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Indaial – 2020 Gerenciamento de ServiçoS JurídicoS Prof.ª Patrícia Esteves de Mendonça 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Patrícia Esteves de Mendonça Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M539g Mendonça, Patrícia Esteves de Gerenciamento de serviços jurídicos. / Patrícia Esteves de Mendonça. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 183 p.; il. ISBN 978-65-5663-068-7 1. Serviços jurídicos. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 340 apreSentação Todos nós, ao longo da vida, precisaremos dos mais diversos serviços jurídicos, como, por exemplo, emissão de certidões de nascimento, casamento, contratos de trabalho, registro de imóveis etc. Assim, todos esses documentos e peculiaridades ligadas ao mundo jurídico, necessitam de profissionais que tenham conhecimentos técnicos sobre o conteúdo e procedimentos relativo às questões legais. Para tanto, não é necessário que seja um advogado o prestador desses serviços. Dessa forma, surge o Tecnólogo de Serviços Jurídicos, o qual poderá auxiliar na prestação de serviços relacionados a questões legais, sem envolver processos contencioso. Este Livro Didático, tem como objetivo introduzir os conhecimentos fundamentais para desenvolver essa atividade profissionalmente. Garantindo formação necessária para auxiliar profissionais do direito e leigos no acesso à justiça. Prof.ª Patrícia Esteves de Mendonça Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 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Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE Sumário UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS ................................................ 1 TÓPICO 1 — SERVIÇOS JURÍDICOS ............................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 HISTÓRICO DA PROFISSÃO ......................................................................................................... 3 3 O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS NO BRASIL .................................................. 6 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 11 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 12 TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS ................. 13 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 13 2 O PAPEL MULTIDISCIPLINAR DO TÉCNICO EM SERVIÇOS JURÍDICOS: ATRIBUIÇÕES ................................................................................................................................... 13 2.1 ANALISTA ..................................................................................................................................... 13 2.2 TÉCNICO ....................................................................................................................................... 16 2.3 ASSESSOR JURÍDICO .................................................................................................................. 16 2.4 OFICIAL DE JUSTIÇA ................................................................................................................. 18 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 22 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 23 TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS PÚBLICOS ......................................................... 25 3 ÉTICA PROFISSIONAL ................................................................................................................... 33 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 44 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 46 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 47 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS ................... 49 TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS ............................ 51 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51 2 O PODER JUDICIÁRIO ................................................................................................................... 52 2.1 JURISDIÇÃO ................................................................................................................................ 52 2.2 A ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO ............................................................................... 55 2.3 OS CARTÓRIOS JUDICIAIS COMO BASE DO FUNCIONAMENTO DO JUDICIÁRIO .................................................................................................................................. 59 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 78 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 79 TÓPICO2 — ATENDIMENTO NOS CARTÓRIOS E EXTRAJUDICIAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS. ...................................................................... 81 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 81 2 TABELIONATO DE NOTAS ........................................................................................................... 82 3 TABELIONATO DE PROTESTO .................................................................................................... 87 4 REGISTROS PÚBLICOS .................................................................................................................. 89 4.1 REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS ........................................................................ 89 4.2 REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS ........................................................................... 91 4.3 REGISTRO DE IMÓVEIS ............................................................................................................. 92 4.4 REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS ........................................................................... 98 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 102 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 103 TÓPICO 3 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA ...................................................................... 105 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 105 2 ARBITRAGEM ................................................................................................................................. 106 3 CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO ................................................................................................... 109 3.1 DA CONCILIAÇÃO ................................................................................................................... 110 3.2 DA MEDIAÇÃO ......................................................................................................................... 111 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 115 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS ... 119 TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE................................................. 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 121 2 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA ROTINA DE TRABALHO .............................. 122 3 O ATENDIMENTO AO CLIENTE ............................................................................................... 122 4 O CADASTRO DO CLIENTE ....................................................................................................... 125 5 AUTOMATIZAÇÃO DO ATENDIMENTO AO CLIENTE ..................................................... 127 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 134 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 135 TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO ......................................... 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ....................................................................... 139 2.1 CONCEITO DE CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ........................................... 139 2.2 OBJETO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ................................................. 142 2.3 NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ................... 142 2.4 DURAÇÃO E POSSIBILIDADE DE RESILIÇÃO UNILATERAL DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS .............................................................................................. 143 2.5 EXTINÇÃO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ......................................... 144 2.6 NOTAS SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS ARTIGOS 608 E 609 DO CÓDIGO CIVIL ........ 145 2.7 O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS JURÍDICOS ............................................ 146 3 O CONTRATO DE MANDATO ................................................................................................... 147 3.1 MANDATO E PROCURAÇÃO ................................................................................................ 147 3.2 PARTES DO CONTRATO DE MANDATO ............................................................................ 148 3.3 SEMELHANÇAS E DISTINÇÕES ENTRE O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E O CONTRATO DE MANDATO ........................................................................ 148 3.4 CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE MANDATO ...................................................... 149 3.5 FORMA DO MANDATO........................................................................................................... 149 3.6 O SUBSTABELECIMENTO ....................................................................................................... 150 3.7 ESPÉCIES DE MANDATO ........................................................................................................ 150 3.8 ACEITAÇÃO DO MANDATO E A RATIFICAÇÃO DO MANDATO ............................... 152 3.9 OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO ........................................................................................ 152 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 155 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 156 TÓPICO 3 — A INFORMATIZAÇÃO E O PRESTADOR DE SERVIÇOS JURÍDICOS ........ 159 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 159 2 OS PROCESSOS ELETRÔNICOS .............................................................................................. 159 3 A ASSINATURA DIGITAL ............................................................................................................ 161 4 A CRIPTOGRAFIA .......................................................................................................................... 163 5 CERTIFICAÇÃO DIGITAL ........................................................................................................... 164 6 A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS (LGPD)........................................... 165 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 169 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 171 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 173 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 175 1 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo destaunidade, você deverá ser capaz de: • entender os conceitos iniciais e definições referentes à profissão de tecnó- logo em gestão de serviços jurídicos, notariais e de registro; • identificar as atribuições do gestor de serviços jurídicos; • compreender a importância da qualidade e da ética na prestação de ser- viços jurídicos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – SERVIÇOS JURÍDICOS TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS TÓPICO 3 – QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 SERVIÇOS JURÍDICOS 1 INTRODUÇÃO O gestor jurídico é um profissional que tem como atribuição principal ter o domínio técnico jurídico pleno, além de conhecer os temas fáticos que lhe são afetos, como as atividades desenvolvidas e por desenvolver da corporação, formas e prazos, questões de ordem financeira e contábil, dentre outras. Quem é o profissional de serviços jurídicos? São as pessoas às quais os advogados sempre pedem para fazer pesquisas, tirar cópias ou fazer anotações nas reuniões, são também chamados de paralegais. Tais profissionais são preparados mediante cursos, treinamentos e experiência trabalhista. Auxiliando advogados, promotores e juízes ao desenvolvimento de suas atividades. Vale lembrar que o foco da graduação em Tecnólogo de Serviços Jurídicos não é na atuação jurídica propriamente dita. Pois o graduado não poderá atuar como advogado. O foco desse curso é preparar profissionais capacitados, reflexivos e éticos para auxiliar nas atividades de apoio jurídico administrativo. 2 HISTÓRICO DA PROFISSÃO A profissão de Tecnólogo em Serviços Jurídicos é recente no nosso país e poucas são as instituições que oferecem esse curso de graduação. Foi originalmente criado pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS): [...] uma autarquia do Governo do Estado De São Paulo, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Económico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, que administra as 220 Escolas Técnicas (ETECs) e as 66 Faculdades de Tecnologia (FATECs) do Estado. Foi criado pelo governador Abreu Sodré em 1969. O CEETEPS possui mais de 290 mil estudantes matriculados em cursos técnicos e superiores (CPS, 2014, s.p.). O CEETESP criou o curso para atender uma demanda do Tribunal de Justiça de São Paulo, percebeu a necessidade de qualificação dos serventuários que atuam no Poder Judiciário em sua atividade. Tornando-os especialistas no trabalho, atuando junto àquele órgão da Administração Pública Estadual. A capacitação e formação de outros profissionais que atuam em diversos órgãos públicos e privados, aprimorando a prestação de serviço, atinge, de forma direta, a qualidade das prestações jurisdicionais. UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 4 Então, em setembro de 2005, foi criado o Curso Técnico de Serviços Jurídicos, promovendo a capacitação de servidores e serventuários da justiça, para que pudessem implementar ações, e elaborar conteúdos, com o objetivo de simplificar e efetivar os serviços jurídicos. A colaboração na criação de manuais de procedimentos adotados nas áreas de competência da Justiça e as atualizações, também, são considerados objetivos a serem desenvolvidos pelo Tecnólogo de Serviços Jurídicos. No segundo momento, a habilitação passou a ser oferecida para outras pessoas que não apenas os serventuários da justiça, destinando-se ao público em geral. Assim, qualquer pessoa que trabalhe em escritórios de advocacia, empresas que atuem com serviços jurídicos, ou que tivesse interesse em ingressar nesse mercado, teve acesso a essa formação. Atualmente, o curso é oferecido em diversas instituições de ensino, nas modalidades presencias e ensino a distância. Garantindo que diversas pessoas tenham acesso a formação. Nos Estados Unidos, essa profissão foi regulamentada desde 2015, e os tecnólogos jurídicos atuam, inicialmente, na esfera cível, mais especificamente na área de direito de família e violência doméstica. Existe a previsão de aumento na atuação para área trabalhista e imobiliária, mas é vedada atuação na esfera criminal. Entretanto, poderão auxiliar aqueles que não tem condições de pagar um advogado criminalista e fazem a autodefesa. Essa contribuição consiste em fazer pesquisas jurídicas, preparar petições, contratos e todos os demais documentos e aconselhar os clientes como um advogado. A demanda por esse profissional nos EUA surgiu em decorrência aos custos extremamente elevados de honorários de advogados naquele país. Até mesmo os recém formados cobram muito caro, pois seus custos são bastante altos para o exercício da profissão. Os honorários são cobrados por horas trabalhadas. Com a criação da profissão do Tecnólogo em Serviços Jurídicos, a população de baixa renda americana deixou de ir aos tribunais totalmente desamparada. Atualmente, conseguem informações e auxílio sobre os seus casos, antes de chegarem aos tribunais. A American Bar Association (ABA) foi contra a criação da profissão de tecnólogo de serviços jurídicos, pois entendem que o treinamento rigoroso, ao qual são submetidos os advogados, seja fundamental para que possam defender os interesses dos clientes. Em vez de acesso à Justiça, tudo o que os técnicos jurídicos vão oferecer é acesso à injustiça”, disse aos jornais a ex-presidente da Seção de Direito de Família da seccional da ABA no estado, Ruth Edlund. “Só porque você é pobre, isso não significa que seus problemas jurídicos são simples”, afirmou (MELO, 2015, s.p). TÓPICO 1 — SERVIÇOS JURÍDICOS 5 Porém, existem opiniões divergentes dentro da própria associação, Paula Littlewood, diretora executiva da ABA e Risa Kaufman, professora da Universidade de Columbia, a profissão irá aliviar a crise judiciária em que vive aquele país e trará alívio às demandas da população hipossuficiente, quando necessitar recorrer ao judiciário (MELO, 2015, s.p.). Na teoria, os programas de assistência judiciária gratuita deveriam estar disponíveis a todas as pessoas que não podem contratar um advogado. No entanto, a “Legal Services Corporation”, a organização que financia as provedoras de serviços de assistência judiciária gratuita, não tem verbas para sustentar o programa. De 2010 a 2013, por exemplo, o Congresso dos EUA cortou US$ 80 milhões de seu orçamento. Mais de 1.200 advogados perderam seus empregos. (MELO, 2015, s.p). Dessa forma, surgiu a oportunidade de o profissional de serviços jurídicos ser absorvido pelo mercado, que incluía uma enorme demanda de assistidos que não tinham condições de custear os honorários advocatícios, e não eram bem atendidos pelo sistema de auxílio jurídico gratuito. Em Portugal, a profissão foi regulamentada em 2006 através da Portaria 1310, publicada em 26 de novembro daquele ano. Nesse país, o Técnico de Serviços Jurídicos é o profissional qualificado apto a desempenhar tarefas administrativas e processuais, de apoio à atividade desenvolvida nos Tribunais/Julgados de Paz, nos Cartórios Notariais, nas Conservatórias de Registos, nos Escritórios de Advogados e Solicitadores e nos Gabinetes Jurídicos das Empresas/Instituições. A profissão em Portugal, gerou menos polemica em relação aos Estados Unidos, o profissional tem funções bem delimitadas e são considerados auxiliares da justiça. As inúmeras reformas operadas na justiça criaram novas funções no domínio das profissões forenses. O agente de execução passou a desempenhar muitas das tarefasque se encontravam na esfera do tribunal, designadamente os atos de citação, notificação e penhora. O Balcão único, entendido como local único de atendimento e prestação de serviços transversais, com vista a celebração de certos negócios jurídicos, existente na administração pública, e ulteriormente adotado por solicitadores e advogados, reclamou, entretanto, destas profissionais estruturas informáticas, físicas e humanas, capazes de responder às novas atribuições. Ainda no domínio da atividade notarial foram atribuídas novas competências aos advogados e solicitadores. O fenómeno crescente da litigância de massa acarretou também uma necessidade suplementar de apoio no âmbito do contencioso empresarial e da advocacia e solicitaria. O acréscimo de tarefas dos referidos profissionais implicou, ainda, uma reorganização no desempenho da sua atividade e um maior e mais qualificado apoio. (SOUSA, 2018, s.p.) No Canadá, existe um profissional conhecido como “paralegal”, sua qualificação é através de sua educação, formação ou experiência adquirida pelo trabalho, por um advogado, escritório de advogados, corporação, agência governamental ou outra entidade, e que atue dando apoio técnico aos advogados e assessores jurídicos de empresas e outros órgãos públicos e provados. UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 6 Os paralegais são profissionais tecnólogos de serviços jurídicos independentes. Devem ser licenciados pela Law Society of Upper Canada, para poder atuar nos serviços jurídicos dentro do seu âmbito de prática para o público em geral. Paralegais licenciados em Ontário podem adquirir a sua própria empresa jurídica, também, atuar como um juiz de paz e ainda empregar-se como procurador municipal ou provincial. As diferenças entre advogados e paralegais são que os advogados podem dar aconselhamento jurídico, definir taxas, e representarem clientes, impetrarem ações nos tribunais, acompanharem processos (e outros documentos do tribunal) como procuradores. Já os Paralegais são responsáveis por tarefas de movimentação tais como a escrita jurídica, investigação e outras formas de documentação para os advogados para quem eles trabalham (LEITE, 2016, s.p.) Existe o paralegal na África do Sul, eles têm autorização para manter contatos com clientes dos advogados para quem trabalham, auxiliando na resolução de conflitos; fazem pesquisas jurídicas, preparam casos em tribunais. Normalmente são empregados por grandes corporações, grupos de advogados renomados, empresas jurídicas, agentes imobiliários e departamentos governamentais para prestar apoio jurídico às corporações. O Shihō Shoshi, no Japão, é um escrivão judicial, que tem atuação semelhante ao paralegal. O trabalho do escrivão jurídico fica entre o do secretário e do advogado. Não precisa estar vinculado a nenhum escritório para atuar, podem representar clientes em algumas matérias de menor nível, mas não em estágios mais avançados de litígios. Tal como acontece com os advogados no Japão, escrivães são regulados e devem passar por um exame para poderem exercer a profissão. Equivalente a esse profissional, existe o Beopmusa, na Coreia do Sul. O Reino Unido e o País de Gales reconhecem o paralegal que atua preparando os documentos referentes ao transporte de carga ou de terra, empreender direito de sucessões, contencioso empresarial. Entretanto, atua de forma restrita na realização de litígios nas audiências em tribunais. Na prática, muitos aparecem em tribunais em todos os níveis como assistentes. Atuam, ainda, como representantes da Polícia Estadual, na qual são credenciados dando conselhos gerais para os clientes mantidos em custódia policial. 3 O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS NO BRASIL A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ofereceu muita resistência à regulamentação e ao reconhecimento do profissional de serviços jurídicos, por entender que poderia ser uma concorrência ao advogado. TÓPICO 1 — SERVIÇOS JURÍDICOS 7 Entretanto, o Ministério da Educação e Cultura (MEC), reconheceu a profissão e inseriu no cadastro nacional de cursos pela Portaria 1.039 do MEC (3/10/2017). Ao contrário do que muitos afirmam, a função não é idêntica à de um estagiário ou de um advogado recém formado. O tecnólogo de serviços jurídicos terá atividade administrativa, sendo um gestor de escritório e não é de sua competência exercer atividades administrativas no âmbito de serviços jurídicos. A mais simples observação mostra que [...] aquele que está melhor situado sente a urgente necessidade de considerar como ‘legítima’ sua posição privilegiada, de considerar sua própria situação como resultado de um ‘mérito’ e a alheia como produto de uma culpa (WEBER, 2004, p. 54) O Estatuto da OAB é claro no seu art. 1º, senão vejamos. “São atividades privativas de advocacia: a postulação a órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas” (BRASIL, 1994, art. 1º). Nenhuma dessas atividades é contemplada no curso de gestão de serviços jurídicos. Na graduação de serviços jurídicos existem disciplinas relacionadas ao direito, assim como nos cursos de administração e contabilidade, mas não habilita tais profissionais a exercerem a advocacia. O debate ganhou repercussão desde 2017, como revelou o Consultor Jurídico (ConJur) em abril daquele ano, quando o MEC autorizou aulas em uma faculdade do Paraná. O tecnólogo pode se formar em dois anos e sai com diploma considerado de ensino superior. A OAB ajuizou a ação civil pública, sob o fundamento de que à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96) estaria sendo violada no trecho que segmenta a educação em níveis tecnológico e superior, sob o argumento de que a Ciência do Direito é material e formalmente incompatível com sua redução a um programa de curso tecnólogo. Entretanto, o judiciário entendeu que o MEC, ao autorizar que o conhecimento jurídico seja ensinado de forma técnica, ou seja, sem o grau de reflexão próprio do bacharelado, consubstancia ato de governo, com todos os prós e contras que daí decorrem ao mercado de trabalho e à sociedade. Tal decisão é do Estado-Governo, não do Estado-Administração. O argumento em que autorizar o curso violaria atividades privativas fixadas pelo Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94), também, foi rejeitado. Afinal, se isso ocorrer, será caso de exercício ilegal da profissão, o que caracterizaria crime e deveria ser punido conforme estabelecido em leis penais. A Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (SEMESP) e a Associação Brasileira das Mantenedoras das Faculdades Isoladas e Integradas (ABRAFI), entre outras entidades, argumentam que serão formados profissionais capacitados em gestão, em incorporações que exijam conhecimentos básicos legislativos, sem que se confundam com a advocacia. UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 8 Vejo a discussão sobre o caráter científico do direito alinhada em primeiro plano com um debate maior, o do caráter científico das ciências sociais. O direito como ciência tem evidentemente suas peculiaridades. Mas o debate sobre os mé- todos aplicáveis às ciências sociais é análogo em grande parte ao que se discute em direito. Nesta primeira parte do estudo, vamos nos deter inicialmente nesse confronto entre ciências sociais e ciências da natureza (AGUILLAR, 2014, p. 7). Na petição encaminhada à 7ª Vara Federal do DF, as entidades alegam que o MEC pode elaborar cursos experimentais, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação,e que uma comissão de professores “experientes” aprovou o que é oferecido. As teorias da ação, ou teorias metodologicamente individualistas, portanto, estão sobrevalorizadas neste momento histórico em que visões estruturais se encontram profundamente enfraquecidas. Calcados na premissa da necessidade de um conhecimento objetivo da realidade social, alienado dos compromissos políticos, os modelos individualistas se aproximam das ciências da natureza. Seus defensores irão pugnar por uma convergência entre ambos os modelos de ciência para, fundamentalmente, negar o caráter científico do conhecimento social tradicional. A verdadeira ciência, para eles, é aquela que se vale de métodos tipicamente utilizados nas ciências naturais (AGUILLAR,2014, p. 8). Assim, percebe-se que o mundo mudou e o profissional de serviços jurídicos tem expansão no mercado e pode-se dizer que é fundamental para o melhor desempenho das atividades relacionadas ao direito. O profissional atuará em nível de assistência e assessoria em escritórios de advocacia de auditoria jurídica, recursos humanos, departamentos administrativos, magistratura, serviços de registro e notariais, promotoria, consultoria jurídica, departamentos jurídicos empresariais. Atuando como um administrador especializado em questões jurídicas, afinal, seus conhecimentos específicos garantem uma prestação mais adequada das demandas de um ambiente relacionado a advocacia. Pois, será um conhecedor do “Livro de Regras”. A concepção “livro de regras” concentra-se nos procedimentos e na autoridade. Ela salvaguarda a segurança jurídica e a separação de poderes (Dicey, 1915, p. 120-121; Fuller, 1969, p. 33-34; Raz, 2002, p. 214-219). Sua ideia central é a de que o poder do Estado deve ser exercido de acordo com regras explicitamente estabelecidas em um “livro de regras” público disponível a todos. Todo o ordenamento jurídico deve seguir essas regras até que elas sejam alteradas. A concepção livro de regras não estipula nada acerca do conteúdo das regras. Contudo, isso não significa que questões da justiça material das regras não possam ser discutidas. Significa, simplesmente, que tais questões não pertencem ao ideal de devido processo legal. A concepção direito, ao contrário, incorpora as exigências de justiça material ao devido processo legal. O devido processo legal necessariamente salvaguarda, por exemplo, direitos fundamentais, que podem ser definidos como direitos humanos que são transformados em direito constitucional positivado (Alexy, 1998a, p. 259-260; Dworkin, 2001, p. 11-13). A concepção direito do devido processo legal necessariamente implica a máxima da proporcionalidade (Allan, 2011, p. 159; Klatt; Meister, 2012b). Nessa concepção, questões de justiça material das TÓPICO 1 — SERVIÇOS JURÍDICOS 9 regras são internas ao devido processo legal. Essa distinção entre a concepção formal e a material é bastante direta. Muito mais complexo é o problema normativo sobre qual concepção devemos seguir. Essa dificuldade é devido a um dilema (cf. Allan, 2001, p. 23): quando adotamos a concepção formal, corremos o risco de o devido processo legal ser transformado em uma mera máscara mal utilizada para legitimar as estruturas de poder existentes, escondendo a injustiça material (Unger, 1976, p. 176-181, 192-223). Quando, alternativamente, seguimos a concepção material, estamos vulneráveis à objeção do desacordo racional e do valor pluralismo (Craig, 1997, p. 487). Na concepção material, o devido processo legal, como Joseph Raz nos lembra, pode se referir a praticamente qualquer ideal político (Raz, 2002, p. 211, 221). O devido processo legal parece cair dentro de uma completa filosofia social e pode perder qualquer função independente. Portanto, não é uma ideia convincente interpretar o devido processo legal como a regra do bom direito. Gostaria de sugerir que podemos resolver esse dilema esclarecendo a relação entre o devido processo legal e o conceito de direito (ALEXY, 2017, p. 51). Dessa forma, o profissional, tecnólogo de serviços jurídicos, pode ter seu curso devidamente reconhecido e iniciar o exercício da profissão de forma regular, sem conflitos com a advocacia. A gestão moderna de serviços jurídicos Lara Selem O fenômeno da Globalização, de forma avassaladora, tem modificado a realidade de consumidores, governos e sobretudo das empresas, sejam elas pequenas ou grandes, de serviços ou de produtos. Enquanto fenômeno, trouxe consigo o crescimento dos fluxos de comércio de bens e serviços e do investimento internacional. Trouxe também a aceleração dos fluxos de capitais e tecnologias, cujos efeitos atingem a todos, ocasionando aumento de concorrência e instabilidade econômica. Por vezes, os efeitos desse fenômeno abrem horizontes para algumas empresas, porém também fazem com que outras evaporem em meio à acirrada competição que se instaurou no mercado. E é neste cenário que se percebe o quanto é difícil e pesada a responsabilidade dos administradores e executivos na tarefa de gerenciar suas empresas, superar as adversidades e equilibrar a competitividade. No caso específico do mercado jurídico brasileiro, um crescimento significativo no setor foi sentido nos últimos dez anos, ocasionado pela expansão geográfica das grandes corporações, pelos processos de privatização, fusão e aquisição de empresas, dentre outros fatores. Os escritórios de advocacia, por sua vez, perceberam os efeitos do fenômeno citado através do aumento da demanda por serviços jurídicos mais especializados, das facilidades e rapidez na comunicação, e das alterações no perfil da atividade econômica dos clientes, o que, numa análise superficial, pode significar grandes oportunidades. IMPORTANT E UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 10 Ocorre que, de oportunidades, tais efeitos podem se transformar em ameaças, caso os recursos humanos e financeiros não sejam otimizados, caso não se atente ao controle rigoroso na qualidade dos serviços, caso não se atinja uma alta performance técnica, enfim, caso as ações administrativas não sejam planejadas. Nesse ambiente crítico e inseguro, observa-se que muitos escritórios de advocacia, especialmente os de pequeno e médio porte (que são a grande maioria da indústria jurídica) e os de origem familiar, ainda não praticam o planejamento de suas atividades com vistas a aproveitar as demandas e neutralizar as ameaças, nem criam no ambiente interno uma mentalidade mais aberta a responder às mudanças, sejam elas de que natureza forem. Será, portanto, altamente recomendável que os escritórios profissionalizem suas estruturas e sua gestão, como verdadeiras empresas. Será preciso também que se adaptem às novas necessidades do mercado, com prudência na seleção de estratégias e implantação de novas formas de administração. Esse parece ser, a nosso ver, o grande convite feito aos advogados para que iniciem um processo de reflexão sobre seu negócio, atualizem seu talento administrativo, e percebam como podem vir a se tornar mais eficientes no combate ao ambiente instável e turbulento predominante na economia atual, caso façam uso dos conceitos empresariais em suas atividades administrativas. A gestão racional é, por certo, o meio mais eficaz para combater a crise instaurada, a alta competição, e os reflexos da globalização, bem como para fazer com que o escritório jurídico ajuste-se aos novos contornos da atividade econômica e à diversidade de problemas que invocam soluções com maior nível de especialização técnica. Através da gestão planejada estrategicamente tornar-se-á possível a busca pelo desenvolvimento futuro do negócio como um todo, a melhora da performance administrativa, a otimizaçãodos recursos e do relacionamento com os clientes. Uma adequada implantação do Planejamento Estratégico em escritórios de advocacia deverá, dentre outros: identificar, por meio de pesquisa, a situação presente e as oportunidades abertas para que desenvolva suas habilidades e sua base de clientes, para poder responder com mais precisão às necessidades deles; determinar as áreas de mercado que oferecem maior oportunidade para desenvolvimento futuro; identificar áreas de especialização que deveria desenvolver em nível de excelência; e, identificar as forças atuais e fraquezas à luz das oportunidades de mercado detectadas e para desenvolver uma solução factível entre sócios e equipe, no intuito de transformar aspiração em ação efetiva. Com isso, os objetivos e metas que envolvem a prestação de serviços dentro de um escritório de advocacia poderão ser alcançados, permitindo que um forte senso de direção e propósito comum atinja a todos os elementos humanos que compõem a equipe (sócios, associados, parceiros, estagiários, apoio administrativo, etc.), agregando valor aos serviços prestados, permitindo que o escritório se diferencie de seus concorrentes e, consequentemente, supere a crise. FONTE: <https://administradores.com.br/artigos/a-gestao-moderna-de-servicos-juridicos>. Acesso em: 3 jul. 2020. 11 Neste tópico, você aprendeu que: • O profissional de serviços jurídicos surgiu de uma demanda do próprio poder judiciário, e foi introduzido no Brasil através de cursos técnicos promovidos em São Paulo com o objetivo de capacitar servidores público, para melhor desempenho de suas atividades. • Posteriormente, foi ganhando visibilidade e o público externo aderiu ao curso com o objetivo de se especializar, de forma mais adequada na pratica de serviços dentro de órgão públicos e privados, que tenham afinidade com questões jurídicas. • Outros países já reconhecem tal atividade. Alguns, como os Estados Unidos, ofereceram maior resistência na aceitação desse novo profissional. Mas, em outros, como no Japão, a atividade é reconhecida e respeitada como um auxiliar na promoção da justiça. • Apesar de muita resistência oferecida pela OAB, o curso de tecnólogo de serviços jurídicos foi incluído no cadastro nacional de cursos e está, atualmente, sendo oferecido por diversas instituições tanto na modalidade presencial quanto EAD. RESUMO DO TÓPICO 1 12 1 Analise as asserções a seguir e sinalize se elas estão certas ou erradas. a) Com relação ao curso Técnico de Serviços Jurídicos, o qual veio para atender uma alta demanda do Tribunal de Justiça de São Paulo, percebeu-se uma necessidade de qualificação dos serventuários que atuam no Poder Judiciário. ( ) Certo. ( ) Errado. b) No Japão, a atividade de escrivão é reconhecida, e para o exercício da profissão não é necessário se submeter a nenhuma avaliação pelo órgão responsável pela atividade. ( ) Certo. ( ) Errado. c) O curso de Tecnólogo de Serviços Jurídicos foi introduzido no Cadastro Nacional de Cursos pelo MEC. Embora tenha tido bastante resistência por parte da OAB. ( ) Certo. ( ) Errado. AUTOATIVIDADE 13 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 1 INTRODUÇÃO O Tecnólogo em Serviços Jurídicos é formado para trabalhar na área parajurídica, atuando como uma figura fundamental. Auxiliando nas atividades associadas à gestão, cartórios, comunicação, planejamento estratégico e administrativas nos escritórios de advocacia e fóruns. Além de Tribunais de Justiça e Tribunais Superiores de Justiça. Através da graduação o profissional dessa área aprende as técnicas e as ferramentas necessárias para atuação de forma correta na área parajurídica. Surgindo diversas oportunidades de concursos públicos tanto na Administração Pública em geral, como na área administrativa judiciária. Além disso, o curso tecnólogo possibilita uma rápida inserção no mercado de trabalho. 2 O PAPEL MULTIDISCIPLINAR DO TÉCNICO EM SERVIÇOS JURÍDICOS: ATRIBUIÇÕES O tecnólogo de serviços jurídicos possui um leque de atividades a serem desempenhadas. Cada uma com suas especificações e peculiaridades que serão desenvolvidas ao longo do curso, com o objetivo de entender com qual delas existe uma identificação maior de cada profissional. 2.1 ANALISTA O Analista Judiciário é um cargo afeto ao Poder Judiciário, que poderá ser ocupado pelo tecnólogo de serviços jurídicos. Este cargo é fundamental e existe em todos os tribunais, em todas as esferas. O acesso a esse cargo é através de concurso público, conforme determinação do artigo 37, inciso II, da Constituição. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo 14 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração II (BRASIL, 2016, p. 36-37). Assim, periodicamente são abertos concursos para o provimento desses cargos, essenciais ao funcionamento do Poder Judiciário. As atribuições do cargo de Analista Judiciário podem ser também de natureza administrativa, recursos humanos, atendimento ao público, arquivos e afins. Pode também, ser uma atividade jurídica, como trabalhar auxiliando o juiz. O cargo de Analista Judiciário de área jurídica, somente poderá ser ocupado, por um bacharel em direito. Será responsável por atividades de planejamento, organização, coordenação, supervisão técnica, assessoramento, estudo, pesquisa, elaboração de certidões, pareceres, execução, conferência e redação de documentos; conferência de expediente diversos; laudos ou informações e execução de tarefas de natureza e grau de complexidade correlatos. O Analista Judiciário da área administrativa, cargo que pode ser ocupado pelo tecnólogo de serviços jurídicos, exerce atividades de execução qualificada sob orientação e supervisão, envolvimento funções de contabilidade, finanças e auditoria públicas; contar, em todos os feitos, antes da sentença ou de qualquer despacho definitivo, mediante ordem do Juiz, os emolumentos e as custas; proceder à contagem do principal e dos juros nas ações referentes a dívidas em quantias certas e nos cálculos aritméticos que se fizerem necessários relativamente a direitos e obrigações; fazer o cálculo para pagamento de impostos; elaborar cálculos em geral, bem como proceder à contagem de custas e preparo de recursos; elaborar e efetuar laudos de avaliação; expedir certidões de atos e documentos de sua exclusiva competência; executar outras tarefas de natureza e grau de complexidade correlatos. FONTE: <https://www.migalhas.com.br/mercado-de-trabalho/noticia/268486/entenda-o- -que-um-analista-judiciario-faz>. Acesso em: 6 jul. 2020. NOTA Assim, o analista deve cumprir os despachos dos juízes. Para tanto é fundamental que entenda as regras de processo, para entender o que deverá ser feito na finalidade de dar andamento ao processo, em conformidade com aquilo que foi determinado pelo juiz. Os processos judiciais percorrem um longo caminho, desde sua propositura até o trânsito em julgado de uma sentença, isto é aquela decisão que não cabe mais recursos. O analista, portanto, será responsável pelo bom andamento dos processos,responsáveis pela produção das minutas de decisão e deverão também cumprir as tarefas que envolvem o cartório. Por terem acesso à área legal, esses habilitados precisam dominar direito material e especialmente, direito processual. TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 15 Os tribunais, em regra, são acionados, quando existem conflitos a serem solucionados pelo judiciário. Tomando por exemplo a justiça do trabalho, os TRTs são acionados quando existem conflitos trabalhistas. Os órgãos devem, então, analisar a queixa e optar por proceder ou não com ela. Caso seja uma denúncia verídica, os concursados do TRT darão início ao processo, garantindo que ele prossiga de forma justa. Então começa a atuação do analista, o qual será responsável por cuidar das minutas e dos deveres referentes ao cartório. No entanto, sua rotina não se resume a isso. Ele também será encarregado de analisar petições e processos; confeccionar minutas de votos; emitir informações e pareceres; proceder a estudos e pesquisas na legislação, na jurisprudência e na doutrina pertinente para fundamentar a análise de processo e emissão de parecer. O analista, ainda, deverá fornecer suporte técnico e administrativo aos magistrados, órgãos julgadores e unidades do Tribunal; inserir, atualizar e consultar informações em base de dados; verificar prazos processuais; atender ao público interno e externo; redigir, digitar e conferir expedientes diversos e executar outras atividades de mesma natureza e mesmo grau de complexidade. Em geral, a jornada de trabalho dos analistas é composta de 40 horas semanais, em turnos que duram de 11 às 18 horas ou de 12 às 19. Eventualmente, cumprem um plantão em horário noturno e/ou finais de semana. O analista deve ter nacionalidade brasileira. Se for português, deve estar amparado pelo estatuto de igualdade entre brasileiros e portugueses, com reconhecimento do gozo dos direitos políticos, nos termos do §1º do art. 12 da Constituição da República Federativa do Brasil, e na forma do disposto no art. 13 do Decreto Federal nº 70.436, de 18 de abril de 1972. Precisa ser maior de 18 anos e estar em dia com suas obrigações eleitorais. Os candidatos do sexo masculino, estar em dia com o serviço militar. Não ter impedimentos no âmbito político. Ser capaz de comprovar seu grau de escolaridade, isto é, graduação em qualquer curso de nível superior para o analista administrativo e ser graduado em direito para o analista judiciário e estar apto física e mentalmente para cumprir suas obrigações. O salário desse profissional varia conforme o órgão empregador. Se for um tribunal de instância federal, fica sujeito às regras de pagamento de funcionários da União. Se for um órgão estadual como por exemplo, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o TJRJ, se submete às regras de pagamento do poder judiciário daquele estado. 16 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 2.2 TÉCNICO O técnico judiciário é o servidor público, responsável por diversas atividades de suporte técnico e administrativo realizadas nos órgãos em que estão lotados. O técnico executa atividades de apoio em nível intermediário conforme sua área de atuação. Entre elas estão a elaboração relatórios e certidões, redação e digitação de documentos, atividades relativas aos recursos humanos, atendimento ao público e materiais financeiros e orçamentários. Além dessas atribuições, o técnico judiciário é responsável pela abertura e encerramento de audiências, tramitação de feitos, guarda e conservação de processos e comunicação entre as partes de um processo. O técnico judiciário pode atuar em órgãos como Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal Regional do Trabalho, Tribunal de Justiça, entre outros, na área administrativa, sem especialidade, deve ter concluído o ensino médio. Entretanto, caso sua função exija atividades específicas, como Tecnologia da Informação, Transportes, Segurança do Trabalho e Enfermagem, deve ter ensino técnico na área e, conforme for o caso, registro de classe. Pois o trabalho desses técnicos será relativo à profissão de cada um. 2.3 ASSESSOR JURÍDICO A função do assessor jurídico está relacionada ao que chamamos de advocacia preventiva, ou seja, a que evita o surgimento de uma líder e de um processo judicial. A advocacia preventiva é composta da consultoria, assessoria e direção. Na assessoria, assim como na consultoria, será dada uma orientação ao cliente sobre as decisões relativas a atos e negócios jurídicos que serão praticados. Porém, existe uma pequena diferença entre as duas prestações de serviço. Na consultoria, o cliente faz um questionamento sobre o assunto de seu interesse, a partir dos dados fornecidos será emitido um parecer, com os devidos fundamentos jurídicos. Tal parecer poderá ser verbal ou escrito, mas em ambos os casos deve ser conclusivo e fundamentado à luz do direito. Já na assessoria, o cliente recebe auxílio na condução da prática de atos da vida civil. Fornecendo conhecimentos jurídicos essenciais na tomada de decisões que geram efeitos. O assessor jurídico reúne dados e informações que possam evitar que o cliente tenha prejuízos futuros, com eventuais processos judiciais e ou anulação do ato praticado por algum defeito. TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 17 Assessoria permite várias ações em benefício do cliente. Pode ser uma mediação de conflitos, em que o mediador conduz até que se chegue a um acordo justo entre as partes envolvidas. O assessor jurídico poderá, ainda, acompanhar o cliente em uma reunião em que as partes tratarão de assuntos que envolvam, em alguma medida, conhecimentos legais sobre as matérias constantes das pautas, como, por exemplo, em uma Assembleia Geral em um condomínio. A atividade de direção, na advocacia preventiva é a coordenação ou chefia de um setor nas organizações, cuja função seja a atividade de consultoria ou assessoria. É importante ressaltar que o exercício da atividade de direção em setores ou departamentos jurídicos não seria restrita a questões de organização, planejamento financeiro e de logística, o que poderia ser exercido perfeitamente por um Administrador. À frente de um departamento jurídico, o tecnólogo de serviços jurídicos não exercerá diretamente as atividades de postulação, ou eventualmente a de assessoramento, mas será o responsável pela estratégia que será adotada na demanda judicial ou administrativa; conduzirá seus auxiliares nas pesquisas; revisará petições e outras peças técnicas; será o principal norte para a corrente doutrinária a ser adotada a cada caso. A atividade de assessoria jurídica passou a existir representada por uma pessoa ou empresa que tinha por responsabilidade não apenas a identificação e investigação de problemas relacionados à política, organização, procedimentos e métodos, mas, também, à orientação adequada à resolução dos problemas. Existia um problema, mas o pessoal efetivo, ou seja, interno, não tinha especialização necessária para resolvê-lo (KUBR, 1986, p. 145). Desta forma é fundamental que tenha os conhecimentos que lhe permitirá exercer seu ofício com o grau de qualidade e apuro técnico que se espera de um departamento jurídico. O tecnólogo de serviços jurídicos, ao assumir a função de assessor jurídico, deve se empenhar nos conhecimentos referentes à área do direito que pretende atuar. O assessor jurídico tem três princípios básicos. O primeiro é o conhecimento técnico de direito no seu ramo específico. O segundo princípio é a formação, especialização e qualificação que servem para a personalidade e inteligência emocional, fundamentais ao exercício da função. Se ele não faz esta formaçãopsicológica e filosófica contínua – para si mesmo, não para os outros – corre o risco de acreditar-se um grande advogado, porém não possui mais os fundamentos, não possui mais a fonte da inteligência. Isto é, a competência psicológico-filosófica serve para manter o exercício da sua inteligência, do seu intelecto. Se ele não faz isso, corre o risco de sentir-se potente, porque, é claro, as pessoas recorrem ao advogado somente quando têm problemas (MENEGHETTI, 2007, p. 39). O último princípio está relacionado ao conhecimento real e integral do caso antes mesmo de aceitar a causa. Pois, apenas dessa forma poderá prestar a melhor assessoria ao cliente, solucionando seus questionamentos de forma adequada. 18 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 2.4 OFICIAL DE JUSTIÇA As atividades do Oficial de Justiça são determinadas pela Constituição e, em especial, pelo Código de Processo Civil, Código de Processo Penal e demais leis relativas à procedimento. São consideradas, também, as normas administrativas editadas pelas Corregedorias de Justiça de cada Estado, que regulamentam situações especificas, com relação à forma pela qual as normas legais devem ser observadas. Desde a antiguidade, o Oficial de Justiça tem importante papel para a prestação jurisdicional. A origem da função do Oficial de Justiça é muito antiga Segundo alguns historiadores, a carreira do oficial de justiça tem sua origem, no Direito Hebraico, quando os Juízes de Paz tinham alguns oficiais encarregados de executar as ordens que lhes eram confiadas; embora as suas funções não estivessem claramente especificadas no processo civil, sabe-se que eles eram os executores da sentença proferida no processo penal. Munidos de um longo bastão, competia-lhes prender o acusado, tão logo era prolatada a sentença condenatória (PIRES 1994, p. 19). No período Justinianeu, “foram atribuídas sucessivamente aos Apparitores e executores as funções que, na atualidade, são desempenhadas pelos Oficiais de Justiça. O legislador romano criou órgãos para ajudá-los no cumprimento das sentenças” (NARY, 1974, p. 22). O Código Filipino utiliza, pela primeira vez a expressão “meirinho”, que até os dias de hoje ainda é utilizada como referência ao Oficial de Justiça. Aquele código inovou ao adotar diversas atribuições diferenciada como o “meirinho-mor”, o “meirinho da corte”, o “meirinho das cadeias”, e o “meirinho”, propriamente dito, com a função típica do Oficial de Justiça de hoje. No Brasil, desde a época imperial, adotou-se os princípios do direito português. Assim, considera-se o Oficial de Justiça um executor de ordens, aquele que fica responsável em efetuar os mandados proferidos por juízes. Cabe a esse profissional notificar, intimar, citar, realizar diligências e vários atos processuais ao seu encargo. Considerando suas principais atribuições o intercâmbio processual e as práticas de atos de execução. O Código de Processo Civil, no artigo 154, traz as atribuições do Oficial de Justiça nos seguintes termos: Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça: I - fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais diligências próprias do seu ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas, certificando no mandado o ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora; II - executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; III - entregar o mandado em cartório após seu cumprimento; IV - auxiliar o juiz na manutenção da ordem; V - efetuar avaliações, quando for o caso; VI - certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 19 por qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de comunicação que lhe couber. Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará a intimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa (BRASIL, 2015, art. 154). Alguns doutrinadores entendem que o Oficial de Justiça é uma pequena engrenagem, mas fundamental para o funcionamento do sistema. A grande maioria dos atos processuais necessita da participação de oficial de justiça para seu cumprimento. Um dos requisitos importantes para que o Oficial de Justiça cumpra seu trabalho e efetivamente sirva ao Judiciário de forma serena e correta, é a realização do ato com bom senso e dedicação e com fiel observância da lei. (PIRES, 1994, p. 15) O Oficial de Justiça representa a figura do juiz fora do prédio do Fórum, sendo fundamental a sua existência para a ocorrência de andamento processual de forma satisfatória. Dessa forma, o Oficial de justiça deve ser profundo conhecedor das regras processuais para que possa promover as diligências de forma correta. É importante ressaltar que mesmo esse profissional sendo fundamental para promoção de justiça de forma adequada, ele sofre limitações nos exercícios de suas atividades. Principalmente nas suas funções de executores de ordens judiciais, nas quais esses servidores muitas vezes correm perigo de vida. Fazendo jus ao adicional de periculosidade pelo exercício da função. Princípios são regras norteadoras utilizadas pelo legislador para determinar o direcionamento adequado da regra a ser criada. Os princípios constitucionais são regras mestras, são eles que definem a estrutura de uma constituição. Podem ser considerados os alicerces do sistema jurídico de cada Estado, pois direcionam todo ordenamento jurídico. Conforme o artigo 37 da Constituição Federal, são princípios Constitucionais a legalidade que determina que somente é permitido fazer o que a lei autoriza; a impessoalidade determinando a isonomia como regra; a moralidade, o dever de zelar pela probidade, respeitando os princípios éticos de razoabilidade e justiça; a publicidade estabelecendo que os atos devam ser transparentes, salvo os que a lei exigir segredo de Justiça; a eficiência, buscando alcançar o resultado desejado, por meio do exercício de sua competência, de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade e a celeridade, o juiz deve ser ágil no cumprimento dos mandados judiciais. Desta forma, é importante ressaltar que a função do Oficial de Justiça deve ser exercida em consonância com tais princípios. E deverá ser diligente no exercício da função para não violar nenhum desses princípios. Além de tais princípios, existem os processuais – relativos às leis processuais e que atingem diretamente a função do Oficial de Justiça. De acordo com Andrade (2012), são eles: 20 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS • Imparcialidade: tal princípio permite que o Poder Judiciário decida livremente sobre os conflitos que lhe são apresentados, sem se abalar com pressões externa. • Lealdade: o dever de as partes agir de forma leal no processo. Àquele que usar do processo para obter vantagem indevida por meios ardis há de ser aplicada as penalidades cabíveis. • Boa-fé: tal princípio determina que deve ser aproveitar os efeitos possíveis do ato praticado, de boa-fé, com base em erro justificado pelas circunstâncias. • Celeridade: estabelece que deve ser ágil no cumprimento dos mandados judiciais. • Transparência: traz ao conhecimento público e geral dos administrados a forma como o serviço foi prestado, os gastos e a disponibilidade de atendimento. • Probidade: é o princípio que exige que o agente público deva agir com retidão no trato da coisa pública, sob pena de incorrer na perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível. • Eficiência: este princípio impõeaos agentes públicos, as pessoas físicas que exercem funções públicas em nome da Administração, uma atuação célere e tecnicamente adequada, sempre objetivando um melhor desempenho de suas atividades. Os Oficiais de Justiça, apesar de cumprir diversas diligências fora dos prédios dos tribunais, não têm à disposição veículos do Estado. São obrigados a utilizar seus veículos próprios para o cumprimento de funções. Eventualmente são obrigados a conduzir testemunhas que não comparecem às audiências e transportar algum bem apreendido. Para tanto, recebem um auxilio referente, apenas, ao combustível utilizado em tais situações. O Oficial de Justiça responde pelos atos não praticados e têm responsabilidade civil pelo não cumprimento dos atos processuais. Art. 155 do CPC - O escrivão, o chefe de secretaria e o oficial de justiça são responsáveis, civil e regressivamente, quando: I - sem justo motivo, se recusarem a cumprir no prazo os atos impostos pela lei ou pelo juiz a que estão subordinados; II - praticarem ato nulo com dolo ou culpa (BRASIL, 2015, art. 155) Assim, a parte “deve ser por eles indenizado, desde, porém, que não tenha havido um motivo justo para a recusa. Se a recusa se deu por motivo justificado, ainda que tenha causado prejuízo, não haverá responsabilidade pelo ressarcimento” (LEVENHAGEN, 1995, p. 162). Entretanto, se o não cumprimento ocorreu por motivo justificado não existe a obrigação de indenizar. O oficial de justiça, por exemplo, que se recuse de cumprir um mandado de intimação de testemunhas, porque estas residem em lugar interditado pela Saúde Pública, por estar ali se alastrando uma doença contagiosa, essa recusa – desde que comprovada à causa – não acarretará qualquer responsabilidade ao oficial, por possíveis prejuízos que as partes vierem a sofrer (LEVENHAGEN, 1995, p. 163). É importante ressaltar que no Brasil atual o cenário é de violência, principalmente nas cidades grandes, o que dificulta e muito o trabalho do Oficial de Justiça. O processo é uma sequência de atos gerados pelas partes, TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 21 com a finalidade única de solução da lide. É necessário que o ato processual esteja previsto na lei ou, pelo menos, que não a contrarie, realizado de sorte que preencha o fim pretendido. Deve haver um nexo necessário entre a realização do ato e sua finalidade (PIRES,1994). O Oficial de Justiça também é responsável por movimentar e dar vida à ação ao realizar os atos de Citação, Intimação, Notificação, Penhora e Arresto, Sequestro, Avaliação, Busca e Apreensão, Desocupação, Imissão e Manutenção de Posse. Tem o dever de trazer ao processo a realidade dos fatos, a qual, muitas vezes, é omitida ou destorcida pelas partes. O Oficial de Justiça tem o contato com o mundo real e informa a realidade ao juízo. Conforme o inciso VI do artigo 154 do CPC, o Oficial de Justiça tem atribuição de propor a autocomposição. Essa função foi introduzida pelo Código de Processo Civil de 2015, no antigo não se fazia menção a isso. O que é considerado bastante razoável, pois o oficial de justiça é o primeiro a ter contato com a parte. Certamente o Oficial de Justiça, ao promover o devido ato processual, obterá êxito em conseguir do jurisdicionado alguma proposta de autocomposição, o que agiliza, ainda mais, o trâmite processual, quando poderá ocorrer a homologação da autocomposição antes mesmo do comparecimento pessoal das partes junto ao órgão jurisdicional competente. Assim, resta provado a valorização conferida ao Oficial de Justiça, pelo legislador. Tal nova atribuição funcional deste serventuário da justiça só tende a prestigiar a solução consensual dos conflitos, o que é amplamente incentivado pelo novo CPC. O Oficial de Justiça exerce função de incontestável relevância no universo judiciário. É através dele que se concretiza grande parte dos comandos judiciais atuando a meirinho como verdadeira longa manus do magistrado. [...] É um auxiliar da Justiça e, no complexo de sutilezas dos atos processuais, é elemento importante para a plena realização da justiça (PIRES 1994, p. 7 e 17). Conclui-se, então, que a atividade do Oficial de Justiça é fundamental para que ocorra a efetividade dos atos jurisdicionais, que precisão ocorrer além do espaço físico dos tribunais e será considerado a longa manus do juiz, cumprindo suas determinações e mandados. 22 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A formação em tecnólogo de serviços jurídicos capacita o profissional para os exercícios de diversas atividades relativas ao mundo jurídico, nas quais terá a oportunidade de utilizar seus conhecimentos referentes as disciplinas de direitos em suas diversas áreas. Tem o dever de cumprir os despachos dos juízes. • Outra possibilidade de atuação do formado em serviços jurídicos é a de técnico judiciário, ou seja, o funcionário responsável em dar suporte ao judiciário em diversos aspectos. É um servidor público do poder judiciário que participa de comissões, quando lhe for solicitado, e de treinamentos diversos de interesse da administração. Executa os serviços de expediente, servir nas audiências, elaborar e digitar pautas de publicação, desenvolver atividades em geral dos órgãos em que trabalham, elaborar certidões e relatórios, indexar documentos, atender ao público, entre outras atividades a ele incumbidas por seu superior. • O trabalho do assessor jurídico é mais complexo, ele atua na chamada advocacia preventiva e de suporte ao cliente na prática de atos que envolvam alguma situação que possa ter consequências jurídicas. • O objetivo da assessoria jurídica é evitar que o cliente venha a ser obrigado a se submeter a um processo judicial ou gere nulidade do ato praticado. • O assessor também pode ter a função de administrar ambientes relacionados à atividade jurídica, como escritórios de advocacia ou incorporações que possuam algum setor jurídico ou que necessitem de direcionamento jurídico para o exercício de suas atividades. • O oficial de justiça é o servidor público responsável pela prática dos atos processuais que devem ocorrer fora do tribunal. É através desse profissional que o juiz toma conhecimento da realidade, que por vezes poderá ser distorcida pelas partes em suas petições. 23 1 Analise as asserções a seguir e sinalize se elas estão certas ou erradas. a) A atividade do analista poderá, também, envolver questões administrativas como rotina de RH, por exemplo. ( ) Certo. ( ) Errado. b) O técnico judiciário não é, necessariamente, um servidor público. Tal atividade poderá ser desempenhada por qualquer particular, sem prestar concurso. ( ) Certo. ( ) Errado. c) O assessor jurídico tem atribuição relacionada ao contencioso, não faz parte das suas atribuições agir preventivamente evitando, assim, os conflitos judiciais. ( ) Certo. ( ) Errado. AUTOATIVIDADE 24 25 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 1 INTRODUÇÃO Existe um conjunto de normas morais que devem ser exercidas por todos os profissionais, em qualquer atividade que desempenhe, é o que se dá o nome de ética profissional. Ética é um conceito filosófico que classifica o que é certo ou errado dentro da sociedade, garantindo uma convivência harmônica entre as pessoas. A importância da ética profissional no ambiente corporativo é fundamental, pelo fato de permitir que o ambiente de trabalho possa ser harmonioso, o que reflete diretamente no nível de comprometimento do grupo. Dessa forma, os funcionários se tornam mais comprometidos e satisfeitos com o trabalho. Logo, todo o clima amigável irá fazer com que o rendimento aumente.Já sob o ponto de vista das incorporações: “a ética profissional faz com que a empresa consiga passar uma imagem muito positiva. Isso dá credibilidade ao órgão, que, naturalmente, consegue atingir aqueles objetivos pré-estipulados” (EDITAL CONCURSOS BRASIL, 2020, s.p.). 2 GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS PÚBLICOS A cada dia que passa, cresce o número de advogados no mercado, o que faz com que a concorrência aumente e torne-se extremamente necessário que sejam estabelecidos critérios para tomada de decisões em ações planejadas, necessidade de manutenção do espírito empreendedor, preparação para as modificações naturais do mercado. Dessa forma, conclui-se que as organizações que ponderam os interesses tanto empregados, gestores, como os seus clientes, considerando as capacidades e necessidades de cada um para tomar as decisões mais adequadas, com melhoria com base na alocação de seus recursos disponíveis de forma a buscar uma qualidade satisfatória que atenda ou supere as expectativas dos seus clientes. O mundo atual necessita de tomada de decisões mais céleres, com isso, os serviços jurídicos tornaram-se mais dinâmicos. Uma empresa que procura assessoria jurídica externa, não busca apenas um parecer jurídico com reprodução da letra fria da lei, mas sim a interpretação para que a melhor decisão seja adotada. 26 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Assim, o assessor jurídico torna-se peça fundamental para o sucesso do negócio. O cliente procura confiança, o preço pode ser a parte menos importante, pois a credibilidade no profissional é fundamental. As informações são facilmente obtidas atualmente, pelos clientes e via internet. Todos os Tribunais possuem redes sociais, nas quais divulgam suas principais decisões. Além das informações veiculadas pela imprensa, os próprios tribunais superiores transmitem, ao vivo, sessões de julgamento em rede nacional. Portanto, os clientes têm noções sobre assuntos diversos mesmo sendo leigos, o que torna necessário não só mais a atualização diária do profissional para os conhecimentos científicos, como também, a obrigatoriedade de se ter postura e conhecimento da área da administração para atender este tipo de demanda, pois, torna cada vez mais exigente a prestação de serviço e, por consequência, a cobrança por resultados. Os prestadores de serviços jurídicos precisam perceber a quantidade de serviços que poderão ser ofertados aos clientes. Avaliar os serviços que estão sendo oferecidos. A percepção das novas demandas, será um diferencial para que o cliente escolha o prestador de serviços jurídicos mais adequado ao seu perfil e necessidades. São fundamentais o aperfeiçoamento contínuo e a preocupação para prestar um serviço com qualidade, impõe que se tenha conhecimento não só da área do direito, como também da área da administração. Surge, então, a figura do tecnólogo de serviços jurídicos como administrador, pois as faculdades de direito não qualificam os bacharéis a exercerem essa função. Os escritórios de advocacia precisam considerar o quanto é importante a qualidade na prestação dos serviços. Modificando os aspectos apontados como vulneráveis e mantendo os apontados como de boa performance. Nesse contexto, o profissional de serviços jurídicos poderá fazer todo um diferencial, auxiliando na gestão do negócio. Via de regra, é feito um planejamento estratégico nas organizações incluindo todas as partes interessadas. Assim, a responsabilidade sobre os resultados é parcelada entre todos. Fazendo-se uma prevenção contra possíveis ameaças às estratégias adotadas. A administração bem feita é fundamental em qualquer atividade, não apenas na advocacia. Uma boa administração requer planejamento sendo “uma forma de atuar que se materializa em um conjunto de providências a serem tomadas” (SANTOS, 2010, p. 33). Cabendo, assim, ao tecnólogo de serviços jurídicos planejar, mediante aos estudos, todos os pontos de referência estabelecidos para a ação empresarial com habilidade, enfrentando os seus desafios quanto à qualidade e resultados imediatos. Antes de mais nada, precisa-se identificar o que é serviço, ou seja, um conjunto das prestações que o usuário espera além do produto ou do serviço de base, em função do preço, da imagem e da reputação presentes (HOROVITZ, 1993, p. 47). TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 27 Um serviço poderá “alcançar um termo mais amplo, tendo nas décadas de 1960, 1970 e 1980 sido sugerida uma série de definições, acrescendo que na maioria das vezes, um serviço envolve interações de algum tipo com o provedor de serviço” (GRÖNROOS, 2009, p. 46). O conceito de serviço é: qualquer ato ou desempenho que uma parte possa oferecer a outra, desde que seja essencialmente intangível e que não resulte em propriedade de alguma coisa. Nos escritórios de advocacia, os principais serviços são: serviços de preposição, serviços de cobrança, consultoria jurídica e serviços gerais (ações de todas as áreas do Direito) (KOTLER, 1998, p.78). Após entender o conceito de serviço, é fundamental que o prestador de serviços jurídicos tenha consciência que é preciso gerir o seu negócio da melhor forma. Para tanto, é fundamental conhecer os mecanismos de gestão de serviços. “Um grande número de organizações adota, como modelo de gestão, direcionamento por processos buscando atingir maior agilidade e flexibilidade, diminuição de gastos, melhoria no atendimento e qualidade entre outros benefícios aos clientes” (VIEIRA, 2010, p. 24). A gestão de serviço é, portanto, uma maneira de se procurar entender como deverá ser administrada uma empresa na prestação de serviços. Uma boa prestação de serviços proporciona benefícios aos clientes, de forma concreta, que possa ser percebida por todos. Portanto, a gestão de serviços é essencial para as organizações, sendo o planejamento estratégico indispensável, devendo existir uma preocupação permanente com tal gestão, de forma a refletir direta e constantemente na qualidade dos serviços, conquanto primordial para o êxito e competitividade das empresas (VIEIRA, 2010). A concorrência é muito grande, portanto a qualidade na prestação é fundamental para que o prestador de serviço se destaque no mercado, “as organizações, a cada dia buscam melhorar suas ações de gestão, através de adequações às necessidades dos clientes e às constantes inovações tecnológicas e manutenção da competitividade” (VIEIRA, 2010, p. 26). A doutrina dos Grönroos (2009) apresenta o que se chama de “pacote de serviços”, o qual representa diversos serviços, tangíveis e intangíveis que, conjuntamente, representam o serviço. Diante disso, o serviço será dividido entre o serviço central e os serviços secundários ou periféricos. Dividindo-se, então, os serviços em três grupos como forma de gerir o serviço a ser prestado. Os três grupos são: 1) serviço central; 2) serviços (e bens) capacitadores; e 3) serviços (e bens) de melhoria. Os serviços são classificados, conforme dispõe Nóbrega (2013), no Quadro a seguir, em central e acessórios (suplementar e complementar). 28 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS QUADRO 1 – OS TIPOS DE SERVIÇOS Tipo de Serviço Conceituação Serviço Central Serviço essencial, motivo da procura Serviços Acessórios Serviços complementares Serviços que viabilizam o uso do serviço central. Sem eles, geralmente não se consegue fazer uso do serviço central. Serviços suplementares Serviços usados para agregar valor, ou para fins de diferenciação. FONTE: Adaptado de Nóbrega (2013) A prestação de serviço deve, ao mesmo tempo, oferecer alto nível de perícia e qualidadedo serviço, o que não é mensurável de forma fácil por qualquer pessoa, o serviço é considerado de importância crítica, a recomendação de outros é fundamental na seleção do prestador do serviço. A interação do prestador de serviços com seu cliente será percebida de diversas formas, que variam conforme a situação, mas sempre considerando três elementos básicos que são a acessibilidade, a interação com a organização prestadora de serviços e a participação do cliente. Veja no quadro a seguir uma pesquisa realizada pela Revista Análise Advocacia 500 (2013), sobre os serviços jurídicos oferecidos pelos escritórios de advocacia, pesquisa esta na qual houve análise dos sites de grandes escritórios, além de entrevistas a alguns profissionais da área. QUADRO 2 – OFERTA DE SERVIÇOS DE UM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA Tipo de Serviço Conceituação Serviço Central Prestação de serviços jurídicos na esfera administrativa e/ou judicial Serviços Acessórios Serviços complementares Ajuizamento de ações em geral. Apresentação de defesas em geral. Apresentação de recursos Assessoria na compra e venda de imóveis, incorporação, loteamento e assistência em transações imobiliárias Atuação como mediador de conflitos Atuação como correspondente de escritórios nacionais e internacionais Auditoria completa em operações societárias Avaliação de passivo trabalhista Comparecimento à audiência TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 29 Confecção de memoriais Consultoria preventiva Constituição de empresas Elaboração de Plano de Cargos e Salários Elaboração de Plano de Participação nos Lucros Elaboração, revisão e análise de contratos Estruturação de negócios de atividade empresarial Negociação coletiva com sindicato em dissídio coletivo e na esfera administrativa Obtenção de regime especial de tributação e parcelamento Participações de reuniões Planejamento tributário Planejamento familiar e sucessório Respostas às consultas Realização de sustentação oral Representação do cliente perante magistrados Realização de palestras Realização de congressos Realização de treinamento para os advogados contratados e clientes Revisão da política interna da empresa Reorganização societária: Fusões, incorporações, cisão e dissolução de sociedade Serviços suplementares Aviamento de documentos Adiantamento de pagamento de custas processuais Acesso ao andamento do processo pelo site do escritório Assessoria para obtenção de visto permanente Confecção de cálculos em geral Disponibilização de internet wifi Fornecimento de informações jurídicas através de twitter, site e e-mail Realização de protocolos FONTE: Adaptado de Revista Análise Advocacia 500 (2013) É importante ressaltar que a pesquisa retrata os serviços descritos a partir da classificação do serviço central, complementar e suplementar, trazendo uma contribuição significativa do que poderia ser ofertado. 30 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Considerando também, que a prestação de serviços ofertadas deve ser prestada com qualidade. A qualidade é um conceito amplamente utilizado (MARTINS, 2012), mas existem diversas definições de difícil consenso sobre seu conceito, é uma ferramenta estratégica que aumenta a eficiência operacional e melhora o desempenho global das organizações. Qualidade percebida de serviço e o modelo de qualidade total percebida de serviço, acrescendo uma abordagem baseada em pesquisas sobre o comportamento do consumidor e os efeitos das expectativas relativas ao desempenho dos bens em avaliações pós-consumo (GRÖNROOS, 2009, p. 64). A qualidade já era festejada desde a Grécia antiga, onde os filósofos, em seus pensamentos, vislumbravam a excelência. Assim, qualidade pode ser considerada uma característica que pretende superioridade dentro de um contexto objetivo, fundada em pessoas ou assuntos semelhantes. Entretanto, na esfera da administração, originou-se no sentido de padronização (MAXIMIANO, 2006). Não se pode gerir o que não se pode medir (CARVALHO, 2008). Portanto, umas das principais estratégias de competição no mundo corporativo é a qualidade na prestação dos serviços. A qualidade é um aspecto extremamente relevante no sistema produtivo, seria uma maneira de demonstrar que a organização preza pelo serviço que presta, pelo que vende, pelo meio ambiente, saúde e segurança de seus funcionários, mediante a observância das normas aplicadas à espécie (MEDEIROS, 2011). Qualidade “é um processo presente nas empresas, tornando-se um conceito de competitividade, que de forma interligada, envolve todo o processo desde a compra até a distribuição ao consumidor” (MEDEIROS, 2011, p. 15). O modelo de qualidade foi originalmente criado para auxiliar gerentes e pesquisadores a compreenderem o que os clientes esperam daquele serviço. Perceber o que seria fundamental para o cliente, desde a fase da oferta ao resultado do serviço contratado, “é aquela que cobre a necessidade de desenvolvimento de competências adaptativas de seus destinatários, com o fim de que melhorem a eficiência profissional e empresarial em meios mutantes e altamente competitivos” (JÚNIOR, 2012, p. 33). A boa qualidade percebida é obtida quando a qualidade experimentada atende às expectativas do cliente, isto é, à qualidade esperada. Se as expectativas não forem realistas, a qualidade total percebida será baixa, mesmo que a qualidade experimentada medida de modo subjetivo seja boa (...) A qualidade esperada é uma função de diversos valores, a saber, comunicação de marketing, boca a boca, imagem da empresa/local, preço, necessidades, valores do cliente (GRÖNROOS, 2009, p. 68-69). A Revista Análise da Advocacia 500, em 2013, fez uma pesquisa sobre os escritórios de advocacia mais admirados, e para identificação dos atributos foram selecionados 12 (doze) serviços pelo critério de importância. O resultado encontra-se no quadro a seguir: TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 31 QUADRO 3 – SERVIÇOS ESSENCIAIS DOS ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA PESQUISADOS Desdobramento Aspectos Físicos Confiabilidade Presteza Segurança Empatia C EN TRA L Prestação de serviços jurídicos na esfera administrativa e/ou judicial infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante. cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção; feedback; prontidão. interposição do remédio jurídico adequado; responsabilidade profissional; credibilidade. simpatia; educação; respeito; aparência. A C ESSÓ RIO Ajuizamento de ação infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção, feedback prontidão interposição do remédio jurídico adequado; responsabilidade profissional; credibilidade simpatia educação respeito aparência Apresentação de defesa infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção, feedback prontidão interposição do remédio jurídico adequado; responsabilidade profissional; credibilidade simpatia educação respeito aparência Apresentar recurso infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção, feedback prontidão interposição do remédio jurídico adequado; responsabilidade profissional; credibilidade simpatia educação respeito aparência Resposta às consultas infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção, feedback prontidão interposição do remédio jurídico adequado; responsabilidade profissional; credibilidade simpatiaeducação respeito aparência Comparecer à audiência cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção, feedback prontidão responsabilidade profissional; credibilidade, equilíbrio emocional simpatia cordialidade respeito Sustentação oral cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção, feedback prontidão responsabilidade profissional; credibilidade, equilíbrio emocional simpatia cordialidade respeito 32 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Confecção de memoriais infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante cumprimento do prazo; celeridade; qualificação profissional atenção, feedback prontidão poder de síntese, responsabilidade profissional, credibilidade simpatia educação respeito aparência Participação de reuniões infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante pontualidade, celeridade, qualificação profissional atenção, feedback prontidão poder de síntese, responsabilidade profissional, credibilidade simpatia educação respeito aparência Elaboração, revisão e análise de contratos infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante pontualidade, celeridade, qualificação profissional atenção, feedback prontidão poder de síntese, responsabilidade profissional, credibilidade simpatia educação respeito aparência Negociação coletiva infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante pontualidade, celeridade, qualificação profissional atenção, feedback prontidão poder de síntese, responsabilidade profissional, credibilidade simpatia educação respeito aparência Aviamento de documentos infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante pontualidade, celeridade, qualificação profissional atenção, feedback prontidão poder de síntese, responsabilidade profissional, credibilidade simpatia educação respeito aparência FONTE: Adaptado de Revista Análise Advocacia 500 (2013) Os serviços prestados por um escritório de advocacia são intangíveis, inseparáveis, simultâneos e heterogêneos. Um elevado nível de intangibilidade cria também em um alto grau de expectativa do cliente com relação ao serviço prestado, em decorrência de um considerável nível de incerteza e risco (BEBKO, 2000). O serviço jurídico requer inseparabilidade, dificultando a avaliação antes do início da prestação. O serviço jurídico demanda bastante do componente humano. Portanto, existe uma variedade na qualidade de sua execução, considerando os diferentes momentos da prestação de serviço a um cliente e a prestação entre diferentes clientes. TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 33 A globalização trouxe uma nova realidade aos escritórios de advocacia, não apenas pelo aumento das demandas, mas, também, tem que se adaptar e pensar em novas estratégias que os tornem competitivos no mercado. O ISO 9001 certifica o prestador de serviços jurídicos, não apenas considerando o aperfeiçoamento das práticas administrativas e operacionais da organização, mas, também, a gestão de pessoas objetivando proporcionar melhores serviços e atendimento de qualidade aos clientes. “O mundo jurídico está à procura de um novo caminho, uma maneira eficaz, porém ética de se adequar à terrível competição e escassez futura de demandas judiciais suficientes para atender a todos os advogados”, segundo Bertozzi (2005, p. 13). É neste diapasão em que o tecnólogo de serviços jurídicos se torna figura fundamental, para garantir que rotinas sejam estabelecidas de forma adequada proporcionando a satisfação plena do cliente com o serviço prestado. A prestação de serviço de qualidade poderá ser considerada para o que chamamos de marketing jurídico. A função que o marketing deve assumir na área jurídica é a ordenação mais eficaz dos recursos do escritório e de seus profissionais, ampliar o prestígio profissional, planejar o futuro, racionalizando os custos, focando o cliente, criando estratégias para clientes potenciais, investindo em relacionamentos e imagem pessoal. Não se trata de vender serviços, e, sim de se posicionar em um mercado cada vez mais escasso e complexo. Um escritório jurídico que incorpora o marketing torna-se mais competitivo, sem necessariamente quebrar a ética da profissão (BERTOZZI, 2005, p. 55). Assim, percebe-se que a gestão do escritório precisa ter além de recursos jurídicos e administrativos de qualidade, que consolidem sua imagem no mercado, ao par que tenha um diferencial que destaque perante os clientes. Seja pelo conhecimento, capacitação ou pela transparência, porém tudo calçado nas normas e disciplinas de ética profissional, a qual será o próximo ponto abordado. 3 ÉTICA PROFISSIONAL A atividade jurídica no Brasil tem influência direta do Direito Português. Mas, a prestação jurisdicional é bem mais antiga, como defesa de interesses individuais e coletivos remonta à época anterior ao calendário cristão, perpassando pelo Código de Manu e pelo Antigo Testamento, há quem sustenta ser a Grécia Antiga a sua origem. 34 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS No século XIX, dois marcos históricos contribuíram de forma concreta para a construção da profissão de advogado, a primeira foi a criação e abertura das Faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda, em 1827, e a fundação do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) em 1843. A criação dos cursos jurídicos foi uma consequência da cultura brasileira, decorrente da independência do Brasil, que influenciou a vida política e social. Primeiro, através da Assembleia Constituinte de 1823, e retomada em 1826, que culminou com a lei editada em 11 agosto, a qual criou os cursos jurídicos no nosso país. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que por intermédio do Decreto 19.408, de 18/11/1938, expressamente em seu artigo 17, dispunha “criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e seleção da classe dos advogados”, se regeria pelos estatutos que fossem votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a colaboração dos Institutos dos Estados, e aprovados pelo Governo (MACEDO, 2009, p. 1). Desde então, a OAB tem representado papel importante na garantia e busca pela liberdade democrática, como a luta contra o autoritarismo do Estado Novo, atuou contra o Regime Militar de 1964 e movimento popular em defesa do Estado de Direito no início dos anos 80 teve, na OAB, um de seus maiores alicerces na busca das eleições diretas. A Constituição Federal de 1988 reconhece a OAB como de vital importância no cenário político-social do país. Reconhecidamente autorizada como voz dos cidadãos brasileiros, o Conselho Federal da OAB possui legitimidade universal para o ajuizamento de Ações Diretas que visam o controle de constitucionalidade de nossa carta magna. Associado à Magistratura e ao Ministério Público, o advogado é a única profissão com expressa referência constitucional Cumpre ressaltar que lei é voltada à Instituição OAB como um todo, não apenas ao advogado no exercício da profissão, mas também aos bacharéis, que são formados, mas não inscritos nos quadros da OAB e ao tecnólogo de serviços jurídicos que deve agir com ética exigida aos profissionais prestadores de serviços jurídicos. Existem diversas normas que abordam a disciplina. Uma é revestida de caráter formal e de âmbito federal. Outras, embora de cumprimento obrigatório, não são revestidas desse caráter formal, mas têm o sentido material do termo e são as seguintes: Para aprofundar o estudo acerca de ética, recomendamos a leitura da obra A Ética em Aristóteles, de Alexsandro M. Medeiros, disponívelno endereço a seguir: https:// www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-etica-em-aristoteles/. DICAS TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 35 • Lei 8906/94: denominada “Estatuto da Advocacia e da OAB”, de caráter formal e âmbito federal. • Código de Ética e Disciplina de 2015: editado pelo Conselho Federal, “consiste numa norma apenas no sentido material, que preserva, do mesmo jeito, a sua força cogente” (MACEDO, 2009, p. 5), devendo ser respeitada e cumprida por todos que exercem a atividade de advocacia. • Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da OAB: também “apenas de sentido material e de competência do Conselho Federal da OAB”, Paulo Lobo (2009, p. 356) foi preciso em seus comentários. • Provimentos: são prescrições emanadas do Conselho Federal com força normativa que regula assuntos ou matérias específicas previstas no Estatuto da OAB não contemplados no Regulamento Geral. As Conferências Nacionais dos Advogados são órgãos consultivos cujas conclusões, consideradas recomendações aos Conselhos, decidirão por adotá-las ou rejeitá-las, mas, obrigatoriamente, deverão se posicionar a respeito. A indispensabilidade é uma característica de origem constitucional, diretamente ligada ao direito de postular, chamado de jus postulandi – essência da atividade advocatícia – deve ser analisado em dois aspectos. Primeiro a atividade jurisdicional, o procuratório judicial e a atividade extrajudicial, o procuratório administrativo, no qual se enquadra o tecnólogo de serviços jurídicos. A atividade jurisdicional deve ser observada sob três parâmetros. Um conceitual e dois dispositivos legais: 1. Jus Postulandi (conceito): postulação é ato de pedir ou exigir a prestação jurisdicional. Exige-se qualificação técnica. 2. C.F. art. 133: “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei” (BRASIL, 2016, art. 133). 3. Estatuto da OAB, art. 1º: São atividades privativas de advocacia: I: a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos Juizados Especiais (BRASIL, 1994, art. 1º). Entretanto, existem seis exceções a serem consideradas: 1. Juizados Especiais Cíveis: que dispensa a presença de advogado em causas de até 20 salários mínimos, Lei 9.099/95 e de até 60 salários mínimos se for na esfera federal, Lei 10259/01. 2. Justiça do Trabalho: CLT, art. 791 (sem alteração pela reforma trabalhista de 2017): o dispositivo faz menção à expressão “até o final”, o que significa dizer, em matéria da justiça do trabalho, até o TST. No entanto, o próprio TST tem um entendimento (súmula 425) de que se interpreta o art. 791 da CLT limitando a postulação sem advogado até os tribunais regionais do trabalho, ficando, assim, indispensável a intervenção de um advogado para jurisdição do TST. 36 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 3. Habeas Corpus: não se discute tratar-se de provimento jurisdicional em que a garantia da liberdade pessoal já seria suficiente para sinalizar sobre a dispensabilidade do advogado, no entanto, o Estatuto da OAB não deixa motivos para discussão sobre a referida dispensabilidade porque confirma em seu art. 1º, §1º, que não é atividade privativa da advocacia (BRASIL, 1994). 4. Revisão Criminal (CPP, art. 623): pacífico na jurisprudência do STF que a Constituição Federal recepcionou o referido diploma legal, não existindo, assim, qualquer obstáculo de ordem jurídico-formal que impeça o próprio condenado de promover, ele próprio, independente de assistência técnica prestada por advogado, a pertinente revisão criminal (HC 72.981-SP, Rel.Min. MOREIRA ALVES - RHC 80.763-SP, Rel. Min. SYDNEY SANCHES). 5. Constituição Federal, art. 103: norma constitucional que traz os legitimados ativos a promover o controle concentrado das leis e atos normativos federais, estaduais. O STF entendeu que somente os partidos políticos e as confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional deverão ajuizar a ação por advogado (art. 103, VIII e IX). Quanto aos demais legitimados (art. 103, I-VII), a capacidade postulatória decorre da Constituição. (ADI n. 127-MC-QO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 20.11.1989, DJ 04.12.1992). 6. Lei de alimentos (5478/68): também está prevista a dispensabilidade do advogado, no entanto suprida pela competência da Defensoria Pública, conforme decisão do STF. Portanto, essas seis atividades poderão ser auxiliadas pelo tecnólogo de serviços jurídico, sem que isso esteja infringindo qualquer lei, ou seja, considerada uma atividade antiética. Poderá auxiliar na pesquisa de leis, doutrinas e jurisprudência relativas ao caso, bem como auxiliar na minuta de petições. A prestação de serviços jurídicos exerce uma função social, a qual demonstra que a administração da justiça é uma espécie do gênero atividade pública regida pelo direito público, ainda que o advogado não seja titular de uma função pública sua atividade consiste num exercício de múnus público. Bem como o tecnólogo de serviços jurídicos. Assim, as prerrogativas dos advogados, as quais se estendem ao tecnólogo de serviços jurídicos, estão previstas no artigo 7 e 7-A, do Estatuto da OAB, Lei 8.906: Art. 7º São direitos do advogado: I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional; II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia; (Redação dada pela Lei nº 11.767, de 2008) III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis; TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 37 IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB; V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar; (Vide ADIN 1.127-8) VI - ingressar livremente: a) nas salas de sessões dos tribunais, mesmo além dos cancelos que separam a parte reservada aos magistrados; b) nas salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios de justiça, serviços notariais e de registro, e, no caso de delegacias e prisões, mesmo fora da hora de expediente e independentemente da presença de seus titulares; c) em qualquer edifício ou recinto em que funcione repartição judicial ou outro serviço público onde o advogado deva praticar ato ou colher prova ou informação útil ao exercício da atividade profissional, dentro do expediente ou fora dele, e ser atendido, desde que se ache presente qualquer servidor ou empregado; d) em qualquer assembleia ou reunião de que participe ou possa participar o seu cliente, ou perante a qual este deva comparecer, desde que munido de poderes especiais; VII - permanecer sentado ou em pé e retirar-se de quaisquer locais indicados no inciso anterior, independentemente de licença; VIII - dirigir-se diretamente aos magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de horário previamente marcado ou outra condição, observando-se a ordem de chegada; X - usar da palavra, pela ordem, em qualquer juízo ou tribunal, mediante intervenção sumária, para esclarecer equívoco ou dúvida surgida em relação a fatos, documentos ou afirmações que influam no julgamento,bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem feitas; XI - reclamar, verbalmente ou por escrito, perante qualquer juízo, tribunal ou autoridade, contra a inobservância de preceito de lei, regulamento ou regimento; XII - falar, sentado ou em pé, em juízo, tribunal ou órgão de deliberação coletiva da Administração Pública ou do Poder Legislativo; XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento, mesmo sem procuração, quando não estiverem sujeitos a sigilo ou segredo de justiça, assegurada a obtenção de cópias, com possibilidade de tomar apontamentos; (Redação dada pela Lei nº 13.793, de 2019) XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245, de 2016) 38 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS XV - ter vista dos processos judiciais ou administrativos de qualquer natureza, em cartório ou na repartição competente, ou retirá-los pelos prazos legais; XVI - retirar autos de processos findos, mesmo sem procuração, pelo prazo de dez dias; XVII - ser publicamente desagravado, quando ofendido no exercício da profissão ou em razão dela; XVIII - usar os símbolos privativos da profissão de advogado; XIX - recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional; XX - retirar-se do recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial, após trinta minutos do horário designado e ao qual ainda não tenha comparecido a autoridade que deva presidir a ele, mediante comunicação protocolizada em juízo. XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) a) apresentar razões e quesitos; (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) b) (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) § 1º Não se aplica o disposto nos incisos XV e XVI: 1) aos processos sob regime de segredo de justiça; 2) quando existirem nos autos documentos originais de difícil restauração ou ocorrer circunstância relevante que justifique a permanência dos autos no cartório, secretaria ou repartição, reconhecida pela autoridade em despacho motivado, proferido de ofício, mediante representação ou a requerimento da parte interessada; 3) até o encerramento do processo, ao advogado que houver deixado de devolver os respectivos autos no prazo legal, e só o fizer depois de intimado. § 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer. (Vide ADIN 1.127-8) § 3º O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício da profissão, em caso de crime inafiançável, observado o disposto no inciso IV deste artigo. § 4º O Poder Judiciário e o Poder Executivo devem instalar, em todos os juizados, fóruns, tribunais, delegacias de polícia e presídios, salas especiais permanentes para os advogados, com uso e controle assegurados à OAB. (Vide ADIN 1.127-8) TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 39 § 5º No caso de ofensa a inscrito na OAB, no exercício da profissão ou de cargo ou função de órgão da OAB, o conselho competente deve promover o desagravo público do ofendido, sem prejuízo da responsabilidade criminal em que incorrer o infrator. § 6º Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham informações sobre clientes. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008) § 7º A ressalva constante do § 6o deste artigo não se estende a clientes do advogado averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou co-autores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008) § 8º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008) § 9º (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008) § 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício dos direitos de que trata o inciso XIV. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) § 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) § 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos autos ao juiz competente. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016) § 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a processos e a procedimentos eletrônicos, ressalvado o disposto nos §§ 10 e 11 deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.793, de 2019) Art. 7º-A. São direitos da advogada: (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) I - gestante: (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) a) entrada em tribunais sem ser submetida a detectores de metais e aparelhos de raios X; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) b) reserva de vaga em garagens dos fóruns dos tribunais; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) II - lactante, adotante ou que der à luz, acesso a creche, onde houver, ou a local adequado ao atendimento das necessidades do bebê; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) 40 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS III - gestante, lactante, adotante ou que der à luz, preferência na ordem das sustentações orais e das audiências a serem realizadas a cada dia, mediante comprovação de sua condição; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) IV - adotante ou que der à luz, suspensão de prazos processuais quando for a única patrona da causa, desde que haja notificação por escrito ao cliente. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) § 1º Os direitos previstos à advogada gestante ou lactante aplicam-se enquanto perdurar, respectivamente, o estado gravídico ou o período de amamentação. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) § 2º Os direitos assegurados nos incisos II e III deste artigo à advogada adotante ou que der à luz serão concedidos pelo prazo previsto no art. 392 doDecreto- Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho). (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) § 3º O direito assegurado no inciso IV deste artigo à advogada adotante ou que der à luz. FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%20 8.906%2C%20DE%204%20DE%20JULHO%20DE%201994.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20 o%20Estatuto%20da,Advogados%20do%20Brasil%20(OAB).&text=II%20%2D%20as%20ativida- des%20de%20consultoria%2C%20assessoria%20e%20dire%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdi- cas.&text=%C2%A7%203%C2%BA%20No%20exerc%C3%ADcio%20da,Art.>. Acesso em: 3 jul. 2020. Os direitos do prestador de serviço jurídicos não estão limitados aos dispositivos supracitados. Existem alguns outros que precisam ser mencionados: • comunicação com cliente: mesmo sem procuração o advogado tem o direito de comunicar-se com seu cliente em qualquer circunstância, de forma reservada. Não pode ser restringida tal comunicação sob pretexto de incomunicabilidade do preso; • prisão flagrante no exercício profissão: só poderá o advogado ser preso em flagrante no exercício profissional quando se tratar de crime inafiançável e observada a exigência de prisão especial, isto é, acompanhada por representante da OAB. O Plenário do STF julgou constitucional o inciso IV do artigo 7º - EOAB, mantendo a necessidade de representante da OAB para a prisão em flagrante de advogado por motivo relacionado ao exercício da advocacia, cuja prisão, antes do trânsito em julgado, há de ser cumprida em sala de Estado-Maior (sala especial), e na sua falta, em prisão domiciliar; • exame de autos: o advogado pode examinar, mesmo sem procuração, autos de processos findos ou em andamento, quer em órgãos do Poder Judiciário, Legislativo, Executivo e em repartições policiais (súmula vinculante nº 14) com relação a autos de inquérito com exceção àqueles que estiverem em segredo de justiça, de difícil reparação e os que o advogado não devolveu injustificadamente no prazo legal; • desagravo público: deverá ser desagravado, em ato personalíssimo que ocorrerá em sessão pública e solene perante o Conselho Seccional, quando for ofendido no exercício da profissão ou em atuação em cargo ou função da OAB. TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 41 Outro ponto imprescindível de ser abordado, em especial no mundo globalizado em que vive a sociedade atual, é a publicidade na prestação de serviços jurídicos. Existem duas regulamentações próprias, a publicidade na advocacia, algo plenamente previsível, obedece imperiosamente a uma finalidade informativa totalmente divorciada de conotação mercantil, portanto, perceba que há limites para esse tipo de veiculação. Assim, deve-se interpretar conjuntamente o Provimento 94/200 e o art. 39 do novo código de ética veja que se confirma o que sustentado no parágrafo anterior, o que se veda é a propaganda e não a publicidade, que são institutos completamente diferentes. Dessa forma, fica completamente proibida a publicidade por meio de veiculações por rádio, televisão, cinema, anúncios de rua tais como cartas circulares, panfletos e oferta de serviços mediante intermediários. A participação do advogado em consultas jurídicas de rádios, televisão ou qualquer outro tipo de veiculação em massa é uma verdadeira “tentação” (LOBO, 2009, p. 194). Entretanto, não é proibido, desde que o prestador de serviço jurídico seja bastante diligente observado o sigilo profissional, em segundo, ainda que seja participação totalmente zelosa com os preceitos éticos, não pode ser rotineira, por ser passível de ser considerada promocional. A legislação é contraditória no diz respeito aos correios eletrônicos e à internet. O art. 5º do provimento 94/2000 permite esses veículos de maneira expressa e cristalina. Entretanto, o código de ética atual proíbe: o fornecimento de dados de contatos, como endereço e telefone em colunas ou artigos literários, culturais, acadêmicos ou jurídicos, publicados na imprensa, bem assim quando de eventual participação em programas de rádio ou televisão, ou em veiculação de matérias pela internet, sendo permitida a referência a e-mail (BRASIL, 2015, art. 39, V). Não pode se ofertar endereço e nem telefone, mas é permitido endereço eletrônico e a norma é silente sobre sites. A ética do advogado está prevista nos artigos 31 a 33 do Estatuto da OAB: Art. 31. O advogado deve proceder de forma que o torne merecedor de respeito e que contribua para o prestígio da classe e da advocacia. § 1º O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em qualquer circunstância. § 2º Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da profissão. Art. 32. O advogado é responsável pelos atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa. Parágrafo único. Em caso de lide temerária, o advogado será solidariamente responsável com seu cliente, desde que coligado com este para lesar a parte contrária, o que será apurado em ação própria. Art. 33. O advogado obriga-se a cumprir rigorosamente os deveres consignados no Código de Ética e Disciplina. 42 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina regula os deveres do advogado para com a comunidade, o cliente, o outro profissional e, ainda, a publicidade, a recusa do patrocínio, o dever de assistência jurídica, o dever geral de urbanidade e os respectivos procedimentos disciplinares (BRASIL, 1994, art. 31-33). A ética, além de normatizar as condutas profissionais, também está presente na vida em sociedade. Conforme as especificidades de cada profissão é necessária uma determinada postura de quem a exerce. Assim, as profissões jurídicas têm suas normas éticas e morais que lhes são próprias. A etimologia da palavra ética tem origem grega de ethos ou ethikos que significa costume. Refere-se à ciência da moral, do comportamento dos homens em sociedade. Estuda a valoração da conduta e da ação, como também se trata da prática de conjunto de normas de comportamento e formas de vida que objetivem o bem. Assim como foi colocado, a ética muda conforme a sociedade a que está inserida, como também pela profissão, e até de pessoa para a pessoa (SPERANDIO, 2002). A ética pode ser vista como um sistema de princípios morais que normatizam o comportamento humano, passando a conduta a ser regida pelos valores que a ética sistematiza (MEDINA 2016). “A conduta é o comportamento em harmonia ou desarmonia com a lei, a moral e os bons costumes. O comportamento é o modo pelo qual uma pessoa age no meio social e exerce suas atividades” (SPERANDIO, 2002, p. 8-9). As normas de postura ética do profissional do direito possibilitam a existência de confiança e respeito entre o advogado e seus clientes, assim como seus colegas de profissão. Não apenas do advogado, mas de qualquer prestador de serviços jurídicos, inclusive o tecnólogo. A deontologia jurídica é a ciência do dever ser. Ela sistematiza, a partir da ética profissional, a conduta e deveres dos operadores do direito na prática da atividade profissional. Com essa ciência vêm também os princípios que norteiam toda a atuação ética do advogado, se acordo com Sperandio (2002), são eles: 1. O primeiro é o princípio da Conduta Ilibada, seria aquele do comportamento correto, sem nada que se possa moralmente levantar contra, seja na vida pública ou na vida privada. 2. O segundo é o princípio da dignidade e do decoro trata-se de um valor inerente à pessoa humana. 3. O princípio da Correção profissional é aquele que trata de o advogado agir com transparência, não se beneficiar do cargo eexigirá justiça. 4. O princípio do desinteresse é caracterizado pelo desprezo a ambição pessoal quando se busca a justiça, buscando sempre a melhor solução dos conflitos, como a conciliação, sem se preocupar com a diminuição dos honorários por conta disso. TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 43 5. O princípio da confiança, trata-se desse relação cliente-profissional, que lhe quer poder ter no advogado uma pessoa a quem possa confiar informações íntimas. Derivado desse princípio, há o da Fidelidade, queque trata sobre o vínculo e compromisso que o profissional deve ter com a verdade, a transparência, a causa, a legislação, aos operadores do direito. 6. O princípio da reserva, sobre o profissional ser discreto, fazendo jus a confiança do cliente, como também tratar de assuntos profissionais no lugar que lhes cabe, não externar opinião sobre processos que foram confiados a ele, entre outros. 7. O princípio da discricionariedade aquele em que o advogado está responsável para selecionar estratégias e formas de atuação, na tentativa de melhor solução para o conflito. 8. O princípio da lealdade é regra de costume, que não tem sanção jurídica, mas que é eticamente sancionada pela reprovação comunitária. Deflui do sistema jurídico o dever de atuar com lealdade, premiando a boa-fé e a correão. Os códigos de ética são de extrema importância, são a garantia de publicidade, oficialidade e igualdade para que segue determinada carreira, como a dos operadores de direito. Desta forma, todas as capacidades necessárias para que se desempenhe a profissão de maneira eficaz, depende dos deveres ético- profissionais. Os operadores do direito encontram no Código de Ética, comandos de conduta que têm o intuito de fazê-lo agir com probidade, moralidade, dignidade e independência. 44 UNIDADE 1 — O PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE DA GESTÃO DE SERVIÇOS JURÍDICOS Kinsel, Advogados Associados O mundo jurídico sempre foi algo interessante para quem estuda direito, apaixonante e sobretudo, dono de um apelo importante: quem estuda direito se tornará doutor e certamente será bem sucedido. A verdade é outra: o bacharel em direito é historicamente formado para ser intelectual e detentor de uma cultura ampla, em assuntos especializados em direito, mas, como muitas outras profissões, não é educado em gerir seus negócios e por que não dizer, ganhar dinheiro. Atualmente, segundo a OAB Federal, o Brasil tem cerca de 950.000 advogados, sendo que somente em São Paulo e Rio de Janeiro, são cerca de 406.00, ou seja, praticamente 43% de todos aqueles que passaram na OAB e foram aprovados pelo Exame da Ordem. Se considerarmos uma população brasileira em 200 milhões, teremos cerca de 1 advogado para cada 475 habitantes. Por que esse assunto é tão importante ao técnico do direito: advogado ou gestor de um departamento jurídico? Certamente porque um escritório deve ter sua gestão profissionalizada, com foco em resultados que sejam alinhados com a ética, mas também que obtenham controles capazes de fazer a banca crescer com perenidade e sucessão. Os principais motivos de mortalidade dos escritórios parecem ser os mesmos de pequenas e médias empresas: problemas entre os sócios, falta de gestão financeira, falta de planejamento estratégico e sobretudo, falta de formação e informação em como formar preço e captar, respeitando o estatuto da OAB. Mas por que então tantos advogados tem dificuldade de profissionalizar seus escritórios ou gerir melhor os negócios dentro de departamentos jurídicos, uma vez que a quantidade de habitantes, sobretudo em uma fase de acesso a bens de consumo e mudanças de comportamento empresarial oferecem ótimas oportunidades de consultoria jurídica, quer seja para empresas como para consumidores? Anualmente, também segundo a OAB, cerca de 60.000 bacharéis de direito são formados. Nem todos, obviamente, passam no exame de Ordem. Muitos, novos em idade e com o sonho de ganhos financeiros altos, buscam abrir seu próprio negócio ou ainda, conquistar um emprego público, por vezes sem vocação alguma para a advocacia do dia a dia ou para tolerar a assessoria para a Rés Publica. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 3 — QUALIDADE E ÉTICA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 45 A OAB apesar de seu esforço silencioso não é capaz sozinha de auxiliar na profissionalização de tantos advogados, na mesma razão que a modernidade se mostrou, em verdade trata-se da falta de consciência e capacidade de realizar a gestão dos serviços jurídicos tanto dos escritórios como dos departamentos. Algumas constatações são importantes e talvez possam oferecer ao leitor reflexões que auxiliem na mudança cultural necessária: 1. a Sociedade da Informação: tida como uma forma de entender a modificação do comportamento na sociedade atual, com o mundo digital e os avanços tecnológicos, uma quebra importante de paradigmas ocorreu, sem precedentes na história: as novas gerações nascem digitais mas carecem da tradição e experiência dos advogados e técnicos que a mais tempo operam o direito; 2. a falta de Gestão dos Serviços Jurídicos: compreender um escritório ou um departamento como um negócio é vital para que os ativos da “empresa” dos advogados possam existir ou sobreviver. Apesar de ser uma sociedade simples, não se pode esquecer que existe um Código de Ética necessário e importante para garantir que a representação do advogado e do seu cliente sejam perenes e salutares; 3. a falta de Cultura de Controle e Gestão Financeira: assim como as empresas de pequeno e médio porte (as ME ou EPP) ligadas ao Simples Nacional, entendemos que os escritórios precisam fazer gestão financeira e discutir rotinas administrativas para fins de melhoria de seus serviços. Não é raro escritórios encerrarem suas atividades por não conhecer suas despesas, não terem claro suas rotinas administrativas ou ainda, pior, não formularem preço levando em conta sua estrutura de custos. Não se torna um advogado apenas litigando, mas sim com vocação, conhecimento mínimo da área de sua atuação e, sobretudo, gerindo seu negócio com a responsabilidade de dono, garantindo identidade a banca (Intuitu Personae) e legitimando com a boa ciência e ética, a máxima de que um grande advogado é bem sucedido por sua reputação e gestão de seus ativos. FONTE: <https://www.kinsel.com.br/2016/02/a-importancia-e-a-necessidade-da-gestao-de-ser- vicos-juridicos/>. Acesso em: 3 jul. 2020. 46 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Alguns profissionais conseguem se destacar na profissão de advogado, conseguindo galgar espaços, mesmo sem realizar um planejamento profissional adequado, no entanto, é preciso ter em mente que estes profissionais são exceções. • Conclusivamente, é preciso que o advogado, agora, mais do que nunca, em face do mercado cada vez mais competitivo, procure se diferenciar de seus concorrentes, seja profissionalizando o seu escritório, seja se atualizando de forma contínua, seja construindo uma base e uma história que consiga se perpetuar por muitos e muitos anos, para que outras gerações consigam dar continuidade ao legado deixado pelos atores principais. • Não há dúvidas de que todo e qualquer profissional do direito, necessita planejar a sua carreira para que consiga chegar ao sucesso. E, o que seria o sucesso? Vai depender de o que cada um elege como objetivo de vida para que a sua ascensão profissional seja atingida. • O profissional prestador de serviços jurídicos deve agir de forma a transmitir e garantir total confiabilidade ao seu cliente. Considerando como base as regras estabelecidas no Estatuto da OAB. • É o Estatuto quem dita a norma a todos os prestadores de serviços jurídicos,não apenas aos advogados e, com isso, o tecnólogo de serviços jurídicos deve ficar atento às normas de condutas ditadas por aquele diploma legal. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 47 1 Analise as asserções a seguir e sinalize se elas estão certas ou erradas. a) Infraestrutura moderna; excelente localização; ambiente aconchegante, são critérios a serem considerados em uma prestação de serviços jurídicos de qualidade. ( ) Certo. ( ) Errado. b) A qualidade não é um fator determinante na forma de gestão dos serviços jurídicos. ( ) Certo. ( ) Errado. c) O Estatuto da OAB é uma norma que atinge apenas os advogados devidamente inscritos naquele órgão: ( ) Certo. ( ) Errado. AUTOATIVIDADE 48 49 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender os procedimentos de atendimento nos cartórios judiciais; • identificar as técnicas de atendimento nos cartórios extrajudiciais; • compreender a importância dos meios alternativos de solução de confli- tos na prestação de serviços jurídicos; • entender o papel do profissional de serviços jurídicos junto aos órgãos jurisdicionais. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS TÓPICO 2 – ATENDIMENTO NOS CARTÓRIOS E EXTRAJUDICIAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS. TÓPICO 3 – DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA. Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 50 51 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A competência de cada uma das diversas serventias notariais é determinada pela lei, conferindo, com exclusividade a cada um dos cartórios a legitimidade para lavratura e registro de atos jurídicos. O que pode ocasionar alguma dificuldade para o leigo identificar qual o cartório competente para cada ato a ser praticado. “Cartórios” é como chamamos popularmente os órgãos prestadores de serviços públicos. Os agentes públicos, delegados, realizam os serviços e, dessa forma, trazem mais segurança às relações jurídicas pessoais ou patrimoniais. Os custos dos serviços são frequentemente objeto de críticas pelos usuários. Entretanto, são fundamentais para desafogar o poder judiciário e proporcionar agilidade aos procedimentos que independem de intervenção judicial. O legislativo tem unido esforços no sentido de possibilitar a prática de atos de auto tutela. Diversos procedimentos que, até pouco tempo, somente poderiam ser feitos mediante o Estado-juiz. Dessa forma, pode-se dar segurança jurídica a negócios jurídicos celebrados fora da esfera judicial. São exemplos: a possibilidade de realização de inventário e partilha extrajudiciais, separações e divórcios, usucapião, retificação administrativas de imóveis, arbitragem, entre tantos outros. Por outro lado, é imperioso conhecer a organização e o funcionamento de cartórios judiciais e seus impactos na velocidade dos procedimentos judiciais. O tempo de tramitação de processos judiciais é comumente apontado como um dos maiores obstáculos dos sistemas judiciais em geral. Entendendo o funcionamento dos cartórios judiciais talvez seja possível identificar suas fragilidades, as quais determinam a eficiência, ou não, de determinada serventia. Pois, os cartórios estão submetidos a burocracia judicial. Estudaremos questões de como estão organizados e como funcionam os cartórios judiciais, quais as práticas do cartório que geram efeitos de aumento e diminuição do tempo de tramitação dos processos; quais são os integrantes e quem gere o cartório judicial; se uma gestão da burocracia cartorial tem possibilidades de melhorar o tempo de tramitação dos processos. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 52 2 O PODER JUDICIÁRIO Antes de se falar especificamente nos cartórios judiciais, precisamos examinar conceitos de Teoria Geral do Processo, para que fique claro a estrutura do Poder Judiciário Brasileiro. Começamos com o conceito de Jurisdição, que é uma das atividades do Estado no exercício das suas funções. 2.1 JURISDIÇÃO Entendendo-se, portanto, que a Jurisdição é uma função típica do Estado, através da qual é aplicada a vontade concreta da Lei, de maneira imparcial, em substituição à vontade das partes, com a finalidade de obter uma justa composição da lide e buscando alcançar a paz social. “É uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p. 145) Os princípios constitucionais da dignidade humana e do acesso à justiça, norteiam a atividade jurisdicional nos dias de hoje. Assim, independente do resultado final do processo, será considerado justo se todas as garantias tiverem sido respeitadas. É importante lembrar que a jurisdição é monopólio estatal. Assim, a atividade jurisdicional é exercida exclusivamente pelo Estado, através do Poder Judiciário, em regra. Entretanto, a justiça não é exercida apenas pelo Estado, tanto é assim que existem métodos alternativos para a solução dos conflitos, que, também, proporcionam que sejam a alcanças justiça e a paz social. A arbitragem pode ser considerada um exemplo clássico de um método privado de promoção de justiça. A Jurisdição possui características próprias que a diferem das outras atividades estatais, como a legislativa e administrativa próprias, respectivamente, dos poderes legislativo e executivo. As características da jurisdição presentes, praticamente em todas as suas manifestações, são: Para entender melhor o “Princípio da Dignidade Humana”, sugiro que assistam ao vídeo da TV Justiça. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qauJE6M6w0U. DICAS TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 53 1. Inércia: é vinculada ao princípio da demanda, que determina que é proibido ao Estado-Juiz exercer atividade jurisdicional de ofício (ne procedat iudex ex officio), ou seja, sem a provocação da parte interessada. O exercício da jurisdição necessita da provocação do Estado-juiz através do exercício do direito de ação e consequente ajuizamento de uma demanda. Arts. 2º e 141, do CPC/2015. [...] 2. Substitutividade: o Estado proíbe a autotutela, isto é, a justiça com as próprias mãos, e assume o dever de exercer a jurisdição, aplicar a lei à demanda que lhe é submetida (grifo da autora). Assim, o Estado substitui a atividade inicialmente das partes, pois o conflito do caso concreto será solucionado através do exercício da Jurisdição. 3. Definitividade; Indiscutibilidade ou Imutabilidade: conforme essa característica, a decisão jurisdicional coloca fim à controvérsia e, impedindo que o mesmo assunto seja alegado, discutido ou examinado novamente no futuro (SILVA, 2019, p. 23, grifo da autora). Os princípios que norteiam a jurisdição são: 1. Investidura: referente ao meio de ingresso daqueles que estão autorizados a exercer o poder jurisdicional. O juiz tem que estar investido na função jurisdicional para exercer a jurisdição, isto é, ele precisa ter sido aprovado em um concurso de provas e títulos, de acordo com o art. 37, inciso II, da CF. 2. Territorialidade: também é conhecido como princípio da aderência ao território e significa que o juiz só pode exercer jurisdição dentro de um limite territorial determinado por lei. 3. Indeclinabilidade:em razão de tal princípio o juiz não se pode se eximir de julgar a causa que lhe é apresentada pelas partes. A previsão legal desse princípio se encontra no art. 140 do CPC/2015. 4. Indelegabilidade: esse princípio estabelece que o exercício da atividade jurisdicional não pode ser delegado aos particulares, tampouco a outro órgão jurisdicional. Essa proibição é aplicável de forma integral ao poder decisório, posto que violaria a garantia do juiz natural. 5. Inafastabilidade da jurisdição: princípio previsto no art. 5ª, XXXV da CF e significa que todos possuem acesso ao Judiciário em hipótese de lesão ou ameaça de lesão a um direito. Assim, nenhuma matéria pode ser excluída da apreciação pelo Poder Judiciário, exceto as exceções estabelecidas na própria Constituição: arts. 52, I e II. f; 142, §2 e 217. 6. Juiz natural: previsto no art.5º, XXXVII e LIII da CF. Significa que as partes não podem escolher livremente o juízo e/ou juiz que irá julgar a sua causa. De acordo com esse princípio, o juízo (órgão) para uma causa é estabelecido a partir de critérios estabelecidos em lei e o juiz (pessoa) deve ser imparcial Inevitável, para entender a jurisdição é que se analise a sua classificação em diversos aspectos. Não se fala em espécies de jurisdição, pois a jurisdição é um poder exercido em razão da manifestação da soberania estatal, portanto a jurisdição é una e indivisível (grifo da autora). Entretanto, para melhor entendimento, utiliza-se uma classificação. Dessa forma, temos: UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 54 • Quanto ao tipo de pretensão - que leva em consideração a natureza do direito material objeto do processo: 1. Jurisdição penal. 2. Jurisdição civil: incluídas todas as matérias fora do Direito Penal, ou seja, é a jurisdição exercida me matéria cível, trabalhista, tributária, empresarial etc. • Quanto ao grau em que é exercida: 1. Superior: exercida pelo órgão que tem competência recursal e exerce o segundo grau de jurisdição. 2. Inferior: exercida pelo órgão que conhece da causa em primeiro lugar. • Quanto à submissão ao direito positivo: 1. Jurisdição de direito: significa que o Estado-juiz no exercício da função jurisdicional está vinculado a leis, conforme o art. 140, parágrafo único, do CPC/2015. 2. Jurisdição de equidade: é uma exceção, pois na jurisdição de equidade o Estado-juiz não é obrigado a aplicar a lei. Assim, só pode ocorrer quando houver expressa autorização legal. Tais exceções estão previstas, por exemplo, no art. 723, § único do CPC/2015, que trata dos procedimentos de jurisdição voluntária e no Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 6º da Lei n. 8.069/90. • Quanto ao órgão que exerce: 1. Jurisdição comum: exercida por órgãos que possuem competência para julgar causas de qualquer natureza. É a jurisdição exercida pela Justiça Federal comum e pela Justiça estadual. 2. Jurisdição Especial: é a exercida por órgão que possuem competência apenas para matérias específicas, como a Justiça do Trabalho, Justiça Eleitora e Justiça Militar. • Quanto à existência ou não de lide: tal forma de classificar a jurisdição, apesar de ainda ser utilizada pela doutrina tradicional, perdeu um pouco do sentido após a vigência do CPC/15, pois adotamos procedimentos praticamente idênticos nas duas modalidades de jurisdição: 1. Jurisdição contenciosa: é a jurisdição exercida em procedimentos que há lide a ser resolvida; 2. Jurisdição voluntária: não há a solução de um litígio, mas apenas a chancela estatal para a realização de um negócio jurídico de direito privado, previstos a partir do art.719 do CPC/2015. FONTE: SILVA, T. C. Teoria geral do processso. Indaial: UNIASSELVI, 2019. p. 24-26. Disponível em: https://www.uniasselvi.com.br/extranet/layout/request/trilha/materiais/livro/livro.php?codi- go=37638. Acesso em: 20 jul. 2020. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 55 2.2 A ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO A estrutura do judiciário brasileiro é determinada pela Constituição em seus artigos 92 a 126, que estabelecem os órgãos que compõe o sistema judiciário do nosso país. De acordo com o art. 125, caput, da CF, cabe aos Estados membros, por meio das respectivas Constituições e leis de organização judiciária, dispor sobre a organização judiciária estadual, mas obedecendo os princípios e regras da Carta Magna. Tais normas ditadas pelos Estados deverão, também, estar em conformidade com as regras estabelecidas pelo Estatuto da Magistratura, o qual, ainda não foi aprovado. Dessa forma, as diretrizes serão fornecidas pela lei orgânica da magistratura (LC 35/79) que permanece em vigor. O Conselho Nacional de Justiça, instituído pela Emenda Constitucional n. 45/2004, com o objetivo de proteger a missão constitucional do Poder Judiciário e ainda com a finalidade de prevenir desvios de conduta e reprimir atos ilícitos, foi idealizado um órgão para realizar o controle externo do Poder Judiciário. O órgão existe com objetivo de controlar e aperfeiçoar o Poder Judiciário, ao qual compete, dentre outras funções não jurisdicionais, realizar o controle administrativo e financeiro do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais de todos os juízes. Trata-se de um órgão colegiado, presidido pelo Presidente do STF, composto por quinze membros, incluindo representantes do Ministério Público, advogados e cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada. Os membros são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. De acordo a Constituição Federal, os órgãos que compõem o Poder Judiciário atuam principalmente no exercício da função jurisdicional, exceto o CNJ, que tem função administrativa e regulamentar. O art. 92 da CF dispõe que são órgãos do judiciário brasileiro: I- o Supremo Tribunal Federal; Ia- o Conselho Nacional de Justiça; II- o Superior Tribunal de Justiça; III- os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV- os Tribunais e Juízes do Trabalho; V- os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI- os Tribunais e Juízes Militares; VII- os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios (BRASIL, 2016, p. 63). O Supremo Tribunal Federal, ou suprema corte do judiciário brasileiro, não integra nenhuma das espécies de justiça, sendo o tribunal que está acima de todas. Já o Superior Tribunal de Justiça, é o tribunal superior da justiça comum. As justiças especiais possuem cada uma, o seu próprio tribunal superior, o da justiça do trabalho é o Tribunal Superior do Trabalho; da justiça eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral e o da justiça militar o Superior Tribunal Militar. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 56 FIGURA 1- IMAGEM DO STF FONTE: <https://cutt.ly/ydnL2kK>.Acesso em: 20 jul. 2020. FIGURA 2- ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO FONTE: A autora O Supremo Tribunal Federal (STF), é considerado “O Guardião da Justiça”, tem previsão expressa nos arts. 101 a 103 da CF. Esse órgão é considerado a cúpula do Poder Judiciário, responsável pelo controle de constitucionalidade das leis. Cabe ao supremo, a decisão final nas causas que são levadas a sua apreciação. Sua competência abrange todo o território nacional, bem como competência originária e recursal, a ordinária prevista no art. 102, II e extraordinária, art. 102, III, ambos da CF (SILVA, 2019). O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que tem previsão nos arts. 104 e 105 da Constituição Federal (CF), é responsável pela defesa das leis federais infraconstitucionais e por unificar a interpretação legislativa, na hipótese de divergência de entendimentos pelos Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais. É considerado o “guardião da lei federal”. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 57 Assim como o STF é sediado na Capital Federal e sua competência também se estende sobre todo o território nacional. Possui competência origináriae recursal conforme o art. 105. Ao lado STF, funciona como órgão de superposição, já que julga recursos interpostos em processos advindos das esferas estadual e federal (SILVA, 2019). FIGURA 3- IMAGEM DO STJ FONTE: <https://cutt.ly/jdmpZH8>. Acesso em: 20 jul. 2020. Os Juízes de Direito, sejam eles Federais, Estaduais, do Trabalho, eleitorais ou da auditoria militar, são órgãos de primeira instância, responsáveis monocraticamente (a decisão é individual) por apreciar pela primeira vez as causas. Os Tribunais de Justiça (TJs), os Tribunais Regionais Federais (TRFs), Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), são órgãos de segunda instância, também denominados tribunais locais, uma vez que estão situados em determinada localidade. São compostos por órgãos colegiados, que proferem decisão conjunta. Cada um dos Estados da Federação tem o seu próprio TJ, que terá sua composição e organização estabelecida através de seus Códigos de Organização Judiciária. Portanto, conclui-se que cada TJ terá seu próprio meio de composição e organização cartorária. Os outros Tribunais são divididos por regiões. A Justiça Federal, por exemplo, possui cinco regiões do Brasil e, portanto, temos, cinco tribunais regionais federais: TRF 1ª Região com sede em Brasília; TRF 2ª Região com sede no Rio de Janeiro; TRF 3ª Região com sede em São Paulo; TRF 4ª Região com sede em Porto Alegre e TRF 5ª Região com sede em Recife (SILVA, 2019). Os Tribunais Superiores, o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho, o Tribunal Superior Eleitoral e o Superior Tribunal Militar, bem como o Supremo Tribunal Federal, não se enquadram no conceito de instância e estão localizados em Brasília (SILVA, 2019). UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 58 FIGURA 4 - TSE FONTE: <https://cutt.ly/edmaEcP>. Acesso em: 20 jul. 2020. Os processos, em regra, se iniciam perante a um órgão de primeira instância conforme sua competência. Em sequência, se houver recurso, será encaminhado para as instâncias superiores. Pode-se usar como exemplo, uma ação de alimentos que começa perante um Juiz de Direito, responsável por uma Vara de Família. Em havendo recurso contra a sentença, esse recurso será julgado pelo TJ do respectivo Estado. E excepcionalmente, ainda, pode haver recurso, conforme o caso, para o STJ e/ou para o STF (SILVA, 2019). O processo, em regra, deve seguir a linha de vinculação. Assim, um processo que começou perante um juízo federal não terá um recurso julgado por um Tribunal de Justiça. Dessa forma, também, um processo que tramitou perante alguma justiça especial não terá recurso julgado pelo STJ. Entretanto, a Constituição prevê exceção a essa regra. De acordo com o artigo 109, § 1º uma ação previdenciária, que, via de regra é da competência de juízo federal, pode ser proposta perante a justiça estadual, se na comarca não houver vara federal. Porém, se houver recurso contra eventual decisão do juiz de direito será da competência do Tribunal Regional Federal e não do tribunal de Justiça, nos termos do art. 109, § 2º (SILVA, 2019). “A Justiça Estadual comum é estruturada pelas regras estabelecidas na Constituição Federal, em seus arts. 93 a 100 e 125, pelas Constituições Estaduais, que definirão a competência dos Tribunais, bem como pelas respectivas Leis de Organização Judiciária, de acordo com o art. 125, § 1º, da CF” (SILVA, 2019, p. 32). A Justiça Federal de primeira instância é regulada pela Lei de Organização Judiciária Federal, a Lei nº 5.010, de 1966. Cada Estado membro da Federação possui sua própria Lei de Organização Judiciária. A competência dos juízos federais de 1ª instância está prevista no art. 109 da Constituição e a competência dos Tribunais Regionais Federais no artigo 108. A competência da Justiça do Trabalho está definida no art. 114 da CF, enquanto a da Justiça Eleitoral se encontra no 121 e da Justiça Militar no 124 também da Constituição. A justiça militar especial possui competência apenas TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 59 para processar e julgar os “crimes militares” praticados por membros das forças armadas. Já os membros das polícias militares dos Estados e do corpo de bombeiros, ao praticarem crimes militares, serão julgados por órgão da justiça estadual comum, nos termos do art. 125, § 4º da Constituição (SILVA, 2019). 2.3 OS CARTÓRIOS JUDICIAIS COMO BASE DO FUNCIONAMENTO DO JUDICIÁRIO Os cartórios judiciais formam um universo desconhecido da maioria das pessoas, sendo fundamental analisá-los de maneira mais profunda para entendê- los melhor. Porque, por exemplo, uma análise quantitativa, com o objetivo de definir quantos são e onde estão situados, traria pouca informação sobre a realidade que existe por detrás dos balcões dos fóruns. É primordial que, a princípio, se conheça as articulações internas, a organização interna e como o andamento dos processos podem ser afetados. As atribuições das secretarias dos Tribunais, estão diretamente ligadas à Administração Judiciária, que representa o ramo da Administração Pública cujo objeto é a atividade administrativa do Poder Judiciário, abrangendo, também, a ligação com os demais entes estatais e com as entidades sociais. A Emenda Constitucional nº 45 inseriu na esfera constitucional o tema da Administração Judiciária, dispondo no novo art. 103-B, ao atribuir ao Conselho Nacional de Justiça o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário. A organização judiciária é um dos instrumentos de realização da Justiça. Segundo os ensinamentos de Laerte Romualdo de Souza (1990, p. 11): É a ciência que estuda as regras que preveem a existência física dos tribunais e o seu funcionamento, este imposto pelo movimento provocado pelo processo e que não visam à composição da lide. É, dessa forma, a área do Direito que trabalha com o maior número de regras. A doutrina da constituição dos órgãos jurisdicionais e suas serventias, do ponto de vista normativo, é representada pelo conjunto de leis que lhes garantem a continuidade, as condições de trabalho e a fixação de atribuições. A organização judiciária estuda o aparelho judiciário do ponto de vista estático e dinâmico, sem preocupar-se com a intimidade da lide, matéria que interessa à processualística. Visto que cada um dos tribunais tem sua administração e organização próprias, passamos a analisar os seus funcionamentos de modo geral, em conformidade com o estabelecido na Constituição e Leis Federais que tem competência geral sobre todos os órgãos de administração judiciária. Os juízes serão atribuídos as funções primárias de processar e julgar os feitos de sua competência e cumprir cartas precatórias. Entretanto, também devem, promover a gestão da serventia judicial e a fiscalização permanente de UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 60 seus serviços, observando as rotinas administrativas estabelecidas pelo Tribunal de Justiça, zelando por sua eficiência e pelo cumprimento das determinações das autoridades judiciárias superiores; apurar as faltas e aplicar as penas disciplinares da sua competência aos servidores que lhes sejam subordinados, solicitando, quando for o caso, a intervenção da Corregedoria Geral da Justiça; solicitar a transferência ou a remoção de servidor lotado no Juízo de sua titularidade. Além de realizar as correições de sua competência, nos termos das instruções e determinações expedidas pela Corregedoria Geral da Justiça, decidir as reclamações contra atos praticados por serventuários, servidores e auxiliares subordinados; indicar o chefe e seu substituto de serventia do Juízo de que for titular ou daquele vago no qual esteja em exercício e exercer, por designação do Presidente do Tribunal de Justiça, funções de auxílio à Administração Superior do Tribunal de Justiça. Assim, podemos verificar, que toda a parte de administração de cada uma dasvaras é de competência de seu juiz. Que não apenas exerce a função jurisdicional, mas também a de administrador, atuando como uma espécie de “gerente” de suas serventias ou cartórios judiciais. E para o exercício dessas funções, conta com os auxiliares da justiça, conforme estabelece o Código de Processo Civil Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias (BRASIL, 2015, art. 149). O escrivão ou chefe de secretaria, tem como funções de redigir, na forma legal, os ofícios, os mandados, as cartas precatórias e os demais atos que pertençam ao seu ofício; efetivar as ordens judiciais, realizar citações e intimações, bem como praticar todos os demais atos que lhe forem atribuídos pelas normas de organização judiciária, comparecer às audiências ou, não podendo fazê-lo, designar servidor para substituí-lo, conforme o Código de Processo Civil. Deverá, ainda, manter sob sua guarda e responsabilidade os autos, não permitindo que saiam do cartório; fornecer certidão de qualquer ato ou termo do processo, independentemente de despacho, observadas as disposições referentes ao segredo de justiça e praticar, de ofício, os atos meramente ordinatórios. Os cartórios, também, contam os Oficiais de Justiça que tem suas atribuições, também estabelecidas no CPC: Art. 154 - Incumbe ao oficial de justiça: I - fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais diligências próprias do seu ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas, certificando no mandado o ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora; II - executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; III - entregar o mandado em cartório após seu cumprimento; IV - auxiliar o juiz na manutenção da ordem; TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 61 V - efetuar avaliações, quando for o caso; VI - certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de comunicação que lhe couber. Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará a intimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa (BRASIL, 2015, art. 154). Assim, fica o oficial de justiça responsável pela maioria das ações do juízo que precisem ser exercidas fora do ambiente cartorário. É a chamada “longa manus” do juiz, é um executor das ordens judiciais. Os cartórios, ainda, contam com os técnicos judiciários, que é exercida por servidor público do quadro pessoal do Tribunal. Os técnicos são responsáveis por praticar os atos necessários ao impulsionamento oficial dos processos judiciais e administrativos. Para isso, devem observar os comandos e rotinas automatizadas, disponibilizados pelos sistemas e a normatização interno do Poder Judiciário. Exercem atividades de apoio como elaborar relatórios e certidões; redigir e digitar documentos; atendimento ao público; abertura e encerramento de audiências; tramitação de feitos e comunicação entre as partes de um processo. Podendo, também, verificar editais abertos em órgãos como Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal Regional do Trabalho, Tribunal de Justiça, entre outros. Dessa forma, percebe-se que a Secretaria da Vara é responsável pela guarda dos processos em trâmite, desde o cadastramento até a extinção dele, assim, também é responsável pelo cumprimento e efetivação dos atos judiciais, viabilizando as respectivas diligências. O profissional de gerenciamento de serviços jurídicos, poderá atuar em duas formas perante os cartórios judiciais, como servidor público ou como usuário do serviço. A atuação como serventuário da justiça requer, via de regra, aprovação em concurso público e investidura no cargo através da posse. Então, irá atuar como um dos personagens determinados na legislação como auxiliares da justiça. Por outro lado, se o profissional de serviços jurídicos estiver representando um cliente que seja parte em algum processo judicial sua atuação será condicionada a movimentação processual. O profissional poderá comparecer aos cartórios para requerer alguma cópia de documento ou até mesmo dos próprios processos, em serventias em que o processo eletrônico ainda não tenha sido implementado. A sua atuação poderá representar o acompanhamento do cliente em algum ato processual, que seja dispensada a participação do advogado, como por exemplo, acompanhá-lo em alguma perícia a ser realizada no tribunal. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 62 Portanto, é fundamental, antes de comparecer ao cartório judicial estar muito bem informado do andamento processual, com possibilidade de questionar ao serventuário sobre eventual dissonância entre o interesse de seu cliente e o ocorrido. É preciso conhecer a causa, estar a par dos andamentos e principalmente da diligência que deverá ser cumprida naquele momento. Como visto anteriormente, o processo judicial tem um caminho a seguir e em cada uma dessas etapas, terá como referência um cartório que ficará responsável pelo seu processamento e guarda. Garantindo, dessa forma, a uma decisão justa e em conformidade com os princípios constitucionais, em especial o de acesso à justiça. Cartórios: competência dos serviços notariais e registrais Eliane Blaskesi INTRODUÇÃO Identificar a competência de cada serventia notarial e registral nem sempre é simples, para a maioria das pessoas. A lei determina que cada um desses ofícios tem competência exclusiva para lavratura e registro de atos jurídicos, com exclusão de uns pelos outros. Os popularmente chamados “cartórios” prestam serviço público, através de seu agente delegado, trazendo segurança às relações jurídicas, sejam pessoais, sejam patrimoniais. Nem sempre bem vistos pela população, em razão do custo dos serviços, entretanto, colaboram para desafogar, e muito, o poder judiciário e dar agilidade a procedimentos que não dependem do aval público, visto que o legislador tem dado especial atenção a possibilitar que sejam feitos nesta esfera de voluntariedade, muitos procedimentos que até há pouco somente eram possíveis através do Estado-Juiz, além de trazer segurança jurídica aos negócios entabulados. Exemplificando, nos últimos dez anos, foi cometida, à esfera administrativa, a possibilidade de realização de inventário e partilha extrajudiciais, separações e divórcios, usucapião, retificação administrativas de imóveis, arbitragem, entre tantos outros. O presente artigo trata das competências de cada ofício notarial e registral, trazendo a explicação do que é realizado em cada um deles, dada a pouca divulgação e às dúvidas que surgem quando o usuário pretende utilizar algum dos serviços. Não são poucas as pessoas que confundem uns e outros e, por isto, a informação adequada se faz necessária. Inicia-se com a conceituação genérica de cada um dos serviços, para, após, cada um deles ser discriminado, referindo-se às leis que os embasam, bem como escora-se em doutrina existente sobre o assunto. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 63 1 SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS O ordenamento jurídico brasileiro tem como baliza a Constituição Federal de 1988, que, no tocante aos chamados “cartórios” dispõe no artigo 236 que “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”. Note-se que ditos serviços são prestados por profissionais do Direito, sendo competência do bacharel, que presta concurso de provas e títulos para ser investido na delegação de uma serventia e exercem um mister público, porém em caráter privado.A Carta Magna remeteu à lei infraconstitucional a regulamentação da atividade, conforme se infere do § 2º do citado artigo, que diz: “ Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro”.[1] .O legislador pátrio, em 18 de novembro de 1994 aprovou a lei 8.935[2], que veio a reger as atividades, de forma específica e especial. Até então, o ordenamento jurídico tinha somente como regramento a área registral, na Lei Federal 6.015 de 1973, que, contudo, não disciplinava a atividade com relação aos seus agentes, mas tão somente quanto às variadas formas de registros públicos. A atividade era regulada pelas normas das Corregedorias estaduais, as quais tinham e tem diversas formas de interpretação da atividade. De qualquer modo, a edição da chamada Lei dos Notários e Registradores, ou Lei dos Cartórios (Lei 8.935/94), veio trazer segurança, tanto ao agente delegado, quanto ao mundo jurídico como um todo, pois disciplina, de forma exaustiva, os direitos, deveres e competências de cada serventia. Analisar-se-á um a um, iniciando com o Tabelionato de Notas e, após, Tabelionato de Protestos, Registro Civil das Pessoas Naturais, Registro Civil das Pessoas Jurídicas e Especiais, Registro de Títulos e Documentos e Registro de Imóveis, para dirimirem dúvidas do que se realiza em cada um deles. 1.1 FINALIDADE DAS ATIVIDADES NOTARIAIS E REGISTRAIS A Lei dos Notários e Registradores traz, já em seu primeiro artigo, o conceito do que são estes ofícios públicos, ao dizer que “serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”. Por certo que estes profissionais técnicos trazem, ao mundo real, a garantia de que os negócios jurídicos encetados e realizados em sua presença e sob sua supervisão, tem a presunção de veracidade e autenticidade, em virtude da fé pública que reveste sua função. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 64 A finalidade precípua destas atividades é dar efetividade à vontade das partes e trazer publicidade aos atos praticados, tornando mais célere os negócios jurídicos, seja na esfera pessoal ou patrimonial. O sistema jurídico brasileiro prevê a existência de ofícios notariais e registrais, com leis específicas, cuja regulamentação é feita pelo Conselho Nacional de Justiça e pelas Corregedorias de Justiça, a nível estadual. As pesquisas apontam que países que adotam este sistema tem considerável diminuição dos custos com o Poder Judiciário e o legislador brasileiro, ao longo dos anos, vem privilegiando esta possibilidade de escolha das partes, quando preenchem os requisitos previstos em lei, optando por efetivar seus direitos através da via administrativa. 2 TABELIONATO 2.1 TABELIONATO DE NOTAS Por ser o ofício mais antigo, inicia-se o estudo pelo Tabelionato de Notas. Na espécie tabelionato encontra-se ainda, o Tabelionato de Protestos. O primeiro, embora seja a função mais antiga, não tem legislação própria específica, sendo regulado pela atual Lei dos Notários e Registradores (Lei 8.935/94), pelo Código Civil e pelas normas das Corregedorias Estaduais de Justiça, cujas trazem regras específicas dos procedimentos de cada serventia. Já o Tabelionato de Protestos foi contemplado com a Lei 9.492 de 10 de setembro de 1997, que, por ser lei especial, regula a matéria. Além destas normas, os serviços extrajudiciais são regulados pelos provimentos emitidos pelas Corregedorias Gerais de Justiça dos Estados, aos quais devem ser observados, sob pena de, nas correições regularmente feitas, os oficiais sofrerem penalizações. A Constituição Federal de 1988 prevê ainda, que o Conselho Nacional de Justiça tem a função de fiscalização, conforme o artigo 103-b, § 4º, III, in verbis: receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correcional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 65 Diante de tantas normas, muitas delas contraditórias, não se caracteriza como uma função simples de ser exercida, especialmente pela responsabilidade patrimonial que implica, visto que, qualquer ato praticado de forma equivocada pode vir a repercutir negativamente sobre os bens dos usuários destes serviços, razão pela qual a responsabilidade civil com relação a estes é objetiva. A Constituição Federal, no artigo 236 traz que “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público” e que seriam definidos por lei infraconstitucional os demais critérios relativos à responsabilidade civil e criminal, forma de fiscalização, ingresso etc. A Lei Federal 8.935/94, chamada Lei dos Notários e Registradores, veio regulamentar este artigo da Constituição, e traz, em seu bojo, os parâmetros do exercício das atividades notariais e registrais e no artigo 1º diz o conceito: “Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”. Como lei especial que é, trata, no artigo 3º, de definir a atuação destes oficiais, ao dizer que “notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro” e, no artigo 5º, deixa claro que os titulares dos serviços notariais são os tabeliães de notas. O artigo 6º da Lei dos Notários e Registradores traz a competência geral dos tabeliães de notas. Art. 6º Aos notários compete: I - formalizar juridicamente a vontade das partes; II - ntervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo; III - autenticar fatos. O artigo 7º, por sua vez, traz a competência exclusiva, isto é, atos que só podem ser praticados por estes profissionais: Art. 7º Aos tabeliães de notas compete com exclusividade: I - lavrar escrituras e procurações, públicas; II - lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados; III - lavrar atas notariais; IV - reconhecer firmas; V - autenticar cópias. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 66 Complementando a regulamentação da lei sobre a atividade notarial, o artigo 8º estabelece que é livre a escolha do tabelião de notas, qualquer que seja o domicílio das partes ou o lugar de situação dos bens objeto do ato ou negócio e, no artigo 9º, veda a prática de atos de seu ofício fora do Município para o qual recebeu delegação. As corregedorias estaduais têm, em suas normas, a regulação destas atividades. 2.1.1 Competência do tabelião de notas O termo competência aqui está grafado no sentido de função, de atribuição, visando chegar ao resultado pretendido por este estudo, de servir como um guia prático a quem usa ou a quem pesquisa o que é possível fazer nesta espécie de serventia. Cada serventia notarial ou registral, tem atribuições específicas, que só podem ser realizadas nestas, isto é, um tabelião de notas não pode registrar um imóvel ou um documento e o oficial registrador não tem competência para reconhecer firmas, por exemplo, exceto quando os ofícios são aglutinados, ou seja, quando o oficial responde por um tabelionato e um registro, simultaneamente. Dentre as váriasatribuições do tabelião de notas, estão as de reconhecer firmas, autenticar documentos, lavrar escrituras públicas de procuração, compra e venda, permuta, doação, escrituras declaratórias, testamentos e atas notariais. Ressalte-se que existem documentos que são analisados pelo tabelião, tendo sua assinatura reconhecida ou autenticada a fotocópia, por exemplo, e que não ficam arquivados ou com cópias no tabelionato, sendo imediatamente entregues às partes. Por outro lado, existem documentos, chamados instrumentos ou escrituras públicas, que são lavrados nos livros do tabelionato e cujo original fica na serventia, sendo entregue às partes o traslado ou uma certidão. 2.1.2 Atos praticados pelo tabelião de notas O ato mais comum e corriqueiro é reconhecimento de firma, onde o tabelião de notas atesta que determinada assinatura é da pessoa signatária. Existem dois tipos de reconhecimento de firma ou assinatura: por autenticidade (ou verdadeira) ou por semelhança. O tabelião pode atestar ou certificar a autoria de dizeres manuscritos em documento particular, lançados em sua presença, ou que o autor, sendo conhecido do tabelião ou por ele identificado, lhe declare tê-lo escrito. Esse é o reconhecimento de letra. (Rodrigues, 2008). TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 67 Rodrigues (2008), traz o conceito de reconhecimento de firma por chancela mecânica: “Ato pelo qual, o tabelião atesta ou certifica a firma chancelada em documento particular confere com o padrão depositado no tabelionato”. Na prática cartorária, a autenticação de documentos figura-se como um dos atos mais praticados diariamente. Autenticar um documento é comparar o original com a fotocópia apresentada e dizer (o tabelião) que a cópia confere com o original. Para tanto, é imprescindível que, junto com a fotocópia, também seja apresentado o original do documento, pois somente assim é possível fazer a comparação entre os dois. Dentre as figuras jurídicas em desuso, a pública forma é a cópia de um documento, total ou parcial, apresentada para conferência, onde é reproduzido um documento, transformando o tabelião, aquela em instrumento público. Dos instrumentos públicos (escrituras), lavrados pelo tabelião de notas, a procuração (instrumento do mandato) afigura-se como um dos mais usuais. Quando a lei estabelecer a obrigatoriedade do atendimento da forma prescrita, somente terá validade o documento que atendê-la. Em razão disso, em muitos negócios jurídicos, deve ser apresentada a procuração lavrada em tabelionato de notas. É o caso, por exemplo, da procuração com poderes para compra e venda de imóveis, procuração para assinar escritura pública de divórcio, procuração do analfabeto etc. Brandelli (2009, p. 392), explica que “a procuração pública, que é a procuração feita por notário, é espécie de escritura pública, à qual se aplicam os requisitos gerais das escrituras públicas, no que couberem”. A revogação de procuração e renúncia de mandato são instrumentos que visam a extinção do contrato de mandato, e, conforme prevê no artigo 472 do Código Civil, o distrato se faz pela mesma forma do contrato. Seguindo a diretriz do Código Civil, por força do artigo 425, de que é lícito às partes convencionarem contratos atípicos, também o é realizar declaratórias sobre quaisquer circunstâncias em que não haja vedação legal. O fato da declaratória ser feita por escritura pública trazer mais segurança às partes, visto que, em razão da fé pública do tabelião, embora não tenha ele o dever de averiguar a veracidade da declaração, a identidade do declarante e a data da declaração são certificadas pelo profissional, além do original do documento ficar arquivado no tabelionato, o que possibilita que sejam extraídas cópias fiéis do mesmo, em forma de certidão, em caso de extravio. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 68 Como exemplos mais comuns, apresenta-se a escritura declaratória de convivência ou de união estável, escritura declaratória de vida, escritura declaratória de residência, escritura pública declaratória de dependência econômica, escritura pública de compromisso de manutenção (de estrangeiros que vêm a passeio, estudo ou tratamento médico no Brasil), escritura pública declaratória de estado civil. Existem, ainda, as escrituras públicas de reconhecimento de paternidade, de pacto antenupcial, de divisão e extinção de condomínio e de divisão. Dentre as escrituras públicas que visam a modificar, constituir ou transferir direitos, cita-se a de compra e venda, permuta, doação, confissão de dívida, com ou sem garantia, promessa de compra e venda, entre outras. Mais recentemente, foi acometida aos tabeliães de notas a competência de lavrar inventários e divórcios por escritura pública. Testamento público ou cerrado e ata notarial são outros instrumentos que também são lavrados pelos notários. Pelo exposto, é possível verificar que há inúmeras espécies de instrumentos públicos que são lavrados pelo tabelião de notas, não se esgotando, entretanto, nos exemplos dados a sua competência. 2.2 TABELIONATO DE PROTESTO O Tabelionato de Protesto, dentro de sua especialidade, visa, principalmente, dar publicidade do inadimplemento de uma obrigação, no dizer de Camargo (2011). A Lei Federal 9.492 de 1997[6] define competência, regulamenta os serviços concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida e dá outras providências, trazendo para o cenário jurídico a forma de publicar a falta de cumprimento da obrigação pelo devedor. Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida. (Artigo 1º). Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto: as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas. (Parágrafo Único). É competência exclusiva do Tabelião de Protestos, que deve fazer a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 69 A Lei 8.935 de 1994 já disciplinava esta competência, que foi reafirmada na lei especial, que trata exaustivamente da matéria. Uma vez apresentado o título ou documento de dívida, o tabelião de protesto faz o protocolo (apontamento), enviando a intimação ao devedor, através de seu preposto, pelo Correio, com aviso de recebimento ou por edital. Este terá o prazo de três dias úteis para efetuar o pagamento, findos os quais, caso não ocorra o pagamento pelo devedor ou desistência ou sustação, será lavrado o protesto e “os cartórios fornecerão às entidades representativas da indústria e do comércio ou àquelas vinculadas à proteção do crédito, quando solicitada, certidão diária, em forma de relação, dos protestos tirados e dos cancelamentos efetuados, com a nota de se cuidar de informação reservada, da qual não se poderá dar publicidade pela imprensa, nem mesmo parcialmente (artigo 29)”. Como se trata de ofício público, poderão ser fornecidas certidões de protestos, não cancelados, a quaisquer interessados, desde que requeridas por escrito (artigo 31). Ocorrendo o pagamento antes de escoar o prazo, não será lavrado o protesto e o devedor receberá a quitação. Se o devedor não efetuar o pagamento dentro do prazo legal, ocorrendo o protesto e, pagando posteriormente a dívida, “o cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, cuja cópia ficará arquivada (artigo 26)”. Na impossibilidade de apresentação do original dotítulo ou documento de dívida protestado, será exigida a declaração de anuência, com identificação e firma reconhecida, daquele que figurou no registro de protesto como credor, originário ou por endosso translativo (§ 1º). O protesto extrajudicial, realizado no tabelionato especializado representa segurança às relações jurídicas, trazendo ao credor a possibilidade de publicar a inadimplência de obrigações, de forma a garantir o cumprimento destas, pelo devedor que não deseja ter seu crédito abalado. 3 REGISTROS PÚBLICOS Os registros contemplados na Lei Federal 6.015 de 1973[7] trata do Registro Civil das Pessoas Naturais, Registro Civil das Pessoas Jurídicas e Especiais, Registro de Títulos e Documentos e Registro de Imóveis, definindo a competência exclusiva e a especialidade de cada serventia registral. Cada um dos ofícios registrais traz atribuições próprias e elas serão devidamente sintetizadas, para o entendimento do que e onde se buscar realizar o registro específico. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 70 3.1 REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS O Registro Civil das Pessoas Naturais, espécie do gênero registros públicos, é o ofício onde se registra o que diz respeito à pessoa, desde seu nascimento, casamento até o óbito. Nascer, crescer, reproduzir e morrer. A pessoa tem seu histórico de vida registrado neste “cartório”. Conforme anota Camargo: Cartório é o espaço físico (prédio) onde se presta um serviço (público de forma privada) técnico e racionalmente organizado, no qual, sob a responsabilidade de uma pessoa determinada, encontram-se arquivados todos os registros, assentos e livros públicos extrajudiciais, e onde são reproduzidas as alterações a eles atinentes, objetivando garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos, o Cartório de Registro Civil trata das mutações do estado pessoal das pessoas (CAMARGO, 2017, n.p). Santos (2004) esclarece que “o Registro Civil das Pessoas Naturais é atividade exercida por profissionais do Direito, denominados Oficiais de Registro, que prestam serviço público por delegação do Poder Público, após aprovação em concurso público de provas e títulos, nos termos do artigo 236 da Constituição Federal, regulamentado pela Lei 8.935/1994”. Esta especialidade registral está contemplada na Lei dos Registros Públicos (Lei 6.015/73), a partir do artigo 29, onde diz que são registrados os nascimentos e as sentenças de adoção; os casamentos, civis e religiosos com efeitos civis; os óbitos; as emancipações; as interdições; as sentenças declaratórias de ausência e as opções de nacionalidade. Continuando a explanação, Santos (2004) diz que: No livro de registro de nascimento pode ser averbado: o reconhecimento de paternidade ou de maternidade voluntário, a sentença em ação versando sobre a paternidade ou a maternidade, a alteração do nome do registrado, a retificação do registro, a adoção (excetuada a hipótese de adoção de criança ou adolescente, caso em que se averba o cancelamento do registro e se lavra um novo assento), a perda da nacionalidade brasileira e a revogação da perda da nacionalidade brasileira comunicada pelo Ministério da Justiça, a suspensão e a perda do poder familiar, a alteração do patronímico materno em virtude do casamento. A averbação no livro de registro de casamento pode ser, além da retificação, da separação, da reconciliação, do divórcio, da anulação ou nulidade do casamento e da alteração do regime de bens e, como o rol das averbações possíveis não é taxativo, são possíveis outras alterações posteriores do assento. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 71 A Lei dos Registros Públicos, aprovada em 1973 vem sendo constantemente alterada, dada a evolução do direito, dos conceitos de família e da mudança de gênero. Entretanto, não é atualizada, pelo legislador, na mesma velocidade dos avanços sociais e, por isto, deve ser interpretada, estudada e analisada em consonância com as regras dispostas pelo Poder Judiciário, notadamente Supremo Tribunal Federal e Conselho Nacional de Justiça. Exemplo disso é a conversão da união estável em casamento. Lins (2011, p. 33) explica que esta conversão está prevista no artigo 1726 do Código Civil, porém, “não há regulamentação federal que trate como se opera essa conversão”. Neste caso, os conviventes que pretendem se utilizar deste instrumento para o casamento devem requerê-lo perante o Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais de seu domicílio, dando início ao processo de habilitação que, não havendo impugnação, será realizada a conversão nos mesmos moldes do matrimônio. A edição da Resolução 175 do CNJ, em 14 de maio de 2013, reconheceu o casamento de pessoas do mesmo gênero e determinou sua realização pelos registradores civis, de forma compulsória. A Lei dos Registros Públicos e o Código Civil não foram atualizados pelo legislador, para contemplar esta e outras situações, que vêm transformando de forma significativa o ordenamento jurídico. A modificação do gênero, perante o registro civil das pessoas naturais, mediante autodeclaração foi aprovada pelo STF, em 1º de março de 2018. Significa que a pessoa, tendo ou não modificado fisicamente o sexo, poderá, através de pedido junto ao registro civil onde foi feito seu assento, que averbe a mudança de gênero, expedindo a certidão de nascimento com a retificação. O tribunal ainda não fixou data para iniciar a mudança, porém, em tempo não muito longo, após a definição do procedimento jurídico, será possível a alteração, independente de laudos ou outros requisitos que não os definidos em resolução ou provimento, mesmo sem estar expressamente contemplado na Lei dos Registros Públicos. Estas e outras situações recebem interpretação conforme, pelos tribunais, não havendo alteração no texto da lei, razão pela qual, deve ser analisada juntamente com as permissões do direito atual. 3.2 REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS Pessoa jurídica é um sujeito de direito inanimado personalizado, define Lins (2011, p. 29). A existência da pessoa jurídica de direito privado começa com o registro dos atos constitutivos. Em se tratando se sociedade empresária, o registro se dá perante as juntas comerciais dos estados e são reguladas pela Lei Federal 8.934 de 1994. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 72 Estão sujeitos ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública; as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anônimas, os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos. No mesmo cartório será feito o registro dos jornais, periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências de notícias (artigo 114 LRP). O registro público dos meios de comunicação visa evitar a obscuridade e realizar uma forma de cadastramento e controle, pois será considerado clandestino o jornal ou outra publicação periódica, não matriculada ou de cuja matrícula não constem os nomes e as qualificações do diretor ou redator e do proprietário. (Lins, 2011, p. 43) 3.3 REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS O Registro de Títulos e Documentos tem o objetivo de perpetuar e proporcionar publicidade, segurança e eficácia aos negócios realizados entre particulares ou entre particulares e o Estado. (Lins, 2011, p. 7) É o registro residual, isto é, quando não houver previsão taxativa de onde deve ser feito, pode-se registrar em títulos e documentos, visando a conservação do documento ou a oponibilidade contra terceiros. Com efeito, o artigo 127 da Lei 6.015/73, determina que, neste ofício registral será feita a transcrição: dos instrumentos particulares, para a prova das obrigações convencionais de qualquer valor; do penhor comum sobre coisas móveis;da caução de títulos de crédito pessoal e da dívida pública federal, estadual ou municipal, ou de Bolsa ao portador; do contrato de penhor de animais, não compreendido nas disposições do art. 10 da Lei nº 492, de 30- 8-1934; do contrato de parceria agrícola ou pecuária; do mandado judicial de renovação do contrato de arrendamento para sua vigência, quer entre as partes contratantes, quer em face de terceiros (art. 19, § 2º do Decreto nº 24.150, de 20- 4-1934); facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação. Para oponibilidade contra terceiros, a artigo 129 dispõe que estão sujeitos a registro: os contratos de locação de prédios, sem prejuízo do disposto do artigo 167, I, nº 3; os documentos decorrentes de depósitos, ou de cauções feitos em garantia de cumprimento de obrigações contratuais, ainda que em separado dos respectivos instrumentos; as cartas de fiança em geral, feitas por instrumento particular, seja qual for a natureza do compromisso por elas abonado; os contratos de locação de serviços não atribuídos a outras repartições; os contratos de compra e venda em prestações, com reserva de domínio ou não, qualquer que seja a forma de que se revistam, os de alienação ou de promessas de venda referentes a bens móveis e os de alienação fiduciária; todos os documentos de procedência estrangeira, acompanhados das respectivas traduções, para TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 73 produzirem efeitos em repartições da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer instância, juízo ou tribunal; as quitações, recibos e contratos de compra e venda de automóveis, bem como o penhor destes, qualquer que seja a forma que revistam; os atos administrativos expedidos para cumprimento de decisões judiciais, sem trânsito em julgado, pelas quais for determinada a entrega, pelas alfândegas e mesas de renda, de bens e mercadorias procedentes do exterior e os instrumentos de cessão de direitos e de créditos, de sub-rogação e de dação em pagamento. Ao Registro de Títulos e Documentos também foi atribuída a função de realizar as notificações extrajudiciais. Estas, têm o objetivo de que o notificado tome ciência inequívoca e formal dos direitos sobre os quais o notificante alega ser titular, servindo para responsabilizar, provocar provas, prevenir simulações, constituir responsabilidades, chamar à autoria, alegar para depois provar, constituir mora e solicitar cumprimento das obrigações. Uma vez notificado pelo oficial de títulos e documentos ou seu preposto, o notificado não pode alegar ignorância do fato. Este é o meio juridicamente perfeito de dar conhecimento ao notificado. (LINS, 2011, p. 22-23) 3.4 REGISTRO DE IMÓVEIS A Lei 8.935/94, também chamada de Lei dos Cartórios, no artigo 12, estabelece que “aos oficiais de registro de imóveis, de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas, civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas compete a prática dos atos relacionados na legislação pertinente aos registros públicos, de que são incumbidos, independentemente de prévia distribuição, mas sujeitos os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas naturais às normas que definirem as circunscrições geográficas”. O oficial registrador de imóveis é o agente delegado que tem a incumbência de realizar os atos pertinentes a esta serventia extrajudicial, definidos na Lei dos Registros Públicos. O artigo 167 desta lei diz que, além da matrícula serão feitos os seguintes registros: da instituição de bem de família; das hipotecas legais, judiciais e convencionais; dos contratos de locação de prédios, nos quais tenha sido consignada cláusula de vigência no caso de alienação da coisa locada; do penhor de máquinas e de aparelhos utilizados na indústria, instalados e em funcionamento, com os respectivos pertences ou sem eles; das penhoras, arrestos e sequestros de imóveis; das servidões em geral; do usufruto e do uso sobre imóveis e da habitação, quando não resultarem do direito de família; das rendas constituídas sobre imóveis ou a eles vinculadas por disposição de última vontade; dos contratos de compromisso de compra e venda de cessão deste e de promessa de cessão, com ou sem cláusula de arrependimento, que tenham por objeto imóveis não loteados e cujo preço tenha sido pago no ato de sua celebração, ou deva sê-lo a prazo, de uma só vez ou em prestações; da enfiteuse; da anticrese; das UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 74 convenções antenupciais; das cédulas de crédito rural; das cédulas de crédito, industrial; dos contratos de penhor rural; dos empréstimos por obrigações ao portador ou debêntures, inclusive as conversíveis em ações; das incorporações, instituições e convenções de condomínio; dos contratos de promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas condominiais a que alude a Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, quando a incorporação ou a instituição de condomínio se formalizar na vigência desta Lei; dos loteamentos urbanos e rurais; dos contratos de promessa de compra e venda de terrenos loteados em conformidade com o Decreto-lei nº 58, de 10 de dezembro de 1937, e respectiva cessão e promessa de cessão, quando o loteamento se formalizar na vigência desta Lei; das citações de ações reais ou pessoais reipersecutórias, relativas a imóveis; dos julgados e atos jurídicos entre vivos que dividirem imóveis ou os demarcarem inclusive nos casos de incorporação que resultarem em constituição de condomínio e atribuírem uma ou mais unidades aos incorporadores; das sentenças que nos inventários, arrolamentos e partilhas, adjudicarem bens de raiz em pagamento das dívidas da herança; dos atos de entrega de legados de imóveis, dos formais de partilha e das sentenças de adjudicação em inventário ou arrolamento quando não houver partilha; da arrematação e da adjudicação em hasta pública; do dote; das sentenças declaratórias de usucapião; da compra e venda pura e da condicional; da permuta; da dação em pagamento; da transferência, de imóvel a sociedade, quando integrar quota social; da doação entre vivos; da desapropriação amigável e das sentenças que, em processo de desapropriação, fixarem o valor da indenização; da alienação fiduciária em garantia de coisa imóvel; da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas, e respectiva cessão e promessa de cessão; dos termos administrativos ou das sentenças declaratórias da concessão de uso especial para fins de moradia; da constituição do direito de superfície de imóvel urbano; do contrato de concessão de direito real de uso de imóvel público; da legitimação de posse; da conversão da legitimação de posse em propriedade, prevista no art. 60 da Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; da Certidão de Regularização Fundiária (CRF) e da legitimação fundiária. O Inciso II diz que será feita a averbação das convenções antenupciais e do regime de bens diversos do legal, nos registros referentes a imóveis ou a direitos reais pertencentes a qualquer dos cônjuges, inclusive os adquiridos posteriormente ao casamento; por cancelamento, da extinção dos ônus e direitos reais; dos contratos de promessa de compra e venda, das cessões e das promessas de cessão a que alude o Decreto-lei nº 58, de 10 de dezembro de 1937, quando o loteamento se tiver formalizado anteriormente à vigência desta Lei; da mudança de denominação e de numeração dos prédios, da edificação, da reconstrução, da demolição, do desmembramento e do loteamento de imóveis; da alteração do nome por casamento ou por desquite, ou, ainda, de outras circunstâncias que, de qualquer modo, tenham influência no registro ou nas pessoas nele interessadas; dos atos pertinentes a unidades autônomas condominiais a que alude a Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, quando a incorporação tiver sido formalizadaanteriormente à vigência desta Lei; das cédulas hipotecárias; TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 75 da caução e da cessão fiduciária de direitos relativos a imóveis; das sentenças de separação de dote; do restabelecimento da sociedade conjugal; das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade impostas a imóveis, bem como da constituição de fideicomisso; das decisões, recursos e seus efeitos, que tenham por objeto atos ou títulos registrados ou averbados; "ex offício", dos nomes dos logradouros, decretados pelo poder público; das sentenças de separação judicial, de divórcio e de nulidade ou anulação de casamento, quando nas respectivas partilhas existirem imóveis ou direitos reais sujeitos a registro; da rerratificação do contrato de mútuo com pacto adjeto de hipoteca em favor de entidade integrante do Sistema Financeiro da Habitação, ainda que importando elevação da dívida, desde que mantidas as mesmas partes e que inexista outra hipoteca registrada em favor de terceiro; do contrato de locação, para os fins de exercício de direito de preferência; do Termo de Securitização de créditos imobiliários, quando submetidos a regime fiduciário; da notificação para parcelamento, edificação ou utilização compulsórios de imóvel urbano; da extinção da concessão de uso especial para fins de moradia; da extinção do direito de superfície do imóvel urbano; da cessão de crédito imobiliário; da reserva legal; da servidão ambiental; do destaque de imóvel de gleba pública originária; do auto de demarcação urbanística; da extinção da legitimação de posse; da extinção da concessão de uso especial para fins de moradia; da extinção da concessão de direito real de uso, da sub-rogação de dívida, da respectiva garantia fiduciária ou hipotecária e da alteração das condições contratuais, em nome do credor que venha a assumir tal condição na forma do disposto pelo art. 31 da Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997, ou do art. 347 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, realizada em ato único, a requerimento do interessado instruído com documento comprobatório firmado pelo credor original e pelo mutuário. da certidão de liberação de condições resolutivas dos títulos de domínio resolúvel emitidos pelos órgãos fundiários federais na Amazônia Legal; do termo de quitação de contrato de compromisso de compra e venda registrado e do termo de quitação dos instrumentos públicos ou privados oriundos da implantação de empreendimentos ou de processo de regularização fundiária, firmado pelo empreendedor proprietário de imóvel ou pelo promotor do empreendimento ou da regularização fundiária objeto de loteamento, desmembramento, condomínio de qualquer modalidade ou de regularização fundiária, exclusivamente para fins de exoneração da sua responsabilidade sobre tributos municipais incidentes sobre o imóvel perante o Município, não implicando transferência de domínio ao compromissário comprador ou ao beneficiário da regularização. A Lei dos Registros Públicos determina os livros que integrarão o ofício, bem como detalha todas as situações a eles pertinentes. O Registro de Imóveis destina-se ao registro e averbação dos títulos ou atos ou fatos inter vivos ou mortis causa, constitutivos, translativos ou extintivos de direitos reais, a fim de assegurar-lhes validade, eficácia erga omnes e disponibilidade. (Lei dos Registros Públicos, Art. 172 e CNNR/RS, Art. 314, § único). (PAIVA, p.6) UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 76 Informa o registrador imobiliário que são basicamente quatro espécies de atos registrais demandados ao Registro de Imóveis: abertura de matrículas; registros; averbações; notícias. Dentro da gama de atribuições afetadas ao ofício registral imobiliário, destaca-se o registro da transmissão e aquisição propriedade de bens imóveis, bem como de direitos reais a ela relativos, de bem de família, incorporação imobiliária, registro de penhora, e cédulas de crédito, direitos reais de garantia, como hipoteca, penhor, anticrese e averbações, tais como mudança de estado civil do proprietário, averbações de nomes de rua, quarteirão etc., constando o rol dos registros e averbações permitidos na Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73). A eficácia e segurança obtidos com o registro de imóveis tem por base a observância dos princípios registrais, dentre eles, o da continuidade, da prioridade, da instância, da inscrição, da publicidade, da unitariedade, da especialidade, da legalidade, da presunção e da fé pública e do consentimento formal. (LINS, 2011, p. 12-13) CONCLUSÃO Diante do que foi visto, os serviços notariais e registrais mostram-se instrumento importante e imprescindível para a segurança jurídica, trazendo aos seus usuários a certeza de que os atos ali praticados alcançarão o objetivo intentado. Ao realizar atos em serviços notarias, além da publicidade alcançada, a atenção à forma prescrita em lei estará atendida, os documentos públicos gozarão de fé pública e estarão disponíveis para requerimento de certidões pelo interessado e os documentos particulares terão a veracidade da assinatura declarada, no caso de reconhecimento de firma e a certeza da autenticidade da fotocópia, conferida com o original. No Tabelionato de Protesto, o credor alcançará a publicidade do inadimplemento do dever, conseguindo, desta forma, pressioná-lo ao pagamento, para que não conste no rol dos maus pagadores. A comprovação do estado da pessoa, realizada através do registro perante o Ofício Registral Civil, importa em conferir personalidade jurídica, mediante atestado pelo registrador competente, do nascimento, casamento, óbito, emancipação, interdição, separação, divórcio e todas as mudanças ocorridas ao longo da vida da pessoa natural. Com as constantes alterações, o registro civil tem sua importância cada vez mais acentuada, porque, tratando-se de um registro público, é possibilitado a qualquer pessoa requerer certidões para obter informações de seu interesse, especialmente em época de mudanças cada vez mais aceleradas, em cumprimento ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, direito ao nome e a proteção à personalidade, de forma que uma pessoa que usava um nome possa vir a mudá-lo e quem nasceu e foi registrado como integrante de um sexo, pode vir a se registrar com outro. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 77 A lei distingue pessoas naturais de pessoas jurídicas, esta última, ficção jurídica criada pelo ordenamento jurídico e que poderá ser empresária ou não. Tratando-se de pessoa jurídica empresária, é tratada por legislação própria, dentro do Direito Empresarial e pela Lei Federal 8.934 de 1994. Quando é pessoa jurídica não empresária, é remetida à Lei dos Registros Públicos sua regulamentação e seu registro é feito no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, onde também são objetos de publicidade jornais, periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências de notícias. A determinação da atribuição de cada ofício notarial e registral está prevista em lei e, quando esta não especifica onde deverá ser efetuado o registro, de forma residual, o Registro de Títulos e Documentos afigura-se como solução, pois neste poderá ser feito o registro, além dos atos previstos expressamente na Lei dos Registros Públicos, também de qualquer outro que não seja contemplado como especialidade própria cometida a um ofício registral na legislação. O registrador de Títulos e Documentos possui, ainda, a competência de notificar, de forma extrajudicial, para ciência de alguém que deverá cumprir obrigação não atendida, bem como de qualquer ato de que, de maneira inequívoca, sua fé pública irá tornar incontestável o conhecimento. Os bens imóveis, chamados bens de raiz, são amplamente protegidos pelo ordenamento jurídico pátrio, tanto no direito material quanto no processual, pois a transmissão da propriedadeimóvel se dá com o registro do título translativo. A Lei dos Registros Públicos regra de forma ampla esta proteção, trazendo os atos que serão registrados e averbados no referido ofício. A falta do registro implica em não transmissão da propriedade, além das consequências que o adquirente negligente possa vir a sofrer, em caso de não o realizar. Além dos imóveis, outros direitos e atos poderão ser objeto de registro imobiliário, conforme determinação do legislador e estão previstos na lei especial. A segurança jurídica que os ofícios notariais e registrais trazem ao ordenamento jurídico, às partes, à proteção dos direitos e a certeza de sua veracidade, em razão da fé pública de seus agentes são incontestáveis, fazendo que estes serviços estejam dentre os mais confiáveis perante os usuários. Embora muitos atos não tenham sua realização obrigatória, torna-se importante que sejam efetuados perante profissionais especializados, evitando- se litígios futuros, agindo de forma preventiva, trazendo segurança jurídica e contribuindo para a paz social. FONTE: BLASKESI, Eliane. Cartórios: competência dos serviços notariais e registrais. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 24, n. 5694, 2 fev. 2019. Disponível em: https://jus.com.br/arti- gos/68267/cartorios-competencia-dos-servicos-notariais-e-registrais.. Acesso em: 18 jun. 2020. 78 Neste tópico, você aprendeu que: • Todos temos o direito de exigir a prestação jurisdicional, garantido na Constituição. • A jurisdição é monopólio do Estado, e que esta função significa, basicamente, que o Estado juiz ao ser provocado aplicará o direito ao caso concreto, solucionando o conflito de forma justa e alcançar a paz social. • A jurisdição tem características que a diferenciam das demais funções estatais. Como, por exemplo, ser classificada quanto à natureza da pretensão (Civil e Penal); quanto ao grau em que é exercida (Inferior e superior); quanto à submissão ao direito (de direito e de equidade); quanto ao órgão que exerce (comum e especial); e quanto à presença de lide (contenciosa e voluntária). • Existem princípios que regem a atividade jurisdicional e a estrutura judiciária brasileira. • A Jurisdição é una e indivisível e que todos os órgãos jurisdicionais exercem jurisdição. Mas, cada órgão exerce dentro dos limites de sua competência, sendo que as regras de competência estabelecem critérios de divisão de trabalho que devem ser obedecidos para que um órgão possa exercer a atividade jurisdicional de forma válida. • Devemos analisar se o Brasil possui competência. • Após a descoberta da competência do Brasil, teremos que verificar a competência interna, ou seja, qual órgão do judiciário brasileiro possui competência e que para tal verificação são utilizados diversos critérios. • Temos os critérios absolutos, que obrigatoriamente precisam ser respeitados (matéria, pessoa e função), sob pena de incompetência absoluta; e os critérios relativos, que podem ser deixados de lado por vontade das partes (território e valor da causa), porém o desrespeito pode acarretar na incompetência relativa. RESUMO DO TÓPICO 1 79 1 (CESPE/CEBRASPE, 2018, STJ). A respeito da jurisdição, julgue o item que a seguir: O princípio do juiz natural, ao impedir que alguém seja processado ou sentenciado por outra que não a autoridade competente, visa coibir a criação de tribunais de exceção. FONTE: <lhttps://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/9887e703-42>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Errado b) ( ) Certo 2 (FGV, 2015, TJ-BA) A jurisdição representa uma atividade estatal voltada à composição dos conflitos de interesses. No Brasil, uma das características fundamentais da jurisdição é a: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/4ded5868-aa>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Inércia b) ( ) Diametricidade c) ( ) Eleição direta d) ( ) Dualidade 3 (CEPUERJ, 2010, DPE-RJ) SÁVIO é titular de uma linha telefônica junto a concessionária de serviço público de telefonia. Em agosto de 2010, percebeu que desde janeiro do referido ano vinha recebendo suas faturas mensais em duplicidade, tendo efetuado o pagamento de todos os boletos que recebera. Indignado, procurou a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, que prontamente ajuizou ação judicial com vistas à compensação dos danos sofridos por SÁVIO. Sabendo-se que a demanda foi proposta apenas contra a concessionária de serviço público, é CORRETO afirmar que a competência para julgar o feito é do(a): FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/d7c9b143-2a>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Justiça Federal b) ( ) Justiça Estadual c) ( ) Juizado Especial Federal d) ( ) Juizado Especial Criminal AUTOATIVIDADE 80 4 (CESPE, 2018, STJ) De acordo com norma presente no art. 286, inciso II do Código de Processo Civil (CPC), que trata da prevenção do juízo, devem ser distribuídas por dependência as causas de qualquer natureza “quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda". Essa regra objetiva dar efetividade ao princípio: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/78990168-3f>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Do contraditório b) ( ) Da inércia c) ( ) Da unidade d) ( ) Do Juiz natural e) ( ) Da duração razoável do processo 81 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Os cartórios extrajudiciais, ou serventias extrajudiciais, existem com a finalidade de que sejam praticados inúmeros atos extrajudiciais, como escrituras, registro de imóveis, registro de nascimento, casamento, dentre outros. São regidos por leis, sempre obedecendo a hierarquia das normas. Assim, em primeiro plano está a Constituição Federal e a emenda constitucional, seguida da Lei complementar, ordinária, delegada, medida provisória, decreto legislativo e resolução. Em sequência surgem os atos infralegais, como decretos; portarias; códigos de normas, os quais têm a função de regulamentar a lei que lhes é superior. A Lei nº 6015 de 1973, conhecida como Lei de Registros Públicos, regulamenta as atividades notariais. Essa lei separa a atribuição dos cartórios extrajudiciais, conferindo-lhes a importância de tal atividade. O art. 236 da Constituição dispões que “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público” (BRASIL, 2016, p. 136). Assim os serviços são prestados por profissionais do Direito, sendo competência do bacharel, que presta concurso de provas e títulos para ser investido na delegação de uma serventia e exercem um mister público, porém em caráter privado. O parágrafo segundo daquele mesmo artigo da constituição estabelece que “Lei Federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro” (BRASIL, 2016, p. 136). Assim, foi editada em 18 de novembro de 1994 a Lei nº 8.935, que veio a reger as atividades, de forma específica e especial. Até então, somente a Lei de Registros Públicos regulamentava a atividade notarial, mas não disciplinava a atividade com relação aos seus agentes. Apenas regulamentava às variadas formas de registros públicos. Sendo que atividade ficava regida por normas das Corregedorias estaduais, as quais tinham e tem diversas formas de interpretação da atividade. A edição da Lei dos Notários e Registradores, ou Lei dos Cartórios (Lei 8.935/94), trouxe maior segurança, para os agentes delegados, quanto ao mundo jurídico como um todo, pois disciplina, exaustivamente, os direitos, deveres e competências de cada serventia. TÓPICO 2 — ATENDIMENTO NOS CARTÓRIOS E EXTRAJUDICIAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS. 82 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS O artigo primeiro da Lei nº 8.935/94, a Lei dos Notários dispõe que “serviços notariais e de registrosão os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos” (BRASIL, 1994b, art. 1°). Conceituando, assim o que são tais ofícios públicos. Assim, os profissionais técnicos de cartório, tem a função de operabilizar a garantia de que os negócios jurídicos encetados e realizados em sua presença e sob sua supervisão, tem a presunção de veracidade e autenticidade, em virtude da fé pública que reveste sua função. O Conselho Nacional de Justiça e as Corregedorias de Justiças Estaduais são responsáveis pela regulamentação das atividades dos oficiais notariais, bem como dos registrais. O legislador brasileiro optou por esse tipo de sistema por representar custo menor ao Poder Judiciário. 2 TABELIONATO DE NOTAS O Tabelionato de Notas é o ofício mais antigo, porém, não possui legislação específica. regulado pela atual Lei dos Notários e Registradores (Lei 8.935/94), pelo Código Civil e pelas normas das Corregedorias Estaduais de Justiça, cujas trazem regras específicas dos procedimentos de cada serventia. As Corregedorias Gerais de Justiça dos Estados mediante seus provimentos, estabelecem normas a serem seguidas pelos serviços extrajudiciais, podendo os oficiais serem penalizados, caso as correições feitas com regularidade, percebam alguma irregularidade na prestação do serviço. Assim, o profissional de serviço jurídico que preste serviço aos cartórios extrajudiciais deverá estar afinado coma legislação e com a regulamentação de suas atividades, para evitar ser submetido à alguma penalidade imposta pela Corregedoria. Como visto anteriormente, a Constituição atribui ao Conselho Nacional de justiça, função de fiscalização: Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: [...] § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura: [...] III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correcional dos tribunais, TÓPICO 2 — ATENDIMENTO NOS CARTÓRIOS E EXTRAJUDICIAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS. 83 podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa (BRASIL, 2016, p. 71-72). Não estamos diante de uma função muito fácil de ser exercida. Afinal é regida por diversas normas, sendo que algumas são contraditórias. Esse serviço, ainda, envolve a responsabilidade patrimonial relacionada, visto que, qualquer ato praticado de forma equivocada pode vir a repercutir negativamente sobre os bens dos usuários destes serviços. O legislador, então, determinou que a responsabilidade do oficial de registro, na prática de seus atos, seja a responsabilidade civil objetiva. Para melhor entendimento analisa-se as palavras do Professor Sérgio Cavalieri: Responsabilidade subjetiva e objetiva A ideia de culpa está visceralmente ligada à responsabilidade, por isso que, de regra, ninguém pode merecer censura ou juízo de reprovação sem que tenha faltado com o dever de cautela em seu agir. Daí ser a culpa, de acordo com a teoria clássica, o principal pressuposto da responsabilidade civil subjetiva. O Código Civil de 2002, em seu art. 186 (art. 159 do Código Civil de 1916), manteve a culpa como fundamento da responsabilidade subjetiva. A palavra culpa está sendo aqui empregada em sentido amplo, lato sensu, para indicar não só a culpa stricto sensu, como também o dolo. Por essa concepção clássica, a vítima só obterá a reparação do dano se provar a culpa do agente, o que nem sempre é possível na sociedade moderna. O desenvolvimento industrial, proporcionado pelo advento do maquinismo e outros inventos tecnológicos, bem como o crescimento populacional geraram novas situações que não podiam ser amparadas pelo conceito tradicional de culpa. Importantes trabalhos vieram, então, à luz na Itália, na Bélgica e, principalmente, na França sustentando uma responsabilidade objetiva, sem culpa, baseada na chamada teoria do risco, que acabou sendo também adotada pela lei brasileira em certos casos, e agora amplamente pelo Código Civil no parágrafo único do seu art. 927, art. 931 e outros, como haveremos de ver (CAVALIERI FILHO, 2020, p. 25). Isso significa, dizer que se o ato praticado pelo oficial de registro causar dano a um usuário do serviço, o prestador de serviço responderá pelo dano, mesmo que não tenha agido com culpa. Basta que fique comprovado que o dano sofrido tenha nexo de causalidade com o condutado agente, surgindo o dever de indenizar. “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”, dispõe o art. 236 da Constituição. Os critérios seriam definidos por lei infraconstitucional os demais critérios relativos à responsabilidade civil e criminal, forma de fiscalização, ingresso etc. Assim, a Lei nº 8.935/94, conhecida como Lei dos Notários e Registradores, regulamentou esse artigo da Constituição, trazendo, logo, no art. 1º os critérios de exercício das atividades registrais e notariais. “Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos” (BRASIL, 1994b, art. 1°). 84 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS O artigo 3º da mesma Lei, trata da atuação desses oficiais, “notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro” BRASIL, 1994b) e, no artigo 5º, deixa claro que os titulares dos serviços notariais são os tabeliães de notas. Já a competência geral dos tabeliões de notas está disciplinada no art. 6º da Lei nº 8.935/94. Art. 6º Aos notários compete: I - formalizar juridicamente a vontade das partes; II - intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo; III - autenticar fatos (BRASIL, 1994b, art. 6°). Os atos que podem ser praticados apenas por esses profissionais, dizem- se de competência exclusiva e estão disciplinados no art. 7º da mesma lei: Art. 7º Aos tabeliães de notas compete com exclusividade: I - lavrar escrituras e procurações, públicas; II - lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados; III - lavrar atas notariais; IV - reconhecer firmas; V - autenticar cópias (BRASIL, 1994b, art. 7°). O artigo 8º da Lei nº 8.935/94, estabelece que é “livre a escolha do tabelião de notas, qualquer que seja o domicílio das partes ou o lugar de situação dos bens objeto do ato ou negócio”. O artigo 9º, do mesmo diploma legal, veda a prática de atos de seu ofício fora do Município para o qual recebeu delegação. A Competência do Tabelião de Notas, sendo que o termo competência está sendo utilizado para determinar as atribuições do oficial. Assim, a serventia notarial ou registral tem atribuições específicas, que só podem ser realizadas nestas, ou seja, o tabelião de notas não pode registrar um imóvel, por exemplo. Exceto quando os ofícios são aglutinados, o oficial responde por um tabelionato e um registro simultaneamente. O tabelião de notas tem como principais atribuições reconhecer firmas, autenticar documentos, lavrar escrituras públicasde procuração, compra e venda, permuta, doação, escrituras declaratórias, testamentos e atas notariais. Vale lembrar que, muitos documentos que são analisados pelo tabelião, tendo sua assinatura reconhecida ou autenticada a fotocópia, por exemplo, e que não ficam arquivados ou com cópias no tabelionato, sendo imediatamente entregues às partes. Entretanto, existem documentos, chamados instrumentos ou escrituras públicas, que são lavrados nos livros do tabelionato e cujo original fica na serventia, sendo entregue às partes o traslado ou uma certidão. TÓPICO 2 — ATENDIMENTO NOS CARTÓRIOS E EXTRAJUDICIAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS. 85 Como dito anteriormente, um dos atos mais comuns praticados pelo tabelião de notas é o reconhecimento de firma, que é o reconhecimento de uma assinatura. O reconhecimento de firma pode-se dar por autenticidade ou semelhança. O reconhecimento de letra se dá quando o tabelião atesta ou certifica a autoria de assinaturas, em documentos particulares, feitos na sua presença. Ou, ainda, que o autor seja conhecido do tabelião, ou identificado por ele e declare ter lançado tal escrito. O reconhecimento de firma, por chancela eletrônica é conceituado por Rodrigues como “Ato pelo qual o tabelião atesta ou certifica a firma chancelada em documento particular confere com o padrão depositado no tabelionato” (RODRIGUES, 2008, s.p.). Outro ato muito comum a ser praticado nos cartórios de Ofício de Notas é a autenticação de documentos, que consiste em comparar o documento original com a fotocópia apresentada e dizer, o tabelião, que a cópia confere com o original. Sendo fundamental a apresentação do documento original, juntamente com a cópia, para que a comparação possa ser feita de maneira correta. A chamada pública formal é a cópia, absoluta ou parcial, de um documento, apresentada para conferência. Tal documento será reproduzido pelo tabelião transformando-o em um instrumento público. Essa figura, atualmente, não é muito praticada, caindo em desuso. A procuração é o instrumento pelo qual, se efetiva o contrato de mandato, sendo um dos documentos mais comuns a serem lavrados pelo tabelião de notas. É muito comum que comum que para celebração de negócios jurídicos, seja exigido procuração feita mediante escritura pública, como, por exemplo, para compra e venda de imóveis. FIGURA 5 – PROCURAÇÃO PÚBLICA FONTE: <https://cutt.ly/Vdmc44k> Acesso em: 20 jul. 2020. 86 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS “A procuração pública, que é a procuração feita por notário, é espécie de escritura pública, à qual se aplicam os requisitos gerais das escrituras públicas, no que couberem” (BRANDELLI, 2009, p. 392). Assim, o tabelião, antes de legitimar a procuração, deverá diligenciar, no sentido de avaliar, se todos os requisitos formam preenchidos. Vale lembrar que a revogação da procuração, bem como a renuncia ao mandato, são atos praticados para extinção do contrato de mandado e desta forma devem ser celebrados mediante escritura pública, conforme determinação do artigo 472 do Código Civil, que dispõe que “O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato” (BRASIL, 2002). Cumpre esclarecer que o artigo 425 do Código Civil estabelece que “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”. Desta forma, podem ser celebrados contratos e podem ser feitas declaratório que não estejam previstas em lei, desde que não contrariem a legislação vigente. Assim, muitos optam por celebrar contratos atípicos, bem como atos declaratórios, mediante escritura pública, como forma de trazer maior segurança aos contratantes. Pois, em razão da fé pública do tabelião, embora não tenha ele o dever de averiguar a veracidade da declaração, a identidade do declarante e a data da declaração são certificadas pelo profissional. Vale lembrar que o original do documento ficar arquivado no tabelionato, o que possibilita que sejam extraídas cópias fiéis dele, em forma de certidão, em caso de extravio. Comumente são celebradas mediante o tabelião de notas a escritura declaratória de convivência ou de união estável, escritura declaratória de vida, escritura declaratória de residência, escritura pública declaratória de dependência econômica, escritura pública de compromisso de manutenção, de estrangeiros que vêm a passeio, estudo ou tratamento médico no Brasil e escritura pública declaratória de estado civil. São comuns, também, as escrituras públicas de reconhecimento de paternidade, de pacto antenupcial, os contratos de namoro, as declaratórias de divisão e extinção de condomínio e de divisão. Existem as escrituras públicas que visam a modificar, constituir ou transferir direitos. Cita-se a de compra e venda, permuta, doação, confissão de dívida, com ou sem garantia, promessa de compra e venda, entre outras. Passaram a ser atribuições do tabelião de notas lavrar inventários e divórcios por escritura pública. Os testamentos público ou cerrado e ata notarial, são outros instrumentos que também são lavrados pelos notários. Podemos, portanto, perceber que existem diversas espécies de instrumentos públicos que são lavrados pelo tabelião de notas, não se esgotando, entretanto, nos exemplos dados a sua competência. TÓPICO 2 — ATENDIMENTO NOS CARTÓRIOS E EXTRAJUDICIAIS E SUAS ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS. 87 3 TABELIONATO DE PROTESTO O Tabelionato de Protestos tem como atribuição principal dar publicidade a estância do inadimplemento de uma obrigação. Inadimplemento da obrigação é a falta da prestação devida. Conforme a sua natureza (de dar, de fazer, de não fazer), o devedor está adstrito à entrega de uma coisa, certo ou incerta, à prestação de um fato, a uma abstenção. Qualquer que seja esta prestação, o credor tem direito ao seu cumprimento, tal como constitui seu objeto, o que envolve o poder do credor, a que o devedor se submete, pela própria força do iuris vinculum. Quando se impossibilita a prestação, duas hipóteses podem ocorrer: ou a impossibilidade é inimputável ao sujeito passivo, e resulta pura e simplesmente a extinção da obrigação sem outras consequências; ou o devedor é responsável pelo não cumprimento, e então cabe ao credor exercer sobre o patrimônio do devedor o poder de suprir a ausência da prestação, direta ou indiretamente. Dentro de um plano de exposição sistemática, diz-se que a impossibilidade pode ser subjetiva, se se refere às circunstâncias pessoais ligadas ao devedor ou ao credor; ou objetiva, se atinge a prestação em si mesma, e se subdivide, à sua vez, em impossibilidade objetiva natural, quando afeta a prestação um acontecimento de ordem física, e impossibilidade objetiva jurídica, quando se antepõe à prestação um obstáculo originário do próprio ordenamento.1 É claro que, neste passo, excogitamos da impossibilidade superveniente ou subsequente É esta, e somente ela, que se conta no ângulo de visada, quando se doutrina do não cumprimento do obrigado. A outra, a impossibilidade originária, diz respeito à própria formação do vínculo, conduz à ineficácia do negócio jurídico por falta de objeto, e já mereceu a nossa atenção no nº 109, supra, vol. I Embora as duas ideias se aproximem, devem distinguir-se, dentro de puro rigor técnico, o inadimplemento e a impossibilidade da prestação, ligando-se o primeiro à noção de uma falta cometida pelo devedor, e a segunda à ausência de participação sua na inexecução do obrigado (PEREIRA, 2018, p. 298). A Lei nº 9.492/97 define a competência, regulamenta os serviços concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida e dá outras providências, permitindo a publicidade da ocorrência do descumprimento de uma obrigação. Definindo o Protesto como “Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida” (BRASIL, 1997, art. 1°). O Tabelião de Protestos tem competênciaexclusiva de promover a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida. Além de lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo. O oficial procederá às averbações, prestará informações e fornecerá certidões relativas a todos os atos praticados. A competência do Tabelião de Protestos é estabelecida, de maneira taxativa pela Lei nº 8.935/94 e essa competência foi reafirmada na lei espacial Lei nº 9.492/97, que trata exaustivamente do tema. 88 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS O título ou documento da dívida deve ser apresentado ao tabelião de protestos, que faz um protocolo e envia ao devedor uma intimação via postal com aviso de recebimento, ou, por edital, caso não seja conhecido o domicilio do devedor. Após o recebimento da intimação o devedor inadimplente terá o prazo de três dias úteis para efetuar o pagamento. Passado o prazo, caso não ocorra o pagamento pelo devedor ou desistência ou sustação, será lavrado o protesto. Art. 29. Os cartórios fornecerão às entidades representativas da indústria e do comércio ou àquelas vinculadas à proteção do crédito, quando solicitada, certidão diária, em forma de relação, dos protestos tirados e dos cancelamentos efetuados, com a nota de se cuidar de informação reservada, da qual não se poderá dar publicidade pela imprensa, nem mesmo parcialmente. § 1o O fornecimento da certidão será suspenso caso se desatenda ao disposto no caput ou se forneçam informações de protestos cancelados. § 2º Dos cadastros ou bancos de dados das entidades referidas no caput somente serão prestadas informações restritivas de crédito oriundas de títulos ou documentos de dívidas regularmente protestados cujos registros não foram cancelados (BRASIL, 1997, art. 29). Sendo o Tabelionato de Protestos um ofício público poderá fornecer certidões, a quem interessar, conforme artigo 31 da Lei nº 9.492/97 “Poderão ser fornecidas certidões de protestos, não cancelados, a quaisquer interessados, desde que requeridas por escrito” (BRASIL, 1997). Tais certidões poderão fundamentar ações de execução judiciais, ou mesmo justificar negativas de créditos. Cumpre esclarecer que, se ocorrer o pagamento dentro do prazo de três dias, o protesto não será lavrado e o devedor receberá a quitação da dívida. Entretanto, se o pagamento ocorrer após o prazo legal, ou seja, após a ocorrência do protesto, seguirá a regra do artigo 26 da Lei nº 9.492/97. Art. 26. O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, cuja cópia ficará arquivada. § 1º Na impossibilidade de apresentação do original do título ou documento de dívida protestado, será exigida a declaração de anuência, com identificação e firma reconhecida, daquele que figurou no registro de protesto como credor, originário ou por endosso translativo. § 2º Na hipótese de protesto em que tenha figurado apresentante por endosso-mandato, será suficiente a declaração de anuência passada pelo credor endossante. § 3º O cancelamento do registro do protesto, se fundado em outro motivo que não no pagamento do título ou documento de dívida, será efetivado por determinação judicial, pagos os emolumentos devidos ao Tabelião. § 4º Quando a extinção da obrigação decorrer de processo judicial, o cancelamento do registro do protesto poderá ser solicitado com a apresentação da certidão expedida pelo Juízo processante, com menção do trânsito em julgado, que substituirá o título ou o documento de dívida protestado. § 5º O cancelamento do registro do protesto será feito pelo Tabelião titular, por seus Substitutos ou por Escrevente autorizado. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 89 § 6º Quando o protesto lavrado for registrado sob forma de microfilme ou gravação eletrônica, o termo do cancelamento será lançado em documento apartado, que será arquivado juntamente com os documentos que instruíram o pedido, e anotado no índice respectivo (BRASIL, 1997, art. 26). Assim, o protesto extrajudicial significa, principalmente, segurança para as relações jurídicas. Pois, permite ao credor de uma obrigação dar publicidade de seu crédito inadimplido pelo devedor. Garantindo, o cumprimento da obrigação por parte do devedor, que não pretende que ser crédito seja maculado. 4 REGISTROS PÚBLICOS Os Cartório de Registros Públicos dividem-se em: Registro Civil das Pessoas Naturais, Registro Civil das Pessoas Jurídicas e Especiais, Registro de Títulos e Documentos e Registro de Imóveis, cuja competência exclusiva está definida na Lei nº 6.015, de 1973. Cada uma das serventias registrais tem atribuição própria que será estudado em seguida. 4.1 REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS O Registro Civil da Pessoas Naturais, também chamado de RCPN, é uma das espécies de registros públicos existentes no Brasil. Nesse cartório devem ser registrados todos os atos referentes ao estado da pessoa, como nascimento, casamento e morte. Ficando, assim, o histórico de ida da pessoa natural registrada nesse cartório, dando publicidade de sua existência. Cartório é o espaço físico (prédio) onde se presta um serviço (público de forma privada) técnico e racionalmente organizado, no qual, sob a responsabilidade de uma pessoa determinada, encontram-se arquivados todos os registros, assentos e livros públicos extrajudiciais, e onde são reproduzidas as alterações a eles atinentes, objetivando garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos, o Cartório de Registro Civil trata das mutações do estado pessoal das pessoas (CAMARGO, 2017, s.p.). O Registro Civil das Pessoas Naturais é atividade exercida, exclusivamente por Oficiais de Registro, prestadores de serviço público por delegação do Poder Público. Devem ser submetidos a concurso público de provas e títulos, nos termos do artigo 236 da Constituição Federal, regulamentado pela Lei 8.935/1994. Tornando-se, assim, um servido público. As atribuições do RCPN estão elencadas no artigo 29 da Lei de Registros Públicos: UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 90 Art. 29. Serão registrados no registro civil de pessoas naturais: I - os nascimentos; II - os casamentos; III - os óbitos; IV - as emancipações; V - as interdições; VI - as sentenças declaratórias de ausência; VII - as opções de nacionalidade; VIII - as sentenças que deferirem a legitimação adotiva. § 1º Serão averbados: a) as sentenças que decidirem a nulidade ou anulação do casamento, o desquite e o restabelecimento da sociedade conjugal; b) as sentenças que julgarem ilegítimos os filhos concebidos na constância do casamento e as que declararem a filiação legítima; c) os casamentos de que resultar a legitimação de filhos havidos ou concebidos anteriormente; d) os atos judiciais ou extrajudiciais de reconhecimento de filhos ilegítimos; e) as escrituras de adoção e os atos que a dissolverem; f) as alterações ou abreviaturas de nomes. § 2º É competente para a inscrição da opção de nacionalidade o cartório da residência do optante, ou de seus pais. Se forem residentes no estrangeiro, far-se-á o registro no Distrito Federal. § 3o Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas. § 4o O convênio referido no § 3o deste artigo independe de homologação e será firmado pela entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência territorial do órgão ou da entidade interessada. (Lei nº 6.015/73) Santos (2004 apud BLASKESI, 2019, p. 2) afirma que: No livro de registro de nascimento pode ser averbado: o reconhecimentode paternidade ou de maternidade voluntário, a sentença em ação versando sobre a paternidade ou a maternidade, a alteração do nome do registrado, a retificação do registro, a adoção (excetuada a hipótese de adoção de criança ou adolescente, caso em que se averba o cancelamento do registro e se lavra um novo assento), a perda da nacionalidade brasileira e a revogação da perda da nacionalidade brasileira comunicada pelo Ministério da Justiça, a suspensão e a perda do poder familiar, a alteração do patronímico materno em virtude do casamento. O livro de registro de casamento pode ser retificação, ou pode ser averbado com a separação, a reconciliação, o divórcio, a anulação ou nulidade do casamento e da alteração do regime de bens. O rol das averbações possíveis é meramente exemplificativo, assim são possíveis outras alterações posteriores do assento. O direito é dinâmico e evolui, conforme as mudanças sociais, portanto a de Registros Públicos, que data de 1973, necessita de constantes alterações para adaptá-la a nova realidade social, como por exemplo os conceitos de família e a possibilidade mudança de gênero. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 91 Porém, o legislativo não é tão célere quantos os avanços da sociedade. Assim, a Lei nº 6.015/73, deve ser interpretada em conformidade com as regras estabelecidas no Poder Judiciário, STF e O Conselho Nacional de Justiça. Um exemplo clássico é a conversão da União Estável em casamento, prevista no artigo 1.726 do Código Civil “A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil” (BRASIL, 2002), mas que não tem regulamentação que determine o procedimento para essa conversão. Assim, os companheiros hetero e homoafetivos que pretendam a conversão da União em Casamento, precisam dirigir requerimento ao Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais de seu domicílio, iniciando um processo de habilitação e em não ocorrendo nenhuma impugnação, será realizada a conversão, nos mesmos moldes do casamento. O Conselho Nacional de Justiça em 14 de maio de 2013, através da Resolução 175, reconheceu a possibilidade de casamento de pessoas do mesmo gênero. Através dessa resolução o CNJ determinou, compulsoriamente, que esses casamentos fossem realizados pelos Registros Civis de Pessoas Naturais, mesmo sem atualização legislativa. Da mesma maneira, a modificação do gênero, mediante autodeclaração, foi aprovada pelo STF, em março de 2018. Assim, mesmo sem ser submetido à cirurgia de redesignação sexual, é possível se fazer, através de pedido junto ao registro civil onde foi feito seu assento, que a averbação da mudança de gênero seja feita, expedindo a certidão de nascimento com a retificação. Ainda podemos mencionar o reconhecimento da paternidade socioafetiva extrajudicial, regulamentada pelo CNJ, a ser feita em cartórios de RPN, mesmo sem lei específica sobre o assunto. Estas e outras situações representam que o legislador não consegue acompanhar as necessidades sociais e é muito importante permitir que os tribunais, eventualmente, tenham liberdade para supri-las. 4.2 REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS As pessoas jurídicas nas palavras de Tartuce (2018, p. 245): As pessoas jurídicas, também denominadas pessoas coletivas, morais, fictícias ou abstratas, podem ser conceituadas como sendo conjuntos de pessoas ou de bens arrecadados, que adquirem personalidade jurídica própria por uma ficção legal. Apesar de o Código Civil não repetir a regra do art. 20 do CC/1916, a pessoa jurídica não se confunde com seus membros, sendo essa regra inerente à própria concepção da pessoa jurídica. Interessante citar, nesse sentido, o conceito de pessoa jurídica apontado por Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, como “o grupo humano, criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns” (Novo..., 2003, v. I, p. 191). UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 92 Os doutrinadores, da nova geração de civilistas, buscam a teoria que procura justificar a existência das pessoas jurídicas, lecionando que tanto a codificação anterior quanto a atual adotaram a teoria da realidade técnica. Essa teoria constitui uma somatória entre as outras duas teorias justificatórias da existência da pessoa jurídica: a teoria da ficção – de Savigny – e a teoria da realidade orgânica ou objetiva – de Gierke e Zitelman. A pessoa jurídica de direito, tem seu nascimento a partir do seu registro, conforme artigo 45 do Código Civil: Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro (BRASIL, 2002, art. 45). Assim, se o registro a ser feito for de uma sociedade empresária, o registro deverá ser feito perante as juntas comerciais dos estados e são reguladas pela Lei Federal 8.934 de 1994.Já no Registro Civil das Pessoas Jurídicas serão registrados os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública; as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anônimas, os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos. Nos Cartórios de Registro Civil de Pessoas Jurídica também serão registrados jornais, periódicos, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências de notícias, conforme a disciplina do parágrafo único do artigo 114 da Lei de Registros Públicos, Lei nº 6.015/73. 4.3 REGISTRO DE IMÓVEIS O Cartório de Registrador Imobiliário é independente no exercício de suas funções, conforme o disposto no artigo 236, da Constituição, regulamentado pela Lei nº 8.935/94, que modificou e fortaleceu o regime jurídico dessas relevantes atividades. Dessa forma, consolidou sua independência funcional. Assim, os Registradores e Notários passaram a atuar com maior liberdade, sem precisar submeter corriqueiramente seus atos ao controle do Poder Judiciário, como, por exemplo, nas hipóteses de homologação da contratação de funcionários e abertura de livros, que foram abolidas. Em contra partida, surgiram novas responsabilidades, exigindo maior preparo científico e técnico. O artigo 12 da Lei nº 8.935/94, a Lei dos Cartórios estabelece que: TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 93 Art. 167 - No Registro de Imóveis, além da matrícula, serão feitos. I - o registro: 1) da instituição de bem de família; 2) das hipotecas legais, judiciais e convencionais; 3) dos contratos de locação de prédios, nos quais tenha sido consignada cláusula de vigência no caso de alienação da coisa locada; 4) do penhor de máquinas e de aparelhos utilizados na indústria, instalados e em funcionamento, com os respectivos pertences ou sem eles; 5) das penhoras, arrestos e sequestros de imóveis; 6) das servidões em geral; 7) do usufruto e do uso sobre imóveis e da habitação, quando não resultarem do direito de família; 8) das rendas constituídas sobre imóveis ou a eles vinculadas por disposição de última vontade; 9) dos contratos de compromisso de compra e venda de cessão deste e de promessa de cessão, com ou sem cláusula de arrependimento, que tenham por objeto imóveis não loteados e cujo preço tenha sido pago no ato de sua celebração, ou deva sê-lo a prazo, de uma só vez ou em prestações; 10) da enfiteuse; 11) da anticrese; 12) das convenções antenupciais; 13) (Revogado pela Lei n.13.986, de 2020) 14) das cédulasde crédito, industrial; 15) dos contratos de penhor rural; 16) dos empréstimos por obrigações ao portador ou debêntures, inclusive as conversíveis em ações; 17) das incorporações, instituições e convenções de condomínio; 18) dos contratos de promessa de venda, cessão ou promessa de cessão de unidades autônomas condominiais a que alude a Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, quando a incorporação ou a instituição de condomínio se formalizar na vigência desta Lei; Art. 12. Aos oficiais de registro de imóveis, de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas, civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas compete a prática dos atos relacionados na legislação pertinente aos registros públicos, de que são incumbidos, independentemente de prévia distribuição, mas sujeitos os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas naturais às normas que definirem as circunscrições geográficas (BRASIL, 1994b, art. 12). Assim, conclui-se que o oficial de registro de imóveis é o agente público competente para realizar os atos pertinentes a esta serventia extrajudicial, definidos na Lei dos Registros Públicos. Conforme dispõe o artigo 167 da Lei de Registros Públicos, Lei nº 6.015/73: UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 94 19) dos loteamentos urbanos e rurais; 20) dos contratos de promessa de compra e venda de terrenos loteados em confor- midade com o Decreto-lei nº 58, de 10 de dezembro de 1937, e respectiva cessão e promessa de cessão, quando o loteamento se formalizar na vigência desta Lei; 21) das citações de ações reais ou pessoais reipersecutórios, relativas a imóveis; 22) (Revogado pela Lei nº 6.850, de 1980) 23) dos julgados e atos jurídicos entre vivos que dividirem imóveis ou os demarcarem inclusive nos casos de incorporação que resultarem em constituição de condomínio e atribuírem uma ou mais unidades aos incorporadores; 24) das sentenças que nos inventários, arrolamentos e partilhas, adjudicarem bens de raiz em pagamento das dívidas da herança; 25) dos atos de entrega de legados de imóveis, dos formais de partilha e das sentenças de adjudicação em inventário ou arrolamento quando não houver partilha; 26) da arrematação e da adjudicação em hasta pública; 27) do dote; 28) das sentenças declaratórias de usucapião; 29) da compra e venda pura e da condicional; 30) da permuta; 31) da dação em pagamento; 32) da transferência, de imóvel a sociedade, quando integrar quota social; 33) da doação entre vivos; 34) da desapropriação amigável e das sentenças que, em processo de desapropriação, fixarem o valor da indenização; 35) da alienação fiduciária em garantia de coisa imóvel. 36). da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas, e respectiva cessão e promessa de cessão; 37) dos termos administrativos ou das sentenças declaratórias da concessão de uso especial para fins de moradia; 38) (VETADO) 39) da constituição do direito de superfície de imóvel urbano; 40) do contrato de concessão de direito real de uso de imóvel público. 41. da legitimação de posse; 42. da conversão da legitimação de posse em propriedade, prevista no art. 60 da Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; 43. da Certidão de Regularização Fundiária (CRF); 44. da legitimação fundiária. II - a averbação: 1) das convenções antenupciais e do regime de bens diversos do legal, nos registros referentes a imóveis ou a direitos reais pertencentes a qualquer dos cônjuges, inclusive os adquiridos posteriormente ao casamento; TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 95 2) por cancelamento, da extinção dos ônus e direitos reais; 3) dos contratos de promessa de compra e venda, das cessões e das promessas de cessão a que alude o Decreto-lei nº 58, de 10 de dezembro de 1937, quando o loteamento se tiver formalizado anteriormente à vigência desta Lei; 4) da mudança de denominação e de numeração dos prédios, da edificação, da reconstrução, da demolição, do desmembramento e do loteamento de imóveis; 5) da alteração do nome por casamento ou por desquite, ou, ainda, de outras circunstâncias que, de qualquer modo, tenham influência no registro ou nas pessoas nele interessadas; 6) dos atos pertinentes a unidades autônomas condominiais a que alude a Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, quando a incorporação tiver sido formalizada anteriormente à vigência desta Lei; 7) das cédulas hipotecárias; 8) da caução e da cessão fiduciária de direitos relativos a imóveis; 9) das sentenças de separação de dote; 10) do restabelecimento da sociedade conjugal; 11) das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade impostas a imóveis, bem como da constituição de fideicomisso; 12) das decisões, recursos e seus efeitos, que tenham por objeto atos ou títulos registrados ou averbados; 13) " ex offício ", dos nomes dos logradouros, decretados pelo poder público. 14) das sentenças de separação judicial, de divórcio e de nulidade ou anulação de casamento, quando nas respectivas partilhas existirem imóveis ou direitos reais sujeitos a registro. 15) da rerratificação do contrato de mútuo com pacto adjeto de hipoteca em favor de entidade integrante do Sistema Financeiro da Habitação, ainda que importando elevação da dívida, desde que mantidas as mesmas partes e que inexista outra hipoteca registrada em favor de terceiros. 16) do contrato de locação, para os fins de exercício de direito de preferência. 17) do Termo de Securitização de créditos imobiliários, quando submetidos a regime fiduciário. 18) da notificação para parcelamento, edificação ou utilização compulsórios de imóvel urbano; 19) da extinção da concessão de uso especial para fins de moradia; 20) da extinção do direito de superfície do imóvel urbano. 21) da cessão de crédito imobiliário. 22) da reserva legal; 23) da servidão ambiental. 24) do destaque de imóvel de gleba pública originária. 25) (Vide Medida Provisória nº 458, de 2009) 26) do auto de demarcação urbanística. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 96 27) da extinção da legitimação de posse; 28) da extinção da concessão de uso especial para fins de moradia; 29) da extinção da concessão de direito real de uso. 30) da sub-rogação de dívida, da respectiva garantia fiduciária ou hipotecária e da alteração das condições contratuais, em nome do credor que venha a assumir tal condição na forma do disposto pelo art. 31 da Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997, ou do art. 347 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, realizada em ato único, a requerimento do interessado instruído com documento comprobatório firmado pelo credor original e pelo mutuário. 31) da certidão de liberação de condições resolutivas dos títulos de domínio resolúvel emitidos pelos órgãos fundiários federais na Amazônia Legal. 32) do termo de quitação de contrato de compromisso de compra e venda registrado e do termo de quitação dos instrumentos públicos ou privados oriundos da implantação de empreendimentos ou de processo de regularização fundiária, firmado pelo empreendedor proprietário de imóvel ou pelo promotor do empreendimento ou da regularização fundiária objeto de loteamento, desmembramento, condomínio de qualquer modalidade ou de regularização fundiária, exclusivamente para fins de exoneração da sua responsabilidade sobre tributos municipais incidentes sobre o imóvel perante o Município, não implicando transferência de domínio ao compromissário comprador ou ao beneficiário da regularização(Lei nº 6.015/73). BRASIL. Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá ou- tras providências. Brasília: Diário Oficial [da] União, 1973. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L6015compilada.htm. Acesso em: 20 jul. 2020. O Registro de Imóveis destina-se ao registro e averbação dos títulos ou atos ou fatos inter vivos ou mortis causa, constitutivos, translativos ou extintivos de direitos reais, a fim de assegurar-lhes validade, eficácia erga omnes e disponibilidade (Lei dos Registros Públicos, Art. 172 e CNNR/RS, Art. 314, § único) (PAIVA, 2013, p. 6). A Lei nº 6.015/73, a Lei de Registros Públicos, disciplina os livros que integram o Ofício de Registro de Imóveis, bem como as situações relativas a cada um deles de forma detalhada. Desta forma, conforme disciplina o artigo 173 daquela lei, o Registro de Imóveis possuirá cinco livros distintos e cada um deles com sua função específica, Protocolo; Registro Geral; Registro Auxiliar; Indicador Real e Indicador Pessoal. Concluímos, que são basicamente três espécies de atos registrais demandados ao Registro de Imóveis: abertura de matrículas; registros e averbações. O profissional de serviços jurídico ao se dirigir ao Cartório de Registro de Imóveis, na maioria das vezes, estará requerendo a prática de um desses atos, ou a emissão de certidões relacionadas a eles. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 97 São os atos mais praticados no Registro de Imóveis: a) Matrícula: disciplinada pela LRP em seus arts. 227 a 235, a matrícula é o registro inaugural do imóvel, consistindo na especificação do estado de um imóvel, tanto em seus aspectos físicos (localização, dimensões etc.) quando jurídicos (proprietário, forma de aquisição etc.). Art. 228 da Lei nº 6.015/73. A matrícula será efetuada por ocasião do primeiro registro a ser lançado na vigência desta lei, mediante os elementos constantes do título apresentado e do registro anterior nele mencionado. A matrícula só pode ser cancelada por determinação judicial, pelo desdobro ou pela fusão. • Desdobro: subdivisão de lotes. • Fusão: unificação de imóveis contíguos. No caso de fusão, o cancelamento da matrícula anterior e abertura de nova matrícula é uma faculdade do proprietário dos imóveis contíguos. b) Registro: em conformidade com o art. 167, I da LRP, devem ser registrados todos os atos que influenciem no uso, gozo e disposição de um imóvel. Em outros termos, o registro será feito sempre que houver alteração na titularidade de um imóvel ou quando houver limitação da propriedade pela formação de direitos reais limitados. Desse modo, devem ser registrados atos como: instituição de bem de família, hipotecas, servidões, usufruto, uso, habitação, contratos de compromisso de compra e venda, anticrese, superfície, incorporações, instituições e convenções de condomínio, compra e venda de imóvel, permuta, dação em pagamento, doação etc. c) Averbação: através da averbação é feita alteração em registro já existente. Assim, o art. 167, II da LRP determina que serão averbados atos como: mudança de denominação e de numeração dos prédios, da edificação, da reconstrução, da demolição, do desmembramento e do loteamento de imóveis; restabelecimento da sociedade conjugal; sentenças de separação judicial, de divórcio e de nulidade ou anulação de casamento, quando nas respectivas partilhas existirem imóveis ou direitos reais sujeitos a registro; contrato de locação, para fins de exercício do direito de preferência; extinção do direito de superfície; cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade impostas a imóveis. O registro de transmissão e aquisição de propriedade de bens imóveis são os atos mais comum praticado pelo registrador, dentro das serventias de Registro de Imóveis. Assim como os direitos reais a relativos à propriedade, de bem de família, incorporação imobiliária, registro de penhora, e cédulas de crédito, direitos reais de garantia, como hipoteca, penhor, anticrese e averbações. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 98 As averbações podem conter desde mudança de estado civil do proprietário, averbações de nomes de rua, quarteirão, lotes. Todas constando o rol dos registros e averbações permitidos na Lei de Registros Públicos, conforme artigo 246 da Lei nº 6.015/73. A atividade registral é regida por atributos que conferem maior segurança jurídica aos usuários de seus serviços. São eles: • Publicidade - os atos constantes nos Registros de Imóveis são públicos, sendo facultado a qualquer interessado requerer a expedição de certidão; • Veracidade - presumidamente o que consta no Registro de Imóveis é verdade. Essa presunção é relativa, pois admite prova em contrário. • Legalidade - determina o exame prévio da legalidade dos títulos na medida em que se visa a estabelecer a total confiança em seus serviços. • Obrigatoriedade - o registro dos títulos no Registro de Imóveis é obrigatório, como meio de garantir a transferência correta da propriedade imobiliária. • Continuidade - os registros devem obedecer a uma sequência de vínculos, um novo registro só será feito se o titular anterior tiver cedido a propriedade ao atual adquirente. • Força Probante - os registros são considerados provas a serem levadas ao juízo. • Prioridade - será considerado proprietário aquele que levar o título aquisitivo a registro em primeiro lugar. • Especialidade - serão submetidos a registro no Registro de Imóveis os atos previstos no artigo 167 da Lei nº 6.015/73. Cumpre ainda ressaltar que no sistema imobiliário brasileiro, o registro tem natureza aquisitiva do domínio, forma derivada de aquisição da propriedade imóvel. Sem registro, o direito do adquirente não é direito real, e sim direito pessoal de eficácia relativa entre os negociantes (adquirente e alienante), não produzindo efeitos, pois, contra terceiros. Conforme estabelece o Código Civil de 2002, “Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante registro do título translativo no Registro de Imóveis” (BRASIL, 2002). 4.4 REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS O Registro de Títulos e Documentos tem como função perpetuar e dar publicidade, de forma segura e eficaz aos negócios jurídicos celebrados entre particulares ou entre os particulares e o Estado. É considerado o registro residual. Assim, quando não houver previsão expressa de onde deve ser registrado o título ou o documento e a parte pretende a conservação e oponibilidade perante terceiros. Art. 127. No Registro de Títulos e Documentos será feita a transcrição: I - dos instrumentos particulares, para a prova das obrigações convencionais de qualquer valor; II - do penhor comum sobre coisas móveis; TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 99 III - da caução de títulos de crédito pessoal e da dívida pública federal, estadual ou municipal, ou de Bolsa ao portador; IV - do contrato de penhor de animais, não compreendido nas disposições do art. 10 da Lei nº 492, de 30-8-1934; V - do contrato de parceria agrícola ou pecuária; VI - do mandado judicial de renovação do contrato de arrendamento para sua vigência, quer entre as partes contratantes, quer em face de terceiros (art. 19, § 2º do Decreto nº 24.150, de 20-4-1934); VII - facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação. Parágrafo único. Caberá ao Registro de Títulos e Documentos a realização de quaisquer registros não atribuídos expressamente a outro ofício (BRASIL, 1973, art. 127). A oponibilidade perante terceiros é disciplinada no artigo 129 da Lei de Registros Públicos: Art. 129. Estão sujeitos a registro, no Registro de Títulos e Documentos, para surtir efeitos em relação a terceiros: 1º) os contratos de locação de prédios, sem prejuízo do disposto do artigo 167, I, nº 3; 2º) os documentos decorrentes de depósitos, ou de cauções feitos em garantia de cumprimento de obrigações contratuais,ainda que em separado dos respectivos instrumentos; 3º) as cartas de fiança, em geral, feitas por instrumento particular, seja qual for a natureza do compromisso por elas abonado; 4º) os contratos de locação de serviços não atribuídos a outras repartições; 5º) os contratos de compra e venda em prestações, com reserva de domínio ou não, qualquer que seja a forma de que se revistam, os de alienação ou de promessas de venda referentes a bens móveis e os de alienação fiduciária; 6º) todos os documentos de procedência estrangeira, acompanhados das respectivas traduções, para produzirem efeitos em repartições da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios ou em qualquer instância, juízo ou tribunal; 7º) as quitações, recibos e contratos de compra e venda de automóveis, bem como o penhor destes, qualquer que seja a forma que revistam; 8º) os atos administrativos expedidos para cumprimento de decisões judiciais, sem trânsito em julgado, pelas quais for determinada a entrega, pelas alfândegas e mesas de renda, de bens e mercadorias procedentes do exterior. 9º) os instrumentos de cessão de direitos e de créditos, de sub-rogação e de dação em pagamento (BRASIL, 1973, art. 129). As notificações extrajudiciais são, também, funções atribuídas ao Registro de Títulos e Documentos. Tais notificações exercem a função de cientificar o notificado, de maneira inequívoca e formal dos direitos sobre os quais o notificante alega ser titular. Como meio de responsabilizar, produzir provas, prevenir simulações, constituir responsabilidades, chamar à autoria, alegar para depois provar, constituir mora e solicitar cumprimento das obrigações. Ao ser notificado pelo oficial de títulos e documentos ou seu preposto, o notificado não pode alegar ignorância do fato. Esse é o meio juridicamente perfeito de dar conhecimento ao notificado. UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 100 Atribuições em Cartórios: conheça as atividades das Serventias Extrajudiciais Manoela Moreira Você conhece as atribuições em cartórios? Então que tal atualizar os seus conhecimentos? Isso é importante uma vez que as entidades representativas de cartórios estimam que uma pessoa física utiliza os serviços de um cartório, pelo menos, dez vezes ao longo da vida. Por isso, os tabeliões e registradores têm como tarefa dar publicidade, por exemplo, atestar autenticidade e dar segurança aos atos jurídicos. Mas você sabe quais os tipos de cartório e quais documentos que cada um processa? Confira abaixo: Registro Civil de Pessoas Naturais É regulamentado pelos artigos 29 a 113 da Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos) e art. 5º, VI, da Lei 8.935/1994 (Estatuto dos Notários e Registradores). No Ofício Civil das Pessoas Naturais são registrados os nascimentos; casamentos; conversões de união estável em casamento; casamento religioso de efeito civil; óbitos; natimortos; emancipações; sentenças declaratórias de interdição, ausência e de morte presumida; transcrições de assentos de nascimento, casamento e óbito lavrados no exterior; opções de nacionalidade; além disso, também sentenças de adoção (arts. 29 da Lei 6.015/1973 e 9º do Código Civil). Registro Civil de Pessoas Jurídicas Regido pelos artigos 114 a 126 da Lei 6.015/1973 e art. 5º, V, da Lei 8.935/1994. Nessa Serventia, serão inscritos os atos constitutivos das sociedades simples, associações, fundações e dos partidos políticos. Anote-se que este Ofício recepciona desde o ato constitutivo até o da extinção das entidades supracitadas. Também serão feitas as matrículas de jornais, periódicos, oficinas impressoras, agências de notícias e empresas de radiodifusão. No entanto, apenas as entidades que possuem objeto lícito, que poderão ser registradas nesse Ofício, e consequentemente, adquirir personalidade jurídica. Registro de Títulos e Documentos Regulado pelos artigos 127 a 166 da Lei 6.015/1973 e art. 5º, V, da Lei 8.935/1994. O Registro de Títulos e Documentos, no âmbito de suas atribuições é o serviço de organização técnica e administrativa que tem por finalidade assegurar a autenticidade, segurança, publicidade e eficácia dos atos e negócios jurídicos, constituindo ou declarando direitos e obrigações, para prova de sua existência e data, além disso, da conservação perpétua de seu conteúdo e efeitos erga omnes. TÓPICO 1 — ESTRUTURA JUDICIÁRIA E OS CARTÓRIOS JUDICIAIS 101 Registro de Imóveis Previsto nos artigos 167 a 288 da Lei 6.015/1973 e art. 5º, IV, da Lei 8.935/1994. Ademais, ao Ofício de Imóveis cumpre, na forma da lei, garantir autenticidade, publicidade, segurança, disponibilidade e eficácia dos atos jurídicos constitutivos, declaratórios, translativos ou extintivos de direitos reais sobre imóveis. Tabelionato de notas Regido pela Lei 8.935/1994 e legislação esparsa. Aos notários compete formalizar juridicamente a vontade das partes; intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo; autenticar fatos. Aos tabeliães de notas compete com exclusividade: lavrar escrituras e procurações, públicas; lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados; lavrar atas notariais; reconhecer firmas; autenticar cópias. Tabelionato e Ofício de registro de contratos marítimos Regulado pelo art. 10 da Lei 8.935/1994. Aos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos compete: I – lavrar os atos, contratos e instrumentos relativos a transações de embarcações a que as partes devam ou queiram dar forma legal de escritura pública; II – registrar os documentos da mesma natureza; III – reconhecer firmas em documentos destinados a fins de direito marítimo e IV – expedir traslados e certidões. Tabelionato de Protestos É regulado primordialmente pela Lei 9.492/1997 e art. 11 da Lei 8.935/1994. Compete privativamente ao Tabelião de Protesto de Títulos, na tutela dos interesses públicos e privados, a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados, na forma da Lei 9.492/1994. FONTE: <https://noticias.cers.com.br/noticia/cartorios-especialidades-e-atribuicoes-das-ser- ventias-extrajudiciais/>. Acesso em: 20 jul. 2020. 102 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os serviços notariais e registrais mostram-se instrumentos importantes e imprescindíveis para a segurança jurídica, trazendo aos seus usuários a certeza de que os atos ali praticados alcançarão o objetivo intentado. • Ao se realizar atos em serviços notarias, além da publicidade alcançada, a atenção à forma prescrita em lei estará atendida, os documentos públicos gozarão de fé pública e estarão disponíveis para requerimento de certidões pelo interessado e os documentos particulares terão a veracidade da assinatura declarada. • O tabelionato de protesto, permite que o credor alcance a publicidade do inadimplemento do dever, conseguindo, assim, forçá-lo ao pagamento, para que não conste no rol dos maus pagadores. • A comprovação do estado da pessoa, realizada através do registro perante o ofício registral civil, atribuindo-lhe personalidade jurídica, atestado pelo registrador competente o nascimento, casamento, óbito, emancipação, interdição, separação, divórcio e demais mudanças ocorridas ao longo da vida da pessoa natural. • A lei diferencia pessoas naturais de pessoas jurídicas, esta última, ficção jurídica criada pelo ordenamento jurídico e que poderá ser empresária ou não. • A pessoa jurídica empresária é tratada por legislação própria, dentro do direito empresarial e pela lei federal 8.934 de 1994. • Quandoé pessoa jurídica não empresária é remetida à lei dos registros públicos sua regulamentação e seu registro é feito no registro civil das pessoas jurídicas; • A atribuição de cada ofício notarial e registral está prevista em lei e quando esta não especifica onde deverá ser efetuado o registro, de forma residual o registro de títulos e documentos afigura-se como solução, pois neste poderá ser feito o registro. • Os bens imóveis são amplamente protegidos pelo ordenamento jurídico pátrio, tanto no direito material quanto no processual, pois a transmissão da propriedade imóvel se dá com o registro do título translativo. • A falta do registro do título aquisitivo do imóvel, implica em não transmissão da propriedade, além das consequências que o adquirente negligente possa vir a sofrer, em caso de não o realizar. • Outros direitos e atos poderão ser objeto de registro imobiliário, conforme determinação do legislador e estão previstos na lei especial. • O registro de títulos e documentos possui a competência de notificar, de forma extrajudicial, para ciência de alguém que deverá cumprir obrigação não atendida, bem como de qualquer ato de que, de maneira inequívoca, sua fé pública irá tornar incontestável o conhecimento. 103 1 (CONSULPLAN, 2019, TJ-MG) Um fazendeiro da cidade de Curvelo/MG recebeu uma nota promissória com vencimento para o dia 25/09/2019 para o pagamento de uma vaca. No dia do pagamento, ao tentar receber aquele valor, foi informado pelo devedor que não iria pagar, uma vez que o referido animal havia falecido e que o fazendeiro vendera o animal já doente. Ao comparecer ao tabelionato de protestos, o fazendeiro deverá declarar expressamente, sob sua exclusiva responsabilidade, os seguintes dados, EXCETO: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/9924f5a5-f1>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Se deseja, ou não, realizar a intimação por hora certa do devedor. b) ( ) O nome do devedor, endereço e número do CNPJ ou CPF, ou, na sua falta, o número do documento de identidade. c) ( ) Seu nome e endereço, podendo indicar conta corrente, agência e banco em que deva ser creditado o valor do título liquidado, caso em que suportará as despesas bancárias. d) ( ) O valor a ser protestado, que, caso não corresponda ao valor nominal do título ou documento de dívida, deverá ser acompanhado de um demonstrativo do montante indicado a protesto. 2 (CONSULPLAN, 2019, TJ-MG) Acerca do Reconhecimento de firma, é correto afirmar que: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/direito-direito- -notarial-e-registral/reconhecimento-de-firmas-e-autenticacao-de-documentos/questoes>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Pode ser realizado na modalidade semelhança em títulos de crédito. b) ( ) Não pode ser realizado em documentos redigidos em língua estrangeira. c) ( ) Antes de reconhecer a firma, deverá o tabelião ou seu preposto averiguar a legalidade do documento no qual consta a assinatura. d) ( ) Mesmo após a expiração do prazo de validade, a Carteira Nacional de Habilitação constitui documento apto à comprovação da identidade civil exigida para a abertura do cartão de autógrafos, caso seja possível o efetivo reconhecimento do seu portador. 3 (VUNESP, 2019) Acerca do protocolo de títulos no Registro de Imóveis, pode-se corretamente afirmar: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/478f4afa-ec>. Acesso em: 20 jul. 2020. AUTOATIVIDADE 104 a) ( ) Escrituras públicas, da mesma data e apresentadas no mesmo dia, que determinem, taxativamente, a hora da sua lavratura, deve prevalecer, para efeito de prioridade, a que foi lavrada em primeiro lugar. b) ( ) Protocolizado o título, proceder-se-á ao registro, dentro do prazo máximo de 5 (cinco) dias, salvo nos casos previstos nos artigos seguintes. c) ( ) Apresentado título de segunda hipoteca, com referência expressa à existência de outra anterior, o oficial, depois de prenotá-lo, aguardará durante 30 (trinta) dias que os interessados na primeira promovam a inscrição e, após esse prazo, se não for apresentado o título anterior, a segunda hipoteca será inscrita, mas não terá preferência sobre a primeira, ainda que se registre posteriormente. d) ( )Podem ser registrados, no mesmo dia, títulos pelos quais se constituam direitos reais contraditórios sobre o mesmo imóvel, prevalecendo a ordem de prioridade na apresentação. e) ( ) Prevalecerão, para efeito de prioridade de registro, quando apresentados no mesmo dia, os títulos prenotados no protocolo sob número de ordem mais baixo, devendo-se realizar o registro imediato do primeiro apresentado. 4 (IESES, 2019, TJ-SC) Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida. Sobre o assunto, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/57e3bba9-8c>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Não se incluem entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas. b) ( ) Os serviços concernentes ao protesto, garantidores da autenticidade, publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido na Lei nº 6.015/73. c) ( ) Compete privativamente ao Tabelião de Protesto de Títulos, na tutela dos interesses públicos e privados, a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos de dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação ao mesmo, proceder às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados, na forma da Lei 6015/73. d) ( ) Os serviços concernentes ao protesto, garantidores da autenticidade, publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido na Lei nº 9.492/97. 105 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O artigo 5º, inciso XXXV da Constituição de 1988, traz como princípio, a garantia do acesso à justiça. Assim, nasceu a resolução de conflitos mediante os mecanismos extrajudiciais de composição. Uma solução mais célere, mas sem deixar de observar os princípios constitucionais que garantem uma solução justa para os conflitos de interesses. Assim, podemos entender que a Arbitragem, a Conciliação e a Mediação devem ser sempre buscadas pelos operadores do direito. Como meio de obter a satisfação da parte, completo acesso à justiça de maneira eficaz, com a celeridade necessária. É importante ressaltar que o Código de Processo Civil, Lei 13.105/2015, nos seus artigos 165 a 175 estabelece normas para as conciliações judiciais. Demonstrando, desta forma, que o legislador pátrio pretende que as medidas de autocomposição sejam mais utilizadas no nosso país. É inegável a ampliação da visão, nos últimos anos, no sentido de que o processo judicial não constitui a via adequada para a composição de todos os conflitos, devendo o Estado oferecer outros mecanismos para garantir o acesso à justiça (TARTUCE, 2018, p. 4) Dessa forma, as partes são efetivamente juízes das suas próprias relações. Os interessados passam a examinar seus direitos e deveres contando com o auxílio de um profissional capacitado chegam a um consenso, efetivando de fato o pleiteado com celeridade e chegando a um acordo satisfatório. Existem, em nosso país, três espécies de autocomposição: • negociação: quando o acordo é firmado entre as partes, sem que haja a intervenção de terceiros; • mediação: quando o acordo é firmado na presença de um terceiro imparcial, que ajudará na manutenção da ordem e do diálogo; • conciliação: quando existe a presença de um terceiro imparcial, interferindo com fatos e informações relevantes sobre o litigio, buscando a melhor forma de solucionaro impasse. As formas de heterocomposição ocorrem quando a solução de um conflito é decidida por um terceiro, arbitro ou juiz, determinando uma resposta imperativa em relação às partes. Existem duas formas de heterocomposição: TÓPICO 3 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA 106 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS • arbitral: quando as partes escolhem um terceiro de confiança para decidir a demanda; • jurisdicional: que ocorre quando uma das partes acessa o Poder Judiciário para resolver a questão litigiosa, através de decisão proferida pelo Estado Juiz. No Brasil, a heterocomposição e a autocomposição são meios validos no atual sistema brasileiro vigente, e devem ser empregadas de maneira a abrandar os conflitos de interesses. Sendo que, existem as judiciais, que seguem as regras de formação do Poder Judiciário, que estudamos anteriormente e as formas extrajudiciais, que passaremos a analisar em seguida. 2 ARBITRAGEM A arbitragem que já estava presente no nosso ordenamento jurídico no Código Civil de 1916, sem muita utilização. Foi regulamentada pela Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, tornando mais efetiva, ao indicar que seria desnecessário a homologação judicial para as sentenças arbitrais, dispõe o artigo 18 da Lei 9.307/1996 “O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário” (BRASIL, 1996, art. 18). A arbitragem pode ser definida, assim, como o meio privado, jurisdicional e alternativo de solução de conflitos decorrentes de direitos patrimoniais e disponíveis por sentença arbitral, definida como título executivo judicial e prolatada pelo árbitro, juiz de fato e de direito, normalmente especialista na matéria controvertida. (SCAVONE JÚNIOR, 2020, p. 2) O conceito de arbitragem, como podemos observar se modificou ao longo do século XX, e atualmente tem força equivalente a uma sentença judicial transitada em julgado. Sendo considerado um título executivo judicial, conforme artigo 515, inciso VII do Código de Processo Civil de 2015. Assim, a arbitragem tem sido uma opção de garantia mais rápida de efetivação de direitos, mediante uma sentença que tem força de título executivo. Aqueles que preferem a arbitragem, quando aplicável, costumam apontar diversas vantagens. Nessa medida: a) Especialização: na arbitragem, é possível nomear um árbitro especialista na matéria controvertida ou no objeto do contrato entre as partes. A solução judicial de questões técnicas impõe a necessária perícia que, além do tempo que demanda, muitas vezes não conta com especialista de confiança das partes do ponto de vista técnico. b) Rapidez: na arbitragem, o procedimento adotado pelas partes é abissalmente mais célere que o procedimento judicial. c) Irrecorribilidade: a sentença arbitral vale o mesmo que uma sentença judicial transitada em julgado e não é passível de recurso. d) Informalidade: o procedimento arbitral não é formal como o procedimento judicial e pode ser, nos limites da Lei 9.307/1996, estabelecido pelas partes no que se refere à escolha dos árbitros e TÓPICO 3 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA 107 do direito material e processual que serão utilizados na solução do conflito. e) Confidencialidade: a arbitragem pode ser sigilosa e nesse particular diverge da publicidade que emana, em regra, dos processos judiciais a teor do art. 189 do CPC (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 8). Vale apenas ressaltar que a execução da decisão arbitral, mesmo tendo força de título executivo judicial, deverá ser submetida ao judiciário. Assim, se a decisão arbitral não for cumprida pela parte, o interessado deve procurar o judiciário para o ajuizamento de uma Ação de Execução. A Lei de Arbitragem, Lei nº 9.307/96, estabelece que se os direitos em conflito são patrimoniais e disponíveis, as partes podem optar por uma solução arbitral e quais normas de direito material serão aplicadas pelo árbitro, nacionais ou estrangeiras, conforme o melhor interesse das partes. Logo, podem escolher: a) leis internacionais de comércio; b) lex mercatoria, ou seja, de acordo com Irineu Strenger, “o conjunto de regras emanadas de entidades particulares, organismos internacionais, ou de origem convencional, de natureza ‘quase legal’, que atua desvinculada das jurisdições específicas ou de sistemas legais de qualquer país”;17 c) leis internacionais; d) leis corporativas; e) equidade, ou seja, o que parecer coerente e justo ao árbitro; e, f) princípios gerais de direito. Se não escolherem uma dessas possibilidades, por evidente – e até se recomenda para evitar discussões acerca da afronta à ordem pública – será utilizado o direito nacional, tal qual determina o art. 9º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 11). A arbitragem, portanto, poderá ser de direito, sem desrespeitar a ordem pública, poderão as partes escolher as normas a serem aplicadas. Entretanto, se as partes não escolherem o árbitro chegará à solução baseada nas leis nacionais, de acordo com os artigos 2º e 11 da Lei 9.307/96. Vale lembrar que as partes também podem optar por equidade, mesmo que exista lei disciplinando a matéria. A única ressalva é que a decisão arbitral não contrarie as normas vigentes. A solução arbitral pode, ainda, ser fundamentada nos princípios gerais do direito e nos usos e costumes, à critério dos interessados. O artigo 1º da Lei nº 9.307/96, limita a utilização do juízo arbitral, dispondo “As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis” (BRASIL, 1996). Dessa forma, podemos perceber que apenas questões relativas ao patrimônio disponível é que poderão ser submetidas ao juízo arbitral. A arbitragem pode ser institucional ou avulsa, isto é, pode ser prestada por uma instituição ou por um profissional avulso. 108 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Surge, assim, a arbitragem institucional ou administrada, na qual existe uma instituição especializada que administrará a arbitragem, com regras procedimentais de acordo com a Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996) acerca dos prazos, forma da prática dos atos, maneira de escolha dos árbitros, custos para a realização da arbitragem, forma de produção de provas, entre outras regras indispensáveis ao procedimento. Nesse sentido, o art. 5º da Lei 9.307/1996: “Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem”. A título de exemplo, seguem, ao final, em material suplementar, as normas institucionais da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. Por outro lado, existe a arbitragem avulsa, também conhecida como arbitragem ad hoc, que se realiza sem a participação de uma entidade especializada. De fato, ninguém pode ser compelido a vincular a decisão arbitral a uma instituição que se destine à arbitragem. Poderão, assim, as partes, contratar um árbitro e, com isso, normalmente reduzir os custos da arbitragem. Todavia, nesse caso, embora os custos da arbitragem sejam em regra menores, como não há a administração do procedimento pela entidade especializada, as partes deverão dispor sobre o procedimento e, no caso de lacuna, os árbitros deverão decidir. Demais disso, o risco de nulidade, por evidente, é substancialmente maior, além de ensejar discussões acerca do procedimento detalhado na cláusula ou no compromisso arbitral. (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 20) Da mesma maneira que ocorre com o processo jurisdicional, o procedimento arbitral tem regras a serem seguidas, que estão determinadas nos artigos 19a 22 da Lei nº 9.307/96. Iniciada com a nomeação do árbitro e findo com a decisão proferida pelo mesmo. Os atos praticados ao longo do procedimento têm nomenclatura própria a defini-los. Assim, classificam-se os atos (gênero) dos árbitros tomando- se por critério o seu conteúdo (decisório ou não), a saber: a) pronunciamentos arbitrais: a1) de conteúdo decisório (sentença e decisão [“interlocutória”]); a2) sem conteúdo decisório (despachos – de impulso processual ou de mero expediente, correicional processual ou correicional administrativo); b) atos arbitrais diversos (tais como atividades instrutórias e de condução do processo; atividades fiscalizadoras em geral). (FIGUEIRA JR., 2019. p. 318) O único requisito objetivo para uma pessoa exercer a atividade de árbitro é estar em pleno gozo da capacidade civil, conforme artigo 13 da Lei nº 9.307/96 “Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes” (BRASIL, 1996). Sendo perfeitamente possível, que um profissional de serviços jurídicos venha a exercer essa atividade, se os interessados o escolherem para a função. Poderá, ainda, representar o interesse dos clientes junto a esse juízo. Portanto, é fundamental que esteja bem inteirado do funcionamento das câmaras arbitrais e principalmente, estar familiarizado com as regras da Lei de Arbitragem. TÓPICO 3 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA 109 3 CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO Os métodos alternativos de solução de conflitos são utilizados desde os primórdios do direito. Foram utilizados na Grécia antiga e em Roma. Assim como o direito, tais meios evoluíram e com a solidificação da função pacificadora do Estado a cada dia mais, se consolidam para a promoção de paz social. A mediação é um instituto bastante antigo: sua existência remonta aos idos de 3000 a.C. na Grécia, bem como no Egito, Kheta, Assíria e Babilônia, nos casos entre as Cidades-Estados. Os romanos formaram uma cultura jurídica que influi, ainda hoje, em nossa legislação. Na antiga Roma, o arcaico Diritto Fecciali, isto é, direito proveniente da fé, em seu aspecto religioso, era a manifestação de uma justiça incipiente, onde a mediação aparece na resolução dos conflitos existentes. O direito romano já previa o procedimento in iure e o inijudicio, que significavam, na presença do juiz, o primeiro, e do mediador ou árbitro, o segundo. No antigo ordenamento ático e, posteriormente, no ordenamento romano republicano, a mediação não era reconhecida como instituto de direito, mas sim, como regra de mera cortesia (CACHAPUZ, 2003, p. 24). Atualmente, esses meios de autocomposição são bastante difundidos, com o objetivo, principal de garantir o acesso à justiça de forma mais célere e eficaz. Tanto a conciliação e a mediação judiciais e extrajudiciais têm sido utilizadas com mais frequência. São princípios comuns à mediação e à conciliação (CPC, art. 166, e Lei 13.140/2015, art. 2º): a) Independência, ou seja, o mediador e o conciliador devem se manter distantes das partes, sem se envolver com qualquer dos contendores; b) Imparcialidade, que impede qualquer interesse ou vínculo dos mediadores ou conciliadores com as partes. Nos termos do parágrafo único do art. 5º da Lei 13.140/2015, que trata da mediação e, por extensão, da conciliação, no início dos trabalhos o mediador – e também o conciliador – “tem o dever de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá ser recusado por qualquer delas”; c) Oralidade, não havendo, inclusive, registro ou gravação dos atos praticados durante o procedimento de mediação, notadamente em razão da confidencialidade, que, em regra, o cerca, nos termos dos arts. 30 e 31 da Lei 13.140/2015 e do art. 166 do CPC; d) Autonomia da vontade das partes. No procedimento de mediação, as partes chegarão, se quiserem, a um acordo quanto à situação conflituosa e, demais disso, o princípio da autonomia da vontade implica afirmar que “ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação” (§ 2º do art. 2º da Lei 13.140/2015); e) Decisão informada. “... o princípio da decisão informada estabelece como condição de legitimidade para a autocomposição a plena consciência das partes quanto aos seus direitos e a realidade fática na qual se encontram. Nesse sentido, somente será legítima a resolução de uma disputa por meio de autocomposição se as partes, ao eventualmente renunciarem a um direito, tiverem plena consciência quanto à existência desse seu direito subjetivo”; 110 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS f) Confidencialidade. Os procedimentos de mediação e conciliação são confidenciais e toda informação coletada durante os trabalhos não poderá ser revelada pelo profissional, pelos seus prepostos, advogados, assessores técnicos ou outras pessoas que tenham participado do procedimento, direta ou indiretamente, e, evidentemente, nessa medida, não podem testemunhar (§ 2º do art. 166 do CPC e arts. 30 e 31 da Lei 13.140/2015). A confidencialidade atinge, inclusive, as partes (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 290). 3.1 DA CONCILIAÇÃO A Conciliação é o método de autocomposição da lide, no qual o conciliador sugere meios pelos quais as partes cheguem à solução do conflito. Mas, o conciliador não poderá impor a adoção de determinada postura, pela parte, para solução da demanda, como faz o juiz de direito, nos meios de heterocomposição. Será utilizada quando não houver vínculo social prolongado anterior entre as partes. A conciliação pode ser extraprocessual ou endoprocessual. Em ambos os casos, visa a induzir as próprias pessoas em conflito a ditar a solução para a sua pendência. O conciliador procura obter uma transação entre as partes, ou a submissão de um à pretensão do outro, ou a desistência da pretensão (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p. 34). As partes fazem concessões mútuas, utilizando caminhos sugeridos pelo conciliador para chegarem conjuntamente à solução do problema. O conciliador tem atuação direta propondo ajustes nas propostas até que se chegue a um acordo. O conciliador que abordaremos nesse tópico não é o conciliador judicial, que atua como auxiliar da justiça nas audiências de conciliação (CPC, art. 334), nos termos dos arts. 165 a 175 do CPC, pois este é estudado como um dos auxiliares da justiça e suas atribuições estão diretamente vinculadas ao Poder Judiciário no exercício de função jurisdicional. O conciliador extrajudicial atuará como auxiliar na solução das demandas que pretendem ser solucionadas através de meios de autocomposição, sem ser levada a apreciação do judiciário. Esse conciliador não está definido em lei especifica, portanto, aplica-se a sua atuação por analogia, as regras estabelecidas no Código de Processo Civil. Assim, o conciliador deve se submeter a um curso que o capacite para o exercício da função. Além do curso de capacitação, o CPC, diferentemente do mediador judicial, nos termos da Lei 13.140/2015, não exigiu formação superior ou formação superior jurídica específica, ao menos expressamente. Nada obstante, requer, especialmente dos conciliadores judiciais, o respeito ao “princípio da decisão informada” (CPC, art. 166) em atividade que implica “sugerir” a solução da controvérsia, de tal sorte que entendemos que a formação jurídica superior será requisito inafastável, seja a teor do que dispõe o art. 166 do CPC (decisão informada), seja em razão de interpretação sistemática com o art. 11 da Lei 13.140/2015 (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 293). TÓPICO 3 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA 111 Vale lembrar que a conciliação segue o “princípio da decisão informada”, o qual determina como condição a autocomposição através de conciliação, que as partes tenham total conhecimentos de seus direitos, relacionadosno conflito a ser solucionado. Assim, para que isso seja alcançado de forma adequada, é fundamental que o conciliador tenha conhecimentos jurídicos, como um bacharel em direito ou um tecnólogo de serviços jurídicos. Nas conciliações judiciais as partes devem estar acompanhadas de advogado, exceto nos casos que a lei permite a representação pessoal, como nos Juizados Especiais Cíveis, por exemplo. Porém, nas conciliações extrajudiciais, as partes não necessitam de representação, sendo, ainda, mais flagrante a necessidade da formação jurídica do conciliador. Pois, nessa hipótese, deverá fornecer todas as informações relacionadas ao direito questionado, permitindo que a parte esteja bem informada para que tome a decisão mais adequada aos seus interesses e promova de forma correta a justiça. 3.2 DA MEDIAÇÃO A mediação é o método de autocomposição da lide utilizado quando houver vínculo social anterior prolongado entre as partes. O mediador atua com a função precípua de reestabelecer o diálogo entre as partes. A mediação assemelha-se à conciliação: os interessados utilizam a intermediação de um terceiro, particular, para chegarem à pacificação de seu conflito. Distingue-se dela somente porque a conciliação busca sobretudo o acordo entre as partes, enquanto a mediação objetiva trabalhar o conflito, surgindo o acordo como mera consequência (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p. 34). Assim como na conciliação, a mediação pretende a resolução do conflito através de acordo entre as partes. Entretanto a mediação não oferece uma solução, mas, sim dá a oportunidade para que as partes mediante diálogo, alcancem conjuntamente a solução para a questão enfrentada, de forma consensual. O mediador tem atuação diversa do conciliador, pois deve ser neutro e imparcial. Deve agir apenas como um moderador, sem sugerir nenhuma solução para o problema enfrentado. As partes são as únicas responsáveis pela solução do conflito de interesses. O mediador deverá, somente, assegurar as mínimas condições de cordialidade e diálogo entre as partes. A solução, portanto, não é trazida pelo mediador. Desta forma, não será exigido tanto conhecimento técnico jurídico, como é exigido do conciliador. Entretanto, os assuntos abordados em uma mediação são muito mais delicados e, principalmente, em mediações que envolvam direito de família, exigem uma sensibilidade muito maior para que o diálogo entre os envolvidos ocorra de maneira proveitosa. 112 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS O mediador, assim como o árbitro, é qualquer pessoa capaz que goze da confiança das partes (art. 9º da Lei 13.140/2015). O mediador pode ser judicial, designado no curso de processo judicial ou extrajudicial, na exata medida em que atuar antes da existência de qualquer conflito. Sendo extrajudicial, a Lei 13.140/2015 não exigiu qualquer formação específica ou superior, limitando-se a ser capaz e gozar da confiança das partes. Todavia, se o mediador for judicial, nos termos do art. 11 da Lei 13.140/2015, escolhido pelas partes ou por livre distribuição, além do curso de capacitação (art. 167 do CPC), deverá ser graduado há pelo menos 2 (dois) anos em curso de ensino superior e que tenha obtido capacitação em escola ou entidade de formação de mediadores, reconhecida pelo Conselho Nacional de Justiça ou pela Escola Nacional de Mediação e Conciliação do Ministério da Justiça. Pelas peculiaridades da mediação e em razão da Lei 13.140/2015, especial, não haverá necessidade de formação superior específica em Direito, como se exige do conciliador em interpretação plausível, que tem a função de sugerir a solução do conflito e respeitar o princípio da decisão informada. Os mediadores são designados pelo tribunal ou escolhidos pelas partes (art. 4º da Lei 13.140/2015). Lembre-se que a mediação, diferentemente da conciliação judicial (CPC, art. 334), é sempre voluntária (art. 2º, V e § 2º, da Lei 13.140/2015), não havendo como impor o procedimento se ambos com ele não concordarem e, bem assim, devem aceitar o mediador que, assim como o árbitro, deve ser da confiança das partes (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 294). Verifica-se que o profissional de serviços jurídico terá ampla adequação para atuar como mediador. Pois, está familiarizado com as regras utilizadas para mediação, terá conhecimento técnico que possa auxiliar na função. Basta, apenas, que curse a especialização exigida pelo Conselho Nacional de Justiça, em um de seus cursos de formação de mediador. Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se (BRASIL, 2015, art. 9°). Vale ressaltar que o artigo 167 do Código de Processo Civil dispõe sobre o cadastro dos mediadores, conciliadores e câmaras privadas de mediação e conciliação. Art. 167. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e mediação serão inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional. § 1º Preenchendo o requisito da capacitação mínima, por meio de curso realizado por entidade credenciada, conforme parâmetro curricular definido pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça, o conciliador ou o mediador, com o respectivo certificado, poderá requerer sua inscrição no cadastro nacional e no cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal. § 2º Efetivado o registro, que poderá ser precedido de concurso público, o tribunal remeterá ao diretor do foro da comarca, seção ou TÓPICO 3 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA 113 subseção judiciária onde atuará o conciliador ou o mediador os dados necessários para que seu nome passe a constar da respectiva lista, a ser observada na distribuição alternada e aleatória, respeitado o princípio da igualdade dentro da mesma área de atuação profissional. § 3º Do credenciamento das câmaras e do cadastro de conciliadores e mediadores constarão todos os dados relevantes para a sua atuação, tais como o número de processos de que participou, o sucesso ou insucesso da atividade, a matéria sobre a qual versou a controvérsia, bem como outros dados que o tribunal julgar relevantes. § 4º Os dados colhidos na forma do § 3º serão classificados sistematicamente pelo tribunal, que os publicará, ao menos anualmente, para conhecimento da população e para fins estatísticos e de avaliação da conciliação, da mediação, das câmaras privadas de conciliação e de mediação, dos conciliadores e dos mediadores. § 5º Os conciliadores e mediadores judiciais cadastrados na forma do caput, se advogados, estarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que desempenhem suas funções. § 6º O tribunal poderá optar pela criação de quadro próprio de conciliadores e mediadores, a ser preenchido por concurso público de provas e títulos, observadas as disposições deste Capítulo (BRASIL, 2015, art. 167). Portanto, as câmaras de conciliação e de mediação podem ser privadas e atuarão em paralelo ao Poder Judiciário, como meio de descongestionar aquele poder e conseguir para as partes uma solução para seus problemas de forma mais célere e permitindo o acesso à justiça através de técnicas de autocomposição. A remuneração dos mediadores seguirá de acordo com uma tabela fornecida pelo Tribunal. Essa remuneração valerá tanto para as conciliações e mediações judiciais, quanto as extrajudiciais. Sendo fixado, um percentual de atendimento gratuito, até mesmo nas câmaras privadas cadastradas. Por outro lado, se a câmara privada não estiver cadastrada no tribunal, não terá esse percentual de atendimento gratuito fixado. O que, a princípio, parece que afasta o interesse no cadastramento,mas há de se lembrar que o registro da câmara privada no Tribunal, pode representar maior confiabilidade na prestação do serviço. A mediação tem seu procedimento disciplinado na Lei nº 13.140 de 2015. Tal lei, também, será aplicada aos procedimentos de conciliação, no que couber. Estabelece, em seu artigo 17, que a mediação será considerada instaurada na data em que for realizada a primeira reunião de mediação e que a prescrição ficará suspensa durante o procedimento de mediação. Posta assim a questão pela Lei de Mediação, embora não haja previsão expressa desse documento, recomenda-se, para fixar a suspensão da prescrição, a assinatura do termo inicial de mediação que conterá: a) a qualificação das partes e dos seus procuradores, quando houver; b) o nome, a profissão e o domicílio do mediador ou dos mediadores e, ainda, se for o caso, a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de mediadores; c) a descrição do conflito submetido à mediação/conciliação; d) a discriminação da responsabilidade pelo pagamento das despesas com a mediação e dos honorários do mediador, independentemente de se chegar a 114 UNIDADE 2 — A FUNÇÃO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS um consenso, o que não se aplica à conciliação ou mediação judicial, cujas custas já contemplam essa fase do procedimento; e) o local, a data e as assinaturas do mediador/conciliador, das partes e dos seus procuradores, quando houver (SCAVONE JUNIOR, 2020, p. 301). A assinatura de termos de confidencialidade ao longo do procedimento de mediação garante mais estabilidade às partes para declararem suas vontades, no objetivo de alcançar uma solução conjunta para a questão controversa que está sendo discutida. As reuniões serão agendadas sempre com a anuência de ambas as partes. Embora, possam ser realizadas entre o mediador e apenas uma delas. Assim, concluímos que o mediador pode reunir-se conjunta ou separadamente com os interessados, mas sempre a outra parte deverá ter conhecimento da reunião e concordar com a sua realização. As mediações extrajudiciais estão previstas nos artigos 21 a 23 da Lei nº 13.140/15. Considerando que o convite para que o processo de mediação seja iniciado poderá ser feito através de qualquer meio de comunicação. Permitindo, dessa forma, a utilização de meios eletrônicos para que sejam efetuados. A mediação extrajudicial pode ser baseada em previsão contratual e, se assim o forem, as partes ficarão vinculadas a sua realização. Sendo suspensos procedimentos de heterocomposição da lide, como arbitragem ou processos judiciais, até o término da mediação. Destaca-se, portanto, a atuação do profissional de serviços jurídicos que poderá desempenhar papel de mediador nas câmaras privadas de conciliação e de mediação. Tornando o acesso à justiça mais garantido a todos os interessados. Afinal, os meios alternativos de composição das lides a cada dia que passa são mais incentivados pelo legislador e procurados pelas partes. TÓPICO 3 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE DEMAIS ÓRGÃOS DE ACESSO À JUSTIÇA 115 ESPECIALISTA EXPLICA DIFERENÇAS ENTRE MEDIAÇÃO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL Migalhas.com.br O procedimento extrajudicial pode ser utilizado antes, durante e até mesmo depois da prolação de uma sentença. A legislação tem provocado mudanças a fim de promover os métodos alternativos de solução de conflitos, como a conciliação e a mediação. A mediação é uma forma rápida e menos onerosa para resolver conflitos, e pode ser judicial ou extrajudicial. Apesar de serem semelhantes, os métodos possuem algumas diferenças: na mediação extrajudicial, realizada por um mediador ou câmara privada, as partes podem escolher o mediador e como desejam realizar o procedimento. Além disso, a mediação extrajudicial é ainda mais célere. Na mediação judicial, as audiências são realizadas por um mediador indicado, com escolha limitada ao rol dos mediadores cadastrados no respectivo tribunal. A lei de mediação (13.140/15) reforçou a necessidade de Tribunais criarem centros judiciários de solução consensual de conflitos – os Cejuscs. Esses centros já estão em funcionamento e podem ser procurados pela sociedade. Para o coordenador da câmara privada Vamos Conciliar, Pedro Samairone, recorrer aos CEJUSCS é valido, mas a mediação extrajudicial pode ser mais viável. Ele destaca que as câmaras privadas contam com profissionais qualificados e já realizam mediações até de forma online, sem a necessidade de deslocamento ou mesmo um procedimento pré-processual nos Cejuscs. Para o especialista, é uma solução para as partes e para o Judiciário, pois contribui para dirimir a sobrecarga de processos. Sobre a validade do procedimento, Samairone explica que não há prejuízo para as partes que optarem pela mediação extrajudicial. Se obtido o consenso, é emitido um termo de acordo extrajudicial, que é assinado pelas partes e pelo mediador. As partes podem optar em requerer homologação do termo no Judiciário, contudo, este termo possui validade e força de título executivo extrajudicial. Os procedimentos podem ser utilizados em casos trabalhistas, conflitos entre familiares, cobrança de dívidas, relações de consumo e até mesmo pensão alimentícia. É importante destacar que os métodos autocompositivos não podem ser empregados em casos onde houve violência doméstica ou de crimes contra a vida. A mediação pode ser utilizada a qualquer momento: antes de ser judicializado, durante o curso do processo judicial e até mesmo depois de ser proferida uma sentença. Além disso, as partes têm total liberdade para conduzir o procedimento e encontrar soluções com ganhos mútuos. FONTE: <https://www.migalhas.com.br/quentes/271511/especialista-explica-diferencas-entre- -mediacao-judicial-e-extrajudicial>. Acesso em: 20 jul. 2020. LEITURA COMPLEMENTAR 116 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Os métodos adequados de solução de conflitos proporcionam as partes litigantes uma melhor visão de seus problemas, para assim chegar a um consenso. • Os métodos alternativos estão presentes no contexto social desde a antiguidade até os dias atuais, e ao longo dos anos vem sendo moldado pela sociedade com o intuito de solucionar os conflitos sociais. • A sociedade vem percebendo que a arbitragem, a mediação e a conciliação não só contribuíram para desafogar o judiciário, mas também como um meio de pacificação social. • A arbitragem é método de heterecomposição da lide, através do qual se obtém um título executivo judicial por uma decisão proferida por um arbitro. • A conciliação é meio de autocomposição de litígios, no qual o conciliador aponta os caminhos que devem ser seguidos pelas partes com o objetivo de alcançarem um acordo satisfatório. • A mediação também soluciona os conflitos de interesse através da autocomposição. Entretanto, diferente do que ocorre na conciliação, o mediador tem a função de reestabelecer o diálogo entre as partes, as quais, juntas, chegarão a um acordo espontâneo. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 117 1 (VUNESP, 2018, TJ-RS) Quanto à arbitragem em geral, assinale a alternativa correta. FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/da315de9-4f>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Terá efeito suspensivo a apelação contra sentença que julga procedente o pedido de instituição de arbitragem. b) ( ) O juiz poderá conhecer de ofício sua existência para extinguir a ação. c) ( ) Cabe agravo de instrumento contra decisão interlocutória que rejeita a alegação de convenção de arbitragem. d) ( ) Tramitam em segredo de justiça todos os processos que versem sobre arbitragem. e) ( ) Haverá julgamento de mérito quando o juiz colher a alegação de existência de convenção de arbitragem. 2 (IESES, 2016, TJ-MA) A Cláusula de Mediação em umcontrato: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/f729e671-23>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Obriga as partes a comparecer em uma primeira reunião de mediação e não a permanecer no processo de mediação. b) ( ) Determina a obrigatoriedade da mediação judicial. c) ( ) Determina a obrigatoriedade da mediação extrajudicial. d) ( ) Não vincula as partes. 3 (FCC, 2019, DPE-SP) Considerados os dispositivos da Lei nº 13.140/15, a respeito da mediação é CORRETO afirmar: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/56d91d27-6b>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) Se as partes se comprometeram por cláusula de mediação a não iniciar processo judicial durante certo prazo, o juiz suspenderá o curso da ação pelo prazo previamente acordado, ressalvadas as medidas de urgência para evitar o perecimento de direito. b) ( ) Na mediação judicial, os mediadores se sujeitam à prévia aceitação das partes, além de serem aplicadas as mesmas hipóteses legais de impedimento e suspeição do juiz. c) ( ) A realização de procedimento de mediação interrompe o prazo prescricional. d) ( ) O mediador deverá reunir-se sempre em conjunto com as partes, vedada a sua reunião separada com uma das partes sem a participação da outra, a fim de resguardar a sua imparcialidade. e) ( ) Caso não haja previsão completa a respeito da mediação extrajudicial, o não comparecimento da parte convidada à primeira reunião de mediação acarretará a assunção integral das custas e honorários sucumbenciais em procedimento arbitral ou judicial posterior. AUTOATIVIDADE 118 4 (VUNESP, 2018, PGE-SP) Em relação aos diversos meios de solução de conflitos com a Administração Pública, é CORRETO afirmar que: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/4a7d90de-70>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) É facultado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios suas autarquias e fundações públicas, bem como às empresas públicas e sociedade de economia mista federais, submeter seus litígios com órgãos ou entidades da Administração Pública federal à Advocacia-Geral da União, para fins de composição extrajudicial do conflito. b) ( ) Mesmo as controvérsias que somente possam ser resolvidas por atos ou concessão de direitos sujeitos a autorização do Poder Legislativo estão incluídas na competência das câmaras de prevenção e resolução administrativa de conflitos. c) ( ) Os conflitos que envolvem equilíbrio econômico-financeiro de contratos celebrados pela Administração Pública com particulares não podem ser submetidos às câmaras de prevenção e resolução administrativa de litígios, exceto quando versarem sobre valores inferiores a quinhentos salários-mínimos. d) ( ) A instauração de procedimento administrativo para resolução consensual de conflito no âmbito da Administração Pública interrompe a prescrição, exceto se se tratar de matéria tributária. e) ( ) O procedimento de mediação coletiva, para solução negociada de conflitos, no âmbito da Administração Pública estadual, não pode versar sobre conflitos que envolvem prestação de serviços públicos, salvo se esses serviços públicos forem relacionados a transporte urbano. 5 (FCC, 2016, Prefeitura de Campinas - SP) Em relação à audiência de conciliação ou de mediação, é CORRETO afirmar: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/565f61ae-24>. Acesso em: 20 jul. 2020. a) ( ) A audiência não será realizada se qualquer das partes, ainda que isoladamente, de maneira expressa ou tácita, manifestar seu desinteresse na composição consensual. b) ( ) As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos, podendo constituir representantes, por meio de procuração específica, com poderes para negociar e transigir. c) ( ) A intimação do autor para essa audiência será realizada pessoalmente, por via postal, ou, se incabível, por mandado a ser cumprido pelo Oficial de Justiça. d) ( ) Se houver desinteresse na autocomposição, o autor deverá apontá-la na petição inicial, cabendo ao réu fazê-lo por ocasião de sua contestação, necessariamente. e) ( ) O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato de litigância de má-fé, sendo apenado com multa de até cinco por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. 119 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender como o profissional de serviços jurídicos deve promover o me- lhor atendimento ao cliente; • identificar as formas mais seguras de serviços jurídicos em processos; • compreender a informatização judicial dos processos; • aprender a importância da Lei de Proteção de Dados na prestação de Serviços Jurídicos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE. TÓPICO 2 – DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO TÓPICO 3 – A INFORMATIZAÇÃO E O PRESTADOR DE SERVIÇOS JURÍDICOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 120 121 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O cliente de serviços jurídico, em regra, procura um profissional do direito com o objetivo de solucionar algum problema ligado a violação de um direito. Dessa forma, entendemos que para o cliente ficar satisfeito com a prestação de serviço, ele deve perceber o quanto de atenção foi dispensada para a solução do seu problema. O atendimento ao cliente, neste caso, requer uma preparação especial e cuidadosa desde o primeiro momento em que será recebido pelo prestador de serviços jurídicos. Pois não estamos diante de uma prestação de serviços comum. O serviço é uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou menos intangível – que normalmente, mas não necessariamente, acontece durante as interações entre cliente e empregados de serviço e/ou recursos físicos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços – que é fornecida como solução ao(s) problema(s) does) cliente(s) (GRONROOS, 1993, p. 36). A decoração do escritório, a educação da secretária e todo o conhecimento que expressado pelo profissional são também considerados pelo cliente. Mas na maioria das vezes, não são questões relevantes que determinem ou não a contratação de determinado profissional. Certamente, aquele que procura uma solução jurídica para uma lide, deseja a contratação de um profissional que inspire confiança de que o resultado pretendido seja alcançado. Desta forma, o profissional de serviços jurídicos deverá demonstrar organização, objetividade e profissionalismo. Assim, passaremos a estudar neste tópico, tudo o que é essencial para um atendimento de qualidade e garantia da melhor prestação de serviços jurídicos. TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 122 2 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DA ROTINA DE TRABALHO Todas as empresas precisam estabelecer uma rotina de trabalho para oferecer aos clientes uma prestação de serviço eficaz. Assim, devemos considerar as peculiaridades do atendimento à um cliente que se socorre de um escritório de advocacia com o objetivo de ter seus direitos salvaguardados, em conformidade com as garantias constitucionais de dignidade humana. Os autores Thakor e Kumar (2000, p. 81) entendem que os serviços profissionais têm as seguintes características: a) o serviço requer alto nível de perícia; b) a qualidade do serviço não é facilmente mensurável pelo cidadão comum; c) o serviço é considerado de importância crítica; d) a recomendação de outros é fundamental na seleção do prestadordo serviço; e) a falta de nitidez acerca da natureza do serviço. Portanto, os serviços são intangíveis, inseparáveis, simultâneos e heterogêneos. Ressaltamos que nos serviços jurídicos a intangibilidade atinge um nível bastante alto e tem como consequência a criação de grande expectativa do cliente com relação ao serviço esperado, por decorrência de um considerável nível de incerteza e risco. Além disso, é impossível a avaliação da prestação do serviço jurídico antes do seu início. Portanto, fica bem nítida a inseparabilidade, bem como a simultaneidade nos serviços advocatícios, caracterizando a situação de produção e consumos simultâneos. A prestação de serviço jurídico pode ser considerada heterogênea, pois é baseada em grande parte no componente humano. Desta forma, permite que a qualidade da sua prestação seja qualitativa em conformidade com cada prestador, ao longo do tempo. A heterogeneidade, também, é vista mediante a percepção de um cliente em distintos momentos ou através das diferentes de percepções entre diversos clientes. Diante disso, fica claro ser de suma importância o atendimento no serviço jurídico, que, por sua vez, reforça a visão a respeito da influência de fatores não técnicos no julgamento da sua qualidade. 3 O ATENDIMENTO AO CLIENTE O primeiro passo ao atender um cliente, envolve a apresentação. Muitos escritórios de advocacia, suprimem essa parte, pois acreditam que o cliente que os procura já tem ideia dos profissionais que ali atuam e conhecem previamente seu trabalho, mediante alguma indicação. TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE 123 Mas, ao contrário do que a maioria pensa, a apresentação é fundamental para transmitir confiança ao cliente, mostrando a ele as habilidades e competências que são desenvolvidas por aquela instituição e comprovando que merece o crédito seja depositado naquela equipe de profissionais. Vale lembrar que a apresentação não é uma apresentação individualizada do currículo profissional e sim uma apresentação do escritório. Dessa forma a imagem da organização pode parecer mais sólida no mercado. O cliente deve ser apresentado a toda a equipe, advogados, secretária, estagiários e aos prestadores de serviços jurídicos. Até mesmo a forma de vestir poderá ser considerada relevante. A apresentação visual é uma característica importante na construção de uma imagem pública. O exercício da nossa profissão exige algum formalismo no modo de trajar que não pode ser desconsiderado pelo advogado iniciante ou confundido com “tendências da moda”. A seriedade do tema (o que justifica sua inclusão neste Manual) pode ser atestada a partir da previsão do art. 58, XI, do EOAB e também da posição consolidada no Conselho Nacional de Justiça atribuindo a cada Tribunal a competência para ditar as regras de vestimenta. Não raro nos deparamos com notícias de advogados que foram impedidos de ingressar em fóruns por trajarem roupas consideradas inadequadas ao munus. A medida, se aplicada com ponderação, quer assegurar que a imagem externada pelo profissional não falte com os deveres de decoro e discrição impostos pelo Código de Ética da OAB. Ademais, é necessário observar que há atos processuais que exigem o uso das ‘vestes talares’ (alusão ao talus, calcanhar em latim): Beca. A Beca é um símbolo do Direito do qual devemos nos orgulhar, tal como fez o renomado jurista Piero Calamandrei ao declarar que, quando viesse a falecer, queria ser enterrado com a sua Beca porque “se ela me ensinou a abrir os portões de masmorras, me ensinará a abrir a porta dos céus”! Na hora de exercer qualquer cargo jurídico, o estilo adotado pelo profissional da Advocacia deve sempre considerar o bom-senso e função por ele exercida (BREDA, 2015, p. 35). A ideia de que o mais importante é a promoção de serviços jurídicos é considerado um mito para a maioria dos especialistas contemporâneos. O que deve ser considerada é a confiança que o cliente passa a ter no escritório que pretende contratar. O bom atendimento deve ser visto como parte da rotina normal de uma organização prestadora de serviços jurídicos. Seria um meio de manutenção e captação de clientes que se sentem mais seguros quando percebem o tratamento individualizado que estão recebendo através de um bom atendimento. UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 124 FIGURA 1 – MODELO DE QUALIDADE DE SERVIÇOS DE GRÕNROOS FONTE: <https://cutt.ly/IdmVLhq>. Acesso em: 8 jul. 2020. Alguns profissionais entendem que demonstrar conhecimento jurídicos seria o suficiente para captação do cliente. Entretanto é preciso mais. O escritório de advocacia precisa demonstrar ao cliente mais do que o conhecimento técnico em sua área de atuação, é fundamental que seja dado um suporte no atendimento ao cliente. Os advogados têm uma rotina extremamente atribulada e precisam estar presentes em audiências, elaborar contratos, redigir petições, fazem sustentação oral perante os tribunais, entre diversas outras atividades. Assim, muitas vezes, o atendimento fica negligenciado e não ocorre de maneira adequada, enfraquecendo a imagem da organização. O escritório de advocacia que conta com um profissional de serviços jurídicos pode ser um diferencial no atendimento ao cliente, pois poderá se dedicar mais ao atendimento personalizado proporcionando um acolhimento maior e transmitindo a ideia de um serviço mais individualizado, como necessitam as pessoas que pretendem acesso à justiça. O último passo no atendimento ao cliente está ligado ao delicado tema de cobrança de honorários. Toda prestação de serviço deve ser remunerada, e com a prestação de serviços jurídicos não deve ser feita de forma diferente. Entretanto, o atendimento ao cliente deve ser pautado em demonstrar a preocupação na solução do caso concreto apresentado por ele. O profissional de serviços jurídicos deve ter consciência que com o acesso à internet o cliente, atualmente, já chega para a consulta com muitas informações sobre o seu conflito obtidas através de ferramentas de pesquisa na web. Portanto, é muito importante que fique claro para o cliente que os profissionais técnicos que ele está consultando tem um conhecimento mais preciso e confiável. Caso contrário, a consulta se tornaria, apenas uma tomada de orçamento, sem considerar a qualidade do serviço a ser prestado. É preciso, antes de tudo, ganhar a confiança do cliente e fazer com que entenda quais os benefícios de contratar os seus serviços jurídicos, para posteriormente abordar o assunto relativo ao custo da prestação dos serviços. TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE 125 A proposta de honorários deve ser enviada por e-mail, com uma certa formalidade. No dia seguinte ao da consulta. Demonstrando ao cliente uma maior formalidade na proposta contratual além de demonstrar cuidado, também transmitir com mais realidade a complexidade em se resolver um problema jurídico. Ressalta-se que, como toda proposta contratual a de prestações de serviços jurídicos deverá seguir as regras estabelecidas em lei. Vinculando o proponente ao que foi estipulado, conforme dispõe o artigo 427 do Código Civil, que estabelece “A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso” (BRASIL, 2002). O policitante, portanto, deve ser diligente ao enviar a proposta ao cliente estabelecendo um prazo de validade. Tornando, assim, uma proposta entre ausentes com prazo e permitindo que fique desobrigado se a resposta não for enviada dentro do tempo estabelecido, em conformidade com o Código Civil: Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: [...] III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado (BRASIL, 2002). 4 O CADASTRO DO CLIENTE O segundo passo que deve ser considerado é o cadastro do cliente, na maioria das vezes por meio de software específico, ou, ainda hoje, manualmente,por organizações que não aderiram as novas tecnologias. Arquivando as informações dos clientes, fazendo com que o cliente se sinta ligado aquela determinada organização. O cadastro do cliente é interessante, não apenas para localização de dados, mas também, que passe a receber informativos e algum momento posterior venha a procurar novamente os serviços jurídicos oferecidos pelo escritório. O profissional de serviços jurídicos que fica responsável pelo cadastro do cliente, precisa deixar claro quais são os benefícios que o mesmo obterá com isso. Um a boa prática seria um relatório, impresso do primeiro atendimento prestado. Não se confundindo com um parecer técnico por escrito, mas uma descrição dos pontos abordados no atendimento. Para mais informações sobre cadastro de clientes, assista ao vídeo Dica de atendimento de clientes na Advocacia, disponível no endereço: https://www.youtube. com/watch?v=-ycvxNOe4mY. DICAS UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 126 A partir dessas informações introduzidas no cadastro, se torna mais fácil e pratico o atendimento personalizado que o cliente de serviços jurídicos necessita para se sentir satisfeito e seguro na escolha de seu representante. Assim, evita-se que o cliente procure o escritório para ter informações sobre seu processo e tenha informações incompletas e contraditórias. Pois, qualquer um dos profissionais que represente a organização poderá ter acesso imediato ao cadastro que sempre deverá ser atualizado. A prática da advocacia deve se basear na educação do cliente, como explica João Ozório de Melo: O consultor de marketing Trey Ryder tornou-se um profissional muito requisitado depois que encontrou seu próprio nicho: a advocacia. Ele desenvolveu a teoria de que o marketing para advogados deve se basear na "educação" do cliente — e não em esforços de vendas, como é comum em outras atividades. Por "educação", ele entende: o advogado deve oferecer a seus clientes e possíveis clientes uma visão jurídica de seus empreendimentos e de sua vida; ensinar como se manter longe dos problemas; quando há problemas, explicar sua extensão, suas consequências e as soluções possíveis; instruí-los sobre os conhecimentos, as qualificações, a experiência e a competência dele e de sua firma. Em outras palavras, o advogado deve, de certa forma, exercer o papel de um consultor, com capacidade para identificar problemas e apresentar soluções. Isso feito, qualquer esforço de venda de serviços jurídicos se torna desnecessário. O cliente "se vende" aos serviços (MELO, 2013, s.p). Dessa forma, fica claro que é fundamental para o profissional de serviços jurídicos conhecer em detalhes quem é o seu cliente e os direitos que precisam ser tutelados. Assim, o máximo de informações que uma organização colher no cadastro do seu cliente facilitará identificação do assunto de interesse do mesmo. Criam uma mensagem educativa única. Sabem que a educação é a maior e mais pura forma de marketing. Sua mensagem educativa contém uma explicação do problema do possível cliente, sua extensão e suas consequências, bem como uma descrição da capacidade ou qualificação do advogado (ou da firma), um relato de casos de sucesso com outros clientes e recomendações de medidas que podem ajudar o possível cliente a resolver seu problema e atingir seu objetivo. Quanto mais bem explicadas forem as qualificações e a experiência na mensagem, mais probabilidade haverá de resultar em contrato de serviços jurídicos (MELO, 2013, s.p.). TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE 127 5 AUTOMATIZAÇÃO DO ATENDIMENTO AO CLIENTE Os clientes consideram a proatividade como característica essencial para a contratação de um escritório de advocacia para representá-lo. Pois, a atuação trará consequências diretas aos seus direitos que pretende que sejam resguardados. Então, os colaboradores que buscam crescimento profissional têm maior probabilidade de serem bem sucedidos. Mas os que buscam crescimento pessoal e, porque não, acadêmico também, tem mais sucesso ainda. Dessa forma, seriam considerados pelos clientes, melhores prestadores de serviços aqueles que: Criam seu próprio método operacional e promovem sua singularidade no meio jurídico. Não há duas pessoas no mundo com a mesma coleção de conhecimentos, qualificações e experiência. Assim, duas pessoas não resolvem um problema jurídico da mesma maneira. Isso posto, desenvolve um método único de ajudar as pessoas a resolver seus problemas ou cumprir objetivos. Um método único de solucionar problemas jurídicos pode ter repercussão na comunidade jurídica e na imprensa (MELO, 2013, s.p.). Podemos considerar que o sistema automatizado, seria uma forma de garantir maior proatividade das organizações e garantir, com isso a maior retenção de clientes. O suporte poderá se garantir pelo profissional de serviços jurídicos ao uso de ferramentas tecnológicas adequadas. Otimizando as reuniões, com uma constância nas notificações contendo informações básicas. Os softwares jurídicos são as ferramentas mais completas, utilizadas nas organizações para possibilitar a automatização do atendimento nos serviços legais. Organizar as informações dos clientes e permitindo que todos os profissionais da equipe estejam a par de todos os detalhes do caso e possam atender adequadamente. Alguns escritórios adotam, ainda, o sistema se informações de andamento processuais, feitos de forma automatizada aos clientes. A cada mudança do status do processo é emitido um relatório ao cliente. Essa prática faz com que o cliente se sinta mais seguro e amparado. Além disso, a utilização de inteligência artificial, através dos chatbots, que nada mais são do que robôs programados para conversar com os clientes, podem solucionar as dúvidas mais básicas dos clientes. Levando a transparência das organizações como forma de conquistar a confiança e credibilidade dos usuários de serviços jurídicos. Para saber mais sobre chatbots, leia a matéria Chatbot: o que é, como funcionam e 5 dicas práticas, disponível em: https://www.globalbot.com.br/chatbot. DICAS UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 128 Mitos do marketing jurídico Gustavo Rocha Marketing jurídico é um tabu não apenas no Brasil, mas em vários locais do mundo. Nos EUA, mesmo com as permissões que lá existem – bem maiores que o Brasil – temos muitos estudos e material interessante que pode ser aplicado aqui. Divido um artigo que comenta 18 mitos americanos de marketing jurídico escrito pelo consultor Trey Ryder e são aplicáveis em sua maioria no Brasil, com comentários meus em azul. Mito 1: “O propósito mais importante de meu marketing é promover meus serviços”. Errado. O propósito mais importante de seu marketing é estabelecer credibilidade – e a percepção de que você é confiável. As pessoas evitam fazer negócios com quem não confiam. Sempre que um cliente considera se deve contratá-lo, ele também avalia se deve confiar em você. Aqui não é diferente, temos que estabelecer confiança, credibilidade para que a nossa marca prospere no mercado. Mito 2: “Se eu investir bastante dinheiro em marketing, vou obter os resultados que espero”. Não necessariamente. Os resultados dependem mais dos métodos de marketing que você usa. Se seu marketing não está produzindo resultados com um orçamento razoável, também não vai funcionar com um grande orçamento. O elemento fundamental é a estratégia que você usa, não o volume de dinheiro que investe. Investir sem medir/monitorar resultados não serve para nada. Invista, mas controle. Mito 3: “Minhas fontes de recomendação irão me enviar todos os novos clientes que preciso”. Isso funciona, em parte, se você trabalhar bem sua rede de recomendações. Mas não será suficiente para você conquistar todos os clientes que precisa. Você deve desenvolver um programa de marketing que atraia clientes diretamente para você, para não ficar na dependênciade uma única fonte. Somente a indicação pode ser uma boa forma de captação, mas se for a única a marca não prospera e cresce adequadamente. Tem que investir em redes sociais, em relacionamento em grupos e pessoas que não conhece também. TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE 129 Mito 4: “Quando os clientes ou possíveis clientes tiverem perguntas, eles irão telefonar para mim”. Muitas vezes isso não acontece. Muitas pessoas hesitam em telefonar, se não souberem que seus telefonemas são bem-vindos. Ligar para um advogado é ainda mais difícil para pessoas que ainda não estabeleceram um relacionamento com ele. Em todas as suas comunicações, estimule as pessoas a telefonar para você, se tiverem alguma pergunta ou algum problema. Boa parte das chamadas resultarão em contratos. Talvez um dos maiores problemas que temos aqui no brasil, a falta de informação a clientes. Não espere o cliente, crie oportunidades para que o cliente tenha contato com o escritório e mantenha a marca do mesmo viva na sua vida. Mito 5: “Não é necessário colocar minha foto em meu material de marketing”. Não é verdade. Fotografias são essenciais no quebra-cabeça do marketing. Uma foto que expressa uma dose de simpatia, cordialidade e disposição ajuda, junto com seus textos, a estabelecer, na mente do cliente, o senso de que já o conhece. Os clientes não se importam com a aparência física do advogado. Importam-se com a própria sensação de que o conhecem e de que ele merece confiança. Até pode colocar como eles sugerem, mas tome cuidado para não parecer um pavão no material. O importante é o conteúdo. Mito 6: “Interagir com pessoas que não são clientes é uma perda de tempo”. Errado. Sempre procure novas formas de interagir com possíveis clientes ou fontes de recomendação. Quanto mais você fala com as pessoas, mais você cria possibilidades de conquistar clientes, porque, a qualquer momento, elas ou familiares e amigos irão precisar de um advogado. As pessoas gostam de recomendar profissionais que lhes deram atenção. Não despreze ninguém nesse esforço. Pelo contrário, é justamente a oportunidade de garimpar novos clientes! Mito 7: “Tenho de ter cuidado para não me repetir quando falo com possíveis clientes”. Não é bem assim. Quando as pessoas recebem novas informações, que não soem espetaculares, elas tendem a esquecer a maior parte. Se o possível cliente não ouvir o que precisa ouvir, não vai contratá-lo. Na verdade, é bom se repetir, quando se quer firmar uma ideia. De qualquer forma, você pode tentar apresentar seus argumentos de uma forma diferente, de uma vez para outra. UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 130 Repetir é necessário ao aprendizado. Repita e solidifique o conhecimento ao cliente. Mito 8: “As pessoas entendem o que eu falo, porque elas já estão familiarizadas com a terminologia jurídica”. Evidentemente, a maioria não está. Nem mesmo com os termos mais simples. E seus argumentos não terão qualquer valor, se seu interlocutor não entender o que está falando. Aliás, você nunca pode assumir que uma pessoa conheça até mesmo assuntos que estão nos jornais e na televisão todos os dias. Esqueça o jurisdiquês e fale claramente o que interessa e os direitos do cliente! Mito 9: “Os métodos de marketing não funcionam tão bem como antigamente”. Não é verdade, obviamente. Se seu marketing não está funcionando, alguma coisa está errada com ele. É preciso rever suas estratégias. E estratégias de marketing devem ser tão bem planejadas e executadas quanto a atuação em um julgamento. Ledo engano. Agora, mais do que antes, é essencial que se invista no marketing para se obter melhores resultados! Estamos com mais de um milhão de advogados. Como se destacar um dos outros? O marketing é a resposta! Mito 10: “Quanto mais complexa for minha mensagem, mais interessados os clientes ficarão em meus serviços”. Não funciona assim. Ao contrário, as pessoas recebem uma carga enorme de informações todos os dias e eliminam, automaticamente, as mais complicadas. A mensagem expressa com simplicidade é a única com chance de ganhar a atenção de possíveis clientes. Justamente pelo contrário, quão mais simples ela for, mais o cliente se interessa e acredita. Vivemos uma era em que ler é para poucos, a maioria quer contratar pelo pouco que vê e sabe. Se o pouco for complexo, não irá contratar mesmo! Mito 11: “As imagens em uma comunicação de marketing não são tão importantes quanto o texto”. Errado. Combinar o texto com ilustrações é essencial para captar a atenção das pessoas. É verdade que um bom conteúdo escrito é uma parte essencial de seu marketing, incluindo para os mecanismos de busca da Internet. Mas fotos, gráficos ou qualquer outro tipo de ilustração podem captar a atenção. Não adianta um texto sensacional, se as pessoas não se sentirem atraídas a lê-lo. Se não houver ilustração, o título deve cumprir essa missão de atrair as atenções. TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE 131 Combinar ambos os elementos são essenciais. Contudo, apenas imagens não são uma boa forma de resultado prático. Mito 12: “As pessoas não se importam se eu demoro para retornar suas ligações, porque sabem que estou ocupado”. Não pode ser uma conclusão mais errada. O atraso em retornar chamadas é a queixa número um dos clientes em relação a advogados. Isso pode fazer com que todo o esforço de marketing escorra pelo ralo. Cria a impressão de que o advogado não está interessado em novos clientes. Por isso, o mais provável é que o cliente pegue o telefone e chame o próximo nome em sua lista. Ao contrário, o pronto retorno cria uma impressão positiva, altamente favorável do advogado. Novos clientes não têm a menor noção de sua capacidade profissional. Só lhes resta medir suas atitudes. Justamente, precisamos cada vez mais nos escritórios compreender que a comunicação é essencial para o desenvolvimento do mesmo. Ter canais de atendimento e retorno ao cliente fazem toda diferença! Mito 13: “Os artigos que publicamos deveriam ser suficientes para conquistarmos novos clientes”. Em parte. A publicação de artigos, notícias etc. ajuda, mas o esforço de marketing não deve depender apenas desse recurso. Um programa de marketing deve ser entendido como um conjunto de estratégias que, combinadas, produzem o efeito desejado. Isto é, resultam em conquistas de mais clientes, em menor tempo. Artigos, vídeos, criam o elo da informação e credibilidade do cliente. Contudo, ações concretas, estar presente aonde está o cliente – virtual ou presencialmente – faz toda diferença. Mito 14: “O melhor momento para expressar minha mensagem de marketing é quando um possível cliente está em meu escritório”. Na verdade, esse é o pior momento. Quando o cliente está em seu escritório, ele quer discutir seus próprios problemas jurídicos e suas angústias e obter respostas animadoras, mas sinceras, sobre possíveis soluções. Depois da reunião com o cliente, você pode enviar a ele informações úteis, boletins e outros materiais de marketing, principalmente os que tratam de seu problema. Se o cliente apenas telefonar, tome nota de seu endereço e endereço de e-mail, para encaminhar a ele materiais relevantes. Quando o cliente está no escritório é a hora da verdade. Ali, o marketing tem pouco efeito prático, ele deve ser antes, depois e durante, mas no durante, precisa ter mais do marketing, precisa ter conteúdo, visibilidade e postura. UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 132 Mito 15: “Meu newsletter trimestral é uma ferramenta eficaz de marketing e é tudo que preciso fazer”. De fato, a newsletter é uma ótima ferramenta de marketing, porque você pode abordar os problemas dos clientes conforme eles se evidenciam. No entanto, a periodicidade tem de ser pelo menos mensal, porque o marketing tem de ser persistente e você deve fazer uma impressão na mente do cliente. Se a newsletter trouxer textos que tratam dos problemasdos clientes e apresentam soluções, elas serão sempre bem-vindas. Há newsletter semanais que funcionam muito bem. A informação deve ser colocada de uma forma a ser periódica e frequente sem espaços tão longos de tempo. News deve ser quinzenal ou mensal. Nas redes sociais pode ser diário. Quer ter seguidores nas redes sociais? Use e abuse do conteúdo. Divulgar o direito não é infração é ética é dever do advogado! Mito 16: “Basta baixar meus honorários se eu quiser conquistar muitos clientes”. Não é uma boa ideia. Honorários mais altos podem ser, na mente do cliente, uma indicação do “valor” do advogado, de sua competência, de seu sucesso etc. Baixar seus honorários podem minar sua credibilidade e a imagem que os clientes fazem de seu trabalho. Você vai atrair clientes que valorizam o dinheiro, mas não valorizam seu trabalho. Você terá dificuldades para sobreviver, porque o número de clientes que conseguir com essa estratégia pode não compensar seus custos. Em termos de marketing e de finanças, melhor que baixar os honorários é aumentá-los. Isto é um erro estratégico. O preço deve ser considerado diante do que se oferta. Se tens experiencia, conhecimento, visão, sabe como fazer como cobrar barato todo estudo e conhecimento? Quer que os clientes te procurem por preço ou pelo que você vale? Mito 17: “Os clientes sabem que serviços eu ofereço”. Não é verdade. Se você pensa que possíveis clientes sabem que serviços oferece, será difícil concorrer com os colegas que deixam isso bem claro. Isso acontece. Por isso, alguns advogados entregam aos clientes e possíveis clientes uma lista detalhada dos serviços que presta. Um outro erro comum. Diga sempre e divulgue o que você faz. Se o cliente te procurou por uma determinada ação ou tese, ele não é adivinho pra saber de outros produtos que tu tens a ofertar. Deixe-o saber, afinal, para clientes, toda informação é válida e lícita no código de ética. TÓPICO 1 — TÉCNICAS DE ATENDIMENTO AO CLIENTE 133 Mito 18: “Para atrair novos clientes, eu devo promover meus serviços”. Informar os clientes sobre os serviços que você presta é uma coisa (necessária), promovê-los é outra: é praticamente uma venda – e você assume a atitude de um vendedor, o que mina sua credibilidade. Deixe as ideias de venda de lado em seu marketing e prefira uma estratégia baseada em informações relevantes para o cliente. Identifique os problemas de seus clientes, mostre como podem se tornar graves se não tratados e apresente possíveis soluções. Ele se sentirá mais seguro em escolher você, quando tiver de escolher um advogado. Até nos EUA praticar venda é condenado. Aqui é vedado. Mas, há várias formas de se publicitar a sua marca de forma ética, principalmente usando o conhecimento como fonte de divulgação. E você, como prática estes mitos no seu dia a dia? Você faz marketing, tem estratégias desenhadas, escritas e monitoradas? Procure um especialista (me incluo neles) para desenvolver o mercado da sua banca. Qualquer tamanho e realidade de escritório necessita se desenvolver de forma adequada e ética. Inicie o hoje a mudança da sua carreira jurídica! Foco no marketing jurídico é um dos caminhos do sucesso! FONTE: ROCHA, G. Mitos do marketing jurídico, 13 fev. 2017. Disponível em: https://gustavo- rochacom.com.br/2017/02/13/mitos-do-marketing-juridico/ .Acesso em: 8 jul. 2020. 134 Neste tópico, você aprendeu que: • As rotinas de prestação de serviços jurídicos são extremamente complexas. • É fundamental preparar o ambiente para receber o cliente, sendo atento aos detalhes, desde o ambiente limpo até o conhecimento sobre o tema objeto da consulta, sem esquecer de cordialidade e vestimenta compatível. • Precisamos cadastrar o cliente em algum software jurídico permitindo que todos os seus dados sejam de acesso a qualquer um dos profissionais que compõe a organização. • O cadastro do cliente pode gerar uma futura contratação, pois, a partir dele, podemos enviar informativos que possam interessá-lo, conforme o seu perfil. • Se deve demonstrar que o objetivo principal da organização é promover um acesso à justiça ao cliente, com garantias constitucionais preservadas. • A proposta de contratação não deve ser feita de imediato, evitando-se a informalidade e a inadequação de cobrança de honorários. • A proposta deverá seguir as regras estabelecidas no Código Civil de vinculação do proponente por determinado prazo, que deve ser estabelecido e enviado por e-mail, junto com a proposta em data posterior a consultoria. RESUMO DO TÓPICO 1 135 1 (UFMA, 2019) Qual das alternativas abaixo é o nível mais especializado de investimento em atendimento, ao se promover um marketing de relacionamento com o cliente externo? FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/bd98504a-8d>. Acesso em: 8 jul. 2020. a) ( ) Intuitivo. b) ( ) Reativo. c) ( ) Responsável. d) ( ) Básico. e) ( ) Proativo. 2 (FGV, 2014) O mínimo que o cliente espera que a empresa ofereça é o bom atendimento. A relação entre o que o cliente recebeu de fato (percepção) e que ele esperava receber (expectativa) é denominada: FONTE: <https://www.aprovaconcursos.com.br/questoes-de-concurso/questao/350034>. Acesso em: 8 jul. 2020. a) ( ) Técnica de atendimento. b) ( ) Percepção do cliente. c) ( ) Expectativa do cliente. d) ( ) Satisfação do cliente. e) ( ) Importância do cliente. AUTOATIVIDADE 136 137 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A prestação de serviços jurídicos, como já vimos anteriormente, é baseada não apenas em conhecimentos técnicos, mas muito na confiança depositada no representante pelo cliente. A maioria das pessoas ao procurar a prestação de um serviço jurídico está fragilizada e pretende que seu direito seja resguardado por alguém que desperte sua confiança. Antes de entendermos especificamente o contrato de prestação de serviços jurídicos, precisamos compreender e conceituar contratos de uma maneira geral e em seguida os contratos de prestação de serviço, para finalmente, individualizar o contrato específico de interesse de nosso estudo. Assim, considerando os contratos como negócios jurídicos bilaterais, entendemos que dependem da manifestação de vontade de duas ou mais pessoas para serem celebrados. Como todo negócio jurídico, dependem da vontade humana para ter reflexos no mundo jurídico. De forma bastante objetiva, Luis Diez-Picazo e Antonio Gullon47 dizem que o contrato é o acordo de vontades pelo qual os interessados se obrigam, sublinhando que o Direito é o reino do contrato e onde acaba o contrato também acaba o Direito e começa então o reino da força. Na mesma linha de clareza, baseado no artigo 1.137 do Código Civil argentino, podemos dizer que há contrato quando várias pessoas se colocam de acordo sobre uma declaração de vontade comum, destinada a regular seus direitos. Além de o contrato ser em essência o estatuto jurídico de uma operação econômica desenhada pelos interessados, a roupagem técnico-jurídica do acerto de troca econômica encetado pelas partes, é ele igualmente um negócio jurídico presidido por essa economicidade e pelo qual as partes estabelecem os direitos e deveres que devem reger a conduta dos parceiros contratuais, ainda que muitas vezes a manifestação da vontade esteja muito limitada, como acontece nos contratos de adesão. No estágio atual de reconhecimento da importância dos valores éticos, morais e sociais para o direito, o contrato deve conter em seu bojo a socialidade e eticidade de que nos fala o arquiteto do novo Código Civil Miguel Reale. Assim, como a função social integra a propriedade por força de comando constitucional (art. 5o, XXIII, e 170, III), o mesmo ocorre com o conceito de contrato, na medida em que a titularidade é adquirida por meio do trânsito dos interesses, reforçando a ideia “da ampla funcionalização social dos institutos que compõem o Direito Privado”, como faz ver Paulo Nalin.48 Em outro giro, decorrem dos artigos 112,113, 187 e 422 do Código Civil e dos artigos 4o e 51, IV, da Lei no 8.078/90 que a boa-fé objetiva também merece compor o conceito do contrato na atualidade (Capítulo II, item 6). TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 138 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Conceito contemporâneo denominado pelo autor de pós-moderno é o adotado pelo eminente professor Paulo Nalin49 quando diz que contrato é a “relação jurídica subjetiva, nucleada na solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos da relação, como também perante terceiros”. A nosso sentir, contrato é o negócio jurídico bilateral ou plurilateral de conteúdo patrimonial pelo qual as pessoas se obrigam com o objetivo de obterem segurança jurídica na aquisição de algum bem da vida ou a defenderem determinado interesse, observando a função social e econômica e preservando em todas as fases do pacto a probidade e a boa-fé. Sob a ótica de negócio jurídico de conteúdo patrimonial, segundo Messineo50 o contrato pode constituir, modificar ou extinguir uma relação jurídica. No primeiro caso, temos a maioria dos pactos, como a compra e venda, locação, doação, empréstimo, dentre outros. No segundo, temos a novação, cessão do crédito e do débito e, no último, a compensação convencional e a remissão ou perdão da dívida. (MELO, 2019, p. 15). Portanto, os princípios gerais que norteiam os contratos, devem ser ressaltados nos contratos de prestação de serviços jurídicos. Pois, todos os contratantes baseiam a celebração do acordo entre as partes nos gênese de todas as relações contratuais. São princípios contratuais: • Princípio da autonomia de vontade - que representa a liberdade das partes que abrange desde a escolha com quem contratar até as cláusulas que serão apostas no contrato. • Princípio da força obrigatória do contrato - o contrato faz lei entre as partes, é a chamada pacta sunt servanda (pactuou tem que cumprir). São os mecanismos jurídicos de regulação do equilíbrio contratual, tornando exigível entre os contratantes. • Princípio da relatividade - estabelece a subjetividade dos efeitos dos contratos, determinando que os contratos produzem efeitos, apenas, entre as partes. • Princípio da função social do contrato - subordinação do contrato ao interesse social da coletividade. Expressamente previsto no artigo 421 do Código Civil: Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual (BRASIL, 2002). • Princípio da boa-fé objetiva - estabelece uma regra de comportamento de fundo ético e exigibilidade jurídica, funcionando como uma cláusula geral. Espera-se que a outra parte aja conforme o contrato, com lealdade contratual. Disciplinado no artigo 422 do Código Civil: “Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002). TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 139 Portanto, o contrato de um profissional para prestação de serviços jurídicos não é um simples contrato celebrado entre duas pessoas, mas, sim, envolve e muito as características de pessoalidade que devem ser consideradas, como veremos a seguir. 2 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS O contrato de Prestação de Serviços está disciplinado no Código Civil nos artigos 593 a 609. Esse contrato era denominado no Código Civil de 1916, como Locação de Serviços. É “o negócio jurídico por meio do qual uma das partes, chamada prestador, se obriga a realizar uma atividade em benefício de outra, denominada tomador, mediante remuneração” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2010, p. 273). 2.1 CONCEITO DE CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO A definição desse contrato encontra-se no artigo 594 do Código Civil, como sendo “Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição” (BRASIL, 2002). Conforme o art. 593 do Código Civil, as regras possuem caráter residual, aplicando-se somente às relações não regidas pela Consolidação das Leis Trabalhistas e pelo Código de Defesa do Consumidor. Assim, segundo as regras do Código Civil possuem maior interesse para prestadores de serviço de menor porte, vale dizer, pessoas físicas ou jurídicas, tais como profissionais liberais e trabalhadores autônomos. Na forma residual como trazida pelo Código Civil, a prestação de serviço é um contrato típico em virtude do qual uma das partes, denominada prestador de serviço, assume a obrigação de realizar alguma atividade de sua especialidade não revestida de perenidade e subordinação hierárquica, em favor do tomador do serviço que, em razão disso, se obriga a remunerá-lo mediante o pagamento de honorários. Para o professor Jorge Lages Salomo1 modernamente, “a prestação de serviços compreende toda atividade lícita de serviço especializado, realizado com liberdade técnica, sem subordinação e mediante certa retribuição”. A atual codificação civil apresenta uma expressão mais condizente com o cânone constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1°, III, CF) ao substituir a expressão locação de serviços (locatio coductio operarum) por prestação de serviço. Para entender melhor os princípios contratuais, acesse o link a seguir: https:// cutt.ly/YaXtJih. DICAS 140 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS A nomenclatura do direito anterior sempre foi alvo de críticas, pois em primeiro lugar passava a odiosa impressão de que o homem podia ser objeto do direito e, em segundo lugar, causava perplexidade saber que por uma reminiscência não muito clara do direito antigo, o locador correspondia ao prestador e o locatário ao dono do serviço. Sobre essa questão, em tintas fortes, Teresa Ancona Lopez considera que “locação no mundo contemporâneo é somente de coisas e, dentro do respeito à dignidade do ser humano, não cabe mais, como na época do período antigo da humanidade, na qual a escravidão era um fato e as pessoas eram coisas, a denominação locação de serviços”. Arremata a ilustre professora paulista com a defesa do exercício da liberdade por qualquer pessoa que somente prestará os seus serviços se, quando e como quiser. A primeira providência que o Código Civil (art. 593) toma ao apresentar a prestação de serviços por ele regulada é a de delimitar a matéria que é de sua competência, apontando, por exclusão que a prestação de serviço que não configure contrato de trabalho ou seja disciplinado por lei especial, encontrará a sua disciplina no direito civil, denotando a subsidiariedade de que se reveste esse regramento. O contrato de trabalho representa uma evolução da antiga locação de serviços, hoje humanizada com a nomenclatura mais apropriada de prestação de serviço. Desta forma, esse notável e relevantíssimo contrato configura igualmente uma prestação de serviço, fazendo- se presente, contudo, alguns atributos que podem ser resumidos nos elementos da não eventualidade, subordinação e remuneração mediante salário como encontramos no artigo 3º da Consolidação das Leis do Trabalho quando reza que “considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. Dessa forma, se a prestação de serviços vier acompanhada desses requisitos previstos no estatuto laboral, independentemente da nomenclatura usada pelos contratantes, estaremos diante de um contrato de trabalho submetido às leis protetivas especiais e ligados a um ramo específico do direito social com normas e princípios próprios e sedimentados como verdadeiras cláusulas pétreas na Constituição Federal (art. 7º). Para facilitar a análise, imaginemos o trabalho de uma faxineira que realize serviços esporádicosde faxina na casa de alguém a cada 15 dias. Nesse caso, a sua atividade se submeterá ao Código Civil, mas se esta mesma prestadora passar a desempenhar o seu trabalho de forma não eventual e sob a permanente subordinação do patrão a sua atividade profissional submeter-se-á às regras e princípios do direito do trabalho (MELO, 2019, p. 569). Para Flávio Tartuce (2018b, p. 514), entende o contrato de prestação de serviços, como: O contrato de prestação de serviços (locatio operarum) pode ser conceituado como sendo o negócio jurídico pelo qual alguém – o prestador – compromete-se a realizar uma determinada atividade com conteúdo lícito, no interesse de outrem – o tomador –, mediante certa e determinada remuneração. Trata-se de um contrato bilateral, pela presença do sinalagma obrigacional, eis que as partes são credoras e devedoras entre si. O tomador é ao mesmo tempo credor do serviço e devedor da remuneração. O prestador é credor da remuneração e devedor do serviço. O contrato é oneroso, pois envolve sacrifício patrimonial de ambas as partes, estando presente uma remuneração denominada preço ou salário civil. TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 141 Trata-se de contrato consensual, que tem aperfeiçoamento com a mera manifestação de vontade das partes. Constitui um contrato comutativo, pois o tomador e o prestador já sabem de antemão quais são as suas prestações, qual o objeto do negócio. Por fim, o contrato é informal ou não solene, não sendo exigida sequer forma escrita para sua formalização, muito menos escritura pública. O art. 593 do Código Civil de 2002 consagra a incidência da codificação somente em relação à prestação de serviço que não esteja sujeita às leis trabalhistas ou à lei especial. Desse modo, pelos exatos termos do que prevê a codificação privada, havendo elementos da relação de emprego regida pela lei especial, tais como a continuidade, a dependência e a subordinação, merecerão aplicação as normas trabalhistas, particularmente aquelas previstas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT – Decreto-lei 5.452/1943). Ademais, em havendo uma prestação de serviço caracterizada como relação de consumo, deverá ser aplicado o Código de Defesa do Consumidor, caso estejam presentes os requisitos constantes dos arts. 2.º e 3.º da Lei 8.078/1990. Aplica-se o CDC nos casos em que um prestador, profissional na atividade que desempenha, oferece um serviço a um destinatário final, denominado consumidor, mediante uma remuneração direta ou vantagens indiretas. Como é notório, o CDC abrange os serviços de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, desde que não tenham natureza trabalhista (art. 3.º, § 2.º, da Lei 8.078/1990). Na opinião deste autor, o art. 593 do CC não é totalmente excludente, no sentido de não se aplicar as normas previstas nesses estatutos jurídicos, de forma complementar. Em outras palavras, as regras do Código Civil podem ser perfeitamente aplicáveis à relação de emprego ou de consumo, desde que não entrem em conflito com as normas especiais e os princípios básicos dessas áreas específicas e, ainda, desde que não coloque o empregado ou o consumidor em situação desprivilegiada. A conclusão é a retirada da aplicação da festejada tese do diálogo das fontes aqui exaustivamente citada (Claudia Lima Marques e Erik Jayme). Nesse contexto, é possível aplicar, com sentido de complementaridade, o Código Civil e a Consolidação das Leis do Trabalho, ou o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor a uma determinada prestação de serviço. Ainda quanto à prestação de serviço, é forçoso reforçar que ela não é mais tratada pelo Código Civil como espécie de locação, pois a atual codificação distancia a prestação de serviços da locação de coisas, tratando-a após o contrato de empréstimo (comodato e mútuo). Essa alteração estrutural demonstra uma mudança de paradigma em relação ao anterior enquadramento da matéria, uma vez que a locação de serviços era apontada como espécie do gênero locatício. Então, deve ficar claro que apenas para fins didáticos é que se está tratando a prestação de serviço antes do contrato de empréstimo. Superada essa análise preliminar, parte-se ao estudo das regras específicas constantes no atual Código Civil. Não podemos confundir o contrato de prestação de serviços, com outros que se assemelham. Portanto, o contrato de prestação de serviços não se confunde com o contrato empregatício. A diferença existente entre os dois é a subordinação jurídica existente no contrato de emprego, que não há no contrato de prestação de serviços. 142 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 90) destaca que “o aludido diploma cogita do contrato de prestação de serviço apenas enquanto civil no seu objeto e na disciplina, executado sem habitualidade, com autonomia técnica e sem subordinação”. Cumpre, ainda, destacar que o contrato de prestação de serviços não se confunde contrato de empreitada. O que distingue a empreitada da prestação de serviços é o fato de que na empreitada, a finalidade é específica, vale dizer, a realização de uma obra ou a criação de um objeto novo como uma construção civil, uma criação artística, técnica ou artesanal. Em outras palavras, a empreitada vincula-se ao resultado, enquanto a prestação de serviços tem como finalidade a atividade em si. 2.2 OBJETO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO Para saber o objeto desse contrato, recomenda-se a leitura do artigo 594 do Código Civil, que dispõe: “toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição” (BRASIL, 2002). Qualquer atividade corpórea (material) ou incorpórea (imaterial) que seja lícita pode ser contratada de forma eventual, remunerada e sem subordinação, o que não afasta o reconhecimento de que o tomador do serviço não raro indique ao prestador a forma como quer que seja realizada a atividade. A confecção da pintura de um prédio, o reparo do sistema elétrico de uma casa, a limpeza de um terreno, a lavagem de um carro, dentre outras atividades manuais podem ser consideradas como exemplos de serviços materiais. Como exemplo de atividades imateriais podem ser citados a consultoria jurídica, contábil, financeira e, até mesmo, o serviço de informações pessoais de alguém para o caso da concessão de um empréstimo ou da celebração de um contrato de locação residencial. Se a atividade contratada for ilícita, impossível, indeterminável ou até mesmo se o motivo que anima os contratantes for ilícito estaremos diante de um contrato nulo, ex vi do art. 166, II e III do Código Civil (MELO, 2019, p. 571). É, em regra, uma atividade certa e determinada, mas é possível estabelecer um contrato de prestação de serviços sem uma determinação específica. Neste sentido, o artigo 601 estabelece “Não sendo o prestador de serviço contratado para certo e determinado trabalho, entender-se-á que se obrigou a todo e qualquer serviço compatível com suas forças e condições” (BRASIL, 2002). 2.3 NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS A natureza jurídica verifica a origem de determinado instituo para o mundo jurídico. Assim, quando estudamos a natureza jurídica do contrato de prestação de serviços, estamos examinando como ele surgiu e passou a estabelecer regras entre as partes. TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 143 A prestação de serviços é contrato: • bilateral ou sinalagmático - é uma espécie de contrato que cria obrigação para ambas as partes. Tanto o contratante, quanto o contratado assumem deveres com a sua celebração; • oneroso - ambos os contratantes têm perdas na celebração do contrato. O contratante deve pagar pela prestação de serviço e o contratado deverá prestar o serviço de forma adequada; • consensual - pois a simples manifestação de vontade entre as partes considera o contrato celebrado; • não solene - pois a lei não estabeleceforma para sua celebração, ficando a critério das partes; • típico ou nominado - porque existe previsão expressa na lei sobre sua existência, estabelecendo regras para sua interpretação; • paritário ou de adesão - paritário quando os contratantes, conjuntamente, elaboram suas cláusulas. Mas, também, pode ser de adesão, quando apenas um deles estabelece as cláusulas e a outra parte apenas concorda; • personalíssimo, em regra - tem caráter de pessoalidade, em regra a celebração do contrato do prestador de serviço considera a pessoa e não apenas o serviço que será prestado. 2.4 DURAÇÃO E POSSIBILIDADE DE RESILIÇÃO UNILATERAL DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS De acordo com o artigo 598 do Código Civil, a duração do contrato de prestação de serviços é limitada a, no máximo, quatro anos. A doutrina explica que esse limite existe para se evitarem prestações de serviço por tempo muito longo, vinculando-se o prestador de forma vitalícia. Assim, aplica-se o brocardo latino: nemo potest locare opus in perpetuum. A doutrina diverge quanto à possibilidade de renovação do contrato de prestação de serviços, findo o prazo de 4 anos previsto no artigo 598 do Código Civil. Carlos Roberto Gonçalves (2014. p. 90) sustenta que: “Nada obsta a que, findo o quatriênio, novo contrato seja ajustado entre as partes pelo mesmo prazo. Não será nula a avença celebrada por prazo superior a quatro anos, podendo o juiz, neste caso, reduzir o excesso ao tempo máximo permitido na lei”. Cristiano Chaves de Farias e outros autores (2014, p. 439), defendem que “não há possibilidade de renovação e, se existirem outras renovações, todas somadas não podem ultrapassar o limite de quatro anos”. Em relação à possibilidade de o contrato de prestação de serviço fixar um prazo superior a quatro anos, a doutrina e a jurisprudência entendem que se aplica o princípio da conservação dos contratos, devendo-se desconsiderar o 144 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS excesso. Flávio Tartuce (2018b, p. 701) não concorda com esse entendimento e defende que “o artigo 598 é norma de ordem pública e não pode ser contrariado por convenção entre as partes”. O artigo 599 do Código Civil cuida da possibilidade de resilição unilateral do contrato, embora disponha sobre “resolução”. Trata-se de um lapso técnico, porque a resolução é forma de extinção do contrato em razão do seu descumprimento, enquanto o dispositivo legal cuida de um direito potestativo que a parte possui em relação à extinção, conforme o artigo 473 do Código Civil. Assim, o parágrafo único do artigo 599 do Código Civil dispõe sobre prazos a resilição unilateral ou denúncia vazia, o que ele denomina aviso prévio. Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode resolver o contrato. Parágrafo único. Dar-se-á o aviso: I - com antecedência de oito dias, se o salário se houver fixado por tempo de um mês, ou mais; II - com antecipação de quatro dias, se o salário se tiver ajustado por semana, ou quinzena; III - de véspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias (BRASIL, 2002). A razão de ter esses prazos de prévio aviso é o dever de informar a outra parte, consectário do princípio da boa-fé objetiva nas relações contratuais. Esses prazos são aplicados tanto para o prestador de serviços, quanto para o tomador tendo em vista o equilíbrio do contrato. Caso uma das partes desrespeite esse aviso prévio, a outra poderá pleitear perdas e danos. O artigo 602 do Código Civil, veda a denúncia imotivada no contrato por tempo certo ou por obra determinada. Caso o prestador realize a denúncia imotivada, terá direito a retribuição vencida, porém responderá por perdas e danos. Nesse sentido, leia-se: Art. 602. O prestador de serviço contratado por tempo certo, ou por obra determinada, não se pode ausentar, ou despedir, sem justa causa, antes de preenchido o tempo, ou concluída a obra. Parágrafo único. Se se despedir sem justa causa, terá direito à retribuição vencida, mas responderá por perdas e danos. O mesmo dar-se-á, se despedido por justa causa (BRASIL, 2002). 2.5 EXTINÇÃO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS O art. 607 do Código Civil dispõe ocorrer o término do contrato de prestação de serviço nos seguintes casos: TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 145 a) com a morte de qualquer das partes; b) pelo escoamento do prazo; c) pela conclusão da obra; d) pela rescisão do contrato mediante aviso prévio; e) por inadimplemento de qualquer das partes; f) pela impossibilidade de sua continuação, motivada por força maior. Em relação à primeira causa de extinção, observa-se o caráter personalíssimo ou “intuitu personae” do contrato, não sendo suscetível de transmissão com a morte. 2.6 NOTAS SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS ARTIGOS 608 E 609 DO CÓDIGO CIVIL Dois artigos pouco explorados pela doutrina de redação não muito clara, merecem nossa atenção. Comecemos pelo artigo 608 do Código Civil que dispõe: “Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos” (BRASIL, 2002). Esse artigo cuida da hipótese em que determinada pessoa atrai ou recruta outras pessoas, já comprometidas por um contrato escrito, para a realização de serviços a ela, afastando os prestadores de serviço da função contratada originalmente. Percebe-se que esse artigo tem como finalidade evitar e punir, prefixando o valor das perdas e danos, a concorrência desleal. Essa prática também é punida no artigo 207 do Código Penal e caracteriza no artigo 195, IV da Lei 9.279/98 (Lei da Propriedade Industrial) crime de concorrência desleal. O artigo 608 atinge terceiro que não é parte no contrato, mostrando claramente a atenuação da relatividade dos contratos e a aplicação do princípio da função social dos contratos. Dificuldade há na doutrina de exemplificar essa relação, haja vista que a maior parte das hipóteses legais não configurará contrato de prestação de serviços, mas sim contrato de emprego. Um exemplo que demonstra essa dificuldade é encontrado na obra de Tepedino, Barbosa e Moraes (2006, p. 340), que oferecem como exemplo o “do chef de cozinha que é levado pelo concorrente para trabalhar em seu estabelecimento”. Ora, o contrato do chefe de cozinha, pela subordinação jurídica que exige, não pode ser tido como contrato de prestação de serviços, mas sim, como de emprego. É interessante observar que essa norma tinha correspondente no Código Civil de 1916, no artigo 1.235, com mais utilidade prática à época em que as relações de trabalho ainda eram regidas pela antiga locação de serviços, que hoje se denomina prestação de serviços. 146 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 339) sustenta que esse dispositivo se restringe aos casos em que a prestação de serviços anterior é contratada com caráter de exclusividade, como ocorre com técnicos de alta especialização, não se aplicando àqueles em que a atividade do trabalhador consiste precipuamente em atender vários clientes. Sílvio Venosa (2003, p. 192) defende a mesma ideia e oferece um exemplo interessante: “imagine-se a situação do técnico de alta especialização, que se vincula com exclusividade para a manutenção de um equipamento perante o dono do serviço. O aliciamento por terceiro, concorrente no mesmo mercado, nesse caso, gerará o dever de indenizar”. Analisemos, agora, o artigo 609 do Código Civil que dispõe: “A alienação do prédio agrícola, em que se opera a prestação dos serviços, não importa a rescisão do contrato, salvo ao prestador opção entre continuá-lo com o adquirente da propriedade ou com o primitivo contratante” (BRASIL, 2002). Conforme Tepedino e outros, “o prestador de serviço agrícola tema possibilidade de permanência no prédio a fim de terminar o contrato, não obstante haver o mesmo passado a outro dono. É a este que o CC impõe a obrigação de aceitar o prestador de serviços se não preferir ele continuar o contrato com o locatário antigo, do serviço anterior” (TEPEDINO; BARBOSA; MORAES 2006, p. 340). Assim, verifica-se o caráter protetivo dessa norma, criando um direito potestativo para o prestador de serviços, que pode prestando serviços para o adquirente da propriedade até o fim do seu contrato. Caso o adquirente não queira cumprir o contrato, deverá indenizar o prestador de serviços por inadimplemento do contrato. 2.7 O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS JURÍDICOS Percebemos, que o cliente e o profissional de serviços jurídicos celebram um contrato de prestação de serviços. Dessa forma devem seguir as regras estabelecidas na lei civil, como vimos anteriormente. Mas, o principal aspecto a ser analisado é a peculiaridade do serviço a ser prestado. Em primeira análise devemos perceber que esse contrato envolve sempre um caráter personalíssimo, como vimos anteriormente, é celebrado quando o profissional de serviços jurídicos consegue transmitir ao cliente a segurança necessária, para que confie em sua representação na defesa de seus interesses. Outro ponto interessante a ser observado diz respeito à resilição contratual. Pois como é um contrato cuja base principal é a confiança, se algum momento for quebrado é facultado a qualquer das partes requerer a sua extinção. Permitindo que o cliente e o profissional de serviços jurídicos renunciem a continuidade daquele contrato quando não se sentirem seguros quanto a prestação adequada do serviço. TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 147 Cumpre ainda ressaltar que o contrato de prestação de serviços jurídicos fixa os honorários que serão devidos ao profissional e este serve como título executivo extrajudicial, nos termos do artigo 784 do Código de Processo Civil: Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: [...] XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva (BRASIL, 2015). Combinado esse dispositivo com artigo 24 da Lei nº 8.906/94, o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos advogados do Brasil que tem a seguinte redação: Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os estipular são títulos executivos e constituem crédito privilegiado na falência, concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial. § 1º A execução dos honorários pode ser promovida nos mesmos autos da ação em que tenha atuado o advogado, se assim lhe convier. § 2º Na hipótese de falecimento ou incapacidade civil do advogado, os honorários de sucumbência, proporcionais ao trabalho realizado, são recebidos por seus sucessores ou representantes legais. § 3º (vetado) § 4º O acordo feito pelo cliente do advogado e a parte contrária, salvo aquiescência do profissional, não lhe prejudica os honorários, quer os convencionados, quer os concedidos por sentença (BRASIL, 1994a). Assim, se no contrato de prestação de serviço estiver delimitada a prestação de serviço a ser feita, o valor a ser pago por tal prestação e o prazo de pagamento, este torna-se um título executivo extrajudicial e permite que os honorários sejam cobrados diretamente nos autos do processo em que atuou. 3 O CONTRATO DE MANDATO Conforme o artigo 653 do Código Civil, “opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses” (BRASIL, 2002). 3.1 MANDATO E PROCURAÇÃO Conforme o artigo 653, última parte: “a procuração é o instrumento do mandato” (BRASIL, 2002). A procuração, no sentido do artigo 653 do Código Civil, é o documento ou título, público ou particular, por meio do qual o mandante estabelece os poderes outorgados ao mandatário, de forma que este possa praticar atos e administrar negócios em seu interesse. 148 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS 3.2 PARTES DO CONTRATO DE MANDATO O contrato de mandato se constitui entre o mandante (que confere os poderes e é representado) e o mandatário (que representa o outro). Os atos do mandatário vinculam o mandante, se forem praticados dentro dos poderes conferidos. Os atos praticados além do mandato só produzem efeito contra o mandante, se ele os ratificar (art. 665). Em relação à capacidade das partes, existem regras especiais que devem ser observadas. Com efeito, estabelece o artigo 654 do Código Civil que todas “as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante” (BRASIL, 2002). Como se pode notar, é imprescindível que o mandante seja plenamente capaz para outorgar mandato. Isso não se exige do mandatário, pois conforme se extrai do artigo 666 do Código Civil, o relativamente incapaz também pode assumir a posição de mandatário, mas, neste caso, o mandante assume o risco da contratação do mandatário. Um exemplo corriqueiro: pai confere ao filho de 16 anos poderes para representá-lo na reunião de condomínio. Caso o mandatário menor não realizar a representação a contento, o risco será unicamente do mandante. 3.3 SEMELHANÇAS E DISTINÇÕES ENTRE O CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E O CONTRATO DE MANDATO Os profissionais liberais são, em geral, prestadores de serviços, mas o advogado é, ao mesmo tempo, mandatário e prestador de serviços. Todavia, esses contratos se distinguem porque a ideia de representação só existe no contrato de prestação de serviços. O objeto desses dois contratos também não se confunde. Enquanto a prestação de serviços tem como objeto realizar fato ou determinado trabalho, material ou imaterial; o mandato tem como objeto a autorização para realizar qualquer ato ou negócio jurídico. Espécies de representantes: • Legais: a lei confere ao mandatário poder para administrar bens. É o que acontece com o mandato conferido aos pais, tutores e curadores. • Judiciais: o juiz nomeia o mandatário como é o caso do inventariante e do síndico na falência. • Convencionais: recebem procuração para agir em nome do mandante. TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 149 Alguns atos jurídicos personalíssimos não podem ser praticados por meio de representante. É o caso do testamento, a realização de concurso público, o serviço militar, o mandato eletivo, o exercício do poder familiar etc. 3.4 CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO DE MANDATO O contrato de mandato é: • É contrato personalíssimo ou “intuito personae” - o mandato tem como base a confiança das partes. É pode este motivo que o contrato pode ser renunciado ou revogado caso a confiança seja abalada (resilição unilateral), e se extingue com a morte de qualquer das partes. É um contrato que, em regra, pode ser revogado. As exceções estão no artigo 683 a 686, parágrafo único do Código Civil. • É contrato consensual - necessita apenas no consenso das partes para se aperfeiçoar. • É um contrato não solene - admite a forma tácita ou verbal, conforme o artigo 656 do Código Civil. Excepcionalmente, pode ser solene, como é o caso do casamento por procuração, que exige instrumento público, com poderes especiais (art. 1.542, CC). • É contrato gratuito, em regra - conforme o artigo 658 do Código Civil, “o mandato presume-se gratuito, quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa” (BRASIL, 2002). O mandato confiado a advogado, corretor e despachante presume-se oneroso. Caso não haja previsão sobre a remuneração a ser paga nos casos em que o contrato é oneroso, esta será paga conforme os usos do lugar; ou por arbitramento judicial (artigo 658, parágrafo único, Código Civil). • É unilateral - em regra, pois somente gera obrigações para o mandatário. Porém, se houver previsão de remuneraçãoserá bilateral e oneroso. 3.5 FORMA DO MANDATO Conforme o artigo 656 do Código Civil, o mandato pode ser expresso ou tácito, verbal ou por escrito. Em relação ao mandato expresso verbal pode existir a dificuldade de prová-lo. É possível demonstrá-lo por todos os meios admitidos em direito, tal como a prova testemunhal. A aceitação do mandato pode ser tácita, e resulta do começo de execução. A jurisprudência trabalhista aceita o mandato tácito, considerando mandatário o advogado que comparece a juízo, acompanhando a parte em audiência, mesmo sem procuração, nos moldes da Súmula 164 do TST. 150 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Outra observação que deve ser feita em relação à forma é a de que a liberdade de forma no contrato de mandato é regra, mas a excepcionalmente a forma será a exigida pela lei, quando o ato que tiver que ser praticado tiver de ser celebrado por escrito, conforme o art. 657 do Código Civil. Um exemplo é o caso de mandato para venda de um apartamento, que exige escritura pública. 3.6 O SUBSTABELECIMENTO O substabelecimento é a cessão da posição contratual de mandatário. Por meio do substabelecimento, o mandatário (substabelecente) transfere a outra pessoa (substabelecido ou submandatário) os seus poderes de representante convencional do mandante. O substabelecimento substitui o mandatário, temporária ou definitivamente. Em outras palavras, o substabelecimento é uma transferência de poderes. É uma verdadeira relação negocial derivada. O substabelecimento pode ser com ou sem reservas de poderes para o mandatário original, vale dizer, o mandatário original poderá ou não resguardar-se os poderes inicialmente estabelecidos. No substabelecimento sem reserva, a cessão dos poderes é integral e o mandatário desvincula-se do contrato, que passa à responsabilidade exclusiva do substabelecido. Segundo sustenta Pablo Stoze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010), o substabelecimento é direito subjetivo do mandatário, que apenas pode ser subtraído por previsão legal específica ou cláusula contratual impeditiva expressa. A responsabilidade pelos danos eventualmente causados pelo substabelecido é tratada no artigo 667 do Código Civil. Em relação à forma do mandato, aplica-se o artigo 655 do Código Civil, que dispõe: “Ainda quando se outorgue mandato por instrumento público, pode substabelecer-se por instrumento particular” (BRASIL, 2002). Necessário observar o Enunciado 182 da III Jornada de Direito Civil do CJF sobre a interpretação deste artigo: “Art. 655: O mandato outorgado por instrumento público previsto no artigo 655 do Código Civil somente admite substabelecimento por instrumento particular quando a forma pública for facultativa e não integrar a substância do ato” (CJF, 2020, s.p.). Se A constitui B por instrumento público, como seu procurador para vender determinado bem móvel, é possível que A substabeleça o mandato a C, por instrumento particular. Este substabelecimento é válido. 3.7 ESPÉCIES DE MANDATO Conforme o artigo 656 do Código Civil, o mandato pode ser “expresso ou tácito, verbal ou escrito” (BRASIL, 2002). TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 151 • O mandato tácito apenas se admite nos casos em que a lei não exige mandato expresso. A aceitação do encargo, neste caso, ocorre por atos que a presumem. É o que acontece quando ocorre começo de execução. São exemplos de mandato tácito: a) artigo 1.643, I e II do Código Civil: autorização dos cônjuges, independentemente da autorização do outro, a “comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica” e a “obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir” (BRASIL, 2002); b) artigo 1.324 do Código Civil: presume representante comum o condômino que administrar sem oposição dos outros; c) art. 1652, II do Código Civil: responsabiliza o cônjuge que estiver na posse dos bens particulares do outro “como procurador, se tiver mandato expresso ou tácito para os administrar” (BRASIL, 2002). • O mandato verbal só pode ocorrer nos casos em que a lei não exige o mandato escrito e pode ser comprovado por testemunhas ou outros meios de prova admitidos em direito. • O mandato escrito é o mais comum e pode ser outorgado por meio particular ou instrumento público. Quanto à finalidade, o mandato pode ser judicial ou extrajudicial. O artigo 692 do Código Civil cuida do mandato judicial. Esse é o mandato que habilita o advogado a agir em juízo. Já o mandato extrajudicial é aquele que não se destina à atividade postulatória, mas sim, à prática e administração de negócios em geral. A procuração do mandato judicial denomina-se “ad judicia”; enquanto a procuração do mandato extrajudicial denomina-se “ad negotia”. Os artigos 686 e 689 são exemplos de mandato aparente. “Caracteriza-se o mandato aparente quando terceiro de boa-fé contrata com alguém que tem toda a aparência de ser representante de outrem, mas na verdade não é” (GONÇALVES, 2018, p. 471). Nesse caso, protege-se a boa-fé desse terceiro e o suposto mandante fica vinculado ao contrato. Exemplos de Caio Mário (2016, p. 411 apud GONÇALVES, 2017, p. 471): “ter assinado em branco o instrumento, ou havê-lo redigido obscuramente, ou ainda ter revogado o mandato sem comunicá-lo a terceiro etc.”. Quando outorgados a mais de uma pessoa, os mandatos podem ser conjuntos (todos os mandatários atuam conjuntamente, e se atuarem em separado, o ato será inválido, a não ser que seja ratificado pelos que não participaram posteriormente), fragmentários ou fracionários (os mandatários são designados e atuam em atos diferentes), sucessivos (os mandatários atuam em atos distintos, que se sucedem no tempo), ou solidários (qualquer um dos mandatários pode praticar todos os atos designados, independentemente da participação dos demais comandatários). Recomenda-se a leitura do artigo 672 do Código Civil. Presume-se que o mandato outorgado a mais de uma pessoa é solidário, podendo qualquer delas atuar e substabelecer separadamente. Para que os mandatários sejam considerados conjuntos, ou especificamente designados para atos diferentes, deverá necessariamente que constar da procuração. 152 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Quanto à extensão dos poderes conferidos, o mandato pode ser: • especial a um ou mais negócios determinadamente. Exemplo: compra de um determinado imóvel; • geral a todos os negócios do mandante (art. 660, CC). O mandato em termos gerais não se confunde com os anteriores. O mandato em termos gerais confere ao mandatário o poder de praticar todos os atos necessários à defesa dos interesses do mandante. Mas, segundo o art. 661 do Código Civil, só confere poderes de administração. Assim, para atribuir poderes que ultrapassam a administração ordinária (alienar, hipotecar, transigir), depende a procuração de poderes especiais e expressos (art. 661, § 1º CC). O mandato com poderes especiais só autoriza a prática de um ou mais negócios especificados na procuração. A administração ordinária compreende atos de simples gerência, como o pagamento de impostos, a contratação e a demissão de empregados, a realização de pequenos consertos etc. 3.8 ACEITAÇÃO DO MANDATO E A RATIFICAÇÃO DO MANDATO A aceitação do mandatário não figura da procuração. Em regra, é um acordo verbal. Verifica-se quando o mandatário dá início à execução. O silêncio do mandatário e a não devolução imediata da procuração são sinais de aceitação. Já se o mandatário exceder os limites e o tempo do mandato, será necessária a ratificação. Se isso ocorrer, os atos que excederem o mandato serão considerados ineficazes em relação ao mandante, a não ser que ele os ratifique. É o que dispõe o artigo 662 do Código Civil. A ratificação pode ser expressa ou tácita. Esta última é a que resulta de ato inequívoco que demonstre a vontade do mandante cumprir o negócio realizado em seu nome pelo mandatário. Exemplo:o locador recebe aluguéis de imóvel alugado por mandatário com excesso de poderes, o que ratifica o contrato de locação. 3.9 OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO O mandatário possui obrigações de fazer, executando o mandato com zelo e diligência, prestando contas ao final do mandato. Em outras palavras, o mandatário possui o dever de: TÓPICO 2 — DA SEGURANÇA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO 153 • Agir em nome o mandante, dentro dos poderes conferidos na procuração. Caso exceda esses poderes, ele será tratado como mero gestor de negócios (art. 665 e 662, CC). • Aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato e indenizar o prejuízo decorrente de sua culpa ou do substabelecido (art. 667, CC). O mandatário que não age com diligência habitual atua com culpa. A culpa se presume quando não há um bom desempenho do mandato, cabendo ao mandante comprovar esse fato em juízo. Em relação à responsabilidade do mandatário no que diz respeito aos atos praticados pelo substabelecido, o Código Civil elenca quatro situações, a saber: • art.667, § 2º: “havendo poderes de substabelecer, só serão imputáveis ao mandatário os danos causados pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na escolha deste ou nas instruções dadas a ele” (BRASIL, 2002). Cuida-se da chamada culpa “in eligendo”, que se caracteriza pela má escolha do substituto, como a que recai sobre pessoa notoriamente desonesta ou incapaz. • art. 667, caput: substabelecimento realizado sem autorização, caso em que o substabelecente responderá pelos prejuízos que o mandante sofrer, por culpa sua ou daquele a quem substabelecer. Trata-se de um grau de responsabilidade maior do mandatário original, porque sua obrigação era intuitu personae. • art. 667, § 1º: caso exista proibição do substabelecimento pelo mandante, o mandatário que não a cumprir, responde perante o mandante pelos prejuízos ocorridos sob a gerência do substituto, derivados de culpa deste, e inclusive pelos decorrentes do fortuito, salvo provando que o caso teria sobrevindo, ainda que não tivesse havido substabelecimento. • art. 667, § 4º: no caso de omissão da procuração em relação ao substabelecimento, o procurador será responsável se o substabelecido proceder culposamente. Caso não haja previsão expressa em relação a possibilidade de substabelecer, é possível fazer o substabelecimento. Porém, o mandatário assume a responsabilidade pela sua escolha. • Prestar contas de sua administração ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja (art. 668, CC). A obrigação de prestar contas se transmite aos herdeiros do mandatário, embora o exercício do mandato não se transmita. • Apresentar o instrumento do mandato à todas as pessoas, com quem tratar em nome do mandante (art. 673 e 663, CC). O mandatário tem obrigação de agir em nome do mandante. Se o mandatário age em seu próprio nome, não fica o mandante vinculado à obrigação. • Concluir o negócio já começado, “embora ciente da morte, interdição ou mudança de estado do mandante, se houver perigo da demora” (art. 674, CC). 154 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS Elementos do Contrato Marcelo Santos Baia O contrato é um tipo de negócio jurídico que pode ser do tipo bilateral ou plurilateral, em que as partes envolvidas registram as suas vontades de forma harmônica e estabelecem os meios para que estas sejam por fim alcançadas, as cláusulas ou artigos que devem ser redigidos tendo como fundamentação a legislação local. Por meio do contrato o interesse das partes, que pode ser bilateral ou mesmo plurilateral, é regulamentada através dos artigos e cláusulas acordadas entre as partes e, após de devidamente assinado, o contrato deve então ser cumprido em sua totalidade, caso contrário, a parte que por ventura vier de alguma forma causar dano pode sofrer alguns tipos de sanções. Para que um contrato seja realizado é preciso que seja percebido que o documento foi redigido tendo alguns princípios, como a boa-fé de todos os sujeitos envolvidos no negócio jurídico, caso contrário pode se identificar no teor do contrato vícios ou mesmo erros que o invalide. Além disso, é preciso que o contrato tenha em seu teor, expresso de forma clara, as vontades de ambas as partes, sendo deste modo a vontade um componente imprescindível para que um contrato seja considerado como válido. A vontade, mencionada, deve ser expressa de forma livre, ou seja, sem qualquer tipo de coação. Este artigo tem por objetivo apresentar o conceito de partes integrantes dos contratos, como a vontade, a ausência de vontade, os vícios da vontade, assim como a manifestação de vontade e a divergência entre vontade e a declaração. Por fim abordará como ocorre a formação do contrato. Para isso optou-se como metodologia de pesquisa a revisão de literatura obtiva em livros, dissertações e artigos científicos publicados gratuitamente on-line e disponibilizados em língua portuguesa. [...] Acadêmico, para a leitura completa deste artigo, acesse o link a seguir: https://cutt.ly/ haXcX5S. FONTE: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/elementos-do-contrato/>. Acesso em: 8 jul. 2020. INTERESSA NTE 155 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • As relações de prestação de serviços jurídicos exigem que os clientes se sintam seguros para celebração de um contrato. • O contrato de prestação de serviços vincula o profissional de serviços jurídicos e o cliente e cria para o primeiro a obrigação de representar o outro na defesa dos seus e direitos e para o segundo a obrigação de pagar os honorários, conforme estabelecido no contrato. • O contrato de prestação de serviços jurídicos tem um caráter de pessoalidade e é baseado em confiança. • O contrato de prestação de serviços poderá ser resilido unilateralmente, sempre, não haja mais confiança entre os contratantes. • É possível utilizar o contrato de prestação de serviços, no qual exista a delimitação do serviço, o valor da remuneração e o prazo de pagamento, como título executivo extrajudicial para cobrança de honorários. • A representação do cliente se opera através do contrato de mandato. • A procuração é documento ou título, público ou particular, por meio do qual o mandante estabelece os poderes outorgados ao mandatário. • Profissionais liberais são, em geral, prestadores de serviços, mas o advogado é, ao mesmo tempo, mandatário e prestador de serviços. • Certos atos jurídicos personalíssimos não podem ser praticados por meio de representante. • O substabelecimento é a cessão da posição contratual de mandatário. • O mandato judicial é o que habilita o advogado a agir em juízo. • O mandato extrajudicial é aquele que não se destina à atividade postulatória, mas sim à prática e administração de negócios em geral. 156 1 (CESPE/CEBRASPE, 2006, TCE-CE) No que concerne ao contrato de mandato, de acordo com o Código Civil, é CORRETO afirmar: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/376ed45c-5a>. Acesso em: 8 jul. 2020 a) ( ) O mandatário que exceder os poderes do mandato será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante não ratificar os atos. b) ( ) Se o mandato for outorgado por instrumento público não poderá substabelecer-se por instrumento particular. c) ( ) Para recebimento do que for devido em decorrência do mandato o mandatário não poderá reter o objeto da operação que lhe for cometida. d) ( ) O maior de 16 anos e menor de 18 anos, desde que emancipado, poderá ser mandatário, mas o mandante, em regra, não terá ação contra ele. e) ( ) Se o mandatário tiver ciência da morte ou interdição do mandante não deverá concluir o negócio já iniciado, inclusive em caso de perigo na demora. 2 (FGV, 2020, TJ-RS) Vitor foi contratado para representar o senhor Gervásio na realização de determinados atos jurídicos que lhe reverteriam benefício patrimonial. No curso da atuação, entretanto, Vitor toma ciência deque Gervásio veio a falecer. Diante disso, o mandato: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/916a397b-56>. Acesso em: 8 jul. 2020. a) ( ) se extingue, e Vitor não deve mais atuar; b) ( ) se extingue, mas Vitor deve concluir os atos já começados, se houver perigo na demora; c) ( ) se mantém até a abertura de inventário, e Vitor deve continuar atuando; d) ( ) se mantém, mas os atos de Vitor deverão ser ratificados pelo inventariante; e) ( ) se mantém até que Vitor termine todos os atos de que foi incumbido, não podendo o inventariante revogar seus poderes. 3 (CESPE/CEBRASPE, 2019, TJ-PA) Diogo contratou Pedroza para a prestação de serviços de advocacia. No decurso da execução do contrato, com diversas atividades já realizadas por Pedroza, Diogo tomou conhecimento de que ele não era advogado e não possuía, portanto, licença para exercer a referida profissão. Diante dessa situação hipotética, assinale a opção CORRETA, nos termos do Código Civil: FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/c171ae64-34>. Acesso em: 8 jul. 2020. AUTOATIVIDADE 157 a) ( ) Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as atividades foram cumpridas de maneira escorreita e que ele desconhecia a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de advocacia. b) ( ) Pedroza terá direito a receber a contraprestação financeira pela prestação de serviço já realizada, de forma equiparada a um advogado, desde que seja comprovado que as atividades foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, no que se refere ao direito à contraprestação, o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de advocacia. c) ( ) Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades foram cumpridas de maneira escorreita e que desconhecia a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de advocacia. d) ( ) Pedroza terá direito a receber uma compensação financeira pela prestação de serviço já realizada, mas não de forma equiparada a um advogado, se comprovar que as atividades foram cumpridas de maneira escorreita, sendo irrelevante, para fins de direito à compensação, o fato de ele desconhecer a necessidade de especial habilitação para exercer serviços de advocacia. e) ( ) Pedroza não terá direito a receber contraprestação ou compensação financeira pela prestação do serviço de advocacia, independentemente de as atividades terem sido cumpridas de maneira escorreita e de ele ter conhecimento da necessidade de especial habilitação para o exercício de serviços de advocacia. 158 159 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A tecnologia é uma realidade mundial em todos os ramos e a prestação de serviços jurídicos, não poderia ficar a par dessa “revolução”, que, apesar de proporcionar muitas facilidades para o prestador de serviços, pode trazer muita insegurança quanto às informações. Os processos eletrônicos são uma realidade no nosso pais e a cada dia estão mais presentes no judiciário brasileiro. Esses processos são efetivação do princípio da celeridade processual. Entretanto, é fundamental, que exista uma garantia de segurança nos processos, que é baseada em certificações com regras, extremamente rígidas. Os dados dos clientes devem ser arquivados de forma segura, em conformidade com LPD (Lei de Proteção de Dados), garantindo a prestação de serviço de forma confiável. Assim, precisamos analisar o impacto da informatização na prestação de serviços jurídicos, para que seja feita de forma segura e satisfatória. Sempre garantindo ao cliente o valioso e festejado acesso à justiça. 2 OS PROCESSOS ELETRÔNICOS O processo judicial eletrônico é uma realidade no Brasil desde 2011. A cada dia que passa é mais ampliada a sua utilização e quase todo o território nacional e nos diversos tribunais. O Poder Judiciário, foi diretamente atingido, na esperança de que o meio eletrônico possa fornecer instrumentos que agilizem a tramitação dos inúmeros processos que existem em todo o País. Entretanto, é fundamental que a confiabilidade seja garantida, para que exista segurança no exercício da jurisdição estatal, no exercício da atividade Estado/Juiz. Esse sistema tecnológico de automação permite que alguns atos que representam, apenas, burocracia, sejam suprimidas e promovendo a maior celeridade processual. Assim, ficaria garantido o direito preceituado através do artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal de 1988, que dispõe ser “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garanta a celeridade de sua tramitação” (BRASIL, 2016, p. 17). TÓPICO 3 — A INFORMATIZAÇÃO E O PRESTADOR DE SERVIÇOS JURÍDICOS 160 UNIDADE 3 — ATENDIMENTO PELO PROFISSIONAL DE SERVIÇOS JURÍDICOS A partir do advento da Lei nº 11.419 de 19 de dezembro de 2006, foi autorizada a implantação de processos judiciais telemáticos. Inaugurando uma nova era nos procedimentos judiciais. Entretanto existe muita fragilidade na rede mundial de computadores que abala a confiabilidade dos processos eletrônicos para alguns usuários. A segurança de dados no ciberespaço fomenta discussões calorosas ao derredor da liberdade da rede mundial de computadores e a proteção ao usuário. Não é só a intimidade da vida privada dos cidadãos da aldeia digital o mote primordial nas referidas discussões, mas, principalmente, a proteção do internauta ante sua vulnerabilidade e hipossuficiência técnica na manipulação do meio comunicacional planetário. Em analogia ao estado de natureza hobbesiano, a liberdade exacerbada no ciberespaço nos conduz a mesma solução contra os vilipêndios às liberdades fundamentais, qual seja: a intervenção do Leviatã para instituição de regramento mínimo de conduta para ilidir os abusos e amenizar os riscos no ambiente virtual. Tendo em vista que o ciberespaço é instrumento comunicacional de ordem planetária, deve ser entendido desta maneira, ou seja, como um meio e não um fim e si mesmo. Logo, as mesmas regras de condutas utilizados na comunicação por meio de átomos, devem ser de observância no por meio de bits. Os dados disponibilizados pelos próprios usuários do hiperespaço, as informações de consumo e os dados pessoais das transações serão retidos no ciberespaço, podendo ser manipulada, cedida e até subtraída. Uma vez que o marco civil regulatório do uso da internet no Brasil ainda não foi sancionado e que a política de proteção e segurança da informação não abarca a proteção dos dados pessoais que constarão nos processos eletrônicos, imperativo que diretrizes sejam editadas para a implantação segura do processo judicial eletrônico (ALMEIDA, 2013, p. 3-4). A autora Patrícia Martinez Almeida, conclui dessa forma: A problemática da desterritorialização do ciberespaço, não justifica o abandono estatal da proteção aos usuários da rede mundial de computadores, tampouco, autoriza a invasão aos direitos e garantias à segurança digital e aos direitos humanos já consagrados. Neste sentido, da dicotomia entre direito à informação e proteção de dados pessoais na implantação do processo judicial eletrônico e a segurança digital concluiu-se que a instrumentalização digital do processo judicial a priori contribui para o acesso à justiça, diante da acessibilidade e transparência dos atos processuais pelos jurisdicionados, entretanto dada a ausência de regramento protetivo dos dados pessoais dos jurisdicionados, o processo judicial eletrônico, nos moldes que fora esculpido, acaba por vulnerar a segurança digital e, logo os Direitos Humanos. Entendendo a segurança digital como Direito Humano conclui-se pela necessidade de regulamentação quanto ao uso da internet no Brasil,