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Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Oliveira Vaz Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; ZANIN, Marcos dos Reis. Doutrina Cooperativista. Marcos. dos Reis Zanin. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 105 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock AUTOR Prof. Me. Marcos dos Reis Zanin Licenciado em Geografia pela UEM - PR, pós graduado em Cooperativismo pela Unisinos - RS; MBA em Gestão de Cooperativas e Cooperativismo pela USP - SP. Mestre em Gestão de Cooperativas pela PUC - PR. Professor do ISAE PUC - PR no Programa de Capacitação de Conselheiros Cooperativos – PCC. Meu vínculo empregatício por mais de 20 anos no segmento cooperativo agropecuário e de crédito, desde o início dos anos 80, me trouxe muita experiência prática, fazendo com que possa expor em seus cursos/aulas e palestras uma mensagem de orientação e reflexão acerca dos desafios do Cooperativismo Contemporâneo; legislação cooperativista e seus benefícios para toda a comunidade. Endereço Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2338298031537259 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Prezado(a) aluno(a), Procurei desenvolver um material que vai além de informações relevantes sobre o cooperativismo e o que pude extrair de várias literaturas a respeito do tema. O cooperativismo, como poderá analisar ao final dos nossos encontros e estudos, por intermédio das cooperativas espalhadas em todos os continentes, é algo que merece todo o respeito pelo que ele propicia às pessoas e às comunidades onde está inserido. O texto o fará, além de ter melhores conhecimentos sobre o cooperativismo, refletir sobre a importância da força da união, do comprometimento com a vida, com o humanismo, empatia e respeito com a melhoria da qualidade de vida de todos nós. As pessoas que, infelizmente de uma forma ou outra, se aproveitaram destas organizações para benefícios próprios são insignificantes em número, se comparadas às que conduzem com responsabilidade e comprometimento com a comunidade associativa, empregados e a sociedade como um todo. Nosso trabalho está dividido em quatro unidades, em que procurei expor o que de mais relevante pude imaginar que pudesse, de alguma forma, contribuir com seus conhecimentos e consciência sobre o cooperativismo. Ficou dividido dessa maneira: ● Unidade I o Onde começou o cooperativismo; o Definição de Cooperativismo; o Identidade Cooperativa; o Princípios Universais do Cooperativismo; o Porque formar cooperativas. ● Unidade II o As características da empresa cooperativa; o Importância da Sucessão no processo cooperativo. ● Unidade III o Alicerces do Cooperativismo; o Ato Cooperativo; o Classificação das Cooperativas. ● Unidade IV o Criação da Lei Cooperativista Nacional; o Fatores que determinam o insucesso de uma cooperativa; o Fatores que determinam o sucesso de uma cooperativa. Há, obviamente, muito mais para ser mencionado, citado, exemplificado e estudado sobre o cooperativismo, sobre as cooperativas, seus desafios e projetos futuros, mas creio que esse é um bom começo para que possa lhe inspirar em futuros estudos desta, que, para mim, é, e sempre será, a melhor forma de organização econômica e social das pessoas. Temos que valorizar nossa individualidade, mas, acima de tudo, jamais sobrepô-la aos interesses coletivos. Essa é uma das atitudes que caracteriza o verdadeiro cooperativista. (Prof. Zanin) SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 7 Evolução Histórica do Cooperativismo UNIDADE II ................................................................................................... 38 Doutrina do Cooperativismo UNIDADE III .................................................................................................. 58 Ramos do Cooperativismo Nacional UNIDADE IV .................................................................................................. 77 Legislação do Cooperativismo Nacional 7 ● Onde começou o cooperativismo; ● Definição de Cooperativismo; ● Identidade Cooperativa; ● Princípios Universais do Cooperativismo; ● Porque formar cooperativas. UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo Prof. Me. Marcos dos Reis Zanin 8UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo INTRODUÇÃO O cooperativismo é um processo de organização social que as cooperativas se mobilizam e se consolidam em torno. Tem como finalidade difundir os ideais em que se baseia para que haja maior e melhor desenvolvimento econômico e social em todas as sociedades. É uma organização que congrega o maior número de participantes da terra. Estudar, conhecer, conscientizar-se e divulgar o cooperativismo, além de prazeroso, por verificarmos que ele consegue, como nenhuma outra organização, levar às pessoas uma melhor qualidade de vida, também consegue melhorar a região onde atua em todos os aspectos. No Brasil, principalmente no momento em que passamos, com a maior crise da história, o cooperativismo tem, com muita eficácia, continuado seu papel de inclusão social, melhor distribuição de renda, desenvolvimento econômico e social das pessoas com sustentabilidade. Vem gerando empregos e dando expectativas otimistas às pessoas de que poderemos, com a força da união, com responsabilidade e comprometimento, dar um futuro melhor, mais digno, humano, solidário e fraterno para nossos filhos, É muito prazeroso notar o quão importante é para a sociedade como um todo a instauração de uma cooperativa na comunidade. O exemplo está no IDH, nas melhores moradias, na movimentação econômica da localidade, na empregabilidade gerada e na felicidade das pessoas, entre outros valores. Não se nasce cooperativista da noite para o dia. É preciso um longo processo de educação, capacitação e conscientização e criar uma melhor consciência sobre os valores e vantagens do cooperativismo. O pensamento cooperativo moderno surgiu na Europa Ocidental, no início do século XIX, com o advento da Revolução Industrial, em dezembro de 1844. A partir da contribuição de inúmeros pensadores da época, foi se formando a doutrina que dá base ao cooperativismo em todo o mundo, até os nossos dias. A Revolução Industrial trouxe profundas modificações no pensamento econômico da época que, como consequência, provocou várias reformas sociais. A cultura cooperativista deve ser amplamente difundida em todos os ramos da sociedade, em todas as localidades pelo fato de ser a única organização social capaz 9UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo de atender de forma igualitária e equitativa as necessidades sociais e econômicas das pessoas. Diminuir a distância entre os mais ricos e os mais pobres, visto que diminuir as desigualdades sociais das pessoas é um dos papéis do cooperativismo. Mas esse valor é efetivamente realizado apenas se houver comprometimento de todas as partes envolvidas – dirigentes, colaboradores, quadro social e, porque não dizer, da comunidade em que o cooperativismo está envolvido. Espero que tenha uma boa leitura e, acima de tudo, quehaja entre nós, cada vez mais, uma melhor conscientização do Cooperativismo: “Uma Filosofia de vida para um mundo melhor, mais humano, fraterno, solidário, democrático, cooperativo e digno de se viver”. Por fim, que as nossas futuras gerações mantenham vivos os princípios universais do cooperativismo, que foram criados no século XVIII com o intuito maior de levar às pessoas uma melhor qualidade de vida. 10UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo 1 COOPERATIVISMO – ONDE TUDO COMEÇOU A gênese do movimento remonta cerca de 175 anos atrás, em Rochdale (Inglaterra), mais precisamente em uma comunidade denominada de Beco do Sapo, também conhecida como Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, do inglês, Rochdale Society of Equitable Pioneers. Depois de inúmeras reuniões, muitas delas (28 tecelões, sendo 27 homens e 1 mulher), frustradas, instituiu-se um novo sistema socioeconômico e um estatuto muito diferente das empresas mercantis. Com a economia mensal de cada membro, conseguiram um Capital de 28 libras que foi utilizado para adquirir bens de primeira necessidade, que serviram para abrir uma cooperativa do ramo de consumo (GOIÁS COOPERATIVO, 2018). Em plena revolução industrial, motivados por inúmeras necessidades sociais, os trabalhadores das tecelagens da Inglaterra se uniram sobre os pilares da cooperação, em prol do bem comum, para adquirir alimentos mais baratos, para suprir suas necessidades econômicas e de desenvolvimento social. Já na constituição da primeira cooperativa foram instituídos os princípios cooperativistas que rigorosamente deveriam ser observados e praticados pelos seus sócios. Diante das transformações socioeconômicas do mundo, esses princípios foram revistos e atualizados para atender as exigências e necessidades do mundo moderno. Dentre os sete Princípios Universais do Cooperativismo, cinco deles estão intimamente relacionados aqueles definidos pelos pioneiros de Rochdale. O cooperativismo é uma forma de organização muito mais antiga do que remontam os registros. Segundo Bialoskorski Neto (2006, p. 21), “há registros sobre a cooperação e a 11UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo associação solidária desde a Pré-História da civilização, em tribos indígenas ou em antigas civilizações como os Babilônicos”. Características como o peso e preço justos, relações sinceras e honestas, preocupação com os interesses do grupo e busca por melhores condições e qualidade de vida, foram fontes de satisfação para que os cooperados optassem por uma sociedade cooperativa que se opunha às empresas mercantis e indústrias que exploravam a mão de obra dos trabalhadores e seus consumidores ingleses. Um dos ideais do pequeno armazém dos Probos Pioneiros de Rochdale era que em nenhum momento o lucro poderia sobrepor o aspecto moral de bem-estar social e econômico de seus membros. Os cooperados se sentiam donos do empreendimento e tinham senso de pertencimento. A participação nas decisões era democrática, com participação efetiva dos cooperados nas discussões. Criou- se, então, um laço forte de confiança entre a cooperativa e o quadro social, fazendo com que mais pessoas aderissem à sociedade. Foram esses alguns dos diferenciais que fizeram com que a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale obtivesse êxito e apresentasse ao mundo o cooperativismo como sendo uma alternativa justa e humana de desenvolvimento econômico e social. 1.1 Um Pouco da História Contada pela UNIMED/RS Para melhor elucidar o surgimento do cooperativismo moderno, está transcrito a seguir um resumo extraído da publicação realizada pela UNIMED/RS – Federação do Estado do Rio Grande do Sul e WS Editor, em Porto Alegre, em setembro de 2000, fazendo parte da série Saber – Fazer Unimed RS. Após inúmeras reuniões e análises das mais variadas alternativas para a subsistência, finalmente os tecelões conseguiram juntar a soma das 28 libras necessárias para abertura do seu armazém cooperativo. Numa triste tarde de inverno, a mais longa do ano, a 21 de dezembro de 1844, os probos pioneiros inauguraram as suas operações, oferecendo, inicialmente, quantidades pequenas de manteiga, açúcar, farinha de trigo e de aveia (mais tarde o fumo e o chá foram oferecidos). Corria a notícia entre os comerciantes de que alguém ia fazer-lhes concorrência. Olhares se dirigiam para “Toad Lane” (Travessa do Sapo – endereço da nova loja), à procura do inimigo, mas, como em alguns combates de que se tem ciência, os inimigos não apareciam. Alguns cooperados se reuniram clandestinamente para assistir à inauguração dos negócios e se encontravam no recinto triste e incômodo do armazém, 12UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo como conspiradores, perguntando-se a si mesmos quem teria coragem de abrir as portas e iniciar a distribuição das mercadorias. Um preferia não ser encarregado; outro não desejava ser visto no armazém para não sofrer represálias dos comerciantes. Enfim, a situação era dramática. Por fim, um deles, mais audaz do que os outros, sem se preocupar com a opinião pública, abriu a porta do armazém e, em poucos segundos, colocou em reboliço “Toad Lane” inteira. As dificuldades eram inúmeras, das mais diversas, porém sem nunca esmorecer. A população caçoando, comerciantes impondo resistências, mas os embrionários comerciantes compreenderam rapidamente que teriam que lutar contra obstáculos mais sérios do que as caçoadas da população. O exíguo capital social os obrigava a fazer aquisições em pequenas escalas, com prejuízos de preço e da qualidade dos produtos. Alguns sócios estavam endividados com os seus antigos fornecedores e não podiam, nem se atreviam a comprar no armazém social. Por outro lado, como acontece quando se iniciam novas instituições, vários sócios não tinham nem a prudência nem a virtude de compreender o seu interesse; não se apercebiam de que para serem bons cooperados era fundamental que se submetessem a fazer algum sacrifício, pelo menos por algum tempo. Esse é o preço do pioneirismo. Naturalmente, a qualidade dos produtos oferecidos no armazém cooperativo era inferior aos vendidos por outros armazéns e o preço era frequentemente mais alto. Esses inconvenientes, momentâneos e insignificantes em relação aos fins que se pretendiam atingir, afastavam os compradores que unicamente se preocupavam com a utilidade direta e imediata. Não raro, a pobreza é o maior obstáculo oposto ao êxito das empresas, obstáculo maior que os próprios preconceitos sociais. Para aquele que não tem recursos, é fundamental que cada centavo se reverta utilmente, produzindo o máximo possível. Tornava-se difícil convencer aqueles indigentes de que, comprando no armazém cooperativo, teriam um retorno financeiro ao final do trimestre. Eles nem sequer acreditavam no final do trimestre e desconfiavam das promessas de benefícios, pois a perda de um centavo hoje está próxima, e o ganho de seis centavos daqui a três meses está distante. O que, na verdade, os tecelões estavam procurando era a alternativa de conquistar a preferência e a fidelidade dos seus sócios. Charles Howarth, um dos líderes do movimento, pensou que, para reverter a situação seria necessário, que houvesse um processo de educação antes da prestação de serviços da cooperativa. A boa qualidade, o peso justo, a medida exata e as relações sinceras e honestas, no comércio, são fontes de satisfação, porém pessoas criteriosas preferirão sempre a economia de alguns centavos em detrimento 13UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo das vantagens mencionadas. Para que existam vendedores honrados, é fundamental que existam, em primeiro lugar, compradores honrados. As discussões eram muito frequentes e giravam em torno do bem estar dos homens, da redenção social e das condições que eram impostas aos trabalhadores. Após inúmeras experiências bem sucedidas, em 1849 a sociedade dos pioneiros resolveuorganizar a seção de educação. Foi designada uma junta diretora, encarregada de recolher doações de livros que os sócios quisessem fazer à sociedade. Pouco tempo depois, a fim de satisfazer os pedidos dos sócios, a sociedade aprovou a dotação de cinco libras esterlinas para fomento da biblioteca. Esta seria aberta para todos uma vez por semana, aos sábados, das 19 às 21 horas. Para ter acesso à biblioteca pagava-se uma mensalidade. Como o número de livros disponíveis tornou-se insuficiente para atender a demanda, a assembléia votou uma segunda verba de cinco libras, que se repetiu três meses depois. Mas as necessidades eram cada vez maiores e a junta acabou por conceber o projeto de requerer um subsídio de quarenta libras esterlinas. A biblioteca, assim mesmo, continuou merecendo a maior atenção de parte dos sócios, pois era o que os diferenciava dos demais trabalhadores, a informação e o conhecimento. Em 1853, ao serem revistos os estatutos, o senhor John Brierley, um dos sócios mais antigos, propôs que se destinassem à educação 2% das sobras apuradas trimestralmente que, mais tarde, tornou-se 2,5%. É importante ressaltarmos que foi essa decisão de destinar 2,5% das sobras líquidas à educação geral que elevou tanto a consideração pública sobre a Sociedade Cooperativa de Rochdale. Foi essa “regra de ouro” que lhe deu tanto valor, que lhe conquistou a simpatia de tantos amigos e lhe angariou fama universal. Foi esta regra que, tendo contribuído para o progresso intelectual e moral dos cooperados, preservou a sociedade do perigo de ver os seus estatutos reformados por pessoas ignorantes ou mal informadas. Segundo o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP) do estado de Goiás, os impactos causados pelas cooperativas em diversos países são de extrema relevância: Na Alemanha, cerca de 18 milhões de pessoas são associadas às coopera- tivas de crédito, o que equivale a 21% da população; No Brasil, as cooperativas são responsáveis por 40% do PIB agrícola e 6% do total das exportações agrícolas; No Canadá, de cada três habitantes, um é membro de uma cooperativa de crédito; Na Espanha, as cooperativas de Mondragon fazem parte, em escala nacio- nal, dos maiores fabricantes de refrigeradores e de equipamentos eletrodo- mésticos; 14UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo Nos Estados Unidos, as cooperativas controlam cerca de 80% da produção de laticínios. Além disso, foram as cooperativas que levaram a energia elétri- ca ao meio rural; Na França, as cooperativas dos ramos agropecuário e de crédito se desta- cam na economia; Na Índia, cerca de 12,3 milhões de pessoas são membros de cooperativas de laticínios e responsáveis por aproximadamente 22% do leite produzido no País (GOIÁS COOPERATIVO, 2018) Sabemos, obviamente, que a legislação em cada país é diferenciada para a constituição de uma cooperativa. As regras internas mudam de país para país, mas os princípios e valores do cooperativismo são universais. Talvez esteja aí o segredo desta importante representatividade do cooperativismo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. 15UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo 2 DEFINIÇÃO DE COOPERATIVISMO Mais do que conhecer o significado de sociedade cooperativa é ter consciência do significado desta instituição. Compreender seus valores, entender seus limites e sua responsabilidade, não apenas perante o quadro social e de empregados, é imprescindível para a sua existência de forma sustentável. Segundo Pinho (1996), pode-se dizer que a cooperação é uma forma de integração social e pode ser entendida como ação conjugada em que pessoas se unem, de modo formal ou informal, para alcançar o mesmo objetivo. Cooperação é uma palavra que vem do latim, cooperari, com o significado de operar juntamente e associada à prestação de trabalho conjunto, mútuo e com objetivos comuns. Apesar da pluralidade de definições de cooperativismo, nota-se uma convergência em relação às características como ajuda mútua, ao respeito à individualidade e ao benefício de todos pelo esforço conjunto. Schneider (1999) define cooperativismo como sendo uma filosofia de vida, doutrina, sistema, movimento; ou simplesmente uma atividade que, por meio das cooperativas, atua como instrumento organizador da humanidade, tendo como premissa a economia solidária e a participação democrática, considerando os direitos e deveres iguais para todos, sem que haja qualquer tipo de discriminação de qualquer natureza para todos os cooperados. O cooperativismo está fundamentado na união ou reunião de pessoas e não de capital. Por meio das cooperativas, utilizadas como instrumento dessa viabilidade, o 16UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo interesse individual não pode se sobrepor ao coletivo; objetivando estas instituições, única e exclusivamente, a prestação de serviços de interesse desse grupo sem que haja a obtenção do lucro. É a única forma de organização mundial capaz de atender as necessidades econômicas e sociais de seus integrantes, com respeito ao valor equitativo que promove com sucesso o equilíbrio e justiça entre os participantes. De acordo com Marschall (2009, p. 289), O fenômeno do cooperativismo vem se destacando como uma das formas mais usuais de associativismo. Desde a sua aplicação considerada mais impactante, especialmente para as relações sociais entre patrões e empre- gados, em Rochdale, o cooperativismo tem arrebanhado adeptos e críticos, seguindo, em geral, duas análises distintas. A primeira, de caráter ideológico, prega os ideais da união e da solidariedade, no estilo “a união faz a força”. A segunda assume postura mais crítica, comparando as cooperativas a qual- quer empresa capitalista que objetiva, em primeira instância, o lucro. De acordo com dados obtidos do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2018, publicado pela OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras no início do ano de 2019, existem mais de 1,2 bilhão de sócios no planeta em 150 países. São mais de 3 milhões de cooperativas que, juntas, empregam 280 milhões de pessoas. Trata-se da maior organização socioeconômica do planeta, pois, se formos considerar o número de associados, empregados e seus familiares, mais da metade do planeta vive em função do cooperativismo. Em Ferreira (1999) vamos encontrar os significados para as palavras que representam o cooperativismo de uma forma geral: ● Cooperar: agir ou trabalhar junto com outros, para um fim comum; colaborar; agir conjuntamente para produzir um efeito; contribuir. ● Cooperação: ato de cooperar; colaboração; prestação de auxílio para um fim comum; solidariedade. ● Cooperado: pessoa que faz parte de uma cooperativa; cooperador. Pode apresentar as variáveis de associado, sócio ou membro da sociedade. ● Cooperador: que ou aquele que coopera; colaborador. ● Cooperativa: associação de pessoas que exerce quaisquer atividades econômicas ou sociais em benefício comum. ● Cooperativismo: sistema econômico e social em que a cooperação é a base sobre a qual se constroem todas as atividades econômicas. ● Cooperativista: relativo às sociedades cooperativas ou ao cooperativismo; pessoa adepta do cooperativismo. ● Cooperativo: que coopera; Em que há cooperação. 17UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo As diferenças entre as pessoas, suas singularidades, seus interesses pessoais, objetivos, crenças etc. não podem sobrepor os interesses da coletividade sob pena de a instituição cooperativa não conseguir enfrentar os obstáculos para sua sobrevivência. Para Schneider (2005), o cooperativismo é uma filosofia de vida e é a única organização capaz, através das cooperativas, de atender as pessoas associadas em suas necessidades sociais e econômicas. 2.1 Identidade e Participação Cooperativista A vez e a voz do cooperado, promovidas pelo direito de Gestão Democrática, propiciada pelo segundo Princípio Universal do Cooperativismo,pelo Art. 38 da Lei 5.764/71 e pelos respectivos estatutos sociais das cooperativas, dão legitimidade ao produtor rural como proprietário e responsável pela instituição. Reitera que a sua permanência como sócio da cooperativa é essencial para a continuidade da instituição. Nesse contexto, observa-se a importância de o associado conhecer a legislação e a regulamentação estatutária. A partir do conhecimento de seus direitos e deveres, por exemplo, o associado se sente integrante no meio societário, sabendo que suas características individuais contribuirão para o todo. O oposto, ou seja, sem essa identificação com o meio societário, o faz, naturalmente, procurar outras formas que possam atender suas necessidades, sem que seja de forma coletiva ou por meio de uma cooperativa. O número de associados presentes em uma assembleia, as reuniões de núcleos da OQS, os eventos técnicos e institucionais e demais eventos, por meio da pesquisa documental, demonstram a importância da participação do associado e seus familiares nestes eventos, para a melhoria de suas capacidades técnicas produtivas, de grande relevância como contribuinte da identidade do produtor quanto a sua importância como produtor rural. É necessário considerar que a aptidão de produtor rural por determinada atividade e suas condições socioeconômicas podem significar seu sentimento de pertencer (ou não) e se fazer presente em uma sociedade. A satisfação de realizar aquilo que é prazeroso faz com que as adversidades – naturais em qualquer profissão ou atividade – sejam melhor solucionadas e superadas. Isso, aliado à diversidade com que cada um lida ou encara a profissão, contribui para a construção da identidade. Além do caminho da identificação, a identidade pode surgir pelo contraste com o diferente, ou pela oposição ao adversário, o que implica uma relação. Ver a identidade de forma relacional significa reconhecer a importância do 18UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo outro na composição de si mesmo, pois é só através desse outro, do diferen- te, que a identidade pode ser percebida como singular (BAUER; MESQUITA, 2007, p. 20). A socialização primária ocorre pela emoção de se sentir pertencente a um grupo familiar. Com o passar do tempo, esses laços familiares, culturais, religiosos, sociais, entre outros, contribuem para criação da própria identidade. A colonização da região do oeste paranaense foi realizada por alemães católicos e seus descendentes – laços afetivos e religiosos que estão diretamente ligados à formação da identidade. Marschall (2009, p. 292) destaca o papel exercido pela doutrina religiosa no surgimento de cooperativas: [...] A doutrina religiosa, empregada desde o início da fundação das colônias, assumiu papel significativo no surgimento da cooperativa em questão. A fa- mília é tida como o espaço social pelo qual o pequeno proprietário mantém a sua identidade como agricultor, seu estilo de vida, seu modo de produção voltado a policultura, e é também nela que alimenta e fortalece seu projeto de vida de sobrevivência e de bem-estar. A vida em coletividade demonstra às pessoas as diversas formas de encarar determinadas realidades ou com que situação ou ação são resolvidos alguns problemas ou como se realizam sonhos individuais ou coletivos. São as diferenças individuais que evidenciam a cada um os seus limites, necessidades de aperfeiçoamento ou de que forma suas características podem (ou não) contribuir com o coletivo. Caso contrário, o coletivismo, associativismo ou cooperativismo deixaria de existir, pois sem essas premissas, ou seja, essas diferenças e respeitando as características e identidade de cada indivíduo, não haveria convívio coletivo capaz de fazer com que essas diferenças fossem instrumento de crescimento individual. De fato, segundo Bauer e Mesquita (2007, p. 20): Dividir, ou classificar, também significa, no mais das vezes, hierarquizar, e a hierarquia é determinada por aqueles que têm o poder de instituir deter- minada representação. É por meio da representação que a identidade e a diferença passam a existir. Seria muito mais agravante a situação da desconstrução de identidade do produtor, caso não houvesse a participação da Cooperativa LAR no oeste paranaense. Isso porque essa oferece condições e oportunidades para o produtor rural se desenvolver socialmente e economicamente em uma pequena área de exploração agropecuária, que obrigatoriamente se faz necessária por intermédio da diversificação de atividades. Ainda assim, há uma evasão preocupante na região da área de ação da cooperativa. Por desinteresse, falta de incentivo dos pais, má gestão da propriedade, que resulta na improdutividade e alto custo de produção, falta de adaptabilidade às novas exigências mercadológicas e operacionais entre outros motivos, muitos jovens têm deixado a atividade 19UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo rural para migrar para os grandes centros em buscas de empregos ou para desenvolverem outras profissões não ligadas à atividade rural exercida por seus pais. Cabe à cooperativa, em conjunto com as famílias, o papel de desenvolver planejamentos e ações a fim de que esse problema seja amenizado e para que a evasão não prejudique a continuidade da produção familiar e muito menos a da própria cooperativa. Cabe mencionar que as cooperativas agropecuárias têm um papel impor- tante no desenvolvimento rural, pois são instituições que podem participar e influir diretamente no cotidiano das atividades produtivas de seus integrantes, com vistas a gerar ganhos econômicos e melhorias na qualidade de vida (BOESSIO; DOULA, 2017, p. 439). Há uma grande preocupação do sistema cooperativista nacional quanto ao processo sucessório de seus associados, principalmente no que diz respeito a produção rural. A cada geração diminui-se a quantidade de sucessores que assumem a propriedade dos antecessores, sendo que os balanços sociais e econômicos das cooperativas apontam fortemente essa tendência. Isto está ligado, inclusive, à perda da identidade, segundo os produtores entrevistados. Mais que ter identidade no processo produtivo rural há a necessidade de valorização socioeconômica para devida continuidade – papel indispensável da cooperativa. Também é possível fazer uma reflexão a partir do estudo de Pellin (2017), que estabelece uma ligação entre o indivíduo e as organizações por laços afetivos, imaginários e psicológicos, que ultrapassam a importância da relação com o próprio trabalho em si. Os propósitos que a organização estabelece podem ser ressignificados pelas pessoas que vão executá-los, em função das relações interpessoais e da interação das pessoas com a organização. Trata-se de uma associação que permite aos pertencentes se reconhecerem como seres sociais através dos relacionamentos e da interação com os outros. 2.2 O Cooperativismo no Brasil O ideal cooperativismo puro já tinha mais de meio século de aplicação prática quando chegou ao Brasil. Três tentativas de adotá-lo não foram bem sucedidas. Quem efetivamente o trouxe e lhe deu formas reais foi o padre suíço Theodor Amstadt, que lançou numa reunião, à Sociedade de Agricultores Rio-Grandense da Linha Imperial, a ideia de organização de uma caixa de linhas de crédito rural nos moldes das caixas de Raiffeisen, idealizadas por Friedrich Raiffensen, prefeito de uma pequena localidade na Alemanha (PINHO, 1982). 20UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo De sua iniciativa e de seu trabalho pastoral nasceu a primeira e verdadeira instituição de cunho cooperativista no Brasil, com o nome de Cooperativa de Crédito Rural Nova Petrópolis Ltda. COOPERURAL, em Nova Petrópolis (RS), com data de fundação em 28 de fevereiro de 1902, o que fez do Rio Grande do Sul o berço do cooperativismo brasileiro. O Quadro 1 ilustra os principais números do cooperativismo nacional, divulgado em 2019 pela Organizaçãodas Cooperativas do Brasil (OCB). Quadro 1 – Demonstração do número de cooperativas, cooperados e empregados no Brasil Ramo do Cooperativismo Nacional Número de Cooperativas Número de Cooperados Número de Empregados AGROPECUÁRIO 1.613 1.021.019 209.778 CONSUMO 205 1.991.152 14.272 CRÉDITO 909 9.840.977 67.267 EDUCACIONAL 265 60.760 3.412 ESPECIAL 10 377 8 HABITACIONAL 282 103.745 742 INFRAESTRUTURA 135 1.031.260 5.824 MINERAL 95 59.270 177 PRODUÇÃO 230 5.564 1.132 SAÚDE 786 206.185 107.794 TRABALHO 925 198.466 5.105 TRANSPORTE 1.351 98.190 9.792 TURISMO E LAZER 22 1.867 15 TOTAL GERAL 6.828 14.618.832 425.318 Fonte: OCB (2019). Segundo dados levantados junto a OCB no Anuário do Cooperativismo Brasileiro, nos últimos quatro anos o Brasil conseguiu gerar por volta de 5% de novos empregos. Enfatiza-se a importância do papel das cooperativas brasileiras como contribuintes para o desenvolvimento nacional, que sozinhas geraram no mesmo período mais de 18% de novos postos de trabalho, totalizando mais de 425 mil empregos. Um dado interessante da pesquisa realizada pela OCB é no tocante a empregabilidade feminina, que representa 48% deste total. O Quadro 1 retrata essa relevância, dadas essas importantes informações quanto ao número de pessoas que as cooperativas atendem diretamente. 21UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo Juntas, as cooperativas brasileiras, distribuíram, aos seus associados como resultados (sobras) positivos nas assembleias, mais de 7.5 bilhões de reais; e conta com o expressivo número de R$40.2 bilhões em capital social (somatório de todas as contas capitais dos associados). Os resultados são a base para o Sistema OCB traçar estratégias eficazes para tornar o cooperativismo ainda mais forte e desenvolvido, sendo reco- nhecido, consequentemente, pela sociedade por sua competividade, integri- dade e capacidade de gerar felicidade para as pessoas (OCB, 2019, p. 25). Se formos comparar com outros países, tais como o Canadá, Alemanha, Nova Zelândia, entre outros, mais de 30% da população faz parte de alguma cooperativa, seja como associado ou trabalhador. No Brasil este número fica por volta dos 7%. Muito ainda há de se fazer para que, além do aumento deste índice, mais pessoas possam usufruir dos produtos e serviços das cooperativas. 22UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo 3 IDENTIDADE COOPERATIVA Desde a criação da primeira cooperativa, a identidade cooperativa vem amadurecendo. Um grande marco nesse contexto ocorreu em 1995, no 31º Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), em Manchester (Inglaterra). Em vista dos desníveis sociais, empregabilidade e perspectiva de vida da população mundial, definiu-se a identidade cooperativa que vigora na atualidade, juntamente com os novos princípios e valores do cooperativismo. Está contextualizada e formalizada em todo o mundo, composta por três elementos: Princípios, Valores e Fundamentos. Esses três elementos, além de comporem a identidade cooperativa, instrumentalizam seus estatutos sociais. Devem constantemente ser observados em todas as ações da instituição cooperativa sob pena de dissolução da sociedade, havendo, em muitos casos, prejuízos para os seus membros associados. Como enunciado, a identidade cooperativa tal que vigora na atualidade foi resultado de exaustivas discussões acerca do tema na ACI, sem que haja conhecimento de publicações específicas do tema. O Congresso realizado pela ACI sugere que a identidade cooperativa está fundamentada na identidade organizacional e senso grupal, que é a característica principal do cooperativismo. De acordo com a Lei 5.764/71 (BRASIL, 1971), cooperativa é uma associação de, no mínimo, 20 pessoas com interesses comuns, economicamente organizada de forma democrática, isto é, contando com a participação livre de todos e respeitando os direitos e 23UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo deveres de cada um de seus cooperados, aos quais presta serviços, sem fins lucrativos. Entretanto, a partir de 2003, por força do Novo Código Civil Brasileiro (Lei 10.406/2002), o número mínimo para constituição é aquele que seja suficiente para a boa administração e fiscalização da instituição (BRASIL, 2002). Contudo são necessárias 20 pessoas físicas, no mínimo, para que haja o registro nas Organizações das Cooperativas Estaduais. 3.1 Valores do Cooperativismo Cooperativa é uma organização de pessoas que se baseia em valores de ajuda mútua e responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade. Seus objetivos econômicos e sociais são comuns e necessários a todos. Os aspectos legais e doutrinários são distintivos de outras sociedades. Seus associados acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com seu semelhante. Os conceitos que dão identidade e sustentação ao cooperativismo: ● Cooperar: unir-se a outras pessoas para conjuntamente enfrentar situações adversas, no sentido de transformá-las em oportunidade e bem-estar econômico e social. ● Cooperação: método de ação pelo qual indivíduos ou familiares com interesses comuns constituem um empreendimento. Os direitos são todos iguais e o resultado alcançado é repartido somente entre os integrantes, na proporção da participação de cada um. ● Sócios: indivíduo, profissional, produtor de qualquer categoria ou atividade econômica que se associa a uma cooperativa para exercer atividade econômica ou adquirir bens de consumo e/ou duráveis. O cooperativismo surgiu entre trabalhadores ingleses que buscaram na cooperação solidária a solução para os problemas econômicos causados pela concentração do capital, resultando em dificuldades de sobrevivência. Apoiados em teorias de pensadores, idealizadores e filósofos estabeleceram/criaram os princípios norteadores, baseados nos valores de: ● Autoajuda: é baseada na crença de que todas as pessoas podem e devem esforçar-se para controlar seu próprio destino. Cooperativas acreditam, porém, que um completo desenvolvimento individual se dá a partir da associação com outros indivíduos. Através da ação conjunta e responsabilidade mútua, podemos 24UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo alcançar mais, aumentando nosso poder de influência coletiva no mercado e frente aos governos. ● Autorresponsabilidade: significa que os sócios assumem a responsabilidade por sua cooperativa. Os sócios têm a responsabilidade de promover a sua cooperativa na comunidade. Além de assegurar a independência de sua cooperativa de outras organizações públicas ou privadas. ● Igualdade: a unidade básica da cooperativa é o sócio, o ser humano. Essa é uma das características que distinguem a cooperativa de outras organizações de capital. Os sócios têm direitos de participação, de informação, de comunicação e de estarem envolvidos na tomada de decisões. A cooperativa deve assegurar a igualdade entre os seus associados. É um desafio difícil, porém deve ser contínuo para todas as cooperativas. ● Equidade: ela se refere à maneira como os sócios são tratados, como são recompensados por sua participação econômica junto à cooperativa, através de dividendos, alocação de reservas de capital ou redução de taxas e tarifas. Aborda as relações operacionais mantidas entre os sócios e sua cooperativa. Alcançar a equidade em uma cooperativa é um desafio contínuo. ● Solidariedade: esse valor tem uma longa e consagrada história no movimento cooperativista mundial. Ele assegura que uma cooperativa é mais do que uma associação de pessoas, também é uma coletividade, trazendo benefícios para toda uma comunidade. É um ambiente onde se preservam as individualidades das pessoas, mas se combatem os individualismos. Busca atender as necessidades individuais dos seus membros, desde que esses sejam coincidentes ou que não se oponham aos interesses gerais da comunidade de associados. Por fim,é necessário enfatizar que a solidariedade é a causa e a consequência da autoajuda e da ajuda mútua. ● Honestidade, Transparência e Responsabilidade social: muitas das primeiras cooperativas do século XIX, mais obviamente os pioneiros de Rochdale, tinham um compromisso especial com a honestidade. Na verdade, seus esforços eram distintos no mercado parcialmente, porque elas insistiam em medidas honestas, alta qualidade e preços justos. 25UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo 4 PRINCÍPIOS UNIVERSAIS DO COOPERATIVISMO Os princípios cooperativos são as linhas que orientam as cooperativas para que estas possam aplicar seus valores para o bem de uma sociedade cooperativa. Sob os pilares da cooperação que tem como destaque a união do social (união de pessoas – autogestão) e do que trata o econômico (empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida em que todos têm participação equitativa nos resultados), é o que assegura a longevidade de uma instituição cooperativa. Desde a constituição da primeira cooperativa, como já enunciado, os princípios universais sofreram alterações e, para atender as exigências da sociedade moderna, no ano de 1995, em Manchester, na Inglaterra, por ocasião do Congresso Internacional de Cooperativas, foram instituídos os novos princípios universais do cooperativismo, listados no Quadro 2: 26UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo Quadro 2 – Princípios universais 1º Princípio Adesão voluntária e livre As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pes- soas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como cooperados, sem discriminações sociais, raciais, políticas, reli- giosas ou de gênero. 2º Princípio Gestão democrática pelos sócios As cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus cooperados, que participam ativamente na formulação das suas políti- cas e na tomada de decisões. Os conselheiros e diretores – eleitos nas assembleias gerais como representantes dos demais cooperados – são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os cooperados têm igual direito de voto (cada cooperado, um voto); nas cooperativas de grau superior pode ser instituída a proporcionalidade de votos, desde que se mantenha a forma democrática da organização. 3º Princípio Participação econômica dos cooperados Os cooperados contribuem equitativamente e controlam democratica- mente o capital de suas cooperativas. Os cooperados destinam os excedentes a finalidades como o desenvolvimento da cooperativa, eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível; benefício aos cooperados na proporção das suas transações com a cooperativa; apoio a outras atividades desde que aprovadas pela assembleia geral dos cooperados. 4º Princípio Autonomia e independência As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, con- troladas pelos cooperados. Em caso de firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle de- mocrático pelos cooperados e mantenham a autonomia da sociedade. A Constituição Brasileira promulgada em 1988, em seu Art. 5º, Inc. XVIII reforça esse princípio básico do cooperativismo ao disciplinar: “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas inde- pendem de autorização, vedada a interferência estatal em seu funcio- namento”. 5º Princípio Educação, formação e informação As cooperativas promovem a educação e a formação de seus coope- rados, dos representantes eleitos, dos gerentes e de seus funcioná- rios, de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desen- volvimento da cooperativa. Divulgam os princípios de cooperativismo e informam a natureza e os benefícios da cooperação para o público em geral, particularmente para os jovens e os líderes de opinião. 6º Princípio Intercooperação Para as cooperativas prestarem melhores serviços a seus cooperados e agregarem força ao movimento cooperativo, devem trabalhar em conjunto com as estruturas locais, regionais, nacionais e internacio- nais. 7º Princípio Interesse pela comunidade As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos cooperados. Este sétimo princípio foi especialmente instituído pelo Congresso da Aliança Cooperativa Internacional em setembro de 1995. Fonte: OCEPAR (2018). 27UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo Estes princípios enunciados no Quadro 2 é que contribuem e norteiam a constituição de uma cooperativa, seja ela o ramo destinado, bem como os seus respectivos estatutos sociais. Independentemente do número de pessoas necessários para a constituição de uma cooperativa seguindo a Legislação de cada país, esses princípios é que contribuem para que o cooperativismo, efetivamente, possa desenvolver seu papel de levar às pessoas maior qualidade de vida. Os valores das cooperativas são baseados na ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade, solidariedade e na tradição dos fundadores da primeira cooperativa: os valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preservação do ambiente para o desenvolvimento de forma sustentável. Foi isso que alicerçou os Princípios Universais do Cooperativismo, que desde a primeira cooperativa, em Rochdale, se fazem praticamente inalterados até os tempos atuais. 4.1 A Importância dos Princípios Cooperativistas e seus Principais Desafios Os Princípios Universais do Cooperativismo embasam os estatutos sociais das cooperativas para que, assim, elas não sejam desvirtuadas ou possam ser criadas normatizações que vão de encontro aos seus objetivos principais. Cada um desses princípios tem seu valor, seu objetivo e sua participação no poder de mantenedor dos ideais cooperativistas e já merecem atenção quanto suas aplicabilidades no dia a dia da cooperativa, que adiante relatamos. 4.1.1 Primeiro princípio: adesão livre e voluntária Quase que a totalidade das cooperativas, considerando inclusive todos os ramos do cooperativismo, não tem nenhum Planejamento Estratégico quanto à Educação Cooperativista para proponentes ou recém cooperados admitidos. Há, na maioria das vezes, a necessidade da cooperativa de incrementar o número de associados e, com isso, aumentar o faturamento. Nas décadas de 70 e 80, principalmente os produtores rurais eram admitidos “na fila da descarga de grãos”. Não se percebia, e até os tempos atuais isso ocorre, que o “aumento no faturamento” está na elaboração de um planejamento estratégico que possa incrementar a movimentação econômica dos cooperados existentes e não que seja necessário a admissão de novos. A inconsciência cooperativista não é culpa apenas dos cooperados que não buscam informações sobre sua cooperativa, seus direitos e deveres, responsabilidades 28UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo etc. É também da cooperativa que, erroneamente, tem uma visão meramente econômica no seu planejamento estratégico. A não observância de maneira sistêmica dos valores cooperativistas e da cooperativa faz com que os projetos elaborados, que precisam de apoio do quadro associativo, caiam em descrédito pelo distanciamento e falta de transparência. A Legislação protege a todos aqueles que querem ingressar em uma cooperativa. Não tendo qualquer impedimento legal, aceitando e compreendendo suas obrigações, podem ingressar livremente em uma cooperativa. Na prática, porém, o ingresso normalmente acontece sem que os novos cooperados tenham conhecimento do estatuto social ou Legislação. A inobservância legislativa e estatutária por parte do cooperado e a não preocupação da cooperativa em motivar essa situação é um dos graves problemas enfrentados pelas cooperativas quando há a necessidade, por exemplo, da participação efetiva do sócio nos planejamentos,projetos ou movimentação econômica. Ao longo do tempo e da sua participação no dia a dia da cooperativa, o sócio percebe que por trás daquela “empresa” há uma cooperativa, que vai além das suas necessidades econômicas. O Planejamento por parte da cooperativa capaz de equilibrar sua prestação de serviço ao sócio de forma equilibrada nas questões sociais e econômicas e que fará com que tenha um crescimento sustentável e constante. 4.1.2 Segundo princípio: controle democrático pelos sócios Há sempre uma discussão da efetiva/real participação democrática do sócio no poder decisório de uma cooperativa por ocasião da Assembleia Geral, de um Planejamento Estratégico ou, ainda, como contribuinte em um Projeto Cooperativo. Mas vejamos o seguinte: a Lei Cooperativista determina que poderá haver somente uma Assembleia, convocada com antecedência de 10 dias, com edital devidamente publicado em veículos de circulação regional e afixado em local de fácil acesso e circulação do sócio. Todos os assuntos a serem apreciados e discutidos por eles deverão constar no edital e somente estes itens poderão ser votados. Analisemos o seguinte aspecto: caso haja necessidade de esclarecimentos, o sócio poderá ter acesso a qualquer informação que achar conveniente, principalmente a respeito dos itens que serão votados na assembleia (há, no mínimo, dez dias para isso); a Votação de um Planejamento Estratégico, por exemplo, pode e deve ter a participação do sócio antes da votação, haja vista que os assuntos são, na totalidade, de seu interesse; a preparação pelo “sim” ou pelo “não” no dia da assembleia está ao seu alcance e isso assegurado por Lei. 29UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo 4.1.3 Terceiro princípio: participação econômica dos membros Uma cooperativa é uma sociedade de pessoas e não de capital, sendo seu objetivo a prestação de serviços aos sócios sem o objetivo de lucro. Havendo uma prestação de serviço em que se obtenha um resultado no balanço, esse deverá ter a participação do sócio na proporcionalidade de sua operação. Por um lado, os fundos obrigatórios estipulados em estatuto cobrirão eventuais perdas da cooperativa; caso não sejam suficientes, cada sócio deverá ter participação de acordo com sua movimentação econômica no exercício. Por outro lado, sempre que o balanço apresentar sobras de exercício, depois de destinados os percentuais estatutários aos fundos legais, o restante é distribuído na proporcionalidade de operações de cada sócio. Mais uma vez fica claro neste item, a importância da participação efetiva do sócio no que está sendo planejado segundo o interesse e responsabilidade do quadro social. Mais uma vez fica evidente o esclarecimento e a importância da transparência da cooperativa para com o sócio. Em uma eventual perda e necessidade de capitalização da cooperativa com dinheiro provindo do sócio, este por sua vez, só o fará se tiver conhecimento de suas obrigações e consciência da importância da participação efetiva. De forma praticamente genérica há pouca informação por parte das cooperativas ao sócio quando o assunto é perda e não sobras. 4.1.4 Quarto princípio: autonomia e independência Até o ano de 1988 todas as cooperativas eram fiscalizadas e podiam, inclusive, ter a intervenção do INCRA. Após a promulgação da nova Constituição Federal neste ano, o controle e responsabilidade passou a ser dos seus sócios. Além dos membros dos Conselhos de Administração, Fiscal e o caso de algumas cooperativas integrantes dos Comitês Educativos, dentro do processo de Organização do Quadro Social não se tem ajuda por parte dos demais sócios ao controle, administração, fiscalização ou observância da cooperativa. Não é direito do sócio, mas sim obrigação participar das assembleias, denúncias falhas, julgar dirigentes, enfim, dar sua contribuição para o efetivo cumprimento deste princípio de autonomia e independência cooperativa. Na prática, o que presenciamos é a delegação por parte dos sócios aos conselheiros de tudo o que está fora do seu interesse econômico. Vejo, neste âmbito, preocupação com o crescimento sustentável da cooperativa frente ao mercado, cada vez mais exigente e disputado, principalmente no agronegócio. Ter “autonomia e independência” requerer uma 30UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo efetiva participação de todos. Não há projetos, planejamentos estratégicos, autorizações, nomeações de conselhos, destinos de resultados etc., sem que se tenha segurança e confiabilidade por parte de todos os membros da sociedade cooperativa. 4.1.5 Quinto princípio: educação, formação e informação Não há dúvidas de que a eficácia dos demais princípios universais dependam da educação, da formação, transparência e informação. Não há como se ter um processo evolutivo consistente tanto do quadro social como o da cooperativa sem a devida preocupação com este princípio. Projetos Educacionais Cooperativista; Formação de Lideranças; Palestras Técnicas; Pré-assembleias; Reuniões de Núcleos Cooperativos entre outros são algumas ações que as cooperativas têm desenvolvido no estado para procurar levar maiores e melhores conhecimentos aos sócios e seus familiares. A quantidade e qualidade de participação, porém, é o que preocupa quanto à eficácia destes projetos. Algumas regiões paranaenses que foram colonizadas por descendentes europeus e que as cooperativas de atuação não têm um número muito grande de sócios, realizam estes eventos com um número expressivo de participantes, inclusive com vários membros da família. A visão da cooperativa é, sem dúvida, que o sócio passe a confiar e movimentar melhor as suas necessidades com a cooperativa, aumentando, assim, seu faturamento. A visão do sócio é que sua participação nestes eventos lhe traga maior conhecimento acerca de como pode se utilizar de forma mais otimizada as estruturas oferecidas pela cooperativa e qual seu custo/benefício para ele. Esse tipo de participação sim traz vantagens a ambas as partes. Na prática, é extremamente comum o sócio ter a participação nos eventos institucionais e técnicos apenas se houver um “atrativo” para a sua participação, por exemplo brindes, sorteios e jantares. Uma triste realidade cultural. 4.1.6 Sexto princípio: intercooperação Várias regiões paranaenses têm estruturas conjuntas de logística, prestação de serviços, programas educacionais, de industrialização de produtos agrícola e pecuários, entre outros. Em seus Planejamentos Estratégicos de Governança aprovados em assembleia (muitos deles) preveem a necessidade de melhor atender as necessidades do quadro associativo com a parceria com outras cooperativas. 31UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo 4.1.7 Sétimo princípio: preocupação com a comunidade Naturalmente, apenas pela existência de uma cooperativa, que tem como valores: empregabilidade; distribuição de renda de forma equitativa; inclusão social e desenvolvimento humano; parâmetro de mercado; segurança em produtos e serviços e recolhimento de impostos, já beneficia, e muito, a comunidade e o meio onde atua. É imensurável para o quadro social saber que suas ações para com sua cooperativa têm resultados para ele e para a comunidade diretamente. Uma cooperativa não se resume ao número de associados que ela possui e sim ao montante familiar deles, dos empregados, fornecedores, empregos indiretos que ela gere. Naturalmente, isso ocorre apenas pelo fato da sua existência, mas em observância ao sétimo princípio universal, diagnosticar e planejar ações que possam ser contribuintes para o desenvolvimento regional é uma obrigação que a faz estar sempre atenta às especificidades de cada região, respeitando as questões culturais, sociais, religiosas e econômicas. Este princípio, na prática, ocorre na sua totalidade de objetivos propostos, como dissemos, pelo simples fato de sua existência, afinal estão ali, na comunidade,as pessoas que trabalham na cooperativa, que são sócios, muitos de seus fornecedores e clientes. 4.2 Porque e como Formar Cooperativas As cooperativas são idealizadas, nascem e crescem pela necessidade de uma determinada situação que as pessoas individualmente não conseguem satisfazer. As forças individuais organizadas democraticamente, com objetivos comuns, caracterizam a cooperativa. Muitas comunidades brasileiras encontram nos trabalhos prestados pelas associações as situações suficientes para atenderem seus objetivos principais. A partir do momento em que a Legislação brasileira não permite determinadas ações, o caminho pode ser a constituição de uma cooperativa. Está claro na Lei 5.764/71 que para formar uma cooperativa são necessárias, no mínimo, 20 pessoas físicas que tenham os mesmos objetivos e não tenham nenhum impedimento Legal. Esse número, porém, com a criação do Novo Código Civil, não estabelece o número mínimo para constituição e sim um número mínimo necessário para administração e fiscalização da instituição cooperativa. As Organizações Estaduais das Cooperativas, com respaldo do Sistema OCB, entendem que ao considerar o mínimo de 6 associados para comporem o Conselho Fiscal, com renovação anual de 2/3, e a formação de um Conselho Administrativo com pelo menos 3 associados, com renovação de 1/3 a 32UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo cada mandato, mais o número mínimo de presentes em uma Assembleia de 10 associados com direito à voto, orientam que a formação de novas cooperativas seja com, no mínimo, 20 pessoas físicas. Segundo informações obtidas no site do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (OCEPAR, 2018), as pessoas interessadas em constituir uma cooperativa devem procurar a instituição e seguir alguns passos. 4.3 Os Passos a Serem Seguidos Segundo a Legislação Vigente a) Reunir o grupo interessado em constituir a cooperativa e fazer uma pesquisa para descobrir se eles estão dispostos a trabalhar em grupo, de forma societária e se estão dispostos a levar em consideração os aspectos estatutários, associativos, mercadológicos e sociais. b) Nomear o coordenador dos trabalhos e escolher a comissão que irá providenciar todas as condições necessárias para a constituição. c) Elaborar um estudo que leve em consideração a viabilidade econômico-financeira da Cooperativa, no qual constará o planejamento da futura cooperativa. d) O estudo de viabilidade deverá contar, entre outros pontos: ● Objetivos da cooperativa; ● Número de cooperados e capital social; ● Informações sobre o mercado; ● Previsão financeira anual; ● Prestação de serviços aos cooperados; ● Inversões da cooperativa: ativo fixo e capital de giro; ● Fontes de Capital; ● Recursos humanos (empregados e custo anual); ● Custos fixos, variáveis e totais para o 1º funcionamento; ● Fluxo de caixa; ● Ponto de nivelamento; ● Benefícios gerais com a implantação da nova cooperativa. 33UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo e) Elaboração de uma proposta de estatuto para que todos os interessados possam ler e discutir. Nele, atendendo os dispositivos da Lei 5.764/71 – artigo 21, deverá constar: ● Denominação social – com a expressão “cooperativa”; ● Endereço completo da sede e foro; ● Prazo de duração; ● Área de ação da sociedade cooperativa; ● Normativas para fixação do exercício social; ● Sobre a data do levantamento do balanço social; ● Direitos e Deveres do associado; ● Natureza e responsabilidade dos associados; ● Admissão, demissão, eliminação e exclusão do associado; ● Capital social mínimo exigido; ● Número mínimo de quotas parte e forma de capitalização do associado, bem como as condições gerais para a retirada quando de sua demissão, eliminação ou exclusão; ● Normas para representação em assembleias; ● Fundos obrigatórios e mais fundos que podem ser estabelecidos em assembleia; ● Forma de devolução de sobras de exercício ou distribuição dos prejuízos; ● Modo de administração ou fiscalização. Estabelecimento do prazo de mandato dos conselheiros administrativos bem como a forma de substituição ou eleição dos demais órgãos da cooperativa; ● Formalidades quanto à convocação das Assembleias Gerais; ● Formas de dissolução, fusão, incorporação e desmembramento da sociedade cooperativa; ● Formas de oneração dos bens da cooperativa; ● Modo de reforma do estatuto social. f) Realizar reuniões a fim de que haja uma apresentação e discussão de todos os itens da proposta estatutária e da viabilidade econômica. g) Fazer pesquisa se não há outra empresa com o nome sugerido. 34UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo h) Fazer pesquisa junto à Receita Federal e Estadual para saber se os futuros associados não têm algum impedimento legal que possa trazer problemas futuros. i) Convocação de todas as pessoas interessadas para a Assembleia de Constituição da Cooperativa – mínimo de 20 pessoas físicas, exceto cooperativas de trabalho, conforme Lei 12.690/12. j) Providenciar os livros necessários para a Assembleia de constituição. k) Arquivar os documentos constitutivos da cooperativa na Junta Comercial e dar entrada no CNPJ na Delegacia da Receita Federal l) Registrar a cooperativa no órgão estadual representante do cooperativismo, Secretaria Estadual da Fazenda, Prefeitura Municipal, INSS e em todos os demais órgãos necessários. Cabe ressaltar a importância dos interessados averiguarem na localidade, ou próximo dela, se há alguma outra forma para que seus objetivos possam ser alcançados. Por intermédio de Associações, Sindicatos, ONGs ou até mesmo outra cooperativa que já esteja na região e que possa admitir essas pessoas com os mesmos objetivos. 35UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo CONSIDERAÇÕES FINAIS É fascinante observar que desde que se nota a existência da humanidade a cooperação e o cooperativismo, de alguma forma, sempre existiram. A busca de objetivos comuns por intermédio da força da cooperação fez com que nossos ancestrais sobrevivessem a todos os obstáculos de qualquer ordem. A união de forças com respeito às individualidades e a participação democrática fizeram com que os pioneiros de Rochdale instituíssem a primeira cooperativa que se tem notícia. No Brasil, o cooperativismo chegou juntamente com as bagagens dos primeiros europeus, especialmente no Rio Grande do Sul, onde foi criada a primeira cooperativa pelo Pe. Theodor Amstad, na comunidade da Linha Imperial, em Nova Petrópolis. De lá para cá essa ideia da criação das cooperativas tomou corpo, cresceu e se instalou em todos os estados brasileiros, contribuindo para o desenvolvimento nacional. O cooperativismo é uma filosofia de vida, como relata o Professor Pe. José Odelso Schneider, um dos principais estudiosos do cooperativismo nacional. A identidade, tão necessária e, de certa forma, vital às nossas vidas foi e é criada, muitas vezes, com o convívio em comunidade e nas cooperativas dos mais diversos ramos, norteados pelos princípios e valores universais que garantem às cooperativas não serem desvirtuadas de seus objetivos principais. As cooperativas sempre surgiram e vão surgir em conformidade com as necessidades econômicas e sociais de uma determinada população, seja ela rural, com as necessidades dos produtores de garantia de produtos e serviços, como de comercialização e também dos públicos urbanos, com a instituição de uma cooperativa de trabalho, que tem o papel primordial de inclusão social e de trabalho de pessoas que, sozinhas, não conseguem este intuído. As cooperativas procuram a cada dia levar às pessoas uma melhor qualidade de vida. 36UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo SAIBA MAIS Mais de 70 dos países do mundo têm algum tipo de cooperativa, mostrando que a força da união, organização social por intermédio das cooperativas, fizeram, fazem e conti- nuarão fazendo seu papel na busca pela diminuição dadistância entre ricos e pobres. O maior desafio das cooperativas na atualidade, sem dúvidas, é a quebra do paradigma do imediatismo, do oportunismo e do individualismo que levam as pessoas à alcança- rem seus objetivos em detrimento de outra pessoa. As cooperativas e os cooperativistas visam a Formação e Educação Cooperativista para que, assim, mais e mais pessoas possam se conscientizar da importância de uma cooperativa para o desenvolvimento nacional. Fonte: o autor. REFLITA “Não se nasce cooperativista tal como o poeta o músico ou o ator, a cultura do coopera- tivismo é um longo processo de educação, formação e conscientização a ser desempe- nhado pelas cooperativas.” Fonte: José Odelso Schneider. Professor da Unisinos. São Leopoldo-RS. 37UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo LEITURA COMPLEMENTAR ● No site das OCB estaduais podemos encontrar informações relevantes sobre o cooperativismo de cada estado. o Faturamento; histórico do cooperativismo estadual; número de cooperati- vas; empregabilidade etc. Artigo: A Organização de Base nas Cooperativas: o exemplo da Cooperyucumã Acadêmicos: Fábio André Eickhoff e Décio Cotrim Disponível em: http://www.emater.tche.br/site/arquivos_pdf/teses/E_Book2.pdf Gestão de cooperativas: produção acadêmica da Ascar/ organizado por Décio Souza Cotrim. - Porto Alegre, RS: Emater/RS-Ascar, 2013. 694 p. – (Coleção Desenvolvimento Rural, v. 2). MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO Título: The Rochdale Pionners (disponível no YouTube). Ano de lançamento: 2012. Sinopse: Conta a história emocionante, em 57’, da criação da primeira cooperativa em Rochdale – Inglaterra. As cenas do filme procuram retratar as dificuldades que esses pioneiros enfrentaram para fundar a Cooperativa. As discussões; as reuniões intermináveis; a forma de estabelecimento do planejamento estratégico para aquisição dos primeiros produtos; a criação dos princípios... Enfim, uma viagem no tempo que vai contribuir, e muito, com o entendimento sobre o cooperativismo. 38 ● As características da empresa cooperativa; ● Importância da Sucessão no processo cooperativo. ● Fatores que determinam o sucesso de uma cooperativa. UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo Prof. Me. Marcos dos Reis Zanin 39UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo INTRODUÇÃO Como é sabido, na atualidade, pouco mais de 6% da população brasileira faz parte de algum tipo de cooperativa. Há muito ainda a ser percorrido para que a população brasileira se beneficie cada vez mais deste movimento socioeconômico capaz de levar às pessoas uma melhor qualidade de vida. Pouco se sabe sobre cooperativismo nas escolas ou nas comunidades e não é por falta de Legislação que possa amparar as cooperativas. Inclusive no que diz respeito à Educação Cooperativista, No Brasil, a década de 1930 é importante, pois nesse período começam a surgir as primeiras legislações acerca do cooperativismo. Para exemplificar, observasse que, em 19 de dezembro de 1932, foi publicado o Decreto nº 22.239, baseado no princípio da doutrina cooperativista, que possibilita a for- mação de cooperativas comerciais e de natureza civil. Em 1959, por meio do Decreto-lei nº 59, instituiu-se a Política Nacional do Cooperativismo, tendo sido regulamentada em 1967, com a edição do Decreto-lei nº 60.597, que cria o Conselho Nacional de Cooperativismo e define o ato cooperativo (SAN- TOS, 2019, p. 19) Percebe-se que o que existe na atualidade, com maior gravidade em algumas regiões, é a falta de “cultura” associativista. Nossos filhos aprendem desde cedo que o material escolar é “seu” material escolar, não havendo, por parte da grande maioria das escolas do ensino fundamental, qualquer tipo de ações em que possa ser trabalhada a força da cooperação, o coletivismo, a ajuda mútua e o cooperativismo. Nas cooperativas, porém, há trabalhos voltados aos filhos dos cooperados, com o objetivo de criar uma melhor conscientização sobre a importância das cooperativas para a vida das pessoas. Segundo Boesche (2005), é nas cooperativas e com os filhos dos associados que se inicia, desde cedo, o trabalho educacional cooperativista, criando nos jovens a consciência da cooperação. Nesses grupos de estudo e de trabalho é que surgem as novas lideranças cooperativistas. A admissão pura e simples de pessoas nas cooperativas, sem que haja por elas qualquer trabalho de Educação Cooperativista, pode ser um risco para as cooperativas pelo fato de que novos associados podem ser configurados como meros clientes. Para Bialoskorski (1998), o associado tem que entender que é dono e usuário da cooperativa. É 40UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo sua propriedade, portanto tem que conhecer de perto suas atividades, seus direitos como associado e suas obrigações. Nesta empresa o associado é simultaneamente “cliente” e “proprietário”, o que induz a alguns problemas específicos de separação entre a propriedade e o controle, e a alguns problemas de custos associados à necessidade de monitoramento das relações contratuais. Estas características, entre outras, fazem desta empresa um tipo particular de organização que merece uma abordagem específica, principalmente quando se trata dos agronegócios (BIALOSKORSKI, 1998, p. 61). As cooperativas, como empresa, necessitam que seus sócios estejam mais próximos e conscientes de seus produtos e serviços, o quanto isso custa e seus benefícios por participarem mais ativamente da cooperativa. Os projetos futuros têm que estar ao alcance dos associados e deve haver, por parte da cooperativa, uma comunicação eficaz sobre seu planejamento estratégico. Essas ações de planejamento, comunicação, transparência na gestão e gestão participativa devem ir ao encontro das necessidades do quadro associativo para que eles compreendam e participem ativamente de seus negócios. 41UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo 1 AS CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA COOPERATIVA Trabalhar como empresa, mas sem deixar de ser cooperativa. Talvez essa seja a estratégia do crescimento substancial que as cooperativas, especialmente as do Paraná, têm adotado nos últimos anos. A racionalidade nas ações das cooperativas, sejam elas na hora de receber um produto do cooperado, sejam elas na hora de comercializar algum produto, necessita de estar inserida na tomada de decisão no mercado, cada vez mais competitivo. Ações que procuram garantir um bom preço ao cooperado quando da entrega de sua produção e não o preço que normalmente quer receber; na venda de um produto um preço justo e não no preço que o cooperado quer pagar: essas atitudes fazem toda diferença na hora de fechar o balanço no final do ano. Essa necessidade de sobrevivência da cooperativa reflete na sobrevivência também do seu quadro associativo. Uma cooperativa tem que trabalhar como empresa, mas nunca deixar de ser uma cooperativa. O fortalecimento das organizações cooperativas depende diretamente do modelo de gestão praticado por elas, que deve refletir os princípios e valo- res cooperativistas. As cooperativas distinguem-se das empresas mercantis, tanto em suas relações econômicas e sociais, quanto em seu embasamento doutrinário. Apresentam especificidades em suas práticas de gestão relacio- nadas às suas peculiaridades organizacionais e institucionais, caracterizando uma forma complexa de organização (FREITAS et al., 2010, p. 49). Muitas dessas ações são incompreensíveis para o associado, mesmo os que participam de perto do dia a dia da cooperativa. Obviamente que em maior escala aqueles 42UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo distantes da cooperativa. Aos bem “informados”, essas ações, que podem facilmente incorrer em resultados positivos para a cooperativa, determinam a distribuição desses resultados em forma de sobras apuradas ao final do exercício – distribuição equitativa. Assim sendo, os que mais participam economicamente da cooperativa recebem maior quantia e os que menos participam,menor valor recebem. Isso é denominado de distribuição equitativa dos resultados. Sabe-se que esses valores (sobras de final de exercício) estão legalmente direcionados aos cooperados, da forma com que estabelece o estatuto social da cooperativa, que muitos chamam, erroneamente, de “lucro”. O poder democrático assemblear define o destino destas sobras apuradas no final do exercício. “A cooperativa pode ser uma empresa eficiente, mas, sem democracia e autonomia, não é autêntica cooperativa” (SCHNEIDER, 1999, p. 21). Muitos gestores de cooperativas brasileiras tendem a direcionar a instituição visando apenas as questões econômicas que envolvem seus negócios com o quadro associativo. Outros, porém, esquecem-se da rentabilidade necessária à sobrevivência da cooperativa e a administram como se fosse uma instituição filantrópica. Nessas duas situações, a cooperativa está fadada ao insucesso. Buscar o ponto de equilíbrio entre as necessidades econômicas e sociais do quadro associativo e administrar a cooperativa desta forma, é o grande desafio dos gestores cooperativistas. 1.1 Participação Cooperativista do Associado – um dos Alicerces das Cooperativas A participação do associado e seus familiares no dia a dia da cooperativa, além de possibilitar uma aproximação que desencadeia maior confiabilidade entre ambos, faz com que as ações da cooperativa voltadas as necessidades do associado sejam mais eficazes por diagnosticar e compreender o que, de fato, deve ter de planejamentos que possam atender essas necessidades. O associado, por sua vez, com este envolvimento, participação e comprometimento, passa a conhecer, de fato, suas obrigações e seus direitos que vai levar a solidez, sustentabilidade e crescimento da cooperativa e suas condições de produção. A identificação do associado com o sistema cooperativo seja ele de qual segmento pertença, só é possível com o envolvimento nas ações, eventos e na tomada de decisão da cooperativa. Identificar-se faz com que as suas ações no cooperativismo seja de forma tal que atenda não somente suas necessidades mas que, também, contribua para o bem coletivo. Este auto-conhecimento é tão necessário quanto a sua participação na cooperativa. De fato, segundo Silva e Nogueira (2001, p. 40): 43UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo A psicologia social tem entendido identidade como um fenômeno social, re- sultante dos significados provenientes das interações mantidas pelo indiví- duo em sua vida em coletividade. Ela passa a ser um atributo sócio-cognitivo: não é nem inata nem exclusiva ao indivíduo. Os grupos e as organizações também teriam identidade. E de fato, por meio do processo de identificação, a identidade do indivíduo estaria relacionada estreitamente com a identidade dos grupos e organizações em que ele se insere. Além disso, a identidade também poderia ser entendida como tendo uma natureza reflexiva, do modo como a pessoa se vê a si mesma, seria o seu autoconceito. Havendo esta participação e melhor aproximação entre a cooperativa e o quadro social, vários são os ganhos, como por exemplo, o processo sucessório e não é somente do quadro social, tão necessário a continuidade de suas atividades, mas também o da própria cooperativa. Como vimos uma cooperativa é formada por, no mínimo 20 pessoas físicas (obrigação para registro nas organizações estaduais), e são essas pessoas que compõe os conselhos administrativos e fiscal. Assim sendo, não havendo o processo sucessório no quadro associativo, a cooperativa fica fadada ao desaparecimento. 1.2 Direitos e Deveres dos Associados Segundo a Lei Cooperativista Brasileira A procura de pessoas, por alguma cooperativa no Brasil, é normalmente uma visão econômica, caracterizada por não encontrar no mercado as mesmas condições que a cooperativa estabelece aos novos associados. Esta visão, puramente econômica, é um risco muito grande das cooperativas. Muitas das cooperativas que foram dissolvidas não encontraram no quadro associativo (por falta de educação cooperativista) apoio para a continuidade – afastaram-se da cooperativa por ela não estar mais atendendo essas necessidades econômicas do associado. O nivelamento social com o econômico é a grande chave para o sucesso de qualquer instituição cooperativa, mas isso tem que estar ao alcance, conhecimento do quadro associativo. Os associados têm suas obrigações na cooperativa e são esses deveres que os fazem ter direitos. 1.2.1 Direitos do associado ● Utilizar e fazer valer dos serviços prestados pela cooperativa. o As cooperativas são constituídas para prestarem serviços aos seus as- sociados, assim sendo, eles usufruem desses serviços desde a sua admissão. 44UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo ● Tomar parte nas assembleias gerais, discutindo e votando aos assuntos que nelas forem tratados. o Apenas os associados podem participar das assembleias. Os associa- dos sem direito a voto (Gestores, Conselheiros, associados com vín- culo empregatício, por exemplo) não podem deliberar sobre todos os assuntos tratados em assembleia. ● Propor ao Conselho de Administração e às Assembleias Gerais as medidas que julgar convenientes aos interesses do quadro social. o Caso algum assunto de um determinado grupo de associados ou asso- ciado não sobrepor o interesse coletivo, a proposta deve ser aprovada em assembleia e devidamente incluída no estatuto social. ● Efetuar, com a cooperativa, as operações que forem programadas. o É seu direito movimentar com a cooperativa na utilização de produtos e serviços bem como na entrega da sua produção, produtos e serviços. ● Obter, durante os trinta dias que antecedem a realização da assembleia geral, informações a respeito da situação financeira da cooperativa, bem como sobre os Balanços e os Demonstrativos. o O associado pode e deve ir preparado para a Assembleia Geral da Cooperativa. Para tanto pode analisar livros e documentos antes da realização da assembleia. ● Votar e ser votado para cargos no Conselho de Administração e no Conselho Fiscal. o Deve obedecer ao que está exposto no estatuto social bem como as regras para galgar algum cargo eletivo da cooperativa. o Associados que têm vínculo empregatício perdem o direito de votar e ser votado. 45UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo o Associados que não cumprem com suas obrigações perdem o direito de votarem e serem votados. ● No caso de desligamento da cooperativa, retirar o capital, conforme estabelece o estatuto. A demissão vem única e exclusivamente por parte do cooperado e não deve ser negado pela cooperativa. o Nos casos de demissão, eliminação e exclusão o associado tem direito à restituição da conta capital que ele tem na cooperativa que foi inte- gralizado, apenas. 1.2.2 Deveres do Associado ● Integralizar as quotas-partes de capital estabelecidas no Estatuto Social. o O capital subscrito é aquele que o associado se compromete com a cooperativa em integralizar nas formas previamente estabelecidas en- tre as partes. Capital integralizado é o montante em dinheiro que cada associado tem na instituição. ● Operar com a cooperativa. o O associado tem a obrigatoriedade de movimentar com a cooperativa, sendo passível de eliminação caso não movimente por um determina- do período com a cooperativa. ● Observar o estatuto da cooperativa. o É seu direito, na sua admissão receber uma cópia do estatuto social, porém, deve conhecer o que está estabelecido. Havendo necessidade de esclarecimentos sobre determinado artigo, deve procurar a coope- rativa para esclarecimentos. 46UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo ● Cumprir fielmente com os compromissos em relação à cooperativa. o O não cumprimento de seus compromissos com a cooperativa é in- fração que pode levar o associado à eliminação da cooperativa (cabe recurso). ● Respeitar as decisões da Assembleia Geral e do Conselho Diretor. o Aceitar a decisão da maioria, mesmo que nãoesteja presente no ato assemblear. ● Cobrir sua parte quando forem apuradas perdas no fim do exercício. o É seu direito participar dos resultados de sobras ao final do exercício, porém, quando há perdas, a sua participação deve ser proporcional a sua movimentação, a não ser que no estatuto estejam estabelecidas outras formas de cobrir os prejuízos. ● Participar das atividades desenvolvidas pela cooperativa. o Participar dos eventos institucionais, técnicos, educativos e movimen- tar com a cooperativa também é sua obrigatoriedade. Importante neste quesito a participação dos familiares do associado. 47UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo 2 IMPORTÂNCIA DA SUCESSÃO PARA O COOPERATIVISMO Não é de hoje que há uma preocupação com relação ao que se produz, como isso está sendo feito, quanto e como produzir, comercializar, garantir a sustentabilidade da empresa rural familiar e quem estará neste processo do agronegócio, capaz de dar continuidade. Estabelecer um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo, para tal é preciso reconhecer a necessidade de se identificar, situação necessária e vital para o êxito da sucessão. Como salientam Bauer e Mesquita (2007, p. 27), “na medida em que identificou, passa então a identificar-se, ou seja, a reconhecer o outro como sendo semelhante a si e, talvez de forma inconsciente, como modelo de si”. Entende-se, portanto, que a “identificação” é um caminho para a identidade. A preocupação por parte das Cooperativas Agropecuárias, por exemplo, o tema se justifica uma vez que as cooperativas são associações de pessoas, sendo as cooperativas agropecuárias relacionadas especificamente aos produtores rurais. Sem os cooperados não há continuidade da instituição. O crescimento e perenidade da cooperativa são reflexos do sucesso de produção do campo e de quem e como o conduz. Preocupar-se com o futuro faz parte dos objetivos da cooperativa quanto ao desenvolvimento social e econômico dos sócios (BRASIL, 1971). É a partir meio produtivo agropecuário que se formam os futuros gestores e lideranças cooperativistas. A identidade cooperativa precisa estar intimamente ligada às necessidades do produtor associado e seus sucessores. Assim, é possível que se forme, gradativamente, uma identidade capaz de não somente garantir a perenidade da 48UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo cooperativa, uma vez que é desse meio que se formam os futuros gestores cooperativistas, mas também a formação dessa identidade, motivadora e inspiradora à sucessão familiar. Uma pesquisa realizada com associados da Cooperativa LAR deu lucidez a algumas questões, segundo Zanin (2019) É discutido, por exemplo, fatores que fazem com que jovens filhos de associados se inspirem e vejam no agronegócio um meio rentável e de ótimas perspectivas. Por sua vez, isso garante a implantação de projetos que proporcionem a curto, médio e longo prazo uma condição de vida de qualidade no campo. Os dados divulgados pela Revista Paraná Cooperativa (OCEPAR, 2018) esclarecem que regiões de produção rural de agricultura familiar, assistida por cooperativas, têm menor êxodo rural. O índice de migração de filhos de produtores para as cidades, nesses casos, acontece em menor escala, quando essas regiões são comparadas àquelas sem uma forma de organização da produção em cooperativas ou associações de produtores. A empregabilidade a campo contribui substancialmente para diminuir o inchaço populacional e todas as suas consequências sociais. O primeiro ator social beneficiado por esse processo de desenvolvimento no campo são os filhos dos produtores. Eles têm a possibilidade de se fixar e se profissionalizar como produtores rurais com garantia de renda capaz de motivá- los a empreender próximos às suas raízes e seus familiares. O que norteou o objeto principal de Zanin (2019) foi a preocupação sobre a sucessão familiar na condução da propriedade rural, especificamente das que exploram pequenas áreas de terras e que dependem, por estas características, do apoio econômico e social de uma cooperativa. Por essas especificidades, justifica-se a observação da contribuição da identidade cooperativa nesse processo. A fixação do homem no campo não está fundamentada apenas na viabilidade econômica momentânea e sim nas condições de continuidade e de sustento de sua família com a produção agropecuária a longo prazo. Para Bialoskorski Neto (2012), as cooperativas têm um papel fundamental no desenvolvimento econômico nacional, uma vez que geram muitos empregos e melhoram a distribuição de renda. Já para Boesche (2005), investir no jovem em educação cooperativista é garantia de obtenção, criação de novos gestores e novas lideranças. Essa capacitação e identificação também refletem positivamente na condução produtiva familiar. Por se tratar de uma problemática que não afeta somente a produção rural, no que concerne a continuidade de produção de alimentos realizados pelas pequenas propriedades rurais, mas também a própria existência da cooperativa, é que se fez esta escolha pelo tema. Com a conclusão dos trabalhos de investigação, tem-se o intento de contribuir com 49UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo futuros planejamentos estratégicos da Cooperativa LAR, objetivando ações que possam colaborar no sentido de incentivar a sucessão natural e apoiar aquelas realizadas de forma inesperada. Afinal, o futuro destas instituições, família e organização cooperativa, depende de quem estará no comando, com que garantias isso ocorrerá e como preparar, conscientizar e desenvolver essas novas lideranças. O que os motiva, identifica ou dá significado como pertencentes a um grupo familiar e a uma instituição cooperativa é o que justifica a manutenção destas estruturas no futuro: família e sociedade cooperativa. 2.1 Instituição Familiar Cooperativista e o Processo Integrado de Produção Cooperativa Não distante do que diz respeito à comunicação, gestão democrática, participação, confiabilidade e até mesmo acessibilidade à cooperativa, está a família como um dos principais alicerces do cooperativismo. Como instituição e união de pessoas que têm pensamentos, muitas vezes, diferenciados, a família depende de mínimas condições para permanecer sólida e em condições de enfrentar os diversos desafios, tão comuns nos tempos atuais. Valores como respeito, cooperação, diálogo, comprometimento e reciprocidade alicerçam e dão mais segurança para que a união familiar não sucumba e possa comprometer, por exemplo, uma possível sucessão da atividade rural. Família e cooperativa convergem em muitos de seus valores que são indispensáveis e mantenedores de uma continuidade capaz de enfrentar com mais eficácia os desafios, sejam eles de qualquer ordem. A cooperativa Lar, se revelou, desde sua fundação (1964), uma opção para a inclusão dos pequenos produtores no mercado. É possível que tal neces- sidade de agregação de valor, seja na comercialização e mesmo na agroin- dustrialização da produção da pequena propriedade, tenha estimulado os produtores a se associarem no sentido de obterem maiores vantagens com- petitivas (MARSCHALL, 2009, p. 291). As atividades desempenhadas pela Cooperativa LAR, tais como suinocultura, pecuária leiteira e avicultura, são desenvolvidas quase pela totalidade em pequenas áreas de terra e por mão de obra familiar. É estabelecido um compromisso formal entre o produtor associado e a cooperativa. Por parte da cooperativa, há obrigação no fornecimento de todos os insumos necessários para a atividade, assistência técnica especializada, capacitação de todos os envolvidos na condução do negócio a campo e aquisição da produção. Quanto ao produtor, o compromisso da aplicabilidade das técnicas recomendadas e entrega da 50UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo totalidade da produção à cooperativa. Além da consciência cooperativista, cabe nesse contexto o compromisso legal do produtor.Sobre o tema, Perius (2001, p. 151) complementa: Aos sócios não satisfeitos com a prestação de serviços da cooperativa, res- tam dois comportamentos: realizarem críticas ou se demitirem do quadro as- sociativo. Pode-se, portanto, medir o grau de eficiência de uma cooperativa pela quantidade de operações de seus sócios e pelo índice de demissões. Os dois comportamentos se constituem assim em mais um processo de controle da sociedade cooperativa, já que revelam graus de satisfação ou de insatis- fação. O comprometimento recíproco entre o quadro associativo e a instituição é um dos pilares de sustentabilidade de uma cooperativa e da garantia de continuidade de produção e sustento do produtor associado. O primeiro princípio universal do cooperativismo – Adesão Livre e Voluntária – enfatiza o livre acesso. Assim, o produtor rural pode ou não entrar e/ou permanecer em uma cooperativa, sendo parte de seu direito. Dados obtidos no site da Cooperativa LAR (2013) indicam que há várias ações e eventos, em conjunto com o SESCOOP, voltados à Educação Cooperativista. O conhecimento cooperativista faz nascer, crescer e sustentar a identidade cooperativista. Cria-se um vínculo maior entre instituição e seu quadro de associados. O fato de a instituição cooperativa oportunizar conhecimento e conscientização sobre Legislação Cooperativista, Estatuto Social, vantagens competitivas da cooperativa, direitos e deveres do cooperado e seus valores, faz com que os produtores rurais associados tenham maior segurança e confiabilidade na cooperativa, se isso for efetivamente conduzido ao longo de um processo democrático – participativo. O sentimento de “pertença” resultante dessa participação cria nos associados uma identidade capaz de uma melhor observância e valoração de sua condição de dono e usuário da instituição. Isso é essencial para a manutenção da pequena propriedade rural. Seus condutores têm uma visão mais otimista quanto ao futuro da gestão rural e instiga em seus membros familiares uma motivação maior de continuidade por ter uma empresa cooperativa como suporte e contribuinte para este continuísmo. Cooperativa e família precisam possuir ou criar um laço muito forte de comprometimento, uma vez que de um lado se tem as necessidades e anseios dos produtores associados e, de outro, a obrigação da prestação de serviços destas necessidades pela cooperativa. Uma comunicação eficaz, nesse sentido, é primordial. Para Boesche (2005), é necessário pensar em conjunto com os cooperados e não para eles. O autor enfatiza que as cooperativas não têm associados, são eles que têm a cooperativa. 51UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo Boesche (2005) descreve as diversas formas de se conseguir uma participação econômica e social do quadro associativo, obtendo-se com isso um crescimento sustentável da cooperativa e o desenvolvimento do produtor cooperado e de forma democrática. Uma dessas formas participativas é a importância da OQS, que consiste em um elo importantíssimo entre cooperativa e quadro social. Schneider (1999) observa a importância da efetiva participação do associado no cotidiano da cooperativa de forma democrática e livre, corroborando com Boesche (2005) sobre a relevância da aproximação da cooperativa, cada vez maior, com o quadro associativo. Existia naquela época um forte comprometimento entre os cooperados, e destes para com a cooperativa. Um comprometimento alicerçado na ideo- logia cooperativista e nos princípios, pois nas reuniões de organização da cooperativa estudaram a doutrina cooperativista (BOESCHE, 2005, p. 53). Uma das ferramentas mais eficazes no processo de condução democrática das cooperativas, segundo Boesche (2005), está na forma com que se verifica a acessibilidade do quadro associativo com os gestores e os produtos e serviços da cooperativa. 2.2 O Cooperativismo Paranaense – um Modelo a Ser Seguido O Oeste paranaense teve uma ocupação, nas décadas de 50 e 60, de imigrantes catarinenses e gaúchos de origem italiana e alemã, e quase que na totalidade católicos. Os laços familiares e religiosos nesta época eram extremamente fortes. Isso seguramente veio a contribuir na forma com que essas famílias enfrentaram as dificuldades no desbravamento do oeste paranaense. Dentre essas dificuldades estão a falta de energia elétrica, água encanada, acesso à saúde e educação, problemas com a legalização das terras, alto custo de vida para quem dependia de utensílios das cidades e das empresas mercantis, falta de comunicação com os demais familiares que ficaram em seus estados de origem, entre outros dificultadores. Há de se destacar a grande contribuição que os valores familiares e religiosidade proporcionaram a esses desbravadores e que contribuem até hoje para a continuidade das atividades desenvolvidas pelas famílias em pequenas propriedades. Segundo Boessio e Doula (2017), tanto o sucessor precisa estar preparado para assumir novas responsabilidades e o projeto de produção familiar, quanto a família em ser sucedida. O papel das cooperativas agropecuárias, como contribuintes e incentivadoras neste processo, é vital para o sucesso do empreendimento rural. Os relatos dos entrevistados a seguir ratificam essa importância. 52UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo Porém, é imprescindível no processo de sucessão que quem está no comando saiba o que tem à mão e o que poderá ser produzido e para quem produzir. Nesse caso, o papel do cooperativismo como contribuinte para a sucessão se faz pelos seus projetos integrados com essas atividades desenvolvidas nestas pequenas áreas de exploração agropecuária. O trabalho conjunto familiar e a transmissão de conhecimento de pai para filho foram vitais para a sucessão gradativa e sem grandes dificuldades. O conhecimento adquirido pelos filhos nos eventos técnicos organizados pelo cooperativismo contribuiu para a construção da identidade do sucessor, além do poder de capacitação. De acordo com a pesquisa realizada pela ADEP (2008), para o XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, a qualificação técnica do agricultor acontece, principalmente, junto à família. O saber é passado de pai para filho e é renovado e atualizado (necessidade). 2.3 Importância da Participação nos Eventos da Cooperativa Participar dos eventos técnicos ou institucionais da cooperativa, além de levar conhecimento ao associado e seus familiares, contribui para a construção da identidade do associado e o faz perceber que as ações da cooperativa neste sentido são reflexo da sua movimentação econômica para com ela. Parte do resultado é destinado para o FATES – Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social (obrigatoriedade legal de destinação de, no mínimo, 5% das sobras de exercício) que tem, em um dos seus objetivos estatutários, a informação e capacitação do seu quadro associativo e familiares. Segundo Schneider (1999), a importância da educação cooperativista se trata de um dos maiores pilares, mantenedora da continuação de uma cooperativa, devem ser destinados, por esta, recursos à educação. A credibilidade da cooperativa perante o quadro social provém de suas ações voltadas não somente à prestação de serviços, mas também de sua capacidade de informar e capacitar, preparando, assim, naturalmente, os novos associados e as futuras lideranças que construíram suas identificações neste processo cooperativista. Os eventos organizados pela cooperativa, sendo muitos deles com o apoio do SESCOOP, trazem informações relevantes para a melhoria nas condições de gestão e produção de suas atividades. Além da capacitação dos associados e momento de interação entre os participantes, estimula-se que os mais jovens criem suas próprias percepções, que, muitas vezes, não são as mesmas oriundas do aprendizado com os pais. Esses eventos contribuem diretamente para a sucessão familiar, pois muitas vezes a família participa e se 53UNIDADE IIDoutrina do Cooperativismo compromete com a causa. Cria-se, assim, um laço mais forte entre a cooperativa e a família associativa. A comunidade local é também beneficiada quando há a sucessão uma vez que, segundo Matte e Machado (2016), a ausência de sucessores no negócio familiar tende a gerar incertezas no que diz respeito não apenas à continuidade das famílias e das atividades, mas também das comunidades, as quais gradativamente perdem sua população e passam a sentir os reflexos dessa mudança sobre as dinâmicas sociais. Desse modo, essas pessoas migram para os grandes centros, que absorvem, de alguma maneira, esse grupo social. Silva e Nogueira (2001) descrevem que a psicologia social tem entendido identidade como um fenômeno social, resultante dos significados provenientes das interações mantidas pelo indivíduo em sua vida em coletividade. Ela passa a ser um atributo sócio-cognitivo: não é nem inata nem exclusiva ao indivíduo. Para os autores, os grupos também teriam identidade. De fato, por meio de processo de identificação, a identidade do indivíduo estaria relacionada estreitamente com a identidade dos grupos e organizações em que ele se relaciona. Por fim, a identidade também poderia ser entendida como tendo uma natureza reflexiva: o modo como a pessoa se vê seria o seu autoconceito. O fato de todos os integrantes familiares estarem comprometidos e preocupados com a atividade, no que diz respeito à produção, condução, comercialização, gestão da atividade, finanças e custo, naturalmente contribui para que haja a identificação de quais membros familiares estão aptos ou podem desenvolver afinidade com o processo produtivo, bem como criar motivação, gosto, aptidão e a própria identidade com essa ou aquela etapa operacional, facilitando a ocorrência natural da sucessão familiar. É a família o palco principal da construção da identidade (BAUER; MESQUITA, 2007). Para Abramovay (1998), a perspectiva da sucessão profissional interfere de maneira importante nos comportamentos gerenciais e produtivos de qualquer empresa familiar. Uma unidade produtiva sem sucessores ou até mesmo um projeto de sucessão dificilmente contará com investimentos em capital, por exemplo, tão necessários ao seu desenvolvimento. 54UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma cooperativa é uma associação de pessoas que se unem com o mesmo objetivo. Uma cooperativa, porém, para sobreviver, tem que trabalhar como uma empresa, mas jamais deixar de ser cooperativa. Os fundos legais formados pelas sobras de exercício, contribuem para com a liquidez e credibilidade financeira da cooperativa não somente perante ao quadro social mas também ao sistema financeiro. A distribuição dos resultados, cabe ressaltar deve ser feita de forma equitativa, ou seja, na proporção da operação de cada associado com a instituição. A observância e cumprimento das obrigações do associado é o primeiro passo para a garantia de que a cooperativa pode ter garantias de continuidade. Muitas vezes os seus estatutos são observados pelos associados na procura apenas dos seus direitos, o que pode comprometer sobremaneira a sustentabilidade da cooperativa. É na família que se encontra o grande pilar e alicerce das cooperativas, pois estão ali os futuros sucessores da cooperativa. A importância de ser estabelecido nas cooperativas ações voltadas a esta questão, garante não somente a continuidade da atividade da família que está ligada à cooperativa, como também a continuidade da própria instituição. Os valores familiares e do cooperativismo são muito parecidos, cabendo aos gestores da cooperativa, conjuntamente com os associados, manter estes valores; visto que são eles os mantenedores da continuidade de todo o processo cooperativo que, no estado do Paraná, por exemplo, garante, com as cooperativas agropecuárias, a permanência e rentabilidade de milhares de famílias, principalmente das que têm pequenas propriedades rurais. 55UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo SAIBA MAIS Qualquer investimento em uma cooperativa, independentemente do seu segmento, seja ele de ordem econômica, social, estrutural ou funcional, somente terá chance de êxito se tiver o comprometimento e participação na elaboração do projeto, do quadro asso- ciativo e também funcional. Muitas cooperativas brasileiras têm se preocupado em aumentar seus “números” e se esquecem da valoração do quadro associativo e funcional, principalmente no que se re- fere aos valores cooperativistas que devem e têm que seguir este crescimento almejado pelos gestores, de forma simultânea. Fonte: o autor. REFLITA Cooperativismo vai além do simples ganhar algo pela força da união. A cooperação, o cooperativismo, enfim o associativismo, de uma forma geral, somente se justificam se os resultados forem benéficos de alguma forma para todos os envolvidos. Fonte: o autor 56UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo LEITURA COMPLEMENTAR Artigo I: Cooperativismo e Juventude: as perspectivas de participação dos jovens das famí- lias associadas à cooperativa extremo norte. Acadêmicos: Adriana Memlak e Fernando Dewes. Fonte: http://www.emater.tche.br/site/arquivos_pdf/teses/E_Book2_Versao%20Final.pdf Gestão de cooperativas: produção acadêmica da Ascar/ organizado por Décio Souza Cotrim. - Porto Alegre, RS: Emater/RS-Ascar, 2013. 694 p. – (Coleção Desenvolvimento Rural, v. 2). Artigo II: Competitividade e Desafios da Central de Cooperativas da Serra Gaúcha na Con- solidação de uma Unidade Produtora de Suco e Concentrado de Uvas. Acadêmicos: Benhur T. Didone e Derli Schimdt. Fonte: http://www.emater.tche.br/site/arquivos_pdf/teses/E_Book2_Versao%20Final.pdf Gestão de cooperativas: produção acadêmica da Ascar/ organizado por Décio Souza Cotrim. - Porto Alegre, RS: Emater/RS-Ascar, 2013. 694 p. – (Coleção Desenvolvimento Rural, v. 2). http://www.emater.tche.br/site/arquivos_pdf/teses/E_Book2_Versao%20Final.pdf http://www.emater.tche.br/site/arquivos_pdf/teses/E_Book2_Versao%20Final.pdf 57UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo MATERIAL COMPLEMENTAR FILME/VÍDEO Título: Alimentando a Mudança Ano de lançamento: 2015 Sinopse: O Documentário Alimentando A Mudança (A Esteve Alves Film) é um documentário de longa metragem focando as Cooperativas Alimentares como uma força para a mudança social e econômica na cultura americana. O filme conta a história do movimento cooperativo nos EUA através de entrevistas, imagens raras de arquivo, comentários do cineasta e de historiadores sociais. Este é o primeiro filme a examinar o importante papel histórico desempenhado pelas cooperativas, sua busca pioneira pelos alimentos orgânicos e os seus atuais esforços para criar sistemas alimentares regionais. Além disso, o filme mostra como o Cooperativismo fortalece as comunidades, melhorando as economias locais e a segurança alimentar. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zUxev9ASGGM. 58 ● Alicerces do Cooperativismo; ● Ato Cooperativo; ● Classificação das Cooperativas. UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional Prof. Me. Marcos dos Reis Zanin 59UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional INTRODUÇÃO As cooperativas são instituições formadas por pessoas com os mesmos objetivos sociais e econômicos, que veem no cooperativismo uma filosofia de vida, uma proposta para busca de melhores condições de vida no que se refere a moradia, empregabilidade, renda, oportunidades de negócios, desenvolvimento profissional e pessoal. Merece atenção o fato de que a “união de pessoas” é a união de várias ideias, discussões, interesses divergentes e a luta pelo poder. Isso tudo faz parte de uma cooperativa ou da junção de pessoas, sejam quais forem os objetivos. Se colocar sob os interesses coletivos é a chave do sucesso de qualquer união de pessoas e esta não é uma tarefa das mais fáceis no que se refere a uma cooperativa, que, muitas vezes, reúne milhares de pessoas.Os objetivos, necessariamente, têm que ser comuns e respeitar, obviamente, a individualidade de cada um do grupo. Para Pinho (1996), equilibrar os interesses sociais e econômicos de uma instituição cooperativa não é uma problemática somente dos gestores, mas também do quadro associativo. A cooperativa é uma associação de pessoas, mas, ao mesmo tempo, é uma empresa econômica. Cabe ressaltar um dos alicerces primordiais de uma cooperativa: Educação, Formação e Informação – 5º Princípio do cooperativismo. Segundo a lei nº 5.764/71, celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens e serviços para o exercício de uma ativi- dade econômica de proveito comum, sem objetivo de lucro. São sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados (BRA- SIL, 1971). Isso tem que estar muito bem claro ao quadro associativo, conselheiros fiscais e administrativos, gestores e quadro de empregados. O conhecimento é capaz de neutralizar as mazelas do ruído da comunicação e até mesmo de grupos corporativos que tentam afetar a cooperativa por seus interesses, que vão desde aumentar seus lucros até a luta pelo poder. No seio das cooperativas brasileiras, segundo Schneider (2003), existem alguns fatores que dificultam o desenvolvimento de processos educativos na cooperação. O associado não tem interesse em uma participação mais democrática, participativa e efetiva. 60UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional Ele não se sente dono da instituição, abre mão de seu direito de vez e voz, principalmente por ocasião das Assembleias Gerais – tão importantes para a continuidade e sustentabilidade da cooperativa. Entende-se que a participação efetiva dos associados em todos os negócios da cooperativa, aliados aos atos administrativos, desempenhados com envol- vimento e responsabilidade de todos, são fundamentais para o sucesso de uma organização cooperativa (NARESSI; COTRIM, 2013, p. 99). Percebe-se que em se tratando de “alicerces” da cooperativa, não se refere apenas a questões econômicas que envolvem a capitalização da instituição, liquidez e credibilidade junto a instituições financeiras. Não se tratam apenas as questões sociais que garantem o desenvolvimento profissional do cooperado e de seus familiares, entre outros valores. São vários os fatores que envolvem a solidez e sustentabilidade da cooperativa. Cada um deles, que for comprometido, afeta de forma significativa os demais – muitas vezes esses resultados negativos são irreversíveis. Ênfase na transparência na gestão, que é um dos valores da cooperativa capacitado a diagnosticar a tempo muitos dos problemas que podem afetar os alicerces de uma cooperativa e corrigir algo que pode criar uma ruptura de relacionamento entre quadro social e cooperativa – levando a cooperativa a dissolvência. A complexidade que gira em torno da sustentabilidade de uma cooperativa vai desde um quadro social informado e comprometido a uma gestão aberta, acessiva e que está em constante relacionamento com o quadro associativo e de colaboradores. São essas as peças chaves para um bom Planejamento Estratégico capaz de valorizar e manter os valores e princípios do cooperativismo – alicerces indispensáveis para uma instituição cooperativa. 61UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional 1 OS ALICERCES DO COOPERATIVISMO Não há uma “receita”, aplicável a todos os segmentos cooperativistas brasileiros, de como é possível formar os alicerces de consolidação da cooperativa. Cada região, cada comunidade tem sua especificidade nas questões culturais, econômicas e sociais. Cabe enfatizar, porém, que estudar a filosofia e teoria cooperativa poderá contribuir para solucionar as problemáticas que envolvem o desenvolvimento e sustentabilidade das cooperativas. Assim se refere Pinho (1982, p. 21): Realmente, os estudos de teoria cooperativa poderão contribuir para dinami- zar os enfoques doutrinários do cooperativismo, tornando-os mais adequa- dos à época atual e afastando pretensões, anticientíficas de explicações coo- perativistas globais, completas, acabadas, perfeitas e imutáveis. Ou seja: é indispensável que se estimule a realização de estudos de teoria cooperativa para se compreender a atividade cooperativista em sua plenitude dentro de uma concepção de cooperativismo adequado às necessidades sócio-econô- micas de nossos dias. O sentimento de pertença a uma causa é uma das características dos cooperados que, efetivamente, estão comprometidos com a cooperativa. Quanto mais aproximados estão da instituição, mais formação e informação obtêm e isso consolida o senso de pertencimento. Destaca-se como sendo um dos principais alicerces das cooperativas – Educação e Informação de seu quadro associativo e de trabalhadores. Para Freitas et al. (2010), a Organização do Quadro Social (OQS) trata-se de uma estratégia eficaz na gestão democrática de uma cooperativa e é um processo sistemático de comunicação e 62UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional integração. São fatores fundamentais para consolidação de uma cooperativa: educação, formação, capacitação, informação, gestão democrática e transparência. Dessa forma, o processo de educação cooperativa é uma estratégia que, se trabalhada periodicamente e de forma participativa junto aos associados, têm importante contribuição na reeducação dos valores dos agricultores associa- dos e na compreensão destes sobre a importância de sua participação em seus diferentes níveis na organização e gestão democrática da cooperativa. O princípio cooperativista da gestão democrática deve ser trabalhado jun- to aos seus associados através de um processo participativo em que estes sejam protagonistas de seu desenvolvimento, respondendo e solucionando suas angústias, dúvidas e perspectivas em relação à cooperativa, através de sua própria realidade social (MUSZINSKI; COTRIM, 2013, p. 113). Sabemos que são sete os Princípios Universais do Cooperativismo e sua importância concomitante aos valores para o sucesso do empreendimento cooperativo. A eficiência nos trabalhos desenvolvidos pelas cooperativas em seus Planejamentos Estratégicos e a busca da eficácia na efetiva aplicabilidade e observância desses princípios embasam a cooperativa. Está aí, nos princípios e valores do cooperativismo a chave e os principais alicerces que fundamentam, consolidam e dão sustentabilidade às cooperativas. As bases do cooperativismo moderno não fogem, na verdade, dos conceitos estabelecidos em 1844, em Rochdale, desde a constituição da primeira cooperativa da história. Para exemplificar a importância da observância dos princípios do cooperativismo originais, basta observar o que ocorre no segmento agropecuário brasileiro. Este segmento, exemplificando a importância da observância dos valores e princípios cooperativistas, tiveram cooperativas muito bem consolidadas em suas estruturas operacionais e industriais e com excelentes potenciais de crescimento. Seus gestores, porém, ao voltarem-se apenas por uma visão estratégica econômica, não dando a devida importância as questões sociais da instituição, sofreram o processo de dissolvência, prejudicando, e muito, o quadro social. 1.1 Importância da Educação Cooperativista e da Organização do Quadro Social (OQS) Os futuros sucessores têm que ser continuamente preparados pelas sociedades cooperativas e familiares. A educação cooperativista, a preparação e a formação de novas lideranças, além de uma gestão democrática que propicia uma efetiva participação na tomada de decisão da cooperativa, podem significar garantia de futuro, bem como o nascimento de novas lideranças capazes de dar continuidade ao processo cooperativo. O envolvimento do maior número possível de integrantes familiares propicia a responsabilidade e o comprometimento de cada umna tomada de decisão e preparação dos sucessores. 63UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional As cooperativas de sucesso têm um planejamento de comunicação que traz resultados eficazes quando o assunto é sucessão e preparação de novas lideranças. Essa acessibilidade entre quadro social e cooperativa, além de formar e informar atende não somente as necessidades técnicas do produtor, mas também cria um laço mais forte e consolida a identidade. Consiste, na verdade, em praticar o cooperativismo e estabelecer um senso de pertença e de propriedade. Afinal, de alguma forma o cooperado tem que se conscientizar sobre seu estado de dono e usuário dos serviços da cooperativa. O associado passa a ser o dono e decide. A grande questão é cultural. O associado não sabe que ele é dono e decide. Ele pensa que é mero cliente, alguém que compra e vende algum produto. O associado deve ter consciên- cia de que é dono. Por isso, tem que ter participação social e política na coo- perativa. Se o associado tiver essa visão da cooperativa, evidentemente esta será bem administrada (PERIUS, 1999, p. 282). É necessário que as cooperativas estabeleçam, juntamente a seus associados, planejamentos estratégicos que possa vir ao encontro de suas necessidades (BOESCHE, 2005). Se não houver uma aproximação com o quadro social, diagnosticando seus anseios, oportunizando condições e boas perspectivas de sobrevivência, não se consolida uma sociedade de pessoas em cooperativa. Pode ser observado que a formação e a informação não podem ficar distantes do alcance do quadro associativo. Isso o faz crente, seguro e com perspectivas de continuidade e sentimento de pertença à instituição. Fortalece, desta forma, a motivação dos membros familiares que têm à disposição uma empresa cooperativa que, com seus produtos e serviços, contribui para a viabilidade e continuidade da produção rural. Suas necessidades econômicas (comercialização da produção, aquisição de insumos agropecuários, assistência técnica, participação nos resultados da cooperativa) e suas necessidades sociais (cursos, treinamentos, formação profissional, desenvolvimento regional, preocupação com a comunidade, vez e voz, entre outros) são atendidas. Para Schneider (1999), a importância da educação cooperativista compõe um dos pilares mantenedores da continuidade da cooperativa, pois quanto mais o associado se informa e se aproxima da cooperativa, mais se fortalece o elo entre eles. Dessa forma, maior é a movimentação econômica e participação do quadro associativo. Foi em parte a influência de Owen, tão empenhado na formação do “Novo Mundo Moral” através da educação, que motivou os pioneiros a dedicar tan- to tempo e recursos à educação. Caso contrário, como pondera Holyoake, os associados teriam nascido e crescido na ignorância dos objetivos e da percepção da especificidade de sua organização cooperativa (SCHNEIDER, 1999 p.107). 64UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional A verticalização da produção com o recebimento, armazenamento, industrialização e comercialização dos produtos possibilita que haja continuidade da atividade rural, pois permite uma melhor remuneração aos produtores. Esse fato, aliado a uma gestão participativa e responsável, tanto na cooperativa quanto dos produtores, inspira que os jovens e demais membros da família continuem na atividade. Há, porém, a necessidade de a empresa cooperativa ser conduzida de forma profissional e de maneira que possa transmitir alto nível de confiabilidade ao quadro social. A cultura cooperativista, nesse contexto, se faz extremamente necessária. Segundo o enfoque da cooperativa como “sociedade de pessoas”, o dirigen- te, para legitimar o seu poder, deve ter uma “cultura cooperativista”, com uma significativa experiência cooperativa e com um razoável conhecimento espe- cialmente da organização cooperativa, dos seus princípios, normas, valores, com condução democrática da cooperativa (SCHNEIDER, 2003, p. 236). Schneider (2003) descreve que a boa gestão de uma cooperativa compreende desde o preparo técnico e qualificação dos dirigentes à conscientização e educação sobre cooperativismo do quadro social. A clareza e consciência dos valores e princípios cooperativistas precisam estar na mente e ações dos dirigentes e cooperados para uma perfeita gestão democrática, considerada um dos pilares de evolução da cooperativa. Existem, no Brasil, segundo a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB, 2018), mais de 6,5 mil cooperativas registradas na instituição. Destas, pouco mais de 1500 são do ramo agropecuário e praticamente todas têm mais que um produto como fonte de sustentação econômica da cooperativa e, consequentemente, do seu quadro de cooperados. No caso da Cooperativa LAR, objeto de estudo deste trabalho, são quase uma centena de produtos e serviços que dão aos seus associados, principalmente os de pequena propriedade, condições de otimização do espaço de exploração agropecuária com a diversificação de atividades, gerando renda e melhores condições de vida. Segundo Weymer et al. (2018), a diversificação é um instrumento importante de fixação das famílias no campo, porque é geradora de renda e de trabalho. Essa empregabilidade no campo está ligada, principalmente, às pequenas propriedades rurais que têm na mão de obra familiar sua maior garantia de sobrevivência, devido à preocupação com os custos de produção e maior responsabilidade com a atividade desenvolvida por mão de obra de familiares. Dentro deste contexto de formação e informação, viabilidade de projetos que busquem novos produtos aos associados e construção da identidade do produtor rural, está 65UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional o papel da Organização do Quadro Social – OQS, que especificamente na Cooperativa LAR já passa de quatro décadas de desenvolvimento. O maior desafio do cooperativismo não é crescer, mas, sim, sustentar esse crescimento. A base de sucesso está na participação ativa de seus coope- rados, que é de onde advém a produção que sustenta o empreendimento. A relação entre cooperado e empresa cooperativa precisa ser cada vez mais profissional. Assim, avaliar constantemente essa relação é um dever de quem lidera a sociedade (BOESCHE, 2015, p. 18). É nas reuniões organizadas pela cooperativa com representantes dos produtores de diversas áreas, grupos de mães e de jovens, que se busca um maior entendimento, relação e aproximação com o quadro social. Estar atento às necessidades e anseios dos produtores associados é vital para um planejamento estratégico capaz de desenvolver projetos que realmente atendam às necessidades econômicas e sociais de seus sócios. Essas reuniões técnicas e institucionais fazem com que haja uma maior aproximação da cooperativa com o quadro social e vice-versa, gerando, assim, maior comprometimento e confiabilidade entre a instituição cooperativa e os produtores associados. Para Freitas et al. (2010), o objetivo do OQS é estruturar um espaço de poder na cooperativa, possibilitando a participação de um maior número de cooperados na gestão do empreendimento cooperativo. Isso porque, através da participação política, os cooperados reduzem o espaço da burocracia, entendido como o local em que se reproduzem determinadas relações de poder. Ocorre, então, de forma prática, o poder democrático, participativo do produtor associado e de desenvolvimento de novas lideranças. Setti (2006, p. 136) salienta a importância da organização do quadro social: O tempo demonstrou que as melhores cooperativas são aquelas que têm o quadro social organizado, facilitando as ações de formação, participação, educação e representação. A atuação da Cotrefal nessa área começou já em 1966 como forma de ensinar aos associados a filosofia cooperativista e coibir a evasão de associados ao menos sinal de dificuldades administrativas ou financeiras. As reuniões de OQS fazem com que asinformações da cooperativa cheguem ao quadro social de forma mais eficaz, por meio das lideranças de produtores que foram eleitas por eles mesmos. As reivindicações e sugestões provindas, de uma maneira geral, do quadro associativo chegam também aos gestores da cooperativa a fim de que ações sejam realizadas, beneficiando ou esclarecendo a todos os interessados. 66UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional 1.3 Importância da Participação do Associado no dia a dia da Cooperativa Incentivar a participação dos cooperados em eventos técnicos ou institucionais, seja para negociação de venda de insumos e aquisição de produtos, ou por qual for o motivo, é importante para que haja uma proximidade contínua e frequente entre cooperativa e associados. É no ambiente da cooperativa que acontece ou ao menos que se contribui para a construção da identidade. É nesse local que se busca o conhecimento e a interação com outros associados, promovendo a troca de informação. Nesse sentido, destaca-se a importância da família e da cooperativa como contribuintes para a construção da identidade. A presença é diária na cooperativa por boa parte dos cooperados, que tem na cooperativa não somente um local de realizar negócios, mas que ali buscam informações e momentos de descontração. Há ainda muito a se fazer por todo o cooperativismo nacional no que se refere a levar ao quadro associativo sua percepção e consciência como dono e usuário da cooperativa. O associado passa a ser dono e decide. A grande questão é cultural. O asso- ciado não sabe que tem o associado não sabe que ele é dono da cooperativa. Ele pensa que é mero cliente, alguém que compra e vende algum produto. O associado deve ter consciência de que é dono. Por isso, tem que ter par- ticipação social e política na cooperativa. Se o associado tiver essa visão da cooperativa, evidentemente esta será bem administrada (PERIUS, 2001, p. 282). A importância da cooperativa para a evolução técnica da propriedade e da qualificação do produtor é um dos papéis do cooperativismo agropecuário e legalmente consta em seus estatutos sociais, tal como solicita a Lei do Cooperativismo. Muitos produtores rurais, apesar do acesso às novas tecnologias, esperam que a cooperativa esteja desenvolvendo para ele esse papel de busca de novas tecnologias e meios de produção capazes de diminuir os custos e aumentar a renda com maior produtividade. Por fim, entende-se que para a uma organização cooperativa alcançar o su- cesso esperado, como propulsora do desenvolvimento local, os valores e os princípios do cooperativismo devem ser entendidos e cumpridos, cada um em seu tempo certo, ou seja, primeiro o cooperativismo, depois a cooperativa (NARESSI; COTRIM, 2013, p. 100). Está claro que não há como constituir uma cooperativa apenas com o objetivo voltado às questões econômicas ou sociais. A cultura cooperativista tem sempre que estar sobre os interesses dos associados sob o risco da cooperativa não conseguir solidez econômica e até mesmo criar uma imagem de credibilidade frente à comunidade em que atua, com seus fornecedores, quadro de associados e de empregados. 67UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional 2 CLASSIFICAÇÃO DAS COOPERATIVAS As cooperativas são formadas por um grupo de pessoas com os mesmos interesses e objetivos. Dessa união de forças resulta uma cooperativa classificada como singular ou de primeiro grau. Para atender as necessidades do quadro associativo ou que elas possam estabelecer atividades, produtos e serviços que possam ir ao encontro das necessidades do quadro associativo, muitas vezes essas cooperativas precisam desenvolver atividades, sejam elas internas ou externas, podendo atender a demanda dos seus cooperados. Uma dessas atividades se trata da união de cooperativas, formando uma nova cooperativa que é denominada: Cooperativa Central, Federação ou Cooperativa de segundo grau. Essas, para que haja maior poder de representatividade política ou operacional, podem constituir uma nova cooperativa que se denomina Confederação ou Cooperativa de terceiro grau. 2.1 Cooperativas de Primeiro Grau ou Singulares As cooperativas de primeiro grau ou singulares representam o primeiro nível das cooperativas e estão Legalmente regulamentadas pelo parágrafo I Artigo 6º da Lei 5.764/71. Não é permitida a admissão de pessoas físicas ou jurídicas que tenham atividade conflitante com os objetivos gerais da cooperativa. [...] I – singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente permitida a adesão de pessoas jurídicas que tenham por objetivo as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas físicas, ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos (BRASIL, 1971). 68UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional O contato direto com o associado é realizado pelas cooperativas de primeiro grau. Não há qualquer tipo de obrigatoriedade de uma cooperativa singular pertencer a cooperativas de níveis superiores a não ser quando para atingir seus objetivos de constituição; tenha a necessidade da união de três ou mais cooperativas para a realização de uma atividade que, individualmente, por situações econômicas ou de logística, por exemplo, em que não haja possibilidades de atender os associados. Neste caso, as cooperativas singulares podem constituir uma Central ou federação que são denominadas de segundo grau. 2.2 Cooperativas de Segundo Grau ou Centrais Cooperativas As cooperativas centrais ou federações de cooperativas representam o segundo nível das cooperativas e são regulamentadas pelo parágrafo II do Artigo 6º da Lei 5.764/71. Seu objetivo é organizar em comum e em uma maior escala os serviços de suas filiadas o que facilita a utilização recíproca dos serviços. “[...] II – cooperativas centrais ou federações de cooperativas, as constituídas de, no mínimo, 3 (três) singulares, podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais” (BRASIL, 2014). Da mesma forma como são as deliberações em uma cooperativa singular, nas Centrais ou Federações a tratativa é a mesma. Os interesses coletivos sempre têm que ser sobrepostos aos interesses individuais. Muitas cooperativas singulares são desenvolvidas e sustentáveis pelo fato de haver como apoio econômico, social e político uma estrutura de uma Central ou Federação. Estas cooperativas de segundo grau são muito comuns no segmento agropecuário, crédito e de saúde. 2.3 Cooperativas de Terceiro Grau ou Confederações As confederações de cooperativas representam o terceiro e maior nível dessas instituições, atuando nos negócios que ultrapassam as esferas dos demais níveis destas instituições. Está descrita no parágrafo III do Artigo 6º da Lei 5.764/71. “III – confederações de cooperativas, as constituídas, pelo menos, de 3 (três) federações de cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou diferentes modalidades” (BRASIL, 2014). Uma das marcas que justificam a constituição de uma Confederação ou Cooperativa de Terceiro Grau é seu papel de representatividade e de disponibilização de estruturas operacionais às suas Centrais, o que contribui para a sustentabilidade das cooperativas singulares, viabilizando seus associados. 69UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional 3 ATO COOPERATIVO O pagamento pela prestação de serviço da cooperativa cabe equitativamente ao associado que a obteve. O lucro não é a intenção final da cooperativa, mas sim essa prestação de serviços. Havendo sobras no final do exercício, estas pertencem ao quadro associativo na proporção de suas operações, depois de deduzidos os fundos Legais exigidos pela Lei 5.764/71, que define na aplicação de, no mínimo, 10% das sobras para o Fundo de Reserva e 5% para o Fundo de Assistência Técnica e Social (FATES). O restante das sobras deve ser deliberado em Assembleia para o seu devido fim. Toda movimentação que há entre cooperado e cooperativa e vice-persa é denominada“Ato Cooperativo”. Visa a prestação de serviço e não a obtenção de lucro. Se houver alguma espécie de resultado, cabe ao associado, na proporção que lhe é devida, declarar ao Imposto de Renda e recolher os tributos e impostos devidos. A cooperativa não é tributada no ato cooperativo, conforme determina a Lei. As operações dos cooperados com a cooperativa ou dessa com eles ain- da que tenham expressão monetária não são transações comerciais e nem constituem operações de mercado; são, como nas empresas, atos internos da mesma economia, chamados atos cooperativos (IRION, 1997, p. 97). Segundo Irion (1997), o ato cooperativo é a operação interna da economia cooperativada e realizável entre os cooperados (pessoas físicas), as cooperativas ou até mesmo entre pessoas jurídicas, considerando outras cooperativas associadas ou de 70UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional grau superior (2º Grau que são as Centrais, formadas por cooperativas ou Confederações formadas por Cooperativas Centrais). ● Cooperativa e cooperado têm a mesma identidade jurídica; ● As operações entre ambos são internas; ● Formam uma só economia com a mesma identidade; ● As operações entre eles não se tratam de operações de mercado, pois não visam lucratividade; ● Cooperativas são como se mandatárias dos cooperados, cabendo ao mandante (cooperado) arcar com possíveis tributações sobre eventuais resultados; ● Cabe à cooperativa prestar o serviço que o cooperado não consegue de forma individual. No meio cooperativista é comum, mas deveriam ser banidas situações como: “a cooperativa pagou ao associado” ou “o cooperado comprou e pagou na cooperativa”, pois isso é relação comercial e comum no sistema mercantil. Transferir valores aos cooperados e deles receber valores, vai ao encontro dos objetivos da cooperativa que é a prestação de serviços ao quadro associativo e deles receber por essa prestação de serviço. Para que possamos conhecer a conceituação do Ato Cooperativo, precisamos, primeiramente, rever os conceitos de uma cooperativa segundo a Lei 5.764/71, que definiu o conceito de uma cooperativa no seu Art. 4º. Estabeleceu que se trata de uma sociedade de pessoas com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: I – adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibili- dade técnica de prestação de serviços; II – variabilidade do capital social, representado por quotas-partes; III – limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se as- sim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; IV – inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; V – singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade; VI – quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral basea- do no número de associados e não no capital; VII – retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às opera- ções realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assem- bléia Geral; VIII – indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistências Técnica, Edu- cacional e Social; 71UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional IX – neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; X – prestação de assistência aos associados, e quando prevista nos estatu- tos aos empregados da cooperativa; XI – área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços (BRASIL, 1971, p.1346). A partir da Lei ficam claros os objetivos da cooperativa em “prestar serviços” e não obter de lucro. Assim sendo, não cabe a ela qualquer tipo de tributação no que se refere a essa prestação ao quadro associativo. As atividades internas e externas da cooperativa, para atingir os objetivos da cooperativa com seu quadro social, não podem ser consideradas operações mercadológicas e tributáveis, como argumentam Barbara e Silva (2016, p.11): Os negócios-fim (internos) são aqueles realizados entre a cooperativa e o cooperado. Os negócios meio são negócios externos, de mercado, denomi- nados negócios com terceiros. O negócio interno, normalmente, só se reali- za, em proveito do cooperado, proveniente de um negócio externo. Negócios auxiliares são todos aqueles que precisam ser realizados para a implementa- ção do objeto da cooperativa, como, por exemplo, a locação de um imóvel e a aquisição de combustível para as máquinas agrícolas. Os negócios acessó- rios são aqueles que não se relacionam diretamente com o objeto da socie- dade, como, por exemplo, a venda de uma máquina obsoleta. Na análise do alcance do ato cooperativo, afirma aquele autor que os negócios-fim, realiza- dos com os associados, e os negócios meio são sempre atos cooperativos. Dada a complexidade do assunto, há sempre questões que envolvem a aplicabilidade ou não do Ato Cooperativo que necessitam ser levadas às instâncias jurídicas para a devida interpretação. 3.1 Ato não Cooperativo Toda negociação que há entre a cooperativa e uma pessoa física ou jurídica estranha à sociedade é considerada um ato não cooperativo e é devidamente tributada como qualquer negociação que há entre as empresas mercantis. Nesta situação pode haver “lucro” da cooperativa e, assim sendo, é tributado. Lembrando que no caso de ato cooperativo qualquer resultado positivo que há entre cooperativa e quadro social é denominado “sobra” e não é tributado. Um exemplo que pode ser citado no ato não cooperativo é quando um produtor rural vende sua safra à uma cooperativa agropecuária sem que esse pertença ao quadro associativo. Neste caso, a cooperativa apenas pode comprar essa safra se a sua prestação de serviços ao cooperado não for, de alguma forma, comprometida. O produtor rural não associado vende a safra, recebe da cooperativa e o compromisso entre as partes termina na quitação do pagamento. Caso haja “lucro” da cooperativa com esta transação comercial, é tributado normalmente como qualquer ato comercial. Cabe ressaltar que 72UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional Os resultados dos atos não-cooperativos se refletem na economia da socie- dade e não na economia dos sócios. São tributáveis sendo a cooperativa a contribuinte e o saldo destinado ao Fundo de Assistência Técnica Educacio- nal e Social das Cooperativas (IRION, 1997, p. 102). Novamente, a falta de informação e educação cooperativista compromete a imagem da cooperativa. Alguns associados não veem vantagens em ser associados, sendo comparados aqueles que movimentam com a cooperativa sem pertencer ao quadro social. Isso se explica quando o cooperado tem uma imagem puramente mercadológica com a cooperativa, sem perceber os objetivos sociais que ela preconiza. Seja qual for o grau em que se instaura uma cooperativa, o objetivo maior é por intermédio da força da cooperação, ajuda mútua, solidariedade, gestão democrática, racionalidade nas ações coletivas e possibilidade de levar às pessoas melhor qualidade de vida e prosperidade. 3.2 Cooperativismo e Desenvolvimento Nacional O papel que as cooperativas têm desempenhado no Brasil, com quase sete mil cooperativas registradas na Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e mais de dez milhões de cooperados, reflete na contribuição do cooperativismo para o desenvolvimento nacional. Nos últimos quatro anos segundo, dados divulgados pela OCB mostram que o sistema cooperativista como um todo gerou 20% a mais de empregos contra os 5% gerados por todos os outros ramos da economia nacional. Seu papel econômico e social consegue, como nenhum outro ramo da sociedade, diminuira distância entre ricos e pobres, além de seu papel primordial de inclusão social. Algumas cooperativas, principalmente as do ramo agropecuário, estão buscando alternativas quando o tema é manter-se competitiva frente a um mercado cada vez mais exigente e voraz. Uma dessas alternativas é a abertura do capital por parte das cooperativas. Nesta possível alternativa de abertura de capital existe uma grande preo- cupação em manter a identidade da empresa cooperativa, sendo que esta realidade está gerando polêmica e discussão no meio cooperativista inter- nacional. Para compreender esta situação, inicialmente deve-se ater ao fato de que para o sistema cooperativista o aporte de capital e investimentos é de fundamental importância para permitir a constante especialização e compe- titividade destas empresas no mercado (BIALOSKORSKI; MARQUES, 1998, p. 67). A defesa dos interesses inerentes do quadro associativo e da solidez das cooperativas tem seu respaldo Legal, bem como da sociedade como um todo, sabendo-se das vantagens que uma determinada região obtém (em todos os aspectos) com a instalação 73UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional de uma cooperativa. Ressalta-se, porém que não se pode deixar o poder decisório na mão de pessoas estranhas à sociedade cooperativa. A decisão maior é de interesse da cooperativa, portanto deve ser deliberada – em ação final – pelo quadro de associados presentes em uma Assembleia Geral. Algumas cooperativas brasileiras têm adotado uma gestão mais profissional que, inclusive, melhora a sua imagem perante o sistema financeiro, fornecedores e quadro associativo. Trata-se, por exemplo, da contratação de executivos do mercado para cargos de direção, procurando, assim, maior agilidade e eficácia nas questões que envolvem o mercado. Hierarquicamente, esses executivos estão ligados ao Conselho de Administração que é formado, obrigatoriamente, por associados da cooperativa e fiscalizados por um Conselho Fiscal, com integrantes também formados por associados eleitos em assembleia. 74UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação cooperativista é, sem dúvidas, um dos grandes alicerces das cooperativas no que diz respeito a sua continuidade. A formação e a informação podem e devem chegar a todos os associados. Até mesmo aqueles que têm milhares de associados. Isso é possível somente com a implantação da Organização do Quadro Social (OQS), em que são estabelecidos os grupos de estudos nas comunidades dos associados. Destas saem os líderes que vão representar esse local, tanto no que diz respeito à demanda de produtos e serviços dos associados, como também como forma de trazer da cooperativa as informações necessárias ao desenvolvimento local. Participar do dia a dia da cooperativa faz com que o associado, além de se informar quanto à situação da cooperativa, adquira conhecimento e capacitação necessária ao seu desenvolvimento social e econômico. Quanto mais acontece essa aproximação entre o associado e a cooperativa, maiores e melhores são as situações de sustentabilidade das duas partes. A cooperativa somente pode ser defendida pelo seu quadro associativo e ter uma movimentação mais efetiva se houver uma troca de informação, de capacitação e participação democrática. A garantia de que haverá um sucessor, seja na cooperativa ou nos negócios familiares, é incerta, mas maiores são as chances de haver esta sucessão família e cooperativa se houver comprometimento e diálogo entre todos os envolvidos de forma aberta e transparente. As cooperativas contribuem nesse processo, com eventos técnicos e institucionais voltados à importância desta participação efetiva. Cabe às cooperativas de primeiro grau levar produtos e serviços de necessidade de seu quadro associativo. Mas quando esses produtos ficam limitados e impossíveis de serem realizados pela sua capacidade de produção, pode e deve acontecer a união dessas com outras cooperativas, com os mesmos objetivos; nascendo, assim, as cooperativas centrais ou de segundo grau. Estas podem, havendo necessidade, constituir uma outra instituição com maior pode representativo, chamada cooperativa de terceiro grau ou Confederação. 75UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional SAIBA MAIS O futuro das cooperativas não está no seu crescimento, mesmo que seja exorbitante. As cooperativas que se preocuparem com um crescimento organizado, no sentido de que todos os que forem admitidos em seus quadros estejam conscientes de suas obrigações e direitos, serão as que terão um crescimento que pode se chamar de sustentável. Aquelas, porém, que buscarem apenas um desenvolvimento econômico, não se preocupando com a Organização do Quadro Social ou com a Educação Cooperativistas, cedo ou tarde terão problemas em suas estruturas, sejam elas de ordem social ou eco- nômica. Fonte: o autor. REFLITA “A era do romantismo das cooperativas já passou. Agora é a hora de unirmos profissio- nalismo, compromisso e intercooperação em parcerias que trazem resultados efetivos para os associados”. (Roberto Rodrigues – Ex Ministro da Agricultura, 2013). 76UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Cooperativismo e Lei Autor: Vergílio Frederico Perius Editora: Unisinos Sinopse: Dr. Vergilio Frederico Perius é o atual presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul. O Livro de sua autoria foi publicado no ano de 2001 e mesmo assim traz valiosas contribuições no que se refere a compreensão sobre os principais artigos da Lei 5.764/71; Ato Cooperativo; Tributação e responsabilidade dos sócios e dirigentes. FILME/VÍDEO Título: Ato Cooperativo e Tributação Ano de lançamento: 2017 Sinopse: Ato Cooperativo e Tributação. Por Dra. Adriana Amaral e Advogados Associados. Uma vídeo-aula que aborda a importância do Ato Cooperativo, sua legalidade e dificuldades de conquista e de implantação nos negócios das cooperativas brasileiras. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FtX0-5TShFM 77 ● Criação da Lei Cooperativista Nacional; ● Fatores que determinam o insucesso de uma cooperativa; UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional Prof. Me. Marcos dos Reis Zanin 78UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional INTRODUÇÃO A Legislação Cooperativista remete, a todos nós do meio cooperativista, a uma reflexão sobre este tema complexo e de grande repercussão. É essencial para a devida estruturação e desenvolvimento de todos os ramos do cooperativismo nacional. As primeiras abordagens dão alusão especial à Lei Federal nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, como as demais Leis que abordam o tema que envolve o cooperativismo nacional. Abordaremos os aspectos que envolvem a natureza jurídica das sociedades cooperativas e o que as difere do sistema capitalista. Desde a promulgação da Lei 5.764/71, a legislação cooperativista vem sofrendo alterações – aprimoramentos necessários às atuais conjunturas que envolvem as cooperativas, necessários para a composição dos estatutos sociais e as respectivas estruturas das cooperativas. É um grande desafio que o sistema cooperativista brasileiro vem enfrentando no Congresso Nacional com seus representantes estaduais e federais, dada a importância do tema para a consolidação e crescimento das cooperativas nacionais. E tão relevante quanto a tratativa que as cooperativas merecem é o conhecimento de dirigentes, gestores, quadro associativo e de empregados sobre o que rege a sua cooperativa. Esta tarefa não tão simples pelo fato de que, ao conceituar o Direito Cooperativo, as fontes partem do Direito Constitucional, Administrativo, Tributário, Civil, Comercial, Trabalho e Previdenciário. Pode-se dizer que o Direito Cooperativo é o ramo do Direito que tem por obje- tivo o estudo jurídico das cooperativas. Trata de seu objeto, desde a definição jurídica, suas normas regedoras, direitos e deveresde seus membros, seus órgãos, suas atividades e até sua extinção (WAKULICZ; OLIVEIRA, 2015, p.15). Ao que se refere a fatores que determinam ou não o sucesso de um empreendimento cooperativo, são, praticamente na mesma proporcionalidade da Legislação Cooperativista, extremamente complexos. Dadas as circunstâncias de regionalidade, governança, cultura, aspectos políticos, sociais e econômicos em que se encontra uma cooperativa, se dá o seu sucesso ou insucesso. Os fatos abordados a seguir darão uma idéia de como pode haver um empreendimento cooperativo, que com seus produtos e serviços contribui para o desenvolvimento regional e nacional, gerando empregos, garantindo a valorização regional, fazendo o processo de inclusão social e de melhoria de qualidade de vida das pessoas; 79UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional bem como, por outro lado, situações de cooperativas que deixaram muitas dívidas para seus associados e, por conta de sua má atuação, sujaram a imagem do cooperativismo de uma forma geral. É notória uma determinada região ou comunidade onde há ou não uma cooperativa, haja vista o desenvolvimento ou não desta localidade. Cooperativas agropecuárias, por exemplo, oportunizam que pequenos produtores rurais e a mão de obra familiar permaneçam e apliquem na região os seus ganhos ao participarem da instituição. A possibilidade de ganhos em uma pequena propriedade rural de milhares de brasileiros produtores rurais só é possível com a diversificação de atividades e o apoio com produtos e serviços de uma cooperativa. A diversificação se apresenta como um instrumento poderoso de fixação das famílias no campo porque é capaz de gerar trabalho e renda, porém, ela esbarra em algumas dificuldades, como a descapitalização e/ou a falta de garantia real junto aos agentes financeiros na obtenção de crédito para viabi- lizar a implantação de novos projetos; a falta de qualificação e conhecimento técnico para implementar gerenciar outras atividades; e a carência de as- sistência técnica para desenvolver e coordenar a implantação e gestão de novas alternativas para os produtores (MOREIRA et al., 2018, p.13). De fato, além da possibilidade de pequenos produtores obterem renda e qualidade de vida, as cooperativas bem geridas e que se preocupam com a capacitação técnica e informativa de seu quadro associativo, têm muito a contribuir para o desenvolvimento nacional. A cooperativa deve e precisa estar atenta às necessidades de seu quadro associativo. Para Moreira et al. (2018), no que se refere a cooperativas ligadas ao ramo agropecuário, por exemplo, elas precisam estar atentas e com uma visão sistêmica no mundo do agronegócio, a fim de aumentarem suas participações nestes mercados e na busca constante de novos nichos de mercado, capazes de possibilitar maiores e melhores ganhos aos seus produtores associados e, consequentemente, oportunizar a sua viabilidade de produção a campo. 80UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 1 CRIAÇÃO DA LEI 5764/71 E SUAS ALTERAÇÕES Na doutrina de Perius (2001) a construção do Direito Cooperativo brasileiro pode ser dividida em três fases: ● Fase de constituição e ordenamento (de 1903 a 1938); ● Fase intervencionista estatal (de 1938 a 1988); ● Fase autogestionária (a partir de 1988). Nos parágrafos seguintes serão apresentadas essas principais mudanças e o que elas representam para que as cooperativas brasileiras continuem desempenhando seu papel para toda a comunidade no que diz respeito ao desenvolvimento social e econômico e à busca constante da qualidade de vida. 1.1 Fase de Constituição e Ordenamento 1.1.1 Decreto-Legislativo nº 979, de 06 de janeiro de 1903 É correspondente a Lei dos Sindicatos Agrícolas. Os Sindicatos tinham a função de organizar as cooperativas; as cooperativas podiam ser de produção, consumo ou caixas rurais. As cooperativas eram similares às sociedades civis para efeito de liquidação. 81UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 1.1.2 Decreto nº 6.532, de 20 de junho de 1907 Aprova o regulamento do decreto-legislativo nº 979/03. 1.1.3 Decreto nº 1.637, de 05 de janeiro de 1907, que cria os sindicatos profis- sionais e sociedades cooperativas As sociedades cooperativas eram definidas sem estrutura jurídica própria. Equiparavam-se a formas particulares de exercício do comércio, sendo amparadas às sociedades comerciais. Neste decreto havia três interrogações que merecem reflexão dos cooperativistas atuais: 1. As cooperativas eram sociedades de pessoas? 2. Era possível a solidariedade? 3. Como era a responsabilidade social? 1.1.4 Decreto nº 17.339, de 02 de junho de 1926 Regulamentou a fiscalização gratuita da organização e do funcionamento das Caixas Rurais Raiffeisen e dos Bancos Luzzatti. 1.1.5 Decreto nº 22.239, de 19 de dezembro de 1932 Decreto que constitui a maior referência como marco jurídico para a consolidação das cooperativas brasileiras. Pelo art. 2º foi definido à época o conceito de sociedade cooperativa. As sociedades cooperativas, qualquer que seja a sua natureza, civil ou comercial, são sociedades de pessoas e não de capitais, de forma jurídica “sui generis”, que se distinguem das demais sociedades pelos pontos característicos que se seguem, não podendo os estatutos consignar disposições que os infrinjam. Este Decreto Lei teve inspiração teve inspiração rochdeliana. O referido Decreto avançou na conceituação de sociedade cooperativa e afastou-a das demais roupagens jurídicas. 1.1.6 Decreto nº 23.661, de 20 de dezembro de 1933 Esse Decreto revogou o de nº 22.239/32 e disciplinou os consórcios profissionais cooperativos. 82UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 1.1.7 Decreto nº 24.647, de 10 de julho de 1934 Institui o cooperativismo sindicalista e o patrimônio dos consórcios promocionais cooperativos. 1.1.8 Constituição Outorgada de 1937 O art. 18 dava competência supletiva para os Estados legislarem em matéria cooperativa (independentemente de autorização, os estados podem legislar, no caso de haver Lei Federal sobre a matéria, para suprir as deficiências ou atender as peculiaridades locais). 1.2 Fase Intervencionista, de 1938 a 1988 1.2.1 Decreto nº 581, de 01 de agosto de 1938 Revogou os decretos nº 23.611/33 e nº 24.647/34 e revigorou o decreto nº 22.239/32. Esse Decreto ordenou que a fiscalização das cooperativas passasse a ser de competência do Ministério da Agricultura, da Fazenda, do Trabalho, Indústria e Comércio. Os demais, até o ano de 1984, sendo apresentados de forma resumida como sendo: ● Decreto nº 1.386, de 05 de dezembro de 1938. o Disciplinou a constituição, o funcionamento e a fiscalização das coope- rativas do ramo de seguros. ● Decreto nº 1.386, de 05 de dezembro de 1939. o As pessoas jurídicas tinham autorização para participar das cooperati- vas relacionadas à indústria extrativa. ● Decreto nº 6.980, de 19 de março de 1941. o Fiscalização prevista no decreto 581/38. ● Decreto nº 7.192, de 19 de maio de 9141. o Altera o decreto nº 6980/41. ● Lei nº 5154, de 31 de dezembro de 1942. o Previu o processo de intervenção nas cooperativas. 83UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional ● Decreto Lei nº 5893, de 19 de maio de 1943. o Constituído com 179 artigos, baixou as novas instruções sobre a or- ganização, funcionamento e fiscalização das cooperativas em geral – criou a Caixa de Crédito Cooperativo e revogou o decreto nº 581/38. ● Decreto Lei nº 6.274/44. o Complementou o Decreto Lei 5.893/43. ● Decreto nº 8.401, de 19 de dezembro de 1945. o Revogou o decreto nº 5.893/43 e o Decreto-Lei nº 6274/44 e revigorou os decretos nº 22.239/32 e 581/38. ● Lei nº 1.412, de 13 de agosto de 1951. o Transformou a Caixa de Crédito Cooperativo em Banco Nacional de Crédito Cooperativo. ● Decreto nº 30.265/51. o Regulamenta a Lei 1.412/51. ● Lei 3.189/57. o Permitiu a admissão de pessoas jurídicas nas cooperativasde trans- portes e passageiros. ● Decreto nº 43.552/58. o Tratou da fiscalização, em geral, das cooperativas e da intervenção. ● Decreto nº 46.438/59. o Criou o Conselho Nacional de Cooperativismo, cassado em suas fun- ções pela Constituição Federal de 1988. ● Lei nº 3.870/61. o Dava isenção do imposto do selo para as cooperativas em contratos de financiamento. ● Lei nº 4.214/63. o Tratou do Estatuto do trabalhador rural. ● Lei nº 4.380/64. o Criou o Sistema Financeiro da Habitação (BNH). 84UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional ● Lei nº 4.504/64. o Deu Poderes ao Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA) para orientar, registrar e fiscalizar as cooperativas vinculadas ao Minis- tério da Agricultura. ● Lei nº 4.595/64. o Sujeitou as cooperativas de crédito, quanto as suas normativas, ao Conselho Monetário Nacional e quanto à fiscalização, ao Banco Cen- tral do Brasil. ● Decreto nº 55.891/65. o Pelo art. 8º cuidava da organização das Cooperativas Integrais de Re- forma Agrária (CIRAS). ● Decreto nº 55.889/65. o Cuidava das cooperativas na reforma agrária (IBRA). ● Decreto nº 55.801/65. o Pelo art. 15 criou as cooperativas de seguro agrícola. ● Decreto nº 55.890/65. o Regulamentou as cooperativas na reforma agrária (INDA). ● Decreto nº 58.197/66. o Deu regulamentação das cooperativas de reforma agrária (CIRA). ● Lei nº 4.829/65. o Institucionalizou o Crédito Rural, cujo art. 11 falava do Sistema de coo- perativas de Produtores Rurais. ● Decreto nº 59/66. o Foi o novo diploma legal que revogou o decreto n. 22.239/32. ● Decreto-Lei nº 60/66. o Deu forma jurídica de S/A ao BNCC. ● Decretos nº 668/69 e nº 65.398/69. o Regulamentaram o BNCC. ● Lei nº 5.636/70. o Alterou o decreto nº 60/66. 85UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional ● Decreto nº 58.377/66. o Instituiu as cooperativas habitacionais organizadas pelos sindicatos de trabalhadores. ● Decreto nº 60.597/67. o Regulamentou o decreto nº 59/66. ● Decreto nº 60.443/67. o Deu isenção do imposto de renda para as cooperativas. ● Lei nº 5.316/676. o Oferecia legislação específica para as cooperativas médicas e para o seguro de acidentes de trabalho. ● Decreto-Lei nº 1.110/70. o Criou o INCRA ● Decreto 68.153/71. o Foi regulamentado o INCRA e lhe concedeu controle, fiscalização, in- tervenção e assistência às cooperativas. ● Lei nº 5.764/71 de 16 de dezembro de 1971. o Trata-se da Lei em vigor, excetuadas as normas não recepcionadas pela Constituição Federal de 1988. ● Lei nº 6.981/82. o Dava poderes ao INCRA para delegar funções ao sistema cooperati- vista. ● Lei nº 7.231/84. o Acontece a transferência das competências do INCRA sobre as coope- rativas para o Ministério da Agricultura. 86UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 1.3 Fase Autogestionária a partir da Constituição Federal de 1988 Até o ano de 1988 o cooperativismo nacional teve 50 anos de intervenção do estado, período que compreendeu o ano de 1938 a 1988. Começa deste período em diante a não intervenção do Estado, ficando a responsabilidade no processo de Autogestão para os sócios das cooperativas. Inicia-se o grande marco divisor entre a intervenção e a autogestão cooperativa. A caminhada pela independência das cooperativas face ao governo, culmina no X Congresso Brasileiro de Cooperativas, realizado em Brasília, simulta- neamente à fase mais aguda do processo da Constituinte Brasileira. Nesse evento, foram lançadas as bases da autonomia e da autogestão das coope- rativas. As propostas das cooperativas foram incorporadas à Carta Magna (PERIUS, 2001, p. 28). Caminha no Congresso, desde o ano de 1995, uma nova proposta de Lei Cooperativista que, entre algumas alterações solicitadas, está o número mínimo para constituição de cooperativas singulares; número de associados em primeira convocação de assembleias; mandato do conselho fiscal, entre outras mudanças que até o momento ainda não foram votadas. Mesmo que haja vários Deputados e Senadores que representam o cooperativismo em suas reivindicações, a morosidade de aprovação desta nova Lei dificulta melhores ações das cooperativas brasileiras, que muito poderiam estar contribuindo, de forma mais efetiva. 87UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 2 OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS COM A IMPLANTAÇÃO DA AUTOGESTÃO NAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS A Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) para cumprir uma de suas funções, que é a representatividade e apoio às cooperativas, divulgou os objetivos gerais da autogestão para que não houvesse qualquer distorção pelas cooperativas que aderiram ao programa. 2.1 Objetivos Gerais a) Operacionalizar o monitoramento, a supervisão, a auditoria e o controle das coo- perativas. • Por intermédio do Planejamento Estratégico de cada cooperativa e rece- bimento de balancetes, a OCB faz este trabalho de acompanhamento do dia a dia das cooperativas. b) Organizar, administrar e executar o ensino de formação profissional e a promo- ção social dos trabalhadores em cooperativas, dos cooperados e de seus fami- liares. • Trabalho voltado não apenas aos associados e funcionários, mas a seus familiares, com intuito maior de promover e melhorar a imagem do coope- rativismo de uma forma geral. 88UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional c) Assistir as sociedades cooperativas empregadoras na elaboração e execução de programas de treinamento e na realização da aprendizagem metódica e con- tínua. • Dadas as exigências mercadológicas internas e externas dos produtos e serviços das cooperativas, há uma constante atualização neste sentido. d) Estabelecer e difundir metodologias adequadas à formação profissional em ges- tão de cooperativas e a promoção social do trabalhador, do cooperado e de seus familiares. • Preocupa-se com o processo de sucessão tanto no que se refere aos fu- turos líderes e dirigentes das cooperativas como ao preparo contínuo e de promoção de seus funcionários. e) Exercer a coordenação, supervisão e fiscalização da execução dos programas e projetos de formação profissional e de gestão em cooperativas, de trabalhadores em cooperativas e cooperados. • Gestão técnica com cursos profissionalizantes e de capacitação interna e externa, a fim de atender seus funcionários e quadro de associados. f) Assessorar o Governo em assuntos relacionados à formação profissional, e ges- tão cooperativista, além de atividades assemelhadas. • O Governo estabelece, muitas vezes, cursos destinados aos funcionários e associados por intermédio de seus órgãos, necessitando, assim, um contato direto com as cooperativas para atender as demandas. 2.2.1 Objetivos Específicos a) Ser, efetivamente, um instrumento de modernização e sustentabilidade das sociedades cooperativas e de melhoria empresarial para agregação de valores aos cooperados, seus familiares e trabalhadores; b) Assegurar a transparência na gestão, na administração e resultados da sociedade cooperativa aos seus cooperados; 89UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional c) Propiciar a orientação, pelo sistema cooperativista, do processo de orientação quanto à constituição e registro de cooperativas em seus órgãos de representatividade estadual e nacional; d) Favorecer o aperfeiçoamento profissional dos cooperados por intermédio de programa de educação, formação, capacitação e reciclagem de dirigentes, cooperados, proponentes, familiares e comunidade; e) Melhorar a profissionalização e gestão das empresas cooperativas, tornando- as mais ágeis, sustentáveis e competitivas no mercado em que atuam, por intermédio de programas de capacitação e formação dos seus profissionais; f) Fazer valer do sistema cooperativista uma referência como modelo de empresa cooperativa no mercado, demonstrando qualidade e confiabilidade ao público em geral, por meio do monitoramento, supervisão, auditoria de gestão e o controle das cooperativas;90UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 3 FATORES QUE DETERMINAM O INSUCESSO DE UMA COOPERATIVA O interesse meramente econômico por parte do associado de uma instituição cooperativa, principalmente quando de seu ingresso, o faz utilizar-se da instituição apenas como um meio ou oportunidade de rentabilidade quando o mercado capitalista não oferece as mesmas vantagens. Como vimos, o cooperativismo não faz transações comerciais que visam lucro, como também foi abordado que as cooperativas não são entidades de filantropia ou estão direcionadas apenas a questões sociais. Esse ponto de equilíbrio entre as questões sociais e econômicas é o grande desafio das cooperativas. Sendo assim, quanto mais informação, formação e proximidade com o quadro associativo, menores são as chances desta imagem “mercantil” se fazer entre a sociedade. Por outro lado, quanto maior o distanciamento, maiores são as chances de que haja uma imagem distorcida da cooperativa, prejudicando não somente a instituição, mas também os seus serviços e produtos para os associados. O imediatismo, o oportunismo e a ganância por questões econômicas não estão apenas nos interesses dos associados da cooperativa e sim, nos interesses dos gestores. A segurança e a sustentabilidade da cooperativa ficam comprometidas. O sócio é imediatista, é sôfrego em buscar o resultado, é oportunista nos ne- gócios, é antes de tudo o indivíduo e não a sociedade. Enquanto a sociedade caminha lenta, gradual e sistematicamente, visando à segurança do presente e enraizando bases sólidas para o futuro, o sócio só percebe o presente e se aninha no passado (BENATO, 1994, p. 7). 91UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional Estabelecer os interesses pessoais acima do coletivo é típico daqueles que enxergam a sociedade cooperativa apenas como algo para lhe favorecer, mesmo que seja em detrimento aos outros sócios. Para Schneider (1999), os sócios devem poder participar nas decisões fundamentais da cooperativa e devem controlar e limitar as ações dos seus dirigentes. Para isso, deve-se haver essa aproximação. As cooperativas devem estabelecer, em suas unidades operacionais, oportunidades do associado exercer suas influências sobre as suas atividades. É compatível combinar a centralização da gestão para obter maior eficiência e racionalidade com a descentralização e os interesses dos associados. Uma administração eficiente contribui direta e indiretamente patra a participação democrática. Diretamente, porque a qualidade dos recursos, das mercado- rias e das instalações, mais a garantia de receber um bom retorno, motivam os associados a participar. Indiretamente, porque quanto maiores as empre- sas, melhores as condições de êxito terão nas suas atividades e na presta- ção dos serviços de informação, de educação, de assistência social e outros que permitirão aos associados desempenhar mais efetivamente o seu papel (SCHNEIDER, 1999, p. 157). Percebe-se a importância da educação cooperativista, de uma boa gestão (democrática), um quadro funcional capacitado, transparência, estabelecimento de um planejamento estratégico que realmente vá ao encontro das necessidades dos associados. Essas e outros valores precisam ser muito eficazes na cooperativa, sob o risco da instituição não conseguir sobreviver às inúmeras exigências mercadológicas, de produtos e serviços que o mundo requer. Dada a importância do cooperativismo para o ambiente econômico e rural, é preciso desenvolver estudos que possam fortalecer este sistema, principal- mente relacionados com o equilíbrio entre a eficiência econômica e a eficácia social. Este é um dos principais desafios das cooperativas, que precisam sobreviver em uma economia capitalista, mas ao mesmo tempo devem pre- servar valores cooperativos (FLORES; GREGORI, 2010, p. 2). A preocupação dos Conselheiros da cooperativa, quadro funcional e social é direcionarem ações que possam equilibrar as questões sociais e econômicas da instituição. É esse equilíbrio que faz com que a cooperativa não se afaste de seus princípios e valores, dando assim, a devida sustentabilidade e evolução permanente. Muitas cooperativas estabelecem metas de crescimento a curto, médio e longo prazo e não deixam claro, por exemplo, de que forma a atuação social da cooperativa seguirá este crescimento. Relembrando que quanto maior é a distância do quadro social (nos eventos da cooperativa, sejam eles técnicos ou institucionais), maiores são as chances da cooperativa cair em descrédito perante os seus cooperados e comunidade como um todo; prejudicando não somente o processo de gestão e sustentabilidade da cooperativa, mas comprometendo a viabilidade de seus produtos e serviços. 92UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 4 FATORES DETERMINANTES PARA O SUCESSO DE UMA COOPERATIVA Vários são os fatores que podem determinar ou não o sucesso de uma cooperativa. Várias cooperativas brasileiras estão voltadas às responsabilidades sociais do quadro associativo e da comunidade; não esquecendo, porém, da importância da preocupação com as questões econômicas. Ver uma instituição formada por pessoas com interesses comuns e a participação no dia a dia da cooperativa traz resultados não somente aos cooperados, mas para a região; contribui para a fidelidade cooperativa, que é um dos alicerces mantenedores da cooperativa. As práticas de gestão nas cooperativas mostram-se, cada vez mais, em bus- ca da otimização da interação entre cooperativa-cooperado, desenvolvendo estruturas organizacionais baseadas em compreensões mútuas e na respon- sabilidade social, alcançando a fidelidade do cooperado e a maximização das relações econômicas entre estes e a cooperativa, o que demonstra (uma das vantagens competitivas conferidas pela participação social à cooperativa) (FREITAS; SAMPAIO; MÁXIMO, 2010, p. 52). Nessa citação os autores enfatizam a importância da interatividade entre a cooperativa e o cooperado. Para que possa haver uma efetiva compreensão dos projetos da cooperativa e obter o comprometimento de todos, faz-se necessária essa aproximação. Para Boesche (2005), a cooperativa tem que passar a pensar com os seus cooperados e não para eles. Isso demonstra que para que possamos defender e nos comprometer com algo, são necessárias essa aproximação, busca de informação e formação. Cabendo, por um lado, à Cooperativa dar essa oportunidade e disponibilizar uma estrutura funcional 93UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional e operacional para tanto. Por outro lado, o cooperado tem que cumprir uma de suas obrigações, que é manter-se informado com a cooperativa. Haver um controle democrático em uma cooperativa, principalmente para as que têm milhares de associados, não é uma tarefa fácil para os gestores. Por intermédio da Organização do Quadro Social (OQS), o caminho da informação e obtenção das demandas dos associados entra nas estratégias das cooperativas. Os associados passam a ter seus representantes, que, além de levar, trazem informações relevantes da cooperativa, diminuindo, assim, o ruído que pode haver na comunicação, tão importante para o sucesso de uma cooperativa. A Organização do Quadro Social (OQS) emerge como prática institucional de participação e controle democrático nas organizações cooperativas. É carac- terizada pela formação de uma nova instância de exercício do poder, além daquelas comumente encontradas nas cooperativas, como as assembleias gerais, o conselho de administração, o conselho fiscal, dentre outras. Esta estratégia conduz a uma mudança institucional na estrutura da cooperativa. A proposta é viabilizar a vivência integral do princípio cooperativista da gestão democrática. Trata-se de estruturar uma nova forma de expressão e integra- ção entre os membros do grupo cooperado (FREITAS, 2010, p. 53). Uma cooperativa pode até sobreviver por um período sem que haja uma efetiva participação democráticana gestão, porém está fadada ao insucesso e à dissolvência. As cooperativas que se norteiam, são monitoradas e conduzidas com a observância dos princípios e valores do cooperativismo, não deixam de ter alguns problemas (mercadológicos, por exemplo), porém a probabilidade de superarem certos obstáculos é muito maior. A democracia e a educação cooperativa são uma das “chaves” do sucesso, o que é reforçado por Schneider (1999, p.106) quando descreve: A democracia cooperativa, no contexto das iniciativas dos pioneiros esteve também associada, desde os inícios, ao esforço da educação dos associa- dos. Já numa experiência cooperativa anterior a 1844, na qual vários pionei- ros participaram, a “The Rochdale Friendly Society”, fundada em 1830, com 52 associados, se haviam destinado recursos para a educação dos associa- dos, constituindo-se inclusive para rtanto uma modesta biblioteca. Não é a quantidade de cooperativas ou o seu tamanho que vai medir a sua eficácia socioeconômica para o quadro associativo e comunidade. Necessita-se, segundo Cotrim (2013), que seja estabelecido um preparo maior das pessoas para que possam se sentir pertencentes à uma sociedade cooperativa. Necessita-se mais ter consciência de formar associados do que formar cooperativas. A preocupação com a educação cooperativista não se limita, obviamente, ao quadro social, pois o envolvimento e ações devem ser destinadas ao quadro de empregados e seus respectivos familiares. A partir do momento que as pessoas entrarem na cooperativa mais conscientes de seus deveres e direitos, que 94UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional os gestores desempenhem seus papéis com responsabilidade e comprometimento, e que o quadro de colaboradores saiba da sua importância no contexto cooperativista, teremos maiores e melhores cooperativas no Brasil. Evidencia-se, porém, a necessidade das lideranças municipais somarem es- forços para que a ideia da constituição da cooperativa não caia no esqueci- mento. Com o pensamento de que é mais importante formar cooperados do que formar cooperativas, precisam-se promover meios de estimular a partici- pação e a educação cooperativa. Os gestores, colaboradores e associados devem estar igualmente capacitados, conscientes e comprometidos, para que cada ator possa desempenhar o seu papel dentro da organização. Os gestores e colaboradores precisam gerir e trabalhar com responsabilidade e eficiência, enquanto os associados precisam assumir a posição de verdadei- ros donos da cooperativa (COTRIM, 2013, p. 99). Havendo uma participação mais proativa de todos os que estão ligados, de alguma forma, com a cooperativa, melhores serão os seus produtos, serviços e participação na comunidade como instrumento de viabilidade sócio-econômica, melhor será a sua arrecadação tributária, geração de empregos, viabilidade de pessoas que, individualmente, estão exclusas da sociedade. O sucesso de uma cooperativa não está nas mãos apenas dos gestores, mas de todos aqueles que veem na cooperativa um instrumento eficaz contra as mazelas deixadas pelo capitalismo. Por fim, não se mede uma cooperativa em sua eficácia apenas pelo aumento do número de associados, de faturamento ou de abertura de novas instalações. O sucesso da cooperativa está enraizado nos valores e princípios cooperativistas. Quando a evolução da cooperativa se faz de forma igualitária ou na mesma proporcionalidade que seu quadro associativo, aí sim pode ser considerada sucesso, independentemente de seu tamanho, a ordem de faturamento ou número de associados. Marschall (2009, p. 292) destaca o papel exercido pela doutrina religiosa no surgimento de cooperativas: [...] A doutrina religiosa, empregada desde o início da fundação das colônias, assumiu papel significativo no surgimento da cooperativa em questão. A fa- mília é tida como o espaço social pelo qual o pequeno proprietário mantém a sua identidade como agricultor, seu estilo de vida, seu modo de produção voltado a policultura, e é também nela que alimenta e fortalece seu projeto de vida de sobrevivência e de bem-estar. A família é uma das principais bases de sustentabilidade da cooperativa – percebe- se aí a criação, formação e continuidade de uma identidade cooperativa. Cria-se, na família, os laços de interatividade, respeito, humanismo e comprometimento com a melhoria da qualidade de vida, itens vitais para as cooperativas, independente de seu segmento. 95UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional 5 CONTRIBUIÇÃO DO COOPERATIVISMO PARA O DESENVOLVIMENTO NACIONAL Segundo dados divulgados pela Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) em meados de 2019, o Brasil conta com 6.828 cooperativas. Juntas conseguem deixar para o Brasil, a ideia de que, com a força da união, se consegue ir muito mais longe, seja no desenvolvimento e sustentabilidade de uma pequena propriedade rural de mão de obra familiar, ou ótimos rendimentos em uma aplicação financeira nas cooperativas de crédito. A seguir um breve resumo dos principais números e contribuições do cooperativismo nacional divulgados pela OCB e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quadro 1 – Demonstração do número de cooperativas, cooperados e empregados no Brasil Ramo do Cooperativismo Nacional Número de Cooperativas Número de Cooperados Número de Empregados AGROPECUÁRIO 1.613 1.021.019 209.778 CONSUMO 205 1.991.152 14.272 CRÉDITO 909 9.840.977 67.267 EDUCACIONAL 265 60.760 3.412 ESPECIAL 10 377 8 HABITACIONAL 282 103.745 742 INFRAESTRUTURA 135 1.031.260 5.824 MINERAL 95 59.270 177 PRODUÇÃO 230 5.564 1.132 SAÚDE 786 206.185 107.794 TRABALHO 925 198.466 5.105 TRANSPORTE 1.351 98.190 9.792 TURISMO E LAZER 22 1.867 15 TOTAL GERAL 6.828 14.618.832 425.318 Fonte: OCB (2019). 96UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional De acordo com o Relatório Anual do Cooperativismo Brasileiro (OCB, 2019), nos últimos quatro anos o Brasil conseguiu gerar por volta de 5% de novos empregos, demonstrando a importância do papel das cooperativas brasileiras como contribuintes para o desenvolvimento nacional, que, sozinhas, geraram, no mesmo período, mais de 18% de novos postos de trabalho, totalizando mais de 425 mil empregos. Um dado interessante da pesquisa realizada pela OCB é no tocante à empregabilidade feminina, que representa 48% deste total. O Quadro 1 retrata essa relevância dada as importantes informações quanto ao número de pessoas que as cooperativas atendem diretamente. Segundo informações da OCB (2019), as cooperativas do ramo agropecuário e de crédito obtiveram, cada uma, um crescimento de 20% em 2018 em número de associados e faturamento geral. Algumas cooperativas destes ramos foram incorporadas por cooperativas maiores, com o objetivo de ganhar mais liquidez e garantir a continuidade dos serviços prestados aos seus associados. Juntas, as cooperativas brasileiras distribuíram aos seus associados como resultados (sobras) positivos nas assembleias mais de 7,5 bilhões de reais e conta com o expressivo número de R$40,2 bilhões em capital social (somatório de todas as contas capitais dos associados). Os resultados são a base para o Sistema OCB traçar estratégias eficazes para tornar o cooperativismo ainda mais forte e desenvolvido, sendo reco- nhecido, conseqüentemente, pela sociedade por sua competitividade, integri- dade e capacidade de gerar felicidade para as pessoas (OCB, 2019). Se formos comparar com outros países, tais como o Canadá, Alemanha e Nova Zelândia, mais de 30% da população faz parte de alguma cooperativa, seja como associado ou trabalhador. No Brasil, esse número fica por volta dos 7%. Muito ainda há de se fazer para que, além do aumento deste índice, mais pessoas possam usufruir dos produtos e serviços das cooperativas. Dessa forma, as cooperativas vêm dando sustentação não apenas às ativi- dades agropecuárias, com também à agroindústria, que utiliza bases dinâmi- cas e inovadorascapazes de manter a capacidade produtiva em constante ascensão. Sendo possível com a expansão de uma economia moderna, que possibilite a agregação de valores à produção, dando maior retorno aos que utilizam do sistema de cooperativismo (NETO et al., 2000 p. 52). Para Boesche (2005), o desafio do cooperativismo não é crescer, mas sustentar esse crescimento. Está na participação ativa de seus associados o segredo de que a cooperativa poderá continuar com a sua contribuição direta e indireta com o desenvolvimento nacional. Vimos, porém, que apenas 6% da população brasileira participa de alguma cooperativa. Há muito caminho a ser percorrido e ocupado pelas cooperativas para que, além da inclusão 97UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional social, que é um dos valores das cooperativas, a distância entre ricos e pobres possa diminuir gradativamente. O cooperativismo se encontra em 156 países do mundo, ocupa todos os continentes com suas mais de 3 milhões de cooperativas, dando melhores condições e qualidade de vida a mais de 1.2 bilhão de cooperados e seus familiares. São números que nos inspiram a cada vez mais a propagar, divulgar e motivar a criação de mais cooperativas que possam estar presente na vida das pessoas em todas as suas necessidades econômicas e sociais. Que não permitamos a dissolvência de uma cooperativa (cooperativa não entra em processo de falência por não se tratar de uma sociedade de capital,mas de pessoas). Os danos vão além das questões financeiras e perda da rentabilidade de milhares de cooperados, empregabilidade, inclusão social, recolhimentos de impostos e tributos. A perda da qualidade de vida, que é propiciada pelas cooperativas, é algo que não se mensura. Que possa haver mais e mais cooperativas para o bem de todas as pessoas que se comprometem e protegem o cooperativismo. 98UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional CONSIDERAÇÕES FINAIS Cabe a uma assembleia geral estabelecer os principais passos em referência às necessidades do quadro associativo. Nessas assembleias, por intermédio da participação do associado, acontece, efetivamente, a democracia – seu poder maior. As assembleias, porém, jamais podem sobrepor a Lei maior do cooperativismo nacional, a Lei 5.764/71, criada para nortear as cooperativas, obedecendo aos princípios e os valores cooperativistas. Após este período houve vários decretos e normativas que foram necessários para a devida adequação da Lei às necessidades e exigências ocasionais. Após a Constituição de 1988 foi criado o Programa de Autogestão, que tem a finalidade de passar para os associados a total responsabilidade e gestão das cooperativas, por eles criadas e conduzidas. Após a criação da primeira cooperativa brasileira, em 1903, no Rio Grande do Sul, outras milhares foram criadas e muitas delas, porém, não conseguiram continuar com suas atividades por motivos que vão desde a utilização da cooperativa como um trampolim político ou econômico de alguns dirigentes ou grupo de associados oportunistas a cooperativas que foram criadas sem o devido planejamento ou educação cooperativista ao seu quadro associativo. A dissolução de uma cooperativa tem vários motivos e, independentemente de quais foram, o reflexo é extremamente danoso não somente ao quadro associativo e de empregados, mas também à comunidade como um todo, pois todo o resultado de uma cooperativa é destinado de forma direta e indireta à comunidade onde ela atua. Temos, no Brasil, na atualidade quase 7 mil cooperativas em todos os estados, que geram meio milhão de empregos diretos, com um quadro associativo que passa de 14 milhões de pessoas. O sucesso da cooperativa não depende somente dos seus gestores, conselheiros, associados ou quadro de empregados, trata-se de uma forma conjunta, comprometimento de todos, tal como prega o cooperativismo na sua essência – união de pessoas para um mundo melhor. 99UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional SAIBA MAIS A bancada do cooperativismo, em Brasília, formada por dezenas de Deputados e al- guns Senadores, além de estar em constante batalha pelos direitos das cooperativas e seus associados, também procura colocar em votação um Projeto de Lei que tramita no Congresso desde o ano de 1995, de autoria de Osmar Dias, Eduardo Suplicy e Foga- ça. Esse projeto procura, entre várias mudanças, dar mais agilidade nos processos de constituição e dissolvências das cooperativas. Um dos grandes desafios das cooperativas brasileiras está em melhorar a imagem do cooperativismo em determinadas regiões em que a experiência não foi bem exitosa por conta do oportunismo, imediatismo e ganância de alguns de seus diretores e associa- dos. Nesse sentido, o trabalho se justifica em iniciar pela Educação, Formação e Informação para que a sociedade possa usufruir, de forma responsável, dos benefícios de uma coo- perativa. Fonte: o autor. REFLITA “O cooperativismo é uma filosofia de vida. A proposta de obtenção de uma melhor qua- lidade de vida por intermédio da ajuda mútua, solidariedade, humanismo e respeito, sendo o resultado dividido entre todos os participantes, é algo que só se obtêm no coo- perativismo”. Fonte: o autor. 100UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Uma das mais importantes literaturas brasileiras sobre Legislação Cooperativista, em que você encontra, entre outros temas relevantes: • Histórico do cooperativismo brasileiro; • Fase constitucional e ordenamento de 1903 a 1938; • Responsabilidade social do quadro associativo; • Processo Assemblear; • Ato Cooperativo; • Processo eleitoral e obrigatoriedades. FILME/VÍDEO Filme: Cooperar é um Bom Negócio Sinopse: cooperativa, o que é, para que serve e como funciona. O vídeo Cooperar é um bom negócio, elaborado pelo SEBRAE NACIONAL, tem finalidade de divulgar as vantagens das cooperativas, sua contribuição para a diminuição da pobreza e para o desenvolvimento nacional. É apresentado no documentário um depoimento muito importante do atual Presidente da OCB, Marcio de Freitas. Disponível em: https://youtu.be/4iRwjAI43RQ. 101UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______________________Economia e gestão de organizações cooperativas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ABRAMOVAY, R. Juventude e agricultura familiar: desafios dos novos padrões sucessórios. Brasília: Unesco, 1998. Associação Brasileira de Estudos Populacionais - ADEP. Anais do XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. 2008. Disponível em: http://www.abep.org.br/~abeporgb/publicacoes/ index.php/anais/issue/view/36/showToc. Acesso em: 12 dez. 2018. BARBARA, F. S. R.; SILVA, D. A. P. Adequado Tratamento Tributário do Ato Cooperativo nas Cooperativas de Serviços de Saúde. Revista FADIVALE, Governador Valadares, ano IX, n. 13, 2016. BAUER, M. A. L.; MESQUITA, Z. As Concepções de Identidade e as Relações entre Indivíduos e Organizações: um Olhar sobre a Realidade da Agricultura Ecológica. ANPAD, 2007. BENATO, J. V. A. O ABC do cooperativismo. São Paulo: ICA, 1994. 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O cooperativismo, de uma forma geral, como você pode estudar ao longo dessa nossa caminhada, é extremamente complexo. Requer, além de conhecimento, consciência cooperativista para que, assim, possa ter uma ideia mais real do que, efetivamente, o cooperativismo, por intermédio das cooperativas, pode levar à comunidade como um todo. Foi necessário estudar onde tudo começou; as principais dificuldades dos pioneiros de Rochdale; como a ideia do cooperativismo chegou no Brasil e de que forma pode contribuir para os primeiros imigrantes europeus. Conhecemos um pouco da nossa Legislação, que é uma das bases de proteção dos interesses dos associados de uma cooperativa. Soubemos de que forma a sucessão interfere diretamente na continuidade, ou não, de uma cooperativa e de que forma isso deve ser encarado e planejado pela cooperativa. Por fim, mostramos os principais números do cooperativismo nacional da atualidade e o que isso representa para o desenvolvimento nacional e manutenção de milhares de profissionais dos mais diversos ramos espalhados por todos os estados brasileiros. Foi uma viagem no tempo e, de certa forma, pudemos resgatar um pouco dos valores e princípios do cooperativismo, tão necessários para a manutenção, continuidade e sustentabilidade das nossas cooperativas. Que possamos ter um mundo mais fraterno e cooperativo, pois somente com a união de forças podemos ir muito mais além dos nossos sonhos. Paz e bem, sempre. Prof. Zanin. UNIDADE I Evolução Histórica do Cooperativismo UNIDADE II Doutrina do Cooperativismo UNIDADE III Ramos do Cooperativismo Nacional UNIDADE IV Legislação do Cooperativismo Nacional