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Língua Portuguesa para Analista Judiciário (TJ BA) 2023 (
https://www.tecconcursos.com.br/s/Q2enFK )
Ordenação: Por Matéria
Português
Questão 801: FCC - AFRE (SEF SC)/SEF SC/Auditoria e Fiscalização/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Existe uma estreita relação entre nutrição, saúde e educação, de um lado, e capacidade de trabalho e
iniciativa de outro. A incompetência econômica do indivíduo resulta em privação material: sua demanda
por bens não corresponde a uma demanda recíproca, no mercado, por aquilo que ele é capaz de
oferecer. Ao mesmo tempo, a pobreza de uma geração se torna o berço da incompetência da geração
seguinte: o ambiente de privação material e ignorância em que nasce (e se forma) o indivíduo impede
que ele desenvolva todas as qualidades físicas, morais e intelectuais das quais dependerá sua
competência na vida prática e sua sobrevivência no mercado. Fecha-se assim o elo entre pobreza e
improficiência.
Entre os economistas do século XIX, foi Marshall aquele que melhor compreendeu a importância da
formação de capital humano − do investimento na qualidade da força de trabalho − para um programa
de reforma social eficaz, voltado para a erradicação da pobreza e a promoção da riqueza e do
desenvolvimento sociais. Na Inglaterra oitocentista de Marshall, existia um vasto contingente de
indivíduos trabalhando com um nível baixíssimo de produtividade, semiocupados ou até incapacitados de
exercer qualquer tipo de atividade no mercado que lhes garantisse o mínimo necessário para um padrão
de vida tolerável.
A bandeira da educação compulsória e universal, financiada e pelo menos parcialmente provida pelo
Estado, é uma tônica constante da economia clássica desde Adam Smith. Malthus, para citar apenas um
exemplo, sugeria que o investimento público maciço em educação seria uma resposta mais eficaz do que
a Poor Law (sistema de assistência social aos pobres) no combate ao pauperismo.
O ponto crucial, contudo, é que os economistas clássicos ainda tendiam a abordar a questão da
educação mais sob o ângulo do bem-estar social, da mudança de atitudes e valores que acarretava, do
que sob o ângulo do capital humano, isto é, como parte do esforço de investimento e formação de
capital produtivo de uma nação.
Foi apenas com os “Princípios de economia” de Marshall que os economistas passaram a tratar a
educação, além da saúde, alimentação etc. − o investimento em seres humanos em suma −, não mais
como uma questão simplesmente humanitária (embora, é claro, também o seja), mas como parte do
esforço de acumulação de capital: como investimento na capacidade produtiva da população, entendida
como resultante de sua saúde e educação básica, bem como de seu grau de competência profissional.
O núcleo do argumento marshalliano é a noção de que o verdadeiro gargalo com que se defrontam as
economias menos desenvolvidas não é a escassez de capital financeiro, mas a escassez de capital
humano. É a falta de capacitação da comunidade para integrar-se de forma dinâmica à economia
mundial que compromete o esforço de crescimento numa economia atrasada.
Mas o que é, afinal, o capital humano? O capital humano representa a capacitação do indivíduo para o
trabalho qualificado. Ele é constituído não somente pelo resultado do investimento da família e da
sociedade na competência produtiva das pessoas, mas também por elementos de natureza ética como,
por exemplo, a capacidade dos indivíduos de agir com base nos interesses comuns. Com isso, aumenta o
poder de ganho dos indivíduos no mercado e eles aprendem que é do seu próprio interesse respeitar
regras gerais de conduta das quais todos os participantes da sociedade se beneficiam, embora para isso
precisem restringir alguns de seus interesses pessoais mais imediatos.
É importante frisar que Marshall sustentou um argumento de caráter econômico quando defendeu a
distribuição menos desigual da riqueza e da renda, de modo a promover a formação de capital humano.
Seu argumento chama a atenção para os ganhos obtidos a partir da melhora na educação da população:
“nenhuma mudança favoreceria tanto um crescimento mais rápido da riqueza material quanto uma
melhoria das nossas escolas [...], desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de
estudo, o que permitirá ao filho do trabalhador mais simples a obtenção da melhor educação teórica e
prática que nossa época é capaz de oferecer a ele.”
(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo.
O elogio do vira-lata e outros ensaios. Companhia das Letras, 2018, edição digital.)
 
Considerado o contexto, está correto o que consta de:
 a) O sinal indicativo de crase deverá ser mantido caso se substitua “economia mundial” por “uma
economia globalizada” no segmento integrar-se de forma dinâmica à economia mundial
 b) O segmento não é a escassez de capital financeiro, mas a escassez de capital humano exprime
noção de finalidade.
 c) Sem prejuízo da correção gramatical, o segmento impede que ele desenvolva pode ser reescrito do
seguinte modo: impede-lhe de desenvolver.
 d) Os verbos do segmento Malthus [...] sugeria que o investimento público maciço em educação seria
uma resposta mais eficaz estão flexionados nos mesmos tempo e modo.
 e) O segmento sublinhado em desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de
estudo pode ser substituído por “uma vez que”, sem que nenhuma outra modificação seja feita na frase.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/718909
Questão 802: FCC - Con Tec Leg (CL DF)/CL DF/Taquígrafo Especialista/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
No belíssimo ensaio em que trata das representações utópicas no século XVIII, Bronislaw Baczko1
assinala que a vontade de redimir a civilização moderna dos males que a afligem e de erguer uma ‘boa
vida’ coletiva está presente nas mais variadas formas do imaginário social, constituindo um marco do
‘espírito do tempo’. A busca de um modelo ideal de convivência humana evidencia-se não só na
proliferação de textos redigidos nos moldes tradicionais da literatura utópica, narrando viagens a um país
feliz e/ou elaborando projetos para um governo justo, mas, também, na abundância de imagens e ideias
para a reforma social em uma imensa quantidade de escritos e documentos pertencentes seja à cultura
douta, seja à popular (cf. Baczko, 1979, passim).
A esse respeito, lembra o comentador, a bibliografia especializada no assunto registra cerca de 80 relatos
de viagens imaginárias, publicados na França entre 1676 e 1789, número que apresenta um crescimento
impressionante, chegando a mais de 2 mil textos, se forem consideradas as múltiplas e diferentes
projeções utópicas presentes na literatura da época
A imagem de homens livres e iguais que vivem fraternalmente em comunhão de bens, sem leis nem
governos, representa, em geral, o ideal de sociedade entre as correntes progressistas da época,
fascinando inclusive escritores políticos como Voltaire, Montesquieu e Diderot, que nunca defenderam a
abolição da propriedade e do Estado, circunscrevendo suas propostas de reforma do poder ao âmbito de
um despotismo esclarecido, fiscalizado por uma opinião pública letrada, ou de uma monarquia
constitucional inspirada no modelo vigente na Inglaterra após a Revolução Gloriosa2.
De modo análogo, Charles Rihs3, em seu livro sobre os utopistas do século XVIII, chama a atenção para
essas ‘antinomias’, lembrando, por exemplo, o descompasso entre o ideário social elitista de Voltaire e
suas observações, feitas ao historiar os costumes, a respeito da felicidade dos povos do Novo Mundo e
das tribos africanas que ignoram “o meu e o teu” (cf. Rihs, 1970, p. 14). Na mesma linha, Montesquieu,
rígido defensor do ‘espírito das leis’ em sua obra principal, retrata com entusiasmo, nas Cartas persas, a
organização social do pequeno reino árabe dos Trogloditas, onde todos trabalham jocosa e
espontaneamente pelo bemcomum. Além das divagações utópicas suscitadas pela investigação
geográfica e histórica de culturas não-europeias, os homens das Luzes empreendem também a aventura
filosófica, suspensa entre o real e o imaginário, como o Suplemento à Viagem de Bougainville, de
Diderot, ou o Eldorado, em Cândido, de Voltaire, visões de paraísos onde os homens vivem felizes, sem
brigas pela riqueza e pelo poder.
(Adaptado de PIOZZI, Patrizia. Os arquitetos da ordem anárquica: de Rousseau a Proudhon e Bakunin. São Paulo:
Editora UNESP, 2006, p.73-74)
Obs.: 1Bronislaw Baczko (1924-2016), filósofo e historiador de ideias polonês.
2Revolução Gloriosa ou Segunda Revolução Inglesa: movimento revolucionário de caráter pacífico, ocorrido na Inglaterra
entre os anos de 1688 e 1689, que gerou a troca do absolutismo monárquico pela monarquia parlamentar.
3Charles Rihs, autor de obra sobre os filósofos utopistas.
 
 
Segmentos do texto vêm, abaixo, seguidos de observação quanto ao mecanismo de coesão textual de
que fazem parte. A alter nativa que apresenta correto reconhecimento do fenômeno de coesão é:
 a) No belíssimo ensaio em que trata das representações utópicas no século XVIII, Bronislaw Baczko
assinala / duas coesões por retomada de termo.
 b) Bronislaw Baczko assinala a vontade de redimir a civilização moderna dos males que a afligem /
um único elo coesivo, o pronome pessoal oblíquo.
 c) lembrando, por exemplo, o descompasso entre o ideário social elitista de Voltaire e suas
observações, feitas ao historiar os costumes / o último segmento estabelece coesão com o anterior
somente por justaposição, sem articuladores subentendidos.
 d) Montesquieu, rígido defensor do ‘espírito das leis’ em sua obra principal, retrata / um único
elemento coesivo, o pronome possessivo.
 e) os homens das Luzes empreendem também a aventura filosófica / retomada por antonomásia.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/751891
Questão 803: FCC - Ana Prev (SEGEP MA)/SEGEP MA/Administrativa Previdenciária/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
O equilíbrio entre desafio e frustração é crucial no ensino. O problema é que estudantes têm talentos
variados e diferentes. A mesma aula pode ser fácil demais e entediar certos alunos e, ao mesmo tempo,
parecer intransponível a outros.
É óbvio que não somos todos iguais, mas custamos a admitir isso. Uma consequência da ideia de que
somos todos iguais é que a diferença entre os alunos que terão sucesso na escola e os que não terão
não pode ser questão de mais ou menos inteligência, predisposição ou preguiça.
A diferença entre os que conseguem e os que não, para muitos, reside apenas na capacidade de resistir
à frustração.
Ou seja, os que conseguem são os que não desistem, e não desistem porque não se deixam derrubar
pela frustração. Os que não conseguem têm as mesmas habilidades, mas perdem coragem quando
frustrados. Consequência: o que é preciso ensinar às crianças é resistência à frustração, que os estudos e
a vida em geral necessariamente lhes prometem.
Não deixa de ser paradoxal: nossa cultura pensa que a chave do sucesso está na capacidade de se
frustrar. Sempre tem alguém para se indignar porque seríamos hedonistas e imediatistas. Na verdade,
somos uma das culturas menos hedonistas da história do Ocidente: somos apologistas da frustração,
que, aliás, tornou-se mérito.
É raro encontrar pais que não estejam convencidos de que não é bom dar a uma criança o que ela quer.
É claro que, se faz manhas para obter algo que está fora do orçamento familiar, é preciso dizer não. E
talvez seja bom que ela aprenda, assim, que a realidade resiste ao desejo.
Mas nossa pedagogia frustradora não depende do orçamento: uma criança de classe média, nem obesa
nem pré-diabética, pede um sorvete (valor insignificante). Em regra, a resposta será negativa: agora é
tarde ou cedo demais, é muito doce, e por aí vai... Produzir uma frustração é considerado um ato
pedagógico, que ajudará a criança a crescer.
Amadurecer, na nossa cultura, significa aprender a renunciar. Por isso, presume-se que o idoso seja mais
sábio que o jovem, porque saberia "naturalmente" que a vida é renúncia.
Mas e se o essencial da vida forem os sorvetes que não tomamos, todos os pequenos (grandes) prazeres
aos quais renunciamos em nome de uma propedêutica à suposta grande frustração da vida? Pior: e se
estivermos educando as crianças para que queiram desde pequenas renunciar aos prazeres da vida?
Obviamente, não é preciso dar à criança tudo o que pede. Mas também não é preciso lhe negar o que
ela pede sob pretexto de que estaríamos treinando-a para alguma preciosa sabedoria.
(Adaptado de: CALLIGARIS, Contardo. Disponível em: folha.uol.com.br, 21/12/2017)
 
Expressa ideia de finalidade, no contexto, o que se encontra sublinhado em:
 a) E talvez seja bom que ela aprenda, assim, que a realidade resiste ao desejo.
 b) É óbvio que não somos todos iguais, mas custamos a admitir isso.
 c) ... e não desistem porque não se deixam derrubar pela frustração.
 d) ... se faz manhas para obter algo que está fora do orçamento...
 e) A diferença entre os que conseguem e os que não, para muitos, reside apenas na capacidade...
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/655868
Questão 804: FCC - Ana Exec (SEGEP MA)/SEGEP MA/Programador de Sistemas/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
A voz das celebridades
A propósito dos modismos jornalísticos: na ânsia de surpreender o leitor, houve a voga de colher opiniões
de figuras públicas sobre assuntos que fugiam às suas especialidades. Botar o cirurgião célebre, por
exemplo, para falar de arte cinematográfica, ou o jogador de futebol para comentar uma portaria do
Banco Central. Quem vamos ouvir sobre este assunto? − perguntava-se nas redações, em sôfrega
procura pelo enfoque “original”. Logo se destacaram, no picadeiro midiático, umas tantas figuras sempre
prontas a deitar falação sobre o que quer que fosse. A tal ponto que um dia, na revista em que
trabalhava, resolveu-se juntar os falastrões numa só matéria, onde se expusessem ao ridículo. O que se
viu foi um economista palpitando sobre balé e um bailarino a discursar sobre finanças. Deu a maior
confusão, naturalmente. Mas a matéria deixou exposto um modismo jornalístico inaceitável.
(Adaptado de: WERNECK, Humberto. Esse inferno vai acabar. Porto Alegre, Arquipélago Editorial, 2011, p. 102-103)
 
A transformação de um segmento do texto trouxe consigo uma ideia de finalidade em:
 a) na ânsia de surpreender o leitor = tão logo surpreendesse o leitor.
 b) Logo se destacaram... umas tantas figuras = caso se destacassem umas tantas figuras.
 c) sempre prontas a deitar falação = já que se mostravam prontas a deitar falação.
 d) onde se expusessem ao ridículo = para que se exibissem ridiculamente.
 e) a matéria deixou exposto um modismo... inaceitável = embora a matéria expusesse um modismo
inaceitável.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/655355
Questão 805: FCC - AFRE (SEF SC)/SEF SC/Auditoria e Fiscalização/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Existe uma estreita relação entre nutrição, saúde e educação, de um lado, e capacidade de trabalho e
iniciativa de outro. A incompetência econômica do indivíduo resulta em privação material: sua demanda
por bens não corresponde a uma demanda recíproca, no mercado, por aquilo que ele é capaz de
oferecer. Ao mesmo tempo, a pobreza de uma geração se torna o berço da incompetência da geração
seguinte: o ambiente de privação material e ignorância em que nasce (e se forma) o indivíduo impede
que ele desenvolva todas as qualidades físicas, morais e intelectuais das quais dependerá sua
competência na vida prática e sua sobrevivência no mercado. Fecha-se assim o eloentre pobreza e
improficiência.
Entre os economistas do século XIX, foi Marshall aquele que melhor compreendeu a importância da
formação de capital humano − do investimento na qualidade da força de trabalho − para um programa
de reforma social eficaz, voltado para a erradicação da pobreza e a promoção da riqueza e do
desenvolvimento sociais. Na Inglaterra oitocentista de Marshall, existia um vasto contingente de
indivíduos trabalhando com um nível baixíssimo de produtividade, semiocupados ou até incapacitados de
exercer qualquer tipo de atividade no mercado que lhes garantisse o mínimo necessário para um padrão
de vida tolerável.
A bandeira da educação compulsória e universal, financiada e pelo menos parcialmente provida pelo
Estado, é uma tônica constante da economia clássica desde Adam Smith. Malthus, para citar apenas um
exemplo, sugeria que o investimento público maciço em educação seria uma resposta mais eficaz do que
a Poor Law (sistema de assistência social aos pobres) no combate ao pauperismo.
O ponto crucial, contudo, é que os economistas clássicos ainda tendiam a abordar a questão da
educação mais sob o ângulo do bem-estar social, da mudança de atitudes e valores que acarretava, do
que sob o ângulo do capital humano, isto é, como parte do esforço de investimento e formação de
capital produtivo de uma nação.
Foi apenas com os “Princípios de economia” de Marshall que os economistas passaram a tratar a
educação, além da saúde, alimentação etc. − o investimento em seres humanos em suma −, não mais
como uma questão simplesmente humanitária (embora, é claro, também o seja), mas como parte do
esforço de acumulação de capital: como investimento na capacidade produtiva da população, entendida
como resultante de sua saúde e educação básica, bem como de seu grau de competência profissional.
O núcleo do argumento marshalliano é a noção de que o verdadeiro gargalo com que se defrontam as
economias menos desenvolvidas não é a escassez de capital financeiro, mas a escassez de capital
humano. É a falta de capacitação da comunidade para integrar-se de forma dinâmica à economia
mundial que compromete o esforço de crescimento numa economia atrasada.
Mas o que é, afinal, o capital humano? O capital humano representa a capacitação do indivíduo para o
trabalho qualificado. Ele é constituído não somente pelo resultado do investimento da família e da
sociedade na competência produtiva das pessoas, mas também por elementos de natureza ética como,
por exemplo, a capacidade dos indivíduos de agir com base nos interesses comuns. Com isso, aumenta o
poder de ganho dos indivíduos no mercado e eles aprendem que é do seu próprio interesse respeitar
regras gerais de conduta das quais todos os participantes da sociedade se beneficiam, embora para isso
precisem restringir alguns de seus interesses pessoais mais imediatos.
É importante frisar que Marshall sustentou um argumento de caráter econômico quando defendeu a
distribuição menos desigual da riqueza e da renda, de modo a promover a formação de capital humano.
Seu argumento chama a atenção para os ganhos obtidos a partir da melhora na educação da população:
“nenhuma mudança favoreceria tanto um crescimento mais rápido da riqueza material quanto uma
melhoria das nossas escolas [...], desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de
estudo, o que permitirá ao filho do trabalhador mais simples a obtenção da melhor educação teórica e
prática que nossa época é capaz de oferecer a ele.”
(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo.
O elogio do vira-lata e outros ensaios. Companhia das Letras, 2018, edição digital.)
 
Fecha-se assim o elo entre pobreza e improficiência.
Em relação aos argumentos que a antecedem, a frase acima exprime noção de
 a) conclusão.
 b) causa.
 c) concessão.
 d) finalidade.
 e) oposição
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/718905
Questão 806: FCC - DP RS/DPE RS/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.
 
Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há
alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de
interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a
partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada
dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal
gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.
 
Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los
muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma,
deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania
esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.
 
Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem,
os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes
a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em
preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles
provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles
que o escutam.
 
A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do
esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu
senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas
confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.
 
Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem
conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir
realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito
nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas
gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.
 
(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017)
 
Caso a oração sublinhada no segmento ... nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e [...] a avaliar
mal sua dimensão de pensamento... (2º parágrafo) seja subordinada à anterior, atribui-se um sentido
adequado ao contexto em:
 a) nos levar a tomá-los mais “a sério”, do que a avaliar mal sua dimensão de pensamento
 b) nos levar a tomá-los tão “a sério”, quanto a avaliar mal sua dimensão de pensamento
 c) nos levar a tomá-los “a sério” desta vez a tal ponto que avaliemos mal sua dimensão de
pensamento
 d) nos levar a tomá-los demasiadamente “a sério”; portanto, a avaliar mal sua dimensão de
pensamento
 e) nos levar a tomá-los muito “a sério”, para que se avalie mal sua dimensão de pensamento
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/659886
Questão 807: FCC - Nutri (Pref Macapá)/Pref Macapá/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
De uma entrevista
 
Respondendo à pergunta “Acha bom viver?”, “Essa é a impressão que você dá”, respondeu o escritor e
psicanalista Hélio Pellegrino:
 
“Viver − essa difícil alegria. Viver é jogo, é risco. Quem joga pode ganhar ou perder. O começo da
sabedoria consiste em aceitarmos que perder também faz parte do jogo. Quando isso acontece,
ganhamos alguma coisa de extremamente precioso: ganhamos nossa possibilidade de ganhar. Se sei
perder, sei ganhar. Se não sei perder,não ganho nada, e terei sempre as mãos vazias. Quem não sabe
perder acumula ferrugem nos olhos e se torna cego − cego de rancor. Quando a gente chega a aceitar,
com verdadeira e profunda humildade, as regras do jogo existencial, viver se torna mais que bom −
torna-se fascinante.
 
Viver bem é consumir-se, é queimar os carvões do tempo que nos constitui. Somos feitos de tempo, e
isto significa: somos passagem, movimento sem trégua, finitude. A cota de eternidade que nos cabe está
encravada no tempo. É preciso garimpá-lo com incessante coragem, para que o gosto do seu ouro possa
fulgir em nosso lábio. Se assim acontecer, somos alegres e bons, e a vida tem sentido.”
 
(Adaptado de: PELLEGRINO, Hélio. Lucidez embriagada. São Paulo: Planeta, 2004, p. 45)
 
É preciso garimpá-lo com incessante coragem, para que o gosto do seu ouro possa fulgir em nosso lábio.
Ao se reescrever a frase acima com correção e atenção ao contexto, iniciando-a por Para que possa
fulgir em nosso lábio ..., pode seguir-se o coerente complemento:
 a) o ouro com seu gosto garimpado, aonde houver coragem sem medida.
 b) o gosto de ouro do tempo, será necessário garimpá-lo com persistente bravura.
 c) este gosto do tempo, de cujo ouro nossa coragem garimpou sem complascência.
 d) o ouro do tempo, com seu gosto garimpado, graças a tenacidade de nosso empenho.
 e) garimpado como o ouro do tempo, será seu gosto tributário de nossa persistente coragem.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/713928
Questão 808: FCC - Con Tec Leg (CL DF)/CL DF/Revisor de Texto/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
O termo em destaque está empregado corretamente em:
 a) É o que percebemos em certos realizadores como Jean Rouch ou MacDougall, para quem a
câmera é provocadora, incitativa.
 b) ... as diversas realizações documentais exploram de um certo modo aquilo que nos preocupamos
aqui
 c) O debate engajado entre cinematógrafo e cinema será aquele no interior do que se encontrará a
antropologia...
 d) Na impressionante paisagem do altiplano, esse homem, em que desaparece antes do fim do
filme, fala de um outro mundo...
 e) ... uma África aonde não se excluíam as representações da mudança e da diversidade
contemporânea...
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/750801
Questão 809: FCC - DP RS/DPE RS/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.
 
Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há
alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de
interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a
partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada
dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal
gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.
 
Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los
muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma,
deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania
esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.
 
Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem,
os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes
a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em
preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles
provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles
que o escutam.
 
A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do
esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu
senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas
confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.
 
Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem
conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir
realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito
nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas
gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.
 
(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017)
 
Quanto à coesão do texto, é correto afirmar que
 a) é dada pela repetição do termo “mito”, seus derivados e sinônimos, como “mitomania”,
“hilaridade”, “cacarejos” e “narrativas”.
 b) se estabelece sobretudo pelo uso de pronomes e de termos que, embora de sentido diverso, têm
uma mesma referência, como “selvagem”, “índio”, “primitivo”, “membro da tribo”.
 c) é estruturada na oposição entre pensamento mítico e humor, por um lado, e na referenciação
entre os segmentos textuais estabelecida principalmente pelos pronomes.
 d) se articula a partir do uso de expressões adverbiais, como “certamente”, “mais uma vez”, “às
vezes”, “a sério”, “talvez”, que ligam as estruturas sintáticas, intensificando seu sentido.
 e) é construída mediante a pontuação expressiva e o uso dos verbos ora no pretérito, ora no
presente do indicativo, a fim de indicar um percurso temporal no desenvolvimento da argumentação.
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Questão 810: FCC - Adm (Pref Macapá)/Pref Macapá/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Considere o texto a seguir para responder à questão.
Panorama do falar amapaense
Um atlas linguístico tem por finalidade registrar a diversidade na forma de falar do povo de uma região
geograficamente definida. No Brasil, a língua portuguesa apresenta diversidades que estão relacionadas,
entre outros aspectos, às diferentes formas de colonização das regiões. Não há uma língua portuguesa
padronizada, única, falada do Oiapoque ao Chuí.
O primeiro atlas linguístico brasileiro – Atlas prévio dos falares baianos – foi publicado em 1963, por
Nelson Rossi. Nem mesmo dentro dos limites de cada região há uma uniformidade de falares. A partir de
1996, com o lançamento do projeto “Atlas Linguístico do Brasil”, houve um aumento significativo de
publicações de atlas regionais e estaduais por todo o país. Na Região Norte, aos dois primeiros atlas
publicados, do Pará e do Amazonas, veio somar-se o Atlas linguístico do Amapá, lançado em 2017
pela editora Labrador, fruto do trabalho conjunto desenvolvido pelo pós-doutor em linguística pela
Université de Toulouse e pesquisador da UFPA, Abdelhak Razky, pela docente da UNIFAP, Celeste Maria
da Rocha Ribeiro, e pelo doutorando pela UFPA, Romário Duarte Sanches.
O atlas possibilita vislumbrar o panorama da realidade linguística do Amapá, buscando contribuir para o
entendimento mais coerente da língua e de suas variantes e preocupando-se também em eliminar a
visão distorcida que tende a privilegiar uma variante, geralmente a mais culta, e estigmatizar as demais.
(Adaptado de: PINTO, Walter. Disponível em: www.beiradorio.ufpa.br)
Considere o trecho do primeiro parágrafo:
No Brasil, a língua portuguesa apresenta diversidades que estão relacionadas, entre outros aspectos, às
diferentes formas de colonização das regiões. Não há uma língua portuguesa padronizada,única, falada
do Oiapoque ao Chuí.
O segundo período, sublinhado no trecho, apresenta uma afirmação que
 a) relativiza o expresso no período anterior.
 b) refuta o expresso no período anterior.
 c) restringe o expresso no período anterior.
 d) corrobora o expresso no período anterior.
 e) contesta o expresso no período anterior.
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Questão 811: FCC - Educ Soc (FCRIA)/FCRIA (AP)/Nível Superior/Arte Educador/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.
1. A crônica no Brasil teve alguns autores de grande qualidade literária que também chegaram ao
sucesso popular. João do Rio, Rubem Braga e Nelso Rodrigues logo vêm à mente. Depois deles, o grande
cronista famoso do país é, claro, Luis Fernando Verissimo. Ele tem grande percepção para o
comportamento social e suas mudanças e semelhanças no passar do tempo, revelando mais sobre a
atual classe média brasileira em seus textos do que todos os ficcionistas vivos do país, somados. Seu
intimismo não é nostálgico, é reflexivo; ele não precisa rir para que se perceba que está contando uma
piada; e jamais deixa de dar sua opinião. Sobre suas influências, métodos e assuntos, ele fala na
entrevista a seguir.
2. Ivan Lessa diz que a crônica no Brasil tem uma tradição rica porque “somos bons no
pinguepongue”. Você concorda? E por que somos bons no pinguepongue? Lessa diz que é
porque “gostamos de falar de nós mesmos, contar a vida (íntima) para os outros... – Acho que
a crônica pegou no Brasil pelo acidente de aparecerem bons cronistas, como o Rubem Braga, que
conquistaram o público. Não existem tantos cronistas porque existia uma misteriosa predisposição no
público pela crônica, acho que foram os bons cronistas que criaram o mercado.
3. Você, na verdade, talvez seja o menos “confessional” dos cronistas brasileiros. Difícil vê-lo
relatar que foi a tal lugar, com tal pessoa, num dia chuvoso etc. e tal. Por quê? – De certa
maneira, o cronista é sempre seu assunto. A crônica não é lugar para objetividade, todos escrevem de
acordo com seus preconceitos. Ser mais pessoal, mais coloquial, depende do estilo de cada um. Mas a
gente está se confessando sempre.
4. Há uma mescla de artigo e crônica nos seus textos, como se você estivesse interessado
nas ideias, na reflexão sobre o comportamento humano, e ao mesmo tempo desconfiasse
profundamente de generalizações e filosofices. Você é um pensador que “croniqueia” ou um
cronista que filosofa? – Prefiro pensar que sou um cronista que às vezes tem teses, mas nunca vai
buscá-las muito fundo. O negócio é pensar sobre as coisas, e tentar pensar bem, mas nunca esquecer
que nada vai ficar gravado em pedra, ou fazer muita diferença.
5. Você diz que o século XX foi o das “boas intenções derrotadas”. Também foi o século de
Frank Sinatra, de Pelé... E o século das listas de melhores do século. Você faria uma lista das
dez boas intenções vencedoras? – Este foi o século em que as melhores ideias foram derrotadas. Eu
só livraria a escada rolante e o controle remoto.
(Adaptado de: PIZA, Daniel. Entrevista com Luís Fernando Verissimo. São Paulo: Contexto, São Paulo, 2004,
ed. digital.)
 
A crônica no Brasil teve alguns autores de grande qualidade literária que também chegaram ao sucesso
popular.
... pelo acidente de aparecerem bons cronistas, como o Rubem Braga, que conquistaram o público.
Este foi o século em que as melhores ideias foram derrotadas.
Os termos sublinhados acima referem-se respectivamente a:
 a) alguns autores − Rubem Braga − século
 b) crônica − Rubem Braga − melhores ideias
 c) qualidade literária − Rubem Braga − século
 d) alguns autores − bons cronistas − século
 e) qualidade literária − Bons cronistas − melhores ideias
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Questão 812: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Apoio Especializado/Enfermagem do Trabalho/2023
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
 
Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-
se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos.
Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à
banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de
sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do
vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados.
Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
 
− Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
 
− A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
 
− Coitada... Vocação de viúva.
 
− Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
 
Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou
nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que
formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si
mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na
aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez,
recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita.
Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que
denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem
agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
 
Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa,
exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os
vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do
apartamento.
 
A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar
bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes
agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em
frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de
olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se
percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus
doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.
 
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)
 
Perguntei ao vendedor: − Essa senhora tem vocação de viúva?
 
Ao ser transposto para o discurso indireto, o texto acima assume a seguinte redação:
 a) Perguntei ao vendedor se aquela senhora tivera vocação de viúva.
 b) Perguntei ao vendedor: − Aquela senhora tinha vocação de viúva?
 c) Perguntei ao vendedor se aquela senhora tem vocação de viúva.
 d) Perguntei ao vendedor: − Aquela senhora teria vocação de viúva?
 e) Perguntei ao vendedor se aquela senhora tinha vocação de viúva.
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Questão 813: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agente de Policia Judicial/2023
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Leia a crônica “Pai de família sem plantação”, de Paulo Mendes Campos, para responder à
questão.
 
Sempre me lembro da história exemplar de um mineiro que veio até a capital, zanzoupor aqui, e voltou
para contar em casa os assombros da cidade. Seu velho pai balançou a cabeça; fazendo da própria
dúvida a sua sabedoria: “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem
plantação, não sei não...”
 
Às vezes morro de nostalgia. São momentos de sinceridade, nos quais todo o meu ser denuncia minha
falsa condição de morador do Rio de Janeiro. A trepidação desta cidade não é minha. Sou mais, muito
mais, querendo ou não querendo, de uma indolência de sol parado e gerânios. Minha terra é outra,
minha gente não é esta, meu tempo é mais pausado, meus assuntos são mais humildes, minha fala,
mais arrastada. O milho pendoou? Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna? A vaca do coronel já
deu cria? Desta literatura rural é que preciso.
 
Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro. Velozes automóveis me perseguem
na rua, novos edifícios crescem fazendo barulho em meus ouvidos, a guerra comercial não me dá
tréguas, o clamor do telefone me põe a funcionar sem querer, a vaga se espraia e repercute no meu
peito, minha inocência não percebe o negócio de milhões articulado com um sorriso e um aperto de
mão. Pois eu não sou daqui.
 
Vivo em apartamento só por ter cedido a uma perversão coletiva; nasci em casa de dois planos, o de
cima, da família, sobre tábuas lavadas, claro e sem segredos, e o de baixo, das crianças, o porão escuro,
onde a vida se tece de nada, de pressentimentos, de imaginação, do estofo dos sonhos. A maciez das
mãos que me cumprimentam na cidade tem qualquer coisa de peixe e mentira; não sou desta viração
mesclada de maresia; não sei comer este prato vermelho e argênteo de crustáceos; não entendo os
sinais que os navios trocam na cerração além da minha janela. Confio mais em mãos calosas, meus
sentidos querem uma brisa à boca da noite cheirando a capim-gordura; um prato de tutu e torresmos
para minha fome; e quando o trem distante apitasse na calada, pelo menos eu saberia em que
sentimentos desfalecer.
 
Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete. Com um matungo que me criasse amizade,
eu visitaria o vigário, o médico, o turco, o promotor que lê Victor Hugo, o italiano que tem uma horta, o
ateu local, o criminoso da cadeia, todos eles muitos meus amigos. Se aqui não vou à igreja, lá pelo
menos frequentaria a doçura do adro, olhando o cemitério em aclive sobre a encosta, emoldurado em
muros brancos. Aqui jaz Paulo Mendes Campos. Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da
sombra. É tudo o que peço. E não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato. São Paulo: Ática, 2012)
 
O cronista disse: − Não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
Ao ser transposto para o discurso indireto, o texto acima assume a seguinte redação:
 a) O cronista disse: − Não precisava rezar por sua alma desgovernada.
 b) O cronista disse: − Não precisaria rezar por minha alma desgovernada.
 c) O cronista disse que não fora preciso rezar por minha alma desgovernada.
 d) O cronista disse que não era preciso rezar por sua alma desgovernada.
 e) O cronista disse que não é preciso rezar por sua alma desgovernada.
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Questão 814: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Não me correu tranquilo o S. João de 185...
 
Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete,
sem assinatura e de letra desconhecida:
 
“O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das
habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé
no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chamase Julião. Note que o Dr. é convidado a ir
defender o réu.”
 
Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus
amigos e conhecidos... Nada pude descobrir.
 
Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo
bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de
receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me
dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo
uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das
instâncias, montei a cavalo e parti.
 
Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava
um amigo meu, antigo companheiro da academia.
 
Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do
camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e
admirado.
 
− A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
 
− Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na
corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de
uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
 
− Tens o bilhete contigo?
 
− Tenho.
 
Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
 
− É a letra de Pai de todos.
 
− Quem é Pai de todos?
 
− É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho
Pio o é na verdade.
 
− Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
 
− Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes
causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem
é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra
Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina.
 
Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao
julgamento de Pai de todos.
 
O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de
que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime
em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
 
− Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me
contarás.
 
− É melhor. Julião é inocente...
 
(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)
 
“– Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu.”
 
Ao se transpor o trecho acima para o discurso indireto, o verbo sublinhado assume a seguinte forma:
 a) deixou.
 b) deixaria.
 c) deixe.
 d) deixava.
 e) deixasse.
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Questão 815: FCC - AFTE (SEFAZ PE)/SEFAZ PE/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Para responder a questão a seguir, baseie-se no texto abaixo, um excerto do Tratado sobre a
tolerância, publicado em 1763, pelo filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778).
 
[A voz da natureza]
 
A natureza diz a todos os homens: fiz todos vós fracos e ignorantes, para vegetarem alguns minutos na
terra e para adubaremna com vossos cadáveres. Como sois fracos, socorrei-vos; como sois ignorantes,
esclarecei-vos e tolerai-vos. Quando tiverdes todos a mesma opinião, o que certamente não acontecerá
jamais, quando houver um único homem de opinião contrária, deveríeis perdoálo: afinal sou eu que o
faço pensar como ele pensa.
 
Eu vos dei braços para cultivar a terra e uma pequena luz de razão para vos conduzir; coloquei em
vossos corações um germede compaixão para que uns ajudem os outros a suportar a vida. Não abafeis
esse germe, não o corrompais, aprendei que ele é divino, e não substituais a voz da natureza pelos
miseráveis furores da escola.
 
Sou apenas eu que ainda vos une, sem que o desconfieis, por vossas necessidades mútuas, mesmo em
vossas guerras cruéis tão ligeiramente empreendidas, teatro eterno dos erros, dos acasos e das
infelicidades. Sou apenas eu que, em uma nação, impede as sequências funestas da divisão interminável
entre a nobreza e a magistratura, entre esses dois corpos e o do clero, entre o burguês e o cultivador.
(...) Parai, afastai esses destroços funestos que são vossa obra e continuai comigo em paz no edifício
inabalável que é o meu.
(Adaptado de: VOLTAIRE, op. cit. Trad. Ana Luiza Reis Bedê. São Paulo: Martin Claret, 2017, p. 98-99)
 
Transpondo-se para o discurso indireto o primeiro período do texto e observando-se rigorosamente as
normas da língua culta, obtém-se a seguinte sequência: A natureza diz a todos os homens que
 a) fizemo-nos fracos e ignorantes, para vegetarmos alguns minutos na terra e para a adubarmos com
nossos cadáveres.
 b) ela fez de nós fracos e ignorantes, para que vegetemos alguns minutos na terra para que lhe
adubássemos com nossos cadáveres.
 c) fez-lhes fracos e ignorantes, para vegetar alguns minutos na terra e adubar-lhe, com seus
cadáveres.
 d) os fizera fracos e ignorantes, para que vegetassem alguns minutos na terra, que adubariam-na
com seus cadáveres.
 e) os fez fracos e ignorantes para que vegetem alguns minutos na terra e a adubem com seus
cadáveres.
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Questão 816: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Ciência da Computação/Infraestrutura de TI/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder à questão, leia o início do conto “Missa do Galo”, de Machado de Assis.
 
Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete,
ela, trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não
dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.
 
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias,
com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem quando
vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranquilo, naquela
casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família
era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite
toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de
uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões,
a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na
manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia
amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição
padecera, a princípio, com a existência da comborça*; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e
acabou achando que era muito direito.
 
Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os
esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes
lágrimas, nem grandes risos. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem
bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo.
Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.
 
Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em
Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver “a missa do galo na Corte”. A família recolheu-se
à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada
e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a
terceira ficava em casa.
 
− Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição.
 
− Leio, D. Inácia.
 
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-
me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa
dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras. Os minutos
voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase
sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura.
 
(Adaptado de: Machado de Assis. Contos: uma antologia. São Paulo: Companhia das Letras, 1988)
 
*comborça: qualificação humilhante da amante de homem casado
 
pedi-lhe que me levasse consigo (2o parágrafo)
 
Ao se transpor esse trecho para o discurso direto, o verbo sublinhado assume a seguinte forma:
 a) levava
 b) levai
 c) levou
 d) leve
 e) levaria
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Questão 817: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder a questão, considere o texto de Mario Quintana.
 
Velha história
 
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era
tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com
pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-
o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram
inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava a trote, que nem um cachorrinho. Pelas
calçadas. Pelos elevadores. Pelo café. Como era tocante vê-los no "17"! – o homem, grave, de preto,
com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra
fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava
laranjada por um canudinho especial...
 
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado.
E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
 
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do
teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua
família. E viva eu cá na terra sempre triste!...”
 
Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez
redemoinho, que foi depois serenando, serenando até que o peixinho morreu afogado...
 
(Mario Quintana. Eu passarinho. São Paulo: Ática, 2014)
 
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do
teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua
família. E viva eu cá na terra sempre triste!...” (3º parágrafo)
 
Ao se transpor o trecho acima para o discurso indireto, os termos sublinhados assumem as seguintes
formas:
 a) assistira e voltara.
 b) assistiria e voltasse.
 c) assistia e voltava.
 d) assistiria e voltaria.
 e) assistia e voltasse.
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Questão 818: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Administrativa/Contabilidade/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Depois que vê a garota ele corre se olhar no espelho: não pode negar, meio feio? quase feio? Numa
palavra, feio. Dia seguinte desiste do bigode ralo. Quem sabe costeleta ou cavanhaque? A menina o
enfeitiça. Possuído, sim. Febrícula, sonho delirante, falta de ar, sede masnão de água. Ela surge
enrolada no garfo do suculento espaguete à bolonhesa. De sainha xadrez na primeira tarde, ó deliciosa
bolacha Maria com geleia de uva. Formigas de fogo mordem sob a camisa quando ela vem na rua,
brincando com o arco-íris na ponta dos dedos.
 
Consegue afinal apertar-lhe a mãozinha na luva de crochê, ri (descuidoso de ser feio) dentro de seus
olhos glaucos. Discutem o narizinho, quem sabe arrebitado, segundo ela. E para ele, nada mais bonito
que tal narizinho. Meio do sono acorda, olho arregalado no escuro. A sua imagem o percorre, impetuoso
vento por uma casa de portas abertas. Ninguém por perto, fala sozinho. A mãe o acha mais magro.
Quem dera ser o terceiro motociclista do Globo da Morte.
 
Em guarda no portão, as mãos suadas, fumando. Ela aparece: um caramanchão florido de glicínia azul.
Olhinho esquivo que fixa e foge. O sorriso (uma virgem fatal?) na pequena boca fresca. Um dentinho
ectópico no lado esquerdo, onde a palavra tiau esbarra quando sai. Ah, se ela deixar, passa o resto da
vida adorando esse dentinho. Espera outras vezes, fumando aflito, um cigarro aceso no outro. Ele
mesmo um cigarro em chamas. A mocinha não quer lhe dar a mão. Como pode, uma santinha
disfarçada na terra? Depois, deu.
 
Brava, ainda mais linda. Toda rosa, o lenço no pescoço, gatinha na janela depois do banho. A curva
altaneira da testa, os cachos loiros arrepiados ao vento. Ai, não, uma pérola na orelha. A pérola da
orelha. Uma divina orelhinha esquerda, sabe o que é? A voz meio rouca: Adivinhe o que eu tenho na
mão? “Bem, pode ser tanta coisa.” Bala de mel, seu bobo. Pra você que não merece. Já esquecido de
timidez e feiura: “Sabe o que eu mais quero? É embalar você no colo.” Pronto, ofendida, lhe negaceou o
rosto. De mal, até amanhã. Amanhã nosso herói vai cultivar uma barbicha.
 
(TREVISAN, Dalton. Namorada. Adaptado de: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Namorada)
 
Já esquecido de timidez e feiura: “Sabe o que eu mais quero? É embalar você no colo.”
 
O período acima poderia ser reescrito em discurso indireto da seguinte forma:
 
Já esquecido de timidez e feiura, ele perguntou para ela
 a) para que soubesse o que ele mais queria. E respondeu que era embalá-la no colo.
 b) se soube o que ele mais quis. E respondeu que seria embalar você no colo.
 c) se sabia o que ele mais queria. E respondeu que era embalá-la no colo.
 d) para que soubera o que ele mais quis. E respondeu que poderia ser embalar você no colo.
 e) se soubesse o que ele mais queria. E respondeu que é embalá-la no colo.
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Questão 819: FCC - AJ TRT14/TRT 14/Administrativa/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Leia o texto para responder à questão.
 
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio
que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas
cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande
salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro- te.
 
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-
hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então
redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei
aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e
tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que
me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e
enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a
paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio,
porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como
as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado,
sede de nomeada. Digamos: − amor da glória.
 
Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição
das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos
terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem,
e, conseguintemente, a sua mais genuína feição. Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao
emplasto.
 
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)
 
Um tio meu [...] costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas (3º parágrafo)
 
Transposto para o discurso direto, a fala inserida no trecho acima assume a seguinte redação:
 a) – O amor da glória temporal é a perdição das almas.
 b) – No amor da glória temporal perderam-se as almas.
 c) pensava que o amor da glória temporal seria a perdição das almas.
 d) se não fosse o amor da glória temporal a perdição das almas.
 e) – O amor da glória temporal fora a perdição das almas.
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Questão 820: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder a questão, considere um trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis.
 
Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no
cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço
de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o
presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas
chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma
sensação de propriedade.
 
– Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com
Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está
tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
 
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele
pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém,
deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião
acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer,
foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita canoa! – Antes assim! – Como
obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles estão no Céu!
 
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par
de figuras que aqui está na sala, um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a
bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada.
 
(Machado de Assis. Quincas Borba. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
 
Verifica-se a ocorrência de discurso indireto livre no seguinte trecho:
 a) – Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. (2º parágrafo)
 b) Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. (1º parágrafo)
 c) Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. (1º
parágrafo)
 d) Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. (2º
parágrafo)
 e) – Bonita canoa! – Antes assim!– Como obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles
estão no Céu! (3º parágrafo)
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Questão 821: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Vocação e ambição
 
Machado de Assis tem um conto admirável – “Um homem célebre” – que narra a história de um famoso
e prestigiado compositor popular do Rio do século XIX, um tal de Pestana, que em vez de gozar o
sucesso de cada uma de suas composições ligeiras e dançantes, vivia atormentado por não compor
nada à altura de um Mozart, de um Beethoven. Cada vez que uma composição sua atingia em cheio o
gosto popular, o maestro oculto que havia nele sofria o sucesso fácil como uma sentença de morte.
 
Machado resumiu assim a vida dramática desse músico ao mesmo tempo celebrado e infeliz: “Eterna
peteca entre a ambição e a vocação”.
 
A frase é forte: o jogo da peteca realiza o sofrido movimento de pêndulo de cada divisão nossa, que
nunca encontra um ponto de equilíbrio. Ser jogado eternamente de um lado para outro, sem repouso, é
de enlouquecer. É a oposição contínua entre duas forças que nos dividem e fazem sofrer: a força que
está na inclinação natural para atender a uma vocação já instalada em nós e a força pela qual
pretendemos atingir uma altura que está longe dos nossos recursos. No caso de Pestana, a aclamação
pública que cada música sua atingia não compensava de modo algum a falta de realização de seus mais
altos projetos pessoais.
 
Com esse conto, Machado lembra que há quem não se contente em ser uma celebridade, sobretudo
quando julga vazia essa celebração; há ainda quem busque alcançar a aprovação pública pelo valor
efetivo de uma mais alta realização criativa. Essa busca, para desgraça nossa, é sofrida, e pode nos
levar a dançar de um lado para outro. A saída estaria em identificarmos precisamente qual é a nossa
vocação, para estabelecermos a partir dela os contornos da nossa ambição.
 
(TOLEDO, Cristiano. A publicar)
 
Alguém deveria dizer ao Pestana: – Deixa de lamentar essa tua viva produção popular, goza o prestígio
que já alcançaste!
 
Ao transpor a frase acima para o discurso indireto, ela deverá ficar: Alguém deveria dizer ao Pestana
 a) que deixasse de lamentar aquela sua viva produção popular, que gozasse o prestígio já alcançado.
 b) porque não deixasse de lamentar a produção popular, para assim gozar teu prestígio já alcançado!
 c) se ele não deveria deixar de lamentar essa sua produção popular em vez de gozar o prestígio que
já se alcançara.
 d) para que ele deixe de lamentar esta produção popular, gozando esse prestígio já alcançado.
 e) para não lamentar tua viva produção popular, porque não gozava do prestígio que ela já alcançou.
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Questão 822: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder a questão, baseie-se no texto abaixo.
 
[Ritmos da civilização]
 
Se um camponês espanhol tivesse adormecido no ano 1.000 e despertado quinhentos anos depois, ao
som dos marinheiros de Colombo a bordo das caravelas Nina, Pinta e Santa Maria, o mundo lhe
pareceria bastante familiar. Esse viajante da Idade Média ainda teria se sentido em casa. Mas se um dos
marinheiros de Colombo tivesse caído em letargia similar e despertado ao toque de um iPhone do século
XXI, se encontraria num mundo estranho, para além de sua compreensão. “Estou no Céu?”, ele poderia
muito bem se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
 
Os últimos quinhentos anos testemunharam um crescimento fenomenal e sem precedentes no poderio
humano. Suponha que um navio de batalha moderno fosse transportado de volta à época de Colombo.
Em questão de segundos, poderia destruir as três caravelas e em seguida afundar as esquadras de cada
uma das grandes potências mundiais. Cinco navios de carga modernos poderiam levar a bordo o
carregamento das frotas mercantes do mundo inteiro. Um computador moderno poderia facilmente
armazenar cada palavra e número de todos os documentos de todas as bibliotecas medievais, com
espaço de sobra. Qualquer grande banco de hoje tem mais dinheiro do que todos os reinos do mundo
pré-moderno reunidos.
 
Durante a maior parte da sua história, os humanos não sabiam nada sobre 99,99% dos organismos do
planeta – em especial, os micro-organismos. Foi só em 1674 que um olho humano viu um micro-
organismo pela primeira vez, quando Anton van Leeuwenhock deu uma espiada através de seu
microscópio caseiro e ficou impressionado ao ver um mundo inteiro de criaturas minúsculas dando volta
em uma gota d’água. Hoje, projetamos bactérias para produzir medicamentos, fabricar biocombustível e
matar parasitas.
 
Mas o momento mais notável e definidor dos últimos 500 anos ocorreu às 5h29m45s da manhã de 16
de julho de 1945. Naquele segundo exato, cientistas norte-americanos detonaram a primeira bomba
atômica em Alamogordo, Novo México. Daquele ponto em diante, a humanidade teve a capacidade não
só de mudar o curso da história como também de colocar um fim nela. O processo histórico que levou a
Alamogordo e à Lua é conhecido como Revolução Científica. Ao longo dos últimos cinco séculos, os
humanos passaram a acreditar que poderiam aumentar suas capacidades se investissem em pesquisa
científica. O que ninguém poderia imaginar era em que aceleração frenética tudo se daria.
 
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade. Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre:
L&PM, 2018, p. 257-259, passim)
 
“Estou no Céu?”, ele poderia muito bem se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
 
Caso o autor do texto optasse por usar o discurso indireto, o segmento acima deveria apresentar a
seguinte construção: Ele poderia muito bem se perguntar
 a) se estou no Céu, ou no Inferno, quem sabe?
 b) aonde estaria eu, se no Céu, talvez, ou no Inferno.
 c) onde estaria, se no Céu, ou se no Inferno.
 d) onde haverá de estar: no Céu ou no Inferno?
 e) consigo mesmo: onde estou, este é o Céu ou o Inferno?
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Questão 823: FCC - ACE (TCE-GO)/TCE GO/Contabilidade/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A nuvem
 
− “Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem
reclamar, sem protestar, sem espinafrar!”
 
E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na
rua etc. etc. etc.
 
Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que
tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é
que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
 
Além disso, a verdade não está apenas nos buracos da rua e outras mazelas. Não é verdade que as
amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria
demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses
encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que
importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem
ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as
cinzas do meu crepúsculo.
 
E olhem só que tipo estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão –
e seus tradicionais buracos.
 
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana! Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, pp. 179-180)
 
Atente para esta passagem em discurso direto:
 
– Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever sem reclamar – disse meuamigo,
 
Transpondo a passagem acima para o discurso indireto, ela deverá ficar:
 
Meu amigo me disse que
 a) ficaria admirado de mim, morando nesta cidade, conseguindo escrever sem reclamar.
 b) me admirava por eu morar nesta cidade escrevendo sem lhe reclamar.
 c) admiro muito que você more nesta cidade e consiga escrever sem reclamar.
 d) eu era de admirar, uma vez que morando nesta cidade, como é que alguém fica sem reclamar?
 e) se admirava pelo modo como eu, morando nesta cidade, conseguia escrever sem reclamar.
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Questão 824: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador
Federal/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Lembram-se da história de Tristão e Isolda? O enredo gira em torno da transformação da relação entre
os dois protagonistas. Isolda pede à criada, Brangena, que lhe prepare uma poção letal, mas, em vez
disso, ela prepara-lhe um “filtro de amor”, que tanto Tristão como Isolda bebem sem saber o efeito que
irá produzir. A misteriosa bebida desperta neles a mais profunda das paixões e arrasta-os para um
êxtase que nada consegue dissipar − nem sequer o fato de ambos estarem traindo infamemente o
bondoso rei Mark. Na ópera Tristão e Isolda, Richard Wagner captou a força da ligação entre os amantes
numa das passagens mais exaltadas da história da música. Devemos interrogar-nos sobre o que o atraiu
para essa história e por que motivo milhões de pessoas, durante mais de um século, têm partilhado o
fascínio de Wagner por ela.
 
A resposta à primeira pergunta é que a composição celebrava uma paixão semelhante e muito real da
vida de Wagner. Wagner e Mathilde Wesendonck tinham se apaixonado de forma não menos insensata,
se considerarmos que Mathilde era a mulher do generoso benfeitor de Wagner e que Wagner era um
homem casado. Wagner tinha sentido as forças ocultas e indomáveis que por vezes conseguem se
sobrepor à vontade própria e que, na ausência de explicações mais adequadas, têm sido atribuídas à
magia ou ao destino. A resposta à segunda questão é um desafio ainda mais atraente.
 
Existem, com efeito, poções em nossos organismos e cérebros capazes de impor comportamentos que
podemos ser capazes ou não de eliminar por meio da chamada força de vontade. Um exemplo
elementar é a substância química oxitocina. No caso dos mamíferos, incluindo os seres humanos, essa
substância é produzida tanto no cérebro como no corpo. De modo geral, influencia toda uma série de
comportamentos, facilita as interações sociais e induz a ligação entre os parceiros amorosos.
 
Não há dúvida de que os seres humanos estão constantemente usando muitos dos efeitos da oxitocina,
conquanto tenham aprendido a evitar, em determinadas circunstâncias, os efeitos que podem vir a não
ser bons. Não se deve esquecer que o filtro de amor não trouxe bons resultados para o Tristão e Isolda
de Wagner. Ao fim de três horas de espetáculo, eles encontram uma morte desoladora.
 
(Adaptado de: DAMÁSIO, António. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital)
 
Lembram-se da história de Tristão e Isolda?
 
Transposto para o discurso indireto, o trecho acima assume a seguinte redação:
 a) Ele perguntou: vocês se lembram da história de Tristão e Isolda?
 b) Ele perguntou se nós nos lembrávamos da história de Tristão e Isolda.
 c) Ele perguntou-nos se acaso lembráramos da história de Tristão e Isolda.
 d) Ele pergunta a vocês se lembram da história de Tristão e Isolda.
 e) Ele pergunta se se lembraram da história de Tristão e Isolda.
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Questão 825: FCC - TNS (SEMPLAN)/Pref Teresina/Fiscal de Serviços Públicos/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Texto
 
Memória de longe
 
Ao longo da vida, nossas lembranças não apenas se renovam, segundo os fatos que vão acontecendo. A
faculdade da memória, em seu misterioso processo, muda de natureza. Na velhice, a memória costuma
priorizar as lembranças mais antigas segundo necessidades novas. É o que confirma o caso seguinte.
 
Meu muito velho vizinho estava morrendo. Ciente de seu estado, pediu que chamassem o filho
longínquo, que há tanto tempo estava sem ver, já perdera a conta dos anos. Chamaram, e o filho José
se pôs a caminho, ele mesmo, seu filho predileto, o filho Zezito. E o José enfim chegou de sua longa
viagem de avião, respondendo contristado ao apelo paterno. Surgiu no quarto penumbroso, achegou-se
ao leito, os cabelos e os bigodes já grisalhando contra a luz do abajur.
 
A filha alertou o velho:
 
– Olha, aí, pai, o Zezito chegou. Pertinho de você.
 
O velho entreabriu os olhos turvos e já ia estendendo um braço, quando então o recolheu, murmurando
num tom irritado:
 
– Esse aí não é o Zezito, não! Cadê o Zezito?
 
Horas depois o velho vizinho partiu. Sem se despedir de ninguém, nem mesmo do menino que há tanto,
tanto tempo perdera de vista.
 
(Jesualdo Calixto, inédito)
 
Atente para esta construção:
 
A filha alertou o velho:
 
– Olha aí, pai, o Zezito chegou. Pertinho de você.
 
Transpondo-se para o discurso indireto, esta passagem deverá ficar: A filha alertou o pai que
 a) olhe para o Zezito que chegou, pertinho de você.
 b) ali chegara o Zezito, que olhe ele pertinho de você.
 c) o Zezito chegou, pai, aí pertinho de você.
 d) olhasse o Zezito, que chegara e estava pertinho dele.
 e) chegara o Zezito, que o olhasse pertinho, pai.
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Questão 826: FCC - Cons Tec (CM Fortal)/CM Fortaleza/Jurídico/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Falso mar, falso mundo
O mundo anda cada vez mais complicado, o que não é bom. O frágil corpo humano não foi feito para
competir com a máquina, conviver com a máquina e explorá-la. A cada adiantamento técnico-científico, o
conflito fica mais duro para o nosso lado.
Mas nesta semana vi na TV uma reportagem que me horrorizou como prova de que, a cada dia, mais
renunciamos às nossas prerrogativas de seres vivos e nos tornamos robotizados. Foi a “praia artificial” no
Japão (logo no Japão, arquipélago penetrado e cercado de mar por todos os lados!).
É um galpão imenso, maior que qualquer aeroporto, coberto por uma espécie de cúpula oblonga, de
plástico. E filas à entrada, lá dentro um guichê, o pessoal paga a entrada, que é cara, e some. Deve
entrar no vestiário, ou antes, no despiário, pois surgem já convenientemente seminus, como se faz na
praia. Pois que debaixo daquele imenso teto de plástico está um mar, com a sua praia. Mar que, na tela,
aparece bem azul com ondas de verdade, coroadas de espuma branca; ondas tão fortes que chegam a
derrubar as pessoas e sobre as quais jovens atletas surfam e rebolam. E um falso sol, de luz e calor
graduáveis; e a praia é de areia composta por pedrinhas de mármore.
Não sei se pelo comportamento dos figurantes, a gente tinha a impressão absoluta de que assistia a uma
cena de animação figurada em computador. A única presença viva, destacando-se no elenco de bonecos,
era a repórter, apresentadora do espetáculo. Já se viu! Se fosse uma honesta piscina de água morna,
tudo bem. Mas fingir as ondas, falsificar um sol bronzeando, de trinta e cinco graus, e toda aquela gente
se deitando com a simulação e depois voltando para a rua vestida nos seus casacos! Me deu pena,
horror, sei lá. Aquilo não pode deixar de ser pecado. Falsificar com tanta impudência as criações da
natureza, e pra quê!
(Adaptado de: QUEIROZ, Rachel. Melhores crônicas. São Paulo: Global Editora, 1994, edição digital)
 
vi na TV uma reportagem que me horrorizou
O sentido do trecho acima está mantido, em discurso indireto, do seguinte modo:
A escritora
 a) disse que lhe horrorizava uma reportagem que viram na TV.
 b)disse ter ficado horrorizada com uma reportagem que vira na TV.
 c) afirma que uma reportagem que viu na TV a deixará horrorizada.
 d) afirmou que veem uma reportagem na TV que lhe horrorizaria.
 e) afirma que uma reportagem onde teria visto na TV tinha horrorizado-lhe.
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Questão 827: FCC - Eng Civ (CM Fortal)/CM Fortaleza/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Lembrei-me dele e senti saudades... Tanto tempo que a gente não se vê. Dei-me conta da coisa rara que
é a amizade. E, no entanto, é a coisa mais alegre que a vida nos dá.
Lembrei-me de um trecho de Jean-Christophe, que li quando era jovem, e do qual nunca esqueci.
Romain Rolland descreve a primeira experiência com a amizade do seu herói adolescente. Já conhecera
muitas pessoas nos curtos anos de sua vida. Mas o que experimentava naquele momento era diferente
de tudo o que já sentira antes.
Um amigo é alguém com quem estivemos desde sempre. Pela primeira vez, estando com alguém, não
sentia necessidade de falar. Bastava a alegria de estarem juntos.
“Christophe voltou sozinho dentro da noite. Nada via. Nada ouvia. Estava morto de sono e adormeceu
apenas deitou-se. Mas durante a noite foi acordado duas ou três vezes, como que por uma ideia fixa.
Repetia para si mesmo: ‘Tenho um amigo’, e tornava a adormecer.”
Jean-Christophe compreendera a essência da amizade. Amiga é aquela pessoa em cuja companhia não é
preciso falar. Se o silêncio entre vocês lhe causa ansiedade, então a pessoa com quem você está não é
amiga. Porque um amigo é alguém cuja presença procuramos não por causa daquilo que se vai fazer
juntos, seja bater papo ou comer. Quando a pessoa não é amiga, terminado o alegre e animado
programa, vêm o silêncio e o vazio, que são insuportáveis.
Com o amigo é diferente. Não é preciso falar. A amizade anda por caminhos que não passam por
programas.
Um amigo vive de sua inutilidade. Pode até ser útil eventualmente, mas não é isso que o torna um
amigo. Sua inútil e fiel presença silenciosa torna a nossa solidão uma experiência de comunhão. E alegria
maior não pode existir.
(Adaptado de: ALVES,
Rubem. O retorno e terno. Campinas: Papirus, 1995, p. 11-13)
 
Tanto tempo que a gente não se vê.
O sentido da frase acima está mantido em discurso indireto do seguinte modo:
Ele percebeu que
 a) há muito que já não haveremos de nos ver.
 b) faria bastante tempo sem que nós nos víssemos.
 c) haveria muito tempo que eles não tinham se visto.
 d) houvera bastante tempo que não se verão.
 e) fazia muito tempo que eles não se viam.
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Questão 828: FCC - Proc (SANASA)/SANASA/Jurídico/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
[Formas de ler]
 
Antigamente eu apanhava e largava um livro sem me preocupar com outra coisa que não as parcelas de
realidade e de fantasia encerradas naquele maço de folhas impressas. Mais aberto à emoção, reparava
menos na técnica; atraído pela obra, pouco me interessava pelo escritor.
 
A leitura profissional, os estudos de literatura e algumas incursões no campo da crítica acabaram com
esse leitor irresponsável.
 
Hoje, ao pegar um livro, penso no homem que se encontra atrás das frases, em suas ambições e seus
objetivos, seus materiais e ferramentas. O que antes se me apresentava como a beleza imaterial de uma
flor ou de uma nuvem, soltas no tempo e no espaço, depara-se-me como o produto de um artesanato e
a manifestação de uma vontade inteligente.
 
Por isso dificilmente leio agora um livro isolado em si mesmo. Vem-me logo a vontade de percorrer
outras obras do escritor, de aferrar nelas os traços de uma personalidade diferente das outras, de chegar
ao canal misterioso que une a criação ao criador. Daí também uma curiosidade biográfica, como se a vida
do autor necessariamente encerrasse um segredo, uma chave para a compreensão da obra.
 
(RÓNAI, Paulo. Como aprendi o Português e outras aventuras.
Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, p. 137)
 
Transpondo-se adequadamente para o discurso direto a frase O autor nos esclareceu que ele,
quando jovem, revelou-se desatento aos aspectos técnicos de uma obra que estivesse a ler,
obtém-se esta correta construção: O autor nos esclareceu:
 a) − quando jovem, revelou-se-me um desatento aos aspectos técnicos da obra que se
apresentassem, à medida em que a lia.
 b) − os aspectos técnicos de uma obra me revelaram, ainda jovem, como desatento a estes aspectos
da mesma, quando a lia.
 c) − revelei-me jovem quando me mostrei desatento em face dos aspectos técnicos de uma obra que
lesse.
 d) − os aspectos técnicos de uma obra que estivesse lendo revelaram-se pouco atentos quando eu
era jovem.
 e) − quando jovem, eu me revelei um desatento aos aspectos técnicos de uma obra que estivesse
lendo.
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Questão 829: FCC - Rev (CM Fortal)/CM Fortaleza/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
− Quer esse menininho para o senhor? Pode levar.
Aconteceu no Rio, como acontecem tantas coisas. O rapaz entrou no café da rua Luís de Camões e
começou a oferecer o filho de seis meses(B). Em voz baixa, ao pé do ouvido, como esses vendedores
clandestinos que nos propõem um relógio submersível. Com esta diferença: era dado, de presente. Uns
não o levaram a sério, outros não acharam interessante a doação(C). Que iriam fazer com aquela coisinha
exigente, boca aberta para mamar e devorar a escassa comida, corpo a vestir, pés a calçar, e mais
dentista e médico e farmácia e colégio e tudo que custa um novo ser, em dinheiro e aflição?
− Fique com ele. É muito bonzinho, não chora nem reclama. Não lhe cobro nada…
Podia ser que fizesse aquilo para o bem do menino, um desses atos de renúncia que significam amor
absoluto. O tom era sério, e a cara, angustiada. O rapaz era pobre, visivelmente. Mas todos ali o eram
também, em graus diferentes. E a ninguém apetecia ganhar um bebê, ou, senão, quem nutria esse
desejo o sofreava. Mesmo sem jamais ter folheado o Código Penal, toda gente sabe que carregar com
filho dos outros dá cadeia, muita.
Mas o pai insistia, com bons modos e boas razões: desempregado, abandonado pela mulher. O bebê, de
olhinhos tranquilos, olhava sem reprovação para tudo. De fato, não era de reclamar, parecia que ele
próprio queria ser dado. Até que apareceu uma senhora gorda e topou o oferecimento:
− Já tenho seis lá em casa, que mal faz inteirar sete? Moço, eu fico com ele(D).
Disse mais que morava em Senador Camará, num sobradão assim assim, e lá se foi com o presente.(A) O
pai se esquecera de perguntar-lhe o nome, ou preferia não saber. Nenhum papel escrito selara o ajuste;
nem havia ajuste. Havia um bebê que mudou de mãos e agora começa a fazer falta ao pai.
− Praquê fui dar esse menino? − interroga-se ele(E). Chega em casa e não sabe como explicar à mulher
o que fizera. Porque não fora abandonado por ela; os dois tinham apenas brigado, e o marido, no
vermelho da raiva, saíra com o filho para dá-lo a quem quisesse.
A mulher nem teve tempo de brigar outra vez. Correram os dois em busca do menino dado, foram ao
vago endereço, perguntaram pela vaga senhora. Não há notícia. No estirão do subúrbio, no estirão maior
deste Rio, como pode um bebê fazer-se notar? E logo esse, manso de natureza, pronto a aceitar
quaisquer pais que lhe deem, talvez na pré- consciência mágica de que pais deixaram de ter importância.
E o pai volta ao café da rua Luís de Camões, interroga um e outro, nada: ninguém mais viu aquela
senhora. Disposto a procurá -la por toda parte, ele anuncia:
− Fico sem camisa, mas compro o menino pelo preço que ela quiser.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Caso de menino”. 70 historinhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p.
101-102)
O narrador recorre ao chamado discurso indireto livre no seguinte trecho:
 a)Disse mais que morava em Senador Camará, num sobradão assim assim, e lá se foi com o
presente.
 b) O rapaz entrou no café da rua Luís de Camões e começou a oferecer o filho de seis meses.
 c) Uns não o levaram a sério, outros não acharam interessante a doação.
 d) − Já tenho seis lá em casa, que mal faz inteirar sete? Moço, eu fico com ele.
 e) − Praquê fui dar esse menino? − interroga-se ele.
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Questão 830: FCC - ACer (Pref SJRP)/Pref SJRP/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Em Atenas, um devedor, ao ter sua dívida cobrada pelo credor, primeiro pôs-se a pedir-lhe um
adiamento, alegando estar com dificuldade. Como não o convenceu, trouxe uma porca, a única que
possuía, e, na presença dele, colocou-a à venda. Então chegou um comprador e quis saber se a porca
era parideira. Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o fazia de modo extraordinário: para
as festas da deusa Deméter, paria fêmeas e, para as de Atena, machos. E, como o comprador estivesse
assombrado com a resposta, o credor disse: “Mas não se espante, pois nas festas do deus Dioniso ela
também vai lhe parir cabritos.”
 
(Esopo. Fábulas completas. Tradução de Maria Celeste Dezotti. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 22)
 
Ao ser transposto para o discurso direto, o trecho Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o
fazia de modo extraordinário assume a seguinte redação:
 a) Ele afirmou: − Ela não apenas pariu, mas ainda o fez de modo extraordinário.
 b) Ele afirmou que ela não apenas pare, mas ainda o faz de modo extraordinário.
 c) Ele afirmou: − Ela não apenas paria, mas ainda o fazia de modo extraordinário.
 d) Ele afirmou que ela não apenas paria, mas ainda o faria de modo extraordinário.
 e) Ele afirmou: − Ela não apenas pare, mas ainda o faz de modo extraordinário.
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Questão 831: FCC - Cons Tec (CM Fortal)/CM Fortaleza/Legislativo/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Eram furiosos, eram mansos, eram
monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito(B). Ao cabo de quatro meses, a Casa Verde
era uma povoação. Não bastaram os primeiros cubículos; mandou-se anexar uma galeria de mais trinta e
sete.(A) O padre Lopes confessou que não imaginara a existência de tantos doidos no mundo, e menos
ainda o inexplicável de alguns casos. Um, por exemplo, um rapaz bronco e vilão, que todos os dias,
depois do almoço, fazia regularmente um discurso acadêmico, ornado de tropos, de antíteses, de
apóstrofes, com seus recamos de grego e latim, e suas borlas de Cícero, Apuleio e Tertuliano. O vigário
não queria acabar de crer. Quê! um rapaz que ele vira, três meses antes, jogando peteca na rua!(C)
− Não digo que não, respondia-lhe o alienista; mas a verdade é o que Vossa Reverendíssima está vendo.
Isto é todos os dias.
− Quanto a mim, tornou o vigário, só se pode explicar pela confusão das línguas na torre de Babel,
segundo nos conta a Escritura;(D) provavelmente, confundidas antigamente as línguas, é fácil trocá-las
agora, desde que a razão não trabalhe...
− Essa pode ser, com efeito, a explicação divina do fenômeno, concordou o alienista, depois de refletir
um instante,(E) mas não é impossível que haja também alguma razão humana, e puramente científica, e
disso trato...
− Vá que seja, e fico ansioso. Realmente!
(ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 24-25)
No discurso indireto livre, a voz do personagem mistura-se à voz do narrador, a exemplo do que se
observa em:
 a) Ao cabo de quatro meses, a Casa Verde era uma povoação. Não bastaram os primeiros cubículos;
mandou-se anexar uma galeria de mais trinta e sete.
 b) De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Eram furiosos, eram mansos,
eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito.
 c) O vigário não queria acabar de crer. Quê! um rapaz que ele vira, três meses antes, jogando peteca
na rua!
 d) – Quanto a mim, tornou o vigário, só se pode explicar pela confusão das línguas na torre de Babel,
segundo nos conta a Escritura...
 e) – Essa pode ser, com efeito, a explicação divina do fenômeno, concordou o alienista, depois de
refletir um instante...
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Questão 832: FCC - AJ TRF3/TRF 3/Apoio Especializado/Informática/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Considere o texto abaixo para responder a questão.
 
Nosso cérebro é uma complexa estrutura forjada pela evolução. Por outro lado, é também primitivo. É
curioso pensar que o mais erudito dos moradores deste planeta tenha o mesmo hardware que um
caçador-coletor que passou a vida errando em uma pequena área em busca da sobrevivência.
 
Estou sendo injusto em minha descrição. Nosso ancestral era capaz de tecer, realizar pequenas cirurgias,
fazer ferramentas de pedra. Tente criar algo assim em casa e você verá que somos menos autônomos do
que um coletor do Paleolítico. Mas estou sendo preciso quando comparo nossos cérebros.
 
Desenvolvida para uma chave amigo-inimigo, nossa mente tende a rotular o que vê, julgando a novidade
de acordo com seu conhecimento prévio. Isso garantiu nossa vida por muitas gerações: se eu comer algo
que me faz mal, toda vez que olhar para algo semelhante, sentirei repulsa. Isso pode ser bom para evitar
perigos, porém cria problemas para nossa atualidade.
 
Se eu tivesse que arriscar um esboço do que seria o pensamento médio das pessoas, hoje, ele seria
similar ao dos antepassados paleolíticos. Formamos bandos com facilidade. Yuval Harari chama a atenção
para como a detração é uma poderosa cola social. Fofocando, crio laços, forjo alianças. Desde sempre,
nossa espécie classifica o que vê antes de compreender o que tem na sua frente. O pavor instintivo da
novidade me faz rejeitá-la. Classificar, para o cérebro primitivo que se contenta em viver na caverna, é
mais importante do que entender.
 
É claro que também somos uma espécie que foge da natureza animal e que cria culturas. Portanto, há
um instinto inquisitivo, que gosta de descobrir coisas novas, explorá-las. No entanto, a sensação é que
ele anda em baixa em nossos tempos. Encerrar em caixas herméticas dá segurança.
 
Alguns associam a rotulação imediata a um traço humano. A sociedade ficou mais complexa, mas, em
nossa essência, somos os mesmos. Por outro lado, há quem afirme que o tempo curto da internet, o
imediatismo atual, produz superficialidade, impede o raciocínio profundo, pois este requer o
questionamento de bolhas epistêmicas e, mercadoria cada vez mais rara, tempo de ponderação. Não
seria uma essência, necessariamente, todavia um feitiço, uma tentação oferecida por algoritmos do
universo digital.
 
Resistir à tentação é um desafio. Pensar em aprofundar, dar uma segunda olhada, fugir do rótulo:
parecem atitudes que exigem o desafio da vontade férrea. Deixar que sentidos mais amplos invadam sua
percepção sem julgar de imediato é um ato de resistência.
 
(Adaptado de: KARNAL, Leandro. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br)
 
 
Estou sendo injusto em minha descrição. (2º parágrafo)
 
Transposto para o discurso indireto, o trecho transcrito acima assume a seguinte redação:
 
Leandro Karnal afirmou
 a) que vai estar sendo injusto em sua descrição.
 b) estar sendo injusto em minha descrição.
 c) que estava sendo injusto em sua descrição.
 d) ter sido injustiçado em sua descrição.
 e) que fora injusto em minha descrição.
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Questão 833: FCC - Rev (CM Fortal)/CM Fortaleza/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Os debates travados na Câmara e pela imprensa em torno da Leido Ventre Livre fizeram da emancipação
dos escravos uma questão nacional. O projeto do governo foi apresentado à Câmara em 12 de maio de
1871. Para alguns, o projeto era avançado demais, para outros, excessivamente tímido. Os defensores do
projeto usaram argumentos morais e econômicos. Argumentavam que o trabalho livre era mais produtivo
que o escravo. Diziam que a existência da escravidão era uma barreira à imigração, pois que os
imigrantes recusavam-se a vir para um país de escravos. A emancipação abriria as portas à tão desejada
imigração. Usando de argumentos morais, denunciavam os que, em nome do direito de propriedade,
defendiam a escravidão e se opunham à aprovação do projeto. Não era legítimo invocar o direito de
propriedade em se tratando de escravos. “Propriedade de escravos” − dizia Torres Homem, político
famoso, homem de cor e de origens modestas que chegara ao Senado depois de brilhante carreira – “era
uma monstruosa violação do direito natural.” “A maioria dos escravos brasileiros” − afirmava ele −
“descendia de escravos introduzidos no país por um tráfico não só desumano como criminoso. Nada pois
mais justo que se tomassem medidas para acabar com a escravidão.”
Em contrapartida, os mais arraigados defensores da escravidão consideravam o projeto uma intromissão
indébita do governo na atividade privada. Argumentavam que o projeto ameaçava o direito de
propriedade garantido pela Constituição. Segundo a prática, que datava do período colonial, o filho de
mãe escrava pertencia ao senhor. Qualquer lei que viesse a conceder liberdade ao filho de escrava era,
pois, um atentado à propriedade e, o que era pior, abria a porta a todas as formas de abusos contra esse
direito. Acusavam o projeto de ameaçar de ruína os proprietários e de pôr em risco a economia nacional
e a ordem pública. Diziam ainda que,emancipando-se os filhos e mantendo os pais no cativeiro, criar-se-
iam nas senzalas duas classes de indivíduos, minando, dessa forma, a instituição escravista pois não
tardaria muito para que os escravos questionassem a legitimidade de sua situação.
(Adaptado de: COSTA, Emília Viotti da. A Abolição. São Paulo: Editora Unesp, 2010, p. 49-52)
 
“Propriedade de escravos” − dizia Torres Homem [...] − “era uma monstruosa violação do direito
natural.”
Transposto para o discurso indireto, o trecho transcrito acima assume a seguinte redação:
 a) Torres Homem dizia que propriedade de escravos é uma monstruosa violação do direito natural.
 b) Torres Homem dizia: − Propriedade de escravos era uma monstruosa violação do direito natural.
 c) Torres Homem dizia que propriedade de escravos seria uma monstruosa violação do direito
natural.
 d) Torres Homem dizia: − Propriedade de escravos é uma monstruosa violação do direito natural.
 e) Torres Homem dizia que propriedade de escravos era uma monstruosa violação do direito natural.
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Questão 834: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Apoio Especializado/Enfermagem do Trabalho/2023
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
 
Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-
se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos.
Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à
banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de
sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do
vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados.
Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
 
− Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
 
− A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
 
− Coitada... Vocação de viúva.
 
− Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
 
Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou
nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que
formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si
mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na
aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez,
recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita.
Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que
denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem
agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
 
Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa,
exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os
vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do
apartamento.
 
A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar
bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes
agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em
frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de
olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se
percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus
doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.
 
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)
 
O cronista lança mão da figura de linguagem conhecida como hipérbole em:
 a) Hipótese boba, que formulei e repeli incontinente.
 b) Vai se casar pela terceira vez.
 c) Isso, infinitas vezes.
 d) − Coitada... Vocação de viúva.
 e) O sapato foi substituído por outro.
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Questão 835: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Apoio Especializado/Enfermagem do Trabalho/2023
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Leia o texto “Ardil da desrazão”, de Eduardo Giannetti, para responder à questão.
 
Imagine uma pessoa afivelada a uma cama com eletrodos colados em suas têmporas. Ao se girar um
botão situado em local distante, a corrente elétrica nos eletrodos aumenta em grau infinitesimal, de
modo que o paciente não chegue a sentir. Um hambúrguer gratuito é então ofertado a quem girar o
botão. Ocorre, porém, que, quando milhares de pessoas fazem isso − sem que cada uma saiba das
ações das demais −, a descarga elétrica gerada é suficiente para eletrocutar a vítima. Quem é
responsável pelo quê? Algo tenebroso foi feito, mas de quem é a culpa? O efeito isolado de cada giro do
botão é, por definição, imperceptível − são todos “torturadores inofensivos”. Mas o efeito conjunto é
ofensivo ao extremo. Até que ponto a somatória de ínfimas partículas de culpa se acumula numa
gigantesca dívida moral coletiva? − O experimento mental concebido pelo filósofo britânico Derek Parfit
dá o que pensar. A mudança climática em curso equivale a uma espécie de eletrocussão da biosfera.
Quem a deseja? A quem interessa? O ardil da desrazão vira do avesso a “mão invisível” da economia
clássica. O aquecimento global é fruto da alquimia perversa de incontáveis ações humanas, mas não
resulta de nenhuma intenção humana. E quem assume − ou deveria assumir − a culpa por ele? Os 7
bilhões de habitantes da Terra pertencem a três grupos: o primeiro bilhão, no cobiçado topo da escala
de consumo, responde por 50%das emissões de gases-estufa; os 3 bilhões seguintes por 45%; e os 3
bilhões na base da pirâmide (metade sem acesso a eletricidade) por 5%. Por seu modo de vida, situação
geográfica e vulnerabilidade material, este último grupo − o único inocente − é o mais tragicamente
afetado pelo “giro de botão” dos demais.
(GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016)
 
Pode ser considerada paradoxal a seguinte expressão empregada no texto:
 a) efeito isolado.
 b) torturadores inofensivos.
 c) ínfimas partículas.
 d) intenção humana.
 e) vulnerabilidade material.
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Questão 836: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agente de Policia Judicial/2023
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Leia a crônica “Pai de família sem plantação”, de Paulo Mendes Campos, para responder à
questão.
 
Sempre me lembro da história exemplar de um mineiro que veio até a capital, zanzou por aqui, e voltou
para contar em casa os assombros da cidade. Seu velho pai balançou a cabeça; fazendo da própria
dúvida a sua sabedoria: “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem
plantação, não sei não...”
 
Às vezes morro de nostalgia. São momentos de sinceridade, nos quais todo o meu ser denuncia minha
falsa condição de morador do Rio de Janeiro. A trepidação desta cidade não é minha. Sou mais, muito
mais, querendo ou não querendo, de uma indolência de sol parado e gerânios. Minha terra é outra,
minha gente não é esta, meu tempo é mais pausado, meus assuntos são mais humildes, minha fala,
mais arrastada. O milho pendoou? Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna? A vaca do coronel já
deu cria? Desta literatura rural é que preciso.
 
Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro. Velozes automóveis me perseguem
na rua, novos edifícios crescem fazendo barulho em meus ouvidos, a guerra comercial não me dá
tréguas, o clamor do telefone me põe a funcionar sem querer, a vaga se espraia e repercute no meu
peito, minha inocência não percebe o negócio de milhões articulado com um sorriso e um aperto de
mão. Pois eu não sou daqui.
 
Vivo em apartamento só por ter cedido a uma perversão coletiva; nasci em casa de dois planos, o de
cima, da família, sobre tábuas lavadas, claro e sem segredos, e o de baixo, das crianças, o porão escuro,
onde a vida se tece de nada, de pressentimentos, de imaginação, do estofo dos sonhos. A maciez das
mãos que me cumprimentam na cidade tem qualquer coisa de peixe e mentira; não sou desta viração
mesclada de maresia; não sei comer este prato vermelho e argênteo de crustáceos; não entendo os
sinais que os navios trocam na cerração além da minha janela. Confio mais em mãos calosas, meus
sentidos querem uma brisa à boca da noite cheirando a capim-gordura; um prato de tutu e torresmos
para minha fome; e quando o trem distante apitasse na calada, pelo menos eu saberia em que
sentimentos desfalecer.
 
Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete. Com um matungo que me criasse amizade,
eu visitaria o vigário, o médico, o turco, o promotor que lê Victor Hugo, o italiano que tem uma horta, o
ateu local, o criminoso da cadeia, todos eles muitos meus amigos. Se aqui não vou à igreja, lá pelo
menos frequentaria a doçura do adro, olhando o cemitério em aclive sobre a encosta, emoldurado em
muros brancos. Aqui jaz Paulo Mendes Campos. Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da
sombra. É tudo o que peço. E não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato. São Paulo: Ática, 2012)
 
Verifica-se a ocorrência de metonímia em:
 a) um mineiro que veio até a capital.
 b) o promotor que lê Victor Hugo.
 c) pai de família que não tem plantação.
 d) um prato de tutu e torresmos para minha fome.
 e) É tudo o que peço.
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Questão 837: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Encenação da morte
 
A vida nos quer, a morte nos quer. Somos o resultado da tensão ocasionada pelas duas forças que nos
puxam. Esse equilíbrio não é estável. Amplo, diverso e elástico é o campo de força da vida, e vale a
mesma coisa para o campo da morte. Se ficamos facilmente deprimidos ou exaltados é em razão das
oscilações de intensidade desses dois campos magnéticos, sendo o tédio o relativo equilíbrio entre os
dois.
 
Às vezes é mais intensa a pressão da vida, outras vezes é mais intensa a pressão da morte. Não se quer
dizer com isso que a exaltação seja a morte e a depressão seja a vida. Há exaltações e exultações que
se polarizam na morte, assim como há sistemas de depressão que gravitam em torno da vida. O
estranho, do ponto de vista biológico, é que somos medularmente solitários com ambos os estados de
imantação mais intensa, os da vida e os da morte. Não aproveitamos apenas a vida, mas usufruímos
também as experiências da morte, desde que essas não nos matem.
 
Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não
chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes. (...) Mas
outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura, tão forte, tão irrespondível, tão parecida
comigo que fiquei no mais confuso dos sentimentos. Esta eu não posso matar, esta é a minha morte. O
Vinícius de Moraes, que entende muito de morte, disse que nesse terreno há sempre margem de erro, e
que talvez eu tenha ainda de andar um bocado mais antes de encontrar a minha morte. Pode ser. Não
sei. Quem sabe?
 
(Adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte:
Autêntica, 2021, p. 246-248, passim)
 
Ao longo do texto o autor se vale de vários paradoxos, tal como o que ocorre na seguinte formulação:
 a) Somos o resultado da tensão ocasionada pelas duas forças que nos puxam.
 b) oscilações de intensidade desses dois campos magnéticos.
 c) Às vezes é mais intensa a pressão da vida
 d) usufruímos também as experiências da morte, desde que essas não nos matem.
 e) O Vinícius de Moraes (...) disse que nesse terreno há sempre margem de erro.
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Questão 838: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agente de Policia Judicial/2023
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Leia a crônica “Pai de família sem plantação”, de Paulo Mendes Campos, para responder à
questão.
 
Sempre me lembro da história exemplar de um mineiro que veio até a capital, zanzou por aqui, e voltou
para contar em casa os assombros da cidade. Seu velho pai balançou a cabeça; fazendo da própria
dúvida a sua sabedoria: “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem
plantação, não sei não...”
 
Às vezes morro de nostalgia. São momentos de sinceridade, nos quais todo o meu ser denuncia minha
falsa condição de morador do Rio de Janeiro. A trepidação desta cidade não é minha. Sou mais, muito
mais, querendo ou não querendo, de uma indolência de sol parado e gerânios. Minha terra é outra,
minha gente não é esta, meu tempo é mais pausado, meus assuntos são mais humildes, minha fala,
mais arrastada. O milho pendoou? Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna? A vaca do coronel já
deu cria? Desta literatura rural é que preciso.
 
Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro. Velozes automóveis me perseguem
na rua, novos edifícios crescem fazendo barulho em meus ouvidos, a guerra comercial não me dá
tréguas, o clamor do telefone me põe a funcionar sem querer, a vaga se espraia e repercute no meu
peito, minha inocência não percebe o negócio de milhões articulado com um sorriso e um aperto de
mão. Pois eu não sou daqui.
 
Vivo em apartamento só por ter cedido a umaperversão coletiva; nasci em casa de dois planos, o de
cima, da família, sobre tábuas lavadas, claro e sem segredos, e o de baixo, das crianças, o porão escuro,
onde a vida se tece de nada, de pressentimentos, de imaginação, do estofo dos sonhos. A maciez das
mãos que me cumprimentam na cidade tem qualquer coisa de peixe e mentira; não sou desta viração
mesclada de maresia; não sei comer este prato vermelho e argênteo de crustáceos; não entendo os
sinais que os navios trocam na cerração além da minha janela. Confio mais em mãos calosas, meus
sentidos querem uma brisa à boca da noite cheirando a capim-gordura; um prato de tutu e torresmos
para minha fome; e quando o trem distante apitasse na calada, pelo menos eu saberia em que
sentimentos desfalecer.
 
Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete. Com um matungo que me criasse amizade,
eu visitaria o vigário, o médico, o turco, o promotor que lê Victor Hugo, o italiano que tem uma horta, o
ateu local, o criminoso da cadeia, todos eles muitos meus amigos. Se aqui não vou à igreja, lá pelo
menos frequentaria a doçura do adro, olhando o cemitério em aclive sobre a encosta, emoldurado em
muros brancos. Aqui jaz Paulo Mendes Campos. Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da
sombra. É tudo o que peço. E não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato. São Paulo: Ática, 2012)
 
O cronista recorre à figura de linguagem denominada hipérbole em:
 a) Pois eu não sou daqui.
 b) Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna?
 c) A vaca do coronel já deu cria?
 d) Às vezes morro de nostalgia.
 e) Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete.
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Questão 839: FCC - AJ TRT14/TRT 14/Administrativa/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Leia o texto para responder à questão.
 
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio
que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas
cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande
salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro- te.
 
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-
hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então
redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei
aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e
tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que
me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e
enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a
paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio,
porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como
as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado,
sede de nomeada. Digamos: − amor da glória.
 
Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição
das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos
terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem,
e, conseguintemente, a sua mais genuína feição. Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao
emplasto.
 
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)
 
Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou
devoro-te. (1º parágrafo)
 
No trecho acima, ao descrever uma ideia que lhe surgiu, o autor recorre, predominantemente, à seguinte
figura de linguagem:
 a) eufemismo.
 b) hipérbole.
 c) personificação.
 d) pleonasmo.
 e) antítese.
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Questão 840: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim
é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se o amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro e pronto,
lá se ia nosso defunto
para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu. Deus o tenha.(I)
Sempre alguém tinha uma frase
que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado,
praga de velha e amor mal curado.
Tinha coisas que tem que morrer,
 
tinha coisas que tem que matar.
A honra, a terra e o sangue
mandou muita gente praquele lugar.
Que mais podia um velho fazer,
nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
deixar tudo para os filhos(II)
e virar fotografia?(II)
Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Mas ninguém tem culpa.(III)
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoçou e fez a barba,
tomou banho e foi no vento.
Não tem o que reclamar.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade,
a ciência da eternidade
inventou a criônica.
Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica.
 
(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
 
Considere os seguintes trechos:
 
I. “Descansou. Partiu. Deus o tenha.”
 
II. “deixar tudo para os filhos / e virar fotografia?”
 
III. “Mas ninguém tem culpa.”
 
Ocorre eufemismo em
 a) III, apenas.
 b) I, apenas.
 c) II, apenas.
 d) I e II, apenas.
 e) I, II e III.
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Questão 841: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Apoio Especializado/Biblioteconomia/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
O rio de minha terra é um deus estranho.
Ele tem braços, dentes, corpo, coração,
muitas vezes homicida,
foi ele quem levou o meu irmão.
É muito calmo o rio de minha terra.
Suas águas são feitas de argila e de mistérios.
Nas solidões das noites enluaradas
a maldição de Crispim desce
sobre as águas encrespadas.
O rio de minha terra é um deus estranho.
Um dia ele deixou o monótono caminhar de corpo mole
para subir as poucas rampas do seu cais.
Foi conhecendo o movimento da cidade,
a pobreza residente nas taperas marginais.
Pois tão irado e tão potente fez-se o rio
que todo um povo se juntou para enfrentá-lo.
Mas ele prosseguiu indiferente,
carregando no seu dorso bois e gente,
até roçados de arroz e de feijão.
Na sua obstinada e galopante caminhada,
destruiu paredes, casas, barricadas,
deixando no percurso mágoa e dor.
Depois subiu os degraus da igreja santa
e postou-se horas sob os pés do Criador.
E desceu devagarinho, até deitar-se
novamente no seu leito.
Mas toda noite o seu olhar de rio
fica boiando sob as luzes da cidade.
(Adaptado de: MORAES, Herculano. O rio da minha
terra. Disponível em: https://www.escritas.org)
 
A figura de linguagem predominante no verso "O rio de minha terra é um deus estranho” é a
 a) metáfora.
 b) hipérbole.
 c) comparação.
 d) personificação.
 e) metonímia.
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Assunto: Figuras de Linguagem
Considere o texto abaixo para responder a questão.
Fernando Pessoa é não apenas um dos maiores poetas modernos, mas um dos maiores poetas da
modernidade, ou seja, um dos poetas que mais longe levaram a experiência tanto das possibilidades
quanto do desencanto do mundo moderno. Não que ele esteja próximo das veleidades contemporâneas.
A modernidade a que me refiro não se confunde com a mera contemporaneidade. Deixemos de lado
nosso provincianismo temporal. A modernidade consiste em primeiro lugar na época da
desprovincianização do mundo: aquela que, do ponto de vista temporal, abre-se com o humanismo que,
voltando os olhos para o mundo clássico, relativiza o mundo contemporâneo; e que, do ponto de vista
espacial, abre-se com as descobertas geográficas, celebradas pelo próprio Pessoa, quando diz, por
exemplo, no altíssimo poema “O infante”, inspirado em d. Henrique, o Navegador:
 
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. Deus quis que a terra fosse toda uma, Que o mar unisse, já
não separasse. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
 
E a orla branca foi de ilha em continente, Clareou, correndo, até o fim do mundo, E viu-se a terra inteira,
de repente, Surgir, redonda, do azul profundo.
 
Quem te sagrou criou-te português. Do mar e nós em ti nos deu sinal. Cumpriu-se o Mar, e o Império se
desfez. Senhor, falta cumprir-se Portugal!
 
O processo de cosmopolitização que produziu o mundo moderno não se restringiu às descobertas dos
humanistas e dos navegadores, pois também incluiu explorações científicas, artísticas etc. Ora, a
abertura de novos horizontes tornou possível a compreensão do caráter limitado dos antigos horizontes.
As ideias e as crenças tradicionais puderam ser postas em questão.
 
A filosofia moderna se formou a partir do ceticismo mais radical que se pode imaginar: a dúvida
hiperbólica de Descartes, segundo a qual é possível que tudo o que pensamos saber não tenha
consistência maior que a de sonhos, alucinações, ataques de loucura etc. Com razão, Alexandre Koyré
afirmou que essa dúvida foi “a mais tremenda máquina de guerra contra a autoridade e a tradição que o
homem jamais possuiu”.
 
Pode-se dizer então que o homem moderno é aquele que viu desabarem, ao sopro da razão, os castelos
de cartas das crenças tradicionais: o homem que caiu em si. Em última análise, é isso que o obriga a
instaurar, por exemplo, os procedimentos jurídicos modernos como processos abertos à razão crítica,
públicos, e cujos resultados estão sempre, em princípio, sujeitos a ser revistos ou refutados.
 
(Adaptado de: CÍCERO, Antonio. A poesia e a crítica: Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital)
 
A filosofia moderna se formou a partir do ceticismo mais radical que se pode imaginar (3º parágrafo).
 
Na frase acima, como recurso expressivo, o autor faz uso de
 a) ambiguidade.
 b) personificação.
 c) antítese.
 d) hipérbole.
 e) eufemismo.
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Questão 843: FCC - AJ TRT5/TRT 5/Apoio Especializado/Engenharia/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Considere o trecho do poema abaixo para responder às questão.
 
Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
 
Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar-entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.
 
Um internado num manicômio é, ao menos, alguém.
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...
 
(Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997)
 
Verifica-se o emprego da figura de linguagem conhecida como hipérbole no seguinte verso:
 a) Esta velha angústia,
 b) Esta angústia que trago há séculos em mim,
 c) Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
 d) Mal sei como conduzir-me na vida.
 e) Um internado num manicômio é, ao menos, alguém.
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Questão 844: FCC - Prof P (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e
Médio/Pedagogo/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Vem uma pessoa de Cachoeiro de Itapemirim e me dá notícias melancólicas. Numa viagem pelo interior,
em estradas antigamente belas, achou tudo feio e triste. A estupidez e a cobiça dos homens continua a
devastar e exaurir a terra.
 
Mas não são apenas notícias tristes que me chegam da terrab. Ouço nomes de velhos amigos e fico
sabendo de histórias novas. E a pessoa me fala da praia – de Marataíses – e diz que ainda continua
reservado para mim aquele pedaço de terra, em cima das pedras, entre duas prainhas...
 
Ali, um dia, o velho Braga, juntando os tostões que puder ganhar batendo em sua máquina, levantará a
sua casa perante o mar da infânciac. Ali plantará árvores e armará sua rede e meditará talvez com tédio
e melancolia na vida que passoua. Esse dia talvez ainda esteja muito longe, e talvez não exista. Mas é
doce pensar que o nordeste está lá, jogando as ondas bravas e fiéis contra as pedras de antigamentee;
que milhões de vezes a espumarada recua e ferve, escachoando, e outra onda se ergue para arremeter
contra o pequeno território em que o velho Braga construiu sua casa de sonho e de paz. Como será a
casa? Ah, amigos arquitetos, vocês me façam uma coisa tão simples e tão natural que, entrando na
casa, morando na casa, a gente nunca tenha a impressão de que antes de fazê-la foi preciso traçar um
plano; e que a ninguém sequer ocorra que ela foi construída, mas existe naturalmente, desde sempre e
para sempre, tranquila, boa e simples.
 
Que árvores plantarei? A terra certamente é ruim, além de pequena, e eu talvez não possa ter uma
fruta-pão nem um jenipapeiro; talvez mangueiras e coqueiros para dar sombra e música; talvez... Mas
nem sequer o pedaço de terra ainda é meu; meus títulos de propriedade são apenas esses devaneios
que oscilam entre a infância e a velhice, que me levam para longe das inquietações de hoje.
 
Que rei sou eu, Braga Sem Terra, Rubem Coração de Leão de Circo, triste circo desorganizado e pobre
em que o palhaço cuida do elefante e o trapezista vai pescar nas noites sem lua com a rede de
proteção, e a luz das estrelas e a água da chuva atravessam o pano encardido e roto...
 
Mas me sinto subitamente sólido; há alguns metros, nestes 8 mil quilômetros de costa, onde posso
plantar minha casa nos dias de aflição e de cansaço, com pedras de ar e telhas de brisa; e os coqueiros
farfalham, um sabiá canta meio longe, e me afundo na rede, e posso dormir para sempre ao embalo do
mar...d
 
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Vem uma pessoa. 1949)
 
Como recurso expressivo, o cronista recorre ao eufemismo, ou seja, à substituição de uma expressão que
possa ter sentido triste ou desagradável por outra de sentido mais suave, no seguinte segmento:
 a) e meditará talvez com tédio e melancolia na vida que passou.
 b) Mas não são apenas notícias tristes que me chegam da terra.
 c) Ali, um dia, o velho Braga, juntando os tostões que puder ganhar batendo em sua máquina,
levantará a sua casa perante o mar da infância.
 d) e os coqueiros farfalham, um sabiá canta meio longe, e me afundo na rede, e posso dormir para
sempre ao embalo do mar.
 e) Mas é doce pensar que o nordeste está lá, jogando as ondas bravas e fiéis contra as pedras de
antigamente.
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Questão 845: FCC - Ana Proc (PGE AM)/PGE AM/2022
Assunto: Figuras deLinguagem
Considere o texto abaixo para responder a questão.
Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não
muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a
fumaça e a graxa do porto. Minha ilha ficará no justo ponto de latitude e longitude que, pondo-me a
coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-
los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direi, a arte do bem viver; uma fuga relativa, e uma não
muito estouvada confraternização.
 
De há muito sonho esta ilha, se é que não a sonhei sempre. Se é que a não sonhamos sempre.
Objetais-me: “Como podemos amar as ilhas, se buscamos o centro mesmo da ação?” Engajados; vosso
engajamento é a vossa ilha, dissimulada e transportável. Por onde fordes, ela irá convosco. Significa a
evasão daquilo para que toda alma necessariamente tende, ou seja, a gratuidade dos gestos naturais, o
cultivo das formas espontâneas, o gosto de ser um com os bichos, as espécies vegetais, os fenômenos
atmosféricos.
 
E por que nos seduz a ilha? As composições de sombra e luz, o esmalte da relva, a cristalinidade dos
regatos – tudo isso existe fora das ilhas, não é privilégio delas. A mesma solidão existe nos mais
diversos locais, inclusive os de população densa, em terra firme.
 
A ilha me satisfaz por ser uma porção curta de terra (falo de ilhas individuais, não me tentam aventuras
marajoaras), um resumo prático dos estirões deste vasto mundo, sem os inconvenientes dele, e com a
vantagem de ser uma ficção sem deixar de constituir uma realidade. A casa junto ao mar, que já foi
razoável delícia, passou a ser um pecado, depois que se desinventou a relação entre homem, paisagem
e morada. O progresso técnico teve isto de retrógrado: esqueceu-se do fim a que se propusera. Acabou
com qualquer veleidade de amar a vida, que ele tornou muito confortável, mas invisível. Fez-se numa
escala de massas, esquecendo-se do indivíduo, e nenhuma central elétrica será capaz de produzir aquilo
de que cada um de nós carece na cidade excessivamente iluminada: certa penumbra. O progresso nos
dá tanta coisa, que não nos sobra nada nem para desejar nem para jogar fora. Tudo é inútil e
atravancador. A ilha sugere uma negação disto.
 
Serão admitidos poetas? Em que número? Se foram proscritos das repúblicas, pareceria cruel bani-los
também da ilha de recreio. Contudo, devem comportar-se como se poetas não fossem: pondo de lado o
tecnicismo, a excessiva preocupação literária, o misto de esteticismo e frialdade que costuma necrosar
os artistas. Sejam homens razoáveis, carentes, humildes, inclinados à pesca e à corrida a pé. Não levem
para a ilha os problemas de hegemonia e ciúme.
 
Por aí se observa que a ilha mais paradisíaca pede regulamentação, e que os perigos da convivência
urbana estão presentes. Tanto melhor, porque não se quer uma ilha perfeita, senão um modesto
território banhado de água por todos os lados e onde não seja obrigatório salvar o mundo.
 
A ideia de fuga tem sido alvo de crítica severa nos últimos anos, como se fosse ignominioso, por
exemplo, fugir de um perigo, de um sofrimento, de uma chateação. Como se devesse o homem
consumir-se numa fogueira perene.
 
Estas reflexões descosidas procuram apenas recordar que há motivos para ir às ilhas.
 
(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Divagação sobre as ilhas”. In: Passeios na ilha. São Paulo: Companhia das
Letras, 2020, p.15-19)
 
O autor recorre a um aparente paradoxo no seguinte trecho:
 a) ser uma ficção sem deixar de constituir uma realidade (4º parágrafo).
 b) Significa a evasão daquilo para que toda alma necessariamente tende (2º parágrafo).
 c) devem comportar-se como se poetas não fossem (5º parágrafo).
 d) Não levem para a ilha os problemas de hegemonia e ciúme (5º parágrafo).
 e) A mesma solidão existe nos mais diversos locais (3º parágrafo).
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Questão 846: FCC - FRE (SEFAZ AP)/SEFAZ AP/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Mudança
 
Íamos mudar de cidade dali a dias, me disseram. Meu mundo de menino até então resumira-se àquela
casa, àquela rua, àquela cidade, àquela escola. Fiquei entusiasmado: íamos pra Capital!
 
No meu último dia de aula, véspera da mudança, me despedi da turma e voltei pra casa ansioso. Lá
chegando – cadê a nossa sala? Móveis empilhados, janelas nuas, marcas de arrasto no assoalho...
 
Perguntei pra minha irmã: – E quando é que a gente vai voltar pra casa? – Nunca mais, respondeu ela.
Insisti: – A gente vai embora para sempre? – Para sempre, foi a sentença. Compreendi desde então que
“nunca mais” e “para sempre” são duas faces do mesmo Tempo implacável.
 
As palavras gostam de se esclarecer por meio das nossas experiências.
 
(Celso Canedo Lima, a publicar)
 
Entre os recursos utilizados na composição do texto, está o emprego
 a) da figura da personificação, em As palavras gostam de se esclarecer.
 b) de travessões (2º e 3º parágrafos) com a mesma função em todos os casos.
 c) de voz passiva com efeito literário em Fiquei entusiasmado!
 d) de típico discurso descritivo em me despedi da turma.
 e) da modalidade dissertativa de discurso em voltei pra casa ansioso.
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Questão 847: FCC - ACE (TCE-GO)/TCE GO/Contabilidade/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A nuvem
 
− “Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem
reclamar, sem protestar, sem espinafrar!”
 
E meu amigo falou de água, telefone, conta de luza, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na
rua etc. etc. etc.
 
Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que
tenho reclamado muito isto e aquilob. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é
que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
 
Além disso, a verdade não está apenas nos buracos da ruac e outras mazelas. Não é verdade que as
amendoeiras neste inverno deram um show luxuosod de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria
demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses
encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que
importa? Esse carinho me faz beme; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem
ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as
cinzas do meu crepúsculo.
 
E olhem só que tipo estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão –
e seus tradicionais buracos.
 
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana! Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, pp. 179-180)
 
Há emprego de uma personificação na frase:
 a) E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz.
 b) Até que tenho reclamado muito isto e aquilo.
 c) a verdade não está apenas nos buracos da rua.
 d) as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso.
 e) Esse carinho me faz bem.
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Questão 848: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Para responder a questão, considere um trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis.
 
Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no
cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço
de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o
presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas
chinelas de Túnis, que lhedeu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma
sensação de propriedade.
 
– Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com
Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está
tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
 
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele
pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém,
deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião
acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer,
foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita canoa! – Antes assim! – Como
obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles estão no Céu!
 
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par
de figuras que aqui está na sala, um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a
bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada.
 
(Machado de Assis. Quincas Borba. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
 
A antítese é uma figura pela qual se opõem, numa mesma frase, duas palavras ou dois pensamentos de
sentido contrário, a exemplo do que se verifica em:
 a) – Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. (2º parágrafo)
 b) Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. (1º parágrafo)
 c) Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? (3º
parágrafo)
 d) – Como obedece bem aos remos do homem! (3º parágrafo)
 e) Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja,
que era de prata lavrada. (4º parágrafo)
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Questão 849: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador
Federal/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, leia o texto de John Gledson.
Na década de 1880, Machado de Assis publicou cerca de oitenta contos, numa espantosa explosão de
criatividade, que também rendeu seu primeiro grande romance, Memórias póstumas de Brás Cubas
(1880).
 
Como isso aconteceu − por que aconteceu, e por que nesse momento? Nada é mais difícil de explicar do
que a explosão de um gênio criador − e não devemos duvidar que é disso que se trata. Contos podem
parecer fáceis, escritos algo apressadamente como uma espécie de subproduto de um trabalho mais
sério ou até como sintomas de uma incapacidade passageira de empreender “obras de maior tomo”
(palavras de Dom Casmurro), mas nada está mais longe da verdade. Contos não são romances
imperfeitos − existem com seus direitos próprios, e quando Machado começou a escrever os seus
melhores, o gênero estava conquistando uma nova dignidade.
 
O traço mais importante de seus contos é a ironia, com frequência fixada por um estilo que muitas vezes
emprega certo registro de linguagem a fim de estabelecer, desde a primeira palavra, que nada ali é para
ser levado inteiramente a sério, que aquilo não é a fala direta do autor: “A coisa mais árdua do mundo,
depois do ofício de governar, seria dizer a idade exata de Dona Benedita”. Machado podia parodiar
qualquer tipo de linguagem, da Bíblia à dos jornais (essa, de fato, era a que satirizava com mais
frequência). No começo dos anos 1880, Machado não só estabelecera seu direito a falar do universo,
mas também principiara a fazer o retrato da sociedade brasileira sob uma luz inteiramente nova. Os
romances bem-educados dos anos 1870, que elevavam a vida social, deram lugar à sátira selvagem de
Memórias póstumas de Brás Cubas, que mostrava realidades − adultério, prostituição, escravatura, o
tratamento dado aos agregados − com uma nitidez e uma cólera inteiramente impossíveis alguns anos
antes.
 
Uma coisa é certa: a expansão do material possível de Machado e o distanciamento irônico que ele
adota são inseparáveis. Digamos assim: se ele não tivesse encontrado modos dos mais variados
(irônicos, sarcásticos, mas sempre semiocultos) de se expressar a respeito de coisas sobre as quais não
devia falar, ou às quais só podia se referir de soslaio, suas histórias jamais teriam existido; podemos
sentir sua satisfação quando se aproxima de outra questão espinhosa e acaba encontrando novas
maneiras de falar sobre coisas demasiado embaraçosas para mencionar diretamente. Na minha opinião,
isso ajuda a explicar o êxito de seus contos − Machado caminhava no fio da navalha.
 
(Adaptado de: GLEDSON, John. Trad. Fernando Py.
In: 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital)
 
“A coisa mais árdua do mundo, depois do ofício de governar, seria dizer a idade exata de Dona Benedita”.
 
No trecho acima, o narrador recorre à seguinte figura de linguagem:
 a) hipérbole.
 b) personificação.
 c) antítese.
 d) eufemismo.
 e) pleonasmo.
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Questão 850: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Ciência da Computação/Infraestrutura de TI/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Para responder à questão, leia o início do conto “Missa do Galo”, de Machado de Assis.
 
Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete,
ela, trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não
dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.
 
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias,
com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem quando
vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranquilo, naquela
casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família
era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite
toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de
uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões,
a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na
manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia
amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição
padecera, a princípio, com a existência da comborça*; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e
acabou achando que era muito direito.
 
Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os
esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes
lágrimas, nem grandes risos. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem
bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo.
Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.
 
Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em
Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver “a missa do galo na Corte”. A família recolheu-se
à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada
e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a
terceira ficava em casa.
 
− Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição.
 
− Leio,D. Inácia.
 
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-
me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa
dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras. Os minutos
voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase
sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura.
 
(Adaptado de: Machado de Assis. Contos: uma antologia. São Paulo: Companhia das Letras, 1988)
 
*comborça: qualificação humilhante da amante de homem casado
 
Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe
que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele
não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o
teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e
dormia fora de casa uma vez por semana. (2o parágrafo)
 
Nesse trecho, o narrador acaba por caracterizar um eufemismo. Tendo em vista essa caracterização,
verifica-se outro exemplo de eufemismo na seguinte frase:
 a) Ele sempre foi assim: sutil como um elefante.
 b) Fazia um século que eles não se encontravam.
 c) As suas palavras cortaram bruscamente o silêncio.
 d) Eu vi com os meus próprios olhos.
 e) Logo após conversar com a filha, ele passou desta para uma melhor.
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Questão 851: FCC - Prof B (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e Médio/Língua
Portuguesa/2022
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Ai de ti, Ipanema
 
Há muitos anos, Rubem Braga começava assim uma de suas mais famosas crônicas: “Ai de ti,
Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste;
porém minha voz te abalará até as entranhas.” Era umaexortação bíblica, apocalíptica, profética, ainda
que irônica e hiperbólica. “Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na
verdade não haverá terreno algum.”
 
Na sua condenação, o Velho Braga antevia os sinais da degradação e da dissolução moral de um bairro
prestes a ser tragado pelo pecado e afogado pelo oceano, sucumbindo em meio às abjeções e ao vício:
“E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face”.
 
A praia já chamada de “princesinha do mar”, coitada, inofensiva e pura, era então, como Ipanema seria
depois, a síntese mítica do hedonismo carioca, mais do que uma metáfora, uma metonímia.
 
No fim dos anos 50, Copacabana era o éden não contaminado ainda pelos plenos pecados, eram tempos
idílicos e pastorais, a era da inocência, da bossa nova, dos anos dourados de JK, de Garrincha. Digo eu
agora: Ai de ti, Ipanema, que perdeste a inocência e o sossego, e tomaste o lugar de Copacabana, e
não percebeste os sinais que não são mais simbólicos: o emissário submarino se rompendo, as águas
poluídas, as valas negras, as agressões, os assaltos, o medo e a morte.
 
(Adaptado de: VENTURA, Zuenir. Crônicas de um fim de século. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999, p. 166/167)
 
Na versão integral dessa crônica, o autor, acertadamente, justifica a classificação retórica mais do que
uma metáfora, uma metonímia (3o parágrafo), com o complemento:
 a) ressalvado este meu exagero.
 b) tal como ocorre com todos os símbolos.
 c) se me permitem personificar.
 d) uma vez cabível a comparação.
 e) a parte condensando o todo.
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Questão 852: FCC - AP (MANAUSPREV)/MANAUSPREV/Administração/2021
Assunto: Figuras de Linguagem
A beleza total
A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de
seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o
corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto,
partiu-se em mil estilhaços.
A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez,
perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana,
embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa.
O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada
num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes
sobre o peito.
Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era
feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um dia cerrou os
olhos para sempre. Sua beleza saiu do corpo e ficou pairando, imortal. O corpo já então enfezado de
Gertrudes foi recolhido ao jazigo, e a beleza de Gertrudes continuou cintilando no salão fechado a sete
chaves.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
 
O narrador recorre a um eufemismo no seguinte trecho:
 a) Os espelhos pasmavam diante de seu rosto (1o parágrafo)
 b) um dia cerrou os olhos para sempre (4o parágrafo)
 c) partiu-se em mil estilhaços (1o parágrafo)
 d) os veículos paravam à revelia dos condutores (2o parágrafo)
 e) o mordomo se suicidara com uma foto (3o parágrafo)
 
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Questão 853: FCC - ACer (Pref SJRP)/Pref SJRP/2019
Assunto: Figuras de Linguagem
Quando lhe disse que um vago conhecido nosso tinha morrido, vítima de tumor no cérebro, levou as
mãos à cabeça:
 
− Minha Santa Efigênia!
 
Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele fez
sentir a causa de sua perturbação:
 
− É o que eu tenho, não há dúvida nenhuma: esta dor de cabeça que não passa! Estou para morrer.
 
Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer. Não há doença que passe perto dele e não se
detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas de que está com os dias contados. Empresta
dimensões de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez estomacal:
 
− Até parece que andei comendo fogo. Estou com pirofagia crônica. Esta cólica é que é o diabo, se eu
fosse mulher ainda estava explicado. Histeria gástrica. Úlcera péptica, no duro.
 
Certa ocasião, durante um mês seguido, tomou injeções diárias de penicilina, por sua conta e risco. A
chamada dose cavalar.
 
− Não adiantou nada − queixa-se ele. − Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa
dentro de minha barriga.
 
Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria:
 
− Menino, você precisava de ver o meu apêndice: parecia uma salsicha alemã.
 
No que dependesse dele, já teria passado por todas as operações jamais registradas nos anais da
cirurgia: “Só mesmo entrando na faca para ver o que há comigo”. Os médicos lhe asseguram que não há
nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho, são uns charlatães, quem
entende de mim sou eu”. O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório:
tirou-lhe radiografia até dos dedos do pé. E ele sempre se apalpando e fazendo caretas: “Meu fígado
hoje está que nem uma esponja, encharcada de bílis. Minha vesícula está dura como um lápis, põe só a
mão aqui”.
 
− É lápis mesmo, aí no seu bolso.
 
− Do lado de cá, sua besta. Não adianta, ninguém me leva a sério.
 
[...]
 
Ultimamente os amigos deram para conspirar, sentenciosos: o que ele precisa é casar. Arranjar uma
mulherzinha dedicada, que cuidasse dele. “Casar, eu?” − e se abre numa gargalhada: “Vocês querem
acabar de liquidar comigo?” Mas sua aversão ao casamento não pode ser tão forte assim, pois consta
que de uns dias para cá está de namoro sériocom uma jovem, recém-diplomada na Escola de
Enfermagem Ana Néri.
 
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012, p. 71-72)
 
 
A personificação é um recurso expressivo que consiste em atribuir propriedades humanas a uma coisa, a
um ser inanimado ou abstrato. Verifica-se a ocorrência desse recurso expressivo no seguinte trecho:
 a) Não há doença que passe perto dele e não se detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas
de que está com os dias contados (5º parágrafo)
 b) Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele
fez sentir a causa de sua perturbação (3º parágrafo)
 c) Empresta dimensões de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez
estomacal (5º parágrafo)
 d) O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório: tirou-lhe radiografia
até dos dedos do pé (11º parágrafo)
 e) Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa dentro de minha barriga (8º parágrafo)
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Questão 854: FCC - PJ (MPE MT)/MPE MT/2019
Assunto: Figuras de Linguagem
Linguagens
Há muitas linguagens em nossa linguagem(B). Disse isso a um amigo, a propósito da diversidade de
níveis de comunicação, e ele logo redarguiu:
− Mas certamente você concordará em que haverá linguagens boas e linguagens ruins, melhores e
piores.
− Não é tão simples assim, respondi. Essa, como se sabe(D), é uma discussão acesa, um pomo da
discórdia(A), que envolve argumentos linguísticos, sociológicos e políticos. A própria noção de erro(E) ou
acerto está mais do que relativizada. Tanto posso dizer “e aí, mano, tudo nos conformes?” como posso
dizer “olá, como está o senhor?”: tudo depende dos sujeitos e dos contextos envolvidos.(C)
As linguagens de uma notícia de jornal, de uma bula de remédio, de um discurso de formatura, de uma
discussão no trânsito, de um poema e de um romance diferenciam-se enormemente, cada uma envolvida
com uma determinada função. Considerar a pluralidade de discursos e tudo o que se determina e se
envolve nessa pluralidade é uma das obrigações a que todos deveríamos atender, sobretudo os que
defendem a liberdade de expressão e de pensamento.
(Norton Camargo Pais, inédito)
 
Constituem exemplos de figuras de linguagem os segmentos:
 a) discussão acesa e pomo da discórdia
 b) muitas linguagens e níveis de comunicação
 c) argumentos linguísticos e contextos envolvidos
 d) como se sabe e Não é tão simples
 e) envolve argumentos e noção de erro
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Questão 855: FCC - Red (CM Fortal)/CM Fortaleza/2019
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Assim, tanto o indianismo quanto o regionalismo de Alencar se construíram em um esquema
sobredeterminado pela exaltação da nobreza do colonizador que só a devoção do colonizado pode
igualar. A ambivalência dessa posição ideológica é resolvida poeticamente em Iracema, lenda que conta a
fundação do Ceará consumada graças à “doce escravidão” (expressão de Machado de Assis) à qual se
submeteu a “virgem dos lábios de mel”. Iracema fugirá de sua tribo e se entregará ao conquistador
europeu, Martim Soares Moreno. Dessa união fatal para a mulher, que morrerá ao dar à luz, nasceria
Moacir, “filho do sofrimento”, o primeiro cearense. A coragem de Peri e a beleza de Iracema são a fonte
de poesia desses romances ao mesmo tempo históricos e lendários. Mas o poder que imanta os enredos
vem do colonizador: homem, branco, português.
(BOSI, Alfredo. “A cultura no Brasil Império –
literatura ideias”. In: História do Brasil nação − A construção nacional 1830-1889 − v. 2, Rio de Janeiro:
Objetiva, 2012, p. 245)
A expressão “filho do sofrimento” constitui
 a) metáfora, uma vez que atenua a dor sentida por Iracema.
 b) anáfora, pois retoma qualidades e atributos já expressos pelo autor.
 c) metonímia, já que funciona como substituição ao elemento europeu.
 d) epíteto, já que alude ao personagem Moacir.
 e) hipérbole, pois exagera a coragem de Martim e de Iracema.
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Questão 856: FCC - ACer (Pref SJRP)/Pref SJRP/2019
Assunto: Figuras de Linguagem
Em Atenas, um devedor, ao ter sua dívida cobrada pelo credor, primeiro pôs-se a pedir-lhe um
adiamento, alegando estar com dificuldade. Como não o convenceu, trouxe uma porca, a única que
possuía, e, na presença dele, colocou-a à venda. Então chegou um comprador e quis saber se a porca
era parideira. Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o fazia de modo extraordinário: para
as festas da deusa Deméter, paria fêmeas e, para as de Atena, machos. E, como o comprador estivesse
assombrado com a resposta, o credor disse: “Mas não se espante, pois nas festas do deus Dioniso ela
também vai lhe parir cabritos.”
 
(Esopo. Fábulas completas. Tradução de Maria Celeste Dezotti. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 22)
 
Observa-se a elipse (ou seja, a omissão) de um substantivo no seguinte trecho:
 a) um devedor, ao ter sua dívida cobrada pelo credor, primeiro pôs-se a pedir-lhe um adiamento
 b) para as festas da deusa Deméter, paria fêmeas e, para as de Atena, machos
 c) como o comprador estivesse assombrado com a resposta
 d) Ele afirmou que ela não apenas paria, mas que ainda o fazia de modo extraordinário
 e) Mas não se espante, pois nas festas do deus Dioniso ela também vai lhe parir cabritos
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Questão 857: FCC - Red Rev (ALMS)/ALMS/2016
Assunto: Figuras de Linguagem
Atenção: A questão refere-se ao texto que segue, trecho de discurso de um político, ao despedir-se da
vida pública.
− Não há razão para tristeza quando o coração tem a sensação de dever cumprido. Ainda que eu tenha
cultivado a humildade de reconhecer que fiz menos do que poderia e muito menos do que desejei fazer.
Aqui não só plantei, colhi. Essa Casa sempre foi para mim uma terra fértil. Que a minha colhida possa ter
saciado o desejo de democracia, soberania, justiça do povo brasileiro − disse o político, na largada do
discurso.
(Adaptado de: Zero Hora zh.clicrbs.com.br/.../simon-faz-discurso-de-despedida-da-carreira-politica-
4660469.ht...)
 
Com o objetivo de manifestar seus valores e estado emotivo, o orador valeu-se de:
 a) palavras e expressões de significado afetivo, referidas como experiência pessoal, de que é exemplo
a primeira frase.
 b) jogo sintático para enfatizar a confissão de que seus sonhos foram insuficientes para gerar
grandes realizações − fiz menos do que poderia e muito menos do que desejei fazer.
 c) elipse de conjunção e advérbio, para aproximar com ênfase o contraste entre o positivo e o
negativo, em Aqui não só plantei, colhi.
 d) metáfora em que se associam duas estruturas nominais, de forma que o termo metafórico se
apresente como predicativo do sujeito − Essa Casa sempre foi para mim uma terra fértil.
 e) construção em que as palavras assumem sentidos incomuns, baseada na semelhança entre o
termo que substitui outro − coração − e o substituído, ambos presentes na mesma frase, como se tem
no período inicial.
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Questão 858: FCC - ATE (SEFAZ PI)/SEFAZ PI/2015
Assunto: Figuras de Linguagem
Instrução: A questão refere-se ao texto seguinte.
Filosofia de borracharia
O borracheiro coçou a desmatada cabeça e proferiu a sentença tranquilizadora: nenhum problema com o
nosso pneu, aliás quase tão calvo quanto ele. Estava apenas um bocado murcho.
− Camminando si sgonfia* − explicou o camarada, com um sorriso de pouquíssimos dentes e enorme
simpatia.
O italiano vem a ser um dos muitos idiomas em que a minha abrangente ignorância é especializada, mas
ainda assim compreendi que o pneu do nossocarro periclitante tinha se esvaziado ao longo da estrada.
Não era para menos. Tendo saído de Paris, havíamos rodado muito antes de cair naquele emaranhado de
fronteiras em que você corre o risco de não saber se está na Áustria, na Suíça ou na Itália. Soubemos
que estávamos no norte, no sótão da Itália, vendo um providencial borracheiro dar nova carga a um
pneu sgonfiato.
Dali saímos − éramos dois jovens casais num distante verão europeu, embarcados numa aventura que,
de camping em camping, nos levaria a Istambul – para dar carga nova a nossos estômagos, àquela
altura não menos sgonfiati. O que pode a fome, em especial na juventude: à beira de um himalaia de
sofrível espaguete fumegante, julguei ver fumaças filosóficas na sentença do tosco borracheiro. E, entre
garfadas, sob o olhar zombeteiro dos companheiros de viagem, me pus a teorizar.
Sim, camminando si sgonfia, e não apenas quando se é, nesta vida, um pneu. Também nós, de tanto
rodar, vamos aos poucos desinflando. E por aí fui, inflado e inflamado num papo delirante. Fosse hoje,
talvez tivesse dito, infelizmente com conhecimento de causa, que a partir de determinado ponto
carecemos todos de alguma espécie de fortificante, de um novo alento para o corpo, quem sabe para a
alma.
* Camminando si sgonfia = andando se esvazia. Sgonfiato é vazio; sgonfiati é a forma plural.
(Adaptado de: WERNECK, Humberto – Esse inferno vai acabar. Porto Alegre, Arquipélago, 2011, p. 85-86)
 
Por valorizar recursos expressivos da linguagem, o autor da crônica,
 a) na expressão quase tão calvo quanto ele (1º parágrafo), qualifica o borracheiro com um termo
familiarmente aplicado a um pneu já muito gasto.
 b) no segmento minha abrangente ignorância é especializada (3º parágrafo), é irônico ao atribuir a
ignorância qualidades aplicáveis a um alto conhecimento.
 c) na expressão num distante verão europeu (4º parágrafo), utiliza um indicador de tempo para
denotar a extensão do território percorrido.
 d) em à beira de um himalaia (4º parágrafo), deixa claro que os viajantes agora se acercavam de uma
alta cordilheira, semelhante à asiática.
 e) em inflado e inflamado (5º parágrafo), vale-se de sinônimos para reforçar o estado de espírito
reflexivo da personagem.
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Questão 859: FGV - Aud Est (CGE SC)/CGE SC/Ciências da Computação/2023
Assunto: Partícula "se"
Texto
 
“Quando deve ocorrer uma auditoria empresarial?
É preciso se livrar da convicção de que uma auditoria só é necessária quando as coisas não vão bem –
porque ela deve ser feita quando está tudo bem, quando tudo está em perfeitas condições, pois isso
pode garantir a ordem nos negócios a longo prazo
Quanto maior a empresa, mais provável é que os pontos-chave exijam auditorias completas e frequentes
– isso pode ser feito por especialistas internos qualificados ou consultores externos.
Para determinar se sua empresa precisa de uma auditoria, considere se as informações em uma área
específica são suficientemente transparentes, claras e seguras. Se não, definitivamente indica a
necessidade de uma análise aprofundada.
Outra orientação muito importante é conversar com os funcionários. Eles sabem melhor do que ninguém
se os processos são seguidos e se os requisitos burocráticos e legais são cumpridos. Portanto, comece
uma conversa.”
(Redator Ponto Tel / 20/10/2021)
 
Em todas as frases abaixo há a presença do vocábulo SE, sublinhado.
Assinale a frase em que a função desse vocábulo é diferente da função presente nas demais frases.
 a) ... considere se as informações em uma área específica são suficientemente transparentes, claras e
seguras.
 b) Para determinar se sua empresa precisa de uma auditoria.
 c) É preciso se livrar da convicção de que uma auditoria só é necessária quando as coisas não vão
bem
 d) Eles sabem melhor do que ninguém se os processos são seguidos.
 e) ...e se os requisitos burocráticos e legais são cumpridos.
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Questão 860: IBFC - Esp Fom (AFEAM)/AFEAM/Administração/2022
Assunto: Partícula "se"
Capital intelectual
 
Todo conhecimento, sabedoria e vivência que os profissionais de uma empresa possuem é conhecido
como capital intelectual. As empresas estão tão habituadas a inventariar computadores, móveis e ativos
que se esquecem da parte humana, ou seja, a intelectual. Ele é invisível e intangível, tornando-se difícil
sua identificação e gestão adequada.
 
Antigamente, a lógica do capitalismo na Era Industrial focava apenas no capital financeiro, mas a
realidade atual é diferente. As empresas fazem investimentos massivos em conhecimento. Se antes os
empresários eram donos das ferramentas e dos materiais de trabalho, agora o trabalhador é quem os
carrega, ou seja, seu conhecimento em sua mente. Assim, quando um trabalhador se desliga da
empresa por qualquer razão, uma parte do capital intelectual dela o acompanha.
 
É por esse motivo que atualmente, para que uma empresa chegue ao seu valor de mercado, é preciso
somar seus ativos tangíveis e intangíveis (capital intelectual), a estrutura de valor de mercado em uma
organização pode ser composta por seis capitais: o humano, estrutural, de clientes, organizacional, de
inovação e de processos (...).
 
Dada a importância do capital intelectual para as organizações modernas, é preciso ficar atento para que
processos de reengenharia não o suprimam. Afinal de contas, por mais que a tecnologia e a automação
possam incrementar a produtividade e deixar as empresas mais enxutas, elas ainda não substituem
inteiramente o capital humano. É justamente nele que se iniciam os processos de inovação.
 
Na atualidade, é comum encontrar organizações que desenvolvem modelos de educação por meio de
universidades corporativas, tanto presenciais quanto virtuais, com o intuito de melhorar a gestão de seu
capital intelectual.
 
Apesar de ser um capital de difícil mensuração, podemos afirmar que representa o ativo mais rentável às
organizações e sem o qual nenhuma empresa alcançaria o sucesso. Logicamente que vale a pena
investir nele.
 
(Texto modificado especificamente para este concurso. Texto original desenvolvido por Juliana
Machado Cruz disponível em https://www.infoescola.com/administracao_/capital-intelectual/)
 
Observe os diferentes usos do termo ‘SE’ nas orações a seguir e assinale a alternativa em que a
justificativa difere de seu emprego.
 
I. “As empresas estão tão habituadas a inventariar computadores, móveis e ativos que se esquecem
da parte humana, ou seja, a intelectual”.
 
II. “Ele é invisível e intangível, tornando-se difícil sua identificação e gestão adequada”.
 
III. “Se antes os empresários eram donos das ferramentas e dos materiais de trabalho, agora o
trabalhador é quem os carrega”.
 
IV. “(...) quando um trabalhador se desliga da empresa por qualquer razão”.
 
Assinale a alternativa correta.
 a) Na afirmativa I, o termo ’SE’ retoma ‘as empresas’.
 b) Na afirmativa II, o termo ’SE’ pode ser retirado da sentença sem alteração de sentido.
 c) Na afirmativa III, o termo ’SE’ substitui o sujeito da oração.
 d) Na afirmativa IV, o termo ’SE’ retoma ‘um trabalhador’.
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Questão 861: IBFC - TAT (DETRAN DF)/DETRAN DF/2022
Assunto: Partícula "se"
Texto
 
Meu reino por um pente
(Paulo Mendes Campos)
Filhos – diz o poeta – melhor não tê-los. Já o Professor Anibal Machado me confiou gravemente que a
vida pode ter muito sofrimento, o mundo pode não ter explicação alguma, mas, filhos, era melhor tê-los.
A conclusão parece simples, mas não era; Anibal tinha ido às raízes da vida, e de lá arrancara a certeza
imperativa de que a procriação é uma verdade animal, uma coisa que não se discute, fora do alcance do
radar filosófico. “Eu não sei por que, Paulo, mas fazer filhos é o que há de mais importante.”
Engraçado é que, depoisdessa conversa, fui descobrindo devagar a melancólica impostura daquelas
palavras corrosivas do final de Memórias Póstumas1: “não transmiti a nenhuma criatura o legado da
nossa miséria”.
Filhos, melhor tê-los, aliás, o mesmo poeta corrige antiteticamente o pessimismo daquele verso, quando
pergunta: mas, se não os temos, como sabê-lo? Resumindo: filhos, melhor não tê-los, mas é de todo
indispensável tê-los para sabê-lo; logo, melhor tê-los.
Você vai se rir de mim ao saber que comecei a crônica desse jeito depois de procurar em vão meu bloco
de papel. Pois se ria a valer: o desaparecimento de certos objetos tem o dom de conclamar, por um
rápido edital, todas as brigadas neuróticas alojadas nas províncias de meu corpo.
Sobretudo instrumentos de trabalho. Vai-se-me por água a baixo o comedimento quando não acho
minha caneta, meu lápis-tinta, meu papel, minha cola... Quando isso acontece (sempre) até taquicardia
costumo ter; vem-me a tentação de demitir-me do emprego, de ir para uma praia deserta, de voltar
para Minas Gerais, renunciar...
Ridículo? Sim, ridículo, mas nada posso fazer. Creio que seria capaz (talvez seja presunção) de aguentar
com relativa indiferença uma hecatombe2 que destruísse de vez todos os meus pertences. O que não
suporto é a repetição indefinida do desaparecimento desses objetos sem nenhum valor, mas sem os
quais, a gente não pode seguir adiante, tem de parar, tem de resolver primeiro. [...]
1 Refere-se ao romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881.
2 desastre, catástrofe
 
Considere o fragmento abaixo.
 
“a certeza imperativa de que a procriação é uma verdade animal, uma coisa que não se discute, fora
do alcance do radar filosófico.” (2º§).
 
Em “uma coisa que não se discute”, destaca-se um pronome que cumpre o papel de:
 a) indeterminar o sujeito da oração.
 b) formar a voz passiva sintética.
 c) indicar reciprocidade dos agentes.
 d) constituir-se parte integrante do verbo.
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Questão 862: IDECAN - AJ (TJ PI)/TJ PI/Judiciária/Analista Judicial/2022
Assunto: Partícula "se"
Por que é importante diversidade no sequenciamento genético
 
Se houvesse um ranking de fatores que unem os indivíduos ao redor do mundo, sem dúvida o DNA
estaria no topo: 99,9% das sequências de DNA humano são idênticas entre si.
 
O monge e cientista austríaco Gregor Johann Mendel (1822-1884) foi o primeiro a sugerir que certos
"fatores invisíveis" eram responsáveis pelas diversas características humanas. Sabe-se hoje que tais
fatores são os genes, compostos de ácido desoxirribonucleico, ou DNA.
 
Essas moléculas de ácido dão instruções genéticas aos seres vivos. Mas se os humanos compartilham
tanto do mesmo material genético, por que a diversidade é importante no contexto de seu
sequenciamento?
 
Para entender isso, deve-se mudar o foco para o 0, 1% de diferença entre as sequências de DNA. Essa
diferença aparentemente pequena decorre das variações existentes entre os 3 bilhões de pares de bases
(ou nucleotídeos) que compõem o genoma humano.
 
Todas as características que distinguem os seres humanos entre si, incluindo altura e cor dos olhos ou
cabelo, se devem a essas variações. Mas vai além: ao longo dos anos, cientistas descobriram que essas
variações também podem fornecer informações vitais sobre o risco de um indivíduo ou população
desenvolver uma doença especifica.
 
Assim, pode-se usar a avaliação de risco dos dados genéticos para projetar uma estratégia de saúde
adaptada ao Indivíduo ou à região.
 
Em consultas médicas, é comum o paciente ter que preencher formulários sobre o histórico de saúde de
seus pais e familiares. Se um dos pais for diabético, por exemplo, recomenda-se que o filho fique longe
de doces e açúcares processados.
 
Embora a transferência de doenças cardíacas, câncer e diabetes entre as gerações seja mais conhecida,
existem muitas outras doenças que podem ser herdadas geneticamente.
 
Por exemplo, sabe-se que a anemia falciforme ocorre quando se herdam duas cópias anormais do gene
que produz a hemoglobina (proteína dos glóbulos vermelhos do sangue), uma de cada genitor.
 
Nas últimas décadas, a pesquisa genética avançou a ponto de os cientistas conseguirem isolar os genes
responsáveis por muitas doenças. Mas aqui está o problema: a ciência tem conhecimento dessa
correlação entre genes e doenças aplicado a uma população muito restrita.
 
Sarah Tishkoff, geneticista e bióloga evolutiva da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, é
uma entre muitos cientistas que pressionam por conjuntos de dados genômicos mais diversos.
 
É problemático, por exemplo, se um "estudo focado em indivíduos com ascendência europeia identificar
variantes genéticas associadas ao risco de doenças cardíacas ou diabetes, e usar essa informação para
prever o risco de doenças em pacientes não incluídos no estudo original".
 
"Sabemos por experiência que essa previsão de risco de doença não funciona bem quando aplicada a
indivíduos com diferentes ascendências, principalmente se tiverem ascendência africana", explica
Tishkoff.
 
Historicamente, quem fornece seu DNA para pesquisa genômica é predominantemente de ascendência
europeia, "o que cria lacunas no conhecimento sobre os genomas no resto do mundo", registra o
Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano (NHGRI, na sigla em inglês), nos EUA.
 
Segundo a instituição, 87% de todos os dados de genoma disponíveis no mundo são de ascendência
europeia, seguidos por 10% de asiáticos e 2% de africanos.
 
Como resultado, os potenciais benefícios da pesquisa genética, que inclui diagnóstico precoce e
tratamento de várias doenças, podem não beneficiar as populações sub-representadas.
 
O problema não acaba na avaliação do risco de doença. Também leva à desigualdade nos cuidados
médicos, diz Jan Witkowski, professor da Escola de Pós-Graduação em Ciências Biológicas do
Laboratório Cold Spring Harbor, no estado de Nova York, EUA.
 
"Digamos que existam dois grupos, A e B, que são muito diferentes. O conhecimento e as informações
que se aprende sobre o grupo A podem não se aplicar ao grupo B. Imagine desenvolver tratamentos
médicos para todos, baseados apenas nas informações do grupo A. Não vai funcionar no grupo B."
 
Ao incluir diversas populações nos estudos genômicos, pesquisadores podem identificar variantes
genômicas associadas a várias configurações de saúde, tanto no nível individual quanto populacional.
 
Segundo o instituto NHGRI, contudo, diversificar os participantes na pesquisa genômica é caro e exige o
estabelecimento de relações de confiança e de respeito no longo prazo entre as comunidades e os
pesquisadores.
 
(Sushmitha Ramakrishnan. https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2022/07/por-
que-e-importante-diversidade-no-sequenciamento-genetico.shtml. 25.Jul.2022)
 
Se um dos pais for diabético, por exemplo, recomenda-se que o filho fique longe de doces e açúcares
processados.
 
No período acima, as ocorrências do SE se classificam, respectivamente, como
 a) partícula apassivadora e indeterminador do sujeito.
 b) conjunção subordinativa e partícula apassivadora.
 c) conjunção integrante e indeterminador do sujeito.
 d) conjunção subordinativa e conjunção integrante.
 e) conjunção integrante e partícula apassivadora.
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Questão 863: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Administrativa/Contabilidade/2022
Assunto: Partícula "se"
As redes sociais se apresentam como uma espécie de “praça pública virtual”, na qual indivíduos
interagem e empresas anunciam seus produtos. Entretanto, ao contrário do espaço público tradicional
(físico), plataformas de redes sociais moldam quem e o que encontraremos durante a conexão. A lógica
por trás disso é que tenhamos um espaço customizado, no qual nos deparemos com aqueles que
conosco se assemelham e com produtos que almejamos. Conectar-se de forma sadia às redessociais
demanda alguns cuidados. O primeiro deles, é saber como a maior parte das redes sociais funciona. Não
ignorar que cada um de nós é o verdadeiro produto pode nos garantir experiência saudável nesse
ambiente. Desconsiderar esse ponto é o atalho para vivenciar aquilo que se pode definir como
conectividade tóxica.
 
Um segundo aspecto, decorrente do anterior, diz respeito às pessoas, às notícias e aos produtos com os
quais nos deparamos.
 
Nosso histórico de acessos na internet permite que as plataformas direcionem conteúdo sob medida a
cada um de nós. Isso inclui sugestões de amizade, apresentação de notícias e, claro, publicidade. A
depender das configurações de nossos aparelhos eletrônicos, falas simples, mesmo enquanto não
usamos tais dispositivos, podem ser captadas por mecanismos de inteligência artificial e transformadas
em material que chega às nossas telas sem que nada busquemos. Um terceiro aspecto consiste em não
nos deixarmos levar pelo aparente conforto que as redes propiciam. Com o uso frequente, permitimos
que as plataformas criem nossa “própria bolha”.
 
Levados pelo desejo, curvamo-nos à facilidade do consumo e tornamo-nos presas fáceis de golpes que
prometem vantagens fantásticas e inverídicas. Diante de falsas notícias, que tendem a nos agradar ou
atemorizar, abrimos mão da necessária reflexão, e preferimos compartilhá-las sem nem mesmo conferir
se provêm de fonte confiável. Em ambos os casos, somos fantoches manipulados por interesses alheios.
 
(Adaptado de: AMARAL, Luiz Fernando. Conexão Sadia. Disponível em: Istoe.com.br/conexao − sadia)
 
O termo “se” está corretamente classificado em:
 a) aquilo que se pode definir como conectividade tóxica (pronome reflexivo).
 b) As redes sociais se apresentam como uma espécie de “praça pública virtual” (índice de
indeterminação do sujeito).
 c) aqueles que conosco se assemelham e com produtos que almejamos (partícula de realce).
 d) Conectar-se de forma sadia às redes sociais demanda alguns cuidados (partícula apassivadora).
 e) preferimos compartilhá-las sem nem mesmo conferir se provêm de fonte confiável (conjunção
integrante).
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Questão 864: FGV - Prof (SEAD AP)/SEAD AP/Educação Básica Profissional/Língua
Francesa/2022
Assunto: Partícula "se"
Na frase “Não se deliberam sentimentos; ama-se ou aborrece-se, conforme o coração quer”, as três
formas do vocábulo SE são respectivamente classificadas como
 a) pronome apassivador / indeterminador do sujeito / indeterminador do sujeito.
 b) pronome apassivador / pronome apassivador / pronome apassivador.
 c) indeterminador do sujeito / indeterminador do sujeito / indeterminador do sujeito.
 d) pronome reflexivo / pronome apassivador / indeterminador do sujeito.
 e) pronome apassivador / pronome reflexivo / pronome reflexivo.
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Questão 865: FCC - ARE IV (SEF SC)/SEF SC/2021
Assunto: Partícula "se"
O bafo largo do animal revelava-lhe o porte, mas a densidade do escuro escondia tudo. Estavam como
dois ruídos inimigos em lugar nenhum. Saberiam nada mais do que o ruído e o odor de cada um.
Mediam a mútua coragem e o mútuo medo sem se poderem ver. O artesão pensou. Se o predador
estivesse capaz já o teria mordido avidamente. Por isso, talvez se salvasse se lhe evitasse a boca
pousada para um ou outro lado. Fez contas. A respiração aflita do companheiro vinha da sua esquerda,
precisava claramente de conservar-se à direita, longe de dentes, mais seguro. Julgou que à luz do dia
veria o inimigo e alguém o acudiria. Se lhe descessem uma lâmina haveria de a enfiar nas tripas
nervosas do bicho e o saberia morto. Poderia descansar na sua provação, que era já coisa bastante para
o arreliado do espírito que costumava ter.
 
A noite toda se foi medindo no exíguo espaço e prestou atenção àquela aflição contínua. Mas, com o
dia, seguiu sem ver. A roda de céu que declinava ao chão transbordava, pelo que quase nada baixava.
No fundo tão fundo eram só cegos. Foi quando Itaro distinguiu lucidamente o que lhe ocorria. Estar no
fundo do poço era menos estar no fundo do poço e mais estar cego, igual a Matsu, a sua irmã. Estava,
por fim, capturado pelo mundo da irmã. A menina habitava o radical puro da natureza.
(MÃE, Valter Hugo. A lenda do poço in Homens imprudentemente poéticos. São Paulo: Biblioteca Azul, 2016,
p. 124-125)
 
Depreende-se das orações que compõem a frase Se o predador estivesse capaz já o teria mordido
avidamente (1º parágrafo) uma relação de
 a) passividade, expressa pela partícula apassivadora se.
 b) condição, expressa pela conjunção subordinante se.
 c) passividade, expressa pelo pronome pessoal se.
 d) reflexividade, expressa pelo pronome pessoal se.
 e) condição, expressa pela conjunção integrante se.
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Questão 866: FCC - AJ TST/TST/Administrativa/"Sem Especialidade"/2017
Assunto: Partícula "se"
1. Até que ponto o fracasso é culpa do indivíduo?
Leandro Karnal – Hoje existe um discurso dominante de que tudo o que acontece nas nossas vidas
depende das nossas escolhas. Teorias de diversas naturezas, da religião à psicanálise, contrariam essa
tese. Não somos tão racionais, nossas escolhas não nascem de uma liberdade plena e o acidente tem um
papel maior do que imaginamos. Tenho usado em minhas palestras duas noções desenvolvidas por
Nicolau Maquiavel: a “virtù”, o conjunto de habilidades e competências que nascem comigo e que posso
desenvolver, e a “fortuna”, que significa o acaso, o inesperado. Ninguém é tão divino (só “virtù”) e nem
tão suscetível às circunstâncias (pura “fortuna”). Faz diferença a escolha do indivíduo. Mas nem sempre
esse indivíduo lida com uma lógica absoluta, ele faz sua escolha dentro do possível.
2. De que forma o autoconhecimento pode ajudar uma pessoa que está vivendo uma fase
ruim na carreira?
Leandro Karnal – Se você olhar para si mesmo com honestidade, se encarar o retrato terrível da Medusa,
que é o seu lado difícil, tem a primeira chance de superá-lo. É o que diz a máxima “conhece a ti mesmo”,
que funda a filosofia de Sócrates. É preciso investigar a si mesmo para perceber que você também tem
falhas. Desse modo, fica mais fácil diminuir o efeito das fraquezas. Por outro lado, conhecer a si mesmo
também é conhecer o que há de bom em mim mesmo e aquilo que me traz bem-estar. É comum ver
pessoas que dizem que a carreira é tudo para elas, mas sofrem de gastrite no domingo à noite. Não
sabem o que realmente querem. Há pessoas que adoram atividades repetitivas. Outras são viciadas em
desafios. Eu preciso saber do meu perfil. Não posso contrariar permanentemente a minha natureza.
3. A morte do sociólogo Zygmunt Bauman reacendeu o debate sobre a deterioração das
relações humanas na era da internet. Redes sociais geram uma falsa ideia sobre o sucesso
alheio?
Leandro Karnal – Toda tecnologia é neutra, tudo depende do que fazemos com ela. Vivemos na
sociedade do espetáculo, em que toda a atenção é voltada para a imagem. Precisamos entender que
tudo que se publica nas redes sociais é de autoria de um roteirista. É alguém construindo uma imagem.
(Disponível em: exame.abril.com.br. Com adaptações)
 
... tudo que se publica nas redes sociais é de autoria de um roteirista. (final da entrevista.)
O pronome sublinhado acima também se encontra sublinhado na frase:
 a) Segundo a psicanálise, se você sente dor pela felicidade do outro, tal sentimento revela algo sobre
o seu próprio desejo.
 b) Sabe-se que os momentos de crise oferecem oportunidades de transformação e aprendizado.
 c) A geração atual parte do princípio de que a vida só é plena se oferece a oportunidade de
publicação de fotos felizes nas redes sociais.
 d) Algumas pessoas só ficam satisfeitas se podem enfrentar situações desafiadoras rotineiramente.
 e) Segundo a crença na liberdade doindivíduo, se você acreditar que é um vencedor, certamente irá
vencer
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Questão 867: FCC - ACE (TCE-PI)/TCE PI/Jurídica/2014
Assunto: Partícula "se"
Instrução: Para responder à questão, considere o texto a seguir.
A pregação de um sermão e a publicação de uma ordem de delação faziam parte da rotina dos
inquisidores medievais quando chegavam a uma nova localidade em seu itinerário. A ordem de delação,
embrião do futuro édito da fé, não era tão minuciosa na descrição dos crimes − em uma sociedade onde
predominava a comunicação oral, os inquisidores consideravam fundamental o papel do sermão. É
apenas mais tarde que se inverte essa relação de dominação do édito pelo sermão − tendência tornada
irreversível com a fundação da Inquisição espanhola. Com efeito, o édito não era apenas lido depois do
sermão: ele era afixado à porta da igreja. Como suporte de comunicação, ele se torna cada vez mais
importante, pois assegura uma definição clara dos delitos sob alçada da Inquisição. Não é surpreendente
que, em uma sociedade onde as elites urbanas são progressivamente alfabetizadas, a publicação do
édito se torne o ato central da fundação dos novos tribunais e das visitas de distrito, um ato que adquire
uma tal autonomia que é utilizado todos os anos para reafirmar os contornos da jurisdição inquisitorial.
Mas a publicação do édito, embora breve e subordinada nos séculos XIII e XIV, era acompanhada pela
proclamação de um "tempo de graça" de que podiam se beneficiar todos os culpados dos delitos de
heresia que se apresentassem espontaneamente para confessar suas faltas aos inquisidores. A
publicação do tempo de graça, que se estendia geralmente até um mês, adquire uma tal rotina que é
frequentemente incluída no protocolo final do édito − nesse caso, o édito passa a ser designado por
"édito da graça".
(BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália
− séculos XV-XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 155 e 156)
 
Considerando a norma-padrão escrita, está correto o que se afirma em uma das alternativas que
seguem. Assinale a.
 a) Redação alternativa à do segmento em uma sociedade onde as elites urbanas são
progressivamente alfabetizadas está adequada assim: "numa sociedade cujas as elites urbanas são
progressivamente alfabetizadas".
 b) Supondo que a designação "édito da graça" fosse determinada pelos inquisidores, a transposição
da frase nesse caso, o édito passa a ser designado por "édito da graça" para a voz ativa exigirá a forma
"passam a ter de designar".
 c) O pronome destacado em que se apresentassem expressa ação recíproca.
 d) A forma verbal em que se apresentassem enuncia a ação como eventual, enquanto a forma
presente em que se estendia encerra ideia de continuidade da ação.
 e) A palavra incluída está adequadamente grafada, assim como ocorre com as palavras destacadas
em "O barco despejava no rio uma substância fluída e pegajosa, contribuíndo para a degradação total
das águas".
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Questão 868: FCC - AJ TRF4/TRF 4/Apoio Especializado/Contadoria/2007
Assunto: Partícula "se"
Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.
 
Verdades e máscaras
 
Alguém já disse que, sem o auxílio de algum tipo de “máscara” em nosso comportamento, não
sobreviveríamos como sociedade. A verdade clara e radical de cada um, se exibida e praticada sem
qualquer mediação, seria insuportável. As chamadas “regras de convívio” supõem, sempre, algum
“mascaramento”. Todos os nossos atos devem passar pelo filtro da conveniência, pelos padrões da
“educação”, sob pena de serem tachados de insanos e violentamente repudiados.
 
Num poema famoso, Manuel Bandeira confessou estar seduzido pelo lirismo libertário que reconhece nos
bêbados e nos loucos. O poeta sabe que, nessas personagens, o impulso de liberdade já fugiu ao
controle da razão, e se proclama sem qualquer senso de responsabilidade. São, por isso, inspirações para
uma arte libertária, ou mesmo libertina: o poema está, aliás, num livro chamado Libertinagem. De fato,
nada mais temível, quando se está lúcido, que a presença de um louco ou de um bêbado: sabe-se que
deles se pode esperar tudo, que estão imunes a qualquer necessidade de mascaramento. Podem vir
deles as verdades que ninguém costuma dizer. Algo semelhante, aliás, ocorre com a língua espontânea,
sem freios, das crianças pequenas.
 
Isso esclarece um pouco a razão das tensões que costumam nos tomar em nosso cotidiano. Vivemos
buscando a verdade e a sinceridade absolutas, detestamos a hipocrisia e a falsidade; no entanto, ao
mesmo tempo, temos que admitir e reprovar, em nós mesmos, a fraqueza de cada máscara que nos seja
conveniente. Vivemos, assim, sobre esse fio de navalha entre a verdade e o disfarce. Queremos a
qualquer custo um amigo verdadeiro, “que nos olhe nos olhos”; no entanto, sabemos o quanto é difícil
aceitar sem mágoa a eventual reprimenda que, com toda justiça, o amigo venha a nos lançar ao rosto.
 
Queremos ser, ao mesmo tempo, polidos e solidamente honestos. Mas a polidez acaba sendo, muitas
vezes, um verniz artificial, que envergonha a nossa sede de honestidade. Acredita-se que tais
contradições tenham nascido com as primeiras instituições humanas. Regidos pela necessidade de viver
socialmente, estabelecemos normas de conduta, demarcamos fronteiras para as iniciativas pessoais. Sem
isso, talvez não sobrevivêssemos como espécie, e certamente não sofreríamos o peso da nossa própria
humanidade.
 
(Calógeras do Nascimento)
 
A verdade clara e radical de cada um, se exibida e praticada sem qualquer mediação, seria insuportável.
 
No contexto da frase acima, a partícula sublinhada tem sentido equivalente ao de
 a) muito embora.
 b) uma vez.
 c) ainda quando seja.
 d) à medida que.
 e) à proporção que seja.
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Questão 869: FCC - Enf Trab (METRO SP)/METRO SP/2019
Assunto: Vocábulo "como"
Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura, difícil de suportar. Sofria daquele tipo de tristeza
mórbida que acomete algumas pessoas nos festejos de Natal e de Ano- Novo. No seu caso havia uma
razão óbvia para isso: aos setenta anos, solteirão, sem parentes, sem amigos, não tinha com quem
celebrar, ninguém o convidava para festa alguma. O jeito era tomar um porre, e era o que fazia, mas o
resultado era melancólico: além da solidão, tinha de suportar a ressaca.
No passado, convivera muito tempo com a mãe. Filho único, sentia-se obrigado a cuidar da velhinha que
cedo enviuvara. Não se tratava de tarefa fácil: como ele, a mãe era uma mulher amargurada. Contra a
sua vontade, tinha casado, em 31 de dezembro de 1914 (o ano em que começou a Grande Guerra, como
ela fazia questão de lembrar) com um homem de quem não gostava, mas que pais e familiares achavam
um bom partido. Resultado desse matrimônio: um filho e longos anos de sofrimento e frustração. O filho
tinha de ouvir suas constantes e ressentidas queixas. Coisa que suportava estoicamente; não deixou,
contudo, de sentir certo alívio quando de seu falecimento, em 1984. Este alívio resultou em culpa, uma
culpa que retornava a cada Natal. Porque a mãe falecera exatamente na noite de Natal. Na véspera, no
hospital, ela lhe fizera uma confissão surpreendente: muito jovem, apaixonara-se por um primo, que
acabou se transformando no grande amor de sua vida. Mas a família do primo mudara-se, e ela nunca
mais tivera notícias dele. Nunca recebera uma carta, uma mensagem, nada. Nem ao menos um cartão
de Natal.
No dia 24 pela manhã ele encontrou um envelope na carta do correio. Como em geral não recebia
correspondência alguma, foi com alguma estranheza que abriu o envelope.
Era um cartão de Natal, e tinha a falecida mãe como destinatária. Um velhíssimo cartão, uma coisa muito
antiga, amarelada pelo tempo. De um lado, um desenho do PapaiNoel sorrindo para uma menina. Do
outro lado, a data: 23 de dezembro de 1914. E uma única frase: “Eu te amo.”
A assinatura era ilegível, mas ele sabia quem era o remetente: o primo, claro. O primo por quem a mãe
se apaixonara, e que, por meio daquele cartão, quisera associar o Natal a uma mensagem de amor. Uma
nova vida, era o que estava prometendo. Esta mensagem e esta promessa jamais tinham chegado a seu
destino. Mas de algum modo o recado chegara a ele. Por quê? Que secreto desígnio haveria atrás
daquilo?
Cartão na mão, aproximou-se da janela. Ali, parada sob o poste de iluminação, estava uma mulher já
madura, modestamente vestida, uma mulher ainda bonita. Uma desconhecida, claro, mas o que
importava? Seguramente o destino a trouxera ali, assim como trouxera o cartão de Natal. Num impulso,
abriu a porta do apartamento e, sempre segurando o cartão, correu para fora. Tinha uma mensagem
para entregar àquela mulher. Uma mensagem que poderia transformar a vida de ambos, e que era, por
isso, um verdadeiro presente de Natal.
(SCLIAR, Moacyr. Mensagem de Natal. Porto Alegre: L&PM, 2018, p. 26-28)
o ano em que começou a Grande Guerra, como ela fazia questão de lembrar
Em relação ao segmento anterior, o segmento sublinhado expressa ideia de
 a) consequência.
 b) conformidade.
 c) comparação.
 d) conclusão.
 e) proporção.
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Questão 870: FCC - Ana (CNMP)/CNMP/Apoio Jurídico/Direito/2015
Assunto: Vocábulo "como"
Atenção: Para responder à questão, considere o início do prefácio à obra Primórdios da Justiça no Brasil,
escrito pelo ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal.
Para a compreensão do fenômeno jurídico como ciência e prática, a História do Direito e das instituições
jurídicas se mostra relevante. Na verdade, indispensável. Deve-se pensar o Direito hoje a partir do que
nos ensinam os fatos e acontecimentos registrados desde a Antiguidade; a Justiça brasileira, a partir do
surgimento de nossa organização judiciária. Nesse quadro, cumprindo tal tarefa de forma primorosa, vem
à balha a obra do historiador e etnolinguista Amílcar D´Ávila de Mello. "Primórdios da Justiça no Brasil"
representará ferramenta imprescindível para todo aquele que busca não só conhecer o Direito brasileiro,
mas pensá-lo criticamente.
O propósito do livro é claro: instigar os leitores a revisitar o conhecimento dominante acerca da história
jurídica do Brasil. Amílcar D´Ávila, examinando documentos datados de 1526 a 1541, afirma não terem
sido as primeiras manifestações do direito romano-germânico justiniano originadas dos escrivães
portugueses, mas de "operadores da justiça a serviço da Coroa de Castela". Adverte o autor, inclusive,
que esses documentos, embora "tenham quase meio milênio de existência, contêm muitos institutos e
prescrições que estão presentes em nossa Carta Magna de 1988, e nas de outros países, bem como em
seus respectivos Códigos Civis e Penais".
Trata-se de argumento desafiador. O autor busca promover uma reviravolta da óptica comum sobre o
tema. Este é o papel de historiadores com vocação revolucionária - não apenas descrever por descrever,
mas preencher possíveis lacunas ou equívocos do conhecimento, apontar fatos que possam recontar a
sequência histórica do acontecido e, assim, modificar premissas e conclusões até então tidas por
inquestionáveis. Como compreender os institutos próprios do Direito sem refletir acerca do momento no
qual foram forjados, os motivos que levaram a instituí-los, os pensamentos hegemônicos que nortearam
a consolidação das ideias respectivas? As respostas a essas indagações deixam transparecer, de modo
inequívoco, mostrar-se impossível dissociar o estudo do Direito dos relatos históricos que nos permitem
entender a evolução do pensamento jurídico e participar desse processo. Os historiadores nos revelam
esse instrumental.
Obs. balha = baila.
(MELLO, Marco Aurélio de. Prefácio. In: Primórdios da Justiça no Brasil: coletânea de documentos castelhanos
do século XVI, de Amílcar D´Ávila de Mello, Ilha de Santa Catarina: Tekoá et Orbis, 2014, p.7-8)
 
 
Considere:
I. o emprego da palavra como em Para a compreensão do fenômeno jurídico como ciência e prática,
a História do Direito e das instituições jurídicas se mostra relevante;
II. estas acepções da palavra como, selecionadas do Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa:
 
advérbio
1 ocorre com valor circunstancial
1.1 em frase interrogativa (direta ou indireta)
Exs.: c. conseguiram voltar tão cedo?
ainda não se sabe c. conseguiram voltar
3 especializando os sentidos:
3.1 modo:
3.1.1 da maneira que
Ex.: fantasiou-se c. quis e saiu
 
conjunção
4 confere à oração subordinada os valores circunstanciais de:
4.2 conformidade: de acordo com, conforme, consoante
Ex.: c. dissemos, somos contra o acordo
5 integra e acrescenta valor circunstancial à oração substantiva
Ex.: acabaram confessando-lhe c. haviam conseguido entrar
6 liga orações do mesmo nível sintático, relacionando-as por:
6.2 adição
Ex.: na riqueza c. na pobreza
Afirma-se com correção sobre o emprego de como em I:
 a) é ocorrência do que se vê indicado no segundo exemplo de 1.1.
 b) é ocorrência idêntica à descrita em 3.1.1.
 c) tem o mesmo valor semântico indicado em 4.2.
 d) tem o mesmo valor semântico indicado em 5.
 e) é outro exemplo do que se detalha em 6.2.
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Questão 871: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2022
Assunto: Vocábulo "que"
Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim(e)
é que era morrer.(e)
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se o amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro e pronto,
lá se ia nosso defunto
para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.(b)
Mas os danos eram pequenos.(b)
Descansou. Partiu. Deus o tenha.
Sempre alguém tinha uma frase(c)
que deixava aquilo mais ou menos.(c)
Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado,
praga de velha e amor mal curado.
Tinha coisas que tem que morrer,
 
tinha coisas que tem que matar.
A honra, a terra e o sangue(d)
mandou muita gente praquele lugar.(d)
Que mais podia um velho fazer,
nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
deixar tudo para os filhos
e virar fotografia?
Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.(a)
Mas ninguém tem culpa.(a)
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoçou e fez a barba,
tomou banho e foi no vento.
Não tem o que reclamar.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade,
a ciência da eternidade
inventou a criônica.
Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica.
 
(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia, 2013)
 
Expressão expletiva é uma expressão que não exerce função sintática. (Evanildo Bechara. Moderna
gramática portuguesa, 2009. Adaptado.)
 
Verifica-se uma expressão expletiva em:
 a) “Não deu pra ir mais além. / Mas ninguém tem culpa.”
 b) “O escândalo era de praxe. / Mas os danos eram pequenos.”
 c) “Sempre alguém tinha uma frase / que deixava aquilo mais ou menos.”
 d) “A honra, a terra e o sangue / mandou muita gente praquele lugar.”
 e) “1907, digamos, aquilo sim / é que era morrer.”
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Questão 872: FCC - Prof P (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e
Médio/Pedagogo/2022Assunto: Vocábulo "que"
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Vem uma pessoa de Cachoeiro de Itapemirim e me dá notícias melancólicas. Numa viagem pelo interior,
em estradas antigamente belas, achou tudo feio e triste. A estupidez e a cobiça dos homens continua a
devastar e exaurir a terra.
 
Mas não são apenas notícias tristes que me chegam da terra. Ouço nomes de velhos amigos e fico
sabendo de histórias novas. E a pessoa me fala da praia – de Marataíses – e diz que ainda continua
reservado para mim aquele pedaço de terrad, em cima das pedras, entre duas prainhas...
 
Ali, um dia, o velho Braga, juntando os tostões que puder ganhar batendo em sua máquina, levantará a
sua casa perante o mar da infância. Ali plantará árvores e armará sua rede e meditará talvez com tédio
e melancolia na vida que passou. Esse dia talvez ainda esteja muito longe, e talvez não exista. Mas é
doce pensar que o nordeste está lá,c jogando as ondas bravas e fiéis contra as pedras de antigamente;
que milhões de vezes a espumarada recua e ferve, escachoandoe, e outra onda se ergue para arremeter
contra o pequeno território em que o velho Braga construiu sua casa de sonho e de paz. Como será a
casa? Ah, amigos arquitetos, vocês me façam uma coisa tão simples e tão natural que, entrando na
casaa, morando na casa, a gente nunca tenha a impressão de que antes de fazê-la foi preciso traçar um
plano; e que a ninguém sequer ocorra que ela foi construída, mas existe naturalmente, desde sempre e
para sempre, tranquila, boa e simples.
 
Que árvores plantarei? A terra certamente é ruim, além de pequena, e eu talvez não possa ter uma
fruta-pão nem um jenipapeiro; talvez mangueiras e coqueiros para dar sombra e música; talvez... Mas
nem sequer o pedaço de terra ainda é meu; meus títulos de propriedade são apenas esses devaneios
que oscilam entre a infância e a velhice, que me levam para longe das inquietações de hoje.
 
Que rei sou eu, Braga Sem Terra, Rubem Coração de Leão de Circo, triste circo desorganizado e pobre
em que o palhaço cuida do elefanteb e o trapezista vai pescar nas noites sem lua com a rede de
proteção, e a luz das estrelas e a água da chuva atravessam o pano encardido e roto...
 
Mas me sinto subitamente sólido; há alguns metros, nestes 8 mil quilômetros de costa, onde posso
plantar minha casa nos dias de aflição e de cansaço, com pedras de ar e telhas de brisa; e os coqueiros
farfalham, um sabiá canta meio longe, e me afundo na rede, e posso dormir para sempre ao embalo do
mar...
 
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Vem uma pessoa. 1949)
 
O termo sublinhado faz referência a algo que o antecede no seguinte trecho:
 a) vocês me façam uma coisa tão simples e tão natural que, entrando na casa.
 b) triste circo desorganizado e pobre em que o palhaço cuida do elefante.
 c) Mas é doce pensar que o nordeste está lá.
 d) e diz que ainda continua reservado para mim aquele pedaço de terra.
 e) que milhões de vezes a espumarada recua e ferve, escachoando.
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Questão 873: FCC - ACer (Pref SJRP)/Pref SJRP/2019
Assunto: Vocábulo "que"
Quando lhe disse que um vago conhecido nosso tinha morrido, vítima de tumor no cérebro, levou as
mãos à cabeça:
 
− Minha Santa Efigênia!
 
Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência, mas logo ele fez
sentir a causa de sua perturbação:
 
− É o que eu tenho, não há dúvida nenhuma: esta dor de cabeça que não passa! Estou para morrer.
 
Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer. Não há doença que passe perto dele e não se
detenha, para convencê-lo em iniludíveis sintomas de que está com os dias contados. Empresta
dimensões de síndromes terríveis à mais ligeira manifestação de azia ou acidez estomacal:
 
− Até parece que andei comendo fogo. Estou com pirofagia crônica. Esta cólica é que é o diabo, se eu
fosse mulher ainda estava explicado. Histeria gástrica. Úlcera péptica, no duro.
 
Certa ocasião, durante um mês seguido, tomou injeções diárias de penicilina, por sua conta e risco. A
chamada dose cavalar.
 
− Não adiantou nada − queixa-se ele. − Para mim o médico que me operou esqueceu alguma coisa
dentro de minha barriga.
 
Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria:
 
− Menino, você precisava de ver o meu apêndice: parecia uma salsicha alemã.
 
No que dependesse dele, já teria passado por todas as operações jamais registradas nos anais da
cirurgia: “Só mesmo entrando na faca para ver o que há comigo”. Os médicos lhe asseguram que não há
nada, ele sai maldizendo a medicina: “Não descobrem o que eu tenho, são uns charlatães, quem
entende de mim sou eu”. O radiologista, seu amigo particular, já lhe proibiu a entrada no consultório:
tirou-lhe radiografia até dos dedos do pé. E ele sempre se apalpando e fazendo caretas: “Meu fígado
hoje está que nem uma esponja, encharcada de bílis. Minha vesícula está dura como um lápis, põe só a
mão aqui”.
 
− É lápis mesmo, aí no seu bolso.
 
− Do lado de cá, sua besta. Não adianta, ninguém me leva a sério.
 
[...]
 
Ultimamente os amigos deram para conspirar, sentenciosos: o que ele precisa é casar. Arranjar uma
mulherzinha dedicada, que cuidasse dele. “Casar, eu?” − e se abre numa gargalhada: “Vocês querem
acabar de liquidar comigo?” Mas sua aversão ao casamento não pode ser tão forte assim, pois consta
que de uns dias para cá está de namoro sério com uma jovem, recém-diplomada na Escola de
Enfermagem Ana Néri.
 
(SABINO, Fernando. As melhores crônicas. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012, p. 71-72)
 
 
Expressão expletiva ou de realce: é uma expressão que não exerce função sintática.
 
(Adaptado de: BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa, 2009)
 
Constitui uma expressão expletiva a expressão sublinhada em:
 a) Conheço-o desde menino, e sempre esteve para morrer (5º parágrafo)
 b) Espantei-me que o atingisse a morte de alguém tão distante de nossa convivência (3º parágrafo)
 c) Esta cólica é que é o diabo, se eu fosse mulher ainda estava explicado (6º parágrafo)
 d) Foi operado de apendicite quando ainda criança e até hoje se vangloria (9º parágrafo)
 e) consta que de uns dias para cá está de namoro sério com uma jovem (14º parágrafo)
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Questão 874: FCC - Adm (Pref Macapá)/Pref Macapá/2018
Assunto: Vocábulo "que"
Atenção: Considere o texto a seguir para responder às questões de números 8 a 11.
Totó é da família
Cunhados talvez não sejam parentes, mas o Totó decididamente o é. Está em julgamento no STJ uma
ação na qual um exmarido reivindica o direito de visitação à cadela da raça yorkshire que havia sido
comprada pelo casal e acabou ficando com a mulher(I). Ele alega que a ex-companheira o impede de ver
a cachorrinha, causando-lhe "intensa angústia".(II)
Tudo caminha para que os animais de estimação se integrem cada vez mais, no plano afetivo e jurídico,
à família. Mas há um limite para isso. Não creio que bichos poderão um dia ser titulares de direitos em
sua plenitude, como querem os militantes mais entusiasmados.(III)
O fato é que, para gozar da plenitude de direitos, é preciso possuir, ao menos em potência, a capacidade
de cumprir deveres, o que exige algum grau de consciência.(IV) Animais podem, contudo, ser pacientes
morais, como crianças e outros humanos considerados incapazes.
Nesse campo, porém, estamos condenados a agir com incoerência. Queremos proteger nossos animais
de estimação, mas não abrimos mão do hambúrguer nem da pesquisa médica e biotecnológica, que
depende do sacrifício de cobaias(V). O critério é só emotivo, já que, do ponto de vista da biologia, Totó é
um parente mais afastado dos humanos do que os ratinhos de laboratório.
(Adaptado de: SCHWARTSMAN, Hélio. Disponível em: www.folha.uol.com.br)
Considere as seguintes passagens do texto:
I. um ex-marido reivindica o direito de visitaçãoà cadela da raça yorkshire que havia sido comprada
pelo casal e acabou ficando com a mulher. (1o parágrafo)
II. Ele alega que a ex-companheira o impede de ver a cachorrinha, causando-lhe "intensa angústia".
III. Não creio que bichos poderão um dia ser titulares de direitos em sua plenitude, como querem
os militantes mais entusiasmados.
IV. para gozar da plenitude de direitos, é preciso possuir, ao menos em potência, a capacidade de
cumprir deveres, o que exige algum grau de consciência.
V. não abrimos mão do hambúrguer nem da pesquisa médica e biotecnológica, que depende do
sacrifício de cobaias.
O vocábulo que tem função pronominal, retomando elemento que o antecede na sequência do texto,
está sublinhado APENAS em
 a) I e IV.
 b) II e III.
 c) I, IV, V.
 d) II, III e V.
 e) I e V.
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Questão 875: FCC - Prof (SEC BA)/SEC BA/Linguagem/Língua Portuguesa/2018
Assunto: Vocábulo "que"
Não penso que exista realmente uma introdução para a análise de discurso [...] Haverá sempre [...]
muitas maneiras de apresentá-la e sempre a partir de perspectivas que mostram menos a variedade da
ciência que a presença da ideologia.
(ORLANDI, Eni P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 12. ed. Campinas: Pontes Editores, 2015, p. 7)
No fragmento acima, os termos destacados têm respectivamente valor de conjunção integrante e
pronome relativo; fato similar ocorre em:
 a) Embora a Análise do Discurso, que toma o discurso como seu objeto primário, tenha seu início nos
anos 60 do século XX, o estudo do que interessa a ela [...] já se apresentara de forma não sistemática
em diferentes épocas e segundo diferentes perspectivas.
 b) Não há uma verdade oculta atrás do texto. Há gestos de interpretação que o constituem e que o
analista, com seu dispositivo, deve ser capaz de compreender. Daí termos proposto que se distinga a
inteligibilidade, a interpretação e a compreensão.
 c) [...] é preciso que o que foi dito por um sujeito específico em um momento particular se apague
na minha memória [...].
 d) [...] para Foucault [...] há discursos, como as conversas, receitas, decretos, contratos, que
precisam de quem os assine, mas não de autores. Em meu trabalho desloquei essa noção de modo a
considerar, à diferença de Foucault, que a própria unidade do texto é efeito discursivo que deriva do
princípio da autoria.
 e) Se digo ‘Deixei de fumar,’ o pressuposto é que eu fumava antes, ou seja, não posso dizer que
‘deixei de fumar’ se não fumava antes.
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Questão 876: FCC - AJ TRT23/TRT 23/Judiciária/"Sem Especialidade"/2016
Assunto: Vocábulo "que"
Atenção: Para responder à questão, leia o texto abaixo.
 
Nasci na Rua Faro, a poucos metros do Bar Joia, e, muito antes de ir morar no Leblon, o Jardim Botânico
foi meu quintal. Era ali, por suas aleias de areia cor de creme, que eu caminhava todas as manhãs de
mãos dadas com minha avó. Entrávamos pelo portão principal e seguíamos primeiro pela aleia
imponente que vai dar no chafariz(a). Depois, íamos passear à beira do lago, ver as vitórias-régias, subir
as escadarias de pedra, observar o relógio de sol. Mas íamos, sobretudo, catar mulungu.
 
Mulungu é uma semente vermelha com a pontinha preta, bem pequena, menor do que um grão de
ervilha. Tem a casca lisa, encerada, e em contraste com a pontinha preta seu vermelho é um vermelho
vivo, tão vivo que parece quase estranho à natureza. É bonita. Era um verdadeiro prêmio conseguir
encontrar um mulungu em meio à vegetação, descobrir de repente a casca vermelha e viva cintilando
por entre as lâminas de grama ou no seio úmido de uma bromélia. Lembro bem com que alegria eu me
abaixava(c) e estendia a mão para tocar o pequeno grão, que por causa da ponta preta(d) tinha uma
aparência que a mim lembrava vagamente um olho.
 
Disse isso à minha avó e ela riu, comentando que eu era como meu pai, sempre prestava atenção nos
detalhes das coisas. Acho que já nessa época eu olhava em torno com olhos mínimos. Mas a grandeza
das manhãs se media pela quantidade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de ir para
casa(b). Conseguia às vezes juntar um punhado, outras vezes apenas dois ou três. E é curioso que nunca
tenha sabido ao certo de onde eles vinham, de que árvore ou arbusto caíam aquelas sementes
vermelhas. Apenas sabíamos que surgiam no chão ou por entre as folhas e sempre numa determinada
região do Jardim Botânico.
 
Mas eu jamais seria capaz de reconhecer uma árvore de mulungu. Um dia, procurei no dicionário e
descobri que mulungu é o mesmo que corticeira e que também é conhecido pelo nome de flor-de-coral.
(e) ''Árvore regular, ornamental, da família das leguminosas, originária da Amazônia e de Mato Grosso, de
flores vermelhas, dispostas em racimos multifloros, sendo as sementes do fruto do tamanho de um feijão
(mentira!), e vermelhas com mácula preta (isto, sim)'', dizia.
 
Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas
sementes lá em casa. De algum modo, depois de catadas elas desapareciam e hoje me pergunto se não
era minha avó que as guardava e tornava a despejá-las nas folhagens todas as manhãs, sempre que não
estávamos olhando, só para que tivéssemos o prazer de encontrá- las. O fato é que não me sobrou
nenhuma e elas ganharam, talvez por isso, uma aura de magia, uma natureza impalpável. Dos
mulungus, só me ficou a memória − essa memória mínima.
 
(Adaptado de: SEIXAS, Heloísa. Semente da Memória. Disponível em: http://heloisaseixas.com.br)
 
O termo "que" NÃO é um pronome em:
 a) ... que vai dar no chafariz. (1o parágrafo)
 b) ... que me restava na palma da mão na hora de ir para casa. (3o parágrafo)
 c) ... com que alegria eu me abaixava... (2o parágrafo)
 d) ... que por causa da ponta preta... (2o parágrafo)
 e) ... que também é conhecido pelo nome de flor-de-coral. (4o parágrafo)
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Questão 877: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Apoio Especializado/Enfermagem do Trabalho/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Leia o texto “Ardil da desrazão”, de Eduardo Giannetti, para responder à questão.
 
Imagine uma pessoa afivelada a uma cama com eletrodos colados em suas têmporas. Ao se girar um
botão situado em local distante, a corrente elétrica nos eletrodos aumenta em grau infinitesimal, de
modo que o paciente não chegue a sentir. Um hambúrguer gratuito é então ofertado a quem girar o
botão. Ocorre, porém, que, quando milhares de pessoas fazem isso − sem que cada uma saiba das
ações das demais −, a descarga elétrica gerada é suficiente para eletrocutar a vítima. Quem é
responsável pelo quê? Algo tenebroso foi feito, mas de quem é a culpa? O efeito isolado de cada giro do
botão é, por definição, imperceptível − são todos “torturadores inofensivos”. Mas o efeito conjunto é
ofensivo ao extremo. Até que ponto a somatória de ínfimas partículas de culpa se acumula numa
gigantesca dívida moral coletiva? − O experimento mental concebido pelo filósofo britânico Derek Parfit
dá o que pensar. A mudança climática em curso equivale a uma espécie de eletrocussão da biosfera.
Quem a deseja? A quem interessa? O ardil da desrazão vira do avesso a “mão invisível” da economia
clássica. O aquecimento global é fruto da alquimia perversa de incontáveis ações humanas, mas não
resulta de nenhuma intenção humana. E quem assume − ou deveria assumir − a culpa por ele? Os 7
bilhões de habitantes da Terra pertencem a três grupos: o primeiro bilhão, no cobiçado topo da escala
de consumo, responde por 50% das emissões de gases-estufa; os 3 bilhões seguintes por 45%; e os 3
bilhões na base da pirâmide (metade sem acesso a eletricidade) por 5%. Por seu modo de vida, situação
geográfica e vulnerabilidade material, este último grupo − o único inocente − é o mais tragicamente
afetado pelo “girode botão” dos demais.
(GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016)
 
Em sua argumentação, Eduardo Giannetti compara a “pessoa afivelada a uma cama com eletrodos
colados em suas têmporas”
 a) ao aquecimento global.
 b) à mudança climática.
 c) à economia.
 d) à biosfera.
 e) às ações humanas.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2340576
Questão 878: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
[Acerca da “Igualdade”]
 
“Liberdade, Igualdade, Fraternidade” foi o grito de guerra da Revolução Francesa. Hoje há disciplinas
inteiras − ramos da filosofia, da ciência política e dos estudos jurídicos − que têm a “igualdade” como
tema central de estudos. Todos concordam que a igualdade é um valor; ninguém parece concordar
quanto ao que se refere o termo. Igualdade de oportunidades? Igualdade de condições? Igualdade
formal perante a lei?
 
Estaremos falando de uma ideologia, a crença de que todos na sociedade deveriam ser iguais − claro
que não em todos os aspectos, mas nos mais importantes? Ou será uma sociedade em que as pessoas
são efetivamente iguais? O que isso significaria de fato, na prática, em ambos os casos? Que todos os
membros da sociedade têm igual acesso à terra, ou tratam uns aos outros com igual dignidade, ou são
igualmente livres para expor suas opiniões em assembleias públicas?
 
A igualdade seria o apagamento do indivíduo ou a celebração do indivíduo? Numa sociedade, por
exemplo, em que os mais poderosos são tratados como divindades e tomam as decisões mais
importantes, é possível falar em igualdade? E as relações de gênero? Muitas sociedades tratadas como
“igualitárias” na verdade têm seu igualitarismo restrito aos homens adultos. Em casos assim, podemos
falar em igualdade de gêneros?
 
Como não existe nenhuma resposta clara e consensual a questões desse tipo, o uso do termo
“igualitário” tem levado a discussões infindáveis. Para alguns teóricos do século XVII, a igualdade se
manifestava no estado da Natureza. Igualdade, pois, seria um termo definido por omissão: identificaria
uma humanidade que pudesse estar livre depois de removidas todas as armadilhas da civilização. Povos
“igualitários” seriam, pois, aqueles sem príncipes, sem juízes, sem inspetores, sem sacerdotes,
possivelmente sem cidades, sem escrita ou sequer agricultura. Seriam sociedades de iguais apenas no
sentido estrito de que estariam ausentes todos os sinais mais evidentes de desigualdade.
 
Não há dúvida, pensando-se sempre no ideal de “igualdade”, de que algo deu muito errado no mundo.
Uma ínfima parte da população controla o destino de quase todos os outros, e de uma maneira cada vez
mais desastrosa.
 
(Adaptado de: GRAEBER, David, e WENGROW, David. O despertar de tudo − Uma nova história da
humanidade. Trad. Denise Bottmann e Claudio Marcondes. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 91 a 94,
passim)
 
A utilização do termo igualdade tem mostrado que esse conceito
 a) somente ganhou precisão rigorosamente objetiva ao longo da Revolução Francesa.
 b) tem sido objeto de várias áreas de conhecimento, sem consenso quanto ao seu sentido.
 c) apenas ganha sentido para esclarecer o que ocorre positivamente entre os gêneros.
 d) tem sido objeto de discussões infindáveis porque ninguém lhe reconhece um valor prático.
 e) teve plena vigência somente entre os primitivos que reconheciam o valor da natureza.
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Questão 879: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
[Acerca da “Igualdade”]
 
“Liberdade, Igualdade, Fraternidade” foi o grito de guerra da Revolução Francesa. Hoje há disciplinas
inteiras − ramos da filosofia, da ciência política e dos estudos jurídicos − que têm a “igualdade” como
tema central de estudos. Todos concordam que a igualdade é um valor; ninguém parece concordar
quanto ao que se refere o termo. Igualdade de oportunidades? Igualdade de condições? Igualdade
formal perante a lei?
 
Estaremos falando de uma ideologia, a crença de que todos na sociedade deveriam ser iguais − claro
que não em todos os aspectos, mas nos mais importantes? Ou será uma sociedade em que as pessoas
são efetivamente iguais? O que isso significaria de fato, na prática, em ambos os casos? Que todos os
membros da sociedade têm igual acesso à terra, ou tratam uns aos outros com igual dignidade, ou são
igualmente livres para expor suas opiniões em assembleias públicas?
 
A igualdade seria o apagamento do indivíduo ou a celebração do indivíduo? Numa sociedade, por
exemplo, em que os mais poderosos são tratados como divindades e tomam as decisões mais
importantes, é possível falar em igualdade? E as relações de gênero? Muitas sociedades tratadas como
“igualitárias” na verdade têm seu igualitarismo restrito aos homens adultos. Em casos assim, podemos
falar em igualdade de gêneros?
 
Como não existe nenhuma resposta clara e consensual a questões desse tipo, o uso do termo
“igualitário” tem levado a discussões infindáveis. Para alguns teóricos do século XVII, a igualdade se
manifestava no estado da Natureza. Igualdade, pois, seria um termo definido por omissão: identificaria
uma humanidade que pudesse estar livre depois de removidas todas as armadilhas da civilização. Povos
“igualitários” seriam, pois, aqueles sem príncipes, sem juízes, sem inspetores, sem sacerdotes,
possivelmente sem cidades, sem escrita ou sequer agricultura. Seriam sociedades de iguais apenas no
sentido estrito de que estariam ausentes todos os sinais mais evidentes de desigualdade.
 
Não há dúvida, pensando-se sempre no ideal de “igualdade”, de que algo deu muito errado no mundo.
Uma ínfima parte da população controla o destino de quase todos os outros, e de uma maneira cada vez
mais desastrosa.
 
(Adaptado de: GRAEBER, David, e WENGROW, David. O despertar de tudo − Uma nova história da
humanidade. Trad. Denise Bottmann e Claudio Marcondes. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 91 a 94,
passim)
 
Na pergunta A igualdade seria o apagamento do indivíduo ou a celebração do indivíduo?, o
autor
 a) articula uma relação de causa e efeito entre os termos que a constituem.
 b) indaga sobre o que seria um natural desenvolvimento das práticas igualitárias.
 c) considera os extremos antagônicos relativos ao entendimento de um mesmo conceito.
 d) levanta a hipótese de que haja duas possibilidades alternáveis dentro de uma prática.
 e) sustenta uma relação de antagonismo entre os que vivenciam um mesmo ideal.
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Questão 880: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
[Acerca da “Igualdade”]
 
“Liberdade, Igualdade, Fraternidade” foi o grito de guerra da Revolução Francesa. Hoje há disciplinas
inteiras − ramos da filosofia, da ciência política e dos estudos jurídicos − que têm a “igualdade” como
tema central de estudos. Todos concordam que a igualdade é um valor; ninguém parece concordar
quanto ao que se refere o termo. Igualdade de oportunidades? Igualdade de condições? Igualdade
formal perante a lei?
 
Estaremos falando de uma ideologia, a crença de que todos na sociedade deveriam ser iguais − claro
que não em todos os aspectos, mas nos mais importantes? Ou será uma sociedade em que as pessoas
são efetivamente iguais? O que isso significaria de fato, na prática, em ambos os casos? Que todos os
membros da sociedade têm igual acesso à terra, ou tratam uns aos outros com igual dignidade, ou são
igualmente livres para expor suas opiniõesem assembleias públicas?
 
A igualdade seria o apagamento do indivíduo ou a celebração do indivíduo? Numa sociedade, por
exemplo, em que os mais poderosos são tratados como divindades e tomam as decisões mais
importantes, é possível falar em igualdade? E as relações de gênero? Muitas sociedades tratadas como
“igualitárias” na verdade têm seu igualitarismo restrito aos homens adultos. Em casos assim, podemos
falar em igualdade de gêneros?
 
Como não existe nenhuma resposta clara e consensual a questões desse tipo, o uso do termo
“igualitário” tem levado a discussões infindáveis. Para alguns teóricos do século XVII, a igualdade se
manifestava no estado da Natureza. Igualdade, pois, seria um termo definido por omissão: identificaria
uma humanidade que pudesse estar livre depois de removidas todas as armadilhas da civilização. Povos
“igualitários” seriam, pois, aqueles sem príncipes, sem juízes, sem inspetores, sem sacerdotes,
possivelmente sem cidades, sem escrita ou sequer agricultura. Seriam sociedades de iguais apenas no
sentido estrito de que estariam ausentes todos os sinais mais evidentes de desigualdade.
 
Não há dúvida, pensando-se sempre no ideal de “igualdade”, de que algo deu muito errado no mundo.
Uma ínfima parte da população controla o destino de quase todos os outros, e de uma maneira cada vez
mais desastrosa.
 
(Adaptado de: GRAEBER, David, e WENGROW, David. O despertar de tudo − Uma nova história da
humanidade. Trad. Denise Bottmann e Claudio Marcondes. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 91 a 94,
passim)
 
Segundo alguns teóricos do século XVII, a igualdade
 a) só ocorreria no caso de supressão do que consideravam obstáculos criados pela própria civilização.
 b) seria alcançada somente quando os homens aperfeiçoassem com todo o rigor suas mais caras
instituições.
 c) teria alcançado seu esplendor ao tempo em que o cultivo da natureza inspirava a conduta social de
todos.
 d) teria se tornado um valor abstrato por conta das revoluções que suprimiram suas formas objetivas
de vigência.
 e) constituiria um ideal tão alto que será preciso aguardar a ocasião historicamente propícia para sua
efetivação.
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Questão 881: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Encenação da morte
 
A vida nos quer, a morte nos quer. Somos o resultado da tensão ocasionada pelas duas forças que nos
puxam. Esse equilíbrio não é estável. Amplo, diverso e elástico é o campo de força da vida, e vale a
mesma coisa para o campo da morte. Se ficamos facilmente deprimidos ou exaltados é em razão das
oscilações de intensidade desses dois campos magnéticos, sendo o tédio o relativo equilíbrio entre os
dois.
 
Às vezes é mais intensa a pressão da vida, outras vezes é mais intensa a pressão da morte. Não se quer
dizer com isso que a exaltação seja a morte e a depressão seja a vida. Há exaltações e exultações que
se polarizam na morte, assim como há sistemas de depressão que gravitam em torno da vida. O
estranho, do ponto de vista biológico, é que somos medularmente solitários com ambos os estados de
imantação mais intensa, os da vida e os da morte. Não aproveitamos apenas a vida, mas usufruímos
também as experiências da morte, desde que essas não nos matem.
 
Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não
chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes. (...) Mas
outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura, tão forte, tão irrespondível, tão parecida
comigo que fiquei no mais confuso dos sentimentos. Esta eu não posso matar, esta é a minha morte. O
Vinícius de Moraes, que entende muito de morte, disse que nesse terreno há sempre margem de erro, e
que talvez eu tenha ainda de andar um bocado mais antes de encontrar a minha morte. Pode ser. Não
sei. Quem sabe?
 
(Adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte:
Autêntica, 2021, p. 246-248, passim)
 
Ao afirmar Matei várias mortes, o cronista está sugerindo que
 a) superou bravamente todos os riscos de morrer.
 b) encenou a própria morte para sentir como seria.
 c) venceu os desafios de uma ilusória fatalidade.
 d) imaginou morrer quando nada o ameaçava.
 e) supôs ter morrido num estado de delírio.
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Questão 882: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Encenação da morte
 
A vida nos quer, a morte nos quer. Somos o resultado da tensão ocasionada pelas duas forças que nos
puxam. Esse equilíbrio não é estável. Amplo, diverso e elástico é o campo de força da vida, e vale a
mesma coisa para o campo da morte. Se ficamos facilmente deprimidos ou exaltados é em razão das
oscilações de intensidade desses dois campos magnéticos, sendo o tédio o relativo equilíbrio entre os
dois.
 
Às vezes é mais intensa a pressão da vida, outras vezes é mais intensa a pressão da morte. Não se quer
dizer com isso que a exaltação seja a morte e a depressão seja a vida. Há exaltações e exultações que
se polarizam na morte, assim como há sistemas de depressão que gravitam em torno da vida. O
estranho, do ponto de vista biológico, é que somos medularmente solitários com ambos os estados de
imantação mais intensa, os da vida e os da morte. Não aproveitamos apenas a vida, mas usufruímos
também as experiências da morte, desde que essas não nos matem.
 
Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não
chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes. (...) Mas
outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura, tão forte, tão irrespondível, tão parecida
comigo que fiquei no mais confuso dos sentimentos. Esta eu não posso matar, esta é a minha morte. O
Vinícius de Moraes, que entende muito de morte, disse que nesse terreno há sempre margem de erro, e
que talvez eu tenha ainda de andar um bocado mais antes de encontrar a minha morte. Pode ser. Não
sei. Quem sabe?
 
(Adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte:
Autêntica, 2021, p. 246-248, passim)
 
Ao situar especificamente a tensão ocasionada pelas duas forças que nos puxam, no início do texto, o
cronista está se referindo a um fenômeno que expressará em outro lugar como
 a) estados de imantação mais intensa.
 b) diverso e elástico é o campo da vida.
 c) somos medularmente solitários.
 d) há sempre uma margem de erro.
 e) talvez eu tenha ainda de andar um bocado
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Questão 883: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Uma visita
 
Era já no fim da tarde quando a moça − muito linda, mas muito aflita −, de nome Francisca Bastos
Cordeiro, foi entrando pela porta entreaberta do chalé, seguiu direto ao quarto (antiga sala de costura
da casa, ao tempo em que sua dona era viva), onde encontrou, estendido e frágil numa pequena cama
de ferro, aquele homem, muito velhinho já, agonizante quase, que lhe fora bom companheiro em noites
idas de sua infância, quando com ela jogava o sete e meio e lhe ensinava a recitar poemas na casa de
sua avó.
 
− Vim vê-lo, foi dizendo a moça, inventando uma alegria na voz que lhe disfarçasse a emoção. Estou
com muitas saudades suas. E o senhor, não está com saudades de mim?
 
− Estou, sim − disse o velho, numa voz muito cava e muito triste. Estou com saudadeda vida.
 
No dia seguinte morria Machado de Assis. A tarde era a de 28 de setembro de 1908. A rua era a do
Cosme Velho.
 
(Adaptado de: MELLO, Thiago de. Escritor por escritor − Machado de Assis por seus pares – 1939-2008. São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2019, p. 278-279)
 
As informações que identificam aquele homem, muito velhinho já, agonizante quase, surgem tão
somente no fecho do texto. Como efeito desse procedimento,
 a) a visita comovida da moça se explica plenamente em virtude da celebridade do moribundo, a
quem ela foi prestar homenagem.
 b) reverencia-se melhor a humildade com que um célebre escritor acolhia admiradores de sua
importante obra literária.
 c) toda a visitação acaba marcada pela razão simples da profunda amizade que ligava a moça a um
seu velho amigo.
 d) fica a impressão de que a visitante desconhecia a real importância histórica daquele seu amigo
agonizante.
 e) a declinação do nome completo da moça não deixa dúvida em qualquer leitor quanto a quem seja
o doente visitado.
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Questão 884: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Uma visita
 
Era já no fim da tarde quando a moça − muito linda, mas muito aflita −, de nome Francisca Bastos
Cordeiro, foi entrando pela porta entreaberta do chalé, seguiu direto ao quarto (antiga sala de costura
da casa, ao tempo em que sua dona era viva), onde encontrou, estendido e frágil numa pequena cama
de ferro, aquele homem, muito velhinho já, agonizante quase, que lhe fora bom companheiro em noites
idas de sua infância, quando com ela jogava o sete e meio e lhe ensinava a recitar poemas na casa de
sua avó.
 
− Vim vê-lo, foi dizendo a moça, inventando uma alegria na voz que lhe disfarçasse a emoção. Estou
com muitas saudades suas. E o senhor, não está com saudades de mim?
 
− Estou, sim − disse o velho, numa voz muito cava e muito triste. Estou com saudade da vida.
 
No dia seguinte morria Machado de Assis. A tarde era a de 28 de setembro de 1908. A rua era a do
Cosme Velho.
 
(Adaptado de: MELLO, Thiago de. Escritor por escritor − Machado de Assis por seus pares – 1939-2008. São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2019, p. 278-279)
 
− Vim vê-lo, foi dizendo a moça, estou com muitas saudades suas. E o senhor, não está com saudades
de mim? Transpondo o texto acima para o discurso indireto, ele deverá ficar:
 
A moça foi dizendo que...
 a) fora visitá-lo, por estar com muitas saudades dele, se ele também estava com as mesmas
saudades suas.
 b) estou vindo pra lhe visitar, que estou com muitas saudades suas, e se ele também estava com as
mesmas.
 c) tinha vindo para lhe ver, e que estava com muitas saudades dele, tanto quanto ele as tinha por
ela.
 d) fora vê-lo por ter estado com saudades dele, e se o senhor também estava com muitas saudades
dela.
 e) tinha ido vê-lo, que estava com muitas saudades dele, e se ele também não estaria com saudades
dela.
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Questão 885: FCC - Sold (PM BA)/PM BA/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder a questão, leia a crônica O importuno, de Carlos Drummond de Andrade, publicada
originalmente em 13/07/1966.
 
− Que negócio é esse? Ninguém me atende?
 
A muito custo, atenderam; isto é, confessaram que não podiam atender, por causa do jogo com a
Bulgária.
 
− Mas que tenho eu com o jogo com a Bulgária, façam-me o favor? E os senhores por acaso foram
escalados para jogar?
 
O chefe da seção aproximou-se, apaziguador:
 
− Desculpe, cavalheiro. Queira voltar na quinta-feira, 14. Quinta-feira não haverá jogo, estaremos mais
tranquilos.
 
− Mas prometeram que meu papel ficaria pronto hoje sem falta.
 
− Foi um lapso do funcionário que lhe prometeu tal coisa. Ele não se lembrou da Bulgária. O Brasil
lutando com a Bulgária, o senhor quer que o nosso pessoal tenha cabeça fria para informar papéis?
 
− Perdão, o jogo vai ser logo mais, às quinze horas. É meio-dia, e já estão torcendo?
 
− Ah, meu caro senhor, não critique nossos bravos companheiros, que fizeram o sacrifício de vir à
repartição trabalhar quando podiam ficar em casa ou na rua, participando da emoção do povo…
 
− Se vieram trabalhar, por que não trabalham?
 
− Porque não podem, ouviu? Porque não podem. O senhor está ficando impertinente. Aliás, disse logo
de saída que não tinha nada com o jogo com a Bulgária! O Brasil em guerra − porque é uma verdadeira
guerra, como revelam os jornais − nos campos da Europa, e o senhor, indiferente, alienado,
perguntando por um vago papel, uma coisinha individual, insignificante, em face dos interesses da
pátria!
 
− Muito bem! Muito bem! − funcionários batiam palmas.
 
− Mas, perdão, eu… eu…
 
− Já sei que vai se desculpar. O momento não é para dissensões. O momento é de união nacional,
cérebros e corações uníssonos. Vamos, cavalheiro, não perturbe a preparação espiritual dos meus
colegas, que estão analisando a Seleção Búlgara e descobrindo meios de frustrar a marcação de Pelé. O
senhor acha bem o 4-2-4 ou prefere o 4-3-3?
 
− Bem, eu… eu…
 
− Compreendo que não queira opinar. É muita responsabilidade. Eu aliás não forço opinião de ninguém.
Esta algazarra que o senhor está vendo resulta da ampla liberdade de opinião com que se discute a
formação do selecionado. Todos querem ajudar, por isso cada um tem sua ideia própria, que não se
ajusta com a ideia do outro, mas o resultado é admirável. A unidade pela diversidade. Na hora da
batalha, formamos uma frente única.
 
− Está certo, mas será que, voltando na quinta-feira, eu encontro o meu papel pronto mesmo?
 
− Ah, o senhor é terrível, nem numa hora dessas esquece o seu papelzinho! Eu disse quinta-feira? Sim,
certamente, pois é dia de folga no campeonato. Mas espere aí, com quatro jogos na quarta-feira, e o
gasto de energia que isso determina, como é que eu posso garantir o seu papel para quinta-feira? Quer
saber de uma coisa? Seja razoável, meu amigo, procure colaborar. Procure ser bom brasileiro, volte em
agosto, na segunda quinzena de agosto é melhor, depois de comemorarmos a conquista do Tri.
 
− E… se não conquistarmos?
 
− Não diga uma besteira dessas! Sai, azar! Vá-se embora, antes que eu perca a cabeça e…
 
Vozes indignadas:
 
− Fora! Fora!
 
O servente sobe na cadeira e comanda o coro:
 
− Bra-sil! Bra-sil! Bra-sil!
 
Estava salva a honra da torcida, e o importuno retirou-se precipitadamente.
 
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Quando é dia de futebol. São Paulo: Companhia das Letras, 2014)
 
Na crônica, o chefe da seção acusa o homem que foi à repartição em busca de um documento de ser
 a) preguiçoso.
 b) egoísta.
 c) contraditório.
 d) resignado.
 e) rancoroso.
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Questão 886: FCC - Sold (PM BA)/PM BA/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder a questão, leia a crônica O importuno, de Carlos Drummond de Andrade, publicada
originalmente em 13/07/1966.
 
− Que negócio é esse? Ninguém me atende?
 
A muito custo, atenderam; isto é, confessaram que não podiam atender, por causa do jogo com a
Bulgária.
 
− Mas que tenho eu com o jogo com a Bulgária, façam-me o favor? E os senhores por acaso foram
escalados para jogar?
 
O chefe da seção aproximou-se, apaziguador:
 
− Desculpe, cavalheiro. Queira voltar na quinta-feira, 14. Quinta-feira não haverá jogo, estaremos mais
tranquilos.
 
− Mas prometeram que meu papel ficaria pronto hoje sem falta.
 
− Foi um lapso do funcionário que lhe prometeu tal coisa. Ele não se lembrou da Bulgária. O Brasil
lutando com a Bulgária, o senhor quer que o nosso pessoal tenha cabeça fria para informar papéis?
 
− Perdão, o jogovai ser logo mais, às quinze horas. É meio-dia, e já estão torcendo?
 
− Ah, meu caro senhor, não critique nossos bravos companheiros, que fizeram o sacrifício de vir à
repartição trabalhar quando podiam ficar em casa ou na rua, participando da emoção do povo…
 
− Se vieram trabalhar, por que não trabalham?
 
− Porque não podem, ouviu? Porque não podem. O senhor está ficando impertinente. Aliás, disse logo
de saída que não tinha nada com o jogo com a Bulgária! O Brasil em guerra − porque é uma verdadeira
guerra, como revelam os jornais − nos campos da Europa, e o senhor, indiferente, alienado,
perguntando por um vago papel, uma coisinha individual, insignificante, em face dos interesses da
pátria!
 
− Muito bem! Muito bem! − funcionários batiam palmas.
 
− Mas, perdão, eu… eu…
 
− Já sei que vai se desculpar. O momento não é para dissensões. O momento é de união nacional,
cérebros e corações uníssonos. Vamos, cavalheiro, não perturbe a preparação espiritual dos meus
colegas, que estão analisando a Seleção Búlgara e descobrindo meios de frustrar a marcação de Pelé. O
senhor acha bem o 4-2-4 ou prefere o 4-3-3?
 
− Bem, eu… eu…
 
− Compreendo que não queira opinar. É muita responsabilidade. Eu aliás não forço opinião de ninguém.
Esta algazarra que o senhor está vendo resulta da ampla liberdade de opinião com que se discute a
formação do selecionado. Todos querem ajudar, por isso cada um tem sua ideia própria, que não se
ajusta com a ideia do outro, mas o resultado é admirável. A unidade pela diversidade. Na hora da
batalha, formamos uma frente única.
 
− Está certo, mas será que, voltando na quinta-feira, eu encontro o meu papel pronto mesmo?
 
− Ah, o senhor é terrível, nem numa hora dessas esquece o seu papelzinho! Eu disse quinta-feira? Sim,
certamente, pois é dia de folga no campeonato. Mas espere aí, com quatro jogos na quarta-feira, e o
gasto de energia que isso determina, como é que eu posso garantir o seu papel para quinta-feira? Quer
saber de uma coisa? Seja razoável, meu amigo, procure colaborar. Procure ser bom brasileiro, volte em
agosto, na segunda quinzena de agosto é melhor, depois de comemorarmos a conquista do Tri.
 
− E… se não conquistarmos?
 
− Não diga uma besteira dessas! Sai, azar! Vá-se embora, antes que eu perca a cabeça e…
 
Vozes indignadas:
 
− Fora! Fora!
 
O servente sobe na cadeira e comanda o coro:
 
− Bra-sil! Bra-sil! Bra-sil!
 
Estava salva a honra da torcida, e o importuno retirou-se precipitadamente.
 
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Quando é dia de futebol. São Paulo: Companhia das Letras, 2014)
 
O cronista expressa uma retificação no seguinte trecho:
 a) O servente sobe na cadeira e comanda o coro: (23º parágrafo)
 b) − Muito bem! Muito bem! − funcionários batiam palmas. (12º parágrafo)
 c) − Está certo, mas será que, voltando na quinta-feira, eu encontro o meu papel pronto mesmo?
(17º parágrafo)
 d) A muito custo, atenderam; isto é, confessaram que não podiam atender, por causa do jogo com a
Bulgária. (2º parágrafo)
 e) Estava salva a honra da torcida, e o importuno retirou-se precipitadamente. (25º parágrafo)
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2348380
Questão 887: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agente de Policia Judicial/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Leia o trecho do romance “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, para responder à questão.
 
Visões e reminiscências iam assim comendo o tempo e o espaço ao conselheiro Aires, a ponto de lhe
fazerem esquecer o pedido de Natividade; mas não o esqueceu de todo, e as palavras trocadas há
pouco surdiam-lhe das pedras da rua. Considerou que não perdia muito em estudar os rapazes. Chegou
a apanhar uma hipótese, espécie de andorinha, que avoaça entre árvores, abaixo e acima, pousa aqui,
pousa ali, arranca de novo um surto e toda se despeja em movimentos. Tal foi a hipótese vaga e
colorida, a saber, que se os gêmeos tivessem nascido dele talvez não divergissem tanto nem nada,
graças ao equilíbrio do seu espírito. A alma do velho entrou a ramalhar não sei que desejos
retrospectivos, e a rever essa hipótese, ele pai, estes meninos seus, toda a andorinha que se dispersava
num farfalhar calado de gestos.
 
(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
 
Depreende-se do texto que o conselheiro Aires se considerava uma pessoa:
 a) preguiçosa.
 b) distraída.
 c) rancorosa.
 d) submissa.
 e) equilibrada.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2340338
Questão 888: FCC - Sold (CBM BA)/CBM BA/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto abaixo para responder a questão.
 
Medo da eternidade
 
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. Quando eu era muito pequena
ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que
espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o
mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
 
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
 
– Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
 
– Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa.
 
– Não acaba nunca, e pronto.
 
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a
pequena pastilha cor- -de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia
acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para
chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão
inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
 
Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
 
– E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.
 
– Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a
mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
 
Perder a eternidade? Nunca.
 
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-
nos para a escola.
 
– Acabou-se o docinho. E agora?
 
– Agora mastigue para sempre.
 
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa
cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na
verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie
de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
 
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu
mastigava obedientemente, sem parar.
 
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair
no chão de areia.
 
– Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. – Agora não posso mastigar
mais! A bala acabou!
 
– Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de
noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não
fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
 
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara
dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
 
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
 
(LISPECTOR, Clarice. Jornal do Brasil, 06 de jun. de 1970)
 
Depreende-se do texto que a narradora
 a) jogou o chicle fora, pois tinha outros, e os chicles novos são mais gostosos.
 b) gostava muito de chicles, mas só aprendeu com a irmã que eles podem durar a vida inteira.
 c) costumava comprar chicles,mesmo que eles custassem mais do que as balas.
 d) não gostou da experiência com o chicle, mas disfarçou para não decepcionar a irmã.
 e) tirava a bala da boca e voltava a chupá-la depois para imitar o que as crianças faziam com os
chicles.
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Questão 889: FCC - Sold (CBM BA)/CBM BA/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto abaixo para responder a questão.
 
Medo da eternidade
 
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. Quando eu era muito pequena
ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que
espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o
mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
 
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
 
– Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
 
– Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa.
 
– Não acaba nunca, e pronto.
 
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a
pequena pastilha cor- -de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia
acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para
chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão
inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
 
Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
 
– E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.
 
– Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a
mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
 
Perder a eternidade? Nunca.
 
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-
nos para a escola.
 
– Acabou-se o docinho. E agora?
 
– Agora mastigue para sempre.
 
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa
cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na
verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie
de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
 
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu
mastigava obedientemente, sem parar.
 
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair
no chão de areia.
 
– Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. – Agora não posso mastigar
mais! A bala acabou!
 
– Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de
noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não
fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
 
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara
dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
 
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
 
(LISPECTOR, Clarice. Jornal do Brasil, 06 de jun. de 1970)
 
A narradora considera que seu contato com a eternidade, ocorrido a partir da experiência de mascar um
chicle, foi aflitivo e dramático porque ela
 a) perdeu o chicle no chão de areia, no portão da escola, e nunca mais poderia dar continuidade
àquela experiência.
 b) não queria compartilhar os seus chicles com a irmã, que lhe ensinara a apreciá-los.
 c) teve que mentir para a irmã e esconder dela o que sentiu, já que, a seu ver, essa experiência não
foi nada prazerosa.
 d) não tinha dinheiro para comprar chicles, o que a tornava dependente da irmã para comprá-los.
 e) sempre teve medo da eternidade e nunca tinha compartilhado esse segredo com ninguém.
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Questão 890: FCC - Sold (CBM BA)/CBM BA/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto abaixo para responder a questão.
 
Medo da eternidade
 
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. Quando eu era muito pequena
ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que
espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o
mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
 
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
 
– Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
 
– Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa.
 
– Não acaba nunca, e pronto.
 
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a
pequena pastilha cor- -de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia
acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para
chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão
inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
 
Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
 
– E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.
 
– Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a
mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
 
Perder a eternidade? Nunca.
 
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-
nos para a escola.
 
– Acabou-se o docinho. E agora?
 
– Agora mastigue para sempre.
 
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa
cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na
verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie
de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
 
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu
mastigava obedientemente, sem parar.
 
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair
no chão de areia.
 
– Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. – Agora não posso mastigar
mais! A bala acabou!
 
– Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de
noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não
fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
 
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara
dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
 
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
 
(LISPECTOR, Clarice. Jornal do Brasil, 06 de jun. de 1970)
 
A narradora compara explicitamente a sua experiência com o chicle a uma narrativa fantasiosa no
seguinte trecho:
 a) Perder a eternidade? Nunca. (10º parágrafo)
 b) parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. (6º parágrafo)
 c) E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo (14º parágrafo)
 d) Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles (1º parágrafo)
 e) Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. (6º parágrafo)
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Questão 891: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agentede Policia Judicial/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Leia a crônica “Pai de família sem plantação”, de Paulo Mendes Campos, para responder à
questão.
 
Sempre me lembro da história exemplar de um mineiro que veio até a capital, zanzou por aqui, e voltou
para contar em casa os assombros da cidade. Seu velho pai balançou a cabeça; fazendo da própria
dúvida a sua sabedoria: “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem
plantação, não sei não...”
 
Às vezes morro de nostalgia. São momentos de sinceridade, nos quais todo o meu ser denuncia minha
falsa condição de morador do Rio de Janeiro. A trepidação desta cidade não é minha. Sou mais, muito
mais, querendo ou não querendo, de uma indolência de sol parado e gerânios. Minha terra é outra,
minha gente não é esta, meu tempo é mais pausado, meus assuntos são mais humildes, minha fala,
mais arrastada. O milho pendoou? Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna? A vaca do coronel já
deu cria? Desta literatura rural é que preciso.
 
Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro. Velozes automóveis me perseguem
na rua, novos edifícios crescem fazendo barulho em meus ouvidos, a guerra comercial não me dá
tréguas, o clamor do telefone me põe a funcionar sem querer, a vaga se espraia e repercute no meu
peito, minha inocência não percebe o negócio de milhões articulado com um sorriso e um aperto de
mão. Pois eu não sou daqui.
 
Vivo em apartamento só por ter cedido a uma perversão coletiva; nasci em casa de dois planos, o de
cima, da família, sobre tábuas lavadas, claro e sem segredos, e o de baixo, das crianças, o porão escuro,
onde a vida se tece de nada, de pressentimentos, de imaginação, do estofo dos sonhos. A maciez das
mãos que me cumprimentam na cidade tem qualquer coisa de peixe e mentira; não sou desta viração
mesclada de maresia; não sei comer este prato vermelho e argênteo de crustáceos; não entendo os
sinais que os navios trocam na cerração além da minha janela. Confio mais em mãos calosas, meus
sentidos querem uma brisa à boca da noite cheirando a capim-gordura; um prato de tutu e torresmos
para minha fome; e quando o trem distante apitasse na calada, pelo menos eu saberia em que
sentimentos desfalecer.
 
Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete. Com um matungo que me criasse amizade,
eu visitaria o vigário, o médico, o turco, o promotor que lê Victor Hugo, o italiano que tem uma horta, o
ateu local, o criminoso da cadeia, todos eles muitos meus amigos. Se aqui não vou à igreja, lá pelo
menos frequentaria a doçura do adro, olhando o cemitério em aclive sobre a encosta, emoldurado em
muros brancos. Aqui jaz Paulo Mendes Campos. Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da
sombra. É tudo o que peço. E não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato. São Paulo: Ática, 2012)
 
Em relação à vida urbana no Rio de Janeiro, o cronista expressa, sobretudo, um sentimento de
 a) entusiasmo.
 b) orgulho.
 c) inadequação.
 d) inveja.
 e) curiosidade.
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Questão 892: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agente de Policia Judicial/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Leia a crônica “Pai de família sem plantação”, de Paulo Mendes Campos, para responder à
questão.
 
Sempre me lembro da história exemplar de um mineiro que veio até a capital, zanzou por aqui, e voltou
para contar em casa os assombros da cidade. Seu velho pai balançou a cabeça; fazendo da própria
dúvida a sua sabedoria: “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem
plantação, não sei não...”
 
Às vezes morro de nostalgia. São momentos de sinceridade, nos quais todo o meu ser denuncia minha
falsa condição de morador do Rio de Janeiro. A trepidação desta cidade não é minha. Sou mais, muito
mais, querendo ou não querendo, de uma indolência de sol parado e gerânios. Minha terra é outra,
minha gente não é esta, meu tempo é mais pausado, meus assuntos são mais humildes, minha fala,
mais arrastada. O milho pendoou? Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna? A vaca do coronel já
deu cria? Desta literatura rural é que preciso.
 
Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro. Velozes automóveis me perseguem
na rua, novos edifícios crescem fazendo barulho em meus ouvidos, a guerra comercial não me dá
tréguas, o clamor do telefone me põe a funcionar sem querer, a vaga se espraia e repercute no meu
peito, minha inocência não percebe o negócio de milhões articulado com um sorriso e um aperto de
mão. Pois eu não sou daqui.
 
Vivo em apartamento só por ter cedido a uma perversão coletiva; nasci em casa de dois planos, o de
cima, da família, sobre tábuas lavadas, claro e sem segredos, e o de baixo, das crianças, o porão escuro,
onde a vida se tece de nada, de pressentimentos, de imaginação, do estofo dos sonhos. A maciez das
mãos que me cumprimentam na cidade tem qualquer coisa de peixe e mentira; não sou desta viração
mesclada de maresia; não sei comer este prato vermelho e argênteo de crustáceos; não entendo os
sinais que os navios trocam na cerração além da minha janela. Confio mais em mãos calosas, meus
sentidos querem uma brisa à boca da noite cheirando a capim-gordura; um prato de tutu e torresmos
para minha fome; e quando o trem distante apitasse na calada, pelo menos eu saberia em que
sentimentos desfalecer.
 
Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete. Com um matungo que me criasse amizade,
eu visitaria o vigário, o médico, o turco, o promotor que lê Victor Hugo, o italiano que tem uma horta, o
ateu local, o criminoso da cadeia, todos eles muitos meus amigos. Se aqui não vou à igreja, lá pelo
menos frequentaria a doçura do adro, olhando o cemitério em aclive sobre a encosta, emoldurado em
muros brancos. Aqui jaz Paulo Mendes Campos. Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da
sombra. É tudo o que peço. E não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato. São Paulo: Ática, 2012)
 
O cronista dirige-se explicitamente a seus leitores no seguinte trecho:
 a) “Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da sombra.”
 b) “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem plantação, não sei
não...”
 c) “Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete.”
 d) “Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro.”
 e) “Vivo em apartamento só por ter cedido a uma perversão coletiva;”
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Questão 893: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agente de Policia Judicial/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Leia a crônica “Pai de família sem plantação”, de Paulo Mendes Campos, para responder à
questão.
 
Sempre me lembro da história exemplar de um mineiro que veio até a capital, zanzou por aqui, e voltou
para contar em casa os assombros da cidade. Seu velho pai balançou a cabeça; fazendo da própria
dúvida a sua sabedoria: “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem
plantação, não sei não...”
 
Às vezes morro de nostalgia. São momentos de sinceridade, nos quais todo o meu ser denuncia minha
falsa condição de morador do Rio de Janeiro. A trepidação desta cidade não é minha. Sou mais, muito
mais, querendo ou não querendo, de uma indolência de sol parado e gerânios. Minha terra é outra,
minha gente não é esta, meu tempo é mais pausado, meus assuntos são mais humildes, minha fala,
mais arrastada. O milho pendoou? Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna? A vaca do coronel já
deu cria? Desta literatura rural é que preciso.
 
Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro. Velozes automóveis me perseguem
na rua, novos edifícios crescem fazendo barulho em meus ouvidos, a guerra comercialnão me dá
tréguas, o clamor do telefone me põe a funcionar sem querer, a vaga se espraia e repercute no meu
peito, minha inocência não percebe o negócio de milhões articulado com um sorriso e um aperto de
mão. Pois eu não sou daqui.
 
Vivo em apartamento só por ter cedido a uma perversão coletiva; nasci em casa de dois planos, o de
cima, da família, sobre tábuas lavadas, claro e sem segredos, e o de baixo, das crianças, o porão escuro,
onde a vida se tece de nada, de pressentimentos, de imaginação, do estofo dos sonhos. A maciez das
mãos que me cumprimentam na cidade tem qualquer coisa de peixe e mentira; não sou desta viração
mesclada de maresia; não sei comer este prato vermelho e argênteo de crustáceos; não entendo os
sinais que os navios trocam na cerração além da minha janela. Confio mais em mãos calosas, meus
sentidos querem uma brisa à boca da noite cheirando a capim-gordura; um prato de tutu e torresmos
para minha fome; e quando o trem distante apitasse na calada, pelo menos eu saberia em que
sentimentos desfalecer.
 
Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete. Com um matungo que me criasse amizade,
eu visitaria o vigário, o médico, o turco, o promotor que lê Victor Hugo, o italiano que tem uma horta, o
ateu local, o criminoso da cadeia, todos eles muitos meus amigos. Se aqui não vou à igreja, lá pelo
menos frequentaria a doçura do adro, olhando o cemitério em aclive sobre a encosta, emoldurado em
muros brancos. Aqui jaz Paulo Mendes Campos. Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da
sombra. É tudo o que peço. E não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato. São Paulo: Ática, 2012)
 
No 1º parágrafo, em relação ao relato do filho sobre a capital, o velho pai mostra-se, sobretudo,
 a) rancoroso.
 b) entediado.
 c) reticente.
 d) nostálgico.
 e) entusiasmado.
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Questão 894: FCC - Sold (CBM BA)/CBM BA/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto abaixo para responder a questão.
 
Medo da eternidade
 
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. Quando eu era muito pequena
ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que
espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o
mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
 
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
 
– Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
 
– Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa.
 
– Não acaba nunca, e pronto.
 
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a
pequena pastilha cor- -de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia
acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para
chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão
inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
 
Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
 
– E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.
 
– Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a
mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
 
Perder a eternidade? Nunca.
 
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-
nos para a escola.
 
– Acabou-se o docinho. E agora?
 
– Agora mastigue para sempre.
 
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa
cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na
verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie
de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
 
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu
mastigava obedientemente, sem parar.
 
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair
no chão de areia.
 
– Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. – Agora não posso mastigar
mais! A bala acabou!
 
– Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de
noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não
fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
 
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara
dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
 
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
 
(LISPECTOR, Clarice. Jornal do Brasil, 06 de jun. de 1970)
 
No 14º parágrafo, a narradora afirma que a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de
medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
 
Depreende-se da leitura do texto que ela fez essa afirmação porque
 a) percebeu que é bom que algumas experiências tenham fim, já que nem todas são prazerosas.
 b) não gosta de mentir para a irmã e sente a necessidade de parar de fazer isso eternamente.
 c) prefere experimentar outros sabores de chicle e não vê a hora de jogar fora o que está mascando.
 d) entendeu que gosta mesmo é de balas e está ansiosa para terminar de mascar o chicle.
 e) desaprova as crianças que tiram o chicle da boca e voltam a mascá-lo depois para que ele dure
mais.
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Questão 895: FCC - Sold (CBM BA)/CBM BA/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto abaixo para responder a questão.
 
Medo da eternidade
 
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. Quando eu era muito pequena
ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que
espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o
mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
 
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
 
– Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
 
– Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa.
 
– Não acaba nunca, e pronto.
 
Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a
pequena pastilha cor- -de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia
acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para
chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão
inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
 
Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
 
– E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.
 
– Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a
mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
 
Perder a eternidade? Nunca.
 
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-
nos para a escola.
 
– Acabou-se o docinho. E agora?
 
– Agora mastigue para sempre.
 
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa
cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na
verdade eu não estavagostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie
de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.
 
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu
mastigava obedientemente, sem parar.
 
Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair
no chão de areia.
 
– Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. – Agora não posso mastigar
mais! A bala acabou!
 
– Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de
noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não
fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
 
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara
dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
 
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
 
(LISPECTOR, Clarice. Jornal do Brasil, 06 de jun. de 1970)
 
Leia as seguintes afirmações a respeito do texto.
 
I. Os chicles continuam doces mesmo após se transformarem em puxa-puxa.
 
II. Os chicles podem ser pregados na cama para que não sejam engolidos durante o sono.
 
III. O docinho dos chicles é melhor do que o das balas.
 
IV. Para algumas crianças, os chicles funcionam como uma bala eterna.
 
De acordo com o texto, estão corretas APENAS as afirmações:
 a) I e III.
 b) II e III.
 c) II e IV.
 d) II, III e IV.
 e) I, II e III.
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Questão 896: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Apoio Especializado/Enfermagem do Trabalho/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Leia o texto “Ardil da desrazão”, de Eduardo Giannetti, para responder à questão.
 
Imagine uma pessoa afivelada a uma cama com eletrodos colados em suas têmporas. Ao se girar um
botão situado em local distante, a corrente elétrica nos eletrodos aumenta em grau infinitesimal, de
modo que o paciente não chegue a sentir. Um hambúrguer gratuito é então ofertado a quem girar o
botão. Ocorre, porém, que, quando milhares de pessoas fazem isso − sem que cada uma saiba das
ações das demais −, a descarga elétrica gerada é suficiente para eletrocutar a vítima. Quem é
responsável pelo quê? Algo tenebroso foi feito, mas de quem é a culpa? O efeito isolado de cada giro do
botão é, por definição, imperceptível − são todos “torturadores inofensivos”. Mas o efeito conjunto é
ofensivo ao extremo. Até que ponto a somatória de ínfimas partículas de culpa se acumula numa
gigantesca dívida moral coletiva? − O experimento mental concebido pelo filósofo britânico Derek Parfit
dá o que pensar. A mudança climática em curso equivale a uma espécie de eletrocussão da biosfera.
Quem a deseja? A quem interessa? O ardil da desrazão vira do avesso a “mão invisível” da economia
clássica. O aquecimento global é fruto da alquimia perversa de incontáveis ações humanas, mas não
resulta de nenhuma intenção humana. E quem assume − ou deveria assumir − a culpa por ele? Os 7
bilhões de habitantes da Terra pertencem a três grupos: o primeiro bilhão, no cobiçado topo da escala
de consumo, responde por 50% das emissões de gases-estufa; os 3 bilhões seguintes por 45%; e os 3
bilhões na base da pirâmide (metade sem acesso a eletricidade) por 5%. Por seu modo de vida, situação
geográfica e vulnerabilidade material, este último grupo − o único inocente − é o mais tragicamente
afetado pelo “giro de botão” dos demais.
(GIANNETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016)
 
Eduardo Giannetti dirige-se explicitamente a seu leitor no seguinte trecho:
 a) “O efeito isolado de cada giro do botão é, por definição, imperceptível − são todos ‘torturadores
inofensivos’.”
 b) “Imagine uma pessoa afivelada a uma cama com eletrodos colados em suas têmporas.”
 c) “O experimento mental concebido pelo filósofo britânico Derek Parfit dá o que pensar.”
 d) “O ardil da desrazão vira do avesso a ‘mão invisível’ da economia clássica.”
 e) “Mas o efeito conjunto é ofensivo ao extremo.”
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Questão 897: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Apoio Especializado/Enfermagem do Trabalho/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
 
Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-
se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos.
Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à
banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de
sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do
vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados.
Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
 
− Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
 
− A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
 
− Coitada... Vocação de viúva.
 
− Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
 
Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou
nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que
formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si
mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na
aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez,
recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita.
Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que
denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem
agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
 
Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa,
exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os
vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do
apartamento.
 
A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar
bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes
agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em
frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de
olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se
percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus
doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.
 
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)
 
O cronista expressa uma retificação no seguinte trecho:
 a) Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus doze pares de França, perdão!
de sapatos.
 b) Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de sapatos foi experimentado, e nova
verificação especular.
 c) No semblante do vendedor, nem cansaço, nem impaciência.
 d) Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento.
 e) Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que
denunciasse o segredo.
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Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Aspectos da imigração contemporânea
 
À medida que cada vez mais pessoas cruzam as mais variadas fronteiras em busca de emprego,
segurança e um futuro melhor, a necessidade de confrontar, assimilar ou expulsar estrangeiros cria
tensão entre sistemas políticos e identidades coletivas formadas em tempos menos fluidos. Em nenhum
lugar o problema é mais agudo que na Europa. A União Europeia foi construída sobre a promessa de
transcender as diferenças culturais entre franceses, alemães, espanhóis e gregos. E pode desmoronar
devido a sua incapacidade de incluir as diferenças culturais entre europeus e imigrantes da África e do
Oriente Médio. Ironicamente, foi, em primeiro lugar, o próprio sucesso da Europa em construir um
sistema próspero e multicultural que atraiu tantos imigrantes.
 
A crescente onda de refugiados e imigrantes provoca reações mistas entre os europeus e desencadeia
discussões amargas sobre a identidade e o futuro da Europa. Alguns europeus exigem que a Europa
feche seus portões: estarão traindo os ideais multiculturais e de tolerância já aceitos ou só adotando
medidas para evitar um desastre de grandes proporções? Outros clamam por uma abertura maior dos
portões: estarão sendo fiéis ao cerne dos valores europeus ou serão culpados de sobrecarregar o
projeto do continente com expectativas inviáveis?
 
Discussões desse tipo sobre a imigração degeneram numa gritaria na qual nenhum dos lados ouve o
outro. Mas por baixo de todos esses debates espreita uma questão mais fundamental, relativa a como
entendemos a cultura humana. Será que entramos no debate sobre imigração com a suposição de que
todas as culturas são inerentemente iguais, ou achamos que algumas culturas talvez sejam superiores a
outras? Quando os alemães discutem a absorção de um milhão de refugiados sírios, imagina-se que
possa haver resistência por quem considere que a cultura alemã é de algum modo melhor que a cultura
síria? O fenômeno mundial da imigração põe à prova não apenas a diversidade de valores, mas os
preconceitos que podem estar arraigados em cada cultura nacional.
 
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Trad. Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das
Letras, 2018, p. 178-179)
 
No terceiro parágrafo, a questão fundamental que espreita por baixo de todos esses debates
 a) é o acordo final a que costumam chegar os debatedores mais lúcidos.
 b) está na possibilidade de se aceitar ou se recusar a validade das diversas culturas.
 c) não é mais que um falso problema, que acaba por se tornar relevante.
 d) consiste em privilegiar tão somente a razão do adversário mais forte.
 e) revela-se no preconceito que as culturas superiores cultivam diante das inferiores.
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Questão 899: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Contabilidade/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Aspectos da imigração contemporânea
 
À medida que cada vez mais pessoas cruzam as mais variadas fronteiras em busca de emprego,
segurança e um futuro melhor, a necessidade de confrontar, assimilar ou expulsar estrangeiros cria
tensão entre sistemas políticos e identidades coletivas formadas em tempos menos fluidos. Em nenhum
lugar o problema é mais agudo que na Europa. A União Europeia foi construída sobre a promessa de
transcender as diferenças culturais entre franceses, alemães, espanhóis e gregos. E pode desmoronar
devido a sua incapacidade de incluir as diferenças culturais entre europeus e imigrantes da África e do
Oriente Médio. Ironicamente, foi, em primeiro lugar, o próprio sucesso da Europa em construir um
sistema próspero e multicultural que atraiu tantos imigrantes.
 
A crescente onda de refugiados e imigrantes provoca reações mistas entre os europeus e desencadeia
discussões amargas sobre a identidade e o futuro da Europa. Alguns europeus exigem que a Europa
feche seus portões: estarão traindo os ideais multiculturais e de tolerância já aceitos ou só adotando
medidas para evitar um desastre de grandes proporções? Outros clamam por uma abertura maior dos
portões: estarão sendo fiéis ao cerne dos valores europeus ou serão culpados de sobrecarregar o
projeto do continente com expectativas inviáveis?
 
Discussões desse tipo sobre a imigração degeneram numa gritaria na qual nenhum dos lados ouve o
outro. Mas por baixo de todos esses debates espreita uma questão mais fundamental, relativa a como
entendemos a cultura humana. Será que entramos no debate sobre imigração com a suposição de que
todas as culturas são inerentemente iguais, ou achamos que algumas culturas talvez sejam superiores a
outras? Quando os alemães discutem a absorção de um milhão de refugiados sírios, imagina-se que
possa haver resistência por quem considere que a cultura alemã é de algum modo melhor que a cultura
síria? O fenômeno mundial da imigração põe à prova não apenas a diversidade de valores, mas os
preconceitos que podem estar arraigados em cada cultura nacional.
 
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Trad. Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das
Letras, 2018, p. 178-179)
 
A tensão entre sistemas políticos e identidades coletivas, referida no primeiro parágrafo, decorre
 a) tão somente por conta da incapacidade de assimilar culturas estrangeiras.
 b) exclusivamente do confronto dos valores estrangeiros com os nacionais.
 c) da difícil escolha entre as opções decisivas que se abrem no processo migratório.
 d) sobretudo da catástrofe econômica que o fenômeno migratório traz consigo.
 e) em primeiro lugar da falta de alternativas diante do fato consumado da imigração.
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Questão 900: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Contabilidade/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo:
 
No voo da caneta
 
Numa das cartas ao seu amigo Mário de Andrade, assegurava-lhe o poeta Carlos Drummond de Andrade
que era com uma caneta na mão que costumava viver as suas maiores emoções.
 
Comentando isso numa das minhas aulas de Literatura, atentei para a reação de um jovem aluno: um
visível sentimento de piedade por aquele “poeta sitiado e infeliz, homem de gabinete, tímido mineiro que
não se atirou à vida” tal como em seguida ele me explicou sua reação.
 
Não tive como lhe dizer, naquele momento, que entre as tantas formas de se atirar à vida está a de se
valer de uma caneta para perseguir poemas e achar as falas humanas mais urgentes e precisas,
essenciais para quem as diz, indispensáveis para quem as ouve, vivas para dentro e para além do tempo
e do espaço imediatos. Espero que o jovem aluno logo tenha se convencido de que um poeta torna
aberto para todos o universo reflexivo de sua intimidade, onde também podemos reconhecer algo da
nossa.
 
(Aldair Rômulo Siqueira, a publicar)
 
A confissão que o poeta Carlos Drummond de Andrade fez numa carta ao seu amigo Mário de Andrade
equivale a declarar que
 a) a poesia afasta o poeta da realidade, e com isso o poupa de sofrer as emoções que o cotidiano
infeliz lhe traz.
 b) uma caneta na mão de um escritor corresponde à ilusão que um guerreiro tem em relação ao
poder de sua arma.
 c) a expressão poética pode trazer para quem a cultiva a intensidade emocional das experiências
mais bem vividas.
 d) a arte da poesia é de tal modo compensatória que nos faz esquecer a qualidade mesma das
emoções verdadeiras.
 e) aos poetas cabe imaginar um mundo de emoções tão pessoais que elas acabam por se fecharem
em si mesmas.
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Questão 901: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Contabilidade/2023Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo:
 
No voo da caneta
 
Numa das cartas ao seu amigo Mário de Andrade, assegurava-lhe o poeta Carlos Drummond de Andrade
que era com uma caneta na mão que costumava viver as suas maiores emoções.
 
Comentando isso numa das minhas aulas de Literatura, atentei para a reação de um jovem aluno: um
visível sentimento de piedade por aquele “poeta sitiado e infeliz, homem de gabinete, tímido mineiro que
não se atirou à vida” tal como em seguida ele me explicou sua reação.
 
Não tive como lhe dizer, naquele momento, que entre as tantas formas de se atirar à vida está a de se
valer de uma caneta para perseguir poemas e achar as falas humanas mais urgentes e precisas,
essenciais para quem as diz, indispensáveis para quem as ouve, vivas para dentro e para além do tempo
e do espaço imediatos. Espero que o jovem aluno logo tenha se convencido de que um poeta torna
aberto para todos o universo reflexivo de sua intimidade, onde também podemos reconhecer algo da
nossa.
 
(Aldair Rômulo Siqueira, a publicar)
 
Para o jovem aluno de Literatura, a confissão de Drummond ao seu amigo Mário
 a) trouxe-lhe um impulso de comiseração diante de quem se aliena e foge das experiências reais da
vida.
 b) pareceu o testemunho de alguém que valoriza cegamente a transcrição das experiências da sua
vida.
 c) provocou nele um sentimento de insatisfação diante da crença de quem apenas dá valor às
paixões mais radicais.
 d) soou como uma arrogante declaração de um poeta que julga sua timidez superior à dos outros.
 e) perturbou-o a ponto de acusar aqueles poetas que acreditam de fato na eficácia da comunicação
verbal.
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Questão 902: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Contabilidade/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
[Cidades devastadas]
 
Em vinte anos eliminaram a minha cidade e edificaram uma cidade estranha. Para quem continuou
morando lá, a amputação pode ter sido lenta, quase indolor; para mim, foi uma cirurgia de urgência,
sem a inconsciência do anestésico.
 
Enterraram a minha cidade e muito de mim com ela. Por cima de nós construíram casas modernas,
arranha-céus, agências bancárias; pintaram tudo, deceparam árvores, demoliram, mudaram fachadas.
Como se tivessem o propósito de desorientar-me, de destruir tudo o que me estendia uma ponte entre o
que sou e o que fui. Enterraram-me vivo na cidade morta.
 
Mas, feliz ou infelizmente, ainda não conseguiram soterrar de todo a minha cidade. Vou andando pela
paisagem nova, desconhecida, pela paisagem que não me quer e eu não entendo, quando de repente,
entre dois prédios hostis, esquecida por enquanto dos zangões imobiliários, surge, intacta e doce, a casa
de Maria. Dói também a casa de Maria, mas é uma dor que conheço, íntima e amiga.
 
Não digo nada a ninguém, disfarço o espanto dessa descoberta para não chamar o empreiteiro das
demolições. Ah, se eles, os empreiteiros, soubessem que aqui e ali repontam restos emocionantes da
minha cidade em ruínas! Se eles soubessem que aqui e ali vou encontrando passadiços que me
permitem cruzar o abismo!
 
(Adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 209-
210)
 
A percepção do autor de que eliminaram a sua cidade
 a) ocorre por conta de um distanciamento gradativo a que a submeteu.
 b) expressa-se segundo o processo figurativo de uma personificação dela.
 c) mantém-se objetiva do princípio ao fim do texto, sem relativismo possível.
 d) decorre da oportunidade de vir a redescobri-la por completo.
 e) convence-o de que tudo o que viveu poeticamente naquele espaço foi ilusório.
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Questão 903: FCC - AJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Contabilidade/2023
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
[Cidades devastadas]
 
Em vinte anos eliminaram a minha cidade e edificaram uma cidade estranha. Para quem continuou
morando lá, a amputação pode ter sido lenta, quase indolor; para mim, foi uma cirurgia de urgência,
sem a inconsciência do anestésico.
 
Enterraram a minha cidade e muito de mim com ela. Por cima de nós construíram casas modernas,
arranha-céus, agências bancárias; pintaram tudo, deceparam árvores, demoliram, mudaram fachadas.
Como se tivessem o propósito de desorientar-me, de destruir tudo o que me estendia uma ponte entre o
que sou e o que fui. Enterraram-me vivo na cidade morta.
 
Mas, feliz ou infelizmente, ainda não conseguiram soterrar de todo a minha cidade. Vou andando pela
paisagem nova, desconhecida, pela paisagem que não me quer e eu não entendo, quando de repente,
entre dois prédios hostis, esquecida por enquanto dos zangões imobiliários, surge, intacta e doce, a casa
de Maria. Dói também a casa de Maria, mas é uma dor que conheço, íntima e amiga.
 
Não digo nada a ninguém, disfarço o espanto dessa descoberta para não chamar o empreiteiro das
demolições. Ah, se eles, os empreiteiros, soubessem que aqui e ali repontam restos emocionantes da
minha cidade em ruínas! Se eles soubessem que aqui e ali vou encontrando passadiços que me
permitem cruzar o abismo!
 
(Adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 209-
210)
 
Nos dois parágrafos finais do texto, o cronista ressalta que,
 a) por conta da destruição de sua cidade, ele passou a imaginar inéditas emoções.
 b) em meio a tudo o que foi destruído, encontrou sinais de resiliência diante da devastação.
 c) para atender a seus interesses, os empreiteiros preservam aqui e ali vestígios do passado.
 d) graças a um antigo amor, recuperou uma visão abrangente de sua cidade perdida.
 e) diante de prédios novos, um antigo amor brotou por força da memória imaginativa.
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Questão 904: FCC - ACE (TCE-GO)/TCE GO/Contabilidade/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
O que será da escrita sem solidão?
Já não resta na minha vida nenhuma solidão. Me pergunto se haverá solidão em algum lugar, se alguém
é ainda capaz de estar só, de alcançar um estado de solidão. Não me refiro, claro, à penúria afetiva, ao
abandono, ao desamparo, males diários que se encontram por toda parte, no meio da multidão. Penso
mais num silêncio dilatado, vasto, num silêncio que é a ausência de notícias, de palavras, de ruídos.
Penso num retiro íntimo, um lugar em que já não se ouça a respiração ofegante do mundo.
Andei lendo Escrever, de Marguerite Duras, um relato de como ela construiu para si uma solidão densa,
de como só assim se tornou capaz de escrever. “A solidão é aquilo sem o qual não fazemos nada”, ela
diz. “Aquilo sem o qual já não vemos nada.” Para a escrita, nada seria mais necessário que a solidão,
algum grau de asilo pessoal seria sua condição imprescindível. Fiquei pensando o que será da escrita
quando já não houver, em absoluto, a solidão. Fiquei pensando o que será da leitura quando não houver,
em absoluto, silêncio.
Por anos, escrever me exigiu uma busca irrequieta por espaços calmos, espaços isolados do alvoroço
que nos cerca, que nos acossa. Quando não consegui construir a solidão em minha casa, me refugiei no
consultório abandonado do meu pai, me exilei em outro país, no apartamento dos meus avós mortos,
me recolhi em cantos ocultos de bibliotecas. Como se não pudesse ser visto, como se escrever fosse
uma subversão, um segredo.
A esta altura desisti de estar só. Me falta tempo para essas fugas, e já percebi que o mundo dispõe de
fartos recursos para me achar onde quer que eu esteja. Quando consigo ignorar seus apelos, ouçominhas filhas no quarto ao lado, brincando, rindo, cogito me juntar a elas e me reprimo. Escrever deixou
de ser ato subversivo e passou a ser, por vezes, cruel: ignoro minha filha que esmurra a porta e clama
pelo pai enquanto não termino a frase de vez. Quando elas partem, ainda não há solidão: a casa
reverbera os seus gritos, recria sua presença em infinitos objetos. Nesta casa nunca mais haverá
solidão, e tudo o que eu escrever aqui trará essa marca indelével.
(Adaptado de: FUKS, Julián. Lembremos do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 119-120)
 
Considerando-se o conjunto desse texto, o autor, ao tratar da solidão, assume
 a) pontos de vista alternativos, pois ora defende o culto do ócio, ora execra o hábito de quem a ele
se rende.
 b) uma posição dogmática, pois considera imprescindível a experiência de um retiro para que se
escreva algo pessoal.
 c) o abandono da sua convicção quanto ao imperativo da solidão absoluta para poder escrever.
 d) a desistência progressiva da solidão pela vontade maior de passar a criar num modo de parceria.
 e) a tese conclusiva de que só é possível escrever a partir do momento em que se ouvem os
reclamos sociais.
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Questão 905: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder a questão, baseie-se no texto abaixo.
 
As calçadas
 
O inglês tem um verbo curioso, to loiter, que quer dizer, mais ou menos, andar devagar ou a esmo,
ficar à toa, zanzar (grande palavra), vagabundear, ou simplesmente não transitar. E nos Estados Unidos
(não sei se na Inglaterra também), loitering é uma contravenção. Você pode ser preso por loitering,
por estar parado em vez de transitando, numa calçada. O que diferencia um abusivo loitering de uma
apenas inocente ausência de movimento ou de direção depende, imagino, da interpretação do guarda,
ou também daquela sutil subjetividade que também define o que é uma “atitude suspeita”.
 
Mas é difícil pensar em outra coisa que divida mais claramente o mundo anglo-saxão do mundo latino do
que o loitering, que não tem nem tradução exata em língua românica, que eu saiba. Se loitering
fosse contravenção na Itália, onde ficar parado na rua para conversar ou apenas para ver os que
transitam transitarem é uma tradição tão antiga quanto a sesta, metade da população viveria na cadeia.
Na Espanha, toda a população viveria na cadeia.
 
Talvez a diferença entre a América e a Europa, e a vantagem econômica da América sobre os povos que
zanzam, se explique pelos conceitos diferentes de calçada: um lugar utilitário por onde se ir (e, claro,
voltar) ou um lugar para se estar, de preferência com outros. Os franceses, apesar de latinos, não
costumam usar tanto a calçada como sala, não porque tenham se americanizado para aumentar a
produção, mas porque preferem usá-la como café, e estar com outros sentados. Desperdiça-se tempo,
mas ganham-se anos de vida, parados numa calçada.
 
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 69-70)
 
Em relação ao sentido do verbo inglês to loiter e de sua forma loitering, o cronista considera que essas
expressões
 a) não encontram tradução sequer aproximativa para o português ou outra língua românica.
 b) têm significação inteiramente subjetiva, dependendo tão somente de quem as usa.
 c) têm um significado que varia de país para país, o que impede seu reconhecimento.
 d) referem-se a uma prática social de peso e valor diversos em diferentes países.
 e) junto aos povos latinos designam um modo de se desperdiçar o tempo.
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Questão 906: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Ciência da Computação/Sistemas da
Informação/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Por que não aprendi a tocar violão? Sempre me constituiu motivo de tristeza e humilhação esta precária
musicalidade. Uns tocam piano, existe até quem toque harpa. Eu, nem ao violão me afiz. E não se diga
que era pouco o esforço de D. Chiquinha, minha mestra. Afinava, afinava, apertava as cravelhas, dava
um dó agudíssimo na prima, depois outro dó grave no bordão...
 
Eu pegava no violão de luxo que minha madrinha de crisma mandara do Pará, ajeitava-o mal e mal no
colo, começava de boa vontade: dum, dum, dum...
 
– Não! Valha-me Santa Cecília! Segunda! Mude!
 
E eu: dum, dum, dum...
 
Ai, música, divina música. D. Chiquinha carpia-se. Tanto sentimento de que ela dava exemplo, tanta
devoção empregada à toa. Eu recomeçava, dócil: primeira, segunda...
 
– D. Chiquinha, fiquei com uma bolha no dedo.
 
Já não sei como a descobrimos: decerto andava nas suas idas e vindas de casa em casa de aluno.
Cobrava dez mil-réis por mês e mais o dinheiro do bonde. Duas aulas por semana.
 
Professora de violão, o seu sonho secreto fora sempre o violino, entretanto. Nas prateleiras da sua sala,
guardava ela o seu estradivário – uma rabeca de cego, fanhosa, inválida, metida numa remendada
mortalha de veludo azul. Em certos dias de bom humor e segredo, ela pegava comovida o arco e
executava ao violino a valsa dos Sinos de Corneville.
 
Fora desfeita da sorte aquele meu fracasso, porque eu me supunha dotada e alimentava ambições.
Chegara até a pensar, não digo em concertos, mas num brilhante recital de caridade em que aparecesse
de vestido comprido (teria então uns doze anos) e, num belo contralto, cantasse ao violão certo tango
argentino da minha preferência. Mas tudo neste mundo são vaidades: jamais atingi o tango argentino.
 
Voltando a D. Chiquinha: o instrumento plebeu que ensinava constituía para minha mestra uma fonte de
dissabores. A começar pelo apelido que lhe davam: D. Chiquinha do Violão. Quando alguém o repetia
em sua frente, ela corrigia logo, irritada: – Chiquinha do Violão, não senhor. Francisca dos Santos. Violão
não é meu dono.
 
Por música clássica não tinha interesse, ou antes, a ignorava. Para D. Chiquinha, a mais requintada
manifestação de arte era a serenata. E dentro desse critério me ensinava visando talvez fazer de mim o
que ela já fora em moça – a musa de todos os seresteiros da cidade. Sim, não só objeto passivo de
canções e arpejos noturnos mas musa ativa e colaborante. O seresteiro dizia da calçada a sua trova, e lá
da penumbra da alcova a donzela tomava do violão e na mesma toada respondia. Eram essas as suas
lembranças mais queridas, aqueles duelos musicais, canta tu de lá, canto eu de cá – e entre os dois o
grupo desvanecido dos comparsas que ajudavam no acompanhamento.
 
Nos acompanhamentos, a nossa favorita era a modinha “A mais gentil das praieiras”. Dessa eu gostava
muito. Porém a mão rebelde não me acompanhava o entusiasmo.
 
(Adaptado de: QUEIROZ, Rachel. “A mais gentil das praieiras”. Melhores crônicas. São Paulo: Global Editora,
2012, 1a edição digital)
 
A narradora recorre à ironia na seguinte passagem:
 a) Eu, nem ao violão me afiz.
 b) Nas prateleiras da sua sala, guardava ela o seu estradivário.
 c) decerto andava nas suas idas e vindas de casa em casa de aluno.
 d) Mas tudo neste mundo são vaidades.
 e) Por música clássica não tinha interesse, ou antes, a ignorava.
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Questão 907: FCC - Prof B (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e Médio/Língua
Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A profecia de Frankenstein
Em 1818, Mary Shelley publicou Frankenstein, a história de um cientista que tenta criar um ser
superior e, em vez disso, cria um monstro. Nos últimos dois séculos, essa história foi contada repetidas
vezes em inúmeras variações, tornando-se o tema central de nossa nova mitologia científica. À primeira
vista, a história de Frankenstein parecenos advertir de que, se tentarmos brincar de Deus e criar vida,
seremos punidos severamente. Mas a história tem um significado mais profundo.
O mito de Frankenstein confronta o Homo sapiens com o fato de que os últimos dias deste estão se
aproximando depressa. A não ser que alguma catástrofe nuclear ou ecológica intervenha, diz a história,
o ritmo do desenvolvimento tecnológico logo levará à substituição do Homo sapiens por seres
completamente diferentes que têm não só uma psique diferente como também mundos cognitivos e
emocionais muito diferentes. Isso é algo que a maioria dos sapiens considera extremamente
desconcertante. Gostaríamos de acreditar que, no futuro, pessoas exatamente como nós viajarão de
planeta em planeta em espaçonaves velozes. Não gostamos de considerar a possibilidade de que, no
futuro, seres com emoções e identidades como as nossas já não existam e que nosso lugar seja tomado
por formas de vida estranhas cujas capacidades ofuscam as nossas.
De algum modo, encontramos conforto na fantasia de que o Dr. Frankenstein pode criar apenas
monstros terríveis, a quem deveríamos destruir a fim de salvar o mundo. Gostamos de contar a história
dessa maneira porque implica que somos os melhores de todos os seres, que nunca houve e nunca
haverá algo melhor do que nós. Qualquer tentativa de nos melhorar inevitavelmente fracassará, porque,
mesmo que nosso corpo possa ser aprimorado, não se pode tocar o espírito humano.
Teríamos dificuldade de engolir o fato de que os cientistas poderiam criar não só corpos, como também
espíritos e de que os doutores Frankenstein do futuro poderiam, portanto, criar algo verdadeiramente
superior a nós, algo que olhará para nós de modo tão condescendente quanto olhamos para os
neandertais.
(HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018, p. 423-
424)
 
O significado mais profundo que o autor do texto propõe para o Frankenstein de Mary Shelley é o de que
essa história
 a) alcança junto às gerações recentes a força de uma nova mitologia científica, representada pela
invenção de uma criatura tão poderosa quanto monstruosa.
 b) converte-se hoje numa fábula moralista, segundo a qual tudo aquilo que o homem pensa inventar
com plena originalidade traz consigo a marca do Criador.
 c) implica o temor de que nossas qualidades humanas venham a ser substituídas por uma
consciência e uma capacidade emocional superiores às nossas.
 d) afasta definitivamente a suspeita de que sejamos capazes de criar, pela ciência, aquilo que a
própria natureza não aperfeiçoou na evolução das espécies.
 e) representa, de fato, um pecado inconfessável que todos nós cultivamos intimamente, mesmo
sabendo que ele representa a nossa condenação.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2040949
Questão 908: FCC - AJ TRT5/TRT 5/Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Musa natalina
 
O ano, propriamente, se compõe de onze meses. Dezembro não conta: é só para desejar que os
restantes sejam propícios. Parece que o sistema está longe da perfeição; chegaríamos a ela num
calendário que abrangesse onze meses de bons augúrios e um de execução deles. Como está, os trinta
e um dias não chegam para imaginarmos tudo de ótimo em benefício de todo mundo. Fica sempre uma
fração larga de mundo a que não atingem os nossos desejos fraternos. China, Costa do Ouro, Oceania...
 
Mas não é preciso ir tão longe. Mesmo perto de nós, mesmo dentro de nós, as lembranças costumam
esquivar-se à apresentação espontânea, e até à convocação formal. Julgamos ter no coração um
canteiro de afetos; contudo, uma grande área nele permanece inculta e cheia de ervas, não direi
daninhas, mas ervas. O que admira não é a quantidade de pessoas a quem dedicamos um pensamento
amigo, mas a multidão, o número realmente infinito, de outras em cuja existência nem sequer
reparamos.
 
Foi para suavizar as lacunas da memória sentimental que se inventaram mensagens de boas-festas.
Contudo, seria desejável que as saudações de Natal oferecessem maior variedade, ou pelo menos
exprimissem anseios mais concretos, definindo a situação particular de cada classe ou componente dela,
e não apenas um vago ideal de felicidade. Penso que cada homem tem direito de pedir bem
determinada coisa a seu semelhante.
 
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond. Fala, amendoeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 86-
87)
 
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
 a) que os restantes sejam propícios = que os derradeiros se aprimorem
 b) esquivar-se à apresentação espontânea = mover-se à convocação avulsa
 c) suavizar as lacunas da memória = amenizar os hiatos da recordação
 d) exprimissem anseios mais concretos = realçassem intentos ponderáveis
 e) situação particular de cada classe = condição irrestrita de uma categoria
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Questão 909: FCC - Prof B (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e Médio/Língua
Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A profecia de Frankenstein
 
Em 1818, Mary Shelley publicou Frankenstein, a história de um cientista que tenta criar um ser
superior e, em vez disso, cria um monstro. Nos últimos dois séculos, essa história foi contada repetidas
vezes em inúmeras variações, tornando-se o tema central de nossa nova mitologia científica. À primeira
vista, a história de Frankenstein parece nos advertir de que, se tentarmos brincar de Deus e criar vida,
seremos punidos severamente. Mas a história tem um significado mais profundo.
 
O mito de Frankenstein confronta o Homo sapiens com o fato de que os últimos dias deste estão se
aproximando depressa. A não ser que alguma catástrofe nuclear ou ecológica intervenha, diz a história,
o ritmo do desenvolvimento tecnológico logo levará à substituição do Homo sapiens por seres
completamente diferentes que têm não só uma psique diferente como também mundos cognitivos e
emocionais muito diferentes. Isso é algo que a maioria dos sapiens considera extremamente
desconcertante. Gostaríamos de acreditar que, no futuro, pessoas exatamente como nós viajarão de
planeta em planeta em espaçonaves velozes. Não gostamos de considerar a possibilidade de que, no
futuro, seres com emoções e identidades como as nossas já não existam e que nosso lugar seja tomado
por formas de vida estranhas cujas capacidades ofuscam as nossas.
 
De algum modo, encontramos conforto na fantasia de que o Dr. Frankenstein pode criar apenas
monstros terríveis, a quem deveríamos destruir a fim de salvar o mundo. Gostamos de contar a história
dessa maneira porque implica que somos os melhores de todos os seres, que nunca houve e nunca
haverá algo melhor do que nós. Qualquer tentativa de nos melhorar inevitavelmente fracassará, porque,
mesmo que nosso corpo possa ser aprimorado, não se pode tocar o espírito humano.
 
Teríamos dificuldade de engolir o fato de que os cientistas poderiam criar não só corpos, como também
espíritos e de que os doutores Frankenstein do futuro poderiam, portanto, criar algo verdadeiramente
superior a nós, algo que olhará para nós de modo tão condescendente quanto olhamos para os
neandertais.
 
(HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018, p. 423-
424)
 
O autor trata como ilusória a convicção, desde sempre alimentada pelo Homo sapiens, de que
 a) nossa extinção está se aproximando depressa.
 b) o ritmo do desenvolvimento tecnológico logo levará à substituição de nossa espécie.
 c) nosso lugar seja tomado por formas de vida estranhas.
 d) qualquer tentativa de nos melhorar inevitavelmente fracassará.
 e) algo olhará para nós de forma tão indulgente quanto olhamos para os neandertais.
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Questão 910: FCC - Prof P (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e
Médio/Pedagogo/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Compreender o fenômeno das desigualdades escolares era um dos temas centrais de Pierre Bourdieu
(1930-2002). Até meados do século XX, as desigualdades escolares eram interpretadas como uma
questão de dom e mérito individual. Nessa perspectiva de leitura do fenômeno, impunha-se a
universalização da educação pública e gratuita e a garantia da sua qualidade, para que todos, inclusive
os nascidos em famílias das camadas populares, tivessem a oportunidade de alcançar melhores
condições de vida. Acreditava-se na seleção baseada em critérios neutros e racionais, o que também
contribuiria para o aumento da mobilidade social.
A década de 1960 é marcada, dentre outras, pela crise de uma concepção de escola e de educação.
Alguns países já haviam democratizado o acesso ao ensino público e gratuito e, a despeito disso, pouco
ou nada havia mudado. É o que demonstravam diversos estudos, patrocinados pelos governos
americano, francês e inglês acerca dos seus sistemas de ensino: o sucesso escolar, contrariando as
expectativas, não estaria ligado apenas às aptidões individuais, mas, ao contrário, estaria fortemente
associado à origem social do aluno. Nesse cenário, a proposta teórica de Bourdieu aborda, entre outras,
a problemática das desigualdades sociais em sua relação com as desigualdades escolares e, mais ainda,
considera que as últimas reproduzem o sistema de hierarquização social.
(Adaptado de: Origem social e percurso:
mérito e contingência entre egressos de um curso superior. Disponível em: DOI:
https://doi.org/10.23925/2175-3520.2021i52p10-21)
 
A partir da década de 1960, concluiu-se que havia forte associação entre
 a) o sucesso escolar e a origem social do aluno.
 b) o acesso ao ensino público gratuito e a qualidade do ensino.
 c) a seleção meritocrática e o aumento da mobilidade social.
 d) a universalização da educação pública e o sucesso do sistema de ensino.
 e) as habilidades individuais e o sucesso escolar.
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Questão 911: FCC - Prof B (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e Médio/Língua
Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A profecia de Frankenstein
 
Em 1818, Mary Shelley publicou Frankenstein, a história de um cientista que tenta criar um ser
superior e, em vez disso, cria um monstro. Nos últimos dois séculos, essa história foi contada repetidas
vezes em inúmeras variações, tornando-se o tema central de nossa nova mitologia científica. À primeira
vista, a história de Frankenstein parece nos advertir de que, se tentarmos brincar de Deus e criar vida,
seremos punidos severamente. Mas a história tem um significado mais profundo.
 
O mito de Frankenstein confronta o Homo sapiens com o fato de que os últimos dias deste estão se
aproximando depressa. A não ser que alguma catástrofe nuclear ou ecológica intervenha, diz a história,
o ritmo do desenvolvimento tecnológico logo levará à substituição do Homo sapiens por seres
completamente diferentes que têm não só uma psique diferente como também mundos cognitivos e
emocionais muito diferentes. Isso é algo que a maioria dos sapiens considera extremamente
desconcertante. Gostaríamos de acreditar que, no futuro, pessoas exatamente como nós viajarão de
planeta em planeta em espaçonaves velozes. Não gostamos de considerar a possibilidade de que, no
futuro, seres com emoções e identidades como as nossas já não existam e que nosso lugar seja tomado
por formas de vida estranhas cujas capacidades ofuscam as nossas.
 
De algum modo, encontramos conforto na fantasia de que o Dr. Frankenstein pode criar apenas
monstros terríveis, a quem deveríamos destruir a fim de salvar o mundo. Gostamos de contar a história
dessa maneira porque implica que somos os melhores de todos os seres, que nunca houve e nunca
haverá algo melhor do que nós. Qualquer tentativa de nos melhorar inevitavelmente fracassará, porque,
mesmo que nosso corpo possa ser aprimorado, não se pode tocar o espírito humano.
 
Teríamos dificuldade de engolir o fato de que os cientistas poderiam criar não só corpos, como também
espíritos e de que os doutores Frankenstein do futuro poderiam, portanto, criar algo verdadeiramente
superior a nós, algo que olhará para nós de modo tão condescendente quanto olhamos para os
neandertais.
 
(HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018, p. 423-
424)
 
No último parágrafo, com a referência que faz aos neandertais, o autor do texto
 a) desconsidera a possibilidade de que haja, efetivamente, real evolução ou aprimoramento das
espécies.
 b) questiona a superioridade que costumamos atribuir de modo incontestável e definitivo ao nosso
patamar evolutivo.
 c) desfaz a ideia de que as idades históricas possam se processar de modo a configurar algum
aperfeiçoamento das espécies.
 d) formula a hipótese de que mesmo os homens primitivos podem apresentar algumas qualidades
superiores às dos civilizados.
 e) imagina que no futuro olharemos para os neandertais com a mesma benevolência com que eles
costumam julgar a si mesmos.
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Questão 912: FCC - ACE (TCE-GO)/TCE GO/Contabilidade/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
O que será da escrita sem solidão?
 
Já não resta na minha vida nenhuma solidão. Me pergunto se haverá solidão em algum lugar, se alguém
é ainda capaz de estar só, de alcançar um estado de solidão. Não me refiro, claro, à penúria afetiva, ao
abandono, ao desamparo, males diários que se encontram por toda parte, no meio da multidão. Penso
mais num silêncio dilatadoa, vasto, num silêncio que é a ausência de notícias, de palavras, de ruídos.
Penso num retiro íntimo, um lugar em que já não se ouça a respiração ofegante do mundo.
 
Andei lendo Escrever, de Marguerite Duras, um relato de como ela construiu para si uma solidão densa,
de como só assim se tornou capaz de escrever. “A solidão é aquilo sem o qual não fazemos nada”, ela
diz. “Aquilo sem o qual já não vemos nada.” Para a escrita, nada seria mais necessário que a solidão,
algum grau de asilo pessoalb seria sua condição imprescindível. Fiquei pensando o que será da escrita
quando já não houver, em absoluto, a solidão. Fiquei pensando o que será da leitura quando não houver,
em absoluto, silêncio.
 
Por anos, escrever me exigiu uma busca irrequieta por espaços calmos, espaços isolados do alvoroço
que nos cerca, que nos acossa. Quando não consegui construir a solidão em minha casa, me refugiei no
consultório abandonado do meu pai, me exilei em outro país, no apartamento dos meus avós mortos,
me recolhi em cantos ocultos de bibliotecas. Como se não pudesse ser visto, como se escrever fosse
uma subversãoc, um segredo.
 
A esta altura desisti de estar só. Me falta tempo para essas fugas, e já percebi que o mundo dispõe de
fartos recursosd para me achar onde quer que eu esteja. Quando consigo ignorar seus apelos, ouço
minhas filhas no quarto ao lado, brincando, rindo, cogito me juntar a elas e me reprimo. Escrever deixou
de ser ato subversivo e passou a ser, por vezes, cruel: ignoro minha filha que esmurra a porta e clama
pelo pai enquanto não termino a frase de vez. Quando elas partem, ainda não há solidão: a casa
reverbera os seus gritos, recria sua presença em infinitos objetos. Nesta casa nunca mais haverá
solidão, e tudo o que eu escrever aqui trará essa marca indelével.e
 
(Adaptado de: FUKS, Julián. Lembremos do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 119-120)
 
Um segmento do texto tem seu sentidocorretamente interpretado no seguinte caso:
 a) Penso mais num silêncio dilatado = Cogito sobretudo um silenciar expandido
 b) algum grau de asilo pessoal = um certo nível de intimidação recolhida
 c) como se escrever fosse uma subversão = sendo de tal forma penosa uma escritura
 d) o mundo dispõe de fartos recursos = retiram-se da vida inúmeros expedientes
 e) trará essa marca indelével= advirá desse estigma insondável
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Questão 913: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A viagem dos elefantes
 
Hoje quero falar sobre elefantes. Sei que a morte epidêmica cobre o mundo de sombras, sei que há
desmandos, arbítrio, horror, que tudo isso merece nossa máxima atenção, mas peço licença para falar
sobre elefantes. Não do elefante em sua carnadura genérica, não da nossa incerta ideia de elefante, isso
não. O que cativa no momento minha concentração são elefantes específicos, quinze indivíduos
elefantes que fugiram de sua reserva natural e agora vagueiam por populosas províncias chinesas
causando pasmo e sobressalto. Vagueiam há mais de um ano sem rumo e sem razão, até onde
sabemos, mas é certo que nunca bem compreendemos a razão dos elefantes. “Entre falar e calar, um
elefante sempre preferirá o silêncio”, já previu Saramago.
 
A notícia poderia se confundir com um desses acontecimentos frívolos que insistem em atravessar
nossos graves e sérios, uma dessas histórias insólitas que nos distraem e nos alienam − e, sim, é bem
capaz que não passe disso. Mas se destilo aqui algumas frases a respeito, é por achar que podemos
sorver mais, que nesse caso pode haver algo de delicado e surpreendente a nos nutrir. Ou então por
guardar a convicção, na esteira do grande crítico Auerbach, de que “qualquer acontecimento, se for
possível exprimi-lo limpo e integralmente, interpretaria por inteiro a si próprio e aos seres humanos que
dele participassem”, sendo esse um dos fins últimos da literatura. Aí está, na falta da razão dos elefantes
encontrei a minha: escrevo sobre eles porque talvez possam dizer algo sobre nós, sobre nossa vontade
de fugir, nossa ânsia por liberdade, dispersão, desterro.
 
Menos que fugir, esses elefantes exploram novos mundos, aventuram-se em novos territórios. São
capazes de pisar o desconhecido sem achar que tudo sabem de partida, que não haverá nada para ver
na próxima pradaria, nada que não resulte temível ou doentio. O mundo é ainda franco e aberto aos
elefantes, o mundo é para eles o que talvez tenha chegado a ser para nós, em dia longínquo, prenhe de
futuro. Têm ainda uma chance os elefantes, é isso o que descubro, é isso o que invejo ao vê-los vagar,
entendendo enfim meu interesse excessivo.
 
(Adaptado de: FUKS, Julián. Lembremos do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 103-106, passim)
 
No 3º parágrafo do texto, o cronista conclui, como sugestiva e proveitosa lição para todos nós, que
 a) a razão da fuga dos elefantes prende-se analogamente ao motivo que produz as sucessivas
migrações contemporâneas.
 b) a iniciativa dos elefantes decorre de impulsos já programados por sua natureza, a que obedecem
cegamente, sem qualquer expectativa.
 c) o movimento dos elefantes cumpre a livre empreitada exploratória de quem avança por caminhos
sem qualquer prevenção.
 d) a desconfiança que alimentamos em relação ao futuro impede que entendamos a obsessão dos
elefantes em cumprir seu destino.
 e) a liberdade que os elefantes encontram nas pradarias faz ver quão estreitos são os limites urbanos
que nos comprimem.
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Questão 914: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
O exercício da crônica
 
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um
romancista, na qual este é levado pelas personagens e situações que criou.
 
Alguns cronistas escrevem de maneira simples e direta, sem caprichar demais no estilo, mas enfeitando-
o aqui e ali desses pequenos achados que são sua marca registrada. Outros, de modo lento e elaborado,
que o leitor deixa para mais tarde como um convite ao sono. Outros ainda, e constituem a maioria,
“tacam o peito” na máquina de escrever e cumprem o dever cotidiano da crônica como uma espécie de
desespero, numa atitude de “ou vai ou racha”.
 
Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir vida e alegria em seus leitores; e há os tristes, que
escrevem com o fito exclusivo de desanimar a gente não só quanto à vida, como quanto à condição
humana e às razões de viver. Há também os modestos, que ocultam cuidadosamente a própria
personalidade atrás do que dizem; em contrapartida, os vaidosos castigam no pronome da primeira
pessoa e colocam-se como a personagem principal de todas as situações.
 
Como se diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos esses “marginais da
imprensa”, por assim dizer, têm o seu papel a cumprir. Uns afagam vaidades, outros as espicaçam; este
é lido por puro deleite, aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a crônica, e
o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente logo pela manhã.
 
Coloque-se porém, ó leitor, ingrato leitor, no papel do cronista. Dias há em que, positivamente, a crônica
“não baixa”. O cronista levanta-se, senta-se, levanta de novo, chega à janela, põe um disco na vitrola,
dá um telefonema, relê crônicas passadas em busca de inspiração – e nada. Aí então, se ele é cronista
de verdade, ele se pega pela gola e diz: “Vamos, escreve, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre essa
cadeira que está à sua frente, e que ela seja bem feita e divirta seus leitores!” E o negócio sai de
qualquer maneira.
 
(Adaptado de: MORAES, Vinícius de. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte:
Autêntica, 2021, p. 103-104)
 
Ao afirmar que todos os cronistas têm o seu papel a cumprir (4o parágrafo), o autor se apoia no seguinte
argumento:
 a) ocultam cuidadosamente a própria personalidade (3o parágrafo).
 b) colocam-se como a personagem principal de todas as situações (3o parágrafo).
 c) os vaidosos castigam no pronome da primeira pessoa (3o parágrafo).
 d) é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo (4o parágrafo).
 e) escrevem de maneira simples e direta (2o parágrafo).
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Questão 915: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
O exercício da crônica
 
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um
romancista, na qual este é levado pelas personagens e situações que criou.
 
Alguns cronistas escrevem de maneira simples e direta, sem caprichar demais no estilo, mas enfeitando-
o aqui e ali desses pequenos achados que são sua marca registrada. Outros, de modo lento e elaborado,
que o leitor deixa para mais tarde como um convite ao sono. Outros ainda, e constituem a maioria,
“tacam o peito” na máquina de escrever e cumprem o dever cotidiano da crônica como uma espécie de
desespero, numa atitude de “ou vai ou racha”.
 
Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir vida e alegria em seus leitores; e há os tristes, que
escrevem com o fito exclusivo de desanimar a gente não só quanto à vida, como quanto à condição
humana e às razões de viver. Há também os modestos, que ocultam cuidadosamente a própria
personalidade atrás do que dizem; em contrapartida, os vaidosos castigam no pronome da primeira
pessoa e colocam-se como a personagem principal de todas as situações.
 
Comose diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos esses “marginais da
imprensa”, por assim dizer, têm o seu papel a cumprir. Uns afagam vaidades, outros as espicaçam; este
é lido por puro deleite, aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a crônica, e
o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente logo pela manhã.
 
Coloque-se porém, ó leitor, ingrato leitor, no papel do cronista. Dias há em que, positivamente, a crônica
“não baixa”. O cronista levanta-se, senta-se, levanta de novo, chega à janela, põe um disco na vitrola,
dá um telefonema, relê crônicas passadas em busca de inspiração – e nada. Aí então, se ele é cronista
de verdade, ele se pega pela gola e diz: “Vamos, escreve, ó mascarado! Escreve uma crônica sobre essa
cadeira que está à sua frente, e que ela seja bem feita e divirta seus leitores!” E o negócio sai de
qualquer maneira.
 
(Adaptado de: MORAES, Vinícius de. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte:
Autêntica, 2021, p. 103-104)
 
O autor da crônica, ao se valer da expressão
 a) “prosa fiada” (1o parágrafo), qualifica uma linguagem que constitui o desafio maior de um cronista
que deseja se passar por um romancista.
 b) “tacam o peito” (2o parágrafo), refere-se ao modo como os cronistas se aproveitam de uma
inspiração sublime para escrever.
 c) “ou vai ou racha” (2o parágrafo), alude à autodeterminação que um cronista deve ter em sua
específica rotina de escritor.
 d) “marginais da imprensa” (4o parágrafo), alude a seus colegas de ofício que desvirtuam a dignidade
do jornalismo.
 e) “não baixa” (5o parágrafo), considera o caso em que o tema encontrado pelo cronista lhe parece
erudito demais para ser desenvolvido.
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Questão 916: FCC - Prof B (SEDU ES)/SEDU ES/Ensino Fundamental e Médio/Língua
Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A profecia de Frankenstein
 
Em 1818, Mary Shelley publicou Frankenstein, a história de um cientista que tenta criar um ser
superior e, em vez disso, cria um monstro. Nos últimos dois séculos, essa história foi contada repetidas
vezes em inúmeras variações, tornando-se o tema central de nossa nova mitologia científica. À primeira
vista, a história de Frankenstein parece nos advertir de que, se tentarmos brincar de Deus e criar vida,
seremos punidos severamente. Mas a história tem um significado mais profundo.
 
O mito de Frankenstein confronta o Homo sapiens com o fato de que os últimos dias deste estão se
aproximando depressa. A não ser que alguma catástrofe nuclear ou ecológica intervenhaa, diz a história,
o ritmo do desenvolvimento tecnológico logo levará à substituiçãob do Homo sapiens por seres
completamente diferentes que têm não só uma psique diferente como também mundos cognitivos e
emocionais muito diferentes. Isso é algo que a maioria dos sapiens considera extremamente
desconcertante. Gostaríamos de acreditar que, no futuro, pessoas exatamente como nós viajarão de
planeta em planeta em espaçonaves velozes. Não gostamos de considerar a possibilidade de que, no
futuro, seres com emoções e identidades como as nossas já não existam e que nosso lugar seja tomado
por formas de vida estranhas cujas capacidades ofuscam as nossas.
 
De algum modo, encontramos conforto na fantasiac de que o Dr. Frankenstein pode criar apenas
monstros terríveis, a quem deveríamos destruir a fim de salvar o mundo. Gostamos de contar a história
dessa maneira porque implica que somos os melhores de todos os seresd, que nunca houve e nunca
haverá algo melhor do que nós. Qualquer tentativa de nos melhorar inevitavelmente fracassará, porque,
mesmo que nosso corpo possa ser aprimorado, não se pode tocar o espírito humano.
 
Teríamos dificuldade de engolir o fato de que os cientistas poderiam criar não só corpos, como também
espíritos e de que os doutores Frankenstein do futuro poderiam, portanto, criar algo verdadeiramente
superior a nós, algo que olhará para nós de modo tão condescendentee quanto olhamos para os
neandertais.
 
(HARARI, Yuval Noah. Sapiens – Uma breve história da humanidade. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018, p. 423-
424)
 
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
 a) A não ser que alguma catástrofe [...] ecológica intervenha = conquanto alguma hecatombe
ambiental permeie
 b) o ritmo do desenvolvimento tecnológico [...] levará à substituição = o frêmito da desenvoltura
científica suprimirá
 c) encontramos conforto na fantasia = acomodamos nossa verossimilhança
 d) implica que somos os melhores de todos os seres = deduz-se que somos mais avantajados que as
demais criaturas
 e) olhará para nós de modo tão condescendente = nos verá da mesma maneira complacente
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Questão 917: FCC - AJ TRT5/TRT 5/Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
A “paz da descrença”
 
Em antiga entrevista, Millôr Fernandes – um supremo humorista do nosso país – contou uma passagem
decisiva de sua história.
 
“Meu pai morreu quando eu tinha 1 ano. Minha mãe quando eu tinha 9 anos. Eu fui ao enterro, não me
lembra mais a sensação. Foi aquele momento que você nem percebe muito bem o que está
acontecendo. Mas aí eu voltei pra uma casa em que eu estava morando [...], de um tio pobre,
funcionário público, e eu me meti então embaixo da cama [...] e aí eu chorei feito um desesperado, não
tinha pai, não tinha mais ninguém, eu vivia emprestado numa casa, entende? De repente me veio uma
tranquilidade depois de eu chorar não sei quanto tempo, ninguém viu isso, e veio um sentimento que
mais tarde eu defini como “a paz da descrença”. A descrença me trouxe uma paz absoluta. O sentimento
meu a partir daí, e depois definitivamente concretizado, é que “sou eu e o destino, não tem nenhum
intermediário”, “não há interface”.
 
Assumindo-se como sujeito efetivo de sua história, Millôr salvou-se do afogamento mortal puxando-se
pelos próprios cabelos. A partir daí, se afirmou como escritor, tradutor e como um dos analistas e
intérpretes mais críticos deste país. A ‘paz da descrença’, paradoxalmente, aguçou sua lucidez
inconformada e aquele seu humor implacável que põe a nu as encenações políticas e nossas hipocrisias
pessoais. Lucidez, crítica e humor constituem, como se sabe, uma combinação fulminante.
 
(Vicente Rui Caldeira, a publicar)
 
Em seu relato, Millôr Fernandes se vale da expressão “a paz da descrença”, à qual ele chegou
 a) em meio ao processo de um luto que jamais aceitaria superar.
 b) desgarrando-se dos conflitos de quem não aceita o destino.
 c) como arremate da convicção trágica de que a vida nada vale.
 d) por meio de uma nova fé que abraçou com fervor místico.
 e) poupando-se de qualquer esforço para atingir uma paz verdadeira.
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Questão 918: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder a questão, baseie-se no texto abaixo.
 
As calçadas
 
O inglês tem um verbo curioso, to loiter, que quer dizer, mais ou menos, andar devagar ou a esmo,
ficar à toa, zanzar (grande palavra), vagabundear, ou simplesmente não transitar. E nos Estados Unidos
(não sei se na Inglaterra também), loitering é uma contravenção. Você pode ser preso por loitering,
por estar parado em vez de transitando, numa calçada. O que diferencia um abusivo loitering de uma
apenas inocente ausência de movimento ou de direção depende, imagino, da interpretação do guarda,
ou também daquela sutil subjetividade que também define o que é uma “atitude suspeita”.
 
Mas é difícil pensar em outra coisa que dividamais claramente o mundo anglo-saxão do mundo latino do
que o loitering, que não tem nem tradução exata em língua românica, que eu saiba. Se loitering
fosse contravenção na Itália, onde ficar parado na rua para conversar ou apenas para ver os que
transitam transitarem é uma tradição tão antiga quanto a sesta, metade da população viveria na cadeia.
Na Espanha, toda a população viveria na cadeia.
 
Talvez a diferença entre a América e a Europa, e a vantagem econômica da América sobre os povos que
zanzam, se explique pelos conceitos diferentes de calçada: um lugar utilitário por onde se ir (e, claro,
voltar) ou um lugar para se estar, de preferência com outros. Os franceses, apesar de latinos, não
costumam usar tanto a calçada como sala, não porque tenham se americanizado para aumentar a
produção, mas porque preferem usá-la como café, e estar com outros sentados. Desperdiça-se tempo,
mas ganham-se anos de vida, parados numa calçada.
 
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008, p. 69-70)
 
No terceiro parágrafo, ao definir uma calçada como um lugar utilitário, o cronista está considerando
 a) uma possível razão da vantagem econômica dos americanos sobre os povos que zanzam.
 b) o motivo pelo qual os espanhóis passaram a defender a razão de seu hábito preferido.
 c) uma espécie de atitude suspeita que marcaria o comportamento dos italianos.
 d) a prática do loitering tal como é adotada hoje em dia pela maioria dos franceses.
 e) o modo pelo qual os latinos impuseram aos franceses uma valorização das calçadas.
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Questão 919: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder a questão, considere um trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis.
 
Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no
cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço
de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o
presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas
chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma
sensação de propriedade.
 
– Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com
Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está
tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
 
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele
pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém,
deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião
acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer,
foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita canoa! – Antes assim! – Como
obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles estão no Céu!
 
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par
de figuras que aqui está na sala, um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a
bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada.
 
(Machado de Assis. Quincas Borba. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
 
A reflexão de Rubião no 2º parágrafo permite caracterizá-lo como
 a) calculista.
 b) altruísta.
 c) melancólico.
 d) indolente.
 e) nostálgico.
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Questão 920: FCC - ACE (TCE-GO)/TCE GO/Contabilidade/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A nuvem
− “Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem
reclamar, sem protestar, sem espinafrar!”
E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na
rua etc. etc. etc.
Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que
tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é
que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
Além disso, a verdade não está apenas nos buracos da rua e outras mazelas. Não é verdade que as
amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria
demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses
encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que
importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem
ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as
cinzas do meu crepúsculo.
E olhem só que tipo estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão –
e seus tradicionais buracos.
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana! Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, pp. 179-180)
 
O cronista Rubem Braga, comentando o teor de suas crônicas publicadas no jornal, admite que
 a) trata melhor dos detalhes próprios da vida urbana do que do bucolismo dos leitores mais
conservadores.
 b) cuida de jamais aborrecer seu público com algum excesso poético, restringindo-se ao realismo da
rotina.
 c) se preocupa por vezes excessivamente com os problemas municipais, em vez de se dedicar a
temas mais amplos.
 d) prefere relevar os aspectos mais positivos da vida emocional, em vez de sublinhar os negativos.
 e) cultiva um estilo de linguagem pelo qual o que há de mais prosaico na cidade ganha melhor
expressão.
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Questão 921: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A viagem dos elefantes
 
Hoje quero falar sobre elefantes. Sei que a morte epidêmica cobre o mundo de sombras, sei que há
desmandos, arbítrio, horror, que tudo isso merece nossa máxima atenção, mas peço licença para falar
sobre elefantes. Não do elefante em sua carnadura genéricaa, não da nossa incerta ideia de elefante,
isso não. O que cativa no momento minha concentração são elefantes específicos, quinze indivíduos
elefantes que fugiram de sua reserva natural e agora vagueiam por populosas províncias chinesas
causando pasmo e sobressalto. Vagueiam há mais de um ano sem rumo e sem razão, até onde
sabemos, mas é certo que nunca bem compreendemos a razão dos elefantes. “Entre falar e calar, um
elefante sempre preferirá o silêncio”, já previu Saramago.
 
A notícia poderia se confundir com um desses acontecimentos frívolosb que insistem em atravessar
nossos graves e sérios, uma dessas histórias insólitas que nos distraem e nos alienam − e, sim, é bem
capaz que não passe disso. Mas se destilo aqui algumas frasesc a respeito, é por achar que podemos
sorver mais, que nesse caso pode haver algo de delicado e surpreendente a nos nutrir. Ou então por
guardar a convicção, na esteira do grande críticoc Auerbach, de que “qualquer acontecimento, se for
possível exprimi-lo limpo e integralmente, interpretaria por inteiro a si próprio e aos seres humanos que
dele participassem”, sendo esse um dos fins últimos da literatura. Aí está, na falta darazão dos elefantes
encontrei a minha: escrevo sobre eles porque talvez possam dizer algo sobre nós, sobre nossa vontade
de fugir, nossa ânsia por liberdade, dispersão, desterro.
 
Menos que fugird, esses elefantes exploram novos mundos, aventuram-se em novos territórios. São
capazes de pisar o desconhecido sem achar que tudo sabem de partida, que não haverá nada para ver
na próxima pradaria, nada que não resulte temível ou doentio. O mundo é ainda franco e aberto aos
elefantes, o mundo é para eles o que talvez tenha chegado a ser para nós, em dia longínquo, prenhe de
futuro. Têm ainda uma chance os elefantes, é isso o que descubro, é isso o que invejo ao vê-los vagar,
entendendo enfim meu interesse excessivo.
 
(Adaptado de: FUKS, Julián. Lembremos do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 103-106, passim)
 
Ocorre adequada compreensão do sentido contextual de um elemento dessa crônica ao se afirmar que a
expressão
 a) em sua carnadura genérica tem o valor de “em sua significação simbólica”.
 b) acontecimentos frívolosconstitui uma classificação à qual o cronista adere ao longo de todo o
texto.
 c) destilo aqui algumas frases sugere o alto valor que empresta o autor ao seu estilo.
 d) na esteira do grande crítico afirma uma simples coincidência de pensamentos originais.
 e) Menos que fugir adverte para o fato de haver um propósito outro, distinto do aparente.
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Questão 922: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão.
Escritos de Einstein
 
O grande físico Albert Einstein não se limitou estritamente a pensar sua ciência: dedicou-se também,
nos últimos vinte anos de sua vida, a registrar suas reflexões e opiniões sobre os mais variados
assuntos. Ler esses seus artigos é usufruir da oportunidade singular de ver com que clareza ele aborda
questões profundas como o significado da ciência, as ideias fundamentais da relatividade, as ligações
entre ciência, religião e ética, a paz mundial, os riscos de destruição da humanidade e os direitos das
minorias perseguidas.
 
De suas convicções e crenças ressaltam preocupações com a decadência moral, com a defesa e a
preservação da liberdade humana e com os compromissos éticos dos cientistas. O autor não se furta a
abordar o tema polêmico das relações entre ciência e religião, para, demarcando os respectivos
domínios de ação, registrar a dimensão religiosa de sua visão de mundo − que não incorporava a ideia
de um Deus pessoal, construído à nossa imagem e semelhança.
 
Os métodos educacionais repressivos e impositivos vão merecer de Einstein críticas acerbas: o autor
defende uma educação fundada na liberdade, no estímulo à criatividade e à responsabilidade coletiva
dos jovens. Ressalta sempre que sua condição de cientista ou de celebridade não lhe confere, nas
questões de que trata, direitos distintos nem competência particular acima de outros homens e
mulheres.
 
Frequentemente criticado, de um lado, pelos conservadores − acusado de defensor do comunismo − e
de outro pela esquerda dogmática, que o vê como ingênuo e incapaz de entender as imposições da luta
de classes, Einstein faz sua profissão de fé por um socialismo fundado na liberdade e não deixa de
criticar o consumismo nem de atacar com vigor o cerceamento à liberdade nos regimes totalitários.
 
(Adaptado da “orelha” (sem indicação autoral) de
EINSTEN, Albert. Escritos da maturidade. Trad, Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1994)
 
Da leitura do último parágrafo do texto, depreende-se que Einstein
 a) frustrava os políticos mais conservadores a cada vez que parecia condescender com os valores dos
regimes autoritários.
 b) considerava o consumismo como uma tendência crescente entre aqueles que promoviam
intransigentemente a luta de classes.
 c) posicionava-se contra tendências políticas já polarizadas, acionando a liberdade de crítica e a
busca de justiça social.
 d) amparava-se nas teses mais extremadas do socialismo para evitar que os comunistas impusessem
sua visão de luta de classes.
 e) combatia os dogmatismos tanto dos conservadores quanto dos socialistas, por estarem
comprometidos ambos com um poder totalitário.
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Questão 923: FCC - ACE (TCE-GO)/TCE GO/Contabilidade/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A nuvem
 
− “Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem
reclamar, sem protestar, sem espinafrar!”
 
E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na
rua etc. etc. etc.
 
Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que
tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é
que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
 
Além disso, a verdade não está apenas nos buracos da rua e outras mazelas. Não é verdade que as
amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria
demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses
encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que
importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem
ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as
cinzas do meu crepúsculo.
 
E olhem só que tipo estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão –
e seus tradicionais buracos.
 
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana! Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, pp. 179-180)
 
Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão.
 
No excerto acima, o cronista considera que
 a) a melancolia de um carinho, mesmo acolhida com ilusório respeito, faz bem ao seu coração.
 b) recebe um carinho com doçura e maduro respeito, poupando-se da melancolia que advém das
ilusões.
 c) sua desilusão, embora funda e grave, mescla-se aos carinhos de sua vida, e acaba por lhe fazer
bem.
 d) acolhe o carinho que lhe faz bem, embora sem a gravidade de quem permite iludir-se com a
melancolia.
 e) a frouxa ilusão que tem quanto aos carinhos recebidos faz com que sua melancolia arrefeça aos
poucos.
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Questão 924: FCC - Prof (SEC BA)/SEC BA/Linguagem/Língua Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Considere a tira de André Dahmer.
 
Na tira acima, o efeito de humor é produzido sobretudo pela
 a) imagem dos dois personagens dialogando de forma cordial.
 b) referência a postagens na internet sobre tortura.
 c) naturalização da abordagem de tema polêmico.
 d) quebra de expectativa final ao se confirmar a relativização da tortura.
 e) oposição conceitual entre as duas personagens.
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Questão 925: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder a questão, considere um trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis.
 
Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no
cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço
de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o
presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas
chinelas de Túnis, que lhe deu recenteamigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma
sensação de propriedade.
 
– Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com
Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está
tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
 
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele
pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém,
deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião
acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer,
foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita canoa! – Antes assim! – Como
obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles estão no Céu!
 
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par
de figuras que aqui está na sala, um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a
bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada.
 
(Machado de Assis. Quincas Borba. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
 
Depreende-se do 3º parágrafo que
 a) o “coração” de Rubião busca ocultar o sentimento de alegria pela morte da irmã e do amigo
Quincas Borba.
 b) o “espírito” (ou seja, a razão) de Rubião busca consolar seu “coração” pela morte da irmã e do
amigo Quincas Borba.
 c) o “espírito” (ou seja, a razão) de Rubião busca se afastar do sentimento de alegria pela morte da
irmã e do amigo Quincas Borba.
 d) o “coração” de Rubião mostra-se constrangido pelo sentimento de alegria experimentado por seu
“espírito” (ou seja, por sua razão).
 e) o “espírito” (ou seja, a razão) de Rubião mostra-se orgulhoso por cercear o sentimento de alegria
experimentado por seu “coração”.
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Questão 926: FCC - AJ TRT5/TRT 5/Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
A “paz da descrença”
 
Em antiga entrevista, Millôr Fernandes – um supremo humorista do nosso país – contou uma passagem
decisiva de sua história.
 
“Meu pai morreu quando eu tinha 1 ano. Minha mãe quando eu tinha 9 anos. Eu fui ao enterro, não me
lembra mais a sensação. Foi aquele momento que você nem percebe muito bem o que está
acontecendo. Mas aí eu voltei pra uma casa em que eu estava morando [...], de um tio pobre,
funcionário público, e eu me meti então embaixo da cama [...] e aí eu chorei feito um desesperado, não
tinha pai, não tinha mais ninguém, eu vivia emprestado numa casa, entende? De repente me veio uma
tranquilidade depois de eu chorar não sei quanto tempo, ninguém viu isso, e veio um sentimento que
mais tarde eu defini como “a paz da descrença”. A descrença me trouxe uma paz absoluta. O sentimento
meu a partir daí, e depois definitivamente concretizado, é que “sou eu e o destino, não tem nenhum
intermediário”, “não há interface”.
 
Assumindo-se como sujeito efetivo de sua história, Millôr salvou-se do afogamento mortal puxando-se
pelos próprios cabelos. A partir daí, se afirmou como escritor, tradutor e como um dos analistas e
intérpretes mais críticos deste país. A ‘paz da descrença’, paradoxalmente, aguçou sua lucidez
inconformada e aquele seu humor implacável que põe a nu as encenações políticas e nossas hipocrisias
pessoais. Lucidez, crítica e humor constituem, como se sabe, uma combinação fulminante.
 
(Vicente Rui Caldeira, a publicar)
 
No terceiro parágrafo do texto, o termo paradoxalmente se deve ao fato de que, no caso de Millôr
Fernandes,
 a) a paz de espírito faz parceria com a lucidez mais convicta.
 b) o humor e a lucidez encontram um modo de se conciliarem.
 c) suas encenações políticas contrastam com nossas hipocrisias.
 d) a descrença assumida intensifica sua lucidez combativa.
 e) a crítica e a lucidez refutam sua alegada paz de espírito.
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Questão 927: FCC - Prof (SEC BA)/SEC BA/Linguagem/Língua Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Declarações textuais só devem abrir notícia ou reportagem quando forem realmente de grande
importância: O Brasil voltará a honrar seus compromissos. Com esta declaração, o ministro X pôs fim
ontem à moratória que o País havia decretado um ano antes.
 
(Disponível em: www.estadao.com.br/manualredação)
 
O trecho acima assinala uma das práticas frequentes do jornalismo, que é o uso de frases declarativas
em manchetes. Por meio delas, muitas vezes pretende-se uma informação que não indique
explicitamente a opinião do jornal, acompanhada de verbos com sentido mais neutro, como “dizer” ou
“afirmar”, sem que se confira, portanto, caráter positivo ou negativo às declarações. Apesar disso, o uso
de declarações entre aspas, sobretudo em manchetes, tem efeitos implícitos. Um de seus efeitos
MENOS prováveis é
 a) desmentir ou discordar do autor da declaração.
 b) conferir veracidade à notícia.
 c) difundir uma declaração que pode ter fim ou uso político.
 d) defender um posicionamento do jornal por meio de terceiros.
 e) capturar a atenção do leitor.
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Questão 928: FCC - Ana Ac (Pref Recife)/Pref Recife/Audiodescritor/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Todos já ouvimos falar de crianças hiperativas, que não conseguem ficar paradas; ou daquelas que
sonham acordadas e se distraem ao menor dos estímulos. Da mesma forma, é comum ouvirmos
histórias de adultos impacientes, que comumente iniciam projetos e os abandonam no meio do caminho.
Apresentam altos e baixos, são impulsivos, esquecem compromissos, falam o que lhes dá na telha.
Comportamentos como esses são característicos do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade
(TDAH), classificado pela Associação de Psiquiatria Americana (APA).
 
Quando se pensa em TDAH, logo vêm à mente imagens de um cérebro em estado de caos. Diante dessa
visão restrita, pode-se ter a ideia errônea de que pessoas com TDAH estariam fadadas ao fracasso; mas,
ao contrário disso, grande parte delas atuam nas mais diversas áreas profissionais de forma brilhante.
 
Muitas teorias têm sido elaboradas para elucidar a origem do sucesso obtido por personalidades com
comportamento TDAH nos mais diversos setores do conhecimento. Porém, a ciência não tem uma
explicação exata para esse fato; até porque o funcionamento cerebral humano não segue nenhuma
lógica aritmética previsível. Ideias, sensações e emoções não podem ser quantificadas; são
características humanas imensuráveis. Nesse território empírico, uma coisa é certa: o funcionamento
cerebral TDAH favorece o exercício da mais transcendente atividade humana: a criatividade.
 
Se entendermos criatividade como a capacidade de ver os mais diversos aspectos da vida através de um
novo prisma e então dar forma a novas ideias, notaremos que a mente TDAH, em meio à confusão
resultante do intenso bombardeio de pensamentos, é capaz de entender o mundo sob ângulos
habitualmente não explorados.
 
A hiper-reatividade é responsável pela capacidade da mente TDAH de não parar nunca. Trata-se de uma
hipersensibilidade que essa mente possui de se ligar a tudo ao mesmo tempo. Uma vez que está sempre
reagindo a si mesma, essa mente pensa e repensa o tempo todo. Esse estado de inquietação mental
permanente mantém toda uma rede de pensamentos e imagens em atividade intensa, proporcionando,assim, o terreno ideal para o exercício da criatividade.
 
(Adaptado de: SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Inquietas: TDAH − desatenção, hiperatividade e impulsividade.
São Paulo: Globo, 2014, edição digital)
 
Depreende-se que certas características do transtorno abordado no texto
 a) provocam constante ansiedade decorrente da profusão de pensamentos simultâneos.
 b) produzem empecilhos intransponíveis para o sucesso profissional.
 c) retardam, durante a infância, o desenvolvimento cognitivo e interpessoal.
 d) criam condições propícias para o surgimento da criatividade.
 e) produzem indivíduos irritadiços, mas com considerável potencial intuitivo.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/1984848
Questão 929: FCC - AJ TRT14/TRT 14/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
O meu ofício
 
O meu ofício é escrever, e sei bem disso há muito tempo. Espero não ser mal-entendida: não sei nada
sobre o valor daquilo que posso escrever. Quando me ponho a escrever, sinto-me extraordinariamente à
vontade e me movo num elemento que tenho a impressão de conhecer extraordinariamente bem: utilizo
instrumentos que me são conhecidos e familiares e os sinto bem firmes em minhas mãos. Se faço
qualquer outra coisa, se estudo uma língua estrangeira, se tento aprender história ou geografia, ou
tricotar uma malha, ou viajar, sofro e me pergunto como é que os outros conseguem fazer essas coisas.
E tenho a impressão de ser cega e surda como uma náusea dentro de mim.
 
Já quando escrevo nunca penso que talvez haja um modo mais correto, do qual os outros escritores se
servem. Não me importa nada o modo dos outros escritores. O fato é que só sei escrever histórias. Se
tento escrever um ensaio de crítica ou um artigo sob encomenda para um jornal, a coisa sai bem ruim.
O que escrevo nesses casos tenho de ir buscar fora de mim. E sempre tenho a sensação de enganar o
próximo com palavras tomadas de empréstimo ou furtadas aqui e ali.
 
Quando escrevo histórias, sou como alguém que está em seu país, nas ruas que conhece desde a
infância, entre as árvores e os muros que são seus. Este é o meu ofício, e o farei até a morte. Entre os
cinco e dez anos ainda tinha dúvidas e às vezes imaginava que podia pintar, ou conquistar países a
cavalo, ou inventar uma nova máquina. Mas a primeira coisa séria que fiz foi escrever um conto, um
conto curto, de cinco ou seis páginas: saiu de mim como um milagre, numa noite, e quando finalmente
fui dormir estava exausta, atônita, estupefata.
 
(Adaptado de: GINZBURG, Natalia. As pequenas virtudes. Trad. Maurício Santana Dias. São Paulo: Cosac Naify,
2015, p, 72-77, passim)
 
No primeiro parágrafo, a escritora confessa que seu modo de escrever lhe
 a) assegura a qualidade literária de seu texto, o que ela mesma pode reconhecer e admirar tão logo
o haja concluído.
 b) causa um misto de prazer e desconforto, já que todos dizem admirar sua escrita, sem, no entanto,
precisar a razão desse gosto.
 c) traz a sensação de uma total familiaridade com esse ofício, ao contrário de qualquer outra
atividade que se impusesse.
 d) proporciona a sensação de que, mesmo ignorando as regras desse ofício, sabe que seu mérito
literário ocorre naturalmente.
 e) impõe uma disciplina de trabalho que a leva a se satisfazer sempre com os resultados, sobretudo
quando os outros lhe reconhecem o valor.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2238086
Questão 930: FCC - AJ TRT14/TRT 14/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
O meu ofício
 
O meu ofício é escrever, e sei bem disso há muito tempo. Espero não ser mal-entendida: não sei nada
sobre o valor daquilo que posso escrever. Quando me ponho a escrever, sinto-me extraordinariamente à
vontade e me movo num elemento que tenho a impressão de conhecer extraordinariamente bem: utilizo
instrumentos que me são conhecidos e familiares e os sinto bem firmes em minhas mãos. Se faço
qualquer outra coisa, se estudo uma língua estrangeira, se tento aprender história ou geografia, ou
tricotar uma malha, ou viajar, sofro e me pergunto como é que os outros conseguem fazer essas coisas.
E tenho a impressão de ser cega e surda como uma náusea dentro de mim.
 
Já quando escrevo nunca penso que talvez haja um modo mais correto, do qual os outros escritores se
servem. Não me importa nada o modo dos outros escritores. O fato é que só sei escrever histórias. Se
tento escrever um ensaio de crítica ou um artigo sob encomenda para um jornal, a coisa sai bem ruim.
O que escrevo nesses casos tenho de ir buscar fora de mim. E sempre tenho a sensação de enganar o
próximo com palavras tomadas de empréstimo ou furtadas aqui e ali.
 
Quando escrevo histórias, sou como alguém que está em seu país, nas ruas que conhece desde a
infância, entre as árvores e os muros que são seus. Este é o meu ofício, e o farei até a morte. Entre os
cinco e dez anos ainda tinha dúvidas e às vezes imaginava que podia pintar, ou conquistar países a
cavalo, ou inventar uma nova máquina. Mas a primeira coisa séria que fiz foi escrever um conto, um
conto curto, de cinco ou seis páginas: saiu de mim como um milagre, numa noite, e quando finalmente
fui dormir estava exausta, atônita, estupefata.
 
(Adaptado de: GINZBURG, Natalia. As pequenas virtudes. Trad. Maurício Santana Dias. São Paulo: Cosac Naify,
2015, p, 72-77, passim)
 
Ao comparar diferentes modalidades de escrita, a autora afirma que
 a) sua desenvoltura ao escrever histórias lhe é muito mais natural do que na abordagem de outros
tipos de discurso.
 b) as histórias lhe trazem um prazer maior de escrever quando absorvem a linguagem própria dos
ensaios.
 c) diz coisas mais interessantes a respeito de seu país quando suas histórias se avizinham de um
artigo de jornal.
 d) escrever histórias sempre lhe pareceu tão natural quanto reportar a imaginosa conquista de outros
países.
 e) o conto foi sua primeira especialidade literária, antes de se consagrar com a invenção de novos
gêneros literários.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2238087
Questão 931: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão.
Escritos de Einstein
 
O grande físico Albert Einstein não se limitou estritamente a pensar sua ciência: dedicou-se também,
nos últimos vinte anos de sua vida, a registrar suas reflexões e opiniões sobre os mais variados
assuntos. Ler esses seus artigos é usufruir da oportunidade singular de ver com que clareza ele aborda
questões profundas como o significado da ciência, as ideias fundamentais da relatividade, as ligações
entre ciência, religião e ética, a paz mundial, os riscos de destruição da humanidade e os direitos das
minorias perseguidas.
 
De suas convicções e crenças ressaltam preocupações com a decadência moral, com a defesa e a
preservação da liberdade humana e com os compromissos éticos dos cientistas. O autor não se furta a
abordar o tema polêmico das relações entre ciência e religião, para, demarcando os respectivos
domínios de ação, registrar a dimensão religiosa de sua visão de mundo − que não incorporava a ideia
de um Deus pessoal, construído à nossa imagem e semelhança.
 
Os métodos educacionais repressivos e impositivos vão merecer de Einstein críticas acerbas: o autor
defende uma educação fundada na liberdade, no estímulo à criatividade e à responsabilidade coletiva
dos jovens. Ressalta sempre que sua condição de cientista ou de celebridade não lhe confere, nas
questões de que trata, direitos distintos nem competência particular acima de outros homens e
mulheres.
 
Frequentemente criticado, de um lado, pelos conservadores − acusado de defensor do comunismo − e
deoutro pela esquerda dogmática, que o vê como ingênuo e incapaz de entender as imposições da luta
de classes, Einstein faz sua profissão de fé por um socialismo fundado na liberdade e não deixa de
criticar o consumismo nem de atacar com vigor o cerceamento à liberdade nos regimes totalitários.
 
(Adaptado da “orelha” (sem indicação autoral) de
EINSTEN, Albert. Escritos da maturidade. Trad, Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1994)
 
Ao abordar o tema polêmico das relações entre ciência e religião, o grande físico
 a) reservou-se o direito de negar a distinção corrente entre a imagem de Deus e a de um cientista
criador.
 b) considerou a inegável vantagem do pensamento racionalista sobre os testemunhos de fé religiosa.
 c) adotou a posição ambígua de um religioso que submete sua fé às comprovações próprias da
ciência.
 d) julgou estéreis as divergências, preferindo salvaguardar os valores tradicionais em que uma e
outra se baseiam.
 e) colocou-se na perspectiva de quem assumia o âmbito de uma religiosidade à margem do
personalismo divino.
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Questão 932: FCC - Prof (SEC BA)/SEC BA/Ciências da Natureza/Sociologia/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de Sol
O índio tinha despido
O português.
(ANDRADE, Oswald. Erro de Português)
 
Publicado no contexto do movimento modernista, o poema
 a) lamenta o processo de colonização e a consequente dominação da cultura europeia sobre a cultura
ameríndia.
 b) evoca o rompimento definitivo com as heranças culturais portuguesas a partir da Proclamação da
República.
 c) exalta o sentimento patriótico estimulado pela campanha “O petróleo é nosso” do governo de
Getúlio Vargas.
 d) elogia, juntamente com o Cinema Novo, o desenvolvimento industrial nacional promovido pelo
governo de Juscelino Kubitschek.
 e) alerta para a questão ambiental valendo-se da ironia para salientar as mudanças climáticas
geradas pelo aquecimento global.
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Questão 933: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Brincadeiras de criança
 
Entre as crianças daquele tempo, na hora de formar grupos pra brincar, alguém separava as sílabas
enquanto ia rodando e apontando cada um com o dedo: “Lá em ci-ma do pi-a-no tem um co-po de ve-
ne-no, quem be-beu mor-reu, o cul-pa-do não fui eu”. Piano? Qual? Veneno? Por quê? Morreu? Quem?
Tratava-se de uma “parlenda”*, como aprendi bem mais tarde, mas podem chamar de surrealismo,
enigma, senha mágica, charada...
 
Mesmo as nossas cartilhas de alfabetização tinham seus mistérios: uma das lições iniciais era a frase “A
macaca é má”, com a ilustração de uma macaquinha espantada e a exploração repetida das sílabas “ma”
e “ca”. Ponto. Nenhuma história? Por que era má a macaquinha? Depois aprendi que “má macaca” é um
parequema**. A gente vai ficando sabido e ignorando o essencial. O que, afinal, teria aprontado a má
macaquinha da cartilha?
 
A grande poeta Orides Fontela usou como epígrafe de um de seus livros de alta poesia (Helianto, 1973)
esta popular quadrinha de cantiga de roda:
 
“Menina, minha menina,
Faz favor de entrar na roda
Cante um verso bem bonito
Diga adeus e vá-se embora”
 
Ou seja: brincando, brincando, eis a nossa vida resumida, em meio aos densos poemas de Orides, a
nossa vida, em que cada um de nós se apresenta aos outros, busca dizer com capricho a que veio no
tempinho que teve e...adeus. Podem soar fundo as palavras mais inocentes: “ir-se embora”, depois da
viva roda... E ir-se embora sem saber mais nada daquele copo de veneno em cima do piano ou da
macaquinha da cartilha, eternamente condenada a ser má. Ir-se embora já ouvindo bem ao longe as
vozes das crianças cantando na roda.
 
* parlenda: palavreado utilizado em brincadeiras infantis ou jogos de memorização.
** parequema: repetição de sons ou da sílaba final de uma palavra, no início da palavra seguinte.
 
(Adaptado de: MACEDÔNIO, Faustino. Casos de almanaque, a publicar)
 
O autor do texto afirma que
 a) há nas parlendas a exploração de um sentido racional das palavras que somente mais tarde se
revelará.
 b) o didatismo das cartilhas escolares se manifesta em fábulas simples que encerram ensinamentos
morais.
 c) a sabedoria adquirida ao longo da vida não responde a dúvidas essenciais que remontam à
infância.
 d) versos cantados em brincadeiras de roda servem aos sentimentos mais ingênuos e
inconsequentes.
 e) há nas cantigas de roda um claro sentimento vivido na infância que se confirma na vida adulta.
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Questão 934: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Ciência da Computação/Sistemas da
Informação/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Qual é a principal obra que produzem os autores e narradores dos novos gêneros autobiográficos? Um
personagem chamado eu. O que todos criam e recriam ao performar as suas vidas nas vitrines
interativas de hoje é a própria personalidade.
 
A autoconstrução de si como um personagem visível seria uma das metas prioritárias de grande parte
dos relatos cotidianos, compostos por imagens autorreferentes, numa sorte de espetáculo pessoal em
diálogo com os demais membros das diversas redes.
 
Por isso, os canais de comunicação das mídias sociais da internet são também ferramentas para a
criação de si. Esses instrumentos de autoestilização agora se encontram à disposição de qualquer um.
Isso significa um setor crescente da população mundial, mas também, ao mesmo tempo, remete a outro
sentido dessa expressão. “Qualquer um” significa ninguém extraordinário, em princípio, por ter
produzido alguma coisa excepcional, e que tampouco se vê impelido a fazê-lo para virar um personagem
público. A insistência nessa ideia de que “agora qualquer um pode” encontra-se no cerne das louvações
democratizantes plasmadas em conceitos como os de “inclusão digital”, recorrentes nas análises mais
entusiastas destes fenômenos, tanto no âmbito acadêmico como no jornalístico.
 
Em que pese a suposta liberdade de escolha de cada usuário, há códigos implícitos e fórmulas bastante
explícitas para o sucesso dessa autocriação.
 
As diversas versões dessas personalidades que performam em múltiplas telas admitem certa
variabilidade individual, mas costumam partir de uma base comum. Essa modalidade subjetiva que hoje
triunfa está impregnada com alguns vestígios do estilo do artista romântico, mas não se trata de alguém
que procura produzir uma obra independente do seu criador. Ao invés disso, toda a energia e os
recursos estilísticos estão dirigidos a que esse autor de si mesmo seja capaz de criar um personagem
dotado de uma personalidade atraente. Trata-se de uma obra para ser vista e, nessa exposição, a obra
precisa conquistar os aplausos do público. É uma subjetividade que se autocria em contato permanente
com o olhar alheio, algo que se cinzela a todo momento para ser compartilhado, curtido, comentado e
admirado. Por isso, trata-se de um tipo de construção de si alterdirigida, recorrendo aos conceitos
propostos pelo sociólogo David Riesman, no livro A multidão solitária.
 
(Adaptado de: Paula Sibilia. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Contraponto, edição digital)
 
A construção de si “alterdirigida” (5o parágrafo) resulta no desejo de
 a) criar uma versão melancólica de si mesmo, com base na personalidade de heróis românticos.
 b) moldar o próprio caráter, voltando-se para “dentro” de si mesmo.
 c) obter a aprovação alheia, forjando uma subjetividade voltada para o olhar do expectador.
 d) buscar o equilíbrio psicológicopara lidar com o excesso de informações externas.
 e) adquirir o respeito dos que estão, no âmbito do trabalho, em posições hierárquicas superiores.
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Questão 935: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Ciência da Computação/Sistemas da
Informação/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Qual é a principal obra que produzem os autores e narradores dos novos gêneros autobiográficos? Um
personagem chamado eu. O que todos criam e recriam ao performar as suas vidas nas vitrines
interativas de hoje é a própria personalidade.
 
A autoconstrução de si como um personagem visível seria uma das metas prioritárias de grande parte
dos relatos cotidianos, compostos por imagens autorreferentes, numa sorte de espetáculo pessoal em
diálogo com os demais membros das diversas redes.
 
Por isso, os canais de comunicação das mídias sociais da internet são também ferramentas para a
criação de si. Esses instrumentos de autoestilização agora se encontram à disposição de qualquer um.
Isso significa um setor crescente da população mundial, mas também, ao mesmo tempo, remete a outro
sentido dessa expressão. “Qualquer um” significa ninguém extraordinário, em princípio, por ter
produzido alguma coisa excepcional, e que tampouco se vê impelido a fazê-lo para virar um personagem
público. A insistência nessa ideia de que “agora qualquer um pode” encontra-se no cerne das louvações
democratizantes plasmadas em conceitos como os de “inclusão digital”, recorrentes nas análises mais
entusiastas destes fenômenos, tanto no âmbito acadêmico como no jornalístico.
 
Em que pese a suposta liberdade de escolha de cada usuário, há códigos implícitos e fórmulas bastante
explícitas para o sucesso dessa autocriação.
 
As diversas versões dessas personalidades que performam em múltiplas telas admitem certa
variabilidade individual, mas costumam partir de uma base comum. Essa modalidade subjetiva que hoje
triunfa está impregnada com alguns vestígios do estilo do artista romântico, mas não se trata de alguém
que procura produzir uma obra independente do seu criador. Ao invés disso, toda a energia e os
recursos estilísticos estão dirigidos a que esse autor de si mesmo seja capaz de criar um personagem
dotado de uma personalidade atraente. Trata-se de uma obra para ser vista e, nessa exposição, a obra
precisa conquistar os aplausos do público. É uma subjetividade que se autocria em contato permanente
com o olhar alheio, algo que se cinzela a todo momento para ser compartilhado, curtido, comentado e
admirado. Por isso, trata-se de um tipo de construção de si alterdirigida, recorrendo aos conceitos
propostos pelo sociólogo David Riesman, no livro A multidão solitária.
 
(Adaptado de: Paula Sibilia. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Contraponto, edição digital)
 
No texto, a autora
 a) enaltece o conceito de inclusão digital na seara do jornalismo.
 b) mostra-se avessa à ideia de usar recursos estilísticos para construir uma personalidade digital.
 c) mostra-se indiferente à criação das “vitrines interativas” da contemporaneidade.
 d) opõe-se à noção de autoconstrução de si como um personagem visível nas redes sociais.
 e) assinala que qualquer um pode se transformar num personagem público mesmo sem produzir algo
notável.
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Questão 936: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
Brincadeiras de criança
 
Entre as crianças daquele tempo, na hora de formar grupos pra brincar, alguém separava as sílabas
enquanto ia rodando e apontando cada um com o dedo: “Lá em ci-ma do pi-a-no tem um co-po de ve-
ne-no, quem be-beu mor-reu, o cul-pa-do não fui eu”. Piano? Qual? Veneno? Por quê? Morreu? Quem?
Tratava-se de uma “parlenda”*, como aprendi bem mais tarde, mas podem chamar de surrealismo,
enigma, senha mágica, charada...
 
Mesmo as nossas cartilhas de alfabetização tinham seus mistérios: uma das lições iniciais era a frase “A
macaca é má”, com a ilustração de uma macaquinha espantada e a exploração repetida das sílabas “ma”
e “ca”. Ponto. Nenhuma história? Por que era má a macaquinha? Depois aprendi que “má macaca” é um
parequema**. A gente vai ficando sabido e ignorando o essencial. O que, afinal, teria aprontado a má
macaquinha da cartilha?
 
A grande poeta Orides Fontela usou como epígrafe de um de seus livros de alta poesia (Helianto, 1973)
esta popular quadrinha de cantiga de roda:
 
“Menina, minha menina,
Faz favor de entrar na roda
Cante um verso bem bonito
Diga adeus e vá-se embora”
 
Ou seja: brincando, brincando, eis a nossa vida resumida, em meio aos densos poemas de Orides, a
nossa vida, em que cada um de nós se apresenta aos outros, busca dizer com capricho a que veio no
tempinho que teve e...adeus. Podem soar fundo as palavras mais inocentes: “ir-se embora”, depois da
viva roda... E ir-se embora sem saber mais nada daquele copo de veneno em cima do piano ou da
macaquinha da cartilha, eternamente condenada a ser má. Ir-se embora já ouvindo bem ao longe as
vozes das crianças cantando na roda.
 
* parlenda: palavreado utilizado em brincadeiras infantis ou jogos de memorização.
** parequema: repetição de sons ou da sílaba final de uma palavra, no início da palavra seguinte.
 
(Adaptado de: MACEDÔNIO, Faustino. Casos de almanaque, a publicar)
 
As “brincadeiras de criança”, anunciadas pelo título do texto, são depois especificadas como
 a) jogos de palavras aparentemente sem sentido, mas que não tardam a revelar-se como
formulações carregadas de claro ensinamento.
 b) construções verbais encantatórias, seja pelo mistério que encerram, seja pela utilidade ou
animação das palavras de que se fazem.
 c) demonstrações da fértil imaginação infantil, que cria e elabora palavras nascidas de suas
experiências lúdicas.
 d) práticas nascidas da fantasia adulta, criadas para entreter as crianças e remover delas os
sentimentos do medo e da dúvida.
 e) criações linguísticas de caráter didático, cujo intuito essencial é estimular nas crianças o hábito da
investigação científica.
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Questão 937: FCC - AJ TRT14/TRT 14/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
A chama é bela
 
Nos anos 1970 comprei uma casa no campo com uma bela lareira, e para meus filhos, entre 10 e 12
anos, a experiência do fogo, da brasa que arde, da chama, era um fenômeno absolutamente novo. E
percebi que quando a lareira estava acesa eles deixavam a televisão de lado. A chama era mais bela e
variada do que qualquer programa, contava histórias infinitas, não seguia esquemas fixos como um
programa televisivo.
 
O fogo também se faz metáfora de muitas pulsões, do inflamar-se de ódio ao fogo da paixão amorosa. E
o fogo pode ser a luz ofuscante que os olhos não podem fixar, como não podem encarar o Sol (o calor
do fogo remete ao calor do Sol), mas devidamente amestrado, quando se transforma em luz de vela,
permite jogos de claro-escuro, vigílias noturnas nas quais uma chama solitária nos obriga a imaginar
coisas sem nome...
 
O fogo nasce da matéria para transformar-se em substância cada vez mais leve e aérea, da chama rubra
ou azulada da raiz à chama branca do ápice, até desmaiar em fumaça... Nesse sentido, a natureza do
fogo é ascensional, remete a uma transcendência e, contudo, talvez porque tenhamos aprendido que ele
vive no coração da Terra, é também símbolo de profundidades infernais. É vida, mas é também
experiência de seu apagar-se e de sua contínua fragilidade.
 
(Adaptado de: ECO, Umberto. Construir o inimigo. Rio de Janeiro: Record, 2021, p. 54-55)
 
O autor lembra queo fogo se presta a ser percebido em níveis fundamentalmente antagônicos quando
contrasta as expressões
 a) a lareira estava acesa // experiência do fogo (1º parágrafo)
 b) contava histórias infinitas // não seguia esquemas fixos (1º parágrafo)
 c) luz ofuscante // não podem encarar o sol (2º parágrafo)
 d) jogos de claro-escuro // vigílias noturnas (2º parágrafo)
 e) natureza ascensional // profundidades infernais (3º parágrafo)
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Questão 938: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Administrativa/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Atenção: Para responder à questão.
Escritos de Einstein
O grande físico Albert Einstein não se limitou estritamente a pensar sua ciência: dedicou-se também,
nos últimos vinte anos de sua vida, a registrar suas reflexões e opiniões sobre os mais variados
assuntos. Ler esses seus artigos é usufruir da oportunidade singular de ver com que clareza ele aborda
questões profundas como o significado da ciência, as ideias fundamentais da relatividade, as ligações
entre ciência, religião e ética, a paz mundial, os riscos de destruição da humanidade e os direitos das
minorias perseguidas.
De suas convicções e crenças ressaltam preocupações com a decadência moral, com a defesa e a
preservação da liberdade humana e com os compromissos éticos dos cientistas. O autor não se furta a
abordar o tema polêmico das relações entre ciência e religião, para, demarcando os respectivos
domínios de ação, registrar a dimensão religiosa de sua visão de mundo − que não incorporava a ideia
de um Deus pessoal, construído à nossa imagem e semelhança.
Os métodos educacionais repressivos e impositivos vão merecer de Einstein críticas acerbas: o autor
defende uma educação fundada na liberdade, no estímulo à criatividade e à responsabilidade coletiva
dos jovens. Ressalta sempre que sua condição de cientista ou de celebridade não lhe confere, nas
questões de que trata, direitos distintos nem competência particular acima de outros homens e
mulheres.
Frequentemente criticado, de um lado, pelos conservadores − acusado de defensor do comunismo − e
de outro pela esquerda dogmática, que o vê como ingênuo e incapaz de entender as imposições da luta
de classes, Einstein faz sua profissão de fé por um socialismo fundado na liberdade e não deixa de
criticar o consumismo nem de atacar com vigor o cerceamento à liberdade nos regimes totalitários.
(Adaptado da “orelha” (sem indicação autoral) de
EINSTEN, Albert. Escritos da maturidade. Trad, Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1994)
 
Ao abordar, na plena maturidade, assuntos gerais que transcendiam o estrito campo da Física, Einstein
 a) foi aclamado por radicais de ideologias contrárias, por conta de suas flutuantes adesões.
 b) foi contraditado por quem passou a ver nele apenas um cientista ingênuo e incompetente.
 c) assumiu a condição de um intelectual versátil que suplantou um físico de valor relativo.
 d) revelou-se um cientista seriamente comprometido com a defesa dos valores humanos.
 e) integrou o campo político dos intelectuais que militaram nas trincheiras revolucionárias.
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Questão 939: FCC - Prof (SEC BA)/SEC BA/Linguagem/Língua Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto abaixo para responder à questão.
 
Brasil inventou a fuzarca e precisa exportar a tecnologia do furdunço
 
País da algazarra, alvoroço, arruaça, baderna, bagunça e bafafá tem uma desordem que há de nos levar
ao progresso
 
1. Duvido que tenha alguma língua no mundo com tanta palavra pra bagunça quanto a nossa. E o léxico
não vem do grego ou do latim: nossos termos pra desordem nasceram por aqui, às vezes sem pai nem
mãe.
 
2. Bagunça, por exemplo: tem pais desconhecidos, assim como furdunço e fuzuê. O Brasil inventou a
fuzarca − ou talvez o contrário.
 
3. Auê, fuzuê, frege, bafafá, rebuliço. Qualquer falante do português saberá do que trata essas palavras,
mesmo que nunca as tenha ouvido. Escarcéu e banzeiro vieram do mar. O primeiro é a onda gigante, o
segundo é o mar agitado, e ambos passaram a designar agitação de gente que se comporta como o
mar.
 
4. Minha vó chamava de murundum um baú cheio de cartas e fotos − corruptela de murundu, sinônimo
de barafunda, aquele amontoado de qualquer coisa. Tenho pena das bagunças obsoletas, que morreram
com o tempo. Ninguém nunca me chamou pra uma patuscada, um salsifré, um bailarico. Gandaia ainda
se usa, mas só pra cair nela. Já ninguém se levanta pra uma gandaia.
 
5. Baderna veio da Marietta − a bailarina italiana que fez um sucesso estrondoso no Rio ao misturar
danças africanas e balé clássico − isso em 1850. Proibida de dançar lundu nos palcos, passou a dançar
ao ar livre, no largo da Carioca, junto com africanos escravizados.
 
6. Baderna virou, primeiro, sinônimo de beleza, depois de tumulto: seus fãs, os badernistas, protestaram
contra a proibição fazendo o que melhor sabiam fazer: fuzuê. (Chamei minha filha de Marieta por causa
dela, e os nomes têm força: quando não está no balé, está na bagunça − geralmente nos dois.)
 
7. Arruaça quem faz são os outros − e geralmente quem acusa é a imprensa. Quando a polícia chega, o
que podia ser um tumulto vira quebra-pau. Perceba que, quando a confusão vira porradaria, ela ganha
um hífen: se transforma num quebra-quebra, um pega- pra-capar, um deus-nos-acuda, um salve-se-
quem-puder, uma casa-da-mãe-joana, vulgo casa-da-sogra (pobre da sogra chamada Joana).
 
8. Alvoroço vem do árabe, onde servia pra designar um tipo muito específico de confusão: os gritos de
alegria que a gente dá ao receber alguém querido. Algazarra também vem dos mouros, mas designa um
tipo de tumulto mais específico: o banzeiro que o Exército mouro promovia antes de atacar, pra assustar
o inimigo. Os árabes, assim como nós, tinham pós-graduação em gritaria.
 
9. Gosto das palavras que servem pra designar ao mesmo tempo uma forma de confusão e uma forma
de comida − sururu, sarapatel, angu de caroço. Grande parte da nossa culinária tem origem na
bagunça. Não é só o prato que parece um murundum, mas também a ocasião em que se come: não se
degusta um sururu sem promover um sarapatel, e vice-versa. Galhofa já significou banquete, até virar
sinônimo de bagunça, e hoje virou humor fácil − no teatro, quando o comediante perde a mão, alerta-
se, na coxia: “Cuidado com a galhofa”.
 
10. Tem ritmo que leva a confusão no nome: pagode, forró e frevo já significaram balbúrdia, antes de
ela se organizar em notas musicais. Até hoje carregam a confusão em que nasceram, e, assim que as
notas soam, logo se promove um furdunço. Um pagode, quando tocado sozinho, não é um pagode, mas
outra coisa. Pra virar pagode precisa de alguém atrapalhando quem toca. Forró precisa de pelo menos
três pessoas, uma tocando e duas dançando. Frevo precisa de uma cidade inteira.
 
11. Dominamos, como ninguém, a tecnologia do furdunço. Tudo o que funciona, no Brasil, do forró ao
sarapatel, conseguimos através de algazarra. Toda tentativa de moralizar o galinheiro saiu pela culatra: a
ordem só levou ao regresso. O progresso só alcançamos na fuzarca − sem cair na galhofa jamais. Não
existe contradição entre o balé e a bagunça.
 
(DUVIVIER, Gregório. “Brasil inventou a fuzarca e precisa exportar a tecnologia do furdunço”. Folha de São Paulo
[online], São Paulo, 15 fev. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acessado em: 15 set. 2022)
 
No último parágrafo, o autor brinca com a frase Ordem e Progresso, presente na bandeira brasileira. Para
o autor,
 a) a história do Brasil foi construída com fuzarca, mas é preciso ordem para alcançar o progresso.
 b) o progresso do país não será alcançado através da ordem, mas apenas através da fuzarca.
 c) o país vai se desenvolver através da ordem, mas sem perder a capacidade de fazer fuzarca.
 d)as tentativas de trazer ordem ao Brasil obtiveram algum sucesso, mas não o êxito completo.
 e) a permanência da fuzarca no Brasil levará o país ao regresso, comprometendo a ordem.
Esta questão não possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2296955
Questão 940: FCC - Prof (SEC BA)/SEC BA/Linguagem/Língua Portuguesa/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Leia o texto abaixo para responder à questão.
 
Brasil inventou a fuzarca e precisa exportar a tecnologia do furdunço
 
País da algazarra, alvoroço, arruaça, baderna, bagunça e bafafá tem uma desordem que há de nos levar
ao progresso
 
1. Duvido que tenha alguma língua no mundo com tanta palavra pra bagunça quanto a nossa. E o léxico
não vem do grego ou do latim: nossos termos pra desordem nasceram por aqui, às vezes sem pai nem
mãe.
 
2. Bagunça, por exemplo: tem pais desconhecidos, assim como furdunço e fuzuê. O Brasil inventou a
fuzarca − ou talvez o contrário.
 
3. Auê, fuzuê, frege, bafafá, rebuliço. Qualquer falante do português saberá do que trata essas palavras,
mesmo que nunca as tenha ouvido. Escarcéu e banzeiro vieram do mar. O primeiro é a onda gigante, o
segundo é o mar agitado, e ambos passaram a designar agitação de gente que se comporta como o
mar.
 
4. Minha vó chamava de murundum um baú cheio de cartas e fotos − corruptela de murundu, sinônimo
de barafunda, aquele amontoado de qualquer coisa. Tenho pena das bagunças obsoletas, que morreram
com o tempo. Ninguém nunca me chamou pra uma patuscada, um salsifré, um bailarico. Gandaia ainda
se usa, mas só pra cair nela. Já ninguém se levanta pra uma gandaia.
 
5. Baderna veio da Marietta − a bailarina italiana que fez um sucesso estrondoso no Rio ao misturar
danças africanas e balé clássico − isso em 1850. Proibida de dançar lundu nos palcos, passou a dançar
ao ar livre, no largo da Carioca, junto com africanos escravizados.
 
6. Baderna virou, primeiro, sinônimo de beleza, depois de tumulto: seus fãs, os badernistas, protestaram
contra a proibição fazendo o que melhor sabiam fazer: fuzuê. (Chamei minha filha de Marieta por causa
dela, e os nomes têm força: quando não está no balé, está na bagunça − geralmente nos dois.)
 
7. Arruaça quem faz são os outros − e geralmente quem acusa é a imprensa. Quando a polícia chega, o
que podia ser um tumulto vira quebra-pau. Perceba que, quando a confusão vira porradaria, ela ganha
um hífen: se transforma num quebra-quebra, um pega- pra-capar, um deus-nos-acuda, um salve-se-
quem-puder, uma casa-da-mãe-joana, vulgo casa-da-sogra (pobre da sogra chamada Joana).
 
8. Alvoroço vem do árabe, onde servia pra designar um tipo muito específico de confusão: os gritos de
alegria que a gente dá ao receber alguém querido. Algazarra também vem dos mouros, mas designa um
tipo de tumulto mais específico: o banzeiro que o Exército mouro promovia antes de atacar, pra assustar
o inimigo. Os árabes, assim como nós, tinham pós-graduação em gritaria.
 
9. Gosto das palavras que servem pra designar ao mesmo tempo uma forma de confusão e uma forma
de comida − sururu, sarapatel, angu de caroço. Grande parte da nossa culinária tem origem na
bagunça. Não é só o prato que parece um murundum, mas também a ocasião em que se come: não se
degusta um sururu sem promover um sarapatel, e vice-versa. Galhofa já significou banquete, até virar
sinônimo de bagunça, e hoje virou humor fácil − no teatro, quando o comediante perde a mão, alerta-
se, na coxia: “Cuidado com a galhofa”.
 
10. Tem ritmo que leva a confusão no nome: pagode, forró e frevo já significaram balbúrdia, antes de
ela se organizar em notas musicais. Até hoje carregam a confusão em que nasceram, e, assim que as
notas soam, logo se promove um furdunço. Um pagode, quando tocado sozinho, não é um pagode, mas
outra coisa. Pra virar pagode precisa de alguém atrapalhando quem toca. Forró precisa de pelo menos
três pessoas, uma tocando e duas dançando. Frevo precisa de uma cidade inteira.
 
11. Dominamos, como ninguém, a tecnologia do furdunço. Tudo o que funciona, no Brasil, do forró ao
sarapatel, conseguimos através de algazarra. Toda tentativa de moralizar o galinheiro saiu pela culatra: a
ordem só levou ao regresso. O progresso só alcançamos na fuzarca − sem cair na galhofa jamais. Não
existe contradição entre o balé e a bagunça.
 
(DUVIVIER, Gregório. “Brasil inventou a fuzarca e precisa exportar a tecnologia do furdunço”. Folha de São Paulo
[online], São Paulo, 15 fev. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acessado em: 15 set. 2022)
 
Segundo o autor,
 a) embora sejam sinônimas, algumas palavras usadas para fazer referência a arruaça podem indicar
uma gradação da confusão entre os envolvidos.
 b) alguns sinônimos de bagunça no português brasileiro vieram de países como a Itália, como é o
caso de baderna.
 c) para os árabes, a palavra alvoroço tem o sentido de alegria, o que a distancia do significado de
baderna no Brasil.
 d) algumas palavras usadas para designar confusão hoje fazem referência a tipos de comida,
abandonando seu sentido original.
 e) no Brasil, ainda é comum as pessoas convidarem alguém para ir a uma gandaia, mesmo que esse
termo já seja mais antigo.
Esta questão não possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/2296950
Questão 941: FCC - AJ TRT14/TRT 14/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
A chama é bela
 
Nos anos 1970 comprei uma casa no campo com uma bela lareira, e para meus filhos, entre 10 e 12
anos, a experiência do fogo, da brasa que arde, da chama, era um fenômeno absolutamente novo. E
percebi que quando a lareira estava acesa eles deixavam a televisão de lado. A chama era mais bela e
variada do que qualquer programa, contava histórias infinitas, não seguia esquemas fixos como um
programa televisivo.
 
O fogo também se faz metáfora de muitas pulsões, do inflamar-se de ódio ao fogo da paixão amorosa. E
o fogo pode ser a luz ofuscante que os olhos não podem fixar, como não podem encarar o Sol (o calor
do fogo remete ao calor do Sol), mas devidamente amestrado, quando se transforma em luz de vela,
permite jogos de claro-escuro, vigílias noturnas nas quais uma chama solitária nos obriga a imaginar
coisas sem nome...
 
O fogo nasce da matéria para transformar-se em substância cada vez mais leve e aérea, da chama rubra
ou azulada da raiz à chama branca do ápice, até desmaiar em fumaça... Nesse sentido, a natureza do
fogo é ascensional, remete a uma transcendência e, contudo, talvez porque tenhamos aprendido que ele
vive no coração da Terra, é também símbolo de profundidades infernais. É vida, mas é também
experiência de seu apagar-se e de sua contínua fragilidade.
 
(Adaptado de: ECO, Umberto. Construir o inimigo. Rio de Janeiro: Record, 2021, p. 54-55)
 
Discorrendo sobre o fogo, o autor alude ao
 a) seu sentido metafórico quando usa a expressão inflamar-se de ódio.
 b) espetáculo pirotécnico de suas chamas quando fala em paixão amorosa.
 c) calor físico que dele emana ao dizer que sua natureza é ascensional.
 d) seu valor puramente simbólico ao qualificá-lo como chama rubra ou azulada.
 e) poder de sua irradiação crescente com a expressão devidamente amestrado.
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Questão 942: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Interpretação de Textos (compreensão)
Para responder a questão, considere um trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis.
 
Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no
cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço
de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o
presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas

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