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AT 1 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 5 UNIDADE 2 - Insuficiência Renal Aguda 5 2.1 A dinâmica da IRA 6 2.2 Causas e sinais clínicos da IRA 9 2.3 A assistência da enfermagem diante as condutas da IRA 9 2.3.1 Balanço calórico 11 2.3.2 Balanços hídrico e eletrolítico 12 2.3.3 Hiperpotassemia 13 2.3.4 Diálise peritoneal 15 2.3.5 Hemodiálise 15 2.3.6 Terapia de Contínua Substituição Renal (CRRT) 17 2.4 Intervenções de enfermagem segundo NIC 20 UNIDADE 3 - Insuficiência Respiratória 20 3.1 A assistência de enfermagem 23 UNIDADE 4 - Parada Cardiorresporatória 26 UNIDADE 5 - O Transplantado Hepático 26 5.1 Evolução e cuidados nos transplantes de fígado 27 5.2 O pós-operatório e a UTI 29 5.3 A questão da infecção na UTI e o transplantado hepático 35 UNIDADE 6 - Cuidados Paliativos 35 6.1 Conceitos e definições 36 6.2 Surgimento e evolução dos cuidados paliativos 37 6.3 Os cuidados paliativos, as UTIs e os profissionais envolvidos 41 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Insuficiência renal aguda, insuficiência respiratória, parada cardiorrespiratória, problemas na área neurológica, compli- cações com o transplantado hepático, os cuidados paliativos na UTI são apenas al- gumas das situações críticas enfrentadas pelo profissional da enfermagem que atua em Unidades de Terapia Intensiva, mere- cendo atenção especial. Por isso, dedica- mos o módulo a estas questões que podem levar a complicações do quadro de pacien- tes que já se encontram bastante debilita- dos e no caso do cuidado paliativo, pode- mos dizer que é o momento do profissional desenvolver e/ou aflorar sentimentos de compaixão, paciência e ressignificação, dentre outros, enfim, acrescentar qualida- de de vida para os pacientes em fase ter- minal na terapia intensiva. Afinal, ser enfermeiro significa ter como agente de trabalho o homem, e como su- jeito de ação, o próprio homem. Há uma estreita ligação entre o trabalho e o traba- lhador, com a vivência direta e ininterrup- ta do processo de dor, morte, sofrimento, desespero, incompreensão, irritabilidade e tantos outros sentimentos e reações desencadeadas pelo processo doença (BA- TISTA; BIANCHI, 2006). Insuficiência renal aguda ou simples- mente IRA, pode ser definida como per- da da função renal, de maneira súbita, e potencialmente reversível, independen- temente da etiologia ou mecanismos, provocando acúmulo de substâncias nitro- genadas (ureia e creatinina), acompanhada ou não da diminuição da diurese. Devido às UTIs terem uma incidência elevada de IRA, bem como altos índices de mortalidade, será nosso primeiro conteú- do de estudo. Segundo Gomes (2008), independen- temente da patologia que leve o pacien- te à UTI, ele estará sujeito à insuficiência do sistema respiratório, o que pode ser comprovado pelo alto índice nas UTIs, de pacientes com insuficiência respiratória como causa primária da internação, ou se- cundária em pacientes já internados devi- do a outras afecções. A Parada Cardiorrespiratória é outra si- tuação que exige e inclui o atendimento de emergência e a sua prevenção. Define- -se como a cessação súbita do batimento cardíaco efetivo, que representa a função normal do coração como bomba, resultan- do em inadequado aporte de sangue oxi- genado aos órgãos vitais. Comprometimento cerebral localizado ou difuso pode ocorrer durante o período perioperatório e pacientes com mais de 50 anos, ou com lesões vasculares cere- brais prévias, são as que mais apresentam maior incidência dessa complicação, parti- cularmente quando o tempo de circulação extracorpórea foi prolongado, excedendo, em geral, a duas horas de perfusão. Entre as inúmeras causas que levam ao com- prometimento cerebral durante a cirurgia cardíaca, destacam-se episódios tanto de hipotensão como de hipertensão arterial (PRADO FORTUNA, 2000). Dentre as alterações clínicas no pacien- te neuro-crítica, temos: A hipertensão intracraniana (HIC) que 4 5 é responsável por determinados fenôme- nos que independem da sua causa. Dessa forma, ocorrem distensão e compressão dos vasos, meninges e parênquima ence- fálico e aumento da resistência oferecida ao fluxo sanguíneo e lesões neurológicas, por se tratarem na maioria das vezes de processos isquêmicos, hemorrágicos ou tumorais, acarretam alterações que refle- tem danos neuronais, levando a desordens posturais e de movimento globais (PARAI- BUNA, 2004). Por fim, temos o transplante hepático, uma cirurgia complicada devido interferir em várias funções do organismo. O pro- cedimento complexo, com repercussões clínicas em vários sistemas orgânicos (car- diovascular, renal, metabólico, respirató- rio), necessita de uma boa infraestrutura hospitalar, além de uma equipe multipro- fissional especialmente capacitada para sua realização (MIES, 1998). Ressaltamos em primeiro lugar que em- bora a escrita acadêmica tenha como pre- missa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não me- nos científicos. Em segundo lugar, deixa- mos claro que este módulo é uma compila- ção das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação ori- ginal e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pesso- ais. Ao final do módulo, além da lista de re- ferências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente con- sultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. 4 4 55 UNIDADE 2 - Insuficiência Renal Aguda Um dos graves problemas apresentados por pacientes internados em UTI é o apa- recimento de insuficiência renal, portanto vamos estudá-la em detalhes. 2.1 A dinâmica da IRA O paciente com insuficiência renal agu- da tem uma história recente de oligúria (di- minuição do volume de urina ou secreção insuficiente de urina), que pode progre- dir para anúria (supressão da secreção de urina), o que pode acontecer após algum evento conhecido, como transfusões de sangue, severa septicemia, pós-operató- rio, procedimentos diagnósticos e tera- pêuticos. Seu diagnóstico nos primeiros estágios pode ser difícil, ainda que haja aumento da ureia no plasma e uma diminuição do volu- me urinário, pois estas manifestações po- dem estar presentes em outros quadros que não o da insuficiência renal. Às vezes, uma simples correção da hi- povolemia implica o restabelecimento da função renal. Diante de um quadro de oli- gúria e uremia, procura-se afastar a possi- bilidade de hipoperfusão renal, através de algumas práticas como: dosagem de sódio urinário; verificação da osmolaridade uri- nária; medida da ureia urinária. São evidências de que não há hipo- perfusão renal: um sódio urinário baixo (20-30 mEq/l); uma osmolaridade urinária elevada (acima de 400 mOs/l); uma densidade urinária elevada; e, altas concentrações de ureia urinária (3.000 mg/ 100 ml) (GOMES, 2008, p. 99) Em decorrência da hipoperfusão renal (queda do fluxo sanguíneo renal), há oligú- ria hipertônica com baixas concentrações de sódio (os néfrons reabsorvem sódio e água de um pequeno volume filtrado). Os rins recebem um grande fluxo san- guíneo; aproximadamente um quarto do débito cardíaco. Suas funções são impor- tantes na preservação da vida e são: a ma- nutenção do balanço hídrico e da composi- ção dos fluidos corporais; a manutenção, juntamente com os pulmões, do equilíbrio acidobásico; a eliminação de produtos resi- duais do metabolismo. Para a identificação de uma insu- ficiência renal aguda, alguns dados devem ser avaliados: dosagem de sódio urinário (deve ser normal ou alta); osmolaridade urinária (igual ou infe- rior à do plasma; até 300 mOs/l); ureia urinária (inferior a 800 mg/100 ml); depuração de creatinina (reduzida). Na Insuficiência Renal Aguda (IRA),os néfrons (unidades funcionais dos rins) são lesados e perdem a capacidade de reab- sorver sódio e água do filtrado, em quanti- dades adequadas; há oligúria iso-osmótica e concentração urinária de sódio elevada. O poder do rim de concentrar a urina é reduzido pela deterioração estrutural dos néfrons, pela dissipação do gradiente hi- 6 7 perosmolar na medula e pela resistência osmótica presente nas unidades ainda funcionantes. Alterações nos valores da creatinina e da ureia séricas denotam insu- ficiência renal (valores normais: creatinina: 1,4 mg/100 ml e ureia: 8-20 mg/100 MI) (GOMES, 2008). Na vigência de uma insuficiência renal aguda, há anúria e/ou oligúria quase sem- pre, mas em alguns casos pode não haver redução do volume urinário. É a chamada insuficiência renal de alto débito, onde a urina excretada é diluída (baixo teor de ureia). Segundo alguns autores, a insuficiência renal com diurese representa a resposta renal a uma agressão de menor gravidade do que aquela que ocasionou uma insufici- ência renal aguda anúrica ou oligúrica. Duas ou mais semanas decorrerão entre o estabelecimento de uma insuficiência renal aguda e o aparecimento de diurese. Nesse intervalo de tempo, medidas tera- pêuticas são imprescindíveis, a fim de im- pedir o catabolismo excessivo e manter o paciente com vida. Ocasionalmente, o período de anúria (ou oligúria) torna-se mais curto graças a pro- cedimentos terapêuticos que modificam o quadro de isquemia renal (exemplo: uso de Manitol ou Furosemide, que exerce ação protetora sobre o néfron). Na fase de anúria ou oligúria, a maior preocupação é a manutenção das funções vitais e dar aos rins a oportunidade de res- taurar sua atividade. De maneira geral, na insuficiência renal aguda pós-traumática, com altas taxas de mortalidade, ocorrem alterações signifi- cativas e de alta gravidade, fazendo-se necessário um programa terapêutico para interromper o ciclo de fenômenos fisiopa- tológicos que podem levar à morte. Embora haja uma série de recursos e medidas específicas para assistência ao portador de insuficiência renal aguda, con- tinua alta a margem de insucesso no tra- tamento. Tal situação se torna mais grave quando o paciente apresenta outras afec- ções ou pertence aos grupos etários com- preendidos abaixo de dez anos e acima de sessenta anos. A presença de infecção é fator limitan- te no tratamento, mas outras causas têm levado o paciente com insuficiência renal aguda à morte: insuficiência cardíaca, san- gramentos urêmicos, embolia pulmonar, edema agudo do pulmão. 2.2 Causas e sinais clínicos da IRA Um número grande de condições clíni- cas é capaz de levar o paciente a uma insu- ficiência renal aguda, que pode ser classifi- cada em: pré-renal, renal e pós-renal. Os pacientes críticos estão mais sujeitos às insuficiências de causas pré-renal e re- nal. a) Etiologia da IRA pré-renal: É a causa mais comum de azotemia agu- da em pacientes hospitalizados, com por- centagem que varia de 40% a 60% do total de acometimentos por IRA (COSTA; MOYSES NETO; VIEIRA NETO, 1998). Não há defeito estrutural nos rins, sim- plesmente falta perfusão sanguínea ade- quada, no leito capilar renal, à medida que a pressão arterial média cai, progressiva- mente, abaixo de 80 mmHg. O seu diag- 6 7 nóstico é extremamente importante já que existe reversibilidade, nesses casos, em um a dois dias e, se persistir, pode levar os rins à lesão denominada de necrose tu- bular aguda (NTA). Durante a baixa perfu- são renal, o volume urinário diminui e fica altamente concentrado com nitrogenados e quantidades mínimas de sódio, e é essa habilidade de retenção de sal e água que distingue, basicamente, a azotemia pré- -renal das causas parenquimatosas de IRA. Prado Fortuna (2000) fala em Insufici- ência Renal Funcional (IRF) devido as al- terações apresentadas serem de caráter funcional e uma vez removida as causas, segue-se a normalização da função renal e o restabelecimento da diurese. Ela resulta de uma consequente a uma pobre ação re- nal, secundária a um baixo débito cardíaco. Há uma queda do fluxo sanguíneo e “défi- cit” na filtração glomerular, ocasionando oligúria. Algumas condições geram um baixo dé- bito cardíaco como hipovolemia causada por hemorragias, diarreia, vômitos e quei- maduras; choque cardiogênico; choque to- xêmico. b) Etiologia da IRA pós-renal: São menos frequentes, em torno de 2 a 4% entre todas as causas de IRA e pode aumentar para 10% em faixas etárias mais avançadas. Nos quadros abaixo estão relacionadas as causas mais comuns de IRA pré-renal e pós-renal. Causas mais frequentes para IRA pré-renal Hipovolemia Hemorragias, perdas gastrintestinais, ter- ceiro espaço, queimaduras, sobrecarga de diuréticos, febre. Diminuição do débito cardíaco Arritmias, insuficiência cardíaca congesti- va, infarto agudo do miocárdio, tampona- mento pericárdico. Vasodilatação periférica Choque anafilático, bacteremia e anti-hi-pertensivos. Vasoconstricção renal Anestesia, cirurgias, síndrome hepatorre-nal. Drogas Agentes anti-inflamatórios não hormo- nais, inibidores da enzima de conversão da angiotensina, ciclosporina, agentes con- trastados para RX. 8 9 Causas mais frequentes para IRA pós-renal Obstrução bilateral dos ureteres Tumores da próstata e cérvix, fibrose retro- peritoneal idiopática, hemorragia retroperi- toneal, ligadura acidental durante cirurgias pélvicas. Obstrução bilateral dos ureteres (intralu- minal) Cristais de ácido úrico e sulfa, edema, coá- gulos, cálculos. Obstrução em bexiga Hipertrofia da próstata, carcinoma de bexi- ga, infecção, neuropatia ou bloqueadores ganglionares. Obstrução uretral Válvula congênita, estenose, tumor, funcio-nal. Causas renais para IRA 1- Politraumatismos, hemorragias, choque séptico, reações à transfusão, hemorragia pós-parto, pancreatite, gastroenterite. Hemodinâmicas 2-Nefrotóxicas Antibióticos Aminoglicosideos, tetraciclina, anfotericina, sulfa, aciclovir, foscarnet. Metais pesados Mercúrio, arsénico, chumbo, antimônio, ouro. Contrastes radiográficos -------------------- Solventes orgânicos Etilenoglicol, tetracloreto de carbono, tolue-no, gasolina, querosene. Veneno Pesticidas, herbicidas, veneno de cobra, de aranha e de abelha. Químico Anilina, cresol. Anestésicos Metoxiflurano, enflurano. Agentes anti-inflamatórios --------------------- Agentes nefrotóxicos endógenos Mioglobina, hemoglobina, meta-hemoglobi- na, deposição tubular de cálcio, ácido úrico e oxalato. 8 9 3- Doenças glomerulares e vasculares Glomerulonefrite difusa aguda, nefrite lúpi- ca, panarterite nodosa, glomerulonefrites, hipertensão arterial maligna, síndrome he- molítica e urêmica, necrose cortical bilateral, trombose arterial renal bilateral, trombose da veia renal, trauma vascular, crise esclero- dérmica. 4- Nefrite intersticial aguda Antibióticos (penicilina G, meticilina, ampi- cilina, sulfa, cefalosporinas, rifampicina), drogas anti-inflamatórias não hormonais, diuréticos (tiazídicos, furosemide), Cimetidi- ne, etc. Quanto aos sinais clínicos da IRA, a maio- ria dos seus sintomas é secundária aos dis- túrbios hidroeletrolíticos. Podem afetar alguns sistemas: a) Gastrintestinal: anorexia, náuseas e vômitos. b) Respiratório: dispneia associada à acidose metabólica e hiper-hidratação, causando edema pulmonar. c) Circulatório: níveis elevados de flui- dos e sódio, causando a hipertensão e fa- lência ventricular esquerda. d) Neuromuscular: letargia e irritabili- dade. e) Imunológico: os pacientes ficam mais propensos a septicemias secundárias. f) Distúrbios bioquímicos: catabolis- mo elevado, com rápida elevação da ureia sérica. g) Distúrbios eletrolíticos: hipercale- mia, que causa arritmias cardíacas; hipo- natremia, usualmente atribuída à diluição; hiperfosfatemia, com consequente altera- ção no metabolismo do cálcio. 2.3 A assistência da enfer- magem diante as condutas da IRA A insuficiência renal aguda de causapré-renal é reversível, e sua causa deve ser tratada pronta e corretamente. As medidas terapêuticas são dirigidas para a correção do débito cardíaco (reposição de sangue, plasma ou água e eletrólitos e/ou uso de agentes inotrópicos no choque car- diogênico). Confirmado o estabelecimento de uma falência renal, o tratamento é conserva- dor, até que os rins funcionem espontane- amente. Especial atenção é dada à administração de fluidos e à manutenção dos balanços ca- lórico e eletrolítico. 2.3.1 Balanço calórico O portador de insuficiência renal aguda apresenta-se em balanço nitrogenado ne- gativo, com desequilíbrios hidroeletrolítico e acidobásico. É potencialmente um indiví- duo suscetível a infecções, com resposta inadequada às agressões e que facilmente tem o seu estado nutricional deteriorado. Sua condição propicia um estado catabóli- 10 11 co e uma oferta alta de calorias é essencial. Uma alta ingestão de carboidratos ou gorduras é preconizada com o objetivo de fornecer calorias ao paciente, ao mesmo tempo em que dietas ricas em proteínas de alto valor biológico são indicadas na pre- venção de queda do seu estado nutricio- nal. A ingestão de tais nutrientes por via oral implica a programação de diálises frequen- tes, para que sejam evitados os riscos de- correntes de um catabolismo excessivo e a incapacidade de eliminação de escórias. Quando o paciente não possui a via di- gestiva livre para o recebimento de ali- mento é indicada a Nutrição Parenteral Prolongada, com resultados satisfatórios. Aminoácidos essenciais, glicose hiper- tônica, eletrólitos e vitaminas compõem a solução indicada para nutrir parenteral- mente o portador de insuficiência renal aguda. O balanço nitrogenado é estabelecido, juntamente com a diminuição do nível de ureia circulante, pois esta passa a ser usa- da como precursora dos aminoácidos. Desde que as quantidades injetadas de aminoácidos não ultrapassem a necessida- de anabólica do organismo, a ureia endó- gena é utilizada como fonte de nitrogênio. A solução é administrada através de cateter introduzido na veia cava superior, por punção percutânea, não havendo con- traindicações. Podem aparecer algumas compli- cações, tais como: hiper ou hipoglicemia; infecções associadas à cateterização prolongada e à administração da solução; acidose metabólica; distúrbios eletrolíticos; aparecimento de edema. Cabe ao enfermeiro programar os cuida- dos a serem dispensados ao paciente que recebe a Nutrição Parenteral Prolongada (NPP) para evitar ou identificar precoce- mente as complicações. c) Manuseio do cateter Quanto ao manuseio do cateter, é a via exclusiva para a infusão da solução, caben- do ao enfermeiro a manutenção dessa via em condições ideais. A cada troca do fras- co de solução é também trocado o equipo para a infusão. No local da inserção do cateter, deve ser feito um curativo, diariamen- te (ou mais vezes, quando necessário), com o uso da seguinte técnica: a) Limpeza da pele a partir da inserção com um composto iodado ou clorexidina. b) Oclusão da área com adesivo imper- meável. A presença de hiperemia e/ou secreção na área de inserção do cateter é um indi- cador para a troca ou a retirada do mesmo, que deve ser acompanhada do encaminha- mento da ponta para cultura e antibiogra- ma. Na presença de hipertermia, sem que o paciente apresente razões que a justi- fiquem, também deve haver a retirada do cateter. c) Controle do peso O peso deve ser controlado diariamen- te, lançando esse controle em gráfico que forneça uma curva ponderal e que propicie 10 11 uma análise, juntamente com o balanço hí- drico do paciente. Súbitas elevações ou quedas de peso podem significar retenção ou grande per- da de água, ao invés de anabolismo ou ca- tabolismo. Igualmente deve-se controlar diaria- mente a glicemia e osmolaridade plasmáti- ca, uma vez que as oscilações da glicemia podem ser frequentes nos primeiros dias de Nutrição Parenteral Prolongada e há necessidade de identificar precocemente as complicações decorrentes das mesmas. A glicose sanguínea não deve exceder a 200 mg/100 ml. Nos pacientes com IRA, mesmo em pre- sença de fluxo urinário, não se faz glicosti- ria (qualquer dado que se obtenha deixa de ser significativo, pela não capacidade de concentração do filtrado pelos rins) (GO- MES, 2008). A Nutrição Parenteral Prolongada é uma solução hiperosmolar e pode levar o pa- ciente a distúrbios característicos das al- terações da osmolaridade plasmática. Um aumento significativo no valor da osmola- ridade plasmática leva o paciente a ter mu- danças nas condições mentais e comporta- mentais (apatia, fraqueza, agitação e até mesmo convulsões), alterações na pele e mucosas. A consequência mais grave da hi- perosmolaridade é o coma. Valor normal da osmolaridade plasmática: 285 a 295 mOs/L (GOMES, 2008). d) Deambulação A deambulação é indicada sempre que possível para facilitar a síntese proteica no músculo. Se o paciente estiver impossibili- tado de deambular, indica-se submetê-lo a movimentação passiva e/ou ativa no leito. e) Controle da velocidade de infusão de solução A velocidade de infusão da solução deve ser mantida regularmente, através de bombas de infusão. De maneira geral, ad- ministra-se um total de 750 ml da solução nas 24 horas. O excesso de administração da solução pode ocasionar coma hiperos- molar. Os portadores de IRA que recebem NPP apresentam-se frequentemente em ba- lanço nitrogenado positivo, com conse- quente aumento de peso. O nível de ureia sérico desses pacientes diminui ou se es- tabiliza na vigência de diurese mantida ou oligúria, respectivamente; há menor ne- cessidade de diálises e mais fácil cicatriza- ção de eventuais feridas cirúrgicas. O balanço calórico no paciente renal in- clui, em resumo, uma oferta de 200 ou 300 g de glicose, fornecendo em torno de 800 a 1.200 quilocalorias. A oferta de proteínas deve partir de um mínimo e ser aumentada gradualmente, de acordo com o nível séri- co de ureia (GOMES, 2008). São vantagens do uso da NPP: queda dos níveis séricos de ureia, se há oligúria, e estabilização, se há diurese; balanço nitrogenado positivo, aumen- to do peso; satisfatória cicatrização dos ferimen- tos; permanência em níveis séricos baixos; magnésio, potássio e fósforo; menor necessidade de diálise. 2.3.2 Balanços hídrico e 12 13 eletrolítico Entre as complicações observadas em pacientes com insuficiência renal aguda, destaca-se a hipervolemia. Consequente à mesma, há uma sobrecarga cardíaca e, eventualmente, pode ocorrer um edema agudo de pulmão, que leva o paciente a uma insuficiência respiratória. É uma preo- cupação constante a manutenção da vole- mia dentro da normalidade. A manutenção ou aumento do peso significam sobrecarga hídrica, quando na fase catabólica. As per- das obrigatórias (extrarrenais) estão em torno de 1.000 ml nas 24 horas. O catabo- lismo nos tecidos produz de 400 a 600 ml de água endógena; logo, uma reposição de cerca de 400 ml, acrescida de outras even- tuais perdas, é indicada por dia ao pacien- te com insuficiência renal aguda (GOMES, 2008). Os eletrólitos são repostos adequada- mente, segundo as espoliações. Uma ten- dência à acidose metabólica está presente nesses pacientes e, quando não é corrigida com a administração de bicarbonato de só- dio, o é em diálise. O conhecimento das variações nos ba- lanços hídrico e eletrolítico, além da ten- dência do paciente em apresentar acidose metabólica, leva o enfermeiro a observar e analisar alguns parâmetros que contri- buem para o estabelecimento de medidas terapêuticas específicas. Algumas condutas são tomadas com o objetivo de fornecer dados para a efetiva manutenção do paciente em condições de equilíbrio: controle diário do peso (até duas ve- zes ao dia); balanço hídrico; mensurações da Pressão Venosa Cen- tral (PVC); determinação da osmolaridade plas- mática; controle do hematócrito; encaminhamentodas amostras de sangue para os exames laboratoriais re- queridos. 2.3.3 Hiperpotassemia Estudos de Gomes (2008) assinalam que a hiperpotassemia é a mais perigosa complicação da insuficiência renal aguda. Ela traz consigo o risco de uma parada cardíaca quando os níveis séricos são maio- res que 7 mEQ/I. Dentre as várias medidas tomadas para corrigir a hiperpotassemia, as mais eficientes são a diálise peritoneal e a hemodiálise. O paciente deve estar moni- torizado e, quando há hiperpotassemia, as mudanças no traçado eletrocardiográfico tornam-se evidentes. A administração de drogas e o estabe- lecimento de medidas de urgência, com a disponibilidade de pessoal e equipamento, devem estar presentes na assistência ao paciente com hiperpotassemia, para que o atendimento se faça em tempo hábil (mo- nitorização cardíaca, material de entuba- ção, aspiração e ventilação). No tratamento medicamentoso da hi- perpotassemia, podem ser utilizadas as seguintes drogas: cálcio sob a forma de gluconato ou cloreto, soluções de bicar- bonato ou lactato de sódio, glicose a 50% com insulina (uma unidade de insulina para cada 5 g de glicose) e resinas trocadoras de íons (administradas por via oral ou retal). As resinas mais usadas são as que trocam 12 13 potássio, por sódio e potássio por cálcio. As soluções endovenosas com alta con- centração de glicose e insulina (soluções polarizantes) são dadas para as trocas de potássio nas células, mas sua ação é pouco eficaz (GOMES, 2008). 2.3.4 Diálise peritoneal A diálise peritoneal é indicada na insufi- ciência renal aguda, quando há necessida- de de retirada de grande volume de líquido e quando há possibilidade de fácil acesso à cavidade peritoneal e dificuldade de aces- so à circulação. Em situações menos extremas, o pa- ciente está sujeito a septicemias, hemorra- gias, difícil processo de restabelecimento, sobrecarga hídrica e estados de má nutri- ção. Nesse caso, a diálise é indicada como um meio de prevenir o aumento de uremia e outras complicações. De modo geral, a diálise pode ser indica- da quando os níveis séricos da ureia atin- gem 200 mg/100ml, ao lado de alterações do potássio sérico e pH sanguíneo (acido- se) e aumento significativo do balanço hí- drico (sobrecarga hídrica). A diálise peritoneal é um método de tra- tamento relativamente simples, usando o peritôneo do paciente como uma membra- na semipermeável (separa a cavidade pe- ritoneal dos fluidos corporais). Pequenas moléculas são difundidas de uma área de menor concentração para uma de maior concentração, através desta membrana semipermeável, pelo processo de osmose. Na diálise peritoneal, os eletrólitos e a ureia movimentam-se de acordo com as concentrações gradientes, e a água, por osmose. As soluções empregadas na diá- lise peritoneal são eletroliticamente equi- valentes ao sangue, exceto pela ausência de potássio. Gomes (2008) explica o procedimento: dois frascos da solução dialisante são sem- pre mantidos em processo de aquecimen- to (“banho-maria” ou outro recurso), para que a mesma seja infundida devidamente aquecida na cavidade abdominal. As primei- ras infusões e drenagens são contínuas, não computadas como volumes efetivos, e visam à limpeza da cavidade peritoneal e do sistema de drenagem (eliminação de resíduos sanguinolentos); a infusão se faz com o equipo completamente aberto, isto é, não pinçado, enquanto é mantido fe- chado o ramo de drenagem; ao término da infusão, sem que estejam vazios os ramos do equipo, o mesmo é pinçado; os ramos de infusão e drenagem são mantidos fecha- dos durante o tempo de permanência da solução de diálise na cavidade abdominal (de 30 minutos a 1 hora); após a drenagem, é infundido o volume seguinte da solução, e assim sucessivamente. Existem, evidentemente, alguns cui- dados básicos que devem ser observados pela equipe de enfermagem. a) Utilizar máscara e gorro durante o preparo da solução dialisante: De maneira geral, 2 litros de solução de diálise são infundidos em cada banho e, em um deles, são adicionados medicamentos como heparina (uso de pequenas doses para manter o cateter permeável) e clore- to de potássio. A heparina é usada contra a formação de depósitos de fibrina nos orifícios do ca- teter peritoneal. b) Utilizar luva na mão direita na in- 14 15 trodução dos gotejadores do equipo de diálise nos frasco: Se necessário, utilizar bolas de algodão embebidas em álcool etílico 70% para lim- peza das tampas dos frascos. c) Manter a extremidade livre do ramo de drenagem mergulhada em um recipien- te (vidro pequeno), que contenha em seu interior um antisséptico, durante a infusão e a permanência do dialisante na cavidade abdominal. d) Verificar, ao final de cada banho: Os sinais vitais do paciente, estando atento às variações significativas que po- dem levar à identificação precoce de algu- mas complicações como peritonite (tempe- ratura elevada), hipotensão (consequente a alterações hemodinâmicas bruscas) e ar- ritmias. e) Ao final de cada drenagem, obser- var aspectos do líquido eliminado: O aparecimento de turvação no líquido drenado implica uma coleta de amostra do mesmo para exame bacterioscópico e cultura, seguido de infusões e drenagens contínuas para irrigação da cavidade abdo- minal. Em alguns banhos sucessivos, pode desaparecer a turvação do líquido drenado. Quando se usa solução dialisante hiper- tônica (1 frasco a 1,5% + 1 frasco a 7%), a turbidez do líquido drenado pode aparecer mais precocemente, pela ação irritante que a mesma exerce sobre a membrana peritoneal. A solução hipertônica pode drenar água da circulação do paciente para a cavidade peritoneal mais rapidamente, mas também pode causar algumas complicações: eleva- ção do teor de glicose sérica e depleção do fluido extracelular, com sinais de hipovole- mia. f) Utilizar um impresso para anotar a progressão da diálise peritoneal: Isso permitirá que se tenha um registro do balanço parcial a cada banho e um regis- tro do balanço total cumulativo que retra- tem as condições e os efeitos da diálise. g) Se a drenagem não fluir livremen- te, o cateter deve ser investigado e, até mesmo, reposicionado: A mudança de posição do paciente auxi- lia na drenagem e na prevenção de compli- cações pulmonares (estases) e úlceras de decúbito. h) Oferecer ao paciente, durante a diá- lise, volumes pequenos de água por via oral ou cubos de gelo (este volume é facilmente removido no procedimento dialítico). i) Ao final da diálise, quando se alcan- çou o objetivo proposto, alguns banhos contínuos devem ser feitos, antecedendo a remoção do cateter. Após a última infusão, a drenagem deve ser prolongada até que a cavidade abdomi- nal esteja completamente livre de líquido. Após a retirada do cateter, manter na área um curativo compressivo. Se o paciente estiver sujeito a um programa de diálises peritoneais, poderá receber uma prótese (botão ou prótese de Deane), destinada a manter o pertuito abdominal, que facilita- rá a próxima colocação de cateter. De qual- quer maneira, a área será protegida por curativo oclusivo. j) Após a diálise: Pesar o paciente nas mesmas condições do início do processo; fechar o balanço da 14 15 folha de controles; colher amostra de san- gue para dosagem de sódio, potássio, ureia e creatinina; comparar os dados obtidos. Um período de 36 a 40 horas de diáli- se é usualmente necessário para manter a ureia em níveis mais baixos e o paciente em condições de equilíbrio metabólico. Cabe ao enfermeiro, nesse período, a manutenção do sistema de diálise em con- dições ideais, assim como a programação e realização de medidas assistenciais que propiciem bem-estar ao paciente (GOMES, 2008). Como todo procedimento, a diálise pe- ritoneal pode apresentar as seguintes complicações: traumatismos de vísceras abdominais; peritonites; desconforto res- piratório; queda da proteína plasmática; desconforto do paciente e também exis- tem algumas contraindicaçõesà diálise peritoneal: cirurgias abdominais recentes; presença de “lojas” abdominais (cavidades septadas); presença de drenos abdomi- nais; aderências peritoneais extensas. 2.3.5 Hemodiálise É o método de diálise através da circu- lação sanguínea, cujo acesso se obtém por cateter em subclávia, cateter femoral, fis- tula ou “shunt”. Vale saber: a membrana dialisadora é feita de celofane ou material similar, constituindo uma espiral de superfície plana, através da qual o sangue é bombeado; tal membrana faz parte do rim artifi- cial, que propicia as trocas químicas atra- vés de um líquido dialisante, por um circui- to extracorpóreo; a hemodiálise é o método mais empre- gado de assistência ao paciente em insufi- ciência renal aguda; um período de 6 horas de diálise é eficaz, com heparinização sistêmica ou re- gional (para evitar coagulação no circuito extracorpóreo), com fluxos sanguíneos de 250 cc a 300 cc por minuto. A frequência de hemodiálise será proporcional ao esta- do catabólico do paciente. Aqui também encontramos possibilida- des de complicações. Dentre elas: síndro- me do desequilíbrio pós-diálise (tremores, confusão mental, convulsões); hipovole- mia (queda do volume de sangue circulan- te) por ruptura do circuito extracorpóreo; embolia gasosa; hemorragia pela heparini- zação. Quanto aos cuidados de enferma- gem: a) Controle dos sinais vitais. As hipo- tensões contribuem para a redução do flu- xo sanguíneo nos vasos periféricos. b) Se houver sangramento por des- conexão do sistema ou qualquer outro tipo de acidente, pinçar imediatamente os ramos de acesso à circulação sanguínea do paciente, enquanto se providenciam re- cursos que combatam a causa do proble- ma. Desligar a máquina. c) Atenção à monitorização cardía- ca. Há grande incidência de arritmias, que devem ser identificadas precocemente. d) Pesar o paciente antes e após a hemodiálise, comparando os dados. 2.3.6 Terapia de Contínua Substituição Renal (CRRT) A CRRT é um tratamento sanguíneo ex- 16 17 tracorpóreo usado para controlar os fluídos e o balanço eletrolítico em pacientes com insuficiência renal aguda. Não necessita do equipamento utilizado em hemodiálise. Segundo Gomes (2008), é um proces- so de ultrafiltração e seu sucesso depen- de da manutenção do fluxo sanguíneo no hemofiltro. Um fluxo de 200 ml/min pode ser obtido por um cateter femoral (punção percutânea). A Terapia de Contínua Substituição Re- nal remove do plasma água e eletrólitos e é um processo gradual que propicia a volta do rim à sua função normal. Não provoca uma rápida flutuação nas condições dos fluidos eletrólitos corporais. É indicada para pacientes com falência renal, por- tadores de instabilidade cardiovascular e edema cerebral. Abaixo temos um quadro comparativo dos métodos analíticos vistos anterior- mente. Comparação entre a hemodiálise, a diálise peritoneal e a CRRT Hemodiálise Diálise peritoneal CRRT 1-Equipamento Muito especializado Pouco especializado Moderada complexibilidade 2-Tempo do procedimento 4 a 6 horas 36 a 48 horas Terapia contínua 3-Eficiência alta abaixa alta 4-Complicações Síndrome de desequilíbrio. Perda sanguínea por acidentes. Embolia gasosa. Hemorragia. Traumatismo abdominal. Peritonite. Desconforto respiratório. Proteína plasmática. Desconforto do paciente. Depleção do volume circulante. 5-Contra-indica- ções Quando a heparini- zação é perigosa. Incisões abdominais. Drenagens abdominais. Insuficiência respiratória. Fluxo sanguíneo baixo. Necessidade de rápi- da remoção de líquidos e eletrólitos. 6-Ritmo do líquido removido < 300 ml/hora 400 a 800 ml/hora 100 ml/hora Fonte: Gomes (2008, p. 110). 16 17 2.4 Intervenções de enfer- magem segundo NIC para a prevenção e diagnóstico precoce da IRA em UTI re- lacionado à sepsis, ao cho- que séptico e relacionado a doenças cardiovasculares e respiratórias De acordo com Dochterman e Bulechek (2008, p. 43), a Classificação das Interven- ções de Enfermagem (NIC) é uma classificação abrangente e pa- dronizada das intervenções realizadas pelos enfermeiros. É útil para a docu- mentação clínica, para a comunicação de cuidados entre unidades de trata- mento, para a integração de dados em sistemas de informação e unidades, para a eficiência das pesquisas, para a medida de produtividade, para a avalia- ção de competências, para a facilitação de reembolso e para o planejamento curricular. A NIC inclui todas as inter- venções que os enfermeiros realizam para os pacientes, sejam elas indepen- dentes ou colaborativas, de cuidado di- reto ou indireto dos pacientes. Seremos pontuais quanto às interven- ções de enfermagem segundo recomen- dações da NIC (2011) no tocante à IRA. Para a prevenção de choque: monitorizar sinais virais, sinais de oxi- genação tecidual inadequada, valores la- boratoriais e os parâmetros hemodinâmi- cos invasivos; colocar o paciente na posição supino, com as pernas elevadas para aumentar a pré-carga; administrar agentes antiarrítmicos, quando adequado; administrar líquidos endovenosos (EV) concomitantemente à monitorização das pressões de pré-carga cardíaca, do dé- bito cardíaco e do débito urinário: iniciar cedo a administração de agen- tes antimicrobianos e monitorizar sua efi- cácia. Para regulação hemodinâmica: reconhecer a presença de alterações na PA; monitorizar os níveis de eletrólitos e o equilíbrio hídrico, administrando líquidos EV ou diuréticos; administrar medicamentos vasodila- tadores e/ou vasoconstritores e antiarrít- micos, quando adequada. Para controle de eletrolítico: monitorizar os níveis alterados de lí- quidos ou eletrólitos; monitorizar a condição hemodinâmi- ca; manter um registro minucioso da in- gestão e da eliminação; monitorizar os sinais vitais; manter solução EV com eletrólito(s) a uma taxa de fluxo constante, quando ade- quado; providenciar dieta prescrita adequa- da a desequilíbrio específico de líquidos ou eletrólitos. 18 19 Para controle acidobásico: monitorizar níveis da gasometria arte- rial e os níveis de eletrólitos séricos e uri- nários; monitorizar o estado hemodinâmico, incluindo níveis de PVC, PAM, Pressão Ar- terial Pulmonar e Pressão do Capilar Pul- monar (PCP) em cunha, se possível; monitorizar determinantes de oferta de oxigênio aos tecidos. Para controle de infecção: trocar o equipamento para cuidados do paciente conforme o protocolo da insti- tuição; manter técnica de isolamento, quan- do apropriado; assegurar o emprego de técnica ade- quada no cuidado das feridas; administrar terapia com antibiótico. Em relação ao choque séptico, a NIC (2011) recomenda para: Controle de hipovolemia: controlar o estado hídrico, inclusive a ingestão e a eliminação; monitorizar os níveis de hemoglobina e hemácias; monitorizar os sinais vitais; combinar soluções cristaloides e coloi- des para reposição do volume EV, quando prescrito; monitorizar o estado hemodinâmico: manter uma taxa de fluxo EV contí- nuo; posicionar o paciente para melhorar a perfusão periférica; monitorizar sinais de insuficiência re- nal iminente. Controle do choque: monitorizar os sinais vitais e tendên- cias nos parâmetros hemodinâmicos; administrar medicamentos vasoati- vos e líquidos para manter a pressão san- guínea e débito cardíaco, se adequado; oferecer oxigenoterapia e/ou ventila- ção mecânica, se adequado; retirar sangue para a medida dos ga- ses arteriais e monitorizar a oxigenação tecidual; monitorizar sintomas de insuficiência respiratória: monitorizar estudos de coagulação e contagem sanguínea completa com o di- ferencial Contagem de Glóbulos Brancos (WBC); monitorizar o estado hídrico, inclusive ingestão e eliminação; monitorizara função renal; posicionar o paciente para uma perfu- são adequada. Por fim, são intervenções de enferma- gem, segundo a NIC, para a prevenção e diagnóstico precoce da IRA em UTI relacio- nado a doençascardiovasculares e respira- tórias: Cuidados cardíacos: monitorizar sinais vitais com frequên- cia; realizar uma avaliação abrangente da circulação periférica; 18 19 monitorizar o equilíbrio de líquidos; observar abdômen em busca de indi- cadores de perfusão diminuída e sinais e sintomas de débito cardíaco diminuído; monitorizar o estado respiratório em busca de sintomas de insuficiência cardía- ca; monitorizar valores de exames labo- ratoriais; ofertar e monitorizar terapia antiarrít- mica, conforme o protocolo da instituição. Precaução contra embolia: realizar avaliação completa da circula- ção periférica; administrar dose reduzida de anticoa- gulante profilático e/ou medicamento an- tiplaquetário; mudar a posição do paciente a cada duas horas, conforme tolerância. Monitorização respiratória: monitorizar ritmo, frequência, a pro- fundidade e o esforço das respirações, ruídos respiratórios e laudos do raio X de tórax; observar os movimentos do tórax; palpar e percutir o tórax. determinar a necessidade de aspira- ção; monitorizar leitura de parâmetros do ventilador mecânico; monitorizar a secreção respiratória do paciente; iniciar manobras de reanimação, se necessário. 20 2120 UNIDADE 3 - Insuficiência Respiratória A insuficiência respiratória aguda é uma das principais causas de internamento em unidade de terapia intensiva, sendo tam- bém responsável pelo elevado período de internamento, apresentando morbimorta- lidade elevada. Gomes (2008) afirma que seja qual for a patologia que leve o paciente à Unidade de Terapia Intensiva, ele estará sujeito à in- suficiência no sistema respiratório. Isto se comprova pelo alto índice, nas Unidades de Terapia Intensiva, de pacientes com insufi- ciência respiratória como causa primária da internação, ou secundária em pacientes já internados devido a outras afecções. A incidência e o tratamento da insufici- ência respiratória assumiram tão grandes proporções que hospitais de grande porte têm pensado na instalação de Unidades de Assistência Respiratória, geralmente inte- gradas a um Centro de Terapia Intensiva. Ao elaborar um plano de assistência a pacientes portadores de insuficiência res- piratória, é indispensável que o enfermeiro tenha em mente alguns conceitos básicos de fisiologia e patologia pulmonares, assim como a importância da sua atuação junto a esses pacientes, pois a ele cabe elaborar um plano de cuidados baseado na obser- vação das alterações traduzidas por sinais clínicos, na análise e avaliação da situação. 3.1 A assistência de enfer- magem O objetivo da assistência de enferma- gem aos pacientes com insuficiência res- piratória aguda é diminuir o índice de com- plicações, através de estudo e análise das maiores incidências e de um plano de ação a curto e médio prazos. Para que este ob- jetivo seja alcançado, é necessário que a equipe, como um todo, esteja preparada e interessada, e desenvolva suas ações de maneira a prevenir danos. Uma ventilação adequada deve ser assegurada. Pontos importantes na assistência: a) Manutenção da ventilação artifi- cial Avaliação periódica do respirador, cor- relacionada ao eventual aparecimento de sinais de ventilação inadequada. As varia- ções no respirador e suas causas devem ser identificadas, comunicadas e corrigi- das. Os parâmetros prescritos para o volu- me corrente, a frequência respiratória e a concentração de oxigênio inspirado (FiO2) são a base para os controles posteriores à instalação do respirador. São acrescidos a esses parâmetros: pico de pressão inspira- tória, fluxo de oxigênio e umidificação do ar inspirado. As tubulações do respirador que con- duzem o ar inspirado (circuito-paciente) devem estar presas a um suporte próprio e em posição inferior à cabeça do doente (para impedir que a água condensada nas mesmas atinja as vias aéreas). Devem es- tar sempre íntegras. Emendas, correções com fitas adesivas e improvisações são fa- tores de risco na assistência ventilatória. A identificação de uma falha no respira- dor implica a retirada do mesmo e a intro- dução de ventilação manual, até o controle da situação (que pode significar a troca do aparelho). 20 2121 O tubo endotraqueal deve atender sa- tisfatoriamente aos seus propósitos. Para isto, deve ser sempre alvo de avaliação quanto à: integridade do “cuff” (escape de ar pela boca do paciente pode significar “cuff” danificado), posição (de preferên- cia no centro da boca) e fixação (sem lesar pele e mucosa). A umidificação do ar inspirado deve ser suficiente para manter a secreção das vias aéreas fluidificadas e fácil de ser removida por aspiração. O controle periódico da umi- dificação (névoa e aquecimento) deve fa- zer parte dos cuidados dirigidos ao binômio paciente respirador. As avaliações clínicas do doente, princi- palmente baseadas nos resultados de ga- simetrias arteriais, geram alterações nos parâmetros do respirador, que devem ser feitas com comunicação à equipe de enfer- magem. b) Posição do paciente no leito Pacientes em condições hemodinâmicas estáveis devem ser alvos de mudanças de decúbito frequentes e estar com o tórax elevado para melhor ventilação alveolar e drenagem de secreções periféricas para a árvore brônquica. c) Ausculta pulmonar Para a identificação de fenômenos sim- ples que podem nortear alguns cuidados de enfermagem: aspiração de secreções, mudanças de decúbito, fisioterapia respi- ratória ou solicitação do médico para uma avaliação. É uma prática rotineira, que pro- cura responder a algumas perguntas: Os ruídos respiratórios estão presen- tes? São ruídos normais? Há secreção? Há hipoventilação? d) Manutenção das vias aéreas livres de secreção A aspiração de secreções deve ser feita dentro dos rigores da técnica asséptica, não como procedimento de rotina, mas de acordo com a necessidade. Preferencial- mente deve ser realizada por duas pesso- as, de modo a facilitar o trabalho e diminuir o tempo em que o paciente fica sem o res- pirador. O conhecimento das complicações e ris- cos da aspiração endotraqueal (arritmia cardíaca, cianose, traumatismo de mucosa, espasmo brônquico, contaminação, colap- so pulmonar pela aspiração do ar residual) contribui para um desempenho cuidadoso na operação. e) Controle do volume de ar no “cuff” do tubo endotraqueal O “cuff” deve ser mantido insuflado, com um volume de ar suficiente para im- pedir que haja movimentação do tubo na traqueia. O volume de ar da primeira insu- flação é o referencial para os demais con- troles. f) Controle da administração de fluidos e das eliminações Ao lado do controle da velocidade de in- fusão, torna-se imprescindível a computa- ção do volume administrado e do eliminado a pequenos intervalos de tempo. O uso de altas pressões inspiratórias pode produzir retenção hídrica. g) Identificação precoce de compli- cações Atelectasias – consequentes ao uso 22 2322 de baixos volumes correntes e períodos prolongados do paciente na mesma posi- ção. Diminuição do débito cardíaco e hipo- tensão. Alcalose respiratória (alteração da PaCO2). Enfisema subcutâneo. h) Prevenção de danos h.1) Contaminações Os pacientes com insuficiência respira- tória aguda adquirem com facilidade infec- ções pulmonares causadas, primariamen- te, por germes gram-negativos. Na prevenção das mesmas, algumas medidas são indicadas: uso de técnicas de isolamento em pacientes contaminados, lavagem frequente de mãos, técnica as- séptica de aspiração endotraqueal e pre- cauções relacionadas ao sangue e fluidos corporais. h.2) Ações indesejadas de drogas São usados no tratamento da insufici- ência respiratória aguda: broncodilatado- res, corticoides, antibióticos, sedativos, bloqueadores neuromusculares e drogas vaso ativas quando há estado de choque. A atenção aos seus efeitos, desejados ou não, deve ser redobrada (GOMES, 2008). 22 2323 UNIDADE 4 - Parada Cardiorresporatória A PCR é um evento que ocorrecom fre- quência em UTI, uma vez que essas unida- des assistem pacientes gravemente en- fermos, com instabilidade hemodinâmica acentuada, necessitando da equipe o apri- moramento de suas habilidades cogniti- vas, motoras e atualização sobre as mano- bras de reanimação (ZANINI; NASCIMENTO BARRA, 2006). É uma intercorrência de alto grau de complexidade principalmente quando presente em pacientes que já se encontram em estado crítico (SILVA; PADI- LHA, 2001). As questões que fundamentam a reani- mação cardiorrespiratória (RCR) encefálica devem ser conhecidas pelos enfermeiros, uma vez que têm sido motivo de contro- vérsias e, consequentemente, provocado estudos com o objetivo de esclarecê-las e melhorar os padrões de atendimento (CRUZ; SOUZA; PADILHA, 1992). O profissional de Enfermagem deve es- tar apto para reconhecer quando um pa- ciente está em franca PCR ou prestes a desenvolver uma, pois este episódio repre- senta a mais grave emergência clínica que se pode deparar. A avaliação do paciente não deve levar mais de 10 segundos. Na ausência das manobras de reanimação em aproximadamente 5 minutos, para um adulto em normotermia, ocorrem altera- ções irreversíveis dos neurônios do cór- tex cerebral (SILVA, 2001). O coração pode voltar a bater, mas os “cinco minutos de ouro” se perdem e o cérebro morre (LANE, 2005). Sabe-se que cabe ao enfermeiro e à sua equipe assistir os pacientes, ofere- cendo ventilação e circulação artificiais até a chegada do médico, assim, estes profis- sionais devem adquirir habilidades que os capacitem a prestar adequadamente a as- sistência necessária. Zanini, Nascimento e Barra (2006) pon- deram que a PCR é definida como o súbito cessar da atividade miocárdica ventricular útil, associada à ausência de res-piração, e não tem merecido a devida atenção por parte da equipe de saúde. Apesar da gran- de importância do tema, não foram encon- trados estudos publicados na literatura até 2005 nas bases de dados, MedLine, Lilacs e Bireme que visam corrigir falhas ocorridas durante o procedimento de reanimação, assim como sobre treina-mentos para os profissionais de Enfermagem. Recomenda-se, portanto, que a equi- pe de Enfermagem deve ser reciclada na execução das manobras do suporte básico de vida (ventilação artificial e compressão torácica) e, também, ter conhecimento e domínio do conteúdo existente no carro de emergência e manuseio do equipamento (COELHO et al., 1997). O enfermeiro intensivista é vital nos es- forços para reanimar um paciente, sendo que é ele, frequentemente, quem avalia em primeiro lugar o paciente e inicia as ma- nobras de RCR, chamando a equipe. O papel do enfermeiro inclui: a reanimação cardiorrespiratória con- tínua; monitorização do ritmo cardíaco e dos outros sinais vitais; administração de fármacos conforme orientação médica; 24 25 registro dos acontecimentos; notificação ao médico plantonista, bem como relatar os acontecimentos aos membros da família, sendo que o apoio para os familiares e amigos é muito impor- tante nesta ocasião. Após uma reanimação satisfatória, o en- fermeiro juntamente com o médico precisa controlar rigorosamente os sinais vitais e os parâmetros hemodinâmicos desse pa- ciente, bem como estar atento a qualquer sinal de complicação, pois o reconhecimen- to imediato e o tratamento de algum dis- túrbio irão refletir no seu prognóstico (HU- DAK; GALLO; BENZ, 1994). Guarde... A PCR representa a interrupção súbita e inesperada da circulação sistêmica e da respiração. Diagnóstico Há dois tipos de diagnóstico para a PCR: o diagnóstico clínico imediato, ou objetivo, e o diagnóstico mediato ou mecanismo de parada. a) Diagnóstico clínico imediato ou objetivo – é feito a partir de três sinais principais: 1. perda súbita da consciência; 2. ausência de pulso nos grandes va- sos (carotídeo e femoral); 3. ausência de movimentos respirató- rios. b) Diagnóstico mediato ou meca- nismo de parada – só pode ser feito em ambiente ideal, por meio de ECG ou moni- tor, para detecção de arritmias fetais como fibrilação ventricular, taquicardia ventricu- lar. Finalidades da RCP Obter a irrigação imediata dos órgãos vitais (cérebro e coração) com sangue oxi- genado e técnicas de ventilação pulmonar e circulação artificial. Restabelecer os batimentos cardía- cos. Tratamento As manobras de reanimação são feitas apenas nos seguintes casos: pessoas cujos antecedentes são des- conhecidos; pessoas cujo tempo de parada não ex- cede 10 minutos de seu início, com exceção de crianças, de casos de intoxicação por barbitúricos e de hipotermia; pessoas que não estejam em fase fi- nal de alguma doença. Metodologia de RCP - Rea- nimação básica Em quaisquer distúrbios cardior- respiratórios graves, deve-se manter uma abordagem sistemática de prio- ridades: avaliar a responsividade da vítima – isso permite distinguir entre a pessoa que está dormindo e aquela inconsciente; pedir ajuda e solicitar um desfibrila- dor; desobstruir as vias aéreas (90% dos pacientes com PCR têm suas vias aéreas obstruídas pela língua e pela epiglote); 24 25 proteger as vias aéreas; posicionar o paciente em decúbito dorsal e manter sua cabeça em hiperexten- são e elevação da mandíbula. Na suspeita de trauma cervical, a manobra de elevação da mandíbula sem extensão da cabeça é a melhor opção; limpar por sucção a boca e a faringe e retirar as próteses removíveis (UENISHI, 2005). 26 2726 UNIDADE 5 - O Transplantado Hepático 5.1 Evolução e cuidados nos transplantes de fígado O transplante de fígado é uma modalida- de terapêutica que possibilita a reversão do quadro terminal de um paciente com doença hepática e, em muitas situações, constitui-se no único tratamento para pa- cientes com patologias em que há dano ir- reversível de algum órgão ou tecido (SILVA; CARVALHO, 2006). O primeiro transplante hepático em hu- manos foi realizado em 1963, e o primeiro com sucesso em 1967, ambos nos Estados Unidos (NEHME, 2003; ASSIS, 2003). Segundo estudos de Salviano (2007), a história dos transplantes é rica de ideias criativas e ousadas, estudos e experimen- tos em laboratório com animais e em hu- manos. O termo transplante foi usado pela primeira vez por John Hunter em 1978. En- tretanto, o transplante como um método de reposição de partes lesadas do corpo humano é um sonho desde as civilizações egípcias e greco-romanas. Os primeiros transplantes realizados foram os enxertos de pele, ossos e córnea no final do século XIX e início do século XX. Com o desenvolvimento de fios mais deli- cados para suturas vasculares, os experi- mentos com o xeno-transplante foram im- pulsionados. O insucesso, porém, desses procedimentos desencorajou essa prática e, até o início da década de 1960, persis- tiam grandes lacunas do conhecimento, tais como: os “efeitos biológicos”, descritos posteriormente como rejeição, e medica- mentos que poderiam preveni-la e tratá-la. Somente em 1978, quando foi desenvolvi- da a droga ciclosporina em um laboratório na Suíça, com aplicação clínica pelo profes- sor Calne na Inglaterra, os resultados dos transplantes passaram a ser encorajado- res (CALNE, 1999 e STARZL, 1995, 2005 apud SALVIANO, 2007; PEREIRA, 2004). Silva e Carvalho (2006) também ano- tam que o surgimento da ciclosporina, em 1977, marcou definitivamente a história dos transplantes e possibilitou o controle das rejeições e das infecções oportunistas. No Brasil, o primeiro transplante hepático com sucesso foi realizado pelo Professor Silvano Raia, em setembro de 1985, na Fa- culdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente, de acordo com o Ministé- rio da Saúde, o Brasil possui um dos maio- res programas públicos de transplante do mundo e tem como diretrizes a gratuidade da doação, a beneficência com relação aos receptores e a não maleficência com rela- ção aos doadores vivos (BRASIL, 2011). De 2007 até hoje, o Brasil tem apresen- tado uma taxacrescente em número de transplantes realizados, chegando pró- ximo de atingir a meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 10 doadores efetivos por milhão de população (pmp). A taxa de efetivação, em 2010, chegou a 9,6 doadores pmp e, den- tre os órgãos transplantados, os rins lide- raram o ranking, correspondendo a 72, 3% do total de 6.402 transplantes de órgãos realizados naquele ano, seguidos de fíga- do (22,1%) e coração (2,6%). Três estados da Federação obtiveram destaque com um 26 2727 percentual acima de 10 transplantes pmp: São Paulo, Santa Catarina e Ceará. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos e Tecidos, em 2010, foram realizados 1.413 transplantes hepá- ticos no Brasil, o que representou um au- mento de 5,7 % em relação ao ano ante- rior. Dados atualizados demonstram que, no primeiro semestre de 2011, o Ceará foi o maior centro transplantador de fígado do Brasil, quando obteve uma taxa de 18,2 transplantes pmp, o que reafirma a impor- tância que o estado ocupa, atualmente, no cenário nacional desse tipo de transplante (GARCIA, 2010). O transplante de fígado é compreendido como um processo que pode ser dividido em quatro períodos consecutivos: a inclu- são do paciente na lista de espera, o pre- paro e a espera para a realização do proce- dimento, o transplante propriamente dito e o período pós-operatório (MASSAROLO; KURCGANT, 2000). A indicação do transplante é feita quan- do o paciente apresenta um prognóstico de sobrevida de aproximadamente 12 meses, devido à doença hepática; está reservada a portadores de insuficiência hepática crô- nica terminal que têm expectativa de vida inferior a 20% ao final de 12 meses, se não forem transplantados, e àqueles cuja pro- gressão da doença hepática resulta em mortalidade que exceda aquela decorren- te do próprio transplante. Basicamente, a indicação do transplante hepático tem por objetivo prolongar a vida do paciente, proporcionando satisfatória qualidade de vida e recuperação do trabalho (SILVA et al., 2002). Segundo Udo et al. (2000), a qualidade de vida após o transplante é um padrão para avaliação do procedimento cirúrgico. Portanto, trabalhar com esse tipo de pro- cedimento requer uma análise cuidadosa daqueles doentes. Ressalte-se que nos aspectos psicoló- gicos, os pacientes do programa de trans- plante apresentam grande ansiedade e carência afetiva e biologicamente, muitas vezes, o sucesso do pós-operatório baseia- -se no manuseio do paciente, tanto na sala de cirurgia quanto nos primeiros dias após o ato cirúrgico, além de que nesta fase rá- pidas modificações ocorrem na função he- pática, que dependem da integração de um grupo de especialistas (MASSAROLO; KURCGANT, 2000; UDO et al., 2001; SILVA et al., 2002). Segundo Silva e Carvalho (2006), a as- sistência ao paciente transplantado é al- tamente especializada, requerendo a atu- ação do enfermeiro nas diversas fases do processo, e exigindo pessoal com capaci- tação específica. A fragmentação da assis- tência de enfermagem pode fazer com que o enfermeiro perca a noção do todo. 5.2 O pós-operatório e a UTI Após a realização da cirurgia de trans- plante, o paciente é encaminhado para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Este período pós-operatório caracteriza- -se por ser uma fase crítica que demanda cuidados necessários a qualquer paciente gravemente enfermo, porém com as pe- culiaridades das alterações multissistê- micas decorrentes das hepatopatias e da ausência de função hepática no período pós-operatório. As complicações pós-ope- ratórias podem ser divididas em técnicas (sangramentos, disfunção primária do en- xerto) e clínicas (imunológicas, pulmona- res, cardiovasculares, renais, metabólicas, 28 29 dentre outras) (MIES, 1998). Nesta complexa fase de pós-operató- rio, a equipe de enfermagem, sob a su- pervisão do enfermeiro, tem uma atuação imprescindível no cuidado aos pacientes transplantados hepáticos. O cuidado de enfermagem deve ser intensivo e envolver dedicação e vigilância, já que, assim como outras cirurgias de grande porte, há risco de repercussões hemodinâmicas que exi- gem conhecimento técnico-científico para atuar nos momentos de instabilidades. Os cuidados de enfermagem incluem: monitorização dos sinais vitais; balanço hídrico rigoroso; acompanhamento e coleta de exames laboratoriais; monitorização de sinais de sangra- mentos; troca de curativos; vigilância do padrão respiratório; e, cuidados relativos à imunossupres- são, dentre outros (BORGES et al., 2012). No que se referem às complicações clí- nicas pós-operatórias, a literatura aponta a importância de o enfermeiro conhecer o estado geral do paciente no pré-operató- rio, bem como as complicações cirúrgicas e anestésicas intraoperatórias, com o intuito de atuar na prevenção e detecção precoce dessas complicações. Assim, o enfermei- ro deve possuir conhecimento científico e habilidade para lidar com estas potenciais intercorrências (JIMÉNEZ et al., 1998 apud BORGES et al., 2012). O período de pós-operatório imediato exige atenção especial da equipe de enfer- magem devido os riscos de instabilidade clínica desses pacientes. O balanço hídrico horário, o controle atento dos sinais vitais e níveis glicêmicos, cuidados com drenos e sondas, aspiração das vias aéreas, coleta de exames laboratoriais e manutenção do isolamento reverso são algumas das inú- meras atividades realizadas pela equipe de enfermagem. Por esta razão, o cuidado de enfermagem é considerado de alta com- plexidade técnica. Além disso, é preciso estar atento aos aspectos emocionais do transplantado he- pático. A trajetória de vida e o sofrimento de pacientes que esperam por um fígado, convivendo com o medo da morte e as in- certezas quanto ao prognóstico e trata- mento, exigem que a equipe esteja atenta também às questões psicossociais afeta- das. E, especialmente nessa fase, quando o transplantado fica isolado da família, em um leito de UTI, a enfermagem tem desta- que pela maior proximidade com o doente, promovendo cuidado, conforto e atenção. Sabe-se que a enfermagem, enquanto relação inter-humana, vivencia relações de adoecer e morrer, compartilhando sen- timentos e atitudes que representam um posicionamento humanístico, baseado em um cuidado competente, humano e ético (AGUIAR; BRAGA, 2011). Assim, o conhecimento sobre hábitos, padrões e comportamentos de uma clien- tela, proporciona ao cuidador uma maior interação, o que contribuirá para propiciar um cuidado realmente significativo (WAL- DOW, 2006). Considera-se que os profissionais de saúde, ao cuidarem de pacientes em situa- ção fragilizada e, algumas vezes, em esta- do psicológico regredido, devem ser dota- dos de um grau maior de sensibilidade com o objetivo de captar as necessidades sub- jetivas desses doentes (HOGA, 2004). Este 28 29 compromisso de cuidar do transplantado também representa para a equipe a ne- cessidade de atenção especial às questões específicas como as demandas emocionais e físicas peculiares, as quais não podem ser menosprezadas. Segundo Borges et al (2012), a literatu- ra aponta que a aproximação dos profissio- nais de enfermagem com a realidade viven- ciada pelo transplantado hepático poderá contribuir para uma melhor compreensão da experiência deste paciente, promoven- do um cuidado individualizado, direcionado para as suas necessidades biopsicosso- ciais, além de orientar mecanismos de su- porte no enfrentamento dessa condição. Assim, a enfermagem, pela sua proximi- dade com o paciente, deve investir em um cuidado integral e não meramente técnico. Guarde... Segundo a NANDA (2006), o enfermeiro assistencial deve estar alerta para os diag- nósticos e intervenções de enfermagem na fase pós-operatória, de modo a alcan- çar os resultados esperados concernentes ao atendimento das necessidades psico- biológicas, psicossociais e psicoespirituais, com destaque a compreensão do regimeterapêutico pós-transplante. A educação em saúde, nesse período, deve ser então enfatizada, com abordagem multidiscipli- nar. O suporte da família e da comunidade devem ser potencializados e otimizados para o cliente administrar ou controlar as tarefas adaptativas relacionadas ao seu desafio de saúde. 5.3 A questão da infecção na UTI e o transplantado hepático O texto que segue foi elaborado em 2007 pelo Dr. Luiz Fernando Aranha Ca- margo, que dentre outros títulos, é doutor em doenças infecciosas e parasitárias. As Unidades de Terapia Intensiva evoluíram e melhoraram sua performance em anos recentes graças à aquisição e difusão de conhecimento nesta área e em áreas cor- relatas. Estes fatores, combinados com a aplicação do conhecimento ao “standard of care” em diversas situações ajudaram a melhorar a sobrevida do paciente crítico. Ao longo dos anos, junto com a incor- poração do conhecimento, houve lenta e progressiva mudança da população in- ternada nestas unidades, aumentando a frequência de hospedeiros com particula- ridades clínico-cirúrgicas, trazendo junto a necessidade de conhecimento em novas áreas. Entre estes, os imunodeprimidos perfazem progressivamente uma popula- ção cada vez mais frequente. Inicialmen- te, pacientes portadores de AIDS e câncer eram os grupos mais representados. Com a redução da mortalidade em AIDS com o desenvolvimento de antivirais eficazes, os pacientes submetidos a transplantes e os portadores de neoplasias passaram a ser os imunodeprimidos mais prevalentes em UTIs. Os transplantes, tanto de órgãos sólidos como de células hematopoiéticas, hoje se solidificam como opções terapêuticas a do- enças de curso crônico ou neoplásicas. To- dos os tipos de transplantes, por sua vez, têm interação com o ambiente de terapia intensiva, tanto para permanência após o ato operatório como para tratamento de potenciais complicações associadas. Entre as complicações mais importantes estão os eventos infecciosos, inseparáveis 30 31 da condição de imunodepressão com im- pacto relevante na sobrevida destes pa- cientes. Por exemplo, em transplante de pulmão, as infecções (grande parte delas ocorrendo ainda durante a internação na UTI) respondem por mais de 50% dos óbi- tos nos primeiros 6 meses após o trans- plante. A imunodepressão entre pacientes transplantados é multicausal, podendo-se destacar: condições imunodepressoras asso- ciadas a doenças preexistentes, como dia- betes em transplantados de rim-pâncreas, uremia e inflamação crônica em transplan- tados renais, doenças linfoproliferativas e seus regimes de condicionamento antes de transplantes de células hematológicas totipotentes; quebra de barreiras naturais, por qui- mioterapia, cateteres, drenos, etc.; imunodepressão exógena utilizada para redução dos eventos de rejeição, com graus variados de potência. Nas UTIs, os eventos infecciosos nesta população podem ocorrer tanto no curso do pós-operatório dos transplantes como intercorrência dos mesmos, como tardia- mente no curso do transplante, sendo com frequência causa de internação na UTI. As infecções que ocorrem ainda no curso do pós-operatório recente são tanto mais frequentes quanto mais complexo o pro- cedimento cirúrgico. Desta maneira, infec- ções intra-abdominais graves ocorrem em transplantados de fígado e rim-pâncreas ainda durante a estadia na UTI, assim como infecções respiratórias em transplantados de coração/pulmão. Por outro lado, infec- ções graves em pós-operatório ainda na UTI são raras em transplantados renais. No curso do transplante, infecções gra- ves podem ocorrer já como resultado da imunodepressão e da interação do pacien- te com o meio ambiente, sendo estas in- fecções diversas, destacando-se as infec- ções respiratórias. Dados atuais mostram desfechos ainda insatisfatórios de pacientes transplanta- dos em unidades de terapia intensiva. Em transplante renal, estudo americano reve- la taxa de mortalidade de pacientes read- mitidos em UTI em torno de 11% (contra 6% em outros pacientes na mesma insti- tuição), chegando a 18% para transplan- tados hepáticos. Estas taxas sobem para 37% em transplantados de pulmão read- mitidos na UTI e 49% para transplantados de células hematopoiéticas totipotentes. Em todas as situações, as infecções apare- cem como fatores importantes relaciona- dos ao óbito. Desta maneira, a continuidade do ple- no desenvolvimento do conhecimento em terapia intensiva voltado para aumento da sobrevida de pacientes está hoje também relacionada ao desenvolvimento, difusão e aplicação prática de conhecimento de complicações em pacientes submetidos a transplantes de órgãos sólidos, particular- mente no que refere a eventos infecciosos. Embora a temática da infecção em pa- cientes submetidos a transplantes de órgãos sólidos seja complexa e hoje se constitua em objeto de especialização de infectologistas, aspectos específicos de infecções que mais frequentemente de- senvolvem-se em terapia intensiva ou levam o paciente a reinternar nestas uni- dades merecem destaque e devem fazer parte do ensino e domínio do intensivista. A seguir, Camargo (2007) destaca alguns 30 31 dos itens mais relevantes. a) Infecções precoces relacionadas ao doador falecido: Os transplantes de órgãos sólidos são realizados com frequência utilizando-se órgãos de doadores falecidos. No Brasil, estes doadores são a grande maioria de transplantados de fígado e pulmão, a to- talidade dos transplantes de coração e pâncreas e 40% dos transplantados de rim. Os pacientes falecidos que doam ór- gãos estão na maioria das vezes em UTIs, com tempo variável de internação, uso de antibioticoterapia e submetidos na grande maioria das vezes a intubação orotraqueal, cateterização urinária e cateterização ve- nosa central. Como é sabido, estes proce- dimentos invasivos estão associados a au- mento de infecções e muitas vezes estas ocorrem por agentes multirresistentes. Desta maneira, os diferentes órgãos doa- dos podem estar colonizados/infectados quando transferidos a um receptor poten- cialmente não infectado. Têm potencial maior para contaminação os rins e o pul- mão diretamente envolvidos em procedi- mento invasivo. As consequências podem ser a ocorrên- cia de infecções graves nos respectivos receptores. É bem conhecida e documen- tada a ocorrência de rotura de anastomose de artéria renal em transplantados renais, principalmente por Staphylococcus e Can- dida, resultando em choque hemorrágico, perda de enxerto e óbito. Também pneu- monia e deiscência de anastomose brôn- quica em transplante de pulmão com sérias consequências são descritos. Desta maneira, a redução do risco de transmissão de infecções por este meca- nismo pode ser obtida pela sistemática de coleta de culturas do doador, mesmo que isto ocorra à distância do hospital onde ocorre o transplante. Deve fazer parte da rotina do intensivista que recebe o pacien- te, em conjunto com a equipe de trans- plante, checar e cobrar sistematicamente estes resultados e prontamente iniciar o tratamento nos receptores, caso haja al- gum resultado de cultura relevante. Assim, esquemas profiláticos podem e devem ser modificados quando da positivação destas culturas e o tratamento deve ser estendi- do. b) Infecções preexistentes que se manifestam nas primeiras semanas pós-transplante: Muitos pacientes são transplantados com alto grau de colonização ou infestação por agentes que podem levar a graves in- fecções nos primeiros dias pós-transplante e que devem ser reconhecidas por intensi- vistas. Entre essas infecções, aquelas causa- das por Strongyloides stercoralis são as que mais preocupam, levando-se em con- sideração a frequência deste helminto em países de clima tropical. Faz parte do ciclo de vida deste agente um ciclo pulmonar, que em condições de imunodepressão pode ser intenso, confi- gurando hiperinfestação e levando a qua- dros pulmonares que podem mimetizar pneumonia bacterianaassociada a ven- tilação mecânica ou ARDS. Taxas de mor- talidade são elevadas e o diagnóstico é a simples visualização em microscopia ópti- ca do helminto. O tratamento deve envol- ver ivermectina e/ou tiabendazol, sendo recomendada muitas vezes profilaxia pe- rioperatória com albendazol a pacientes de maior risco. Alternativamente, a hiperin- 32 33 festação pode manifestar-se na forma de graves lesões gástricas ou intestinais com perfuração e peritonite bacteriana secun- dária. A pesquisa de larvas de S. stercoralis deve fazer parte da rotina diagnóstica de pneumonias em UTI ocorrendo em período pós-transplante recente. c) Infecções fúngicas em transplan- tados de fígado: Infecções fúngicas graves são mais fre- quentes em transplantes que manipulam diretamente o trato gastrointestinal, par- ticularmente transplantados de fígado. Nestes, estudos prospectivos mostram que até 40% dos pacientes terão alguma infecção fúngica durante o primeiro ano após o transplante, embora mudanças na técnica operatória venham acarretando redução destes índices ao longo dos últi- mos anos. Destas infecções, 80 a 90% são por espécies de Candida. O paciente transplantado hepático, em particular aquele que permanece por pe- ríodo mais prolongado em UTI por compli- cações relacionadas diretamente ao trans- plante, apresenta em geral os principais fatores de risco para desenvolvimento de infecção por Candida tradicionalmente identificados em pacientes críticos: ma- nipulação de trato gastrointestinal, NPT, cateteres, antibioticoterapia ampla prévia, insuficiência renal e outros. Associando-se estes fatores ao importante grau de imu- nodepressão, a infecção invasiva por Can- dida é particularmente frequente e preva- lente. A suspeição deste agente deve fazer parte da rotina do intensivista em quadros infecciosos de origem obscura, em particu- lar após o uso de antibioticoterapia ampla. A mortalidade de transplantados he- páticos com infecções fúngicas nos três primeiros meses pós-transplante é signifi- cativamente mais alta quando comparada à de pacientes sem esta condição. Desta maneira, a profilaxia pode ser de utilida- de. De fato, o uso de fluconazol 400 mg/ dia mostrou redução da ocorrência de in- fecção fúngica invasiva em transplantados hepáticos em comparação com aqueles que receberam placebo. Entretanto, não se observou redução de mortalidade, o que provavelmente ocorreu por não dire- cionamento da terapia para pacientes de maior risco. Estes pacientes são aqueles em diálise, retransplantados e aqueles em uso de antibioticoterapia previamente ao transplante. d) Infecções pulmonares: As infecções pulmonares são a princi- pal causa infecciosa de reinternação do paciente transplantado em UTI, com taxas de mortalidade elevadas. Essas infecções ocorrem em qualquer período pós-trans- plante, mas as infecções mais graves e aquelas causadas por agentes oportunis- tas ocorrem principalmente dentro dos seis primeiros meses após o transplante. Neste período, que corresponde àquele de maior grau de imunodepressão, vários agentes podem ser causadores de infecção: helmintos – Strongyloides stercora- lis é mais frequentemente reportado em transplantados renais. Sua ocorrência, conforme citado acima, tende a ser preco- ce e pode ocorrer ainda durante a estadia inicial na UTI; bactérias – continuam ocorrendo in- fecções pulmonares bacterianas em todo período pós-transplante, incluindo infec- ções associadas a ventilação na primei- 32 33 ra passagem pela UTI (em particular em transplante de pulmão, coração e fígado) e aquelas causadas por agentes comuni- tários como S. pneumoniae. Merece desta- que a pneumonia causada por Legionella, que pode ocorrer tanto durante a interna- ção hospitalar (por contaminação de água e transmitida pelo ar) como no ambiente extra-hospitalar. Como característica prin- cipal, as infecções são lobares ou lobulares e na evolução apresentam cavitação cen- tral; vírus – citomegalovírus é hoje o vírus que mais frequentemente causa doença em transplantados, embora sua prevalên- cia venha diminuindo progressivamente com o uso de profilaxia ou tratamento pre- emptivo. Com padrão caracteristicamen- te intersticial difuso, poupando as bases, pode ter evolução grave se não reconheci- do a tempo; fungos – Aspergillus e Cryptococcus são os fungos que mais frequentemente causam infecções pulmonares em trans- plantados. Aspergillus geralmente ocorre precocemente e está associado a situa- ções de intensa imunodepressão. Portan- to, são mais frequentes em transplantados de medula e fígado na forma de massas pulmonares e em transplante de pulmão levando a rotura de anastomose brônqui- ca. As taxas de mortalidade são superio- res a 50% mesmo com terapia efetiva. Já as infecções por Cryptococcus tendem a ser mais tardias, ocorrendo igualmente em todos os transplantados de órgãos sólidos (não há muitas descrições em transplan- te de medula) com curso mais insidioso e menor mortalidade em comparação com Aspergillus. Pneumocystis jirovecii (antes P. carinii) tem ocorrência mais tardia em geral após a suspensão da profilaxia à base de sulfa usada em várias modalidades de transplante. Seu curso clínico tende a ser mais grave, com taxa alta de mortalidade, coinfecção com CMV e associação com ba- rotrauma. Embora elevadas, as taxas de mortali- dade associadas à pneumonia vêm dimi- nuindo progressivamente. Na década de 1980, taxas de mortalidade entre 25 e 50% eram relatadas, contra 12% a 16% nas décadas subsequentes em transplan- tados de órgãos sólidos. Entre os principais fatores para redução de mortalidade está um diagnóstico mais acurado, para institui- ção de terapia adequada. Embora métodos não-invasivos sejam importantes e devam ser usados na abordagem destes pacien- tes (como por exemplo pesquisa de antige- nemia para CMV em sangue, antígeno de Legionella na urina e pesquisa de larvas de Strongyloides em escarro), a melhora diag- nóstica é obtida com métodos invasivos. A utilização de broncoscopia em transplan- tados muda a terapia empírica em 48% a 61% dos casos, muitas vezes por um pa- tógeno não suspeitado, contribuindo para redução de mortalidade. Em relação ao método invasivo, o lavado broncoalveolar parece ser superior ao es- covado protegido, principalmente se reali- zado bilateralmente. Entretanto, a biópsia pulmonar aumenta a chance de diagnosti- car um agente infeccioso em 33% dos ca- sos, comparada com a realização exclusiva de lavado. A biópsia a céu aberto, apesar de mais agressiva e associada a mais efeitos colaterais, apresenta taxa de positividade maior para encontro de agentes infeccio- sos. O intensivista vai deparar-se cada vez mais com infecções respiratórias em UTI e 34 35 desta maneira deve estar preparado para identificar as causas mais prováveis e so- licitar a melhor metodologia diagnóstica possível. Segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), há aumento progressivo na realização dos principais transplantes de órgãos sólidos no país. O Brasil também começa a desta- car-se no cenário dos transplantes de ór- gãos no mundo (CAMARGO, 2007). 34 34 3535 UNIDADE 6 - Cuidados Paliativos Desde meados do século XX com os vá- rios e progressivos avanços tecnológicos nas mais diversas áreas, principalmente na área de saúde, vimos igualmente um pro- gressivo aumento do poder de intervenção por parte dos profissionais de saúde. Segundo Casarini e Basile Filho (2005), o progressivo conhecimento e controle dos fatores de risco para as enfermidades permitiram que mudanças importantes fossem se implementando no cenário da saúde e uma delas é o cuidado paliativo. O cuidado paliativo surge quando se es- gotam todas as possibilidades terapêuti- cas para a cura da pessoa doente. 6.1 Conceitos e definições Segundo a Organização Mundial da Saú- de (OMS), cuidados paliativos são as ações ativas e integrais prestadas a pacientes com doençaprogressiva e irreversível, e a seus familiares. Nesses cuidados é funda- mental o controle da dor e demais sintomas mediante a prevenção e alívio do sofrimen- to físico, psicológico, social e espiritual. Outros termos associados seriam: paciente em condição terminal – um paciente é considerado em condição terminal quando sua doença, independen- te das medidas terapêuticas adotadas, evoluirá de forma inexorável para a morte. A irreversibilidade da doença é definida de forma consensual pela equipe médica, baseada em dados objetivos e subjetivos. Estabelecido este diagnóstico, os cuidados paliativos constituem o objetivo principal da assistência ao paciente; ações paliativas – definidas como medidas terapêuticas, sem intenção cura- tiva, que visam diminuir as repercussões negativas da doença sobre o bem-estar do paciente; cuidados ao fim da vida – aqueles prestados aos familiares e aos pacientes em fase aguda e de intenso sofrimento, na evolução final de uma doença terminal, num período que pode preceder horas ou dias o óbito; tratamento fútil – é toda intervenção que não atenda ou que seja incoerente com os objetivos propostos no tratamento de um determinado doente; cuidados paliativos na UTI – cuida- dos prestados ao paciente crítico em esta- do terminal, quando a cura é inatingível e, portanto deixa de ser o foco da assistência. Nesta situação, o objetivo primário é o bem-estar do paciente, permitindo-lhe uma morte digna e tranquila. A priorização dos cuidados paliativos e a identificação de medidas fúteis devem ser estabelecidas de forma consensual pela equipe multipro- fissional em consonância com o paciente (se capaz), seus familiares ou seu repre- sentante legal. Após definidas, as ações paliativas, devem ser registradas de forma clara no prontuário do paciente (MORITZ et al., 2008). Segundo os autores acima, durante o tratamento de um paciente terminal mui- tas das medidas curativas/restaurativas, podem configurar tratamento fútil, tais como: nutrição parenteral ou enteral, ad- ministração de drogas vasoativas, terapia 36 37 renal substitutiva, instituição ou manu- tenção de ventilação mecânica invasiva e, inclusive, a internação ou permanência do paciente na UTI. Caso venha a existir conflito durante a tomada de decisão de um tratamento pa- liativo, sugere-se que as chefias da UTI le- vem o fato ao conhecimento da direção da instituição para que esta, através de seus instrumentos (Comissão de Ética, Bioética, etc.) viabilize a intermediação necessária. Nesse sentido, deve-se priorizar uma adequada comunicação entre os atores envolvidos no processo, pois, a má comu- nicação é uma das principais barreiras que gera conflitos no tratamento de um pa- ciente terminal na UTI. Mas qual a definição para paliativo? Paliativo deriva do latim pallium, que significa manto ou cobertura. O cuidado paliativo estabelece uma forma de cuidado que reconhece que a cura ou o controle da patologia a longo prazo não são possíveis e agora o importante é a compaixão, humil- dade e honestidade (PESSINI, 2004). No dizer da Academia Nacional de Cui- dados Paliativos (2012), o alívio do sofri- mento, a compaixão pelo doente e seus familiares, o controle Impecável dos sinto- mas e da dor, a busca pela autonomia e pela manutenção de uma vida ativa enquanto ela durar, esses são alguns dos princípios dos Cuidados Paliativos que, finalmente, começam a ser reconhecidos em todas as esferas da sociedade brasileira. O enfoque maior dos cuidados paliativos não é a “cura” da doença, e sim acrescen- tar qualidade de vida para os pacientes em fase terminal na terapia intensiva. Dessa maneira, são evitados tratamentos que prolonguem a vida desnecessariamente, tais como: procedimentos invasivos e do- lorosos, exames desnecessários. Os pro- fissionais envolvidos nesse cuidado devem dar a esses pacientes apoio emocional, psicológico e espiritual, amenizando a dor, melhorando os sintomas e diminuindo o sofrimento, tanto do doente quanto da fa- mília (CORRÊA; SHIBUYA, 2007). 6.2 Surgimento e evolução dos cuidados paliativos O movimento sobre cuidados paliativos iniciou-se com Cicely Saunders, na Ingla- terra, em 1967, baseado em dois elemen- tos fundamentais: o controle efetivo da dor e de outros sintomas decorrentes dos tratamentos em fase avançada das doen- ças, e o cuidado abrangendo as dimensões psicológicas, sociais e espirituais de pa- cientes e suas famílias (PESSINI, 2004). No Brasil, o modelo de cuidados paliati- vos iniciou-se na década de 1980, no Rio Grande do Sul, seguido por São Paulo e Rio de Janeiro no Instituto Nacional do Câncer (INCA), onde foi criado um serviço de su- porte terapêutico oncológico atendendo a pacientes fora de possibilidade de cura no domicílio e no intra-hospitalar (DIAMENTE, 2008). Segundo a Academia Nacional de Cui- dados Paliativos (2012) no Brasil, as ativi- dades relacionadas a Cuidados Paliativos ainda precisam ser regularizadas na forma de lei. Ainda impera no Brasil um enorme desconhecimento e muito preconceito re- lacionado aos Cuidados Paliativos, princi- palmente entre os médicos, profissionais de saúde, gestores hospitalares e poder judiciário. Ainda se confunde atendimento paliativo com eutanásia e há um enorme 36 37 preconceito com relação ao uso de opioi- des, como a morfina, para o alívio da dor. Também são poucos os serviços de Cui- dados Paliativos no Brasil. Menor ainda é o número daqueles que oferecem atenção baseada em critérios científicos e de qua- lidade. A grande maioria dos serviços ainda requer a implantação de modelos padroni- zados de atendimento que garantam a efi- cácia e a qualidade. Há uma lacuna na formação de médi- cos e profissionais de saúde em Cuidados Paliativos, essencial para o atendimento adequado, devido à ausência de residência médica e a pouca oferta de cursos de es- pecialização e de pós-graduação de quali- dade. Ainda hoje, no Brasil, a graduação em medicina não ensina ao médico como lidar com o paciente em fase terminal, como re- conhecer os sintomas e como administrar esta situação de maneira humanizada e ativa (ANCP, 2012). A ANCP prevê que, nos próximos anos, essa situação deverá mudar rapidamen- te. Com a regularização profissional, pro- mulgação de leis, quebra de resistências e maior exposição na mídia (como na novela da TV Globo, ‘Viver a Vida’), haverá uma demanda por serviços de Cuidados Palia- tivos e por profissionais especializados. A ANCP e seus parceiros lutam para que isso de fato se torne realidade. A regularização legal e das profissões, por exemplo, per- mitirá que os planos de saúde incluam Cui- dados Paliativos em suas coberturas, pois está provado que Cuidados Paliativos di- minuem os custos dos serviços de saúde e trazem enormes benefícios aos pacientes e seus familiares. A conscientização da população brasi- leira sobre os Cuidados Paliativos é essen- cial para que o sistema de saúde brasileiro mude sua abordagem aos pacientes por- tadores de doenças que ameaçam a conti- nuidade de suas vidas. Cuidados Paliativos são uma necessidade de saúde pública. São uma necessidade humanitária (ANCP, 2012). 6.3 Os cuidados paliativos, as UTIs e os profissionais envolvidos Atualmente, a discussão e a aplicação dessa forma de cuidado têm acontecido em várias instituições hospitalares e prin- cipalmente nas unidades de terapia inten- siva. A necessidade de uma internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é, em geral, determinada por um evento ameaçador à vida e a internação muitas vezes é inesperada (CESARINI; BASILE FI- LHO, 2005). A ida para uma UTI gera um sentimento de morte, incapacidade e solidão para o pa- ciente e familiares e, em contraposto a isso, uma falsa esperança de que todo o aparato tecnológico, farmacológico e atendimento intensivo de uma equipe multidisciplinar retardarão e impedirão sua morte (SOUZA; ZAKABI, 2005). Muitas vezes, apesar das medidas toma- das,os pacientes evoluem para uma doen- ça grave e incurável. Nesses pacientes já não há mais o que fazer no processo cura- tivo que restabeleça suas funções, tendo em vista a gravidade e o estado avançado de sua doença. Com isso, os cuidados palia- tivos tornam-se imprescindíveis e neces- sários a fim de manter uma qualidade de vida sem prolongar ou retardar o processo 38 39 de morte (SOUZA; ZAKABI, 2005; CESARI- NI; BASILE FILHO, 2005; DIAMENTE, 2008). É importante reforçar que o enfoque maior dos cuidados paliativos não é a “cura” da doença, e sim acrescentar qualidade de vida para os pacientes em fase terminal na terapia intensiva. Dessa maneira, são evitados tratamentos que prolonguem a vida desnecessariamente, tais como: pro- cedimentos invasivos e dolorosos, exames desnecessários. Os profissionais envolvi- dos nesse cuidado devem dar a esses pa- cientes apoio emocional, psicológico e es- piritual, amenizando a dor, melhorando os sintomas e diminuindo o sofrimento, tanto do doente quanto da família (CORRÊA; SHI- BUYA, 2007). A discussão dos cuidados paliativos na terapia intensiva é uma maneira de pro- porcionar aos profissionais de saúde a melhoria na assistência de enfermagem aos pacientes considerados fora de possi- bilidade terapêutica e aos seus familiares, proporcionando-lhes conforto, solidarie- dade, alívio da dor em um momento crucial. Moritz et al. (2008) ressaltam que as- pectos culturais, associados aos fatores sociais, como a dificuldade do tratamento de um doente terminal em seu lar, levaram à morte institucionalizada. No mundo atual, mais de 70% dos óbi- tos ocorrem nos hospitais e, mais especi- ficamente nas Unidades de Terapia Inten- siva (UTIs). Nessas unidades, tamanho é o arsenal tecnológico disponível que se tor- na quase impossível morrer sem a anuên- cia do médico intensivista. Corrobora com essa afirmação, o fato de que os óbitos nas UTIs, a nível mundial, são precedidos em 30 a 50% dos casos de decisões sobre a suspensão ou recusa de tratamentos con- siderados fúteis ou inúteis (BITTENCOURT et al., 2007). Moritz et al. (2007) refletem que os membros da equipe multiprofissional das UTIs tornam-se angustiados diante das dúvidas sobre o real significado da vida e da morte. Até quando avançar nos procedi- mentos de suporte vital? Em que momen- to parar e, sobretudo, guiados por índices prognósticos ou por modelos de ética ou moralidade? Despreparados para essa questão, a medicina moderna passa a su- bestimar o conforto do enfermo terminal impondo-lhe uma longa e sofrida agonia. Adia sua morte à custa de insensato e pro- longado sofrimento. Para que a dor e o so- frimento neste processo de morrer sejam minimizados tem se tornado uma necessi- dade, a implantação de protocolos de cui- dados paliativos nas UTIs. Mostrar um cuidar mais humano, que não depende apenas de rotinas nos pro- cedimentos, envolve nuances próprias que se ligam com a essência do sujeito, en- quanto “ser no mundo”. Nesse contexto, o ouvir, associado à troca de experiências com toda a equipe, poderá contribuir para novas discussões, deixando de lado o si- lêncio, e otimizando uma discussão ética do cuidar em UTIs (FALCO et al., 2012). Aqui nos cabe lembrar que também existe um enorme desgaste emocional dos membros da equipe que conduzem o trata- mento do paciente em condição terminal nas UTIs. Portanto, essa equipe deve ser reconhecida como provedora, mas também como objeto dos cuidados. Para tal, Moritz et al. (2007) sugerem que sejam ofereci- dos treinamento e educação continuada, que capacite os profissionais, de modo permanente, para os cuidados paliativos. A 38 39 instituição gestora do processo não pode se eximir da sua participação nos cuidados paliativos prestados aos pacientes. Guarde... Os princípios dos Cuidados Paliati- vos são: fornecer alívio para dor e outros sinto- mas estressantes como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências oncológi- cas; reafirmar vida e a morte como proces- sos naturais; integrar os aspectos psicológicos, so- ciais e espirituais ao aspecto clínico de cui- dado do paciente; não apressar ou adiar a morte; oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do pa- ciente, em seu próprio ambiente; oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativa- mente possível até sua morte; usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psi- cossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto. Os pontos considerados fundamen- tais no tratamento são: a unidade de tratamento compreende o paciente e sua família; os sintomas do paciente devem ser avaliados rotineiramente e gerenciados de forma eficaz através de consultas fre- quentes e intervenções ativas; as decisões relacionadas à assistência e tratamentos médicos devem ser feitos com base em princípios éticos; os cuidados paliativos devem ser for- necidos por uma equipe interdisciplinar, fundamental na avaliação de sintomas em todas as suas dimensões, na definição e condução dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, imprescindíveis para o controle de todo e qualquer sintoma; a comunicação adequada entre equi- pe de saúde e familiares e pacientes é a base para o esclarecimento e favorecimen- to da adesão ao tratamento e aceitação da proximidade da morte. Os cuidados paliativos modernos estão organizados em graus de complexidade que se somam em um cuidado integral e ativo. Os cuidados paliativos gerais refe- rem-se à abordagem do paciente a partir do diagnóstico de doença em progressão, atuando em todas as dimensões dos sinto- mas que vierem a se apresentar. Cuidados paliativos específicos são requeridos ao paciente nas últimas sema- nas ou nos últimos seis meses de vida, no momento em que se torna claro que o pa- ciente encontra-se em estado progressivo de declínio. Todo o esforço é feito para que o mes- mo permaneça autônomo, com preserva- ção de seu autocuidado e próximo de seus entes queridos. Os cuidados ao fim de vida referem-se, em geral, aos últimos dias ou últimas 72 horas de vida. O reconhecimen- to desta fase pode ser difícil, mas é extre- mamente necessário para o planejamento do cuidado e preparo do paciente e sua família para perdas e óbito. Mesmo após 40 4140 o óbito do paciente, a equipe de cuidados paliativos deve dar atenção ao processo de morte: como ocorreu, qual o grau de conforto e que impactos trouxe aos fami- liares e à própria equipe interdisciplinar. A assistência familiar pós-morte pode e deve ser iniciada com intervenções preventivas (INCA, 2014). 40 4141 REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BÁSICAS GOMES, Alice Martins. Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva. 3 ed. São Paulo: EPU, 2008. VIANA, Renata Andréa Pietro Pereira; WHITAKER, Iveth Yamaguchi (orgs.). Enfer- magem em terapia intensiva. Porto Alegre: Artmed, 2011. REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PA- LIATIVOS. O que são cuidados paliativos? (2012). Disponível em: http://www.paliati- vo.org.br/ancp.php?p=oqueecuidados AGUIAR, M.I.F, BRAGA, V.A.B. Sentimen- tos e expectativas de pacientes candida- tos ao transplante de fígado. Rev Eletr En- ferm. 2011; 13(3): 413-21. ASSIS, F.N. Histórico do transplante de fígado (2003). 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