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Prévia do material em texto

1
JORGE BENEDITO DE FREITAS TEODORO 
EDUCAÇÃO A 
DISTÂNCIAFACULDADE ÚNICA
PRÁTICA PEDAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAR: ÉTICA E 
ESTÉTICA
1
JORGE BENEDITO DE FRIETAS TEODORO
PRÁTICA PEDAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAR: ÉTICA E 
ESTÉTICA
1
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL
 Diretor Geral: Valdir Henrique Valério
 Diretor Executivo: William José Ferreira
 Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos
 Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
 Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa
 Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite
 Carla Jordânia G. de Souza
 Guilherme Prado Salles
 Design: Aline de Paiva Alves
 Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Taisser Gustavo Soares Duarte
© 2021, Faculdade Única.
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita 
do Editor
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300
www.faculdadeunica.com.br
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
2
Ipatinga, MG
Faculdade Única
2020
PRÁTICA PEDAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAR: ÉTICA E 
ESTÉTICA
3
4
LEGENDA DE
Ícones
São os conceitos, definições ou afirmações importantes 
aos quais você precisa ficar atento.
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do 
conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones 
ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado 
trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a 
seguir:
São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca 
virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, 
associando-os a suas ações.
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos 
conteúdos abordados no livro.
Apresentação dos significados de um determinado termo ou 
palavras mostradas no decorrer do livro.
 
 
 
FIQUE ATENTO
BUSQUE POR MAIS
VAMOS PENSAR?
FIXANDO O CONTEÚDO
GLOSSÁRIO
8
 O PENSAMENTO FILOSÓFICO UNIDADE
01
9
1.1 O QUE SIGNIFICA FILOSOFAR?
 A filosofia nasce do questionamento e do abandono das certezas previamente con-
cebidas. “Só sei que nada sei”, a frase inaugural proferida por Sócrates (469 a.C– 399 a.C), 
ilustra esse movimento no qual a atividade crítica determinada pela razão (lógos), isto é, 
a atividade orientada pelo pensamento ordenado, reflexivo e, principalmente, oposto a 
todo e qualquer saber místico/ilusório, inicia a sua interrogação dos diversos campos que 
compõe os seres humanos. É no reconhecimento dessa ignorância inicial, submetida aos 
desígnios da racionalidade, que o significado do filosofar ilumina-se, trazendo ao campo 
reflexivo do ser humano questões próprias a sua natureza, a realidade, ao conhecimento, 
procurando sempre perguntar o que?; o porquê?; e o como? das coisas.
 Deste modo, o filosofar, ao adotar a razão como força motriz de suas interroga-
ções, procura afastar-se das explicações triviais, óbvias e evidentes para situar o sujeito em 
um novo mundo determinado pela incessante atividade filosófica do questionamento. 
Trata-se, portanto, do movimento filosófico/reflexivo de, através do aprofundamento das 
questões, conduzir o ser humano a ultrapassar a aparência simples da realidade para, final-
mente, buscar a verdade. Assim, a atitude do filosofar adota as vestes da tarefa socrática 
de dar à luz ao conhecimento verdadeiro, ao tomar como método à maiêutica, regendo 
o sujeito ao encontro com o próprio conhecimento ou, em outros termos, uma atividade 
que se relaciona diretamente com a inquietante expressão: Conhece-te a ti mesmo.
A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo. 
(Merleau-Ponty)
Método: Caminho ou menio para se chegar a um fim.
Maiêutica: Método socrático para a interrogação da verdade. Consiste na interrogação suces-
siva com a finalidade de, com superação de questões simples, conduzir o sujeito a alcançar o 
conhecimento a partir de si mesmo
GLOSSÁRIO
 
Figura 1: Busto de Sócrates
Fonte: Arquivo do Autor
 É justamente a atitude do autoconhecimento a que se 
propõe a reflexão filosófica buscando, no interior de suas in-
dagações, revelar ao sujeito à possibilidade de construção do 
conhecimento diferenciado das crenças e das superstições. Em 
outras palavras, um conhecimento livre de dogmas, preconcei-
tos e, sistematicamente, vinculado ao desejo crítico e teórico 
de um saber próximo da verdade. Nesse sentido, a indagação 
filosófica acerca do sujeito e do mundo procura se fundamen-
tar mediante um percurso teórico racionalmente desenvolvido 
com a finalidade de se deparar com as questões incontorná-
veis sobre a existência e a essência humana, questionando-se 
acerca da vida e da morte, do ser e do ente, do bom e do belo, 
da experiência e do conhecimento, da origem, da forma e da causa das coisas. Portanto, 
questões admiráveis, tais como, o que é a verdade?; o que é a essência do ser humano?; 
10
o que é a justiça, a liberdade, a democracia?; para onde vamos e de onde viemos?; entre 
tantas outras interrogações são o que fornecem o substrato para a consolidação do filo-
sofar como uma atitude crítico-reflexiva fundamental ao ser humano e sem a qual toda 
e qualquer interação humana torna-se insuficiente.
A inscrição “Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o univer-
so”, datada entre 650 a.C. a 550 a.C., encontra- se inscrito no Templo de Apolo, na 
antiga cidade de Delfos, guardado pelo famoso Oráculo. De acordo com Sócrates, 
o desvendar tal inscrição significa o processo determinante de fundamentação 
humana em busca de uma vida mais equilibrada, autêntica e feliz.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=0MKSHRBS7xk
O filme Sócrates (1971), do cineasta italiano Roberto Rosselini, baseia-se na vida 
e nos pensamentos de Sócrates. LINK:https://www.youtube.com/watch?v=5Ta-
aT30L8yg
BUSQUE POR MAIS
 A filosofia surge da admiração diante do mundo, conforme ressaltado por Platão 
(427 a.C – 347 a.C), do reconhecimento da ignorância e dos esforços feitos para sua supe-
ração. Assim, na esteira do pensamento platônico, o filosofar aponta para a admiração 
de um novo mundo que se abre não a observação sensível do mundo captado pelos 
sentidos, mas sim àquele captado racionalmente pelos “olhos da alma”, local no qual o 
verdadeiro conhecimento repousa. Deste modo, para Platão, filosofar torna-se de uma 
atitude de, como dito por “Conhecer a verdade” “com os olhos da alma ou com os olhos 
da inteligência (CHAUÍ, 2002).
 O novo mundo referido por Platão e aberto pela atitude filosófica, só pode ser atin-
gido pela razão que coloca em questão a aparência da realidade. Isto é, trata-se, novamen-
te, da atividade incessante do questionamento das nossas opiniões, das nossas crenças e 
de nossos preconceitos, algo que, por sua vez, coloca-nos em um estado constante de 
crítica/questionamento da realidade afirmativa. Assim, o filosofar inaugura a tarefa atri-
buída à racionalidade de crítica do mundo e da realidade sensível, ressaltandoque aquilo 
que percebemos pelos sentidos constitui-se apenas como uma cópia da essência que 
repousa no mundo inteligível ou mundo das ideias. Conhecer a verdade com os olhos da 
alma significa, justamente, superar as limitações impostas pelos sentidos que são capazes 
apenas de nos fornece opiniões/cópias das verdades essenciais que só podem ser conhe-
cidas pela ação da racionalidade livre dos grilhões das aparências.
 Apresenta-se, portanto, com a filosofia platônica temos um significado para a ati-
vidade do filosofar que se fixa no dualismo, ou seja, na oposição entre mundo sensível e 
mundo das ideias. Tomando o mundo das ideias como o local por excelência da verdade 
e da essência das coisas presentes na realidade, Platão tornou-se conhecido como um dos 
principais filósofos do Idealismo.
https://www.youtube.com/watch?v=0MKSHRBS7xk
https://www.youtube.com/watch?v=5TaaT30L8yg
https://www.youtube.com/watch?v=5TaaT30L8yg
11
 
Figura 2: Representação do Mito da Caverna
Fonte: Arquivo do Autor
 A figura ao lado funciona como a repre-
sentação visual da importante alegoria platô-
nica intitulada de Mito da Caverna, presente 
no Livro VII, da República. O Mito da Caverna 
exemplifica, justamente, a oposição entre mun-
do sensível e mundo inteligível, bem como o 
processo de saída do sujeito das sombras do fal-
so-conhecimentopromovido pela aparência das 
coisas.
Alegoria: figura de linguagem utilizada para expressão de um pensamento. Representa- ção 
de uma teoria por meio de imagens
GLOSSÁRIO
 Platão inicia a alegoria da Caverna com a descrição de sujeitos que se encontram 
acorrentados desde a infância, sem a possibilidade de nenhum tipo de movimentação, 
dentro de uma profunda caverna iluminada pela luz de uma pequena fogueira. Diante 
de seus olhos, estende-se uma parede na qual são refletidas as sombras dos objetos que 
passam atrás deles. Durante toda a vida, os prisioneiros tomam aquelas sombras como a 
realidade, contemplando-as sem jamais questionarem as coisas visíveis.
 Um dos prisioneiros consegue escapar da condição de aprisionamento e, após ul-
trapassar as dificuldades do caminho pouco iluminado, dirige-se à saída da caverna. Ali, 
ele consegue avistar a luz do Sol e, pouco a pouco, sua visão acostuma-se com a lumi-
nosidade solar, tornando-o capaz de distinguir as sobras e os objetos verdadeiros. A partir 
desse momento, ele compreende que estivera preso durante toda a sua existência e aquilo 
que lhe apresentava à visão como verdade era, apenas, a sombra dos objetos verdadeiros, 
levando-o a conclusão de que, durante toda a sua vida, a realidade que se apresentava 
não era senão uma falsidade ou, em termos platônicos, uma mera cópia da verdade. Ao 
retornar à caverna, os demais prisioneiros, que ainda se encontravam aprisionados, não 
acreditam nas suas palavras e decidem permanecerem confinados na confiança prove-
niente das sombras sem, portanto, abandonarem as falsas-certezas construídas no interior 
da caverna.
Mundo Sensível (Dentro da Caverna) Mundo das ideais (Fora da Caverna)
Coisas visíveis Coisas pensadas/ Ideias (Eidos)
Seres vivos Objetos matemáticos
Senso comum/ Opinião (Dóxa)/ Crença Razão/ Conceito/Ideia
Imagens / Sombras Essência
Sentidos (Sensível) Intelecto / Racionalismo dedutivo
Conhecimento não-verdadeiro Conhecimento verdadeiro
Quadro 1 : O Dualismo de Platão: Mundo sensível X Mundo das ideias (inteligível)
12
 O Mito de Caverna ilustra a busca da verdade como tarefa primária da filosofia. Nesse 
sentido, por meio da utilização da razão, o filosofar torna-se capaz de ultrapassar as antigas 
certezas provenientes do senso comum, das opiniões e das crenças, situando-se como 
uma constante busca racional da saída de cavernas. Diante disso, a Filosofia transforma-se 
num instrumento de libertação e de configuração de um novo mundo preenchido pelo 
questionamento e pela busca incessante da verdade, não aceitando as coisas que se co-
locam, aparentemente, como naturais e óbvias como inquestionáveis.
O filme Matrix, de 1999, tem como influência o Mito da Caverna, de Platão, ao ques-
tionar a existências de uma realidade ilusória controlada por um computador. Os 
questionamentos de Neo (Keanu Reaves), o protagonista do filme, têm sua origem 
no des- pertar da consciência do seu estado de adormecimento na Matrix.
Ainda sobre o Mito da Caverna veja o LINK:
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/mito-caverna-platao.htm
BUSQUE POR MAIS
 Finalmente, o significado do filosofar ilumina-se como algo imprescindível à con-
dição humana, ocupando-se, enquanto de atividade de liberação, do processo de emanci-
pação e de construção de um sujeito reflexivo e atento à necessidade do questionamento 
racional e da atitude crítica perante a realidade como ferramentas fundamental para o 
bem-viver em sociedade. Portanto, como vimos anteriormente, o filosofar parte da afirma-
ção e, posterior, contestação do nosso estado de ignorância, não seguindo a atitude dos 
demais prisioneiros do Mito da Caverna, de Platão, que permanecem sentados diante da 
parede contemplando a falsa-certeza e a segurança ilusória das sombras, mas, pelo con-
trário, fundamentando-se racionalmente enquanto abertura de novos mundos e, sobretu-
do, de novos sujeitos questionadores, atentos à busca pela verdade na construção de uma 
sociedade plural, distante dos mecanismos de dominação, livre de preconceitos e aberta 
ao exame racional/avaliativo da vida e das coisas.
 1.2 O NASCIMENTO DA FILOSOFIA: FILOSOFIA GREGA
Assim, a raiz da filosofia é precisamente esse “ma-
ravilhar-se”, surgindo no homem que se confronta 
com o Todo (a totalidade), perguntando-se qual a 
sua origem e o seu fundamento, bem como o lugar 
que ele próprio ocupa nesse universo.
(Giovane Reale)
 Tales de Mileto (624 a.C. – 546 a.C.) é considerado o primeiro filósofo ao propor, ra-
cionalmente, a água como princípio originário da totalidade. Assim, remontando ao final 
do século VII a.C. e início do século VI a.C., temos em Mileto, na Jônia, a primeira proposta 
racional para ordenamento do mundo. Contudo, antes de tratarmos das cosmologias 
filosóficas e da proeminência da filosofia como palavra ordenadora do cosmos, faz-se 
necessário situarmos a relação entre o mito e o lógos.
https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/mito-caverna-platao.htm 
13
Cosmologia: mundo ordenado e organizado racionalmente.
Lógos: pensamento racional; discurso e conhecimento.
GLOSSÁRIO
 Para Vernant (1981, p. 73), “o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pen-
samento mítico e o começo de um saber de tipo racional”. Assim, falamos, incialmente, 
da necessidade de reordenação de uma nascente sociedade para qual a antiga explica-
ção mítica já não era suficiente. Nesse sentido, o mito, enquanto esquema de compreen-
são e organização do mundo, perde espaço para o lógos, um saber organizado segundo a 
lógica racional e que tem, sobretudo, a busca pela explicação verdadeira das coisas como 
pilar fundamental. Sobre o mito, Chauí (2000, p. 32) acentua o seguinte:
[...] mito é um discurso pronunciado ou proferido para ou-
vintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque 
confiam naquele que narra; é uma nar- rativa feita em 
público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilida-
de da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato 
de que ele ou testemunhou diretamente o que está nar-
rando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os 
acontecimentos narrados.
 Como dito por Chauí, a autoridade do mito advém daquele que o narra, isto é, o 
poeta é um sujeito inspirado pelos deuses e tocado pelas musas. Tal autoridade consiste, 
deste modo, em um pacto inquestionável de confiabilidade entre o poeta inspirado que 
narra o mito e o ouvinte que recebe a mensagem reveladora. Nesse sentido, a verdade 
transmitida pelo poeta é objeto da revelação divina e, consequentemente, não diz respeito 
à investigaçãoracional. Portanto, uma característica essencial da diferenciação entre o 
mito e o lógos é que o primeiro não faz da busca pela verdade um compromisso irrevo-
gável, uma vez que, tanto a autoridade do poeta, quanto a do discurso não são passiveis 
de interrogação, contudo, o saber mítico possui um poder não apenas de explicação da 
realidade, mas também de explicação sobre a origem do mundo e das coisas.
 Como narrativa de origem do mundo e das coisas, a mitologia grega funciona como 
uma cosmogonia, ou seja, o mito apresenta-se como uma narrativa sobre a organização 
e o nascimento do mundo a partir de forças geradoras naturais e divinas. Assim, podemos 
listar algumas características determinantes das narrativas mitológicas gregas:
1. Processo de antropomorfização da natureza, ou seja, conferir à natureza característi-
cas e formas humanas e, com isso, diminuir o seu temor e dar início ao processo de 
sua dominação: Exemplo: o tempo torna-se Cronos; o raio torna-se Zeus; os mares 
tornam-se Poseidon; a sabedoria torna-se Athena.
2. Os mitos possuem um caráter simbólico explicativo.
3. Conservam em seu entorno um Poder Divino e Ritualístico.
4. Não há separação entre o mundo divino e a realidade terrena.
5. O cosmos se constitui como uma hierarquia de poderes determinada por um agente 
14
soberano que institui a ordenação.
6. Possui uma ordenação politeísta, composta por um panteão de vários deuses e deu-
sas.
Kerényi (2015), publicou o livro A mitologia dos gregos: vol. I: a história dos deuses 
e dos homens, oferendo uma importante coletânea de narrativas mitológicas, in-
cluindo narra- ções sobre a origem do cosmos, dos deuses e dos humanos.
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/114707/pdf
BUSQUE POR MAIS
 Nesse cenário cosmogônico centrado na palavra de autoridade proferida pelo poeta 
e na hierarquização/ritualização dos poderes cósmicos geradores, dois grandes narradores 
se destacam: Hesíodo e Homero. 
A filosofia é uma cosmologia, pois é uma tentativa racional de explicação da origem e das 
transformações do mundo. O mito, por sua vez, é uma cosmogonia que toma as forças 
naturais primordiais e suas relações (combates, lutas, relações sexuais) como fundamentos 
determinantes para origem do mundo e das coisas sem, no entanto, preocupar-se com
a verdade, pois, aproxima-se de legitimações narrativas mágicas e fabulações.
FIQUE ATENTO
 Hesíodo (750 a.C. – 650 a.C.), na Teogonia, exibe uma narrativa genealógica de funda-
mentação do universo centrada, sobretudo, nas lutas e disputas parentais pela soberania 
do cosmos. Em resumo, a Teogonia apresenta a derrota do Titã Cronos (ou Saturno) pelas 
mãos do deus olímpico Zeus, seu filho, e, consequentemente, a instituição de uma nova 
ordem cósmica ou, como ressalta Vernant: “A vitória de Zeus, em cada vez, é uma criação 
do mundo” ou seja, a vitória e a superação inicial da violência natural primordial (VERNANT, 
1981).
Genealogia: exposição narrativa de como um ser gera outro ser. Compõe traços de filiações, 
ligações familiares e origens.
GLOSSÁRIO
Figura 3: Saturno devorando um de seus filhos (1820-1823) – Francisco de Goya
Fonte: Arquivo do Autor
 Ademais, a narrativa de Hesíodo ao apresentar, com ex-
celência, a origem do cosmos centrada no embate entre for-
ças naturais, ao fim e ao cabo, pode ser interpretada como 
imprescindível para a consolidação do processo de diminui-
ção da distância entre a natureza e o ser humano – desde o 
processo de antropomorfização da natureza, até a concre-
tização de uma nova ordem cósmica menos ameaçadora, 
enquanto estágio determinante não apenas para a raciona-
 https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/114707/pdf 
15
lização do mundo e surgimento da filosofia, mas, sobretudo, para a consolidação do ser 
humano como ser político ou, em outras palavras, como ser da polis.
 Homero (850 a.C.), por sua vez, apresenta duas das mais importantes epopeias oci-
dentais, a Ilíada e a Odisséia, ambas completamente relacionadas com o imaginário social 
grego. Na Ilíada, o poeta narra os anos finais da Guerra de Tróia, motivada por uma dis-
puta entre as deusas Hera, Afrodite e Athena que, ao fim e ao cabo, culminaria no rapto 
de Helena e na destruição da cidade troiana. Na Odisséia, por sua vez, Homero narra os 
desafios enfrentados pelo grego Ulisses (ou Odisseu) para retornar à Ítaca após a derrota 
de Tróia.
Epopeia: poema amplo cuja narração relata grandiosos acontecimentos heroico
GLOSSÁRIO
 Ambas as narrativas apresentam elementos essenciais para a configuração de 
uma totalidade mitológica, conforme ressaltado por Reale (1990, p. 15), ao afirmar que em 
Homero tem-se a tentativa de “procurar apresentar a realidade em sua inteireza, ainda 
que de forma mítica: deuses e homens, céu e terra, guerra e paz, bem e mal, alegria e dor, 
a totalidade dos valores que regem a vida dos homens.”
 Seguindo o aspecto levantado por Reale, é possível acentuar que na totalidade re-
presentada pelo mito, notam-se, principalmente, dois aspectos centrais: 1) o fortalecimen-
to dos rituais religiosos presentes na relação entre os humanos e os deuses, ou seja, a vida 
do grego encontrava-se, inseparavelmente, relacionada com o poderio divino/ritualístico 
simbolizado pelos deuses e afirmado na autoridade daquele que narra; e 2) que a ausên-
cia de separação entre o mundo dos deuses e dos humanos é um dos motores principais 
para a configuração dessa totalidade. Assim, deuses e humanos relacionam-se entre si, 
conspiram, desafiam-se, enfrentam-se e tecem os caminhos que dão forma à realidade 
sempre, contudo, tendo o destino dos humanos como matéria primária do deleite dos 
deuses. Podemos observar, por exemplo, que as dificuldades enfrentadas por Ulisses têm 
 início quando ele, um simples humano, nega-
-se a dar graças aos deuses pela vitória sobre 
os troianos; ou, até mesmo, a representação de 
Aquiles, o herói da Ilíada, um semideus pratica-
mente invulnerável, cuja vida se faz regida por 
uma profética destinação, atravessa as fron-
teiras entre o mundo dos humanos e o mun-
do dos deuses, pois, ele não só é filho de uma 
deusa, como também, é detentor de armas e 
armaduras forjadas pelas mãos dos deuses.
Figura 4: Ulisses e as sereias (1909) – Hebert James 
Draper
Fonte: Arquivo do Autor
Em seu canal no Youtube, a Professora Doutora Cristina Franciscato narra à 
jornada de Ulisses, na Odisseia, até o seu retorno à Ítaca, com destaque para o 
oitavo episódio que descreve o encontro da Nau de Ulisses com as Sereias. Link: 
https://www.youtube.com/watch?v=Qd9SxHZjAYI
BUSQUE POR MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=Qd9SxHZjAYI
16
A série Tróia: a queda de uma cidade, disponível na Netflix, é uma adaptação 
da epopeia homérica na qual se pode avistar a impossibilidade de separação 
entre o mundo dos humanos e o mundo dos deuses, característica importante 
na mitologia grega.
Disponível em: www.netflix.com.br
 A filosofia surge, justamente, quando as narrativas mitológicas descompromissadas 
com a verdade começam a perder a sua eficácia para a explicação da realidade, ou seja, o 
filósofo não se contenta com as explicações magicas e teológicas expressadas pelo poeta. 
Deste modo, a atividade do filosofar procura uma concepção de conhecimento livre de 
toda a preocupação ritualística presente no mito, dando início, portanto um processo de 
dessacralização do saber e do poder.
 O conhecimento torna-se, em oposição ao mito, fruto do lógos, em outros ter- mos, a 
palavra de autoridade – típica do poeta inspirado pelos deuses – torna-se frágil diante da 
atitude investigativa própria ao pensamento racional, dando lugar, portanto, a explicações 
lógicas, racionais, demonstrativas, sistemáticas.
 As explicações cosmológicas têm início com a filosofia pré-socrática, preocupando-
-se, principalmente, com a origem do mundo e com a natureza.Tal período filosófico 
divide-se em diferentes escolas e importantes filósofos, tais como:
Escola Jônica Tales de Mileto 
Anaximandro de Mileto 
Heráclito de Éfeso
Escola Itálica Pitágoras de Samos
Escola Eleata Parmênides de Eleia
Escola da
Pluralidade
Anaxágoras
Empédocles
Demócrito
Quadro 2: Escolas e filósofos pré-socráticos
Fonte: Adaptado de Chauí (2002)
 A filosofia pré-socrática apresenta o conceito de physis como unidade temática para 
o fornecimento da resposta acerca da origem do mundo e das coisas. Pode-se compreen-
der a physis como a natureza “no sentido original de realidade primeira e fundamental” 
(REALE, 1990, p. 30).
 Nesse sentido, é na physis que se é capaz de se encontrar o princípio (arché) capaz 
de fazer surgir todas as coisas. Portanto, os pré-socráticos trazem consigo a alcunha de fi-
lósofos naturalistas, ou seja, são pensadores ligados à investigação natureza para o conhe-
cimento do princípio capaz de fazer surgir o mundo.
 Para Tales, tal princípio originário seria a água, pois, dela tudo se derivaria devido a 
sua totalidade líquida original. Anaximandro, por sua vez, define a arché como o áperion: 
o infinito, o indeterminado, o ilimitado.
 Heráclito de Éfeso, um dos mais importantes pensadores pré-socráticos, determina 
o dinamismo, isto é, o movimento (devir) como princípio fundamental. Deste modo, Herá-
clito situa a realidade em um incessante processo de transformação, segundo o qual, tudo 
muda, nada permanece inerte. E é justamente a constatação do movimento (devir) cons-
tante que fornece bases para a colocação heraclitiana de nos encontramos em um per-
manente estado de tensão, pois, por meio do devir, passamos de um contrário ao outro, 
por exemplo: o frio torna-se quente; a noite torna-se dia; a vida torna-se morte; etc. Nesse 
http://www.netflix.com.br
17
sentido, o princípio do devir assegura, conforme Reale (1990), uma permanente conciliação 
na busca pela harmonia dos contrários.
Heráclito de Éfeso foi um dos primeiros pensadores de tradição DIALÉTICA, cujo pendor fi-
losófico se dá, principalmente, pela concepção da realidade como um devir constante no 
qual o combate entre polos opostos prevalece como um suposto motor para esse mesmo 
o qual o combate entre polos opostos prevalece como um suposto motor para esse mesmo 
devir. Nessa mesma tradição, temos Platão que, por sua vez, considerava o método dialético 
uma ferramenta de pesquisa capaz de evidenciar o caminho para a assunção ao mundo 
das ideias. A tradição do pensamento dialético encontrará pensadores na modernidade, tais 
como René Descartes e Jean-Jacques Rousseau, contudo, apenas com Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel o método dialético entrará no centro do debate filosófico. Posteriormente, 
com Karl Marx e Friedrich Engels, a dialética torna-se materialista e passa a ser utilizada 
como método analítico/científico/filosófico para a análise das condições materiais regen-
tes da sociedade, fundamentando-se, sobretudo, como a análise das contradições materiais/
VAMOS PENSAR?
econômicas do social. Ao passo que se a dialética hegeliana focava o cami-
nho do espírito em direção ao Absoluto, a dialética marxista se preocupa com 
o entendimento da realidade através das contradições existentes no reino do 
material e, consequentemente, no embate entre as classes existentes nessa 
mesma realidade.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=JS0Xr2Bg6PE
 Parmênides de Eleia propõe “a identidade entre o ser e o pensamento” (MAT-
TAR, 2010, p. 44), visto que o princípio originário é o ser que, por sua vez, é o uno, o eterno, 
o imutável, em direta oposição a Heráclito de Éfeso. É com Parmênides que se tem o início 
de uma filosofia do ser e os pilares para a corrente de pensamento que, posteriormente, 
será determinada como ontologia (lógica do ser). Diante disso, a importância do filósofo 
de Eleia pode ser medida pelo fato de dar ensejo a uma das questões fundamentais para 
a filosofia: a pergunta pela essência do ser.
 É, justamente, essa questão sobre o 
ser que coloca a filosofia em seu período se-
guinte. Impulsionada pelo crescimento e 
expansão das cidades, bem como pelo au-
mento populacional, torna-se necessário o 
desenvolvimento de uma compreensão ra-
cional do ser desvinculada da obrigação de 
se questionar sobre a natureza e a origem 
das coisas.
 Tem-se, portanto, um desdobramen-
to filosófico dominado pelo desenvolvimen-
to da palavra como instrumento racional/
político com vistas à consolidação do ser 
humano enquanto cidadão social. O homem é um animal político, conforme destacado 
por Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), na obra A Política, ou seja, é da natureza do humano re-
lacionar-se politicamente, travar discussões, interessar-se pelos rumos da sociedade, per-
guntar-se sobre a liberdade, sobre a justiça, enfim, transitar pelos caminhos da cidadania. 
Figura 5: A escola de Atenas (1509 – 1511) – Rafael Sanzio.
Fonte: Arquivo do Autor
https://www.youtube.com/watch?v=JS0Xr2Bg6PE
18
Frente a tal configuração humana e social, a filosofia adentra nos caminhos da Pólis, como 
veremos adiante, como método racional, crítico e reflexivo para responder às questões 
inerentes a esse novo sujeito que se faz na multiplicidade de suas indagações de ordens 
ética e política; epistemológica e científica; metafísica e ontológica; artística e cultura e, 
inevitavelmente, subjetiva. 
Tavares e Noyama (2017), na obra “Textos clássicos de filosofia antiga: uma intro-
dução a Platão e Aristóteles”, realizam uma importante leitura acerca dos tópicos 
principais dos pensamentos platônicos e aristotélicos.
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/147877/pdf
BUSQUE POR MAIS
1.3 A FILOSOFIA AO LONGO DA HISTÓRIA
A vida não examinada não vale a pena ser vivida. 
(Sócrates)
 A divisão histórica da filosofia pode ser compreendida do seguinte modo:
Filosofia Período Principais filósofos
Clássica/
Antiga
Séc. VI a.C. – 
Séc. VI d.C.
Filósofos Pré-socráticos; Sócrates; Platão; Aristóteles; 
Filósofos Helenistas.
Patrística e Ida-
de Média
Séc. I –
 Séc. XIV
Santo Agostinho; São Tomás de Aquino.
Renascimento; 
Modernidade e 
Iluminismo
Séc XIV – 
Séc. XIX
Nicolau Maquiavel; Giordano Bruno; Francis Bacon; 
René Descartes; Thomas Hobbes; Voltaire; David 
Hume; John Locke; Jean Jacques Rousseau; Imma-
nuel Kant; Hegel.
Filosofia 
Contemporânea Séc XIX –
em diante
Friedrich Nietzsche; Karl Marx; Edmund Husserl; 
Martin Heidegger; Theodor Adorno; Walter Benja-
min; Jean-Paul Sarte; Simone de Beauvoir; Hanna 
Arendt; Giorgio Agamben; Achille Mbembe; Judith 
Butler (entre outros).
Quadro 3: Períodos históricos da filosofia
Fonte: Elaborado pelo autor (2020) 
O livro “Introdução à Filosofia”, de Paulo Ghirardelli Jr. (2003), oferece não apenas 
uma precisa introdução ao pensamento filosófico, mas também, apresenta uma 
periodização interessante da história da filosofia.
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2002/pdf 
BUSQUE POR MAIS
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/147877/pdf
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/2002/pdf 
19
1.A filosofia nasce da interrogação do sujeito sobre as múltiplas configurações da realidade, 
despertando-o, portanto, para o senso crítico e o saber racional. Diante disso, a máxima 
socrática: Conhece-te a ti mesmo, diz respeito ao seguinte:
a) À reflexão sobre si mesmo enquanto sujeito que supera o senso comum, as cren- ças e 
as opiniões na busca por um conhecimento verdadeiro.
b) Ao mundo como fruto do mito e da obscuridade.
c) À visão do sujeito como desvinculado do saber racional.
d) À autorreflexão desprovida de questionamentos e assentada nas certezas do co- tidiano.
e) Ao desconhecimento de si mesmo.
2. Sócrates, um dos principais filósofos da humanidade, salienta que a filosofia tem como 
ponto de partida a seguinte colocação: Só sei que nada sei.Tal colocação refere-se:
a) A certeza de que sabemos de tudo.
b) Ao conhecimento inquestionável da filosofia.
c) A assertiva da ignorância como ponto de partida do conhecimento. 
d) A autoridade do poeta na fabulação mitológica.
e) As certezas promovidas pelas opiniões do cotidiano.
3. (ENEM 2015) Suponha homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, cuja entrada, 
aberta à luz, se estende sobre todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, as 
pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte que não podem trocar de lugar e só podem 
olhar para frente, pois os grilhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa ao 
longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros, há um 
caminho ascendente; ao longo do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes 
que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o público e sobre os quais exibem seus 
prestígios.
PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural do pensamento grego 
antigo, cuja ideia central, manifesta:
a) Caráter antropológico, descrevendo as origens do homem primitivo.
b) Sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da sociedade ateniense. 
c) Vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e cômicos gregos.
d) Sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da democracia ateniense.
e) Teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo ilusório para o mundo das 
ideias.
4. ENEM (2015) A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a pro- 
posição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos 
nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição 
FIXANDO O CONTEÚDO
20
enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e 
fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela embora apenas em estado de crisálida, 
está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999.
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em ver- 
dades racionais.
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.
5. Considerando o seu conhecimento sobre a physis e sobre a filosofia pré-socrática, 
assinale a alternativa CORRETA sobre os pensamentos de Heráclito de Éfeso e de Tales de 
Mileto com auxílio do texto a seguir:
“Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o 
mesmo, assim como as águas que já serão outras.”
Heráclito de Éfeso
“O Universo é feito de água.” 
Tales de Mileto
a) Segundo Heráclito, a realidade do Ser é a imobilidade, uma vez que a luta entre os 
opostos neutraliza qualquer possibilidade de movimento. De acordo com Tales de Mileto, 
a terra é o princípio natural (physis) de todas as coisas.
b) Segundo Heráclito, o um é múltiplo e o múltiplo é um. Segundo Tales, a physis é o fogo 
que renova as coisas vivas através de consumação do velho.
c) Heráclito concebe o mundo como um eterno devir, isto é, o mundo em estado de 
movimento que produz mudanças inesgotáveis. Para Tales, a physis (princípio natural) é a 
água, pois a observação de seu movimento ilustra o desenvolvimento de novas formas de 
vida.
d) Para Heráclito, água é o princípio originário do movimento do mundo e da natureza.
Para Tales o movimento (devir) é o que concede à physis a possibilidade da produção 
constante de mudanças geradoras de vidas.
e) Heráclito concebe o mundo como um eterno devir, isto é, o mundo em estado de 
movimento que produz mudanças inesgotáveis. Para Tales, a physis (princípio natural) é a 
água, pois a observação de seu movimento ilustra o desenvolvimento de novas formas de 
vida.
6. A razão (lógos) no mundo grego caracteriza-se por ser:
a) Mítico; racional; sistêmico.
b) Racional; sistêmico; demonstrativo.
c) Inquestionável; sistêmico; demonstrativo. 
d) Sistêmico; falso; racional.
21
e) Demonstrativo; racional; inquestionável 
7. Acerca da passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a 
seguir:
I. Os poemas de Homero – Ilíada (Guerra de Tróia) e Odisséia –, em razão de muitos de 
seus componentes, contêm características essenciais da compreensão de mundo grega 
e, consequentemente, de sua relação com a realidade/natureza, incluindo, sobretudo, a 
impossibilidade da separação entre o mundo di- vino e o mundo humano.
II. As narrativas míticas gregas representam uma tentativa de diminuição do medo e da 
hostilidade que o ser humano enfrenta na sua relação com a natureza.
III. A antropomorfização (humanização) dos deuses na mitologia grega, que os entende 
movidos por sentimentos similares aos dos seres humanos auxiliou no desenvolvimento 
do pensamento de compreensão da realidade.
IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido necessidade de 
refinamento da racionalização na busca por um conhecimento que se aproximasse da 
verdade.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II. 
b) II e IV.
c) Todas as alternativas. 
d) I, II e III.
e) III e IV.
8. O pensamento racional que se indaga sobre a origem do cosmos e a transformações da 
natureza é conhecido como:
a) Cosmologia.
 b) Mitologia.
c) Cosmogonia. 
d) Fabulações
e) Politeísmo.
22
ÉTICA E POLÍTICA
UNIDADE
02
23
 2.1 POLIS: DEMOCRACIA E CIDADANIA
Dentro desses limites, assim como em suas inova-
ções, a razão grega é de fato filha da cidade.
 (Jean-Pierre Vermant)
 A filosofia é uma criação da cidade-estado grega de Atenas, principalmente, dado 
as necessidades surgidas tanto da configuração de um novo sujeito que se reconhece 
como cidadão, quanto das novas relações sociais surgidas no convívio entre várias e dife-
rentes pessoas. Necessidades que vão, desde a criação de leis que garantam a palavra 
como o instrumento fundamental de organização social da polis (cidade-estado), até a 
definição de condutas éticas, em outras palavras, o estabelecimento das práticas e das 
normas de comportamento direcionadas para o bem viver em comunidade.
 Com o ultrapassamento do modo de vida agrário, assentado unicamente na pro-
dução agrícola, subdividida em pedaços de terra dominados pelo patriarca (o pater), e 
com a superação do modo de vida régio, no qual a cidade – visando proteção – se organiza-
va próximo ao rei e das fortificações de seu palácio, tem-se na Grécia Antiga a eclosão de 
uma nova ordenação social centrada na consolidação de centros urbanos impulsionados 
pela expansão comercial e formados da conjunção territoriais sociopolíticas, conhecidas 
como demus (VERNANT, 1981).
 A estruturação do demus destaca-se pela possibilidade da reorganização o espaço 
territorial – como herança do modo de vida agrário – não em torno do rei ou de determi-
nada aldeia, mas sim, como sendo posse de indivíduos ou famílias independentes que, 
posteriormente, irão se sobressair na consolidação democrática da cidade-estado através 
da possibilidade de discussão pública dos rumos da polis.
 A divisão territorial proporcionada pelo demus, aliada aos desenvolvimentos urba-
nos e comerciais do território grego, garante não apenas a soberania da palavra racional/
argumentativa nas decisões públicas tomadas por uma determinada coletividade, como 
também situa o habitante da polis dentro de um espaço geográfico demarcado pela iso-
nomia e pela instituição de uma sociedade político/democrática atenta àefervescência 
de novos desdobramentos sociais, culturais, artísticos.
Atenas e Esparta são as duas cidades-estados gregas mais conhecidas. De tra-
dições opostas, Atenas destaca-se pela sua organização democrática focada na 
formação filosófica, espiritual e cultural do sujeito, tendo na palavra a principal 
fonte de poder. Esparta, por sua vez, conserva-se enquanto uma sociedade oligár-
quica de fundamentação agrícola e de tradição educacional militar.
LINK: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/esparta-atenas.htm
BUSQUE POR MAIS
 Segundo Vernant (1981, p. 94):
Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as 
duas ordens de fenômenos os vínculos são demasiados 
estreitos para que o pensamento racional não apareça, 
em suas origens, solidário das estruturas sociais e men-
tais próprias da cidade grega.mentos narrados.
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/esparta-atenas.htm
24
 Assim pensado, a filosofia atenta-se, justamente para a tentativa de responder aos 
anseios desta nova sociedade centrada em uma organização coletiva ou, como destaca-
mos acima, uma sociedade política pautada pela democracia. Dizemos democrática, pois, 
pela primeira vez na história da humanidade as decisões centrais não são de posse de uma 
individualidade (o rei; o sábio; o déspota) estacionada em um espaço privado, mas sim, 
obras de um coletivo reunido no espaço público, os Eupátridas (os bem-nascidos).
 Nesse espaço público, que os gregos denominaram de Ágora, o coletivo dos Eu-
pátridas reunia-se para exercer o fazer político, isto é, por meio da argumentação e da 
discussão em público, os Eupátridas visavam traçar os direcionamentos legais/sociais da 
polis. Entretanto, por mais revigorante que seja a instituição do processo de tomada cole-
tiva das decisões da cidade-estado, paira sobre a democracia grega algumas dissonâncias 
importantes. A primeira delas é que para fazer parte da classe dos legisladores (os Eupá-
tridas) o sujeito deveria obedecer às seguintes condições: 
a) Ser do sexo masculino;
b) Nascido em Atenas;
c) Proprietário de terra (o demus);
d) Ser livre.
Isonomia: o princípio da Isonomia era a base que garantia a existência de leis e normas para 
todos os habitantes da polis.
Democracia: regime político direcionado à participação de todos os cidadãos. Controle polí-
tico exercido pelo povo.
Legislador: aquele que cria as leis.
GLOSSÁRIO
 Assim, de antemão, na Grécia Clássica, falamos de uma democracia exclusiva que, 
em seu fazer, exclui as mulheres, os estrangeiros (Metecos) e os despossuídos, assentan-
do-se sobre a manutenção de uma estrutura escravocrata que garantiria a participação 
dos Eupátridas na vida pública da polis. Portanto, por mais que a fundação democrá-
tica tenha significado um ganho social importante com a instituição de leis coletivas, a 
abertura da Ágora como um espaço público para a tomada de decisões e, sobretudo, o 
questionamento sobre as noções de política, de ética e de justiça, mantém-se intacta a 
 estruturação de uma sociedade dividida em 
classes sociais. Nesse sentido, a máxima aris-
totélica do homem enquanto ser político e, 
consequentemente, cidadão, é válida, tão so-
mente, para aqueles que se enquadram nas 
condições para serem Eupátridas. 
Figura 6: Pirâmide política/social da Grécia Antiga
Fonte: Bernardes (s/d)
25
 A instituição da democracia na Grécia Antiga percorre diversos períodos históricos, 
iniciando-se com os pensamentos de Sólon (638 a.C.– 558 a.C) “o pai da democracia” que, 
como vimos anteriormente, antecipa a substituição de um modo de vida estritamente 
agrícola, de organização régia, pela atividade mercantil e, consequentemente, dotado de 
maior mobilidade social com organização territorial em demus. Clístenes (565. a.C – 492 
a.C) e Perícles (490 a.C – 429 a.C), destacam-se nesse cenário como grandes legisladores 
e reformadores do ideal democrático grego.
 
Figura 6: Discurso de Perícles (1853) - Phillipp von Foltz
Fonte: Arquivo do Autor 
 Dotada dessa herança grega, a democracia mostrou-se como modelo governamen-
tal voltado para o povo, capaz de incluir em suas decisões o maior número de cidadãos. 
Felizmente, ao longo dos séculos, o modelo democrático sofreu intensas modificações 
que procuram ultrapassar as condições de exclusão e ampliar tanto o caráter popular 
do poder, quanto estender as igualdades de condições e o direito político/civil a todos os 
gêneros, sexos e modos de seres humanos, sem distinção.
A Grécia Antiga contribuiu em diversos campos da vida humana, em especial, como vi- mos 
anteriormente, com a fundação da democracia – do poder popular pela palavra. No entanto, 
a ideia democrática grega é exclusiva, isto é, exclui aqueles(as) que não se encaixam em 
seus pré-requisitos. Algo que, de fato, diminuiu o seu impacto na organiza- ção da socie-
dade. A democracia, como definida atualmente, parte do princípio que ne- nhum sujeito é 
excluído do processo de decisão popular, alargando, portanto, o entendi- mento do que vem 
a ser um cidadão ao considerar todo ser humano como um ser político, transformando, deste 
modo, a democracia, efetivamente, em um governo do povo.
VAMOS PENSAR?
O filme “As sufragistas” (2015) retrata, no início do século XX, a luta das mulheres 
no Reino Unido pelo direito ao voto e participação nas decisões governamentais.
Saiba mais sobre o movimento Sufragista:
LINK: https://mdemulher.abril.com.br/cultura/quem-foram-as-sufra- gistas-da-vi-
da-real/
BUSQUE POR MAIS
https://mdemulher.abril.com.br/cultura/quem-foram-as-sufra- gistas-da-vida-real/
https://mdemulher.abril.com.br/cultura/quem-foram-as-sufra- gistas-da-vida-real/
26
 2.2 ÉTICA: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Querer ser livre é também querer livres os outros. 
(Simone de Beauvoir)
 A ética, do grego ethos, é um campo da filosofia que procura compreender as no-
ções e princípios que governam a vida do indivíduo em sociedade. Nesse sentido, a ética 
lida com problemas sobre a essência da liberdade, as normas e as condutas que regem o 
comportamento e a vida dos sujeitos nas esferas coletivas e individuais. Além disso, a éti-
ca, como disciplina filosófica de caráter teórico e prático, pergunta- se sobre os vícios e as 
virtudes dos seres humanos em consonância com os limites e as atribuições da justiça se-
gundo as ações dos cidadãos dentro das relações social. Enfim, a ética questiona-se sobre 
o indivíduo inserido em sociedade.
 Com isso, a ética aborda as manifestações e os conflitos inerentes ao impacto das leis 
e da justiça enquanto instâncias normativas e limitadoras do que se entende como liber-
dade, compreendendo que a moralidade, a cultura, os costumes e os valores são instâncias 
variáveis dentro da heterogeneidade dos indivíduos e das sociedades.
 Como salienta Antunes (2012), a heterogeneidade ou multiplicidade das variáveis 
que compõe a vida dos sujeitos, pode ser exemplificada pelo uso do hijab, uma vez que é 
um costume, ensinado pela doutrina islâmica, que as mulheres árabes usem o hijab ao 
saírem de casa, mas, contudo, esse não é um costume adotado pelas mulheres brasilei-
ras. Portanto, é matéria da ética discutir sobre os modos de vida, costumes e comporta-
mento humano. Assim, os campos da ética dividem-se do seguinte modo:
Ética
Normativa:
a investigação racional ou teoria dos padrões do correto e do incorreto, do mal 
e do bem, a respeito do caráter e da conduta, que uma classe de indivíduos 
deve aceitar.
Essa classe pode ser a humanidade em geral, mas também podemos pensar 
na ética médica, ética empresarial, etc., como um conjunto de padrões que 
os profissionais em questão devem aceitar e observar.
Hoje em dia, a expressão teoria ética é frequentemente usada
neste sentido. Grande parte do que se chama filosofia moral é ética normati-
va ou aplicada.
Ética 
Social ou 
Religiosa:
um conjunto de doutrinas sobre o corretoe o incorreto, o bem e o
mal, a respeito do caráter e da conduta. Reivindica implicitamente a obediên-
cia geral. Neste sentido há, por exemplo, a ética confuciana, a ética cristã, etc. 
É semelhante à ética filosófica normativa porque pretende ter legitimidade 
geral, mas difere dela porque não pretende ser estabelecida meramente com 
base na investigação racional.
Moralidade 
positiva:
os ideais e as normas geralmente declaradas e acatadas por um
grupo de pessoas, acerca do correto e do incorreto, do bem e do mal, a res-
peito do caráter e da conduta. O grupo pode ser uma nação (e.g., a ética dos 
índios hopis), uma entidade política (e.g., a ética sudanesa), uma organização 
profissional, etc.
A moralidade positiva contrasta com a moralidade crítica ou ideal. A morali-
dade positiva pode tolerar a escravatura, mas esta pode ser declarada into-
lerável apelando a uma teoria que supostamente tem a autoridade da razão 
(ética normativa) ou apelando a uma doutrina que tem a autoridade da tradi-
ção ou da religião (ética social ou reli-giosa).
27
Ética 
descritiva:
o estudo, de um ponto de vista externo, dos sistemas de crenças e
práticas de um grupo social também se chama “ética”, e mais especificamen-
te “ética descritiva”, visto que um dos seus principais objectivos é descrever a 
ética de um grupo. Também tem sido denominada etno-ética, e pertence às 
ciências sociais.
Metaética:
tipo de investigação ou teoria filosófica, distinto da ética normativa, também 
chamada “análise ética”. Tem essa designação porque toma os conceitos 
éticos, proposições e sistema de crenças como objetos da investigação filosó-
fica. Analisa os conceitos de correto e incorreto, de bem e mal, a respeito do 
caráter e da conduta, e conceitos relacionados como, por exemplo, a respon-
sabilidade moral, a virtude, os direitos, etc.
Quadro 4: Tipos de ética” - (Adaptado de MAUTNER, Thomas. “Dicionário de filosofia” (2010))
A ética propõe-se como uma ferramenta de investigação científica racional sobre o com- 
portamento moral dos indivíduos em sociedade que pressupõe uma validade ampla, bus- 
cando determinar normas e meios de conduta direcionados à manutenção da esfera social. 
A moral, por sua vez, diz respeito ao modo de vida histórica, cultural e, sobretudo, variável 
das sociedades.
FIQUE ATENTO
 Pensando em consonância com o filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau (1772 - 
1778), o ser humano, em estado de natureza e de solidão, abdica de sua liberdade natu-
ral para adentrar em sociedade e, deste modo, relacionar-se com os demais. Contudo, tal 
entrada só ocorre quando o sujeito se faz amparado pelo pacto social, isto é, o ser humano 
dirige-se à vida social quando lhe são apresentadas as garantias de que seus direitos indi-
viduais serão respeitados dentro do convívio social. Trata-se, como vimos anteriormente, 
da modificação de uma vida solitária para comungar de uma realidade comunitária ou, 
em outras palavras, da inserção do indivíduo na vida política, democrática, regida por leis 
e regras que serão responsáveis pela manutenção da permanência do humano. Não obs-
tante, a ética discorre sobre tais leis e regras perguntadas, de fato, o que é necessário para 
o viver eticamente em sociedade.
Jean-Jacques Rousseau apresenta na obra “Do contrato social”, de 1762, um im-
portante marco sobre as noções de sociedade e de liberdade.
LINK:http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra-Form.do?select_
action=&co_obra=2244
BUSQUE POR MAIS
 Vasquez (2006), salienta que devido a sua natureza moral, os problemas éti- cos 
compreendem indivíduo e sociedade. Obviamente que, em cada período histórico, as 
questões éticas se modificam seguindo os anseios dos indivíduos inseridos no corpo so-
cial, exigindo uma atividade filosófica capaz de repensar-se diante de novos dilemas su-
gerindo resoluções para tais. Por exemplo, se na época de Aristó- teles era necessária à 
construção de uma doutrina ética direcionada tanto para o entendimento da ideia de 
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra-Form.do?select_action=&co_obra=2244
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra-Form.do?select_action=&co_obra=2244
28
justiça (diké), quanto para a educação virtuosa e elaboração do sujeito de acordo com 
bem-viver e a felicidade (Eudaimonia), cuja finalidade última seria o bem comum social, 
nos dias de hoje, por sua vez, buscamos teorias e práticas capazes de responder questões 
que dizem respeito diretamente às questões que se colocam aos indivíduos e as socieda-
des contemporâneas, tais como:
diké: significa justiça em sentido primitivo tomando dois direcionamentos: 1) justiça dis- tribu-
tiva: igualdade na distribuição de bens ao coletivo e, 2) justiça retributiva: vingança coletiva.
GLOSSÁRIO
1) O aborto deve ser permissível?
2) A liberdade, de fato, existe?
3) O progresso da ciência deve possuir limites?
4) É necessário um balizamento ético/moral para o uso 
das redes sociais? porque
5) Porque a corrupção é permitida?
6) Como pensar uma sociedade que preserve o meio 
ambiente
7) A eutanásia (o direito à morte) deve ser permitida?
Quadro 5: Tipos de ética” - (Adaptado de MAUTNER, Thomas. “Dicionário de filosofia” (2010))
A Grécia Antiga contribuiu em diversos campos da vida humana, em especial, como vimos 
anteriormente, com a fundação da democracia – do poder popular pela palavra. No entanto, 
a ideia democrática grega é exclusiva, isto é, exclui aqueles(as) que não se encaixam em 
seus pré-requisitos. Algo que, de fato, diminuiu o seu impacto na organização da sociedade. 
A democracia, como definida atualmente, parte do princípio que nenhum sujeito é excluído 
do processo de decisão popular, alargando, portanto, o entendimento do que vem a ser um 
cidadão ao considerar todo ser humano como um ser político, transformando, deste modo, a 
democracia, efetivamente, em um governo do povo.
VAMOS PENSAR?
 2.2.1 Éticas Clássicas
 Como campo do conhecimento filosófico, é interessante destacarmos algumas con-
cepções éticas determinantes para o entendimento desta disciplina como investigação e 
normatização das relações do indivíduo na sociedade.
 Aristóteles, na obra “Ética a Nicômaco”, apresenta lições de doutrina ética direciona-
da aos indivíduos da polis, salientado, a necessidade do bom senso (temperança/equilíbrio) 
para a busca da felicidade e consolidação do bem-viver. A ética aristotélica é conhecida 
como uma ética das virtudes, pois tem como finalidade educar o bom cidadão, determi-
nado como aquele que, como salientado por Aristóteles (1984), participa da vida públi-
ca, agindo de maneira virtuosa, procurando a justa medida das ações em sua vivência na 
29
polis. Deste modo, Aristóteles (1984), salienta que os atos individuais refletem-se na co-
munidade, interferindo na convivência da sociedade, portanto, o sumo bem, e a felicidade 
de todos depende de cada indivíduo.
De acordo com Aristóteles, o sujeito só pode alcançar a felicidade dentro da polis, 
isto é, politicamente inserido em sociedade. Portanto, a política destina-se com a 
vinculação do indivíduo com a comunidade. A ética, consequentemente, volta-se 
para a compreensão das ações morais do indivíduo. Deste modo, ressalta-se ain-
da que, o sumo bem e a felicidades apenas são alcançados na vida em comuni-
dade.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=hngoOxji2yQ
BUSQUE POR MAIS
 O filósofo alemão Immanuel Kant (1724 – 1804), propõe uma ética deontológica, isto 
é, uma doutrina ética focada no conceito de dever. Para Kant, o ser humano é, fundamen-
talmente, egoísta, portanto, diante dessa natureza corrupta faz-se necessário a consolida-
ção de uma noção consistente de cumprimento do dever que, ao fim e ao cabo, seria o 
conceito responsável pelas ações verdadeiramente morais.
 Tal dever, ou lei moral, é “uma forma que deve valer para qualquer toda e qual-quer 
ação moral” (CHAUÍ, 2000, p. 346), formulado pelo ser dotado de racionalidade e que, con-
sequentemente, possui a vontade de desvincular-se da sua natureza sensível e corruptiva 
para, finalmente, buscar um fundamento consistente para a ação moral. Deste modo, 
subsiste no filósofo alemão a ideia de um sujeito cuja ação, necessariamente, encontra-se 
ancorada sobre leis objetivas e racionais independentes da experiência sensível. Kant de-
nominou essas leis, que regem as ações e a vontade do sujeito, como imperativos, sendo 
que o mais conhecido deles é o imperativo categórico, expressado com a finalidade de 
constituição de uma máxima moral racionalmente orientada e com validade universal. 
Falamos, portanto, de uma lei universal, em outras palavras, de uma máxima ética válida a 
todos os seres dotados de razão.
Imperativo: que exprime uma ordem; que ordena autoritariamente.
GLOSSÁRIO
Qual seria o problema de uma doutrina ética focada no cumprimento inquestionável do de-
ver? A filósofa Hannah Arendt, na obra “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a bana-
lidade do mal”, descreve a situação em que um conhecido criminoso nazista invoca a ética 
kantiana para legitimação de seus atos criminosos. Diante disso, a pensadora demonstra o 
mau uso do imperativo categórico e as desvirtuações que a filosófica kantiana sofre quan-
do colocada sob um véu de irracionalidade. O artigo “O imperativo categórico kantiano no 
julgamento de Otto Adolf Eichmann no tribunal de Jerusalém”, apresenta tanto um preciso 
panorama histórico do julgamento, quanto propriedades conceituas para o entendimento 
do uso corrupto da doutrina ética de Kant.
VAMOS PENSAR?
https://www.youtube.com/watch?v=hngoOxji2yQ
30
 A terceira das éticas consideradas clássicas foi formulada pelo filósofo britânico John 
Stuart Mill (1806 – 1873). Denominada de ética utilitarista ou consequencialista, o pensa-
mento de Mill tem como condição básica o princípio da utilidade ou da maior felicidade.
 O princípio da ética utilitarista resume-se da seguinte maneira: a ação considerada 
moralmente correta é aquela capaz de proporcionar a felicidade para o maior número de 
pessoas. Diante disso, toda ação considerada ética deve maximizar a felicidade, indepen-
dentemente, de a ação proporcionar felicidade para aquele que a realiza, ou seja, trata-se 
de uma ação imparcial direcionada a felicidade do maior número de sujeitos, diferente-
mente do egoísta, cujas ações parciais visam, tão somente, a sua felicidade própria.
Sobre a ética utilitarista e seus impasses no mundo contemporâneo:
LINK: https://criticanarede.com/eti_mill.html
Um dos dilemas mais conhecidos do utilitarismo é o caso do trem:
“Você vê um trem desgovernado movendo-se em direção a cinco pessoas amar- radas nos 
trilhos. Caso nada seja feito, elas serão mortas pelo trem. Mas você está de pé ao lado de uma 
alavanca que controla um interruptor. Se você puxar a ala- vanca, o trem será redirecio-
nado para uma pista lateral e as cinco pessoas na pista principal serão salvas. No entanto, 
na pista lateral também há uma pessoa presa que acabará morrendo.” (GODOY, 2019, p. 
online)
Qual é o caminho correto a seguir?
BUSQUE POR MAIS
a) Permitir que cinco indivíduos morram?
b) Puxar a alavanca dos trilhos e redirecionar o trem para matar apenas uma 
pessoa? Segundo a ética utilitarista, o correto a fazer é, agir imparcialmente, e 
realizar a ação que irá proporcionar a felicidade para o maior número de pesso-
as.
LINK: https://filosofianaescola.com/moral/utilitarismo/
 2.3 FILOSOFIAS POLÍTICAS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
“Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo 
de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo” 
(Karl Marx)
 Aristóteles considera a política como a ciência prática suprema e, consequentemen-
te, o ser humano como um animal político dotado da capacidade racional para a tomada 
de decisões individuais e coletivas. De fato, a atividade política coletiva é uma invenção 
da sociedade grega que, devido a sua divisão em classes, exigiu a criação e consolidação 
https://criticanarede.com/eti_mill.html
https://filosofianaescola.com/moral/utilitarismo/
31
de legisladores capazes de introduzirem leis e modos de conduta para os cidadãos. Nesse 
sentido, segundo Chauí (2000), temos como passo determinante da invenção da política 
no mundo grego, as seguintes características:
• Substituição da autoridade pessoal (do poder pessoal/unitário) pela organização da pa-
lavra coletiva (os legisladores).
• Separação da autoridade militar e do poder civil.
• Fim da autoridade mágico-religiosa. Laicização do estado e das decisões políticas.
• Lei (nómos): teoria e prática legislativa como expressão da vontade coletiva.
• Instituição de um espaço público (Ágora) para a discussão (Assembleias) e tomadas de 
decisões visando o direcionamento das cidades.
 Com a organização dos sujeitos em sociedades, como visto anteriormente com a 
premissa rousseauniana, fazem-se necessárias destinações políticas para a manutenção 
dos direitos sociais, consolidações das garantias legais e concepções de justiça para a vida 
social, fatores que garantem, principalmente, a condição de cidadania conferida pela en-
trada em sociedade. Diante disso, faz parte da história da filosofia questionar-se sobre 
as teorias e práticas políticas, visando conceituar o melhor modelo de governo. Contudo, 
nem sempre os direcionamentos democráticos serviram de base à fundamentação go-
vernamental, conforme veremos a seguir. 
Platão, na obra “A República”, conceitua o modelo ideal de cidade, pautado pela or-
gani- zação política e educacional direcionada à superação das paixões sensíveis e, 
principalmente, fundamentada na proeminência do Rei Filósofo. Trata-se, de uma 
classe se sujeitos racionalmente educada durante toda a vida e que, portanto, con-
FIQUE ATENTO
templaram a essência das coisas, tornando-se, por excelência, os governantes ideais.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=8YBne9Ln_38&t=2s
 Afastando-nos das premissas gregas, sobretudo, no que diz respeito ao caráter laico 
do estado e da política, é preciso ressaltar a organização política teocêntrica predominante 
em longo período da Idade Média, uma vez que, a disposição do poder e das decisões polí-
ticas pertencia, predominantemente, a Deus. Em outros termos, a escolha dos dirigentes e 
das ordenações políticas respeitavam as decisões provindas da Igreja católica, em síntese, 
os governantes eram escolhidos por Deus e o governo regido pela sabedoria onipresente 
do Divino. Diante disso, Santo Agostinho (354-430), o filósofo da Patrística, apresenta 
uma relação indissociável entre fé e razão na busca pela felicidade e na condução dos su-
jeitos em direção à plenitude do conhecimento. Finalmente, o bom governo, seria aquele 
que encarnasse, sem ressalvas, as virtudes cristãs.
 Ademais, é com o pensador florentino Dante Alighieri que preconiza-se a separação 
entre o poder espiritual teocrático e o poder temporal, dando vazão, deste modo, ao pensa-
mento Renascentista e ao “princípio de todo o governo na Idade Moderna: a independên-
cia entre ordem temporal e ordem espiritual” (BITTAR, 2005, p. 125).
https://www.youtube.com/watch?v=8YBne9Ln_38&t=2s
32
Patrística: doutrina filosófica que propõe a retomada da filosofia platônica (neoplatonismo) 
fundando-se na necessidade da consolidação de uma moral rigorosa, pautada pelo controle 
das sensibilidades, das paixões e a predileção por um mundo celestial, superior e desvincula-
do da realidade.
Renascentista: que diz respeito ao Renascimento. O Renascimento foi um período histórico 
determinado por uma revolução no modo de compreensão da realidade, da arte, da cultura 
e do conhecimento, sobretudo, no que diz respeito à substituição de um pensamento teocrá-
tico por uma visão de mundo centrada no humano. Por isso, o Renascimento caracteriza-se 
por uma visada humanista(antropocêntrica).
GLOSSÁRIO
 É, justamente, a partir deste princípio e, principalmente, das experiências de vida e 
de realidade, que Nicolau Maquiavel (1469 - 1527), formula “O príncipe”, uma obra revolu-
cionária ao questionar a extensão do poder e apresentar, em caráter de normatividade, 
os passos de conduta para a consolidação de um governante pleno.
 De viés absolutista, o poder do príncipe deve ser superior aos demais, deste modo, 
o princípio central da atividade política não é a justiça, a liberdade ou o bem comum, mas 
sim, a conservação do poder. Assim, as ações do soberano, pensado por Maquiavel, estão 
“além do bem e do mal” (BOBBIO, 1994, p. 14), isto é, as ações do príncipe estão direciona-
das somente para o controle e a manutenção do poder adquirido, independentemente, 
de tais ações serem violentas, mentirosas ou astuciosas.
 Trata-se, portanto da ideia de virtù (coragem; eficácia; valor), enquanto qualidade in-
dispensável ao soberano, pensada como a capacidade astuciosa de construir estratégias, 
de controlar ocasiões e acontecimentos fortuitos para, enfim, manter-se no poder.
“muito mais seguro é fazer-se temido que amado, quando se tem de renunciar 
uma das duas.” (MAQUIAVEL, 2008, p. 80).
A frase acima corresponde a um ideal maquiavélico de manutenção do poder, assentan-
do-se na ideia de que o amor é passageiro e cindido mediante interesses maiores, mas, o 
temor é um sentimento permanente, portanto, ao príncipe, em sua luta pela manutenção 
do poder, interessa mais ser temido do que amado pelo povo. Maquiavel utiliza César Bórgia, 
cujos atos serviram de inspiração para obra de Maquiavel, foi taxado de “reputado e cruel” 
(MAQUIAVEL,2008, p. 79), como o modelo de soberano bem sucedido.
O seriado “Os Bórgias” (2011), retrata a história de César Bórgia em consonância com o o mo- 
delo de soberano bem sucedido. O seriado “Os Bórgias” (2011), retrata a história de César 
Bórgia em consonância com o papado de Alexandre VI.
BUSQUE POR MAIS
 No histórico das filosofias políticas absolutistas, no final do período Renascentista 
e pré-modernidade, pode-se atentar para o pensamento filosófico de Thomas Hobbes 
(1588 – 1679), autor de “O Leviatã”. Segundo Hobbes, o homem é o lobo do homem, em 
outras palavras, o homem é o maior inimigo do homem sendo necessário, portanto, um 
pacto político capaz de garantir a manutenção da vida humana e, consequentemente, a 
33
Ambos os filósofos, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rou-
sseau, são considerados pensadores contratualistas, pois, 
compreendem a saída do ser humano do estado natural 
e sua entrada em sociedade regida pelo contrato social. 
Contudo, a ideia de contrato é, completamente, oposta 
em ambos os pensadores: Hobbes prevê a consolidação 
de um estado absolutista regido pelas mãos-de-ferro de 
um rei detentor de todos os poderes; já Rousseau, ideólo-
go da Revolução Francesa, considera a ideia do estado 
democrático, fundamentado pelo direito do exercício de 
voto e, consequentemente, determinado pela vontade 
política da maioria.
VAMOS PENSAR?
Jean-Jacques 
Rousseau 
(1712-1778)
Thomas Hobbes
(1588- 1679) 
 Com o advento das Revoluções Burguesas (Revolução Gloriosa (1688 – 1689), Inde-
pendência dos Estados Unidos (1775 – 1783) e Revolução Francesa (1789 –1799)), aliada 
a um evento anterior, a Reforma Protestante (1517 – 1648) e ao Mercantilismo, têm se a 
eclosão de um novo modo de organização sócio-política demarcado, sobretudo, pelo fim 
do absolutismo, pelo fortalecimento de uma sociedade dividida em classes sociais e pelo 
acirramento relações comerciais com a elevação da Burguesia como classe econômica 
e política dominante e, finalmente, da instauração do direto à propriedade privada como 
direito natural do sujeito.
 Falamos, em outros termos, da nascente modernidade organizada de acordo com 
os modelos do mercado e, consequentemente, do surgimento do capitalismo como dou-
trina econômica dominante. Assim, adentramos num período político demarcado pela 
consolidação do Estado Liberal fundamentado na ideia de que Estado deve ser capaz 
de garantir alguns direitos fundamentais para manutenção da sociedade: 1) liberdade 
econômica e direito à propriedade privada; 2) sociedade civil: sociedade organizada se-
gundo os interesses econômicos dos proprietários privados; 3) a liberdade de pensamento 
e divisão fundamental entre sociedade pública e sociedade privada. Ademais, é na figura 
do Estado Liberal que ocorre a consolidação da divisão administrativa em três poderes 
centrais: a) o Executivo; b) o Legislativo e; c) o Judiciário.
 Adam Smith (1732 - 1790), considerado o pai do Liberalismo econômico, introduz, 
na obra “A riqueza das nações”, que a economia deve ser uma atividade estritamente in-
dividual e independente da influência estatal. Além da instituição da divisão do trabalho 
como marco essencial da modificação da estrutura do trabalho em sociedade e uma das 
forças motrizes do capitalismo, Smith salienta que o enriquecimento das nações se dá, 
prioritariamente, através da liberdade para o desenvolvimento de seus indivíduos.
organização política em sociedade. Diante disso, para Hobbes, o pacto consiste em que o 
ser humano abra mão de seus direitos políticos/sociais, transferindo-os para o Leviatã que 
impediria a queda da humanidade em um estado perpétuo de caos.
 Hobbes tem na imagem do Leviatã, um monstro bíblico, a ideia do Estado absolutis-
ta fundamentado no controle autoritário do déspota esclarecido pela razão. Assim, todas 
as decisões e determinações políticas/sociais seriam de soberania absoluta
do déspota que detém o poder em todos os aspectos.
34
 Nesse processo historicamente orientado de separação entre o Estado e a socie-
dade civil que, por conseguinte, fortalece os mecanismos econômicos do capitalismo e, 
posteriormente, favorece o processo técnico de industrialização, tem-se a divisão funda-
mental da sociedade entre os burgueses (a classe dominante / os proprietários privados) e 
os proletários (a classe dominada / sujeitos que possuam apenas a força de trabalho como 
propriedade a ser vendida).
 Karl Marx (1818 - 1883), sociólogo e filósofo político, busca empreender uma análise 
material da história, com a finalidade de compreender a sociedade moderna em suas 
dimensões econômicas e sociais. Para tanto, o pensador contrapõe-se não apenas à orga-
nização da sociedade em termos da economia liberal, mas também à ideia de um Estado 
completamente aquém do funcionamento da sociedade civil.
 Marx apresenta a luta de classes como motor da história, luta impulsionada, inclu-
sive, pelas contradições do método de produção capitalista, capazes de revelar, sobretudo, 
que seu fundamento essencial é o processo de exploração entre os sujeitos, isto é, para 
Marx, o capitalismo se fortalece através das cadeias de dominação promovidas pela classe 
burguesa sobre os proletários.
 Ademais, o filósofo ressalta a necessidade de emancipação dos indivíduos em prol 
de, primeiramente, o socialismo ou, em outras palavras, do fortalecimento estatal na es-
trutura de manutenção da vida social da classe proletária (a classe produtiva) e, posterior-
mente, devido à emancipação teórica e pratica do proletariado, a abolição da sociedade de 
classes e, portanto, do próprio estado, ocasionando o que Marx determina como comunis-
mo.
Em “O capital”, obra central do marxismo, Marx analisa os conceitos centrais 
do capitalismo questionando-se, sobretudo, sobre a organização deste modo 
de produção centrada na ideia do lucro. Diante disso, o pensador alemão, dis-
cute os conceitos de mais-valia, de alienação e de mercadoria como pilares do 
BUSQUE POR MAIS
modo de produção capitalista. Magalhães (2015), em “10 Lições 
sobre Marx”, apresenta uma importante introdução aos temas do 
pensamento marxista. LINK:https://plataforma.bvirtual.com.br/Lei-
tor/Publicacao/149514/pdf 
 Ao longo da históriasão matérias do pensamento filosófico as recorrentes trans-
formações do entendimento de política e das organizações sociais, questionando, in-
clusive, as eclosões de tiranias; as emergências das revoluções políticas e sociais; os limites 
e deveres do Estado; os direitos e deveres dos cidadãos; os ataques à democracia frente 
a regimes políticos opressores; entre outros temas de importância fundamental para os 
seres humanos. Assim, a filosofia, durante o percurso de entendimento político, buscou 
acentuar que, o restabelecimento do modelo político democrático, fundado no direito à 
igual manifestação da ampla e não excludente vontade popular mostrou-se como o mo-
delo mais racional e abrangente do fazer político.
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/149514/pdf 
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/149514/pdf 
35
1. O Eupátrida, membro da nobreza ateniense, que fazia e executava as leis regidas 
por uma vontade coletiva, se define do seguinte modo:
a) Homens, livres, portadores de terra, atenienses. 
b) Homens e mulheres, livres, portadores de terra. 
c) Escravos, estrangeiros, portadores de terra.
d) Homens, estrangeiros, portadores de terra, livres. 
e) Mulheres, livres, portadoras de terra, atenienses.
2. O filósofo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) prestou contribuições a diversos campos do 
conhecimento humano, entre eles a ética, cuja obra Ética a Nicômaco, conceitua noções 
de suma importância para a disciplina ética, os quais podemos destacar como:
a) a Virtude; o Bem Comum; a Felicidade. 
b) a Virtude; o Dever; a Utilidade;
c) o Dever; a Utilidade; a Virtude.
d) o Bem Comum; a Felicidade; o Dever.
e) a Felicidade; o Dever; a Utilidade.
3. Para Aristóteles, os atos individuais se refletem dentro da comunidade como um todo 
e aquilo que o indivíduo faz de bem ou de mal vai interferir diretamente na consciência 
social. Assim, a felicidade (Eudaimonia) de todos depende de cada um e, a felicidade 
individual, depende de todos. Deste modo, tendo isso em vista, podemos compreender a 
relação estabelecida entre a felicidade e o social do seguinte modo:
a) partindo da concepção aristotélica de que todo ser humano é uma ilha e seus atos 
não ser relacionam com os demais seres sociais e, por isso, o ser humano só pode ser feliz 
individualmente. 
b) partindo da concepção aristotélica que toda ação ética é uma ação individual e 
despreocupada com o bem comum da sociedade.
c) partindo da concepção aristotélica que a ética, enquanto disciplina do conhecimento 
moral dos seres humanos, funda-se sob a obediência ao dever como norma moral racional 
existente dentro de cada ser humano.
d) partindo da concepção aristotélica de que todo ser humano é um ‘animal político’ que 
constrói relações com os demais seres humanos com a finalidade da construção do bem 
comum social.
e) partindo da concepção aristotélica que uma sociedade eticamente construída só pode 
ser consolidada se fundada na supremacia inquestionável da razão sob as paixões.
4. Devido a condições como a divisão territorial (demus), a rápida urbanização e a 
possibilidade da propriedade de terras, Atenas, cidade-estado (polis) grega, é conhecida 
como local de nascimento da Democracia. Diante disso, assinale a opção CORRETA que 
destaca os direcionamentos desta nova forma de governo democrático:
FIXANDO O CONTEÚDO
36
 a) Fim da autoridade pessoal; Vontade coletiva como definidora das leis; Separação entre 
estado e religião (mitologia); Elevação da classe dos Eupátridas como legisladores.
b) União entre estado e religião (mitologia); Autoridade pessoal; Elevação da figura do 
Rapsodo como legislador divino. Vontade coletiva como definidora das leis.
c) Fim da autoridade pessoal; Elevação da classe dos Eupátridas como legisladores; União 
entre estado e religião (mitologia); Vontade individual como definidora das leis.
d) Elevação da classe dos Eupátridas como legislador; Fim da autoridade pessoal; Vontade 
individual como definidora das leis. Elevação da figura do Rapsodo como legislador divino
e) Vontade individual como definidora das leis; Fortalecimento da autoridade pessoal; 
Elevação da classe dos Eupátridas como legisladores; Separação entre estado e religião 
(mitologia). 
5. A ética de Immanuel Kant busca fornecer critérios para ações morais baseadas no 
cumprimento do dever racionalmente instituído. Diante disso, a ética kantiana é definida 
como:
a) Ética deontológica 
b) Ética das virtudes 
c) Ética normativa
d) Ética utilitarista
e) Subjetivismo ético
6. Maquiavel, em “O Príncipe”, apresenta a seguinte afirmação:
“muito mais seguro é fazer-se temido que amado, quando se tem que renunciar uma das duas”.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Porto Alegre: L&PM, 2008.
Podemos entender a afirmativa de Maquiavel como:
a) A manutenção do poder por parte do Príncipe depende de seu elevado carisma e 
disponibilidade ao cometimento de atos violentos.
b) Para que o governo perdure é necessário que o Príncipe esteja disposto a amar seus 
semelhantes.
c) A manutenção do poder principesco passa pela escolha entre o amor e o temor, tendo 
no sentimento de temor uma segurança permanente de poder.
d) O amor, por ser eterno, garante ao Príncipe o direito de governar.
e) A manutenção do poder principesco passa pela escolha entre o amor e o temor, tendo 
no amor popular a garantia de que seu governo perdurará.
7. Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes são filósofos contratualistas, isto é, baseiam a 
saída do homem do estado de natureza e sua entrada em sociedade por meio da assinatura 
de um contrato social. Contudo, ambos os pensadores possuem uma visão diferente do 
que vem a ser o contrato social. Com base nos estudos anteriores e nos textos abaixo 
assinale a opção correta. 
“[…] só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo com a finalidade de sua instituição, 
que é o bem comum, porque, se a oposição dos interesses par- ticulares tornou necessário o 
estabelecimento das sociedades, foi o acordo desses mesmos interesses que o possibilitou.” 
37
(Rousseau, “Do contrato social”)
“Qualquer governo é melhor que a ausência de governo. O despotismo, por pior que seja, é 
preferível ao mal maior da Anarquia, da violência civil generalizada, e do medo permanente da 
morte violenta.” 
(Hobbes, “O Leviatã”).
a) Segundo Rousseau, o contrato social prevê a instauração de uma sociedade não 
democrática fundada na vontade de um monarca. Para Hobbes o contrato social é uma 
fantasia para o homem solitário.
b) Para Rousseau, o contrato social constitui-se como uma peça que garante os de- 
mocráticos dos indivíduos e a condução do Estado por meio da vontade coletiva. Para 
Hobbes, o contrato social, prevê que os poderes estejam concentrados na figura individual 
do déspota (rei), dirigente do Estado.
c) Segundo Rousseau, o contrato social prevê a instauração de uma sociedade não 
democrática fundada na vontade de um monarca. Para Hobbes, o contrato social, prevê 
que os poderes estejam concentrados na figura individual do déspota (rei), dirigente do 
Estado.
d) Para Rousseau, o contrato social constitui-se como uma peça que garante os de- 
mocráticos dos indivíduos e a condução do Estado por meio da vontade coletiva. Para 
Hobbes o contrato social é uma fantasia para o homem solitário.
e) De acordo com Rousseau, não há a possibilidade de os indivíduos viverem em harmonia. 
Para Hobbes, o homem é o lobo do homem, portanto, é necessária a consolidação de um 
Estado forte para contenção dos sujeitos.
8. Para Marx, o capitalismo era o núcleo central a ser investigado para que fosse pos- 
sível entender as mudanças sociais e políticas surgidas em um dado momento histórico. 
Entende-se por capitalismo: 
a) A mais-valia absoluta e relativa. 
b) A política cultural.
c) O sistema de entendimento. 
d) O sistema econômico.
e) Um acordo de repartiçãoda propriedade privada. 
38
CONHECIMENTO E CIÊNCIA UNIDADE
03
39
3.1 TEORIA DO CONHECIMENTO (EPISTEMOLOGIA)
Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.
 (René Descartes)
 A pergunta sobre a essência do conhecimento é uma das mais relevantes para o 
campo filosófico. Platão, como visto anteriormente, já ressaltava que o conhecimento 
verdadeiro não se encontrava na realidade obtida pelos sentidos, mas sim, no mundo das 
ideias que só pode ser conhecido pela razão. Aristóteles, por sua vez, coloca a questão em 
outros termos, para ele, para o alcance do verdadeiro conhecimento é imprescindível à 
observação sensível da realidade.
 Diante disso, tem-se uma oposição inicial acerca da essência do conhecimento que 
irá perdurar durante longos séculos e, consequentemente, fundamentará a relação entre 
filosofia e ciência na modernidade, dividindo, como veremos a seguir, a teoria do conheci-
mento (epistemologia) entre empiristas e racionalistas.
Epistemologia: discurso (logos) acerca da ciência (episteme). Investigação racional sobre o 
conhecimento científico.
GLOSSÁRIO
Conhecimento: Verdade ou Convencimento?
Como vimos nas Unidades 1 e 2, a preocupação da filosofia na nascente sociedade grega tem 
uma preocupação genuína com o conhecimento verdadeiro, colocando a palavra mo- vida 
pelo logos como ferramenta para o seu alcance. Contudo, há, na Grécia Clássica, outra 
classe de sujeitos que maneja a palavra racional: os sofistas. Para os sofistas, não há uma 
VAMOS PENSAR?
verdade conhecível, apenas convicções relativizáveis. Portanto, a palavra não é 
instrumento do conhecimento, mas sim, argumentação com a função de persu-
asão/convencimento com vistas à obtenção de poder político.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=WBDTTH99UOU 
 Antes, contudo, de adentramos na disputa entre empiristas e racionalistas, faz- se 
necessária uma explicitação do ambiente teórico e histórico da modernidade, iniciando-se 
com alguns tópicos centrais sobre o Iluminismo (Séc. XVI).
 Immanuel Kant, no artigo “Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento?”, acen-
tua que o Iluminismo ou Esclarecimento, é a saída do ser humano do seu estado de mino-
ridade, ou seja, trata-se da configuração de sujeito capaz de romper com o pensamen-
to tutelado/controlado por fatores exteriores e, deste modo, o início da consolidação da 
construção de um entendimento que lhe seja próprio. Um entendimento que ousa saber 
(“Sapere aude”) e fazer uso público e livre da racionalidade, como postulado por Kant, rom-
pendo com a herança medieval de um pensar mediado pela Igreja.
https://www.youtube.com/watch?v=WBDTTH99UOU 
40
 Ademais, fortalecido pelas Revoluções Burguesas, Reforma Protestante (1517), 
descoberta de novos territórios e novos mercados, o pensador iluminista possui força su-
ficiente para romper com a tradição vigente e dar início a consolidação de um novo su-
jeito. Assim, tomando como inspiração fundamental a Revolução promovida por Nicolau 
Copérnico (1473 – 1543) (Revolução Copernicana) que retira a Terra do centro do Universo 
(modelo geocêntrico) e institui o Sol como cento (modelo heliocêntrico), o Iluminismo 
retira Deus do centro (Teocentrismo) do conhecimento e institui o ser humano (Antropo-
centrismo).
O cientista Galileu Galiei, figura-se como um importante pensador ilumi-
nista devido, principalmente, às suas contribuições cientificas posteriores. 
Dentre as quais podemos ressaltar: a mentalidade ativa na obtenção 
BUSQUE POR MAIS
 O sujeito do Iluminismo tem a razão (ratio) como determinação fundamental e ele-
mento comum aos seres humanos. Diante disso, temos a elevação das potencialidades da 
razão como determinante do mundo e da realidade, contudo uma razão que é instrumen-
to/propriedade do sujeito, portanto, uma razão subjetiva.
 Aliado à posse da razão, o conceito de método coloca-se como ferramenta teórica 
e prática indispensável para a obtenção do conhecimento, dando ensejo, portanto, a um 
processo metódico/sistemático/seguro e tecnicamente comprovado de aquisição do co-
nhecimento ou, em outros, termos dá-se início à Ciência Moderna, compreendida como a 
articulação entre o método e a sua possibilidade de comprovação técnica/instrumental. 
Entretanto, instaura-se, inicialmente, a oposição entre duas correntes epistemológicas de 
investigação sobra a natureza do conhecimento, o empirismo e o racionalismo.
 Ambas as correntes epistemológicas possuem o conceito de método como determi-
nante em seus questionamentos sobre os fundamentos do conhecimento, contudo, como 
se é possível apontar abaixo, são completamente opostas:
RACIONALISMO EMPIRISMO
Conhecer é conferir razão Conhecer é comparar dados
O mundo é racional O mundo é captado pelos sentidos
Método racional/ lógico-matemático Método experimental
As ideias são verdades inatas As verdades fundamentais são recebidas pela 
observação
O conhecimento existe a priori O conhecimento existe a posteriori
do conhecimento; a atividade ativa na compreensão/domina-
ção da natureza; o refinamento e a universalização do método 
científico experimental.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=Uxko6
Quadro 6: Racionalismo e Empirismo
https://www.youtube.com/watch?v=Uxko6
41
 Assim, para o racionalista o método de investigação do conhecimento é pura- men-
te racional, ligado as disciplinas abstratas: lógica e matemática, sem estabelecer, por con-
seguinte, nenhuma relação com a realidade sensível/material, pois, trata-se da ideia do 
conhecimento enquanto instância a priori, isto é, como completamente independente da 
experiência sensível. O empirista, por sua vez, compreende que o método tem a obser-
vação e a experimentação da realidade/natureza como ponto de partida indispensável, 
entendendo, portanto, que o conhecimento somente pode ser obtido a posteriori, ou seja, 
após a experimentação sensível da realidade. 
 Em síntese, para o racionalista o conhecimento é inato ao ser humano, pois, encon-
tra-se, no interior do sujeito, sendo tarefa da razão reencontrá-lo; já para o empirista não 
há conhecimento que não seja antecedido pela experiência/observação sensível do 
mundo.
 3.1.1 René Descartes (1596 - 1650)
 O racionalista René Descartes, matemático e filósofo francês, busca a fundamenta-
ção de uma nova ciência calcada autonomia da razão como única fonte de conhecimento, 
ao passo que o funcionamento da racionalidade independe de qualquer experiência sen-
sível.
 Descarte propõe, em “Discurso do método”, regras certas, fáceis e amplas de condu-
ção para a utilização correta da razão e da dedução e, consequentemente, obtenção do 
conhecimento verdadeiro. Ainda, no “Discurso do método”, o pensador põe em evidência 
quatro regras para dissecação dos objetos colocados à razão (CHAUÍ,
2000):
• Regra da evidência: algo se impõe como evidente.
• Regra da análise: dividir as dificuldades/ deduzir as complexidades.
• Regra da síntese: concluir do mais simples ao mais complexo.
• Regra do desmembramento: fazer enumerações exatas sem omitir nada.
Dedução: a dedução é uma das operações fundamentais da razão. O método dedutivo, se-
gundo Descartes, tem como finalidade partir de uma generalidade para chegar a uma uni-
versalidade. Portanto, parte-se de algo já conhecido visando chegar-se à verdades
inquestionáveis.
GLOSSÁRIO
 Nas “Meditações metafísicas”, Descartes coloca em meditação o alcance do méto-
do cartesiano, partindo da premissa de que se faz necessária a destituição de todas as 
antigas opiniões para, finalmente, encontrar um ponto fixo, seguro e inquestionável para 
o conhecimento claro e distinto. Para tanto, o pensador faz uso da dúvida metódica, um 
processo racional de colocar tudo em dúvida. Deste modo, as meditações apresentam 
a seguinte ordem: a) primeira meditação “os sentidos”: colocar os sentidos em dúvida, 
partindo do pressuposto que os sentidos são fonte de enganação;b) segunda meditação 
“natureza corpórea”: discutir a impossibilidade da distinção entre sonho e vigília a partir 
42
das sensações corporais, mas, contudo, afirmar a continuidade do pensamento; c) terceira 
meditação “prova da existência de Deus”: racionalização de Deus como substância perfei-
ta e criadora e garantia da razão.
 Finalmente, passada a ampliação extensiva da dúvida como método de conheci-
mento, o pensador apresenta a certeza segura e inquestionável: o penso, logo existo 
(cogito ergo sum) que, ao fim e ao cabo, servirá como ponto fixo para a construção do 
conhecimento. Portanto, se tudo pode ser colocado em dúvida, apenas a certeza de que 
o sujeito pensa e, logo, é um ser de razão, permanece intocável, pois “Duvido, penso: existo, 
pois eu não poderia existir sem pensar” (MOSER; LOPES,
2016, p. 73).
 3.1.2 O Empirismo Inglês
 Francis Bacon (1561 – 1626), John Locke (1632 – 1704) e David Hume (1711– 1776), 
destacam-se como importantes pensadores do empirismo inglês tendo como ponto em 
comum o fortalecimento do método experimental e da observação como constantes 
para a obtenção do conhecimento.
 Bacon destaca-se pela acentuação do rigor metodológico, fundamentado pela 
observação sistemática da natureza e pelo labor intelectual do sujeito que se coloca 
como o grande intérprete do natural. O rigor do método baconiano propõe não somente a 
destituição dos ídolos enquanto entraves ao progresso científico, como também ressalta 
a divisão da metodologia experiencial do seguinte modo: a) primeiro passo: surgimento da 
hipótese a ser comprovada; b) segundo passo: verificação e documentação das experiên-
cias e observações obtidas; c) terceiro passo: a consoli- dação de bases científicas sólidas 
para a compreensão do fenômeno; e d) quarto passo: o surgimento dos axiomas, compre-
endidos como a transformação das bases sólidas em leis gerais que garantem o progresso 
científico. 
 Locke, em franca oposição ao inatismo cartesiano, postula a ideia de tábula rasa, isto 
é, a ideia de que o sujeito nasce se conhecimento algum, em outras palavras, como uma 
folha em branco que vai sendo preenchida pelas experiências ao longo da vida. Diante 
disso, todo o conhecimento, segundo Locke, depende da experiência (a posteriori) e não 
além dela.
 Hume, por sua vez, argumenta que tudo é entendido por meio da percepção que 
são transformadas em impressões e, posteriormente, convertidas em ideias. Ademais, 
 Hume argumenta sobre a noção do co-
nhecimento obtido por hábito ou costu-
me que são experiências consolidadas. 
Por exemplo: por que se pode afirmar 
que o sol nascerá amanhã? Porque o su-
jeito já teve a experiência de presenciar o 
nascer do sol outros 364 dias, portanto, a 
experiência converte-se em hábito.
Figura 7: Racionalistas x Empiristas.
Fonte: Alvarenga ( s/d )
43
 No decorrer da disputa entre racionalistas e empiristas, Kant surge como um conci-
liador ao propor a compreensão do conhecimento humano através de um esquematismo 
que considere os caráteres a priori e a posteriori da razão. Demarcando, para tanto, uma 
revolução na ordem do conhecimento ao colocar o sujeito como aporte reflexivo e orde-
nador do objeto. 
O filósofo alemão, Immanuel Kant unificou os debates entre a priori e a 
posteriori a partir da realização de uma crítica à razão em três partes: a) a 
razão pura; b) a razão prática; e c) a faculdade de julgar. Culminando na 
BUSQUE POR MAIS
ideia de um sujeito de percepção e de razão que, enfim, torna-se 
capaz de emitir juízos após a destituição do objeto de seu cará-
ter de coisa.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=chGB-7yZmM4 
O livro “Para compreender a teoria do conhecimento”, de Alvino Moser e Luís Fer-
nando Lopes, apresenta um histórico preciso da fundamentação da disciplina 
epistemologia. Com destaque para os desdobramentos dos empasses entre ra-
cionalistas e empiristas.
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/42173/pdf
BUSQUE POR MAIS
3.2 FILOSOFIAS DA CIÊNCIA: INTRODUÇÃO)
Existem muitas hipóteses em ciência que estão erradas. Isso é 
perfeitamente aceitável, eles são a abertura para achar as que 
estão certas.
 (Carl Sagan)
 O período após a modernidade é marcado por um grande positivismo no discurso 
da ciência, delimitado pela certeza de que a ciência seria capaz de responder a todos os 
dilemas da humanidade. Devido, não apenas a tal positivismo, mas também, a capacidade 
do método científico em apresentar resoluções mais efetivas para os problemas ineren-
tes à realidade, o discurso rigoroso/seguro da Ciência substitui a reflexão filosófica como 
modelo de resposta à realidade. Nesse sentido, tem-se o surgimento de teorias filosófi-
cas atreladas aos desenvolvimentos, às questões e aos progressos científicos, buscando, 
sobretudo, indagar o processo de afirmação da ciência ao longo da história. Diante disso, 
podem-se ressaltar, inicialmente, três importantes filósofos da ciência: Thomas Kuhn (1922 
- 1996), Karl Popper (1902 - 1994) e Paul Feyerabend (1924 - 1994).
 3.2.1 Thomas Kuhn
 O pensamento de Thomas Kuhn destaca-se na obra “A estrutura das Revoluções 
https://www.youtube.com/watch?v=chGB-7yZmM4 
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/42173/pdf 
44
Científicas”, na qual o pensador ressalta a existência de períodos de Ciência Normal e 
Revoluções Científicas, além de fundamentar a existência de um importante conceito no 
âmbito da filosofia da ciência: o paradigma.
 Para Kuhn, o paradigma funciona como um princípio geral de orientação para o 
empreendimento científico capaz de figurar-se como o conjunto de compromissos de 
pesquisas adotado pela comunidade científica, contendo a constelação de valores e pro-
cedimentos técnicos adotados por tal comunidade. Diante disso, o paradigma possuiu um 
caráter disciplinador, segundo o qual, toda e qualquer pesquisa aceita pela comunidade 
de cientistas deve ser realizada de acordos com os métodos delimitados pelo paradigma 
dominante.
A teoria de Kuhn apresenta o modelo do paradigma do quebra-cabeça, isto é, um uma ca-
tegoria central de problemas que serve para testar a habilidade das soluções. Entretanto, tal 
condição fornece, sobretudo, um caráter limitado da natureza e das soluções científicas, pois, 
todos os problemas devem se encaixar nas seguintes leis:
a) Apresentar uma solução assegurada;
b) Obediência às regras do método segundo o paradigma;
c) Definir-se segundo uma concepção prévia de problemas anteriores.
VAMOS PENSAR?
 Ademais, o conceito de paradigma é responsável pela instituição de um período de 
Ciência Normal, isto é, um período no qual a ciência e o cientista encontram-se vinculados 
a segurança fornecida pelo método e pelo conjunto de teorias e práticas determinadas 
pelo paradigma. Deste modo, a Ciência Normal não apenas restringe a visão do cientista, 
como se faz, conservadora e dogmática. Ao passo que a natureza do conhecimento se 
encontra limitada pelas teorias e práticas fornecidas pelo para- digma.
 As Revoluções Científicas, por sua vez, são produtos de anomalias, ou seja, ocorrem 
quando o paradigma perde a sua capacidade de adequar os problemas às suas possiblida-
des de solução ou, em outras palavras, o quebra-cabeça não é capaz de fornecer critérios/
métodos seguros para a resolução dos problemas científicos, colocando em questão a 
normalidade da ciência. Assim, instaura-se um período de crise e de emergência de um 
novo paradigma, inaugurando, portanto, um movimento de transição entre paradigmas 
e, consequentemente, um período de Ciência Extraordinária, no qual, de fato, o progresso 
científico ocorre.
Figura 8: : Ciência Normal e Revolução Científica de Thomas Kuhn
Fonte: Adaptado de Lundgren (2015)
45
A ciência caminha por saltos, revoluções e não linearmente:
“O filósofo Thomas Kuhn afirma que uma teoria se torna um modelo de conheci-mento ou um paradigma científico. O paradigma se torna o campo no qual uma 
ciência trabalha normalmente, sem crises. Em tempos normais, um cientista, dian-
te de um fato ou de um fenômeno ainda não estudado, o explica usando o modelo 
BUSQUE POR MAIS
ou o paradigma científico existente. Em contraposição à ciência normal, ocorre a revolução 
científica. Uma revolução científica acontece quando o cientista descobre que o paradigma 
disponível não consegue explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário produzir 
um outro paradigma.” (CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 200, p. 327-328)
 3.2.2 Karl Popper
 Karl Popper, na “Lógica da pesquisa científica”, introduz a noção de que o conheci-
mento é, essencialmente, falível, corrigível, provisório e imperfeito e, por conseguinte, en-
contra-se vinculado à sociedade como um todo e não somente à comunidade científica. 
Portanto, a construção do conhecimento só é possível se as leis científicas se figuram como 
hipotéticas e provisórias e, consequentemente, a construção das hipóteses encontrar-se 
em estreita relação com a realidade.
 Diferentemente de Kuhn, Popper não vislumbra o entendimento de ciência depen-
dente de períodos de segurança fornecidos pela Ciência Normal, pelo contrário, o pensa-
mento popperiano inclui em seu fazer teórico, sobretudo, o erro ou, em outras palavras, 
os conteúdos que escapam ao paradigma como determinantes do progresso científico. 
Diante disso, podemos definir o método científico de Popper como um constante método 
de aprendizagem tributário da tentativa e ao erro, pois, é, justamente, o erro que gera a 
crítica e a possibilidade da ciência. Enfim, pode-se dizer que,
segundo Popper, o erro é o método.
 
 3.2.3 Paul Feyrabend
 O filósofo Paul Feyerabend, é conhecido pela sua proposta de um anarquismo epis-
temológico. Em outros termos, o pensamento feyerabendiano propõe um posicionamen-
to contrário às regras científicas universais e, para tanto, contrário à ideia de um método 
científico dominante. Deste modo, a ciência não se fundamentaria na segurança do mé-
todo, mas sim, na pluralidade dos diversos saberes que se interpenetram na construção do 
conhecimento.
 Ademais, a ciência, segundo Feyerabend, é uma atividade metodologicamente anár-
quica, ligada à subjetividade e as escolhas dos sujeitos singulares e, finalmente, não pode 
ser reduzida a um processo metodológico uniforme. Assim, o pensador destaca o processo 
da contra-regra, isto é, um processo capaz de ampliar o conteúdo da concepção científica 
vigente pelo fato de ajustar o pensamento científico em torno de teorias não firmadas e 
formular hipóteses que não se adequam ao método científico uniforme. Conceituando, 
portanto, a ciência como atividade livre, não dogmática e, sobretudo, de maior alcance 
crítico.
46
Um dos tópicos centrais de epistemologia e filosofia da ciência, como foi possível 
observar, é a constante busca e afirmação de um método seguro para obtenção do 
co- nhecimento. Diante disso, o link a seguir ressalta a configuração e importância 
do método para os diversos saberes relacionados aos seres humanos.
FIQUE ATENTO
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=eRDBggKy0js
https://www.youtube.com/watch?v=eRDBggKy0js
47
1. (UNICAMP/2014) - A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pen- 
samento filosófico moderno. Neste comportamento, a verdade é atingida através da 
supressão provisória de todo conhecimento, que passa a ser considerado como mera 
opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia. 
Adaptado de Gerd A. Bornheim. Introdução ao filosofar. Porto Alegre: Globo, 1970, p. 11.)
A partir do texto, é correto afirmar que:
a) Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes.
b) A Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes.
c) O espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades 
são coincidentes.
d) A dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito crítico são fundamentos do pen- 
samento filosófico moderno.
e) A Filosofia determina que a crítica e a dúvida são caminhos em direção ao falso 
conhecimento.
2. Segundo Immanuel Kant, o Esclarecimento (Iluminismo) é definido como:
a) A saída do ser humano de seu estado de minoridade mediada pela atitude de ousar 
saber.
b) A permanência do ser humano em um estado de completa dependência de uma 
razão exterior.
c) A saída do ser humano de seu estado de minoridade e descoberta de uma racio- 
nalidade guiada pelos princípios teocêntricos.
d) A permanência do homem em seu estado natural sem ter acesso ao conhecimento 
racional.
e) A ousadia pelo saber estabelecido, de antemão, pela tradição tutelada pela religiosidade. 
3. (UECE 2018) – Adaptado - Johannes Hessen afirma, sobre o empirismo e o racio- 
nalismo na modernidade, que “quem enxerga no pensamento humano, na razão, o 
único fundamento do conhecimento, está convencido da independência e especifi- 
cidade psicológica do processo de pensamento. Por outro lado, quem fundamenta todo 
conhecimento na experiência negará independência, mesmo sob o aspecto psicológico, 
ao pensamento”
HESSEN, J. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 48.
Relacione empirismo e racionalismo à descrição apresentada por Hessen e assi- nale a 
afirmação verdadeira.
a) Racionalista é quem entende que o conhecimento depende psicologicamente de fatos 
extra mentais.
b) Empiristas fundamentam todo seu conhecimento na capacidade da razão humana. c) 
Empirista baseia o conhecimento na experiência e o racionalista entende que a
FIXANDO O CONTEÚDO
48
razão é o fundamento do conhecimento.
d) Racionalista baseia o conhecimento na experiência e o empirista entende que a razão 
é o fundamento do conhecimento.
e) Empiristas fundamentam todo o seu conhecimento na capacidade sensível da ob- 
servação e na experiência com a realidade e racionalista compreende o conhecimento 
como sensibilidade/paixões própria do sujeito.
4. (UNICAMP 2015) - Adaptado
“A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento constitui suficiente prova de que não é 
inato”.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.13.
O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte:
a) Afirma que o conhecimento é inato, pois sua aquisição deriva da racionalidade au- 
tônoma.
b) É uma forma de ceticismo, pois nega que os conhecimentos possam ser obtidos.
c) Aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao negar a existência de ideias inatas. 
d) Acentua o caráter de tabula rasa do sujeito, pois o conhecimento provém apenas
da racionalidade.
e) Afirma que o conhecimento não é inato, pois sua aquisição deriva da experiência, uma 
vez que, o sujeito é tabula rasa. 
5. O método científico, como determinado por Francis Bacon (1561 - 1626), caracte- riza-se 
pelo:
a) Surgimento de hipóteses; verificação e documentação rigorosas; consolidação de bases 
científicas; axiomas.
b) Surgimento de hipóteses; acentuação do poder dos ídolos; desconsideração pelas bases 
científicas; axiomas.
c) Axiomas; verificação e documentação rigorosas; contra método; bases científicas; 
paradigmas.
d) Paradigmas; falseabilidades; axiomas; observação; experimentação.
e) Surgimento de hipóteses; verificação e documentação rigorosas; consolidação de bases 
científicas; anarquismo epistemológico.
6. Na obra “A estrutura das revoluções científicas”, Thomas Kuhn apresenta a existência 
de períodos de Ciência Normal e Revoluções Científicas que rompem com a normalidade 
do fazer científico orientado pelo paradigma. Diante disso, o paradigma é definido como:
a) Princípio de orientação da ciência normal, figurado como uma contra-regra científica.
b) Princípio de orientação da ciência normal capaz de figurar-se como o conjunto de 
compromissos e procedimentos técnico/teóricos adotados pela comunidadecientífica 
garantindo a segurança para o fazer científico.
c) Princípio de orientação incompleto, pois na ciência normal têm-se a constante mo- 
dificação das teorias dominantes.
d) Princípio de orientação revolucionário capaz de figurar-se como o conjunto de com- 
49
promissos e procedimentos técnicos teóricos dogmáticos adotados pela comunidade 
científica garantindo a volatividade para o fazer científico.
e) Princípio de orientação da revolução científica capaz de figurar-se como o conjunto 
de compromissos e procedimentos técnico/teóricos adotados pela comunidade científica 
garantindo a segurança para o fazer científico. 
7. (UFSM, 2015) Há muitas razões para valorizar a ciência. A importância de prever e 
explicar fenômenos naturais e facilitar nosso controle de ambientes hostis, facilitando 
nossa adaptação, é uma delas. Em função do sucesso que a ciência tem em explicar muitos 
fenômenos, a maioria das pessoas não diretamente envolvidas com atividades científicas 
tende a pensar que uma teoria científica é um conjunto de leis verdadeiras e infalíveis sobre 
o mundo natural. Mudanças teóricas radicais na história da ciência (como a substituição 
de um modelo geocêntrico por um modelo heliocêntrico de explicação do movimento 
planetário) levaram filósofos a suspeitar dessa imagem das teorias científicas. A teoria da 
ciência do físico e filósofo austríaco Karl Popper se caracterizou por sustentar que as leis 
científicas possuem um caráter
I. Hipotético e provisório.
II. Assistemático e irracional.
III. Matemático e formal.
IV. Contraditório e tautológico.
É/São verdadeira s) a(s) assertiva(s): 
a) I apenas.
b) I e II apenas. 
c) III apenas.
d) II e IV apenas. 
e) III e IV apenas.
8. O anarquismo epistemológico de Paul Feyerabend é:
a) Um método seguro para obtenção do conhecimento.
b) Um método único centrado na ideia de que o conhecimento é imutável. 
c) Um contra-método definido pela crítica às regras científicas dominantes.
d) Um método uniforme e rigoroso de caminho para o conhecimento.
e) Um contra-método centrado no rigor das leis científicas. 
50
METAFÍSICA E ONTOLOGIA
UNIDADE
04
51
4.1 METAFÍSICA E ONTOLOGIA: INTRODUÇÃO
 Metafísica e ontologia entrelaçam-se na tentativa de compreensão da essência da 
realidade, a primeira, em caráter mais amplo, pergunta-se, segundo Chauí (2000), justa-
mente, pelo “O que é?”. Ao passo que o “é” apresenta dois sentidos: a) existência real; e b) 
essência do que existe; a segunda, por sua vez, como um ramo da metafísica, tem o ser 
como questão fundamental. Portanto, pode-se afirmar que a metafísica e a ontologia in-
vestigam a existência e a essência em seus diversos aspectos, diferenciando-se, contudo, 
de acordo com cada período histórico predeterminado pelas teorias vigentes.
 Assim, a metafísica – enquanto campo do saber filosófico – procura investigar os 
princípios, fundamentos e causas de todas as coisas perguntando-se sobre o porquê das 
suas existências e, consequentemente, sobre as suas estruturas mais básicas, isto é: como 
são; o que são e porque são ou, conforme colocado por Aristóteles, à metafísica destina-se 
a interrogação das causas primeiras das coisas.
 A metafísica, no sentido proposto por Aristóteles, apresenta-se como uma ciência 
universal, centrada nas interrogações sobre o ser enquanto ser e sobre as coisas enquanto 
existentes não, contudo, como construções opostas, mas sim, complementares.
‘‘O homem é um animal metafísico’’
(Arthur Schopenhauer)
A “Metafísica”, de Aristóteles, é a primeira investigação sistemática sobre 
a essência do Ser enquanto ser em geral. Dividida em quatorze livros, o 
filósofo buscou discutir as causas, princípios e substâncias que dizem res-
peito aos seres. Contudo, Reale (1990) res- salta que: 
“É sabido que o termo ‘metafísica’ ( = o que está além da física) não é 
um termo aristotélico [...]. A mais das vezes, Aristóteles usava a expres-
são “filosofia primeira” ou ainda “teologia”, em oposição à “filosofia se-
gunda”, a física. Entretanto, o termo “metafísica” foi sentido como mais 
significativo pela posteridade, tornando-se o preferido. Com efeito, a “fi-
losofia primeira” é precisamente a ciência que se ocupa das realidades-
-que-estão-acima-das-realidades-físicas.” (REALE, 1990,p. 179)
VAMOS PENSAR?
 Diferentemente de Aristóteles, Platão, conforme visto na Unidade 1, propõe uma 
divisão radical entre as coisas existentes na realidade e as suas respectivas essências. As-
sim, Reale (1990), salienta que já em Platão é possível avistar-se um horizonte metafísico 
no questionamento platônico acerca da essência das coisas. Sendo assim:
Platão chega até a dizer expressamente que o que ele 
afirma vale “para todas as coisas”. Isso significa que toda 
e qualquer coisa física existente supõe uma causa supre-
ma e última, que não é de caráter físico, mas sim, como 
se dirá com uma expressão cunhada posteriormente, 
de caráter “metafísico” (REALE, 1990, p. 136).
52
 Não obstante, o dualismo platônico já apontava que a investigação racional sobre a 
essência das coisas físicas sugere o direcionamento rumo à verdade descolada da realida-
de material. Portanto, Platão acentua que o questionamento das coisas em-si repousa, so-
bretudo, no abandono da realidade física (material/sensível) rumo ao livre encontro com 
as ideias, isto é, com as substâncias que conservam em-si mesmo o verdadeiro ser das 
coisas e, para tanto, residem em um mundo à parte do real, o qual, na esteira de Reale 
(1990), revela um horizonte metafísico (além do físico).
 Tal horizonte metafísico platônico expõe uma divisão fundamental à filosofia, à me-
tafísica e, como veremos adiante, à ontologia, ao salientar as categorias de não ser e de 
ser. O Não-ser platônico não é, exatamente, o nada, mas sim, a cópia imperfeita do ser que 
repousa no mundo real (sensível) e, por conseguinte, distinta da verdade (do essencial) e, 
finalmente, o ser, cuja essência é imutável (não-muda), no qual repousa a verdade das coi-
sas em sua perfectibilidade imperecível no mundo das ideias. Por exemplo, ao comentar 
o diálogo platônico “O banquete”, Chauí (2000, p.275), apresenta o ser (ideia/essência) do 
amor (Eros) do seguinte modo:
O amor é o desejo da perfeição imperecível, aquilo que 
permanece sempre idêntico a si mesmo, que pode ser 
plenamente conhecido e contemplado pelo puro pensa-
mento. Esse amor pela ideia ou essência do belo é amor 
intelectual. Esse amor pelo inteligível é o desejo de saber: 
philo sophia, ‘amor pela sabedoria’. Pelo amor, o pensa-
mento humano conhece as ideias, portanto, o ser verda-
deiro
Em um dos maiores clássicos da literatura, “Hamlet”, de William Shakespeare (1564 - 1616), 
tem-se a famosa indagação metafísica e ontológica sobre a natureza do ser, sua essência e vi-
cissitudes no mundo real “Ser ou não ser, eis a questão”. O filósofo Leandro Karnal, aborda tal 
indagação demonstrando os amplos desdobramentos filosóficos da questão hamletiana.
BUSQUE POR MAIS
 Com o pensamento Aristóteles, tem-se o primeiro sistema como modelo de orga-
nização filosófica, isto é, o pensador compõe a filosofia como uma unidade composta por 
todos os seus campos que se correspondem e se confirmam. Assim, Aristóteles organiza-
-se a filosofia do seguinte modo:
FILOSOFIA FINALIDADE CAMPO FILOSÓFICO
Teorética Buscar o saber em si mesmo. Metafísica; Física; Matemática (Lógica).
Prática Buscar o saber para atingir a perfei-
ção moral.
Ética; Política.
Poiética Buscar o saber em função do fazer. Arte e Técnica.
Quadro 7: A divisão da filosofia segundo Aristóteles
Fonte: Elaborado pelo autor 
53
O modelo de filosofia sistemática proposto por Aristóteles determina uma modificação no 
modo de apresentação filosófica em direção a um método rigoroso de argumentação críti-
ca, diferente de Platão, seu antecessor, que optou pela utilização dos diálogos (formas literá-
rias)com vistas à apresentação racional/conceitual da filosofia. Ademais, o sistema aristoté-
lico não prevê a divisão dos campos do saber, uma vez que a filosofia torna- se um modo de 
investigação extensivo à totalidade, discutindo os aspectos mais elementares da botânica 
(naturais) até as questões mais metafísicas, como por exemplo, a existência de Deus como 
substância criadora. Convém ressaltar ainda, que na modernidade a concepção de sistema 
filosófico alcança o seu apogeu com as filosofias de Baruch Spinoza (1632 - 1677) e Wilhelm 
Friedrich Hegel (1770 - 1831).
FIQUE ATENTO
Sobre a filosofia de Aristóteles:
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=f5sljjuTkzg
 A partir da configuração sistemática da filosofia de Aristóteles, a metafísica assume 
destaque enquanto filosofia primeira, justamente, pela visão aristotélica de que ela é 
capaz de dizer, de fato, a essencialidade dos sujeitos, das coisas e da realidade. Para tanto, 
não se trata, segundo Aristóteles, da divisão dualista da filosofia, conforme colocado por 
Platão, mas sim da relação entre existência e essência na investigação da verdade. Nesse 
sentido, afirma Chauí (2000, p. 276) que, diferentemente, sobretudo, do pensamento pla-
tônico:
[...] Aristóteles considera que a essência verdadeira das 
coisas naturais e dos seres humanos e de suas ações não 
está no mundo inteligível, separado do mundo sensível, 
onde as coisas naturais existem e onde vivemos. As es-
sências, diz Aristóteles, estão nas próprias coisas, nos pró-
prios homens, nas pró- prias ações e é tarefa da Filosofia 
conhecê-las ali mesmo onde existem e acontecem.
 Portanto, a busca pela essência, de acordo com Aristóteles não prevê uma supera-
ção da realidade física, mas, pelo contrário, trata-se de conhecer o ser dos sujeitos e das 
coisas na realidade em que se encontram inseridos demarcando, enfim, um afastamento 
do modelo dualista platônico de horizonte metafísico. Assim, as elaborações da metafísica 
aristotélica estão ancoradas numa relação de reciprocidade com a Natureza. 
 Ademais, diferentemente de Parmê-
nides, filósofo pré-socrático, Aristóteles não 
afirma a imutabilidade ou univocidade do 
ser, pelo contrário, é justamente o movi-
mento (devir) e as diferenças entre os se-
res que dá aval ao caráter de verdade do 
ser.
Figura 9: O liceu de Aristóteles (1883 - 1888) – Gustav Adolph Spangenberg
Fonte: Domínio público 
https://www.youtube.com/watch?v=f5sljjuTkzg
54
 Dando sequência, a metafísica aristotélica, assume três objetos principais de inves-
tigação: a) o Primeiro Motor (ser divino); b) os princípios e causas primeiras dos seres; c) a 
substância e os predicados gerais dos seres (CHAUÍ, 2000).
 Aristóteles afirma a existência de um ser divino determinando como o Primeiro Mo-
tor, isto é, como a força motriz do cosmos, a substância plena e perfeita que coloca todo o 
cosmos em movimento, ao passo, que o Primeiro Motor (divino) é o fim para o qual as coi-
sas naturais (em movimento [devir] constante) tendem. Ademais, o filósofo grego, elenca 
quatro causas primeiras dos seres:
a. causa material (aquilo que o ser é feito; sua matéria prenhe de potência a ser trans-
formada);
b. causa formal (a forma que o ser possui; o ato que atualiza a potência contida na ma-
téria dando-lhe uma forma; exemplo: a madeira vir a tomar a forma de cadeira);
c. causa eficiente (a explicação da transformação da matéria em forma);
d. causa final (a finalidade da existência do objeto; exemplo: a cadeira tem a finalidade 
de servir como assento). 
 Finalmente, a substância é o atributo essencial e acidental de cada ser, ou em outros 
termos, é a unidade primordial do ser, aquilo que de fato o constitui; os predicados, por sua 
vez, são constitutivos da substância. Os predicados dizem respeito à configuração essen-
cial do ser, assumindo a condição de categorias complementares ou necessárias para a 
determinação da essência (substância), dizem respeito, portanto, a qualidades, quantida-
des, lugares, tempo, ação, posse, paixões e relações que constituem o ser. Deste modo, a 
metafísica de Aristóteles, coloca em evidência a pertinência do pensamento filosófico na 
tentativa de afirmar a existência e a essência do ser em um percurso de questionamento 
racional que, ao fim e ao cabo, é tarefa primária da filosofia dizer o ser enquanto ser.
 Como vimos anteriormente, a ontologia, isto é, a lógica que visa responder à questão 
sobre o ser, encontra-se iniciada pelo filósofo pré-socrático Parmênides de Eleia. Parmêni-
des conceitua o ser como instância imutável, idêntica, eterna e única causa da realidade, 
retirando, portanto, toda condição de multiplicidade do ser, diferentemente da metafísica 
aristotélica que considera o ser em seu movimento e em sua transformação.
 Durante todo o período moderno, a filosofia retomou o questionamento sobre os 
limites e determinações metafísicas e ontológicas em suas capacidades de responderem à 
pergunta pelo ser. Para Kant, todo o percurso de afirmação metafísica tem como ponto de 
partida a concepção dogmática (inquestionável) da existência de uma realidade supras-
sensível, conhecível pela razão, que diz respeito à afirmação de uma realidade em si e por 
si mesma (metafísica) identicamente correspondente ao mundo real.
 Diante disso, ao realizar a crítica dos limites da razão, Kant – despertado por Hume 
(empirista britânico) – afirma que uma realidade em si e por si mesma (realidade do nôu-
meno) centrada na existência de um Primeiro Motor (Deus/ o Divino) é impossível de ser 
conhecida pelo conhecimento racional que, em seu aspecto necessário e universal, deve 
corresponder, verdadeiramente, à realidade enunciada (realidade fenomênica). 
55
Kant institui duas ordens de organização da realidade: a) a realidade fenomêni-
ca, isto é, aquela que é possível ser conhecida mediante a relação entre a expe-
riência (empírico) e a racionalidade e, para tanto, é possível de ser conhecida; b) 
a realidade do nôumeno (metafísica) que diz respeito aquilo que se encontra 
além da natureza, sendo que, tal realidade não é perceptível pelos sentidos 
nem afirmada pelo entendimento e, portanto, ultrapassa os limites da razão 
BUSQUE POR MAIS
não sendo possível conhecê-la.
LINK:https://www.youtube.com/watch?v=wR8V1Gakpgk
 Diante da impossibilidade de conhecer aquilo que se encontra além do fenomê-
nico, Kant põe em crise a metafísica instaurando a noção de uma filosofia idealista, na 
qual a realidade a ser conhecida é uma produção das ideias e representações provenientes 
do sujeito do conhecimento (sujeito transcendental/ ideal) e não, como se queria ante-
riormente, onde a realidade e o ser determinavam-se em si mesmos. Assim, a metafísica 
vê-se incapaz de dizer o ser em si mesmo (uma vez que tal questionamento ultrapassa os 
limites da razão), tornando-se, conforme dito por Chauí (2000), uma investigação sobre 
as “condições gerais da objetividade, isto é, do conhecimento universal e necessário dos 
fenômenos” (CHAUÍ, 2000, p. 299).
 Em meados do século XX, o filósofo Martin Heidegger (1889-1976), afirma que a fi-
losofia esqueceu-se de sua questão fundamental: a pergunta pelo ser. Deste modo, dá-se 
ensejo à ontologia fundamental como questionamento sobre a universalidade do concei-
to de ser inserido no mundo: o ser no mundo (o ser-aí [dasein]).
 Destaca-se, ainda, no pensamento de Heidegger, a busca pela compreensão do 
sentido do ser e do movimento no tempo em direção à realização das possibilidades do 
ser, por isso, o título principal obra heideggeriana, “Ser e tempo”. Diante disso, a ontologia 
heideggeriana, apresenta as relações entre o ser e o ente como configurações determi-
nantes da ontologia fundamental, ao passo que, se o ser é, o ente pode ser entendido, em 
sentido geral, como a sua manifestação em tudo o que se é referido.
 Dividida em três correntes, a ontologia determina-se do seguintemodo: 
Ontologia do 
Uno 
Univocidade do ser; Determinação única da essência 
e do real.
Parmênides; 
Platão 
Ontologia do 
Ser
Multiplicidade do ser condicionada às suas categorias 
e determinações
Aristóteles
Ontologia do 
tempo 
Reintrodução da pergunta pelo ser; o ser se determi-
na no mundo e no movimento do tempo e em suas 
realizações.
Heidegger
Quadro 8: Ontologias (adaptado de “O que é ontologia”
Fonte: Elaborado pelo autor 
O professor Pedro Rennó, no vídeo “O que é ontologia? ”, do canal “Parabólicas”, apresenta 
um importante resumo do que significa Ontologia.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=sVR71qrLRZ8
BUSQUE POR MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=wR8V1Gakpgk
https://www.youtube.com/watch?v=sVR71qrLRZ8
56
4.2 FILOSOFIA DA RELIGIÃO
 A religião propõe uma relação de proximidade entre o sujeito e a experiência do sa-
grado. Seja na Grécia Antiga, como vimos anteriormente, com a recorrência ao politeísmo 
dos mitos para explicação da origem do mundo e ordenação do cosmos, seja na configu-
ração de experiências religiosas monoteístas – judaísmo, cristianismo, islamismo – o sujeito 
procura respostas para fenômenos naturais e sobrenaturais. A filosofia da religião, por 
sua vez, investiga, justamente, a relação do humano com o sagrado buscando, sobretudo, 
compreender a multiplicidade de questões oriundas desse encontro, tais como: a relação 
entre fé e razão; a existência de Deus; os valores de bem e de mal e outros postulados reli-
giosos.
 É na Idade Média que ocorre o fortalecimento da tradição religiosa e, principalmen-
te, o surgimento de correntes filosóficas pautadas na indissociabilidade entre fé e razão, 
determinando, para tanto, uma razão teológica.
 Santo Agostinho, Bispo de Hipona, é um dos principais filósofos da religião. Com 
base no dualismo platônico – na superação do mundo sensível – Agostinho introduz o 
ideal da Patrística como modo de conduta, baseado no controle racional das paixões, para 
uma vida regrada em direção ao mundo dos céus.
‘‘As religiões, assim como as luzes, necessitam de escuridão 
para brilhar.’’
Arthur Schopenhauer
A Patrística é uma doutrina teológica e filosófica que propõe a reto-
mada da filosofia de Platão (neoplatonismo) para a educação moral 
dos seres humanos, fundando-se, para tanto, no dualismo entre graça 
(bem) e pecado (mal) e na necessidade da consolidação de uma mo-
ral rigorosa, pautada pelo controle das sensibilidades, das paixões e a 
predileção por um mundo celestial (graça), superior e desvinculado da 
BUSQUE POR MAIS
realidade.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=hpf_Gjq2RyE 
 O pensamento agostiniano fortalece a ideia da razão teológica, ao introduzir a Reve-
lação religiosa como elemento indispensável à meditação filosófica, ao passo que, siste-
matizando a experiência cristã, Agostinho propõe a exposição racional da doutrina religio-
sa ao acentuar que a verdade é iluminada pela fé ou, em outros termos, o sujeito só pode 
alcançar a verdade das coisas iluminadas por Deus.
 Trata-se, portanto, da ideia da fé e da razão como instâncias complementares no 
exercício do conhecimento, pois, como núcleo de seu pensamento Agostinho fornece à 
máxima: compreende para crer, crê para compreender (intellige ut credas, crede ut in-
telligas), significando: “Com efeito, compreendendo aquilo em que se deve crer, cremos 
e, crendo, podemos compreender aquilo em que cremos” (CAMPOS,2007, p. 11-12) ou, 
https://www.youtube.com/watch?v=hpf_Gjq2RyE 
57
ainda, atestando que a razão transforma-se em um meio de se compreender a experiên-
cia de fé e a fé, portanto, é o caminho para o conhecimento que é produto do Divino.
 Juntamente com Agostinho, São Tomás de Aquino (1225 – 1274) destaca-se como 
um importante filósofo da religião. Ligado a Escolástica e ao pensamento aristotélico, To-
más de Aquino procurou auxiliar na transmissão da doutrina religiosa por meio do estudo, 
da leitura e do comentário dos textos Sagrados. Diante disso, o pensamento tomista volta-
-se para a educação do sujeito em termos diretamente relacionados com o fortalecimen-
to da doutrina cristã no combate às heresias e nas fundamentações dos conceitos de bem 
e de mal.
 Ademais, o pensamento de Tomás de Aquino, na “Suma Teológica”, possui a inten-
ção de apresentar argumentos racionais para a existência de Deus em cinco vias:
1. a via do movimento: o Primeiro Motor, aquilo que coloca tudo em movimento, é 
Deus;
2. a via da causa eficiente: Deus é a causa primeira para todas as coisas, pois, nada 
pode ser a causa eficiente de si mesma;
3. a via do contingente e o necessário: o mundo é preenchido por coisas contin-
gentes (que existem, mas poderiam não existir) e, para tais coisas, é fundamental a 
existência de algo necessário (imperecível), esse algo é Deus;
4. a via dos graus de perfeição: Deus é a fonte da Suma Perfeição e, portanto, a fonte do 
ser;
5. a via da finalidade das coisas: Deus, enquanto ser inteligente, dirige a finalidade das 
coisas e dos seres.
O artigo “Tomás de Aquino e os argumentos para provar a existência de Deus (ou 
sobre as cinco vias)”, do Professor Lira (2014), apresenta uma importante discussão 
sobre o pensamento e a fundamentação argumentativa de Tomás de Aquino.
LINK: https://frankwcl.atavist.com/tomas-de-aquino-e-os-argumentos-para-pro-
var-existencia- de-deus-ou-sobre-cinco-vias
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 De fato, na Idade Média têm-se a introdução de valores morais que servirão como 
guias futuros para a constituição da sociedade moderna, mesmo que tal tradição seja 
questionada ele permanecerá como um poder atemporal na condução dos sujeitos. 
 O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) apresenta uma crítica radical 
aos valores da tradição religiosa judaico-cristã. Acentuando a crítica às doutrinas metafí-
sicas, isto é, as tradições de pensamento que retiram da realidade a busca pela realização 
humana, atribuindo-a a destinações ideias (Platão) ou divinas (Religiões), Nietzsche, na 
obra “Gaia Ciência”, atesta a morte de Deus e o fim das certezas metafísicas reafirmando a 
existência do humano como ligada a natureza física da realidade.
 Nesse sentido, o pensador alemão propõe a transvaloração dos valores, exigindo o 
rompimento com os valores autoconservados pelas tradições metafísicas, com as deter-
minações de bem e de mal e, principalmente, afirmando valores humanos (não metafísi-
cos/ nada além do próprio humano) visando buscar a realização/afirmação incondicional 
de cada instante vivido, acolhendo, portanto, a beleza da condição de finitude do sujeito.
https://frankwcl.atavist.com/tomas-de-aquino-e-os-argumentos-para-provar-existencia- de-deus-ou-sobr
https://frankwcl.atavist.com/tomas-de-aquino-e-os-argumentos-para-provar-existencia- de-deus-ou-sobr
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Na obra “Ecce Hommo”, Nietzsche faz uma apresentação geral de sua filoso-
fia destacando os conceitos centrais na crítica à moralidade religiosa, desta-
cando a necessidade de uma filosofia do martelo. 
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1. A Metafísica, como ciência primeira que questiona as causas primeiras das coisas, procura:
a) Conhecer a ciência e o métodos de experimentação científica.
b) Compreender a existência e a essência das coisas, da realidade e dos seres;
c) Responder a questionamentos de ordem filosófica diretamente relacionadas com a 
fundamentação apenas da realidade material.
d) Compreender, em caráter amplo, a determinação dos seres humanos em sociedade e 
o alcance de suas ações.
e) Responder à questão sobre o conhecimento como campo estritamente racional do 
sujeito.
2. O pensamento de Platão apresenta um horizonte metafísico determinado pela primazia 
do mundo das ideias sobre o mundo físico. Aristóteles, por sua vez, discorda de Platão 
afirmando que as essências dos seres e das coisas encontram-se fundadas na realidade 
experiencial. Diante disso, podemos afirmar o seguinte:
a) Ambos os pensadoresentendem a concepção da metafísica (além-da-realidade) como 
um processo de superação do caráter experiencial/sensorial da realidade.
b) O dualismo platônico, ao fundamentar-se como uma doutrina da soberania da sen- 
sibilidade, opõe-se ao pensamento aristotélico que considera o ser em sua multiplicidade 
de movimentos (devires).
c) A busca pela essência, de acordo com Aristóteles, não prevê uma superação da realidade 
física, mas sim uma relação de reciprocidade com o real. Platão, por sua vez, conceitua 
que a realidade é o reino do Não-ser, a cópia imperfeita do ser, portanto, não é capaz de 
conter a essência verdadeira.
d) Aristóteles concebe a ideia de ser como algo único, imutável e imóvel. Platão concebe a 
existência do ser no mundo das ideias, distanciado, para tanto, da concepção falsa do real.
e) O verdadeiro ser das coisas, para Platão, repousa na idealidade metafísica da essência 
imutável. Logo, dizer o ser na metafísica de Aristóteles prevê uma continuidade com a 
razão ideal platônica. 
3. O sistema filosófico de Aristóteles apresenta a seguinte divisão da filosofia:
a) Teorética; Prática; Estética.
b) Prática; Epistemológica; Poiética. 
c) Técnica; Estética; Prática.
d) Metafísica; Teorética; Prática. 
e) Teorética; Prática; Poiética.
4. A filosofia primeira, segundo Aristóteles, apresenta três objetos principais de in- 
vestigação: o Primeiro Motor; os princípios e as causas primeiras e a substância e os 
predicados gerais. Diante disso, assinale a alternativa contendo as causas primeiras dos 
seres conforme destacado pela metafísica aristotélica:
FIXANDO O CONTEÚDO
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a) Causa material; causa formal; causa eficiente; causa final.
b) Causa material; causa informal; causa substancial; causa final.
c) Causa substancial; causa fenomênica; causa formal; causa material. 
d) Causa nôumenica; causa material.; causa formal; causa final.
e) Causa fenomênica; causa formal; causa eficiente; causa final.
5. Immanuel Kant, filósofo moderno, determina o período de crise da metafísica, ins- 
taurando a filosofia idealista. Nesse sentido, o período de crise da metafísica é fomentado 
pelos limites da razão, tal limitação revela que:
a) O conhecimento racional é capaz de conhecer todos os campos da realidade, incluindo 
aquilo que se encontra para além-da-realidade-física.
b) O conhecimento racional é limitado pelas barreiras propostas pelos sentidos em sua 
busca de afirmação do horizonte metafísico.
c) O conhecimento racional é incapaz de conhecer a realidade por si mesma centrada 
na existência de fatores metafísicos, portanto, deve ater-se à realidade passível de ser 
enunciada pelo sujeito.
d) O conhecimento racional é ilimitado, portanto retira o sujeito de seu estado de mi- 
noridade fazendo-o capaz de se autodeterminar enquanto sujeito do conhecimento.
e) O conhecimento racional é incapaz de conhecer os fenômenos experienciais do real, 
devendo, para tal, limitar-se a responder questões para além-da-realidade- física. 
6. Acerca da ontologia, considere as afirmativas a seguir:
I. A Ontologia do Uno diz respeito à univocidade do ser enquanto essencialmente 
imutável.
II. A Ontologia do Tempo insere a questão do ser em relação direta com as suas 
determinações/movimentações temporais.
III. A Ontologia do Ser trata de um ser múltiplo condicionado às suas categorias e 
determinações predicativas.
IV. A Ontologia é um ramo da metafísica responsável por buscar responder à pergunta 
pela essencialidade do ser. 
stão corretas apenas:
a) I e IV
b) I, II e IV
c) II, III e IV
d) Todas as alternativas 
e) II e III
7. Os filósofos Agostinho de Hipona (Patrística) e Tomás de Aquino (Escolástica), são os 
grandes expoentes do pensamento na Idade Média. Tal pensamento caracteriza-se:
a) Pela junção entre racionalidade e cientificismo.
b) Pela separação entre racionalidade e espiritualidade (fé).
61
 c) Pela junção entre racionalidade e espiritualidade (fé).
d) Pela junção entre espiritualidade (fé) e sensibilidade. 
e) Pela separação entre racionalidade e sensibilidade.
8. O movimento de transvaloração dos valores, segundo Nietzsche afirma:
a) A ruptura com os valores autoconservados pela tradição e a afirmação do humano 
frente às narrativas metafísicas.
b) A ruptura com os valores humanos e a afirmação dos valores tradicionais/religiosos.
c) O humano enquanto ser orientado pela fé e pela razão na busca pela Revelação do 
conhecimento.
d) O humano demasiado humano preenchido pela experiência oceânica do sagrado. 
e) A ruptura com o instante vivido e com a finidade, com a finalidade de assentar a
ideia de humano em um horizonte pleno de metafísica.
62
FILOSOFIA DA ARTE UNIDADE
05
63
 5.1 ESTÉTICA: INTRODUÇÃO HISTÓRICA
 A relação entre a filosofia e arte é antiga. A busca pela definição de arte e do belo 
remete-se à Grécia Clássica. Lá, o surgimento do termo aísthesis, compreendido como sen-
sação, percepção, sentimento já indicava a fundamentação, posterior, da Estética como 
disciplina filosófica ligada às artes e aos sentidos. Contudo, é tão somente na modernida-
de que a Estética encontrara por meio de Alexander Baumgarten (1714 – 1762) fundamen-
tação científica atrelada ao racionalismo moderno. Contudo, a investigação sobre o belo 
torna-se um tema recorrente nos diálogos de Platão.
 Na “República”, o filósofo idealista, advoga em favor de uma arte colocada a serviço 
da cidade ideal e, consequentemente, em consonância com o processo racional de for-
mação (paideia) dos sujeitos da polis. Como já é sabido, Platão institui a separação entre 
mundo sensível e mundo inteligível (ideal), compreendendo, portanto, as emanações 
sensíveis como distanciadas do conhecimento verdadeiro. Assim, a arte assume um cará-
ter marginal na República de Platão, a saber, o papel de desviar os sujeitos do caminho em 
direção à formação racionalmente delimitada.
 Compreendendo a arte como imitação (mímesis), Platão a afasta da verdade con-
tida no mundo das ideais, uma vez que, se o mundo sensível, como vimos anteriormen-
te, fornece, tão somente, uma cópia da verdade, a arte, por sua vez, encontra-se afastada 
ainda mais da realidade por figurar-se como a cópia da cópia da verdade. Portanto, por 
ter acesso à realidade através dos sentidos, a única coisa que a arte é capaz de imitar é a 
realidade sensível (a cópia da verdade) que lhe chega aos
olhos.
 Assim, diante da necessidade imposta por Platão da formação de ser humanos ra-
cionais aptos para a condução e defesa da cidade, tem-se a radicalização da postura do 
filósofo, nos capítulos “III” e “X” da República, com a eleição de Homero como o grande 
inimigo da cidade ideal e, consequentemente, a expulsão de todos os poetas devido à pro-
fusão de modelos imitativos não-virtuosos.
 Ademais, o Belo a que Platão se refere em diversos diálogos, entre os quais desta-
cam-se o “Íon”, o “Hípias Maior” e a “República”, não seria, de modo algum, a beleza obtida 
pelos sentidos, pelo contrário, seria o Belo conhecido pelos olhos da alma, alcançado pela 
racionalidade, promovendo, para tanto, a identidade entre beleza e verdade, pois, o co-
nhecimento da verdade já é, em si, a expressão máxima da Belo para Platão.
‘‘A arte existe porque a vida não basta.’’ 
(Ferreira Gullar)
É evidente a condenação platônica dos sentidos e da sensibilidade em face 
do desenvolvimento da perspectiva racional da alma. Entretanto, é inte-
ressante notarmos que o filósofo idealista adota o diálogo como modelo de 
apresentação filosófica. O diálogo, nada mais é, que uma forma literária e, 
portanto, artística. O que nos leva a pensar: será que Platão já fazia ciência 
do imenso potencial cognitivo da arte e, assim, elegeu uma forma artística 
como meio mais proeminente de filosofia? 
VAMOS PENSAR?
O pensador (1902) – Auguste Rodin
64
 É com o Aristóteles que ocorre uma espécie de reabilitação da arte imitativa no es-
paço dapolis. Deste modo, como salienta Barros, tem-se a retirada:
[...] da fachada duvidosa e sedutora – a um só tempo 
“enganosa” e “admirável” – na qual havia sido expos-
ta pela metafísica platônica, a filosofia aristotélica 
tratará de recuperá-la em termos de sua realização 
antropológico-cultural, associando o comprazimen-
to mimético ao próprio processo de aprendizagem 
(BARROS, 2012, p. 35).
 Assim, trata-se da reconsideração da arte imitativa em suas dimensões antropoló-
gicas e culturais, compreendendo a imitação como um traço congênito ao sujeito, pois, 
desde o nascimento, o ser humano apreende o mundo por meio da imitação (o bebê que 
imita os gestos d os pais) e, não somente, passa a fazer parte da cultura dos habitantes da 
polis o deleite com as artes da imitação.
 É, justamente, na “Poética”, que Aristóteles realiza a realiza tal processo de reconsi-
deração pelo potencial educativo da arte ao discutir a arte literária: a epopeia e a tragé-
dia. Dando ensejo à arte imitativa não como a descrição literal da realidade, mas como 
um processo de verossimilhança que se propõe fazer uso do real e, até mesmo, dos mitos 
como matéria-prima para a construção da arte, Aristóteles acentua o caráter potencial-
mente didático da arte trágica como a “imitação de homens melhores do que nós” (ARIS-
TÓTELES, 1993, p. 81).
 Apresentada como a “imitação de uma ação de caráter elevado, de completa e certa 
extensão” capaz de suscitar “terror e piedade” tendo “por efeito a purificação dessas emo-
ções” (ARISTÓTELES, 1993, p. 37).
 A arte trágica coloca-se como todo ordenadamente construído para a produção do 
efeito desejado: a catarse, isto é, a purificação de elementos sensíveis indesejados ao conví-
vio social. Deste modo, uma vez que o sujeito, por meio da verossimilhança, se reconhece 
e reflete sobre a cena representada dramaticamente, ele é capaz de manter um nível de 
envolvimento com a peça que o faz expurgar os ânimos mais elevados, conferindo, dife-
rentemente de Platão, uma aplicação determinante para a arte no cenário social da polis, 
acentuando ainda que “sentir e pensar não são com plemente incompatíveis” (BARROS, 
2012, p. 47).
Para Aristóteles, a tragédia mais bela, ou seja, aquela que melhor alinha os 
requisitos da grandeza, extensão, duração e do efeito ordenado com desdo-
bramentos climáticos excep- cionais é a peça “Édipo Rei”, do dramaturgo Só-
focles (497 a.C. – 405 a.C)
BUSQUE POR MAIS
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=YemeaEEVN5k
https://www.youtube.com/watch?v=YemeaEEVN5k
65
 Na Idade Média, a relação entre filosofia e arte é participante das relações entre fé 
e racionalidade, em outras palavras, a arte encontra-se a serviço da Igreja Católica sendo, 
portanto, uma expressão de fé e, consequentemente, afirmação da doutrina religiosa.
 O belo, para tanto, estaria emanando de influência teológica e suas determinações 
obedeceriam às máximas da Igreja. Com efeito, a finalidade (o telos) da arte, conforme 
dito por Tomás de Aquino, era ensinar, lembrar e comover segundo as determinações 
eclesiásticas do catolicismo.
Figura 10 : O jardim das delícias (1504)
Fonte: Domínio público 
 Como dito anteriormente, é na modernidade que disciplina Estética irá adquirir o 
caráter de investigação sistemática e racional sobre o belo. A partir de Baumgarten, a Es-
tética ganha status de “ciência do conhecimento sensitivo” (BAUGARTEM, 2012, p. 70) que 
procura, no ínterim da elevação do racionalismo, definir os aspectos do belo artístico em 
relação paradoxal de diferenciação e de reciprocidade com o belo natural. Enfim, a discipli-
na Estética busca delimitar o os caráteres da beleza e do conhecimento sensível presente 
nas artes. Frente a isso, Nunes (1999, p. 06), atesta que na modernidade:
A reflexão filosófica em torno da Arte derivou, assim, 
para uma ciência que fez da apreciação da Beleza o seu 
tema fundamental. Fruto de certas ten- dências mani-
festadas no pensamento teórico desde o século XVII, a 
nova ciência concebeu a Arte como aquele produto da 
atividade humana que, obe- decendo a determinados 
princípios, tem por fim produzir artificialmente os múl-
tiplos aspectos de uma só beleza universal, apanágio das 
coisas naturais.
 Assim, impulsionada pelas revoluções teóricas propostas pelo Iluminismo e, portan-
to, distanciando-se das determinações conferidas pela Idade Média, a arte assume uma 
posição laica e, por conseguinte, mais livre em suas temáticas e destinações, restando à 
filosofia proferir juízos sobre as múltiplas configurações do fazer artístico atentando-se 
para o fortalecimento de conceitos importantes, tais como, o gosto e o sublime.
66
Gosto não se discute?
Para o filósofo David Hume o gosto é objeto da reflexão filosófica, logo, 
é motivo de discussão. Assim, para Hume: “É natural que se procure um 
Padrão de Gosto, uma regra capaz de conciliar as diversas opiniões dos 
homens, um consenso estabelecido que faça com que uma opinião 
seja aprovada e outra condenada.” (HUME, 2012, p. 94). É, justamente, 
no texto “Do padrão do gosto” que Hume apresentará algumas carac-
terísticas inerentes ao crítico ideal, o sujeito educado sem preconceitos, 
capaz de afirmar a beleza e a permanência de uma determinada obra 
de arte. 
VAMOS PENSAR?
 Tornando-se um objeto da reflexão filosófica, a arte passa a ser pensada por diferen-
ciados filósofos e, para tanto, sujeita às mais diversas tentativas de conceituação do que 
vem a ser o seu caráter e, consequentemente, o entendimento do belo artístico.
 Kant fornece uma importante contribuição à fundamentação da estética na obra 
“Crítica da faculdade de julgar”. Com efeito, o pensador busca definir a experiência estéti-
ca, situando-a em uma relação direta entre o sujeito e o objeto delimitada não pelo enten-
dimento (pela lógica), mas sim, pela faculdade da imaginação, configurando-se, portanto, 
como uma experiência subjetiva na qual é o sujeito sensível que julga, tornando-se um 
juízo de gosto (juízo reflexivo/juízo estético).
 Em outros termos, na experiência estética kantiana, os objetos por si mesmo “des-
pertam e alimentam em nosso espírito uma atitude que não visa ao conhecimento e à 
consecução dos interesses práticos da vida”, são deste modo, encontrados na experiên-
cia baseada na “atitude contemplativa, de caráter desinteressado” (NUNES, 1999, p. 
08, grifo nosso).
 Diante disso, através da experiência estética, Kant, define o belo do seguinte modo: 
o belo é um objeto independente de todo interesse, representado sem a necessidade de 
conceitos e que apraz universalmente.
Kant, na “Crítica da faculdade de julgar”, também discute outro senti-
mento: o sublime. “Denominamos sublime o que é absolutamente gran-
de”, diz Kant (KANT, 2012, p.138). É, portanto, um sentimento que ultra-
passa a capa- cidade de apreensão sensível e falha da imaginação em 
compreendê-lo, gerando, assim, um sentimento de desprazer, suplan-
tado, tão somente, pela ação do entendi- mento no auxílio à compre-
ensão de tamanha grandeza e, finalmente, gerando prazer. Podemos, 
então, entendê-lo como um sentimento de prazer antecedido por um 
senti- mento de desprazer.
FIQUE ATENTO
Link: https://www.youtube.com/watch?v=SqyLSVLOQyM 
David Hume (1711- 1776)
https://www.youtube.com/watch?v=SqyLSVLOQyM 
67
 A estética e a filosofia da arte ganham fôlego e renovação com a perspectiva ro-
mântica da Filosofia Idealista e a instituição do gênio. Ocorre com a determinação do 
gênio a configuração da ideia do ser humano amplamente imaginativo, inspirado e, so-
bretudo, criador capaz de, enfim, romper com as tradições artísticas anteriores e atingir a 
idealidade em sua representação da natureza. Deste modo, não se trata apenas de imitar 
(mímesis) o belo natural, mas sim, de atuar efetivamente na ativação de uma natureza 
viva e criadora. Ao passo que, o artistanão é, tão somente, um imitador da natureza, pelo 
contrário, o gênio é um partícipe da própria força natural, uma vez que ambos – artista e 
natureza – são pensados, conforme proposto por Friedrich Schelling (1775 – 1854), como a 
unidade entre espírito criativo e natureza.
 O pensamento sistemático de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), busca o 
entendimento do Absoluto, isto é, a compreensão da realidade em “todas as suas relações, 
inteiramente explicitada e reconstruída pelo pensamento” (NUNES,1999, p. 29).
 A arte integra o sistema hegeliano como uma manifestação primária do espírito, co-
locando, portanto, o belo artístico como superior ao belo natural, uma vez que a arte é 
produto do espírito humano, ela se faz superior a qualquer manifestação do natural.
 Diferentemente da ideia de uma identidade entre natureza e gênio criador, como 
vimos acima, o pensamento hegeliano pressupõe uma separação entre cultura e nature-
za, acentuando, como coloca Chauí (2000, p. 372) a palavra cultura como “os resultados 
daquela formação ou educação dos seres humanos, resultados expressos em obras, feitos, 
ações e instituições: as artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado”.
 Tem-se, assim, uma distinção determinante entre a natureza, compreendida como 
o reino das necessidades ou o local de ordenações de causa e efeito, e, a cultura como o 
produto da racionalidade livre do sujeito e, como afirmado por Hegel, mais próxima do 
espírito. E, finalmente, como veremos a seguir, as teorias filosóficas contemporâneas de-
bruçam-se, cada vez mais, com a perspectiva da arte em seu estado de desligamento da 
natureza com o arrefecimento das técnicas artísticas e, subsequentemente, das técnicas 
de reprodução de imagens.
Hegel elabora o seu pensamento sobre as artes nos “Cursos de estética”, 
procurando questionar o histórico da arte desde as suas origens eviden-
ciando os modos de fazer artístico ao longo do tempo.
Mais sobre o pensamento estético de Hegel: 
LINK:https://www.youtube.com/watch?v=ouvxt-3apfk
VAMOS PENSAR?
 5.2 A FILOSOFIA E ARTE: NOVAS IMAGENS E O CONTEMPORÂNEO
‘‘A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade. ‘‘
(Pablo Picasso)
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770- 1831) 
https://www.youtube.com/watch?v=ouvxt-3apfk 
68
 Com a evolução dos meios técnicos de entendimento da realidade, no início do sé-
culo XX, impulsionada, sobretudo, pelos desenvolvimentos científicos e Revoluções Indus-
triais, a arte adentra em um novo regime de representação. O surgimento das vanguar-
das artísticas - cubismo, dadaísmo, surrealismo, entre outras – e a consequente ruptura 
com o modelo clássico de arte, fornece um outro instituto às chamadas artes.
Os movimentos de vanguardas artísticas surgidas na Europa a dotavam como di-
recionamentos centrais a ruptura com toda a tradição artística anterior procuran-
do com a utilização de materiais diversos, novas técnicas e, principalmente, com a 
livre experimentação apresentar novos e diferentes caminhos para a arte.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=-1BK3KRLTtk
BUSQUE POR MAIS
 O artista Marcel Duchamp (1887 - 1968), por exemplo, ao submeter “A fonte” para 
uma exposição artística, acentua ainda mais o debate sobre o que é arte. Desolando, por-
tanto, o campo de pensamento sobre a arte para discussões até então inexistente.
 
Figura 11 : A fonte (1917) - Marcel Duchamp
Fonte: Domínio público 
 Não se trata, tão somente, da eclosão de novas diretrizes artísticas, mas, principal-
mente da reformulação do campo perceptível do sujeito e da sociedade, pois, novas 
tendências, suportes e objetos artísticos surgem com a finalidade, justamente, de colocar 
questões centrais para a arte, para o artista e para o filósofo. Essa reformulação sugere a 
diluição dos limites de cada campo artístico, dando a entender que as antigas fronteiras 
entre os diversos tipos de arte encontram-se, para tanto, diluídas.
 Tal diluição de fronteiras dá-se, de modo exemplar, com a inserção de elementos 
tecnológicos na atitude do fazer artísticos. Ou seja, a revolução científica que irrompeu em 
todos os campos de atuação do sujeito também influenciou os novos modos de fazer arte, 
especialmente, no que diz respeito à fotografia e ao cinema.
 Nesse sentido, segundo Barros, “no início do século XX, o espectador já não se encon-
trará na presença de uma obra visual cujo propósito é o de mostrar uma perspectiva 
segura exata do mundo” (BARROS, 2012, p. 117), mas, pelo contrário, a arte da técnica da 
reprodução de imagens abre-se ao sujeito como um novo mundo artístico efetivamente 
e rapidamente traduzível à experiência do sujeito.
https://www.youtube.com/watch?v=-1BK3KRLTtk
69
Os irmãos Lumière destacam-se como os criadores do cinema. A primeira exi-
bição cinematográfica ocorreu em Paris, no ano de 1895, e foi marcada por 
um episódio interessante. A exibição do filme “A chegada do trem à Estação 
Ciolat”, proporcionou ao público um pequeno espanto, pois, os espectadores as-
sustaram-se com a imagem cinematográfica da chegada do trem, chegando a 
abandoarem a sessão. Tal episódio ilustra a mudança significativa da percep-
ção ocasionada pela chega da do cinema que reproduzia imagens em movi-
mento.
BUSQUE POR MAIS
 Em outros termos, a arte cinematográfica adequa-se à rápida e chocante experi-
ência do sujeito na nascente sociedade capitalista marcada, sobretudo, pelo tempo 
dedicado ao trabalho, substituindo, portanto, a antiga contemplação demorada da arte, 
o valor de culto, conforme dito pelo pensador alemão Walter Benjamin (1892- 1940), pela 
frenética exposição imagética, cuja valoração é medida pelo maior alcance expositivo (va-
lor de exposição). Deste modo, o cinema institui-se como uma arte destinada ao controle 
das massas: arte para as massas.
 É interessante notarmos que Benjamin (2012), no ensaio “A obra de arte na era de 
sua reprodutibilidade técnica”, ressalta, em tom crítico, que a transformação do cará-
ter da arte e, consequentemente, o declínio do valor de culto da obra de arte encon-
tram-se, intrinsecamente, ligados ao “aumento crescente das massas” e a necessidade de 
“orientação da realidade para as massas e das massas para a realidade” (BENJAMIN, 2012, 
p. 286). Em outras palavras, a reprodução tecnológica proporcionaria uma interseção entre 
as massas e a nova realidade tecnológica, dando às massas apenas uma imagem superfi-
cial da realidade, orientada segundo os donos do capital econômico e dos meios de repro-
dução cinematográfica.
O filósofo Walter Benjamin, integra ao lado de Max Horkheimer, Theodor 
W. Adorno, Herbert Marcuse e Jünger Habermas, a chamada Escola de 
Frankfurt. Em termos gerais, o grupo de teóricos objetivou pensar as mo-
dificações da sociedade ocasionadas pelo controle econômico e político do 
capitalismo. 
BUSQUE POR MAIS
A autora Viviane Rodrigues D.S. Ramos, na obra “Teoria crí-
tica e Escola de Frankfurt: uma análise interdisciplinar da 
sociedade”, oferece um panorama preciso sobre os conceitos 
e pen- sadores frankfurtianos.
LINK:https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publica-
cao/177815 
Walter Benjamin
 (1892 - 1940)
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/177815 
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/177815 
70
 É com Theodor W. Adorno (1903 – 1969) que o pensamento filosófico direciona as suas 
reflexões sobre as relações entre arte e capitalismo. Fundamentando a ideia de Indústria 
Cultural, Adorno pensa a produção artística e cultural a partir da lógica da produção indus-
trial, determinando, portanto, que a arte tem a mesma identidade da mercadoria e, deste 
modo, destina-se à obtenção do lucro.
 Diante disso, ocorre uma produção massificada de conteúdos artísticos/culturais de 
qualidade duvidosa, com a intenção de preencher o tempo livre do sujeito, impedindo, 
sobretudo, que estereflita sobre as condições de exploração a que se encontra subme-
tido. Diante disso, para Adorno, uma arte a serviço do capitalismo, destituída de seu po-
tencial transformador, fundamenta uma sociedade de indivíduos controlados incapazes, 
inclusive, de refletirem sobre os conteúdos dos produtos artísticos que consomem.
Como vimos, segundo Adorno a produção artística vinculada à Indústria Cultual produz 
constructos artísticos de qualidade duvidosa e direcionados, principalmente, a obtenção 
do lucro. Deste modo, como podemos pensar os fenômenos artísticos de hoje, como por 
exemplo, os blockbusters cinematográficos de imensas bilheterias? Seriam eles as grandes 
obras artísticas atuais ou produtos carentes de reflexão e, por conseguinte, apenas um entre-
tenimento rápido e de grande infecundidade intelectual?
VAMOS PENSAR?
 Um dos maiores desafios da filosofia da arte surge em face da enorme profusão de 
elementos artísticos da arte contemporânea. Situamos, a partir de Duchamp, o nasci-
mento desta relação difusa da arte com outros objetos não artísticos, mas é na contem-
poraneidade, sobretudo, com os ready-mades de Andy Warhol (1928 - 1987) que a arte, de 
fato, adentra no mundo do conceito. 
 
Figura 12 : Brillo Box (1964) – Andy Warhol
Fonte: Domínio público 
 A pop-art, de Warhol, ao introduzir objetos do cotidiano (caixas de sabão em pó [as 
Brillo Box]; latas de sopa [Sopa Campbell], etc.) como obras de arte rompe com a definição 
clássica de arte e torna ainda mais fluídas as fronteiras entre aquilo que era considerado 
arte e a não-arte, restando a necessidade, como colocado pelo filósofo Arthur Danto (1924 
- 2013), da ação efetiva do conceito filosófico para a determinação do que é considerado 
arte, sinalizando, portanto, o fim da arte.
 Diante disso, segundo Danto (2012), a compreensão da arte como conceito filo-
sófico aponta para o fim da significação autônoma da obra de arte. Nesse sentido, no 
entendimento contemporâneo da arte, para que algum objeto seja considerado obra de 
71
arte é preciso que um conjunto de determinações conceituais ateste o significado artístico 
do objeto ou, conforme afirmado pelo pensador, é precioso que a teoria confira respaldo 
ao teor artístico do objeto.
 Entramos deste modo, na teoria que Danto (2012) chamou de Mundo da Arte, isto é, 
na compreensão de que o espaço institucional do Museu, preenchido pelo regime de 
críticas, de interpretações e de conceitos, garante o caráter de arte às obras pertencentes 
a tal espaço. 
O Museu do Inhotim reúne um dos maiores acervos de arte contem-
porânea do Brasil. Composto por obras de importantes artistas, No 
acervo de Inhotim pode-se destacar a instalação “Beam Drop Inho-
tim” (2008), de Chis Burden.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=VVDiohAl8cM 
BUSQUE POR MAIS
 O percurso filosófico sobre a arte encontra-se vinculado a potentes transformações 
artísticas e conceituais, lidando, portanto, com a difícil tarefa das definições de arte e de 
beleza, pois, em seus desdobramentos ao logo da história, ambos os conceitos se apresen-
taram como móveis e mutáveis. 
https://www.youtube.com/watch?v=VVDiohAl8cM 
72
1. O termo mímesis, presente nas estéticas de Platão e de Aristóteles, significa:
a) Aparência. 
b) Essência. 
c) Imitação.
d) Reprodução.
e) Arte.
2. (Uel 2015) Leia os textos a seguir:
A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de 
atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição.
Adaptado de: PLATÃO. A República. 7.ed. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 
Lisboa: Ca- louste Gulbenkian, 1993. p. 457.
O imitar é congênito no homem e os homens se comprazem no imitado.
Adaptado de: ARISTÓTELES. Poética. 4.ed. Trad. De Eudoro de Souza. 
São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 203. Coleção “Os Pensadores”.
Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mímesis em Platão 
e Aristóteles, assinale a alternativa correta.
a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomênicas, um exemplo particular e, 
por isso, algo inadequado e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às 
ideias universais que os pressupõem.
b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam 
perfeitamente a verdade e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do ar- tista um 
fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia.
c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à reprodução de objetos existen- tes, 
o que veda o poder do artista de invenção do real e impossibilita a função caricatural que 
a arte poderia assumir ao apresentar os modelos de maneira distorcida.
d) Aristóteles concebe a mímesis artística como uma atividade que reproduz passiva- 
mente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de recriação das 
coisas segundo uma nova dimensão.
e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o 
teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador. 
3. (Uema) (Adaptada) Considere o texto a seguir e as demais discussões realizadas acima:
O juízo estético em Kant é uma intuição do inteligível no sensível, em que o sujeito não 
proporciona nenhum conhecimento do objeto que provoca, não consiste em um juízo sobre a 
perfeição do objeto, é válido independentemente dos conceitos e das sensações produzidas pelo 
objeto
TAVARES, Manoel; FERRO, Mário. Análise da obra fundamentos da metafísica dos costumes de Kant. 
Lisboa- Portugal: Editorial Presença, [s.d.]. p. 43-44.
FIXANDO O CONTEÚDO
73
Deste modo, segundo o pensamento de Kant, a estética é uma intuição de ordem:
a) objetiva.
 b) cognitiva.
c) subjetiva e cognitiva. 
d) subjetiva e objetiva.
 e) subjetiva.
4. (Uenp) (Adaptado) A Estética é um ramo da filosofia que tem por objetivo o estudo 
da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o juízo e a percepção do que 
é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como as 
diferentes formas de arte e do trabalho artístico; a ideia de obra de arte e de criação; a 
relação entre matérias e formas nas artes.
Sobre filosofia estética julgue as proposições:
I. Aristóteles desvaloriza as manifestações artísticas, posto que as considera como 
imitação da imitação.
II. Platão desenvolve um conceito de beleza baseado na ideia de proporciona- lidade, 
na simetria e na definição.
III. Hume sugere uma teoria do gosto no ensaio “Do padrão do gosto”. 
Assinale a alternativa correta:
a) I, II e III estão corretas. 
b) I e III estão corretas.
c) II e III estão corretas.
d) apenas III está correta.
 e) todas estão incorretas. 
5. A arte integra o sistema hegeliano como uma manifestação primária do espirito 
humano. Assim, segundo o pensamento de Hegel:
a) O belo artístico é superior ao belo natural, pois é produto do humano. 
b) O belo natural é superior ao belo artístico, pois é produto do natural.
c) O belo artístico é igual ao belo natural, pois ambos são produtos do espirito humano.
d) O belo natural é inferior ao belo artístico, pois é produto do humano. 
e) O belo artístico é superior ao belo natural, pois é produto do natural.
6. As vanguardas artísticas inauguradas por Marcel Duchamp diluem as antigas fronteiras 
entre arte e não-arte com a inserção de novos objetos e novas técnicas de arte. Como 
efeito de tal diluição pode-se apontar:
a) O fortalecimento das fronteiras entre arte e não-arte. 
b) A ruptura com as técnicas de reprodução imagética.
c) A reformulação do campo perceptível do sujeito e da sociedade. 
d) A constatação de que a arte e não-arte são campos separados.
 e) O fortalecimento dos dogmas artísticos tradicionais.
74
7. De acordo com Walter Benjamin, o cinema institui-se como uma arte voltada para as 
massas. Nessesentido, podemos ressaltar utilização inicial do cinema do seguinte modo:
a) Como a superação do valor de culto da arte tradicional e acentuação do valor de 
exposição e, consequentemente, do modo de ordenação das massas seguindo os designíos 
dos donos do capital.
b) Como a superação do valor de exposição. Situando a arte no âmbito dos museus e 
afastada das massas.
c) Como a atividade de reprodução de imagens em movimento visando à consolidação de 
uma arte revolucionária seguindo os anseios dos valores de culto e de tradição.
d) Como uma arte vinculada aos anseios das massas de se libertarem de sua condição de 
classe explorada.
e) Como a superação dos valores vanguardistas da arte em prol da consolidação da 
identidade entre arte e emancipação humana. 
8. Leia o texto abaixo e responda à questão que se segue: 
O que, afinal de contas, faz a diferença entre uma caixa de Brillo e uma obra de arte 
consistente de uma caixa de Brillo é uma certa teoria da arte. É a teoria que a recebe no 
mundo da arte e a impede de cair na condição do objeto real que ela é (num certo sentido de é 
diferente da identificação artística).
DANTO, Arthur. O mundo da arte. IN: DUARTE, R. (org.). Belo autônomo: textos clássicos de estética.
 Belo Horizonte: Autêntica/Crisálida, 2012.
De acordo com o texto é a teoria que faz a o objeto (Brillo Box) significar arte. Diante disso, 
como podemos compreender tal teoria?
a) Como uma significação autônoma presente no objeto que o faz ser arte por si mesmo.
b) Como um compromisso de regras artísticas em torno de elementos tradicional- 
mente entendidos como arte.
c) Como um conjunto de significações conceituais, próprio ao espaço institucional em que 
o objeto se encontra e aos demais campos teóricos circundantes.
d) Como a ação efetiva dos conceitos em determinar o caráter artístico como imitação da 
realidade e da instituição a que se encontra.
e) Como teoria filosófica aberta à determinação transcendental da arte, desvinculada, 
sobretudo, do espaço institucional a que o objeto se encontra. 
75
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA UNIDADE
06
76
6.1 FILOSOFIAS CONTEMPORÂNEAS
 Friedrich Nietzsche, Karl Marx e Sigmund Freud (1856 - 1939) são conhecidos como 
os pensadores da suspeita, isto é, cada um a seu modo questionou os limites da razão. 
Como vimos anteriormente, na modernidade (racionalismo/empirismo) e, consequen-
temente, com o desenvolvimento da ciência moderna, têm-se a ideia de que as po-
tencialidades de descoberta via racionalidade são ilimitadas. Contudo, pensadores como 
Nietzsche, Marx e Freud instauram uma dúvida acerca dos alcances da racionalidade 
questionando, deste modo, o otimismo filosófico acerca dos desenvolvimentos da razão.
 Nietzsche questiona a liberdade de ação do sujeito advinda da racionalidade, pergun-
tando-se, de fato, se sujeito racional é livre frente ao fortalecimento de normas e doutrinas 
morais; Marx põe em investigação as determinações do sujeito na história apontando, para 
tanto, a existência de ideologias (forças econômicas-sociais) criadas por essa mesma razão 
que promete emancipação, mas que, ao fim e ao cabo, sub- metem o sujeito à instancias 
ainda mais dominadoras (tal como o trabalho alienado); Freud, o pai da Psicanálise, por 
sua vez, critica os fundamentos da própria consciência ao questionar se todas as ações 
de conhecimento, os pensamentos, as fantasias e ilusões são, verdadeiramente, frutos da 
consciência (da racionalidade), destacando que, por baixo das ações racionalmente orien-
tadas, subsiste uma força psíquica ainda mais poderosa: o inconsciente. 
O eu não é mais senhor em sua própria casa. 
(Sigmund Freud)
Figura 13 : Os pensadores da suspeita: Nietzsche; Marx e Freud
Fonte: Elaborado pelo Autor (2020) 
 Diante de críticas a dois de seus expoentes principais: o sujeito conhecedor e a razão; 
a filosofia se vê diante da necessidade de uma reformulação e redirecionamento de seus 
temas. Com efeito, ocorre, portanto o surgimento de diversas linhas filosóficas influencia-
das pelos ‘pensadores da suspeita’, como veremos a seguir.
O filósofo Paulo Ghiraldelli apresenta uma definição precisa dos posicionamentos 
críticos dos ‘pensadores da suspeita’ e de suas críticas ao ideal moderno de racio-
nalidade.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=WWLtMXok-9s
BUSQUE POR MAIS
https://www.youtube.com/watch?v=WWLtMXok-9s
77
 6.1.1 O existencialismo
 O filósofo Jean-Paul Sartre (1905 - 1980) é o grande expoente da filosofia existencia-
lista. O conceito central do existencialismo é a liberdade, de modo que, segundo Sarte, 
“o homem está condenado a ser livre”, o “homem é livre, o homem é liberdade” (SARTE, 
1970, p. 18).
 Com efeito, como se pode notar, para o existencialista, a liberdade é o que define o 
ser humano, não havendo possibilidade alguma de livrar-se dela, pois, não há escolha para 
o ser humano senão lidar com as suas ações oriundas do exercício da liberdade.
 A determinação existencialismo se dá pelo fato de que, para o pensador francês, 
a “existência precede a essência” (SARTE, 1970, p. 18), isto é, em primeiro lugar o homem 
existe, cria-se no mundo sendo livre para sua própria realização, independentemente, de 
fazer jus a qualquer instância exterior a si mesmo. Em outros termos, a existência do sujeito 
delimita-se em si mesmo, ou como dito por Sartre: “O homem nada mais é do que aquilo 
que faz de si mesmo: esse é o primeiro princípio do existencialismo” (SARTE, 1970, p. 10).
 O existencialismo valoriza o indivíduo e considera a liberdade como uma ação inten-
cional, isto é, para o existencialista não há ações realizadas ao acaso ou ações acidentais, 
pelo contrário, cada ação realizada é carregada de intencionalidade e uma tomada de es-
colha. Tal ação carregada de intencionalidade é uma ação consciente na qual o sujeito 
exerce a sua condição humana através da liberdade de escolha e de realização ação. Dian-
te disso, não há outra escolha para o sujeito que não seja exercer a própria liberdade de 
escolher, em outros termos, da responsabilidade de ter que tomar uma decisão algo que, 
por sua vez, relega o ser humano uma segunda condenação: a da angústia.
 
Figura 14 : O grito (1893) – Edvard Munch
Fonte: Domínio público 
 Salienta-se, portanto, que ciente de seu caráter existencial através das livres esco-
lhas feitas no momento da tomada de decisão, para o existencialismo “o homem é angús-
tia” (SARTE, 1970, p. 10).
 Mas, a angústia advém não apenas pela tomada de decisão, mas, sobretudo, porque 
no existencialismo falamos de uma liberdade engajada, isto é, de uma liberdade para a 
78
tomada de ações que refletem para si e para humanidade inteira, uma vez que cada 
escolha conjuga ao mesmo tempo responsabilidades individuais e cole- tivas. Trata-se, 
deste modo, de um agir pelo outro e, consequentemente, de uma res- ponsabilidade em 
amplo aspecto: por si e pelo outro. Assim, fundamentalmente, po- demos pensar o sujeito 
existencialista através do seguinte esquema:
 ANGÚSTIA ← SER HUMANO → LIBERDADE
• Angústia: produzida tarefa de escolher em âmbito individual e coletivo.
• Ser humano: ontologicamente livre e angustiado; responsável pelas 
ações individuais e coletivas.
• Liberdade: condição humana fundamental.
O programa do existencialismo é apresentado por Sartre no ensaio “O existen-
cialismo é um humanismo”. 
BUSQUE POR MAIS
“O segundo sexo”, obra da filósofa existencialista Simone de Beauvoir 
(1908 - 1986), preconiza a teoria do feminismo moderno discutindo, so-
bretudo, o papel da mulher em uma sociedade dominada pelo sexo mas-
culino. A obra de Beauvoir é considerada um marco para o pensamento 
BUSQUE POR MAIS
LINK: http://stoa.usp.br/alexccarneiro/files/1/4529/sartre_exis- tencia-
lismo_humanismo.pdf 
Jean-Paul Sartre
feminista na busca pela desconstrução das determinações 
sociais do gêneroe, consequentemente, do papel subalter-
no do feminino na sociedade. Ademais, em uma perspecti-
va ontológica/existencialista, Beauvoir apresenta a famosa 
afirmação:
“Não se nasce mulher, torna-se mulher” 
(BEAUVOIR, 1980, p. 09)
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=zhaq6AqeS_o 
 6.1.2 Filosofia francesa contemporânea
 Seguindo com as correntes de pensamento francês, podemos destacar o movimen-
to da filosofia francesa contemporânea que culminou em uma multiplicidade de pensa-
dores importantes, tais como Jacques Derrida (1930 - 2004), Michel Foucault (1926 - 1984), 
Alain Badiou (1937). Influenciados pelos críticos da razão, a filosofia francesa contempo-
rânea buscou, sobretudo, desconstruir a estrutura formal do pensamento racional guiado 
pelo método rigoroso, por isso, a alcunha de pós-estruturalismo. Trata-se, deste modo, da 
superação de uma antiga e rígida estrutura de pensamento tendo em vista o trânsito fi-
http://stoa.usp.br/alexccarneiro/files/1/4529/sartre_exis- tencialismo_humanismo.pdf 
http://stoa.usp.br/alexccarneiro/files/1/4529/sartre_exis- tencialismo_humanismo.pdf 
https://www.youtube.com/watch?v=zhaq6AqeS_o 
79
losófico em direção à pluralidade de outros saberes.
 É, justamente, esse direcionamento que Derrida atribuiu à filosofia ao determiná-
-la como um procedimento de desconstrução. A desconstrução aponta, principalmente, 
para a desconstrução do logocentrismo e de conceitos inquestionáveis. Com efeito, a des-
construção caracteriza um rompimento com a tradição que compreende o logos filosófico 
como o núcleo central do conhecimento e, para tanto, o coloca em uma condição extre-
mamente autoritária. 
 Diante do autoritarismo do logos que não reconhece outros modos de saber, Der-
rida propõe a reorganização do pensamento ocidental em direção à reconsideração pelos 
outros logos provenientes das artes, da literatura, da linguagem, da política caracterizando, 
assim, a desconstrução como uma abertura em direção ao Outro, ou seja, um pensamen-
to rumo à alteridade.
O ‘Outro’ (a alteridade) é uma noção importante em toda a filosofia francesa contempo-
rânea, por exemplo, Emmanuel Levinas (1906-1995) estruturou todo o seu pensamento 
ético em torno das relações tecidas com o Outro. Derrida, por sua vez, acentua a noção de 
hospitalidade em torno do reconhecimento e do recebimento da figura do Outro que lhe é, 
paradigmaticamente, igual e diferente. Ademais, nos tempos atuais, marcados pelo (re) sur-
gimento de vários ‘Outros’ [várias concepções de mundo; movimentos migratórios; discursos 
de empoderamento, etc.], as filosofias da alteridade surgem como importantes referenciais 
para a construção de um processo empático de aceitação e reconhecimento do Outro [da-
quele que lhe é diferente] como ser humano.
Sobre a ética de Levinas, Nodari (2010, p. 168), destaca que a ética é a “recusa de um mundo 
em que o outro caiu no esquecimento do ser.”
BUSQUE POR MAIS
 Michel Foucault (2010) desenvolve uma profunda análise sobre as relações de poder 
e sobre os modos de controle social proporcionados pelo exercício do poder. Ancorando 
o seu pensamento, inicialmente, no método arqueológico, Foucault realiza uma análise 
sistemática da história procurando destacar os múltiplos sentidos que a história possui, 
apostando, sobretudo, que os interstícios da história (aquilo que não foi dito) são capazes 
de revelar mais do que o conteúdo da história oficial.
 O pensamento foucaultiano acentua ainda a preponderância de uma história do 
outro, isto é, de uma releitura da história pautada por aqueles que ‘não possuem história’, 
os oprimidos. Para tanto, o filósofo realiza a interpretação dos mecanismos de poder que 
garantem o encarceramento do sujeito: os manicômios, as prisões e, surpreendentemente, 
as escolas.
 Na “História da loucura na Idade Clássica”, Foucault (2010) encontra na figura do 
louco o estereótipo da desrazão, isto é, do sujeito desprovido de racionalidade siste-
mática/metódica e, portanto, o Outro (o diferente) do protótipo do sujeito moderno carte-
siano. Em “Vigiar e punir”, o pensador empreende a interpretação dos modelos prisionais 
como meios de privação do sujeito estruturados, não somente como construções de pu-
nição, mas, principalmente, como instrumentos de vigilância e de controles dotados da 
forma panóptica. Deste modo, enquanto instrumento de vigilância e de controle, Foucault 
inclui a escola como o local de práticas normalizadoras e da docilização dos sujeitos, onde 
a potência do pensamento diferente é vigiada e, consequentemente, o corpo é preparado 
para o trabalho.
80
O PANÓPTICO
“O princípio é conhecido: na periferia uma cons- trução em anel; no 
centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a 
face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma 
atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, 
uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá 
para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado”.
(FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010) 
BUSQUE POR MAIS
 Ademais, Foucault (2010) chama de biopolítica a passagem de uma sociedade 
centrada das punições físicas (Idade Média) para uma sociedade da vigilância (sociedade 
contemporânea). Biopolítica, portanto, diz respeito ao poder que passa conduzir e con-
trolar a vida das populações em sentido amplo, enquanto um conjunto de estratégias de 
gestão-política direcionadas ao biológico: controle da alimentação, da natalidade, da sexu-
alidade, enfim, do corpo. 
Influenciado pela noção foucaultiana de biopolítica, o filósofo ca- maronês 
Achille Mbembe (2016) ressalta que, atualmente, a ideia do controle po-
lítico do corpo foi substituída pela concepção de poder sobre a vida, isto 
é, os mecanismos de poder decidem, a partir de critérios políticos, raciais, 
geográficos, sociais, quem deve viver e quem deve morrer, tratando-se, 
portanto, de uma necropolítica (política de morte).
LINK: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993 
FIQUE ATENTO
Achille Mbembe
 Na pluralidade dos discursos advindos da filosofia francesa contemporânea, pode-
-se, por exemplo, salientar a problematização da democracia feita por Jacques Rancière ao 
discutir a invenção grega da democracia enquanto governo de qualquer um. A pergunta 
pelo real, realizada por Alain Badiou, coloca em questão as possibilidades de modificação 
e de permanência do mundo. Assim, ao desdobrar-se por diferentes campos de atuação 
do humano, a filosofia francesa contemporânea ressalta os caminhos para o pensamento 
atual em meio aos diversos desafios urgentes.
 6.1.3 A Escola de Frankfurt
 Os pensadores da Escola de Frankfurt procuraram consolidar uma teoria crítica da 
sociedade por meio da denúncia das estruturas socioculturais delimitadas pelas ações do 
capitalismo e, através da auto-reflexão, conduzir à emancipação dos sujeitos submetidos 
aos meios de dominação e controle. 
https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993 
81
Influenciados, sobretudo, pela junção dos pensamentos de Marx e Freud, o Insti-
tuto de Pesquisa Social, comumentemente, conhecido por Escola de Frankfurt, 
engloba uma série de pensadores dispostos a uma reflexão transdisciplinar sobre 
a sociedade suas diversas repartições: política, cultura, educação, arte, violência 
BUSQUE POR MAIS
(barbárie), etc. Ressaltando, sobretudo, a necessidade de reflexão e emancipação do sujeito 
dominado pelos meios do capital.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=wsz3FMaEkkE
 Os pensadores Theodor W. Adorno e Max Horkheimer (1895 - 1973) figuram- se como 
os fundadores da Escola de Frankfurt com a publicação da obra “Dialética do esclare-
cimento”, de 1947. Na “A dialética do esclarecimento”, Adorno e Horkheimer questionam 
o conceito de Esclarecimento e, consequentemente, a racionalidadeprópria ao Iluminis-
mo ao apontarem que o processo de racionalização ocorrido na modernidade acentuou 
ainda mais as condições de dominação exercidas sobre o sujeito. Em outros termos, a pro-
messa de emancipação prometida pela razão moderna não se realiza, posto que a própria 
racionalidade converte-se em instrumento de dominação e transforma a natureza em um 
mero objeto. Deste modo, a razão centralizada em seu poder de conhecimento insere o 
sujeito em uma trama de conceitos inquestionáveis, portanto, de aparência mítica que, 
ao fim e ao cabo, impedem o sujeito de refletir criticamente sobre si mesmo. Assim, a 
tese central de Adorno e Horkheimer é a de que, em face da razão instrumentalizada:
O mito converte-se em esclarecimento e a natureza em 
mera objetividade. O preço que os homens pagam pelo 
aumento de seu poder é a alienação da- quilo sobre o 
que exercem o poder. O esclarecimento comporta-se 
com as coisas como o ditador se comporta com os ho-
mens. Este os conhece na me- dida em que pode mani-
pulá-los (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 21).
 Ou seja, a racionalidade que deveria libertar o sujeito dos desconhecimentos do mito 
converte-se em uma nova mitologia de aparência ainda mais desconhecida e, sobretudo, 
de instrumentos de dominação ainda mais efetivos, restando ao sujeito, tão somente, 
o vazio de sentido promovido pela sua regressão ao desconhecimento. Portanto, a crítica 
realizada na “Dialética do esclarecimento”, revela o processo cíclico da racionalidade em 
direção, novamente, ao domínio do mitológico.
 Walter Benjamin, crítico e teórico ligado a Escola de Frankfurt, apresenta uma crítica 
incisiva à ideia de história pautada pela ideologia do progresso, isto é, Benjamin, nas teses 
“Sobre o conceito de história”, atesta para a emergência de se “escovar a história a contra-
pelos” (BENJAMIN, 2012a, p. 13) ou, reescrever a história, dando a transparecer o processo 
de violência presente na escrita da história feita pelos vencedores e em seus patrimônios 
culturais, restando aos perdedores, para tanto, o esquecimento em sua condição de opri-
midos.
https://www.youtube.com/watch?v=wsz3FMaEkkE
82
Na nona tese “Sobre o conceito de história”, escrita em 1940, Benjamin 
apresenta a alegoria do Anjo da História, baseada na obra Angelus Novus, 
de Paul Klee (1920). Na alegoria, Benjamin ressalta o desejo impossível do 
anjo em parar o vendaval da história pautada na ideologia do progresso 
e regatar o passado oprimido que jaz em ruínas.
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=vuL2xvbNNYo 
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Angelus Novus (1920) – 
Paul Klee
 Ademais, destaca-se no pensamento benjaminiano a leitura da modernidade en-
quanto um período temporal regido pelo capitalismo e, principalmente, pela capacidade 
do capitalismo em criar uma atmosfera onírica determinada tanto pelas inovações tecno-
lógicas (cinema; fotografia; passagens; exposições universais), quanto pela elevação da 
categoria da mercadoria.
 6.1.4 Pós-modernidade
 O pensador Zygmunt Bauman (1925 - 2017) apresenta a pós-modernidade como 
um tempo da liquidez, isto é, das relações sociais fluidas, frágeis, onde relações mais du-
radouras são impossíveis de serem estabelecidas. Deste modo, não há possibilidade da 
construção de relações que não sejam mediadas por outros dispositivos, como por exem-
plo, as rápidas e frágeis conversas via celular, a liquidez de relações estabelecidas em redes 
sociais e, portanto, como radicaliza Bauman, não há relações, mas sim, fluidas conexões.
O mundo líquido de Zygmunt Bauman:
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=8Xlp1mfMAI8
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Zygmunt Bauman
 David Harvey (1935), por sua vez, apresenta a modernidade como o tempo das 
relações fugidias e transitórias, marcado, principalmente, pelas caóticas e fragmentárias 
correntes de sucessivas mudanças, em suma, um tempo no qual nada se fixa. Há um caos 
reinante na pós-modernidade que se ancora nas mais diversas combinações e possibilida-
de de refeitura das coisas no momento em que se encontram, sem, de fato, assentá-las so-
bre nenhum núcleo de fixidez ou segurança. Deste modo, para Harvey ocorre um declínio 
do saber em direção à informação que desconsidera as raízes do conhecimento para, de 
fato, marcar-se pela rapidez com que se propaga.
 Listamos apenas dois pensadores do contemporâneo, mas a filosofia atualmente 
https://www.youtube.com/watch?v=vuL2xvbNNYo 
https://www.youtube.com/watch?v=8Xlp1mfMAI8
83
apresenta-se em diversos campos, discutindo desde o pós-marxismo até questões centrais 
para o debate atual, tais como a permanência do racismo, a necessidade do feminismo 
e os problemas de gênero. Deste modo, a filosofia apresenta-se em pleno desenvolvi-
mento, procurando indagar acerca do mundo, do sujeito e das constantes transformações 
acontecidas no amplo tecido social demarcado por múltiplas e diversas subjetividades e 
discursos. 
Sobre os conceitos e visões de pós-modernidade, o artigo “A pós-modernidade em 
Lyo- tard, Harvey e Jameson”, da professora Drummond (2014), oferece um im-
portante referencial:
LINK:https://www.academia.edu/15397307/A_p%C3%B3s-modernidade_em_Lyo-
tard_Harvey_e_Jameson_Exagium_
Sobre os debates pós-modernos, vide a obra “A Invenção do futuro: um debate 
sobre a pós-modernidade e a hipermodernidade”.
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/1657/pdf
BUSQUE POR MAIS
As discussões sobre gênero e feminismo ocuparam a centralidade do debate 
contemporâneo graças, sobretudo, aos trabalhos da filósofa Butler (2019). 
Butler reflete não apenas a necessidade de revisão dos papéis do gênero e 
a centralidade do discurso feminista, mas também, acentua a necessidade 
do pensamento ir em direção às categorias de vida desprezadas pela socie-
dade: as vidas precárias.
LINK: https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publica- cao/177830 
BUSQUE POR MAIS
Judith Butler
https://www.academia.edu/15397307/A_p%C3%B3s-modernidade_em_Lyotard_Harvey_e_Jameson_Exagium_
https://www.academia.edu/15397307/A_p%C3%B3s-modernidade_em_Lyotard_Harvey_e_Jameson_Exagium_
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/1657/pdf
 https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publica- cao/177830 
84
1. As filosofias contemporâneas apresentam seu referencial teórico embasado pelos 
pensamentos de Nietzsche, Marx e Freud. Diante disso:
a) Nietzsche, Marx e Freud realizam uma afirmação radical da modernidade, sobre tudo, 
na determinação do positivismo da razão em conhecer a totalidade do real.
b) Nietzsche, Marx e Freud preconizam um retorno à filosofia de Platão como suporte para 
o pensamento reorganizar a realidade em prol do abandono do sensível.
c) Nietzsche, Marx e Freud questionaram os limites da razão e, consequentemente a 
afirmação positivista de que seria possível conhecer a totalidade do real por meio da ação 
racional.
d) Nietzsche, Marx e Freud determinaram a racionalidade como um caminho meto- 
dológico de investigação da realidade baseado tanto nas ações dos sentidos, quanto nas 
determinações da razão.
e) Nietzsche, Marx e Freud preconizaram a modernidade como um amplo período 
temporal demarcado pela racionalidade progressista e tecnicista.
2. (UEL-PR 2016) Leia o texto a seguir.
O mito converte-se em esclarecimento e a natureza em mera objetividade. O preço que os 
homens pagam pelo aumento de seu poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder. 
O esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os homens. Este 
os conhece na medida em que pode manipulá-los. O homem de ciência conhece as coisas na 
medida em que pode fazê-las. É assim que seu em-si torna para ele. Nessa metamorfose, a 
essência das coisas revela-se como sempre a mesma, como substrato de dominação.
ADORNO; HORKHEIMER. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p.21 
O uso da razão para fins irracionaiscriou, principalmente no século XX, uma des- confiança 
crônica a respeito da sua natureza e dos seus usos. Com base nos conhecimentos sobre a 
racionalidade instrumental presente no texto, assinale a alternativa correta.
a) Tanto a dominação da natureza quanto a alienação do homem são o preço inevitável a 
ser pago pela razão, pois o conhecimento ocorre quando o mundo e o homem se tornam 
objetos.
b) O esclarecimento, na medida em que efetiva a superação do mito, atualiza a essência 
e o próprio destino do homem, que consiste em transformar a natureza, produzindo 
objetos que tornam a vida mais confortável.
c) Mito e razão são forças primitivas antagônicas de natureza distinta: o mito caracteriza-
se pela imaginação, fantasia e falta de objetividade; já a razão, pela objetividade, por cujos 
processos de formalização a certeza é instituída.
d) Dada a dimensão puramente formal da ciência, os aspectos práticos do mundo da 
vida lhe são alheios, razão pela qual os usos com vistas à dominação são estranhos à sua 
essência, resultando na dominação de um mau uso prático.
e) A instrumentalização da razão e a objetivação da natureza são dois momentos de um 
FIXANDO O CONTEÚDO
85
mesmo processo, cujo resultado consiste em conceber o homem e o mundo como objetos 
disponíveis à manipulação e ao exercício de poder.
3. Segundo Jean-Paul Sartre “o homem está condenado a ser livre” e, portanto, angustiado. 
Tal colocação pode ser interpretada como:
a) A liberdade como princípio central do existencialismo garante que o homem seja, 
sobretudo, um sujeito de escolha e, consequentemente, escolher para si e para o outro 
torna-o angustiado.
b) A angústia é um estado de espírito promovido pela ação de uma liberdade contin- 
genciada.
c) A liberdade é o princípio central do existencialismo garantindo, para tanto, a concepção 
de um sujeito livre de suas possibilidades de escolha. 
d) Liberdade e angústia são incompatíveis para o existencialismo, pois, ser livre pressupõe 
liberdade e não angústia.
e) O existencialismo valoriza o indivíduo que não realiza escolhas e, para tal, concebe a 
liberdade como sancionada a instâncias distanciadas do ser humano.
4. A filosofia francesa contemporânea volta-se para:
a) A construção de uma estrutura filosófica distanciada da alteridade.
b) A desconstrução da filosofia em prol do retorno à tradição metódica.
c) A desconstrução da estrutura formal do pensamento em prol da alteridade. 
d) A alteridade como modelo unitário de pensamento.
e) O ser como núcleo imutável da filosofia.
5. Leia o texto a seguir:
“O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é 
vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica 
é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas 
janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, 
permite que a luz atravesse a cela de lado a lado”.
FOUCALT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010
Com base no texto a seguir podemos afirmar que:
a) Foucault analisa as instituições como instrumentos de liberdade e, por isso, a sua 
organização de modo panóptico;
b) O pensamento foucaultiano sugere a análise da vida humana demarcada por ins- 
tituições que priorizam a formação plural dos sujeitos;
c) Foucault destaca os modelos prisionais atuais segundo o modelo de punição fo- cado 
em castigos corporais, por isso, a modo panóptico mostra-se mais eficaz.
d) Foucault ressalta os modos e meios de normatização e docilização dos sujeitos em 
instituições prisionais focadas na biopolítica, isto é, na liberalização do corpo para a vida 
afetiva.
e) O pensamento foucaultiano dirige a sua análise as estruturas de poder delimitadas para 
o controle do sujeito, para tanto, define o modelo do panóptico como modo de vigilância 
86
eficaz.
6. O conceito de biopolítica define-se como:
a) A condução da vida das populações em sentido amplo como estratégias direcionadas 
ao biológico.
b) A libertação da vida das populações em sentido amplo como estratégias direcionadas 
ao biológico.
c) A condução da vida das populações em direção a uma ampla destituição das estratégias 
de controle do corpo.
d) A condução do real em direção ao encarceramento dos corpos.
e) A libertação dos corpos em face da vigilância social ampliada pelas instituições.
7. FGV (2016) – Adaptada - Na Tese 9, Walter Benjamin se refere a um quadro de Paul Klee 
intitulado Angelus Novus. Nele está representado um anjo que crava o seu olhar sobre 
algo do qual parece estar se afastando. Olhos arregalados, boca aberta e asas estiradas: 
para Benjamin, este é o retrato do anjo da história que, ao olhar para o passado, no lugar 
de ver uma cadeia de eventos, enxerga uma única catástrofe que amontoa escombros e 
os arremessa aos seus pés. Frente às ruínas, o anjo tem o intuito de despertar os mortos e 
juntar os destroços, mas do paraíso sopra uma tempestade que o atira em direção ao futuro 
de maneira inexorável. Para Benjamin o que chamamos de progresso é essa tempestade 
e a sua Tese 9 é uma alegoria que associa progresso a catástrofe.
A respeito desta associação nas Teses Sobre o Conceito de História (1940), analise as 
afirmativas a seguir.
I. A crítica de Benjamin à concepção progressiva e finalista da história se baseia na 
crítica à ideia de uma temporalidade contínua e progressista.
II. O sentimento de urgência presente nas Teses resulta do dilema pessoal que o autor 
vive em 1940 e também de seu programa historicista de, com base em instâncias 
metódicas, reconstituir objetivamente o patrimônio histórico e cultural do passado 
que a guerra e os fascismos estavam destruindo.
III. Ao “anjo da História”, incapaz de mudar o passado e eliminar a catástrofe da guerra, 
cabe resgatar a memória de cada “ruína” da história, vale dizer, de todas as etapas 
que foram necessárias para que a humanidade conquistasse a consciência do 
progresso como razão e liberdade.
Está correto o que se afirmar em:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e III.
8. A pós modernidade é demarcada pela:
87
a) Solidez das relações sociais e estabilidade do tempo.
b) Solidez do tempo e durabilidade das relações sociais.
c) Liquidez das relações sociais e transitoriedade do tempo.
d) Durabilidade das relações sociais e liquidez do tempo.
e) Transitoriedade do tempo e solidez das relações sociais. 
PRÁTICA PEDAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAR: ÉTICA E 
ESTÉTICA
Tomo II
8
“A razão vos é dada para discernir o bem e o mal”
Dante Alighieri, poeta italiano
 Ética e moral são conceitos distintos, mas que guardam estreita relação entre si. A 
ética é a tradução etimológica do termo ethos (hábito, habitualidade, comportamento rei-
terado). O hábito revela a personalidade. A questão da ética é essencialmente prática e en-
volve pensar sobre aquilo que o sujeito faz enquanto ser que faz escolhas e toma decisões 
(agente) ou que é impacto pelas escolhas ou pelas decisões de outras pessoas (reagente). 
Em outras palavras, a ética é a liberdade interior de cada indivíduo, isto é, aquilo que cada 
um considera ser bom ou ruim, vicioso ou virtuoso para si mesmo. O conceito de moral, por 
sua vez, diz respeito aos grandes paradigmas e valores de um determinado grupo social 
em um dado tempo. Trata-se de um consenso coletivo para o comportamento dos indiví-
duos e a condução da vida em comunidade. 
 Há um convívio dialético entre ética (do indivíduo) e moral (do grupo). A decisão éti-
ca não é simples fruto da cultura, mas também da história pessoal do indivíduo. Sócrates, 
um dos maiores filósofos da Humanidade, questionava os valores da sociedade da Grécia 
Antiga. Acusado de corromper o juízo da sociedade atensiense, Sócrates perguntava, entre 
outras questões, o que era o bem e o que era o mal, algo sem resposta até os dias de hoje. 
Oato socrático de questionar a moral estabelecida em sua época era visto como algo sub-
versivo e desestabilizador, pois colocava em dúvida as verdades estabelecias. 
 A Antropologia, ao estudar o homem como produtor de cultura, tem grande con-
tribuição a dar ao estudo da ética. A Psicologia, por seu turno, discute como o indivíduo 
toma suas decisões pessoais. Por que tomou essa decisão? Do mesmo modo, a História e a 
Sociologia são ciências que ajudam a iluminar o entendimento da moral e da ética.
Não podemos confundir: a moral é o conjunto coletivo de valores e paradigmas, ou 
seja, as regras convencionadas por um grupo social. Já a ética é liberdade individual 
para considerar o que bom ou ruim para si e por si mesmo.
FIQUE ATENTO
 A Ética, entretanto, não é uma ciência. Seu objetivo não é produzir respostas absolu-
tas para os problemas humanos. O que a Ética busca é refletir acerca da ação humana e so-
bre os seus valores fundamentais. Os valores não são permanentes, imutáveis ou aplicáveis 
a todas as situações. Sempre temos que decidir e fazer escolhas. Os indivíduos podem de-
cidir de acordo com a moral do grupo ou contra a essa moral. Será que tudo o que é lícito é 
moral? Será que tudo o que é legal é ético? Os valores são relativos e as decisões humanas 
são tomadas no calor das circunstâncias. A cada momento temos que decidir o que é bom 
ou ruim, o que fazer e o que não fazer, com base em nossa condição de indivíduo.
7.1 O QUE É ÉTICA E MORAL?
9
 O objeto da reflexão ética é o comportamento humano. É impossível sustentar uma 
comunidade imensa de pessoas vivendo sob uma única ética. Da mesma forma, é tarefa 
difícil estabelecer o limite entre o ético e o antiético. Isso se traduz em uma sensação de 
não se identificar com clareza a barreira entre o que se pode e o que não se pode fazer. 
 A principal característica das sociedades contemporâneas é a insegurança. Isso se 
traduz em uma sensação permanente de desorientação social, confusão e incerteza. Exis-
te um padrão de comportamento? E um valor universal? Qual é o valor absoluto? Não há 
respostas fixas para estas perguntas. Se por um lado a flexibilização dos valores universais 
traz uma sensação inédita de liberdade, por outro a ausência de paradigmas de compor-
tamentos dificulta enormemente a decisão. A multiplicidade de escolhas e de oportuni-
dades passa a ser um instrumento opressor da liberdade. As dúvidas e as inseguranças 
passam a ser frequentes. 
 Como resposta a este cenário de incertezas, ocorre a chamada “tribalização” da so-
ciedade: as pessoas não se comportam segundo valores universais aplicáveis a todos, mas 
dentro dos valores do seu grupo (MAFFESOLI, 1997). Essa instabilidade traz grandes im-
pactos nos campos político, jurídico, social, cultural e religioso. Um comportamento que 
os indivíduos buscam na tentativa de lidar com a insegurança é a busca do passado ou de 
padrões tradicionais assentados em valores religiosos e familiares.
 Os grandes paradigmas da vida moderna passam por uma revisão profunda. Isso 
produz uma série de transformações sociais. A crescente individualização das responsabi-
lidades sociais leva à desagregação dos instrumentos sociais de decisão consensual, como 
a política. O Estado e o Direito também parecem não ser mais instrumentos eficazes para 
balizar os comportamentos humanos. 
 Ademais, existe a mentalidade que supervaloriza o homem capitalista em face da 
dimensão do social, do coletivo ou do político. Diante da sensação de desgoverno das fun-
ções estatais, da incapacidade de atender às necessidades fundamentais e da sensação de 
insegurança generalizada, as categorias universais são substituídas por valores individuais. 
 A falta de parâmetros morais leva à insegurança nas decisões. Cada um passa a valer 
pelo que produz e pelo que consome. É mais importante ter do que ser. O mercado deter-
mina o que é a essência. E quem está fora do mercado? E quem não tem poder de troca? 
Neste contexto, a dignidade da pessoa humana acaba perdendo sentido e as pessoas que 
estão fora da relação de consumo são desconsideradas enquanto sujeitos. Nessa linha, a 
pergunta fundamental da ética (como agir) encontra uma resposta retórica nas questões 
relativas à exclusão social.
 Os povos antigos não conheceram a diferença entre o mundo da ação política, o 
mundo do direito e o mundo do exercício do pensamento. Na Antiguidade, há uma certa 
integralidade dos pensamentos. Eles não tratavam as coisas de modo cartesiano, departa-
mentalizando o saber humano. Os antigos lidavam com o mundo de modo muito integra-
do; não havia a separação entre direito e a moral. As sociedades medievais também não 
faziam essa distinção: havia um princípio geral que regia todas as áreas. O direito natural 
era a razão de tudo. 
 A modernidade construiu a diferença entre direito e moral, principalmente, a partir 
do pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant. A filosofia de Kant diferenciou o uni-
verso da norma moral e o universo da norma jurídica. Kant influenciou o jurista austríaco 
7.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS
10
Hans Kelsen na construção da sua teoria pura do direito. Kelsen separou direito e moral 
para distanciá-los; ele queria determinar a autonomia do Direito. Para Kelsen, direito é o 
conjunto de normas postas pelo Estado (KELSEN, 1998). 
 A tarefa do jurista não era avaliar a justiça do sistema, mas compreender os critérios 
de validade das normas de acordo com a hierarquia. Para Kelsen (1998), a questão da justi-
ça não pertencia ao direito. Dessa forma, criou um abismo entre direito (decidir de acordo 
com o ordenamento) e moral (discutir os valores).
 O estudo da Ética busca entender todas as formas de mentalidade e estar a par de 
que um ethos dominante não existe sem que haja uma camada social dominante que o 
proclame. Toda vez que se definem normas de comportamento consideradas adequadas, 
passa a haver um aparato para proteger essas normas. 
 Nesse sentido, ao estudarmos a ética devemos também nos preocupar em pensar 
a diversidade das alternativas de comportamento possíveis. Importante enfatizar, nesse 
sentido, a relação entre ética, arbítrio e pluralidade. A universalização de qualquer tipo de 
verdade ética nos leva à definição de patamares rígidos. Torna-se a moral de uma classe 
dominante sobre a moral das classes dominadas. 
 O que está em questão é a construção do compartilhamento dos valores. Dessa for-
ma, todo sistema ético busca, em primeiro lugar, proteger os valores que consagra. Muitos 
grupos sociais constroem sistemas de dominação com base na política, na religião ou em 
outros sistemas que formam a consciência de um grupo. 
 Dessa maneira, a ética busca eliminar as diferenças e estabelecer regras de padrões 
de comportamento. No entanto, os valores não são tão absolutos que não possam dialogar 
com valores opostos. Um sistema ético, apesar de defender as suas verdades, deve praticar 
a tolerância, pois a moral de uns não pode se impor à moral de outros. 
 Valores morais são passíveis de ajuste e de confronte com outros. Os grupos cultu-
rais opostos podem construir instrumentos para a abertura recíproca de valores. Como é 
possível construir uma ética global em um contexto de diferenças entre os povos, naciona-
lismo exacerbado, contingentes humanos excluídos e oposição entre culturas?
 O filósofo alemão Juergen Habermas defende que só existe verdade enquanto expe-
riência intersubjetiva. O autor se posiciona em confronto direto com a verdade fundada na 
reflexão individual. Para Habermas, a verdade se constrói a partir do diálogo entre sujeitos 
que pensam diferentes. Ou seja, a chave para a busca da verdade é a aceitação da diver-
gência como algo legítimo e natural. Somente por meio da comunicação se pode alcançar 
a colaboração, o entendimento e o consenso. 
 A moral é algo que avalia o outro para julgá-lo como pertencente ou não pertencen-
te a uma comunidade. O próprio direito vem associado a uma moral. A linguagem trans-
passa valores por meio decertos termos e de palavras que expressam visões de mundo. E 
elas se expressam por meio de cláusulas gerais: bom, ruim, justo, injusto etc. A linguagem 
recebe uma grande bagagem da moral. Ela também é transmissora desses valores. Todas 
as práticas discursivas são transmissivas de valores. O indivíduo que se vale da linguagem 
pratica juízos, requalificando-os o tempo todo. 
 A ética, portanto, significa esfera da ação individual. Está contida dentro de um cir-
cuito de liberdade que lhe pertence. A moral é a grande instituição social que acaba sendo 
7.3 A RELAÇÃO ENTRE ÉTICA E MORAL
11
O sufixo latino –oso indica a ideia de “muito”, de “abundante” nas palavras da língua por-
tuguesa. Um objeto provido de muito brilho é chamado de brilhoso, um sujeito que mente 
muito ou continuamente é chamado de mentiroso. A palavra ética origina-se no termo 
grego éthos, que pode ser traduzido como “hábito”, ou seja, aquilo que se faz constantemen-
te. Para avaliar a personalidade de um indivíduo é preciso observar seus hábitos, já que um 
ato isolado não é o suficiente para dizer muito sobre ele. Há um ditado conhecido que diz: 
“o hábito faz o monge”. Neste provérbio, a palavra hábito refere-se tanto ao vestuário quan-
to aos costumes do religioso. Levando em conta as reflexões acima, pensemos na seguinte 
situação: um cidadão que nunca cometeu um crime em sua vida, pela primeira vez comete 
um ato que fere as leis do país. Seria justo, do ponto de vista da ética, chamá-lo de crimino-
so? Basta cometer um crime para que carregue este estigma? Ou seria preciso uma lista de 
crimes habituais em sua ficha para receber este adjetivo? 
VAMOS PENSAR?
o arcabouço de sustentação de certas atitudes individuais respaldadas em conceitos pree-
xistentes. A moral, por outro lado, procura moldar o indivíduo a modelos sociais convenien-
tes, não necessariamente bons. Configura, dessa forma, uma instituição social que produz 
mecanismos de controle e determinam a execução de seus preceitos. 
 Escolas e normas jurídicas são exemplos de instituições que contribuem para a ho-
mogeneização dos indivíduos. Instituições trazem estabilidade para o grupo e para a so-
ciedade. A moral é um mecanismo de pasteurização dos comportamentos. Ela permite 
julgar o que é conforme e o que é desconforme. Ela promove a agregação ou a segregação 
do outro.
 Nas relações morais é preciso verificar a relação de poder para determinar quais 
são os comportamentos adequados. A moral pode ser o principal instrumento ideológico 
de exercício do poder. A moral disfarça, suaviza e amortece a prática de poder. Ou seja, é 
um instrumento de adequação das identidades individuais. A moral fornece abrigo para 
a estrutura de poder. Ela pratica uma espécie de controle conveniente em um certo con-
texto. Exemplificando, na Idade Média, era clara a associação entre poder e moral. A moral 
imposta era a da Igreja Católica, que detinha o poder. 
 A relação entre moral e poder pertence à própria dinâmica das relações sociais. Nes-
se sentido, é preciso observar com cautela os valores morais. Um curso de ética não é um 
curso de moral. A filosofia ética é uma prática aberta de reflexão. É necessário dimensio-
nar e ponderar os valores, para avaliar se o valor é realmente válido. A moral do meio é a 
prática do exercício de dominação? 
 Nessa direção, a ética se vale da capacidade de resistência que o indivíduo tem em 
face das pressões externas do meio. É a sua capacidade de ponderar entre os conflitos in-
ternos e os valores das instituições sociais. Já a moral se baseia em um conjunto das sutis 
e não explícitas manifestações de poder sobre os indivíduos. A moral está inserida num 
contexto sócio-histórico. Não devemos incorporar a moral sem questioná-la, sob pena de 
nos transformarmos em meros reprodutores dos conceitos morais do nosso tempo. 
 O comportamento ético pressupõe, dessa forma, o questionamento da moral antes 
de absorvê-la. A moral defende o passado, o que foi consagrado e nos convida a reproduzir 
esses valores. A ética flerta com o novo. O comportamento ético permite requalificar os 
valores. Isso dá abertura ao processo de alteração dos valores. 
 Os indivíduos podem resistir aos valores morais por meio da capacidade de reflexão. 
Não existem leis morais eternas. Em outras palavras, a moral nos convida ao conforto e 
12
• No campo da filosofia, a ética também é uma ciência que estuda o comportamento hu-
mano em sociedade. Você pode aprender mais um pouco lendo o livro “Ética e Cidadania”. 
Neste obra organizada por Lopez Filho e colaboradores (2018) tem-se uma coletânea de di-
versos artigos que tratam da relação entre Ética e Cidadania no mundo contemporâneo. Em 
suas quatro unidades, o livro abarca a interface dos conceitos de ética e de cidadania com a 
desigualdade social, com as questões étnicas, políticas e religiosas e com o mundo do traba-
lho. Por fim, analisa a problemática da ética e da cidadania à luz dos direitos humanos, dos 
movimentos sociais e da cultura. Disponível em: https://bit.ly/3sEsLEa. Acesso em: 07 jan. 2021.
• Você também pode ler o livro “Ética: conceitos-chave em filosofia” (2007) de Dwight Fur-
row. Nesta obra, o autor analisa o conceito de Ética à luz da história da Civilização Ocidental. 
É um livro introdutório e didático que abarca alguns dos conceitos centrais para entender 
a evolução do pensamento filosófico. À luz dos escritos de Platão, Aristóteles, Kant e outros 
filósofos é possível entender como a ideia de ética permeou o estudo da Filosofia. Disponível 
em: https://bit.ly/3uNOhIo. Acesso em: 07 de jan. de 2021.
BUSQUE POR MAIS
à segurança. A ética nos convida ao exercício responsável e refletido para nos tornarmos 
agentes e arquitetos de nossa própria existência.
13
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (Enem 2010, 2ª aplicação) “A ética exige um governo que amplie a igualdade entre os 
cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem ela, muitos indivíduos não se sentem “em casa”, ex-
perimentam-se como estrangeiros em seu próprio lugar de nascimento. “
SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLIVEIRA, E. R (Org.) Segurança & defesa nacional: da competição à coopera-
ção regional. São Paulo: Fundação Memorial da América Latina, 2007 (adaptado).
Os pressupostos éticos são essenciais para a estruturação política e integração de indivídu-
os em uma sociedade. De acordo com o texto, a ética corresponde a:
a) Valores e costumes partilhados pela maioria da sociedade.
b) Preceitos normativos impostos pela coação das leis jurídicas.
c) Normas determinadas pelo governo, diferentes das leis estrangeiras.
d) Transferência dos valores praticados em casa para a esfera social.
e) Proibição da interferência de estrangeiros em nossa pátria.
2. (ENEM 2011, adaptado) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais 
adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resulta-
do dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia 
do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto). O distanciamento 
entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade 
inerente ao humano, porque as normas morais são:
a) Decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
b) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.
c) Amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integralmente.
d) Criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter.
e) Mais vinculantes do que as normas jurídica.
3. (UNICAMP 2016, adaptada) Por que a ética voltou a ser um dos temas mais trabalhados 
do pensamento filosófico contemporâneo? Nos anos 1960, a política ocupava esse lugar e 
muitos cometeram o exagero de afirmar que tudo era político. 
José Arthur Gianotti, “Moralidade Pública e Moralidade Privada”, em Adauto Novaes, Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 239.
A partir desse fragmento sobre a ética e o pensamento filosófico,é correto afirmar que:
a) O tema foi relevante no passado e apenas recentemente voltou a ocupar um espaço 
central na produção filosófica.
b) Os impasses morais e éticos das sociedades contemporâneas reposicionaram o tema da 
ética como um dos campos mais relevantes para a filosofia.
c) O pensamento filosófico abandonou sua postura política após o desencanto com os sis-
temas ideológicos que eram vigentes nos anos 1960.
d) Na atualidade, a ética é uma pauta conservadora, pois nas sociedades atuais, não há 
demandas éticas rígidas.
14
e) A ética foi incorporada pelas outras ciências, deixando de ser estudada nas últimas dé-
cadas.
4. (UNISC 2012) – Apresentados os enunciados abaixo, qual deles melhor caracteriza o tema 
da ética filosófica?
a) A ética filosófica estuda a maneira como as pessoas agem dentro de uma determinada 
sociedade.
b) A ética filosófica consiste em um conjunto de normas relativas à vida sexual das pessoas.
c) A ética filosófica é o estudo das normas que regem o exercício de uma determinada 
profissão.
d) A ética filosófica é um discurso racional e argumentativo cujo objetivo é fundamentar 
critérios para avaliar as ações humanas, seja para louvá-las ou para censurá-las.
e) A ética filosófica consiste na explicação das normas de comportamento que se encon-
tram na Bíblia.
5. (Leopoldino Rocha) O sujeito ético-moral é somente aquele que preencher os seguintes 
requisitos:
a) Ser consciente de si, mas não precisa reconhecer a existência dos outros como sujeitos 
éticos iguais a si.
b) Saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções 
e de suas atitudes e a essência dos valores morais.
c) Não precisa controlar interiormente seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, dei-
xando-as fluir livremente.
d) Dizer o que as coisas são, como são e por que são. Enunciar, pois, juízos de fato.
e) Ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como autor da sua própria ação nem 
avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros.
6. (Unesp 2019) – Então, todos os alemães dessa época são culpados?
– Esta pergunta surgiu depois da guerra e permanece até hoje. Nenhum povo é coletiva-
mente culpado. Os alemães contrários ao nazismo foram perseguidos, presos em campos 
de concentração, forçados ao exílio. A Alemanha estava, como muitos outros países da Eu-
ropa, impregnada de antissemitismo, ainda que os antissemitas ativos, assassinos, fossem 
apenas uma minoria. Estima-se hoje que cerca de 100 000 alemães participaram de forma 
ativa do genocídio. Mas o que dizer dos outros, os que viram seus vizinhos judeus serem 
presos ou os que os levaram para os trens de deportação?
(Annette Wieviorka. Auschwitz explicado à minha filha, 2000. Adaptado.)
Ao tratar da atitude dos alemães frente à perseguição nazista aos judeus, o texto defende 
a ideia de que:
a) Os alemães comportaram-se de forma diversa perante o genocídio, mas muitos mostra-
ram-se tolerantes diante do que acontecia no país. 
b) Esse tema continua presente no debate político alemão, pois inexistem fontes docu-
mentais que comprovem a ocorrência do genocídio. 
c) Esse tema foi bastante discutido no período do pós-guerra, mas é inadequado abordá-lo 
15
hoje, pois acentua as divergências políticas no país. 
d) Os alemães foram coletivamente responsáveis pelo genocídio judaico, pois a maioria da 
população teve participação direta na ação. 
e) Os alemães defendem hoje a participação de seus ancestrais no genocídio, pois consi-
deram que tal atitude foi uma estratégia de sobrevivência. 
7. (Unesp 2018). Os homens, diz antigo ditado grego, atormentam-se com a ideia que têm 
das coisas e não com as coisas em si. Seria grande passo, em alívio da nossa miserável con-
dição, se se provasse que isso é uma verdade absoluta. Pois se o mal só tem acesso em nós 
porque julgamos que o seja, parece que estaria em nosso poder não o levarmos a sério ou o 
colocarmos a nosso serviço. Por que atribuir à doença, à indigência, ao desprezo um gosto 
ácido e mau se o pode¬mos modificar? Pois o destino apenas suscita o incidente; a nós é 
que cabe determinar a qualidade de seus efeitos.
(Michel de Montaigne. Ensaios, 2000. Adaptado.)
De acordo com o filósofo, a diferença entre o bem e o mal:
a) Representa uma oposição de natureza metafísica, que não está sujeita a relativismos 
existenciais. 
b) Relaciona-se com uma esfera sagrada cujo conhecimento é autorizado somente a sa-
cerdotes religiosos. 
c) Resulta da queda humana de um estado original de bem-aventurança e harmonia geral 
do Universo. 
d) Depende do conhecimento do mundo como realidade em si mesma, independente dos 
julgamentos humanos. 
e) Depende sobretudo da qualidade valorativa estabelecida por cada indivíduo diante de 
sua vida. 
8. (Enem PPL 2016)
16
A figura do inquilino ao qual a personagem da tirinha se refere é o(a):
a) Constrangimento por olhares de reprovação. 
b) Costume importo aos filhos por coação. 
c) Consciência da obrigação moral. 
d) Pessoa habitante da mesma casa. 
e) Temor de possível castigo. 
17
Figura 9: Estrutura das bases nitrogenadas que compõem os ácidos nucleicos
Fonte: Nelson e Cox (2019, p. 283)
 
ÉTICAS E MORAL 
NAS RELAÇÕES SOCIAIS
UNIDADE
08
18
“A astúcia do Direito consiste em valer-se do veneno da
 força para evitar que ela triunfe“ 
Miguel Reale, jurista brasileiro
 Conforme visto no capítulo anterior, a Ética diz respeito ao conjunto dos valores que 
norteiam a vida em sociedade e a convivência entre os indivíduos num determinado tem-
po. O Direito é uma ordem social estabelecida em torno de um sistema sancionatório para 
garantir a aplicação da Justiça. Essa ordem busca estabelecer regras para o funcionamen-
to da sociedade e prevê meios para exigir o seu cumprimento, as sanções. Ele se vale da 
força para evitar que o mundo seja governado apenas por ela. Corresponde, na visão do 
jurista Jeremy Bentham, ao “mínimo ético” ou a um conjunto de normas morais conside-
radas relevantes por cada sociedade. A Moral, por sua vez, se caracteriza por ser um tipo 
de preceito acerca do comportamento desprovido de mecanismos de coação (MORRIS, 
2002).
 O Direito prevê uma convivência social ordenada, na qual inexiste a possibilidade de 
desordem ou anarquia. É um mecanismo de dominação que se vale de normas, institui-
ções e decisões para controlar o comportamento das sociedades. As regras jurídicas são 
obrigatórias e coercitivas, pois emanam de uma fonte jurídica válida e de uma autoridade 
competente. Seu fim último é a realização da justiça do bem comum. 
 Nesse sentido, diferentemente da Moral, que lida com preceitos sobre o comporta-
mento humano despidos de mecanismos de coerção, o Direito é uma ordenação ética com 
capacidade de impor comportamentos pelo uso legitimado da força. A Moral se baseia em 
mecanismos de sanção individual (ressentimento, remorso e culpa) ou coletiva (discrimi-
nação, repulsa, exclusão e indignação), ao passo que o Direito se assenta em sanções co-
ercitivas que se valem da imposição da força. O Direito não se vale de qualquer violência 
indiscriminada, mas da força organizada e aplicada segundo regras institucionalizadas. 
 O Direito lida com o problema ancestral da busca da verdade e da justiça no exercí-
cio do poder. Seu fundamento filosófico variou ao longo da Histórica, sendo considerada 
pelos gregos como uma técnica e pelos romanos como uma arte (a busca do bem e da 
equidade). Assim como as instituições são regras que estabelecem padrões de comporta-
mento e geram previsibilidade, o Direito é um elemento de fidelização e conexão entre o 
passado e o futuro. 
 Nesse sentido, o Direito não é neutro, mas um conjunto de práticas que visa realizar 
determinados valores fundamentais. O mais importante desses valores é a justiça, ou seja, 
dar a cada um aquilo que lhe é direito. A justiça é parte da moral e se baseia no senso de 
equilíbrio na distribuição de bens entre os homens. Sem validade, eficáciae justiça, não há 
sistema jurídico legítimo. 
 O jurista austríaco Hans Kelsen, em “Teoria Pura do Direito”, afirma que a Justiça é 
um valor decorrente da Moral. No entanto, diferentemente das normas sociais (Moral e Éti-
ca), o Direito é uma norma jurídica cuja legitimidade não se baseia apenas em valores, mas 
em critérios de validade. Ou seja, a norma jurídica é uma proposição hipotética dada por 
um poder institucionalizado (Estado) para estabelecer normas de conduta (KELSEN, 1998). 
 A Moral lida com as concepções de um indivíduo ou de um conjunto de indivíduos acerca 
do que é lícito e justo. As regras de conduta morais são tão plurais quanto a sociedade e 
8.1 ÉTICA, MORAL E DIREITO
19
balizam o convívio social. E buscam, essencialmente, o aperfeiçoamento de um indivíduo 
em relação à sua consciência ou a de seu grupo. Sua origem é a autoridade religiosa, a ra-
zão e a tradição. 
 O Direito, por outro lado, é uma técnica de regulação do convívio social que se baseia 
em uma norma. E que prevê sanções ao descumprimento destas regras. A fonte do Direito 
é o Estado. Somente são válidas as normas jurídicas produzidas por quem tem competên-
cia para tal. As sanções jurídicas, por sua vez, são obrigatórias. Embora adote princípios mo-
rais como fundamento de sua aplicação, o Direito pode conter também normais normas 
amorais. 
 A Moral, por seu turno, influencia diretamente o Direito. Os legisladores são guiados 
por valores e ideias difusos na sociedade para produzir normas jurídicas. As normas jurídi-
cas, nesse sentido, expressam regras morais que devem ser obrigatoriamente cumpridas. 
As sociedades antigas, como visto, eram caracterizadas pela coincidência entre manda-
mentos jurídicos e morais. Já na Idade Média, as regras jurídicas constituíam um “mínimo 
ético”, ou seja, o núcleo duro das regras morais. 
 Com a positivação do Direito (prevalência de normas escritas em códigos e leis), nos 
séculos XVIII e XIX, as regras jurídicas tornaram-se autônomas em relação à moral. Dada 
a pluralidade de sistemas morais existentes (religião, família, trabalho etc), as autoridades 
competentes do Estado se limitaram a impor normas segundo critérios de validade.
A relação entre o direito e a moral:
• O Direito é uma ordem social estabelecida em torno de um sistema sanciona-
tório para garantir a aplicação da Justiça.
• A Moral, por sua vez, se caracteriza por ser um tipo de preceito comportamen-
to desprovido de mecanismos de coação.
• A Moral se baseia em mecanismos de sanção individual (ressentimento, re-
morso e culpa) ou coletiva (discriminação, repulsa, exclusão e indignação), ao 
passo que o Direito se assenta em sanções coercitivas que se valem da imposi-
ção da força.
FIQUE ATENTO
 Os positivistas defendem que os indivíduos são livres para obedecer ou não às nor-
mas vigentes, de acordo com os seus valores morais e interesses. O custo do descumpri-
mento dessas normas é a aplicação de sanções jurídicas. Os moralistas, por sua vez, sus-
tentam que os operadores do Direito precisam buscar sempre a coe-rência entre normais 
normas jurídicas e preceitos morais, sob pena de esvaziamento valorativo do Direito. Para 
eles, seria impossível estabelecer uma distinção entre Direito e Moral, pois ambos cami-
nham lado a lado.
 Portanto, é importante distinguir norma moral e norma jurídica. A normal moral de-
corre da experiência histórica da sociedade. Já a norma jurídica pode ser imposta pela 
autoridade mesmo que não corresponda à experiência da sociedade. A norma moral fala a 
linguagem da interioridade e da intencionalidade. É preciso haver correspondência entre 
a vontade interior e a exteriorização. Na norma jurídica, isso é irrelevante em diversas situ-
ações. Na norma jurídica, são necessários atos exteriores; a intencionalidade é um aspecto 
20
secundário. A norma moral não possui sanção (punição); já a norma jurídica possui sanção. 
A norma moral possui, entretanto, um grau de coercibilidade (possibilidade de punição) 
que muitas vezes é muito mais forte que a sanção jurídica, como a vergonha, o constrangi-
mento e o arrependimento. Direito e moral não podem se separar. Como avaliar a legitimi-
dade de um sistema jurídico? Essa avaliação não pode ser pautada unicamente sob o as-
pecto da moral. Após a Segunda Guerra Mundial, com a Declaração Universal dos Direitos 
do Homem de 1948, foram definidas as diretrizes estruturantes do comportamento univer-
sal, de modo que os direitos humanos constituem o mínimo ético de um sistema jurídico.
 A relação entre ética, moral e política é tão ancestral quanto a Humanidade. Desde 
os filósofos da Antiguidade até os cientistas políticos, juristas e escritores contemporâneos, 
o tema já foi abordado de maneira múltipla. O assunto desperta as atenções do ser huma-
no desde os primórdios da civilização. Tratados, ensaios, romances e peças teatrais já foram 
escritas sobre essa questão, sem uma solução definitiva ou uma resposta correta para a 
problemática da moralidade nas relações sociais. 
 Sendo o homem um ser essencialmente político – isto é, que vive na polis (cidade) 
– sempre se pergunta sobre o que é agir moralmente. Da mesma forma que existe uma 
ética profissional, uma ética do trabalho, uma ética familiar e uma ética religiosa, a ética 
política trata da distinção entre o que é moralmente lícito e ilícito. 
 A aceitação de que a moral política se distingue do senso comum é um dos fun-
damentos da modernidade. Maquiavel afirmou, em “O Príncipe”, que a moral dos gover-
nantes não é a mesma dos governados. Nesse sentido, para obter êxito em sua missão de 
dominar os povos e governar as nações, antes de serem amados, os príncipes deveriam 
buscar serem temidos (MAQUIAVEL, 2010). 
 Enquanto em outras atividades humanas o que se busca, essencialmente, é adequar 
os comportamentos às regras de conduta moral consensuais e estabelecidas, na relação 
entre política e moral, o debate é mais complexo. Ao contrário da ética médica, da ética 
esportiva ou da ética do trabalho, não existe um consenso sobre quais seriam os preceitos 
éticos da política. O que existe, fundamentalmente, é a noção de que a moral política se 
reporta às ações de um indivíduo no que toca aos seus deveres para com os outros, e não 
consigo mesmo. 
 Dessa forma, o foco do estudo da moral política não é a compreensão daquilo que é 
considerado lícito ou ilícito. Na perspectiva do filósofo e jurista italiano Norberto Bobbio, o 
que se busca compreender é “[...] se tem sentido colocar-se em termos morais o problema 
do admissível e do inadmissível no caso das ações políticas” (BOBBIO, 2003, p. 161). 
 Dessa forma, utilizando-se uma categoria de Maquiavel, é possível, por exemplo, dis-
tinguir os políticos do tipo “leão” e os do tipo “raposa”. Os primeiros baseariam seu poder 
no uso da força; os segundos, no domínio da astúcia. Thomas Hobbes, em sua obra “O 
Leviatã”, assegurava que nenhuma moral estava acima da política. No estado de natureza, 
argumentava o filósofo inglês, a política não tinha nenhum conteúdo moral, baseando-se 
pura e simplesmente no exercício da força (MORRIS, 2002). 
 A moral do mais forte sempre prevalecia e a sobrevivência era a única moral existen-
te. No estado civil impera a moral do soberano, isto é, daquele indivíduo escolhido pelos 
demais como aquele que distingue o justo do injusto. Portanto, a vontade do rei deveria ser 
8.2 ÉTICA NA POLÍTICA
21
a única e exclusiva fonte moral a ser obedecida. A noção de razão de Estado, que floresceu 
com o Estado moderno, aceita que em circunstâncias específicas e determinadas, o sobe-
rano possa infringir os códigos morais prevalecentes para salvaguardar o seu poder. 
 Assim, a ação política imporia ao seu praticante “[...] ações moralmente reprováveis, 
porém necessárias por causa da natureza e da finalidade da própria atividade” (BOBBIO, 
2003, p. 168). Da mesma forma que o político teria uma moral própria, certas categorias 
profissionais, ao longo da História, também advogam a existência deum direito particu-
lar e de uma moral específica. Se existe uma ética inerente à política, existiria, do mesmo 
modo, uma ética aplicável a profissões determinadas, como a dos médicos, dos padres e 
dos advogados. 
A ética na política
Ao contrário da ética médica, da ética esportiva ou da ética do trabalho, não existe um con-
senso sobre quais seriam os preceitos éticos da política. O que existe, fundamentalmente, é a 
noção de que a moral política se reporta às ações de um indivíduo no que toca aos seus deve-
res para com os outros, e não consigo mesmo.
FIQUE ATENTO
 Quando refletimos sobre a importância da moral e da ética na vida pública, é impor-
tante entender como os valores morais e éticos guiam os homens públicos em suas ações. 
Em seu clássico artigo “Política como Vocação”, o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) 
distingue três qualidades para a formação de um homem público (WEBER, 1965). Em pri-
meiro lugar, a paixão à causa; e segundo lugar, o senso de responsabilidade; em terceiro 
lugar, o senso de proporção, isto é, a capacidade de manter distância dos fatos e dos ho-
mens, de modo a refletir com mais propriedade sobre os acontecimentos. Segundo Weber 
(1965), os homens precisam ainda superar a vaidade, pois o desejo de poder pode desvirtu-
ar tanto a sua paixão, quanto o seu senso de proporção. Ou seja, a vaidade poder tornar-se 
um fim em si mesmo, uma busca exclusiva pela exaltação do próprio ego. 
 Existe uma ética própria para o mundo político? Para Weber (1965), na política have-
ria dois pecados mortais. Primeiro, não defender nenhuma causa, o que conduz o político à 
paralisia e à busca do brilho efêmero. Segundo, não possuir nenhum senso de responsabi-
lidade, o que o leva a abusar do poder como um fim em si mesmo, sem qualquer propósito 
maior. As causas que justificam o alcance do poder dependeriam das visões de mundo e 
convicções íntimas de cada político. Tais motivações podem ser humanistas, nacionalistas, 
sociais, religiosas e éticas. 
 Nesse sentido, cabe indagar se existiria um “mínimo ético” na política que compati-
bilizasse as diversas causas que levam os políticos a almejar o poder. Seria a ética da polí-
tica a mesma ética da religião? Segundo Weber (1965), a ética religiosa, contida nos Evan-
gelhos, implica em comportamentos rígidos e que não admitem meio-termo: é o “tudo ou 
8.3 ÉTICA DAS CONVICÇÕES E 
ÉTICADA RESPONSABILIDADE
22
nada”. A ética dos Evangelhos persegue verdades absolutas e incontestáveis, baseadas na 
convicção e na consciência individual. 
 De acordo com Weber (1965), as condutas podem ser orientadas segundo duas ló-
gicas: a ética da ética da convicção e a ética da responsabilidade. Isto não significa que 
a ética da convicção esteja desconectada de qualquer responsabilidade. O ponto central 
da ética da responsabilidade é a noção das consequências do ato humano e o reconheci-
mento do papel da vontade, da ação ou da omissão na produção de resultados. Quando se 
observa apenas ética da convicção, atribui-se qualquer consequência dos atos humanos à 
vontade divina. Dessa forma, os homens isentam-se de qualquer compromisso, obrigação 
e prudência no dia a dia, pois seu destino estaria traçado. 
 A questão mais sensível da ética da responsabilidade é o fato de que, para alcançar 
fins considerados nobres, os homens às vezes precisam recorrer a expedi-entes considera-
dos desagradáveis, desonestos ou perigosos. Assim, o ato de mentir, segundo a ética das 
convicções, é moralmente condenável. Já segundo a ética da responsabilidade, a mentira, 
muitas vezes, pode ser uma forma de se evitar um mal maior. Segundo Weber (1965), no 
entanto, nenhuma ética conseguiu até hoje definir o que seria uma finalidade considerada 
“eticamente boa” que justificasse o uso de métodos considerados moralmente perigosos, 
como o uso da força.
As duas lógicas weberianas que conduzem a vida política: a Ética das Convicções e Ética 
da Responsabilidade:
• Ética da responsabilidade é a noção das consequências do ato humano e o reconhecimento 
do papel da vontade, da ação ou da omissão na produção de resultados.
• Ética da convicção é a atribuição de qualquer consequência dos atos humanos à vontade 
divina. Dessa forma, os homens isentam-se de qualquer compromisso, obrigação e prudência 
no dia a dia, pois seu destino estaria traçado. 
FIQUE ATENTO
 Em que circunstâncias se justifica o uso da força para o alcance de fins considerados 
justos? No caso de uma guerra ou de uma revolução, por exemplo, seria legítimo o recur-
so à violência para alcançar fins considerados justos? Os partidários da ética da convic-
ção são unânimes ao afirmar que matar um outro ser humano é considerado um pecado 
mortal, sem qualquer exceção. Já sob o ponto de vista da ética da responsabilidade, em 
casos excepcionais, como o de uma ameaça à sobrevivência do Estado ou da nação, seria 
moralmente justo o emprego da força e da violência armada para repelir uma invasão ao 
território nacional. 
 Essa tensão entre meios e fins caracteriza a ética da responsabilidade. Nesse sentido, 
a violência poderia ser admitida como um meio do alcance de fins políticos considerados 
nobres ou justos, como a sobrevivência nacional. Da mesma forma, o debate entre a con-
tinuidade de uma revolução ou de uma guerra e a realização da paz depende, sobretudo, 
das condições em que os termos da paz são assinados. Se forem injustos, os partidários 
da ética da responsabilidade admitem a legitimidade da continuidade da revolução ou da 
guerra. 
23
Os partidários da ética da convicção acreditam que quaisquer atos humanos geram conse-
quências, inclusive na política. Já para os adeptos da ética da responsabilidade, a política, 
diferentemente da religião, exige que os homens tenham senso de proporção. Sendo assim, 
convidamos você a refletir sobre a seguinte situação:
• Um determinado país sofre um ataque externo e precisa tomar atitudes de defesa e ata-
que. No entanto, sua população não tem total conhecimento sobre os desdobramentos 
dessa situação. Revelar tudo o que está acontecendo pode gerar pânico geral e piorar ain-
da mais o quadro, até mesmo dificultando as ações de defesa. Para a ética da convicção, a 
verdade deve estar acima de tudo. Contudo, preservar em sigilo determinadas informações 
ou até mesmo mentir sobre elas pode promover a segurança nacional. Para os adeptos da 
ética da responsabilidade é preciso lançar mão do senso de proporção. Em que medida um 
chefe de Estado deve pender para uma das duas lógicas?
VAMOS PENSAR?
 Para Weber (1965), é impossível conciliar a ética da convicção e a ética da responsa-
bilidade, pois a primeira não admite concessões à segunda. A ética da convicção defende 
que os meios são mais importantes que os fins. Isto é, o mal só pode trazer o mal. A ética 
da responsabilidade, por sua vez, admite que os fins justifiquem os meios. Ou seja, o mal, 
quando praticado com fins nobres, também pode produzir o bem. Todas as crenças reli-
giosas enfrentam o problema da ética na política. A questão mais sensível são as circuns-
tâncias em que se admite e se legitima o uso da violência. Os políticos ao praticarem a 
violência com a busca de um fim nobre devem não apenas justificar o recurso à força, mas 
buscar seguidores que compartilhem de seus objetivos. 
 Em síntese, Max Weber afirma que a política não pode abrir mão das questões éticas. 
Os homens que se dedicam à política, na visão do autor, devem estar cientes das consequ-
ências e impactos de seus atos. A salvação das almas, de um indivíduo e de seu grupo não 
deve ser buscada por meio da política, mas da religião. O caminho da política, por sua vez, 
pressupõe o uso de algum tipo de violência para alcançar os objetivos pretendidos. Nesse 
sentido, é preciso esclarecer aos partidários da ética da convicção que quaisquer atos hu-
manos geram consequências. A política, diferentemente da religião, exige que os homens 
tenham senso de proporção. Sendo assim, a política seria a arte do possível.
Ao fim destaunidade caro aluno sugerimos a leitura do livro de Ferraz Jr. “Introdução ao 
estudo do direito: técnica, decisão, dominação” (2019). Nesta obra o autor analisa as di-
versas teorias e concepções do mundo jurídico. É um livro que propõe uma reflexão acerca 
do fenômeno do Direito no contexto das questões éticas do mundo contemporâneo. O au-
tor se põe a refletir, de modo crítico, sobre as relações entre Direito, Ética e a sociedade de 
consumo em que estamos inseridos.
Disponível em: https://bit.ly/2Ocaijw. Acesso em: 12 de jan. de 2021.
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24
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (Enem 2010, 2ª aplicação) No século XX, o transporte rodoviário e a aviação civil acelera-
ram o intercâmbio de pessoas e mercadorias, fazendo com que as distâncias e a percepção 
subjetiva das mesmas se reduzissem constantemente. É possível apontar uma tendência 
de universalização em vários campos, por exemplo, na globalização da economia, no arma-
mentismo nuclear, na manipulação genética, entre outros.
HABERMAS, J. A constelação pós-nacional: ensaios políticos. São Paulo: Littera Mundi, 2001
(adaptado).
Os impactos e efeitos dessa universalização, conforme descrito no texto, podem ser ana-
lisados do ponto de vista moral, o que leva à defesa da criação de normas universais que 
estejam de acordo com:
a) Os valores culturais praticados pelos diferentes povos em suas tradições e costumes lo-
cais.
b) Os pactos assinados pelos grandes líderes políticos, os quais dispõem de condições para 
tomar decisões.
c) Os sentimentos de respeito e fé no cumprimento de valores religiosos relativos à justiça 
divina.
d) Os sistemas políticos e seus processos consensuais e democráticos de formação de nor-
mas gerais.
e) Os imperativos técnico-científicos, que determinam com exatidão o grau de justiça das 
normas.
2. (Enem 2010) A ética precisa ser compreendida como um empreendimento coletivo a 
ser constantemente retomado e rediscutido, porque é produto da relação social se organi-
ze sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o exercício de um pensar 
e agir autônomos. A relação entre ética e política é também uma questão de educação e 
luta pela soberania dos povos. É necessária uma ética renovada, que se construa a partir da 
natureza dos valores sociais para organizar também uma nova prática política.
CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado).
O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos problemas oriundos de diferen-
tes crises sociais, conflitos ideológicos e contradições da realidade. Sob esse enfoque e a 
partir do texto, a ética pode ser:
a) Compreendida como instrumento de garantia da cidadania, porque através de¬la os 
cidadãos passam a pensar e agir de acordo com valores coletivos.
b) Mecanismo de criação de direitos humanos, porque é da natureza do homem ser ético 
e virtuoso.
c) Meio para resolver os conflitos sociais no cenário da globalização, pois a partir do enten-
dimento do que é efetivamente a ética, a política internacional se realiza.
d) Parâmetro para assegurar o exercício político primando pelos interesses e ação privada 
dos cidadãos.
e) Aceitação de valores universais implícitos numa sociedade que busca dimensionar sua 
25
vinculação à outras sociedades.
3. (Enem 2010) Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substancial, sobe-
rano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é simultane-
amente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética adquire um 
dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista e avalia-
da fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética se entrelaça, necessariamente, com 
a política, entendida esta como a área de avaliação dos valores que atravessam as relações 
sociais e que interliga os indivíduos entre si.
SEVERINO. A. J. Filosofia
O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo deformação da ética na sociedade 
contemporânea, ressalta:
a) Os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias.
b) O valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos.
c) A sistematização de valores desassociados da cultura.
d) O sentido coletivo e político das ações humanas individuais.
e) O julgamento da ação ética pelos políticos eleitos democraticamente
4. (Enem 2009) Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escreveu as seguintes linhas 
a respeito da moralidade nos EUA: “A opinião pública norte-americana é particularmente 
dura com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à busca do bem-estar e pre-
judica a harmonia doméstica, que é tão essencial ao sucesso dos negócios. Nesse sentido, 
pode-se dizer que ser casto é uma questão de honra”.
TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia Britannica, Inc., Great Books 44, 1990 (adaptado).
Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norte-americanos do seu tempo:
a) Buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas.
b) Tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido.
c) Valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético.
d) Relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso econômico.
e) Acreditavam que o comportamento casto perturbava a harmonia doméstica.
5. (Enem 2017) “Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. 
Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se 
não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a pro-
messa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e 
contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a 
sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo empres-
tado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá”.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980. 
De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto:
a) Assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa.
26
b) Garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra.
c) Opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.
d) Materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os 
meios.
e) Permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvi-
das.
6. (Enem 2017) A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de agradar a Deus, 
muito menos de fidelidade a regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a maior 
quantidade de felicidade possível neste mundo. Ao decidir o que fazer, deveríamos, por-
tanto, perguntar qual curso de conduta promoveria a maior quantidade de felicidade para 
todos aqueles que serão afetados.
RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral. Barueri-SP: Manole, 2006.
Os parâmetros da ação indicados no texto estão em conformidade com uma:
a) Fundamentação científica de viés positivista.
b) Convenção social de orientação normativa.
c) Transgressão comportamental religiosa.
d) Racionalidade de caráter pragmático.
e) Inclinação de natureza passional.
7. (Enem 2017) “Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele 
mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o 
bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência 
sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais 
apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém 
duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramen-
te se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que 
determina quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada 
cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior 
apreço, como a estratégia,a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a polí-
tica utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não 
devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa 
finalidade será o bem humano.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Pauto: Nova Cultural, 1991 (adaptado).
Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe que:
a) O bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses.
b) O sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade.
c) A política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade.
d) A educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente.
e) A democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum.
8. (Enem/2013) “Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido 
que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil jun-
27
tá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. 
Porque dos homens que se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, 
simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, 
oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está 
longe; mas quando ele chega, revoltam-se.”
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políti-
cas, Maquiavel define o homem como um ser:
a) Munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros.
b) Possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política.
c) Guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes.
d) Naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos natu-
rais.
e) Sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.
28
ÉTICA, MORAL E POLÍTICA:
A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
UNIDADE
09
29
 Cidadania é um laço que une um indivíduo a um determinado Estado-Nação. Esse 
vínculo de subordinação a uma ordem jurídica nacional torna o indivíduo sujeito a direitos 
e obrigações, tornando-o parte integrante de um povo. O povo é o elemento humano que 
habita o território do Estado e que se mantém unido graças aos valores e aos objetivos 
comuns que compartilham. A cidadania é o vínculo estabelecido entre o Estado e o povo. 
O vínculo de cidadania se prolonga por toda a vida e é definidor da identidade pessoal de 
um indivíduo. No entender de Bonavides (2006), a cidadania implica em deveres básicos 
em relação a uma coletividade, como a fidelidade à Nação e a observância das normas do 
Estado. 
 Jorge Miranda afirma que os cidadãos são os membros do Estado, sujeitos de Direito 
e súditos da ordem política juridicamente organizada. Cidadania, portanto, define a quali-
dade do sujeito que se subordina a uma coletividade política. O autor distingue a cidada-
nia da nacionalidade. A primeira é o vínculo direto de um indivíduo a um Estado, enquanto 
a segunda é a relação entre um indivíduo e uma Nação. A aquisição e a perda de cidadania 
é definida pelas regras internas do Estado que as concede. Há dois meios fundamentais de 
aquisição da cidadania: pela filiação (jus sanguinis) ou pelo local de nascimento (jus soli). A 
cidadania implica na participação da vida política de um Estado, como o direito de votar e 
de ser votado (MIRANDA, 2002). 
 O conceito de cidadania em sua versão moderna nutriu-se das ideias surgidas na 
Itália, Inglaterra, França e Estados Unidos a partir da Idade Moderna. De Nicolau Maquiavel 
a Thomas Hobbes e de Jean Jacques Rousseau aos Federalistas norte-americanos, a base 
do pensamento político moderno compreendido como um conjunto de teorias e de ideias 
relacionadas à busca da institucionalização dos conflitos forjou-se numa pluralidade de 
correntes e de tradições envoltas na formação da linguagem e da prática política europeia 
nos séculos XVI a XVIII. 
 Da matriz italiana, o republicanismo absorveu as lições de Maquiavel acerca da for-
mação do humanismo cívico num contexto de reposicionamento do homem no centro 
do pensamento. Responsável por uma ruptura no pensamento ocidental e fundador da 
Ciência Política, o autor resgata o pensamento greco-latino para embasar as suas reflexões 
acerca das temáticas políticas de seu tempo. 
 O pensamento de Maquiavel se tornou clássico por duas razões centrais: a ampla 
difusão no Ocidente e abrangência de largas temporalidades. Maquiavel aborda as cons-
tantes disputas de poder entre as cidades-Estado da península itálica, mostrando como a 
instabilidade e a imprevisibilidade eram inerentes à realidade contemporânea. 
 Para Maquiavel, política e história também deveriam ser analisadas em conjunto, já 
que o poder organizava historicamente as relações econômicas e sociais entre os indivídu-
os, via exercício da dominação e a busca do consenso. O autor desenvolve, nas duas obras, 
a ideia de que o corpo político se divide ante o desejo de dominação e de ser dominado, o 
que se nota, por exemplo, no relato dos conflitos entre as potências europeias da época e 
as cidades do norte italiano. Finalmente, demonstra que a política se desenrola na dicoto-
“Que estranho desejo é ambicionar o poder e perder a liberdade”
Francis Bacon, filósofo inglês
9.1 O CONCEITO DE CIDADANIA E 
SUAEVOLUÇÃO HISTÓRICA
30
mia essência versus aparência, mostrando como a política possui uma importante dimen-
são simbólica na construção de narrativas.
 A noção de cidadania desenvolvida por Maquiavel seria transformada na França, 
dois séculos depois. Jean Jacques Rousseau foi o mais notável dos filósofos do período Ilu-
minista e o principal representante do republicanismo de matriz francesa. Em “O Espírito 
das Leis”, Rousseau ataca a Igreja e a instituição monárquica pelas desigualdades e pela 
miséria. Para conter a proliferação de uma sociedade profundamente desigual, prega um 
ideal democrático, rejeitando o estado histórico, construído desde tempos imemoriais, ao 
qual atribui a culpa pela desigualdade dos homens. 
 Disseminador de ideais de coletividade e de cooperação, Rousseau propõe a com-
posição de um novo Estado, não-tirano, opressor e fonte de desigualdades, mas de um 
organismo protetor, socialmente justo, sem privilégios e que tenha no povo a fonte de 
todo e qualquer poder. No fundo, a função deste novo Estado, pautado pela justiça e pelos 
direitos de todos os homens, era alcançar algo próximo da perfeição e da igualdade. 
 Rousseau conecta, portanto, a formação da liberdade do cidadão à soberania po-
pular. Há, portanto, uma possível aproximação entre o pensamento de Rousseau e o de 
Maquiavel, na medida em que ambos procuram afirmar a necessidade de legitimação do 
poder. Na visão de Rousseau, o homem não é um ser naturalmente sociável, mas socializá-
vel pelas circunstâncias e pela luta para sobreviver. 
 Em “Discurso da origem da desigualdade entre os homens”, o autor argumenta que 
os direitos se formam a partir de um contrato de submissão dos homens a um poder. Nes-
sa linha, ataca a noção de direitos naturais precedente, afirmando a necessidade de pac-
tuação do corpo político para a afirmação das liberdades. Nesse sentido, sua obra trata da 
problemática do “contrato social”, associada à ideia de república e de igualdade entre os 
homens. Para Rousseau, a cidadania pressupõe a existência de simetria e de uma “vontade 
geral” entre os cidadãos, valorizando, dessa forma, o controle democrático e a prestação de 
contas. A noção contemporânea de cidadania, em um contexto democrático, se valeu do 
debate de ideias durante a formação histórica das instituições republicanas dos Estados 
Unidos da América. Texto clássico da Ciência Política, ‘O Federalista” (1788) consagrou-se 
como um conjunto de artigos escritos por Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, 
três dos PaisFundadores da recém independente nação norte-americana. 
 Além de consagrados partícipes do processo de emancipação política do país, Ha-
milton, Madison e Jay tiveram atuação destacada no processo de elaboração do texto 
constitucional dos Estados Unidos, no bojo da conclusão da Guerra da Independência e 
dos arranjos para a estabilização política interna. O objetivo da publicação desses artigos 
foi explicitar e debater os temas centrais discutidos no processo constituinte, em especial 
a centralização, a coordenação e o controle do poder. 
 James Madison, em “O Federalista”, aborda a temática do controle do poder político 
e da contenção das ambições humanas. Advoga, nessa direção, a necessidade de instituir 
mecanismos capazes de afastar as tiranias e assegurar a existência das liberdades dentro 
do Estado, tornando-se um dos principais teóricos da existência de “checks and balances” 
(freios e contrapesos) entre as diversas instâncias e poderes. A teoria liberal da cidadania 
nutriu-se das lições de Montes-quieu e da seiva madisoniana para consolidar o entendi-
mento que consagrou a moderna tripartição de poderes do Estado. 
 Em breves palavras, somente o poder poderia ser contido por outro poder, numa 
sucessão de mecanismos capazes de refrear o ímpeto autoritário dos governantes. Madi-
son dialoga com a teoria do “governo misto”, existente na Inglaterra liberal do século XVIII, 
em que as funções governativas eram compartilhadas pelos três principais grupos sociais, 
31
favorecendo a harmonia, a convivência civil e a liberdade. 
 Fruto de uma rebelião de cidadãos armados contra uma monarquia, nos Estados 
Unidos estavam ausentes as condições para a existência desse modelo de organização 
social e política. Madison argumentava que o elemento inspirador da nova nação também 
não deveria ser a “virtude” das experiências republicanas da Antiguidade Clássica. Contra-
riamente ao “governo misto” e à “virtude” dos clássicos da Grécia, ancorava-se na teoria 
da “tripartição de poderes” de Montesquieu, que defendia uma divisão das atribuições do 
poder de maneira horizontal entre três braços independentes e autônomos de governo: o 
Legislativo, responsável pela edição de normas; o Executivo, responsável pela sua aplica-
ção; e o Judiciário, responsável por dirimir conflitos. 
 A separação de poderes garantiria a autonomia, o equilíbrio e a liberdade, dissol-
vendo o poder absoluto em várias mãos. Madison preconizava a necessidade de se conter 
o mal das facções através do seu controle, não da sua eliminação. Compreendendo a sua 
natureza e risco, o autor buscava alguma forma de lidar com as diferentes forças sociais e 
políticas nascidas da diversidade de ideias, crenças, opiniões e interesses, mas que pode-
riam ameaçar a estabilidade política dos governos e a existência dos regimes. 
 Madison entendia que a eliminação das facções era algo incompatível com um siste-
ma de liberdades, cuja missão principal do governo era salvaguardar. Um ponto central da 
visão madisoniana, nesse sentido, era a necessidade de equacionar a vontade da maioria 
com os direitos das facções minoritárias, evitando que a primeira esmagasse as segundas. 
A existência de mecanismos de proteção das minorias do abuso de poder era essencial 
para evitar a tirania. 
 James Madison rompe com a tradição dos governos populares da Antiguidade ao 
defender o modelo de democracia representativa, em que as facções estariam represen-
tadas por um corpo político de cidadãos preparados para governar. A ampliação da base 
territorial de governo também seria importante. Por outro lado, a existência de governos 
representativos não eliminaria o mal das facções, tendo em vista a existência do risco de 
degeneração do poder em armadilhas faccionárias capazes de levar à captura do governo 
por interesses contrários à vontade geral. 
 Desta forma, o remédio proposto não é a eliminação das facções, mas a sua multipli-
cação, de modo a pulverizar o poder num grande número de forças facciosas de alcance 
local e limitado, cada uma delas incapaz de ameaçar a existência da liberdade. O objetivo 
é a neutralização das facções entre si, numa fórmula semelhante à teoria dos “checks and 
balances”. O interesse geral, resume Madison, se alcançaria através da coordenação dos 
interesses em conflito pelos poderes que interagem entre si, filtrando os excessos e com-
patibilizando a vontade da maioria com os direitos das minorias. A atualidade dos textos 
dos autores norte-americanos repousa em sua capacidade de pensar temas fundamentais 
da sociedade política moderna.
32
É bom termos em mente como se formou o conceito de cidadania tal qual conhecemos hoje. 
Um esquema mnemônico é uma excelente ferramenta para visualizarmos como esta ideia se 
formou. Tomemos nota das coordenadas:
• Itália - Maquiavel: essência versus aparência. 
• França - Jean Jacques Rousseau: ideais democráticos e de cooperação. 
• Estados Unidos - Alexander Hamilton, James Madison e John Jay: suprimir tirania e garantir 
liberdades dentro do Estado.
• Atualmente, o conceito de cidadania passa pela ideia da representatividade. O direito con-
temporâneo adota essa visão.
• Para um futuro próximo, já existem rumores de uma cidadania mundial.
“Cidadania, hoje, tem um sentido ético-filosófico de acesso à dignidade da pessoa humana”.
Entenda mais sobre a relação entre política e cidadania assistindo ao vídeo “Política e Cida-
dania com Mario Sergio Cortella”. 
Disponível em: https://bit.ly/382nxKC. Acesso em: 07 de fev. de 2021.
FIQUE ATENTO
 O conceito de cidadania não teve difusão uniforme no Ocidente. No ideário iluminis-
ta, ser cidadão significava ter a posse de direitos políticos uniformes e iguais. A ideia era a 
de que todos eram iguais perante a lei. Na concepção do universalismo moderno, existe a 
ideia de igualdade como um ponto de partida. O papel do Estado é reduzido; ele confere a 
cidadania e define os direitos em abstrato. A Revolução Francesa trouxe como conquista a 
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. Nessa concepção, o Estado não atrapalha 
as relações entre os particulares. 
 O Estado reconhece os direitos individuais, mas adota um papel de definir o que é o 
espaço da liberdade. O Estado reconhece o direito e se abstém de interferir nisso. Atribui 
direitos ao indivíduo e isso tem impactos sobre a concepção de cidadania. No discurso li-
beral há uma igualdade formal. Por exemplo, o voto de cada cidadão tem o mesmo valor, 
independentemente de sua condição social ou financeira.
 Na concepção liberal de cidadania está presente a ideia da representatividade. O in-
divíduo pertence a uma ordem soberana e é esta ordem que o reconhece como cidadão. 
Essa concepção é orientada por critérios político-jurídicos constitucionalizados. No Direito 
contemporâneo encontraremos concepções que afirmam essa ideia, que é moderna. 
 Nesse sentido, cidadão é aquele que é capaz de votar ou que está habilitado para 
receber votos. Votar e ser votado é o que define a condição de cidadão. No entanto, será 
que essa concepção é suficiente para a realização do ideário democrático? Será que é su-
ficiente para atender às demandas sociais?
 A concepção moderna de cidadania se baseia em valores do ideário iluminista. Em 
primeiro lugar, não considera as diferenças concretas entre as pessoas. Assim, seria sufi-
ciente o afastamento do Estado para que sejam realizados os valores sociais. Em segundo 
lugar, não considera as oposições existentes dentro da própria sociedade. Bastaria a igual-
9.2 CIDADANIA E DIREITOS FUNDAMENTAIS
33
dade de fato, sem considerações sobre as desigualdades de fato que existem nas ruas. 
 Na concepção tradicional de cidadania, o Estado concentra em si o poder da violên-
cia legitimada. Os indivíduos, por sua vez, têm uma participação política periférica. Onde 
está presente o Estado, não haveria espaço para o indivíduo. A participação política, nessa 
concepção liberal, seria restrita a ocasiões determinadas nas quais o cidadão é chamado a 
votar.A realização da cidadania, portanto, dependeria de formalismos e burocracias e há 
um espaço muito pequeno para participação. Do mesmo modo, é o Estado quem definiria 
os direitos do cidadão, numa relação hierárquica entre quem dita as regras e quem obede-
ce. 
 Essa visão vem sendo solapada por uma série de ineficácias e déficits de atuação 
do Estado de Direito. Em seu lugar, tem-se construído uma nova concepção de cidadania, 
com atuação proativa na construção dos espaços sociais. A cidadania, nessa concepção, 
pertenceria à sociedade civil e seria exercida como atividade realizadora de mecanismos 
que permitissem o acesso a direitos fundamentais. Há a ideia de efetividade de poucos 
bens ao invés da universalidade de muitos direitos. O que se valoriza é a experiência prag-
mática de justiça, provida não apenas pelo Estado, mas por organizações do Terceiro Setor. 
 Diante da incapacidade do Estado de atendar às necessidades sociais, os atores so-
ciais exerceriam papel auxiliar no provimento de bens públicos. A nova ideia social rompe 
o verticalismo do poder. Há um horizontalismo no qual a sociedade assume o papel do 
Estado nas políticas sociais. 
 A noção de cidadania não se baseia mais em parâmetros formais da teoria tradi-
cional. Cidadania, hoje, tem um sentido ético-filosófico de acesso à dignidade da pessoa 
humana. O Estado não é suficiente como agente produtor de justiça e como promotor do 
bem-estar social. Em um contexto de esvaziamento do papel agregador do estado, são 
necessários outros agentes na afirmação da cidadania e na garantia de acesso a condições 
dignas de vida. 
 Apesar dos padrões cada vez mais individualistas de comportamento moral, respon-
sável por certa apatia global diante das injustiças, da miséria e da guerra, há reações im-
portantes em curso no sentido de ampliar o engajamento e a participação da sociedade 
na vida pública.
 A democracia é o espaço privilegiado de exercício da cidadania. Administra os inte-
resses gerais da coletividade e aperfeiçoa a racionalidade pública. Essa problemática cons-
titui fonte de preocupação para filósofos, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos e 
estudantes de todas as áreas. 
 O atual estágio de evolução humana consegue avançar, pela emergente engenha-
ria genética, até mesmo na manipulação dos caracteres hereditários da constituição da 
espécie. Há enorme risco de que se introduzam na natureza humana, modificações que 
suprimam ou significativamente reduzam as suas características transcendentes, criando 
condições para que se perpetue esse intransitivo consumismo tecnológico de um novo 
tipo humano, cuja descartabilidade passe a fazer parte de sua natureza.
34
 A ideia de cooperação norteia a nova sociedade global. A busca da resolução de 
problemas comuns da humanidade induz às nações a ampliar o compartilhamento de 
informações e a procurar caminhos para a superação de flagelos comuns como a fome, as 
guerras, a pobreza e a miséria. 
 Essa interdependência entre Estados nacionais também trouxe novos desafios para 
a sociedade civil em âmbito internacional. Com a diluição da soberania e a interconexão 
entre as economias, os Estados perderam o monopólio do seu poder de balizar a vida polí-
tica e econômica. Nesse sentido, amplia-se, cada vez mais, o espaço de ação dos cidadãos 
na esfera pública para expressar suas ideias e seus interesses, intercambiando informa-
ções e buscando alcançar objetivos comuns. 
 O crescimento das Organizações Não Governamentais, em escala mundial, é uma 
expressão dessa abertura do espaço público para novos atores não estatais. Cada vez mais, 
eles desempenham papéis relevantes nas sociedades, interferindo na política e na econo-
mia de diversas formas. A globalização econômica e a revolução tecnológica fortaleceram 
o papel dessas instituições nas mais variadas searas da vida das nações. 
 O contato cada vez mais estreito entre cidadãos de várias nacionalidades e a coin-
cidência de interesses entre povos que vivem em espaços políticos distintos, pavimenta o 
caminho para o surgimento de uma verdadeira sociedade global e de uma autêntica cida-
dania mundial. Portanto, hoje já se pode falar no surgimento de um sentimento cidadão 
em escala planetária, alavancado pelas novas tecnologias, pelas ferramentas de comuni-
cação, pelas redes sociais e pelo poder cada vez maior das organizações não governamen-
tais.
 O surgimento de uma governança global também impacta na formação do sen-
timento de cidadania. Organizações não governamentais, mais do que os Estados e as 
empresas, conseguem mobilizar os cidadãos em defesa dos interesses de certas pautas 
políticas, econômicas e sociais: o meio ambiente, os direitos humanos, o desarmamento, o 
comércio justo, o respeito aos animais, a defesa de minorias etc. 
 Essas organizações influenciam não apenas as pautas políticas nacionais, mas tam-
bém na agenda das organizações internacionais. Um exemplo dessa participação da so-
ciedade civil tem sido observado nas conferências internacionais sobre ambiente e susten-
tabilidade, como a Rio-92, a Rio +20 e a Conferência de Paris, nas quais o envolvimento de 
grupos de ambientalistas, empresários, trabalhadores, acadêmicos e cientistas tem sido 
cada vez maior. Pautas como meio ambiente e direitos humanos atravessam as fronteiras 
e aproximam os cidadãos. São temas que possuem uma dimensão local, mas também 
global, gerando a mobilização da cidadania. 
 Como lidar com os desafios da cidadania global sem instituições adequadas para 
balizá-los? A cidadania nasceu como um conceito inerente à ordem interna dos Estados, 
mas se torna cada vez mais atrelado a uma perspectiva global. A formação de uma opinião 
pública mundial interconectada com os desafios do presente traz grandes dilemas para a 
democracia e para a governabilidade contemporâneas. 
 A fraqueza dos mecanismos decisórios e a ausência de espaços para a atuação da 
sociedade civil organizada é um problema. Inexiste, por exemplo, um parlamento mundial 
que vocalize as vozes dos cidadãos do mundo. Da mesma forma, não há um poder mun-
9.3 A CIDADANIA NO MUNDO GLOBALIZADO
35
dial capaz de implementar decisões coletivas de forma coesa e organizada no espaço ter-
restre. A diluição da soberania dos Estados e o enfraquecimento do poder das instituições 
nacionais, ao mesmo tempo em que abre espaço para a atuação da sociedade civil, não 
traz soluções para os novos paradigmas da sociedade internacional.
 Nesse sentido, surge a necessidade de institucionalização da cidadania e de buscar 
soluções políticas para lidar com os desafios da globalização econômica e da revolução 
tecnológica. O sistema de governança global se torna cada vez mais complexo: Estados 
nacionais, organizações governamentais, empresas transnacionais, organizações não go-
vernamentais, imprensa, indivíduos etc. Há uma pluralidade de instituições que interagem 
em escala planetária e que interferem na formação de uma cidadania mundial. 
 Buscando superar os paradigmas tradicionais de funcionamento dos Estados nacio-
nais, as organizações supranacionais desenvolveram mecanismos institucionais de gover-
nança regional, como parlamentos e tribunais, de modo a abrigar a vontade dos cidadãos 
numa escala territorial maior. 
 O problema central da governabilidade em escala mundial é o da legitimidade das 
instituições. A ideia de legitimidade se relaciona com a noção de representação do poder, 
de defesa dos direitos fundamentais e de segurança jurídica. Em outras palavras, a justi-
ficação do poder se baseava na capacidade do Estado de assegurar segurança, justiça, 
ordem, paz e liberdade para que os cidadãos buscassem viver suas vidas.
O conceito de cidadania vem sendo elaborado e aprimorado ao longo dos anos. Atualmen-
te, com o advento da globalização, favorecido pelo avanço e pelo acesso da tecnologia de in-
formação, percebemos que a distância entre países foi encurtada. Com algumas exceções, a 
maioria das pessoas do mundo inteiro sabe o que se passa ao redor do globo.Com isso, uma 
nova faceta se apresenta: a cidadania mundial. Esta nova versão surge com a movimen-
tação e interação cada vez maior de setores do governa mundial, como os chefes de Esta-
do, as Organizações Não Governamentais, os empresários, os proprietários dos veículos de 
comunicação e os próprios cidadãos. A ideia de governabilidade mundial passa pelo proble-
ma da legitimação das instituições internacionais e pelos conflitos da soberania nacional. 
Situações delicadas podem surgir nesse contexto. Um tribunal ou um parlamento mundial 
poderia interferir em questões, por exemplo, políticas de um determinado país? Como ficaria 
a soberania nacional? Tais instâncias governamentais internacionais poderiam num futuro 
próximo estabelecer uma nova configuração de cidadania que contemple todos os habitan-
tes do planeta de forma igualitária?
VAMOS PENSAR?
 Em um mundo cada vez mais marcado pela produção de riqueza em escala gigan-
tesca e de intensos fluxos financeiros, os Estados nacionais perderam a capacidade de as-
segurar desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e promover o bem-
-estar coletivo. A intensificação da globalização deu ênfase aos processos de integração 
econômica e política, mas não avançou adequadamente no que diz respeito à ampliação 
dos espaços de participação democrática em escala mundial. 
 Os Estados nacionais, portanto, não são mais capazes de assegurar a cidadania em 
escala global. Com a globalização e o aumento da interdependência, o cumprimento de 
suas funções tradicionais - garantir a paz, a segurança, a liberdade e o bem-estar – tem sido 
cada vez mais delegada e compartilhada por instituições intergovernamentais e suprana-
cionais. Com a ampliação das assimetrias entre as nações desenvolvidas e em desenvol-
36
vimento, é preciso cada vez mais pensar em mecanismos de redução das desigualdades 
socioeconômicas, base do exercício da cidadania. 
 A globalização trouxe prosperidade, mas não oportunidades iguais para todos. Am-
pliou a escala dos avanços tecnológicos, da integração regional e da produção de bens e 
serviços, mas não equalizou o acesso a eles. A ideia da democratização dos espaços globais 
de poder permanece ainda muito distante. Somente os Estados nacionais foram capazes, 
até hoje, de colocar em prática sistemas de governança democráticos. 
 Embora busquem ampliar os espaços de poder para a sociedade civil global, as ins-
tituições internacionais ainda não conseguiram reproduzir, em escala global, os procedi-
mentos institucionalizados que os Estados nacionais forjaram ao longo da História. Dessa 
forma, mesmo diante de um processo de globalização da cidadania, os Estados ainda per-
manecem como instâncias de intermediação entre o interno e o externo, entre o nacional 
e o internacional. 
 Não se pode desprezar, ademais, o seu papel de conferir legitimidade aos meca-
nismos de governabilidade global. Como são responsáveis por administrar o território e 
a população dos Estados, suas funções clássicas ainda permanecem. Nessa direção, aos 
Estados cabe assegurar que a pluralidade, a diversidade e a responsabilidade estejam pre-
sentes na governança global.
 A cidadania não se limita mais aos Estados, mas ainda depende deles. Somente a 
legitimidade e a representatividade conferida por suas instituições garantem que os ci-
dadãos possam participar ativamente da esfera pública. Os Estados, quando dotados de 
mecanismos de governança democrática, ampliam as possibilidades de controle das so-
ciedades sobre o seu destino. 
 Eles são, portanto, expressões políticas ainda relevantes para a viabilização do exercí-
cio da cidadania. Sem Estado não há garantia de direitos. E sem direitos não há capacidade 
de exercício da cidadania. Não existe no horizonte histórico do século XXI a possibilidade de 
se pensar em mundo sem Estados e no qual os cidadãos possam exercer uma cidadania 
global independente das lealdades nacionais. 
 A ascensão dos indivíduos como atores globais e no exercício de uma cidadania glo-
bal é um fenômeno novo. Os indivíduos, contudo, não existem por si mesmos, indepen-
dentes de uma comunidade política mundial ou de várias comunidades políticas nacio-
nais. Em última instância, os Estados só existem como instituições políticas, para proteger 
os indivíduos que nele habitam. Portanto, são eles a base da autoridade estatal. 
 A própria ampliação das salvaguardas aos direitos fundamentais dos indivíduos cria 
as bases para a erosão posterior da autoridade do Estado. Aos indivíduos caberia, assim, 
não apenas exercer seus direitos e deveres no âmbito interno, mas fiscalizar os Estados em 
suas relações exteriores. A cidadania, nesse sentido, é o espaço por excelência do exercício 
do poder do indivíduo em face do Estado ou dos Estados. 
 A existência de uma comunidade internacional reforça a ideia de uma cidadania glo-
bal. Comunidades pressupõem não apenas uma coletividade, mas o compartilhamento 
de ideias e de valores acerca do funcionamento da sociedade. A comunidade se baseia na 
busca de uma identidade comum e da coincidência de visões de mundo sobre a organiza-
ção do espaço global. O ideal de uma sociedade cosmopolita, na qual os Estados perdem 
a sua razão de ser permanece utópica e distante. 
 Embora os direitos humanos tenham se tornado um tema cada vez mais central 
para a comunidade internacional de Estados, ainda há muito o que caminhar para que 
haja o reconhecimento do ser humano como o começo e o fim de todas as ações políticas 
nacionais e internacionais. Ou seja, a busca da salvaguarda da vida humana, em todas as 
37
suas esferas e dos meios de defender a liberdade, a igualdade e a fraternidade dos indiví-
duos permanece como um objetivo ideal de uma cidadania planetária. 
 Matias (2014) argumenta que a comunidade global permanece como um objetivo 
possível no mundo contemporâneo, graças à globalização, à revolução tecnológica e aos 
fenômenos da integração econômica e política. A existência de ameaças globais à huma-
nidade, como as mudanças climáticas, o terrorismo, as doenças e a miséria também cons-
tituem, na visão do autor, um poderoso instrumento de coesão mundial para turbinar uma 
cidadania planetária. 
 A viabilidade dessa cidadania, no entanto, depende da existência de instituições e de 
espaços de poder compartilhados. A criação de uma sociedade civil global, nesse contex-
to, fortalece esse ideal comunitário e direciona a humanidade para o reconhecimento das 
ameaças e dos interesses comuns (MATIAS, 2014). Quanto mais fortes, organizadas e legí-
timas forem essas instituições, mais força elas terão no mundo contemporâneo. A forma 
mais adequada de balizar expectativas e de encontrar soluções comuns para os problemas 
da humanidade é tornar a cidadania cada vez mais forte e institucionalizada. 
 Diante da ausência de instituições, verdadeiramente, representativas e democráti-
cas em âmbito mundial, os Estados ainda são chamados a atuar como pontes entre o local 
e o global no exercício de uma cidadania global. Na visão de Matias, “[...] se uma comunida-
de global vier um dia existir, ela deve ser acompanhada de instituições democráticas e do 
respeito à pluralidade, para assegurar a legitimidade de seu poder” (MATIAS, 2014, p. 519). 
Dessa forma, somente quando as instituições globais forem capazes de assegurar, com a 
mesma eficiência dos Estados, os direitos e as garantias fundamentais dos indivíduos, é 
que se poderá pensar numa esfera cidadã verdadeiramente global, legítima, plural, repre-
sentativa e democrática.
Para aprofundar seus conhecimentos acerca do conteúdo abordado nesta unidade, sugeri-
mos a leitura da coletânea de textos “Cidadania: O novo conceito jurídico e a sua relação 
com os direitos fundamentais individuais e coletivos” coordenada por Alexandre de Mo-
raes e Richard Pae Kim (2013). Nesta obra coletiva os autores abordam as diversas faces da 
cidadania no mundo contemporâneo. Em consonância com a afirmação do Estado Demo-
crático de Direito e das liberdadesfundamentais, conforme estudamos nesta unidade, o livro 
permite um aprofundamento nos temas dos modos de aquisição e de perda da cidadania, 
da relação entre cidadania e nacionalidade e da conexão entre democracia e direitos hu-
manos. O livro permite ainda explorar os problemas globais para a afirmação da cidadania, 
seja dentro dos Estados ou em experiências de integração supranacional, caso da União 
Europeia. l.
 Disponível em: https://bit.ly/3e1kAh2. Acesso em: 12 de jan. de 2021.
BUSQUE POR MAIS
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Dicotomia: divisão em dois termos.
Processo constituinte: redação de uma constituição.
Tirania: governo em que a força prevalece sobre o direito.
Salvaguardar: garantir, proteger, afastar o perigo.
Degeneração: piora do estado inicial, perda das características e propriedades.
Faccionárias: está ligado às facções, ou seja, aos grupos de indivíduos unidos 
por uma mesma causa ou luta.
Formalismo: rigoroso, metódico, regrado.
Caracteres: modo de cada indivíduo agir e reagir; personalidade, aspecto indivi-
dual.
Hereditários: recepção e doação por sucessão.
Intransitivo: aquilo que não pode ser transmitido ou repassado para o outro.
Interconexão: relação entre várias coisas, vários sistemas ou várias ideias.
Balizar: guiar, orientar.
Governança: ato de governo, governar.
Decisórios: tomada de decisões.
GLOSSÁRIO
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FIXANDO O CONTEÚDO
1. (Enem/2017) O conceito de democracia, no pensamento de Habermas, é construído a 
partir de uma dimensão procedimental, calcada no discurso e na deliberação. A legitimi-
dade democrática exige que o processo de tomada de decisões políticas ocorra a partir de 
uma ampla discussão pública, para somente então decidir. Assim, o caráter deliberativo 
corresponde a um processo coletivo de ponderação e análise, permeado pelo discurso, que 
antecede a decisão.
VITALE, D. Jürgen Habermas, modernidade e democracia deliberativa. Cadernos do CRH (UFBA),
v. 19, 2006 (adaptado).
O conceito de democracia proposto por Jürgen Habermas pode favorecer processos de 
inclusão social. De acordo com o texto, é uma condição para que isso aconteça o(a):
a) Participação direta periódica do cidadão.
b) Debate livre e racional entre cidadãos e Estado.
c) Interlocução entre os poderes governamentais.
d) Eleição de lideranças políticas com mandatos temporários.
e) Controle do poder político por cidadãos mais esclarecidos.
2. (Enem/2016) A democracia deliberativa afirma que as partes do Conflito político devem 
deliberar entre si e, por meio de argumentação razoável, tentar chegar a um acordo sobre 
as políticas que seja satisfatório para todos. A democracia ativista desconfia das exortações 
à deliberação por acreditar que, no mundo real da política, onde as desigualdades estrutu-
rais influenciam procedimentos e resultados, processos democráticos que parecem cum-
prir as normas de deliberação geralmente tendem a beneficiar os agentes mais poderosos. 
Ela recomenda, portanto, que aqueles que se preocupam com a promoção de mais justiça 
devem realizar principalmente a atividade de oposição crítica, em vez de tentar chegar a 
um acordo com quem sustenta estruturas de poder existentes ou delas se beneficia.
YOUNG, I. M. Desafios ativistas à democracia deliberativa. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 13, jan-abr. 2014.
As concepções de democracia deliberativa e de democracia ativista apresentadas no texto 
tratam como imprescindíveis, respectivamente:
a) A decisão da maioria e a uniformização de direitos.
b) A organização de eleições e o movimento anarquista.
c) A obtenção do consenso e a mobilização das minorias.
d) A fragmentação da participação e a desobediência civil.
e) A imposição de resistência e o monitoramento da liberdade.
3. (Enem/2018). A tribo não possui um rei, mas um chefe que não é chefe de Estado. O que 
significa isso? Simplesmente que o chefe não dispõe de nenhuma autoridade, de nenhum 
poder de coerção, de nenhum meio de dar uma ordem. O chefe não é um comandante, as 
pessoas da tribo não têm nenhum dever de obediência. O espaço da chefia não é o lugar 
do poder. Essencialmente encarregado de eliminar conflitos que podem surgir entre in-
divíduos, famílias e linhagens, o chefe só dispõe, para restabelecer a ordem e a concórdia, 
40
do prestígio que lhe reconhece a sociedade. Mas evidentemente prestígio não significa 
poder, e os meios que o chefe detém para realizar sua tarefa de pacificador limitam-se ao 
uso exclusivo da palavra.
CLASTRES, P. A sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro. Francisco Alves, 1982 (adaptado).
O modelo político das sociedades discutidas no texto contrasta com o do Estado liberal 
burguês porque se baseia em:
a) Imposição ideológica e normas hierárquicas.
b) Determinação divina e soberania monárquica.
c) Intervenção consensual e autonomia comunitária.
d) Mediação jurídica e regras contratualistas.
e) Gestão coletiva e obrigações tributárias.
4. (Enem/2016). Quanto mais complicada se tornou a produção industrial, mais numero-
sos passaram a ser os elementos da indústria que exigiam garantia de fornecimento. Três 
deles eram de importância fundamental: o trabalho, a terra e o dinheiro. Numa sociedade 
comercial, esse fornecimento só poderia ser organizado de uma forma: tornando-os dispo-
níveis à compra. Agora eles tinham que ser organizados para a venda no mercado. Isso es-
tava de acordo com a exigência de um sistema de mercado. Sabemos que em um sistema 
como esse, os lucros só podem ser assegurados se garante a autorregulação por meios de 
mercados competitivos interdependentes.
POLANYI, K. A grande transformação: As origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 2000 (Adaptado).
A consequência do processo de transformação socioeconômica abordada no texto é a:
a) Expansão das terras comunais.
b) Limitação do mercado como meio de especulação.
c) Consolidação da força de trabalho como mercadoria.
d) Diminuição do comércio como efeito da industrialização.
e) Adequação do dinheiro como elemento padrão das transações.
5. (Enem/2016). Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de 
pioneiros e empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os des-
vios espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde 
a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras 
seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, 
revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.
ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a):
a) Legado social.
b) Patrimônio político.
c) Produto da moralidade.
d) Conquista da humanidade.
e) Ilusão da contemporaneidade.
41
6. (FCC, 2018, adaptada). No que concerne à relação entre Direito e Estado, tal como a te-
matiza Hans Kelsen, é correto afirmar que o Estado:
a) É uma ordem jurídica relativamente centralizada.
b) É uma entidade metajurídica que precede a criação do Direito.
c) Considerado democrático e somente este é legítimo para produzir normas jurídicas, pois 
reflete a justiça.
d) É um grupo de pessoas unidas para a consecução de interesses comuns e o Direito é um 
corpo normativo que reflete a moral do povo.
e) E Direito são duas coisas completamente distintas e não necessariamente relacionadas.
7. (ENEM/2019) 
TEXTO I
Os segredos da natureza se revelam mais sob a tortura dos experimentos do que no seu 
curso natural.
BACON, F. Novum Organum, 1620. In: HADOT, P. O véu de Ísis: ensaio sobre a história da ideia de natureza. São Paulo: Loyola, 2006.
TEXTO II
O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não percebe mais as relações de equi-
líbrio da natureza. Age de forma totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando 
grandes desequilíbrios ambientais.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus, 1995.
Os textos indicamuma relação da sociedade diante da natureza caracterizada pela:
a) Objetificação do espaço físico.
b) Retomada do modelo criacionista.
c) Recuperação do legado ancestral.
d) Infalibilidade do método científico.
e) Formação da cosmovisão holística.
8. (ENEM/2019) O cristianismo incorporou antigas práticas relativas ao fogo para criar uma 
festa sincrética. A igreja retomou a distância de seis meses entre os nascimentos de Jesus 
Cristo e João Batista e instituiu a data de comemoração a este último de tal maneira que as 
festas do solstício de verão europeu com suas tradicionais fogueiras se tornaram “fogueiras 
de São João”. A festa do fogo e da luz no entanto não foi imediatamente associada a São 
João Batista. Na Baixa Idade Média, algumas práticas tradicionais da festa (como banhos, 
danças e cantos) foram perseguidas por monges e bispos. A partir do Concílio de Trento 
(1545-1563), a Igreja resolveu adotar celebrações em torno do fogo e associá-las à doutrina 
cristã.
CHIANCA, L. Devoção e diversão: expressões contemporâneas de festas e santos católicos. Revista Anthropológica, n. 18, 2007 (adaptado).
Com o objetivo de se fortalecer, a instituição mencionada no texto adotou as práticas des-
critas, que consistem em:
a) Promoção de atos ecumênicos.
42
b) Fomento de orientações bíblicas.
c) Apropriação de cerimônias seculares.
d) Retomada de ensinamentos apostólicos.
e) Ressignificação de rituais fundamentalistas. 
43
CIDADANIA NO BRASIL UNIDADE10
44
 “Um povo que não conhece seu passado não enxerga o futuro”
Edmund Burke
 A história da cidadania no Brasil é indissociável da sua formação social e política. 
Por um longo período, as elites brasileiras pensaram o Brasil como um “país sem povo”, 
ideia que remonta à colonização, entre os séculos XVI e XVIII, e perpassa os processos de 
independência e de construção do Estado, no século XIX. Após três séculos de colonização 
(XVI, XVII e XVIII), quase setenta anos de período monárquico e meio século de um sistema 
político controlado pelas elites agrárias, o Estado nacional começou a se transformar, na 
esteira da industrialização, da modernização e da urbanização do país. 
 Tendo em vista o atraso de Portugal na absorção das ideias modernizantes euro-
peias, a ressonância do debate entre a secularização da política e as tradições medievais re-
ligiosas também chegou tardiamente ao Brasil. O pensador italiano Maquiavel (1469-1527) 
elabora a ideia do Estado como um ente político permanente e autônomo, independente 
da pessoa do monarca. O fato de sua obra “O Príncipe”, publicada orginalmente em 1532, 
só ter sido traduzida para a Língua Portuguesa no século XVIII, durante o período em que 
o Marquês de Pombal (1699-1792) esteve à frente do governo português, demonstra uma 
tardia inserção portuguesa no pensamento ocidental moderno. 
 Ao passo que nas colônias de povoamento inglesas na América do Norte receberam 
as influências do pensamento político moderno, gênese das reflexões que levaram à fun-
dação da democracia norte-americana, a realidade política da América ibérica se moldou 
ao embate tardio entre o medievalismo e a modernidade que transcorria nas respectivas 
metrópoles (WEFFORT, 2011: 297-98). Fruto desse contencioso entre as tradições e a mo-
dernidade em Portugal ao longo de três séculos, o Brasil-Colônia permaneceu distante do 
Iluminismo europeu até as últimas décadas século XVIII. É interessante ressaltar que a im-
portação de obras da cultura erudita francesa e inglesa por membros da elite intelectual e 
religiosa ajudou a disseminar as ideias e os valores liberais na sociedade colonial, impulsio-
nando episódios como a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana. 
10.1 AFIRMAÇÃO DA IDEIA 
DE CIDADANIA NO 
BRASIL
45
Para entender a base da formação do pensamento de cidadania no Brasil
O que pode ser chamado de pensamento moderno? Países modernos avançavam na cons-
trução do conceito de cidadania, iniciado na Itália por Maquiável, que propunha entre tan-
tas inovações, a separação entre o Estado e a Igreja. Assim como a Espanha, Portugal, no 
entanto, não acompanhou essa evolução no tempo em que ela ocorria. A obra “O Príncipe”, 
do escritor Maquiavel, que trata da forma como os governantes devem exercer o poder para 
conservá-lo, foi escrita no século XVI e traduzida para o português somente no século XVIII, 
pelo Marquês de Pombal. Duzentos anos de distância entre o surgimento da ideia de secula-
rização do poder separaram Portugal dos demais países. Tal atraso refletiu na elaboração da 
consciência cidadã do povo Português e, consequentemente, do povo brasileiro, já que neste 
período o Brasil ainda era uma colônia de Portugal.
FIQUE ATENTO
Figura 1: Marques de Pombal, Claude Joseph Vernet (1766)
Imagem disponível em: https://cutt.ly/xkb17S7. Acesso em 13 de fev. de 2021.
No link acima você pode conhecer um pouco mais da história do homem que modernizou o 
Estado português e foi chamado por de impiedoso por muitas pessoas de sua época.
O Iluminismo foi um movimento cultural e intelectual que ocorreu na Europa 
entre os séculos XVII e VIII, baseado na valorização da razão, da ciência e do 
conhecimento. Foi responsável pelo impulso às ideias liberais de afirmação dos 
direitos humanos e de separação de poderes, alicerces das democracias con-
temporâneas.
GLOSSÁRIO
 A tarefa da construção de um Estado nacional se iniciou com a transferência da Cor-
te de D. João VI e do aparato administrativo metropolitano para o Rio de Janeiro. A separa-
ção política de Portugal acelera a construção de um Estado ca¬paz de controlar e dominar 
o amplo território, dadas as ameaças constantes de rebeliões e movimentos separatistas. 
Os temas da abolição da escravidão e da representação política moveram as preocupações 
de José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos articuladores da Independência, como a or-
ganização do novo país. José Bonifácio simbolizava os compromissos liberais do processo 
de Independência, marcado pelas contradições de uma sociedade escravocrata e conser-
vadora.
 A cidadania, nesse contexto estava restrita a uma pequena parcela da população 
brasileira que possuía condições econômicas de participar da vida política. O pensamento 
46
A separação de poder entre Estado e Igreja ocorreu tardiamente em Portugal e na Espanha, 
em relação a outros países europeus, como França, Itália, Holanda e Inglaterra. Estes países 
viveram o amplo crescimento das liberdades individuais e a contenção da tirania por meio 
da queda dos governos absolutistas. Portugal e Espanha, por outro lado, permaneceram por 
muito tempo ainda sob a influência do pensamento medieval, que pregava a obediência 
ao clero. Dessa forma, as colônias europeias receberam a influência de seus países coloni-
zadores. As colônias inglesas situadas no norte da América, por exemplo, logo incorporaram 
o ideal reformado e democrático. Seguindo este raciocínio, em que escala esse atraso refle-
tiu no processo de construção democrática nas colônias latino-americanas dominadas por 
portugueses e espanhóis? E no Brasil, qual influência desse atraso marcou a construção da 
democracia e da cidadania? Como os valores liberais chegaram ao Brasil e como eles foram 
aplicados aqui?
VAMOS PENSAR?
político do Primeiro Reinado (1822-1931), da Regência (1831-1840) e do Segundo Reinado 
(1840-1889) foi marcado pela convivência entre conservadorismo e liberalismo. Os liberais, 
de um lado, buscavam uma inspiração em ideias cosmopolitas, universalistas e moralistas. 
Os conservadores, de outro, se embasavam numa leitura realista e pragmática dos fatos, 
orientados pela prudência, moderação e experiência. 
 Durante todo o século XIX, a cidadania esteve restrita a uma elite de brasileiros. A 
Constituição de 1824 estabelecia requisitos de renda para que os brasileiros pudessem 
exercer o direito de voto e de se candidatar a cargos públicos. Esse critério econômico 
excluiu grande parte da população do processo de escolha de representantes nas insti-
tuiçõespolíticas do Império. Sendo assim, a vida política brasileira era conduzida por uma 
elite letrada diminuta, concentrada na Corte e nas capitais das províncias, sendo a maior 
parte do povo excluído de qualquer possibilidade de participar do processo político. 
 Durante a maior parte do século XIX, o pensamento político produzido pelas elites 
brasileiras correspondia às aspirações elementares de um país recém independente em 
busca de modelos de organização social, moral, política, jurídica e institucional. A tarefa da 
construção de um Estado nacional se iniciou com a transferência da Corte de D. João VI 
e do aparato administrativo metropolitano para o Rio de Janeiro. A separação política de 
Portugal acelera a construção de um Estado capaz de controlar e dominar o amplo terri-
tório, dadas as ameaças constantes de rebeliões e de movimentos separatistas, tais como 
a Farroupilha (1835-1845). Os temas da abolição da escravidão e da representação política 
moveram as preocupações do cientista e político José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-
1838), Patriarca da Independência, como homem de Estado.
10.2 A CIDADANIA NO IMPÉRIO
47
• Os liberais, de um lado, buscavam uma inspiração em ideias cosmopolitas, universalistas e 
moralistas. Os conservadores, de outro, se embasavam numa leitura realista e pragmática 
dos fatos, orientados pela prudência, moderação e experiência;
• O voto censitário era baseado na valorização da renda e do patrimônio para que os cidadãos 
pudessem exercer seus direitos políticos. Somente brasileiros com maior extrato de renda es-
tavam habilitados a votar e a e candidatar a cargos públicos
FIQUE ATENTO
 O advento da República em 1889 não modificou esse quadro de restrição ao exer-
cício da cidadania e dos direitos políticos. A substituição da Monarquia pelo novo regime 
não alterou as bases oligárquicas do Estado brasileiro. A vida política nacional prosseguiu 
controlada por uma oligarquia rural de fazendeiros de café e o acesso à cidadania conti-
nuou restrito a uma parcela pequena de brasileiros. Se o pensamento político do Império 
gestaria os dois caminhos antagônicos para o alcance da modernidade política no Brasil, 
os pensadores “autoritários” da década de 1930 dariam continuidade à linhagem conser-
vadora, reconhecendo o imperativo de um Estado material e simbolicamente forte para 
asseugurar o desenvolvimento nacional segundo os cânones do capitalismo moderno. 
 A Revolução de 1930 trouxe à tona as reinvindicações dos tenentes acerca de um 
Estado forte e centralizado. Uma dessas principais reivindicações era a necessidade de 
fortalecer os meio de exercício dos direitos políticos. A falta de transparência do sistema 
político e eleitoral brasileiro era apontada como uma das causas do atraso brasileiro. As 
eleições eram apontadas como fraudulentas e as elites rurais eram vistas como sinônimo 
da manutençao de um sistema oligárquico que mantinha o país atrelado ao coronelismo. 
Nas décadas de 1920 a 1940, houve uma proliferação de estudos que buscavam analisar 
a formação do país e as suas transformações, numa interpretação global da história e da 
sociedade brasileiras (WEFFORT, 2011). Na obra “Raízes do Brasil” (1936), o historiador Sérgio 
Buarque de Holanda trata do distanciamento entre as instituições e a estrutura social ao 
longo da formação do país. Ao analisar o período colonial, o Império e a Primeira República, 
o ensaísta argumenta que a democracia e as ideias liberais não se naturalizaram em nossa 
terra, deformadas pelos caudilhismos locais e por uma cultura política personalista. 
Personalismo e caudilhismo são características de governos, regimes ou países 
nos quais as instituições do Estado são fracas e predomina a vontade pessoal 
do caudilho (líder político).
FIQUE ATENTO
10.3 CIDADANIA NA REPÚBLICA
48
 A emergência de uma sociedade industrial e urbana, que surge a partir da Revolu-
ção de 1930, deixa em evidência o surgimento de camadas médias, num processo de mo-
dernização pelo alto, controlado pelo Estado. A chamada “questão nacional” emerge com 
grande força num momento internacional de expansão dos imperialismos. Sob os efeitos 
da crise de 1929 e do colapso do sistema econômico agrário-exportador, base do sistema 
político liberal das oligarquias agrárias, a Revolução de 1930 estabeleceu os fundamentos 
de um país industrial e urbano. 
 As ideias sobre cidadania alcançam um nível elevado de relevância para a ação polí-
tica na segunda metade da década de 1940 e começo da década de 1950. O debate entre 
liberalismo e nacionalismo, com diversas variações de matizes, influenciou tanto o mundo 
intelectual, quanto o da prática política dentro das instituições do Estado. Diversos alinha-
mentos, composições, rupturas e radicalizações entre pensadores e políticos marcariam 
essa disputa entre caminhos para o Brasil. 
 Com a democratização do país em 1945, após a queda do regime ditatorial do Estado 
Novo, novas perspectivas se abriram para o desenvolvimento da cidadania política no Bra-
sil. O sufrágio foi ampliado e surgiram novos partidos políticos. No debate ideológico dos 
anos 1950 e 1960 girava em torno de questões como urbanização, desenvolvimento, nacio-
nalismo e ação do Estado para impulsionar o desenvolvimento (WEFFORT, 2011). As massas 
urbanas foram incorporadas ao sistema político por meio do surgimento de partidos com 
base sindical e popular, como o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). 
 Sob a vigência da República de 1946, a democracia brasileira adquiriu um grau mais 
elevado de institucionalização, com eleições periódicas e a alternância de poder entre os 
partidos políticos. A Constituição de 1946 ampliou ainda o grau de autonomia do Poder Ju-
diciário e deu amplas prerrogativas ao Poder Legislativo. No entanto, o período 1946-1964 
também foi marcado pela instabilidade política, com o suicídio de um chefe de Estado 
(Getúlio Vargas), a renúncia de outro (Jânio Quadros) e um golpe militar, em 1964. Foi uma 
experiência democrática importante, porém efêmera. A democracia brasileira avançou em 
termos eleitorais, mas foi subitamente interrompida por uma segunda ditadura que gol-
peou a elite civil e os partidos políticos (WEFFORT, 2011) 
 Dando continuidade ao projeto conservador e autoritário, nos moldes do Estado 
Novo, o Regime Militar integrou o país, mas ao custo do sacrifício das liberdades democrá-
ticas e do aumento das desigualdades sociais. Houve alguns avanços no que toca à moder-
nização econômica, aos investimentos na infraestrutura e à ampliação do mercado inter-
no. Outro ponto positivo foi a ampliação dos direitos sociais, com a criação, por exemplo, do 
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). No entanto, a falta de eleições períodicas 
para presidente da República, a intervenção nos partidos políticos, a repressão política e 
a perseguição às oposições impediram que a democracia brasileira funcionasse normal-
mente. Sem dúvida foi um período de retrocessos para o desenvolvimento das instituições 
e para o aprendizado democrático. A cidadania, em síntese, permaneceu refém do autori-
tarismo, com a interdição do debate de ideais, do exercício dos direitos fundamentais e da 
contestação do regime.
49
 A sociedade brasileira demonstrou intensa maturidade e energia cívica ao conduzir 
o reencontro do país com a democracia durante o movimento das Diretas Já (1984). Apesar 
de não ter sido bem-sucedido em seu objetivo de eleger um presidente da República pela 
via direta na transição do regime militar para a democracia, a campanha nacional foi um 
importante marco na afirmação dos direitos políticos odos brasileiros. Após a redemocra-
tização, a Assembleia Nacional Constituinte de 1988 refletiu a busca obstinada desta socie-
dade por novos espaços de expressão e de defesa dos interesses coletivos. Em 1988, após 
dois anos de trabalho, foi promulgada a “Constituição Cidadã”, expressão do presidente da 
Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães.
A Constituição é o documentopolítico supremo de uma Nação. Contém a or-
ganização dos elementos essenciais do Estado Nacional: a forma do Estado 
(República ou Monarquia), o sistema de governo (presidencialismo ou parla-
mentarismo), o modo como o poder é adquirido (eleições diretas ou indiretas), o 
estabelecimento das instituições e os direitos fundamentais.
GLOSSÁRIO
 A Constituição de 1988 é o vértice do sistema jurídico do país e a pedra angular em 
que se assenta o edifício do Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, a República 
Federativa do Brasil constitui Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais 
do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Além dos direitos e das garan-
tias individuais, a Carta Magna busca assegurar aos cidadãos direitos como a segurança, 
o bem-estar, o desenvolvimento, a educação, a saúde, a cultura e o meio ambiente equili-
brado. Em suma, ela procura construir uma sociedade fraterna, pluralista, solidária e sem 
preconceitos, fundada na harmonia social e na garantia de oportunidades a todos.
A República Federativa do Brasil também tem objetivos a serem perseguidos. É a primeira 
vez que uma Constituição assinala, especificamente, os objetivos do Estado Brasileiro. O Art. 
3º da Constituição consagra estes objetivos fundamentais: I – construir uma sociedade digna, 
justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a margi-
nalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
FIQUE ATENTO
10.4 CIDADANIA NA REDEMOCRATIZAÇÃO
50
 A Constituição brasileira também está comprometida, na ordem internacional, com 
a solução pacífica das controvérsias, a não intervenção nos assuntos internos de outros 
povos, a autodeterminação dos povos, a igualdade jurídica das nações, a cooperação entre 
os povos, a defesa dos direitos humanos, o respeito ao Direito Internacional e a busca da 
integração latino-americana. Trata-se de um documento com princípios e objetivos avan-
çados que buscam ampliar os compromissos do Estado brasileiro com a democracia em 
todas as suas vertentes e com uma cidadania global. 
 Em suma, a Constituição brasileira se compromete a efetivar um verdadeiro Estado 
Democrático de Direito. Com o advento do Estado de Bem-Estar Social, os poderes pú-
blicos assumiram o compromisso de garantir não apenas as liberdades individuais, mas 
contemplar também direitos sociais, econômicos e culturais previstos na Declaração Uni-
versal dos Direitos do Homem de 1948 e nos tratados subsequentes. O grande drama das 
Constituições brasileiras, no entanto, é o seu não cumprimento na prática. 
 A valorização da Constituição como documento primordial na defesa da cidadania 
e da democracia, entretanto, ainda é algo recentíssimo em nosso país. Afortunadamente, 
a consciência popular a respeito das vantagens da democracia tem crescido. Participar da 
vida política do país é fortalecer dentro de cada um a crença nos princípios democráticos. 
Nesse sentido, há uma via de mão dupla: o cidadão é beneficiado com os direitos e garan-
tias e, em contrapartida, contribui com seus deveres para a harmonia e o funcionamento 
do Estado. 
Para aprimorar seu conhecimentos acerca do tema abordado nesta unidade leia o livro “So-
ciedade, Cultura e Cidadania” de autoria de Bes e colaboradores (2018). Essa obra coletiva 
reúne um conjunto de ensaios que cobre cinco séculos da História Brasileira, desde o proces-
so de construção do país durante a Colônia até a Redemocratização. Ao consultá-la como 
fonte complementar de estudos, você poderá compreender como se deu o processo de afir-
mação da cidadania em um país marcado pela escravidão, pelo patrimonialismo e pela ex-
ploração predatória dos recursos naturais. Tendo em vista a tardia consolidação do Estado e 
da Nação, a obra permite aos alunos compreender a trajetória cidadania à luz das disputas 
pelo poder e por diferentes projetos de país no Império e na República. Por fim, o livro traz 
interessantes análises sobe o Brasil contemporâneo, com foco nas dificuldades para a afir-
mação da cidadania e para a superação dos problemas sociais em um mundo globalizado. 
Disponível em: https://bit.ly/3r8M7kB. Acesso em: 14 de fev. de 2021.
BUSQUE POR MAIS
51
Advento: surgimento.
Agrárias: relativo às atividades agrícolas.
Antagônicos: contrários.
Aportou: chegou.
Assenta: o que se apoia em algo.
Autonomização: refere-se ao que se torna autônomo, independente.
Caudilhismo: força irregular de poder.
Cosmopolita: da cidade, urbano.
Dissociação: separação, afastamento. 
Esteira: área, processo, dinâmica.
Fulcral: refere-se à base, apoio, sustentáculo. 
Gestaria: conceberia.
Indissociável: inseparável, inerente.
Medievalismo: refere-se ao período medieval.
Modernizante: relativo à modernização.
Oligárquicas: refere-se às oligarquias, ao governo de poucos.
Perpassa: decorre, atravessa, passa por. 
Remonta: o que se refere a alguma coisa por alusão, ou seja, menciona algo.
Ressonância: repercussão.
Secularização: abandono de sistemas que estavam sob o domínio da Igreja 
Cristã para o domínio dos leigos, ou seja, o domínio das leis do Estado.
GLOSSÁRIO
52
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (Enem/2019). A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como uma política para todos 
constitui-se uma das mais importantes conquistas da sociedade brasileira no século XX. O 
SUS deve ser valorizado e defendido como um marco para a cidadania e o avanço civiliza-
tório. A democracia envolve um modelo de Estado no qual políticas protegem os cidadãos 
e reduzem as desigualdades. O SUS é uma diretriz que fortalece a cidadania e contribui 
para assegurar o exercício de direitos, o pluralismo político e o bem-estar como valores de 
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, conforme prevê a Constituição Fe-
deral de 1988.
RIZZOTO, M. L. F. et al. Justiça social, democracia com direitos sociais e saúde: a luta do Cebes.
Revista Saúde em Debate, n. 116, jan.-mar. 2018 (adaptado)
Segundo o texto, duas características da concepção da política pública analisada são:
a) Paternalismo e filantropia.
b) Liberalismo e meritocracia.
c) Universalismo e igualitarismo.
d) Nacionalismo e individualismo.
e) Revolucionarismo e coparticipação.
2. (IDECAN, 2016, adaptado). Cidadania é a tomada de consciência de seus direitos, tendo 
como contrapartida a realização dos deveres. Isso implica no efetivo exercício dos direitos 
civis, políticos e socioeconômicos, bem como na participação e contribuição para o bem-
-estar da sociedade. De acordo com o exposto, analise as afirmativas a seguir. 
I. Direitos humanos são valores, princípios e normas que se referem ao respeito à vida e à 
dignidade. 
II. Democracia significa governo do povo, assegurado pelo gozo dos direitos de cidadania. 
Assim, quando há isonomia, ou seja, igualdade diante da lei, há democracia. 
III. Entre as condições básicas à conquista da cidadania estão a educação, a saúde e a ha-
bitação.
IV. A Constituição não prevê objetivos fundamentais para o Estado brasileiro
O Estado é o responsável na prestação desses serviços à população, e deve fazê-lo de forma 
satisfatória, possibilitando avanço na convivência social. Estão corretas apenas as afirmati-
vas
a) IV e III.
b) I, II e III.
c) I, II e IV.
d) II, III e IV
e) Todas alternativas estão corretas.
3. (CESPE). A respeito dos marcos históricos, fundamentos e princípios dos direitos huma-
nos, assinale a opção correta.
53
a) Segundo a doutrina contemporânea, direitos humanos e direitos fundamentais são in-
distinguíveis; por isso, ambas as terminologias são intercambiáveis no ordenamento jurí-
dico.
b) Os direitos humanos estão dispostos em um rol taxativo, que foi internalizado pelo orde-
namento jurídico brasileiro com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
c) No Brasil, os direitospolíticos são considerados direitos humanos e seu exercício pelos 
cidadãos se esgota no direito de votar e de ser votado.
d) A dignidade da pessoa humana, princípio basilar da Constituição Federal de 1988, é fun-
damento dos direitos humanos.
e) Em razão do princípio da imutabilidade, os direitos humanos reconhecidos na Revolu-
ção Francesa permanecem os mesmos ainda na atualidade.
4. (IF-TO). Na história, há dois grandes movimentos que foram fundamentais para a base da 
Declaração dos Direitos Humanos, elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU), 
criada em 1948. Quais foram esses dois acontecimentos históricos que influenciaram a De-
claração Universal dos Direitos Humanos?
Com base no exposto acima, marque a alternativa correta.
a) A Revolução Industrial (1760) e a Revolta dos Malês (1835).
b) A Revolução Francesa (1789) e a Abolição da Escravidão no Brasil (1888).
c) A Revolução Francesa (1789) e a Independência dos Estados Unidos (1776).
d) A Independência dos Estados Unidos (1776) e a Bill of Rights (1689).
e) A Petition of Rights (1628) e a Guerra do Paraguai (1864).
5. (Enem 2013). Tenho 44 anos e presenciei uma transformação impressionante na condi-
ção de homens e mulheres gays nos Estados Unidos. Quando nasci, relações homossexu-
ais eram ilegais em todos os Estados Unidos, menos Illinois. Gays e lésbicas não podiam 
trabalhar no governo federal. Não havia nenhum político abertamente gay. Alguns homos-
sexuais não assumidos ocupavam posições de poder, mas a tendência era eles tornarem as 
coisas ainda piores para seus semelhantes.
ROSS, A. “Na máquina do tempo”. Época, ed. 766, 28 jan. 2013.
A dimensão política da transformação sugerida no texto teve como condição necessária a:
a) Ampliação da noção de cidadania.
b) Reformulação de concepções religiosas.
c) Manutenção de ideologias conservadoras.
d) Implantação de cotas nas listas partidárias.
e) Alteração da composição étnica da população.
6. (Enem 2012) 
TEXTO I
O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade 
através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade, que está pre-
54
sente em todos os redutos — seja nas áreas abandonadas pelo poder público, seja na polí-
tica ou no futebol. O brasileiro não é mais violento do que outros povos, mas a fragilidade 
do exercício e do reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários territórios 
do país se impõem como um caldo de cultura no qual a agressividade e a violência fincam 
suas raízes.
Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ. Edição 2099; 3 fev. 2010.
TEXTO II
Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsões e emoções do indivíduo, 
sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo é 
possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e todas as limitações 
são convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo.
ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal como descrito no Texto II, o argu-
mento do Texto I acerca da violência e agressividade na sociedade brasileira expressa a:
a) Incompatibilidade entre os modos democráticos de convívio social e a presença de apa-
ratos de controle policial.
b) Manutenção de práticas repressivas herdadas dos períodos ditatoriais sob a forma de 
leis e atos administrativos.
c) Inabilidade das forças militares em conter a violência decorrente das ondas migratórias 
nas grandes cidades brasileiras.
d) Dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucionalizar formas de controle so-
cial compatíveis com valores democráticos.
e) Incapacidade das instituições político-legislativas em formular mecanismos de controle 
social específicos à realidade social brasileira.
7. (FUVEST 2018) [...] a Declaração Universal representa um fato novo na história, na medida 
em que, pela primeira vez, um sistema de princípios fundamentais da conduta humana 
foi livre e expressamente aceito, através de seus respectivos governos, pela maioria dos ho-
mens que vive na Terra. Com essa declaração, um sistema de valores é – pela primeira vez 
na história – universal, não em princípio, mas de fato, na medida em que o consenso sobre 
sua validade e sua capacidade de reger os destinos da comunidade futura de todos os 
homens foi explicitamente declarado. [...] Somente depois da Declaração Universal é que 
podemos ter a certeza histórica de que a humanidade – toda a humanidade – partilha al-
guns valores comuns; e podemos, finalmente, crer na universalidade dos valores, no único 
sentido em que tal crença é historicamente legítima, ou seja, no sentido em que universal 
significa não algo dado objetivamente, mas algo subjetivamente acolhido pelo universo 
dos homens.
N. Bobbio. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
A Declaração Universal mencionada no texto:
a) Foi instituída no processo da Revolução Francesa e norteou os movimentos feministas, 
sufragistas e operários no decorrer do século XIX.
b) Assemelhou-se ao universalismo cristão, que também resultou no estabelecimento de 
um conjunto de valores partilhado pela humanidade.
55
c) Desenvolveu-se com a inclusão de princípios universais pelos legisladores norte-ameri-
canos e influenciou o abolicionismo nos Estados Unidos.
d) Foi aprovada pela Organização das Nações Unidas e serviu como referência para grupos 
que lutaram pelos direitos de negros, mulheres e homossexuais na década de 1960.
e) Originou-se do jusnaturalismo moderno e consolidou-se com o movimento ilustrado e 
o despotismo esclarecido ao longo do século XVIII.
8. “A Declaração Universal dos Direitos Humanos está completando 70 anos em tempos de 
desafios crescentes, quando o ódio, a discriminação e a violência permanecem vivos”, disse 
a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(Unesco), Audrey Azoulay.
“Ao final da Segunda Guerra Mundial, a humanidade inteira resolveu promover a dignida-
de humana em todos os lugares e para sempre. Nesse espírito, as Nações Unidas adotaram 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos como um padrão comum de conquistas 
para todos os povos e todas as nações”, disse Audrey. “Centenas de milhões de mulheres e 
homens são destituídos e privados de condições básicas de subsistência e de oportunida-
des. Movimentos populacionais forçados geram violações aos direitos em uma escala sem 
precedentes. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável promete não deixar nin-
guém para trás - e os direitos humanos devem ser o alicerce para todo o progresso.”
Segundo ela, esse processo precisa começar o quanto antes nas carteiras das escolas. 
Diante disso, a Unesco lidera a educação em direitos humanos para assegurar que todas 
as meninas e meninos saibam seus direitos e os direitos dos outros.
Disponível em: https://nacoesunidas.org. Acesso em: 3 abr. 2018 (adaptado).
Defendendo a ideia de que “os direitos humanos devem ser o alicerce para todo o progres-
so”, a diretora-geral da Unesco aponta, como estratégia para atingir esse fim, a:
a) Inclusão de todos na Agenda 2030.
b) Extinção da intolerância entre os indivíduos.
c) Discussão desse tema desde a educação básica.
d) Conquista de direitos para todos os povos e nações.
e) Promoção da dignidade humana em todos os lugares.
56
DESAFIOS DO EXERCÍCIO DA
CIDADANIA NO BRASIL
UNIDADE
11
57
“A democracia brasileira é uma plantinha tenra que precisa de
muitos cuidados”
Otávio Mangabeira
 O exercício da cidadania no Brasil está diretamente relacionado à vigência de um 
Estado Democrático de Direito, ao funcionamento das instituições, à realização de eleições 
livres e à difusão de uma educação voltada para o exercício da cidadania. Conforme ates-
ta Carvalho (2004), o caminho da construção da cidadania no Brasil foi bastante tortuoso, 
mas pavimentou o caminho para uma democracia de massas no começo do século XXI.
 A conjuntura decrise econômica do Brasil, no final dos anos 1980 e início dos anos 
1990, dificultou a implementação dos direitos assegurados na Constituição de 1988, pois 
a realidade nacional e internacional era bastante adversa: maior dívida externa, restrições 
ao crédito, recessão econômica e competição internacional (BRASIL, 1988). Dessa forma, 
o modelo econômico brasileiro, baseado na substituição de importações e na forte inter-
venção estatal na economia, tornava-se cada vez mais obsoleto e incapaz de lidar com 
os desafios de um país com mais 150 milhões de habitantes à época. Do mesmo modo, a 
permanência de grupos que estiveram no poder durante os governos militares na ordem 
pós-ditatorial também criou impasses políticos para a maior participação popular e para a 
adoção de medidas mais ousadas no que concerne ao combate às desigualdades sociais. 
 A agenda brasileira no começo da Nova República apontava para a necessidade de 
se edificar uma ordem constitucional capaz de afastar de vez o risco da ingovernabilidade 
pretoriana do horizonte nacional, isto é, uma eventual recaída autoritária. Dessa forma, a 
nova Constituição foi aprovada em um momento de mudança nas relações entre o Estado 
e a sociedade e de readaptação do papel do próprio Estado na economia. As ideias liberais 
sobre a abertura da economia, a reforma administrativa, as privatizações, a desregulamen-
tação e o ajuste fiscal também aportaram no Brasil nesse momento, pressionando por 
mudanças no modelo de organização do Estado e nas suas relações com a sociedade.
Nova República é o período conhecido após o término do Regime Militar no Brasil, iniciando-
-se com a posse de José Sarney, vice de Tancredo Neves, em 01 de março de 1985. O período da 
Nova República iniciado há 36 anos é o de mais longevidade das instituições democráticas na 
História da República no Brasil.
FIQUE ATENTO
 O ponto central era a necessidade de abandono da herança patrimonialista brasi-
leira e da forte dependência de setores econômicos e sociais em relação ao Estado. Nesse 
sentido, buscava-se uma repactuação das relações entre empresários, trabalhadores e o 
Estado, de modo a reduzir a dependência em relação ao corporativismo, ao protecionismo 
e às benesses governamentais. A fragilidade dos partidos políticos, sua pouca consistência 
ideológica e a ausência de mecanismos de intermediação de interesses tornaram difícil 
essa transição de modelo. 
 Passado o clima de euforia democrática da Constituinte, o debate político transitou 
da questão participativa para a questão da eficiência governativa, centrando-se nos pro-
11.1 A CONSOLIDAÇÃO DA DEMOCRACIA APÓS 1988
58
A Constituição Brasileira de 1988 reformulou a estrutura federativa do país e organizou os 
aspectos legislativo e judiciário. A previsão de capítulos na Constituição sobre direitos sociais 
e econômicos foi um avanço importante para o exercício da cidadania em nosso país, am-
pliando o campo de atuação do Estado Nesse sentido, qual é papel da ordem jurídica brasi-
leira em balizar o alcance da cidadania?
VAMOS PENSAR?
blemas de ingovernabilidade por sobrecarga de demandas sociais decorrente da crise de 
financiamento do setor público e da falência do modelo de desenvolvimento por substitui-
ção de importações. Reis (2007) chama a atenção para o modo como a globalização afetou 
dramaticamente os problemas da autoridade (construção de capacidade administrativa e 
simbólica do Estado para projetar presença e ação junto à coletividade no território nacio-
nal) e da igualdade (desafio da plena incorporação social da população, especialmente das 
camadas populares, para neutralizar conflitos e resolver o problema constitucional) nas 
sociedades modernas (REIS, 2007).
 Após a Constituição de 1988 realizaram-se no Brasil oito eleições presidenciais di-
retas, além de eleições congressuais, estaduais e municipais periódicas, normalizando-se 
o ciclo eleitoral paralelamente à dispersão do eleitorado num quadro plural e multiparti-
dário. A identificação do eleitor brasileiro com determinados partidos populares era um 
passo fundamental na direção da construção de identidades partidárias estáveis e da ins-
titucionalização da participação eleitoral das massas no processo político. 
 Apesar dos inúmeros avanços verificados nos últimos trinta anos no que concerne à 
organização do Estado e à afirmação das franquias da democracia, Santos (1994) sustenta 
a tese da existência de um híbrido institucional no Brasil: haveria uma democracia formali-
zada que assiste a poucos, uma “minúscula mancha na turbulenta superfície do país”; e ao 
redor dela, imensos espaços de anomia onde não existe soberania ou controle democráti-
co, mas múltiplos poderes transgressores concorrentes regidos pela lei do mais forte. 
Conheça mais da nossa Constituição acessando o link https://cutt.ly/wkmQeIG. (Acesso em: 
14 de fev. de 2021) e veja o contexto histórico e a formação da Carta Magna. No site, a Câmara 
dos Deputados e o Senado Federal homenageiam a ocasião de comemoração pelos 30 anos 
da Constituição.
BUSQUE POR MAIS
59
 Apesar da existência formal de um Estado Democrático de Direito, a maioria dos 
indivíduos se abstém de recorrer ao Estado brasileiro para buscar soluções para seus con-
flitos, preferindo antes negar sua existência a admitir que sejam vítimas deles. Essa cida-
dania não intermediada por instituições democráticas, alienada eleitoralmente e refratária 
à participação alimenta uma cultura de dissimulação, violência difusa, enclausuramento e 
absoluto descrédito na eficácia do Estado em prover suas funções básicas (segurança, ad-
ministração e justiça). O impacto de tal comportamento indiferentista abala mortalmente 
a cultura cívica e gera um sentimento de impotência que conduz à desconfiança e ao des-
crédito em relação à coisa pública. 
 Assim, o problema constitucional do país ainda permanece em aberto, pois não se 
concebe uma democracia estável que conviva com grande desigualdade social. Em outras 
palavras, existe um risco ainda não dimensionado de retrocesso institucional decorrente 
da ingovernabilidade evidenciada na deterioração do tecido social, no aumento da crimi-
nalidade e da violência urbanas, na ampliação de territórios dominados pelo poder para-
lelo e na descrença dos cidadãos em relação à justiça. Diante do desapreço de que gozam 
os direitos civis na cultura política convencional e da tolerância com as violações diuturnas 
aos direitos humanos, pregações autoritárias ainda continuam a amealhar simpatizantes 
em toda parte.
 Outro obstáculo ao exercício da cidadania no Brasil são as práticas patrimonialistas, 
isto é, a mistura entre interesses públicos e privados na gestão pública. O patrimonialismo 
é um modelo de dominação baseado em relações pessoais e em arbitrariedade, não em 
regras impessoais entre governantes e governados. Como observa Faoro (2000), a prática 
entrecorta toda a história brasileira desde a colonização portuguesa até a Independência, 
moldando a sociedade, a economia e as instituições do Estado. 
 Qual a relação entre patrimonialismo e cidadania? Sabe-se que em sociedades nas 
quais o poder é exercido de forma tradicional, sem regras institucionalizadas, há grandes 
obstáculos para o desenvolvimento de liberdades individuais. O patrimonialismo concen-
tra renda e poder, impedindo que a sociedade floresça e exerça plenamente os seus direi-
tos. Os direitos e as garantias fundamentais, por sua vez, constituem as bases da democra-
cia e de uma economia liberal. 
 As instituições políticas do Império (1822-1889) e da República Velha (1889-1930), 
emulando as tradições coloniais, também se caracterizaram pela presença de interesses 
de camada oligárquica no funcionamento da burocracia do Estado. Essa burocracia era 
elitista e acessível a poucos membros da população brasileira, sobretudo, em um contexto 
de escravidão. 
 A existência de uma casta de funcionários públicos que vivia à sombra do Estado 
marca o patrimonialismo à brasileira. Esse “estamentoburocrático”, na visão de Faoro 
(2000), constituía uma camada privilegiada e dependente de favores, benesses e sinecu-
ras do Estado brasileiro. Desde a Colônia até a Independência, esse grupo social buscava 
se encastelar nas estruturas de poder para manter seus privilégios. Seu modo de funcio-
namento perpassava uma concepção personalista de exercício do poder, à sombra de um 
Estado centralizador e mercantilista (FAORO, 2000). 
 Após a modernização do Estado português, com as reformas pombalinas do século 
11.2 OS DESAFIOS PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA
60
XVIII, buscou-se a modernização conservadora das instituições e da administração pública. 
Segundo Campante (2003), esse modelo de governança sobreviveu aos séculos e influen-
ciou, decisivamente, a mentalidade política brasileira nos últimos três séculos. 
 Tanto o Estado Novo quanto o Regime Militar, ao buscar a modernização autoritária 
da sociedade brasileira, foram influenciados por essa visão do Estado como o domínio de 
uma elite de sábios (CAMPANTE, 2003). A mesma lógica modernizadora autoritária sobre-
vive no funcionamento de instituições estatais até o presente momento, com ausência de 
mecanismos de controle e de transparência em instituições do Poder Executivo, do Poder 
Legislativo e do Poder Judiciário, nas três esferas federativas, bem como em organizações 
representativas de classe. 
 A lógica do patrimonialismo e da modernização autoritária da sociedade, contudo, 
impede o reforço de um catálogo de liberdades fundamentais e de uma cultura política 
de accountability. Não se pode conceber uma democracia autêntica sem cidadãos cons-
cientes, bem informados e capazes de exercer os seus direitos em face do Estado. E sem 
igualdade social e oportunidades para todos não se pode conceber um Estado verdadeira-
mente democrático.
 A garantia de que todos os cidadãos possam usufruir de seus direitos e exigir que 
o Estado cumpra os seus deveres mantém viva a democracia. A superação das desigual-
dades sociais, nesse sentido, deve ser o objetivo central do Estado Brasileiro. Esta razão já 
seria suficiente para refletirmos sobre novos meios de acesso aos bens jurídicos como a 
saúde, a educação, o trabalho, a segurança, a cultura e o lazer, de forma a obrigar o Estado 
a planejar e garantir a execução de programas de metas comprometidos com a equaliza-
ção das condições de vida dos brasileiros, desta e das futuras gerações. 
 O papel de uma democracia é organizar o Estado para que se torne um “agente de-
cisivo da eventual acomodação dos conflitos e da busca de objetivos comuns ou compar-
tilhados de qualquer tipo” (REIS, 2007, p. 161). Ao tentar conciliar solidariedade e eficiência, 
ela permite, de um lado, o diálogo, a participação, a transparência e a incorporação dos 
grupos sociais e, de outro, a governabilidade, a capacidade de tomar decisões e a possibili-
dade real de implementá-las. 
 O sistema democrático e institucional brasileiro vem sendo gradualmente reforçado 
com a consolidação de um elevado grau de institucionalização da competição pelo poder, 
a garantia de direitos e garantias fundamentais (liberdade de associação, liberdade de ex-
pressão, formação de novos partidos políticos, igualdade perante a lei), o crescimento do 
associativismo civil, a emergência de uma cultura política mais plural, a grande expansão 
eleitoral e a proliferação de organizações extra-partidárias entre os grupos de maior esco-
laridade.
 Nesse sentido, é importante ressaltar o papel da ordem jurídica brasileira em balizar 
o alcance da cidadania. A Constituição de 1988 trouxe como consequências mais relevan-
tes o fortalecimento do Poder Legislativo, a reformulação da Federação, a salvaguarda dos 
direitos fundamentais e o empoderamento do Poder Judiciário. Houve ainda avanços re-
lacionados à repartição de recursos entre Estados e Municípios, aos direitos dos servidores 
públicos e à organização do sistema de bem-estar social. 
 Dito isso, quais os caminhos a serem experimentados e perseguidos para que a jovem 
11.3 CIDADANIA E AS DESIGUALDADES SOCIAIS
61
democracia brasileira se fortaleça nas décadas seguintes? A receita proposta por Santos 
(1994) é a universalização de um Estado mínimo eficaz, única saída viável para combater os 
poderes paralelos, as máfias descentralizadas, as punições aleatórias, a erosão das regras 
de convivência e a diluição dos laços de solidariedade que sustentam uma democracia. 
 Já Reis (2007) aponta como saída um grande conjunto de reformas políticas que 
combine boas leis, regras e instituições para amadurecer a cultura democrática e forta-
lecer a identificação dos eleitores com os partidos políticos, aperfeiçoando o princípio da 
representatividade: fidelidade partidária, cláusulas de barreira, regras sobre coligações, 
combinação de princípios majoritários e proporcionais nas eleições, combinações de listas 
partidárias fechadas e flexíveis, financiamento público de campanha. Mas para viabilizar a 
universalização do Estado mínimo, como sugere Santos (1994), e garantir que uma repre-
sentação mais autêntica se traduza em ações governamentais que democratizem a de-
mocracia, como quer Reis (2007), seria preciso prosseguir na reforma do Estado brasileiro. 
 Como se percebe, muitos dos avanços da democracia brasileira podem ser explica-
dos pelas melhorias institucionais que garantiram a estabilidade e a governabilidade do 
país nas últimas duas décadas. Contudo, falta completar a obra democratizadora com a 
expansão de uma cobertura estatal mínima para todo o universo social brasileiro capaz de 
alimentar a confiança nas instituições e fortalecer uma cultura cívica autêntica. Mas sem 
uma iniciativa reformista que torne o Estado mais moderno, eficiente, efetivo, transparente 
e responsável, não se conseguirá alcançar um patamar minimamente razoável de cobertu-
ra de toda a população por serviços públicos básicos que uma democracia moderna deve 
prover.
De que modo o Brasil fez a sua transição para a democracia plena em meio a uma conjun-
tura econômica adversa? Quais os desafios de nossa inserção como nação democrática no 
século XXI? Como a cidadania brasileira evolui ao longo do período republicano em face das 
transformações do Estado e da sociedade? A obra “História econômica e social do Brasil: o 
Brasil desde a república” (2016) de autoria de Francisco Vidal Luna e Herbert S. Klein auxilia-
rá você a responder a estas e a outras perguntas acerca do processo tortuoso de afirmação 
de uma sociedade de massas no Brasil. A compreensão dos grandes problemas estruturais 
da formação do Estado nacional e a análise da crise do modelo de desenvolvimento por 
substituição de importações são indispensáveis para pensarmos na viabilidade de um Esta-
do viável e democrático no Brasil. 
Disponível em: https://bit.ly/3qSgGL7. Acesso em: 14 de fev. de 2021.
BUSQUE POR MAIS
62
Accountability: prestação de contas.
Anomia: comportamento desvirtuoso ocorrido pela falta de leis.
Conjuntura: sequência ou combinação de fatos e acontecimentos num mesmo 
momento; coincidência.
Corporativismo: escola de pensamento em que os grupos e aglomerações de 
determinadas classes de profissionais são de extrema importância para a or-
ganização política, econômica e social. No entanto, esses grupos precisam estar 
subordinados ao Estado.
Enclausuramento: refere-se à prisão, fechamento.
Hiperinflação: aumento significativo dos índices de inflação.
Institucionalização: transformação em instituição.
Patrimonialista: refere-se ao patrimonialismo, ou seja, ao conceito de patrimo-
nialismo desenvolvido por Max Weber, em que trata de um Estado onde não há 
limites entre o que é considerado público e o que é considerado privado.
Poliarquia: sistema de governo onde o poder é exercido pela coletividade. 
Pretoriana: Governo que usa de modo abusivo as forças militares para exercer 
poder. O termo remonta à Guarda de Pretoria, que era a elite militar que partici-
pava ativamente das decisões tomadas para eleger imperadores romanos.Esse 
grupo, por vezes, chegava a assassinar opositores. 
Pretoriana: Governo que usa de modo abusivo as forças militares para exercer 
poder. O termo remonta à Guarda de Pretoria, que era a elite militar que partici-
pava ativamente das decisões tomadas para eleger imperadores romanos. Esse 
grupo, por vezes, chegava a assassinar opositores. 
Redemocratização: processo de retomada da democracia.
Reserva de mercado: atitudes ou decisões de um governo que impede, por 
meio de leis, que certos tipos de mercadorias ou produtos internacionais sejam 
acessíveis pela importação. Essa espécie de reserva é feita pelo governo com a 
intenção de que o próprio mercado interno produza essas mercadorias e servi-
ços, para que a economia seja aquecida.
Tecnocracia: sistema governamental que se baseia na soberania dos técnicos.
Utilitarista: refere-se à doutrina do utilitarismo, ou seja, à doutrina criada pelos 
ingleses Bentham e Mill e prega que as ações políticas devem atingir o máximo 
possível de bem-estar.
GLOSSÁRIO
63
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (Enem 2012) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liber-
dade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é indepen-
dência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se 
um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os 
outros também teriam tal poder. 
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 - adaptado.
A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito:
a) Ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo.
b) Ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis.
c) À possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis.
d) Ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das con-
sequências.
e) Ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais.
2. (ADM&TEC, 2019). Leia as afirmativas a seguir e marque a opção CORRETA:
a) No Brasil, o município pode obrigar qualquer cidadão a permanecer associado a uma 
entidade paramilitar.
b) Os valores sociais do trabalho não são fundamentos da República Federativa do Brasil.
c) No Brasil, é proibida a associação para fins lícitos.
d) Segundo a constituição brasileira, homens e mulheres não são iguais em direitos e obri-
gações.
e) A Constituição Federal de 1988 procura valorizar a construção de uma sociedade frater-
na.
3. (ADM&TEC, 2019). Leia as afirmativas a seguir e marque a opção CORRETA:
a) A Constituição Federal de 1988 procura impedir a construção de uma sociedade sem 
preconceitos.
b) O direito ao bem-estar é negado pela Constituição Federal de 1988.
c) A cidadania não é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
d) A Constituição Federal de 1988 procura valorizar a construção de uma sociedade sem 
preconceitos.
e) A soberania não é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
4. (ADM&TEC, 2019). Leia as afirmativas a seguir e marque a opção CORRETA:
a) O Legislativo é um dos poderes da União.
b) O direito ao desenvolvimento é contrário aos princípios da Constituição Federal de 1988.
c) Constituição Federal de 1988 procura desvalorizar a construção de uma sociedade fra-
terna.
d) A República Federativa do Brasil busca promover os preconceitos relacionados à raça.
64
e) A República Federativa do Brasil busca promover os preconceitos relacionados ao sexo.
5. (FUNDEPES, 2017, adaptado) - Analise as seguintes assertivas relativas ao preâmbulo da 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CR/88):
I. O preâmbulo da CR/88 não pode, por si só, servir de parâmetro de controle da constitu-
cionalidade de uma norma. 
II. A invocação de Deus no preâmbulo da CR/88 torna o Brasil um Estado confessional. 
III. O preâmbulo traz em seu bojo os valores, os fundamentos filosóficos, ideológicos, so-
ciais e econômicos e, dessa forma, norteia a interpretação do texto constitucional. 
IV. A invocação de Deus no preâmbulo da CR/88 é norma de reprodução obrigatória nas 
Constituições Estaduais.
Está CORRETO somente o que se afirma em:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) III e IV.
e) I e IV.
6. (FUNDATEC, 2012) A Constituição Brasileira de 1988 define normas constitucionais pro-
gramáticas, fins e programas de ação futura para a melhoria das condições sociais e eco-
nômicas da população. A partir disso, analise as afirmações abaixo:
I. A intensa participação popular criou condições para que o Brasil tivesse uma Constitui-
ção democrática e comprometida com a supremacia do direito e promoção de justiça.
II. A partir dela, o Estado brasileiro passou a ter o dever jurídico-constitucional de realizar 
justiça social.
III. São fundamentos que constituem o eixo relativo aos direitos individuais e coletivos: a ci-
dadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa 
e o pluralismo político.
IV. A saúde, a previdência e a educação compõem um conjunto integrado de ações de ini-
ciativa dos poderes públicos e da sociedade, denominado seguridade social.
Quais estão corretas?
a) Apenas I e II.
b) Apenas I, II e III.
c) Apenas I, II e IV.
d) Apenas II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
7. (IESES, 2017) Conforme prevê a Constituição Federal, é correto afirmar:
a) Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma so-
ciedade livre, justa e solidária; a defesa da dignidade da pessoa humana; dos valores sociais 
65
do trabalho e da livre iniciativa; a defesa da paz.
b) República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios 
da soberania; da prevalência dos direitos humanos; da dignidade da pessoa humana; dos 
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; da defesa da paz.
c) A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Muni-
cípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos a soberania; a cidadania; a dignidade da pessoa humana; os valores sociais 
do trabalho e da livre iniciativa; o pluralismo político.
d) Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma 
sociedade livre, justa e solidária; a prevalência dos direitos humanos; a dignidade da pessoa 
humana; a solução pacífica dos conflitos; o pluralismo político.
e) Nenhuma das Anteriores
8. (FGV, 2014). A República Federativa do Brasil é laica, já que há separação total entre 
Igreja e Estado e não há religião oficial. No entanto, constou expressamente no preâmbulo 
da Constituição da República, quando de sua promulgação, que estava sendo feita “sob 
a proteção de Deus”. Sobre o tratamento constitucional conferido aos cultos religiosos, é 
correto afirmar que:
a) É inviolável a liberdade de consciência e de crença, desde que exercida no interior dos 
locais onde ocorrem os cultos religiosos e suas liturgias, na forma da lei.
b) É violável a liberdade de crença religiosa, sendo assegurado o livre exercício dos cultos 
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.
c) Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa, que pode ser invocada 
como justificativa para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir 
prestação alternativa.
d) É vedada a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de interna-
ção coletiva.
e) É vedado aos entes federativos estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, 
embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de 
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
66
ÉTICA NAS RELAÇÕES DE 
TRABALHO: O CÓDIGO DE 
ÉTICA PROFISSIONAL
UNIDADE
12
67
“Conheço apenas duas coisas belas no universo: o céu estrelado sob 
nossas cabeças e a lei moral em nossos corações”
ImmanuelKant
 Existe uma ética do trabalho e das organizações? Assim como os indivíduos, as or-
ganizações, as empresas e os profissionais de várias áreas também obedecem a códigos 
de conduta ética. A intensificação do fluxo de informações, a internacionalização dos mer-
cados, a forte competitividade, os novos marcos regulatórios (especialmente em questões 
ambientais e sociais) e o desenvolvimento de novas tecnologias são fatores que, no perío-
do contemporâneo, têm contribuído para as mudanças de comportamento das organiza-
ções. 
 Que mudanças são essas? Que impacto elas têm no mundo do trabalho? No mundo 
contemporâneo, percebe-se uma crescente busca para manter ou ganhar reputação fren-
te à sociedade, o que tem sido feito principalmente através da adoção de um comporta-
mento ético e socialmente responsável. Mas esse comportamento nem sempre fora ado-
tado pelas organizações. O processo de institucionalização das organizações se processou 
por meio da transformação de ações, crenças e comportamentos em regras estabelecidas 
de conduta social. Tais normas comportamentais, ao serem aceitas e incorporadas às ro-
tinas de trabalho, acabam sendo legitimadas e compartilhadas no dia a dia. A partir disso, 
inicia-se um processo de dissipação ou de aceitação e uso de práticas institucionalizadas. 
A corrente sociológica do neoinstitucionalismo reafirma que organizações com estruturas for-
mais tendem a prevalecer como meio mais eficiente e racional de coordenar a complexidade 
da vida moderna. Essa teoria tenta explicar os motivos que levam as instituições a mudar, 
além de apontar a direção em que caminham e o propósito da mudança.
FIQUE ATENTO
 As instituições, enquanto regras do jogo, são mediadoras das relações humanas. Sua 
principal função é a coerção, o estabelecimento dos limites da ação. O desdobramento 
imediato é o fato de que quanto mais submetidas às instituições e quanto mais similares 
estas forem, mais homogêneo será o comportamento das organizações.
A ética no ambiente de trabalho é ao mesmo tempo individual e coletiva.
FIQUE ATENTO
12.1 ÉTICA, MERCADO E INSTITUIÇÕES
68
 As instituições são regras de conduta que prescrevem ações e determinam o que é 
mais adequado ou pertinente a ser feito. Ela exercem um papel de facilitação e de influên-
cia direta sobre as estratégias, sobre as escolhas e sobre o comportamento dos agentes. As 
empresas são organizações que podem institucionalizar ações de responsabilidade social 
para adequar a sua estratégia de atuação e o seu comportamento corporativo às mudan-
ças de ambiente e do meio social. 
 As ações de responsabilidade social são práticas formais difundidas e aceitas que 
credenciam e dão legitimidade a uma organização. Como ilustração, a maior parte das 
grandes e médias empresas, em ramos diversos da economia, adotam princípios de ges-
tão empresarial. Essas diretrizes comportamentais devem ser seguidas a fim de dar uma 
orientação, um código básico de ética que permita balizar as ações dos seus funcionários e 
colaboradores. Tais códigos de ética tratam de temas como proteção ambiental, trabalho 
infantil, discriminação de funcionários, relações com fornecedores, dentre outros. 
 Nessa direção, empresas multinacionais que possuem grande visibilidade midiática 
e competem de forma agressiva no mercado externo necessitam seguir regras internas 
e externas para adequar seu comportamento aos padrões internacionais. Programas de 
excelência de treinamento contra acidentes de trabalho e adequação a normas internacio-
nais de sustentabilidade ambiental são exemplos de conformação dessas organizações a 
padrões de excelência mundiais. As matrizes dessas empresas estabelecem diretrizes mais 
amplas que são seguidas pelas suas filiais, adequando as práticas às realidades locais. A 
atuação das empresas em áreas como educação, saúde, cultura e meio ambiente é consi-
derada pela sociedade como um valor importante. 
 Iniciativas como essas passaram a ser um componente estratégico para as organi-
zações, na medida em que este tipo de atividade agrega valor à imagem corporativa. A 
responsabilidade social foi conduzida à institucionalização, seja pela imposição que induz 
uma conduta de aceitação, seja pelo interesse estritamente individual ou da organização. 
Dessa forma, as empresas e seus dirigentes, ao adquirirem a consciência de que a mudan-
ça de práticas agrega valor às atividades empresarias, concentram-se na adequação das 
rotinas organizacionais ao universo simbólico-cultural da responsabilidade social.
 Tanto o meio social atua sobre as empresas, quanto as companhias atuam sobre 
o meio social, influenciado um ao outro. Nessa interação social, surgem preceitos que se 
institucionalizam e ajudam a legitimar processos dentro das organizações. O interesse da 
organização em se adequar aos preceitos do ambiente externo é ainda mais exacerbado 
em um ambiente de extrema competição entre as organizações. 
 Em um contexto de disputa entre empresas pelo mercado, as práticas organizacio-
nais tornam-se cada vez mais semelhantes e homogêneas. Em um ambiente de incerteza, 
é conveniente escolher as soluções prescritas. O isomorfismo reflete a força das institui-
ções, sem necessariamente resultar em maior eficiência. O que está em jogo são as re-
compensas advindas da homogeneização, da similaridade de estruturas, de práticas e de 
resultados.
12.2 A RESPONSABILIDADE 
SOCIALNAS ORGANIZAÇÕES
69
Isomorfismo é a tendência das organizações de se comportar de maneira se-
melhante, incorporando práticas umas das outras para competir melhor.
GLOSSÁRIO
 A adequação das empresas a um código de ética mínimo para reger as suas práti-
cas internas e as suas interações externas é extremamente vantajosa. Ao incorporar regras 
aceitas socialmente como éticas, demonstram a sua conformidade com valores e com nor-
mas compartilhadas pela coletividade. A adequação das organizações a um mínimo ético, 
nesse sentido, assegura oportunidades de crescimento, expansão e inovação ao longo do 
tempo. 
 As organizações modernas funcionam por meio da incorporação de orientações pre-
viamente definidas e racionalizadas para a legitimação das suas atividades e para a sua 
sobrevivência. Pode-se dizer que há pressões contextuais, decorrentes da ética vigente nas 
relações sociais, que direcionam as escolhas e estratégias adotadas pela organização. A le-
gitimidade passa a ser o “imperativo” organizacional e a organização passa a se preocupar 
com as influências do ambiente, reconhecendo a estrutura formal como produto institu-
cionalizado.
 A ação organizacional tem como ponto de partida o reconhecimento de que van-
tagens competitivas são obtidas por meio da implantação de estratégias coerentes com 
os significados e valores socialmente compartilhados, como o de um meio ambiente so-
cialmente equilibrado, da defesa de regras justas de comércio ou do respeito aos direitos 
do consumidor. Os princípios institucionais condicionam a construção de uma lógica de 
mercado, resultando em modelos de comportamento que moldam as relações entre as 
organizações e as induzem a se constituir de maneira homogênea. 
 As companhias, portanto, são motivadas pela visão socioeconômica das ações de 
responsabilidade social por um motivo simples: a boa reputação frente à sociedade traz 
maior legitimidade à empresa, o que tente a fortalecer a sua aceitação pela sociedade, o 
seu poder de mercado, maximizando o seu retorno financeiro. Este fenômeno é conheci-
do como marketing social. Contudo, não existe modelo ideal para todas as organizações. 
Cada qual encontra um equilíbrio próprio, compatibilizando estratégia, estrutura, tecnolo-
gia, envolvimento, necessidade e ambiente externo. 
O neoinstitucionalismo prevê as intenções e determinações que uma organização tem em 
sua tomada de decisões. Com a mudança no mercado, os valores deixam de ser apenas 
financeiros e passam ter peso no campo social e ambiental. Portanto, avaliar a viabilidade 
ética de um investimento é avaliar sob a óticaeconômica, social e ambiental. A ética institu-
cional passa pela responsabilidade social e pela responsabilidade ambiental.
FIQUE ATENTO
70
 Assim como nas organizações privadas, as instituições públicas também passaram a 
incorporar valores e princípios de ética corporativa. As estruturas formais das organizações 
modernas espelham as instituições do ambiente em que operam. Ao impulsionarem-se 
no sentido de incorporar práticas institucionalizadas, as organizações buscam aumentar 
sua legitimidade, independente da aferição da eficácia e da eficiência dos procedimentos 
escolhidos. Ou seja, muito mais do que o desempenho é a conformidade aos valores éticos 
e às normas sociais consagrados que determina as chances de sobrevivência de uma orga-
nização. 
 O processo coativo ou voluntário que força ou incentiva uma organização a se tornar 
mais parecida com outra ao se defrontar com as mesmas condições ambientais e ao com-
petir por recursos, poder político e legitimidade, denomina-se isomorfismo institucional. 
O isomorfismo institucional, conforme visto na seção anterior, força uma homogeneização 
e torna as organizações mais similares, relacionando-se com a produção de respostas pa-
dronizadas frente às incertezas. Quando o ambiente cria uma incerteza simbólica, as orga-
nizações buscam se estruturar seguindo organizações similares e bem-sucedidas de seus 
campos de atividade, percebidas como portadoras de maior legitimidade. 
 Assim como as empresas, a burocracia também segue normas e padrões éticos. O 
padrão burocrático é o modelo mais superiormente eficaz para assegurar estabilidade, 
previsibilidade, certeza, continuidade, permanência, subordinação, controle, clareza, con-
fiabilidade, disciplina, rigor e precisão nas modernas sociedades industriais. Sua superio-
ridade técnica incontrastável o torna um instrumento de poder de primeira ordem para 
eliminar ambiguidades e garantir uma base legítima de obediência aos preceitos norma-
tivos superiormente estabelecidos. Assegura ainda uma eficaz coordenação, um eficiente 
controle e uma efetiva coesão entre as inúmeras partes do organismo estatal, recortado e 
multifacetado por natureza.
Ao longo de sua história, os Estados nacionais utilizam a burocracia como instrumento de 
materialização concreta de sua soberania e da defesa dos valores éticos socialmente com-
partilhados. O poder estatal funda-se num sistema integrado e coeso de normas jurídicas, ca-
bendo-lhe impor condutas para assegurar a supremacia de sua autoridade. A administração 
pública se baseia em preceitos legais e não pode extravasar os limites da estrita legalidade, 
devendo ater-se somente às condutas que as normas abstratas, impessoais e escritas pres-
crevem e legitimam.
FIQUE ATENTO
 A burocracia está presente em todas as grandes organizações modernas, públicas 
ou privadas, desde o seu nascedouro. Sua identificação com a administração pública se 
justifica pelo fato de ser mais facilmente percebida, porque está onipresente em sua vida 
quotidiana. A administração pública lança mão da divisão de trabalho para recrutar pes-
soas com diferentes habilidades e experiências para o desempenho das mais variadas e 
complexas funções em centenas de órgãos autônomos. 
12.3 ÉTICA NAS BUROCRACIAS 
PÚBLICASE PRIVADAS
71
 O sistema hierárquico do quadro administrativo assegura alto grau de eficiência no 
exercício de dominação, sendo indispensável à sua racionalização. A hierarquia ajuda na 
minimização de atritos, na redução de custos e na eliminação de elementos irracionais e 
emocionais que fogem à possibilidade de cálculo. O controle dos processos e das rotinas 
imprime segurança e certeza, unificando a aplicação das normas no tempo e no espaço, 
segundo padrões éticos previamente estabelecidos. Ou seja, o serviço público deve ser 
invariavelmente burocratizado porque lhe cabe perseguir e implementar, com a máxima 
eficiência técnica, as normas legitimamente impostas. 
 O funcionário público - seja ele o militar, o diplomata, o coletor do fisco, o magistrado 
ou o delegado de polícia – só pode agir no âmbito do que lhe é facultado pela norma. Nas 
relações entre agentes privados impera a liberdade negativa: tudo o que não está proibido 
é permitido. O espaço de liberdade de ação é bem maior, mas tem limites na ética organi-
zacional e do trabalho. O modelo burocrático, nesse sentido, também sofre influência dos 
valores éticos socialmente enraizados. 
 Ao se legitimar pelo saber técnico, pela especialização do conhecimento e pela efici-
ência administrativa, fundamentado em um sistema hierárquico e disciplinar, a burocracia 
ajuda a fortalecer os padrões éticos legitimados. Dessa forma, ao gerar mais obediência às 
normas de comportamento desejadas, a burocracia fortalece o controle, a confiança e a 
previsibilidade nas organizações. 
 Conforme visto nos itens anteriores, a ética nas organizações e nas burocracias visa 
estabelecer padrões mais elevados e socialmente legitimados de comportamento corpora-
tivo. Busca-se um equilíbrio entre as preocupações racionais, financeiras, sociais e susten-
táveis. No âmbito individual do exercício das profissões, a ética também busca promover 
atitudes e valores considerados positivos pela sociedade, como a transparência, a verdade 
e a honestidade. Dessa forma, as ações éticas, no âmbito profissional, são indispensáveis 
para orientar as condutas humanas e gerar harmonia social.
 Em qualquer profissão existe um mínimo ético a ser respeitado. Os conselhos pro-
fissionais têm um papel relevante nesse sentido, ao disciplinar a conduta dos profissio-
nais, prever situações que envolvam dilemas morais e estabelecer rotinas padronizadas 
para a resolução de conflitos. Os conselhos profissionais de classe - como a Ordem dos 
Advogados do Brasil (OAB), o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Conselho Federal de 
Administradores (CFA), o Conselho Federal de Engenharia (CFE) e o Conselho Federal de 
Psicologia do Brasil (CFP), bem como as suas representações regionais - são organizações 
que geram previsibilidade e certeza para a conduta dos profissionais. Suas regras, normas 
e portarias são guias de ação para situações de incerteza. 
 Cada vez mais a ética profissional se enraíza nas relações de trabalho e produção, 
sobretudo, em uma sociedade cada vez mais marcada pela proliferação de serviços e de 
demandas. O Código de Ética Profissional busca a implantação de valores considerados re-
levantes para a orientação da conduta dos indivíduos nas relações de trabalho, levando em 
12.4.1 CONSELHOS PROFISSIONAIS DE ÉTICA
12.4 O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL
72
conta as particularidades da profissão que representa perante a classe e a sociedade. Con-
forme visto nas seções anteriores, as práticas éticas disseminadas socialmente fortalecem 
as organizações e ampliam o seu valor de mercado. Organizações e seus profissionais não 
podem estar alheios ao que ocorre no ambiente externo, pois estão socialmente inseridos 
num espaço e num tempo marcado por valores, crenças e práticas institucionalizadas.
 Conforme visto nas Unidades 1 e 2 deste livro, a Ética não deve ser vista como algo 
abstrato, mas como a base da agregação de valor e de conhecimento em cada sociedade. 
Dilemas morais e éticos existem em todos os contextos sociais, inclusive no mundo corpo-
rativo. O que as normas de conduta ética na vida profissional visam é elevar o desempenho, 
reduzir incertezas e disseminar ações consideradas positivas, lícitas, corretas e desejáveis. 
 Nesse sentido, a ética profissional não se diferencia tanto da ética na família, na reli-
gião, na escola e na política. A codificação e a formalização de comportamentos conside-
rados éticos buscam a sua interiorização e obediência. Diferentemente da moral, o Direito 
estabelece normas obrigatórias que induzem a adequação dos comportamentos dos indi-
víduos às regras dadas, sob pena de sofrerem sanções em caso de descumprimento. 
 Com o desenvolvimento e a expansão da economia capitalista, a éticaprofissional 
passou a ser um tema cada vez mais relevante. Na economia de livre-mercado, o indivíduo 
é o ator central. Dessa forma, não se pode dissociar a ética individual da ética das empre-
sas. Da adequação dos indivíduos a comportamentos socialmente esperados depende o 
êxito das empresas. As organizações modernas são um produto da Revolução Industrial e 
se desenvolveram com base na certeza e na previsibilidade. 
 Na sociedade contemporânea, porém, impera o indivíduo. As organizações nada 
mais são do que um conjunto de indivíduos mobilizados em torno de um objetivo comum. 
Muitas vezes essa abstração esconde os atores que, mais do que simples agentes signa-
tários de um contrato de obrigações, são verdadeiramente sujeitos ativos, seres conscien-
tes da realidade e dotados de plena capacidades analítica e reflexiva. A visão do indivíduo 
como unidade de análise levaria a novas formas de superação da resistência à mudança 
que permitem a adoção espontânea de padrões éticos, sem a necessidade de imposição. 
 A mudança de pensamento organizacional leva tempo para ser processada, um 
tempo que não é apenas o da organização, mas o que cada um dos seus partícipes leva 
para responder aos estímulos do ambiente, já que a aceitação e resistência à mudança é 
algo emocional e cognitivo. Assim sendo, direcionar as percepções individuais e integrá-las 
num programa de ação coordenado no campo da ética profissional pode ser o diferencial 
entre a adoção de um comportamento resistente e a decisão convicta de superar a resis-
tência. 
 A resistência à mudança de padrões éticos é um mecanismo de defesa, um meio de 
expressão da insegurança, da nostalgia ou da repressão do indivíduo que muda junto com 
a organização a que pertence. Assim, pensar o ser humano como o princípio, a base de 
toda estratégia de mudança é a saída para a obtenção de melhores resultados e o alcance 
dos objetivos pretendidos. 
 Dessa forma, as empresas que não conseguem convencer os indivíduos a mudar os 
seus comportamentos éticos estarão sempre vulneráveis a comportamentos perniciosos: 
corrupção, o patrimonialismo, o abuso de autoridade, o desvio de dinheiro, a fraude e os 
diversos tipos de assédio. Considerados desvios éticos graves pela sociedade, esses proble-
mas podem comprometer a reputação das empresas e afetar o seu valor de mercado. 
 Empresas que visam apenas a maximização utilitária do lucro, sem preocupações 
ambientais, sociais e humanas, estão mais sujeitas a comportamentos considerados mo-
73
ralmente desviantes e antiéticos. A perda da reputação, do respeito e da credibilidade, em 
um mundo de elevada competição, pode ser fatal para uma companhia. Nesse sentido, tal 
como visto nas primeiras seções deste capítulo, as empresas desenvolveram estratégias 
institucionais de adaptação à nova realidade social, na qual práticas antiéticas são conde-
nadas. 
 A necessidade de adequar ações humanas ao padrão de comportamento deseja-
do traz um custo elevado para as empresas. A necessidade de alterar diretrizes organiza-
cionais nos planos interno e externo conduziu à necessidade de se pensar em uma ética 
empresarial. A responsabilidade social com os empregados, clientes, consumidores, forne-
cedores, governo e com a comunidade como um todo se insere neste contexto. A busca 
de um bom relacionamento com os diversos atores que interagem no processo produtivo 
tem consequências diretas na imagem das empresas e de seus empregados. Responsa-
bilidade social, dessa forma, é indissociável de uma harmônica relação de um profissional 
com o seu meio. 
 Os códigos de ética são uma imposição dessas mudanças institucionais. Nesse sen-
tido, sob a influência de corporações norte-americanas, começaram a surgir, na década 
de 1970, as primeiras codificações sobre os comportamentos dos funcionários e a sua ade-
quação às regras éticas vigentes. Esses primeiros manuais de conduta estavam alinhados 
às legislações vigentes naquele período, sobretudo, no campo das relações de trabalho, do 
meio ambiente e dos direitos do consumidor. Buscava-se, sobretudo, a limitação da mar-
gem de ação dos empregados e a punição de comportamentos desviantes. 
 Na década seguinte, buscou-se a mudança das mentalidades não apenas pelo uso 
de mecanismos de coerção e punição, mas pelo convencimento da necessidade de alte-
ração dos padrões e da cultura organizacional. A busca do fomento à confiança e à trans-
parência no ambiente de trabalho foi a chave dessas alterações. As pessoas precisavam 
ser convencidas dos valores das empresas e dos princípios que defendiam. Tendo em vista 
esse novo contexto, as corporações representativas de categorias profissionais passaram a 
auxiliar no processo de normatização, de orientação e de disciplina no ambiente de traba-
lho.
 Nesse sentido, os códigos de ética profissional se tornaram instrumentos de raciona-
lização de comportamentos profissionais. Eles apresentam os princípios orientadores, os 
valores e as diretrizes considerados éticas no exercício de cada profissão, com consonância 
com os padrões éticos e as melhores práticas da sociedade. Sua eficácia depende, sobre-
tudo, da sua aceitação e incorporação à cultura das organizações e às rotinas dos funcio-
nários.
74
O mundo se transforma a todo momento. Nas últimas décadas temos visto inúmeras mu-
danças tecnológicas, culturais, sociais, econômicas e profissionais. Os valores estão mu-
dando e o que antes era normal, aceito e até mesmo ético já não cabe mais nos padrões e 
valores atuais. Por exemplo, o trabalho escravo foi adotado por muitos séculos em muitos 
países. Mudanças nos valores proporcionaram o fim desse terrível período da humanidade. 
Outro exemplo é o desmatamento, há muitos anos nem se imaginava os terríveis danos que 
isso causaria ao meio ambiente. Mudanças e avanços têm mostrado que o meio ambiente 
precisa ser preservado. Questões éticas e morais tiveram muito peso para que tais mudan-
ças ocorressem. Para o futuro, que valores de mercado aceitáveis atualmente poderão sofrer 
alterações? Para responder, reflita nas questões ambientais, sociais e também nas rápidas 
mudanças que vêm ocorrendo originadas pelo avanço da tecnologia, especialmente, no 
campo da informação.
VAMOS PENSAR?
 A mudança de comportamentos éticos nas empresas depende, sobretudo, da mu-
dança das mentalidades individuais e da cultura organizacional. Não basta às organiza-
ções apenas obedecer às legislações nacionais e gerar retornos financeiros aos seus acio-
nistas. É preciso manter relações harmônicas com todos os atores que com elas interagem, 
gerando comprometimento com valores básicos da sociedade. 
 A incorporação de valores nas interações sociais fortalece a aceitação das empresas 
e o desejo por seus produtos e serviços. A valorização de competências, o reconhecimento 
da cidadania, a busca da transparência, da excelência, da eficiência, da competência e da 
honestidade são cada vez mais centrais no mercado de trabalho. 
 Em síntese, a disciplina da ética, nas relações sociais e no mundo do trabalho, tor-
nou-se um imperativo no mundo contemporâneo. Os princípios éticos são importantes 
não apenas para a adequação das organizações às normas socialmente aceitas como líci-
tas e corretas, mas também para o fortalecimento de uma cultura cidadã no país. A ética 
é indispensável para agregar valor às relações produtivas e para fortalecer o compromisso 
das organizações com os valores supremos da cidadania. Não se pode separar o espaço 
público do espaço privado no que toca a valores indispensáveis da civilização. 
 Dessa forma, ao valorizar profissionais éticos e prestigiar práticas alinhadas com 
comportamentos socialmente responsáveis, as empresas maximizam as suas vantagens 
competitivas e contribuem para disseminar padrões mais elevados de comportamento 
social. Em longo prazo, decisões éticas constituem a base sobre a qual se constrói uma 
sociedade mais livre, justa e solidária, baseada nos valores do trabalho e da livre-iniciativa. 
Os Códigos deÉtica Profissional, nos mais variados campos do trabalho, são instrumentos 
que asseguram a difusão de normas de conduta ética no mundo corporativo, moldando 
empresas e profissionais segundo padrões moralmente desejados. 
 Não se pode depender, contudo, apenas dos instrumentos punitivos para que tais 
normais sejam cumpridas no cotidiano profissional. É preciso, sobretudo, mudar menta-
lidades e difundir novas práticas culturais acerca da ética empresarial e profissional. As 
empresas bem-sucedidas no mundo globalizado são aquelas capazes de se pautar por 
12.5 ÉTICA E CIDADANIA 
NAS RELAÇÕES DE 
TRABALHO
75
um mínimo ético. Dessa forma, empresas não devem encarar a ética como um empecilho 
para o alcance dos seus objetivos, mas como uma plataforma de sustentação e de sobre-
vivência. Padrões éticos de conduta melhoram as relações entre os empregados, elevam a 
imagem externa e melhoram a relação das empresas com o seu meio, contribuindo para 
uma sociedade mais harmônica e equilibrada. 
A opinião pública, as instituições sociais e a mídia nunca exigiram tanto da ética profissional. 
Sugerimos a leitura do livro “Curso de ética jurídica: ética geral e profissional” Ede duardo 
C. B. Bittar (2018). Nessa obra de referência o autor analisa a conexão entre Ética e Direito em 
diversos ramos da vida: família, escola, trabalho etc. Ao abordar a problemática da ética no 
mundo contemporâneo, o autor analisa como as relações de produção da economia moder-
na influenciam nas decisões de indivíduos e de organizações. A ética nas relações de traba-
lho é um dos temas centrais desse livro, texto bastante utilizado na disciplina Ética Jurídica 
nas faculdades de Direito em todo o Brasil por exemplo. 
Disponível em: https://bit.ly/2PiIjyY. Acesso em: 16 de fev. de 2021.
BUSQUE POR MAIS
Inconstrastável: O que não pode ser respondido, contrastado.
Neoinstitucionalista: corrente sociológica que explica a adoção de regras por 
uma instituição, bem como as marcas e atitudes empregadas por ela, tudo isso 
baseado em valores culturais de uma sociedade.
GLOSSÁRIO
76
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (FGV - Analista Legislativo Municipal, 2007) Código de valores que norteiam a conduta 
de um indivíduo, bem como suas decisões e escolhas, fazendo com que esse indivíduo seja 
capaz de julgar o que é certo e errado.
Trata-se d definição de:
a) Altruísmo.
b) Egoísmo.
c) Consenso.
d) Participação.
e) Moralidade.
2. (Fundação Carlos Chagas (FCC, 2019) A ética associa cultura e sociedade para definir o 
que seja mal ou bem, vício ou virtude, que são antagônicos. Com base nessa definição, a 
virtude da “gentileza”, muito importante para o atendimento do cidadão- usuário, correla-
ciona-se ao vício de:
a) Irascibilidade.
b) Ambição.
c) Vaidade.
d) Indulgência.
e) Vulgaridade.
3. (FGV, 2015, adaptado) O campo em que a ética empresarial se manifesta é constituído 
por três elementos: agente, virtude e meios. Os dilemas éticos resultam do conflito pre-
sente nos valores, nos destinatários e nos meios que servem de base às decisões, impondo 
uma hierarquia de princípios. Encontrar solução para esses dilemas não é tarefa fácil. Mas 
alguns princípios podem facilitar a decisão acerca dos dilemas éticos, entre eles:
a) Faça o que for melhor para o maior número de pessoas e siga seu mais alto juízo ou 
princípio;
b) Faça o que for melhor para o maior número de pessoas e opte pelos valores do ambien-
te;
c) Siga seu mais alto juízo ou princípio e opte pelo alijamento do código de conduta moral 
vigente;
d) Faça o que quer que os outros façam a você; e opte pelo alijamento do código de con-
duta moral vigente;
e) Faça apenas o que lhe foi solicitado e nada mais.
4. (FCC, 2019) Determinado agente público estadual comissionado tem direito a carro ofi-
cial para ser utilizado no exercício de suas funções. Considere que o referido agente tem 
feito uso desse direito para seus familiares, em especial para conduzir seus filhos às ativi-
dades escolares. A conduta do agente:
77
a) A despeito de violar o código de ética, somente poderá ser apurada se for objeto de de-
núncia, cabendo ao denunciante demonstrar o efetivo prejuízo causado aos cofres públi-
cos.
b) Viola o código de ética da Administração Pública Estadual, razão pela qual poderá ser 
instaurado, de ofício ou em razão de denúncia, procedimento para apuração dos fatos, de 
competência da Comissão Geral de Ética.
c) A despeito de ferir o princípio da moralidade, não viola o código de ética da Administra-
ção Pública Estadual, pois este não se aplica aos servidores comissionados, mas aos servi-
dores públicos titulares de cargo efetivo e aos titulares de cargo de alta direção.
d) Não viola o código de ética, porquanto, em razão dos usos e costumes, é administrativa-
mente aceita.
e) Somente poderá ser objeto de apuração pela Comissão de Ética na hipótese de o refe-
rido agente ter expressamente aderido aos termos do Código de Ética no momento da 
investidura.
5. (FEPESE, 2019) Leia o fragmento a seguir.
A ética profissional garante um ambiente de trabalho produtivo e seguro. A fim de expli-
citar os padrões éticos para uma determinada classe profissional, foram instituídos os ____ 
que têm por finalidade tornar claro o pensamento de uma dada classe profissional, de 
modo a comprometer seus integrantes com os objetivos particulares da profissão, respei-
tando os princípios ____ da ética.
Assinale a alternativa cujos itens completam corretamente as lacunas do fragmento aci-
ma.
a) Códigos de conduta - universais.
b) Regulamentos - legais.
c) Códigos de conduta - legais.
d) Regulamentos - universais.
e) Regulamentos - morais.
6. (FEPESE, 2019) É característica importante para o atendimento ao público a demons-
tração de:
a) Presteza e intolerância.
b) Ineficiência e educação.
c) Cortesia e falta de paciência.
d) Pernosticidade e postura profissional.
e) Objetividade na comunicação e postura profissional.
7. (FAUEL, 2019, adaptada) Leia com atenção a definição a seguir e assinale o termo cor-
respondente. É um conjunto de valores e normas de comportamento e de relacionamento 
adotados no ambiente de trabalho, no exercício de qualquer atividade. Ter essa conduta é 
saber construir relações de qualidade com colegas, chefes e subordinados, contribuir para 
bom funcionamento das rotinas de trabalho e para a formação de uma imagem positiva 
da instituição perante os públicos de interesse, como acionistas, clientes e a sociedade em 
78
geral.
 (Fonte: Guia da Carreira)
a) Cidadania e urbanidade.
b) Ética profissional.
c) Relações humanas.
d) Sociedade de consumo.
e) Moralidade e responsabilidade.
8. (FEPESE, 2019) Analise as afirmativas abaixo que tratam de Ética e Responsabilidade 
Social nas organizações:
1. As organizações contemporâneas devem valorizar o comportamento ético de seus fun-
cionários e agir de forma responsável em relação ao seu ambiente de atuação.
2. As organizações contemporâneas devem buscar seus resultados independentemente 
dos padrões éticos e morais empregados para obtê-los.
3. A responsabilidade social é sempre um custo desnecessário para as organizações.
4. Ações de responsabilidade social podem valorizar a imagem organizacional.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
a) É correta apenas a afirmativa 1.
b) É correta apenas a afirmativa 2.
c) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3
d) São corretas apenas as afirmativas 1 e 4.
e) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3.
89
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