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Prévia do material em texto

CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIA POLÍTICA E 
RELAÇÕES INTERNACIONAL 
1º Ano 
Disciplina: Direito Constitucional 
Código: ISCED12 – CJURCFE002 
TOTAL HORAS/2o SEMSTRE: 125 
CRÉDITOS (SNATCA): 5 
 
Número de Temas: 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED 
 
Direitos de autor (copyright) 
Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), 
e contém reservados todos os Direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou 
total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, 
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto 
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). 
A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos 
judiciais em vigor no País. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) 
Direcção Acadêmica 
Rua Dr. Lacerda de Almeida, N.o 211, Ponta - Gêa 
 
Beira - Moçambique 
Telefone: 23323501 
Cel: +258 823055839 
 Fax:23.324215 
 E-mail: direccao.geral@isced.ac.mz 
 Website: www.isced.ac.mz 
 
http://www.isced.ac.mz/
 
 
Agradecimentos 
O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual 
agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste 
manual: 
 
Pela coordenação 
 
Direcção Acadêmica do ISCED 
 
Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED 
Financiamento e logística 
 
Instituto Africano de Promoção da Educação 
à Distância (IAPED) 
 
Pela revisão final Dr. Mayden Lúcio 
 
 
 
 
 
Elaborado Por: 
Dr. Jorge Jeremias Chamussola, licenciado em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane - 
Moçambique. 
 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
i 
 
Índice 
Visão geral 1 
Bem vindo ao Módulo de Direito Constitucional ............................................................. 1 
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1 
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1 
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2 
Ícones de actividade ......................................................................................................... 3 
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 3 
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 6 
Avaliação ........................................................................................................................... 6 
TEMA – I INTRODUÇÃO A TEORIA GERAL DO ESTADO 9 
UNIDADE Temática 1.1. O Estado. .................................................................................... 9 
Introdução ......................................................................................................................... 9 
I – Definição ..................................................................................................................... 9 
II - Processos de Formação do Estado ............................................................................ 10 
III – Sociedades Politicas Pré-Estaduais ......................................................................... 10 
IV – Os tipos Históricos de Estado ................................................................................. 10 
V - Os Elementos do Estado ........................................................................................... 10 
Sumário ........................................................................................................................... 11 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 11 
Exercícios ........................................................................................................................ 12 
UNIDADE Temática 1.2. O Povo ..................................................................................... 12 
Introdução ....................................................................................................................... 12 
I – O povo ....................................................................................................................... 13 
II – A Cidadania ou Nacionalidade ................................................................................. 14 
III – A Situação dos Estrangeiros e dos Apátridas ......................................................... 16 
IV - A nacionalidade na Constituição moçambicana ...................................................... 16 
V - Condição jurídica das pessoas em razão da nacionalidade ou cidadania 
moçambicana .................................................................................................................. 17 
Sumário ........................................................................................................................... 17 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 18 
Exercícios ........................................................................................................................ 19 
UNIDADE Temática 1.3. O Território ............................................................................. 19 
Introdução ....................................................................................................................... 19 
I – O território ................................................................................................................. 20 
II- Território terrestre, aéreo e marítimo ......................................................................... 20 
III. Composição do território moçambicano ................................................................... 21 
Sumário ........................................................................................................................... 21 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 22 
Exercícios ........................................................................................................................ 22 
UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político ...................................................................... 23 
Introdução ....................................................................................................................... 23 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
ii 
 
I - Definição .................................................................................................................... 23 
II - As formas de Estado ................................................................................................. 24 
III - O Estado unitário: O Estado unitário centralizado e o Estado unitário regional ..... 25 
IV - O Estado complexo. A união real. As federações. .................................................. 27 
V - Os fins do Estado ......................................................................................................28 
VI - As funções do Estado .............................................................................................. 30 
VII - A organização do poder político do Estado ........................................................... 32 
VIII - Órgão/ competência/ titular e cargo. Vontade funciona e imputação ................... 32 
Sumário ........................................................................................................................... 34 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 34 
Exercícios ........................................................................................................................ 35 
UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema I ................................................................ 35 
TEMA – II: A CONSTITUIÇÃO COMO ESTATUTO DO PODER POLÍTICO 37 
UNIDADE Temática 1.1. O Constitucionalismo e a Constituição. Direito Constitucional e 
fontes do Direito Constitucional. .................................................................................... 37 
Introdução ....................................................................................................................... 37 
I - Introdução: Constitucionalismo, Estado constitucional, e Direito Constitucional .... 37 
II - A Constituição como acto jurídico ........................................................................... 38 
III - Dimensões da Constituição ..................................................................................... 39 
IV - Classificações materiais de Constituições ............................................................... 40 
VI - As fontes das normas e dos princípios constitucionais ........................................... 42 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 45 
Exercícios ........................................................................................................................ 46 
UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II............................................................... 46 
Sumário ........................................................................................................................... 46 
TEMA – III: INTRODUÇÃO AO PODER CONSTITUINTE 47 
UNIDADE Temática 3.1 O poder constituinte e o nascimento da Constituição. 
Manifestações típicas do poder constituinte. Tipologia dos actos constituintes. Limites 
jurídicos e políticos ao poder constituinte ..................................................................... 47 
Introdução ....................................................................................................................... 47 
I - O poder constituinte e o nascimento da Constituição ................................................ 47 
II - Manifestações típicas do poder constituinte ............................................................. 48 
III - Tipologia dos actos constituintes ............................................................................. 49 
IV - Limites jurídicos e políticos ao poder constituinte? ................................................ 51 
Sumário ........................................................................................................................... 52 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 53 
Exercícios ........................................................................................................................ 54 
UNIDADE Temática 3.2. Exercícios do Tema III.............................................................. 54 
TEMA – IV: FORMA DE GOVERNO, SISTEMA DE GOVERNO REGIME POLÍTICO E SISTEMA 
POLÍTICO 55 
UNIDADE Temática 4.1. Formas de Governo, Sistema de Governo, Regimes Políticos e 
Sistemas Políticos. ........................................................................................................... 55 
Introdução ....................................................................................................................... 55 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
iii 
 
I - Os regimes políticos ................................................................................................... 56 
II - Sistemas de governo ................................................................................................. 59 
Sumário ........................................................................................................................... 62 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 62 
Exercícios ........................................................................................................................ 64 
UNIDADE Temática 4.2. Exercícios do Tema IV .............................................................. 65 
TEMA – V: ESTADO DE DIREITO E CONSTITUIÇÃO 65 
UNIDADE Temática 5.1. Princípio de Estado de Direito ................................................. 65 
Introdução ....................................................................................................................... 65 
I - Princípio de Estado de Direito ................................................................................... 66 
II - Princípio da Legalidade da Administração ............................................................... 66 
III - Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso ................................... 67 
IV - Princípio da universalidade e igualdade (artigo 35 CRM) ...................................... 68 
V - Princípio da responsabilidade civil do Estado .......................................................... 68 
VI - Princípio da Segurança Jurídica e da Protecção da Confiança dos Cidadãos ......... 69 
VII - Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais .................................. 71 
Sumário ........................................................................................................................... 73 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 73 
Exercícios ........................................................................................................................ 74 
UNIDADE Temática 5.2. O princípio democrático .......................................................... 74 
Introdução ....................................................................................................................... 74 
I - Princípio Democrático ............................................................................................... 75 
II - Princípios concretizadores do princípio democrático ............................................... 75 
Sumário ........................................................................................................................... 78 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 79 
Exercícios ........................................................................................................................ 79 
UNIDADE Temática 5.3. Exercícios do Tema V .............................................................. 80 
TEMA – VI: Garantia da Constituição 81 
UNIDADE Temática 6.1. Meios e institutos de defesa da Constituição.......................... 81 
Introdução ....................................................................................................................... 81 
I - A vinculação constitucional dos poderes públicos ..................................................... 81 
II - Os limites da revisão constitucional ......................................................................... 81 
III - A fiscalização judicial da Constituição ...................................................................82 
IV - A separação e interdependência dos órgãos de soberania ....................................... 82 
Sumário ........................................................................................................................... 83 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 83 
Exercícios ........................................................................................................................ 84 
UNIDADE Temática 6.2. A fiscalização da constitucionalidade e da legalidade ............. 84 
Introdução ....................................................................................................................... 84 
I - Sentido e Natureza ..................................................................................................... 85 
II - Origem ...................................................................................................................... 85 
III - Tipos de Fiscalização .............................................................................................. 86 
IV - Os Vícios Geradores de Inconstitucionalidade ...................................................... 88 
V - A Inconstitucionalidade Parcial ............................................................................... 89 
VI - Objecto de Fiscalização de Constitucionalidade e da legalidade: actos normativos90 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
iv 
 
VII - Actos Administrativos e Decisões Jurisdicionais .................................................. 91 
VIII - Órgãos de Fiscalização da Constitucionalidade das Leis .................................... 92 
Sumário ........................................................................................................................... 93 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 94 
Exercícios ........................................................................................................................ 95 
UNIDADE Temática 6.3. O Conselho Constitucional ....................................................... 95 
Introdução ....................................................................................................................... 95 
I - Natureza ..................................................................................................................... 95 
II - Composição .............................................................................................................. 96 
III - Balanço de Actividade do Conselho Constitucional ............................................... 97 
Sumário ........................................................................................................................... 98 
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 99 
Exercícios ...................................................................................................................... 100 
UNIDADE Temática 6.4 Exercícios do Tema VI ............................................................ 100 
Exercícios Finais do Módulo .......................................................................................... 100 
BIBLIOGRAFIA 103 
 
 
 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
1 
 
Visão geral 
Bem vindo ao Módulo de Direito Constitucional 
Objectivos do Módulo 
Ao terminar o estudo deste módulo de Direito Constitucional 
deverás ser capaz de saber definir o conceito de Estado e 
conhecer os seus elementos; conhecer o constitucionalismo a sua 
evolução e a supremacia da Constituição sobre as demais normas 
do ordenamento jurídico; conhecer o poder constituinte, sua 
origem, manifestação e seus limites jurídicos e políticos, saber 
diferenciar os conceitos de, forma de governo, regime político, 
sistema de governo e sistema político; conhecer as dimensões de 
Estado de direito e democrático; e conhecer as garantias e meios 
de controlo da Constituição. 
 
 
Objectivos 
Específicos 
 Conhecer as fontes do Direito Constitucional e as relações com 
os demais ramos do Direito; 
 Conhecer a evolução do constitucionalismo, a classificação e 
supremacia da Constituição; 
 Demonstrar a relevância do Poder Constituinte; 
 Identificar a origem e evolução do Estado Moçambicano; 
 Estabelecer a organização e competência das entidades 
governativas; 
 Conhecer os Direitos e Garantias Individuais e os Direitos 
Sociais; 
 Identificar a nacionalidade e os Direitos Políticos; 
 Conhecer os Instrumentos Jurídicos Constitucionais: 
Intervenção do Estado, Estado de Defesa e Estado de Sítio. 
 
 
 
Quem deveria estudar este módulo 
Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de 
licenciatura em Direito. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores 
que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa 
disciplina, esses serão bem-vindos, não sendo necessário para tal 
se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
2 
 
Como está estruturado este módulo 
Este módulo de Direito Constitucional, para estudantes do 1º ano 
do curso Direito, à semelhança dos restantes do ISCED, está 
estruturado como se segue: 
Páginas introdutórias 
 Um índice completo. 
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, 
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para 
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta 
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como 
componente de habilidades de estudos. 
Conteúdo desta Disciplina / módulo 
Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez 
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por 
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma 
introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade 
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de 
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os 
exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros 
exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades 
práticas algumas incluído estudo de casos. 
 
Outros recursos 
A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si, 
num cantinho, mesmo o recôndito deste nosso vasto Moçambique 
e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, 
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu 
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza nas 
bibliotecas física e virtual do seu centro de recursos mais material 
de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou 
módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou 
electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma 
digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus 
estudos. 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
3 
 
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação 
Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final 
de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos 
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: 
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, 
exercícios que mostram apenas respostas. 
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação 
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de 
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. 
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de 
campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de 
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame 
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os 
exercícios de avaliação é uma grande vantagem. 
Comentários e sugestões 
Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados 
aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
pedagógica. Pode ser que graçasas suas observações, o próximo 
módulo venha a ser melhorado. 
 
Ícones de actividade 
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas 
margens das folhas. Estes ícones servem para identificar 
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar 
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, 
uma mudança de actividade, etc. 
Habilidades de estudo 
O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a 
aprender. Aprender aprende-se. 
Durante a formação e desenvolvimento de competências, para 
facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará 
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons 
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e 
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando 
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos 
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos 
estudos, procedendo como se segue: 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
4 
 
1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de 
leitura. 
2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 
3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e 
assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 
4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua 
aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 
5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou 
de estudo de caso se existir. 
IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, 
respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido 
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de 
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: 
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo 
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da 
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num 
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em 
cada hora, etc. 
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido 
estudado durante um determinado período de tempo; Deve 
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao 
seguinte quando achar que já domina bem o anterior. 
Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler 
e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é 
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos 
conteúdos de cada tema, no módulo. 
Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por 
tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora 
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso 
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que 
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos 
das actividades obrigatórias. 
Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual 
obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento 
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado 
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, 
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência 
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai 
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente 
incapaz! 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
5 
 
Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma 
avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda 
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões 
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, 
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área 
em que está a se formar. 
Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que 
matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que 
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo 
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. 
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será 
uma necessidade para o estudo das diversas matérias que 
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar 
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as 
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, 
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a 
margem para colocar comentários seus relacionados com o que 
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir 
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; 
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado 
não conhece ou não lhe é familiar; 
Precisa de apoio? 
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o 
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas 
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis 
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página 
trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de 
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), 
via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta 
participando a preocupação. 
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes 
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua 
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da 
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se 
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, 
estudante – CR, etc. 
As sessões presenciais são um momento em que você caro 
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff 
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED 
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste 
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza 
pedagógica e/ou administrativa. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
6 
 
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% 
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida 
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem 
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se 
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver 
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos 
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade 
temática, no módulo. 
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) 
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e 
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é 
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues 
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. 
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não 
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do 
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de 
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da 
disciplina/módulo. 
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os 
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. 
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, 
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, 
respeitando os Direitos do autor. 
O plágio1 é uma violação do Direito intelectual do(s) autor(es). Uma 
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um 
autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade 
científica e o respeito pelos Direitos autorais devem caracterizar a 
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). 
Avaliação 
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, 
estando eles fisicamente separados e muito distantes do 
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja 
uma avaliação mais fiável e consistente. 
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com 
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os 
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial 
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A 
 
1
 Plágio - copiarou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, 
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
7 
 
avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de 
avaliação. 
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e 
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de 
frequência para ir aos exames. 
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e 
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no 
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, 
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. 
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da 
cadeira. 
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) 
trabalhos e 1 (um) (exame). 
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados 
como ferramentas de avaliação formativa. 
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em 
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de 
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as 
recomendações, a identificação das referências bibliográficas 
utilizadas, o respeito pelos Direitos do autor, entre outros. Os 
objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de 
Avaliação. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
9 
 
TEMA – I INTRODUÇÃO A TEORIA GERAL DO ESTADO 
UNIDADE Temática 1.1. O Estado 
UNIDADE Temática 1.2. O Povo 
UNIDADE Temática 1.3. O Território 
UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político 
UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema 
 
UNIDADE Temática 1.1. O Estado. 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre a noção de Estado, processo de 
formação do Estado e Sociedades políticas pré-estaduais 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Saber definir o Estado; 
 Conhecer os principais tipos históricos de Estado; 
 Conhecer os processos de formação do Estado; 
 Conhecer os elementos do Estado. 
 
 
 I – Definição 
 
O Estado é segundo Marcelo Rebelo de Sousa, uma colectividade, um 
povo fixo num determinado território que nele institui, por autoridade 
própria, um poder político relativamente autónomo. 
 
A definição de Estado adoptada parte de um tipo de Estado concreto: 
‘‘ O Estado nacional soberano que, nascido na Europa, se espalhou 
recentemente por todo o mundo ‘‘. 
 
Os traços fundamentais deste tipo de Estado, segundo o Prof. Jorge 
Miranda, citado por Bastos (1999) são os seguintes: 
 
 Complexidade de organização e de actuação – com cada vez maior 
diferenciação de funções, órgãos e serviços; 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
10 
 
 
 Institucionalização do poder – ou subsistência do poder como 
ideia para além dos seus detentores concretos e actuais; 
 
 Autonomia – ou formação de uma dinâmica própria do poder e do 
seu aparelho frente à vida social’’; 
 
 Coercibilidade – ou o monopólio do uso legítimo da força; 
 
 Uma peculiar sedentariedade – do enlace com certo território; 
 
 A interdependência com o factor nacional ; 
 
II - Processos de Formação do Estado 
 
Nos processos de formação do Estado podem ser objecto de distinção 
as seguintes formas: 
Pacíficas Violentas 
De acordo com as leis vigentes no Estado 
ou na sociedade Contra essas leis 
Por desenvolvimento interno Por influência externa 
 
No plano da Antropologia história os processos mais importantes são: 
a conquista, a migração, a aglutinação por laços de sangue ou por 
laços económicos, a evolução social pura e simplesmente para 
organizações cada vez mais complexas. 
 
III – Sociedades Politicas Pré-Estaduais 
 
São qualificação como pré-estaduais as sociedades políticas em que o 
sistema de poder não esta organizado em funções diferenciadas, 
especializadas, ligadas umas às outras por uma rede complicada de 
relações hierárquicas. 
 
IV – Os tipos Históricos de Estado 
 
Existem diversas tipologias de Estado. Jellinek, citado por Bastos 
(1999) distingue entre: 
 Estado oriental; 
 Estado grego; 
 Estado romano; 
 Estado medieval; 
 Estado moderno. 
 
V - Os Elementos do Estado 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
11 
 
 
O Estado é constituído por três elementos, ou ‘‘ condições de 
existência ’’: 
 Povo, 
 Território e 
 Poder político. 
 
Sumário 
Nesta Unidade temática estudamos e discutimos o conceito de Estado; 
definimos o Estado como sendo uma colectividade, um povo fixo num 
determinado território que nele institui, por autoridade própria, um 
poder político relativamente autónomo. Vimos os traços fundamentais 
do Estado moderno; os processos de formação do Estado, as 
sociedades pré estaduais e os elementos do Estado que são povo, 
território e poder político. 
Exercícios de Auto-Avaliação 
 
1. O Estado é a única entidade com o monopólio do uso legítimo da 
força. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
2. O conceito Estado não conheceu evolução ao longo do tempo. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
 
3. O Estado é constituído por três elementos. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
4. No plano da Antropologia história quais são os processos mais 
importantes de formação do Estado? 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
12 
 
Resposta: São a conquista, a migração, a aglutinação por laços de 
sangue ou por laços económicos. 
 
5. Um Estado não pode ser formado por influência Externa. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
 
6. Um Estado não pode ser formado por via pacífica. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
Exercícios 
1. Defina o Estado. 
2. O que são Sociedades Politicas Pré-Estaduais? 
3. Quais as formas de formação de Estado? 
4. Enumere os tipos históricos de Estado. 
5. Quais são as três condições de existência de um Estado? 
6. Quais são os traços fundamentais do Estado actual? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE Temática 1.2. O Povo 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre a noção de povo como um dos 
elementos do Estado, a distinção entre povo e população, a 
nacionalidade e diversos critérios da sua atribuição. 
 
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Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Definir o conceito de povo; 
 Saber distinguir o povo de população; 
 Saber distinguir a nacionalidade originária da adquirida; 
 Dominar os vários critérios para atribuição da nacionalidade. 
 
 
I – O povo 
 
O povo deve ser entendido, segundo o prof. Jorge Miranda, citado por 
Bastos (1999) como uma ‘‘ comunidade de pessoas’’ homens que o 
seu Direito reveste da qualidade de cidadãos ou de súbditos e que 
permanecem unidos na obediência às mesmas leis”. É, em 
conformidade, o ‘‘substrato humano do Estado’’. No mesmo sentido, o 
Prof. Rebelo de Sousa define o povo como ‘‘o conjunto de cidadãos ou 
nacionais de certo Estado ‘‘. 
 
1. 
 
O povo é sujeito e objecto do poder. Sujeito do poder, na medida em 
que sujeito ao poder do Estado, ‘‘ como conjunto de homens livres, ele 
engloba pessoas dotadas de Direitos subjectivos umas diante das 
outras e perante o Estado ‘‘. Objecto do poder, dado que é o 
http://www.google.co.mz/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0CAcQjRw&url=http%3A%2F%2Fwww.opipoco.com.br%2F2013%2F03%2Fdeputado-tenta-se-explicar-mas-acaba.html&ei=9F1LVOG5G4TB7AbTz4H4Cw&bvm=bv.77880786,d.ZGU&psig=AFQjCNHc2MdOxWY32vz58etcFPNFoQSIqg&ust=1414311918806335
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
14 
 
destinatário das normas que são criadas no âmbito do Estado, o qual 
deve ser ‘‘um Direito próprio, não um Direito estranho”. 
 
 
 
Sujeito do Poder 
Povo 
 
 
Objecto do Poder 
 
É necessário distinguir o conceito de povo, do conceito de população. 
 
População é um conceito demográfico e económicoe representa o 
conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou 
estrangeiros. 
 
II – A Cidadania ou Nacionalidade 
 
Sendo o povo a ‘‘comunidade dos cidadãos ou súbditos’’, é 
fundamental determinar quais é que são as pessoas que devem 
qualificadas dessa forma. 
 
Os Estados gozam nesta matéria, em conformidade com o Direito 
Internacional, de uma competência exclusiva na definição das regras 
de aquisição e de perda da cidadania, não obstante a necessidade de 
atenderem a existência de uma ligação efectiva entre o indivíduo e o 
Estado que atribui. 
 
Existem basicamente dois critérios quanto à atribuição da cidadania: 
 O critério do jus sanguinis, que tem na sua base os laços de 
sangue ou de filiação (prevalecente nos Estados de formação 
mais antiga), e 
 O critério do jus soli, que tem na sua base o local do 
nascimento (que é o mais utilizado em Estados mais recentes e 
onde existem movimentos de imigração). 
Distinguir também: 
 
 Aquisição originária da cidadania, se produz efeitos desde, o 
nascimento e 
 Aquisição derivada da cidadania, se produz efeitos a partir de 
um momento posterior. 
 
A cidadania deve ser apreciada actualmente numa dupla vertente: 
 
 Enquanto um vinculo jurídico – político, que une um individuo 
ao seu Estado, e 
 Enquanto um Direito do indivíduo com a natureza de Direito 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
15 
 
fundamental. 
 
Daqui resulta que ter a qualidade de cidadão de um Estado implica um 
conjunto de Direitos e de deveres, tais como: 
 Participar na vida política do Estado; 
 Beneficiar da defesa dos seus Direitos dentro do território do 
Estado; 
 Beneficiar da defesa dos seus Direitos fora do território do 
Estado, nomeadamente através de protecção diplomática; 
 Participar na defesa do território, nomeadamente através da 
prestação de serviços militar. 
 
Deve ser tido em consideração que podem existir situações de 
cidadania dupla ou plural e de apátridia ou de apolidia. No primeiro 
caso, um indivíduo é considerado por mais de um Estado como seu 
nacional, em resultado de situações como o casamento. No segundo 
caso, um indivíduo não é considerado por nenhum Estado como seu 
nacional. No sentido de evitar estas situações, o artigo 15 da 
Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê que: 
 1. Todo o indivíduo tem o Direito a uma nacionalidade. 
2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade, 
nem do direito de mudar de nacionalidade” 
E o n.º 3 do artigo 24 do Pacto Internacional de Direitos Civis e 
Políticos consagra que: 
‘‘ todas as crianças têm o Direito de adquirir uma nacionalidade ’’. 
 
Distinguir cidadania e nacionalidade. Cidadania deve estar reservada a 
pessoas singulares: os cidadãos que são pessoas físicas. Nacionalidade 
deve ser aplicado a pessoas colectivas ou a coisas: as empresas, por 
um lado, e os navios e as aeronaves, por outro2. 
 
Distinção entre cidadania e nacionalidade 
 
2
 O legislador moçambicano preferiu tratar indistintamente os dois termos 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
16 
 
 
 
III – A Situação dos Estrangeiros e dos Apátridas 
 
Os estrangeiros e os apátridas ou apólidas gozam, em termos gerais, 
de um estatuto jurídico distinto do dos cidadãos do Estado. 
Actualmente, a principal diferença será o não ter, em princípio, o gozo 
de Direitos políticos, na medida em que devem ter um tratamento 
compatível com a dignidade da pessoa humana. 
 
Daqui resulta que esse estatuto pode variar, segundo o Prof. Jorge 
Miranda, entre: 
 Um tratamento mínimo ou razoável dos estrangeiros como 
pessoas, à luz da consciência ética universal ou dominante no 
nosso tempo e; 
 
 Equiparação ou tratamento mais favorável em consequência 
de convenções internacionais que sejam celebrados pelas 
Estados interessados. 
 
Deve ser no entanto, sublinhado que ‘‘ nenhum estrangeiro tem 
Direito de entrada no território de outro Estado (ao contrário do que 
sucede com os cidadãos deste), mas uma vez admitido, fica o Estado 
adstrito a trata-lo de modo razoável segundo um critério objectivo 
(que pode, no limite, ser superior ao conferido aos seus cidadãos)”. 
 
IV - A nacionalidade na Constituição moçambicana 
 
A nacionalidade na Constituição moçambicana está maioritariamente 
disposta no título II que vai dos artigos 23 à 34 da seguinte forma: 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
17 
 
 
Título II da CRM 
Nacionalidade 
Capítulo Assunto 
 
Artigo 
I Nacionalidade originária 
Princípio da 
territorialidade 23 à 25 
 
 
Princípio da 
consaguinidade 
 
 
 Casamento 26 
II Nacionalidade adquirida Naturalização 27 
 
 Filiação 28 
 
 Adopção 29 
III 
Perda e reaquisição da 
Nacionalidade 31 à 32 
IV 
Prevalência da 
nacionalidade e registo 33 à 34 
 
V - Condição jurídica das pessoas em razão da nacionalidade ou 
cidadania moçambicana 
 
Da cidadania depende o exercício de certos Direitos fundamentais 
A CRM faz uma distinção entre cidadãos originariamente 
moçambicanos e cidadãos de nacionalidade adquirida: 
a) Os cidadãos de nacionalidade adquirida não são elegíveis para 
os cargos de deputados (art. 30/1 da CRM) e de presidente da 
República (art. 147/2 a) da CRM). Para os candidatos á 
presidência da República acresce a exigência de que o 
candidato não possua uma outra nacionalidade. 
 
b) Outras restrições ao exercício de funções (art. 30/1 da CRM) 
não podem ser membros do governo, titulares de órgãos de 
soberania e não tem acesso à carreira diplomática ou militar 
Sumário 
Povo é o conjunto de cidadãos ou nacionais decerto Estado. O povo é 
sujeito e objecto do poder. 
 
É necessário distinguir o conceito de povo, do conceito de população. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
18 
 
 
População é um conceito demográfico e económico e representa o 
conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou 
estrangeiros. 
 
Os Estados gozam de uma competência exclusiva na definição das 
regras de aquisição e de perda da cidadania, não obstante a 
necessidade de atenderem a existência de uma ligação efectiva entre 
o indivíduo e o Estado que atribui. 
 
Distinguir cidadania e nacionalidade. Cidadania deve estar reservada a 
pessoas singulares: os cidadãos que são pessoas físicas. Nacionalidade 
deve ser aplicada a pessoas colectivas ou a coisas: as empresas, por 
um lado, e os navios e as aeronaves, por outro. 
Exercícios de Auto-Avaliação 
 
1. Pode haver casos de indivíduos sem nacionalidade. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
2. Pode haver casos de indivíduos com dupla nacionalidade. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
3. Em bom rigor cidadania é diferente de nacionalidade 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
4. A CRM faz uma distinção entre cidadãos originariamente 
moçambicanos e cidadãos de nacionalidade adquirida 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
19 
 
 
5. O povo é sujeito e objecto do poder. Comente. 
 
6. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade, 
nem do Direito de mudar de nacionalidade. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
Exercícios 
1. O que entende por povo? 
2. Distinga povo da população. 
3. Ter a qualidade de cidadão de um Estado implica um conjunto 
de Direitos e de deveres. Diga quais são. 
4. Existem basicamente dois critérios quanto à atribuição da 
cidadania. Quais são? 
5. A cidadania deve ser apreciada actualmente numa dupla 
vertente. Comente 
6. Distinga nacionalidade originária da nacionalidade adquirida. 
 
UNIDADE Temática 1.3. O Território 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre a noção do Território como um dos 
elementos do Estado, a sua importância para o Estado e a composição 
do território moçambicano. 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos Saber definir o conceito Território; 
 Saber a importância do território para o Estado; 
 Conhecer e dominar a composição do território moçambicano; 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
20 
 
I – O território 
 
O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o 
espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano e, em 
conformidade, qual é o âmbito espacial de aplicação das normas 
jurídicas que são emitidas pelo poder político. 
 
O território é o espaço jurídico próprio do Estado, o que significa, 
segundo o Prof. Jorge Miranda, citado por Bastos (1999) que: 
 
 Só existe poder do Estado quando ele consegue impor a sua 
autoridade, em nome próprio, sobre certo território; 
 A atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado ou 
o seu reconhecimento por outros Estados dependente da 
efectividade desse poder; 
 Os órgãos do Estado encontram-se sempre sediados, salvo em 
situação de necessidade, no seu território; 
 No seu território cada Estado tem o Direito de excluir poderes 
concorrentes de outros Estados (ou de preferir a eles); 
 No seu território, cada Estado só pode admitir o exercício de 
poderes doutro Estado sobre quaisquer pessoas com a sua 
autorização; 
 Os cidadãos só podem beneficiar da plenitude de protecção dos 
seus Direitos pelo respectivo Estado no território deste. 
 
Daqui resulta, em conformidade, que o Direito do Estado sobre o seu 
território costuma ser entendido como um Direito ou poder indivisível, 
inalienável e exclusivo. 
 
 
 
 
 
 
Indivisível 
Território 
do 
Estado 
 
Inalienável 
 
 
Exclusivo 
 
 
 
II- Território terrestre, aéreo e marítimo 
 
O território de um Estado é constituído obrigatoriamente por 
território terrestre e por território aéreo e, no caso dos Estados que 
tem fronteira com mares ou oceanos, por território marítimo. A 
delimitação do território é feita tendo em consideração normas de 
Direito Internacional e normas de Direito interno. 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
21 
 
III. Composição do território moçambicano 
 
Em termos de extensão o território moçambicano abrange toda a 
superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitado 
pelas fronteiras nacionais art. 6/1 da CRM. 
Esquematicamente podemos representar o território moçambicano do 
seguinte modo: 
Território Moçambicano 
Território Limites 
Poder do 
Estado 
Superfície 
terrestre 
Fronteiras 
nacionais 
Soberania 
Completa e 
Exclusiva 
 Águas Territoriais 12 milhas 
Soberania 
Completa e 
Exclusiva 
Zona marítima Zona Contígua 24 milhas 
Poderes de 
fiscalização 
 
Zona Económica 
Exclusiva 200 milhas 
Definição 
dos recursos 
 
Plataforma 
continental 
200 - 350 
milhas 
Soberania 
Completa e 
Exclusiva 
Espaço aéreo 48 km altitude 
Soberania 
Completa e 
Exclusiva 
 
Sumário 
O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o 
espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano e, em 
conformidade, qual é o âmbito espacial de aplicação das normas 
jurídicas que são emitidas pelo poder político. 
 
O Direito do Estado sobre o seu território deve ser entendido como 
um Direito ou poder indivisível, inalienável e exclusivo. 
 
Em termos de extensão o território moçambicano abrange toda a 
superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitado 
pelas fronteiras nacionais art. 6/1 da CRM. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
22 
 
Exercícios de Auto-Avaliação 
 
1. O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o 
espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
2. O Direito do Estado sobre o seu território é um Direito ou poder 
divisível, alienável e não exclusivo 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
 
3. Como é constituída a zona marítima moçambicana? 
Resposta: É constituída pelas águas territoriais, zona contígua, zona 
Económica Exclusiva e plataforma continental 
 
4. A que distância fica a zona contígua? 
Resposta: Fica às 24 milhas. 
 
5. A que distância fica a zona económica exclusiva? 
Resposta: Fica à 200 milha. 
 
6. Qual é o poder do Estado moçambicano sobre a sua superfície 
terrestre? 
Resposta: Poder de soberania completa e exclusiva. 
Exercícios 
1. Defina território. 
2. Qual é a composição do território de um Estado? 
3. Qual é a composição do território moçambicano? 
4. O território moçambicano é uno, indivisível e inalienável. 
Comente 
5. Qual é o poder do Estado sobre o seu espaço aéreo? 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
23 
 
6. Como é feita a delimitação de território de um Estado? 
 
UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre a noção do Poder Político como um dos 
elementos do Estado, a divisão do poder político, fins e funções do 
Estado 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Dominar a divisão do poder político; 
 Conhecer e saber diferenciar as diversas formas do Estado 
 Conhecer os fins do Estado; 
 Conhecer as funções do Estado; 
 
 
I - Definição 
 
O terceiro dos elementos que caracterizam o Estado é o exército do 
poder político. Embora não se trate de uma característica exclusiva do 
Estado, importa salientar que a forma mais comum e paradigmática de 
poder político é a que tem lugar no âmbito dos Estados. 
 
Nestes termos, o poder político que se exerce nos Estados é: 
 
 Um poder constituinte, originário, que tem um fundamento 
próprio e que não está dependente de qualquer outro poder; 
 Um poder de auto-organização, que tem por objectivo 
permanente e continuado a criação de condições para a 
manutenção da segurança, a administração da justiça e a 
promoção do bem-estar da comunidade politica; 
 Um poder de decisão que faz as opções consideradas 
adequadas à organização da vida da comunidade politica, 
nomeadamente através da produção de regras jurídicas. 
 
 
 
 
 
Poder constituinte 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
24 
 
Poder 
Político 
 
Poder de auto-
organização 
 
 
Poder de decisão 
 
 
O poder político é exercido no âmbito do Estado por um conjunto de 
órgãos do Estado, que são poderes constituídos e que devem autuar 
na estrita observância das competências previstas na lei. Daqui resulta 
que o poder político que é exercido no âmbito do Estado está limitado 
pelo Direito. Por um lado, e antes de mais, pelo Direito que é 
produzido internamente por esse mesmo poder político. É, por outro 
lado, em termos externos, pelo Direito Internacional. 
 
A organização política implica, nestes termos, a distinção entre 
governantes, no âmbito do povo. É, alias, de salientar que mesmo o 
modelo democrático de organização da sociedade não implica que 
todos os cidadãos devem (e possam) participar directa e 
efectivamente nos exercícios do poder político. Nesse sentido, afirma 
o Prof. Jorge Miranda que não são simples as relações entre os 
governantes e governados e configuração que patenteiam pode servir 
para classificar os diferentes sistemas e regimes. Mas nenhum sistema 
político, por mais democrático que seja, suprime a distinção; só a pode 
mitigar ou reordenar mais em coerência com os princípios. 
O fundamental é, assim, que os governantes actuem tendo em 
consideração o interesse dos governados e que os Direitos e 
vantagens resultantes do cargo sejam entendidos em termos 
funcionais e não transformados em vantagens pessoais. 
 
Importa, ainda, distinguir os governados entre cidadão activos, que 
são os titulares de Direitos políticos e cidadãos não activos, que são 
aqueles que não têm capacidade de participação política, 
nomeadamente em razão da idade. 
 
II - As formas de Estado 
 
Deve ser tida em consideração a distinção entre Estado unitário e o 
Estado complexo, com base na existência de um ou mais poderes 
políticos no mesmo Estado (sendo que,qualquer caso, só um deles é 
soberano). 
 
O critério que está assim, na base da distinção é o do modo de o 
Estado dispor o seu poder em face de outros poderes de igual 
natureza (em termos de coordenação e subordinação) e quanto ao 
povo e ao território (que ficam sujeitos a um ou a mais de um poder 
político). 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
25 
 
 
 
 
 
Estado 
unitário 
Forma 
de 
Estado 
 
 
Estado 
complexo 
 
 
III - O Estado unitário: O Estado unitário centralizado e o Estado 
unitário regional 
 
No Estado unitário deve ser feita a distinção entre Estado unitário 
centralizado e Estado unitário regional. No primeiro, existe apenas um 
poder político estadual, enquanto no segundo existe um fenómeno de 
descentralização política. 
 
A descentralização política sempre a nível territorial: são provinciais ou 
regionais que se tornam politicamente autónomas por os seus órgãos 
desempenharem funções políticas, participarem ao lado dos órgãos 
estaduais, no exercício de alguns poderes ou competências de carácter 
legislativo ou governativo. 
 
As experiências de regionalismo político são recentes e remontam à 
Constituição espanhola de 1931 e à italiana de 1947. 
 
O Estado unitário regional tem na base uma situação e 
descentralização política que se traduz na atribuição a entidades 
infraestaduais de poderes ou funções de natureza política, relativas à 
definição do interesse público ou a tomada de decisões políticas 
(designadamente, de decisões legislativas). 
 
Segundo o prof. Jorge Miranda, existem várias categorias de Estados 
regionais: 
 
a) Estado regional integral – aquele em que todo o território se 
divide em regiões autónomas e Estado regional parcial – 
aquele em que o território não está todo dividido em regiões 
autónomas e em que encontram-se regiões politicamente 
autónomas e regiões ou circunscrições só com 
descentralização administrativa, verificando-se pois, 
diversidade de condições jurídico-políticas da região para 
região; 
 
 
b) Estado regional homogéneo – aquele em que a organização 
das regiões é, senão uniforme, idêntica (a mesma no essencial 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
26 
 
para todos) e Estado regional heterogéneo – aquele em que a 
organização das regiões “… pode ser diferenciada ou haver 
regiões de estatuto comum das regiões de estatuto especial; 
 
c) Estado com regiões de fins gerais – aqueles em que as regiões 
são constituídas para a prossecução de interesses (e, em 
princípio, de todos os interesses) específicos das pessoas ou 
das populações de certas áreas geográficas e Estado com 
regiões de fins especiais – aqueles em que a descentralização 
política regional e moldada em razão de algum ou alguns 
interesses específicos (v.g. interesses culturais) e é, porventura, 
mesmo a partir da comunidade desses interesses que se 
recortam os territórios regionais. 
 
Distinguir a descentralização política ou político-administrativa que 
está na base do fenómeno do regionalismo de: 
 
 Desconcentração: que consiste em existirem diferentes órgãos 
do Estado por que se dividem funções e competências, a 
diferente nível hierárquico ou não, e de âmbito central ou 
local; 
 
 Descentralização administrativa: que designa o fenómeno de 
atribuição de poderes ou funções de natureza administrativa a 
entidades intraestaduais, tendências à satisfação quotidiana de 
necessidades colectivas; 
 
 Regionalização: que se traduz em desconcentração regional e, 
sobretudo, na criação de autarquias supra municipais para fins 
de coordenação de actividades, de utilização de serviços em 
comum, de planeamento, de participação, de fomento cultural 
e económico; 
 
 Autonomia política: que é um conceito empírico destinado a 
descrever algo situado entre a não autonomia territorial e o 
estatuto de Estado independente, em igualdade com quaisquer 
outras comunidades que deste façam parte; 
 
 Federalismo. 
 
Deve ser sublinhado que a descentralização pode ser administrativa ou 
política e que não existem formas de descentralização jurisdicional, na 
medida em que a função jurisdicional é sempre atribuída a tribunais 
que são considerados órgãos do Estado. 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
27 
 
 
 
 
 
Estado unitário 
clássico 
Estado unitário 
 
 
Estado unitário 
regional 
 
 
 
IV - O Estado complexo. A união real. As federações. 
 
No Estado complexo deve ser feita a distinção entre união real e 
federação. Na primeira, existe uma estrutura de poderes políticos 
sobrepostos, enquanto na segunda existe uma estrutura de fusão de 
poderes políticos das entidades componentes. 
 
 A união real 
 
Na união real, estamos em presença de uma associação ou união de 
Estados, que dá lugar à criação de um novo Estado, na qual alguns dos 
órgãos dos Estados associados passam a ser comuns. 
 
Em conformidade, a união real é baseada na fusão ou na colocação em 
comum de alguns dos órgãos dos Estados que a constituem, de tal 
modo que fica a haver, ao lado dos órgãos particulares de cada Estado, 
um ou mais órgãos comuns (pelo menos, o Chefe de Estado é comum) 
com os respectivos serviços de apoio e execução. Exemplos de união 
real: Portugal e Brasil de 1815 a 1822, a Suécia e a Noruega de 1815 a 
1905 e a Áustria e a Hungria de 1867 a 1918. 
 
Distinguir a união real da união pessoal, que é a situação em que o 
Chefe de Estado é comum a dois Estados, embora somente a título 
pessoal e não orgânico; o que é comum é o titular do órgão e não o 
próprio órgão. Exemplo de união pessoal: Portugal e Espanha de 1580 
a 1640. 
 
União real ≠ União pessoal 
 
 As federações 
 
Na federação, estamos em presença de uma associação ou união de 
Estados, que dá lugar à criação de um novo Estado, e em que surgem 
novos órgãos de poder político sobrepostos aos órgãos dos Estados 
federados. 
 
Em conformidade, para o prof. Jorge Miranda, o Estado federal ou 
federação é baseado numa dualidade: 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
28 
 
 
 Por um lado, numa estrutura de sobreposição, a qual recobre 
os poderes políticos locais (isto é, dos Estados federados), de 
modo a cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas 
Constituições - a federal e a do Estado federado a que pertence 
– e ser destinatário de actos provenientes de dois aparelhos de 
órgãos legislativos, governamentais, administrativos e 
jurisdicionais; 
 
 e, por outro lado, numa estrutura de participação, em que o 
poder político central surge como resultante da agregação dos 
poderes políticos locais, independentemente do modo de 
formação: donde a terminologia clássica de “Estado de 
Estados”. 
 
A federação tem na sua origem uma Constituição federal, resultante 
do exercício de um poder constituinte autónomo, que contem o 
fundamento de validade e de eficácia do ordenamento jurídico 
federativo; e é ele que define a competência das competências. 
 
Distinguir federação de confederação que é uma associação de 
Estados em que os Estados participantes limitam a sua soberania em 
determinadas matérias em resultado de um tratado internacional com 
esse objectivo. 
 
Nestes termos, “do pacto confederativo resulta uma entidade a se, 
com órgãos próprios (pelo menos, uma assembleia ou dieta 
confederal). Não chega a emergir um novo poder político ou mesmo 
uma autoridade supraestadual com competência genérica”. 
 
Exemplos de confederação: os cantões suíços até 1848, os Estados 
Unidos da América entre 1781 e 1787, o Estados da Confederação do 
Reno de 1806, da Confederação Germânica de 1815 ou da 
Confederação da Alemanha do Norte de 1866 e o Estados da 
Comunidade de Estados Independentes, que foi criada em 1991 no 
surgimento da dissolução da União Soviética. 
 
Federação ≠ Confederação 
 
 
 
 
 
União real 
Estado complexo 
 
 
Federações 
 
 
V - Os fins do Estado 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
29 
 
 
Os fins do Estado são objectivos prosseguidos pelo poder político doEstado. São normalmente considerados três fins do Estado: segurança, 
justiça e bem-estar. 
 
 A segurança, tem várias facetas: a segurança interna, ou 
ordem interna, e a segurança externa, ou defesa da 
colectividade perante o exterior; a segurança individual, 
proporcionada pela definição, através de normas jurídicas 
executadas pelos órgãos do Estado, dos Direitos e deveres 
reconhecidos a dado cidadão, e a segurança colectiva, 
enquanto realidade que envolve toda a comunidade 
considerada. 
 
 A justiça visa a substituição, nas relações entre os homens, dos 
arbítrios por um conjunto de regras capaz de consensualmente 
estabelecer uma nova ordem e, assim satisfazer uma aspiração 
por todos sentidos. 
 
 O bem-estar, entendido como bem-estar económico, social e 
cultural que consiste na promoção das condições de vida dos 
cidadãos em termos de garantir o acesso, em condições 
sucessivamente aperfeiçoadas, a bens e serviços considerados 
fundamentais pela colectividade, tais como bens económicos 
que permitam a elevação do nível de vida de estratos sociais 
cada vez mais amplos, e serviços essenciais, por exemplo, os 
que contemplam a educação, a saúde e a segurança social”. 
 
Deve ser tida em consideração a distinção entre: 
 
 Justiça comutativa – parte de uma ideia de igualdade abstracta 
e formal, que em paridade de circunstâncias, exige igualdade 
de tratamento e equivalência de prestações e 
contraprestações. 
 
 Justiça distributiva – parte de uma ideia de igualdade material, 
o que implica que se forem desiguais as características ou a 
situação em que cada um se encontra, a igualdade terá de ser 
reposta pelo recurso à proporcionalidade ou a critérios de 
equitativa compensação, pois nada há de mais injusto, 
acentuava-o já Aristóteles, do que tratar como igual o que é 
desigual. 
 
 
 
 
Segurança 
 
 
 
Comutativa 
Fins de 
Esatdo 
 
Justiça 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
30 
 
 
Distributiva 
 
bem estar 
 
VI - As funções do Estado 
 
As funções do Estado como actividades desenvolvidas pelos órgãos do 
poder político do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos 
que se lhes encontram constitucionalmente cometidos. 
 
O prof. Marcelo Rebelo de Sousa, citado por Bastos (1999) propõe um 
esquema hierarquizado das funções do Estado: 
 
 Em primeiro lugar, a função constituinte, através da qual o 
poder político define as regras essenciais da existência 
colectiva criando a lei das leis, a Constituição; 
 
 Em segundo lugar, a função de revisão constitucional, através 
da qual vai revendo a Constituição para a adaptar ao devir 
colectivo; 
 Em terceiro lugar, as funções independentes, principais ou 
primárias, constituídas por: 
 
 A função política que traduz-se na definição e prossecução 
pelos órgãos do poder político dos interesses essenciais da 
colectividade, realizando, em cada momento, as opções para o 
efeito consideradas mais convenientes; 
 
 A função legislativa que corresponde à prática de actos 
provenientes de órgãos constitucionalmente componentes e 
que revestem a forma externa de lei; 
 E, em quarto lugar, as funções dependentes, subordinadas ou 
secundárias, constituídas por: 
 
 A função jurisdicional que “…consiste no julgamento de 
litígios, resultantes de conflitos de interesses privados, ou 
público e privados, bem como a punição da violação da 
Constituição e das leis, através de órgãos entre si 
independentes, colocados numa posição de passividade e 
imparcialidade, e cujos titulares (os juízes) são inamovíveis e, 
em princípio não podem ser sancionados pela forma como 
exercem a sua actividade”. 
 
 A função administrativa que consiste na satisfação das 
necessidades colectivas que, por virtude de prévia opção 
política ou legislativa se entende que incumbe ao Estado 
prosseguir, encontrando-se tal tarefa cometida a órgãos 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
31 
 
interdependentes, dotados de iniciativa e de parcialidade na 
realização do interesse público, e com titulares amovíveis e 
responsáveis pelos seus actos. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
32 
 
 
 
 
 
Constituinte 
 
 
 
Revisão 
constitucional 
 
 Funções 
do 
Estado 
 
 
Política 
 
Primárias 
 
 
Legislativa 
 
 
 
Jurisdicional 
 
Secundárias 
 
 
Administrativa 
 
 
VII - A organização do poder político do Estado 
 
O Estado é uma pessoa colectiva o que implica que seja destinta de 
cada uma das pessoas físicas que compõem a comunidade e dos 
próprios governantes e susceptível de entrar em relações jurídicas 
com outras entidades, tanto no domínio do Direito interno como no 
do Direito Internacional, tanto sob a veste de Direito Público como sob 
a do Direito privado. 
 
O Estado, enquanto pessoa colectiva, actua através de órgãos 
 
VIII - Órgão/ competência/ titular e cargo. Vontade funciona e 
imputação 
 
Órgão do Estado é, em conformidade com o pensamento do Prof. 
Jorge Miranda o centro autónomo institucionalizado de emanação de 
uma vontade que lhe atribuída, sejam quais forem a relevância, 
alcance, os efeitos (externos ou mesmo internos) que ela assuma. O 
centro de formação de actos jurídicos do Estado (e no Estado). 
Instituição, tornada efectiva através de uma ou mais de uma pessoa 
física, de que o Estado carece para agir (para agir juridicamente). 
 
O conceito de órgão, segundo o Prof. Jorge Miranda; desdobra-se em 
quatro facetas ou elementos que importa distinguir não obstante não 
poderem ser autonomizados: 
 
 A instituição, ou, em certa acepção, o ofício - sendo instituição 
na célebre definição de HAURIOU, a ideia de obra ou de 
empreendimento que se realiza e perdura no meio social; 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
33 
 
 
 A competência, ou complexo de poderes funcionais cometidos 
ao órgão, parcela do poder público que lhe cabe; 
 
 O titular, ou pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que, 
em cada momento, encarnam a instituição e formam a 
vontade que há-de corresponder ao órgão; 
 
 O cargo ou mandato (quando se trate de órgão electivo) 
Função do titular, papel institucionalizado que lhe e 
distribuído, relação específica dele com o Estado, traduzida em 
situações subjectivas, activas e passivas. 
 
O conceito de competência tem em Direito Público em geral, e no 
Direito Constitucional em particular, uma consequência fundamental e 
de grande alcance, a de que: 
 
O órgão não pode actuar sem ser em conformidade com a 
competência que está prevista na lei. 
 
No caso contrário, isto é, se o órgão praticar um acto que não recaia 
na sua competência, esse acto será inválido, irregular ou ineficaz por 
incompetência. 
 
Importa ter, no entanto, em consideração que tendo a competência o 
seu fundamento na norma, esta pode ser de dois tipos: explícita e 
implícita. Isso quer dizer, com base em diferentes graus de leitura, 
que, no primeiro caso, pode assentar numa norma que, 
explicitamente, a declare, enquanto, no segundo caso, pode assentar 
em norma cujo sentido somente seja descoberto através de técnicas 
interpretativas e que surja como consequência de outra norma -ou 
nela esteja contida. 
 
O princípio da prescrição normativa da competência é, numa ordem 
constitucional de Estado de Direito, manifestação de duas ideias mais 
fundas: a de limitação do poder público como garantia de liberdade 
das pessoas e a da separação e articulação dos órgãos do Estado entre 
si e entre eles e os órgãos de quaisquer entidades ou instituições 
publicas". 
 
Importa distinguir o conceito de órgão do conceito de agente. Nestes 
termos o agente é alguém que não forma, nem exprime a vontade 
colectiva; limita-se a colaborar na sua formação ou, o mais das vezes, a 
dar execução as decisões que dele derivam, sob a direcção e a 
fiscalização do órgão. 
 
O funcionamento do órgão, na medida em que se trata de uma 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
34 
 
construçãojurídica e não de uma realidade física, implica a necessária 
intervenção de pessoas físicas. Isso significa que essas pessoas quando 
actuam no âmbito da sua esfera jurídica estão a manifestar uma 
vontade psicológica, mas quando estão a actuar como suporte do 
órgão estão a manifestar uma vontade funcional. A vontade funcional 
deve ser emendada como a manifestação de vontade do órgão, em 
conformidade com o fenómeno da imputação. 
 
Sumário 
O poder político que é exercido no âmbito do Estado está limitado 
pelo Direito. Por um lado, e antes de mais, pelo Direito que é 
produzido internamente por esse mesmo poder político. É, por outro 
lado, em termos externos, pelo Direito Internacional. 
 
Deve ser tida em consideração a distinção entre Estado unitário e o 
Estado complexo, com base na existência de um ou mais poderes 
políticos no mesmo Estado (sendo que, qualquer caso, só um deles é 
soberano). Assim temos como formas de Estado: Estado Simples e 
Estado Complexo. 
 
Os fins do Estado são objectivos prosseguidos pelo poder político do 
Estado. São normalmente considerados três os fins do Estado: 
segurança, justiça e bem-estar. 
 
As funções do Estado são as actividades desenvolvidas pelos órgãos do 
poder político do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos 
que se lhes encontram constitucionalmente cometidos. 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. O poder político é um poder: originário, de auto organização e 
de decisão. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
2. Quais são as formas de Estado que conheces? 
Resposta: Estado simples ou unitário e Estado complexo ou 
composto. 
 
3. Faça a distinção entre Estado unitário centralizado e Estado 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
35 
 
unitário regional. 
Resposta: No primeiro, existe apenas um poder político 
estadual, enquanto no segundo existe um fenómeno de 
descentralização política. 
 
4. As experiências de regionalismo político são antigas. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
 
5. A descentralização pode ser jurisdicional? 
Resposta: Não. A descentralização pode ser administrativa ou 
política. É que não existem formas de descentralização 
jurisdicional, na medida em que a função jurisdicional é sempre 
atribuída a tribunais que são considerados órgãos do Estado 
 
6. Quais são as formas de Estado complexo? 
Resposta: União Real e Federação 
 
Exercícios 
1. Quais são as várias categorias de Estados regionais? 
2. Diferencie a desconcentração da descentralização 
administrativa. 
3. A federação e o “Estado dos Estados”. Comente 
4. Quais são os fins do Estado? 
5. Quais são as funções do Estado? 
6. O que entende por funções do Estado? 
 
UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema I 
 
1. O elemento do Estado População é constituído por cidadãos, 
apátridas e estrangeiros. Comente. 
2. José Zingombere, de 18 anos de idade, filho de pais moçambicanos 
nasceu no Malawi, tendo os seus pais o registado como 
malawiano. Hoje ele pretende possuir a nacionalidade 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
36 
 
moçambicana. Pode obtê-la? 
3. Um grupo de deputados da Assembleia da República apresentou 
um projecto de lei onde que se pretende dividir o território 
moçambicano em três partes (Estados). Quid Juris? 
4. A competência não se presume! Comente. 
5. Defina órgão de Estado? 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
37 
 
TEMA – II: A CONSTITUIÇÃO COMO ESTATUTO DO PODER 
POLÍTICO 
UNIDADE Temática 2.1. O constitucionalismo e a Constituição. Direito 
Constitucional e fontes do Direito Constitucional. 
UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II 
 
UNIDADE Temática 2.1. O Constitucionalismo e a Constituição. 
Direito Constitucional e fontes do Direito Constitucional. 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre o Constitucionalismo, Estado 
constitucional, e Direito Constitucional a Constituição como acto 
jurídico, Constituição e sistema jurídico, Dimensões da Constituição, 
Classificações materiais de Constituições e as fontes do Direito 
Constitucional 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Saber definir o Constitucionalismo, Estado constitucional e a 
Constituição; 
 Conhecer as dimensões da Constituição; 
 Conhecer as classificações da Constituição; 
 Conhecer as fontes do Direito Constitucional. 
 
I - Introdução: Constitucionalismo, Estado constitucional, e Direito 
Constitucional 
 
O Direito Constitucional moderno provém do constitucionalismo, e 
remete-nos para a ideia de Estado constitucional. O Estado 
constitucional nasce da luta contra o Estado absoluto. 
 
O objectivo do constitucionalismo era – e é – o de limitar 
juridicamente o poder do Estado (consequentemente, abolir o 
absolutismo real) através de uma Constituição escrita. E de que forma 
opera essa limitação? Entre outros aspectos, através de um 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
38 
 
«instrumento básico, através do qual se procura alcançar esse 
objectivo», o princípio da separação de poderes. Mas também, e 
principalmente, através do reconhecimento de Direitos fundamentais 
dos cidadãos. Em consequência disso, é neste contexto que surgem as 
primeiras proclamações dos Direitos do Homem, e a proclamação da 
igualdade jurídica de todos os homens, independentemente do 
nascimento ou de outros factores. Em consequência disso, também, a 
abolição de privilégios. 
 
A limitação jurídica do poder do Estado, em conexão com a 
responsabilidade jurídica dos titulares dos cargos públicos, constitui o 
elemento essencial de legitimação do poder no contexto de um Estado 
de Direito. 
 
Segundo Gomes Canotilho Constitucionalismo é a teoria (ou ideologia) 
que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos 
Direitos em dimensão estruturante da organização político-social de 
uma comunidade. Neste sentido o constitucionalismo moderno 
representará uma técnica específica de limitação do poder com fins 
garantísticos. Diríamos, em síntese, que o constitucionalismo 
moderno tem sido essencialmente marcado por uma lógica de 
limitação do poder, e pela oposição às arbitrariedades desse mesmo 
poder, tendo em vista a salvaguarda dos Direitos fundamentais dos 
cidadãos. 
 
O Direito Constitucional é, por sua vez, a parte da ordem jurídica que 
rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto poder. No 
contexto da sua inserção no Direito em Geral, consiste, por isso, no 
conjunto de normas e princípios que, por um lado, reconhecem um 
conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e por outro, 
regulam a organização, o funcionamento e os limites do poder 
político. 
 
II - A Constituição como acto jurídico 
 
Por Constituição entendemos, hoje, a lei suprema do Estado (Lei 
Fundamental), que através do seu sistema de normas e princípios 
jurídicos, estabelece a “estrutura básica” do Estado: reconhecendo um 
conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos; e fixando as 
atribuições, as competências e, por conseguinte, os limites de 
actuação do poder político. 
 
Esta afirmação pode ser desdobrada em três elementos essenciais: (1) 
um elemento subjectivo; (2) um elemento formal; e (3) um elemento 
material. 
 
1) A Constituição (normalmente, plasmada num documento escrito) é, 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
39 
 
em primeiro lugar, uma lei, uma fonte legislativa, um acto jurídico-
positivo. Nestes termos, é um acto jurídico intencional (elemento 
subjectivo). 
 
2) Utilizando a metáfora kelsiana, esta lei encontra-se no topo de uma 
“estrutura escalonada” – a tal “pirâmide normativa”, ou seja, localiza-
se num lugar cimeiro na hierarquia das fontes. Por isso, em segundo 
lugar, dizemos que a Constituição é dotada de supremacia máxima na 
ordem jurídica estadual (elemento formal). 
 
3) A Constituição estabelece, por fim, a “estrutura básica” do Estado, 
ou a sua ordenação jurídico-política. Ou seja, a Constituição regulaas 
opções principais do Estado ao nível dos sistemas político, social e 
económico, através da declaração de um conjunto de Direitos e 
liberdades fundamentais e do respectivo modo de garantia; e da 
organização do poder político segundo esquemas tendentes a torná-lo 
um poder limitado e moderado (elemento material) 
 
Concluindo, a Constituição é, antes de mais, um acto jurídico do poder 
político (elemento subjectivo), dotado de supremacia máxima na 
ordem jurídica estadual (elemento formal), que regula a organização 
dos respectivos sistemas políticos, social e económico (elemento 
material). 
 
III - Dimensões da Constituição 
 
 Na sua dimensão material, a Constituição tem por objecto o 
estatuto jurídico do Estado, e expressa um determinado 
conteúdo nas opções que transporta e determina. Nestes 
termos, a Constituição material é composta pelo «conjunto de 
normas jurídicas fundamentais que regem a estrutura, os fins e 
as funções do Estado, a organização, a titularidade, o exercício 
e o controlo do poder político do Estado, bem como as 
respeitantes à fiscalização do acatamento das normas 
enumeradas, em particular do acatamento pelo próprio poder 
político do Estado. 
 
 Na sua dimensão formal, a Constituição formal expressa a 
ideia de que, sendo um acto legislativo, o mesmo ocupa uma 
posição suprema no ordenamento jurídico positivo. Por isso, 
quando falamos em Constituição em sentido formal (ou 
Constituição formal), falamos no «conjunto de normas jurídicas 
escritas, elaboradas por órgão dotado de poderes especiais 
(assembleia constituinte), através de um processo específico», 
normalmente, diverso daquele que gera as leis ordinárias, e 
que – porque ocupam um lugar cimeiro na hierarquia 
normativa – condicionam ou exigem a conformidade dos 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
40 
 
restantes actos dos poderes constituídos – não só das funções 
política e legislativa (que englobam o poder de revisão 
constitucional), como ainda das funções jurisdicional e 
administrativa. 
 
Esta superioridade hierárquico-formal no ordenamento jurídico 
positivo do Estado a que pertence tem depois três importantes 
concretizações: o princípio da constitucionalidade; a desvalorização 
dos actos jurídico-públicos desconformes; a responsabilidade pelos 
ilícitos constitucionais. 
 
 Quando falamos em Constituição em sentido instrumental (ou 
Constituição instrumental), falamos no «texto único em que se 
compreendem as normas formalmente constitucionais». Ou 
seja, o documento onde se inserem as normas constitucionais. 
Normalmente, hoje em dia, à Constituição formal corresponde 
a Constituição instrumental. 
 
IV - Classificações materiais de Constituições 
 
A pluralidade de conteúdos possíveis da Constituição ou de 
Constituições materiais mostra-se passível de várias classificações: 
 
1) De um ponto de vista da concordância das normas constitucionais 
com a realidade do processo do poder ou, noutros termos, da 
efectividade do texto constitucional na sua capacidade para limitar o 
poder político, podemos distinguir entre Constituições normativas, 
nominais e semânticas. 
 
 Constituições normativas são textos que conseguem, 
efectivamente, dominar a realidade constitucional, cumprindo 
o objectivo que lhes foi assinalado pelo constitucionalismo, na 
sua luta pela limitação do poder político. 
 
 Constituições nominais, tendo embora essa finalidade, não 
consegue todavia levá-la a cabo, porque não conseguem 
adaptar as suas normas à dinâmica do processo político (por 
via de mecanismos fácticos ou jurídicos que o impedem). 
 
 Enquanto as Constituições semânticas têm um papel de mera 
formalização da situação do poder político existente, em 
benefício dos detentores de facto desse poder. Ou seja, 
perdem a finalidade de limitar o poder político encontrando-
se, inversamente ao seu serviço, no sentido de estabilizar e 
eternizar a intervenção dos dominadores de facto na 
comunidade 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
41 
 
2) De um ponto de vista do confronto entre o seu carácter estático ou 
dinâmico de conformação social, podemos distinguir entre 
Constituições estatutárias ou orgânicas e Constituições programáticas. 
 
Esta contraposição corresponde, de um ponto de vista histórico, à 
passagem do Estado liberal – em que os textos constitucionais 
assumem um carácter estático, de garantia de um certo status quo, no 
contexto do liberalismo político e económico do séc. XIX Constituições 
estatutárias ou orgânicas – para o Estado social – em que o Estado 
passa a assumir como características essenciais próprias inovatórias, 
«a relevância do bem-estar e da justiça social como fins do Estado» e 
em que o texto constitucional assume, por isso, um carácter dinâmico, 
com um desejo de intervenção económica e transformação social, 
que se traduzem na consagração constitucional de novos conteúdos, 
essencialmente ao nível dos Direitos económicos, sociais e culturais e 
nas normas sobre aspectos da organização económica da sociedade, 
que correspondem na sua consagração a uma nova escala de 
objectivos e funções do Estado (Constituições programáticas) 
 
3) De um ponto de vista da unidade ou da pluralidade dos princípios 
materiais ou dos princípios enformadores da Constituição material, 
podemos distinguir entre Constituições simples e Constituições 
complexas ou compromissórias. 
 
Em bom rigor, o conceito de Constituição simples é meramente 
abstracto, já que nenhuma Constituição é inteiramente simples, todas 
contém dois ou mais princípios que a priori poderão ou não ser 
compagináveis. Uma Constituição compromissória permite a 
coexistência de ideias e correntes antagónicas, que só podem subsistir 
se os protagonistas institucionais aceitam um determinado fio 
condutor, v.g., o princípio democrático nos Estados sociais de Direito. 
 
4) Por fim, atendendo ao sector da Constituição que é objecto de 
consideração, tendo em conta as múltiplas matérias em que a 
Constituição pode ser dividida, podemos distinguir entre Constituições 
sociais, económicas, políticas e garantísticas. 
 
V - Normas material e formalmente constitucionais 
 
Do confronto entre as acepções de Constituição material e de 
Constituição formal resulta também uma diferenciação entre, por um 
lado, as normas e os princípios materialmente constitucionais, que 
serão todas as normas e princípios com dignidade constitucional; por 
outro, as normas e os princípios formalmente constitucionais, que 
serão, por seu turno, as normas e os princípios que têm forma e força 
constitucional, de cariz supremo. 
 
Em face disso, importa clarificar: 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
42 
 
 
1) As normas e princípios formalmente constitucionais são também 
materialmente Constitucionais. 
 
2) Há normas que fazem parte da Constituição material, mas que não 
estão contidas na Constituição formal. Pelo que existem, dois níveis 
(graus) de normas materialmente constitucionais: (a) as que se 
encerram na Constituição formal; e (b) as que pertencem ao Direito 
ordinário – produto de leis e outras fontes infra constitucionais. 
 
3) Pelo que, estas normas e princípios materialmente constitucionais 
(de 2.º grau), não o são em sentido formal. 
 
VI - As fontes das normas e dos princípios constitucionais 
 
Por razões de coerência e tendo em conta a observação da vida 
jurídica, lei, costume e jurisprudência encontram-se presentes 
também no Direito Constitucional. Nenhuma destas fontes, pode, 
portanto, ser excluída. 
 
Vejamos cada uma delas. 
 
 A Constituição 
 
A Constituição instrumental é a lei constitucional que codifica o Direito 
Constitucional (a excepção conhecida é a experiência britânica, dotada 
de uma Constituição material, assente no costume). 
 
 O Direito Constitucional extravagante 
 
Mas há normas e princípios constitucionais extravagantes à 
Constituição (tanto originários como supervenientes, que não 
integram a Constituição instrumental. O que nos permite distinguirentre: (a) Direito Constitucional extravagante formal; e (b) Direito 
Constitucional extravagante material. 
 
a) Fazem parte do Direito Constitucional extravagante formal os actos 
legislativos, pertinentes às matérias constitucionais que, apesar de se 
situarem fora do texto chamado “Constituição” no seu sentido 
instrumental, alcançam, por força da Constituição, o mesmo valor da 
Constituição formal. São exemplo disso: a Declaração Universal dos 
Direitos do Homem (DUDH) e a Carta Africana dos Direitos do Homem 
e dos Povos (CADHP), para os quais se remete em matéria de 
interpretação e integração do sistema constitucional dos Direitos 
fundamentais (art.º 43.º da CRM, cfr. art.º 18.º/2 da CRM); e os 
chamados Direitos fundamentais atípicos, oriundos de outras fontes 
normativas não constitucionais (v.g., os Direitos da personalidade 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
43 
 
reconhecidos no Código Civil), por força da “cláusula aberta de 
Direitos fundamentais” (art.º 42.º da CRM). 
 
b) Integram o Direito Constitucional extravagante material, os actos 
normativos que completam e desenvolvem as opções traçadas ao 
nível da Constituição formal e instrumental, e que têm apenas, neste 
caso, um valor infra-constitucional. Exemplos são: o Regimento da 
Assembleia da República; a Lei Orgânica do Conselho Constitucional; 
as Leis Eleitorais; a Lei dos Partidos políticos. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
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 O Costume 
 
É necessário, começar por distinguir o costume constitucional das 
regras de convivência e cortesia, frequentes na vida política. Assistir 
em pé ou sentado à audição de uma mensagem presidencial não 
revela a existência de um costume constitucional. O costume baseia-
se, sobretudo, nas regras de organização e interligação dos órgãos do 
poder que estruturam o regime político do Estado. 
 
O costume constitucional, nasce de uma sucessão de precedentes. 
Dois elementos são basicamente necessários: um elemento 
psicológico e um elemento objectivo. O elemento psicológico reside 
na consciência, para os dirigentes de que existe uma regra obrigatória 
criada pelo costume. Mas o costume implica também um elemento de 
uso: uma repetição que atesta a submissão e uma duração que 
confirma a generalização. A repetição de actos idênticos constitui o 
elemento objectivo do costume constitucional. A este elemento 
objectivo se adiciona o elemento subjectivo suportado pela 
necessidade do consentimento dos órgãos constitucionais e da opinião 
pública. Deve impor-se o sentimento de que a prática é imperativa, e 
conforme a uma regra constitucional obrigatória. É este sentimento de 
obrigação jurídica que legitima a sua prática constitucional. 
 
Mesmo uma Constituição escrita pode não ter previsto todos os 
mecanismos de Direito Constitucional. Poderá ser necessário 
interpretar, ou integrar determinadas regras, sem recorrer 
sistematicamente ao processo de revisão constitucional. É neste 
momento que o costume constitucional pode intervir. É certo que, 
regra geral, os Estados não adoptam formalmente o seu 
reconhecimento como fonte de Direito. No entanto, a maioria dos 
constitucionalistas vêm nele um instrumento de formalização de 
regras jurídicas. 
 
O costume é, regra geral, um complemento de uma Constituição 
escrita. Ele intervém frequentemente para os casos não previstos na 
Constituição. 
 
No entanto, o valor do costume constitucional é frágil por natureza. 
Mesmo que vá, em algum caso, contra o texto constitucional, é 
reversível a qualquer momento. Neste sentido, o costume não pode 
abrogar uma regra constitucional. Tal seria fazer da violação de um 
texto, uma forma de revisão constitucional. Limita-se por isso, em caso 
de consenso entre a classe política, e em alguns casos da opinião 
pública, a impor adaptações à Constituição. Direito precário, por 
natureza, encontra-se estreitamente ligado à fortuna política dos 
governos ou outros órgãos que o tentam, num dado momento pôr em 
prática. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
45 
 
 
Ao contrário do Direito escrito, o costume constitucional não tem 
aplicação directa em Direito positivo. Como regra, escapa à sindicância 
dos tribunais. A sua força apenas existe na medida em que os 
governantes sabem que não podem transgredir esta ou aquela regra 
não escrita, sem cometer uma violação. 
 
 A jurisprudência constitucional 
 
A jurisprudência constitucional pode ser fonte de Direito 
Constitucional, seja em moldes de costume, seja, eventualmente, a 
título de decisão do tribunal a que a lei confira força obrigatória geral 
(v. art.º 248.º da CRM). 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. O Direito Constitucional moderno provém do constitucionalismo. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
2. Qual era o objectivo do constitucionalismo? 
Resposta: era – e é – o de limitar juridicamente o poder do Estado 
(consequentemente, abolir o absolutismo real) através de uma 
Constituição escrita. 
3. Defina Direito Constitucional. 
Resposta: Conjunto de normas e princípios que, por um lado, 
reconhecem um conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos 
cidadãos, e por outro, regulam a organização, o funcionamento e os 
limites do poder político. 
4. A superioridade hierárquico-formal da Constituição no 
ordenamento jurídico positivo do Estado a que pertence tem depois 
três importantes concretizações. Diga quais são: 
Resposta: o princípio da constitucionalidade; a desvalorização dos 
actos jurídico-públicos desconforme; a responsabilidade pelos ilícitos 
constitucionais 
5. Há normas que fazem parte da Constituição material, mas que não 
estão contidas na Constituição formal. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: certo 
6. Assistir em pé ou sentado à audição de uma mensagem 
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46 
 
presidencial revela a existência de um costume constitucional 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
Exercícios 
1. Defina Constituição. 
2. A definição da Constituição pode ser desdobrada em três 
elementos essenciais. Diga quais são? 
3. Quais são as três dimensões da Constituição? 
4. Faça a distinção entre Constituições normativas e Constituições 
nominais. 
5. O que entende por Direito Constitucional extravagante? 
6. O que são Constituições semânticas? 
UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II 
 
1. A Constituição é dotada de supremacia máxima na ordem 
jurídica estadual. Comente. 
2. Explique a dimensão material da Constituição. 
3. Explique a dimensão formal da Constituição. 
4. Explique o costume como fonte de Direito. 
5. A jurisprudência é uma fonte do Direito Constitucional? 
Sumário 
O Direito Constitucional moderno provém do constitucionalismo, e 
remete-nos para a ideia de Estado constitucional. O Estado 
constitucional nasce da luta contra o Estado absoluto. 
O Direito Constitucional consiste no conjunto de normas e princípios 
que, por um lado, reconhecem um conjunto de Direitos, liberdades e 
garantias dos cidadãos, e por outro, regulam a organização, o 
funcionamento e os limites do poder político. 
A Constituição é a lei suprema do Estado (Lei Fundamental), que 
através do seu sistema de normas e princípios jurídicos, estabelece a 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
47 
 
“estrutura básica” do Estado: reconhecendo um conjunto de Direitos, 
liberdades e garantias dos cidadãos; e fixando as atribuições, as 
competências e, por conseguinte, os limites de actuação do poder 
político. 
TEMA – III: INTRODUÇÃO AO PODER CONSTITUINTE 
UNIDADE Temática 3.1. O poder constituinte e o nascimento da 
Constituição. Manifestações típicas do pode constituinte. Tipologia 
dos actos constituintes. Limites jurídicos e políticos ao poder 
constituinte. 
UNIDADE Temática 3.2. Exercícios do tema 
UNIDADE Temática 3.1 O poder constituinte e o nascimento da 
Constituição. Manifestações típicas do poder constituinte. Tipologia 
dos actos constituintes. Limites jurídicos e políticos ao poder 
constituinte 
Introdução 
Pretende-se nestaunidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre a noção do poder constituinte e o 
nascimento da Constituição, as manifestações típicas do poder 
constituinte, tipologia dos actos constituintes e limites jurídicos e 
políticos ao poder constituinte 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Definir o poder constituinte e o nascimento da Constituição; 
 Conhecer as manifestações típicas do poder constituinte; 
 Conhecer e dominar a tipologia dos actos constituintes; 
 Conhecer os limites jurídicos e políticos ao poder constituinte; 
 
 
I - O poder constituinte e o nascimento da Constituição 
 
A primeira questão que formulamos é a que pergunta: o que é o 
poder constituinte? Podemos definir o poder constituinte como um 
“poder”, uma “força” ou uma “autoridade” política que está em 
condições de, numa determinada situação concreta, criar, garantir ou 
eliminar uma Constituição entendida como lei fundamental da 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
48 
 
comunidade política. Em termos mais simples, o poder constituinte, 
será o poder, ou a faculdade, de elaborar uma nova Constituição. 
 
O aparecimento de uma nova Constituição é consumado pela irrupção 
do poder constituinte, um poder que explica, em qualquer momento, 
essa permanente possibilidade de auto-organização. Este poder nunca 
desaparece, está sempre latente na sociedade (em momentos não 
constituintes), sendo a partir dele que derivam todos os outros 
poderes (constituídos). 
 
E aqui impõe-se uma primeira distinção: entre um poder constituinte 
originário, o poder de elaborar uma nova Constituição e um poder 
constituinte derivado (ou poder de revisão constitucional), que é, por 
sua vez, um poder constituído: o poder ou a faculdade de modificar as 
regras da Constituição formal, num determinado Estado. 
 
A segunda questão consiste em saber, quem é o titular desse poder? 
Hoje, em democracia, o titular do poder constituinte só pode ser o 
povo (v. art.º 2.º/1 da CRM). 
 
II - Manifestações típicas do poder constituinte 
 
A terceira questão formulada consiste em saber: em que momentos 
actua o poder constituinte? O desencadeamento de procedimentos 
constituintes tendentes à elaboração de uma Constituição anda 
geralmente associado a momentos constitucionais extraordinários, 
como sejam: (a) o da criação de um Estado; (b) o da transformação de 
um Estado; (c) o da mudança de regime do Estado; ou ainda, (d) de 
alterações na vida estadual que o justifiquem. 
 
O momento típico para o exercício do poder constituinte é o da 
criação de um Estado – decorrente da descolonização de territórios; 
do desmembramento de uniões reais ou pessoais (v.g., as primeiras 
Constituições dos países da Commonwealth, Canadá, Nova Zelândia, 
Austrália, Jamaica, Maurícia, … foram aprovadas pelo Parlamento 
Britânico); ou de tratados internacionais (v. os casos da Albânia, em 
1913, e do Chipre, em 1960). 
 
Mas o desencadeamento de procedimentos constituintes tendentes à 
elaboração de uma Constituição pode decorrer – e tem ocorrido, ainda 
– de outros fenómenos: em virtude da transformação do Estado (v.g., 
a “queda de muros”); de uma mudança de regime (a substituição da 
ideia de Direito); ou ainda, de alterações na vida estadual que o 
justifiquem. 
 
A mudança de regime pode ser mais ou menos profunda. O modo 
mais frequente é a revolução (v.g., a Constituição portuguesa de 1976, 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
49 
 
corresponde à adaptação do texto constitucional à Constituição 
material); e a reforma política ou transição constitucional (v.g., a 
Constituição espanhola de 1978, ou a Constituição moçambicana de 
1990). 
 
Ainda no âmbito das manifestações do poder constituinte, mas agora 
de um ponto de vista procedimental, a questão que colocámos 
consiste em saber: qual é o seu procedimento e forma do seu 
exercício? De um ponto de vista procedimental, importa dissociar 
duas acepções presentes na expressão do poder constituinte: o poder 
constituinte material; e o poder constituinte formal. 
 
a) O poder constituinte material espelha as opções de conteúdo que 
se quer implantar, de acordo com o projecto de Direito que se 
produziu – ideia de Direito – por oposição ao pré-existente (a ideia 
fundamental de que a Constituição como acto legislativo, deve ser 
encarada não apenas do ponto de vista do seu conteúdo de normas e 
princípios mas também de um conjunto de opções que traduzem uma 
determinada vontade de estruturação do Estado e da sociedade). 
 
b) O poder constituinte formal representa a formalização desse 
conteúdo através da redacção da Constituição e dos actos 
constituintes em que a respectiva aprovação se vai consumando. 
 
III - Tipologia dos actos constituintes 
 
A produção de um novo poder constituinte – a expressão do poder 
constituinte formal – submete-se a diversos esquemas possíveis, 
relacionados com diferentes aspectos da estrutura do Estado e do 
sistema político em questão. Ou seja, o poder constituinte formal 
finaliza-se através de actos constituintes, sendo possível distinguir três 
possíveis categorias de actos constituintes stricto sensu: (a) actos 
constituintes unilaterais singulares; (b) actos constituintes unilaterais 
plurais; (c) actos constituintes bilaterais. 
 
a) Actos constituintes unilaterais singulares (ou simples), são os que 
provêm de um único órgão (ou de uma só legitimidade), v.g., a 
outorga de uma Carta Constitucional pelo monarca (Carta 
Constitucional portuguesa de 1826); 
 
b) Actos constituintes unilaterais plurais (ou complexos), são os que 
provêm da soma ou do resultado de actos parcelares provenientes de 
dois ou mais órgãos da mesma entidade titular do poder constituinte, 
v.g., a aprovação por referendo de um ou vários princípios ou opções 
constitucionais, prévia ou simultânea à eleição de uma assembleia 
constituinte, que seguidamente elabora o texto final de acordo com 
essas opções (Grécia em 1974); ou a elaboração por uma assembleia 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
50 
 
constituinte seguida de referendo (França em 1958); 
 
c) Actos constituintes bilaterais, são os que provêm de um 
acordo de vontades entre dois ou mais sujeitos ou entidades (a 
concorrência de vontades de órgãos dotados de diversas 
legitimidades), v.g., a elaboração e aprovação por uma 
assembleia representativa e posterior sanção do monarca 
(Portugal portuguesa de 1838), ou de um Chefe de Estado 
eleito; ou no caso das federações, a aprovação de uma 
Constituição por uma assembleia representativa, seguida de 
ratificação pelos estados componentes da União (Constituição 
americana de 1787). As Constituições aprovadas nestas 
condições são Constituições pactícias (contrato constitucional). 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unilaterais 
singulares (ou 
simples 
Actos Constituintes 
 
 
Unilaterais 
plurais 
 
 
Bilaterais 
 
É importante afirmar uma distinção conceptual: a distinção entre 
Constituição pactícia e Constituição compromissória. O conceito de 
Constituição pactícia, tem a ver com o seu modo de elaboração, 
resulta em termos formais de um pacto, que traduz uma concorrência 
de vontades de órgãos dotados de diversas legitimidades. O conceito 
de Constituição compromissória tem a ver com o conteúdo material 
da Constituição; cujo texto inclui princípios que têm orientações 
diversas na sua origem (Constituição moçambicana de 1990, ou a 
Constituição portuguesa de 1976) (princípios de origem social, liberal). 
 
 
IV - Limites jurídicos e políticos ao poder constituinte? 
 
A última questão que formulamos no início do presente capítulo: 
existem ou não limites jurídicos e políticos quanto ao exercício desse 
poder? 
 
A teoria clássica do poder constituinte, cujo primeiro teorizador foi 
Emmanuel Siéyès, foi concebida para fazer face à teoria do Direito 
divino dos reis e por isso também o apresenta sem limites, ou seja, era 
considerado comoum poder originário (um poder primeiro, não 
existindo outro antes dele), independente (um poder 
hierarquicamente máximo, não subordinado a qualquer outro), e 
absoluto (um poder materialmente ilimitado, não se sujeitando a 
nenhuma outra regra ou parâmetro). 
 
Esta concepção deve ter-se, hoje em dia, ultrapassada. Desde logo, se 
o poder constituinte se destina a criar uma Constituição, concebida 
como organização e limitação do poder, não se vê como esta “vontade 
de Constituição” pode deixar de condicionar a vontade do criador. As 
exigências impostas pelo Estado de Direito impõem, hoje, um poder 
constituinte democraticamente legitimado, materialmente limitado e 
culturalmente situado. Este poder não é, hoje, portanto, um poder 
ilimitado. 
 
Segundo Jorge Miranda, encontramos três categorias de limites 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
52 
 
materiais ao poder constituinte: limites transcendentes; limites 
imanentes; e limites heterónomos 
 
 Limites transcendentes, são valores éticos superiores, 
anteriores ao próprio Estado, imperativos de Direito Natural 
ou, noutros termos, ideias de Direito ou valores éticos que 
resultam de uma consciência jurídica colectiva, e que fluem 
internacionalmente. Entre eles avultam os que se prendem 
com os Direitos fundamentais imediatamente conexos com a 
dignidade da pessoa humana. É o caso de certos Direitos que, 
mesmo em estado de sítio ou de emergência (v. art.º 282.º da 
CRM) não podem ser limitados ou suspensos (v. art.º 286.º da 
CRM). 
 
 Limites imanentes, decorrem do poder constituinte formal, 
este é o poder de fixar princípios enquanto princípios 
axiológicos fundamentais da sociedade política em concreto. 
São limites que se reportam, no essencial, à soberania do 
Estado, por vezes, à forma de Estado, bem como a limites 
atinentes à legitimidade política em concreto. 
 
 Limites heterónomos, são os provenientes da conjugação com 
outros ordenamentos jurídicos, mx. regras ou actos de Direito 
Internacional donde resultem obrigações para a generalidade 
dos Estados, ou só para certo Estado. Reportam-se ainda a 
regras de Direito interno, quando o Estado seja composto. 
 
 
 
 
 
Transcendentes 
 Limites ao Poder Constituinte 
 
Imanentes 
 
 
Heterónomos 
 
Sumário 
A primeira manifestação da actividade permanente de um Estado 
empenhado na prossecução de determinados fins é o seu poder 
constituinte. 
 
Dito isto, há um conjunto de questões que inevitavelmente se 
colocam, saber: 
 Saber o que é o poder constituinte? 
 Quem é o titular desse poder. De que forma se 
manifesta? 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
53 
 
 Em que momentos actua esse poder constituinte? 
 Qual é o seu procedimento e forma do seu exercício? 
 Existem, ou não, limites jurídicos e políticos quanto ao 
exercício desse poder? 
 
Todas estas questões foram discutidas e respondidas nesta unidade 
temática. 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. O que é o poder constituinte? 
Resposta: Em termos mais simples, o poder constituinte, será o 
poder, ou a faculdade, de elaborar uma nova Constituição 
 
2. Faça a distinção entre um poder constituinte originário e poder 
constituinte derivado. 
Resposta: Poder constituinte originário é o poder de elaborar uma 
nova Constituição; poder constituinte derivado (ou poder de 
revisão constitucional) é um poder constituído: o poder ou a 
faculdade de modificar as regras da Constituição formal, num 
determinado Estado. 
 
3. Quem é o titular do poder constituinte? 
Resposta: Hoje, em democracia, o titular do poder constituinte só 
pode ser o povo (v. art.º 2.º/1 da CRM). 
4. Não existem limites jurídicos e políticos quanto ao exercício 
desse poder 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
 
5. Como era o poder constituinte segundo a teoria clássica do 
poder constituinte? 
Resposta: Era um poder originário (um poder primeiro, não 
existindo outro antes dele), independente (um poder 
hierarquicamente máximo, não subordinado a qualquer outro), e 
absoluto (um poder materialmente ilimitado, não se sujeitando a 
nenhuma outra regra ou parâmetro) 
 
6. Quais são as três categorias de limites materiais ao poder 
constituinte? 
Resposta: limites transcendentes; limites imanentes; e limites 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
54 
 
heterónomos. 
 
Exercícios 
1. Em que momentos actua o poder constituinte? 
2. Distinga poder constituinte material de pode constituinte 
formal. 
3. Quais são os tipos de actos constituintes que conheces? 
4. Faça a distinção entre Constituição pactícia e Constituição 
compromissória. 
5. O que são limites imanentes? 
6. O que são limites transcendentes? 
 
UNIDADE Temática 3.2. Exercícios do Tema III 
 
1. A teoria clássica do poder constituinte, apresenta -o sem 
limites. Comente. 
2. O que entende por limites heterónomos? 
3. A forma de Estado, compreende a que tipo de limite do 
poder constituinte? 
4. Dê exemplos de limites transcendentes do pode político 
5. Faça a distinção das três possíveis categorias de actos 
constituintes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
55 
 
TEMA – IV: FORMA DE GOVERNO, SISTEMA DE GOVERNO 
REGIME POLÍTICO E SISTEMA POLÍTICO 
UNIDADE Temática 4.1. Forma de Governo, Sistema de Governo, 
Regime Político e Sistema Político. 
UNIDADE Temática 4.2. EXERCÍCIOS deste tema 
UNIDADE Temática 4.1. Formas de Governo, Sistema de Governo, 
Regimes Políticos e Sistemas Políticos. 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre as formas de governo, sistema de 
governo, regimes políticos e sistemas políticos e as suas respectivas 
classificações. 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Saber diferenciar as formas de governo, sistema de governo, 
regimes políticos e sistemas políticos; 
 Conhecer os tipos de as formas de governo, sistema de 
governo, regimes políticos e sistemas políticos; 
 Conhecer os critérios de distinção entre os tipos de sistema de 
governo; 
 Saber diferenciar os diferentes tipos de sistemas de governo. 
 
 
 
A matéria dos regimes políticos e dos sistemas de governo é 
caracterizada por um conjunto de aproximações muito diversificado 
que variam em função do tempo histórico em que foram produzidas e 
da perspectiva doutrinal que as sustenta. 
 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
56 
 
Nestes termos, devem ser objecto de distinção os seguintes conceitos: 
Tipologia Definição 
Forma de Governo Abrange a totalidade da vida política e tem 
que ver com a relação fundamental, a relação 
entre governados e governantes. É o modo 
como se estabelece e estrutura essa relação 
Sistema de 
Governo 
Limita-se à estrutura interna do poder, ás 
instituições e ao estatuto dos governantes e 
relaciona-se com totós os problemas 
concernentes ás relações entre órgãos de 
governo (entre órgãos de função política), ou 
até á existência ou não de pluralidade de 
órgãos governativos. 
Regime Político É a expressão política da Constituição material. 
Uma concepção dos fins e dos meios de poder 
e da comunidade, o que significa que não se 
esgota na mera organização do poder político , 
prende-se também, e muito, com os Direitos 
fundamentais e com a organização económica 
e social 
Sistema Político Atende muito mais à efectividade do que a 
normatividade, e abarca não só os órgãos e 
instituições formais ou constitucionais mas 
também as demais instituições e corporações 
políticas ou sociais politicamente relevantes, 
as forças políticas (partidos) e económicos – 
sociais (sindicatos, associações patronais), a 
ideologia dominante e o enquadramento 
exterior do Estado 
 
I - Os regimes políticos 
 
A distinção dos regimes políticos, será feita tendo por base o critério 
do Prof. Rebelo de Sousa: “a existência ou não de filosofia ou ideologia 
exclusiva ou liderante, de aparelho destinado a impô-la,de efectiva 
garantia dos Direitos pessoais dos cidadãos e de livre participação na 
designação dos governantes e no controlo do exercício das suas 
funções”. 
Tendo em consideração este critério pode ser feita a contraposição 
entre regime político ditatorial e regime político democrático, 
consoante o tipo de relação que existe entre os governantes e os 
governados. 
 
Deve ser, no entanto, antes, referenciada a bipartição clássica, 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
57 
 
introduzida por Maquiavel, entre Monarquia e República. 
Actualmente, a distinção entre República e Monarquia tem por base o 
modo como é designado o Chefe de Estado. Nestes termos: 
 
A República é o regime político em que a designação do Chefe de 
Estado se faz por forma diversas da herança; 
 
A Monarquia é o regime político em que a designação do Chefe de 
Estado se faz por herança. 
 
O regime político será, em conformidade, com o critério de distinção 
do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa anteriormente avançado: 
 
 Ditatorial – quando: 
 
 Existe uma filosofia ou ideologia exclusiva ou liderante, isto 
é, quando o poder é sustentado num conjunto de ideias ou 
princípios que não aceitam alternativas ao modelo de 
sociedade vigente, nem permitem a exigência legal de 
oposição; 
 
 Existe um aparelho destinado a impor a ideologia, 
nomeadamente ao nível político, policial e educativo; 
 
 Não existe uma efectiva garantia dos Direitos pessoais dos 
cidadãos, mesmo que estes se encontrem formalmente 
previstos na Constituição; 
 
 Não existe livre participação na designação dos 
governantes, isto é, quando não existe uma real escolha 
dos titulares dos órgãos governativos, nem a possibilidade 
de proceder à sua substituição no final de um período 
anteriormente fixado; 
 
 Não existe um controlo do exercício das funções dos 
governantes, isto é, quando não é possível fiscalizar a 
actuação dos titulares dos cargos políticos, nem sanciona-
los pelos actos e omissões da sua responsabilidade que 
sejam lesivos dos Direitos dos cidadãos e dos interesses da 
comunidade considerada no seu conjunto. 
 
 Democrático – quando: 
 
 Não existe uma filosofia ou ideologia exclusiva ou liderante, 
isto é, quando os governados podem optar entre diversos 
modelos de organização de sociedade e é reconhecido um 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
58 
 
estatuto específico à oposição; 
 
 Não existe um aparelho destinado a impor a ideologia, 
tendo, em conformidade, os órgãos governativos o 
objectivo de satisfazer um leque o mais alargado possível 
de exigência e dos interesses da comunidade; 
 
 Existe uma efectiva garantia dos Direitos pessoais dos 
cidadãos, com origem num catálogo de Direitos 
fundamentais abertos, nomeadamente de natureza 
constitucional; 
 
 Existe livre participação na designação dos governantes, 
isto é, os governados tem real influência na escolha dos 
titulares dos órgãos governativos e a responsabilidade de 
proceder à sua substituição no final do período em que 
estes exercem o seu mandato; 
 
 Existe um controlo do exercício das funções dos 
governantes, isto é, existem mecanismos efectivos de 
fiscalização e de responsabilização da actuação dos 
titulares dos cargos políticos e a possibilidade de serem 
lhes serem aplicadas sanções pelos actos e omissões que 
sejam lesivos dos Direitos dos cidadãos e dos interesses da 
comunidades considerada no seu conjunto. 
 
Os regimes ditatoriais podem ser autoritários ou totalitários. A 
distinção entre os dois conceitos deve ser feita com base na 
intensidade do controlo que o poder político exerce em relação à 
sociedade civil. Se a extensão do controlo é tal que o Estado absorve a 
sociedade civil, está-se em presença de um regime totalitário. Se, em 
contraponto, é possível continuar a com uma relativa margem de 
autonomia no âmbito da sociedade civil, não obstante o controlo que 
é exercido pelo poder político, está-se em presença de um regime 
autoritário. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
59 
 
 
 
 
 
 
Democráticos 
 Regimes 
Políticos 
 
 
Totalitários 
 
Ditatoriais 
 
 
Autocráticos 
II - Sistemas de governo 
 
Os sistemas de governo podem ser divididos em sistemas de governo 
ditatoriais e sistemas de governo democrático. 
 
O sistema de governo é ditatorial quando o poder político é detido 
por uma pessoa ou por um conjunto de pessoas que o exercem por 
direito próprio, sem que haja participação ou representação da 
pluralidade dos governos. 
 
O sistema de governo é democrático quando o poder político é 
exercido pela comunidade, através da delegação do seu exercício do 
seu exercício a um conjunto de órgãos, com a participação efectiva ou 
a representação da pluralidade dos governados. 
 
 Sistema de governo ditatoriais: monocráticos e autocráticos 
 
Os sistemas de governo ditatoriais podem ser monocráticos, se o 
poder é exercido por um órgão singular, como na monarquia absoluta 
e no governo cesarista e autocráticos, se o poder é exercido por um 
órgão colegial, por um grupo social ou por um partido. 
 
 
 Sistemas de governo democráticos: directos, semidirectos e 
representativos 
Os sistemas de governo democráticos podem ser directos, 
semidirectos e representativos, consoante a forma como os 
governados participam no exercício do poder político. 
 
O sistema de governo democrático directo - consiste no exercício 
integral das funções próprias do poder político pela assembleia-geral 
dos cidadãos activos do Estado. Esta assembleia faria as leis, elegeria 
os magistrados encarregados da respectiva execução e decidiria em 
última instância as questões em que para ela houvesse recurso. 
O sistema de governo democrático semidirecto - existe quando a 
Constituição prevê a existência de órgãos representativos da 
soberania popular; mas condiciona a validade de certas deliberações 
ou decisões desses órgãos à manifestação de vontade, expressa ou 
tácita, do próprio Povo constituído pela generalidade dos cidadãos 
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60 
 
eleitores, nomeadamente através do referendo. 
O sistema de governo democrático representativo - tem lugar quando 
o poder político pertence à colectividade mas é exercido por órgãos 
que actuam por autoridade e em nome dela e tendo por titulares 
indivíduos escolhidos com intervenção dos cidadãos que a compõem. 
 
 Sistemas de governo democráticos representativos de 
concentração de poderes e de divisão de poderes 
 
Os sistemas de governo democráticos representativos podem ser de 
concentração de poderes ou de divisão de poderes 
 
Segundo a lição do prof. Jorge Miranda, temos, de um lado, os 
sistemas de governo em que à volta de determinado opção, se movem 
os demais órgãos, em que a responsabilidade se verifica em relação 
apenas um órgão e do outro, os sistemas de governo em que, pelo 
contrário, há divisão ou, mesmo, separação de poderes; em que se 
verifica interdependência dos órgãos, ou em que se consegue alcançar 
uma independência recíproca na base da pluralidade”. 
 
Os sistemas de governo democráticos representativos de 
concentração de poderes podem ser convencionais e representativos 
simples. A diferença fundamental está em o poder pertencer a uma 
assembleia ou a uma pessoa. Embora se tratem formalmente de 
governo democráticos representativos, em termos materiais são 
governos ditatoriais. 
O sistema de governo convencional - caracteriza-se pela existência de 
uma assembleia representativa em que se concentram, por delegação 
do Povo, todos os poderes soberanos, rejeitando-se formalmente o 
princípio da separação de poderes. O exercício do poder pertencerá a 
comissões eleitas pela assembleia, a quem esta confia certas missões 
sob a sua orientação e superintendência. Não existe, pois, poder 
executivo distinto da assembleia, mas apenas órgãos executantes da 
vontade desta”. 
 
O sistema de governo representativo simples caracteriza-se pela 
concentraçãodo poder no Chefe do Estado. 
 
Os sistemas de governo democráticos de divisão de poderes mais 
importantes no decurso do século XX são: os parlamentaristas, os 
presidencialistas e os semipresidencialistas. 
 
O critério de distinção tem na sua base, segundo Jorge Novais, citado 
por Bastos (1999), nas diferentes possibilidades de combinação que na 
democracia representativa podem assumir os seguintes dois factores: 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
61 
 
 A posição relativa do Chefe de Estado no conjunto do sistema; 
 
 A relação entre Governo (ou executivo) e parlamento 
No que se refere à posição do Chefe de Estado no conjunto do 
sistema, o que interessa saber é se o Chefe de Estado é um órgão de 
exercício efectivo de poder, com possibilidades de desempenhar um 
papel activo na vida política (independentemente de, na prática, 
assumir ou não esse papel, o importante é, aqui, a possibilidade, se 
quiser, de o poder fazer), ou seja, pelo contrário, o Chefe de Estado 
está constitucionalmente limitado a um desempenho ‘apagado’ das 
funções, sem possibilidade real de intervir na vida política. 
No que se refere à relação entre Governo (ou executivo) e Parlamento, 
o que interessa saber é se o Governo responde ou não politicamente 
perante o Parlamento, o que, em última análise, significa saber se o 
Parlamento pode ou não provocar a queda do Executivo, seja através 
da votação de uma moção de censura (da sua própria iniciativa), seja 
através de uma moção de confiança (que lhe seja apresentada pelo 
Governo). 
 
Partindo dos dois critérios referenciados, distinguem-se: 
- Sistema de governo parlamentarista: o sistema em que o Chefe de 
Estado é um órgão politicamente ‘apagado’ (em termos de 
possibilidade de exercício efectivo de poder) e em que o Governo é 
politicamente responsável perante o Parlamento; 
- Sistema de governo presidencialista: o sistema em que o Chefe de 
Estado é um órgão decisivo, que exerce poderes importantes, e em 
que o Executivo não responde politicamente perante o Parlamento, 
pelo menos no que respeita à possibilidade de o parlamento demitir o 
Governo; 
- Sistema de governo semi-presidencialista: o sistema em que o Chefe 
de Estado é um órgão com possibilidades de exercer poderes 
significativos (características que é comum ao sistema presidencial) e 
em o Governo responde politicamente perante o Parlamento 
característica que é comum ao sistema parlamentar). 
 
Deve ser, no entanto, ainda objecto de referência o sistema de 
governo directorial, em que existe um órgão colegial que exerce o 
poder executivo, e que assente na independência recíproca, quanto à 
subsistência dos titulares, do órgão do poder executivo e do órgão do 
poder legislativo. Nem o primeiro responde politicamente perante o 
segundo, nem a assembleia pode se dissolvida em caso algum. 
 
 
Ditatoriais 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
62 
 
Sistemas 
de 
Governo Directos 
 
 
Democráticos 
Semi Directos 
 
Concetração 
 de Poderes 
 
Representativos 
 
 
Parlamentaristas; 
 
 
Divisão 
de Poderes 
 
Semi- 
Presidencialistas 
 
 
Presidencialistas 
 
 
 
Sumário 
A matéria dos regimes políticos e dos sistemas de governo é 
caracterizada por um conjunto de aproximações muito diversificado 
que variam em função do tempo histórico em que foram produzidas e 
da perspectiva doutrinal que as sustenta. 
Os regimes políticos podem se democráticos ou ditatoriais. Os regimes 
ditatoriais podem ser autoritários ou totalitários 
Os sistemas de governo democráticos de divisão de poderes mais 
importantes no decurso do século XX são: os parlamentaristas, os 
presidencialistas e os semipresidencialistas. O critério de distinção tem 
na sua base nas diferentes possibilidades de combinação que na 
democracia representativa podem assumir os seguintes dois factores: 
 
 A posição relativa do Chefe de Estado no conjunto do sistema; 
 
 A relação entre Governo (ou executivo) e parlamento 
 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. Faça a distinção entre Forma de Governo e Sistema de Governo 
Resposta: Forma de Governo abrange a totalidade da vida política 
e tem que ver com a relação fundamental, a relação entre 
governados e governantes. É o modo como se estabelece e 
estrutura essa relação; enquanto que sistema de governo limita-se 
à estrutura interna do poder, ás instituições e ao estatuto dos 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
63 
 
governantes e relaciona-se com totós os problemas concernentes 
ás relações entre órgãos de governo (entre órgãos de função 
política), ou até á existência ou não de pluralidade de órgãos 
governativos. 
 
2. A bipartição clássica dos sistemas políticos em Monarquia e 
República foi introduzida por: 
 Maquiavel 
 Bodin 
 Rosseau 
 Luís XIV 
Resposta: Maquiavel 
3. Os regimes ditatoriais podem ser autoritários ou totalitários 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
4. Faça a distinção entre os regimes ditatoriais autoritários e 
totalitários 
Resposta: A distinção entre os dois conceitos deve ser feita com 
base na intensidade do controlo que o poder político exerce em 
relação à sociedade civil. Se a extensão do controlo é tal que o 
Estado absorve a sociedade civil, está-se em presença de um 
regime totalitário. Se, em contraponto, é possível continuar a com 
uma relativa margem de autonomia no âmbito da sociedade civil, 
não obstante o controlo que é exercido pelo poder político, está-se 
em presença de um regime autoritário. 
 
5. Qual é o critério de distinção dos sistemas de governo 
democráticos de divisão de poderes em Presidencialista, semi – 
presidencialistas e parlamentarista? 
Resposta: os critérios são: (1) A posição relativa do Chefe de 
Estado no conjunto do sistema e (2) A relação entre Governo (ou 
executivo) e parlamento 
6. Defina sistema de governo parlamentarista. 
Resposta: É o sistema em que o Chefe de Estado é um órgão 
politicamente ‘apagado’ (em termos de possibilidade de exercício 
efectivo de poder) e em que o Governo é politicamente 
responsável perante o Parlamento 
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64 
 
Exercícios 
1. Defina Regime Político. 
2. Defina Sistema Político. 
3. Faça a distinção entre Monarquia e República. 
4. Sistema de governo semi-presidencial. 
5. No regime ditatorial existe livre participação dos cidadãos 
na escolha dos governantes? 
6. Sistemas de governo presidencialista é um sistema de 
governos democráticos representativos de concentração de 
poderes. 
 Certo 
 Errado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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65 
 
UNIDADE Temática 4.2. Exercícios do Tema IV 
 
1. Faça a distinção entre regime político ditatorial e regime 
político democrático. 
2. Sistema de governo parlamentarista. 
3. Sistema de governo presidencialista. 
4. o sistema de governo directorial. 
5. No regime político ditatorial só existe efectiva garantia dos 
Direitos pessoais dos cidadãos, so quando se encontrem 
formalmente previstos na Constituição. 
 Certo 
 Errado 
 
 
 
TEMA – V: ESTADO DE DIREITO E CONSTITUIÇÃO 
UNIDADE Temática 5.1. Princípio de Estado de Direito 
UNIDADE Temática 5.2. Princípio Democrático 
UNIDADE Temática 5.3. Exercícios do Tema 
 
UNIDADE Temática 5.1. Princípio de Estado de Direito 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre a noção de Estado de Direito, o princípio 
de Estado de Direito e os seus princípios e sub – princípios 
concretizadores. 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
66 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Definir o Estado de Direito; 
 Conhecer os princípios e subprincípios concretizadores do 
Estado de Direito; 
 Dominar o princípio da Legalidade da Administração; 
 Dominar o princípio da proporcionalidade ou da proibição do 
excesso 
 
 
 
 
 
I - Princípio de Estado de DireitoPrincípios e sub-princípios concretizadores 
 
 Princípio da legalidade da administração; 
 Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso; 
 Princípio da universalidade e igualdade; 
 Princípio da responsabilidade civil do Estado; 
 Princípios da segurança jurídica e da protecção da confiança 
dos cidadãos; 
 Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais. 
 
II - Princípio da Legalidade da Administração 
 
Assinala o tipo de relações que devem existir entre o Poder Legislativo 
e a Administração e tem uma função de hierarquização e de 
articulação das leis e dos regulamentos. 
 
O princípio da legalidade da administração tem 3 sub-princípios 
concretizadores: 
 
• Reserva da lei – significa que a Assembleia da República tem 
matérias reservadas. A reserva pode ser: 
 
 Absoluta - entre outras, em matéria de liberdade, 
Direitos e garantias fundamentais; 
 
 Relativa - nas matérias que não são de reserva 
absoluta, a Assembleia da República pode autorizar o 
Governo a trata-las. 
 
• Precedência da lei – significa que a lei é anterior ao regulamento. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
67 
 
 
• Prevalência da lei significa que a lei é superior ao regulamento. A 
prevalência da lei tem ainda 3 sub-princípios: 
 
 Tipicidade das leis - São actos legislativos única e 
exclusivamente os actos definidos pela Constituição: leis, 
decretos-lei. 
 
 Legalidade negativa - O regulamento não pode ser 
contrário à lei em sentido amplo. 
 
 Legalidade positiva - A Constituição exige que os 
regulamentos incorporem os princípios consagrados na lei, 
os desenvolvam, maximizem, realizem e concretizem. 
 
 
 
Absoluta 
 
Reserva de lei 
 
 
Relativa 
Princípio da legalidade da 
Administração 
Precedência da 
lei 
 
 
 
Tipicidade das 
leis; 
 
Prevalência da 
lei 
legalidade 
negative; 
 
Legalidade 
positive. 
 
 
III - Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso 
 
É um princípio normativo-constitucional, que se aplica a todas as 
espécies de actos dos poderes públicos e que vincula o legislador, a 
administração e a jurisdição, no sentido de evitar cargas coactivas 
excessivas ou actos de ingerência desmedidos na esfera jurídica dos 
particulares. 
 
 
 
P. da conformidade ou 
adequação de meios 
 
 
 
 
 
 
Material 
Princípio da 
 proporcionalidade 
P. da necessidade Espacial 
 
Temporal 
 
 
Pessoal 
 
P. da proporcionalidade (sentido restrito 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
68 
 
 
 
As perguntas que se devem formular são as seguintes: 
 
• Será que os meios empregues são adequados para a resolução do 
fim em vista? 
 
• Será que são necessários? 
 
• Poder-se-á atingir o mesmo fim com meios menos restritivos? 
 
Na proporcionalidade em sentido restrito, faz-se uma análise 
custo/benefício entre meios e fins. 
 
A resposta à questão da necessidade tem que ser vista à luz destas 
exigências: 
 
• Pessoal Deve-se limitar a restrição ao menor número possível de 
pessoas; 
 
• Material A carga coactiva empregue, só deve ser a estritamente 
necessária; 
 
• Espacial O espaço afectado pela restrição deve ser o menos amplo 
possível; 
 
• Temporal O uso da restrição durante o menor tempo possível: 
 
IV - Princípio da universalidade e igualdade (artigo 35 CRM) 
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos Direitos 
e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor raça, 
sexo, origem étnica, lugar de nascimento, grau de instrução, posição 
social estado civil dos pais, profissão ou opção política. 
 
V - Princípio da responsabilidade civil do Estado 
 
(Art. 58 CRM) 
( Direito à indemnização e responsabilidade do Estado) 
1. A todos é reconhecido o Direito de exigir, nos termos da lei, 
indemnização pelos prejuízos que forem causados pela violação dos 
seus Direitos fundamentais. 
2. O Estado é responsável pelos danos causados por actos ilegais dos 
seus agentes, no exercício das suas funções, sem prejuízo do Direito de 
regresso nos termos da lei. 
 
Esta responsabilidade deve ser alargada de forma a abranger não só os 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
69 
 
ilícitos dos funcionários, como também os actos da Administração em 
que não se consegue determinar o culpado, acrescendo que o acto 
praticado não tem que ser necessariamente ilícito ou anormal para 
poderem ser objecto de procedimento judicial, bastando para isso que 
provoque danos ou prejuízos na esfera do particular. 
 
VI - Princípio da Segurança Jurídica e da Protecção da Confiança dos 
Cidadãos 
 
Tem a ver com os requisitos de estabilidade que a ordem jurídica deve 
observar, para que os cidadãos possam confiar em que às suas acções, 
correspondam consequências jurídicas previsíveis, em face da ordem 
jurídica existente. 
 
 Os postulados da segurança jurídica e da protecção da confiança dos 
cidadãos são exigíveis perante qualquer acto de qualquer poder 
(legislativo, executivo e judicial). 
 
Alguns dos requisitos fundamentais deste princípio: 
 
• Exigência de clareza, precisão e determinabilidade das leis 
As leis devem ser claras, precisas e determinadas, no sentido em que 
devem ser elaboradas com clareza do ponto de vista da técnica 
legislativa 
 
• Exigência de publicidade dos Actos do Estado 
 
As normas gerais e abstractas, leis e decretos-lei, as sentenças do 
Conselho Constitucional devem ser publicadas no Boletim da 
República, sob pena de não terem eficácia jurídica. Exige-se também a 
notificação dos actos administrativos aos interessados. 
 
• Protecção da confiança em sentido estrito 
 
Onde podemos distinguir três desenvolvimentos: 
 
 Intangibilidade do caso julgado 
 
Uma sentença judicial não pode ser reaberta, é definitiva e 
irretratável. Tem a força de caso julgado e não pode ser reaberta de 
acordo com o princípio de que ninguém pode ser julgado duas vezes 
pelo mesmo crime Esta imodificabilidade, irretratabilidade que afecta 
as sentenças judiciais, também afecta os actos da administração. 
 
O que está decidido está decidido !!! 
 
 A proibição da retroactividade 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
70 
 
 
Significa basicamente que as leis não podem produzir os seus efeitos 
jurídicos a uma data anterior à da data de entrada em vigor no 
ordenamento jurídico. 
 
Ao período fixado para a sua entrada em vigor, chama-se “ Vacatio 
legis” e destina-se a possibilitar o cumprimento do dever de 
publicidade da lei. 
 
 Princípio da proíbição dos pré-efeitos das leis - Consiste em 
proíbir que a norma produza efeitos jurídicos, antes de ter 
entrado em vigor, mesmo depois de publicada. 
 
 Retroactividade 
 
Consiste basicamente numa ficção: (1) Decretar a validade e vigência 
duma norma a partir duma data anterior à data da sua entrada em 
vigor; (2) Ligar os efeitos jurídicos duma norma a situações de facto 
existentes antes da sua entrada em vigor. 
 
Norma retroactiva (autêntica) – A norma entrou hoje em vigor, os 
seus pressupostos de facto e as respectivas consequências jurídicas 
referem-se a actos do passado ( eficácia ex tunc) 
 
Norma retrospectiva ou de (retroactividade inautêntica) - A norma 
entrou hoje em vigor, os seus pressupostos de facto verificaram-se no 
passado, enquanto que a respectiva consequência jurídica, vale 
apenas para o futuro ( eficácia ex nunc) 
 
Norma prospectiva – A norma entrou hoje em vigor e os pressupostos 
de facto e a respectiva consequência jurídica, só se vão verificar a 
partir de hoje. 
 
 
 
 
 
Proibida 
 
 
Retroactividade Obrigatória 
 
 
 
Permitida 
 
Retroactividade Proibida, nos casos em que estejamos perante leis 
restritivas de Direitos, liberdades e garantias ou normas de matéria 
penal, menos favorável ao arguido e preceitos comunitários. 
 
De um modo geral, todas as normas que tenham a ver com a 
criminalização da conduta, penalização de crimes, agravamento de 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
71 
 
penas, medidas de segurança indisputáveis,ou seja as normas penais 
de conteúdo menos favorável ao arguido não podem ser retroactivas. 
 
Retroactividade obrigatória quando estejamos perante leis penais de 
conteúdo mais favorável para o arguido. 
 
VII - Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais 
 
Pilar fundamental do Estado de Direito. O sentido nuclear da 
protecção judicial dos Direitos é este: 
 
A garantia dos Direitos fundamentais, só pode ser efectiva quando, no 
caso de violação destes, houver uma instância independente que 
restabeleça a sua integridade. 
 
Do princípio do Estado de Direito, deduz-se a exigência de um 
procedimento justo e adequado de acesso ao Direito e de realização 
do Direito. 
 
 Garantias processuais e procedimentais 
 
 
1. Garantias de processo judicial 
 As garantias processuais e 
procedimentais 
2. Garantias de processo penal 
 
 
 
3. Garantias do procedimento 
administrativo 
 
 
 Garantias da via judiciária 
 
 Garantia da via judiciária 
1 
 Imposição jurídico-constitucional ao legislador 
2 
Função organizatória-material 
3 Garantia de protecção jurídica 
4 Garantia dum processo judicial 
5 Criação dum Direito subjectivo 
6 
Protecção jurídica e princípio da constitucionalidade 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
72 
 
7 
Princípio da responsabilidade do Estado e princípio da 
compensação de prejuízos 
 
 Princípio da garantia da via judiciária 
 
 Imposição jurídico-constitucional ao legislador 
 
Pretende assegurar uma defesa dos Direitos com os meios e os 
métodos dum processo juridicamente adequado. Visa uma melhor 
definição judiciário-material das relações entre o Estado e o cidadão e 
entre particulares. 
 
 Função organizatório-material 
 
O contrapeso clássico relativamente aos poderes executivo e 
legislativo é de facto o controlo judicial, donde a defesa de Direitos 
através dos tribunais representa também uma decisão fundamental 
organizatória. 
 
 Garantia de protecção jurídica 
 
Fundamental no princípio da abertura da via judiciária. Reforça o 
princípio da efectividade dos Direitos fundamentais, proibindo a sua 
ineficácia por falta de meios judiciais. Esta protecção jurídica implica o 
controlo das questões de facto e das questões de Direito suscitadas 
pelo processo, por forma a possibilitar uma decisão material do litígio, 
feita por um juíz em termos juridicamente vinculantes. 
 
 Garantia dum processo judicial 
 
Enquanto a jurisdição administrativa não tiver instrumentos para a 
defesa dos Direitos, cabe aos tribunais ordinários civis, na falta da lei, a 
incumbência constitucional da defesa dos Direitos 
 
 Criação dum Direito subjectivo Público 
 
Da combinação das dimensões objectiva e subjectiva dos Direitos 
Fundamentais resulta o seu sentido global, que se traduz na segurança 
da protecção duma posição jurídica subjectiva. O princípio da 
protecção jurídica alarga assim a dimensão subjectiva e funda um 
verdadeiro Direito, ou pretensão, de defesa dos Direitos e interesses 
legalmente protegidos 
 
 Protecção jurídica e princípio da constitucionalidade 
 
Conformação formal e material de todos os actos com a Constituição. 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
73 
 
 Princípio da eliminação de resultados lesivos e compensação 
de prejuízos 
 
Existência dum sistema jurídico-público de indemnização de danos e 
prestações indemnizatórias. 
Sumário 
Estado de Direito é aquele que está sujeito ao Direito, só age através 
do Direito e que positiva normas jurídicas informadas por ideias de 
Direito 
 
Estado de Direito é aquele que tem como actuação, regras de Direito, 
cria e prescreve formas e procedimentos de Direito. O Estado está 
subordinado ao Direito e o poder político está vinculado ao Direito 
 
 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. O que entende por Estado de Direito? 
Resposta: Estado de Direito é aquele que tem como actuação, 
regras de Direito, cria e prescreve formas e procedimentos de 
Direito. O Estado está subordinado ao Direito e o poder político 
está vinculado ao Direito. 
 
2. Quais são os Princípios e sub-princípios concretizadores do 
Estado de Direito? 
 Resposta: São: 
 Princípio da legalidade da administração 
 Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso 
 Princípio da universalidade e igualdade 
 Princípio da responsabilidade civil do estado 
 Princípios da segurança jurídica e da protecção da confiança 
dos cidadãos 
 Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais 
 
3. Diga quais são os 3 sub-princípios concretizadores do princípio 
da legalidade da administração? 
Resposta: São reservas da lei, precedência da lei, prevalência da lei 
 
4. O que entendes por Princípio da proporcionalidade ou da 
proibição do excesso 
 
Resposta: É um princípio normativo-constitucional, que se aplica a 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
74 
 
todas as espécies de actos dos poderes públicos e que vincula o 
legislador, a administração e a jurisdição, no sentido de evitar 
cargas coactivas excessivas ou actos de ingerência desmedidos na 
esfera jurídica dos particulares. 
 
5. O Estado não é responsável pelos danos causados por actos 
ilegais dos seus agentes. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
 
6. O que significa o sub - princípio precedência da lei? 
Resposta: Significa que a lei é anterior ao regulamento 
Exercícios 
1. O que entende por reserva da lei? 
2. Diga quais são os 3 sub-princípios concretizadores do 
princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso 
3. Diga justificando quais são os dois tipos de reserva de lei 
4. O que entende por Retroactividade Proibida 
5. O que entende por Retroactividade obrigatória 
6. QUAL É O sentido nuclear Do Princípio da protecção 
jurídica e das garantias processuais? 
UNIDADE Temática 5.2. O princípio democrático 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sobre o princípio democrático e os seus princípios 
concretizadores, as formas de participação política dos cidadãos, os 
tipos de sufrágios e sistemas eleitorais. 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
75 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Saber definir o princípio democrático; 
 Conhecer os princípios concretizadores do princípio 
democrático; 
 Saber relacionar entre o Princípio democrático e direito de 
sufrágio; 
 Conhecer o mecanismo da democracia semi directa; 
 Conhecer os tipos de sufrágios e os sistemas eleitorais; 
 Conhecer aspectos gerais de organização e funcionamento de 
partidos políticos. 
 
I - Princípio Democrático 
 
Fórmula de Lincoln: Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo 
 
• O princípio Democrático aspira a tornar-se um impulso dirigente 
duma sociedade; 
 
• É um processo dinâmico inerente a uma sociedade aberta e activa; 
 
• Este princípio permite a democratização da Democracia; 
 
• É um princípio de organização da titularidade e exercício do poder; 
 
• Os Direitos fundamentais são um elemento básico para a realização 
do princípio democrático; 
 
• O Estado Democrático baseia-se na soberania popular e na garantia 
dos Direitos Fundamentais; 
 
Fórmula de Popper – A democracia pode ser entendida 
fundamentalmente como técnica processual de selecção e 
destituição pacífica de dirigentes 
 
II - Princípios concretizadores do princípio democrático 
 
1. Princípio da soberania popular 
2. Princípio da representação popular 
3. Princípio da democracia semi-directa 
4. Princípio da participação 
5. Princípio democrático e Direito de sufrágio 
6. Princípio democrático e sistema eleitoral 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
76 
 
7. Princípio democrático e sistema partidário 
 
1. Princípio da soberania popular 
 
A legitimação do Poder só pode derivar do Povo na medida em que 
este é o titular da Soberania Popular e esta só existe e é eficaz no 
âmbito duma ordem constitucionalmente informada pelos princípios 
daliberdade e igualdade. 
 
2. Princípio da representação popular 
 
A representação popular, enquanto componente do Princípio 
Democrático, assenta no exercício do poder constitucionalmente 
autorizado, feito em nome do Povo por órgãos de soberania do Estado 
(representação formal). Só quando os cidadãos se podem reencontrar 
nos actos dos seus representantes, se pode afirmar a existência duma 
representação material. 
 
 
3. Princípio da democracia semidirecta 
 
O sistema que a par dos mecanismos de representação, prevê, a 
participação dos cidadãos, chamados a pronunciar-se directamente, a 
título vinculativo, através de referendo, sobre as grandes questões 
nacionais (art. 136 CRM) 
 
4. Princípio da participação 
 
Trata do problema que está directamente conexionado com a 
democratização da democracia através da participação. Democratizar 
a Democracia através da intensificação e optimização da participação 
dos cidadãos no processo de decisão 
 
5. Princípio democrático e Direito de sufrágio 
 
Através do Direito de sufrágio, legitima-se democraticamente a 
conversão da vontade política em posição de poder e domínio e 
estabelece-se a organização legitimante de distribuição dos poderes. 
 
O Direito de voto é um Direito estruturante do próprio princípio 
democrático e o procedimento eleitoral justo é da máxima relevância 
para a garantia da autenticidade do sufrágio. 
 
Os tipos de sufrágios em Moçambique Consagrados 3 no artigo 73, 
são: 
 
3
 Há ainda a considerar que apesar da não previsão expressa no artigo 73 o sufrágio 
em Moçambique é também livre (deixa-se a vontade do eleitor e não há sansões aos 
não votantes e único (o eleitor vota uma vez) 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
77 
 
 
 Universal – atribuição do Direito de voto a todas as pessoas, a 
partir de uma certa idade (18 anos) independemente do sexo 
ou do preenchimento de determinados pressupostos, como o 
rendimento ou as habilitações literárias (Bastos, 1999, p. 177); 
 
 Directo - significa que entre o voto expresso e o resultado da 
votação não há mediação; 
 
 Igual - significa que todos os votos têm o mesmo resultado, o 
mesmo peso; 
 
 Secreto – significa que se garante ao eleitor a formação do seu 
voto não seja do conhecimento dos restantes; 
 
 Periódico – a periodicidade das eleições permite renovar os 
representantes. 
 
Tabela Ilustrando os Tipos de Sufrágios 
TIPOS DE SUFRÁGIOS 
CONSAGRADOS NA CRM (art. 
73) CONTRAPOSIÇÃO 
Universal Restrito Censitário (Fortuna) 
 
Capacitário (Grau de 
Instrução) 
Directo Indirecto 
Igual Desigual 
Secreto Público 
Periódico Não períodico 
 
 
 
6. Princípio democrático e sistema eleitoral 
 
A discussão do sistema eleitoral, centra-se nas vantagens e 
desvantagens dos dois grandes sistemas: Sistema proporcional e 
sistema maioritário. 
 
 Sistema proporcional 
 
Aquele que favorece um igual valor de resultado, isto é, os votos, vale 
a mesma coisa quando se trata de converter votos em mandatos. 20% 
dos votos valem aproximadamente 20% dos mandatos. 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
78 
 
No entanto dada a pulverização do leque partidário, a formação de 
governos estáveis é problemática. Este modelo está ligado ao tipo de 
democracia participativa. 
 
 Sistema maioritário 
 
Este é o sistema inglês. O país está dividido em círculos eleitorais 
uninominais, isto é, cada círculo eleitoral elege apenas um deputado. 
Este sistema favorece o bi-partidarismo, pois em cada círculo é eleito 
aquele candidato que tiver mais votos. Se um dos partidos 
concorrentes ganhar em todos os círculos eleitorais apenas por um 
voto de diferença, em votos terá uma vitória tangencial, mas em 
mandatos conquistados terá uma vitória a 100%. Este sistema tem a 
vantagem de permitir a criação de maiorias, a formação de governos 
estáveis e de oposições fortes. 
 
 
7.Princípio Democrático e sistema partidário 
 
Partido político é para o prof Marcelo Rebelo de Sousa toda a 
associação duradoura de cidadãos em que estes se agrupem, que vise 
representar policamente de modo global a colectividade e participar 
no funcionamento do sistema de governo constitucionalmente 
instruído, para o efeito contribuindo para designação dos titulares dos 
órgãos do poder político do Estado (Bastos, 1999, p. 204). 
Os partidos segundo o artigo 74 n.º 1 da CRM, expressam o pluralismo 
político, concorrem para a formação e manifestação da vontade 
popular e são instrumento fundamental para a participação 
democrática dos cidadãos na governação do país. A estrutura interna e 
o funcionamento dos partidos políticos devem ser democráticos. 
 
É proibido o uso pelos partidos políticos de denominações que 
contenham expressões directamente relacionadas com quaisquer 
confissões religiosas ou igrejas ou a utilização de emblemas que se 
confundem com símbolos nacionais ou religiosos (art. 76) igualmente 
é vedado aos partidos políticos preconizar ou recorrer à violência 
armada para alterar a ordem política e social do país (art. 77). 
 
Sumário 
Nesta unidade temática estudamos e discutimos o princípio 
democrático. Começamos por ver a famosa fórmula de Licoln “ 
Governo do povo, pelo povo e para o povo”. Seguidamente vimos 
Princípios concretizadores do princípio democrático nomeadamente: 
(1) Princípio da soberania popular, (2) Princípio da representação 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
79 
 
popular, (3) Princípio da democracia semi-directa, (4) Princípio da 
participação, (5) Princípio democrático e Direito de sufrágio, (6) 
Princípio democrático e sistema eleitoral, (7) Princípio democrático e 
sistema partidário. 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. O Estado democrático baseia-se na soberania popular e na 
garantia dos Direitos Fundamentais. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
2. O que entendes por Princípio da soberania popular? 
Resposta: Significa que a legitimação do Poder só pode derivar do 
Povo na medida em que este é o titular da Soberania Popular e 
esta só existe e é eficaz no âmbito duma ordem 
constitucionalmente informada pelos princípios da liberdade e 
igualdade. 
 
3. Princípio da democracia semidirecta está previsto na CRM? 
Resposta: Sim. Está previsto nos artigos 73 e 136. 
 
4. O que entende por sufrágio universal? 
Resposta é a atribuição do Direito de voto a todas as pessoas, a 
partir de uma certa idade (18 anos) independentemente do sexo 
ou do preenchimento de determinados pressupostos, como o 
rendimento ou as habilitações literárias. 
 
5. Quais são os dois maiores sistemas eleitorais que conheces? 
Resposta: Sistema proporcional e sistema maioritário. 
6. Por que razão o sufrágio deve ser periódico? 
Resposta: a periodicidade do sufrágio permite renovar os 
representantes. 
Exercícios 
1. Quais são Princípios concretizadores do princípio democrático? 
2. O que entende por princípio da representação popular? 
3. Defina o princípio da democracia semidirecta? 
4. Defina o princípio da participação? 
5. O que entende por voto secreto? 
6. O que entende por partido político? 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
80 
 
 
UNIDADE Temática 5.3. Exercícios do Tema V 
 
1. Quais são os tipos de sufrágios consagrados na CRM? 
2. Diferencie os sistemas eleitorais proporcional e maioritário. 
3. O princípio da necessidade subdivide-se em 4 categorias. Diga 
quais são? 
4. Distinga norma retroactiva da norma retrospectiva. 
5. A estrutura interna e o funcionamento dos partidos políticos 
devem ser democráticos. Comente! 
 
 
 
 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
81 
 
TEMA – VI: Garantia da Constituição 
UNIDADE Temática 6.1. Meios e institutos de defesa da Constituição. 
UNIDADE Temática 6.2. A fiscalização da constitucionalidade e da 
legalidade 
UNIDADE Temática 1.3. O Conselho Constitucional 
UNIDADE Temática 1.4. EXERCÍCIOS do tema 
UNIDADE Temática 6.1. Meios e institutos de defesa da ConstituiçãoIntrodução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos gerais sobre os meios e institutos de defesa da 
Constituição. 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer os meios e institutos de defesa da Constituição; 
 Saber que os poderes públicos estão vinculados a Constituição; 
 Saber a importância dos limites de revisão constitucional; 
 Conhecer os órgãos de soberania e conhecer a importância do 
princípio de separação e interdependência entre si. 
 
 
I - A vinculação constitucional dos poderes públicos 
 
A Constituição é a norma das normas, a lei fundamental do Estado, o 
estalão normativo superior de um ordenamento jurídico. Daí resulta 
uma pretensão de validade e de observância como norma superior 
directamente vinculante em relação a todos os poderes públicos. 
 
 
II - Os limites da revisão constitucional 
 
A Constituição garante a sua estabilidade e conservação contra 
alterações aniquiladoras do seu núcleo essencial através de cláusula 
de irrevisibilidade e de um processo «agravado» das leis de revisão. 
Não se trata de defender, através deste mecanismos, o sentido e 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
82 
 
características fundamentais da Constituição contra adaptações e 
mudanças necessárias, mas contra a aniquilação, ruptura e eliminação 
do próprio ordenamento constitucional, substancialmente 
caracterizado. A ideia de garantia da Constituição contra os próprios 
órgãos do Estado justifica a constitucionalização quer do 
procedimento e limites de revisão quer das situações de necessidade 
constitucional. 
 
III - A fiscalização judicial da Constituição 
 
A instituição da fiscalização judicial da constitucionalidade das leis e 
demais actos normativos do Estado constitui, nos modernos estados 
constitucionais democrático, um dos mais relevantes instrumentos de 
controlo do cumprimento e observância das normas constitucionais. 
Ver-se-á, mais adiante, que a fiscalização da constitucionalidade tanto 
é uma garantia de observância da Constituição, ao assegurar, de forma 
positiva, a dinamização da sua força normativa, e, de forma negativa, 
ao reagir através de sanções contra a sua violação, como uma garantia 
preventiva, ao evitar a existência de acto normativos, formal e 
substancialmente violadores das normas e princípios constitucionais. 
Além disso, como iremos ver na parte dedicada á metódica 
constitucional, a fiscalização judicial operou paulatinamente um 
desenvolvimento da própria Constituição a ponto de se poder afirmar 
que ela foi “reinventada pela jurisdição constitucional”. 
 
IV - A separação e interdependência dos órgãos de soberania 
 
Embora não sejam tradicionalmente incluídos nos mecanismos de 
defesa da Constituição, têm também carácter garantístico a ordenação 
constitucional de funções e o esquema de controlos enterorgânicos e 
intra-orgânicos dos órgãos de soberania. O princípio da separação e 
interdependência dos órgãos de soberania tem, assim, uma função de 
garantia da Constituição, pois os esquemas de responsabilidade e 
controlo entre os vários órgãos transformam-se em relevantes 
factores de observância da Constituição. Em Moçambique A separação 
e interdependência dos órgãos de soberania está consagrado no artigo 
134 da CRM nos seguintes termos: 
 
 
Artigo 134 
(Separação e interdependência) 
Os órgãos de soberania assentam nos princípios de separação e 
interdependência de poderes consagrados na Constituição e devem 
obediência a Constituição e às leis 
 
São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
83 
 
República, o Governo, os Tribunais e o Conselho Constitucional. 
Sumário 
Globalmente consideradas, as garantias de existência da Constituição 
consiste: na vinculação de todos os poderes públicos (designadamente 
do legislativo, executivo e judicial) à Constituição; na existência de 
competência de controlo, políticas e jurisdicionais, do comprimento da 
Constituição. 
 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. A CRM prevê a separação e interdependência dos órgãos de 
soberania. 
Resposta: Sim em conformidade com o artigo 134 
 
2. Quais são os órgãos de soberania? 
Resposta: São órgãos de soberania o Presidente da República, a 
Assembleia da República, o Governo, os Tribunais e o Conselho 
Constitucional. 
 
3. Os poderes públicos não estão sujeitos a vinculação 
constitucional. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Errado 
 
4. A fiscalização da constitucionalidade das leis e demais actos 
normativos do Estado constitui um dos mais relevantes 
instrumentos de controlo do cumprimento e observância das 
normas constitucionais. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
5. A Constituição garante a sua estabilidade e conservação contra 
alterações aniquiladoras do seu núcleo essencial através de 
cláusula de irrevisibilidade e de um processo agravado das leis 
de revisão. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
6. A separação e interdependência dos órgãos de soberania não 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
84 
 
são tradicionalmente incluídos nos mecanismos de defesa da 
Constituição. 
 Certo 
 Errado 
 
Resposta: Certo 
Exercícios 
1. Diga quais são meios e institutos de defesa da 
Constituição? 
2. Fale da vinculação constitucional dos poderes públicos 
como garantia da Constituição 
3. Fale dos limites da revisão constitucional. 
4. Fale da separação e interdependência dos órgãos de 
soberania. 
5. O princípio da separação e interdependência dos órgãos de 
soberania tem, uma função de garantia da Constituição. 
Comente. 
6. Os esquemas de responsabilidade e controlo entre os 
vários órgãos transformam-se em insignificantes factores 
de observância da Constituição. 
 Certo 
 Errado 
 
 
UNIDADE Temática 6.2. A fiscalização da 
constitucionalidade e da legalidade 
 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sólidos sobre a fiscalização da constitucionalidade e 
legalidade, sua natureza, origem, os vícios geradores de 
inconstitucionalidade, os tipos de fiscalização e os tipos de órgãos de 
fiscalização. 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
85 
 
 
Objectivos 
 
 
 
 Conhecer o sentido e a natureza da fiscalização; 
 Conhecer o objecto de fiscalização de inconstitucionalidade, 
 Saber explicar a origem da fiscalização, 
 Conhecer e saber diferenciar diversos tipos de fiscalização de 
inconstitucionalidade; 
 Conhecer os diversos tipos de órgãos de fiscalização de 
inconstitucionalidade; 
 Conhecer os vícios geradores de inconstitucionalidade. 
 
I - Sentido e Natureza 
 
A fiscalização da constitucionalidade significa essencialmente uma 
coisa: que a Constituição é a lei básica do país e que toda a ordem 
jurídica deve ser conforme à ela. Ela é corolário da consideração da 
Constituição como realidade normativa, isto é, como lei fundamental 
da ordem jurídica. 
 
A fiscalização da constitucionalidade traduz-se, assim, na garantia do 
respeito pela hierarquia superior da Constituição. Ora, se a 
Constituição é a norma suprema do país, logo, todas as demais normas 
a devem respeitar. 
 
Inconstitucionalidade é a desconformidade de normas 
infraconstitucionais com normas constitucionais que lhes servem de 
fundamento, sendo a ilegalidade a desconformidade de normas infra-
legais com normas legais. 
 
Não cabem nos conceitos de inconstitucionalidade e de ilegalidade, as 
situações tanto de contradições de normas situadas no mesmo grau 
hierárquico como as de simples obscuridade de normas jurídicas 4. As 
contradições endógenas de normas constitucionais não se resolvem, 
por via da fiscalização da constitucionalidade, sabido que esta visa o 
controlo da conformidade de actos infraconstitucionais com as normas 
constitucionais. Resolvem-se com recurso à aplicação do princípio 
hermenêutico da concordânciaprática ou da harmonização, o que 
exige do intérprete e aplicador da Constituição a coordenação e a 
combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o 
sacrifício de uns em relação a outros. 
 
II - Origem 
 
 
4
 Acórdão n.º 01/CC/2008, de 20 de Fevereiro 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
86 
 
A fiscalização da constitucionalidade surgiu nos Estados Unidos, sob 
uma Constituição que não o previa expressamente. Todavia, pôde 
Marshall, em decisão célebre, deduzir de seu sistema esse controlo e 
reconhecer pertencer ele ao judiciário, incumbido de aplicar a lei 
contenciosamente. 
 
No caso Marbury versus Madison, esse Juiz demonstrou que, se a 
Constituição americana era a base do Direito e imutável por meios 
ordinários, as leis comuns que a contradissessem não eram 
verdadeiramente leis, não eram Direitos. Assim essas leis seriam nulas, 
não obrigando os particulares. Demonstrou mais que, cabendo ao 
judiciário dizer o que é Direito, é a ele que compete indagar da 
constitucionalidade de uma lei, de facto, se duas leis entrarem em 
conflito, deve o juíz decidir qual aplicará. Ora, se uma lei entrar em 
conflito com a Constituição, é ao juiz que caberá decidir se aplicará a 
lei, violando a Constituição, ou, como é lógico, se aplicará a 
Constituição, recusando a lei. 
 
III - Tipos de Fiscalização 
 
A fiscalização dos actos normativos violadores das normas e princípios 
constitucionais reconduz-se à fiscalização da inconstitucionalidade por 
acção que é a fiscalização típica exercida pelos órgãos de fiscalização. 
Ao lado desta, existe a inconstitucionalidade por omissão, não muito 
frequente no plano comparativo constitucional. 
 
 Fiscalização por Acção – pode ser fiscalização abstracta ou 
fiscalização concreta. 
 
 Fiscalização Abstracta – significa que a impugnação da 
constitucionalidade da norma é feita independentemente 
de qualquer litígio concreto. Visa sobretudo a defesa da 
Constituição e do princípio da constitucionalidade através 
da eliminação de actos normativos contrários à 
Constituição. A fiscalização abstracta pode fazer-se antes de 
as normas entrarem em vigor – Fiscalização Preventiva -, ou 
depois de as normas serem plenamente válidas e eficazes – 
Fiscalização Sucessiva. 
 
o Fiscalização Preventiva - como o nome indica é uma 
fiscalização anterior a própria introdução das normas 
na ordem jurídica, ou seja, tem por objecto normas 
imperfeitas. É por natureza um controlo abstracto e, 
no caso de juízo de inconstitucionalidade, as 
respectivas normas não podem entrar na ordem 
jurídica. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
87 
 
 
A fiscalização preventiva desempenha duas funções bem 
distintas. Por um lado, impedir a entrada em vigor de normas 
presumivelmente inconstitucionais, evitando assim a produção 
de efeitos, por outro lado, afastar ou diminuir as reservas que 
tenham sido levantadas ou que presumivelmente viriam a ser 
levantadas quanto à constitucionalidade do diploma e que 
poderiam enfraquecer a sua legitimidade e, até, a sua eficácia. 
 
o A fiscalização Sucessiva - Tem por objecto normas já 
pertencentes à ordem jurídica e a sua função é 
eliminá-las, ou pelo menos, afastar a sua aplicação. 
 
 A fiscalização Concreta Difusa - traduz a consagração do 
Direito (e dever) de fiscalização dos juízes relativamente a 
normas a aplicar a um caso concreto 
 
Uma norma em desconformidade material, formal ou procedimental 
com a Constituição é nula, devendo o juíz, antes de decidir qualquer 
caso concreto de acordo com esta norma, examinar se ela viola as 
normas e princípios da Constituição. 
 
 Fiscalização por Omissão – destina-se a verificar a inexistência de 
medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis certos 
preceitos constitucionais. Trata-se, pois, de uma pretensão que 
assenta não na existência de normas jurídicas inconstitucionais, 
mas na violação da lei constitucional pelo silêncio legislativo. 
 
Representação de tipos de fiscalização de inconstitucionalidade 
TIPOS DE FISCALIZAÇÃO REQUERENTES5 EFEITOS 
 Preventiva PR Veto 
 - PR 
 - Presidente da AR 
Por Acção Abstracta Sucessiva - 1/3 de Deputados Força 
 - PM Obrigatória 
 - Provedor Justiça Geral 
 
5
 Vigora o princípio do pedido segundo o qual processo só se inicia sob o impulso das 
entidades às quais é constitucionalmente reconhecida legitimidade processual 
activa. Todavia este princípio de pedido, que na ordem civil anda associado ao 
princípio do dispositivo, não significa a recondução constitucional a um simples 
«processo de partes». Algumas das consequências deste princípio são 
expressamente rejeitadas, como por exemplo, a desistência (artigo 50 da lei n.º 
6/2006). 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
88 
 
 -2000 cidadãos6 
 Concreta Juiz da causa 
 Não Aplicação 
da Norma no 
Caso Concreto 
Por Omissão _7 
Declaração da 
Omissão 
 
Sobre os efeitos da constitucionalidade há ainda que acrescentar: 
 
 As decisões do CC são de cumprimento obrigatório, não são 
passíveis de recurso e prevalecem sobre outras decisões. Em 
caso de incumprimento, o infractor incorre no cometimento de 
crime de desobediência, se crime mais grave não couber. 
 
 Na Fiscalização Sucessiva a declaração da inconstitucionalidade 
ou da ilegalidade com força obrigatória geral produz os seus 
efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada 
inconstitucional ou ilegal e determina a repristinação das 
normas que ela, eventualmente, haja revogado. Tratando-se, 
porém de inconstitucionalidade ou de ilegalidade por infracção 
de uma norma constitucional ou legal posterior, a declaração 
só produz efeitos desde a entrada em vigor da norma 
posterior. Contudo ficam ressalvados os casos julgados, salvo 
decisão em contrário do CC, quando a norma respeitar a 
matéria penal ou disciplinar e for de conteúdo menos 
favorável. 
 
 Quando a segurança jurídica, razões de equidade ou de 
interesse público de excepcional relevo, que deve ser 
fundamentado, o exigirem, pode o CC, fixar os efeitos da 
inconstitucionalidade ou da ilegalidade com alcance mais 
restritivo. 
 
IV - Os Vícios Geradores de Inconstitucionalidade 
 
A desconformidade dos actos normativos com o parâmetro 
constitucional dá origem a inconstitucionalidade. A 
inconstitucionalidade não é um vício do acto normativo: o que há são 
 
6
 A Constituição moçambicana é uma das poucas constituições do mundo a 
consagrar a possibilidade de os particulares requererem a fiscalização não obstante a 
fasquia extremamente alta de peticionantes. Foi uma das inovações da CRM-2004 
que também alargou o elenco das entidades com legitimidade a 1/3 de deputados e 
ao Provedor de Justiça. 
 
7 A doutrina ensina que nos países onde que este tipo de fiscalização é consagrada a 
legitimidade têm sido conferida ao PR e ao Provedor de Justiça. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
89 
 
vários vícios que dão lugar à inconstitucionalidade 8. A doutrina 
costuma distinguir entre vícios formais, vícios materiais e vícios 
procedimentais; 
 
Vícios formais - incidem sobre o acto normativo como tal, 
independentemente do seu conteúdo e tendo em conta apenas à 
forma da sua exteriorização; na hipótese de inconstitucionalidade 
formal, viciado é o acto, nos seus pressupostos, no seu procedimento 
de formação, na sua forma final; 
 
Vícios materiais - respeitam ao conteúdo do acto, derivado do 
contraste existente entre os princípios incorporados no acto e as 
normas ou princípios da Constituição, no caso de inconstitucionalidade 
material, substancial ou doutrinária (como também se chama) viciadas 
são as disposições ou normas singularmente consideradas; 
 
Vícios de procedimento - autonomizados pela doutrina mais recente 
(mas englobados nosvícios formais pela doutrina clássica) são os que 
dizem respeito ao procedimento de formação, juridicamente regulado, 
dos actos normativos. 
 
Os vícios formais são, consequentemente vícios do acto, os vícios 
materiais são vícios das disposições ou das normas constantes do acto; 
os vícios de procedimento são vícios relativos ao complexo de actos 
necessários para a produção final do acto normativo. Daqui se conclui 
que, havendo um vício formal em regra fica afectado o texto 
constitucional na sua integralidade, pois o acto é considerado 
formalmente como uma unidade; nas hipóteses de vícios materiais, só 
se consideram viciadas as normas, podendo continuar válidas as 
restantes normas constantes do acto que não se considerem afectadas 
de irregularidade constitucional. 
 
V - A Inconstitucionalidade Parcial 
Nem sempre a contradição entre o acto normativo e o parâmetro 
constitucional é uma contradição total. Poderá acontecer que só uma 
norma ou algumas normas constantes dos actos normativos estejam 
em desconformidade com as normas superiores da Constituição. 
Nestes casos, a semelhança do que acontece com a nulidade parcial 
dos negócios jurídicos em Direito privado e com a nulidade parcial dos 
administrativos, a inconstitucionalidade de uma norma não conduz 
automaticamente à declaração da nulidade das restantes normas 
(incomunicação da nulidade). Fala-se aqui de nulidade parcial dos 
actos normativos. Haverá casos, porém, em que a nulidade parcial 
implicará a nulidade total. A nulidade parcial implicará a nulidade total 
 
8 CANOTILHO, J. J. Gomes e VITAL, Moreira, Fundamentos da Constituição, Coimbra 
Editora, Coimbra, 1991 pág. 264; 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
90 
 
quando, em consequência da declaração de inconstitucionalidade de 
uma norma, se reconheça que as normas restantes, conformes a 
Constituição, deixam de ter qualquer significado autónomo (critério da 
dependência). Além disso, haverá uma nulidade total quando o 
preceito inconstitucional fazia parte de uma regulamentação global à 
qual emprestava sentido e justificação. Não são de afastar as 
hipóteses de inconstitucionalidade limitada a um determinado lapso 
de tempo. 
 
VI - Objecto de Fiscalização de Constitucionalidade e da legalidade: 
actos normativos 
 
O artigo 241 da Constituição define o Conselho Constitucional como 
órgão de soberania, ao qual compete especialmente administrar a 
justiça em matérias de natureza jurídico constitucional. Pareceria, em 
princípio, caber ao CC o conhecimento de todas matérias ligadas a 
violação da Constituição. 
 
Contudo, o artigo 241 limita-se a definir a natureza deste órgão de 
soberania, e, em termos genéricos, a sua área de competência em 
razão da matéria, não sendo legítimo, ainda que a sua letra pudesse, 
erradamente, induzir a tal, dele derivar directamente atribuições ou 
competências específicas. 
 
Com efeito, é no artigo, 244 que se definem especificamente as 
competências do Conselho Constitucional, estabelecendo na alínea a) 
do seu n. º 1, a de apreciar e declarar a inconstitucionalidade das leis 
e a ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado. 
 
Esta disposição delimita, no que diz respeito à fiscalização de 
constitucionalidade, o poder de cognição do CC, referindo 
expressamente as leis e aos actos normativos dos órgãos do Estado. 
 
Os actos normativos estão consagrados constitucionalmente no 
artigo143 da CRM-2004 nos termos que passamos a citar: 
Artigo 143 
Actos normativos 
1. são actos legislativos as leis e os decretos leis. 
2. os actos da Assembleia da República revestem a forma de leis, 
moções e resoluções. 
3. os decretos leis são actos legislativos, aprovados pelo Conselho 
de Ministros, mediante autorização da AR. 
4. os actos regulamentares do Governo revestem a forma de 
decreto, quer quando determinados por lei regulamentar, quer 
no caso de regulamentos autónomos. 
5. os actos do Governador do Banco de Moçambique, no exercício 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
91 
 
das suas competências, revestem a forma de aviso. 
 
É nosso entendimento que o supracitado artigo não é de definição e 
limitação dos actos normativos, mas sim de mera enunciação (não 
taxativa) de actos normativos porquanto deixa de fora os decretos 
presidenciais, actos normativos do Presidente da República, que são 
constitucionalmente consagrados como actos normativos pela 1ª 
parte do artigo 158, assim como os regulamentos e posturas 
municipais emanados das autarquias locais (art. 278 CRM e art. 11 da 
lei 2/97) e os assentos (arts 225/2 CRM) e 39/2 da lei 24/2007 de 20 
de Agosto). Portanto apesar do artigo fazer menção de alguns actos 
normativos que emanam de alguns órgãos do Estado, os mesmos não 
se resumem apenas naqueles, mas sim estende-se o seu âmbito de 
abrangência a todos os restantes actos normativos que emanam dos 
órgãos de Estado tanto a nível central como local. 
 
VII - Actos Administrativos e Decisões Jurisdicionais 
 
Das considerações antecedentes verifica-se a exclusão da fiscalização 
da constitucionalidade, de actos jurídicos públicos não reentrantes no 
conceito de acto normativo. Referimo-nos, sobretudo à categoria de 
actos administrativos e a categoria das decisões jurisdicionais. A não 
inclusão destes actos no leque dos candidatos positivos enquadráveis 
na categoria jurídico constitucional de norma ou acto normativo não 
significa a impossibilidade de tais actos violarem directamente a 
Constituição. Pelo contrário, são frequentes os casos de 
inconstitucionalidade provocados por actos individuais e concretos da 
administração e, embora menos vulgares, podem também ocorrer 
infracções de normas constitucionais produzidas directamente por 
actos jurisdicionais. No entanto a teoria clássica da garantia da 
Constituição preocupava-se apenas com os atentados à Constituição 
emergentes de actos legislativos criadores de Direito mas parecia 
deixar em relativa tranquilidade, sob o ponto de vista de fiscalização 
da constitucionalidade, quer os actos de publicação do Direito 
praticados pelo executivo quer os actos de realização praticados pelo 
judiciário. As eventuais agressões a Constituição produzidas pelos 
actos administrativos – actos administrativos inconstitucionais – ou 
eram remediadas através de instrumentos de controlo não 
jurisdicionais (tutela administrativa, controlo parlamentar, 
responsabilidade da administração) ou eram atacadas perante as 
jurisdições ordinárias ou administrativas de acordo com as regras 
processuais e a doutrina dos vícios dos actos administrativos. Esta 
relativa “tolerância” em relação a actos administrativos 
inconstitucionais radicava na ideia de os actos aplicativos do Direito 
deixarem imperturbada a unidade da ordem jurídica em virtude de 
não transportarem qualquer conteúdo normativo. O acto 
administrativo afirmava-se como um “acto - referente” sujeito a um 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
92 
 
controlo judicial autónomo, diverso do controlo da constitucionalidade 
dos actos normativos. Esta doutrina permanece válida nas suas 
dimensões principais e encontra amplo apoio no critério da 
normatividade presente em muitas decisões do tribunal 
constitucional. Todavia, o radical divórcio entre acto administrativo e 
inconstitucionalidade não deixa de suscitar algumas questões. Em 
primeiro lugar, são pouco claras as relações entre uma lei 
inconstitucional e um acto administrativo aplicador da mesma, e, por 
conseguinte ilegal. A lei inconstitucional, é uma lei ferida de nulidade 
ou invalidade absoluta enquanto o acto administrativo ilegal aplicativo 
dessa lei pode ser meramente anulável (anulabilidade). Daí as relações 
de tensão entre a declaração de inconstitucionalidade de uma lei com, 
susceptíveis, inclusive, de se transformarem em actos administrativos 
feridos de mera invalidade relativa (anulabilidade), susceptíveis 
inclusive, de se transformarem em actoscontenciosamente 
inimpugnáveis. Em segundo lugar, a propósito dos Direitos, liberdades 
e garantias, a aplicabilidade directa destes Direitos fundamentais 
confere-lhes operatividade prática perante os órgãos da 
administração. A administração, através dos actos administrativos, 
pode agredir os Direitos fundamentais e restringir até ao núcleo 
essencial dos Direitos, liberdades e garantias. Nestes casos justificar-
se-ia a criação de uma acção constitucional de defesa, para de uma 
forma segura e célere, o particular reagir contra actos administrativos 
inconstitucionais lesivos do núcleo essencial de Direitos, liberdades e 
garantia e Direitos de natureza análoga. 
 
VIII - Órgãos de Fiscalização da Constitucionalidade das Leis 
 
A fiscalização da constitucionalidade das leis pode ser feita por órgão 
político ou por um órgão jurisdicional. Em qualquer dos casos pode a 
fiscalização ser confiada a um órgão comum ou a um especial 
 
Órgão político comum é o próprio órgão legislativo: segundo a 
doutrina francesa clássica só o parlamento, como representante da 
nação soberana, pode pronunciar-se sobre a validade de uma lei visto 
esta ser a da vontade geral9. 
 
O órgão político especial é aquele que, embora pela sua composição e 
funções seja político, todavia recebe a missão especial de examinar a 
constitucionalidade das leis e de anular as que considerem 
inconstitucionais como sucedia com o senado Conservador instituído 
pela Constituição francesa do ano VIII e com o senado do 2.º 
Império10. 
 
 
9
 CAETANO, Marcello, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo 
I, 6ª edição, reimpressão, livraria Almedina, Coimbra, 1992 pág. 346 
10
 CAETANO, Marcello, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo 
I, 6ª edição, reimpressão, livraria Almedina, Coimbra, 1992, pág. 346 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
93 
 
A criação de um órgão político funda-se principalmente na alegação de 
que a interpretação da Constituição deve ser reservada a órgãos com 
sensibilidade política, porque a Constituição, mais do que uma simples 
lei, é um plano de vida cujo sentido não permanece estático e nem 
pode ser hieraticamente considerado. Ademais o controlo judiciário 
atentaria contra o princípio da separação de poderes, já que daria aos 
juízes o poder de anular as decisões do legislativo e do executivo. Na 
verdade a experiência tem mostrado que esse controlo é ineficaz. De 
facto, esses órgãos, onde previstos, têm apreciado as questões a eles 
submetidos pelo critério de conveniência do que pela sua 
concordância com a Constituição. Assim estes órgãos vêm a ser 
redundantes, pois se tornam outro legislativo, ou outro órgão 
governamental. 
 
Órgão jurisdicional especial é um tribunal criado com o propósito de 
conhecer das decisões relativas à constitucionalidade das leis (tribunal 
constitucional na Áustria, na República Italiana e na Alemanha); 
 
Órgão jurisdicional comum é qualquer tribunal ordinário da ordem 
judicial (sistema norte americano e português) 
 
Em Moçambique, Grécia, França, Bélgica existem órgãos com 
bastantes semelhanças com os Tribunais Constitucionais. 
 
 
Sumário 
A fiscalização da constitucionalidade significa essencialmente uma 
coisa: que a Constituição é a lei básica do país e que toda a ordem 
jurídica deve ser conforme à ela. A fiscalização da constitucionalidade 
traduz-se, assim, na garantia do respeito pela hierarquia superior da 
Constituição 
 
Não cabem nos conceitos de inconstitucionalidade e de ilegalidade, as 
situações tanto de contradições de normas situadas no mesmo grau 
hierárquico como as de simples obscuridade de normas jurídicas. 
 
A fiscalização da constitucionalidade surgiu nos Estados Unidos, sob 
uma Constituição que não o previa expressamente. Todavia, pôde 
Marshall, em decisão célebre, deduzir de seu sistema esse controlo 
 
A fiscalização da constitucionalidade das leis pode ser feita por órgão 
político ou por um órgão jurisdicional. Em qualquer dos casos pode a 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
94 
 
fiscalização ser confiada a um órgão comum ou a um especial 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. A fiscalização da constitucionalidade traduz-se na garantia do 
respeito pela hierarquia superior da Constituição. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
2. Não cabem nos conceitos de inconstitucionalidade e de 
ilegalidade, as situações tanto de contradições de normas 
situadas no mesmo grau hierárquico como as de simples 
obscuridade de normas jurídicas. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
3. O que entente por inconstitucionalidade? 
Resposta: Inconstitucionalidade é a desconformidade de normas 
infraconstitucionais com normas constitucionais que lhes servem 
de fundamento, sendo a ilegalidade a desconformidade de normas 
infralegais com normas legais. 
 
4. O que entende por Fiscalização da constitucionalidade por 
Omissão? 
Resposta: É um tipo de fiscalização que se destina a verificar a 
inexistência de medidas legislativas necessárias para tornar 
exequíveis certos preceitos constitucionais. Trata-se, pois, de 
uma pretensão que assenta não na existência de normas 
jurídicas inconstitucionais, mas na violação da lei constitucional 
pelo silêncio legislativo. 
 
5. A fiscalização preventiva desempenha duas funções bem 
distintas. Diga quais são? 
Resposta: Por um lado, impedir a entrada em vigor de normas 
presumivelmente inconstitucionais, evitando assim a produção 
de efeitos, por outro lado, afastar ou diminuir as reservas que 
tenham sido levantadas ou que presumivelmente viriam a ser 
levantadas quanto à constitucionalidade do diploma e que 
poderiam enfraquecer a sua legitimidade e, até, a sua eficácia. 
 
6. O que entende por fiscalização Concreta Difusa? 
Resposta: A fiscalização Concreta Difusa traduz a consagração 
do Direito (e dever) de fiscalização dos juízes relativamente a 
normas a aplicar a um caso concreto. 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
95 
 
Exercícios 
1. O que entende por fiscalização da constitucionalidade e 
legalidade? 
2. Fale da origem fiscalização da constitucionalidade e legalidade 
3. Enumere actos normativos previstos na CRM. 
4. Quais são os vícios geradores de inconstitucionalidade? 
5. Quais são os tipos de órgãos de fiscalização de 
inconstitucionalidade? 
6. Faça a distinção entre a fiscalização preventiva e a sucessiva 
 
UNIDADE Temática 6.3. O Conselho Constitucional 
Introdução 
Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira 
conhecimentos sobre a natureza jurídica do Conselho Constitucional 
como órgão de administração da justiça constitucional, as suas 
competência, o estatuto dos seus juízes e o balanço das suas 
actividades. 
 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
Objectivos 
 
 
 
 Saber a natureza jurídica do Conselho Constitucional; 
 Conhecer a composição do Conselho Constitucional; 
 Conhecer o estatuto do Conselho Constitucional; 
 Ter uma posição sobre a demanda das actividade do Conselho 
Constitucional. 
 
 
I - Natureza 
 
O órgão fiscalizador da constitucionalidade e da legalidade em 
Moçambique é o Conselho Constitucional (CC). Constitucionalmente 
consagrado no título XI artigos 241 e seguintes da Constituição da 
República (CRM) de 2004 e nas leis n.º 6/2006, de 02 de Agosto (lei 
orgânica do Conselho Constitucional) e n.º 5/2008 de 09 de Julho (lei 
que faz uma alteração pontual da lei 6/2006, de 02 de Agosto). 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
96 
 
Apesar da designação analisadas as competências (art. 241/1 e 244 
CRM e o estatuto dos juízes conselheiros (art. 242/2 CRM), O Conselho 
Constitucional é um órgão jurisdicional especial. É um tribunal 
constitucional. 
 
Iniciou o seu funcionamento efectivo em finais de 2003, após a 
aprovação da sua Lei Orgânica, a lei n.º 9/2003 de 22 de Outubro, 
facto que ocorreu treze anos depois da sua consagração constitucionalcomo órgão de soberania. 
 
Aquando da entrada em funções do Conselho Constitucional 
suscitaram-se dúvidas sobre a pertinência da criação deste órgão, com 
a principal competência dirigida a fiscalização e controlo de 
constitucionalidade e de legalidade, tendo em conta que no período 
subsequente a aprovação da Constituição de 1990 e durante os trezes 
anos em que as competências do CC estiveram cometidas ao Tribunal 
Supremo, somente um único pedido de fiscalização (preventiva) de 
constitucionalidade dera entrada no venerando tribunal 
 
Actualmente, com o alargamento pelo n.º 02 do artigo 245 da 
Constituição de 2004 do elenco das entidades com legitimidade para 
solicitar a declaração de inconstitucionalidade das leis ou de 
ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado quando em 
confronto com o artigo 183 da Constituição de 1990, e da criação de 
um órgão especializado para administrar a justiça em matérias de 
natureza jurídico –constitucional, e o processo de desenvolvimento e 
aprofundamento da cultura democrática em Moçambique há um 
incremento de pedidos de fiscalização de apreciação e declaração de 
inconstitucionalidade e de legalidade. 
 
II - Composição 
 
Nos termos do artigo 242 da Constituição da República, o Conselho 
Constitucional é composto por sete Juízes Conselheiros, designados 
nos seguintes termos: 
a) Um Juíz Conselheiro nomeado pelo PR que é o Presidente do 
CC; 
b) Cinco juízes designados pela AR segundo o critério de 
representação proporcional; 
c) Um Juíz Conselheiro designado pelo Conselho Superior da 
Magistratura Judicial. 
 
Os juízes do CC são designados por um mandato de cinco anos, 
renovável e gozam de garantia de independência, inamovibilidade, 
imparcialidade e irresponsabilidade. Estão impedidos de desempenhar 
quaisquer outras funções públicas ou privadas, excepto a actividade 
de docente ou de investigação jurídica ou outra de divulgação e 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
97 
 
publicação científica, literária, artística e técnica, mediante 
autorização do respectivo órgão. Igualmente durante o período de 
desempenho do cargo, fica suspenso o estatuto decorrente da filiação 
em partidos ou associações políticas. 
 
À data da sua designação devem os Juízes Conselheiros do CC, ter 
idade igual ou superior a trinta e cinco anos, ter pelo menos dez anos 
de experiência profissional na Magistratura ou actividade forense ou 
de docência em Direito. 
 
III - Balanço de Actividade do Conselho Constitucional 
 
Em 2008 o CC emitiu um balanço das suas actividades no período 
compreendido entre 2003 e 2008 (Setembro)11. Com base nas 
informações de fiscalização de contitucionalidade e de legalidade 
contidas no referido balanço resumidamente elaboramos este quadro 
no qual alargamos o período até Dezembro de 2008. 
 
Representação de actividades de fiscalização desenvolvidas pelo CC 
de 2003 à 2008 (Dezembro) 
TIPO 
 ANO Total por 
INICITIVA 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Requerente 
Fiscalização 
Preventiva PR 1 2 1 4 
 
1/3 
DEPUTADOS 1 6 5 12 
Fiscalização 
Sucessiva PGR 1 1 
 
2000 
CIDADÃOS 1 1 
Fiscalização 
Concreta 
JUÍZ 
(Recurso) 1 1 
Total por 
ano 1 0 0 1 10 7 19 
 
 
 
As mesmas actividades podem ser apresentadas graficamente da 
seguinte maneira: 
 
Gráfico de actividades de fiscalização desenvolvidas pelo CC de 2003 
à 2008 (Dezembro) 
 
11
 O referido balanço pode ser visto em 
http://www.cconstitucional.org.mz/UserFiles/File/Tsave/relatorio/BALANcO%20DE
%20ACTVDADES%202008.pdf 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
98 
 
 
 
No mesmo balanço o CC assinala alguns aspectos pertinentes : 
 
 A partir de 2007 verifica-se uma grande demanda ao CC em 
matéria de fiscalização da constitucionalidade e da legalidade; 
 
 A maioria dos pedidos de fiscalização da constitucionalidade e 
da legalidade provieram de um terço de deputados da AR, da 
bancada minoritária (oposição). Assim, a possibilidade de se 
manter ou aumentar esta fonte de submissões, dependerá, no 
futuro, na composição que a AR irá ter na sequência de futuros 
pleitos eleitorais; 
 
 
 Parece prevalecer ainda uma certa cultura de passividade ou 
um pouco de dinamismo em solicitar a intervenção do CC, 
pelas instituições que têm especiais responsabilidades de 
controlo da legalidade; 
 
 As decisões do CC, mesmo as que pudessem suscitar análises 
críticas foram respeitadas e observadas, e que se criou em 
torno deste órgão um clima de credibilidade que importa 
reforçar e ampliar. 
Sumário 
O órgão fiscalizador da constitucionalidade e da legalidade em 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
99 
 
Moçambique é o Conselho Constitucional (CC). Constitucionalmente 
consagrado no título XI artigos 241 e seguintes da Constituição da 
República (CRM) de 2004. 
 
Apesar da designação analisadas as competências e o estatuto dos 
juízes conselheiros o Conselho Constitucional é um órgão jurisdicional 
especial. É um tribunal constitucional. 
 
O Conselho Constitucional é composto por sete Juízes Conselheiros, 
designados nos seguintes termos: (1) Um Juíz Conselheiro nomeado 
pelo PR que é o Presidente do CC; (2) Cinco juízes designados pela AR 
segundo o critério de representação proporcional; e (d) Um Juíz 
Conselheiro designado pelo Conselho Superior da Magistratura 
Judicial. 
 
Exercícios de Auto-Avaliação 
1. Quando que o Conselho Constitucional foi consagrado órgão 
de soberania? 
Resposta: Em 1990, pela Constituição de 1990. 
 
2. Durante os trezes anos em que as competências do CC 
estiveram cometidas ao Tribunal Supremo, quantos pedidos de 
fiscalização de constitucionalidade foram solicitados. 
Resposta: Um caso de fiscalização preventiva 
 
3. Os juízes conselheiros do CC são designados por mandato de 
quantos anos: 
Resposta: São designados por um mandato de cinco anos, 
renovável. 
 
4. Os juízes do CC gozam de garantia de independência, 
inamovibilidade, imparcialidade e irresponsabilidade 
 Certo 
 Errado 
 Resposta: Certo 
 
5. Durante o período de desempenho do cargo de juíz do CC, fica 
suspenso o estatuto decorrente da filiação em partidos 
políticos. 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
 
6. A partir de 2007 verifica-se uma grande demanda ao CC em 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
100 
 
matéria de fiscalização da constitucionalidade e da legalidade 
 Certo 
 Errado 
Resposta: Certo 
Exercícios 
1. Qual é o órgão fiscalizador da constitucionalidade e da 
legalidade em Moçambique? 
2. Qual é a composição do Conselho Constitucional? 
3. As competências do CC já estiveram cometidas ao Tribunal 
Supremo? 
4. O Conselho constitucional é um órgão de soberania? 
5. O Conselho Constitucional é um tribunal? 
6. Diga quais são as entidades com legitimidade para solicitar a 
fiscalização de inconstitucionalidade abstracta sucessiva. 
 
UNIDADE Temática 6.4 Exercícios do Tema VI 
1. Em Moçambique está consagrada a fiscalização por omissão? 
2. O CC pode sem que haja pedido das entidades com 
competência apreciar a inconstitucionalidade duma norma? 
3. O CC foi uma inovação consagrada na CRM de 2004 
4. Quais são os efeitos da fiscalização de inconstitucionalidade 
preventiva 
5. As decisões do CC são de cumprimento obrigatório, não são 
passíveis de recurso e prevalecem sobre outras decisões. Quais 
são as consequências do incumprimento? 
 
 
Exercícios Finais do Módulo 
1. Diference os elementos do Estado. 
 
2. Um país europeu motivado pela abundância de recursos 
minerais na província de Tete pretende propor ao Estado 
moçambicano a compra e venda daquela província. Pode este 
negócio proceder? 
 
3. José Mapure, zambiano, possui a nacionalidade moçambicana 
em virtude do casamento com Maria Ponta vida. Após anos de 
casamento divorciou-se da Maria. Maria exige que José perca a 
nacionalidade moçambicana por este não estar mais casado 
 ISCED – MANUALDE DIREITO CONSTITUCIONAL 
101 
 
com ela e pelo facto de José ainda também possuir a 
nacionalidade zambiana. 
a) Pode a exigência de Maria proceder? 
 
4. Fale da Zona Económica Exclusiva. 
 
5. Qual é a forma de Estado moçambicano? 
 
6. Qual é o regime político moçambicano? 
 
7. Qual é o sistema de governo moçambicano? 
 
8. Faça uma composição sobre o princípio da prescrição 
normativa da competência. 
 
9. Quais são as três perguntas mais frequentes sobre o princípio 
da proporcionalidade? 
 
10. Em Moçambique os cidadãos tem legitimidade para solicitar a 
fiscalização concreta de normas? 
 
11. Aponte na CRM exemplos de exigência de publicidade de actos 
do Estado. 
12. Todos os actos que violam a constituição são objectos da 
fiscalização da inconstitucionalidade pelo Conselho 
Constitucional? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
102 
 
 
 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
103 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
Doutrina 
 BASTOS, F. L,(1999) Ciência Política - Guia de Estudo. Lisboa: 
Associação Académica de Lisboa. 
 
 CANOTILHO, J. J. Gomes, (2002) Direito Constitucional e Teoria 
da Constituição, 6ª edição. Coimbra: Almedina: 
 
 CANOTILHO, J. J. Gomes & VITAL, Moreira.(1991) Fundamentos 
da Constituição. Coimbra: Editora Coimbra. 
 
 MIRANDA, J. (2000) Manual de Direito Constitucional, Tomo II, 
 Constituição, 4ªedição, Coimbra: Editora Coimbra 
 
 FILHO, M.F. (2002) Curso de Direito Constitucional, 28ª edição, 
 actualizada. São Paulo: Editora Saraiva. 
 
 CAETANO, M. (1992) Manual de Ciência Política e Direito 
 Constitucional, Tomo I, 6ª edição, reimpressão. Coimbra: 
 Almedina. 
 
 Moçambique, Conselho Constitucional. (2007) Deliberações e 
 Acórdãos do Conselho Constitucional, Volume Maputo: 
 Ministério da Justiça. 
 
 Legislação 
 Constituição da República (CRM) de 2004 
 
 Constituição da República (CRM) de 1990 
 
 Lei n.º 6/2006, de 02 de Agosto (lei orgânica do Conselho 
Constitucional) 
 
 Lei n.º 5/2008 de 09 de Julho (lei orgânica do Conselho 
Constitucional que faz uma alteração pontual da lei 6/2006, de 
02 de Agosto). 
 
 Lei n. º 9/2003 de 22 de Outubro (lei orgânica do Conselho 
Constitucional revogada) 
 
 Código do Processo Civil 
 
 Internet 
 http://www.cconstitucional.org.mz 
 ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL 
104 
 
 
 http://www.fd.ul.pt/Portals/0/Docs/Institutos/ICJ/LusCommun
e/BastosFernando1.pdf 
 
 http://www.google.com.br 
 
 http://wwww.oDireito.com.mo/oDireito/edições/11pareceres
101.asp(Ordem constitucional e fiscalização da 
constitucionalidade em Macau) 
 
 http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Portugal/Sistema_Politi
co/Constituicao/consttituicao...

Mais conteúdos dessa disciplina