo, e que
nesse grupo integram função fundamental para o resultado final, assim como os
demais membros.
66
Dentro da Estrutura Formal
Os grupos formais são organizados a partir da centralidade da administração. Sua
formalidade não está apenas na conexão com as estruturas diretivas ou organizativas,
mas também pela forma como se consolida, a partir de regras determinadas e de
estatutos. De fato, algo que podemos destacar como característico dos grupos
formais é a presença de uma determinada hierarquia ou de uma forma de
organização a partir de um organograma de funções.
A função dos grupos formais é a de auxiliar a instituição ou organização, sendo
formado com bases perenes ou com objetivos e finalidades específicas. Desta forma,
os grupos “têm a função de auxiliar no desempenho de tarefas complexas e/ou
interdependentes; desenvolver a criatividade dos membros do grupo, visando novas
ideias e soluções de problemas profissionais; e auxiliar na implementação de decisões
complexas” (SENAR, 2015, p. 69).
A hierarquia, como grau de poder de um indivíduo ou de um grupo dentro da
organização com capacidade de mando e de responsabilidades, prevista no grupo,
determina uma rigidez não apenas na sua estrutura, mas também nas regras
comunicativas e de metas.
Assim, um grupo formal pode apresentar regras específicas e capacidade de auto-
organização e sistema de punição. Como destaca Montana (2020, p. 180), a posição do
grupo e a cota de poder "dentro da organização mais ampla são articuladas em torno
de suas metas; ele recebe, ou deve receber poder e recursos suficientes para que
possa realizar a tarefa a ele designada".
Desta forma, sua capacidade de autonomia está vinculada em primeiro lugar ao
status dos integrantes ou do vínculo com as bases diretivas da organização; em
segundo lugar, pela tecnicidade da sua formação; em terceiro ponto, pelo potencial
de resolução e grau de desafio ao qual foi responsabilizado; e, por fim, pelo histórico
de sucesso do grupo, principalmente, em casos de grupos formais em longo prazo.
Segundo destaca Montana (2010), a estrutura do grupo é a mesma estrutura formal
da organização central. Assim, os demais grupos de apoio e a própria comunicação se
valem das vias institucionais e formais para se consolidar, geralmente em regra de
fluxo vertical, que parte de um polo “superior” para os polos “inferiores” dentro de
uma estrutura hierárquica. Estando dentro do âmbito formal na instituição, sua forma
de funcionamento é contemplada pelo estatuto da empresa ou organização, assim, o
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resultado positivo ou negativo, bem como as atitudes de sinergia ou de confronto
com as instâncias hierárquicas serão compensadas ou punidas pela mesma lógica da
organização, quer com elementos pecuniários e de bonificação, quer com as mesmas
ferramentas de constrangimentos em caso de punições.
Sendo formal, podemos destacar que os grupos deste tipo podem apresentar
determinadas organizações internas de trabalho, como divisão de tarefas e estrutura
de produção com vistas a melhorias de resultado. Um grau de especialização também
é determinado aqui, uma vez que o grupo é cobrado por resultados. Ou seja, existe
um racionalismo na forma de organizar, de escolher os integrantes e de terminar o
modus operandi de função com fins de resultados positivos e otimização.
Para facilitar a compreensão entre grupos formais e informais, destacamos
alguns elementos de diferenciação entre a forma de organização e algumas
características de ação. Assim, das organizações formais, podemos reforçar
elementos como estatuto ou regra de atividade; fluxograma de poder e
hierarquia rígida e documentada; política de gestão e de retribuição de
atividades (IBC, 2016). Comparativamente, os grupos informais são mais
orgânicos; a formação se dá pela inclusão voluntária e fora da estrutura
hierárquica; não necessariamente é formado a partir de políticas
institucionais, sendo muitas vezes resultante de iniciativa do próprio corpo
funcional.
Os grupos formais podem ser permanentes ou temporários. No primeiro caso, os
grupos integram a estrutura de fluxograma de poder na organização, com cargos
específicos e atuação prevista no estatuto da instituição ou empresa. Um exemplo de
grupos formais permanentes são comitês e grupos de trabalhos vinculados ao
acompanhamento de gestão de recursos humanos ou de produção de uma
organização.
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Com aspecto formal, sua forma de instituição é centralizada, com papéis formalizados
a partir de estatuto, e com ação respaldada pela estrutura diretiva da organização.
Grupos de coordenadores ou gerentes, ou ainda, comitê de acompanhamento de
negociações salariais podem ser estruturas formais permanentes também, assim
como comitês de segurança.
Na outra ponta, existem ainda os grupos formais temporários. Sua vitalidade,
capacidade de agir e grau hierárquico estão vinculados à profundidade da atividade a
ser desempenhada pelo grupo. Assim, os grupos durarão “tempo determinado, como,
por exemplo, a execução de um projeto. Assim que a tarefa for cumprida, os
membros do grupo retornam às suas atividades normais no grupo permanente”
(SENAR, 2015, p. 70). Dentre os grupos temporários, podemos ilustrar as comissões
de negociação para fins específicos, como revisão de planos de saúde de uma
determinada empresa. Assim, um grupo é formado com o objetivo de apresentar um
plano de revisão, e fica estruturado enquanto houver a demanda.
Confira mais sobre o caso no site da Agência Brasil: Disponível aqui
Exemplos de grupos formais de trabalhos temporários são os gabinetes de
crise. Eles surgem em momentos difíceis de determinadas organizações,
devem ser organizados a partir de uma política institucional, pois recebem o
respaldo da organização para desenvolver medidas e planos de contra-
ataque ou para evitar problemas de imagens institucionais. Isso não ocorre
apenas no âmbito do poder privado, mas também no serviço público.
Quando a barragem em Brumadinho rompeu em janeiro de 2019, início da
gestão do governo Bolsonaro, o poder executivo nacional instituiu um
gabinete de crise, ou seja, um grupo de trabalho com papel de reunir
informações sobre os acontecimentos em Brumadinho, para atuar nos
resgates e na fiscalização e responsabilização sobre os acontecimentos. O
grupo foi instituído e formalizado em publicação oficial, com determinada
hierarquia com participação de diferentes ministérios.
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https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-01/onyx-comanda-reuniao-para-avaliar-situacao-em-brumadinho
Formados para Resolver
Problemas Pontuais
Diferentemente dos grupos formais, os informais são resultantes de reunião de
afinidades, de capacidadese, sobretudo, de intencionalidade. Ou seja, não é formado
pela estrutura hierárquica, e sim, pela demanda dos próprios indivíduos da
associação, que "optam por se associar entre si, porque trabalham juntos no mesmo
local (proximidade), e compartilham interesses similares [...]
Os grupos informais podem ser organizados a partir de identidades como gênero,
faixa etária, conhecimentos técnicos e antiguidade, e surgem para atingir demandas
dos membros como “melhorar a comunicação; e auxiliar no controle social, fazendo
com que os membros do grupo sigam a cultura da organização” (SENAR, 2015, p. 71).
Com isso, o que se pode identificar é uma determinada capacidade de inconstância
no grupo, devido à sua organização social e não mediada pela instituição.
Contudo, isso pode ser também um aspecto de vantagem, quando se percebe a
agilidade que pode fornecer na resolução de determinados problemas ou para se
atingir metas sem que haja necessidade de formação de um estatuto e criação de um
sistema de punição e de recompensas.
70
Acesse o link: Disponível aqui
Nas cooperativas e nas organizações no campo, os grupos formais e
informais desempenham fundamentais papéis na consolidação de metas da
instituição ou na integração entre os membros. Uma dica de leitura é este
artigo que integra a pesquisa “Acampar, assentar e organizar: relações
sociais constitutivas de capital social em assentamentos rurais do Pontal do
Paranapanema” realizada na Faculdade de Engenharia Agrícola. O trabalho
analisa a formação e a atuação das diferentes instituições, associações e
grupos informais presentes nos assentamentos São Bento e Santa Clara.
Segundo a autora, ao observar os assentamentos, percebeu-se que as
diversas famílias assentadas estabelecem estratégias associativas de
maneira a permitir sua permanência na terra.
Dentre os grupos informais, podemos encontrar os que são formados a partir de
interesses em comum, ou seja, independe da relação direta entre seus membros, e
surge uma finalidade em comum. Outro formato são os formados por laços de
reconhecimento e de integração social a partir da amizade. Neste caso, surgem pela
identificação de “interesses profissionais ou afinidades em comum. Nestes grupos, os
integrantes possuem sentimentos de amizade, afinidade e identidade” (SENAR, 2015,
p. 80).
Em polo contrário aos grupos formais, os informais têm por características adicionais
uma formação coesa do ponto de vista de afinidade, a partir do momento em que sua
formação não é hierarquizada, ou ainda, determinada a partir da política institucional,
ou seja, os indivíduos não foram necessariamente escolhidos de forma racional
considerando suas características e capacidades.
Assim, podemos encontrar relação de coesão ou de antagonismo (IBC, 2016). Existe
certo voluntarismo e uma espontaneidade nas ações, até pelo fato de que as lógicas
de punições e de recompensas não serem as mesmas estabelecidas pelos grupos
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http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/IE/2009/tec4-0209.pdf
formais. Aqui, as recompensas, por exemplo, estão muitas vezes vinculadas aos status
ou ao resultado simbólico de prestígio frente ao grupo.
Caro aluno, o que foi exposto nesta aula serve para você entender as formações de
grupos formais e grupos informais dentro do Associativismo e Cooperativismo.
Espero que você tenha compreendido os conteúdos.
Bons estudos!
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08
Cooperativismo 
Rural
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Introdução
Existe um conceito que é muito importante no campo da Gestalt, que é a abordagem
da psicologia da forma e do design, pela qual se estabelece que o todo é mais que a
soma das partes. Talvez você já tenha ouvido falar disso por aí. À primeira vista,
parece não fazer sentido que a somatória seja mais que a soma dos elementos que a
compõem. Mas tem lógica aí. Imagine um tijolo de barro. Com alguns milheiros
enfileirados, colados com massa de cimento, podemos ter uma construção, talvez
uma casa. A casa é a somatória dos tijolos, então. Mas o que tem de mais? O conceito
estabelecido como casa, ou ainda, como lar. Isso é mais que o todo.
Em Gestalt, é entender que um quadro, por exemplo, cria um conceito que é mais que
os elementos pintados. A mesma coisa podemos olhar para o conjunto de indivíduos
no campo que buscam na somatória dos seus esforços uma forma de ser entendido
com a mesma lógica que um grande produtor. É isso que faz com que pequenos e
médios produtores busquem a organização. Para que tenham uma série de
vantagens que sozinhos terão muita dificuldade de conseguir. Pode ser um crédito em
um banco, pode ser no acesso ao mercado estrangeiro para compras ou para vendas.
Fato é que o poder de barganha é sempre maior para quem tem volume de
produção.
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Acesse o link: Disponível aqui
Já parou para pensar qual o tamanho do cooperativismo no Brasil? Segundo
o site do Sistema OCB, principal instância de organização das cooperativas
do Brasil, existem 6,8 mil cooperativas em solo nacional. Em 2010, eram 6,6
mil. São 14,6 milhões de cooperados no país, e cerca de 425 mil funcionários
em cooperativas. O ramo agropecuário é o que mais reúne gente. São 1,6
mil cooperativas que respondem por um milhão de cooperados e 209 mil
funcionários. E o volume do recurso que arrecada é fenomenal. De capital
social são R$ 40 bilhões. Segundo a OCB, em 2018, as cooperativas deram
nada menos que R$ 16 bilhões de retorno à sociedade em tributos e
impostos. No mundo, o número é mais impactante ainda. O faturamento
das 300 maiores cooperativas do mundo foi de R$ 2,1 trilhões. No mundo,
são nada menos que 1,2 milhão de cooperativas agro.
Vimos, nos temas anteriores, uma forma de garantir esse poder com o associativismo.
Contudo, percebemos que na lógica jurídica e conceitual, o associativismo contempla
partícipes que entram com status e potência similares. Além disso, no associativismo
o elemento econômico não é determinante, e às vezes é até eliminado do processo de
reunião de esforços, como é o caso de associativismo filantrópico, por exemplo.
No cooperativismo, isso fica de lado, e o que dá sustentação à reunião de produtores
e de cooperativistas é a lógica financeira ou econômica. Ora, isso significa que o
objetivo é garantir inserção dos “produtos e serviços de seus cooperados no mercado,
em condições mais vantajosas do que eles teriam isoladamente. Desse modo, a
cooperativa pode ser entendida como uma “empresa” que presta serviços aos seus
cooperados” (CARDOSO, 2014, p. 11).
Na prática, podemos destacar a relação entre os indivíduos na busca pelo mercado
em benefícios. Assim, produtores individuais, com necessidades e objetivos comuns,
constituem uma cooperativa, com CNPI e estatuto jurídico, que se comporta como um
75
https://www.ocb.org.br/numeros
agregador de valor dos indivíduos para garantir um acesso privilegiado ao mercado.
Uma cooperativa simples, segundo o Código Civil (CARDOSO, 2014, p. 12), deve
apresentar uma série de características para sua consolidação, que vai desde
indivisibilidade do fundo reserva, passando pela distribuição dos resultados
proporcionalmente ao valor das operações, e a capacidade de agregar indivíduos com
capacidade produtiva e de demanda diferenciadas.  
Pela legislação, podemos classificar as cooperativas em singulares - quando são
organizadas com o mínimo de 20 pessoas físicas, com a possibilidade de inclusão de
pessoas jurídicas, e com a mesma atividade fim e sem finalidade lucrativa;
cooperativas centrais ou federações - organizada a partir de ao menos três
cooperativas singulares; e confederações de cooperativas - constituídas a partir de ao
menos três federações de cooperativas. Como destaca Young (2008, p. 101), as
confederações de cooperativas têm "por finalidade orientar e coordenar as atividades
das filiadas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos ascender o âmbito de
capacidade ou conveniência de atuação das centrais e federações".
O cooperativismo rural ou agropecuário é um dos tipos de finalidade de organização.
Soma-se a esse (CARDOSO, 2014, p. 18) o cooperativismo de consumo - comoem
supermercados ou em outros tipos de agrupamentos para conseguir produtos com
menor custo, como as cooperativas de compra em comum; as cooperativas de
créditos - que reúnem sociedades para benefício financeiro, com aval do Banco
Central do Brasil, para captar recursos e estabelecer operações financeiras;
cooperativas educacionais - como escolas formadas a partir da reunião de capitais e
esforços dos pais de alunos, como em escolas agrícolas; cooperativas de habitação -
que buscam autofinanciamento e linhas de créditos para construção de habitação,
geralmente de finalidade social, com o custo total rateado entre os membros e, em
algumas situações, com parte subsidiada pelo governo; cooperativas de infraestrutura
e de mineração - para grandes empreendimentos, em grande parte vinculada ao
poder público; cooperativas de saúde - como planos de saúde com médicos e demais
profissionais da saúde, cotistas que oferecem serviços sob uma tabela de preços,
dentre outros.
As cooperativas rurais, portanto, reúnem “produtores rurais ou agropastoris e de
pesca, que trabalham de forma solidária na realização das várias etapas da cadeia
produtiva” (CARDOSO, 2014, p. 15) que vai desde a parte inicial do planejamento até a
destinação da produção. A compra de sementes e demais insumos para a colheita, as
estruturas de armazenamento e de maquinário de processamento; as estruturas e
76
demais sistemas de industrialização; os custos e os equipamentos para
processamento e registros; bem como a venda para o mercado estão entre as
atividades desenvolvidas pela cooperativa.
Já falamos, em outro momento, de associações. E, agora, falamos de
cooperativa. Mas na prática, o que faz a diferença entre elas? Podemos
destacar que as associações têm por finalidade atividades não
necessariamente lucrativas, que podem ser de interesse de classe, ou ainda,
de representação. Já as cooperativas, mesmo que não tenham uma
finalidade lucrativa, atuam na prestação de serviço com fins de garantir uma
maior produtividade e acesso ao mercado. Vale ressaltar que as
cooperativas são organizadas a partir da junção dos interesses dos
cooperados, que devem apresentar uma identidade de mercado ou de tipo
de bens produtivos.
Como destaca Cardoso (2014), cabe ainda à cooperativa, na busca pela eficiência,
promover o acesso a todos os insumos da cadeia produtiva para o produto, o que
dependendo da situação e do mercado, ficaria inviável economicamente para a
aquisição como pessoa física. Assim, o “leque de atividades econômicas abrangidas
por esse ramo é enorme e sua participação no PIB em quase todos os países é
significativa. Essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia produtiva”
(IDEM, 2014, p. 17) que passa da industrialização à comercialização. Em uma
perspectiva do materialismo histórico, a cooperação é uma forma de reunir forças
para tentar equalizar minimamente as partes do processo produtivo.
Claro, longe de pressupor que o cooperativismo seja uma forma de unidades
derrubarem o capitalismo ou de estabelecer uma força que faça diferença no sistema.
Isso se dá de forma inicial a partir da cooperativa dos trabalhadores, que unidos em
categorias elaboraram um movimento, pressupondo amenizar os traumas
econômicos e sociais que os assolavam. Esse movimento ficou conhecido como
Cooperativismo (ONOFRE, 2011, p. 105). As cooperativas rurais ou agropecuárias são
77
as que respondem pelo maior volume do cooperativismo nacional, quer seja pelo
potencial produtivo brasileiro, quer seja pela capacidade de organização histórica no
campo. Assim como nos demais nichos de cooperativas, no rural não há fins
lucrativos para a organização.
Ou seja, a cooperativa não visa lucros, o que faz com que os recursos provenientes de
vendas sejam divididos entre os cooperados, sendo que à cooperativa cabe a função
de prestadora de serviços para eles. Isso não significa que uma cooperativa é formada
por voluntários (BALEM, 2016, p. 58). Ou seja, ela se comporta como uma empresa
agrária, que tem funcionários e que deve obedecer à lógica trabalhista. O que não é
usado para o pagamento de funcionários ou para distribuição entre os cooperados
entra para o fundo reserva para custeio das estruturas da cooperativa e para
reinvestimento nas máquinas.
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Exemplo de cooperativa rural que foca no desenvolvimento sustentável de
pequenos produtores é a Cooperativa Agropecuária de Sertão Santana,
instituída em 2011, com 38 associados. Como destaca Balem (2016, p. 26), o
principal produto da cooperativa é a produção de suco de uva do sertão. A
atividade é uma alternativa ao predomínio de produção de fumo na área. A
cooperativa não foi criada apenas com o objetivo de reunir os produtores,
mas de fornecer estrutura para que eles pudessem aumentar seus lucros a
partir do processamento e industrialização das uvas. Assim, em vez de
apenas vender os frutos dos parreirais e arrecadar um valor, eles decidiram
de juntar e montar uma estrutura para produzir suco de uva integral. O
primeiro passo foi a instituição da associação dos produtores, que mais
tarde migrou sua instituição para uma cooperativa. O resultado disso foi a
reunião de recursos para a construção de uma agroindústria. “Para a
construção da agroindústria, a cooperativa recebeu recursos do Ministério
do Desenvolvimento Agrário e uma contrapartida da Prefeitura Municipal de
Sertão Santana. Este recurso só foi possível ser acessado porque os
agricultores estavam organizados, pois é destinado para experiências
coletivas” (BALEM, 2016, p. 27). Todos os integrantes da cooperativa atuam
como colaboradores da agroindústria, que não possui funcionários.
Em comum com todas as demais formas de cooperativas, a rural apresenta
característica de formação que são importantes para a sua categorização, como, por
exemplo, uma união ou sociedade de pessoas físicas ou jurídicas; o estabelecimento
de um controle democrático com revitalização a partir de participação em
assembleias, com voto paritário, independentemente do volume de produção dos
integrantes; não transferência de quotas como ações a terceiros; não vínculo político,
religioso, social ou racial.
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A organização e educação cooperativa são elementos fundamentais para a gestão dos
negócios, sobretudo no campo. Para auxiliar os produtores na organização, umas
dezenas de entidades sociais, governamentais ou associativas colaboram no processo
educacional e de orientação para a formação das cooperativas (MINATEL, 2015), como
a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), entidade nacional que congrega as
cooperativas nacionais.
O Sistema OCB é formado por três pilares institucionais com atividades
complementares, sendo elas a Confederação Nacional das Cooperativas (CNCOOP) -
entidade sindical que defende os interesses da categoria como atividade trabalhista;
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) - braço do sistema OCB que atua na
representatividade e uma espécie de organização para pressão no executivo,
legislativo e judiciário para fins de vantagens para o setor; e o Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) - que busca a formação de cooperados e
no desenvolvimento dos negócios para o setor cooperativo.
Mas nem só de direitos vive o cooperado. Conforme destaca o Ministério da
Agricultura, em cartilha sobre o processo de consolidação de cooperativas (BRASIL,
2008), cabe ao cooperado participar das assembleias e integrar o rol de debates sobre
as metas da cooperativa; acatar as decisões do colegiado quando representar a
vontade da maioria; não deixar débitos ou responsabilidades financeiras pendentes;
desenvolver o espírito e compromisso do cooperativismo; e, sobretudo, arcar com os
cursos e dívidas em caso de prejuízos financeiros da cooperativa.
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Com base no exposto, espero que você tenha compreendido os conteúdos
apresentados.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
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09
Principais Diferenças entre 
Cooperativismo e Associativismo
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Introdução
Cooperativas e associações. Não são apenas os termos que alteram entreum e outro,
mas uma série de características e, sobretudo, suas finalidades. Até aqui, vimos
isoladamente, e em poucos momentos em confronto, as perspectivas conceituais e
delineamentos dos tipos de formações de grupos. Aqui, neste tópico, o objetivo é nos
aprofundarmos e deixarmos bem claro o que qualifica um e outro, e o que os
diferenciam. A primeira ótica do contraste se dá pela retomada do conceito atual de
ambos.
“Quando se fala de associativismo rural, não há como ignorar, portanto, a
questão agrária e seus desdobramentos com a expansão capitalista”
(BESERRA, 2011, p. 42).
Cooperativa, como já vimos, tem a previsão legal de sua formação no Código Civil e
em leis específicas, a Lei Federal n.º 5.764/71, que institui as políticas de
cooperativismo no Brasil, especialmente os regimes jurídicos para a consolidação do
tipo de agrupamento. Destaca a lei que as cooperativas são sociedade de pessoas
com “forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência,
constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais
sociedades” (BRASIL, 1971).
Na cooperativa, os produtores ou interessados com características de
intencionalidade em comum, se unem de forma voluntária para atender às
necessidades que podem ser econômicas, culturais, sociais por "meio de uma
empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida" (VERRI, 2004, p. 15).
Gestão participativa, ingresso voluntário, economia solidária são conceitos que
demarcam o cooperativismo. Veremos melhor essas características mais adiante.
83
De fato, para bater o martelo e a pá de cal sobre o que sabemos conceitualmente o
que é uma cooperativa, entendemos que o que a demarca e a diferencia de outros
formatos de organização de associação coletiva é justamente sua capacidade de
atender às demandas econômicas. Então, o ponto de encontro dos cooperados é
estabelecer uma demanda e solução de negócios e de acesso ao mercado em
“condições mais vantajosas do que eles teriam isoladamente. Desse modo, a
cooperativa pode ser entendida como uma “empresa” que presta serviços aos seus
cooperados” (CARDOSO, 2014, p. 11).
Ora, a cooperativa ainda tem, segundo a Lei Federal de instituição das cooperativas,
alguns elementos básicos para sua formação e para a sua caracterização organizativa.
Primeiro, podemos encontrar cooperativas simples, que são as que agregam as
pessoas, e também as complexas, que são as que agregam estruturas cooperativas já
organizadas. Como assim? Ora, a lei (BRASIL, 1971) especifica que as cooperativas
podem ser classificadas de acordo com a sua complexificação de associação. Neste
caso, o primeiro nível é composto pela maior parte das cooperativas, as consideradas
singulares. São constituídas, por no mínimo, de 20 pessoas físicas. Em alguns casos
são permitidas pessoas jurídicas neste quadro de cooperados.          
Nas cooperativas singulares todos os integrantes devem se estabelecer sob o mesmo
objetivo, ou seja, as cooperativas atuam com finalidades específicas e com a mesma
atividade econômica. Segundo a lei que regulamenta o tipo de agrupamento,
podemos ainda organizar as cooperativas. Neste caso, cada cooperativa seria uma
parte de uma central ou federação. Na mesma lógica que no campo sindical, as
entidades se associam às centrais para ampliar as forças e seguir orientações
nacionais ou políticas. Esta associação pode se dar entre distintas finalidades.
A lei destaca que é necessária ao menos três cooperativas singulares para formar
uma federação de cooperativa. Por fim, cada federação pode se vincular às outras
para ampliar ainda mais a capacidade de pressão e negociação frente ao mercado
interno, ao mercado estrangeiro, e também frente aos órgãos do executivo e do
legislativo para políticas mais vantajosas aos setores das cooperativas que integram
as confederações.
Da mesma forma que nas centrais, as confederações devem ser formadas, por no
mínimo, três federações que podem ser da mesma ou de diferentes modalidades.
Sendo da mesma modalidade, as confederações representam instituições e
cooperados que atuam em um mesmo setor produtivo. Em caso de diferentes
modalidades, as formas de agregamento podem se dar pela localidade, por exemplo,
como confederação da região sul ou norte.
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O ponto principal de divergência entre associativismo e cooperativismo é a
finalidade econômica. Isso não significa que a associação não pode auxiliar
na organização dos associados até a prática comercial, como é o caso de
associações que fornecem cursos para pequenos produtores e assistência
de organização de plano de negócios. Porém, a atuação financeira, na
prática, não é mediada pelas associações, mas sim, pelo próprio associado
ou produtor. As vendas e os trâmites financeiros, portanto, são feitos em
nome da pessoa física, uma vez que as associações são isentas de imposto
de renda. A nota do produtor é que deve orientar o débito do imposto.
No caso das associações, a formalidade e, sobretudo, a correlação econômica é o que
distancia das cooperativas. Formalmente, as associações demandam de no mínimo
duas pessoas que com intenções similares queiram se agrupar para uma finalidade
específica vinculada às atividades culturais, sociais, recreativas, religiosas, dentre
outras, desde que não ensejam finalidade econômica. O agrupamento no sentido de
organizar forças para finalidades específicas que não necessariamente deem retorno
para os associados é o que está no cerne do associativismo.
Assim, cada associado, constituído como indivíduo possuidor de personalidade
distinta e de bens próprios não integrados à associação, se agregará ao outro ou aos
outros associados prescindindo “união, objetivos comuns e vontade de trabalhar
juntos para enfrentar os problemas e melhorar a vida do grupo” (BALEM, 2016, p. 43).
No ambiente rural, destaca Balem (2016), as associações são entes de agrupamento
de famílias e produtores com objetivos de autocolaboração, mas sem a
responsabilidade de integrar bens ou corresponsabilidade financeira sobre as ações.
Ora, quando se estabelece uma cooperativa, o que temos é uma instituição ou
organização que atuará no mercado, e que com isso pode apresentar resultados
positivos ou negativos. Em caso de resultados positivos, todos ganham. Em caso de
resultados negativos, todos ajudam a pagar a conta.
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No associativismo, como o foco não é o lucro e nem as relações comerciais, o que se
vê são auxílios e colaborações mútuas, mas que garante a individualidade e a garantia
dos bens de cada associado. Assim, o que os associados querem é enfrentar
problemas comuns de forma colaborativa. No campo é uma das melhores formas de
agregar forças e potências entre os pequenos produtores e produtores familiares.
Assim, o “associativismo também é um dos caminhos para as famílias de agricultores
se empoderar e buscar maior inserção e visibilidade na sociedade. O associativismo é
mais do que uma forma de organização, é uma construção e uma conquista social”
(BALEM, 2016, p. 45).
Observando, ainda, o associativismo no campo, seu impacto para a agricultura
familiar é grande, sendo um mecanismo de organização e de melhoria na
produtividade. A tendência é percebermos um aumento na renda das famílias rurais
com o associativismo, na medida em que há troca de experiências, compartilhamento
de maquinários, e busca por assistência especializada via extensionismo rural. As
práticas associativas pressionam para uma maior proximidade local, uma vez que as
associações são formadas por produtores vizinhos.
Logo, “organizados em associações, têm mais força para reivindicar apoio do poder
público municipal, junto aos órgãos de extensão, de ensino e de outras entidades que
possam auxiliá-los em seus processos de desenvolvimento” (BALEM, 2016).
Ainda, na senda de apresentar os pontos de divergência, algo que podemos destacar
é a relação de posse entre um e outro. Já comentamos isso ao especificar o grau de
responsabilidade dos cooperados sobre os lucros e sobre as dívidas da instituição.
Isso determinaque exista também um grau de patrimonialismo entre os cooperados
e a estrutura da organização, ou seja, os cooperados são donos do patrimônio das
cooperativas.
Já na associação isso não ocorre, ou seja, sua parcela de bens não é alterada com a
constituição da associação como na cooperativa. Assim, uma vez finalizada a
associação, o patrimônio deve ser destinado a “outra instituição semelhante
conforme determina a lei e os ganhos eventualmente auferidos pertencem à
sociedade e não aos associados que dela não podem dispor, pois os mesmos,
também de acordo com a lei, deverão ser destinados à atividade fim da associação”
(BALEM, 2016, p. 101). Neste caso, os novos beneficiários não serão os mesmos que
integravam a associação anterior.
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Outro aspecto de divergência está, portanto, no fluxo do capital. Na associação, o que
se estabelece é um engessamento deste patrimônio e capital, o que impede de usar
tais recursos para fins de financiamento ou comercialização. Ainda sobre as
diferenças com relação ao patrimônio e capital, na associação são formados pelas
contribuições, doações e fundos reservas. Nas cooperativas, existe um capital social, o
que permite acesso ao mercado financeiro e aos recursos de financiamentos,
diferente das associações.
Nas cooperativas, o capital é formado por quotas, empréstimos e por transações
financeiras e de capitalização (SEBRAE, 2019). Como tem o foco nas atividades sociais
ou muitas vezes de assistência e colaboração, a finalidade das associações é distinta
da cooperativa na grande maioria das vezes, nem sempre focando os membros. Nas
cooperativas, o foco é o interesse dos cooperados. Nas associações, os interesses dos
associados não representam necessariamente benefício dos associados, uma vez que
associações podem ser de atividade de assistência social, filantropia ou educacional.
Isso destaca como uma das características da associação o atendimento não
necessariamente tendo o associado como beneficiário.
87
Quadro 03 – Diferenças entre Associativismo e Cooperativismo
CRITÉRIO ASSOCIAÇÃO COOPERATIVA
Conceito
O conceito é de atender
benefício mútuo dos
associados, sendo que
nem sempre ele é o
beneficiário.
A atividade principal é
produtiva e comercial. No
fim, os interessados são os
próprios cooperados.
Finalidade
Representar e defender
os interesses dos
associados. Estimular a
melhoria técnica,
profissional e social dos
associados. Realizar
iniciativas de promoção,
educação e assistência
social.
Viabilizar e desenvolver
atividades de consumo,
produção, prestação de
serviços, crédito e
comercialização, de acordo
com os interesses dos seus
associados. Formar e
capacitar seus integrantes
para o trabalho e a vida em
comunidade.
Legalização
Aprovação do estatuto
em assembleia geral
pelos associados. Eleição
da diretoria e do conselho
fiscal. Elaboração da ata
de constituição. Registro
do estatuto e da ata de
constituição no cartório
de registro de pessoas
jurídicas da comarca.
CNPJ na Receita Federal.
Registro no INSS e no
Ministério do trabalho.
Aprovação do estatuto em
assembleia geral pelos
associados. Eleição do
conselho de administração
(diretoria) e do conselho
fiscal. Elaboração da ata de
constituição. Registro do
estatuto e da ata de
constituição na junta
comercial. CNPJ na Receita
Federal. Inscrição Estadual.
Registro no INSS e no
Ministério do trabalho.
Alvará na prefeitura.
Constituição Mínimo de duas pessoas.
Mínimo de 20 pessoas
físicas.
88
Legislação Constituição (art. 5º, XVII a
XXI, e art. 174, par. 2º).
Código Civil
Lei 5.764/71. Constituição
(art. 5º XVII a XXI e art. 174,
par 2º) Código Civil.
Patrimônio /
Capital
Seu patrimônio é
formado por taxa paga
pelos associados,
doações, fundos e
reservas. Não possui
capital social. A
inexistência do mesmo
dificulta a obtenção de
financiamento junto às
instituições financeiras.
Possui capital social,
facilitando, portanto,
financiamentos junto às
instituições financeiras. O
capital social é formado por
quotas-partes podendo
receber doações,
empréstimos e processos de
capitalização.
Representação
Pode representar os
associados em ações
coletivas de seu interesse.
É representada por
federações e
confederações.
Pode representar os
associados em ações
coletivas do seu interesse.
Pode constituir federações e
confederações para a sua
representação.
Forma de Gestão
Nas decisões em
assembleia geral, cada
pessoa tem direito a um
voto. As decisões devem
sempre ser tomadas com
a participação e o
envolvimento dos
associados.
Nas decisões em assembleia
geral, cada pessoa tem
direito a um voto. As
decisões devem sempre ser
tomadas com a participação
e o envolvimento dos
associados.
Abrangência /
Área de Ação
Área de atuação limita-se
aos seus objetivos,
podendo ter abrangência
nacional.
Área de atuação limita-se aos
seus objetivos e
possibilidade de reuniões,
podendo ter abrangência
nacional.
Operações A associação não tem Realiza plena atividade
89
como finalidade realizar
atividades de comércio,
podendo realizá-las para
a implementação de seus
objetivos sociais. Pode
realizar operações
financeiras e bancárias
usuais.
comercial. Realizam
operações financeiras,
bancárias e pode candidatar-
se a empréstimos e
aquisições do governo
federal. As cooperativas de
produtores rurais são
beneficiadas do crédito rural
de repasse.
Responsabilidades
Os associados não são
responsáveis diretamente
pelas obrigações
contraídas pela
associação. A sua
diretoria só pode ser
responsabilizada se agir
sem o consentimento dos
associados.
Os associados não são
responsáveis diretamente
pelas obrigações contraídas
pela cooperativa, a não ser
no limite de suas quotas-
partes e a não ser também
nos casos em que decidem
que a sua responsabilidade é
ilimitada. A sua diretoria só
pode ser responsabilizada se
agir sem o consentimento
dos associados.
Remuneração
Os dirigentes não têm
remuneração pelo
exercício de suas funções;
recebem apenas o
reembolso das despesas
realizadas para o
desempenho dos seus
cargos.
Os dirigentes podem ser
remunerados por retiradas
mensais pró-labore,
definidas pela assembleia,
além do reembolso de suas
despesas.
Contabilidade Escrituração contábil
simplificada.
A escrituração contábil é
mais complexa em função do
volume de negócios e em
função da necessidade de ter
contabilidades separadas
para as operações com os
sócios e com não sócios.
90
Fonte: Autor – adaptado do SEBRAE, 2019.
Tributação
Deve fazer anualmente
uma declaração de
isenção de imposto de
renda.
Não paga Imposto de Renda
sobre suas operações com
seus associados. Deve
recolher o Imposto de Renda
Pessoa Jurídica sobre
operações com terceiros.
Paga as taxas e os impostos
decorrentes das ações
comerciais.
Fiscalização
Pode ser fiscalizada pela
prefeitura, pela Fazenda
Estadual, pelo INSS, pelo
Ministério do Trabalho e
pela Receita Federal.
Pode ser fiscalizada pela
prefeitura, pela Fazenda
Estadual (nas operações de
comércio), pelo INSS, pelo
Ministério do Trabalho e pela
Receita Federal.
Dissolução
Definida em assembleia
geral ou mediante
intervenção judicial,
realizada pelo Ministério
Público.
Definida em assembleia geral
e, neste caso, ocorre a
dissolução. No caso de
intervenção judicial, ocorre a
liquidação, não podendo ser
proposta a falência.
Resultados
Financeiros
As possíveis sobras
obtidas de operações
entre os associados serão
aplicadas na própria
associação.
Após decisão em assembleia
geral, as sobras são divididas
de acordo com o volume de
negócios de cada associado.
Destinam-se 10% para o
fundo de reserva e 5% para o
Fundo Educacional (FATES).
91
Acesse o link: Disponível aqui
Assista ao vídeo com a entrevista do Engº Agrônomo e Professor da UFRPE
Guilherme Soares. Nesta entrevista ele explica sobre Associativismo e
Cooperativismo.
Caro aluno, nesta aula você pôde compreender as diferenças entre o Associativismo e
o Cooperativismo. Nesse contexto, é possível fazer uma construção de conhecimento
baseados nessas diferenças.
Espero que você tenha compreendido bem os conteúdos aqui trabalhados.Bons estudos!
92
https://www.youtube.com/watch?v=Jl_ly63INR0
10
Organização 
Cooperativista
93
Introdução
Interesse social e, sobretudo, econômico. A organização cooperativista é uma das
soluções no modelo capitalista em que a liberdade econômica dite as regras e
determine os atores sociais que desempenharão papel de autonomia ou de
subserviência no mercado.
A partir do modelo cooperativista, um pequeno produtor ou um associado de porte
médio consegue ter, proporcionalmente, as mesmas vantagens que um grande
empresário ou que um conglomerado institucional no mercado, a partir da somatória
de forças. Isso não é apenas para quem tem interesse em venda e compra de grandes
insumos ou de grandes bens, mas também para quem quer comercializar o
excedente da sua produção familiar.
Em uma situação normal de mercado, grandes e médios produtores conseguiriam
melhores condições para comprar insumos produtivos, como defensivos agrícolas, ou
ainda, sementes a preços atraentes, que permitem um maior lastro de lucro. Da
mesma forma, conseguem trabalhar o calendário para vender seus produtos em um
cenário mais atraente no mercado.
Já os pequenos produtores enfrentam, quando sozinhos, dificuldades para acessar os
melhores preços, os insumos, dificuldade de conseguir maquinários que facilitem e
otimizem seu trabalho, além disso, dificuldade de conseguir segurar a produção para
escoar para o mercado quando o preço estiver mais propício, garantindo, assim, uma
renda maior. O cooperativismo faz com que isso seja possível para qualquer produtor,
independentemente do tamanho da sua área e da sua capacidade de produção.
Mas por que não constituir uma empresa formal, ou seja, mercantil, em vez de uma
cooperativa? Ora, por vários motivos e desvantagens comparativas. Primeiro, pelo
fato de que o principal capital da cooperativa é o capital humano, ou seja, o espírito
cooperativista, enquanto no mercantil é o capital (BRASIL, 2008). Outro aspecto é
sobre a participação, que nas empresas não é paritária, mas sim, relativa à
capacidade de acúmulo acionário.
94
Fonte: Disponível aqui
Quem imagina que uma cooperativa é para durar poucos anos, engana-se.
Uma das maiores cooperativas do país, a Cooperativa Agropecuária
Mourãoense, tem nada menos que cinco décadas. Conhece? Claro que sim,
hoje conhecida como Coamo Agroindustrial Cooperativa. Um escritório de
pouco mais de 50m² foi a sede da cooperativa na sua fundação, com cerca
de 80 agricultores cooperados, e um capital social de Cr$ 37.540,00 para
atuar no setor de trigo, com foco no armazenamento e produção. Hoje, a
cooperativa responde por nada menos que 17% da safra do estado do
Paraná. De trigo, a cooperativa ampliou sua atuação para soja, aveia e muito
mais. Do Paraná, agora a Coamo conta com cooperados também em Santa
Catarina. Em 2019, a cooperativa fechou com receita de R$ 13 bilhões;
distribuiu nada menos que R$ 361 milhões entre os cerca de 30 mil
cooperados. É a maior cooperativa do estado paranaense, a 18ª maior
exportadora do país, a nona do setor agronegócio nacional, e a melhor
cooperativa agrícola do Brasil.
Desta forma, a desigualdade no sistema interno segue a mesma lógica que no sistema
liberal capitalista, de quem tem mais recursos tem mais condições de mando. Nas
cooperativas, independentemente do potencial de produção, cada pessoa é um voto
na assembleia. Outra coisa é que as cotas não são transferíveis nas cooperativas, o
que dá certa tranquilidade sobre o planejamento em longo prazo e uma garantia de
um quadro homogêneo de cooperados. Destaca-se, ainda, que o controle é
democrático, e está relacionado ao entendimento da maioria ou vontade da maioria,
independentemente do que diz a lógica financeira. No modelo mercantil, o que
determina a regra é o mercado.
Para onde apontar o dinheiro é para onde serão direcionadas as vontades e esforços
da empresa, mesmo que isso confronte os ideais dos seus membros. Este mesmo
espírito de sustentabilidade está no cerne da formação cooperativista, que busca
95
http://www.coamo.com.br/site/institucional/coamo-em-numeros
ainda preços justos nas práticas econômicas, além de cultivar a integração entre as
cooperativas, mesmo entre as que atuam no mesmo setor (BRASIL, 2008). Já no meio
mercantil, além de haver a defesa do preço maior possível, o relacionamento entre
empresas distintas do mesmo mercado é de concorrência, e não de colaboração.
Confira a lista:
Cooperativa não compete apenas com cooperativa, sabia? Na verdade, as
cooperativas disputam fortemente os espaços nos mercados abertos. As
brasileiras, então, nem se fala. Quer uma prova? Ao menos 14 cooperativas
estão na lista das 50 maiores empresas de agronegócio no país. Juntas, as
cooperativas geraram nada menos que 125 mil empregos em 2018, e
faturaram R$ 64 bilhões.
Assim, o cooperativismo deve ser entendido como um movimento de organização,
com uma “identidade entre detentores do capital, ou seja, proprietários dos meios de
produção, os dirigentes, ou seja, aqueles que detêm o poder de decisão e entre
aqueles que utilizam dos serviços produzidos e fornecidos pela própria cooperativa,
ou seja, os clientes, os usuários” (WESTPHAL, 2008, p. 49).
E o mais importante é que o modo de organização não se restringe a um propósito ou
a um setor produtivo na sociedade. O conceito de organização cooperativista pode
ser aplicado às mais variadas intenções, não à toa, no Brasil têm ao menos 13 ramos
de cooperativismo. Assim, ao observar, na prática, os números do cooperativismo no
país, é possível identificar uma variedade significativa, que segue desde o mais
conhecido, que é o do setor agropecuário, passa pelo bancário e chega ao setor de
serviços.
Como destaca Westphal (2008), o setor agrícola é o que apresenta o maior número de
organizações, de cooperados e de empregados. Na sequência, vêm os setores
bancários, com cooperativas de crédito, e cooperativas de trabalhadores. Na outra
ponta, segundo a autora, um setor “de pouca expressão, o habitacional, valeria ser
fomentado, já que o déficit de moradia no Brasil beira ao colapso social e expressa
alto grau de exclusão social e ausência de qualidade de vida”. Confira abaixo uma
tabela com os principais ramos cooperativistas brasileiros.
96
Disponível aqui
https://www.sucessonocampo.com.br/noticias/cooperativismo-listas-das-50-maiores-da-forbes-tem-14-cooperativas/
Quadro 04 – Ramos do Cooperativismo no Brasil
Agropecuário
Reúne produtores ou pequenas empresas do setor agrário
e de pesca com o objetivo de conquistar vantagens na
compra de insumos, em melhorar a colocação no mercado,
e também em permitir um sistema de organização e de
representação.
Trabalho
Neste tipo de cooperativa, a especificidade do potencial de
trabalho ou do ramo/categoria profissional, cada
cooperado encontra na organização uma forma de prática
de trabalho. Assim, podem encontrar na cooperativa uma
forma de atuarem em serviços terceirizados.
Bancário/Crédito
Aqui a cooperativa é no ramo financeiro, e colabora no
financiamento no meio rural ou urbano, oferecendo
menores taxas e condições mais acessíveis entre os
cooperados.
Saúde
O mais comum é o do ramo médico, em que a cooperativa,
organizada a partir de profissionais da área, oferece planos
com custo mais baixo que o de mercado para a sociedade.
Neste caso, apenas os médicos cooperados atendem pelo
plano. O mesmo ocorre em outras profissões da área da
saúde.
Transporte Cooperativas de transporte de pessoas e de cargas.
Habitacional
Aqui podemos encontrar dois tipos de cooperativas, sendo
uma na facilitação de compras e outra na construção de
habitação. Destacam-se ainda os que atuam em conexão
com o poder público, vinculado às políticas de habitação
popular.
Educacional Sistema em que pais de alunos, e em alguns casos
professores, integram a cooperativa com fins educacionais,
como forma de atuar em melhoria do aprendizado. Isso
97
Fonte: Autor – adaptado BRASIL, 2008.
ocorre em escolas agrícolas e também em locais de difícil
acesso à educação públicade qualidade.
Consumo
Cooperativa para oferecer aos integrantes preços menores
em produtos, ou ainda, fornecimento de produtos
diferenciados do mercado. Os mais conhecidos ficam em
ramos alimentícios, de vestuários e cosméticos.
Infraestrutura
Cooperativa formada com o objetivo de fornecer serviços
como telefonia e energia elétrica.
Produção
Cooperativas que atuam em prestação de serviços de
operação e produção para outras cooperativas ou para
empresas que entram em falência e precisam manter o
quadro de funcionamento.
Mineração Para exploração mineral e de lavras.
Turismo e Lazer
Ramo que reúne cooperativas que prestam serviços
turísticos, artísticos, de entretenimento, de esportes e de
hotelaria. Em alguns casos, podemos encontrar
cooperativas que reúnem ramo escolar e de lazer, que é o
caso de hotéis-escola, em que existe a prestação de
serviços cruzados.
Especial
Neste ramo estão cooperativas formadas por menores de
idade com situação familiar econômica e social difícil,
portadores de necessidades especiais ou outros grupos que
necessitem de tutela ou se encontrem em situação de
desvantagem. Estas cooperativas visam o desenvolvimento
da cidadania, o resgate da autoestima e, a inserção de seus
cooperados no mercado de trabalho.
98
Além das vantagens já destacadas aqui sobre as motivações da formação de
cooperativas, como a de fortalecimento da força de trabalho e da representatividade,
podemos ainda destacar uma série de outras, como as fiscais. Mas neste caso, em
comparação às empresas mercantis, não reside muita vantagem, uma vez que as
cooperativas também estão sujeitas a declaração de rendimento e recolhimento de
Cofins e PIS. A vantagem, em termos financeiros, estaria nas relações do trabalho e do
vínculo. Como destaca Cardoso (2014, p. 24), o trabalho por meio da cooperativa “não
gera vínculo empregatício com ela, e os produtos dos cooperados entregues à
cooperativa também não geram tributação. É o que se chama de atos cooperativos”.
Deixando esta parte do financeiro de lado, de fato, é no trabalho e na união que se
estabelecem as principais vantagens da cooperativa, que é na capacidade de reunir os
produtores ou os indivíduos que estão com menor capacidade de produção por falta
de mão de obra. Com isso, potencializam-se as produções e aumenta-se a
competitividade dos cooperados.
Sobre os princípios cooperativistas (BALEM, 2016; BRASIL, 2008; SENAR, 2005;
CARDOSO, 2014), a literatura é clara em demarcar uma série de elementos que faz
com que a adesão e a postura de gestão da organização se encaixem no quadro de
cooperativas. Destaca-se como primeiro princípio a abertura de adesão voluntária, o
que faz com que as regras e ordenamentos sejam aceitos, e não impostos. Não à toa,
o estatuto e formação das regras e rol de direitos e deveres dos cooperados são
resultantes de participação e votação de todos.
Outro aspecto é a gestão democrática. Assim, diferente de uma empresa, em que o
dono passa a gestão para quem quiser, aqui todos são donos, e a gestão é
compartilhada, ou ainda, realizada com base na deliberação paritária. Outro ponto é a
responsabilidade financeiro-econômica dos membros. Isso é válido tanto na divisão
das sobras, quanto na formação do capital e cobertura de eventuais problemas
financeiros.
Se a responsabilidade financeira é mútua, existe também o grau de responsabilidade
nas ações considerando o interesse de todos. E não é apenas para resguardar a
vantagem financeira, mas também para garantir um equilíbrio dos partícipes e,
sobretudo, para garantir um avanço de todos. Em parte, isso se dá também com um
dos braços da cooperativa que é a partir da formação continuada e do fluxo de
informações. Assim, as cooperativas são promotoras de capacitação técnica dos
cooperados e dos colaboradores.
99
Outro princípio das cooperativas é a capacidade de sinergia com outras cooperativas,
ou intercooperação, pela qual elas “servem de forma mais eficaz aos seus membros e
dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, por meio das
estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais” (CARDOSO, 2014, p. 25). Por
fim, destaca-se ainda o interesse pela comunidade e a busca pelas políticas de
promoção da evolução financeira e social dos seus membros.
Fonte: Disponível aqui
A cooperativa não é uma organização homogênea no Brasil, podendo ser
classificada pelo espaço de atuação. Assim, podemos destacar, dentre os
ramos das cooperativas, o agropecuário, o de crédito, o de consumo, o
educacional, o habitacional, o de infraestrutura, o de produção, o de saúde,
o de trabalho, o de transporte e o especial. Em termos de volume e de
impacto no mercado nacional, os ramos que mais concentram cooperativas,
cooperados e empregados são: agropecuário, consumo, crédito,
educacional, especial e de habitação. Na outra ponta, segundo dados do
Sistema OCB, os brasileiros mais se relacionam com as cooperativas de
saúde, de transporte de carga ou táxi, de consumo e de crédito.
Além dos princípios, podemos ainda destacar a organização cooperativista e os níveis
de interesse dos associados, que podem determinar as políticas de gestão e de
atuação da cooperativa no mercado. Ao menos três níveis podem ser apontados
(SENAR, 2015) sendo eles o econômico, o político e o social. No nível econômico, a
política monetária é a que se sobressai na cooperativa, sendo que os esforços estão
organizados para a ampliação patrimonial dos membros e da cooperativa.
Em segundo ponto, tem o nível político, ao qual o que se busca é a capacidade
competitiva no mercado. Neste caso, nem sempre é o valor, mas a disputa pela
parcela do nicho de produção ou de comercialização. Ainda se estabelece neste nível,
a formação de grupos de pressão do setor político.
100
https://www.ocb.org.br/numeros
Por fim, o nível social é organizado com o objetivo de benefícios dos associados. No
nível social encontramos boa medida do que fornece estrutura de sucesso às
cooperativas, estabelecendo harmonia e boas diretrizes que fortalecem a agregação
de valores aos produtos dos associados.
Caro aluno, o tema abordado nesta aula, foi voltado para a organização das
cooperativas. Você viu que, aqui no Brasil, temos uma série de cooperativas que
despontam no mercado, tanto nacional como internacional.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
101
11
Planejamentos 
em Cooperativas
102
Introdução
Planejamento e organização são elementos fundamentais em projetos de sucesso.
Não basta ser bom profissional se a capacidade de gestão, de empreender e de
projetar não são desenvolvidos conjuntamente na administração dos negócios. E isso
independe do tipo de carreira. Se for comediante, esportista, artista, administrador de
multinacional ou político, o planejamento é sempre fundamental com o
estabelecimento de metas, organização dos esforços e projeção de carreira. No
campo isso não é diferente.
Mas isso quem está no meio agropecuário já sabe, afinal de contas, ninguém que não
desenvolva um bom plano de negócios consegue projetar uma colheita a partir de um
saco de sementes, ou ainda, dimensionar um rebanho apenas a partir das matrizes,
não é mesmo?
Na cooperativa isso não é diferente, afinal de contas, não é qualquer tipo de empresa,
mas sim, um empreendimento com várias frentes, do qual muitas vidas são
dependentes, e que atua com inúmeras variáveis. Como assim? Ora, quando você
está na gerência ou na direção de uma empresa, você tem garantia dos resultados da
sua instituição, por controlar diretamente todas as etapas produtivas e, sobretudo, o
quadro de pessoal.
Então, se falta alguém em um setor estratégico, basta realocar o quadro de pessoal.
Se tem uma baixa na produção em um setor, realoca-se o pessoal para retomar a
produtividade naquela área, e por aí vai. Na cooperativa, nem sempre é fácil garantir
isso, ainda mais quando a produção é deslocada e pulverizada nas áreas de todos os
partícipes da cooperativa. O sucesso da cooperativa não é apenas dependente do
sucesso de um, mas de todos. Isso começa naforma de organizar, portanto, o quadro
de cooperativistas.
103
Acesse o link: Disponível aqui
Já parou para pensar que não existe uma receita de sucesso para as
cooperativas? Cada uma tem uma forma de atuação, tem um ponto de
vantagem que garante seu lugar no mercado. Quer seja porque aproveitou
um grande momento do cenário nacional e investiu em determinadas
propostas, quer seja pelo fato de ter uma gestão bem organizada, fato é que
o que todas têm em comum é uma vontade de fazer a diferença, o
compromisso com seus cooperados, e a garantia de que sem trabalho não
se chega a lugar algum. Se não temos uma receita, ao menos temos algumas
fases ou etapas que podemos identificar na vida das cooperativas. Um artigo
escrito pelo pesquisador e professor de Economia Organizacional da
University of Missouri (EUA), Michael Cook, promete nos ajudar a ver isso.
A fase de organização está nas partes iniciais da vida de uma cooperativa, e depois
aparece distribuída na gestão do empreendimento e na retomada do planejamento
estratégico de tempo em tempo. Segundo Cook (2018), ao menos cinco fases
estruturam a vida de uma cooperativa. A primeira é a de estudo da demanda ou da
necessidade da organização. Neste primeiro momento, os esforços estão em analisar
se existe alguma justificativa social e econômica para a cooperativa. Neste ponto,
análises conjunturais, estudos sobre problemas no mercado são fundamentais.
Inclusive se a demanda se justifica mediante os esforços.
Fato é que nem sempre o ineditismo é a melhor forma de encabeçar um
empreendimento. Ou seja, o fato de não ter algo semelhante ao que se planeja
instituir não é garantia de sucesso. É apenas garantia de que não há algo semelhante
no mercado. Isso pode ser, por no mínimo, dois fatores: ninguém pensou nisso, ou
todos que pensaram nisso estudaram, fizeram planos e chegaram à conclusão de que
não é viável ou rentável.
104
https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2018/10/as-cinco-fases-do-ciclo-de-vida-das-cooperativas-cjmqjr1dv016401rxj7y0kv4g.html
A segunda etapa é a de planejamento da organização (IDEM, 2008). Nesta etapa, o
que se percebe é a escolha ou definição do perfil dos cooperados, o processo de
estabelecimento das regras e dos formatos de funcionamento da cooperativa, a
definição de metas e da estruturação do planejamento. Ou seja, é o momento de
definir missão, definir objetivos em curto, médio e longo prazo, identificar os gargalos
de todos, de projetar o quanto serão gastos para maquinário, estrutura ou trabalho
técnico para reverter tais problemas, além de criar um plano de trabalho, de afazeres
e responsabilidade.
Uma terceira fase, segundo Cook, é a de iniciar a prática do planejamento e de busca
das primeiras metas. Neste ponto é que começam a surgir, de forma mais
contundente, as divergências, que sejam diante das formas de condução dos
trabalhos, quer sejam diante das primeiras intempéries. Afinal de contas, na prática as
coisas não são tão óbvias quanto no planejado. “Cooperativas duradouras são
particularmente astutas em identificar e superar atritos internos, antes que esses
resultem na formação de diferentes grupos de interesses”, destaca Cook (2008).
Quando se tencionam as relações e as dificuldades de entendimento começam a
interferir no bom funcionamento, é necessário seguir para o quarto estágio, em que
se colocam as cartas na mesma para se identificar os problemas e as soluções. Aqui,
Cook aponta que os caminhos são a saída de alguns membros, a manutenção do
status quo, ou seja, a manutenção dos problemas, a expulsão, ou ainda, a reinvenção.
O próximo passo ou fase é o que determina o desenvolvimento do que foi escolhido
na quarta etapa.
105
Uma forma de pensarmos no planejamento do recurso e das estratégias da
cooperativa é criarmos um plano vislumbrando o projeto na prática. Neste
caso, é preciso entender quais as possibilidades viáveis para projetar uma
quantia mínima e um capital inicial para o projeto. Imagine uma seguinte
situação (CARDOSO, 2014): uma cooperativa com 20 costureiras que atuam
no ramo de bordado no Nordeste. Todas elas ingressaram com o objetivo de
se organizarem para facilitar a venda e aumentar a renda do grupo. Se cada
costureira estiver projetando uma retirada de salário mínimo por mês, existe
um planejamento mínimo de vendas para dar conta disso, ou ao menos um
capital inicial para custeio, sobretudo, em tempos de redução de venda.
Assim, conforme destaca Cardoso (2014), “poderia acontecer que, num
primeiro momento, fosse inviável esse montante de retirada mensal pelas
costureiras, cooperadas e ainda estaria gerando algum tipo de despesa para
a cooperativa”. Frente a um primeiro problema, que seria o de não dar conta
das retiradas, a falta de um planejamento e de um conhecimento de tudo
acerca da realidade possível da cooperativa, seria a de ter um significativo
abandono.
Organizando o Projeto
Para iniciar um planejamento para cooperativa, é importante estabelecer o
entendimento a uma série de questões que ajudarão a dimensionar e a garantir que
todos os possíveis cooperados estejam sob a mesma orientação produtiva.
Um primeiro ponto é organizar uma quantidade mínima de integrantes para a
constituição da cooperativa (BRASIL, 2008), considerando os vinte partícipes previstos
pela lei que regulamente o setor cooperativista no Brasil (BRASIL, 1971).  Após isso, é
importante que todos os integrantes tenham claros seus interesses e objetivos com a
106
cooperativa, não apenas sobre o campo da atuação, mas no que diz respeito às metas
e postura da cooperativa, se será na atuação meramente econômica, política ou
social.
É importante que todos também compreendam os aspectos de corresponsabilidade
de todos no empreendimento, da mesma forma que todos devem ter condições de
“cumprir com o compromisso de colaborar com o capital fixado para constituir a
empresa cooperativa” (BRASIL, 2008), e se todos despendem de recurso à disposição
para iniciar o empreendimento.
Outro aspecto importante é a sinergia ou a capacidade de trabalhar em conjunto.
Olhando apenas a demanda e a necessidade sob a lente de uma lupa faz com que as
pessoas percam a noção de que para atingir tais objetivos terão que, em uma
cooperativa, reunir esforços com outras, e é aí que pode residir o fracasso. Assim,
conforme destaca Cardoso (2014, p.  48), “na maioria das vezes, nem todas as pessoas
envolvidas já tiveram algum trabalho juntas. Aprender a trabalhar juntos é um grande
desafio em qualquer empreendimento coletivo”.
Na ponta do lápis, anota aí o que é importante para a consolidação de uma
cooperativa. A primeira coisa é analisar o mercado, fazer um mapeamento
sobre os pontos fortes e fracos do espaço de exploração. Depois, temos que
formar o ferramental pessoal, ou seja, estabelecer o quadro de possíveis
cooperados. Aqui, temos que olhar para dois lados, sendo um deles a
capacidade de atuação e de atender à demanda produtiva, e a segunda, tão
importante quanto à primeira, é ter a capacidade de atuar em conjunto.
Afinal de contas, a cooperativa é um projeto coletivo. Depois, precisa
estabelecer a missão e os objetivos da cooperativa. Queremos chegar aonde
e como faremos para chegar lá. É preciso entender a capacidade de todos,
para aproveitar as potências e minimizar as fraquezas. Depois é mão na
obra, e aplicar o plano de negócios frente a um dos ramos de cooperativas
que temos no Brasil. Isso, claro, depois de pensar na estrutura da
cooperativa, e dar conta da burocracia.
107
Cardoso (2014) organiza a formação inicial da cooperativa em três fases. A primeira é
a que já começamos aqui, com a união dos ideais, dos desejos, com os primeiros
passos para o conhecimento dos membros tanto das suas capacidades, quanto das
suas incapacidades. Cardoso destaca este primeiro ponto como o de sensibilização.
Neste aspecto, esta é a fase de informações e conhecimentos sobre as regras
burocráticas iniciais, aquelas que ninguém fica de fora ou fica livre no Brasil. Aqui
estão as legislações que estabelecem as regrasdo setor, o funcionamento de uma
cooperativa, os direitos e deveres na lei e, sobretudo, os limites e responsabilidades
das cooperativas.
Tudo o que pode responder se de fato é a cooperativa que será a melhor forma de
organização para o empreendimento de todos. Ainda, nesta primeira fase, Cardoso
(2014) destaca que tais informações são fundamentais para orientar tanto a escolha
do tipo de cooperativa, quanto à definição das pessoas que seguirão este plano.
Outro aspecto destacado é que exista um ideal democrático e deliberativo, que
garanta o envolvimento e o aval de todos, sobretudo, nas fases iniciais. Desta
formalidade, como “todo empreendimento coletivo baseado na autogestão, como é o
caso da cooperativa, debater ideias e chegar a consensos é uma habilidade a ser
desenvolvida por seus participantes” (IDEM, 2014, p. 52). Ainda, nesta primeira fase, é
importante definir quem tem perfil de gestão e de liderança, para que seja
identificado e qualificado como parte do grupo que será responsável por orientar o
grupo e por desenvolver as atividades práticas.
108
Quadro 05 – Deveres e Direitos dos Cooperados
Fonte: Autor – adaptado BRASIL, 2008.
DEVERES E DIREITOS DOS COOPERADOS
DEVERES DIREITOS
Atender às demandas estatutárias
no que diz respeito a participar das
assembleias.
Direito a ser representado pelo voto de
forma paritária.
Acatar o que foi definido pela
maioria, mesmo que a decisão seja
contrária à sua definição pessoal.
Ser elegível, uma vez que atenda às regras
estatutárias, a um cargo do quadro
diretivo, como em conselho de
administração ou fiscal.
Manter o espírito cooperativista
nas ações, e atuar prevendo os
impactos das decisões nos demais
cooperados.
Ser beneficiados nas atividades de
formação e demais propostas pela
cooperativa.
Cumprir com deveres financeiros
previstos junto à cooperativa.
Ser beneficiários das atividades e serviços
da cooperativa.
Cumprir o estatuto e seu papel
dentro dele.
Receber a parcela da distribuição de
sobras.
Promover a integração da
cooperativa com as demais
organizações do setor.
Acessar aos documentos de fiscalização da
cooperativa.
Denunciar procedimentos
indevidos.
Direito de sair da cooperativa caso não
tenha mais interesse.
Pagar sua parte em caso de
prejuízos financeiros.
Direito a retirar seu capital ao sair,
conforme previsto no estatuto.
109
Seguindo o ordenamento do planejamento, Cardoso destaca que a segunda fase é a
de constituição. Neste ponto, o que se vê é a parte de consolidação prática das
propostas iniciais. Primeiro, observa-se a realização dos trâmites burocráticos, como a
realização de assembleia de constituição da cooperativa, com a participação de todos
os cooperados, bem como o estabelecimento dos estatutos, para que se possa
registrar a cooperativa frente à junta comercial local. Com isso, a cooperativa recebe o
registro formal de atuação.
A função democrática (BRASIL, 2008, p. 24) é resultante de atividades de integração e
de participação de todos. Se não de forma prática, em atividades, ao menos de forma
a consolidar o aval para a realização das atividades, a partir do voto. A estrutura
administrativa que se demanda para organizar a cooperativa é baseada em três
instâncias, que devem ser respeitadas e bem organizadas. A instância máxima é a
assembleia, que é sempre soberana, e que deve definir as aprovações dos planos e
das decisões a partir, claro, de um quórum que represente a maioria.
Usa-se a lógica dos dois terços em questões estruturais. Uma segunda dimensão é o
conselho de administração ou diretoria. A cooperativa pode ter ambos. Neste caso, a
diretoria está vinculada às funções operacionais, e o conselho às ações de
planejamento e estratégicas. Por fim, a última instância é o conselho fiscal, que
analisa os dados e números da cooperativa, de forma independente. Isso quer dizer
que os membros não devem ser os mesmos das outras instâncias. É uma espécie de
auditoria (BRASIL, 2008, p. 25).
Finalizada a segunda etapa, parte-se assim, segundo Cardoso (2014), para a terceira
fase, a de começo das atividades da cooperativa. É quando começam os problemas,
os ajustes e a realidade da organização. As fases anteriores, então, são base para esta,
e se forem bem realizadas, fornecem subsídio para um melhor enfrentamento dos
problemas e melhor uso das vantagens na fase de implantação do plano.  
Caro aluno, nesta aula o tema abordado foi o planejamento para as cooperativas.
Espero que você tenha compreendido a importância de um bom planejamento,
realizando os trâmites burocráticos e as responsabilidades dos cooperados.
Bons estudos!
110
12
Gestão Estratégica em 
Cooperativas
111
Introdução
Uma boa administração e decisões competentes colocam a cooperativa nos eixos e
garante sucesso nas vendas e no relacionamento com o mercado e com os clientes.
Isso, contudo, é resultado não apenas de um bom gestor, mas de uma série de
colaboradores, uma vez que estamos falando de um tipo de organização coletiva.
Assim, diferentemente das iniciativas privadas, que encontram na figura do dono, do
presidente e outros de gestão, nas cooperativas, todos os cooperados são donos com
parte similar, e dividem não apenas o empreendimento, mas a responsabilidade e,
sobretudo, a gestão.
Assim, no cooperativismo brasileiro, está o cerne da organização, a participação
solidária, a responsabilidade na gestão e fiscalização tendo por base “princípios e
valores que as caracterizam – solidariedade, ajuda mútua, honestidade, democracia e
participação” (BRASIL, 2008, p. 29).
Justamente tais elementos são os que mais marcam a diferença entre a gestão de
empresas comerciais ou mercantis e cooperativas, sendo que esta carrega
características de atuar na eficiência econômica na mesma medida em que busca a
eficiência social buscando ainda a preservação dos princípios (ROSSES, 2010, p. 4). Ou
seja, enquanto a gestão nas empresas é mais agressiva para atender à lógica do
mercado, em sua maioria, as cooperativas apresentam outros valores como máximos.
112
Um dos aspectos importantes de um planejamento estratégico é a
informação. Não estamos aqui falando de comunicação empresarial ou
informação como um elemento de autogestão. Mas sim, como subsídio para
estratégias. Quanto mais sabemos de algo, mais temos condições de nos
orientarmos com relação a esta coisa ou situação. O mesmo é válido sobre
as cooperativas e empresas. Quem domina as informações do setor
consegue se orientar, antever as situações, saber como atuar no mercado e
por aí vai. Ficar alheio ao que acontece no mundo é ficar no escuro, por
exemplo. Se você atua no ramo alimentício e é dependente do trigo, sabe
que qualquer política externa que pressione o preço do dólar vai impactar
no seu lucro e na sua capacidade de usar o preço como estratégia de venda.
Assim, é preciso “trabalhar com uma visão mais ampla do seu ambiente de
atuação e definir estratégias, por meio de uma criteriosa análise da
tecnologia, do mercado e dos produtos que irá produzir, podem ajudar na
otimização do resultado da aplicação de seus recursos” (SENAR, 2015, p.107).
Isso é o que coloca, em grande medida, uma cooperativa em vantagem com
pequenos produtores. A obtenção da informação, enquanto que, com
menor força, existe um rol menor de conteúdo para lidar.
Desta forma, podemos dizer que nas cooperativas, o que predomina é uma batalha
para equilibrar os aspectos sociais e econômicos para garantir retorno para os
cooperados, mas sem afetar o mercado, ou ainda, o comportamento de acesso aos
bens. Além disso, neste ponto, um grande desafio é também atuar no equilíbrio entre
os interesses coletivos e individuais. Afinal de contas, a cooperativa é uma
organização com muitos donos, cada um com uma perspectiva e necessidade, que
nem sempre coadunam.
Em meio a este propósito de equilíbrio, é necessário um perfil de gestor que
compreenda, portanto, as nuances do espírito cooperativista no mercado, para que
não subverta as características da organização no meio competitivo. Isso, muitas
113
vezes,prejudica a participação das cooperativas, principalmente no acompanhamento
às inovações de estratégias mercadológicas. É por isso que muitas cooperativas
investem na qualificação de um gestor interno, que conecte e motive os cooperados
dentro dos princípios da organização.
Como destaca Rosses (2010), os profissionais de gestão nas cooperativas colaboram
para a “organização a definir e manter seus objetivos, avaliar corretamente o mercado
e gerir os negócios, buscando manter o equilíbrio entre o cooperado e o mercado”.
Modelo de Gestão em Sete
Passos
Frente a tais desafios, alguns modelos de gestão ajudam na organização dos objetivos
e na garantia das metas das cooperativas. Rosses (2010) aponta um modelo descrito
por sete elementos administrativos integrados com foco para gestão de cooperativas.
No primeiro ponto, o autor reforça o componente estratégico, pelo qual se qualifica o
processo inicial da administração, estabelecendo as diretrizes para a eficácia da
gestão, do plano mercadológico e financeiro, e as metas.
Desta forma, o “planejamento estratégico é fundamental para identificação das
oportunidades e ameaças da cooperativa e na percepção do ambiente interno e
externo” (ROSSES, 2010, p. 7). Nesta etapa de planejamento é que podemos aplicar as
mesmas estratégias de mercado para analisar as forças e qualidades do
empreendimento e dos integrantes, como coletivo, bem como destacar quais as
fraquezas e pontos que podem interferir em um rendimento positivo, considerando
público interno e externo ou ameaças internas e externas. Segundo o autor, dois
elementos são importantes aqui: o marketing e a qualidade. As duas dimensões,
dentro do planejamento estratégico, são aspectos que dão sustentação à gestão.
A qualidade é o que se estabelece como aspecto vinculado ao serviço ou ao produto,
e garante uma boa qualificação frente ao mercado consumidor, dando visibilidade. A
opinião positiva dos consumidores são indicadores disso. Na outra abordagem, o
marketing é o que determinará as estratégias de atuação para atingir as metas de
mercado e de qualidade frente ao público.
114
Apesar de vermos uma grande parcela das cooperativas disputando espaço
com empresas da iniciativa privada, não são raras as vezes em que
profissionais gabaritados são cooptados por empresas do mercado. Ora,
mas isso não é bom? Depende. Para as cooperativas, nem sempre. Imagina
que você contrata um profissional inexperiente. Para que ele possa atuar
com mais exatidão na sua função, você investe tempo e recursos, como
pagamento de cursos de formação e especialização, financia viagens
internacionais para trocas de experiências e por aí vai. Até que depois de
anos ele está com conhecimento técnico e teórico na medida certa para dar
um excelente retorno para a cooperativa. Logo depois disso, esse
profissional começa a se sentir desvalorizado e encontra melhores
condições na iniciativa privada. O mesmo pode ocorrer entre os cooperados,
que busca no mercado uma forma que considera mais adequado para seus
empreendimentos. Para isso, é fundamental, na gestão, buscar evitar que
isso ocorra. Dentre as medidas preventivas, podemos destacar (BRASIL,
2008) o aumento do grau de fidelidade e comprometimento do cooperado;
determinar os critérios de entrada e saída de cooperados; estabelecer
alianças com o mercado; e adotar uma política de valorização do cooperado
e dos funcionários.
Na continuidade sobre o planejamento, como segundo aspecto Rosses destaca os
pontos estruturais, vinculado à hierarquia de poder e à delegação de afazeres. Desta
forma, “o processo de gestão da cooperativa pode valer-se do sistema de informação
gerencial, que nada mais é do que a transformação dos dados em informações, como
subsídios às decisões e às estratégias dos gestores buscando atingir o resultado
planejado” (2010, p. 6). Estes pontos dialogam com o que o autor vai afirmar na
terceira etapa do processo ou modelo de gestão, pelo qual o conhecimento acerca da
organização é um ponto chave para uma otimização na administração. Parece óbvio,
115
mas muitos gestores especializam-se nas técnicas administrativas como se elas
fossem a finalidade das ações, sem sequer se darem conta das dimensões das
cooperativas ou das organizações que estão administrando.
É importante ter um conhecimento de causa, que vai desde entender o mercado, até
perceber os integrantes internos que fazem possíveis as atividades diárias da
empresa/organização. Esses são alguns pontos do perfil de liderança, que estabelece
comunicação com todas as partes da organização e percebe cada risco, incerteza e
vantagem.
Também dentro do terceiro ponto podemos encontrar a percepção da importância da
comunicação no processo de gestão como um elemento estratégico para aspectos
administrativos, como a comunicação interna, ou ainda, no que diz respeito à imagem
e estratégias de comunicação institucional. Seguindo os tópicos, chegamos ao quarto
componente, que Rosses (2010) pontua como sendo de viés tecnológico.
Nesta abordagem, o produto, “quando considerada a relação
cooperativo/cooperado/mercado, é o objeto de existência da organização
cooperativa, deve ser desenvolvido por um conjunto de atividades sequenciais
relacionadas que busca atender às necessidades dos clientes, cooperados e
funcionários da cooperativa” (2010, p. 7). Assim, as rotinas produtivas e a observação
sobre o processo são fundamentais para que o modelo de gestão preveja capacidade
de inovação, de implementação de estratégias e exploração de vantagens nos
aspectos competitivos.
O quinto componente é o comportamental, e aqui Rosses o percebe como sendo um
ponto importante para o “desenvolvimento e implementação do modelo de gestão
nas cooperativas, exigindo conhecimento, o entendimento conceitual e possível
aplicação de determinado assunto na realidade da cooperativa” (2010, p. 7). Isso
porque estamos observando uma organização cuja autogestão ou participação dos
cooperados no processo administrativo cobra uma postura comportamental
harmônica, e de respeito quando a administração é centrada não apenas nos
dirigentes do coletivo, mas quando são profissionais contratados.
O sexto componente do modelo de gestão é o que busca a evolução a partir do
aprimoramento e mudança comportamental diante do mercado e dos novos desafios.
Na prática, este ponto busca minimizar uma postura de resistência às mudanças
características do cenário das cooperativas no Brasil.
116
Por fim, a última instância é a de avaliação do processo e da gestão. Na prática,
qualquer modelo e projeto devem prever a avaliação e análise dos resultados como
forma de observar se está no caminho certo ou se precisa retomar as etapas
anteriores para reavaliar sua efetividade e eficiência. Nesta etapa, destaca Rosses
(2010, p. 8), usam-se “indicadores de desempenho, que são parâmetros de avaliação
pré-estabelecidos que permitem avaliar o grau de sucesso na realização das
atividades ou processos da cooperativa”.
Gestão Focada na Integração
dos Cooperados
Motivação dos cooperados, valorização dos quadros técnicos e incentivos para
participação das assembleias e atividades administrativas das cooperativas são
apostas de um modelo que busca reforçar um aspecto fundamental dos princípios da
organização. Ora, se existe uma responsabilidade financeira em que as sobras são
divididas e as dívidas são distribuídas, essa mesma solidariedade econômica também
integra a abordagem da gestão. Isso fica claro também no compromisso de dar
retorno aos cooperados não apenas no que diz respeito aos lucros ou sobras, mas
também aos serviços e assistência.
Ou seja, na mesma toada da gestão, a integração e auxílio mútuo também é regra em
algumas organizações. Algumas, como destaca, Buttenbender (2018, p. 9) “oferecem
treinamento e educação para os associados, direção e funcionários, além de
desenvolverem um trabalho com jovens e líderes formadores de opinião sobre a
natureza e os benefícios da cooperação, caracterizando, assim, o princípio da
educação, formação e informação”.
Da mesma forma,o princípio da intercooperação dá sustentação à integração
sistêmica nas organizações, a partir da conexão que as cooperativas fazem com
outras em sinergia de atuação com as federações e confederações, orientadas em um
modelo de gestão e de postura amplo.
117
Acesse o link: Disponível aqui
Como já mencionamos, as cooperativas, sobretudo as vinculadas ao
agronegócio, representam um grande capital produtivo nacional e de
emprego de mão de obra. Assim, é de se esperar que governos estaduais e
federal percebam a importância do cooperativismo para a economia
nacional. É por isso que encontramos inúmeras políticas de apoio financeiro
e de assistência técnica que podem ser de forma descentralizada, a partir de
iniciativas da sociedade civil ou de autarquias, ou ainda, de forma direta com
subsídios. Um desses projetos é o Brasil Mais Cooperativo, do Governo
Federal.
Essa integração, no quadro mínimo entre os cooperados, e no quadro máximo entre
as federações, dá uma conexão entre o sistema e fortalece a gestão colaborativa.
Como destaca Buttenbender (2018, p. 9), com a efetiva participação dos cooperados
nas “atividades de planejamento da cooperativa retoma-se o princípio do
cooperativismo da Gestão Democrática, em que os sócios participam ativamente no
estabelecimento de políticas e nas tomadas de decisões”. Isso é fundamental nas
cooperativas administradas pelos cooperados, ou ainda, por aquelas que são geridas
por terceiros ou por profissionais contratados. Neste último ponto, a integração e
acompanhamento de perto dos cooperados é fundamental para aprovar e dar
respaldo às ações da gestão e decisões econômicas e administrativas.
118
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/agricultura-familiar/brasil-mais-cooperativo
Caro aluno, com base no exposto nesta aula você compreendeu a importância de
uma boa gestão estratégica quando se trata de uma cooperativa.
Espero que esta aula seja uma forma de construção do seu conhecimento a respeito
do assunto proposto.
Bons estudos!
119
13
Cooperativismo 
e Negócio Rural
120
Introdução
Cooperativismo é uma prática, é uma forma de atuação e uma política de
relacionamento de ajuda mútua. Já vimos aqui que o conceito de cooperativismo e
seus princípios pregam a colaboração, o desenvolvimento sustentável, a
responsabilidade e a gestão compartilhada de organização. A sinergia e o
comprometimento de todos os cooperados são fundamentais para o sucesso e a
harmonia da cooperativa.
É importante que todos estejam alinhavados, com as mesmas propostas, como foco
no desenvolvimento econômico e crescimento dos recursos dos cooperados, no
retorno social e por aí vai. As práticas acima revelam atitudes e comprometimentos, e
não ramos de negócio ou linha de atuação. Isso porque o espírito e princípios
cooperativistas não estão vinculados ao meio urbano ou rural, ao mercado ou ao
desenvolvimento social, mas sim, ao desejo e prática de todos do grupo. Isso faz com
que possamos usar as características da organização cooperativista para uma série de
tipos de negócios e de intenções.
121
Olhar para a história é reconhecer nossas origens e entender como
podemos aproveitar as experiências do passado para nos prepararmos para
o futuro. Uma das primeiras cooperativas do mundo é um exemplo de como
podemos estruturar uma organização. Quando lá em meados do século XIX,
os vinte e oito tecelões se juntaram no distrito de Rochdale, no condado de
Manchester, na Inglaterra, não sabiam que essa organização que estavam
montando, a Sociedade dos Probos Pioneiros (FARDINI, 2017, p. 43), daria
oportunidade para milhares de pessoas realizarem seus sonhos. Há 180, os
produtores da cidade inglesa aprovaram, quando criaram a sociedade, um
estatuto com uma série de regras que orientam planos das cooperativas
ainda hoje. Dentre os elementos, podemos destacar a abertura de um
armazém para comercialização de vestuário; venda dos produtos; e
colaboração nas demais cooperativas.
Já vimos aqui anteriormente que existem treze ramos do cooperativismo. São eles: o
agropecuário, o de consumo, o de crédito, o educacional, o especial, o habitacional, o
mineral, o de produção, o de saúde, o de trabalho, o de transporte, o de turismo e o
de infraestrutura. Aqui, neste ponto, vamos abordar ao menos dois ramos do
cooperativismo que são fundamentais para o desenvolvimento rural.
No campo, o cooperativismo encontra um espaço propício para a promoção do
desenvolvimento da comunidade rural, fazendo com que os pequenos e médios
produtores consigam ampliar sua produtividade, melhorem as condições de
segurança alimentar e, sobretudo, a imagem e representatividade do campo na
cidade. Dentre os principais objetivos dos avanços promovidos pelo cooperativismo
no campo podemos destacar   melhoria nas condições de trabalho, com o
compartilhamento das demandas e das tecnologias, um aumento no potencial de
negociação junto ao mercado e, consequentemente, ampliação da rentabilidade
familiar e vários outros exemplos.
122
É fortalecido pela união que “cooperados podem se colocar como uma classe que
possui um lugar representativo em meio aos grandes produtores rurais” (SENAR,
2015, p. 90). E aí, neste ponto, pergunto para você, sobre qual cooperativa estou
falando? Melhor colocando, sobre qual ramo da cooperativa estou mencionando?
Certamente, você responderá que é o agropecuário. Mas não necessariamente seria
este. Só pelo fato de estarmos nos referindo ao campo não significa que
obrigatoriamente estamos estabelecendo característica para a cooperativa
agropecuária.
O campo é um espaço muito importante para os países. No Brasil, por
exemplo, o campo representa não apenas a segurança alimentar e a comida
na mesa das famílias dos mais de 220 milhões de brasileiros, mas também
boa parte do PIB e dos recursos públicos que são usados para obras de
infraestrutura nas cidades, para subsidiar o acesso aos bens de consumo e
aos serviços básicos como saneamento, energia elétrica etc. Para que o
campo avance, é preciso, contudo, união e trabalho. As cooperativas que
mais atuam neste espaço são a de agropecuária e a de crédito. A primeira é
responsável pela principal parte, que é a de organizar os produtores, dar
subsídio e orientação técnica para que eles possam produzir sempre mais e
melhor. Já a cooperativa de crédito é a que torna o avanço tecnológico
possível no campo, dando financiamento para a atualização dos
maquinários e para a consolidação dos empreendimentos.
Ou ao menos não somente ela. Isso porque no campo podemos encontrar em grande
medida dois ramos da cooperativa que são grandes parceiros e que são responsáveis
pelo avanço do agronegócio do Brasil, que é a cooperativa agropecuária e a
cooperativa de crédito. Isso mesmo, quem planta, cria, colhe ou produz precisa de
recursos para custeio de insumos, maquinário e para auxílio no processamento. Só
123
para termos ideia, dados do sistema cooperativo nacional apontam que os dois ramos
estão entre os primeiros, sendo o da Agropecuária o mais volumoso, respondendo
por nada menos que 1,6 mil das 6,8 mil cooperativas do país.
Na sequência, vêm as cooperativas de consumo, e logo depois, em terceiro lugar, as
cooperativas de créditos, com nada menos que 909 cooperativas no país e nada
menos que 9 milhões de cooperados. Isso mesmo, as cooperativas de crédito são as
que mais agregam pessoas. As duas respondem por 270 mil empregos. São grandes
números.  
Gozer (2006) vai apontar ao menos cinco elementos que pressionam o produtor ao
cooperativismo. O primeiro deles é a possibilidade de acessar o mercado, o que de
forma individual seria mais limitado. Unidos, o volume é mais atraente para o
mercado, que oferece novas regras mais acessíveis e rentáveis.
O segundo aspecto seria a capacidade de reunião dos esforços econômicos, ou seja, a
economia em escala que seria tanto do ponto de vista de financiamento, quanto do
próprio potencial de produção para baratear custos. O terceiro aspecto dialoga com o
primeiro ao analisar o acesso ao mercado, e assim, o acessoaos recursos, como
crédito com menores taxas de juros, tecnologia com menor custo e por aí vai.
Um quarto aspecto é o de redução dos riscos na medida em que há uma diluição
junto aos cooperados. Isso também impacta na diluição dos lucros. E, por fim, vem o
aspecto ideológico, do compartilhamento do avanço.
Para os pequenos produtores, sobretudo os que atuam na agricultura familiar, as
cooperativas, muitas vezes, são a única forma de se chegar a algum sucesso ou até a
algum cenário de uso efetivo da terra. Isso porque, é a partir dela que o produtor
chega a dois pontos.
No primeiro, à união com os demais produtores. E segundo, no acesso ao crediário e
recursos. Assim, as cooperativas, sobretudo as agropecuárias, “intermediam a compra
de insumos, máquinas e a produção final, ajudando o cooperado na difícil tarefa de
comprar e vender bem” (SENAR, 2015, p. 93). Assim, a cooperação destaca não apenas
o objetivo dos negócios, mas, principalmente, as melhorias pessoais. Como destaca
Fardini (2017, p. 34), nas cooperativas as pessoas não têm mais, mas elas começam a
ser mais. Assim, sendo uma estratégia “criativa e intelectual, é utilizada para
conquistar algo que, individualmente, seria mais difícil. Seu propósito é satisfazer às
aspirações econômicas, sociais, ambientais, educacionais, culturais, de interesse
comum”.
124
Fundamental destacar também que é justamente esta postura de melhoria no campo
e de evolução tecnológica na produção agrária que faz com que o cenário
agropecuário brasileiro seja o mais promissor e rentável no mundo, e coloque o país
dentre dos que mais produzem alimento. Em boa medida isso nasce justamente da
união dos produtores a partir das cooperativas. Isso porque as cooperativas
respondem por nada menos que a metade do que o país produz em um ano, o que
resulta em um lucro anual de R$ 200 bilhões. É uma enorme quantia que
posteriormente é reinvestida, em parte, para a consolidação de novos
empreendimentos no campo, em um ciclo solidário.
Com isso, podemos entender as cooperativas rurais pelo viés econômico, ou seja,
como organizações socioeconômicas que produzem bens e serviços. Como reforça
Fardini (2017, p. 96), a “união de milhares de produtores rurais familiares em
cooperativas permite gerar economia de escala em nível local e global e condições de
concorrência com os setores oligopolizados do complexo rural”.
Essa força vem da união e do planejamento que pode ser focado no aspecto local,
com a organização dos pequenos produtores vizinhos, que reúnem seus esforços
para compra de insumos, de equipamentos e contratação de mão de obra
especializada para o processamento dos produtos agrícolas, ou ainda, ser em âmbito
mais amplo, como intermunicipais, ou ainda globais, na medida em que as
cooperativas têm a capacidade de se unirem para propósitos comuns, criando um
intercâmbio de saber, de recursos e refinanciamento interno.
Ora, então começamos a determinar uma relação entre o campo e o negócio, ou seja,
entre o capital e o plantio. Assim, fica evidente qual a outra ponta do ciclo
cooperativista no campo. Primeiro, a parte que cabe à agropecuária naquilo que diz
respeito à produção, ao preparo da terra e ao cuidado com os animais.
Mas para que isso se consolide, precisamos de um esforço financeiro. Por isso que
pensamos nas cooperativas de créditos como um braço adicional do cooperativismo
rural. E este ramo cresce tanto quanto o agropecuário. De fato, é o ramo que mais
reúne cooperativistas no Brasil. Isso pela facilidade de organização, mas
principalmente, pelas vantagens que o sistema oferece frente ao setor bancário,
majoritário no espaço financeiro.
Para o setor do agronegócio, fica mais clara ainda a parceria entre ambos, isso sem
mencionar que centenas de cooperativas de créditos foram criadas a partir das
necessidades de cooperativas agropecuárias. O contrário também, dezenas de
cooperativas agropecuárias foram fundadas ou reavivadas a partir de empréstimos e
125
de acesso ao crédito pelas cooperativas financeiras na busca de recursos para seus
negócios. De forma complexa e inter-relacionada, o cooperativismo no campo vem
garantindo um cenário de expansão do formato de organização.
Para você saber quais são os 13 ramos acesse o link: Disponível aqui
O cooperativismo não é um fato novo. A sua história tem origem durante a
Revolução Industrial.
Esse tipo de modelo de associação é baseado no esforço comum de um
grupo de pessoas que busca alcançar benefícios comuns para todos os
cooperados.
O modelo de cooperativa pode ser aplicado nas mais variadas áreas de
negócios, tanto que aqui no Brasil, as cooperativas são classificadas em 13
tipos.
Caro aluno, mais uma aula na qual abordamos temas sobre o cooperativismo e o
grande negócio rural, pois sabemos que o agronegócio brasileiro desponta no
comércio internacional.
Com base no exposto, você pode compreender mais sobre o mundo do agronegócio e
sua característica dinâmica quando ligado ao cooperativismo.
Espero você na próxima aula.
Bons estudos!
126
https://www.sicoobsc.com.br/altovale/noticias/tipos-de-cooperativas-os-13-ramos-atuantes-brasil/
14
Perspectivas para Cooperativas 
Rurais Brasileiras
127
Introdução
A produção de alimento crescente denuncia o futuro das cooperativas no Brasil. Ou
seja, são promissoras as notícias que abordam o tema. Primeiro, pelo fato de que
precisamos sempre de mais alimentos, uma vez que é crescente a população no Brasil
e no mundo. E segundo, pelo fato de que a tecnologia no campo pressiona para um
aumento na produtividade. Um ponto que se espera mais ainda é o aumento da
produção não apenas de commodities, mas de bens com processo agregado, com
valores de mão de obra que torna o custo maior e, consequentemente, os lucros. Isso
sem considerar que existem políticas nacionais de incentivo à produção no campo,
uma vez que o agronegócio é responsável por nada menos que ¼ do produto interno
bruto do país.
Já pensou quão dependentes os cofres do poder público são dos rendimentos do
campo? Muito! O agronegócio, contemplando todo o processo e tipos de produção,
tem um “crescimento mais expressivo diante das incertezas na indústria e dos
serviços em processo de exaustão” (SENAR, 2015, p. 110).
Ora, como destaca Cervelin (2017, p. 3), o agronegócio no Brasil é um dos principais
fatores econômicos, como promotor do desenvolvimento nacional, para geração de
empregos e de renda, sendo que o Brasil é o terceiro maior exportador de agrícolas
do mundo, o que acontece “devido aos fatores naturais favoráveis, aumento da
demanda mundial, principalmente asiática, o uso da tecnologia, o apoio do governo
em financiamentos de safras, a inovação e pesquisas”. Como é um mercado de
importante papel econômico, também é um espaço de disputa interna, que requer
um preparo do produtor, em termos de conhecimento e de tecnologia, para avançar e
garantir espaço.
Neste ambiente de concorrência acirrada, pequenos e médios produtores certamente
têm dificuldade de concorrer sem que reúnam forças, pois não conseguem grandes
recursos de investimento, não conseguem sensibilizar o legislativo nacional que é
responsável por consolidar políticas de investimento, ou ainda, o executivo nacional e
suas políticas de crédito.
Assim, na busca de um lugar ao mercado, as “cooperativas são consideradas como a
fonte de escape e fortalecimento de grupos menores de produtores rurais, que juntos
conseguem maior poder de decisão no mercado, de organização e de tomada de
decisão” (CERVELIN, 2017, p. 3).
128
Para este cenário ser positivo, o Sistema OCB destaca como fundamental para o perfil
do produtor rural que deve se adaptar para contemplar as necessidades dos
cooperados de forma eficaz e eficiente, na mesma medida em que tem que observar
o mercado e dar conta de revolucionar a administração da cooperativa para que ela
seja competitiva (NOBILE, 2019).
Com isso, o perfil do produtor deve compreender a capacidade de compreensão das
dinâmicas da administração e da gestão empresarial, ou seja, compreender a
importânciade gerir de forma inteligente seu negócio e a cooperativa; destaca-se
ainda um perfil com capacidade de perceber a onda tecnológica como um ponto de
melhoria e de investimento, e não como um gasto, o que faz com que a cooperativa
direcione parcelas significativas das sobras para investimento em infraestrutura; é
importante sempre se atualizar, tanto do ponto de vista de estratégias de gestão
quanto das tecnologias e tendências do mercado; encontrar na cooperativa uma
forma de agregar valor ao produto e de crescimento sustentável.
Claro, isso não significa que não existam pontos que precisem de atenção e esforços
do sistema cooperativista rural para avançar. Dentre os desafios (NOBILE, 2019) a
serem superados pelas cooperativas está o cenário de crise política que o país vem
enfrentando desde 2015; a elevação dos custos de insumos pressionados pela alta do
dólar, eleições, relação entre China e EUA e como o Brasil vem se comportando em
termos de política externa com o gigante asiático, que é um dos maiores parceiros
agropecuários dos produtores brasileiros; e a falta de previsivibilidade do crédito rural
não cooperado, relacionado à redução de políticas por parte do Banco Central.
Na outra ponta, existem os números que tornam a cooperativa promissora, como o
fato de que é geradora de 250 milhões de empregos em todo o mundo, que está em
mais de cem países, agregando cerca de 1 bilhão de pessoas em torno de 2,6 milhões
de cooperativa. Ou seja, podemos destacar que ao menos uma em cada sete pessoas
é associada a algum tipo de cooperativa. No Brasil, os números são grandes também
e dão cenário da importância do cooperativismo. São 6,8 mil cooperativas nos 13
ramos, somando 14,2 milhões de cooperados em negócios que são emprego para 398
mil pessoas. O setor agro é o que mais arrecada números e atenção nas cooperativas,
atendendo por 1,5 mil cooperativas brasileiras que geram 180 mil de empregos.
129
O cooperativismo rural tem papel expressivo no Brasil. Chegou a essa
posição através de muito trabalho e união de pequenos e médios
produtores rurais que fundaram cooperativas para disputar mercados em
condições de igualdade com os grandes proprietários rurais.
O cenário brasileiro reflete o cooperativismo no mundo (NOBILE, 2019), com aumento
de participação em outros ramos ainda incipientes aqui no país, como no ramo de
infraestrutura, em que nos Estados Unidos, quase metade das linhas de distribuição
estão nas mãos de empresas cooperadas; ou ainda, no mercado financeiro, em que
40% do ramo são cobertos pelas cooperativas de crédito; além do Japão, em que 90%
dos alimentos são de cooperativas. Da mesma forma, neste relacionamento
internacional, o cooperativismo agropecuário representa uma garantia econômica na
balança comercial, sendo um excelente instrumento na geração de divisas
estrangeiras.
O setor, de fato, é um promotor de crescimento em outras áreas a partir do momento
em que permite um superávit comercial positivo para o país, vendendo mais que
compra de outros países. Ora, desta forma, o agro fortalece os setores que são
“dependentes de importações, portanto, das divisas que o agronegócio gerar. Além de
ser fator muito importante no que diz respeito à inflação” (SENAR, 2015). As apostas
no cooperativismo rural vêm justamente do seu papel no desenvolvimento e políticas
públicas nacionais. Isso denota o caráter de expansão do ramo com potencial de
fortalecimento.
Outro ponto a debater sobre o cenário propício das cooperativas agropecuárias no
Brasil é pelo seu caráter de investimento em inovação tecnológica. E isso é uma
postura da agricultura do futuro. Ou seja, a tecnologia é o fator que faz com que o
produtor consiga entender mais os dados, produzir de forma mais assertiva, e,
sobretudo, aproveitar melhor seus recursos. É o que podemos denominar de
agronegócio 4.0, que compreende a aplicação de uma série de aparatos tecnológicos,
somados às posturas de dados.
130
Como destaca Camargo (2020), as “tecnologias disruptivas podem ser aplicadas na
maioria das atividades do campo, desde antes do plantio, até a distribuição para os
consumidores finais”. Assim, não tem como analisar o futuro próximo do agronegócio
sem olhar para um campo conectado, em que a internet, a geração e análise de
dados, uso de inteligência artificial, ou ainda, o uso de aparatos tecnológicos como
drones como ferramentas de produtividade. Outro nome que podemos dar para o
uso da tecnologia digital no campo é agricultura de precisão.
Uma série de aplicativos e inovações promete o acompanhamento do campo desde a
semente até a mesa do consumidor (JACTO, 2020). Se antes, o produtor precisava de
uma série de equipamentos e pessoas para mapear os dados do campo, para
acompanhar a produtividade do rebanho, para mapear se a colheita é rentável ou
não, uma série de base de dados compilados por sistemas automatizados, ou ainda,
por equipamentos de sensores podem levar para a palma da mão do agricultor em
um smartphone um relatório completo com uma estimativa assertiva sobre o
rendimento da sua produção.
Desta feita, “a revolução 4.0 é uma realidade, e no campo ela permite que a migração
do analógico para o digital aconteça rapidamente, as novas formas de produção
inteligente promoverão o agronegócio a novos patamares de sustentabilidade e
desenvolvimento” (CAMARGO, 2020). É a prova de que as cooperativas rurais que
investem em tecnologia e progresso no campo reúnem cada vez mais motivos para
encontrar o sucesso.
131
Acesse o link: Disponível aqui
Assista a este vídeo animação da Embrapa que conta a história da evolução
da agricultura brasileira, com a introdução das pesquisas agropecuárias e
com a tecnologia aplicada no meio rural.
Iniciativas Associativas do
Meio Rural
Além das cooperativas, ao menos dois outros formatos de organização estão
ganhando espaço no meio rural com fôlego de disputa no mercado. Uma delas é o
Arranjo Produtivo Local (APL), destacado como uma junção de empresas ou pessoas
com proposta de desenvolvimento de negócios local, ou seja, com o objetivo de
propiciar uma melhoria econômica dos envolvidos, mas com foco na valorização
regional, que pode ser municipal ou regional. Assim, a unificação ou organização
resultante desta união tem como ponto de apoio a localidade como vínculo.
Dentre os arranjos que podemos destacar está o de produtor rural local que prevê a
valorização da agricultura familiar. Isso é o caso de comércio com atuação parceira
com produtores locais de hortaliças para desenvolvimento da comunidade local.
Desta forma, o objetivo de destaque da APL é “juntar atores sociais que fazem parte
da cadeia produtiva a ser potencializada com as esperadas melhorias. O foco é no
planejamento e execução de um plano de desenvolvimento, para que os elos da
cadeia funcionem de forma integrada e competitiva perante o mercado” (SENAR,
2019, p. 77).
132
https://www.youtube.com/watch?v=52IwxxpNSls
Diferente do que vimos até aqui ao analisar o associativismo e o cooperativismo,
neste caso, não estamos pensando em uma estrutura formal com CNPJ ou pessoa
jurídica diferente, mas sim, reunião de compromissos, de intenções e de ações
voltadas para o progresso mútuo e do local. Se não tem uma estrutura jurídica
distinta, por outro lado, também não tem uma formalização separada do corpo
administrativo. Ou seja, a gestão é de forma descentralizada, como forma de se
apropriar dos recursos das instituições mantenedoras e, ao mesmo tempo, de
estabelecer uma conexão maior entre os pares.
Podemos destacar dentre as vantagens do APL uma inovação e cooperativismo na
gestão; uma otimização da produção e da logística, na medida em que somam-se das
empresas as vantagens como forma de contornar os problemas ou pontos fracos;
uma maior pertença e vantagem frente ao mercado; uma troca de informação e de
capital de aprendizagem na medida em que vemos a convergência de expertises e
junção de mercados muitas vezes distintos; além de propiciar uma união de
competências técnicas distintas. Na outra ponta, existe, claro,pontos em divergência
e desvantagem (SENAR, 2019, p. 101).
Aqui, podemos destacar justamente a possibilidade de não convergência de alguns
setores; a divergência dos pensamentos ou de formas de gestão que não se
coadunam no propósito comum; uma demanda estrutural das empresas que podem
cobrar uma postura jurídica, sobretudo, quando envolvem questões econômicas;
questões tributárias que podem colocar em xeque o empreendimento.
Outro formato são as empresas sociais, cujo foco não é o retorno financeiro, mas sim,
o retorno social. Calma lá, não significa que não seja uma empresa competitiva, pois
ela quer retorno financeiro, mas não para dividir entre associados, mas sim, para
reinvestir no setor e dar conta de uma série de princípios como o combate à miséria e
à pobreza, a luta pelos direitos humanos, pela defesa da natureza e pela aplicação de
conceitos de sustentabilidade nos negócios.
Organizações não governamentais estão neste tipo de ramo, com uma “missão social,
mas como um negócio tradicional, gerando receitas suficientes para cobrir seus
custos, gerando produtos e serviços de relevância para a comunidade que atende”
(SENAR, 2019).
Assim, os dados que dão conta de avaliar o sucesso do empreendimento não são
necessariamente os financeiros, mas obrigatoriamente os indicadores de impacto na
vida das pessoas e na melhoria das condições sociais.   Por fim, destacamos as
agritechs, que são as empresas ou modelos de negócios calcados na tecnologia.
133
Na prática, estamos falando de startup do meio rural ou ainda de tecnologia do
agronegócio. Aplicativos de mapeamento de produtividade de lavoura, dados de GPS
sobre acompanhamento do campo, base de dados e algoritmos que compreendem
padrões do rebanho.
134
O significado de cooperar, nada mais é do que colaborar com outras
pessoas. Daí que surge o princípio do modelo de Cooperativa que busca o
fundamento do bem-estar de todos os cooperados.
Se voltarmos na história da humanidade, podemos reparar que os homens
primitivos já praticavam a cooperação na busca de alimentos para a
sobrevivência de todo o grupo. Com o andamento da história humana,
vários povos agiam com o princípio de ajuda mútua.
Hoje, já é uma realidade, principalmente no Brasil, as cooperativas
desempenham um importante papel na economia do país, gerando
empregos e renda.
Caro aluno, nesta aula você aprendeu sobre as perspectivas para as cooperativas no
cenário rural, e também sobre Arranjo Produtivo Local, outro formato que está
ganhando espaço no meio rural.
Com o que foi exposto é possível você ter um bom direcionamento nas questões do
desenvolvimento agropecuário brasileiro.
Bons estudos!
135
15
Casos de Sucesso no 
Cooperativismo Brasileiro
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16
Associativismo e Cooperativismo 
no Cenário Brasileiro
145
Introdução
Um país de base agrária certamente encontra no desenvolvimento do campo uma
forma de se consolidar economicamente tanto em termos de comércio nacional como
em política econômica externa. Assim, tecnicamente, afora as crises internas dos
demais setores, toda a economia aquece com o andamento positivo das principais
bases do Produto Interno Bruno (PIB) nacional. O associativismo e cooperativismo
agropecuário nacional acompanha este crescimento positivo, ganhando espaço e
sendo enfrentado como formas de consolidar fortes grupos de atuação no comércio
de produtos agrícolas e de produção rural.
Se a economia vai bem, a empresas e demais organizações vão bem, é a regra do
mercado. E, diga-se de passagem, o setor agropecuário vem enfrentando altas nas
vendas ano a ano, quer seja por políticas nacionais de promoção da produção rural,
quer seja por melhor crédito e políticas de financiamento, ou ainda, pelo aquecimento
econômico que permite aumento das vendas.
Como destaca Heemann, observando o cenário agropecuário nas últimas décadas, o
cenário no campo e a imagem do campo na cidade mudaram muito nos últimos
tempos, o que impactou a forma de produção e de organização empresarial. Ora, o
setor “cresceu e contribuiu para a geração de saldos importantes na economia
brasileira, apresentando um grande desempenho nas exportações de produtos
agropecuários e conquistando novos mercados em diferentes partes do mundo”
(2009, p. 13).
Para perceber a perspectiva do agronegócio, contudo, é fundamental uma leitura
sobre os cenários nacionais internos e sobre as políticas externas. Só para termos em
conta do que podemos aguardar para o associativismo e cooperativismo no campo, a
Confederação da Agricultura do Brasil (CNA, 2020) aponta para estes últimos anos um
ambiente propício interno para a valorização do câmbio. Isso pressiona para um
crescimento do PIB. Nas duas situações, o que temos é um crescimento interno, uma
circulação melhor de renda e recursos no país, que pressiona para um aquecimento
econômico a partir do campo. Isso tende a ser revertido em aumento do consumo.
Na outra ponta, a melhoria do câmbio é uma forma de aumentar a vazão da
produção para o mercado externo. Ou seja, de tornar em superávita balança
comercial do Brasil com outros países, aumentando a sua exportação em meio à
importação.
146
Figura 02 – Principais Produtos de Importação no Agronegócio Brasileiro
Fonte: SECEX, Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea
Claro, deve-se destacar que melhor será para o mercado interno quanto mais
industrializado o produto for, pois assim, passa por outras cadeias de trabalho e de
tratamento do produto, o que faz com que ele tenha um custo maior, mas também, o
que chamamos de valor agregado, que é o que combate a crítica de um país que
exporta insumos e commodities e que importa produtos industrializados,
privilegiando o avanço tecnológico e da ciência e pesquisa externa. Quando trazemos
para dentro do país esse tratamento do produto, o que estamos pensando é na
geração de emprego e, sobretudo, em investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Se observarmos os dados concretos (KRETER, 2020) de importação (FIGURA 2) e
exportação (FIGURA 3) de produtos agropecuários do Brasil ao longo de 2019 e
estimativas de 2020, o que percebemos é uma balança comercial favorável, com
aumento de até 22% nas vendas externas de carne de bovino congelada, fresca ou
refrigerada e carne de suíno congelada, fresca ou refrigerada, e de cerca de 4% em
açúcar de cana. Na outra ponta, o que vemos em termos de importação é uma
redução no preço médio dos produtos comprados de outros países.
147
Figura 03 – Principais Produtos de Exportação no Agronegócio Brasileiro
Fonte: SECEX, Grupo de Conjuntura da Dimac/Ipea
Para um cenário mais claro sobre o setor, a CNA previa uma alta na produção
agropecuária em 2020. Claro, alguns elementos podem reduzir de forma leve a renda,
uma vez que o aumento do preço dos fertilizantes para a safra de soja e os custos em
elevação pressione para um salário um pouco menor (CNA, 2020, p. 6). Contudo, o
que se espera como tendência para este ano e os posteriores é uma melhoria nos
indicadores macroeconômicos, sobretudo em decorrência de uma agenda de
reformas pelo governo e de impacto em medidas regulatórias do setor, como o
ambiental. Isso pode “impulsionar significativamente o financiamento privado para o
agronegócio já em 2020.
A taxa de juros básica da economia e a taxa de inflação, nos patamares mais baixos
da história do país, geram ambiente bastante favorável para a busca de novos
mercados de investimentos” (IDEM, 2020, p. 11). Isso cria um cenário favorável para o
agronegócio na medida em que permite um aumento do crédito. Quanto mais estável
e mais vantajoso é um setor do ponto de vista do investimento, melhor será para
quem estabelece linhas de crédito, pois entenderá que aquele setor será rentável, e
que poderá cumprir com suas obrigações e dar retorno financeiro.
E para o setor que recebe crédito, isso é vantagem? Com certeza, por pelo menos dois
motivos decorrentes de uma ampliação da concorrência entre as agências ou
operadoras de crédito. Primeiro, porque facilita o acesso. Isso reduz a burocracia, a
necessidade do convencimento e aumenta as linhas de limites de endividamento. E
segundo, porque isso melhora as condições de pagamento e, ainda, os de índices ou
de juros, o que faz com que o produtor se esforce menos para conseguir pagar os
empréstimos.
148
Em meio a isso, a CNA (2020, p. 9) estima ao menos três eixos de melhorias. Um no
avanço com as reformas no campo econômico que serão apresentados ao congresso.
O segundo é com a melhoria das condições de crédito e redução do spread bancário,
que impacta na redução dos juros. E o terceiro, a melhoria das notas de crédito e do
risco Brasil, que faz com que o país seja entendido como ponto de excelência de
investimento, o que melhora a confiança dos investidores que começam a procurar
iniciativas nacionais para investir.
Acesse o link: Disponível aqui
O artigo da Abapa – Associação Baiana dos Produtores de Algodão, conta a
história da afinidade entre o algodão e a Bahia.
Vale a pena ler o artigo e entender como uma associação, criada em 2000,
teve uma representatividade importante para a cotonicultura no cerrado
baiano.
149
http://abapa.com.br/historia/
Para saber mais acesse: Disponível aqui
Commodity é uma palavra de origem inglesa que significa mercadoria, são
produtos que funcionam como matéria-prima, produzidos em grande
quantidade e que podem ser estocados sem a perda de qualidade.
O Brasil é um grande produtor de commodities. Segundo as informações do
ComexStat, os 10 principais produtos exportados em 2019, foram: soja,
petróleo, minério de ferro, celulose, milho, carne bovina, carne de frango,
produtos manufaturados, farelo de soja e café.
Caro aluno, chegamos ao final da nossa disciplina e nesta aula não poderia deixar de
mostrar a importância do Associativismo e Cooperativismo dentro do cenário
agropecuário brasileiro.
Espero ter contribuído para a sua formação.
Bons estudos!
150
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159
	Conceitos e Definições
	Associativismo Rural
	Fundamentos para 
	uma Parceria Eficiente
	Dificuldades do Associativismo
	Os Destaques das Ações Coletivas
	Modalidade de Associativismo
	Grupos Formais e Grupos Informais
	Cooperativismo Rural
	Principais Diferenças entre Cooperativismo e Associativismo
	Organização Cooperativista
	Planejamentos em Cooperativas
	Gestão Estratégica em Cooperativas
	Cooperativismo e Negócio Rural
	Perspectivas para Cooperativas Rurais Brasileiras
	Casos de Sucesso no Cooperativismo Brasileiro
	Associativismo e Cooperativismo no Cenário Brasileiro