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GUIA SECRETO DOS RELACIONAMENTOS EXTRAORDINÁRIOS GUIA SECRETO DOS RELACIONAMENTOS EXTRAORDINÁRIOS Índice TERMO DE RESPONSABILIDADE, 6 INTRODUÇÃO, 9 INSTRUÇÕES DE USO, 14 CAPÍTULO 1 O QUE É UM RELACIONAMENTO EXTRAORDINÁRIO?, 20 1.1 – Uma história que se repete…, 21 1.2 – O que faz um casamento não dar certo, 23 1.3 – De onde surgiu o casamento? , 27 1.4 – Para que serve o casamento? , 29 1.5 – O tipo de relacionamento que nunca vai dar certo, 32 1.6 – E como viver um relacionamento extraordinário? , 40 CAPÍTULO 2 O QUE OS RELACIONAMENTOS QUE DÃO CERTO TÊM EM COMUM?, 43 2.1 – A história que mudou a nossa história, 45 2.2 – O Relacionamento que dá certo!, 50 2.3 – Cobrança x Contribuição, 53 2.4 – Quando tudo começou a mudar, 57 2.5 – Um novo relacionamento e uma nova missão, 59 CAPÍTULO 3 VOCÊ x SEU CÔNJUGE, 62 3.1 – Rômulo x Isabela, 63 3.2 – As diferenças que fazem a diferença, 65 3.3 – As energias masculina e feminina, 68 3.4 – Energias invertidas, 71 3.5 – Diferenças comportamentais, 73 3.6 – As bagagens, 75 3.7 – Os idiomas diferentes, 77 3.8 – João e Maria, 81 3.9 – A jóia no carnê, 83 CAPÍTULO 4 RESOLVENDO OS CONFLITOS, 86 4.1 – Um rasgo no pneu, e na relação , 87 4.2 – Uma arte pouco conhecida , 89 4.3 – Briga ou conflito? , 91 4.4 – Como resolver os conflitos na prática, 95 4.5 – O que NÃO fazer diante de um conflito, 97 4.6 – A atitude que resolve, 101 4.7 – Resolvendo na prática, 102 4.8 – Ferramentas práticas, 106 CAPÍTULO 5 LIBERANDO O PERDÃO, 112 5.1 – O monge carregando o peso, 113 5.2 – Fluxo obstruído, 115 5.3 – Quem nos tem ofendido? , 117 5.4 – O que é o perdão, 119 5.5 – Por onde eu começo?, 122 5.6 – E quando eu preciso perdoar outra pessoa , 125 5.7 – O presente é o presente, 129 5.8 – Conte uma história melhor , 132 5.9 – Tome a atitude, 135 CAPÍTULO 6 A FUNÇÃO DO SEXO, 136 6.1 – Dois anos, 137 6.2 – Qual é a do sexo? , 139 6.3 – Para começar , 142 6.4 – O grande vilão, 144 6.5 – Funcionando, 146 6.6 – Não espere acontecer... Faça, 147 6.7 – Homens fazem sexo, mulheres fazem amor , 148 6.8 – O sexo não é pra você , 149 6.9 – Seja forte , 152 6.10 – Dando aquele upgrade, 153 CAPÍTULO 7 O DIVÓRCIO, 155 7.1 – Descartabilidade , 157 7.2 – Você se casou com a pessoa errada , 160 7.3 – Quando o fim se aproxima , 162 7.4 − Quando é a hora de partir?, 164 7.5 – 4 venenos e seus antídotos, 165 7.6 – Quem decide, 168 7.7 – Nem todo casamento pode ser salvo, mas todo relacionamento sim, 169 CONCLUSÃO, 172 AGRADECIMENTOS , 175 Termo de Responsabilidade Todas as estratégias e informações que você vai ler neste livro são oriun- das das nossas experiências pessoais e profissionais, no nosso próprio casamento, e com diversos alunos e alunas que já ajudamos através dos nossos treinamentos. Embora eu tenha me esforçado ao máximo para garantir a precisão e a mais alta qualidade dessas informações, de forma que todas as sugestões e práticas aqui ensinados sejam altamente efetivos para qualquer pessoa que esteja disposta a aprender e a colocar o esforço necessário para apli- cá-los conforme instruídos, estes métodos e informações não são garantia de que eles terão os mesmos resultados na sua vida, como foi na nossa. Quando eu e Isabela ensinamos sobre relacionamentos, nós sempre nos preocupamos ao máximo em passar ensinamentos e experiências que de- ram certo para a maioria das pessoas que tivemos a oportunidade de ensi- nar. Mas, é fato que existem inúmeras variáveis envolvidas, por se tratar de um tema tão complexo. Ao contrário de uma ciência exata, os métodos para melhorar um casamento dependem de interpretações corretas, atitudes Termo de responsabilidade 7 diárias e muita disciplina e discernimento para lidar com os desafios de uma relação a dois. Por isso, as estratégias e informações compartilhadas neste livro são para todos, mas não são para qualquer um. É preciso que você esteja disposta e que você tenha a mente aberta para entender que, muitas vezes, você preci- sará de paciência, sabedoria, muito amor, força de vontade e, muitas vezes, de tempo, para ver a mudança acontecendo na vida de vocês. Além disso, a sua situação particular pode não se adequar perfeitamente aos métodos e técnicas ensinados neste livro. Assim, você deverá utilizá-lo ajustando as informações de acordo com sua necessidade específica e, por essa razão, os resultados podem variar de pessoa para pessoa. Todos os nomes de marcas, produtos e serviços mencionados aqui são propriedade de seus respectivos donos e são usados somente como referência. Além disso, não existe a intenção de difamar, desrespeitar, insultar, humilhar ou menosprezar você, leitor, ou qualquer outra pessoa, cargo ou instituição. Caso você acredite que alguma parte deste livro seja, de alguma forma, desrespeitosa ou indevida, e deva ser removida ou alterada, você pode entrar em contato diretamente comigo através do e-mail contato@romuloostmann. com.br. AVISO LEGAL Este material é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos auto- rais e dá outras providências. A reprodução deste material é condicionada a autorização, sendo termi- nantemente proibido o seu uso para fins comerciais. A violação do direito au- toral é crime punido com prisão e muita, sem prejuízo da busca a apreensão do material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis. mailto:contato%40romuloostmann.com.br?subject= mailto:contato%40romuloostmann.com.br?subject= Já nos segue nas Redes Sociais? Eu e a Isabela estamos, diariamente, produzindo conteúdo de alto valor sobre como construir um relacionamento extraordinário nas redes sociais! Além de ler esse livro na íntegra, eu recomendo muito que você nos siga para aproveitar tudo que temos para te entregar gratuitamente por lá! 1. INSTAGRAM Dicas diárias e bastidores do dia-a-dia do nosso relacionamento. https://www.instagram.com/dr.romuloostmann 2. PODCAST “OS CÓDIGOS DO CASAMENTO EXTRAORDINÁRIO” Para você que gosta de conteúdos em áudio, esse podcast traz inúmeros ensinamentos valiosos para quem busca viver um Casamento Extraordinário. https://open.spotify.com/show/04BLEopKKgzXxidamkOBJA?si=FmzVilbm TB2ZJlGLZYQ9Eg&dl_branch=1 https://www.instagram.com/dr.romuloostmann https://open.spotify.com/show/04BLEopKKgzXxidamkOBJA?si=FmzVilbmTB2ZJlGLZYQ9Eg&dl_branch=1 https://open.spotify.com/show/04BLEopKKgzXxidamkOBJA?si=FmzVilbmTB2ZJlGLZYQ9Eg&dl_branch=1 INTRODUÇÃO Sabe quando te chamam para ver um filme inteirinho de um casamento, e você fica ali sentado, fazendo cara de que está adorando, mas, no fundo, você está achando um porre? Pois é. Vários livros que eu já li antes sobre relacionamento começavam exatamente assim, muito chatos. E, por isso mesmo, eu quero ser bem franco e objetivo aqui com você: Eu e Isabela somos um casal extremamente comum, talvez até muito parecidos com você, com desafios e histórias muito seme- lhantes aos do seu relacionamento. Por isso, a gente fez questão de pular toda aquela parte da nossa ceri- mônia de casamento, de como nos conhecemos numa noite linda, dentro de uma festa de casamento (isso é verdade, ok?), e vamos ser diretos no que nós consideramos o que é o mais importante e fundamental para que você se identifique com a gente, crie uma conexão forte e torne mais fácil a possibili- dade de conseguirmos te ajudar no seu casamento hoje. Combinado? Bom, talvez você ainda não saiba, mas eu, atualmente, sou médico anes- tesiologista e nutrólogo. E eu venho de uma família que me deu uma forte influência no assunto “casamento”... Os meus pais tinham um casamento, di- gamos, exemplar. Introdução 10 — “Mas, como assim “exemplar”, Rômulo?” Meus pais estão juntos há mais de 45 anos, vivem um casamento sólido, sem traições, sem separações. Tiveram 4 filhos e construíram tanto um pa- trimónio financeiro, quanto um legado de exemplo para os seus filhos, netose bisnetos. Vivem uma relação, ainda hoje, como dois eternos apaixonados… Algo muito bonito de se ver! Mas, exatamente algumas semanas antes de conhecer a Isabela, eu ti- nha tomado uma decisão importante na minha vida. Depois de ter vivenciado alguns namoros e um término de noivado, eu fiz uma promessa de que eu nunca mais iria me relacionar com ninguém! Ia viver “solteirão”, de boa! Eu já me achava, de fato, feliz. Tinha uma boa profissão, começava a fazer o meu próprio dinheiro, e afinal de contas, via alguns amigos meus casados e com- pletamente infelizes, querendo pular fora do barco. Além dos amigos, tinham pessoas na minha própria família se separando e tudo isso começou a me fazer pensar dessa maneira. Eu comecei a tocar a minha vida, mas, uma vez ou outra, eu ficava refletindo sobre esse assunto. Eu era fruto de um relacionamento modelo. Meus pais, com o relacionamento exemplar que construíram, sempre me mostraram que uma vida a dois era sensacional e muito próspera em todos os sentidos. Eu sempre tive os conceitos da Bíblia me guiando e sabia que, no casamento, estavam es- condidas preciosidades para uma vida ainda mais feliz e plena. Na medida que o tempo ia passando, por mais que eu achasse que era feliz, sempre ficava com uma pulga atrás da orelha… pensando que deveria existir algo a mais. Só que aquela minha promessa vinha sendo cumprida à risca, até aquele dia que eu conheci a morena mais encantadora que eu já tinha visto, em toda a minha vida! Essa morena, advogada, cabelos escuros e olhar penetrante, no entanto, carregava um contexto completamente diferente do meu! Ela era filha de um casamento que tinha passado por várias dificuldades. Ela lembra que na sua casa o diálogo sempre era muito difícil, as brigas eram Introdução 11 constantes, as ameaças eram um costume diário e os problemas financeiros nunca tinham fim. Ela cresceu olhando para tudo isso, até um dia que ela recebeu um golpe doloroso com a notícia de que seus pais estavam se separando. Ali começava uma nova jornada em busca de entender coisas que já eram difíceis de serem compreendidas, mas que, no entanto, levaram ela a um sentimento claro: Não desejava viver aquilo de jeito nenhum na vida adulta dela. Pulando toda a parte da conquista, do namoro, do noivado e da cerimônia de casamento, que foram inesquecíveis, 3 anos se passaram depois daquela noite linda e, então, estávamos casados. Ah, um detalhe importante, Isabela estava grávida, de 4 meses, da nossa primeira filha, a Cléo, na nossa cerimônia de casa- mento. Isso mesmo, a Isabela se casou grávida! Então, ao mesmo tempo em que nos tornávamos marido e mulher, nós também nos tornávamos papai e mamãe. Hoje em dia, eu acho bem interessante que, durante todo o encanto do na- moro e noivado, não tínhamos nos atentando às bagagens que cada um de nós carregávamos nas costas. Eu, com uma influência muito forte do casamento dos meus pais, buscava o tempo todo reproduzir coisas que eles fizeram no casamento deles dentro do meu próprio casamento. Eu queria ter o mesmo sentimento de carinho, proteção e amor que eles me mostraram durante toda a minha vida. A Isabela, por sua vez, com o histórico de separação dos seus pais durante a sua adolescência, buscava a todo custo não reviver aquelas dores que ela já conhecia muito bem… só que, não sabendo muito bem como fazer isso. Dia após dia ela era movida por uma forte aversão à possibilidade de viver e ofe- recer para nossa filha a mesma experiência que ela tinha vivido. No entanto, por nunca ter investigado a fundo essas bagagens e não saber bem como lidar com elas, inevitavelmente, as coisas se repetiam. Quando relembro essa nossa trajetória, de fato, parece que tudo acon- teceu muito rápido. Só que foram momentos intensos e que marcaram, de forma muito forte e permanente, as nossas vidas. Introdução 12 Assim começava a nossa jornada. Casamento, primeira filha chegando, inúmeras diferenças, muitas novidades, apartamento e contas para ad- ministrar, bagagens do passado, personalidades bem diferentes, religiões diferentes, influência dos pais e sogros... isso tudo e mais algumas outras coisinhas como, por exemplo, o fato de, no primeiro ano de casamento, termos quebrado financeiramente, chegando a dever exatos R$ 57.000,00 ao banco! Esse é o início da nossa história, que você já sabe, começou naquela noite linda. Uma história que, na verdade, começava a não ter mais muita coisa de linda, a não ser a Cléo, que apesar de ser uma princesa, não deixava de ser mais um motivo importante para nossas brigas e desentendimentos diários! Muito prazer, esses somos nós, Rômulo e Isabela. Um casal com muitos sonhos, iniciando nossa vida a dois, aos trancos e barrancos, mas com um aprendizado enorme pra compartilhar. E, sabe de uma coisa, se tivéssemos, naquele tempo, a oportunidade de pedirmos somente um desejo, seja ao gênio da lâmpada, seja ao papai do céu, esse pedido seria apenas um: ter tido acesso, lá no dia do nosso casamento, ao que vamos te contar aqui nesse livro. Então, prepare-se, porque esses segredos que nós vamos te revelar po- dem, simplesmente, poupar anos de sofrimento no seu relacionamento e, possivelmente, até evitar que você precise enfrentar um divórcio. E nós estamos muito, mas muito felizes, em poder te entregar tudo isso agora. E aí, vamos nessa? Aviso importante: Gostaria de lembrar que as generalizações que faço durante toda a escrita deste livro, sobre comportamento masculino e feminino, se baseia nas ten- dências estatísticas. Ou seja, segundo as estatísticas, é mais provável que cer- Introdução 13 tas características e comportamentos estejam relacionados mais a um sexo do que o outro. Dessa forma, eu também me dirigi, na maior parte do tempo, às mulheres, que continuam, ainda hoje em dia, sendo as que mais buscam proteger as re- lações, adquirindo conhecimento. Se você é mulher, parabéns. Mas, se você é homem, eu, desde já, tenho uma grande admiração por você ser um tipo especial e raro! Meus parabéns, também! E, peço desculpas por falar mais no sexo feminino. Mas não se engane… Da mesma forma, todo esse conteúdo te servirá com os mesmos resultados positivos para o seu relacionamento amoroso. E um último detalhe muito importante. Esse livro não foi escrito para ser lido pelos dois, necessariamente. O que nós temos provado e comprovado, na prática, com alunos e seguidores, é que os resultados dessa nova “técnica” de relacionamento são reais e transformadores para qualquer casamento, mesmo quando a mulher toma conhecimento dessa técnica, sem a participa- ção do marido, ou vice e versa. Em outras palavras, basta um dos cônjuges aprender o que nós vamos te ensinar neste livro, para transformar a sua relação! E, antes de começarmos, queria deixar claro que eu modifiquei alguns nomes em relatos verdadeiros contidos neste livro, para proteger a identi- dade das pessoas envolvidas. INSTRUÇÕES DE USO Eu sou um insatisfeito. Um “insatisfeito positivo”, como costumo dizer. Eu me lembro de sempre ser um cara sempre em busca de mais conhe- cimento, por fazer mais, ser mais e conquistar mais. Isso é o que representa, na minha visão, o “não estar satisfeito”. Significa não me contentar em estar acomodado, em uma zona de conforto, achando que não posso progredir mais, pensando que já alcancei muitas coisas e agora tudo está estável. Estabilidade é uma ilusão, ela não existe. Tudo, a qualquer momento, pode mudar. E, sabe uma coisa interessante? Eu me casei com uma mulher muito parecida comigo, pelo menos nesse aspecto. Sim, eu sou extremamente grato e feliz por tudo que vivo hoje. Aliás, gra- tidão move a minha existência o tempo todo. Sou um cara de muita sorte, e você vai poder constatar isso aqui. Mas, esse ímpeto de melhorar constante- mente mudou a minha vida até aqui. Esse livro é fruto dessa insatisfação, dessavontade de, não só fazer a nossa vida e o nosso casamento melhor, mas de te ajudar a construir uma vida e um relacionamento extraordinário também. Instruções de uso 15 Nós caminhamos por uma estrada muito sinuosa, cheia de curvas e bu- racos. Aprendemos com cada obstáculo muitas lições preciosíssimas. Nosso casamento, inicialmente foi um desastre e quase nos separamos. Muita coisa aconteceu para que hoje pudéssemos viver os melhores dias das nossas vidas, até então. Acordar e viver um relacionamento extraordinário, muito acima da média, e que prospera em todas as áreas, é um sonho, que se tornou um objetivo e, em seguida, uma realidade alcançada hoje. Eu e Isabela poderíamos, nesse exato momento, resumir a nossa trajetó- ria e escrever: “Casaram, e viveram felizes para sempre...” Mas existe algo que nos incomoda constantemente. Uma vontade ardente que mexe com a nossa mente e com o nosso cora- ção. Receber todos os aprendizados que chegaram até nós, mesmo sem me- recermos, guardá-los, escondê-los e não compartilhar é algo que não fazia o mínimo sentido para nenhum de nós dois. Nós passamos por tudo isso, nós mergulhamos intensamente no conhecimento, nós aplicamos, nós testamos, nós vivemos e nós estamos vencendo. Mas ok. E as outras pessoas? Ou seja, estamos insatisfeitos por você não conhecer ainda muitas coisas que nós vamos te ensinar aqui. E esse livro nasce desse desejo ardente de você receber tudo isso e ter a possibilidade, se você desejar, de construir um relacionamento verdadeiramente extraordinário. PARA QUEM É ESSE LIVRO Eu sei que existe um desejo, também, aí dentro do seu peito de viver um relacionamento ainda melhor. Mesmo que você seja dessa geração atual que acha que isso tá fora de moda, todos nós nascemos com isso. Na verdade, é um direcionamento da essência do ser humano. Mas construir um relacionamento assim, acima da média, necessita de conhecimento. Instruções de uso 16 Esse livro é direcionado para você que deseja construir esse relaciona- mento, estando em: Æ Um relacionamento que está morno achando que pode melhorar; Æ Um relacionamento que enfrenta dificuldades há muito tempo, com as quais você ainda não sabe como lidar; Æ Um relacionamento que está por um fio, já chegou no limite, e vocês estão prestes a se separar. E isso provavelmente vai acontecer, caso você não leia as próximas páginas; Æ Ou, de repente, você já viveu um relacionamento que não deu certo, ou ainda é solteira e gostaria de saber como, verdadeiramente, cons- truir, de forma prática e eficaz, um relacionamento extraordinário. O livro vai te ensinar a sair do relacionamento ruim que você está vivendo hoje, construindo um muito melhor. Se você vive em brigas, discussões sem fim, conflitos intermináveis, você vai entender porque isso acontece e como resolver definitivamente essa situação. Se você passou por dificuldades, talvez uma traição, ou uma situação pela qual você carrega mágoas, você vai identificar o quanto isso está te atrapa- lhando na relação e o que você precisa fazer, hoje, para prosseguir. Se o sexo é alguma coisa esporádica e completamente fria, ou não con- seguem se ajustar, você vai compreender, de uma vez por todas, a função do sexo e como dar um upgrade nessa parte tão essencial do relacionamento. Esse livro é o primeiro grande passo para você transformar a situação difícil que você está vivendo, seja ela qual for. E como esse livro deve ser utilizado? Esse livro contém alguns segredos que pouquíssimas pessoas aqui no Brasil tiveram acesso. Durante muito tempo acompanhando especialistas norte-americanos, eu e Isabela descobrimos uma maneira nova de encarar o relacionamento. Instruções de uso 17 Milhares de pessoas que têm buscado ajuda estão utilizando essa forma de se relacionar nos EUA, e estão obtendo sucesso com uma taxa de 99%. E eu vou te revelar esse segredo logo no início, nos primeiros capítulos, e isso será um divisor de águas para sempre na sua vida. Mas preste bastante atenção aqui: Esse livro não é para ser lido apenas uma vez. É para ser visto e revisto. Ele servirá para você como um grande guia. Você pode ler, inicialmente, de forma contínua, capítulo por capítulo, até o final. Você vai passar por alguns conhecimentos que, à primeira vista, vão parecer meio óbvios, enquanto outros são sutis e provocarão um pensamento de “Ah, agora sim, faz sentido isso!” A questão é que esse pensamento pode acontecer quando você estiver lendo o livro, ou semanas depois, quando você estiver no chuveiro tomando banho, ou na cama, prestes a dormir. Por isso, eu recomendo que você faça uma leitura por inteiro e, em seguida, volte nos pontos de mais importância para você e depois mantenha ele sempre disponível para sua consulta. Isso porque você vai passar por situações no seu relacionamento que, talvez, se faça necessário você reler algumas coisas. Por exemplo: no capítulo 4 eu ensino algumas técnicas de resolução de conflitos que você pode preci- sar rever no momento em que você estiver passando por alguma discussão e precisar aplicar essas técnicas. Talvez, em algum momento da sua trajetória, você esteja percebendo que o amor não está fluindo de uma maneira fácil, e você se dê conta de que car- rega algumas mágoas do passado. Então, você volta no capítulo 5 e vai poder rever o que, de fato, você pode estar vivendo e como contornar essa situação liberando o perdão. Pode ser que o sexo, em algum momento do seu relacionamento, tenha começado a esfriar, e você não consiga compreender e nem saiba como lidar com isso. Então, você vai precisar acessar o capítulo 6, onde falamos especi- ficamente sobre isso. Instruções de uso 18 Ler e reler algumas partes específicas irão te guiar nessa construção. Eu poderia, simplesmente, resumir esse livro, talvez, em 10 páginas. Isso seria até mais fácil para mim, só iria condensar todo o conhecimento que eu tenho aqui na mente e colocaria, rapidamente, no computador. Mas eu não fiz isso, intencionalmente. Apesar de exigir mais, é muito claro para mim que existe um processo, e você precisa passar por ele, passo a passo, para que você absorva esse conhe- cimento de forma consistente. Esse processo engloba a compreensão de alguns parâmetros que eu con- sidero como pilares fundamentais do casamento. Todas as outras coisas que eu vou te ensinar que são mais práticas, como as técnicas, as ferramentas, as habilidades, tudo isso acaba ficando sem sen- tido, e você não conseguiria colocar em prática se esse processo não fosse respeitado, e esses pilares não fossem erguidos previamente. Ou seja, se você não entender esse processo antes, não conseguirá construir o relaciona- mento de forma sólida e sustentável depois. ALERTA O início do livro é bastante voltado para o conceito do casamento extraor- dinário. É uma parte conceitual que é extremamente necessária que você compreenda.. Eu diria que, com ela, todo o restante do livro se torna simples e fácil de ser compreendido e aplicado. Não pule, em hipótese alguma, essa parte. Eu estou frisando isso, porque eu já fui como você. E você vai se sentir tentada a ir, provavelmente, para o capítulo do sexo, ou da resolução de con- flitos ou até mesmo do divórcio se você está passando por sérias dificuldades. Esses assuntos podem ser desafios que você está enfrentando e são coi- sas práticas do dia a dia, eu sei disso. Mas não faça isso! Não passe adiante sem seguir a ordem. Tenha discernimento, paciência e disciplina. Você está Instruções de uso 19 iniciando uma jornada, agora, para começar a transformar o seu casamento para o resto da sua vida. E isso não vai ser tão bem sucedido, caso você queira ir para o meio ou para o final do livro. O livro foi pensado nessa ordem, foi organizado para, justamente, você passar por esse processo com a gente. Tudo foi planejado para que, ao final, eu possa garantirque você vai ter todas as ferramentas que precisa para começar a transformar o seu relacionamento. Então, confie em mim. Siga as instruções feitas por quem criou esse conteúdo e descubra o quanto ele é poderoso. Esse livro ajudará você a desenvolver um casamento extraordinário. Eu e Isabela escrevemos ele, porque é exatamente o que nós buscamos, enquanto caíamos nos buracos, derrapávamos nas curvas e desviávamos dos obstácu- los. Isso acontecia com suor, sangue e lágrimas. Espero que você consuma esse conteúdo para seguir no caminho de uma forma muito mais fluida, segura e eficaz. Que a sua insatisfação seja positiva, que ela possa te mover e que você goste de ler esse livro tanto quanto nós gostamos de escrevê-lo. Rômulo e Isabela Ostmann CAPÍTULO 1 O QUE É UM RELACIONAMENTO EXTRAORDINÁRIO? 1.1 – Uma história que se repete… A Cláudia, aluna do nosso programa de Mentoria, estava casada há 18 anos. Ela tinha a plena convicção de que, depois que seus dois filhos nasceram, eles eram prioridade na sua casa e na sua vida, inclusive quando comparados ao seu marido. E por esse motivo, o que chamou a atenção da Cláudia e fez ela começar a me seguir nas redes sociais foi o que ela mesmo disse em um de nossos encontros do programa: — “Quando vi o Dr. Rômulo falando que o meu marido deveria ser priori- dade, e não os meus filhos, aquilo me deixou irritada, e eu parei para ouvir o que ele tinha a dizer, para justificar aquele absurdo!” Bom, além dos filhos serem prioridade para ela naquele momento, ela vivia dificuldades para ajustar o relacionamento com a sua mãe, que insistia em influenciar na sua vida conjugal. O contato telefônico com ela, quase que diário, e por várias horas seguidas, sugava as energias e o tempo dela, o que acabava sendo descontado na sua relação com o Fernando, seu marido que, até então, estava no final da fila, na lista das suas prioridades. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 22 Apesar de saber da importância do casamento e da manutenção da famí- lia, o sexo já não acontecia como antes. Na verdade, ele só acontecia se ela quisesse e quando ela quisesse. As dificuldades de resolver os conflitos, as discussões (que nunca tra- ziam soluções práticas) acabavam se misturando com a triste lembrança da traição que tinha acontecido há algum tempo atrás e que ela contava com sinais claros de dor, tristeza e ressentimento. Além disso, o tempo fez com que ambos diminuíssem o cuidado que eles tinham com o corpo e a aparência física. Isso parecia ser algo “natural”, inclu- sive que eles viam em alguns outros casais. Em algum momento dessa trajetória, ela teve uma percepção clara de que tudo que viviam era um caminho meio que sem volta. Ela percebia cla- ramente que todo esse contexto influenciava de forma impactante a sua autoestima, a sua disposição e, consequentemente, a atração e desejo se- xual dos dois. A história da Cláudia e do Fernando pode não ser exatamente igual à sua, mas talvez algumas características em comum possam te fazer refletir sobre o que você tem vivido aí no seu relacionamento. Se você parar por um instante e analisar, é muito fácil perceber que isso não é um casamento que as pessoas desejam viver de verdade. Concorda? As dificuldades que observamos no exemplo desse casal são bem mar- cantes. Fica muito claro que eles não estavam vivendo um “casamento extraordinário”. Claudia e Fernando foram nossos alunos e mudaram muitas coisas no relacionamento deles depois do programa. Mas eu queria tirar um pouco o foco deles e trazer luz sobre você. Isso mesmo, você que está lendo. Será que o que você está vivendo hoje é um casamento acima da média, um casamento pleno, verdadeiramente extraordinário? Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 23 1.2 – O que faz um casamento não dar certo Antes de entendermos o que faz um casamento prosperar e ser extraordiná- rio, acredito que, didaticamente, é muito importante que a gente entenda os motivos que costumam produzir os efeitos contrários… ou seja, os grandes motivos pelos quais a maioria dos casamentos vão se afundando e tendo difi- culdades ainda maiores de se tornarem, de fato, extraordinários. Na nossa experiência com os casais, nós identificamos três principais motivos para o fracasso de uma relação. São eles: 1. O propósito pelo qual se casaram é muito frágil, fraco e pouco signi- ficativo. Qualquer dificuldade é motivo para se separarem, porque no fundo, eles não sabem verdadeiramente porque se casaram, qual o motivo, qual o real objetivo, qual o verdadeiro propósito daquilo. 2. Falta de conhecimento e de habilidade para construir e viver uma re- lação extraordinária. 3. O casal está vivendo no que chamamos de um “Relacionamento de Cobrança”. — Mas, Dr., o principal motivo das separações não é porque acaba o amor? Pois é, muitos casais se casam por amor, e, às vezes, continuam se amando, mas acabam se separando porque não souberam lidar com os desafios que enfrentaram. Não tiveram conhecimento, não souberam o que fazer para re- solver os problemas. E por não saberem isso, também não souberam fazer o que precisava ser feito para sustentar aquele amor e fazer a relação durar. Talvez você nunca tenha ouvido isso, mas o amor não é apenas um senti- mento. O amor é um hábito, uma prática que deve ser cultivada todos os dias! Então deixa eu te fazer a pergunta mais importante de todas: Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 24 Por que você se casou ou por que você quer se casar? Talvez você esteja pensando em algumas dessas respostas… Æ Para ser feliz; Æ Para poder ter filhos; Æ Para realizar o meu sonho daquela festa de casamento; Æ Para vestir um vestido de noiva maravilhoso e poder jogar um buquê; Æ Para não ficar sozinha (para titia!); Æ Para poder ter um parceiro que satisfaça os meus desejos sexuais; Æ Para me sentir amada por alguém sempre; Æ Para construir uma casa com um cercadinho e um quintal; Æ Etc... Bom, agora pare e pense por um instante… Seria possível fazer alguma dessas coisas sem estar casada? Você acha, verdadeiramente, que esses se- riam os motivos mais profundos e significativos para você se casar? Ou ainda mais importante… Os motivos que te manteriam casada por 30, 50, 70 anos? Presta bem atenção no que eu vou te falar agora… As pessoas não se separam porque têm problemas muito grandes. Elas se separam porque o motivo pelo qual elas se uniram é muito pequeno. Pense em um gancho, tipo um anzol de pescar. Pense nele bem fininho e bem fraquinho segurando uma bolsa grande. Pense que esse gancho repre- senta o verdadeiro motivo pelo qual você se casou. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 25 Agora considere que dentro dessa bolsa você começa a colocar a sua irritação com a toalha largada em cima da cama, os problemas com sogro e sogra, os boletos atrasados, a criação de filhos, o sexo cada vez mais escasso, a ausência de atenção e carinho etc. A bolsa começa a ficar cheia e pesada, à medida que o relacionamento vai avançando. O que você acha que vai acontecer com esse gancho? Ele não vai aguen- tar. Ele é fraco. Frágil. Ele é pequeno. Os problemas dentro da bolsa sim, esses são numerosos, pesados e não conseguem sair de dentro da bolsa, por mais que você queira e se esforce. Você não sabe como tirá-los de lá. O que acontece é que o gancho não aguenta o peso, em algum momento, se rompe. Certo? É quando o casamento acaba. E é exatamente por não ter um motivo firme, um propósito forte para o casamento, que 2/3 dos casamentos aqui no Brasil terminam em divórcio. Isso mesmo, dois a cada três casamentos terminam em um divórcio! Isso são as estatísticas! Não sou eu, Rômulo, que estou falando não… Mas, o fato é que essa equação aqui não falha: Motivo fraco + Falta de habilidade para resolver os problemas = Divórcio Toda vez que eu tenho umconflito com a Isabela, que eu fico irritado e tenho dificuldades de resolver, eu paro e me pergunto... Por que diabos eu me casei mesmo? Qual era o meu propósito com tudo isso lá no início? Qual era o verdadeiro motivo para eu ter tomado essa decisão? É só olhando para isso, que eu vou conseguir começar a resolver os meus problemas. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 26 Uma vez que você não entende o porquê você se casou, que não tem um motivo forte o bastante para reafirmar todos os dias o pacto que você fez lá atrás, e junta a isso o fato de não saber lidar com os desafios de um relacio- namento a dois, é impossível viver um casamento acima da média, um casa- mento extraordinário. Sinto te informar, mas nesse caminho, o divórcio é o único destino possível. Isso porque você acaba criando um terreno muito fértil para se estabelecer uma relação permeada de características como: controle, acusação, ameaça, culpa, desonra, intimidação. Um relacionamento que você começa a cobrar do outro o que o outro precisa fazer, ser, pensar ou mudar para te fazer feliz. É esse tipo de relacionamento, sustentado pela falta de propósito, sem saber lidar com os conflitos e baseado nessas características que eu citei acima, que nós chamamos de Relacionamento de Cobrança. Esse é o tipo de relacionamento que é mais comum nos casais de hoje em dia. E sabe de uma coisa, esse modelo não funciona! O mais intrigante aqui é o seguinte… Por ser um modelo tão comum e presente ao nosso redor, as pessoas acabam fazendo uma grande confu- são e achando que é um modelo normal. E o pior… que é um modelo bom a ser seguido! E aí, como inevitavelmente os casais acabam se separando, em geral, as pessoas começam a confundir e achar que o que não funciona, na ver- dade, é o casamento em si. Começam a surgir narrativas de que casamento é coisa do passado e que não serve para os dias de hoje. Que ele está fadado ao fracasso, e que todo mundo deveria viver perfeitamente sozinho, sem compromissos! Isso é a coisa mais absurda que eu tenho ouvido por aí. E acredito que você também tenha amigos que pensem assim, ou, quem sabe, até você mesma já pensou isso! Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 27 O fato que ninguém está atento é que existe esse tipo de relacionamento específico que de fato não funciona, o Relacionamento de Cobrança, e esse sim, tem enormes chances de fracassar! Agora, então, temos uma equação mais clara ainda: Motivo fraco + Falta de habilidade para resolver os problemas + Relacionamento de cobrança = Divórcio. 1.3 – De onde surgiu o casamento? O que vem na sua cabeça quando você ouve a palavra “Casamento”? Amor, paixão, sexo, filhos, lua de mel, união, brigas, dor, conflito, separa- ção, tristeza, fracasso etc. Cada um de nós carrega um dicionário com um significado particular, individual, sobre essa palavrinha aí. Esse dicionário foi influenciado pelas suas experiências com os seus pais, pelas histórias que você ouviu, pela cultura da sua sociedade, de repente, até mesmo pelo que você já experimentou e já viveu na prática. Mas, de onde surgiu, originalmente, essa ideia aparentemente louca, de unir dois seres bem diferentes (não sei se você já percebeu isso) para desen- volverem um relacionamento para a vida inteira? Quem criou isso? Como isso foi desenhado? Será que foi mesmo desenhado para dar certo? Será que isso é mesmo para mim? Primeiramente, é impossível a gente começar a melhorar e ajustar algo que nós não conhecemos. Se você quer, por exemplo, consertar algum de- feito que seu carro apresentou, é muito melhor você buscar o fabricante do carro, que sabe exatamente como ele funciona, que possui as peças originais Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 28 e sabe como consertar, afinal de contas, foi ele quem desenhou e criou o carro! Ele deve saber melhor do que ninguém. E é por isso que fica muito claro que, se você quer entender sobre como viver um relacionamento extraordinário, você necessariamente precisa en- tender como foi criado o casamento. E eu quero abrir o jogo com você. Talvez você ainda não tenha despertado para essa verdade, mas fica evidente, principalmente nos dias atuais, com tanto avanço cinetífico e tecnológico, que nós fomos criados por uma inte- ligência maior, uma força maior, uma energia maior, seja lá o nome que você queira dar. Eu denomino essa força de Deus. Se você ainda não acredita em Deus, está tudo bem. Isso não invalida a existência e a realidade que o homem foi criado por Deus (ou por uma inteli- gência maior que você pode chamar do que preferir). Eu não quero falar sobre religiosidade aqui. Quero falar sobre fatos e embasar uma linha de raciocínio coerente com uma literatura, um livro mi- lenar, histórico e que tem muito, mas muito mesmo para nos ensinar, que é a Bíblia Sagrada. Talvez você esteja distante dessa verdade nesse momento, e eu quero propor aqui que a gente examine ela um pouco mais a fundo para que possa- mos entender de forma clara aquilo que precisamos descobrir sobre o casa- mento e como ele surgiu. Bom, o fato é que nós não surgimos de uma explosão como muitos pensam. A verdade é que não existia nada e aí, essa força maior, que eu vou chamar de criador, de Deus, fez o universo. Ele fez os céus e a terra, fez a natureza, fez os bichos e também fez o homem. Juntou o pó da terra, moldou conforme suas características e soprou vida nas narinas dele. Esse cara Ele chamou de Adão. Ele viu que estava tudo tranquilo. O homem vivia em um paraíso e tinha tudo do bom e do melhor. Mas ele olhou que o boi tinha a vaquinha, a zebra tinha o “zebro”, a girafa o “girafo”, e o homem ninguém. Estava faltando algo. O criador pensou: Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 29 “Não é bom que o homem esteja só, vou fazer para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda.” Foi aí então que ele fez a mulher. Ele fez o homem dormir e tirou uma costela dele para construir uma companheira, a Eva. 1.4 – Para que serve o casamento? Logo em seguida, as escrituras descrevem que Deus declara que o homem e a mulher, ao estarem juntos, se tornariam uma só carne. Eles se tornariam um. Ou seja: Deus não queria ver o circo pegar fogo. Ele não pensou: “Deixa-me fazer dois seres bem diferentes e ficar aqui me divertindo para ver como eles vão lidar um com o outro.” Você talvez não soubesse disso, ou não acredite nisso. Mas aqui não é acreditar. É como a lei da gravidade. Você pode não acreditar nela, mas ela, ainda sim, existe e você sente as consequências dela. Uma maneira de você começar a encarar o seu relacionamento para ele ser extraordinário é saber que o casamento é uma instituição desejada pelo seu criador, é uma instituição desenhada para o sucesso, e que tem um obje- tivo primordial, o desenvolvimento de uma unidade. E só olhando para esse projeto inicial é que você pode ser mais bem-su- cedido nessa jornada. Como o fabricante do carro, que eu te falei, lembra? É entendendo que Ele criou isso tudo, que a gente começa a ver mais sen- tido em se casar. Assim como as águas dos rios, o sol, a lua, e toda criação têm Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 30 um objetivo, têm um propósito, certamente o seu casamento também tem um propósito. E se você ainda não está vivendo o melhor que pode viver, é porque ainda não teve acesso a esse entendimento de forma clara e completa. É justamente pra te ajudar nisso que nós escrevemos esse livro. Esse lance de casamento não é uma invenção do seu clube, da sua escola, nem da sua cidade, país ou nação. O casamento é um projeto. Ele não foi criado para dar errado. Ele foi desenhado para você viver os melhores dias da sua vida aqui na terra, até a sua morte. Eu sei, eu sei que a visão que você tem de acordo com a sociedade é muito menos duradoura. Mas entrar em um projeto achandoque ele pode acabar a qualquer momento é desanimador, você não acha? Nossa sociedade, muitas vezes, enxerga o casamento como um relaciona- mento temporário em um mundo permanente. O projeto é justamente con- trário a isso. É a visão de que o casamento é algo permanente em um mundo temporário! Um dia esse mundo não será mais o nosso palco. — “Mas, Rômulo, explica melhor esse lance aí da unidade?” Eu adoro demonstrar esse objetivo de unidade trazendo a comparação com as laranjas. Se você é uma laranja e está em um saco com outras laranjas, você está em união com essas laranjas. Unidas por um saco. Se começar a colocar várias laranjas, o saco pode encher, e vocês podem até estar obrigadas a estarem jun- tinhas, mas estarão sob pressão e prontas pra estourar o saco. O saco prende, obriga, mesmo que você não queira e você está presa e tem que ficar ali mesmo se quiser sair. Isso é o que chamamos de união. As laranjas no saco estão uni- das, porém muito propensas a se dispersarem, assim que esse saco se romper. A união tende a dispersão. Nela, os corpos podem estar juntinhos, mas quando tem alguma pressão, eles apontam para um rompimento e para a separação de cada um para uma direção e rumo opostos. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 31 O casamento não é uma laranja perto da outra laranja. O casamento são as duas laranjas, espremidas e colocadas no mesmo jarro. Quando se casou, você escolheu se tornar um suco de laranja com o seu cônjuge. Estão ser- vindo ao mesmo intuito. Foram espremidas e se sacrificaram para servir ao mesmo propósito. Se tornarem um suco. Se tornarem uma coisa só, em uma única direção. A unidade, diferente da união, aponta para um propósito. E aí, nenhuma falha ou erro pode vir a ser maior do que o propósito. Propósito de conti- nuarmos juntos. Continuarmos firmes. Quando você passa a entender isso, você entende que, quando se casou, você tinha (ou deveria ter tido) o propósito de estar em unidade, de se tornar um só com o seu cônjuge. O Objetivo deveria ser de, mesmo estando espre- midos, mesmo com a casca amassada, mesmo estando verdes, ambos servi- rem a um objetivo principal de serem um, de serem um suco. E por que esse conceito de união x unidade é tão importante? Porque ele é que vai indicar, em todos os momentos do seu relacionamento, a direção que você deve seguir em qualquer circunstância. Seja na saúde, na doença, na pobreza ou na riqueza, seja na alegria ou na tristeza, a direção é o suco, a direção é estarem em unidade, apontando para um só propósito. Olha o gancho sendo bem mais forte aqui. Bem difícil de romper isso, não acha? Mas como eu disse, as pessoas estão olhando para o casamento com uma visão totalmente distorcida. Ao olharem para o lado e perceberem uma grande quantidade de pessoas sendo infelizes nas relações, separações acontecendo, brigas e mais brigas, elas não entendem que isso vem acon- tecendo pois o tipo de relacionamento que vem sendo estabelecido é, na grande maioria das vezes, um relacionamento que não se sustenta, que não dá certo. Um Relacionamento de Cobrança. “Mas Rômulo… O que é exatamente esse Relacionamento de Cobrança?” Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 32 1.5 – O tipo de relacionamento que nunca vai dar certo É bem provável que você conheça alguém que já tenha se separado, ou que esteja vivendo grandes dificuldades no relacionamento. Afinal de contas, na visão geral, isso é cada vez mais comum, não é mesmo? De repente, você mesmo está enfrentando alguns desafios no seu re- lacionamento. Eu sei que isso é bem provável porque eu já passei e ainda passo por inúmeros desafios dentro do meu. Mas eu gostaria de te fazer uma pergunta: Quanto tempo você (e essas pessoas que enfrentaram dificuldades como eu também enfrento) já gastou estudando, lendo, sendo orientado, sendo guiado, aprendendo a desenvolver um relacionamento? Seja bem sincera comigo e com você mesma aqui... Quanto tempo você já investiu aprendendo habilidades e adquirindo co- nhecimento para saber como construir um relacionamento extraordinário? Olha só… Eu sou médico. Eu passei 6 anos na faculdade de Medicina. Ao longo desses 6 anos, eu aumentei a minha carga de estudo durante 5 anos sendo monitor de anatomia. Depois, eu fiz 3 anos de residência médica em anestesiologia. Em seguida, eu fiquei 3 anos ensinando anestesia em um hos- pital. Depois, fiz 2 anos de pós-graduação em nutrologia. Esse tempo todo para exercer a minha profissão de médico. E se você ainda não teve essa percepção, eu quero te falar uma grande verdade. Te enganaram quando disseram pra você que a sua decisão mais impor- tante é investir tempo e energia no que você vai trabalhar, na sua profissão. É claro que isso é importante e faz parte da vida. Mas a decisão que mais pode influenciar e impactar a sua vida (ou virar ela do avesso!) é a capacidade (ou a falta dela) de desenvolver um casamento ajustado e uma família íntegra. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 33 Então, se desenvolver um relacionamento pode impactar de forma expo- nencial a sua vida, eu vou te perguntar mais uma vez: Quanto tempo você se dedicou a conhecer as ferramentas ideais para resolver conflitos entre duas pessoas, ou quais as formas de se relacionar melhor com determinado tipo de perfil comportamental do seu parceiro? Aliás… você conhece o Perfil Comportamental do seu parceiro? Você já parou pra investigar isso? Deixa eu adivinhar… É bem provável que, se você estiver sendo sincera, você não conhece e nem gastou mais do que algumas horas ou dias da sua vida buscando ativamente essas respostas. Tô errado? E é justamente por isso que o caminho natural que nós nos apresentamos nos nossos relacionamentos, baseado nos exemplos ao nosso redor (já que não buscamos saber mais) é o caminho do Relacionamento de Cobrança. Não é culpa sua, ok? Não é culpa do seu parceiro ou parceira. Eu, você e todo ser humano simplesmente não nascemos sabendo como viver isso naturalmente. E, por isso, nós acabamos em falas como essas, dentro do nosso relacionamento: “Eu não estou feliz com a maneira que estamos nos relacionando. Você precisa mudar isso, tudo bem?” “Eu não gosto desse jeito que você fala. Pare de falar desse jeito.” “Eu não gosto do jeito que você organiza suas finanças. Você precisa mudar isso.” Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 34 “Ei, não fale com nosso filho desse jeito. Você precisa mudar isso.” O que percebemos nesse tipo de relacionamento como mais caracterís- tico é que se estabelece uma interação onde você diz para outra pessoa o que ela precisa fazer ou mudar para te fazer mais confortável, ou te fazer feliz. Nesse modelo, fica muito claro o aparecimento de características como controle, acusação, culpa, vergonha, desonra, ameaça, intimidação. — “Mas isso já funcionou em algum momento da nossa existência? Por- que estamos pensando dessa maneira agora.” Há alguns anos, tipo 40, 50 anos atrás, os relacionamentos tinham uma certa dependência. Alguém era o provedor e jamais, ou muito raramente, passaria pela cabeça o casal se separar. (Não sei se você sabe, mas a possibi- lidade de separação na lei só foi instituída aqui no Brasil em 1977). Naquele tempo, ambos os parceiros concordavam em viver dessa ma- neira. Muitas vezes, o homem tinha o poder no relacionamento e a mulher se colocava abaixo desse poder. O que acontece é que, quando uma pessoa no relacionamento não tem o poder, o relacionamento de cobrança se desenvolve de forma instintiva. No passado, a mulher aprendeu a fazer o que lhe era imposto a fazer. A mulher aprendeu como agradar a outra pessoa, e fazer a outra pessoa feliz, e, de certa forma, “obedecer”, ao invés de esperançosamente tentar ter os seus próprios desejos realizados. E, a partir dessa dinâmica de interação, começaram a surgir nos rela-cionamentos as táticas de como culpar, como acusar, como envergonhar, e como manipular para você ter o que você quer no relacionamento. É interessante que a forma de relacionamento de cobrança não ficou restrita apenas à relação entre homem e mulher no casamento. Atualmente, Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 35 você consegue ver isso muito claramente nos relacionamentos de pais e fi- lhos, por exemplo. Os pais utilizando a culpa, a intimidação, a vergonha, a ameaça, ou qualquer outra coisa para controlar seus filhos com o objetivo de que eles façam as coisas do jeito que os pais querem que eles façam! É, basicamente, você usando o seu poder para controlar o que alguém que não tem poder deve fazer, para que as coisas sejam feitas do jeito que você precisa e quer que aconteçam. Simplesmente utilizando o seu poder carregado de todas essas características do Relacionamento de Cobrança. Mesmo com as melhores das intenções. É óbvio que você está tentando protegê-los, você está cuidando deles, você busca o melhor para eles. Claro que você quer que eles aprendam a ter responsabilidade, que eles aprendam todas as coisas que você acha que são importantes para que estejam prontos para a vida lá fora. Mas o que percebemos é que essas táticas simplesmente não funcionam. A gente começa a perceber que é um tipo de relação que era estabelecido há muitos anos, ficou sendo repetido, mas que agora não consegue se sus- tentar e fracassa. Pra ficar bem claro, a dinâmica da cobrança se estabelece da seguinte maneira: Existe uma pessoa que, teoricamente, tem mais poder, e a outra pessoa que tem não tem poder. Ambos estão nesse relacionamento e ambos estão jogando as táticas do relacionamento de cobrança um com o outro. E não se engane que só desenvolve o relacionamento de cobrança apenas quem tem o poder. A outra pessoa que não tem o poder está lá para ter suas necessidades contempladas também. Elas aprendem a vivenciar esse rela- cionamento, e as táticas de como fazer com que a outra pessoa mude e faça com que ela seja feliz também. Muitas vezes, essa pessoa busca agradar o outro com o simples intuito de receber um bom tratamento de volta também, e, assim, ser feliz. É um toma lá, dá cá, totalmente voltado para a satisfação pessoal de cada um. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 36 Essa forma de se relacionar se estabeleceu e foi experimentada por muito tempo, porque é um tipo de relacionamento que somente funciona quando uma pessoa não é livre para sair. A questão é que, quando ambos no relacionamento se tornam livres e podem pedir o divórcio, o relacionamento de cobrança desmorona, fra- cassa! Isso porque, em algum momento a pessoa no relacionamento que não estava no poder, vai atingir o seu limite de tolerância, vai chegar em um ponto em que já aguentou muita coisa, mas que, agora, não aguenta mais. Isso é muito natural, porque, obviamente, ninguém gosta de ser controlado, dominado ou manipulado! Pare para pensar um pouco: Você gosta de ser controlada? De ter alguém dominando suas atitudes? Definindo o que você tem que fazer ou deixar de fazer? Todos nós temos limites em tolerar alguma coisa. Quando uma pessoa chega nesse limite de tolerância no relacionamento de cobrança, acontecem situações que você já deve ter presenciado ou ouvido falar: “Que se dane tudo, eu vou sair fora dessa m**** de relacionamento!” “Eu não preciso do seu dinheiro, eu faço o meu próprio dinheiro!” “Eu não preciso de você para criar as crianças, eu não preciso de você para nada, muito menos mandando em mim!” “Eu vou me mudar, eu estou saindo fora. Eu não preciso de você. Chega, para mim acabou!” Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 37 E a pessoa vai embora mesmo! Porque ela pode ir! Isso é uma característica desse tipo de relacionamento. E acontece da mesma maneira no relacionamento de cobrança com os pais e filhos, por exemplo. Se tudo que você desenvolve enquanto seus filhos estão crescendo é con- trole, cobrança, culpa, acusação, medo, imposições sem diálogo, tentando moldar eles do jeito que você quer somente pelo poder que você tem en- quanto eles estão na sua casa, sabe o que vai acontecer? No minuto em que eles se tornam maiores, financeiramente independentes de você e podem sair fora da sua casa, acontece a mesmíssima coisa. Eles vão dizer: “Que se dane, eu estou fora disso aqui. Vou morar sozinho ou com meus amigos. Eu não suporto estar na mesma casa de vocês!” Você não desenvolveu um relacionamento de verdade com seu filho. Isso é controle, cobrança, é culpa, é intimidação. E, quando eles vão embora, você percebe exatamente isso: Não foi construído um relacionamento de verdade com eles. Presta atenção… Não se pode controlar uma outra pessoa a vida inteira. Você pode, temporariamente, tentar manipular aquilo que você quer, se você tem o poder e está usando esse poder sobre a outra pessoa. Mas isso não constrói um relacionamento. Isso é exercer controle e tem prazo de validade. Hoje, nos nossos tempos, a mulher se tornou livre para ir embora. Ela pode agora ganhar o seu próprio dinheiro, pode fazer suas coisas, pode cons- truir a sua trajetória. E o movimento que passou a acontecer foi o de “sair fora”, de deixar o relacionamento, o de “jogar a toalha”. O divórcio se tornou legal juridicamente e, tanto o homem quanto a mulher, agora, se tornaram livres para irem embora. E deixam a casa, deixam a família, os filhos e encontram outra pessoa mesmo. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 38 E o pior.. Muito provavelmente vão estar com uma nova pessoa somente o tempo suficiente para desenvolverem o mesmo relacionamento de cobrança e caírem na mesma situação, apenas com um parceiro diferente! É isso que sempre acontece no clássico relacionamento de cobrança. As pessoas deixam a relação, quebram o pacto, se esquecem ou não se aten- tam ao objetivo e propósito centrais do casamento. E como eu disse, normal- mente saem de um relacionamento para buscar um outro parceiro para viver um novo relacionamento de cobrança, até enfrentarem uma nova separação ou se contentar com uma relação e uma vida medíocres. Deixa eu te dar outro exemplo onde esse mesmo tipo de relacionamento acontece. Estou falando de outro ambiente muito comum, no trabalho, onde a gente percebe a mesmíssima dinâmica: “O que eu vou fazer? Ele é chefe. Ele é quem manda! Ou eu tenho que agradar ele ou eu tenho que sair fora.” É exatamente isso. O relacionamento de cobrança clássico. E sabe o que as pessoas fazem quando querem deixar o relacionamento de cobrança? Elas procuram por um chefe melhor! “Eu vou procurar um chefe melhor que não me cobre tanto, que não exija tanto de mim, que me trate bem, que me reconheça.” No casamento seria como: “Eu vou procurar um parceiro melhor, que me trate bem, que mude por mim, que me agrade, que me faça feliz!” Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 39 Se você era a pessoa com menos poder no relacionamento e quer sair fora, agora você se propõe a ser a pessoa com mais poder no próximo relaciona- mento, pensando que estará do outro lado e, por isso, estará feliz. Você pensa: “No próximo relacionamento eu que vou dominar! Na próxima vez, eu vou achar para mim uma pessoa que topa ser a pessoa sem poder e eu vou dominar a relação. E dominando e impondo tudo que eu desejo, eu finalmente serei feliz.” Olhe para o seu lado. Você não precisa olhar muito longe para ver isso acontecendo. Você vê isso o tempo todo. Podem até mudar a forma de se apresentarem na relação, mas continuarão vivendo um Relacionamento de Cobrança! Esse molde de relacionamento está fracassando em taxas gigantescas. Ele está em todo lugar que você olha. As pessoas estão desistindo de viver rela- cionamentos porque o que elas têm como parâmetro, como modelo, é esse tipo derelacionamento! Se você já passou por isso ou está vivendo isso nesse exato momento, en- tenda uma coisa: A questão não é sobre relacionamentos em si. Não é sobre achar que nenhum relacionamento dá certo. Não é sobre a falácia de que ca- samento não dá certo. É sobre o Relacionamento de Cobrança ser, realmente, um grande fracasso anunciado! Mas calma. Eu não quero te desesperar, pelo contrário. Existe uma saída para isso e quando você terminar de ler esse livro, você vai ter, nas suas mãos, todos os passos práticos de um modelo de relacio- namento muito diferente desse. Um modelo que, atualmente, tem 99% de sucesso para os casais que testaram e puseram ele em prática nas suas vidas. E que é totalmente acessível a qualquer pessoa. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 40 1.6 – E como viver um relacionamento extraordinário? Gruda o olho com bastante atenção aqui agora. Talvez esse seja o ponto de virada aqui neste livro. Existe uma outra opção de relacionamento. Existe um outro jeito, uma nova forma de se relacionar, que é diferente do Relacionamento de Cobrança e vem construindo relacionamentos extraordinários e duradouros. É um relacionamento no qual você aprende como ser feliz, independente do que esteja acontecendo a sua volta, de uma maneira que você constrói a sua relação ao invés de controlar, ou oprimir os outros. Lembre-se de uma coisa, o Relacionamento de Cobrança usa táticas como obrigar a fazer a vontade do outro, controle, culpa, reclamação, punição, ma- nipulação, envergonhar, coerção. Tudo isso é feito para ganhar uma disputa, pois o Relacionamento de Cobrança é encarado como uma disputa, onde um ganha e o outro perde. Tudo é direcionado pelo medo, e nessa disputa nin- guém quer ser o perdedor. Mas nessa nova técnica, nós fazemos coisas bem diferentes. Nós aparecemos com uma compreensão sincera. Nós aprendemos como criar alinhamento. Entendemos como desenvolver apreciação, usamos a co- laboração, trazemos compaixão e inspiramos a mudança. Nós construímos uma sintonia, nos apresentamos para servir o outro, oferecer, ao mesmo tempo que temos aceitação e compreensão. É tudo sobre nos fortalecermos a cada dia, à medida que construímos a nossa relação. E é pra isso que eu gostaria que você despertasse nesse exato momento. Você tem o poder de desenvolver um relacionamento diferente, acima da média, um relacionamento novo, equipado com as ferramentas e estratégias que verdadeiramente funcionam para obter os resultados que você quer. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 41 E você pode confirmar a veracidade disso claramente, pelo simples fato de que tudo que você já tentou, falhou! Os livros, os conselhos, as dicas, os exemplos. Isso tudo estava baseado no Relacionamento de Cobrança. Entenda uma coisa: Não tem nada de errado com você e nem com o seu cônjuge. Como eu disse, você não escolheu a pessoa errada. Você escolheu o tipo de relacionamento errado! E todo mundo merece ter um casamento extraordinário. Como você viu, o casamento foi criado para isso, desde lá no início. Ele foi desenhado para ser um sucesso através de uma unidade, para que você seja um excepcional marido ou esposa. Para que você construa, através de habilidades específicas, uma fa- mília, que você seja um exemplo para seus filhos seguirem e não um aviso de cuidado. Para que vocês prosperem juntos em todas as áreas da vida de vocês! Essa nova técnica de se relacionar é um conjunto de habilidades que po- dem ser aprendidas. Não é mágica, não acontece de uma hora para outra. E como eu disse antes, não é só para algumas pessoas! São habilidades que nós deveríamos ter sido ensinados desde o dia que nascemos. Mas o que acontece é que as pessoas passam de um relaciona- mento para outro, e só mudam de parceiros, mas continuam com a mesma dinâmica de relacionamento e não adquirem essas habilidades nunca. E é pra isso que nós estamos aqui. Essa nova técnica de se relacionar nós chamamos de Relacionamento de Contribuição. E, como eu disse, é um con- junto de habilidades e ferramentas que você vai aprender a partir de agora. Ela tem restaurado casamentos, mantido famílias unidas e construído um fu- turo próspero e extraordinário para as pessoas que aprendem e colocam ela em prática. Só existe uma pergunta a se fazer nesse exato momento. A pergunta é: Você está pronta? Você quer isso? Você, verdadeiramente, deseja viver o extraordinário no seu relacionamento amoroso? Bom, se você está lendo até aqui, eu acredito que a sua resposta seja SIM. Capítulo 1. O que é um relacionamento extraordinário? 42 Mas, é bem provável, também, que você, diante dessas informações no- vas, esteja aí se perguntando… “Mas Rômulo, como exatamente você e Isabela descobriram isso? Por- que, até onde eu me lembro, vocês viviam em pé de guerra, com diversos conflitos e o relacionamento por um fio, não é verdade?” Exatamente. E isso não caiu do céu para gente. Quero dizer, eu acredito que foi algo divino, mas não simplesmente caiu na nossa cabeça enquanto estávamos passeando em uma das praias do nosso lindo Rio de janeiro. O que aconteceu foi o seguinte... CAPÍTULO 2 O QUE OS RELACIONAMENTOS QUE DÃO CERTO TÊM EM COMUM? Lembram daquele dia em que minha promessa de ficar sozinho pro resto da minha vida foi quebrada? Pois é, depois daquele dia em que eu conheci a mo- rena mais linda que meus olhos já tinham visto, as coisas começaram a mudar para mim. E mudaram muito. Começamos a sair, namoramos por 3 anos maravilhosos até que decidi- mos nos casar. Faltando 4 meses para o dia tão especial, uma surpresa ma- ravilhosa para a nossa trajetória: Isabela estava grávida. Nos casamos, lua de mel, e a vida a dois começou de fato. Depois de alguns meses, Cléo nasceu, estávamos no nosso apartamento, e as coisas na nossa relação não estavam indo tão bem como eu imaginava. Eu percebia que estava difícil, mas achava que era do casamento mesmo, e que, em alguma hora, tudo iria se ajeitar, só não sabia como. Mas, isso que estou contando aqui para vocês é apenas a minha visão dos fatos. O que nem passava pela minha cabeça, era que existia o outro lado da moeda, a outra versão da história, vivenciada pela Isabela. E essa, eu prefiro que ela conte pra você, pessoalmente, nos próximos parágrafos. Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 45 2.1 – A história que mudou a nossa história [Isabela] Certamente esse era o outro lado da mesma moeda. Vale muito a pena com- partilhar com vocês, porque é bem provável que, em algum momento, você se identifique com muitas coisas. Vamos lá. Eu e o Rômulo namoramos por 3 anos e, depois de algum tempo, concluímos que era a hora de avançarmos na nossa relação. Eu acreditava que aquela era a melhor escolha, eu não queria ser solteira para sempre. Achava que esse era o fluxo natural da vida, mas a grande verdade era que, no fundo, eu desejava ter a família que eu nunca tive com os meus pais. Nós nos casamos e o que acreditei ser a extensão do conto de fadas que começamos no nosso namoro, ganhou ares de pesadelo! Muitas coisas acon- teceram que mudaram nossa relação. Nos tornamos pais 4 meses após o nosso casamento e os desafios só aumentavam. A criação da Cléo era um grande desafio, afinal de contas, éramos os famosos “marinheiros de primeira viagem”. Somado a isso tinha a questão do laço familiar do Rômulo com a sua família de origem, que era, na grande maioria das vezes, colocada em primeiro lugar, em detrimento da nova famí- lia que estávamos criando. Inúmeras diferenças que, antes eram apaixonantes, começavam a se tor- nar sufocantes. Eu queria que a organização da casa fosse de um jeito. Queria que a educação da Cléo fosse da forma que eu achava correta e que nossas finanças fossem conduzidas de uma forma que eu achava ideal. E essa questão financeira, inclusive, foi o que desencadeoua pior das nossas crises, quando eu, um belo dia, recebi um e-mail muito indesejado. O e-mail era da gerente do meu banco, informando que nós devíamos R$ 57.000,00 e propondo um parcelamento em 48x. Esse e-mail, naquela tarde ensolarada de janeiro, fez o meu coração disparar, as lágrimas caírem no Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 46 teclado do computador da minha mesa... Quando eu forço a minha mente, eu ainda consigo me lembrar do barulho. Era uma dor inexplicável! Aquele e-mail da gerente, pra mim, simbolizava o atestado de fracasso do nosso casamento! A jornada feliz que havíamos iniciado no namoro, alegre e promissora, agora não era nada além de um passado distante. Aqueles projetos pareciam tão longe como se nunca tivessem existido. Aquelas promessas e expectativas desapareceram em apenas dois anos! A jornada havia acabado? O amor tinha desaparecido? Onde tinha ido parar a nossa vida feliz a dois? O meu desejo era um casamento acima da média e eu realmente acredi- tava que poderia existir, mas realmente não estávamos vivendo um. Essa foi a conclusão que eu cheguei naquela tarde abafada de verão. Logo eu, que queria aquele casamento extraordinário porque nutria a crença que o casamento me traria amor e segurança. Emoções que eu tanto valorizo. Mas diante de tudo que acontecia, eu entendi que era a hora de tomar uma decisão. E foi quando uma simples carona mudou o rumo da nossa vida. Meu pai me mandou uma mensagem, dizendo que estava no centro da cidade, estava almoçando com um amigo e havia pensado na possibilidade de pegar uma carona comigo de volta. Eu respondi que sim, que estava no elevador do prédio do meu trabalho e combinei de nos encontrarmos no estacionamento. Viemos pelo trajeto na Avenida das Américas, uma via movimentada aqui no Rio de janeiro, falando sobre o dia, sobre a rotina e sobre amenidades. Nada muito profundo... Assim que o carro parou no sinal eu ouvi a seguinte pergunta indesejada: — “E como você e o Rômulo estão?” Eu apertei o volante com as duas mãos, olhei para ele e disse de forma contida: Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 47 — “Temos dificuldades, Pai. Eu imaginava que teria uma vida feliz e é tudo o que eu não tenho hoje.” Ele me olhou firme, colocou a mão na minha perna e falou de forma bem firme: — “Isabela, o que realmente está acontecendo?” Eu apertei com mais força ainda o volante, e comecei a contar tudo o que vinha acontecendo naqueles dois anos. Eu chorava compulsivamente, engasgada, dizendo que eu estava me esforçando, tentando o melhor, mas nada mudava. Depois de expor algumas outras coisas, eu concluí contando sobre a carta do banco e como me sentia um fracasso. Além disso, eu tinha constatado que a Cléo estava vivendo em um ambiente de sofrimento, brigas e desamor e que eu estava dando a minha filha justamente a mesma infância horrível que eu tinha vivido. Nesse momento, nós havíamos parado o carro em um posto de gasolina, eu virei para o lado e ele me observava, quando ele, calmamente, disparou: — “Filha, e qual é a solução?” Eu ainda estava enxugando as lágrimas, quando olhei para ele e disse: — “A solução? Ué, me separar! Claro! Eu me casei para ser feliz e é exata- mente o que eu não estou sendo. Eu vou me separar, é isso que todos fazem, tem uma rota de fuga, uma solução. Não é isso que, inclusive, você fez?” Foi quando, então, ele me falou uma frase que eu não esperava e que en- trou cortando o meu peito: Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 48 — “Filha, nós não nascemos para ter uma vida cigana. Não é se sepa- rando que os problemas irão se resolver.” Isso me surpreendeu muito, porque não era isso que eu esperava ouvir, ainda mais dele que havia se separado da minha mãe. Na verdade, eu esperava uma validação, esperava que ele falasse que eu estava correta, que era isso mesmo que deveria fazer. Aquilo me deixou perplexa e eu fiquei esperando-o completar. — “Você vai achar a solução. A resposta está dentro de você.” Depois dessa frase, ficamos em silêncio. Seguimos o trajeto, eu o deixei na casa dele, e voltei para a minha. Estacionei o carro, subi, observei a Cléo dormindo e fiquei pensando: “A resposta está dentro de você”. Fui para a varanda do apartamento e fiquei refletindo por horas. “A res- posta está dentro de você”, “a resposta está dentro de você”, aquela frase dita pelo meu pai não saía da minha cabeça. E foi em um instante, ali naquela va- randa, que uma grande ficha caiu pra mim: Não era a resposta certa que estava dentro de mim, mas sim a PER- GUNTA CERTA! Eu então me perguntei: — “Se eu quero ter um casamento acima da média, vivendo momentos de felicidade na maioria do tempo, eu tenho que perguntar aos casais que têm esse tipo de relação. Qual é o segredo? O que eles fizeram dife- rente de mim?” Mas onde eu iria encontrar esses casais? Eu não tinha qualquer referência próxima. A maioria esmagadora das minhas amigas estavam se divorciando, outras indo para o segundo ou 3° casamento! Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 49 Foi então que eu pensei: “Talvez em livros ou na internet!”. Não sei, mas precisava descobrir se existiam pessoas que tinham um ca- samento extraordinário e o que elas estavam fazendo, exatamente. E assim, eu iniciei a minha busca. Comecei a seguir algumas pessoas que eu tirava lições preciosas, como o casal Ítalo e Samia Marsilli, assistindo lives, lendo e observando o conteúdo em postagens e cursos online. Comecei a acompanhar a Stacey e o Paul, um casal de americanos espe- cialistas em relacionamentos. Mergulhei de cabeça para entender o que eles traziam de mensagem, onde estava o grande “X” da questão que poderia mudar o Rômulo. Até que finalmente encontrei a resposta que eu tanto procurava. Eu descobri que todas aquelas pessoas ou especialistas que tinham um casamento extraordinário, faziam algo em comum... Elas não focavam em mudar os seus parceiros. Elas focavam em mudar os seus relacionamentos com eles. E calma! Eu sei que parece que eu não falei coisa com coisa agora, mas deixa eu te explicar. Quando a gente começa a se relacionar com alguém, a coisa mais comum do mundo é nós não nos darmos conta que o relacionamento que a gente tem com a pessoa é totalmente diferente da pessoa em si! Eu vou repetir outra vez, porque quando essa ficha caiu para mim, tudo mudou! Perceba uma coisa: O Rômulo é uma pessoa, e eu sou uma outra pessoa. Eu não tenho o Rômulo nem ele me tem. Essa posse não existe. E por isso, além da gente nunca ter conseguido mudar um ao outro, esse também não é um direito nosso! Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 50 Se parar para pensar direitinho, nem Deus muda a gente, mesmo po- dendo fazer isso, ele nos deu o livre arbítrio. Como nós, simples mortais, ficamos tentando mudar uns aos outros o tempo todo? Agora o que eu tenho com o Rômulo (essa coisa linda da minha vida), é um relacionamento, que por sinal, é um casamento. Esse sim nos pertence e não é só nosso direito, mas também é nosso dever mudarmos o nosso relaciona- mento para melhor, sempre. E foi essa ficha que caiu para mim quando eu descobri o que as pessoas, os especialistas, fazem para ter um casamento extraordinário. Elas focam em mudar os seus relacionamentos e não os seus parceiros. E elas fazem isso através do Relacionamento de Contribuição. Mas calma, que agora vem a melhor parte! Como o seu relacionamento é formado pela parcela que você contribui mais a parcela que seu parceiro ou parceira contribui, você pode contribuir com um volume tão grande de coisas que melhoram o seu relacionamento, que a parcela do seu cônjuge, proporcionalmente, vai ficar miudinha. Dessa maneira, essa parcela do seu cônjuge quase não faz mais efeito e, no final das contas, você consegue acabar comas brigas e salvar o seu casamento, mesmo que o seu cônjuge se recuse a mudar! E isso acontece porque você não está com o foco em mudar ele ou ela, mas sim em mudar o seu relacionamento. E isso sim, muda tudo! 2.2 – O Relacionamento que dá certo! Deixa-me te mostrar exatamente alguns passos que eu comecei a identificar, e cheguei à conclusão que são fundamentais para desenvolver um relaciona- mento de contribuição. Passo 1 — Entender o que é o casamento e o seu propósito Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 51 Passo 2 — Escrever o que você precisa fazer no dia-a-dia para melhorar seu casamento Passo 3 — Compreender as diferenças de comportamento entre você e seu parceiro Passo 4 — Aprender técnicas para resolver conflitos Passo 5 — Saber como lidar com as influências externas ao relacionamento Passo 6 — Aprender a liberar o Perdão Passo 7 — Desenvolver a sua Autoestima Passo 8 — Entender a função do Sexo no casamento e como lidar com ele Esses aqui são os passos gerais que qualquer pessoa precisa seguir para começar a construir um casamento, de fato, extraordinário. No passo 1, muitas pessoas se surpreendem, porque não sabem a ver- dadeira definição do que é um casamento, e muito menos desenvolvem o motivo e o propósito corretos de se casarem. Como o Rômulo já mencionou antes, a realidade é que muitas pessoas se separam, não porque os problemas são grandes, mas porque os motivos de terem casado são pequenos. Enten- der isso é a base, é o terreno para você se situar e começar a construir. O passo 2 foi algo que eu acabei desenvolvendo na prática. Durante essa busca, intuitivamente eu resolvi criar um caderno e dividi ele em dois lados, um lado onde eu coloquei todas as características que eu entendi que seriam de um relacionamento extraordinário, e do outro lado, tudo que eu estava er- rando e fazendo diferente daquilo. Tenha coragem de fazer isso, porque você pode se surpreender muito. Quando eu coloquei no papel eu percebi que es- tava inicialmente repetindo os mesmos erros dos meus pais, e o lado dos erros era impressionantemente maior e eu nem sabia disso antes de fazer o caderno! O passo 3, todos nós temos uma vaga ideia. Nós até sabemos que somos diferentes, está na cara, no corpo, na voz, nas atitudes. Mas quando eu e o Rômulo começamos a mergulhar nesse universo, nós descobrimos coisas que não fazíamos a mínima ideia. Assuntos como o perfil comportamental Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 52 de cada um, crenças diferentes do nosso passado que carregávamos, formas de demonstrar o amor e de se sentir amado. Diferenças que jamais tínhamos parado para pensar, e que nos permitiram fazer um ajuste fundamental para começarmos a entender melhor um ao outro. No passo 4, existe uma realidade não só para o casamento, mas para a vida como um todo. O sucesso vem da nossa capacidade de resolver nossos problemas, nossos conflitos da melhor maneira possível. A grande descoberta aqui é que nos casamentos bem sucedidos, extraordinários, eles passam por conflitos também... Mas a grande diferença é que eles possuem habilidades e ferramentas para resolver esses conflitos de forma rápida, eficaz e que per- mita que eles cresçam com cada desafio superado. Sempre existirão pessoas próximas que vão, de alguma forma, tentar in- fluenciar o seu relacionamento. No passo 5, nós entendemos que, a partir da unidade que construímos, devemos desenvolver também uma blindagem contra as influências externas. A descoberta de uma fórmula de sucesso para lidar com sogros e sogras, cunhadas e cunhados e qualquer outro parente ou amigo que, por algum motivo, se apresente para influenciar é algo sensacio- nal. A caminhada se torna mais leve, você continua honrando seus pais, que é fundamental, mas consegue estabelecer limites e proteger a sua relação. Já no passo 6, o entendimento da essência do perdão é algo que cura e permite a progressão a partir das nossas imperfeições. Não se engane, por mais que você ache que você está sempre certa, ou que quase nunca erra, na caminhada de construção de um relacionamento saudável, é imperativo que se entenda sobre o perdão e se aprenda a fazer isso de forma rápida e eficaz. Quando você entende que o perdão não é uma emoção, algo que você pre- cisa sentir aí no seu peito, mas sim que é uma atitude, tudo muda! E quando você percebe que não perdoar faz mais mal a você do que para outra pessoa, o caminho para o ajuste começa a ser construído. Esse passo é fundamental. O passo 7 diz respeito ao requisito básico para você desenvolver amor por qualquer pessoa: Ame-se a si mesmo primeiro. E o desenvolvimento do Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 53 amor-próprio passa pela elevação da autoestima. As características que, de fato, você possui ou pode desenvolver para se estimar. Ninguém irá fazer isso por você, se você mesmo não fizer. E se você busca um amor genuíno de ou- tra pessoa por você, a primeira grande medida a se estabelecer é aumentar a sua autoestima e o seu amor próprio antes de tudo. O passo 8 foi uma surpresa gostosa, mas que, de fato, eu não entendia muito. A mesma falta de entendimento que eu via na maioria dos casais. O sexo sempre é objeto de reclamação, mas pouquíssimas pessoas entendem a função dele no relacionamento! A busca apenas pelo prazer individual ce- gou os casais, que acabaram se afundando em pornografia, ou deixando de transar, ou buscando fora da relação algo para suprir as necessidades indi- viduais mais uma vez. E o sexo é um elemento de conexão tão essencial no relacionamento, não apenas pela busca de prazer, mas pela manifestação da intimidade e concretização da unidade através do corpo. Nós dizemos que é o melhor termômetro do relacionamento. E, para alguns casais, esse termô- metro já quebrou há muito tempo porque não entenderam isso. Durante toda essa minha descoberta, a organização desses passos me permitiu criar um relacionamento extraordinário justamente através desse novo modelo de se relacionar, o RELACIONAMENTO DE CONTRIBUIÇÃO. E como você já viu antes, o Relacionamento de Cobrança é o que a maioria das pessoas está vivendo hoje, e o que muitos casamentos fracassados utili- zaram. Não dá certo e nunca vai dar certo. 2.3 – Cobrança X Contribuição Bom, antes da gente evoluir para uma parte mais prática do Relacionamento de Contribuição, eu quero me aprofundar um pouco nas diferenças entre esses dois modelos de relacionamento, pra que você possa entender exata- mente onde estão os pontos que você precisa mudar aí no seu casamento. Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 54 Para isso, nós fizemos um quadro comparativo, que vou colocar aqui abaixo. É bem provável que esse quadro, pelo menos no início, vai se tornar um grande aliado pra você começar a implementar uma mudança na sua vida a dois. E eu digo no início, porque, conforme você for construindo um relacionamento melhor, essas informações vão sendo internalizadas e ficando automáticas em você. Eu sugiro, inclusive, que você o coloque na porta do seu armário, de re- pente dentro do seu carro ou como uma foto salva no seu celular para consul- tar constantemente. Ele vai te mostrar de uma forma muito clara e direta se o que você está fazendo tem a ver com cobrança ou com contribuição. RELACIONAMENTO DE COBRANÇA RELACIONAMENTO DE CONTRIBUIÇÃO UM PARCEIRO NÃO É LIVRE X OS DOIS PARCEIROS SÃO LIVRES BUSCA SATISFAÇÃO PRÓPRIA CONTROLAR RECLAMAR PUNIR MANIPULAR CULPAR, ENVERGONHAR COMPETIÇÃO, NECESSIDADE DE GANHAR CRÍTICA MEDO J U L G A M E N T O COMPREENSÃO SINCERA ALINHAMENTO ACEITAÇÃO APRECIAÇÃO COMPAIXÃO COLABORAÇÃO EMPATIA INSPIRAÇÃO SERVIDÃO AMOR O que você vai observar, primeiramente, nesse quadro é que existe uma linha clara, divisória, entre esses dois tipos de relacionamento,que é a linha do Julgamento (ou comparação). Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 55 A linha tênue entre estar em um relacionamento de contribuição e ser acionado para entrar em um relacionamento de cobrança imediatamente é o julgamento. Isso acontece, porque, no minuto que você começa a julgar ou se compa- rar com a outra pessoa, no minuto que você pensa algo do tipo: “Nossa, isso que ele fez foi estúpido, não é o que eu teria feito no lugar dele.” ou “Quem, pelo amor de Deus, falaria uma m**** dessas!”, ou “Porque ele é desse jeito? Por que ele pensa desse jeito tão errado?”, você, automaticamente, pulou pro lado esquerdo do quadro. Você começou a julgar e se comparar. E na hora que você começa a julgar o outro, o foco passa a estar comple- tamente direcionado para a outra pessoa e, principalmente, as característi- cas que você considera ruins dela. Acontece que, como já falamos anteriormente, as pessoas são completa- mente diferentes umas das outras. A atitude do seu parceiro, quase sempre, será diferente, da atitude que você teria e, logo, diferente do que você gos- taria! Pode ser pior do que você gostaria… mas também pode ser melhor! O fato é que, quando você começa a se comparar, você personaliza um problema. E, ao invés de entender que aquela situação ali precisa ser re- solvida objetivamente, você começa a culpar o outro e colocar o problema na pessoa! E adivinha… quando você faz isso, você, automaticamente, tira a sua responsabilidade de resolver. Porque o outro é que “tem que mudar!”, e não você. E aqui tem algo extremamente importante. Todas essas atitudes do relacionamento de cobrança, como agradar o outro para ser agradado de volta, o controle, a reclamação, a punição, as barreiras, a manipulação, o convencimento, a cobrança, a crítica, a frustração, a proteção, isso tudo não é AMOR! Vou repetir. Quando você observa de uma maneira mais objetiva e me- nos emocional, você descobre que isso definitivamente não é amor! É apenas você, de forma egoísta, querendo se satisfazer às custas do outro. Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 56 Mas olha que incongruência. Você está em um relacionamento para de- senvolver e cultivar amor, e, diversas vezes, você aplica no seu relaciona- mento essas táticas que, claramente, não representam o amor em essência. A grande verdade é que todos os dias que você acorda, todos os dias que você se levanta e está ao lado de uma outra pessoa, em cada minuto desse dia, ou você está construindo ou você está destruindo o seu relacio- namento, e isso depende de que lado desse quadro você está se apresen- tando na sua relação. Quando você se apresenta do lado do relacionamento de cobrança, com alguma dessas características que estão no quadro, você está destruindo e caminhando para um relacionamento fracassado. Quando você se apresenta do lado do relacionamento de contribuição, aplicando e utilizando as características desse outro lado, você está cons- truindo o seu relacionamento e tornando-o extraordinário e duradouro! O fato é que, quando eu estava na minha pesquisa para identificar o que faz os casais desenvolverem um casamento acima da média, vendo grandes referências no cenário mundial, esses especialistas tinham características peculiares. Essas qualidades eu realmente não detinha, e pelo contrário, eu, na verdade, tinha características muito semelhantes com as que existiam no casamento dos meus pais! Foi nesse momento que eu percebi que eu precisava ter atitudes diferen- tes no meu casamento para alcançar um casamento diferente. E, assim, eu coloquei o meu foco em: Quais atitudes podem transformar a minha relação? E aí, eu percebi que eu poderia, por exemplo: — Priorizar as necessidades do Rômulo; — Estar mais atenta aos anseios e projetos dele; — Focar nas escolhas e decisões que sustentavam o desenvolvimento sau- dável da nossa família. Foi nesse processo que eu tive uma constatação clara que estava no ca- minho certo! Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 57 2.4 – Quando tudo começou a mudar Se você nos acompanha um pouco nas redes sociais e sabe um pouquinho da nossa história, provavelmente já deve ter ouvido o Rômulo mencionar algu- mas vezes sobre a situação mais desafiadora que passamos no início do nosso casamento. A nossa filha Cléo passou por um sério problema de saúde e foi internada no hospital. Esse momento foi um ponto de inflexão no nosso casamento. Era início de dezembro, aquele clima de fim de ano começava a nos inspirar para as festividades. Um momento ímpar, porque se juntava a felicidade enorme da nossa filha caçula ter nascido cerca de 2 semanas antes. Mais precisa- mente, Charlotte tinha 18 dias, quando a Cléo foi levada ao Hospital. Eu lembro com clareza quando a vi chegar da escola muito chorosa, pe- dindo colo falando que queria dormir. Notei que a febre, que já durava 4 dias, tinha voltado e a respiração estava muito pior do que estava pela manhã. Liguei para o Rômulo e disse que iria ao hospital, porque a Cléo não estava bem. Ele pediu para aguardar um pouquinho pois em algumas horas estaria che- gando de uma cirurgia. Eu separei leite, liguei para minha mãe pedindo para ela vir até a nossa casa para olhar a caçula Charlotte, enquanto íamos para o hospital. Era uma situação tensa, nunca tínhamos ido numa emergência com ela, e aqueles poucos minutos em que se aferia a saturação de oxigênio, medição de temperatura e a chegada da médica plantonista, pareciam uma eternidade. Os olhares dos médicos, e as conversas deles com o Rômulo foram me dei- xando cada vez mais tensa. Logo o Rômulo veio me falar que ela precisava fazer um raio x, e ele foi lá dentro carregando nossa filha no colo para fazer o exame. Eles demoraram a voltar, e aquele tempo parecia uma eternidade pra mim. Até que uma médica veio na minha direção, pegou na minha mão e disse: “O raio x apresentou uma pneumonia na base do pulmão direito, a saturação não está boa, os exames de sangue mostram uma infeção Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 58 importante e ela vai precisar ir para o CTI, entrando com o protocolo de Sepse – Infecção Generalizada” Eu realmente senti que estava perdendo o ar. Acredito que essa é a pior sensação que uma mãe pode ter, de impotência e culpa. Eu tinha um pensa- mento fixo de que algo tinha sido feito de errado por nós no período que a Cléo estava doente, que coincidiu com o nascimento da irmã, e eu me sentia mais culpada ainda, com uma clara sensação que, talvez, eu não estava tão atenta... que podia ter impedido aquela internação. O que mais me chama atenção nesse episódio é que, se fosse em outro momento, após ouvir o diagnóstico, mesmo estando dilacerada pela culpa materna, eu teria virado automaticamente para o Rômulo e, ao invés de focar numa solução, estaria focada em buscar um culpado principal, que, no caso, obviamente, seria ele! Usaria minhas energias para despejar toda a minha raiva, angústia e frustração no Rómulo pelo simples motivo que essa era a forma que sempre utilizei desde que casamos. Mas, ali, naquele dezembro de 2018, percebi que o nosso casamento es- tava diferente, naquele momento eu focava minha atenção nas explicações do Rômulo, na forma suave que ele segurava a minha mão, hora alisando, hora enxugando uma das minhas inúmeras lágrimas. Eu lembro até hoje da última frase que ele me disse: “Acredite, se tivesse outra opção, eu seria o primeiro a buscá-la, mas não tem. Essa é a melhor escolha para a Cléo. Eu estou aqui e ela vai ficar bem” Nos abraçamos, eu chorei um pouco, me sentia surpresa e angustiada pela incerteza do estado de saúde da nossa filha. Mas voltei para casa com fé na cura dela e convicta que ela ia ficar bem. Alguns dias depois, Cléo finalmente teve alta e poderia continuar o tratamento em casa. Eu agradecimuito a Deus, enquanto andávamos para o estacionamento Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 59 do Hospital, eu, Rômulo e Cléo. Observei o Rômulo prendendo aquele corpinho indefeso na cadeirinha do carro e, ali, eu notei onde havíamos chegado. Eu e Rômulo estávamos, de fato, juntos. Passamos por aquele momento tão doloroso, entrelaçados, buscando dar o nosso melhor pela cura da nossa querida Cléo. Não buscamos culpados, não nos agredimos verbalmente, não tentamos derrubar o emocional do outro, não tínhamos passado dias buscando o epi- sódio que tinha agravado o estado de saúde dela. Nós simplesmente abraça- mos a dor e dividimos ela, entendendo que, se cada um desse a sua força, o momento seria menos doloroso, tanto para um quanto para o outro. Nós havíamos superado aquilo. E nós estávamos crescendo e aperfei- çoando o nosso casamento. Esse era o nosso ponto de virada. O Relaciona- mento de Contribuição estava se tornando realidade na nossa vida. 2.5 – Um novo relacionamento e uma nova missão [Rômulo] Eu me lembro perfeitamente desse dia, como se fosse hoje. Eu me lembro com clareza aquela primeira noite acordado sentado do lado da caminha da Cléo no CTI, preocupado com a saúde dela e, ao mesmo tempo, refletindo sobre a impor- tância da vida e de como as coisas estavam caminhando comigo e com a Isabela. Tive uma percepção nítida de como a Isabela começava a agir de forma com- pletamente diferente comigo. E, na verdade, esse foi um grande estalo para mim, pois eu passei a refletir uma coisa: “Calma aí, como eu não percebi isso antes? Isabela já vem tendo atitudes bem diferentes e eu que continuava vivendo em um relacionamento de cobrança. Eu preciso mudar isso!” Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 60 Comecei a sentir um misto de vergonha e de esperança. Vergonha porque ficou claro, através das atitudes dela, como eu não estava dando o melhor de mim para o nosso casamento. E esperança, porque eu vi ali que nosso casa- mento estava melhorando, e muito. E, então, toda essa nova Isabela, com atitudes diferentes, começou a me inspirar a ser um homem melhor, me inspirar a me mover na direção de enten- der mais sobre como desenvolver um relacionamento extraordinário, aprender o que era o relacionamento que estávamos vivendo e o que podíamos melhorar ainda mais. E na medida que íamos melhorando, eu ficava pensando em quantas coi- sas eu não sabia e nem fazia ideia ainda! A partir dali, juntos, nós começamos a mergulhar na busca ainda mais intensa por conhecimento sobre o assunto. E, na medida que aprendíamos mais, íamos crescendo e melhorando nossa relação. Nós começamos a perceber algo muito importante. Muitas pessoas à nossa volta estavam passando por problemas e sofrendo com os mesmos desafios no relacionamento que nós tínhamos passado. Víamos casais com dificuldades, famílias passando por sofrimento de separação, e pensávamos: — “E se as pessoas começassem a saber o que nós estamos aprendendo? Muito sofrimento poderia estar sendo poupado. Muitos filhos não esta- riam chorando e famílias se desestruturando.” Começamos a sentir um desejo ardente de compartilhar e, de certa forma, até um sentimento de obrigação em compartilhar o que nós sabíamos que realmente funcionava. Isabela foi abençoada ao se transformar na melhor, mais autêntica e sábia versão dela. Ela salvou nosso relacionamento e despertou junto comigo essa busca e essa descoberta sobre o Relacionamento de Contribuição. Ela transformou nosso casamento fracassado em Extraordinário. Capítulo 2. O que os relacionamentos que dão certo têm em comum? 61 E nós criamos uma missão: Ajudar o maior número possível de pessoas a criar um casamento extraordinário através dos nossos ensinamentos e experiências nas redes sociais, diariamente. É um conjunto de habilidades que podem ser aprendidas por qualquer um. Nós sabemos disso porque nós tivemos essa oportunidade de aprender. Nós separamos um tempo para ensinar pessoas como você a desenvolver habilidades para transformar o seu relacionamento mais rápido, mais fácil e mais eficaz do que foi para a gente. E o melhor de tudo. De uma forma que basta uma pessoa no casal apren- der tudo isso para transformar o relacionamento dos dois! Assim como a Isa- bela fez conosco. Eu me lembro em uma de nossas conversas eu dizendo: “Vida, nós precisamos compartilhar esse conhecimento, para que outras pessoas possam passar pela mesma transformação. Isso vai salvar mi- lhares de casamentos!” E é justamente o que está acontecendo aqui nesse exato momento em que você está lendo esse livro. Isso aqui é fruto desse desejo ardente de mos- trar para você que é possível viver um relacionamento extraordinário. Talvez você ainda não tenha conhecimento e habilidades. Mas é justa- mente por isso que esse livro foi escrito, para que você, assim como nós, aprenda a desenvolver um relacionamento de contribuição e construir a vida a dois que você deseja e merece viver. CAPÍTULO 3 VOCÊ x SEU CÔNJUGE 3.1 – Rômulo x Isabela Essa rotina se repetia sempre na hora de irmos dormir. A primeira coisa que eu fazia sempre ao entrar no quarto, independente da temperatura lá fora, era ligar o ar-condicionado na mínima temperatura. Isso era algo que inco- modava muito a Isabela, que, geralmente, fazia uma cara feia e uma puxada brusca de edredom. Uma noite ou outra? Não, toda noite era assim! Isso nem era tão incômodo (para mim obviamente) se comparado à mania insistente que a Isabela tinha de não dar a mínima para chegar no horário cor- reto dos compromissos. Se tínhamos cinema às 20:00h, eu me ajeitava todo, ficava pronto para sair às 19:30h (sabia que demorava 15 minutos para chegar no cinema, mais 15 minutos para a pipoca e refrigerante, portanto chegaríamos na hora certa). Isabela se arruma em 5 minutos para qualquer lugar que nós vamos. O problema nunca foi o tempo para se arrumar, mas o tempo para sair da inércia e se colocar em movimento para se arrumar e sair. Era tipo assim... O filme era às 20:00h. Quando eram 19:50h, ela começava a se ajeitar. Quase sem- pre chegávamos atrasados nos lugares. E aquilo me consumia internamente de uma maneira impressionante e sempre me gerava um questionamento: Capítulo 3. Você x seu cônjuge 64 — “Como ela pode ser tão diferente? Porque ela não pode simplesmente dar importância para chegar na hora certa das coisas que marcamos?” Eu costumava falar uma frase clássica: “Se você não consegue controlar o seu horário, você não consegue controlar a sua vida.” Certa vez, numa dessas idas ao cinema, que, obviamente, eu cheguei ir- ritado por estar atrasado, durante o filme, Isabela resolveu começar a falar. Isso para mim era algo que eu estava começando a tentar a me adaptar, por- que uma das características da Isabela é falar muito, completamente oposto ao meu perfil, que tendo muito mais a ouvir do que a falar. Isso foi marcante, porque, em um dado momento, no início do filme, a senhora da cadeira ao lado, virou para ela e pediu, gentilmente, para que pa- rássemos de falar, pois estava atrapalhando a atenção dela. Minha nossa, que desagradável! Como ela era diferente de mim! Eu já sabia que poderia ser assim, mas não a esse ponto. No início do nosso relacionamento, ela mesma, em um dos nossos primeiros encontros, já tinha me avisado: — “Olha, se você achar que eu estou falando muito, vamos usar a tática da pedra, papel e tesoura. É só você falar isso que eu entendo, ok?” Essas eram diferenças marcantes e perceptíveis na superfície do dia-a- -dia. É óbvio que passamos a identificar algumas outras mais profundas com o passar do tempo. Você, talvez, deve estar pensando o quanto, de alguma forma, você tam- bém tem diferenças com seu parceiro. Um gosta de praia, o outro de serra… Capítulo 3. Você x seu cônjuge 65 um de banho fervendo e o outro frio...um gosta do dia e o outro da noite... um gosta esporte e outro nem tanto. 3.2 – As diferenças que fazem a diferença Essas são diferenças que, muitas vezes, contadas assim nos fazem até dar gargalhadas. Mas perceba uma coisa que vou te falar agora: A raiz da maio- ria dos problemas no relacionamento está na falta de compreensão dessas nossas diferenças, e em simplesmente não aceitar que elas existem e que precisamos saber lidar. Diferenças profundas que, no dia-a-dia, acabam por gerar grandes conflitos. Muitas pessoas dizem amar a pessoa com quem se casou, mas o que você mais deseja é que a pessoa se torne parecida com você ou faça as coisas que você espera dela (lembram do relacionamento de co- brança?). Ou seja, você na realidade não ama a pessoa com que você se casou, você ama a pessoa que você gostaria que ela fosse para te satisfa- zer. Só que ela não é! Nós vivemos em uma sociedade que insiste em implementar que todos sejamos iguais. Mas, na verdade, o que temos que entender é justamente o oposto: que todos somos diferentes. Quando pesquisamos mais a fundo os problemas no relacionamento, a raiz da maioria deles está na falta de compreensão dessas nossas diferenças. A gente quer que nossos parceiros falem, pensem, sintam e processem o mundo do mesmo modo que nós fazemos. Esse é o grande problema. Você tenta avaliar o outro pela sua visão de mundo, e, acabar com isso, é um dos primeiros passos, e que faz a total diferença no relacionamento. Quando você se casa com uma pessoa do sexo oposto, você ainda tem as diferenças gritantes que existem naturalmente entre homem e mulher. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 66 Somos completamente diferentes em vários aspectos. Sejam eles físicos, me- tabólicos, hormonais, sensoriais, cognitivos e comportamentais. Além disso, precisamos lidar com as diferenças de perfil comportamental individual que cada um de nós temos. Você já percebeu que existem pessoas que gostam de falar mais e outras que preferem ouvir mais? Umas que gos- tam de festas para tudo e outras que nem apreciam tanto isso? Umas que são mais metódicas, que não gostam de muitas mudanças, e outras que adoram inovar? E o que acontece quando pessoas com essas diferenças passam a conviver na mesma casa pelo resto da vida? Esses são comportamentos individuais característicos de cada um de nós, e quando não sabemos que eles existem, quando não sabemos como lidar com os perfis comportamentais específicos, as chances de conflito aumen- tam exponencialmente. Como se não bastassem as diferenças no nosso DNA de homem e mulher estabelecidas desde o princípio, e as diferenças de comportamento que va- mos desenvolvendo ao longo da vida, existe algo muito impactante que ainda influencia ainda mais a relação. É o que eu chamo de “bagagens”. Por mais que possa parecer romântico você dizer “O seu passado não me interessa, só quero saber de nós daqui pra frente”, eu preciso te dizer que isso é uma grande ilusão. Os dois entram no relacionamento carregando uma bagagem imensa, uma mala repleta de influências da criação e dos ensinamentos que recebe- ram dos pais, alguns traumas que viveram, inseguranças que foram desen- volvidas e o que eu acho mais pesado dentro da bagagem: as expectativas pro futuro. Expectativas que, na doce ilusão de um recém casado, surge na mente algo como: “Se ela me ama de verdade, ela vai querer as mesmas coisas que eu quero.” Capítulo 3. Você x seu cônjuge 67 Como se o amor fizesse isso de maneira automática. Sabe qual é a ver- dade dolorosa? Ele não faz. E, alinhar essas expectativas é algo que define muita coisa na trajetória de um relacionamento. E já que tocamos na palavra “amor”, existe uma outra diferença que pou- quíssimos casais entendem, que pode mudar completamente a forma de agi- rem para melhorar o relacionamento. Quero te fazer uma pergunta direta: — Você se sente amada? Você acha que seu cônjuge se sente amado? Você pode estar respondendo assim: — “É claro que sim, Dr. Ele nunca reclamou. Mas já que você tocou nesse assunto, tem muitos momentos que eu não me sinto amada não...” Entenda uma coisa, além das diferenças que apresentei antes, cada um de nós tem um idioma de amor. Uma forma de nos sentirmos amados ou nos amarmos. — “Como assim Romulo? Idioma de amor?” Exatamente, a forma como nos expressamos e a forma como nos sen- timos amados pode variar muito. Tem pessoas que se sentem amadas com um toque físico, tem outras que se sentem com palavras ou atitudes... ou- tras pessoas preferem ser presenteadas. O fato é que, hoje, você pode estar vivendo uma batalha cruel com seu cônjuge pelo simples fato de, apesar de vocês se amarem muito, vocês não compreendem e não são compreendidos na linguagem de amor de vocês. Como podemos ter tantas diferenças? Minha nossa. E como eu gostaria de ter tido essa percepção no início do meu casamento. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 68 3.3 – As energias masculina e feminina O homem faz xixi em pé, a mulher, sentada. Inclusive, o homem vai ao ba- nheiro em uma festa para fazer xixi. A mulher quando vai ao banheiro, ajeita o cabelo, passa batom, se olha nos espelhos e, normalmente, passa alguns minutos conversando (além de fazer o xixi). — “Ei, eu sei disso tudo, Dr., não precisa falar todas as diferenças. Essa do xixi é clássica né?” Esse é o grande problema. Parece mesmo que as pessoas sabem disso tudo. Você olha para um homem e uma mulher e percebe claramente que são bem diferentes. Mas a pergunta que eu faço é: — “Por que, então, que não usam esse conhecimento para se entende- rem melhor, se aceitarem e respeitarem essas diferenças, utilizando-as como algo que fortalece o relacionamento, ao invés de se cobrarem, exi- gindo igualdade e enfraquecendo a relação?” Deixa-me adivinhar uma coisa... No início do seu relacionamento, as dife- renças entre vocês deixavam você simplesmente suspirando de paixão. “Olha como ele quase não fala, que bonitinho, adora me ouvir. Olha também como ele é meio desligado, muito lindinho né? E, que legal, ele não acha as coisas dele pela casa, muito engraçado isso, não é mesmo!” E com o tempo, aquilo que era lindo, diferente, novo e, às vezes, engraçado se tornou algo meio que IN-SU-POR-TÁ-VEL. Que você não aguenta mais. Ou seja, não são as atitudes, é a forma como olhamos e agimos em rela- ção às atitudes. E no momento que você compreende que homem e mulher Capítulo 3. Você x seu cônjuge 69 possuem características diferentes, você acaba conhecendo a grande razão para sermos tão diferentes assim: — “Somos seres feitos para o AMOR, para a entrega generosa, feitos para olhar nos olhos um dos outros e completar aquilo nos falta. São essas diferenças que nos fazem necessários.” É única e exclusivamente para isso. E essas características diferentes que nos completam, elas também nos permitem nos colocar no relacionamento com papéis diferentes e com energias características de homem e de mulher. O homem com uma força física maior, capaz de oferecer segurança, pro- teção e provisão. A mulher, com sua delicadeza, buscando ser cuidada, pro- tegida e reconhecida. Diante disso, é nítida a percepção do que eu chamo de Energia Mascu- lina e Feminina. São características que estão presentes de forma natural em cada sexo e que precisam ser equilibradas. ENERGIA FEMININA ENERGIA MASCULINA Receptividade Acolhimento Adaptação Regeneração Escutar Compreender Buscar segurança Estabilidade Intuição Inspiracão Harmonia Virilidade Força Ferocidade Rigidez Correr riscos Discutir Debater Desagradar Executar Fazer Resolver Capítulo 3. Você x seu cônjuge 70 ENERGIA FEMININA ENERGIA MASCULINA Sensualidade Atratividade Percepção Abrangente Fertilidade Criatividade Criação Abundância Cooperar Doação Amor Perdão Compaixão Passividade Agradar Cuidado Nutrir Alimentar Observar Ponderar Beleza ContemplarMistério Proximidade Avançar Ir adiante Dominar Agressividade Prover Distante Travado Pesado Duro Áspero Prático Proteção Estático Sol Pedra Eu fiz questão de te apresentar essa definição, porque, na prática do dia a dia, lidando com os casais, eu percebo dois grandes problemas: Capítulo 3. Você x seu cônjuge 71 1. O casal nunca tinha ouvido falar dessas características. 2. A energia do casal está invertida. Essas características que estão apresentadas nos quadros são as mais co- mumente encontradas em cada sexo e são as mais prevalentes. Mas isso não significa uma rigidez. Pelo contrário, todos nós temos as duas energias. No entanto, o homem se encontra na maior parte do tempo (e mais preenchido) pela energia masculina e a mulher pela feminina. 3.4 – Energias invertidas Isso tem uma explicação baseada na retórica do “empoderamento” feminino, que trouxe inúmeros benefícios para a mulher e para a sociedade, mas aca- bou por confundir os papéis dentro do núcleo familiar. Mulheres que foram exigidas de sua energia masculina no mercado de trabalho, ou criadas em seus lares dessa forma ou até mesmo influenciadas por uma cultura coletiva, acabam por se apresentar no relacionamento com a ativação masculina, e isso, obviamente, gera atritos intermináveis. Como consequência percebemos, na prática, que o homem acaba se- guindo um dos 2 caminhos ruins: 1. Mantém uma mentalidade do homem da caverna que se sente amea- çado, se tornando hostil, agressivo, violento, machista (o que só mos- tra a sua insegurança). 2. Se intimidam, se retraem (colocam a viola no saco) na tentativa de ajustar, de manter a paz, de não desagradar a mulher. Alguns acabam se retraindo tanto que ativam apenas sua energia feminina. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 72 A mulher presencia isso, se sente frustrada com a falta de iniciativa (por- que não está na natureza dela, apesar de estar no inconsciente coletivo), e ela não vê outra opção a não ser tomar a frente para o barco não afundar. O ciclo é montado. Esposa FRUSTRADA | Marido ENFRAQUECIDO E a forma para ajustar isso é retornando à essência. É como apertar um “Con- trol+Alt+Del” e voltar a caminhar na direção dos pólos de energia de cada um. Como? HOMEM: Se você é um marido sentimental, precisa vencer suas insegu- ranças para fazer sua esposa feliz. Ser menos emotivo e mais racional. Æ Busque ser mais firme e maduro. Æ Exercite sua capacidade de decisão, se esforce para tomar iniciativa mais vezes e sem medo de errar. Assim que se aprende. Æ Ative e exponha a sua energia que está cravado aí dentro. Essa é a sua identidade. Æ Virilidade, força com sensibilidade, capacidade de prover. Æ Faça-a sentir valorizada, amada e principalmente SEGURA (fisica- mente, financeiramente, emocionalmente) MULHER: Se você é uma esposa independente, racional, impositiva, bri- guenta, mandona, busque equilibrar o seu jeito e permita mais espaço para o seu marido dentro do relacionamento. Convide-o para tomar as decisões junto com você. Deus deu para você coisas específicas: feminilidade, doçura, sensuali- dade, poder de ser mãe, emoções muito mais aguçadas, organização. Permi- ta-se ser cuidada e protegida. Se abra para o uma perspectiva de admirar-se pelo que você é em essência, mesmo que não seja o que todas as mulheres à Capítulo 3. Você x seu cônjuge 73 sua volta estão pregando, e passe a admirar e estimular a energia masculina do seu cônjuge. Um excelente exercício é olhar para o quadro que coloquei antes e cami- nharem juntos, sempre tentando equilibrar as suas energias. 3.5 – Diferenças comportamentais Isabela adora falar e eu já contei isso aqui para vocês, não é mesmo? Lembram lá do cinema e o vizinho da cadeira chamando nossa atenção? Pois é, umas das maiores descobertas que tivemos no nosso relaciona- mento chama-se PERFIL COMPORTAMENTAL. Todos nós temos um perfil de comportamento. São características nas nossas atitudes do dia-a-dia, que são específicas da nossa personalidade. Algumas nós já nascemos com elas, outras vamos aprimorando e desenvol- vendo. Algumas pessoas gostam mais de falar, outras são melhores ouvintes. Umas são mais extrovertidas, outras menos. Umas gostam mais de se relacio- nar, outras gostam mais de se retrair. Isso é nosso, é individual. Em 1928, o psicólogo norte americano William Moulton Marston criou a avaliação “DISC”, que separa esses diferentes padrões de comportamento. Nós pegamos essa base e trouxemos para os relacionamentos. É impressionante como isso modifica completamente a sua visão em rela- ção aos seus comportamentos e principalmente, te prepara para lidar muito melhor com o seu parceiro. FALAR OUVIR D C I S TAREFAS RELAÇÕES Capítulo 3. Você x seu cônjuge 74 Um resumo das característica dos diferentes perfis no DISC: DOMINANTE (FALAR + TAREFAS) • Direto • Orientado a resultados • Firme • Persistente • Confiante INFLUENTE (FALAR + RELAÇÕES) • Extrovertido • Otimista • Bem disposto • Alegre • Comunicativos ESTÁVEL (OUVIR + RELAÇÕES) • Calmo • Tolerante • Diplomático • Amoroso • Bom ouvinte CONFORME (OUVIR + TAREFAS) • Analítico • Prudente • Meticuloso • Reservado • Sistemático ATENÇÃO É importante ressaltar aqui que não existe uma pessoa que tenha apenas um perfil de comportamento, pura e exclusivamente. Todos nós temos um pouco de cada perfil, sendo que apresentamos normalmente um perfil que é aquele mais intenso na nossa personalidade. É bem provável que, quando você começou a olhar essas divisões, você percebeu características suas e talvez do seu cônjuge ou de alguém próximo. Pois bem. O objetivo de falar sobre isso é que, a partir do momento que você identifica essas características suas, você começa a perceber que você pode se ajustar melhor. E, no momento que você observa as características do outro, você entende que pode responder melhor a elas. E esse é o pro- cesso que eu chamo de “Flexibilização Comportamental”. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 75 É você ter a capacidade de se observar e ajustar a forma como você se apresenta + Observar o outro e ajustar a forma como você o recebe e compreende. Ou seja: Flexibilização Comportamental = Ajuste de como você se apresenta + Ajuste de como você recebe o outro. Isso é impressionante e transformador. De fato, isso foi um divisor de águas no nosso relacionamento e das diversas pessoas que aplicaram esse conhe- cimento a partir do nosso treinamento online, o “Casamento Extraordinário”. 3.6 – As bagagens Você consegue visualizar uma noiva deslumbrante, com seus cabelos formo- sos, uma maquiagem deslumbrante, o vestido feito à mão nos mínimos deta- lhes, branco como a neve, e, para compor o visual, uma mochila imensa em suas costas? Provavelmente você nunca presenciou essa cena, mas, de fato, o que acon- tece em cada casamento é justamente isso. E não fique com ciúmes do noivo, ok? O noivo também carrega uma mochila gigantesca por baixo do terno. Não é uma mochila que você vê com seus olhos obviamente, mas é o que eu chamo de BAGAGEM. São influências de várias instâncias que você e seu parceiro carregam no momento que se unem no altar. Mas que mochila é essa? Essa mochila carrega muitas experiências, momentos, lições, traumas, medos, expectativas, pessoas, coisas que você se apega, e de forma bem pe- sada, as suas crenças. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 76 Todos nós desenvolvemos crenças. São ideias que recebemos principal- mente das pessoas que criaram a gente, ou que foram referência para nosso desenvolvimento durante um período de nossas vidas, e que nós trazemos como verdades inquestionáveis. Existem crenças positivas que nos ajudam muito. Mas existem crenças negativas, limitantes, que insistem em nos para- lisar e dificultar nossos relacionamentos. A forma como você foi criado e como você viu o relacionamento do seus pais, por exemplo,instalou na sua mente uma crença específica de como os relacionamentos são, e isso pode influenciar de forma importante vários as- pectos do seu casamento hoje. São essas influências que você precisa identificar e decidir, quais você deixará na bagagem e quais você irá tirar dela de forma intencional. É fundamental que exista um tempo para os dois sentarem, tirarem as mochilas das costas, abrirem, exporem as suas bagagens sem medo, e de ali- nharem aquilo que possa ajudar e aquilo que pode ser interferência e que deve ser eliminado. Talvez você tenha aprendido a lidar com o dinheiro e as finanças moldado pela forma como você viveu na sua infância. E aí você traz para o casamento a sua visão, acreditando (isso é uma crença) que essa é a melhor maneira de lidar com isso. E, de repente, seu cônjuge possui uma outra visão e uma habilidade diferenciada que pode ser muito melhor para a caminhada de vocês. Daí a im- portância de alinharem e entenderem quais são essas bagagens que carregam. Existem casais em que o marido, por exemplo, durante a infância, foi criado de uma maneira, sendo corrigido fisicamente, sendo educado de uma forma re- ligiosa específica e vendo o pai ser extremamente rude com a mãe. E então, ele carrega para o seu próprio casamento essa carga de exemplos, e, talvez, tente, em algum momento, repetir algumas características que ele acredita ser corretas. A grande verdade é que nós fazemos aquilo que aprendemos. Você acaba repetindo, inclusive, os erros dos seus pais, porque foi ali, na sua casa, que a escola do relacionamento aconteceu. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 77 Mas quando você entra disposto a viver um relacionamento acima da média, é fundamental identificar essas bagagens, reconhecer que elas não podem mais fazer parte da sua vida. E não se engane… Eliminar essas coisas, invariavelmente, é muito doloroso, mas extremamente necessário. O movimento necessário aqui é conhecer o seu parceiro e as bagagens dele para conseguir compreender alguns dos comportamentos que ele tem. Mas é, também, fundamental um olhar para dentro, para si mesmo, que per- mita você lidar com seu passado, suas raízes e suas crenças, de forma hu- milde e sem orgulho e vaidade. Quais os itens da sua bagagem e na bagagem do seu cônjuge que estão deixando pesada essa caminhada? Ou que irão afetar positiva ou negativa- mente o relacionamento no futuro? Você talvez precise olhar para o seu passado, relembrar algumas coisas, mudar um pouquinho o seu ângulo de visão, para identificar o que deve con- tinuar na sua bagagem, e o que deve sair imediatamente. E nessa altura do campeonato, você deve estar pensando: “Caramba, quantas diferenças que eu nem sabia que existiam. Que trabalheira lidar com tudo isso hein?” Leve essa frase para a sua vida: Casamento Extraordinário dá trabalho. Casamento medíocre, dá muito mais trabalho ainda. 3.7 – Os idiomas diferentes Talvez você fique pensando: “Como outros casais conseguiram atingir uma conexão tão grande, construíram um relacionamento ajustado e passaram a se sentirem tão amados e completos?” Capítulo 3. Você x seu cônjuge 78 Eu sei porque eu também já fiquei me perguntando isso. Tinha dias em que eu não me sentia amado, e dias piores ainda que eu não sabia se a Isabela se sentia amada por mim. Até que um dia, fazendo uma imersão on-line com um grande palestrante, eu o ouvi dizendo que, para você identificar se o amor estava sendo recebido, você, ao invés de simplesmente dizer “Eu te amo”, você deveria fazer uma pergunta chave para a outra pessoa, que é: — “Você se sente amada?” Nesse dia, eu comecei a pensar muito na interação com as minhas filhas. Porque, aqui em casa, sempre tivemos o costume de falar “eu te amo” diversas vezes para elas. Eu, então, passei a utilizar essa pergunta, e acrescentei uma segunda parte, quando a mais velha respondia: “Sim papai, eu me sinto amada.” Eu então perguntava: — “Quando você se sente amada?” E ela falava coisas como: “Quando você senta comigo e brinca. Quando você me abraça. Quando você ora de noite na cama junto de mim.” Nossa, como é libertador você saber que o seu amor está chegando no outro, e ele está recebendo e se sentindo amado. E por que eu estou te contando isso? É justamente porque, assim como na relação com a minha filha, no casamento, existe um idioma do amor. Uma forma específica que você se sente amada e uma forma específica que o seu parceiro também se sente amado. — “Idioma, Rômulo? Já não bastam todas aquelas diferenças, existe isso também? Como assim, idioma?” Capítulo 3. Você x seu cônjuge 79 Imagine, por um instante, que você só fala e entende Alemão. E então você vira para sua esposa, que só fala e entende português, e diz o seguinte: — “Ich liebe dich!” Ela não vai entender que o que você está falando é “Eu te amo”, só que em alemão. E ela vai continuar não se sentindo amada. Certo? O idioma do amor obviamente não são as línguas que nós conhece- mos (Inglês, alemão, chinês etc.), mas é um conjunto de formas que cada pessoa desenvolve para expressar o amor que sente e perceber o amor que recebe. E, se você quer comunicar o amor de forma efetiva, é fundamental você aprender essa diferença, e estar disposto a identificar o idioma do amor que o seu cônjuge compreende. É interessante que, durante algumas das nossas sessões de Mentoria, a gente ouve diversos relatos de pessoas reclamando que o marido (ou que a esposa) não diz “Eu te amo” para a pessoa. E isso deixava a pessoa em dúvida se, de fato, a outra pessoa a amava. E quando você entende que existem essas formas, esses idiomas, você resolve muitos dos conflitos que surgem no rela- cionamento justamente por causa disso. Existem 5 maneiras básicas pelas quais alguém pode expressar o amor, e cada um de nós tem uma sensibilidade maior a uma dessas em particular. Ou seja, nos sentimos mais amados quando alguém expressa o amor na linguagem que compreendemos melhor. E, se você já está aí fazendo os cál- culos direitinho, consequentemente, você precisa descobrir qual é o idioma do seu parceiro e expressar da forma que ele compreenda, para que ele se sinta verdadeiramente amado. Os 5 idiomas do amor são: Capítulo 3. Você x seu cônjuge 80 1. Palavras de Afirmação: São pessoas que se sentem amadas quando ouvem palavras de reconhecimento, de validação, de encorajamento, de apoio aos seus projetos e sonhos. 2. Tempo de Qualidade: Pessoas que se sentem amadas quando rece- bem atenção, com tempo de qualidade, sem estar mexendo no celular ou dividindo a atenção com outras coisas. 3. Receber Presentes: Existem aqueles que se sentem amados quando recebem um presente, algo palpável que simbolize a consideração, o esforço, o compromisso do outro. 4. Formas de Serviço: Há quem se sinta amado quando recebe um ser- viço. Quando o cônjuge, de repente, prepara um jantar, arruma a casa, cuida do jardim etc. 5. Toque Físico: Há ainda quem se sinta amado especialmente pelo to- que físico, seja um abraço, um beijo, o sexo. Essas são as formas identificadas por uma grande autoridade em rela- cionamentos, Gary Chapman. É importante saber que, raramente, um fala o mesmo idioma do outro dentro do casamento. Agora, imagine você vivendo anos ao lado de uma pessoa que não se sente amada, por mais esforço que você faça, simplesmente porque você não está falando a língua dela. Imagine quantos conflitos isso não gera! Agora, pense por um instante, você identificando a forma do outro se sentir amado, e você passando a investir nessa forma, a falar aquela língua, a expressar o seu verdadeiro amor. E, junto com isso, o outro entende e co- meça a expressar o amor da forma que você compreende. O outro se sente amado, você se sente amado. Muitos casamentos são restaurados assim, justamente porque muitas cri- ses surgem por causa desse desencontro dos idiomas de amor. Capítulo3. Você x seu cônjuge 81 3.8 – João e Maria Quando eu comecei a estudar mais profundamente sobre as nossas dife- renças, eu me lembro perfeitamente de ter lido essa história em algumas das dezenas de livros que me aprofundei. E eu vou compartilhar com vo- cês agora. João teve os pais separados. O pai abandonou a família quando ele ainda era pequeno, e a mãe se tornou uma alcoólatra. Dessa forma, João foi enviado para um internato quando tinha só sete anos de idade. Nesse tempo de internato, raramente o seu aniversário era lembrado com presentes. Quando recebia algum presente, esses presentes nunca eram em- brulhados. Mas João se adaptou, cresceu e se tornou um bom aluno e entrou para a faculdade. Até que conheceu Maria, que veio de uma família estruturada, a qual ela idolatrava os pais que sempre lembravam do seu aniversário e preparavam presentes e surpresas. Os dois se casaram, e logo após o casamento, era aniversário da Maria. João perguntou o que ela gostaria de ganhar. Ela deu algumas sugestões. Mas ficou na expectativa de que, no grande dia, ela seria surpreendida. João comprou 2 itens e os deixou em cima da geladeira, sem papel, sem embrulho algum. Ele estava muito feliz e pensava que estava fazendo sucesso. Três dias antes do aniversário, ela viu os itens lá, mas não entendeu nada. No dia do aniversário ela acordou, sem café da manhã, sem cartão e sem flores. Antes de sair para o trabalho, João pegou os dois itens sorrindo e lhe entregou. Ela desabou em lágrimas. E desde aquele dia o relacionamento de- les nunca mais foi o mesmo. Maria pensou em apenas duas coisas: Ou ele não me ama, ou é um mons- tro insensível. Ou o mais provável, as duas coisas. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 82 João percebeu que Maria tinha esfriado com ele e presumiu que ela, sim- plesmente, não gostava mais dele, já que era o padrão que tinha sido estabe- lecido na vida dele. Anos de problemas, dificuldades e silêncio. Aquele dia foi um propulsor para o desenvolvimento de várias outras questões. A cada dia que se passava, mais distante ficavam, até que um dia eles se divorciaram. Você pode achar isso um pouco infantil, de repente, mas se você começa a observar o relacionamento de muitos casais com dificuldade, os grandes problemas passam por questões semelhantes. Pode não ser um presente, pode não ser um embrulho, mas pode ser algo como a forma de lidar com o dinheiro, a forma de tratar o outro que foi aprendida e então se cria uma expectativa de ser tratado da mesma forma, o jeito de criar os filhos e por aí vai. No fundo, são todas bagagens que ambos carregam. No caso de João e Maria, eu poderia lhes fazer algumas perguntas: 1. Qual o principal problema por trás desse conflito? 2. Quando seria a melhor hora para conversar sobre isso? 3. Já ouviram o ponto de vista um do outro? 4. Que soluções possíveis podemos pensar para esse problema? 5. Qual delas poderíamos tentar primeiro? Percebam que, ao responder essas perguntas, as coisas poderiam ser cla- readas e, facilmente, ajustadas. Lembram quando eu falei para você que os casamentos acabam mesmo que as pessoas estejam se amando? É muito provável que João e Maria se amassem muito, mas não conseguiram identificar as bagagens e retirá-las para viverem um casamento saudável. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 83 3.9 – A jóia no carnê Quando o assunto é presente, eu me lembro, imediatamente, do início da mi- nha relação com a Isabela. Eu não entendia absolutamente nada sobre como fazer alguém se sentir amado, e jamais passaria pela minha cabeça saber que existiam linguagens, idiomas específicos de amor para nos comunicarmos. Pois bem, como qualquer homem, eu pensei em comprar um presente para demonstrar o quanto eu a amava. E me recordo, como se fosse hoje, eu escolhendo uma jóia caríssima, que não dava para parcelar no limite do meu cartão de crédito. Então resolvi fazer um carnê! Isso mesmo. Eu nem sei se existe isso ainda, mas me lembro eu levando um talãozinho cheio de desta- cáveis para ir pagando mensalmente. E todo dia 1 de cada mês eu pagava uma quantia considerável. Eu por que eu estou te contando isso? Eu entreguei a jóia de presente para a Isabela, e, obviamente, ela adorou. Ficou muito feliz e agradecida. Mas, eu, naquele tempo, comecei a pensar: “Cara, ela ficou muito feliz, mas, assim... Não vi que ela ficou tão mais feliz do que quando saímos, viajamos ou simplesmente separamos um momento só para a gente.” E, de fato, com o tempo, dando alguns outros presentes e vivendo o nosso dia-a-dia eu fui observando e valorizando isso também. Quando eu entendi, depois de estudar, que a linguagem de amor dela principal era tempo de qualidade, eu passei a comunicar isso de uma maneira muito me- lhor! (Ah se eu soubesse isso antes daqueles carnês! Na verdade, eles ainda estavam sendo pagos). E ainda mais interessante, e nem sempre muito comum com os casais, é que Isabela descobriu que a minha linguagem também era o tempo de qualidade. Ela parou de investir, também, em presentes caríssimos e os dois Capítulo 3. Você x seu cônjuge 84 então passaram a valorizar e criar cada vez mais os momentos que nos sen- tíamos amados. Como a gente fez isso? Perguntando. Isso mesmo. Perguntando e perce- bendo o quanto o outro se sente diante das linguagens e sendo muito, mas muito sincero um com o outro. Nessa trajetória, a Isabela descobriu, também, a minha segunda lin- guagem. Eu, de fato, não ligo para presentes, para datas comemorativas, para coisas materiais, mas ela percebeu a minha felicidade, quando, um dia, estava na correria de estudar e trabalhar e ela preparou o meu prato do almoço... Eu virei para ela e disse exatamente assim: — “Eu me sinto extremamente amado quando você prepara um prato de comida para mim.” Minha segunda linguagem mais forte são os atos de serviços. E é assim que você desenvolve uma interação extraordinária, sendo sincero! Por isso, entender essas diferenças de idiomas de amor é essencial. Ima- gina eu ainda gastando todas as nossas economias, tenso com o próximo presente, gastando meu tempo e energia, preocupado com os presentes que daria para ela... sendo que a linguagem dela não estaria sendo corres- pondida! Os dias se passando e eu perdendo a oportunidade de encher o tanque dela de amor, e, de repente, anos achando que estava fazendo bem. Mas presta bem atenção… Identificar essas diferenças é apenas um primeiro passo em direção à harmonia dentro de um relacionamento. Até porque é impossível elencar todas as diferenças existentes de uma só vez e aprender a lidar com elas instantaneamente. Elas vão surgir em momentos que, talvez, não sejam os melhores. E esse é o dia-a-dia. Essa é a realidade de qualquer relacionamento. Capítulo 3. Você x seu cônjuge 85 “Mas, ok, Rômulo. Eu estou entendendo sobre as diferenças que nós temos. Mas, como eu posso lidar com esses momentos do dia-a-dia que surgem inesperadamente? Sabe como é... vira e mexe uma briga, uma dificuldade.” Óbvio que, mesmo sabendo sobre todas essas diferenças, todo relacio- namento vai passar por conflitos. E eu uso o termo conflito porque eu e a Isabela não brigamos há muitos anos desde que descobrimos essa grande di- ferença, que nos permitiu encarar nossos problemas de maneira muito mais resolutiva! E é justamente isso que vamos falar no próximo capítulo. CAPÍTULO 4 RESOLVENDO OS CONFLITOS 4.1 – Um rasgo no pneu, e na relação Era um fim de tarde de domingo. O final de semana tinha sido maravilhoso, pois tínhamos ido de carro para um hotel fazenda na serra que fica há 200 qui- lômetros do Rio de Janeiro. Lá encontramos com meus pais, meus dois irmãos e suas filhas. Um hotel simplesmente sensacional para a família, com animais para as crianças, tirolesa para nos divertirmos e uma comida maravilhosa. Estávamos voltando no fim do dia, eu ao volante, dirigindo, conversandocom a Isabela e nossa filha Cléo, que, na época, estava com 2 anos e dormia tranquilamente na cadeirinha do banco de trás. Sabe quando você está na- queles momentos em que você se sente extremamente feliz e grato, empol- gado e sentindo que nada pode te parar? A não ser, obviamente, que um pneu do seu carro furasse! Já passou por isso? Pois é, Isabela já tinha me alertado para tomar cuidado com os buracos, mas depois de passar por alguns deles, um sinal de alerta no painel indicava que um dos pneus tinha furado. Estávamos na subida de uma serra, a uns 100km de distância da nossa casa. Já começava a ficar escuro e existia um pequeno detalhe: o carro não tinha estepe! Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 88 — “Quê? Como assim Romulo? Você está de brincadeira comigo, né? Sem estepe?” Pode falar isso meu amigo e minha amiga, porque essa frase já está gra- vada aqui na minha mente, pois era a frase que Isabela mais repetia. Deixa só eu explicar uma coisinha em minha defesa. Tínhamos um carro alemão nessa época, e todos esses carros não carregam estepe (o pneu so- bressalente). Eles possuem uma tecnologia que o pneu consegue sustentar o carro andando por cerca de 80km até um socorro, quando ele fura. Detalhes a parte, a situação era a seguinte: Fim do dia, eu, Isabela e Cléo dentro do carro, subindo uma serra, pneu rasgado e sem estepe. Lembro-me tenso e orando silenciosamente, ao passo que, no fundo, uma sinfonia de um disco arranhado ressoava… e era a Sra. Ostmann em um dis- curso mais ou menos assim: — “Eu te disse. Eu sabia. Esses carros alemães. Fala sério! Como pode não ter estepe? Isso é uma loucura. Você está com uma filha no carro. Eu sabia. Nunca gostei desse carro. Carro caro e ainda sem estepe? E eu ainda te avisei: Olha os buracos, cuidado com os buracos!” Até que avistamos um reboque levando um outro carro e pedimos ajuda. Esse mesmo reboque voltou algumas horas depois, nos levou até o posto de polícia mais próximo. Fizemos contato com a seguradora, que, imediatamente, mandou um re- boque e um carro para nos pegar. Imediatamente em termos, pois ficamos esperando umas 2 horas dentro de um posto de gasolina, com pessoas muito estranhas, o que, na minha percepção, era menos preocupante do que o dis- curso incessante da Sra. Ostmann, dizendo que sabia e que tinha avisado que isso tudo ia acontecer. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 89 Em resumo, algumas horas depois, conseguimos resolver tudo. Estávamos em casa, o carro rebocado para reparo e tínhamos sobrevivido sem nenhum arranhão... Quero dizer, com um rasgo enorme no pneu e um rasgo enorme na nossa relação, porque diante da narrativa contínua da Isabela, acabamos discutindo muito feio. Eu tentava mostrar para ela que, naquele momento, aquelas colocações não faziam sentido, pois precisávamos focar na resolução para sair com se- gurança de tudo aquilo. Mas, diante de tanto estresse, ela insistia em culpar, reclamar e dizer: “Eu te disse, eu te disse!” Toda aquela situação criou um grande rasgo no nosso relacionamento por dias. Mas, como o pneu foi consertado, eu e Isabela também conseguimos aprender a consertar o nosso rasgo. Conseguimos, na verdade, tirar uma grande lição de todo aquele mo- mento. Eu aprendendo a ouvir mais ela nas nossas decisões, dividindo as res- ponsabilidades igualmente, e ela aprendendo, de uma vez por todas, que, em situações de dificuldade, de estresse, de insegurança, o discurso do “Eu sabia, eu te disse”, por mais que fosse verdade, não adiantaria nada, só dificultaria a resolução do problema. E nisso tudo ficou dois grandes aprendizados: 1. Nós não estamos em trincheiras diferentes. Nós estamos do mesmo lado. 2. Precisamos aprender muito sobre como resolver melhor nossos conflitos. 4.2 – Uma arte pouco conhecida Pode ser que você nunca tenha passado por uma situação de tensão como essa. Mas, apesar de ainda não te conhecer pessoalmente, eu tenho certeza Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 90 de que, se você está vivendo um relacionamento nesse exato momento, você já passou, está passando, ou ainda vai passar por algum atrito. Seja por sogro ou sogra, seja por toalha em cima da cama (essa aqui já rolou muito aqui em casa), seja por questões financeiras, seja por criação de filhos, seja por ciúmes, seja pelo futebol, seja pela falta de carinho e de sexo, ou qualquer outro dos muitos motivos que, naturalmente, surgem em qual- quer relacionamento. A maneira como os casais lidam com as suas brigas é o indicador mais importante se o relacionamento deles será bem sucedido ou não. Como você percebeu no capítulo anterior, casar significa juntar duas pes- soas com bagagens diferentes, com perfil de comportamento diferentes, com linguagens de amor diferentes, com expectativas diferentes em um relacio- namento de unidade para o resto da vida. Mas já vou te adiantar... A direção certa para resolver conflitos não está em nos livrarmos das nossas singularidades, mas sim em aprender como transformar essas diferenças em recursos para nos ajudar, ao invés de carac- terísticas para nos atrapalhar. Agora, se você parar e olhar para os casamentos bem sucedidos e fizer uma comparação com aqueles casamentos fracassados você vai encontrar uma diferença marcante ligada aos conflitos. Casamentos bem sucedidos não têm conflitos? Claro, óbvio que têm. To- dos os relacionamentos extraordinários passam por conflitos e passarão até que a morte os separe. A grande diferença, e por isso que esses relaciona- mentos não fracassam, é que eles aprenderam uma das artes mais valiosas dentro de uma relação: a arte de resolver conflitos. Você acorda todos os dias e você tem alguma coisa para resolver, não é verdade? Por exemplo, você tem que resolver o problema de cuidar dos seus dentes, então você já sabe o que tem que fazer. Você vai lá e escova os seus dentes. Você tem que resolver a fome que corrói a sua barriga, então você vai lá e come. Você tem que resolver o problema de chegar até o seu trabalho, então Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 91 você pega um ônibus e resolve isso até chegar lá. E, adivinha uma coisa... Você chega no seu trabalho e, de uma forma ou de outra, você receberá o seu salário para resolver algum problema, encontrar alguma solução, não é verdade? E a sua vida terá sucesso quanto melhor você resolver todas essas ques- tões, da maneira mais eficiente possível. De forma semelhante, dentro do relacionamento é assim. Ter um bom relacionamento não significa não ter problemas. Significa desenvolver a arte de resolver problemas da melhor maneira possível. E essa melhor maneira permite que vocês cresçam com cada desafio enfrentado. E o relacionamento cresce sabe por quê? Porque os conflitos resolvidos de maneira positiva geram ainda mais intimidade entre o casal. 4.3 – Briga ou conflito? Há muitos anos que eu e Isabela não brigamos. E nós podemos garantir com 100% de certeza que você também pode acabar com as brigas a partir do en- tendimento do que eu vou te explicar aqui. — “Ei, calma aí, você acabou de dizer há pouco que todos os casamentos possuem brigas, tanto os bem sucedidos quanto os fracassados. E agora?” E agora? E agora que eu vou pedir pra você voltar nesse trecho lá atrás que você vai perceber que eu usei a palavra conflito. Existe uma diferença fundamental entre briga e conflito. Se você enten- der esse conceito, muita energia, muito estresse, muitos desgastes já serão poupados nos desafios que você vai enfrentar. Um estado de conflito surge toda vez que as necessidades e desejos de al- guém estão prejudicados. Isso acontece e acontecerá algumas vezes em qual- quer relacionamento por sermos pessoas diferentes, como já falamos antes. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 92 Se você não consegue resolver o conflito de forma correta, surge a raiva. E a forma como você lida com essa raiva é que vai definirse a questão vai se transformar em briga ou não. Quando a raiva não é filtrada e é exposta em palavras e atitudes, surge o que chamamos de briga. A psicóloga e especialista em resolução de conflitos conjugais, a autora Jamie Turndorf, em um de seus livros usa uma ilustração que eu gosto muito de visualizar quando entramos em discussões: “... os sentimentos de raiva nunca devem ser traduzidos em palavras. As emoções brutas de raiva nunca devem ser lançadas em sua forma pura sobre o parceiro. Descobri que é útil o uso da imagem de uma peneira quando falo de emoções muito fortes como a raiva. Antes de discutir com o parceiro o que a incomoda, você precisa filtrar suas emoções bru- tas usando essa peneira imaginária. Aquilo que permanece na peneira deve ser mantido para você mesma. Somente o que passa pela peneira da sua razão é adequado ao consumo humano.” Ou seja, toda vez que você estiver diante de uma discussão, a forma como você vai lidar com a raiva, usando a peneira e entendendo o que deve ou não ser exposto, vai definir se irá progredir para uma briga ou será um conflito a ser resolvido, resultando em crescimento para ambos. Na briga, a pessoa tem o objetivo claro de vencer, e é só isso que importa. É uma disputa, e o ego e a raiva são dois personagens sempre presentes nesse jogo. Você precisa ganhar defendendo o seu lado a todo custo, não impor- tando o que você irá usar, fazer ou falar para ganhar. E obviamente que, se numa briga uma pessoa ganha, a outra pessoa necessariamente perde. Mas, se você está em um relacionamento, quem perde também é o relaciona- mento! E sempre que o foco está em ganhar, o foco na resolução do problema se perde, e, invariavelmente, o problema não é solucionado definitivamente, apenas postergado pra um próximo momento ruim. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 93 Ou seja, toda vez que surge um problema entre você e seu cônjuge, você tem duas maneiras de entrar na discussão. Você pode entrar encarando como uma briga e querendo apenas defender o seu ponto de vista e ganhar a dis- cussão. Ou, você pode entrar encarando como um conflito a ser solucionado, mesmo que seu ponto de vista não seja atendido, mas que a solução apareça e o relacionamento melhore. Eu gosto muito de utilizar essa alegoria para exemplificar essas diferen- ças para que você entenda exatamente como isso é importante. As duas maneiras de encarar qualquer atrito são: 1. Encarar como BRIGA, utilizando a técnica do TÊNIS 2. Encarar como CONFLITO (utilizando a técnica do FRESCOBOL) Eu te explico. Tênis: 2 jogadores, 2 raquetes e 1 bola No tênis, o objetivo é derrotar o adversário. E ele perde quando erra, quando foi incapaz de devolver a bola. Você joga para fazer o outro errar. O bom jogador sabe exatamente o ponto fraco do outro. E ele foca nesse ponto fraco. Ele tem um único objetivo, o de derrotar o oponente. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro. É uma competição. Frescobol: 2 jogadores, 2 raquetes e 1 bola. Esse jogo é bem parecido com o tênis. Mas, com uma pequena (grande) diferença… Para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois percam! Se a bola veio meio torta, o outro sabe que não foi de propósito e faz todo esforço do mundo para devolvê-la no lugar certo. Não existe adversário, porque não tem ninguém para ser derrotado. Ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra. O desejo é que ninguém erre para que a bola continue em jogo. Não existe contagem de pontos. O objetivo é sempre fazer com que o jogo continue. É Cooperação. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 94 Você pode traçar um paralelo e imaginar que a bola nos dois jogos pode ser vista como um sonho. No tênis, se corta o tempo todo a bola tentando se distanciar dela. No frescobol se mantém a bola sempre no alto. Se mantêm sempre os sonhos dos dois no alto, vivos! Ou seja, a melhor maneira de entrar para resolver de verdade um pro- blema, é utilizando a técnica do frescobol. Entendem por que eu e Isabela não brigamos há muitos anos? Justamente porque a gente decidiu encarar qualquer problema, seja ele pequeno, grande, seja ele culpa minha, culpa dela, da minha sogra ou das crianças, nós resol- vemos encarar como conflitos que nós dois precisamos ganhar e manter os nossos sonhos no alto, sem cortá-los! Relacionamentos de amor são sustentados pela compreensão e o encon- tro das soluções para os problemas, e não pelas vitórias nas discussões. São baseados em cumplicidade e não em disputas a respeito de quem tem ou não tem razão. Muito bem, agora que você já ouviu falar em Relacionamento de Cobrança e Relacionamento de Contribuição, me responda uma coisa: Em um Relacionamento de Cobrança, qual é a estratégia mais utilizada? Tênis ou Frescobol? Em um Relacionamento de Contribuição, qual é a estratégia mais utili- zada? Tênis ou Frescobol? Agora, pare por um instante e reflita aqui comigo: Como está a sua peneira? Os buracos são grandes e tem passado muitas palavras de raiva? Ou você consegue filtrar o que tem a expor, priorizando a razão em prol da emoção nos momentos difíceis? Quando você e seu cônjuge passam por conflitos, vocês parecem mais estar em um jogo de tênis, um tentando vencer o outro, e, gradativamente, cortando os sonhos de vocês, ou vocês estão mais para uma partida de fres- cobol, se ajustando sempre, e mantendo os sonhos bem no alto? Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 95 4.4 – Como resolver os conflitos na prática Olha o que eu vou te falar agora. A probabilidade de uma pessoa que já passou por um divórcio passar por um segundo ou terceiro é grande. Estatistica- mente, o índice de divórcio para quem se casa pela segunda ou terceira vez é consideravelmente maior. As pessoas trocam de parceiro achando que estão resolvendo o pro- blema, mas não entendem que o problema está em não saber como resolver os conflitos! Iniciam um segundo casamento e encontram problemas se- melhantes, e como não sabem resolvê-los, continuam fracassando. Ou seja, se você quer ser bem sucedida em qualquer relacionamento, você precisa aprender isso. Uma das maneiras mais eficazes de NÃO conseguir resolver os conflitos é utilizando a emoção. Certa vez li uma frase de um autor anônimo em um livro que dizia assim: “Fale quando você estiver com raiva e você fará o melhor discurso da sua vida, do qual você vai se arrepender pra sempre!” Não temos razão quando temos emoção. A probabilidade de você se arre- pender do que fala em um momento de raiva é muito grande. Um termo que eu comecei a utilizar na minha prática de atendimento pessoal é o termo: Racionalizar a emoção. Se você precisa aprender uma coisa sobre resolver conflitos, o ponto inicial e essencial é que a única maneira correta e eficaz para as resoluções dos confli- tos consiste em usar a razão como o leito principal para lidar com os problemas. O que a maioria das pessoas faz é que, diante de qualquer dificuldade, se comportam como um cachorro. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 96 — “Ei, calma aí, dr. Está me chamando de cachorro?” Quando um cachorro tem seu rabo pisado, existe um arco reflexo de morder quem pisou no rabo dele. No ser humano, acontece algo parecido, e quando alguém “pisa no seu rabo” a tendência é de que você use a sua emo- ção para tentar resolver o problema imediatamente. É esse arco reflexo que você precisa, a todo custo, evitar. Quando você não evita, o que sai são palavras oriundas de um sentimento momentâneo, e que está completamente inserida na sua superficialidade. Elas não traduzem o seu real sentimento pela pessoa, nem aquilo que de fato você deseja viver com ela. Quando um evento de conflito acontece vem logo à minha mente a técnica de utilizar a peneira no processo de racionalização das emoções. É quando você precisa estar atento que você não deve deixar as emoções, os sentimen- tos ruins, comoa raiva, atravessarem a peneira e atingirem o seu parceiro. Isso é o que faz os desafios se transformarem em brigas. Quando você evita que essas emoções ultrapassem a peneira, você deixa a razão tomar conta da situação, você filtra o sentimento de raiva e consegue racionalizar e solucio- nar o conflito de uma forma muito mais tranquila. Ou seja, o que você precisa entender até aqui são 3 conclusões importantes: 1. Todos nós somos diferentes e essas diferenças podem nos trazer conflitos. 2. Um casamento bem sucedido é aquele que consegue resolver os conflitos 3. Os conflitos devem ser resolvidos através da razão e não da emoção. Usando uma peneira fina. Jogando frescobol e não tênis. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 97 4.5 – O que NÃO fazer diante de um conflito Eu sei que você já deve estar se perguntando aí: — “Queridíssimo Doutor. Eu entendo que utilizar a razão é essencial. Mas o senhor está casado com essa lindíssima e distinta mulher que é muito tranquila. Você não conhece o marido que eu tenho em casa. Quando as coisas começam a sair dos trilhos, dá vontade de tacar um copo de vidro na cabeça dele! Como eu vou “peneirar” isso?” Eu sei que você está pensando isso. E toda vez que me falam isso, eu ex- ponho duas coisas. A primeira é que, em um certo momento do nosso relacionamento, coisas voaram também na minha cabeça. Isso parece engraçado de contar, mas é um dos episódios que mais me envergonho. Certa vez, eu e Isabela estávamos brigando, literalmente. E era uma briga muito feia. Feia de se ver, feia de lembrar. Gritaria, mãos se apontando, porta batendo, telefone tocando. O assunto esquentou de tal maneira, que o vo- lume das nossas falas não foi suficiente, e a primeira coisa que Isabela viu na frente, um telefone sem fio, foi arremessado na minha direção. Hoje eu dou umas risadas, com um toque de vergonha, mas naquele dia as coisas pareciam não ter solução. E eu exponho isso aqui para mostrar para você que já fomos assim, e hoje, quando tacamos algo um no outro é um beijo, uma carícia, uma palavras de trégua ou o silêncio na hora certa. Se a gente conseguiu, você consegue. A segunda parte é a seguinte. Imagine essa situação: Você está empregada em uma grande empresa, com um salário muito bom e fundamental para o sustento dos seus filhos, para a manutenção da sua casa e construção do seu futuro. Em um certo momento, aparece um grande Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 98 problema, que você, injustamente, está sendo acusada. Você tem até provas que confirmam a sua inocência, apesar daquilo ter te deixado com uma raiva gigantesca pela injustiça que estava sendo cometida. Mas o seu chefe está bufando muito mais intensamente de raiva e irrita- ção, quando ele te chama na sala dele, e, de forma muito ríspida, chegando a ser grosseiro começa uma conversa com você. Pergunto a você: Como será a “peneira” que você vai usar para conversar com ele? Como você vai se colocar diante dele? Vai tender a usar a sua emoção ou a sua razão? Você não precisa de muito tempo para responder isso né? Acho que já en- tendeu onde quero chegar. Se você consegue se controlar quando está com raiva de um chefe que, de repente, você nem gosta tanto, por que não conse- guiria se controlar nas emoções diante de seu marido a quem você tanto ama? O casamento é feito e desfeito pela maneira como você vai lidar com es- ses conflitos. Você pode controlar ou pode perder completamente o controle das situações. E, antes de te mostrar algumas ferramentas eficazes para você resolver seus conflitos, eu vou te falar primeiro sobre algumas das atitudes erradas que você toma, que acabam por dificultar qualquer discussão. Atitudes que, talvez, você esteja fazendo nesse exato momento, e que se você simplesmente modificá-las, por si só, já pode ser um caminho para os conflitos serem resolvidos. Deixar o problema de lado e criticar a pessoa Imagine que você chega em casa e percebe que seu marido esqueceu de levar seu filho ao dentista que você tinha marcado e avisado para ele ante- cipadamente. — “Você se esqueceu de novo, não é?” — “Ummmm.....esqueci.” Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 99 Nesse momento do diálogo, vocês poderiam, simplesmente, parar e refle- tir o porquê isso está acontecendo novamente. Justamente para tentar resol- ver. Mas não, você continua: — “Você é um péssimo pai! Você é irresponsável, só olha para as suas coisas. É um egoísta!” O problema, que provavelmente não será resolvido, acaba gerando algo muito maior, pois agora não é o fato de o filho não ir ao dentista, mas sim a ofensa de ter chamado em uma só frase a pessoa de “péssimo pai, irresponsá- vel e egoísta.” A utilização do termo “você é”, em qualquer discussão, traz um impacto profundo. Porque você não está mais falando sobre o problema e nem do erro que foi cometido (de fato o marido errou de ter esquecido). Você, agora, pas- sou para uma outra esfera, a esfera do pessoal, da personalidade, do caráter. Não está mais falando do que ela fez, mas definindo o que ela é. A probabilidade disso se perpetuar é enorme. As chances de não encon- trarem solução, também. O foco foi deslocado, a raiva foi imposta e o pro- blema não foi e nem será resolvido. Não misture o problema, o desafio, os erros, as dualidades, aquilo que precisa ser resolvido, com o pessoal, com aquilo que a pessoa é e representa para você no relacionamento. Esse já é um belo primeiro passo. Relembrar as mágoas do passado A gente tem a ilusão de que vamos esquecer os problemas e as mágoas que vivemos no passado. Aquela famosa frase mentirosa que diz: “quem ama, perdoa e esquece.” Sinto lhe informar, mas não vamos. Não vamos esquecer do nosso passado a não ser que você bata com a cabeça e sofra de amnésia. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 100 No entanto, não existe a mínima necessidade de ficar relembrando. Na verdade, essas lembranças se tornam bombas escondidas, que, quando ex- postas, relembradas e utilizadas em momentos de conflito, acabam criando uma guerra sem precedentes. Normalmente é algo que aconteceu, que foi marcante e que fica sendo utilizado como defesa ou ataque de forma recorrente. Algo que o outro disse ou fez no passado que já tinha gerado conflito naquela ocasião, mas que você continua usando, ainda hoje, contra ele. São situações que, de repente, aconteceram anos atrás e que entram na discussão com inícios de frases como: “Nunca me esqueço daquela vez que você fez...” “O problema é que você ainda continua....” “Por acaso você se esqueceu daquela vez que você fez...” “Você faz isso desde a nossa lua de mel, se lembra...?” As maiores desvantagens de ficar trazendo o passado, relembrando as mágoas é que essas não são resolvidas, pelo contrário, são fortalecidas constantemente a cada discussão. Além disso, o problema a ser resolvido no momento é desfocado, tendo a grande chance de entrar para o arsenal de mágoas que serão utilizados em uma nova discussão. Não misture os erros do passado com as situações vividas no presente. Essas são as duas atitudes do dia-a-dia que mais atrapalham a resolu- ção dos conflitos do casal. Elimine racionalmente essas atitudes e você vai Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 101 começar a perceber como as coisas vão começar a se ajustar de maneira muito mais eficaz e harmoniosa para vocês. 4.6 – A atitude que resolve Você já deve ter entendido a importância de saber como lidar com os con- flitos. Eu vou compartilhar com você, agora, informações que muitos casais que se amavam, e mesmo assim se separaram, gostariam de ter tido conhe- cimento, de forma que pudessem permanecer juntos, vivendo de forma ex- traordinária, sem passar de fato pelas dores de uma separação. Diante de muitas pesquisas que eu fiz, durante anos, eu separei para você um caminho para se apresentar diante dos conflitos, que como já vimos, irãosurgir de qualquer forma na sua vida a dois. Diante de qualquer circunstância, independente do problema que surgir, é muito importante você ter a consciência de como você deve se apresentar. Eu queria que você guardasse essa regra mnemônica simples e fácil para você utilizar toda vez que se deparar com um conflito. Essa é a forma que você deveria se colocar toda vez que entrar em uma discussão. É a atitude que você deve escolher para iniciar qualquer tentativa de resolução de conflitos: RAC RESPEITO Você se casou com alguém de valor, um outro ser humano, imagem e se- melhança de Deus. Esse ser possui inteligência como você e capacidade de encontrar uma solução. Vocês são únicos e possuem um valor imensurável. E, certamente, existe uma solução para o conflito. Vocês vão encontrá-la juntos. Começar com essa atitude de dignidade e respeito é essencial. Você não tem que concordar, mas você tem que respeitar toda e qualquer colocação do outro. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 102 AMOR A raiva não resolvida é o principal assassino do amor. Não exija que as coisas sejam feitas da sua maneira, mas da maneira que seja melhor para o relacionamento. É você entender que essa atitude reflete o que de fato você decidiu amar. Preencher o outro com aquilo que ele não tem, mas que você pode acrescentar. COOPERAÇÃO Não é uma questão de “Eu e minha felicidade”. É um time. Um estando bem, o outro estará bem. É ter a atitude do jogo de frescobol. É querer trans- formar a briga em um conflito, e mesmo achando que está certo, ter a atitude de cooperar para que a solução seja encontrada. Preste atenção. Isso não é um sentimento. Você não precisa sentir no seu peito que você precisa respeitar a outra pessoa. Novamente, não é um senti- mento. É uma atitude. É uma decisão. Você tem que pensar: “Hoje eu decido, eu escolho entrar nessa discussão com Respeito, Amor e Cooperação.” É uma atitude. E você pode escolher suas atitudes todos os dias. 4.7 – Resolvendo na prática Fica muito claro que, por sermos diferentes, também possuímos problemas, desafios e conflitos diferentes. Mas no dia-a-dia, por mais que possa ser uma simples toalha largada fora do lugar, uma dívida de R$ 54.000,00 ou a forma de lidar com a sogra que está perturbando a sua cabeça, os proble- mas são mais bem resolvidos se você seguir um caminho já estudado por muitos especialistas. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 103 Entrando no conflito com a atitude RAC, você, então, passa a interagir de uma maneira eficiente em 3 passos simples. Vou te dar um exemplo simples, comum e corriqueiro, para ser bem didá- tico. A partir desse exemplo, você pode transpor para qualquer outro conflito. Exemplo: Eu sempre tive o hábito de chegar da rua com uma camisa, tirar e colocá-la pendurada na cadeira da sala. Eu sempre tive a convicção que a camisa precisa “respirar” (risos) , e que, se foi pouco usada, eu posso usá-la de novo, mais tarde. Isabela sempre ficou irritadíssima com isso. Acha um absurdo deixar uma camisa em cima da cadeira da sala por qualquer motivo, ainda mais por esse motivo meio maluco. Primeiro Passo: Ouvir Qualquer líder, de qualquer empresa, que deseja solucionar qualquer problema, tem que aprender a ouvir. Ele não pode assumir a postura que sabe tudo. Eu sou médico anestesista. Se eu não ouvir com atenção total o que meu paciente tem para dizer, eu posso deixar de pegar alguma informação funda- mental, como uma alergia a alguma medicação. Além de ter a possibilidade de não conseguir resolver o problema dele, eu tenho grandes chances de matá-lo. Quando você não está aberta a ouvir no casamento, você também tem grandes chances de matar o seu casamento. Essa é uma capacidade cada vez menos desenvolvida atualmente. As pessoas não conseguem mais se ouvir. Muitas vezes, durante uma discussão, tendemos a não querer ouvir, pois temos reações automáticas diante de algum confronto: Ou queremos lutar e contra-atacar, ou queremos fugir. É um mecanismo mental natural nosso. É o mesmo se um leão aparecer na sua frente. LUTAR OU FUGIR. Então, você precisa dedicar total atenção de forma intencional. Não con- tra-atacar e não fugir, mas sim ouvir atentamente. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 104 Voltando ao exemplo... Eu ouvi os argumentos dela sobre a camisa na ca- deira. Ouvi ela dizendo que deixa a casa desarrumada, que, esteticamente, é muito ruim, e que é um péssimo exemplo para as nossas filhas. Segundo Passo: Compreensão Aqui é a fase em que você vai, efetivamente, racionalizar suas emoções. É o momento em que os buracos da peneira se tornam ainda menores. Onde você começa a reter o que não há necessidade de passar para o outro lado. E você faz isso através de: Perguntas: A compreensão do que verdadeiramente está em jogo começa aqui. Fazer perguntas em silêncio para si mesmo, ou, fazer perguntas de forma sincera e racional para o outro. • O que ele está querendo me dizer com isso? • Como ele se sente sobre isso? • Por que isso é tão importante pra ele? • Amor, quando você fala isso, você está querendo dizer aquilo? • Como, exatamente, isso aconteceu? Onde? Quando? Focando nos Fatos — A forma mais eficiente de separar a Emoção da Razão é trazer o foco da conversa para os fatos. O que, de fato, está acontecendo. Aqui não entra a opinião de nenhum dos dois. Não é o que você acha, pensou ou sentiu. É o acontecimento como sendo visto por alguém neutro, de fora. Exemplo: Ela estava querendo dizer que se importa com a arrumação e organização da nossa casa. Isso é importante, também, para a criação das nossas filhas. Ela se sentia frustrada com o esforço que ela fazia e que não era correspondido por mim. Além disso, o fato é que não era só de vez em quando que eu fazia isso, e não ficava ali apenas uma camisa por algumas horas. Começavam a juntar várias camisas por vários dias. Focar nesse fato, inclusive, me deixou até com certa vergonha. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 105 Terceiro Passo: Solução Racional A solução deve ter como foco a seguinte frase: Como resolver esse problema de forma que os dois se sintam compreendidos e amados? A melhor solução é a que os dois saem ganhando. Isso significa que o re- lacionamento sairá ganhando também. Existem basicamente 3 soluções finais para um conflito: Meio termo – Ambos cedem um pouco e chega-se a um denominador comum. Um dos lados – Chegou-se à conclusão, de forma racional, que um dos lados tem razão. E o outro entende isso perfeitamente como sendo o me- lhor para o relacionamento. Adiar a decisão – Deixar para um outro momento melhor, onde ambos consigam se apresentar com as atitudes RAC. Exemplo: No nosso caso, chegamos à conclusão de que Isabela estava certíssima (só para variar um pouquinho). A partir dessa análise, a gente conseguiu encontrar um meio termo. A camisa não é mais deixada na ca- deira da sala, é colocada em uma cadeira do escritório, e eu tomo o maior cuidado para isso acontecer esporadicamente e da camisa não passar dias e mais dias por ali. Esse passo a passo, associado à racionalização das emoções e a atitude RAC, é um caminho extremamente eficaz para resolver qualquer conflito. No início, quando tivemos acesso a todo esse conhecimento, era desafia- dor colocá-los em prática. Vira e mexe eu tinha que acessar algumas coisas Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 106 para relembrar. Por isso, eu te encorajo a ter esse livro sempre por perto, dar umas olhadinhas de vez em quando e ir aplicando aos poucos. Com o tempo, o conhecimento fica consolidado e as coisas vão fluindo muito mais automaticamente. Bom, com isso que eu já te ensinei, você estará muito mais apta a resolver qualquer conflito que você enfrentar. Mas, a partir de agora, eu gostaria de compartilhar um pouco com você algo que nós só ensinamos dentro do trei- namento “Casamento Extraordinário”, mas queeu achei que seria essencial que você soubesse para ajudar nos conflitos do seu relacionamento. 4.8 – Ferramentas práticas O termo “ferramentas” ficou muito difundido com a fama dos processos de coaching. É um termo que eu acho interessante, porque representa alguma forma, alguma atitude, alguma estratégia padronizada a ser utilizada, que facilita chegar ao resultado que você está buscando. É como um paralelo das ferramentas mesmo, que você usa em casa para consertar alguma coisa. É um instrumento que você pode utilizar para fixar algo, ajustar, gerar manutenção ou resolver um grande problema no seu casamento. Imagine você apertar um parafuso com uma faca de ponta. Eu sei como é, porque eu já tentei. É um desastre, você estraga a faca e não aperta o pa- rafuso. Existe uma ferramenta para facilitar esse aperto. Da mesma forma, existem várias ferramentas que podem facilitar o ajuste dos conflitos. Durante essa caminhada, eu e Isabela nos aprofundamos em conhecer táticas e estratégias para resolver conflitos, e começamos a colocar no pa- pel algumas que facilitaram, no dia-a-dia, a resolução dos conflitos que nós passamos. Algumas nós adquirimos estudando os grandes especialistas, ou- tras criamos a partir do nosso relacionamento (nós fomos as “cobaias”). Essas Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 107 ferramentas, nós ensinamos diariamente, para diversos casais que, quando aplicam, obtêm um resultado impressionante. Exclusivamente para esse livro, eu separei para você algumas dessas ferramentas para se colocar em prática. No nosso treinamento “Casamento Extraordinário”, nós temos o que chamamos de “A Caixa de Ferramentas”, com 33 ferramentas que podem ser utilizadas. Aqui, eu quero deixar algu- mas bem práticas e úteis, que você pode utilizar hoje mesmo. Quero dizer, no dia que você se deparar com algum conflito. E eu tenho certeza que elas vão te ajudar muito. Ferramenta 1: NÃO GENERALIZE. Não use termos como nunca / sempre / toda vez / tudo / nada. Exemplo: — “Você sempre esquece de comprar o leite.” — “Você nunca é carinhoso comigo.” — “Você nunca me leva ao cinema.” O fato aqui é que não se trata de uma verdade. Pode até acontecer muitas vezes, mas não é sempre, toda vez ou nunca. No cérebro da pessoa que recebe essa mensagem, ao invés de ficar procurando a solução racional desse pro- blema específico, ele fica pensando quando foi a última vez que aquilo, de fato, aconteceu para poder contradizer a sua frase. E isso não ajuda a resolver nada. Ao invés disso, foque em colocar o problema naquele momento específico e tentem, juntos, descobrir uma possível solução para que aquilo não volte a acontecer. Acredite em mim… Só pelo fato de você não ter generalizado o problema e evitado essas palavrinhas, você vai ver um cônjuge muito mais aberto a ten- tar entender o seu lado e resolver. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 108 Ferramenta 2: NÃO USE O “EU NÃO DISSE”. Isso somente reforça uma opinião contrária ao que foi feito, mas não traz lu- cidez para a resolução. Gera mais dificuldade e irritação para as duas partes, deixando tudo ainda mais difícil de ser resolvido pacificamente. Exemplo: O carro enguiçou e estamos em um lugar extremamente deserto. — “Eu não disse? Eu disse que esse carro uma hora ia dar problema! Eu te avisei!” Lembra de alguém nessa situação? Eu me lembro bem, e acho que, pela nossa história que contamos antes, você já deve ter entendido o quanto isso é prejudicial a qualquer casal. Ferramenta 3: TRANSFORME UMA QUEIXA EM UM PEDIDO. Isso é muito comum nas brigas. Ao invés de começar a conversa trazendo o assunto a ser resolvido, as pessoas já se apresentam fazendo uma queixa, uma reclamação. Já começa tudo errado. Eu costumo dizer que reclamar é “re-clamar”. Ou seja, é “clamar de novo”. Você fica pedindo para que aquilo aconteça mais uma vez! Exemplo: “Você não tem mais carinho por mim.” “Você não me ama mais.” “Seu trabalho é mais importante que a nossa relação.” Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 109 Ao invés disso tente mudar para uma solicitação. Substitua aquilo que você iria queixar-se por um pedido gentil, do tipo: “Amor, eu tenho sentido falta do seu carinho. Eu ficaria muito feliz se você pudesse fazer mais vezes!” Se você ainda seguir esse pedido gentil com um beijo ou algum gesto carinhoso, você pode ter certeza que esse pedido será ouvido e, provavel- mente, atendido. Diferentemente do que aconteceria se você viesse com uma reclamação. Ferramenta 4: O DIA DE OURO. Pode ser um dia específico da semana. Pode ser o dia inteiro, uma noite, ou até mesmo algumas horas. Mas, separe um dia da semana específico para vo- cês dois. Eu disse V O C Ê S. Isso quer dizer, não é para estar com filhos, com parentes, com sogros e sogras, nem com a mente em outro lugar. É atenção plena a esse momento em casal. Pode ser, inclusive, para fazer uma atividade física. Nós temos o hábito de, pelo menos uma vez na semana, fazermos atividade física juntos. Fazemos separados durante toda a semana, mas, pelo menos um dia, fazemos juntos. Isso é enriquecedor. É um momento só de vocês. Como se evolui nesses momentos de forma exponencia! Ferramenta 5: NÃO TOME DECISÕES IMPORTANTES SOZINHA. Não tome decisões importantes sem discutir com o seu cônjuge. Isso é não entender a parceria que deve existir nas decisões. O outro se sente comple- Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 110 tamente afastado e ignorado. Principalmente se for de um perfil comporta- mental específico que falamos na semana 2, o dominante. Exemplo: — “Comprei um carro novo. Lindo, você vai adorar.” — “Oi?” — “Sim. Raspei a conta e comprei um carro para nós.” — “Mas esse era o dinheiro para darmos entrada na nossa casa!” Ferramenta 6: INTERNET E VOCÊS. Na atualidade, esse é um assunto que, muitas vezes, mata a intimidade e a interação do casal. Cada vez mais, percebemos casais sentados na mesma mesa, e cada um no seu celular. Além dessa questão, é interessante se criar um leito de regras que devem ser seguidas pelos dois sobre postagens e interações nas redes sociais. Sempre perguntar se o outro está de acordo com uma postagem, por exemplo, é algo muito válido. Conversinhas e interações privadas também precisam ser vistas com res- peito por ambos. Ou seja, criem as regras que irão se adequar ao perfil de vocês, mas guar- dem uma coisa: Vocês se devem respeito em tudo. A internet foi feita para ser usada, e não ela usar cada um de nós e gerar ainda mais conflitos ao casal. Pense nisso. Essas são somente algumas ferramentas. Utilize-as e aplique-as no seu dia-a-dia. Elas têm gerado resultados na nossa vida e na de vários casais que estão conseguindo resolver seus conflitos de uma maneira muito mais inte- ligente e eficaz. Capítulo 4. Resolvendo os conflitos 111 Bom, tudo o que falamos neste capítulo é fundamental para a resolução dos conflitos no relacionamento. É uma abordagem teórica e também bem prática para você começar hoje, agora. No entanto, eu e Isabela percebemos claramente, na nossa prática com casais, pessoas que não conseguem sequer passar pela primeira sugestão que coloquei aqui no início deste capítulo. Pessoas que continuam presas ao pas- sado, pessoas que carregam algumas mágoas que as consomem diariamente, que relembram ou guardam um rancor por algo que aconteceu antes. Pes- soas que, em algumas situações, se sentem culpadas ou culpam outras pes- soas pelas suas desventuras, e simplesmente não conseguem evoluir. E isso atrapalha muito a resolução de qualquer conflito. E mais, isso não só interfere na resolução dos conflitos, como atua de forma impactante, cor- roendo as estruturas do relacionamento como se fosse um câncer, fazendo com que o relacionamento adoeça e, aos poucos, vá morrendo. Esse talvez seja um dos assuntos menos falados por aí, porém, que nós consideramos central dentro de uma relação.A necessidade de você se liber- tar de amarras do seu passado, correntes que te prendem a outras pessoas e a situações que você viveu. E isso tudo só pode acontecer através de uma simples atitude que te renova e dá liberdade para viver aquilo que você nas- ceu para viver de forma extraordinária. Na nossa experiência, a principal resistência que atrapalha e impede as pessoas de, ativamente, construírem o seu futuro é a incapacidade de lidar com algumas coisas do seu passado. Se você ainda não conseguiu resolver essas questões lá atrás, é muito provável que você ainda esteja carregando mágoas, que irão te impedir de viver relacionamentos extraordinários. É sobre essa única atitude que pode resolver esse problema que nós vamos conversar no próximo capítulo. CAPÍTULO 5 LIBERANDO O PERDÃO 5.1 – O monge carregando o peso Conta a história que dois monges viviam em um mosteiro e que eram muito amigos e cumpriam sempre todas as suas tarefas em conjunto. Como todos sabem, os monges não podem se aproximar das mulheres, muito menos tocá-las. Certo dia, ao atravessarem a floresta para comprar mantimentos na cidade, depararam-se com uma mulher que estava com di- ficuldades para atravessar o rio que dava acesso à vila, porque o rio estava muito agitado e mais cheio que o normal. Um dos monges, observando a situação, disse: — Infelizmente não podemos ajudá-la. Fizemos votos de não tocar em nenhuma mulher. O outro monge ficou analisando a situação, pensando e refletindo. Até que tomou uma decisão. Esse mesmo monge pegou na mulher, colocou-a às suas costas, atravessou o rio, deixando-a na outra margem em total segurança. Os dois monges seguiram caminho e, durante a jornada, houve um grande silêncio por um certo período. Até que de repente, o monge que era contra a ideia de tocar na jovem começou a dizer: Capítulo 5. Liberando o perdão 114 — Não devias ter transportado a mulher. Você errou. Você fez uma pro- messa com as nossas crenças. Agora ela vai ser um peso para sua caminhada. O outro monge, em silêncio, continuou o trajeto. Caminharam por mais algum tempo. Mais um pouco a frente o monge que era contra ajudar a jovem, insiste em dizer novamente: — Você é um monge mau. Não devia ter tocado naquela mulher. Terás que conviver e carregar isso pelo resto da sua vida. O monge que tinha ajudado a mulher permanece em silêncio e tranquilo. Até que anoitece e eles param para descansar. Bem perto de pegar no sono, o monge que negou ajuda não conseguia dormir, se revirava de um lado para o outro. E, não conseguindo se conter, repete mais uma vez: — Monge, como você fez aquilo? Você devia ter negado a ajuda. Isso vai ser um fardo na sua vida! Precisando, então, mostrar o que ele sentia, e o que verdadeiramente es- tava acontecendo ali, e claro, querendo descansar, o monge que ajudou a mulher vira e diz: — Eu peguei nela para deixá-la na outra margem do rio. No entanto, você, durante todo esse tempo, continua carregando-a na tua cami- nhada. Vá dormir. Essa história ilustra, de forma simples e extremamente clara, a maneira como, muitas vezes, nos comportamos em relação a situações que vivemos no nosso passado. Insistimos em carregar eventos do passado, que são um peso para nossa trajetória, ao invés de liberá-los da nossa mente e seguir em frente. Depois de termos tido a oportunidade de influenciar diversos casais, nós percebemos que muitos deles nos procuram porque, de fato, querem viver algo extraordinário. Eles querem uma vida acima da média, querem amar Capítulo 5. Liberando o perdão 115 de verdade e se sentir amados. Eles começam a entender o que é o casa- mento, entendem o propósito do casamento, iniciam inclusive o aprendizado de como lidar com os conflitos e usam ferramentas para resolvê-los. Mas, quando começamos a caminhar juntos, percebemos que algo os mantém pre- sos, estagnados. Algo lá no passado... Algo pelo que ainda não conseguiram tomar a principal atitude que liberta, permite avançar e construir aquilo que desejam. Eles não conseguiram, nessa trajetória, deixar do outro lado da mar- gem do rio algum evento e não liberaram o perdão. Não tem como você querer evoluir no seu casamento, na sua vida, se você se encontra preso no passado... Se algo sobre os seus ombros te mantém pe- sado, amarrado. Se você continua cultivando uma mágoa que surgiu lá atrás. Eu costumo dizer para os nossos alunos que mágoa é igual a “má-água”. Uma água suja, fedorenta, podre e nojenta, que você mantém dentro de você, e que acaba te gerando dificuldades emocionais, mentais, espirituais e até físicas. Não existe a mínima possibilidade de construir um relacionamento ex- traordinário, através de um relacionamento de contribuição, se você cultivar essas mágoas e não se beneficiar do poder do perdão. Você acaba se tornando o monge que ficou falando durante o trajeto, carregando e relembrando o tempo todo o que tinha acontecido. 5.2 – Fluxo obstruído Existe um canal imaginário por onde passa o fluxo do amor. É um trajeto, pelo qual o amor flui e chega até onde você deseja. Eu costumo comparar esse ca- nal aos vasos sanguíneos que nutrem todos os tecidos do nosso corpo. O seu coração, por exemplo, é nutrido por vasos que carregam o sangue até chegar nele. Se esses vasos começam a apresentar obstrução (na lingua- gem técnica, o que conhecemos como as famosas placas de ateroma) existe Capítulo 5. Liberando o perdão 116 uma grande probabilidade daquele tecido não receber o sangue de forma correta e aquela região literalmente morre, necrosa. A esse processo nós chamamos de infarto agudo do miocárdio. E ele mata muita gente, diaria- mente, no mundo inteiro. Da mesma forma, para estabelecer um amor genuíno, esse “canal” pre- cisa estar livre de obstruções. E uma das coisas que mais gera obstrução nesse fluxo de amor é a falta de perdão, que literalmente é uma placa que obstrui esse fluxo. Você simplesmente não consegue um relacionamento extraordinário se existir esse “entupimento”, essa barreira entre você e o seu cônjuge. Você já deve ter percebido isso em algumas situações na sua vida. Algum evento que aconteceu no passado, talvez uma traição de alguém que você amava muito, talvez um erro de alguém que você não esperava, talvez uma falha dos seus pais com você ou até mesmo um evento familiar. Você não precisa ficar procurando isso muito a fundo, pois, se de fato existe, esses pensamentos de vez em quando aparecem na sua mente. E, por mais que você ache que não, isso está limitando a possibilidade de você se amar, e principalmente, desenvolver amor com um fluxo contínuo por alguém. Ou seja: Liberar perdão é fundamental para permitir que o fluxo de amor se estabeleça, e esse é um passo essencial para a construção de uma relação extraordinária. Você não consegue construir algo de valor se existir uma barreira entre vocês. Algo obstruindo essa passagem. Não perdoar se apresenta como um grande obstáculo entre vocês dois e acaba criando distanciamento e instabilidade. Isso deixa o relacionamento completamente suscetível a abalos. Capítulo 5. Liberando o perdão 117 Os bons relacionamentos são sempre marcados pela disposição de pedir e conceder perdão, bem como pelo interesse na reconciliação. E pedir e conceder perdão não acontece do nada. Isso é uma habilidade. Pode e deve ser aprendido. 5.3 – Quem nos tem ofendido? Quando a gente pensa em perdoar, logo vem à mente um desses eventos do passado, e você pensa, talvez, em alguém que te ofendeu. É bem prová- vel que você já tenha passado por alguma circunstância que alguém tenha vacilado com você, e você carrega essa imagem e esse sentimento ruim até hoje. Mas, antes de chegarmos lá, de você começar a lembrar de nomes e tudo mais, eu quero considerar um primeiro passo importante para qual- quer um de nós lidar com o perdão. Quando a gente vai para a prática no dia-a-dia,percebemos que existe uma outra perspectiva que é o fato de muitas pessoas não se perdoarem por algum ato falho no passado. Não são só as pessoas que têm nos ofendido que precisamos perdoar. Precisamos estar, primeiramente, olhando para nossas atitudes erradas com nós mes- mos, que tivemos em algum momento, e que, de igual forma, nos consome e nos paralisa. Quando eu tinha 17 anos, eu e minha família fomos morar nos Estados Unidos. Foi um tempo magnífico. Muitos aprendizados, muito crescimento em pouquíssimo tempo e uma experiência sem precedentes. Mas algo foi muito marcante para mim. Capítulo 5. Liberando o perdão 118 Eu tinha terminado o segundo grau no Brasil e, mesmo assim, meu pai conseguiu uma oportunidade para eu entrar em uma High School (o que cor- responde ao segundo grau aqui no Brasil). Era uma excelente oportunidade, pois eu poderia interagir com outros americanos, poderia mostrar minhas habilidades esportivas (modéstia parte, como todo bom brasileiro eu jogo, quero dizer, jogava bem o futebol), poderia evoluir para bolsas em universi- dades americanas e construir minha vida lá fora. Eu até cheguei a frequentar a escola, mas apenas um dia. Exatamente, apenas uma vez e tomei a decisão de não querer continuar. Aquela decisão definiu muitas coisas na minha vida dali para frente. Isso pode parecer sim- plório para você, só que eu passei anos e anos da minha vida não me per- doando por essa decisão. Toda vez que eu passava por alguma dificuldade, toda vez que me sentia triste, toda vez que passava por algum desafio eu me perguntava: — “Por que eu não continuei lá? Que burrice. Nunca vou me perdoar por isso.” E, de fato, eu não me perdoava por isso. Não me perdoava por não ter ficado lá nessa grande oportunidade que qualquer pessoa aceitaria. Isso me paralisava. Claro que não eram 24 horas por dia que eu pensava nisso, mas nos grandes momentos de desafios, isso sempre vinha na minha ca- beça. Era um peso que eu carreguei por anos. Fiquei amarrado lá naquele dia que eu decidi não ficar nos EUA e voltei para o Brasil. Isso me limitou e impediu, em alguns momentos, que eu evoluísse em muitas áreas da minha vida. Até que um dia, eu compreendi por inteiro todo o movimento que estava me aprisionando no passado e as coisas mudaram completamente. Foi uma liberdade incrível! Isso, inclusive, facilitou muito a forma de me apresentar nos meus relacionamentos amorosos. Capítulo 5. Liberando o perdão 119 Você consegue pensar em algo parecido na sua vida? Talvez não tenha sido uma decisão, mas algo que, de repente, você falou para alguém no calor do momento e você até hoje tem remorso disso. Ou uma situação que você fez o seu parceiro sofrer com uma mentira, uma atitude nociva, uma traição... Então, deixe-me fazer apenas uma pergunta: Se você, até hoje, não libe- rou perdão, por qualquer que seja a situação que você tenha vivido, carregar a culpa ajudou você ou a outra pessoa de alguma forma? O fato de não ter liberado perdão melhorou a sua vida em algum aspecto? Seja bem sincera, porque eu sei exatamente a resposta. Não ajudou abso- lutamente em nada, eu já sei disso. E posso, com grande convicção, dizer que, inclusive, vem atrapalhando a sua vida e te paralisando. Perdoar a si mesmo é um dos movimentos mais importantes do processo de perdão. É muito difícil perdoar os outros e receber o perdão se você não perdoa a si próprio. Se a pessoa não se abre ao perdão a si mesmo, não con- segue restabelecer a paz interior e nem perdoar, e muito menos estar com seu canal de fluxo do amor livre. 5.4 – O que é o perdão Em algum momento da sua trajetória, é bem possível que você já tenha pen- sado sobre isso, e que agora você está repensando e percebendo o quanto é importante para sua vida e para o seu relacionamento praticar o perdão. Um motivo extremamente comum das pessoas não perdoarem e come- çarem do zero sua trajetória é o fato delas não saberem o que é, realmente, o perdão. Eu não tenho o intuito de me basear em todas as escritas teológicas, filo- sóficas, antropológicas e o que mais você quiser, para criar um ensaio apro- fundado sobre o perdão. Muitos outros autores já fizeram isso antes de mim, Capítulo 5. Liberando o perdão 120 inclusive me ensinaram muito. O meu maior objetivo é fazer com que você entenda algumas características básicas sobre o ato de perdoar e que você consiga trazer de forma simples e eficaz um trajeto para tornar o seu fluxo de amor livre e construir um relacionamento pleno. Mas, possivelmente, você vai precisar desconstruir algumas ideias equi- vocadas que você tinha, até hoje, sobre a atitude de perdoar. — “Atitude? Como assim, Rômulo? Achei que o perdão era algo que a gente deveria sentir, algo que acontece naturalmente, e, com o tempo, a gente sente o impulso e perdoa. Não é isso?” UMA ATITUDE Pois então, perdão não é um sentimento. Você não precisa ter aquela luz do céu trazendo um anúncio, uma voz grave ecoando no seu ouvido dizendo: — Perdoe meu filho, perdoe. Sinta isso no seu peito agora. — “Eu não estou sentido absolutamente nada. Não tenho essa vontade no meu peito. Ainda não sinto isso. Então não vou perdoar.” O perdão, definitivamente, não é um sentimento. Você precisa deslocar- -se do campo das emoções para o campo da razão. Você não precisa sentir desejo de perdoar, isso é emoção. Você precisa desenvolver uma atitude. Isso é a razão. Você não precisa sentir a vontade, em si, de perdoar. Até porque, na maior parte das vezes, a sua vontade está voltada para a punição. Passa na sua ca- beça que o ato de não perdoar uma outra pessoa estabelece uma certa puni- ção para ela, uma justiça sendo estabelecida pelas suas mãos. Você acha que a outra pessoa irá sofrer e pagar por aquilo que ela fez à medida que você se mantém sem liberar o perdão. Já sentiu isso? Capítulo 5. Liberando o perdão 121 É SOBRE VOCÊ Posso te contar uma verdade que, de repente, vai te deixar sem chão? A sua falta de perdão não influencia em nada a vida da outra pessoa que errou com você. Essa é a mais pura verdade. E mais, a pessoa que se prejudica mais nessa dinâmica é uma só: justamente você. O ato de não perdoar é uma prisão que você cria para si mesmo. E como já falamos, o tempo passado nessa cela só serve para guardar uma “má água”, que te impede de criar uma vida e o amor que você sempre desejou. Existe uma frase que traduz muito bem isso: “Não perdoar é como tomar um veneno você mesmo e esperar que o seu inimigo morra.” Nelson Mandela É exatamente isso. A outra pessoa que, por ventura, tenha magoado você está levando a vida dela, e a decisão que você toma de perdoar ou não per- doar só irá influenciar de forma impactante você mesma, e não ela. Perdoar é sobre você, e mais ninguém! Quando alguém comete um erro contra você, você cria sentimentos ne- gativos e feridas. Essas feridas só poderão ser curadas por quem está fe- rido e não por quem feriu. Enquanto não existir o perdão, você permanece amarrado ao outro, ao sofrimento que ele te provocou, e isso aumenta a dor sentida. E, cada vez que você lembra, esse movimento te traz mais dor, mais mágoa e mais obstrução para o fluxo do amor. Aí você pode estar pensando: — “Agora você tocou no ponto Rômulo. Eu não consigo esquecer. Em alguns momentos, até sinto que perdoei, mas não consigo esquecer. Desculpe, Capítulo 5. Liberando o perdão 122 sinto não, tenho a “atitude” do perdão, mas esquecer eu não consigo de jeito nenhum!” NÃO É SOBRE ESQUECER Aprenda uma coisa: a menos que você bata com a cabeça numa pedra e tenha lesões importantes no seu cérebro, e isso gere uma amnésia, você jamais vai esquecer coisas que te impactaram emocionalmente no passado. Tudo que nós passamos com forte impacto emocional fica registrado em nossas mentes de uma maneira muito intensa. É por isso que você não es- quece eventos onde a emoção estava envolvida.Perdoar definitivamente não é esquecer. Perdoar é uma decisão na qual, com o tempo e treinamento, você vai desenvolver a capacidade de não ficar lembrando. Isso é diferente de esquecer. E, por mais que em algum momento você se lembre do evento, após o perdão, esse evento perde por completo a força emocional sobre você. 5.5 – Por onde eu começo? Possivelmente, durante a leitura desse capítulo, veio na sua mente alguma questão que você vivenciou no passado e que de uma forma ou de outra pode estar travando esse fluxo de amor. Pode até não obstruir totalmente e impe- dir que você ame alguém, mas, certamente, está limitando o amor em toda sua capacidade e plenitude. Você poderia olhar para vários lugares para resolver essa questão. Você poderia olhar para o seu contexto de infância, olhar para os seus pais, olhar para seus amigos, olhar para o seu trabalho ou até mesmo olhar inicialmente para os seus relacionamentos. Mas a primeira direção que você deve olhar não é nenhuma dessas. Você precisa olhar para dentro. Capítulo 5. Liberando o perdão 123 Se você guarda alguma mágoa de uma atitude sua, de uma fala sua, de um pensamento seu e isso fica te deixando estagnado, preso, acorrentado no passado, é fundamental que você se auto avalie por alguns instantes. — “Mas será que isso é de fato importante para eu me relacionar?” Quando você não se perdoa, quando você segura essa parada, as pessoas que estão à sua volta não recebem nenhum benefício. Pelo contrário, esse fluxo de amor fica reduzido. Nada é melhorado quando você faz isso. DE VOLTA PARA O PASSADO Eu nunca recomendo às pessoas que elas fiquem vivendo no passado. A ciência já comprovou que as pessoas que possuem uma tendência a ficarem presas no passado, apresentam maior probabilidade de ter sintomas depres- sivos. Da mesma forma que as pessoas que vivem exacerbadamente no futuro tendem a apresentar sintomas de ansiedade. Mas pegar um expresso rapidamente e ir até lá no evento que desencadeou uma mágoa é algo que traz muitos benefícios para a resolução desse problema. Faça o seguinte exercício. Pare agora por um instante e pense, lá atrás, em alguma coisa que você se arrependa fortemente, algo que vem te mantendo lá atrás, preso, amarrado. Lembre desse momento com o máximo de detalhes possíveis. Se guie por essas perguntas: O que você ouviu? O que você viu? O que você sentiu? Muito bem. Agora volte para o momento que você está vivendo hoje e es- creva em algum lugar esta frase a seguir, substituindo o meu nome pelo seu Capítulo 5. Liberando o perdão 124 nome. Essa foi a que eu escrevi quando me livrei totalmente da mágoa de não ter permanecido nos EUA. A frase é: “Uma versão do Rômulo que eu era nessa época fez o melhor que ele pôde, com o conjunto de habilidades que ele tinha, naquele momento que ele estava passando. Hoje, eu sei melhor e vou fazer melhor.” Então, eu respiro fundo e libero isso pra sempre. Muitas vezes, só isso é o suficiente para você se conscientizar que agora é você viver o presente, construindo o seu futuro. Quando eu fiz isso, eu me reconciliei com a minha história, e o que eu aprendi é que o ser humano é capaz de mudar a si mesmo para melhor, basta ele olhar para dentro de si, perdoar seus erros e encontrar potencialidades que poderão ser concreti- zadas. E isso depende de decisões e não de condições. Depende da decisão intencional de ter uma atitude de perdão a si mesmo. Não são as condições, são as decisões! Nós nos desenvolvemos a cada dia. Todos os dias as suas decisões po- dem representar um crescimento para a sua vida. A decisão de estar lendo esse livro agora está adicionando conhecimento maior do que aquele que você tinha ontem. Fazemos aquilo que sabemos, buscando fazer o melhor possível. Portanto, quando sabemos mais e melhor, podemos crescer mais, e de uma maneira ainda melhor. Aquilo que você sabe te trouxe até aqui. Se você quer avançar e melhorar, você precisa saber mais ainda. Eu entendo que cada um de nós tem a sua história, e talvez você tenha passado por coisas muito maiores do que uma simples decisão de voltar para o Brasil. Talvez são coisas que, só de pensar, te deixam completa- mente desnorteada. Mas o que eu quero que você saiba é que isso se aplica Capítulo 5. Liberando o perdão 125 a você também. Essa é a base. Por mais que pareça difícil se perdoar, a verdade é que continuar não se perdoando é prejudicial a você e a todos com que você convive. É muito provável que, se eu não tivesse me perdoado, eu não estaria aqui falando com você através deste livro. Meu relacionamento com a Isabela certamente não teria dado certo, e toda a minha história e missão de vida estariam prejudicadas. Talvez muitas coisas ainda não estejam acontecendo na sua vida pelo simples fato de você ainda estar como aquele monge, carre- gando o seu passado, sem se perdoar. Eu quero te deixar uma reflexão: E se tudo que você deseja começar a acontecer quando você se perdoar de verdade? 5.6 – E quando eu preciso perdoar outra pessoa Se você tem alguma mágoa com você mesmo, nós já entendemos que ela deve ser a primeira a ser liberada. Para se perdoar, você precisa apenas de você. E olha que coisa interessante: para perdoar outras pessoas, você também pre- cisa apenas de você! — “Como assim Romulo. Você está querendo dizer que a outra pessoa não precisa vir até mim para pedir perdão, e nem que eu preciso olhar nos olhos dela e perdoá-la?” Exatamente isso. Você até pode viver isso, encontrar com a outra pes- soa, chorar, viver todo esse momento. Mas não necessariamente isso precisa acontecer para você liberar o perdão. É justamente isso que, muitas vezes, Capítulo 5. Liberando o perdão 126 está te bloqueando, porque você sempre achou que isso tudo seria necessá- rio para o perdão acontecer. Primeiro, você achou que devia sentir isso no peito e depois ficou relu- tando porque você, de repente, não queria mesmo ver a outra pessoa, apesar de querer perdoar. — “Ummmm. Isso me parece meio confuso. Não querer ver, mas querer perdoar? Como assim?” Deixa eu te falar algumas coisas sobre perdoar uma outra pessoa. NÃO PRECISA RESTAURAR A RELAÇÃO Muitas pessoas deixam de perdoar alguém porque associam esse perdão à necessidade de restaurar um contato, uma aproximação ou uma relação. Entenda uma coisa importante: Se você quer continuar uma relação, necessariamente você precisa per- doar essa pessoa para que o relacionamento seja saudável. Isso é meio que intuitivo né. Imagina você querer estar casado para o resto da sua vida com alguém que você nunca perdoou. Isso não seria um relacionamento, mas uma prisão com características de tortura. Mas você pode ter entendido que um amigo seu, que errou com você, não é alguém que você gostaria de continuar convivendo. Você, então, pode perdoá-lo, mas não necessariamente precisa continuar a amizade. A mesma coisa acontece quando a mágoa está relacionada a alguém que já se foi, que morreu. Você não tem como falar diretamente com essa pessoa, não existe mais a possibilidade de ouvi-la. Mas, de igual forma, você pode pedir perdão ou liberar perdão. Anote isso: Capítulo 5. Liberando o perdão 127 Fazer as pazes acontece entre duas pessoas. Perdão acontece com uma só pessoa. São dois conceitos completamente diferentes. Muita gente acredita que estão associados. E, por isso, não perdoam. Talvez você não deseja mais ter contato com a pessoa, não deseja restaurar a relação como estava antes, e está tudo certo! Perdoar é não ficar pensando mais que o passado poderia ter sido dife- rente, e pronto, ser livre. Sinta a leveza disso. A liberdade. Você consegue sentir? Se não conseguir, talvez seja por esse outro motivo. VOCÊ NÃO ESTÁ FAZENDO JUSTIÇA Talvez você ainda não consiga sentir essa liberdade porque você segura nas mãos um senso de justiça equivocado. Se a justiça estivessesendo feita, se aquela outra pessoa estivesse pa- gando pelo que ela fez com você, se ela estivesse sofrendo pelo que lhe cau- sou, se isso tudo estivesse acontecendo com uma intensidade suficiente para você se sentir melhor, talvez aí você perdoaria? É isso? Eu sei, porque esse é o fluxo natural do ser humano. Isso é o que surge de forma instintiva aí dentro do seu peito. Nós queremos que o outro pague pelo que fez com a gente. E não tem nada de errado nisso. A questão é que o fato de você liberar ou não o perdão não irá influenciar na justiça sobre o assunto. E você pensa assim: “Se eu perdoar, como a justiça será feita? Quem vai ensinar e mostrar para a outra pessoa a lição que ela merece?” Capítulo 5. Liberando o perdão 128 Entenda uma coisa: Perdoar não significa que não se condene o agressor, não significa que você está renunciando à justiça. Não quer dizer que você tenha que pensar: “Ah, não foi nada não, deixa pra lá.” O perdão é um ato gratuito e não significa renunciar aos direitos e à apli- cação da justiça. Você não retira do outro a sua responsabilidade moral pe- rante uma situação, mas você entrega a si mesmo uma liberdade total. — “Mas e a justiça?” Eu sei, eu sei que você pensa assim. Mas, no mundo em que vivemos, a justiça não acontece de pessoa para pessoa. Manter a falta de perdão por uma pessoa não decreta nenhum tipo de justiça entre vocês dois. Não é assim que funciona, infelizmente. Ou felizmente. Todo mundo vive as consequências das suas decisões, todos os dias. Sem exceções. Você pode não ver claramente com os seus olhos. Mas essa pessoa já está vivendo os resultados das decisões que ela tem feito todos os dias. Assim como eu vivo nas consequências das minhas atitudes, e assim como você vive. Às vezes, você observa uma situação e pode até achar que não houve justiça. Mas saiba que a gente, muitas vezes, não vê com os nossos olhos al- gumas coisas. Em muitas situações, existe muita dor e sofrimento que acon- tecem por detrás de portas fechadas e jamais serão vistos. E numa boa, não cabe a mim e nem a você essas visões. Essa é uma lei universal e não existem exceções. O que você joga para o universo volta para você. É o lance que você já deve ter ouvido do “princípio da semeadura”. Exemplo: Capítulo 5. Liberando o perdão 129 Às vezes, você sabe de um político roubando milhões e saindo impune. Aqui no Brasil não é tão difícil de ler um caso desses. O que não vemos é que a mesma falta de caráter, de integridade, de em- patia, de honestidade, de lealdade, de compaixão, de altruísmo, existe no seu casamento, na sua família e na sua vida particular. É uma esposa que tem um amante, pede o divórcio e o arrasa financeira- mente... São os filhos que usam drogas para anestesiar a dor desse ambiente de falta de amor. O dinheiro acaba virando uma grande maldição. No fim das contas, essa pessoa não sai tão impune assim. E você segurar o perdão não muda nada disso! Muda apenas a forma como você se sente. Mas continua mantendo esse ciclo de necessidade de vingança, que você denomina de justiça. Perdoar é quebrar o ciclo da vingança, de raiva, de ódio, de rancor, e ne- gar-se a combater com as mesmas armas do adversário. É voltar a ser livre. Porque a vingança coloca mais obstáculos, nos deixa com um pé atrás, nos aprisiona em nós mesmos. Quando você não perdoa, o outro continua a ter poder sobre você. Ele determinará seus pensamentos e sentimentos. O perdão te liberta dessa ligação de poder do outro. 5.7 – O presente é o presente Como você deve ter percebido, um dos grandes problemas de não liberar perdão, seja para você mesmo ou para outras pessoas, é que você acaba per- manecendo preso no seu passado. E isso te limita de viver com todo o poten- cial possível o seu presente, e atrapalha muito a construção do seu futuro. Mais uma vez, lembra do monge? O que não queria ajudar ficou preso lá na travessia do rio, e não conseguia viver a jornada tranquilamente. De forma alguma eu menosprezo o que você vivenciou há tempos atrás na sua vida. Talvez tenha sido algo muito impactante. Já tivemos a oportunidade Capítulo 5. Liberando o perdão 130 de lidar com casais que vivenciaram casos de adultério, casos de violência, aborto e influências pesadas de uma situação passada, que massacrava a vida deles. Mas se você sente que alguma coisa lá atrás, algum momento do seu passado ainda está no controle da sua vida, eu vou ser bem honesto: Você está permi- tindo isso. Por mais pesado que tenha sido, e por mais difícil que possa parecer. Muitas pessoas caem no conformismo de achar que o seu passado definiu o que você está vivendo hoje. E quando você não perdoa, você fica cultivando esse evento passado e, muitas vezes, surge um certo tipo de determinismo, que você acaba tentando explicar os seus resultados de hoje baseado no que aconteceu no seu passado. Nos nossos treinamentos, eu costumo sempre contar a história de dois meninos, John e Ron. Eles moravam com seus pais na periferia de uma cidade americana. Foram extremamente maltratados durante toda a infância. O pai era um alcoólatra, viciado em drogas e que, por 3 vezes, havia sido preso por pequenos furtos. A mãe, completamente entregue ao vício, chegou a se prostituir em alguns momentos para comprar drogas. Os meninos viviam pelas ruas, e quando voltavam para casa, as cenas eram as piores possíveis de serem vistas por qualquer um, mas, principalmente, por duas crianças. Eles presenciavam agressões verbais e físicas, conviviam com a falta de alimentos e roupas e nunca faltavam punições pelo simples fato deles exis- tirem. Aquilo se tornou insuportável para aqueles meninos, até que, um dia, quando estavam um pouquinho mais crescidos, os dois resolveram fugir de casa. Na fuga, cada um foi para um lado e perderam completamente o contato. Até um certo dia, que uma rede de notícias resolveu contar essa história e foi atrás do paradeiro desses dois meninos. Encontraram John, jogado em uma das calçadas da mesma cidade, mal- trapilho, completamente embriagado e perceberam que ele havia se tornado um morador de rua, usuário de drogas. Capítulo 5. Liberando o perdão 131 Carregava nas costas as mesmas características dos pais, inclusive com algumas passagens pela polícia por roubo e tráfico de drogas. Ao entrevistarem John, perguntaram para ele: — Jon, como você pode estar vivendo dessa maneira? John respondeu: — O que você esperaria de mim tendo os pais que eu tive? Jamais perdoa- rei eles. A mesma equipe encontrou Ron, morando em uma outra cidade. Mas di- ferente de John, o irmão Ron foi entrevistado no escritório da empresa que ele tinha criado. Na mesa do escritório estavam as fotos da sua linda esposa, seus três filhos sorridentes e da bela casa que ele tinha comprado. Era um empresário conhecido e bem sucedido. Ao entrevistarem Ron, fizeram exatamente a mesma pergunta para ele: — Ron, como você pode estar vivendo dessa maneira? Ron respondeu: — O que você esperaria de mim tendo os pais que eu tive? Eu os perdoei e busquei ser completamente diferente deles. Não tem como voltar lá atrás. Você está trazendo isso amarrado em você. Pode ter sido incorreto, injusto, doloroso e deixou uma marca profunda em você. Não é culpa sua, você não teve controle, fez aquilo que você podia fazer naquele momento. Mas saiba de uma coisa... Nenhuma experiência no passado é a causa do nosso sucesso ou fracasso. Nós transformamos nossas experiências em algo que atende ao nosso propósito. Você não é determinada pelo seu passado, pelas suas experiências, mas pelo sentido que você dá a elas. O passado de Jon e Ron não criou uma sentença na vida deles, mas a forma como eles deram sentido ao que aconteceu lá naquela casa, e prin- cipalmente da atitude de carregar ou não carregar as mágoas. A atitude de liberar o perdão. Capítulo 5. Liberando o perdão 132Você não pode voltar no passado e mudá-lo. O que você pode fazer, nesse exato momento, é construir um futuro baseado nas suas atitudes do maior presente que você tem todos os dias que acorda: o presente, o hoje, o agora. 5.8 – Conte uma história melhor “O único fator que te impede de criar a vida que deseja é a história que você conta a si mesmo sobre o motivo de não poder tê-la” Tony Robbins Quando eu entendi que precisava liberar o perdão, eu fiquei empolgadíssimo, pois sabia que isso era algo que me atrapalhava e que eu queria resultados ainda maiores na minha vida. Eu só não sabia como fazer. Foi aí que, em um treinamento ao vivo e presencial com Tony Robbins (considerado o mais influente coach do mundo), em Chigado, nos EUA, eu ouvi essa frase aí em cima. E ela começou a criar um caminho para a concre- tização do que eu buscava. Eu fiquei matutando nessa frase, pensando: “A única coisa que está me impedindo de criar a vida que eu quero é a história que eu estou contando para mim mesmo sobre o porquê que eu não posso ter essa vida...” Mas que história é essa que eu tenho contado pra mim mesmo? Existe em toda a narrativa da nossa vida aquilo que muitas vezes chama- mos de ponto de vista. Esse ponto de vista é a história que você fica contando para você mesmo sobre algum fato. Por exemplo: Lembram quando a Isabela atrasou para irmos ao cinema? Capítulo 5. Liberando o perdão 133 Fato: Marcamos de nos encontrar para ir ao cinema e Isabela atrasou 10 minutos para descer. História da Isabela: “Íamos ao cinema, eu estava toda linda e feliz, me ar- rumei e desci para encontrar com o Rômulo e ele estava de mau humor! História do Rômulo: “Íamos ao cinema e marquei com a Isabela um ho- rário e, como ela sempre faz, demorou para descer. Ela faz isso de propósito para me irritar!” O fato aconteceu. A minha história é verdade, a história da Isabela é ver- dade, mas eu decidi contar essa história de forma diferente. “Íamos ao cinema, eu marquei com a Isabela em um determinado horá- rio. E como eu estava saindo do trabalho cansado, eu estava bastante im- paciente e irritado. Ela nem atrasou tanto assim, mas eu acabei agindo de forma ruim com ela e tudo isso resultou numa grande discussão e acabamos não indo ao cinema”. Essa forma de contar a história me fortalece muito mais do que qualquer outra. Durante muito tempo, eu fiquei insistindo em contar a minha versão, o meu ponto de vista, a história que eu criei. E isso só me atrapalhou. Quando eu resolvo contar uma história melhor, isso exige muito mais de mim, de reconhecer meus erros, de entender o contexto, de ter uma per- cepção do todo. Porém, me faz crescer muito mais e ser ainda melhor, além é claro de melhorar o nosso relacionamento. E essa é a única pergunta que você precisa fazer para a história que está contando si mesmo: “Essa história me fortalece para ir em frente ou está me impedindo de ter a vida que eu desejo?” O que eu tenho me contado sobre o meu passado, daquilo que eu vivi, daquilo que me abalou em algum momento? Isso está me dando força? Está me dando mais poder e disposição para viver a vida que eu quero? Capítulo 5. Liberando o perdão 134 Ou isso está me mantendo para trás, preso, estagnado, só pensando na vida que eu poderia ter se não fosse o que aconteceu? Isso tudo é sobre o significado que você escolheu dar para a história que você está contando. Pense agora em uma situação desafiadora que você viveu, algo que achou difícil de perdoar. Faça esse exercício: Quais eram os fatos? O que aconteceu, que qualquer pessoa que estivesse de fora poderia perceber? Quais eram os detalhes verificáveis e indiscutíveis sobre o que, realmente, aconteceu? Agora pense um pouquinho: O que você inventou sobre esse significado? A história que você está con- tando até hoje? Essa história aí mesmo, a forma como você está contando, essa história está te ajudando ou atrapalhando a viver vida que você deseja? Mude a história, crie uma história de uma maneira que te fortaleça. Isso muda a sua vida! Quando você muda o significado que você deu àquele momento, você muda tudo. Aquela história que você contou durante anos impactou cada de- cisão da sua vida até hoje. Muitas coisas aconteceram na sua vida até aqui, e, certamente, existem muitas histórias a serem contadas. Mas o que você precisa fazer é escolher qual você vai contar para você mesmo. Isso faz toda a diferença no processo do perdão, porque, além de te libertar, cria um trajeto de liberdade para construir um futuro leve, sem amarras, sem correntes, um futuro que não depende do seu passado, mas que se fortalece com as atitudes de perdão que você está tomando hoje, no presente. E por falar em tomar uma atitude hoje, isso é o que resta para você se livrar de uma vez por todas das obstruções do fluxo de amor na sua vida. Capítulo 5. Liberando o perdão 135 5.9 – Tome a atitude Nós podemos sempre aceitar as nossas próprias limitações em um dado mo- mento e aprender a nos perdoar. Podemos aceitar as limitações dos outros e perdoá-los. Aquilo que passamos em nossa história, e que, muitas vezes, pede uma res- posta, a resposta pode ser simplesmente o perdão. É o perdão que pode nos dar essa oportunidade de ir além daquilo que as pessoas estão acostumadas. Não seja como aquele monge, carregando a mulher por toda a sua caminhada. O homem sempre tem a possibilidade de escolha. Você pode escolher de- cidir perdoar, ou ficar com a sua vida estagnada, carregando o peso da mágoa. Mas eu não posso fazer isso por você. Isabela também não pode. Ninguém pode. Somente você pode tomar essa decisão, ter essa atitude. Você já viu que não precisa estar sentindo isso, pois isso não é um sen- timento, é uma atitude. Isso é o que você precisa fazer para não deixar mais sua vida esperando por você, deixando de viver relacionamentos significati- vos e genuínos por estar “entupida” no fluxo de dar e receber amor. O perdão permite desobstruir esse fluxo. O perdão é para você, é sobre você. O perdão não apaga o passado, mas te permite construir um futuro melhor. No momento que você decidir viver esse futuro melhor, o perdão vai acontecer dentro de você, permitindo criar o relacionamento e a vida que você deseja. Decida hoje, agora. CAPÍTULO 6 A FUNÇÃO DO SEXO 6.1 – Dois anos Isso acontecia esporadicamente. Não tinha um dia certo... Rolava quando nós nos falávamos e a maioria dos amigos estava livre. Então, nós combinávamos de ir em algum lugar. Só que já fazia alguns meses que eu não encontrava com eles, e esses encontros limitavam-se aos homens da turma, nada de esposas ou namoradas. Tomávamos uns drinks e ficávamos ali de papo, lembrando de alguns eventos marcantes dentro dos seis longuíssimos e intensos anos da facul- dade de medicina. A gente começava a contar como estava a vida de cada um depois da formatura e do cotidiano da vida real de um adulto. Alguns deles já estavam na minha frente na trajetória. Mesmo com pouco tempo de forma- tura, já eram casados e tinham filhos. A faculdade de medicina, por ser tão intensa, horário integral, acaba for- mando alguns casais dentro das próprias turmas. E não foi diferente na nossa. Quando nos formamos, alguns já estavam prestes a se casar. Isso era muito interessante para mim, porque eu ainda era solteiro e passava a ouvir atenta- mente como se desenrolava a vida depois de casado. Capítulo 6. A função do sexo 138 Eu me lembro em um desses encontros, onde somente os homens sen- tados, falavam sobre os mais variados assuntos. Falávamos sobre profes- sores, sobre situações inusitadas, sobre hospitais, sobre nossos primeiros atendimentos, sobre eventos sociais... até que surgiu um assunto especí- fico: sexo. E em um determinado momento, alguém perguntou sobre como era a vida sexual depois de casado, já que, na mesa, existiam pessoas como eu (solteirão convicto,naquela época), ao lado de alguns casados há anos e com filhos. Alguns começaram a falar como as coisas mudaram muito, que não era mais a mesma coisa como naquelas lembranças da época que éramos acadê- micos de medicina. Mas, de repente, um deles, com a maior naturalidade, faz o seguinte discurso: — Eu por exemplo... Não transo com a minha esposa desde que a nossa filha nasceu. Na verdade, durante a gravidez, já tinha diminuído muito, mas, depois que a bebê nasceu, nós não tivemos mais relação sexual. Ela não pro- cura, e eu tô “de boa”, vou me resolvendo como posso. Aquela fala me chamou muito a atenção, porque, em toda a minha vida, considerei o sexo como algo importante em uma relação. Mesmo sem saber ainda muitas coisas importantes sobre isso, pensava que, se não houvesse uma interação importante, constante e prazerosa entre o casal, não faria muito sentido. Mas, como estava ali de ouvinte e curioso, eu só queria entender. Fiquei um pouco surpreso, mas, ao mesmo tempo, quis me tranquilizar pensando: “Deve ser normal nos dois primeiros meses... mudanças de rotina, amamen- tação, alteração dos horários de dormir, recuperação da cesariana. Deve ser isso mesmo. Um, dois ou três meses, no máximo, também não vai matar nin- guém, logo deve voltar tudo ao normal.” Foi aí que eu fiz a seguinte pergunta: — “E a sua bebê, está com quantos meses?” Capítulo 6. A função do sexo 139 A resposta veio simples, direta e sem nenhuma manifestação de surpresa do interlocutor: — “Ela fez dois anos essa semana. Inclusive vamos fazer uma festinha para ela e queremos convidar vocês!” Dois anos? 24 meses? Pára tudo. Sério? Os casais ficam esse tempo todo sem transar? Sem sexo? Sem ir para cama? Sem essa interação? Eu não quero me casar, se isso for normal! E sabe o que mais me arrepiou, foi ver uma certa manifestação dos outros caras da mesa de total indiferença, como se pensasse: “É isso aí. Completa- mente normal”. Eu não sei exatamente quais foram as influências que você recebeu na vida a respeito do sexo, o que o sexo representa para você e, principalmente, o grau de importância que você acha que ele exerce em um relacionamento amoroso. Mas, dois anos, para mim, não parece nada normal. 6.2 – Qual é a do sexo? Independente do que você já tenha vivido ou experimentado, o que eu per- cebi depois de começar a me aprofundar nesse assunto, é que a sociedade, como um todo, tem sido impactada por uma visão do sexo extremamente prejudicial para o desenvolvimento de relacionamentos duradouros. As teorias de Freud, o advento das pílulas anticoncepcionais e a indústria crescente da pornografia, são apenas alguns marcos que desconfiguraram completamente a essência da representação do sexo no relacionamento. O sexo é a melhor atitude natural para se desenvolver uma intimidade. A vida sexual saudável é uma das principais ferramentas para se manter um casamento acima da média. Capítulo 6. A função do sexo 140 Em muitos casos, se você quer saber como está o relacionamento, uma pergunta que pode dizer muito sobre esse relacionamento é: — Como está sendo utilizada a cama de vocês? Se a resposta é: “Temos dormido bastante, mas feito pouco sexo”, come- çamos a diagnosticar que a saúde do relacionamento não deve estar tão boa. Quando o casal não está tendo essa interação, quando você não procura seu marido e vice-versa, quando o sexo é algo que você até sabe o que é e tem saudade, isso é um forte indício de que muitas outras coisas que já falamos até aqui também não estão ajustadas. Se você ainda não entendeu sobre: — O que é, de fato, um casamento, o propósito e o que configura um ca- samento extraordinário; — O que é viver um relacionamento de contribuição; — Resolver conflitos; — Viver o perdão; É muito provável mesmo que o sexo fique escasso. Alguns autores consideram o sexo no casamento como um termômetro, algo que pode avaliar como o casal está se relacionando. Isso acontece por- que o que falamos até aqui nesse livro influencia o sexo, e o sexo também influencia todas as outras partes que falamos até então. Gosto muito da forma como o escritor e especialista em matrimônio, Mike Mason, descreve esse ato: “Estar nu com outra pessoa é uma espécie de imagem ou demonstra- ção simbólica da perfeita honestidade, perfeita confiança, perfeita ge- nerosidade e perfeito compromisso, e se o coração não estiver nu junto com o corpo, então a ação inteira se transforma em uma mentira e um engano. Ela se torna um envolvimento dentro de uma contradição absurda e trágica: dar o corpo, mas conservar o ser. Expor o corpo em um encontro íntimo é como contar os seus segredos mais profundos: Capítulo 6. A função do sexo 141 depois que você fizer, não há mais volta, não há mais como fingir que o segredo ainda é só seu ou que o outro não o conhece. Esse ato é, na verdade, o último passo nos relacionamentos humanos, e, portanto, nunca deve ser feito de qualquer jeito. Esse passo não cria a intimi- dade profunda, ele a pressupõe.” E, talvez, tudo que você já ouviu, viu, e até experimentou sobre sexo esteja meio que distante desse belo texto. É provável que o sexo esteja mais para o “sentir prazer pelo prazer”, “gozar e ser feliz”, “se satisfazer” e, talvez, o obje- tivo de “procriar”, esse último colocado de forma completamente equivocada por alguns grupos religiosos. Olha que interessante o paradoxo que existe nos dias de hoje. Sexo, antigamente, era um tabu. As pessoas não podiam falar, não podiam ver, não podiam fazer. Nunca se teve tanta abertura, nunca se falou tanto sobre sexo, nunca se viu tantas imagens, nunca se teve tanta liberdade como nos dias de hoje, ao passo que, também, nunca se viu tantos problemas confi- gurados sobre esse assunto, tanta dificuldade para lidar com essa prática nos relacionamentos. Diariamente, eu recebo várias perguntas nas minhas redes sociais. E sem- pre tem uma pergunta voltada para o sexo. Existe, na teoria, uma abertura muito grande para se falar sobre sexo, mas muitas pessoas encontram dificuldades para conversar honestamente sobre o assunto dentro do seu próprio casamento. E isso acontece porque não compreenderam a sua função e suas parti- cularidades. Apesar do contato com o sexo nas falas, na televisão, no cinema, no cotidiano, ainda não compreenderam o que a relação sexual de fato re- presenta dentro do relacionamento. Não identificaram como desenvolver o sexo saudável, de maneira que melhore ainda mais o relacionamento, e não de uma forma que seja motivo de dificuldades. Capítulo 6. A função do sexo 142 6.3 – Para começar Se você quer entender a função do sexo, é necessário que você entenda direi- tinho essa parada desde o início. É exatamente por isso que, no início desse livro, eu trouxe a perspectiva da criação de Deus, da formação do homem e da mulher e o propósito nos relacionamentos. Se não for assim, sua visão de sexo estará sempre permeada pelas in- fluências contemporâneas. E, como já falamos, e você consegue perceber claramente, não ajuda em nada. Muito pelo contrário, vem criando ainda mais dificuldades nesse assunto. Eu fico imaginando Adão andando peladão no Jardim do Éden (a Bíblia fala isso), e Deus cria uma mulher perfeita, linda e feliz. Eles não tinham vergonha de andarem pelados (imagina nos dias de hoje), até porque o pecado ainda não tinha aparecido. Fica claro que eles foram criados de formas diferentes, justamente porque quem os criou tinha um projeto. Ele criou características diferentes, e, assim como criou os rostos di- ferentes, metabolismos diferentes, criou em um o pênis e no outro a vagina. Sim, isso aí foi criação de Deus e tinha um objetivo claro. Somos diferen- tes, lembra? — “Acho que já ouvi isso por aqui.” E, por mais que você tenha ouvido que o objetivo está, simplesmente em encher a terra e multiplicar (está correto também), existia uma outra direçãotambém. Aqueles dois seres humanos perfeitos foram unidos e o sexo foi consti- tuído como um evento de profunda unidade entre homem e mulher. É tão íntimo e tão profundo que se utilizou o termo “uma só carne”. Ou seja, diante de toda a análise da função primordial do sexo no rela- cionamento, a reafirmação da unidade é o traço principal. É no contexto da Capítulo 6. A função do sexo 143 relação sexual que isso se estabelece também. Ou seja, como vimos no início, o casamento aponta para uma unidade, e o sexo confirma essa direção. Esse é o ponto primordial, o “uma só carne”. É a possibilidade do maior grau de intimidade e entrega de um ser humano para outro. Mas, além disso, temos algumas outras funções que se tornam importantes para o sexo no casamento: Procriação: Por isso, homem e mulher possuem condições adequadas para que isso aconteça. A perfeição da criação permite isso em todas as suas características, anatômicas, metabólicas, sensoriais, emocionais. Não é exclusivamente para isso, mas multiplicar é uma função importan- tíssima, também, do sexo. Intimidade: Não precisa muito para perceber isso. Se tiramos o ato sexual de um relacionamento, a grosso modo, nos tornamos dois amigos. No sexo, acontece o maior grau de manifestação de intimidade entre dois seres humanos. Prazer: Claro que entender essas funções não pode, em momento algum, diminuir ou extinguir algo de fundamental no sexo, que é o prazer. A grande questão, e que iremos abordar mais a frente, é que se configurou isoladamente, nos dias de hoje, essa função como a única e mais impor- tante. Isso traz a busca pelo prazer individual. No entanto, aqui a métrica é o prazer mútuo como função importante do sexo. Proteção: Sim, isso mesmo. O sexo livre e frequente dentro do casamento ajuda a guardar e proteger o casamento de outras influências externas. Ao passo que preenche, mantém a unidade, protegendo de atitudes ins- tintivas extra-casamento. Não que as dificuldades no sexo possam justifi- car qualquer atitude de adultério, mas a presença gera proteção. Essas são algumas funções importantes que se estabelecem no relaciona- mento sexual como ramificação da função primordial que é a de estabelecer a unidade. Capítulo 6. A função do sexo 144 Saber disso é fundamental para começar a ajustar no casamento um ato com tantos benefícios além do prazer maravilhoso proporcionado. Aliás, é baseado nisso que a grande maioria das pessoas se perde no sexo. A busca isolada e individual pelo prazer. O hedonismo e o egoísmo surgem a partir de diversas influências. 6.4 – O grande vilão Talvez, para você, seja algo pouco conhecido. Talvez, para você, seja um tabu falar abertamente sobre isso. Talvez, para você, isso nem seja consciente- mente algo que atrapalhe a sua relação. Mas, diante dos dados estatísticos, e das disfunções cada vez mais comuns observadas no dia-a-dia dos aten- dimentos e da interação com outros casais com grandes dificuldades, per- cebemos que um dos maiores vilões nos dias de hoje para uma vida sexual saudável chama-se pornografia. Atulamente, o acesso irrestrito e “na palma das mãos” aos conteúdos mais diversos possíveis, começa a influenciar a forma como enxergamos o sexo já no início das nossas vidas. Existem estudos que mostram que o primeiro contato com algum tipo de pornografia acontece em média entre os 4 a 8 anos de vida de um ser humano. Tem ideia o que isso quer dizer? Significa que construímos uma noção de sexo, relação sexual, ato sexual completamente influenciada! No casamento, quando o consumo de pornografia é algo presente, mesmo que um dos cônjuges não saiba ou não consuma, começam diversas disfun- ções que se afastam completamente daqueles objetivos e funções iniciais que falamos. Existem três grandes importantes observações a serem feitas sobre a pornografia e o impacto do seu consumo sobre o sexo no casamento. Primeiro que a pornografia é algo viciante. Alguns estudos nos Estados Unidos consideram a pornografia uma droga. Quanto mais é consumida, mas Capítulo 6. A função do sexo 145 libera neurotransmissores associados à recompensa e ao prazer, e mais se estabelece uma necessidade de se voltar a consumir. Estimula o consumo por mais tempo e mais diversidade. Esse comportamento viciante se torna muito difícil de ser deixado, o cérebro se torna sensível e se comporta exa- tamente como o vício de qualquer outra droga. Uma busca por recompensa sem limites. O segundo ponto a ser observado é que, ao consumir a pornografia, se estabelece um “patrocínio” a uma indústria com valores muito incoerentes. Uma engrenagem bilionária alimentada, em sua grande parte, por opressão, violência, frustração, traumas psicológicos e busca por padrões inalcançáveis. Isso também gera, como consequência, atos de prostituição, inclusive in- fantil. Além de estimular a associação com o uso de drogas e, em alguns casos, até o fomento ao tráfico de pessoas. Um bastidor pouco perceptível, quando se observa apenas o palco muito sensualizado e extremamente provocador. Muitas pessoas não fazem ideia que, com um clique e uma visualização, seja por poucos segundos ou por horas, ela está patrocinando toda essa indústria. Por último, e mais importante, a pornografia influencia negativamente, de forma impactante, os relacionamentos. O desejo que você deveria ter pelo seu cônjuge é transferido para um personagem fictício, muitas vezes incan- sável, e cheia de performances, atraente e sempre disponível. O sexo se torna muito mais individual e egoísta, se estabelece um padrão inalcançável e dis- torcido sobre o ato sexual baseado nas cenas produzidas nos filmes. Em todo esse contexto, começa a se perder uma das funções mais impor- tantes dentro do sexo, a intimidade. Muitas vezes, se cria uma insegurança por achar que o problema está na pessoa que se sente fracassada sexual- mente, incapaz de proporcionar prazer para o cônjuge consumidor de porno- grafia. Como o consumo, geralmente, é escondido, existe ainda uma sensação de traição e quebra de confiança quando ele é descoberto. Existem estudos que comprovam que a pornografia está ligada à insta- bilidade das relações, aumento do risco de infidelidade, maior probabilidade Capítulo 6. A função do sexo 146 de divórcio e diversas disfunções sexuais. Nunca na história se diagnosticou tantos jovens com disfunções eréteis e dificuldades para manter uma relação basicamente normal como nos dias de hoje. Esse é o mundo que se apresenta para todos nós, todos os dias, a toda hora. Um mundo que bate à sua porta e acena no seu celular, no seu compu- tador e na sua televisão. Estar atento a isso é fundamental para viver de forma saudável e extraordinária. Temos estudado sobre essa disfunção há anos, e observamos que têm sido cada vez mais comuns os questionamentos e a constatação dessa rea- lidade da vida de alguns casais. Eliminar uma influência danosa como essa, talvez, seja a solução para muitos que passam dificuldades em estabelecer uma relação sexual frequente e mutuamente prazerosa. Uma relação que realmente promova uma unidade. 6.5 – Funcionando Mas, como está o sexo no seu relacionamento hoje? Insaciável e ardente? O homem insaciável e a mulher ardendo de raiva? Vocês andam irritados um com o outro, mau humor, frieza, falta de cari- nho e intimidade? Se essas são características comuns, é bem provável que o quarto esteja sendo usado somente para dormir. Se você entendeu bem o início desse capítulo, você já começou a per- ceber que a atividade sexual no casamento não é algo supérfluo, mas uma prática fundamental para um relacionamento extraordinário e duradouro. Diante dessa importância, e tirando as influências negativas como a pornografia do contexto conjugal, percebemos que inúmeros casais sim- plesmente não estão vivendo uma relação aquecida no sexo, deixando de ex- perimentar as funções que o sexotem para a relação. Melhorar isso agora pode definir o seu futuro e construir algo muito melhor. Capítulo 6. A função do sexo 147 Algumas coisas importantes devem ser consideradas quando falamos do sexo dentro de um casamento e eu quero, nos próximos parágrafos, trazer alguma clareza e uma direção para você viver isso de uma maneira ainda melhor. 6.6 – Não espere acontecer... Faça Entender as funções básicas e importantes no sexo permite que você en- tenda que, à medida que o relacionamento se desenvolve, surge uma neces- sidade de não esperar que as coisas aconteçam do nada. No início do relacionamento, talvez seja assim. Você está cozinhando al- guma coisa e só o fato de estar com uma roupinha mais sexy, ou em um clima mais intimista, com uma musiquinha mais instigante, o sexo acontece e vocês se divertem! Com o tempo, a vida real se estabelece em todas as suas esferas. Existem os filhos que precisam ser colocados para dormir, existe o estresse do traba- lho, existe a preocupação com as finanças, existem os boletos a serem pagos, existem as sogras visitando de surpresa. No fim das contas, e inclusive no processo de amadurecimento da sua vida, você passa a perceber que quase nada vida adulta acontece de forma espontânea. De repente, você espirra, tosse ou pisca de uma maneira espontânea. Mas todo o fluxo restante da sua vida se estabelece de forma intencional. De forma que você premedite, que você construa. E o sexo dentro do relacionamento precisa, a partir de um certo momento, ser estabelecido de forma intencional, e não ficar esperando que ele aconteça. Não espere que vá rolar. Construa uma rota para fazer acontecer. Às ve- zes, a rota começa pela manhã, no café da manhã, quando se percebe uma troca de carinho, palavras de validação... Continua pela tarde com uma mensagem no telefone, e acontece de noite com um jantar simples, porém, Capítulo 6. A função do sexo 148 intencionalmente preparado para irem pra cama e experimentarem o ato fi- nal, que começou no café da manhã. 6.7 – Homens fazem sexo, mulheres fazem amor A essa altura, você já deve ter compreendido claramente a importância de entender nossas diferenças. Abordamos isso no capítulo 3 e você percebeu como isso é essencial para resolver os conflitos, que, aliás, foram abordados no capítulo 4. Mas, da mesma forma, entender essas diferenças que você já sabe agora, é essencial para a relação sexual. Não que essa afirmação seja uma regra, mas, invariavelmente, a sensibilidade da mulher é muito maior do que a do homem e a praticidade do homem no sexo é muito maior que da mulher. Para você ter uma ideia, o nível de desejo sexual feminino aumenta de acordo com as interações, receptividade e sensibilidade que seus parceiros demonstram por elas fora do quarto. Como eu falei agora há pouco, o sexo, para a mulher, inicia-se no café da manhã, quando o homem tira o lixo e joga fora. Aquilo ali, por si só, é algo que pode despertar o desejo dela. Ou, de re- pente, quando ele faz um elogio antes dela ir para o trabalho. Por exemplo, o termo intimidade, para a mulher, está ligado à conversa, a descobrir o que o outro pensa, o que o outro sente. O homem já pensa no contato físico. A mulher, para ter um sexo de qualidade, precisa estar em um momento de intimidade, confiança e afinidade. O homem só precisa de uma coisa: um lugar e mais nada. O homem é mais visual, a mulher é mais auditiva. O homem foca, muitas vezes, no orgasmo, a mulher em toda a jornada até lá. O homem chega no orgasmo em média com 2,5 minutos de penetração. A mulher precisa, em média, de 13 minutos. Capítulo 6. A função do sexo 149 Enquanto vocês não tiverem a consciência de diferenças básicas como essa, não só os conflitos não serão resolvidos de maneira eficaz, mas o sexo nunca vai atingir suas funções principais. Se você quer nadar de braçada em um sexo prazeroso e constante, você precisa mergulhar no conhecimento dessas diferenças. 6.8 – O sexo não é pra você “Eita, calma aí. Primeiro você diz que é importante. Depois você diz que deve ser prazeroso. Agora você diz que não é para mim? Não estou entendendo nada.” Calma jovem, calma... A sociedade que vivemos atualmente e a cultura do sexo enfiada na nossa cabeça trouxeram um problema seríssimo. Nascemos e crescemos achando que o sexo é somente para nos satisfazer. Para eu ter prazer, para eu curtir, para eu gozar, para eu me sentir bem. Uma visão completamente egoísta e individualista. E, por mais que você es- teja em um relacionamento, e saiba que o outro está com você, muitas vezes você entra no sexo carregando essa ideia. Uma das coisas que mais influencia esse padrão é a pornografia, como já vimos antes, e a cultura do desapego. Ambos apontam para essa satisfação egoísta e individualista. Quando você pensa em viver um relacionamento extraordinário, o ato sexual precisa estar voltado para o seu parceiro. Esse é um segredinho que não te contaram e faz toda a diferença! Sexo é, também, para dar prazer ao parceiro e não apenas uma atitude em busca de um prazer egocêntrico, buscar apenas a satisfação própria. Capítulo 6. A função do sexo 150 Inclusive, isso é o que leva muitas mulheres a começarem a perder a dis- posição para transar, pois, em muitos momentos, se deparam com esse tipo de atitude. Muitas mulheres se relacionaram com homens retardados (desculpem o termo, mas pensar dessa maneira só pode ser um retardo), que adoravam fa- zer sexo regularmente, mas que estavam voltados somente para a satisfação própria. Isso tornou o ato completamente desinteressante para a mulher e muitas acabam se sentindo usadas, apenas para o prazer deles. É muito importante que cada um tenha interesse em dar prazer para o outro como uma prioridade, quando entram na arena do sexo. Você entra na cena já se perguntando: “Como posso levar a minha esposa, ou o meu marido ao ápice do prazer?” E se você usar essa métrica, quando pensamos na prática, ali, no “vuco- -vuco”, na ação em si, a ordem óbvia e lógica, e que deveríamos estar sempre buscando, é que a mulher chegue ao orgasmo antes do homem. “Oi? Como assim?” Exatamente isso que você leu. Pense em um fogão a lenha. Para que você consiga altas temperaturas para uma panela de pressão, por exemplo, chegar ao seu limite, você precisa separar a lenha, dar uma secada na lenha, precisa juntar a lenha, precisar jogar algum combustível, precisa acender a lenha, precisa soprar e permitir que o fogo vá tomando aos poucos, precisa aguardar para que aquilo ali co- mece a ferver, até que atinja altas temperaturas. A mulher é como esse fogão. São necessárias toda uma preparação e uma trajetória que precisam ser articuladas e isso demanda um certo tempo. O homem, por sua vez, é tipo um forno de micro-ondas. Ajusta o timer e aperta o botão de “start”. Prim! Em pouco tempo ele “apita”. Capítulo 6. A função do sexo 151 Um homem compromissado com a mulher é um homem que tem a obri- gação de levá-la ao orgasmo como prioridade no ato. Quando ele busca o prazer primeiro, ele atinge o orgasmo bem mais rápido, e a mulher então vai ficar desestimulada, inevitavelmente. Eu canso de ver amigos homens reclamando que não fazem sexo há muito tempo. Que a mulher não aprecia. Que é muito esporádico. Lembram da his- tória dos 2 anos? A cama não pode ser o lugar só de dormir. Você pode até gostar de dor- mir, mas tem que gostar mais ainda de fazer sexo. Assim sendo, quanto menos vocês fizerem, quanto mais barreiras coloca- rem nesse assunto, mais distante acabam se sentindo e mais aberturas aca- bam surgindo na relação. Aliás, esse é um dos assuntos mais importantes que a gente aborda a fundo no treinamento Casamento Extraordinário. Se você quiser se apro- fundar nisso (e em muitos outros aspectos, além do sexo, de como trans- formar o seu relacionamento), eu sugiro fortemente que você conheça esse treinamentoagora. É um treinamento completo de 5 semanas, onde eu e a Isabela entregamos todas as ferramentas que uma pessoa precisa para res- gatar o amor e salvar o relacionamento. E o mais importante... mesmo se o parceiro não quiser. E isso faz toda a diferença. Para mais informações sobre o treinamento, acesse: https://romuloostmann.com.br/casamento Mas entenda, de uma vez por todas, que você não entra em um ca- samento simplesmente para ser feliz. Você quer ser feliz e quer ajudar o outro a ser feliz também. Com o sexo, acontece a mesma coisa. Você entra buscando fazer o outro realizado e satisfeito também. Não é somente para você. Pense nisso. https://romuloostmann.com.br/casamento Capítulo 6. A função do sexo 152 6.9 – Seja forte Poucos conselhos tiveram impacto tão grande na minha vida pessoal, no meu relacionamento e no sexo com a minha esposa como essas duas sim- ples palavras. “Mas como assim ser forte, doutor?” Deixa eu te falar uma coisa simples que as pessoas dissociam de todo o restante da vida: Ter um corpo forte e saudável é o primeiríssimo passo para você construir uma vida saudável em todos os aspectos, sejam eles mentais, espirituais ou até mesmo nos relacionamentos. Como médico nutrólogo e profundo conhecedor da dinâmica da saúde dos indivíduos, posso afirmar com um grau de acerto bem grande que existe uma grande probabilidade de você, nesse exato momento que lê esse livro, não estar forte. E, consequentemente, com isso, o sexo na sua vida não se faz presente com toda a sua plenitude. Uma simples avaliação do seu painel hormonal pode mudar muita coisa na sua libido e na facilidade de excitação. Mas existe algo negligenciado por mais de 50% dos brasileiros, e que pode, a partir desse exato momento, melhorar seu rendimento na vida e na cama, e o nome é: Atividade física. Ela é uma força motriz para o equilíbrio hormonal do seu corpo. Diminui os níveis de ansiedade e depressão e alivia o stress que são os fatores mais comuns que influenciam a libido, desejo, excitação, tesão. Além disso, a manutenção de um corpo com disposição, com vitalidade, com energia e esteticamente apreciável, é algo que facilita e estimula muito o sexo. Melhora sua autoestima, te torna mais facilmente estimulada e estimula o cônjuge de igual forma. Capítulo 6. A função do sexo 153 Fica muito claro que a função do sexo é constantemente bombardeada pela nossa cultura com muitas informações equivocadas. É muito comum ser confundido e permitir que essas ideias e conceitos se tornem uma verdade e uma normalidade na sua vida e acabem por prejudicar o seu relacionamento. 6.10 – Dando aquele upgrade Um relacionamento extraordinário tem como característica marcante um sexo extraordinário. E é fundamental saber sobre esse assunto tanto quanto praticá-lo. Não existe uma pílula mágica. Quero dizer, até existe uma pílula que ajuda na ereção do homem, e se esse for o único problema entre vocês, vale muito a pena ser avaliado por um médico urologista a possibilidade do uso. E por falar em médico, minha primeira orientação aos casais é saber se eles estão equilibrados na parte metabólica. Hormônios ajustados, atividade física em dia, peso ajustado para a sua altura, sono reparador e alguma ativi- dade que diminua o estresse do dia, um dos maiores vilões da perda da libido. Um outro ponto que costumo ressaltar é a importância de tornar o sexo uma prioridade. A tendência no casamento é que, com as coisas do dia-a-dia, mesmo o sexo sendo algo gostoso e prazeroso, ele acabe sendo colocado no famoso “se der” ou “se rolar, ok!”. Como eu disse antes, é importante que ele seja intencional. A nossa sexualidade é despertada pelas pequenas coisas. As vezes só ima- ginamos uma noite maravilhosa de sexo quando temos todo o clima mon- tado... música, jantar fabuloso, uma roupa especial. Isso tudo é ótimo e deve ser feito, claro. Mas algo extremamente prático e que funciona é cultivar o afeto diário dando importância a pequenos gestos. Beijar o seu marido sem- pre que sai ou chega em casa... sempre antes de dormir e ao acordar... Gestos como esses mantém o afeto e a conexão em alta, mesmo quando a rotina não Capítulo 6. A função do sexo 154 permite muita coisa. Isso sustenta a intimidade ativamente e acaba nos dei- xando mais responsivos a outras ações na cama. “Fale mais e faça mais” é uma das frases que permite você melhorar. As pessoas querem fazer um sexo melhor sem falar sobre um sexo melhor. A gente precisa ser sincero com o outro, expressando o desejo de transar e falando do que gosta ou não na cama. Conversem sobre o sexo, fale da posição que aprecia, fale de como gosta, fale do que não gosta. Isso não é uma cobrança, mas sim uma forma de guiar. É muito bom quando nos sentimos realizados se- xualmente e também sabemos que estamos realizando, completando o outro. Sexo é um ingrediente para o extraordinário acontecer no seu relacio- namento. Quando você entende a função dele, descarta o que atrapalha e entende como fazer de uma maneira ainda melhor, o sexo vai muito além da satisfação física. Ele cria uma profunda conexão emocional, psicológica e até espiritual, que tem o poder de comunicar o amor de uma maneira que trans- cende qualquer palavra, ao passar dos anos. Quando encarado de forma errada, ele pode afastar, criar dificuldades, e te arrastar para o isolamento e frustração. Quer ter um sexo bom? Busque ter um relacionamento de contribuição, conhecendo as diferenças, com habilidades e ferramentas para resolver seus conflitos, perdoando quando precisar perdoar. Mas, nem sempre um relacionamento caminha nessa direção. Eu sei muito bem disso, pois vejo no dia-a-dia, nas nossas turmas de mentoria. Mas existem relacionamentos que de fato se desestruturaram, perderam sua es- sência, casais que estão separados, convivendo no mesmo ambiente. E entre permanecer infeliz dentro da relação, sem as habilidades que não foram ad- quiridas, o casal se direciona para a separação, para o divórcio. Deixa eu te falar algo muito importante agora… Nem todo casamento foi feito para durar. E eu separei um capítulo desse livro pra te explicar o porquê disso que eu acabei de dizer. CAPÍTULO 7 O DIVÓRCIO Eu não sei exatamente quando você está lendo esse livro. Esse livro foi con- cebido em 2021. Se você estava vivo nesse tempo, os anos de 2020 e 2021 foram marcados por uma pandemia ocasionada pelo Vírus Covid-19 que im- pactou o mundo inteiro. Houve necessidade de se estabelecer um isolamento social. Nós aqui no Brasil tivemos que ficar dentro de casa por um período determinado e com diversas restrições. As crianças não podiam ir para os colégios, que estavam fechados, o entretenimento foi restringido e a maioria de nós foi obrigado a trabalhar em casa, em “homeoffice”, termo que ficou muito famoso nesse período. Eu conto isso porque, nesse mesmo período, segundo algumas estatís- ticas, aumentou muito o número de divórcios. Mas, esse assunto não é de longe uma novidade, visto que alguns estudos mais antigos já estimavam que, para cada 3 casamentos no brasil, 1 terminava em divórcio. Uma rea- lidade que foi apenas exposta em um tempo em que as relações sofreram alterações importantes. Quando começamos a pensar e falar em divórcio, separação, término de re- lacionamento, fim do casamento, as reações variam muito. Antigamente, esses termos eram considerados completamente impróprios. Mulheres separadas Capítulo 7. O divórcio 157 não eram bem vistas. Em 1977, foi sancionada a lei que instituiu o divórcio no país. Até então, o casamento era indissolúvel. Nos dias de hoje, é muito comum, e é bem provável que você conheça al- guém que já tenha passado por essa experiência. Talvez algum amigo ou pais de amigos, talvez seus próprios pais, ou até mesmo você. 7.1 – Descartabilidade Mas, por que algo que antigamente era raro, considerado exceção, eramau visto, se tornou uma prática tão comum e de aceitação quase que universal? Será que os relacionamentos estão se modernizando, como al- guns dizem? Será que o “se não deu certo, separa” é a evolução normal das relações? Certa vez, perguntaram a um casal que completava 65 anos de casamento como conseguiram manter um compromisso por tanto tempo: “Nós somos de uma época em que, quando algo quebrava, éramos ensi- nados a consertar e não jogar fora.” Vamos explorar um pouquinho um contexto que eu considero extrema- mente relevante para nos situar nessa ideia de divórcio. Na década de 1930, os países capitalistas enfrentavam uma grave crise econômica e foi, então, criada uma estratégia de mercado para garantir que houvesse aumento do consumo, baseada em limitar o tempo de utilidade dos produtos. Essa prática foi chamada “Obsolescência Programada” e se aplica quando os produtos têm sua durabilidade diminuída propositalmente, obrigando os consumidores a substituí-los após um período de uso. Capítulo 7. O divórcio 158 Ou ainda, quando se criam versões dos mesmos produtos, como acontece hoje com os computadores e celulares, que são relançados em novas versões “atualizadas” a cada ano. As coisas se tornaram mais descartáveis. Criou-se uma “necessidade” de adquirir sempre as novas versões e descartar as anti- gas. Vivemos em uma sociedade que privilegia as tecnologias descartáveis. Todo esse movimento, inicialmente exclusivo da área econômica, parece ditar uma nova perspectiva de como lidar não só com os objetos de consumo, mas também uma nova forma de lidar com os relacionamentos. Isso mudou a engenharia cerebral do ser humano. Quando a sua geladeira começa a dar problema, você até tenta consertar, mas se der problema outra vez, ela prontamente será descartada e outra nova será comprada. Recentemente tive um problema com meu celular da Apple, um IPhone 11. Estava na garantia. Eu então levei até a loja e ele foi diagnosticado com um problema que precisaria de 30 dias para ser consertado. Sem ter opções, deixei o telefone na loja e fiquei aguardando. Cinco dias depois, me ligaram dizendo que não havia conserto e que eu poderia ir à loja para receber um outro telefone novinho. Quebrou, joga fora. Deu problema, descarta. E o que me parece é que, em algumas situações de relacionamentos, isso também acontece. Diante de dificuldades, diante da não percepção do pro- pósito do casamento, diante da falta de habilidade para resolver conflitos, para “consertar” o relacionamento, a opção mais prática é a separação. A gente percebe essa ideia antes mesmo de casar. Eu fico impressionado como, na mente de muitos casais, ao estar prestes a assumir o pacto do casa- mento, eles já estão pensando na possibilidade de se “descartarem”. “Eu não vou cuidar da casa e deixar de trabalhar, porque, se a gente separar, eu não tenho emprego!” Capítulo 7. O divórcio 159 “É melhor tirar o carro do meu nome, porque, se separamos, terei que dividir.” “Casamento é uma loteria né? Vamos tentar, se não der certo, parte para outra!” “Ter filhos é complexo né? Depois a gente se separa e como eles vão ficar?” Essa é uma triste realidade de uma sociedade completamente desprovida de conhecimentos e habilidades. Eu iniciei este capítulo trazendo essa reflexão, pois é muito provável que uma grande parte dos relacionamentos terminam justamente porque não ti- nham conhecimentos como esses que estamos abordando aqui desde o início. E, diante dessa mentalidade da facilidade da “descartabilidade” das coisas, as pessoas e os relacionamentos também vêm se tornando descartáveis. Passamos de garrafas descartáveis, de eletrônicos descartáveis, de obje- tos descartáveis, para pessoas descartáveis, relacionamentos descartáveis. Claramente isso não é um movimento normal. Até porque, é de conheci- mento de muita gente que os términos de relacionamentos, em muitos casos, só visam mudar os personagens. Quando você descarta um relacionamento porque esse não deu certo (porque você chega à brilhante conclusão de que a outra pessoa não é a pes- soa certa), e você parte para outro relacionamento, as probabilidades de di- vórcio em um segundo ou terceiro casamento são ainda maiores. Troca-se de parceiro até perceber que os problemas ainda permanecem. E, por falar em “pessoa certa”, eu quero te contar uma verdade para qual, talvez, você ainda não tenha sido despertado. Essa verdade é motivo de mui- tas separações. Capítulo 7. O divórcio 160 7.2 – Você se casou com a pessoa errada Essa talvez seja uma das conclusões mais equivocadas que muitos casais che- gam e que acabam levando à decisão de se separar. Ora, se eu casei com a pessoa errada, se ela não é a minha cara-metade, eu preciso procurar a pes- soa certa, correto? Queria pedir desculpas, desde já, ao Fábio Júnior... Mas, não existe a sua “metade da laranja”. E ponto. Na verdade, essa ideia maluca vem da mitologia grega. De acordo com esse mito, o ser humano, originalmente, tinha quatro braços, quatro pernas e uma cabeça feita de duas faces, uma masculina e uma feminina. Mas Zeus, o todo poderoso deus grego, temia o poder dos humanos, e os dividiu ao meio, condenando-os a passar o resto de suas vidas procurando pela outra metade, que os completaria. E aí romantizaram como a “metade da laranja”, ou a “alma gêmea”. E come- çaram a usar essa metáfora sempre, nas novelas, seriados, livros e em vários filmes de Hollywood. Agora, imagina você nascer e começar a sua busca implacável pela sua outra metade. E se ela estiver morando lá no Japão? Quais são as chances de você encontrá-la? Mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Você realmente acredita que você vai encontrar a sua alma gêmea dentro dessas 7 bilhões de pessoas? Essa ideia é péssima, porque, além de estimular essa busca doentia, faz com que se crie o pensamento que eu disse há pouco, que se a pessoa que você casou não te completa, não te faz feliz, não te compreende, não é per- feita pra você, então ela não é sua alma gêmea... Logo, não adianta ficar ten- tando nada, a única solução é separar e voltar a procurar a pessoa certa. E aí você separa, busca, busca e busca. Encontra uma outra pessoa. Se casa novamente e, adivinha o que acontece? Isso mesmo que você pensou... não funciona. Capítulo 7. O divórcio 161 É por isso que, estatisticamente, as chances de você se separar em um segundo relacionamento são ainda maiores e crescem a cada nova tentativa, simplesmente pelo fato de que você nunca vai encontrar a sua “cara metade”! E sabe por quê? Porque ela simplesmente não existe! Quem vive trocando de relacionamentos, não apenas está se recusando a mudar, mas provavelmente acredita que existe sempre alguém mais ade- quado e capaz de lhe satisfazer. É assim que se comportam os meninos e meninas imaturos. É assim que eu me comportava, inclusive, quando era um garoto. Quando eu não tinha virado um homem ainda. Começava um relacionamento novo, as coisas, inicialmente, eram bem legais. Mas com o tempo, os problemas iam surgindo e a forma mais fácil era colocar a culpa no outro, ou, para não criar muita briga pensar: “não era ela mesmo”. “Ah Rômulo, mas hoje em dia nem é tanto assim!” Não? Estudos mostram que a maioria dos solteiros está em uma busca desesperada por sua “alma gêmea”. Um estudo da Universidade Rutgers des- cobriu que 94% das mulheres solteiras, em seus 20 e poucos anos, dizem que a primeira exigência em um cônjuge é que ele seja sua alma-gêmea, alguém com quem elas sintam uma conexão quase que cósmica. De modo surpreen- dente, 87% pensam que realmente encontrarão essa pessoa quando estive- rem “prontas”. Alou, acorda! Você não é uma meia pessoa andando por aí. Você é inteira, com suas próprias características, sua personalidade, seu passado, seus trau- mas e suas qualidades. O grande segredo aqui não é pensar se você está com a pessoa certa,mas sim fazer as coisas certas! É óbvio que, se você é solteiro(a) e está buscando alguém, você tem que procurar recrutar da melhor maneira possível. Não Capítulo 7. O divórcio 162 vai se casar com um louco qualquer, achando que, com o amor e fazendo as coisas certas, tudo vai dar certo. Quem erra na seleção, só vai precisar gastar muito mais energia depois, no treinamento. Mas está tudo certo! A grande verdade é que, para os relacionamentos darem certo, depois que você decidiu estar junto, vai depender muito mais de fazer as coisas certas. Não é a pessoa certa, é a sua atitude certa, é o tipo de relacionamento certo. E não se engane, você tomou uma atitude certa ao se casar. Quando você decidiu se casar, fica muito claro que você está fazendo uma escolha de permanecer até que a morte os separe. Bom, pelo menos para mim e para você que está lendo esse livro, pois você compreendeu, junto comigo, lá no início, o propósito, o direcionamento, o motivo pelo qual as pessoas deveriam se casar. Mas, talvez, para muitas pessoas, isso não seja muito claro, e aí eu volto àquela métrica: os motivos são fracos, o entendimento pequeno e, então, o divórcio, a separação, torna-se uma opção muito mais fácil de acontecer. Ainda que, caso essas pessoas buscassem um pouco mais de conhecimento, o casamento pudesse se restaurar e pudessem criar a oportunidade de vive- rem mais felizes para sempre. 7.3 – Quando o fim se aproxima Quando decidimos amar alguém, essa atitude e sentimento não estão atre- lados a circunstâncias e condições específicas. Isso é uma decisão, é uma escolha espontânea. Você se compromete a estar com a pessoa até que a morte os separe. Mas, para construir um relacionamento é necessário ter algumas condi- ções que devem ser cumpridas e respeitadas de acordo com as convicções do casal, e com o pacto estabelecido desde o início. Capítulo 7. O divórcio 163 Não é algo do tipo: “Eu vou ficar com ele incondicionalmente. Mesmo que ele me traia quantas vezes ele quiser, mesmo que ele altere completamente o comportamento e seja um pessoa desonesta, criminosa ou agressiva.” As pessoas confundem o sentimento de amor, que deve se sustentar acima de muitas coisas, com a instituição do casamento. No casamento, é preciso ter algumas condições, obviamente. São regras que vocês definem seguir, respeitar. Regras para o relaciona- mento de vocês, condições para viverem em harmonia. Mas, existem situações em que essas condições não estão sendo cumpri- das, e o relacionamento se torna claramente insustentável. De repente, você se vê sozinha e incapaz de ver soluções. Seja por infide- lidade, quebra de confiança, desinteresse do outro em se manter juntos. E aí vem, claramente, a vontade de jogar a toalha, o direcionamento para sair fora dessa relação. Muitas vezes parece que a única saída é desistir... terminar, separar, divorciar. Esse é o assunto que eu menos gosto de abordar. Porque, de fato, eu acre- dito no amor. Eu acredito nas restaurações, eu acredito em Deus, eu acredito na nossa capacidade de resiliência, eu acredito nas pessoas, eu sou um cara positivo e otimista. Mas, quando se trata de relacionamento, e suas diversas condições, nem todos irão durar mesmo. Constatar que a morte do amor, que o fim do relacionamento aconte- ceu é uma das maiores tragédias para qualquer pessoa que acredita nessa instituição. Existem alguns relacionamentos onde o amor virou ódio e amargura. Pes- soas que coabitam o mesmo endereço, mas que já estão completamente des- conectadas, afastadas. Se tornam estranhos dentro de um lugar conhecido. Já estão separadas, convivem, mas já decidiram queimar suas pontes de ligação. Eu quero compartilhar com vocês uma visão, baseada em muito estudo e sustentada por muitos especialistas em relacionamentos também. Capítulo 7. O divórcio 164 7.4 − Quando é a hora de partir? Como eu disse, eu, de verdade, sou um cara esperançoso. A minha visão é que a grande maioria das pessoas não aprendeu as habilidades e não teve essa oportunidade, como você está tendo aqui neste livro, de adquirir conheci- mento sobre como viver uma relação boa. Mas, existem alguns casos em que os cônjuges decidiram por essa dire- ção, é algo individual. Lidar com esse momento com outros casais sempre despertou em mim sentimentos muito difíceis. Mas, de fato, depois de algumas reflexões e análises, existem casos em que se afastar, talvez, seja uma opção a se considerar. — “Como eu consigo identificar se eu estou passando por uma situação dessas?” Calma, calma. É preciso ter extrema sensibilidade nas informações que eu vou colocar aqui. Porque, de repente, você está recebendo-as em um mo- mento delicado, onde a emoção está acima da razão. Um momento em que você está passando por um conflito pontual e específico. Então, é preciso maturidade para entender o que vou colocar aqui para você agora. Algumas observações merecem atenção e podem trazer uma lucidez para distinguir se a direção que o relacionamento está seguindo é, de fato, ruim. Analise alguns pontos como: 1. Acabou a ternura, acabou a admiração. Quando falam um do outro, existe uma frieza que beira o desprezo. Quando falam das histórias, focam somente nos pontos negativos. 2. Se estabeleceu, mesmo estando juntos, uma noção individual do “eu”, e não do “nós”. Em todas as narrativas, se encontra uma colocação na primeira pessoa, Eu, meu, vou, quero e etc. Capítulo 7. O divórcio 165 3. Perdeu-se totalmente a conexão. Quando se olha para o passado, as lembranças não trazem nenhum tipo de saudosismo. Não conseguem enxergar nenhum aprendizado nas dificuldades que passaram juntos. Apenas o caos. Esses são apenas padrões. Não quer dizer que, se isso estiver aconte- cendo, o melhor caminho a se direcionar é a separação. Não. Novamente, são apenas padrões. Existem casais que passaram por essas características, mas conseguiram, ainda sim, resgatar seus relacionamentos. 7.5 – 4 venenos e seus antídotos Em toda essa trajetória com relacionamentos, nós já lemos prateleiras e pra- teleiras de livros, fizemos muitos cursos e treinamento, já estivemos com mentores e já mentoramos. E, entre os especialistas que mais admiramos, está um cara que faz muita pesquisa na área de relacionamentos. Há mais de 50 anos ele possui um laboratório de onde ele extrai diversos dados e infor- mações importantes para predizer, de forma bem eficaz, o que faz o amor durar ou não. E, em uma dessas pesquisas, John Gottman ressalta a importância de ava- liar 4 grandes pontos na relação que são indicativos de que a relação merece ser observada com carinho. Eles indicam que o casal está a passos largos em direção à possibilidade de se separar. É um indicativo que as coisas não estão indo muito bem. Eu os chamei de 4 venenos. Ao mesmo tempo, John sugere, também, um antídoto para tentar resolver esses problemas, com o objetivo de desviar esse caminho e evitar o divórcio. Capítulo 7. O divórcio 166 Criticismo As pessoas que criticam muito costumam ter, na maior parte do tempo, uma visão negativa. Essas pessoas só conseguem ver erros, não reconhe- cem os esforços e acertos dos seus parceiros. As qualidades são sempre menosprezadas. Possuem uma tendência a descrever um problema como parte da per- sonalidade do parceiro. Por exemplo: “Você é egoísta”, ao invés de dizer que a pessoa agiu de forma egoísta. Quando fazem uma crítica, fica sem- pre implícito que existe algo de errado com a pessoa, e não com a atitude da pessoa. Antídoto: Generosidade, capacidade de enxergar e valorizar o melhor do outro, demonstrar admiração. Validar as atitudes positivas, e buscar lidar melhor com as negativas. Defensividade Ter uma postura defensiva é a tendência a se proteger. Está sempre di- zendo: “Não foi culpa minha.”. Essas pessoas, para se defender, estão sempre atacando. Ela tem o lema de que a melhor formade se defender é o ataque. Costumam culpar o outro por todas as dificuldades da vida a dois. A vitimi- zação é uma constante. Antídoto: Aceitar a auto-responsabilidade. Em um relacionamento, você tem responsabilidade por, pelo menos, uma parte do problema. Ter uma ati- tude de parceria e justiça, admitindo também as próprias dificuldades em vez de só acusar seu parceiro. Desprezo Esse pode se manifestar de várias maneiras: em piadas de mau gosto, pro- vocações ou até mesmo em ofensas diretas. Ao mesmo tempo, o desprezo pode ser substituído por sinais não verbais como girar os olhos. Com cada Capítulo 7. O divórcio 167 gesto, a pessoa tenta dizer ao seu parceiro: “Eu sou melhor do que você. Eu não o respeito”. Uma atitude de desprezo é aquela que coloca o outro para baixo, com o objetivo de se sentir superior em relação a esse. As pessoas que têm o hábito de julgar as outras pelos seus erros, ao invés de defini-las pelas suas qualida- des, tendem a ter mais atitudes de desprezo. O desprezo, segundo algumas pesquisas de especialistas em relaciona- mentos, é um dos piores venenos para relacionamento. Quando está pre- sente, se torna um indício muito forte de que a conexão se perdeu. Antídoto: Criar um hábito de apreciação, buscando focar no que o outro tem de positivo, suas forças e suas virtudes. Indiferença / Obstrução Se fechar para o diálogo, ignorar, não escutar o que o outro diz, ou fingir que não escutou. Quando uma briga está prestes a começar, seu parceiro pode pegar o celular e começar a usá-lo, ou simplesmente sai do ambiente, ignorando o problema e deixando você de lado. Essa é uma atitude tóxica para o relacio- namento, porque bloqueia qualquer forma plausível de comunicação. Antídoto: Buscar ter mais atenção e respeito à opinião e ao sentimento do cônjuge. Priorizar a conexão em todas as interações possíveis. O amor não é uma ciência exata, obviamente. Todos esses fatores e carac- terísticas precisam estar presentes de forma constante para, de fato, desgas- tar a relação. Viver um relacionamento onde uma atitude dessa aconteceu, ou se faz presente muito esporadicamente, não significa tanto assim. Agora quanto maior o número de vezes que esses comportamentos se apresentam, maiores as chances de um possível divórcio. Esteja sempre atenta a isso. Capítulo 7. O divórcio 168 7.6 – Quem decide Mesmo sabendo de muitas dessas coisas, recebemos essa pergunta de forma recorrente: “E aí? Quando eu sei que é a hora de partir?” E eu vou te dizer isso agora. A hora de partir é quando você decide. Em paz, com clareza e convicção. Entenda, você pode ter ficado frustrada com essa resposta. Mas preste bastante atenção no que eu vou te falar: Ninguém (eu disse ninguém!) nesse mundo tem o direito e ou a capaci- dade de te dizer qual é o momento de partir. Ninguém. Nem eu, nem a Isa- bela, nenhum terapeuta, nenhum amigo, nem pai nem mãe. Ninguém. Todo conselho para essa atitude não será baseado na sua história, na sua vida e nas suas características. Nós podemos apontar padrões e consequên- cias de certas atitudes. Nós podemos ver estudos onde foram analisados mi- lhares de casais, mas que nenhum deles era você e seu cônjuge. Somente você, agora com as ferramentas, habilidades e conhecimento, tem a possibilidade de tomar essa decisão. Eu quero te dizer uma outra coisa muito importante: Nem todo casamento foi feito para durar. No entanto, todo relaciona- mento pode ser resgatado, quer você continue ou não no casamento. “Não entendi muito bem. Você fala que todo relacionamento pode ser salvo, mas nem todo casamento foi feito para durar?” Sim. Por mais que você defina que o seu casamento não deve continuar, você, de alguma forma, pode manter um relacionamento, estabelecido da melhor maneira possível com essa pessoa. Capítulo 7. O divórcio 169 Por exemplo, se você tem filhos, é muito importante você resgatar essa relação. Vocês serão pais pelo resto da vida e seus filhos merecem ter uma vida tranquila e feliz, mesmo vocês não estando juntos, é importante que vocês se relacionem de uma maneira saudável e que gere melhores resultados para eles. Você não precisa conviver, você não precisa manter contato constante. Mas você pode sair de uma relação com respeito, sabendo entender as di- ferenças, respeitando quem aquela pessoa é, sabendo se perdoar e liberar o perdão, e não carregando um peso e ficando amarrada pelo o que você viveu naquele relacionamento. Olha o estalo que você deve estar tendo agora. Passamos páginas aqui mostrando uma direção para você construir um relacionamento extraordi- nário. Como desenvolver um relacionamento de contribuição e não de co- brança. Isso é o que desejamos para você, isso é o que nós vivemos. Mas, se em algum momento, suas conclusões te levarem para a direção de partir, você, com esse conhecimento, pode sair muito bem do casamento, manter a relação saudável, e ainda vai carregar todo esse conjunto de habili- dades para uma próxima relação. Você não estará como muitos, apenas trocando de problema, ao trocar de parceiro. Você estará optando por viver um relacionamento diferente. Lembram da Isabela? Não é mudar o seu cônjuge, não é mudar de côn- juge, é mudar a forma como você se relaciona com ele, é mudar de relaciona- mento de cobrança para uma relacionamento de contribuição que dá certo e constrói um relacionamento extraordinário. 7.7 – Nem todo casamento pode ser salvo, mas todo relacionamento sim Depois de ter recebido algumas informações, compreendido a importân- cia de um relacionamento de contribuição, aplicado as ferramentas por um Capítulo 7. O divórcio 170 tempo suficiente, experimentado na prática do dia-a-dia esses novos conhe- cimentos, eu e Isabela acreditamos que existem dois discursos principais que você pode desenvolver ao final desse livro: 1. “Agora eu vejo com clareza que eu tenho um maior entendimento sobre o tipo de relacionamento que funciona. Tenho tranquilidade e paz. Eu vejo que nós simplesmente não tínhamos as ferramentas, o conheci- mento e as habilidades para navegar diante dos problemas que estáva- mos vivendo. Mas, agora que eu tenho isso, eu quero, de fato, reafirmar que eu o amo e quero reconstruir o nosso casamento e, através dos meus esforços, torná-lo extraordinário, estabelecendo um verdadeiro relacio- namento de contribuição.” 2. “Nesse instante de sincera compreensão, com convicção e paz, eu vejo que nós não estamos mais alinhados no amor, mas eu estou pronta para construir a criação de nossos filhos em harmonia com ele, na medida que nós dois iremos vivenciar essa relação pelo resto de nossas vidas. E me sinto muito mais preparada para encontrar um novo amor e, após todo esse conhecimento, eu entendo a base sólida em que preciso cons- truir esse novo relacionamento de contribuição.” Entenda que as duas formas, de um ponto de vista maior, são uma grande conquista. Porque, se você parar agora e pensar: Como termina a maioria dos rela- cionamentos? Brigas, raiva, discussões, mágoas, acusações. Cria-se um am- biente negativo que é carregado pelo resto da vida. Mas, você consegue perceber a diferença aqui, de tomar decisões com habilidade, conhecimento, entendimento, compaixão e paz. É um ambiente totalmente diferente, e que irá levar ambos a lugares melhores nessa jornada. Você pode continuar no seu casamento, se você avaliou isso da melhor maneira, e todo o contexto aponta para isso. Você pode, com essa nova Capítulo 7. O divórcio 171 habilidade, salvar o relacionamento que você irá viver pelo resto de seus dias, principalmente se tiverem filhos. Além disso, como eu disse, com todo esse conhecimento, você se torna ainda mais preparada para, a partir de agora, estabelecer e construir um re- lacionamento de contribuição. É sobre você. Sempre foi, sempre será sobre a vida que você está cons- truindo. É sobre você e sempre será.CONCLUSÃO Um casal de velhinhos estava celebrando as suas bodas de 70 anos de ca- sados. O repórter de uma rádio foi mandado para cobrir a história e fez o melhor que pôde para fazer o velhinho (que estava muito surdo) entender suas perguntas. “Setenta anos é muito tempo”, ele gritou no ouvido do velhi- nho. “O senhor já pensou em divórcio?”. O velhinho brincou com a pergunta: “Divórcio? Não, não posso dizer que tenha pensado. Se bem que eu cheguei a considerar assassinato algumas vezes!” E eu, que lá no início pensava que casamentos extraordinários e duradou- ros não passavam por problemas. Essa história ilustra perfeitamente isso. Ao mesmo tempo que trás um toque de humor, mostra a interessante métrica da manutenção de um pacto firmado, até que a morte nos separe. O fim deste livro pode ser visto como o final ou um novo começo. Isso vai depender de como você vai absorver o conhecimento e se vai ou não colocá- -lo em prática. Quando você tem contato com novos conhecimentos, você tem a possibi- lidade de transformar o seu relacionamento. Mas o aprendizado só é estabe- lecido quando o conhecimento adquirido é colocado em prática. Quando você começa a praticar, a ver resultados, você pode dizer: “Eu aprendi.” E, então, Conclusão 173 você constrói aquilo que você desejava desde o primeiro minuto que pegou nesse livro. Esse é o próximo passo que você pode dar. Quando você, por exemplo, descobre que existe um propósito no casamento e que ele foi criado para isso, a forma como você começa a se apresentar no seu relacionamento co- meça a mudar. Você pára de querer nutrir um ego, até então bem presente, e começa a dar lugar ao altruísmo. Pára, também, de querer controlar, cobrar, reclamar, criar expectativas irreais, e começa a viver o que, de fato, o relacionamento pode proporcionar de melhor. Esse é o tipo de relacionamento que funciona, que, realmente, mantém os dois (mesmo estando livres para ir embora) juntos e felizes. Esse é o Relacionamento de Contribuição. Quando você entende esse tipo de relacionamento e pára de tentar mu- dar o seu cônjuge, você cria a oportunidade de começar a mudar o seu rela- cionamento. Quando você percebe o quanto vocês são diferentes, ao invés de um ficar tentando mudar o outro, vocês entendem o porquê dessas diferen- ças e criam uma capacidade de resolver os conflitos de uma maneira muito mais eficaz, que permite que cresçam juntos, e se tornem ainda mais unidos. É isso que todo esse conhecimento é capaz de fazer na sua vida. Ele pode transformar e restaurar um relacionamento e torná-lo extraordinário. Se você está lendo esse livro, existe uma grande possibilidade de já ter passado por experiências que marcaram a sua vida no passado. Eu quero te dizer que, se você quer viver, hoje, um relacionamento de forma fluida, com um amor sendo contemplado no seu mais alto fluxo, é essencial que você desfaça algu- mas amarras que te prenderam até aqui, e libere o perdão. Permita-se viver leve, e sem obstruções, aquilo que você sempre desejou para seus relaciona- mentos, mas que foi impedido até essa data por conta de mágoas passadas. Quando a gente se casa, a gente se entrega um para o outro. Você deve ter percebido que o sexo é uma das maneiras de confirmar essa entrega. Não Conclusão 174 existe uma regra como ele deve acontecer, mas sim que ele é importante para o relacionamento. Mas, se você passa a perceber que pode existir algo diferente para fazer hoje, buscando melhorar essa prática, saiba que é um investimento importante e prioritário para o seu relacionamento. É uma via de mão dupla. De um lado o descuido do sexo sem saber suas verdadeiras funções atrapalha o relacionamento... De outro lado, um relacionamento de cobranças não estimula uma atitude sexual saudável. Eu não acho o divórcio uma solução legal. Mas eu quero que você saiba que essa é a minha opinião. Hoje, com o conhecimento que eu tenho, eu, Rô- mulo Ostmann, esgotaria todas as minhas possibilidades para restaurar um casamento que eu estivesse com dificuldades. Mas, como essa é a minha percepção, baseada no acúmulo de conheci- mento e convicções que eu estabeleci ao longo da minha vida, eu só posso decidir por mim. Só eu posso decidir por mim. Da mesma forma que para você, para o seu relacionamento, para sua realidade, essa é uma decisão que deve ser avaliada com as suas lentes, sempre. Ninguém, jamais, poderá fazer isso com tanta propriedade como você. E a sua decisão será influenciada por tudo aquilo que você já aprendeu. Você pode tomá-la com todas as ferramen- tas e habilidades que você vem adquirido nesse livro e seguir construindo o relacionamento que deseja baseado na sua decisão. Uma sugestão para você: Não pare por aqui. O livro vai terminar aqui, mas como eu já disse, é a possibilidade de um novo começo na sua vida. Não guarde esse livro em qualquer lugar. O que desenvolvemos aqui é um passo inicial para você aprender a se relacionar melhor. Continue aplicando esses conhecimentos no seu dia-a-dia e consolide esse aprendizado na sua vida. Eu e Isabela estamos aqui e queremos desejar a você aquilo que você mais deseja dentro do seu coração. Que isso possa ser conectado com esses co- nhecimentos e você possa viver o extraordinário na sua vida! Até breve. AGRADECIMENTOS A Deus, que me criou, criou a Isabela e criou o casamento. Valeu Deus, viver isso é bom demais! À Isabela, por aceitar o Rômulo que eu era. Às nossas filhas, Cléo e Charlotte, por serem instrumentos e moldarem nossa trajetória. Ao Sr. Silas e à Sra. Úrsula, meus pais, pela minha vida e pelas bagagens fornecidas. Ao Sr. Jorge e à Sra. Vera, pais da Isabela, pela vida da Isabela e pelas ba- gagens fornecidas. Ao Diogo Camargo, a mente estratégica que permitiu que essa mensagem chegasse até você. Ao Judah Ben Hur, pela doação de sua sensibilidade criativa. Autores Rômulo Ostmann Isabela Ostmann Concepção Rômulo Ostmann Isabela Ostmann Diogo Camargo Revisão Diogo Camargo Projeto gráfico de miolo Estúdio Design do Livro e diagramação Design de capa Kenneth Medeiros Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Ostmann, Rômulo Guia secreto dos relacionamentos extraordinários : descubra os segredos capazes de (re)construir qualquer relacionamento e fazê-lo durar para sempre... mesmo que você já tenha tentado de tudo para mudar o seu parceiro. / Rômulo Ostmann, Isabela Ostmann. — 1. ed. — Rio de Janeiro : Ed. dos Autores, 2021. ISBN 978-65-00-25089-3 (impresso) ISBN 978-65-00-25103-6 (digital) 1. Casamento 2. Perdão 3. Relacionamento — Homem-mulher I. Ostmann, Isabela. II. Título. 21-69576 CDD-306.89 Índice para catálogo sistemático: 1. Casamento : Aspectos sociais 306.89 Aline Graziele Benitez — Bibliotecária — CRB-1/3129