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Alterações fisiológicas do envelhecimento 1 Alterações fisiológicas do envelhecimento O envelhecimento é caracterizado por alterações previsíveis, progressivas, associadas ao aumento da suscetibilidade para muitas doenças. Esse processo não é uniforme entre as pessoas. Concorrem para a variação da longevidade: fatores genéticos estilo de vida escolhido exposições ambientais 📢 Gerontologia = estudo dos fenômenos fisiológicos, psicológicos e sociais relacionados ao envelhecimento do ser humano Composição corporal Por volta dos 25 anos já podemos observar modificações na composição corporal. Toda a celularidade diminui, reduzindo a função dos órgãos, continuamente. Ocorre diminuição da água intracelular, tornando o organismo da pessoa idosa desidratado, fisiologicamente. 📢 Devemos ficar alertas ao prescrever fármacos hidrossolúveis, como a digoxina, pois elas estarão em maior concentração, podendo ocorrer efeitos indesejáveis. A musculatura vai diminuindo, especialmente as fibras tipo II, de contração rápida, como as encontradas nas mãos. Com isso a força muscular vai diminuindo. Em contrapartida, há aumento proporcional da gordura, especialmente em torno da cintura pélvica, provocando modificações da silhueta. 📢 Ficar alerta para as substâncias lipossolúveis, como as de ação central, pois terão seu tempo de ação aumentado. Pele A pele é um importante órgão pelas várias funções que exerce. Além de ser o invólucro que nos separa do meio externo, previne a perda de água, regula o equilíbrio hidreletrolítico, controla a temperatura corporal e recebe os estímulos sensoriais de tato, pressão, temperatura e dor A pele se torna seca, por diminuição das glândulas sebáceas, e espessada, com as papilas dérmicas menos profundas, levando a menor junção entre a epiderme e a derme, facilitando a formação de bolhas e predispondo a lesões. O número de melanócitos diminui de 8 a 20%, por década, após os 30 anos. Esse fato, associado: ao alentecimento da reposição das células da epiderme Alterações fisiológicas do envelhecimento 2 ao maior tempo de exposição aos raios UV à redução das células de Langerhans (células mediadoras da resposta imunológica na pele) contribui para o aumento da incidência do câncer de pele. Na derme do indivíduo idoso, observa-se menor número de fibras elásticas e colágenas, levando a uma perda da resiliência e à formação de rugas. Também há diminuição da vascularização, justificando a palidez e a diminuição da temperatura da pele, aumentando a frequência de dermatites. Pálpebras A flacidez das pálpebras superiores leva a uma limitação do campo visual lateral, podendo a pessoa não ver objetos ao seu lado, não ver um veículo se aproximar ao atravessar a rua, aumentando o risco de sofrer acidentes. Apesar da diminuição da secreção lacrimal, a flacidez nas pálpebras inferiores desloca o orifício de entrada do canal lacrimal, provocando um lacrimejamento incomodativo, obrigando a pessoa a limpar os olhos, nem sempre com as mãos limpas, provocando infecções oculares. A atrofia da fáscia palpebral pode levar à herniação da gordura orbitária para dentro do tecido palpebral, produzindo “bolsas” embaixo dos olhos. Há tratamento cirúrgico simples para essas modificações. Nosso dever é estar atento e fazer a indicação para as correções. Ocorre também atrofia da aponeurose do músculo elevador da pálpebra, podendo cobrir a pupila, como visto na ptose senil. Essa alteração provoca lentidão nos idosos ao olharem o retrovisor quando estão dirigindo, podendo causar acidentes. Fâneros A diminuição do número das glândulas sudoríparas somada à diminuição dos vasos sanguíneos da derme e da espessura do tecido celular subcutâneo dificultam a termorregulação. As glândulas sebáceas mantêm seu número constante, mas seu tamanho aumenta enquanto a liberação de gordura e a produção de cera diminuem. O embranquecimento dos cabelos ocorre pela perda progressiva de melanócitos nos bulbos capilares. O número dos corpúsculos de Pacini e Meissner, responsáveis pela sensação de pressão e tato leve, diminuem predispondo a lesões e diminuindo a destreza para certos movimentos com as mãos. O crescimento longitudinal das unhas diminui. Elas se tornam mais quebradiças e frágeis. Musculatura A massa muscular diminui quase 50% entre os 20 e 90 anos, e a força muscular, que é máxima por volta dos 30 anos, sofre perda de 15% por década a partir dos 50 anos. 📢 Essa redução ocorre tanto em número quanto no volume das fibras. Entretanto, a força muscular do diafragma sofre pouca alteração. A força da musculatura da panturrilha diminui significativamente ao longo dos anos. Alterações fisiológicas do envelhecimento 3 📢 Foi observada uma associação entre níveis baixos de vitamina D e fraqueza muscular. A suplementação de vitamina D traz benefícios na força muscular quando os níveis dessa vitamina estão abaixo de 20 ng/ml (50 nmol/l). 📢 A atividade física, independentemente da idade, aumenta a força e a velocidade muscular, além de prevenir perda óssea, quedas, hospitalizações e melhorar a função articular. Os exercícios praticados com regularidade diminuem os fatores de risco para doenças cardíacas, diabetes e alguns tipos de câncer. Promovem o bem-estar, melhoram o ritmo do sono e alcançam benefícios para além do físico, como maior integração social, ajudando na esfera psicológica. Sistema cardiovascular O coração é um órgão autorregenerativo. Ao longo da vida essa população de miócitos é reposta 18 vezes, independente de doenças cardíacas. No coração idoso ocorre perda progressiva dos miócitos, devido a um declínio progressivo da habilidade de duplicação das células-tronco cardíacas. Entretanto, observa-se aumento de seu volume celular. 📢 A diminuição da capacidade contrátil causa aumento do coração que esconde a atrofia das células contráteis. Em uma aparente contradição, as câmeras cardíacas dilatadas e o coração senil, embora atrófico em número celular, morfologicamente, é hipertrófico. Há redução progressiva do número de células do nó sinusal. Há, também, perda de fibras na bifurcação do feixe de His (grupo de fibras que conduz os impulsos elétricos a partir do nó atrioventricular até as câmaras inferiores do coração). Daí a maior chance de arritmias cardíacas. 📢 Contração prolongada/ Diminuição da resposta beta-adrenérgica Aumento da rigidez miocárdica e vascular Controle do sistema nervoso autônomo Diminuição dos barorreflexos arteriais Aumento do fluxo simpático Diminuição do fluxo vagal Diminuição do VO2 Alterações fisiológicas do envelhecimento 4 Estrutura cardíaca Ocorre hipertrofia do ventrículo esquerdo, provocando aumento da pressão arterial dependente da idade. O volume diastólico final diminui somente nas mulheres e, portanto, não está correlacionado com a idade. Também se observa aumento no número e na espessura das fibras colágenas presentes no miocárdio. Estrutura arterial O aumento da rigidez da parede arterial é um fenômeno universal e contribui para muitas alterações do sistema cardiovascular. A diferença se dá na camada média, diferentemente do que ocorre na aterosclerose, em que o comprometimento está na camada íntima. Com o aumento da rigidez das paredes, as artérias aumentam de diâmetro e de espessura. Após os 60 anos a elasticidade está bem diminuída, aumentando a impedância do fluxo sanguíneo durante a sístole. 📢 O aumento da velocidade da onda de pulso aórtico e a diminuição da pressão diastólica são outras consequências da rigidez aórtica. Sistema nervoso Alterações estruturais A diferença do tamanho do cérebro entre indivíduos adultos e idosos tem pequeno significado funcional. O volume do cérebro diminui em torno de 7 cm³ por ano após os 65 anos de idade, com maior perda nos lobos frontal e temporal e perda maior da substância branca do que da substância cinzenta. Já os sulcos corticais dilatam-se e aprofundam-se. Também alargam-se os ventrículos e há aumento do espaço liquórico.O fluxo cerebral diminui heterogeneamente de 5 a 20% com deterioração dos mecanismos que mantêm o fluxo sanguíneo cerebral com a flutuação da pressão arterial. A perda neuronal é mais evidente nos neurônios maiores no cerebelo e no córtex cerebral. Com o envelhecimento também se observa diminuição das sinapses. Essas modificações estão mais ligadas à apoptose do que a processos inflamatórios ou isquêmicos. 📢 Em resposta ao dano neuronal, as células gliais aumentam. Esse acúmulo de células gliais, denominado gliose, representa uma resposta compensatória protegendo a função neuronal e a plasticidade. Em algumas pessoas, o número de dendritos diminui, perdendo assim as sinapses, alterando a neurotransmissão, piorando a comunicação do sistema nervoso. Entretanto, em decorrência da plasticidade cerebral pode ocorrer aumento da densidade dos dendritos, assim como seu prolongamento, como uma reação de manutenção da função cerebral. Alterações fisiológicas do envelhecimento 5 📢 Nos quadros demenciais a perda dendrítica é acentuada e progressiva, diminuindo a plasticidade e a dinâmica dos processos cerebrais. Enovelados neurofibrilares e placas senis são encontrados no envelhecimento normal, porém em menor extensão que na doença de Alzheimer. Há também mudanças dos nervos periféricos e da musculatura. As células do corno anterior da medula diminuem e ocorre redução da mielina nos nervos sensoriais. A consequência dessas mudanças inclui perda da sensação vibratória, do tato e da dor, assim como disfunção autonômica afetando a reatividade pupilar, a regulação da temperatura corporal e o controle vascular cardíaco e periférico. Alterações bioquímicas A acetilcolina (relacionada com regulação da memória, aprendizado e sono) diminui devido à diminuição dos neurônios colinérgicos e muscarínicos, reduzindo sua síntese e liberação. Também a dopamina e seus receptores no estriato e na substância nigra podem estar diminuídos. Os idosos são mais propensos a sofrer efeitos anticolinérgicos, visto que, com a idade, a quantidade de acetilcolina no corpo diminui. Consequentemente, os medicamentos anticolinérgicos bloqueiam uma porcentagem alta de acetilcolina, já que o corpo ao envelhecer é menos capaz de usar a pouca acetilcolina presente. Além disso, as células em muitas partes do corpo (como o trato digestivo) têm menos lugares onde a acetilcolina pode atacar. Como resultado, os médicos normalmente tentam evitar usar medicamentos com efeitos anticolinérgicos em idosos, se possível. Considerando a elevada distribuição dos receptores muscarínicos por todo o organismo humano, os fármacos com efeitos anticolinérgicos podem desencadear efeitos adversos centrais — declínio cognitivo, delirium, confusão mental — e periféricos — boca seca, olho seco, retenção urinária, obstipação ou taquicardia. Além disso, a literatura refere que o uso de fármacos anticolinérgicos está associado a resultados clínicos negativos, como declínio funcional, quedas, hospitalização e mortalidade. Alterações metabólicas e circulatórias No cérebro há: diminuição tanto da água extracelular quanto da intracelular; lentidão da síntese proteica; aumento na oxidação das proteínas e sua glicosilação, com aumento do acúmulo intraneural (emaranhados neurofibrilares); diminuição da síntese lipídica pela variação dos substratos lipídicos; Alterações fisiológicas do envelhecimento 6 alteração na membrana lipídica e na condução nervosa; alterações circulatórias relacionadas à aterosclerose; diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da glicose. 📢 O fluxo sanguíneo e o consumo de oxigênio são iguais no adulto jovem e no idoso, na ausência de doenças. Entretanto, na presença de aterosclerose o fluxo sanguíneo é reduzido e o cérebro, para se proteger, extrai mais oxigênio do sangue. 📢 Isquemia, hipóxia e hipoglicemia ativam os receptores glutamato induzindo toxicidade com consequente morte neuronal. Com o envelhecimento, a barreira hematoencefálica torna-se permeável a muitas substâncias, podendo ser uma das causas de demência. —> Neurotransmissores e moduladores no sistema nervoso AMINAS Acetilcolina Catecolaminas Norepinefrina Epinefrina Dopamina Serotonina AMINOÁCIDOS Glutamato Aspartato Glicina GABA Taurina Histamina PEPTÍDEOS Eucefalina Colecistocinina Substância P VIP Somatostatina TRH OUTROS: Óxido nítrico; Monóxido de carbono; Zinco; Sinapsinas; Moléculas de adesão celular; Neurotropinas e Outros. —> Componentes alterados no sistema nervoso central Água total Espaço extra e intracelular Lipídios Aminoácidos Carboidratos Circulação DNA, RNA e proteínas Metabolismo energético Oxigênio Reentrada de glicose Barreira hematoencefálica Alterações cognitivas e comportamentais As memórias processual (habilidade e destrezas) e semântica (conhecimento do mundo e da língua) são bem conservadas com o avanço da idade. A habilidade de reconhecer objetos e faces, assim como a percepção visual, permanecem estáveis ao longo da vida. Alterações fisiológicas do envelhecimento 7 📢 As memórias episódica (episódios ou eventos espaço-temporalmente datados) e laborativa e a função executiva são as mais afetadas no envelhecimento. A velocidade de processamento e a função executiva diminuem com a idade, especialmente após os 70 anos. As capacidades de atenção e concentração diminuem a habilidade para desempenhar múltiplas tarefas ao mesmo tempo. A capacidade de solucionar problemas e aprender informações novas diminui após os 30 anos. A fluência verbal fica comprometida após os 70 anos. 📢 Apesar de todas as alterações descritas, o sistema nervoso se mantém íntegro graças à sua plasticidade e à sua capacidade de compensar e reparar os danos ocorridos, sendo possível manter-se funcionalmente estável no meio social, no trabalho e em casa. Marcha, postura e equilíbrio Com o avanço da idade a marcha se altera. Na maioria das vezes a mulher, tanto adulta jovem quanto idosa, tem um desempenho pior quando comparada ao homem. É comum uma certa hesitação no andar, menor balanço dos braços e passos menores. Ao mudar de direção no caminho, faz a volta com o corpo em bloco. A postura típica, mais rígida, como se estivesse em alerta para se defender de alguma queda, caracteriza-se pela base alargada, retificação da coluna cervical, um certo grau de cifose torácica, flexão do quadril e dos joelhos. Esse conjunto de fatores indica piora da estabilidade, podendo até nos fazer pensar em parkinsonismo. As alterações da marcha podem ajudar no diagnóstico clínico. A assimetria dos passos faz pensar em artrite ou hemiplegia; a falta de movimentos dos ombros em parkinsonismo; aumento da base em comprometimento do cerebelo; uma flexão mais acentuada do tronco pode revelar dificuldade de visão ou de propriocepção ou algum dano no sistema vestibular. O grande problema nos distúrbios da marcha é a queda, com todas as complicações posteriores. A prática regular de exercícios físicos é uma forma de driblar essas modificações impostas pela natureza. Sono 📢 Nosso marca-passo circadiano localiza-se no hipotálamo acima do quiasma. O ciclo sono-vigília se modifica com o envelhecimento. Há a tendência de dormir mais cedo e acordar mais cedo. As queixas de insônia, sonolência diurna, despertares durante a noite e sono pouco reparador são frequentes. Isso ocorre porque existem dois tipos de sono: REM (rapid eye movement), quando Alterações fisiológicas do envelhecimento 8 acontecem os sonhos, e o não REM, que se subdivide em quatro estágios. No idoso, o sono REM praticamente não se altera. Já no sono não REM ocorre aumento dos estágios 1 e 2 (facilidade no despertar) e diminuição dos estágios 3 e 4 que são exatamente os dois períodos de sono mais profundo. Os períodos de apneia ocorrem no sono REM. São mais frequentes nos idosos, particularmente, no homem idoso e obeso. Durante uma noite, um homem de 24 anos faz, em média, cinco períodos de apneia, enquantoaos 74 anos chega a 50 vezes. Isso leva a um sono entrecortado, pois a pessoa acorda para restabelecer a respiração. 📢 Com a noite mal dormida, ocorre sonolência durante o dia, mau humor, diminuição da memória, cefaleia e até depressão. Nesse período podem ser observadas arritmias cardíacas e hipertensão pulmonar. Outra consequência da alteração da respiração durante o sono é a ocorrência do ronco. Os estudos estatísticos mostram que 60% dos homens e 45% das mulheres roncam frequentemente após os 60 anos. Outro distúrbio do sono observado é a síndrome das pernas inquietas. É um desconforto sentido a cada 30s durante uma grande parte da noite. 📢 A hipófise secreta melatonina, um hormônio derivado do neurotransmissor serotonina. Sua secreção é regulada pelo ritmo circadiano e ajuda na sincronia interna das funções orgânicas. Nos idosos ela está baixa. Memória As partes do cérebro responsáveis pela memória envolvem o hipocampo, o tálamo, os córtex temporal, frontal e pré-frontal e o cerebelo. 📢 Tem-se atribuído ao glutamato acúmulo de radicais livres nos neurônios com consequente degeneração neuronal. O ácido gama-aminobutírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório no cérebro. O equilíbrio entre o glutamato, excitatório, e o GABA, inibitório, é essencial para o funcionamento normal do SNC. A memória pode ser dividida, de acordo com o tempo que ela é guardada, em memória a curto prazo, longo prazo, memória prospectiva e memória remota. As memórias reflexa medular (condicionada, não consciente), sensorial (responsável pelo processamento sensorial) e implícita (responsável pelas habilidades motoras) pouco se alteram com o envelhecimento. Já a episódica começa a diminuir por volta dos 30 anos e declina, progressivamente, enquanto a semântica responsável pela recordação de nomes, palavras e memória espacial pode ser mantida por toda a vida. Alterações fisiológicas do envelhecimento 9 Sistema respiratório Alterações morfológicas no tórax e nos pulmões com o envelhecimento Com o envelhecimento há grandes modificações tanto na arquitetura quanto na função pulmonar, contribuindo para o aumento da frequência de pneumonia, aumento da probabilidade de hipóxia e diminuição do consumo máximo de oxigênio pela pessoa idosa. Os pulmões se tornam mais volumosos, os ductos e bronquíolos se alargam e os alvéolos se tornam flácidos, com perda do tecido septal. A consequência é o aumento de ar nos ductos alveolares e diminuição do ar alveolar com piora da ventilação e perfusão. 📢 Alterações pulmonares com o envelhecimento. ↑ dos espaços aerados ↓ da superfície de troca gasosa Perda do tecido de suporte das vias respiratórias periféricas, diminuindo a elasticidade alveolar, antigamente denominado “enfisema senil” ↑ do tecido fibroso Modificações do surfactante pulmonar Sinais precoces do envelhecimento pulmonar: ↓ da capacidade máxima respiratória ↓ progressiva da pressão parcial de O2 Perda da elasticidade pulmonar Enfraquecimento da musculatura respiratória ↓ da elasticidade da parede torácica ↑ da rigidez da estrutura interna pulmonar ↓ do volume pulmonar expirado Fadiga fácil Concorrem para o declínio da capacidade respiratória os maus hábitos de vida, a poluição do local de moradia e trabalho e as doenças concomitantes. Respiração A inspiração e a expiração se dão da mesma forma no adulto. Há falha no controle central (medula e ponte) e nos quimiorreceptores carotídeos e aórticos com diminuição da sensibilidade a PCO2, PO2 e ao pH, limitando a adaptação da pessoa idosa ao exercício físico. A maioria dos músculos sofre um certo grau de sarcopenia, daí a capacidade de a função pulmonar piorar em algumas pessoas pela diminuição da força e da resistência da musculatura respiratória, tornando a tosse menos vigorosa. Alterações fisiológicas do envelhecimento 10 A função mucociliar é lenta, prejudicando a limpeza de partículas inaladas e facilitando a instalação de infecções. Todas as modificações do sistema respiratório são lentas, mas progressivas. O tórax se torna enrijecido devido à calcificação das cartilagens costais e os pulmões distendidos pela diminuição da capacidade de as fibras elásticas retornarem após a distensão na inspiração. Com isso o volume pulmonar e a capacidade ventilatória diminuem. Surfactante Sua produção está diminuída nos idosos. Na deficiência do surfactante os alvéolos poderão colabar na expiração, fazendo atelectasias (colapso do tecido pulmonar com perda de volume). Ainda na deficiência de surfactante, há o aumento da permeabilidade alveolar, podendo levar ao edema pulmonar. Apesar de sua perda progressiva, a maioria dos idosos é capaz de levar uma vida normal ativa. Sistema hematopoético Parece que o processo de envelhecimento é mais lento nas células hematopoéticas, quando comparadas com as outras células. No nascimento quase toda a medula óssea apresenta atividade hematopoética, mas desde a infância ela começa a ser progressivamente substituída por tecido adiposo. No adulto sua atividade concentra-se na pélvis e no esterno. Por volta dos 70 anos a celularidade da medula óssea no osso ilíaco é 30% menor que no adulto jovem. Apesar dessa modificação a contagem celular no sangue periférico é mantida. Multiplicação celular O potencial proliferativo da maioria das células-tronco hematopoéticas é limitado e diminui com o envelhecimento. A perda de telômero em tecidos normais começa no adulto jovem e progride gradualmente com o envelhecimento. Eritropoese A vida das hemácias, em torno de 120 dias, exige contínua renovação dessa população celular pela medula óssea, mesmo nos muito idosos. Embora o envelhecimento não seja causa de anemia observa-se mudança do perfil hematológico, sugerindo uma exaustão das células-tronco hematológicas pluripotenciais, tornando os idosos mais suscetíveis a esta doença. Também ocorre aumento da produção de radicais livres, os quais alteram as funções celulares e a integridade de suas membranas. Com isso, as hemácias deformadas são retiradas de circulação e a medula óssea acelera a produção em uma tentativa de reparar o dano. Entretanto, a aceleração desse processo pode alterar a composição das membranas das hemácias, não conseguindo o equilíbrio da renovação dessas células, podendo surgir anemia e agregação das hemácias. 📢 Os principais moduladores hormonais da eritropoese são a eritropoetina (EPO), a testosterona e a interleucina (IL)-3. Alterações fisiológicas do envelhecimento 11 📢 O feedback entre hemoglobina e EPO está mantido, mas a secreção de EPO em resposta à anemia por deficiência de ferro está diminuída. Embora o número de plaquetas não se altere com o envelhecimento, o fibrinogênio, os fatores V, VII, VIII e IX, o cininogênio de alto peso molecular e a pré-calicreína aumentam, assim como os fragmentos da degradação da fibrina (dímero D), fazendo com que se considere o envelhecimento um estado pró- coagulante, importante fator de risco para trombose venosa profunda. 📢 Alterações hematológicas com o envelhecimento: ↓ hemoglobina ↓ hematócrito ↓ do número de hemácias ↓ da resposta eritropoética à administração de eritropoetina Demora no início da eritropoese após vultoso sangramento Sistema urinário Há perda do tecido renal, especialmente após os 50 anos. Em seu lugar observam-se tecido gorduroso e fibrose. Essa modificação inicia-se no córtex, comprometendo a concentração urinária, alcançando os glomérulos, piorando também a filtração renal. 📢 A função renal começa a diminuir de maneira progressiva, chegando a sua metade aos 85 anos. Paralelamente ocorre diminuição do fluxo plasmático de 600 ml/min para 300 ml/min. Para compensar, os rins mantêm uma vasodilatação com o aumento das prostaglandinas contribuindo para o aumento da lesão renal com o uso de anti-inflamatórios não esteroides. A avaliação renal é feita mediante simples exames de urina e sangue. O rim pode ser afetado diretamente como acontece nas lesões do néfronou indiretamente como no caso de doenças cardiovasculares. Da mesma forma a lesão renal pode levar a alterações a distância como distúrbios hidreletrolíticos e hipertensão arterial. Ainda, pela sua função excretora, o declínio da função renal pode levar a intoxicação medicamentosa, particularmente perigosa no idoso. Para manter o funcionamento do rim adequadamente, a pessoa idosa deverá ingerir 2,5 a 3L de líquidos ao dia (esse valor varia de acordo com o peso, na verdade). É difícil para essas pessoas seguirem tal orientação, pois muitas vezes evitam, de propósito, beber líquidos por medo de sofrerem constrangimentos devido à incontinência. Existem outros fatores que colaboram para a dificuldade em manterem-se hidratados como a diminuição do reflexo da sede, a solidão, a imobilidade e outros. Há diminuição da capacidade renal de concentração e conservação do sódio, estando os idosos mais propensos à hiponatremia e à hipopotassemia quando em uso de diurético ou na vigência de dietas restritivas. Alterações fisiológicas do envelhecimento 12 Outras alterações funcionais do sistema renal são redução da acidificação da urina e piora da excreção de cargas ácidas. Esse é mais um fator contribuinte para a nefrotoxicidade relacionada a medicamentos e a contrastes intravenosos, diminuição da hidroxilação da vitamina D e da regulação do sistema renina angiotensina. 📢 Fatores que alteram o ritmo urinário na pessoa idosa: ↓ na capacidade de concentração renal ↓ na habilidade de conservação do sódio Alterações nos receptores do ADH (hormônio antidiurético) ↓ na produção e excreção do ADH Modificações na produção e função do ANP (peptídeo natriurético atrial — regulação da homeostase cardiovascular através da ativação de isoformas específicas da família de enzimas guanilato-ciclases particulada ou de membrana) Sistema endócrino Tireoide 📢 Os hormônios tireoidianos estimulam o consumo de oxigênio em quase todos os tecidos, aumentando a taxa do metabolismo celular e contribuindo para a manutenção da temperatura corporal. Seu efeito calorigênico diminui com o aumento da idade, aumentando a suscetibilidade de hipotermia nos idosos. A resposta ao calor também está comprometida devido à menor sudorese. O aumento do colesterol sérico, assim como das lipoproteínas de baixa densidade, observado no envelhecimento, pode ser devido ao declínio da função tireoidiana. Paratireoide As glândulas paratireoidianas, responsáveis pela secreção dos hormônios paratireoidiano (PTH) e calcitonina, parecem não alterar suas funções de forma marcante. 📢 Os níveis do cálcio sérico são mantidos ao longo da vida, porém o mecanismo da regulação muda com o avanço da idade. Sabe-se que a manutenção dos níveis plasmáticos do cálcio, na infância e na fase adulta, é mantida mediante ingesta de cálcio sem perda óssea. Na idade avançada a calcemia é mantida pela reabsorção do cálcio ósseo mais do que pela absorção intestinal do cálcio ofertado pela dieta ou pela reabsorção do mineral pelo rim. Uma possível explicação para essa mudança pode ser uma diminuição na capacidade do PTH de estimular a produção da forma ativa da vitamina D, a qual estimula a absorção de cálcio intestinal. Pâncreas Alterações fisiológicas do envelhecimento 13 É esperado um leve aumento da glicemia de jejum relacionado à idade (1mg/dl/década). Para os idosos ativos pode não haver essa diferença. Entretanto, após ingesta de alimentos a glicemia alcança níveis mais elevados e o tempo de retorno ao normal é mais longo quando comparado com adultos jovens. 📢 Alguns fatores responsáveis pela intolerância à glicose com o envelhecimento: Alteração nos receptores de insulina ↓ do número das unidades transportadoras de glicose ↑ proporcional da secreção da pro-insulina em relação à insulina ↓ da musculatura e aumento do tecido adiposo ↓ da atividade física ↑ da gliconeogênese hepática ↑ dos níveis do glucagon Sistema digestório Boca A boca está para o corpo assim como o fundo de olho está para a circulação. Cáries As cáries dentárias continuam sendo um dos principais problemas dos idosos, inclusive na raiz pela retração das gengivas, raramente encontradas nos adultos jovens. As cáries radiculares e coronais foram preditores significativamente mais importantes de perda dentária do que a condição periodontal. Há perda do osso alveolar que, associado à gengivite, constitui outra causa da perda dentária em adultos. Está claro que as cáries ou a periodontite não são importantes para a perda dentária. Os fatores socioculturais e econômicos, o acesso à assistência e a disponibilidade da mesma é que constituem a verdadeira barreira para mantermos uma dentição saudável. Mucosa oral A mucosa oral se torna fina, lisa e seca. Perde a elasticidade e parece edemaciada. A língua também é lisa devido à perda das papilas, podendo trazer alterações no paladar e sensação de queimação. Isso pode ocorrer também devido à deficiência de ferro e das vitaminas B. É comum o aparecimento de varicosidades, principalmente na língua, não estando associada a outras doenças. A capacidade de cicatrização da mucosa oral se mantém inalterada. Glândulas salivares Mais de 50% dos pacientes queixam-se de boca seca, comprometendo a mastigação e a deglutição. Entretanto, essas queixas podem ser atribuídas mais aos efeitos colaterais de medicamentos do que pelo próprio envelhecimento. Alterações fisiológicas do envelhecimento 14 A xerostomia, em geral associada a muitas medicações que o idoso precisa tomar, pode nem ser mencionada pelo paciente ou não ser valorizada pelo examinador. Porém alguns pacientes se queixam frequentemente desse desconforto. O uso de estimuladores das glândulas salivares ou de substitutos de saliva alivia esse sintoma. Na presença de estomatodinia (ardência na boca), pensar em baixa de vitamina do complexo B ou candidíase oral subclínica. A queilite angular, inflamação com ulceração nas comissuras, pode ser por má oclusão da mandíbula, como nos pacientes edentados ou por deficiência de vitaminas e/ou xerostomia. Pode ser porta de entrada para fungos e bactérias levando a infecções mais sérias como celulite de face. Um simples exame oral digital poderá identificar infecções, lesões e até câncer. Orofaringe Observam-se adelgaçamento da camada epitelial da mucosa, retração gengival e exposição das raízes dentárias predispondo a cáries. Devido à alteração da musculatura esofágica há um aumento da resistência da passagem dos alimentos pelo esfíncter esofágico superior. Esôfago Com o avanço da idade observam-se hipertrofia da musculatura esquelética do terço superior do esôfago, diminuição das células ganglionares mioentéricas, que coordenam a peristalse, e aumento da espessura da musculatura lisa. Em 35% das pessoas entre 50 e 75 anos de idade pode ocorrer a incompetência esfincteriana distal do esôfago, permitindo o refluxo do conteúdo ácido do estômago e levando a esofagite. Em consequência, alguns pacientes podem apresentar dor torácica, por vezes exigindo diferenciação com problemas cardíacos. Estômago Com a idade há diminuição das células parietais e aumento dos leucócitos intersticiais. Com isso diminui a secreção do ácido clorídrico e de pepsina, dificultando a digestão de alimentos, principalmente, os ricos em proteína. Mais de 50% dos indivíduos idosos estão infectados pelo H. pylori, com a prevalência aumentando com a idade. Corroborando a lesão celular, a prostaglandina, um lipídio que estimula a secreção de bicarbonato protegendo as células da mucosa, está diminuída. Além disso, observa-se dificuldade do esvaziamento gástrico pela diminuição de sua motilidade normal, a gastroparesia. Em decorrência de todas essas modificações fisiológicas, o estômago fica mais exposto a lesões, com a gastrite e a úlcera péptica sendo responsáveis por metade dos sangramentos digestivos altos ocorridos nos pacientes acima de 60 anos. Intestino delgado Com o avanço da idade, as vilosidadesque cobrem toda a mucosa intestinal, em camada única de epitélio colunar, diminuem de altura. A absorção de várias substâncias está diminuída (ex.: cálcio, ferro), mas a homeostase é mantida. Malformações vasculares são comuns no trato digestivo alto, provocando sangramentos. Alterações fisiológicas do envelhecimento 15 Intestino grosso As alterações encontradas no intestino grosso são praticamente exclusivas do envelhecimento. As anatômicas incluem: atrofia da mucosa, anomalias estruturais das glândulas da mucosa, hipertrofia da camada muscular da mucosa e atrofia da camada muscular externa. 📢 Das alterações funcionais, a constipação intestinal é uma das queixas mais comuns. Ocorre por alimentação pobre em fibras, baixa hidratação oral, falta da prática de exercícios físicos regulares, coordenação das contrações alterada e o aumento da sensibilidade aos opioides. A diminuição do tônus e da força do esfíncter anal, associada a menor complacência retal, aumenta a chance de incontinência fecal nas pessoas idosas. A presença de divertículos é muito prevalente. Pâncreas O pâncreas diminui de tamanho, endurece pelo aumento da fibrose e torna-se mais amarelado pelo depósito de lipofucsina. A lipase e a tripsina têm a sua produção bastante diminuída, porém, nessa queda dramática não há expressão clínica. Fígado Durante toda a vida os hepatócitos se dividem somente duas a três vezes e sua capacidade de regeneração com o envelhecimento é ainda controversa. Entre os 24 e 90 anos o fígado diminui de volume em aproximadamente 37% e também diminui seu fluxo sanguíneo em 35%. O sistema reticuloendotelial liso dos hepatócitos diminui e está correlacionado com a redução da capacidade de metabolizar substâncias contribuindo para aumentar a suscetibilidade do idoso à intoxicação por medicamentos. A síntese do colesterol diminui e há redução da bile total. Como a função da bile é garantir uma boa digestão e absorção dos lipídios, essa diminuição da produção biliar hepática pode agravar a deficiência de vitaminas lipossolúveis, já comprometida nas pessoas idosas que, por diferentes motivos, se alimentam mal, fazendo dieta pobre em vitaminas lipossolúveis. 📢 O conteúdo do citocromo P-450 diminui com a idade, podendo ser a justificativa para o alentecimento da metabolização de algumas substâncias. RESUMINDO Idoso tem: maior risco de ter câncer de pele e dermatite maior risco de desidratação e desequilíbrio eletrolítico Alterações fisiológicas do envelhecimento 16 menos sensibilidade (visual, auditiva, olfatória, palativa e tátil — também vibratória e de dor) maior risco de sarcopenia e desnutrição maior risco de doenças cardiovasculares (HAS, arritmia, DAC e aumento do VE) menos neurônios colinérgicos e muscarínicos (regulação da memória, aprendizado e sono) menos dopamina e receptores na substância negra (Alzheimer) lentidão da síntese proteica; maior oxidação das proteínas e sua glicosilação; diminuição da síntese lipídica; alteração na membrana lipídica e na condução nervosa; diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da glicose o fluxo sanguíneo e o consumo de O2 são iguais no jovem e no idoso (ausência de doenças), mas na aterosclerose o fluxo é menor e o cérebro extrai mais O2 do sangue isquemia, hipóxia e hipoglicemia ativam os receptores glutamato induzindo toxicidade com consequente morte neuronal com o envelhecimento, a barreira hematoencefálica torna-se permeável a muitas substâncias, podendo ser uma das causas de demência menor capacidade respiratória maior produção de radicais livres (altera membranas e funções celulares) menor resposta (produção de eritropetina) à anemia maior coagulação perda de tecido renal (mais gordura e mais fibrose) pior filtração maior risco de intoxicação medicamentosa menor concentração menor conservação do sódio menor produção e excreção do ADH e alterações nos receptores do ADH modificações na produção e função do ANP (peptídeo natriurético atrial — regulação da homeostase cardiovascular) pior função metabólica (maior risco de hipotermia) — pode ter a ver com menor quantidade de citocromo P450 pior mecanismo da regulação do cálcio sérico (osteoporose) aumento da glicemia e jejum e pior retorno da pós-prandial (diabetes) hipertrofia da musculatura esofágica (refluxo) menor secreção do ácido clorídrico e de pepsina e gastroparesia (pior digestão) menor altura das vilosidades intestinais e menor produção de lipase e tripsina (sem expressão clínica) constipação (ocorre por alimentação pobre em fibras, baixa hidratação oral, falta da prática de exercícios físicos regulares, coordenação das contrações alterada e o aumento da sensibilidade aos opioides) Alterações fisiológicas do envelhecimento 17 menor tônus e força do esfíncter anal associados a menor complacência retal (incontinência fecal) menor produção de bile (deficiência de vit lipossolúvel) REFERÊNCIA: FREITAS, Elizabete Viana de. Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed. Cap. 14, p. 383-411. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.