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Gestão Estratégica de Pessoas Marcos Baptista Lopez Dalmau Valdecir Cahoni Rodrigues Ariane Rodrigues Pereira Presidente Prudente Unoeste - Universidade do Oeste Paulista 2016 Dalmau, Marcos Baptista Lopez. Gestão Estratégica de Pessoas. / Marcos Baptista Lopez Dalmau, Valdecir Cahoni Rodrigues, Ariane Rodri- gues Pereira. – Presidente Prudente: Unoeste – Univer- sidade Oeste Paulista, 2016. 174 p.: il. Bibliografia. ISBN: 978-85-88755-25-3 1. Administração de Pessoal. 2. Mercado de Traba- lho. I. Rodrigues, Valdecir Cahoni. II. Pereira, Ariane Rodrigues. III. Título. CDD\22ª. ed. © Copyright 2016 Unoeste - Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade do Oeste Paulista. Gestão Estratégica de Pessoas Marcos Baptista Lopez Dalmau Valdecir Cahoni Rodrigues Ariane Rodrigues Pereira Reitora: Ana Cristina de Oliveira Lima Vice-Reitor: Brunno de Oliveira Lima Aneas Pró-Reitor Acadêmico: José Eduardo Creste Pró-Reitor Administrativo: Guilherme de Oliveira Lima Carapeba Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Adilson Eduardo Guelfi Diretor Geral: Augusto Cesar de Oliveira Lima Núcleo de Educação a Distância: Dayene Miralha de Carvalho Sano, Marcelo Vinícius Creres Rosa, Maria Eliza Nigro Jorge, Mário Augusto Pazoti e Sonia Sanae Sato Coordenação Tecnológica e de Produção: Mário Augusto Pazoti Projeto Gráfico: Luciana da Mata Crema Diagramação: Aline Miyamura Takehana e Luciana da Mata Crema Ilustração e Arte: Antônio Sérgio Alves de Oliveira, Fernanda Sutkus de Oliveira Mello e Luciana da Mata Crema Revisão Técnica: Valdecir Cahoni Rodrigues Revisão: Renata Rodrigues dos Santos Colaboração: Vanessa Nogueira Bocal Direitos exclusivos cedidos à Associação Prudentina de Educação e Cultura (APEC), mantenedora da Universidade do Oeste Paulista Rua José Bongiovani, 700 - Cidade Universitária CEP: 19050-920 - Presidente Prudente - SP (18) 3229-1000 | www.unoeste.br/ead 658.3 D155g Catalogação na fonte: Rede de Bibliotecas Unoeste Marcos Baptista Lopes Dalmau Valdecir Cahoni Rodrigues Graduado em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre e doutor pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da UFSC, na área de Mídia e Conhecimento. É professor do Departamento de Ciências da Administração da UFSC, no CPGA – Curso de Pós-graduação em Administração (Mestrado) e do PPGAU – Programa de Pós-graduação em Administração Universitária da UFSC. É avaliador do MEC e da Secretaria de Educação de Santa Catarina, exercendo também consultorias de Recursos Humanos para empresas do estado de Santa Catarina. Graduado em Administração pela Faculdade de Ilha Solteira (FAISA). Especialista em Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional pelo Centro Universitário Toledo, da cida- de de Araçatuba, especialista em Administração com ênfase em Gestão Ambiental pela Faculdade de Ilha Solteira. Mestre em Administração na área de Estratégia pela Universi- dade Paulista (UNIP), de São Paulo. Faz parte do corpo docente da Unoeste, também é revisor técnico de material didático do Núcleo de Ensino a Distância da Unoeste. Sobre os autores Ariane Rodrigues Pereira Graduada em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mes- tranda do Programa de Pós-graduação em Administração pela mesma universidade, cur- sa Especialização em Gestão Pública CAD/EAD/UFSC. Possui experiência nas áreas de planejamento e controle da produção, logística internacional e nacional, bem como nas subáreas de recursos humanos e finanças. Possui trabalhos completos publicados em congressos e periódicos. Carta ao aluno O ensino passa por diversas e constantes transformações. São mudanças importantes e necessárias frente aos avanços da sociedade na qual está inserido. A Educação a Distância (EAD) é uma das alternativas de estudo, que ganha cada vez mais espaço, por comprovadamente garantir bons referenciais de qualidade na formação pro- fissional. Nesse processo, o aluno também é agente, pois organiza o seu tempo confor- me suas atividades e disponibilidade. Maior universidade do oeste paulista, a Unoeste forma milhares de profissio- nais todos os anos, nas várias áreas do conhecimento. São 40 anos de história, sendo responsável pelo amadurecimento e crescimento de diferentes gerações. É com esse mesmo compromisso e seriedade que a instituição iniciou seus trabalhos na EAD em 2000, primeiramente com a oferta de cursos de extensão. Hoje, a estrutura do Nead (Núcleo de Educação a Distância) disponibiliza totais condições para você obter os co- nhecimentos na sua área de interesse. Toda a infraestrutura, corpo docente titulado e materiais disponibilizados nessa modalidade favorecem a formação em plenitude. E o mercado precisa e busca sempre profissionais capacitados e que estejam antenados às novas tecnologias. Agradecemos a confiança e escolha pela Unoeste e estamos certos de que suas expectativas serão atendidas, pois você está em uma universidade reconhecida pelo MEC, que oportuniza o desenvolvimento constante de Ensino, Pesquisa e Extensão. Aqui, além de graduação, existe pós-graduação lato e stricto sensu, com mestrados e doutorado recomendados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), prêmios conquistados em âmbito nacional por suas ações extensivas e pesquisas que colaboram com o desenvolvimento da cidade, região, estado e país; en- fim, são inúmeros os referenciais de qualidade. Com o fortalecimento da EAD, a Unoeste reforça ainda mais a sua missão que é “desenvolver a educação num ambiente inovador e crítico-reflexivo, pelo exercício das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão nas diversas áreas do conhecimento cien- tífico, humanístico e tecnológico, contribuindo para a formação de profissionais cidadãos comprometidos com a responsabilidade social e ambiental”. Seja bem-vindo e tenha bons estudos! Reitoria Sumário Capítulo 1 Mercado de Trabalho 1.1 Gestão de Pessoas e Mercado de Trabalho ....................................................................14 1.2 O Excesso de Contingente e o Mercado de Reserva .......................................................18 1.3 Afinal, o que as Empresas Querem? E o que Elas Podem Fazer? .....................................20 1.4 A Influência da Rotatividade nas Empresas ...................................................................23 Capítulo 2 recruTaMenTo e Seleção 2.1 Recrutamento.............................................................................................................28 2.2 Seleção ......................................................................................................................34 Capítulo 3 TreinaMenTo e deSenvolviMenTo 3.1 Conceitos de Treinamento e Desenvolvimento ..............................................................42 3.2 Etapas Constitutivas do Treinamento e Desenvolvimento ...............................................45 3.2.1 Levantamento de Necessidades de Treinamento – LNT ...............................................45 3.2.2 Planejamento do Treinamento ..................................................................................47 3.2.3 Execução do Treinamento .........................................................................................54 3.2.4 Avaliação do Treinamento .........................................................................................55 Capítulo 4 avaliação de deSeMpenho 4.1 Introdução ao Contexto e ao Conceito ..........................................................................62 4.2 Construção do Processo de Avaliação de Desempenho ..................................................65 4.2.1 A Fasedo Planejamento ...........................................................................................66 4.2.2 As Fases da Execução e do Feedback ........................................................................74 Capítulo 5 TópicoS eSpeciaiS - educação a diSTância, GeSTão de coMpeTência e GeSTão do conheciMenTo 5.1 Enfoques Organizacionais da Gestão Estratégica de Pessoas ..........................................80 5.2 Educação a Distância ..................................................................................................81 5.3 Gestão de Competências .............................................................................................86 5.4 Gestão do Conhecimento ............................................................................................90 Capítulo 6 culTura orGanizacional 6.1 Cultura ......................................................................................................................98 6.1.1 Conceito de Cultura..................................................................................................99 6.1.2 Cultura Organizacional ........................................................................................... 100 6.1.2.1 Início de uma Cultura Organizacional .................................................................... 101 6.1.2.2 Mantendo a Cultura ............................................................................................. 103 6.1.2.2.2.1 Métodos de Socialização ................................................................................ 106 6.1.2.3 Componentes da Cultura Organizacional ............................................................... 113 6.1.2.4 Cultura Forte versus Cultura Fraca ........................................................................ 116 6.1.2.5 Mudando a Cultura de uma Organização ............................................................... 116 6.1.3 Fusões e Cultura Corporativa .................................................................................. 120 Capítulo 7 culTura afro-braSileira e indíGena 7.1 Cultura ..................................................................................................................... 124 7.2 Cultura Brasileira....................................................................................................... 125 7.3 Cultura Negra no Brasil .............................................................................................. 126 7.3.1 Alimentação ........................................................................................................... 126 7.3.2 Religiões Afro-brasileiras ......................................................................................... 127 7.3.3 Danças .................................................................................................................. 129 7.3.4 Festas ................................................................................................................... 133 7.4 Racismo ................................................................................................................... 134 7.5 Índios ...................................................................................................................... 137 7.6 Inclusão Social.......................................................................................................... 138 Capítulo 8 novaS abordaGenS eM GeSTão eSTraTéGica de peSSoaS 8.1 Direitos dos Funcionários ...............................................................................144 8.1.1 Negociações Sindicais .................................................................................146 8.2 Gestão de Pessoas Internacionais ...................................................................148 8.2.1 Recrutamento e Seleção Internacionais ........................................................150 8.3 Banco de Dados e Sistema de Informações de Gestão de Pessoas .....................152 8.3.1 Banco de Dados ..........................................................................................152 8.3.2 Sistema de Informações de Recursos Humanos .............................................155 8.4 Resiliência .....................................................................................................156 Referências .........................................................................................................167 Estudos Complementares .....................................................................................173 11 Apresentação O objetivo deste livro é proporcionar subsídios referentes à Gestão Estratégica de Pessoas. Por isso, abordamos tanto os preceitos teóricos quanto os aspectos práticos da vida profissional que tivemos a oportunidade de desenvolver. Acreditamos que assim o material ficará, ao mesmo tempo, acadêmico e crítico o suficiente, pois muitas teorias, da maneira como são apresentadas nos livros didáticos, costumam ser pouco contextualizadas à realidade profissional brasileira. Esperamos que você desenvolva uma visão crítica deste assunto. Também espe- ramos que se sinta estimulado a aplicar alguns dos conceitos que serão transmitidos, a fim de desenvolver o seu modelo de gestão de pessoas. Gostaríamos de mencionar que é uma satisfação poder trocar ideias com você. Ao longo do livro, será possível observar que faremos diversas perguntas provocativas. Elas servem para que você se posicione e, principalmente, reflita! Por fim, esperamos que goste do que foi elaborado. E, se possível, envie um feedback, pois assim poderemos conhecer também outros pontos de vista além dos nossos. Um grande abraço e bons estudos! 13 Mercado de Trabalho Capítulo 1 14 Este capítulo tem por objetivo proporcionar subsídios para que você possa entender os conceitos e exigências referentes ao mercado de trabalho. Neste livro como um todo, veremos diversos subsistemas de Recursos Hu- manos considerados estratégicos para uma gestão mais efetiva. Porém, antes de iniciar o detalhamento sobre os subsistemas, veremos alguns pontos substanciais referentes ao ambiente que rege tudo isso, que é o mercado de trabalho. Dessa forma, é importante que você leia o material com atenção, tendo em vista que todos nós convivemos em tal ambiente. Vamos lá! Introdução 1.1 Gestão de Pessoas e Mercado de Trabalho Geralmente, ao estudarmos Gestão Estratégica de Pessoas, encontramos in- formações sobre os subsistemas, que devem estar todos interligados para possibilitar extrair o máximo de vantagens possível. Neste livro, você verificará que eles são inter- dependentes, ou seja, dependem e influenciam uns aos outros. Todavia, enquanto não avançamos para os capítulos que tratarão sobre os subsistemas, destaco que todos eles podem ser considerados fundamentais para que os gestores tenham condições de obter diferenciais para competir em um ambiente externo às suas organizações, chamado de mercado de trabalho. Cabe aos gestores manterem- -se antenados ao que acontece no mercado, que, embora seja externo, é um ambiente muito importante para as organizações. Saiba Mais Ficou curioso sobre o que é subsistema? Vamos entender o assunto. Primeiro, tenha- mos em mente que o sistema é o nosso objeto de estudo, no caso a Gestão Estratégica de Pessoas; os subsistemas são as partes identificadas de forma estruturada, ou seja, são as temáticas classificadas em grupos, como: Recrutamento e Seleção, Treinamento e Desenvolvimento, Remuneração, Avaliação de Desempenho; por fim, o supersistema ou também chamado de ecossistema é o todo, ou seja, o macroambiente. As definições de sistema, subsistema e ecossistema estão de acordo com a proposta de Andrade e Amboni (2011), mencionadas no livro de Administração - Teorias, da EAD/Unoeste. 15 Mas, o que é mercado de trabalho? Por que os gestores devem ficar atentos a ele? Por acaso o entendimento sobre o mercado de trabalho pode gerar diferenciaiscompetitivos aos gestores? E aos profissionais de forma geral? Para começar, vamos definir mercado de trabalho. No meu entendimento, mercado de trabalho significa o ambiente onde está concentrada a mão de obra dispo- nível para uma possível contratação. Além da mão de obra disponível, encontra-se tam- bém a “indisponível”, ou seja, aquela que temporariamente não está procurando novas oportunidades. Reflita se você concorda com a definição. Continuando, o mercado de trabalho que nós vivenciamos hoje é bem dife- rente do mercado que nossos pais vivenciavam, por exemplo. Não acredita? Pergunte a eles como era antigamente. Você vai ver que o que eles dirão é algo muito interessante, quando as oportunidades eram maiores, assim como a possibilidade de fazer o que cha- mamos de carreira em uma organização. O que fez com que houvesse essa mudança é algo que você já deve estar ciente, seja por vivência própria, ou por leituras, ou estudos sobre o assunto. Na visão de Karl Albrecht (2000), por exemplo, são várias as razões para que isso tenha acontecido. E olha que a visão dele ainda é considerada como uma referência explicativa para os dias de hoje! No entendimento dele, o que ocasionou uma alteração no conceito de mercado de trabalho foi a própria mudança oriunda das inovações tecnológicas e da nova concepção de serviços. Não entendeu? Vamos aprofundar a explicação! Para Albrecht (2000), o paradigma antigo de mercado de trabalho se concen- trava em pessoas que tivessem habilidades para fazer algo que exigisse pouco intelecto e mais habilidades físicas, uma vez que o entendimento de trabalho valorativo era mais bra- çal do que intelectual. Dessa forma, podemos exemplificar que o mercado de trabalho do século passado era muito mais voltado à obtenção de pessoas com características físicas, que proporcionavam a realização de atividades que utilizavam o emprego da força. Importante Paradigma: “‘Paradigma’ é um conceito que vem da Grécia antiga, onde significava ‘mostrar lado a lado’”, segundo Magalhães (2005 apud NOGUEIRA, 2007, p. 103). Mas, em se tratando do contexto da Administração: um paradigma administrativo é uma referência ou matriz de condutas que inclui as atividades de planejamento, organiza- ção, execução e controle, as técnicas e os procedimentos acei- tos e adotados pelas empresas ao longo do tempo (NOGUEI- RA, 2007, p. 104). Sendo assim, é um modelo de comparação, é uma fonte de referência para algum tema em específico. 16 Ao analisarmos o mercado de trabalho do Brasil, hoje, tal situação não mu- dou tanto. Ainda existe demanda para esse tipo de característica profissional para de- terminados trabalhos. Mas o que mudou foram pontos muito pertinentes: a quantidade e as exigências. Com a inovação tecnológica, o trabalho braçal acabou perdendo o seu valor. A nova concepção de riqueza passou a ser oriunda do intelecto, isso faz com que nós te- nhamos que nos adaptar/estudar frequentemente para criarmos diferenciais em relação a outras pessoas. A inovação tecnológica trouxe mais velocidade para as organizações, aumen- tou a exigência por pessoas que saibam fazer as coisas, tomar decisões, transformar in- formações em ações concretas e que deem retorno financeiro positivo, bem como enten- dam e saibam manusear as próprias tecnologias! Quem não sabe, por exemplo, acaba ficando à mercê de uma situação mais complicada, em que as oportunidades de trabalho são compatíveis e equivalentes àquelas dos profissionais com baixa qualificação. Tal situação, além de intrigante, é muito interessante por sua complexidade e volatilidade, porque acabou modificando o próprio entendimento de trabalho e empre- go. Você saberia dizer o que é um e o que é outro? Vamos lá. Você se lembra da definição física de trabalho? Trabalho é o resul- tado da utilização da força pelo deslocamento. Adaptando para a realidade profissional, entende-se por trabalho a capacidade de realizar algo, de utilizar o esforço e o desem- penho na produção de algo que seja necessário. Logo, a pessoa que cata papelão na rua para vender está trabalhando. A pessoa que está estudando também está trabalhando! Você concorda? Já emprego é a relação de trabalho dentro de uma formalização trabalhista. O emprego é derivado de uma relação de troca formal, em que os direitos e deveres es- tão regidos por lei e que geram o que chamamos de obrigações trabalhistas para ambas as partes: empresa/organização e profissional. Dando continuidade, para Albrecht (2000), a nova concepção dos serviços mudou também o entendimento do mercado de trabalho. Por quê? Porque o mundo administrativo que existia no século passado era predominantemente industrial, ainda mais na realidade norte-americana. Na realidade brasileira, tal situação não era tão di- ferente, apesar de que depois de 1990 o Brasil começou a vivenciar uma situação bem interessante, porém sofrível para diversos profissionais. Você saberia dizer qual situação seria essa? Para seu conhecimento ou para relembrar, em 1990, o então presidente da república Fernando Collor de Melo “abriu as portas” do país à globalização. O que isso quer dizer? Quer dizer que qualquer empresa de fora teria condições de instalar e forne- 17 cer produtos/serviços no país. Isso foi algo considerado por muitos como positivo, pois fez com que forçosamente houvesse um aumento nas ações/investimentos em mão de obra para concorrer com o capital estrangeiro, assim como para competir em âmbito global. Tal situação era muito complexa, pois até 1990 o Brasil viveu em um ambiente fe- chado e extremamente dependente daquilo que se produzia internamente, fazendo com que a população tivesse acesso a produtos/serviços de qualidade, porém com poucas ofertas diferenciadas e com preços caros, ocasionados pelas altas taxas inflacionárias. Comentários Essa situação me fez lembrar o exemplo da indústria automotiva, na época o carro con- siderado mais “moderno” era um carro que na Argentina estava mais que consolidado [...]. Ou então que para termos acesso a “produtos modernos”, necessitávamos ir ao Paraguai ou trazê-lo de Manaus. Todavia, quando o presidente Collor abriu as portas do país, várias empresas acabaram tendo problemas, pois não conseguiram se manter competitivas em relação às empresas do exterior. Mas, o que elas tinham de diferente das brasileiras? Além de pro- dutos diferentes, elas começaram a oferecer serviços diferenciados e também a utilizar a informação para produzir algo que não existia no mercado brasileiro. Isso foi algo sem precedentes na história do país. Ao mesmo tempo em que a modernização vinha ao Brasil, o atraso referente à gestão ficava mais do que evidente. E isso, de certa forma, acabou forçosamente modificando o pensamento administrativo relacionado à gestão estratégica de pessoas, pois obrigou os gestores a utilizarem as técnicas de gestão para atrair e manter os melhores profissionais, bem como a modificar os seus paradigmas referentes a essas pessoas/profissionais. Tal situação, evidentemente, até hoje não foi bem “digerida” pelos gestores, porque é difícil ser empreendedor no Brasil. Querendo ou não, as relações trabalhistas são complicadas/complexas, e a compreensão dos direitos e deveres é fundamental. Mas, além deles, também não foi aceita pelas pessoas pertencentes ao mercado de tra- balho. O motivo? Simples, porque na visão delas é obrigação do Governo dar condições para que se consiga trabalho. E elas têm razão e, ao mesmo tempo, não têm, porque essas condições são subjetivas. O que seriam essas condições? Estariam elas ligadas diretamente à escolaridade? A existência de vagas de emprego? O que se percebe hoje em dia é que ambas as situações existem. É perfeita- mente aceitável afirmar que as oportunidades de trabalho e emprego são derivadas das nossas capacidades, incluindo aí os nossos conhecimentos, as nossas habilidades e as nossas atitudes. Se você fizer uma pesquisa nos dados oficiais do Governo Federal, po- derá constatarque existem diversas ações voltadas para o aumento da escolaridade em todos os níveis. Mas apenas isso não resolve, pois não adianta ter escolaridade se não 18 1.2 O Excesso de Contingente e o Mercado de Reserva Conforme apontado no subitem anterior, o que se percebe é que a exigência de escolaridade contribuiu para que houvesse uma mudança nos parâmetros de traba- lho/emprego nos dias de hoje. Porém, pode-se afirmar que não foi apenas a escolarida- de que fez com que isso se tornasse uma necessidade para todos os trabalhadores, foi também a competição entre todos aqueles que querem o que chamamos de “lugar ao sol”. Explico melhor: você não tem aspirações de um dia poder ter a sua casa, ter um carro, ter uma boa condição de vida? Essas e outras aspirações, que em diversos casos acabam se tornando necessidades, também mudaram com o passar dos tempos. Mas, o que mudou? Além das necessidades, a quantidade e a qualidade, pois passamos de uma sociedade do “ser” para uma sociedade de consumo, ou uma sociedade do “ter”. Isso é algo muito cruel, pois acabamos nos tornando escravos das nossas próprias aspi- rações, de nossos próprios desejos. A rigor, o desejo e a necessidade são distintos. A necessidade pode ser en- tendida como falta de alguma coisa. Já o desejo significa que queremos algo, mas com o tempo o nosso desejo pode diminuir ou até mesmo aumentar! Nem sempre necessidade e desejo são tratados como coisas distintas, tendo em vista que, como já mencionado, as pessoas querem o ter e não necessariamente ser. No caso do mercado de trabalho isso pode ser um problema, pois as pessoas querem bons salários, boas oportunidades, querem boas condições de trabalho e não se contentam com qualquer coisa. É algo aceitável até o momento em que permanecem sem trabalho porque também querem algo que está além de suas capacidades. É de se pensar. Por outro lado, é ainda uma questão cultural, porque várias pessoas prefe- rem ficar sem emprego a trabalhar desenvolvendo atividades consideradas de “baixo va- lor agregado”. Isso nos Estados Unidos ou na Europa não é visto dessa maneira, porque trabalho é trabalho, ainda mais se considerarmos as relações trabalhistas. Concorda? soubermos trabalhar na prática. Para tanto, percebe-se também o aumento da oferta de vagas em Escolas Técnicas, que têm como princípio básico fornecer subsídios para que as pessoas saibam trabalhar em uma área específica. Isso é algo positivo, tanto que a taxa de contratação de pessoas com nível técnico vem aumentando significativamente ano após ano. Entretanto, como ficam as pessoas que não tiveram acesso ou não conse- guiram estudar em Escolas Técnicas ou simplesmente estudar? Nesse caso, acabam à mercê de oportunidades mais escassas, em que o tipo de trabalho e a relação trabalhista se torna fruto da sorte, dependência de auxílio governamental ou da informalidade, o que é algo cruel. 19 Não sei se você está acompanhando o problema do mercado de trabalho no mundo, mas é fato que as empresas estão exigindo cada vez mais de seus futuros pro- fissionais no momento da seleção; afinal, elas poderão recompensá-los de alguma forma com algo que deva atender suas necessidades ou desejos. Porém, não é tão simples assim, pois existe algo que chamamos de mercado de reserva, o que pode atrapalhar os planos de qualquer pessoa que esteja pleiteando uma vaga em uma empresa. Você sabe o que é isso? Entende-se por mercado de reserva o contingente de pessoas que está sem trabalho ou não está empregado em uma empresa. Muitas vezes, em função da circuns- tância do momento, tais pessoas se sujeitam a trabalhar com qualquer coisa, desde que tenham condições de satisfazer suas necessidades e desejos profissionais, mesmo que temporários. No Brasil, por exemplo, costumamos ver tal situação no serviço público, em que muitas pessoas fazem o que chamamos de carreira trampolim, ou seja, entra em uma carreira não tão disputada para ter um salário, uma relação trabalhista, além da segurança inerente a esse tipo de serviço, mas continua tentando prestar concursos pú- blicos para outras instituições que pagam melhor ou oferecem benefícios mais atrativos. Mas, voltando ao assunto, na Europa e nos Estados Unidos, a situação re- latada é um pouco diferente, o que faz com que o mercado de trabalho seja também um tanto diferenciado. Neste momento, estamos constatando mais uma mudança nos paradigmas referentes ao assunto, tendo em vista que em função da globalização a mo- bilidade populacional aumentou. Se você analisar o caso europeu, tal situação tende a ficar cada vez mais caótica, pois, com a unificação, as pessoas estão migrando para os países que estão em condições de ofertar melhores empregos. Isso faz com que o povo nativo tenha que competir em um mercado de reserva mais complicado. São exemplos: Espanha, Portu- gal, Alemanha, Itália. Todos esses países estão, inclusive, tendo problemas referentes às taxas de emprego; afinal, em função da economia, não conseguem mais gerar novas oportunidades. Com isso, parte-se para a informalidade, como já mencionado, ou criam- -se leis que obrigam e/ou estimulam as empresas a gerarem novas vagas de trabalho. Nos Estados Unidos, tal situação está começando a ficar muito parecida com a da Europa, apesar de também estar parecida com a brasileira! Tudo isso é fruto de uma recessão. Agora, se analisarmos a situação no Brasil, o Governo Federal vem afirmando que a taxa de desemprego está diminuindo. Pode até ser que esteja mesmo. Mas, ape- sar de tudo, é fato de que no Brasil o perfil do trabalhador mudou. A rigor, você já sabe a razão. Porém, assim como aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, aconteceu no Brasil também. 20 Em outras palavras, o mercado de reserva no Brasil está aumentado, uma vez que a rotatividade nas empresas tem crescido, seja por causa dos altos custos em- pregatícios, seja porque o trabalho desenvolvido na empresa não satisfaz as necessida- des de uma pessoa, entre outros motivos. Qual o significado disso? Significa que querendo ou não todos nós dispu- taremos uma vaga em empresas que pagam mais e melhor, ou então disputaremos uma vaga no mercado de trabalho para que possamos ser escolhidos para trabalhar em algum lugar, o que nos permitirá começar e continuar a nossa relação trabalhista. Com- plicado, não é? Atente-se a isso! É importante destacar ainda um ponto de vista bem recorrente relacionado ao modo como as empresas percebem a situação referente ao mercado de trabalho. É correto afirmar que o nosso mercado está mais voltado à questão intelectual e, com isso, as empresas estão buscando pessoas que saibam utilizar o intelecto para gerar os dife- renciais competitivos já comentados, o que não representa mais a garantia do emprego vitalício, uma ideia trabalhada desde 1995 por Minarelli (1995). 1.3 Afinal, o que as Empresas Querem? E o que Elas Podem Fazer? As duas questões do título deste subitem são extremamente norteadoras quando conversamos sobre mercado de trabalho. Afinal, o que as empresas querem? Bom, depois de tudo o que foi exposto até o presente momento, é correto afirmar que as empresas querem pessoas que tenham experiência, preparo, que tenham passado por posições que lhe permitam decidir, gerar os diferenciais. E como se consegue isso? Pode-se conseguir isso a partir dos investimentos pessoais, seja na escola- ridade, como já mencionado, ou então em outros ofícios que possibilitem o seu apren- dizado. Por meio do aprendizado, espera-se que o profissional possa desenvolver o que chamamos de competências. Com tudo isso vem um conceito que é muito interessante: o de empregabi- lidade. Você sabe o que é isso? Entende-se por empregabilidade a capacidade de uma pessoa conquistar e manter seus empregos. Em outras palavras, uma pessoa empregável é aquela que está sempre pronta para novos desafios, independente do tipo de empresa e do tipo de tra- balho que se tem pela frente. 21 Como conseguir isso, considerandotodas as dificuldades existentes? Além das já citadas, é perfeitamente possível mediante o que denominamos de trabalho vo- luntário, ou então o trabalho temporário, ou por meio de estágios. São alternativas capazes de incrementar a vida profissional de uma pessoa. Apesar de circunstancial, pois dependem das condições financeiras para o próprio sustento, assim como estar disponível para o que der e vier, tais alternativas vêm aparecendo com frequência no nosso país, já reparou? Para tanto, basta verificar a quantidade de novas ofertas de trabalho que são disponibilizadas em épocas festivas ou em épocas que no país a demanda por produtos/ serviços é grande. Já no caso do voluntariado, é o tipo de trabalho que pode ser encon- trado a qualquer hora, apesar de os gestores, em alguns casos, não estarem receptivos a isso, pois temem receber processos trabalhistas futuros. Apesar de tudo, o que importa é que uma pessoa consiga permanecer em- pregável. Se ela reunir as características fundamentais, dificilmente lhe faltará trabalho e emprego. Agora, aproveitando a oportunidade, devo apresentar outro conceito bem interessante que tem contribuído direta e indiretamente para que uma pessoa possa se manter empregável: a empresabilidade. Você imagina o que seja isso? Vamos lá! Entende-se por empresabilidade a capacidade das empresas em desenvol- ver e utilizar as competências de seus profissionais. Mas, o que esse conceito tem a ver com a empregabilidade? Simples! A partir do momento em que o gestor entende que ele também é responsável pelo desenvolvimento de sua capacidade profissional, existe uma tendência da relação empregatícia ser diferenciada, onde o ganha-ganha que as empresas estavam acostumadas passa a ser melhor distribuído com seus funcionários. Isso acontece por intermédio do fornecimento de cursos pagos pelas empre- sas, pela possibilidade de novas oportunidades de carreira dentro das próprias empre- sas, entre outros fatores. Já está acontecendo com você? Caso positivo, aproveite, pois o maior beneficiado tende a ser você mesmo. Porém, não se esqueça de retribuir com trabalho o que ela investiu, pois tal ação, quando existe a contrapartida, gera novos in- vestimentos, e por aí vai. Em outras palavras, essas são ações que as empresas podem fazer por um profissional. Dando continuidade às respostas das perguntas geradas no título do subi- tem, as empresas querem pessoas que sejam especialistas, mas também querem em determinadas situações o que chamamos de generalistas. Vamos às diferenças concei- tuais? Sem dúvida essas serão bem mais fáceis de entender. O especialista é aquele que sabe muito de um determinado assunto. Já o generalista é aquele que sabe um pouco de vários assuntos. Podemos exemplificar isso 22 da seguinte forma: em um curso de graduação você tende a se tornar um generalista, pois aprenderá de tudo um pouco. Terá acesso a informações que lhe proporcionarão conhecimentos que poderão ser utilizados no dia a dia. Porém, caso queira se aprofun- dar mais, ou se tornar o especialista, terá que estudar mais, seja por conta própria, seja fazendo uma especialização, um mestrado ou um doutorado. Não existe uma regra mencionando que somos apenas especialistas ou ge- neralistas. Além disso, podemos nos tornar especialistas ou generalistas várias vezes ao longo da nossa vida, pois cotidianamente nos deparamos com coisas novas! Mas cuidado com o que você quer ser lá no futuro, porque, como tudo na vida, existem vantagens e desvantagens com cada um desses pontos. Como vantagens dos especialistas, podemos dizer que quanto mais conheci- mento específico você tiver, maior será o seu diferencial competitivo frente aos demais. Porém, cuidado com a validade, pois com as mudanças, com as inovações tecnológicas, o conhecimento perde a validade rapidamente e isso pode se tornar uma desvantagem. Vamos a um exemplo: quem é especialista em computação, dependendo da linguagem, em menos de seis meses estará plenamente defasado, pois atualmente surgem diversas linguagens de programação para computadores no mundo. Porém, se a pessoa for especialista em neurocirurgia, ela conseguirá se manter empregável por muito tempo, porque o surgimento de novas técnicas ou procedimentos cirúrgicos não é tão frequente assim. Entende? Já no caso do generalista, a vantagem é que ele serve como um coringa. E o que é isso? É aquela pessoa que pode ocupar diversas posições na empresa, pois sabe fazer de tudo um pouco. Como um exemplo diferente, lembrei-me daquele personagem do programa Zorra Total, o Severino, ele faz de tudo! Agora, qual a desvantagem do generalista? Justamente por não ter um conhecimento mais aprofundado sobre o assun- to, a responsabilidade dele nas empresas tende a ficar mais no nível operacional, pois, para ocupar os níveis mais altos, é importante saber muito bem as coisas e entender o contexto maior que as empresas estão inseridas. Enfim, qual a mensagem embutida nesses conceitos? Para responder a essa pergunta, vou utilizar uma frase destacada em um texto publicado em 1999 (mesmo assim, bem atual!) do professor Antônio Carlos M. Mattos, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), em que ele diz: “Quem se decidir por uma carreira com base no que existe hoje correrá o risco de ter que ser reciclado no futuro, se quiser manter o emprego”. Interessante, não é? Pense nisso! Independente do tipo de profissional desejado, as empresas procurarão con- tratá-los para o trabalho, esse assunto será o objeto de estudo dos próximos subitens. 23 1.4 A Influência da Rotatividade nas Empresas Como já foi abordado neste capítulo, existe um excesso de contingente de profissionais à disposição das empresas, loucos por uma oportunidade de trabalho. Tal contingente é bastante volúvel, pois muitas pessoas são contratadas, diversas são demi- tidas ou pedem demissão e outras se aposentam. Das causas mais comuns, sabe-se que podem ser motivadas pela influência do que chamamos de variáveis externas e internas às empresas, conforme Chiavenato (2010, p. 90). Dentre as variáveis externas, contemplam-se: • A situação de oferta e procura do mercado de RH. • A conjuntura econômica. • As oportunidades de emprego no mercado de trabalho, etc. Já em relação às variáveis internas, podemos citar as seguintes: • A política salarial e de benefícios que a organização fornece. • O estilo gerencial. • As oportunidades de crescimento interno. • O desenho dos cargos. • O relacionamento humano. • As condições físicas e psicológicas de trabalho (relacionamento). Por outro lado, sabe-se que os motivos de demissão dos empregados podem variar desde a falta de comprometimento profissional, falta de competência, dificuldades de relacionamento e demais características que são inerentes às pessoas. Independente disso, o que se percebe no contexto empresarial é que a ro- tatividade tem aumentado significativamente quando o profissional completa o terceiro mês de trabalho, pois em termos de custos operacionais de demissão, eles tendem a ser menores, porque representa o período de experiência. Mas isso não é uma regra. Existem demissões que ocorrem com pessoas com muitos anos de empresa, pois se tornaram um custo maior do que o benefício que proporcionavam. Cruel, não é? Seja qual for o motivo, o que se sabe é que as próprias empresas se prejudi- cam com a rotatividade, afinal elas terão que começar tudo de novo, contratando gente para trabalhar, treinando, ajustando; enfim, tudo aquilo que é necessário para deixar um profissional pronto para o trabalho. Em outras palavras, acabam tendo problemas em função da influência sobre a produtividade de forma geral. 24 Para seu conhecimento, entende-se por rotatividade de pessoal, ou turnover, o movimento de saída dos profissionais de uma organização (OLIVEIRA, 2006). Quando eles saem da organização, abre-se vaga para que outra pessoa possa substituí-los (esse processo nós veremos melhor no capítulo sobre Recrutamentoe Seleção). Mas, se for possível manter a produtividade com as pessoas que já estão na organização, melhor. No entanto, geralmente, esse tipo de situação traz mais prejuízos do que benefícios quando se tem pouca gente, uma vez que alguém será sobrecarregado com o trabalho que era feito. Nesse sentido, é recomendável que o fluxo de saída de profissional seja equilibrado com o fluxo de entradas, ou seja, o movimento de admissão deve ocorrer na mesma proporção do que o de demissão. O último caso, porém, deve ser ao máximo evitado. Às vezes, é comum as empresas contarem com mais funcionários do que necessitam para o momento. Isso acontece porque é uma situação contextual, quando os negócios não estão bons o suficiente para ter trabalho a todos os funcionários. Caso essa situação aconteça, existem algumas ações voltadas para o preparo desses traba- lhadores, tais como o Plano de Demissão Voluntária. Porém, existem outras práticas que são testemunhadas em sindicato, pois as rescisões podem acabar gerando processos trabalhistas futuros. Para evitar surpresas desagradáveis para ambas as partes, é importante que o profissional se mantenha ao máximo empregável. Você já estudou isso, lembra-se? Por outro lado, as empresas devem criar mecanismos de controle que possi- bilitem o conhecimento das principais causas e, sobretudo, possam até mesmo elaborar estratégias que minimizem o índice de rotatividade. Tal índice é adequado para realizar o controle quando se tem muitas pessoas trabalhando. Para calculá-lo, recomenda-se a utilização da seguinte fórmula indicada por Chiavenato (2008): IR = (Nº de funcionários desligados x 100) / Efetivo médio da empresa Em suma, o que deve ser destacado? Que a rotatividade não necessariamente é a solução dos problemas referentes à gestão de pessoas. Às vezes, se o índice de rotati- vidade é alto, é melhor verificar o que está fazendo com que isso aconteça. Talvez alguns ajustes nos processos de recrutamento e seleção, ou então na determinação de estímulos visando manter os profissionais na empresa sejam alternativas mais adequadas. Outro ponto é que a rotatividade não é algo anormal. As pessoas, como já mencionado, também podem decidir por conta própria sair das empresas e trilharem outros caminhos. O mais importante é ter claras as razões das saídas e pensar em es- 25 tratégias de retenção que sejam aplicadas o quanto antes para não deixar o restante das pessoas que trabalham na empresa em polvorosa por ter um aumento da carga de trabalho. Resumo Você viu neste capítulo informações sobre o mercado de trabalho e suas nuances, bem como conceitos norteadores importantes que devem ser levados em con- sideração para a sua vida profissional, tendo em vista que passamos grande parte do tempo trabalhando. O entendimento do mercado de trabalho é fundamental para que possamos construir nossas qualificações com base naquilo que se é praticado. Não adianta remar contra a maré! Abordamos também alguns pontos referentes à rotatividade ou turnover, suas causas, a importância de verificar aquilo que pode ser melhorado, e que nem sem- pre a demissão é a melhor solução; enfim, todos esses aspectos merecem uma reflexão. Por fim, apresentamos uma fórmula simples de cálculo do índice de rotativi- dade proposta por Chiavenato (2008). Tal fórmula permite chegar a indicadores de con- trole, que, quando analisados em um período contínuo, possibilitam maior conhecimento organizacional. Atividades 1. O que é mercado de trabalho? Por que é importante verificarmos as exigências solici- tadas pelas empresas pertencentes ao mercado de forma geral? 2. Diferencie especialista de generalista, assim como empregabilidade de empresabilidade. 3. O que é rotatividade de pessoal? 4. Cite e explique três causas da rotatividade. 5. Por que é importante calcular o índice de rotatividade? 26 Anotações 27 recruTaMenTo e Seleção Capítulo 2 28 Introdução Como você já foi apresentado ao tema Mercado de Trabalho, podemos seguir para o próximo assunto, que é o entendimento dos subsistemas de recursos humanos aplicados ao dia a dia das empresas. Dessa forma, trabalharemos neste capítulo o que chamamos de mecanismos de comunicação e entrada de profissionais, que é o Recrutamento e a Seleção. Pertencente ao subsistema de provisão, as ações de recrutamento e de se- leção devem ser pensadas estrategicamente, ou seja, voltadas para a melhor forma de propagação da mensagem de que existe uma ou mais vagas de trabalho à disposição, tendo o intuito de escolher a melhor pessoa possível para ocupar a vaga. Vamos estudar os conceitos introdutórios pertinentes para o entendimento do assunto? Então, vamos em frente! 2.1 Recrutamento Entende-se por recrutamento a chamada, a comunicação no mercado de tra- balho de que há vagas disponíveis para pessoas desenvolverem suas atividades laborais nas empresas. Para Marras (2002, p. 69), o recrutamento é: Uma atividade que tem por finalidade a captação de recursos humanos interna e externamente à organização objetivando municiar o subsis- tema de seleção de pessoal no seu atendimento aos clientes internos da empresa. Com base nesse conceito, podemos entender que para haver a captação de pessoas internas e externas à organização, deve-se pensar em comunicar a vaga. Esse é um grande desafio, pois, para conseguir otimizar os esforços e os recursos financeiros existentes, os gestores deverão ter bem claro qual é o perfil do profissional desejado para tanto. Caso não tenha o perfil delineado, é recomendável pensar em um, pois quando não há uma referência do que se quer, acaba-se perdendo tempo e recursos para divulgar a vaga mediante adoção de estratégias que diminuirão a taxa de sucesso. A Administração de Recursos Humanos utiliza o conceito de cargo para ter claro qual é o perfil do profissional necessário. Para conhecimento, o cargo é o que se tem de mais importante no que tange às questões técnicas de RH, porque é a base de consulta para tudo. Infelizmente, considerando a realidade atual, é muito comum encon- trarmos pessoas/gestores que não levam a sério a criação dos cargos, ocasionando pro- blemas futuros de controle, pois nem sempre o que fora prescrito é, de fato, realizado. 29 É recomendável fazer a descrição do cargo da maneira mais completa pos- sível, de modo que ela reflita as atividades que uma pessoa realmente desempenhará na empresa. A não adoção desse tipo de prática é nociva se pensarmos que o cargo é a referência. Com isso, ao adotar uma prática de descrição superficial, como pensar que futuramente o processo de seleção será elaborado partindo da descrição não fidedigna daquilo que será feito? Para conhecer bem o cargo, o gestor deve pesquisar. Poderá utilizar diversas técnicas de coleta de dados, tais como: • Entrevistas. • Observação. • Livros e documentos. • Internet, por exemplo: o site da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). De todas as possibilidades para estruturar o cargo, provavelmente a mais utilizada é a CBO. Isso é muito bom, partindo da premissa de que serve como um refe- rencial padrão de construção, em que as atividades e características profissionais estão disponibilizadas ao alcance de todos. Mas não é recomendável que os gestores utilizem tais descrições como fim, tendo em vista que não necessariamente refletem a realidade de cada empresa. Em outras palavras, os cargos devem ser estruturados de maneira customizada. Visando proporcionar subsídios para definir o cargo, é importante você saber quais são seus elementos estruturantes. Vamos a eles: Título – todo cargo deve ter um título, pois somente com isso você vai saber qual cargo está trabalhando. Sumário – representa uma descrição muito simplificada da essência das atividades a serem realizadas. Atividades desenvolvidas – é um dos pontos mais importantes a serem trabalhados. Nesse item, procure escrever tudo o que deverá ser feito. Cabe destacar que não há limites para o número de atividadesdesenvolvidas. Características do cargo – é nesse ponto que você deve deixar claro quais os conhecimentos a pessoa deve ter para ocupar o cargo, bem como as habilidades e as atitudes. Procure trabalhar com o máximo de detalhes na descrição do que chamamos de CHA (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes). Supervisão dada e supervisão recebida – em forma de organograma, tem como intuito demonstrar para a pessoa que ocupará o cargo se ela terá que se reportar a alguém ou, caso o cargo esteja em um nível mais alto, apresentar quem ela terá que controlar. 30 Ferramentas e equipamentos necessários – é o ponto para deixar claro quais equipamentos o cargo exige. Serve como uma referência para que as pessoas te- nham maior familiaridade com seus objetos de trabalho. Outras informações pertinentes – aqui se reserva um espaço para apre- sentar outras informações que possam ser, na sua visão, importantes para que o funcio- nário saiba o que fazer. Diante do exposto, caso os gestores tenham definido/estruturado o cargo, é hora de pensar nas decisões estratégicas inerentes ao tema: o recrutamento. Entre elas, citamos os tipos de recrutamento, bem como os métodos mais comuns para tanto. No que se refere aos tipos de recrutamento, podemos afirmar que existem o recrutamento interno e o externo. A diferença entre eles é evidente. Porém, qual deles é o melhor? Qual desses tipos é o mais recomendável? Essa é uma decisão, como já mencionado, estratégica! Se pensarmos em escolher prioritariamente o recrutamento interno, a de- cisão tende a servir como estímulo para os participantes, sobretudo os pertencentes ao quadro mediante oportunidades de promoção. Porém, nem sempre é recomendável escolher o recrutamento interno, pois talvez não seja possível encontrar pessoas com o perfil adequado ao que o cargo exige. Com isso, parte-se para o recrutamento externo. Existem vantagens e desvantagens tanto do recrutamento interno quanto do externo, mas elas são circunstanciais. Por isso, é importante que o gestor tenha bem claro o que ele quer e que tenha conhecimento do processo como um todo para deter- minar o que é mais adequado para a sua realidade, porque o que é desvantagem para um, pode ser vantagem para outro e vice-versa. De qualquer forma, se o recrutamento for voltado ao público interno ou externo, é responsabilidade do gestor fazer com que a mensagem acerca da vaga em aberto chegue aos canais pertinentes. Para isso, vamos falar agora sobre os métodos mais comuns? De acordo com Marras (2002, p. 73), existem duas variáveis que influenciam os métodos mais comuns de fazer recrutamento. São elas: a) Variável tempo – é aquela que determina a exigência temporal que está contida na solicitação feita pela área que tem a vaga em aberto. Em outras palavras: quanto tempo se tem para realizar todo o processo de recrutamento e seleção? b) Variável custo – é a que representa a possibilidade financeira que se dispõe para iniciar um processo de recrutamento e seleção. Em outras palavras: quanto dinheiro eu tenho para realizar o processo de recrutamento e seleção? 31 Com base no exposto, a partir do momento em que se sabe quanto tempo e recurso estão disponíveis, torna-se mais fácil decidir divulgar a vaga em aberto no mer- cado de trabalho por intermédio dessas alternativas: • Por meio de cartazes, panfletos e folders – esses meios são os mais simples de divulgar uma vaga, porém nem sempre são os mais eficazes. É uma alterna- tiva de baixo custo, mas com taxa de retorno baixa também, porque nem todos prestam atenção nos cartazes ou aceitam receber panfletos e folders. • Por meio de Universidades e Agências de Integração – interessan- tes alternativas se pensarmos em custos e abrangência de divulgação para um público específico. Nesse caso, vale a pena utilizar as duas possibilidades quando se pensa em um perfil estudantil, pois as Universidades e as Agências de Integração possuem um cadastro com diversas pessoas interessadas em participar de um estágio ou trabalhar. Pesquisar Você conhece alguma Agência de Integração? Sabe como ela trabalha? Faça essa pesqui- sa! É muito interessante. Vale considerar que utilizando esses meios as empresas podem obter ganhos de tempo e recursos mediante ampliação dos canais de comunicação. Caso as pessoas que foram encaminhadas não atendam aos requisitos determinados, pode-se começar tudo de novo em um tempo muito menor. • Por meio de anúncios em rádio, televisão e jornais – você já deve ter visto isso várias vezes na sua vida, não é? De fato, são os mais conhecidos e utilizados, uma vez que propiciam o atendimento de um amplo número de pessoas de forma padro- nizada e ainda é possível, de acordo com o caso, fazer com que a visibilidade aumente. Para aumentar a visibilidade, é importante anunciar várias vezes. Quanto menos for comunicado, menor a probabilidade das pessoas saberem, pois outras empre- sas também fazem uso desse tipo de comunicação. A comunicação em jornal tende a ser mais efetiva porque é impressa e deixa registro. As pessoas podem tomar conhecimento do seu anúncio com uma probabilidade maior se nós compararmos ao rádio e à televisão. No entanto, quanto mais destacado o anúncio melhor, pois outras empresas acabam utilizando o mesmo meio de divulgação. Você já viu a página dos classificados de empregos? É muito anúncio! Por falar em destaque e visibilidade, é válido ressaltar que os anúncios de- vem contemplar informações que possibilitem as pessoas saber sobre o cargo. Daí entra uma questão estratégica, tendo em vista que o preço varia conforme o número de carac- teres utilizados (no caso dos jornais) ou em função do tempo do anúncio (rádio e TV). 32 Para tanto, você deve ter em mente que há anúncios do tipo aberto e do tipo fechado. Nos fechados, o enfoque está na comunicação da vaga a ser preenchida, não há manifestação clara acerca da empresa que oferta a oportunidade. Esses casos são típicos de empresas que buscam obter informações do mercado de trabalho, como perfil profissional das pessoas interessadas, currículos, entre outras motivações possíveis. E o anúncio aberto? Ele explicita quem é a empresa contratante, quais ações devem ser tomadas pelo candidato, ainda ficam claras as recompensas. As empresas geralmente adotam esse tipo de anúncio. É importante salientar que o método de fun- cionamento é muito parecido ao do anúncio fechado (DALMAU; GIRARDI, 2010). Voltando aos meios de comunicação, tanto a TV quanto o rádio são alterna- tivas interessantes, pois atingem públicos específicos. Talvez entre os dois, o rádio seja mais eficiente. Nesse caso, depende de região para região. Porém, é importante que, antes de realizar o anúncio, o gestor tenha conhecimento do público-alvo que tal meio atinge para verificar se é isso mesmo que ele procura; afinal, os custos para anunciar com essas mídias são relativamente elevados. Mas, fica a dica! • Por meios eletrônicos – é fato mencionar que cada vez mais utilizamos os meios eletrônicos nas nossas vidas. E-mail, internet, WhattsApp, Skype, todos são alternativas que possibilitam uma comunicação mais rápida, independente da distância. Hoje em dia, nota-se que muitas empresas vêm utilizando com mais fre- quência os meios eletrônicos, porque, além de serem alternativas mais baratas e rápidas de acessar dados, possibilitam uma capacidade de armazenamento, trans- missão e análise de forma mais organizada e precisa. Para tanto, basta você entrar nas páginas virtuais das empresas e, provavelmente, encontrará um menu intitulado de Trabalhe Conosco. Se você clicar lá, verá um formulário para ser preenchido, con- siderando a vaga em questão e diversos campos referentes às informações necessá- rias sobre suas qualificações ao trabalho. • Por meio de palestras informativas – as empresas que não são muito conhecidas no mercado adotam essa opção para fornecer aos possíveis candidatos mais informações (DALMAU; GIRARDI, 2010). É muito comum ver esse tipo de alternativaem escolas e universidades, pois visam a atender um público específico. Porém, não se limitam apenas a esses públicos, podem ser realizadas palestras em reuniões de bairro, em associações empresariais, etc. • Consultorias de outplacement ou replacement – uma possibilidade para as empresas na hora de realizar o recrutamento é a contratação de consultores. São profissionais que podem assessorar o gestor, já que possuem conhecimento especiali- zado, encaminhando pessoas com um perfil compatível ao solicitado. Porém, costumam atender um público de nível mais gerencial, mais executivo, não sendo viável para pro- cura de cargos em nível operacional em virtude dos custos. 33 • Por meio de sindicatos ou conselhos profissionais – uma alternativa que contempla um canal de comunicação eficaz com o público é o contato com os sindi- catos e conselhos profissionais. É um caminho interessante quando se deseja contratar pessoas com perfis compatíveis à natureza dessas instituições, além de uma maneira de reforçar o próprio propósito delas. Diante de todos esses meios, é válido salientar que os gestores devem pri- meiramente saber qual é o perfil que eles desejam contratar. Depois, conhecer a fundo o modo de funcionamento de cada uma dessas alternativas, em especial seus custos de veiculação, público-alvo e amplitude de anúncio. Posteriormente, com base na sua capacidade financeira para realizar a ação de recrutamento, decidir qual é a melhor al- ternativa. Nesse caso específico, existe uma recomendação que é a seguinte: procure mesclar ou combinar os meios de comunicação. Jamais utilize um meio só. Com isso, ampliam-se as chances das pessoas tomarem conhecimento da sua empresa e da vaga em questão. Lembre-se que só é lembrado quem é visto! Outro ponto que deve ser destacado é o cuidado que o gestor deve ter quan- do planejar a forma de recrutamento. É necessário ressaltar que os anúncios precisam ter cuidado para não serem discriminatórios ou excludentes, por exemplo: “Quando se coloca frases, tais como: ‘precisa-se de funcionários do sexo feminino’, ‘precisa-se de funcionários com no mínimo 18 anos e no máximo 25’” (DALMAU; GIRARDI, 2010, p. 70). Questões como essas e outras acabam criando uma situação que fere a Constituição Federal e, portanto, podem trazer complicações à organização. Por mais que o gestor não queira trabalhar de forma discriminatória, é me- lhor utilizar frases mais genéricas para os anúncios, que não criem situações discutíveis e desagradáveis. Por fim, procure saber qual meio possibilitou o melhor retorno. É muito co- mum durante o processo seletivo os gestores perguntarem como o candidato ficou sa- bendo da vaga. Eles fazem isso para mensurar se a maneira como foi divulgado fez efeito ou não. E isso é muito importante! Dando continuidade ao recrutamento e seleção, após a comunicação e o sucesso da atividade, devemos partir para o processo seletivo em si. Nesse caso, deve estar bem estruturado para que se possa escolher o melhor entre os candidatos que res- ponderam ao seu chamado. Logo, esse assunto será desenvolvido no próximo subitem. 34 2.2 Seleção O que é selecionar? Significa escolher, correto? Logo, no âmbito da área de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas, pode-se dizer que o processo seletivo abrange a escolha daquele que é o mais indicado para ocupar um cargo que esteja em aberto na empresa. Essa definição está de acordo com o proposto por Snell e Bohlander (2010, p. 208), os quais dizem que a seleção “é o processo [...] da escolha entre indivíduos com qualificações relevantes.” Para que possamos escolher alguma coisa, devemos ter um referencial, um parâmetro de comparação, pois não é possível saber se algo é melhor ou pior sem ter uma referência. Nesse sentido, Marras (2002) destaca dois pontos que podem ajudar na definição de referências comparativas: a) Exigência do cargo – são os atributos profissionais demandados pelo car- go em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes, para que haja um desempenho adequado das funções. b) Características do candidato – é o conjunto de conhecimentos, habili- dades e atitudes típicos de cada candidato para o desempenho das atividades que lhe serão atribuídas. Tendo em vista que esse é um processo de comparação, os resultados po- dem ter, ao menos, três formas distintas. Para Chiavenato (1999), a seleção pode levar a um candidato extremamente adequado, adequado ou inadequado para a função objeto do processo seletivo. O candidato que for extremamente adequado não necessariamente deve ser considerado como um problema, apesar de que muitos gestores pensam dessa forma, bem como vários autores da área de RH. Explico: devemos lembrar da questão do livre arbítrio, pois as pessoas vão participar do processo seletivo em função de um objetivo. Não há como prever que pelo fato de a pessoa apresentar características positivas exce- dentes ela vai se desmotivar logo em relação ao trabalho a ser feito e, posteriormente, sairá da empresa! É evidente que as chances são consideráveis, mas deixar de contratar alguém por causa disso é algo no mínimo inadequado. O candidato pode ser considerado adequado. Isso significa que ele apresen- ta características profissionais que estão em consonância com o que se deseja. Dessa forma, tende a ser a pessoa certa! Por fim, ele pode ser considerado inadequado ao cargo. Nesse caso, atenção especial, pois o nível de inadequação pode variar de uma pessoa para outra. E, depen- dendo do caso, existem circunstâncias nas quais os gestores acabam escolhendo a pes- soa “menos” inadequada, uma vez que dos candidatos existentes aquela era a menos 35 pior! Você sabe por que isso acontece? Porque não é mais possível continuar com a vaga em aberto. Logo, é preferível colocar alguém e treinar futuramente a sobrecarregar as pessoas que trabalham na empresa ou então permanecer com a vaga em aberto, per- dendo as oportunidades de negócio. Para fazer as escolhas, os gestores devem utilizar estratégias específicas, vamos agora conhecê-las! Há diversas possibilidades de elaborar e conduzir um processo seletivo. É o gestor quem irá definir o método a ser empregado. Na fase de planejamento, ele deve levar em conta os recursos necessários que serão empregados e considerar a melhor alternativa. Tudo isso deve estar de acordo com o tempo, o recurso financeiro, as pesso- as designadas para tarefa, porém, acima de tudo, conforme as exigências do cargo que possui a vaga em aberto. Dica Jamais pense em utilizar no processo seletivo apenas uma técnica de seleção. O reco- mendável é que se utilize o maior número possível de técnicas já que cada uma possui seus pontos fortes e fracos. Não podemos deixar de mencionar que poderão acontecer falhas durante a execução do processo seletivo. Pode-se dizer, à primeira vista, que essas falhas são cau- sadas pela percepção humana. Não há processo perfeito. Contudo, a percepção costuma sofrer influências negativas quando não há um planejamento adequado ou ainda quando foi realizado de forma superficial. Você quer um exemplo? Hoje em dia, os gestores tendem a simplificar as etapas do processo de seleção, com foco em entrevistas, sem a devida análise baseada no currículo. Na prática, as duas ferramentas – currículo e entrevista – não propiciam a condição para o gestor diferenciar quem é quem! Dessa forma, o indicado é usar mais de uma forma para a análise dos candidatos. Tendo em vista tudo o que foi abordado, veremos agora as formas de traba- lhar o processo seletivo, que são: • Entrevistas - de acordo com Marras (2002, p. 80), “a entrevista objetiva detectar dados e informações dos candidatos subsidiando a avaliação do processo sele- tivo”. A entrevista é uma das alternativas mais utilizadas no processo seletivo, uma vez que o contato frente a frente com uma pessoa permite que algumas percepções sobre ela venham à tona. Um dos pontos positivos da entrevista é que ela possibilita, por meio de uma ou mais conversas,ampliar suas impressões sobre o candidato, sendo que essas impressões podem ter sido obtidas até mesmo em outras fases do processo. 36 Porém, deve-se tomar um cuidado específico com a entrevista que é a neces- sidade de ter em mente o que se quer identificar em um candidato. Logo, a preparação dela se torna fundamental, pois o recomendável é utilizar um roteiro de perguntas que sejam comuns a todos os candidatos. Nesse sentido, as entrevistas podem ser estruturadas e não estruturadas. As estruturadas baseiam-se em um método preliminarmente definido de perguntas que devem ser respondidas de maneira bem objetiva. Caso o candidato não seja objetivo, ou procura-se trabalhar com perguntas complementares, ou se finda por avaliar mal o interessado. Cuidado com isso! As entrevistas não estruturadas são aquelas que não seguem um padrão de perguntas pré-definido. Cuidado com isso também, pois, muitas vezes, a falta de padrão não permite conhecermos as posições das pessoas em função das diferentes perguntas realizadas. É válido destacar que nas entrevistas o objetivo do gestor não é conhecer alguém, e sim saber qual é o posicionamento da pessoa frente àquilo que lhe é pergun- tado. Explico: é muito difícil “conhecer” alguém. Só com convivência e olhe lá! Logo, como podemos dizer que “conhecemos” alguém em uma ação que dura em média de 15 a 30 minutos? É algo impossível. Além do mais, não podemos deixar de pensar que os candidatos estão cada vez mais profissionais na arte de se comportar nas entrevistas. Uma característica da entrevista que gostaria de destacar é o fato de ela ser extremamente subjetiva. Você, no papel de entrevistador, seguramente ficará impres- sionado com a capacidade do entrevistado, seja por suas características positivas ou ne- gativas. A postura ideal é que o entrevistador seja isento, apesar de isso ser algo muito difícil na prática. No entanto, procure estar em consonância com as exigências do cargo. Para que você possa ter parâmetros comparativos, é importante pensar em uma escala, pois os números nos possibilitam a devida comparação. Nesse sentido, pen- se em um conjunto de perguntas e ao lado delas faça uma escala de valores. Pode ser de 1 a 3, 1 a 5, 1 a 10, tanto faz. O importante é que ao final das respostas você possa colocar a nota que achou mais conveniente para o candidato. • Dinâmicas de grupo – são realizadas com bastante frequência, em vir- tude das possibilidades de averiguar in loco certos tipos de comportamento que podem ser adotados em uma entrevista de forma enganosa. De acordo com Gil (1994), as dinâmicas mais utilizadas têm um enfoque na análise das características de liderança, sociabilidade, iniciativa, comunicação, criatividade, etc. No entanto, é preciso salientar que as dinâmicas também possuem um alto grau de subjetividade, logo existe a necessidade de serem bem conduzidas para mini- mizar as possíveis dúvidas. Se forem bem realizadas, podem expressar uma garantia e consolidação de escolhas realizadas ao longo do processo de seleção. 37 A fim de cumprir as dinâmicas com propriedade, é recomendado o trabalho em conjunto com psicólogos ou profissionais que tenham pleno domínio das técnicas a serem empregadas. • Currículo – de todas as alternativas de seleção, é fato que o currículo é a mais utilizada. Eles representam uma síntese das informações referentes ao perfil profissional. Com base nos dados informados, é possível fazer um comparativo das ca- racterísticas profissionais com o perfil desejado. Contudo, essa etapa também apresenta um problema, que é relacionado à verificação das informações contidas no currículo, pois esse documento não representa necessariamente o domínio das competências práticas. Em outras palavras: o papel tudo aceita, tudo é excelente. Já quanto à prática não se pode dizer o mesmo. Ainda é importante salientar que o currículo geralmente é usado como uma das etapas iniciais no processo seletivo. • Testes ou provas – há uma diversidade de testes ou provas que as em- presas adotam para obter mais profundidade na verificação das características do profis- sional. Nesse aspecto, Marras (2002) salienta que as organizações usualmente adotam os seguintes testes: a) Teste psicológico – por meio dele o psicólogo prospecta, mensura e avalia características exclusivas do candidato. Esse tipo de teste pode ainda ser dividido de acordo com duas categorias: a1) Testes de aptidões – que pretendem avaliar características naturais dos candidatos e traços que demonstrem tendências claras de capacidade para a execução de tarefas específicas. a2) Testes de personalidade – a fim de conhecer os sistemas endógenos dos indivíduos, composto por características singulares que determinam o perfil comporta- mental de cada indivíduo. b) Teste grafológico – denominado ainda de teste da escrita, permite pela forma como o candidato escreve ter uma noção de suas características pessoais. Consoante à visão de Marras, Gil (1994) ainda propõe o uso dos seguintes testes: a) Testes ou provas escritas – recomendado para cargos que demandam conhecimentos e habilidades específicos. Um exemplo: o uso da redação. Nesse caso, deve-se avaliar o conhecimento geral desejado do candidato para a vaga objeto do processo de seleção, também é necessário que seja formulado de maneira a não ter múltiplas interpretações. b) Testes práticos ou simulações – são indicados para avaliar as habilidades do indivíduo. São interessantes para verificar se de fato o candidato sabe fazer o trabalho ou não. O mais complicado na utilização desse tipo de teste é justamente a preparação dele, pois deve refletir da melhor maneira possível o trabalho que será feito, e não ape- nas idealizar algo que não é fruto da realidade futura de trabalho do candidato. 38 Mais uma dica: assim como na entrevista, pense em idealizar os testes com questões que possam receber o apoio de uma escala numérica para verificar quem é o melhor candidato. Nesse caso, sobretudo em testes objetivos, é importante pensar em um gabarito. No caso dos testes práticos, deve-se pensar em um padrão de respostas esperadas, com a devida quantificação delas para saber qual é a possibilidade mais valorativa. Por fim, outra recomendação. Sempre procure trabalhar o processo seletivo de forma que seja possível aproveitar o máximo de tempo para investigar mais sobre os candidatos. Logo, a ordem das etapas seletivas poderão lhe auxiliar nisso. Crie padrões mínimos de exigência e à medida que as etapas forem cumpridas, classifique os candi- datos. Aqueles que não obtiveram a nota mínima estarão eliminados. Isso é importante porque nem sempre as pessoas que vão mal na entrevista, por exemplo, são as piores para o cargo ou então as melhores. O mesmo vale para a prova. Você pode pensar no processo seletivo utilizando pesos para cada uma das etapas. É uma boa ideia! Assim você reforça o que é mais importante para ser analisado em sua opinião. Independentemente da maneira que você estimar, saiba que não existe uma única forma de fazer o processo, assim como ele pode ser modificado a cada vez que for aplicado mediante o fortalecimento daquilo que não saiu legal. Em outras palavras: você percebeu que algumas perguntas não ficaram legais, não geraram as respostas esperadas? Altere! O mais importante é que com o tempo, além de aumentar sua expe- riência, você pode melhorar o processo de tal forma que sua base de referência se torne confiável o suficiente para fazer o melhor processo seletivo possível. Resumo Neste capítulo, vimos o primeiro subsistema de Recursos Humanos ou Ges- tão de Pessoas, que é o de provisão. Nesse subsistema está o processo de recrutamento e seleção, em que recrutamento é a chamada, a divulgação de que existe um cargo em aberto e precisa ser ocupado por alguém. Há duas formas de recrutar candidatos: uma com enfoque interno e a outra externo. Para os dois casos, há tantos pontos positivos quanto negativos. Não obstante, vimostambém que não há uma forma única de realizar o re- crutamento, ou seja, há várias maneiras, para cada uma há uma peculiaridade que pode ou não estar de acordo com a realidade da empresa. 39 Além do recrutamento, vimos o processo de seleção e suas características, sendo que para isso apresentamos os tipos mais usuais no que tange os métodos de seleção (etapas), como também tratamos da importância da adoção de métodos quan- titativos para auxiliar no processo de ordenação dos candidatos. Atividades 1. Defina o que é recrutamento. 2. Há mais de um tipo de recrutamento? Se sim, diga quais são e cite suas característi- cas. Por fim, justifique se há uma melhor forma de recrutar. Investigue considerando a sua realidade pessoal e profissional, qual é ou quais são as alternativas mais utilizadas em sua cidade. 3. O que é seleção de pessoas? 4. Identifique e explique os fatores que influenciam diretamente o processo seletivo. 5. Relacione as principais formas (etapas) de fazer uma seleção de candidatos e expli- que-as. Anotações 40 41 TreinaMenTo e deSenvolviMenTo Capítulo 3 42 Neste capítulo, veremos o subsistema de desenvolvimento, que contempla as ações de Treinamento e Desenvolvimento. Provavelmente, se você quiser aprofundar os seus estudos sobre o tema em questão, encontrará com mais facilidade livros que tratam sobre treinamento, dificilmen- te encontrará sobre desenvolvimento. Isso não é um problema, uma vez que o desen- volvimento acaba contemplando a filosofia de estruturação do treinamento. Uma das possíveis explicações é que no contexto empresarial investe-se mais em ações que gerem retorno a curto prazo, característica inerente à interpretação do conceito de treinamento, como veremos adiante. Já o desenvolvimento demora mais para apresentar resultados pelo fato de ser orientado para um futuro mais distante e por conter mais de um tipo de treinamento. O assunto em questão é pertinente, pois para manter os profissionais pre- parados e com capacidade de resposta e produtividade, os investimentos em ações de treinamento são mais do que necessários. No entanto, sabe-se que pela dificuldade eco- nômica que o país em geral se encontra, sobretudo considerando a visão do gestor, nem sempre é possível fazer os treinamentos desejados, tanto em questões de quantidade quanto em questões de qualidade. Isso faz com que seja necessário entender como funciona o processo de treinamento e desenvolvimento para que, caso não seja possível investir no melhor, encontre-se alternativas para, pelo menos, realizar algo. Diante do exposto, esses e outros pontos serão tratados a seguir. Vamos lá! Introdução 3.1 Conceitos de Treinamento e Desenvolvimento O que é treinamento? Quais os objetivos do treinamento? Como fazer? O treinamento é “[...] um processo de assimilação cultural em curto prazo, que objetiva repassar ou reciclar conhecimentos, habilidades ou atitudes relacionados direta- mente à execução de tarefas ou à sua otimização no trabalho” (MARRAS, 2002, p. 145). Para Carvalho e Nascimento (1993, p. 154), o treinamento constitui-se no “processo de ajudar o empregado a adquirir eficiência no seu trabalho presente ou futu- ro, através de apropriados hábitos de pensamento e ação, habilidades, conhecimentos e atitudes.” 43 A diferença de pontos de vista nesses conceitos é bem interessante, pois apesar de terem sido formulados em épocas distintas, apresentam pontos em comum. Ambos contemplam conhecimentos, habilidades e atitudes, o que nos faz compreender que o que sabemos e o que fazemos hoje não significa que faremos no futuro, desenvol- vendo as nossas atividades de trabalho. Temos que aprender coisas novas, desenvolver novas características, até mesmo porque os problemas são diferentes, assim como o próprio trabalho. Isso não significa que pelo fato de você ser treinado, com certeza saberá resolver um problema novo, por exemplo. Tal pensamento é justificado tendo em vista que, às vezes, por melhor que seja o treinamento realizado, muitos dos problemas de desempenho são resultantes do grau de motivação baixo de um profissional ou até mes- mo por intermédio da oferta de estímulos, por parte das empresas, considerados não atrativos pelos profissionais. Nesse sentido, o que as empresas têm feito? Bom, o que se percebe é que várias estão investindo em treinamentos no intuito de gerar condições de atualização, afinal elas também ganham com isso, além de se trabalhar a lógica da recompensa dife- renciada, pois os cursos também custam dinheiro! Evidentemente que isso não precisa ser descontado da folha de pagamento no final do mês, mas serve como argumento para que os profissionais percebam que existe uma preocupação e um investimento maior do que apenas o salário. Outra estratégia bem comum hoje em dia é a de ligar os investi- mentos em treinamento como parte de remuneração estratégica, ou seja: quer ganhar mais, capacite-se! Com base nos conceitos apresentados, salienta-se que uma diferença clássi- ca entre treinamento e desenvolvimento é a questão do prazo. No treinamento, as ações são voltadas para o curto prazo, para o agora, enquanto que o desenvolvimento objetiva questões do futuro. Em outras palavras, ele visa desenvolver características que podem vir a estar de acordo com exigências futuras do cargo. É possível, então, dizer que o desenvolvimento tem foco na preparação da carreira do indivíduo. Se correlacionarmos esse assunto com o que fora desenvolvido no capítulo sobre Mercado de Trabalho, é correto afirmar que assim como as pessoas investem em suas qualificações profissionais, as empresas também contribuem para que isso acon- teça. Para tanto, a nossa trajetória nos economiza tempo, desde que, de fato, a gente aprenda a fazer coisas novas e adquira novas competências que nos tornem profissionais melhores. Os conceitos apresentados destacam uma palavra-chave na área da gestão: a eficiência. Eficiência é fazer algo bem feito. Tem a ver com o processo. Se você segue à risca o seu processo de trabalho, você está sendo eficiente. Mas isso não é tudo. Na área da gestão em geral, fala-se muito em eficácia também. Nesse sentido, o resultado, ou a eficácia, também é algo desejado, mas é apenas um resultado, que nem sempre está 44 sob o nosso controle. O que se procura é que as pessoas sejam eficientes e eficazes ao mesmo tempo. Aliás, por um contínuo de tempo, que significa, nesse caso, efetividade. Biblioteca da Disciplina Para você ter uma ideia do quanto é importante a eficiência nos processos, veja na Lei- tura Complementar 1 que o uso desse conceito pode extrapolar as fronteiras organiza- cionais. Ficou curioso? Acesse a Biblioteca da Disciplina e leia “Eficiência coletiva em arranjos produtivos locais industriais: comentando o conceito”, de Fabio Stefano Erber. Para seu conhecimento, existem diversos tipos de treinamento para serem realizados nas empresas, tais como os de integração, os técnicos-operacionais, geren- ciais, comportamentais, quando poderão ser enfatizadas ações para maximizar qualquer ponto pertencente ao CHA (conhecimento, habilidades e atitudes). Dependendo do ob- jetivo, planejam-se ações para sanar o problema. Se pensarmos em interligar os subsistemas de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas, é comum após o processo seletivo realizar o que chamamos de treinamen- tos de integração. Mas, o que são eles? Por que fazê-los? Explica-se: os treinamentos de integração são aqueles realizados com o intuito de apresentar a empresa aos novos funcionários, deixando claro os direitos e deveres de cada um, bem como a estrutura, a cultura e as divisões existentes, assim como as pessoas que pertencem à cadeia de comando na organização. Geralmente nesses treinamentos os novos funcionários têm acesso aos manuais da empresa e ao manual do cargo, para que ele saiba o que pode ou não fazer. São treinamentos considerados de curtíssimo prazo para que as pessoas se ambientem melhor à organização. Em paraleloou, em muitos casos, posteriormente, são realizados outros ti- pos de treinamentos, que são os técnicos-operacionais, pois apesar de apresentarem ca- racterísticas mínimas para a desenvoltura do trabalho, é muito importante que entendam como é o processo específico de trabalho na empresa. Além do mais, visando maximizar as competências, os treinamentos técnicos possibilitam a melhor realização possível do trabalho de alguém, desde que, evidentemente, seja bem feito, o que não é algo tão simples assim, como veremos. Isso costuma acontecer porque existe uma cultura da pressão por resulta- dos imediatos e dependendo do que se pensa em treinar e/ou desenvolver, não é algo possível! Ninguém muda de um dia para o outro. É necessário se exercitar, praticar para adquirir a devida maestria e segurança no que se está fazendo. Cuidado com as promes- sas milagrosas! 45 3.2 Etapas Constitutivas do Treinamento e Desenvolvimento Vimos no subitem anterior os problemas comuns que acontecem em rela- ção ao treinamento. Para evitar tais acontecimentos, é necessário atenção às seguintes etapas: 3.2.1 Levantamento de Necessidades de Treinamento – LNT O levantamento de necessidades representa a primeira ação que todo gestor deve fazer para elaborar um programa de treinamento, porque o produto gerado será utilizado nas demais etapas. O levantamento de necessidades de treinamento, ou apenas o LNT, deve ser pensado como algo dinâmico, em que as pessoas com o passar do tempo vão mudando seus graus de necessidades, bem como as próprias necessidades, seja por causa de treinamentos realizados dentro ou fora da empresa ou por aprendizados oriundos da experiência de vida de alguém. Para realizar o LNT, deve-se ter em mente que a forma de se fazer isso é muito importante, pois não é algo tão simples. Academicamente falando, basta “subtrair” as exigências do cargo para a realização do trabalho pelas características profissionais de uma pessoa. Fácil não? Mas, como fazer isso? Em primeiro lugar, você deve verificar as tarefas que de fato necessitam ser feitas. Acesse o que fora descrito no desenho do cargo em questão, pois ele é para isso mesmo. Você provavelmente encontrará isso nos manuais da empresa. Caso não exista, procure falar com o seu superior imediato para saber quais são todas as suas atividades de trabalho! Isso é necessário para que você tenha uma referência e possa desenvolver um padrão de trabalho. Outras formas de saber o que deve ser feito no trabalho é analisando docu- mentos, observando o dia a dia das pessoas com cargos iguais ao seu, enfim, conver- sando com elas também. Para ampliar o seu conhecimento, apresento outros exemplos de informa- ções do que pode ser levantado sobre o trabalho destacados por Puchol (1995, p. 84): Dessa forma, para impedir ou reduzir a situação apresentada, é interessante que o gestor ou o responsável pelo treinamento tenha um profundo conhecimento sobre a empresa, mas, acima de tudo, sobre as etapas relativas à elaboração do programa de treinamento. E é exatamente esse tema que iremos estudar a seguir. 46 a) O que se faz – todas as atividades de ordem física e mental; b) Como se faz – métodos, máquinas, instrumentos, cálculos, fórmulas, iniciativa; c) Por que faz – objetivo, finalidade de cada tarefa ou função e relação das mesmas entre si; d) Quando o faz – periodicidade e frequência de cada atividade ou trabalho; e) Onde o faz – lugar físico; f) O que implica o que ele faz – conhecimentos, habilidades, caracte- rísticas físicas e mentais, responsabilidades, necessidade de suportar ambientes determinados, etc. Você consegue perceber a amplitude de informações? Você acredita que isso é realmente necessário? Pode parecer que não, mas enfatizo, é sim! Quanto mais infor- mações você tiver do que a pessoa realmente deve fazer e, principalmente, os motivos de fazer e o como fazer, maior a probabilidade de pensar em algo que realmente possa resolver os problemas relacionados à falta de qualificação de alguém. Para saber quais são as características que deverão ser desenvolvidas, exis- tem algumas maneiras. A primeira é conversando diretamente com a pessoa. Além de mais simples e objetiva, é a mais utilizada pelo fato de que com uma conversa é possível ter uma noção clara do que se domina ou não. Nem sempre isso é considerado suficiente no mundo empresarial, fazendo com que alternativas complementares sejam realizadas. Como exemplo, cito as provas comprobatórias, as avaliações após os treinamentos, as certificações. Tudo isso é ne- cessário para que as empresas consigam ter uma noção clara do nível de domínio e de competência que o profissional tem antes e após o treinamento. Com certeza, essa é uma etapa difícil, já que diversas empresas não contam com um sistema informatizado de informações gerenciais acerca de seus funcionários. Isso ocasiona um grande desperdício de tempo para levantar tais informações. Além do mais, o fato de ter o sistema não garante que as informações estejam atualizadas! Ima- gine que quanto mais pessoas existirem na empresa e quanto mais treinamentos forem realizados, tanto dentro quanto fora, maior a necessidade de atualização. O complicado é que muitas pessoas não atualizam seus dados ou durante o processo algumas falhas podem ocorrer, o que acaba comprometendo a ideia. Independentemente dos problemas, o mais importante é que ao final do LNT se chegue às/aos seguintes informações/produtos: quem deve ser treinado? O que deve ser aprendido? Em que nível de domínio ele se encontra? Baseado nessas informações é possível ter subsídios satisfatórios para avan- çar para a próxima etapa do processo, que é o planejamento do treinamento. Vejamos como funciona! 47 3.2.2 Planejamento do Treinamento O planejamento do treinamento é a etapa subsequente ao levantamento das necessidades de treinamento. É uma etapa complexa se pararmos para pensar nas de- cisões a serem tomadas. Por isso que é fundamental sabermos o que se necessita para verificarmos quais alternativas são as mais viáveis em termos de esforço e dispêndio financeiro. Para planejar um treinamento, deve-se pensar em estruturar um produto, pois caso o gestor queira desenvolver por conta própria, utilizando seus recursos, segui- rá uma linha de raciocínio. Caso contrário, poderá repassar as informações necessárias para que uma empresa ou uma pessoa prestadora do serviço saiba exatamente o que se quer e como se quer. Isso é fundamental! Para estruturar esse produto do planejamento, recomenda-se responder às seguintes perguntas norteadoras conforme Chiavenato (1999): a) Quem deve fazer o treinamento? Apesar de parte da resposta a essa pergunta vir do LNT, é interessante que as informações a respeito do treinando contemplem além do seu perfil profissional e envolvam o seu perfil social, cultural e econômico, bem como a sua real intenção para a participação no curso, seus objetivos, o nível de domínio tecnológico, entre outras possíveis questões (DALMAU; GIRARDI, 2010). Tudo isso a fim de proporcionar uma simplificação da escolha das técnicas metodológicas e ferramentais mais adequadas para a realização do curso. Além do mais, é válido verificar onde estão essas pessoas quando se tem uma grande empresa, tendo em vista que o treinamento poderá ser ofertado presencial- mente ou a distância, na sede da empresa ou fora da sede, etc. b) Sobre o que será o treinamento? Nesse ponto, o objetivo será planejar o assunto específico. Daqui em diante, surgem outras perguntas importantes, que são: - Qual o objetivo do treinamento? O que se quer desenvolver com ele? - Qual assunto deverá ser abordado? - Qual carga horária? Vamos entender por partes esses questionamentos. Respondendo a primeira pergunta, é necessário definir o objetivo do treina- mento ou o que se quer desenvolver com o curso em si. Para responder essas perguntas, o ponto de partida é o cargo e suas atividades, pois quando compararmos com o que as pessoas apresentam decaracterísticas torna-se mais fácil definir os objetivos. 48 Todavia, como mais pessoas tendem a participar de um treinamento, até mesmo por questões de otimização dos custos, esses objetivos acabam sendo genera- lizados, de forma a possibilitar com que as necessidades de todos sejam minimamente sanadas. Logo, na definição dos objetivos do treinamento, pode-se construir a res- posta com outra pergunta, que é a seguinte: o que o participante deverá saber fazer ao término do treinamento? Com a resposta, que não necessita ser limitada a uma só, os idealizadores do treinamento poderão obter subsídios para definir a melhor metodologia de oferta lá na frente. Como exemplo de aplicação dessa técnica, lembro-lhe da filosofia utilizada na definição do que academicamente chamamos de objetivo geral e objetivos específicos. Você lembra como se faz isso? Saiba Mais Ao falar em objetivo geral e específicos pode ter lhe vindo a mente questões de meto- dologia científica. E é exatamente isso. Essa área de pesquisa é muito útil para o meio organizacional. Que tal ver alguns conceitos? “O objetivo geral será a síntese do que se pretende alcançar, e os objetivos específicos explicitarão os detalhes e serão desdobramentos do objetivo geral” (SILVA; MENEZES, 2005, p. 31). Biblioteca da Disciplina Você pode aprender mais com a Leitura Complementar 2 – “Metodologia da Pesqui- sa e Elaboração de Dissertação”, de Edna Lúcia da Silva e Estera Muszkat Menezes. Dando continuidade, uma vez definidos os objetivos do treinamento, passa- -se para a definição dos assuntos a serem trabalhados. Para tanto, é adequado pensar em algo chamado ementa. A ementa pode ser entendida como um elemento nortea- dor, que contempla os assuntos que deverão ser trabalhados no treinamento. Como exemplo, pense na própria disciplina de Gestão Estratégica de Pessoas! O professor da disciplina teve uma ementa a ser seguida, em que estão disponibilizados os assuntos a serem abordados. Quanto mais específica e detalhada a ementa, melhor. E isso vale tanto para casos em que o treinamento será ofertado por pessoas da organização quanto as de fora. Geralmente, isso é necessário porque se costuma simplificar muito os assuntos, beirando a superficialidade, o que lá na frente, na hora de pensar em como ofertar o assunto, vai dar problema. 49 A ementa possibilita construir o que chamamos de conteúdo programático, que, além de possibilitar uma visualização clara e objetiva dos assuntos contidos na ementa, facilita a determinação da carga horária do curso, assim como a metodologia a ser trabalhada na forma de oferta. Para seu conhecimento, existem cursos que chamamos de formativos e ou- tros que denominamos informativos. Como exemplo de formativos, temos os cursos de carga horária mais expressiva: como 30 horas ou até mais. Apesar de não existir um regramento específico para isso, é como se fosse uma convenção, pois para a definição de carga horária leva-se em consideração o nível necessário, o tempo e os recursos para definir e explicitar os assuntos. Os cursos informativos são aqueles de curta duração, tais como os conheci- dos cursos sobre Liderança em 8 horas, por exemplo. Eles têm um propósito de escla- recer o assunto, mas não se aprofundam de modo a possibilitar um conhecimento mais expressivo sobre o tema. O interessante na definição da carga horária é que se utiliza mais do bom senso, sobretudo se trabalharmos ela em conjunto com a definição da metodologia de oferta. Para tanto, é sempre recomendável a consultoria de um pedagogo que entenda do que chamamos de andragogia (grosso modo significa pedagogia do adulto). c) Quando deve fazer? Um fator que deve ser levado em conta é o tempo que a empresa possui para resolver seus problemas, ou seja, é necessário ter em vista a necessidade de atingir os objetivos da empresa para poder pensar no momento para a oferta do curso. Usu- almente costumamos ver as ofertas sendo feitas depois dos problemas surgirem. Mas, que problemas seriam esses? Todos! De produção, de relacionamento, enfim, problemas que dificultam a realização do trabalho, trazendo prejuízos ou atrasos para os gestores. Infelizmente, no caso do Brasil, a cultura de oferta dos treinamentos ainda é a de realizá-los depois que o problema surgiu, e não antes. Isso acontece porque exis- te quase que um “trauma” originado dos investimentos feitos com os treinandos, pois, quando eles finalizam o treinamento, saem da empresa e vão para a concorrência ou então não apresentam os resultados desejados. É por isso que existe um dilema contraproducente (que produz resultado contrário ao esperado) oriundo do questionamento se o treinamento é um investimento ou um custo. A rigor, representa um desembolso, pois gasta-se dinheiro. Agora se vai ser um custo que não gera retorno algum, ou um investimento que gera retorno, não tem como saber com antecedência. 50 O que as empresas têm feito então? Elas têm trabalhado com a oferta de treinamentos antes, baseados em contratos. Sim, contratos! Acordo formal, em que as cláusulas estão bem delineadas, deixando claro os direitos e deveres do treinando e da empresa. Interessante, não? d) Onde deve fazer? Essa é uma decisão que depende da quantidade de recursos existentes para tanto, bem como do tipo de treinamento e metodologia de oferta. É comum pensarmos em treinamentos que podem ser ofertados na própria empresa. Você já viu alguma situação assim? Eu já. Várias vezes entrei em empresas e lá via o funcionário com o crachá contendo o nome e o termo “em treinamento”. Deve-se dizer que é uma estratégia pertinente, pois, quando os treinamentos são realizados na própria empresa, fica mais fácil verificar se o funcionário está realmen- te cursando/estudando ou não. Porém, existe um ponto negativo em tudo isso, que é a dificuldade dele se desligar dos seus problemas do dia a dia e participar de fato da ação. Agora em termos de custos, dependendo do tipo de treinamento e da estru- tura necessária, vale mais a pena investir em realizar na própria empresa. Mas logica- mente que o número de pessoas, a natureza do curso e os custos influenciam diretamen- te na definição do local, pois a periodicidade e a manutenção do local devem ser levados em consideração no momento da decisão. Para fazer o devido contraponto com tal situação, percebe-se a utilização de espaços terceirizados para a realização de treinamentos. Dependendo do tipo de trei- namento, é comum as empresas alugarem hotéis ou espaços maiores para que possam acomodar todos confortavelmente, com o mínimo de estrutura e material de suporte para tanto. Isso, consequentemente, gera custos menores. O mesmo raciocínio avaliza a decisão de enviar treinandos para um centro de excelência fora da cidade ou da região da empresa. Implicará custos que nem sem- pre são vantajosos. Mas, se não for algo frequente, é de se pensar. Essa situação me fez lembrar de um exemplo clássico, que é o da adoção da técnica de multiplicação de conhecimento. Você sabe o que é isso? Essa é uma prática que as empresas têm reali- zado com frequência quando não tem recursos suficientes para mandar todos os seus treinandos para outras cidades ou para eventos fora da sede. Com isso, vão poucos e quando finalizarem seus cursos, voltam para a empresa e repassam literal e fidedigna- mente para os seus pares. Por fim, em relação ao onde fazer, é inevitável mencionar a Educação a Distância (EAD). Com a adoção dela, acabou o problema de espaço físico para determi- nados tipos de curso. A internet é hoje uma alternativa viável e de baixo custo. Porém, 51 recomenda-se a utilização da EAD para desenvolver treinamentos que visem à obtenção de conhecimentos e alguns tipos de habilidades, mas as atitudes não necessariamente, pois independem do meio de oferta. Um aspecto deve ficar ressaltado: ainda que o local seja interno ou externo haverá pontos positivos e negativos, acerca dos quais o gestor deverá analisar para então decidir.É difícil conseguir um consenso para atender a todos. Contudo, de forma geral, é necessário analisar que o treinamento é um investimento, se o treinando estiver com mais motivação, melhor será. Dessa forma, saliento que a escolha do local é um fator estratégico. Os motivos que me levam a crer nessa escolha são pautados nas vi- sões dos seguintes autores: Marras (2002), Bohlander, Snell e Sherman (2005), Dessler (2003) e Chiavenato (1999). QUADRO 1 – Pontos positivos e negativos na escolha do local Tipo Gestor Treinando Presencial in company Positivo • Funcionário está na empre- sa ou na cidade. • Maior controle. • Caso necessário, o fun- cionário pode voltar para o trabalho. • O treinando se sente mais à vontade por estar realizan- do um treinamento em um ambiente conhecido. • Caso necessite, pode voltar ao trabalho. Presencial in company Negativo • Precisa ter uma infraestru- tura condizente para ofertar o treinamento. • Deve permitir que o funcioná- rio se ausente do trabalho para se dedicar ao treinamento. • Precisa tomar decisões rápidas quando o treinamento não sai conforme planejado. • O treinando não se desliga totalmente do trabalho, pre- judicando o seu envolvimento pleno no treinamento. • O treinando não se sente estimulado por permanecer sempre no seu ambiente de trabalho. Presencial fora da sede Positivo • A empresa não necessita ter uma infraestrutura específica. • A empresa possibilita ao funcionário conhecer novas realidades e pessoas. • Nem sempre é possível trazer os centros de excelên- cia para os próprios domínios. Com a ida, os treinandos ten- dem a se sentir estimulados. • O funcionário está fora da empresa ou da cidade. • Tende a conhecer outras realidades e culturas. Presencial fora da sede Negativo • O funcionário está fora da empresa ou da cidade. • Menor controle. • Caso necessário, dependen- do do local, o funcionário não pode voltar para o trabalho. • Dependendo do tempo do treinamento, é necessário contar com outras pessoas para realizar o trabalho do treinando. • Custos com deslocamento e diárias. • O funcionário está fora da empresa ou da cidade. • Dependendo do tipo de trei- namento e da forma de ofer- ta, o funcionário pode achar que está perdendo tempo em relação ao seu trabalho. • A localidade pode não ser adequada, segundo a visão dos treinandos. Fonte: Dalmau; Girardi (2010, p. 101). 52 Por fim, saliento que esses são apenas alguns pontos e eles são contextuais, ou seja, ao contrário do que é determinado na teoria, nem sempre acontecem da mesma forma. Cada caso é um caso. Lembre-se disso. e) Quem ministrará o treinamento? Costumo iniciar a explicação desse subitem afirmando que esse é um dos pontos mais complicados para pensar. Por quê? Porque a definição do instrutor pode fa- zer com que o sucesso e o fracasso do treinamento não sejam uma mera obra do acaso. Dependendo do tipo de treinamento, é fato afirmar que não existem instru- tores 100% qualificados para a realização dele. Explico: é considerável que os instruto- res possuam tanto o conhecimento técnico quanto a experiência prática, a fim de propi- ciarem uma instrução adequada. Somente por esse motivo já é difícil encontrar pessoas habilitadas para a tarefa. Se pensarmos em treinamentos customizados, como já mencionado em pa- rágrafos anteriores, no momento de definir quem vai treinar, deve-se levar em consi- deração que o instrutor deverá adequar os seus saberes ao problema em si, além de colocá-lo no contexto da empresa. Isso é algo muito complexo. Para definir o instrutor, é preciso levar em consideração algumas caracterís- ticas básicas, que são: • conteúdo; • experiência profissional; • técnicas de ensino/didática. Em relação ao conteúdo, creio que é algo básico de entender. Se não houver domínio de conteúdo, como pode essa pessoa instruir alguém? Porém, aqui é que vem o ponto-chave. O que se espera de um instrutor é que ele tenha uma visão plural do assunto, em que uma abordagem diferente pode incrementar ou complementar o co- nhecimento já existente dos treinandos. No que se refere à experiência profissional, ela deve ser levada como uma característica complementar e não de única escolha, pois nem sempre pessoas que apre- sentam conteúdo têm de fato experiência profissional, e vice-versa. Às vezes, costumo me deparar com instrutores que ministram cursos funda- mentados apenas nas suas experiências profissionais, sem saber ao certo o porquê de determinada situação acontecer. Por isso, é recomendável contar com instrutores que tenham experiência profissional e conhecimentos a respeito do assunto. Por fim, deve-se escolher instrutores que tenham conhecimentos de técnicas de ensino e de didática. Motivo? Basta você fazer uma autoanálise! Vai me dizer que 53 você nunca se deparou com professores sem didática alguma? Ou professores com uma excelente didática? Não é algo estimulante? Pois então! É isso que você deve se preocu- par em obter para a oferta de seus treinamentos. Diante de tudo isso, o que fazer? A sugestão é que na etapa de planejamento você, na condição de gestor, assegure-se de que o instrutor domina realmente o conteúdo. Além disso, que tenha as qualificações ou até mesmo exceda as qualificações desejadas. Procure certificar-se de que a pessoa teve experiência em ministrar cursos anteriores e verifique se as avalia- ções foram boas. Busque informações em outras instituições relacionadas no portfólio de clientes do instrutor. Sugiro ainda que você estabeleça indicadores de excelência tendo em vista a realização de uma boa instrução, leve em conta a visão dos seus treinandos, e não apenas a sua! Pare e Reflita Quais atributos de ensino um instrutor deve possuir? Quais devem ser as ações dele? Ao responder esses questionamentos, você já possuirá exemplos de indicadores. Caso seja possível, solicite que ele ministre uma aula ou apresente um vídeo de aula que ele tenha ministrado. Ainda que não seja tarefa fácil encontrar pessoas com disposição para atender esses requisitos, entendo que eles refletem um cuidado que poupará problemas no futuro, originados de uma possível insatisfação dos treinandos nesse aspecto. Enfim, muito cuidado com uma prática que é corriqueira nas empresas: a de utilizar um funcionário que tenha pleno domínio de determinado assunto, para a re- alização do curso, sem a adequada preparação. Situação como essa, usualmente, não possui êxito, o que frustra todos os participantes envolvidos no treinamento, ou seja, os treinandos, o gestor e aquele que foi instrutor (DALMAU; GIRARDI, 2010). f) Cronograma de oferta do treinamento Neste tópico, você deve pensar no seguinte: em quanto tempo será ofertado o treinamento? Quantas horas por dia? Apesar de você já ter decidido a carga horária, onde ele será ministrado, como e para quem, a definição do cronograma é importante para uma etapa posterior, que é a da avaliação. 54 Nesse sentido, estipule se o treinamento será ofertado em um período so- mente ou em regime de imersão. Se for em um período, logicamente a definição do cro- nograma contemplará a divisão das horas previstas pelo período em dias específicos. No entanto, se for em regime de imersão, será decorrente da distribuição da carga horária pelos dias necessários. Existem pontos fortes e fracos nessas estratégias de oferta. Se pensarmos na objetividade pelo tempo, claro que os cursos em regime de imersão são bem melho- res. Porém, são cansativos e, sobretudo, os gestores não poderão contar com os seus funcionários por um determinado tempo. Se pensarmos no aspecto motivacional, geralmente é melhor quando o cur- so ocorre em um período, pois assim o treinando tem tempo livre para desenvolver seu trabalho ou para processar o que fora ministrado. Mas, como pontos negativos, os cursos de meio período não conseguem manter uma linha de raciocínio constante justamente por causa dos horários de início e fim. Enfim, independente das razões, o mais importanteé definir o cronograma e apresentar aos treinandos para que se programem e façam o melhor curso possível. Em síntese, esses são os pontos que deverão ser pensados no momento de planejar um treinamento. Uma vez feito o planejamento, passa-se para a próxima etapa, que é a execução. 3.2.3 Execução do Treinamento Na visão dos autores consultados para a realização deste livro, o gestor tem a priori duas preocupações predominantes em relação à execução do treinamento, que são: a qualidade de aplicação dos módulos e a eficácia decorrente dos cursos realizados. Tendo em vista a qualidade da aplicação dos módulos, os itens que influen- ciam já foram trabalhados em tópicos anteriores, na etapa de planejamento. Já com relação à eficácia, ela decorre da motivação que o treinando possui em virtude da sua percepção daquilo que acontece ao seu redor durante a realização do treinamento. Em suma, para que ocorra a melhor execução possível, torna-se necessário pensar em um check list, no intuito de constatar que tudo aquilo que fora planejado possa de fato ser ofertado. Isso significa que o responsável pela oferta do treinamento, antes mesmo da execução, deverá realizar uma ação de controle. Mas, como fazer isso? Uma sugestão é construir uma tabela com os itens contidos no planejamen- to, tais como demonstrados a seguir: 55 TABELA 1 - Exemplo de check list para execução dos treinamentos Itens OK Falta resolver Instrutor: já foi avisado, con- tratação acertada, material de apoio, etc. Espaço físico: limpeza, ilumi- nação, ventilação, organiza- ção, etc. Material de apoio: impressão, entrega aos alunos, etc. Pessoal de apoio: contrata- ção, treinamento, etc. Estrutura de apoio: datashow, quadro, flipchart. Avaliações: impressas, entre- gues ao professor, etc. Fonte: Elaboração própria (2012). A execução também deve ser vista como um momento de aperfeiçoamento, pois, posteriormente, pode-se fazer a devida análise do que deu certo e o que não deu. Quando se trabalha de maneira a antecipar a conferência da oferta do treina- mento, sobra mais tempo para fazer algum tipo de intervenção, caso necessário. E essa filosofia é a que deve permanecer. 3.2.4 Avaliação do Treinamento Sempre que se pensa em planejamento, deve-se pensar em avaliação. Moti- vo? Como saber se o treinamento gerou os resultados desejados? Dando início a explicação deste subitem, a avaliação do treinamento é a últi- ma etapa do processo como um todo. Ainda que seja a última, isso não nos dá o direito de pensar que ela não seja importante, já que o processo avaliativo propicia ao gestor analisar se o que foi proposto teve uma boa execução. Além disso, enseja um controle efetivo das ações utilizadas. Existem quatro níveis de avaliação, sendo que as empresas costumam fazer com mais frequência dois. São eles: a) Reação – a avaliação de reação serve para saber o que o treinando achou do treinamento. Por isso o nome é reação, pois ao final ele deve apontar sua opi- nião sobre os pontos definidos no planejamento do treinamento. Entre os pontos mais utilizados, têm-se os conteúdos (natureza, profundida- de, pertinência, distribuição e volume), a metodologia, a atuação do instrutor, a carga horária, o valor prático, a aplicabilidade, o material didático utilizado, etc. 56 Para ter uma noção mais clara da avaliação de reação, é necessário traba- lhar com parâmetros objetivos. Nesse sentido, a adoção de escalas numéricas tende a facilitar essa mensuração. É muito provável, que, em algum momento, você já tenha preenchido um formulário de reação. E, provavelmente, você deve ter também opiniões sobre o que foi realizado e gostaria de apresentar isso. Logo, sugiro que haja um espaço para que as pessoas façam críticas qualitativas para o curso. Em geral, as empresas que avaliam o treinamento param nessa etapa. São raras as que avançam, e isso é um erro, já que o fato de o treinando ter apreciado ou não o treinamento não quer dizer que ele tenha tido uma aprendizagem. Por sinal, essa é a questão: o aprendizado (DALMAU; GIRARDI, 2010). Ainda que haja uma relação entre motivação e aprendizado, o gestor responsável pelo treinamento deve ter muita atenção nas críticas ou ressalvas realizadas. b) Aprendizagem – a avaliação de aprendizagem se faz necessária para ter uma convicção maior se o treinando aprendeu com o que foi ministrado ou não. Dessa forma, esse tipo de avaliação pode ser feito mediante aplicação de provas, sejam elas teóricas ou práticas. c) Comportamento – o fato de mensurar a reação e o aprendizado não significa que as pessoas tenham mudado também o seu comportamento, sobretudo para aplicar o que aprenderam. Esse tipo de avaliação tende a ser mais utilizado para as necessidades de comportamento/atitudes, o que faz pensar de maneira diferente esse tipo de avaliação. Conforme o ponto de vista de Macian (1987), a avaliação de comportamento pode ser realizada mensurando os ganhos por meio de análises baseadas em depoimen- tos mais profundos feitos pelo próprio treinando ou pelas chefias imediatas. Para fazer uma análise da mudança de comportamento, você deve levar em consideração como era o comportamento antes. Imagino que você deve estar se per- guntando: como eu faço isso? Simples! É preciso antecipar as ações e estabelecer um sistema de controle que atualize de forma contínua o banco de dados do funcionário. Se a empresa possuir e utilizar um sistema de avaliação de desempenho, terá uma melhor situação, pois, com os resultados da avaliação, poderá averiguar o comportamento do funcionário antes da realização do treinamento. Mas, caso a empresa não possua esse sistema, a sugestão é fazer um levantamento do comportamento com o auxílio de pes- soas que estão em contato direto com o treinando. Essa avaliação é bem subjetiva e, muitas vezes, os ganhos não são rapi- damente visíveis. Porém, em empresas com cultura de melhoria contínua, esse tipo de 57 avaliação gera ganhos significativos, pois permite que o treinando tenha um feedback a respeito do seu aprendizado e do seu comportamento, provenientes do curso realizado. Para que isso funcione, é necessário que haja um acompanhamento por parte do gestor ou daquele que é responsável pelos resultados do treinamento, a fim de acompanhar o progresso do treinando e para que suas impressões não sejam apenas oriundas de percepções atuais. Há uma técnica para minimizar a subjetividade desse processo, basta compartilhar a tarefa de avaliação de comportamento do treinando com mais pessoas, assim quanto mais envolvidos se manifestarem, melhor será! Se o treinando apresentou determinada melhoria, isso representa que o trei- namento cumpriu com os seus propósitos. Caso não tenha surtido efeito, é preciso compreender os motivos que impediram o seu cumprimento. É necessário entender que o problema pode estar na estrutura, mas também em questões pessoais do indivíduo. Não obstante, além dos resultados encontrados, o gestor precisa ter em mente que o treinamento realizado pode não implicar uma mudança imediata de com- portamento. É preciso que haja estímulos após o treinamento para chegar a essa situ- ação. Há casos em que o comportamento negativo decorre de ações dos gestores ou ainda da empresa, que não criam condições satisfatórias para a realização do trabalho nos termos vistos no treinamento. d) Resultados – de todas as avaliações, essa talvez seja a mais complexa de fazer, principalmente se pensarmos na contribuição específica do treinamento para os resultados avaliados. Para que haja uma análise de resultados, é necessário um acompanhamento sistemático em um dado período de tempo. Conforme visto na etapa de avaliação com- portamental, os resultados têm uma tendência a não serem imediatos, porque os indiví- duos precisam compreender o que foi visto no treinamento. Dessa forma, internalizam e transformam o conteúdo estudado em conhecimento, para que apliquem no dia a dia. A partir daí é que os resultados poderão servisualizados. Nesse sentido, a sugestão é que o gestor busque monitorar os resultados, tendo em vista os indicadores que podem ser selecionados antes de iniciar o treinamen- to. Para Castro (apud BOOG, 2001, p. 59-60), esses indicadores podem ser: 58 QUADRO 2 – Indicadores de resultados de treinamento Benefícios Organizacionais Indicadores Aumento de Rendimento • número de produtos ou de serviços produzidos; • número de processos concluídos; • quantidade de trabalho em carteira. Economias de Tempo • quantidade de tempo não produtivo; • quantidade de licença para tratamento de saúde e/ou atrasos; • quantidade de horas extras; • quantidade de tempo de adaptação de no- vos funcionários; • tempo parado de equipamentos. Melhora da Qualidade • quantidade de feedback positivo versus negativo dos clientes; • quantidade de resultados positivos versus negativos de auditorias e inspeções externas; • volume de re-trabalho requerido; • número de soluções inovadoras ou produtos desenvolvidos; • mudanças de estado de espírito/motivação do colaborador; • frequência de comunicação dentro da empresa; • número de queixas e outros problemas de pessoal. Redução de Erro • número de erros; • número de queixas relativas a segurança de funcionários e clientes; • número de problemas de segurança; • número de acidentes; • número de violações de regras/procedimentos. Fonte: Castro (apud BOOG, 2001, p. 59-60). É importante salientar que o acompanhamento da evolução desses indica- dores depende da consciência do gestor, que precisa ter claro que a verificação deve ser constante, como ainda há a necessidade da organização ser integral. Isto porque, na prática, sabe-se que muitas empresas não investem em controles organizados e minu- ciosos acerca de seus números. Os motivos são variados, pode ser a falta de conheci- mento técnico, ou ainda o excesso de trabalho. Por fim, a empresa pode priorizar suas ações para atender os problemas do dia a dia e deixar de lado outras questões. Resumo Neste capítulo, você teve acesso às informações sobre treinamento e desen- volvimento, entre elas conceitos norteadores, etapas constitutivas e principais pontos a serem estrategicamente planejados. Vimos também a diferença entre treinamento e desenvolvimento, que, ape- sar de ser conceitual, influencia o entendimento das coisas ao pensarmos em trabalhar o processo de treinamento. 59 No que se refere ao processo de treinamento, vimos que a estruturação bá- sica contempla quatro etapas: o LNT, o planejamento, a execução e a avaliação. Em relação ao LNT, procura-se verificar quais são as necessidades dos fun- cionários comparando-as com o que fora prescrito no cargo. Já o planejamento do treinamento, deve se concentrar na elaboração de alternativas de ações para atender às necessidades delineadas. A execução contempla o preparo para a realização plena do treinamento. Com isso, pode-se fazer uma intervenção preventiva visando ao perfeito funcionamento do sistema planejado. Por fim, a avaliação de resultados de treinamento, que significa a ação de controle para ver se está tudo dentro dos conformes, quanto à reação, aprendizagem, comportamento e resultados. O gestor ou o responsável pelo treinamento precisa ter o máximo de cuidado em cada uma das etapas do processo, pois uma única ação errada pode comprometer o resultado esperado. Dessa forma, é necessário que o êxito de treinamentos anteriores não influencie no planejamento de novos casos. É válido lembrar que cada caso tem suas peculiaridades. Ao generalizar, há uma probabilidade de aumentar a chance de erros. Atividades 1. Qual a diferença entre treinamento e desenvolvimento? Cite um exemplo corporativo que explique melhor o seu ponto de vista. 2. Cite e explique as etapas inerentes ao processo de treinamento e desenvolvimento. 3. Quais cuidados devem ser tomados no levantamento de necessidades de treinamen- to? Cite e explique detalhadamente. 4. Por que é necessário realizar a avaliação de treinamento em quatro níveis diferentes? Explique. 5. Por que alguns empresários consideram o treinamento um custo e não um investimen- to? Explique as razões com base na sua percepção e no que foi apresentado no material. 60 Anotações 61 avaliação de deSeMpenho Capítulo 4 62 Neste capítulo, trabalharemos outro subsistema, que é o de aplicação. Tal subsistema contém as ações de avaliação de desempenho, muito importantes para os gestores e para os profissionais, pois permitem o conhecimento das deficiências que impedem uma produtividade maior. É correto afirmar que todas as empresas trabalham com os princípios ine- rentes aos de avaliação de desempenho. Porém, a diferença é que algumas fazem isso de maneira formalizada e outras não. Infelizmente, ainda é considerável o número de gestores que acreditam que não é necessário estruturar um processo de avaliação de desempenho e isso faz com que o processo de melhoria, tanto da empresa quanto dos profissionais, principalmente, fique comprometido. Veremos que a avaliação de desempenho é um processo complexo e que ne- cessita da participação do maior número possível de pessoas, pois isso tende a contribuir para reduzir as percepções equivocadas. Entenderemos a evolução do ponto de vista do conceito de avaliação, apesar de que ainda existe uma cultura voltada para o lado punitivo. Por fim, trabalharemos as decisões estratégicas referentes aos elementos cons- titutivos do processo de avaliação de desempenho, ao qual recomendo que preste bastante atenção, pois é fundamental a compreensão para a correta arquitetura do sistema. Vamos lá! Bons estudos! Introdução 4.1 Introdução ao Contexto e ao Conceito O que é avaliação de desempenho? Para que serve? Conforme a visão de Rabaglio (2004), a avaliação de desempenho constitui- -se em uma ferramenta de análise de aproveitamento do potencial individual das pesso- as no trabalho. Analisando o conceito, perceba as palavras ferramenta e potencial individual. A avaliação de desempenho pode ser considerada uma ferramenta de gestão, pois gera subsídios para as pessoas que participam saberem o que está bem em termos de pro- dutividade e o que não está. 63 Para tanto, baseia-se no chamado potencial, que é individual. Trabalha-se a lógica do potencial, pois geralmente se pensa em definição de metas individualizadas para alcançar. Ao final do processo como um todo, normalmente na conferência dos resultados, é necessário verificar se o potencial de fato se tornou um desempenho concreto. Diante desses pontos, ficou claro para você o que é avaliação de desempe- nho? Caso não tenha ficado ainda, vou transmitir outras informações que poderão ajudar na compreensão. O que é avaliar? Avaliar nada mais é do que a análise comparativa de algu- ma coisa. Para que possamos analisar algo, sobretudo comparando, necessitamos de referenciais, pois como saber se algo está bom ou não se não tivermos um referencial? Fica complicado! E isso, por incrível que pareça, acontece direto no cenário corporativo, pois as avaliações realizadas nas micro e pequenas empresas geralmente não utilizam nenhum parâmetro de referência. Mas, se preciso avaliar o desempenho de alguém, qual seria esse parâmetro ou parâmetros de comparação? No caso da Gestão Estratégica de Pessoas, os parâme- tros estão contidos na descrição do cargo, assunto esse que você já sabe o que é. Logo, se preciso avaliar, tenho que usar a descrição do cargo, pois ele será a minha referência. Você acredita que deve se basear apenas na descrição do cargo? No que em específico é correto se concentrar para fazer a devida avaliação? Nesse caso, exis- tem duas respostas, que são decorrentes dos tipos de avaliação existentes: parâmetros quantitativos e parâmetros qualitativos. É necessário destacar que eles não são exclu- dentes. Podem, inclusive, ser trabalhados de maneira complementar, ou seja, podemos construir um processo de avaliação de desempenho quantitativo e qualitativo. Voltando à questãocentral, caso você queira se basear em parâmetros quan- titativos, deve se concentrar na descrição das atividades que estão no desenho do cargo. Depois, inclusive, trataremos disso. Caso queira trabalhar os parâmetros qualitativos, deve buscar a descrição das características profissionais, que posteriormente serão tra- tados também. Logo, o que podemos entender é que a avaliação de desempenho é um pro- cesso que decorre dos resultados definidos ou ainda do desempenho esperado para cada trabalhador, pautado nas especificações, metas atribuídas e comportamentos padrão, que estejam relacionados de forma direta às tarefas especificadas no cargo. A avaliação de desempenho é complexa, pois existe muita subjetividade, sobretudo se pensarmos nas questões de produtividade de cada indivíduo. É algo que depende da percepção de cada um dos envolvidos, além da motivação. Por mais que queiramos trabalhar de maneira objetiva, sempre existirá um ponto de subjetividade! Nesse caso, o recomendável é trabalhar com um plano formal de avaliação objetiva, pois 64 tende a gerar menos distorções do que as avaliações feitas sem estruturação alguma (LACOMBE; HEILBORN, 2003). No que se refere a questões motivacionais, é correto afirmar que não basta apenas a competência para que alguém desempenhe o seu trabalho perfeitamente. Nesse sentido, é comum os profissionais sofrerem influências das recompensas que as empresas oferecem, bem como das condições de trabalho. Se não existem condições, muito menos recompensas consideradas atrativas, provavelmente o profissional não se esforçará tanto para alcançar um desempenho adequado. E aí reside um problema muito difícil de diagnosticar: o problema atitudinal. De acordo com Sachs (1995), numa primeira vista, um trabalhador pode parecer pouco eficiente; no entanto, ao realizarmos a devida avaliação do seu desempenho, pode ser possível notar que as capacidades demonstradas estão adequadas ou até mesmo supe- ram as necessidades. Constatamos, então, que o problema do funcionário é uma ques- tão de atitude. Viu? Agora você já sabe o que pode influenciar para que isso aconteça. O que as empresas têm feito para minimizar esse problema? Algumas têm vinculado os resultados da avaliação de desempenho com a remuneração variável, o que, dependendo do resultado, pode gerar ganhos salariais extras significativos, além do feedback sobre o próprio trabalho. As empresas têm também procurado orientar o desenvolvimento do funcionário, sobretudo no intuito de fortalecer os pontos que foram mal avaliados mediante a oferta de cursos pagos. Outras empresas, por sua vez, não fazem absolutamente nada e, por isso, continuam na mesma situação. Você tem ideia do motivo? Pesquisar Procure fazer uma leitura das edições da Revista Exame que apresentam pesquisas das Melhores Empresas para se Trabalhar. Com certeza, encontrará informações muito inte- ressantes sobre isso. Acesse: exame.abril.com.br Um dos motivos é a questão cultural, relacionada ao ponto de vista. A ava- liação de desempenho antigamente era utilizada como uma ferramenta meramente pu- nitiva, em que bastava o funcionário não conseguir obter o desempenho esperado, que ele estava literalmente fora da empresa. O que foi feito para evitar isso? Por parte das empresas nada! Por parte dos funcionários, um mecanismo de defesa grupal, pois no que dependesse do ponto de vista dos pares, os resultados de desempenho de alguém dificilmente seriam negativos. A evolução do conceito e do entendimento de avaliação de desempenho fez com que surgisse um ponto de vista interessante. Procura-se trabalhar a cultura da 65 4.2 Construção do Processo de Avaliação de Desempenho Como já mencionado anteriormente, é necessária a compreensão e adoção da avaliação de desempenho como um processo. Mas, o que é um processo? Entendo como processo um conjunto de ações que servem como entrada, processamento e sa- ída, ou seja, é algo cíclico. Nesse contexto, há questões que são chave na definição e elaboração de um modelo avaliativo. Por que a avaliação deve ser trabalhada como um processo? Porque quando você trabalha algo de maneira cíclica, acaba repetindo inúmeras vezes as ações previs- tas, chegando assim ao propósito da melhoria contínua. É fato que apesar de termos como intuito criar um modelo “perfeito”, ele sempre terá pontos a serem melhorados, seja por contribuições oriundas dos avaliadores ou por intermédio dos avaliados. Pense nisso! Dando continuidade, o processo de avaliação de desempenho está dividido basicamente em três momentos distintos: planejamento, execução e feedback. Na fase do planejamento, determinam-se critérios de avaliação, que no caso podem ser as metas estabelecidas no planejamento empresarial, traduzidas ao nível de competência de cada colaborador, sejam de curto, médio ou longo prazo. Determinam- -se também outras questões inerentes ao processo, tais como: a periodicidade da ava- liação, quem deve fazê-la, como fazê-la, abordando aí a construção do instrumento de avaliação e o treinamento/sensibilização dos avaliadores e avaliados. Na etapa da execução, creio que está claro o que se deve fazer, não é? Po- rém, é necessário tomar alguns cuidados, pois é um momento considerado crítico e de suma importância. Por fim, o momento do feedback, quando se chama o avaliado e apresenta o resultado da avaliação. Nesse ponto também deve ser feito o planejamento das ações corretivas. É fundamental que isso aconteça, pois a avaliação sem o devido feedback acaba perdendo o seu sentido. melhoria contínua, ou seja, com base nos pontos fracos, trabalha-se para revertê-los. Na teoria isso tudo é muito bonito, mas na prática é algo complexo de se conseguir. Para tanto, o discurso e a prática devem ser unívocas. Caso contrário, voltamos para o que foi descrito no parágrafo anterior. Em síntese, se acontece uma situação como essa, tudo o que foi investido no planejamento, quanto às ferramentas necessárias para a execução da avaliação de desempenho, não apresentará proveito. E, por isso, os gestores acabam voltando para a informalidade, que dá muito menos trabalho do que a avaliação formal. Concorda? 66 Para dar mais subsídios, vou explicar detalhadamente cada um desses pas- sos. Vamos lá! 4.2.1 A Fase do Planejamento Na fase do planejamento, deve-se definir primeiramente se a ênfase será em parâmetros quantitativos ou qualitativos. Caso sua opção seja por trabalhar a avaliação baseando-se em parâmetros quantitativos, é preciso, em um primeiro momento, considerar o que chamamos de determinação de metas. O que significa isso? Significa a definição dos pontos a serem analisados após a avaliação, aqueles que serão confrontados com o que foi definido anteriormente. A prática nos faz afirmar que esse é um momento complicado. Motivo? A negociação de desempenho. Explico: determinar metas não é algo simples. É necessá- rio conhecer bem o cargo avaliado, a ponto de verificar a real possibilidade de alcançar determinados resultados decorrentes do esforço profissional. Já quando não se conhece a fundo o trabalho, determinar metas não é necessariamente algo justo e fácil. Por isso, há uma necessidade de coerência, para que não sejam estipuladas metas que extrapo- lem o potencial do trabalhador. Caso isso aconteça, a pessoa tem uma tendência a ficar desmotivada ou ainda pode não dar o valor necessário, pois não se sente desafiada para a realização das tarefas, que objetivam atingir o resultado estabelecido. O processo de negociação de desempenho tem o intuito de chegar a um denominador comum mediante a conversa. Todavia, a complexidade é fruto do fato de que os dois lados (gestor e trabalhador) podem não possuir a mesma compreensão das ações. Além disso, as relações de poder podem influenciar, o que denota a complexidade dessa etapa. Quando for realizar a negociação do desempenho, o gestor necessita esta- belecer os padrões esperados. Para tanto, deve levar em conta questões de qualidade,prazo, quantidade e custo (DALMAU; GIRARDI, 2010). Como já comentado, os parâme- tros a serem utilizados em avaliações de cunho quantitativo deverão estar baseados na descrição do cargo. Visando exemplificar essa afirmação, apresento o quadro elaborado por Lu- cena (1995): 67 QUADRO 3 – Modelo de negociação do desempenho Negociação do Desempenho Atribuições Metas (padrões de desempenho) Instrumentos de Controle Aumentar a produção 10%, até maio/XX - Adicional de custo: 8%. - No nível da qualidade atual: 98%. Relatório mensal de produ- ção, custo e qualidade. Implantar um novo sistema de manutenção de equipamentos Reduzir tempo ocioso da mão de obra de 1,5% para 0,5%. - Até julho/XX. - Correção total dos defeitos. Projeto do novo sistema e cronograma de execução. Re- latório de índice de ociosidade mensal. Fonte: Adaptado de Lucena (1995). Conforme apresentado no quadro 3, um objetivo de desempenho não estará completo se não for acompanhado das metas e dos instrumentos de controle. Isso é necessário para avaliar continuamente os resultados alcançados e possa ter garantias de que o plano seja cumprido. Porém, se você optar por trabalhar a avaliação considerando os parâmetros qualitativos, o princípio de construção é outro. Mas, o que muda? Vamos à explicação. Lembra que já comentamos que a avaliação de desempenho baseada em parâmetros qualitativos depende das características profissionais apresentadas no dese- nho do cargo? Pois então. Além disso, para que seja possível considerar os parâmetros qualitativos, torna-se necessário pensar em como construir o instrumento de avaliação, pois analisar conhecimentos, habilidades e atitudes é algo muito, mas muito subjetivo. Por isso as decisões futuras, referentes a quem e como avaliar, são fundamentais para o sucesso do processo. Para construir o instrumento de avaliação, você deve definir qual é o método mais indicado. Essa definição poderá estar baseada no método que você mais se sente familiarizado ou aquele que você acredita que seja o mais simples para aplicar. Entre os métodos existentes, podemos citar: • Incidentes críticos Esse método é muito interessante, tendo em vista que costuma ser inter- pretado erroneamente, pois as pessoas confundem incidentes com acidentes, o que são coisas distintas. Entende-se por incidente aquilo que é derivado de incidência, de ocorrência. Logo, tudo aquilo que ocorre com muita incidência é considerado crítico. O método dos incidentes críticos leva em consideração a classificação das características do avaliado baseada no uso de adjetivos, tais como citados no exemplo a seguir: 68 QUADRO 4 - Lista de adjetivos para categorizar incidentes críticos Vigoroso Agressivo Cooperativo Complacente Metódico Laborioso Autoconfiante Egoísta De iniciativa Oportunista Visionário Não prático Decisivo Autocrático Fortes convicções Opinioso Firme Obstinado Sensitivo Emocional Reservado Frio Entusiástico Obcecado Persistente Inoportuno Fonte: Adaptado de Giegold (1980). O problema de utilizar o método dos incidentes críticos é que a pessoa apre- senta uma característica ou não. Não existe meio termo, não existe um patamar. Logo, torna-se complicado trabalhar a relatividade das características, pois não somos sempre uma coisa ou outra. Exemplo: você foi avaliado autoritário, mas acontece que costuma ser democrático na maioria das vezes. E aí? Como fica? Complicado, não? Tendo em vista o exposto, podemos dizer sem sombra de dúvidas que um dos pontos frágeis desse método está no registro, já que na prática os avaliadores ini- ciam suas ponderações, mas, com o tempo, acabam se desinteressando. • Escala gráfica Esse método é o mais utilizado hoje em dia justamente pela facilidade de aplicar a avaliação, bem como de avaliar considerando graus de intensidade, que são resultantes das escalas. A percepção das características de alguém de forma gradual permite reduzir a subjetividade, uma vez que as dimensões de escala são definidas de maneira mais exata. A fim de elaborar um instrumento de escala gráfica, o gestor necessitará elaborar um quadro, no qual conste na primeira coluna os itens a serem avaliados e nas colunas seguintes as escalas de mensuração (DALMAU; GIRARDI, 2010). No entanto, cuidado com a definição da escala, pois quanto menor, mais complexa é a avaliação, assim como quanto maior, mais difícil será para justificar a nota. Procure trabalhar com escalas que permitam uma defesa coerente dos seus pontos de vista. Para seu conheci- mento, as mais utilizadas são as de quatro e cinco níveis. 69 QUADRO 5 - Exemplo de escala gráfica Item Indicadores 5 4 3 2 1 1 Comprometimento: Capacidade de compartilhar todo o potencial em benefício dos objetivos e metas da equipe, cooperando, oferecendo suporte com dedicação e em- penho total. A Está fortemente comprometido com o trabalho? x B Assume as responsabilidades como se fosse dono do pro-cesso, tanto os sucessos quanto os fracassos da equipe? x C ----- x D ----- x Fonte: Elaboração própria (2012). Recomenda-se atenção especial em relação à escala gráfica no momento de registrar as notas, pois os avaliadores devem tomar cuidado com uma prática bem comum que é a de preencher os itens de avaliação sem ter muito claro em mente tudo o que ocorreu para que tal nota fosse atribuída. Esse, inclusive, é um dos erros mais comuns no processo de avaliação de desempenho com as escalas gráficas, que acaba depondo contra a ideia maior, que é a de melhoria contínua. • Postos hierárquicos e comparação paritária “Outro sistema de classificação frequentemente usado é o de postos hierár- quicos. O avaliador é chamado para escalonar os empregados desde o mais alto até o mais baixo, em cada critério de medição” (CARNEGIE, 1978, p. 218). Esse método, apesar de interessante, costuma criar muitos problemas, pois as comparações entre pessoas geralmente são bem complicadas. Às vezes, uma pessoa tem uma ou mais características mais desenvolvidas ou latentes que as demais e isso pode ser interpretado como sinal de melhor. Outras vezes, uma pessoa não demonstra tanto suas características, mas é bem produtiva, com alto desempenho. Como justificar que a pessoa “A” é melhor que a “B”? Complicado, mas tem quem use. É por esse motivo em específico que se percebe uma tendência muito forte em manter um “equilíbrio” de resultados, o que faz com o que esse método não seja plenamente confiável. • Escolha forçada Para Werther e Davis (1983, p. 279), “o método da escolha forçada requer que o avaliador escolha a declaração mais descritiva em cada par de declarações sobre o empregado que está sendo classificado”. Já na visão de Bohlander, Snell e Sherman (2005, p. 228): [...] o método da escolha forçada exige que o avaliador escolha afirma- ções, muitas vezes em pares, que parecem ser igualmente favoráveis ou desfavoráveis. As sentenças, no entanto, devem distinguir entre o sucesso ou o insucesso no desempenho. 70 Na visão da maioria dos autores consultados para este capítulo, a escolha forçada tem como um dos seus objetivos diminuir a possibilidade da preferência de quem avalia, ou seja, forçá-lo a selecionar uma declaração entre as descrições existentes. Contudo, ainda de acordo com tais autores, o método não é favorável para o uso de forma efetiva para atingir as metas, porque não é possível visualizar os quanti- tativos dos atributos. De acordo com Flippo (1980), o avaliador não se sente confortável no uso de um método que não propicia a oportunidade de decidir ou expressar o que de fato ele pensa. Enfim, são alguns métodos que podem ser utilizados, como já destacado anteriormente. Com base no método e na construção do instrumento, torna-se mais acessível realizar a avaliação de desempenho baseada em parâmetros qualitativos. Outra decisão estratégica contida na fase de planejamento é a definição de quem vai avaliar. Mas, por que ela é estratégica? A resposta é que todo o processo de avaliação estábaseado no ponto de vista, na percepção de alguém sobre outro alguém. Logo, se definirmos chamar uma pessoa que não tem familiaridade alguma com o cargo, muito menos contato direto com ele, provavelmente sua avaliação vai registrar a reali- dade de maneira menos fidedigna. Não se esqueça que todo processo de avaliação está, de certa forma, regido pelas relações de poder. Isso pode fazer com que haja desvios de conduta de todas as partes participantes, seja por questões defensivas ou até mesmo de ataque pessoal so- bre um avaliado. Isso acontece muito. Já viu situações assim? Diante do exposto, podemos dizer que quanto mais pessoas participarem do processo de avaliação, melhor, desde que tenham contato de trabalho com o cargo. Caso contrário, é recomendável utilizar seus pontos de vista para ponderar alguma impressão específica do avaliado. Entre as pessoas que podem fazer a avaliação, apresentam-se as seguintes: a) Superior hierárquico imediato É difícil hoje não ver o superior hierárquico imediato avaliando alguém. Mas sua presença é fundamental no processo por toda a simbologia representada. Geralmente, o superior hierárquico imediato costuma apresentar uma visão mais crítica do avaliado. E isso, de certa forma, é muito bom! Agora o problema está relacionado à forma como se faz isso. Deve ser algo no mínimo respeitoso. Além da visão crítica, o superior hierárquico imediato consegue visualizar características mais amplas do avaliado no contexto do trabalho, pois sua função precípua é a de controle. 71 b) Autoavaliação A autoavaliação ainda não é uma prática bem consolidada, mas com o passar dos anos ela vem obtendo maior aceitação. A ideia da autoavaliação é válida, pois permite que a pessoa possa fazer uma análise de si mesmo. Logicamente, é recomendável a maturidade crítica para tanto, o que se torna um pouco mais difícil de obter quando a cultura da empresa, por exemplo, é voltada para a punição. Geralmente, a autoavaliação acaba sendo utilizada como parâmetro compa- rativo, ou seja, a nota é comparada com as notas dos pares, do superior imediato, entre outros. No mínimo, isso faz com que o colaborador reflita sobre seus pontos fortes e fracos mediante a visão de todos os participantes, bem como favorece a discussão sobre as barreiras ao desempenho efetivo. c) Avaliação feita pelo subordinado Quando possível, pode-se contemplar o subordinado para fazer a avaliação de seu superior imediato também. Motivo? É sempre interessante conhecer a percepção das pessoas que estão abaixo da linha hierárquica. Evidente que não podemos deixar de lembrar a questão das relações de poder e da cultura da empresa. Porém, em empresas maduras, as opiniões dos subor- dinados vêm sendo consideradas como determinantes para uma mudança de ponto de vista. Sabia disso? d) Avaliação de pares e de equipes Em uma organização, pessoas que trabalham juntas e trabalham em posi- ções paralelas, ou seja, equivalentes, podem realizar uma avaliação mútua. Essa é a visão de Bohlander, Snell e Sherman (2005), que denominam esse método de avaliação de pares. Ela possui sua singularidade em relação aos demais métodos, porque os co- legas de trabalho, por diversas vezes, percebem distintas dimensões de desempenho, exemplo: liderança ou habilidades interpessoais. Contudo, esse método tem suas limitações para a implementação, já que os pares podem, ora serem amigos, ora rivais, e a influência de qualquer uma dessas características pode afetar a classificação. e) Comissão e comitês Outra opção é instituir uma comissão. Elas são responsáveis por dar nota na avaliação do trabalhador, fazem isso em grupo. Flippo (1980) salienta que esse caso também tem a dificuldade de conseguir avaliadores informados. 72 f) Outros potenciais avaliadores Clientes externos ou internos podem ser fontes de informação quanto ao de- sempenho da empresa. Porém, aqui fica uma ressalva: geralmente, os clientes internos e externos não têm uma relação frequente com os avaliados, o que pode aumentar a tendência da subjetividade, afinal as avaliações serão feitas em função dos raros mo- mentos vivenciados. Diante do exposto, é recomendável que seus pontos de vista também sejam utilizados como parâmetros de confirmação a respeito da percepção dos avaliadores principais sobre os avaliados. g) Avaliação 360° (graus) Se você reler todos os possíveis avaliadores descritos até o momento, enten- derá que a avaliação 360º nada mais é do que uma forma de contemplar o máximo de pessoas possível para ter uma visão mais clara do desempenho de alguém. Tal afirmação vai ao encontro do pensamento de Tanke (2004, p. 264), em que “a avaliação em 360° graus têm por finalidade oferecer o feedback de todas as fontes, incluindo supervisores, colegas, subordinados, a própria pessoa e clientes.” FIGURA 1 – Participantes do processo de avaliação de desempenho 360º Fonte: Dalmau; Tosta (2009, p. 55). Agora você compreende o porquê de uma avaliação de 360º (graus) ter a tendência de dar certo. Ao partir da premissa de que o alcance de metas é medido quantitativamente e qualitativamente, e ainda ter mais pessoas participando dos pro- cessos, maiores serão as chances de acerto da avaliação. Logicamente, que de acordo com a abordagem selecionada no método de avaliação, as contribuições poderão ser singulares. 73 Independente de quem vai avaliar, ao planejar o processo de avaliação de desempenho, também é necessário pensar em definir o momento em que a avaliação vai ocorrer. Para isso, é importante pensar não apenas no dia do preenchimento do for- mulário de avaliação, e sim no processo como um todo: o planejamento, a execução, o feedback e, posteriormente, o novo ciclo. A razão? Se não pensarmos nisso, como conseguiremos analisar a evolução das características de alguém em tão pouco tempo? Daí surge algo que deve ser compartilhado com você, que infelizmente não é muito abordado em livros de Recursos Humanos, pois como existe a ideia do imediatis- mo, geralmente esse ponto deixa de ser tratado. Com isso, ao pensar em definir quando a avaliação será feita, costumamos encontrar os períodos de sempre: quadrimestral, semestral, anual. No entanto, podemos pensar em outros períodos também, tais como: diariamente, semanal, quinzenal, mensal, bimestral, trimestral, bianual, etc. Esses períodos são recomendáveis? A resposta é: por que não? Se pensar- mos apenas no registro de formulários, no meu entendimento, não é recomendável. Mas se trabalharmos com o conceito de avaliação contínua, tal periodicidade se torna interes- sante. Como? Por meio da definição de períodos intercalados com o período de avaliação formal. Explico: você pode definir que a avaliação acontecerá na sua empresa de seis em seis meses. Porém, visando minimizar um erro muito comum, que inclusive será descrito mais adiante que é o de guardarmos na memória os fatos recentes, poderíamos definir que ocorrerão avaliações intermediárias mensalmente. Logo, faz-se um acompanhamen- to mês a mês e formaliza-se isso no final dos semestres. O que você acha? Possível? Comentários Antes que me diga que não, saiba que é uma prática que involuntariamente é feita, só que de maneira mais informal. Portanto, por que não formalizar? Porque vão dizer que não dá tempo? Até parece, basta ter uma recompensa em jogo que as opiniões mudam, bem como estímulos por parte dos gestores. Pense nisso! Outro ponto que merece destaque na fase de planejamento é o do treina- mento de sensibilização entre avaliadores e avaliados. Fundamental esse ponto, pois caso não seja feito nada, certamente haverá dúvidas no momento de fazer a avaliação, porque nem sempre quem estrutura um instrumento ou um processo de avaliação de desempenho consegue ser claro o suficiente para dizer como fazer as coisas. E como deveria ser feito esse treinamento? Bom, para início de conversa, crie o regramento da avaliação dos cargos e coloque tudo isso em um manual. Contem- ple o modo como foramdefinidos os avaliadores, os avaliados, os formulários de avalia- ção, a descrição sucinta dos processos, enfim, todas as informações necessárias para o devido esclarecimento. 74 4.2.2 As Fases da Execução e do Feedback A fase da execução, conforme mencionado no início deste capítulo, é a prá- tica da avaliação. Alguns cuidados devem ser tomados no intuito de minimizar os erros mais comuns, que, inclusive, prejudicam a própria aceitação do processo de avaliação de desempenho. Podemos destacar os erros mais comuns, de acordo com a visão de Lacombe e Heilborn (2003), Bohlander, Snell e Sherman (2005): QUADRO 6 – Dez razões principais para falhas nas avaliações de desempenho 1 O gerente não tem informações a respeito do desempenho real de um funcionário. 2 Os padrões pelos quais o desempenho de um funcionário é avaliado não estão claros. 3 O gerente não leva a avaliação a sério. 4 O gerente não está preparado para a revisão de avaliação com o funcionário. 5 O gerente não é honesto/sincero durante a avaliação. 6 O gerente não tem habilidade para fazer a avaliação. 7 O funcionário não recebe feedback contínuo do desempenho. 8 Os recursos fornecidos são insuficientes para recompensar o desempenho. 9 A discussão é sobre o desenvolvimento do funcionário ineficiente. 10 O gerente usa linguagem obscura/ambígua no processo de avaliação. Fonte: Adaptado de Lacombe; Heilborn (2003), Bohlander, Snell, Sherman (2005). Analisando o quadro acima, qual conclusão ou conclusões que você chega? Creio que você dirá que as falhas são causadas mais pelos avaliadores do que pelos avaliados. Não diria que você está errado, mas metade desses problemas é fruto de um não posicionamento forte por parte da direção da empresa. Por isso que Logo após, chame todos! Faça com que vejam tudo, que questionem, que manuseiem, que simulem! Diversas são as técnicas que permitem a aplicação de capaci- tação, são elas: palestras, dinâmicas de grupo, jogral, entre outras maneiras (DALMAU; GIRARDI, 2010). Contudo, é necessário ter em mente que a maior importância reside no fato de que as técnicas estejam de acordo com o que será feito na prática, para que con- solide as impressões certas esperadas por aqueles que idealizaram o processo. O mais importante é que as pessoas tenham condições de entender mediante a prática como funciona o processo. Em alguns casos, poderão surgir novas ideias de melhoria, o que são sempre bem-vindas. Detalhe: procure sempre fazer isso contando com o apoio mais que irrestrito da direção da empresa. Com isso, além de validado, você receberá a devida legitimação perante os participantes, o que é muito bom, pois assim saberão que é algo que não representa apenas o preenchimento de formulários. 75 mencionei que é importante a legitimação, uma vez que quando as pessoas têm conhe- cimento que isso faz parte do seu trabalho no dia a dia, começam a pensar em como fazer e a levar o processo como um todo a sério. Caso isso não seja feito, complica de vez a ideia. Outros problemas são decorrentes da falta de esclarecimento ou da sensibili- zação que também comentamos. Isso fica evidente quando verificamos que os avaliado- res não reuniram informações sobre os avaliados, não sabem dar o feedback, os padrões de desempenho não estão claros o suficiente, etc. Logo, além do treinamento de sensi- bilização, recomenda-se a lógica do reforço contínuo. Procure trabalhar a comunicação interna para reforçar os principais pontos voltados para sanar os possíveis problemas. Outros pontos que costumam gerar problemas no momento de executar a avaliação de desempenho são decorrentes da própria percepção humana, pois, como já comentado, a avaliação é algo subjetivo e que deve representar aquilo que as pessoas enxergam das demais. Para esclarece melhor ao que me refiro, apresento a seguir os principais pontos, baseados na visão de alguns autores. São eles: • Efeito de Halo – de acordo com Ribeiro (2006, p. 297), é o “clima de simpatia e afinidade que se estabelece entre o avaliador e o avaliado e que leva o ava- liador a ser mais generoso”. Além disso, pode ser entendido como o efeito que gera uma distorção da percepção real de uma pessoa em função de uma característica positiva específica. Esse efeito tem uma tendência a existir nos casos em que há falta de infor- mações acerca do desempenho do trabalhador. Não obstante, esse efeito pode ser tanto positivo quanto negativo. Se for positivo, as considerações do avaliador apresentam um teor além do real. Caso seja negativo, as considerações exprimem punição. Portanto, é preciso capacitar o avaliador para que ele saiba utilizar as ferramentas e analisar as situações. • Tendência central no julgamento – acontece quando há uma classifi- cação para “todos avaliados como ‘bom’, ou seja, se as opções são ‘insuficiente’, ‘regular’, ‘bom’, ‘muito bom’ e ‘excelente’, alguns optam por conceder ‘bom’ para todos, ou atribuir conceito ao valor do meio ou central” (RIBEIRO, 2006, p. 297). • Expectativa – é quando o avaliador tem uma expectativa grande demais sobre o avaliado, que pode não gerar bons resultados e acabar sendo prejudicado. Nes- se caso, o avaliador terá que tentar separar suas “frustrações” em função daquilo que estava esperando não ter sido correspondido, após suas percepções reais. Às vezes, quando isso acontece, os avaliadores apresentam atitudes mais paternalistas, bem como os próprios avaliados costumam demonstrar atitudes mais defensivas. 76 • Complacência ou excesso de rigor – conforme destacado por Werther e Davis (1983), há pessoas que demonstram uma admirável capacidade de ser muito complacentes ou muito rigorosas. É importante que o avaliador seja justo e que se co- munique da maneira correta com o avaliado, independente das relações de poder. Agora você já sabe os principais problemas referentes à execução do proces- so de avaliação de desempenho. Tome cuidado porque eles costumam acontecer com frequência. Logo, procure trabalhar de modo a antecipá-los e, sobretudo, peque pelo excesso de cuidados, e não pela falta, pois é mais fácil consertar algo que já foi previa- mente comunicado e trabalhado do que começar tudo do zero para fazer com que as pessoas entendam as coisas em um curto período de tempo. Após a execução, deve-se tabular as respostas dadas pelos avaliadores e reunir todas as documentações que possibilitem a realização da próxima etapa, que é passar o devido feedback. O feedback é a ação de conversa pós-avaliação, de retorno. É fundamental, pois permite ajustar procedimentos, posturas e características. Quando não dado, as pessoas, além de perderem a confiança no processo de avaliação de desempenho, aca- bam ficando sem um norte corretivo, assim como continuam fazendo as coisas erradas! Conforme Reis (2000), a importância dos feedbacks é que uma vez recebidos sirvam como base para a construção de um plano de desenvolvimento pessoal ou para outras atividades contínuas sugeridas pela organização, tais como acompanhamento de forma sistemática e treinamento. Um fato corriqueiro é que os gestores não costumam se preparar para reali- zar o feedback, pelo fato de não realizarem controles periódicos de forma sistematizada. Assim, quando se deparam com o momento da avaliação estão despreparados, não conhecem os pontos fortes e fracos, e para mostrar domínio da situação adotam uma postura que demonstra excesso de rigor ou ainda uma ausência de cobrança. Essas ações, por sua vez, colocam em risco a própria avaliação, já que produz um descrédito no avaliado. Com o feedback, e não é propósito deste material ensinar a conduzir con- versas sobre desempenho com alguém, é importante focar em um produto de melhoria para o avaliado. Esse produto é o plano de treinamento, que você já viu como funciona no capítulo anterior. Veja como as coisas são interessantes. Quando pensamos em periodicidade da avaliação, temos que pensar no processo como um todo, lembra? Pois então, a reali- zaçãodo treinamento faz parte disso, de certa forma. Lógico que dependendo do tipo de treinamento e sua duração, pode acontecer de chegar a próxima avaliação e ele ainda não tenha sido concluído. Mas, nesse caso, as avaliações de resultado e de comporta- 77 mento, oriundas do treinamento, possibilitarão um primeiro indicador de verificação de mudança ou não. Reis (2000) salienta ainda que quando se fala em mudanças, as mais efeti- vas são aquelas que não demandam uma troca radical de comportamento, ou seja, as pessoas, dependendo do que for passado a elas, perceberão as coisas de uma forma e, inconscientemente, farão a avaliação custo versus benefício. Com isso, se acharem que vale a pena, que tal mudança proposta não afetará suas vidas para pior, mudam. Caso contrário, permanecem como estão. Resumo Neste capítulo, apresentamos a avaliação de desempenho e suas particulari- dades. Conforme tínhamos comentado logo no início, tratamos os conceitos norteadores, bem como os problemas mais comuns relacionados a esse processo tão importante. Vimos também as etapas constitutivas. Você aprendeu que na fase do pla- nejamento devemos decidir que tipo de avaliação se quer, quem vai avaliar, quando vai avaliar, como vai avaliar e a necessidade de preparar as pessoas para tanto. Já na fase de execução é comum surgirem erros que são oriundos da falta de postura por parte dos dirigentes das empresas, assim como pela falta de treinamento e de esclarecimento sobre o processo de avaliação. No que se refere ao feedback, deixamos claro o que deve ser feito, principal- mente o produto principal que será discutido na entrevista, que é o plano de treinamen- to, assunto já trabalhado no capítulo anterior. Por fim, abordamos paralelamente a necessidade de trabalhar a cultura da avaliação e também que o problema de desempenho, muitas vezes, não é decorrente apenas de um fator de incompetência, mas sim de questões atitudinais comuns à Gestão Estratégica de Pessoas. Certamente, as questões de foro íntimo são as que necessitam de uma maior cautela; em outras palavras, de um pensamento e análise maior, já que a ciência da Ad- ministração não é algo linear, que considera simplesmente ação e reação. 78 Atividades 1. Defina avaliação de desempenho e apresente suas etapas constitutivas. 2. Em um processo de avaliação, é comum constatarmos gestores que são rigorosos demais ou complacentes demais, fatores esses que tendem a prejudicar o processo de avaliação de desempenho. Pergunta-se: o que a empresa deve fazer para evitar esse tipo de problema? 3. O que deve ser levado em consideração para definir quem vai avaliar? Explique sua resposta, justificando os motivos. 4. Quais as diferenças entre a avaliação de desempenho quantitativa e qualitativa? Ex- plique sua resposta. 5. Qual a importância de fazer um treinamento de sensibilização para os participantes do processo de avaliação de desempenho? Deixe claro o que deve ser abordado. Justifique sua resposta. Anotações 79 TópicoS eSpeciaiS - educação a diSTância, GeSTão de coMpeTência e GeSTão do conheciMenTo Capítulo 5 80 Neste capítulo, o objetivo é abordar alguns assuntos considerados estratégi- cos na área de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas. A Educação a Distância tem apresentado um crescimento exponencial na educação formal (graduação e especialização), mas também tem sido tema de destaque quanto à educação corporativa, pois é uma forma de as organizações ofertarem conte- údo de qualidade sem restrição geográfica e de tempo para o acesso ao seu conteúdo. A gestão de competências é uma forma de gestão que está em consonância com as características da sociedade do conhecimento. Nesse sentido, as constantes mudanças tecnológicas, econômicas, científicas e demográficas influem no ambiente organizacional. Assim, há que se pensar no profissional de uma forma mais complexa, a fim de abranger o desenvolvimento dos seus conhecimentos, habilidades e atitudes, para atender aos desafios que são impostos. Em complemento a gestão de competências, existe a gestão do conhecimen- to. Nela, há um esforço sistemático por parte da organização para obter, identificar, reter, utilizar, distribuir e desenvolver conhecimento. Isto porque é considerado um capital muito valioso hoje em dia, afinal a organização para se sustentar em um ambiente com- petitivo como o atual precisa usufruir de suas potencialidades e inovar constantemente. Introdução 5.1 Enfoques Organizacionais da Gestão Estratégica de Pessoas Os assuntos que serão abordados aqui já não são mais novidade no mundo da Gestão Estratégica de Pessoas, porém o conhecimento sobre eles possibilita um en- tendimento maior dos novos rumos dessa área tão interessante da Administração. Eles contemplam a questão individual (de certa forma), mas principalmente a organizacional, que representa a referência para a gestão estratégica, contexto princi- pal deste livro. São eles: gestão do conhecimento e gestão de competências. No entanto, aproveito o espaço para contemplar o tema educação a distân- cia, por entender que ele é complementar ao processo de treinamento e desenvolvimen- to, sendo assim muito importante compreender isso sob a ótica da Administração. Outros assuntos, tais como coaching e mentoring até poderiam ser abordados, mas preferiu-se não trabalhar com isso por acreditar que estão mais focados para o con- 81 texto individual, o que não contribuiria para reforçar a essência da estratégia. Vamos lá! 5.2 Educação a Distância Você concorda que as inovações tecnológicas possibilitaram o acesso instan- tâneo às informações e, por consequência, o incremento à obtenção de novos conhe- cimentos? Pois então. Em termos de capacitação profissional, a educação a distância voltou à tona como uma alternativa acessível e prática para se obter novas competências profissionais. Como assim voltou à tona? Não é algo recente? A resposta é não! A educa- ção a distância já existe há um bom tempo no Brasil e no mundo. Porém, com a evolu- ção tecnológica, passou a ser mais utilizada, sobretudo pelas empresas. É por isso que o assunto é tão importante, pois quem trabalha com gestão estratégica de pessoas não pode deixar de pensar em utilizar a EAD nos treinamentos corporativos. Entende-se EAD como um meio de oferta, em que a separação professor- -aluno é física e temporal, e a comunicação serve como base de uma relação de com- prometimento entre as partes. Para Moore e Kearsley (apud DALMAU, 2003), educação a distância é o aprendizado planejado que normalmente ocorre em lugar diverso do professor e como consequência requer técnicas diferenciadas de planejamento de curso, técnicas instru- cionais especiais, métodos de comunicação, eletrônicos ou outros, bem como estrutura organizacional e administrativa específica. Note as expressões aprendizado planejado, técnicas instrucionais especiais, assim como estrutura organizacional e administração específica. Elas são norteadoras para que se entenda a amplitude conceitual visando à utilização da EAD em capacitações empresariais. É fato que as empresas já perceberam os benefícios da EAD para os seus pla- nos de capacitação profissional. É tão visível, que é muito comum encontrarmos compu- tadores com câmeras, homepages das próprias empresas com a intranet voltada à oferta de cursos virtuais, em alguns casos também há a oferta de videoaula em formato digital. Isso significa que haverá ou houve uma substituição ao meio presencial, tão comum para a oferta de capacitação profissional? A resposta é claro que não! Até mesmo porque, como veremos, existem pontos positivos e negativos do uso da EAD nos programas de capacitação profissional, o que faz com que nem sempre se deva utilizar a EAD, assim como nem sempre necessitamos realizar as ações presencialmente. Entre as vantagens e desvantagens da educação a distância como meio de oferta, se comparada ao meio presencial, temos os seguintes pontos: 82 • Economia de recursos e detempo – geralmente, no meio presencial é necessário pensar em uma estrutura de apoio que possibilite realizar o curso. Logica- mente, tal estrutura deverá ser compatível com as características do curso em questão, mas, de qualquer forma, ela necessita de investimentos. No caso da EAD, a situação não é diferente. Mas os investimentos para montar um curso podem ser altos no início, ou até mesmo iguais, ou menores que o meio presencial. Porém, o produto, uma vez pronto, pode ser repetido quantas vezes for necessário para um contingente muito maior de pessoas, o que proporciona economia de tempo. Detalhe: independente da tecnologia! Pois, como veremos adiante, para as capacitações empresariais existem tecnologias consideradas síncronas e assíncronas, em que o registro das informações pode ser permanente ou então acessado a qualquer momento, desde que requisitado e gravado. A economia de tempo é fruto de uma característica que foi trabalhada no capítulo sobre treinamento, quando ele é realizado fora de sede, por exemplo. Com a educação a distância, tal deslocamento não se torna necessário, economizando tempo para aproveitar melhor as instruções a serem dadas. • Acesso - nesse caso, o acesso é parte complementar ao que fora descrito no ponto anterior, tendo em vista que existem empresas que têm mais de uma unidade espalhada pela cidade, pelo estado, pelo país, e que necessitam de um determinado curso. No modelo presencial tradicional, o curso deverá ser repetido inúmeras vezes, até que a demanda total seja atendida. No caso da EAD, não necessariamente, pois existem tecnologias que permitem o acesso a centenas, milhares de pessoas. Porém, antes que fique uma dúvida quanto à questão da qualidade, salien- to: educação a distância não significa pegar o material impresso do curso e colocar as páginas em Power Point. É muito mais que isso, pode ter certeza! Existem desenhos pedagógicos/andragógicos, assim como necessita de um sistema de apoio ao estudante para que tal acesso seja o melhor possível. • Interatividade – é fruto do tipo de tecnologia que se utiliza, apesar de ser um dos pontos mais criticados, pois os modelos atuais de capacitação a distância costumam utilizar, e muito, o modelo do e-learning. Mas, o que é e-learning? Podemos falar, grosso modo, que são cursos disponibilizados na internet sem nenhum apoio de interatividade humana. Isso não é algo necessariamente bom, mas também não é de todo ruim, pois existem modelos nos quais as dúvidas, que por ventura venham a existir, possam ser sanadas mediante e-mails ou a utilização de FAQs, em português: perguntas frequentemente realizadas. 83 A interatividade, quando existente, acaba minimizando a sensação da distân- cia que é muito comum naquelas pessoas que realizam cursos EAD, com isso a troca de experiências se torna maior. Além do mais, fica uma crítica para reflexão: a interatividade com os tutores no meio presencial também não é garantida! Existem diversos casos em que as pessoas entram em sala de aula mudas e saem completamente caladas. Logo, é uma questão particular que precisa ser muito bem trabalhada para que se possa gerar todo o suporte necessário. • Aprendizado controlado e uniformidade de conteúdo – a educação a distância permite que o aprendizado seja controlado, porque o conteúdo tende a ser mais uniforme pela não necessidade de repetir inúmeras vezes em função de uma popu- lação grande demais. No meio presencial isso ocorre com frequência! É difícil ministrar uma aula exatamente igual a outra. Na EAD isso é possível, pois ela pode ter sido pre- parada antes, fornecida e assistida inúmeras vezes. No que se refere ao aprendizado controlado, a EAD permite verificar se o es- tudante está ou não fazendo as atividades previstas, pois os sistemas computadorizados geram relatórios de controle muito mais efetivos e imediatos. Não que o sistema presen- cial não permita isso, mas que os computadores auxiliam o controle, isso não há dúvidas. Ainda quanto ao aprendizado, uma vantagem da EAD em relação ao presen- cial é que existe muita coisa disponível na internet, o que tende a aumentar a amplitude de informações sobre determinado assunto. Tanto é um recurso importante que a inter- net tem sido cada vez mais um mecanismo de apoio para as aulas presenciais, o que é muito bom. Quanto às desvantagens, podemos citar as seguintes: • Socialização – a questão da socialização, em alguns casos, torna-se per- tinente, visto que o contato humano não acontece virtualmente. Já presenciei diversas situações em que a socialização foi excelente, mas ainda prevalece uma troca acanhada de experiências entre os cursistas da EAD. Mas, dependendo da tecnologia e da maneira como os tutores estimulam seus estudantes, a socialização se torna algo muito interessante de vivenciar, pois na EAD a construção coletiva do conhecimento tende a prevalecer. • A homogeneidade dos materiais instrucionais – o que para algumas pessoas é considerada uma vantagem, para outras representa uma desvantagem, sobre- tudo se influenciada pela baixa interatividade entre os participantes. No meio presencial, mediante apoio e diálogo docente, os materiais instrucionais vão sendo completados de outras maneiras, o que faz com que haja uma visão mais plural. 84 FIGURA 2 – Tendência de efetividade dos cursos a distância Fonte: Elaboração própria (2012). Analisando a figura, podemos concluir que os cursos ministrados a distância voltados para a obtenção de conhecimentos são perfeitamente executáveis, com taxa de efetividade de 100%, desde que bem realizados. Já para o desenvolvimento de habilida- des, a taxa cai para algo em torno de 50%, em que nem todas podem ser desenvolvidas a distância. No que se refere a atitudes, a taxa é zero! Por quê? Porque se já é difícil controlar as atitudes de alguém presencialmente, imagina a distância? Por isso, torna-se uma desvantagem. Comentários De todas as desvantagens apresentadas, essa é a que considero menos desvantajosa, pois qualquer coisa hoje relacionada à capacitação profissional depende das atitudes do participante. Dando continuidade, é importante que você saiba quais são os elementos mais importantes para pensar no momento da adoção ou não da EAD nas capacitações profissionais. São eles: • Os serviços administrativos – de modo geral, são mais complicados que no ensino presencial. A necessidade de controle é muito grande, tanto que o acom- panhamento da evolução do estudante deve ser feito de maneira obsessiva, para que o curso realmente dê certo. Não que no ensino presencial tal situação não deva acontecer, mas como existem as avaliações físicas, fica mais fácil controlar. Com isso, torna-se uma desvantagem a necessidade de ter várias pessoas para acompanhar vários alunos. • Complexidade de oferta de determinados tipos de curso – existem alguns tipos de curso que são adequadíssimos para serem ofertados a distância, outros não. Veja a figura a seguir e você entenderá: 85 • Estudantes – aqui entra um ponto muito delicado, pois envolve questões que devem ser ponderadas no Levantamento de Necessidades de Treinamento (LNT), tais como familiaridade com as tecnologias, disponibilidade e interesse para estudos, tempo e carga de trabalho, pois esses são considerados pontos problemáticos e muito utilizados para justificar a continuidade ou não no curso a distância. Para conhecimento, um estudante que faz um curso a distância é totalmente diferente do estudante presencial, pois necessita ter uma disciplina maior, bem como ser mais tolerante as dificuldades. Necessita também ser mais proativo, procurando buscar alternativas complementares ao seu aprendizado e isso não é algo fácil. • Tecnologias – das tecnologias utilizadas atualmente em cursos a distân- cia, podemos citar as principais: a) Treinamento Baseado em Computador (TBC) – utiliza recursos de infor- mática para o processo de ensino e aprendizagem. Exemplo: você já fez um curso de línguas porcomputador? Comprou o CD nas bancas ou livrarias? O CD é o exemplo de TBC. É interessante, porque permite que o aprendizado aconteça no ritmo do estudante e também pode ser repetido inúmeras vezes, a qualquer hora. b) Teleconferência e videoconferência – tecnologias que utilizam som e ima- gem para realizar a capacitação. A teleconferência não possibilita a interação bidirecional entre os usuários. É como se fosse assistir a um programa de televisão, se a pessoa tiver alguma dúvida, ela liga, manda e-mail ou posta mensagem via internet e a resposta vem ao vivo. Já a videoconferência é como se fosse uma aula presencial, com interação bidirecional utilizando o mesmo equipamento. É a mais utilizada hoje, pois os microcom- putadores com as webcams possibilitam esse tipo de contato. c) Internet – é considerada uma das tecnologias mais baratas e acessíveis, tornando tudo mais próximo dos usuários. Possibilita tanto um contato individualizado quanto com diversas pessoas ao mesmo tempo, em qualquer lugar. d) Material impresso – sim, ele também é uma tecnologia! É de fácil consul- ta, bem como permanente e em qualquer hora. Porém, não proporciona a interatividade, mas, quando utilizado em conjunto com outras tecnologias, costuma alavancar o apren- dizado do estudante a distância e do presencial. e) Videoaula e audioaula – tipos de tecnologias que possuem grande acei- tação nos cursos a distância, pois podem ser consultados várias vezes. Além do mais, o aluno aprende com facilidade por meio da imagem e do som, o que favorece sua adoção. • Tutores – em conjunto com os professores, os tutores são responsáveis por dar o suporte ao estudante a distância. Resolver dúvidas quanto aos conteúdos, assim como apoiar os estudos são atividades realizadas pelos tutores. A missão deles é acompanhar os estudantes, procurar estimulá-los a continuar o curso e a encontrar alternativas complementares de aprendizagem e informação. 86 • Professores – similar ao ensino presencial, os professores são responsá- veis pela elaboração do conteúdo, pela oferta dos cursos, por delinear as atividades de aprendizagem, bem como apontar os caminhos norteadores para solucioná-las. Apresentam um papel diferente do presencial, pois devem atuar com práti- cas pedagógicas compatíveis as tecnologias utilizadas. Para tanto, devem buscar sempre alternativas visando estimular os estudantes em conjunto com os tutores. Enfim, se um dia você quiser utilizar a EAD nas capacitações profissionais, saiba que existe muita coisa que deve ser pensada e levada em consideração. Não é uma decisão fácil, ainda mais pela resistência cultural que assola o país. Querendo ou não, as pessoas ainda têm uma visão de que estudar a distância é fácil, que basta apenas fingir que estuda que a instituição aprova, que a qualidade é duvidosa, pois o professor não está presente nas salas de aula, etc. É possível afirmar que os estudantes que fizeram os cursos de Administração à distância em nível nacional foram avaliados juntamente com os estudantes do ensino presencial. E sabe qual foi o resultado? Eles foram melhores. Pense nisso! 5.3 Gestão de Competências O que você entende por gestão de competências? Para responder com mais propriedade, vamos dividir o termo. Gestão é o processo de planejamento, liderança, organização e controle de recursos, sejam eles materiais, humanos, tecnológicos, sociais, legais, entre outros, para atingir determinado objetivo. É algo dinâmico e contínuo. Competências, por sua vez, representam um con- junto de conhecimentos, habilidades, atitudes e experiências que um profissional tem para realizar algo que lhe foi solicitado. Logo, a gestão de competências pode ser entendida como um processo de planejamento, organização, liderança e controle de recursos organizacionais voltados para atingir alguns objetivos específicos: gerar e manter condições para que os profis- sionais consigam obter e desenvolver novas competências no intuito de realizar, com excelência, o seu trabalho. Por que na área de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas o assunto está tão em evidência? Quais os objetivos da gestão de competências? E suas vantagens e desvantagens? De início, o assunto está em evidência porque possibilita um alinhamento entre o contexto individual e o organizacional, ou seja, sua metodologia de aplicação permite que se consiga unir duas dimensões que de certa forma são trabalhadas de maneira distintas. 87 A administração contemporânea considera que as questões estratégicas de- finidas no nível máximo das empresas devem ser traduzidas em ações para os demais níveis subsequentes. Porém, se não houver o devido alinhamento, acabam-se gerando ações desconexas, que, por sua vez, trazem resultados nem sempre desejados. Quando não há um alinhamento entre as práticas de gestão organizacionais, é comum percebermos que existe um retrabalho generalizado, o que dificulta o geren- ciamento dos recursos, ainda mais os humanos, que são mais suscetíveis a dificuldades e barreiras que costumam ser impostas no dia a dia. O trabalho com o entendimento do conceito de gestão de competências facilita a intersecção com os quatro pilares estratégicos da área de recursos humanos: as recompensas, o recrutamento e a seleção, o treinamento e o desenvolvimento e, por fim, a avaliação de desempenho. Esses pilares, de contexto mais técnico, são fundamentais por possibilitarem que uma empresa consiga focar suas exigências de entrada (recrutamento e seleção), de manutenção dos profissionais (recompensas), de aperfeiçoamento dos profissionais no intuito de criar e fortalecer as competências exigidas (treinamento e desenvolvimen- to), assim como das ações de controle e orientação profissional em função da análise dos resultados (avaliação de desempenho). A gestão das competências possibilita criar um padrão e manter a identidade organizacional definida nas ações de planejamento estratégico, pois permite que cada um dos subsistemas de RH ou Gestão de Pessoas possa ser construído, reforçando os preceitos derivados da missão, da visão e dos valores organizacionais. No método tradi- cional, tal situação não era exigida, o que na prática verificou-se um erro. As competências podem ser divididas em individuais e organizacionais. En- tende-se por competência individual as derivadas do cargo, ou seja, as características de conhecimentos, habilidades e atitudes contextualizadas ao trabalho. Já as competências organizacionais são aquelas que diferenciam uma organização das demais. Exemplo: a Apple inovou na criação do Iphone. A Microsoft inovou na elaboração de softwares e sistemas operacionais. Ambas fizeram alguma coisa, mas para que isso gerasse o re- sultado desejado, as práticas de gestão de pessoas, sem sombra de dúvida, foram bem diferentes da maioria das empresas no mundo! A figura a seguir exemplifica melhor o que queremos dizer: 88 FIGURA 3 – Desenvolvimento de competências individuais para o alcance dos objetivos organi- zacionais Fonte: Elaboração própria (2012). Nesse sentido, para que a combinação das competências individuais agregue valor, é preciso conhecer os objetivos da organização, sua missão, visão, valores, e ter um diagnóstico preciso das competências organizacionais. Caso haja mudanças, deve-se realizar as alterações no que já foi definido para conseguir a tão necessária adequação. Agora, vamos falar sobre os objetivos da gestão de competências. Para seu conhecimento, um dos objetivos é o de possibilitar o que chamamos de mapeamento de competências. O processo de mapeamento é fundamental para que se conheça bem a empresa e os profissionais que trabalham nela. Se uma empresa possuir mais de 50 funcionários, devemos mapear as com- petências de todos? A resposta é sim! Nada de trabalhar com a generalização. Uma das características da gestão de competência é a necessidade de atuar com as características contextualizadas ao trabalho que se faz de fato. Pode ser também utilizadapara o desen- volvimento de outras competências, mas isso é uma questão futura. Outro objetivo é oriundo da adoção dos resultados do mapeamento, pois, como já comentado, torna-se mais fácil pensar estrategicamente as ações a serem de- senvolvidas. Analisando a figura a seguir, você entenderá melhor a situação. 89 FIGURA 4 – Trabalhando competências Fonte: Elaboração própria (2012). Por intermédio do mapeamento de competências, o gestor conseguirá, ao final, saber exatamente quais competências não estão sendo utilizadas e que não apre- sentam nenhum diferencial para a organização e, sobretudo, para o profissional. Tam- bém terá plenas condições para determinar o que deve ser melhorado e mais utilizado. Devemos destacar que os demais objetivos da gestão de competências po- dem ser compreendidos pelos benefícios trazidos pela adoção de tal prática. Entre eles, conforme estudos de Sagi-Vela Grande (2004, p. 38), citamos: Em nível estratégico, mediante: a) Distribuição e agrupamento otimizado das ações necessárias para cobrir as atividades-chave da organização. b) Adaptabilidade e capacidade de antecipação das mudanças. Em nível de Recursos Humanos, mediante: • Estrutura mais formada, polivalente e motivada. • Redução do número de níveis da estrutura organizacional. • Cobertura dos postos em aberto mediante promoção interna. Em nível profissional (individual), mediante: • Possibilitar um crescimento profissional sustentável com conhecimento do que pode e deve ser melhorado. • Maior empregabilidade interna e externa. 90 Mais uma vez, dando continuidade às perguntas norteadoras sobre o assun- to, creio que você deve concordar que a maioria dos objetivos podem ser entendidos como vantagens. Agora, existem desvantagens também, que estão concentradas nas dificuldades encontradas no momento de aplicar a sua essência. Apesar de existirem passos que norteiam o trabalho de implementação, não há uma receita de bolo para absolutamente nada na Administração. Dessa forma, a partir do momento em que se conhece as dificuldades mais comuns oriundas da implantação das técnicas de gestão de competências, acredito que a desvantagem deixa de existir. Por outro lado, outra desvantagem é fruto do imediatismo e, infelizmente, o brasileiro é imediatista. Essa é uma técnica trabalhosa, que leva tempo. Logo, pense bem antes de fazer qualquer coisa, até mesmo porque os resultados não são imediatos! Enfim, é isso o que você precisa saber neste momento. Para comprovar que é uma técnica de gestão muito utilizada, costumo citar algumas organizações que já adotaram isso no país para exemplificar. São elas: Ministério da Justiça, Casa Civil da Presidência da República, Ministério do Trabalho e Emprego, Tribunal de Contas da União, Ministério da Fazenda, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, além de outras instituições como a Aneel, Serpro, Embrapa, Eletronorte, entre outras. 5.4 Gestão do Conhecimento O que é gestão do conhecimento? Por que esse assunto é importante para a área de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas? Essas e outras questões serão abordadas aqui para lhe dar subsídios no intuito de conhecer melhor essa prática que é muito interessante. Iniciando a explicação, vamos entender o que é conhecimento. Para Sveiby (1998, p. 43), o conhecimento pode ser entendido como “uma capacidade humana, de caráter tácito, orientado para a ação, baseado em regras, individual e em constante mu- tação”. Para Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento é como um processo dinâmico utilizado para justificar a crença pessoal em relação à verdade, produzido (ou sustenta- do) pela informação. Já para Probst (2002), conhecimento é o conjunto total, incluindo cognição e habilidades, que os indivíduos utilizam para resolver problemas, compreen- dendo teoria e prática, regras do cotidiano e instruções sobre como agir. Esses autores utilizados para explicar o que é conhecimento, além de re- ferências, publicaram obras que são consideradas fundamentais sobre o assunto. Nas definições apresentadas, alguns pontos em comum se sobressaíram, entre eles que o co- nhecimento é fruto da informação, que é orientado para a ação e está sempre mudando. Tais pontos são verdadeiros se analisarmos o conceito na ótica empresarial, pois, como já mencionado neste livro, os problemas mudam, as coisas mudam. Logo, 91 não seria adequado utilizar os mesmos conhecimentos para saná-los, porque, de certa forma, estão defasados. E são esses pontos que fundamentam o conceito de gestão do conhecimento. A gestão do conhecimento nada mais é do que o fruto de um processo de planejamento, organização, direção e controle de recursos, sejam eles humanos, in- formacionais, tecnológicos, entre outros, com o intuito de possibilitar que as pessoas possam obter, aumentar ou aperfeiçoar aquilo que já sabem e, assim, trazer o devido retorno à empresa que pertencem. Por que esse assunto é importante para a área de gestão de pessoas? Por que uma empresa tende a perder competitividade com a saída de profissionais compe- tentes e que não compartilharam o que sabiam com os demais. E quando um profissional sai sem deixar nenhum substituto a altura, as coisas tendem a permanecer estagnadas ou então a desandar. É importante também porque o conhecimento é um diferencial para uma empresa. Faz com que ela possa sair na frente e continuar na frente, desde que utilize o conhecimento para criar algo novo e necessário, que traga melhorias e que esteja em consonância com o que a sociedade em geral solicita. Tal afirmativa é tão verdadeira que existem empresas investindo pesado em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos para serem lançados no mercado. Além do mais, quem tem conhecimento, vide mercado de trabalho, permanece mais tempo na dianteira, podendo assim ganhar mais. Por fim, é importante porque permite que se saiba quais tipos de informa- ções e conhecimentos são necessários, conseguindo-se estimar melhor as decisões e estruturar melhor os sistemas nos quais é possível encontrar tais informações ou co- nhecimentos explicitados. Esses e outros fatores representam os motivos das empresas investirem em gestão do conhecimento. Os autores citados na definição conceitual do tema costumam mencionar que o conhecimento pode ser dividido em conhecimento tácito e conhecimento explícito. Para Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento tácito é aquele pessoal, específico a um determinado contexto, sendo difícil de ser formulado e transmitido. Já conhecimento explícito é aquele que está registrado de alguma forma, pois foi explicitado. Desse modo, encontra-se disponível para as demais pessoas. Os autores afirmam que a combinação de conhecimento tácito com explí- cito proporciona o que se chama de espiral do conhecimento. Lembra que na definição do conhecimento mencionamos a questão dele ser mutável? Pois então. À medida que aprendemos algo, que explicitamos para outras pessoas, nos momentos em que existem as trocas há também uma conversão e expansão dos parâmetros de conhecimento das pessoas. 92 Como forma de ilustração, apresento a seguinte figura que exemplifica o que foi comentado: FIGURA 5 – Espiral do conhecimento Fonte: Nonaka; Takeuchi (1997). A figura mostra os processos de socialização, internalização, externalização e combinação. A socialização pode ser entendida como o processo de compartilhamento de experiências diversas, por intermédio do uso da linguagem, da observação, entre outros meios. Porém, o mais importante é que a simples transferência de informações não fará o menor sentido se não estiver associada às emoções e, sobretudo, dentro de um con- texto específico. A externalização, por sua vez, é o processo no qual o conhecimento tácito é expresso por conceitos, modelos, entre outros meios que o torna explícito. A combinação é um modo de conversão que contempla a união dos conhe- cimentos que foram explicitados. É a base do aprendizado, pois gera-se o conflito com aquilo que já sabemos.Por fim, a internalização pode ser entendida como o processo de incorpora- ção do conhecimento explícito ao tácito. Dando continuidade ao assunto, o processo de gestão do conhecimento se concentra em etapas que, em primeiro lugar, necessitam de um bom diagnóstico para saber em que patamar se encontram. Posteriormente, estimam-se ações que poderão proporcionar o alcance dos objetivos propostos. 93 Entre as etapas, apresento as que foram descritas por Probst (2002), por entender que são pontuais e objetivas de se trabalhar. São elas: FIGURA 6 – Etapas/processos da Gestão do Conhecimento Fonte: Probst (2002). Sendo que: • Metas do Conhecimento – servem como referência para o desenvolvi- mento das práticas seguintes. • Identificação do Conhecimento – similar ao mapeamento das necessi- dades de treinamento, serve para saber o que é necessário em termos de conhecimento, no intuito de subsidiar decisões futuras de aquisição ou de desenvolvimento de conhe- cimentos específicos. • Aquisição do Conhecimento – solução encontrada por muitas empre- sas. Ao invés de desenvolver por conta própria as soluções, adquire de fontes externas o conhecimento necessário para a solução dos problemas. • Desenvolvimento do Conhecimento – outro tipo de solução encontra- da pelas empresas no intuito de promover o desenvolvimento próprio de soluções, ao invés de adquirir de terceiros. São práticas que dão suporte ao surgimento das inovações tecnológicas das empresas. • Distribuição do Conhecimento – uma vez que o conhecimento é ad- quirido ou desenvolvido, deve ser disponibilizado para as pessoas que precisam dele. Dessa forma, é considerada uma ação muito estratégica, pois a definição dos canais de distribuição dos dados, das informações e do próprio conhecimento é fundamental em termos de amplitude e velocidade de decisão. • Utilização, retenção e avaliação do conhecimento – como o próprio nome já diz, refere-se à obtenção do conhecimento distribuído e sua respectiva utiliza- ção. Nesse caso, inicia-se em paralelo um processo de análise/feedback para ajustar o sistema de obtenção de conhecimentos. 94 Diante dos pontos apresentados, deu para você perceber a grandiosidade de trabalho que se tem para fazer? Deu para entender por que a compreensão dessa prática é tão importante? Comentários Particularmente, acredito muito na Gestão do Conhecimento. Talvez por trabalhar com isso no meu dia a dia, percebo que é fundamental para a minimização de problemas nas empresas atualmente. Apesar de tudo, o que temos visto são práticas de gestão do conhecimento sendo realizadas sem ao menos saber que são! Isso é muito curioso. Porém, sabendo ou não, o importante é que sejam desenvolvidas soluções para agregar mais valor ao conhecimento individual e coletivo, pois a pior coisa que existe é ver que uma empresa não vai mais para frente por se manter estagnada em termos de ideias e práticas. Pense nisso! Resumo Neste capítulo, trabalhamos com os conceitos de educação a distância, ges- tão de competências e gestão do conhecimento. Conforme dito no início, são assuntos que estão voltados mais para a ques- tão estratégica da organização, pois atuam em nível macro de decisão, contemplando o nível individual, mas em conjunto com o organizacional. Dessa forma, em relação à educação a distância, vimos o conceito norteador, seus elementos constitutivos, assim como as vantagens e desvantagens de se utilizar tal modo de oferta nas capacitações profissionais. Uma coisa é certa: veio para ficar em definitivo, pois as tecnologias possibilitam e incrementam cada vez mais a questão do aprendizado. Já a gestão de competência é outra prática que também veio para ficar. Diferente de outros modismos clássicos da Administração, ela permite fazer a junção entre aquilo que a organização faz de melhor e aquilo que é decorrente disso, ou seja, a melhoria e o alinhamento das rotinas de gestão de pessoas para que elas possam, de fato, desenvolver seus trabalhos e agregar mais valor. Por fim, a gestão do conhecimento é mais uma prática muito importante, principalmente se pensarmos que as pessoas vem e vão nas organizações, muitas vezes sem deixar a sua contribuição. 95 Atividades 1. Defina educação a distância e cite suas principais vantagens e desvantagens. 2. Em relação aos elementos da educação a distância, cite e explique-os, considerando um exemplo real. 3. O que é gestão de competências? Explique esse conceito com as suas palavras, con- siderando o que foi apresentado neste material. 4. Cite e explique de que forma a gestão de competências está relacionada com o pla- nejamento estratégico. 5. O que é gestão do conhecimento? Qual o seu propósito? Explique com suas palavras. Anotações 96 97 culTura orGanizacional Capítulo 6 98 Neste capítulo, iremos descrever o que é cultura e cultura corporativa. Va- mos analisar como se inicia uma cultura organizacional e também como mantê-la. No que diz respeito à cultura de uma empresa, iremos analisar que há vários métodos de socialização. Você irá aprender sobre cada método e suas características. Além dos métodos de socialização, terá a oportunidade de analisar quais são os compo- nentes de uma cultura organizacional. Em uma empresa, a cultura que será desenvolvida por seus funcionários poderá ser forte ou fraca. Vamos analisar esses dois tipos de cultura e verificar o que podemos fazer para transformar uma cultura fraca em forte. Por fim, iremos tratar de um tema bastante importante para os nossos dias que são as fusões corporativas. Vamos refletir sobre a importância de a organização prestar muita atenção em sua cultura antes de decidir realizar uma fusão com outra cor- poração. Esse tema é de fundamental importância para você, futuro administrador, visto que administrar pessoas nunca foi nem será algo fácil e são as pessoas que dão retorno para a organização. Quanto mais motivada sua equipe estiver, muito mais retorno você terá em sua empresa. Introdução 6.1 Cultura Certamente você já deve ter ouvido falar de cultura, mas vale fazer uma distinção entre a cultura de um país e a cultura organizacional. A cultura de um país é quando nos referimos ao idioma, aos costumes, aos hábitos, etc. Por exemplo, o nosso idioma no Brasil é diferente dos habitantes do Japão, as nossas comidas são diferentes das comidas do povo indiano, os nossos hábitos são diferentes dos hábitos dos franceses e assim por diante. Assim como temos as diferenças entre um país e outro, as quais chamamos de diferenças culturais, o mesmo acontece com as organizações. Cada organização foi criada ou fundada por uma pessoa diferente e que possuía determinados costumes. Esses costumes são arraigados nas organizações e a partir do momento em que as or- ganizações crescem e mais pessoas são contratadas, esses novos funcionários também vão se adaptando aos costumes já existentes dentro da organização. Em outras palavras, podemos dizer que os costumes e as tradições desen- volvidos em uma organização e existentes nos dias de hoje estão relacionados à origem 99 da empresa ou podemos dizer que a origem da organização nos remete aos fundadores dela. Sendo assim, os fundadores exercem um papel importante na cultura inicial da empresa, pois são eles que possuem a visão de como ela deve ser e como eles querem que ela seja. 6.1.1 Conceito de Cultura Vamos entender o significado da palavra cultura para que possamos continu- ar abordando este tema. Originalmente o termo “cultura” tem a sua raiz no latim colere, cultus. Nesse sentido, temos a cultura de abelhas, de bactérias, etc. Para o nosso estu- do, iremos considerar cultura referindo-se ao ser humano e como ele encara o mundo e o sentido da vida (MARRAS, 2011). Para entendermos melhor, vamos considerar o conceito proposto por Schein (2007, p. 29): A cultura é propriedade de um grupo. Onde quer que um grupo tenha bastante experiência em comum, começa a se formar uma cultura. É possível encontrarculturas em níveis de pequenos times, famílias e gru- pos de trabalho. A cultura também surge em departamentos, grupos funcionais e outras unidades organizacionais que tenham uma essência ocupacional e uma experiência comuns. Analisando a ideia de Schein (2007), podemos compreender, por exemplo, que temos várias culturas no Brasil. É fácil entendermos isso. As pessoas que residem no estado de São Paulo possuem uma cultura diferente daquelas que moram na Bahia. Podemos começar mostrando a diferença pela língua falada. Os paulistas falam de uma maneira diferente dos baianos, os vocabulários de ambos contêm expressões diferentes, a comida típica é diferente, no estado de São Paulo temos o Carnaval como uma gran- de festa popular, enquanto na Bahia há muitas outras festas populares voltadas para a religião, tais como: festas juninas, festas dos reis, festa do Bonfim e outra infinidade de festas. Vamos analisar mais alguns conceitos de cultura? Confira o quadro a seguir: QUADRO 7 – Conceitos de Cultura A cultura é fundamental para a compreensão de diversos valores morais e éticos que guiam nosso comportamento social. Entender como esses valores se internalizaram em nós e como eles conduzem nossas emoções e a avaliação do outro, é um grande desafio. Cultura – é o conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo. É o meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência, transformando a realidade. Cultura – é um processo em permanente evolução, diverso e rico. É o desenvolvimento de um grupo social, uma nação, uma comunidade; fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento de valores espirituais e materiais. É o conjunto de fenômenos materiais e ideológicos que carac- terizam um grupo étnico ou uma nação (língua, costumes, rituais, culinária, vestuário, religião, etc.), estando em permanente processo de mudança. Fonte: Portal Orixás (2012). 100 Como você pôde perceber, a cultura faz parte das pessoas, dos países e das organizações. Mas o que nos interessa e que vamos tratar neste capítulo é sobre a cultura organizacional. Conforme visto até aqui, são as pessoas que dão vida a uma organização, que, por intermédio da sua capacidade intelectual, fazem com que uma empresa seja competitiva perante as demais. Quando falamos de cultura organizacional, estamos falando da maneira de agir de pessoas em uma determinada organização. Para aprofundar esse assunto, vamos ao nosso próximo tópico que trata exatamente sobre cultura organizacional. 6.1.2 Cultura Organizacional Se cada povo tem sua própria cultura, na organização não é diferente. Con- forme visto anteriormente, cada organização possui sua própria cultura, ou seja, em cada local a maneira de agir dos funcionários é diferente. Em outras palavras, podemos dizer que as organizações têm culturas que dirigem a maneira como seus membros de- vem se comportar dentro da empresa. Vamos compreender, então, o que é cultura organizacional, começando pelas suas definições. QUADRO 8 – Conceitos de Cultura Organizacional Autores Conceitos de Cultura Organizacional Schein (2007 apud MARRAS, 2000, p. 290) Modelo de pressupostos básicos que um grupo assimilou na medida em que resolveu os seus problemas de adaptação ex- terna e integração interna e que, por ter sido suficientemente eficaz, foi considerado válido e repassado aos demais mem- bros como a maneira correta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. Robbins (2001, p. 288) Cultura organizacional é um sistema de significados partilha- dos pelos membros de uma organização, distinguindo-a das outras. Robbins (2002, p. 503) Cultura é a argamassa social que ajuda a manter a organi- zação coesa, fornecendo os padrões adequados para aquilo que os funcionários vão fazer ou dizer. A cultura serve como sinalizador de sentido e mecanismos de controle que orienta e dá forma às atitudes e comportamentos dos funcionários. Schein (1992) Cultura organizacional é um padrão de assuntos básicos compartilhados que um grupo aprendeu como maneira de re- solver seus problemas de adaptação externa e integração in- terna, e que funciona bem a ponto de ser considerado válido e desejável para ser transmitido aos novos membros como a maneira correta de perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas. Araújo (2006, p. 308) É o conjunto de valores, crenças e padrões de comportamen-to que formam o núcleo de identidade de uma organização. Fleury e Fischer (1996, p. 293) É o conjunto de valores e pressupostos básicos, expressos em elementos simbólicos que, em sua capacidade de orde- nar, atribuir significações, construir a identidade organizacio- nal, tanto agem como elemento de comunicação e consenso como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação. 101 Robbins (2002, p. 498), Rob- bins e Coulter (1998, p. 47) É uma percepção comum compartilhada pelos membros de uma organização; um sistema de valores compartilhados. In- divíduos percebem a cultura da organização com base no que eles veem ou ouvem dentro da organização. É um termo descritivo. Ele se refere a como os membros per- cebem a organização e não se eles gostam ou não dela. Ele descreve em vez de avaliar. Schermerhorn et al. (1999, p. 196) É o sistema de ações, valores e crenças compartilhado que se desenvolve numa organização e orienta o comportamento dos seus membros. Wagner III e Hollenbeck (1999, p. 367) É uma maneira informal e compartilhada de perceber a vida e a participação na organização, que mantém seus membros unidos e influencia o que pensam sobre si mesmos e seu trabalho. Stoner (1999) Cultura é a experiência que o grupo adquire à medida que resolve seus problemas de adaptação externa e integração interna, que funciona suficientemente bem para ser conside- rada válida. Portanto, essa experiência pode ser ensinada aos novos integrantes como forma correta de perceber, pensar e sentir-se em relação a esses problemas. Fonte: Elaboração própria (2012). Analisando os conceitos dos principais autores que tratam sobre o tema cul- tura organizacional, podemos perceber que são unânimes ao dizer que a cultura nada mais é do que um conjunto de valores e crenças compartilhados entre um grupo de pessoas ou, no nosso caso, entre os funcionários de uma organização. Agora que sabemos o que é cultura organizacional é hora, então, de conhe- cermos como uma cultura se inicia dentro de uma organização. Vamos lá! 6.1.2.1 Início de uma Cultura Organizacional A cultura de uma empresa não surge do nada. Inicia-se com o fundador da empresa e, uma vez estabelecida, raramente se desfaz. Os costumes, as tradições e a maneira geral de fazer as coisas em uma organização dependem muito do que foi feito antes e do grau de sucesso alcançado. São os fundadores de uma empresa os responsá- veis pelo principal impacto sobre a cultura inicial da organização. Somente eles têm uma visão daquilo que a organização deve ser (ROBBINS, 2002). Para que você possa entender como se inicia uma cultura dentro de uma or- ganização, Robbins (2002) divide esse processo de criação em três maneiras diferentes: • Levando em consideração que os fundadores são as pessoas que dão início a cultura de uma empresa quando a colocam em operação, o próximo passo é contratar e manter funcionários que pensem e sintam da mesma forma que os funda- dores. Nesse caso, quando um novo funcionário é contratado, ele passa por um período de adaptação, ou seja, está se adaptando a cultura da nova empresa. Imagine que você tenha trabalhado cinco anos em uma determinada empresa e depois mudou. Nesses cinco anos, você se adaptou aos costumes e tradições do ambiente anterior. Ao trocar 102 de emprego, levou com você esses costumes e tradições. Chegando a nova empresa, irá perceber que eles são diferentes. Assim, terá que se adaptar a nova realidade. • Em um segundo momento, os fundadores doutrinam e socializam os fun- cionários recém-contratados de acordo com sua formade pensar e sentir. • Por último, o comportamento dos fundadores funciona como um modelo, encorajando os funcionários a se identificarem com ele; dessa forma, introduzindo seus valores, convicções e premissas. FIGURA 7 – Processo de criação de uma cultura Fonte: Adaptado de Robbins (2002). Você deve estar se perguntando: qual a importância dos fundadores em uma organização? É simples! Quando uma empresa tem sucesso, a visão dos seus fundado- res passa a ser vista como o principal determinante desse sucesso e a personalidade dos fundadores torna-se parte integrante da cultura da organização. O fundador de uma organização exerce muita influência dentro de uma em- presa. Para que você possa identificar isso, convido a assistir ao filme sugerido. Vídeo Filme: A Roda da Fortuna Atores principais: Tim Robbins, Jennifer Jason Leigh, Paul Newman, Charles Durning, John Mahoney e Bill Cobbs. Sinopse: De maneira totalmente inesperada e bizarra, Waring Hudsucker, presidente das su- perlucrativas Indústrias Hudsucker, comete suicídio se atirando do alto do seu próprio edifício. Ainda atordoada pelo acontecimento, a junta de diretores da empresa, coman- dada pelo inescrupuloso Sidney Mussberger, tem uma ideia brilhante: colocar um idio- ta qualquer na presidência da Companhia e fazer o preço das ações despencar, para depois comprar tudo de volta a preço de banana. O ingênuo e idealista Norville Barnes seria o perfeito “testa de ferro” para o plano, mas ninguém contava com a desconfian- ça da repórter Amy Archer, que começa a perceber que há algo de podre no reino da 103 A partir do momento que uma cultura é iniciada, ela também deve ser man- tida. Mas, como fazer isso? Vamos descobrir! 6.1.2.2 Mantendo a Cultura Depois que uma cultura foi estabelecida, há práticas e políticas dentro da organização que visam mantê-la, dando aos funcionários um conjunto de experiências similares. As práticas mais comuns são: • O processo de seleção: deve-se procurar selecionar pessoas que possuem o perfil desejado pela empresa e que apresentam características flexíveis a mudanças. Podemos dizer que a organização necessita selecionar pessoas que sejam resilientes. Parada Obrigatória A pessoa resiliente é aquela que sofre crises, enfrenta mudanças ou situações de forte estresse e consegue “dar a volta por cima”, transformando sofrimento em competência (PIOVAN, 2011, p. 18). Resiliência significa a capacidade de responder de forma mais consistente aos desafios e dificuldades; de reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação diante de desafios e circunstâncias desfavoráveis; de ter uma atitude otimista, positiva e perseverante e mantendo um equilíbrio dinâmico durante e após os embates (TAVARES, 2001, p. 50). • Os critérios de avaliação de desempenho: ao realizar a avaliação de de- sempenho dos funcionários, a organização deverá ter muito bem estabelecido os crité- rios que serão usados e que devem vir ao encontro dos desejos da organização. • As atividades de treinamento e desenvolvimento de carreira: para que um funcionário venha tornar-se um capital intelectual dentro da empresa, ele deve ser capacitado, treinado e desenvolvido. As atividades devem ser realizadas de maneira que venham facilitar a mudança de cultura das pessoas que foram contratadas para desen- volver uma função dentro da organização. • Os procedimentos de promoção: asseguram que os contratados se ajus- tem à cultura. Hudsucker. Magnífica comédia satírica dos irmãos Ethan e Joel Coen, premiada pela Associação dos Críticos de Londres e selecionada para concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes (FORMADOR, 2012). 104 Essas são as práticas que podem ser utilizadas para que uma organização tenha condições de manter a cultura original. Ainda para manter a cultura de uma em- presa, podemos citar três forças que exercem um papel importante: • Seleção: o objetivo explícito do processo de seleção é identificar e contra- tar indivíduos que tenham o conhecimento, as habilidades e as capacidades necessários para o desempenho bem-sucedido das atividades dentro da organização. Além disso, procura detectar no processo de seleção pessoas que possuem valores consistentes com os da organização ou ao menos parte deles. • Dirigentes: as ações dos dirigentes também têm um grande impacto sobre a cultura da organização. Pelo próprio comportamento, os altos executivos esta- belecem normas que se espalham pela organização, sobre aspectos como quais riscos devem ser assumidos, quanta liberdade deve ser concedida aos funcionários, qual a forma correta de se vestir, quais ações podem se reverter em recompensas, etc. • Socialização: para ajudar os funcionários na adaptação da nova cultura, as organizações desenvolvem o processo de socialização. A fase mais crítica desse pro- cesso é o momento de entrada na organização, pois é quando a empresa tenta moldar o novo funcionário. Após essa fase, a organização continuará socializando seus funcioná- rios durante toda a sua carreira na empresa, embora de maneira menos explícita. Essa manutenção contribui para a sustentação da cultura organizacional (ROBBINS, 2002). FIGURA 8 – Práticas para manter a cultura Fonte: Adaptado de Robbins (2002). 105 FIGURA 9 – Forças para manter a cultura de uma empresa Fonte: Adaptado de Robbins (2002). São essas as três forças que podem ser utilizadas para manter a cultura de uma organização. Aplicando essas forças, a empresa transmitirá os princípios dos seus fundadores aos novos colaboradores da organização. Quer saber mais sobre o poder que uma cultura exerce nas pessoas? O filme a seguir é uma boa sugestão para que você possa compreender ainda mais. Vídeo Filme: A Firma Principais atores: Tom Cruise e Gene Hackmann. Sinopse: Tom Cruise, na mais eletrizante performance de sua carreira, estrela esse filme intenso e envolvente, baseado no famoso best-seller. Cruise é Mitch McDeere, um brilhante e ambi- cioso advogado recém-formado em Harvard. Decidido a apagar seu passado pobre, Mitch emprega-se em uma pequena, mas próspera firma de advocacia na cidade de Memphis. Da noite para o dia, ele e sua esposa passam a ter um estilo de vida que jamais sonharam. Mas quando o FBI apresenta evidências de corrupção e assassinato envolvendo a firma, Mitch resolve descobrir a verdade, enfrentando uma cruzada de fogo entre o FBI, a Máfia e uma força que não se deterá diante de nada para proteger seus próprios interesses: A Firma (FORMADOR, 2012). 106 6.1.2.2.2.1 Métodos de Socialização Por mais bem feito que tenha sido e por mais eficaz que sejam os resultados do recrutamento e da seleção do novo funcionário da organização, ele precisa ser sociali- zado, ou seja, precisa se adaptar a cultura da organização da qual ele agora faz parte. O novo funcionário deve ser aceito pelos outros funcionários e fazer parte do grupo como uma pessoa de confiança. Há várias maneiras de socializar o novo funcionário: QUADRO 9 – Opções de socialização do ingressante So ci al iz aç ão Formal ou informal. Na socialização formal, o novo funcionário irá rece- ber treinamento específico para o desenvolvimento de suas atividades. Em alguns casos, o ingressante ficará com outro profissional orientando seu trabalho até que não seja mais necessário. A socialização informal coloca o novo funcionário diretamente no seu cargo, com pouca ou nenhuma atenção especial. Individual ou coletiva. Os novos membros podem ser socializados indi- vidualmente, como acontece em diversos cargos especializados, ou coleti- vamente, quando são agrupados e desenvolvidos por um conjunto idêntico de experiências, como em um campo de treinamento militar. Fixas ou variáveis. Referem-se ao prazo no qual os recém-chegados efe- tuam a transição de fora para dentro da organização. Um prazo fixo esta- belece etapas padronizadas de transição, como nos programas cíclicos de treinamento e períodos de experiência. Tais como o status de “associado”, de oito a 10 anos, utilizado porempresas contábeis e jurídicas antes de decidir se um candidato será sócio. Os prazos variáveis não oferecem ne- nhuma notificação prévia de seu período de transição; descrevem o sistema típico de promoção, no qual o indivíduo não avança para a etapa seguinte até que esteja “pronto”. Sequencial ou aleatória. A socialização sequencial caracteriza-se pelo uso de modelos de papéis que treinam e encorajam o recém-chegado, como nos programas de aprendizagem e orientação. Na socialização ale- atória, retiram-se deliberadamente os modelos de papéis, deixando que o novo funcionário descubra as coisas por si mesmo. Investidura ou destituição. A socialização de investidura supõe que as qualidades e qualificações do recém-chegado são ingredientes necessários para o sucesso no cargo e, por isso, essas qualidades e qualificações são confirmadas e apoiadas. A socialização de destituição tenta despojar certas características do recruta. “Compromissos” de fraternidade e irmandade pas- sam pela socialização de destituição para conformá-los ao papel adequado. Fonte: Robbins (2001, p. 301). Há vários métodos de socialização organizacional que podem ser utilizados para socializar o novo funcionário e cada empresa deverá aplicar aqueles métodos que acredita que dão os melhores resultados. Entre os métodos citados por Chiavenato (2004), os principais são: • Processo seletivo: quando a empresa verifica que há a necessidade de contratar mais um funcionário para o seu quadro, a socialização poderá começar já na entrevista de seleção. Será o momento quando o candidato conhecerá o ambiente onde 107 irá desenvolver suas atividades. Na entrevista, o futuro funcionário saberá qual a cultura predominante na organização, sobre os seus colegas de trabalho, o estilo de administra- ção existente na empresa, as atividades que a empresa desenvolve, o estilo do gerente, as recompensas que poderá ter pelo seu bom desempenho e até mesmo os desafios a serem enfrentados. • Conteúdo do cargo: assim que o funcionário for contratado e que co- meçar a desenvolver suas atividades na organização, ele deverá receber tarefas que sejam estimulantes e que possam oferecer confiança para o seu sucesso. Com o tempo, outras atividades mais desafiadoras e complicadas podem ser passadas. Você deve estar se perguntando: qual a importância dessa atitude adotada pela empresa? É simples! Quando um funcionário tem sucesso no desenvolvimento de atividades simples, ele es- tará também se preparando para as atividades mais complicadas. Essa atitude faz com que os funcionários internalizem altos padrões de desempenho e expectativas positivas a respeito de recompensas resultantes do seu desempenho excelente. • Supervisor como tutor: outro método que pode ser utilizado é o funcio- nário ligar-se a um tutor, que será a pessoa responsável por apresentar o novo funcio- nário a todos na organização. Essa atitude é muito importante para o recém-contratado, pois para ele o supervisor que será seu tutor representa o ponto de ligação com a or- ganização e a imagem da empresa. Nesse caso, caberá ao tutor acompanhar e orientar durante o período inicial na organização. A atitude que o tutor tiver nessa fase será mui- to importante para o funcionário, pois quando há eficiência na recepção e condução do recém-chegado, a organização tende a ser visualizada positivamente; caso contrário, o funcionário tende a diminuir suas expectativas, o que reflete negativamente no conceito que ele tem da empresa. Faz parte das obrigações do tutor junto ao seu novo funcionário: • Transmitir uma descrição clara da tarefa a ser realizada. • Proporcionar todas as informações técnicas sobre como executar a tarefa. • Negociar com o novo funcionário as metas e resultados a alcançar. • Proporcionar o feedback adequado sobre o seu desempenho na realiza- ção das atividades dentro da organização. Grupo de trabalho: a integração do novo funcionário deve ser atribuída a um grupo de trabalho que possa provocar nele um impacto positivo e duradouro. Não podemos nos esquecer de que os grupos acabam exercendo uma forte influência sobre as crenças e as atitudes nos novos funcionários. Programa de integração: é importante que a organização ofereça ao novo membro um programa formal e intensivo de treinamento inicial, familiarizando-o com a linguagem usual da organização, tais como os usos e costumes internos, a estrutura da organização, os principais produtos e serviços, a missão da empresa e os objetivos organizacionais. 108 Você notou a importância de realizar a socialização do novo funcionário? A socialização organizacional constitui o esquema de recepção e de boas-vindas aos novos participantes. É por intermédio da socialização que o novo funcionário será moldado para ter um bom relacionamento com a organização. FIGURA 10 – Métodos de socialização organizacional Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004). Como você pôde verificar, um programa de socialização é utilizado para que o novo funcionário possa fixar a cultura existente na organização. Toda a cultura adqui- rida pelo funcionário na sua antiga empresa deve ficar para trás, ele deve se adaptar a sua nova empresa, que possui uma cultura diferente. De acordo com Chiavenato (2004), os principais itens de um programa de socialização são: QUADRO 10 – Principais itens de um programa de socialização Assuntos organizacionais 1. A missão e os objetivos globais da organização. 2. As políticas e diretrizes da organização. 3. A estrutura da organização e suas unidades organizacionais. 4. Produtos e serviços oferecidos pela organização. 5. Regras e procedimentos internos. 6. Procedimentos de segurança no trabalho. 7. Arranjo físico e instalações que o novo membro irá utilizar. Benefícios oferecidos 1. Horário de trabalho, de descanso e de refeições. 2. Dias de pagamento e de adiantamento salariais. 3. Programa de benefícios sociais oferecidos pela organização. Relacionamento 1. Apresentação aos superiores e aos colegas de trabalho. 109 Fonte: Chiavenato (2004, p. 179). Quando todas essas informações são transmitidas ao novo membro da equi- pe, a chance de adaptação e socialização do funcionário é bem maior. Além do programa de socialização que deve ser oferecido ao novo funcionário, muitas empresas oferecem também um manual do empregado. O manual deve conter informações de interesse do funcionário. QUADRO 11 – Manual do empregado de uma organização Mensagem de boas-vindas História da organização O negócio da organização Você e o seu futuro O que você precisa conhecer Quais são seus benefícios Benefícios especiais para você Horário de trabalho Períodos de descanso Ausências do trabalho Registros e controles Dias de pagamento Prevenção de acidentes Utilização de telefones Supervisão Locais de trabalho Locais de utilização e movi- mentação Férias e descanso semanal Feriados Seguro de vida em grupo Assistência médico-hospitalar Estacionamento e transporte Programas de treinamento Plano de sugestões Planos de seguridade social Serviço social Sindicato Planos educacionais Restaurante e café Grêmio recreativo Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004, p. 179). Conforme você pôde perceber, o manual serve como um guia para o novo funcionário. Por intermédio dele, o novo membro ficará sabendo sobre os seus direitos e deveres dentro da organização. De acordo com Robbins (2002), há sete características básicas que, em con- junto, captam a essência da cultura de uma organização, a saber: • Inovação e Ousadia: refere-se ao grau de incentivo para que os funcio- nários sejam inovadores e saibam correr riscos em suas tomadas de decisões. • Atenção aos detalhes: refere-se ao grau em que os funcionários de- monstram precisão, análise e atenção aos detalhes. • Busca de resultados: refere-se ao grau em que a administração se con- centra mais em resultados ou efeitos dos resultados sobre o pessoal da organização. • Concentração nas pessoas: refere-se ao grau em que as atividades de trabalhosão organizadas mais em torno das equipes do que em torno de indivíduos. Nesse caso, valoriza-se o trabalho em equipe dentro da organização. Deveres do novo participante 1. Responsabilidades básicas confiadas ao novo funcionário. 2. Visão geral do cargo. 3. Tarefas. 4. Objetivos do cargo. 5. Metas e resultados a alcançar. 110 • Agressividade: mostra o grau em que as pessoas são mais agressivas e competitivas do que contemporizadas. • Estabilidade: mostra o grau em que as atividades organizacionais enfati- zam a manutenção do status quo em oposição ao crescimento. Saiba Mais O termo status quo é originário do termo diplomático in statuo quo ante bellum que em português significa “no estado em que estava antes da guerra”. Se você escrever: “Se- gundo o status quo”, é o mesmo que: “segundo a situação ou momento atual”. “Man- ter o estado atual das coisas”. De forma geral, em documentos e textos emprega-se a expressão “manter o status quo”. Se você pretende mudar tal situação, você pretende mudar o status quo. Fonte: Rebouças (2009). FIGURA 11 – Características que captam a essência de uma organização Fonte: Adaptado de Robbins (2001). Cada uma dessas características varia muito de uma organização para ou- tra, resultando num quadro complexo da cultura organizacional. Tanto as organizações quantos os indivíduos que fazem parte delas diferem entre si. Apesar de os indivíduos possuírem diferentes formações ou trabalharem em diferentes níveis na organização, eles tendem a descrever a cultura da organização de maneiras similares (ROBBINS; COULTER, 1998). Esses pontos são desenvolvidos dentro de uma organização com o passar dos anos. Isso acontece naturalmente no dia a dia. Claro que as pessoas que exercem cargos de confiança podem influenciar nesses pontos de forma a aumentar ou até mes- mo diminuir essa essência dentro da empresa. Agora que já sabemos como nasce uma cultura e como podemos mantê-la em uma organização, é hora de mostrarmos como podemos transmitir a cultura para os funcionários. 111 Existem muitas maneiras pelas quais a cultura pode ser transmita aos fun- cionários da empresa. As mais eficazes, segundo Robbins (2001) e Marras (2011), são: • Histórias: com certeza, você já ouviu funcionários mais antigos contar histórias sobre a organização. São histórias sobre o início da empresa, que começou com o proprietário e poucos ajudantes e hoje possui centenas de funcionários, ou que o pre- sidente atual da empresa já foi o office boy em décadas anteriores. Também é comum ouvir histórias sobre como o presidente trata seus clientes e funcionários, as quebras de regras ocorridas na empresa, os cortes de funcionários, as recolocações e disputas. • Rituais: são sequências repetitivas de atividades que expressam e re- forçam os valores fundamentais da organização, as metas e pessoas importantes e as estrategicamente dispensáveis. Os funcionários ganham presentes por terem atingido as metas e isso demonstra a todos que eles são valiosos para a organização. Os rituais ainda podem ser divididos em: n Ritos de passagem: facilitam a mudança de posição de status ou ainda tarefas dos indivíduos da organização. n Ritos de degradação: ocorrem quando a empresa necessita demitir ou aposentar alguns dos seus funcionários. n Ritos de integração: ocorrem quando a empresa contrata novos funcio- nários. Marcam a integração dos novatos com os demais da empresa. n Ritos de esforço: são as celebrações de êxito. n Ritos de renovação: dão o sentido de amadurecimento e construção da- quilo que está sendo realizado na empresa, ou seja, as melhorias que ocorrem no local. Você pôde observar que os ritos servem para eventos que marcam datas importantes da organização. Mas eles não são os únicos, há ainda os símbolos materiais da organização. Vejamos: • Símbolos materiais: muitas organizações manifestam suas culturas por intermédio de símbolos materiais, que podem ser: a roupa dos colaboradores, a deco- ração do ambiente interno da empresa, os automóveis concedidos aos altos executivos, aviões oferecidos, etc. • Valores: são crenças e conceitos que moldam o contorno cultural de um grupo, estabelecendo padrões de comportamento, de avaliação e de imagem. Em uma organização, o sistema de valores baliza e demonstra claramente quais as prioridades e os caminhos que a empresa normalmente deseja seguir na busca dos seus objetivos. Os valores ajudam a transformar as atividades rotineiras em ações efetivas e importantes, ligam os valores da corporação aos valores importantes da sociedade e podem ser uma fonte de vantagem competitiva. • Mitos: são figuras imaginárias, geralmente oriundas da interpretação de fatos não concretos e que são utilizadas para reforçar crenças organizacionais com o 112 intuito de manter certos valores históricos. São crenças não confirmadas e não declara- das, que são aceitas sem qualquer análise. Um exemplo de mito é a afirmativa “a nossa empresa é uma grande família”. Os mitos são renovados constantemente por meio dos ritos, motivo pelo qual acontecem mais de uma vez. • Tabus: no processo cultural os tabus têm a função de orientar comporta- mentos e atitudes, principalmente focando questões de proibição, ou não bem vistas, ou não permitidas. Por exemplo: questões raciais, religiosas, presença indesejada de mulheres, etc. • Símbolos: um símbolo cultural é qualquer objeto, ato ou evento que sirva para transmitir um significado cultural encontrado nas organizações. • Cerimônias: exemplificam e reforçam importantes normas e valores cul- turais, incorporando vários ritos, atividades cerimoniais destinadas a transmitir determi- nadas mensagens ou a realizar propósitos específicos. • Linguagem: as organizações utilizam a linguagem para identificar os membros de uma cultura. Quando aprendem a linguagem, os membros atestam sua aceitação da cultura e ajudam a preservá-la também. Com o tempo, as organizações criam termos exclusivos para descrever equipamentos, escritórios, pessoal-chave, forne- cedores, clientes ou produtos ligados às suas atividades. FIGURA 12 – Componentes da cultura organizacional Fonte: Adaptado de Robbins (2001) e Marras (2011). Você aprendeu que as histórias, os rituais, os símbolos materiais e a lingua- gem são formas de transmitir a cultura aos colaboradores, agora é hora de sabermos um pouco mais sobre esses meios. 113 Portanto, convido você a assistir ao vídeo indicado a seguir, baseado no filme “Senhor das Moscas”, que conta a história de um grupo de crianças que sofreu um nau- frágio e foi obrigado a morar sozinho em uma ilha deserta. O vídeo ajudará a entender como se desenvolvem as crenças em um grupo e como podem ser disseminadas. Mostra ainda a relação entre as crianças por intermédio dos rituais e símbolos, o que também acontece na organização. Midiateca Assista ao Vídeo 1 – Senhor das Moscas, disponibilizado na Midiateca, e procure detec- tar as maneiras como as crenças são desenvolvidas. Agora que já tratamos sobre os componentes da cultura organizacional, pre- cisamos entender que a cultura organizacional é um sistema de significados comuns que são partilhados pelos funcionários, ou seja, esse sistema é um conjunto de característi- cas valorizado pela organização. 6.1.2.3 Componentes da Cultura Organizacional Segundo Schein (2007), a cultura apresenta em sua composição três dife- rentes níveis, sendo eles: • Artefatos: é o nível mais fácil de observar quando se entra em uma orga- nização. Visível e superficial pode ser definido como coisas concretas, ouvidas, sentidas ou vistas ao se deparar com a organização. Incluem os produtos, serviços e os padrões de comportamento dos membros de uma organização. Da próxima vez que tiver a opor- tunidade de ir ao escritório de uma organização, preste atenção como as pessoas estão vestidas, como elas se comportam, o que estão falando, a maneira como falam e, por fim, o que é importante para elas. Percebe-se imediatamente que organizaçõesdife- rentes agem de forma diferente. Nesse nível, a cultura é muito clara e tem um impacto emocional imediato. • Valores casados: justificativas aceitas por todos os membros. São valores relevantes que se tornam importantes para os colaboradores, em que se justificam os atos cometidos dentro da organização. • Certezas tácitas compartilhadas: íntimas e ocultas, elas são as crenças inconscientes, sentimentos, etc. Nem sempre são escritas, muito menos faladas, sendo detectadas por meio de percepções. Provêm da história da empresa, dos seus valores, crenças e certezas dos fundadores e dos líderes que a tornaram bem-sucedida. A es- sência da cultura são esses valores, crenças e certezas aprendidas em conjunto, que são compartilhados e tidos como corretos à medida que a organização continua a ter sucesso. A figura a seguir mostra como se deve compreender e administrar seus níveis mais profundos. 114 FIGURA 13 – Os três níveis da cultura organizacional Fonte: Adaptado de Schein (2007, p. 32). Já outros autores, tais como Schermerhorn et al. (1999), tratam os níveis da cultura organizacional como sendo: • Cultura observável: refere-se à forma pela qual “fazemos as coisas por aqui”. Representa os métodos que o grupo criou em seu dia a dia na organização e que com o tempo acaba sendo ensinado aos novos funcionários que vão entrando na em- presa. A cultura observável inclui histórias únicas, cerimônias e rituais corporativos que contam a história de um grupo de trabalho bem-sucedido. • Valores compartilhados: podem desempenhar um papel importante na ligação entre as pessoas e podem ser um poderoso mecanismo de motivação para os membros dessa cultura. As organizações devem desenvolver uma série dominante e coerente de valores compartilhados. O termo compartilhado quer dizer que o grupo é um todo. Cada um dos membros pode discordar dos valores compartilhados, mas todos tiveram contato com eles e ouviram com frequência que eles são importantes. • Suposições comuns: é o nível mais profundo da análise cultural, em que se encontram as suposições comuns ou as verdades implícitas que o conjunto dos mem- bros da corporação compartilha em decorrência da experiência conjunta. Embora esses padrões sejam muito difíceis de serem isolados, quando conseguido, ajuda a explicar por que a cultura invade todos os aspectos da vida organizacional. 115 FIGURA 14 – Níveis de análise cultural Fonte: Schermerhorn et al. (1999, p. 199). O conceito de cultura com múltiplos níveis torna claro que a cultura é com- plexa e deve ser analisada em cada nível antes de ser compreendida. O maior risco em se trabalhar com a cultura é o de supersimplificá-la e perder várias facetas básicas im- portantes, tais como: • A cultura é profunda: se tratar a cultura como um fenômeno superficial, se acreditar que ela pode ser manipulada e ainda mudá-la quando quiser; com certeza, ninguém conseguirá. Além do mais, a cultura controla mais os indivíduos do que os indi- víduos controlam a cultura. Quando o indivíduo aprende o que funciona, ele desenvolve crenças e certezas que no final saem da consciência e se tornam regras tácitas de como fazer as coisas, como pensá-las e como senti-las. • A cultura é ampla: quando um grupo aprende a sobreviver em seu am- biente, ele aprende todos os aspectos de seus relacionamentos internos e externos. Formam-se crenças e certezas sobre a vida diária, sobre como lidar com o chefe, que tipo de atitude ter com relação aos clientes, a natureza de sua carreira dentro da orga- nização, o que é preciso para seguir em frente, quais são as questões sagradas e assim por diante. Decifrar a cultura pode ser uma tarefa infinita. • A cultura é estável: os membros de um grupo querem se agarrar a suas certezas culturais porque a cultura dá um sentido à vida e a torna previsível. Os seres humanos não gostam de situações caóticas e imprevisíveis, por isso trabalham para estabilizá-las e normalizá-las. Por esse motivo, qualquer possível mudança de cultura cria grande ansiedade e resistência. Se quiser mudar algum elemento da cultura, o in- divíduo deve reconhecer que estará atacando algumas das partes mais estáveis de sua organização. Desse modo, a cultura pode ser caracterizada como uma complexa mistura de fatores, como pressuposições, mitos, crenças, metáforas, valores, etc. As pessoas que fazem parte de organizações onde a cultura é concentrada aprendem uma maneira 116 6.1.2.4 Cultura Forte versus Cultura Fraca As organizações podem desenvolver uma cultura forte ou uma cultura fraca com o passar do tempo. Quando uma empresa desenvolve uma cultura forte, significa que ela está exercendo um impacto maior sobre o comportamento do funcionário e pro- duz um efeito mais positivo sobre o desempenho da organização. “Em uma cultura forte, os valores centrais da organização são intensamente assumidos e compartilhados” (ROBBINS, 2001, p. 289). Isso significa que quanto mais membros aceitarem os valores centrais e quanto maior for o seu comprometimento com esses valores, mais forte será a cultura da organização. Uma cultura forte terá uma gran- de influência no comportamento de seus membros, porque o alto grau de comunhão de valores cria um ambiente interno de elevado controle comportamental. Independentemente de a organização ter uma cultura forte ou fraca, pode chegar um momento em que a alta direção resolva mudar a cultura da empresa. E aí, como mudar uma cultura em que todos os funcionários estão acostumados a agir de determinada forma pré-estabelecida durante muito tempo? Quais os motivos que levam uma organização a mudar a sua cultura? São respostas que encontraremos na próxima seção. 6.1.2.5 Mudando a Cultura de uma Organização Quando uma cultura é constituída e mantida por intermédio do processo de seleção, comportamento da alta administração e métodos de socialização, podemos di- zer que será uma cultura forte. Essa é uma característica muito boa para a organização, mas quando for preciso mudar será muito difícil, ou seja, terá muita resistência por parte dos funcionários. Como lembra Robbins (2001, p. 301): “[...] uma cultura leva muito tempo para se formar e, uma vez estabelecida, tende a tornar-se entrincheirada”. Mas falamos a todo momento da importância de estabelecer uma cultura forte dentro da organização e de socializar os novos entrantes na empresa para que possam se adaptar a nova cultura e assim ajudar a mantê-la. Por que, então, uma empresa mudaria a sua cultura? Vale aqui ressaltar os motivos levantados por Robbins (2001, p. 302), que mostra que a mudança de cultura tende a ocorrer quando existe a maioria ou todas as seguintes condições: simbólica de lidar com uma variedade de assuntos que são relacionados à vida e ao co- tidiano do trabalho. 117 QUADRO 12 - Motivos que levam uma organização a mudar a cultura Ocorrência de uma crise grave É o choque que solapa o status quo e coloca em que está a pertinência da cultura em vigor. Como exemplos, podem ser citados um retrocesso financeiro surpreendente, a perda de um cliente importante, um declínio pronunciado da participação de mercado ou uma inovação drás- tica introduzida por um concorrente. Rotatividade na liderança Uma nova liderança de cúpula, capaz de fornecer um conjunto alternativo de valores funda- mentais, pode ser percebida como necessária para responder à crise. Além do presidente da organização, ela também pode precisar incluir todos os postos da administração sênior. Organizações novas e pequenas Quanto mais nova a organização, menos entrincheirada será sua cultura. Da mesma forma, é mais fácil para a administração comunicar seus novos valores quando ela é pequena. Essa relação ajuda a explicar a dificuldade que as empresas multibilionárias encontram para mudar suas culturas. Cultura fraca Quanto mais amplamente assumida uma cultura e quanto maior o acordo de seus membros quanto aos seus valores, mais difícil será mudar. As culturas fracas são mais suscetíveisa mu- danças que as fortes. Fonte: Robbins (2001, p. 302). Outros motivos ainda são ressaltados por Chiavenato (2004), tais como: QUADRO 13 - Condições que favorecem a mudança de cultura 1. Os dirigentes devem assumir papéis positivos dando o tom de sua conduta. 2. Devem criar novas histórias, símbolos e rituais para substituir os atuais. 3. Selecionar, promover e apoiar empregados que adotam novos valores. 4. Redesenhar os processos de socialização e alinhá-los com os novos valores. 5. Mudar o sistema de recompensas para obter aceitação dos novos valores. 6. Substituir normas não escritas por novas regras e regulamentos impostos. 7. Agitar as subculturas com transferências de pessoas, rotação de cargos e/ou demissões. 8. Trabalhar com o consenso de grupos utilizando a participação dos funcionários e criação de um clima de alto nível de confiança. Fonte: Chiavenato (2004, p. 173). Ressaltamos que a implementação de uma ou mais dessas condições men- cionadas anteriormente poderá não resultar em uma mudança dramática ou imediata da cultura da organização e a reação de diferentes organizações poderá não ser a mesma. Assim como a criação de uma cultura é um processo lento, a mudança também será, ou seja, os resultados devem ser esperados a longo prazo. Na mudança de cultura, é importante o papel exercido pela administração. Eles devem deixar muito bem claro para todos os funcionários que a organização está passando por dificuldades e que a sobrevivência dela está ameaçada se não houver mudança. O melhor momento para se mudar a cultura de uma organização é quando o país está passando por crises ou o setor em que funciona a organização está passando por dificuldades. Se não há nenhuma crise acontecendo, então, será necessário criar 118 uma, pois os colaboradores terão que perceber uma urgência de mudança, terão que sentir que se não mudar os seus empregos correm risco; caso contrário, serão frustrados todos os esforços para mudar a cultura. Outra oportunidade para mudar a cultura é quando a empresa nomeia um novo presidente ou um diretor. Sempre que uma pessoa com cargo desse nível entra na organização, os colaboradores sabem que haverá mudanças, pois a troca significa que algo não estava bem. Por fim, quando iniciar a mudança de cultura, a administração mudará tam- bém o processo de seleção e socialização no intuito de apoiar a mudança da cultura que já iniciou. Você já se perguntou sobre qual tipo de cultura mais lhe convém? Podemos citar os seguintes tipos de cultura: • Orientada para a equipe: quando você tem facilidade e preferência de desenvolver suas atividades em equipe e não individualmente. • Orientada para as pessoas: nesse caso, preocupa-se somente com o bem-estar das pessoas. • Assumir riscos: a cultura da empresa incentiva todos a assumirem riscos, sendo criativos e colocando em prática suas ideias. • Resultados: a cultura da empresa é voltada somente para obter resulta- dos financeiros para a organização. • Estabilidade: tem como cultura manter uma política de estabilidade eco- nômica e/ou de desligamento de funcionários. • Grande atenção aos detalhes: molda os funcionários para prestar aten- ção nos mínimos detalhes da organização em suas tomadas de decisões. • Pouca agressividade: tem uma política menos agressiva com seus con- correntes. Imagine que você pudesse escolher entre esses tipos de cultura, qual a que mais lhe agrada? Qual escolheria? Vamos fazer uma atividade que vai ajudar você a tomar uma decisão. Que tipo de cultura mais lhe convém? Instruções: Leia a lista de sete questões a seguir. A ideia é fazer você distinguir com qual afirmação concorda mais. Vamos utilizar uma escala de 1 a 7 para suas respostas. Começando, defina qual a afirmação que você mais concorda e ao lado dela escreva o número 1. Continue fazendo a escala das afirmações até o número 7, que representa aquilo que você menos concorda na lista. Mesmo que você possa concordar com várias afirmações, pense bem ao classificar suas preferências. 119 Questionário Nota quanto à preferência A. Gosto de fazer parte de uma equipe e de ter meu desempenho avaliado em relação a minha contribuição à equipe. B. Ninguém pode ter suas necessidades compro- metidas a fim de que um departamento alcance suas metas. C. Gosto da vibração e da emoção de assumir riscos. D. Se o desempenho de uma pessoa em um cargo é inadequado, não interessa quanto esforço ela empenhou. E. Gosto que as coisas sejam estáveis e previsíveis. F. Prefiro gerentes que apresentem explicações ra- cionais e detalhadas para suas decisões. G. Gosto de trabalhar onde não haja muita pres- são e onde as pessoas sejam essencialmente con- descendentes. Agora que você já marcou os pontos de 1 a 7 conforme a ordem de con- cordância, está na hora de analisarmos e chegarmos a uma conclusão de qual tipo de cultura mais lhe interessa. Pontuação: Cada afirmação descreve um tema cultural. Verifique suas respostas de pon- tuação com maior concordância (1 – 3); elas indicam o tipo de cultura em que você se adapta melhor. Do mesmo modo, as afirmações com que você menos concorda (5 – 7) fornecem orientação quanto às culturas que você deve se afastar. Interpretação: Tema cultural Respostas Orientada para a equipe: (A) Orientada para a pessoa: (B) Assumir riscos: (C) Resultados: (D) Estabilidade: (E) Grande atenção aos detalhes: (F) Pouca Agressividade: (G) Fonte: Robbins (2001). Por exemplo, se você colocou o número 1 na opção orientada para a equi- pe, isso significa que sua adaptação cultural está mais voltada para o senso de equipe. Quanto mais distante você estiver (5 - 7), menor é a sua adaptação cultural. 120 6.1.3 Fusões e Cultura Corporativa Você já deve ter ouvido falar ou assistido na televisão sobre grandes empre- sas que se juntam e tornam-se um grupo ou outra empresa. A esse fato damos o nome de fusão. Importante A fusão é uma operação societária que envolve duas ou mais empresas que juntam seus patrimônios para formar uma nova sociedade comercial, o que faz com que elas passem a não existir mais individualmente (CODAS, 2009). A definição de fusão deixa claro que, quando duas empresas se juntam, elas se tornam apenas uma. Apresento, a seguir, uma história que exemplifica isso com bom humor. Parada Obrigatória O porco e a galinha conversavam na fazenda, quando a galinha sugeriu. “Podemos montar uma empresa de produtos de café da manhã para concorrer com a vaca. Eu entro com os ovos e você com o bacon e com o presunto, o que acha?”. O porco ficou animado e logo eles acertaram os termos do negócio. Depois de um tempo ele ficou preocupado e foi conversar com a galinha. “Eu só não entendi uma coisa. Os ovos você bota numa boa e pronto. Para fazer o presunto e o bacon, eu preciso morrer”. E a galinha respondeu: “Isso é uma fusão” (CODAS, 2009). Por qual motivo uma empresa se une a outra? O principal motivo é que quando grandes empresas juntam-se o processo de produção passa a ser menos one- roso, ou seja, seus custos de produção diminuem, fazendo com que possam aumentar a qualidade de seus produtos, além de tornarem-se mais fortes para competir com suas concorrentes. A fusão faz também com que as empresas possam juntar suas forças tec- nológicas, algo importantíssimo nos dias de hoje para uma organização, mas que custa muito caro. Agora que você já entendeu o que é uma fusão, deve estar se perguntando: como ficam as pessoas no processo de fusão? Bem, aí é que começam os problemas. Assim, você já conseguiu perceber que a cultura representa um importante papel dentro de qualquer organização. Quando a empresa tem uma cultura bem definida e apoiada por todos, tudo fica mais fácil de ser conduzido. Mas, nos dias atuais, com a fusão de grandes empresas, muitos problemas são enfrentados pelos gestores. Vamos ver o que acontece com as fusões?’ 121 Duas empresas com culturas diferentes se juntam e qual cultura irá prevalecer? O pro- blema maior não está nem em saberqual cultura que irá prevalecer, mas sim como as pessoas irão reagir a mudança. Imagine que você trabalha em uma empresa que possui 1.200 funcionários. Em certo dia, você acorda e fica sabendo pelos meios de comunicação que agora a em- presa onde trabalha faz parte de outra empresa que contém 1.500 funcionários. Qual o seu primeiro sentimento? Com certeza de medo, pois não sabe o que vai acontecer. Geralmente, em um processo de fusão a primeira atitude é a diminuição de cargos, ou seja, muitos funcionários perderão seus empregos. Outros não conseguirão se adaptar a nova cultura e irão se desligar voluntariamente da empresa e ainda outros serão desligados involuntariamente por não conseguirem se adaptar a nova cultura. Você já percebeu que um dos grandes problemas da fusão entre duas em- presas não está no processo produtivo, mas sim nas pessoas que fazem parte da empre- sa. Se fizermos uma análise entre as empresas que se fundiram a partir da década de 1990, vamos descobrir que a maioria das fusões que não deram certo foi em razão da falta de adaptação a nova cultura. É muito difícil a integração entre duas culturas. Como já visto anteriormente, as pessoas são muito resistentes a mudanças. E fusão significa mudar, se adaptar. Então, o que pode ser feito para que um processo de fusão não seja prejudicado por falta de adaptação dos funcionários a nova cultura? A resposta é simples. Antes que aconteça a fusão, é necessário um desen- volvimento intercultural entre as empresas. Esse processo poderá fazer com que os fun- cionários de ambas as empresas possam ir se preparando para uma nova realidade que farão parte quando realmente a fusão ocorrer. Resumo Neste capítulo, você teve a oportunidade de ampliar o seu conhecimento sobre cultura e cultura corporativa. Aprendeu que todos nós, seres humanos, espalhados por todo o mundo, fazemos parte de uma cultura diferente, ou seja, costumes diferentes. Aprendeu ainda que cada organização tem a sua própria cultura e que se inicia com o seu fundador. Embora a cultura seja inicializada pelo fundador, verificamos também a importância de se manter essa cultura. Para isso, mostramos quais são os métodos de socialização dos novos funcionários, possibilitando a adaptação a uma nova cultura. Analisamos os componentes da cultura organizacional que podem ajudar a manter a cultura de uma empresa. E, por fim, foi brevemente apresentado a você o im- pacto que a cultura sofre nas fusões que ocorrem com algumas empresas. 122 Atividades 1. Defina com suas próprias palavras o que é cultura e cultura organizacional. 2. Explique os processos de criação de uma cultura. 3. Quais as práticas que podem assegurar que os recém-contratados se ajustem à cultura? 4. Quais as principais maneiras que uma cultura pode ser transmitida aos funcionários? 5. Como mudar a cultura de uma organização? Bem, acredito que você tenha tirado o máximo de proveito deste capítulo, pois ele será muito importante na sua tomada de decisões em seu dia a dia como gestor. Anotações 123 culTura afro-braSileira e indíGena Capítulo 7 124 A partir de agora iremos abordar um tema que traz à tona as raízes do povo brasileiro: a formação de sua cultura desde que o Brasil foi descoberto pelos portugueses em 1500. Quando os portugueses colonizaram o Brasil, precisavam de mão de obra para poder trabalhar nas lavouras e plantios de cana-de-açúcar. Em um primeiro mo- mento, tentaram escravizar os índios, mas encontraram grande resistência, pois, além de os índios não estarem acostumados com trabalhos forçados, a Igreja condenava o que os portugueses tentavam fazer com eles. Sem ter mão de obra para continuar a trabalhar em suas lavouras, os coloni- zadores buscaram os negros africanos, que eram trazidos à força e obrigados a trabalhar como escravos. Apesar disso, tanto os índios quanto os negros acabaram deixando como herança a sua cultura, que foi desenvolvida durante as décadas de escravidão. Hoje, os brasileiros têm uma imensa miscigenação cultural, seja nas comidas, nas danças, nas festas, nos instrumentos musicais e muitos outros objetos resultantes da cultura indíge- na e africana. Veremos neste capítulo que não são apenas os índios e os negros que en- frentam preconceito até hoje no Brasil. Basta o indivíduo ser fisicamente diferente dos demais que também está sujeito a sofrer algum tipo de preconceito. Faz-se necessário que as autoridades tracem políticas de inclusão social e educação do povo brasileiro para que possam respeitar os direitos tanto dos índios, negros e pessoas com deficiência. Nesta última década, os governos têm tomado determinadas medidas no intuito de minimizar a diferença social entre aqueles que se sentem marginalizados pelo sistema político, mas ainda há muito que se fazer a longo prazo para que possamos sen- tir uma igualdade entre todos. Introdução 7.1 Cultura Falar sobre cultura brasileira é mergulhar na história da colonização do nosso país. É resgatar décadas de lutas entre índios, negros e o homem branco. Mas há algo que jamais podemos negar, parte daquilo que hoje comemos, bebemos, dançamos ou festejamos é herança daqueles que um dia foram escravizados em nossa terra. 125 Com certeza, você já deve ter lido ou ouvido falar dos primeiros desbrava- dores do Brasil, os portugueses. No entanto, eles não fizeram o trabalho forçado; muito pelo contrário, escravizaram outros povos: os índios e os negros. Assim como qualquer povo, os portugueses foram assimilando a cultura dos índios e depois dos negros africanos. Com o tempo, as raças foram se misturando e hoje temos uma grande miscigenação de pessoas. Mas, o que herdamos das outras raças? Convido você a analisar comigo parte de uma história da qual ainda hoje usufruímos em nosso dia a dia. Vamos lá! 7.2 Cultura Brasileira No capítulo anterior, você pôde ampliar os seus conhecimentos sobre cultura, embora o nosso foco tenha sido a cultura organizacional. Agora, vamos aprofundar um pouco mais sobre a cultura de nosso país para que você tenha condições de entender um pouco melhor a formação de nosso povo. Você lembra o que é cultura? Vamos rever esse conceito: Cultura é um processo em permanente evolução, diverso e rico. É o desenvolvimento de um grupo social, uma nação, uma comunidade; fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento de valores espirituais e materiais. É o conjunto de fenômenos materiais e ideológicos que ca- racterizam um grupo étnico ou uma nação (língua, costumes, rituais, culinária, vestuário, religião etc.), estando em permanente processo de mudança (PORTAL ORIXÁS, 2012). É interessante chamarmos a atenção do conceito de que cultura é o modo de agir, os costumes e as instruções de um povo, pois esse conceito vai ao encontro do nosso assunto: cultura brasileira. Você já parou para analisar de quantas raças diferentes é formado o povo brasileiro? Se olhar a sua volta, com certeza, você tem um amigo que é negro, possivel- mente um que tenha origens indígenas, portuguesa e assim por diante. Podemos dizer que somos um povo miscigenado. Biblioteca da Disciplina Para entender melhor sobre esse assunto, convido você a fazer a Leitura Complementar 3 – Introdução: cultura organizacional e cultura brasileira, referente a um trecho do livro de Motta e Caldas (1997). Após a leitura recomendada, você pôde perceber a importância dos negros, indígenas e portugueses para a formação de nossa cultura? Bem, agora vamos analisar alguns desses povos. 126 7.3 Cultura Negra no Brasil Você já pensou por que o negro veio parar aqui no Brasil? Nossos conti- nentes estão separados por mais de seis mil quilômetros de distância e, mesmo assim, temos uma parcela da população negra bastante significativa. Na escola, com certeza, você aprendeu que os primeiros a colonizar o Brasil foram os portugueses. Quando iniciaram a colonização, eles não tinham mão de obra para a realização das atividades que exigiam força física, como trabalhar nas lavouras.A primeira tentativa foi escravizar os índios para que pudessem realizar tais tarefas. Mas, como dissemos anteriormente, não tiveram muito sucesso com os índios, pois os religiosos se colocaram contra a escravização dos indígenas. Não tendo como solucionar o problema e necessitando de pessoas para trabalhar, os portugueses foram buscar os negros na África para submetê-los ao trabalho escravo no Brasil. Foi dessa maneira que os negros começaram a entrar em nosso país. As estimativas são de que foram trazidos para o país entre três a quinze milhões de africanos. Os negros trazidos para o Brasil eram utilizados nas fazendas de cana-de- açúcar e, posteriormente, nas minas de ouro, onde eram tratados de forma subumana, trabalhando de sol a sol e dormindo em barracões sem nenhuma condição de higiene. Frequentemente eram submetidos a castigos, além de serem proibidos de praticar sua religião, suas festas e seus rituais. Foram três séculos de escravidão dos negros no Brasil. Embora tivessem sido proibidos de praticar sua religião, suas festas e seus rituais, isso não os impossibilitou de influenciar na cultura brasileira. Pelo contrário, hoje encontramos sua influência na música, nas artes, na religião, na língua, na dança e em muitos outros costumes. Veja alguns exemplos a seguir. 7.3.1 Alimentação No cardápio brasileiro há muitos alimentos que possuem origem africana. São aquelas refeições que chamamos popularmente de afro-brasileiras. Vamos ver as principais: • Acarajé-bolo: feijão temperado e moído com camarão seco, sal e cebola, frito com azeite de dendê. • Mungunzá: preparado com milho em grão e servido doce ou salgado com leite. • Vatapá-papa: farinha de mandioca com azeite de dendê e pimenta, po- dendo ser servido com peixe e crustáceos. • Bobó: bolo de massa de feijão mulatinho cozido com sal e banana terra. Esses são alguns entre muitos outros pratos absorvidos da cultura africana. Foram os africanos que introduziram em nossas receitas o leite de coco, a pimenta ma- lagueta, o quiabo e ainda o feijão preto, utilizado na famosa feijoada. 127 7.3.2 Religiões Afro-brasileiras Sempre que falamos de festas que envolvem a população de descendência africana e afro-brasileira, há de se ter a utilização de instrumentos de percussão. Por que isso acontece? Na cultura africana, a música está ligada diretamente com as tradições religiosas, ou seja, sempre que há algum ritual, também há música acompanhando. Os cultos afro-brasileiros são crenças herdadas dos escravos trazidos para o Brasil, que, com o tempo, juntaram-se ao catolicismo, marcando a origem desses cultos. Vamos conhecer algumas religiões afro-brasileiras? O primeiro tema apre- sentado será o candomblé. Vejamos: Parada Obrigatória Candomblé: é uma religião africana trazida para o Brasil no período em que os negros desembarcaram para serem escravos. Nesse período, a Igreja Católica proibia o ritual africano e ainda tinha o apoio do governo, que julgava o ato como criminoso, por isso os escravos cultuavam seus Orixás, Inquices e Vodus omitindo-os em santos católicos. Os orixás, para o candomblé, são os deuses supremos. Possuem personalidade e ha- bilidades distintas, bem como preferências ritualísticas, também escolhem as pessoas que utilizam para incorporar no ato do nascimento, podendo compartilhá-lo com outro orixá, caso necessário. Os rituais do candomblé são realizados em templos chamados casas, roças ou terreiros que podem ser de linhagem matriarcal (quando somente as mulheres podem assumir a liderança), patriarcal (quando somente homens podem assumir a liderança) ou mista (quando homens e mulheres podem assumir a liderança do terreiro). A celebração do ritual é feita pelo pai de santo ou mãe de santo, que inicia o despacho do Exu. Em ritmo de dança, o tambor é tocado e os filhos de santo começam a invocar seus orixás para que os incorporem. O ritual tem no mínimo duas horas de duração. Fonte: Cabral (2012). Você leu no texto que a religião católica proibia esse tipo de ritual africano. Sabe o que eles fizeram, então, para continuar com o ritual? Os adeptos passaram a associar os orixás aos santos católicos. Isso mesmo. Iemanjá está associada a Nossa Senhora da Conceição, por exemplo, e assim foi com outros santos. Além do candomblé existe também a umbanda. A seguir, uma breve explica- ção para você entender o assunto. 128 Parada Obrigatória Umbanda: religião brasileira nascida no Rio de Janeiro, nos anos 1920, da mistura de crenças e rituais africanos e europeus. As raízes umbandistas encontram-se em duas re- ligiões trazidas da África pelos escravos: a cabula, dos bantos, e o candomblé, na nação nagô. A umbanda considera o universo povoado de entidades espirituais, os guias, que entram em contato com os homens por intermédio de um iniciado (o médium), que os incorpora. Tais guias se apresentam por meio de figuras como o caboclo, o preto velho e a pomba gira. Os elementos africanos misturam-se ao catolicismo, criando a identificação de orixás com santos. Outra influência é o espiritismo kardecista, que acredita na possibilidade de contato entre vivos e mortos e na evolução espiritual após sucessivas vidas na Terra. Incorpora ainda ritos indígenas e práticas mágicas europeias. Fonte: Silva (2008, p. 31). Agora que você aprendeu um pouco sobre a umbanda, é hora de conhecer o terecô. Terecô: trata-se de uma religião afro-indígena que se originou da região de Codó, cidade localizada no cerrado maranhense. Os seus sacerdotes desempenham, as- sumidamente, funções de rezadores e curandeiros. Se analisarmos bem, vamos verificar que eles desempenham as mesmas funções existentes entre os indígenas. Além disso, integram elementos de tradições religiosas africanas (SILVA, 2008). Pronto, agora você sabe em linhas gerais o que é o terecô, então vamos analisar a baraba-soeira. Parada Obrigatória Baraba-soeira: religião afro-indígena da Amazônia, igualmente denominada como ba- baçuê, batuque, mina-nagô ou mina-do-Pará, servindo também as denominações para nomear os ambientes onde se realizam os cultos. Tem sofrido influências da umbanda e do candomblé-queto. São cultuados orixás, vodus, santos católicos e espíritos locais, ge- nericamente designados como encantados. Essa religião afro-indígena permanece viva na quase totalidade dos municípios paraenses e de outros municípios da Amazônia. Na área metropolitana de Belém, há cerca de mil terreiros, aí incluídos os cultos que aderi- ram à umbanda. Fonte: Silva (2008). 129 Acredito que você já tenha ouvido falar de algumas dessas religiões, aqui destacamos as mais conhecidas entre as afro-brasileiras. Há um ditado popular que diz: religião não se discute. Por isso, o intuito foi tão somente apresentar as religiões afro- brasileiras, não há qualquer intenção em influenciar suas crenças pessoais, combinado? Então, vamos em frente! 7.3.3 Danças A dança é mais uma tradição herdada dos índios, dos negros e dos europeus. Os negros, por exemplo, trouxeram para o Brasil a ginga, movimento que os portugue- ses não tinham. Para os negros, a dança era uma forma de amenizar o sofrimento durante o período da escravidão, por isso eles tratavam a dança e a música como algo religioso e até mesmo mágico. Entre as principais danças de origem africanas podemos citar: Parada Obrigatória Samba de coco: é uma dança acompanhada de cânticos, a origem é africana, mas com forte influência indígena. A marcação do ritmo é forte, feita através dos sapateados e das palmas. Sua origem africana está ligada intimamente à formação dos quilombos. Os negros que fugiam das senzalas se reuniam em locais distantes - quilombos - e para passar o tempo ocioso cantavam enquanto praticavam o ritual da quebra do coco, retirando a “coco- nha” (amêndoa) para o preparo dos alimentos. No Samba de Coco, o tirador do coco, também chamado de coqueiro, é quem puxa os versos, que são respondidos pelo coro dos participantes. Os versos podem ser tradicionaise improvisados e aparecem nas mais variadas formas, quadras, sextilhas, décimas, etc. No Samba de Coco, o canto é marcado pelos instrumentos de percussão: cuícas, pan- deiros, ganzás, bombos, tambores, chocalhos, maracas e zabumbas que acompanham a sanfona. Enquanto dançam, sapateando e pisando forte no chão, os participantes batem palmas e cantam, girando sem parar, desenvolvendo passos e requebros. A indumentária é simples. As mulheres usam vestidos estampados, com saias rodadas e cinturas marcadas, e os homens, calças comuns e camisas identicamente estampadas. Nos pés, usam tamancos de madeira que ajudam a sonorizar o ato da pisada no chão. Fonte: Conheça Sergipe (2012). Mais uma dança de origem africana é o batuque. A seguir, uma breve expli- cação sobre essa dança para você entendê-la. 130 Você já deve ter percebido o quanto a nossa cultura foi influenciada pelos costumes africanos. Além das danças citadas, ainda temos o lundu, que foi uma dança proibida pelo Papa devido aos seus movimentos sensuais. Mesmo assim ela resistiu e hoje as pessoas podem dançar à vontade. Outra dança afro, existente principalmente no estado de Alagoas, é o bate coxa, que é acompanhada por um tocador de ganzá, conhecido também como reco-reco. Mais um tipo de dança que, com toda certeza, você já viu ou ouviu falar é o maracatu. Trata-se de um grupo carnavalesco que desfila em Pernambuco. Vamos conhecer um pouco mais? Parada Obrigatória Maracatu: o maracatu, da forma hoje conhecida, tem suas origens na instituição dos Reis Negros, já conhecida na França e na Espanha, no século XV, e em Portugal, no sé- culo XVI. Em Pernambuco, documentos sobre as coroações de soberanos do Congo e de Angola, na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, da Vila de Santo Antônio do Recife, são conhecidos a partir de 1674. No Recife, o maracatu servia para denominar um ajuntamento de negros. Os cortejos das nações em homenagem aos Reis do Congo passaram a acontecer no Carnaval e eram chamados de maracatus quando era dada uma conotação pejorativa. São figuras do maracatu nação: rei, rainha, dama-de-honra da rainha, dama-de-hon- ra do rei, príncipe, princesa, dama-de-honra do ministro, ministro, dama-de-honra do embaixador, embaixador, duque, duquesa, conde, condessa, quatro vassalos, quatro vassalas, três calungas (Dom Luiz, Dona Leopoldina, Dona Emília), três damas-do-paço (responsáveis pelas calungas durante o desfile), porta-estandarte, escravo, figuras do ti- Parada Obrigatória Batuque: é uma dança de origem africana, do ritual da procriação. Foi severamente proibida na época colonial pelos padres. Dança muito popular em algumas cidades do interior de São Paulo, nas festas do Divino Espírito Santo ou nas festas juninas. O ba- tuque é dançado em terreiro ou praça pública. Uma fileira de homens fica ao lado dos tocadores. As mulheres ficam a uns 15 metros de distância. Então, começa a dança, co- meçam as umbigadas. Cada homem, dançando, dá três umbigadas numa mulher. Os músicos tocam. Um batuqueiro “modista” faz a poesia, os versos. Há o solo e, em segui- da, o coro é feito por todos que estão batucando. Fonte: Potyguar (2012). 131 gre e do elefante, guarda coroa, corneteiro, baliza, secretário, lanceiros (treze meninos), brasabundo, batuqueiros (quinze músicos), vinte caboclos, vinte baianas. A orquestra de um maracatu nação, também chamado de baque virado, é formada tão somente por instrumentos de percussão. Já o maracatu de baque solto, segundo a maioria dos pesquisadores, é uma manifes- tação que une a cultura afro com a indígena. Trata-se de uma manifestação do sobre- natural, em que entidades protetoras são invocadas, em rituais de umbanda, para que propiciem aos brincantes do maracatu sucesso nas suas andanças. Assim, a boneca é calçada, isto é, consagrada, batizada com rezas e defumadores, e caboclos desfilam atu- ados, portanto, protegidos pela magia dos cultos à jurema ou semelhantes. A apresentação se dá num clima de muita agitação, o que parece crescer com as evolu- ções efetuadas pelos caboclos de lança. Os primeiros a aparecerem na cena do desfile são as figuras sujas: Mateus, Catirina ou catita, burra, babau e caçador, que divertem e fazem “captação de recursos” para si mesmos. Depois deles, os caboclos de lança, for- mados em duas trincheiras (filas), puxadas pelo mestre de cabocaria, também chamado boca de trincheiras. Fonte: Viagem de Férias (2012). O maracatu acabou ficando conhecido por todo o Brasil, que durante o Car- naval acompanha essa tradição. Mas, além do maracatu, existe ainda a congada, dança muito conhecida pelas suas caixas, tambores, cuícas, reco-recos, apitos, chocalhos, vio- las, violinos e sanfona. Todos esses instrumentos acompanham os passos da congada. A dança representa momentos de tristeza baseados em cenas de guerra. Entre todas as danças afro, não podemos deixar de falar da capoeira. É inte- ressante ressaltar um pouco mais sobre ela, pois em qualquer lugar do Brasil é possível encontrar pessoas praticando a capoeira. Parada Obrigatória Capoeira: a história da capoeira começa no século XVI, na época em que o Brasil era colônia de Portugal. A mão de obra escrava africana foi muito utilizada no Brasil, princi- palmente nos engenhos (fazendas produtoras de açúcar) do nordeste brasileiro. Muitos desses escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Os angola- nos, na África, faziam muitas danças ao som de músicas. Ao chegarem ao Brasil, os africanos perceberam a necessidade de desenvolver formas de proteção contra a violência e repressão dos colonizadores brasileiros. Eram constan- temente alvos de práticas violentas e castigos dos senhores de engenho. Quando fu- 132 giam das fazendas, eram perseguidos pelos capitães-do-mato, que tinham uma maneira de captura muito violenta. Os senhores de engenho proibiam os escravos de praticar qualquer tipo de luta. Logo, os escravos utilizaram o ritmo e os movimentos de suas danças africanas, adaptando a um tipo de luta. Surgiu assim a capoeira, uma arte marcial disfarçada de dança. Foi um instrumento importante da resistência cultural e física dos escravos brasileiros. A prática da capoeira ocorria em terreiros próximos às senzalas (galpões que serviam de dormitório para os escravos) e tinha como funções principais à manutenção da cultura, o alívio do estresse do trabalho e a manutenção da saúde física. Muitas vezes, as lutas ocorriam em campos com pequenos arbustos, chamados na época de capoeira ou capo- eirão. Do nome do lugar surgiu o nome da luta. Até o ano de 1930, a prática da capoeira ficou proibida no Brasil, pois era vista como uma prática violenta e subversiva. A polícia recebia orientações para prender os capoei- ristas que praticavam essa luta. Em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O presidente gostou tanto da arte que a transformou em esporte nacional brasileiro. A capoeira possui três estilos que se diferenciam nos movimentos e no ritmo musical de acompanhamento. O estilo mais antigo, criado na época da escravidão, é a capoeira angola. As principais características desse estilo são: ritmo musical lento, golpes jogados mais baixos (próximos ao solo) e muita malícia. O estilo regional caracteriza-se pela mistura da malícia da capoeira angola com o jogo rápido de movimentos, ao som do berimbau. Os golpes são rápidos e secos, sendo que as acrobacias não são utilizadas. Já o terceiro tipo de capoeira é o contemporâneo, que une um pouco dos dois primeiros estilos. Esse último estilo de capoeira é o mais praticado na atualidade. É comemorado em 3 de agosto o Dia do Capoeirista. Fonte: Sua Pesquisa (2012). Acredito que você percebeu a importância da dança em nossa cultura. O negro trouxe consigo não somente a mão de obra que era escravizada, mas também a sua música, por isso temos que abordar os seus instrumentos musicais. Entre os principais instrumentos,podemos citar: • berimbau – utilizado para dar o ritmo da dança da capoeira; • atabaque – instrumento de percussão conhecido como tambor; • agogô – também é um instrumento de percussão; • reco-reco – é feito de bambu ou madeira; • caxixi – é um pequeno cesto com sementes e outros elementos. 133 7.3.4 Festas Além dos alimentos, religiões, danças e instrumentos introduzidos pelos ne- gros em nossa cultura, suas festas e festejos também fazem parte do nosso dia a dia. Os festejos, inicialmente realizados apenas pelos africanos, eram uma forma de recriar as celebrações que marcavam a entronização dos reis na África como uma sobrevivência de seus costumes. Entre tantas festas de origem africana, podemos citar: Afoxés: também conhecido como candomblé de rua. Trata-se de um grupo de carnavalescos com tradição dos orixás que se apresentam cantando cantigas em ioruba (língua nigero-congolesa do grupo Kwa). As cantigas são acompanhadas pelos atabaques, agogôs e xequerês. O que até então era uma festa trazida pelos negros da África, hoje se tornou uma festa brasileira com participação de negros, brancos, amare- los; enfim, de todas as raças. Lavagem das escadarias da igreja de Nosso Senhor do Bonfim: não se sabe bem ao certo de onde é a origem da cerimônia. Alguns afirmam ser de origem africana, já outros de Portugal. O importante é que a lavagem das escadarias foi trans- formada pelos negros em uma festa sincrética ao catolicismo e ao candomblé. Entronização – ato ou efeito de se colocar ou subir no trono; enaltecer; cerimônia que exalta uma pessoa ou objeto religioso. Sincrético – que é produto da fusão de diferentes religiões, seitas, filosofias ou visões do mundo. Lambe-Sujo: o festejo representa a luta entre negros e índios. Os partici- pantes pintam os corpos de tinta negra e vestem calções e gorros vermelhos. Utilizam uma foice de madeira que representa o trabalho no canavial. A festa é uma grande encenação do que acontecia realmente há séculos. A cidade de Laranjeiras é uma das principais onde acontece o festejo. Congos e Congadas: folguedo para homenagear São Benedito. Muitos ca- tólicos participam da festa com o intuito de pagar suas promessas feitas ao santo. Enfim, são muitas festas realizadas atualmente no Brasil que possuem raízes africanas ou indígenas. Com o tempo, as festas tornaram-se patrimônio cultural do nosso país e não somente os negros, mas pessoas de qualquer raça podem participar, indepen- dentemente da religião, nacionalidade ou costumes. Os instrumentos citados são apenas alguns dos que possuem raízes africa- nas; no entanto, foi o suficiente para perceber o quanto a cultura afro contribuiu para a música brasileira. 134 Saiba Mais Uma unidade a partir da diversidade O Brasil é o país que tem a maior população de negros fora da África. Nossos antepas- sados foram trazidos para cá e além de serem escravizados passaram por um processo de ‘aculturação’, sendo obrigados a deixarem de praticar suas linguagens, religiões e costumes adotando práticas europeias. Saiba Mais São exemplos de palavras de origem africana: samba, cafuné e moleque. De origem da Península Ibérica, da qual Portugal faz parte, temos: esquerdo, cama e balsa (COUTI- NHO, 1976). Vimos até o momento a importância do negro na construção da cultura de nosso país. A partir de agora vamos ver que a inserção do negro na sociedade brasileira tem enfrentado certas dificuldades. 7.4 Racismo O passado de escravidão refletiu negativamente na vida do negro na atual sociedade. Basta olharmos para os bancos nas universidades, sejam elas públicas ou privadas, para os melhores empregos, que vamos detectar que o número de pessoas negras é pequeno nesses ambientes. Ainda estima-se que a maioria dos pobres no Brasil seja negra. O número de homicídios também é maior entre os negros. A população negra tem dificuldade para alcançar bons cargos no mercado de trabalho e que possa lhe oferecer um status social. Devido a essa dificuldade, os negros, em sua maioria, acabam ocupando cargos com menor remuneração e projeção social. Esses fatores são molas propulsoras de problemas sociais graves, fazendo com que o governo tenha que tomar medidas para diminuir as diferenças raciais. Não somente o governo, mas também os movimentos negros, criados para mobilizar a socie- dade em prol da igualdade entre raças. O texto a seguir retrata a situação vivenciada pelo negro no Brasil. Outra curiosidade é que muitas palavras do vocabulário brasileiro têm raízes africanas. Aqui, cabe ressaltar que também inserimos palavras portuguesas em nosso dia a dia, em razão do passado como colônia de Portugal. Na maioria das vezes, utiliza- mos tais palavras sem saber que foram aportuguesadas. 135 O movimento negro tem por objetivo não deixar esmorecer e resgatar essa cultura afro- -brasileira, rebatendo a rígida desigualdade e a segregação racial que ainda atinge o povo negro. O movimento negro é uma batalha travada contra o senso comum. Numa sociedade onde se assume que existe preconceito racial é contraditória a afirmação que não há discriminação e racismo pessoal. Que ele é presente (o racismo), estamos fadigados e experientes no assunto, a questão é: onde o racismo atrapalha, rouba, diminui, fere, interfere, omite, engana, diferencia a popu- lação negra que constitui toda uma nação de outra raça? Aí está a chave. Aí entra o movi- mento negro, numa armadura e resistência coletiva de uma raça presente e atuante. O Estado é o personagem responsável em garantir a equidade, porém, se essa institui- ção age de forma ativamente contrária ou de forma omissa em seus serviços de policia- mento, saúde pública, geração de renda e trabalho, educação; permitindo que a discri- minação racial, ainda nos dias de hoje, faça parte do seu sistema; então temos algo além de problemas sociais, o Estado produz um retrocesso, um apartheid. Todavia, a nação se estrutura em outros pilares, além do Estado, que envolve escolas, famílias, templos religiosos, universidades e empresas. Essas organizações já deveriam estar desconstituídas de sua hereditariedade e rompidas de suas tradições e dogmas ra- cistas, com representantes de diversas raças e etnias, partindo do princípio que a nação brasileira é constituída de múltiplas determinações raciais (RIBEIRO, 2005). Concluímos que o racismo tem efeito letal e em massa. Aí atua toda a essência do movimento negro, não se baseando apenas em probabili- dades e teorias, mas em fatos empíricos experimentados nas diversas ramificações dos negros na sociedade. O movimento está diretamente ligado às lutas, não só contra o racismo e a discrimina- ção racial, mas também a xenofobia e intolerâncias correlatas. Fonte: Portal Raízes (2012). A pergunta que nos cabe é: o que as autoridades estão fazendo para dimi- nuir essas diferenças sociais em relação aos negros? Uma das respostas possíveis de apresentar é que o governo tem instituído várias políticas no intuito de amenizar a dife- rença social e racial. Para a questão da desigualdade educacional dos negros, o governo instituiu a política de cotas para as universidades, classificando o candidato pelas suas caracterís- ticas genéticas. As universidades têm total liberdade para implantar o programa ou não. 136 Apresentamos algumas políticas instituídas pelo governo na perspectiva de diminuir as diferenças raciais e sociais, mas não bastam apenas políticas públicas, as pessoas precisam compreender que a cor da pele ou qualquer outro motivo não justifi- cam a discriminação e que o respeito deve prevalecer sempre. Mas, antes mesmo da chegada dos negros, o Brasil já era habitado pelos índios, que também têm sua devida importância em nossa história. Vamos, então, tratar um pouco sobre a cultura indígena. A Universidade de Brasília (UnB) está entre uma das primeiras a colocar em prática esse programa desde 2004. Em 2010, o governo autorizou uma portaria com 10% das vagas em con- curso de admissão de diplomatas reservadaspara os negros. No mesmo ano, entrou em vigor o Estatuto da Igualdade Racial, que promove diversas políticas públicas com o intuito de criar oportunidades e igualdade racial. Entre elas, está a inclusão das comuni- dades negras em diversos programas e vertentes da sociedade. Também foram criadas ouvidorias para o combate à discriminação. O estatuto ainda prevê que o governo é obrigado a realizar manifestações culturais e religiosas que remetam aos africanos. A seguir, destacamos o objetivo do estatuto. Saiba Mais Estatuto da Igualdade Racial A aprovação do Estatuto da Igualdade Racial representa um momento decisivo no aperfeiçoamento da sociedade brasileira. Ao garantir à população negra a igualdade de oportunidades, a preservação dos direitos étnicos individuais e coletivos e o combate intransigente a toda forma de discriminação, a nova lei é considerada uma das mais im- portantes ações afirmativas em prol da comunidade afro-brasileira, no sentido de res- gatar, oficialmente, sua imensa contribuição histórica à constituição da nacionalidade. Destacam-se, no texto da lei, o ensino obrigatório da história da África e dos povos es- cravizados, o incentivo à prática de atividades rurais pela população negra, o livre exer- cício dos cultos religiosos de origem africana e o financiamento público para preserva- ção dos quilombos. O objetivo é promover reais condições de inserção dos cidadãos afro-brasileiros em todos os segmentos da vida nacional. Fonte: Câmara dos Deputados (2010). 137 7.5 Índios Muito antes da chegada dos portugueses, o Brasil já tinha como habitantes os povos indígenas, que dependiam da natureza para sobreviver, utilizando a caça, a pesca e a agricultura. Cada povo desenvolveu os seus próprios costumes, religião e cul- tura. Calcula-se que existiam cerca de 3 a 4 milhões de índios no Brasil antes da chegada dos portugueses. Atualmente, esse número reduziu a aproximadamente 800 mil índios, segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai). O chefe político e administrativo dos índios era o cacique, enquanto que o pajé era o responsável por cuidar da vida religiosa e medicinal. As religiões eram ba- seadas na crença em espíritos de antepassados e a força que a natureza exercia. Nas cerimonias religiosas, eles pintavam o corpo para dançar e cantar, tudo realizado com a intenção de homenagear os seus antepassados e também os espíritos da natureza. Uma diferença entre os indígenas e os homens brancos é que índio não tem classe social, ou seja, todos possuem os mesmos direitos. Quando alguém caça, a comi- da é dividida entre a sua tribo. As mulheres são responsáveis por providenciar a comida, plantar, colher e ainda cuidar das crianças, enquanto os homens devem caçar, pescar, guerrear e fazer a derrubada das árvores. Quanto à educação, os índios começam a aprender desde pequenos. Parti- cipam das caças com o pai entre outras atividades, assim aprendem tudo na prática e quando completam por volta de 13 a 14 anos já estão prontos para ingressar na vida adulta. A cultura dos índios influenciou na construção da cultura brasileira, deixando como herança alguns alimentos básicos que são utilizados até hoje, como o milho, gua- raná, palmito e mandioca. O artesanato também é herdado da cultura indígena. Colares, bolsas trançadas de fio ou de fibra, enfeites de penas e muitos outros. O arco e a flecha são instrumentos tipicamente indígenas, utilizados para a caça e também para a disputa de modalidades esportivas entre as tribos. São exemplos de atividades praticadas pelos índios: cabo de guerra, corrida com tora, canoagem, ar- remesso de lança, luta corporal e muitas outras. Para manter os índios em suas localidades, o governo começou a criar as reservas indígenas. O objetivo é fazer com que o homem branco não ocupe as terras, deixando os índios sem local para morar, caçar e pescar. A disputa por espaço entre ín- dios e brancos, principalmente produtores rurais, ainda é uma realidade. Muita discussão sobre isso é vista nos meios de comunicação. 138 Midiateca Vamos entender um pouco mais sobre a inclusão social? Convido você a assistir ao Vídeo 3. Em seguida, retorne ao livro para continuarmos nosso estudo sobre inclusão. Com certeza, você conhece ou até mesmo convive no ambiente familiar ou profissional com pessoas que apresentam determinados problemas físicos ou mentais. Essas pessoas também precisam de uma oportunidade para mostrar a sua capacidade. De forma geral, embora em menor intensidade, o povo indígena também influenciou na formação da cultura brasileira. Para não serem dizimados e manterem a sua cultura original, assim como os negros, o governo tem desenvolvido políticas para favorecer e manter os índios que ainda vivem no país. Mas não são apenas os índios ou os negros que são discriminados em deter- minadas circunstâncias, há outras pessoas que passam por dificuldades para se inserir no mercado de trabalho, por exemplo, ou levar uma vida como os demais da sociedade. Isso nos remete a abordar o tema inclusão social, que veremos na seção a seguir. 7.6 Inclusão Social Por motivos diversos, algumas pessoas podem ter ou desenvolver problemas físicos ou mentais, condição que as coloca como alvo de situações de discriminação. Às vezes, não conseguem um posto de trabalho, não possuem facilidade de locomoção no transporte público, como é o caso dos cadeirantes; enfim, há uma diversidade imensa de circunstâncias para exemplificar. É por esses e outros motivos que a inclusão social tem sido amplamente debatida. Quando falamos em inclusão, falamos em inserir esse indivíduo na sociedade para que ele possa usufruir das mesmas condições que as outras pessoas ditas normais. A ideia de inclusão é levar as pessoas a participar da vida social, política e econômica, tendo preservado os seus direitos perante a sociedade, Estado e o poder público. Midiateca Quer saber mais sobre a realidade do índio no Brasil? Assista ao Vídeo 2 e reflita sobre os problemas apresentados. 139 Saiba Mais Inclusão Social É difícil pensarmos que pessoas são excluídas do meio social em razão das característi- cas físicas que possuem, como cor da pele, cor dos olhos, altura, peso e formação física. Já nascemos com essas características e não podemos, de certa forma, ser culpados por tê-las. A inclusão está ligada a todas as pessoas que não têm as mesmas oportunidades den- tro da sociedade. Mas os excluídos socialmente são também os que não possuem condições financeiras dentro dos padrões impostos pela sociedade, além dos idosos, os negros e as pessoas com deficiências, como deficientes físicos, visuais, auditivos e intelectuais. Existem as leis específicas para cada área, como a das cotas de vagas nas universidades, em relação aos negros, e as que tratam da inclusão de pessoas com defi- ciência no mercado de trabalho. O mundo sempre esteve fechado para mudanças em relação a essas pessoas, porém, a partir de 1981, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou um decreto tornando tal ano como o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiências (AIPPD), época em que se passou a perceber que as pessoas com alguma necessidade especial eram também merecedoras dos mesmos direitos que os outros cidadãos. A princípio, eles ganharam alguma liberdade através das rampas, que permitiram maior acesso às escolas, igrejas, bares e restaurantes, teatros, cinemas, meios de transporte etc. Aos poucos, o mundo foi se remodelando para dar-lhes mais oportunidades. Hoje, é comum vermos anúncios em jornais de empresas contratando essas pessoas, sendo que, de acordo com o número de funcionários da empresa, existe uma cota, uma quantidade de contratação exigida por lei. Uma empresa com até 200 funcionários deve ter em seu quadro 2% com deficiência (ou reabilitados pela Previdência Social); as empresas de 201 a 500 empregados, 3%; as empresas com 501 a 1.000 empregados, 4%; e mais de 1.000 empregados, 5%. Nossa cultura tem uma experiência ainda pequenaem relação à inclusão social, com pessoas que ainda criticam a igualdade de direitos e não querem cooperar com aqueles que fogem dos padrões de normalidade estabelecido por um grupo que é maioria. E diante dos olhos deles, também somos diferentes. E é bom lembrar que as diferenças se fazem iguais quando essas pessoas são coloca- das em um grupo que as aceite, pois nos acrescentam valores morais e de respeito ao próximo, com todos tendo os mesmos direitos e recebendo as mesmas oportunidades diante da vida. Fonte: Adaptado de Barros (2012). 140 Resumo Neste capítulo, abordamos alguns assuntos que, embora nem sempre sejam tratados, fazem parte da história do nosso país. Falar da escravidão é resgatar a nossa própria história, é trazer à tona a cultura que ainda hoje permeia nossas tradições. Não é possível falar do desenvolvimento do Brasil sem retratar as contribui- ções dos indígenas e africanos, pois foram eles que, com sua mão de obra, desbravaram parte do país, dando lugares a plantios de cana-de-açúcar, lavoura e gado leiteiro. A herança de índios e negros pode ser encontrada em parte dos nossos alimentos, danças, festas e instrumentos musicais. Vimos também os problemas de inclusão social de pessoas que possuem al- guma diferença física, seja na cor ou outra qualquer. Mas, de uma década para cá, temos visto muitas políticas serem colocadas em prática com o intento de diminuir a diferença social existente entre raças. A inclusão social não é uma dificuldade somente do povo brasileiro. Fre- quentemente, vemos notícias de raças diferentes dentro de um mesmo país lutando por direitos iguais. Muitos usam da violência para conquistar os seus direitos e fazer valer de suas vontades. Não há nem necessidade de dizer que a violência não traz dignidade, nem conquista a tão sonhada liberdade. A melhor maneira é lutarmos por nossos direitos de forma ordeira e política. Dessa maneira, as pessoas podem se sentir partes integrantes de nossa cultura e de nosso povo. Atualmente, o capital intelectual é visto pelas organizações como uma ferra- menta de competitividade e retorno financeiro garantido. Diferentemente do passado, hoje o recrutamento e a seleção são realizados baseando-se no conhecimento que o candidato possui, independentemente de raça, cor, religião, condição física ou intelectual. O gestor, no desempenho de suas atividades, deve ser profissional e se atentar para a função a ser realizada, atuando sem preconceitos e com foco nas habilidades, competências e atitudes dos membros da equipe ou ingressantes. Dessa maneira, a gestão de pessoas só se tornará estratégica quando re- almente os fatores mencionados no parágrafo anterior forem levados em consideração pela alta administração de uma empresa. 141 Atividades 1. A cultura brasileira sofreu influência de outras culturas. Quais são e o que herdamos delas? 2. Por que os portugueses substituíram a mão de obra dos índios pelos negros? 3. Qual o significado da dança capoeira para os negros da época da colonização? 4. O que você entende por racismo? 5. Qual a importância do índio em nossa cultura? 6. Quais as políticas recentes instituídas pelos governantes para minimizar as diferenças sociais existentes no Brasil? Anotações 142 143 novaS abordaGenS eM GeSTão eSTraTéGica de peSSoaS Capítulo 8 144 Atualmente, novas abordagens estão sendo incorporadas na gestão estra- tégica de pessoas. Neste capítulo, você conhecerá novos processos e ferramentas que são inseridos na área de recursos humanos com o intuito de preparar melhor as pessoas para atuar num mercado dinâmico e que sofre constantemente mudanças. Primeiramente, vamos tratar de uma questão que nem empregado, nem em- pregador entram em um consenso: os direitos de ambos. Os funcionários querem cada vez mais direitos para aumentar sua qualidade de vida, enquanto que o empregador quer o aumento dos resultados. Dentro dos direitos, iremos abordar também as greves e sua relação de negociação que ocorre entre as partes interessadas. Em um segundo momento, abordaremos a gestão de pessoas internacionais. Iremos mostrar a importância de saber realizar o recrutamento e seleção de pessoas que pretendem desenvolver suas carreiras internacionalmente e o cuidado que as empresas devem ter com esses profissionais. Em um terceiro momento, iremos apresentar para você o banco de dados e o sistema de informação que as organizações devem possuir para facilitar a gestão do capital intelectual. Por fim, vamos descrever a importância de pessoas resilientes dentro das or- ganizações, demonstrando quais são as características delas e como fazer para ser uma pessoa resiliente. Vamos começar! Introdução 8.1 Direitos dos Funcionários No capítulo anterior, voltamos um pouco na história da formação da cultura brasileira. Verificamos o quanto importante foram os índios e os negros para o desenvol- vimento do país e até hoje percebemos a influência deles em nossa cultura. Abordamos também o problema da inclusão social e as políticas que estão sendo implementadas pelo governo, visando amenizar as diferenças existentes entre as classes sociais. Claro que isso foi apresentado a você por que o contexto cultural e social do país tem influência nas pessoas e organizações. Por isso, agora, vamos apresentar mais um assunto de grande importância para empresas e profissionais. Sabia que a organização tem a responsabilidade de manter o seu funcionário em um estado normal tanto física quanto psicologicamente? Você já parou para pensar 145 quais são seus direitos como funcionário? Assim como as obrigações e responsabilida- des, é importante também você saber quais são seus direitos. Para entender melhor sobre os direitos de um funcionário, vamos recorrer aos dizeres de Bohlander, Snell e Sherman (2005). Segundo os autores, os direitos do funcionário podem ser definidos como “garantias de tratamento justo que eles esperam receber para a proteção de seu status no emprego” (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 366). A pergunta a ser feita agora é: por todos os empregos que você já passou ou até mesmo no seu atual, sempre foi tratado de maneira justa pelo seu gerente ou pelo seu chefe? Pense nisso! Outra questão que podemos colocar é: você trabalha com regis- tro em carteira? Muito provavelmente sim, afinal isso é uma determinação prevista na lei. Midiateca Para saber mais sobre o registro em carteira, recomendamos que assista ao Vídeo 4. Você terá a oportunidade de conhecer algumas obrigações da empresa com o funcionário. Vale a pena conferir. Dessa maneira, foi possível perceber que abordar os direitos dos funcionários não é algo tão simples assim, pois envolve não somente o funcionário, mas toda uma estrutura hierárquica na qual a organização se mantém. Todo profissional gosta quando a empresa oferece um ambiente de traba- lho seguro, com iluminação suficiente, ambiente climatizado, ferramentas certas; enfim, tudo o que possibilita ter qualidade de vida, pois o funcionário passa mais tempo no seu local de trabalho do que com a própria família. De acordo com o conceito apresentado por Bohlander, Snell e Sherman (2005), todo funcionário espera ter proteção no seu emprego. Embora não haja nenhu- ma lei que obrigue a empresa a manter o funcionário, os colaboradores têm o direito de esperar que a empresa tenha práticas seguras para mantê-lo e ainda ser tratado com dignidade. No entendimento de Bohlander, Snell e Sherman (2005), o funcionário ainda tem o direito de “liberdade de trabalho”. Você sabe o que isso significa? Vamos explicar! Imagine a seguinte situação: após dois anos de trabalho, você começa a estudar e se capacitar, o que possibilita uma troca de emprego. Considerando a liberdade de trabalho, é possível trocar de emprego quando desejar. Os motivos são particulares, podem ser desde salário melhor, ampliação dos benefícios ou outros critérios. 146 A liberdade de trabalho funciona também para a empresa. Sendo assim,ela poderá desligar o profissional do seu quadro de funcionários quando entender que ele não é mais viável para a empresa ou por qualquer outro motivo. Em certas ocasiões, a empresa pratica a dispensa por justa causa. Os atos que constituem justa causa estão previstos no artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). São exemplos: condenação criminal, embriaguez habitual ou em serviço, violação de segredo da empresa, abandono de serviço. Enfim, a lista de atos é extensa, mas você pode fazer uma pesquisa para aprofundar o assunto. Vamos frisar aqui que o funcionário também tem as suas obrigações. A rela- ção entre funcionários e empresas é como outra qualquer. Ambos devem sair ganhando para que possa haver sucesso. O funcionário deve saber quais são seus direitos e suas obrigações perante a empresa, assim como também a empresa deverá saber quais são suas obrigações e seus deveres mediante o seu empregado. 8.1.1 Negociações Sindicais Como estamos tratando sobre os temas direito e obrigação, convém aprovei- tar a oportunidade para discorrer sobre um assunto bastante sensível na relação entre empregado e empregador: as negociações sindicais. Você já participou de uma greve? Caso tenha participado, com certeza, sabe que a greve é um direito do trabalhador. Mas se analisarmos o passado não muito dis- tante, vamos verificar que nem sempre foi assim. Em algum momento da sua vida acadêmica, você estudou a Revolução In- dustrial. Acredito que foi possível perceber que as pessoas eram tratadas como má- quinas. Homens, mulheres e até crianças trabalhavam mais de 12 horas por dia, em más condições, dentro de barracões sem iluminação e ventilação. Além disso, quando adoeciam não recebiam nenhum apoio da empresa. Sem emprego e doente restava so- mente passar necessidade, pois o país não tinha nenhuma estrutura para manter esses indivíduos. Com o tempo, as práticas foram sendo modificadas e o trabalhador conquis- tou alguns benefícios por intermédio de negociações. Mas você sabe o que é uma nego- ciação? Provavelmente já fez isso algum dia. Por exemplo: pedir desconto ao vendedor na compra de um objeto é um ato de negociação, sabia? Dessa maneira, então, estamos negociando diretamente. Para ganhar força e poder negociar com as empresas, os trabalhadores co- meçaram a se unir. Foi dessa união que se formaram os sindicatos, que possuem o direi- to de negociação em nome dos profissionais. A função do sindicato é negociar o acordo de trabalho e também resolver as queixas dos seus filiados. Nesse caso, o sindicado representa os interesses de todos os funcionários de uma determinada empresa. 147 Quais são os interesses? Diversos, mas alguns deles você deve conhecer, tais como: melhores salários, redução de carga horária, melhoria nas condições de trabalho, entre outros benefícios que contribuam para a qualidade de vida dos profissionais. Para que os funcionários tenham direito aos benefícios, é necessário todo um processo e uma negociação. É nesse ponto que entra o papel do sindicato que represen- ta o trabalhador perante as organizações ou algum setor de atividade. Em um primeiro momento, a negociação é realizada de forma direta, ou seja, junto aos representantes da empresa. Caso não se consiga chegar a um acordo que sa- tisfaça ambos os lados, o sindicato utilizará outros meios para pressionar a organização a retomar as negociações. Esse processo de negociação pode acontecer durante uma greve. Como re- tomamos o assunto greve, cabe fazer uma definição: a greve nada mais é do que um grupo de funcionários ou sua totalidade que se recusa a desempenhar suas atividades na empresa. É utilizada no intuito de fazer com que os representantes de um determinado setor ou organização atendam as reivindicações dos funcionários. Mas é importante analisar os dois lados de uma greve. Para os representan- tes das organizações é um momento oneroso, visto que deixarão de produzir, os prazos não serão cumpridos com os seus clientes, as mercadorias não serão entregues no prazo previsto, entre outros problemas que a greve acarretará. Já para os funcionários, fica- rão envolvidos emocionalmente durante todo o tempo, pois nunca se sabe qual será o resultado da greve. Deve-se destacar aqui que um sindicato representante de uma determinada categoria somente tomará a dianteira em fazer greve se os seus membros forem a favor dela. O sindicato sozinho não tem o poder de tomar tais decisões. Em determinadas organizações nem todos podem aderir a uma greve. Al- guns funcionários devem permanecer prestando serviço, principalmente quando afeta a sociedade em geral. Por exemplo: como seria uma greve com adesão de todos os fun- cionários de um pronto socorro municipal? Um imenso problema, pois prejudicaria a co- munidade local. Por isso, em alguns casos, uma parcela dos funcionários deve continuar exercendo suas funções normalmente. O mesmo acontece com o Corpo de Bombeiros, a Polícia e outros serviços públicos que atendem diretamente à população. Imagine que um sindicato representante de uma determinada categoria re- solveu que seus filiados devam entrar em greve. O primeiro passo a ser realizado é fazer com que os funcionários façam piquetes nas entradas das empresas. Essa atitude é para sensibilizar os demais colaboradores a não entrar na empresa para exercer suas funções. Quanto mais pessoas aderirem a greve, muito mais força o sindicato terá na negociação. 148 Destacamos aqui que a greve não é um processo interessante nem para a empresa, que poderá sofrer perdas econômicas, nem para o funcionário, que poderá ficar psicologicamente sensível aos resultados da greve, mas é um direito previsto na Constituição Federal. 8.2 Gestão de Pessoas Internacionais Você sabe conceituar o que é globalização? Mesmo que não saiba, não está livre dos efeitos dela no seu dia a dia. Por exemplo: sua roupa, seu calçado ou seus objetos eletrônicos, embora adquiridos no Brasil, cada um pode ter sido produzido em outro país ou ter alguma matéria-prima adquirida no exterior. Essa situação representa a globalização. Em outras palavras, pode-se dizer que as barreiras entre um país e outro não existem mais, ou seja, pode-se vender ou comprar produtos de qualquer lugar do mundo. Junto com todo esse contexto surgiu a necessidade de pessoas qualificadas para trabalhar em grandes corporações cuja sede é num determinado país, mas possui filiais em vários outros países. Assim, muitos funcionários da sede acabam sendo trans- feridos para as filiais a fim de exercer suas funções em outro país. É possível que você esteja se perguntando: o que isso tem de errado? Não há nada de errado ir trabalhar em outro país. Mas vamos recordar que em capítulos an- teriores você aprendeu que as pessoas se adaptam a cultura de seu país e a cultura de sua empresa. Por essa adaptação, torna-se muito difícil uma pessoa deixar de lado suas raízes para começar uma vida nova em outro país. O que você precisa entender é que dessa maneira, quando um funcionário é enviado a uma organização no exterior baseando-se simplesmente na capacidade desenvolvida dentro da organização, há uma grande chance do processo não dar bons resultados. Ser um ótimo funcionário na sede não garante o sucesso na filial da empresa. Por que isso pode acontecer? Quando uma pessoa é enviada a outro país, ela irá se deparar com uma cultura diferente, além da diferença da cultura corporativa, ou seja, são dois processos de adaptação. Por esse motivo muitos funcionários que são expatriados para outro país não conseguem se adaptar e acabam retornando ao país de origem antes do tempo determinado. Importante Expatriado é quando um profissional é enviado por uma empresa multinacional para viver e trabalhar em outro país por um determinado período de tempo. Expatriação é a transferência de um profissional de um país para outro, para exercer atividades similares ao país de origem. 149 É como visitar uma cidade onde nunca esteve. Nos primeirosdias é interes- sante, pois tudo é novidade. Porém, passado alguns dias, você quer voltar para casa, para o lugar onde está acostumado a viver, porque na outra cidade tudo é diferente daquilo que faz parte do seu cotidiano. O mesmo acontece com os expatriados. Vamos entender um pouco mais sobre a relação entre o expatriado e a or- ganização que expatria seus funcionários, e ainda qual a diferença entre um expatriado brasileiro e um expatriado estrangeiro. Parada Obrigatória A contratação de estrangeiros: panorama geral Existe uma grande diferença que deve ser levada em conta: os estrangeiros que vêm ao Brasil a trabalho e os brasileiros que vão ao exterior trabalhar. No caso do estrangeiro, seu berço cultural o educou na maioria dos casos para ser cidadão do mundo, já no Brasil não tivemos esse tipo de educação. O estrangeiro está mais habituado à mobili- dade geográfica e não se educou profissionalmente para ser um profissional local e sim global, enquanto o brasileiro diz que pensa como global, mas age como local, tem receio de mudanças, seleciona as localidades e é movido muito por uma ansiedade típica do turista que irá fazer uma bela viagem. Ao se deparar com o dia a dia de uma cultura mui- to diferente da sua, muitas vezes, tem dificuldades de adequação pela falta de preparo. O estrangeiro também vem ao Brasil muitas vezes com ideias de que somos um país subdesenvolvido, de miséria e violência, sem sequer saber do cenário como um todo. Creio que hoje as empresas começam a se preocupar mais em preparar seus profissio- nais para um ambiente adverso e daí instrumentos novos como Treinamento Intercultu- ral e Testes de Potencial Migratório começam a aparecer [...]. Vejo muitas vezes que, in- termediando contratações internacionais, existe uma ansiedade muito grande por parte do contratado no que ele irá enfrentar (em nível pessoal/familiar e profissional) e uma expectativa por parte do contratante às vezes ilusória, pouco real, que tudo dará certo no primeiro mês, como se fosse algo mágico (SEBBEN, 2009, p. 21). A explicação de Sebben (2009) deixa claro o quanto o assunto expatriados ainda é uma novidade tanto para o empregador quanto para o empregado. A pessoa para ser enviada a outro país não basta apenas ser qualificada e estar bem preparada para assumir a sua vaga na outra empresa, é necessário que ela tenha características de fácil adaptação tanto com a cultura do outro país quanto da nova organização. 150 Há três fontes de contratação de funcionários para o preenchimento de cargos nas operações internacionais. A primeira delas é a empresa enviar profissionais de seu país de origem. Esses funcionários, muitas vezes, são chamados expatriados ou funcionários da matriz (cidadãos do país de origem). Em segundo lugar, pode contratar gerentes entre os cidadãos do país anfitrião. Uma terceira opção é contratar cidadãos de outros países, isto é, que não sejam do país de origem nem do país anfitrião. Você deve estar se perguntando: qual é o melhor modelo para a organização utilizar? Na verdade, não podemos dizer que existe um modelo que seja perfeito, ou seja, uma fórmula de sucesso. O que tem acontecido é que as organizações têm utilizado todos os tipos. O importante é a empresa detectar entre os tipos de contratação qual a que proporciona um resultado melhor. Há várias vantagens quando se contrata cidadãos locais para trabalhar na empresa. O primeiro é que quando o funcionário é do próprio país o custo de contrata- ção é menor, pois a empresa não terá que custear todo o processo de transferência de um país para outro. Mais uma vantagem é que a empresa não corre o risco de o contra- tado não se adaptar a cultura do novo país. Nesse caso, o indivíduo contratado terá que se adaptar apenas a cultura da empresa, pois até mesmo o idioma ele já domina. QUADRO 14 - Comparação das vantagens nas fontes dos gerentes no exterior Cidadãos do país anfitrião Cidadãos do país de origem (Expatriados) Cidadãos de outros países Custo menor Preferência de governo do país anfitrião Conhecimento profundo do ambiente e da cultura Facilidade do idioma Talento disponível dentro da própria empresa Maior controle Experiência na empresa Mobilidade Experiência fornecida a executi- vos corporativos Experiência ampla Visão internacional Domínio de várias línguas Fonte: Bohlander; Snell; Sherman (2005, p. 439). 8.2.1 Recrutamento e Seleção Internacionais Como as pessoas têm se tornado um capital intelectual para as empresas, é essencial que a organização não venha a cometer a falha de enviar um funcionário ou contratar alguém que não tenha as características necessárias para se adaptar ao país onde será enviado. Dessa maneira, tornou-se imprescindível acertar na contratação, pois todo o processo que começa desde o recrutamento, seleção e socialização dentro da empresa é muito longo e oneroso. Mesmo que o funcionário escolhido seja da própria empresa, o processo também será demorado e caro para a organização. Segundo Bohlander, Snell e Sherman (2005, p. 439), há três fontes de con- tratação internacional: 151 Pode-se dizer que decidir expatriar ou contratar um funcionário para ser enviado a outro país é uma das últimas alternativas da empresa. Sempre que houver possibilidade, a melhor escolha a ser feita é contratar alguém do próprio país onde a empresa está instalada. O benefício é que o contratado já está familiarizado com o ambiente físico, cultural e, principalmente, com o idioma do país. Vale ressaltar que além dessas carac- terísticas, o profissional deve estar qualificado para ocupar o cargo; caso contrário, de nada adianta ser do próprio país, pois precisará desempenhar suas atividades de manei- ra que dê retorno para a empresa. Você sabia que as mulheres geralmente têm melhor desempenho que os homens quando são expatriadas? Saiba Mais É importante notar que nos casos em que mulheres foram designadas para posições internacionais, geralmente se saíram muito bem. O índice de sucesso de expatriadas tem sido estimado em cerca de 97% - bem superior aos dos homens. Ironicamente, as expatriadas atribuem pelo menos parte de seu sucesso ao fato de serem mulheres. Uma vez que os funcionários locais sabem que é raro uma mulher receber uma atribuição internacional, frequentemente supõe que a empresa não enviará uma mulher se ela não fosse a melhor profissional. Além disso, uma vez que as mulheres expatriadas são novidade (principalmente em posições gerenciais), elas têm uma posição bastante des- tacada e distintiva. Em muitos casos, podem receber até um tratamento especial, não oferecido a seus colegas homens (BOHLANDER; SNELL; SHERMAN, 2005, p. 445). Não se deve fazer distinção entre homens e mulheres, acreditando que elas não querem ser expatriadas. Além de querer ter experiência fora de seu próprio país, elas ainda têm uma performance melhor do que os homens. Já frisamos que muitos daqueles que são contratados não conseguem cum- prir o seu contrato de trabalho quando são expatriados. Você imagina quais sejam as causas do fracasso? Segundo Bohlander, Snell e Sherman (2005, p. 444), as principais são: • Adaptação da família • Questões de estilo de vida • Adaptação ao trabalho • Seleção inadequada • Desempenho pobre • Aparecimento de outras oportunidades • Razões para negócios • Questões de repatriação 152 8.3 Banco de Dados e Sistema de Informações de Gestão de Pessoas Atualmente, é importante para empresa de qualquer porte (pequeno, médio ou grande) utilizar recursos tecnológicos na sua tomada de decisão. O mesmo vem acon- tecendo com a área de gestão de pessoas. Se o capital intelectual é o maior patrimônio de uma empresa, nada mais certo do que tratá-lo estrategicamente. Não há como dar resultados lidando com um sistema complexo de informa- ções, por isso é fundamental a utilização de um sistema de informação. Para tratar os re- cursos humanos estrategicamente, é imprescindível ter dentro da organização uma rede de comunicaçãomuito eficiente, pois quando se fala de pessoas, fala-se de comunica- ção. Chiavenato (2004, p. 462) afirma que “uma das mais importantes estratégias para a gestão de pessoas reside na intensa comunicação e retroação com os funcionários.” Você já reparou o quanto de informação recebe diariamente em seu ambien- te de trabalho? Geralmente, quando você chega ao seu local de trabalho a primeira coisa a fazer é checar os e-mails da empresa e filtrar as informações que são importantes ou não para aquele dia de serviço. Logo em seguida virão as solicitações dos superiores sobre as tarefas a serem realizadas nesse período e pode acontecer ainda de você ter que transmitir parte dessas solicitações a outras pessoas. Até aqui analise o quanto de informação você já recebeu e transmitiu. Elas podem ter sido disponibilizadas por um sistema de intranet ou por e-mail. Percebeu a importância que um bom gerenciamento da informação tem para administrar uma or- ganização? Quanto mais informação estiver disponível a respeito de um determinado assunto ou processo, muito mais fácil e acertada será a tomada de decisão. 8.3.1 Banco de Dados Provavelmente você já ouviu falar em banco de dados. Quando decidiu, por exemplo, cursar esta graduação na modalidade a distância, tudo indica que possuía um computador para “guardar” aquilo que lhe interessa, como os materiais das disciplinas, músicas, filmes, fotos e assim por diante. Tudo o que está guardado é um banco de da- dos que você foi criando conforme a necessidade e de modo que pudesse ser acessado com facilidade. Esses são apenas alguns dos fatores que levam os expatriados a fracassarem quando são selecionados e enviados para trabalhar fora de seu país de origem. Mas, nos dias atuais, tanto o departamento de recursos humanos quanto os profissionais que pre- tendem ter uma carreira internacional devem estar preparados para essa nova realidade que é desenvolver suas atividades internacionalmente. 153 De maneira mais técnica, a função de um banco de dados pode ser conceitu- ada como “sistema de armazenamento e acumulação de dados devidamente codificados e disponíveis para o processamento e obtenção de informações” (CHIAVENATO, 2004, p. 465). Vamos refletir: qual a utilidade de um banco de dados para a gestão de pes- soas? Pense no departamento de Recursos Humanos. Como eles fazem para registrar a vida de seus funcionários? Antigamente, fazia-se tudo no papel e quando precisava de uma informação era mais difícil e demorado, com centenas de folhas guardadas na pasta do funcionário. E hoje, como funciona? Basta dar um clique na tela do programa que a em- presa utiliza que em segundos todas as informações necessárias que você está procu- rando serão disponibilizadas. Para que isso aconteça, anteriormente, é necessário criar os bancos de dados que serão armazenados e interligados entre si e, posteriormente, permitirão o acesso aos dados que serão necessários em determinado momento. Vamos verificar alguns exemplos de bancos de dados apresentados por Chia- venato (2004, p. 465). QUADRO 15 – Exemplo de banco de dados Banco de dados Função Cadastro de pessoal Possui os dados pessoais sobre cada funcionário. Cadastro de cargos Possui os dados sobre os ocupantes de cada cargo. Cadastro de seções Possui os dados sobre os funcionários de cada seção, departa-mento ou divisão. Cadastro de remuneração Possui os dados sobre os salários e incentivos salariais. Cadastro de benefícios Possui os dados sobre os benefícios e serviços sociais. Cadastro de treinamento Possui os dados sobre programas de treinamento. Cadastro de candidatos Possui os dados sobre candidatos a emprego. Cadastro médico Possui os dados sobre consultas e exames médicos de admissão, exames periódicos etc. Outros cadastros Dependendo das necessidades da organização, dos gerentes de linha e dos próprios funcionários. Fonte: Chiavenato (2004, p. 465). Esses são exemplos de bancos de dados que um departamento de Recursos Humanos poderá ter, mas claro que isso não representa de maneira alguma uma receita. Cada empresa poderá montar o seu banco de dados conforme as suas necessidades e os seus objetivos desejados. Somente o banco de dados também não tem muita utilidade. Ele deve ser processado, ou seja, deve ser retirado dele as informações que o departamento neces- sita e que podem ser usadas estrategicamente na empresa. 154 QUADRO 16 - Exemplo de processamento de dados Entrada de dados Bancos de dados Saída de informações Cadastro de pessoal Cadastro de cargos Cadastro de seções Cadastro de remuneração Cadastro de benefícios Cadastro médico Fonte: Chiavenato (2004, p. 466). Em uma empresa, o sistema de informação deve ser organizado em bancos de dados. Uma pessoa responsável pelo departamento irá alimentar (entrada de dados) o banco, mantendo todas as informações gravadas e atualizadas. Quando alguém preci- sa de um relatório ou outra informação, basta apenas solicitar ao sistema. Nesse caso, os relatórios ou outra informação qualquer representa a saída de informações. A seguir, um exemplo com informações que podem conter no banco cadastro de pessoal, segundo Chiavenato (2004): • Nome do funcionário que foi contratado • Endereço de onde reside o funcionário • Data e local de nascimento • Nacionalidade • Filiação • Estado civil • Nome da esposa • Nome dos filhos • Data e local de nascimento da esposa • Data e local de nascimento dos filhos Esses são alguns exemplos de informações que podem ser colocadas no banco de dados no cadastro de pessoal. Mas você sabe qual a importância de se manter essas informações? A empresa pode utilizar para vários objetivos. Imagine que no dia X, do mês Y, o funcionário esteja completando 20 anos de casado. Pense na felicidade dele ao chegar a casa, à noite, e encontrar um presente junto com um cartão da empresa parabenizando pelo aniversário de casamento? Você pode estar se perguntando: o que isso tem a ver com a gestão estra- tégica de pessoas? Muito! Uma simples recordação do aniversário de casamento poderá motivar o funcionário no desempenho de suas atribuições. Um funcionário motivado produz muito mais, o que ajuda a organização a alcançar os seus objetivos. 155 8.3.2 Sistema de Informações de Recursos Humanos Agora que você sabe da importância de um banco de dados para melhor gerir o capital intelectual de uma empresa, há de saber também que as organizações precisam alimentar esse sistema de informação. Para isso, é necessário ter um compu- tador e o programa instalado. Importante Sistema de informação de Recursos Humanos é um sistema utilizado para coletar, re- gistrar, armazenar, analisar e recuperar dados a respeito dos recursos humanos da orga- nização (CHIAVENATO, 2004, p. 467). O principal objetivo do sistema de informação é dar base para que os res- ponsáveis possam tomar decisões acertadas sobre algum problema existente ou sobre o planejamento estratégico que está sendo elaborado para a empresa. Por intermédio do sistema, os recursos humanos poderão obter um relatório de seus funcionários e adotar políticas referentes às suas necessidades. O sistema de informação não deve ser somente para a consulta dos funcio- nários do departamento. Se o banco de dados mantém a vida dos funcionários em seus arquivos, nada mais justo que os próprios funcionários possam acessar o sistema de informação da empresa. Vamos ver um exemplo de um sistema de informação aos funcionários pelo conceito de Chiavenato? QUADRO 17 - Sistema de informação ao funcionário Acesso do funcionário Sistema de informação aos funcionários Saída de informações • Qual o meu salário mensal? • Quanto deverei ganhar este mês? • Quantas horas de trabalho já fiz? • Qual é o meu cargo? • Qual é a minha faixa salarial? • Quais são minhas possibilidades de carreira? • Quais os programas de treinamento a fazer? • Quais são minhas avaliações de desempenho? • Quais são os cargos que já ocupei na empresa? • Quais são as minhasmetas e objetivos a alcançar? • Quais os progressos que já fiz? • Quanto falta para completar as metas? • Quanto eu tenho de depósito no FGTS? • Como está minha situação previdenciária? • Quanto eu tenho de depósito no PIS? • Qual a minha situação na empresa? • Qual o meu potencial de desenvolvimento? Fonte: Chiavenato (2004, p. 470). 156 Acredito que sua conclusão seja de que um sistema de informação é muito importante dentro de uma organização. Por intermédio dele pode-se gerir todo o capital intelectual da empresa, tomar decisões acertadas pelos gestores e ainda programar os objetivos futuros da empresa. 8.4 Resiliência Você sabe o que é resiliência? Já ouviu falar em pessoas resilientes? Resili- ência é um termo existente há algum tempo, mas que somente agora está sendo intro- duzido no campo da Administração. Por ser um termo que se relaciona com pessoas é importantíssimo tratarmos dele, uma vez que estamos falando de gestão estratégica de pessoas. Para que você possa entender o significado de resiliência, vamos começar com uma pequena história que retrata muito bem o conceito. Parada Obrigatória A grande árvore e o bambu O mestre e seu jovem discípulo caminhavam em silêncio pela estrada que ligava o tem- plo ao vilarejo. Na noite anterior, uma forte tempestade havia caído na região e havia muitas folhas e galhos espalhados pelo caminho. A certa altura, os dois foram obrigados a saltar o tronco de uma grande árvore que havia tombado e expunha um emaranhado de raízes retorcidas. - Há certas coisas que não compreendo - disse o discípulo. Como é possível que uma árvore tão forte, com raízes assim robustas, tombe por causa da tempestade, enquanto outras plantas frágeis continuam de pé? O mestre parou de caminhar e olhou ao seu redor, como se procurasse alguma coisa. Depois de instantes, disse ao discípulo: - Vê aquela moita de bambus ali adiante, na margem do caminho? - Sim. - Durante as grandes tempestades, as varas do bambu se agitam de um lado para outro, chegam quase a tocar o chão. Elas se submetem à força dos ventos, mas, quando a tor- menta passa, estão novamente como sempre estiveram, firmes e intactas, como se nada tivesse acontecido. O discípulo contemplou a moita a alguns metros de distância. Por um instante, lembrou- se das pescarias que fazia quando criança, usando uma fina vara de bambu. Lembrou-se de como a vara vergava, sem jamais quebrar, quando um peixe grande abocanhava a isca. O mestre continuou: - Já a árvore que acabamos de saltar não resistiu à tempestade porque seu tronco, grosso e rígido, era incapaz de se curvar. Ao longo de toda sua vida, ela veio resistindo, imóvel, 157 às tempestades violentas, perdendo muitas folhas e galhos. Até que, um dia, não pôde suportar seu próprio peso e sucumbiu. O discípulo, já habituado com as parábolas do mestre, permaneceu em silêncio, aguar- dando o ensinamento que estava por vir. - Assim também é com os homens – prosseguiu o mestre. Há os que procuram resistir às tormentas da vida e se enrijecem, se agarram com todas as forças ao que conhecem, recusam-se a mudar. E há os que aceitam as adversidades, adaptam-se às circunstâncias e sofrem mudanças, mas continuam inteiros. Os primeiros temem as tempestades, mas não conseguem evitá-las. Os segundos sabem que as tempestades são inevitáveis, mas não as temem (PIOVAN, 2011, p. 11-13). Agora é possível conceituar resiliência. Se você não entendeu a moral da história ainda poderá compreender. Resiliência é um termo que vem do latim e que tem como significado “voltar ao normal”. Sua origem é de 1807, referindo-se à elasticidade de materiais. Logo depois, esse conceito passou a ser utilizado pela Física como a capa- cidade que certos materiais têm de acumular energia quando submetidos a um esforço e cessando o esforço retornar ao seu estado natural sem sofrer deformações permanentes (PIOVAN, 2011). Para exemplificar é só lembrar-se do atleta de salto em altura. Para impulsio- nar a sua subida, ele utiliza uma vara, que se curva para dar impulso para que o atleta possa ultrapassar o obstáculo. Logo depois que o atleta solta a vara, ela cai ao chão no seu estado normal. Voltando a história anterior, imagina uma grande moita de bambu. Quando o vento é forte o que acontece com eles? Os bambus se retorcem, balançam e fazem mui- to barulho, mas assim que termina o temporal, todos eles voltam a sua posição anterior. Embora os bambus possam passar por momentos de dificuldades (tempo- ral), eles têm a característica de voltar ao seu estado normal ao término desses aconte- cimentos. Já a grande árvore não desenvolveu as mesmas características do bambu. Ela não consegue se retorcer por ser rígida demais e muito menos encurvar o seu grande e grosso tronco. Quando a tempestade for além de suas forças, só lhe resta vir ao chão e, ao término da tempestade, ela jamais conseguirá voltar ao seu estado normal. Você deve estar se perguntando: mas, o que isso tem a ver com pessoas? E eu respondo: tudo! Olhe para as pessoas que você conhece ao seu redor. Quantas delas são bambus e quantas são grandes árvores. Muitas pessoas têm a capacidade de retor- nar ao seu estado normal com facilidade, enquanto outras demoram um tempo muito longo e outras nunca mais serão as mesmas. 158 Importante A pessoa resiliente tem consciência de que dificuldades fazem parte da vida e de que é preciso conviver com elas (PIOVAN, 2011, p. 31). No sistema em que vivemos atualmente tudo é muito dinâmico, tudo muda muito rápido, a tecnologia, os processos, a forma de adquirir conhecimento; enfim, aquilo que fazemos hoje poderá ser feito de maneira diferente amanhã. E a pergunta é: estou pronto para enfrentar todas essas mudanças? Se eu for uma pessoa resiliente, vou conseguir enxergar que preciso me adaptar rapidamente as mudanças que ocorrem no trabalho, para que eu seja um fun- cionário interessante para a organização. Hoje, as empresas procuram pessoas resilien- Imagine a seguinte situação: você trabalha em uma empresa há 15 anos. Entrou como estagiário, foi crescendo e hoje é o gerente de vendas da empresa. Você gosta do que faz e a empresa é algo muito importante na sua vida. Num certo dia, o seu superior chama você na sala dele e sem muitas explica- ções diz que a empresa está sendo remodelada em seus processos e que não necessita mais de seus serviços, ou seja, você está sendo demitido. A partir desse momento, duas situações podem acontecer: a primeira é en- frentar o problema, sair de cabeça erguida da empresa e procurar um novo emprego. Além de lutar por um emprego melhor, você irá procurar um que ofereça remuneração maior. O fato acontecido não vai lhe desanimar de maneira alguma; pelo contrário, você enxerga nisso uma oportunidade de crescimento. A segunda situação seria você simplesmente desmoronar perante aquele comunicado. Você sempre trabalhou na empresa, dedicou boa parte da sua vida a ela e agora sem nenhuma justificativa está sendo demitido. Além disso, sente-se desen- corajado a procurar um novo emprego, entra em depressão e não consegue aceitar a demissão. Portanto, são duas situações bem diferentes. Vamos entender cada uma de- las. Na primeira situação, pode-se dizer que estamos lidando com uma pessoa que tem características de ser resiliente. É uma pessoa que enfrenta as adversidades da vida e jamais esmorece perante elas; pelo contrário, luta e conquista novos ideais. Em contrapartida, a segunda pessoa não é nada resiliente, pois não con- segue enxergar que nas intempéries da vida é possível conseguir algo melhor. Ela não consegue ter forças para continuar. 159 tes, pois, além de ser muito mais fácil de lidar, elas ainda dão um retorno superior para a organização. Mas, então, temos que ser pessoas resilientes somente com assuntos re- ferentes às organizações? De maneira alguma, a pessoa resiliente tem facilidade para se adaptar a qualquer situação: a perda do emprego, negócios que foram um fracasso, prejuízos financeiros,a morte de uma pessoa muito querida, o fim do casamento, uma doença grave, uma sociedade que não deu certo, problemas familiares e muitos outros que fazem parte de nosso dia a dia. Para entendermos como as pessoas reagem perante as adversidades, temos que analisar quais os tipos de atitudes que as pessoas podem assumir. No entendimento de Piovan (2011) são: Pessoas submissas: são aquelas que se conformam com as intempéries da vida e renunciam ao seu próprio sucesso. É o tipo de pessoa que acaba se acomodan- do com os acontecimentos e para ela está tudo bem. Não luta por algo melhor quando passa por adversidades no dia a dia. E você, é uma pessoa submissa? Faça uma autoanálise no seu ambiente de trabalho. Aceita tudo facilmente e pronto? Se isso acontece com você há algumas atitu- des que possibilitam identificar a submissão. Um funcionário pode mudar o que acontece na empresa e, consequente- mente, mudar a realidade do ambiente. Mas a atitude do submisso é considerar que a mudança dá trabalho, que não tem capacidade de influenciar no processo de transfor- mação, ou ainda aceitar tudo como está e aprender a conviver com a situação, ou sim- plesmente decidir continuar sofrendo e reclamando de tudo. Poderia também decidir-se mudar de empresa e começar tudo de novo. Para exemplificar uma pessoa com atitude submissa, imagine a seguinte situação: Antônio trabalha em uma empresa prestadora de serviços e sua equipe é res- ponsável pela elaboração de projetos para a construção civil. Ele está trabalhando agora em um grande projeto para o governo. Faz parte do contrato com a empresa cumprir os prazos estipulados. Na semana da apresentação do projeto, Antônio avisa seu superior que o projeto ainda não está pronto. Justifica o atraso dizendo que a equipe de topografia atra- sou sua parte no projeto, que algumas pessoas de sua equipe faltaram muito ao serviço e assim por diante. Antônio foi submisso ao não tomar providências para que o projeto fosse desenvolvido nos prazos estipulados. Pessoas reativas: são aquelas que não aceitam o que está acontecendo e se revoltam. Ao contrário das submissas, as pessoas reativas procuram alguém para colocar a culpa pelo que está acontecendo. 160 São atitudes típicas de pessoas reativas reclamar de tudo o que acontece na empresa, do chefe, do gerente, do cafezinho, da equipe de trabalho; enfim, de tudo que faz parte do ambiente organizacional. E quem são os culpados? O reativo sempre conse- gue achar alguém para culpar. Se você for uma pessoa com atitude reativa, com certeza, sempre culpará alguém por aquilo que não está do jeito que deveria estar caminhando conforme o seu ponto de vista. Pessoas proativas: são as pessoas que ao contrário de reclamar da situa- ção ou simplesmente aceitar tudo não se curvam diante dos problemas. Elas enfrentam as adversidades de cabeça erguida. Aproveitam as dificuldades para transformar em oportunidades de aprendizado, capacitando-se, desenvolvendo-se e agregando experi- ências tanto na vida pessoal quanto na profissional. Podemos dizer aqui que uma das características da pessoa resiliente é ser proativa. Mas agora que você já sabe quais os três tipos de grupos de pessoas que existem, pergunto: em qual dos grupos você está? Consegue fazer uma autoanálise e descobrir se é uma pessoa submissa, reativa ou proativa? É importante que você saiba, mas se não consegue se autoavaliar proponho que faça o teste indicado por Piovan (2011, p. 43). 1. Responda as questões conforme a escala a seguir nos quadrados em branco. Exemplo: se sua resposta for sempre, coloque o número 3 no quadrado em branco; se for às vezes, coloque o número 1 no quadrado em branco e assim sucessiva- mente até chegar a questão de número 30. Sempre 3 Frequentemente 2 Às vezes 1 Muito raramente 0 Re at iv o Pr oa tiv o Su bm is so A B C 1 Numa situação de estresse mantém a calma para resolver o problema? 2 Costuma desprezar as pessoas que não são importantes para você? 3 Procura harmonizar-se com as pessoas a sua volta? 4 Valoriza datas comemorativas como Natal, ani- versários, etc.? 5 Analisa bem as situações e apenas depois toma decisões? 6 É extremamente crítico quando as coisas não saem ao seu agrado? 161 7 Numa festa que você conhece poucas pessoas, você fica retraído? 8 Costuma protelar decisões de problemas desa- gradáveis? 9 Valoriza o senso de responsabilidade? 10 Conversa com as pessoas olhando nos olhos? 11 Costuma se lamentar quando não atinge seus objetivos? 12 Costuma examinar a reação das outras pessoas? 13 É questionador? 14 Procura sempre a perfeição nas suas tarefas? 15 Julga corretamente as pessoas e fatos? 16 É extremamente rigoroso com os fracassos das pessoas? 17 Tem receio em dizer o que está pensando? 18 Sempre arranja boas desculpas para seus fra- cassos? 19 Costumeiramente expressa-se dizendo: “você deve fazer isso”? 20 Cumpre rigorosamente os regulamentos? 21 Sabe lidar bem com as pessoas? 22 Esforça-se para contentar os outros? 23 Colhe várias informações e fatos e os analisa bem antes da tomada de decisão? 24 Evita o conflito com pessoas que o cercam? 25 Numa situação de contrariedade costuma ques- tionar as pessoas antes de julgar? 26 Costuma resolver problemas sem uma devida reflexão? 27 Costuma planejar antes de agir? 28 Não se emociona numa conversa triste? 29 Expressa com firmeza sua opinião? 30 Conversa com facilidade com as pessoas? Total de pontos em cada coluna A B C 2. Agora que você já preencheu todos os quadrados em branco respondendo as questões de 1 a 30, some os números marcados em cada uma das colunas e anote na coluna do total de pontos. 3. Por fim, transfira os totais obtidos em cada coluna para o gabarito a seguir: 162 A - Reativa 1 10 20 30 B - Proativa 1 10 20 30 C - Submissa 1 10 20 30 4. Agora é hora analisar os resultados. Compare as pontuações obtidas em cada coluna e verifique qual dos comportamentos predomina em você. Por exemplo: se sua maior pontuação foi em proativa, isto significa que você tem atitudes de uma pessoa proativa. Se o resultado obtido não lhe agradar, faça uma análise de seu comporta- mento no dia a dia. Se necessário, pergunte às pessoas próximas que trabalham com você. Peça para elas ajudar a responder as questões junto com você. Lembre-se de que nunca é tarde para mudarmos nossas atitudes. Comece aos poucos e com o tempo irá moldar novas atitudes. Mas será que é fácil enfrentar mudanças? Elas ocorrem diariamente nos ambientes organizacionais. Qualquer profissional deve estar pronto para construir uma atitude resiliente perante as mudanças que venham a ocorrer no ambiente de trabalho ou na vida pessoal. Porém, como tornar-se uma pessoa resiliente? Uma pessoa que consegue se adaptar aos problemas, resolvendo-os no dia a dia sem desanimar jamais? Primeiramen- te, a pessoa deve estar preparada para as mudanças, não deve ser pega de surpresa; assim, terá muito mais condições de lidar com a nova situação. Quando mudanças acontecem, com certeza, virão novos projetos, processos ou situações das quais a pessoa jamais tenha passado. Nesse momento, é importante manter a persistência e nunca desistir. Aquilo que hoje é tratado como uma situação di- fícil, irá se tornar normal com o passar do tempo e o profissional chegará aos resultados que a empresa espera. O profissional precisa estar pronto para se adaptar, seja na sua posição den- tro da organização, no comportamento ou ainda nas situações que porventura possam surgir. Não deve ficar esperando que a mudança venha até ele, é importante questionar abordagens e processos dos quais acredita, mas que não estejam dando resultados e estabelecer novas metodologias. A pessoa resiliente procura novidades para fazer, sem- pre esperando melhores resultados. 163 Compartilhar com a equipe os seus sentimentos e suas ideias, também pode- rá fazer com que essas ideias possam ser colocadas em prática juntamente com o apoio dos demais membrosda equipe. Carmello (2008, p. 157) nos mostra que pessoas resilientes são aquelas que “dispõem de respostas e ações eficientes, harmoniosas e refinadas quando deparam com qualquer exigência profissional e pessoal.” Se você for uma pessoa resiliente sempre se apresentará como protagonis- ta diante das adversidades que virão. Ser resiliente é crescer, amadurecer e aprender a transformar suas atitudes negativas em positivas diariamente, mesmo que isso leve tempo. A seguir, verifique as dicas que Carmello (2008, p. 158) dá para que você possa fomentar a sua resiliência no dia a dia. QUADRO 18 – Dicas para ser uma pessoa resiliente Procure na medida do possível, protagonizar as situações Em vez de perguntar: “por que isso foi acontecer comigo?”, experimente dizer para si mesmo: “como eu me coloquei nessa situação e o que posso aprender ou utilizar como recurso para sair dela?”. Protagonizar é incluir-se na situação como corresponsável, encontrando formas de superá-la. Visualize o futuro próximo e antecipe tendências e acontecimentos Imaginação e intuição orientadas são ótimos atributos para fazer frente às constantes transfor- mações de cenário, mercado e tendência. Crie um significado para a sua realidade Um significado lhe dará a esperança de um futuro melhor; e esperança não é a expectativa de que algo dê certo, mas a expectativa de que algo faça sentido. Dê um sentido para sua realidade. Procure conhecer a “verdadeira” dimensão do problema Procure por informações objetivas e específicas, evitando a comunicação informal, o “boato”, que, em regra, só alimenta a tensão e o desespero. Separe quem você é do que você faz Bons pais e bons líderes, ao verem seu filho jogando uma pedra num cachorro, não dizem que ele é mau, mas falam: “Você é um ótimo menino, mas eu não gosto do que você fez agora”. Eles sabem separar a identidade da ação específica. Ao ser repreendido por um líder, saiba que ele desaprova a sua ação, e não a sua identidade. Procure desenvolver relacionamentos significativos É importante ter pessoas com quem você possa conversar e discutir sobre suas questões, sem julgamento, interpretação ou moralidade. Aprenda a ter “mente solucionadora” Utilize o tempo que gastaria em justificativas, esquivas de culpa, reclamações e burocracia para orientar-se a solucionar a questão. 164 Fonte: Carmello (2008, p. 158). Eis algumas atitudes que podem ser colocadas em prática aos poucos. Mas nada de achar que é possível se transformar de uma hora para a outra. Tudo tem o seu tempo, vai se lapidando lentamente e quando menos perceber já vai colocar em prática atitudes de pessoas resilientes. Manter equipes resilientes dentro da organização é sinônimo de melhores resultados e muito menos trabalho de lidar com as pessoas. Ao gerir pessoas, o departa- mento de Recursos Humanos deverá levar em consideração as atitudes delas. Não basta apenas recrutar e selecionar pessoas baseando-se no seu conhecimento sobre o cargo que vai exercer e a atividade que vai desenvolver. Nos dias de hoje é muito importante analisar se o profissional é resiliente, porque lidar com pessoas resilientes é muito mais fácil e produtivo. Resumo Neste capítulo, fizemos várias abordagens que podem melhorar ainda mais a gestão estratégica de pessoas. Nessas novas abordagens, as pessoas tornaram-se o principal patrimônio da empresa. Empresas competitivas são aquelas com um alto capital intelectual. Quanto mais conhecimento o colaborador de uma organização possuir, muito mais competitiva ela será perante os seus concorrentes. Para que as pessoas possam trabalhar motivadas e atingir os objetivos da organização, é necessário que a empresa cumpra com os direitos dos trabalhadores. Os trabalhadores buscam seus direitos com o intuito de aumentar a sua qualidade de vida. Vimos que os bancos de dados são uma importante ferramenta que o depar- tamento de Recursos Humanos deve implementar em sua política. Gerir de forma rápida e eficaz o seu capital intelectual é importante no sistema dinâmico no qual vivemos, pois temos que tratar as pessoas como a nossa principal fonte de competitividade. Reconheça seus sentimentos e as necessidades de seu corpo Permita-se chorar, sentir dor, dormir, descansar, recuperar-se e retornar ao seu estado de excelência. Tenha como parceiro constante a criatividade no pensamento, nos sentimentos e nas ações Os maiores conflitos são causados por ideias ou ações rígidas, inflexíveis. Cultive e valorize seu poder de escolha O resiliente, em essência, é aquele que luta pelo direito de decidir escolher como vai interpretar as situações da vida, assim como escolher o que vai fazer a respeito. Gerencie as adversidades como situações passageiras O que está acontecendo de ruim com você não é a vida, mas uma circunstância da vida. Enten- da que a vida é muito mais do que a adversidade pela qual está passando. 165 Com a globalização, as barreiras entre um país e outro não existem mais. Com isso, as organizações expandiram também suas plantas. Hoje, uma empresa pode ter sede no Brasil e operar com suas filiais em vários outros países, por isso vimos que é muito importante para a organização analisar o papel do funcionário expatriado. Tornou- -se estratégia saber administrar os funcionários internacionais. Tratar os recursos humanos estrategicamente é ter funcionários resilientes. São pessoas resilientes aquelas que sabem como lidar com as mudanças e cobranças no seu dia a dia dentro da organização. Se a empresa não tem pessoas resilientes pode trabalhar esse conceito motivando seus funcionários e ainda nas contratações levar em consideração tais atitudes. Atividades 1. Faça uma reflexão e escreva quais os direitos que você acredita que faltam aos traba- lhadores para aumentar a qualidade de vida. 2. Por que as mulheres têm se saído melhor quando assumem cargos em outros países? 3. Reflita e escreva sobre a seguinte afirmativa “As empresas preferem expatriar seus próprios funcionários a contratar no país da filial, visto que a chance de terem sucesso é bem maior”. 4. Qual o benefício de haver um sistema de informação dentro da organização, no que se refere ao planejamento? 5. Baseado nas características e atitudes que as pessoas resilientes devem possuir, faça uma autoanalise, reflita e escreva quais as qualidades que você ainda precisa lapidar para se tornar uma pessoa resiliente. Anotações 166 167 Referências ALBRECHT, Karl. Radar Corporativo: como entender os cenários que estarão regendo o futuro de seus Negócios. São Paulo: Makron Books, 2000. ARAUJO, Luís César G. de. Gestão de Pessoas: estratégias e integração organizacional. São Paulo: Atlas, 2006. BARROS, Jussara de. Inclusão Social. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/edu- cacao/inclusao-social.htm>. 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Disponível em: https://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/Metodologia_de_pesquisa_e_ elaboracao_de_teses_e_dissertacoes_4ed.pdf Capítulo 6 Vídeo 1 - Cultura Organizacional em O Senhor das Moscas. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=b3D7Qw-u_1M Capítulo 7 Leitura Complementar 3 - Introdução: cultura organizacional e cultura brasileira. Vídeo 2 - 500 anos de Resistência. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=xq354j03q7Y&feature=related Vídeo 3 – Ordem do Dia - Inclusão Social do Deficiente Físico. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NUVc2N0F0ag Capítulo 8 Vídeo 4 - Dicas sobre Direito do Trabalho. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7cJwF_9j9mc https://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/Metodologia_de_pesquisa_e_elaboracao_de_teses_e_dissertacoes_4ed.pdf https://projetos.inf.ufsc.br/arquivos/Metodologia_de_pesquisa_e_elaboracao_de_teses_e_dissertacoes_4ed.pdf Capa Gestão Estratégica de Pessoas Branco Gestão Estratégica de Pessoas Branco contra_capa