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AULA 1 
PLANEJAMENTO URBANO 
Profª Michela Rossane Cavilha Scupino 
2 
INTRODUÇÃO 
Planejar, em linhas gerais, está associado a um determinado objetivo, a 
uma organização e estruturação para determinado fim. 
Entender as linhas gerais do processo histórico do planejamento urbano e 
como o Brasil se posiciona nesse contexto será relevante para o entendimento da 
organização espacial e as interfaces da cidade com a mobilidade, uso e ocupação 
do solo, entre outros elementos que compõe o território urbano. 
O planejamento urbano se ocupa de atividades relacionadas à pesquisa, 
planos setoriais, regulação e controle do uso do solo, e atividades tais como 
serviços (educação, saúde e segurança) e infraestrutura (redes de água, esgoto, 
pavimentação, transporte). Eminentemente multidisciplinar, o planejamento 
urbano acompanha a sociedade em diferentes momentos. 
TEMA 1 – HISTÓRICO DO PLANEJAMENTO URBANO 
A cidade enquanto espaço construído, bem como a sociedade que a 
constrói, passou por diferentes desenhos até os formatos atuais de assentamento 
urbano. 
1.1 Histórico 
A cidade enquanto espaço social com determinada infraestrutura surge, 
conforme citam autores como Arruda (1993), da necessidade de segurança, 
convivência, permuta e alimentação acessível, levando os grupos humanos a 
deixarem o nomadismo para a fixação em locais específicos. Com o 
estabelecimento de técnicas de pastoreio e agricultura, passaram a organizar o 
espaço vivido, modificando seu meio ambiente (Arruda, 1993). 
A cidade nasce da aldeia, porém não apenas de seu crescimento, e sim a 
partir de quando os serviços 
já não são executados pelas pessoas que cultivam a terra, mas por 
outras que não têm esta obrigação, e que são mantidas pelas primeiras 
com o excedente do produto total. Nasce, assim, o contraste entre dois 
grupos sociais, dominantes e subalternos: os serviços já podem se 
desenvolver através da especialização, e a produção agrícola pode 
crescer utilizando estes serviços Benevolo (1993, p. 26). 
Assim, novas relações entre seus componentes sociais são estabelecidas. 
 
 
3 
Como exemplos da configuração de cidades, têm-se sítios arqueológicos 
como o de Jericó, localizado no vale do Jordão, região do mar Morto, entre 
Jerusalém e Amã, que é considerado o mais antigo do mundo (Abiko; Almeida, 
Barreiros, 1995). Segundo os autores, o “sítio de Jericó possuía uma área de 1,6 
hectare, protegido por uma vala cortada na rocha e um muro de pedra com sólida 
torre circular. Existiam edifícios públicos e santuários em seu interior, alguns 
contendo estátuas de gesso”. 
Atualmente há um site interativo que retrata os principais fatos associados 
ao urbanismo em diferentes partes do mundo, acessível em 
<http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/>. 
1.2 Conceitos 
Atualmente, o planejamento é pensado como algo complexo e abrangente, 
dada a multiplicidade de disciplinas envolvidas e suas interfaces físicas, 
biológicas, socioeconômicas e culturais. 
Souza (2006) ao expor sobre a democratização do planejamento expõe que 
planejar significa tentar prever a evolução de um fenômeno, explicitar 
intenções de ação, estabelecer metas e diretrizes. Ou, para dizer a 
mesma coisa de modo talvez mais direto: buscar simular os 
desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor se precaver 
contra prováveis problemas ou, inversamente, com o fito de melhor tirar 
partido de prováveis benefícios (Souza, 2006, p.149). 
Em consonância com o exposto acima, pode-se expor a fala de Ultramari 
(2009), na qual o planejamento urbano poderia estar vinculado “ao entendimento 
mais tradicional da cidade, ou seja, aquele que a planeja, que define como deverá 
ser seu futuro, quais os caminhos a seguir, as prioridades a adotar, os espaços a 
ocupar e a não ocupar, as obras a serem realizadas”. Ainda segundo o mesmo 
autor, ao buscar diferenciar urbanismo de planejamento urbano, indica que o 
primeiro estaria vinculado à técnica da engenharia e da arquitetura para a 
implementação do que é físico (a obra) e anteriormente determinado pelo 
planejamento (o plano) (Ultramari, 2009). 
A cidade como objeto e o urbano como fenômeno foi uma distinção 
conceitual proposta por Henri Lefebvre já nos anos 1960. Araujo (2012), ao discutir 
a obra de Lefebvre, destaca as definições extraídas da obra do filósofo francês, 
nas quais “urbano é a simultaneidade, a reunião, é uma forma social que se 
afirma” (Lefebvre citado por Araujo, 2012), enquanto a cidade “é um objeto 
 
 
4 
espacial que ocupa um lugar e uma situação” (Lefebvre citado por Araujo, 2012) 
ou “a projeção da sociedade sobre um local” (Lefebvre citado por Araujo, 2012). 
Assim o urbano poderia se configurar como conjunto construído sobre bases 
culturais, sociais e econômicas, cuja expressão física, responsável, inclusive, pela 
reprodução desse fenômeno, era a cidade (Ultramari, 2009). 
TEMA 2 – O PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL 
Nos tempos recentes, a Revolução Industrial é um marco para o pensar no 
urbano, na cidade. Tornou-se proeminente a necessidade de buscar soluções 
para os problemas provenientes da mudança, não só no formato de produção, 
mas nos padrões e relações estabelecidas até então com os recursos naturais e 
a sociedade. Além do aspecto sanitário vinculado às cidades, a urbanização 
acelerada, sem planejamento ou pouco planejada, com índices de qualidade de 
vida bastante baixos, incentivou a necessidade do planejamento urbano. 
A seguir são apresentados elementos para discussão do planejamento 
urbano no Brasil. 
2.1 Marcos do planejamento urbano no Brasil 
Em se tratando do planejamento urbano no Brasil, Pires (2010) apresenta 
a periodização a partir de autores como Flávio Villaça e Ermínia Maricato, 
subdividindo-a em três grandes fases: 
 1875 a 1930 – este período se caracterizou pela influência do movimento 
das “Cidades Jardins”, com planos de melhoramentos e embelezamento, 
sendo aplicados em diferentes cidades brasileiras. Nesse contexto, cidades 
brasileiras sofreram surtos epidêmicos (Florianópolis, Santos, Rio de 
Janeiro etc.) experimentando mudanças estéticas e higiênico-sanitárias. 
 1930 a 1990 – período representado por investimentos em obras de 
infraestrutura, e também caracterizado pelo predomínio dos planos 
diretores e pelo discurso de planejamento. Intervenções urbanas foram 
marcadas pelo planejamento como técnica de base científica, 
indispensável para a solução dos chamados problemas urbanos (Pires, 
2010). No inicio dos anos 70, houve uma relativa proliferação de Planos 
Diretores de Desenvolvimento Integrado, representando instrumentos 
jurídicos de legitimação dos governos. Durante o regime militar no Brasil, 
 
 
5 
as políticas do nacional-desenvolvimentismo contribuíram para o grande 
crescimento da escala do planejamento territorial. 
 1990 até os dias atuais – representada pelo surgimento dos planos ou 
planejamentos estratégicos em oposição aos diretores. Com a 
democratização, o planejamento urbano passa a ser visto como um 
processo político (Pires, 2010). 
Problemas, como trânsito, violência, falta de esgoto e água tratada 
(saneamento básico), entre outros estão presentes desde os tempos mais 
remotos do planejamento. 
A participação social cada vez mais se torna elemento necessário na 
elaboração de políticas públicas, tendo como referencial inicial a Constituição 
Federal de 1988 e reforçado pelos diferentes instrumentos legais que fortalecem 
e legitimam as consultas públicas e a construção coletiva do planejamento. 
2.2 Dados populacionais 
Analisando dados do IBGE que compilam estimativas da população 
brasileira por meio de censo realizado a cada 10 anos, observa-se que nas 
décadas de 1960-1970 há inversão dos quantitativos rurais para os urbanos. Em 
2010, aproximadamente 70% da população residia em áreas urbanas. 
Figura 1 – População brasileira por situação de domicílio (1960 a 2010) 
Fonte: IBGE,2019. 
Nas décadas de 1970 e 1980, observa-se um intenso processo de êxodo 
rural associado em partes à mecanização da produção agrícola e à busca de 
oportunidades de trabalho nas cidades (Figura 2). O fenômeno da metropolização 
0
50.000.000
100.000.000
150.000.000
200.000.000
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural
1960 1970 1980 1991 2000 2010
h
ab
it
an
te
s
Ano - Censo
BRASIL
 
 
6 
se torna presente em centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, 
entre outros. 
Analisando as regiões individualmente, a região Sudeste apresenta os 
maiores percentuais de pessoas residindo em áreas urbanas (93%). Configura-se 
como a única a apresentar tais valores antes da década de 1960. 
Figura 2 – População por regiões por situação de domicílio (1960 a 2010) 
Fonte: IBGE, 2019. 
2.3 Taxa de urbanização 
O percentual da população urbana em relação à população total de uma 
dada região representa a taxa de urbanização. No Brasil, segundo Moura, Oliveira 
e Pêgo (2018, p. 8), 
os perímetros urbanos são definidos por leis municipais, sob parâmetros 
singulares, o que tem gerado polêmicas acerca do que efetivamente é 
urbano. Tradicionalmente, urbanização é compreendida como o 
deslocamento da população das áreas rurais para as áreas urbanas, 
elevando o que se chama de grau de urbanização, ou seja, a proporção 
da população urbana sobre a população total do município. 
Ainda conforme os mesmos autores, “urbanização corresponde a um 
processo que promove a reorganização das bases econômica, social e política 
dos países, transformando os padrões de renda, consumo e produção, o exercício 
do poder e a própria percepção da identidade cultural e nacional a partir da 
perspectiva urbana”. 
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural
1960 1970 1980 1991 2000 2010
Região Norte 1.041.21 1.888.79 1.784.22 2.404.09 3.398.89 3.368.35 5.931.56 4.325.69 9.002.96 3.890.59 11.664.5 4.199.94
Região Nordeste 7.680.68 14.748.1 11.980.9 16.694.1 17.959.6 17.459.5 25.753.3 16.716.8 32.929.3 14.763.9 38.821.2 14.260.7
Região Sudeste 17.818.6 13.244.3 29.347.1 10.984.7 43.550.6 9.029.86 55.149.4 7.511.26 65.441.5 6.855.83 74.696.1 5.668.23
Região Sul 4.469.10 7.423.00 7.434.19 9.249.35 12.153.9 7.226.15 16.392.7 5.724.31 20.306.5 4.783.24 23.260.8 4.125.99
Região Centro-Oeste 995.171 1.683.20 2.358.21 2.271.42 4.950.20 2.053.31 7.648.75 1.763.48 10.075.2 1.541.53 12.482.9 1.575.13
0
10.000.000
20.000.000
30.000.000
40.000.000
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60.000.000
70.000.000
80.000.000
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Ano - Censo
 
 
7 
A taxa de urbanização no Brasil em 2010 era de 84% (Figura 3), elevada 
pelas condições das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste (Figura 4). 
 
Figura 3 – Taxa de urbanização no Brasil de 1960 a 2010 
Figura 4 – Evolução da densidade demográfica no Brasil de 1960 a 2010 
Fonte: IBGE, 2019. 
As configurações espaciais da urbanização no Brasil se dão por uma rede 
de articulação e arranjos, conforme expõem Moura, Oliveira e Pêgo (2018): 
1960 1970 1980 1991 2000 2010
BRASIL 45% 56% 68% 75% 81% 84%
Região Norte 36% 43% 50% 58% 70% 74%
Região Nordeste 34% 42% 51% 61% 69% 73%
Região Sudeste 57% 73% 83% 88% 91% 93%
Região Sul 38% 45% 63% 74% 81% 85%
Região Centro-Oeste 37% 51% 71% 81% 87% 89%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
P
e
rc
e
n
tu
al
Taxa de Urbanização 
1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
BRASIL 1,17 1,68 2,05 3,60 4,84 6,10 8,34 11,10 14,23 17,26 19,92 22,43
Região Norte 0,09 0,12 0,18 0,37 0,42 0,53 0,76 1,09 1,76 2,66 3,35 4,12
Região Nordeste 2,99 3,86 4,34 7,24 9,29 11,57 14,43 18,45 22,79 27,33 30,69 34,15
Região Sudeste 4,34 6,60 8,46 14,77 19,84 24,39 33,60 43,62 56,87 67,77 78,20 86,92
Região Sul 1,25 2,48 3,12 6,14 9,95 13,61 20,64 28,95 33,63 38,38 43,54 48,58
Região Centro-Oeste 0,14 0,20 0,23 0,47 0,68 0,95 1,67 2,88 4,36 5,86 7,23 8,75
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
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70,00
80,00
90,00
100,00
D
e
n
si
d
ad
e
Evolução da Densidade Demográfica
 
 
8 
A urbanização brasileira se apoia em uma rede de centros diversos, 
entre os quais se dá a convivência de povoados, pequenas cidades e 
cidades médias isoladas, com áreas de elevada concentração 
populacional em aglomerações urbanas de distintos portes e natureza. 
Algumas dessas se articulam entre si e configuram unidades expandidas 
e multipolarizadas, além de serem percebidas majoritariamente nas 
áreas onde predominam municípios em metropolização e fortemente 
urbanizados (Moura; Oliveira; Pêgo, 2018, p. 36). 
Figura 5 – Configuração espacial segundo regiões de articulação ampliada 
Fonte: Moura; Oliveira; Pêgo, 2018. 
TEMA 3 – O FENÔMENO URBANO (DIMENSÃO SOCIAL) 
O fenômeno urbano está pautado na dimensão social. Surge após a 
Revolução Industrial, a partir da qual a cidade passou a ser foco de estudos e 
atenção. 
É discutido sob diferentes óticas e conceitos. Ferreira (1970, p. 123) expõe 
que “a caracterização do fenômeno urbano, obtida através do estabelecimento e 
compreensão das características fundamentais definidoras dos agregados 
urbanos, tem de ser entendida, num primeiro momento, como uma descrição 
predominantemente sociológica e sincrônica da ‘realidade urbana’”. 
Já em 1916, autores como Parker expõem a cidade como sendo 
um estado de espírito, um corpo de costumes e tradições e dos 
sentimentos e atitudes organizados, inerentes a esses costumes e 
transmitidos por essa tradição. Em outras palavras, a cidade não é 
meramente um mecanismo físico e uma construção artificial. Está 
 
 
9 
envolvida nos processos vitais das pessoas que a compõem (Velho, 
1967). 
Mais recentemente as cidades têm sido discutidas a partir da conjugação 
de “fenômenos físicos, químicos, biológicos, sociais e culturais estudados por 
diversas ciências e técnicas, como a geografia, as engenharias, a arquitetura, o 
urbanismo, a sociologia, a ciência política, a economia, o direito e a administração” 
(Pinto, 2017). Isso porque, de forma isolada, não há como abarcar a “realidade 
multifacetada da cidade, o que torna indispensável o diálogo e a busca de uma 
integração entre essas diversas abordagens” (Pinto, 2017). 
Essas interfaces e multidisciplinariedade são também expostas por 
Latouche (1994, p.73) ao retratar que “o crescimento demográfico, o sistema 
político, as estratégias econômicas, as catástrofes naturais, o sistema educativo, 
as telecomunicações e as miragens das vitrines” contribuem para acelerar o 
processo de urbanização. Ao mesmo tempo em que no espaço urbano ocorre a 
produção, a comercialização, os investimentos e as transações que configuram a 
dinâmica da circulação do dinheiro sobre o território, são desenvolvidas as ações 
dos agentes atuam no e com o espaço (Santos, 2006). Suas ações envolvem 
processos sociais, como o uso, a apropriação, a construção de significados. 
TEMA 4 – PLANEJAMENTO URBANO E A DIMENSÃO AMBIENTAL 
A dimensão ambiental está cada vez mais presente no planejamento 
urbano. Conforme expõem Lima e Mendonça (2001), a “cidade atingiu papel 
determinante no mundo contemporâneo. Segundo Choay (1985), a cultura 
ocidental, ao aprofundar o conhecimento de si e de suas realizações, percebe a 
cidade como seu símbolo mais eloquente”. Nessa eloquência, pode-se inferir que 
a dimensão ambiental interfere diretamente na dinâmica da cidade e vice-versa. 
Os mesmos autores supracitados expõem uma série de falas de outros 
autores, nas quais é possível observar a multidisciplinariedade no espaço urbano 
incluindo a dimensão ambiental. 
Conforme Santos (1994), nas novas conformações da urbanização 
(Sposito, 1999, p. 86) da contemporaneidade, a cidade incorpora 
representações diferenciadas, materiais ou não: internamente, na 
fragmentação do tecido e morfologia urbana e, externamente, pela 
extrapolação dos limites físicos por meio do fluxo da comunicação 
mediatizada nos âmbitos nacional e internacional.O espaço urbano 
globalizado é marcado por relações sociais, econômicas e culturais em 
constante e acelerada mutação (Santos, 1994). A par desses processos, 
também a questão relativa ao meio ambiente é evidenciada pela 
degradação socioambiental generalizada. 
 
 
10 
Paralelamente à aceleração do consumo do solo metropolitano e à 
consequente degradação ambiental, vem se configurando, há cerca de 
duzentos anos, o Planejamento Ambiental, em resposta a situações 
urbanas de crise provenientes do ambiente urbano da Revolução 
Industrial e tendências já materializadas na cidade barroca, como 
observa Franco (2000), ao serem derrubados os limites da cidade 
medieval, propiciando a prevalência dos interesses empresariais, que 
valorizaram o traçado geométrico e a perspectiva horizontal das grandes 
avenidas, em detrimento da malha urbana que favorecia a integração 
social. O Planejamento Ambiental recupera a razão social da cidade, ao 
se caracterizar pela abordagem conjunta dos elementos do ambiente, 
pois assume que poucos processos se desenvolvam isoladamente (Lima 
e Mendonça, 2001). 
Um exemplo da dimensão ambiental é trazido por Denaldi e Ferrara (2018), 
ao tratar sobre a urbanização de favelas. Os autores retratam que parcela da 
população residente em favelas ocupa territórios ambientalmente sensíveis e 
protegidos por lei, reforçando que a 
formação de favelas constituiu-se historicamente no processo de 
urbanização brasileiro, assumindo características locais ou regionais, 
como parte da formação de cidades desiguais, ou seja, moradias com 
boa qualidade e infraestruturas urbanas não se distribuem 
equitativamente no território, concentrando-se nas áreas com elevado 
preço da terra e onde vive a população de maior renda (Denaldi; Ferrara, 
2018). 
É importante pensar o planejamento como inclusivo de todas as dimensões 
factíveis. Isto exige adotar princípios amplos, de cunho socioambiental, como os 
privilegiados pela “Agenda 21”. Segundo o MMA, a 
Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento 
para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases 
geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social 
e eficiência econômica, que aborda as dimensões sociais e econômicas, 
a conservação e o gerenciamento dos recursos para desenvolvimento o 
fortalecimento do papel dos grupos principais, como a infância e a 
mulher (MMA, s. d.). 
Para o urbano, é um guia para a articulação de diferentes políticas e pensar 
sobre as dimensões que interagem entre si. 
Em uma perspectiva municipal de incorporação da dimensão ambiental, 
tem-se o zoneamento Ambiental Municipal (MMA, 2012), que está alinhado aos 
instrumentos da política urbana previstos no Estatuto da Cidade e na Política 
Nacional de Meio Ambiente. Segundo a mesma fonte, foi 
criado como resposta a uma série de demandas de planejamento 
ambiental urbano, buscando subsidiar o ordenamento do uso e 
ocupação do solo, especialmente advindos do processo de 
implementação dos Planos Diretores municipais aportando a dimensão 
ambiental, na sua plenitude de planejamento, gestão e implementação 
(MMA, 2012). 
 
 
11 
A salvaguarda dos recursos naturais está em consonância com a Meta 11, 
que trata das “Cidades e Comunidades Sustentáveis”, prevista nos Objetivos de 
Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos no âmbito das Nações Unidas 
(MMA, 2012). 
Nesse contexto de sustentabilidade, as dimensões ambiental e urbana são 
indissociáveis. Como exemplos da inter-relação, tem-se as áreas verdes urbanas, 
a existência de áreas de mananciais, a poluição sonora, atmosférica e do solo, 
entre outros fatores que contribuem com a sustentabilidade. 
Por vezes a dimensão ambiental impõe ao planejamento urbano ações de 
um “alcance territorial que ultrapassa a capacidade de ação de um município 
isolado, trazendo a necessidade de uma articulação urbano-regional” (Farah, 
2003; Carter, 2005 citados por Peres; Silva, 2010). Temas como recursos hídricos, 
saneamento ambiental (envolvendo abastecimento de água, resíduos sólidos, 
esgotamento sanitário e drenagem), conservação de áreas verdes e arborização 
urbana estão presentes nas discussões do planejamento (Peres; Silva, 2010). 
TEMA 5 – TRANSFORMAÇÕES URBANAS: DESAFIOS ATUAIS 
Atualmente, o planejamento urbano perfaz uma série de desafios que 
somente serão resolvidos via multidisciplinariedade. Diferentes conceitos e 
agendas estão cada vez mais presentes, como é o caso das cidades sustentáveis, 
cidades inteligentes, diferentes planos criados por instrumentos legais específicos 
(Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, Plano de 
Conservação da Biodiversidade, Plano de Gerenciamento de Resíduos, Plano 
Diretor, Plano Estratégico, Plano de Bacia Hidrográfica entre outros). Ainda que 
necessários, por vezes, essa quantidade de planos dificulta sobremaneira a 
compatibilização de todos os temas. 
Além dos planos, há ainda uma série de agendas a serem cumpridas, como 
a Agenda 21, a Agenda Climática e outras. 
Um exemplo de município que congrega todos esses planos é Toledo, no 
interior do Paraná. O município elaborou recentemente seus Planos de 
Biodiversidade, de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, de Recursos 
Hídricos, Plano Municipal de Saneamento Básico, Plano de Arborização, além de 
atualizar seu Plano Diretor com diretrizes até 2050. Além desses instrumentos, a 
cidade compõe o grupo de cidades sustentáveis com índices e metas arrojadas 
para um futuro próximo, com foco na melhoria da qualidade de vida e ambiental. 
 
 
12 
Os recursos provêm de financiamentos junto a instituições como a Agência 
Francesa de Desenvolvimento (AFD) e das compensações ambientais, além dos 
recursos da própria prefeitura e de parcerias estabelecidas, como a com Itaipu, 
para o projeto de conservação das nascentes. 
Em todos os contextos inseridos na rede de planos e projetos municipais 
de Toledo, observa-se a preocupação com atualidades como a mobilidade urbana 
com a criação de ciclovias projetadas e a adaptação as mudanças climáticas. 
Esse exemplo de município que caminha para um futuro estruturado em 
metas e indicadores não é o que comumente se vê no Brasil. Autores como Rolnik 
(2014) apontam desafios que estão enraizados desde os princípios do 
planejamento urbano ou da formação das cidades. 
Figura 6 – Desafios para se mudar a cidade 
Fonte: Adaptado de Rolnik (2014). 
A mesma autora afirma que 
não existe cidade que funcione quando suas qualidades são privilégios 
de poucos e as maiorias são condenadas a viver em ‘puxadinhos de 
cidade’. A verdadeira reforma urbana pressupõe a extensão do direito à 
cidade para todos, concluindo um processo de democratização que 
ainda não ocorreu no território urbano brasileiro (Rolnik, 2014). 
Um dos maiores desafios é então projetar, influenciar e planejar espaços 
urbanos que conectem pessoas, bens e oportunidades. O World Resources 
Institute (WRI) Brasil apresenta ações de cunho atual e agregadoras aos desafios 
enfrentados pelas cidades. Um exemplo é o projeto Cities4Forest, que 
Desafio 
federativo
•Administração 
do território -
município/esta
do/União-não 
dá conta da 
diversidade de 
realidades 
urbanas
Desafio do 
financiamento
•Dificuldade em 
possuir fontes 
estáveis e 
permanentes 
de 
financiamento 
da expansão e 
transformação 
urbana
Desafio do 
planejamento 
de longo prazo
•Transformaçõe
s urbanas são 
processos 
longos, que 
envolvem no 
mínimo 15 
anos para se 
consolidar
Superação do 
controle da 
política urbana
•“Negócios 
urbanos”: 
empreiteiras, 
concessionárias 
de serviços de 
transporte e 
coleta de lixo, 
incorporadores 
e loteadores, 
embora sejam 
atores 
importantes no 
desenvolviment
o das cidades
Desafio da 
construção do 
que é público
•Vida urbana 
tem 
essencialmente 
uma dimensão 
pública e, nas 
cidades, os 
espaços e 
serviços 
públicos 
deveriam ser 
elementos 
estruturadore•propriedade 
coletiva
 
 
13 
proporciona às cidades benefícios por meio de conhecimento técnico para lidar 
com o desafio de preservar e gerir as florestas urbanas (WRI). No Brasil algumas 
cidades estão inseridas no contexto do projeto, tais como Belo Horizonte, 
Campinas, Salvador e São Paulo. 
Figura 7 – Valor das Florestas em diferentes contextos e associação com os ODS 
Fonte: Cities4Forests, (s. d.). 
Atualmente, as cidades são as plataformas para mudanças globais e locais 
no século XXI. Paisagens urbanas são os espaços de convergência de 
economias, culturas, sistemas políticos e ecológicos. Ambientes construídos e 
ecologias naturais tornaram-se a infraestrutura da sociedade do século 21, 
moldando encontros, assimilação, resistência e inovação. A urbanização passiva 
(ou “espontânea”) como modelo provou ser insustentável (UN-Habitat, 2016). 
 
 
 
14 
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