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Direito Civil III
Aula 03_ 14.02.2023
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DIREITO CIVIL III DIREITO DOS
CONTRATOS
• Contrato, hoje, não pode mais ser
visto somente pela ótica civilista.
Hoje vigora a PUBLICIZAÇÃO DO
DIREITO PRIVADO, ou seja, uma
• releitura do Código Civil com vistas a
• Constituição da República.
• Portanto, falar em contratos,
• perpassa pela necessária revisão da
principiologia que vai influenciar a
análise contratual.
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DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
▪ O Direito clássico moderno foi construído sobre três pilares considerados inabaláveis:
propriedade, família e contrato.
▪ Ao sistema jurídico contemporâneo não é mais admitido o simples embasamento no
indivíduo-centrismo, (próprio do século XVIII) sob pena de permitir que muitas situações
fáticas não recebam a tutela adequada do Direito.
▪ Contemporaneamente, para atingir o objetivo imposto pela travessia, fala-se em
repersonalização, despatrimonialização, descentralização, publicização,
constitucionalização do Direito Civil. Princípios que se somam na busca da
transformação de um Direito que foi essencialmente construído sobre pilares dissociados
da realidade social e dos quais os juristas ainda apresentam forte resistência para sua
superação. .
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DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Sobre a decisão do Constituinte de 1988 em positivar o princípio da dignidade da pessoa humana,
destaca Ingo Wolfgang SARLET (2002, p. 68): consagrando expressamente, no título dos princípios
fundamentais, a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do nosso Estado
Democrático (e Social) de Direito (art. 1o., inc. III, da CF), o nosso Constituinte de 1988 –
a exemplo do que ocorreu, entre outros países, na Alemanha -, além de ter tomado uma decisão
fundamental a respeito do sentido, da finalidade e da justificação do exercício do poder estatal e do
próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função da pessoa, e
não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não meio da
atividade estatal.
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DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Percebe-se, portanto, que a dignidade da pessoa humana deixou de ser uma
mera manifestação conceitual do Direito Natural, para se converter em um princípio
autônomo intimamente conectado à realização e concretização dos direitos.
O princípio da dignidade da pessoa humana é uma cláusula aberta, de contornos
ambíguos, que respalda o surgimento de novos direitos (não expressos, mas
implícitos na Constituição Federal) e, por isso, necessita de constante
concretização e delimitação pela práxis constitucional.
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STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIALAgRg no REsp 1162946 MG 2009/0208055-8 (STJ)
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO SAÚDE. DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA. PROTEÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS E INDISPONÍVEIS LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. PRECEDENTES. 1. O Ministério Público ajuizou ação civil pública visando à condenação da
concessionária de energia elétrica à obrigaçã de não fazer, consistente na proibição de interromper o fornecimento
do serviç à pessoa carente de recursos financeiros, diagnosticada com enfermidade grave e qu depende, para
sobreviver, da utilização doméstica de equipamento médico com alto consumo de energia. 2. Conforme
jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público detém legitimidade ativa ad causam para
propor ação civil pública, objetivando a proteção do direito à saúd de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata de
direito fundamental e indisponível, cuja relevânci interessa àtoda sociedade. 3. Agravo regimentalaque se nega
provimento.
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23356508/agravo-regimental-no-recurso-especial-agrg-no-resp-1162946-mg-2009-0208055-8-stj
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Estatuto da Pessoa com Deficiência, lei nº 13.146/15
... foi nomeada de Estatuto da Pessoa com Deficiência, a pessoa com deficiência é aquela que tem
impedimento de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, conforme o seu art.
2º. NÃO FAZENDO NENHUM TIPO DE DISTINÇÃO PARA A APLICABILIDADE DA LEI AO TIPO DE
DEFICIÊNCIA PORTADA PELA PESSOA.
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Estatuto da Pessoa com Deficiência – Finalidade
Estatuto da Pessoa com Deficiência é criado com o objetivo de promover a dignidade a todas
as pessoas, incluindo os portadores de deficiência na sociedade como membros capazes de
exercer suas atividades civis, sem nenhum tipo de descriminação ou limitação decorrente,
apenas, por da deficiência.
EXTRA! EXTRA! PESQUISE:
reportagem do professor e juiz de Direito Pablo Stolze sobre
este assunto no link http://blog.isocial.com.br/juiz-explica-os-
detalhes-do-estatutoda-pessoa-com-deficiencia/
http://blog.isocial.com.br/juiz-explica-os-
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Princípio da Igualdade
Trata-se, aqui de igualdade material e igualdade formal, estabelecendo-se a todos o
direito ao mesmo tratamento legal.
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Princípio da Igualdade
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Princípio da Função Social
“Em latim, a palavra ‘functio’ é derivada do verbo ‘fungor’ (‘functus sem’,
fungi), cujo significado é de cumprir algo, desempenhar uma tarefa, ou
seja, cumprir uma finalidade, funcionalizar” (Guilherme Calmon, 2008.
p. 4). No ordenamento constitucional trata-se de princípio de conteúdo
aberto, que deverá ser analisado no caso concreto com base em valores
éticos, sociais e econômicos.
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Princípio da Função Social
•É impor a determinados institutos e categorias que desempenhem um fim social,
está, portanto, intimamente ligada ao princípio da solidariedade. Compreende
não só um limite externo a direitos subjetivos, mas é desses parte integrante,
desempenhando, assim, dupla função:
•a) instrumento coativo ao aproveitamento do objeto;
•b) imposição de sanções pelo não aproveitamento do objeto.
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Diretrizes Fundamentais do Código Civil
Código
Civil 2002
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Boa-fé Subjetiva
•Boa-fé pode ser:
a) Subjetiva: é forma de conduta (psicológica) que diz respeito ao
estado mental subjetivo dos contratantes. Cria apenas deveres de
conduta moral negativos (não prejudicar o outro) uma vez que de
concepção exclusivamente moral.
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Princípio da Boa-Fé Objetiva
(princípio da eticidade)
b) Objetiva: é norma de conduta que determina relações de cooperação entre as
partes contratantes, que devem se conduzir de forma leal e honesta, agindo com
retidão. Cria, portanto, deveres de conduta positiva (cooperação) e negativa (não
lesar a outra parte), ou seja, tutela a confiança de quem acreditou no
comportamento exteriorizado pela outra parte. Por ter conceito aberto e vago, o
intérprete deverá se valer da análise da situação concreta para estabelecer se a
conduta foi realizada conforme um padrão (médio) e objetivo de conduta leal.
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Princípio da Boa-Fé Objetiva - (princípio da eticidade)
Caio Mário da Silva Pereira (p. 21) que “a boa-fé objetiva serve como elemento
interpretativo do contrato, como elemento de criação de deveres jurídicos (dever
de correção, de cuidado e segurança, de informação, de cooperação, de sigilo, de
prestar contas) e até como elemento de limitação e ruptura de direito (proibição
do venire contra factum proprium, que veda que a conduta da parte entre em
contradição com conduta anterior, do inciviliter agere, que proíbe comportamentos
que violem o princípio da dignidade da pessoa humana, e da tu quoque, que é a
invocação de uma cláusula ou regra que a própria parte já tenha violado)”.
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Boa-fé tem funções:
A) Interpretação e integração – Arts. 112/113 - Importante destacar que se
presume a boa-fé, tanto objetiva quanto subjetiva, nos contratos consumeristas
(Artigo 47 do CDC) e nos contratos de adesão.
Artigo 423 do CC - Quando houver no contrato de adesão cláusulas
ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais
favorável ao aderente.;
Enunciado nº 27 da I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: “na interpretação
da cláusula geral da boa-fé objetiva, deve-se levar em conta o sistema do CC
e as conexões sistemáticascom outros estatutos normativos e fatores
metajurídicos”.
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Boa-fé tem por funções:
B) criação de deveres jurídicos - dever de informação, colaboração e
cooperação;
C) limitação a exercício de direitos - função de controle - a boa-fé
objetiva aparece diante de sua ausência, a fim de conter o abuso de
direito.
Ex.: Artigo 187, CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa fé ou pelos bons costumes”
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Boa-Fé Objetiva– Como cláusula geral - Art. 422
Aplica-se: Pré
Contrato
pactum de
contrahendo
CONTRATO
Pós contrato
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A boa-fé objetiva também cria o que a doutrina chama de deveres anexos (laterais,
secundários, instrumentais ou acessórios) que nas palavras de Teresa Negreiros
(1998, p. 440) são “deveres que se referem ao exato processamento da relação
obrigacional, isto é, à satisfação dos interesses globais envolvidos, em atenção a
uma identidade finalística, constituindo o complexo conteúdo da relação que se
unifica funcionalmente”. São deveres diretamente decorrentes do princípio da boa fé-
objetiva que se destinam ao bom desempenho da relação contratual.
Princípio da Boa-Fé Objetiva (princípio da
eticidade)
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Enunciado 24 CJF: Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no
art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie
de inadimplemento, independentemente de culpa.
Enunciado 26 CJF: Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código
Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o
contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de
comportamento leal dos contratantes. Observadas, hoje, as limitações impostas
pela Lei da Liberdade Econômica.
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Princípio da
boa fé
objetiva
A) Interpretativa
Art. 113
B) Restritiva de
Direito
Art. 187
Abuso de Direito
C)Dever
jurídico
Art. 422
FIM SOCIAL
FIM
ECONÔMICO
COSTUMES
CLÁUSULA
GERAL
VENIRE CONTRA FACTUM
PROPRIUM
TU TOQUE
ADIMPLEMENTO
SUBSTANCIAL DO
CONTRATO
SUPRESSIO
SURRECTIO
DUTY TO MITIGATE THE
LOSS
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Deveres Anexos
O inadimplemento contratual por violação dos deveres anexos decorrentes da
boa fé é denominado de violação positiva do contrato ou adimplemento ruim
(expressão muito utilizada por Nelson Rosenvald), sendo este pautado pela
responsabilidade objetiva (Enunciado 24 CJF).
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Venire contra factum proprium, suppressio, surrectio, tu quoque – A teoria
dos atos próprios indica uma quebra do dever de lealdade e de confiança,
quanto um ato é praticado em contradição ao comportamento anteriormente
assumido.
É a conduta incoerente com os próprios atos
STJ REsp. 95.539- SP, 4ª T. Min. Ruy Rosado de Aguiar.
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Supressio e Surrectio
Na primeira o não exercício durante longo tempo poderá significar extinção desse
direito, quando contrariar o princípio de boa-fé; Por outro lado, o direito que nasce
desta inércia determina-se de Surrectio, portanto, outro lado da mesma moeda.
Ex.: Uso do terraço de condomínio como área privada.
Banco aceita pagamento em lugar diferente do previsto em contrato por longo
tempo, de um momento para o outro passa a não mais aceitar o pagamento feito
em local diferente do pactuado. – Art. 330 CC
Direito do Trabalho – perdão tácito – falta grave decorrido longo tempo, o patrão
resolve aplicar a justa causa e romper o contrato de trabalho.
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Jurisprudencialização do direito
• STJ, REsp 953389/SP, Relatora Min. NANCY ANDRIGHI, J. 23/02/2010: “Direito civil.
Contrato de locação de veículos por prazo determinado. Notificação, pela
locatária, de que não terá interesse na renovação do contrato, meses antes do
término do prazo contratual. Devolução apenas parcial dos veículos após o final
do prazo, sem oposição expressa da locadora. Continuidade da emissão de
faturas, pela credora, no preço contratualmente estabelecido. Pretensão da
locadora de receber as diferenças entre a tarifa contratada e a tarifa de balcão
para a locação dos automóveis que permaneceram na posse da locatária.
Impossibilidade. Aplicação do princípio da boa-fé objetiva. (...) - O princípio da
boa- fé objetiva exerce três funções: (i) a de regra de interpretação; (ii) a de fonte
de direitos e de deveres jurídicos; e (iii) a de limite ao exercício de direitos subjetivos.
Pertencem a este terceiro grupo a teoria do adimplemento substancial das
obrigações e a teoria dos atos próprios ('tu quoque'; vedação ao comportamento
contraditório; ‘surrectio'; 'suppressio'). - O instituto da 'supressio' indica a possibilidade de
se considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não-exercício do
direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não-
exercício se prorrogará no tempo.”
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Adimplemento substancial do contratual
Quando parte substancial do contrato foi cumprido, proibindo a resolução
do contrato, por inadimplemento de parte mínima.
A teoria do adimplemento substancial consiste naimpossibilidade da resolução
do contrato nas ocasiões em que o pacto já esteja com uma considerável
quantidade de parcelas quitadas, estando tal teoria consubstanciada nos
princípios da boa-fé objetiva, da função social dos contratos, bem como da
vedação ao enriquecimento sem causa. No caso, cerca de 70% da contratação
já foi adimplida, razão pela qual não há falar na rescisão do pacto. Precedentes
da Corte.
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Jurisprudencialização do direito
Apelação Cível n. 2013.085470-2, de São José Relator: Desembargador Robson Luz Varella
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - DECRETO-LEI N. 911/69 - CONTRATO DE
FINANCIAMENTO DE VEÍCULO COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA - PAGAMENTO PARCELADO
EM 48 (QUARENTA E OITO) MESES - DEVEDOR QUE QUITA 45 (QUARENTA E CINCO) PARCELAS, CERCA
DE 93% (NOVENTA E TRÊS POR CENTO) DA AVENÇA - SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO FEITO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA ANTE O RECONHECIMENTO DA TEORIA DO
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DO CONTRATO - ART. 267, VI, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL -
RELAÇÃO PROCESSUAL NÃO TRIANGULARIZADA - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - MITIGAÇÃO DO ART.
475 DO CÓDIGO CIVIL - PRINCÍPIOS DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO E DA BOA-FÉ OBJETIVA - BUSCA
E APREENSÃO DO BEM A CONSTITUIR MEDIDA EXTREMA E DESPROPORCIONAL NO CASO CONCRETO,
À VISTA DE OUTROS INSTRUMENTOS MENOS GRAVOSOS PARA A SATISFAÇÃO DO CRÉDITO
PERSEGUIDO - PRECEDENTES JURISPRUDÊNCIAS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DE
DIVERSAS CORTES ESTADUAIS - RECURSO DESPROVIDO. (...) A teoria do adimplemento substancial
mitiga o exercício do direito de resolver unilateralmente o contrato (art. 475, CC) quando constatado o
descumprimento insignificante do pacto, por mostrar-se medida desarrazoada, tendo em vista os
postulados da boa-fé objetiva (art. 422, CC) e da função social dos contratos (art. 421, CC).
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Tu quoque(*)
A ideia é que ninguém pode invocar normas jurídicas e após
descumpri-las. Sentimento de surpresa pelo fato de alguém
tentar se beneficiar de sua própria irregularidade no agir.
•Semelhança com Art. 476 – Exceptio non adimpleti
contractus.
•Ex.: Fazenda Pública e taxa SELIC
(*) "Até tu, Brutus, meu filho?". Filho adotivo de Júlio Cesar –
estava entre aqueles que atentaram contra sua vida
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Jurisprudencialização do direito
(...) II - E VEDADO O BENEFÍCIO DA PRÓPRIA TORPEZA, NÃO SENDO POSSÍVEL
ANULAR, EM PROVEITO PESSOAL, ATO PERPETRADO PELA PRÓPRIA PARTE, AINDA
QUE VIOLADOR DE NORMA. TRATA-SE DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS ANEXOS DA
BOA FÉ OBJETIVA, O QUE A DOUTRINA CONVENCIONOU CHAMAR DE TU QUOQUE,
CONTRADIÇÃO PELA QUAL, UMA DAS PARTES DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL EXIGE UM
COMPORTAMENTO EM CIRCUNSTÂNCIAS TAIS QUE ELA MESMO DEIXOU DE ATENDER
(...)
(ACÓRDÃO N. 471397, 20080111228889APC, RELATOR HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, 3ª
TURMA CÍVEL, JULGADO EM 15/12/2010, DJ 18/01/2011 P. 85). IV - REJEITADA A
PRELIMINAR. APELAÇÃO DESPROVIDA. UNÂNIME.
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Enunciado361 CJF: Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento
substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de
modo a fazer preponderar a função social do contrato e o
princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art.
475.
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Enunciado362 CJF – Art. 422 “A vedação do
comportamento contraditório (venire contra factum proprium)
funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos
artigos 187 e 422 do Código Civil”
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Enunciado 412 CJF: Art. 187.
As diversas hipóteses de exercício inadmissível de uma situação
jurídica subjetiva, tais como supressio, tu quoque, surrectio e
venire contra factum proprium, são concreções da boa-fé
objetiva.
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Jurisprudencialização do direito
(....)Por isso, o contrato celebrado pelos liti gantes tipi fica ato jurídico perfeito e se acoberta com o manto da
legitimidade do negócio jurídico, não se podendo negar validade e eficácia à cláusula contratual que estipula
juros a preço de mercado, desde que não violadas as normas regulamentadoras emanadas pelo Banco Central
do Brasil. Destarte, o implemento das cláusulas contratuais constituiu opção do consumidor, que poderia evitar
tal encargo, se pagasse no vencimento sua respectiva obrigação. Não pode o devedor utilizar fato próprio,
inadimplência das prestações contratuais, em conduta contraditória, para levar vantagem financeira, em
prejuízo do credor, violando o princípi o "VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM"A sua opção pelo
financiamento deflui de vontade própria ou circunstâncias da vida, obrigando, no entanto, a administradora
captar, em taxa média do mercado, dinheiro suficiente para manter seu fluxo de caixa e a vida da empresa,
quando poderia evitar tais custos e encargos, se honrasse o pagamento do débito no prazo de 30 dias da
benesse de cada Cartão de Crédito. Sublinhe-se que não se realizou nestes autos perícia que pudesse
comprovar eventual capitalização de juros remuneratórios no período de inadimplência, nem se demonstrou
mal ferimento ao preceito do verbete da Súmula 296, do E. STJ, nem cobrança de juros superior aos limites do
contrato, sendo que o direito positivo não permite a condenação por presunção, tal como ocorreu nestes autos,
"data maxima vênia". Sentença reformada. Improcedência dos pedidos. PROVIMENTO DO RECURSO. 0008042-
67.2004.8.19.0204 (2009.001.62573 ) - APELACAO - 1ª EmentaDES. ROBERTO DE ABREU E SILVA - Julgamento:
01/12/2009 - NONA CAMARA CIVEL
http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw?MGWLPN=JURIS&LAB=CONxWEB&PORTAL=1&PORTAL=1&PGM=WEBPCNU88&N=200900162573&Consulta&CNJ=0008042-67.2004.8.19.0204
http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw?MGWLPN=JURIS&LAB=CONxWEB&PORTAL=1&PORTAL=1&PGM=WEBPCNU88&N=200900162573&Consulta&CNJ=0008042-67.2004.8.19.0204
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MITIGAÇÃO DO PRÓPRIO PREJUÍZO
"Duty to mitigate the loss" (mitigação do próprio prejuízo), segundo a qual o
credor não pode dar causa ao próprio prejuízo, sob pena de violação do dever
anexo de cooperação.
Enunciado 169 CJF: Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a
evitar o agravamento do próprio prejuízo.
Exemplo clássico Defensoria Pública Estadual - acordo feito com
instituição financeira, em que esta deverá encaminhar boleto bancário para
a casa do consumidor. A instituição não envia o boleto bancário por 3
meses e no 4º mês ela o encaminha cobrando as 4 parcelas, sendo as 3
anteriores acrescidas de juros, correção e cláusula penal. Neste caso, o
banco gerou o próprio prejuízo ao não enviar os boletos, violando o dever
anexo de cooperação.
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Enunciado 432 CJF: Art. 422. Em contratos de financiamento
bancário, são abusivas cláusulas contratuais de repasse de custos
administrativos (como análise do crédito, abertura de cadastro,
emissão de fichas de compensação bancária,etc.) , seja por
estarem intrinsecamente vinculadas ao exercício da atividade
econômica, seja por violarem o princípio da boa fé objetiva.
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Boa Fé Objetiva
Assim, por exemplo, o princípio da confiança seria realizado juntamente
com os deveres instrumentais (anexos ou laterais) como o de cooperação mútua,
de informação e aviso, de colaboração recíproca, de esclarecimentos, de cuidado,
de previdência, de proteção e cuidado, de segurança, de sigilo, deveres que
atuam autonomamente em relação à obrigação principal, mas que devem
obrigatoriamente ser sempre observados pelas partes contratantes, como forma de
manter íntegro o contrato e os fins a que se destina.
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Por fim, conclui-se que:
O contorno jurídico que o Poder Judiciário tem agregado ao princípio civil
constitucional da boa-fé objetiva é de verdadeira limitação à autonomia
privada. Assim sendo, já não há mais espaço no ordenamento jurídico
brasileiro para condutas eminentemente patrimonialistas, destituídas de
lealdade, probidade, respeito, esclarecimento e cooperação pelos
contratantes, sendo a ausência de tais deveres a base para a
responsabilização civil, por meio da aplicação da teoria da violação positiva
do contrato.
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Entendimento jurisprudencial (ministro Luís Felipe Salomão): “Os denominados
deveres anexos, instrumentais, secundários ou acessórios revelam-se como uma
das faces de atuação ou operatividade do princípio da boa-fé objetiva, sendo nítido
que a recorrente faltou com aqueles deveres, notadamente os: de lealdade; de não
agravar, sem razoabilidade, a situação do parceiro contratual; e os de
esclarecimento; informação e consideração para com os legítimos interesses do
parceiro contratual”.
Qual é a consequência jurídica pelo descumprimento dos deveres jurídicos exigidos
na jurisprudência colacionada?
Questão
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Sua melhor citação que reflete sua
abordagem... "É uma pequena etapa
para o homem, um salto gigante para
a humanidade."
– NEIL ARMSTRONG
Slide 1: Direito Civil III Aula 03_ 14.02.2023
Slide 2: DIREITO CIVIL III DIREITO DOS CONTRATOS
Slide 3: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Slide 4: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Slide 5: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
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Slide 14: Diretrizes Fundamentais do Código Civil
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Slide 27: Jurisprudencialização do direito
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Slide 29: Jurisprudencialização do direito
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Slide 31: Jurisprudencialização do direito
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Slide 35: Jurisprudencialização do direito
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Slide 39: Por fim, conclui-se que:
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Slide 41: Sua melhor citação que reflete sua abordagem... "É uma pequena etapa para o homem, um salto gigante para a humanidade."