Prévia do material em texto
CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA RENAN NÓBREGA MOREIRA THIAGO TEIXEIRA DE OLIVEIRA VINICIUS HELENO DE ARAÚJO SOUSA DE MORAES UMA ANÁLISE DA INCLUSÃO DE CRIANÇAS DO ESPECTRO AUTISTA NAS ARTES MARCIAIS BELÉM - PARÁ 2021 RENAN NÓBREGA MOREIRA THIAGO TEIXEIRA DE OLIVEIRA VINICIUS HELENO DE ARAÚJO SOUSA DE MORAES UMA ANÁLISE DA INCLUSÃO DE CRIANÇAS DO ESPECTRO AUTISTA NAS ARTES MARCIAIS Artigo apresentado como requisito final para a obtenção de nota na disciplina de Tópicos Integradores II da Faculdade Uninassau - Unidade Belém. Orientador: Prof. Dr. Francisco Rodrigues da Silva Neto. BELÉM - PARÁ 2021 3 UMA ANÁLISE DA INCLUSÃO DE CRIANÇAS DO ESPECTRO AUTISTA NAS ARTES MARCIAIS Renan Nóbrega Moreira 1 Thiago Teixeira de Oliveira 2 Vinicius Heleno de Araújo Sousa de Moraes 3 Francisco Rodrigues da Silva Neto 4 RESUMO O Transtorno do Espectro Autista (TEA) corresponde a um transtorno invasivo no desenvolvimento do ser humano, no qual se difere de pessoa para pessoa, onde cada indivíduo apresenta um quadro clínico específico. As pessoas com o diagnóstico de TEA apresentam uma série de déficits motores, cognitivos, sociais, além de apresentam um baixo índice de atividade física se for comparar com as pessoas que não possuem este transtorno. As crianças autistas podem se beneficiara partir das práticas esportivas e atividades físicas no seu aprendizado sensório-motor, da comunicação e da socialização, assim como no que compreende a melhoria da motivação e da autoconfiança, e dentro desse contexto, enfatiza-se que muitos estudos concentraram-se nos efeitos que a prática das artes marciais influencia na aptidão física e no desempenho motor das pessoas com autismo. O presente trabalho possui o objetivo de analisar a inclusão de crianças do Espectro Autista nas Artes Marciais, mais especificamente no Karatê. Trata-se de uma Revisão Integrativa de Literatura, no qual se utilizou artigos, livros e periódicos que correspondiam a esta temática. Conclui-se que o Karatê é uma modalidade que promove diversos benefícios para crianças com perturbações do Neurodesenvolvimento, ajudando na concentração, diminuição da ansiedade e depressão, melhorando as interações sociais, entre outros. Faz também com que se sinta melhor consigo mesma, elevando sua autoestima, bem-estar e consequentemente melhora a qualidade de vida. Palavras-chave: Autismo; Artes Marciais; Karatê. ABSTRACT The Autistic Spectrum Disorder (ASD) corresponds to an invasive disorder in the development of the human being, in which it differs from person to person, where each individual presents a specific clinical condition. People diagnosed with ASD have a series of motor, cognitive and social deficits, in addition to having a low rate of physical activity compared to people who do not have this disorder. Autistic children can benefit from sports practices and physical activities in their sensorimotor learning, communication and socialization, as well as in what comprises the improvement of motivation and self- confidence, and within this context, it is emphasized that many studies focused on the effects that the practice of martial arts influences on the physical fitness and motor performance of people with autism. This work aims to analyze the inclusion of children from the Autistic Spectrum in Martial Arts, more specifically in Karate. It is an Integrative Literature Review, in which articles, books and periodicals that corresponded to this theme were used. It is concluded that Karate is a modality that promotes several benefits for children with 1 Discente do curso de Bacharelado em Educação Física – UNINASSAU – Contato: renannobrega15@gmail.com 2 Discente do curso de Bacharelado em Educação Física – UNINASSAU. Contato: t_teixeira@outlook.com 3 Discente do curso de Bacharelado em Educação Física – UNINASSAU. Contato: vinicius_moraes25@yahoo.com 4 Docente do curso de graduação de Bacharelado em Educação Física – UNINASSAU. Contato: fneto3004@gmail.com 4 Neurodevelopmental Disorders, helping with concentration, decreasing anxiety and depression, improving social interactions, among others. It also makes you feel better about yourself, increasing your self-esteem, well-being and consequently improving your quality of life. Keywords: Autism; Martial arts; Karate. 1 INTRODUÇÃO O Autismo, denominado como Transtorno do Espectro Autista (TEA), corresponde a um transtorno invasivo no desenvolvimento do ser humano, no qual se difere de pessoa para pessoa, pois cada indivíduo apresenta um quadro clínico específico, se difere tendo como consequência variações na forma e no grau do autismo, tendo como características prejuízos persistentes na comunicação social e recíproca (CORREA, 2018). Segundo Moraes e Jesus (2017, p.15) o autismo também se classifica como um transtorno comportamental, no qual ocorrem no decorrer do desenvolvimento infantil, os indivíduos possuem défice nas habilidades sociais e de comunicação, nos padrões repetitivos e restritos de comportamento e interesses, pode ser classificado como leve, moderada ou severa. As pessoas com o diagnóstico de TEA apresentam uma série de déficits motores, cognitivos, sociais, além de apresentam um baixo índice de atividade física se for comparar com as pessoas que não possuem este transtorno. Porém, isto está relacionado à taxa de obesidade entre os indivíduos com TEA, sendo 30.4% em crianças com TEA, e 23.6% em crianças com desenvolvimento típico (YOUNG; FURGAL, 2016). Entretanto, alguns estudos demonstram que a inclusão na pratica regular de exercícios/atividade física é muito benéfica para pessoas com TEA, principalmente na fase infantil, e apesar dos déficits, essas pessoas são capazes de realizar e se desenvolver em atividades naturalmente. As crianças autistas podem se beneficiara partir das práticas esportivas e atividades físicas no seu aprendizado sensório-motor, da comunicação e da socialização, assim como no que compreende a melhoria da motivação e da autoconfiança (MASSION, 2006). Dentro desse contexto, enfatiza-se que muitos estudos concentraram-se nos efeitos que a prática das artes marciais influencia na aptidão física e no desempenho motor das pessoas com autismo. Dentre os benefícios podem-se citar os efeitos positivos nas habilidades motoras grossas, finas, no condicionamento físico, nas habilidades do desenvolvimento relacionadas ao comportamento adaptativo, o equilíbrio, a coordenação, ao controle motor, a coordenação dos membros superiores e inferiores, o tempo de reação motora, atividades físicas moderadas e vigorosas, a potência dos membros inferiores, assim como as habilidades 5 motoras características relacionadas às artes marciais (HUSSEN, 2010; GLESER et al., 1999; AGUIAR et al., 2008; SARABZADEH, 2019). Sendo assim, o presente trabalho apresenta o objetivo de analisar a inclusão de crianças do Espectro Autista nas Artes Marciais, mais especificamente no Karatê, demonstrando os pontos positivos e benéficos que esta prática pode proporcionar para esses indivíduos. 2 AUTISMO: CONCEITO E HISTÓRIA Na literatura médica, o psiquiatra Eugen Bleuler, em 1911, classificou o autismo como correspondendo às pessoas que possuíam dificuldades na comunicação e interação social, tendo tendência a isolar-se (PEREIRA, 2009). Segundo Schmidt (2013), o termo autismo atravessa a literatura ora sendo um tipo específico do TEA, ora sendo um conjunto de sinais e sintomas. Este termo, autismo, passou por diversas mudanças ao longo do tempo, mas atualmente é conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o Manual Diagnóstico e Estatísticode Transtornos Mentais (DSM-V) (APA, 2014). O autismo pode ser definido como sendo um transtorno complexo no desenvolvimento das pessoas que possuem este transtorno, mas as etiologias e graus variam de pessoa para pessoa (GADIA, 2006). Segundo Olivier (2008): [...] O autismo é entendido como um distúrbio que pode variar do grau leve ou severo, sendo considerado como limitrofia, em casos leves. Alguns podem ser diagnosticados com como individuo com traços autísticos, e, entre outros também podem ser vistos como portadores da síndrome de Asperge, que é considerada por muitos como um tipo de autismo com inteligência normal. (OLIVIER, 2008, p. 12) As crianças com autismo normalmente apresentam padrões restritos de atividades, possuem interesses limitados, comportamentos estereotipados, têm ausência na comunicação, dificuldade em realizar brincadeiras, principalmente com outras crianças, não faz uso da imaginação, e boa parte das vezes tem menor ou quase nada de contato com o mundo externo, e também não realiza brincadeiras simbólicas ou fantasiosas. Há também outros sintomas, como a falta de emoção, a agressividade, o atraso ou como em alguns casos a genialidade. Entretanto, mesmo diante desses sintomas, na maioria dos casos no diagnóstico há a negação e aceitação por parte da família, onde o tratamento é procurado quando as crianças já se encontram na fase escolar (GORETTI, 2014). 6 O diagnóstico precoce é bem difícil, pois há uma variabilidade no desenvolvimento entre as crianças neurotípicas, e isto faz com que os médicos não tenham o costume de expressar preocupação, a menos que compreenda marcos importante do desenvolvimento como é o caso do sentar, engatinhar e caminhar, mas geralmente os pais só procuram os médicos por causa do atraso na fala dessas crianças (SERRA, 2018; WHITMAN, 2015). 3 ARTES MARCIAIS A origem das lutas e/ou artes marciais ainda é um mistério, entretanto, pode-se dizer que na Grécia Antiga, os gregos possuíam uma forma de lutar, que era conhecida como “pancrácio”, esta modalidade se fez presente nos primeiros jogos olímpicos da era antiga. Os gladiadores romanos, já naquela época, utilizavam técnicas de luta a dois. Na Índia e na China, os primeiros indícios surgiram em formas organizadas de combate (FERREIRA, 2006). O nome dado como Modalidades Esportivas de Combate corresponde a uma configuração das práticas de lutas, das artes marciais e dos sistemas de combate sistematizados em manifestações culturais modernas, que são orientadas mediante as decodificações propostas pelas instituições esportivas. Os aspectos e conceitos tidos como competição, mensuração, aplicação de conceitos científicos, comparação de resultados, regras e normas codificadas e institucionalizadas, maximização do rendimento corporal e espetacularização da expressão corporal são alguns dos exemplos dessa transposição moderna de práticas seculares de “combate”. Portanto, torna-se necessário enfatizar que a não consensualidade vem demarcando e caracterizando a interlocução entre os diversos protagonistas que compõem a cena histórica que representa o campo das lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate (DEL VECCHIO, FRANCHINI, 2006; PUCINELI et al., 2005). As lutas, as artes marciais e as modalidades esportivas de combate (L/AM/MEC) provocam um universo amplo de manifestações antropológicas de natureza que possuem variadas dimensões e complexidade. Como sendo um conjunto de práticas socioculturais advindas de um espectro diverso de demandas históricas específicas, é plausível a identificação de pluralidade muito patente nas suas diferentes configurações sociais, formas de expressão, repertório técnico, linguagens, organização e institucionalização. Neste contexto, as lutas e as artes marciais podem ser vistas como construções identificadas e inerentes ao patrimônio cultural de diversos povos e, sobretudo, como um fenômeno relevante 7 inserido na dinâmica da sociedade contemporânea e no processo da globalização (BACK; KIM, 1984; DONOHUE, 2005; GOODGER, 1982; STRATTON, 1986). Os benefícios das lutas, as artes marciais e as modalidades esportivas de combate são diversos, e dentre as modalidades pode-se citar o MMA, Muay, Thai, Krav Maga, Taekwondo, Judô, Karatê, entre outros. 4 A INCLUSÃO DE CRIANÇAS DO ESPECTRO AUTISTA NAS ARTES MARCIAIS As PND, Perturbações do Neurodesenvolvimento, correspondem a um grupo diverso de patologias, na qual possui anomalias neurológicas ou sensoriais de carácter permanente. No global, atinge entre 10 e 20% da população do período da infância, no qual essas patologias crónicas mais frequentes e com tendência a aumentar nas sociedades modernas (LIMA, 2015; OLIVEIRA et al., 2012; TORPY, CAMPBELL & RICHARDS, 2010; FELDMAN & STUCLIFFE, 2009; CAPUTE & ACCARDO, 2008; SHEVELL et al., 2003). Segundo os autores Lima (2015) e Oliveira et al (2012) as PND afetam a maioria das áreas do corpo humano, como a cognição, a comunicação, a linguagem, a motricidade, a atenção, a socialização, o comportamento ou a aprendizagem escolar, o que limita o processo de aprendizagem fundamental para a integração na sociedade de um modo autónomo. Os autores ainda discorrem que as PND mais frequentes são as que se referem às Perturbações do Desenvolvimento Intelectual, como o Espectro do Autismo (PEA), a Específica da Linguagem (PEL), o Défice de Atenção e Hiperatividade (PHDA) e da Aprendizagem. O exercício esportivo apresenta-se como uma boa sugestão de mecanismo para ajudar na melhora nas áreas da comunicação, concentração, memorização, atenção e redução da ansiedade e na relação do indivíduo com ele mesmo e a interação social, autonomia e capacidade resolutiva de problemas por meio do confronto e vivências de diversas situações, tanto de frustração como de superação e conquista. E, dentre as diversas práticas esportivas, pode-se citar as Artes Marciais e Desportos de Combate (AM&DC), que possuem características peculiares de mediação para este tipo de necessidades especiais, pois apresentam influencia no ganho das principais funções, como as psicomotoras, o desenvolvimento cognitivo, a socialização e a comunicação, a segurança e a disciplina, a autoestima e o autocontrole, assim como o auxílio de diferentes valores de ordem pessoal e interpessoal (MARTIN, 2002; WOODWARD, 2009; PICK & ZUCHETTO, 2010). Especificamente sobre o Karatê há diversos estudos realizados que apresentam o objetivo de entender os efeitos que a prática desta modalidade, de modo adaptado, pode proporcionar para as PND em particular. Encontrou-se em um estudo no qual utilizou um 8 programa de 10 semanas de Karatê, uma diminuição nos níveis de ansiedade da criança e também dos pais, assim como melhoras na atenção, concentração, impulsividade, percepção corporal e qualidade de vida (CONANT, 2008). 5 MÉTODO Trata-se de uma Revisão Integrativa de Literatura, no qual se utilizou artigos, livros e periódicos que correspondiam a esta temática. Como critério de inclusão utilizou-se trabalhos que apresentavam descritores do tipo “Autismo” “Artes Marciais” e “Karatê”. E, para os critérios de exclusão pautou-se em todos os trabalhos que não atendiam ao objetivo deste estudo. 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES 6.1 O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E SUAS CARACTERÍSTICAS Segundo Nogueira (2014) o Transtorno do Espectro Autista (TEA) compreende a um transtorno comportamental que não apresenta uma causa definida, específica, e apenas características como incapacidade de se relacionar, tanto consigo mesmo, assim como com outras pessoas, apresenta distúrbios na linguagem, resistência ao aprendizado e não se adepta e aceita mudanças na rotina. Os portadores de TEA, principalmente as crianças, têm dificuldades em compreender as regras básicas de convívio social, a comunicação do tipo não verbal, a intençãodas pessoas, assim como aquilo que os outros esperam eles façam. Sendo assim, diante dessas dificuldades funcionais, há um grande impacto na eficiência da comunicação, de modo que acaba por fazer com que o cérebro sempre esteja lento para executar suas funções primordiais para interação social, por isso, o autismo passou a ser definido como sendo um transtorno de atraso de neurodesenvolvimento dessas pessoas, que acaba por afetar a socialização, comunicação e aprendizado. São os comportamentos atípicos que caracterizam as pessoas que possuem TEA, no qual estes sinais se manifestam de maneira heterogênea com diferentes níveis e graus. No caso das crianças, estas costumam balançar as mãos, corre de um lado para o outro, permanecer em posse de um determinado objeto, possui atraso no desenvolvimento da coordenação motora fina, grossa e também na linguagem, não possui tanta autonomia ou demora a adquirir o controle do esfíncter, assim como as suas habilidades do dia a dia, não consegue ter o autocuidado de tomar banho ou escovar dos dentes sozinhos (MARTELETO et al., 2011). 9 Como já fora mencionado, o autismo apresenta causas e tipos diferentes, no caso no autismo clássico a sua característica principal é a dificuldade na comunicação e interação social, no qual é diagnosticado antes dos 3 anos de idade. Ainda dentro deste tipo, subdivide- se em Autismo Clássico de Alto Funcionamento no qual correspondem as competências linguísticas em atraso e QI na média, e o Autismo Clássico de Baixo Funcionamento que corresponde a um caso mais grave do autismo e QI abaixo da média (CORDIOLI et al., 2014). Há outras variações do autismo, denominadas de Síndrome de Asperger (SA) e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID). A Síndrome de Asperger se caracteriza por possuir habilidades extraordinárias e dificuldade no desenvolvimento da motricidade fina e grossa, as pessoas que se classificam nesta categoria são capazes de classificar milhares de objetos, mas apresentam dificuldade em auxílio no manuseio dos mesmos. No Transtorno Invasivo do Desenvolvimento o diagnóstico é junto com a SA, entretanto, as crianças com TID têm atraso na linguagem, diferente das que possuem AS (CORDIOLI et al., 2014). 6.2 BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA O significado de atividade física corresponde à ativação do corpo fisicamente, se caracteriza como todo e qualquer movimento corporal executado pelos músculos do corpo, no qual envolve gasto energético superior aos níveis de repouso do corpo, todos os indivíduos praticam atividade física sem nem perceber, também abrange componentes de caráter biopsicossocial, cultural e comportamental. Dentre os tipos de atividades físicas encontram-se variados tipos de jogos, lutas, danças, esportes, exercícios físicos, atividades laborais e deslocamentos. Atividades como subir ou descer escadas, andar, correr, fazer faxina e passear com o cachorro pode ser considerada uma atividade física, pelo fato do indivíduo ter saído do seu estado de repouso. Entretanto, para que haja benefícios é necessária uma prática regular (PITANGA, 2002). Segundo Silva et al. (2010) a prática regular da atividade física proporciona múltiplos benefícios à saúde, assim como uma como a sensação agradável de bem-estar, autoestima, qualidade de vida, funções cognitivas, socialização e diminuição da gordura corporal, estresse, ansiedade e consumo de medicamentos, além de também beneficiar em caráter antropométrico, neuromuscular e metabólico. Além disso, a prática regular de atividade física previne diversas doenças, como as crônicas não transmissíveis (DCNT), pois possibilita mudanças nas capacidades metabólicas e funcionais. A atividade física também é primordial para pessoas com TEA, principalmente as 10 crianças e jovens, e ligada a uma alimentação adequada e balanceada ajuda a regular, ou tentar, as desordens gastrointestinais, como diminuição da produção de enzimas digestivas, inflamações da parede intestinal, e permeabilidade intestinal alterada. Também ajuda a diminuir o comportamento agressivo, melhorado a aptidão física, o desenvolvimento social, físico e motor, além de melhorar a qualidade de sono, reduz a ansiedade e depressão (TASSITANO et al., 2007; BREMER; CROZIER; LLOYD, 2016). Todavia, mesmo que diversos estudos trem demonstrado que a atividade física é benéfica aos indivíduos com TEA, há as restrições diárias. As famílias dos autistas explicitam as dificuldades em inserir essas pessoas nas práticas regulares de alguma atividade física. Pode-se citar dentre essas barreias a habilidade motora fraca, os problemas comportamentais e de aprendizagem, as dificuldade com habilidades sociais, que necessitam de muita supervisão, possuem poucos amigos, profissionais sem qualificação para lidar com essas pessoas, poucas oportunidades de exercício, e também o fato de que quando existe uma modalidade que interesse, esta não cabe no orçamento das famílias, também há a exclusão por parte das outras crianças (MUST et al., 2015). As crianças autistas possuem baixa habilidade cognitiva e social, tornam-se, como tempo, menos fisicamente ativas, e mais sedentárias. Sendo assim, é necessário que, mesmo diante das dificuldades, o exercício físico se faça presente, de alguma forma, na vida das crianças e jovens com TEA, a fim de haver uma melhora no desenvolvimento da mesma, a tornando mais independente (MEMARI et al., 2017). 6.3 EFEITOS DA PRÁTICA DO KARATÊ PARA CRIANÇAS COM TEA O esporte praticado de maneira sistemática vem sendo utilizado para promover benefícios na saúde e qualidade de vida de seus praticantes. É notório que a prática esportiva apresenta características que parecem ajudar na aprendizagem, interação social, e também no comportamento, principalmente das crianças, sendo, portanto um aliado importantíssimo no desenvolvimento de crianças com TEA (ÖZER et al., 2012; MCCONKEY, 2013). Vale salientar a procura, por parte de pais e professores, pelos esportes de contato, como as lutas/combate ou artes marciais. Essas modalidades possuem características organizacionais que têm um maior ajuste social e conduta de seus praticantes, e também possui a regularidade prática que permite a adaptação, por parte dos alunos (DAIRO, 2016; PESTANA et al., 2018; BREMER, 2016). Muito se acredita que a motivação e regularidade na prática das artes marciais possa proporcionar um maior envolvimento, por parte dos praticantes, aumentando a probabilidade 11 de se alcançar diversos benefícios (HUTZLER; KORSENSKY, 2010). Alguns estudos defendem que a prática de artes marciais por pessoas com TEA pode alcançar interessantes para essas pessoas (ZOU et al., 2017; RAJAN, 2015; RAO, 2008). Em um estudo verificou-se o efeito de 12 semanas de um programa de karatê, no qual se constatou o progresso significativo do desenvolvimento físico e das habilidades motoras específicas que foram avaliadas (PERIC et al., 2018). Em estudo realizado com crianças com TEA, sobre os efeitos do treino através de exercícios de Kata (型), após 14 semanas de treino observou-se que a prática apresenta redução nos comportamentos estereotipados (BAHRAMI, 2012). Em outro estudo, com a mesma metodologia, pode-se observar que o treino de Kata apresenta uma grande influencia no que compreende a interação social das crianças (MOVAHEDI, 2013). Também foi possível observar uma melhora e consequente diminuição nos défices na área da comunicação (BAHRAMI, 2015). Segundo Scheliemann (2013) as atividades físicas e esportivas podem proporcionar excelentes oportunidades de aprendizagem, especialmente para as crianças autistas, proporcionando prazer e autoestima, melhorando sua qualidade de vida, e consequentemente garantindo o bem-estar desses indivíduos. A inclusão de crianças com TEA em práticas de artes marciais proporciona melhorias relacionadas ao rendimento físico, melhorano conhecimento das capacidades e percepção do corpo, melhor relação e comunicação, socialização, tanto com seus companheiros de equipe, como os adversários (MASSION, 2006 p.243). Sendo assim, a inclusão de crianças com TEA em práticas como as artes marciais é de suma importância para seu desenvolvimento, tanto físico como psicológico. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados do apresentado trabalho, pode-se concluir que a prática regular de atividade física proporciona inúmeros benefícios para corpo e para a mente, principalmente para crianças com TEA. Sendo assim, conclui-se que o Karatê é uma modalidade que promove diversos benefícios para crianças com perturbações do Neurodesenvolvimento, ajudando na concentração, diminuição da ansiedade e depressão, melhorando as interações sociais, entre outros. Faz também com que se sinta melhor consigo mesma, elevando sua autoestima, bem-estar e consequentemente melhora a qualidade de vida. 12 REFERÊNCIAS AGUIAR et al. The exercise redox paradigm in the Down’s syndrome: Improvements in motor function and increases in blood oxidative status in young adults. J Neural Transm. 2008;115(12):1643–1650. BACK, A.; KIM, D. The future course of the Eastern martial arts. Quest, v.36, p.7-14, 1984. Bahrami, F., Movahedi, A., Marandi, S.M., & Abedi, A. (2012). Kata techniques training consistently decreases stereotypy in children with autism spectrum disorder. Research in Developmental Disabilities, 33, 1183-93. BAHRAMI, F., MOVAHEDI, A., MARANDI, S. M., & SORENSEN, C. (2015). The Effect of Karate Techniques Training on Communication Deficit of Children with Autism Spectrum Disorders. Journal of Autism and Developmental Disorders, 46(3), 978-86. BREMER, Emily; LLOYD, Meghann. School-based fundamental-motor-skill intervention for children with autism-like characteristics: an exploratory study. Adapted Physical Activity Quarterly, [s.l.], v. 33, n. 1, p.66-88, jan. 2016. Human Kinetics. http://dx.doi.org/10.1123/apaq.2015-0009. CAPUTE, A.J., & ACCARDO J.P. (2008). Neurodevelopmental Disabilities in Infancy and Childhood. Baltimore: Brookes Publishing. CONANT, K.D., et al. (2008). A karate program for improving self-concept and quality of life in childhood. epilepsy: Results of a pilot study. Epilepsy & Behavior, 12(1), 61–5. CORDIOLI, Aristides Volpato et al. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 976 p. CORREA, Bianca; SIMAS, Francine; PORTES, João Rodrigo Maciel. Metas de Socialização e Estratégias de Ação de Mães de Crianças com Suspeita de Transtorno do Espectro Autista. Rev. bras. educ. espec., Bauru, v. 24, n. 2, p. 293-308, abr. 2018. DAIRO YM, COLLETT J, DAWES H, OSKROCHI GR. Physical activity levels in adults with intellectual disabilities: A systematic review. Prev Med Rep. 2016;4: 209–219. http://dx.doi.org/10.1123/apaq.2015-0009 13 DEL’VECCHIO, F. B.; FRANCHINI, E. Lutas, artes marciais e esportes de combate: possibilidades, experiências e abordagens no currículo de educação física. In: SAMUEL DE SOUZA NETO; DAGMAR HUNGER (Org.). Formação profissional em Educação Física: estudos e pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006, v. 1, p. 99-108. DONOHUE, J.J. Modern educational theories and traditional Japanese martial arts training methods. Journal of Asian Martial Arts, v.14, n.2, p.8-29, 2005. FELDMAN, L., & STUCLIFFE, T. (2009). The History of Developmental-Behavioral Pediatrics. In W.B. Carey, A.C. Crocker, (Eds.) DevelopmentalBehavioral Pediatrics (pp. 2- 12). Philadelphia: Elsevier. FERREIRA, Heraldo Simões. As lutas na educação física escolar. Revista de Educação Física/Journal of Physical Education, v. 75, n. 135, 2006 GADIA, Carlos. Aprendizagem e autismo: transtornos da aprendizagem: abordagem neuropsicológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006. GLESER JM et al. Physical and psychosocial benefits of modified judo practice for blind, mentally retarded children: a pilot study. Percept Mot Skills. 1992;74(3) 915–925. GOODGER, J.M. Theories of change in sport: comments on some recent contributions. International Review for the Sociology of Sport, Otago, v. 17, n.3, p.99-109, 1982. GORETTI, Amanda Cabral dos Santos; ALMEIDA, Sandra Francesca Conte de; LEGNANI, Viviane Neves. A relação mãe-bebê na estimulação precoce: um olhar psicanalítico. Estilos clin., São Paulo, v. 19, n. 3, p. 414-435, dez. 2014. HUSSEN SS. Effect of using the activities of multiple intelligences to learn some basic skills in kata and level of harmonic behavior of the mentally handicapped, "acceptors for learning. Proc Soc Beha Sci. 2010;5:1950–1955. 14 HUTZLER Y, KORSENSKY O. Motivational correlates of physical activity in persons with an intellectual disability: A systematic literature review. J Intellect Disabil Res. 2010; 54(9): 767–786. LIMA, C. B. (2015). Perturbações do Neurodesenvolvimento - Manual de intervenções diagnósticas e estratégias de intervenção. Lisboa: Lidel Editora. MARTELETO, Márcia Regina Fumagalli et al. Problemas de comportamento em crianças com transtorno autista. Psicologia: Teoria e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 1, p.5-12, mar. 2011. MASSION, J. Sport et autism. Science & Sports, v. 21, p. 243-248, 2006. MARTIN, R (2002). The physical and psychological benefits of martial arts training for individuals with disabilities. Ms Thesis. Graduate College University of Wisconsin-Stout. MCCONKEY R, DOWLING S, HASSAN D, MENKE S. Promoting social inclusion through unified sports for youth with intellectual disabilities: A five-nation study. J Intellect Disabil Res. 2013; 57(10): 923–935. MEMARI, Amir Hossein et al. Cognitive and social functioning are connected to physical activity behavior in children with autism spectrum disorder. Research in Autism Spectrum Disorders, [s.l.], v. 33, p.21-28, jan. 2017. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.rasd.2016.10.001. MORAES, Laise; JESUS, Gilmar. Benefícios de programas de atividade aquáticas para pessoas no transtorno do espectro autista. I Congresso Nordeste de Atividades Aquáticas (I CONATA) e I Congresso Internacional de Atividades Aquáticas (I CONIATA): Indissociabilidade na formação: fomentando o ensino e a pesquisa com a extensão ANAIS. Bahia. 26 a 28 de out. 2017. p.15-23. MOVAHEDI, A., BAHRAMI, F., MARANDI, S.M., & ABEDI, A. (2013). Improvement in social dysfunction of children with autism spectrum disorder following long-term kata techniques training. Research in Autism Spectrum Disorders, 7, 1054–1061. http://dx.doi.org/10.1016/j.rasd.2016.10.001 15 MUST, Aviva et al. Barriers to physical activity in children with autism spectrum disorders: relationship to physical activity and screen time. Journal of Physical Activity and Health, [s.l.], v. 12, n. 4, p.529-534, abr. 2015. Human Kinetics. http://dx.doi.org/10.1123/jpah.2013- 0271. NOGUEIRA, Erika de Souza. Transtorno do Espectro Autista (TEA). 2014. 43 f. TCC (Graduação) - Curso de Pedagogia, Faculdade Método de São Paulo, São Paulo, 2014. OLIVEIRA, G., et al (2012). Pediatria do Neurodesenvolvimento. Levantamento nacional de recursos e necessidades. Acta Pediátrica Portuguesa, 43(1), 1-7. ÖZER D, et al . Effects of a Special Olympics Unified Sports soccer program on psycho- social attributes of youth with and without intellectual disability. Res Dev Disabil. 2012; 33(1): 229–239. PEREIRA, Márcia Cristina Lima. Pais de alunos autistas: relatos de expectativas, experiências e concepções em inclusão escolar. Brasília: UCB, 2009. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade Católica de Brasília, 2009. PESTANA MB, BARBIERI FA, VITÓRIO R, FIGUEIREDO GA, MauerbergdeCastro E. Effects of physical exercise for adults with intellectual disabilities: A systematicreview. J Physl Educ (Maringa). 2018; 29(1): 1–16. PERIC D. Effects of adapted karate program in the treatment of persons with mild intellectual disability. Arch Budo. 2018;14:159–167. PICK, R., & ZUCHETTO, A. (2010). Comportamentos sociais de um portador da Síndrome de Down evidenciados na prática de actividade física: um estudo de caso. Anais do Congresso Brasileiro sobre Sindrome de Down. Florianópolis: Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina. PITANGA, Francisco José Gondim. Epidemiologia, atividade física e saúde. Revista Brasileira Ciência e Movimento, Brasília, v. 10, n. 3, p.49-54, jul. 2002. http://dx.doi.org/10.1123/jpah.2013-0271 http://dx.doi.org/10.1123/jpah.2013-0271 16 PUCINELI, F.A.; NAKAMOTO, H.O.; DEL VECCHIO, F. B. Luta - Conceituação e Classificação. In: Anais do 1º Congresso Internacional de Ciências do Esporte. Porto Alegre: Editora da URGS, 2005. p. 1128. SARABZADEH M, AZARI BB, HELALIZADEH M. The effect of six weeks of Tai Chi Chuan training on the motor skills of children with Autism Spectrum Disorder. J Bodyw Mov Ther. 2019; 23(2): 284–290. http://dx.doi.org/10.1017/s0954422414000110. SERRA, Dayse. Sobre a inclusão de alunos com autismo na escola regular. Quando o campo é quem escolhe a teoria. Revista de Psicologia, v.1n2, p.163-176, jul./dez. 2010. Fortaleza: UFC. SHEVELL, M., et al. (2003). Practice parameter: evaluation of the child with global developmental delay. Neurology, 60, 367-80. SCHMIDT, Carlo. Autismo, educação e transdisciplinaridade. Campinas: Papirus, 2013. STRATTON, R. Of monks and warriors: a layman’s overview of far eastern martial arts. Olympic Review, Lausanne, n.224, p.342-347, 1986. TASSITANO, Rafael Miranda et al. Atividade física em adolescentes brasileiros: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, Pernambuco, v. 1, n. 9, p.55-60, 2007. TORPY, J.; CAMPBELL, A. & RICHARD, M. (2010). Chronic diseases of children. Journal of the American Medical Association, 303, 682-91. WHITMAN, Thomas L. O desenvolvimento do Autismo – Social, Cognitivo, Linguístico, Sensóriomotor e Perspectivas Biológicas. São Paulo: M. Books, 2015. WOODWARD, T.W. (2009). A review of the Effects of Martial arts practice on Health. Wisconsin Medical Journal, 108(1), 40-43. http://dx.doi.org/10.1017/s0954422414000110 17 YOUNG, Sonia; FURGAL, Karen. Exercise effects in individuals with autism spectrum disorder: a short review. Autism-open Access, [s.l.], v. 6, n. 3, p.1-2, 20 June 2016. OMICS Publishing Group. http://dx.doi.org/10.4172/2165-7890.1000180. http://dx.doi.org/10.4172/2165-7890.1000180