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Sumário MÓDULO I – CONCEITOS E PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS .............. 3 Unidade 1 – Conceitos Gerais .............................................................4 Unidade 2 – Princípios Orçamentários ................................................ 10 Unidade 3 – Técnicas Orçamentárias ................................................. 39 Unidade 4 – Regras Fiscais ............................................................... 44 Exercícios de Fixação - Módulo I ....................................................... 51 MÓDULO II – O ORÇAMENTO PÚBLICO .......................................... 52 Unidade 1 – Leis Orçamentárias (PPA, LDO, LOA) ............................... 53 Unidade 2 – Receita Pública ............................................................. 74 Unidade 3 – Despesa Pública ............................................................ 88 Unidade 4 – Regras Fiscais na União ............................................... 106 Unidade 5 – Execução Orçamentária ............................................... 128 Unidade 6 – Créditos adicionais e outras alterações orçamentárias ...... 161 Exercício de Fixação - Módulo II ...................................................... 166 MÓDULO III – PROCESSO LEGISLATIVO ORÇAMENTÁRIO ........... 167 Unidade 1 – Ciclo Orçamentário ...................................................... 168 Unidade 2 – Processo Legislativo Orçamentário na Constituição Federal .................................................................................................. 172 Unidade 3 – A Resolução nº 1/2006-CN: Conceitos gerais aplicáveis a todas as leis orçamentárias ............................................................ 177 Unidade 4 – A Tramitação do Projeto de Lei do Plano Plurianual .......... 193 Unidade 5 – A Tramitação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias .................................................................................................. 198 Unidade 6 – A Tramitação do Projeto de Lei Orçamentária Anual e seus Créditos Adicionais ........................................................................ 202 Exercícios de Fixação - Módulo III ................................................... 218 MÓDULO I – CONCEITOS ORÇAMENTÁRIOS OBJETIVOS • Conceituar Orçamento Público em suas diferentes acepções. • Associar essa conceituação a aspectos legais e doutrinários. • Reconhecer as principais características referentes a Orçamento Público. • Conceituar os princípios orçamentários mais importantes. • Identificar no texto constitucional e legal cada princípio. • Identificar o alcance de cada princípio. • Reconhecer a aplicação prática de cada princípio. • Conceituar governança orçamentária segundo a OCDE. • Identificar e distinguir as principais técnicas orçamentárias preconizadas pela doutrina. • Identificar e distinguir as regras fiscais e seus tipos. Unidade 1 – Conceitos Gerais O presente curso irá tratar do orçamento público. Mas o que é orçamento público? De acordo com a Lei nº 4.320/1964, que estatui normas gerais de Direito Financeiro, o Orçamento Público é a lei que contém a discriminação da receita e da despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do Governo (art. 2º). É certo que o orçamento público se traduz no ato pelo qual o Poder Executivo prevê a arrecadação de receitas e fixa a realização de despesas para o período de um ano, e o Poder Legislativo lhe autoriza, por meio de lei, a execução das despesas destinadas ao funcionamento do Estado. Mas o seu escopo é muito maior: constitui valioso instrumento que dispõe a sociedade para exercer, de forma direta ou por seus representantes, o controle sobre o Estado. O orçamento moderno possui um caráter múltiplo, apresentando-se como instrumento jurídico, político, econômico, programático, gerencial, contábil, financeiro, entre outros (Giacomoni, 2017; Sanches, 2007). No Brasil, o orçamento, além dessas funções, incorporou mais uma importante função: o PLANEJAMENTO. Essa função deve demonstrar as políticas públicas de governo e de que maneira elas devem ser executadas. Nesse momento, o orçamento deixa de ser uma peça que lista os gastos e as receitas do setor público e se transforma em um instrumento de planejamento das ações governamentais. Na Constituição Federal, a função de planejamento aparece no Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, onde se destaca a importância do papel do Estado como agente normativo e regulador da atividade econômica. “Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. ” O modelo orçamentário brasileiro está definido no Capítulo II – Das Finanças Públicas, Seção II – Dos Orçamentos, nos arts. 165 a 169 da Constituição Federal de 1988. Ele tem por base o elo entre o planejamento e a fixação de despesas para determinado exercício e materializa-se em três leis ordinárias: Lei do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). O papel dessas três leis orçamentárias é integrar as atividades de planejamento e orçamento, com vistas a assegurar o sucesso da atuação governamental. Esse sistema integrado de planejamento e orçamento deve ser adotado pelas três esferas de governo: União, estados e municípios. O planejamento orçamentário é inicialmente definido para um período de quatro anos, nos termos do PPA. Além disso, para cada exercício financeiro são aprovadas as respectivas LDO e LOA. A LDO faz a integração entre o planejamento de médio prazo constante do PPA e as despesas a serem autorizadas para o ano na LOA. E, assim, a LOA trata da alocação dos recursos públicos propriamente dita. Mais detalhes sobre o sistema orçamentário e as leis que o compõem serão vistos mais à frente. Uma importante característica comum entre os três tipos de leis orçamentárias é a iniciativa de seus projetos. Os projetos das leis orçamentárias são atos de iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo. Assim, cada um dos Poderes elaborará sua proposta orçamentária e a encaminhará ao Poder Executivo para consolidação e posterior envio, ao Legislativo, de uma proposta de orçamento da unidade da Federação envolvida. Assim, por exemplo, no caso da União, os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, bem como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União, elaboram suas propostas orçamentárias e encaminham para a consolidação por parte do Poder Executivo. Uma vez consolidada, a proposta de orçamento da União segue para o Legislativo. Sobre a iniciativa dos projetos das leis orçamentárias, vale trazer algumas decisões do STF a respeito: "Competência exclusiva do Poder Executivo iniciar o processo legislativo das matérias pertinentes ao Plano Plurianual, às Diretrizes Orçamentárias e aos Orçamentos Anuais. Precedentes: ADI 103 e ADI 550." (ADI 1.759-MC, Rel. Min. Néri da Silveira, julgamento em 123-98, DJ de 6-4-01) "Orçamento anual. Competência privativa. Por força de vinculação administrativo constitucional, a competência para propor orçamento anual é privativa do Chefe do Poder Executivo." (ADI 882, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 19-2-04, DJ de 23-4-04) Portanto, a iniciativa do projeto de lei orçamentária é privativa do Poder Executivo, não podendo ser suprida por outro órgão, ainda que do Poder Legislativo, sob pena de se configurar violado o dispositivo constitucional que fixa essa prerrogativa!Atenção Toda lei orçamentária possui algumas características: 1. É uma LEI FORMAL Nesses termos, o orçamento não é um ato normativo infralegal ou um mero ato administrativo. Trata-se de matéria ligada ao princípio da legalidade, sendo uma das leis mais importantes do País, na medida em que estabelece onde serão aplicados os recursos arrecadados da sociedade. 2. É uma LEI TEMPORÁRIA (com vigência limitada) Conforme será visto em mais detalhes ao longo do curso, o orçamento estima as receitas e fixa as despesas da União ou da unidade da Federação para o período de um ano, equivalente ao exercício financeiro. Encerrado o ano, deve entrar em vigor outra lei orçamentária, mesmo que a anterior ainda gere efeitos jurídicos em certas situações (a exemplo da possibilidade de pagamentos dos chamados “restos a pagar”, que serão estudados em tópico específico). 3. É uma LEI ORDINÁRIA Na tradicional classificação das normas jurídicas, arrolada no art. 59 da Constituição Federal, as leis orçamentárias assumem a forma de lei ordinária, embora revestida com características peculiares que serão devidamente exploradas ao longo do presente curso. 4. É uma LEI ESPECIAL (possui um trâmite diferenciado de outros projetos de leis ordinárias) O processo de elaboração da lei orçamentária anual (LDO e PPA também) é complexo e estratificado em diversas etapas, cada qual com matizes próprios. Sua tramitação legislativa é especial, por ser distinto de projetos de lei ordinária comuns, possuindo, inclusive, fundamento constitucional. Com efeito, a Constituição prescreve sua tramitação parlamentar em uma comissão mista específica para o processamento das matérias orçamentárias (a Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização – CMO). 5. É uma LEI AUTORIZATIVA ou IMPOSITIVA? Muito se discute a respeito da natureza jurídica da lei orçamentária. Predominava o entendimento de que a LOA era uma lei autorizativa, não obstante a redação do art. 174 da Constituição Federal, reproduzida anteriormente, indicar que o planejamento é determinante para o setor público. Esse caráter autorizativo da lei significava que, uma vez inscrito no orçamento, um determinado gasto poderia ou não ser realizado, cabendo aos gestores públicos a avaliação discricionária sobre a realização do dispêndio. Entretanto, com a promulgação da Emendas Constitucionais 100 e 102, de 2019, a análise ficou um pouco mais complexa. Vejamos os termos da redação dada por essas emendas ao art. 165 da Constituição: Art. 165 § 10 - A administração tem o dever de executar as programações orçamentárias, adotando os meios e as medidas necessários, com o propósito de garantir a efetiva entrega de bens e serviços à sociedade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019) § 11 - O disposto no § 10 deste artigo, nos termos da lei de diretrizes orçamentárias: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 102, de 2019) I - subordina-se ao cumprimento de dispositivos constitucionais e legais que estabeleçam metas fiscais ou limites de despesas e não impede o cancelamento necessário à abertura de créditos adicionais; II - não se aplica nos casos de impedimentos de ordem técnica devidamente justificados; III - aplica-se exclusivamente às despesas primárias discricionárias. Assim, a execução das despesas primárias é devida, salvo nos casos em que houver impedimentos técnicos e suas modificações exigirão a realização de créditos adicionais para ajuste da dotação. Alterações nas dotações orçamentárias. Além disso, existem as chamadas emendas individuais e de bancada parlamentar impositivas, estabelecidas respectivamente pelas Emendas Constitucionais 86/2015 e 100/2019. Essas emendas estabelecem um conjunto de despesas em montante determinado e cuja execução deve ser fielmente seguida pelo Poder Executivo. Nesse contexto, podemos dizer que a natureza do orçamento público brasileira não é nem integralmente autorizativa nem totalmente impositiva, mas algo intermediário, que alguns doutrinadores chamam de natureza híbrida. Para conhecermos um pouco do que nos trouxe até aqui, no âmbito do orçamento público brasileiro, vamos assistir a uma entrevista com o Professor José Luiz Pagnussat acerca da História do Orçamento Público Brasileiro: Clique aqui. (https://youtu.be/3fNSz3IzdmY) Sugestão de leitura complementar: Para acessar o estudo dos Consultores de Orçamentos do Senado Federal Fernando Veiga Barros e Silva e Fernando Moutinho Ramalho Bittencourt - Entre o mar do “autorizativo” e a pedra do “impositivo das emendas”: sobre a possibilidade de resgate institucional do orçamento brasileiro, clique aqui. Para acessar o estudo do servidor da Câmara dos Deputados Adiel Lopes dos Santos - Caráter da Lei Orçamentária Anual e suas implicações no equilíbrio de força entre os Poderes Executivo e Legislativo, clique aqui. http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104190/mod_book/chapter/75402/Or%C3%A7amento%20Autorizativo%20x%20Or%C3%A7amento%20Impositivo.pdf https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/orcamento-em-discussao/edicao-44-2019-entre-o-mar-do-201cautorizativo201d-e-a-pedra-do-201cimpositivo-das-emendas201d-sobre-a-possibilidade-de-resgate-institucional-do-orcamento-brasileiro http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104190/mod_book/chapter/75402/Or%C3%A7amento%20Autorizativo%20x%20Or%C3%A7amento%20Impositivo.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104190/mod_book/chapter/75402/Or%C3%A7amento%20Autorizativo%20x%20Or%C3%A7amento%20Impositivo.pdf https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/orcamento-em-discussao/edicao-23-2016-carater-da-lei-orcamentaria-anual-e-suas-implicacoes-no-equilibrio-de-forca-entre-os-poderes-executivo-e-legislativo Unidade 2 – Princípios Orçamentários Para começarmos nosso estudo, precisamos entender o que são princípios. Vamos lá? Os princípios são normas gerais que, pela sua relevância, abrangência e valor intrínseco, fundamentam o sistema jurídico. Permitem a interpretação de situações concretas com base nos fins a que se destinam a norma. Tudo bem... E em relação aos princípios orçamentários? Os princípios orçamentários, segundo Sanches (2004), são “um conjunto de proposições orientadoras que balizam os processos e as práticas orçamentárias, com vistas a dar-lhes estabilidade e consistência, sobretudo no que se refere à sua transparência e ao seu controle pelo Poder Legislativo e pelas demais instituições da sociedade”. E para que servem? Os princípios orçamentários foram estabelecidos para aumentar a estabilidade e consistência do sistema orçamentário. Eles orientam o processo orçamentário desde sua concepção até sua execução e facilitam o controle. No caso do sistema orçamentário, os princípios receberam grande ênfase na fase em que os orçamentos possuíam preponderante conotação jurídica, sendo que alguns foram incorporados na legislação: na Constituição Federal de 1988, na Lei 4.320/64 (Lei de Finanças Públicas) e na Lei 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Vamos começar a analisar os importantes princípios orçamentários? Princípio da Legalidade As receitas e despesas públicas só poderão ser realizadas se autorizadas previamente por lei. As leis em questão são a Lei Orçamentária Anual (LOA) e as que aprovam créditos adicionais. É considerado um princípio constitucional, podendo ser conferido nos arts. 5º e 166 da Constituição Federal (CF): Art. 5º... II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; ” (princípio da reserva legal). Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aoscréditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. Esse princípio orienta todo o sistema orçamentário. Graças a ele, o planejamento e o orçamento são realizados por meio de leis (PPA, LDO e LOA). Como foi visto na unidade anterior, as leis orçamentárias têm status de lei ordinária e são elaboradas segundo um procedimento especial, a ser discutido em tópico próprio em nosso curso. Neste momento, convém assinalar que a relevância do orçamento público, abarcando toda a estimativa da receita e a fixação da despesa de um ente federado para um exercício financeiro, por si só justifica que a matéria seja tratada por lei. Além disso, é válido esclarecer que o princípio da legalidade representa, tradicionalmente, uma garantia aos cidadãos, associando-se de forma indelével à famosa tripartição dos poderes constituídos. Nesse contexto, o fato de as receitas serem estimadas e as despesas fixadas por uma lei assegura que o Poder Legislativo, formado pelos representantes eleitos do povo, pronuncie-se expressamente sobre a matéria. Podemos imaginar quão diferente seria caso a elaboração do orçamento fosse operacionalizada via ato administrativo exclusivo do Poder Executivo (um decreto presidencial, por exemplo)? Certamente, teríamos um cenário em que o produto final ressentir-se-ia de legitimidade e de uma maior transparência. É razoável assumir, ainda, que o fato de o processo decisório se concentrar na mão de poucos agentes públicos do Executivo permitiria, potencialmente, manipulações diversas envolvendo a destinação dos recursos públicos. Princípio da Anualidade ou Periodicidade Esse princípio está demonstrado no art. 2º da Lei nº 4.320/1964, que estatui normas gerais de Direito Financeiro: Art. 2º A lei de orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo, obedecidos os princípios da unidade, universalidade e ANUALIDADE. (Destaque nosso.) Ele estabelece que a lei orçamentária anual seja elaborada para um determinado período. O art. 34 da Lei nº 4.320/1964, transcrito em seguida, especifica o período de tempo associado a cada orçamento: Art. 34. O exercício financeiro coincidirá com o ano civil. Como o próprio nome diz: Lei Orçamentária ANUAL. Especialistas em Direito Financeiro dizem que o princípio da anualidade também é um princípio com matriz constitucional. Confira os preceitos da Constituição: “Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: [...] III - os orçamentos anuais. [...] § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: ” Enfim, nas leis orçamentárias anuais a vigência das autorizações das despesas públicas inicia-se no dia 1º de janeiro e termina em 31 de dezembro. Cabe então uma indagação: depois de 31 de dezembro, todas as autorizações expiram e não podem mais ser executadas? A resposta é NÃO. Como toda regra, há exceção, e essa exceção chama-se CRÉDITO ADICIONAL, mais especificamente os créditos especiais e extraordinários. A exceção ao princípio da anualidade encontra-se na Constituição Federal, em seu art. 167: Art. 167. (...) § 2º - Os créditos especiais e extraordinários terão vigência no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente. (Grifamos.) Atenção Teremos uma unidade específica que explicará em detalhes o que são os créditos adicionais e quais são suas espécies. Outra figura que, especialmente nos últimos anos, conforme será visto em seção específica do curso, tem mitigado o princípio da anualidade orçamentária são os chamados “restos a pagar”. A legislação em vigor faculta que determinadas despesas com processamento iniciado dentro do exercício financeiro sejam pagas nos exercícios seguintes. O incrível crescimento da magnitude dessas despesas no orçamento federal tem criado um verdadeiro “orçamento paralelo”, que disputa os mesmos escassos recursos financeiros do orçamento do ano. Princípio da Universalidade O princípio da universalidade, além de constar do art. 2º da Lei nº 4.320/1964, também está contemplado nos arts. 3º e 4º. Vamos a eles: Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, UNIVERSALIDADE e anualidade. Art. 3º A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei. Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas próprias dos órgãos do Governo e da administração centralizada, ou que, por intermédio deles se devam realizar, observado o disposto no artigo 2°. (Grifamos.) Esse princípio informa que o orçamento deve abranger todas as rendas e todos os gastos do ente estatal a que se refere. Alguns autores apontam que o princípio da universalidade funciona de forma integrada ao princípio da unidade. E, com isso, o princípio também se encontra respaldado na Constituição Federal. Vamos a ele: Art. 165, § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. É certo que os dispositivos constitucionais, em muitas situações, necessitam de regulamentação, por meio de normas de hierarquia inferior, para terem plena eficácia. No âmbito federal, a legislação infraconstitucional tem disciplinado, de forma pormenorizada, a aplicação do princípio da universalidade ao orçamento da União. Um exemplo característico dessa realidade é a exclusão dos conselhos de fiscalização de profissão regulamentada, constituídos formalmente como autarquias federais, dos orçamentos da União. De fato, as autarquias federais, a partir da leitura direta do art. 165, 5º, I, da Constituição, deveriam estar todas presentes no orçamento fiscal. No entanto, atento a características próprias dessa modalidade de autarquia, o legislador tem optado por excluir das leis orçamentárias conselhos como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e Conselho Regional de Economia (Corecon). Essas exclusões têm sido realizadas no âmbito das leis de diretrizes orçamentárias federais. Princípio da Unidade Conforme esse princípio, todas as receitas e despesas devem integrar um único documento legal. Assim, cada ente da Federação deve elaborar e aprovar uma única lei orçamentária. O princípio da unidade encontra-se na Lei nº 4.320/1964: “Art. 2º A lei de orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo, obedecidos os princípios da unidade, universalidade e anualidade”. (Grifo nosso.) E, também, na Constituição de 1988: Art. 165, § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II - o orçamentode investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. (Grifo nosso.) Lembre-se de que o princípio da unidade anda junto com o da universalidade. Embora existam três orçamentos (Fiscal, de Investimento das Empresas Estatais e da Seguridade Social), eles são consolidados em uma única lei orçamentária. Diante disso, alguns doutrinadores renomearam o princípio da unidade para princípio da TOTALIDADE, visto que a totalidade dos órgãos está inserida na mesma lei de orçamento, permitindo uma visão de conjunto das finanças públicas. Um aspecto interessante relacionado a esse princípio diz respeito à apresentação da lei orçamentária no que tange aos orçamentos fiscal, da seguridade social e de investimento das empresas estatais. Fisicamente, nas publicações oficiais, não há segregação entre as esferas orçamento fiscal e orçamento da seguridade social, suas receitas e gastos são apresentados conjuntamente, pelos diversos órgãos e unidades orçamentárias comuns. Já o orçamento de investimento das empresas estatais é apresentado de forma apartada dos outros dois, já que seus órgãos e unidades orçamentárias são distintos. Cumpre mencionar que, há alguns anos, o Tribunal de Contas da União determinou que se fizesse a separação física dos orçamentos fiscal e da seguridade social, para, supostamente, atender em plenitude o disposto no art. 165, § 5º, I e III, da Constituição. Porém, após prolongadas discussões, ficou assentado que a separação física era, além de desnecessária por já ser possível a qualquer momento a segregação via diversos sistemas de produção de consultas nas bases de dados do orçamento, também pouco producente, trazendo uma série de problemas adicionais, como a divisão das despesas de vários órgãos em dois orçamentos. Princípio da Exclusividade O princípio da exclusividade determina que a lei do orçamento não contenha qualquer matéria estranha à estimativa da receita e à fixação da despesa. Esse princípio está previsto na Constituição Federal: Art. 165. (...) § 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. (Grifo nosso.) E qual o objetivo desse princípio? A proibição evita que o chefe do Poder Executivo, ao encaminhar o projeto de lei orçamentária, aproveite a oportunidade e inclua outras matérias que não sejam orçamentárias. Também veda que sejam apresentadas emendas parlamentares com conteúdos estranhos à seara de receitas e despesas públicas. Com esse artifício, são evitados os famosos penduricalhos ou rabilongos orçamentários. Deve-se lembrar que os projetos de lei do orçamento são processados segundo ritos especiais, que viabilizam, em praticamente todas as situações, sua célere aprovação e transformação em lei. A ausência de regras específicas que assegurem a observância do princípio da exclusividade certamente estimularia um cenário em que o orçamento se transformaria numa lei impregnada de inúmeros assuntos absolutamente estranhos a seus objetos principais. Porém, como falamos anteriormente, em toda regra há exceções. Nesse caso, a própria Constituição cria três ressalvas ao princípio da exclusividade. São elas: 1. Autorização para a abertura de crédito adicional suplementar; 2. Contratação de qualquer operação de crédito; 3. Contratação de operações de crédito por antecipação da receita orçamentária (ARO). A Lei 4.320/1964, em seu art. 7º, também determina exceções ao princípio da exclusividade: “Art. 7° A Lei de Orçamento poderá conter autorização ao Executivo para: I - Abrir créditos suplementares até determinada importância obedecidas as disposições do artigo 43; II - Realizar em qualquer mês do exercício financeiro, operações de crédito por antecipação da receita, para atender a insuficiências de caixa”. Vamos conceituar as ressalvas ao princípio, para que não restem dúvidas a respeito. Créditos Suplementares – São créditos destinados ao reforço, isto é, ao acréscimo de recursos, de uma ou mais dotações na Lei Orçamentária Anual (LOA). Operações de Crédito - Compromisso financeiro assumido pelas entidades da administração pública para obter recursos destinados a financiar seus dispêndios (receitas de operações de crédito) ou cobrir eventual insuficiência de caixa (operação de crédito por antecipação de receita). A operação de crédito pode ser utilizada como fonte de recurso para créditos adicionais. Antecipação da Receita Orçamentária – É uma espécie do gênero Operações de Crédito. Trata-se de processo pelo qual o tesouro público pode contrair uma dívida por "antecipação da receita prevista", a qual será liquidada quando efetivada a entrada de numerário. É utilizada, geralmente, quando o governo não possui dinheiro em caixa suficiente para pagamento de determinadas despesas. Atenção Alguns desses conceitos serão mais detalhados ao longo do curso. Princípio da Não afetação Também chamado de princípio da não vinculação. Esse princípio determina que não é possível vincular receitas obtidas de impostos a qualquer tipo de despesa, órgão ou fundo. Princípio da não afetação está inserido no seguinte dispositivo da Constituição Federal: Art. 167 – São vedados: (...) IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo. (Grifamos.) Atenção Observe que a vedação à vinculação se restringe aos IMPOSTOS! Se você leu com atenção o preceito acima, notou que foi utilizada a palavra “ressalvadas”. O que isso quer dizer? Mais exceções ao princípio. Vamos às exceções, com citação dos correspondentes dispositivos constitucionais: 1. Fundo de participação dos municípios – FPM (art. 159, inciso I, alínea b); 2. Fundo de participação dos estados - FPE (art. 159, inciso I, alínea a); 3. Recursos destinados para as ações e serviços públicos de saúde (art. 198, § 2º, incisos I, II e III); 4. Recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino (art. 212, §§ 1º, 2º e 3º); 5. Recursos destinados às atividades da administração tributária (art. 37, inciso XXII); 6. Recursos destinados à prestação de garantia às operações de crédito por antecipação da receita – ARO (art. 165, § 8º, e art. 167, inciso IV); 7. Recursos destinados à prestação de contra garantia à União e para pagamento de débitos para com esta (art. 167, § 4º). O princípio da não afetação tem acentuada importância no cenário atual das finanças públicas do País, porém se constata que, da forma como o sistema rege-se atualmente, tem exibido baixa eficácia. Uma das grandes percepções dos especialistas da área reside, exatamente, no excesso de “engessamento” do orçamento público. A cada ano, a aprovação de novas vinculações de recursos e definições de pisos de gastos para setores específicos dificultam as decisões alocativas, visto que sobrampoucos recursos livres para serem destinados aos setores que não estão protegidos pela legislação vigente. Para se ter uma ideia dos montantes envolvidos, o total de despesas obrigatórios soma 93,7% do orçamento público federal na LOA 2023, deixando 6,3% para as despesas com a máquina pública e investimentos. Isso ocorre a despeito da plena vigência da chamada Desvinculação das Receitas da União (DRU), que, nos termos do art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), desvincula 30% da arrecadação da União de impostos, contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico para livre destinação. Para se desviar da vedação da vinculação de impostos prevista na Constituição, os interessados valem-se de mecanismos como a aprovação de vinculações no próprio texto constitucional e a definição legal de um valor mínimo (piso) de gasto para determinadas áreas de governo, sem vincular diretamente a receita de impostos. Esses expedientes acabam por engessar progressivamente as finanças do País. Tal mecanismo tomou tanta importância na gestão financeira orçamentária da União que é reiteradamente prorrogado. Hoje a DRU desvincula 30% da receita da União até o fim do exercício de 2024 com a aprovação da Emenda Constitucional nº 126 aprovada em dezembro de 2022. Princípio do Orçamento Bruto O princípio do orçamento bruto estabelece que todos os valores presentes no orçamento (despesa e receita) devem constar pelos seus valores totais (brutos), sem qualquer espécie de dedução. Ou seja, a dotação orçamentária não deve considerar eventuais descontos ou abatimentos que porventura sejam obtidos na execução. Com isso, procura-se evitar a ocorrência de importâncias “líquidas” nos orçamentos, fato esse que estaria configurando omissões de valores. A base legal desse princípio está positivada na Lei nº 4.320/1964, em seu art. 6º: Art. 6º Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções. (Grifo nosso.) A existência desse princípio diz respeito, diretamente, à transparência orçamentária. As receitas e gastos devem estar indicados em plenitude, evitando que eventuais deduções dificultem, de alguma forma, um dos papéis mais importantes do orçamento: permitir aos cidadãos verificar o destino dos recursos públicos. Princípio da Discriminação O princípio da especificação, também conhecido como princípio da discriminação ou da especialização, tem como objetivo impedir a inclusão de dotações globais na lei orçamentária para atender às despesas. Assim, toda despesa deve ser identificada, na proposta orçamentária, no mínimo por elemento de despesa, permitindo que o Poder Legislativo tenha noção exata das despesas que o Poder Executivo deseja ver autorizadas. No próximo módulo, dedicaremos uma unidade à classificação da despesa pública, onde será estudado o chamado elemento de despesa. Esse princípio está inserido em dois dispositivos da Lei nº 4.320/1964: Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, ressalvado o disposto no artigo 20 e seu parágrafo único. Art. 15. Na Lei de Orçamento a discriminação da despesa far-se-á no mínimo por elementos. § 1º - Entende-se por elementos o desdobramento da despesa com pessoal, material, serviços, obras e outros meios de que se serve a administração pública para consecução dos seus fins. (Grifamos.) O art. 5º da Lei nº 4.320/1964 menciona a palavra “ressalvado”, ou seja, mais uma exceção. Vamos a ela: Art. 20. Os investimentos serão discriminados na Lei de Orçamento segundo os projetos de obras e de outras aplicações. Parágrafo único. Os programas especiais de trabalho que, por sua natureza, não possam cumprir-se subordinadamente às normas gerais de execução da despesa poderão ser custeadas (sic) por dotações globais, classificadas entre as Despesas de Capital. (Grifo nosso.) Mas o que são os Programas Especiais de Trabalho? São programas que envolvem proteção a testemunhas e recursos secretos para pagamento de informantes nos órgãos de segurança. Se fossem especificados, perderiam sua finalidade. Temos mais uma exceção, só que, agora, está presente em outro instrumento legal: a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF): Art. 5º O projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma compatível com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com as normas desta Lei Complementar: (...) III - conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, destinada ao: (...) b) atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos. (Grifamos.) A Reserva de Contingência é uma espécie de dotação global colocada na lei orçamentária, destinada a atender passivos contingentes e outras despesas imprevistas. Trata-se de uma reserva incorporada no orçamento para financiar gastos que não sejam previstos quando da elaboração orçamentária. Ao longo do exercício financeiro, pode se fazer uso da dotação da reserva de contingência como fonte de créditos adicionais, que nada mais são que alterações da lei orçamentária. Uma aplicação relevante do princípio da discriminação refere-se à especificação dos gastos no orçamento por localidade ou região a ser beneficiada. A questão da regionalização das despesas do orçamento é sempre crítica e objeto de acalorados debates quando da tramitação dos projetos no Poder Legislativo. No orçamento federal, existe um volume expressivo de dotações com indicadores de localização agregada, sendo que o principal deles identifica o gasto como “nacional”. O descritor “nacional” deveria ser aplicado para programações em que não é possível identificar uma unidade da Federação ou Região a ser contemplada pela despesa. Uma programação para investimentos “nacional” normalmente será executada beneficiando alguma localidade específica, porém a informação dessa localidade somente será conhecida quando da execução do gasto. Essa situação denota certa deficiência do sistema de planejamento federal, que não viabiliza uma definição prévia das regiões que serão beneficiadas com os recursos públicos. Para se ter uma ideia, na proposta orçamentária federal para 2023, conforme dados extraídos do Sistema Siga Brasil, do valor total orçado para investimentos, R$ 71,1 bilhões, cerca de R$ 36,7 bilhões são destinados a programações de abrangência nacional. Essa classificação “nacional” é conferida mesmo a casos de projetos absolutamente passíveis de identificação em nível local, a exemplo de ações para: https://www12.senado.leg.br/orcamento/sigabrasil http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/orcamento_senado/SigaBrasil APOIO A PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL LOCAL INTEGRADO (R$ 4,9 bilhões); ESTRUTURAÇÃO DE UNIDADES DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA EM SAÚDE (R$ 0,9 bilhão); APOIO À INFRAESTRUTURA PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA (R$ 0,8 bilhão); ESTRUTURAÇÃO DA REDE DE SERVIÇOS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (R$ 0,3 bilhão); MELHORAMENTOS NO CANAL DE NAVEGAÇÃO DA HIDROVIA DO RIO TOCANTINS (R$ 0,3 bilhão); APOIO À IMPLANTAÇÃO DE ESCOLAS PARA EDUCAÇÃO INFANTIL (R$ 0,3 bilhão); APOIO À IMPLANTAÇÃO, AMPLIAÇÃO OU MELHORIAS EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM MUNICÍPIOS COM POPULAÇÃO SUPERIOR A 50 MIL HABITANTES OU MUNICÍPIOS INTEGRANTES DE REGIÕES METROPOLITANAS OU DE REGIÕES INTEGRADAS DE DESENVOLVIMENTO (R$ 0,3 bilhão). Atenção O ILB oferece um curso on-line, que orienta o interessado a buscar dados no SIGA BRASIL. Confira! Princípio da PublicidadeO princípio da publicidade determina que, como qualquer ato legal ou regulamentar, as decisões sobre orçamento só têm validade após a sua publicação em órgão da imprensa oficial. Esse princípio está consagrado no art. 37 de nossa Constituição Federal: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...] (Grifo nosso.) Nos últimos anos, muito se tem avançado no País em matéria de publicidade dos gastos públicos. Não obstante seja lícito afirmar que a linguagem orçamentária, excessivamente cifrada e repleta de termos técnicos, não é a mais amigável aos cidadãos em geral, ao menos já existem instrumentos importantes que franqueiam o acesso aos dados orçamentários a qualquer interessado com acesso à rede mundial de computadores. É importante assinalar que o Senado Federal cumpre um importante papel nesse contexto, ao disponibilizar o Sistema Siga Brasil na rede mundial de computadores. Trata-se de uma forma prática de acesso a praticamente todos os dados do orçamento federal, desde a elaboração até a execução orçamentária, praticamente em tempo real. O Siga Brasil, cuja gestão é realizada pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado Federal com apoio técnico do Prodasen, tem sido agraciado em diversos fóruns de transparência e tecnologia de informação. Foi destaque do relatório e-Parliament da ONU em 2008 e recebeu o prêmio Brasil TIC, em 2007. Foi também apresentado na World eParliament Conference 2009, realizada em novembro na cidade de Washington (EUA), em evento promovido pela Organização das Nações Unidas, pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos e pela União Interparlamentar, que reúne a comunidade mundial de parlamentos. Ainda no final de 2009, o projeto foi agraciado com o Prêmio TI&Governo, que contempla empresas e órgãos públicos que implementam os melhores projetos de governo eletrônico. E não parou por aí, a implementação de novas tecnologias de TI permitiram a esta importante ferramenta de transparência oferecer visões plurianuais e filtros intuitivos em todo o orçamento federal. https://www12.senado.leg.br/orcamento/sigabrasil http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/orcamento_senado/SigaBrasil Novos Princípios Orçamentários da OCDE Para a OCDE (2015), o orçamento público é um documento político fundamental do governo, que mostra como os objetivos anuais e plurianuais serão priorizados e alcançados pela ação estatal. Conjuntamente a outros instrumentos de política governamental, como leis, normas e ações conjuntas com outros atores da sociedade, o orçamento visa transformar planos e aspirações em realidade. Entende-se, assim, que o orçamento é um contrato entre cidadãos e Estado, mostrando como os recursos são arrecadados e alocados para a prestação de serviços públicos. Nesse contexto, a OCDE reuniu em forma de recomendação os aprendizados de mais de uma década de trabalho de seu Grupo de Altos Funcionários do Orçamento (do inglês Senior Budget Office – SBO) e respectiva rede de profissionais parceiros, juntamente com as contribuições e ideias do Comitê de Governança Pública e outras áreas da OCDE, bem como as da comunidade internacional de orçamento em geral. Essa recomendação fornece uma visão geral concisa das boas práticas em todo o espectro da atividade orçamentária, especificando, em particular, dez princípios de governança orçamentária, que fornecem orientações claras para a concepção, implementação e melhoria dos sistemas orçamentários para enfrentar os desafios do futuro sem prejuízo de princípios orçamentários mais tradicionais. A intenção geral foi fornecer uma ferramenta de referência útil para os formuladores de políticas e profissionais de todo o mundo e ajudar a garantir que os recursos públicos sejam planejados, gerenciados e usados de maneira eficaz para causar um impacto positivo na vida dos cidadãos. Os novos princípios orçamentários da OCDE em tradução livre: 1) Os orçamentos devem ser gerenciados dentro de limites fiscais claros, críveis e previsíveis; 2) Os orçamentos devem ser estreitamente alinhados com as prioridades estratégicas de médio prazo do governo; 3) O orçamento de capital deve ser projetado para atender às necessidades de desenvolvimento nacional, de forma eficiente, efetiva e coerente; 4) Os dados e documentos orçamentários devem ser abertos, transparentes e acessíveis; 5) O debate sobre as escolhas orçamentárias deve ser inclusivo, participativo e realista; 6) Os orçamentos devem apresentar um retrato abrangente, preciso e confiável das finanças públicas; 7) A execução orçamentária deve ser ativamente planejada, gerenciada e monitorada; 8) Avaliações de desempenho devem ser parte integrante do processo orçamentário; 9) A sustentabilidade de longo prazo e outros riscos fiscais devem ser identificados, avaliados e gerenciados de forma prudente; 10) A integridade e a qualidade das projeções orçamentárias, do planejamento fiscal e da execução orçamentária devem ser promovidas mediante rigorosa asseguração de qualidade, incluindo auditoria independente. Veja que a natureza dos novos princípios propostos é completamente distinta dos princípios orçamentários clássicos: unidade, universalidade, clareza, equilíbrio, exclusividade, periodicidade etc. Schick (2014) identifica três diferenças fundamentais entre os novos e os clássicos princípios. Primeiramente, entende que os princípios tradicionais são mais autorreferidos e procedimentais, quando, por sua vez, os novos princípios são mais concatenados a dimensões não orçamentárias e consideram a orçamentação como um componente crítico da governança pública. Em segundo lugar, os novos princípios dirigem-se a temas estruturantes, como o da sustentabilidade das finanças públicas. Por último, enquanto os princípios tradicionais se apresentam mais como declarações específicas e independentes, os novos princípios abordam dimensões do que se entende como governança orçamentária chancelada pela OCDE. Percorreremos agora cada um desses novos princípios. Princípio 1 – Os orçamentos devem ser gerenciados dentro de limites fiscais claros, críveis e previsíveis. Considerado um ponto de partida da governança orçamentária (SBO, 2014), o esse princípio orienta a utilização de uma política fiscal sustentável, que evite a escalada indesejável de dívida. Para tanto, sugere- se uma gestão orçamentária top-down para alinhar as políticas públicas dentro de um horizonte fiscal de médio prazo. Ademais, as metas anuais devem garantir que os elementos de receita, despesa e política econômica sejam consistentes e gerenciados de acordo com os recursos disponíveis (OCDE, 2014). Schick (2013) alerta que, qualquer que seja o prazo, uma regra fiscal será efetiva apenas se contar com medidas efetivas para seu cumprimento (enforcement). Tais medidas não estariam restritas a apenas uma questão de sanções para a violação de metas predefinidas, mas implica compromisso e capacidade de revisar constantemente as premissas econômicas e a programação orçamentária para evitar truques de contabilidade que deturpem a verdadeira situação fiscal, monitorar tendências de receita e de despesas ao longo do exercício fiscal e tomar medidas corretivas de acordo com os resultados intermediários. Apesar de os técnicos de orçamento desempenharem um papel crítico na garantia da integridade das informações, a responsabilidade de manter as regras recai sobre os líderes políticos dos países afetados. Sem apoio político, as regras fiscais são gestos vazios; com apoio, mesmo relativamente a regras fracas – como as estabelecidas por políticas anuais deresponsabilidade fiscal – podem proteger os países contra o aumento excessivo de dívida. Princípio 2 – Os orçamentos devem ser estreitamente alinhados com as prioridades estratégicas de médio prazo do governo. White (2014) reforça que as metas fiscais devem ser determinadas desde o início do processo orçamentário, com políticas e prioridades plurianuais determinadas em conformidade com esses níveis gerais. Assim, exigiria-se a gestão orçamentária top-down para, dentro desses objetivos claros de política fiscal, alinhar políticas com recursos para cada ano de um horizonte fiscal de médio prazo permitindo a consecução dos objetivos estratégicos do governo. Dessa forma, o segundo princípio é intrinsicamente ligado ao primeiro. Nesse contexto, o segundo princípio, em grande medida associado à projeção de despesas de médio prazo (do inglês MTEF, Medium-Term Expenditure Framework), tem como característica marcante a ênfase dada à dimensão programática do orçamento público (BIJOS, 2014). O MTEF é uma ferramenta importante para estabelecer uma base para o orçamento anual. Para ser eficaz, deve ter força real no estabelecimento de limites para as principais categorias de despesas, para cada ano do horizonte de médio prazo; deve ser totalmente alinhado com as definições orçamentárias top-down acordadas pelo governo; deve ter fundamento em previsões realistas para as despesas da linha de base (ou seja, usando políticas existentes), incluindo uma clara definição das principais premissas utilizadas; deve mostrar a correspondência com os objetivos da despesa e entregas dos planos estratégicos nacionais; e deve incluir incentivos institucionais suficientes e flexibilidade para garantir que os limites das despesas estabelecidos sejam respeitados (OCDE, 2014). Princípio 3 – O orçamento de capital deve ser projetado para atender às necessidades de desenvolvimento nacional, de forma eficiente, efetiva e coerente. Em relação aos orçamentos de capital, na visão de Premchand (2015), estes possuem múltiplos papéis, especialmente são instrumentos de política fiscal compensatória e veículos para o desenvolvimento - particularmente na área de infraestrutura econômica. Governos utilizam orçamentos de capital para atender a todos esses objetivos, individual ou coletivamente, dependendo do contexto. Em alguns casos, maior atenção é prestada aos orçamentos de capital como forma de reduzir os déficits no exercício corrente. A estrutura nacional de apoio ao investimento público deve abordar uma série de fatores incluindo: capacidade institucional adequada para avaliar, adquirir e gerenciar grandes projetos de capital; um ambiente jurídico, administrativo e regulatório estável; uma coordenação de planos de investimento entre níveis de governo; e uma integração do orçamento de capital no médio prazo com o plano fiscal do governo. (OCDE, 2014) Princípio 4 – Os dados e documentos orçamentários devem ser abertos, transparentes e acessíveis. Um dos pilares da boa governança do processo orçamentário é a transparência (Schiavo-Campo, 2015). De acordo com Kopits e Craig (1998), a transparência do processo orçamentário “envolve acesso imediato a informações confiáveis, abrangentes, oportunas, compreensíveis e comparáveis internacionalmente sobre atividades governamentais [...] para que o eleitorado e os mercados financeiros possam avaliar com precisão a posição financeira do governo e os verdadeiros custos e benefícios das atividades governamentais. ” Poterba e von Hagen (1999) incluem a utilização de contas especiais, excepcionando a unidade do orçamento, como fator redutor da transparência. Alesina e Perotti (1996) entendem que o uso de previsões otimistas sobre desenvolvimentos econômicos e de novas políticas, bem como a contabilidade criativa, também estão entre os fatores que reduzem a transparência orçamentária. Assim, a vinculação entre as programações orçamentárias e as contas nacionais é pré-requisito da transparência, pois o orçamento não deve permitir que os formuladores de políticas ocultem as despesas ou as usem para fins diferentes daqueles declarados na proposta de orçamento aprovada pelo legislativo. Visando o controle dos agentes políticos, von Hagen (2015) entende que a transparência exige que o orçamento seja organizado de acordo com funções e responsabilidades administrativas. Orçamento orientado a programas, que visa identificar as políticas de um governo, é útil, mas não deve substituir o orçamento de acordo com as funções administrativas, porque o programa orçamentário tende a obscurecer as responsabilidades políticas. Transparência processual também é necessário. Os processos orçamentários devem ser transparentes no sentido de que todos os atores saibam o que eles e outros podem ou devem fazer, quando e como. Alt e Dreyer-Lassen (2006) apontam quatro dimensões da transparência no processo orçamentário. O primeiro é o número de documentos separados em qual uma determinada quantidade de informações é processada; quanto maior esse número, menor o grau de transparência. O segundo é a possibilidade de agentes externos e independentes verificarem os dados e as premissas utilizadas no orçamento. O terceiro é o compromisso de evitar o uso de linguagem opaca e arbitrária, aplicando-se padrões contábeis largamente aceitos e difundidos. O quarto é o fornecimento de justificativas explícitas dos dados e explicações das premissas e das escolhas proferidas no processo orçamentário. Assim, o projeto e o uso de dados orçamentários devem servir a outros objetivos importantes do governo, distintos da simples autorização legislativa de gasto, qual seja facilitar a implementação de um processo orçamentário aberto, íntegro, que permite a avaliação de programas e a coordenação de políticas nos níveis nacional e subnacional do governo (OCDE, 2014). Princípio 5 – O debate sobre as escolhas orçamentárias deve ser inclusivo, participativo e realista. A sociedade civil tem demandado fortemente uma abordagem mais aberta e transparente do orçamento público, porém, um princípio que vai além da transparência orçamentária e fiscal de um governo é a participação efetiva da sociedade na elaboração orçamentária, ou seja, na decisão sobre quais são as prioridades de alocação de recursos públicos de um país. A participação da sociedade civil tem sido efetivada muito mais por organizações que representam interesses de parcelas da sociedade do que propriamente de cidadãos individualmente (Parry e Hughes, 2019, p. 83-84, p. 179-180). Para Schiavo-Campo (2015, p. 54), a participação da sociedade no processo orçamentário é importante para ampliar a legitimidade e submeter as intenções ou as ações do governo a um teste de realidade. Porém, é evidentemente impossível a participação de todos em tudo e imprudente usar a participação como uma desculpa para evitar a tomada de decisões difíceis e necessárias. Nesse contexto, a participação, quando utilizada de maneira apropriada, pode melhorar a qualidade das decisões a respeito da alocação de recursos no orçamento e fornecer uma verificação mais concreta da viabilidade para sua implementação. A transparência e a participação são ingredientes essenciais de accountability, que é a chave para um bom orçamento. Quando, em conjunto com a presença efetiva do legislativo no processo orçamentário, a participação da sociedade civil é significativa, amplia-se o entendimento das razões das decisões sobre a alocação de recursos, conflitos e discordâncias são minimizados, e consequentemente a probabilidade de que se elabore um bom orçamento, e que este seja bem executado, é maior. Princípio 6 – Os orçamentos devem apresentar um retrato abrangente, preciso e confiável das finanças públicas. Para atender a esse princípio, o governodeve contabilizar de forma abrangente e correta no orçamento todas as despesas e receitas, sem números omitidos ou ocultos e com leis, regras ou declarações que garantam o orçamento preciso e sem a prática de utilizar mecanismos fiscais “extra orçamento”. (OCDE, 2014) Schiavo-Campo (2015, p. 268) entende que reconhecer e gerenciar restrições financeiras realisticamente são características vitais para desenvolver a sustentabilidade de longo prazo, pois auxilia a liderança política a formular políticas com vistas ao desenvolvimento equitativo do país. Entretanto, para Parry e Hughes (2019, p. 92, 112-113), o governo não parece ser a instituição apropriada para identificar tendências do cenário macroeconômico de um país, pois possui interesse em apresentar previsões que favoreçam suas políticas. Nesse contexto, há uma tendência mundial de encarregar instituições independentes da revisão ou da própria elaboração das previsões orçamentárias e fiscais. Princípio 7 – A execução orçamentária deve ser ativamente planejada, gerenciada e monitorada. A disciplina orçamentária é a capacidade de um governo respeitar as autorizações de gastos no orçamento aprovado (Aruwa, 2004). É medido como a razão entre as despesas orçamentárias e as despesas reais, diferente da disciplina fiscal, que é a razão entre o déficit orçamentário e o Produto Interno Bruto (PIB). Segundo Oshisami (1992) e Omolehinwa (2001), são três dimensões principais da disciplina orçamentária: adesão às políticas orçamentárias declaradas; adesão ao calendário orçamentário no desenvolvimento, aprovação, implementação e monitoramento, bem como adesão às estimativas aprovadas. Esses três níveis de disciplina, resumidos em disciplina de política, disciplina de tempo e disciplina numérica, são cruciais para o funcionamento eficaz do orçamento, pois uma brecha em qualquer nível constitui indisciplina. A indisciplina na gestão de recursos é perversa para o progresso econômico de qualquer nação (Ben-Caleb e Agbude, 2011). Um déficit orçamentário, por exemplo, especialmente quando não planejado, é uma manifestação de indisciplina orçamentária e constatou-se que possui uma forte associação positiva com a corrupção (Kaufman, 2010). Assim, quanto mais disciplinada uma nação apresenta em sua elaboração e execução orçamentária, maior sua integridade em relação aos gastos e menor a tendência de apresentar casos de corrupção. Nesse contexto, entende-se que a implementação das alocações orçamentárias pelos órgãos públicos deve ser plena e fiel, permitindo alguma flexibilidade limitada, no âmbito das autorizações parlamentares, no interesse de uma gestão eficaz e uma relação custo-benefício consistente com a finalidade pública (OCDE, 2014). Princípio 8 – Avaliações de desempenho devem ser parte integrante do processo orçamentário. De forma a permitir essa boa gestão de investimentos, o governo deve fazer uso de avaliação de desempenho das políticas públicas, utilizando-se de indicadores que disponíveis, abrangentes e precisos em relação às informações de desempenho na entrega de serviços público, com o objetivo de promover melhorias na eficácia e eficiência operacional desses serviços. A utilização de avaliações de desempenho como parte integrante do processo orçamentário é importante para o legislativo, para funcionários do governo e para o público em geral, pois permiti-los-á saber se os recursos orçamentários atingem as unidades de prestação de serviços conforme planejado. Assim, a inclusão de informações de desempenho na documentação orçamentária se tornou uma boa prática internacional, consubstanciada pelo princípio 8 da OCDE. Com isso, fortalece-se a responsabilidade do executivo pelos resultados planejados e alcançados do governo em termos de programas e serviços. Cada vez mais, os legislativos exigem essas informações de desempenho como parte de sua consideração da proposta de orçamento do executivo, embora o legislador não precise aprovar desempenho planejado (PEFA, 2016). No entanto, como bem ressalvam Shah e Shen (2015, p. 146), não se pode esperar que o orçamento de desempenho seja um sistema racional e mecanicista que substitui o processo político de fazer escolhas de recursos em um complexo ambiente de demandas concorrentes. Em vez disso, deve ter como objetivo trazer mais valores econômicos na tomada de decisões orçamentárias e promover uma deliberação baseada em resultados e custo benefício, recompensando o bom desempenho com flexibilidade gerencial e outros incentivos. Princípio 9 – A sustentabilidade de longo prazo e outros riscos fiscais devem ser identificados, avaliados e gerenciados de forma prudente. Com base no fenômeno da tragédia dos comuns, Tornell e Lane (1999) argumentam que, na ausência de controles institucionais para limitar a discrição política, a competição por recursos públicos nos bons tempos acabou levando os governos a gastar mais. Tais padrões, e a prociclicidade fiscal resultante, tendem a ser mais difundidos em países com bases tributárias mais voláteis (Talvi e Vegh, 2005) e instituições orçamentárias mais fracas que criam oportunidades de rent-seeking e corrupção (Alesina et al., 2008). As restrições fiscais também induzem um comportamento fiscal procíclico e podem ser afetadas pela qualidade das instituições orçamentárias. Instituições orçamentárias fracas aumentam as preocupações com a credibilidade do governo e a sustentabilidade fiscal, que podem servir para agravar o quadro fiscal, deteriorando as percepções de sustentabilidade da dívida (Alberola e Montero, 2006). As restrições fiscais causam desvios entre os orçamentos planejados e executados (Balassone e Kumar, 2007). No contexto da União Europeia, Beetsma et al. (2009) mostram que estruturas orçamentárias sólidas de médio prazo e regras fiscais bem aplicadas ajudam a promover disciplina fiscal e políticas anticíclicas, reduzindo erros de implementação (diferença entre planejado e executado) e promovendo a sustentabilidade fiscal. (DABLA-NORIS et. al, 2010) Previsões bem-feitas de receita são uma entrada essencial para a preparação de um orçamento confiável. As receitas permitem ao governo financiar despesas e prestar serviços a seus cidadãos. Previsões de receita excessivamente otimistas podem levar a alocações injustificadamente grandes de despesas que eventualmente exigirão uma redução potencialmente perturbadora nos gastos no ano ou um aumento não planejado dos empréstimos para sustentar o nível de gastos. Por outro lado, indevido pessimismo na previsão pode resultar no resultado de uma super- realização da receita, cujo excesso será utilizado com escrutínio muitas vezes abreviado ou inexistente do devido processo orçamentário. (PEFA, 2016) Princípio 10 – A integridade e a qualidade das projeções orçamentárias, do planejamento fiscal e da execução orçamentária devem ser promovidas mediante rigorosa asseguração de qualidade, incluindo auditoria independente. Para Schiavo-Campo (2015, p. 242-243), um orçamento irrealista não pode ser executado bem. Quando as receitas são superestimadas e as despesas subestimadas, reduções acentuadas de despesas devem ser feitas posteriormente na execução do orçamento, prejudicando-a. Do lado da receita, a superestimação pode vir não apenas de fatores técnicos, como uma má avaliação do impacto de uma mudança na política tributária ou de aumento das despesas tributárias, mas também frequentemente do desejo político para manter no orçamento um número excessivo de programações, subestimando as dificuldades de financiá-las. Similarmente, do lado da despesa, enquanto a subestimação pode vir de irrealistas avaliações do custo de passivos não financiados (por exemplo, benefícios concedidos fora do orçamento) ou de obrigações permanentes, subestimaçãotambém pode ser uma tática deliberada para lançar novos programas, com a intenção de solicitar maiores dotações posteriormente, durante a execução do orçamento. Infelizmente, os governos costumam relutar em abandonar um programa de despesas após ter sido iniciado, esquecendo-se de que não se deve aplicar dinheiro bom em projetos ruins ou obsoletos. A combinação da inércia política e burocrática leva à relutância natural de interromper um programa de despesas inoportuno, mesmo quando existe um amplo consenso sobre se tratar de desperdício. Nenhuma melhoria técnica pode resolver problemas institucionais e políticos dessa natureza. É necessário um feedback regular e adequado sobre o desempenho dos sistemas de controle interno e externo, através de uma função de auditoria. Essa função deve usar um método sistemático, abordagem disciplinada para avaliar e melhorar a eficácia do gerenciamento, controle e governança do processo orçamentário. No setor público, a função é focada principalmente em garantir a adequação e eficácia de controles internos; a confiabilidade e a integridade das informações financeiras e operacionais; a eficácia e eficiência de programas e sua execução; a salvaguarda de ativos; e a conformidade com leis, regulamentos e contratos (PEFA, 2016). Em face disso, a OCDE (2014) orienta os países membros a investir continuamente nas habilidades e na capacidade do pessoal para desempenhar suas funções no processo orçamentário, levando em consideração as experiências, práticas e normas nacionais e internacionais; considerar que a credibilidade do orçamento nacional pode ser alavancada quando o processo tema participação ativa de instituições fiscais independentes ou outros processos institucionais estruturados para permitir imparcialidade analítica e críticas que contribuam para a melhoria do processo; e promover o papel dos sistemas de controle interno e externo na auditoria operacional de programas e na avaliação da qualidade das estruturas de responsabilidade e governança. Sobre a governança orçamentária segundo os princípios da OCDE, vejam esse bate-papo muito didático promovido pela Enap, com a Consultora de Orçamentos do Senado Federal Rita Santos. https://youtu.be/SazUYrrIKwA Muito bem, agora estamos todos dominando os princípios clássicos e os novos princípios do orçamento público! Sugestão de leitura complementar: Para acessar o estudo do Consultor de Orçamentos do Senado Federal Paulo Bijos - Governança orçamentária: uma relevante agenda em ascensão, clique aqui. Para acessar o estudo da Consultora de Orçamentos do Senado Federal Rita de Cássia Leal Fonseca dos Santos - Agenda formal e agenda substantiva na adesão do Brasil às recomendações de governança orçamentária da OCDE, clique aqui. Antes de avançarmos para o estudo do Módulo II, que abrange uma abordagem mais prática da temática orçamentária, vamos tratar das chamadas técnicas orçamentárias. http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104190/mod_book/chapter/75402/Or%C3%A7amento%20Autorizativo%20x%20Or%C3%A7amento%20Impositivo.pdf https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/orcamento-em-discussao/edicao-12-2014-governanca-orcamentaria-uma-relevante-agenda-em-ascensao http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104190/mod_book/chapter/75402/Or%C3%A7amento%20Autorizativo%20x%20Or%C3%A7amento%20Impositivo.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104190/mod_book/chapter/75402/Or%C3%A7amento%20Autorizativo%20x%20Or%C3%A7amento%20Impositivo.pdf https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10967/1/AgendaFormal_cap02_PublicacaoPreliminar.pdf Unidade 3 – Técnicas Orçamentárias Já estudamos que o orçamento público é um documento no qual são fixadas as despesas que podem ser realizadas pelo estado. Mas é importante notar que esse documento, que no nosso caso toma a forma de uma lei ordinária, pode ser elaborado de diversas formas. Podemos chamar essas formas de técnicas orçamentárias, ou tipos de orçamentos. Vamos ver nesta Unidade que, ao longo do tempo, houve uma evolução nas técnicas utilizadas para a elaboração do orçamento público. A evolução das técnicas orçamentárias reflete o aumento de importância do planejamento na administração pública, conforme fica evidenciado pelas características de cada uma delas. Orçamento Clássico ou Tradicional O orçamento clássico tem como foco principal o controle contábil do gasto, refletido no exaustivo detalhamento da despesa. Não são relevantes nesse tipo de orçamento os objetivos econômicos e sociais que atualmente norteiam a atuação do Estado. Isso porque essa espécie de orçamento está vinculada aos estados liberais, em que as finanças públicas se caracterizavam por sua neutralidade, evitando-se a expansão dos gastos públicos. Orçamento Tradicional => ênfase no gasto Dessa forma, podemos verificar que tal tipo de orçamento não está vinculado a um ambiente de planejamento da ação governamental. É dissociado do atendimento das necessidades da população, tendo em vista que somente considera as necessidades financeiras das unidades organizacionais. Trata-se meramente de uma peça contábil–financeira. É, em suma, um documento de previsão de receita e de autorização de despesas, no qual não existe preocupação com a realização de programas de trabalho do governo, restringindo-se às necessidades dos órgãos públicos, sem vinculação a objetivos e metas. Orçamento Incremental No orçamento incremental, a alocação de dotações é definida com base em incrementos em cada item de despesa utilizada no exercício anterior, mantendo-se, em regra, o mesmo conjunto de despesa. As prioridades de gastos tendem, dessa forma, a permanecer congeladas ao longo do tempo. Não privilegia a eficiência do gasto nem contribui para uma evolução da ação governamental. Orçamento Incremental => ajustes marginais nas despesas É importante notarmos que para alguns autores o orçamento incremental, ou seja, o orçamento feito por meio de ajustes marginais nos itens da despesa, nada mais é do que uma característica dos orçamentos clássicos ou tradicionais. Orçamento de Desempenho (ou de Realizações) Trata-se de uma evolução do orçamento clássico. O foco passa da mera quantificação das necessidades financeiras dos órgãos públicos para a atividade governamental e seu objetivo. O orçamento passa a ser um instrumento de administração. Enfatiza o resultado do gasto, e não apenas o gasto em si. O orçamento de desempenho procura estabelecer aquilo que o governo realiza (ações governamentais) e não apenas o que o governo compra (elementos de despesas). Enfatiza os benefícios dos diversos gastos e não apenas o seu objeto. Orçamento de Desempenho => focado no objetivo do gasto O orçamento de desempenho dispõe sobre os objetivos para os quais as dotações são utilizadas, além de dados quantitativos que permitam medir a efetividade dos recursos utilizados. Deve-se, no entanto, ressaltar que a espécie em análise difere do orçamento-programa, pois não é vinculado a um sistema de planejamento. No orçamento de desempenho inexiste um modelo central de planejamento das ações do governo vinculado à peça orçamentária. Tal fato constitui sua principal deficiência. Orçamento Base Zero O orçamento base zero é caracterizado pela necessidade de justificativa de todos os gastos cada vez que se inicia um novo ciclo orçamentário. É feita, a cada ciclo orçamentário, a análise, revisão e avaliação de todas as despesas propostas e não apenas a das solicitações que ultrapassam o nível de gasto já existente, como ocorreria no orçamento incremental. O orçamento base zero é uma técnica para a elaboração do orçamento cujas principais características são a revisãocrítica dos gastos tradicionais de cada área e a criação de alternativas para facilitar a escala de prioridades a serem levadas para decisão. Orçamento Base Zero => revisão crítica dos gastos a cada exercício Neste tipo de abordagem, na fase de elaboração da proposta orçamentária há um questionamento acerca das reais necessidades de cada área, não havendo compromisso com qualquer montante inicial de dotação. O processo do orçamento de base zero concentra a atenção na análise de objetivos e necessidades, o que requer que cada administrador justifique seu orçamento proposto em detalhe, aumentando a participação dos gerentes de todos os níveis no planejamento das atividades e na elaboração dos orçamentos. Orçamento-Programa A principal característica do orçamento-programa é a integração entre planejamento e orçamento. O orçamento passa a ser um instrumento de realização do planejamento governamental. Orçamento-Programa => instrumento de realização do planejamento governamental O orçamento-programa foi introduzido na esfera federal pelo Decreto-Lei nº 200 de 23/02/1967, que o previu de forma explícita. Constitui-se em um instrumento de planejamento da ação do governo, através da identificação dos seus programas de trabalho, projetos e atividades, com estabelecimento de objetivos e metas a serem executados, bem como a previsão dos custos relacionados. O orçamento-programa considera os objetivos que o governo tem em vista durante um período determinado de tempo. Procura levar aqueles responsáveis pela elaboração das políticas públicas a uma escolha racional, que maximize o dinheiro do contribuinte, destinando os recursos públicos a programas e projetos de maior necessidade. Além disso, deve também especificar quem será responsável pela execução de seus programas. Nesse tipo de orçamento, o programa passa a ser o instrumento de organização da atuação governamental, articulando um conjunto de ações que concorrem para a concretização de um objetivo comum preestabelecido. É também composto por um conjunto de indicadores que mensuram sua efetividade na satisfação das demandas da sociedade. A organização das ações orçamentárias vinculadas a programas visa proporcionar maior racionalidade e eficiência na administração pública e ampliar a visibilidade dos resultados e benefícios gerados para a sociedade, bem como elevar a transparência na aplicação dos recursos públicos. Vale, por fim, mencionar que, dentro do escopo do orçamento-programa, vem se delineando uma de suas faces, que é a do orçamento participativo. Essa modalidade incorpora a população ao processo decisório vinculado à proposta orçamentária (lideranças da sociedade civil, audiências públicas ou outras formas de consulta direta à sociedade), aumentando sua legitimidade, com participação direta e efetiva das comunidades em sua elaboração. Além disso, aumenta a transparência dos critérios e informações que nortearão a tomada de decisões sobre a utilização dos recursos públicos. Sobre a participação social, vamos ver uma entrevista na Enap com o especialista em políticas públicas Daniel Avelino sobre o tema Orçamento e Participação Social. Clique aqui. (https://youtu.be/4v2KFhWbJnI) Síntese Vimos nesta unidade que as técnicas de elaboração do orçamento público evoluíram, incorporando a ideia de planejamento. A partir de um orçamento em que eram enfatizados os gastos em si (orçamento tradicional), passou- se ao orçamento em que o planejamento ocupa o papel principal (orçamento-programa). Além disso, abordamos os princípios orçamentários tradicionais e seguimos para uma abordagem mais abrangente de governança orçamentária, com auxílio da visão promovida pela OCDE. Com esta unidade, encerramos o módulo sobre conceitos orçamentários. Agora, estamos aptos para o estudo da teoria orçamentária. Vamos começar o módulo seguinte, sobre o orçamento público, com uma unidade em que serão apresentadas as três leis orçamentárias: Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual. Unidade 4 – Regras Fiscais Regras fiscais são restrições duradouras à política fiscal por meio de limites numéricos sobre os agregados orçamentários (dívida, resultado corrente, gasto, receita. Elas surgiram, entre outras razões, como forma de conter o viés deficitário (déficit bias) da classe política, cuja explicação é baseada primeiramente na informação limitada dos agentes econômicos, que por não enxergar adequadamente a restrição orçamentária do governo, tendem a superestimar os benefícios dos gastos correntes e subestimar os custos associados, situação conhecida como “ilusão fiscal”. Assim, os políticos tendem a gastar mais para colher benefícios eleitorais de curto prazo (Lledó et al., 2017; Schick, 2010). Em segundo lugar, esse viés deficitário pode ser utilizado em ambientes de acirrada competição política de forma estratégica para influenciar as escolhas do sucessor. As diferenças políticas e a incerteza sobre a sucessão impedem que o governo internalize todo o custo de deixar uma dívida mais alta no fim do mandato e, assim, acaba deixando uma dívida maior do que o razoável (Alesina & Tabellini, 1990). Para Horta (2017), a terceira justificativa para o viés deficitário diz respeito aos grupos de pressão (common pool problem). Argumenta que, em uma sociedade com diferentes grupos de interesse que se beneficiam de determinados tipos de gasto, um governo poderia ser influenciado pela pressão desses, o que resultaria em um nível de orçamento maior do que o desejado. Além do viés deficitário, as regras fiscais surgem para fornecer credibilidade às políticas econômicas, pois, sem elas, agentes econômicos antecipariam um eventual uso oportunista de políticas discricionárias, mesmo que se propusesse políticas responsáveis, o que reduziria o efeito destas (Horta, 2017). As regras fiscais estiveram entre as inovações orçamentárias mais amplamente adotadas durante as últimas duas décadas. Muitas regras foram adotadas por governos nacionais por sua própria iniciativa, enquanto autoridades supranacionais impuseram regras a certos países (Schick, 2010). A atratividade das regras fiscais e das instituições orçamentárias estaria associada ao contexto da experiência vivida de aumento dos níveis de endividamento e da realização de déficits insustentáveis em diversos países (Hallerberg et al., 2009). As restrições impostas pelas regras fiscais são constituídas de: limitar as despesas (expenditure rule), disciplinar a dívida (debt rules), o resultado orçamentário (balanced budget rule) e até mesmo as receitas governamentais (revenue rules) (Afonso et al., 2015; Pires et al., 2018; Schaechter et al., 2012; Schick, 2010), bem como a aplicação pode ser garantida por meio de sanções legais em caso de violação das regras e por meio da transparência das informações (Schaechter et al., 2012; Schick, 2010). A falta de um único modelo para regras fiscais indica que elas ainda estão passando por um desenvolvimento conceitual, bem como por tentativa e erro, e que as regras fiscais devem estar em consonância com a cultura política de um país (Schick, 2010). Fatores políticos são especialmente importantes na determinação dos meios de fazer cumprir as restrições e as ações tomadas quando ocorrem violações. A ideia de limitar o crescimento real das despesas como forma de impedir a expansão da dívida pública não é a única, nem a mais usual maneira de garantir a sustentabilidade fiscal de uma nação (Afonso et al., 2015). O estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), cujo título é Fiscal Rules at a Glance (Budina et al., 2012), lista as principais regras fiscais de dezenas de países, mostrando que não existe uma receita universal para garantiro equilíbrio fiscal. A Holanda, por exemplo, adota um teto de gastos públicos desde 1994, fato muito citado durante os debates que permearam a aprovação da EC nº 95/2016. A regra holandesa, no entanto, estabelece que a cada quatro anos devem ser fixados os limites (anuais) para os quatro exercícios financeiros seguintes (Afonso et al., 2015). A abrangência das regras fiscais deriva de várias fontes e pode ser influenciada pelo desenvolvimento do país (Schick, 2010). Schick (2010) identifica as características gerais das regras adotadas segundo o estágio de desenvolvimento dos países. Os países ditos avançados tendem a se preocupar com a carga tributária e os níveis de despesas elevados, bem como com a pressão sobre as finanças públicas por parte de sua população em envelhecimento. Os países tidos como emergentes, por sua vez, são entusiastas das regras fiscais com o objetivo de gerar a confiança necessária ao governo para atrair investidores e empresários. Por fim, os países considerados como de baixa renda começaram a adotar regras, às vezes sob pressão de instituições financeiras internacionais, às vezes por causa da percepção de que políticas fiscais frouxas os têm impedido de desenvolver-se (Schick, 2010). Boas regras fiscais são geralmente selecionadas com base nos critérios concebidos por Kopits e Symansky (1998). O uso desses critérios visa garantir que as regras sejam: 1) bem-definidas; 2) transparentes; 3) simples; 4) adequadas a determinados objetivos; 5) consistentes com outras políticas macroeconômicas; 6) suficientemente flexíveis para acomodar choques exógenos; 7) críveis; e 8) apoiadas por políticas que garantam sua sustentação a médio e longo prazo. Em geral, as regras fiscais devem apoiar, ou pelo menos não impedir, a capacidade da política fiscal de cumprir suas três funções principais: suavizar o ciclo econômico, fomentar o crescimento de longo prazo e promover a inclusão (Lledo et al., 2018). Schaechter et al. (2012), ao detalharem os quatro tipos de regras fiscais, concordam com os critérios de Kopits e Symansky (1998), com exceção da simplicidade. Para os primeiros, embora a simplicidade seja algo desejável do ponto de vista de comunicação e monitoramento, na prática, no entanto, as regras fiscais tornaram-se cada vez mais complexas, abarcando, além das regras numéricas, procedimentos para o processo orçamentário (“regras de procedimento”), com o objetivo de estabelecer boas práticas, aumentar a previsibilidade e ampliar a transparência. Nesse contexto, os autores entendem que as regras da dívida definem um limite ou meta explícita para a dívida pública em porcentagem do PIB (Schaechter et al., 2012). Esse tipo de regra é, por definição, a mais eficaz em termos de garantir a convergência para uma meta de dívida e é relativamente fácil de comunicar. No entanto, os níveis de dívida levam tempo para serem afetados por medidas orçamentárias e, portanto, não fornecem uma orientação clara de curto prazo para a os formuladores de política. A dívida também pode ser afetada por acontecimentos exógenos ao governo, como mudanças nas taxas de juros e na taxa de câmbio, o que poderia implicar na necessidade de ajustes fiscais excessivamente grandes. Além disso, pode ser interessante o uso de política fiscal pró-cíclica quando a economia é atingida por choques e a meta da dívida, definida como um valor de PIB, acaba prejudicando esse objetivo. Por outro lado, quando a dívida está bem abaixo de seu teto, a regra não tem efeito substancial (Luz, 2022). Conforme Luz (2022), as regras de equilíbrio orçamentário restringem a variável que influencia principalmente o índice de dívida e estão em grande parte sob o controle dos formuladores de políticas. Assim, tais regras fornecem orientação operacional e podem ajudar a garantir a sustentabilidade da dívida. As regras de equilíbrio podem ser especificadas como saldo global, equilíbrio estrutural ou ajustado ciclicamente, e saldo por ciclo. Enquanto o primeiro tipo de regra não possui características de estabilização econômica, os outros três levam em consideração eventuais choques econômicos. No entanto, estimar o ajuste, normalmente através do hiato do produto, torna a regra mais difícil de ser explicada e monitorada. Um equilíbrio do tipo saldo por ciclo tem a desvantagem adicional de que medidas corretivas podem ser adiadas para o fim do ciclo. Apesar de o pagamento de juros ser o único item de despesa que não está diretamente sob o controle dos formuladores de políticas – e embora a rigidez dos gastos também possa complicar o alcance metas de curto prazo –, excluí-lo da regra enfraquece o vínculo com a sustentabilidade da dívida. Nesse sentido, até mesmo uma “regra de ouro”, que visa o saldo geral líquido de despesas de capital, tem pouca correlação com a dívida. As regras de “repartição” estipulam que quaisquer despesas adicionais que aumentem o déficit ou as medidas de receita devem ser compensadas, de forma a neutralizar o déficit (Schaechter et al., 2012). Os autores descrevem, por sua vez, as regras de despesas, as quais estabelecem limites para as despesas totais, primárias ou correntes. Esses limites são normalmente definidos em termos absolutos ou taxas de crescimento e, ocasionalmente, em porcentagem do PIB, com um horizonte de tempo variando frequentemente entre três e cinco anos. Essas regras não estão diretamente vinculadas ao objetivo de sustentabilidade da dívida, uma vez que não restringem o lado da receita. Elas podem fornecer, no entanto, uma ferramenta operacional para desencadear a consolidação fiscal necessária para a sustentabilidade quando são acompanhadas por regras de dívida ou de equilíbrio orçamentário. Além disso, elas podem restringir os gastos durante períodos de quedas temporárias da receita e são fáceis de cumprir. Ademais, regras de despesas não restringem a função de estabilização econômica da política fiscal em tempos de choques adversos, uma vez que não requerem ajustes para reduções cíclicas ou discricionárias no lado das receitas. Para aumentar sua característica anticíclica, podemos excluir itens de despesas sensíveis ao ciclo, apesar de prejudicar a sustentabilidade. Outrossim, as regras de despesas não são consistentes com o estímulo fiscal discricionário. No entanto, os tetos de despesas definem diretamente a quantidade de recursos públicos usados pelo governo, e são, em geral, relativamente fáceis de divulgar e monitorar (Schaechter et al., 2012). Por fim, Schaechter et al. (2012) descrevem que as regras de receita definem tetos ou pisos sobre as receitas e visam aumentar a arrecadação ou prevenir a carga tributária excessiva. A maioria dessas regras não é diretamente vinculada ao controle da dívida pública, pois não restringem os gastos. Além disso, a configuração de tetos ou pisos nas receitas pode ser desafiadora, já que as receitas podem ter grandes componentes cíclicos, flutuando amplamente com o ciclo econômico. Excepcionam-se a isso as regras que restringem o uso de receita “inesperada” para gastos adicionais. As regras de receita, por si sós, podem resultar em política fiscal pró-cíclica, uma vez que os pisos geralmente não contabilizam a operação de estabilizadores do lado da receita, em caso de desaceleração, ou tetos, em caso de alta. No entanto, como as regras de despesas, as regras de receitas focam diretamente no tamanho do governo. De forma resumida, o quadro abaixo mostra as vantagens e as desvantagens da adoção de cada tipo de regra fiscal. Quadro - Tipos de regras fiscais e suas vantagens e desvantagens Tipo de Regra Vantagens Desvantagens Dívida do Governo - Diretamente ligada à sustentabilidade da dívida; - Fácil de explicar e monitorar. - Não fornece um guia operacional de curto prazoquanto aos impactos no déficit; - Não absorve choques econômicos; - Vulnerável a fatores exógenos. Equilíbrio Orçamentário - Bom guia operacional; - Fácil de explicar e monitorar; - Muito ligada à sustentabilidade da dívida - Pode ser pró-cíclica por não ter um fator de estabilização em choques econômicos; - Vulnerável a fatores exógenos. Equilíbrio Orçamentário estrutural - Guia operacional relativamente bom; - Muito ligada à sustentabilidade da dívida; - Absorve choques econômicos; - Possibilita levar em contas fatores esporádicos e temporários. - Correção de ciclo complicada especialmente em momentos de mudanças estruturais em curso; - Necessita de definições quanto a fatores esporádicos e temporários; - Difícil de explicar e monitorar. Gastos - Bom guia operacional; - Permite captar momentos de estabilização econômica; - Controla o tamanho do Governo; - Fácil de explicar e monitorar. - Não é ligada diretamente à sustentabilidade do déficit por não limitar o lado das receitas; - Pode causar mudanças indesejadas na distribuição dos gastos se, para atender o teto, ocorrer mudanças de categorias nos gastos que não estão cobertos pela regra. Receitas - Controla o tamanho do Governo; - Pode melhorar a política de receita do governo e sua administração; - Pode prevenir mudanças de gastos pró-cíclicos. - Não é ligada diretamente à sustentabilidade do déficit por não limitar o lado dos gastos; - Não absorve choques econômicos. Fonte: Luz (2022), adaptado de Schaechter et al. (2012). Exercícios de Fixação - Módulo I Parabéns! Você chegou ao final do Módulo I do curso Orçamento Público Avançado. Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do conteúdo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, porém, o acesso aos Módulos seguintes está condicionado à resolução e envio das respostas. Lembramos, ainda, que a plataforma de ensino faz a correção imediata das respostas! Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431030 http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431030 http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431030 MÓDULO II – O ORÇAMENTO PÚBLICO OBJETIVOS Ao final do estudo do módulo, os alunos estarão aptos a: Reconhecer os fundamentos constitucionais do plano plurianual e modelagem do atual PPA federal; Reconhecer os fundamentos constitucionais e da legislação complementar da LDO e o conteúdo normativo das diretrizes orçamentárias; Reconhecer os fundamentos constitucionais e da legislação complementar da lei orçamentária anual. Identificar os principais instrumentos de execução orçamentária. Reconhecer as principais regras fiscais da União. Compreender o processo de alteração orçamentária durante a execução financeira. Unidade 1 – Leis Orçamentárias (PPA, LDO, LOA) Introdução O modelo orçamentário brasileiro está definido nos arts. 165 a 169 da Constituição Federal. Ele tem por base o elo entre o planejamento e a fixação de despesas para determinado exercício e materializa-se em três documentos formais: Lei do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). O papel dessas três leis orçamentárias é integrar as atividades de planejamento e orçamento, com vistas a assegurar o sucesso da atuação governamental. Esse sistema integrado de planejamento e orçamento deve ser adotado pela União, estados e municípios. O planejamento orçamentário é inicialmente definido para um período de quatro anos, nos termos do PPA. Além disso, para cada exercício financeiro são aprovadas as respectivas LDO e LOA. A LOA trata da alocação dos recursos públicos propriamente dita. Já a LDO faz a integração entre o planejamento de médio prazo constante do PPA e as despesas a serem autorizadas para o ano na LOA. Via de regra, as leis orçamentárias devem ser aprovadas no exercício anterior ao de sua referência. As três leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA) devem estar estreitamente ligadas entre si, compatíveis, harmônicas e utilizando a mesma linguagem. Isto é, a denominação de um determinado programa e das ações correspondentes constantes do orçamento deve estar condizente com a terminologia utilizada no PPA. Plano Plurianual (PPA) Para oferecer bens e serviços públicos à população, o governo deve projetar, com antecedência de quatro anos, o PPA. Verifique, assistindo ao vídeo ilustrativo sobre este importante plano. Clique aqui. (https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc) O Plano Plurianual (PPA) consubstancia o planejamento estratégico dos governos federal, estadual, distrital e municipal. Está previsto na Constituição Federal de 1988 no art. 165, inciso I. O PPA foi criado pela CF de 1988 e, antes disso, houve planos semelhantes, como, por exemplo, o Plano Plurianual de Investimentos (PPI). Os últimos Planos elaborados têm incorporado a dimensão estratégica, representada pelas diretrizes gerais e grandes objetivos setoriais, e a dimensão tático-operacional, representada pelos programas e ações orçamentárias, que faziam o link com a LOA: 1996-1999 – “Brasil em Ação”; 2000-2003 – “Avança Brasil”; 2004-2007 – “Plano Brasil de Todos”; 2008-2011 – “Plano Desenvolvimento com Inclusão Social e Educação de Qualidade”; 2012-2015 – “Plano Mais Brasil, Mais Desenvolvimento, Mais Igualdade, Mais Participação”; 2016-2019 – “Desenvolvimento, Produtividade e Inclusão Social”; e 2020-2023 – “Planejar, Priorizar, Alcançar”. Pode-se afirmar que o Governo ordena suas ações com a finalidade de atingir objetivos e metas por meio do PPA, um plano de médio prazo, revelando a dimensão estratégica de cada programa de governo. O PPA é instituído por lei, estabelecendo, de forma regionalizada, as Diretrizes, Objetivos e Metas da Administração Pública para: 1. Despesas de capital e outras delas decorrentes; e 2. Despesas relativas aos programas de duração continuada. Os investimentos cuja execução seja levada a efeito por períodos superiores a um exercício financeiro só poderão ser iniciados se previamente incluídos no PPA ou se nele incluídos por autorização legal. A não observância deste https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc preceito caracteriza crime de responsabilidade (art. 167, § 1º, Constituição Federal). O PPA é elaborado no primeiro ano de mandato do presidente eleito, para execução nos quatro anos seguintes. Enquanto o governo elabora seu planejamento para os próximos quatro anos, ele está executando o PPA de seu antecessor. Vamos entender melhor a partir do quadro abaixo: Importante! O PPA não coincide com o mandato presidencial. Elaborado no 1º ano de mandato do chefe do Executivo, vigora do 2º ano de mandato até o 1º ano do mandato subsequente. O PPA é uma lei ordinária como as outras leis orçamentárias(LDO e LOA), no entanto, possui hierarquia material em relação às outras leis. Esse status de lei supra ordenadora da LDO e LOA está definido no art. 166, §§ 3º e 4º, da Constituição Federal. ANO GOVERNO MANDATO PPA 2014 Dilma 2011-2014 2012-2015 2015 Dilma 2015-2018 2012-2015 2016 Dilma/Temer 2015-2018 2016-2019 2017 Temer 2015-2018 2016-2019 2018 Temer 2015-2018 2016-2019 2019 Bolsonaro 2019-2022 2016-2019 2020 Bolsonaro 2019-2022 2020-2023 2021 Bolsonaro 2019-2022 2020-2023 2022 Bolsonaro 2019-2022 2020-2023 Tramitação: No seu primeiro ano de mandato, o Presidente da República envia, até o dia 31 de agosto, ao Congresso Nacional, seu próprio PPA, e o Congresso Nacional deve aprová-lo até 22 de dezembro. O PPA 2020-2023 alterou a estrutura metodológica que vinha sendo adotada nos últimos PPAs. De acordo com a mensagem que encaminhou o PPA 2020-2023, a proposta era resgatar o PPA como um instrumento estratégico de planejamento, baseado em escolhas públicas seletivas e prioritárias. Assim, o novo PPA passou a associar uma meta e um objetivo a cada programa pelos órgãos federais. Com isso, houve substancial simplificação no PPA em relação ao exposto no PPA 2016-2019. Neste, havia 54 programas temáticos, 304 objetivos, 1.136 metas, 542 indicadores e 3.101 iniciativas. Por sua vez, no projeto de lei do PPA 2020-2023 não há iniciativas nem programas temáticos, cuja compreensão era muito abrangente. Na nova metodologia, cada programa (finalístico) reflete um objetivo, que é quantificado por uma meta e aferido por um indicador. Em outras palavras, no âmbito legal, esse PPA compreendia 66 programas finalísticos, 66 objetivos e 66 metas com seus respectivos indicadores. A dimensão estratégica do PPA 2020 – 2023 foi desdobrada em duas categorias: diretrizes e temas, dialogando com os cinco eixos – institucional, social, ambiental, econômico e de infraestrutura – propostos no Documento Preparatório da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (ENDES), de longo prazo, bem como com a estratégia de defesa. Os cinco eixos foram inspirados na ENDES, que é prevista em dispositivo jurídico (PL nº 9.163/2017, “de Governança”), ainda em tramitação no Congresso Nacional. Por sua vez, a estratégia de defesa adotada nesse PPA baseou-se na Política Nacional de Defesa (PND) e na Estratégia Nacional de Defesa (END), aprovadas pelo Decreto Legislativo nº 179, de 2018. O PPA 2020-2023 contém 13 diretrizes e 15 temas. As diretrizes constituem as orientações prioritárias do novo governo, alinhadas aos objetivos a serem alcançados durante a vigência do novo PPA. Por sua vez, os temas são relacionados à nova estrutura institucional ou organizacional do governo, correspondendo às principais áreas setoriais mobilizadas para o alcance dos objetivos propostos. Eixo Institucional: assegurar que o Estado brasileiro se modernize de forma contínua, aplicando as melhores técnicas, ferramentas e estratégias para exercer suas competências e maximizar o impacto da sua atuação na sociedade. Esse Eixo associa-se, ainda, à formulação de estratégias orientadas para o combate ao crime organizado e à violência; Eixo Social: promover a formulação, implementação e gestão de políticas públicas destinadas a elevar o nível de bem-estar da população brasileira, contribuindo de forma efetiva para: i) redução de desigualdades sociais; ii) promoção e acesso à educação de qualidade; iii) excelência na provisão dos serviços de saúde; iv) fortalecimento da cidadania; e v) valorização da primeira infância com a proteção necessária à criança e ao adolescente; Eixo Ambiental: garantir a sustentabilidade dos recursos naturais, conciliando o progresso econômico com a preservação do meio ambiente. A proteção patrimônio ambiental nacional é considerada essencial para assegurar utilização sustentável de ecossistemas, biodiversidade e florestas, bem como para viabilizar o desenvolvimento sustentável; Eixo Econômico: zelar pela integridade dos fundamentos da economia brasileira, com foco no crescimento econômico e na estabilidade fiscal e monetária. O eixo econômico incentiva o empreendedorismo, o fortalecimento da produtividade e a construção de soluções conjuntas e integradas entre o setor público e a iniciativa privada; Eixo de Infraestrutura: com o intuito de destravar os gargalos logísticos do País e prover as condições essenciais de transporte, energia e mineração, priorizam-se investimentos públicos de forte impacto regional e local, capazes de alavancar o desenvolvimento nacional e promover redução das desigualdades territoriais; Estratégia de Defesa: visa a garantir a soberania nacional por meio da proteção do território e da preservação do patrimônio nacional, que são fatores essenciais para assegurar a prevalência da paz e da segurança. Tabela – Eixos e estratégia de defesa em grandes números Eixos Valor (em R$ mil) Institucional 10.210.562 Social 1.763.180.680 Ambiental 139.857.971 Econômico 4.465.891.959 Infraestrutura 384.189.255 Estratégia de defesa 39.436.795 Total PPA 2020-2023 6.802.767.222 Fonte: SOF Outras definições trazidas no próprio texto da lei do PPA 2020-2023 são importantes para o entendimento do plano: I – Objetivo: declaração de resultado a ser alcançado que expressa, em seu conteúdo, o que deve ser feito para a transformação de determinada realidade; II – Meta: declaração de resultado a ser alcançado, de natureza quantitativa ou qualitativa, que contribui para o alcance do objetivo; III – Indicador: instrumento gerencial que permite a mensuração de desempenho de programa em relação à meta declarada; IV – Regionalização: conjunto de informações, no âmbito das metas do PPA 2020-2023, com vistas a compatibilizar os recursos públicos disponíveis com o atendimento de necessidades da sociedade no território nacional e a possibilitar a avaliação regional da execução do gasto público; [...] XI – Diretriz: declaração ou conjunto de declarações que orientam os programas abrangidos no PPA 2020-2023, com fundamento nas demandas da população; XII – Programa Finalístico: conjunto de ações orçamentárias e não orçamentárias, suficientes para enfrentar problemas da sociedade, conforme objetivo e meta. A leitura do Manual Técnico do PPA 20202-2023 e da Mensagem Presidencial permitem um melhor entendimento dos conceitos e da implementação do PPA. Já apresentamos as principais características do PPA federal do quadriênio 2020-2023, que, conforme visto, inovou em vários aspectos. Vejamos algumas críticas feitas pelas Consultorias de Orçamentos do Senado Federal e Câmara dos Deputados (acesse o documento inteiro aqui). Um dilema presente nos PPA’s refere-se à compatibilização entre o caráter estratégico (que exigiria um menor número de atributos) e a necessária transparência à sociedade e ao Congresso Nacional sobre as escolhas públicas. Como ainda não foi editada a Lei Complementar prevista para definir o conteúdo dessa peça, ao longo dos últimos 30 anos, o Poder Executivo vem experimentando diferentes formatos. Por exemplo, o PPA 2000-2003 continha a totalidade das ações orçamentárias, com a previsão de dotações para cada uma delas aberta para os seus quatro anos de vigência. O PPA 2012-2015 já não trazia as ações orçamentárias, mas uma turva sombra delas, denominadas “iniciativas”. O PPA 2016-2019, em vigência, também não explicita as ações orçamentárias, mas seus 54 programas temáticos se desdobram em 304 objetivos e 1.136 metas, dando certo grau de transparência à ação do Governo. https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/plano-plurianual-ppa/arquivos/mtppa-2020-2023-agosto-2021.pdf https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/plano-plurianual-ppa/arquivos/mensagem-presidencial.pdfhttps://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/plano-plurianual-ppa/arquivos/mensagem-presidencial.pdf https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/notas-tecnicas-e-informativos/nota-tecnica-conjunta-2-2019-subsidios-a-apreciacao-do-projeto-de-lei-do-plano-plurianual-para-o-periodo-de-2020-a-2023 Em relação à sua metodologia, o PLPPA 2020-2023 optou pela simplificação. Dessa forma, diferentemente do PPA 2016-2019, não são explicitados vários objetivos e metas para cada um dos programas finalísticos. Ao contrário, cada programa traz apenas uma unidade responsável, um objetivo e uma meta. Dessa forma, seus 66 programas trazem, respectivamente 66 objetivos e 61 metas quantificáveis, considerando que cinco programas possuem “metas qualitativas”. Do ponto de vista da comunicação de governo, pode parecer útil essa simplificação, no sentido de que será possível apresentar quais são efetivamente as preferências governamentais. Todavia, considerando a complexidade dos problemas que cada um dos 66 programas se propõe a enfrentar (empregabilidade, educação básica de qualidade, segurança pública etc.), não parece razoável assumir que apenas com o cumprimento de uma meta sintética por programa eles se resolverão. Dessa forma, seria importante que os demais objetivos e metas que estão intrínsecos nos programas finalísticos do PLPPA 2020-2023 também fossem explicitados para a sociedade. Uma inovação importante foi o resgate do modelo lógico para a construção dos programas finalísticos. A partir do PPA 2000-2003, até o PPA 2008- 2011, o marco lógico foi a ferramenta utilizada para construção dos programas. Essa metodologia permite que se faça uma ligação entre os problemas (ou oportunidades) que se decida atacar com as suas respectivas causas e consequências. Daí se desenham os programas correspondentes, com objetivos expressos, ações necessárias, metas, indicadores e resultados a serem alcançados. Nesse sentido, o esforço de dotar os Programas de uma coerência interna é importante, e reforça a necessidade de integração entre os instrumentos PPA, LDO e LOA. Para mais informações e uma avaliação crítica acerca do PPA federal sugerimos a leitura da Nota Técnica Conjunta nº 3, de 2019, das Consultorias de Orçamentos do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Clique aqui. (Link) http://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/ppa/ppa_2012_2015/proposta/NT_Conj.pdf https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/notas-tecnicas-e-informativos/nota-tecnica-conjunta-2-2019-subsidios-a-apreciacao-do-projeto-de-lei-do-plano-plurianual-para-o-periodo-de-2020-a-2023 No momento de elaboração deste material, o novo governo eleito para o exercício 2023-2026 apresentou o Manual Técnico do Plano Plurianual 2024-2027. Clique aqui. (link). A proposta aborda algumas questões que forma alvo de críticas dos modelos anteriores, buscando o chamado “meio-termo” em termos de simplificação, utilização do modelo lógico e adequada escolha de metas e indicadores. Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) A segunda lei orçamentária que iremos estudar é a LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias, que também tem status de lei ordinária, como o PPA e a LOA. A LDO tem como escopo ser o elo entre o planejamento estratégico, consubstanciado no Plano Plurianual, e o planejamento operacional, que consiste na própria Lei Orçamentária Anual. Considerando a hierarquia material das leis orçamentárias, a LDO situa-se em um plano intermediário entre o plano plurianual e a lei orçamentária anual. A propósito, o § 3º do art. 166 da Constituição Federal estabelece que as emendas ao projeto de lei orçamentária anual devem ser compatíveis com a lei de diretrizes orçamentárias vigente. Para ilustrar, assista ao vídeo sobre a LDO: Clique aqui. (https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0) Podemos verificar a importância da LDO analisando as funções que a Constituição lhe atribuiu. De acordo com o § 2º do art. 165 da CF, a LDO deve dispor sobre: Metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente: essas disposições irão orientar a alocação de recursos na Lei Orçamentária Anual; https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/plano-plurianual-ppa/arquivos/manual-do-ppa-2024-2027.pdf https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 Orientações acerca da elaboração da lei orçamentária anual: tal dispositivo reforça a ideia que a LDO é um plano que precede à Lei Orçamentária, da mesma forma que o PPA é um pré-ordenador da LDO; Alterações na legislação tributária; Política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento: tem como objetivo orientar e planejar os investimentos das agências que fomentam o Desenvolvimento do país. São exemplos dessas agências o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF). A Constituição também determina que a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias (art. 169, § 1º, II, da CF). Vale destacar que não entram nessa regra as empresas públicas e as sociedades de economia mista. Nos últimos anos, as LDOs têm trazido uma autorização que basicamente delega a um anexo específico da LOA (Anexo V) os aumentos de despesas com pessoal com provimentos, com os seguintes termos: (LDO 2022) Art. 109. Para atendimento ao disposto no inciso II do § 1º do art. 169 da Constituição, observados as disposições do inciso I do referido parágrafo, os limites estabelecidos na Lei Complementar nº 101, de 2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal, e as condições estabelecidas no art. 106 desta Lei, ficam autorizados: I - a criação de cargos, funções e gratificações por meio de transformação de cargos, funções e gratificações que, justificadamente, não implique aumento de despesa; II - o provimento em cargos efetivos e empregos, funções, gratificações ou cargos em comissão vagos, que estavam ocupados no mês a que se refere o caput do art. 102 e cujas vacâncias não tenham resultado em pagamento de proventos de aposentadoria ou pensão por morte; III - a contratação de pessoal por tempo determinado, quando caracterizar substituição de servidores e empregados públicos, desde que comprovada a disponibilidade orçamentária; IV - a criação de cargos, funções e gratificações, o provimento de civis ou militares, o aumento de despesas com pessoal relativas à concessão de quaisquer vantagens, aumentos de remuneração e alterações de estrutura de carreiras, até o montante das quantidades e dos limites orçamentários para o exercício e para a despesa anualizada constantes de anexo específico da Lei Orçamentária de 2022, cujos valores deverão constar de programação orçamentária específica e ser compatíveis com os limites estabelecidos na Lei Complementar nº 101, de 2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal, não abrangidos nos incisos I ao III; V - a reestruturação de carreiras que não implique aumento de despesa; VI - o provimento em cargos em comissão, funções e gratificações existentes, desdeque comprovada disponibilidade orçamentária; VII - a revisão geral anual de que trata o inciso X do caput do art. 37 da Constituição, observado o disposto no inciso VIII do caput do art. 73 da Lei nº 9.504, de 1997; e VIII - o provimento de cargos e funções relativos aos concursos vigentes da Polícia Federal (PF), da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), até o montante das quantidades e dos limites orçamentários constantes de anexo específico da Lei Orçamentária de 2022, cujos valores deverão constar de programação orçamentária específica e ser compatíveis com os limites estabelecidos na Lei Complementar nº 101, de 2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal, não abrangidos nos incisos I a IV. (Grifo nosso) Além das referidas disposições constitucionais, a LDO também tem seu conteúdo determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O art. 4º da LRF determina que a LDO disporá sobre: Equilíbrio entre receitas e despesas; Critérios e forma de limitação de empenho (contingenciamento), a serem efetivados nas hipóteses de frustração da receita prevista; Normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos; Condições e exigências para transferências de recursos a entidades públicas e privadas; Metas Fiscais; Riscos Fiscais. Tendo em vista os mencionados dispositivos da Constituição e da LRF, a LDO apresenta-se como uma proposição essencialmente normativa, contemplando mais de 170 artigos e regulando matérias afetas, inclusive, à lei complementar que deverá substituir a Lei nº 4.320/1964. A LDO vem mostrando um acúmulo de dispositivos que vão se avolumando no decorrer dos processos orçamentários, sem perspectiva de correção. A LDO é composta pelo texto da lei e de anexos com o conteúdo a seguir descrito. Veja um exemplo de LDO (LDO 2022), com seus quadros anexos, no link. Anexo I - Relação dos quadros orçamentários consolidados; Anexo II - Relação das informações complementares ao Projeto de Lei Orçamentária de 2022; Anexo III - Despesas que não serão objeto de limitação de empenho, nos termos do disposto no § 2º do art. 9º da Lei Complementar nº 101, de 2000 - Lei Complementar nº 101, de 2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal; Anexo IV - Metas fiscais, constituídas por: a) Anexo IV.1 - Metas fiscais anuais: em cumprimento ao disposto na LRF, o Anexo de Metas Anuais da Lei de Diretrizes Orçamentárias estabelece a meta de resultado primário do setor público consolidado para o exercício seguinte e indica as metas para os dois exercícios subsequentes. De acordo com o § 1º do art. 4º da LRF, é no Anexo de Metas Fiscais que devem ser estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12708.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12708.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12708.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14194.htm Você se lembra dos conceitos de resultado primário e nominal? Vamos recordá-los: - resultado primário corresponde à diferença entre as receitas arrecadadas e as despesas, não considerando o pagamento do principal e dos juros da dívida, tampouco as receitas financeiras. - resultado nominal corresponde à diferença entre todas as receitas arrecadadas e as despesas, incluindo pagamentos de parcelas do principal e dos juros da dívida, bem como as receitas financeiras obtidas. b) Anexo IV.2 - Demonstrativo da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado; O conceito na prática: veja um texto técnico em que se analisa a possibilidade do uso pelo Poder Legislativo da Margem de Expansão das Despesas Obrigatórias de Caráter Continuado como forma de compensação das despesas de mesma natureza criada ou aumentada pelo processo legislativo ordinário. Anexo V - Riscos fiscais (Art. 4º, § 3º, da LRF): a LDO conterá Anexo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as contas públicas, informando as providências a serem tomadas, caso se concretizem. A LDO deve dimensionar os riscos fiscais identificados, que se classificam em “riscos orçamentários” e “riscos da dívida pública”; Conceituação “riscos orçamentários” referem-se a contingências associadas à estimativa e realização da receita e a fixação e execução da despesa. No âmbito da receita, os riscos decorrem, basicamente, da possibilidade de frustração da arrecadação frente ao valor estimado, e, no da despesa, de programação aquém das efetivas necessidades. Já os “riscos da dívida pública” refletem os impactos adversos que os juros, a inflação, o câmbio http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/estudos/2008/ET%20no%204%20%202008%20-%20uso%20da%20margem%20%20de%20expansao%20das%20despesas%20ob....pdf http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/estudos/2008/ET%20no%204%20%202008%20-%20uso%20da%20margem%20%20de%20expansao%20das%20despesas%20ob....pdf http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/estudos/2008/ET%20no%204%20%202008%20-%20uso%20da%20margem%20%20de%20expansao%20das%20despesas%20ob....pdf e os passivos contingentes podem ocasionar sobre a dívida e as despesas dela decorrentes. Anexo VI - Objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial; Os objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial são, respectivamente, o alcance, pelo Banco Central do Brasil, da meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN); a manutenção das condições prudenciais e regulamentares para que a expansão do mercado de crédito ocorra em ambiente que preserve a estabilidade do sistema financeiro nacional; e a flutuação cambial. O atingimento desses objetivos deve observar a evolução da economia brasileira, em linha com as medidas conjunturais implementadas. Anexo VII - Relação dos bens imóveis de propriedade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra disponíveis para alienação. Para entender melhor, acesse o anexo de riscos fiscais e sua importância para as contas públicas. Nos termos do art. 35, § 2º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), até a entrada em vigor da lei complementar sobre finanças públicas, o projeto de LDO será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. Vale destacar que, nos termos do art. 57, § 2º, da CF, a sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias. Dessa forma, o Congresso não poderá entrar em recesso no meio do ano até que o referido projeto seja aprovado. Tramitação da LDO O Presidente da República envia ao Congresso Nacional o projeto de LDO até o dia 15 de abril, e o Congresso Nacional deve aprová-lo até 17 de julho. https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24F0A728E014F0ADAABBD559E https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24F0A728E014F0ADAABBD559E http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2055722.PDF Vale, por fim, esclarecer que, embora a LDO seja relacionada ao orçamento de determinado exercício financeiro, não se pode afirmar que sua vigência seja de um ano. Isso porque a LDO extrapola o exercício financeiro, pois é aprovada antes do encerramento da primeira sessão legislativa, e já passa a orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual no segundo semestre. Além disso, estabelece regras que serão observadas durante a execução doorçamento ao longo do exercício financeiro subsequente. Dessa forma, por exemplo, a LDO elaborada em 2021, relativa à LOA 2022, teve vigência já em 2021 para que orientasse a preparação do PLOA 2022, e também durante todo o ano de 2022, quando ocorre a execução da referida LOA. Além disso, a LDO regulamenta a execução dos restos a pagar, que ocorrem após o encerramento do exercício. No exemplo, os RAP da LOA 2022 seriam executados de 2023 em diante. Para uma análise sobre o Anexo de Metas e Prioridades das leis de diretrizes orçamentárias, leia o texto disponibilizado pelo TCU. Lei Orçamentária Anual (LOA) O orçamento traz soluções para os problemas da população, definindo gastos conforme os recursos que o governo arrecada. Assista ao vídeo introdutório e familiarize-se com a LOA, que vamos tratar a seguir: Clique aqui. (https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo) O sistema orçamentário brasileiro encontra-se fundamentado em âmbito constitucional nos arts. 165 a 169 da Carta Magna. Nesses dispositivos, estão disciplinadas as três leis que regem o planejamento e o orçamento em todos os níveis da Federação, das quais já foram vistos o PPA e a LDO. Essa parte se dedica à Lei Orçamentária Anual (LOA), apresentando seu embasamento constitucional e legal. http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2054732.PDF https://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8A8182A24F0A728E014F0B280DED3BEE http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2054732.PDF http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2054732.PDF http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2054732.PDF http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2054732.PDF https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo De acordo com a definição constante da Lei nº 4.320/64 (art. 2º), a lei do orçamento é aquela que contém a discriminação da receita e da despesa, de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo. Trata-se, portanto, do instrumento pelo qual o poder público prevê a arrecadação de receitas e fixa a realização de despesas, de acordo com o seu planejamento, para o exercício financeiro. Nos termos do previsto na Constituição Federal (art. 165, § 5º), da lei orçamentária constarão três tipos de orçamento: Orçamento fiscal: referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; Orçamento da seguridade social: abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público; e Orçamento de investimento das estatais: envolvendo as empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. Do orçamento fiscal devem constar as despesas referentes aos Poderes da União e de suas entidades vinculadas. Não fazem parte do orçamento fiscal as despesas relacionadas ao conjunto de ações destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social. Tais dotações devem ser discriminadas exclusivamente no orçamento da seguridade social. Definição das áreas que compõem o orçamento da seguridade: Saúde: é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (art. 196 da CF). Previdência Social: será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial (art. 201 da CF). Assistência Social: baseada na ideia de universalidade, a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social (art. 203 da CF). No que tange ao orçamento de investimento das empresas estatais, dele fazem parte aquelas empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. Vale destacar que as empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista), caso sejam consideradas empresas dependentes, devem fazer constar seus dispêndios integralmente do Orçamento Fiscal. Temos como exemplos desse tipo de estatal: Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU, Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada S.A. – CEITEC e Indústria de Material Bélico do Brasil - IMBEL. Caso se enquadrem como empresas independentes do Tesouro, apenas seus dispêndios com investimentos (GND 4) devem constar da Lei Orçamentária, na esfera Investimento das Empresas Estatais. Seus demais gastos são incluídos apenas no Programa de Dispêndios Globais (PDG), não submetido ao Congresso Nacional e acompanhado pela Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais – Sest, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. São exemplos dessas empresas: Grupo Petrobras, Infraero e Banco do Brasil. Empresa estatal dependente: empresa controlada que receba do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no último caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária. (LRF, art. 2º, inciso III) Os orçamentos fiscal e de investimentos devem ser compatíveis com o plano plurianual e ter como objetivo a redução das desigualdades inter- regionais, seguindo critério populacional (art. 165, § 7º, da CF). Além disso, a lei orçamentária não consignará dotação para investimento com duração superior a um exercício financeiro que não esteja previsto no plano plurianual ou em lei que autorize a sua inclusão, sob pena de crime de responsabilidade, conforme disposto no § 1º do art. 167 da Constituição. O conteúdo da LOA está adstrito à previsão da receita e à fixação da despesa. A única exceção que a Constituição prevê é a possibilidade de haver autorização para abertura de créditos suplementares e para a contratação de operações de crédito (art. 165, § 8º, da CF). É vedado o início de programa ou projetos que não tenham sido previamente incluídos na LOA (art. 167, inciso I, da CF). Sua inclusão poderá ser efetivada por meio de créditos especiais ou extraordinários. Esses créditos terão vigência no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente (art. 167, § 2º, da CF). Os créditos extraordinários somente poderão ser abertos para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o disposto no art. 62, da CF, que se refere às medidas provisórias (art. 167, § 3º, da CF). Vale destacar que a abertura de crédito suplementar ou especial deve ser precedida de autorização legislativa e indicação dos recursos correspondentes (art. 167, inciso V, da CF). Também são vedadas a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa (art. 167, inciso VI, da CF). É proibida a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais pagas pelo empregador e pela empresa, ou entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre a folha desalários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício, e aquelas incidentes sobre a receita ou o faturamento, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social (art. 167, inciso XI, da CF). Ainda, a Constituição veda, em seu art. 167, inciso VIII, a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, inclusive daqueles que compõem os próprios orçamentos fiscal, de investimentos das estatais e da seguridade social. São também vedadas a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais (art. 167, II, da CF) e a concessão ou utilização de créditos ilimitados (art. 167, VII, da CF). A Constituição também proíbe a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta (CF, art. 167, inciso III). Essa determinação está embasada na ideia de que endividamento só pode ser admitido para a realização de investimento ou para redução da dívida. Dessa forma, é, em regra, proibido tomar empréstimo para utilizar com despesa corrente. No entanto, é permitida a realização de dívida para cobrir despesa de capital. Tal norma é conhecida como “Regra de Ouro”. Regra de Ouro: proíbe a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, exceto as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta. (CF, art. 167, inciso III) Devemos lembrar que a Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF (Lei Complementar nº 101/2000) também traz dispositivos relativos à lei orçamentária anual. Conforme disposto em seu art. 5º, o projeto da LOA deve ser elaborado de forma compatível com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias, e, além disso: Conterá, em anexo, demonstrativo da compatibilidade da programação dos orçamentos com os objetivos e metas constantes do anexo de metas fiscais da LDO; Será acompanhado do demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia, bem como das medidas de compensação a renúncias de receita e ao aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado; Conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida, serão estabelecidos na LDO, destinada ao atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos; Não pode constar da lei orçamentária crédito com finalidade imprecisa ou com dotação ilimitada. Ainda em relação à LRF, o § 1º do citado art. 5º determina que constem da LOA todas as despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou contratual, e as receitas que as atenderão. Já o § 2º do referido artigo prevê que o refinanciamento da dívida pública constará separadamente na lei orçamentária e nas de crédito adicional. A LRF também determina que integrarão as despesas da União, e serão incluídas na lei orçamentária, as despesas do Banco Central do Brasil relativas a pessoal e encargos sociais, custeio administrativo, inclusive os destinados a benefícios e assistência aos servidores, e a investimentos. Quanto aos prazos relativos à LOA, estes deverão constar de lei complementar sobre finanças públicas, conforme art. 165, § 9º, inciso I, da CF. Nos termos do art. 35, § 2º, inciso III, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, até a entrada em vigor da referida lei complementar, o projeto de LOA será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa, que ocorre em 22 de dezembro. Vale destacar que, diferente do caso da LDO, não há impedimento para que o Congresso entre em recesso no dia 23 de dezembro, mesmo que a LOA não tenha sido aprovada. Tramitação da LOA O Presidente da República envia ao Congresso Nacional o projeto de LOA até o dia 31 de agosto, e o Congresso Nacional deve aprová-lo até 22 de dezembro do mesmo ano. Mas e se o projeto da lei orçamentária não for aprovado até 31 de dezembro, o governo não poderá executar nenhuma despesa? É verdade que nenhuma despesa pode ser realizada sem prévia autorização orçamentária. Ocorre que, nem sempre, a LOA é aprovada antes do início do exercício ao qual ela se refere. Para evitar que o governo pare caso o projeto da lei orçamentária não seja aprovado pelo Poder Legislativo até o dia 31 de dezembro, as LDOs têm autorizado o governo a executar algumas despesas constantes do projeto de LOA em caráter provisório, enquanto a lei não é aprovada. Via de regra, essas despesas são limitadas às obrigações constitucionais e legais da União e a uma parcela das despesas discricionárias. O Orçamento tem um caráter técnico e político. Sempre temos que ter em mente que não se trata apenas de um documento cheio de codificações técnicas, mas sim o resultado de uma decisão coletiva de alocação dos recursos públicos. Sobre isso, vamos ver uma entrevista bem interessante realizada pela Enap com o Analista de Planejamento e Orçamento Cilair Rodrigues de Abreu. Clique aqui. (https://youtu.be/IWMk-i8yGjM) Com essa análise sobre a lei orçamentária anual terminamos a primeira unidade do nosso módulo sobre Orçamento Público. Na próxima unidade, exploraremos a receita pública. Unidade 2 – Receita Pública Iremos estudar, nesta unidade, a classificação orçamentária da receita pública e sua grande importância para entendermos melhor como funciona o orçamento público. De acordo com a Lei 4.320/1964: Art. 35 – Pertencem ao exercício financeiro: I – as receitas nele arrecadadas; II – as despesas nele legalmente empenhadas. Em outras palavras, devemos estudar em detalhes a composição básica do orçamento público: RECEITA e DESPESA. Vamos começar pela RECEITA? O que é RECEITA PÚBLICA? Segundo o Manual Técnico do Orçamento (MTO), receitas públicas são ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado, que se desdobram em receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, e ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias. As receitas públicas são apenas as RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS. Ingressos de Valores nos Cofres Públicos Ingressos Extraorçamentários Receitas Orçamentárias (Receitas Públicas) Fonte: MTO 2023 Ingressos Extraorçamentários – São recursos financeiros que apresentam caráter temporário e não integram a LOA. O Estado é mero depositário desses recursos, que constituem passivos exigíveis e cujas restituições não se sujeitam à autorização legislativa. Vamos exemplificar para ficar mais claro: a) Depósitos em caução; b) Fianças; c) Operações de Crédito por Antecipação de Receita Orçamentária (ARO); d) Emissão de Moeda; e) Depósitos judiciais; f) Retenções na fonte. Receitas Orçamentárias (Receitas Públicas) – são os ingressos de valores que estão geralmente previstos na lei orçamentária. É graças a estas receitas que as políticas públicas governamentais podem ser executadas. Elas constituem receitas próprias do ente público e não têm caráter devolutivo. Vamos aos exemplos: a) Impostos; b) Contribuições; c) Aluguéis; d) Multas. Existe, ainda, uma classificaçãodoutrinária, encontrada no Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (9ª. Edição), quanto ao impacto na situação líquida patrimonial: Receita Orçamentária Efetiva – aquela em que os ingressos de disponibilidade de recursos não foram precedidos de registro de reconhecimento do direito e não constituem obrigações correspondentes. Exemplos: Receitas Correntes, exceto as receitas provenientes de créditos inscritos na dívida ativa. Receita Orçamentária não Efetiva – aquela em que os ingressos de disponibilidades de recursos foram precedidos de registro do reconhecimento do direito ou constituem obrigações correspondentes, como é o caso das operações de crédito. Exemplos: Receitas de Capital. Temos mais uma classificação, especificada pela doutrina como quanto à procedência. São as receitas ORIGINÁRIAS e DERIVADAS. De acordo com o Manual de Contabilidade do Setor Público da STN: Receitas Públicas Originárias – são as arrecadadas por meio da exploração de atividades econômicas pela Administração Pública. Resultam, principalmente, de rendas do patrimônio mobiliário e imobiliário do Estado (receita de aluguel), de preços públicos, de prestação de serviços comerciais e de venda de produtos industriais ou agropecuários. Receitas Públicas Derivadas – são as obtidas pelo poder público por meio da soberania estatal. Decorrem de norma constitucional ou legal e, por isso, são auferidas de forma impositiva, como, por exemplo, as receitas tributárias e as de contribuições especiais. Vamos abordar as demais classificações da receita? Agora, preste bastante atenção, porque esta parte é um tanto quanto árida. Mas não desanime, já que é muito importante o conhecimento das classificações. Todas as classificações orçamentárias a seguir são normatizadas por portarias da Secretaria de Orçamento Federal (SOF). Existem três critérios principais de classificação da receita orçamentária: 1. Classificação quanto a Natureza da Receita: Essa classificação identifica a origem do recurso segundo o fato gerador (acontecimento que ocasiona o ingresso da receita nos cofres públicos). Importante destacar que a classificação da receita por natureza é utilizada por todos os entes da Federação. Mas o que é Fato Gerador? Fato Gerador representa um fato ou conjunto de fatos em que a lei vincula o nascimento da obrigação jurídica de pagar um tributo determinado. Exemplo: o Fato Gerador do imposto de renda é auferir renda. A classificação quanto à Natureza é formada por 8 dígitos e se subdivide em 6 níveis: DÍGITO SIGNIFICADO 1º Categoria Econômica 2º Origem 3º Espécie 4º a 7º Desdobramentos para identificação de peculiaridades da receita 8º Tipo Fonte: MTO 2023 Vamos analisar cada um dos níveis. 1º - Categoria Econômica: (definida no art. 11 da Lei nº 4.320/1964) Art. 11 - A receita classificar-se-á nas seguintes categorias econômicas: Receitas Correntes e Receitas de Capital. - As Receitas Correntes, de acordo com o § 1º do art. 11, são as receitas tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras, e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. São oriundas do poder impositivo do Estado e aumentam as disponibilidades financeiras do Estado, com efeito positivo sobre o patrimônio líquido. Ex.: impostos, contribuições, patrimonial, de serviços, transferências correntes. - As Receitas de Capital (art. 11, § 2º) são as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital; e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. Também aumentam as disponibilidades do Estado, porém não provocam efeito sobre o patrimônio líquido. Ex.: operações de crédito, alienação de bens, amortização de empréstimos. Importante! A Portaria Interministerial STN/SOF nº 338 incluiu as receitas correntes e de capital intraorçamentárias, que são aquelas realizadas entre órgãos e demais entidades da Administração Pública integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social do mesmo ente federativo. Não representam novas entradas de recursos nos cofres públicos do ente, mas apenas remanejamento de receitas entre seus órgãos. Para ilustrar: Vamos agora ter uma noção da ordem de grandeza dos valores das categorias econômicas da receita da União. O quadro seguinte mostra a estimativa de receita da União para o exercício financeiro de 2023 segundo os itens já estudados. Observe que o volume de receitas de capital é superior ao montante de receitas correntes. Categoria Econômica (Cod/Desc) Receita Receita Prevista Inicial (em R$) 5.177.546.094.443 2 – RECEITAS DE CAPITAL 2.810.370.127.656 1 – RECEITAS CORRENTES 2.342.841.016.980 7 – RECEITAS CORRENTES – OPERAÇÕES INTRAORÇAMENTÁRIAS 24.334.949.807 Fonte: Siga Brasil. LOA 2023. 2º - Origem: É o detalhamento das categorias econômicas Receitas Correntes e Receitas de Capital, com vistas a identificar a procedência das receitas no momento em que ingressam nos cofres públicos. As origens podem ser representadas pelo seguinte quadro: Categoria Econômica (1º dígito) Origem (2º dígito) 1. Receitas Correntes 1. Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria 7. Receitas Correntes Intraorçamentárias 2. Contribuições 3. Receita Patrimonial 4. Receita Agropecuária 5. Receita Industrial 6. Receita de Serviços 7. Transferências Correntes 9. Outras Receitas Correntes 2. Receitas de Capital 1. Operações de Crédito 8. Receitas de Capital Intraorçamentárias 2. Alienação de Bens 3. Amortização de Empréstimos 4. Transferências de Capital 9. Outras Receitas de Capital Fonte: MTO 2023 Vamos a uma breve explanação de cada uma das origens. Inicialmente, abordaremos as origens vinculadas às Receitas Correntes: Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria: são decorrentes da arrecadação dos tributos previstos no art. 145 da Constituição Federal. Contribuições: são oriundas das contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, conforme preceitua o art. 149 da CF. Receita Patrimonial: são provenientes da fruição de patrimônio pertencente ao ente público, tais como as decorrentes de aluguéis, dividendos, compensações financeiras/royalties, concessões, entre outras. Receita Agropecuária: receitas de atividades de exploração ordenada dos recursos naturais vegetais em ambiente natural e protegido. Compreende as atividades de cultivo agrícola, de cultivo de espécies florestais para produção de madeira, celulose e para proteção ambiental, de extração de madeira em florestas nativas, de coleta de produtos vegetais, além do cultivo de produtos agrícolas. Receita Industrial: são provenientes de atividades industriais exercidas pelo ente público, tais como a extração e o beneficiamento de matérias-primas, a produção e a comercialização de bens relacionados às indústrias mecânica, química e de transformação em geral. Receita de Serviços: decorrem da prestação de serviços por parte do ente público, tais como comércio, transporte, comunicação, serviços hospitalares, armazenagem, serviços recreativos, culturais, etc. Tais serviços são remunerados mediante preço público, também chamado de tarifa. Transferências Correntes: são provenientes do recebimento de recursos financeiros de outras pessoas de direito público ou privado destinados a atender despesas de manutenção ou funcionamentoque não impliquem contraprestação direta em bens e serviços a quem efetuou essa transferência. Por outro lado, a utilização dos recursos recebidos vincula-se à determinação constitucional ou legal, ou ao objeto pactuado. Tais transferências ocorrem entre entidades públicas de diferentes esferas ou entre entidades públicas e instituições privadas. Outras Receitas Correntes: constituem-se pelas receitas cujas características não permitam o enquadramento nas demais classificações da receita corrente, tais como indenizações, restituições, ressarcimentos, multas previstas em legislações específicas, entre outras. As origens abaixo estão vinculadas às Receitas de Capital: Operações de Crédito: recursos financeiros oriundos da colocação de títulos públicos ou da contratação de empréstimos junto a entidades públicas ou privadas, internas ou externas. Alienação de Bens: ingressos financeiros provenientes da alienação de bens móveis, imóveis ou intangíveis de propriedade do ente público. O art. 44 da LRF veda a aplicação da receita de capital derivada da alienação de bens e direitos que integram o patrimônio público para o financiamento de despesa corrente, salvo se destinada por lei aos regimes de previdência social, geral e próprio dos servidores públicos. Amortização de Empréstimos: ingressos financeiros provenientes da amortização de financiamentos ou empréstimos que o ente público haja previamente concedido. Embora a amortização do empréstimo seja origem da categoria econômica Receitas de Capital, os juros Recebidos, associados ao empréstimo, são classificados em Receitas Correntes / de Serviços / Serviços e Atividades Financeiras / Retorno de Operações, Juros e Encargos Financeiros, pois os juros representam a remuneração do capital. Importante! Os juros referentes ao pagamento do empréstimo são classificados como receita corrente (CATEGORIA ECONÔMICA) e receita de serviços (ORIGEM). Transferências de Capital: recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado destinados a atender despesas com investimentos ou inversões financeiras, independentemente da contraprestação direta a quem efetuou essa transferência. Por outro lado, a utilização dos recursos recebidos vincula-se ao objeto pactuado. Tais transferências ocorrem entre entidades públicas de diferentes esferas ou entre entidades públicas e instituições privadas. Outras Receitas de Capital: registram-se nesta origem receitas cujas características não permitam o enquadramento nas demais classificações da receita de capital, tais como resultado do Banco Central, remuneração das disponibilidades do Tesouro, entre outras. 3º - Espécie: Nível de classificação vinculado à origem, permite qualificar com maior detalhe o fato gerador das receitas. Por exemplo, dentro da origem “Contribuições”, identificam-se as espécies “Contribuições Sociais”, “Contribuições Econômicas” e “Contribuições para Entidades Privadas de Serviço Social e de Formação Profissional”. 4º ao 7º - Desdobramentos para Identificação de Peculiaridades da Receita: Foram reservados 4 dígitos para desdobramentos com a finalidade de identificar peculiaridades de cada receita, caso seja necessário. Desse modo, esses dígitos podem ou não ser utilizados conforme a necessidade de especificação do recurso. Em 2021, as receitas exclusivas de estados e municípios utilizarão o número “8”, no quarto dígito (Ex.: 1.9.0.8.xx.x.x – Outras Receitas Correntes exclusivas de Estados e Municípios). A partir de 2022, inclusive elaboração do Orçamento, os 5º e 6º dígitos da codificação, que constituem parte dos desdobramentos, separam os códigos da União daqueles específicos dos demais entes federados, de acordo com a seguinte estrutura lógica: a) “00” até “49” identificam códigos reservados para a União, que poderão ser utilizados, no que couber, por Estados, DF e Municípios; b) “50” até “98” identificam códigos reservados para uso específico de Estados, DF e Municípios; e c) “99” será utilizado para registrar “outras receitas”, entendidas assim as receitas genéricas que não tenham código identificador específico, atendidas as normas contábeis aplicáveis. 8º - Tipo: Correspondente ao último dígito na natureza de receita, tem a finalidade de identificar o tipo de arrecadação a que se refere aquela natureza, sendo: “0”, quando se tratar de natureza de receita não valorizável ou agregadora; “1”, quando se tratar da arrecadação Principal da receita; “2”, quando se tratar de Multas e Juros de Mora da respectiva receita; “3”, quando se tratar de Dívida Ativa da respectiva receita; e “4”, quando se tratar de Multas e Juros de Mora da Dívida Ativa da respectiva receita. 2. Classificação por Fonte de Recursos: A classificação por fonte identifica as origens de financiamento do gasto público e sua destinação (existência ou não de vinculações de recursos), além de exercer um papel essencial no Orçamento, ao integrar receita e despesa. Serve para classificar a receita conforme a destinação legal dos recursos arrecadados. É a classificação que permite demonstrar a correspondência entre as fontes de financiamento e os gastos públicos, pois exterioriza quais são as receitas que financiam determinadas despesas. No entanto, existem destinações vinculadas e não vinculadas: Destinação vinculada - processo de vinculação entre a origem e a aplicação de recursos, em atendimento às finalidades específicas estabelecidas pela norma. Há, ainda, ingressos de recursos em decorrência de convênios ou de contratos de empréstimos e de financiamentos. Esses recursos também são vinculados, pois foram obtidos com finalidade específica - e à realização dessa finalidade deverão ser direcionados; Destinação não vinculada (ou livre) - é o processo de alocação livre entre a origem e a aplicação de recursos, para atender a quaisquer finalidades, desde que dentro do âmbito das competências de atuação do órgão ou entidade. A vinculação de receitas deve ser pautada em mandamentos legais que regulamentam a aplicação de recursos e os direcionam para despesas, entes, órgãos, entidades ou fundos. Seu código possui 4 dígitos, sendo o 1º responsável pelo Grupo da Fonte, e o 2º ao 4º pela especificação da Fonte. Segundo Giacomoni, diferentemente dos grupos 1 e 2, que são constituídos de recursos ingressados no exercício corrente, os grupos 3 e 6 compreendem os recursos provenientes de exercícios anteriores ao do orçamento em execução. O grupo 9 reúne fontes condicionadas, ou seja, recursos que estão na dependência de aprovação legal. 1º Dígito 2º, 3º e 4º Dígitos Grupo da Fonte de Recurso Especificação da Fonte de Recurso Fonte: MTO 2023 Abaixo a lista dos atuais códigos do Grupo da Fonte de Recurso: Cód. GRUPO da Fonte de Recurso (1º dígito) 1 Recursos Arrecadados no Exercício Corrente 3 Recursos Arrecadados em Exercícios Anteriores 7 Recursos de Operações de Crédito Ressalvadas pela Lei de Crédito Adicional da Regra de Ouro 9* Recursos Condicionados Fonte: MTO 2023 Vamos a alguns exemplos de fontes de recursos: 1º Dígito (Grupo da Fonte) 2º, 3º e 4º Dígitos (Especificação da Fonte) Fonte 1 – Recursos Arrecadados no Exercício Corrente 002 – Atividades-fim da Seguridade Social 1002 3 – Recursos Arrecadados em Exercícios Anteriores 050 – Recursos Próprios Livres da UO 3050 9 – Recursos Condicionados 054 – Benefícios do Regime Geral de Previdência Social 9054 Fonte: MTO 2023 Segundo o Ementário da Receita Pública, a classificação por grupo identifica quais agentes públicos possuem competência legal para arrecadar, fiscalizar e administrar as Receitas Públicas; dessa forma, é instrumento orçamentário-gerencialidentificador de determinados segmentos arrecadadores do setor público. Os grupos são: Receitas Próprias - têm origem no esforço próprio de órgãos e demais entidades nas atividades de fornecimento de bens ou serviços facultativos e na exploração econômica do próprio patrimônio e remunerada por preço público ou tarifas, bem como o produto da aplicação financeira desses recursos. Receitas Administradas - receitas auferidas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, que detém a competência para fiscalizar, arrecadar e administrar esses recursos. Receitas de Operações de Crédito – receitas financeiras provenientes da colocação de títulos públicos no mercado ou da contratação de empréstimos e financiamentos junto a entidades estatais ou privadas. Receitas Vinculadas - receitas que são vinculadas, por lei, a determinada finalidade específica, exceto as classificadas como “Receitas Administradas”. 3. Classificação por Indicador de Resultado Primário: De acordo com o ementário da receita pública, esta classificação orçamentária da receita tem por objetivo identificar quais são as receitas que compõem o resultado primário do Governo. Esse conceito surgiu quando o Brasil adotou metodologia de apuração do resultado primário oriunda de acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Receita primária é o somatório das receitas fiscais líquidas (aquelas que não geram obrigatoriedade de contraprestação financeira, como ônus, encargos e devolução). O cálculo da receita primária é efetuado somando-se as receitas correntes com as de capital e, depois, excluindo da conta as receitas: de operações de crédito e seus retornos (juros e amortizações), de aplicações financeiras, de empréstimos concedidos e do superávit financeiro. Receita Financeira é aquela proveniente de operações de crédito internas e externas, de aquisição de títulos de capital, de aplicações financeiras, de juros, de amortizações e do superávit financeiro. A receita é classificada como primária (P) quando seu valor é incluído na apuração do Resultado Primário e Não Primária ou Financeira (F) quando não é incluído nesse cálculo. Para a apuração do resultado primário ao final do exercício financeiro, as receitas primárias arrecadadas são deduzidas das despesas primárias incorridas. Normalmente, a meta fiscal estabelecida para a União, definida pelas leis de diretrizes orçamentárias, circunscreve-se a uma meta de resultado primário. A possibilidade, prevista na Lei de Responsabilidade Fiscal, de estipulação de metas de resultado nominal, não tem sido formalizada nas leis de diretrizes orçamentárias federais. Etapas da Receita Pública As etapas da receita seguem a ordem de ocorrência dos fenômenos econômicos, levando-se em consideração o modelo de orçamento existente no País. Dessa forma, a ordem sistemática inicia-se com a etapa de previsão e termina com a de recolhimento. Etapas da Receita Orçamentária Previsão Lançamento Lançamento Arrecadação Recolhimento (planejamento) (execução) Fonte: MTO 2023 Previsão: A previsão de receitas é a etapa que antecede a fixação do montante de despesas que irá constar nas leis de orçamento, além de ser base para se estimar as necessidades de financiamento do governo. Lançamento: O art. 53 da Lei nº 4.320, de 1964, define o lançamento como ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta. Arrecadação: Corresponde à entrega dos recursos devidos ao Tesouro Nacional pelos contribuintes ou devedores, por meio dos agentes arrecadadores ou instituições financeiras autorizadas pelo ente. Vale destacar que, segundo o art. 35 da Lei nº 4.320, de 1964, pertencem ao exercício financeiro as receitas nele arrecadadas, o que representa a adoção do regime de caixa para o ingresso das receitas públicas. Recolhimento: Consiste na transferência dos valores arrecadados à conta específica do Tesouro Nacional, responsável pela administração e controle da arrecadação e pela programação financeira, observando-se o princípio da unidade de tesouraria ou de caixa, conforme determina o art. 56 da Lei nº 4.320, de 1964, a seguir transcrito: Art. 56. O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para criação de caixas especiais. Com esta classificação, encerramos o estudo acerca da receita pública. Esperamos ter apresentado conceitos e classificações úteis para a compreensão da matéria. Esse conteúdo terá grande utilidade na sequência do curso, ao se tratar de elaboração e execução orçamentária. Em seguida, passamos ao estudo da despesa pública. Unidade 3 – Despesa Pública Agora, iremos tratar da classificação da despesa pública. Leia com a maior atenção possível devido aos detalhes que iremos apresentar a vocês. Para padronizarmos a metodologia com a unidade que trata da Receita, iremos conceituar Despesa Pública, citar algumas classificações doutrinárias e as classificações que estão normatizadas pela SOF e STN. O que acham? Vamos conceituar Despesa Pública? Despesa Pública são dispêndios realizados pelos entes públicos no atendimento dos serviços e encargos assumidos no interesse da sociedade. Graças às despesas públicas é que o Estado executa as políticas públicas. A doutrina classifica as despesas quanto à natureza e quanto ao impacto na situação líquida patrimonial. Vamos explicá-las. Na classificação quanto à natureza, temos: Despesas Orçamentárias – aquelas que dependem de autorização legislativa para sua efetivação. As despesas de caráter orçamentário necessitam de recurso público para sua realização e constituem instrumento para alcançar os fins dos programas governamentais. Despesas Extraorçamentárias – despesas que não dependem de autorização legislativa para sua efetivação. São compostas por saídas de recursos decorrentes de pagamentos e recolhimentos. Exemplos: cauções devolvidas, retenções recolhidas, depósitos judiciais sacados, pagamento de restos a pagar, etc. Já na classificação quanto ao impacto na situação líquida patrimonial: Despesas Efetivas – aquelas que, no momento de sua realização, reduzem a situação líquida patrimonial da entidade. Em geral, coincidem com as Despesas Correntes. No entanto, há despesa corrente não efetiva, como, por exemplo, a despesa com a aquisição de materiais para estoque e a despesa com adiantamento. Despesas não Efetivas – aquela que, no momento da sua realização, não reduz a situação líquida patrimonial da entidade. São todas as Despesas de Capital (empréstimos concedidos pelo Estado). Entretanto, há despesa de capital que é efetiva como, por exemplo, as transferências de capital, que causam variação patrimonial diminutiva e, por isso, classificam-se como despesa efetiva. Temos, ademais, as seguintes classificações, todas elas normatizadas por lei ou portarias: Blocos da Estrutura Item da Estrutura Pergunta a ser Respondida Classificação por Esfera Esfera Orçamentária Em qual Orçamento? Classificação Institucional Órgão Quem é o responsável por fazer? Unidade Orçamentária Classificação Funcional Função Em que áreas de despesa a ação governamental será realizada? Subfunção Estrutura Programática Programa O que se pretende alcançar com a implementação da Política Pública? Informações Principais da Ação Ação O que será desenvolvido para alcançar o objetivo do programa? Descrição O que é feito? Para que é feito? Forma de Implementação Como é feito? Produto O que será produzido ou prestado? Unidade de Medida Como é mensurado? Subtítulo Onde é feito? ou Onde está o beneficiário do gasto? Fonte: MTO 2023 Os arts. 12 e 13da Lei nº 4.320/1964 tratam da classificação da despesa por categoria econômica. Essas classificações estão normatizadas na Portaria Interministerial nº 163 da SOF/STN, de 2001, e na Portaria nº 42 do MPOG, de 1999. Vamos detalhá-las? 1. Classificação por Esfera Essa classificação se encontra na Constituição Federal de 1988: Art. 165, § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; II – o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Responde a seguinte pergunta: em qual orçamento consta a despesa? Seguem abaixo os códigos relacionados a essa classificação (de acordo com o SIAFI e no SIOP): Código Esfera Orçamentária 10 Orçamento Fiscal 20 Orçamento da Seguridade Social 30 Orçamento de Investimento Fonte: MTO 2013 Os códigos encontrados na LOA e no SIGA Brasil são: F, S e I. 2. Classificação Institucional Essa classificação reflete a estrutura administrativa e compreende dois níveis hierárquicos no Orçamento: o Órgão e a Unidade Orçamentária (UO). A classificação institucional é formada por cinco dígitos, os dois primeiros associados ao Órgão e os demais à UO: 1º 2º 3º 4º 5º Órgão Orçamentário Unidade Orçamentária Fonte: MTO 2023 Esta classificação responde à seguinte pergunta: Quem Faz? As dotações orçamentárias, especificadas por categoria de programação em seu menor nível, são consignadas às UOs, que são as responsáveis pela realização das ações. Órgão orçamentário é o agrupamento de UOs. Apresentamos os seguintes exemplos dessa classificação: Órgão Superior Orçamentário Unidade Orçamentária 24000 MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES 24211 AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL 24000 MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES 24901 FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO 24000 MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES 24906 FUNDO DE UNIVERSALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES - FUST 26000 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 26233 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 26000 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 26234 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO 26000 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 26235 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS 36000 MINISTÉRIO DA SAÚDE 36212 AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA 36000 MINISTÉRIO DA SAÚDE 36213 AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR – ANS 36000 MINISTÉRIO DA SAÚDE 36901 FUNDO NACIONAL DE SAÚDE Em regra, os órgãos e UOs referem-se a uma estrutura administrativa. No entanto, existem várias exceções no orçamento federal, a exemplo de: 71000 - Encargos Financeiros da União 73000 - Transferências a Estados, DF e Municípios 74000 - Operações Oficiais de Crédito 75000 – Refinanciamento da Dívida Pública Mobiliária Federal 90000 - Reserva de Contingência 3. Classificação Funcional Responde a seguinte pergunta: Em que área de despesa a ação governamental será realizada? A classificação funcional é representada por cinco dígitos, sendo os dois primeiros relativos às funções e os três últimos às subfunções. 1º 2º 3º 4º 5º Função Subfunção Fonte: MTO 2023 A Função pode ser traduzida como o maior nível de agregação das diversas áreas de atuação do setor público. Reflete a competência institucional do órgão, como, por exemplo, cultura, educação, saúde, defesa, que guarda relação com os respectivos Ministérios. Há situações em que o órgão pode ter mais de uma função típica, considerando-se que suas competências institucionais podem envolver mais de uma área de despesa. A subfunção representa um nível de agregação imediatamente inferior à função e deve evidenciar a natureza da atuação governamental. De acordo com a Portaria SOF/SETO/ME nº 42, de 14 de abril de 1999, atualizada pela Portaria SOF/ME nº 2.520, de 21 de março de 2022, é possível combinar as subfunções a funções diferentes daquelas a elas diretamente relacionadas, o que se denomina matricialidade. Órgão 22 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Ação 4641 PUBLICIDADE DE UTILIDADE PÚBLICA Subfunção 131 COMUNICAÇÃO SOCIAL Função 20 AGRICULTURA Órgão 32 MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA Ação 4641 PUBLICIDADE DE UTILIDADE PÚBLICA Subfunção 131 COMUNICAÇÃO SOCIAL Função 25 ENERGIA Órgão 01 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ação 2010 ASSISTÊNCIA PRÉ-ESCOLAR AOS DEPENDENTES DOS SERVIDORES E EMPREGADOS Subfunção 365 EDUCAÇÃO INFANTIL Função 01 LEGISLATIVA Fonte: MTO 2023 Importante! A Classificação funcional é comum para todos os entes da Federação, de tal modo que é possível utilizar esses agregados para consolidar o conjunto de gastos públicos do País por áreas de governo. Curiosidade: Vamos mostrar agora as 15 Funções com maior dotação na Lei Orçamentária Anual de 2023. Função Autorizado Encargos Especiais R$ 3.168.749.853.588,00 Previdência Social R$ 963.149.733.551,00 Assistência Social R$ 272.462.368.734,00 Saúde R$ 172.432.182.930,00 Educação R$ 142.741.676.578,00 Trabalho R$ 94.503.073.772,00 Defesa Nacional R$ 89.501.789.737,00 Reserva de Contingência R$ 68.995.579.528,00 Judiciária R$ 45.400.740.448,00 Agricultura R$ 35.674.111.674,00 Administração R$ 29.176.480.947,00 Transporte R$ 26.261.355.403,00 Segurança Pública R$ 14.938.656.390,00 Ciência e Tecnologia R$ 10.391.184.699,00 Legislativa R$ 10.220.269.743,00 A função com maior dotação, Encargos Especiais, alberga pagamentos da dívida pública e tem um valor expressivo muito em função da rolagem dos compromissos (refinanciamento da dívida, que não corresponde a dispêndios efetivos). Em seguida, temos a função Previdência Social, que envolve despesas com o Regime Geral de Previdência Social, do setor privado, e também com os Regimes Próprios de Previdência, dos servidores públicos e militares. 4. Classificação Programática A fundamentação básica dessa classificação consiste no fato de toda ação do governo estar estruturada em programas orientados para a realização dos objetivos estratégicos definidos para o período do PPA, ou seja, quatro anos. Ela é formada por Programas (4 dígitos), Ações (4 dígitos) e Subtítulos (4 dígitos). Exemplo de codificação de classificação programática: 2075.7M64.0043. Traduzindo: Programa: 2075 - Transporte Rodoviário Ação: 7M64 - Construção de Trecho Rodoviário Subtítulo: 0043 - no Rio Grande do Sul No orçamento federal, na vigência do PPA 2020-2023, os Programas são instrumentos de organização da ação governamental visando à concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por indicadores estabelecidos no plano plurianual e podem ser: Finalísticos - conjunto de ações orçamentárias e não orçamentárias, suficientes para enfrentar problema da sociedade, conforme objetivo e meta; De Gestão - conjunto de ações orçamentárias e não orçamentárias, que não são passíveis de associação aos programas finalísticos, relacionadas à gestão da atuação governamental ou à manutenção da capacidade produtiva das empresas estatais. As ações orçamentárias são um conjunto de operações das quais resultam produtos (bens ou serviços) que contribuem para atender ao objetivo de um programa. Incluem-se também no conceito de ação as transferências obrigatórias ou voluntárias a outros entes da Federação e a pessoas físicas e jurídicas, na forma de subsídios, subvenções,auxílios, contribuições, entre outros, os financiamentos e as reservas de contingência. As ações orçamentárias podem ser tipificadas como “projetos”, “atividades” ou “operações especiais”. A tipologia visa assegurar a diferenciação das ações de acordo com as características de sua operação e de sua produção, em cumprimento da Portaria SOF/SETO/ME nº 42/1999, atualizada pela Portaria SOF/ME nº 2.520, de 21 de março de 2022. Projeto: um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de governo; Atividade: um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto necessário à manutenção da ação de governo; e Operações Especiais: as despesas que não contribuem para a manutenção das ações de governo, das quais não resulta um produto, e não geram contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços. Subtítulos são detalhamentos das ações orçamentárias, em especial no que se refere à localização física. Chamados também de localizadores de gastos (intenção original do Executivo). Existem códigos padronizados de subtítulos associados a regionalização, aplicáveis às 5 Regiões Geográficas, aos 26 Estados, ao DF e aos gastos com atributo “Nacional” e “Exterior”, estipulados no MTO. A partir do orçamento para 2013, também foram padronizados os subtítulos para todos os municípios do País. Abaixo é demonstrado como é composta a codificação da ação + subtítulo: 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º numérico alfanuméricos numéricos Ação Subtítulo Fonte: MTO 2023 Na figura acima, o primeiro dígito define o tipo da ação. Veja: 1º Dígito Tipo de Ação 1, 3, 5 ou 7 Projeto 2, 4, 6 ou 8 Atividade 0 Operação Especial Fonte: MTO 2023 5. Classificação por Natureza de Despesa A classificação por natureza de despesa possui 6 dígitos na elaboração orçamentária e 8 dígitos na execução, informando os seguintes atributos: 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º Categoria Econômica Grupo de Natureza da Despesa Modalidade de Aplicação Elemento de Despesa Subelemento Fonte: MTO 2023 De acordo com a Portaria SOF/STN nº 163/2001: Art. 5º Em decorrência do disposto no art. 3º a estrutura da natureza da despesa a ser observada na execução orçamentária de todas as esferas de Governo será “c.g.mm.ee.dd”, onde: a) “c” representa a categoria econômica; b) “g” o grupo de natureza da despesa; c) “mm” a modalidade de aplicação; d) “ee” o elemento de despesa; e e) “dd” o desdobramento, facultativo, do elemento de despesa. Art. 6º Na lei orçamentária, a discriminação da despesa, quanto à sua natureza, far-se-á, no mínimo, por categoria econômica, grupo de natureza de despesa e modalidade de aplicação. (Grifamos.) 1º - Categoria Econômica: O gasto enquadra-se como: Despesa corrente: quando não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital ou não produzem acréscimo patrimonial permanente. Exemplo: despesas de custeio. Despesa de capital: quando contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital ou ensejam redução ou extinção de obrigações. Exemplo: aquisição ou construção de imóveis. 2º - Grupo de Natureza da Despesa (GND): Detalha a categoria econômica da despesa, ao mesmo tempo em que é um agregador dos elementos de despesa. Os GNDs são vinculados às categorias econômicas. Despesas Correntes: 1. Pessoal e Encargos Sociais - despesas orçamentárias com pessoal ativo e inativo, pensionistas do RPPS, pagamento de horas- extras, contribuição patronal. 2. Juros e Encargos da Dívida - despesas orçamentárias com o pagamento de juros, comissões e outros encargos de operações de crédito internas e externas contratadas, bem como da dívida pública mobiliária. 3. Outras Despesas Correntes - despesas orçamentárias com aquisição de material de consumo, pagamento de diárias, contribuições, subvenções, auxílio-alimentação, auxílio-transporte, além de outras despesas da categoria econômica "Despesas Correntes" não classificáveis nos demais grupos de natureza de despesa. Atenção O chamado GND 3 (outras despesas correntes) engloba despesas de diferentes características. Quando se fala em redução de gastos correntes (GND 3), temos que tomar muito cuidado! Nesse grupo, podemos ter gastos de material de escritório e despesas com merenda escolar e material médico-hospitalar. Despesas de Capital: 4. Investimentos - dotações destinadas para o planejamento e a execução de obras públicas, inclusive as destinadas à aquisição de imóveis necessários à realização destas últimas, bem como para os programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamentos e material permanente e a constituição ou aumento do capital social de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro. É de se salientar que o pagamento de pessoal contratado para a execução de obras, desde que não faça parte do quadro de funcionários do governo, também é classificado como Investimentos. 5. Inversões Financeiras - dotações destinadas a aquisição de bens de capital já em uso, constituição e aumento de capital de empresas, concessão de empréstimos e financiamentos. 6. Amortização da Dívida - despesas orçamentárias com o pagamento e/ou refinanciamento do principal e da atualização monetária ou cambial da dívida pública interna e externa, contratual ou mobiliária. Temos ainda o GND 9 – Reserva de Contingência: despesas orçamentárias destinadas ao atendimento de passivos contingentes e outros riscos, bem como eventos fiscais imprevistos, inclusive a abertura de créditos adicionais. Código Grupos de Natureza da Despesa 1 Pessoal e Encargos Sociais 2 Juros e Encargos da Dívida 3 Outras Despesas Correntes 4 Investimentos 5 Inversões Financeiras 6 Amortização da Dívida 9 Reserva de Contingência Fonte: MTO 2023 Para ilustrar o que estudamos, veremos a seguir como estão distribuídos, no orçamento federal, os valores da Lei Orçamentária Anual para 2023 por GND. Aqui, cabe também observação semelhante a constante da classificação funcional, o GND 6 – Amortização da Dívida exibe valores elevados muito em função das operações de refinanciamento da dívida pública. No GND 4 – Investimentos está computada a fixação de despesas das três esferas, incluindo o orçamento de investimento das empresas estatais. Cód. GND DESP LOA 2023 6 Amortização da Dívida R$ 2.233.623.104.870,00 3 Outras Despesas Correntes R$ 2.028.741.729.705,00 1 Pessoal e Encargos Sociais R$ 395.990.111.527,00 2 Juros e Encargos da Dívida R$ 325.846.563.997,00 5 Inversões Financeiras R$ 100.271.971.139,00 4 Investimentos R$ 71.127.187.880,00 9 Reserva de Contingência R$ 42.035.549.143,00 Fonte: Siga Brasil 3º - Modalidade de Aplicação: Identifica se a execução da programação será realizada diretamente pelo órgão detentor do crédito orçamentário ou de forma descentralizada. As principais modalidades de aplicação são: 30 - Transferências a Estados e ao Distrito Federal 40 - Transferências a Municípios 50 - Transferências a Instituições Privadas sem Fins Lucrativos 80 - Transferências ao Exterior 90 - Aplicações Diretas Dos exemplos acima, todas as modalidades são executadas de forma descentralizada, à exceção das aplicações diretas (90). 4º - Elemento de Despesa: Visa a identificar os objetos de gasto, discriminando os insumos utilizados para viabilizar a consecução das metas do orçamento. Exemplos: Vencimentos e vantagens fixas, diárias, material de consumo, obras e instalações, equipamentose material permanente, amortização. 5º - Subelemento de Despesa: Chamado no SIAFI de subitem de despesa, é uma especificação do elemento, opcionalmente detalhado quando do empenho do crédito. Algumas informações importantes somente estão disponíveis nesse nível de classificação, a exemplo da identificação de gastos sigilosos realizados pelos órgãos federais. Bem, com o conteúdo ministrado até o momento, temos os elementos para entender a classificação da despesa quanto à natureza. Exemplificaremos para consolidar o entendimento: Código da natureza da despesa 3.1.90.11.00: - O primeiro dígito identifica a despesa como sendo corrente; - O segundo refere-se ao GND Pessoal e Encargos Sociais; - O terceiro e o quarto dizem respeito à execução mediante Aplicação Direta (Modalidade de Aplicação); - O quinto e o sexto referem-se ao Elemento de Despesa Vencimentos e Vantagens Fixas, ao passo que o Subelemento de Despesa não foi detalhado. Categoria Econômica Grupo de Natureza de Despesa Modalidade de Aplicação Elemento de Despesa Desdobramento Facultativo do Elemento (Subelemento) 3 1 90 11 00 Vencimento e Vantagens Fixas – Pessoal Civil Aplicação Direta Pessoal e Encargos Sociais Despesa Corrente Fonte: MTO 2013 6 - Classificação por Indicador de Resultado Primário e por Identificador de Uso Para terminarmos nossa tarefa de classificarmos a despesa pública, mostraremos a classificação da despesa por identificador de resultado primário e por identificador de uso - IDUSO. A classificação por identificador de resultado primário (RP) tem por finalidade auxiliar a apuração do resultado primário (superávit ou déficit primário). Além disso, no âmbito federal, tem sido utilizada para indicar se a despesa tem natureza obrigatória ou discricionária, no caso de gastos primários, se integrava ou não o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, até, se a programação decorre de aprovação de emenda individual, de bancada estadual de congressistas e de comissão permanente das Casas do CN ou de relator-geral. Atualmente, temos os seguintes indicadores de resultado primário válidos para o orçamento federal: Código Descrição da Despesa 0 Financeira 1 Primária e considerada na apuração do resultado primário para cumprimento da meta, sendo obrigatória, cujo rol deve constar da Seção I do Anexo III* 2 Primária e considerada na apuração do resultado primário para cumprimento da meta, sendo discricionária e não abrangida por emendas individuais e de bancada estadual, ambas de execução obrigatória 4 Primária discricionária constante do Orçamento de Investimento e não considerada na apuração do resultado primário para cumprimento da meta 6 Primária, decorrente de programações incluídas ou acrescidas por emendas individuais, de execução obrigatória nos termos do disposto nos § 9º e § 11 do art. 166 da Constituição 7 Primária, decorrente de programações incluídas ou acrescidas por emendas de bancada estadual, de execução obrigatória nos termos do disposto no § 12 do art. 166 da Constituição e no art. 2º da Emenda à Constituição nº 100, de 26 de junho de 2019 Finalmente, o Identificador de Uso (IDUSO) vem responder à seguinte pergunta: Os recursos utilizados são contrapartida? Ele indica se os recursos compõem contrapartida de empréstimos, doações ou outras aplicações. O quadro seguinte mostra as codificações e respectivas descrições dos Indicadores de Uso do orçamento federal: Código Descrição 0 Recursos não destinados à contrapartida ou à identificação de despesas com ações e serviços públicos de saúde, ou referentes à manutenção e ao desenvolvimento do ensino 1 Contrapartida de empréstimos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD 2 Contrapartida de empréstimos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID 3 Contrapartida de empréstimos por desempenho ou com enfoque setorial amplo 4 Contrapartida de outros empréstimos 5 Contrapartida de doações 6 Recursos para identificação das despesas que podem ser consideradas para a aplicação mínima em ações e serviços públicos de saúde, de acordo com o disposto na Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012 8 Recursos para identificação das despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino, observando o disposto nos art. 70 e art. 71 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no âmbito do Ministério da Educação Fonte: MTO 2023 A partir de 2013, o IDUSO passou a servir para identificar os recursos destinados à aplicação mínima em ações e serviços públicos de saúde, nos termos da Lei Complementar nº 141/2012. Para verificarmos nosso aprendizado e visualizarmos na prática onde se encaixam todas essas classificações, iremos analisar um segmento do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) federal. Vamos lá! Órgão: 39000 – Ministério dos Transportes R$ 1,00 Unidade: 39252 – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes – DNIT Quadro dos Créditos Orçamentários Recursos de Todas as Fontes Programática Programa/Ação/Localização Funcional Esf GND RP Mod IU Fte Valor 2075.20VL Manutenção de Trechos Rodoviários na Região Sudeste 26.782 895.000.000 2075.20VL.0031 Manutenção de Trechos rodoviários na Região Sudeste – No Estado de Minas Gerais (Seq: 2432) 700.000.000 Produto: Trecho mantido (km): 9.392 F 4 - INV 3 90 0 100 700.000.000 Fonte: PLOA 2013 Volume IV Classificação Institucional: Unidade Orçamentária - 39252 – DNIT Órgão – 39000 – Ministério dos Transportes Classificação Programática: 2075.20VL.0031 2075 – Programa - Transporte Rodoviário 20VL – Ação - Manutenção de Trechos Rodoviários na Região Sudeste 0031 – Subtítulo – No Estado de Minas Gerais Classificação Funcional: 26.782 26 – Função – Transporte 782 – Subfunção – Transporte Rodoviário Outras classificações: Esfera – Orçamento Fiscal (F) GND – Investimentos (GND 4) Resultado Primário – RP 3 – PAC Modalidade de Aplicação – Aplicações Diretas (90) IDUSO - Recursos não destinados à contrapartida (0) Fonte - Recursos do Tesouro - Exercício Corrente (1) Recursos Ordinários (00) Além disso, temos a chamada dimensão física do orçamento, composta pelos atributos Produto, Unidade de Medida e Meta Física. Indicam o que de fato será realizado a partir da dotação orçamentária autorizada. No exemplo anterior, temos: Dimensão Física: Produto – Trecho mantido Unidade de medida – km Meta Física – 9.392 Perceberam que todas as classificações têm sua utilidade? Agora com certeza ficará mais fácil entender como funciona o Orçamento Público! Vamos passar, em seguida, a estudar a execução orçamentária, como são processadas receitas e despesas públicas após a edição da lei do orçamento. Unidade 4 – Regras Fiscais na União Segundo Schick (2003), o processo orçamentário é orientado por regras que regulam a arrecadação e os gastos de recursos públicos. No Brasil, vigora desde a promulgação da Constituição Federal, em 1988, um sistema de planejamento orçamentário baseado na edição cíclica de três instrumentos legais, quais sejam o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) (BRASIL, 1988). O PPA tem por função principal estabelecer, de forma regionalizada, diretrizes, objetivos e metas para as despesas de capital e para as despesas de duração continuada para um período de quatro anos. A LDO, por sua vez, tem vigência anual e fixa as metas e prioridades da Administração Pública federal, estabelece as diretrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância com trajetória sustentável da dívida pública, orienta a elaboração da Lei OrçamentáriaAnual, dispõe sobre as alterações na legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Por fim, a LOA também tem vigência anual e sua função primordial é estimar a receita pública e fixar a despesa para um exercício financeiro. No contexto do sistema orçamentário, à época da Constituição Federal de 1988, a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, conhecida como Lei de Finanças Públicas, que instituiu normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, encontrava-se vigente. A referida Lei estabeleceu três dos princípios básicos da lei orçamentária: unidade, universalidade e anualidade, o que significa que o orçamento da União é único, que se aplicará ao período de 1º de janeiro a 31 de dezembro, e que conterá todas as receitas estimadas e todas as despesas fixadas. Ademais, a Lei trata sobre os tipos de receita e de despesa; conteúdo, forma e elaboração da proposta orçamentária; créditos adicionais, execução do orçamento, controle interno e externo; e contabilidades orçamentária, financeira, patrimonial e industrial. Essa Lei foi recepcionada pela Constituição e integra o arcabouço legal do sistema orçamentário, mas, apesar de estabelecer normas gerais aplicadas às finanças públicas, em seus 115 artigos, não conta com nenhuma regra que possa ser considerada como regra fiscal, de acordo com o conceito definido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), qual seja, restrições duradouras à política fiscal por meio de limites numéricos sobre os agregados orçamentários (KOPITS; SYMANSKY, 1998; SCHICK, 2010). Dessa forma, Luz (2022) considera que, a partir da promulgação da Constituição Federal, as regras fiscais impostas de forma imediata ao sistema orçamentário federal brasileiro foram apenas duas: a chamada “regra de ouro” (art. 167, inc. III, da CF88), que veda “a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta” (BRASIL, 1988); e aquela trazida pelo art. 195, § 5º, que dispõe que “nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total” (BRASIL, 1988). Além dessas, a CF88 previu o estabelecimento de limites mediante instrumentos diferentes, abaixo transcritos aqueles relacionados apenas à União Federal (LUZ, 2022): Por meio de lei ordinária, o estabelecimento de limites globais para o montante da dívida mobiliária da União (art. 48, inc. XIV). A lei seria de iniciativa do Poder Executivo, porém este limite nunca foi instituído. Por meio de resolução do Senado Federal, o estabelecimento de limites globais para o montante da dívida consolidada da União (art. 52, inc. VI). Por meio de resolução do Senado Federal, o estabelecimento de limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo Poder Público federal (art. 52, inc. VII). Por meio de resolução do Senado Federal, o estabelecimento de limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito externo e interno (art. 52, inc. VIII). Ademais, o artigo 163 da CF88 previa a regulamentação de matérias que disponham sobre as finanças públicas, delegando a uma lei complementar, a ser apresentada posteriormente, a tarefa de regulamentar a gestão orçamentária no País. A inovação do sistema orçamentário logo foi submetida a um teste de realidade, com a manipulação de emendas e a formação de blocos que lideravam a elaboração orçamentária e se beneficiavam da execução. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) na CD, conhecida como “CPI do Orçamento”, foi responsável pela investigação do esquema entre os anos de 1993 e 1994. As conclusões do relatório da CPI do Orçamento foram na linha da segregação dos poderes dos atores do processo e do aumento de transparência, além de sugerir a extinção da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO). No entanto, não se verifica ainda nenhuma preocupação com a higidez fiscal e o controle da dívida em seu conteúdo. Na segunda metade da década de 1990, diante da presença de déficits nos primeiros anos após a implantação do Real, a política fiscal foi incluída como fator indispensável à estabilização, contemplando uma âncora fiscal que auxiliasse no controle da inflação (CARNEIRO, 2002). No contexto dessa crise econômica, fora anunciado, em outubro de 1998, o Programa de Estabilidade Fiscal (PEF), que previa: mudanças estruturais, como a aceleração das discussões para a aprovação da reforma da previdência privada; avanços institucionais-legais; e a estabilização da relação dívida/PIB a ser alcançada por meio de superávits primários (TAVARES, 2005). Em relação aos avanços institucionais-legais, as principais iniciativas do PEF foram: (1) elaboração e envio ao Congresso Nacional do projeto da LRF, com o objetivo de estabelecer regras e limites fiscais e códigos de conduta para os gestores de recursos públicos; (2) fixação de novos limites para a despesa de pessoal nos três níveis de governo, com o propósito de assegurar maior disponibilidade de recursos para as atividades finalísticas; e (3) reformulação do processo orçamentário, promovendo uma reestruturação dos gastos federais e implantando sistema de gerenciamento para cada programa, para obter maior transparência, eficiência e eficácia no uso dos recursos públicos (TAVARES, 2005). Na visão de Giambiagi e Além (2015), em 1999, antes da sanção da LRF, o governo já adotou o regime de metas de superávit primário visando a estabilização do déficit. Os principais aspectos que a LRF trouxe para gestão da política fiscal são: Meta fiscal e novas atribuições à LDO: o artigo 4º trouxe o Anexo de Metas Fiscais (AMF) para o âmbito da LDO, dispondo que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois seguintes. Além disso, insere novos aspectos relacionados à execução orçamentária, bem como outro anexo, que traz avaliação dos riscos capazes de afetar as contas públicas, chamado Anexo de Riscos Fiscais (ARF). Despesas com pessoal: o artigo 19 estabelece o limite legal de 50% da Receita Corrente Líquida (RCL) para a União e 54% para os entes federados. Já os artigos 21, 22 e 23 preveem gatilhos legais a serem acionados em caso de descumprimento. Endividamento: o artigo 29 define os conceitos de dívida, podendo ser de natureza mobiliária, ou operações de crédito e concessões de garantias. O mesmo artigo também estabelece limites de endividamento para os entes federados. Sustentabilidade fiscal de longo prazo: o artigo 42 veda a inscrição de restos a pagar nos últimos dois quadrimestres de mandato. Isto busca inibir o comportamento oportunista de políticos que elevam gastos visando as eleições e comprometendo a saúde financeira da próxima legislatura. Transferências de recursos públicos ao setor privado: o artigo 14 discorre sobre renúncias de receitas e o artigo 26 normatiza e limita as transferências de recursos do governo ao setor privado, obrigando sua regulamentação por lei específica. Controle do aumento de despesas: os artigos 15 a 17 trazem condições para a criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento da despesa, sejam pontuais ou de caráter continuado. Financiamento parafiscaldo governo: o artigo 34 proíbe que a emissão de títulos de dívida pública seja adquirida por bancos estatais. Dessa forma, com a promulgação da LRF, a regra fiscal de meta de superávit primário, que o governo já havia utilizado no ano anterior, passou a ter embasamento legal. Além disso, o artigo 30 trouxe a exigência do envio dos projetos de limites e condições a que se referem os incisos VI, VII, VIII e IX do artigo 52, bem como do inciso XIV do artigo 48, todos da CF88. Assim, em 20 de dezembro de 2001, o Senado Federal promulga, a partir do Projeto de Resolução do Senado Federal nº 73/2001, a Resolução do Senado Federal nº 40/2001, que dispõe sobre os limites globais para o montante da dívida pública consolidada e da dívida pública mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em atendimento ao disposto no artigo 52, incisos VI e IX, da CF88. No dia seguinte, 21 de dezembro de 2001, o Senado Federal promulga, a partir do Projeto de Resolução do Senado Federal nº 68/2001, a Resolução do Senado Federal nº 43/2001, que dispõe sobre as operações de crédito interno e externo dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive concessão de garantias, seus limites e condições de autorização, e dá outras providências. A partir de então, o final do segundo mandato do governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso e o primeiro mandato do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva transcorreram segundo essas regras estabelecidas. Com o objetivo de dar à União tratamento similar àquele adotado no caso dos entes subnacionais na Resolução do Senado Federal nº 43/2001, segundo a justificativa do Projeto de Resolução do Senado Federal nº 83/2007, foi publicada, em 21 de dezembro de 2007, a Resolução do Senado Federal nº 48/2007, que dispõe sobre os limites globais para as operações de credito externo e interno da União, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo Poder Público federal e estabelece limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de credito externo e interno. Essa resolução trouxe regras similares às dos entes subnacionais e revogou Resolução nº 96/1989, então em vigor, que possuía a mesma ementa e objeto que sua sucessora. Nesse contexto, esse era o arcabouço institucional existente das regras fiscais para a esfera federal do governo brasileiro durante o segundo mandato do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e durante o período de governo da Presidente Dilma Rousseff, encerrado com seu afastamento em 12 de maio de 2016. A partir de então, assume interinamente o Presidente Michel Temer que, em 15 de junho de 2016, apresenta ao Congresso Nacional a proposta de emenda constitucional que visava instituir o NRF, popularmente conhecido como teto de gastos, que fora promulgado pelo parlamento em 15 de dezembro de 2016. Assim, as regras fiscais da União foram se acumulando ao longo dos anos e o panorama institucional dessas regras após a promulgação da EC nº 95/2016 é apresentado de forma resumida no quadro abaixo. Contudo, devemos ter em mente que o histórico aqui apresentado se referiu apenas às regras fiscais da União, ou seja, ao longo de todo esse período, outras normas e atos do Poder Público, de todos os níveis, foram editados com o objetivo de agregar transparência ao processo orçamentário e às políticas públicas, bem como permitir o adequado cumprimento e controle das regras de política fiscal, como, por exemplo, a Lei Complementar nº 131/2009, conhecida como Lei de Transparência, e a Lei nº 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI). Quadro - Regras fiscais em vigor para a União Federal Regra Descrição Tipo Norma definidora Base Legal Regra de ouro Veda a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital. Resultado Constituição CF (art.167, III); LRF (art. 32, § 3º); e Res. SF 48/2007 Novo Regime Fiscal (Teto de Gastos) Define um limite para o montante das despesas primárias, que equivale ao limite do ano anterior corrigido pela inflação. O limite é individualizado por poder e órgão autônomo. Despesa Constituição CF (arts. 107 a 112, ADCT) Geração de despesas da Seguridade Social Veda a criação, majoração ou extensão de benefícios ou serviços da seguridade social sem a fonte de custeio. Despesa Constituição CF (art. 195, § 5º) Meta de resultado primário Fixa anualmente, na lei de diretrizes orçamentárias, a meta de resultado primário a ser perseguida no exercício a que a lei se refere. Resultado Lei Ordinária LRF (art. 4º, § 1º) Geração de despesa obrigatória Veda a criação ou aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado sem a demonstração da origem dos recursos para seu custeio. Efeitos financeiros devem ser compensados por aumento permanente de receita ou redução permanente de despesa. Despesa Lei Complementar CF (art. 113, ADCT) e LRF (art. 17) Renúncia de receitas Veda a concessão de renúncia de receita sem a demonstração de que o benefício não afetará as metas fiscais e sem medidas de compensação por aumento de receita. Receita Lei Complementar CF (art. 113, ADCT) e LRF (art. 14) Limite de despesas com pessoal Define limites para a despesa total com pessoal em função da receita corrente líquida do ente. Os limites são fixados por esfera da federação e, em cada uma delas, por poder e órgão autônomo. Despesa Lei Complementar CF (art. 169) e LRF (arts. 19 e 20) Limite para operações de crédito Fixa limites globais para as operações de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Os limites são definidos pelo Senado Federal, mediante proposta do Presidente da República. Dívida Resolução CF (art. 52, VII); LRF (art. 30, I); Res. SF 48/2007; e Res. SF 43/2001 Limites para concessão de garantia em operações de crédito Fixa limites para concessão de garantia em operações de crédito externo e interno. Os limites são definidos pelo Senado Federal, mediante proposta do Presidente da República. Dívida Resolução CF (art. 52, VIII); LRF (art. 30, I); e Res. SF 48/2007 Fonte: Luz (2022), adaptado do Relatório de Acompanhamento Fiscal (INSTITUIÇÃO FISCAL INDEPENDENTE, 2018) Lei de Responsabilidade Fiscal Antes de prosseguirmos, vamos apresentar as disposições mais relevantes da LRF que ainda não tenham recebido atenção ao longo de nossos estudos das unidades precedentes. Significa dizer que alguns temas regidos por preceitos da LRF, como conteúdo material das leis de diretrizes orçamentárias, limitação de empenho e movimentação financeira, reestimativa da receita no âmbito do Poder Legislativo, restos a pagar e transferências voluntárias, cujos estudos já foram completados, não serão aqui abordados. Em seu art. 1º, § 1º, a lei define que responsabilidade na gestão fiscal pressupõe ação planejada e transparente, na qual se previnem riscos e se corrigem desvios capazes de afetarem o equilíbrio das contas públicas. Vale salientar que, juntamente com a edição da LRF, o legislador aprovou a Lei nº 10.028/2000, com vistas a assegurar a efetividade dos normativos de responsabilidade fiscal. A Lei nº 10.028/2000, conhecida como lei dos crimes fiscais, alterou o Código Penal Brasileiro, instituindo tipos penais específicos para determinadas condutas associadas à gestão dos recursos públicos. Para Bruno (2008, p. 61), “as condutas penalmente agravadas constituem-se nos denominados crimes próprios, ou seja, somente poderá ser sujeito ativo da conduta lesiva às finanças públicas, agente público competente para a prática da ação administrativa”. Alcance e estrutura da LRF Atenção! A LRF vincula a União,os estados, o Distrito Federal e os municípios, nos termos do § 2º de seu art. 1º. Estão abrangidos por suas regras os órgãos, entidade e fundos dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, e do Ministério Público, dessas esferas de governo. Política fiscal e o Banco Central O capítulo que trata “Do Planejamento” estabelece uma série de normativos aplicáveis às leis de diretrizes orçamentárias e ao procedimento de execução orçamentária (contingenciamento), já abordados anteriormente em nossos estudos, ao se tratar do conteúdo material das LDOs e da execução do orçamento público. Além disso, em seu art. 7º, dispõe sobre os reflexos orçamentários advindos da atuação do Banco Central do Brasil – Bacen. O resultado da Autoridade Monetária constitui receita do Tesouro Nacional, sendo transferido até o décimo dia útil subsequente à aprovação dos balanços semestrais. De forma análoga, eventual resultado negativo se constitui obrigação do Tesouro para com o Bacen e é consignado em dotação específica no orçamento. Um preceito de suma importância para assegurar a transparência e a responsabilidade da gestão fiscal, considerando que as operações da política monetária têm o potencial de criar obrigações fiscais de grande magnitude, está inscrito nos §§ 2º e 3º do art. 7º. Determina que o impacto e o custo fiscal das operações realizadas pelo Bacen serão demonstrados trimestralmente, nos termos da LDO. Em seus balanços trimestrais, o Banco Central incluirá notas explicativas sobre os custos da remuneração das disponibilidades do Tesouro Nacional e da manutenção das reservas cambiais e a rentabilidade de sua carteira de títulos, destacando os de emissão da União. Receita e despesa pública Vamos em frente! Exploraremos em seguida os principais dispositivos da LRF em matéria de Receita e Despesa Pública, sempre alertando que, para não sermos repetitivos, evitaremos retomar temas já estudados anteriormente. A propósito, em relação à receita pública, conforme já visto, a LRF tece considerações sobre a possibilidade de reestimativa de receita ao longo da tramitação do projeto de lei orçamentária, no âmbito do Poder Legislativo. Em adição a isso, o art. 14, que versa sobre renúncia de receita, conforma a base de um sistema que pretende controlar a criação ou ampliação de benefícios ou obrigações que afetem a receita ou a despesa pública. Esse sistema é integrado, também, pelos arts. 15 a 17, que tratam da geração de obrigações dos entes públicos (abordando, pois, o lado da despesa). Vamos começar nosso estudo esclarecendo o alcance da expressão “renúncia de receita”. O § 1º do art. 14 da LRF especifica a definição legal de renúncia fiscal, ao dispor que a renúncia “compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado”. O parágrafo seguinte retira o caráter de renúncia das alterações de alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da Constituição (impostos de importação, de exportação, sobre produtos industrializados e sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários) e dos cancelamentos de débito cujo montante seja inferior aos custos de cobrança. A LRF engendrou um sofisticado mecanismo para tentar conter as propostas de renúncias “irresponsáveis” do ponto de vista fiscal. O caput do art. 14 condicionou a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício tributário que produza renúncia de receita à demonstração da estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, ao atendimento da LDO e a pelo menos uma das seguintes assertivas: - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi prevista na estimativa de receita da lei orçamentária, não afetando o cumprimento das metas fiscais; ou - demonstração de medidas de compensação, por meio do aumento de receita, proveniente de elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. De forma análoga, nos arts. 15 a 17, foram previstos mecanismos para a contenção de novas obrigações que reflitam na despesa dos entes públicos. Digna de destaque é a redação do art. 17, que define a “despesa obrigatória de caráter continuado” como “a despesa corrente derivada de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios”. A criação ou aumento das despesas obrigatórias de caráter continuado dependerá de instrução da estimativa do impacto orçamentário financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos dois subsequentes, da demonstração da origem de recursos para seu custeio, da comprovação de que a despesa não afetará a consecução das metas fiscais e da previsão de sua compensação mediante aumento permanente de receita ou redução permanente de despesa. As únicas exceções expressas na LRF a esse regime dizem respeito a gastos com serviço da dívida (conceito que inclui juros, encargos e amortizações) e a revisão geral anual da remuneração dos agentes públicos, bem como, no que se refere à necessidade de compensação, a despesas com a concessão de benefícios da Seguridade Social a quem satisfaça as condições de habilitação, a expansão quantitativa do atendimento e dos serviços prestados e o reajustamento de valor do benefício ou serviço, a fim de preservar seu valor real. Alguns fatores dificultam a eficácia das regras previstas pela LRF, dentre as quais sobressaem a dificuldade de incorporar medidas de compensação fiscal aos atos que geram obrigações de natureza continuada ou criam renúncias fiscais e a falta de interesse da classe política na verificação estrita desses normativos. Entretanto, após a promulgação da Emenda Constitucional 95/2016, observa-se um movimento no sentido de se considerar os impactos orçamentários e financeiros nos debates durante o processo legislativo. Isso se deu ao fato de que a referida emenda ratificou, especialmente na introdução do art. 113 no ADCT, parte da preocupação trazida pela LRF em relação à higidez fiscal. (ADCT) Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro. Gasto com pessoal O art. 169 da Constituição Federal prescreve que lei complementar disporá sobre os limites de despesa com pessoal. Antes da LRF, já havia legislações com esse desiderato, a exemplo da chamada “Lei Camata” – Lei Complementar nº 82/1995 e da Lei Complementar nº 96/1999. Essas leis definiam tetos para o gasto com pessoal em função, normalmente, da receita corrente líquida de cada ente. Mas o que deve ser considerado um gasto com pessoal? O art. 18 da LRF preceitua que se entende como despesa total com pessoal o somatório dos gastos do ente da Federação com ativos, inativos e pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos de aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas-extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência. Essa disposição trazida pela LRF incidiu na estipulação de limites percentuais da receita corrente líquida não apenas gerais, aplicáveis às folhas de pessoal de União, estados, DF e municípios, como também por Poder, definindo o seguinte quadro (arts. 19e 20): Ente Federado Limite global (% da RCL) Poder Limite específico (% da RCL) União 50 Legislativo (inclui TCU) 2,5 Judiciário 6 Ministério Público 0,6 Executivo 40,9 Estados 60 Legislativo (inclui TCE) 3* Judiciário 6 Ministério Público 2 Executivo 49* * Nos estados em que houver tribunal de contas dos municípios, o percentual do Legislativo acresce 0,4 p.p, ao passo que do Executivo decresce no mesmo montante. O fato de o art. 1º, § 3º, II, da LRF, enquadrar explicitamente o Distrito Federal em suas referências a estados, não evitou que a ausência de previsão legal expressa quanto aos limites aplicáveis ao Distrito Federal provocasse controvérsias quanto a sua sujeição aos tetos aplicáveis a estados ou aos municípios. A discussão encerrou-se com o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3756, pelo Supremo Tribunal Federal, determinando que o Poder Legislativo distrital se submeta ao teto estadual de 3% da RCL. Convém assinalar que os municípios devem atender, cumulativamente, ao disposto no art. 29-A da Constituição Federal. A propósito, Bruno (2008, p. 179) ensina que o referido artigo, em seu § 1º, “limita a folha de pagamento das Câmaras, incluindo-se aqui os servidores administrativos, sem exceção, assessores parlamentares e de gabinete, com todas as parcelas remuneratórias, e ainda, a inclusão dos subsídios dos parlamentares, não podendo superar 70% da receita do legislativo municipal”. A LRF previu, em seus arts. 21 a 23, uma série de controles e mecanismos para evitar que as unidades federadas excedam os tetos de dispêndios com pessoal, incluindo a definição de limite prudencial correspondente a 95% dos limites legais. Em caso de descumprimento dos tetos aplicáveis, a lei prescreve sanções importantes, como o impedimento de receber transferências voluntárias, de obtenção de garantias de outros entes federados e de contratação de operações de créditos, ressalvadas as que visem à redução das despesas com pessoal e ao refinanciamento da dívida mobiliária. Municípios 60 Legislativo (inclui TCM, quando existente) 6 Executivo 54 Endividamento Público Prosseguindo nosso estudo sobre as normas de responsabilidade fiscal, importa enfocar, neste tópico, os preceitos sobre a dívida pública. A LRF cuidou de forma pormenorizada da questão, estabelecendo conceitos e definindo procedimentos diversos voltados à gestão do endividamento público. Vamos a eles! O art. 29 comporta a definição legal de uma série de expressões relacionadas ao endividamento. Para nossos objetivos, importa destacar: Dívida pública consolidada ou fundada: montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de crédito, para amortização em prazo superior a doze meses. A dívida pública consolidada relativa à emissão de títulos do Bacen é incluída na dívida pública consolidada da União. Dívida pública mobiliária: dívida pública representada por títulos emitidos pela União, inclusive os do Banco Central do Brasil, estados e municípios. Operação de crédito: compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arredamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros. Refinanciamento da dívida mobiliária: emissão de títulos para pagamento do principal acrescido da atualização monetária. A lei prevê a fixação, por parte do Senado Federal, de limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos estados e municípios, em atenção ao disposto no art. 52, VI, da Constituição Federal, além de limite, a ser definido por lei, para a dívida mobiliária federal (previsto originalmente no art. 48, XIV, da Constituição). Sem embargo, atualmente, há limites definidos da dívida consolidada para estados, Distrito Federal e municípios (aprovados pelo Senado Federal em 2001), porém inexiste limite para o endividamento federal. Em subseção própria, a LRF trouxe diversas vedações aplicáveis à gestão da dívida pública (arts. 34 a 37). Uma delas prescreve ser defeso ao Bacen emitir títulos a partir de dois anos após a publicação da LRF. Desde o advento do termo inicial de aplicação do preceito, o Banco Central deve operar a política monetária por intermédio de títulos do Tesouro Nacional. Foi vedada, ademais, a realização de operação de crédito entre um ente federado e outro, inclusive suas entidades da administração indireta, excetuando-se as operações entre instituição financeira estatal e outro ente da Federação que não se destinem a: 1. Financiar despesas correntes; e 2. Refinanciar dívidas não contraídas junto a própria instituição concedente. Essa proibição não impede a aquisição de títulos da dívida da União por parte de estados e municípios, para aplicação de suas disponibilidades. Por derradeiro, foi vedada a operação de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo. O dispositivo objetiva travar uma prática antiga corrente, de os governos subnacionais, em especial os estados, financiarem- se usando seus bancos estaduais. Não se aplica à aquisição por instituição financeira controlada, no mercado, de títulos da dívida pública para atender investimento de seus clientes, ou títulos da dívida de emissão da União para aplicação de recursos próprios. Transparência e Controle da Gestão Fiscal Uma das grandes inovações da LRF diz respeito à introdução de novos mecanismos de acompanhamento e controle da gestão pública. Esse tema constitui-se um dos pilares do novo ordenamento instituído pela lei complementar. Com efeito, o Capitulo IX da Lei Complementar nº 101/2000 trata da transparência, do controle e da fiscalização da Administração Pública, consubstanciados em seus arts. 48 a 59. Importante! Consoante o disposto no art. 48, são instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária; o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. A transparência será assegurada, também, mediante incentivo à participação popular e a realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. Um aspecto interessante refere-se ao fato de o ordenamento anterior à Lei de Responsabilidade Fiscal já exigir um número considerável de publicações sobre as finanças públicas (balanços anuais, relatórios bimestrais de execução orçamentária, demonstrativos de aplicação no ensino, na educação e gastos com pessoal, de tributos arrecadados, de gastos com inativos, de compras, entre outros). A LRF, de todo modo, sistematiza esses instrumentos e consolida uma verdadeira política de transparência da gestão fiscal. No cenário da administração pública brasileira, um dos mais importantes instrumentos da transparência e publicidade da gestão de recursos públicos encontra-se definido no § 3º do art. 165 da Constituição Federal, o Relatório Resumido da Execução Financeira. A LRF tratou desse instrumento em seus arts. 52 e 53. O Relatório deve abranger todos os Poderes e o Ministério Público e ser publicado em até trinta dias após o encerramento de cada bimestre, sendo composto por: I. Balanço orçamentário,que especifica, por categoria econômica, as: a) Receitas por fonte, informando as realizadas e a realizar, bem como a previsão atualizada; b) Despesas por grupo de natureza, discriminando a dotação para o exercício, a despesa liquidada e o saldo; II. Demonstrativos da execução das: a) Receitas, por categorias econômicas e fonte, especificando a previsão inicial, a previsão atualizada para o exercício, a receita realizada no bimestre, a realizada no exercício e a previsão a realizar; b) Despesas, por categoria econômica e grupo de natureza da despesa, discriminando dotação inicial, dotação para o exercício, despesas empenhadas e liquidadas, no bimestre e no exercício; c) Despesas, por função e subfunção. Os valores referentes ao refinanciamento da dívida mobiliária constarão destacadamente nas receitas de operações de crédito e nas despesas com amortização da dívida. Uma das inovações da LRF foi a criação do Relatório de Gestão Fiscal, de periodicidade quadrimestral, determinada pelos arts. 54 e 55 da LRF. A responsabilidade pela emissão do Relatório é dos titulares de Poderes e Órgãos indicados pela Lei. Dentre os objetos desse Relatório, destacam-se: – Comparativo com os limites fixados na legislação dos seguintes montantes: 1. Despesa total com pessoal, distinguindo-se ativos, inativos e pensionistas; 2. Dívidas consolidada e mobiliária; 3. Concessão de garantias; 4. Operação de crédito, inclusive por antecipação de receita; – Indicação de medidas corretivas adotadas ou adotar, caso ultrapassado qualquer dos limites; – Demonstrativos, no último quadrimestre do exercício: 1. Do montante das disponibilidades de caixa em 31 de dezembro; 2. Da inscrição em restos a pagar, discriminando-se suas espécies. O Relatório de Gestão Fiscal deve ser publicado em até trinta dias após o encerramento do período a que corresponder, sendo franqueado amplo acesso ao público, inclusive por meio eletrônico. Ressalte-se que o art. 63 da LRF faculta aos municípios com população inferior a 50 mil habitantes divulgar semestralmente seu Relatório de Gestão Fiscal e itens do Relatório Resumido da Execução Orçamentária. Outro instrumento de transparência fiscal, anterior à edição da LRF, consiste na prestação de contas dos agentes políticos. A LRF disciplinou a questão, em seus arts. 49 e 56 a 58. A prestação de contas dos agentes políticos possui matriz constitucional insculpida nos arts. 71, I, 84, XXIV, e 166, § 1º, I. O art. 49 da Lei Complementar nº 101/2000 determina que as contas apresentadas pelo chefe do Poder Executivo devem ficar disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável por sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições interessadas. Por seu turno, o art. 56 define a abrangência das contas, prevendo as do chefe do Executivo e as dos presidentes de órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, além do chefe do Ministério Público, as quais receberiam pareceres prévios, separadamente, do respectivo tribunal de contas. Ocorre que o dispositivo foi suspenso cautelarmente pelo Supremo Tribunal Federal, no âmbito da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2238/DF. Por fim o art. 58 dispõe que a prestação de contas “evidenciará o desempenho da arrecadação em relação à previsão, destacando as providências adotadas no âmbito da fiscalização das receitas e combate à sonegação, as ações de recuperação de créditos nas instâncias administrativa e judicial, bem como as demais medidas para incremento das receitas tributárias e de contribuições”. Fim do Novo Regime Fiscal Após 6 exercícios de aplicação, o Congresso Nacional iniciou o debate sobre a pertinência da manutenção do Novo Regime Fiscal, instituído pela EC 95/2016. O entendimento do excesso de rigidez dessa regra, pressionando demasiadamente as despesas discricionárias em função do inevitável crescimento das despesas obrigatórias, levou o Congresso Nacional a flexibilizar o teto de gastos para o seu sétimo ano e permitir a mudança de regra fiscal, no caso do Novo Regime Fiscal, para uma outra a ser encaminhada pelo Poder Executivo. A promulgação da EC 126/2022, trouxe essa exigência de mudança de regra fiscal, disposta em seu art. 6º: Art. 6º O Presidente da República deverá encaminhar ao Congresso Nacional, até 31 de agosto de 2023, projeto de lei complementar com o objetivo de instituir regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do País e criar as condições adequadas ao crescimento socioeconômico, inclusive quanto à regra estabelecida no inciso III do caput do art. 167 da Constituição Federal. Assim, durante a finalização do material deste curso, o Poder Executivo encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 93, de 2023 – Complementar (PLP 93/2023), que propõe o estabelecimento de regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do País e criar as condições adequadas ao crescimento socioeconômico, nos termos do disposto no art. 6º da EC 126/2022. O PLP 93/2023 não estabelece qualquer disposição que se relacione com o inciso III do caput do art. 167 da Constituição (regra de ouro), não obstante sua previsão no dispositivo transcrito. De todo modo, é importante destacar que essa disposição constitucional não está relacionada dentre as que estarão revogadas quando da sanção do projeto de lei complementar que se examina, a teor do disposto no art. 9º da EC 126/2022: Art. 9º Ficam revogados os arts. 106, 107, 109, 110, 111, 111-A, 112 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart106 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart107 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart109.0 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart110 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart111 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart111a https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart112 e 114 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias após a sanção da lei complementar prevista no art. 6º desta Emenda Constitucional. Esses dispositivos que estarão revogados após a sanção da lei complementar se referem ao Novo Regime Fiscal, que instituiu teto de gastos para as despesas primárias da União a partir de 2016. De forma geral, o PLP 93/2023 propõe um novo teto de gastos. Nos termos do projeto, o crescimento real da despesa fica limitado a 70% da variação da receita apurada nos últimos 12 meses. Ademais, com o intuito de agregar caráter anticíclico, o texto estabelece uma margem de segurança: os gastos podem crescer pelo menos 0,6% e no máximo de 2,5% ao ano. Se o governo não conseguir cumprir a meta fixada na LDO, o arcabouço fiscal prevê uma regra ainda mais severa para a limitação da despesa. Em vez de 70%, os gastos só poderiam crescer o equivalente a 50% da variação da arrecadação. O texto se aproxima do Novo Regime Fiscal em vigor quando se trata das despesas excluídas do teto. Além disso, quando o resultado primário ficar acima da meta prevista na LDO, o Poder Executivo pode ampliar a dotação de investimento para o ano seguinte em valor equivalente, sendo que para os anos de 2025 a 2028, a dotação extra para investimentos não pode ultrapassar os R$ 25 bilhões. Dessa forma, após a tramitação do PLP 93/2023, teremos uma nova regra fiscal na União, substituindo o Novo Regime Fiscal. Para entender melhor a proposta do Poder Executivo, leia aqui e aqui duas Notas Informativas da Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado Federal explicando a proposta do Poder Executivo e as modificações promovidas na Câmara dos Deputados.https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao.htm#adctart114 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc126.htm#art6 https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/notas-tecnicas-e-informativos/sto-2023-00798-nota-informativa-2.pdf https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/notas-tecnicas-e-informativos/nota-informativa-substitutivo-ao-plp-932023-novo-arcabouco-fiscal-aprovado-na-camara-dos-deputados.pdf Leitura complementar Outra leitura interessante sobre o PLP 93/2023 pode ser encontrada aqui (Nota Técnica 4/2023 da Consultoria de Orçamentos da Câmara dos Deputados). https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/estudos/2023/NT_4_23_Arcabouo28_414h38.pdf Unidade 5 – Execução Orçamentária A Lei nº 4.320/1964 reserva seu Título VI para tratar da “Execução do Orçamento”, abrangendo os capítulos atinentes à programação da despesa e à execução propriamente dita da receita e despesa pública. O marco normativo da matéria é complementado por disposições específicas da Lei de Responsabilidade Fiscal e, de forma mais minuciosa, pelas leis de diretrizes orçamentárias de cada ente da Federação. Ao longo desta unidade, vamos conhecer em detalhes os principais conceitos e classificações relacionadas à matéria. Execução provisória É importante trazer à baila, desde logo, o horizonte temporal da execução do orçamento público. Nos termos dos arts. 34 e 35 da Lei nº 4.320/1964, o exercício financeiro é coincidente com o ano civil, a ele pertencendo as receitas nele arrecadadas (aplica-se à receita o regime de caixa) e as despesas nele legalmente empenhadas (correspondendo ao regime de competência). Portanto, o período da execução orçamentária vai de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Cabe então uma indagação: o que acontece caso a lei orçamentária não entre em vigor até o início do exercício financeiro? Na prática, nem sempre, o Poder Legislativo tem se mostrado diligente em sua função de aprovar os projetos de lei orçamentária anual em uma data que viabilize sua sanção pelo Poder Executivo antes do advento do exercício financeiro correspondente. Para se ter uma ideia, no âmbito federal, de acordo com levantamento realizado por Perezino (2011, p. 95), de 1993 a 2008, somente no ano de 1998, a lei orçamentária federal entrou em vigor antes de iniciado o correspondente exercício financeiro. E mais, apenas nos anos de 1995, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005, referida lei foi publicada ao longo do primeiro mês do exercício financeiro. Portanto, no universo temporal pesquisado, que envolve 16 anos, em nada menos que 9 anos o orçamento federal teve sua vigência iniciada após o início do 2º mês do exercício financeiro. Concluímos, então, que a hipótese considerada é bastante comum. Nesse contexto, como proceder? Ora, não obstante não haja orçamento em vigor, a atividade financeira do Estado é ininterrupta e não pode ser inviabilizada pela inexistência de autorização legislativa orçamentária. A arrecadação tributária mantém os ingressos de recursos nos cofres públicos, assim como as obrigações estatais devem ser honradas a seu tempo, ainda mais no que concerne às despesas obrigatórias. Diante dessa realidade e considerando a necessidade de compatibilizar a prévia autorização legislativa para efetivação do gasto público e a inafastabilidade da atividade financeira estatal, as leis de diretrizes orçamentárias têm previsto regras específicas para permitir a denominada execução provisória da despesa, também chamada de antevigência da lei orçamentária. Para ilustrar, a Lei nº 14.436, de 2022, Lei de Diretrizes Orçamentárias da União para 2023, estabelecia, em seu art. 70, que, no caso de o projeto de lei orçamentária para 2023 não ser sancionado pelo Presidente da República até 31/12/2022 (foi o caso porque a LOA 2023 foi sancionada em 17 de janeiro de 2023), a programação constante do projeto de lei poderia ser executada para o atendimento de variados dispêndios considerados cogentes ou prioritários, tais como: ações de prevenção a desastres ou resposta a eventos críticos em situação de emergência ou estado de calamidade pública, classificadas na subfunção “Defesa Civil”; ações relativas a operações de garantia da lei e da ordem; ações de acolhimento humanitário e interiorização de migrantes em situação de vulnerabilidade; ações de fortalecimento do controle de fronteiras e ações emergenciais de recuperação de ativos de infraestrutura na subfunção “Transporte Rodoviário” para garantia da segurança e trafegabilidade dos usuários nos eixos rodoviários; pagamento de precatórios; concessão de financiamento ao estudante e integralização de cotas nos fundos garantidores no âmbito do Fundo de Financiamento Estudantil - Fies; dotações destinadas à aplicação mínima em ações e serviços públicos de saúde classificadas com o identificador de uso 6 (IU 6); realização de eleições e continuidade da implementação do sistema de automação de identificação biométrica de eleitores pela Justiça Eleitoral; despesas custeadas com receitas próprias, de convênios e de doações; formação de estoques públicos vinculados ao programa de garantia de preços mínimos. Execução da Receita Pública Passamos, agora, a enfocar a execução da receita pública. Que etapas devem ser cumpridas para que o poder público aufira recursos suficientes e necessários para fazer face a suas obrigações para com a sociedade? Quais são os contornos normativos que definem os procedimentos de arrecadação desses recursos? Vamos lá! A execução da receita pública possui contornos próprios que a diferenciam da execução da despesa. Seu procedimento é, em regra, mais centralizado e simplificado. A receita orçada na lei tem caráter estimativo, de tal forma que eventual insuficiência ou excesso da arrecadação em relação aos valores constantes da lei orçamentária não gera maiores consequências, diferentemente da despesa, que só poderá ser realizada até o montante previsto no orçamento. Além disso, eventual ausência de estimativa de um item de natureza da receita no orçamento não inviabiliza sua posterior arrecadação no exercício financeiro, bastando para tanto a observância do ordenamento jurídico aplicável. De acordo com o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, em sua 9ª edição, o modelo abaixo sintetiza as etapas da execução da receita pública: Previsão Lançamento Arrecadação Recolhimento Caixas Bancos Unidade de Caixa Classificação por Natureza da Receita Destinação Inicialmente, sobrevém o estágio da previsão, de que trata o art. 12 da Lei de Responsabilidade Fiscal. O citado preceito incorporou ao ordenamento jurídico os principais fatores técnicos a serem considerados na metodologia de estimativa de receita: Efeito preço – relacionado ao comportamento dos índices inflacionários que repercutem sobre a receita orçamentária. Efeito quantidade – diz respeito à evolução dos agregados macroeconômicos que definem o crescimento da economia do país. Efeito legislação – condicionado às modificações na legislação, como alterações em alíquotas e bases de cálculo de tributos e instituição de renúncias de natureza fiscal. A Lei de Responsabilidade Fiscal previu também a possibilidade de o Poder Legislativo revisar a receita prevista no projeto de lei orçamentária enviado pelo Executivo, desde que se verifique “erro ou omissão de ordem técnica ou legal”. Esse dispositivo legal está em consonância com a previsão constitucional do art. 166, § 3º, III, a, e tem permitido ao Congresso Nacional, a cada ano, acrescer dotações às propostas de orçamento enviadas pelo Executivo Federal, a partirde acréscimos na estimativa de receitas públicas. Informações mais detalhadas a respeito do procedimento de estimativa da receita no âmbito do Poder Legislativo serão oferecidas no Módulo III de nosso estudo. Vamos em frente! Vencida a fase da previsão da receita, o que acontece? Passamos aos estágios da execução da receita propriamente dita, quando surgem as etapas previstas na Lei nº 4.320/1964, a saber, lançamento, arrecadação e recolhimento. Convém alertar, como ensina Giacomoni (2007, p. 309), que a grande heterogeneidade das receitas orçamentárias, abrangendo ingressos tributários, operações de crédito, alienações patrimoniais, entre outras, impede que sejam cumpridos estágios padronizados de execução, como é característico da execução da despesa, que veremos mais a frente. Importante! O primeiro estágio citado anteriormente, o lançamento, é aplicável, no mais das vezes, aos tributos e contribuições, regidos por farta legislação do ramo do Direito Tributário. A etapa de lançamento tem conceituação precisa inscrita no art. 142 do Código Tributário Nacional - CTN, Lei nº 5.172/1966, qual seja: “procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível”. Os arts. 147 a 150 do CTN cuidam das modalidades de lançamento, que são: por declaração, de ofício ou por homologação. O lançamento por declaração ocorre quando o sujeito passivo da obrigação tributária ou terceiro, na forma prevista na legislação, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação. Como exemplo, pode-se citar o imposto de exportação. O lançamento ocorre de ofício nas hipóteses arroladas no art. 149 do CTN, quando a autoridade tributária dispõe de dados e informações suficientes para computar os elementos necessários para a definição do crédito tributário, a exemplo da cobrança do IPTU. Por fim, o lançamento por homologação é previsto naquelas situações em que a legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa. Posteriormente, a autoridade tributária toma ciência da atividade exercida pelo sujeito passivo da obrigação e a homologa. Normalmente, os tributos indiretos, sobre a produção e a circulação de bens, são lançados dessa forma. A etapa da arrecadação corresponde à entrega da quantia devida por parte de contribuintes ou outros obrigados ao pagamento de receitas públicas. Normalmente, os devedores realizam seus pagamentos utilizando-se da rede de instituições financeiras autorizadas, que atuam como agentes arrecadadores. A arrecadação pode ser direta, quando efetuada por órgão ou entidade estatal ou por instituição financeira autorizada, ou indireta, quando entidades depositárias retêm valores dos contribuintes e posteriormente recolhem a quantia aos cofres públicos. O recolhimento corresponde à transferência dos recursos arrecadados pela rede bancária autorizada e por órgãos e entidades públicas ao caixa do tesouro, observando-se o princípio da unidade de tesouraria (caixa). Nos termos do art. 164 da Constituição Federal, “as disponibilidades de caixa da União serão depositadas no Banco Central; as dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e dos órgãos ou entidades do poder público e das empresas por ele controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei”. Segundo Conti (2010, p. 201), a Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 43, § 1º, criou uma exceção à regra, estabelecendo que a disponibilidade de caixa da previdência seria separada do sistema de caixa único e aplicada na condição de mercado, com observância dos limites e condições de proteção e prudência financeira. Execução da Despesa Pública Já vimos os aspectos mais importantes relacionados à receita, agora vamos estudar mais detidamente a execução da despesa pública, tratando de apresentar elementos úteis a sua compreensão. A Lei nº 4.320/1964, trata da execução da despesa em seus arts. 58 a 70. Os estágios da execução da despesa previstos no referido diploma legal são: empenho, liquidação e pagamento. Aplicando um enfoque mais ampliado à execução do gasto público na modalidade de execução direta, quando os recursos são diretamente aplicados pela unidade administrativa detentora do crédito orçamentário, de modo a envolver os atos licitatórios e de contratação, define-se a seguinte sequência geral: Orçamentação Licitação Empenho Contratação Liquidação Pagamento A orçamentação corresponde à etapa de planejamento, previsão e autorização de dispêndios, traduzindo-se no que se costuma chamar de fase de elaboração orçamentária. No Módulo III do curso, enfocaremos mais detidamente essa etapa. As fases de licitação e contratação são estudadas classicamente em cursos de Direito Administrativo e não são objeto de nosso estudo. Para nosso escopo, basta apresentar os conceitos insculpidos nos arts. 2º, parágrafo único, e 3º da Lei nº 8.666/1993, acerca de contrato administrativo (parágrafo único) e licitação (art. 3º). Art. 2º [...] Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada. Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos”. (Grifos acrescidos). Entretanto, nem sempre a administração dispõe de meios para realizar diretamente todos os procedimentos de efetivação da despesa pública. Em certas situações, avalia que o sistema de gasto público terá ganhos de eficiência caso o recurso seja aplicado por outros entes governamentais ou mesmo privados. Nessas situações, opta-se por transferir os recursos para que outros entes federados ou entidades privadas apliquem no objeto previsto em seu orçamento. Estamos tratando das chamadas transferências voluntárias e transferências ao setor privado. As transferências voluntárias, para efeito da LRF (art. 25), corresponde à: “entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde”. Esclareça-se que a LRF não situa as transferências a entidades privadas sem fins lucrativos no bojo das transferências voluntárias, não obstante seja inegável que esses repasses têm caráter discricionário. No caso de transferências voluntárias e ao setor privado, as etapas de execução da despesa são distintas, podendo ser representadas como segue: Orçamentação Chamamento público (no caso de repasse a entidades privadas) Empenho Celebração do convênio/contrato de repasse/termo de parceria/termo de colaboração ou de fomento Liquidação Pagamento O Decreto nº 6.170/2007 regula atualmente as transferências da União a estados, Distrito Federal, municípios e entidades privadas. A edição desse Decreto foi uma resposta do governo federal a uma série de decisões e acórdãosdo Tribunal de Contas da União, que reclamava uma maior sistematização e acompanhamento dos repasses aos entes subnacionais e, principalmente, às entidades privadas sem fins lucrativos. A fase de chamamento público restringe-se à hipótese de transferência a entidades privadas e corresponde ao procedimento de seleção de projetos ou entidades que tornem mais eficaz o objeto do ajuste, nos termos do art. 4º do mencionado Decreto. O chamamento público, portanto, exerce papel análogo ao do procedimento licitatório, embora seja algo mais simplificado. Passou a ser obrigatório a partir da edição do Decreto nº 7.568/2011, que alterou o Decreto nº 6.170/2007. Recentemente, houve a edição da Lei nº 13.019, de 31/07/2014, identificada pela alcunha de “Marco Regulatório das ONGs”, que inovou substancialmente o ordenamento jurídico no que tange a repasses a entidades privadas sem fins lucrativos. Saliente-se que essa Lei tem alcance nacional, sendo aplicável a relações jurídicas envolvendo parcerias de todos os entes da Federação com entidades privadas. Apesar de a referida Lei instituir originalmente sua vigência a partir do final de outubro de 2014, a Presidente da República editou a Medida Provisória nº 658, de 2014, postergando o início de vigência da Lei nº 13.019/2014 para o final de julho de 2015. Depois foi novamente postergada, pela Medida Provisória nº 684, de 2015, para o final de janeiro de 2016 (540 dias após a publicação da lei). Em seu bojo, a Lei nº 13.019/2014 prestigia a figura do chamamento público, definido, em seu art. 2º, XII, nos seguintes termos: “procedimento destinado a selecionar organização da sociedade civil para firmar parceria por meio de termo de colaboração ou de fomento, no qual se garanta a observância dos princípios da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos”. A possibilidade de dispensa ou inexigibilidade de chamamento público é restrita às hipóteses preconizadas nos arts. 30 e 31 da nova Lei. Os instrumentos jurídicos que formalizam as transferências voluntárias e ao setor privado da União podem assumir as seguintes figuras: Convênio - acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, visando a execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação. (Art. 1º, § 1º, I, do Decreto nº 6.170/2007). Contrato de repasse - instrumento administrativo, de interesse recíproco, por meio do qual a transferência dos recursos financeiros se processa por intermédio de instituição ou agente financeiro público federal, que atua como mandatário da União. (Art. 1º, § 1º, do Decreto nº 6.170/2007, com a redação conferida pelo Decreto nº 8.180/2013). Termo de execução descentralizada - TED - instrumento por meio do qual a descentralização de créditos entre órgãos e entidades integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União é ajustada, com vistas à execução de programas, de projetos e de atividades, nos termos estabelecidos no plano de trabalho e observada a classificação funcional programática. (Art. 2º do Decreto nº 10.426, de 16 de julho de 2020). Termo de colaboração - instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco propostas pela administração pública que envolvam a transferência de recursos financeiros; (Lei 13.019, de 2014 com redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Termo de fomento - instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco propostas pelas organizações da sociedade civil, que envolvam a transferência de recursos financeiros; (Lei 13.019, de 2014 com redação dada pela Lei nº 13.204, de 2015) Acordo de cooperação - instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco que não envolvam a transferência de recursos financeiros; (Lei 13.019, de 2014, com redação incluída pela Lei nº 13.204, de 2015) Termo de parceria - instrumento passível de ser firmado entre o poder público e as entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (chamadas de OSCIPs) destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades de interesse público. (Art. 9º da Lei nº 9.790/1999). De acordo com a Lei nº 13.019/2014, aplicável, no que couber, também às relações da administração pública com entidades qualificadas como OSCIPs, regidas por termos de parceria, doravante, os convênios ficarão adstritos a parcerias firmadas entre os entes federados (art. 84, in fine). Devem ser utilizados os termos de colaboração e de fomento para os acordos envolvendo a administração pública e entidades privadas. O art. 83 estabelece, ademais, que as parcerias existentes no momento da entrada em vigor dessa Lei permanecem regidas pela legislação vigente ao tempo de sua celebração, sem prejuízo da aplicação subsidiária da nova legislação, naquilo que for cabível, desde que em benefício do alcance do objeto da parceria. Caso a transferência seja formalizada por convênio ou contrato de repasse, nos termos do art. 9º do Decreto nº 6.170/2007, no ato de celebração do convênio ou do contrato de repasse, o órgão ou entidade federal concedente deverá empenhar o valor total a ser transferido no exercício financeiro e efetuar, no caso de convênio ou contrato de repasse com vigência plurianual, o registro em conta contábil específica, dos valores programados para cada exercício subsequente. Pela normatização atual da atividade financeira federal, a emissão de empenhos de todas as espécies (original, reforço, anulação e cancelamento) é realizada a partir do Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse - Siconv. Vistos esses aspectos, vamos agora abordar os estágios clássicos da execução da despesa, a saber, empenho, liquidação e pagamento. 1. Empenho O empenho, disciplinado nos arts. 58 a 61 da Lei nº 4.320/1964, é tido normalmente como o primeiro estágio da despesa, correspondendo ao ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento, pendente ou não de implemento de condição. O empenho está restrito ao limite do crédito orçamentário e é indispensável para a realização da despesa. Saliente-se que, conforme visto anteriormente, as leis de diretrizes orçamentárias têm autorizado, seletivamente, a execução de despesas antes da aprovação do projeto de lei orçamentária, com base em créditos orçamentários provisórios. O documento que formaliza o empenho é a nota de empenho – NE, emitida pela unidade gestora competente. Emitida a NE, o crédito torna-se empenhado e indisponível para nova aplicação. É, portanto, a forma de comprometimento de recursos orçamentários diretamente dotados no orçamento ou recebidos por meio de descentralização de créditos. Mais a frente, enfocaremos a figura da descentralização de créditos. Na NE,devem ser indicados, dentre outros elementos, a classificação orçamentária e o montante da despesa, o nome, CNPJ ou CPF e endereço do credor, a especificação dos bens ou serviços a adquirir e o número do processo da licitação ou, no caso de sua dispensa, o dispositivo legal autorizativo. De acordo com a sua natureza e finalidade, os empenhos podem ser classificados em: • Empenho ordinário, utilizado para realizar despesas com montante previamente conhecido e cujo pagamento deva ocorrer de uma só vez; • Empenho global, que atende despesas com montante também previamente conhecido, tais como as contratuais, mas de pagamento parcelado, a exemplo de aluguéis, prestação de serviços de terceiros, salários, proventos e pensões; e • Empenho por estimativa, que acolhe despesas de valor não previamente identificável e geralmente de base periodicamente não homogênea. Exemplos: água, luz, telefone, diárias. Mas fica uma pergunta: e caso o agente se equivoque, por algum motivo, em relação a algum elemento do empenho, como, por exemplo, seu valor? Como retificar uma nota de empenho incorreta? Durante o exercício financeiro, pode ser providenciada a anulação do empenho, efetuada também por meio de NE. A anulação pode ser parcial, quando seu valor exceder o montante da despesa realizada, ou total, quando o serviço contratado não tiver sido prestado, o material encomendado não tiver sido entregue ou a NE tiver sido emitida incorretamente. O valor correspondente ao empenho anulado reverte ao crédito, tornando-se disponível para novo empenho ou descentralização. No encerramento do exercício financeiro, os empenhos não liquidados são anulados ou, quando couber, inscritos em conta de restos a pagar. Teremos mais à frente um item específico para o estudo dos restos a pagar. A unidade gestora emitente do empenho deve reforçá-lo quando se revelar insuficiente para atender a um determinado compromisso ao longo do exercício financeiro. Nesse caso, emite- se uma nova NE, devendo constar em campo específico o número da NE objeto do reforço. Após emitido o empenho, recomenda-se que conste do contrato administrativo com particulares o número da nota de empenho, visto que representa a garantia do credor de que existe crédito orçamentário disponível e suficiente para atender à despesa objeto do contrato. Mesmo antes da emissão da nota de empenho, há a previsão de outro instrumento para especificar que um crédito está compromissado com alguma destinação. É a figura do pré-empenho. Exemplificando, o pré-empenho é utilizado para bloquear determinada dotação orçamentária no curso de um procedimento licitatório prolongado. Para formalização do pré-empenho, utiliza-se o documento denominado nota de pré-empenho - PE. Todos os saldos de pré-empenhos não utilizados até 31 de dezembro de cada ano, quando do encerramento do exercício financeiro, são automaticamente cancelados naquela data. 2. Liquidação Nos termos do art. 63 da Lei nº 4.320/1964, a liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. Essa verificação deve apurar: i) a origem e o objeto daquilo que se deve pagar; ii) a importância exata a pagar; e iii) a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação. A liquidação é o estágio que representa o ponto divisor entre a execução orçamentária e a execução financeira, concretizando-se usualmente com a emissão de nota de lançamento – NL. Ressalte-se que a NL é utilizada para diversas finalidades no Siafi, associadas a fatos que não envolvem movimentação financeira, a exemplo de assinatura de contratos, consumo de bens de estoque etc. (MOTA, 2009, p. 206). 3. Pagamento Após a regular liquidação da obrigação, resta a última etapa da execução, quando efetivamente o credor será agraciado com o valor devido pelo poder público. Quais são as regras aplicáveis ao pagamento das despesas públicas? A ordem de pagamento, nos termos do art. 64 da Lei nº 4.320/1964, é o despacho exarado por autoridade competente, determinando que a despesa seja paga. Porém, antes do pagamento em si, seguem-se vários trâmites envolvendo a elaboração da chamada programação financeira, por parte dos órgãos da administração pública. A LRF prescreve, em seu art. 8º, que, em até trinta dias após a publicação dos orçamentos, o Poder Executivo estabelecerá a programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso. No âmbito federal, as tarefas relacionadas à elaboração da programação financeira são desempenhadas em três níveis distintos que perfazem esse sistema: o órgão central de programação financeira, os órgãos setoriais de programação financeira e as unidades gestoras. E o que são unidades gestoras (UGs)? São unidades administrativas, podendo corresponder ou não a unidades orçamentárias, que realizam atos de gestão de recursos orçamentários ou financeiros, bem como, em certas ocasiões, atos de gestão patrimonial. Na União, a Secretaria do Tesouro Nacional – STN – do Ministério da Fazenda, órgão central do sistema, considerando critérios como disponibilidades existentes, estimativa de ingresso de recursos, dotações orçamentárias vigentes, prioridades para pagamento e cronograma anual de desembolso, ajusta os valores propostos pelos órgãos setoriais, registrando a programação financeira aprovada – PFA - de cada mês. A partir dessa definição, os órgãos setoriais estabelecem os limites financeiros para suas unidades gestoras subordinadas e supervisionadas. Apenas após aprovação da programação financeira, é efetuada a liberação de recursos financeiros, de acordo com o cronograma de desembolso. No setor federal, a execução orçamentária e financeira é realizada por intermédio do Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal – Siafi. A movimentação de recursos (descentralização financeira) entre as unidades do sistema de programação financeira é executada por meio de liberações de cotas, repasses e sub-repasses. A cota configura a primeira fase da movimentação dos recursos, realizada em consonância com o cronograma de desembolso aprovado pela STN. Os recursos são colocados à disposição dos órgãos setoriais mediante movimentação no Siafi dos recursos da conta única do tesouro nacional. O repasse é a liberação de recursos realizada pelos órgãos setoriais para entidades da administração indireta e entre estas. Pode ser ainda de entidade da administração indireta para órgãos da administração direta, ou entre esses, se de órgãos diferentes. Já o sub-repasse, é a liberação de recursos dos órgãos setoriais para as unidades gestoras de um mesmo ministério, órgão ou entidade. A efetivação do pagamento normalmente ocorre por meio da ordem bancária (OB) emitida pela unidade gestora. Trata-se de procedimento por meio do qual a unidade responsável realiza o pagamento de compromissos baseados nos atos prévios de empenho e liquidação do gasto e a liberação de recursos para aplicação por meio de suprimento de fundos (SANCHES, 2004, p. 242). No âmbito federal, a conta única do tesouro nacional é utilizada para registrar a movimentação dos recursos financeiros de responsabilidade dos órgãos e entidades da administração pública e das pessoas jurídicas de direito privado que façam uso do Siafi. A numeração da OB é efetuada automaticamente pelo Siafi, exceto para as UGs que se manifestarem pela continuidade da numeração de forma manual. No momento de emissão, o Sistema atribui, automaticamente, o número bancário da OB para fim de controle da compensação pelo agente financeiro. Um eventual cancelamento da OB recompõe a disponibilidade da UG imediatamente, se cancelada no mesmo dia de sua emissão, ou no dia seguinte,se cancelada após a data de sua emissão. As OBs não compensadas no prazo de sete dias são canceladas automaticamente e terão seus recursos creditados à conta única da UG emitente no primeiro dia útil seguinte à data de cancelamento. No caso de transferências voluntárias e ao setor privado, no momento da liberação de recursos financeiros do concedente (órgão ou entidade que transfere os recursos) para o convenente (beneficiário dos repasses), via Siconv (Plataforma Transfere.gov.br), são enviados ao Siafi o número do DH - documento hábil e demais informações. O Siafi emite automaticamente a OB de realização do compromisso. O Siafi informa ao Siconv, então, o número da OB gerada. Para o pagamento dos fornecedores pelo convenente, o comando fica a cargo do convenente, por meio do Siconv, que envia então ao Siafi as informações para geração automática da OBTV - Ordem Bancária de transferência voluntária. Limitação de Empenho e Movimentação Financeira Para refletir... Muito se fala hoje sobre o contingenciamento de recursos do orçamento. O que vem a ser isso? Após a entrada em vigor da lei orçamentária anual, seguem vários trâmites prévios à efetiva realização dos atos administrativos de execução da despesa. Como já visto, nos termos do art. 8º da LRF, em até trinta dias após a publicação dos orçamentos, o Poder Executivo estabelecerá a programação financeira e o cronograma de execução mensal de desembolso. A LRF, em seu art. 9º, estabeleceu o regramento para a limitação de empenho e movimentação financeira, chamada de contingenciamento. Pelo citado preceito, caso, ao final de um bimestre, se verifique que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subsequentes ao encerramento do bimestre, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios preconizados na lei de diretrizes orçamentárias. No caso do Poder Executivo, o instrumento normativo usado para estabelecer a limitação de empenho e movimentação financeira de suas dotações tem sido o decreto. A LRF estatui que ficarão livres da limitação de empenho e movimentação financeira as despesas obrigatórias por determinação constitucional ou legal e os gastos discricionários ressalvados pela LDO. Não é sem razão que um dos anexos das LDOs federais tem sido o que discrimina os gastos obrigatórios e aqueles discricionários que não sofrerão o ônus do contingenciamento. Considerando que o contingenciamento não se constitui cancelamento da dotação orçamentária, mas tão somente indisponibilidade transitória, caso a projeção de receita do exercício se recomponha, o Poder Executivo determinará a recomposição proporcional das dotações contingenciadas, a teor do disposto no art. 9º, § 1º, da LRF. Constata-se, assim, que o contingenciamento é reversível. Um aspecto importante diz respeito à incidência do mecanismo de limitação de empenho e movimentação financeira sobre as dotações dos Poderes Judiciário e Legislativo e do Ministério Público da União. Até a edição da LRF, o Poder Executivo bancava integralmente o ajuste sobre as despesas decorrente de eventual frustração da receita. Agora, todos os Poderes da República devem contribuir para o ajuste, obedecendo aos critérios estabelecidos nas leis de diretrizes orçamentárias. A propósito, ressalte-se que o § 3º do art. 9º da LRF teve eficácia cautelarmente suspensa pelo Supremo Tribunal Federal, em sede da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2238/DF, daí porque o Executivo não poderá limitar os valores financeiros dos demais Poderes caso estes não cumpram as regras de limitação para suas dotações. Um aspecto importante relacionado ao tema é a interpretação abrangente utilizada pelo Poder Executivo Federal no que tange aos fatores que ensejam o contingenciamento. Além da frustração da receita, expressamente prevista no art. 9º da LRF, o Executivo tem realizado limitações de empenho e pagamento com fundamento no crescimento da projeção das despesas obrigatórias do exercício. Para tanto, entende-se que o sentido do dispositivo legal é preservar a consecução das metas fiscais, que estaria ameaçada não apenas no caso da frustração da receita, mas também caso os gastos obrigatórios se mostrassem superiores a suas dotações fixadas no orçamento. Para ilustrar a forma como é implementado o contingenciamento dos gastos, vejamos o Decreto 11.415, de 16 de fevereiro de 2023, que dispõe sobre a programação orçamentária e financeira, estabelece o cronograma de execução mensal de desembolso do Poder Executivo federal para o exercício de 2023 e dá outras providências. Clique aqui. (link). Em suma, no início do exercício, no prazo previsto no art. 8º da LRF, o Poder Executivo publica a programação orçamentária e financeira e o cronograma mensal de desembolso, estabelecendo, desde então, uma contenção em relação ao valor fixado na LOA. A partir daí, a cada bimestre, refez sua projeção de receita e avaliação de receita, promovendo pequenos ajustes ao longo do ano. Para finalizar o estudo do contingenciamento, convém assinalar que as maiores críticas feitas atualmente ao mecanismo referem-se à mínima participação do Poder Legislativo na definição das prioridades de gasto e a seu baixo nível de transparência. As dotações contingenciadas são publicadas nos decretos de forma sintética, com abertura apenas por órgão orçamentário. Não se tem conhecimento, por exemplo, dos programas e ações discricionárias do orçamento que serão onerados pela limitação de empenho, cabendo a cada gestor a decisão sobre aquilo que será ou não executado do orçamento federal. Restos a Pagar A regra geral prevê a concretização dos estágios da despesa pública dentro do exercício financeiro, em atenção ao princípio da anualidade orçamentária. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/decreto/D11415.htm Não obstante, em muitas situações, o dispêndio não se realiza inteiramente dentro do ano, ocorrendo a postergação de um ou mais de seus estágios para o exercício subsequente. Nesses casos, como fica o processamento da despesa pública? A partir da emissão do empenho, fica o Estado compelido a realizar o correspondente desembolso financeiro, desde que o fornecedor do material ou o prestador dos serviços atenda a todos os requisitos legais de autorização ou habilitação de pagamento. No encerramento do exercício financeiro, devem ser consideradas como despesas realizadas, e, portanto, registrada sua liquidação no sistema, todas aquelas em que o credor forneceu o material, prestou o serviço ou ainda executou a obra, e que tenham sido devidamente atestadas ou que se encontrem em fase de análise e conferência. Nesses casos, independente do ateste, a despesa orçamentária, pelo princípio da prudência, considera-se realizada. O pagamento, como visto anteriormente, é o terceiro estágio da despesa e resulta na extinção da obrigação. Quando o pagamento deixa de ser efetuado no próprio exercício, procede-se, então, à inscrição em restos a pagar, que decorre da observância do regime de competência para as despesas (art. 35, II, da Lei nº 4.320/1964). Portanto, as despesas empenhadas, não pagas até o dia 31 de dezembro, não canceladas pelo processo de análise e depuração e que atendam aos requisitos previstos em legislação específica, podem ser inscritas em restos a pagar, pois se referem a despesas incorridas ou a incorrer no próprio exercício. Para refletir... E como se classificam os restos a pagar? Podem ser processados ou não processados. A caracterização dos restos a pagar como processados ou não processadosocorre no momento de sua inscrição. Uma despesa que, no momento de inscrição, não estava liquidada, será inscrita em restos a pagar não processados. Ocorrendo sua liquidação efetiva no exercício seguinte ao da inscrição, ela passa a restos a pagar não processados liquidados, com tratamento similar aos processados. Por outro lado, restos a pagar processados são gastos em que já ocorreu a etapa de liquidação. Consoante o art. 35 do Decreto nº 93.872/1986, o empenho de despesa não liquidada deverá ser anulado antes do processo de inscrição de Restos a Pagar, salvo quando: a) Vigente o prazo para cumprimento da obrigação assumida pelo credor; b) Mesmo que vencido o prazo de que trata o item anterior, se estiver em curso a liquidação da despesa, ou seja é de interesse da administração exigir o cumprimento da obrigação assumida pelo credor; c) Destinar-se a transferências a instituições públicas ou privadas; ou d) Corresponder a compromissos assumidos no exterior. A inscrição das despesas em restos a pagar é efetuada no encerramento de cada exercício. Os restos a pagar processados, por constituir direitos subjetivos efetivos do credor, não serão cancelados automaticamente no exercício subsequente. A anulação deverá ser realizada manualmente pelos gestores, na hipótese de ter ocorrido erro na inscrição, fato posterior que inviabilize o pagamento ou, ainda, no caso de prescrição quinquenal. O cancelamento, a qualquer tempo, de restos a pagar inscritos em exercícios anteriores não gera reaproveitamento da dotação no exercício em que é cancelada. Nos termos do disposto no art. 69 do Decreto nº 93.872/1986, após o cancelamento da inscrição da despesa como restos a pagar, o pagamento que vier a ser reclamado poderá ser atendido à conta de dotação destinada a “despesas de exercícios anteriores”. Estudaremos mais à frente o que vem a ser “despesas de exercícios anteriores”. A disciplina do cancelamento de restos a pagar não processados não é objeto da legislação ordinária ou complementar, lacuna que deixa ao alvedrio de normas infra legais seu regramento. O Decreto nº 9.428/2018 conferiu nova redação a diversos dispositivos do Decreto nº 93.872/1986, na parte referente aos restos a pagar, em especial em relação à validade dos restos a pagar não processados e não liquidados posteriormente. Com efeito, seu art. 68, §§ 2º e 3º, estipula que esses restos a pagar terão validade até 30 de junho do segundo ano subsequente ao de sua inscrição, ressalvadas as seguintes situações: Refiram-se às despesas decorrentes de emendas individuais impositivas discriminadas com identificador de resultado primário 6, cujos empenhos tenham sido emitidos a partir do exercício financeiro de 2016; ou Refiram-se às despesas decorrentes de emendas de iniciativa de bancada de parlamentares de Estado ou do Distrito Federal impositivas discriminadas com identificador de resultado primário 7, cujos empenhos tenham sido emitidos a partir do exercício financeiro de 2020; ou Sejam relativos às despesas do Ministério da Saúde. O normativo permite a renovação de uma parte do estoque de restos a pagar não processados, autorizando que as despesas ressalvadas infrinjam o princípio da anualidade orçamentária, ao se manterem válidas indefinidamente. Sem contar a possibilidade recorrente (e, de fato, bastante utilizada na prática) de o governo federal editar novos decretos modificando o estipulado no Decreto nº 93.872/1986, com vistas a prorrogar mesmo os restos a pagar cuja validade seria até 30 de junho do segundo ano subsequente a sua inscrição. Ao elaborarem a Lei de Responsabilidade Fiscal, os legisladores demonstraram preocupação especial com a herança deixada pelos chefes de Poder a seus sucessores. No art. 42, a LRF veda ao titular de Poder ou órgão, nos últimos dois quadrimestres de seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para esse fim. E qual a importância prática que hoje assumem os pagamentos de restos a pagar no orçamento federal? Vamos ver em seguida que o crescente volume de despesas inscritas em restos a pagar causa grandes problemas de gestão financeira, prejudicando a execução do orçamento do ano em curso. No âmbito federal, por conta de sua magnitude, os restos a pagar constituem item específico da programação financeira, devendo o seu pagamento efetuar-se dentro dos limites de desembolso fixados para cada unidade. Tendo em vista o critério utilizado de cálculo do resultado primário, com base no fluxo de saída do caixa, o pagamento dos restos a pagar concorre com os adimplementos das programações orçamentárias do exercício em curso, evidenciando um verdadeiro “orçamento paralelo”. Segue um levantamento do volume de restos a pagar inscritos no início do exercício (atualizado pelo IPCA ao valor de março/2023): Exercício Restos a Pagar Inscritos (R$) 2011 264.670.303.584,49 2012 272.254.568.199,42 2013 322.449.440.065,52 2014 376.913.177.194,47 2015 368.471.731.239,99 2016 271.292.619.890,82 2017 203.674.249.459,71 2018 207.333.127.893,55 2019 243.905.006.428,77 2020 223.485.128.118,10 2021 268.966.924.854,07 2022 250.505.480.880,10 2023 258.677.879.850,13 Fonte: Siga Brasil O contingenciamento deveria ser medida extrema e excepcional, pois busca assegurar meios adicionais para o cumprimento da meta de resultado primário e do teto de gastos, cuja apuração, no âmbito da União, é feita com base no regime de pagamento das despesas. A apuração das metas e do teto pelo regime de caixa tem possibilitado que o contingenciamento seja menos inflexível no que se refere à limitação de empenho, de modo que se verifique o empenho de despesas ainda que não haja a cobertura dos recursos necessários ao seu pagamento. São essas as despesas que, posteriormente, vêm a ser inscritas em restos a pagar. Deve-se reconhecer que é razoável haver resíduos passivos a serem pagos no exercício seguinte, em decorrência dos prazos dos atos a serem praticados pela administração pública e por seus credores. Esses resíduos passivos devem estar fundados na despesa legalmente empenhada, a qual representa uma obrigação de pagar após o implemento de condições pactuadas. Os resíduos passivos não poderiam estar baseados, tão somente, em “nota de empenho” emitida pelo SIAFI. No entanto, a inscrição de restos a pagar decorre do excesso, cada vez maior, de autorizações em relação aos recursos disponíveis, revelando-se expediente para o diferimento da vigência das dotações orçamentárias, que, a rigor, deveria ser restrita ao exercício financeiro em que foram constituídas as dotações. Por essa razão, pode afirmar-se que esse diferimento representa, na prática, verdadeira autorização de despesa a ser executada em exercício futuro, pois, em muitos casos, sequer ocorre o comprometimento da despesa na forma da celebração de vínculos formais, como em contratos e convênios. Se os restos a pagar inscritos em um exercício constituem consequência do excesso de autorização, no exercício seguinte passam a ser uma de suas causas, criando-se um círculo vicioso em que o estoque de restos a pagar é crescente a cada exercício financeiro. A vigência do teto de gastos teve um papel importante na limitação do crescimento de restos a pagar, como pode se observar a partir de 2016. Entretanto, o efeito trazido pelas despesas com a pandemia do novo coronavírus em 2020 e 2021 levou o volume de restos a pagar a patamares semelhantes ao de antes da vigência do Teto. Despesas de Exercícios Anteriores O fundamento normativo das chamadas despesas de exercícios anteriores ampara-se no art. 37 da Lei nº4.320/1964 e no art. 22 do Decreto nº 93.872/1986. O dispositivo citado do Decreto assinala que as despesas de exercícios encerrados, para as quais o orçamento respectivo consignava crédito próprio com saldo suficiente para atendê-las, que não se tenham processado na época própria, bem como os restos a pagar com prescrição interrompida, e os compromissos reconhecidos após o encerramento do exercício correspondente, poderão ser pagos à conta de dotação destinada a atender despesas de exercícios anteriores, respeitada a categoria econômica própria. No § 2º do mesmo artigo, o Decreto cuida de explicar as hipóteses que ensejam o pagamento a título de despesas de exercícios anteriores, definindo que: Despesas que não se tenham processado na época própria são aquelas cujo empenho tenha sido considerado insubsistente e anulado no encerramento do exercício correspondente, mas que, dentro do prazo estabelecido, o credor tenha cumprido sua obrigação. Restos a pagar com prescrição interrompida correspondem à despesa cuja inscrição como restos a pagar tenha sido cancelada, mas ainda vigente o direito do credor. Compromissos reconhecidos após o encerramento do exercício são obrigações decorrentes de lei, em que o direito do credor somente foi reconhecido após o encerramento do exercício. Para Mota (2009, p. 155), há ainda uma outra hipótese a ensejar o pagamento a título de despesas de exercícios anteriores, quando o valor inscrito em restos a pagar for menor que o valor real a ser pago. A diferença deve ser empenhada como despesa de exercícios anteriores. Devemos ter sempre presente a distinção entre despesas de exercícios anteriores e restos a pagar não processados. No primeiro caso, pelo regime de competência que informa as despesas públicas, o gasto diz respeito a um exercício financeiro pretérito, mas seu empenho e liquidação ocorrem no ano em que a despesa é reconhecida. Portanto, será necessária a existência de dotação disponível no orçamento do ano de reconhecimento da despesa para sua realização. Diferentemente, nos restos a pagar não processados, o empenho deu-se em ano anterior, apenas a liquidação e o pagamento são efetivados posteriormente. No exercício em que se fará o pagamento dos restos a pagar, o orçamento não será sensibilizado, não existindo a necessidade de dotação disponível para esse fim. Por fim, como se identifica, com base na classificação orçamentária atual, um gasto a título de despesa de exercícios anteriores? O elemento de despesa, já estudado na Unidade de nosso curso específica sobre Despesa Pública, tem sido usado para essa finalidade, sendo reservado o código 92 para “despesas de exercícios anteriores”. Descentralização de Créditos A descentralização de créditos orçamentários, prevista no âmbito federal nos arts. 2º a 4º do Decreto nº 825/1993, ocorre quando é efetuada movimentação de parte do orçamento para que outras unidades administrativas possam executar a despesa, mantidas as classificações institucional, funcional, programática e econômica. As descentralizações de créditos orçamentários não se confundem com transferências e transposições, porquanto não modificam a programação ou o valor de suas dotações orçamentárias, além de não alterarem a unidade orçamentária detentora do crédito orçamentário aprovado na lei orçamentária. Quando a descentralização envolver unidades gestoras de um mesmo órgão, tem-se a descentralização interna, também chamada de provisão. Caso ocorra entre unidades gestoras de órgãos ou entidades de estrutura diferente, tem-se uma descentralização externa, denominada de destaque. Na descentralização, as dotações são empregadas, obrigatória e integralmente, na consecução do objetivo previsto pelo programa de trabalho pertinente, respeitadas fielmente a classificação funcional e a estrutura programática. Para a União, nos termos do inciso I do art. 2º do Decreto nº 10.426/2020, a descentralização de crédito externa dependerá de termo de execução descentralizada, para execução de ações de interesse da unidade orçamentária descentralizadora e consecução do objeto previsto no programa de trabalho, respeitada fielmente a classificação funcional programática. Frise-se que a execução de despesas da competência de órgãos ou entidades de um ente da Federação poderá ser delegada, no todo ou em parte, a órgão ou entidade de outro ente federativo, desde que se mostre legal e tecnicamente possível. Tendo em vista o disposto no art. 35 da Lei nº 10.180/2001, entende-se que a execução de despesas mediante descentralização a outro ente da Federação processa-se de acordo com os mesmos procedimentos adotados para as transferências voluntárias, ou seja, empenho, liquidação e pagamento na unidade descentralizadora do crédito orçamentário e inclusão na receita e na despesa do ente recebedor dos recursos-objeto da descentralização, identificando-se como recursos de convênios ou similares. No Siafi, a descentralização de créditos é efetuada por meio de nota de movimentação de crédito - NC. A anulação da descentralização externa de créditos é efetuada ou pela unidade concedente ou por devolução da unidade beneficiária. A descentralização interna de créditos poderá ser anulada, total ou parcialmente, nos seguintes casos: a) Equívoco no valor do crédito descentralizado ou necessidade de reduzi-lo; b) Alterações no Orçamento envolvendo o crédito descentralizado; c) Necessidade de redução de despesa. Cabe mencionar, ainda, que as leis de diretrizes orçamentárias da União têm reservado um dispositivo específico para regular a descentralização de créditos. Na LDO 2023, prevê-se que: Art. 8º Todo e qualquer crédito orçamentário deve ser consignado diretamente à unidade orçamentária à qual pertencem as ações correspondentes, vedando-se a consignação de crédito a título de transferência a unidades orçamentárias integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social. § 1º Não caracteriza infringência ao disposto no caput e à vedação a que se refere o inciso VI do caput do art. 167 da Constituição a descentralização de créditos orçamentários para execução de ações pertencentes à unidade orçamentária descentralizadora. Podemos citar dois exemplos atuais de descentralização de créditos orçamentários que têm sido realizados com frequência no orçamento federal, ambas classificadas como descentralizações externas. O primeiro envolve a descentralização de obras de infraestrutura rodoviária, cuja competência é do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT – do Ministério dos Transportes, para o Comando do Exército, cujos Batalhões de Engenharia e Construção recebem o encargo de construir, adequar ou manter trechos de rodovias federais. O segundo refere-se à execução de despesas com pagamento de débitos judiciais da União, suas autarquias e fundações públicas, cujas dotações, consoante previsão nas leis de diretrizes orçamentárias, são descentralizadas aos tribunais que proferem as decisões judiciais automaticamente, após a publicação da lei orçamentária. Estamos em condições, então, de apresentar um quadro esquemático que resume as descentralizações orçamentária (de créditos) e financeira (movimentação de recursos). Lembrando que o órgão central do sistema de planejamento e orçamento da União é a Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento (SOF) e o órgão central de execução financeira é a Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda (STN): Orçamentário Financeiro Descentralização de Créditos Movimentação de Recursos SOF STN cota desc. externa repasse MIN A MIN B MIN C MIN A MIN B MIN C desc. externa repasse desc.interna Entidade Superv. Entidade Superv. sub- repasse Unid Adm Unid Adm Unid Adm Unid Adm Unid Adm Unid Adm Unid Adm Unid Adm Fonte: Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público – STN As descentralizações de créditos orçamentários não se confundem com transferências e transposição, já que: Não modificam o valor da programação ou de suas dotações orçamentárias (créditos adicionais); Não alteram a unidade orçamentária (classificação institucional) detentora do crédito orçamentário aprovado na lei orçamentária ou em créditos adicionais (transferência/transposição). Em relação aos recursos financeiros, conforme a figura acima, temos três tipos de descentralização denominados cota, repasse e sub-repasse. A cota é a primeira etapa da descentralização de recursos financeiros, caracterizada pela transferência de recursos do órgão central de programação financeira para os órgãos setoriais do sistema. Ou seja, ocorre quando o Tesouro libera recursos financeiros vinculados ao orçamento para qualquer ministério, secretaria ou órgão. Essa movimentação está condicionada à efetiva arrecadação de recursos financeiros pelo Tesouro e ao montante dos compromissos assumidos pelos órgãos. O Repasse é a descentralização dos recursos financeiros vinculados ao orçamento, recebidos anteriormente sob a forma de cota, realizada pelos órgãos setoriais da programação financeira, que os transfere para uma entidade da administração indireta a eles vinculada ou para outro órgão, secretaria ou ministério. O repasse pode ocorrer entre órgãos da administração direta, ou desta para uma entidade da administração indireta, ou entre estas entidades, bem como de uma entidade da administração indireta para um órgão da administração direta. Quando há destaque orçamentário (descentralização externa), é o repasse que acompanha a movimentação financeira desses recursos. O Sub-repasse é a descentralização dos recursos financeiros vinculados ao orçamento, recebidos anteriormente sob a forma de cota ou repasse, realizada pelos órgãos setoriais de programação financeira, que os transfere para unidade orçamentária ou administrativa a eles vinculadas. O sub- repasse é a movimentação interna de recursos financeiros destinados ao pagamento das despesas orçamentárias. O sub-repasse normalmente acompanha a provisão. Emendas Impositivas As Emendas Constitucionais n° 86, de 17 de março de 2015, e n° 100, de 26 de junho de 2019, trouxeram à Constituição Federal novos textos para os artigos 165 e 166. Essas emendas constitucionais tornam obrigatórias as execuções orçamentária e financeira das emendas individuais e de bancadas estaduais e do Distrito Federal, inseridas pelos parlamentares na Lei Orçamentária Anual (LOA), que rege o orçamento geral da União. Conforme determina a Constituição Federal, as emendas individuais inseridas pelos parlamentares ao Projeto de Lei Orçamentária serão aprovadas no limite de até 2% da Receita Corrente Líquida prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, e as emendas incluídas pelas bancadas estaduais e do Distrito Federal terão seu limite fixado em até 1% da mesma Receita Corrente Líquida. Metade desse valor deverá ser necessariamente destinada pelos parlamentares às ações e aos serviços públicos de saúde. O novo texto constitucional define ainda que, se houver limitação de empenho para cumprimento do resultado primário, as emendas parlamentares sofrerão limitação em percentual igual ou inferior ao que incidir sobre as despesas discricionárias. Orçamento Impositivo = emendas obrigatórias individuais e de bancadas estaduais (Resultados Primários 6 e 7, respectivamente). As emendas impositivas não serão executadas em caso de impedimento de ordem técnica, conforme disposto na LDO 2022 (Lei n° 14.436, de 9 de agosto de 2022) e em portarias interministeriais a serem publicadas pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF), a fim de regulamentar a execução das emendas parlamentares individuais e de bancadas estaduais. Art. 72, § 2º (LDO 2022) São consideradas hipóteses de impedimento de ordem técnica, sem prejuízo de outras posteriormente identificadas em ato do Poder Executivo Federal: I) a ausência de projeto de engenharia aprovado pelo órgão setorial responsável pela programação, nos casos em que for necessário; II) a ausência de licença ambiental prévia, nos casos em que for necessária; III) a não comprovação, por parte dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, quando a cargo do empreendimento após a sua conclusão, da capacidade de aportar recursos para sua operação e sua manutenção; IV) a não comprovação de que os recursos orçamentários e financeiros sejam suficientes para conclusão do projeto ou de etapa útil, com funcionalidade que permita o imediato usufruto dos benefícios pela sociedade; V) a incompatibilidade com a política pública aprovada no âmbito do órgão setorial responsável pela programação; VI) a incompatibilidade do objeto da despesa com os atributos da ação orçamentária e do respectivo subtítulo; e VII) os impedimentos cujo prazo para superação inviabilize o empenho dentro do exercício financeiro. Os procedimentos e os prazos para superação de impedimentos de ordem técnica são estabelecidos nos textos da Lei de Diretrizes Orçamentárias, bem como das portarias interministeriais de operacionalização das emendas parlamentares e da portaria de alterações de créditos orçamentários da Secretaria de Orçamento Federal. Unidade 6 – Créditos adicionais e outras alterações orçamentárias No estudo da execução orçamentária, um tema recorrente e de grande relevância conceitual abrange as alterações orçamentárias, mormente por intermédio dos chamados créditos adicionais. Daí porque optamos por destacar uma unidade própria para tratar da matéria. Muito bem, mas o que é um crédito adicional? Qual sua natureza e suas espécies? E na prática orçamentária, qual a relevância assumida pelo crédito adicional? Vamos às respostas! O art. 40 da Lei nº 4.320/1964 praticamente define a figura do crédito adicional, ao mencionar que, se houver necessidade de autorizações para despesas não computadas ou insuficientemente dotadas, poderão ser abertos créditos adicionais. Portanto, após a entrada em vigor da lei orçamentária, serão necessários créditos adicionais sempre que houver necessidade de créditos para finalidades não previstas originalmente ou quando as dotações dos créditos existentes forem insuficientes. As modalidades de créditos adicionais são apresentadas no art. 41 da Lei nº 4.320/1964: Créditos suplementares – destinados a reforço de dotação orçamentária. Créditos especiais – destinados a despesas para as quais não haja dotação específica, ou seja, para criar programações não existentes no orçamento. Créditos extraordinários – nos termos do art. 167, § 3º, da Constituição Federal, são admitidos para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Também é necessário o pressuposto da relevância, inscrito no art. 62 da Constituição. Conforme magistério de Piscitelli (2010, p. 46), “enquanto o crédito suplementar se incorpora ao orçamento, adicionando-se sua importância autorizada à dotação orçamentária a que se destinou o reforço, os créditos especial e extraordinário apresentam as respectivas despesas realizadas separadamente”. Constituem recursos aptos à abertura de créditos suplementares e especiais (art. 43, § 1º, da Lei nº 4.320/1964), ou seja, são origens de recursos possíveis de serem utilizados parafinanciar as despesas previstas nos referidos créditos: Excesso de arrecadação (saldo positivo das diferenças entre a receita realizada e a prevista, projetadas para todo o exercício); Superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do exercício anterior (diferença positiva entre o ativo e o passivo financeiros, apurada no Balanço Patrimonial do exercício anterior); Produto de operações de crédito autorizadas; Anulação parcial ou total de dotações orçamentárias autorizadas em lei. Para os créditos extraordinários, considera-se não ser necessário apontar uma origem de recursos, até porque a Constituição Federal, em seu art. 167, V, somente exige a indicação dos recursos correspondentes para os créditos suplementares e especiais. Lembrando que os créditos extraordinários somente podem ser editados para atender despesas que sejam urgentes, imprevisíveis (ambos os requisitos em face do art. 167, § 3º, da Constituição), e relevantes (em atenção ao art. 62 da Constituição Federal). A vigência dos créditos adicionais não pode ultrapassar o exercício financeiro, exceto no caso dos créditos especiais e extraordinários, a teor do § 2º do art. 167 da Constituição Federal. Estes, na hipótese de o ato de autorização ser promulgado nos últimos quatro meses do exercício, poderão ser reabertos, nos limites de seus saldos, no exercício seguinte. Para o orçamento federal, a LDO tem disciplinado que a reabertura poderá ser efetivada por ato próprio de cada Poder, até 15 de fevereiro do exercício seguinte, para as despesas das esferas Fiscal e da Seguridade Social, e até 28 de fevereiro, para os gastos afetos à esfera Investimento das Empresas Estatais. Cabe mencionar que a abertura de créditos extraordinários sem a indicação de recursos correspondentes e a reabertura de créditos especiais e extraordinários editados nos últimos quatro meses do exercício constituem fatores que podem ensejar o procedimento de limitação de empenho (contingenciamento) ou o bloqueio das dotações em função do teto de gastos. Caso esses gastos tenham natureza primária, repercutem sobre o cálculo de resultado primário e impactam no limite de despesas do teto de gastos, podendo gerar a necessidade de serem compensados pela contenção de outros dispêndios primários. Mas como se materializam os créditos adicionais? Como ganham eficácia no mundo jurídico, passando a modificar a lei orçamentária? Podemos sintetizar o seguinte quadro quanto aos instrumentos normativos utilizados para a abertura dos créditos adicionais: Uma das questões mais discutidas a cada ano na tramitação dos projetos de lei orçamentária no Congresso Nacional é precisamente o volume de autorizações concedidas na lei orçamentária para que o Poder Executivo possa abrir créditos suplementares por decreto. Trata-se de definir um Modalidade de Crédito Instrumento normativo Observação Suplementar Decreto (ato próprio de cada Poder) ou lei Aberto por decreto (ou ato próprio de cada Poder) nos limites fixados nas leis orçamentárias. Acima dos limites, abertura ou autorização por lei. Especial Lei Necessária lei específica para abrir ou autorizar a abertura. Extraordinário Medida provisória ou decreto Aberto por medida provisória nas unidades da Federação em que existe esse instituto; caso contrário, é aberto por decreto (art. 44 da Lei nº 4.320/1964). equilíbrio entre a necessidade de o Poder Legislativo ser ouvido previamente nas autorizações específicas de gasto e a busca por uma maior flexibilidade da gestão fiscal. A cada ano, o Executivo tenta estender as hipóteses de abertura dos créditos por decreto, ao passo que o grupo legislativo oposicionista impõe obstáculos a essa pretensão, postulando que a abertura de créditos suplementares seja precedida do envio ao parlamento de projetos de lei específicos com essa finalidade. Na prática, o número de hipóteses que autorizam a abertura de créditos suplementares na própria lei orçamentária tem crescido de forma notável no orçamento federal. O número de proposições legislativas que pretendem modificar a lei orçamentária anual a cada exercício financeiro é expressivo, ocupando parcela significativa da pauta da Comissão Mista de Orçamentos do Congresso Nacional ao longo do ano (Em 2023 foram 17 projetos de crédito especial e 19 de crédito suplementar, além 8 créditos extraordinários). Em muitas situações, isso denota deficiências do processo de planejamento governamental, sendo necessárias múltiplas correções ao longo da execução do orçamento. Bem, já estudamos o instituto do crédito adicional, mas cabe ainda uma indagação final: e se houver necessidade de modificação de outros elementos do orçamento que não digam respeito às dotações em si, como proceder? Para tanto, normalmente não é necessário o envio de projetos de lei de alteração ao Poder Legislativo, bastando a edição de atos normativos infralegais. Para a União, as leis de diretrizes orçamentárias têm regulado a questão, prevendo a possibilidade de modificação de diversas classificações orçamentárias ao longo do exercício, de acordo com as necessidades da execução, a exemplo de esfera, fonte de recursos, modalidade de aplicação, identificador de uso e identificador de resultado primário. Algumas das alterações são efetivadas por portarias dos órgãos do sistema de planejamento e orçamento, outras são implementadas diretamente no Siafi. Importante! Essas alterações não podem acarretar modificações nas dotações de cada programação, situação em que ficaria caracterizada a necessidade de crédito adicional. No Módulo III, estudaremos como se dá a tramitação dos projetos de lei de créditos suplementares e especiais e das medidas provisórias de créditos extraordinários no Poder Legislativo. Exercício de Fixação - Módulo II Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II do curso Orçamento Público Avançado. Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do conteúdo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, porém, o acesso aos Módulos seguintes está condicionado à resolução e envio das respostas. Lembramos, ainda, que a plataforma de ensino faz a correção imediata das respostas! Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431030 http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431030 http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431030 MÓDULO III – PROCESSO LEGISLATIVO ORÇAMENTÁRIO OBJETIVOS Após o estudo do módulo, você deverá ser capaz de: • Identificar o conceito e os elementos do ciclo orçamentário; • Reconhecer os procedimentos afetos à elaboração do orçamento previamente ao envio do projeto de lei ao Poder Legislativo; • Identificar as etapas de tramitação dos créditos adicionais no Congresso Nacional; • Reconhecer os requisitos de emendamento dos créditos adicionais. Unidade 1 – Ciclo Orçamentário O ciclo orçamentário consiste em um processo contínuo que envolve desde a elaboração das leis orçamentárias até o controle e a avaliação de sua execução. É também conhecido como processo orçamentário. Importante destacar que o ciclo orçamentário não se confunde com exercício financeiro (Lei nº 4.320/1964, art. 34). Ele tem uma amplitude maior e mais complexa que o exercício financeiro (01/01 a 31/12), o qual ocupa apenas uma de suas etapas (EXECUÇÃO). Veja a figura abaixo para entender como funciona o ciclo: 1. Elaboração 2. Discussão/Aprovação 4. Controle/Avaliação 3. ExecuçãoElaboração Como o chefe do Poder Executivo é quem tem a iniciativa para enviar a proposta orçamentária ao Congresso Nacional, cabe ao Executivo a função de formular a sua proposta e consolidar as propostas encaminhadas pelos demais Poderes. De acordo com a Lei nº 10.180/2001, que disciplina o Sistema de Planejamento e Orçamento Federal: Art. 3º O Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal compreende as atividades de elaboração, acompanhamento e avaliação de planos, programas e orçamentos, e de realização de estudos e pesquisas socioeconômicas. Art. 4º Integram o Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal: I - o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, como órgão central; II - órgãos setoriais; III - órgãos específicos. § 1º - Os órgãos setoriais são as unidades de planejamento e orçamento dos Ministérios, da Advocacia-Geral da União, da Vice-Presidência e da Casa Civil da Presidência da República. (Grifamos.) Como vimos na lei supracitada, o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) é o órgão central do sistema. Dentro do MPOG, temos a Secretaria de Orçamento Federal (SOF), que coordena a elaboração e consolidação da proposta orçamentária. Os órgãos setoriais, também integrantes do sistema, são unidades Integrantes de cada Ministério. Essas unidades são as responsáveis por coordenar e orientar as ações no âmbito do órgão onde elas se encontram. A Lei Orçamentária anual federal é a consolidação de pequenos orçamentos, cada um deles relacionado a cada um dos Ministérios e, além disso, ao Senado Federal, Câmara dos Deputados, STF, Tribunais Superiores e Regionais, Ministério Público da União e Tribunal de Contas da União, conforme veremos a seguir. Nos Poderes Legislativo e Judiciário, também existem unidades setoriais que se vinculam, tecnicamente, ao MPOG. O Tribunal de Contas da União, a Defensoria Pública e o Ministério Público Federal também têm a mesma estrutura. Todas as propostas enviadas pelas unidades setoriais deverão obedecer aos limites e critérios definidos na LDO. Em relação às propostas orçamentárias do Judiciário e do Ministério Público da União, o Poder Executivo fará os ajustes necessários caso limites estipulados não sejam cumpridos. Veja na Constituição o funcionamento do processo de elaboração orçamentária do Judiciário e do Ministério Público: Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. § 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. § 2º - O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais; II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. § 3º - Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º deste artigo. § 4º - Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. (Grifamos.) Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. [...] § 3º - O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. § 4º - Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 3º. § 5º - Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. (Grifamos.) Depois do envio das propostas setoriais à SOF, a Secretaria as consolidará e as encaminhará ao MPOG para avaliação, aprovação e correção, caso seja necessário. Consolidada a proposta global, ela será enviada à Presidência da República para apreciação e posterior encaminhamento ao Congresso Nacional. Discussão/Aprovação - A fase de discussão/aprovação será estudada nas próximas unidades de forma mais aprofundada. Execução - O assunto já foi abordado na Unidade 4 do Módulo II. Se tiver dúvidas, retorne e releia o conteúdo. Controle/Avaliação - Segundo Mota, a última etapa do ciclo orçamentário consiste no acompanhamento e avaliação do processo de execução orçamentária. Essas ações caracterizam a função do controle, que pode ser interno (quando realizado pelo próprio órgão) e externo (no âmbito federal, a cargo do Congresso Nacional e exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União). Unidade 2 – Processo Legislativo Orçamentário na Constituição Federal Na unidade anterior, apresentamos as fases que compõem o ciclo orçamentário, com o objetivo passara-lhes uma ideia do conjunto de atividades que são abarcadas pelo Processo Legislativo Orçamentário – cujo estudo é objetivo deste módulo. Na presente unidade, passaremos ao estudo das normas constitucionais que embasam a atividade legislativa referente à tramitação dos projetos das leis orçamentárias. Cabe destacar que a explicação pormenorizada da tramitação dos projetos das leis orçamentárias no Congresso será objeto das unidades seguintes deste Módulo III. Sabemos que os projetos das leis orçamentárias previstas no art. 165 da Constituição – PPA, LDO e LOA, bem como seus créditos adicionais, possuem um rito especial de tramitação no Congresso Nacional. A primeira, e principal, diferença que se observa nesse rito é que tais projetos serão apreciados por uma comissão mista permanente do Congresso, denominada Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização – CMO, a qual tem sua atuação determinada por um regimento comum. À CMO cabe, nos termos do art. 166 da CF: a) Examinar e emitir parecer sobre: Projetos de LOA, PPA e LDO, e seus créditos adicionais; Contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República; Planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos na Constituição; b) Exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais comissões do Congresso Nacional e de suas Casas. Veja aqui, um estudo elaborado pela Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados acerca da competência constitucional da CMO sobre o exame de planos e programas nacionais, regionais e setoriais. http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/estudos/2012/copy_of_NT162012APRECIAOPELACMODOSPLANOSNACREGESET.pdf http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/estudos/2012/copy_of_NT162012APRECIAOPELACMODOSPLANOSNACREGESET.pdf http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/estudos/2012/copy_of_NT162012APRECIAOPELACMODOSPLANOSNACREGESET.pdf http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/estudos/2012/copy_of_NT162012APRECIAOPELACMODOSPLANOSNACREGESET.pdfNos termos do art. 166, § 2º, da CF, as emendas referentes aos projetos de competência da CMO serão apresentadas no âmbito da própria comissão, que sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo Plenário das duas Casas do Congresso Nacional. Segundo o art. 166, § 3º, da CF, as emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso: a) Sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias; b) Indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre: Dotações para pessoal e seus encargos; Serviço da dívida; Transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito Federal; ou c) Sejam relacionadas: Com a correção de erros ou omissões; ou Com os dispositivos do texto do projeto de lei. A primeira regra, e que deve ser sempre respeitada, está mencionada no item “a”. Segundo esse dispositivo, as emendas ao projeto de LOA, e seus créditos, não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano plurianual ou com a lei de diretrizes orçamentárias. Já as regras relacionadas no item “b” para o emendamento podem deixar de ser observadas no caso de “correção de erros ou omissões” mencionado no item “c”. Dessa forma, tratando-se de correção de erros ou omissões, pode ser elaborada emenda utilizando como fonte de cancelamento as dotações para pessoal, para serviços da dívida ou transferências constitucionais a entes federativos. Como exemplo, podemos imaginar uma situação em que, após análise, o Poder Legislativo conclui que o Poder Executivo enviou o projeto de LOA com dotação de pessoal superior às reais necessidades. Tratando- se de erro, é permitido, no caso, realizar corte nas dotações com pessoal, utilizando tal recurso para o atendimento de emendas. Pode ocorrer que recursos fiquem sem despesas correspondentes em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual. Nesse caso, tais valores poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica autorização legislativa. (Art.166, § 8º, da CF). O Presidente da República poderá enviar mensagem ao Congresso Nacional para propor modificação nos projetos a que se refere este artigo enquanto não iniciada a votação, na Comissão Mista de Orçamentos, da parte cuja alteração é proposta (art. 166, § 5º, da CF). Embora seja matéria da nossa próxima unidade, é interessante adiantar que a resolução que regulamenta o funcionamento da CMO estabelece a votação do parecer preliminar como sendo o prazo final para receber pedido de alteração por parte do Presidente da República. Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes orçamentárias e do orçamento anual serão enviados pelo Presidente da República ao Congresso Nacional, nos termos da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º, da CF. Tendo em vista que tal lei complementar ainda não foi aprovada, inseriu-se dispositivo no ADCT que prevê os seguintes prazos (art. 35, § 2º, do ADCT): Projeto do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial subsequente, será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa; Projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa; Projeto de lei orçamentária da União será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa. É competência privativa do Presidente da República enviar ao Congresso Nacional o projeto de lei de plano plurianual, de diretrizes orçamentárias, de orçamento anual e das demais propostas relativas ao orçamento previstas na Constituição (art. 84, inciso XXIII, da CF). Nos termos do art. 48 da Constituição, cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre tais matérias. De acordo com o art. 68, § 1º, inciso III, da Constituição, os planos plurianuais, as diretrizes orçamentárias e os orçamentos não podem ser objeto de delegação. Dessa forma, não é permitido ao Congresso Nacional autorizar a elaboração de leis delegadas ao Presidente da República. Saiba mais Conceito de lei delegada: Feita pelo presidente da República, que solicita concessão especial ao Congresso, ou seja, uma delegação do Legislativo para poder elaborar a lei. Não podem ser objetos de lei delegada atos de competência exclusiva do Congresso, da Câmara e do Senado, nem temas relacionados com a organização do Judiciário e do Ministério Público. Outros assuntos que ficam fora da lei delegada: nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos, eleitorais, planos plurianuais e orçamentos. Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo#L Da mesma forma, é vedada a edição de medidas provisórias sobre planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º (art. 62, § 1º, I, d). A referida ressalva refere-se aos casos de abertura de crédito extraordinário. Para entender um pouco mais sobre o processo legislativo orçamentário, vamos ver a entrevista sobre "Processo orçamentário na lógica do Poder Legislativo", tema do segundo episódio da série Enap Entrevista: Orçamento Público. O professor e analista de Planejamento e Orçamento, Leandro Freitas Couto, convidou Júlia Alves Marinho Rodrigues, consultora de orçamentos da Câmara dos Deputados para falar sobre o tema. Clique aqui. (https://youtu.be/O0ScBuMdeWc) Agora que vimos os dispositivos constitucionais relativos ao processo legislativo orçamentário, estamos aptos a estudar as normas do Poder Legislativo que regulamentam esse processo. Veremos na próxima unidade as normas contidas na Resolução nº 1/2006, do Congresso Nacional. https://youtu.be/O0ScBuMdeWc Unidade 3 – A Resolução nº 1/2006-CN: Conceitos gerais aplicáveis a todas as leis orçamentárias Após estudarmos, no módulo anterior, o Processo Legislativo Orçamentário na Constituição Federal, podemos agora adentrar em um assunto mais específico, que são as normas de processo orçamentário emanadas do Congresso Nacional. Neste tópico, veremos especificamente a Resolução nº 1/2006-CN, que dispõe sobre a Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização – CMO, bem como sobre a tramitação das matérias de sua competência. Para uma organização mais didática, vamos separar a presente unidade nos seguintes tópicos: Competência e composição da CMO; Direção e indicação de relatores; Comitês; Diretrizes gerais de apreciação das matérias orçamentárias; Disposições gerais sobre emendas; Contestação. Competência e composição da CMO Nos termos do art. 2º da Res. 01/2006-CN, a CMO tem por competência emitir parecer e deliberar, entre outros, sobre: Projetos de lei relativos ao plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual e créditos adicionais, assim como sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República; Planos e programas nacionais, regionais e setoriais; Documentos pertinentes ao acompanhamento e fiscalização da execução orçamentária e financeira execução orçamentaria e da gestão fiscal, especialmente sobre: As informações encaminhadas pelo Tribunal de Contas da União relativas à fiscalização de obras e serviços em que foram identificados indícios de irregularidades graves e relacionadosem anexo à lei orçamentária anual, nos termos da lei de diretrizes orçamentárias, bem como sobre as demais informações encaminhadas por este Tribunal; Os relatórios referentes aos atos de limitação de empenho e movimentação financeira e demais relatórios de avaliação e de acompanhamento da execução orçamentária e financeira, nos termos da lei de diretrizes orçamentárias. Para que possa exercer sua competência, a CMO poderá, nos termos do art. 3º da Res. 01/2006-CN: Determinar ao Tribunal de Contas da União a realização de fiscalizações, inspeções e auditorias, bem como requisitar informações sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de fiscalizações, auditorias e inspeções realizadas; Requerer informações e documentos aos órgãos e entidades federais; Realizar audiências públicas com representantes de órgãos e entidades públicas e da sociedade civil; Realizar inspeções e diligências em órgãos da administração pública federal, das administrações estadual e municipal e em entidades privadas que recebam recursos ou administrem bens da União. Em relação à composição, determina o art. 5º da Res. 01/2006-CN que a CMO será composta de quarenta membros titulares, sendo trinta Deputados e dez Senadores, com igual número de suplentes. A escolha dos parlamentares que farão parte da CMO será estabelecida de acordo com a proporcionalidade partidária. Conforme o art. 6º da Res. 01/2006-CN, “na segunda quinzena do mês de fevereiro de cada sessão legislativa, a Mesa do Congresso Nacional fixará as representações dos partidos e blocos parlamentares na CMO, observado o critério da proporcionalidade partidária”. Após a aplicação do critério anteriormente referido, se houver vaga não preenchida, será feita a escolha de acordo com a fração do quociente partidário, sendo a vaga dirigida aos partidos ou blocos que tiverem a maior fração. Se, ainda assim, houver vaga remanescente, essas serão distribuídas às bancadas ainda sem representação na Comissão, também seguindo a ordem na proporcionalidade partidária. Depois de fixadas as representações partidárias, os líderes dos blocos/partidos terão até o quinto dia útil do mês de março para indicar ao Presidente da Mesa do Congresso Nacional os membros titulares e suplentes em número equivalente à proporcionalidade de suas bancadas na CMO. Não havendo indicação pelos Líderes, as vagas não preenchidas serão ocupadas pelos parlamentares mais idosos, dentre os de maior número de legislaturas. É expressamente vedada, nos termos do § 1º do art. 7º, da Res. 01/2006- CN, a designação para membros titulares ou suplentes, de parlamentares membros titulares ou suplentes que integraram a Comissão anterior. Nos termos do art. 8º da Res. 01/2006-CN, a representação na CMO é do partido ou bloco parlamentar, e não do parlamentar em si. Dessa forma, pode o respectivo Líder solicitar, por escrito, ao Presidente da Mesa do Congresso Nacional, em qualquer oportunidade, a substituição de titular ou suplente. O membro titular que não comparecer, durante a sessão legislativa, a três reuniões consecutivas ou seis alternadas será desligado da CMO, exceto no caso de afastamento por missão oficial ou justificado por atestado médico. O membro desligado não poderá retornar à CMO na mesma sessão legislativa. (Art. 8º da Res. 01/2006-CN). Direção e indicação de relatores A CMO terá um Presidente e três Vice-Presidentes, eleitos pelos demais membros da Comissão. O mandato será anual e se encerrará na última terça-feira do mês de março do ano subsequente à eleição, sendo vedada a reeleição. Nos termos do art. 13 da Res. 01/2006-CN, as funções de Presidente e Vice-Presidente serão exercidas, a cada ano, alternadamente, por representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. De acordo com a organização atual, nos anos ímpares a eleição para Presidente e 2º Vice-Presidente recairá em representantes do Senado Federal e a de 1º e 3º Vice-Presidentes em representantes da Câmara dos Deputados. Nos anos pares ocorrerá o inverso, ou seja, Presidente e 2º Vice serão da Câmara, e os demais do Senado. Os suplentes da CMO não poderão ser eleitos para as funções de Presidente e Vice-Presidente (art. 13, § 2º, da Res. 01/2006- CN). Se vagar o cargo de Presidente ou de Vice-Presidente, será feita nova eleição para escolha do sucessor, que deverá recair em representante da mesma Casa, salvo se faltarem menos de três meses para o término do mandato, caso em que será provido pelo Vice-Presidente, na sequência ordinal, e, na ausência deles, pelo membro titular mais idoso da CMO, dentre os de maior número de legislaturas. Nos termos do art. 15 da Res. 01/2006-CN, compete ao presidente da CMO, entre outras atribuições: Convocar e presidir as reuniões; Ordenar e dirigir os trabalhos; Dar à CMO conhecimento das matérias recebidas; Designar os Relatores; Designar os membros e coordenadores dos comitês; Resolver as questões de ordem ou reclamações suscitadas; Decidir, preliminarmente, sobre contestação orçamentária; Assinar os pareceres juntamente com o Relator da matéria; Desempatar as votações, quando ostensivas; Declarar a inadmissibilidade das emendas, ressalvadas as emendas aos projetos de lei Orçamentária anual, de diretrizes orçamentárias e do plano plurianual; Responder pela indicação ao Presidente da Mesa do Congresso Nacional das matérias que devem, nos termos da legislação em vigor, ser autuadas na forma de Aviso do Tribunal de Contas da União. Das decisões do Presidente caberá recurso ao Plenário da CMO. (Art. 15, parágrafo único, da Res. 01/2006-CN) Quanto à escolha de relatores para os projetos de competência da CMO, o art. 16 da Res. 01/2006-CN estabelece que as lideranças partidárias indicarão o Relator-Geral e o Relator da Receita do projeto de lei orçamentária anual, o Relator do projeto de lei de diretrizes orçamentárias e o Relator do projeto de lei do plano plurianual. Para realizar tal escolha, são estabelecidas as seguintes regras: O Relator do projeto de lei do plano plurianual será designado, alternadamente, dentre representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, não podendo pertencer ao mesmo partido ou bloco parlamentar do Presidente da CMO; O Relator do projeto de lei de diretrizes orçamentárias e o Relator- Geral do projeto de lei orçamentária anual não poderão pertencer à mesma Casa, partido ou bloco parlamentar do Presidente da CMO; As funções de Relator-Geral do projeto de lei orçamentária anual e Relator do projeto de lei de diretrizes orçamentárias serão exercidas, a cada ano, alternadamente, por representantes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados; O Relator da Receita do projeto de lei orçamentária anual não poderá pertencer à mesma Casa, partido ou bloco parlamentar do Relator-Geral do projeto de lei orçamentária anual. Na apreciação do projeto de Lei Orçamentária anual, há a sua divisão em dezesseis partes, denominadas áreas temáticas, definidas na IN 1/2019-CMO e alterações posteriores. Cada uma dessas áreas temáticas é distribuída a um relator setorial. Nos termos do § 1º do art. 17 da Res. 01/2006-CN, dentre as relatorias setoriais do projeto de lei orçamentária anual, caberá ao Senado Federal quatro relatorias, observando-se o seguinte: Quando o Relator-Geral pertencer à Câmara dos Deputados, caberá ao Senado Federal a primeira, terceira, quinta e sétima escolhas, e à Câmara dos Deputados as demais; Quando o Relator-Geral pertencer ao Senado Federal, caberá ao Senado Federal a segunda, quarta, sexta e oitava escolhas, e à Câmara dos Deputados as demais. Se não houver indicação de relator por parte do partido/bancada, o Presidente designarácomo relator o membro do partido na CMO, obedecida: A proporcionalidade partidária e a proporcionalidade dos membros de cada Casa na CMO; A escolha, dentre os membros dos partidos na CMO, daquele com maior número de legislaturas e mais idoso; A ordem numérica das áreas temáticas definidas no art. 26 da Res. 01/2006-CN, ou seja, os critérios anteriores serão usados para preenchimento de vagas na ordem de áreas temáticas previstas na IN 1/2019-CMO e alterações posteriores. As lideranças partidárias indicarão os Relatores Setoriais do projeto de lei orçamentária anual segundo os critérios da proporcionalidade partidária e da proporcionalidade dos membros de cada Casa na CMO. Tais relatores serão indicados dentre os membros das Comissões Permanentes afetas às respectivas áreas temáticas ou dentre os que tenham notória atuação parlamentar nas respectivas políticas públicas. Deverá ser adotado um critério de rodízio em relação aos relatores setoriais, de forma que não seja designado, no ano subsequente, membro de mesmo partido para relator da mesma área temática. O Relator das informações encaminhadas pelo Tribunal de Contas da União relativas à fiscalização de obras e serviços em que foram identificados indícios de irregularidades graves não poderá pertencer à bancada do Estado onde se situa a obra ou serviço. Atenção! Cada parlamentar somente poderá, em cada legislatura, exercer somente por uma vez uma das seguintes funções: • Relator-Geral do projeto de lei orçamentária anual; • Relator da Receita do projeto de lei orçamentária anual; • Relator Setorial do projeto de lei orçamentária anual; • Relator do projeto de lei de diretrizes orçamentárias; • Relator do projeto de lei do plano plurianual. O suplente da CMO poderá ser designado Relator. (Art. 16, § 2º, da Res. 01/2006-CN) Comitês Permanentes A Res. 01/2006-CN prevê, em seu art. 18, a constituição dos seguintes comitês permanentes no âmbito da CMO: Comitê de Avaliação, Fiscalização e Controle da Execução Orçamentária; Comitê de Avaliação da Receita; Comitê de Avaliação das Informações sobre Obras e Serviços com Indícios de Irregularidades Graves; Comitê de Exame da Admissibilidade de Emendas. Os comitês serão constituídos por no mínimo cinco e no máximo dez membros, indicados pelos líderes. Integrarão também o Comitê de Avaliação, Controle e Fiscalização da Execução Orçamentária, além dos membros efetivos designados, os Relatores Setoriais e o Relator-Geral do projeto de lei orçamentária anual. Já o Relator da Receita do projeto de lei orçamentária anual integrará e coordenará o Comitê de Avaliação da Receita. A designação do conjunto dos membros e coordenadores dos comitês permanentes obedecerá ao critério da proporcionalidade partidária e ao da proporcionalidade dos membros de cada Casa na CMO. O suplente na CMO poderá ser designado membro ou coordenador de comitê. Os relatórios elaborados pelos comitês permanentes serão aprovados pela maioria absoluta dos seus membros, cabendo aos coordenadores o voto de desempate. A seguir, serão apresentadas as competências de cada um dos comitês permanentes da CMO. Iniciaremos com o Comitê de Avaliação, Fiscalização e Controle da Execução Orçamentária, ao qual, nos termos do art. 22 da Res. 01/2006-CN, cabe: Acompanhar, avaliar e fiscalizar a execução orçamentária e financeira, inclusive os decretos delimitação de empenho e pagamento, o cumprimento das metas fixadas na lei de diretrizes orçamentárias e o desempenho dos programas governamentais; Analisar, em conjunto com o Comitê de Avaliação da Receita, a consistência fiscal dos projetos de lei do plano plurianual e da lei orçamentária anual; Apreciar, após o recebimento das informações encaminhadas pelo Tribunal de Contas da União para o período respectivo, e em relatório único, os Relatórios de Gestão Fiscal previstos no art. 54 da Lei Complementar nº 101, de 2000; Analisar as informações encaminhadas pelo Tribunal de Contas da União acerca da execução orçamentária e financeira, bem como do acompanhamento decorrente do disposto no inciso I do art. 59 da Lei Complementar nº 101, de 2000; Analisar as demais informações encaminhadas pelo Tribunal de Contas da União, exceto as relativas a obras e serviços com indícios de irregularidades e as relativas à receita. Já ao Comitê de Avaliação da Receita, nos termos do art. 23 da Res. 01/2003-CN, cabe: Acompanhar a evolução da arrecadação das receitas; Analisar a estimativa das receitas constantes dos projetos de lei do plano plurianual e da lei orçamentária anual; Analisar as informações encaminhadas pelo Tribunal de Contas da União concernentes à arrecadação e à renúncia de receitas. Quanto ao Comitê de Avaliação das Informações sobre Obras e Serviços com Indícios de Irregularidades Graves, nos termos do art. 24 da Res. 01/2006-CN, são atribuídas as seguintes tarefas: Propor a atualização das informações relativas a obras e serviços em que foram identificados indícios de irregularidades graves e relacionados em anexo à lei orçamentária anual; Apresentar propostas para o aperfeiçoamento dos procedimentos e sistemáticas relacionadas com o controle externo das obras e serviços; Apresentar relatório quadrimestral sobre as atividades realizadas pela CMO no período, referentes à fiscalização de obras e serviços suspensos e autorizados por determinação do Congresso Nacional, assim como das razões das medidas; Exercer as demais atribuições de competência da CMO, no âmbito da fiscalização e controle da execução de obras e serviços; Subsidiar os Relatores no aperfeiçoamento da sistemática de alocação de recursos, por ocasião da apreciação de projetos de lei de natureza orçamentária e suas alterações. Veja o Relatório do COI referente ao PLOA 2023. Clique aqui. (https://www.camara.gov.br/internet/comissao/index/mista/orca/comites/ 2022/COI/LOA/Relatorio_COI_2.pdf) Fonte: Câmara dos Deputados/Atividade Legislativa Em relação ao Comitê de Admissibilidade de Emendas, nos termos do art. 25 da Res. 01/2006-CN, compete propor a inadmissibilidade das emendas apresentadas, inclusive as de Relator, aos projetos de lei orçamentária anual, de diretrizes orçamentárias e do plano plurianual. Veja um exemplo de relatório produzido pelo Comitê de Admissibilidade de Emendas. Clique aqui. (http://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/comites/2 022/cae/loa/Parecer_Rel_Admiss.pdf) Fonte: Câmara dos Deputados/Atividade Legislativa Os relatórios dos projetos de lei orçamentária anual, de diretrizes orçamentárias e do plano plurianual não poderão ser votados pela CMO http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75547/Relat%C3%B3rio%20do%20Comit%C3%AA%20de%20Admissibilidade%20de%20Emendas.pdfsem votação prévia do relatório do Comitê de Admissibilidade de Emendas, salvo deliberação em contrário do Plenário da CMO. (Parágrafo único do art. 25 da Res. 01/2006-CN) Diretrizes gerais de apreciação das matérias orçamentárias Na falta de disposições específicas, aplicam-se, no que couber, às demais proposições de competência da CMO, as disposições relativas ao projeto de lei orçamentária anual. Consoante o art. 127 da Res. 01/2006-CN, o Relator que, no prazo regimental, não apresentar o seu relatório, será substituído, não podendo mais ser designado Relator na mesma sessão legislativa. Nesse caso, o Presidente designará novo relator, salvo no caso de relator setorial do projeto de lei orçamentária, hipótese em que a programação orçamentária da respectiva área temática e as emendas a ela apresentadas serão apreciadas exclusivamente pelo Relator-Geral. A apreciação dos relatórios somente poderá ocorrer três dias úteis após a sua distribuição, nos casos do relatório do Relator-Geral do projeto de lei orçamentária anual, do relatório do projeto de lei de diretrizes orçamentárias e do relatório do projeto de lei do plano plurianual, e dois dias úteis nos casos das demais proposições, salvo se a CMO dispensar esse último prazo por deliberação da maioria absoluta de seus membros. Na discussão das matérias de competência da CMO serão observadas as seguintes normas, consoante o art. 130 da Res. 01/2006-CN: Cada parlamentar inscrito somente poderá usar a palavra por cinco minutos; Nenhum membro da CMO poderá falar mais de cinco minutos sobre emenda, salvo o Relator, que poderá falar por último, por dez minutos; No esclarecimento à CMO, de emenda de sua autoria, o parlamentar poderá falar por, no máximo, três minutos; Não será concedida vista de relatório, parecer, projeto ou emenda. As votações da CMO iniciar-se-ão pelos representantes da Câmara dos Deputados, sendo que o voto contrário da maioria dos representantes de uma das Casas importará em rejeição da matéria. O parecer da CMO sobre emenda será conclusivo e final, salvo requerimento para que a emenda seja submetida a votos, assinado por 1/10 (um décimo) dos congressistas, apresentado à Mesa do Congresso Nacional até o dia anterior ao estabelecido para a discussão da matéria no Plenário do Congresso Nacional. O relatório aprovado em definitivo pela CMO constitui o Parecer da CMO. (Art. 133 da Res. 01/2006-CN) Vale destacar que o art. 152 da Res. 01/2006-CN determina que o projeto de lei aprovado e enviado em autógrafo para sanção do Presidente da República não poderá ser motivo de alteração, ressalvado o caso de correção de erro material, verificado exclusivamente no processamento das proposições apresentadas, formalmente autorizado pela CMO, por proposta de seu Presidente, justificando-se cada caso. Tal alteração observará as normas específicas dispostas na lei de diretrizes orçamentárias. Dessa forma, sendo encontrado erro material no processamento de matérias de competência da CMO, poderá ser elaborada uma errata, devidamente justificada, ao Poder Executivo, com as correções a serem feitas. Verificação de Presença e de Votação Os trabalhos da CMO somente serão iniciados com a presença mínima de um sexto de sua composição em cada Casa. Ou seja, são necessários cinco deputados e dois senadores para iniciar os trabalhos da comissão (art. 134 da Res. 1/2006-CN). Se, no curso da reunião, for verificada a presença de Senadores ou Deputados em número inferior ao mínimo, o Presidente suspenderá ou encerrará a reunião por iniciativa própria ou por provocação de qualquer parlamentar. Se durante sessão do Congresso Nacional que estiver apreciando matéria orçamentária, verificar-se a presença de Senadores e Deputados em número inferior a um sexto dos parlamentares em cada casa, o Presidente da Mesa encerrará os trabalhos por iniciativa própria ou por provocação de qualquer parlamentar, apoiado por no mínimo um vigésimo dos membros da respectiva Casa, ou por Líderes que os representem. (Art. 135 da Res. 1/2006-CN) No plenário da CMO, proclamado o resultado da votação em cada Casa, poderá ser solicitada a sua verificação, a pedido de qualquer parlamentar, apoiado por no mínimo um décimo dos membros da respectiva Casa na CMO ou por Líderes que os representem. Procedida a verificação de votação, e havendo número legal, não será permitido novo pedido de verificação de quórum por parte de membros da mesma Casa, antes do decurso de uma hora. Também no plenário do Congresso Nacional, quando em apreciação matéria orçamentária, proclamado o resultado da votação em cada Casa, poderá ser solicitada a sua verificação, a pedido de qualquer parlamentar, apoiado por no mínimo um vigésimo dos membros da respectiva Casa ou por Líderes que os representem. (Arts. 136 e 137 da Res. 01/2006-CN) Destaques No âmbito da CMO, poderão, nos termos do art. 138 da Res. 1/2006-CN, ser apresentados destaques a requerimento de: Membro da CMO; Coordenador de Bancada Estadual ou membro da CMO por ele autorizado; Presidente de Comissão Permanente da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal ou membro de Comissão autorizado pelo respectivo presidente. Recurso utilizado para votar separadamente parte da proposição submetida ao exame dos parlamentares, retirada especificamente para esse fim. Essa parte da proposição a ser votada só integrará o texto da matéria depois de aprovada na chamada votação em separado. Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo#D No caso de destaque referente a emenda coletiva, a ausência do autor não prejudicará a votação do destaque apresentado. Ressalte-se que tal tipo de destaque somente poderá ser apresentado pelo Presidente da Comissão ou pelo coordenador da bancada responsável pela emenda, bem como por membro da CMO devidamente autorizado. O art. 139 da Res. Nº 01/2006-CN restringe a apresentação de destaques: Ao projeto de lei, para restabelecimento de dispositivo ou parte de dispositivo suprimido; Ao substitutivo, para supressão de dispositivo ou parte de dispositivo; À emenda ao projeto de lei, para incluir dispositivo, por meio de aprovação de emenda com voto do Relator pela rejeição ou aprovação parcial; À emenda ao projeto de lei, para excluir dispositivo, por meio de rejeição de emenda com voto do Relator pela aprovação ou aprovação parcial. Não será admitido o destaque de parte de emenda apresentada. (§ 1º do art. 139 da Res. 01/2006-CN) Veja os modelos de destaques utilizados pela CMO. Disposições gerais sobre emendas (arts. 140 a 147 da Res. 1/2006-CN) Somente serão consideradas as emendas propostas por parlamentar que estiver no exercício do mandato no dia do encerramento do prazo de apresentação de emendas. https://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo#D http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-mistas/cmo/formularios/formulario-destaques-loa/copy2_of_formularios.html http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-mistas/cmo/formularios/formulario-destaques-loa/copy2_of_formularios.html Não são computadas nos limites de apresentação de emendas impostos a comissões, bancadas estaduais e parlamentares (vide arts. 44, § 1º, 47, § 1º e 49, caput), as emendas exclusivamente destinadas à receita, ao texto da lei, ao cancelamento parcial ou total de dotação, à renúncia de receitas e aos relatórios preliminares. Toda modificação feita pelos Relatores nos projetos de lei em tramitação na CMO dependerá da apresentação e publicação da respectiva emenda. Ressalte-se que os Relatores somente poderão apresentar emendas à programação da despesa com a finalidade de: Corrigir erros e omissões de ordem técnica oulegal; Recompor, total ou parcialmente, dotações canceladas, limitada a recomposição ao montante originalmente proposto no projeto; Atender às especificações dos Pareceres Preliminares. É vedada a apresentação de emendas de relator que tenham por objetivo a inclusão de programação nova, bem como o acréscimo de valores a programações constantes dos projetos, ressalvadas aquelas destinadas a corrigir erros e omissões de ordem técnica ou legal ou autorizadas nos Pareceres Preliminares. (Art. 144, Parágrafo único, da Res. 01/2006-CN) Sobre emenda de relator, a Ministra Rosa Weber, no julgamento das ADPFs 850, 851, 854 e 1.014, firmou o seguinte entendimento, aprovado por maioria do STF: a) declarar incompatíveis com a ordem constitucional brasileira as práticas orçamentárias viabilizadoras do chamado “esquema do orçamento secreto”, consistentes no uso indevido das emendas do Relator-Geral do orçamento para efeito de inclusão de novas despesas públicas ou programações no projeto de lei orçamentária anual da União; b) declarar a inconstitucionalidade material do art. 4º do Ato Conjunto das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal nº 1/2021 e do inteiro teor da Resolução CN nº 2/2021; c) conferir interpretação conforme às leis orçamentárias anuais de 2021 (Lei nº 14.144/2021) e de 2022 (Lei nº 14.303/2022), vedando a utilização das despesas classificadas sob o indicador orçamentário RP 9 para o propósito de atender a solicitações de despesas e indicações de beneficiários realizadas por Deputados Federais, Senadores da República, Relatores da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e quaisquer “usuários externos” não vinculados aos órgãos da Administração Pública Federal, independentemente de tal requisição ter sido formulada pelos sistemas formais ou por vias informais (cabendo, ainda, aos Ministros de Estado titulares das pastas beneficiadas com recursos consignados sob a rubrica RP 9 orientarem a execução desses montantes em conformidade com os programas e projetos existentes nas respectivas áreas, afastado o caráter vinculante das indicações formuladas pelo relator-geral do orçamento, nos moldes do art. 2º, § 1º, do Decreto nº 10.888/2021); d) determinar, a todas as unidades orçamentárias e órgãos da Administração Pública em geral que realizaram o empenho, liquidação e pagamento de despesas classificadas sob o indicador orçamentário RP 9, nos exercícios financeiros de 2020 a 2022, a publicação dos dados referentes aos serviços, obras e compras realizadas com tais verbas públicas, assim como a identificação dos respectivos solicitadores e beneficiários, de modo acessível, claro e fidedigno, no prazo de 90 (noventa) dias. A emenda à proposição em tramitação na CMO que contrariar norma constitucional, legal ou regimental, será inadmitida, pelo Presidente ou pelo Comitê de Admissibilidade de Emendas (no caso dos projetos de lei orçamentária anual, de diretrizes orçamentárias e do plano plurianual). Quando não se tratar deste último caso, o Relator indicará em seu relatório, em demonstrativo específico, as emendas que, em seu entendimento, devem ser declaradas inadmitidas pelo Presidente, que o fará imediatamente antes do início da discussão do correspondente relatório. Contestação (art. 148 da Res. 01/2006-CN) O membro da CMO poderá apresentar ao Presidente, com o apoiamento de dez por cento dos membros da respectiva Casa na CMO, contestação relativa à estimativa de receita, à fixação da despesa, à admissibilidade de emenda ou a dispositivo do texto relativo aos projetos de lei orçamentária anual e seus créditos adicionais, de lei de diretrizes orçamentárias e de lei do plano plurianual e suas revisões. A contestação versará exclusivamente sobre o descumprimento de normas constitucionais, legais ou regimentais pertinentes à matéria questionada, devendo ser indicados os dispositivos infringidos, apresentada fundamentação circunstanciada e sugeridas medidas saneadoras. Deverá ser apresentada por escrito, até o final da discussão, e será apreciada preliminarmente à votação da matéria à qual se refere. A contestação apresentada em desacordo com as normas da Resolução nº 1/2006-CN, ou que tenha por objeto matéria já apreciada pela Comissão, será liminarmente indeferida pelo Presidente da CMO. Com este item, terminamos nossa apresentação dos conceitos gerais aplicáveis a todas as leis orçamentárias, previstos na Resolução nº 1/2006- CN. Na nossa próxima unidade, estudaremos as disposições da citada resolução que são aplicáveis à tramitação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias. Unidade 4 – A Tramitação do Projeto de Lei do Plano Plurianual Ao chegar ao Congresso Nacional, a análise do projeto de Lei do Plano Plurianual será designada a um único relator. Ou seja, não haverá, como ocorre com a LOA, a divisão da relatoria em áreas temáticas. Tal qual ocorre com o projeto de LOA, também é admitida a alteração do projeto de PPA por meio de solicitação do Presidente da República. Nesse caso, o prazo limite para tal solicitação ser recebida é a votação do relatório preliminar na CMO (art. 95 da Res. 1/2006-CN). Conforme o art. 97 da Res. 01/2006-CN, o projeto de lei do plano plurianual, ou o projeto que o revise, poderá receber emendas de parlamentares, de Comissão e de Bancada Estadual, observadas, no que couber, as regras aplicadas a esses autores para a apresentação de emendas ao projeto de LOA. As Comissões Permanentes do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados e as bancadas estaduais do Congresso Nacional podem apresentar até cinco emendas ao projeto de PPA, enquanto os parlamentares, individualmente, podem apresentar até dez emendas. As regras para a apreciação das emendas ao Projeto de PPA e aos projetos de lei que o revisem estarão previstas em parecer preliminar aprovado na CMO. Em regra, aplicam-se, nos termos do art. 100 da Res. 1/2006-CN, às emendas às ações orçamentárias do plano plurianual, quando existentes, as mesmas disposições relativas às emendas à despesa do projeto de lei orçamentária anual. Poderá ser constituído um comitê para apoio ao Relator com o mínimo de três e o máximo de dez integrantes, indicados pelo próprio Relator do PPA. A designação dos membros e do coordenador do comitê obedecerá ao critério da proporcionalidade partidária e ao da proporcionalidade dos membros de cada Casa na CMO. (Art. 101 da Res. 1/2006-CN) Como já referido, para se iniciar a apreciação do projeto de PPA, é necessário antes que se aprovem normas a serem seguidas na tramitação da matéria. Essas normas serão as constantes do parecer preliminar, que será originado de proposta, apresentada pelo relator do projeto de PPA, denominado de relatório preliminar. Tais documentos deverão conter: Condições, restrições e limites que deverão ser obedecidos pelo Relator, no remanejamento e no cancelamento de valores financeiros constantes do projeto; Critérios que serão adotados na distribuição, entre os programas ou órgãos responsáveis por programas, dos eventuais recursos adicionais decorrentes da reestimativa das receitas; Orientações específicas referentes à apresentação e apreciação de emendas, inclusive as de Relator; Orientações específicas referentes à estrutura e ao conteúdo do relatório do Relator. Veja exemplos de relatório preliminar e parecer preliminar nos links: Relatório preliminar Parecer preliminar Fonte: Câmara dos Deputados / Início / Orçamento da União / Leis orçamentárias / LOA - Lei Orçamentária Anual / 2023 / Tramitação Vale destacar que o relatório preliminar receberá emendas por parte dos parlamentares e das Comissões Permanentes das duas Casas do Congresso Nacional. Após aprovado pelo plenário da CMO, será denominado de parecer preliminar.Entenda a diferença Relatório preliminar: relatório apresentado pelos relatores do PLPPA e do PLDO e ainda pelo relator-geral do PLOA que estabelece os parâmetros e critérios a serem observados pelos relatores e autores de emendas na tramitação dessas propostas orçamentárias (PLOA, PLDO e PLPPA). Ao ser aprovado, transforma-se em parecer preliminar. http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75530/Relat%C3%B3rio%20Preliminar%20PL%20Plano%20Plurianual%2020122015.pdf https://www.camara.gov.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2023/parpre/Parecer.pdf Parecer preliminar: matéria aprovada pela CMO com base no relatório preliminar, contendo as alterações decorrentes de emendas. É o documento que contém as normas que deverão ser observadas pela comissão na apreciação da matéria orçamentária. Após a aprovação do parecer preliminar, é aberto o prazo de emendas ao projeto de PPA. De posse de tais emendas, o relator fará sua análise e apresentará o seu relatório, com uma proposta de PPA a ser apreciada pela CMO. Esse relatório, nos termos dos arts. 103 e 104 da Res. 1/2006-CN, deverá conter: Análise do atendimento das normas constitucionais e legais; Exame crítico e prospectivo da conjuntura econômica e da consistência fiscal do período de aplicação do plano; Avaliação das fontes de financiamento, com ênfase nas estimativas de receita dos Orçamentos da União; Avaliação das diretrizes e dos objetivos do plano; Demonstrativos dos pareceres às emendas, por autor e número de emenda; Análise da programação; Critérios e parâmetros utilizados para o acolhimento de emendas; Demonstrativos dos acréscimos e cancelamentos efetuados na programação; Os relatórios dos comitês de apoio ao relator, de admissibilidade de emendas e de avaliação da receita. Veja o relatório apresentado pelo relator do PPA 2020-2023. Fonte: Câmara dos Deputados / Atividade Legislativa / Comissões / Comissão Mista Após aprovado na CMO, agora denominado parecer da CMO, o projeto de PPA será encaminhado ao Plenário do Congresso Nacional para votação. Após aprovação, são gerados os autógrafos, os quais são encaminhados ao Presidente da República para sanção. http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75558/Relat%C3%B3rio%20Relator%20PPA%202012-2015.pdf Vale ainda mencionar os prazos previstos no art. 105 da Res. 01/2006-CN, para a tramitação do projeto de PPA. Deve-se lembrar de que a Resolução estabelece prazos máximos, os quais poderão ser reduzidos em função de atrasos que ocorram nas fases anteriores. São os seguintes os prazos previstos no referido normativo: 5 (cinco) dias para a publicação e distribuição em avulsos, a partir do recebimento do projeto; 14 (quatorze) dias para a realização de audiências públicas, a partir do término do prazo para a publicação e distribuição de avulsos; 10 (dez) dias para apresentação, publicação e distribuição do Relatório Preliminar, a partir do término do prazo para a publicação e distribuição de avulsos; 3 (três) dias para a apresentação de emendas ao Relatório Preliminar, a partir da apresentação deste; 6 (seis) dias para votação do Relatório Preliminar e suas emendas, a partir do término do prazo para apresentação de emendas; 10 (dez) dias para a apresentação de emendas ao projeto de PPA, a partir da aprovação do Relatório Preliminar; 5 (cinco) dias para publicação e distribuição de avulsos das emendas, a partir do término do prazo de emendas; 21 (vinte e um) dias para a apresentação, publicação, distribuição e votação do relatório, a partir da publicação e distribuição de avulsos; 7 (sete) dias para encaminhamento do parecer da CMO à Mesa do Congresso Nacional, a partir de sua aprovação. Veja no link, um cronograma elaborado pela CMO, com a estipulação de datas de acordo com os prazos fixados na Res. 01/2006-CN. Por fim, apresentamos um resumo com as fases da análise do projeto de PPA no âmbito do Congresso Nacional. Na próxima unidade, estudaremos o processo legislativo referente à Lei de diretrizes orçamentárias. https://www.camara.gov.br/internet/comissao/index/mista/orca/ppa/ppa_2020_2023/cronograma/crono_v2.pdf http://saberes.senado.leg.br/pluginfile.php/1104195/mod_book/chapter/75533/Cronograma%20CMO%202012-2015.pdf Plano Plurianual - Tramitação Chegada ao CN – até 31/08 Envio à CMO Audiências Públicas Relatório Preliminar: Apresentação, Emendamento e Votação Emendas ao Projeto Apresentação do Relatório Discussão e Votação na CMO Votação do Parecer da CMO no Plenário do CN Geração do Autógrafo Encaminhamento do Autógrafo ao Executivo Unidade 5 – A Tramitação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias Lei de Diretrizes Orçamentárias Após vermos na unidade anterior a tramitação do Plano Plurianual, vamos agora passar à análise da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Já sabemos que, nos termos do art. 35, § 2º, do ADCT, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. Ou seja, o projeto deverá chegar ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano. Se não for aprovada até o final da sessão legislativa (17 de julho), o Congresso Nacional não poderá entrar de recesso (art. 57, § 2º, da CF). Veja o Projeto de Lei da LDO para 2023. A proposta de modificação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias enviada pelo Presidente da República ao Congresso Nacional nos termos do art. 166, § 5º, da Constituição, somente será apreciada se recebida até o início da votação do Relatório Preliminar na CMO. Assim como no caso das demais leis orçamentárias, na LDO também haverá a apresentação de um Relatório Preliminar pelo relator designado. No entanto, antes disso, a Res. 1/2006-CN, no seu art. 84, exige que, para discussão do projeto, seja realizada audiência pública com o Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão. O Relatório Preliminar conterá a avaliação do cenário econômico-fiscal e social do projeto, dos parâmetros que foram utilizados para a sua elaboração e das informações constantes de seus anexos. Deverá, ainda, conter quanto ao Anexo de Metas e Prioridades: As condições, restrições e limites que deverão ser obedecidos, pelo Relator, no cancelamento das metas constantes do anexo; http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/ldo/ldo2015/ldo-2015-tramitacao-no-congresso-nacional-ciclos/Projeto.html https://www.congressonacional.leg.br/materias/pesquisa/-/materia/152731 http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/orcamentobrasil/ldo/ldo2015/ldo-2015-tramitacao-no-congresso-nacional-ciclos/Projeto.html Os critérios que serão utilizados pelo Relator para o acolhimento das emendas; Demonstrativo contendo os custos unitários estimados das ações nele constantes; Disposições sobre apresentação e apreciação de emendas individuais e coletivas. Ao Relatório Preliminar poderão ser apresentadas emendas, por parlamentares e pelas Comissões Permanentes das duas Casas do Congresso Nacional. Após aprovado pelo plenário da CMO, passa a se denominar Parecer Preliminar. O texto do projeto de lei da LDO pode ser emendado por parlamentares ou bancadas/comissões sem limite numérico. A Resolução nº 1/2006-CN apenas limita as emendas referentes ao anexo de metas e prioridades (art. 87). Quanto a essa parte do projeto, poderão ser apresentadas emendas observados os seguintes limites: Até cinco emendas para as Comissões Permanentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados; Até cinco emendas para as Bancadas Estaduais do Congresso Nacional; Até cinco emendas para cada parlamentar. Vale destacar que as emendas de bancadas e comissões devem observar os mesmos requisitos das emendas apresentadas ao projeto de lei orçamentária anual, previstos nos arts. 44 e 47 da Res. 1/2006CN. Aplicam-se também, no que couber, às emendas do Anexo de Metas e Prioridades, as disposições relativas às emendas à despesa do projeto de lei orçamentária anual. O art. 89 da Res. 01/2006-CN esclarece que a aprovação de emenda ao Anexo de Metas e Prioridades da LDO não dispensa a exigência de apresentação da emenda correspondente ao projeto de lei orçamentária. Por sua vez, o art. 90 da citada Resolução determina que sejam inadmitidas as emendas que proponham a inclusão de ações não constantes da lei do plano plurianual, com o intuito de manter a compatibilidade entre as leis orçamentárias. Vale ainda mencionar os prazos previstos no art. 92 da Res. 01/2006-CN para a tramitação do projeto de LDO. Deve-se lembrar de que a Resolução estabelece prazos máximos, os quais poderão ser reduzidos em função de atrasos que ocorram nas fases anteriores. São os seguintes os prazos previstos no referido normativo: 5 (cinco) dias para publicação e distribuição em avulsos, a partir do recebimento do projeto; 7 (sete) dias para a realização de audiências públicas, a partir da publicação e distribuição em avulsos; 17 (dezessete) dias para apresentação, publicação e distribuição do Relatório Preliminar, a partir do término do prazo para publicação e distribuição em avulsos; 3 (três) dias para a apresentação de emendas ao Relatório Preliminar, a partir de sua entrega à Comissão; 6 (seis) dias para votação do Relatório Preliminar e suas emendas, a partir do término do prazo de apresentação de emendas a este relatório; 10 (dez) dias para a apresentação de emendas ao projeto de PPA, a partir da aprovação do parecer preliminar; 5 (cinco) dias para a publicação e distribuição de avulsos das emendas, a partir do término do prazo para apresentação destas; 35 (trinta e cinco) dias para apresentação, publicação, distribuição e votação do relatório, a partir do término do prazo para apresentação de emendas ao projeto de PPA; 5 (cinco) dias para o encaminhamento do parecer da CMO à Mesa do Congresso Nacional, a partir de sua aprovação pelo Plenário da Comissão. Por fim, apresentamos um resumo com as fases da análise do projeto de LDO no âmbito do Congresso Nacional. No próximo módulo, estudaremos o processo legislativo referente à Lei Orçamentária Anual. PLDO - Tramitação Chegada ao CN – até 15/04 Envio à CMO Audiências Públicas Relatório Preliminar: Apresentação, Emendamento e Votação Emendas ao Projeto Apresentação do Relatório Discussão e Votação na CMO Votação do Parecer da CMO no Plenário do CN Geração do Autógrafo Encaminhamento do Autógrafo ao Executivo Unidade 6 – A Tramitação do Projeto de Lei Orçamentária Anual e seus Créditos Adicionais Uma vez vistos os principais aspectos da tramitação dos projetos de PPA e de LDO no âmbito do Poder Legislativo Federal, vamos estudar, em seguida, em detalhes, os procedimentos afetos à tramitação do projeto de lei orçamentária (PLOA) no Congresso Nacional. Para tanto, é fundamental continuarmos explorando o diploma normativo que dispõe sobre essa matéria, a Resolução nº 1/2006, do Congresso Nacional. Boa parte dos dispositivos da Resolução mencionada regulam os ritos específicos aplicáveis ao PLOA. Com efeito, seu Capítulo V, que abrange os arts. 26 a 82, trata do Projeto de Lei Orçamentária Anual. Vamos lá! As principais etapas de tramitação do PLOA podem ser sintetizadas pelo seguinte quadro: 1. Encaminhamento do PLOA ao Congresso Nacional até 31 de agosto de cada ano. 2. Realização de audiências públicas para debate do Projeto. 3. Elaboração e aprovação do Relatório da Receita, a partir do recebimento das emendas à receita. 4. Elaboração e aprovação do Relatório Preliminar (incluindo fase de apresentação de emendas a esse Relatório). 5. Apresentação de emendas à despesa e ao texto do PLOA. 6. Análise de admissibilidade das emendas à despesa / Elaboração e aprovação dos relatórios setoriais. 7. Elaboração e aprovação do relatório geral. 8. Aprovação do Parecer a Comissão Mista de Orçamentos no Plenário do Congresso Nacional. Após a chegada da proposta orçamentária ao Congresso Nacional (lembremos, até 31 de agosto de cada ano), segue-se uma primeira fase em que está prevista a realização de audiências públicas para divulgação, discussão e coleta de sugestões da sociedade civil. De forma praticamente concomitante às audiências públicas, inicia-se a fase de exame da receita orçamentária. Vale ressaltar que uma das alterações estruturais mais importantes levadas a cabo pela Resolução nº 1/2006-CN foi a criação da figura da relatoria da receita. Até então, o relator-geral do projeto de lei orçamentária concentrava a prerrogativa de análise da despesa e da receita do projeto. Sob a égide da Resolução de 2006, a tarefa de avaliação da receita foi imputada a um parlamentar distinto. A modificação teve por intuito, a par de desconcentrar o poder decisório, reduzir as pressões por acréscimos da receita para atendimento das demandas de gasto por parte do conjunto de parlamentares. Quem procede o ajuste da alocação das despesas (relator-geral) não é mais quem define o conjunto de receitas apropriáveis (relator da receita). Antes da elaboração do relatório da receita, é aberto um prazo de até 15 dias para que os parlamentares apresentem emendas à receita. Transcorrido o prazo regimental, o relator da receita realiza seus estudos e elabora um relatório, apresentando-o à CMO. Segue então um estágio de discussão e finalmente aprovação desse relatório. A partir daí, tem-se por fixado um montante definido de receita, possibilitando a avaliação dos itens de despesa. Ressalte-se que, após a fase das relatorias setoriais, que estudaremos mais à frente, existe a possibilidade de atualização da receita, a teor do art. 30, § 2º, da Resolução. Essa faculdade pode ser exercida pelo relator da receita, tendo em vista eventual revisão dos parâmetros macroeconômicos e da legislação tributária, com base em avaliação do Comitê de Avaliação da Receita. Para ilustrar Na prática federal, os parlamentares têm dedicado pouca atenção à possibilidade de emendar a receita, principalmente depois da promulgação da EC 95/2016 (Teto de gastos). O normal é termos não mais que uma dezena de emendas à receita a cada ano. Para que se tenha uma noção, na tramitação do PLOA 2023 foram apresentadas apenas 6 emendas à receita. Veja o relatório e as emendas neste link. Atenção Vamos aproveitar o ensejo para relembrar um aspecto essencial da classificação da receita e da despesa pública, a saber, o relevante papel cumprido pela classificação por fonte de recursos, que faz o elo entre a receita e a despesa? A partir dos valores reestimados por natureza de receita, constantes do relatório da receita aprovado pela CMO, chega-se aos valores reestimados por fonte de recursos. O quadro da reestimativa por fonte de recursos já indica as possíveis alocações derivadas da reestimativa de receita aprovada, ao direcionar os recursos gerados para determinadas aplicações previstas na legislação vigente. Esse quadro por fonte de recursos é o ponto de partida para os futuros debates do lado da despesa, porquanto estão fixadas as disponibilidades de recursos a serem distribuídas ao sabor dos embates políticos. Parecer Preliminar e Fase de Apresentação de Emendas Vencida a etapa da avaliação da receita, segue-se a fase de elaboração, discussão e aprovação do relatóriopreliminar, que se transforma em parecer preliminar uma vez aprovado na CMO. O Parecer Preliminar é um documento elaborado pelo relator geral que ganhou importância após o advento da Resolução nº 1/2006, que o disciplina em seus arts. 51 a 55 (veja o parecer preliminar do PLOA 2023 neste link). https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/leis-orcamentarias/loa/2023/tramitacao/parecer-da-receita https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/leis-orcamentarias/loa/2023/tramitacao/parecer-preliminar O parecer preliminar é composto por duas partes: Geral, com conteúdo analítico acerca da proposta orçamentária; e Especial, de cunho normativo, definindo as regras a serem atendidas em relação ao emendamento, distribuição de recursos, atuação das relatorias etc. Trata-se da parte mais importante da peça, sendo objeto de arraigados debates políticos no âmbito da CMO. Da Parte Especial do Relatório Preliminar, constam, dentre outros regramentos: – Critérios para cancelamento de dotações da proposta orçamentária, por grupo de natureza de despesa (GND) e indicador de resultado primário (RP), aplicáveis a cada relatoria (setorial e geral); – Valor máximo de emendas individuais por mandato parlamentar. As origens da reserva de recursos são o produto da reestimativa da receita, já aprovada em fase anterior na CMO, a reserva de contingência e outros cancelamentos eventualmente previstos no parecer preliminar. Porém, com a promulgação da EC 95/2016, a proposta tem vindo do Executivo ajustada em relação ao limite, ou seja, eventuais reestimativas de receita não podem ser utilizadas na alocação de emendas parlamentares. A reserva de contingência para formação da reserva de recursos corresponde à diferença entre o percentual da receita corrente líquida exigido na LDO para o projeto de lei orçamentária e para a própria lei orçamentária. Normalmente, por determinação da LDO, o Projeto de Lei Orçamentária reserva recursos para serem utilizados no atendimento de emendas parlamentares à despesa, conforme podemos verificar no § 5º do art. 13 da LDO 2023: (LDO 2023 – art. 13) § 5º O Projeto de Lei Orçamentária de 2023 conterá reservas específicas para atender a: I - Emendas individuais, em montante correspondente ao previsto no art. 111 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; II - Emendas de bancada estadual de execução obrigatória, em montante correspondente ao previsto no art. 3º da Emenda Constitucional nº 100, de 2019; e III - Emendas classificadas com identificador de resultado primário 9 (RP9), no montante resultante da soma das reservas previstas nos incisos I e II. Para entendimento do histórico e do desenrolar das emendas de relator (RP 9) é fundamental a leitura da Nota Técnica 151/2022 da Consultoria de Orçamentos do Senado Federal, de autoria do consultor Aritan Borges Ávila Maia, disponível neste link. Esse documento resgata o histórico e traz informações importantes sobre o caráter e abrangência de cada tipo de emenda parlamentar no orçamento público federal. Formada a reserva de recursos, esse conjunto monetário tem a seguinte destinação, de acordo com o disposto no art. 57 da Resolução: Reserva de Recursos 25% para as bancadas estaduais (50% distribuídos de acordo com os critérios do Fundo de Participação dos Estados, 40% pela média do atendimento histórico das bancadas nos últimos 3 anos e 10% segundo a população residente). 55% para alocação pelas relatorias setoriais (como será visto à frente, são 10 relatorias, sendo 4 a cargo de senadores). 20% para alocação pela relatoria geral, sendo que deve ser assegurado que ao menos 15% da reserva de recursos seja destinada a emendas de comissão. Ou seja, no parecer preliminar já se definem as grandes alocações dos recursos disponíveis, bem como quanto cada relatoria disporá para realizar seu trabalho de análise e apropriação de recursos às emendas a serem apresentadas. A distribuição de recursos entre as 16 relatorias setoriais é https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-estudos/notas-tecnicas-e-informativos/nota-tecnica-151-2022-historico-dos-dispositivos-relacionados-ao-identificador-de-resultado-primario-rp-9-como-classificador-das-emendas-de-relator-geral efetuada de forma proporcional ao número de emendas coletivas direcionadas para cada área temática. Para ilustrar! A fim de tornar possível um estudo de caso, vamos trazer a discussão uma situação real, ocorrida no processo orçamentário federal para o exercício de 2023. O parecer preliminar estabeleceu a seguinte divisão dos recursos existentes (em seu Anexo II): ANEXO II – DEMONSTRATIVO DA RESERVA DE RECURSOS Arts. 56 e 57 da Resolução nº 1, de 2006-CN R$ 1,00 1. RESERVA DE RECURSOS 41.493.234.064 1.1. Reserva de contingência 38.793.234.064 1.2. Aumento da estimativa da receita 1.200.000.000 1.3. Cancelamento prévio 1.500.000.000 2. DEDUÇÕES 39.993.234.064 2.1. Emendas individuais 11.704.708.740 2.2. Emendas de bancada impositivas 7.691.908.292 2.3. Apropriação do aumento da estimativa da receita em despesas não sujeitas aos limites estabelecidos no art. 107 do ADCT (teto de gastos) e reserva financeira * 1.200.000.000 2.4. Emendas do relator-geral apresentadas nos termos do item 12 deste Parecer Preliminar 19.396.617.032 3. SALDO PARA DISTRIBUIÇÃO 1.500.000.000 3.1. Relatores Setoriais (55%) 825.000.000 3.2. Bancadas Estaduais (25%) 375.000.000 3.3. Relator-Geral (20%) 300.000.000 Atendimento mínimo das comissões (15%) 225.000.000 * Com fulcro no art. 140 da Lei nº 14.436, de 9 de agosto de 2022 – LDO 2023, os recursos poderão ser destinados para atender o disposto no item 11.IV deste Parecer Preliminar Desde a edição da Resolução 3/2015-CN, o período para apresentação de emendas à despesa e à receita, inclusive renúncia de receita, se tornou fixo, de 1º a 20 de outubro. Aprovado o parecer preliminar, tem início a fase setorial, com prazo de 10 dias para apresentação, publicação e distribuição dos relatórios setoriais à despesa e ao texto do projeto de lei. Essa fase de atuação das relatorias setoriais será detalhada em seguida. Fase da Relatoria Setorial A primeira avaliação de mérito das emendas apresentadas à despesa cabe às relatorias setoriais. A Resolução dispõe que o projeto de lei orçamentária é dividido em 16 áreas temáticas, porém, essas áreas foram adaptadas de acordo com a estrutura administrativa do Poder Executivo algumas vezes e, em 2023 deve ser alterada novamente. Resolução nº 3, de 2015 (Alterou de 10 para 16 áreas temáticas): Alterou o art. 26 da Resolução 1/2006-CN, elevando para 16 áreas temáticas. IN nº 1/2019 - CMO (Redefiniu as 16 áreas). Clique aqui. (https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisl a_CMO/Instrucao_Normativa_1_2019.pdf) IN nº 1/2021 - CMO (Ajustou as áreas V e VII). Clique aqui. (https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisl a_CMO/Instrucao_Normativa_1_2021.pdf) IN nº 2/2021 - CMO (Ajustou a área X). Clique aqui. (https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisl a_CMO/Instrucao_Normativa_2_2021.pdf) Considerando as alterações promovidas, as áreas temáticas são, em março/2023: I. Infraestrutura; II. Saúde; https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisla_CMO/Instrucao_Normativa_1_2019.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisla_CMO/Instrucao_Normativa_1_2019.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisla_CMO/Instrucao_Normativa_1_2021.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisla_CMO/Instrucao_Normativa_1_2021.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisla_CMO/Instrucao_Normativa_2_2021.pdf https://www.camara.leg.br/internet/comissao/index/mista/orca/Legisla_CMO/Instrucao_Normativa_2_2021.pdfIII. Desenvolvimento Regional; IV. Educação; V. Cidadania e Esporte; VI. Agricultura; VII. Turismo e Cultura; VIII. Defesa; IX. Justiça e Segurança Pública; X. Economia, Trabalho e Previdência; XI. Ciência & Tecnologia e Comunicações; XII. Meio Ambiente; XIII. Presidência e Relações Exteriores; XIV. Minas e Energia; XV. Poderes; e XVI. Mulheres, Família e Direitos Humanos. Antes, porém, da tarefa a cargo dos relatores setoriais, existe uma etapa de exame de admissibilidade das emendas, realizada pelo Comitê de Admissibilidade de Emendas - CAE. Previsto no art. 25 da Resolução, cabe a esse Comitê propor a inadmissibilidade das emendas apresentadas, inclusive as de relator, aos projetos de lei orçamentária anual, de diretrizes orçamentárias e do plano plurianual. O exame de admissibilidade destina-se a averiguar a adequação das emendas às normas constitucionais, legais e regimentais em vigor. A atuação do CAE, normalmente, vai além da simples análise da admissão de emendas, abrangendo a edição de normas regulamentadoras da Resolução nº 1/2006. O seguinte quadro sintetiza as principais tarefas desincumbidas pelo Comitê: Regulamentação de dispositivos da Resolução Atuação do CAE Análise de admissibilidade de emendas individuais e coletivas, elaborando relatório para CMO Análise de admissibilidade das emendas de relator para CMO Após a aprovação do relatório do CAE na CMO, os relatores setoriais têm condições de analisar as emendas submetidas a sua relatoria, propondo a aprovação das emendas individuais e distribuindo sua cota da reserva de recursos entre as emendas coletivas de sua relatoria. A fim de aumentar os recursos para atender às emendas coletivas, os relatores setoriais podem efetuar cortes em dotações do projeto de lei, usualmente incidentes sobre os GNDs 4 – investimentos e 5 – inversões financeiras. As normas sobre cancelamentos de dotações da proposta orçamentária são definidas pelo parecer preliminar. Na prática, os relatores setoriais dispõem do seguinte conjunto de recursos para o atendimento das emendas coletivas (de bancadas estaduais e de comissões permanentes das duas Casas do Congresso Nacional): 55% da Reserva de Recursos + Cancelamentos efetuados nas dotações do PLOA – GNDs 4 e 5 O seguinte fluxograma sintetiza as etapas a serem cumpridas na fase de trabalho das relatorias setoriais: Admissibilidade das emendas Atendimento das emendas / Cancelamento de dotações do PL Apresentação Relatório Adendos, Erratas, Destaques Votação na CMO Após a apresentação do relatório setorial na CMO, segue-se uma fase em que o relatório ainda pode ser alterado, mediante a figura dos destaques ou, ainda, por adendos e erratas apresentadas pelos próprios relatores. O destaque é uma figura regimental destinada a solicitar a reapreciação de matérias, equivalendo na prática a um recurso. Assim, é prerrogativa de uma bancada estadual que não se sinta bem atendida por um relator setorial em determinada emenda, apresentar um destaque para que o atendimento da emenda destacada seja melhorado. Outra modalidade bastante comum de destaque visa à recomposição de dotações de programações da proposta orçamentária canceladas pelas relatorias. Vale salientar que também cabem destaques na fase subsequente do processo orçamentário, à apreciação do relatório do relator geral. Finalmente, com a votação na Comissão, encerra-se a fase da relatoria setorial, iniciando a etapa final de tramitação na CMO, em que o protagonista é o relator geral. Fase da Relatoria Geral Antes da votação do relatório final da Comissão Mista de Orçamentos, o relator geral debruça-se sobre as peças recebidas da fase setorial e realiza a consolidação do conjunto de gastos federais para o exercício subsequente, entabulando negociações políticas com vistas a gerar um documento palatável para a aprovação do projeto de lei orçamentária. Cumpre ressaltar que, além do exame final sobre as emendas à despesa, é competência do relator geral analisar e propor voto para as denominadas emendas de texto. Essas emendas, cujo número atinge algumas centenas a cada ano, tratam, no mais das vezes, das autorizações para a abertura de créditos suplementares por decreto, presentes no texto do projeto de lei orçamentária, e das autorizações específicas para aumentos de gastos com pessoal, previstas no art. 169, § 1º, II, da Constituição Federal, conteúdo que as leis de diretrizes orçamentárias federais têm delegado para as leis orçamentárias. Em seguida, apresentamos um esquema da origem dos recursos passíveis de serem manejados pela relatoria geral para atendimento das emendas coletivas e eventuais outras necessidades de dispêndio. Ressaltamos que após a promulgação da EC 95/2016 e durante a vigência do teto de gastos, o limite de despesas deve ser obedecido desde a elaboração da LOA até a fase de execução, considerando as dotações autorizadas durante o ano, fora os itens excepcionalizados, como créditos extraordinários: 2ª Reestimativa 20% da Reserva de Recursos – RG 25% da Reserva de Recursos – Bancadas Cancelamentos no custeio da Proposta Orçamentária Até 10% de corte do atendimento das coletivas na fase setorial Já discorremos anteriormente sobre as parcelas da 2ª reestimativa de receita (atualização da receita) e da distribuição de 20% e 25% da reserva de recursos para o relator geral e para as bancadas estaduais, respectivamente. Além dessas origens, o relator geral tem a faculdade de realizar cortes de dotações de custeio da proposta orçamentária (incidentes sobre o GND 3 – outras despesas correntes), em percentual máximo fixado pelo parecer preliminar, e, também, de cancelar até 10% do atendimento das emendas coletivas na fase setorial (art. 66, parágrafo único, da Resolução). Também era nessa etapa do processo que o relator geral elaborava suas emendas de relator, tendo em vista as autorizações previstas no parecer preliminar e a previsão de alocação de dotações em despesas estruturantes. Após decisão do julgamento das ADPFs 850, 851, 854 e 1.014 pelo STF, teremos no PLOA 2024 uma grande alteração do parecer preliminar e da alocação das emendas. Aliás, a EC 126/2022, promulgada após a referida decisão, ampliou de 1,2% da RCL para 2,0% da RCL o limite das emendas individuais, inclusive criando uma distinção entre o valor a ser alocado por deputados e senadores. (CF, Art. 166) § 9º - As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária serão aprovadas no limite de 2% (dois por cento) da receita corrente líquida do exercício anterior ao do encaminhamento do projeto, observado que a metade desse percentual será destinada a ações e serviços públicos de saúde. § 9º-A - Do limite a que se refere o § 9º deste artigo, 1,55% (um inteiro e cinquenta e cinco centésimos por cento) caberá às emendas de Deputados e 0,45% (quarenta e cinco centésimos por cento) às de Senadores. Encerrado esse trabalho, o relatório final é entregue à CMO, seguindo-se sua publicação, discussão e aprovação. Nos termos do art. 128 da Resolução do Congresso Nacional nº 1/2006, a apreciação do relatório final somente poderá ocorrer 3 dias após sua distribuição (publicação). Durante a discussão da matéria, é possível a apresentação de destaques, de forma análoga ao que estudamos para a fase setorial. Com a aprovação do relatório final, nasce o parecer da CMO sobre o projeto de lei do orçamento (consoante o art. 133 da Resolução), que é encaminhado à apreciação do Plenário do Congresso Nacional. O art. 132 da Resolução estabelece que o parecer da CMO sobre emenda é conclusivo e final, salvo requerimento para que a emenda seja submetida a votos, assinada por 1/10 (um décimo)dos congressistas, apresentado à Mesa do Congresso Nacional até o dia anterior ao estabelecido para a discussão da matéria no Plenário do Congresso Nacional. Na prática, após a aprovação do relatório final na CMO e antes do exame definitivo da matéria no Plenário do Congresso Nacional, ainda existe uma etapa de negociações políticas, que se traduzem, muitas vezes, em adendos ao parecer da CMO, votados no Plenário do Congresso. Finalmente, o Plenário vota a matéria, encerrando a fase legislativa do processo orçamentário, sendo gerado o autógrafo para encaminhamento ao Poder Executivo. Síntese Neste momento, terminamos os extensos estudos da tramitação do principal projeto relacionado ao sistema orçamentário brasileiro. Esperamos que todos tenham obtido uma visão abrangente sobre os principais passos a serem seguidos e os principais atores do processo. Vamos, em seguida, tecer algumas considerações sobre a tramitação dos créditos adicionais, instituto que, conforme já vimos, tem por função alterar as despesas autorizadas na lei orçamentária. Tramitação dos Créditos Adicionais Os créditos adicionais, que já estudamos anteriormente, podem ser veiculados no Poder Legislativo por projetos de lei (destinados à abertura de créditos suplementares ou créditos especiais) ou medidas provisórias (para créditos extraordinários). Nos termos do art. 166, § 1º, da Constituição, cabe a uma comissão mista permanente de deputados e senadores examinar e emitir parecer sobre os créditos adicionais. Essa comissão, conforme previsão do Regimento Comum do Congresso Nacional, é a Comissão Mista de Orçamentos – CMO. Tanto os projetos de lei de créditos suplementares e especiais como as medidas provisórias que veiculam créditos extraordinários tramitam pela CMO. Normalmente, as leis de diretrizes orçamentárias federais dispõem que: Cada projeto de lei deve restringir-se a um único tipo de crédito adicional (suplementar ou especial); Os projetos de lei de créditos especiais e suplementares, sempre que possível, devem ser encaminhados segregados pelas áreas temáticas da CMO; O prazo final para encaminhamento dos projetos de lei de créditos pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional é 15 de outubro; após esse prazo, ainda é possível a edição de medidas provisórias (créditos extraordinários). O seguinte fluxograma apresenta as etapas de tramitação dos projetos de lei de créditos adicionais no Congresso Nacional: Chegada ao CN Envio à CMO Emendas ao Projeto Apresentação do Relatório Discussão e Votação na CMO – até 20/11 Votação do Parecer da CMO no Plenário do CN Geração do Autógrafo Encaminhamento do Autógrafo ao Executivo No âmbito da CMO, para a relatoria de cada projeto de lei de crédito adicional é designado, pelo Presidente da Comissão, um deputado federal ou senador. O relator analisa o projeto e as eventuais emendas apresentadas, de modo a concluir seu relatório. Cabe a cada relator o exame da admissibilidade das emendas apresentadas e a proposição de sua inadmissão à Presidência da Comissão, quando pertinente. Para essas matérias, não atua o Comitê de Admissibilidade de Emendas da CMO. O relatório é entregue à Comissão, passando-se às fases de discussão e votação na CMO. Após a aprovação na CMO, o parecer segue para apreciação no Plenário do Congresso Nacional. Nos termos do art. 106 da Resolução nº 1/2006, os projetos somente serão apreciados pela CMO até o dia 20 de novembro de cada ano. Caso não sejam votados até essa data, devem ser enviados diretamente para votação no Plenário do Congresso Nacional (art. 107 da Resolução). No caso das medidas provisórias, o fluxograma é distinto, já que, após o exame pela CMO, a matéria segue para ser apreciada inicialmente pelo Plenário da Câmara dos Deputados e, posteriormente, pelo Plenário do Senado Federal. O diploma normativo que disciplina, atualmente, a tramitação após a apreciação dos créditos extraordinários pela CMO é a Resolução nº 1/2002, do Congresso Nacional. Veja as fases aplicáveis aos créditos extraordinários: Chegada ao CN Envio à CMO Emendas ao Projeto Apresentação do Relatório Discussão e Votação na CMO – até 20/11 Votação do Parecer da CMO no Plenário do CN Geração do Autógrafo Encaminhamento do Autógrafo ao Executivo No que se refere aos requisitos de emendamento dos créditos adicionais, convém também diferenciar os créditos suplementares e especiais dos extraordinários. As emendas à despesa oferecidas aos projetos de lei de créditos suplementares e especiais estão sujeitas aos seguintes normativos: As emendas somente podem contemplar programação em unidade orçamentária beneficiária do crédito; as emendas devem oferecer, como fonte de cancelamento compensatório, dotação referente a programação objeto de suplementação no projeto enviado pelo Executivo; Nos projetos de créditos suplementares, não se pode criar programação nova, assim como, nos especiais, não se pode suplementar dotação já existente no orçamento; Não se pode propor anulação de cancelamento, sem indicação da programação a ser cancelada, dentre aquelas que estejam sendo suplementadas no projeto enviado pelo Executivo. De acordo com o art. 108 da Resolução nº 1/2006, cada parlamentar poderá apresentar até 10 emendas aos projetos de créditos adicionais. Aqui, ao contrário do projeto de lei orçamentária, não existe a figura das emendas coletivas. Por óbvio, existe também a possibilidade de se emendar o texto dos projetos de lei de créditos adicionais. Já no caso de créditos extraordinários, tendo em vista sua natureza jurídica (atendimento de gastos urgentes, relevantes e imprevisíveis), a Resolução nº 1/2006 autoriza, tão somente, emendas que tenham como finalidade modificar o texto da medida provisória ou suprimir dotação, total ou parcialmente. Eventuais emendas propostas para remanejar despesas em créditos extraordinários devem, destarte, ser declaradas inadmitidas pela Presidência da CMO, a partir de provocação do relator da matéria. E, com isso, encerramos o estudo da tramitação dos créditos adicionais no âmbito do Poder Legislativo. Esperamos que o conteúdo ministrado esteja em linha com o alcance dos objetivos de aprendizagem propostos para esta unidade e que todos tenham adquirido um conteúdo embasado sobre os assuntos aqui tratados. Exercícios de Fixação - Módulo III Parabéns! Você chegou ao final do Módulo III do curso Orçamento Público Avançado. Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do conteúdo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado não influenciará na sua nota final, porém, o acesso ao Módulo de Conclusão está condicionado à resolução e envio das respostas. Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. Você também deverá resolver a Avaliação Final, última atividade avaliativa do curso. http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431196 http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431196 http://saberes.senado.leg.br/mod/quiz/attempt.php?attempt=431196 saberes.senado.leg.br