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26 SISTEMA RESPIRATÓRIO O sistema respiratório, constituído pelos pulmões e por uma sequência de vias aéreas que conduz ao ambiente externo, atua no fornecimento do oxigênio (O2) e na eliminação do dióxido de carbono (CO2) das células do corpo. A realização deste objetivo requer o cumprimento dos quatro eventos abaixo, conhecidos como respiração: (1) Movimento do ar para dentro e para fora dos pulmões (respiração ou ventilação) (2) Entrada do O2 do ar alveolar para o sangue e de CO2 do sangue para o ar alveolar (respiração externa). (3) Transporte de O2 para as células. (4) Troca do CO2 por O2 nas proximidades das células (respiração interna). (5) Transporte de CO2 para os pulmões. Os eventos (1) e (2) ocorrem dentro do sistema respiratório, enquanto os eventos (3) e (5) são realizados pelo sistema circulatório. Já o evento (4) ocorre nos tecidos por todo o corpo. O sistema respiratório é subdividido em dois componentes: a porção condutora e a porção respiratória. A porção condutora, situada dentro e fora dos pulmões, conduz o ar do ambiente externo para os pulmões. A porção respiratória, localizada estritamente dentro dos pulmões, realiza a verdadeira troca do oxigênio por dióxido de carbono (respiração externa). PORÇÃO CONDUTORA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO A porção condutora do sistema respiratório, listada em ordem a partir do exterior para dentro dos pulmões, é composta de cavidade nasal, nasofaringe, faringe, laringe, traqueia, brônquios primários, brônquios secundários (brônquios lobares), brônquios terciários (brônquios segmentares), bronquíolos e bronquíolos terminais. Estas estruturas não somente transportam, mas também filtram, umedecem e aquecem o ar inspirado antes de ele alcançar a porção respiratória dos pulmões. Observe a parte condutora do sistema respiratório na figura a seguir. A abertura do lúmen das vias aéreas condutoras é mantida por uma combinação de tecido ósseo, cartilagem e tecido conjuntivo. À medida que o ar progride ao longo da via aérea durante a inspiração, ele encontra um sistema ramificado de túbulos. Embora o diâmetro de cada túbulo continue a se estreitar após 27 cada ramificação, o diâmetro transversal total dos vários ramos aumenta. Como resultado, a velocidade do fluxo de ar durante a inspiração diminui à medida que o ar progride em direção à porção respiratória. Cavidade Nasal A cavidade nasal é dividida em metades direita e esquerda pelo septo nasal, que apresenta cartilagem e tecido ósseo em sua sustentação. Cada metade da cavidade nasal é limitada lateralmente por uma parede óssea e por peças de cartilagens nasais. Cada uma dessas metades se comunica com o meio externo, anteriormente, através da narina e com a nasofaringe por meio da coana. Na porção posterior encontram-se três delgadas prateleiras ósseas semelhantes a rolos, situadas umas sobre as outras: são as conchas nasais superior, média e inferior. Porção Anterior da Cavidade Nasal A porção anterior da cavidade nasal, nas imediações das narinas, é dilatada e conhecida como vestíbulo. Esta região é revestida por pele e possui pelos curtos e rígidos que impedem a entrada de grandes partículas de poeira para a cavidade nasal. Porção Posterior da Cavidade Nasal A porção posterior da cavidade nasal é revestida por uma mucosa com um epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado, frequentemente chamado de epitélio respiratório, o qual possui várias células caliciformes. O tecido conjuntivo (lâmina própria) é ricamente vascularizado, especialmente na região das conchas nasais. A lâmina própria apresenta muitas glândulas seromucosas e abundantes componentes linfoides que protegem a mucosa nasal contra antígenos inalados e contra a invasão de micróbios. O teto da cavidade nasal é recoberto por uma mucosa olfatória, a qual apresenta um epitélio olfatório que contém neurônios bipolares responsáveis pelo olfato. Axônios desses neurônios atravessam a placa crivosa do osso etmoide em direção ao encéfalo. O epitélio olfatório é responsável pela percepção de odores, o que também contribui de forma significativa para a discriminação do paladar. A mucosa nasal, constantemente umedecida, filtra o ar inalado. Substâncias particuladas, como poeira, são retidas pelo muco produzido pelas células caliciformes do epitélio e pelas glândulas seromucosas da lâmina própria. À medida que os cílios se movem, o muco vai sendo deslocado. Substâncias particuladas capturadas no muco são assim direcionadas, pelo movimento ciliar, à faringe, para serem deglutidas ou expectoradas. Antígenos e alergenos trazidos pelo ar são combatidos por elementos linfoides da lâmina própria. Anticorpos produzidos por plasmócitos pode ativar mastócitos e basófilos iniciando a liberação de vários mediadores da inflamação que, atuando na mucosa nasal, induz os sintomas associados a resfriados e à rinite alérgica. Seios Paranasais Os ossos etmoide, esfenoide, frontal e maxilar possuem grandes espaços revestidos por mucoperiósteo, denominados seios paranasais, os quais se comunicam com a cavidade nasal. A mucosa de cada seio compreende um epitélio respiratório e uma lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo vascularizado, fundida ao periósteo, daí o termo mucoperiósteo. A delgada lâmina própria é semelhante àquela da cavidade nasal, na qual existem glândulas seromucosas e elementos linfoides. O epitélio respiratório de revestimento dos seios paranasais, semelhante ao da cavidade nasal, apresenta numerosas células cilíndricas ciliadas, cujos cílios movimentam a camada de muco em direção à cavidade nasal. Faringe A faringe se inicia nas coanas e se estende até a abertura da laringe. Esta cavidade contínua é subdividida em três regiões: (1) a nasofaringe, em posição superior, (2) a orofaringe, em posição intermediária e (3) a laringo-faringe, em posição inferior. A nasofaringe é revestida por uma mucosa com um epitélio respiratório, enquanto a orofaringe e a laringofaringe apresentam uma mucosa revestida por um epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado. A lâmina própria é composta por um tecido conjuntivo vascularizado que varia do frouxo ao denso, com glândulas seromucosas e elementos linfoides. Essa lâmina própria se encontra fundida com o epimísio dos músculos esqueléticos da faringe. Na lâmina própria da porção posterior da nasofaringe se encontra a tonsila faríngea, um tecido linfoide não-encapsulado. Laringe A laringe, situada entre a faringe e a traqueia, é um curto tubo cilíndrico e rígido, com 4 cm de comprimento e aproximadamente 4 cm de diâmetro. Ela é responsável pela fonação e evita a entrada de 28 alimentos no sistema respiratório durante a deglutição. A parede da laringe é reforçada por peças de cartilagem hialina e elástica. Estas cartilagens são conectadas umas às outras por ligamentos e seus movimentos são controlados por músculos esqueléticos intrínsecos e extrínsecos. Os músculos intrínsecos da laringe têm sua origem e inserção na própria laringe, atuando na movimentação das pregas vocais. Os músculos extrínsecos movem a laringe como uma unidade, fazendo-a subir, descer ou ocupar uma posição mais anterior, movimentos que ocorrem durante a deglutição. As cartilagens hialinas tireoides e cricoide formam o suporte cilíndrico para a laringe, enquanto a cartilagem elástica epiglote fornece uma cobertura por sobre o ádito da laringe. Durante a respiração, a epiglote está na posição vertical, permitindo o fluxo de ar. Entretanto, durante a deglutição ela é posicionada horizontalmente, fechando o ádito da laringe e impedindo que os alimentos penetrem no trato respiratório. A mucosa da laringe possui dois pares de pregas, semelhantes a prateleiras, as pregas vestibulares e as pregas vocais. As pregas vestibulares (falsas cordas vocais) são imóveis. Já as pregas vocais (corda vocal verdadeira) são móveise suas bordas são reforçadas por uma faixa de tecido conjuntivo elástico, o ligamento vocal. Os músculos intrínsecos da laringe alteram a tensão das pregas vocais regulando a largura do espaço entre as pregas vocais (a rima da glote), permitindo assim um controle preciso das vibrações durante a saída de ar. A laringe apresenta uma mucosa revestida, em sua maior parte, por um epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado, com exceção da superfície superior da epiglote e das pregas vocais, as quais são revestidas por um epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado. Os cílios da laringe se movimentam transportando as partículas aprisionadas em direção à faringe, a fim de serem expectoradas ou deglutidas. Traqueia A traqueia é um tubo, com 12 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro, que se inicia na cartilagem cricóide da laringe e termina com a sua bifurcação para formar os brônquios primários. A parede da traqueia é reforçada por 10 a 12 anéis de cartilagem hialina em forma de ferradura (ou em anéis em forma de C). As extremidades abertas destes anéis cartilaginosos se encontram na face posterior da traqueia e são unidas por músculo liso denominado músculo traqueal. Devido a este arranjo dos anéis em forma de C, a traqueia exibe um contorno arredondado em sua face anterior e um achatamento em sua face posterior. O pericôndrio de cada anel cartilaginoso é ligado ao pericôndrio dos anéis acima e abaixo por um tecido conjuntivo fibroelástico, o qual fornece flexibilidade à traqueia e permite seu alongamento durante a inspiração. A parede da traqueia possui três camadas: mucosa, submucosa e adventícia. Mucosa A camada mucosa da traqueia é composta por um epitélio pseudo-estratificado cilíndrico ciliado (epitélio respiratório), tecido conjuntivo frouxo subepitelial (lâmina própria), e um feixe de fibras elásticas separando a mucosa da submucosa. O epitélio respiratório, um epitélio pseudo-estratificado cilíndrico ciliado, é separado da lâmina própria por uma espessa membrana basal. O epitélio é composto principalmente por quatro tipos celulares: células caliciformes, células cilíndricas ciliadas, células basais e células do sistema neuroendócrino difuso (SNED). Todas estas células estão em contato com a membrana basal, mas nem todas alcançam o lúmen. As células caliciformes constituem quase 32% do total da população de células do epitélio respiratório. Elas produzem mucinogênio, que quando liberado em um ambiente aquoso se hidrata se transformando em muco. As células cilíndricas ciliadas constituem aproximadamente 32% do total da população de células. Estas células possuem cílios em sua membrana plasmática apical. Através da ação ciliar, estas células movimentam o muco e o material particulado aderido a ele em direção à faringe para eliminação. As curtas células basais constituem quase 32% do total da população de células. Elas estão localizadas próximas à membrana basal, porém suas superfícies apicais não alcançam o lúmen. Estas células relativamente indiferenciadas são consideradas como células-tronco que proliferam e substituem células caliciformes, células cilíndricas ciliadas e células em escova que porventura estejam mortas. As células do SNED constituem aproximadamente 4% do total da população de células. Muitas destas células possuem prolongamentos que se estendem para o lúmen monitorando os níveis de oxigênio e de dióxido de carbono. Estas células estão intimamente associadas a terminações nervosas livres com as quais elas fazem contato sináptico. As células do SNED possuem muitas vesículas contendo neurotransmissores. Sob condições de hipóxia, esses neurotransmissores são liberados nas fendas sinápticas gerando impulsos nervosos que podem ser transmitidos aos centros reguladores da respiração, localizados no bulbo. A lâmina própria da traqueia é composta por um tecido conjuntivo frouxo. Ela contém elementos linfoides bem como glândulas mucosas e seromucosas, cujos ductos se abrem na superfície epitelial. Uma 29 densa camada de fibras elásticas, que forma uma espécie de lâmina elástica, separa a lâmina própria da submucosa. Submucosa A submucosa da traqueia é composta por um tecido conjuntivo denso fibroelástico contendo numerosas glândulas rnucosas e seromucosas. Os pequenos ductos destas glândulas atravessam a lâmina elástica e a lâmina própria para se abrirem na superfície epitelial. Elementos linfoides também estão presentes na submucosa. Além disso, esta região possui um rico suprimento sanguíneo e linfático. Adventícia A característica mais proeminente da adventícia é representada pelos anéis cartilaginosos em forma de C com tecido conjuntivo fibroso interposto. A adventícia também é responsável por ancorar a traqueia ao esôfago e aos tecidos conjuntivos do pescoço. Árvore Brônquica A árvore brônquica tem início na bifurcação da traqueia com formação dos brônquios primários direito e esquerdo. A árvore brônquica é formada por vias aéreas localizadas fora dos pulmões (brônquios primários) e vias aéreas localizadas dentro dos pulmões (brônquios secundários, brônquios terciários, bronquíolos primários, bronquíolos terminais e bronquíolos respiratórios). A árvore brônquica se divide cerca de 20 vezes antes de atingir o nível dos bronquíolos terminais. À medida que as vias aéreas diminuem progressivamente de tamanho, várias modificações são observadas, incluindo diminuições na quantidade de cartilagem, no número de glândulas, no número de células caliciformes e na altura das células epiteliais, além de um aumento relativo na quantidade de músculo liso em relação à espessura da parede. Brônquios Primários (Extrapulmonares) A estrutura dos brônquios primários é idêntica à da traqueia, exceto pelo fato de que os brônquios primários têm diâmetro menor e parede mais fina. Cada brônquio primário penetra no pulmão, acompanhado pelas artérias pulmonares, veias e vasos linfáticos. O brônquio direito é mais verticalizado que o brônquio esquerdo. O brônquio direito origina três ramificações em direção aos três lobos do pulmão direito, e o brônquio esquerdo se bifurca, enviando ramificações para os dois lobos do pulmão esquerdo. Estas ramificações, em seguida, entram no pulmão como brônquios intrapulmonares. Brônquios Secundários e Terciários (lntrapulmonares) Estas vias aéreas são similares aos brônquios primários, com algumas diferenças. Os anéis cartilaginosos em forma de C são substituídos por placas de cartilagem hialina que envolvem completamente a parede dos brônquios intrapulmonares. Desta forma, estas vias aéreas não possuem uma região achatada, sendo totalmente arredondadas. O músculo liso está localizado entre a lâmina própria da mucosa e a submucosa. Como também acontece nos brônquios primários e na traqueia, glândulas seromucosas e elementos linfoides estão presentes na lâmina própria e na submucosa dos brônquios intrapulmonares. Ductos destas glândulas liberam seus produtos de secreção na superfície do epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado que reveste o lúmen do brônquio. Os menores brônquios intrapulmonares têm paredes finas, menor quantidade de cartilagem hialina e epitélio de revestimento mais baixo. Os brônquios secundários, os quais são ramos diretos dos brônquios primários que seguem para os lobos do pulmão, são também conhecidos como brônquios lobares. O pulmão esquerdo tem dois lobos e, desta forma, tem dois brônquios secundários. O pulmão direito tem três lobos e, assim, tem três brônquios secundários. À medida que os brônquios secundários entram nos lobos do pulmão, eles se subdividem em ramos menores, caracterizados como brônquios terciários (ou segmentares). Cada brônquio terciário se arboriza e supre uma determinada área do pulmão conhecida como segmento broncopulmonar. Cada pulmão tem 10 segmentos broncopulmonares que são completamente separadosum do outro por tecido conjuntivo e são clinicamente importantes durante procedimentos cirúrgicos envolvendo os pulmões. Conforme as ramificações ocorrem, os brônquios intrapulmonares diminuem de diâmetro, originando os bronquíolos. Bronquíolos Primários Cada bronquíolo primário (ou bronquíolo propriamente dito) supre um lóbulo pulmonar. Os bronquíolos primários estão entre a 10ª a 15ª geração de ramificação dicotômica da árvore brônquica. O revestimento epitelial dos bronquíolos varia do epitélio simples cilíndrico ciliado, com algumas células 30 caliciformes nos bronquíolos maiores, ao epitélio simples cúbico com muitas células ciliadas e sem a presença de células caliciformes nos bronquíolos menores. As paredes dos bronquíolos e suas ramificações não têm cartilagem mas contém músculo liso. A lâmina própria é constituída por um tecido conjuntivo elástico circundado por uma camada da musculatura lisa. Durante a inalação, conforme o pulmão se expande em volume, as fibras elásticas permitem que os bronquíolos se mantenham abertos. Bronquíolos Terminais Cada bronquíolo propriamente dito se subdivide para formar muitos bronquíolos terminais menores, cujo diâmetro é menor que 0,5 mm constituindo o término da porção condutora do sistema respiratório. O epitélio dos bronquíolos terminais é composto por células cuboides, algumas com cílios. A lâmina própria é constituída por uma fina camada de tecido conjuntivo elástico circundada por uma a duas camadas de células musculares lisas. Os bronquíolos terminais se ramificam para dar origem a bronquíolos respiratórios. PORÇÃO RESPIRATÓRIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO A porção respiratória do sistema respiratório é composta de bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos. Observe estas estruturas na figura a seguir. 31 Bronquíolos Respiratórios Os bronquíolos respiratórios correspondem à primeira região do sistema respiratório onde a troca de gases pode ocorrer. Os bronquíolos respiratórios têm uma estrutura semelhante aos bronquíolos terminais, mas suas paredes são interrompidas pela presença de alguns alvéolos, onde as trocas de gases podem ocorrer. Conforme ocorre a ramificação dos bronquíolos respiratórios, o diâmetro do lúmen diminui e o número de alvéolos aumenta. Após as ramificações, cada bronquíolo respiratório termina em um ducto alveolar. Ductos Alveolares e Sacos Alveolares Um ducto alveolar se origina do bronquíolo respiratório e é formado por arranjo linear de alvéolos. Cada ducto alveolar termina em fundo cego composto por dois ou mais grupos de alvéolos denominados sacos alveolares. Fibras elásticas localizadas nas paredes dos ductos alveolares e dos sacos alveolares mantêm a abertura dessas delicadas estruturas durante a inspiração. Alvéolos Os alvéolos estão presentes nos bronquíolos respiratórios, nos ductos alveolares e nos sacos alveolares e representam a unidade funcional e estrutural do sistema respiratório. Suas finas paredes permitem a troca de gases CO2 por O2 entre o ar contido em seus espaços e o sangue dos capilares pulmonares. Embora cada alvéolo seja uma pequena estrutura, seu número total se aproxima de 300 milhões, conferindo ao pulmão sua consistência esponjosa. Tem sido estimado que a área de superfície total de todos os alvéolos disponíveis para as trocas gasosas exceda 140 m2. Os alvéolos podem se comunicar entre si através de um poro alveolar que provavelmente funciona equilibrando a pressão do ar dentro dos segmentos pulmonares (observe a figura da página anterior). A parede de um alvéolo é composta por dois tipos de células: pneumócitos tipo I e pneumócitos tipo II. Também estão presentes no interior do alvéolo os macrófagos alveolares também conhecidos como células de poeira. Pneumócitos Tipo I Aproximadamente 95% da superfície alveolar é revestida por um epitélio simples pavimentoso, cujas células são conhecidas como pneumócitos tipo I (também chamadas de células alveolares tipo I). Os pneumócitos tipo I formam junções fechadas uns com os outros. A superfície basal destas células é coberta por uma lâmina basal e a superfície luminal é coberta pelo surfactante pulmonar, como descrito a seguir. Pneumócitos Tipo II Os pneumócitos tipo II (também conhecidos como células alveolares tipo II) ocupam somente 5% da superfície alveolar. Estas células cuboides encontram-se dispersas por entre os pneumócitos tipo I e também formam junções oclusivas com estas células. Sua superfície apical em forma de cúpula se projeta para dentro do lúmen alveolar e sua superfície basal é coberta por uma lâmina basal. Eletromicrografias do pneumócitos tipo II mostram curtas microvilosidades apicais. A característica mais marcante destas células é a presença de corpos lamelares, estruturas revestidas por membrana que contêm o surfactante pulmonar, o produto de secreção destas células. O surfactante pulmonar, produzido pelo retículo endoplasmático liso e rugoso, é uma substância composta por fosfolipídios, lipídios neutros e proteínas específicas. Após sua síntese, o surfactante é modificado no aparelho de Golgi e é então liberado em vesículas de secreção. O surfactante é liberado por exocitose no lúmen do alvéolo. Ali ele forma uma extensa rede que diminui a tensão superficial, prevenindo assim a atelectasia, que é o colapso dos alvéolos. O surfactante é produzido constantemente pelos pneumócitos tipo II. Ao nascimento, os pulmões da criança se expandem com a primeira entrada de ar e a presença do surfactante permite que os alvéolos permaneçam abertos. Crianças prematuras (aquelas nascidas com menos de 7 meses de gestação) que ainda não produziram surfactante (ou que produziram uma quantidade insuficiente) podem sofrer da síndrome da angústia respiratória. Estas crianças são tratadas com uma combinação de surfactante sintético e terapia com corticoides. O surfactante sintético age imediatamente reduzindo a tensão superficial alveolar e os corticoides estimulam a produção de surfactante pelos pneumócitos tipo II. Macrófagos Alveolares (Células de Poeira) Macrófagos alveolares fagocitam partículas suspensas que chegam no lúmen dos alvéolos. Monócitos ganham acesso ao tecido conjuntivo pulmonar, tornam-se macrófagos alveolares (ou células de 32 poeira), migram por entre os pneumócitos tipo I e alcançam o lúmen dos alvéolos. Estas células fagocitam material particulado, como poeira ou bactérias, e assim mantêm um ambiente estéril dentro dos pulmões. O enfisema é uma doença normalmente associada à exposição prolongada à fumaça de cigarro e outros inibidores da proteína α1-antitripsina. Esta proteína, produzida pelo fígado, protege o pulmão contra a destruição das fibras elásticas pela elastase sintetizada pelas células de poeira. Em alguns pacientes, a elasticidade do tecido pulmonar é reduzida provocando a formação de sacos alveolares dilatados e preenchidos com fluido diminuindo assim a capacidade de trocas gasosas da porção respiratória. Barreira Hemato-Aérea (Membrana Respiratória) A barreira hemato-aérea representa a região que é atravessada por O2 e CO2 do lúmen do alvéolo para o lúmen do capilar sanguíneo e vice-versa. A barreira hemato-aérea é formada pelas seguintes estruturas: surfactante, pneumócitos tipo I, lâminas basais dos pneumócitos tipo I e das células endoteliais dos capilares fundidas e células endoteliais dos capilares pulmonares. Na figura a seguir, observe as diferentes células presentes nos alvéolos e os constituintes da barreira hemato-aérea ou membrana respiratória. VENTILAÇÃO PULMONAR O processo de ventilação pulmonar envolve a entrada e a saída de ar pelas vias respiratórias. Nesse processo, o ar flui da atmosfera para os alvéolos e dos alvéolos para a atmosfera em razão das diferenças alternadas de pressão criadas pela contração e pelo relaxamento dos músculosrespiratórios. Porém, outros fatores como a complacência pulmonar e a resistência das vias respiratórias também alteram a velocidade de fluxo de ar e o esforço necessário para movimentar o ar. O ar entra nos pulmões quando a pressão de dentro dos pulmões for menor do que a pressão atmosférica, processo chamado de inalação ou inspiração. O ar sai dos pulmões quando a pressão de dentro dos pulmões for maior do que a pressão atmosférica, processo chamado de exalação ou expiração. Inalação ou inspiração Para o ar fluir para os pulmões, a pressão dentro dos alvéolos deve ser menor do que a pressão atmosférica que, ao nível do mar, é de aproximadamente 760 milímetros de mercúrio (mmHg). Esta condição 33 é obtida aumentando-se o volume dos pulmões. Os principais músculos da inspiração são o diafragma e os intercostais externos, porém o diafragma é o mais importante. O diafragma é um músculo esquelético que forma o assoalho da cavidade torácica. A contração do diafragma provoca sua descida aumentando o volume da cavidade torácica. Durante a inspiração tranquila, o diafragma desce aproximadamente 1 cm, produzindo uma redução de pressão de 2 mmHg na cavidade torácica, o que provoca a entrada de ar nos pulmões. A contração dos músculos intercostais externos também ocorre durante a inspiração tranquila provocando a elevação das costelas o que também resulta no aumento do diâmetro da cavidade torácica. Na inspiração tranquila a contração do diafragma é responsável por cerca de 75% do ar que entra nos pulmões e a contração dos intercostais externos representa somente 25% desse volume. Na inspiração forçada, o diafragma desce cerca de 10 cm, o que produz uma redução de 100 mmHg na cavidade torácica, produzindo um volume de ar inspirado muito maior. Na inspiração forçada, além do diafragma e dos intercostais externos, outros músculos, denominados músculos acessórios da inspiração, também participam como o esternocleidomastóideo, escaleno e peitoral menor. A pressão entre as duas pleuras, chamada de pressão intrapleural, é sempre subatmosférica (menor do que a pressão atmosférica). Logo antes da inspiração a pressão intrapleural é de aproximadamente 756 mmHg, 4 mmHg menor do que a pressão atmosférica. Quando o diafragma e os músculos intercostais externos se contraem e o tamanho total da cavidade torácica aumenta, o volume da cavidade pleural também aumenta, o que provoca uma redução da pressão intrapleural para aproximadamente 754 mmHg, facilitando ainda mais a expansão pulmonar. Exalação ou expiração A respiração para fora chamada de exalação ou expiração ocorre quando a pressão dos alvéolos é maior do que a pressão atmosférica. A expiração tranquila, diferentemente da inspiração tranquila, é um processo passivo porque não implica em contrações musculares. A expiração ocorre por retração elástica da parede torácica e dos pulmões que possuem uma tendência a retornar à posição inicial após serem estirados. A expiração começa quando os músculos da inspiração se relaxam, diminuindo o volume pulmonar e aumentando a pressão alveolar para 762 mmHg. Observe a figura a seguir que mostra o comportamento do diafragma e as mudanças de pressão durante inspiração e a expiração. 34 A expiração torna-se ativa apenas quando for forçada. Nesse caso, ocorre a contração dos músculos abdominais que forçam o diafragma para cima e dos intercostais internos que diminuem o volume da cavidade torácica. A figura a seguir mostra os músculos que participam da inspiração forçada (à esquerda) e da expiração forçada (à direita). O músculo peitoral menor que participa da inspiração forçada não está mostrado. Fatores que Afetam a Ventilação Pulmonar Dois fatores principais afetam a ventilação pulmonar: a complacência dos pulmões e a resistência da via respiratória. Complacência refere-se a facilidade necessária para estirar os pulmões e a parede do tórax. Complacência alta significa que os pulmões e a parede do tórax expandem-se facilmente e complacência baixa significa que resistem à expansão. Nos pulmões, a complacência está relacionada a dois fatores básicos: elasticidade e tensão superficial. Os pulmões normalmente têm complacência alta e expandem-se facilmente porque as fibras elásticas do tecido pulmonar são facilmente estiradas e o surfactante reduz a tensão superficial alveolar. Assim como o fluxo de sangue pelos vasos sanguíneos depende da pressão sanguínea e da resistência vascular, o fluxo de ar pelas vias respiratórias depende também da pressão do ar e da resistência oferecida principalmente pela parede dos bronquíolos. Bronquíolos com diâmetros maiores têm menor resistência. O diâmetro da via respiratória pode ser regulado pelo grau de contração da musculatura lisa de sua parede. Por exemplo, sinais provenientes da divisão simpática provocam o relaxamento do músculo liso, o que resulta em broncodilatação e diminuição da resistência. Em contrapartida, qualquer condição que diminua ou obstrua as vias respiratórias aumenta a resistência, de forma que mais pressão será necessária para manter o fluxo de ar. VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES Em repouso, o adulto saudável respira, em média, 12 vezes por minuto, com cada inspiração e expiração movimentando cerca de 500 mL de ar para dentro e para fora dos pulmões, denominado volume corrente. O volume total de ar inalado e exalado a cada minuto é, portanto, de 6,0 litros (12 x 500mL). No entanto, somente cerca de 70% do volume corrente (350 mL) chegam realmente na parte respiratória (bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos). Os outros 30% restantes (150 mL) não sofrem trocas gasosas permanecendo na parte condutora chamada espaço morto respiratório. A intensidade da ventilação alveolar é o volume de ar por minuto que realmente chega na parte respiratória sendo igual a 4,2 litros (12 x 350mL). Diversos outros volumes pulmonares relacionados à respiração forçada serão definidos a seguir. Em geral, esses volumes são maiores nos homens, nas pessoas mais altas e nos jovens. Vários distúrbios 35 também podem ser diagnosticados identificando alterações nesses volumes. Os valores apresentados aqui são médias para homens adultos jovens e saudáveis. Inspirando profundamente, conseguimos colocar para dentro uma quantidade de ar maior do que 500 mL. Esse volume adicional inalado, chamado de volume de reserva inspiratório, é de aproximadamente 3.100 mL. Se inspirarmos normalmente e, em seguida, expirarmos tão forçadamente quanto possível, conseguimos pôr para fora uma quantidade de ar maior do que 500 mL, em torno de 1.200 mL, volume denominado volume de reserva expiratório. Mesmo após a expiração do volume de reserva expiratório, uma quantidade considerável de ar ainda permanece nos pulmões, porque a pressão intrapleural subatmosférica mantém os alvéolos ligeiramente inflados. Esse volume é chamado de volume residual e corresponde a aproximadamente 1.200 mL. Se a cavidade torácica estiver aberta, a pressão intrapleural torna-se igual à pressão atmosférica e força a saída de uma parte do volume residual. O ar que permanece é chamado de volume mínimo. A capacidade inspiratória é a soma do volume corrente e o volume de reserva inspiratório (500 mL + 3.100 mL = 3.600 mL). A capacidade residual funcional é a soma do volume residual e do volume de reserva expiratório (1.200 mL + 1.200 mL = 2.400 mL). A capacidade vital é a soma do volume de reserva inspiratório, volume corrente e volume de reserva expiratório (3.000 mL + 500 mL + 1.200 mL = 4.800 mL). Finalmente, a capacidade pulmonar total é a soma da capacidade vital e do volume residual (4.800 mL + 1.200 mL = 6.000 mL). A figura a seguir ilustra os volumes descritos acima. TROCAS DE OXIGÊNIO E DIÓXIDO DE CARBONO As trocas de oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2) entre o ar dos alvéolose o sangue dos capilares pulmonares ocorrem via difusão, que é controlada pelo comportamento dos gases, como descrito pela lei de Dalton e pela lei de Henry. A lei de Dalton é importante para compreender como os gases se movem, via difusão, ao longo de suas diferenças de pressão. A lei de Henry ajuda a explicar como a solubilidade de um gás se relaciona com a sua difusão. De acordo com a lei de Dalton, cada gás, em uma mistura de gases, exerce sua própria pressão como se todos os outros gases não estivessem presentes. A pressão de um gás específico em uma mistura é chamada de pressão parcial. A pressão total da mistura é calculada somando-se todas as pressões parciais. O ar atmosférico é uma mistura de gases nitrogênio (N2), oxigênio (O2), vapor d’água (H2O) e dióxido de carbono (CO2), mais outros gases presentes em pequenas quantidades. Portanto a pressão atmosférica é a soma das pressões de todos esses gases: Pressão atmosférica (760 mmHg) = PN2 + PO2 + PCO2 + PH2O + P outros gases Podemos determinar a pressão parcial exercida por cada componente multiplicando o percentual do gás na mistura pela pressão total da mistura. O ar atmosférico contém 78,6% de N2, 20,9% de O2, 0,04% de CO2, 0,4% de H2O e 0,06% de outros gases. Portanto, as pressões parciais dos gases no ar inalado são as seguintes: 36 PN2 = 0,786 X 760 mmHg = 597,4 mmHg PO2 = 0,209 X 760 mmHg = 158,8 mmHg PCO2 = 0,0004 X 760 mmHg = 0,3 mmHg PH2O = 0,004 X 760 mmHg = 3,0 mmHg P outros gases = 0,0006 X 760 mmHg = 0,5 mmHg Total = 760,0 mmHg Essas pressões parciais são importantes na determinação do movimento de O2 e CO2 entre o ar atmosférico e ar alveolar, entre o ar alveolar e o sangue dos capilares pulmonares e entre o sangue dos capilares sistêmicos e as células teciduais. Cada gás se difunde do local onde sua pressão parcial é maior para o local onde sua pressão parcial é menor. Quanto maior a diferença entre essas pressões, mais rápida será a velocidade de difusão. Em comparação ao ar inspirado, o ar alveolar tem menos O2 (13,6% versus 20,9%) e mais CO2 (5,2% versus 0,04%), por dois motivos. Em primeiro lugar, as trocas gasosas nos alvéolos aumentam o teor de CO2 e diminuem o teor de O2 do ar alveolar. Em segundo lugar, quando o ar é inspirado, torna-se umidificado conforme passa ao longo dos revestimentos úmidos das túnicas mucosas. Conforme o conteúdo de vapor de água no ar aumenta, o percentual relativo que é O2 diminui. Em contraste, o ar expirado contém mais O2 do que o ar alveolar (16% versus 13,6%) e menos CO2 (4,5% versus 5,2%), porque uma parte do ar expirado estava no espaço morto anatômico e não participou das trocas gasosas. O ar expirado é uma mistura de ar alveolar e ar inspirado que estava no espaço morto anatômico. A lei de Henry afirma que o volume de um gás que se dissolve em um líquido é proporcional à pressão parcial do gás e à sua solubilidade. Nos líquidos corporais, a capacidade de um gás de ficar em solução é maior quando a sua pressão parcial é maior e quando ele tem elevada solubilidade em água. Quanto maior a pressão parcial de um gás em um líquido e mais elevada a sua solubilidade, mais gás vai ficar em solução. Em comparação ao oxigênio, muito mais CO2 está dissolvido no plasma sanguíneo, porque a solubilidade do CO2 é 24 vezes maior do que a do O2. Mesmo que o ar que respiramos contenha principalmente N2, este gás não tem qualquer efeito sobre as funções corporais; ao nível do mar, sua pressão muito pequena se dissolve no plasma sanguíneo, porque a sua solubilidade é muito baixa. Uma experiência observada diariamente dá uma demonstração da lei de Henry. Você já deve ter notado que um refrigerante faz um barulho de assobio quando a tampa do frasco é removida, e as bolhas sobem à superfície algum tempo depois. O gás dissolvido nos refrigerantes é CO2. Quando o refrigerante é engarrafado sob alta pressão e tapado, o CO2 permanece dissolvido enquanto o recipiente permanece fechado. Depois que a tampa é removida, a pressão diminui e o gás começa a sair da solução em bolhas. Respiração Externa A respiração externa ou troca gasosa pulmonar é a difusão do O2 do ar nos alvéolos pulmonares para o sangue dos capilares pulmonares e a difusão do CO2 na direção oposta. A respiração externa nos pulmões converte o sangue venoso (discretamente depletado de O2) que vem do lado direito do coração em sangue oxigenado (saturado com O2) que retorna para o lado esquerdo do coração. Conforme o sangue flui pelos capilares pulmonares, capta O2 do ar alveolar e descarrega CO2 no ar alveolar. Embora este processo geralmente seja chamado de “troca” gasosa, cada gás se difunde independentemente da área em que sua pressão parcial é maior para a área em que sua pressão parcial é menor. O O2 se difunde do ar alveolar, onde sua pressão parcial é de 105 mmHg, para o sangue nos capilares pulmonares, onde a PO2 é de apenas 40 mmHg em uma pessoa em repouso. Se você está se exercitando, a PO2 será ainda menor, porque as fibras musculares em contração estão usando mais O2 A difusão continua até que a PO2 do sangue capilar pulmonar aumenta para coincidir com a PO2 do ar alveolar, 105 mmHg. Como o sangue que sai dos capilares pulmonares próximos dos alvéolos se mistura com um pequeno volume de sangue que fluiu pelas partes condutoras do sistema respiratório, onde não podem ocorrer trocas gasosas, a PO2 do sangue nas veias pulmonares é discretamente menor do que a PO2 nos capilares pulmonares, de aproximadamente 100 mmHg. Enquanto o O2 está se difundindo do ar alveolar para o sangue desoxigenado, o CO2 está se difundindo no sentido oposto. A PCO2 do sangue venoso é de 45 mmHg em uma pessoa em repouso, e a PCO2 do ar alveolar é de 40 mmHg. Em decorrência dessa diferença na PCO2, o dióxido de carbono se difunde do sangue oxigenado para os alvéolos até que a PCO2 do sangue diminua para 40 mmHg. A expiração mantém a PCO2 alveolar em 40 mmHg. O sangue oxigenado retorna para o lado esquerdo do coração pelas veias pulmonares; portanto, tem uma PCO2 de 40 mmHg. A figura a seguir ilustra os processos de respiração externa e interna descritos acima. 37 Respiração Interna O ventrículo esquerdo bombeia sangue oxigenado para a aorta e pelas artérias sistêmicas para os capilares sistêmicos. A troca de O2 e CO2 entre os capilares sistêmicos e as células teciduais é chamada de respiração interna ou trocas gasosas sistêmicas (Figura 23.16B). Conforme o O2 deixa a corrente sanguínea, o sangue oxigenado é convertido em sangue venoso. Ao contrário da respiração externa, que ocorre somente nos pulmões, a respiração interna ocorre nos tecidos de todo o corpo. A PO2 do sangue bombeado para os capilares sistêmicos é maior (100 mmHg) do que a PO2 nas células teciduais (40 mmHg em repouso), porque as células usam constantemente O2 para produzir ATP. Em razão desta diferença de pressão, o oxigênio se difunde para fora dos capilares em direção às células teciduais e a PO2 do sangue cai para 40 mmHg no momento em que o sangue sai dos capilares sistêmicos. Enquanto o O2 se difunde dos capilares sistêmicos para as células teciduais, o CO2 se difunde no sentido contrário. Dado que as células teciduais estão constantemente produzindo CO2 a PCO2 das células (45 mmHg em repouso) é maior do que a do sangue capilar sistêmico (40 mmHg). Como resultado, o CO2 se difunde das células teciduais pelo líquido intersticial para os capilares sistêmicos até que a PCO2 no sangue aumenta para 45 mmHg. O sangue desoxigenado então retorna para o coração e é bombeado para os pulmões para outro ciclo de respiração externa. Em uma pessoa em repouso, as células teciduais necessitam de em média apenas 25% do O2 disponível no sangue oxigenado; apesar do nome, o sangue desoxigenado mantém 75% de seu teor de O2 Durante o exercício, mais O2 se difunde do sangue para as células metabolicamente ativas, comoas das fibras do 38 músculo esquelético em contração. As células ativas usam mais O2 para a produção de ATP, fazendo com que o teor de O2 do sangue venoso caia abaixo de 75%. TRANSPORTE DE OXIGÊNIO O oxigênio não se dissolve facilmente na água, portanto, apenas cerca de 1,5% do O2 inspirado é dissolvido no plasma sanguíneo. Os 98,5% restantes do O2 são combinados à hemoglobina (Hb) dentro dos glóbulos vermelhos formando a oxiemoglobina (Hb-O2). Cada Hb possui quatro grupos heme cujo centro contém um átomo de ferro, cada um capaz de receber uma molécula de O2. A Hb-O2 se dissocia em uma reação facilmente reversível produzindo Hb e O2: Hb-O2 Hb + O2 A Relação entre a Hb e a Pressão Parcial de Oxigênio O fator mais importante que determina o quanto de O2 se combina com a Hb é a PO2 do sangue: quanto maior a PO2, mais O2 se combina com a Hb. Quando a Hb é completamente convertida em Hb-O2, diz-se que a Hb está completamente saturada. Por exemplo, se em cada Hb se ligaram duas moléculas de O2, ela está 50% saturada, porque em cada Hb se ligam, no máximo, quatro moléculas de O2. A relação entre a porcentagem de saturação da Hb e a PO2 é ilustrada no gráfico abaixo. Observe que quando a PO2 é alta, a Hb está praticamente 100% saturada. Quando a PO2 é baixa, a Hb está apenas parcialmente saturada. Em outras palavras, quanto maior a PO2, mais o O2 se combina com a Hb, até que todas as moléculas disponíveis de Hb estejam saturadas. Consequentemente, nos capilares pulmonares, onde a PO2 é alta, muitas moléculas de O2 se ligam à Hb. Nos capilares teciduais, onde a PO2 é baixa, a Hb não segura muitas moléculas de O2, e o O2 é descarregado entrando nas células teciduais por difusão. Observe que a Hb ainda está 75% saturada de O2 em uma PO2 de 40 mmHg que é a PO2 das veias sistêmicas em uma pessoa em repouso. Isso significa que apenas 25% do O2 disponível é liberado da Hb e usado pelas células teciduais sob condições de repouso. Quando a PO2 está entre 60 e 100 mmHg, a Hb está 90% saturada de O2 (ver gráfico anterior). Portanto, a Hb capta uma quantidade quase completa de O2 nos capilares pulmonares, mesmo quando a PO2 do ar alveolar diminui para 60 mmHg. Essa é a explicação do porque que pessoas ainda podem viver bem morando em altas altitudes. No entanto, de 40 para 20 mmHg, grande quantidade de O2 é liberada da Hb. Nos tecidos ativos, tais como músculos durante atividade física, a PO2 pode cair bem abaixo de 40 mmHg. Assim, uma grande porcentagem de O2 é liberada da Hb, fornecendo mais O2 para esses tecidos metabolicamente ativos. Outros Fatores que Afetam a Afinidade da Hb pelo Oxigênio Embora a PO2 seja o fator mais importante na determinação da porcentagem de saturação de O2 da Hb, diversos outros fatores influenciam a afinidade entre a Hb e o O2, como por exemplo, a acidez, a pressão parcial do CO2 e a temperatura. Acidez 39 À medida que a acidez aumenta, a afinidade da Hb pelo O2 diminui e o O2 separa-se mais facilmente da Hb. Em outras palavras, aumentando a acidez aumenta a taxa de liberação de O2 da Hb. Os principais ácidos produzidos pelos tecidos metabolicamente ativos são os ácidos láctico e carbônico. Quando o pH diminui, a reação de dissociação Hb-O2 se desloca para direita, ficando a Hb menos saturada com O2. Isso acontece porque quando os íons H+ se ligam nos aminoácidos da Hb, alteram levemente sua estrutura, reduzindo sua afinidade pelo O2. Assim, um pH mais baixo força O2 para fora da Hb, disponibilizando mais O2 para as células teciduais. Por comparação, o pH elevado aumenta a afinidade da Hb pelo O2, deslocando a reação de dissociação para a esquerda. Observe o gráfico abaixo que mostra o efeito do pH na afinidade da Hb pelo O2: para uma mesma PO2 de 30 mmHg, por exemplo, quanto maior o pH maior a porcentagem de saturação da Hb. Pressão parcial do dióxido de carbono O CO2 também se liga à Hb e o efeito é similar ao do H+. À medida que a PCO2 aumenta, a Hb libera O2 mais facilmente. PCO2 e pH são fatores relacionados, porque o pH baixo do sangue (acidez) resulta de uma PCO2 alta. À medida que o CO2 entra no sangue, grande parte dele é temporariamente convertida em ácido carbônico (H2CO3), uma reação catalisada por uma enzima dos glóbulos vermelhos chamada de anidrase carbônica (AC). O ácido carbônico formado nos glóbulos vermelhos dissocia-se em íons hidrogênio (H+) e íons bicarbonato (HCO3-). À medida que a concentração de H+ aumenta, o pH diminui. Assim, um aumento na PCO2 produz um meio mais ácido, que ajuda a liberar O2 da Hb. Durante a atividade física, o ácido láctico, um produto do metabolismo anaeróbico das fibras musculares esqueléticas, também diminui o pH do sangue liberando O2 da Hb. Observe o gráfico a seguir que mostra o efeito da PCO2 na afinidade da Hb pelo O2. 40 Temperatura Dentro de limites, à medida que a temperatura aumenta, aumenta a quantidade de O2 liberado da Hb. O calor é produzido durante as reações metabólicas durante a contração das fibras musculares. Células metabolicamente ativas requerem mais O2 e liberam mais ácido e calor. O ácido e o calor, por sua vez, promovem a liberação de O2 da Hb. Observe o gráfico a seguir que mostra o efeito da temperatura na afinidade da Hb pelo O2. O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor e inodoro, encontrado em vapores exalados de escapamentos dos carros, de fornos a gás, de aquecedores internos e da fumaça de cigarros. É um produto da combustão de material contendo carbono, tal como carvão, gás e madeira. O CO combina-se com o grupo heme da Hb, assim como faz o O2, entretanto, a ligação do CO à Hb é 200 vezes mais forte do que a ligação do O2. Em uma concentração pequena de 0,1%, o CO combina-se a metade das moléculas de Hb disponíveis, reduzindo a capacidade do corpo de transportar O2. Altas concentrações sanguíneas de CO provocam intoxicação, levando os lábios e a mucosa da boca a apresentarem uma coloração vermelha-cereja brilhante (a cor da Hb ligada ao monóxido de carbono). Sem tratamento imediato, a intoxicação por monóxido de carbono é fatal. É possível salvar uma vítima de intoxicação por CO administrando-se oxigênio puro, que acelera a separação do monóxido de carbono da Hb. TRANSPORTE DO DIÓXIDO DE CARBONO O CO2 gasoso é transportado no sangue sob três formas principais: 1. CO2 dissolvido. A menor porcentagem, aproximadamente 7%, está dissolvida no plasma. Ao chegar aos pulmões, difunde-se diretamente para o ar dos alvéolos e é exalado. 2. Compostos carbamino. Uma porcentagem um pouco mais alta, aproximadamente 23%, combina-se com aminoácidos de proteínas presentes no sangue para formar compostos carbamino. Como a proteína predominante no sangue é a Hb, a maioria do CO2 transportado dessa maneira é ligada a ela. A Hb que recebeu o CO2 é denominada carbaminoemoglobina (Hb-CO2) que também se dissocia em uma reação facilmente reversível produzindo Hb e CO2: Hb-CO2 Hb + CO2 A formação de Hb-CO2 é muito influenciada pela PCO2. Por exemplo, a PCO2 nos capilares teciduais é relativamente alta, promovendo a formação de Hb-CO2. Mas nos capilares pulmonares, a PCO2 é relativamente baixa, e o CO2 separa-se da Hb e entra nos alvéolos por difusão. 3. Íons bicarbonato. A maior porcentagem de CO2, aproximadamente 70%, é transportada no plasma sanguíneo como íons bicarbonato (HCO3-). À medida que o CO2 se difunde das células teciduais para os capilares sistêmicos e entra nos glóbulos vermelhos, reage com a água na presença da enzima anidrase carbônica para formar ácido carbônico, que se dissocia em H+ e HCO3-: CO2 + H2O H2CO3 H+ + HCO3- O H+ se liga a Hb deslocando o O2 que entra nas células teciduais. Esta capacidade da Hb de receber H+ é responsável pela sua ação tamponante. O HCO3- se difunde para o plasma em troca com o Cl-, processo denominado transferência de cloreto.A figura a seguir ilustra o transporte dos gases O2 e CO2 no sangue. 41 Portanto, o sangue desoxigenado que chega aos capilares pulmonares contém CO2 dissolvido no plasma sanguíneo, CO2 ligado à Hb na forma de Hb-CO2 no interior do glóbulo vermelho e CO2 na forma de HCO3- no plasma. À medida que o sangue passa pelos capilares pulmonares, as moléculas de CO2 dissolvido no plasma sanguíneo e de CO2 ligado à Hb se difundem para o ar alveolar e são exalados. Ao mesmo tempo, o O2 inalado se difunde do ar alveolar para os glóbulos vermelhos e se liga na Hb para formar Hb-O2 liberando H+. O H+ liberado se combina com o HCO3- que entrou nos glóbulos vermelhos em troca inversa com o Cl-. O H2CO3 formado, na presença da anidrase carbônica, se dissocia em CO2, que é exalado, e em H2O. A figura a seguir ilustra os eventos descritos acima. 42 REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO PELO CENTRO RESPIRATÓRIO O volume da cavidade toráxica é alterado pela ação dos músculos respiratórios que se contraem como resultado dos impulsos nervosos transmitidos para eles a partir dos centros situados no encéfalo e relaxam na ausência desses impulsos. Esses impulsos nervosos são enviados a partir de três aglomerações de neurônios localizados no bulbo e na ponte denominadas coletivamente de centro respiratório: (1) área da ritmicidade bulbar localizada no bulbo, (2) área pneumotáxica localizada na ponte e (3) área apnêustica localizada também na ponte. Observe na figura a seguir a localização dessas áreas que fazem parte do centro respiratório. 43 Área da Ritmicidade Bulbar A função básica dessa área é controlar o ritmo básico da respiração através de duas regiões denominadas área inspiratória e área expiratória. Durante a respiração tranquila, a inspiração dura 2 segundos e a expiração 3 segundos aproximadamente. Os impulsos nervosos gerados na área inspiratória estabelecem esse ritmo básico. Enquanto a área inspiratória está ativa, ela gera impulsos nervosos durante 2 segundos que se propagam para os músculos intercostais externos e para o diafragma provocando contração e consequente inalação. No final desses 2 segundos a área inspiratória torna-se inativa e os impulsos nervosos cessam, o que provoca o relaxamento dos intercostais externos e do diafragma por 3 segundos, permitindo a retração elástica passiva dos pulmões e da parede do tórax. O ciclo então se repete. No entanto, durante a respiração forçada, o aumento da frequência de impulsos nervosos provenientes da área inspiratória promove a inspiração forçada contraindo, além do diafragma e dos intercostais externos, o esternocleidomastoideo, o escaleno e o peitoral menor. Além disso, o aumento da frequência desses impulsos promove, após alguns segundos, a ativação da área expiratória. A área expiratória ativada emite impulsos que provocam a contração dos músculos intercostais internos e dos músculos do abdome provocando a expiração forçada. Observe o esquema a seguir que resume o controle realizado pela área da ritmicidade bulbar durante a respiração tranquila (a esquerda) e durante a respiração forçada (a direita). Área Pneumotáxica e Área Apnêustica A área pneumotáxica, situada na ponte, ajuda a coordenar a transição entre a inspiração e a expiração. Essa área emite impulsos inibitórios que desligam a área inspiratória antes que os pulmões fiquem completamente cheios de ar. Quando aumenta a frequência de impulsos nervosos emitidos pela área pneumotáxica, aumenta também a frequência da respiração. A área apnêustica, também localizada na ponte, emite impulsos para a área inspiratória provocando o prolongamento da inspiração. Quando aumenta a frequência de impulsos nervosos emitidos pela área apnêustica, o resultado é uma inspiração mais profunda e consequentemente mais longa. Regulação do Centro Respiratório O ritmo básico da respiração estabelecido e coordenado pela área inspiratória pode ser modificado por outras regiões do encéfalo, por receptores sensoriais específicos e por outros fatores. Influência do Córtex na Respiração Como o córtex cerebral possui conexões com o centro respiratório, podemos voluntariamente alterar o padrão de nossa respiração. Conseguimos até mesmo parar de respirar por certo tempo. Esse controle é protetor, pois nos permite impedir que água e gases tóxicos e irritantes entrem nos pulmões. No entanto, o controle voluntário é limitado pelo acúmulo de CO2 e H+ no sangue. Quando a PCO2 e a concentração de H+ aumentam até certo nível, a área inspiratória é ativada involuntariamente enviando impulsos nervosos para os músculos inspiratórios e a respiração recomeça, mesmo que a pessoa não queira. Mesmo que se consiga prender a respiração por tempo suficiente para provocar um desmaio, a respiração recomeça quando se 44 perde a consciência. Os impulsos nervosos provenientes do sistema límbico também estimulam o centro respiratório permitindo que fatores emocionais alterem a respiração quando rimos ou quando choramos. Regulação Quimioceptora da Respiração Quimioceptores localizados em dois locais monitoram os níveis de CO2 e O2 e fornecem entradas para o centro respiratório: (1) os quimioceptores centrais localizados no bulbo que respondem às alterações na concentração de H+ ou alterações da PCO2 no líquido cefalorraquidiano (LCR) e (2) os quimioceptores periféricos localizados na parede do arco da aorta e do seio carotídeo (ao lado dos baroceptores estudados no capítulo Vasos Sanguíneos) que são sensíveis às alterações na PO2, H+ e PCO2 do sangue. Os quimioceptores participam do sistema de feedback negativo que regula as concentrações sanguíneas de CO2, O2 e H+. Como resultado do aumento da PCO2, do aumento de H+ ou diminuição da PO2, os quimioceptores são estimulados, o que provoca a ativação da área inspiratória. A ativação da área inspiratória leva ao aumento da frequência e da profundidade da respiração. Esse aumento permite a inspiração de mais O2 e a expiração de mais CO2, até que a PCO2 e o H+ sejam reduzidos a níveis normais. Observe na figura a seguir o mecanismo de controle da respiração por feedback negativo.