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(Mariana Moreno) “Sejam todos e todas bem-vindos ao EaD do Centro Universitário Fametro” O Centro Universitário Fametro acredita que o papel de uma instituição de ensino é formar não apenas profissionais, mas também formar profissionais no Ensino Superior, com valores éticos, humanísticos e com respeito ao meio ambiente capazes de contribuir para o desenvolvimento da nossa Amazônia. A Fametro, portanto, tem premissas claras a cumprir como instituição de ensino de qualidade. Praticar o ensino, pesquisa e extensão é a sua principal bandeira. A Fametro, ao longo das últimas duas décadas, vem se consolidando como a melhor instituição de ensino do Norte, um espaço democrático e docentes com variadas visões de mundo. Somos uma instituição de ensino plural que avança a cada ano em busca sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa estrutura é moderna, estamos em diversos municípios levando uma educação inclusiva e de qualidade. Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a experiência em estudar numa instituição com o corpo docente com mestres e doutores e de qualidade de ensino comprovada pelo MEC. Maria do Carmo Seffair Reitora UNIDADE I - A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA Cultura: conceitos Distinção entre natureza e cultura: questões sobre o conceito de natureza Filosofia: conceito e origem O conhecimento: capacidade humana de entender, apreender e compreender Teoria do conhecimento, ciência e técnica Su m ár io 16 17 21 24 25 UNIDADE II - A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO MUNDO DE HOJE A formação histórica da Filosofia Os principais períodos e escolas filosóficas: dos pré-socráticos aos contemporâneos Período do helenismo: a busca pela felicidade Filosofia Medieval: as filosofias de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino O nascimento da Filosofia Moderna: o Período Renascentista UNIDADE III - O PAPEL DOS VALORES DE NOSSA SOCIEDADE A Ética e a Filosofia Diferenças entre ética e moral Do estabelecimento de valores e sua importância: um estudo axiológico A dimensão moral da vida social A conduta humana 35 36 49 58 62 94 98 99 101 103 UNIDADE IV - REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA NO TRABALHO E NA CIDADANIA A ética e as empresas: uma relação histórica Ética e responsabilidade social na contemporaneidade A importância da ética no trabalho As questões da atividade profissional a partir da ética A filosofia e a ética no campo profissional hoje Referências Caderno de Exercícios 112 115 117 122 122 128 141 U ni da de 1 Videoaula 1 Videoaula 2 Videoaula 3 Videoaula 4 Videoaula 5 13 Mostrar a importância da Filosofia como área de conheci- mento humano em nossos dias é uma tarefa complicada mediante o mundo em que vivemos. Depara- mo-nos com a seguinte indagação: fazer Filosofia tem alguma utili- dade nos dias de hoje? Este tipo de pergunta é recorrente e não ocorre em relação às demais áreas de investigação científica, como se fosse uma espécie de precon- ceito a respeito da Filosofia, seja ela de humanas (como a Socio- logia), de exatas (como a Física), A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA 14 Anotações: seja da biológica (como a Medicina Veterinária). Não cabem, pois, os argumentos do senso co- mum responder esta questão a respeito de sua possível utilidade. No entanto, faz-se necessário estar inserido na dinâmica de pensamentos e de teorias fundamentais da Filosofia para alcançar a compreensão de sua importância em nossas vidas. Para muitos, pessoas que tomam o conceito contemporâneo de utilidade, como forma de medir seu tempo apreendido, seja pelo trabalho, seja pelo estudo, a Filosofia não poderia estar inserida na hierarquia de importância vital do conhecimento porque ela não teria o potencial de interferir, de forma imediata, no mundo que nos cerca. Assim, podemos pensar que a Filosofia estaria na categoria de forma de conhecimento sem valor de troca, isto é, que não gera lucro, pois a sua finalidade não está inserida somente nas relações de produção. Segundo Chauí (2011), a Filosofia não está limitada ao conjunto de ciências práticas que servem apenas de pontes para a evolução das técnicas de produção. A Filosofia pode ser compreendida como uma das formas de conhecimento que pensa e repensa a produção teórica de grandes filósofos e filósofas, desde o período clássico, isto é, desde a Grécia Antiga, trazendo uma luz sobre os paradoxos da vida contemporânea ou respondendo mesmo que, indiretamente aos problemas que circundam a humanidade e a sociedade desde a antiguidade. Vemos, por exemplo, a investigação filosófica em torno da cultura, da política e da arte como alguns dos campos de seu interesse. Nos estudos filosóficos, convencionou- se a ideia de que a filosofia está inteiramente 15 Anotações:relacionada à busca da verdade universal. Apesar desta ideia de busca da verdade não ser mais um consenso entre nós, filósofos, há de se reconhecer que tal ideia é uma base muito importante para tratar de temas fundamentais da humanidade. Um dos filósofos mais importantes e conhecidos da história do pensamento, o alemão Arthur Schopenhauer (2014, p. 1380), escreveu em sua obra O mundo como vontade e como representação, Tomo de número II, que “o tema da Filosofia se limita ao mundo, à natureza, à essência do mundo, e que é o único resultado honesto que a Filosofia pode nos dar.” Assim, pensar sobre a essência das coisas que nos cercam é uma manifestação da reflexão pré-científica, capaz de entender o mundo em seu interior. Os pensadores contemporâneos franceses, Guattari e Deleuze (2007) sugerem, na obra O que é a Filosofia?, escrita por eles, que a Filosofia é uma disciplina que, de forma rigorosa, cria conceitos. Os conceitos são formas abstratas construídas pelo pensamento humano. É a partir deles que se constitui a investigação filosófica. A exemplo do que são conceitos, podemos citar os termos mencionados: política, arte e cultura. Estes três substantivos femininos são formas conceituais do entendimento humano e que possuem funções distintas dentro da dinâmica social. Podemos, inclusive, compreender a política e a arte como manifestações derivadas do conceito de cultura. Para iniciarmos nossos estudos, começare- mos resumindo a investigação a respeito de um dos conceitosfundamentais do campo filosófico. A sa- ber, trata-se da cultura. 16 Anotações: CULTURA: CONCEITOS Segundo Hale e Wright (1995), a cultura é tudo aquilo que está relacionado ao que se estabelece como conhecimento (ciência), costumes (moral e ética), religião (crença), jurisdição (lei e justiça), e arte (artesanato e técnica) criados pelo ser huma- no, e que não pode ser é repassado geneticamente como conhecimento natural, inato. É a cultura, como veremos a seguir, que nos diferencia das de- mais espécies animais. Antes de tudo, é preciso compreender como o conceito de cultura foi uti- lizado ao longo da história do pensamento humano. O pesquisador Cuche (2002), de acordo com Godoy e Santos (2014), afirma que o termo “cultura”, no sentido figurado passa a ser usado com mais frequência no século XVIII, inicialmente, seguido de um complemento, “cultura das artes”, “cultura das letras”, “cultura das ciências”, como se fosse necessário que a coisa cultivada estivesse explicitada. Em seguida, para designar a “formação”, e a “educação” do espírito, Cuche (2002) comenta que em um dado momento posterior, num movimento contrário, aqueles termos perdem o seu significado de “cultura” como expressão de uma ação (a ação de instruir), passando a “cultura” como um estado, ou seja, um estado de espírito cultivado pela instrução, um estado em que o indivíduo possui cultura. O termo Cultura apareceu pela primeira vez na língua francesa, no século XVIII, só depois difundido em outras línguas, como a alemã e a inglesa. Ainda, para Cuche (2002), a cultura é própria do ser humano, além de toda a distinção de povos 17 Anotações:ou de classes. A palavra “cultura”, no século XVIII, é empregada no singular, refletindo o universalismo e o humanismo dos filósofos (GODOY; SANTOS, 2014). Desse modo, pode-se dizer que “Cultura” se inscreve na ideologia do Iluminismo, na medida em que a palavra é associada às ideias de progresso, de evolução, de educação, e da razão que estão no centro do pensamento da época, conforme afirmam os autores. A seguir, veremos a distinção entre os conceitos de cultura e de natureza dentro dos estudos da Filosofia, bem como de outras áreas de conhecimento. DISTINÇÃO ENTRE NATUREZA E CULTURA: QUESTÕES SOBRE O CONCEITO DE NATUREZA A filósofa Chauí (2011) afirma que distinguir o que é o natural e o cultural não é uma tarefa fácil, uma vez que criamos e transformamos nosso meio convertendo o natural em cultural, porém o contrário é impossível. Expõe ainda as questões da natureza e da cultura. Segundo ela, ser capaz de distinguir entre os conceitos de natureza e cultura é requisito fundamental para qualquer estudante de filosofia. Natureza é tudo aquilo que nos rodeia, que existe por si mesmo e que, portanto, não depende do ser humano. Por outro lado, entende-se por cultura tudo aquilo que é pensado e construído pelo ser humano. Assim, a cultura é uma característica exclusiva do ser humano, portanto, só existe porque nós existimos. O ser humano, por ser um ente da natureza, primordialmente, é também um 18 Anotações: animal como tantos outros. No entanto, nós nos diferenciamos graças à aquisição da consciência, uma consequência do processo evolutivo de nossa espécie. Ainda, segundo Chauí (2011), percebemos que são nossas ações que transformam o nosso meio. Ações essas designadas como trabalho, outro conceito fundamental para esse estudo. Temos noções sobre nós, as ideias de passado, presente e futuro. A autora enfatiza que adquirimos conhecimento, ou ao menos, algum entendimento sobre a realidade que nos cerca, ao intervir sobre ela. Isso tudo é permitido devido à consciência que possuímos dos fenômenos no mundo. Para a filósofa, significa o “saber de si”. Neste sentido, a natureza de alguma coisa é o conjunto de qualidades, propriedades e atributos que a definem, é seu caráter ou sua índole inata, espontânea. Aqui, Natureza se opõe às ideias do que seria acidental (o que pode ser ou deixar de ser) e do que pode ser adquirido por costume ou pela relação com as circunstâncias; organização universal e necessária dos seres segundo uma ordem regida por leis naturais (CHAUÍ, 2000). Podemos pensar que a Natureza é caracteriza- da da seguinte forma: há um ordenamento entre os seres, há um parâmetro que regula os fenômenos, ou as ocorrências naturais. Neste sentido, po- demos dizer que se trata de uma regularidade, uma frequência, uma constância e uma repetição de encadeamentos das ocorrências e fenômenos naturais. Em alguns casos, são fixos, outros em transformação. Tudo isto pode ser observado pela ótica da relação de causalidade que há nas ocorrên- 19 Anotações:cias da Natureza. Em outros termos, a Natureza é a ordem e a conexão universal é necessária entre as coisas que nos cercam, e que se expressam em leis naturais, tudo o que existe no universo sem a intervenção da vontade e da ação humana (CHAUÍ, 2000). Podemos definir o que é próprio à natureza da seguinte maneira: é tudo aquilo que não é produzido artificialmente pelas mãos do ser humano, a exemplo de um artefato de barro, um artifício mecânico, uma técnica de produção de cadeiras ou algo mais avançado, como a tecnologia da informação. Natural é tudo quanto se produz e se desenvolve sem qualquer interferência humana; um conjunto de tudo quanto existe e é percebido pelos humanos como o meio e o ambiente no qual estamos inseridos. Para Descola (2005), a divisão entre nature- za e cultura e a demarcação de fronteiras entre humanos e não humanos, como vimos, têm sido colocadas de forma recorrente no pensamen- to antropológico contemporâneo. Essas grandes divisões são tematizadas atualmente por antro- pólogos que têm buscado a revalorização do que é político-metafísica. Isto porque, deriva de um pensamento que pode ser classificado como “ani- mista” ou “panpsiquista”, tendo como ponto de par- tida as cosmologias indígenas da Amazônia. Assim, o antropólogo recuperou o termo “animismo” para designar uma ontologia particular que contrasta o “naturalismo” ocidental com outras ontologias pos- síveis. Há muito tempo, sabe-se que existem povos que não concebem a natureza como um domínio exterior e manejável, que está disponível para os 20 Anotações: seres humanos. Assim, fica claro que eles ofere- cem imagens de outras relações possíveis com os seres não humanos e com os quais compartilhamos a nossa existência. Claro, não se trata de idealizar o outro, a alteridade, mas, sim, de reconhecer que, ao estudar outras culturas, a antropologia apresenta ao campo de investigação filosófica outros mundos possíveis a partir dos quais poderíamos repensar os nossos modelos e valores, assim como, talvez, as dimensões da crise ambiental e civilizatória em que nos encontramos (DESCOLA, 2005). Mas afinal, o que é a Cultura? Segundo Laraia (2001), a primeira constatação formal sobre o conceito de cultura foi desenvolvida por Edward Tylor que a entendia de forma etnográ- fica, como um complexo sistema social que abarca crença, conhecimento, moral, arte, costumes e leis. Portanto, é tudo aquilo que pode ser realizado pelo ser humano. A cultura é assim, o aprimoramento da espécie humana através da educação. Uma outra compreensão de cultura é aquela formulada a partir do século XVIII, em que tem início a separação e, posteriormente, a oposição entre Natureza e Cultura. Pesquisadores da área filosófica consideram, sobretudo, que isto se deu a partir de Kant. Essa compreensão filosófica postula, que há uma diferença entre o homem e a natureza em suas essências: a natureza opera, mecanicamente, de acordo com leis necessárias de causa e efeito. Já o homem, enquanto espécie, é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, 21 Anotações:de acordo com valores e fins. Desta forma, a cultura tornou-se sinônimo de História. Se, por um lado, a natureza é o reino da repetição, a cultura, por outro, é lugar da transformaçãoracional. Portanto, é a relação dos humanos com o tempo e no tempo (CHAUÍ, 2000). A partir do que foi exposto, podemos agora falar mais sobre o que é a Filosofia em seu amplo aspecto. A seguir abordaremos sobre o conceito de filosofia e o método adotado por ela para compreender o mundo. FILOSOFIA: CONCEITO E ORIGEM Em conformidade com Costa (2004), no manual de Filosofia, a palavra ‘Filosofia’ é composta por duas palavras gregas: Philos que, em grego, significa amor, e Sophia, que significa sabedoria. Assim, a Filosofia significa amor pela sabedoria. Marcondes (1997) afirma que a Filosofia é uma forma de pensamento que se originou na Grécia Antiga, numa data não específica, mas que tem por sugestão histórica o século VI a.C. A palavra, como a conhecemos, foi utilizada pela primeira vez por Pitágoras no século VI a.C., um filósofo e matemático bem conhecido. Já a palavra filósofo significa “aquele que ama a sabedoria” e tem amizade pelo saber, que deseja o saber. “Assim, a filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, a estima, a procura e o respeito” (CHAUÍ, 2000, p. 19). Uma das bases fundamentais para o surgimen- to da Filosofia, como área de conhecimento, advém do pensamento racional sobre a natureza. Isto quer 22 Anotações: dizer que seu surgimento deriva justamente de uma oposição às explicações sobrenaturais ou míticas, que eram consideradas formas de conhecimento pré-filosóficas. Para Marcondes (1997), se hoje po- demos pensar de forma racional e científica sobre as ocorrências do mundo, foi porque a emergência para o nascimento de um novo tipo de conhecimento sobre o mundo, revelou a necessidade de pensá-lo de forma reflexiva. Então, foi a partir dos primeiros filósofos, cuja necessidade de entender como o mundo funcionava sem explicações antinaturais, que se deu o início da filosofia. Logo, pode-se afir- mar que as formas de entendimento sobre o mundo, anteriores à filosofia, foram caracterizadas como insuficiente para compreendê-lo. Podemos dizer dessa forma que, desde a antiguidade, a surpresa e o espanto perante o mundo levaram o homem a formular questões sobre a origem e a razão do universo e, a buscar o sentido da própria existência. Segundo a Filosofia, todos os aspectos da cultura humana podem ser objetos de reflexão. Para Costa (2004), o homem, naquele período em que se convencionou chamar de primitivo, não filosofava. Os mitos foram inscritos na mente humana pela necessidade de explicar a natureza, que para o homem era completamente desconhecida. O salto evolutivo da biologia humana possibilitou ao ser humano pensar sobre essas questões que o cercavam. Se o mito serviu como uma forma de explicação do mundo, a Filosofia, enquanto uma forma de conhecimento não biológico da espécie humana, surgiu a partir da vontade e do desejo de saber (COSTA, 2004). 23 Anotações:Foi na própria natureza (na physis) que os primeiros filósofos encontraram uma explicação para o mundo. Isto significa dizer que as explicações sobre o seu funcionamento se concentraram nas causas naturais. É no próprio mundo que os homens podiam encontrar a sua própria compreensão, não em causas externas a ele. Deste modo, a Filosofia é uma forma de conhecimento para explicar a realidade. O seu surgimento representou, portanto, uma ruptura profunda em relação ao conhecimento mítico (MARCONDES, 1997). O Método da Filosofia A palavra método vem do grego "méthodos", sendo formada pelo prefixo metá, “além de”, “através de”, “para”, e pelo radical odós, “caminho”. Poder-se- ia, então, traduzir o método por “caminho para” ou, então, “prosseguimento”, “pesquisa”. Método é um processo intelectual de abordagem de qualquer problema mediante a análise prévia e sistemática de todas as vias possíveis de acesso a uma solução. Opõe-se, portanto, a um modo de trabalho atrelado, exclusivamente, à improvisação ou à inspiração repentina. Todo método, seja na Filosofia ou em qualquer outro campo de conhecimento, tem por finalidade formular ou buscar afirmações, previsões, expli- cações, no caso específico da Filosofia, descobrir meios para chegar a uma reflexão mais precisa e eficaz sobre o eu, o outro e o mundo externo, isto é, entender a natureza. Entretanto, ainda segundo o autor, os métodos úteis para solucionar um certo conjunto de problemas podem ser totalmente inefi- 24 Anotações: cazes para resolver outros conjuntos de problemas. Pode-se, então, distinguir os métodos filosóficos do método puramente científico. O CONHECIMENTO: CAPACIDADE HUMANA DE ENTENDER, APREENDER E COMPREENDER Figura 1: O Pensador de Rodin De acordo com Chauí (2013), conhecimento, oriundo do latim cognoscere, “ato de conhecer”, tal como a origem etimológica da palavra indica, é o ato ou efeito de conhecer. No conhecimento, temos dois elementos básicos: o sujeito (cognoscente) e o objeto (cognoscível). O cognoscente é o indivíduo capaz de adquirir conhecimento ou o indivíduo que possui a capacidade de conhecer. Já o cognoscível é o que se pode conhecer. O tema “conhecimento” inclui descrições, hipó- teses, conceitos, teorias, princípios e procedimen- tos que são úteis ou verdadeiros. A ciência que es- 25 Anotações:tuda o conhecimento é a gnoseologia. Atualmente, existem vários conceitos para esta palavra, sendo de ampla compreensão que conhecimento é aquilo que se sabe sobre algo ou alguém. Dessa forma, o conhe- cimento está associado com a pragmática, ou seja, relaciona-se com alguma coisa existente no “mundo real” do qual temos uma experiência direta. Ainda em conformidade com Chauí (2013), o conhecimento pode ser também apreendido como um processo ou como um produto. Quando nos referimos a uma acumulação de teorias, ideias e conceitos, o conhecimento surge como um produto resultante dessas aprendizagens, mas como todo produto é indissociável de um processo, podemos, então, olhar o conhecimento como uma atividade intelectual por meio da qual é feita a apreensão de algo exterior à pessoa. TEORIA DO CONHECIMENTO, CIÊNCIA E TÉCNICA Atualmente, discute-se sobre a relação entre ciência e conhecimento e seus aspectos históricos. A esse respeito, há várias teorias que descrevem a inter-relação entre o conhecimento científico no campo prático e teórico. Silva (2013) salienta que a ciência foi responsável por uma nova forma de pensar e agir do homem, trazendo um equilíbrio na resolução de problemas que antes eram inimagináveis e, isso, levou-o a olhar o problema com outros olhos e trilhar novos horizontes (CRUZ, 2018). Neste contexto, Silva (2013) afirma que a ciência possui sua origem no termo em latim 26 Anotações: “scientia”, que significa conhecimento. É plausível destacar a estreita relação entre a ciência e o conhecimento, sendo este disponível a todo indivíduo em sociedade. No entanto, é importante ressaltar que a ciência, de modo geral, não se traduz em uma verdade total, em princípios imutáveis e ou intransigíveis (CRUZ, 2018). Na ciência, convencionou-se fazer classifi- cações a partir de duas áreas do conhecimento, sendo: 1) as ciências da natureza, que busca com- preender os fenômenos da natureza; 2) aquela que se convencionou chamar de ciências humanas, que buscam entender os fenômenos sociais e culturais. Augusto Comte, filósofo francês e expoente da cor- rente Positivista do século XIX, classificou as ciên- cias do seguinte modo: as abstratas, que tratam das questões teóricas e universalistas; e as concretas, que tratam dos recortes particulares e específicos. Este ponto de vista de Comte contraria o ideal de Aristóteles, que dividia as ciências em teórica ou es- peculativa (metafísica), o que, por sua vez, limitava o conhecimento à reprodução cognitiva da realidade (CRUZ, 2018). Para Tesser (1994), a Filosofia é uma exten- sa área do saber humano que se divide em muitos campos de análise, e um deles é a teoria do conhec-imento. É claro que os gregos já pensavam e conhe- ciam as coisas, mas foi apenas no período moderno que esse campo filosófico se consolidou. O princi- pal fator que contribuiu para esse evento foi a bus- ca pelas certezas de Descartes, que culminou em muitas críticas, de modo que as diferentes formas de conhecer o mundo ficaram mais evidentes. Chama-se Teoria do Conhecimento tudo aquilo que se refere ao desenvolvimento do conhecimento 27 Anotações:humano. Entre os assuntos mais tematizados, neste campo teórico, estão a distinção entre conhecimento e opinião, conhecimento científico e conhecimento comum, a observação dentro do conhecimento, conhecimento empírico, raciocínios indutivo e abdutivo, entre outras questões (UNESP, 2013). Na verdade, o conhecimento passou por etapas evolutivas e a mais elevada, a última delas, é o conhecimento científico. Nele, verifica-se o real em sua abstração. Pensa-se sobre os conceitos e os princípios, sejam leis naturais ou da cosmologia (MARCONDES, 1997). A teoria do conhecimento busca, portanto, compreender o modo pelo qual o homem conhece as coisas. Essa busca se dá, basicamente, através de duas perguntas: o que é o conhecimento? Como nos conhecemos? Muitos filósofos se dedicaram seriamente a essas questões, de modo que se tornaram grandes referências no assunto. Para Aranha (2012), o método adotado pela filosofia para resolver esse problema é a divisão do assunto em duas partes: fontes primárias e possibilidades de conhecimento. Segundo Marcondes (1997), no período clássico havia uma distinção entre a teoria e a técnica. Sobre a teoria, Aristóteles indicava que, tal saber é definido pela observação das ocorrências no mundo e que não tem finalidade imediata ou prática na vida de quem reflete sobre o mundo. A teoria é um tipo de saber cuja finalidade está em si mesma porque traz satisfação ao descobrir a natureza do homem. Isto representa aquele mencionado desejo de conhecer, que falamos anteriormente. Este tipo de saber é gratuito, e a sua gratuidade quando 28 Anotações: relacionada à abstração do pensamento é capaz de revelar o seu grau superior em relação à técnica. Contudo, a concepção grega clássica de que havia um distanciamento entre teoria e técnica, foi superada com os filósofos modernos Galileu Galilei e Francis Bacon. A partir de suas reflexões, a ciência e a técnica foram pensadas em conjunto. A técnica passou a ser uma forma de aplicação do conhecimento científico, que pode ser considerado como uma prática da teoria científica (MARCONDES, 1997). De acordo com Soliveréz (1992), a ciência é comparada à mãe da técnica. Para ele, a técnica está intimamente ligada ao modo de “como se deve fazer”. Já a ciência, insere-se nos conhecimentos necessários para se pôr em prática a utilização da técnica (CRUZ, 2018). Marcondes (1997) nos lembra que houve uma revolução científica a partir de 1543, com a obra de Nicolau Copérnico, intitulada Sobre a revolução dos orbes celestes. Os orbes celestes (planetas) passaram a ser compreendidos pelos cálculos matemáticos, trazendo um novo entendimento sobre o modelo cosmológico, logo: o Sol é o centro e a Terra apenas um astro que gira em torno do sistema heliocêntrico. Em outras palavras, a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário, como se acreditava antes da teoria matemática de Copérnico ser publicada. Acreditava-se, desde a teoria formulada por Ptolomeu, no século II, que a Terra era o centro do universo, um astro imóvel. Este sistema ficou conhecido como geocêntrico. Podemos, então, reconhecer que uma das principais mudanças que ocorreram ao longo da 29 Anotações:história, no método científico, esteve ancorada numa inversão de ordem de prioridades. A ciência moderna traz como fundamento analisar os fenômenos e observá-los (MARCONDES, 1997). Como mostramos, paralelamente ao desenvolvimento da ciência, a técnica caminhou a passos largos para a situação de cientificação. Há um evidente desenvolvimento da técnica atrelado ao progresso das ciências modernas (SOLIVERÉZ, 1992). A seguir, mostraremos a História da Filosofia. U ni da de 2 Videoaula 1 Videoaula 2 Videoaula 3 Videoaula 4 Videoaula 5 32 Anotações: 33 Pesquisadores renomados da área da Filosofia como Chauí (2000), Cotrim (2017), Cortella (2013) e ARA- NHA (2003) afirmam que este cam- po de conhecimento é uma forma de aprender a pensar e refletir, des- pertando o nosso senso crítico, o que nos auxilia na construção de uma visão mais ampla do mundo. Por isso, a Filosofia ainda é de suma importân- cia no mundo de hoje, mesmo que muitos não saibam o seu significado ou acreditem que ela possua serven- tia utilitarista. A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO MUNDO DE HOJE 34 Anotações: Para Cortella (2013), é a filosofia que estimula a consciência e nos ajuda na formulação do nosso caráter moral. A verdadeira importância da filosofia está no efeito que ela causa sobre as pessoas, tornando-as mais livres para uma postura crítica e questionadora. Por esses e outros motivos, a Filosofia é tão importante no mundo atual, pois ajuda as pessoas a desenvolverem uma visão mais humanista. Deste modo, a Filosofia possui um valor que transcende o seu significado conceitual, pois atravessa inteiramente o modo de vida do indivíduo. Podemos afirmar que alguns não são guiados por doutrinas ou crenças que os orientem e, nesse sentido, é que a Filosofia torna-se uma área de conhecimento que supera o seu significado científico, uma vez que é capaz de dar às pessoas uma forma de conhecimento racional, com o qual podem pensar. Vemos ao longo da sua história, pensadores passarem a seguir uma corrente filosófica. Isto significou que a espécie humana alcançou o interesse em buscar objetos e, ao mesmo tempo, dirigir o seu próprio comportamento. Observa-se isto na corrente conhecida como estoicismo, que busca dominar as emoções humanas. A epicurista que vai à procura da felicidade que é alcançada mediante o prazer. A cristã, que sai em busca da salvação através da graça e dos ensinamentos de Jesus Cristo. Cada uma dessas correntes levou o ser humano a uma forma de pensar a vida e o mundo, bem como a um tipo de comportamento (COSTA, 2004). Assim, podemos dizer que a Filosofia traz a nos- sa espécie o desejo do conhecimento de si próprio, 35 Anotações:faz refletir sobre o nosso lugar no universo e na socie- dade, sempre buscando a verdade. Dessa forma, ela está disponível à descoberta para todos nós. Veremos a seguir, a formação histórica da Filosofia e seus desdobramentos. A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA FILOSOFIA Spinelli (2003) diz que a fase de origem da Filosofia, entendida como uma maneira de pensar totalmente nova, originou-se na Grécia no final do século VII e início do século VI a.C (–para outros pesquisadores filósofos, o período que abarca o surgimento da Filosofia é de VI e V, a.C.–), ocor- reu, a rigor, na região da Jônia (Grécia), onde as cidades eram movimentadas pelos mercantis do mar Mediterrâneo e, por isso, tinham grande con- centração de intelectuais. O pesquisador ainda afirma que foi, precisamente, na cidade de Mileto onde surgiram os três primeiros filósofos (Tales, Anaximandro e Anaxímenes), que tinham ideias que rejeitavam as explicações tradicionais baseadas na religião e na mitologia e buscavam, assim, apresen- tar uma teoria cosmológica baseada em fenômenos observáveis. Apresentamos essa questão na uni- dade anterior. Podemos observar, contudo, que as carac- terísticas da Filosofia não são encontradas so- mente na escola de Mileto, mas também em di- versos pensadores daquele período, chamados de pensadores pré-socráticos, pois surgiram antes de Sócrates. Assim, os primeiros filósofos con- tribuíram com o desenvolvimento filosófico e através deles, surgiram as primeiras noções que 36 Anotações: buscavam compreender a realidade e que funda- mentaram alguns dos conceitos e das teoriassobre a natureza (MARCONDES 1997). A seguir veremos os períodos de cada escola e corrente filosófica. OS PRINCIPAIS PERÍODOS E ESCOLAS FILOSÓFICAS: DOS PRÉ-SOCRÁTICOS AOS CONTEMPORÂNEOS A partir deste tópico, veremos com mais aprofundamento que a Filosofia grega Pré- Socrática foi a primeira corrente de pensamento, surgida por volta do século VI a.C., na Grécia Antiga. Belo (2015) afirma que os primeiros filósofos, aqueles antes de Sócrates, interessavam-se pelas questões do Universo e dos fenômenos naturais, buscando explicá-los por meio do conhecimento racional. Podemos afirmar que se trata de um conhecimento pré-científico. O período pré-socrático foi o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões prendem-se a entender a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que se encontra na origem da natureza e de suas transformações), ponto crucial de toda formulação filosófica. Pitágo- ras, por exemplo, desenvolve seu pensamento de- fendendo a ideia de que tudo preexiste a partir da alma, já que ela é imortal. Já Demócrito e Leucipo defendem a formação de todas as coisas a partir da existência dos átomos (BELO, 2015). Os primeiros traços da Filosofia grega pré-socrática surgem com Tales de Mileto, comerciante e estudioso, ha- bitante da região da Jônia, conjunto de ilhas gre- gas situadas no atual território turco. Segundo a 37 Anotações:História, Tales era um exímio matemático, astrôno- mo e estrategista que previu, no ano de 585 a.C., o acontecimento de um eclipse total do Sol, por meio de cálculos matemáticos e previsões astronômicas (BELO, 2015). As escolas jônica, eleática e pitagórica são consideradas as principais do período. Da Jônia, surgiram os físicos: Tales de Mileto (625-546 a.C.), Anaximandro (611-547 a.C.), Anaxímenes (570-547 a.C.) e Heráclito (544-480 a.C.). Eles buscaram explicar o desenvolvimento da natureza em sua essência comum a todas as coisas, além de propagar a ideia do movimento contínuo (eterno). Foi Heráclito quem afirmou a contradição e a dinâmica no mundo. Segundo ele, quando entramos num rio, ele não é o mesmo, nem nós somos os mesmos ao sair dele. A sua frase mais conhecida é: “não nos banhamos duas vezes no mesmo rio” (COSTA, 2004). A escola jônica trouxe ao pensamento humano o caráter crítico, pois as teorias formuladas por seus pensadores não se fundamentavam pelo dogmatismo, isto é, as suas teorias não eram apresentadas como verdades absolutas. Através delas, poderia suscitar-se discussões que divergissem ou discordassem completamente delas, portanto, eram passíveis de crítica (MARCONDES, 1997). Da escola de Eléa, surgiram filósofos como Empédocles (483-430 a.C.), Parmênides (530- 460) e Anaxágoras (499-428 a.C.). Para esses, não há mudanças nas coisas, já que a unidade e a imobilidade são elementos do ser (a essência do mundo). Zenon, outro pensador eleata, conceituou o paradoxo da lógica, que é quando uma conclusão, 38 Anotações: cuja contradição interna de um enunciado é derivada de premissas válidas, no entanto, uma delas pode não ser verdadeira. Ele fundamentou a base para que os filósofos de épocas diferentes buscassem soluções para tal paradoxo. Podemos dizer que esta escola tinha, como um de seus interesses, questões em torno da coerência racional, possibilitando o surgimento da lógica como ciência (COSTA, 2004). Porém, o filósofo mais conhecido desta escola é Parmênides, que foi quem introduziu a distinção entre a realidade e a aparência. Segundo ele, a realidade é única, imóvel, eterna, imutável, por isso, o movimento seria, em sua superficialidade, algo aparente (MARCONDES, 1997). A escola atomista, por sua vez, tem como característica afirmar que o Universo é constituí- do de átomos que são indivisíveis, infinitos (logo eternos), que estão reunidos de modo aleatório. Seus representantes foram Leucipo e Demócrito (460-370 a.C.). Demócrito é o mais conhecido por ter sido o primeiro a traçar um esboço do materialismo determinista (COSTA, 2004). O filósofo Pitágoras (582-500 a.C.) foi de Sa- mos, na região da Jônia. Contudo, apesar de sua ori- gem, ele foi para a Itália, onde fundou outra escola. Assim, foi o representante da escola italiana, onde deu início à transição do pensamento da Jônia para o pensamento mais mítico e semirreligioso dentro da filosofia (MARCONDES, 1997). Portanto, sua es- cola tinha um caráter mais iniciático (para curiosos da vida esotérica). Segundo Costa (2004), Pitágo- ras afirmava que a verdadeira substância é a alma, a qual existe antes mesmo do corpo, e encarna por consequência de um castigo de uma vida anterior. 39 Anotações:Esse pensamento foi uma forma de compreender a essência das coisas e se mostrou uma teoria prévia ao mundo das ideias de Platão. O principal legado da escola pitagórica (ou pitagorismo) foi a teoria de que o número é o elemento que explica a harmonia e o equilíbrio do real, o que, consequentemente, ajudou a desenvolver a matemática e a geometria grega (MARCONDES, 1997). Outro importante momento neste período considerado pré-socrático aconteceu no final do século V a.C., que foi o surgimento dos sofistas. Os nomes mais conhecidos são Protágoras (490- 410 a.C.) e Górgias (485-380). Os sofistas eram educadores pagos pelos alunos, eles pretendiam substituir a educação tradicional, que era destinada a preparar verdadeiros atletas e guerreiros das cidades-estado gregas, por uma forma pedagógica que se preocupava com a formação de cidadãos. Em sua pedagogia, os sofistas ensinavam a retórica, uma arte dedicada a ensinar a falar de maneira convincente a respeito de qualquer assunto (COSTA, 2004). Assim, os sofistas, entre eles Górgias, Leontinos e Abdera, defendiam uma educação cujo objetivo máximo seria a formação de um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente para o crescimento da cidade. Dentro dessa proposta pedagógica, os jovens deveriam estar preparados para falar bem, pensar e manifestar suas qualidades artísticas (BELO, 2015). 40 Anotações: O início do período Clássico Grego: a Filosofia socrática Figura 2: Sócrates Fonte: <https://arteeartistas.com.br/>. Essa é considerada a melhor fase da civilização grega. Sócrates viveu no Período Clássico, no auge da civilização grega, e foi mestre de vários alunos, dentre os quais Platão foi o mais destacado. Além de ser conhecido por sua filosofia e seus diálogos filosóficos, seu método lhe rendeu muito destaque. Estima-se que ele tenha nascido em 470 a.C. na cidade de Alópece, em Atenas, Grécia. De acordo com Funari, (2002), Sócrates foi condenado à morte e sua sentença foi a de morte por envenenamento. Este fato aconteceu em 399 a.C. Seus pais eram Sophroniscus, um escultor, e Phaenarete, uma parteira. Durante sua juventude trabalhou no mesmo ofício que seu pai, o de artesão. Na sua juvenilidade, Sócrates visitou o Oráculo de Delfos situado no templo dedicado ao deus Apolo, em Atenas. O primeiro impacto do 41 Anotações:filósofo deu-se com a percepção da frase escrita na entrada do templo: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá o mundo e os deuses”. Segundo Chauí (2004), essa frase foi tomada como lema de vida para Sócrates, que buscou sempre se empenhar no autoconhecimento. O maior choque do filósofo ocorreu, no entanto, no momento de uma conversa com a sacerdotisa do oráculo que teria afirmado ao jovem filósofo que ele seria o mais sábio de todos os homens da Grécia. Foi a afirmação “conhece-te a ti mesmo” que chocou o filósofo e o colocou em dúvida. Para Cotrim (2017), em uma atitude de colocar à prova o que lhe foi dito, o pensador passou a caminhar pelas ruas de Atenas conversando com interlocutores que se julgavam conhecedores de certos assuntos, como política e artes. Sócrates, no entanto, percebeu que, realmente, aquelas pessoas que julgavam conhecer sobre certos assuntos, na verdade não conheciam a fundo o que elas diziam saber. Ele fundouo método chamado de Maiêutica, palavra que pode ser traduzida como obstetrícia, ou seja, a arte de realizar partos. No entanto, isso não basta para definir a maiêutica socrática. Como já foi mencionado, sua mãe era parteira. E metaforizando esse método, pode-se entender que, tal qual sua mãe, Sócrates dizia realizar partos, mas não partos de bebês, e sim de ideais. De acordo com Funari (2002), o filósofo acreditava que ele mesmo não detinha o seu conhecimento filosófico, mas teria uma habilidade de retirar esse conhecimento das outras pessoas. Já para Aranha (2013), a Maiêutica era um diálogo focado em aflorar o conhecimento nas 42 Anotações: pessoas de maneira paulatina, isto é, aos poucos fazer o indivíduo aproximar-se da verdade por meio de um diálogo lento e gradual. A autora supracitada esclarece que esse método se dava a partir de questões que tinham por finalidade ironizar e refutar conhecimentos dogmáticos. Em outras palavras, Sócrates queria acabar com as certezas que as pessoas de sua localidade tinham a respeito de diversos assuntos. Com isso, ele convencia, por meio da ironia, seus interlocutores de que eles não sabiam tanto quanto pensavam. Para Sócrates, o exercício fundamental do filósofo não é informar ou transmitir saberes definidos (acabados, prontos). É, no entanto, fazer com que o interlocutor tenha ideias próprias, como se desse luz a elas. É através do diálogo que Sócrates opera a sua forma de compreensão dialética. Primeiramente, questiona as crenças preconcebidas do indivíduo que participa desse diálogo, com provocações sobre essas crenças que ele acredita ser uma verdade universal. A partir disto, o filósofo grego utilizava a ironia e problematizava tais crenças, o que consequentemente ia gerando contradições nas respostas do interlocutor, fazendo-o perceber as suas próprias contradições. Ao se dar conta delas, o indivíduo reconhecia a sua ignorância (MARCONDES, 1997). Aquela famosa máxima “Conhece-te a ti mesmo” é oriunda da Grécia e está relacionada com a dialética socrática. Assim, para Cotrim (2017), Sócrates anunciava que a verdade estava dentro de nós, e por meio do questionamento das coisas ele conseguia chegar a verdades universais. Outra frase mais famosa de Sócrates, “Só sei que nada 43 sei”, é derivada daquela ideia de reconhecimento de sua própria ignorância porque é o elemento fundamental para o saber (MARCONDES, 1997). Costa (2004) diz que Sócrates não criou um sistema ou uma doutrina, mas a forma de viver a vida como um método de refl exão. É através da autorrefl exão sobre nossas crenças que podemos ser racionais e fazer problematizações críticas em torno da ética, assunto que trataremos mais adiante. Platão e sua epistemologia Platão nasceu por volta de 427 a.C., em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de Educação e pesquisa fi losófi ca e científi ca que, rapidamente, ganhou prestígio. Platão morreu por volta de 347 a.C. e já era um homem admirado em toda Atenas (SARDI, 2005). De modo geral, a sua fi losofi a trouxe um esboço daquilo que viria a ser conhecido como sistematização do conhe- cimento. A sua fi losofi a fundamenta-se pela te- oria das ideias ou teoria das for- adiante. Platão e sua epistemologia Platão nasceu por volta de 427 a.C., em uma família aristocrática de Atenas. Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Com cerca de 40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de Educação e pesquisa fi losófi ca e científi ca que, rapidamente, ganhou prestígio. Platão morreu por volta de 347 a.C. e já era um homem admirado em toda Atenas (SARDI, De modo geral, a sua fi losofi a trouxe um esboço daquilo que viria a ser conhecido como sistematização do conhe- cimento. A sua fi losofi a fundamenta-se pela te- oria das ideias ou teoria das for- 44 Anotações: mas. A sua contribuição para o conceito de bem absoluto foi fundamental para teorias filosóficas posteriores (COSTA, 2004). Assim como Sócrates, Platão rejeitava a Educação que se praticava na Gré- cia em sua época, por essa ficar a cargo dos sofistas, que eram incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos - sobretudo a retórica - aos jovens que podiam pagar a eles para torná-los aptos a ocupar as funções públicas, como aponta Sardi (2005). Para Platão, toda virtude é conhecimento e, ao homem virtuoso, segundo ele, é dado a conhecer o bem e o belo. Para Chauí (2004), a busca da vir- tude deve prosseguir pela vida inteira, portanto, a Educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é muito importante para uma ordem política baseada na justiça, como Platão preconizava, que deveria ser tarefa de toda a socie- dade. É por conta da complexidade da teoria filosófica de Platão que a Filosofia Clássica virou um marco na história do pensamento humano. É possível caracterizar o pensamento de Platão por meio da problematização do conhecimento. Há algumas questões que ajudam a corroborar esta caracterização, são elas: 1. Existe a possibilidade do conhecimento do mundo e da realidade, de vê-los como são em si? 2. Existe um método capaz de conhecer este mundo? 3. As questões dos sentidos e da razão são como instrumentos do conhecimento? 4. A questão da materialidade do mundo ou da realidade superior, cuja natureza é inteligível, e a realidade mutável e não 45 Anotações:duradoura versus a essência imutável é infinita? Podemos afirmar que a faceta epistemológica do pensamento de Platão é muito importante para entender a sua filosofia. O problema fundamental para o seu pensamento é poder avaliar as formas de conhecimento para alcançar o nível mais profundo, que está além das coisas do mundo que nos cercam (MARCONDES, 1997). O processo dialético platônico pelo qual, ao longo do debate de ideias, depuram-se o pensa- mento e os dilemas morais, também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendiza- do. Platão é do mais alto interesse para todos que compreendem a Educação como uma exigência de que cada um, professor ou estudante, pense sobre o próprio pensar, como explica Sardi (2003). Neste sentido, podemos dizer que a obra de Platão é uma síntese que abarca o conhecimento verdadeiro, a moralidade e a política. Traz ao campo da Filoso- fia preocupações em torno dos fatores pedagógi- cos-políticos do conhecimento. Isto o leva à con- clusão de que é o conhecimento em alto nível que leva o homem a fazer o Bem (MARCONDES, 1997). Uma das alegorias mais conhecidas da história é A Alegoria da Caverna (conhecida popularmente como “Mito da Caverna”). Esta alegoria está inscrita na obra A República, no capítulo VII (514a-517d) e é contada através de um diálogo entre os personagens Sócrates e Glauco. Trata-se de uma metáfora de Platão sobre o nosso mundo, representado pela caverna. Nelas estão pessoas acorrentadas (como prisioneiros), desde crianças, sem se moverem, podendo somente observar o que está a frente, 46 Anotações: onde elas veem apenas sombras. Estas pessoas aprisionadas são representações nossas, como se Platão descrevesse o ser humano inserido em um mundo ilusório, onde enxergássemos unicamente uma parte ínfima do mundo real. Do lado de fora da caverna há uma fogueira, cuja luz projeta as sombras, que são os homens que passam (como sombra) pelo lado de fora da caverna. Eles são representações dos sofistas que manipulam as opiniões dos homens e são parte da ilusão. Quando um dos prisioneiros se liberta e conhece o que há no exterior da caverna, ele consegue enxergar a realidade plenamente, compreendendo-a a tal ponto de não querer voltar para a caverna (MARCONDES, 1997).Aristóteles e a ética a Nicômaco Aristóteles (384-322 a.C.), ao lado de Sócrates e Platão, é considerado um dos grandes filósofos do período clássico. Ele definiu os conceitos e princípios basilares de muitas teorias científicas. Fundamentou as teorias da lógica, da biologia, da física e também da psicologia. Na lógica, desenvolveu a teoria da inferência dedutiva, que são o silogismo e um conjunto de regras, que depois ajudaram a formar o método científico (COSTA, 2004). Nascido na cidade de Estagira, na Macedônia, Aristóteles foi discípulo de Platão por muitos anos, rompendo com a filosofia do mestre após a morte dele. Então, fundou o seu próprio sistema filosófico, partindo da crítica à teoria das ideias. Assim, toda a sua filosofia funda-se sobre a crítica aos 47 Anotações:fundamentos pré-socráticos e às teorias de Platão. O filósofo estagirita redefine a Filosofia, tanto no seu projeto quanto no seu sentido, para alcançar o seu objetivo de construir um sistema de saber, com a intenção de superar as limitações e as falhas de seus antecessores. Este projeto aristotélico pode ser observado na sua monumental obra intitulada Metafísica (MARCONDES, 1997). Devemos mencionar outra obra de Aristóteles, muito importante na História da Filosofia, que é a Ética a Nicômaco. Nela, Aristóteles apresenta uma nova concepção de virtude, de uma razão voltada para questões práticas e do justo meio. A investigação de Aristóteles estreita os laços entre a ética e a política, como se uma dependesse da outra. Apesar do modelo ético apresentado por ele ser muito semelhante à maneira como Platão, seu mentor, apresentava, (ou seja, em forma de diálogos) ela é bem distinta das questões éticas que permeiam o pensamento platônico. O filósofo de Estagira mostra um modelo teleológico que tem por finalidade apresentar a imagem de um arqueiro que precisa atingir seu alvo após visualizá-lo, tal como um agente moral precisa ter como objetivo o fim prático (o Bem) para alcançá-lo. A visão de mundo de Aristóteles não se divide em dois, o sensível e o inteligível, como em Platão e, por isso, rejeita a ética platônica. O Bem precisa orientar as ações boas (uma forma moral) do agente (UNESP, 2013). Já no início da Ética a Nicômaco, o filósofo estagirita parte em investigar o Bem, com intenção de alcançá-lo. Em meio à investigação do Bem, apresenta a ideia de que precisa haver uma boa 48 Anotações: vida. Há a vida de prazer, a vida de honras, a vida virtuosa e a vida contemplativa. Destas quatro formas de viver a vida, somente a vida virtuosa e a vida contemplativa são consideradas em sua investigação como formas possíveis de alcançar a felicidade (UNESP, 2013). Para Aristóteles (1973, p. 428-430), a felicidade: É atividade conforme à virtude, será razoável que ela esteja também em concordância com a mais alta virtude; e essa será a do que existe de melhor em nós. Quer seja a razão, quer alguma outra coisa esse elemento que julgamos ser o nosso dirigente e guia natural, tomando a seu cargo as coi- sas nobres e divinas, e quer seja ele mesmo divino, quer apenas o elemento mais divino que existe em nós, sua atividade conforme à virtude que lhe é própria será a perfeita felicidade. Que essa atividade é contemplativa, já o dissemos anteriormente. Para Aristóteles, devemos agir de maneira virtuosa e, para termos essa ação, podemos nos basear nos aspectos culturais de nossa sociedade. Não há um conjunto de regras que nós devemos seguir, o que torna o modelo ético aristotélico diferente dos demais apresentados ao longo da História da Filosofia. Desta forma, abre margem para a possibilidade de compreender que uma ação virtuosa, em determinado lugar, pode ser considerada não virtuosa em outro. Contudo, Aristóteles apresenta uma noção que media a ação 49 Anotações:virtuosa de uma pessoa, impondo uma medida aritmética, trata-se do justo meio. Assim, ele exemplifica dizendo que o número três é o meio entre os números dois e quatro. Essa aritmética é um meio que pode ter variações devido aos casos singulares, em outras palavras, deve-se medir caso a caso. Algumas ações são consideradas covardes quando falta impulso, já o excesso de impulso pode ser considerado como temeridade, no entanto, ambas são manifestações de vício. Uma ação considerada corajosa é quando o impulso aparece de forma moderada, o que faz com que o indivíduo aja sem excesso e sem vício, portanto, virtuosamente. Isto quer dizer que uma ação só pode ser considerada virtuosa se aquela ação atender às “regras” do justo meio (UNESP, 2013). PERÍODO DO HELENISMO: A BUSCA PELA FELICIDADE Após a conquista da Grécia pelos macedônios (322 a.C.), teve início o chamado período helenístico. Devido à expansão militar do império da Macedônia, efetuada por Alexandre Magno, o período helenístico caracterizou-se por um processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. E o mesmo processo ocorreu no campo filosófico. Para Goldschmidt (1953), filósofo francês, as escolas platônicas (Academia) e aristotélica (liceu) — dirigidas, respectivamente, pelos discípulos de Platão e Aristóteles — continuaram abertas e em plena atividade, mas os valores gregos começaram 50 Anotações: a mesclar com as mais diversas tradições culturais. Este processo se deu através da cidade de Alexandria, capital do reino grego no Egito e centro cultural do helenismo. Pelo fato de a Alexandria ser cosmopolita, a cultura daquele local tornou-se sincrética (MARCONDES, 1997). Helenismo é um termo retirado da obra de um importante historiador francês, que apresentava a tese de que havia uma influência da cultura grega em toda a região conquistada por Alexandre. Podemos compreender que a primeira tentativa de criar uma hegemonia da língua e da cultura nasceu com o império estabelecido por Alexandre (MARCONDES, 1997). A seguir, veremos alguns filósofos e as escolas mais conhecidas deste período. Os Estoicos Este período foi marcado pela busca de um caminho para a felicidade, e sendo criada pelos estoicos, dando origem à corrente conhecida como estoicismo. De acordo com Marcondes (1997), o termo estoicismo deriva das palavras gregas stoa poikilé, que pode ser traduzido como “pórtico pintado”. A escola estoicista foi fundada em Atenas, em 300 a.C., e feita pelos discípulos que sucederam os pensadores Zenão, Cleantes e Crisipo. A Filosofia, para a escola estoicista, é um sistema composto por três partes fundamentais e estão divididas em uma forma hierárquica: a física, a lógica e a ética. O sistema estoico parte da metáfora da árvore para ser explicado, de modo que a raiz da árvore corresponde à física, o tronco corresponde à lógica e os frutos podem ser 51 Anotações:entendidos como a ética. Logo, a ética pode ser considerada a parte fundamental para tal escola, mas não deve estar separada da física porque há uma relação estreita entre as áreas. O homem é considerado uma parte do universo, pois ele é o microcosmo no macrocosmo (MARCONDES, 1997). Veremos, mais adiante, porque estas áreas estão conectadas. As nossas ações éticas devem ter uma relação com os princípios naturais, que se harmonizam com o cosmo e traz equilíbrio ao universo e ao próprio homem, o que resulta em sua felicidade. Uma ação considerada boa deve estar de acordo com a natureza, isto é, precisa estar em consonância com a ética. A virtude no sistema estoico é composta por três elementos básicos: a do conhecimento do que é o bem e o mal, correspondendo à inteligência; a do conhecimento do que deve ou não ser temido, que corresponde à coragem e a do conhecimento que nos permite dar algo que é devido a quem merece, o que corresponde à justiça. Assim, a concepção de natureza, na ética do estoicismo, tem um forte teor fatalista, pois o destino (heimarmené) tem uma presença grande em sua constituição. O destino não é arbitrário e refletea racionalidade do mundo real, portanto devemos aceitá-lo, mesmo não compreendendo o que fazemos para termos um triste destino. Assim, a resignação em aceitar os acontecimentos como algo predeterminado é um elemento fundamental nesta ética. Devemos agir tendo como princípio a ética, mas aceitar as consequências de nossas ações e o desenrolar dos acontecimentos inevitáveis (MARCONDES, 1997). Em outras palavras, tudo o que existe e acontece 52 Anotações: tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte da inteligência universal. Assim, tudo é necessário, ou seja, não pode ser diferente do que é, pois, no cosmos, todos os eventos estão organicamente predeterminados. Isso inclui a vida de cada um de nós, o que quer dizer que, na concepção estoica, cada pessoa nasce com um destino definido. A eudaimonia, traduzida como felicidade, baseia-se na ataraxia, que se traduz por tranquilidade. O estado de tranquilidade consiste na ausência de perturbação. Aceitar o desenrolar dos acontecimentos, conviver com austeridade e manter o autocontrole é o que nos faz alcançar a ataraxia, ou melhor, a tranquilidade. O estoicismo, contudo, coloca-nos um desafio, pois para alcançar este estado, é preciso ser um completo sábio (MARCONDES, 1997). Cotrim (2016) destaca que os estoicos procuraram orientar a conduta das pessoas estabelecendo a seguinte distinção entre as coisas: 1) boas, aquelas que dependem de nós e que devemos buscar durante a vida para sermos felizes, são virtudes (ser prudente, justo, corajoso); 2) más, que são as coisas que dependem de nós, mas que, ao contrário, devemos evitar durante a vida se queremos ser felizes, são vícios advindos de algumas formas de paixões (ser imprudente, injusto, covarde, guloso, raivoso); 3) indiferentes, que são as que não dependem de nós e com as quais não devemos nos preocupar, sob pena de gerar infelicidade. Antes de passarmos para a próxima escola helenista, é preciso ressaltar que, por conta das características de ser determinista, de buscar o 53 Anotações:autocontrole, a submissão e a austeridade da vida financeira como valores centrais, a ética estoica foi uma grande influência para o desenvolvimento do cristianismo, assim explica Marcondes (1997). Epicuro Epicuro (341-271 a.C.) reunia-se, na cidade de Atenas, com os seus discípulos no jardim de sua escola, fundada em 306 a.C., ele retomou as teorias atomistas de Demócrito e Leucipo, e foi reconhecido pelo seu tratado sobre a natureza, intitulado Da Natureza. É importante observar que os epicuristas defendem a física materialista, atomista e mobilista. Assim, eles apresentam uma teoria do conhecimento que valoriza a experiência do que é imediato. Nesta teoria também é apresentado um conceito chamado de pré-noção, que consiste em conservar os elementos de uma experiência que servirá para alcançar objetivos e dar inícios teóricos (como ponto de partida) para a apreensão de conhecimentos posteriores (MARCONDES, 1997). A sua ética, segundo Marcondes (1997), tem por princípio a felicidade (ou eudaimonia) que se obtém da ataraxia, que é traduzida como tranquili- dade, como visto anteriormente. O que faz o homem alcançar a ataraxia é a sua forma de agir, que deve estar em acordo com a liberação de seus desejos e necessidades características de sua natureza. Essa liberação de impulsos naturais precisa ser equilibrada. Assim, na ética epicurista, o prazer (ou hedoné) é importante e considerado natural. É algo positivo quando realizamos nossos desejos de for- ma espontânea, contudo, deve-se ter moderação, 54 Anotações: mas nunca a sublimação do prazer (MARCONDES, 1997). Podemos definir algumas distinções entre o que desejamos e que pode ser dividido em três grupos: 1) naturais e necessários, como os dese- jos de comer, beber e dormir. 2) desejos naturais e desnecessários, como os desejos de comer alimen- tos refinados, tomar bebidas especiais e caras,3) os não naturais e desnecessários, como os desejos de riqueza, fama e poder. Contentar-se com pouco seria o segredo do prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida, não há decepção, e um grande prazer pode advir de um simples copo de água. Segundo Cotrim (2016, p. 30), “gozar o prazer eventual de um banquete ou de um cargo elevado não é proibido, mas não deveria ser desejado sempre, pois, mais cedo ou mais tarde, viriam a insatisfação, o desprazer, a infelicidade”. Deve-se agir com prudência racional, por isso, de acordo com Marcondes (1997), os epicuristas valorizavam a phronesis, que pode ser entendida como inteligência prática, pois quando há este tipo de inteligência, nem a razão, nem a paixão entram em conflito. Outro ensinamento importante na filosofia epicurista, conforme Cotrim (2016), é que Epicu- ro dizia que se devia eliminar algumas crenças, consideradas pelo filósofo como uma das princi- pais causas de angústia e infelicidade. Elas são preocupações religiosas e superstições sobre- naturais, o que manifesta em nós um temor im- posto por tais crenças ou religiões, por exemplo, os gregos temiam muito ofender seus deuses e serem terrivelmente punidos por eles. Também viviam sob o pavor de que forças divinas interferissem em suas 55 Anotações:vidas, mudassem sua sorte ou tirassem-lhes os en- tes queridos. Mediante a compreensão materialista do universo e do ser humano, próprias à ética de Epicuro, ele sustentava que as pessoas também deveriam se livrar de outro grande fator de angústia e infelicidade: o medo da morte. A sua ideia é exposta em uma das cartas mais célebres da História da Filosofia, a saber, a Carta sobre a felicidade, desta forma ele escreve (1997, p. 27-28.) o seguinte: Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sen- sações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciên- cia clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acres- centar-lhe tempo infinito e elimi- nando o desejo de imortalidade. [...] quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. Em outras palavras, as sensações estão ligadas ao ato de temperança, ou seja, em virtude de quem é moderado e, assim, tendo esse pensamento, a morte não seria nada, mas a consciência de que se deve aproveitar a vida, mesmo porque ela é passageira e que se vive por um tempo determinado na terra. 56 Anotações: O Ceticismo A tradição cética, conforme Marcondes (1997) é formada por diversas concepções do ceticismo, pois não há um marco histórico que dê sinal de quando ela tenha começado, assim como não há um grande pensador inaugural. O que se conhece sobre o ceticismo antigo vem dos escritos de Sex- to Empírico, mais especificamente no texto Hipo- tiposes Pirrônicas. Uma das afirmações centrais presentes nesse texto é a diferença entre as aca- demias (filosóficas), de pensadores como Clitôma- co e de Carnéades, e o pensamento cético. As primeiras afirmavam ser impossível encontrar a verdade, enquanto os céticos, consideravam-se os verdadeiros mestres, pois continuavam as suas investigações sempre em busca da verdade. Em termos gerais, a afirmação de que seria impossível alcançar a verdade já era uma forma dogmática. Isto não caracteriza a posição cética pois o ceticismo tinha como proposta suspender o juízo quanto à possibilidade de algo ser verdadeiro ou falso. Sexto empírico afirma que a filosofia de Pirro de Élis pode ser considerada autenticamente cética. Assim, o pirronismo pode equivaler ao sentido de ceticismo. Segundo Marcondes (1997), tudo aquilo que conhecemos de Pirro e do que ficou conhecido como ceticismo pirrônico, vem do seu discípulo, provavelmente o único, Tímon, e é dele que podemos encontrar alguns fragmentos. O próprio Pirro não escreveu uma obra expressando o seu pensamento. Ele está inserido no grupo de filósofos, comoSócrates, que não tinham um sistema ou doutrina, 57 Anotações:mas acredita na Filosofia como uma atitude. Dele pode-se extrair algumas questões centrais, como: qual a natureza das coisas? Não podemos conhecer as coisas tais como elas são trazidas através dos sentidos e da razão, por meio delas fracassamos. Como agir em relação à realidade que nos cerca? Devemos evitar assumir alguma posição em relação ao conhecimento da natureza das coisas, justamente, porque não a conhecemos. Quais as consequências de tal atitude? O que nos traz tranquilidade é quando nos mantemos à distância de tais interesses. Assim como as escolas estoicas e epicuristas, Pirro buscava alcançar a felicidade, através da ataraxia que, como já vimos, trata-se da tranquilidade. Marcondes (1997) afirma que o ceticismo pode ser definido por seu procedimento específico, em que o filósofo que busca a verdade, ao se frontar com diversas tendências dogmáticas, vê que não há um critério decisivo sobre aquelas que apresentam suas "verdades", como válidas porque dependem de sua própria teoria para sustentá-las, fazendo com que todas elas estejam no mesmo nível, o que leva o cético à constatação de que estão no mesmo grau de potência. Como essas tendências entram em conflito, excluindo-se, de maneira mútua, porque cada uma apresenta a sua verdade como única, impossibilita-se a decisão sobre aquela que seria a melhor tendência a ser seguida. O cético suspende o seu juízo e, quando o faz, sente-se em estado de tranquilidade. 58 Anotações: FILOSOFIA MEDIEVAL: AS FILOSOFIAS DE SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS DE AQUINO Segundo Costa (2004), no período em que a sociedade greco-romana passava por declínio, o pensamento filosófico do Ocidente passou a se preocupar com a salvação do ser humano, que se daria num mundo metafísico. Assim, acabaram por deixar de lado as investigações a respeito da natureza e sobre o caminho para a felicidade. O pensamento cristão se estendeu pelo império romano, entre a classe mais abastada, a partir do século III. Marcondes (1997) observa que, embora tenha havido um período de transição do pensamento helenista para o cristianismo, este surgiu no contexto do próprio helenismo. A cultura helenista, uma cultura propícia, foi fundamental para que houvesse uma aproximação entre a filosofia grega e a cultura do judaísmo. Isto quer dizer que, mesmo que o cristianismo tenha sido originado como vertente do judaísmo, desenvolveu-se mediante a cultura helenista, portanto, o pensamento cristão é uma síntese da religião judaica e da cultura grega (MARCONDES, 1997, p. 115-116). O autor ainda mostra que havia duas concepções que pensavam a relação entre a Filosofia grega e o cristianismo. Uma defendia a presença da Filosofia grega no pensamento cristão e aproximava algumas obras de Platão à narrativa bíblica, bem como o papel de ensinamento, que é próprio à Filosofia, com a intenção de preparar o espírito dos convertidos para as revelações do livro da Bíblia. Sócrates, Platão e os 59 Anotações:filósofos estoicos eram vistos como os pensadores precursores do pensamento cristão, mesmo que não tenham conhecido os ensinamentos de Cristo porque nasceram muito tempo antes dele. A outra era dos teólogos que não viam a Filosofia como pensamento religioso e advertiam aos demais religiosos que a Filosofia grega estava distante da mensagem do cristianismo. Esses consideravam o método filosófico nocivo por se tratar de um método que traz a discussão como a forma, assim, a Filosofia grega era vista como prática pagã. Sendo assim, a posição dos defensores de uma teologia que se desenvolveu através da Filosofia só apareceu no período em que a Igreja passava por concílios, que eram reuniões onde os cargos mais altos da igreja, constituídos por bispos e líderes, deliberavam os dogmas a serem seguidos. Foi neste período que a Filosofia grega foi incorporada, definitivamente, ao pensamento cristão. A seguir, veremos alguns dos principais teólogos deste período, cuja linha religiosa apresenta uma enorme filiação com o método e o pensamento filosófico. Santo Agostinho Segundo Costa (2004), Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C.) foi bispo e trouxe para a Igreja, junto a outros teólogos, a valorização da razão. Aliada à razão estava a emoção religiosa dos ensinamentos de Jesus Cristo e de seus apóstolos. Essa aliança formada entre a razão e a emoção, própria aos ensinamentos cristãos, fundou um sistema de pensamento, uma doutrina cristã. A Filosofia de 60 Anotações: Platão se manteve presente na doutrina cristã até o século XIII por causa de sua influência na igreja e foi neste período que a Filosofia patrística originou-se. A sua Filosofia se baseia no pensamento de Plotino, um neoplatonista (corrente derivada das teorias de Platão), Porfírio, nos ensinamentos de São Paulo e no Evangelho de São João. Assim, a partir de Agostinho, a Teologia passou a ser pensada como uma ciência e, a partir dela segundo seus dogmas, o homem precisa se dedicar para salvar a sua alma como uma forma de recompensa (MARCONDES, 1997). Essa da aproximação feita por ele entre Platão e o cristianismo ficou conhecida como Platonismo Cristão, uma espécie de corrente interna da Igreja. Neste sentido, Agostinho formulou a primeira sín- tese reconhecida historicamente entre a Filosofia grega e o cristianismo. As suas contribuições fun- damentais para o desenvolvimento da Filosofia são três: a relação entre Teologia e Filosofia, portanto, entre a razão e fé; a questão da subjetividade e da interioridade como questões centrais da teoria do conhecimento e a obra Cidade de Deus, cuja a teoria da história foi fundamental naquele período. A originalidade de Agostinho está justamente em ter desenvolvido a noção de interioridade e o conceito de subjetividade. A posição interior é considerada o âmbito da verdade, fazendo uma oposição ao exterior. A sua famosa frase “No homem interior habita a verdade” deriva desta teoria que tem como princípio o olhar do homem para dentro de si, porque ao olhar para o interior é possível compreender a verdade divina. (MARCONDES, 1997) Santo Agostinho não foi o primeiro a realizar uma teoria da história como, observa Marcondes 61 Anotações:(1997), contudo, a sua noção é diferente das anteriores, porque havia a noção de tempo histórico, que se tornou uma grande influência no Ocidente. Ela foi inovadora por trazer a história como possuidora de um sentido, direcionada e marcada por um começo e um ponto final, que é o retorno ao lugar de origem. Isto significa que, para o filósofo de Hipona, a história não é cíclica no sentido de que não possua um começo e um fim, e os acontecimentos não são resultados fatalistas, de um destino implacável, como era na concepção dos gregos antigos, mas possuem sentido e podem ser interpretados como sinais da revelação divina. Tomás de Aquino No período de Tomás de Aquino (1225-1274), a Europa passava por mudanças estruturais, e também de mentalidade. Em sua época havia universidades e ordens religiosas, como a dominicana e a franciscana que podem ser consideradas expressões dessas transformações. A ordem religiosa de Aquino era a dominicana, ele manteve vínculo com as universidades, sendo a universidade de Paris uma das que mais frequentou (MARCONDES, 1997). A sua originalidade está em ter desenvolvido um sistema filosófico que passava por todos os grandes temas, tanto da Filosofia quanto da Teologia. Supera, através da retomada da filosofia aristotélica, o platonismo de Santo Agostinho. Abriu, assim, uma nova perspectiva para a Filosofia Cristã (MARCONDES, 1997). A sua principal obra é a Summa Theologica (Suma Teológica) que foi 62 Anotações: censurada por conter muitas questões tratadas por Aristóteles, que é a Filosofia do estagirita. Uma das contribuições mais importantes de Aquino foi o argumento das “cinco vias da prova da existência deDeus”, presente em sua Suma Teológica, considerado uma das principais questões da Filosofia Medieval. Este argumento busca demonstrar através de cinco artigos, de forma filosófica e racional, a existência de Deus. Através destes argumentos, pretende-se entender como a fé e a razão se relacionam (MARCONDES, 1997). O NASCIMENTO DA FILOSOFIA MODERNA: O PERÍODO RENASCENTISTA O termo Renascimento, conforme observado por Marcondes (1997) foi utilizado por Giorgio Vasa- ri, em 1550, na obra Vida dos mais excelentes pin- tores, escultores e arquitetos. O historiador Jacob Burkhardt pegou o termo e o tornou um conceito histórico para determinar o período intermediário entre o medieval e o moderno, que vai do século XV ao XVI. Embora a História da Filosofia não tenha utilizado, tradicionalmente, o Renascimento como um momento específico de algum dado filosófico específico, tratando-o somente como um período de transição entre a Idade Média e a Modernidade, temos visto cada vez mais pesquisas que mostram que este período desenvolveu um pensamento característico. Isto ocasionou uma ruptura com a escolástica sem, no entanto, ainda ser considerado o período moderno. O humanismo é uma das principais característi- cas deste período, e através dele foi possível romper 63 Anotações:com a concepção teológica medieval, com o Teocen- trismo e o papel central das ciências naturais após Aristóteles ser redescoberto no século XII. No perío- do renascentista, passou-se a valorizar o interesse pelo homem em si, e assim, ele foi considerado um ser com dignidade, dotado de liberdade e criação, passando a ser visto com capacidade de reproduzir a harmonia do cosmo. Portanto, é um microcosmo em si mesmo. Neste sentido, o humanismo repre- sentou um novo pensamento, um novo estilo nas artes e uma nova temática nas áreas do conheci- mento (MARCONDES, 1997). Segundo Marcondes (1997), os humanistas refletiram a necessidade de retomar os clássicos para trazer novidades, fosse na política ou na arte. Petrarca (1304-74), poeta italiano do período de transição, foi o primeiro pensador a rejeitar a teo- logia medieval e as especulações metafísicas. Ele é considerado o primeiro humanista. Dante Alighieri (1265-1321) escreveu seu famoso poema A Divina Comédia e inaugurou este novo estilo de pensar a arte. Erasmo de Rotterdam (1466-1533), que es- creveu a obra O elogio da loucura, e Thomas Morus (1478-1535), que escreveu a famosa obra Utopia, re- tomaram os princípios da virtude moral estoica e epicurista para aplicá-las na política. O mais famo- so dos teóricos políticos é Nicolau Maquiavel (1469- 1527), autor de uma das obras mais importantes da teoria política, O príncipe. Na obra, Maquiavel elabora uma análise de diferentes momentos históricos onde governantes que tiveram o poder, o perderam. A sua intenção era a de pensar questões pragmáticas e empíri- cas do exercício de poder, separando a política das 64 Anotações: questões morais. Traz nele uma nova qualidade de virtude, a “virtú”, que não carrega em si a virtude cristã. A “virtú” tem em si os elementos da coragem, habilidade e persistência, assim, contrariando a virtude cristã que pressupõe a piedade e a humil- dade. Já na filosofia, o filósofo mais famoso deste período é Michel de Montaigne (1533-95), que es- creveu os famosos Ensaios. Francês, representou o humanismo individualista, que é caracterizado pelo homem equilibrado, culto e sensível, cujo olhar crítico é lançado ao seu redor para refletir de for- ma pessoal, o mundo que o cerca. Os pensamentos deste tipo de humanista advêm de sua experiência no mundo, contudo não há um sistema ou teoria a ser elaborado por ele. A Modernidade A Filosofia Moderna surgiu a partir do século XV. O pensamento moderno da filosofia fundamen- tou a interpretação materialista e mecanicista do universo, relacionado ao pensamento humano como uma só realidade. As transformações políti- cas e as descobertas da ciência refletiram na in- teração entre aquelas formas de interpretar o mundo. A sua fundamentação está inteiramente baseada na razão e é crítica à religiosidade medie- val. O homem moderno, para compreender o mun- do e a si mesmo busca no conhecimento a capaci- dade de compreendê-los, e que se dá a partir da teoria do conhecimento. Com ela, a investigação leva o homem às condições de conhecer o que é verdadeiro (COSTA, 2004). 65 Anotações:Segundo Cotrim (1996), o conhecimento existe pela relação entre dois elementos: sujeito e objeto. Só há conhecimento quando o sujeito apreende o objeto. Quanto à nossa mente, ela torna possível a imagem, a ideia e o conceito de um objeto nela mes- ma sendo capaz de efetivar uma representação das coisas mentalmente. O sujeito é a nossa consciên- cia, isto é, nossa mente, e cabe-lhe o papel de ser conhecedor, já o objeto é a realidade (o mundo) e os fenômenos. Por fim, o conhecimento surge quando nossa mente alcança a capacidade de representar o mundo. Afirma Costa (2004) que a concepção mecanicista do mundo, que o vê como uma máquina, derrubou, em certa medida, a concepção cosmológica medieval. A visão moderna do mundo é a de que ele é constituído por leis físicas, sem uma vontade ou finalidade. O homem é o centro do universo, portanto, inaugura-se o Antropocentrismo, superando a visão medieval (teocêntrica) e seu dogmatismo que define uma única verdade. Os únicos métodos de investigação filosóficos da modernidade são pelas vias da razão e da experiência. Há dois caminhos para alcançar o caminho do conhecimento verdadeiro. Um é através do ra- cionalismo, o outro é através do empirismo. Afir- ma Chauí (2000) que no racionalismo, a razão é o caminho para o conhecimento porque operaria por si mesma, sem a necessidade da experiência sensível e que teria a capacidade de controlá-la. Já no empirismo, ao contrário, o caminho para o conhecimento é a experiência sensível, que seria a fornecedora das ideias racionais, e que teria a 66 capacidade de controlar a razão. Porém, cabe res- saltar que nenhum destes caminhos metodológicos anulam o ideal de tornar o entendimento do ser hu- mano em um objeto da Filosofia, o que é consenso entre os filósofos modernos. O pensamento de René Descartes Figura 3: René Descartes FONTES PRIMEIRAS Racionalismo Empirismo Dedinição A palavra racionalismo vem do latim ratio que significa razão. A palavra empirismo vem do grego emperia que significa experiência. Origem do conhecimento A razão é a origem do conhecimento. A experiência é a origem do conheicmento. Principais autores Descartes e Leibniz Locke e Hume Palavras-chave Razão, principais inatos e principais lógicos. Experiência, tábua rasa e sentidos. 67 Anotações:René Descartes (1596-1650) é reconhecido por fundar o método cartesiano e inaugurar o pensa- mento moderno na Filosofia. Ele se insere na história do pensamento como um dos representantes da vertente Racionalista. Esta doutrina se apoia na razão como fundamento de todo o conhecimento. O seu método cartesiano tinha como instrumento a matemática, tornando-a base para a ciência de modo geral. Uma das características centrais do cartesianismo é a dúvida metódica como princípio de investigação e é através dela que podemos pôr em questão todas as nossas certezas (COSTA, 2004). Cotrim aponta (2017) que os passos da dúvi- da metódica, constituem a parte mais conhecida de seu método. Contudo, ela não se resume a estes passos, pois corresponde (de forma mais ampla) a uma postura criteriosa de investigação filosófica. Os passos são: 1) Jamais aceitar como verdadeira coisa alguma que não estivesse tão clara na minha mente que não restasse dúvidas de sua verdade, 2) Dividir cada dificuldade em tantas partes quanto possível e necessário para resolvê-la, 3) Organizar os pensamentos, iniciando pelos assuntos mais fá- ceis e simples e progredindo gradativamente para os mais complexos, 4) Fazer, para cada caso, enu- meraçõese revisões até que estivesse certo de não ter omitido nada. Descartes propõe superar as dificuldades para conhecer algo em sua verdade fundamental a partir da ideia de que o conhecimento é funda- do sobre ideias claras e distintas que estão em nossa mente, sendo esta última uma substância pensante (UNESP, 2013). Ao falar de nossa men- 68 Anotações: te, observa Costa (2004) que o filósofo racionalista francês descobre o elemento da subjetividade, e isto significa dizer que o mundo é conhecido através de um sujeito, de modo que a investigação filosófica e científica desloca o foco do objeto investigado para o sujeito, ou seja, sai da realidade objetiva para a razão do sujeito. Para ele, não havia a possibilidade de pen- sar algo sem saber que existe, sendo isso verdade clara e distinta, portanto, uma verdade impossível de ser refutada. Daí nasce a célebre frase: “Penso, logo existo” (COSTA, 2004, p. 18). David Hume: empirismo radical O filósofo escocês David Hume (1711-1776) foi quem levou o método empirista às últimas conse- quências. Chegou à negação da universalidade do princípio de causalidade porque, segundo ele, nós apenas podemos observar os eventos em sequên- cia temporal, não as conexões causais internas. Hume acredita que por termos o hábito de ver ocor- rências naturais sucederem-se, cotidianamente, um fato no presente terá o mesmo comportamento como outras vezes observadas no passado (COSTA, 2004). As ideias são de natureza particular, quando associamos a elas palavras gerais é que produzimos um efeito generalizado. A partir disto, generalizamos a ponto de fazermos referência a uma infinidade de coisas particulares que possuem o mesmo aspecto. Assim, o universal é um processo de associação que faz parte do nosso hábito (MARCONDES, 1997, p. 204). Os seus exemplos são os de que um dia o sol pode não vir a nascer, e que onde há fumaça nem sempre há fogo. 69 Anotações:A Filosofia de Kant: o ápice do pensamento moderno Marcondes (1997) explica que o pensamento de Immanuel Kant (1724-1804) e suas obras são considerados marcos na Filosofia moderna. Os questionamentos de David Hume tiveram impacto profundo em Kant. Ele estava buscando reabilitar o racionalismo contra o empirismo cético, contudo, considerou os questionamentos de Hume e viu a importância do empirismo para o conhecimento. Assim, elaborou uma Filosofia a qual atribuiu o título de Racionalismo Crítico. Com sua obra "Crítica da Razão Pura", que foi escrita e publicada no contexto do racionalismo alemão, Kant superou a separação entre o racionalismo e o empirismo. Segundo o pesquisador Pacífico (2020), a Filosofia de Kant e a construção de seu sistema deram-se pelo interesse em conhecer como se dá o saber humano. Nosso conhecimento é composto por juízos que são fundamentados através de nossas percepções, isto é, os sentidos de nossa sensibilidade. Na obra mencionada, Kant apresenta a concepção de Filosofia transcendental, que se ocupa com o nosso modo de conhecer os objetos, e não somente com os objetos em si. Observa Marcondes (1997) que se trata de uma Filosofia do conhecimento, em que procura entender as possibilidades de conhecimento, mostrando o uso da razão de modo cognitivo — que produz conhecimento real —, distinguindo-o de seu uso especulativo, em que o pensamento não tem correspondência com os objetos. Pode-se afirmar que a Crítica da razão pura consiste em examinar 70 Anotações: a constituição da razão em seu interior e o seu funcionamento. Outro aspecto apresentado pela obra é a delimitação de conhecimento, como uma fronteira entre a ciência e a pseudociência. Marcondes (1997) declara que a partir da tradicional forma de distinguir os juízos analíticos e juízos sintéticos, apresenta-se o caráter lógico dos juízos analíticos, em que os predicados (que é o que declara algo sobre o sujeito) estão no sujeito, mas não produzem conhecimento e são a parte independente da experiência, portanto, a priori. Os juízos sintéticos dependem da experiência (a posteriori do sujeito) e são aqueles que produzem e ampliam o conhecimento. Contudo, Kant considera estes juízos insu- ficientes para a condição adequada da ciência, pois precisamos dar conta dos juízos universais e necessários para ampliação do nosso conheci- mento. Com isto, ele apresenta os juízos sintéticos a priori, que são caracterizados como indepen- dentes da experiência, mas que, por dar condições de possibilidade do conhecimento, relacionam-se com ela. Os fundamentos da física, da matemática e filosóficos pertencem a este novo juízo. Em relação ao conhecimento de um objeto, ele é o resultado da contribuição de duas faculdades: da sensibilidade e do entendimento. Há a Estética Transcendental, que constitui a primeira parte da Crítica, que trata das formas puras da sensibilidade (intuições do es- paço e tempo). Podemos dizer que as coisas que percebemos não passam de um fenômeno, porque a coisa percebida por nós não é tal como é em si mesma. Pacífico (2020) destaca o ensinamento de Kant de que tudo aquilo que é exterior ao tempo e ao espaço 71 Anotações:não é percebido por nós. Podemos compreender, desta forma, que sempre vemos as coisas através das formas da sensibilidade. Há, por outro lado, a parte da Analítica Transcendental, que analisa os conceitos puros do entendimento, e que constitui a segunda parte da mencionada obra. O pensamento de Kant deu a base para o que viria depois em diversas áreas do conhecimento, desde estudos sobre a física, a matemática, bem como as questões da arte, da moral e da ética. A filosofia após Kant: do idealismo alemão à contemporaneidade O Iluminismo, que contou com a influência de Kant e de pensadores franceses, como Jean Jacques Rousseau, Voltaire e Montesquieu, foi idealizado num momento de atividade social intensa, impulsionando mudanças na sociedade ocidental e que culminaram na Revolução Francesa (COSTA, 2004). Foi um movimento cultural amplo, que abarcou a política, as artes, a literatura, a doutrina jurídica, as ciências, bem como o pensamento filosófico. Uma de suas principais contribuições foi a noção de progresso racional da sociedade e da humanidade (MARCONDES, 1997). Através da influência da Filosofia Kantiana, o idealismo tornou-se uma das tendências domi- nantes na Alemanha. Os filósofos representantes do Idealismo Alemão foram Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). O mais conhecido desta tríade idealista alemã é Hegel (COSTA, 2004), que tem em sua Filosofia um caráter 72 Anotações: extremamente sistemático, que integra a ética, a metafísica, a lógica, as filosofias da natureza e do direito, e a estética. Trata, portanto, de todos os te- mas da tradição filosófica (MARCONDES, 1997). A sua concepção de Estado como a forma mais elevada de materialização do espírito abso- luto foi fonte de inúmeras teorias sociais e políti- cas, bem como a sua metáfora da dialética, outro conceito bastante discutido em diversas áreas do conhecimento. Ela consiste em demonstrar a questão do ser que se transforma, e é apresentada da seguinte forma: a semente é a tese (o ser), a sua antítese — portanto o não-ser — seria o desenvolvi- mento da semente que deixa de sê-la, e a síntese é a sua transformação, que passa a ser árvore, mas que mantém a relação de ser e não ser uma semente. Segundo Belo (2015), o século XIX foi considerado o século da descoberta da História e da historicidade do homem, da sociedade, das ciências e das artes. Isto se deu, particularmente, com Hegel, que afirma que a História é o modo de ser da razão e da verdade, ou seja, um modo de ser dos seres humanos e que nos torna, portanto, seres históricos. Surgiram outros filósofos importantes neste período, como Arthur Schopenhauer (1788 – 1860). Apesar de sua Filosofia estar próxima ao contex- to do pensamento romântico,foi crítico dos ide- ais iluministas racionalistas. A linha filosófica de Schopenhauer é o idealismo transcendental. Se- gundo esta linha, o mundo sensível existe para a nossa subjetividade apenas como representação. A partir da obra Crítica da razão pura, de Kant, es- pecificamente, da primeira parte da obra (Estética 73 Anotações:Transcendental), Schopenhauer fundamenta toda a sua teoria filosófica (PACÍFICO, 2020). Marcondes (1997) afirma que o filósofo, o sujeito condiciona o objeto, assim todo objeto é uma representação para o sujeito. A representação é um estado subjetivo e é uma contribuição das formas do tempo e espaço, do entendimento (causalidade) e da sensibilidade. Ela é como um véu ilusório que nos impede de alcançar a coisa em si, e a coisa em si é a essência do mundo, chamada vontade. Assim, a Filosofia schopenhaueriana mistura a herança filosófica kantiana com o pensamento oriental. Soren Kierkegaard (1813-1855), um filósofo dinamarquês, foi o primeiro existencialista. A sua formação mistura elementos da Teologia e da Filosofia, próxima à linha filosófica de Blaise Pascal. Também estudou com Schelling em Berlim. Seu pensamento carrega um caráter subjetivista, trágico e pessoal. O estilo irônico apresenta críticas ao pensamento cartesiano e hegeliano. Produziu análises sobre os sentimentos mais profundos do ser humano, como a angústia, o medo, o amor e a existência sem sentido. Não há qualquer formulação sistemática ou doutrinária em sua Filosofia. Questiona a racionalidade no sentido de trazer ao campo da Filosofia Ocidental o papel da irracionalidade em nossas escolhas da vida (MARCONDES, 1997). Karl Marx (1818-1883) formou-se em Filosofia em Berlim, onde entrou em contato com os “jovens hegelianos”, ou “hegelianos de esquerda”, além de conhecer franceses que eram socialistas utópicos, como Proudhon e Fourier. Fundou o Partido 74 Anotações: Comunista, cujo programa foi o famoso texto Manifesto do Partido Comunista, em 1848. Para ele, a tradição filosófica se limitou a buscar interpretar o mundo ao invés de tentar transformá-lo. Assim, acredita que a Filosofia tradicional é uma forma de idealismo por não estar relacionada à realidade social, sendo sem serventia. A filosofia marxiana insere-se na linha moderna de radicalidade crítica em que, para libertar o homem, busca um método para acabar com as ilusões inseridas na consciência. Esta é considerada livre quando está atrelada ao trabalho, tema já analisado por outros filósofos da antiguidade. O trabalho é a questão central da análise filosófica de Marx, pois se trata de uma forma de relação que permanece constante no ser humano e no seu hábitat como uma necessidade da vida humana. Ainda sobre o trabalho, enquanto procedimento altera a natureza e o homem, o que indica que não há uma essência do ser humano (MARCONDES, 1997). Para Marx, o mundo é composto por materiali- dade que precede o espírito, o que explica o entendi- mento de que o ser humano é definido pelas relações de trabalho e de produção. Assim, o homem é um ser material, que é situado historicamente (COSTA, 2004). Partindo desta compreensão, Marx diz que a vida da espécie humana é contada pela História. Ele analisa todas as etapas pelas quais o ser huma- no já passou, das sociedades primitivas à época de ascensão da burguesia, todas caracterizadas pelas relações de produção. Formula, portanto, um dos métodos mais utilizados hoje para compreender a vida em sociedade: o materialismo histórico, que 75 Anotações:também é uma teoria científica da História (MAR- CONDES 1997). Outro grande crítico de toda tradição do pensamento filosófico Ocidental é Friedrich Nietzsche (1844-1900). Filólogo de formação, ele apresentou uma perspectiva de Filosofia: a da afirmação da vida. A sua crítica parte da subversão à história do pensamento humano. Em nosso imaginário, constituiu-se a história da passagem do pensamento mítico para o pensamento científico. Ele questiona isto, além do papel predominante da razão, da lógica, do conhecimento científico e da argumentação racional. Todos estes elementos da evolução do pensamento filosófico ocidental, segundo Nietzsche, afastaram o homem da relação com a natureza. Sócrates foi um dos responsáveis por esse afastamento, ao apontar a primazia da racionalidade, ao mesmo tempo em que se permitiu, historicamente, a repressão do desejo e das forças vitais da natureza (MARCONDES, 1997). Ele buscou em Schopenhauer a noção de existência da vida como expressão de uma vontade universal. Disto, deriva-se a ideia de vontade de potência, que é considerada por Nietzsche a fonte da valoração do ser humano (COSTA, 2004). Em sua Filosofia, o filólogo alemão buscou resgatar valores antigos, que eram expressos através dos rituais dionisíacos, envolvendo a embriaguez e a dança. Dionísio é o deus da música e da embriaguez e que habitava a natureza, representando o excesso, a alegria e a força vital. Nietzsche chama esta perspectiva histórica de espírito dionisíaco. A sua maneira de crítica à tradição buscou esquivar-se da forma tradicional de pensar filosoficamente, 76 Anotações: e criou um novo estilo cuja característica é ser irônico, iconoclasta e fazer da filosofia um martelo (MARCONDES, 1997). A Filosofia no século xx: a contemporânea e suas correntes Podemos partir da ideia de que a Filosofia, no período contemporâneo, é a continuidade de uma resposta à crise do projeto de pensamento moderno, no século XIX, que tinha o objetivo de fundamentar as teorias do conhecimento e das ciências, cuja análise esteve calcada na subjetividade e no sujeito que tem uma consciência, uma mente que pensa, e que possui experiências empíricas sobre o real. A crise no pensamento moderno foi aberta, no século XIX, através dos questionamentos de Hegel em relação à subjetividade sem ser pensada pela formação histórica, e de Marx, que via problemas nos pressupostos idealistas não materialistas sobre essa questão. Bem como da ruptura promovida pelos românticos, que não viam, com entusiasmo, a relação de conhecimento entre o homem e a realidade através somente das ciências. O problema central estaria na atribuição à subjetividade como fator central para o conhecimento. Tanto Marx, quanto Hegel, mostraram, através de suas análises, que a via da subjetividade pura e simples para a condição de conhecimento foi um caminho ilusório para a fundamentação das bases da teoria do conhecimento moderno (MARCONDES, 1997). Se as questões sobre o conhecimento condi- cionadas pela subjetividade, quer dizer, condicio- nadas pelo “eu” cartesiano, não corresponderam 77 Anotações:positivamente à relação entre o sujeito e do obje- to, logo surgiu uma alternativa para explicar esta relação. Segundo o pesquisador Danilo Marcondes (1997, p. 285), “a linguagem surgiu como uma al- ternativa para dar dimensão àquela relação com ênfase na significação”. Ao analisar o significado e os processos que o sujeito produz como sim- bolização, constitui um novo caminho para funda- mentar o elemento básico daquela relação. Portanto, ou o sistema simbólico é o fundamento para o pensamento subjetivo, e os processos da mente apoiam-se sobre a linguagem e o significado, ou a linguagem é constituída de estruturas formais, e a sua relação com a realidade é independente da consciência individual, ou seja, da nossa subjetividade. Vemos que é a natureza da linguagem e o que ela diz sobre a realidade, o sentido das questões linguísticas e dos signos, que surge como a questão a ser analisada na Filosofia, bem como em outras áreas do conhecimento. A Filosofia Analítica foi uma expressão deste interesse filosófico pela linguagem. Tal linha de pensamento filosófico surgiu em um círculo de pesquisadores e cientistas que fundaram a teoria do positivismo lógico, em Viena. Ela construiu as bases dos conceitos sobre o que são fatos possíveis de serem observados e atribuiuao próprio campo filosófico a tarefa de esclarecer os conceitos e as regras lógicas próprias da ciência. Ludwig Wittgenstein (1889-1951), famoso filósofo desta corrente, desenvolveu a Filosofia da Linguagem no século XX (COSTA, 2004). Marcondes (1997) mostra que, no século XX, também surgiu, na França e na Alemanha, 78 Anotações: outro movimento importante, a Fenomenologia. Inaugurada por Edmund Husserl (1859-1938), é caracterizada como ciência da experiência da consciência, cujo termo tem origem em Hegel. Segundo Husserl, a Fenomenologia é um método que explica, através da análise da consciência que se condiciona pela relação com o real e as estruturas da experiência humana com a realidade. Por se tratar de um método que parte da consciência e da subjetividade, esta corrente filosófica está inserida no contexto de uma continuidade da modernidade, apesar de apresentar uma outra saída que consiste em descrever os elementos básicos de nossa experiência, e não legitimar a ciência. Segundo Cotrim (2017), a fenomenologia, como um método de descrição das coisas percebidas pela consciência humana, abre margem para pensar a existência humana, que ganha importância nas reflexões de outro grande filósofo do século XX, o francês Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), um dos fundadores da corrente intitulada Existencialismo. A Filosofia do Existencialismo tem como base o movimento do século XIX, da revolta contra a razão e a ciência como únicos meios de conhecimento. Para este movimento filosófico-artístico, a paixão pela vida era algo crucial para o pensamento humano (COSTA, 2004). Outra inspiração para a origem desta corrente vem das análises da fenomenologia, em que Sartre tomou como inspiração o pensamento do filósofo alemão Heidegger. Outros pensadores que influenciaram o francês foram os ensinamentos de Sócrates e Kierkegaard, que em seus ensinamentos valorizavam uma forma de refletir através da 79 Anotações:experiência humana, em oposição à sistematização do pensamento. A Filosofia deve, portanto, ensinar a partir do que aprendemos com nossas experiências vitais (MARCONDES, 1997). Filósofos e filósofas existencialistas preocu- pavam-se com a finitude do ser humano no mundo. Esta preocupação como primazia desta Filoso- fia não se baseava nas questões fundamentais da metafísica, como a transcendência e a imortali- dade. Estes pensadores também rejeitavam o cogi- to “penso, logo existo” cartesiano. A consciência não poderia vir primeiro que a experiência porque a primazia da existência antecede o pensamento, ela faz parte da existência, construída ao longo da vida e que se dá pelo convívio em sociedade e pelo contato com os objetos. São as ações, os desejos e os sentimentos do homem que geram a sua própria existência. A importância da liberdade é elementar nesta Filosofia porque a formação do homem se dá pelas suas escolhas (COSTA, 2004). Algumas características fundamentais da teoria existencialista podem ser compreendidas através do entendimento de que o homem é um ser em aberto, imperfeito e inacabado, e que veio ao mundo sob ameaça constante. A vida não tem um caminho a ser seguido de maneira linear, em outras palavras, que não segue em direção ao pro- gresso ou prosperidade. É marcada pelo sofrimen- to, por doenças, injustiças, luta constante pela so- brevivência, derrota e morte de forma que é preciso encarar todos estes elementos da existência hu- mana a cada dia. A própria liberdade está condicio- nada pelos acontecimentos históricos, o que quer dizer que querer não é poder e as ações do homem 80 Anotações: podem ou não superar os obstáculos que o caminho da existência lhe apresenta (COTRIM, 1996). Alguns dos representantes desta Filosofia, (além de Sartre, que foi, além de filósofo, romancis- ta e dramaturgo) foram Simone de Beauvoir, pensa- dora da condição existencial feminina, e também o escritor e ensaísta Albert Camus, que escreveu alguns clássicos literários do século XX, como o Es- trangeiro (1942) e A peste (1947). Esta obra bateu re- corde de vendas na França e em outros lugares do mundo, no período de pandemia da COVID-19, como mostrou a matéria da BBC, de 12 de março de 2020. Um dos motivos da obra voltar a vender milhares de exemplares ao redor do mundo, depois de seten- ta anos, é o fato do livro tratar do tema da morte, do absurdo da vida, do problema da liberdade e da existência sem sentido em meio a uma situação de crise sanitária. Outra escola que surgiu com força ao longo do século XX foi a de Frankfurt. Esta escola alemã apresentou a teoria crítica. Marcondes (1997) afirma que a sua primeira geração contou com nomes importantes do pensamento contemporâneo, como Theodor Adorno e Max Horkheimer. Eles desenvolveram uma teoria cuja crítica da cultura e da sociedade tem como base a retomada do pensamento de Hegel e algumas teorias econômicas de Marx. A preocupação dos pensadores de Frankfurt foi o contexto cultural, social, questões de valores, a sociedade na era industrial, entre outros temas que envolvem a sociedade ocidental. Assim, eles criticaram a concepção de ciência promovida pelo positivismo lógico, buscando fundamentar a diferença entre as ciências naturais, 81 Anotações:a física e a matemática com suas respectivas metodologias do método adotado pelas ciências humanas. A lógica das ciências naturais como o paradigma não foi vista como um bom critério que poderia colaborar com as teorias das ciências humanas, uma vez que teriam como característica a interpretação da sociedade e da cultura, com vistas à emancipação humana. A condição pós-moderna da Filosofia O pensamento francês está pautado pelo estruturalismo. Esta teoria foi inaugurada pelo linguista Ferdinand Saussure (1857-1913). Ela é caracterizada pelo conceito de estrutura, que é um conjunto cuja relação é definida por regras e que organiza o todo de uma cultura por meio de princípios. Assim, uma parte desta organização só pode ser compreendida quando se compreende o todo. Nesta teoria, não há possibilidade de pensar que o todo é a soma de todas as partes, formando, assim, uma unidade constituída por aquela estrutura. A estrutura como um todo é considerada linguística, Saussure explica que a língua é uma forma de sistema constituída por diferenças. Um som e um fonema são caracterizados pela oposição aos outros fonemas da língua. O méto- do do estruturalismo é analisar, pela investigação das regras e dos princípios que constituem uma estrutura, a significação e as relações que ela efetiva. Há, a partir deste método, uma ruptura do estruturalismo com o subjetivismo e a consciên- cia, que fazem parte da constituição na teoria do conhecimento moderno. A investigação passa 82 Anotações: pelas estruturas que são autônomas, indepen- dentes da mente e que constituem a realidade em âmbitos diversos, seja cultural, seja biológico (MARCONDES, 1997). Podemos dizer que o estru- turalismo tem como base observar as estruturas que aparecem em diversas culturas, podendo in- vestigá-las sem precisar compreender os fatores históricos (COSTA, 2004). Ao ter como princípio a ideia científica de descrever, identificar e expor as regras e os princípios que constituem uma estrutura, alguns filósofos franceses apresentaram teorias impor- tantes sobre a nossa sociedade. O primeiro filó- sofo impactado por esta forma de pensar a reali- dade é Michel Foucault (1926-1984). Ele carrega em seu pensamento influências diversas, da política de Marx, da crítica de Nietzsche e da psicanálise de Freud. A obra de Focault tem um caráter que contesta os valores estabelecidos pela sociedade ocidental. Elaborou e apresentou dois métodos bastante influentes: a arqueologia e a genealogia. A primeira diz respeito à análise do discurso de algum tipo de ciência, que busca explicar as características e as práticas de determinada ciência. A segunda refere-se à análise da origem dos valores morais estabelecidospela nossa sociedade, cuja intenção é desmistificar certas doutrinas, crenças e mitos sociais. Como crítico da Filosofia moderna, apresenta análises que expõem o papel da medicina, da psiquiatria, das prisões, bem como os conceitos que permeiam a subjetividade e a natureza humana (MARCONDES, 1997). 83 Anotações:Outro filósofo que apareceu neste período foi Gilles Deleuze (1925-1995). Apesar de ser reconhecido como comentarista de diversos filósofos como Spinoza, Leibniz, Hume, Kant e Nietzsche, desenvolveu a sua teoria filosófica cujas características é não ser sistemática e crítica à Filosofia tradicional. A sua Filosofia parte de dois conceitos fundamentais: a identidade e a diferença, e expõe, através destes conceitos, os seus pressupostos ontológicos e epistemológicos. Escreveu, em 1972, a obra AntiÉdipo, junto ao psicanalista francês Félix Guattari. Neste livro, ambos promovem uma crítica aos fundamentos psicanalíticos de Sigmmund Freud, bem como buscam reinserir a valorização do corpo e do desejo no debate filosófico (MARCONDES, 1997). O termo pós-moderno apareceu somente com o filósofo Jean-François Lyotard (1924-1998), em sua obra de 1972, intitulada “A condição pós- moderna”. Apesar de ter vivido no mesmo período cultural que Deleuze e Foucault, não foi um crítico ao sistema moderno de Filosofia, nem se propôs ao rompimento com aquele pensamento. Contudo, elaborou um método capaz de superar os postulados que envolvem a epistemologia e as categorias da modernidade. Segundo o seu método, para que haja uma valorização da estética, que envolve o sentimento, a criatividade e a inspiração, seria preciso abandonar os valores estabelecidos pelo pensamento moderno, isto é, a centralidade da ciência como único saber possível (MARCONDES, 1997). 84 Anotações: As mulheres na Filosofia Cabe ressaltarmos que ao longo da História da Filosofia, as mulheres tiveram presença mar- cante. Duas importantes pensadoras, por exemplo, ensinaram o famoso filósofo Sócrates, a saber, Di- otima de Mantineia (440 a.C.) e Aspásia (470-400 a.C.). A importância de Diotima na Filosofia grega clássica se expressa em seu aparecimento como uma das personagens de Platão, no clássico diálo- go O banquete, em que apresentados as questões sobre o Eros, ou o amor. Aspásia apareceu em re- latos também de Platão e de outros pensadores daquele período. Outra pensadora importante do período clássico, no helenismo, é Hipátia de Alexandria. Ela foi considerada a primeira mulher a fazer teorias matemáticas, além de uma astrônoma renomada, foi mentora da Filosofia platônica em Alexandria. Por conta desta relação com o platonismo, e por ter sido da mesma escola do filósofo Plotino, ela é considerada uma filósofa neoplatonista. É importante ressaltar que o fato de o papel das pensadoras da antiguidade, na construção do pensamento filosófico ocidental, não ter sido reconhecido ao longo da história está relacionado às questões da construção social das mulheres, ao papel que lhes é atribuído, bem como aos valores que sociedade impõe à educação feminina. Nos últimos anos, essa condição vem mudando con- forme o avanço das pautas sociais reivindicadas pelas mulheres, dentro do mercado de trabalho e, para além deste âmbito, os papéis sociais que buscam desenvolver. Isto se refletiu nas universi- 85 Anotações:dades, tanto na Filosofia quanto nas Ciências de modo geral, onde as mulheres têm protagoniza- do pesquisas fundamentais para a sociedade. É o caso da cientista polonesa Marie Curie (1867-1934), que desenvolveu pesquisas pioneiras sobre a ra- dioatividade, sendo a única mulher a ganhar duas vezes o prêmio Nobel de Química, além de ter sido a primeira pessoa a conquistá-lo. Na Filosofia contemporânea, duas pensado- ras protagonizaram alguns dos grandes debates do século XX. Hannah Arendt (1906-1975) desen- volveu teorias a partir da política, sendo as mais célebres: o conceito de banalidade do mal e de totalitarismo. Esses conceitos são fundamentais para compreender o desenvolvimento de regimes autoritários e ditatoriais do século passado, e que dão arcabouço teórico para compreender a atual situação política no mundo. Já Simone de Beauvoir buscou desenvolver teorias sobre a condição femi- nina a partir da Filosofia hegeliana, e trabalhou com o conceito histórico e cultural da mulher. O segundo sexo, de 1949, é o seu livro mais conhecido. Através dele, trouxe o debate sobre sexualidade e gênero para dentro do escopo da História. Hoje, duas pensadoras de destaque no pensamento contemporâneo são Angela Davis (1944) e Nancy Fraser (1947). Angela Davis é professora de Filosofia e ativista dos EUA. Foi aluna e orientanda do filósofo alemão Herbert Marcuse (1897-1979), da Escola de Frankfurt. Davis alcançou notoriedade através das lutas pelos direitos civis, na década de 1970. Publicou livros de referência internacional sobre as questões em torno da instituição prisional, sobre gênero, raça e classe, 86 Anotações: e a questão da liberdade na contemporaneidade. Integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos e os Panteras Negras, além de ter sido duas vezes candidata à vice-presidência da República, em 1980 e 1984. Nancy Fraser é professora de Filosofia e Política na New School for Social Research, em Nova Iorque. Ela é uma teórica crítica das questões femininas e ativista dos direitos das mulheres. Publicou livros sobre a democracia e o capitalismo, tornando-se uma das principais referências dentro do debate sobre a crise capitalista e a ascensão das lutas por direitos. No Brasil, Marilena Chaui é um dos principais destaques nas pesquisas sobre política e ética. Em muitos artigos e livros publicados, ela trata do conceito de ideologia, da liberdade e da violência social. Na próxima unidade, trataremos das questões relacionadas à Ética e como ela é considerada um campo de investigação muito importante para a Filosofia. 87 Anotações: 88 Anotações: U ni da de 3 Videoaula 1 Videoaula 2 Videoaula 3 Videoaula 4 Videoaula 5 90 Anotações: 91 Pensar nos valores estabe- lecidos pela sociedade nos faz dar conta da importante tarefa que a espécie humana tem em relação às próprias ações no mundo. A partir da análise do filósofo e professor especialista em Ética, Pedro Galvão, podemos indicar quais são os valores que orientam e influenciam a vida e as decisões das pessoas no mundo, incluindo a maneira como pensam sobre o que seria bom ou ruim para elas. O PAPEL DOS VALORES DE NOSSA SOCIEDADE 92 Anotações: Assim, elas pensam sobre seus próprios valores e in- dicam o que consideram valores importantes, como por exemplo, o respeito e a honestidade. Estes são valores considerados por muitos como elevados porque é a partir destas noções que as pessoas po- dem dirigir as suas vidas para a realização de boas ações, ou ter preferência por alguma coisa que os afetam (GALVÃO, 2016). Os valores estabelecidos pela sociedade em que vivemos são considerados tão importantes, que há a intenção de muitas pessoas em impor tais valores às demais. Estes valores possuem diversas características e estão relacionados a três preceitos fundamentais: à Ética (regras de conduta), à Estética (noção do belo e da arte) e à religião (noção sobre a espiritualidade). Quando estes valores são confrontados com outros de culturas diferentes, cujos valores são distintos da sociedade em que vivemos, nesse momento é que as pessoas pensam neles como universais (GALVÃO, 2016). É preciso refletir sobre o que são os valores para que possamos compreender a sua importância em nossa sociedade. Os valores nem sempre são inteiramente subjetivos (individuais). Temos, então, que pensar nos critérios possíveis de medir os valores de maneira objetiva. Podemos partir da distinção entre valores e fatos. Há dois juízos: o juízo de valor e o juízo de fato. O juízo de fato descreve alguns aspectos da realidade, como:“aquele homem tem um metro e noventa” ou “a pena de morte existe em alguns países”. Estes enunciados têm o valor de verdade, e não dependem do que a pessoa pensa em relação a eles. Assim, se são verdadeiros é porque descrevem a realidade como ela é. 93 Anotações:A função do juízo, de fato, é apresentar algo que corresponda a um fato no mundo. O juízo de valor não se limita à correspondência com a realidade e à veracidade de alguma coisa no mundo. Ao afirmar que “o homem é desonesto” e “a pena de morte é justa”, a pessoa pode estar pensando em algo que pode ou não ser verdadeiro, porque estas afirmações dependem das crenças ou do gosto pessoal de quem as profere. Este juízo tem o potencial normativo porque se destina a fazer com que sejamos influenciados por eles quando pretendemos avaliar alguma coisa que seja benéfica para nós mesmos (GALVÃO, 2016). Em outra perspectiva, podemos pensar nos valores como formas estabelecidas por quem valora algo. Assim, a filósofa Maria Lúcia de Arruda Aranha (2005) afirma que no mundo há a divisão entre coisas e valores, como se existissem dois mundos: o mundo das coisas e o mundo dos valores. Contudo, não existe a possibilidade de afirmarmos que os valores são da mesma forma como são as coisas, em outras palavras, não existe o valor em si enquanto coisa. Logo, podemos inferir que o valor é sempre uma relação entre o sujeito que valora e o objeto valorado. Assim, atribuir um valor a alguma coisa é não ficar indiferente a ela. O que nos leva a pensar que a não indiferença é a característica fundamental do valor. Ainda, segundo Aranha (2005), fazer uma valoração sobre alguma coisa é uma das experiências que caracterizam a humanidade, porque quando valoramos algo, abre-nos uma possibilidade para fazer escolhas na vida. Assim, a valoração é a origem de onde partem as nossas 94 Anotações: escolhas. A valoração tem como finalidade ser a orientação de nossas ações. Quando planejamos uma ação, estamos priorizando valores centrais de nossas vidas, ou seja, estamos escolhendo o que é melhor para nós, a fim de atingir o objetivo que desejamos e, com isso, evitar algo que possa nos trazer alguma perda inestimável. É preciso compreender o que é a ética e a moral na Filosofia para percebermos as questões que norteiam os valores da sociedade. A ÉTICA E A FILOSOFIA Existe, dentro do campo da Filosofia, uma preocupação genuína com os princípios que norteiam a nossa sociedade e a cultura ocidental. Os pensadores da Filosofia buscaram determinar a boa conduta do ser humano. Criou-se, então, princípios considerados como os fundamentos filosóficos para tal conduta, os quais estão relacionados ao valor final que é, em si mesmo, um desejo, o que por sua vez mostra que não se trata de um meio para alcançar um objetivo. Podemos afirmar que há algumas condutas que são consideradas boas em si em virtude de uma adaptação a um modelo universal, que é moral (COSTA, 2004). Há três modelos de conduta na História da Ética: a felicidade e o prazer a virtude como dever e a obrigação e o desenvolvimento da potência humana, como a perfeição. Vemos que no hedonismo, a Filosofia cumpria o papel pedagógico que mostrava aos cidadãos que o bem maior seria o prazer. Em outra etapa do pensamento filosófico, no período moderno, a mais elevada de todas 95 Anotações:as realizações do homem foi alcançar o poder absoluto, que não aceitava o conjunto de princípios éticos estabelecido pelos costumes, o que deu margem para a conduta de ações sem critérios adequados, com a simples intenção de obtenção do poder máximo. A sua finalidade era a de convencer as demais pessoas de que a moralidade de um déspota seria a mais adequada. Podemos afirmar que cada sociedade estabeleceu um tipo, cabendo à autoridade de determinada sociedade invocar uma boa conduta a partir: 1) da vontade divina; 2) de um modelo da natureza; 3) da subalternidade à razão (COSTA, 2004). Vemos que a História da Filosofia se deu, simultaneamente, ao desenvolvimento da Ética. As primeiras reflexões, em torno da Ética, surgiram com o círculo do Orfismo e depois foram desenvolvidas por Pitágoras, no século VI a.C. Neste momento histórico, o fator intelectual era considerado de natureza superior à sensualidade do corpo, sendo assim, a base para a interpretação de que a vida boa é a que se dedica à disciplina da mente. Os primeiros céticos do sistema Ético foram os sofistas, porém foi com Sócrates que a virtude ganhou relevância, ao se tornar uma consequência benéfica da educação e do conhecimento. Para ele, as pessoas poderiam seguir agindo de acordo com a Ética universal que determina a virtude como fundamento da vida. Estes pensamentos, em torno da virtude, formaram a base para as escolas de pensamento posteriores, que se debruçaram sobre as questões Éticas gregas (COSTA, 2004). Em verdade, a palavra Ética deriva da palavra grega ethos, e moral deriva da palavra latina mos, mores, o 96 Anotações: que indica que, no período clássico, o termo correto para a noção de virtude viria do preceito da Ética (UNESP, 2013). Em Platão, não existe um ato mal por si mesmo. Esta noção deriva da teoria das ideias, a qual diz que um ato mal é um reflexo imperfeito do real. Por outro lado, o bem é a essência da realidade. Na alma do homem, o que deve ser superior é o intelecto; a vontade deve estar abaixo do intelecto, e as emoções estão submetidas tanto ao intelecto quanto à vontade, portanto, estando abaixo de ambos. Em Aristóteles, o principal objetivo a ser alcançado, e que se dá mediante ao uso da razão, um atributo que somente seres humanos possuem, é a felicidade (COSTA, 2004). Vejamos o que diz Aristóteles (1973, p. 428-430) sobre a relação da razão e a felicidade: Dir-se-ia, também, que esse elemento (a razão) é próprio do homem, já que é a sua parte dominante e a melhor dentre as que o compõem. Seria estranho, pois, que não escolhesse a vida do seu próprio ser, mas a de outra coisa. E o que dissemos atrás tem aplicação aqui; o que é próprio de cada coisa é, por natureza, o que há de melhor e de aprazível para ela; e, assim, para o homem a vida conforme à razão é a melhor e a mais aprazível, já que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz. Numa outra abordagem ética, o estoicismo diz que a vida humana é constituída mediante a 97 Anotações:harmonia com a natureza, que seria racional e possuiria uma ordem interna que a rege. Para esta Filosofia, como vimos, anteriormente, na unidade que apresentou as diversas teorias e pensamentos filosóficos, a vida seria influenciada por forças exteriores, porém cada pessoa precisa estar livre das emoções e acontecimentos que os afligem para ter virtude, definindo a justiça, o valor, o comedimento e a ponderação como elementos fundamentais para a felicidade. No epicurismo, o prazer intelectual é essencialmente o bem, e a contemplação da vida uma expressão da felicidade (COSTA, 2004). No período moderno, uma das principais contribuições à Ética vem da teoria de Kant. Um ato, em sua dimensão moral, não deve ter as suas consequências julgadas, somente o que levou o indivíduo à determinada atitude, ou seja, deve-se julgar a motivação. Kant apresenta uma Filosofia moral, e que relaciona o preceito ético à parte da racionalidade que não é a do conhecimento, mas a da razão prática. Para ele, o homem é um sujeito livre e racional, não limitado, puramente, pela capacidade cognitiva. Ele apresenta estas ideias em três obras fundamentais de sua arquitetura filosófica, a saber: na Fundamentação da metafísica dos costumes, de 1785; na Crítica da razão prática, de 1788; e na Metafísica dos costumes, de 1797. Nas duas primeiras obras, ele expõe as questões da Ética em seu sentido conceitual e abstrato. Na última obra, ele trata da aplicação dela na vida prática (MARCONDES, 1997). A sua Filosofiamoral se distancia daquelas que a precederam. A exemplo, podemos mencionar a crítica kantiana ao ideal helenista de busca pela 98 Anotações: felicidade que aparece nos pensamentos estoico e epicurista. Os seus fundamentos morais são insuficientes, segundo Kant, devido ao conceito de felicidade, que depende da subjetividade e da psicologia. Portanto, é considerado variável, não universal. Já a lei da moral estabelecida por Kant é invariável e universal. Trata-se, portanto, de uma moralidade que tem base no dever (MARCONDES, 1997). A partir do exposto, apresentaremos a seguir a distinção entre as noções de ética e moral, para que se possa alcançar a melhor compreensão destes preceitos filosóficos. DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL A Ética é uma ciência normativa, quer dizer, ela é constituída por princípios que têm a intenção de reger as ações humanas. Ela também pode ser considerada uma Filosofia da moral, portanto, trata-se de uma disciplina filosófica. Todos os atos que cometemos na vida possui um valor moral, esses valores são mediadores de escolhas nossas para a ação na vida cotidiana. Então, podemos entender a Ética como uma reflexão sobre a moral, em outras palavras, sobre o nosso comportamento (COSTA, 2004). Tudo o que é relativo às regras do compor- tamento de cada pessoa, em sociedade, é o que chamamos de moral. É através dela que é possível garantir a estabilidade e o funcionamento so- cial, bem como as transformações da sociedade. Apesar de ter algumas normas de valoração que variam de acordo com o tipo de cultura e socie- 99 Anotações:dade, além do momento histórico, existem valores fundamentais considerados universais (COSTA, 2004). Para exemplificar essa questão, podemos partir da ideia do famoso escritor e filósofo Mário Sérgio Cortella (2013), que traz a noção de que se a amizade é um valor universal, a sua expressão varia conforme os costumes sociais. De modo geral, a moral diz respeito a pensar o bem e o mal. Fazer o bem é fazer coisas que beneficiem alguém, como por exemplo, proteger uma criança. Isso acontece, porque, em certa medida, temos o dever a ser cumprido para agir de tal modo. Fazer mal é fazermos algo ruim para alguém, o que descumpre o nosso dever em sociedade. A partir disso, podemos dizer que há uma relação profunda entre o Direito e a moral. Por isso, vemos que o Direito Penal se utiliza das leis jurídicas para julgar o que é considerado correto moralmente (UNESP, 2013). Isso acontece porque uma lei jurídica representa, portanto, uma regra de conduta (moral) baseada no Estado (COSTA, 2004). DO ESTABELECIMENTO DE VALORES E SUA IMPORTÂNCIA: UM ESTUDO AXIOLÓGICO Devemos pensar que a vida em sociedade necessita de alguns componentes morais, para que haja correspondência cordial entre nós. Pensemos, por exemplo, nos componentes fundamentais da vida em sociedade: liberdade, responsabilidade e consciência. Existe, no campo filosófico, um estudo sobre os valores, chamado de axiologia. Há três características da experiência axiológica: 100 Anotações: 1. a materialidade da experiência; 2. há sempre um sujeito responsável na experiência; 3. há sempre novas formas de ação do agente, apesar da descoberta de valores essenciais. O primeiro significa que os valores são experienciados pelo agente numa situação material. O segundo significa que os valores são repassados a nós por intermédio de alguma coisa, direta ou indiretamente. O terceiro significa que os valores, apesar de parecerem eternos, são transitórios (COSTA, 2004). A valoração está inserida num contexto de determinada criação de valores, quer dizer, quando determinada ação possui algum significado para a sociedade. Ao tomarmos consciência de determinado valor, obrigamo-nos a ter alguma relação com as demais pessoas em sociedade, cumprindo os deveres necessários, nesse sentido, os valores constituem as nossas ações. Quando os valores são estabelecidos, não podem ser subjetivamente relativizados, então, podemos dizer que são os valores que limitam a nossa ação, dando condições de possibilidade para elas acontecerem e ao mesmo tempo, dão limites aos quais podemos nos submeter (COSTA, 2004). Daremos um exemplo sobre o papel que os valores têm na sociedade, os quais dão condições de possibilidade para a educação das pessoas. Na instituição educacional, o estudante tem condição de participar ativamente das aulas, bem como o professor pode colaborar com a sua formação. Isto, 101 Anotações:sem precisar da imposição firme de um juízo que limite o estudante, bem como a sua autoridade que não será perdida, porque os dois estarão em comum acordo sobre o valor universal a ser seguido. Dessa forma, permite um diálogo entre eles e, assim, encaminhar um trabalho em conjunto, onde o projeto será de interesse geral. Tanto o estudante, quanto o professor estarão submetidos ao mesmo signo de valor, isto é, a busca pela verdade (COSTA, 2004). A seguir, mostraremos como, a partir da valoração, as relações sociais são originadas. A DIMENSÃO MORAL DA VIDA SOCIAL Existem ideais fundamentais para as questões da Ética e da moral. São elas: o direito, o dever, a condenação, a punição e a proibição. Veremos algumas explicações em torno dessas ideias que permeiam a vida social. Mantemos relações com as pessoas e com as instituições através das relações morais, como seu fundamento. A dimensão moral da vida social é constituída pelo conjunto daquelas relações morais. Estas se diferem de outros tipos de relações, consideradas não morais. As não morais são exemplificadas pelas relações de amizade, maternidade e de descendência. Este tipo é biológico, não social; a de amizade é somente social; a de maternidade é biológica e social. Todas essas podem ter alguma aproximação com a moral, mas, essencialmente, não são relações morais porque estão isentas de obrigações a serem cumpridas (UNESP, 2013). 102 Anotações: A conduta moral é formada pelo conjunto das relações morais. As relações morais caracterizam- se pelas exigências morais, feitas por cada um de nós em sociedade, exemplificadas pelo respeito, pela consideração e pelo tratamento digno que o ser humano merece. Disso, derivam as expectativas morais: que é o que cada um de nós espera do outro, ou melhor, na expectativa que temos no cumprimento das exigências mencionadas. Daí se originam os sentimentos morais, como a gratidão, o ressentimento, a culpa e a indignação, esses sentimentos nascem das expectativas cumpridas ou não pelo outro. Ao final, podemos ter em vista que as atitudes morais derivam dos sentimentos morais. As atitudes morais manifestam-se através da condenação, louvação, agressividade ou culpa (UNESP, 2013). O ato de condenar e punir são formas elementares à vida em sociedade. Contudo, é preciso refletir sobre a forma como conduzimos a condenação de outra pessoa. Como obtemos esse direito de condenar alguém? Podemos responder, filosoficamente, da seguinte forma: teríamos esse direito pelo fato de alguém ter feito mal a nós, e por reconhecer que se tivéssemos feito algum tipo de mal, também aquela pessoa poderia nos condenar ou punir. Assim, podemos compreender que se trata de um acordo prévio entre as pessoas, para que se estabeleçam condutas que determinem a proibição de algumas atitudes que rompam as nossas relações sociais (UNESP, 2013). A proibição é uma parte essencial à Ética porque através dela podemos agir de forma correta e qualquer conduta considerada errada, no sentido 103 Anotações:moral, aparece como uma conduta proibida. A proibição sempre traz consigo a ameaça de punição. Alguém que inflige um crime contra outra pessoa, ou seja, que pratica moralmente uma ação errada pode ser condenado através da punição moral. A proibição serve também para nos impedir de cometer atos considerados de conduta errada, em outros termos, criminosa. Assim, podemos afirmar que o que nos impede de cometeratos errados, moralmente, é a manifestação da consciência pesada, quer dizer, o sentimento de culpa (UNESP, 2013). A CONDUTA HUMANA Quando se fala de conduta humana, certa- mente, qualquer pessoa já se colocou muitas vezes, também têm sido preocupação dos filósofos através dos tempos. No mundo dos valores, geralmente, quan- do falamos em moral, nos referimos às regras de con- duta aceitas por um grupo ou pessoa, como já men- cionamos. Ora, uma das preocupações do homem ao se comportar, moralmente, é saber distinguir o bem do mal, já que agir moralmente significa agir de acor- do com o bem. Portanto, o sujeito moral, ao se per- guntar como deve agir, em determinada situação, certamente, aproxima-se de outras questões mais teóricas e abstratas tais como: em que consiste o bem? Qual é o fundamento da ação moral? Qual é a natureza do dever? Colocando tais questões - às quais já exemplificamos e respondemos algumas delas-entramos, no campo da ética que, como já vimos, é uma reflexão teórica que realiza a crítica sobre a experiência moral e que tem por finalidade discutir as noções e princípios que fundamentam nossa conduta moral (MAXIMIANO, 2004). 104 Anotações: Ao exigir de uma pessoa que cumpra alguns deveres, estamos revelando que há, implicita- mente, um acordo prévio. Este acordo pode ser denominado de contrato. Assim, compreendemos que o acordo/contrato implícito é o fundamento das exigências morais. Isto se dá, porque essas ex- igências somente possuem algum sentido para nós, caso estejamos inseridos no contrato moral. Se houver uma violação de uma das “leis” do contrato pode ocasionar sentimentos cuja intenção é come- ter o ato de punição a quem o violou (UNESP, 2013). No período da Filosofia Moderna, surgiu um termo que se vincula às questões da Ética. Trata-se do contrato social, ou o contratualismo. Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau e Kant são alguns dos nomes que apresentam leitu- ras e análises sobre essa noção filosófica (UNESP, 2013). Hobbes escreveu em sua obra O leviatã (1651), que os homens são seres de índole má e, por isso, necessitam de um Estado que reprima o desejo de fazer o mal uns aos outros. Rousseau, por outro lado, escreveu em seu Contrato Social (1762), que o mal se dava por meio dos desvios causados pela socie- dade, e que o homem é, essencialmente, bom quan- do não é corrompido pela sociedade. Para Kant, a moralidade de uma ação deve ser julgada somente a partir da motivação que levou o homem a cometer um ato de violação de tal contrato (COSTA, 2004). Em sua obra, A Condição Humana (1987), a filósofa alemã Hannah Arendt salienta que não se pode dizer que o homem tem instintos como os que os animais possuem, pois a consciência que o homem tem de si próprio o orienta. Por exemplo, o ser humano tem o controle da sua sexualidade e de sua 105 Anotações:agressividade, que estão submetidas às normas e sanções da coletividade social e, posteriormente são assumidas pelo próprio indivíduo. A condenação do homem está em sua expulsão do paraíso, a partir do momento em que deixou de permanecer na natureza da mesma forma que os animais ou as coisas. O comportamento humano passa a ser avaliado pelos preceitos ético-estéticos, pela religião ou pelo aspecto mítico. Isso significa que os atos referentes à vida humana passaram a ser avaliados como bons ou maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoados por Deus (ARENDT, 1987). A condição humana é de ambiguidade porque o ser humano não pode ser reduzido a uma compreensão simples, como é nosso entendimento sobre os animais, sempre acomodados ao mundo natural e, portanto, semelhantes a si mesmos. O ser humano é o que a tradição cultural quer que ele seja, contudo, constantemente, tenta romper com a tradição. Assim, a sociedade surge porque o homem é um ser capaz de criar interdições, ou seja, de fazer proibições, normas que definem o que pode e o que não pode ser feito (ARENDT, 1987). Por outro lado, o homem também é capaz de cometer transgressões. Transgredir é, portanto, desobedecer. Não nos referimos apenas à desobediência comum, mas aquela que rejeita as regras arcaicas e ultrapassadas para instaurar novas regras que são mais adequadas às necessidades humanas, diante dos problemas colocados pela nossa existência em sociedade. A nossa capacidade inventiva nos leva a desalojarmo- nos do que já foi estabelecido e caminhar em busca do que ainda não existe. Portanto, o homem é um 106 Anotações: ser que é ambíguo, e está em constante busca de seu próprio caminho e de si próprio. Segundo Arendt (1987), o ser humano se constrói o tempo todo, como um ser histórico. Dessa forma, a autora menciona outro importante pensador e analista social, o italiano Antônio Gramsci, que explica: O que é o homem? É esta a primeira e principal pergunta da filosofia. (...) Se pensamos nisso, a própria per- gunta não é uma pergunta abstrata ou “objetiva”. Nasceu daquilo que refletimos sobre nós mesmos e so- bre os outros e queremos saber, em relação ao que refletimos e vimos, o que somos e em que coisa podemos nos tomar, se realmente e dentro de que limites somos “artífices de nós próprios”, da nossa vida, do nosso destino. E isto queremos sabê-lo “hoje”, nas condições dadas hoje, pela vida “hodierna” e não por uma vida qualquer e de qualquer homem. (GRAMSCI apud ARENDT, 1987, p.48) Portanto, podemos observar que é por este motivo que somos capazes de considerar o homem como um ser histórico, cuja capacidade atinge a compreensão do passado e realiza a projeção do futuro. Consegue, assim, aliar a tradição à mudança, dar continuidade ou promover rupturas, fazer interdição ou transgredir, que são desafios constantes na construção de uma boa sociedade. Outras noções, na contemporaneidade, também contribuíram para novas perspectivas em 107 torno da Ética. Como a do filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970), cuja compreensão passa pela ideia de que os juízos de moralidade são expressões individuais ou costumes aceitos em sociedade. O homem está completo, quando participa da vida social e pode expressar tudo que deseja e que faz parte de sua natureza. O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), que foi professor de Hannah Arendt, apresentou a noção de que os seres humanos estão sozinhos no universo, assim devem assumir o compromisso ético com as suas próprias decisões, tendo em mente a sua finitude, em outros termos, tendo a consciência da morte (COSTA, 2004). Na próxima unidade, apresentaremos a relação entre a Ética e o mundo do trabalho. U ni da de 4 Videoaula 1 Videoaula 2 Videoaula 3 Videoaula 4 Videoaula 5 110 111 Hoje, o mundo do trabalho está relacionado às organizações que acompanham a realidade do mercado, a qual tem exigido serviços e produtos de alta qualidade. Esta relação tem a intenção de preparar as empresas para as exigências da clientela, bem como para as mudanças repentinas do mercado. Para isso, tem-se redesenhado um cenário para as diferentes mudanças. Novos perfis de organização e de colaboradores vêm sendo desenvolvidos no mercado, devido à globalização (LUNA; MENDES, 2019). REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA NO TRABALHO E NA CIDADANIA 112 Anotações: Foi preciso repensar o comportamento no âmbito da empresa, visando atingir o interesse de determinada comunidade para atendê-lo com qualidade. Assim, as empresas precisavam adequar-se ao perfil coletivo, com a intenção de agir de acordo com a Ética, o que garante, em parte, um retorno positivo para determinada empresa. Esse tipo de ação, que visa o interesse da comunidade, é visto como uma forma de contribuição (LUNA, MENDES, 2019). A partir dessa mudança global no mundo do trabalho, o indivíduo passou a fazer parte do coletivo, o que trouxe novos requisitos para ações morais em sociedade. Neste sentido, as organizações do mundo do trabalho têm buscado novas formas de aperfeiçoamento ético,usando como ferramenta o código de ética para a universalização da cultura organizacional de uma empresa (LUNA, MENDES, 2019). Veremos a seguir como a globalização e a Ética estão relacionadas, e como elas abriram novos caminhos para pensar as questões do mundo do trabalho. A ÉTICA E AS EMPRESAS: UMA RELAÇÃO HISTÓRICA Através das relações produzidas pela globalização, a Ética precisou ser trazida ao campo do trabalho porque o papel social, a responsabilidade, o respeito e as informações transparentes das empresas têm sido cada vez mais exigidos pela sociedade. Isso acontece, nesse período histórico, devido às consequências da 113 Anotações:tendência individualista adotadas pelas pessoas como modelo de vida, que é uma das características do sistema econômico vigente, o capitalismo. Nossa sociedade tem uma enorme diversidade cultural, bem como desigualdade econômica, e podemos observar que elas se expressam em desigualdades sociais. Por sua vez, todos os elementos de nossa sociedade criam um ambiente de instabilidade mais agravado pela indignação, que é uma característica do comportamento humano (COSTA, 2004). Assim, um dos compromissos sociais da educação é formar trabalhadores éticos. Ser um trabalhador ético significa ter responsabilidade com a cidadania e, além disso, estar inserido no compromisso de conviver, em harmonia, com seus colegas de trabalho, bem como o de respeitar o meio ambiente (COSTA, 2004). Como podemos observar, não é qualquer tipo de formação que é capaz de educar, eticamente, as pessoas para as novas condições sociais, ambientais e trabalhistas da sociedade capitalista. Uma das questões centrais deste momento histórico é pensar a relação entre a ética e o modus operandi de uma empresa. Traremos uma breve perspectiva histórica desta relação. Há muitos anos, o ramo empresarial já existe, promove registros e trocas comerciais. Contudo, o comércio não era uma atividade fundamental no início de seu desenvolvimento. A análise ética no comércio foi, até o período moderno, considerada algo negativo. Podemos observar que o advento da Ética empresarial produziu ataques às práticas comerciais. Por exemplo, Aristóteles, que foi considerado o primeiro economista da História, 114 Anotações: definiu, em dois sentidos, o termo economia como: 1) a economia doméstica considerada essencial para os afazeres de uma sociedade simples e; 2) a troca que tem por finalidade, exclusivamente, o lucro. Para o filósofo grego, esta forma de atividade econômica não tinha qualquer traço de virtude. Dessa forma, esta noção aristotélica permaneceu no imaginário das pessoas até o século XVII (COSTA, 2004). No período moderno, novas vertentes do cristianismo começaram a aprovar as atividades comerciais, como uma forma de virtude humana. Na obra A riqueza das nações, de Adam Smith, as novas formas de pensar do cristianismo sobre o comércio foram canonizadas. Esta atitude diferenciava-se das posturas do cristianismo tradicional porque, como podemos observar nas escrituras da Bíblia, Jesus havia expulsado comerciantes dos templos sagrados. São Paulo, Tomás de Aquino e o reformista da religião, Martinho Lutero, seguiram os exemplos de Jesus, a ponto de condenar, profundamente, os negócios produzidos pela atividade comercial. Foi através de A riqueza das nações, de 1776, que a troca por lucro passou a ser uma atividade fundamental da sociedade (COSTA, 2004). Esta perspectiva moderna, em relação ao comércio, tem a ver com o estabelecimento de códigos de ética antes do período moderno, que havia acontecido, já no período medieval. Porém, o aceite social da atividade comercial como essencial à sociedade, e a economia como pilar para o seu funcionamento, teve, como base, um novo pensamento que permitiu mudanças na mentalidade e no comportamento humano. Isto 115 Anotações:se deu através das transformações sociais, que incluem mudanças urbanas em grandes centros, sociedades cada vez mais complexas, o advento da vida privada que mudou a forma de consumir, o desenvolvimento de tecnologias e o crescimento comercial (COSTA, 2004). Veremos a seguir como a responsabilidade social tornou-se uma das metas das empresas. ÉTICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE A Ética empresarial, como disciplina, incorporou, de forma central, o conceito de responsabilidade social na gestão de uma empresa. Este conceito é algo impopular entre aqueles que ainda estão presos na mentalidade tradicional do livre mercado. O renomado economista liberal Milton Friedman, que recebeu o prêmio Nobel de Economia, levantou o infame argumento de que a responsabilidade social seria o de obter lucro. Para o economista estadunidense, os defensores da responsabilidade social são meros fantoches que não defendem a liberdade do mercado. Para Friedman, doar dinheiro para ONGs ou instituições de caridade, que não aumentam os lucros da empresa, é como tirar dinheiro de seus donos, os acionistas. Ainda, segundo ele, os gestores de uma empresa são empregados de quem investe (os acionistas), assim, eles precisam ter o que Fried- man chama de responsabilidade fiduciária, que cumpre o papel de obter mais lucros. Não haveria, segundo esse raciocínio, motivo para uma empresa 116 Anotações: privada entrar numa política pública, porque seus empregados não teriam a competência necessária para tanto, e estariam como se estivessem violan- do os acordos internos de uma empresa, enquanto meros empregados de acionistas devem, apenas, cumprir suas funções e obrigações (COSTA, 2004). A Ética empresarial, ao incorporar o conceito mencionado, trouxe um novo modelo que refuta aquele raciocínio conservador. Esse modelo surgiu a partir de uma mudança simples na estrutura das empresas. Em outras palavras, em vez de inserir o acionista na responsabilidade social, são aqueles beneficiados por ela, que são as partes interessadas, chamados de stakeholders, que colocam os acionistas em um lugar mais subalterno. Assim, os stakeholders de determinada empresa são aqueles que recebem expectativas em torno das atividades da empresa, possuindo direitos e podendo se envolver no processo conjunto, que é constituído pelos empregados, consumidores e fornecedores. Tudo isto visa a comunidade e sociedade como um todo (COSTA, 2004). Assim, o conceito de responsabilidade social permitiu expandir o foco das empresas. Não é um conceito adicional em que a empresa saiu perdendo, mas uma parte a qual a empresa precisou atender. O aumento das preocupações, em torno das demandas, não fez com que as empresas deixassem de lado a ação de alcançar a virtude e capacidade benéfica. Em outros termos, quer dizer que uma empresa responsável e respeitável não deve se preocupar somente consigo mesma, mas, além de seus donos, deve estar atenta aos empregados, aos que vendem e aos que compram os seus produtos. 117 Anotações:E mesmo aqueles que não pertencem à empresa, no caso, a sociedade e as comunidades ao redor, devem ser recompensados caso sejam afetados pela empresa (COSTA, 2004). Podemos afirmar, ainda, que a responsabi- lidade social se tornou o elemento essencial, para que as empresas tenham alto nível de competi- tividade. Isto se dá pelo fato das organizações, que geram os seus negócios e que estão funda- mentadas na ética e na conduta moral, terem a ca- pacidade de conquistar, cada vez mais, a reputação de serem comprometidas e íntegras no mercado, visando conquistar, em última instância, a confiança de seu público alvo. Por isso, o mercado tem bus- cado profissionais que se adequem ou que já este- jam afinados com esta nova forma de organizar as empresas. Hoje, a responsabilidade e a trans- parência no local de trabalho são fundamentais (LUNA, MENDES; 2019). A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NO TRABALHO Como já exposto sobre a Ética e Responsabili- dade Social na Contemporanidade, é possível afirmar que, apesar de uma empresa terobrigação com os seus proprietários, atualmente, ela também precisa estar atenta às demandas das partes interessadas, bem como da sociedade e dos seus consumidores (COSTA, 2004). A necessidade de uma mudança no comportamento de quem trabalha numa empresa foi urgente neste século. Para essa adequação e transformação dentro das empresas, o perfil 118 Anotações: dos trabalhadores internos, principalmente, dos gestores, precisa alinhar-se à postura sugerida pelo novo modelo de negócios do século atual. Gestores e trabalhadores, de modo geral, precisam buscar novas ferramentas e conhecimento, como se seus objetivos fossem alcançar o status de trabalhador ético, honesto e ter pleno conhecimento sobre a sua área e função para melhor servir à nova sociedade (LUNA, MENDES, 2019). Se uma empresa tem a intenção de fornecer os melhores produtos e garantir o melhor serviço, também deve garantir que não prejudicará a sociedade. Se uma empresa é listada como uma das melhores, em termos de serviço e produto, ela não pode estar na lista das que poluem os rios ou o ar, que remove moradores locais (como os povos originários) de suas terras legais, operar serviços em torno de atividades não legalizadas, como o garimpo e extração de madeira em terras preservadas, promover trabalho escravo ou racismo, entre outras formas de violação ética (COSTA, 2004). A Ética na perspectiva do trabalhador Todo trabalhador possui direitos e necessita de elementos importantes dentro da empresa como: salários dignos, reconhecimento pelo desempenho, crescimento pessoal e profissional, além dos direitos garantidos. Cada um dos trabalhadores desempenha funções diferentes, seja na produção, seja no próprio funcionamento do mercado. A prática de redução de despesas, de espaço, rebaixamento de salários, aumento das 119 Anotações:horas de trabalho, ou de produção para aumentar os lucros, sem que o trabalhador tenha condições de denunciar estas atitudes consideradas não éticas, são práticas que não reconhecem os direitos dos trabalhadores (COSTA, 2004). Poder trabalhar numa empresa que preza pela ética, como um valor indispensável, faz com que os trabalhadores se sintam parte de uma empresa importante. Sentirão que estão contribuindo com a sociedade e as comunidades que se beneficiam com os serviços da empresa. Vemos que, por um lado, se os trabalhadores sentirem que seus valores éticos estão sendo atacados, a motivação profissional deles, bem como a sua produtividade, ficarão abaixo da expectativa da empresa. Por outro, a boa organização de empresa faz a equipe se sentir mais segura ao tomar as decisões, o que acaba por conquistar ainda mais a confiança em relação a sua liderança, pois sabem que os princípios passados por ela são corretos e trazem um retorno positivo para a empresa inteira (CORTELLA, 2013). Assim, podemos observar que a ética empresarial tem dado maior atenção aos direitos dos trabalhadores. Se a empresa trata seus empregados como elementos descartáveis, o empregador não poderá se surpreender com o fato de seus funcionários estarem ali somente para os benefícios (plano de saúde e vale alimentação) e pelos salários ofertados pela empresa, tratando a empresa como um período transitório para em seguida ser abandonada por eles. Assim, as empresas viram-se obrigadas a recuperar a noção ultrapassada de “lealdade à empresa” (COSTA, 2004). 120 Numa empresa ética, vemos que os seus funcionários são pagos na data prevista, além de a empresa oferecer salários e benefícios que o mercado disponibiliza e, em alguns casos, superiores ao que o mercado oferece. Neste nível de organização da empresa, todos os profissionais são reconhecidos, respeitados e bem-vindos. Tudo isso, precisa ocorrer independente da religião, do gênero, da classe, da cor e da orientação sexual do profissional (CORTELLA, 2013). Ao reconhecer os direitos básicos, a rec- ompensa para a empresa é a satisfação dos tra- balhadores que também cultivam a ética profis- sional no trabalho. O que, consequentemente, acaba sendo reconhecido positivamente pela sociedade, pelo bom desempenho e serviço. É imprescindível ao tra- balhador ter alguma satisfação com o emprego para o seu bom desem- penho profissional. A Ética no trabalho deve estar diretamente relacionada à honestidade. Esta relação se dá por uma lógica simples, que é a de uma atitude moralmente valo- rizada: não há como ser uma pes- soa ética sem ter honestidade. Contudo, no trabalho cotidiano, aparecem diversas situações, e um profissional pode ter a sua integridade e sua virtude testa- das, quase que dia- riamente. Para não sucumbir a nenhuma 121 Anotações:delas, é essencial conhecer e cultivar bons hábitos, para não caminhar na direção oposta aos compor- tamentos morais que, em alguns casos, algumas pessoas fazem sem pensar nas consequências (AR- RUDA, 2003). A ética, no trabalho, também é representada pela boa liderança do gestor, que não faz distinção entre seus funcionários, tratando-lhes sempre com respeito, igualdade, e conferindo a eles oportuni- dades reais de aprimoramento, desenvolvimento e crescimento. O gestor é considerado um profis- sional ético, responsável e comprometido em en- tregar o seu melhor tanto à empresa como na so- ciedade. Estamos falando, portanto, de um mundo possível e real, onde as empresas e os profissionais éticos caminham e constroem resultados positivos juntos, sem jamais ter que, para isso, romper as re- gras, trapacear ou prejudicar alguém para alcançar a prosperidade. Esta mesma lógica, baseada em bons princípios, também são aplicadas em nossas relações sociais. Que podem ser afetivas (amizade e familiar) e financeiras (econômica), pois somos nós que, de forma coletiva, elaboramos a sociedade em que vivemos. Não há outro caminho senão por meio da ética e dos valores positivos, coerentes, que devem ser praticados por nós, para que possamos construir uma sociedade melhor (CORTELLA, 2013). Hoje, a Ética tem exercido o importante papel por uma necessidade de sobrevivência, pois através dela podemos considerar que a humanidade passa por um momento de anseio e uma vida melhor. Podemos dizer que a dignidade humana é o tema central, ter uma vida com qualidade e, em certa 122 Anotações: medida, alcançar alguma felicidade. A Ética tem nos servido para superar o “jogo dos interesses” (MERCIER, 2004). O comportamento ético não consiste, exclusivamente, em fazer o bem ao outro, mas a nós mesmos, bem como o de exemplificar para o outro a importância daquilo que faz bem à comunidade. AS QUESTÕES DA ATIVIDADE PROFISSIONAL A PARTIR DA ÉTICA Vimos que a Ética profissional é um conjunto de regras que deve ser seguido por todos que exercem qualquer função. Mediante isto, questiona- se: Por que precisamos ter uma profissão e qual o objetivo de tal atividade? As respostas são muitas a exemplo de: sustentar a família, ter conforto e qualidade de vida, realizar-se profissionalmente, ocupar o tempo, isto, considerando os fatores positivos. Já na perspectiva menos otimista, há o fato da obrigatoriedade, ou seja, todos têm que fazer algo e, moralmente, alguém que não se ocupa, em geral, não é bem visto socialmente (PASSOS, 2004). Mas podemos observar que desde os primeiros registros históricos, os indivíduos tiveram que se relacionar com a natureza para a sua sobrevivência, seja na busca por alimentação ou moradia e hoje, por produtos que vão desde eletrodomésticos até os meios de transporte. Assim, consideramos que as funções exercidas profissionalmente objetivam construir uma relação de harmonia entre seres humanos e a natureza, de modo que as necessidades dos indivíduos sejam 123 Anotações:supridas e, ao mesmo tempo, desenvolvam suas capacidades, assim como colaborarem com a existência dos outros. Na atualidade, contribuir para o crescimento dos saberes práticos e no cuidado com o mundo (PASSOS, 2004). Destaforma, os códigos ético-profissionais orientam como um profissional deve se compor- tar em uma organização, por exemplo: as pos- turas e as ideias a serem preservadas que, moral- mente, são aprovadas na sociedade. Alguém faz uma determinada atividade precisa adequar-se às nor- mas éticas profissionais que uma instituição deseja enquanto conduta na empresa, imagem pessoal e institucional, posição política ou econômica (PASSOS, 2004). Como vimos, os códigos de ética, à medida que fazem a atividade profissional ter credibilidade, tam- bém a fazem humanizar-se e promover-se profis- sionalmente. Deste modo, surgem novos campos de trabalho. Essas normas éticas são escritas, analisadas e recebem a aprovação dos órgãos pú- blicos competentes, seja da associação de classe ou do próprio governo. A reflexão sobre a ética profissional só faz sentido quando o sujeito entende a sua realização pessoal e a sua existência, e na prática, quando aplica capacidades e talentos. Tudo isso advém de ações e comportamentos que obtêm resultados in- dividuais e coletivos. Logo, têm relação fundamen- tal com a virtude pensada e promovida pela Filoso- fia durante anos na História do pensamento. Nesse sentido, destacamos a ética como a ciência que avalia o comportamento das pessoas e a maneira pela qual podem e devem realizar o bem. 124 Anotações: A Ética é muito mais do que um estudo de nor- mas cuja função é regar as nossas vidas. É através dela que é possível as pessoas compreenderem quais são os princípios fundamentais, a partir dos quais devemos agir. A Ética tem uma função obje- tiva e subjetiva. Dessa forma, podemos afirmar que existe a Ética absoluta e a Ética relativa. Ética absoluta é parte da razão ou da consciên- cia daquilo que o ser humano percebe como sen- do bom e mau para si mesmo. Pode ser ensinada a qualquer pessoa. Ela é atemporal e universal e não tem uma relação de necessidade exclusiva de uma experiência pessoal. Já a Ética relativa é identificada com base nos fatos ou na experiên- cia. Seu ponto de partida vem da realidade, isto é, em como ela se dá na ação das pessoas, seja em relação a como pensam, seja como agem. Por ser relativa, tem a característica de mudar, sen- do possível a reelaboração de acordo com a situ- ação. Ela também tem a possibilidade de ser apli- cada de diversas formas. É neste âmbito ético de relatividade que os valores são criados (PASSOS, 2004). Podemos observar, que a ética é analisada em seu conjunto, isto é, de forma geral, pelo es- tudo da Deontologia, que é uma disciplina em que se investigam os deveres dentro de um código ético,bem como existe a Diceologia, em que se investigam os direitos de forma geral (PASSOS, 2004). Em relação à Deontologia, existe o Códi- go Deontológico que reúne as regras, posturas e obrigações, a partir das quais um profissional deve agir diariamente. De forma geral, é definido como um código de obrigações éticas. 125 A FILOSOFIA E A ÉTICA NO CAMPO PROFISSIONAL HOJE A ética contemporânea passou por um pro- cesso de colonização e de independência dos po- vos africanos e asiáticos. Estes fatores afetaram a humanidade de forma direta obrigando o ocidente a refletir sobre o comportamento moderno, que teve início após a Revolução Francesa 1789. Junto a essa transformação social, a Ética contemporânea é vis- ta como uma manifestação reativa ao racionalismo kantiano, bem como aos ideais filosóficos decor- rentes do pensamento de Kant, como é o caso de Hegel. Para este filósofo alemão, o que vale no su- jeito é a razão. Apenas a razão traz a existência do ser humano no mundo, portanto, podemos obser- var que este é um dos conceitos fundamentais da Ética moderna (VÁZQUEZ, 1992). A Ética contemporânea também focalizará a análise da linguagem moral das palavras que usamos para falar do comportamento hu- mano. Ela surgiu no período de saltos científicos e novas formas técni- cas, além do desenvolvimento das forças produtivas a nível global. Este fato deu condições para que se questionasse a existência do homem mediante os instru- mentos de destruição in- ventados em meio a esse imenso desenvolvimento (VÁZQUEZ, 1992). Assim, podemos afirmar que são seus valores e leis que 126 Anotações: orientam o próprio comportamento. Não é a fina- lidade que determina um valor, mas o quanto de liberdade uma pessoa teve ao realizá-lo. Porém, a liberdade individual deve levar em conta a existên- cia do outro, pois escolher é compromisso com a humanidade. O homem é, antes de tudo, práxis, ou seja, o definimos como um ser que produz, transforma, cria tudo através de seu trabalho e transforma a natureza. Este nível de objetivação do ser humano no mundo externo, pela qual produz um mundo de objetos úteis, corresponde a sua própria natureza, que é o de ser produtor, criador, e que também se manifesta na elaboração da arte e em outras atividades (VÁZQUEZ,1992). O pensador Karl Marx referiu-se, em seus escritos, sobre uma nova moral que tem objetivo de transformar a sociedade, e que tanto o homem quanto a mulher sejam atuantes, do contrário a normatização do comportamento humano apenas serviria para tirar a força das ações humanas. Nisto podemos perceber que a moral, a ética e o próprio pensamento filosófico estão sempre em processo de inovação, conforme as experiências de homens e mulheres através da história. Os conceitos éticos não descrevem nem representam nada, pela simples razão de que não existem propriedades, tais como bom, dever, etc., eles são meras expressões de emoções do sujeito, o que indica que os termos éticos têm somente um significado emotivo, pois não enunciam fatos. Isso, por consequência, denuncia que as proposições morais carecem de um valor científico (VÁSQUEZ, 1992). 127 Anotações:Podemos observar que a reflexão filosófi- ca sobre a Ética, ou melhor, sobre o comporta- mento humano, foi se aproximando dos ideais le- vantados pelo século XXI. Há, gradativamente, a supervalorização de uma pessoa que pensa nas suas emoções e vontades. Cada vez mais existe a necessidade do ser humano buscar a autocrítica, revisar-se enquanto pessoa e dar mais importân- cia às outras dimensões da humanidade. A razão, a emoção e a espiritualidade estão cada vez mais equilibradas, e aparecendo como necessidades da vida (ARANHA, 2005). No mundo contemporâneo, os desafios são diversos para que possamos construir a vida a partir da moral. Alguns desses desafios derivam da sociedade individualista, em que as pessoas acham-se voltadas para si próprias e incapazes de se solidarizar e ter mais tolerância com as diferenças. Pensar a generosidade moral para com o planeta, supõe a garantia da pluralidade dos estilos de vida. A aceitação das diferenças, sem sucumbir à tentação de dominação do outro, ocorre sempre quando a diferença é vista como sinal de inferioridade ou de desigualdade (ARANHA, 2005). 128 Anotações: REFERÊNCIAS AlMEIDA, Ashley Patrícia (Org.). Ética e Responsabilidade Social nos Negócios. 2 ed. São Paulo: Saraiva 2005. ALENCASTRO, Mario Sergio Cunha. A importância da ética na formação de recursos humanos. São Paulo: Fundação Biblioteca Nacional, n. 197.147, livro 339, 1997. _______. 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