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Nefro - Lesão Renal Crônica: - Existe Doença Renal Crônica quando há “dano renal” (geralmente detectado pela presença de albuminúria > 30 mg/dia) e/ou perda da função renal (definida como uma taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1.73 m²), por um período maior ou igual a 3 meses. - As suas causas são processos patológicos lentamente progressivos. - Ao contrário do que se observa na maioria dos casos de IRA, na DRC não ocorre regeneração do parênquima renal, e por isso a perda de néfrons é irreversível. - Às vezes, no entanto, a DRC pode se instalar de forma aguda (Necrose cortical aguda e glomerulonefrite rapidamente progressiva). - Todas as nefropatias crônicas, após um período variável (geralmente entre 3-20 anos), podem evoluir para a Doença Renal em Fase Terminal, em que se observam níveis residuais de TFG (<15% do normal). - Nesse momento, a histopatologia perde as características específicas da nefropatia inicial, apresentando uma alteração universal: Fibrose glomerular e intersticial, aliada à atrofia dos túbulos (ou seja, perda total dos néfrons). - O paciente, então, apresenta os diversos sinais e sintomas que compõem a Síndrome Urêmica (uremia), e a terapia de substituição renal, representada pelos métodos dialíticos e pelo transplante renal, torna-se imprescindível para a sua sobrevivência. - O estadiamento tem sido feito pelo sistema proposto pela KDIGO, que permite estratificar o paciente quanto ao risco de complicações da DRC. - A classificação final será composta pela combinação dos estágios “G” + “A”, devendo-se acrescentar a letra “D” se o paciente estiver em diálise. - Uma albuminúria > 30 mg/24h, quando persistente, sinaliza os pacientes com maior risco de evoluir para DRC progressiva e rins em fase terminal, independentemente da etiologia. - Na realidade, quanto maior for o nível de proteinúria, mais rápida será a queda anual na taxa de filtração glomerular. - À medida em que a perda de néfrons progride, os néfrons remanescentes vão sendo “sobrecarregados”, tentando excretar, além de sua carga básica de solutos, os solutos que os néfrons perdidos excretariam: Hiperfiltração Adaptativa. - Entretanto, a própria hiperfiltração acaba induzindo a lesão glomerular, inicialmente pelo processo de glomeruloesclerose segmentar focal (proteinúria crescente), que com o tempo evolui para glomeruloesclerose global difusa, acompanhada de fibrose e atrofia de todo o néfron. - O bloqueio do SRAA comprovadamente consegue prevenir ou atrasar essa evolução da doença para a autoperpetuação. - O uso de IECA ou Antagonistas da Angiotensina II produz uma redução no grau de proteinúria bem acima do esperado somente pela queda dos níveis tensionais. - Além de reduzir a hiperfiltração e a proteinúria, tais drogas possuem efeito anti-fibrótico e anti-inflamatório no rim, retardando a progressão da nefropatia através de vários mecanismos complementares. - Assim, um dos principais alvos terapêuticos com o objetivo de evitar ou atrasar a evolução para DRFT é o controle da proteinúria para níveis inferiores a 0,5-1g/dia, ou, pelo menos, uma queda superior a 50-60% em relação ao valor inicial. - Outros fatores devem ser estimulados para tentar minimizar o dano renal: Abandono do tabagismo, controle glicêmico rigoroso e tratamento da acidose metabólica com reposição de bases. - O tratamento específico de algumas entidades, como as glomerulopatias e as vasculites, pode ser altamente eficaz se iniciado precocemente. - Baseia-se no uso de corticosteróides e outros imunossupressores, como a ciclofosfamida. Etiologia da DRC: Fisiopatologia da Síndrome Urêmica: 1) Toxinas Dialisáveis (Perda da função de filtro): - A disfunção renal grave leva ao acúmulo de substâncias tóxicas endógenas, algumas das quais podem ser filtradas pela membrana de diálise. - A uréia é a substância de maior concentração urinária, e representa 80% de todo o nitrogênio eliminado na urina. - Entretanto, foi observado que ao se fazer diálise acrescentando ureia na solução dialítica, para manter seus elevados níveis séricos, mesmo assim havia melhora importante dos sintomas da síndrome urêmica. - Atualmente, centenas de substâncias nitrogenadas são encontradas em altos níveis na circulação de pacientes urêmicos. - A uréia apresenta efeito tóxico apenas quando em altas concentrações (>380mg/dl). Sua toxicidade é primariamente gastrointestinal (anorexia, náuseas e vômitos) e hematológica (sangramento). - Apesar da baixa toxicidade, seus níveis elevam-se juntamente com os de outras substâncias nitrogenadas tóxicas e, por conseguinte, ela pode ser usada como marcador da síndrome urêmica. - Os sinais e sintomas da síndrome urêmica costumam ocorrer com ureia sérica > 180 mg/dl, em não diabéticos, e > 140 mg/dl, em diabéticos. - Com frequência, pacientes em programa de diálise apresentam sintomas como astenia, falta de energia, distúrbios do sono e cognição, alterações psiquiátricas, disfunção sexual e deficit de crescimento e maturação sexual em crianças e adolescentes. - A hipótese de que o tratamento dialítico não é inteiramente capaz de depurar todas as toxinas que deveriam ser eliminadas e/ou metabolizadas no rim, causando seu acúmulo e o surgimento da síndrome residual, é corroborada pelo fato de que, estes pacientes, quando transplantados, evoluem com melhora importante dos referidos sintomas. 2) Distúrbios Hormonais (Perda da função endócrina): - O principal fator parece ser a elevação dos níveis de paratormônio (PTH), devido ao hiperparatireoidismo secundário. - O PTH é considerado uma verdadeira “toxina urêmica” e contribui para quase todos os sinais e sintomas da síndrome, incluindo a encefalopatia, a cardiomiopatia, a anemia e o prurido. - Sem dúvida, entretanto, a manifestação mais dependente dos efeitos do PTH é a osteodistrofia renal. - O rim possui função endócrina, produzindo Eritropoetina e Calcitriol (1,25 diidroxivitamina D). - A deficiência da eritropoetina é o principal fator patogênico da anemia urêmica. - A deficiência do calcitriol, por sua vez, está implicada na osteodistrofia renal e na miopatia urêmica, sendo ainda uma das causas do hiperparatireoidismo secundário. - A deficiência na produção de amônia (NH3) pelo parênquima renal contribui para a acidose metabólica na uremia. - Um déficit na produção de óxido nítrico renal contribui para a hipertensão arterial. Clínica da Síndrome Urêmica: - Sinais e sintomas aparecem quando a filtração glomerular está < 30ml/min. MANIFESTAÇÕES QUE RESPONDEM À DIÁLISE: 1) Desequilíbrio Hidroeletrolítico: - Na IRC, à medida que a filtração glomerular se reduz, um mecanismo de adaptação faz acrescentar a fração excretória de cada néfron remanescente, de forma a manter a capacidade de excreção renal total e garantir o equilíbrio hidroeletrolítico. - Enquanto a TFG for superior a 20ml/min, o equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico geralmente estará intacto. - Entretanto, quando a filtração chega a valores muito baixos, compatíveis com a síndrome urêmica, a regulação hidroeletrolítica torna-se limitada. - O aumento da fração excretória de sódio é estimado por uma retenção inicial de sódio, o que mantém o paciente em um estado hipervolêmico. - A hipervolemia estimula a liberação do peptídeo atrial natriurético e suprime o SRAA, promovendo o aumento da fração excretória de sódio. - Assim, atinge-se um novo estado de equilíbrio no qual o paciente mantém balanço de sódio à custa de um estado hipervolêmico. - Esse é o princípio que rege a retenção de sódio, água, potássio, H+, fosfato e magnésio na síndrome urêmica. - O cálcio, por ser regulado muito mais pela absorção intestinal do que pela excreção renal, encontra-se geralmente baixo na uremia, em consequência ao déficit de calcitriol. - Da mesma forma que o rim tem dificuldade para eliminar os excessos,também não é capaz de lidar com a falta nos estados de privação. - Os néfrons não conseguem mais reduzir a fração excretória para níveis normais. - Balanço de Sódio: A retenção é universalquando a TFG está abaixo de 10ml/min (10% da função renal). A consequência é o estado hipervolêmico. - Nesses pacientes, uma ingestão acima de 100 mEq/dia de sódio já pode ser suficiente para causar hipervolemia e suas consequências clínicas: (1) hipertensão arterial sistêmica; (2) edema generalizado. - O edema, denominado edema renal, distribui-se não só pelas áreas dependentes de gravidade (membros inferiores, bolsa escrotal), mas também na face e região periorbitária. - O edema frequentemente atinge as serosas, sendo comuns a ascite, o derrame pleural e o derrame pericárdico. - O tratamento da retenção de sódio (hipervolemia) é a retirada de sódio e água (fluido isotônico) na diálise, um processo denominado Ultrafiltração. - Balanço de Água: Em uma pessoa saudável, os rins podem eliminar até 18 L de água por dia. Quando a filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min, um consumo de água acima de 2-3 L/dia já pode ser suficiente para promover retenção de água livre, diluindo o sódio plasmático (Hiponatremia). - Balanço de Potássio: É comum apenas quando a filtração glomerular está < 5-10 ml/min (menos de 5-10% da função renal). - O débito urinário é um fator determinante: quanto mais oligúrico for o paciente, maior sua propensão a reter potássio. - A secreção de potássio pela mucosa do cólon é ativada pela própria hipercalemia (efeito direto) e pela aldosterona. A constipação intestinal pode desencadear hipercalemia no paciente urêmico, por prejudicar uma importante via de eliminação deste íon. - A uremia inibe a entrada de potássio nas células, devido à queda na atividade da enzima NaK-ATPase da membrana celular, um fenômeno que antecede a retenção renal de potássio. Por esta razão, o paciente urêmico não tolera uma carga aguda de potássio, pois perdeu a principal defesa imediata contra a hipercalemia – o “tamponamento celular”. - Um grupo de pacientes com nefropatia crônica apresenta maior propensão à hipercalemia, mesmo nos estágios iniciais da nefropatia, quando a filtração glomerular ainda está entre 50-80 ml/min. São pacientes diabéticos com a síndrome do hipoaldosteronismo hiporreninêmico (disfunção da arteríola aferente com diminuição da secreção de renina). A redução dos níveis de aldosterona prejudica a excreção de potássio pelos néfrons remanescentes. 2) Desequilíbrio Acidobásico: - O rim saudável excreta 70-100 mEq de ácidos produzidos diariamente pelo metabolismo proteico. - Para que o H+ seja de fato excretado na urina, ele precisa se ligar a uma base urinária. Cerca de 2/3 do H+ é eliminado ligado à amônia (NH3 ), formando o íon amônio (NH4 + ). O 1/3 restante sai ligado a outras bases, principalmente ao fosfato. - Na insuficiência renal crônica, quando a filtração glomerular está abaixo de 20 ml/min (20% da função renal), a produção renal de amônia começa a cair. Com isso, a eliminação urinária de H+ torna-se prejudicada. Nesse momento, começa a surgir uma Acidose Metabólica Hiperclorêmica. - O aumento do cloreto é para compensar a queda do bicarbonato, de forma a manter o equilíbrio eletroquímico do plasma. É comum observarmos um bicarbonato plasmático entre 12-18 mEq/L. - O pH dependerá da compensação respiratória. Geralmente está em torno de 7,30. A acidose metabólica crônica promove desmineralização óssea, pois o H+ é tamponado no osso, em troca da liberação de cálcio e fosfato. - Um dos grandes problemas da acidose metabólica na uremia crônica, mesmo em suas fases iniciais é a aceleração do catabolismo proteico, que contribui para a perda de massa muscular típica desses pacientes. Um bicarbonato sérico inferior a 20 mEq/L já é capaz de estimular este fenômeno. - Para evitar as complicações crônicas da acidose metabólica (agravamento da osteodistrofia renal e perda de massa muscular), a reposição diária de Bicarbonato de Sódio está indicada quando o bicarbonato plasmático for < 20 mEq/L. 3) Manifestações Gastrointestinais: - Em geral, a anorexia é o sintoma mais precoce. Seguem-se náuseas, plenitude abdominal e vômitos (intolerância gástrica). Estes podem ser explicados por dois fatores: (1) gastrite urêmica; (2) gastroparesia urêmica. - A mucosa gastroduodenal, além de enantema e edema, pode apresentar petéquias. A disfunção plaquetária contribui para esses achados. - A disgeusia (percepção de gosto amargo na boca) é decorrente da transformação da ureia, por bactérias presentes na saliva, em amônia. - O comprometimento da mucosa intestinal, tanto no delgado como no cólon, pode levar a um quadro de diarreia urêmica, bem como ao íleo urêmico (distensão abdominal e cólicas). - São causados pela inflamação mucosa, com redução no tamanho das vilosidades, acrescida de uma série de outros fatores, como disautonomia, supercrescimento bacteriano e deficiência de vitamina D. - Hemorragia digestiva, tanto alta (hematêmese ou melena) quanto baixa (hematoquezia ou enterorragia), pode ocorrer como complicação da uremia. É explicada pela inflamação urêmica da mucosa gastrointestinal, que pode evoluir com erosões ou ulcerações, e pelo distúrbio plaquetário da uremia. 4) Manifestações Neurológicas: - Estão entre as mais comuns e debilitantes complicações da síndrome urêmica, podendo, até mesmo, levar ao óbito. - Os sintomas mais graves costumam ocorrer quando a filtração glomerular está abaixo de 10 ml/min (10% da função renal). - O PTH possui importante efeito no SNC, levando à entrada de cálcio nos neurônios. O hiperparatireoidismo secundário pode contribuir para os sintomas neurológicos. - Na uremia aguda (ou crônica agudizada), o paciente pode apresentar desorientação, letargia, lassidão, confusão mental, surto psicótico, delirium, associado a sinais de encefalopatia metabólica, como nistagmo, disartria, asterixis, mioclonia espontânea, fasciculações, hiper-reflexia e sinal de Babinski bilateral – Encefalopatia Urêmica Aguda. - Pode evoluir para convulsões tônico-clônicas generalizadas, coma e óbito, por edema cerebral grave. - Na uremia crônica, o distúrbio mental tende a ser insidioso e mais sutil nas fases iniciais – a Encefalopatia Urêmica Crônica. Observa-se disfunção cognitiva progressiva, caracterizada por amnésia anterógrada, dificuldade de concentração, alteração de comportamento ou de personalidade, sonolência ou insônia, confabulação e perda do raciocínio aritmético. - A encefalopatia urêmica deve ser diferenciada da encefalopatia da hemodiálise, causada pela intoxicação por alumínio. Esta última possui um quadro inicial marcado por importantes alterações da fala (disartria, fala balbuciante, gagueira). - A neuropatia periférica urêmica é muito comum na insuficiência renal crônica. Os sintomas iniciais são parestesias nos pés do tipo “agulhadas”, que costumam piorar à noite. O exame físico revela hipoestesia “em bota”. A perda dos reflexos tendinosos distais – hiporreflexia do Aquileu - é muito comum. - Outra manifestação da uremia é a “síndrome das pernas inquietas”, caracterizada por desconforto nos membros inferiores e uma necessidade incontrolável de mexer as pernas. - O comprometimento dos nervos periféricos do sistema nervoso autonômico (simpático e parassimpático) é comum na uremia crônica, levando à síndrome de disautonomia. O controle da pressão arterial e da frequência cardíaca pode estar alterado! Isso pode causar hipotensão postural, hipotensão durante a hemodiálise não responsiva a volume e frequência cardíaca fixa (com predomínio de taquicardia). A perda da influência vagal sobre o sistema de condução cardíaco pode predispor a arritmias malignas e à morte súbita. Outras manifestações relacionadas à disautonomia são: anidrose, impotência e distúrbio gastrointestinal (ex.: gastroparesia, diarreia). 5) HAS: - Pode ser a causa (nefroesclerose hipertensiva) ou a consequência da nefropatia!!! Patologias renais agudas e crônicas podem levar à hipertensão arterial mesmo na ausência da elevação da ureia e creatinina plasmáticas, ou quando os valores estão apenas um pouco aumentados. - Quando a doença renal chega ao estágio avançado,com filtração glomerular abaixo de 10 ml/min (10% da função renal), a hipertensão arterial está presente em mais de 90% dos pacientes. - A hipertensão arterial na uremia costuma ser mais grave quando comparada à hipertensão primária. Frequentemente é acompanhada por complicações cardiovasculares, como hipertrofia ventricular esquerda, cardiomiopatia dilatada e doença coronariana. Tanto é assim que as complicações cardiovasculares são a principal causa de óbito no portador de DRC! - Como já dissemos, o controle pressórico é essencial nesses doentes, devendo-se manter a PA obrigatoriamente abaixo de 140 x 90 mmHg e, se possível, abaixo de 130 x 80 mmHg (em particular nos portadores de DRC “proteinúrica”). - Contudo, quando a TFG está muito baixa, ou quando existe doença renovascular importante, os IECA e Antagonistas da Angio II costumam induzir IRA e hipercalemia, o que limita sua utilização em pacientes que não estejam em programa de diálise. 6) Manifestações Cardíacas e Pericárdicas: - Muitos pacientes com uremia crônica apresentam comprometimento do miocárdio, seja por hipertrofia ventricular esquerda, seja por cardiomiopatia dilatada com disfunção ventricular sistólica. A retenção volêmica sobrecarrega o coração já doente, justificando sintomas clássicos de insuficiência cardíaca congestiva – dispneia, ortopneia, dispneia paroxística noturna, hepatomegalia congestiva, derrame pleural, ascite, edema de membros inferiores. A diálise, ao retirar sódio e água (ultrafiltração), pode ser a única maneira de manter estes pacientes compensados. É válido ressaltar que a falência cardíaca é a causa mais comum de óbito dos pacientes urêmicos! - O derrame pericárdico é visto em 50% dos pacientes urêmicos, muitas vezes associado a derrame pleural e ascite, fazendo parte do quadro de anasarca da uremia. Geralmente é leve a moderado e não está relacionado a sintomas de pericardite ou tamponamento cardíaco. Neste caso, deve ser apenas observado. - A pericardite urêmica é caracterizada por: (1) dor torácica do tipo pleurítica (ventilatório-dependente), contínua e que piora com o decúbito dorsal; (2) atrito pericárdico; (3) alterações eletrocardiográficas de pericardite; (4) derrame pericárdico. - O pericárdio encontra-se inflamado e hipervascularizado, predispondo à ruptura de pequenos vasos superficiais e sangramento. Por esta razão, o líquido é caracteristicamente hemorrágico. A pericardite urêmica crônica leva ao espessamento pericárdico, com acúmulo de fibrina. Algumas vezes, pode evoluir para pericardite constritiva ou efusivo-constritiva, com seu quadro clínico característico de congestão sistêmica. - O tamponamento cardíaco é a complicação mais temida da pericardite urêmica. O espessamento reduz a complacência do pericárdio, o que faz com que qualquer acúmulo rápido de líquido, mesmo em quantidades pequenas, leve ao aumento da pressão intrapericárdica! A consequência é a compressão das câmaras cardíacas, limitando o enchimento diastólico e levando ao baixo débito cardíaco. O quadro clínico é composto pelos seguintes achados: (1) turgência jugular; (2) taquicardia; (3) pulso paradoxal (desaparecimento do pulso na fase inspiratória). Evolui para hipotensão arterial e dispneia. As bulhas cardíacas podem ou não estar abafadas. O ECG mostra alternância elétrica (QRS grande alternando com QRS pequeno). 7) Manifestações Pulmonares e Pleurais: - Os pulmões do paciente urêmico estão geralmente com aumento do conteúdo líquido – edema pulmonar crônico. Este edema predomina no interstício pulmonar, mas também pode acometer o espaço alveolar nos casos mais graves. - O edema pulmonar da uremia é decorrente principalmente da congestão pulmonar (aumento da pressão venocapilar). Este edema é chamado de Edema Pulmonar Cardiogênico, e responde bem ao processo de ultrafiltração (retirada de sódio e água na diálise). - A uremia aguda ou crônica também pode levar ao edema pulmonar simplesmente por aumentar a permeabilidade capilar – Edema Pulmonar Não Cardiogênico. Este tipo de edema depende de toxinas dialisáveis e é chamado de “pulmão urêmico”. - Diversas podem ser as consequências do edema pulmonar crônico: (1) aumento do trabalho respiratório, pois os pulmões ficam “pesados”, levando o paciente a sentir dispneia; (2) distúrbio na troca gasosa, do tipo diminuição da relação ventilação/perfusão (distúrbio V/Q), predispondo o paciente à hipoxemia. - Algumas alterações que interessam ao pulmão não respondem à diálise. Podemos citar dois exemplos de grande importância: (1) a disfunção da musculatura respiratória pela miopatia urêmica pode ser um importante fator para a dispneia do paciente; (2) a calcificação do parênquima pulmonar decorrente do hiperparatireoidismo secundário e do elevado produto cálcio-fosfato. - Cerca de 20% dos pacientes urêmicos têm derrame pleural. Alguns apresentam sintomas do tipo dor pleurítica, tosse ou dispneia. A causa mais comum é a infecciosa, que sempre deve ser descartada. A pleurite urêmica é uma entidade descrita, difícil de ser diferenciada da infecção (por se tratar de um exsudato), mas que pode responder à diálise e tem algumas características na análise do líquido pleural que a diferenciam da infecção... São elas: (1) aspecto hemorrágico (apesar de na maioria das vezes ser amarelo-citrino); (2) glicose normal; (3) pH > 7,30; (4) leucócitos e proteína não tão elevados como na pleurite infecciosa. 8) Distúrbio da Hemostasia: - A síndrome urêmica (aguda ou crônica) cursa com tendência ao sangramento, devido a um distúrbio da hemostasia primária. - A uremia inibe todas as funções plaquetárias (adesão, ativação e agregação). - O distúrbio da hemostasia primária aparece nos exames como um prolongamento do tempo de sangramento cutâneo (TS > 5 min) e pela fragilidade capilar (prova do laço positiva). - As manifestações clínicas podem ir desde petéquias ou pequenas equimoses na pele até hemorragia cerebral ou digestiva. Sangramento gengival e epistaxe são comuns, assim como sangramento pós-operatório prolongado. - O distúrbio urêmico da hemostasia pode ser inicialmente controlado pela administração de desmopressina (dDAVP): 3 µg/kg intranasal ou 0,3 µg/kg intravenoso. - Cumpre ressaltar que a síndrome urêmica também predispõe à trombose. O estado inflamatório sistêmico associado à disfunção renal crônica justifica a tendência pró-trombótica nos demais pacientes. 9) Intolerância à Glicose: - O metabolismo dos carboidratos encontra-se alterado na uremia, levando às seguintes consequências: (1) intolerância à glicose; (2) pseudodiabetes urêmico. - Na verdade, são graus variáveis do mesmo distúrbio, marcado pela resistência periférica à insulina associada à disfunção da célula beta da ilhota pancreática, uma fisiopatologia semelhante ao diabetes tipo 2. - A resistência insulínica é do tipo pós-receptor. Estes fenômenos já podem ser observados em pacientes com TFG < 50 ml/min. 10) Outros Distúrbios Endócrinos: - A IRC promove hipogonadismo, com redução dos níveis de estrogênio, em mulheres, e testosterona em homens. Surge infertilidade (alterações menstruais, abortamento espontâneo, oligoespermia) e disfunção sexual (perda da libido, impotência). Adolescentes nefropatas crônicos apresentam atraso ou mesmo ausência de maturação sexual. MANIFESTAÇÕES QUE NÃO RESPONDEM À DIÁLISE: 1) Anemia: - A anemia é uma das primeiras manifestações da síndrome urêmica. Em geral se instala quando a filtração glomerular cai abaixo de 30-40 ml/min (creatinina sérica > 2,0-3,0 mg/dl). - A anemia urêmica é normocítica e normocrômica. É responsável por uma série de sintomas atribuídos à síndrome urêmica, tais como astenia, indisposição física e mental, depressão, deficit cognitivo, insônia, cefaleia, diminuição da libido, anorexia e tendência ao sangramento. - O principal fator implicado na gênese da anemia urêmica é a deficiência relativa de Eritropoietina, hormônio produzido por uma subpopulação de fibroblastos no interstício renal, em resposta à hipóxia tecidual, e que age na medulaóssea estimulando a diferenciação de células-tronco em células progenitoras da série eritroide. - Qualquer fator que leve à hipóxia tecidual aumenta a produção e liberação de eritropoietina pelo rim, tal como hipoxemia e a própria anemia. Os níveis séricos de eritropoietina em um indivíduo hígido estão entre 10-12 mU/ml. - O PTH promove fibrose medular, importante fator que contribui para a queda na produção de hemácias. - O diagnóstico deve ser feito na presença de ferritina < 100 ng/ml e saturação de transferrina < 20%. Neste caso, está indicada a reposição de ferro. É praxe a reposição rotineira de ferro IV em pacientes submetidos à hemodiálise. - Um esquema comumente utilizado é: ferro parenteral (IV) 50-100 mg 2 x/semana por cinco semanas. - O tratamento da anemia urêmica baseia-se na reposição de Eritropoietina Recombinante por via subcutânea, devendo ser iniciado quando os níveis de hemoglobina caírem abaixo de 10 g/dl. - O controle do hiperparatireoidismo contribui para a melhora da anemia. - A reposição de eritropoietina visa atingir uma hemoglobina média de 11 g/dl (entre 10-12 g/dl) e um hematócrito de 33% (entre 30-36%). 2) Osteodistrofia Renal: - Leva à alteração da matriz do osso e sua desmineralização, predispondo o paciente à dor óssea, fraturas patológicas e deformidade esquelética. - Existem dois tipos principais de doença óssea na doença renal crônica: (1) osteopatia de alto metabolismo (alto turn over), decorrente do hiperparatireoidismo secundário, também chamada de osteíte fibrosa cística; (2) osteopatia de baixo metabolismo (baixo turn over), também chamada de doença óssea adinâmica. - Atualmente, sabemos que esses dois tipos possuem prevalência semelhante e, muitas vezes, o tratamento da osteíte fibrosa cística permite que “apareça” uma doença óssea adinâmica que estava previamente oculta. - Uma terceira forma, menos comum, é a osteomalácia, também de baixo turn over. - Os distúrbios metabólicos que desencadeiam a osteodistrofia renal costumam se instalar quando a TFG cai abaixo de 30-59 ml/min, mas tornam-se mais acentuados na medida em que a disfunção renal progride. - O Paratormônio (PTH) estimula a reabsorção do osso, o que, por sua vez, ativa a neoformação óssea (“alto turn over”). - O osso neoformado perde sua arquitetura composta por lâminas paralelas de colágeno mineralizado (osso lamelar) e ganha uma nova arquitetura, caracterizada pela desorganização das fibras colágenas mineralizadas (o chamado osso “trançado” ou “entrelaçado”) do inglês woven bone. Este osso é bastante propenso a fraturas e deformidades! - O estímulo metabólico excessivo também leva à fibrose parcial da medula óssea e ao surgimento de áreas císticas no osso, as quais podem sangrar dando origem aos “tumores marrons” (cistos repletos de sangue “antigo”). - Enquanto o osso do paciente demonstra as alterações do hiperparatireoidismo secundário (osteíte fibrosa cística), o exame de sangue revela a combinação de: hiperfosfatemia + hipocalcemia + elevação do PTH-intacto (> 100 pg/ml). - O cálcio pode estar levemente reduzido ou normal e o fosfato muitas vezes encontra-se bastante elevado (> 6,5 mg/dl). - O chamado duplo-produto Ca x P está geralmente elevado (> 45), o que pode resultar na precipitação de fosfato de cálcio insolúvel nos tecidos e vasos sanguíneos, determinando problemas cardíacos (doença coronariana, valvopatias calcíficas), rigidez vascular com hipertensão sistólica e isquemia e necrose da pele (calcifilaxia). - A hiperfosfatemia crônica é comprovadamente um fator de risco cardiovascular. - A dor óssea predomina na região lombar (lombalgia), pelo acometimento vertebral. Outros sítios comuns de dor são: quadril, joelho, membros inferiores, costelas. As fraturas patológicas podem aparecer com pequenos traumas ou distensão do osso. São comuns nas vértebras e nas costelas, mas podem ocorrer em outros locais. Entre as deformidades ósseas, a mais encontrada é a cifoescoliose toracolombar. Nas crianças surge uma síndrome semelhante ao raquitismo – “raquitismo renal”. - Os seguintes achados são sugestivos de osteíte fibrosa cística (doença de alto turn over): - Hiperfosfatemia grave (P > 6,5 mg/dl); - PTH-intacto muito elevado (> 450 pg/ml); - Fosfatase alcalina sérica elevada; - Achados radiológicos. OBS: Das complicações da calcificação tecidual, quando o produto cálcio-fosfato encontra-se muito alto (> 60-70), a calcifilaxia é a mais temida, sendo decorrente da calcificação obstrutiva de pequenas artérias da periferia cutânea, levando à isquemia e necrose (gangrena), mais comum na região da coxa (lesões ulceradas e enegrecidas) e nos dedos do pé. - A doença óssea adinâmica é uma forma atualmente comum de osteodistrofia renal. Os fatores de risco mais importantes são: idade avançada, diabetes mellitus e, principalmente, a terapia do hiperparatireoidismo secundário. - Esta forma de osteopatia, também chamada de doença óssea aplásica, é caracterizada por um baixo metabolismo e atividade celular do osso, determinando uma importante perda da densidade óssea (como se fosse uma osteoporose). - Postula-se que a maioria dos pacientes urêmicos possua a tendência a desenvolver a doença óssea adinâmica; entretanto, os elevados níveis de PTH mantêm este problema oculto por desencadear uma desordem óssea totalmente oposta, de alto turn over. - Com a correção do hiperparatireoidismo, a doença adinâmica poderia então se manifestar. - O diagnóstico é suspeitado por um PTH-intacto < 150 pg/dl e confirmado pela biópsia óssea. - Osteomalácia é uma osteopatia de baixo turn over que, diferentemente da doença óssea adinâmica, apresenta no histopatológico aumento do volume de osteoide (proteína óssea) não mineralizado. O diagnóstico é facilmente confirmado pela biópsia. - A osteomalácia pode ser causada também pela deficiência de calcitriol e pela acidose metabólica crônica. Em crianças, a mesma osteopatia se manifesta como raquitismo (“raquitismo renal”), cursando com deformidades e deficit de crescimento. - Como os grandes fatores que geram e mantêm os elevados níveis de PTH na síndrome urêmica são a hiperfosfatemia e a deficiência de calcitriol, o tratamento se baseia na redução dos níveis séricos de fosfato e no aumento dos níveis séricos de calcitriol. - A primeira medida é a restrição de fosfato na dieta (< 800 mg/dia). A restrição de proteínas é a principal maneira de se restringir a ingestão de fosfato. Se a restrição dietética de fosfato não for suficiente, ou a hiperfosfatemia for grave, está indicado o uso de quelantes orais de fosfato, administrados juntamente às refeições (evitam a absorção do fosfato presente na dieta). OBS: E o Hiperparatireoidismo Terciário? Alguns pacientes urêmicos desenvolvem hipercalcemia, mesmo sem usar carbonato de cálcio e calcitriol. A explicação é a seguinte: o estímulo crônico à paratireoide, presente no hiperparatireoidismo secundário, pode levar à formação de “ilhas” de produção autônoma de PTH, funcionando como um hiperparatireoidismo primário em cima de um secundário. A hipercalcemia pode levar a náuseas, vômitos, hipertensão arterial, queda do sensório e convulsões. O tratamento consiste em diálise (para depurar o cálcio) e paratireoidectomia subtotal. - Doença óssea adinâmica: Não possui tratamento específico e também não responde à diálise. A conduta preconizada é deixar o PTH ficar mais elevado (entre 150-300 pg/dl), reduzindo ou suspendendo a terapia do hiperparatireoidismo. 3) Manifestações Cutâneas: - Diversas alterações em pele e fâneros são descritas na síndrome urêmica. - A pele do paciente urêmico costuma ser seca (xerose urêmica) e hiperpigmentada (principalmente em áreas expostas ao sol), devido à redução da vitamina A cutânea (a despeito de níveis plasmáticos aumentados desta vitamina) e ao acúmulo de urocromos (escórias pigmentadas), respectivamente. - Em pacientes não submetidos à terapia de substituição renal pode-se observar uma espécie de pó branco, a chamada neve urêmica. A neve urêmica é uma das únicasmanifestações cutâneas que pode reverter com a diálise. - A porfiria cutânea tarda, uma dermatoporfiria bolhosa caracterizada pelo acúmulo de uroporfirinas, tem incidência aumentada na síndrome urêmica. - O prurido urêmico é multifatorial. Pode melhorar com a diálise, sugerindo correlação com toxinas urêmicas. Contudo, algumas vezes não melhora e está intimamente relacionado ao hiperparatireoidismo. A maioria dos pacientes com prurido intenso e refratário apresenta níveis séricos elevados de PTH, com boa resposta à paratireoidectomia subtotal. - Este tipo de prurido pode ser exacerbado pelo acúmulo de cálcio na derme e epiderme ou pela hipersensibilidade das terminações nervosas periféricas induzida pelo PTH. - O prurido pode ocorrer sem nenhuma alteração cutânea associada (pruritus sine materia) ou cursar com as seguintes lesões: (1) prurigo nodularis; (2) hiperceratose folicular; (3) líquen simples. - Os cabelos tornam-se quebradiços, secos e podem perder a coloração. No entanto, a alopecia não costuma ocorrer como resultado da uremia. - As unhas podem mostrar uma série de alterações. A mais típica da síndrome urêmica é denominada unha meio a meio, caracterizada por uma discromia bem demarcada de tom marrom ou róseo na metade distal da unha. - A Fibrose Sistêmica Nefrogênica (FSN) é uma condição que cursa com fibrose difusa dos tecidos conjuntivos do corpo e acomete pacientes renais crônicos expostos ao gadolínio (contraste paramagnético em exames de ressonância nuclear). 4) Manifestações Articulares e Musculares: - Pacientes com uremia crônica podem apresentar quadros agudos de monoartrite, oligoartrite, periartrite ou tenossinovite. - As duas principais causas de monoartrite a serem consideradas na uremia são: (1) depósito de cristais; (2) artrite séptica. - A punção do líquido sinovial, se factível, deve sempre ser realizada para a diferenciação. - A artrite por depósito de cristais pode ser de quatro tipos: (1) gota; (2) pseudogota; (3) artrite por oxalato de cálcio; (4) artrite por fosfato de cálcio básico. - A fraqueza muscular está altamente ligada à osteodistrofia renal, sendo chamada de miopatia urêmica. O principal fator causal é a deficiência de calcitriol. Este hormônio é importante para uma função muscular normal. - O quadro é de fraqueza da musculatura proximal (cinturas pélvica e escapular), manifestando-se como dificuldade em levantar da cadeira, subir escada, pentear o cabelo etc. Pode haver dor muscular, porém, as enzimas musculares não se elevam! 5) Manifestações Cardíacas e Coronarianas: - As causas mais comuns de óbito no doente renal crônico são cardiovasculares (40% de todos os óbitos), através do desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva, infarto agudo do miocárdio ou morte súbita arrítmica. - A Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE) responde apenas parcialmente à diálise, mas pode reverter completamente com o transplante renal. - Um fator importante é a hipertensão arterial, que contribui pela sobrecarga pressórica crônica do ventrículo esquerdo. - A uremia crônica pode levar à disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, causando cardiomiopatia dilatada – cardiomiopatia urêmica. - É definida ao ecocardiograma como uma redução da fração de ejeção (< 55%) associada ao aumento dos diâmetros cavitários (diâmetro diastólico > 5,7 cm e diâmetro sistólico > 3,7 cm). 6) Dislipidemia: - A dislipidemia mais comum da uremia é a hipertrigliceridemia isolada (tipo IV), detectada em cerca de 80% dos pacientes. Há uma queda do HDL, enquanto o LDL e o colesterol total encontram-se geralmente na faixa normal. - O LDL, apesar de não se elevar pela uremia, apresenta alterações qualitativas que, juntamente com as alterações do HDL, levam a um estado de bloqueio na retirada de colesterol dos vasos, contribuindo para a aterosclerose acelerada. - As estatinas podem ser usadas, com o objetivo de manter o LDL < 100 mg/dl. 7) Estado Hipercatabólico (Desnutrição Proteico-calórica): - O metabolismo das proteínas também está alterado na uremia. O paciente urêmico costuma ter catabolismo proteico acelerado, ao mesmo tempo em que ingere pouca quantidade de proteína, devido à anorexia. 8) Distúrbio Imunológico: - A uremia crônica está associada a uma série de alterações do sistema imunológico, levando a um estado de imunodeficiência moderada. Algumas dessas alterações estão ligadas à hemodiálise, pela interação da superfície dos capilares do filtro com o sistema complemento e as células sanguíneas do sistema imune. A biocompatibilidade é o principal fator que influi nesta interação. - A imunidade humoral, dependente de linfócitos B, geralmente está deficiente de maneira desproporcional para alguns agentes, aumentando a chance de infecções virais, por exemplo: hepatite B e Influenza. A vacinação contra esses agentes, por conseguinte, é mandatória. - As infecções bacterianas e fúngicas são comuns no paciente urêmico, devido à associação do estado de imunodeficiência aos procedimentos invasivos frequentemente realizados nesses pacientes, como o acesso venoso profundo e a punção do peritônio. Diferenciação da IRA e IRC: - Bem, a primeira coisa é procurar um exame antigo, para comparar os níveis prévios de ureia e creatinina. Se isso não for possível, podemos averiguar a presença de certos parâmetros que sugerem doença crônica. - Anemia normocítica normocrômica sugere cronicidade, pois tal achado é menos comum no renal agudo e quando presente, não é pela insuficiência renal, e sim pela doença de base (hemorragia, sepse). - A existência de uma síndrome de osteodistrofia renal, com alterações radiológicas sugestivas, hipocalcemia, hiperfosfatemia e dor óssea, também indica cronicidade. - Uma desproporção entre o grau de azotemia e os sintomas urêmicos também ajuda: renais crônicos podem ter ureia de 100 mg/dl e creatinina de 8,0 mg/dl, permanecendo oligossintomáticos. Estes valores no renal agudo certamente levariam o paciente à síndrome urêmica sintomática! - Contudo, o melhor exame para dirimir esta dúvida (crônico x agudo) é a ultrassonografia renal. Com ela podemos analisar o tamanho renal! Rins com dimensões reduzidas (< 8 cm no maior eixo) indicam nefropatia crônica, enquanto rins de tamanho normal ou aumentado sugerem nefropatia aguda. - Entretanto, devemos lembrar que nem sempre esta regra é válida, pois existem algumas causas de nefropatia crônica que cursam com rins de tamanho normal ou aumentado. - São elas: - 1- Nefropatia diabética - 2- Amiloidose renal - 3- Nefropatia obstrutiva crônica - 4- Rins policísticos - 5- Nefropatia falciforme - 6- Esclerodermia renal - 7- Nefropatia pelo HIV Tratamento e Acompanhamento: 1) Fase Precoce da Nefropatia Crônica (Estágios G1, G2 e G3a): - A hipertensão arterial e a proteinúria são os principais problemas desta fase. - A conduta visa prevenir ou retardar a progressão da insuficiência renal e prevenir o aparecimento de doenças cardiovasculares. - As drogas de escolha são os inibidores da ECA ou antagonistas da angio II. - Um objetivo básico é reduzir a proteinúria para níveis < 0,5-1 g/dia, ou, caso isso não seja possível, redução de pelo menos 50-60% do valor inicial. - Nos estágios inicias da DRC, devemos tentar manter uma ingesta proteica por volta de 0,8 g de proteína/kg de peso por dia, podendo reduzi-la até 0,6 g de proteína/kg de peso por dia mais a frente, quando os pacientes mesmo assim desenvolverem acidose metabólica, hiperfosfatemia ou manifestações urêmicas, mas nunca menos do que este último valor (que é o mínimo recomendado pela OMS)! 2) Fase Inicial da Síndrome Urêmica (G3b, G4): - Estes pacientes ainda têm diurese normal e creatinina plasmática entre 2,0-3,0 mg/dl. - O tratamento visa basicamente o controle da hipertensão arterial (mais grave nesta fase), da anemia e da osteodistrofia renal e metabolismo cálcio-fósforo. - A hipertensão arterial exige diureticoterapia com diuréticos de alça (furosemida) em altas doses. Doses de até 200 mg/dia de furosemida não raro são necessárias.- Os inibidores da ECA ou antagonistas da angio II devem ser feitos com muito cuidado, pelo risco de hipercalemia e retenção aguda de escórias nitrogenadas. Agudização da IRC: - Existem diversas causas de agudização da insuficiência renal crônica. Estas devem ser prontamente reconhecidas e tratadas. - As principais são hipovolemia (pré-renal), uso de drogas nefrotóxicas (radiocontrastes iodados, AINE, aminoglicosídeos) e obstrução (pós-renal).