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Apendicite aguda Causa mais comum de abdome agudo após segundo ano, com pico máximo aos 12 anos. Incidência 1:15 ou 7,5% da população, com mortalidade de 0,1 a 1% (crianças e idosos – complicações ou comorbidades). É uma causa incomum de abdome agudo no lactente, com 6% dos casos em menores de 4 anos e 3,5% abaixo dos 2 anos. Em 95% das apendicite em menores de 2 anos ela é complicada, pois o diagnóstico é tardio FISIOPATOLOGIA: Obstrução do lúmen apendicular é o fator desencadeante da apendicite aguda, pois causa um acúmulo de muco na luz e aumento da pressão intramural. Isso leva a um edema por obstrução linfática e venosa, sobrepondo a pressão do tecido em comparação ao capilar e causando isquemia. A isquemia leva a necrose e perfuração do tecido (peritonite). +Além disso, essas perdas de barreiras protetoras na mucosa permite uma penetração de bactérias na parede do apêndice. + O organismo tenta se adaptar a situação criando um plastrão (migração de omento e alças – principalmente íleo terminal), limitando a peritonite. Alguns não fazem plastrão (geralmente por imunossupressão), tendo uma peritonite difusa (casos um pouco mais graves). Causas de obstrução: hiperplasia dos linfonodos submucosos do apêndice (comum aos 12 anos) (66%); fecalito (10%); corpo estranho e vermes (ex. ascaris). CLASSIFICAÇÃO: pela evolução fisiopatológica da doença, sendo que o tempo de evolução em cada uma das 5 fases é variável (em média 12h). Apendicite inicial ou não-complicada + Apendicite aguda fragmentos ou edematosa: apêndice avermelhado. + Apendicite aguda supurativa (fibrinosa): apêndice pálido, congesto, pode ter fibrina. Apendicite complicada ou avançada + apendicite aguda gangrenosa: pode ter microperfuração não visíveis ao olho nu. Tecido friável, geralmente rompe no intraoperatório. + Apendicite aguda perfurada: perfuração visível a olho nu. +Apendicite aguda bloqueada: perfurações bloqueadas pelo plastrão. Na cirurgia tira o omento e o apêndice (evitar futuras bridas). QUADRO CLÍNICO: pode ser o único recurso para diagnóstico. História: + Dor abdominal (95-100%): inicialmente dor em epigástrio não localizada (visceral - SNA), evoluindo, cerca de 12h depois, para uma periviscerite em flanco inferior direito (inflamação do peritônio parietal –SNC). - Dores atípicas: podem ocorrer por localização anormal da ponta do apêndice (ex. pélvico, quadrante superior direito [colecistite], retrocecal [cólica renal ou pielonefrite aguda). + Vômitos (80%): inicia com a dor. Começa com conteúdo gástrico, podendo virar bilioso (obstrução ou suboclusão pelo plastrão). + Anorexia (45-75%): pode ser hiporexia. + Náuseas (35-90%): A ocorrência é variável, mas geralmente acompanha os vômitos. + Hábito intestinal: fezes normais são a maioria dos casos, mas pode ocorrer constipação (5 a 25%) por íleo paralítico ou diarreia (5 a 15%). A diarreia indica apendicite complicada, ocorrendo pela irritação do cólon (principalmente reto e sigmóide) pelo processo de bloqueio ou pela peritonite generalizada. Exame físico: +Estado geral: hidratação e temperatura.Observa odeambular da criança, pois geralmente anda arqueado e devagar pela dor.Alguns médicos pedem para a criança pular nos casos de dúvida. + Exame abdominal: inspeção, ausculta e palpação. - Palpação: McBurney descreveu em 1889 a localização do ponto de maior dor na apendicite aguda - "em todos os casos o ponto de maior intensidade da dor estava situado entre uma e uma e meia polegadas da espinha ilíaca anterossuperior em uma linha reta desta até a cicatriz umbilical". Esse ponto é chamado hoje de ponto de McBurney. ° Palpação superficial: defesa muscular voluntária evoluindo para defesa muscular involuntária (peritonite enrijecendo a musculatura abdominal). DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: GECA; constipação intestinal; infecção urinária; adenite mesentérica; cisto de ovário; cólica nefrética; pneumonia lobar direita; dor de meio ou Mittelschmerz (dor no meio do ciclo menstrual); anexite aguda (geralmente por DST); gravidez tubária rota (se sexualmente ativa); pancreatite aguda; hepatite; colecistite aguda; peritonite primária; diverticulite de Meckel; anemia falciforme; úlcera perfurada; psoíte aguda; hematoma do psoas; necrose asséptica da cabeça do fêmur; torção de testículo intra abdominal; febre reumática; linfoma não Hodgkin; cetose diabética; púrpura anafilactoide. ESCORE PREDITIVO DE ALVARADO: não é utilizado na prática. Usa variáveis de sintomas e sinais, determinado pelo escore - 5 a 6 pontos pode ser apendicite aguda; 7 a 8 pontos provável apêndicite, 9 a 10 pontos muito provável apendicite. EXAMES COMPLEMENTARES: geralmente não são necessários para o diagnóstico. É melhor encaminhar logo o paciente do que esperar os resultados dos exames. Hemograma:leucocitose com desvio à esquerda. Em 10% dos casos é normal. Parcial de urina: para excluir pielonefrite, mas o resultado pode enganar. + Hematúria ou leucocitúria: pode ser de pielonefrite, mas se o apêndice está próximo ao ureter ou bexiga pode causar também. + Hematúria e proteinúria: pensar em doenças no rim - glomerulonefrite, púrpura de HenochSchölein, síndrome hemolítico-urêmica. + Nitritos e bacteriúria: positivo em infecção urinária. Radiografia: rotina de abdome agudo (tórax; abdome em AP deitado e em pé). + Tórax: para excluir pneumonia da base e DP. + Abdome: único sinal patognomônico é o fecalito. Pode ter borramento do psoas, escoliose antálgica (Escoliose para proteger a região), acúmulo de alças em quadrante inferior direito (plastrão), obstrução intestinal (sinal de empilhamento de moedas). Ultrassom de abdome: boa sensibilidade, não invasivo, sem radiação. É examinador dependente. É o exame de escolha após fazer os outros exames e continuar com dúvida diagnóstica. + Normal: apenas em 10 a 15% das crianças o apêndice normal aparece no ultrassom. O apêndice é menor que 6mm, compressível, sem fluxo ao Doppler. + Apendicite aguda: apêndice maior que 6mm, não-compressível, líquido periapendicular, plastrão, aumento de fluxo ao Doppler na parede. Tomografia: maior sensibilidade e especificidade que ultrassom (operador dependente). Usa contraste endovenoso e/ou retal. A desvantagem é o custo alta e a exposição à radiação (deve ter uso limitado na pediatria). Há controvérsia se após dúvida no ultrassom faz tomografia ou vídeo laparotomia. DÚVIDA DIAGNÓSTICA: observação intra-hospitalar (repetir exame físico e ultrassom); videolaparoscopia diagnóstica. TRATAMENTO: antibioticoterapia e cirúrgico. Cirúrgico: + Aberto: - Incisão: no ponto de McBurney. A incisão de Rocky-Davis é mais usada na criança e a de McBurney mais no adulto. - Tratamento do coto: ligadura simples com ou sem sutura invaginante. O objetivo da sutura invaginante é diminuir a chance de fístula pós-cirurgia, mas acompanhamentos de pacientes que fizeram a cirurgia por vídeo (onde não dá para fazer a invaginante) mostrou que não há um benefício tão grande nessa técnica. + Videolaparoscópica: - Trocater: princípio da triangulação – umbigo, pelve e fossa ilíaca esquerda. - Tratamento do coto: pode-se fazer a ligadura simples dentro do abdômen ou exteriorizar o apêndice pelo trocarte umbilical (vídeo assistida). - Vantagens: menor trauma cirúrgico; melhor visualização da cavidade; incisão mais estética; menor dor no pós-operatório; menor tempo de hospitalização.