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Thomas Reginald Hoover Coríntios Thomas Reginald Hoover 1 e 2 Cormtíos © CBO Todos os direitos reservados. Copyright © 1999 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Copidesque: Alexandre Coelho Revisão: Leila Teixeira Capa: Hudson Silva 225.7 - Comentário do Novo Testamento Hoover, Thomas Reginald HOOc . Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios.../Thomas Reginald Hoover .... 1* ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1999 p. 216. cm. 14x21 ISBN 85-263 -0159-4 1. Comentário 2. 1 Coríntios 3. 2 Coríntios CDD 225.7 - Comentário do Novo Testamento 227.2 - 1 Coríntios 227.3 - 2 Coríntios Casa Publicadora das Assem bléias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2a Impressão/2012 - Tiragem: 1000 / índice A presentação....................................................................................... 7 1. A Cidade, a Igreja e as C artas ...................................................9 2. A Sabedoria Divina e a Conduta de C ris to ......................... 19 3. O Alicerce da Conduta C ristã ................................................. 31 4. Os Abusos da Liberdade C ris tã .............................................. 41 5. Os Limites da Liberdade C ristã .............................................. 53 6. A Liberdade Cristã e a A utodisciplina................................. 69 7. O Véu, o Ágape e a Santa C e ia .............................................. 81 8. Os Dons Espirituais, a União e o A m o r...............................97 9. Os Dons Espirituais na Adoração C ris tã ........................... 115 10. A Ressurreição e o Serviço C ristão ..................................... 131 1 1 .0 Ministério de C onsolação.................................................. 149 12. O Ministério de Luz e G ló r ia ............................................... 163 13. O Ministério de R econciliação............................................. 175 14. O Ministério de C ontribuição............................................... 189 15. Um Ministério A postólico..................................................... 199 Apresentação ■ Você gostaria de voltar à época da Igreja Primitiva? Talvez gostasse de ser um dos jovens convertidos pelo ministério de Paulo. Com o chamamento de Deus no seu coração, você poderia ficar ouvindo os ensinamentos dele dia após dia. Depois, seguin do suas instruções inspiradas pelo próprio Deus, você poderia sair para proclamar Cristo, o salvador, por toda a sua região. Poderia acompanhar o apóstolo Paulo em uma dessas viagens, atravessan do rios turbulentos, com perigos de ladrões e assaltantes, naufra gando no mar encapelado, sendo apedrejado, surrado, preso, calu niado, ridicularizado, estando com fome, sede, frio e medo, en frentando a morte a toda hora e preocupado com o bem-estar dos novos convertidos de todas as igrejas que ele fundou. Mesmo assim, você poderia se regozijar com Paulo ao presenciar a opera ção do Espírito de Deus em todo o lugar. Milagres de cura decorrentes da oração fervorosa, cegos que passavam a enxergar, surdos que começavam a ouvir, mudos que entoavam louvores a Cristo. Você também louvaria o Senhor ao ver muitas pessoas destruírem seus ídolos mortos e entregarem-se ao Cristo vivo. E 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios você intercederia com Paulo em favor do crescimento espiritual destes recém-nascidos em Cristo. Você serviria talvez de secretário do apóstolo Paulo, escre vendo às igrejas as cartas que ele lhes ditava. Sentiria a alegria dele ao constatar o progresso das congregações, a sua tristeza ao ouvir dos problemas delas, a sua ira santa contra as forças satâni cas que atacavam as igrejas. Talvez você pudesse ser um dos presbíteros de Corinto, espe rando ansiosamente uma resposta à carta que mandara a Paulo, com um pedido de conselhos. Enfrentaria muitos problemas na sua congregação. Alguns de ordem doutrinária, outros relaciona dos com o relacionamento e pecado dos membros, e só Deus sabe a solução para esses problemas. Que tal sentir que Deus, de alguma maneira, iria revelar a Paulo, o pai espiritual da sua igreja, a solução para os problemas que você e sua igreja enfrentavam. Quem sabe se os membros rebeldes estivessem mais dispostos a obedecer aos conselhos que você lhes dava. Por isso, esperava a carta dele, e que alívio recebê-la finalmente. Volte comigo a Corinto e contemple, na sua imaginação, a iminência daqueles crentes primitivos e obreiros, seus sentimen tos e reações ao receber e ler as cartas de Paulo. Você ficará realmente impressionado ao ver como os ensinamentos dele, ins pirados pelo próprio Espírito Santo, falam a respeito dos proble mas e situações que nós mesmos enfrentamos hoje em dia na organização e ministérios da igreja. Este livro nos proporciona a oportunidade de voltar a Corinto para assim nos familiarizarmos com o apóstolo Paulo e sermos enriquecidos pelo ministério dele. 1 A Cidade, a Igreja e as Cartas I - I n t r o d u ç ã o 1. Dados históricos Os dois livros do Novo Testamento intitulados “Coríntios” foram escritos pelo grande missionário Paulo. Ele compôs essas cartas ou “epístolas” para os crentes em Corinto, uma das maiores cidades do Império Romano, um centro urbano próspero, mas muito corrupto. Por volta do ano 50 d.C., Paulo chegou a essa cidade tão necessitada. Passou logo a pregar aos judeus a mensagem de que Jesus era o Messias, mas a maioria rejeitou. Foi entre os gentios que Paulo ganhou a maior parte dos novos convertidos. Ele organizou uma igreja e permaneceu algum tempo na cidade, ensinando aos novos crentes a Palavra de Deus. Após sua partida, surgiram sérios proble mas. A jovem igreja apelou a Paulo, enviando-lhe cartas em mãos de alguns membros da congregação. Paulo respondeu em forma de epístolas (cartas) endereçadas à igreja em Corinto. nas quais apresen ta muitos conselhos acerca de problemas práticos e teológicos. Como resultado das dificuldades experimentadas pela igreja coríntia, hoje temos à nossa disposição os ensinamentos mais claros da Bíblia acerca de certas doutrinas fundamentais e diretri zes inspiradas para a solução de problemas contemporâneos. Para 1 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios orientar melhor a nossa aproximação e estudo dessas cartas tão valiosas, daremos uma olhada prévia à cidade de Corinto e à igreja ali existente. Nesse capítulo, falaremos da cidade de Corinto e de sua igreja. Assim, nos sentiremos mais informados acerca de seus membros. Então, perceberemos por que Paulo compôs 1 Coríntios, vendo assim a semelhança entre os problemas enfrentados pelos coríntios e pelas igrejas de nossos dias. 2. A cidade de Corinto — situação geográfica e tamanho Sabemos pouco acerca da fundação ou origem de Corinto. A antiga cidade foi destruída pelos romanos no ano 146 a.C. Um século depois, uns cinqüenta anos antes do nascimento de Jesus, os romanos reedificaram a cidade como uma colônia romana. Até a época das viagens missionárias de Paulo (46-60 d.C.), Corinto já era considera da uma das mais importantes cidades do Império Romano. Naqueles dias, Corinto era um importante centro comercial e porto marítimo, e contava com quinhentos mil habitantes. Pode mos imaginar como seriam suas ruas e feiras barulhentas, apinha das de gente oriunda de muitos países. Corinto era também im portante na vida política, sendo capital da província da Acaia. Estude os mapas das viagens de Paulo na sua Bíblia ou num atlas. Você verá que Corinto é um istmo, uma faixa de terra rodeada de água dos dois lados. Localize as cidades de Roma (na Itália) e Troas, um importante porto da Ásia Menor. Os marinheiros que viajavam da Itália até Troas e outros portos semelhantes procuravam evitar as águas turbulentas ao sul da Acaia. Como faziam isso? Utilizavam o istmo de Corinto como ponto de rápida transferência de mercadorias. Por isso, o grande volume de carga que passavapor Corinto aumen tava as oportunidades de emprego para muitas pessoas atraídas a Corinto pelo grande movimento da cidade. Quantos habitantes tem a capital de seu país? Compare-a com Corinto. Naquela época, não havia tantas cidades grandes como hoje em dia; Corinto foi uma das maiores, mas posteriormente, A Cidade, a Igreja e as Cartas 1 1 sofreu vários desastres, um terremoto e inúmeras guerras, ficando reduzida a uma ruína. Em 1858. edificou-se uma nova cidade, Korinthos, a poucos quilômetros da original, que tem hoje uns nove mil habitantes e um canal que atravessa o istmo. 3. Comércio e grupos étnicos Além do comércio mercantil, o istmo de Corinto também era uma espécie de encruzilhada do comércio terrestre provindo de Atenas e destinado ao sul da península da Acaia (veja seu mapa). Corinto estava cheia de viajantes, muitos deles comerciantes que vendiam e compravam mercadorias, comiam bem. assistiam aos jogos ístmicos ou visitavam algum dos templos pagãos. Além do ativo comércio realizado constantemente na Agora, o mercado central de Corinto. havia também fábricas e agricultura. A cerâ mica e o bronze de Corinto eram exportados por toda a região mediterrânea. Vinhedos, olivais e trigais circundavam a cidade. Naturalmente, toda essa atividade reunia pessoas de diversas raças e nacionalidades em Corinto. Algumas delas perm aneci am pouco tempo, outras, um ano ou mais. Corinto, embora uma cidade grega, fazia parte do Império Romano. Até sírios e egíp cios residiam nela, e a referência a uma sinagoga (At 18.4) deixa subtendida a presença de judeus. Os viajantes e comerciantes espalhavam a influência coríntia por uma área bem vasta. Após o estabelecimento da Igreja Cristã, esses mesmos viajantes, se con vertidos a Cristo, divulgavam por onde viajavam as boas novas da salvação. Não devemos subestimar a influência da sinagoga judaica na vida coríntia. Além dos judeus ortodoxos, havia também proséli- tos e outros indivíduos tementes a Deus que se congregavam todo sábado com os judeus. Os prosélitos, embora gentios, submete ram-se à circuncisão; mas os gentios tementes a Deus não se deixaram circuncidar, apesar de orarem a Ele e se congregarem com os judeus. Dois exemplos dessa classe de pessoas piedosas mencionados no Novo Testamento são Cornélio e Lídia. Vale a 12 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios pena ler o relato da conversão de ambos, encontrado respectiva mente em Atos 10.1,2,44-48 e 16.13-15. Os coríntios adoravam os prazeres, as diversões e cultivavam jogos de força e perícia atlética. Celebravam-se todos os anos os jogos ístmicos, semelhantes aos jogos olímpicos dos nossos dias (nascidos também na Grécia antiga e praticados em homenagem a Zeus. o deus principal dos gregos). Mas o atletismo não era a maior diversão dos coríntios! A palavra Corintos tomou-se sinônimo de prostituição, alcoolismo e vida descontrolada. Até a sua religião apoiava tais práticas. O templo de Afrodite, deusa da beleza, ficava numa colina de seiscentos metros de altura, ao sul de Corinto. Um historiador nos informa que mil escravas, chamadas sacerdotisas, serviam ali na categoria de prostitutas. No templo, celebravam-se festas libertinas em homenagem aos deuses pagãos. A imoralidade reinante numa sociedade pode penetrar até na Igreja Cristã. Novos crentes, às vezes, hesitam em abandonar deter minados hábitos ou costumes pecaminosos e egocêntricos, ou reca em nesse baixo nível moral após a libertação. Vemos claramente esses problemas na igreja dos coríntios. Evidenciavam-se certos costumes egoístas até nos jantares de confraternização (os ágapes) dos crentes. Alguns crentes eram gulosos, enquanto outros passa vam sem comer o suficiente. Havia problemas relacionados com rixas, alcoolismo, imoralidade e práticas pagãs. Entre os crentes? Sim! E a igreja teve de usar a disciplina e tentar resolvê-los. 4. A igreja em Corinto Leia novamente Atos 18.1-11, sobre a fundação da igreja em Corinto. Paulo, vindo de Atenas, chegou a Corinto no ano 50 d.C. durante sua segunda viagem missionária. Estava só, alojou-se na casa de Aquila e Priscila, judeus crentes em Jesus e, em seguida, visitou a sinagoga. Iniciou debates com os judeus acerca das profecias do Antigo Testamento, mostrando, conforme seu costume, como Jesus cumpriu todas as promessas messiânicas (At 9.20; 18.4,5). A Cidade, a Igreja e as Cartas 13 Atos 18.5 é um versículo-chave. Após a chegada dos seus colaboradores. Silas e Timóteo. Paulo deixou de fabricar tendas e dedicou-se por completo à pregação, testemunhando aos judeus que Jesus é o Cristo. Ele concentrou seus esforços na evangelização dos judeus, seus correligionários. Essa ação decisiva fez com que a maioria dos judeus rejeitassem violentamente o apóstolo Paulo e sua mensagem (v. 6). Então Paulo resolveu pregar o Evangelho aos gentios, obtendo resultados imediatos e altamente satisfatórios (vv. 7,8). Contudo, um grande número de pessoas convertidas numa campanha evangelística não implica necessariamente na criação de uma igreja. O apóstolo ainda não terminara o seu trabalho com os gentios em Corinto. De fato, Atos 18.9 dá a entender que Paulo ficou desanimado. O Senhor o animou numa visão, e ele se lançou novamente ao trabalho. Paulo foi a Corinto, porque se sentiu chamado para pregar e sabia da necessidade daquele local. Porém, percebemos em Atos 13.2-4:16.6,7 outro motivo bastante forte. Ao viajar de cidade em cidade e de região em região, em obediência ao mandado recebido de Deus, Paulo sentia sempre a orientação do Espírito Santo. Talvez você não seja missionário pioneiro como Paulo, mas sente a compulsão de pregar e falar de Jesus aos outros. Talvez não possa viajar às cidades distantes, mas pode trabalhar em nome do Senhor, como os diáconos do Novo Testamento. Você sabe, por acaso, da necessidade de pregar o Evangelho em alguma cidade vizinha? Está sentindo a orientação do Espírito Santo? E, acima de tudo, sente a compulsão de pregar o Evangelho? Então, inicie seu trabalho com ajuda do seu pastor e outros crentes. Pode ser que a mensagem de Atos 18.9,10 seja especificamente para você. 5. Membros da congregação de Corinto Você já conhece alguns dos tipos de gente que habitavam Corinto: judeus e gentios, humildes operários e homens de negó cios, escravos e homens livres. Sem dúvida, reuniram-se na igreja 14 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios de Corinto grandes e pequenos, ricos e pobres. Chegamos a saber os nomes de alguns deles em alguma parte do Novo Testamento. Vamos enfocar alguns, a fim de aprendermos mais ainda. Romanos 16.23 nos apresenta vários crentes coríntios. Paulo compôs sua Carta aos Romanos estando em Corinto; por isso sabemos que as pessoas que mandaram saudações aos crentes de Roma eram membros daquela igreja. Pensemos em Gaio, Erasto e Quarto. A história nos diz que Erasto era um homem rico. É provável que Gaio também o fosse. Quarto é apresentado como sendo irmão. Seu nome. de origem latina, sugere que talvez fosse itali ano ou nascido de pais romanos. Outros crentes importantes foram Crispo, Cloé e Estéfanas. Atos 18.8 nos apresenta Crispo como chefe da sinagoga. Em face da perseguição que outros judeus suscitaram contra Paulo, esse judeu (Crispo) se tomou crente em Jesus e foi batizado com todos os membros de sua família. Cloé parece ser uma mulher bastante rica, pois Paulo menciona os servos dela (1 Co 1.11). Estéfanas foi um dos primeiros líderes na igreja coríntia (1 Co 1.16; 16.15-17). II - As C a r t a s a o s C o r í n t i o s Aproximadamente cinco anos após a sua conversão, Estéfanas (em companhia de Fortunato e Acaio) saiu de Corinto e foi consul tar Paulo, que se encontrava em Éfeso. Esses três líderes da igreja coríntia levaram consigo uma carta, solicitando a orientação de Paulo acerca da resolução de alguns problemas sérios ocorridos na igreja em Corinto. Vejamos agora o pano de fundo da situação. Durante os 18 meses passados emCorinto. Paulo presenciara o cumprimento da promessa de Deus: “Tenho muito povo nesta cidade”. Então, o grande apóstolo se despediu dos seus filhos na fé e foi pregar na importante cidade de Éfeso. Após uma visita breve, Paulo seguiu viagem para Jerusalém e Antioquia (na Síria). Assim chegou ao fim da sua segunda viagem missionária (At 18.19-22). Posteriormente, iniciou sua terceira viagem, passando A Cidade, a Igreja e as Cartas 15 pelas províncias da Galácia e Frigia, chegando pela terceira vez em Éfeso. Dessa vez, ficou mais tempo (três anos). Foi ali que ele recebeu os líderes eclesiásticos de Corinto e escreveu sua Primei ra Carta aos Coríntios em resposta, mandando-a com eles de volta à sua cidade no ano 55 ou 56 d.C. Fazia uns cinco anos que Paulo não via seus queridos coríntios. Após sua partida, um eloqüente pregador chamado Apoio visitou a igreja coríntia (At 18.24; 19.1; 1 Co 3.4-6). Apesar do fiel ministé rio de Apoio, a igreja coríntia entrou numa fase caótica, na qual os membros brigavam, processavam-se nos tribunais e se comporta vam de maneira indigna da fé cristã. Alguns crentes tinham pergun tas acerca do casamento, das ofertas e dos dons espirituais. Podemos destacar dois tipos de dificuldades na igreja de Corinto: as relacionadas com comportamento e as doutrinárias; algumas, como no caso do matrimônio, apresentavam ao mesmo tempo uma face doutrinária e outra prática. Contudo, uma leitura de 2 Coríntios nos convence de que a maior parte dos problemas se relacionava com a conduta das pessoas. C o n s e l h o s d e P a u l o a o s C o r ín t io s Problemas 1 Coríntios Sectarismo Imoralidade sexual Litígios entre crentes Casamento; vida conjugal Comidas oferecidas a ídolos 1.1-4.21 5,6 6.1-8 7.1-40 8.18-33 Sustento econômico de ministros 9 O véu feminino no culto cristão Desordem durante a Santa Ceia Abuso de dons espirituais 11.1-16 11.7-34 12-14 15Confusão sobre a ressurreição Perguntas sobre ofertas 16.1-14 16 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Em 1 Coríntios, vemos a resposta de Deus através do apóstolo Paulo à perplexidade e perguntas da igreja em Corinto. Há muitos conselhos acerca da conduta dos crentes, tanto no contexto da sociedade pagã quanto na igreja. Por isso, um bom título ou tema para 1 Coríntios seria: A Conduta Cristã. Alguns dos novos crentes de origem não-cristã (tanto naquela época e como hoje) sentiam-se atraídos por valores e padrões conflitantes que não estavam de acordo com os valores cristãos. Paulo compôs 2 Coríntios um ano após 1 Coríntios. Realmen te, ele enviou mais de duas cartas à igreja coríntia, pois refere-se a uma carta anterior em 1 Coríntios 5.9. Em 2 Coríntios 7.8, encontramos alusões a uma carta, datada posteriormente, embora alguns acreditem que se refira a 1 Coríntios. Parece que as demais cartas se perderam ou foram destruídas. Se Deus tivesse desejado que também fizessem parte do cânon do Novo Testamento, com certeza as teria preservado. A mensagem principal de 2 Coríntios difere da de 1 Coríntios. Nessa segunda carta canônica, Paulo fala bastante acerca de suas próprias experiências no ministério cristão. Ambas referem-se a aspectos práticos de conduta e ministério e apresentam verdades doutrinárias. Mas podemos esclarecer seus respectivos temas prin cipais como sendo: 1 Coríntios: Conduta Cristã 2 Coríntios: Ministério Cristão I I I - I n t r o d u ç ã o a 1 C o r í n t i o s (1.1-9) Leia agora os nove primeiros versículos de 1 Coríntios 1 com bastante atenção. Releia-os. O que lhe chama mais a atenção neste trecho? Note quantas doutrinas fundamentais da fé cristã são mencio nadas neste trecho: cham ada divina, a Igreja universal, a santificação, a gratidão, a segunda vinda de Cristo. É um pequeno compêndio teológico! Depois, o apóstolo Paulo passa a falar de A Cidade, a Igreja e as Cartas 17 coisas desagradáveis, como por exemplo, brigas na igreja, ídolos e imoralidade. Há também certas palavras-chaves que ligam a sã doutrina ao bom comportamento, sugerindo soluções para os problemas apresentados: apóstolo (Paulo nem sempre se chama va assim nas suas cartas), igreja, santificado, santo, graça, paz, dom espiritual e Senhor Jesus Cristo. Quantas vezes Paulo men ciona o nome do Senhor Jesus? (Conte-os!) Eis o coração da teologia de Paulo: O Senhor Jesus Cristo! Veja o personagem chamado Sóstenes no versículo 1. Sabe mos que foi um dos irmão na fé; não sabemos se é o mesmo que aparece em Atos 18.17. Parece que foi secretário de Paulo, que copiou 1 Coríntios enquanto Paulo ditava o texto em voz alta. Parece que Paulo escreveu do seu próprio punho apenas os quatros últimos versículos da epístola (16.21). A idéia principal dessa introdução é: bênçãos recebidas por meio de Cristo Jesus. É espantoso pensar que a igreja de Corinto, com todos os seus problemas e fraquezas, tenha recebido graça e paz! Os coríntios haviam sido enriquecidos em toda palavra e conhecimento. Pertenciam a Deus e não lhes faltava nenhum dom espiritual. Jesus é a fonte dessas bênçãos. A mensagem acerca dEle tem sido confir mada neles. O versículo-chave é o 9, pois aponta para a fonte de todo o bem, a comunhão com Jesus Cristo, nosso Senhor. C r ist o , a R esposta Coríntios 1.1 Apóstolo de 1.2 Santificado em 1.2 Invocar o nome de 1.3 Graça e Paz de 1.4 Graça dada em 1.5 Enriquecido em 1.6 Testemunho de 1.7 Aguardando a 1.8 Confirmados por 1.9 Comunhão com > JESUSCRISTO 1 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Podemos resumir 1 Coríntios 1.1-9 nos termos de quatro verdades importantes: 1. Paulo sentia gratidão pela ação de Deus nos crentes coríntios. 2. Os crentes coríntios, apesar de seus problemas, tinham recebido ricas bênçãos espirituais. 3. Deus os tinha abençoado através de seu Filho Jesus Cristo. 4. Os crentes foram guardados na fé por intermédio de Cristo. O que o trecho lhe sugere quanto à maneira de abordar proble mas que surgem na sua igreja? Devemos orar para que Deus possa nos ajudar, no sentido de enfocarmos nosso Senhor Jesus ao enfrentar problemas que precisamos solucionar. A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo I - I n t r o d u ç ã o Aprendemos no capítulo 1 como o ambiente de Corinto e seu baixo nível moral afetaram a igreja naquela cidade. Enfocaremos agora um outro aspecto da cultura coríntia. A Grécia era famosa por seus filósofos, dos quais se orgulhava bastante. A palavra filosofia vem do termo grego que significa “amor à sabedoria” . Os gregos adoravam a sabedoria, e os habitantes de Corinto, como os seus conterrâneos, dedicavam-se a longos debates sobre a natureza e aquisição dela. As classes altas da Grécia Antiga passavam longas horas no seu passatempo favorito: escutar os filósofos e conversar sobre a natureza, o universo e o significado da vida. Admirava-se a eloqüência de certos oradores, bem como a sua lógica e seu poder persuasivo. Era natural compararem um filósofo ou orador com outro e sentirem uma afinidade especial com as opiniões de um ou outro orador, filósofo ou líder. Naturalmente, os crentes coríntios mostravam atitude semelhante com relação aos que exerciam a liderança da igreja. Um dos problemas dos coríntios era a falta de compreensão da natureza da sabedoria. Já consideramos a tensão entre os valores 20 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios pagãos ou seculares e os valores espirituais. Os coríntios valoriza vam altamente a sabedoria humana, mas sabiam muito pouco acerca da sabedoria espiritual e do seu valor superior. O julga mento dos líderes eclesiásticos, na base de critérios seculares, causava divisões e sectarismo no seio da igreja. Você verá nessa lição como Paulo relacionava a verdadeira sabedoria vinda da parte de Deus com a unidade da igreja. Ao estudar sobre a sabedoria divina, você verá como ela é importante e abrangente. Todo cristão deve sentir a real necessidade de sabedoria espiritual. Se você sente essa necessidade, não hesite em reclamar a promessade Tiago 1.5,6. que nos assegura que Deus dá sabedoria àqueles que a pedem com fé. I I - O A p e l o à A ç ã o S á b ia ( 1 .1 0 - 1 6 ) A igreja coríntia constituiria um desafio para qualquer pastor! Os membros eram indisciplinados, contenciosos e tolerantes ao pecado. Paulo, contudo, não inicia a sua carta com uma severa repreensão. Em vez disso, dá graças a Deus pelos coríntios have rem recebido a graça de Deus e outras bênçãos espirituais. Logo a seguir, apela amorosamente a eles, no sentido de deixarem suas disputas e colaborarem uns com os outros. 1. Os crentes unidos Paulo não pode deixar passar em branco o sectarismo existen te na igreja, um problema relacionado com o espírito contencioso dos membros. Apesar das divisões, parece que continuaram se congregando, mas havia o iminente perigo de se dividirem a qualquer hora em congregações rivais. Paulo tem de agir para impedir o fracionamento. A existência de partidarismos era um dos piores problemas da congregação coríntia. e Paulo ataca logo esse problema no início de sua carta. Leia 1 Coríntios 1.10 mais uma vez, para ter certeza daquilo que ele diz. Foi Paulo crucificado em favor de vós? Claro que não! Fostes batizados em nome de Paulo? De jeito nenhum! A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 21 Essas respostas devem ter surgido na mente de todos os ou vintes da carta de Paulo. Ele não culpa um dos “partidos” da igreja (pró-Paulo, pró-Apolo, pró-Cefas ou pró-Cristo) mais que os outros no seu apelo em favor da união, nem elogia os que preferiam a pregação dele ou diziam-se seguidores de Cristo. Ele torna bem claro o fato de que é Cristo que todos devem honrar de forma unânime. Veja como enfatiza esse detalhe pelo que diz acerca de Cristo nestes versículos: 1.10 - “Rogo-vos... pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo” . 1.13 - “Cristo está dividido?” 1.13 - “Paulo morreu por vós?” 1.13 - “Fostes batizados em nome de Paulo?” (ou Apoio ou Cefas). 1.17 - “Cristo enviou-me... para evangelizar” . Por que os coríntios escolheram para si três ministros e tam bém Cristo como os seus respectivos líderes? Sabemos que os gregos adoravam debates, e o partidarismo cristão pode ter surgi do de forma inocente, através de óbvio contraste entre o estilo retórico de Paulo — “Não o fiz como sublimidade de palavras ou de sabedoria” (2.1) — e o de Apoio, pregador eloqüente. Alguns dos crentes desejavam manter-se leais a Paulo, o lundador da igreja, ao passo que outros se sentiam atraídos pelo fervor e habilidade de Apoio na pregação, no ensino e no debate público (At 18.24-28). Outros ainda, talvez judeus convertidos, preferis sem seguir a Pedro, um dos apóstolos originais e grande líder da Igreja Primitiva. Superficialmente, parecia que o quarto grupo, que se conside rava seguidor de Cristo, é que estava com a razão. Paulo, porém, condena igualmente todos os quatro partidos por seu sectarismo. Talvez o quarto grupo, que realmente entendeu como nenhum dos outros os ensinamentos de Cristo, fosse culpado de vaidade espi ritual por se sentir superior aos demais. 22 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 2. Os crentes gloriando-se no Senhor Os coríntios caíram num erro sério ao se gloriarem dos líderes humanos. Mesmo o grupo que se dizia “de Cristo” poderia ter admirado a habilidade dEle como mestre humanitário e modelo (como muitas pessoas dos nossos dias), em vez de adorá-lo como Filho de Deus crucificado e ressuscitado. Nossa salvação depen de da morte dele em nosso lugar, não do fato de pertencermos a uma certa congregação ou obedecermos a determinado pastor ou evangelista. Paulo rejeitou a tentação de formar uma igreja baseada na sua própria popularidade. Sabemos que ele era muito inteligente, bem formado e poderoso nos debates — qualidades que seriam bem atraentes aos gregos. Mas Paulo estava firme na sua resolução de que Cristo, e não ele mesmo, deveria ser o alvo da lealdade e amor dos coríntios. Por isso ele disse: “Decidi nada saber entre nós, senão a Jesus Cristo, e esse crucificado” (2.2). Para combater a quase adoração de líderes humanos praticada pelos crentes coríntios, Paulo ressalta que Deus escolheu para seu uso as coisas ínfimas que o mundo despreza, “a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1.27-29). Paulo cita logo um dos melhores trechos do livro de Jeremias. (Jr 9.22-24). À luz do panorama de morte e destruição que acompanha os homens sábios e poderosos, percebemos como é oca a glória humana. Devemos escolher e valorizar o eterno e glorioso privilé gio de conhecer a Deus! Paulo refere-se à advertência divina e faz dela o seu segundo apelo aos coríntios: “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1.31). 3.1. O direito de nos gloriarmos N ã o e m M a s R e v e l a d a Sabedoria A bondade de Deus NA Força A justiça de Deus C r u z Riqueza A retidão de Deus Jeremias 9.23 Jeremias 9.24 Gálatas 6.14 A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 23 É bom m em orizar Jerem ias 9.23,24, 1 Coríntios 1.31 e G aiatas 6.14. V eja na m ensagem divina, transm itida por Jerem ias, que Deus não condena a sabedoria, a força e nem a riqueza; diz apenas que não devem os nos orgulhar de nenhum a destas coisas. I I I - A S a b e d o r ia d e D e u s R e v e l a d a em C r i s t o (1.17—2.2) O trecho acima referido mostra claramente que devemos nos gloriar apenas no Senhor — não somente no Pai. como também no Filho, e não somente em Cristo como Filho de Deus, mas também em Cristo crucificado! Como poderiam os gregos glori ficar um homem que fora morto como criminoso? Eles glorifica- vam a força física e a sabedoria intelectual e se esforçavam constantemente para conseguir essas qualidades ou percebê-las em outros. E como é que os judeus poderiam gloriar-se num Cristo crucificado se acreditavam que os crucificados eram mal ditos de Deus? (Dt 21.23). 1. A morte de Cristo na cruz No trecho de 1 Corintíos 1.17 — 2.2, Paulo menciona quatro vezes a crucificação de Jesus, ressaltando os seguintes fatos: 1. A sua pregação enfoca a cruz. 2. A mensagem da cruz não faz sentido ao indivíduo não convertido. 3. Cristo é a sabedoria de Deus, sendo a cruz a expressão desta. Os gregos se valorizavam por sua sabedoria, mas pensavam em termos de sabedoria humana, e Paulo se referia à sabedoria divina. Qual a diferença entre uma e outra? 24 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 2. Qual a sabedoria que você deseja? A sabedoria constitui uma profunda compreensão de algo, juízo baseado no conhecimento, e a habilidade de tomar decisões corretas. S a b e d o r ia h u m a n a T ia g o 1.5 S a b e d o r ia d iv in a Baseada no Tiago 3.13-18 Baseado no conhecimento conhecimento parcial, terrestre infinito, celestial Produz orgulho Produz humildade Produz inveja Produz consideração para com os outros Produz ambição Produz egoísta imparcialidade Produz desordem Pacífica, submissa Não espiritual, Pura, cheia de do diabo misericórdia Produz toda sorte de práticas ruins Cheia de bom fruto Devemos esclarecer uma coisa: Deus outorgou à humanidade uma certa sabedoria natural, realmente boa — por exemplo, a capa cidade de raciocinar, de aprender pela experiência: o poder de com preender e conformar-se às circunstâncias, a capacidade de escolher racionalmente aquilo que achamos melhor. Mas é uma sabedoria limitada. Deve ser complementada com a sabedoria divina, a revela ção de Deus, se quisermos reconhecer a verdadeira natureza das coisas, seus valores e as conseqüências de determinados procedi mentos. Deus nos criou para sermos seus filhos, dependentes dEle para a orientação de nossos pensamentos e ações. Leia Romanos 1.17-32. Que contraste você nota entre 1.17 e os versículos 18, 21, 22, 25 e 28? Veja as terríveis conseqüências da rejeição à sabedoria divina. A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 25 Leia o que diz 1 Coríntios 1.21: “Na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria” . Por isso Deus, nasua superior sabedoria, nos tem dado uma maneira superior de conhecê-lo. Ele se revela em Cristo, mostrando sua justiça e amor, padecendo o castigo de nossos pecados. O salvador crucifi cado e ressurreto diz: “Eu sou o caminho” (Jo 14.6). Jesus é o único caminho e o único Salvador. O partidarismo dos coríntios era, portanto, absurdo. Nenhum deles havia sido crucificado pe los coríntios (1.13). Deus coloca líderes humanos na igreja para fortalecê-la, orientando-a na obediência a Cristo, não para dividi- la em segmentos ou facções. 3. A pregação da cruz No trecho que estudamos, há quatro referências à pregação: 1.17,18; 1.23; 2.1 e 2.4,5. Leia esses trechos e identifique o conceito central. Esses versículos nos mostram que a pregação do Evangelho e a sabedoria humana são mutuamente exclusivas! A morte de Cristo e a proclamação dessa morte pareciam totalmente absur das aos gentios. Mas, se Paulo tentasse tornar mais atrativa sua pregação por meio do uso de palavras de sabedoria e eloqüência humanas, estaria atraindo os ouvintes a si, e era isso mesmo que desejava evitar. Ele queria tornar seus ouvintes seguidores de Jesus Cristo, e não de líderes humanos. A pregação da cruz tem por objetivo conduzir homens e mulheres a Jesus (Jo 12.32). Se por meio de eloqüência natural e da sabedoria humana os ouvin tes se sentem mais atraídos ao pregador que ao próprio Cristo, a cruz é anulada (1.17). 1 Coríntios 1.18 diz que “a palavra da cruz é... poder de Deus”. Cristo nos mandou: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16.15). Para que o Evangelho seja o poder de Deus nas vidas humanas, temos de pregá-lo com simplicidade, e os ouvintes precisam crer nele de todo coração. Realizando isso, o simples se toma sábio e o fraco ganha forças. 26 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Os crentes em Cristo colaborarão mutuamente e Ele será glorifi- cado. "O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus!” (Rm 11.3). Os gregos da antigüidade se vangloriavam por sua sabedoria. Naturalmente, não é pecado buscar a verdade e a sabedoria. É pecado, contudo, acreditar que os seres humanos podem chegar até Deus e saber o que é bom mediante a sua própria sabedoria. Paulo usa linguagem forte em 1.27,28. As coisas loucas do mundo irão envergonhar os sábios e as coisas fracas do mundo irão envergonhar os fortes. Ninguém pode se vangloriar de nada: nem Paulo de seu vasto conhecimento, nem Apoio de sua elo qüência, nem Pedro de sua posição. Se esses grandes líderes da Igreja não podiam se gloriar, tampouco nós podemos nos orgulhar de nosso talento e trabalho. Jesus Cristo é a nossa sabedoria, nossa justiça, nossa santificação e nossa redenção (1.30). Deus nos dá tudo de que podemos nos gloriar. Estando em Cristo, temos bênçãos suficientes para essa vida e para a eterna. IV - A S a bedo ria de D eus R evelada pelo E spírito S anto (2 .3 -1 6 ) Tem os falado acerca da m ensagem ou palavras da cruz (1.18) que era assunto principal da pregação de Paulo nos seus prim eiros dias de m inistério em Corinto. Por que ele insistiu tanto nesse tem a? Porque os coríntios não-regenera- dos precisavam dessa m ensagem . Por enquanto, não tinham a capacidade de receber mais que a palavra evangelística da salvação. 1. O plano divino escondido do homem natural Em 2.7, Paulo diz: “Falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta”. O versículo 9 se refere a Isaías 64.4, em apoio ao seu ensinamento. A declaração “não subiram ao coração do ho mem" (2.9) salienta o fato de que ninguém, por seu próprio A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 27 esforço ou raciocínio, pode conhecer a Deus. O segredo divino continua sendo um mistério. Embora não mencione o nome de Jesus. Paulo dá a entender que fala do Filho de Deus pelo uso da frase “foi manifestado na carne” . Por que a pregação do Cristo crucificado (1.23) constituía escândalo para os judeus? Apesar de ter recebido amplo ensino sobre a redenção por meio de sacrifícios e as profecias acerca da morte do Messias em lugar dos pecadores (Is 53), as palavras introdutórias pronunciadas por João Batista sobre Jesus e a sua morte eram inesperadas para os judeus, que não desejavam um Messias crucificado. Eles preferiam um libertador que cumprisse as promessas de sua futura glória e rejeitaram o Cristo crucifica do. Por isso, o plano de salvação continuava sendo um mistério para eles, como nos dias atuais. Muitas pessoas querem ganhar a salvação pelo mérito das boas obras. Outras dependem da própria sabedoria, optando por qualquer filosofia ou religião que lhes pareça mais lógica ou atraente. 2. O plano divino revelado pelo Espírito Santo A mensagem da cruz é revelada pelo Espírito Santo (v. 10). Não é mais um mistério para nós. É Cristo em nós, a esperança da glória (Cl 1.25-27). É a revelação da Igreja universal, o corpo de Cristo. Efésios 3.8-11 esclarece essa verdade. Até aqui. Paulo só menciona o Espírito Santo casualmente, mas tudo muda em 2.10. Desse versículo até o 14, Ele se torna presente em todos eles. O Espírito Santo perscruta as profundeza de Deus, conhece os seus pensamentos, nos ensina e ajuda a entender o que Deus tem planejado para nós. É por isso que Paulo consegue afirmar no versículo 6 que “falamos sabedoria”. Paulo valorizava a sabedoria de Deus, mas bem sabia que a mera sabe doria humana cria problemas, divisões, rivalidades e, às vezes, impede as pessoas de chegarem até Deus, resultando na crucifica ção do Senhor da glória (v. 8). A humanidade precisa de uma sabedoria mais alta, proveniente do Espírito Santo. 28 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Deus quer nos dar sabedoria em "palavras" ensinadas pelo Espírito, comparando as coisas espirituais com as espirituais” (v. 13). Aquilo que os grandes homens do mundo (secular) não conseguiram entender, nós compreendemos ao abrirmos nossas mentes para o ensino do Espírito. Isso não significa o abandono da oração, da leitura bíblica e dos estudos, na expectativa de que o Espírito nos revele verdades das Escrituras (2 Tm 2.15). Signi fica, sim, que uma boa compreensão da salvação e outras doutri nas bíblicas só vêm pela iluminação do Espírito Santo e pelo estudo sério da nossa parte. Assim, entendemos que o sucesso no evangelismo depende da operação do Espírito Santo no obreiro cristão e no pecador. O Espírito conhece a íntima necessidade de cada pecador e sabe como se comunicar com ele. Por isso, Ele dá ao crente a mensa gem de Deus para suprir essa necessidade. Então abre a mente do pecador para que veja claramente que ele merece a ira de Deus, mas que Ele o amou tanto que mandou o seu íilho Jesus para morrer em seu lugar na cruz do Calvário. O Espírito Santo lhe concede fé para crer e aceitar a Jesus Cristo. Ele revela o Salvador e opera a transformação do novo nascimento, concedendo-nos a certeza da salvação. Também ajuda o novo crente a entender a Bíblia, ensinando-o a comportar-se como membro da família de Deus (1 Tm 3.15). Os versículos 6 e 7 nos mostram como a sabedoria de Deus é eterna. Algumas coisas consideradas “sábias” nos dias de Paulo já não são cabíveis; porém, a sabedoria de Deus revelada pelo Espírito enquadra-se perfeitamente em qualquer época. 3. A plenitude do plano divino revelado Existe o perigo de entendermos mal as palavras de Paulo no versículo 2: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e esse crucificado”. Poderíamos pensar que Paulo pregava e ensinava somente a crucificação de Jesus e nada mais. É certo que os coríntios. tão corruptos e pecaminosos, precisavam A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 29 urgentemente da mensagem da Cruz, o Evangelho da Redenção mediante a morte de Cristo. Era justamente do que precisavam quando Paulo visitou Corinto pela primeira vez. É fundamental a mensagem da cruz, pois a morte de Cristo pelos nossos pecados é a porta de entrada para tudo que Deus nos tempreparado. Mas a crucificação não pode ser nosso único tema. Não podemos ficar parados ao pé da cruz. Prossigamos até a ressurreição, pela qual somos justificados e declarados isentos de culpa, quando nos reconciliamos com Deus mediante Jesus Cristo (Rm 4.25). E, a partir daí, sigamos na nova vida em Cristo, crescendo na graça, no Espírito, no preparo para o serviço cristão, em nossa contribuição à igreja e à sua missão mundial. Costumamos usar as palavras salvo, convertido e nascido de novo, para a pessoa que aceita Jesus Cristo como seu Salvador. Num culto evangelístico, essa pessoa pode responder ao convite de entregar-se a Jesus, orando a Ele e confessando os seus pecados. Fazendo isto com sincera fé em Jesus Cristo e a resolução de viver posteriormente para honra e glória dEle, ela experimenta uma maravilhosa transformação. Assim, torna-se realmente salvo, justi ficado e nascido de novo (Jo 3.3). Mas é só o começo. Ao estudar mos o Novo Testamento, o Espírito Santo nos ajuda a entender “o que nos é dado gratuitamente por Deus na salvação (v. 12). 4. O que Deus nos dá gratuitamente Perdão do Pecado Salvação do inferno Paz com Deus Co-herdeiro com Cristo Nova vida e obra Novos amigos Um propósito na vida Vida eterna N a S alvação Vitória sobre o pecado Habitação do Espírito Comunhão na oração Comunhão na Igreja Vigor da Palavra Saúde para o corpo Provisão das necessidades Um lar eterno no Céu 30 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Finalmente, devemos lembrar que a revelação da sabedoria divina pelo Espírito Santo é um processo vitalício para o cristão. 5. A revelação de Cristo Nós — Crescimento no conhecimento de Deus Em Nós — Conhecimento na graça, o fruto do Espírito A t r a v é s d e Nós — Cristo revelado aos outros Estude o quadro acima e examine a sua experiência pessoal. Você está usufruindo de todos aspectos da sua salvação? Avalie a obra contínua do Espírito Santo, revelando Cristo a você, em você e através de você. Ore a Deus acerca de qualquer área fraca que identificar. 3 0 Alicerce da Conduta Cristã I - I n t r o d u ç ã o Na lição 2, enfocamos a sabedoria como elemento de conduta cristã, onde Paulo salienta aos coríntios a impropriedade de fac ções no seio da igreja. Todos os crentes devem colaborar harmo niosamente um com o outro. O partidarismo, o julgamento e avaliação de líderes conforme os critérios do mundo conduzem inevitavelmente a rixas e contendas. Nessa lição, Paulo continua mostrando aos crentes em Corinto a tolice do partidarismo e a necessidade da união em Cristo. Ele insiste no fato de serem todos os cristãos servos de Deus, desem penhando cada um o papel ou função que o Senhor lhe conferiu. Todos devem colaborar unânimes como lavradores para obter uma boa colheita, ou como trabalhadores na edificação da Igreja espiritual, conforme o plano mestre. O capítulo 3 mostra a nossa responsabilidade como servos e colaboradores de Deus, o qual dispõe as tarefas e nos retribui conforme as nossas obras; sem Ele nada fazemos. Podemos plan tar e regar as sementes, mas o crescimento e a colheita vêm do Senhor. Podemos ajudar no labor de construção, mas Cristo é o 32 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios alicerce que proporciona ao edifício a sua forma e solidez. Somos responsáveis pela maneira como construímos a Igreja de Deus (e nossas próprias vidas como parte integral dela). Paulo compara a qualidade de nosso trabalho com certos materiais de construção: madeira, feno e palha (facilmente combustíveis) ou ouro, prata e pedras preciosas (duradouras, à prova de fogo). Cada crente deve perguntar-se: “Estou construindo com palha ou com ouro?” No capítulo 4, vemos o retrato do fiel servo de Deus que sofre por amor a Cristo, mas continua desempenhando a missão que Deus lhe confiou. I I - C o l a b o r a d o r e s c o m D e u s ( 3 .1 - 1 5 ) Após tratar a obra do Espírito Santo no capítulo 2, Paulo volta ao problema que tanto o entristecia: as divisões criadas na igreja pelo sectarismo de líderes humanos. Paulo critica os coríntios por se comportarem como crianças. São mundanos e contenciosos. Seus líderes não passam de servos (v. 5). Cada um tem os seus afazeres no plano de Deus. 1. Ministros como lavradores e construtores Com palavras eloqüentes, Paulo pinta dois retratos da relação entre os ministros e a igreja de Deus. Primeiramente, fala acerca da agricultura. Um dos servos de Deus planta a semente, outro rega as plantas e Deus as fa z crescer! Os crentes devem respeitar e colaborar com seus líderes sim, mas também devem lembrar que só Deus fa z com que as coisas cresçam ! Sem a atuação divina na semente ou sem o sol e a chuva no solo, a plantação ficaria murcha e improdutiva. Deus chama homens e mulheres para colaborar com Ele. Também nos chama a orar, plantar e colher a sua safra e construir o seu edifício, a igreja. Porém, só haverá resultados duradouros se o Senhor outorgar o crescimento e se edificarmos no alicerce dado por Ele. O Alicerce da Conduta Cristã 33 A obra de Deus vai muito além da pregação, por mais impor tante que esta seja. Os obreiros exercem uma grande variedade de ministérios. Talvez pensemos no evangelista como sendo aquele que planta e no mestre ou pastor como aquele que rega. Ambos tem o mesmo propósito: produzir uma boa colheita. O que adianta disputar sobre qual dos dois é o melhor? Ambos são cooperadores de Deus (v. 9). Não importa se a safra é colhida pelo pastor ou pelo evangelista. Paulo plantou, Apoio regou e ambos comparti lharam na colheita porque Deus deu o crescimento. Todos os ministros devem colaborar com o mesmo alvo: edificar o corpo de Cristo (a Igreja). E esse edifício é o santuário (templo) de que Paulo fala no capítulo 3. Ele, apóstolo, lançou o fundamento e outros edificaram; esse fundamento é Jesus Cristo. Lembre-se de que a palavra “ministro” significa “servo”. Os ministros são servos de Deus e de sua Igreja. Ministramos as necessidades da igreja, conforme recomenda Gálatas 5.13: “Ser- vi-vos uns aos outros pela caridade”, à medida que desempenha mos a função que Deus nos tem proporcionado. 2. Membros da igreja como construtores Ministros e leigos funcionam em pé de igualdade na Igreja, sendo membros do corpo de Cristo e desempenhando funções igualmente valiosas em benefício do corpo espiritual. Contudo, nem todo crente é chamado para pregar. Os que completam um período de estudo e se dedicam ao ministério em tempo integral merecem nosso respeito e cooperação. Deus exige que os crentes leigos apóiem os seus líderes no ministério sagrado. Tal apoio pode consistir em intercessão, ajuda financeira ou no exercício do próprio ministério. Todos somos chamados a plantar a semente do Evangelho através do nosso testemunho cristão. O crescimen to da semente não depende do tamanho da mão que a plantou! A seguir, sublinhe cada ministério que contribui atualmente para edificação da igreja na sua região: testemunhar, levar amigos à igreja, ajudar nas necessidades, orar, contribuir financeiramen te, preparar e distribuir literatura evangélica, limpar a igreja, tocar 3 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios música ou cantar, ensinar. Pode haver muitos outros. Diga o nome de alguns. Qual é o seu ministério? 3. Alicerces e materiais de construção Paulo lançou o fundamento da igreja em Corinto, mas outros ficaram com a responsabilidade de levar adiante a construção. Paulo frisa que ele mesmo, na qualidade de construtor mestre, lançou o fundamento certo — a sólida pregação de Jesus Cristo crucificado (2.2). Esse é o único fundamento capaz de sustentar o edifício a ser construído (Mt 7.24,25). Os demais construtores da igreja de Corinto (e as nossas também) tinham duas obrigações: construir sobre os alicerces existentes e utilizar bons materiais. Naturalmente, Paulo está falando por metáfora e não se refere a casas ou edifícios concre tos. Está se referindo ao nosso labor em nome do Senhor,que será provado pelo santo fogo de Deus e por Ele julgado. Se for de alta qualidade (ouro, prata e pedras preciosas), sairá bem na prova e será recompensado. Se for de categoria inferior (madeira, feno e palha), trará prejuízo para a Igreja e fará com que o construtor perca a recompensa que poderia ter recebido. Ora. os conceitos de bom e ruim , quando aplicados ao nosso ministério, não se referem à nossa habilidade ou talento para pre gar. ensinar ou desempenhar funções semelhantes. Dizem respeito aos nossos motivos e mensagem. O que os nossos semelhantes realmente percebem nas nossas vidas e atitudes? Se a nossa moti vação for glorificar a Deus e não a nós mesmos e nos esforçarmos para desempenhar a função que Deus nos proporcionou, estaremos construindo uma igreja forte e receberemos um magnífico galardão. III - O T e m p lo d e D e u s (3.16-23) Nesse capítulo. Paulo apresenta a Igreja como uma plantação cultivada pelos homens e abençoada por Deus e também como um edifício construído em fundamento firme (Jesus Cristo). Nos O Alicerce da Conduta Cristã 35 versículos 16 e 17, ele compara a Igreja com um templo ou santuário. Essa referência é mais que simbólica, pois nos depara mos aqui com um princípio profundo, relacionado com uma das maiores diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento. 1. O habitante do templo Você deve tomar conhecimento de seis templos: 1. O templo de Salomão, existente durante uns quatrocentos anos (Cr 2 — 7 salienta a grande importância deste). 2. O templo de Zorobabel, que substituiu ao templo de Salomão (Zc 4.9). 3. O templo de Herodes, reconstrução do templo de Zorobabel (Jo 2.19,20); foi demolido pelos romanos em 70 d.C. 4. O templo do futuro Reino de Cristo, noticiado por Ezequiel (Ez 40). 5. O templo espiritual — a Igreja (1 Pe 2.4-6; Ef 2.21,22). 6. O crente individual (1 Co 6.19). O templo do Antigo Testamento, como as nossas igrejas hoje em dia, era consagrado como morada de Deus, local em que os crentes, num culto unido, se encontravam com o Senhor de maneira especial. Devia ser uma casa de oração, adoração e sacrifício; um lugar onde Deus manifestasse a sua presença de maneira especial. Mesmo assim, esse templo foi profanado di versas vezes. Jesus o cham ava “casa de meu Pai” , destinado a ser a Casa de Oração, mas fora convertida em covil de salteado res (Lc 19.45,46). O tem plo foi o centro da vida religiosa da nação judaica, mas no Novo Testam ento percebem os que Deus deseja habitar onde quer que seu povo esteja. Jesus salienta essa m odificação (Jo 4.20-24). Deus habitaria num tem plo feito não por mãos de homens, mas construído por Ele mesmo — o corpo de cada crente (Jo 14.15-17,23). Onde quer que dois ou três crentes se 36 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios reunissem em nome dEle. lá estaria Deus no meio deles (Mt 18.20). Em 1 Coríntios 6.19.20. Paulo fala do corpo individual como templo do Espírito Santo. Em 3.16.17. ele enfatiza o aspecto coletivo: 1. O Espírito de Deus habita no crente. 2. Todo crente em Jesus é parte do corpo de Cristo, chamado “a Igreja”. 3. Por isso, o Espírito de Deus (o Espírito Santo) habita na Igreja. Vemos a mudança de orientação no que diz respeito à nature za do templo, no Dia de Pentecostes, que marca o nascimento da igreja cristã: a habitação de Deus passa do templo físico aos crentes reunidos. Onde quer que eles se encontrassem, o Espírito de Deus os visitava, fosse no templo ou no cenáculo. Como a nuvem e a coluna de fogo que desciam por ocasião da consagra ção do tabernáculo (Êx 40.34-38), e a nuvem da glória de Deus que encheu o templo consagrado por Salomão, assim também a glória de Deus se manifestou em línguas de fogo que repousavam sobre cada indivíduo, quando o Espírito Santo veio habitar neles (At 2.1-4). Todo crente tem o Espírito Santo? Romanos 8.9,15. 1 Coríntios 2.12 e I João 4.13 nos dão a entender que sim. A partir do momento da nossa conversão, o Espírito já está agindo em nós. Jesus vem habitar no nosso coração e recebemos o seu Espírito. Mas precisamos ainda ficar cheios do Espírito (At 2.2). Não resta dúvida de que Deus oferece ao crente uma experiência com o Espírito Santo após sua conversão. Costumamos chamar essa experiência de “batismo no Espírito Santo” (Mc 1.8). Assim recebemos poder para o nosso serviço (Lc 24.49; At 1.8). O Espírito de Deus em nós! Que privilégio! E que responsabilidade! Devemos deixar que Ele nos oriente e opere através de nossas vidas. No poder dEle iremos edificar a igreja, e não destruí-la. O Alicerce da Conduta Cristã 37 2. A glória do templo Nos versículos 18-23, Paulo parece abandonar o assunto do templo para voltar ao problema existente em Corinto: o orgulho e sabedoria mundana dos líderes. Ele mostra a futilidade da vangloria na sabedoria humana, em relação à incomparável grandeza do Espírito Santo que habita nos crentes. Havia muitos templos pagãos de grande beleza em Corinto, mas, em contraste, o santuário de Deus é uma Igreja viva, “gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” (Ef 5.27). É também uma Igreja poderosa, a quem Deus tem dado apóstolos, profetas e mestres. A verdade da grandeza da Igreja parece empolgar o apóstolo. Ele fala alto, em voz lírica: “Tudo é nosso... as coisas presentes... as futuras... tudo é nosso”. Seria uma reclamação absurda, não fôssemos membros de Cristo! Somos de Cristo e em Cristo, e Ele habita em nós! No futuro, Jesus será a luz da Nova Jerusalém (Ap 21.22-25). Hoje. Ele é a luz e glória do seu templo, a Igreja. Se andamos nessa luz. não cabe em nós a vangloria baseada na sabedoria do mundo ou de líderes humanos. “O fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus”. E mais: “E qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade” (2 Tm 2.19). IV - Os S e r v o s d e D e u s (4.1-21) No primeiro versículo do capítulo 4, Paulo emprega duas palavras gregas para mostrar que os ministros de Deus são real mente servos, e repete-as no versículo 2. 1) Huperetes, traduzida “servos”, significava originalmente “os escravos (galeotes) que remavam nas galeras” . 2) Oikonomos, traduzida “despenseiros”, significa “um admi nistrador ou mordomo, um escravo-capataz que mandava nos demais escravos e cuidava dos bens do amo". 38 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios O requisito principal para esses mordomos e servos era a fidelidade. Fosse o trabalho na despensa ou com as coisas secre tas de Deus, o encarregado tinha de se mostrar absolutamente fiel. Como servos do Senhor, Paulo e Apoio seriam avaliados e julgados pelo seu Mestre, e não pelos coríntios. Essa é a mensa gem dos versículos 3-7. Isso significa que não devemos avaliar nada na vida cristã? De jeito nenhum! Em outros trechos bíblicos, lemos que devemos provar os espíritos (1 Jo 4.1) e julgar todas as coisas (1 Ts 5.21). Paulo proibia apenas o julgamento dos servos de Deus no sentido de comparar o ministério de um com outro, desprezando uns e exaltando outros, conforme critérios subjeti vos. Quem somos nós, para julgarmos os servos alheios? (Rm 14.4). Não devemos ir além “daquilo que está escrito”, gloriando- nos em determinados pregadores ou mestres. Devemos “gloriar- nos no Senhor” (Jr 9.23,24). Uma razão disso é que não sabemos os motivos das outras pessoas. Escondemos os nossos motivos dos nossos semelhantes e, às vezes, nem percebemos a nossa própria motivação. Mas Deus tudo vê, e julgará até os motivos das nossas ações. 1. O ministro que sofre Os versículos 7-13 constituem um trecho quase violento ao destacar os sofrimentos dos primeiros apóstolos, mas Paulo fala sem queixas. Ele repreende os coríntios por imaginarem que haviam ganho ou merecido sua posição tão favorável. Ele os faz lembrar que tudo que receberam foi dom de Deus (1.4-7; 4.7; Jo 3.27; Tg 1.17). Paulo demonstra como são tolos ao aceitarem impensadamente os critérios e valores do mundo, vangloriando-se de serem ricos,sábios e honrados. Em contraste, descreve os sofri mentos dos atribulados servos do Senhor em termos dramáticos. O versículo 9 refere-se a um costume bem conhecido dos coríntios. Após uma grande vitória de um general romano, esse seria levado com seu exército vitorioso pela ruas da cidade de Roma. Após os soldados, seguiam os presos capturados por eles, todos algemados, proporcionando espetáculo para o povo. Iriam à O Alicerce da Conduta Cristã 39 arena lutar com as feras para divertir a grande multidão; eram, desde já, condenados à morte. Assim também foram os apóstolos aos olhos do mundo, ao passo que os coríntios se consideravam sóbrios, fortes e respeitados. Hebreus 11.32-40 descreve os sofri mentos dos heróis que mantinham a fé em Deus em circunstâncias deploráveis de torturas e massacres. Você sabe de alguns ministros ou crentes que sofreram perse guições quando o Evangelho foi pregado pela primeira vez na sua região? Tem dado graças a Deus por eles? Tem agradecido a essas pessoas pela sua dedicação em transmitir o Evangelho? Onde estaríamos se os apóstolos tivessem resolvido não mais pregar as Boas Novas de Cristo por causa da perseguição? Você conhece algum crente em Jesus que testemunha fielmente, apesar de ser ridicularizado pelos seus semelhantes? O que prefere — riquezas, honra, poder e sabedoria do mundo, ou sofrimento para poder levar o Evangelho àqueles que nunca o ouviram? 2. O ministro como modelo O texto muda abruptamente de tom no versículo 14 quando Paulo diz: “Meus filhos amados”. O versículo 16 parece contradi tório à luz do trecho anterior, mas há uma harmonia subjacente. Ele acaba de culpar os coríntios de seguirem cegamente determi nados líderes humanos, porém agora diz: “Admoesto-vos, portan to, a que sejais meus imitadores” . Que quer dizer isso? Com que direito Paulo pede tais coisas? 1. Na qualidade de fundador da igreja de Corinto: ele é o seu pai espiritual. Pode haver muitos mestres, mas só um pai. 2. Ele não arroga crédito pessoal, mas diz: “Eu, pelo Evange lho, os gerei em Cristo Jesus”. Sem o Evangelho, nada de bom teria acontecido. 3. Ele pede que os coríntios sigam o exemplo dele, não que o prefiram a outros ministros. 4. Sua vida concordava com a sua doutrina, sendo um ótimo modelo de conduta. Não se tratava de “faça como eu digo”, 40 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios senão de “faça como eu faço” (v. 17). A nossa vida condiz com a doutrina que pregamos? 5. Era necessário que Paulo mostrasse a sua autoridade espiri tual, por causa daqueles arrogantes que criavam dificulda des na congregação (v. 18). Nessa lição, temos estudado o tema da fidelidade dos servos de Deus. Sejamos, então, fiéis no desempenho do labor que Ele nos dispõe e no emprego daquilo que nos confia — o Evange lho, os talentos, nosso tempo, as finanças, as oportunidades e qualquer coisa que tivermos a nossa disposição. Almejemos recusar fielmente qualquer tentação de cultuar a nossa própria glória. Desejemos edificar com presteza a Igreja de Cristo para glória de Deus, sendo dignos de exemplo para os demais. Se nhor, faze-nos servos fiéis! 4 Os Abusos da Liberdade Cristã I - I n t r o d u ç ã o No capítulo 3, estudamos algumas verdades maravilhosas acerca da Igreja como plantação e edifício de Deus. O crente, como parte integral do edifício e santuário de Deus, é instado a colaborar com os demais crentes, para que o edifício de Deus possa ficar maior e melhor. Vimos o perigo da destruição da igreja pelo emprego de materiais errados — métodos, motivos e ações pecaminosas ou inferiores. Nessa lição, veremos algo da “construção com palha” que estava acontecendo na igreja de Corinto. Os membros abusavam da sua liberdade cristã. Certas pessoas achavam que tal liberdade implicava no direito de fazer qualquer coisa que fosse do seu gosto. Outros viviam em pecado e eram tolerados pela igreja. Alguns até pareciam orgulhar-se da sua “liberdade”, em vez de orientar os crentes no sentido de levarem vidas disciplinadas pelo Espírito de Deus. Paulo chama à atenção da igreja e exige uma reação frente ao pecado existente. Ao iniciar seu estudo de 1 Coríntios 5 — 6, talvez você esteja Pensando: “Paulo não estaria sendo impiedoso no seu método de 42 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios disciplinar certos membros da igreja? Podemos aplicar os mes mos métodos nas nossas igrejas hoje em dia? Como é possível, num espírito de amor, excluir um membro da igreja?” Parece que Paulo exige uma atitude firme e descomprometida, mas isso tem propósito duplo: impedir que o pecado se espalhe mais na igreja e conduzir os pecadores ao arrependimento. Paulo agia com amor, mesmo não parecendo. Ao estudar, peça ao Espírito Santo que o oriente no sentido de compreender e amar os demais crentes, mesmo quando for obrigado a se responsabilizar por problemas na igreja. II - A L ib e r d a d e C r is t ã e a D is c ip l in a NA I g r e ja ( 5 .1 - 1 1 ) 1. Perigos da liberdade sem disciplina Nos dias de Paulo, dois grandes perigos ameaçavam destruir a igreja e a vida espiritual dos crentes, ambos relacionados com a liberdade cristã. Um deles era o legalismo — a identificação da vida cristã com a obediência de certos regulamentos, supondo que a salvação dependia disso. O outro era o antinomismo , cujos adeptos (antinômicos) achavam que, uma vez que a salvação vem pela fé, os crentes não estão sujeitos a nenhuma lei moral. Alguns chegavam ao ponto de crer que quanto mais pecassem mais abundante seria a graça e a glória de Deus manifestas no seu divino perdão (Rm 6.1,2). Vemos claramente que as duas posições constituem opostos extremos de algo que poderíamos cham ar “ liberdade cristã” . Paulo, na sua Carta aos Gálatas, considera legalismo a escravidão à Lei de Moisés. Essa primeira carta fala do antinomismo, ou seja, o abuso da liberdade cristã, mostrando a importância dos limites, para não abusarmos dela. Para corrigir os excessos da liberdade cristã, são necessários treinamento no caminho da ver dade, autocontrole para manter os padrões e critérios cristãos e disciplina ministrada pela igreja. Os Abusos da Liberdade Cristã 43 Hoje em dia não costum am os em pregar o term o antino- mismo, mas, apesar disso, há muitas pessoas autodenom inadas •‘crentes” que levam uma vida desregrada e libertina. A igreja tem uma séria responsabilidade com relação a essas pessoas: a disciplina. Disciplina: treinamento, em especial, da mente e do caráter; condição de estar bem treinado; ordem mantida entre membros de um grupo; castigo com finalidade de corrigir. Disciplinar: produzir uma condição de ordem e obediên cia. 2. Disciplina na igreja impedida pelo orgulho O capítulo 5 de 1 Coríntios começa com uma revelação cho cante acerca do pecado de alguns crentes e da atitude da igreja em geral. Um dos membros estava tendo relações com a esposa de seu pai (provavelmente sua madrasta). Até os pagãos condena vam esse tipo de incesto. E a igreja tolerava esse pecado com o orgulho de sempre. Não pensemos que os cristãos coríntios se orgulhavam do pecado em si. É possível que tivessem um certo prazer na sua tolerância de exibir “o amor de Jesus” , dando as boas-vindas a qualquer indivíduo que quisesse freqüentar os cultos e tornar-se membro da igreja, fosse qual fosse a moralidade da sua vida pessoal. Os crentes coríntios se orgulhavam de sua sabedoria natural, de seus líderes eloqüentes e de seus dons espirituais. Estavam tão “cheios de si” que talvez nem tivessem pensado nos efeitos desastrosos do pecado praticado por um dos seus mem bros. Paulo diz que todos os membros da igreja deviam lamentar a terrível situação. Vamos supor que você seja pastor de uma grande congrega ção, com membros de certo renome na sociedade e no governo. Alguns desses membros “importantes” estão praticando um peca do. Você estaria tentado a contemporizar em vez de pregar contra o pecado em questão? Pense bem nisso! 44 ComentárioBíblico: I e 2 Coríntios 3. Disciplina efetuada pela igreja Observe que Paulo se dirige à congregação inteira, explicando o que deve ser feito. O versículo 3 parece sugerir que Paulo ministraria a disciplina, mas não é bem assim. É verdade que Paulo dá o seu parecer no caso, mas o gesto da disciplina deveria ser realizado pela igreja. O membro que praticasse incesto deve ria ser excluído da comunhão da igreja. Nem sempre é preciso uma medida tão drástica. A exclusão de um membro da igreja não é necessariamente permanente ou total. Antes de se tomar uma medida assim, devemos seguir o princípio estabelecido por Jesus — marcar uma consulta pessoal com o irmão, para ver se não o persuadimos a seguir pelo caminho certo. Uma parte importante do trabalho de um pastor consiste em aconselhar os membros problemáticos da congrega ção, orar por eles e com eles. Todos devemos ajudar-nos mutu amente. Mas o que fazer se o referido membro simplesmente se recusa a abandonar o seu pecado? Nesse caso, a igreja tem de agir. Estude o ensino de Jesus em Mateus 18.15-20 a respeito desse problema. É importante a maneira com que uma igreja (ou pastor) pratica a disciplina. Algumas congregações são tolerantes de mais e quase não exercem a disciplina. Outras se mostram excessivamente duras e tentam regulamentar toda e qualquer ação dos seus membros. Certas igrejas consideram a disciplina um tipo de castigo, em vez de uma forma de restauração dos seus membros. Tais atitudes podem conduzir à rebeldia, não ao arrependimento. Paulo convocou a igreja em Corinto para uma ação unificada: “Reunidos vós... com o poder de Jesus, nosso Senhor” (v. 4). Se ele tivesse agido por conta própria, poderia ter piorado a situação, exacerbando o partidarismo e criando ressentimentos entre os membros da congregação. O pecado de um homem prejudica a congregação inteira, como acontece no corpo humano: “Se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” Os Abusos da Liberdade Cristã 45 (12.26). Ignorar o pecado de um deles pode parecer uma atitude bondosa, mas também pode conduzir à proliferação do pecado entre os membros. Vendo o perigo de o pecado espalhar-se com facilidade, Paulo os faz lembrar que um pouco de fermento faz tufar muita massa. Os coríntios se orgulhavam da sua liberdade (v. 6). mas não era bem a liberdade cristã; era uma determinação voluntária de continuar praticando um pecado muito sério. O culpado não podia continuar como membro da igreja; e essa não podia deixá-lo permanecer em sua comunhão. Toda a congregação estava sendo prejudicada, e foi por isso que Paulo a convocou para agir contra o pecado. O culpado deveria ser excluído até arrepender-se de seu pecado. 4. O propósito da disciplina As drásticas medidas tomadas pela igreja em Corinto tinham propósito duplo — salvar o pecador e proteger a igreja. Nos versículos 9-11, Paulo refere-se à sua advertência contra a associ ação com pessoas imorais, feita numa carta anterior (não incluída no cânon). Ele reconhece que no dia-a-dia nos associamos a pecadores, tanto no trabalho como no contexto social, e testemu nhamos de Cristo a eles. Porém, devemos abster-nos da associa ção e apoio a crentes que praticam contínua e conscientemente o pecado. Paulo compara o pecado ao fermento. De fato, a Bíblia se refere ao fermento como mal ou pecado. Na Páscoa judaica, Deus mandou que os israelitas comessem a carne do cordeiro com pães (sem levedura). O cordeiro representa Cristo, o Cordeiro de Deus que morreu para nos dar a salvação (v. 7). Da mesma maneira que os israelitas tiravam todo o fermento de suas casas para consumir a ceia pascal, também devemos abolir das nossas vidas todo o pecado, para termos comunhão com Cristo (Ex 12.15-20). “Alimpai-vos. pois, do fermento velho”, escreve Paulo. Pare ce que ele está se referindo aos dois pecados principais dos 46 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios coríntios: vangloria (v. 6) e imoralidade. É uma chamada à igreja para que abandone os seus pecados e “santitique-se em Cristo Jesus” (1.2), tirando o fermento do seu meio antes que a igreja inteira se corrompa. As palavras de Paulo no versículo 5 podem chocar-nos: "Seja entregue [o culpado] a Satanás” . Que quer dizer isso? A mesma expressão aparece em 1 Timóteo 1.20. Ambos os casos constitu em uma referência à mais absoluta forma de disciplina eclesiásti ca — a exclusão de um membro da comunhão da igreja. Ambas as referências mostram que o propósito dessa ação é produzir o arrependimento do culpado para a salvação da sua alma. E uma medida bem séria. A igreja coríntia devia pronunciar tal sentença somente quando estivessem todos os membros reunidos — com o pecador — no poder do Senhor Jesus (v. 4). As palavras do próprio Jesus Cristo em Mateus 18.15-19 nos mostram a serieda de desse ato. Gorden Fee, no seu livro Corinthians, a Study Guide (p. 96), nos explica: “Entregar esse homem a Satanás significa excluí-lo da esfera do Espírito — a comunhão cristã como santuário de Deus — e depô-lo novamente na esfera de Satanás, onde esse ainda tem poder” . O homem que optou por seguir a orientação de Satanás em vez de as diretrizes divinas, seria exposto ao poder satânico de “roubar, matar e destruir” (Jo 10.10). Teria assim a oportunidade de comparar os dois níveis de vida que ele já conhece. A palavra grega sarx (“corpo”, “carne”, “natureza pecaminosa”), aqui usada na expressão “destruição da carne” pode ter significado duplo. Não se refere, claro, à morte em si. mas pode significar sofrimen to físico que, às vezes, conduz as pessoas ao arrependimento, com a resultante inibição de sua natureza pecaminosa. Leia agora Hebreus 12 .4 -15 .0 propósito da disciplina não é prejudicar ou destruir, senão restaurar a comunhão cristã do membro que caiu em pecado (2 Co 2.5-11). O nosso corpo físico morre (é destruído) de qualquer maneira, mas Deus não quer que ninguém se perca (2 Pe 3.9). Jesus morreu na cruz para que Os Abusos da Liberdade Cristã 47 o nosso espírito possa viver eternamente junto com o nosso corpo glorificado. III - A L ib e r d a d e C r i s t ã e a s C o n t e n d a s ( 5 .1 2 — 6 .8 ) Paulo encara agora o problema das rixas entre os membros da igreja. Não nos compete “julgar os que estão de fora” (v. 12). Mas se dois crentes tem uma contenda ou um deles trata injustamente o outro, não devem levar o processo ao tribunal: a igreja deve resolver o problema deles. 1. Sabedoria da igreja para resolver contendas Talvez você esteja se perguntando como Paulo pôde dizer: “Nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor” (4.5) e ao mesmo tempo buscar “um sábio... que possa julgar entre seus irmãos” (6.5)? A primeira dessas referências diz respeito às críti cas ao ministério de algum irmão na igreja; a segunda fala da nomeação de indivíduos capacitados para julgar o comportamen to dos membros e solucionar problemas e disputas entre eles. O motivo de tal atuação é reconciliar os membros e produzir harmo nia na congregação. Os coríntios se orgulhavam de sua sabedoria e inteligência. Por isso, parece estranho que não conseguissem resolver as rixas internas. E mais: os maduros conheciam os pronuncia mentos bíblicos acerca do bem e do mal e deveriam ju lgar conforme esses critérios. Tinham também o Espírito Santo para infundir-lhes sabedoria especial, se assim o pedissem em oração (12.7,8, Tg 1.5). E ainda no futuro, a igreja é destinada a reinar com Cristo, ju lgar o mundo e até os anjos, provavel mente somente aqueles que pecaram (6.2-4; 2 Tm 2.12; Mt 19.28; Jd 6). Deus desejava que a igreja desenvolvesse os prim eiros passos dessa futura vocação de colaboração com Ele, através do julgam ento e resolução dos pequenos proble mas e rixas surgidos na congregação. 48 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 2 . Sabedoria para resolver problemas amigavelmente No comportamento interpessoal, os crentes coríntios abusa vam da liberdade cristã. Já aprendemosque ela tem seus limites; não pode ultrapassar a vontade de Deus e as normas da sua Palavra. Deus nos pede bastante consideração mútua: devemos ser amados e apoiados. Processos jurídicos entre irmãos em Cris to contradizem a vontade divina. A base do ensinamento de Paulo nesse trecho é a unidade do corpo de Cristo e a nossa posição de santos nesse corpo espiritual. Veja bem como Paulo se refere aos cristãos: são irmãos e santos (vv. 1 -8). A igreja é um corpo espiritual separado do mundo, e também uma família. Os irmãos não devem recorrer ao juízo de terceiros, que não são membros da família, para a solução de suas contendas familiares (5.12,13). Tal ação, com o litígio resultante, gera as piores divisões e ressentimentos, sendo uma vergonha para a igreja. Paulo não está sugerindo que os crentes devam desdenhar as leis vigentes. Em Romanos 13.1,2, ele diz claramente que deve mos obedecer às leis e respeitar os nossos governantes. Mas condena os membros do Corpo de Cristo que ventilam suas contendas em tribunal público. Ele salienta as diferenças entre o mundo e a igreja, como vemos nos versículos 1, 6, 9 e 11. Por causa dessa grande diferença, os santos devem julgar os santos. O juiz, nesse caso, deve ser algum crente maduro, sábio e respeitado; pode até ser um grupo de três, escolhido pelos mem bros da igreja. Faça-se como melhor lhes parecer, mas sejam evitados processos jurídicos. Se dois irmãos se processam, nin guém sai ganhando (v. 7). E melhor sofrer injustiça que prejudi car o Corpo de Cristo. Os crentes coríntios pregavam os seus direitos, mas Paulo continua chamando a atenção deles para a importância da unidade do corpo de Cristo. O cristão não é uma ilha independente. Cada um de nós deve descartar o seu egoísmo; se pecamos, devemos aceitar a repreensão e a possível disciplina aplicada pelos demais membros do corpo. Os Abusos da Liberdade Cristã 49 IV - A L ib e r d a d e C r i s t ã e a M o r a l i d a d e (5. 8-20) 1. A liberdade não constitui licença de pecar Os versículos 8-1 I salientam o contraste entre a Igreja e o inundo. Aqueles que praticam tais pecados não podem se integrar à igreja nem ao Reino de Deus. Alguns dos crentes coríntios já haviam sido malévolos, homossexuais, imorais, idólatras, ladrões, gulosos, bêbados, trapaceiros e caluniadores. Mas foram transfor mados por Deus! Há quem afirme que o homossexual é incapaz de modificar a sua conduta, mas a experiência dos coríntios e o testemunho de muitos crentes desmentem tal afirmação e com provam que Cristo tem poder para transformá-los. Ao se entrega rem a Jesus como seu Senhor e Salvador, foram lavados e purifi cados de todo pecado, santificados (consagrados a Deus) e justifi cados (isentos de culpa e condenação). Tudo isso em nome do Senhor Jesus Cristo (na base do sacrifício dEle) e pelo poder do Espírito Santo. Os crentes de Corinto eram novas criaturas — herdeiros do Reino de Deus! Tendo sido lavados, por que desejariam voltar à sujeira do pecado? Consagrados para Deus e seu glorioso Reino, por que voltariam à escravidão de Satanás? Uma vez justificados, seria absurdo repetirem os mesmos pecados de antes, pondo em perigo sua posição em Cristo. A salvação nos faz herdeiros; vamos proteger a nossa herança! 2. Corpo e espírito para o Senhor Chegamos a um versículo-chave para o nosso estudo sobre a liberdade cristã (v. 12). “Todas as coisas me são lícitas”, diz Paulo, e repete a declaração em 10.23, possivelmente um conceito (ou ditado) tipicamente coríntio que o apóstolo Paulo cita ironicamen te. Os coríntios seguiam a filosofia do hedonismo, que afirmava ser o prazer o supremo bem da vida, portanto a busca do prazer, o alvo principal da conduta humana. Os coríntios até afirmavam: “Coma mos e bebamos, que amanhã morreremos” (15.32). 50 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Mas Paulo contrabalança a declaração de “ser tudo lícito" com duas considerações: determinada atitude ou ação traz benefí cio a mim e aos outros? Conviria ao meu Mestre ou não? E esse o princípio que devemos aplicar hoje em benefício do nosso pró prio corpo e espírito. Paulo aplica o princípio inicialmente à comida. As religiões daquele tempo (e até algumas modernas) exigiam que seus adep tos obedecessem a longas listas de regulamentos, no tocante à alimentação. Concebia-se a abstinência de certas comidas como essencial à salvação. Mas o Cristianismo é diferente! O pecador não é salvo por aquilo que faz, dispensa ou deixa de fazer. Ele é salvo pela fé em Cristo. Ele é, portanto, livre (Rm 1.16,17; G1 3.26; Ef 2.8,9). Não somos salvos pelas obras, senão pela fé em Jesus. Somos livres! (Jo 8.32,36). Mas a isenção de regulamentos não significa uma falta de responsabilidade com relação às considerações morais. Em Cristo temos a liberdade de escolher o bem e recusar o mal. Também podemos escolher o mal, porém nesse caso sofreremos as conse qüências (Gl 6.7,8). A liberdade de fazer qualquer coisa sem pensar nas conseqüências não seria autêntica liberdade. Aplique as seguintes práticas ou duplo teste: São benéficas? Convêm ao meu Mestre? Tire suas conclusões: a. fumar; b. tomar bebidas alcoólicas; c. olhar cenas pornográficas em revistas, no cinema ou na televisão; d. ter relações sexuais extraconjugais. Infelizmente, alguns dos crentes coríntios haviam abusado de sua liberdade, insistindo em fazer o que bem entendiam com seus corpos. O versículo 13 parece sugerir que eles estimavam o sexo em pé de igualdade com a alimentação. Paulo corrige esse erro de forma bem direta. O corpo não é feito somente para comida, prazer e sexo: “O corpo é para o Senhor e o Senhor para o corpo” (v. 13). Abusos da Liberdade Cristã 51 O sexo praticado dentro dos limites bíblicos (entre marido e esposa e com certa consideração), é santo e ordenado por Deus (Hb 13.4). O corpo humano é importante — sua vida vem de Deus. O corpo do cristão pertence a Cristo; como, pois, poderia unir-se com uma prostituta? (vv. 19,20). É templo do Espírito Santo; como, pois, poderia sujá-lo com sexo promíscuo, alianças pecaminosas ou auto-abuso; e como se atreveria a destruí-lo por hábitos prejudiciais? Paulo mostra que o uso errado do sexo é imoral e ilógico, e a liberdade cristã não abrange o ilógico e nem a imoralidade. Algumas pessoas acham que Deus se interessa somente pelo nosso espírito, pois este se comunica com Ele. Acreditam, portan to, que o que fazemos com o corpo não é importante. Mas a verdade é que Deus fez o homem uno: corpo, alma e espírito — e para si mesmo. Ele tem de ser Senhor do nosso corpo como é do nosso espírito. Cristo redimiu o nosso corpo pelo sacrifício do seu próprio corpo. Agora devemos apresentar o nosso corpo a Ele “em sacrifício vivo, santo e agradável’' (Rm 12.1). Devemos cuidar bem do nosso corpo, mantendo-o limpo, forte, puro e são para o serviço de Deus. O corpo em si não é bom nem mau em termos morais. Não pode agir por conta própria se o espírito estiver morto; é o espírito que escolhe que bem ou mal o corpo fará. Ao experimentar o novo nascimento, o espírito do ser humano é vivificado para Deus. O Espírito Santo vem habitar com o espírito natural do crente no corpo dele, para ajudá-lo e orientá-lo em suas decisões e na nova vida que passa a levar. Quando uma pessoa resolve não obedecer ao Espírito Santo, o seu espírito peca. Quando pratica o que Deus proíbe, tanto seu corpo quanto seu espírito passam a pecar (2 Co 7.1). Esse tipo de pecado é especialmente desagradá vel. porque o corpo não é somente a casa do espírito; é o templo do Espírito Santo. “Fuja da impureza!”, diz Paulo, numa ordem peremptória. Podemos e devemos fugir das pessoas e locais que nos tentam; devemos evitar a leitura ou contemplação de textos, fatos ou 52 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios filmes que tendem a encaminhar-nos ao sexo. Ninguém tem o direito de sentir-se “suficientemente forte" para fazer frente con tra essas tentações: nós devemosfugir delas. Vivemos num mundo cada vez mais poluído pelo pecado. Será que Deus exige uma retirada monástica para longe dos pecadores que nos rodeiam? De jeito nenhum! Se assim quisesse, nos levaria direto ao Céu, no momento da nossa conversão! Jesus era chamado “amigo de pecadores” , mas não participou dos peca dos deles. Deus quer que sejamos luz num mundo de trevas. Satanás tenta sempre apagar a nossa luz através do pecado. Mas Jesus, a Luz do mundo, habita em nós pelo Espírito Santo. Somos um com Ele, o Senhor do nosso corpo. Ele pode livrar-nos dos desejos imundos, dos hábitos prejudiciais, das doenças e da fra queza, e pode fortalecer-nos para glorificarmos a Deus por meio de nosso corpo! É assim que conseguimos andar na verdadeira liberdade cristã! 5 Os Limites da Liberdade Cristã I - I n t r o d u ç ã o A liberdade do crente permanece como tema da segunda unidade do nosso estudo. Estamos aprendendo que essa liberda de, para ser benéfica, deve ter os seus limites impostos pelo crente e baseados no conhecimento da Palavra de Deus e na consciência de ser ele o templo do Espírito Santo. O cristão modela sua liberdade pelas normas morais contidas na Bíblia e pelo que percebe ser a vontade de Deus para a sua vida. Nessa lição, enfocaremos uma área vital em que precisamos usar com sabedoria na nossa liberdade cristã — o matrimônio. São múltiplas as dificuldades. É verdade que Deus deseja nossa autenticidade individual na vida cristã e na relação conjugal. Mas nossa liberdade não deve retirar a do nosso cônjuge e nem rebai xar os outros. Ao contrário, nosso livre-arbítrio para escolher uma vida abundante e plena de serviço cristão deve abençoar a vida dos nossos semelhantes e glorificar o nosso Deus. Em muitos países, os conceitos de matrimônio, lar e família são desprezados e atacados abertamente. Satanás está destruindo a unidade fundamental da sociedade civilizada — a família. Se 54 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios você é casado, lembre-se de que manter uma boa relação conjugal faz parte da obra de Deus. Não tente fugir da sua responsabilidade de marido ou esposa, com o pretexto de que "Deus vem em primeiro lugar” . Peça ao Senhor a graça de ser bondoso e compre ensivo com relação à sua família e a outros (especialmente os novos crentes) que estão passando dificuldades matrimoniais. I I - L ib e r d a d e e L im i t e s n o C a s a m e n t o (7.1-24; Mt 19.3-11; Ef 5.15-33) As palavras "quanto às coisas que me escrevestes” (7.1) dão a entender que Paulo irá responder a certas perguntas específicas colocadas pelos coríntios. O capítulo 7 pode ser dividido em duas partes relativas à vida conjugal: nos versículos 1-24, Paulo se dirige principalmente aos casados e nos versículos 25-40, aos soiteiros. 1. Liberdade e limites nas relações sexuais No capítulo 6, Paulo declara que os crentes não devem ter relações sexuais fora do casamento. Passa agora a dar uma orien tação acerca do papel das relações sexuais no matrimônio. A expressão “ tocar em mulher” se refere, na Bíblia e na literatura antiga, ao ato sexual (Gn 20.6; Pv 6.29), não ao casamento em si. Paulo bem sabia que o celibato, tal como praticava (v. 7) tem as suas vantagens, mas apesar disso, não ensina contra o casa mento. Veja suas magníficas palavras acerca do matrimônio em Efésios 5.15-33, como exemplo da relação de Cristo com sua Igreja. Paulo escreve aos coríntios para corrigir uma idéia errada acerca do corpo. A filosofia gnóstica exaltava o conhecimento e considerava o corpo como algo vil; só importava o espírito. O resultado dessa filosofia foram dois pontos de vista exagerados entre os coríntios: 1. “Já que o corpo não importa e vai morrer logo, vamos satisfazer todos os desejos da carne” (1 Co 15.32). Os Limites da Liberdade Cristã 5 5 2. “O corpo é vil; por isso, não devemos satisfazer os seus desejos, m esmo nas coisas normais, como é o sexo no casam ento” . Paulo tratou do primeiro desses erros no capítulo 6 e passa agora a tratar do segundo. É bom estudarmos esse ensinamento, porque sempre há pessoas que afirmam que o castigo do corpo engrandece e agrada a Deus, o que não é verdade. O sexo no casamento condiz plenamente com a vontade de Deus e nada tem de pecaminoso. Deus instituiu a família e ordena a procriação para garantir a continuidade da raça humana (Gn 1.27,28; 2.24; 9.1; Hb 13.4). A criação de filhos para servir a Deus é parte integral do plano dEle (Gn 18.19). O matrimônio é uma relação ou “ sociedade” mútua, em que cada participante deve zelar pelos direitos e bem-estar do parceiro. S e x o n o C a s a m e n t o 1 Coríntios 7.1-7 Normal, não pecaminoso Salvaguarda contra a imoralidade Satisfação mútua Relação considerada equilibrada Abstinência por consentimento mútuo Em muitas culturas, os homens tratam suas esposas como escravas ou propriedade material. Mas o Cristianismo proporcio na liberdade, respeito mútuo, amor e consideração ao casamento. O marido é o cabeça da família, mas tem a obrigação de tratar a esposa com amor e consideração (Ef 5.15-33). Paulo recomenda o casamento como salvaguarda contra a imoralidade e a paixão (Mt 5.27,28). Nem todos têm o dom do celibato, a capacidade de permanecer virgem (vv. 7-9). Não há base bíblica para o celibato do clero. Alguns ministros conse 5 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios guem permanecer solteiros pela graça de Deus, para melhor reali zar a obra especial que o Senhor lhes destinou. Mas não seria justo exigir tal celibato de todo o clero, como querem alguns (1 Tm 4.1-3). Debate-se bastante a questão do possível casamento e viuvez de Paulo. Creio que ele já era casado porque: 1. É difícil acreditar que um judeu tão zeloso como Paulo não tivesse casado, porque o celibato contradizia o ensino ju daico. 2. Era evidentemente participante do Sinédrio, ou Supremo Tribunal Judaico (At 26.10), cujos membros eram todos casados. 3. E óbvio que, ao escrever suas cartas aos coríntios, Paulo era celibatário (9.5). Portanto, é razoável supor que sua esposa tivesse falecido ou abandonado o apóstolo após a conversão dele. 4. Limites no abandono da relação conjugal (7.10-24; Mt 19.3-1 1). Os coríntios estavam confusos acerca do dever do crente com relação ao cônjuge descrente. Alguns ensinavam que deviam separar-se ou se divorciar. Paulo dá a sua resposta: “Não se divorciem!” Ele se baseia nos ensinamentos de Jesus em Mateus 5.31,32 e 19.3-11. Os problemas relativos ao divórcio e separação são difíceis de resolver. Não há nos ensinos de Paulo ou de Jesus Cristo uma única regra abrangente e inflexível. Está claro que o Novo Testa mento não admite divórcio quando se trata de um casamento crente (1 Co 7.10,11). Mas nos versículos 12-16, Paulo trata do casamento misto (crente com descrente). M esmo nesse caso, os cônjuges não devem se separar, a menos que o descrente resolva abandonar a família ou exija a separação. Em alguns casos, as condições parecem impossíveis. Por exem plo, um marido bêbado que surra a esposa e ameaça matar os filhos, Os Limites da Liberdade Cristã 5 7 ou uma esposa infiel que tem relações com um terceiro; um marido criminoso que tenta fazer sua esposa de cúmplice. “Deus chamou- nos para a paz” (v. 15) e, às vezes, a separação pode ser a única solução. Por outro lado, muitas esposas e maridos, pela graça de Deus, têm permanecido fiéis ao cônjuge nessas circunstâncias, e Deus tem feito milagres em seu favor. Em muitos casos, até em lares cristãos, o divórcio resulta do egoísmo, e não da situação difícil do(s) cônjuge(s). Qualquer crente que esteja contemplando o divórcio deve ler diariamente Efésios 5.15-33. Nos casamentos mistos, o cônjuge descrente que não se sub mete à lei de Deus tem a opção de se separar e muitas vezes assim o faz (v. 15). Mas o cônjuge crente, se possível, deve manter-se fiel e permanecer onde está, orando e confiando que o Senhor lhe dará a solução. Muitas vezes, o cônjugedescrente se entrega a Jesus e o lar passa a ser transform ado pela sua influência santificadora. Deve-se manter a família unida, se possível, em benefício das crianças. Muitos delinqüentes juvenis vêm de lares desfeitos. As crianças precisam entregar-se a Jesus Cristo. Elas merecem ter pai e mãe. Pais crentes exercem uma influência santificadora sobre seus filhos. 2. Problemas e princípios Os pastores são cham ados com freqüência a aconselhar casais ou indivíduos com problem as conjugais. A lguns já têm problem as tão com plexos ao se en tregar a Jesus, que seria preciso a sabedoria de Salom ão para solucioná-los: divórcio, segundas núpcias, poligam ias, fam ílias ex traconjugais , côn ju ges infiéis etc. D evem os buscar cu idadosam ente as soluções bíblicas para problem as tão com uns com o esses e aplicá-las aos nossos dias. Não há na B íblia regras para todos os casos, mas Deus nos tem dado princípios válidos. Cabe-nos apelar ao Espírito Santo para nos orien tar na aplicação deles a cada problem a que enfrentam os. 5 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios O princípio dado nos versículos 20 e 24, num sentido prático, é um dos mais importantes do Novo Testamento. Leia duas vezes os versículos 17-24. Aquilo que Paulo “ordena” não vem da mente dele; é um princípio divino que ele simplesmente repete. Lembremos o seguinte: 1. Paulo escrevia sob inspiração do Espírito Santo. 2. Ele estava respondendo a problemas específicos. 3. Tratava alguns problemas não mencionados por Jesus nos Evangelhos. 4. Estava falando com novos crentes numa cidade com verda deiro "fanatismo sexual” . 5. Tanto ele quanto os coríntios acreditavam que Jesus volta ria logo. Esses fatos nos ajudam a entender melhor o capítulo inteiro. Já não moramos na Corinto do século I, mas os princípios elabo rados aqui são aplicáveis aos problemas de hoje. Paulo emprega o exemplo da circuncisão e da escravidão para ilustrar o princípio do versículo 20: Cada um permaneça na vocação em que fo i chamado. Exemplifica também a sua aplicação. Somos incapazes de modificar determinadas situações (quem, por exemplo, tenta ria desfazer a sua circuncisão?). A tentativa de modificá-las só pioraria a situação; como no caso de desfazer o lar porque um dos cônjuges não é crente ou porque a situação não pode ser regulari zada legalmente sem o divórcio de um cônjuge anterior. O exem plo da escravidão (vv. 21-23) nos mostra que “permanecer na sua vocação” não constitui um a ordem determinante; se a situação é suscetível de melhoramento. Deus compreende as nossas circuns tâncias e geralmente conseguimos servi-lo melhor na situação em que já nos encontramos. O princípio de permanecer na sua vocação (v. 24) tem inúme ras aplicações à vida em geral e aos dons que Deus dá a cada um de nós. Não obrigamos o músico nato a ser mecânico, nem o Os Limites da Liberdade Cristã 5 9 fazendeiro a tornar-se advogado. A igreja deve deixar que o evangelista taça aquilo que é a sua vocação sem tentar obrigá-lo a ser pastor (Rm 12.6-8). Deus nos chamou primeiro à salvação (1 Co 1.9) e depois a várias funções. Vamos considerar a aplicação do princípio do versículo 24 a certos problemas. Toda regra imposta pela igreja e toda solução proposta para problemas conjugais têm de levar em conta as leis e costumes de cada país; alguns permitem o divórcio, outros não. Devemos considerar também as circunstâncias de cada caso. Os problemas são tão diversificados que não bastam regulamentos simples e generalizações exageradas. Mas é muito útil a aplicação dos vários princípios bíblicos que temos à disposição. Por exemplo, um indivíduo que esteve amigado com três mulheres antes da sua conversão deveria deixar a terceira (com quem vivia quando convertido) e tentar voltar à primeira? Até certo ponto, a sua resolução poderia depender de qual delas (se alguma) foi a sua legítima esposa, da existência de filhos etc. Contudo, em muitos casos, o bom senso indica que esse homem deveria ficar com a esposa com quem vivia quando se converteu. Muitos problemas são dificílimos de resolver. Devemos pensar na solução mais benéfica para cônjuges e filhos (se existem). A meu ver, a melhor resposta reside, na maioria das vezes, na aplica ção do princípio contido nos versículos 20 e 24 do capítulo 7. 3. Liberdade fora do casamento 3.1. Liberdade de não casar Paulo passa a responder outra pergunta específica no versículo 25. Tem a ver com o casamento (ou não) de virgens. Nesse trecho (vv. 25-40), emprega-se cinco vezes a palavra virgem com signi ficado feminino. (Apocalipse 14.4 fala de virgens do sexo m ascu lino, mas a linguagem é simbólica e não vem ao caso.) Paulo diz não ter recebido mandamento específico do Senhor a respeito dessa questão (v. 25). Os Evangelhos nada dizem sobre essa situação, e Paulo não recebeu nenhuma revelação particular 6 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios do Senhor. Mas ele dá a sua opinião, como pessoa digna de confiança. Ao lermos os versículos 25-40. temos a impressão de que o apóstolo Paulo se opõe ao casamento. Nada mais longe da verdade! Ele simplesmente aconselha o celibato às jovens coríntias daquela época. Isso não contradiz o ensino geral das Escrituras a respeito do casamento encontrado em gênesis, nas palavras de Jesus e em outros trechos bíblicos: “Venerado seja entre todos o matrimônio” (Hb 13.4). O solteiro (ou solteira) não deve se sentir pressionado a casar simplesmente porque é “costume” . Nem precisa sentir-se despre zado. inferiorizado ou envergonhado. Esse trecho bíblico oferece uma excelente resposta àquelas pessoas que aconselham “casa mento a todo custo” . O primeiro motivo dado por Paulo em apoio ao celibato é a existência de uma “angustiosa situação". Qual foi essa situação? Não sabemos. Mas é verdade que certas crises tornam necessário o adiamento ou abandono de planos m atrimo niais: doença, guerra, responsabilidade de cuidar de pais idosos ou sustentar a família etc. 4. Motivo de celibato Estado de crise 7.26 Dificuldade na vida conjugal 7.28 Liberdade para o ministério 7.32-35 Dom e vocação para celibato 7.7 Desejo de não casar 7.39 Evitar aliança com descrente 7.39 Falta de ocasião (subentendido) 7.39 Depois. Paulo menciona “angustia na carne” . Há problemas bem conhecidos aos casados: falta de emprego, buracos no telha do, colheita ruim, carência de comestíveis, nenê doente, frustra ção sexual, vizinhos desagradáveis, filhos rebeldes, o desafio de Os Limites da Liberdade Cristã 61 alimentar, vestir e educar um a família etc. Os solteiros não têm de enfrentar os mesmos problemas que o casal é obrigado. O marido cristão tem o dever de sustentar a sua família, e os demais maridos também possuem responsabilidade igual (Gn 3.19; 1 Tm 5.8). Paulo não condena tal situação, mas mostra corno a vida celibatária é vantajosa para o ministério cristão. Compreendemos bem a dificuldade de equilibrar simultaneamen te os deveres de pai (ou mãe) e de ministro do Evangelho, sem prejudicar nenhum aspecto da nossa vocação total. O próprio Paulo não poderia ter desenvolvido o ministério que teve no vasto campo missionário, se tivesse a responsabilidade de criar uma porção de filhos. Mesmo assim, vemos que Pedro e outros após tolos viajavam acompanhados por suas esposas (9.5). As vezes, o ministério de um pastor se torna mais eficaz por causa do apoio da família. No versículo 7, Paulo nos informa que algumas pessoas sen tem a vocação do celibato, recebendo de Deus o dom de perm ane cer celibatárias com grande alegria e contentamento. Em 7.39, vemos que o crente não deve se casar com o descrente. E as palavras “com quem quiser” implicam na não-obrigação de casar com alguém de quem a pessoa não goste. Outro motivo do celiba to é a falta de ocasião ou de pessoas idôneas para o casamento. Em algumas regiões do mundo há muito mais mulheres que homens. Nas áreas onde se prática a poligamia, existem menos moças querapazes livres para casar. Seja por livre alvitre ou por falta de ocasião de realizar um bom casamento, as pessoas que p e rm a n e c e m so l te ira s levam sem p re v a n ta g e m sobre as malcasadas. 5. Liberdade de casar Os versículos 36-38 constituem um trecho difícil. Muitos comentaristas têm lutado com o significado da expressão: “sua virgem” (filha) no versículo 36, por exemplo. O trecho pode referir-se às seguintes relações: 6 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 1. Pais e filhas virgens. 2. Um rapaz e sua noiva. 3. Um casa, cujos cônjuges convivem como irmãos num “ca samento espiritual'', evitando as relações sexuais. Pessoalmente, prefiro a primeira dessas três interpretações porque: 1. Naquela época, os pais costumavam arranjar o casamento das suas filhas; ainda hoje se pratica esse costume em muitos países. 2. O verbo que inicia o versículo 38 significa "dar em casa mento” e não “casar-se” . Vemos a natureza toda especial desse capítulo, ao nos darmos conta de que o apóstolo Paulo enumera apenas três motivos ou vantagens do casamento num total de quarenta versículos. O primeiro (v. 8) refere-se à paixão sexual (“abrasado”); pode ser também uma alusão ao fogo do julgamento divino sobre aqueles que caem na imoralidade ou desleixo pessoal. Deus nos fez, homens e mulheres com um desejo sexual normal, para garantir a continuidade da raça humana. Mas a mera atração sexual não basta como fundamento do matrimônio. Um casamento baseado apenas nisso pode fracassar caso apareça alguém mais atraente. O segundo motivo em favor do casamento aparece no versículo 39: casar não é pecado. Já estudamos a atitude dos coríntios a esse respeito e a resposta dada pelo apóstolo. 6. Motivos para o casamento Melhor casar que viver abrasado Não é pecado casar Desejo de casar 7.9 7.36 7.39 Os Limites da Liberdade Cristã 6 3 7. Outras escrituras Relação instituída por Deus Mt 19.4-6 Gn 2.18-24Vantajoso ao homem Continuar a espécie Em prol das crianças Estado digno de honra Desejo normal Gn 9.7 Dt 6.1-9 Hb 13.4 1 Tm 5.11.13.15 O terceiro motivo diz respeito à liberdade ou direito de casar (v. 39) e estabelece um limite. Paulo fala nesse trecho das segun das núpcias de um viúvo ou viúva. Após a morte do cônjuge, o sobrevivente tem a liberdade de casar-se com quem quiser, contanto que seja crente (“somente no Senhor”). Nos dias de hoje, Satanás está tentando destruir o casamento, o lar e a família. A promoção do sexo, prostituição, homossexua- lismo, divórcio e concubinato são sinais desse fato; há em tudo isso uma fuga de responsabilidade dos participantes. Muitas na ções e civilizações do passado foram destruídas por esses m es mos males. Hoje vemos epidemias de doenças venéreas sem cura; as crianças inocentes sofrem mais, tanto nas doenças que lhes são transmitidas quanto no abandono familiar e na falta de treinamen to moral. Esposas e filhos abandonados lutam para sobreviver sem recurso jurídico ou sustento paternal. O matrimônio implica num compromisso mútuo e voluntário que dura até a morte dos cônjuges. A família estável e temente a Deus é a pedra fundamental da comunidade ou nação bem-suce- dida. Os lares de crentes devem ser o modelo da retidão do plano de Deus e a evidência da sua bênção divina. Paulo escreveu esse segmento da sua epístola para responder a certas perguntas espe cificas, sem o propósito de tratar de forma abrangente o assunto do matrimônio. M esm o assim, os princípios que ele comunica são válidos até os nossos dias. “O que acha um a mulher acha uma coisa boa, e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22). 6 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios III - L ib e r d a d e , Í d o l o s e C o m id a (8; 10.14-23) 1. Liberdade no conhecimento da idolatria No capítulo 8, o apóstolo Paulo responde a mais um a per gunta dos coríntios, referente ao consum o de carne oferecida a ídolos. Antes da sua conversão, muitos dos crentes em Corinto eram pagãos, adoravam ídolos e sacrificavam animais aos seus deuses. Nesses sacrifícios, juravam sua devoção às respectivas deidades, invocavam a bênção dos deuses representados pelos ídolos e se com unicavam com as forças diabólicas, enquanto comiam uma parte da carne sacrificada (1 Co 10.18). Tudo isso era um ato de louvor pagão. O restante da carne era consum ida pelos sacerdotes ou vendida no mercado. Após a sua conversão, os crentes coríntios desejavam saber se ainda seria lícito comer daquela carne oferecida aos ídolos ou se deveriam abster-se de tal consumo. A adoração aos ídolos é bem antiga no nosso mundo; as civilizações antigas acreditavam que certos animais eram porta dores de espíritos divinos que divinizavam os próprios animais. Fabricavam-se imagens de touros, peixes e crocodilos, as quais se tornavam deuses do povo. Lembremos ainda o que Arão (irmão de Moisés) fez com o bezerro de ouro (Êx 32.5,6; Js 24.14). Deus proibiu Israel de fazer imagens (Êx 20.4) e até mandou destruir os ídolos de deuses estrangeiros (Dt 12.2,3). Houve, de fato, uma história de fracassos a esse respeito, mesmo assim muitos judeus escolheram morrer a deixar a idolatria. O povo dos tempos de Paulo (e algumas civilizações de nos sos dias) adoravam deuses da natureza e também ídolos feitos de madeira, pedra e metal. Cultuavam, conforme a crença pagã, o Sol, a Lua, as estrelas, as montanhas, os rios e as árvores. Certos deuses e deusas deviam controlar a chuva, o sucesso na guerra, a agricultura etc. Os gregos adoravam muitos deuses (At 17.23). Os romanos proclamavam também a divindade dos seus imperado res. Rodeados de tais práticas, os cristãos podiam evitar contatos freqüentes com a idolatria. Os Limites da Liberdade Cristã 65 Antes da sua conversão, os gentios viviam com medo dos seus deuses, mas o Evangelho os havia libertado dessa opressão. Eles, como o apóstolo Paulo, sabiam que os ídolos não eram nada e não conheciam o Deus verdadeiro, cultuado por judeus e cristãos. Ele é único, eterno, o Criador, onipotente e onisciente. O poder dEle ultrapassa o poder dos demônios. Os crentes não precisavam mais apelar aos ídolos. Eles amavam o seu Deus, e por isso não mais adoravam a ídolos. Mas deviam ou não comer da carne oferecida a eles? Isto é o que não sabiam, e houve entre eles duas opiniões bem divergentes; alguns achavam que sim e outros não. Os cren tes que comiam tal carne baseavam-se na sua liberdade e no conhecimento da nulidade do poder dos ídolos. Paulo dá o seu parecer a respeito, frisando que o conhecimento dos fatos deve ser equilibrado pelo amor. Tanto o conhecimento quanto o amor são essenciais para a atividade hum ana e constituem parte importante da vida cristã. “Sabemos que todos temos ciência” , diz Paulo (v. 1). As vezes, o saber (conhecimento) ensoberbece o sábio, e foi assim que acon teceu no caso dos coríntios. C o n h ecim en to A m o r No cérebro No coração Adquirido pelo Cultivado com a estudo ajuda de Deus Ensoberbece — 1 Co 8.1 Edifica Inferior — 13.2 Superior Provisório 13.8,13 Permanece O conhecimento (saber) sem o amor pode ser destrutivo, tanto na vida do “sábio” quanto na sua relação com os demais; pode até afastar as pessoas do Senhor (8.11). Com o no caso do fogo e da água, precisamos de ambos os elementos para levar uma vida equilibrada e não devemos desprezar nem negar a sua utilidade. 6 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Os mesmos elementos têm função construtiva e destrutiva, con forme o uso; o perigo está no exagero ou na falta de controle. O conhecimento que obtemos através do estudo pode abençoar e instruir a humanidade, e assim devemos fazer. 2. Liberdade limitada pelo amor Paulo salienta a existência de um só Deus, manifesto em três pessoas — o Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. (Compare o versículo 6 com Cl 1.15-17 e Ef 4.6.) Os judeus crentes em Jesus que moravam em Corinto entendiam bem a nulidade dos ídolos, mas nem todos os habitantes dacidade percebiam esse fato (vv. 4,7-9). Os gregos recém-convertidos, que passavam a vida inteira cultuando os ídolos, levariam um choque se vissem alguns cris tãos mais maduros na fé fazendo sua refeição num templo idóla tra. Tal exemplo poderia levá-los a fazer igual e a confiar nova mente no valor ou poder do ídolo por causa do mal-entendido. Assim, os irmãos menos estáveis poderiam ser “destruídos” (vv. 10-13). Por isso, diz Paulo, o crente mais maduro ou experiente nem sempre deve insistir nos seus direitos espirituais, pois seria pecado exercer toda a sua liberdade, se essa causasse a queda dos irmãos mais fracos. O versículo-chave é o 9. Memorize esse versículo. Paulo reconhece a liberdade dos crentes coríntios: “Todas as coisas me são lícitas...” mas apela a eles no sentido de aplicarem em tudo um a lei superior, a lei do amor. Para não ferir ou ofender o irmão de consciência mais frágil, o crente forte deve estar disposto a restringir sua própria liberdade. 3. O amor limita a liberdade Não deixe que o exercício de sua liberdade escandalize os mais fracos, conduzindo-os ao erro. A lei do amor aplica-se de diversas maneiras. Os costumes e normas dos crentes variam bastante de uma igreja para outra no que diz respeito à comida, bebida, ao vestuário, ao uso de enfei Os Limites da Liberdade Cristã 6 7 tes, às diversões etc. Tais diferenças têm causado até rupturas e mal-entendidos em algumas congregações. A semelhança do após tolo Paulo, devemos estar dispostos a "ceder um passo” em nos sas convicções para ajudar os nossos irmãos na fé (v. 13). Pode mos por à prova a nossa liberdade e seu exercício, colocando três perguntas sugeridas por Paulo como critério de atuação: 1. É benéfico? 2. Convém aos demais? 3. Prejudica aos demais? Vamos supor que você seja um pastor, e os membros da sua congregação costumam beber vinho leve com boa consciência, como fazem muitos crentes na Europa. Então vai pastorear uma outra igreja com forte preconceito contra o consumo de bebidas alcoólicas, por haver naquela congregação vários ex-bêbados sal vos pela graça de Jesus. Qual deve ser seu procedimento e por quê? Lembre-se de que a ciência às vezes incha, mas o amor sempre edifica. 6 A Liberdade Cristã e a Autodisciplina I - I n t r o d u ç ã o Aprendemos no capítulo anterior algo sobre a relação entre a liberdade cristã, o matrimônio e o consumo de carne oferecida a ídolos. Essas duas áreas do comportamento humano não estão ligadas, mas um princípio fundamental se aplica a ambas. É o princípio sublinhado em 1 Coríntios 8.9. Devemos vigiar para que a nossa liberdade não faça pecar um irmão mais fraco. Paulo prossegue até o final do capítulo 10 no seu ensinamento acerca da liberdade dos crentes. Nos capítulos 9 e 10, mostra-nos que a pessoa realmente livre é aquela que se controla por meio do exercício da autodisciplina. Paulo relembra sua própria experiên cia e tira exemplos da história de Israel e do mundo esportivo para ressaltar essa premissa fundamental: "‘Todas as cousas me são lícitas, mas nem todas convém ”. A autodisciplina, apesar de não ser doutrina muito popular em nossos dias, é de origem bíblica. As vezes devemos abdicar dos nossos direitos, tornando-nos “escravos voluntários” , para assim ganharmos outros para Cristo e edificarmos a igreja. Peça a Deus que o oriente no uso da sua liberdade cristã, a fim de ter sempre sabedoria na divulgação das bênçãos do Evangelho. 7 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios II - O M i n i s t é r i o A p o s t ó l i c o e a A u t o d i s c i p l i n a ( 9 .1 - 2 7 ) Parece que o apóstolo Paulo m uda abruptam ente de assun to no início do capítu lo 9. M elhor considerado , porém , é óbvio que o enfoque con tinua sendo os limites da liberdade cristã. Ele utiliza sua própria experiência com o exem plo da aplicação dos princípios dados no capítu lo 8 e passa a m ostrar os benefí cios da autodisc ip lina e o perigo da participação em atividades idólatras. No seu próprio exem plo de auto-discip lina, Paulo salienta seus d ireitos apostólicos e o propósito da sua abd ica ção. Mas, segundo ele, o sacrifício realm ente não é muito grande. Se os atletas se aplicam nos jogos coríntios, tanto mais os crentes devem estar dispostos a se d iscip linar para partici par de um a corrida muito mais importante e ganhar a e terna coroa da glória! 1. Os direitos de um apóstolo Ao lermos os versículos 1 -3, lem bram o-nos do partidarismo da igreja de Corinto e das suas contendas por favoritism o para com certos líderes. E v identem ente , alguns dos coríntios pen savam que Paulo não era bem um apóstolo. Mas ele, na sua qualidade de fundador dessa igreja, diz: “Vós sois o selo do meu apostolado no Senhor” (v. 2). A palavra apóstolo s ign if i ca enviado. A conversão dos coríntios e o es tabelec im ento da igreja na sua cidade foram provas da vocação apostólica de Paulo. Este trecho tão importante nos ensina que a igreja deve cuidar do seu pastor. Os versículos 7-10 ilustram bem certos direitos. O soldado tem direito de receber roupa e comida. O fazendeiro tem o direito de receber a colheita da sua plantação. Até o boi, tão humilde, tem o direito de comer dos grãos que vai debulhando. O ministro cristão tem o direito de ser sustentado economicamente pelo rebanho que está pastoreando. A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 71 2. Os direitos apostólicos de Paulo Comer e beber bem 9.4 Ter esposa cristã e estar acompanhado dela 9.5 Usufruir da liberdade 9.1 Receber sustento financeiro 9.6 No versículo 12, contudo, Paulo diz: “Não usamos desse direito” . Por que ele abdicou o direito de sustento? Por que não se casou, para ter ao seu lado uma esposa crente nas viagens missio nárias? Ela poderia cozinhar, costurar e realizar um ministério entre as mulheres; o apóstolo, conforme sua própria confissão, costurava tendas para sustentar a si m esmo e aos seus ajudantes. 3. O propósito da abnegação 3.1. Paulo abdica seus direitos 1 C o r í n t i o s 8 —9 Direito Usufruir da liberdade 9.1,5 Ter o suficiente para comer e beber 9.4 Viajar acompanhado de uma esposa 9.5 Receber sustento econômico das igrejas 9.6,11 Abnegação Fez-se escravo de todos. Adaptou-se a diversos tipos de vida 9.19-22 Passou fome e sede Absteve-se de algumas comidas 2 Co 11.27 Ficou celibatário 7.8 Trabalhou manualmente para se sustentar 9.6 Propósito Compartilhar as bênçãos do Evangelho 9.23 Ganhar maior número de pessoas para Jesus 9.19 72 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Salvar alguns Não criar obstáculo para o Evangelho Não ofender Dedicar-se mais plenamente ao ministério Compartilhar o Evangelho de graça 9.22 9.12 8.13 7.32 9.18 Nesse debate sobre direitos apostólicos, devemos lembrar que as verdades estudadas também se aplicam ao ministério em geral e à vida cristã na sua totalidade. A autodisciplina não é somente afastar-se do pecado. Implica tam bém na abdicação de certos direitos. O crente tem muitos direitos espirituais dos quais não deve abdicar: “paz e alegria no Espírito Santo’ (Rm 14.17). Mas existem outros, de ordem material, que o crente abdica volunta riamente para ajudar aos seus semelhantes e desempenhar um ministério eficaz. Você sente a vocação de pregar? O versículo 16 constitui um a declaração que toca p rofundam ente a todo autêntico m i nistro do Evangelho. É muito mais fácil sentir a cham ada de Deus para o m inistério que explicar tal vocação. Se você é cham ado , sabe-o muito bem. Há m uitos anos, no Canadá, um dos m eus professores no instituto bíblico nos disse: “Se vocês consegu irem m anter-se fora do m inistério com boa consciên cia, não sejam m inis tros!” Paulo diz, e outros m ilhares de pregadores ecoam de todo coração as palavras dele: “ Ai de mim se não pregar o Evangelho!" Qual a atitude do quadro acima? Depois de estudá-lo, tente explicar o seu conteúdo a uma outra pessoa. Ele desafia você? Tente reproduziro quadro de memória. Leia nos versículos 19-23 a declaração da versatilidade do apóstolo Paulo. Não sabemos bem como ele se ajustava a tantas culturas diferentes, mas Gálatas 2.11-16 nos dá uma idéia. Ele costumava comer e confraternizar com os judeus e gentios em pé de igualdade, mostrando-se amigo e irmão deles no Senhor. Jesus “veio comendo e bebendo, e foi chamado “amigo de publicanos e pecadores” (Lc 7.34). A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 73 Com o aplicar no nosso ministério esse princípio de versatili dade: “Fazendo-nos tudo para com todos?” Podemos mostrar a nossa amizade para com os pecadores sem participar dos pecados deles. Paulo não violou nenhuma lei para se tornar “ sem lei” , e declarou-se firmemente “debaixo da lei de Cristo” (v. 21). Pode mos nos adaptar às circunstâncias e costumes existentes, aprovei tando toda oportunidade de compartilhar o Evangelho em todos os níveis. A margem do rio em Filipo, Paulo assistia às sinagogas e aos cultos de oração; debatia no foro e diariamente na praça pública de Atenas. Em Éfeso, ensinava de casa em casa e num salão de conferências. Sentia-se igualmente à vontade, comparti lhando o Evangelho com os filósofos ou com o escravo Onésimo. Seguia sempre o exemplo do seu Mestre, pois Jesus ministrava a fariseus ricos (Nicodemos, José de Arimateia etc.) e aos pobres (Lc 4.18). O propósito da tam anha versatilidade é salvar os nos sos semelhantes. Paulo foi um missionário-modelo. Não insistiu em que os novos convertidos se conformassem com os costumes da terra dele. O m issionário brasileiro no ex terior não deve tentar “abrasileirar” os novos crentes. Isto, às vezes, exige bastante autodisciplina e sacrifício, e para tal devemos estar realmente dispostos a salvar as pessoas onde elas estão. 4. O galardão da autodisciplina De quatro em quatro anos, realizam-se em alguma cidade do mundo os jogos olímpicos. Esses jogos tiveram seu início na Grécia por volta de 700 a.C. e, a cada três anos, celebravam-se em Corinto os jogos ístmicos. Os atletas concorriam em luta livre, corridas e outros jogos. O preparo do pessoal para tais concursos exigia um rigoroso programa de treinamento. Hoje em dia, os campeões recebem troféus de ouro; nos dias de Paulo, eram coroados com folhas de louro trançadas em coroa. Esses símbolos murchavam rapidamente, mas nós, os crentes, concorremos para ganhar uma coroa eterna! 74 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Observe que o apóstolo Paulo não se refere nesse trecho à salvação, por ser ela dada pela graça, mas refere-se ao prêmio do serviço cristão e fidelidade do crente. Devemos disciplinar-nos, treinando para correr com paciência a carreira que nos está pro posta” (Hb 12.1). E, nessa carreira, todos podemos ganhar o prêmio, se deixarmos que o Senhor seja o nosso treinador e orientador. Deus nos dá talentos e habilidades especiais em algum as áreas de realização, esperando que façam os a nossa parte no desenvolv im ento e aperfe içoam ento desses dons para uso p rá tico. O importante não é superarm os os outros, senão a nós m esm os, m elhorando constan tem ente a nossa atuação. Isso requer bastante autodisciplina! Deus exige de nós o m elhor que possam os dar no serviço dEle. A parábola de Jesus sobre os talentos (Mt 25.14-30) contém um a poderosa m ensagem para nós: quem não usa o seu talento, perde-o. Os servos aum entavam seus talentos pelo trabalho e disciplina! Deus exige de nós o m elhor que possam os dar no serviço dEle. Os servos que aum entavam seus talentos pelo trabalho e d isc ip li na foram prem iados, mas aqueles que en terraram os seus, foram castigados e perderam os talentos que possuíam . “Fazei tudo para a glória de Deus” , diz Paulo em 10.31. Esse “tudo” não se refere apenas ao trabalho na igreja e a outras atividades “ religiosas” . Tem um sentido bem mais amplo; abran ge o carpinteiro, o comerciante, a professora, o artista, o músico, o fazendeiro, o pescador, o operário, a dona de casa, o evangelista, o médico, o pastor, enfim, toda e qualquer profissão. Lembremo- nos de que se estamos trabalhando a serviço de Deus, e aquilo que se faz em nome de Deus deve ser bem feito. Você faz bem em estudar este livro e outros semelhantes, como parte do seu preparo no serviço infinito de Deus. Continue se aperfeiçoando! Use seus talentos em prol da igreja e da socie dade. Estabeleça alvos dignos e siga sempre em frente. Não se deixe desanimar pelas dificuldades ou críticas. Corra para ganhar o prêmio da aprovação de Deus! A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 75 I I I - F u n e s t o s R e s u l t a d o s p o r F alta d e A u t o d is c ip l in a ( 1 0 .1 - 2 2 ) 1. Exemplo da história do Antigo Testamento O pecado, é muitas vezes, resultado da falta de autodisciplina. E o pecado da ingratidão conduz com freqüência a outros peca dos. Isso aconteceu com Israel, sendo registrado na Bíblia como advertência para nós. Poucas semanas após o seu glorioso êxodo do Egito pela mão de Deus, os israelitas se queixaram da sorte e desejavam retornar. Os versículos 1-4 diferem de tudo que já estudamos nessa epístola. Trata de Israel, mas o apóstolo está se dirigindo, princi palmente, a crentes gentios. Quase toda a linguagem é figurada e deve ser entendida num sentido espiritual. Por exemplo, ao se referir aos nossos antepassados, ele inclui os gentios como des cendentes de Abraão (G1 3.26-29). Ele fala do alimento espiritual. Os israelitas foram “batizados em M oisés” (não inundados pela água, mas atravessando pelo meio dela) no mar Vermelho. Esse ato os separou definitivamente do Egito e os consagrou à lideran ça de Moisés. E um símbolo do nosso batismo nas águas. Deixa mos a escravidão do pecado e nos entregamos à liderança de Cristo, nosso Mestre (Rm 6.3,4). Paulo chama a Cristo de “pedra espiritual” , e quando Moisés obedeceu à ordem de Deus, ferindo a rocha (Ex 17.5,6), jorrou um rio de água que não mais secou. O Cristo eterno acompanhava o seu povo por toda a viagem no deserto. Ele é também a rocha de nossa salvação. O castigo de Deus por nossos pecados o feriu no Calvário, de onde jorrou o rio de salvação suficiente para a humanidade de todos os tempos. Deus providenciou libertação, alimento e bebida, mas Israel não lhe agradeceu. Repetidas vezes praticavam os mesmos peca dos. Deus livrou seus filhos, mas eles abusavam da liberdade. A nação cometeu pecados de idolatria, fornicação e rebelião, so 76 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios frendo as conseqüências: milhares morreram e todo Israel foi condenado a vaguear no deserto por quarenta anos. Deus nos preservou o Antigo Testamento para advertência. Lemos ali a triste história dos ciclos de pecado e castigo na vida do povo de Israel. E a história da humanidade se repete. Os versículos 12 e 13 têm uma aplicação bem ampla, inclusive para os nossos dias; seria uma boa idéia decorar esses versículos. Ainda hoje vemos a imoralidade sexual, a idolatria, as queixas e a rebelião contra Deus e contra os nossos líderes espirituais. Muitos daqueles que “saíram do Egito” acabaram “destruídos no deser to". Felizmente, se a tentação continua sempre presente, Deus é onipresente, onipotente e fiel por todos os séculos. Ele não garan te a nossa isenção de provas e tentações, mas promete acompa nhar-nos nas horas mais difíceis. Podemos vencer qualquer tenta ção com a ajuda dEle! 2. Advertência aos crentes do Novo Testamento Devemos fugir do pecado, não apenas por termos medo do castigo, mas também por estarmos consagrados a Deus. Paulo salienta mais uma vez a nossa união com Cristo, na sua advertên cia contra a idolatria. No capítulo 8. o apóstolo diz que um ídolo não é nada. Agora, porém, passa a explicar que aqueles que oferecem sacrifícios a ídolos estão realmente cultuando demônios e se comunicando com eles. Em contraste, os crentes comungavam com seu Senhor na Santa Ceia. Nessa ocasião, lembra-se da morte vicária deCristo, afirma-se a dedicação dos crentes a Ele e contempla-se a promessa da sua futura vinda. Como, então, esses crentes poderi am também participar da comunhão dos demônios? Seria suscitar a ira ciumenta do seu Senhor! (v. 22; Êx 34.14-17). A palavra Senhor no versículo 22 se refere, sem dúvida, a Jesus. O verda deiro crente o reconhece como Senhor da sua vida. A idolatria é motivo, pois. do justo castigo de Deus, seja no caso de judeus ou de crentes em Cristo. A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 77 I V - A L ib e r d a d e e a A u t o d i s c i p l i n a (10.23—11.1) Os coríntios acreditavam firmemente que “ todas as coisas eram lícitas” , e a cidade de Corinto era considerada a “capital do pecado” daquele período histórico. Mas Paulo nos ensina que o famoso adágio não é válido para a vida do crente. Gozamos de muita liberdade em Cristo (Jo 8.36), mas ela tem seus limites. O verdadeiro crente procura servir os outros por meio de boas obras, e não a si mesmo (vv. 23,24). Ele sempre pensa antes de agir: “Este ato será construtivo? Edificará meus irmãos na fé e a minha igreja? Fortalecerá nossa união espiritual?” (Rm 15.1-5). No versículo 23 e em 11.1, Paulo faz um resumo do seu debate sobre a carne sacrificada aos ídolos antes de abordar o próximo problema da igreja dos coríntios. Ele oferece alguns conselhos práticos que servirão às futuras gerações. Os versículos 24 e 33 nos dão o princípio da vida abnegada em benefício de outros. Isso não significa a negligência à nossa responsabilidade de prover às necessidades pessoais e familiares, sendo mais que óbvio o dever de cuidar do nosso próprio bem-estar espiritual. Mas Paulo fala principalmente do nosso comportamento em pú blico; esse não deve ofender a outros nem ser um mau exemplo aos demais crentes. Ainda assim, não devemos abdicar a nossa liberdade cristã de praticar coisas não-prejudiciais. Os líderes da Igreja Primitiva opi navam que os crentes gentios não seriam obrigados a guardar a lei mosaica no tocante à comida. Mas também opinaram que os cren tes não deveriam comer carne oferecida a ídolos (At 15.19-21). Paulo não contradiz essa regra, mas explica como deve ser aplica da. Segundo Paulo, os crentes, ao comprar carne, não têm obriga ção de indagar sobre a sua procedência (se foi oferecida a ídolos ou não). E, quando convidados a jantar em casa de outros, não devem fazer perguntas desse tipo acerca da comida. O alimento não é tão importante assim (1 Co 6.13; 8.8). Faltando a absoluta certeza de que determinada carne tenha sido oferecida a ídolos, deveriam 78 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios comer dela sem hesitação, dando graças a Deus. porque, "pela palavra de Deus e pela oração, é santificada" (1 Tm 4.3-5). Mas, como já vimos, a nossa liberdade tem seus limites. Se alguém dissesse ao cristão: “Esta carne foi oferecida a um ídolo", esse não deveria tocá-la. Com er tal carne seria interpretado como uma homenagem ao ídolo; recusá-la. seria um testemunho de que aquele crente não tinha nada a ver com a adoração aos ídolos. Em nossos dias, raramente enfrentamos tal problema. M esmo assim, esse princípio e outros semelhantes nos são bem úteis. Em Colossenses 3.15-17. Paulo nos ensina que devemos “fa zer tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai". Aqui, ele fala de atitudes na igreja: ensinar a Palavra de Deus, aconselhar os crentes, cantar louvores etc. Mas no versículo 31 lemos que devemos até comer e beber para honra e glória de Deus. Isto se refere à nossa vida particular em casa e nossa vida social na comunidade. O verdadeiro Cristianismo não consiste somente na adoração a Deus, no ensino da sua Palavra e nos cânticos espirituais, mas também no comer e beber para glória de Deus, com gratidão pelas refeições mais simples. A autodisciplina no consumo de comidas e bebidas também glorifica a Deus. Nosso corpo é o templo do Espírito Santo, e por isso devemos ingerir comidas nutritivas e evitar qualquer excesso ou abuso no comer e no beber. Mas Paulo não fala exclusivamente de comidas e bebidas, ele nos recomenda: “Fazei tudo para a glória de Deus". Glorifique- mos a Deus com nossa vida exemplar, apresentando-nos como agentes da graça e do amor do nosso Deus. Não devemos escan dalizar ninguém, seja "judeu, gentio ou a igreja de Deus". Muitas pessoas rejeitam Jesus por causa dos pecados e falhas dos crentes! Jesus disse: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos ho mens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Será que devemos tentar agradar aos descrentes? Paulo diz que sim, e assim o fez! Na realidade, é quase impossível agradar a todo mundo. Nem Jesus nem Paulo conseguiram, mas esse pelo A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 79 menos diz: “Eu procuro em tudo ser agradável a todos” (v. 33). Isso exige muita autodisciplina, que na vida do ministro ou de qualquer crente traz muitos benefícios: maior aproveitamento dos nossos dias aqui na terra, menos tentação ao pecado e um minis tério mais frutífero. Seguem abaixo algumas relações nas quais a tentativa de agradar aos outros torna a vida mais gostosa e glorifica a Deus. Em quais dessas você consegue se identificar numa das duas funções? (O “querer agradar” é mútuo.) a. Pai —filho b. Patrão—empregado c. M arido—esposa d. Comerciante —freguês e. Pastor—membro da igreja f. Professor—aluno g. Amigos h. Parentes i. Vizinhos Você consegue identificar algumas áreas na lista acima em que suas próprias relações poderiam ser melhores? Fale com Deus a respeito. Estude o quadro “Diretrizes para a Liberdade Cristã” . Quais dos princípios ali apresentados são aplicáveis às relações humanas? Examine bem os motivos de você querer agradar aos outros. Para alguns, o Evangelho em si constitui tropeço (1 Co 1.23), mas alguns indivíduos acreditarão e entregar-se-ão a Jesus, se perce berem que o Evangelho lhes foi demonstrado com todo amor, empatia e compaixão. Faça um esforço para agradar as pessoas de maneira mais apropriada, para que algumas delas possam ser salvas por intermédio da sua vida. Paulo encerra esse segmento da sua carta com a seguinte recomendação: “Sede meus imitado res, como também eu sou de Cristo” (11.1). Será que nos atreve mos a afirmar o mesmo? 7 >» 0 Véu, o Agape e a Santa Ceia I - I n t r o d u ç ã o Já temos estudado na carta aos Coríntios vários aspectos da conduta cristã. Em sua carta, Paulo responde a muitas perguntas colocadas por seus “filhos na fé” na cidade de Corinto, tais como o fio que liga todos os aspectos mencionados e o uso correto da liberdade cristã. O crente tem grande liberdade em Cristo; às vezes, porém, é preciso impor-lhe um limite para ajudar os seus semelhantes e não escandalizá-los. No capítulo l l , o enfoque se desloca da praça pública para a igreja. O apóstolo retom a dois assuntos já mencionados: o rela cionamento entre marido e mulher e a liberdade do crente. A lgu mas irmãs da igreja de Corinto estavam abusando da sua nova liberdade em Cristo, comparecendo aos cultos sem o véu tradici onal, cuja falta desonrava não só à própria mulher, mas também ao marido. Outro aspecto lamentável era a conduta de alguns crentes coríntios nos ágapes, que deveriam ser simples refeições de con fraternização. Parece que alguns membros da igreja abusavam das comidas e bebidas, ao passo que outros eram obrigados a 82 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios passar fome por causa da gula dos primeiros. Paulo repreende aqueles irmãos por seu egoísmo. Finalmente, temos o padrão ou modelo para a celebração da Santa Ceia. Em vez de insistir nas suas práticas indisciplinadas e egocêntricas, os crentes deveriam reconhecer sua união no corpo de Cristo e com o Mestre. Nós também devemos enfocar esse aspecto regularmente, até a prometida volta do Senhor! I I - O VÉU (11.2-16) Passamos agora à praça publica de Corinto, ao seio da igreja e aos cultos doscrentes. A “questão palpitante” aqui apresentada é: “As mulheres devem orar de cabeça descoberta?” Não sabemos se os coríntios lhe escreveram a respeito ou se ele soube do problema por outro meio. Seja como for, o apóstolo passa a responder conforme seu costume: primeiro elogia os coríntios por sua atenção e obediência (11.1) e depois trata do problema. As sim, seus ouvintes entendem o que o apóstolo espera deles nesse particular, ou seja, a mesma atenção e obediência de sempre. 1. Símbolo de submissão Por que Paulo diz que a mulher deve ter a cabeça coberta quando ora ou profetiza na igreja? Para entender plenamente as inferências desse trecho, devemos aprender algo sobre os costumes mediterrâneos daquela época. As mulheres usavam sempre um véu quando se apresentavam em público. Alguns historiadores nos infor mam que, em Corinto, só as prostitutas andavam sem véu. Era um tipo de véu que cobria os cabelos, mas não o rosto das mulheres casadas, como sinal de serem elas protegidas pela autoridade dos maridos. Simbolizava a submissão e segurança no papel de esposas. Algumas das novas crentes, porém, pareciam acreditar que sua liberdade em Cristo ultrapassava qualquer submissão à auto ridade do marido. E verdade que o Evangelho cristão eleva a mulher, pois no Corpo de Cristo se neutralizam todas as diferen O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 8 3 ças sociais. Homens e mulheres, jovens e velhos, escravos e donos, todos desfrutavam em Cristo direitos e privilégios iguais. Deus tinha derramado seu Espírito sobre todos eles (At 2.16-18). Tanto as mulheres quanto os homens tinham o direito de orar e profetizar publicamente na igreja. Por isso, algumas mulheres crentes em Corinto passaram a dispensar o véu para salientar a sua igualdade com os homens diante do Senhor. Mas isso constitui um abuso da liberdade cristã por criar um mal-entendido aos olhos do público descrente. Devemos medir as nossas ações conforme o contexto cultural em que vivemos. Aqui lo que pode ser plenamente aceitável numa cultura, escandaliza em outra. Nos dias de Paulo, mulher sem véu ou com cabelos curtos era prostituta. As mulheres crentes que insistiam nesse uso, portanto, esta- vam criando uma confusão na mente dos não-crentes e trazendo desonra para si e para seus maridos. A falta de véu significava popularmente, uma falta de respeito, confiança e honra para com o marido (vv. 5,6). Este trecho nos proporciona um certo regulamento específico para determinado lugar e época, bem como um princípio aplicá vel universalmente. É o princípio da submissão bíblica, uma atitude que abrange confiança, honra, respeito e obediência. Ve mos que a submissão é parte integral da ordem do mundo espiri tual. Paulo apela à ordem que Deus estabeleceu para a humanida de na criação e mostra como a família cristã se incorpora nessa ordem divina. 2. Ordem de submissão Deus Pai Jesus Cristo, Filho + Homem * Mulher 8 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios O versículo 3 é a chave para a compreensão desse trecho. Afirmar que Deus é a cabeça de Cristo cria confusão na mente de certas pessoas, que perguntarão: “Mas Deus Pai e Deus Filho não são iguais?” Num sentido, sim: “Eu e o Pai somos um" (Jo 10.30). Mas também: “O Pai é maior do que eu" (Jo 14.28). Não conse guimos entender a natureza da Trindade. Parecem coexistir a superioridade (em termos de ordem) e a igualdade (de essência). A relação marido e esposa parece seguir o m esmo padrão. Esse fascinante versículo (3), mostra simultaneamente a submissão e a igualdade em todos os três níveis. Homens e mulheres realmente não existem em pé de igualdade com Cristo, mas são declarados eo-herdeiros com Elel Somos o seu corpo aqui na Terra, e um dia reinaremos com Ele! Leia Gálatas 3.28, Romanos 8.17 e I Pedro 3.7, e compare-os com 1 Coríntios 1 1.3. O ensino apresentado por esses versículos é a igualdade entre marido e esposa em assuntos espirituais. Porém, tal fato não anula o papel e responsabilidade do homem como cabeça da esposa e da família. Todo negócio, igreja, colégio e organização precisam de uma figura titular, um encarregado, e a família não constitui exceção. No caso da família, o encarregado ou responsável é o marido. Nas igrejas da época de Paulo, os homens oravam de cabeça descoberta, como continua sendo o costume da maioria nos dias de hoje. Na cultura judaica, porém, os homens costumavam usar um pequeno boné redondo na cabeça durante os cultos religiosos. Em ambos os costumes, o intuito é glorificar a Deus e mostrar respei to por Ele. Cada grupo segue e se adapta aos costumes vigentes no seu local e época. Em resumo, os costumes mudam, mas os princípios perm ane cem. Os costumes de Corinto não são mais os costumes da maio ria do mundo de hoje. Paulo deu um regulamento acerca do uso de véu, porque esse criara um problema para os crentes coríntios. Mas não somente falou acerca de um problema específico, como O Véu, o Agape e a Santa Ceia 8 5 também articulou um princípio eterno, aplicável à igreja em ge ral. através dos séculos. Ao recomendar que os crentes coríntios usassem véu quando orassem ou profetizavam na igreja, Paulo aplica um regulamento baseado no princípio de que o crente goza liberdade em Cristo, mas deve aplicar autodisciplina para não escandalizar o irmão mais fraco. Vê-se também nessa passagem o princípio de adequar o com portamento dos crentes ã cultura em que vivem para não escanda lizar os descrentes. 3. Símbolo de autoridade A submissão e a autoridade caminham juntas. O capítulo 11 trata de maridos e esposas, mas o princípio da submissão mútua é importante para cada um de nós, casados ou solteiros. O indiví duo que rejeita a autoridade dos outros abdica do direito de ter sua própria autoridade. A pessoa que desobedece às regras da socie dade em que vive, perde a influência que, de outra maneira, teria nesse ambiente. A submissão à Lei e o reconhecimento da autori dade dos demais nos conferem a autoridade de usarmos os nossos direitos em qualquer grupo. Assim foi no caso das irmãs coríntias. Pelo uso do véu. elas reconheceriam a autoridade de seus maridos e o seu próprio papel de esposas, o qual lhes conferiria o direito ou autoridade de exercer seu próprio ministério público em pé de igualdade com os homens na congregação. Elas tinham todo o direito de orar e profetizar em voz alta nos cultos públicos, contanto que se com portassem com decência e ordem (v. 5). Ninguém deve negar às irmãs crentes o direito de ministrar nas igrejas, caso se com por tem conforme os princípios da Palavra de Deus. Durante muitos séculos, em algumas regiões do mundo, o véu tem conferido poder e honra à mulher. Usando o véu, ela conse gue ser respeitada onde quer que vá; é seu símbolo de autoridade (v. 10). Sem a proteção do véu, poderia ser tratada como mulher 8 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios de baixa condição e indigna de respeito. O véu, símbolo de submissão, enaltece a mulher que o usa. Por que Paulo se refere aos anjos nesse contexto? Hebreus 1.14 diz que os anjos ministram e servem àqueles que herdarão a salvação, ou seja, os crentes em Cristo. E razoável supor que os anjos estão presentes em nossos cultos. Ficariam magoados ao presenciar desordem ou desrespeito nos cultos dos crentes. Os anjos se esforçam para manter a ordem e não gostam de rebelião contra a ordem divina estabelecida para a família. Devemos salientar mais duas facetas desse assunto: primeiro, Paulo não era misógino como alguns querem alegar; segundo, existem muitos abusos acerca da “ submissão de esposas” . O que é o casamento? E uma aliança, uma relação mútua. E um convê nio solene entre duas pessoas, uma entrega mútua que dura a vida inteira. Efésios 5.24 diz que as esposas devem submeter-se aos seus maridos, mas não devemos supervalorizar esse princípio sem também lembrar o que Deus diz aos maridos! Cada membro do casal deve amar e respeitar o outro. Algumas esposas se negama submeter-se aos seus maridos; tal prática está errada. Alguns maridos se negam a assumir a responsabilidade dos seus lares, querendo deixar tudo para a mulher; tal prática também está errada. Mas o homem que satisfaz fielmente as condições do quadro abaixo gozará da atenção, amor e respeito de uma esposa contente e dedicada. 4. Uma palavra aos maridos O homem não é independente da mulher (1 Co 11.11). Deve amar sua esposa como Cristo amou a igreja (Ef 5.25). Deve amar sua esposa como a si mesmo (Ef 5.33). Deve ter consideração e respeito para com sua esposa (1 Pe 3.7). A aplicação das palavras de Paulo acerca do véu e do pentea do das mulheres varia bastante de um país para outro e de igreja O Véu, o Agape e a Santa Ceia 8 7 para igreja. Eu diria àqueles que insistem em que a mulher use véu na igreja: vejam o versículo 15, onde diz que o cabelo é dado à mulher em lugar de véu. Alguns comentaristas pensam que a referência à “própria natureza” , no versículo 14, fala da cultura geral da época, dando a entender que um sexo não deve imitar o outro (como no caso de homossexuais) no penteado etc. Seja como for, a modéstia e o bom gosto no modo de vestir e arrumar os cabelos, de modo que não pareçamos rebeldes ou escandalo sos, é o princípio essencial para todos nós. 5. O ágape Paulo prossegue no debate sobre conduta cristã na igreja, abordando agora o problema da falta de disciplina nos ágapes, que às vezes pareciam manifestar tudo, menos o amor! 6. Momentos de confraternização O ágape na Igreja P rim itiva não era p ropriam ente um culto de louvor, mas desem penhava um papel im portante nos dias de Paulo. Talvez por causa do grande am or uns pelos outros ou em virtude das perseguições sofridas, os m em bros da Igreja Prim itiva se congregassem com freqüência (At 2.46). Em Atos, lemos que eles “ partiam o p ão ” e “ tom avam refe ições” c om u nitárias. Isso não se refere à Santa Ceia, mas a pequenas reuniões sociais. À medida que o Evangelho se espalhava por todo o Império Romano, com o grande aumento de membros nas igrejas, os crentes continuavam suas reuniões em casas particulares com o objetivo de ensinar, orar, louvar e confraternizar. O ágape primi tivo era uma refeição simples e comunitária, onde todos contribu íam com uma parte da comida. Mas algo mudou em Corinto, e os ágapes, em vez de estimular a confraternização, estavam pioran do as divisões existentes entre os membros. Foi por isso que Paulo repreendeu os coríntios (v. 17), adver tindo-os sobre os resultados prejudicais de seus ágapes. As divi 8 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios sões mencionadas no versículo 18 não parecem tão sérias como as referidas nos versículos 10-12. Os crentes se subdividiam em pequenos grupos nos ágapes; não sabemos se essa subdivisão obedecia a qualquer discriminação de camada social, mas o versículo 19 sugere também diferenças doutrinárias. A natureza não muda através dos séculos! 7. Ocasião de compartilhar Um dos propósitos dos ágapes podia ter sido ajudar os pobres (2 Co 8.13-15). A Bíblia nos ensina que os fortes devem auxiliar os fracos, e os ricos, ajudar os pobres, sobretudo seus irmãos (G1 6.10). Porém, os coríntios pareciam entender mal esse propósito dos ágapes, pois alguns dos membros se mostravam bastante egoístas. Paulo os adverte: “De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a Ceia do Senhor” (v. 20 '; Cristo não estava sendo glorificado nos ágapes coríntios. Paulo manda que os irmãos esperem uns pelos outros na hora da refeição ou comam em casa. Os ágapes tinham propósito duplo: ajudar os pobres e manifestar o amor e união cristã na igreja. Se esse propósito não estava sendo cumprido, era melhor todos os irm ãos ja n ta re m sep a ra d a m e n te nas suas casas (1 1.22,33,34). A falta de disciplina dos coríntios teve um péssimo efeito também na comemoração da Santa Ceia, instituída por Jesus. Parece que comemoravam simultaneamente o ágape e a Santa Ceia, ou que essa seguia logo após aquele. Com o decorrer dos anos. o ágape quase que desapareceu da prática das igrejas cristãs, mas a Santa Ceia será comem orada até a volta de Jesus Cristo. Os coríntios, no seu egoísmo e exagero das coisas, acabaram com en do e bebendo indignamente na Santa Ceia. É um ato de hipocrisia comer do pão e beber do vinho que representam nossa união com Cristo, se na conduta dos crentes não se manifesta nossa união uns com os outros em Cristo. O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 8 9 III - A S a n t a C e i a (v v . 23,24) 1. A Santa Ceia e a Páscoa — Êxodo 12; Mateus 26—30; 1 Co 5.7,8 Ê x o d o 1 2 C e r im ô n ia s M e m o r ia l is t a s M a t e u s 26.26-30 L e m b r a n d o a S a l v a ç ã o D iv in a P á s c o a S a n t a C e ia Liberdade da escravidão No Egito Do pecado Deus providenciou e mandou o sacrifício De um cordeiro perfeito Do seu Filho perfeito Sangue do cordeiro Na porta Na cruz e no crente 0 Sangue protege da morte O filho Todos os crentes Salvação da morte Física, temporária Espiritual, eterna Símbolo: o sangue 0 vinho 0 vinho Carne do cordeiro consumida Pela família dos israelitas Pela família de Deus Cura e força para 0 êxodo do Egito A viagem para o Céu Cerimônia comemorada Anualmente pelos judeus Com freqüência pela Igreja 2. “Comer este pão” O pão é comida universal, consumido em todas as partes do mundo e mencionado centenas de vezes na Bíblia. A refeição mais típica dos judeus começa com o seguinte rito doméstico: o Pai tomava o pão nas suas mãos, dava graças a Deus, partia o pão e distribuía os pedaços aos membros da família. 9 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios lesus seguiu esse m esmo padrão com seus discípulos (Mt 26.26). Mas acrescentou elementos ao dizer: “Tomai, comei; isto é o meu corpo”. Sabemos que Jesus falava de uma maneira simbólica, porque o pão que segurava na mão não era parte de seu corpo. Ao partir o pão, agiu simbolicamente, pois, no dia seguinte, seu próprio corpo seria ferido na cruz. Mateus, Marcos e Lucas descrevem essa última Páscoa celebrada por Jesus com seus discípulos. Lucas anota as palavras de Jesus: “Fazei isto em memória de m im ” . 3. Simbolismo do pão Um pão União da Igreja Pão inteiro Cristo perfeito Sem levedura Cristo imaculado (sem pecado) Partido Cristo crucificado por nós Dá força Para corpo e alma Comida Alimentar-nos de Cristo e unir-nos com Ele (Corpo de Cristo) Alimento universal Cristo morreu por todos Geralmente o pão é inteiro. Partimos o pão para comê-lo, alimentarmo-nos. Jesus foi uma pessoa inteira, perfeita e com ple ta como homem e como Filho de Deus. Seu corpo teria de ser "partido no calvário para que pudéssemos “comer” livremente dele e receber energia física e espiritual. O pão sem levedura nos lembra que Ele era imaculado (sem pecado). E nos livramos do pecado ao nos integrarmos espiritualmente nEle. João 6.48-51 nos ensina que é somente por “comermos"o corpo de Jesus, o Pão da Vida. que recebemos vida eterna. A "ingestão do corpo e sangue de Jesus é espiritual. significa receber dEle sustento e energia total. Alimentamo-nos de^Cristo O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 91 não somente na Santa Ceia, mas também na adoração, no reco nhecimento da sua presença em nós e nós nEle, como parte integrante do seu corpo; recebemos sustento também por meio da confraternização com outros crentes. 4. “Beber o cálice” Na noite em que a Páscoa foi transformada na Santa Ceia, Jesus tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos seus discípulos, dizendo: “Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testa mento, que é derramado por muitos, para remissão de pecados” (Mt 26.28). Essa linguagem (como no caso do pão) é simbólica. E o vinho no cálice era o símbolo do sangue de Jesus. A palavra aliança (“ testamento”) significa um convênio sole ne e formal entre duas pessoas ou grupos. Geralmente, para se oficializar uma aliança, matavam um animale comiam juntos a carne dele como sinal de amizade e boa fé. De fato, a palavra hebraica berith (“aliança”) significa “comerem em conjunto” ou “amarrarem”. A ceia da aliança mostrava que os dois membros ou partidos aceitavam os termos do convênio. No Antigo Testamen to, houve várias alianças entre Deus e os homens, como as que Ele fez com Noé e Abraão. Toda aliança consiste em quatro partes: as pessoas, as condições, a garantia de cumprir as promes sas e os resultados do cumprimento dos convênios. Examinemos a aliança que Deus fez com Noé em Gênesis 9. Participantes — Deus e a humanidade (9.12) Condições — A humanidade deveria encher a terra (9.1,7) Resultados — Não haveria mais enchente universal (9.11) Garantia — Arco-íris (9.13) As alianças bíblicas têm seu início em Deus. Ele estabelece as condições com um indivíduo ou grupo (por exemplo, a nação de Israel). Às vezes. Deus dá um sinal visível como sua garantia, como foi no caso do arco-íris; mas geralmente a garantia é a 92 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios promessa de Deus (Hb 6.13). Os resultados para o homem, caso se mostre fiel ao convênio, são sempre benéficos. E Deus é glorificado pela realização da aliança. Mais tarde, Deus deu a Moisés a aliança das leis para o povo de Israel. Nesse convênio, Deus escreveu os Dez M andam entos nas tábuas de pedra. Séculos depois, Ele disse a Jerem ias que iria fazer uma nova aliança, escrevendo seus m andam entos no coração e na mente do povo. Jesus veio estabelecer essa nova aliança, selando-a com seu próprio sangue. E a Santa Ceia é a ceia da aliança que m anifesta nossa aceitação dos termos do convênio. I V - A N ova A l ia n ç a d e J e s u s Prometida no Antigo Testamento — Jeremias 31.33 Para remissão de pecado — Jeremias 31.34; Mateus 26.28; 1 Coríntios 11.25 Selada com o sangue de Jesus — Mateus 26.28; Hebreus 9.15-28 Para todos aqueles que crêem — João 3.16 Leia novamente e compare Jeremias 31.31-34 com Mateus 26.28, Hebreus 9.15-28 e 1 Coríntios 11.25. Todos se referem à N ova Aliança. Esta abrange muito mais que o povo de Israel; é uma aliança universal (Jo 3.16; 12.32). Cada indivíduo que ouve o Evangelho tem a obrigação de tomar a decisão de participar ou não da aliança. A morte e ressurreição de Cristo são o fundamento da nossa salvação. Sem o sangue de Jesus, não teria havido uma igreja em Corinto e nenhuma em nossos dias. Ficaríamos ainda esperando a salvação, perdidos na nossa ignorância e idolatria, ou, na melhor das hipóteses, aproximando-nos de Deus por meio do sacrifício diário de pombas, cordeiros e cabras. Mas o Calvário transformou essa lúgubre cena! Jesus tem providenciado uma aliança bem melhor (Hb 8.6), em convênio que tem durado séculos e continu O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 9 3 ará vigente até a volta de Jesus. O cântico de louvor ao Cordeiro do livro de Apocalipse o diz muito bem: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e reinarão sobre a terra (Ap 5.9,10). 1. Comer e beber dignamente A forma física e visível da Santa Ceia consiste em comer um pedacinho de pão ou bolacha e beber um gole de vinho ou suco de uva após uma oração dedicatória. A participação dessa comunhão é um ato físico, porém, a menos que signifique para nós algo muito importante em termos espirituais, é um rito inútil. De acordo com o versículo 28, o que devemos fazer ao parti cipar da Santa Ceia? 1.1. Durante a Santa Ceia O lhar: ao seu redor (para ver os membros do corpo de Cristo) para dentro de si (para se examinar) para o futuro (a volta de Jesus) P roclam ar: A morte do Senhor Jesus morreu há muitos séculos; por isso, ao proclamarmos esse evento até a sua vinda, olhamos para o futuro. Devemos examinar as nossas próprias vidas e motivos, assim olhar para dentro. E, finalmente, olhar ao redor para contemplar os nossos irmãos na fé. ou seja, o corpo de Cristo. Desse modo, desfrutare mos de uma comunhão mais profunda com Cristo e com os demais irmãos na Santa Ceia. Você já pensou nessa comunhão como sendo um tipo de evangelismo? A proclamação da morte de Jesus é, de fato, evangelização. A Santa Ceia é mais que uma refeição simbólica; é uma confissão pública da morte vicária de Cristo para salvar os Pecadores e da nossa fé e confiança pessoal nEle (Rm 5.8). 9 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Já que a morte de Cristo nos concede a salvação, devemos lembrar a sua morte continuamente e pensar naquilo que sofreu por nós. Assim, “comem os a carne do Filho do hom em ” (Jo 6.53). O simples ato de participar da Santa Ceia não salva ninguém, mas constitui uma ação de graças, fortalece a nossa fé e dá testemunho de que temos comunhão com o Senhor e com os nossos irmãos na fé (1 Co 1.9). Jesus está presente em Espírito, quando juntos "partimos o pão” . Mas, quando voltar para arrebatar a sua Igreja, estaremos com Ele num sentido físico. Já não será necessário comem orar mos a Santa Ceia. Mas, por enquanto, ficamos esperando a vinda dEle, especialmente por ocasião da Ceia. Isso nos anima a purili- car-nos (1 Jo 3.2,3). Às vezes, teremos que nos arrepender de algum mal feito a um a outra pessoa, pedindo perdão a ela e a Deus (1 Jo 1.7). Muitas vezes, o poder de Deus desce de maneira sobrenatural na Santa Ceia, quando os crentes confessam os seus pecados e pedem perdão uns aos outros, livrando-se de seus ressentimentos. Se soubéssemos que Jesus voltaria hoje, o que faríamos? Voltemos agora ao problema dos coríntios. Eles comiam e bebiam de maneira indigna, tratando a Santa Ceia como se fosse outra refeição qualquer (por ter ela uma ligação direta com o ágape). Eles não reverenciavam o seu Senhor nem reconheciam o corpo dEle no sacramento e na sua igreja humana. Mostravam-se, enfim, gulosos e egoístas. Seu comportamento nos choca bastan te. Mas não seriamos culpados dos mesmos pecados ou de coisa pior? Alimentando-nos gulosamente das bênçãos de Deus sem compartilhá-las com os que nunca ouviram o Evangelho, ou deixando de reconhecer como membros do Corpo de Cristo ir mãos de outras igrejas? Por todo o livro de 1 Coríntios, notamos o tema da união dos crentes com Cristo e com seus irmãos na igreja. No atual avivamento que o Espírito Santo está operando na Igreja, o Senhor está falando muito da união dos crentes nEle. Devemos manter esse tema sempre presente ao participar da Santa Ceia. O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 9 5 Podemos comer e beber dignamente se nos examinarmos, julgando-nos a nós mesmos e pedindo perdão. Assim, renovamos o nosso compromisso e entrega perante o Senhor e seu corpo aqui na terra. Naturalmente, com o perdão, vem a responsabilidade de consertar o que estiver errado em nossas vidas. O Senhor nos dará a graça necessária para assim fazermos. Deus castigou os coríntios porque não reconheceram nem valorizaram o seu corpo (vv. 30- 32). Aprendemos deles que é melhor nos examinarmos antes de participarmos da Santa Ceia! Em resumo, devemos salientar duas coisas no que diz respeito à nossa comunhão no pão e no vinho. Em primeiro lugar, não deixe de participar da Santa Ceia por se sentir indigno. Somos todos indignos. Paulo se refere a atitudes indignas, mas não dos crentes em si. Deus nos perdoa, lava e dá força espiritual se confessarmos a nossa necessidade e buscarmos a misericórdia dEle revelada no Calvário. Em segundo lugar, há, no sacrifício de Cristo, a provisão de cura para as nossas doenças. Receba essa bênção pela fé, ao participar da Santa Ceia, lembrando que “pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4,5). 8 Os Dons Espirituais, a União e o Amor I - I n t r o d u ç ã o Nos primeiros onze capítulos de 1 Coríntios, Paulo corrige erros de doutrina e prática cristã: partidarismo, imoralidade, es cândalo de crentes fracos e falta de reconhecimento do corpo de Cristo.No capítulo 7, estudamos a correção do comportamento dos coríntios na igreja, no tocante a véus, ágapes e Santa Ceia. Neste capítulo, continuamos o nosso estudo dos cultos de louvor, mas nesse caso, Paulo não está corrigindo fraquezas e falhas. Agora ele oferece ensinamentos construtivos para edificação da Igreja, voltando-se para um tema bem importante da epístola: A união do corpo de Cristo. Ao ensinar sobre os dons do Espírito no capítulo 12, Paulo mantém sempre presente a união da igreja, corpo de Cristo na terra. De fato, dedica metade do capítulo a uma comparação da Igreja com o corpo humano. Paulo explica como o Espírito Santo proporciona à igreja muitos dons espirituais para que, como num corpo físico, todos os membros passem a atuar e colaborar com os outros em benefício do organismo total. O corpo unido pode desempenhar o labor que Deus lhe destina. Mas a verdadeira união só enxerga por meio do amor. No capítulo 13, vemos que o indivíduo m esmo sendo 9 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios eloqüente, sábio e cheio de fé, sem amor, não é nada. Os dons espirituais devem ser motivados e empregados por meio do amor; do contrário, são apenas barulho sem valor. Graças a Deus. o Espírito veio para nos encher do mesmo amor que levou Jesus Cristo ao Calvário, e que o motivou através de toda sua vida. I I - F o n t e e P r o p ó s it o d o s D o n s ( 1 2 .1 - 1 1 ) Em 1 Coríntios 12.1, Paulo inicia o debate de um assunto novo, provavelmente sugerido pelos próprios coríntios. A sua epístola apresenta aqui uma nítida divisória. Nos primeiros onze capítulos, o ensino do apóstolo tem sido, acima de tudo, correti vo; mas nos capítulos 12-13 temos o ensino construtivo. Paulo dará logo a seguir, no capítulo 14, a base doutrinária para a correção de problemas na igreja. Compare 1 Coríntios 12.1 com 14.26-33. Por que Paulo diz que não quer que a igreja seja ignorante a respeito dos dons espirituais, se já possui tantos dons? Leia 1 Coríntios 12.4-7. Nesses versículos aprendemos que: 1. Um só Espírito (o Espírito Santo) concede diversos dons espirituais. 2. Cada crente cheio do Espírito recebe um ou mais dons espirituais. 3. O Espírito Santo distribui esses dons para que todos os crentes possam ser abençoados e a igreja edificada. Além de aprender os nomes dos dons, você verá como o Espírito os opera, através dos crentes, em benefício da igreja. Os coríntios se converteram do paganismo. Conheciam bem a ope ração dos demônios através dos sacerdotes dos ídolos que antes adoravam (12.2,3). M as agora, os crentes coríntios estavam cheios do Espírito Santo de Deus. Ele os fizera reconhecer a soberania de Jesus Cristo nas suas vidas. Qualquer poder sobrena tural que impulsionasse uma pessoa a falar contra Jesus não poderia ser o Espírito de Deus. Os Dons Espirituais, a União e o Amor 9 9 Um a pergunta: Quantas vezes se usa a palavra mesmo em 1 Coríntios 12.4-11 ? Veja também locuções como “um fim proveitoso” (12.7), “no mesmo Espírito” (12.9) e “um só e o m esmo Espírito” (12.11). Percebemos que um só Espírito opera todos esses dons num só corpo. Ele procura crentes consagrados, através dos quais possa agir, mas é o Espírito mesmo que resolve quais dons cada homem ou mulher receberá (12.11). Por isso, não importa quem recebeu qual dom ou quantos dons o indivíduo recebeu. Tudo aquilo que o Espírito Santo faz no tocante aos dons, visa o bem-estar e edificação de todos os crentes. Ninguém deve considerar o dom recebido superior ao de outrem, mesmo quando os resultados da operação de determinado dom pareçam mais evidentes, não nos compete o orgulho. O dom concedido não é merecido nem ganho. O propósito dos dons é glorificar a Deus (não àquele que manifesta o dom) e edificar a igreja. Nenhum crente faz concorrência aos seus irmãos na fé, no emprego dos dons espirituais. O Espírito Santo não pode fazer concorrência consigo mesmo! 1. Natureza dos dons espirituais D o n s Revelação Palavra de Sabedoria Palavra do conhecimepto Discernimento de espíritos Poder Fé Operação de milagres Dons de curar Fala Profecia Variedade de línguas Interpretação de línguas 10 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Vamos enumerar e descrever cada um desses dons em poucas palavras. Este trecho bíblico no capítulo 11 especifica nove dons do Espírito (embora haja outros). Eles podem ser subdivididos em três grupos de três dons cada. 2. Revelação motivada pelo Espírito Revelar significa “desvendar” ou “mostrar algo antes escondi do” . Nos três dons de revelação, o Espírito Santo esclarece certas coisas que o crente não seria capaz de saber de outra forma. 3. A Palavra de sabedoria U m a defin ição de sabedoria é “ bom ju íz o ” . Subentende-se com preensão ou intuição no tocante a problem as, possib ilida des ou opções em de term inadas c ircunstâncias. A sabedoria costum a basear-se na experiência , mas m uitos exem plos e prom essas na Bíblia nos m ostram que Deus dá ao seu povo um a sabedoria especial que ultrapassa a sua experiência. O es tudo da Palavra de Deus e a obediência a e la traz sabedoria, mas, às vezes, prec isam os de um a revelação especial do Se nhor — um a palavra de sabedoria relativa a de term inado pro b lem a ou oportunidade. A solução do problem a pode-se tornar evidente por meio da revelação dela a um dos crentes cheios do Espírito Santo. Esse dom de orien tação pode haver-nos gu iado em muitas ocasiões sem term os tido consciência dele. D am os graças a Deus pelo seu Espírito que nos guia fielmente! Leia Atos 6.1-8. Especifique o problema, a solução e os resultados. Você consegue perceber aqui a operação da palavra da sabedoria? Leia 15.1-20,27-29 e saliente o problema. Após muito debate, quem deu o seu parecer como solução? (v. 13). Qual o versículo que prova que foi o Espírito Santo que lhe deu essa palavra de sabedoria? (v. 28). Os Dons Espirituais, a União e o Amor 101 4. A palavra do conhecimento A palavra do conhecimento, bem como a da sabedoria, são dadas de forma sobrenatural em ocasiões específicas. Os dois dons são concedidos para ajudar os servos do Senhor na pregação ou ensino da Palavra e na edificação da igreja. Experimentamos esses dons, quando o Espírito Santo nos revela valiosas lições na Palavra de Deus, certas verdades que antes não tínhamos percebi do. Muitas vezes, o Espírito assim opera, enquanto uma pessoa está pregando ou ensinando. As verdades parecem jorrar no espí rito de quem fala e de quem ouve. Você já teve essa experiência? Outra manifestação mais espetacular (embora não mais sobre natural) do mesmo dom de sabedoria é a revelação de fatos desconhecidos. Com o foi que Pedro sabia que Ananias e Safira estavam mentindo (At 5.3-10)? Como sabia que haviam chegado três empregados de Cornélio em busca dele (At 10.17-21)? Como Ananias soube da conversão de Saulo (At 9.10-15)? O Espírito Santo deu a todos eles uma palavra de conhecimento, a revelação de um fato ou condição. Às vezes, presenciamos a manifestação desse dom em nossos dias, quando um evangelista ou pastor está orando pelos enfermos. Em tais circunstâncias, o Espírito Santo às vezes revela a doença de determinadas pessoas e infunde a fé necessária para clamar pela cura delas. 5. O discernimento de espíritos Esse dom constitui uma intuição especial numa determinada área, o reconhecimento e identificação do espírito presente e atuante em determinada situação. Sabemos que Deus manda seus anjos para proteger seus filhos, e que, às vezes, os crentes vêem esses mensagei ros divinos. Mas o dom do discernimento de espíritos funciona, principalmente, para nos alertar sobre atuação de demônios, para que não sejamos enganados por eles. Muitos enganadores no mundo de hoje imitam a obra do Espírito Santo, como se nota no espiritismo, umbanda e muitas outras seitas. Tais espíritos dão “revelações de 1 0 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios origem supostamente divina,mas são, de fato, satânica. O aumento dessa atividade diabólica é sinal dos últimos tempos, na véspera da vinda de Jesus (1 Tm 4.1; Mt 24.3-5,23,25). Devemos discernir e julgar os espíritos, aplicando os testes dados em 1 Coríntios 12.3 e 1 João 4.1-3. Algumas pessoas possu ídas por demônios se recusam a repetir o nome de Jesus. Outras gritam blasfêmias e maldições quando se lhes pede um louvor a Cristo. Outras vezes, essas pessoas ficam em transe e não conse guem falar. O dom do discernimento de espíritos nos indica se tal pessoa está agindo sob influência do Espírito Santo ou de algum espírito diabólico. O Espírito de Deus nos faz sentir e perceber fortemente o que nossa experiência humana é incapaz de saber. Esse dom se opera com relação à expulsão de demônios e a liberta ção das pessoas pelo poder do Espírito Santo (1 Jo 4.4; Mc 16.17). Devemos reconhecer duas coisas. Primeiro, o crente nascido de novo do Espírito de Deus não pode ser possuído pelos demônios. Segundo, é um engano atribuirmos toda doença aos demônios, e o rações que p resum em expu lsa r tais esp ír itos dos crentes freqüentemente são prejudiciais. Uma pessoa que profere uma mensagem de origem supostamente divina pode estar falando simplesmente das suas próprias convicções ou sentimentos pes soais. Esse indivíduo pode pensar seriamente que a mensagem vem de Deus, embora seja fruto do seu próprio espírito ou imagi nação. Por isso, devemos pesar cuidadosamente toda mensagem desse tipo (1 Co 14.29). 6. O poder motivado pelo Espírito Santo “ Há diversidade nas operações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos” (1 Co 12.6). A palavra energia vem das palavras gregas aqui traduzidas “operações” e “opera” . A energia é essencial a qualquer realização, pois relaciona-se com o poder e com a habilidade de trabalhar. Se num projeto de terraplanagem, uma máquina consegue fazer em duas horas o trabalho de vinte homens num dia inteiro, dizemos que essa máquina é poderosa. O Espírito Santo detém Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 3 um poder inconcebível, e quando opera os dons de fé, cura e milagres, as maiores montanhas são removidas (Mt 17.20; 21.21). E quando se operam os dons de poder, as coisas podem acontecer com espantosa nitidez! 7. O dom de fé Vejamos a diferença entre a fé geral e a especial, ambas dons de Deus. Precisamos ter fé para agradar a Deus e nos aproximar mos dEle (Hb 11.6). Somos salvos pela fé, curados pela fé e guardados pela fé (Ef 2.8; 1 Pe 1.5). Em Romanos 1.17, Paulo repete a declaração do profeta Habacuque (2.4): “Os justos vive rão pela fé” , tudo isso é fé geral, a confiança em Deus e em suas promessas. (O termo “fé salvífica” não seria impróprio). Mas há também o dom de fé especial para momentos de grande necessidade. Hebreus 1 I nos dá exemplos dos dois tipos de fé. É difícil separar os dois, mas creio que os versículos 23, 29 e 33-35 exemplificam a fé especial, outorgada em momentos específicos. Vemos a operação de tal fé com relação aos dons de cura e mila gres, como por exemplo, quando o coxo foi sarado em Atos 3.6-8. Vemos essa fé também na perfeita paz que Deus dá em circunstân cias espantosas ou ameaçadoras. Pedro, por exemplo, na véspera da sua execução planejada, estava tão cheio de fé que nem se preocu pava; simplesmente adormeceu (At 12.1 -11). E até nos nossos dias, muitas pessoas mencionam o fato de Deus ter lhes dado fé para enfrentar o desconhecido em obediência às suas ordens, mesmo quando lhes parecia impossível. Ao agirem de acordo com a fé que Deus lhes dera, todos os obstáculos foram removidos por Ele e todas as necessidades supridas. 8. Operações de milagres Quem acredita na Bíblia crê em milagres, pois sua própria existência constitui um milagre (a sua composição por tantos autores sob a inspiração do Espírito Santo, por exemplo). Desde Gênesis até Apocalipse são registrados muitos milagres. 1 0 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Um acontecimento maravilhoso que ultrapassa as leis da natu reza conhecidas por nós; o controle da natureza através de um poder sobrenatural. São intimamente relacionados aos dons de milagres, cura e fé. A fé é a base da cura e dos milagres. A cura instantânea de um paralítico em resposta à oração constitui um milagre recebido de Deus. O Senhor pode apressar os processos naturais, operando um milagre como a cura instantânea de ossos quebrados, processo que normalmente leva várias semanas. Alguns milagres constitu em uma demonstração do controle que Deus exerce sobre a natureza, como quando Jesus acalmou o mar e trouxe peixes para as redes (Lc 8.22-25; 5.1-11). Com o se opera esse dom? Com o os demais, através do Espíri to Santo, pois nenhum crente tem o poder de realizar milagres. O Espírito proporciona em nós a fé necessária para o milagre que precisamos, e então faz a obra. 9. Dons de curar Toda a raça humana precisa de algum tipo de cura. Talvez seja por isso que 1 Coríntios 12.9 fala de dons de curar, em vez de apenas um dom. O bom uso desses dons tem trazido muitas bênçãos às pessoas necessitadas, tanto nas igrejas como fora delas. Jesus continua curando os enfermos. Devemos lembrar os seguintes detalhes com relação à cura divina: 1. A cura divina não anula a médica, nem a cura médica anula a divina. Apesar de haver esses dois tipos de tratamento, há neste mundo uma multidão de doentes. 2. Um obreiro cristão pode ter um dom especial para a cura de pessoas com problemas visuais, ao passo que outro obreiro manifesta um dom especial para orar pelos surdos. Vemos que Deus reparte diversos dons de curar. Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 5 3. O crente que abençoa a outros pela operação desse dom não possui o poder de curar ninguém (At 3.12; 14.8-10,15). O Espírito Santo faz a obra. e Jesus Cristo é o supremo médico. A Ele, todo o louvor! Uns anos atrás, assisti em São Paulo um “culto de cura divina” ao que uma senhora trouxera sua filhinha surda de uns quatro anos de idade. Aquela noite presenciei a cura de muitas pessoas, entre as quais essa menina. A multidão estava bastante barulhenta e assistia entusiasmada às grandes curas ocorridas. O repentino ruído, nunca antes ouvido por ela, espantou de tal maneira a pequena que ela agarrou o pescoço de sua mãe. O medo que vi retratado em seu rosto foi o mais eloqüente da sua cura pela operação desse dom. Emparelhe cada locução à esquerda com o dom (os dons) correspondente(s) à direita: ... a. Dinheiro suprido para a obra de Deus ...b. Freqüentemente relacionado com a Natureza ... c. Base para os outros dois ... d. Dado para o ministério aos enfermos ... e. Dado pelo Espírito de Deus ... f. Para o bem-estar da igreja 10. Fala motivada pelo Espírito Estudaremos esses três dons logo a seguir, na lição 9, mas como formarão parte do projeto ao final da presente lição, devem ser definidos aqui mesmo: 1. Profecia — O Espírito Santo capacita o crente a dizer palavras inspiradas que expressam aos ouvintes a m ensa gem de Deus. 1. O dom da fé 2. O dom de operação de milagres 3. Dons de curar 4. Todos os três acima. / 0 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 2. Línguas — A habilidade de falar uma língua que o próprio falante não entende, para fins de louvor, oração ou trans missão de uma mensagem divina. 3. Interpretação de Línguas — A habilidade de interpretar 110 próprio vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas. 11. Distribuição dos dons Vamos examinar novamente 1 Coríntios 12.7 e II . Esses dois versículos nos mostram que cada crente cheio do Espírito Santo recebe um ou mais dons, e que é o Espírito Santo quem escolhe aquilo que cada cristão deve receber. Infelizmente, muitos crentes não utilizam os seus dons. Alguns nem sabem que existem os dons em 12.27-31. Os oito mencionados no fim do capítulo diferem dos enumerados em 12.8-10, sendo “ socorros” e "gover nos” acrescentados à segunda lista. Observe que há cinco listas apresentadasno início deste trecho. Umas listas enumeram os dons em si. e outras, as pessoas que ministram o dom. O apóstolo tem os dons apostólicos, o mestre o do ensino e o profeta o da profecia. Lemos em Efésios 4 . 1 -13 acerca de cinco dons de ministério. Jesus “concedeu dons aos homens” (4.8), e Ele concede os próprios ministros com os respectivos dons como dádiva à igreja (4 .11). Mas os dons espirituais são distribuídos por todo o corpo, conforme a necessidade percebida pelo Espírito Santo. Ele é quem opera todos esses dons por meio de nós. Não é certo, pois, dizer que algum ministro “cura os enfermos” ; é o Espírito Santo quem cura através do dom operado. Quantos dons você consegue identif icarem Romanos 12.4-8? Pessoalmente, creio que o Novo Testamento fala de vinte dons em três epístolas de Paulo. A chave para todos eles se encontra em 1 Coríntios 12.4-6. onde Paulo menciona diversos dons (12.4), serviços (12.5) e realizações (12.6). Creio que esses três grupos abrangem os vinte dons outorgados à Igreja, sejam esses de ministros (Ef 4), de serviço, de poder, ou os dons chamados às vezes de graças (de revelação e fala). Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 7 Diversidade: Dons Espirituais, Serviços, Realizações Estude cuidadosamente o quadro na página a seguir. Quais dons o Espírito Santo está operando em você? Quais você mais precisa? Fale com Deus acerca disso. Quando Deus cham a alguém para um serviço ou ministério especial, capacita essa pessoa para seu labor, ou torgando-lhe os dons necessários. As operações de 1 C oríntios 12.6 u ltra passam qualquer serviço com um ; são realizações do próprio Deus. Todos os dons são conced idos para uso da igreja e devem os “procurá-los arden tem ente” (1 Co 12.31). Não é ques tão de escolherm os um dom com o esco lheríam os um a roupa. O texto diz: “ Mas um só e o m esm o espírito opera todas essas coisas, repartindo part icu la rm ente a cada um com o que r” ( 12.11). Deus está mandando uma renovação espiritual para muitas igrejas em nossos dias, batizando muitos crentes com o Espírito Santo e manifestando os dons do Espírito. Alguns chamam esse avivamento de “renovação carismática”. A palavra charisma, em grego, significa “dom”, algo outorgado pela graça de Deus. Por isso. poderíamos até chamar os dons espirituais de “graças divinas”. Veja o quadro anterior, em preparo para o seu projeto, notando os dons que são m encionados repetidas vezes. A lguns dons são tam bém cham ados graças; esse grupo está subdiv id i do em dons de fala e de revelação. A profecia tam bém é dom de fala. Os dons de m inistério e alguns dos dons de serviço parecem ter caráter perm anente (Rm 1 ! .29), enquanto os d e mais se m anifestam conform e a ocasião e a fé do crente (Rm 12.6). Não devem os, porém , considerá-los necessariam ente provisórios. Se Deus usa várias vezes crentes específicos para abençoar a igreja pelo uso de determ inado dom, podem os dizer que, num certo sentido, aquele crente “ tem " o dom. Mas seria errado acharm os que “possu i” dete rm inado dom. O certo é que use o dom. 1 0 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 11.2. Dons para a Igreja 1 C oríntios 12.4-6 E fésios 4.11 1 C oríntios 12.8-10 1 C oríntios 12.28; 13.3 1 C oríntios 12.1-40 R omanos 12.6-8 Dons de 1 A póstolos A póstolos M inistério 2 profetas Profecia* Profetas* Profecia* Profecia* 3 Evangelistas 4 Pastores 5 Mestres Graças 6 Línguas Línguas Línguas Dons de 7 Interpretação Interpretação Interpretação Fala 8 Cântico (Salm o) Dons de 9 Revelação Revelação 10 Palavra de Conhecimento Conhecimento sabedoria 11 Palavra de conhecim ento 12 Discernimento de espíritos Reali- 13 Fé Fé zações 14 Milagres Milagres Dons de 15 Cura Cura Poder Serviços 16 Socorros Serviço Dons de (M inistério) Serviço 17 Governos Governo 18 (contribuição) (Liderança) Distribuição Distribuição de bens de bens 19 Exortação Exortação 20 M isericórdia * A p ro fec ia é um d om de fa la , m as aqui é en u m erad o ju n to c o m o s profetas. Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 9 II - A U n id a d e n a D iv e r s id a d e (vv. 12-27) 1. A Igreja — corpo de Cristo Muitos membros integrando o corpo. Um cabeça governando o corpo — Cristo. O Espírito infunde vida e poder ao corpo. Os membros têm diversas funções. Importa o trabalho de cada membro. A cabeça pensa pelo corpo inteiro. A cabeça manda poder aos membros. A cabeça dirige os membros. Os membros colaboram entre si. Os membros cuidam uns dos outros. Proporciona-nos 1 Coríntios 12.12-27 um lindo quadro do funcionamento ideal da Igreja universal como um grande corpo unido. O Espírito Santo infunde-lhe a vida que dá a cada membro a energia e habilidade necessárias para realizar a sua função especial em benefício de todos. 1.1. Um corpo — muitos membros Todo crente se integra no corpo de Cristo por meio da obra do Espírito Santo, como nos lembra o versículo 13. A repetição torna esse versículo um dos mais poderosos da Bíblia: “todos... quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres...” A Igreja Invisí vel e universal ultrapassa qualquer limite de raça, camada social, filiação religiosa etc. Difere da Igreja visível, composta daqueles que são cristãos nominais ou somente assistem aos cultos esporadi camente. A Igreja contém todos os autênticos crentes em Cristo. Ao se arrepender do seu pecado e confiar em Jesus, o indiví duo é batizado no “corpo-igreja” de Cristo pelo Espírito Santo (At 4.12). Filiar-se a uma igreja só pelo batismo nas águas não é tudo. A locução “em um só Espírito, todos nós fomos batizados 1 1 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios em um corpo”, compara nossa conversão espiritual com o batis mo nas águas. O ministro nos "enterra" nas águas, no nosso batismo (Rm 6.3,4). e o Espírito nos submerge em Cristo. Nessa união com Cristo, morremos para o pecado e iniciamos uma nova vida e relacionamento com Ele (veja também Gálatas 3.26-29). A ênfase principal desse versículo, porém, não é a palavra batizado, e sim corpo. Tem a ver com nossa união no corpo de Cristo. Essa união não implica em sermos todos iguais nem ope rarmos os mesmos dons. Veja a ênfase na diversidade em 1 Coríntios 12.12.14, onde Paulo repete três vezes as palavras muitos membros. Cada congregação e igreja local têm os seus costumes típicos que a maioria dos membros segue e que podem diferir bastante dos costumes de outras igrejas e congregações, mas formam parte do corpo de Cristo. Devemos ajudar-nos mutuamente, pois somos um só corpo (Ef 4.4,5). 1.2. Unia obra — muitos obreiros Em 1 Coríntios 12.14-27. Paulo salienta a importância de cada membro para o bem-estar total do corpo. O corpo huma no contém quinhentos músculos, duzentos ossos, a mais forte bomba do mundo (o coração) e milhões de células. Cada um deles é importante. Esse maravilhoso organismo constitui a casa onde habita o espírito humano. E nós, milhões de mem bros, formamos o grande Templo de Deus, santuário do Espí rito Santo. Ele opera a nossa conversão, guia-nos numa nova dimensão de poder espiritual no batismo com o Espírito Santo e nos infunde energia constante para o nosso funcionamento no corpo de Cristo. Todas as nossas variadas funções se enca minham no sentido de fazer o corpo crescer e ficar mais robus to, fortalecendo seus membros e desempenhando o papel des tinado por Deus para sua Igreja no mundo. Deus quer usar todos os crentes, todas as congregações e igrejas em todas as Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 1 1 nações do mundo para completar a sua obra. Você é membro deste maravilhoso corpo e Deus quer usá-lo! Paulo encerra esse capítulo sobre os dons e a união do corpo com duas importantes declarações (v. 31). Assim temos uma ponte de ligação entre os capítulos 12 e 13, que resume o primeiro e introduz o segundo. Devemos desejar ardentemente os melho res dons (isto é, os mais úteis para nosso ministérioou para a situação que enfrentamos). Mas ainda existe um caminho mais excelente, no qual o Espírito Santo ministra por meio da igreja. IV - O M a io r D o m — o A m o r (13.1-13) 1. Amor - o caminho mais excelente Revelação da natureza de Deus e do poder dEle em nossas vidas. Dado a todos Sempre ativo Permanente, eterno Força unificadora Motivo e base para uso dos dons Essencial na vida cristã Molda a vida do crente Edifica a Igreja Alguns dons são temporários, outorgados em resposta a uma necessidade bem específica em determinado momento. O amor, porém, deve ser constante na vida do cristão. Os dons que acaba mos de estudar são repartidos entre os membros do corpo, mas o amor é recebido por todos eles. Uma pessoa sem amor não é um autêntico cristão (1 Jo 4.8). Sem o amor, a sociedade humana se despedaçaria; o amor unifica tudo. Era justamente disso que os coríntios precisavam. Seu partidarismo e rivalidade no uso dos dons espirituais foram 1 1 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios resultado de uma falta de amor. Os coríntios tinham muitos dons espirituais, mas parece que esses estavam causando orgulho, in veja e desordem. O amor os uniria. Os comentários de Paulo foram provocados pela situação em Corinto, mas são válidos para todo o mundo em qualquer época. Todos os milhões de membros do corpo de Cristo, cada um com seu dom ou talento, devem colaborar com o Mestre na edificação da sua igreja (Mt 16.18). Fazemos isso, servindo os nossos irmãos em Cristo e deixando transbordar o nosso amor àqueles que se encontram fora da igreja. Quando isso acontecer, as nossas igrejas crescerão de forma numérica e espiritual. 2 - O amor é forte A mor Não é É Ressentido Paciente Brutal Bondoso Egoísta Orgulhoso Não Sempre Guarda rancor Confia Se compraz no mal Espera Inveja Persevera Se vangloria Se alegra na verdade Fracassa Protege Permanece Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 1 3 Leia 1 Coríntios 13.1-8,13 em voz alta, bem lentamente. As palavras são muito poéticas. Costumamos pensar no amor como sendo algo espiritual, belo e lírico, e realmente é assim. Mas também é forte. Precisa-se de força para ser paciente, bondoso, abnegado, controlado no gênio e também para esque cer ressentimentos, pensar nos outros e proteger os necessita dos. Tais virtudes não vêm facilmente, mesmo na vida dos crentes. Nossa esperança se funda no Senhor, que “derrama seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado” (Rm 5.5). 3. O amor é eterno Deus é amor e eterno. Por isso o amor é eterno e não acaba. A profecia (um dos mais importantes dons), as línguas e a palavra do conhecimento acabarão algum dia. Isso não signifi ca que fracassarão em sua função na Igreja, mas que simples mente não serão mais necessárias. Nosso conhecimento é par cial e incompleto. A profecia, por mais valiosa que seja, não pode solucionar todos os nossos problemas. Aprendemos acer ca de Deus por meio desses dons do Espírito e o louvamos através das línguas e com a profecia. Mas “quando vier o que é perfeito” , “conheceremos perfeitamente” sem mais precisar mos do apoio desses dons. Para bem entendermos isso, devemos relacionar os versículos 10 e 12. Deus nos conhece plenamente agora; sabe tudo a nosso respeito (Jo 2.24,25). Um dia, conheceremos plenamente a Deus como Ele nos conhece agora. Não precisaremos mais dos dons espirituais para nos aproximarmos de Deus. Paulo utiliza duas ilustrações para contrastar nossa era presen te e imperfeita com a perfeição da era futura. Possuímos agora uma pequena parcela de conhecimento, como se fôssemos crian ças. Na era vindoura, saberemos entender tudo aquilo que nos confunde agora. Também conheceremos uns aos outros mais plenamente. Não será mais como quem olha através de um vidro 1 1 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios esfumaçado ou se contempla num espelho sujo. Aperfeiçoados no amor. não teremos mais mal-entendidos. Mesmo com a Bíblia, a Igreja e os dons espirituais, o nosso conhecimento é imperfeito, incompleto. Mas conseguimos per ceber a grandeza do amor de Deus em preparar-nos um lar eterno, onde seremos conhecidos e conheceremos plenamente (Jo 14.1-3). Ali será restaurada a comunhão que fora interrom pida no Éden (Ap 22.4,5). Muito daquilo que nos importa agora passará, mas permanecerão a fé, a esperança e o amor. “ E o maior de todos é o amor”. 9 Os Dons Espirituais na Adoração Cristã I - I n t r o d u ç ã o Que tipo de cultos Deus prefere na igreja? Ele gosta da repetição silenciosa e reverente de uma oração memorizada ou de palmas como expressão de louvor? Qual é o modo correto de adorar? Os tipos de adoração variam muito de país para país, de denominação para denominação e de igreja para igre ja. Alguns cultos são extremamente formais, tudo segue um padrão estabelecido. Outros, muito informais, quase chegam ao ponto de confusão. São ambos os tipos aceitáveis a Deus? Creio que são, contanto que os adoradores se aproximem de Deus mediante Jesus Cristo e não misturem práticas antibíblicas com princípios cristãos. Nos capítulos 12 e 13 da primeira carta aos Coríntios, Paulo esteve lhes falando sobre a obra do Espírito Santo na igreja. Seus dons, operando no amor dado por Deus, edificam a igreja. Muitas partes do corpo, cada qual com sua própria função concedida pelo Espírito, cooperam para o bem de todas. O amor é essencial para os dons espirituais alcançarem seu propósito. Havendo demons trado isso à igreja de Corinto. Paulo aplica-o ao uso que os crentes 11 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios faziam dos dons. O capítulo 14 lida com equilíbrio e ordem na operação dos dons nos cultos. É para nós hoje um capítulo muito importante. No começo da carta de Paulo (1.7), vimos que a igreja de Corinto não tinha “falta de nenhum dom espiritual". Contudo, parece que estava dando maior importância ao falar em línguas, usando-o de um modo impróprio, que aos demais dons. Ela necessitava de ensino sobre como conduzir seus cultos de adora ção, a fim de ser edificada. II - F a l a r em L íng uas (1 4 .1 -2 5 ) As passagens das Escrituras acima mencionadas mostram-nos que o falar em línguas é uma manifestação do Espírito Santo como evidência de seu poder, operando no crente e por intermé dio dele. “E passaram a falar em outras línguas, segundo o Espí rito lhes concedia que falassem” (Atos 2.4). A isso se dá, muitas vezes, o nome de glossolalia, derivada da palavra grega glossa “língua, linguagem” e lalia “fala”. Podemos definir glossolalia como “a prática de falar ou cantar pela concessão ou capacitação do Espírito Santo, em palavras cujo significado o orador desco nhece”. A frase falar em línguas (ou seu equivalente) ocorre cerca de vinte vezes no Novo Testamento. Ela se refere sempre a uma língua (idioma) desconhecida daquele que fala. Nas refe rências a ela em Atos e 1 Coríntios, vemos que o falar em línguas era comum e divulgado na Igreja Primitiva. Existe hoje milhões de crentes, em diferentes denominações, que têm essa experiência. Na renovação espiritual que a igreja experi mentou no século XX, vemos que o Espírito usa as línguas de diversos modos, exatamente como fez na Igreja Primitiva. Estude-as no mapa. Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 1 7 D e u s F a l a r e m L ínguas 0 Espírito Santo 1 Coríntios 14 1 Coríntios 14 falando através Falarei a este do espírito Orar v. 15 povo v. 21 humano Falar com Deus v. 21 Sinal para Falar mistérios v. 2 os incrédulos v. 22 Louvando a Sinal prometido Marcos 16 Deus v. 16 Para os crentes v. 17 Dando graças v. 16 Cantando v. 15 Confirmado a Palavra v. 19 Edifica a si mesmo v. 4 Entendido por alguns Pode calar-se v. 28 estrangeiros Atos 2.4-12 Principalmente em particular vv. 18-20 Dá testemunho de Deus v. 11 Evidência de “Não proibais falar línguas” batismo no Espírito v. 4 1 Coríntios 14.39 Visto como evidência 10.44-47 Experiência normal 19.1-7 Interpretação 1 Coríntios 14 Orarpara que haja v. 13 Edifica a igreja v. 5 Normal no culto v. 16 Fortalece v. 26 Leia as Escrituras à medida que você estuda o mapa acima. Um crente que fala em línguas declara as grandezas de Deus (At 2.11). fala com Deus, fala em mistérios com seu espírito e edifica-se a si mesmo (1 Co 14.2,4). Não admira que Paulo exorte os coríntios: “Não proibais falar línguas” (14.39). 1 1 8 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios III - O rar em L íng uas (14.2,14-18; Rm 8.26,27) O movimento carismático tem trazido bênçãos à igreja pela ênfase dada ao orar em línguas. Orar é falar com Deus. Mas. às vezes, nossas palavras parecem pobres e fracas demais para ex pressar o que sentimos. Então, o Espírito Santo nos ajuda a orar mais livremente numa “ língua de oração”. Nela. nosso espírito tala diretamente com Deus, sem ter de andar à cata das palavras certas em nossa mente (I Co 14.2.14). Isso pode ocorrer no louvor a Deus, ou no “dar bem as graças” ( 14 . 16,1 7). Ou pode ser despejando uma carga ou problema, cujo peso faz nosso espírito vergar, uma aflição que necessitamos entregar para Deus, uma tristeza pela perda de um ente amado. “Mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Outro grande valor de permitir que o Espírito ore por nosso intermédio, é que ele sabe o que pedir quando não sabemos. E assim, com Ele oramos em línguas. A oração pode ser por nossas próprias necessidades, ou em oração a favor de outros. Muitas vezes, o Espírito pode provocar em nossa mente a impressão de que determinada pessoa necessita de oração. Mas você não sabe que necessidade é essa. Você pode “orar com a mente” em sua própria língua e deve assim fazer, mas pode permitir que o Espí rito Santo interceda por seu intermédio em outras línguas. “E aquEle que examina os corações sabe qual é a intenção do Espíri to; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos” (Rm 8.27). Podemos orar tanto na igreja como em nosso lar. ou onde quer que estejamos. Paulo nos faz saber que nos cultos públicos deve mos orar na língua que todos entendem quando dirigimos a ora ção. Desse modo, eles podem concordar naquilo que pedimos. Eles se juntam em nossa ação de graças dizendo “Amém”, que significa "assim seja. verdadeiramente, deveras” (1 Co 14.16). Mas em particular, ou às vezes, quando todos oram ao mesmo tempo, podemos orar em línguas ou cantar em línguas (14.15). Na igreja, parece que Paulo orava na língua do povo. Mas, em parti cular, falava em línguas mais do que todos os coríntios e dava graças a Deus por isso! (14.18.19). Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 1 9 Uma vez que o falar em línguas nos é concedido como um instrumento para ajudar-nos a orar mais efetivamente, não deveria o crente usar continuamente esse instrumento em sua vida íntima de oração? Milhões podem testificar de uma maior alegria em comungar com Deus, de um sentido mais profundo de sua presença, quando deixam que o Espírito os ajude a orar. Dessa maneira são fortalecidos e edificados espiritualmente (14.4). A primeira vez que encontramos um relato de alguém falando em línguas é no Dia de Pentecostes. A experiência dos 120 crentes registrada em Atos 2 era o cumprimento da profecia de João Batista, de que Jesus batizaria “com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). O próprio Jesus prometeu-lhes pouco antes de sua ascensão: “Mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois desses dias” (At 1.5). Dez dias após a sua ascensão, a promessa foi cumprida. Muitos sinais sobrenaturais acompanharam a vinda do Espírito Santo: O som como de um vento impetuoso encheu toda a casa, o que parecia ser fogo, que se dividia em línguas que desceram e pousaram sobre cada um deles, e todos falavam em línguas à medida que o Espírito os enchia e lhes concedia que falassem (At 2.1-4). Outros haviam ficado cheios do Espírito no Antigo Testamento. Deus havia manifestado antes a sua presença em vento e fogo. Contudo, falar em línguas era algo novo, um sinal de que o Cristo ressurreto havia prometido (Mc 16.17), e evidência de que Ele havia cum prido sua promessa. Dois outros relatos de pessoas que foram cheias do Espírito Santo, mencionam somente um dos sinais sobrenaturais que acom panharam o derramamento do Espírito no Dia de Pentecostes. Não vemos repetição alguma do vento e do fogo, mas uma evi dência contínua — falar em línguas. Com efeito, foi isso que convenceu Pedro e os demais crentes judeus de que Deus havia derramado seu Espírito sobre os gentios na casa de Comélio. "Pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus” (Atos 10.44-47). 1 2 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Esperava-se que os crentes ficassem cheios do Espírito Santo depois de aceitarem a Cristo. Se não haviam recebido, faziam-se orações especiais por eles. Quando os apóstolos impuseram as mãos sobre eles, os novos convertidos ficaram cheios do Espírito Santo (Atos 8.14-17; 19.1 -7). O registro referente aos samaritanos não menciona o falar em línguas, mas supomos que essa foi a evidência que levou Simão, o mágico ou feiticeiro, a oferecer- lhes dinheiro para adquirir o poder que os apóstolos tinham. Somos informados de que em Éfeso os homens que recebiam o Espírito Santo falavam em línguas e profetizavam. Portanto, segundo o padrão do Novo Testamento, podemos chamar o falar em línguas de evidência inicial física de que uma pessoa foi batizada no Espirito Santo. Outros sinais acompanham a vida e ministério da pessoa. Embora o uso principal de falar em línguas seja a oração (1 Co 14.2), constitui-se também um sinal. Jesus prometeu: "Estes si nais hão de acompanhar aqueles que crerem: em meu nome... talarão novas línguas (um dos diversos sinais mencionados). Depois do Pentecostes, os discípulos "tendo partido, pregaram em todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com sinais que seguiam” (Mc 16.17-18, 20). Falar ou cantar em línguas é uma evidência de poder sobrena tural. mesmo que a língua não seja entendida. Para o crente, significa também a presença do Espírito Santo dentro dele. É também um sinal para convencer o incrédulo (1 Co 14.22). No Dia de Pentecostes, foi muitíssimo convincente. Os idiomas fala dos eram entendidos por pessoas oriundas de 14 áreas diferentes de linguagem (At 2.9-11), ou seja, essas pessoas ouviram os crentes declarando “as grandezas de Deus". Quando Pedro expli cou o que havia acontecido, os estrangeiros foram convencidos e aceitaram a Jesus como seu Messias. Temos muitos exemplos maravilhosos de casos semelhantes em nossos tempos. Línguas como um sinal: I . Para aquele que fala. um sinal da presença do Espírito nele. Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 121 2. Para o incrédulo, um sinal do poder sobrenatural, mesmo que não seja entendido. 3. Quando entendido, uma confirmação da Palavra para os crentes e para os incrédulos. I V - L ín g u a s c o m I n t e r p r e t a ç ã o (14.6-19) Em todas argumentações de Paulo nesse capítulo acerca da utilidade das línguas num culto da Igreja, encontramos um princí- pio-chave: Para edificar a Igreja, aquilo que é falado em línguas deve ser interpretado (14.5). Os dons de línguas e de interpretação andam juntos (14.26). Aquele que fala em línguas deve orar para que possa interpretar (14.13). Se nenhum dos presentes tem o dom de interpretação, deve manter-se calado e orar em silêncio. As frases “a não ser que”, no versículo 5, apresenta-nos o que acontece quando a mensagem vinda de Deus é dada em línguas e interpretada. A igreja é edificada não só pelas línguas, mas tam bém pela interpretação. Assim, como determinados toques de trombeta assinalavam instruções para o exército, também a inter pretação deixaria clara a mensagem de Deus para o seu povo (14.6-9). Essa pode ser “de revelação, de ciência, profecia ou doutrina”(14.6). Muitas vezes, há uma superposição nos dons do Espírito, isto é, o Espírito, amiúde, opera-os ao mesmo tempo.Palavras de sabedoria, conhecimento, doutrina e revelação podem ser dadas na profecia, interpretação ou ensino. A interpretação pode ser um derramamento de passagens bíblicas, oração ou louvor inspirados pelo Espírito, que leva toda congregação a uma adoração unida e sincera (14.14-17). A experiência dos nossos dias mostra que as línguas, com interpretação, edificam a igreja. Anna Stafshorf, missionária norte-americana na Libéria, Áfri ca, ficou espantada um dia, ao ouvir uma humilde e acanhada mulherzinha liberiana dar uma poderosa mensagem em línguas. Ana entendeu-a porque era em norueguês, o idioma de seus pais. A seguir, um homem da tribo, que não conhecia bem a língua 1 2 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios inglesa, deu a interpretação em inglês fluente. Depois, outro homem deu a interpretação na língua boroba falada pelo povo. As duas interpretações concordavam perfeitamente com a mensagem dada por meio da mulherzinha que não sabia nada de norueguês. A mensagem estava repleta de longas passagens citadas de dife rentes Salmos — palavra de consolo especial para missionária e de benção para todos! Hoje, como no tempo de Paulo, as línguas sem interpretação abençoam o orador quando ele fala a Deus (14.2). A interpretação traz benção à igreja. V - O d om d e P r o f e c i a (14.1-33) A profecia é um dos grandes temas, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. As palavras profeta e profecia ocorrem cente nas de vezes na Bíblia. A ordem para desejar especialmente o dom da profecia (14.1) mostra que ela é de grande valor. Definição da Profecia Uma mensagem de Deus entregue ao povo. pela iluminação do Espírito Santo e em seu poder. Serve para proclamar, predizer ou ambos. 1. Natureza e propósito da profecia A profecia é importante em virtude do que realiza. Ao lado das funções dadas aqui, ela às vezes instrui, adverte e chama ao arrependimento, à ação, e ao viver santo. Deus a usa para conven cer os pecadores e para edificar a igreja. P r o fec ia É Proclamar Predizer Faz Fortalece Incentiva Consola Edifica Convence Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 2 3 A profecia pode vir em diferentes formas. Uma mensagem pode ser transmitida repentinamente na igreja sem nenhum pen samento anterior a respeito. Esse parece ser o tipo mencionado por Paulo em 14.26-33. No Antigo Testamento, vemos que, às vezes, Deus concedeu a mensagem ao profeta e enviou-o a entregá- la (Jr 2.1,2; 22.1-5). Algumas das profecias foram escritas, para que pudessem ser levadas ao povo, aonde o profeta não iria (Jr 36). Assistimos à variedade semelhante no dom profético hoje. O Espírito, muita vezes, derrama na mente de um pregador as idéias principais de uma mensagem, enquanto ele está estudando e orando sobre o que Deus deseja que diga. Então, quando estiver pregando, o Espírito Santo pode dar-lhe as próprias palavras para expressar a mensagem de Deus ao povo. A mensagem pode simplesmente fluir, surpreendendo até o pregador com belos e novos pensamentos. Ela pode ser transmitida com maior autori dade, dando energia ao crente e causando espanto ao pecador. Pode ser proferida tranqüilamente em palavras, inspirada pelo Espírito para edificar e consolar. Como ocorre com alguns dos outros dons, às vezes é possível que nem mesmo reconheçamos que o dom de profecia está ope rando. Certamente, nem toda pregação é profecia e nem toda profecia está na pregação. As vezes, depois que alguém falou em línguas num culto, a mensagem que vem na língua dos ouvintes pode ser uma mensagem profética, em vez da interpretação da quilo que foi dito em línguas. Nesse caso, a duração, a ênfase e a expressão no que é proferido não seriam necessariamente as mesmas. A finalidade fundamental da profecia e dos demais dons é edificar a igreja. Nada causa mais deleite a um verdadeiro cristão, que ver sua igreja ou denominação crescer numérica e espiritualmente. Dezenas de livros foram escritos em anos recentes acerca do crescimento da igreja. Jesus prometeu edificar a sua Igreja e planeja usar-nos para ajudarmos a fazê-lo. Devemos pregar o Evangelho no poder do Espírito Santo. A ênfase de 1 Coríntios 14 é sobre a edificação da Igreja, mediante o uso dos dons espirituais. O capítulo mal menciona 12 4 Comentário Bíblico: I c 2 Coríntios os inconversos (se um incrédulo entrar). Tomando o capítulo como um todo. há uma forte implicação de que quando a igreja é edificada espiritualmente, mediante o uso apropriado dos dons. as conversões virão como resultado natural. A medida que nos rendemos à direção e aos incitamentos do Espírito, seremos usados por ele no cumpri mento da Grande Comissão. O fato central acerca da profecia é que ela deve ser aquilo que Deus deseja que falemos, a palavra que ele põe em nossa boca. Leia a experiência de Jeremias (1.4-9.17). Também somos nome ados para falar, pregar, ensinar ou escrever a mensagem de Deus para o povo de nosso tempo — ser testemunhas do Pai àqueles que estão ao redor de nós. Portanto, devemos procurar “com zelo” os melhores dons para o nosso ministério. 2. Raio de ação da profecia De Enoque a João, na ilha de Patmos, do Gênesis ao Apocalipse, vemos homens de Deus recebendo suas mensagens e proclamando-as ao povo. Por toda a Bíblia temos exemplos de predição e de proclamação. Nesse ministério. Deus tem usado tanto mulheres quanto homens. Algumas pessoas pensam que os dons do Espírito foram so mente para o tempo dos apóstolos. Que pensa você? Todos os dons. e especialmente o de profecia, destinam-se ao fortalecimen to e edificação da Igreja. Dizer que se destinavam apenas à Igreja Primitiva é supor que a igreja não mais necessita de fortalecimen to! As presentes condições da igreja e do mundo convencem-nos de que necessitamos do poder do Espírito e de seus dons agora mais do que nunca! Além do mais, ao falar dos dons de profecia, de línguas e de ciência. Paulo disse: “Mas quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado" (1 Co 13.9.10). Porém, a perfeição ainda não chegou! (1 Jo 3.2). Quem pode profetizar? Tanto mulheres quanto homens, ju deus e gentios, senhores e servos (At 2.17,18) — conforme o Espírito escolhe (1 Co 12.11). Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 12 5 Há contudo, algumas limitações ao uso do dom de profecia. Paulo recomenda que se limite a duas ou três mensagens em profecia num culto (1 Co 14.29). O que é dito não está no mesmo nível de inspiração das Escrituras, porque existe a possi bilidade de aquele que fala injetar algumas de suas idéias, pen sando que são de Deus. Por esse motivo, os ouvintes devem “julgar” cuidadosamente o que é dito ( 14.29). Se não estiver de acordo com as Escrituras, a mensagem não deve ser recebida como vinda de Deus. Muita confusão tem sido gerada em algumas congregações que tem usado a profecia ou a interpretação para governar a igreja ou dirigir vidas pessoais; tal como dizer a alguém aonde ir ou com quem se casar. Essa não é a função da profecia. Algumas têm escolhido diáconos ou se livrado de pastores na base de “profe cias” . Para esses assuntos, temos o padrão do Novo Testamento das reuniões de negócios, de eleições e do dom de administração. Deus conduz as pessoas individualmente em suas vidas privadas e na escolha do cônjuge. A profecia é um excelente dom, mas deve ser apropriadamente usada. V I - O r dem na A d o r a ç ã o ( 1 4 .2 0 -3 9 ) 1. Na participação com os dons Paulo estava apelando para o equilíbrio no uso dos dons espirituais. Infelizmente, faltava essa qualidade na igreja de Corinto. O mesmo espírito de egoísmo, que incitava os membros mais ricos a comerem demais numa festividade de amor enquanto outros saíam com fome, estava operando nos cultos de adoração. Alguns pareciam mais interessados na benção pessoal que rece beram a de falar em línguas, em lugar da profecia, que era melhor Para a igreja. Talvez falassem todos em línguas ao mesmo tempo (14.23.27). Muitos podem terestado profetizando ao mesmo tem- Po. gerando grande confusão (14.29-31). Alguns podem ter ocu- Pado todo o tempo sem dar aos outros a oportunidade de falar ^aquilo que Deus lhes mostrou (14.30). 126 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 2. Ordem na adoração Não em maneira infantil de pensar v. 29 Todos participam por sua vez vv. 26-31 Variedade e equilíbrio nos dons v. 26 Todos para edificação da igreja v. 26 Ordem na operação v. 27 Cortesia, permitindo que outros falem v. 30 Julgando cuidadosamente a mensagem v. 29 Sujeitos a controle v. 32 O versículo 12 é um versículo-chave. Aqueles que “desejam dons espirituais” são exortados a “procurar progredir, para a edificação da igreja” . Dentre os dons que Paulo arrola em 14.26, encontramos dois que não são mencionados nos outros capítulos: revelação e salmo. Uma revelação podia ser profecia ou ciência, mas Paulo menciona todos em 14.6. Vemos na Bíblia que Deus concedeu revelações em sonhos, visões e por anjos. Hoje. Ele ainda utiliza esses meios exatamente como Joel profetizou (At 2.17). Compartilhar tais experiências abençoa a igreja. Contudo, nem todos os sonhos vêm do Senhor! A maioria deles não são dados por Deus. Somente aqueles que são verdadeira revelação deveriam ser contados à Igreja. 3. Como edificar a igreja? ...■■■■■........................................... ■— ..... ■■■.... . ............ Um Salmo Uma palavra de doutrina Uma revelação (palavra de ciência), 12.8 Uma língua Uma interpretação Um Salmo ou hino é um cântico de louvor a Deus ou um cântico de júbilo a respeito dele. Os cânticos ungidos pelo Espíri Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 2 7 to. o cantar e tocar instrumentos têm sido uma parte importante da adoração há milhares de anos. Muitos salmos são hinos. Hoje. muitas pessoas podem dizer como Davi a respeito do Senhor: “E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor a nosso Deus (SI 40.3). Como a profecia, um cântico inspirado pelo Espírito pode irromper espontaneamente ou pode vir de maneira gradual, à medida que a pessoa recorre ao Senhor para o desen volvimento e arranjo desse cântico. Como os dons de serviço, o talento dado por Deus e os pensamentos inspirados pelo Espírito podem cooperar para produzir um ministério de música. Procu rar progredir cm tal ministério inclui desenvolvimento de nosso talento mediante estudo e prática, permissão ao Espírito Santo para que nos dê o que ele deseja que compartilhemos em palavra e música, cantar ou tocar instrumento com a unção do Espírito sobre nós. Procurar progredir nos dons espirituais significa usá-los da melhor maneira possível — não competindo uns com os outros ou de um modo desordenado. O versículo 32 é de extrema impor tância. O ímpeto para profetizar ou falar em línguas pode ser controlado pela pessoa aue tem o dom. O espírito humano, em comunicação com o Espírito Santo, ainda é consciente e respon sável pelo que faz. Não se trata de um transe (tal como o que médiuns muitas vezes experimentam quando os espíritos falam por intermédio deles). Ele pode esperar o momento apropriado para falar e não interromper os outros. Ele também está sujeito à autoridade e direção da pessoa que está incumbida de dirigir o culto. O dirigente do culto tem uma responsabilidade dada por Deus para zelar, a fim de que tudo “seja feito com decência e ordem” (14.40). Ele não deve “apagar o Espírito, desprezar profecias ou proibir o falar em outras línguas” (1 Ts 5.19,20: 1 Co 14.39). Com a sabedoria que o Espírito dá, pode chamar o povo à ordem Para ver se tais manifestações são mantidas dentro do padrão bíblico para o bem da igreja. Nisso, ele segue o mandamento do Senhor (14.37). 1 2 8 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios 4. Na conduta e no respeito silencioso Pedro escreveu acerca de Paulo: “Em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis" (2 Pe 3.16). Quão verdadeiro! 1 Coríntios 14.22-25 e 34.35 constituem bons exemplos. Parte do problema reside na referência de Paulo à determinada situação, em palavras que poderiam ser facilmente entendidas como tatos ou mandamentos gerais. Temos de interpretar o que ele diz aqui à luz de outras passagens. Caso contrário, parece que está contra dizendo a si mesmo. Nos versículos 22-25. vemos o que já observamos acerca dos coríntios — sua falta de autodisciplina e de cortesia. Isso gerava confusão nos cultos. Muitos pareciam pensar que o falar em línguas era sinal de espiritualidade, e assim, estavam todos talan do em línguas ao mesmo tempo. Paulo ressalta que as línguas eram um sinal para o incrédulo, mas se alguém entrasse no culto e visse tal confusão, provavelmente pensaria que estavam loucos! Quanto aos crentes, já não necessitavam de convencer-se do poder de Deus pelo sinal das línguas. O sinal da presença de Deus que lhes faria maior bem, seria a mensagem do Espírito na pró pria língua deles, mediante o dom de profecia. Embora essa se destinasse principalmente aos crentes. Deus a usaria para conven cer e converter pecadores também. Devemos interpretar os versículos 34,35 à luz do problema local e de outras passagens bíblicas. Paulo está realmente proibin do as mulheres de profetizar? Creio que não! Atos 2.18 diz claramente que as mulheres profetizariam. Ana. que falou no templo acerca do menino Jesus, é chamada de profetisa. De igual modo. Miriã, Débora. Hulda e a esposa de Isaías no Antigo Testamento. Filipe, o evangelista, tinha quatro filhas que profeti zavam. Nessa mesma carta, o próprio Paulo havia deixado claro que as mulheres que estavam profetizando na igreja poderiam assim fazê-lo se usassem o véu costumeiro (11.5). Suas palavras: "Porque todos podereis profetizar, um após outro", certamente incluem as mulheres. Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 2 9 Esse capítulo inteiro lida principalmente com o problema da desordem nos cultos de adoração e como corrigi-la. A ordem de Paulo para que as mulheres “se conservassem caladas” relaciona- se à confusão na igreja. Elas estavam, evidentemente, falando demais. Paulo menciona de novo a necessidade que tinham de ser submissas. Elas podem ter estado a interromper o orador com perguntas ou chamando seus maridos que estavam no outro lado da igreja para perguntar-lhes alguma coisa (14.35). Alguma vez você já tentou pregar enquanto as pessoas con versam? Ter gente cochichando perto dificulta-lhe ouvir o prega dor? Se dificulta, você entende a necessidade de ordem deixada por Paulo! O princípio aplica-se a homens, mulheres, pregadores e também leigos — evitar conversação desnecessária durante os cultos da igreja. Finalmente, separe uns poucos momentos para orar ou para ser usado numa manifestação do dom profético em sua igreja e em sua própria vida, se o Senhor assim desejar usá-lo. Oremos juntos por uma poderosa ação do Espírito de Deus, mediante o uso bíblico de profecia e de outros dons espirituais. Siga o cami nho do amor e procure ansiosamente profetizar. 10 A Ressurreição e o Serviço Cristão I - I n t r o d u ç ã o Nossa crença afeta as nossas ações; crenças certas tendem a produzir boa conduta. E por isso que o ensino da Palavra de Deus ao seu povo é parte tão importante da Grande Comissão e da edificação da Igreja. Somos “transformados pela renovação da nossa mente” (Rm 12.2) para podermos reconhecer e obedecer o perfeito plano de Deus para as nossas vidas. Nos primeiros 14 capítulos de 1 Coríntios, Paulo salienta aspectos do comportamento cristão, dando-lhe uma firme base doutrinária. Ele ensina seus filhos na fé acerca do amor, da união e da autodisciplina baseados na sua relação com Cristo e com a que os demais crentes tinham em suas mentes no tocante à ressur reição dos mortos. A ressurreição faz parte integral da teologia cristã, sendo tão importante para nós quanto para os coríntios daquele tempo. Sem a ressurreição de Cristo, não haveria o Novo Testamento, nem alegria cristã, nem esperança de vida eterna. Mas porqueEle vive, Podemos levar uma nova vida repleta de alegre serviço cristão, agora e também no futuro. 132 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios I Coríntios 16 nos fornece uma pequena idéia de serviço cristão encerrando essa carta de Paulo. O nosso conhecimento de Cristo no poder da sua ressurreição continua nos motivando para a divulgação do Evangelho e da participação na causa de Cristo. II - A P rova da R e s s u r r e iç ã o d e J e s u s (15.1-11) Após encerrar seu ensinamento sobre dons espirituais e cultos bem ordenados, Paulo aborda mais um problema. Alguns mem bros da igreja em Corinto afirmavam que os mortos não ressusci tariam (1 Co 15.12). Paulo apresenta as provas da ressurreição de Jesus como evidência daqueles que estão “em Jesus” e que também ressuscitarão. Satanás continua tentando convencer as pessoas de que não há vida após a morte. Na tentativa de destruir a evidência da ressurreição de Jesus, alguns sugerem que Ele não morreu, somente desmaiou para depois recuperar a consciência no túmulo. Outros dizem que voltou a viver apenas na mente dos seus discí pulos. Essas pessoas deveras precisavam ser corrigidas. 1. O Evangelho e a Igreja O enterro de Cristo constitui um elemento importante, pois prova que Ele realmente morreu (Jo 19.33). Sua ressurreição constitui evidência de que Deus aceitara seu sacrifício, sendo parte integral das Boas Novas pelas quais somos salvos. As múltiplas ocasiões em que Ele apareceu aos seus conhecidos testificam a sua ressurreição. O poder das Boas Novas e a verdade sobre a ressurreição de Jesus são evidências da veracidade do Evangelho. Paulo e os demais apóstolos pregavam um Evangelho que proclamava a ressurreição (At 4.33; 1 Co 15.11), baseando-se nela (Rm 4.25). Foi nesse Evangelho que os coríntios creram (v. 11) e abraçaram (v. 1), sendo salvos através dele (v. 2). Somente o Evangelho milagroso de um Senhor ressurreto pode produzir tais resultados. A igreja coríntia era, em si, uma prova evidente do Salvador vivo. A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 3 3 A existência da Igreja universal, o corpo de Cristo no mundo de hoje, comprova a morte e ressurreição de Jesus Cristo. 2. As Escrituras cumpridas Cada vez que o Novo Testamento fala das Escrituras (com uma única exceção em 2 Pe 3.16), significa que é o Antigo Testamento. Hoje em dia, usamos esse termo com referência à Bíblia inteira. 1 Coríntios 15.3,4 unifica o Antigo e o Novo Testamento. Dizer que Cristo morreu e ressuscitou segundo as Escrituras é afirmar claramente que o Antigo Testamento contém profecias da morte e ressurreição de Cristo. As profecias referen tes ao seu sofrimento e morte são numerosas demais para serem citadas aqui (veja a primeira delas em Gênesis 3.15); as que dizem respeito à sua ressurreição são menos numerosas. Leia o salmo 22, que vaticina a morte e, indiretamente a ressurreição de Cristo. Compare esse salmo com Lucas 23.33-39; João 19.23,24. Veja como a passagem de Salmos 22.22-31 impli ca na ressurreição do nosso Salvador. Isaías 53 é um dos grande trechos messiânicos do Antigo Testamento, sendo ao mesmo tempo um cântico de sofrimento e esperança. Leia bem devagar essa passagem e note bem a pro messa da ressurreição nos versículos 1-12. Pedro e Paulo citam Salmos 16.10 como profecia da ressur reição de Jesus, o Santo de Deus (At 2.22,23; 13.26-38). Cristo, após a sua ressurreição, explicou aos dois crentes no caminho de Emaús as profecias de como o Messias (Cristo) teria de padecer e entrar na sua glória (Lc 24.13-27). E Paulo testemunhou ao go vernador Félix e ao rei Agripa: “Mas, alcançando o socorro de Deus, ainda até o dia de hoje permaneço, dando testemunho, tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer, isso é, que o Cristo devia padecer e, sendo o primeiro da ressurreição dos mortos, devia anunciar a luz a esse povo e aos gentios” (At 26.22,23). Embora o Antigo Testamento tenha dito muito pouco / 3 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios em termos diretos sobre a ressurreição de Cristo, somente aquele acontecimento consegue ligar os dois elementos tão diversos que são o Messias sofredor e o Messias glorioso. 3. Profecias sobre o Messias E m I s a ía s Ressurreição Rejeitado e morto por nossos pecados Rei vencedor A reinar para sempre sobre o mundo inteiro 4. Testemunhas da ressurreição Aqueles que negam a ressurreição corporal de Jesus apresen tam diversas teorias. Alguns acham que seu corpo foi roubado, ou que os discípulos visitaram o túmulo errado. Outros afirmam que os discípulos só viram o espírito de Jesus e não o seu corpo real! Creio serem mais inverossímeis esses argumentos contraditórios do que a simples aceitação do relato histórico apresentado clara mente na Bíblia sobre a ressurreição de Jesus. Deus, que sabe todas as coisas, saberia naturalmente como a verdade da ressur reição seria atacada. Por isso, o Espírito Santo inspirou o apóstolo Paulo a escrever, com rigor e lógica convincente, os poderosos argumentos em apoio à ressurreição que lemos em 1 Coríntios 15. Jesus, citando a Lei Mosaica, recomenda que “pelo depoimento de duas testemunhas, toda palavra se estabeleça” (Mt 18.16; Dt 19.15). Mas a nossa fé na ressurreição de Cristo se baseia no testemunho de muitíssimas pessoas! Mais de quinhentos crentes (15.6) de uma só vez viram o Senhor ressurreto. Tentar provar que todos eles ficaram simultaneamente alucinados é carregar demais a imaginação e credulidade de todos nós! As testemunhas não apenas viram Jesus; Ele falou com elas, partiu pão e comeu, e até cozinhou para seus amigos, deixando que todos tocassem nas suas feridas. Ele andou com eles e ensinou-lhes, provando que não era nenhum fantasma, senão o mesmo Jesus que antes conheciam. Durante um 53.1-12 53.1-9 9.6,7 A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 3 5 período de quarenta dias, Ele deu “muitas provas incontestáveis” (At 1.3). O quadro apresenta uma ordem lógica das aparições de Jesus; os quinhentos poderiam ter visto o Mestre na Galiléia ou por ocasião da sua ascensão aos céus. 4.1. Aparições de Jesus após a ressurreição A R e fe r ê n c ia Maria madalena Jo 20.14-16 Mulheres no caminho Mt 28.8-10 Dois indo no caminho Lc 24.13-25 Pedro Lc 24.34 Dez apóstolos Jo 20.19-24 Onze apóstolos Jo 20.24-29 Sete a beira do mar Jo 21.1-23 Apóstolos mais quinhentos 1 Co 15.6 Tiago 1 Co 15.7 Onze Apóstolos Mt 28.16-20 Os que presenciavam a ascensão At 1.6-11 Estêvão At 7.55 Paulo indo a Damasco At 9.1-5 Paulo na prisão At 23.11 João na ilha de Patmos Ap 1.10-19 Imagine só o impacto de ver ressurreto o mesmo Jesus, a cuja morte e sepultura você tinha assistido! Você também correria para divulgar a notícia, não é? Pense nos discípulos que se dirigiam a Emaús. Ao reconhecerem Jesus, tiveram o impulso de ir contar tudo aos discípulos; por isso voltaram logo a Jerusalém, uma distância de uns 11 quilômetros, para confirmarem as palavras triunfais: “Ressuscitou, verdadeiramente, o Senhor” (Lc 24.34). Os apóstolos proclamaram a ressurreição, porque acreditaram no que seus olhos tinham visto. Continuavam proclamando essa verdade em face de prisões, açoites, ameaças e proibições (At 1 3 6 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios 4.1 -3;5.17-20;40,41). pois como disse Pedro: “Não podemos dei xar de falar do que temos visto e ouvido” (At 4.20,32). 4.2. O poder da ressurreição de Jesus Na sua Carta aos Filipenses, Paulo menciona o seu desejo de “conhecer a Cristo e o poder da sua ressurreição” (Fp 3.10). E aqui, na sua carta aos coríntios, passa a falar daquele poder. I I I - N o s s a S a lv a ç ã o O b t id a (1 5 .1 2 -2 0 ) É provável que em Corinto, os novos crentes que não acredi tavam numa futura ressurreição simples, não percebessem a gra vidade do seu erro. Eles confiavam em Jesus como seu Salvador, mas Paulo frisa o seguinte fato: “Se não há ressurreição de mor tos, então Cristo não ressuscitou” (15.13).Sua argumentação nos versículos 12-20 é primorosa na demonstração da importância da ressurreição. Veja bem a importância das palavras “se” e “mas” nessa argumentação. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e a nossa fé, somos falsas testemunhas e estamos ainda nos nossos pecados; os mortos em Cristo pereceram e somos os mais infelizes de todos os homens. Tudo faz uma reviravolta, porém no versículo 20: “Mais de fato Cristo ressuscitou den tre os mortos” . Por isso nossa pregação é válida, nossa fé é eficaz; não somos falsas testemunhas e os mortos em Cristo não pereceram. 1. Nossa ressurreição garantida Nos versículos 20-23, Paulo toca no tema da União do crente com Cristo. Os benefícios que desfrutamos em Cristo, incluem nossa ressurreição espiritual a uma nova vida nesse mundo e nossa futura ressurreição corporal à eterna alegria do porvir. Compare essa passagem com Romanos 5.17-21, que demonstra A Ressurreição e o Ser\’iço Cristão 1 3 7 que na experiência do crente, a morte é vencida espiritual e fisicamente. O pensamento principal de 1 Coríntios 15.20-23 é este: Todos aqueles que estão em Cristo ressuscitarão quando Ele voltar. A pequena locução em Cristo (ou de Cristo), vista com tanta fre qüência nos escritos de Paulo, encerra um imenso significado. Somos salvos por crermos em Cristo (At 16.31). Uma fé firme acompanhada de arrependimento traz o milagre do novo nasci mento, nossa ressurreição espiritual. Após a nossa conversão, experimentamos o batismo nas águas, a transformação dos nossos hábitos, a comunhão com a igreja e muitos outros benefícios. Tal mudança na pessoa que aceita o Evangelho é resultado de ela estar com Cristo e em Cristo. Estar em Cristo e com Ele significa ser “co-participante da natureza divina” (2 Pe 1.4). O crente não é uma miniatura de Jesus, mas é semelhante a Ele (Rm 8.29). Por que não? Temos o mesmo Pai, e Cristo vive em nós por meio do seu Espírito Santo. O profundo ensinamento de romanos 6.1-4 nos mostra a íntima relação entre o crente e Cristo. A referência à nossa morte e ressurreição nesse trecho representa a morte espiritual ao pecado e a ressurreição a uma nova vida em Cristo. Essa transformação é simbolizada no batismo e, por sua vez, prediz e simboliza a nossa futura morte e ressurreição corporal em Cristo, vivificados como Ele mesmo foi! Cristo constitui as primícias da ressurreição (1 Co 15.20). Esse termo assinala duas cerimônias anuais de louvor no Antigo Testamento e a realização do seu simbolismo. Já vimos como Cristo é a nossa Páscoa, morrendo no exato dia em que deve morrer o cordeiro pascal. No primeiro dia da semana (domingo) que segue a Páscoa, os israelitas comemoram o Dia das Primícias (Lv 23.9-14). O primeiro molho assinala a aproximação da co lheita espiritual do povo de Deus, a Igreja. Vemos no Dia de Pentecostes as primícias daquela imensa colheita: o nascimento da Igreja. Nós também formamos parte daquela gloriosa e contí nua colheita! A consagração de Cristo nos santifica. A ressurrei 1 3 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios ção dEle garante a nossa. Porque Ele vive, nós também vivere mos! Cristo é a nossa ressurreição e a nossa vida (Jo 11.22-26). 2. O Reino de Deus estabelecido O Antigo Testamento fala muito sobre os reinos terrestres: o Novo Testamento fala com freqüência do Reino de Deus (Mateus prefere o termo reino do céu, considerado sinônimo pelos estudi osos da Bíblia). O Reino de Deus é presente e futuro. Passamos a formar parte dele ao aceitarmos a Cristo como nosso Rei. Ele estabelece o seu governo em nossa vida: “O reino de Deus está entre nós” (Lc 17.21). Jesus falava a toda hora sobre o seu Reino e mandava os seus discípulos pregarem o Evangelho do Reino. Esse Reino espiritual já existe. Mas quando Jesus voltar, estabelecerá na terra um reino literal (1 Co 15.23-26). Paulo chama esse tempo de “o fim”. Será o fim do poder satânico, das ideologias antagônicas e do sistema mun dial rebelde a Deus. Será derrotado todo poder hostil e nada conseguirá perturbar a harmonia do Reino de Deus. A morte será destruída. O filho entregará o Reino nas mãos do Pai, e seu Reino não terá fim (2 Pe 1.11). Jesus já se humilhou voluntariamente, tornando-se obediente à cruz, para ganhar a vitória sobre a morte. E se mostrará submisso ao Pai quando encerrar seu labor de redenção. Mas também podemos afirmar que o Pai o exaltará sobremaneira (Fp 2.9). Reinarão junto ao Deus trino, todos quantos estiverem em Cristo (Lc 1.32,33; Ap 5.9,10). Qual o impacto disso tudo em nossa vida? A nossa fé na ressurreição futura e no triunfo final e absoluto do Reino de Deus nos inspira a viver para Cristo, trabalhar para Ele, e até sofrer em prol do seu Reino. A fé que Paulo tinha na ressurreição e em seus resultados o dispôs a correr perigos a toda hora e a “morrer dia após dia” (1 Co 15.29-32). Não sabemos se a morte referida é a fuga dos seus desejos carnais ou o desafio constante do perigo e da perseguição. Paulo menciona lutas com feras em Éfeso, mas essa referência pode ser figurada ou literal. Pode até ser uma A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 3 9 alusão aos poderes demoníacos e às perseguições enfrentadas naquela cidade (At 19.23-41). O nosso modo de viver depende principalmente da nossa crença acerca da vida após a morte. Nos versículos 29-34. Paulo mostra a inutilidade de tudo se não há ressurreição. Menciona até certas pessoas “que se batizam pelos mortos”. Esse costume, fosse qual fosse, foi rejeitado pela Igreja Primitiva, mas pode ter sido um batismo praticado em favor daqueles que aceitaram Jesus às portas da morte e não tiveram oportunidade de passarem pelas águas do batismo. O que Paulo deseja salientar é a inutilidade de qualquer atividade cristã se não há futuro (15.32). Mas continua mos orando, como Cristo nos ensinou: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. E assim será! 3. A promessa da nossa ressurreição 3.1. Um corpo perfeito A pergunta colocada por Jó: “Se um homem morrer, viverá de novo?”, é respondida de maneira triunfal nesse trecho. Jesus fez aos seus seguidores a seguinte declaração simples e poderosa: "Porque eu vivo, vós também vivereis”. Aqui, Paulo esclarece ainda: “Todos seremos transformados” (15.51). “Devemos trazer a imagem do celestial”. Veja bem o que I Coríntios 15.35-54 nos diz acerca do nosso novo corpo. Leia em voz alta 1 Tessalonicenses 4.13-18; I João 3.2. 3.2. Nosso corpo ressurreto 1 C o r ín t i o s 15.35-54 Como o de Jesus Não feito de carne e sangue Imortal e imperecível Glorioso e poderoso No esplendor de Deus v. 49 v. 50 v. 53 v. 43 vv. 38-42 1 4 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Transformado instantaneamente Espiritual v. 52 v. 44 Talvez você esteja pensando: “Se o Reino de Deus é espiritu al, os seus súditos terão corpos reais? O versículo 35 pergunta: “Como ressuscitarão os mortos? E em que corpo virão?” A pala vra grega soma, usada aqui, é a mesma que descreve qualquer corpo físico. Paulo diz claramente que teremos um corpo (15.44). Temos agora corpos naturais, sujeitos às leis da natureza nesse planeta. E ganharemos, então, corpos espirituais, não sujeitos a essas leis, mas tendo a liberdade e poder de uma nova dimensão num novo reino. Herdamos de Adão nosso corpo natural. “Pó da terra”. Esses corpos de carne e osso não podem herdar o Reino de Deus, sendo incapazes de funcionar na região celeste. Devem, portanto, ser transformados para poder agüentar a glória brilhante da plena presença de Deus. Teremos aquela liberdade de movimento que Cristo teve após a ressurreição. O glorioso corpo dEle era pareci do com seu corpo anterior; as pessoas o reconheceram, e Ele partiu pão com os amigos, conforme seu costume. Ele disse: “Um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24.39). Parece provável que o nosso corpo espiritual não tenha sangue como seu sustento (Lv 17.11); “Nem toda carne éa mesma” (1 Co 15.39). Qualquer dor nos lembra a mortalidade do nosso corpo! No versículo 50, as palavras “carne e sangue” podem referir-se aos vivos, e a “corrupção” aos mortos. “Nem todos dormiremos” (15.51) sugere essa interpretação. É óbvio, pois, que nem vivos nem mortos possuem corpos idôneos para o glorioso Reino eter no. “Seremos todos transformados!” Receberemos um novo cor po, espiritual e apropriado para viver no novo ambiente do Reino eterno de Deus! A nossa informação sobre o novo corpo é limitada. Paulo compara a nossa transformação com a diferença entre uma se mente que “enterramos” no solo e a planta que surge do poder A Ressurreição e o Serviço Cristão 14 ] vital contido nela. A ciência nos diz que o potencial do nosso corpo e cérebro excede toda realização humana; estamos, de fato, usando apenas a mínima parte do nosso potencial. Mas, ‘‘quando o perfeito vier”, nossos corpos transformados atingirão a plenitu de da realização para a qual fomos criados e ultrapassarão toda capacidade natural para chegarem ao pleno potencial do corpo espiritual. Podemos “plantar” na sepultura os corpos mortos dos nossos entes queridos, mas se eles estão em Cristo, a trombeta de Cristo os chamara à ressurreição de poder e vitória, imperecível e imortal, capaz de viver com Deus! Leia Romanos 8.11 e Apocalipse 21.1-5. 4. Uma vitória completa A morte é o último inimigo a ser vencido por Cristo ( 15.25,26). Que vitória será aquelal Não será apenas o prolongamento da vida, mas também uma plena libertação do reino satânico da morte. Muitas pessoas não gostam de falar da morte ou olhar para um cadáver. Mas para bem entendermos a vitória ganha por Cristo, devemos encarar a morte. A morte é, essencialmente, separação. Em termos físicos, é a separação do espírito do corpo, a qual resulta na decomposição desse. E a separação de entes queridos acarreta mágoa, luto e dor. O enterro ou cremação do morto intensifica a separação, a qual parece (em termos naturais) definitiva. Quando lamentamos a perda de um ser querido, é fácil vermos a morte como nosso inimigo. Mas se a morte do corpo é trágica, quanto mais a do espírito, que constitui separação de Deus. Quem o rejeita e lhe desobede ce, separa-se dEle, a fonte da vida. Deus é puro, santo e não admite no seu Reino eterno o pecado com suas injustiças e con tendas. Deus ordenou certas leis morais no mundo em benefício da humanidade. Violar essas leis constitui-se pecado, e o castigo é a morte. Ninguém pode ter comunhão com Deus enquanto viola Suas leis e se rebela contra o governo dEle. Todos pecamos, e 1 4 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios fomos destinados à morte (Rm 3.23;6.23). Em 1 Coríntios 15, Paulo fala somente da ressurreição daqueles que estão em Cristo. Mas haverá uma ressurreição daqueles que não aceitaram Cristo como seu Salvador e Senhor. Leia Hebreus 9.27. Daniel 12.2,3, Apocalipse 20.4 e Lucas 16.19-31. A morte para o pecador cons titui sua prisão no inferno e a separação eterna de Deus. Diz 1 Coríntios 15.56: “A força do pecado é a lei” (lei moral, não somente a lei mosaica). Romanos 7 .1 I explica: ‘‘O pecado, tomando por ocasião do mandamento, pelo mesmo mandamento me enganou e. por ele, me matou”. A lei nos entrega ao pecado que escolhemos com suas conseqüências inevitáveis. Mas graças a Deus, Cristo veio cumprir a lei, assumindo para si o castigo do nosso pecado e levando-nos à intimidade com Deus. Cristo triunfou sobre a lei e sobre sua sentença contra nós! Fazendo isso. quebrou o poder do pecado, da morte e da sepultura! Aqueles que o rejeitam, se perdem eternamente; mas aqueles que o aceitam, recebem sua justiça e compartilham a sua vitória (Rm 3.25,26;4.25). E provável que venhamos a morrer fisicamente, mas a morte não nos inspira medo. Ela agora é a porta para o céu aos filhos de Deus. Ele nos dá as boas-vindas do outro lado! (SI 1 16 .15; F1 1.21 -24). E, quando Jesus voltar, receberemos o pleno resultado da sua vitória no Calvário, ao subirmos para nos encontrarmos com Ele: E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4). Até aquele dia, dediquemo-nos plenamente à obra do Senhor, “ sabendo que o vosso traba lho não é vão no S en h o r” (1 Co 15.58). I V - A V id a R e s s u r r e t a n o S e r v iç o C r is t ã o ( 1 5 . 5 8 - 1 6 . 2 3 ) O último versículo de 1 Coríntios 15 é uma clara chamada à Igreja Cristã em geral (“meus amados irmãos” ) para uma entrega total e voluntária à obra do Senhor. A palavra "portanto” refere-se A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 4 3 às grandes verdades elucidadas no capítulo 15, e possivelmente àquelas dos capítulos 1-14 também. Já que ressuscitamos espiri tualmente com Cristo, devemos viver no poder da ressurreição dEle. Por isso, o capítulo 16, com suas instruções práticas e saudações fraternais, resume e encerra essa carta com uma cha mada ao serviço cristão. 1. O serviço cristão na contribuição As primeiras palavras do capítulo 16, quanto à coleta, dão a entender que Paulo está abordando um outro assunto levantado pelos coríntios (outros exemplos se encontram em 7.1 ;8.1; 12.1). Dessa vez, o problema coríntio refere-se à contribuição de dinhei ro, um assunto que muitos crentes de hoje nutrem perguntas e dúvidas honestas. Estudaremos mais isso em 2 Coríntios 8 — 9. Paulo pediu que os coríntios contribuíssem com seu dinheiro em benefício de uma necessidade bem específica. Houve muitos pobres na igreja de Jerusalém (Rm 15.26). A fome profetizada por Ágabo (At 11.27-30) estava flagelando aquela região. Por isso, os crentes em outras áreas mandavam ajuda financeira à igreja mãe em Jerusalém. Os primeiros quatro versículos de 1 Coríntios 16 apresentam muitas idéias importantes em pouco espaço. Eles nos ajudam a responder perguntas como: ‘ Quando devo dar? Quanto devo dar? A quem devo darV O versículo 2 contém quatro elementos bem significativos. “No primeiro dia da semana”, mostrando que a contribuição deve ser contínua e sistemática. “Cada um de vós” ensina que todos devemos contribuir. “Conforme a sua prosperi dade" indica que a contribuição deve ser proporcional (ou em proporção) com a renda ou ordenado. Quem ganha pouco não é isento, pois deve dar aquilo que puder. Não há referência ao dízimo (dez por cento do ordenado), praticado no Antigo Testa mento, mas é possível que se houvesse formado uma equivalência semelhante. A prática de arrecadar ou economizar fundos sema nalmente possibilitou uma contribuição total bem maior, sem pressão nem apuros. Tudo estaria pronto para a chegada de Paulo, 1 4 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios para que pudesse levar o dinheiro aos crentes na Judéia. sem campanha especial de última hora. Alguns representantes da igreja, “aqueles que aprovardes”, iriam levar a oferta a Jerusalém, promovendo assim uma rede de responsabilidade mútua entre os crentes e as congregações em diversas regiões. Nos dias de hoje, as nossas congregações, medi ante semelhantes programas de colaboração financeira sob a ori entação de ministros responsáveis, podem exercer uma influência beneficente pelo mundo inteiro. O versículo 2 pode sugerir reuniões dos irmãos aos domingos. Certas referências de outros textos primitivos da Igreja nos dão a entender que os crentes se congregavam no primeiro dia da sema na, ao qual chamavam “o dia do Senhor" em homenagem à ressurreição de Jesus Cristo (Ap 1.10). 2. O serviço na obra missionária Duas das passagens mais citadas no Novo Testamento são: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19) e "Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc 16.15). Essa ordem de evangelização foi dada à igreja inteira, a todos os crentes, não somente aos missionários ou evangelistas. Quem não pode ir pregar, ajudará a custear as despesas de quem vai. Em 1 Coríntios 16. vemos muitas idas e vindas de ministros e leigos napregação do Evangelho. Paulo menciona as suas própri as viagens e as de Estéfanas. Fortunato. Acaico, Timóteo, Apoio e os irmãos de Corinto que iriam levar a oferta para os pobres na Judéia. Esses homens não foram turistas! Suas viagens tinham propósitos bem definidos, e aqueles que os auxiliavam financei ramente participavam do seu ministério. Todos buscavam a ori entação do Senhor e obedeciam às ordens dEle. Foi muito importante a viagem dos coríntios a Jerusalém. Assim, puderam ver diretamente a grande necessidade dos irmãos da Judéia e relatar à sua própria congregação, os benefícios de correntes da distribuição dos bens ofertados pelos coríntios. Po A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 4 5 deriam também confraternizar-se com os irmãos em Jerusalém e estreitar as relações entre suas respectivas igrejas. Bem sabemos que o partidarismo constituía um problema constante para a Igre ja Primitiva, e Paulo achava necessário promover a união dela — aceitação mútua e harmonia entre judeus e gentios, ricos e pobres. Ele ensinava fielmente tal espírito de união por meio das suas epístolas e de sua própria atuação. Um método de aprendizagem bem prático foi o de compartilhar os bens entre os crentes das igrejas em outras cidades. Nos versículos 5-9, Paulo nos fala dos seus próprios planos de viagem. Vemos que ele desejava visitar Corinto para rever os seus filhos espirituais. Porém, ainda mais importantes na elabora ção do seu itinerário são estas palavras: “Se o Senhor o permitir”. Devemos sempre buscar a direção divina para nossos destinos também. Embora Paulo não fosse viajar direto a Corinto. resolveu mandar Timóteo, um de seus ajudantes (16.10,11). Timóteo pare ce ser um jovem um tanto acanhado (1 Tm 4.12), e Paulo pede que ele “esteja sem receio” entre os irmãos coríntios (talvez por causa da sua pouca idade). Paulo lhes assegura que Timóteo “trabalha na obra do Senhor, como também eu" e pede que o aceitem bem e ao seu ministério, encaminhando-o “em paz" (o que implica em ajuda financeira). E tudo deveria ser “feito com amor” (16.4). Como é bom ver ministros e congregações bem estabelecidas apoiando novos obreiros em seus ministérios. Paulo multiplicou seu próprio ministério através de novos obreiros, levando-os con sigo e mandando-os para evangelizar, pastorear ou supervisionar novas igrejas. Os coríntios precisavam de ajuda e orientação, e por isso, Paulo “muito recomendou” que Apoio fosse visitá-los. (E interessante notar que o partidarismo dos coríntios acerca do ministério dos famosos pregadores não tornava Paulo ciumento de Apoio, nem prejudicou a amizade deles). Mas Apoio não quis ir naquela altura. Devemos buscar a orientação divina, não apenas com relação ao nosso itinerário, mas também no tocante ao nosso 146 Comentaria Bíblico: I e 2 Coríntios tempo. Foi da vontade de Deus que Timóteo visitasse Corinto naquela ocasião e. dessa forma. Paulo conseguiu ficar em Éfeso, onde sua presença era. de fato. muito importante, e “uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu” (16.9). Os comentários de Paulo acerca de Estéfanas nos fazem ver a importância do dom de socorros. Estéfanas foi um daqueles que creram e foram batizados "no início do ministério de Paulo em Corinto. Ele e sua família deviam ser bem queridos do apóstolo. Aqui Paulo louva o fiel serviço de Estéfanas e sua família, pois eles "se consagraram ao serviço dos santos" (16.15). E óbvio que a sua dedicação era voluntária e não imposta pela Igreja. Estéfanas e sua família souberam responder às necessidades dos seus ir mãos na fé. Três dos crentes de Corinto, o próprio Estéfanas, com Fortunato e Acaico. foram visitar o apóstolo Paulo, "suprindo o que lhe faltava” em termos de calor humano e “trazendo refrigério” ao espírito dele. Apesar dos muitos problemas na igreja deles, esses irmãos conseguiram animar Paulo. O apóstolo reconhece o dom de Estéfanas e pede que os coríntios se submetam à liderança dele. Logo depois, encerra sua epístola com uma série de saudações. 3. A comunhão no serviço cristão O fecho dessa carta de Paulo nos mostra algumas maneiras de estreitar os laços de comunhão e amizade entre as igrejas. Uma delas é a oração. Paulo pediu que os crentes, em todas as igrejas que fundou, orassem por ele nas suas viagens de evangelização, nas quais estabelecia novas congregações. Sem dúvida, divulgava em todas elas notícias das outras, para que pudessem orar em favor dos seus irmãos desconhecidos e distantes. Os obreiros circulavam entre as igrejas e levavam notícias e saudações de uma a outra, e as congregações se saudavam mutuamente através das cartas de Paulo. Não temos todas as epístolas dele, pois algumas se perderam, e muitas delas se encerram com esse tipo de saudação (16.23,24). A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 4 7 Paulo ditou à viva voz essa epístola aos coríntios, mas escre veu as saudações e assinou-a com o próprio punho. A maldição proferida no versículo 22 nos choca, mas serve para mostrar a importância do amor pelo Senhor e como é perigoso debater-se contra Ele. Maranata significa "Vem, Senhor!” na língua aramaica. Assim orou a Igreja Primitiva, e assim oramos nós. 11 0 Ministério de Consolação I - I n t r o d u ç ã o Não seria interessante sabermos o que aconteceu quando Ti móteo e os irmãos que o acompanhavam chegaram a Corinto com a carta de Paulo para a igreja? Qual foi a reação dos crentes coríntios? Foi frutífero o ministério de Timóteo entre eles? Solu- cionou-se o problema de partidarismo na igreja? Os membros se humilharam numa atitude de submissão aos seus líderes? Passa ram a praticar a autodisciplina, respeitando-se uns aos outros devidamente no corpo de Cristo? Francamente, não sabemos. A segunda carta de Paulo aos Coríntios (que passamos a estudar agora), nos dá, contudo, uma idéia parcial do que sucedeu à recepção da primeira epístola. Timóteo parece haver visitado Corinto (veja 1 Co 16.10,11) para entregar a carta destinada àquela congregação e ajudar a igreja pela operação do seu próprio ministério. Após isso, Timóteo voltou a Éfeso, onde estava Paulo com seu relatório sobre as condições na igreja coríntia. Embora Paulo planejasse uma viagem a Corinto mais tarde, resolveu ir imediatamente por causa dos problemas relatados por Timóteo. Foi uma situação difícil, que ameaçou inclusive destruir o minis tério de Paulo entre os coríntios. Profundamente desgostoso, o 1 5 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios apóstolo voltou a Éfeso muito necessitado do consolo de que escreve posteriormente em 2 Coríntios. Neste capítulo, estudaremos mais alguns eventos que fizeram com que o apóstolo Paulo escrevesse como nessa segunda carta. Nela. vemos mais claramente do que na primeira epístola o sofri mento do grande pregador, a sua humanidade e a força emocional com que defende o seu ministério e apostolado. Através disso tudo. aprendeu a consolar os outros como foi consolado. Que os nossos sofrimentos possam dar o mesmo fruto! II - I n t r o d u ç ã o a 2 C o r í n t io s As vezes, enfocamos tão especificamente determinado tre cho bíblico que esquecemos o seu contexto e não conseguimos apreciar plenamente o livro inteiro onde se encontra. Para bem apreciarmos uma carta, devemos lê-la do início ao fim, antes de examinarmos detalhadamente cada parágrafo dela numa cuida dosa releitura. Assim, gostaria que você lesse de uma vez. desde já, a 2 epístola aos Coríntios. Faça de conta que é um dos novos convertidos de Paulo em Corinto e sente uma grande lealdade para com o apóstolo. Talvez sinta-se até chamado para o minis tério e deseje seguir o exemplo de Paulo. Repare bem nos seus sentimentos ao ler a carta e tente compreender o que Paulo está sentindo ao escrevê-la. 1. Provável ordem cronológica C o m p o s iç ã o d e 1 C o r ín t i o s 55 d.C. Timóteo: Volta a Corinto Paulo: A Corinto e volta Tito: A Corinto e volta Paulo: De Éfeso a Troas Paulo: Atéa Macedônia para se encontrar com Tito O Ministério de Consolação 151 Tito: De Corinto até a Macedônia Composição de 2 Coríntios 56 d.C. _____________ Se você gosta de geografia, trace essas viagens num bom mapa. 2. Ocasião e propósito Paulo escreveu 2 Coríntios por volta do ano 56 d.C. (um ano depois da composição de 1 Coríntios). Não sabemos exatamente o que ocorreu nesse intervalo, mas a seguinte seqüência de even tos parece provável: 1. Paulo mandou Timóteo a Corinto, conforme o plano já traçado (1 Co 16.10,11). 2. Timóteo voltou, contando sobre uma situação bem séria. 3. Paulo resolve apressar a sua própria viagem a Corinto (1 Co 16.5-7), e foi sem avisar aos irmãos da sua chegada. 4. Paulo sentiu em Corinto tanta oposição ao seu ministério, que deixou a cidade, prometendo voltar logo, rumo a Macedônia (2 Co 1.15,16). 5. Paulo achou melhor não voltar tão cedo a Corinto. Para poupar os crentes, escreveu-lhes “no meio de muitos sofri mentos e angústias de coração” (2 Co 2.1-4,9). 6. Paulo mandou essa carta aos coríntios através de Tito, e ficou esperando notícias (2.12). 7. A igreja em Corinto aceitou os conselhos dados na carta de Paulo, arrependeu-se e castigou o membro que tinha chefi ado a resistência ao apóstolo (7.5-16; 2.5-8). 8. Paulo deixou Éfeso rumo a Macedônia, detendo-se em Troas para pregar, na expectativa de se encontrar lá com Tito (At 20.1-3; 2 Co 2.12). 9. Paulo entristeceu-se porque Tito não estava em Troas, então dirigiu-se a Macedônia e lá se encontraram. 1 5 2 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios 10. Paulo se alegrou sobremaneira com o relatório trazido por Tito. Escreveu logo 2 Coríntios para animar os crentes, esclarecer qualquer mal-entendido nas suas relações e pre parar o terreno para sua terceira visita (12.14:13.1). A segunda visita de Paulo foi difícil e de pouco êxito por causa de alguns “falsos apóstolos, obreiros fraudulentos” (1 1.13) que tinham visitado Corinto. Esses tinham atacado a credibilidade de Paulo, bem como seu ministério e apostolado. Os falsos apóstolos tinham chamado Paulo de covarde ( 10.10), observando que ele não portava cartas de recomendação das igrejas (3.1) e que se comportava conforme critérios munda nos (10.1). Esses obreiros fraudulentos também quiseram insi nuar que o apóstolo Paulo procedeu desonestamente com rela ção à distribuição dos bens aos crentes na Judéia (8.20-23). Esse grupo consistia em crentes judaicos que. como os prega dores judaizantes da Galácia, quiseram pregar um "evangelho diferente” ( 1 1.3.4: G1 1.6-9). Esses falsos apóstolos não tenta ram obrigar os gentios crentes a se circuncidarem, mas quise ram dominá-los, usando de uma autoridade mais severa que a do próprio apóstolo Paulo. Mas Paulo não ia abandonar a causa divina; estava disposto a defender o bem-estar espiritual dos seus filhos na fé. Apesar da rejeição que esses lhe mostraram por ocasião da sua visita, ele ainda podia escrever-lhes uma carta (2.4). Naquela época, as cartas eram mandadas pelos amigos, pois não havia serviço de correio como em nossos dias. Paulo enviou essa carta por Tito, um obreiro treinado por ele. e Deus o usou para produzir o efeito desejado. Paulo, muito animado pelos resultados, escreveu mais uma vez aos coríntios, a fim de prepará-los para sua terceira visita. Ele usou de várias técnicas de aproximação: consolo, animação e a sua autodefesa às acusações dos falsos apóstolos. Essa defesa “violenta” e emocionante se encontra essencialmente nos capítu los 10, 11 e 12 dessa epístola. O Ministério de Consolação 153 3. Tema e conteúdo O tema principal de 2 Coríntios é o ministério cristão. Encon tramos também nessa carta outros assuntos importantes, como por exemplo, a vida após a morte, consolo, reconciliação, contri buições e outras referências aos problemas em Corinto. É, possi velmente, a mais íntima das epístolas de Paulo. Relata bastante as suas experiências; mesmo contendo importantes doutrinas, é mais pessoal que doutrinária. O apóstolo nos desvenda o seu ministério cristão através dos gentios, deixando transbordar os seus mais íntimos sentimentos ao defender sua autoridade espiritual, ape lando para os crentes em Corinto. 4. O ministério cristão 2 C o r ín t io s Descrição do ministério O ministério da contribuição Defesa do ministério de Paulo 5. Estilo literário Vemos nas inspiradas Escrituras, uma colaboração entre o Espírito Santo e o espírito humano dos escritores. O Espírito Santo inspirou o que foi escrito, mas utilizou a personalidade, experiência, sentimentos e conhecimento dos escritores individu ais. Percebemos isso claramente na humanidade de Paulo, em sua reação às críticas dos seus inimigos. A força de expressão empre gada pelo apóstolo nos lembra que os membros da Igreja Primiti va eram “vasos de barro” (4.7) e “homens semelhantes a nós” (Tg 5 .17). A epístola é intensamente pessoal, bem íntima e altamente emotiva, revelando-nos bastante acerca do seu autor. Esta carta está cheia de contrastes. Notamos alternadamente o vale do desespero e os picos da alegria. Ao denunciar seus inimi gos e abrir seu coração aos coríntios, Paulo corre do gama emotivo da ternura à agressividade. As rápidas mudanças de mágoa à 1 - 7 8 - 9 1 0 - 1 3 alegria, de morte à vida e da força à fraqueza dificultam a análise da epístola. E s t il o Pessoal, íntimo Altamente emotivo Revelador do autor Estrutura desigual Cheio de contrastes Exorta e apela Manso e agressivo Prático e doutrinário Autodefesa Relacionado com a experiência A maioria das cartas de Paulo apresenta verdades doutrinais e a aplicação delas. 1 Coríntios é estruturado conforme a análise dos problemas coríntios, um por um, com a respectiva apresenta ção da sua solução bíblica. 2 Coríntios é mais vago na sua estru tura, pois Paulo oscila entre sua experiência pessoal, a doutrina divina, as condições em Corinto e seus planos para o futuro. Há uma certa modificação estilística entre o segmento dos capítulos 1 —9 e 10— 13. cujo fato leva alguns estudiosos a perguntarem, se talvez fossem duas cartas inicialmente separadas e depois reunidas; disso, porém, não há nenhuma evidência. Nessa carta sentimos as flutuações emotivas do apóstolo: sua angústia em face ao caos criado pelos falsos mestres e seu intenso amor pelos crentes em Corinto. A seriedade das condições locais e as tribulações que Paulo experimentara na Ásia Menor levaram- no ao ponto de desesperar até da própria vida (1.8-9). Mas isso, por sua vez, conduz às esperançosas palavras sobre a vida após a morte (4.10 — 5.10). A majestosa declaração acercada reconcilia ção (capítulo 5) revela o magoado coração do apóstolo, ansiando pela reconciliação pessoal com seus queridos coríntios. Percebe- se por toda epístola um fio de esperança e consolação. 154 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios O Ministério de Consolação 1 5 5 Nos últimos quatro capítulos (10— 13), Paulo emprega muitos argumentos convincentes para provar a autenticidade da sua divi na chamada, a profundidade do seu amor pelos crentes coríntios e a realidade do seu sofrimento em prol do Evangelho. Paulo é um advogado talentoso na argumentação de causas e doutrinas. Aqui, contudo, defende a si mesmo e ao seu apostolado em vez de argumentar elementos do Evangelho. Ao dirigir-se aos seus ri vais, mostra-se agressivo e veemente. Ao falar com os crentes, porém, apela com a “mansidão e benignidade” (10.1,2; 12.14-19), preparando-os para a sua visita. I I I - N a t u r e z a e O r ig e m d a C o n s o l a ç ã o (1.1-7) Consolo - (do latim — “fortalecer grandemente”) apoio que fortalece; alegar em momentos de luto e tribulação. As palavras consolo, consolação, consolar e suas formas relaci onadas aparecem nove vezes em 2 Coríntios 1.3-7; por isso precisa mos entender claramente o seu significado. Paulo usa a palavra grega parakaleo, que é muito expressiva; é composta dos elemen tos para “ao lado de”, “ao pé de”, ekaleo “chamar”. Assim, significa literalmente “chamar ao pé de si” . Leva também o signifi cado da função da pessoa chamada, ou seja, “consolar”. O substan tivo paraklesis significa “consolação”, “exortação”, e a pessoa chamada ou invocada nesse contexto é o parakletos ou “consolador”, "advogado”, “conselheiro”. Foi essa palavra empregada por Jesus referente ao Espírito Santo. Ele é nosso parakletos celestial, que nos socorre quando o invocamos e habita em nós para nos fortale cer, aconselhar e animar no caminho do bem. Ele nos consola na tristeza, dá alegria e infunde coragem. Já que vive em nós, quer também agir por nosso meio, proporcionando a outros o mesmo consolo que temos recebido dEle (Jo 14.16,17,26; 2 Co 1.3-5). Um lindo exemplo disso é a ocasião em que Paulo animava aos passa geiros e marinheiros durante a tempestade, consolando-os com o conforto que tinha recebido do anjo do Senhor (At 27.21-26). 1 5 6 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Parakaleo — “chamar ao pé de si" Parakalesis — “conforto, consolação, exortação" Parakletos — “advogado, consolador" Consolar, pois, é mais que dar os pêsames a uma pessoa enluta- da: implica também em fortalecer e apoiar os outros com palavras ao mesmo tempo lógicas e simpatizantes, estando ao lado deles nos momentos de provação. Podemos identificar a fonte da nossa con solação de misericórdia: “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação” (1 Co 1.3). Ele está sempre ao nosso lado para nos fortalecer. 1. Consolação necessária e outorgada Como é maravilhoso o ministério da consolação — fortalecer e animar àqueles que estão sofrendo! Como é necessário esse ministério! Mas ele só pode nascer do nosso próprio sofrimento e da nossa recepção pessoal da consolação de Deus. Vemos Paulo bem no meio desse processo, mostrando nas suas reações, toda a sua humanidade. Mas ali encontra a graça e a paz dessa bênção para outros sofredores (1.3). 2. No sofrimento e perigo Paulo não especifica a natureza das tribulações por ele sofridas. Talvez incluíssem doenças, ataques à sua vida e o motim de Éfeso. Veja também 2 Co 11.23-29. Deus tinha feito maravilhas por toda aquela província pelo ministério de Paulo. Todos tinham ouvido o Evangelho e presenciado o milagroso poder das Boas Novas (At 19.8-12). Mas sempre que Deus usa grandemente uma pessoa, Satanás ataca o seu trabalho e ministério. As grandes oportunida des e a oposição vão sempre de mão dadas (1 Co 16.9). O sofrimento de Paulo ultrapassou as dificuldades físicas (naufrágios, prisões, açoites, apedrejamento etc.), suportadas com tanta coragem. Ele parece sobrecarregado de preocupações pelo bem-estar e segurança das igrejas, e confessa: "Em tudo fomos O Ministério de Consolação 15 7 atribulados, lutas por fora, temores por dentro” (2 Co 7.5). Ele e seus companheiros sentiam intimamente “a sentença de morte" (1.9). O diabo estava tentando destruir as igrejas por meio da perseguição e das falsas doutrinas. Seria em vão o labor do grande apóstolo? Valeu o sofrimento passado? Você alguma vez se sentiu assim? O sofrimento físico, o aborrecimento constante e o perigo iminente nos afetam no espí rito e nas emoções. Algumas pessoas ficam amarguradas e res sentidas em relação a Deus. Outras aproximam-se mais e mais dEle, como conseqüência das aflições. Como devemos agir quan do pressionados “acima das nossas forças” (1.8)? O que fazer quando falta todo apoio humano? Leia a resposta no Salmo 42. Onde o Salmista diz: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? (v. 2). Ele manda à sua alma: “Espera em Deus” (v. 5). E Paulo fez assim. Sentiu o apoio das orações dos outros irmãos em seu favor e depositou toda a sua confiança “em Deus que ressuscitou dos mortos” (2 Co 1.9-11). Geralmente, Deus nos ajuda a solucionar nossos problemas, vencer as tentações por meio da coragem, dos conselhos, do bom senso, apoio e das orações dos nossos irmãos em Cristo. Às vezes, entretanto, tudo e todos parecem falhar. Nesses momentos, precisamos confiar exclusivamente em Deus. Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, Meu Salvador e Deus meu (SI 42.5). 3. Nas acusações e mal-entendidos Uma das piores ações humanas é conferir, por motivos erra dos, às pessoas e ao seu procedimento, nossa atribulação. É fácil fazermos assim quando não gostamos de um determinado indiví duo. Se mantivermos uma atitude crítica, tudo que aquela pessoa 1 5 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios faz parece mal feito ou feio por motivos errados. Ou nós mesmos podemos ser assim acusados, como aconteceu no caso de Paulo. Os seus inimigos criticavam toda a ação dele, ao tentarem usurpar a sua função e posição entre as igrejas. Alguns dos crentes coríntios já criticaram a pregação direta e simples do apóstolo Paulo. Eles adoravam a filosofia e a eloqüên cia. Paulo preferia pregar ao nível de entendimento do povo, para que a fé dos crentes fosse fundamentada no poder de Deus e não na sabedoria de Paulo (1 Co 2.1-5). Ele salienta agora que não agiu conforme a sabedoria mundana, mas de acordo com a graça de Deus. Mesmo assim, os coríntios parecem não entender o que ele diz. Ele continua, pois, tentando esclarecer o assunto. O fato de Paulo mudar os planos da sua viagem, parece haver motivado novas acusações: “Vocês não podem depender dele porque ele não cumpre as promessas. Não é sincero. E covarde e tem medo de voltar. E não se comporta devidamente”, teriam dito alguns. As promessas a presença de Deus constituem nosso sustento e consolo principal em momentos de aflição. Deus disse: "De ma neira alguma te deixarei, nunca, jamais te abandonarei” (Hb 13.5). Será que conseguimos apreciar plenamente o significado do “Emanuel" — Deus conosco? É provável que não, pelo menos até chegarmos à Cidade Santa, à Nova Jerusalém (Ap 21.2). Mas Deus está conosco agora. Não somente existe, mas também se revela a nós como o Deus cie toda consolação, aquEle que nos fortalece e sustenta. Deus estava presente, revelando-se a Abraão, Moisés, Elias, Isaías e muitos outros santos do Antigo Testamento. O verbo ressurreto e exaltado à destra de Deus Pai. mandou o Consolador (Paracleto), “a fim de que esteja para sempre” conosco (Jo 14.16). Estava com Paulo quando esse sofria as falsas acusações dos supostos apóstolos em Corinto e está conosco agora. Deus está agindo em nossos dias! Ele atua conforme seu próprio plano eterno (Ef 3.11) e em resposta à nossa necessidade, à sinceridade e à fé com que o invocamos. Ele é o Deus que cumpre as suas promessas por meio de Jesus Cristo (2 Co 1.20). Um dos grandes O Ministério de Consolação ] J9 milagres do Cristianismo é que Deus responde ao rogo da huma nidade e nos infunde força e coragem quando estamos sobrema neira atribulados. A presença do nosso Deus transforma e liberta. 4. Nas relações difíceis O capítulo 2 relata dois casos de relações difíceis em que era necessário uma infusão de consolo. Os versículos 1-4 falam da mágoa do apóstolo Paulo após a sua visita penosa aos coríntios (2.1). Ele não queria prolongar aquele tipo de relacionamento, e fala da tristeza da igreja inteira e do irmão que pecara e estava sendo castigado pela congregação. Veja nos versículos 1-4 as palavras de reconciliação que Pau lo oferece aos crentes coríntios Ele se refere a uma carta dura que lhes mandou em mãos de Tito. Teria sido bem mais fácil para Paulo abandonar os coríntios à sua própria sorte e dedicar a sua atenção a outras igrejas. Mas ele os amou, e não podia deixá-los abandonados ao erro. Ele os colocou frente a frente com o seu problema e pecado, mas não agiu de forma vingativa, e sim com amor e com lágrimas. Essa sua expressão de amor e confiança, junto a exortação dada, incentivou os coríntios a confessarem, contritos, a sua falta. Os versículos 5-11são de interesse e desafio. Não sabemos bem quem pecou e agora recebia perdão e consolo. Uns poucos estudiosos acham que foi aquele incestuoso de 1 Coríntios 5.1-5, mas a maioria acha que foi outro indivíduo. Qual teria sido o pecado desse? 2 Coríntios 2.5 parece indicar que o pecado foi cometido contra Paulo e contra a igreja. Seria o pecador um dos falsos apóstolos de 2 Coríntios 11.13? Talvez fosse um forasteiro metido na congrega ção que insultava Paulo e desafiava a autoridade dele, ganhando para si uns seguidores. Fosse como fosse, ele acabou castigado pela igreja, fato que lhe magoou grandemente. Embora saibamos muito pouco sobre o pecador e seu pecado, percebemos ao menos o seguinte: Ele havia caído num pecado bem grave. Tinha ofendido a 160 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios igreja e fora castigado. A disciplina surtira efeito, e agora, chegara o momento de restauração e reconciliação. É Paulo quem chama a igreja para perdoar e consolar o irmão caído. No seu gesto de perdoar o pecador e convidar a igreja a perdoá-lo da mesma forma, Paulo aplicava o princípio que ele mesmo tinha ensinado em 1 Coríntios 13. 5. De Deus -> para você-> aos outros Amor Amor Perdão Perdão Consolo Consolo______________________________ O amor, o perdão e o consolo devem ter caráter vertical (de Deus para nós) e horizontal (de nós para os outros). “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque a caridade é de Deus” (1 Jo 4.7; leia também 4.19-21). Não podemos compartir aquilo que não possuímos. “Amamos porque Ele nos amou pri meiro” . Ninguém pode ensinar o que não aprendeu. Paulo diz: "Recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Co 11.23). Já vimos que o verbo parakaleo “consolar” , significava “es tar ao lado de alguém, apoiando e às vezes animando”, isso inclui o perdão. O pecador, em Corinto, precisava de consolação, per dão e amor. Estava realmente magoado e arrependido. É esse o propósito da verdadeira disciplina, seja no lar ou na igreja — conduzir ao arrependimento. Alcançando o arrependimento do culpado em Corinto, com petia a igreja perdoá-lo, tanto por causa da congregação como por causa do pecador. Ao perdão, segue-se a restauração. Satanás é esperto e gosta de explorar algo bom como a disciplina ou o arrependimento, tomando-o em coisa ruim. Quando não se prati ca o perdão e a restauração, Satanás pode desanimar o pecador arrependido, levando-o ao desalento e ao ressentimento. Isso tomaria nulo o propósito da disciplina e inútil o arrependimento. O Ministério de Consolação 161 I V - R e s o l u ç ã o d o s P r o b l e m a s c o m A m o r 1. Encarar o problema 2. Comunicação com amor 3. Disciplina, se preciso 4. Arrependimento expressado 5. Perdão expressado 6. Consolação — o amor assegurado 7. Restauração completa Resultados: alegria, mais amor, triunfo de Cristo e em Cristo 2 Co 2.1-1 1, 14. Na igreja, no lar e onde quer que estejamos — "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando- vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4.32). As vezes é difícil perdoar, mas devemos nos lembrar de que é pecado recusarmos o perdão quando o ofensor está genuina mente arrependido. 1. Nas preocupações e contratempos O versículo 12 prossegue com a apresentação da necessidade do próprio apóstolo Paulo. Ele tinha ido de Éfeso a Troas (uns duzentos quilômetros) pregar, enquanto viajava para a Macedônia. Paulo esperava encontrar-se com Tito em Troas, mas ficou desa pontado porque ele não estava lá. Mesmo com uma boa “porta aberta" em Troas, Paulo não estava tranqüilo. O que podemos fazer em momentos assim? Em primeiro lugar, não devemos perder a esperança. A ação também pode nos ajudar. Paulo fez o que pode para resolver o seu problema. Continuou viagem a Macedônia em busca de Tito e para visitar as igrejas conforme seu plano original. Deu graças a Deus por sua fidelidade e vitória. / 62 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Finalmente, vem a consolação ao nos submetermos integral mente à vontade de Deus, seja na vida ou na morte, confiantes em que Cristo está nos guiando e a sua divina causa prevalecerá. Em 2.14-16, Paulo compara isso a procissão triunfal de um general romano. Veja 1 Coríntios 4.9 e os comentários sobre esse trecho no seu livro, onde é relatado que alguns presos sobreviveriam para serem escravos e outros morreriam na arena. O incenso da procissão simbolizava vida para uns e morte para outros. Paulo se considerava cativo (escravo) de Cristo, que é o vencedor Todo- Poderoso. Mas agora servia com alegria no exército do Mestre. A pregação do Evangelho trazia a muitos o perfume da vida, mas àqueles que o rejeitavam, era o cheiro do julgamento e da morte. A batalha é sempre árdua (2.16), mas o nosso Deus concede a vitória. Vamos agir como “enviados de Deus” e prosseguir à vitória! A consolação de Paulo foi completa, quando encontrou Tito e recebeu as boas notícias acerca do amor dos coríntios. Leia 7 .14- 16 e sublinhe as palavras que expressam a sua alegria. O “Deus de toda consolação” transformou os temores internos de Paulo numa alegria bem maior! 12 0 Ministério de Luz e Glória I - I n t r o d u ç ã o Que belas palavras de ânimo e consolação encontramos nos capítulos 3 — 5 de 2 Coríntios! Paulo, em meio aos seus proble mas e tribulações ou desfrutando alegria das orações respondidas, regozijava-se na glória do ministério que Deus lhe ordenou. Que contraste ele nos mostra: a nossa fraqueza (somos “vasos de barro") e o supremo poder de Deus, nosso tesouro! Nesses capítulos, Paulo salienta a glória e a luz. Ele nos diz que Deus, eterna fonte de luz, “resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (4.6). Antes de conhecermos a Jesus, a luz do mundo, andávamos nas trevas e não sabíamos aonde ir (Jo 12.35). Mas agora, caminha mos na luz da sua verdade, rumo ao céu. Por onde andarmos, devemos refletir a luz dEle. No mundo em que pregamos, sejamos condutores da luz e da glória de Cristo aos nossos semelhantes. II - V id a s d e L u z e G u ó r i a (2 .17—3.3) Jesus disse a seus discípulos: “Sois a luz do mundo”. Eles deveriam deixar brilhar a sua luz diante dos homens, para que / 6 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios esses vissem as suas boas obras e glorificassem ao Pai celestial (Mt 5.14-16). É esse o padrão de vida para todos que aceitam Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Deixar a luz brilhar refere-se a muitas coisas, inclusive ao auxílio dos necessitados por amor de Cristo em tudo que fizermos ou dissermos, até mesmo naquilo que pensamos no nosso íntimo. 1. Cartas vivas de Cristo Leia 1 Coríntios 2 — 9 com 2 Coríntios 2 .17 —3.3, onde Paulo focaliza a vida transformada dos crentes; essa transformação foi uma prova da veracidade do Evangelho que Paulo pregava e da autenticidade do seu chamado divino. Aquilo que os crentes diziam acerca de Paulo e seu ministério constituía prova convin cente da veracidade do seu Evangelho e do seu apostolado. Pare ce que os crentes coríntios realmente estavam “deixando brilhar” a sua luz, praticando boas obras de uma maneira agradável a Deus e servindo aos outros. Costumamos enfocar os problemas na igreja dos coríntios, esquecendo-nos, talvez, das vidas transfor madas e do bom testemunho da maioria dos membros daquela congregação. Paulo, porém, agradecia sempre a Deus a vida dos crentes fiéis em Corinto (1 Co 1.4). Contudo, repetidas vezes nessa epístola, Paulo foi forçado a defender o seu ministério, porque falsos apóstolos teriam chega do em Corinto com cartas de recomendação da igreja em Jerusa lém. Armados com essas cartas, passaram a atacar a autoridade de Paulo, tentando enfraquecer sua influência entre os coríntios. Parece que davam a entender que Paulo não era um verdadeiro apóstolo, ou que era bem inferior por não possuir credenciais da matriz em Jerusalém. Mas eles mesmos eram "obreiros fraudu lentos”,disfarçados de apóstolos de Cristo” (11.13). Tentavam esconder sua falta de sinceridade sob as tais cartas de recomenda ção". Mas Paulo possuía credenciais melhores — as vidas trans formadas dos próprios coríntios. O Ministério de Luz e Glória 1 6 5 2. Somos cartas vivas D e C r i s t o Escritas pelo Espírito de Deus Mensagem de Deus nos nossos corações Resultado do ministério A o MUNDO Conhecidas e lidas por todos Para obreiros no Evangelho C artas de recom endação Para o Evangelho Para Cristo Sentimos confessar que. ainda hoje, há no ministério alguns pregadores que “mercadejam a Palavra de Deus”, ou que se consideram “profissionais” como qualquer outro. Alguns acredi tam ter no ministério uma ótima carreira, na qual podem ganhar influência, autoridade, lugar na sociedade e na vida dos fiéis. Esses “pseudo-obreiros” costumam guiar-se pelo relativo tama nho das igrejas e dos ordenados oferecidos na sua escolha de púlpito. Que o Senhor nos guarde e ajude para que nunca chegue mos a ser “mercadores da Palavra de Deus” como eles! Realmente, algumas cartas de recomendação e outras creden ciais podem ser úteis no sentido de protegerem congregações do "ministério” de falsos apóstolos. Certos indivíduos desonestos circulam sempre entre as igrejas, pedindo ofertas sob pretexto falso e assim se mantendo financeiramente. Por isso, deve haver sempre algum tipo de controle. As credenciais mais poderosas são as vidas transformadas e cheias do Espírito Santo que com provam a autenticidade do Evangelho que os crentes comparti lham, pregam e ensinam. 1 6 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios III - H a b i l i d a d e d o E s p í r i t o S a n t o (3.4-8) Ao falar dos resultados do seu ministério, Paulo não quis que os coríntios pensassem que ele estava se gabando de grandezas atingidas. Em 2.14, ele menciona como a “fragrância do conheci mento” de Cristo se espalha por toda parte, mediante a vida e atuação dos crentes. As vezes, nos perguntamos como ele mesmo se perguntou: “E, para essas coisas, quem é idôneo? (2.16). A resposta é óbvia: Ninguém é suficiente em si. Paulo e seus com panheiros levaram a mensagem do Evangelho a novas regiões nunca antes evangelizadas, treinaram novos obreiros, doutrina ram as congregações recém-estabelecidas e após pregarem e evangelizarem sistematicamente uma província, foram a outra para repetir o processo. Eles eram de uma sinceridade exemplar perante todos os ministros enviados por Deus (2.17). Foram obrei ros excelentes e capacitados em tudo! Mas apesar disso, Paulo nos diz que o seu ministério foi bem-sucedido somente porque Deus, pelo seu Espírito Santo, capacitara-o para tanto (3.5,6). Ainda que Paulo defendesse fortemente o seu ministério, não tinha pretensões sobre a sua autoridade entre os coríntios; nunca exigiu deles uma obediência cega e unilateral. Ao con trário, ele se apresenta como o pai espiritual deles e seu servo (1 Co 4 .15;2 Co 4.5). No Novo Testamento, os conceitos de ministrar e de servir são quase idênticos. Ministrar significa servir, inclusive à mesa; o ministro é um servo, mas pode servir a Deus e aos seus seme lhantes na igreja sem poder nem zelo. No trecho bíblico acima, os versículos 3,5,6 e 8 nos mostram que o ministério de luz e glória se desenvolve pelo poder do Espírito Santo. 1. Ministro = servo Ser servo implica em trabalho duro. Durante sua estada em Corinto, por um período de 18 meses, Paulo trabalhava com as mãos para se sustentar, pregava e ensinava a Palavra de Deus (At O Ministério de Luz e Glória 1 6 7 18.5-8,11). Ali, como em tantos outros lugares, o apóstolo serviu a Deus de todo coração. Como resultado, aconteceram coisas maravilhosas. O Espírito Santo sustentou Paulo, o qual testemu nhou: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). IV - A l i a n ç a s d e L u z e G l ó r i a (3.9-16) No versículo 6, Paulo nos conduz a um importante aspecto do seu ministério (e do nosso). Somos ministros da Nova Aliança. A palavra kainos, traduzida como “nova” nesse trecho, também significa “diferente e superior”. Aliança: Convênio solene e formal entre duas ou mais pessoas ou grupos, visando especialmente à realização de alguma ação. A promessa de Deus no sentido de abençoar àqueles que lhe obede cem ou satisfazem certas condições. Está claro aqui, que Paulo contrasta a Antiga Aliança com a Nova, mostrando-nos as alianças da lei e da graça (veja Jo 1.17). Quando ele diz que “a letra mata”, refere-se à Lei Mosaica dada à nação de Israel na tábuas de pedra. A Nova Aliança, que concede a vida, está escrita pelo Espírito Santo em nossos corações. Como a letra (Lei Mosaica) matou? Determinou a pena de morte para certos atos de desobediência e para aqueles que não quiseram obedecer a Deus (Êx 21.12-17; 22.18-20). Foi uma morte física e literal. Mostrava os deveres do povo, mas não podia capacitar as pessoas a cumprirem ou satisfazerem às leis que continha. Exigia a obediência e certas regras, sem difundir a força moral para tanto. Mesmo assim, a Lei Mosaica era boa e servia a determinado fim. 1. A glória da Antiga Aliança Sua origem: Termos determinados por Deus, escritos pelo dedo de Deus, dados em resplendor. Sua revelação: De Deus, sua natureza e vontade; do pecado e seus resultados. 1 6 8 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Sua orientação para o viver: Por mandamentos e proibições, Por justas leis para governos; no sacerdócio e na adoração. Suas promessas: Individuais e nacionais; físicas, materiais e espirituais. Sua autoridade: A Palavra de Deus, autoridade absoluta. Obe decer = Vida; Desobedecer = Morte. 1.1. Sua providência relativa à salvação Convencer as pessoas do pecado. Apontar para um Redentor (Salvador). Perdão pelos sacrifícios. Deus ouve o arrependido. Salvação mediante a fé em Deus. Paulo reafirma três vezes em 2 Coríntios 3.9-1 I que a lei foi gloriosa. Ainda que bem severa, foi concedida por Deus e “teve sua glória". Quando Moisés subiu o monte Sinai para se encontrar com Deus e receber a Lei, houve trovão, relâmpago e vapor espesso, ouviu-se também o som da trombeta. "A glória do Se nhor pousou sobre o monte Sinai” (Éx 24.16). Chamamos a lei do Antigo Testamento de "Lei Mosaica” ; mas na época, foi realmente a lei de Deus para o seu povo. Um Deus tão santo e glorioso não daria senão uma lei santa e gloriosa! Paulo nos diz que essa lei foi santa e justa, boa e espiritual (Rm 7.12,14). O homem pecador, porém, é justamente o contrário disso. Ao encarar a lei, o homem pode reconhecer o seu pecado e perceber a necessi dade de um Salvador. Gálatas 3.24 explica de forma eloqüente essa função da lei: "a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” . O sedento procura água. O doente pede o médico. E as almas condenadas pela lei buscam perdão. A nossa parte é conduzi-las ao Salvador. O mandamento não podia salvar ninguém, mas Deus, na sua misericórdia, providenciou um sistema sacrificial para remissão de pecados. Ele aceitava provisoriamente a morte de animais como substituto pela morte dos pecadores. Foi somente uma maneira de assinalar o futuro sacrifício definido e abrangente do seu Filho, Jesus Cristo, o qual seria a base da salvação para todos O Ministério de Luz e Glória 1 6 9 os povos de todas as épocas. Quando as pessoas se arrependem de seus pecados. Deus as salva pela sua graça (e não em conseqüên cia da sua obediência à lei). A lei trouxe iluminação espiritual e moral para os indivíduos e para a nação. O salmo 119 constitui um hino de louvor a Deus por sua Palavra e Lei. Quase todos os 176 versículos desse salmo expressam profundo agradecimento a Deus pelos seus manda mentos. As vidas orientadas pela Lei eram grandemente abenço adas, e quando as nações honravam e acatavam a lei de Deus, elas prosperavam. Os indivíduos e nações que se rebelavam contra Deus e sua lei sofriam conseqüências funestas. Os Dez Manda mentostêm servido de base para a constituição nacional de mui tos países. Seus princípios morais e sociais fornecem excelentes diretrizes para o bom governo e as boas relações humanas. V - A G l ó r i a d a N o v a A l i a n ç a (3.7—4.6) A Nova Aliança é o convênio no qual Deus promete aceitar como seus filhos todos que aceitarem Jesus como seu Senhor e Salvador. O Novo Testamento nos conta as bênçãos da Nova Aliança. Em 2 Coríntios 3 .7—4.6 vemos como ela difere da Antiga Aliança. Uma das características mais importantes da Nova Aliança é a sua permanência. O velho convênio esmoreceu, cedendo lugar a algo mais glorioso. O versículo 10 diz que já foi glorificado. Veja a interessante ilustração no versículo 13. Quando Deus falava com Moisés, o rosto dele resplandecia, refletindo a glória do Senhor. Então Moisés cobriu o seu rosto, e o povo não conseguiu ver esmorecer a glória. Esse esmorecimento da glória foi o retrato da Lei que reflete a glória de Deus. Mas hoje temos uma luz do conhecimento da glória de Deus, na face bem mais gloriosa de Cristo. Uma lâmpada elétrica dá mais luz que cem velas. Quando há luz elétrica, o que devemos fazer com as velas? Soprá-las, pois são desnecessárias: Jesus, a luz do mundo, já veio — a Palavra viva (o Verbo) de Deus — trazendo-nos a Nova 1 7 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Aliança do Evangelho. Vemos no livro de hebreus, um eloqüente tratado acerca da sua superioridade à Lei Mosaica. Lucas 2.9 diz que a “glória do Senhor brilhou ao redor deles'’. A glória da Nova Aliança brilha e ilumina, ao passo que na Antiga Aliança já esmoreceu. O indivíduo que lè e estuda a Antiga Aliança sem conhecer e aceitar a Nova tem no seu coração e mente uma espécie de véu (2 Co 3.14-16). Em contraste, o Senhor tira o véu! O ministério da Nova Aliança deveria “decla rar a verdade?” Não cabe aqui o ocultismo, a decepção nem a falsificação da Palavra de Deus (4.2). Mesmo que Satanás possa retardar a obra de Deus, Jesus continua sendo a luz do mundo. Seus ensinamentos e a presença do seu Espírito em nós iluminam a nossa mente e o nosso coração. A Nova Aliança é salvação mediante a fé em Cristo — uma nova vida agora e uma vida eterna na glória para aqueles que o aceitarem como Senhor e Salvador. Sua Palavra no Novo Testamento diz o que devemos fazer. Seu Espírito a escreve em nossos corações e nos dá vontade de cumpri-la, em vez de nos rebelarmos contra o mandamento; também nos capacita a reali zar o que Deus nos manda fazer. A Nova Aliança e o Evangelho da glória de Cristo iluminam e reconciliam o pecador arrependi do a Deus (4.4-6). 1. Refletindo a glória do Senhor Ao ver a palavra glória, a maioria dos cristãos pensa em Deus ou em céu. Mas tocados pela glória — cheios da luz de Deus, refletindo a sua bondade, amor e poder — quando seu Espírito habita em nós. Da mesma forma, como a glória do Senhor transfor mou o rosto de Moisés e o fez brilhar, assim também transforma os crentes atualmente. Devemos ser “conformados à imagem do seu Filho”. Somos chamados e justificados, e “aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.29,30). Com rostos descobertos, sem véu, somos transformados para “refletir a glória do Senhor” (2 Co 3.18). A palavra aqui traduzida, “refletir", também significa O Ministério de Luz e Glória 1 7 1 “contemplar, presenciar, olhar para”. Ao permanecermos na pre sença de Deus, contemplando a sua glória, começamos a refleti-la. O Espírito Santo opera em nós essa transformação, para nos tornar mais semelhantes a Cristo. É essa a razão por que Cristo nos chama e justifica (Rm 8.30). A locução “c/é- glória em glória ” mostra que é um processo gradativo. Somente por ocasião da volta de Cristo, chegaremos a ser semelhantes a Ele (1 Jo 3.2,3). A transformação já se iniciou e será completada na vinda de Jesus. Romanos 8.29,30 nos faz entender que isso sempre foi da vontade de Deus. VI - O M i n i s t é r i o d a G r a ç a d e D e u s (4.1-14) O capítulo 4 de 2 Coríntios nos mostra certos aspectos do ministério cristão. É um ministério de pregação (4 .1 -6), de sofri mento (4.7-13) e que traz um grande galardão (4.14-18). 1. O ministério da pregação C o m o p r e g a r o E v a n g e l h o Contar as coisas como são Viver o Evangelho plenamente Pregar a Cristo na sua plenitude________________ Você há de concordar comigo que os versículos 1 e 6 dão a chave do capítulo 4 de 2 Coríntios. Tomados em conjunto, nos ensinam que o nosso propósito na pregação é iluminar vidas com o conhecimento da glória de Deus. Isso implica em pregação certa e uma vida irrepreensível. Paulo diz em 4.2: “Nos recomen damos à consciência de todo homem, na presença de Deus” . Que declaração! Ela significa que nossas vidas dão bom testemunho do nosso Senhor e que vivemos aquilo que pregamos. Você está realmente se esforçando para seguir sempre esse modelo? Consegue identificar áreas problemáticas nas quais deve apresentar mais claramente a verdade da Bíblia? Penso, por exem- / 72 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios pio, nas relações familiares e no problema da pobreza. Você pode sugerir muitas outras. Certa feita, um ouvinte se aproximou do grande pregador inglês Charles Spurgeon (no século XIX) e lhe disse: “Seja qual for o seu texto inicial, o senhor acaba pregando Cristo”. “É verdade”, res pondeu Spurgeon, “É isso mesmo que eu quero fazer” . A pregação apostólica se resume em 2 Coríntios 4.5: “Prega mos a Cristo Jesus como Senhor” . Isso nos lembra as palavras de Paulo em 1 Coríntios 2.2: “Decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e esse crucificado”. Pense agora nos grandes prega dores do Novo Testamento: Pedro, Filipe, Paulo, Apoio. O livro de Atos revela duas coisas: sempre pregaram a Jesus Cristo, e a pregação deles produziu bons resultados. 2. O sofrimento à luz da glória Não gostamos de sofrer. De fato, chegamos às vezes a pergun tar por que Deus permite o sofrimento nesse mundo, especial mente no caso das crianças, dos velhos desamparados e dos crentes fiéis. Há motivos no sofrimento dos filhos de Deus? Parece que sim. Paulo nos salienta alguns desses benefícios. O sofrimento não pegou o apóstolo Paulo de surpresa. Logo após a sua conversão, Deus lhe mostrou o quanto teria que sofrer por amor ao Senhor (At 9.16). E Jesus disse claramente que aqueles que o seguiam teriam que sofrer (Mc 8.34,35). Paulo descreve as pressões, perplexidades, perseguições e obstáculos que enfrentava. O grande apóstolo padeceu bastante! Nas piores circunstâncias, experimentou o poder de Deus que o sustentava e infundia-lhe coragem para continuar. Repetidas vezes livrou-se da morte em resposta à oração. Essas vitórias trouxeram glória para Deus e robusteceram a fé de Paulo e dos outros irmãos. Você também se anima ao ouvir tais testemunhos do poder de Deus? Paulo menciona “esse tesouro em vasos de barro” (4.7). Cristo em nós é nosso tesouro e nossa esperança da glória (Cl 1.27). Nossos corpos são vasos de barro (Gn 2.7). Nas procissões triun- O Ministério de Luz e Glória / 73 tais da antigüidade, os preciosos tesouros eram transportados, às vezes, em potes de barro para que nossa atenção ficasse centrada no tesouro e não no pote. Que os nossos semelhantes possam perceber o poder de Deus na nossa fraqueza! Nem todo sofrimento ou doença glorifica a Deus, mas Ele pode até usar tais tragédias para sua glória e para o nosso bem (Jo I 1.4). Pode ser resultado de uma revelação do seu poder, livran- do-nos e dando-nos um novo testemunho. Ou pode ser para revelar ao mundo a realidade da sua graça exemplificada na fé dos cristãos que sofrem. Na vida ou na morte, somos de Cristo, Ele morreu por nós e ressuscitou dentre os mortos. Estamos dispostos a morrer por Ele, sabendo que Ele nos ressuscitará na sua própria vinda (4.10,1 1). O grande desejo de Paulo foi ganhar outros para Cristo. As tribulações, os sofrimentos e até a morte constituíam para ele um preço mínimopara alcançar o alvo da evangelização mundial. A vida através da morte é um dos grandes conceitos das Sagradas Escrituras. Leia João 12.23-25. A morte de uma semente dá vida para muitas outras. Um pastor ou missionário pode se sacrificar em benefício do seu rebanho, e os membros da igreja que contemplam esse exemplo experimentam também a vida do Senhor ressurreto e glorioso! Paulo acreditava firmemente que, apesar das provações, os cristãos e as forças do bem triunfariam em Cristo (4.14). Um ano após escrever essa carta, Paulo escreveu aos romanos que ne nhum poder nos pode separar do amor de Cristo. Leia agora esse magnifico trecho (Rm 8.35-39). É baseado na experiência pessoal dele e na promessa de Cristo: “ Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.30). O que você sente ao ler romanos 8.35-39? Quantas pessoas terão recobrado nova coragem ao lerem esse trecho? A existência dessa passagem bíblica valeu os sofrimentos de Paulo? Você já foi fortalecido espiritualmente em tempos de prova ção e sofrimento? Muitas pessoas buscam a face do Senhor ou ] 7 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios renovam a sua consagração a ele em tais momentos. Deus é nosso Pai amoroso e não gosta de nos ver sofrer. Mas, às vezes, permite o sofrimento para que possamos aprender alguma verdade espiri tual ou confiar mais nEle (Hb 10.11.12). Jesus continua sendo o grande médico que nos cura (Hb 13.8): podemos recorrer a Ele nos momentos mais difíceis. Um motivo de grande consolação para nós nos momentos de sofrimento é a nossa firme esperança para o futuro! Algum dia iremos trocar esse “vaso de barro” por um corpo imortal; não haverá mais dor, nem mal-entendidos ou perseguição! Não haverá mais lágrimas, senão o eterno gozo de estarmos com Cristo na glória! O sofrimento em nome dEle traz um grande galardão no céu. Nosso ministério pode não acarretar sofrimentos como os de Paulo; pode consistir simplesmente em trabalho bem duro! Mas seja como for, os fiéis servos de Deus recebem ajuda constante dEle nessa vida e um glorioso galardão no porvir. Podemos, pois, dar graças e louvores a Deus, venha o que vier. Mesmo “desvanecendo” em sentido físico, somos renovados interiormente dia após dia! Essa renovação do espírito não produz apenas crescimento; inclui também graça e força para prosseguir mos no serviço prestado a Deus e ao seu rebanho, mesmo quando parece não termos mais energia. Inclui também uma perspectiva mais clara da glória do porvir. 2 C o r ín t io s 4.17,18 Sofrimento Galardão Futuro Glória Eterno Invisível Eterno Atual Dificuldades Momentâneo Visível Temporário 13 0 Ministério de Reconciliação I - I n t r o d u ç ã o Já estudamos em 2 Coríntios 1 —4, o exemplo que Paulo nos dá como ministro eficaz do Evangelho que é a Nova Aliança. As palavras que ele oferece aos coríntios continuam ministrando-nos consolação, luz e glória. Agora, nos capítulos 5 — 7, contemplare mos mais um aspecto do ministério — o nosso ministério de reconciliação. Em termos teológicos, 2 Coríntios 5.17-21 é um dos trechos mais significativos das epístolas paulinas. Paulo toca nos temas de regeneração, redenção, perdão, evangelismo e justificação. E percorrendo toda a passagem, a grande verdade da reconciliação baseada na expiação de Cristo. Quando duas pessoas inimigas (que foram separadas por algu ma disputa violenta) fazem as pazes e tornam-se novamente amigas, acontece o que chamamos de reconciliação. Veja como isso se dá no caso de Deus e dos seres humanos. O homem, criado por Deus e habitando um mundo criado por Ele, rebelou-se contra o seu Criador. Tomou-se, assim, escravo de Satanás e do pecado, tendo agora uma natureza pecaminosa e rebelde que o destrói e o I 7 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios impede de submeter-se ao governo de Deus. Ele é, efetivamente, um inimigo de Deus. Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Sendo assim, ini ciou as negociações visando à paz definitiva. A justiça exige o castigo pelos pecados. A reconciliação só se tornaria possível se os pecadores abandonassem a sua rebelião. Por isso, Deus man dou seu Filho, o Príncipe da Paz, para pagar a “multa” (receber o castigo) do nosso pecado e possibilitou a reconciliação do mundo com o seu Criador. Agora, Deus nos nomeia embaixadores de Cristo; persuadimos as pessoas a aceitarem os termos propostos por Deus e ficarem em paz com Ele. Nisso consiste o importante ministério da reconciliação. II - A D o u t r i n a d a R e c o n c i l i a ç ã o (5.1-10) Já vimos como Jesus Cristo, o “Segundo Adão”, veio restau rar para a humanidade tudo aquilo que o primeiro Adão perdeu. Uma parte essencial dessa perda foi a paz com Deus, ou seja, a comunhão com Ele. A podridão e morte física iniciaram seus processos na terra e nas vidas humanas, quando o homem se rebelou contra Deus, a fonte de toda a vida e perfeição. Mas um dos benefícios da restauração da comunhão com Deus é a vitória final sobre a morte. A reconciliação com Deus subentende a nossa aceitação do plano dEle para as nossas vidas, o qual remonta à criação do mundo. Pode incluir trabalho e sofrimento agora (como vimos no capítulo 4), mas vemos ali adiante um eterno galardão de glória, delineado em 1 Coríntios 15.35-58. Em 2 Coríntios 5.1-10, vemos que o nosso espírito vive em uma morada, que é o nosso corpo. Vemos nesses versículos que, após a morte, o espírito do indivíduo reconciliado receberá uma morada diferente. Qual a diferença entre as moradas terrestre e celestial? Em primeiro lugar, notamos que Paulo chama o nosso corpo físico de “tabemáculo” (“tenda”), como também Pedro (2 Pe 1.13). Nosso corpo celestial, por outro lado, é chamado “edifí O Ministério de Reconciliação 177 cio, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. Seu espírito viverá na sua nova morada, bem como agora habita no seu corpo físico. Da mesma forma, uma casa sólida, feita de tijolos ou pedras, é superior a uma tenda de lona, também nosso corpo espiritual (nossa morada celestial) será muito superior ao nosso corpo a tual! (releia a seção “Um corpo perfeito” no capítulo 10). Veja bem as palavras de Paulo em 5.3,4: “ ... Estando vestidos, não formos achados nus... não porque queremos ser despidos...” O espírito humano precisa de um corpo para desenvolver alguma interação com o seu ambiente e realizar as suas funções. Deus fez o corpo de Adão antes de soprardhe o fôlego (espírito) da vida (Gn 2.7). Ao morrermos, o nosso espírito e alma irão imediata mente à presença do Senhor (5.8). Mas o Senhor tem trabalho para nós ao se estabelecer o seu Reino na terra. Teremos que funcionar simultaneamente no mundo espiritual, habitado por Deus e seus anjos, e aqui na terra. Por isso, quando Jesus voltar para levar a sua igreja, os mortos em Cristo e aqueles que ainda estiverem vivos receberão corpos glorificados (1 Ts 4.13-18). O espírito, antes “vestido” nessa tenda terrestre, vestirá sua “morada celestial”. E uma das bênçãos que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Co 2.9). Em 2 Coríntios 5.5 temos um bom resumo: Deus nos criou para “habitarmos com o Senhor” . Jesus prometeu preparar um lugar para nós. Ele diz: “Virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14.3). Mas os seres humanos, finitos e decaídos, habitam um corpo que é mortal e perecível; por isso, não podem morar na presença de um Cristo imaculado, infinito e glorificado. O homem precisa ser transforma do. Essa mudança se inicia na hora da sua conversão, pois ele nasce de novo em termos espirituais e morais. Quando se der o arrebata- mento da Igreja, ele recebera seu corpo celestial. A reconciliação já preparou seu espírito e a glorificação preparou seu corpo, “e então estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4.17). O fato de que o Espírito Santo habita agora em nós, crentes, é uma garantia de que o nosso espírito habitará finalmente um novo 1 7 8Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios corpo — nossa morada celestial (2 Co 5.5). Por enquanto, "anda mos por fé e não por vista" (5.7). Primeiramente, porém, teremos que comparecer “ante o tribu nal de Cristo" (2 Co 5.10), onde nossas obras serão julgadas (e não as nossas almas). Receberemos um galardão conforme essas obras. Faça uma rápida revisão desse assunto na lição 3 e releia 1 Coríntios 3.11-15. 1. A motivação dos reconciliados Efésios 2.8-10 constitui um texto-chave das epístolas paulinas. Somos salvos pela graça mediante a fé e não pelas obras (8.9). O versículo 10, porém, acrescenta que somos “criados em Cristo Jesus para as boas obras”. Em outras palavras, não somos salvos por nossas obras, mas praticamos boas obras porque somos salvos. Durante quase vinte séculos da Era Cristã, pouquíssimas pes soas têm trabalhado tanto e sacrificado tantas coisas por amor a Deus e ao seu Reino como o apóstolo Paulo. Que força o teria motivado? Medo ? Ambição? Fama? Desejo de poder? As primei ras palavras de 2 Coríntios 5.14 nos dão a resposta: “Pois o amor de Cristo nos constrange” . A idéia central dos versículos 1 I -13 é a preocupação e amor que Paulo sente pelos crentes em Corinto. Os falsos apóstolos (2 Co 1 1.13) questionavam os motivos de Paulo e seu ministério em Corinto. Por isso, ele lembra aos coríntios seus bondosos esforços em benefício deles, abrindo-lhes o coração (6.3-10), descreven- do-lhes os sofrimentos, açoites, labores, fome e noites passadas em claro por amor aos coríntios. Paulo padeceu muito para com partilhar as Boas Novas de Cristo com os não-evangelizados. O amor de Cristo o constrangia. A maioria jamais experimentará o que Paulo passou e nem atingirá o seu amor total, seu zelo consumidor e seu intenso sofrimento por Cristo e pelo Evangelho. Mas é possível que uns poucos se aflijam, ou tenham sido ator mentados ainda mais que ele. Seja como for, uma vez que Cristo morreu por todos: “Os que vivem não vivem mais para si mesmo, O Ministério de Reconciliação ] 79 mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (5.15). Na salvação morremos com Cristo e ressuscitamos com Ele (Rm 6.5). Agora vivemos por Ele, e devemos viver também para Ele. A reconciliação com Deus traz amor às nossas vidas. Em determinada altura, antes da sua conversão, Paulo contemplava Jesus Cristo de uma perspectiva mundana, sem reconhecer a sua divindade e o propósito da sua vida e morte. Mas após se encon trar com o Cristo glorificado no caminho de Damasco, houve uma radical transformação na vida dele! De repente, Paulo viu Cristo por outro prisma e logo se entregou a Ele como Senhor da sua vida. O antigo inimigo de Cristo tornou-se o mais entusiasta embaixador dEle; o antigo perseguidor da Igreja converteu-se no seu principal propagador. Uma vez foi motivado por seu ódio à igreja e seu zelo à Lei. mas agora Paulo estava disposto a morrer pela igreja por causa do seu grande amor por ela, e pregava por toda a parte a liberdade em Cristo. A semelhança de Paulo, também podemos afirmar: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (5.17). Não mais contempla mos Jesus por um prisma mundano. Nascidos de novo, ganhamos não somente o perdão dos nossos pecados, mas uma nova motiva ção para nossa vida, no encontro com Ele. O amor de Cristo nos constrange: por isso não podemos, nem devemos mais viver só para nós mesmos. Deus chama “ouro, prata, pedras preciosas” ao cristão que se dedica ao bem-estar de outros, em vez dos interes ses egoístas. São essas as obras que sobreviverão à prova de fogo (1 Co 3.12-15). 2. A base da reconciliação Quando duas nações, famílias ou pessoas tornam-se inimi gas, geralmente brigam de qualquer forma. A inimizade só cessa quando se lavra algum tratado de paz, aceito por ambas as partes. Pode ser um tratado muito favorável para o lado “forte” e bastante prejudicial para o lado “fraco” que tem que assiná-lo ou ser destruído por ele. Ou pode ser um tipo de convênio 18 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios mutuamente beneficente. Em todo caso, a reconciliação põe fim à luta e, por sua vez. baseia-se em alguma condição — uma promessa solene, o reconhecimento de certos direitos, talvez o pagamento de uma importância em dinheiro ou a entrega de algum território. Vejamos agora a reconciliação entre Deus e os seres huma nos. Uma das grandes verdades ensinadas nas epístolas paulinas é a apresentação de Cristo como o grande reconciliador — o medi ador entre Deus e o homem (1 Tm 2.3-7). Deus Pai não podia concordar com a escolha humana de levar uma vida pecaminosa. Ele não podia fazer as pazes com um mundo que rejeitava a sua autoridade e o seu plano traçado para o futuro deles. Deus não podia reconciliar-se com um mundo amaldiçoado pelo pecado, mas amou esse mundo de tal maneira que elaborou uma estratégia de reconciliação. O rebelde só pode ser reconciliado com Deus pela morte de Cristo no Calvário em lugar dele. Deus pagou a pena do pecado humano e estipulou os termos da paz. isto é. todos aqueles que rejeitarem o pecado e aceitarem a Jesus como seu Salvador serão libertos do pecado e se tornarão filhos de Deus! “E por ele credes em Deus. que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” (I Pe 1.21). Por meio da ressurreição, Deus mostrou seu agrado e sua acei tação do sacrifício (morte) de Cristo, como pagamento total dos nossos pecados. Agora nos aproximamos dEle como pecadores, mas somos reconciliados com Deus. “Nisso está a caridade: não em que tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10). Paulo diz em Tito 2.11: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” . Se assim for, por que nem todos os seres humanos são salvos? Porque a recon ciliação é bilateral. Compete ao homem crer, isto é, não somente reconhecer que Deus existe e que Ele é amor. mas aceitar os termos de reconciliação estipulados por Deus. Deve entregar sua vida ao Salvador que morreu por ele, crendo no seu coração que O Ministério de Reconciliação 1 81 Cristo o salva plenamente do castigo e poder do pecado. Veja João 3.14-16 e Atos 16.31. Paulo pergunta ainda: “Como crerão naquele de quem nada ouviram? (Rm 10.14). É por isso que percebemos bem a responsabilidade dos reconciliados. Somos chamados para ser embaixadores de Cristo, levando a mensagem da reconciliação pelo mundo inteiro em cada geração. (Leia agora Romanos 10.8-15). 3. O lado pragmático da reconciliação 3.1. O preço de reconciliar o homem com Deus Nos últimos versículos do capítulo 5, lemos que Deus nos tem dado o ministério da reconciliação e que, portanto, somos seus embaixadores. Ora, raramente os embaixadores de Cristo chegam a ser honrados como aqueles do mundo diplomático. Nos primei ros séculos da Era Cristã, milhares de líderes da igreja e outros crentes foram martirizados pela causa de Cristo. Parece que só um dos doze apóstolos (João) morreu de morte natural; os outros morreram como mártires. Pedro foi crucificado e Paulo degolado. Vimos no capítulo 12 que o sofrimento muitas vezes produz bênçãos, não somente para quem sofre mas também para os outros. Será que Deus permite a perseguição para estimular o crescimento e amadurecimento da sua igreja? A história parece ensinar-nos que é assim. Costumamos até dizer: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja” . Mas cada moeda tem duas faces: Em nossos dias, algumas religiões e governos opressivos estão limitando severamente o crescimento das igrejas. Seja como for. a lembrança da experiência dos crentes neotestamentários nos ajudará a entender o princípio fundamental de que a perda leva ao aumento, a morte à vida, e o sofrimento à bênção. Os primeiros capítulos de Atos falam de opressão, prisões, apóstolos açoitados e o martírio de Estêvão. Depois disso,Paulo foi ameaçado, açoitado, preso e apedrejado. Ele padeceu fome, sede, sofreu devido à falta de abrigo, às dificuldades, aos naufrágios e passou por muitos outros perigos no decorrer de suas viagens 1 8 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios evangelísticas. Os outros apóstolos e muitos outros obreiros tam bém enfrentaram perseguições. I I I - C r e s c im e n t o d e u m a I g r e ja P e r s e g u id a n o L iv r o de A t o s Cerca de cinco mil creram em Cristo 4.4 Mais e mais pessoas creram no Senhor 5.14 Espalhou-se a Palavra de Deus 6.7 Cresceu rapidamente o número de discípulos em Jerusalém 6.7 Iniciou-se uma onda de perseguições, espalhados pregaram a Palavra por toda a parte 8.1-4 Todos os judeus e gentios da Ásia (Menor) ouviram a Palavra do Senhor 19.10 A Palavra do Senhor se divulgou rapidamente e prevaleceu 19.20 Durante os primeiros 25 anos após a ressurreição de Jesus, cerca de cem mil pessoas em três continentes se converteram a Jesus. Parece ter havido alguma relação entre o índice de sofri mento e perseguição e o crescimento da Igreja. Até em nossos dias, evidencia-se um fenômeno semelhante. Em certo país da América do Sul, por exemplo, recentemente, os crentes em Cristo foram ferozmente perseguidos e houve muitos mártires. Agora, a Igreja naquele país está crescendo rapidamente. Releia 2 Coríntios 6.4-10; 1 1.23-29. Você verá que Paulo es creve sobre três tipos de sofrimentos — angústia mental (dificulda des, desonra, perigos e preocupações pelas igrejas), dor física im posta por outros (açoites, prisões), privações e desconfortos aceitos voluntariamente (trabalho duro, fome, insônias e viagens difíceis). Muitos obreiros de Deus hoje em dia se dispõem voluntaria mente a aceitar uma vida de dificuldades para reconciliar os seus O Ministério de Reconciliação 1 8 3 semelhantes com Deus. Conheço pessoalmente crentes brasileiros que caminham muitos quilômetros a pé pela chuva e lama, para celebrarem cultos evangelísticos. Nesse país, onde trabalho há mais de 25 anos. muitos alunos de instituto bíblico se levantam antes das seis horas, trabalham o dia inteiro, assistem às aulas de três a cinco noites por semana e voltam para casa à meia-noite. Quase todas as igrejas pentecostais têm vigília de vez em quando, sendo comum um período de jejum e oração. As igrejas pentecostais do Brasil estão cheias, não somente de crentes, mas também de pecadores em busca da paz com Deus. Muitas pessoas se convertem nos cultos da semana e ao ar livre. A rede evangélica continua se enchendo, e se o índice atual de conversões se mantiver durante a década de 1990, mais de um milhão de pessoas por ano se converterão a Cristo no Brasil. Jesus sofreu perseguições por ter praticado o bem. Como seguidores dEle, devemos estar dispostos a carregar a nossa cruz também — sofrendo perseguições ou sacrificando voluntari amente nosso tempo, dinheiro e conforto físico para implorar mos aos nossos semelhantes: “Reconciliai-vos com Deus!” Pau lo, apesar dos seus sofrimentos pelo Evangelho, foi vitorioso no poder de Deus e como seu colaborador (6.1,7). Ele plantou igrejas em dois continentes e atingiu multidões em nome de Cristo. Temos à disposição os mesmos recursos para a realiza ção da nossa missão. 1. Relações e conduta Embaixadores de Cristo Proclamando a mensagem dEle Colaboradores com Deus Falando da salvação divina Não criando obstáculos Servos de Deus Trabalhando fielmente 5.20 6.1-3 6.4-10 1 8 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Filhos espirituais do ministro Intercâmbio afetivo Templo do Deus Vivo 6.11-13 Rejeição de ídolos e imundície 6.16 Filhos e povo de Deus Purificando corpo e espírito 6.17,7.1 2. A conduta dos reconciliados Em 1 Coríntios, já vimos como Paulo apela para os crentes viverem em santidade na base da sua relação com Deus. Veja a freqüência com que ele especifica as relações entre Deus e o homem como base de conduta. Estude o quadro acima, buscando as referências bíblicas. Após o apelo pessoal de Paulo aos seus “filhos” em Corinto, ele oferece um sermão bem compacto acerca da santificação em 2 Coríntios 6.14 —7.1. Santificar significa “ tornar santo, separar de outros usos, consagrar ao uso de Deus”. Paulo já mandara aos coríntios que se afastassem de pessoas imorais, especialmente qualquer hipócrita que se chamasse ir mão, enquanto vivesse na imoralidade ou na bebedeira (1 Co 5.9- 11). Esse trecho e 2 Coríntios 2.14-18 não significam que deve mos agastar-nos de todo contato com descrentes. Jesus foi amigo de pecadores e os conduziu ao seu Pai. Ele não orou para que pudéssemos ser tirados do mundo, mas que fossemos guardados do mal (Jo 17.13-19). Satanás adora aproveitar as relações entre crentes e os descrentes para afastar os fiéis do seu Deus. Precisa mos da proteção divina. Algumas dessas relações, se previamente estabelecidas, não devem romper-se, como vimos no caso do crente casado com descrente. Muitos jovens crentes têm pais e irmãos incrédulos, e muitos pais cristãos têm filhos descrentes. Devemos externar o nosso amor por nossos parentes e amigos descrentes, mas não podemos participar simultaneamente de suas atividades pecami O Ministério de Reconciliação 1 8 5 nosas e da comunhão com nosso Deus. Por isso não devemos comprometer-nos intimamente com incrédulos. Deus nos manda: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis” (2 Co 6.14). Um jugo, ou canga, obriga os animais emparelhados a andarem juntos com passo igual e colaborarem em tudo. Imagine a frustração e atrito de ficar emparelhado com alguém que queira seguir princípios ímpios, enquanto você tenta seguir a Cristo! Pode ser questão de matrimônio, sociedade comercial ou inti midade social. A formação de laços estreitos com pessoas não cristãs, quase sempre prejudica o testemunho do crente e enfra quece a sua experiência cristã. A maior perda, porém, seria estra nhar a presença de Deus e virar as costas a Ele. E por isso que Paulo, citando Isaías 52.1 1, urge: “Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor" (6.17). É um bom conselho para nós tam bém ! Paulo encerra seu sermão de santidade (7 .1) com uma exorta ção dupla. A primeira parte é negativa, referindo-se ao que não elevemos fazer. A segunda, positiva, refere-se àquilo que deve mos fazer — levar uma vida santa por causa da vossa reverência para com Deus. 3. Reconciliação na Igreja Comecemos com 2 Coríntios 7.7: “As vossas saudades, o vosso choro, o vosso zelo por mim". Parece que os coríntios magoaram o apóstolo Paulo de qualquer maneira, e agora deseja vam sarar a ferida. Na carta referida em 2.4, Paulo lhes escrevera de forma bem dura, repreendendo a falta de disciplina do irmão pecador que tinha ofendido a igreja inteira. A prova de que aquela carta surtiu efeito é dada nas palavras: “Basta ao tal essa repreen são feita por muitos” (2.5,6). Já comentamos as emoções contrastantes de Paulo em 7.2-16. É óbvio que os coríntios tinham aberto seu coração ao apóstolo. Paulo lhes corresponde com um transbordar de alegria no trecho 1 8 6 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios sob exame. E em Corinto, a tristeza provocada pelo problema conduzira ao arrependimento, resultando na tomada das provi dências necessárias para a solução do problema e na restauração de comunhão entre os membros. De uma certa maneira, a reconciliação entre Paulo e os coríntios exemplifica a grande reconciliação entre Deus e os seres huma nos. Paulo, que sofrerá o insulto, iniciou a tentativa de reconcili ação: mandou por seu colega Tito, uma carta expressando seu amor por sua preocupação, pela lamentável situação existente e seu desejo de que respondessem com autêntica confiança e amor. Deus mandou seu Filho, o verbo feito carne, para nos mostrar a verdadeira condição das nossas vidas e o imenso amor do Pai para conosco. Ele não é nosso inimigo, mas apela em favor da reconci liação, possibilitada pela morte de Cristo, nossoRedentor. Agora, uma autêntica e profunda tristeza por nosso pecado, nossa inimi zade para com Deus, leva-nos ao arrependimento. Aceitamos os termos de reconciliação determinados pelo Pai e encontramos uma verdadeira alegria na paz com Deus. Houve muito júbilo quando Paulo soube, pela comunicação de Tito, que os coríntios tinham se arrependido dos seus erros. Semelhantemente, há gran de gozo no céu quando um pecador se arrepende e se entrega nas mãos de Deus (Lc 15.10). Impressiona-me, nesse trecho bíblico, a importância da comuni cação no episódio referido e em nosso ministério de reconciliação: 1. A visita difícil de Paulo — possivelmente comunicação defeituosa (2.1). 2. Uma carta que conduziu a tristeza e ao arrependimento — boa comunicação (7.8). 3. A visita de Tito, embaixador da boa vontade — ótima comunicação (7.7). 4. A busca inútil em Troas (Paulo não encontra Tito) — nenhuma comunicação (2.12,13). O Ministério de Reconciliação 1 8 7 5. Tito traz boas notícias de Corinto — ótima comunicação (7.6,7). 6. Paulo escreve uma carta amável, confirmando sua confian ça e perdão com relação aos coríntios — ótima comunica ção (2 Co). Que exemplo para nós! Se Paulo não tivesse persistido na sua comunicação, talvez nem houvesse produzido a desejada reconci liação. Estam os dispostos a ser igualm ente persistentes e longânimos no nosso próprio ministério de reconciliação entre familiares, amigos e membros da igreja? Recebemos a bênção que Jesus prometeu aos pacificadores? Que possamos realizar um ministério bem frutífero e abençoado. 14 0 Ministério de Contribuição I - I n t r o d u ç ã o Ao falarmos dos dons espirituais (1 Co), vimos entre eles o dom da contribuição para as necessidades de outros (Rm 12.8) e os dons de governos (I Co 12.28). Agora vamos enfocar mais detalhadamente esses ministérios, pois em 2 Coríntios, Paulo volta a tratar do assunto das ofertas para crentes carentes e da administração dessas ofertas. A Bíblia ensina a importância da contribuição de dinheiro e apoio aos nossos semelhantes necessitados. O apóstolo Tiago ensina que o verdadeiro Cristianismo inclui o cuidado com as viúvas e os órfãos e a contribuição de roupas e comida aos carentes (Tg 1.27; 2.14-16). A Lei Mosaica providencia auxílio para os pobres (Lv 19.9.10). O rei Davi escreveu: “O justo se compadece e dá" (SI 37.21). Salomão, o rei sábio, recomenda: "Reparte com sete e ainda com oito" (Ec 11.1.2). João Batista pregou: "Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3.11). Jesus ensinou bastante acerca das contribuições caritati vas (Mt 6.1 -4; Mc 12.41 - 44; Lc 6.38). E nosso Salvador fez mais: Ele deu de comer aos 1 9 0 Comentaria Bíblico: I e 2 Coríntios famintos, sarou os doentes, ensinou aos pobres e dava de si constantemente em benefício dos outros (Mc 10.45). Para o crente em Cristo, dar generosamente é um ato tão natural como respirar e orar. Quem nasceu de novo, dará de si. dos seus bens e talentos, enfim, de tudo o que tem para Deus. E o Espírito de Deus o guiará e abençoará na sua contribuição para os necessitados. Ao contribuir, descobre a verdade das palavras de Jesus. “ Mais bem -aventurado é dar do que rece ber" (At 20.35). O crente não dá para receber, mas a eterna lei divina de semear e colher ainda é vigente. Deus abençoa m ate rialmente aqueles que contribuem para sua causa. Esse princí pio se aplica a indivíduos, famílias, igrejas e nações. E os filhos de Deus não somente recebem a bênção divina agora como também entesouram bens eternos no céu (At 20.35). Vamos estudar e aplicar as lições desse capítulo, exercendo o ministério de contribuição. II - A G r a ç a d a C o n t r i b u i ç ã o C r i s t ã (9 .7 ) Os capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios oferecem o mais completo compêndio de ensino e metodologia de contribuição cristã na Bíblia inteira; essa passagem contém todos os princípios bíblicos que devem governar nossa contribuição beneficente. 1. Exemplos de generosidade Os primeiros exemplos da contribuição beneficente por parte da Igreja no Novo Testamento relacionavam-se com a assistência aos pobres e desamparados (At 2.45;6.1). A carestia mencionada em Atos 1 1.28 parece haver criado maiores problemas com os judeus, pois quem morava em Jerusalém passava fome. Por esse motivo, fez-se a primeira coleta especial registrada na história da Igreja em benefício dos irmãos pobres e necessitados (não para construir um templo, aumentar o ordenado do pastor ou ampliar a empresa missionária!). O Ministério de Contribuição 1 9 1 Aparentemente, Gálatas 2.10 nos indica que a igreja de Antioquia foi a primeira a enviar ajuda aos pobres em Jerusalém e que as próximas igrejas a participarem da campanha de assistên cia foram as da Macedônia (Filipos, Tessalônica e Beréia). O exemplo dessas igrejas foi realmente notável, porque também passavam por uma situação difícil. Mas a sua própria pobreza não a impedia de contribuir em benefício de outros. O versículo 2 é belo no seu drama de contrastes: “No meio de muita prova de tribulação, houve abundância do seu gozo; como a sua profunda pobreza superabundou em riqueza de generosidade” . 2. A graça de contribuição dos macedônios C o n t e x t o No meio de tribulação e profunda pobreza C o m Abundante alegria e riqueza de generosidade C a p a c id a d e Acima das suas posses Reclamando o privilégio de participar da assistência aos santos D e r a m -s e a s i m e s m o s p r im e ir o Ao Senhor Aos outros Eles rogaram o privilégio de contribuírem para outros pobres; a sua oferta foi dada “acima das suas posses!” Para os macedônios, a contribuição foi um gesto de louvor a Deus, um ministério espiritual; “deram-se a si mesmos ao Se nhor” (2.5; Mt 25.34-40), entregando tudo nas mãos de Deus. O Senhor deseja muito mais que nosso dinheiro e nossos bens. Ele quer todo o nosso ser. Podemos contribuir mecanicamente ou com uma atitude de total e voluntária entrega. Quando estamos realmente entregues a Deus, não é difícil contribuirmos generosa mente com nossas posses. / 92 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios 3. Padrão da contribuição cristã Você já pregou um sermão sobre a graça de contribuir? Acho que às vezes os crentes perdem uma grande bênção, porque não lhes ensinamos acerca desse ministério. Os seguintes pontos se rão úteis quando você pregar ta! sermão. Padrão da graça da contribuição 2 C o r ín t io s 8 v e r s íc u l o s Colaboração pelas igrejas 1 Expressão de sincero amor 8,9 Sábios conselhos sobre metodologia 10-12 Ofertas razoáveis e voluntárias 11,12 Participação proporcionada 13-15 Ajuda mútua conforme as circunstâncias 13-15 Administração sábia e honesta 16-24 Podemos contribuir sem amar. mas não podemos amar sem contribuir. João escreve: “Não amemos de palavra, nem de lín gua, mas por obra e em verdade” (1 Jo 3.18). Paulo reitera o princípio de que a liberdade é uma prova da sinceridade do amor cristão. Ele nunca mandou ou exigiu que os coríntios contribuís sem para os irmãos que sofriam na Judéia, pois tal constrangi mento ficaria muito abaixo dele, um apóstolo que escrevia por inspiração do Espírito Santo. Respondemos mais rapidamente a uma lição exemplificada que à lógica pura. Não há mais nobre exemplo de amor que a vida do próprio Jesus Cristo. Paulo lembra aos coríntios (8.9) que por amor a eles, Jesus deixou a glória celestial e se fez pobre para enriquecer eternamen te aqueles que iriam crer nEle. Cristo expressou seu amor por nós no seu ministério e no seu sacrifício no Calvário. A nossa contri buição beneficente constitui uma ótima manifestação do nosso amor por Ele! O Ministério de Contribuição 1 9 3 Veja o que Paulo diz no versículo 10: “E nisso dou o meu parecer” . Em alguns assuntos podemos tirar proveito dos conse lhos de ou tras pessoas m ais e x pe r ien te s (pastores etc.). Naturalmenrte, precisamos da orientação do Espírito Santo,mas também devemos usar o bom senso. Sempre há, ao nosso redor e por toda a parte, múltiplas necessidades e pedidos de ajuda financeira em nome do Senhor. Precisamos saber quando e quanto dar (ou não dar) a essas causas ou pessoas. Em caso de dúvida, talvez seja uma idéia sensata fazermos como os crentes da época de Paulo — canalizar uma boa parte da nossa contri buição pela igreja local. Os capítulos 8 — 9 mostram como algu mas igrejas ajudaram outras. Paulo nos ensina a incentivar o ministério e graça da contri buição. Ele louva aos coríntios por sua disposição de contribuir já expressa alguns meses antes (8.10). Foi o exemplo deles que estimulara os macedônios (8.24 — 9.3). Agora, compete-lhes ter minar a campanha já iniciada. Desejar é bom, mas é importante fazer, como também nos lembra o apóstolo Tiago (Tg 2.15,16). As epístolas falam indiretamente sobre a doutrina do dízimo (dez por cento do ordenado ou lucro), mas falam claramente em favor de contribuições regulares e proporcionais (1 Co 16.1-4). Se os judeus sob a Lei Mosaica davam dez por cento, parece razoável a nós crentes, na era da graça, dar até mais que isso. De fato, os judeus mais devotos contribuíram com muito mais que o dízimo, e Deus abençoa os crentes que dão com generosidade. Os versículos 13-15 nos mostram mais uma coisa — as igrejas devem ajudar-se mutuamente. As mais ricas devem auxiliar as menos abastadas. Ora, as igrejas da Acaia (Corinto e outras) eram mais ricas que as da Macedônia, mas ambas estavam numa situa ção bem melhor que as igrejas da Judéia, e para isso lhes manda ram assistência. Essa colaboração alivia as igrejas mutuamente, porque nenhuma delas fica com a responsabilidade total. Paulo salienta os benefícios de tal sistema: Acaia e Macedônia ajuda vam à Judéia, mas no futuro poderia surgir a necessidade de uma assistência recíproca por parte da Judéia. 1 9 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios Os princípios de generosidade e proporção aplicam-se também às relações entre sociedade e nações. Os países mais ricos têm a responsabilidade de ajudar aos mais pobres, as congregações mais abastadas devem contribuir mais para o estabelecimento de novas congregações e para assistência a regiões flageladas e carentes. Em nossos dias existem secas, carestia e outros problemas bem graves que parecem piorar em vez de melhorar. Como solucioná-los? A resposta definitiva seria a volta de Jesus, pois o governo dEle trará prosperidade universal. Mas. por enquanto, devemos fazer o possível para aliviar as trágicas condições que existem em nosso mundo. Possivelmente, se os cristãos do mundo inteiro pagassem o dízimo, as igrejas poderiam contribuir para os progra mas de assistência que aliviariam o sofrimento de incontáveis milhões de carentes ao redor do mundo; no mais, as igrejas cujos membros são dizimistas fiéis, terão condições de cuidar das ne cessidades locais e ainda ajudar as missões estrangeiras. I I I - A d m in is t r a ç ã o S ã b ia e H o n e st a ( 8 . 1 6 — 9 .5 ) Nesses nove versículos. Paulo nos ensina um modo prático de evitar críticas ao setor financeiro. Jesus não tomava conta do dinheiro recebido por Ele e seus discípulos; Ele nomeou Judas Iscariotes como “tesoureiro" do grupo (Jo 13.29,30). Paulo recu sou-se agir de forma unilateral na companhia de assistência para as igrejas da Judéia. Foram escolhidos três homens dignos de confiança para supervisionarem as coletas e ofertas, e os coríntios também deveriam escolher outros representantes para levarem a oferta a Jerusalém (1 Co 16.3,4). Sabemos pelo menos o nome de um dos três homens enviados — Tito. Alguns comentaristas acham que Lucas também foi, mas não constam provas disso. Seja como for, os homens escolhidos eram irrepreensíveis, hones tos, trabalhadores e zelosos no seu serviço a Deus. Eles honravam o seu Senhor e as igrejas dos crentes. Devemos divulgar aos outros a quantia com que contribuímos para obra do Senhor? Tudo depende do motivo. Jesus criticou os O Ministério de Contribuição 1 9 5 hipócritas que mandavam tocar trombetas diante deles, para que os outros reparassem no seu gesto de ofertar. Cristo recomendava que os crentes contribuíssem “em secreto” (Mt 6.1-4). Mas tam bém devemos estimular-nos uns aos outros às boas obras (Hb 10.24). Jesus chamou a atenção para a contribuição de certas pessoas: as moedinhas da viúva pobre têm inspirado gerações de crentes (Lc 21.1-4). Paulo preferiu falar abertamente da oferta, para que certas igrejas vissem o que outras estavam fazendo nesse sentido (2 Co 8.24). Ele tentava aumentar a contribuição geral para a glória de Deus e benefício de muitas pessoas. 1. Planejamento e estímulo da contribuição Os primeiros cinco versículos do capítulo 9 contém comentá rios bem diretos da parte de Paulo, acerca da contribuição para os pobres da Judéia, iniciada em Corinto há mais de um ano. Para que os coríntios não perdessem o entusiasmo pela causa, Paulo utiliza uma boa dose de “psicologia santificada” . Ele diz que tem confiança neles e sabe que irão completar o que já iniciaram. Ele não passa a rogar; diz apenas que anda gloriando-se da generosi dade dos coríntios entre as igrejas da Macedônia e que os seus com entários têm despertado a generosidade dos próprios macedônios. Agora, Tito e mais dois irmãos buscarão a oferta recolhida em Corinto, e alguns macedônios acompanharão Paulo a Corinto rumo a Jerusalém, com a oferta das suas igrejas. Que situação embaraçosa para Corinto, se suas ofertas não estivessem prontas para serem levadas! Através da previsão e do planeja mento, Paulo espera poupar a igreja dessa vergonha. Ele tenta estimular o entusiasmo dos coríntios para que possam dar com alegria e não de má vontade. O versículo 2 é chave desse trecho. Paulo contava com os coríntios para contribuírem com o que tinham prometido colabo rar na campanha de assistência. As nossas ofertas são dadas com igual alegria? William Barclay, no seu livro The Letters to the Corinthians (“As Cartas aos Coríntios”), diz que existem quatro motivações para a contribuição dos crentes: 1 9 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 1. Como dever 2. Para experimentar a auto-satisfação 3. Para ganhar prestígio e honra 4. Porque é constrangido pelo amor Embora os primeiros três motivos não sejam totalmente erra dos, o quarto é o melhor, pois constitui a norma das Escrituras, sendo o conceito ensinado por Paulo. Pense também sobre as outras três perguntas. 2. Os resultados da contribuição Ao ofertarmos com boa vontade e alegria, a graça da contri buição traz muitos resultados bons para nossa própria vida. Em primeiro lugar, encontraremos grande felicidade na nossa vida de serviço ao Senhor e aos nossos semelhantes. As ofertas aumenta rão e muitas necessidades serão supridas. Deus é louvado e os laços de fraternidade cristã se estreitam ainda mais. Daí oramos uns pelos outros, e aqueles que dão, recebem bênçãos recíprocas. “Aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (G1 6.7). Essa é uma das leis universais de Deus. Vigora na agricultura e nas ações humanas, podendo-se aplicar aos bens materiais, à saúde, à vida social e à condição espiritual. Afeta até o destino eterno das pessoas, como vemos no caso de Esaú e Judas Iscariotes, respectivamente (Hb 12.16,17; At 1.18,19). Paulo encerra a sua mensagem com o princípio de semear e ceifar. Moisés proclamou que a obediência a Deus traria bênçãos materiais, ao passo que a desobediência acarretaria sofrimento (Dt 28.1.2.15). O rei Salomão, em sua sabedoria, aplica o mesmo princípio à contribuição (Pv 11.24,25). Jesus disse: “Dai e dar-se- vos-á” (Lc 6.38). E Paulo acrescenta a importância da generosi dade — muitas sementes plantadas darão um contribuinte genero so espiritual e material. O generoso será enriquecido com amor, amigos, a capacidade de ajudar aos outros e as bênçãos espiritu ais. Ao mesmo tempo, ajuntará tesouros no céu (Mt 6.19,20). Mas O Ministériode Contribuição 1 9 7 tudo dever ser feito com alegria (9.7), para não estragar a bênção que Deus quer dar. “Deus ama a quem dá com alegria". A genero sidade traz glória para Deus, sendo esse o alvo de todo crente em Cristo. Deus é glorificado quando a assistência e apoio mútuo fortalecem a união da sua Igreja. O versículo 13 nos lembra que os crentes gentios de Corinto estavam contribuindo para ajudar crentes judaicos na remota palestina. Alguns desses tinham duvidado da sinceridade da con versão dos gentios e tentavam judaizá-los (At 15.1). Paulo perce beu que a generosa oferta dos gentios convenceria aqueles que duvidaram, provando que era autêntica a conversão dos gregos. Todos eles formavam parte do Corpo de Cristo. Nem distância, nem cultura, nem língua pode separar-nos uns dos outros! Como os crentes gregos, nós também contribuímos para o sustento de pessoas que nunca vimos. A notável oferta dos crentes gregos foi possibilitada somente pela graça de Deus (9 .14). A contribuição generosa em si é uma graça. A palavra graça (do grego charis) aparece 11 vezes nesse sermão de Paulo, traduzida alternativamente como dom, graças e ofertas. Finalmente, o versículo 15 nos assinala o maior de todos os dons de Deus para nós — a pessoa do seu Filho Jesus Cristo e a salvação que Ele nos traz! Para o crente, toda a graça procede do Calvário, sendo trazida para nossas vidas pelo Espírito Santo que Deus nos tem dado. Deus se entregou por nós. Esse divino dom nos inspira a contribuir. 15 Um Ministério Apostólico I - I n t r o d u ç ã o Os últimos quatro capítulos de 2 Coríntios diferem bastante dos anteriores no seu tom e conteúdo. Paulo deixa de lado os compassivos apelos, passando a usar de voz severa para condenar os falsos apóstolos (possivelmente os judaizantes) que tanto mal faziam à igreja em Corinto. Esses falsos pastores esperavam minar a autoridade apostólica de Paulo para impingirem nos crentes as suas próprias doutrinas legalistas e seu próprio contro le; queriam rejeitar o ensino paulino acerca da liberdade em Cristo. O Evangelho estava em perigo! Se Paulo não fosse um apóstolo autêntico, a igreja não teria a obrigação de aceitar o ensino dele. Por isso, o grande apóstolo foi obrigado a defender seu apostolado e autoridade aos gentios em termos bem fortes. O amor que Paulo sentia por Cristo e sua igreja transparece por toda essa eloqüente defesa do seu ministério. As acusações dos falsos apóstolos provocavam não somente essa autodefesa por parte de Paulo, mas também sua expressão de lealdade e devoção aos crentes coríntios. Paulo se refere aos seus sofrimen tos, viagens e experiências espirituais. Expressa o seu zelo e 200 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios preocupação pelas igrejas fundadas por ele. Nos capítulos 1 1 e 12, vemos a vida íntima do apóstolo e algo do preço pago por ele na realização do ministério que Deus lhe dera. A exceção do próprio Cristo, nenhuma outra personalidade do Novo Testamen to se abre para nós com tamanha intimidade. Paulo encerra a sua carta com algumas advertências acerca dos problemas na igreja, um apelo final, algumas saudações e uma benção apostólica. Esses capítulos nos desafiam a ser corajo sos (quando necessário) na defesa do nosso ministério e dispostos a sofrer (se preciso for) no desempenho dele. I I - A P r o v a d o A p o s t o l a d o d e P a u l o (10.1- 12.12) As referências de Paulo aos seus inimigos se misturam de tal forma com as provas do apostolado dele nesse trecho da epístola que precisamos destacá-las para entendermos bem o impacto da sua autodefesa. Vejamos, nesta seção, as evidências do apostolado de Paulo. 1. As marcas de um apóstolo Resultados do ministério 3.3 Destruição do poder de Satanás 10.3-5 Autoridade dada por Cristo 10.8 Vasto campo de trabalho designado por Deus 10.13 Levar o Evangelho a regiões não evangelizadas 10.6 Servo de Cristo 11.23 Trabalhador 11.23 Sofrer para ministrar 11.23-33 Visões e revelações 12.1-4 0 poder de Cristo na fraqueza 12.7-10 Um Ministério Apostólico 2 0 1 Sinais, maravilhas e milagres Amor pelos crentes Entrega total 12.12 12.14.15 12.15 Ao iniciar a sua defesa. Paulo apela aos coríntios “pela mansi dão e benignidade de Cristo” (10.1). A palavra grega praotes, “mansidão”, leva implícito o conceito de “autocontrole” . Fala da forte mansidão de Cristo, que se chamou de “manso e humilde” (Mt 1 1.29). “O qual quando o injuriavam, não injuriava” (1 Pe 2.23). Mesmo assim, Jesus se declarou fortemente contra os escribas e fariseus hipócritas que militavam contra a obra de Deus, derrubando até as mesas do templo (Jo 2.15). Zangava-se com aqueles que exploravam o povo em nome da religião. Nisso tudo, Paulo assemelhava-se a Cristo. Ao lermos as severas palavras de Paulo contra os judaizantes, costumamos pensar que deveria ser um homem de gênio forte e fogoso. Parece que realmente tinha temperamento assim, a julgar pelas “ameaças e morte” que respirava contra os discípulos antes da sua conversão (At 9.1). Mas ele morria “dia após dia”. Pela própria experiência, Paulo pode nos assegurar de que o fruto do espírito é (entre outras coisas) benignidade e domínio próprio, e que “E os que são de Cristo crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (G1 5.22-24). No seu apelo aos coríntios “pela mansidão e benignidade de Cristo” , Paulo revela que prefere lidar com o problema deles no amor de Cristo. Parece que os seus opositores interpretavam isso como sinal de fraqueza por parte dele (2 Co 10.10). E os coríntios julgavam pelas aparências, em vez de reconhecerem os verdadeiros motivos de Paulo na sua mansidão. Ele desejava usar sua divina autoridade para edificar a igreja; não para des truí-la pelas disputas e pela severidade (10.7-10). Mas se os coríntios preferissem uma “vara de castigo”, ele seria capaz de usá-la! (1 Co 4.18-21). Paulo salienta que os cristãos estão no mundo mas não são do mundo. Ele não se guiava pelos critérios do mundo secular. De 202 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios fato, aqueles que são de Cristo militam contra as forças satânicas que controlam o mundo, e Paulo contrasta as armas mundanas e as espirituais (10.2-4). Em 2 Coríntios 10.4,5, vemos que nesse conflito Paulo usava armas “espirituais” . Aqueles que vivem segundo a natureza peca minosa, usando armas carnais e mundanas, opõem-se ao conheci mento de Deus (10.5). Pensamos de imediato nos ateus que afirmam não haver Deus e nos agnósticos que negam a possibili dade de conhecermos a Deus; mas vemos que também os judaizantes se opunham ao conhecimento de Deus, revelado na pregação de Paulo. Quem ganha nessa batalha? Paulo mesmo já combateu o conhecimento de Deus em Cris to, mas Cristo o venceu! Paulo trocou a espada das perseguições pela “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” . Com essas armas espirituais e muita oração, ele e seus companheiros invadi ram as cidades orgulhosas e corruptas da Ásia Menor e da Grécia. Empregando essas armas divinas, com mansidão e benignidade, destruíram as fortalezas de Satanás e quebraram o poder dos demônios nas vidas humanas. 2. Poder divino das armas espirituais P a r a d e s t r u i r fortalezas sofismas altivez contra o conhecimento de Deus P a r a l e v a r c a t iv o todo pensamento à obediência de Cristo O poder necessário para vencer as armas carnais (perseguição, calúnia, discórdia etc.) não vem do soldado que empunha as armas espirituais. Há poder de Deus nas armas se o crente as usa conforme a orientação do Espírito Santo. Cada membro do exér cito de Deus deve usar essas armas espirituais com mansidão, Um Ministério Apostólico 2 0 3 mantendo sempre presente a lembrança de que a mansidão em si é uma arma poderosa. Satanás atira contra nós com as armas da dúvida, medo, ambi ção, egoísmo, orgulho, ressentimento, ódio, luxúria e inveja. Ele tenta controlar os nossos pensamentos, expondo-os constante mente ao mundo em derredorcom os seus argumentos mundanos. Precisamos lutar contra ele! 3. Autoridade do poder de Cristo A Igreja Primitiva exigia dois importantes requisitos daqueles servos do Senhor que reconhecia como apóstolos: 1. O apóstolo devia ter visto pessoalmente o Senhor ressurreto. 2. O ministério do apóstolo devia ter sido acompanhado de milagres. Paulo já esclareceu o fato de ter visto o Senhor ressurreto (1 Co 9.1-3). Agora lembra aos coríntios os milagres realizados durante o seu ministério entre eles (12.11-12). Desde o dia da sua conversão, Paulo ficou ciente da chamada de Cristo na sua vida para a pregação do Evangelho. Ele bem sabia que sua vocação de apóstolo para os gentios era de origem divina e não fora imposta pelos doze apóstolos originais. Paulo não foi um daqueles doze, mas apesar disso, o seu ministério foi reconhecido por eles e pela igreja em Antioquia, a qual o enviou e consagrou para três viagens missionárias (G1 2.7-9; At 13.1-3). Os milagres confirmavam sua chamada divina (Mc 16.20). Sabendo perfeitamente que Cristo o tinha mandado, Paulo falava, escrevia e agia com grande autoridade. Dizia que era de Cristo e tinha do Senhor uma autoridade especial, fossem quais fossem as acusações lançadas contra ele. O fato de serem os seus acusadores membros da igreja de Jerusalém nada significava em termos de relativa superioridade. Paulo confraternizava-se com os apóstolos em Jerusalém, mas não se submetia a eles (G1 2.9). E muito menos se subjugaria aos 204 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios falsos apóstolos em Corinto. “Também nós de Cristo somos”, diz Paulo, e a autoridade que “o Senhor nos deu” é “para edificação e não para vossa destruição” . 4. Alcance do labor de Paulo A palavra apóstolo significa “um que é enviado, mensageiro, missionário, representante daquele que envia". Sugere uma pes soa que leva o Evangelho a regiões não evangelizadas. Por esse motivo, o próprio campo missionário de Paulo e o alcance das suas viagens evangelísticas evidenciavam o seu apostolado. Em vez de se vangloriar das suas habilidades, sabedoria e realizações, Paulo diz: “Porém não nos gloriamos fora de medida, mas confor me a reta medida que Deus nos deu. para chegarmos até vós” (10.13). Ele sabia que era chamado por Deus para estabelecer a igreja entre os gentios em Corinto. A sua autoridade vinha de Deus; não de homens (G1 1.11,12-17). Paulo costumava pregar nas principais cidades do mundo gentio, treinar os novos convertidos e orientá-los na sua evangeli- zação das áreas contíguas, passando ele mesmo a outro campo novo. 5. Manifestações do amor em Corinto Ao se aproximar do fim dessa epístola, o zelo de Paulo pelos Corintos parece aumentar. Ele deseja o melhor para os seus filhos na fé. Repete três vezes “receio” (11.3; 12.20,21). De que teria medo? Que seus queridos coríntios não se mantivessem fiéis a Cristo e ao puro Evangelho da salvação pela fé. O labor de Paulo em fundar a igreja coríntia e o seu entranha- do amor pelos crentes comprovam a chamada de Deus na sua vida. Naqueles dias, os professores e mestres eram bem remune rados, pois os gregos e romanos estimavam os filósofos e aqueles que ensinavam. Mas Paulo não pediu sustento da igreja em Corinto; achava que isso seria um obstáculo para o Evangelho naquele Um Ministério Apostólico 2 0 5 lugar. Ele reconheceu o direito dos pastores de serem sustentados por suas congregações, mas não usou desse privilégio (1 Co 9.1- 18). Agora, seus inimigos usavam esse fato como mais uma acusação e ataque ao seu ministério: se ele fosse um verdadeiro apóstolo, não exigiria o sustento das igrejas onde ministrava? Por isso, Paulo se vê obrigado mais uma vez a defender o seu proce dimento. Leia cuidadosamente Atos 18.3-5 e 2 Coríntios 1 1.8,9, para entender a posição de Paulo. O versículo 8 introduz mais um princípio importante. A pala vra despojei tem significado figurado, pois sabemos que as igre jas contribuíam voluntariamente. Trechos como 1 Coríntios 9.7- 11 e 1 Timóteo 5.17,18 ensinam claramente que as igrejas locais devem sustentar seus pastores. Há também ocasiões em que as igrejas mais “abastadas” devem contribuir para o sustento de outros pastores, mestres e evangelistas. Nenhuma igreja é uma ilha isolada. Cada congregação que prega e pratica o Cristianismo do Novo Testamento no mundo moderno faz parte de uma comunhão internacional. É lamentável que algumas igrejas contribuam tão pouco para missões! Até as congregações da Macedônia, bem mais pobres que as da Acaia (inclusive Corinto), mandavam ofertas ao apóstolo Paulo; veja, por exemplo, o caso da igreja de Filipos em Filipenses 4.10-19. Talvez a sua igreja ou pastor pudesse ajudar algum outro pastor ou mestre de escola bíblica em um lugar distante. As contribui ções para a obra missionária fortalecem as igrejas que assim contribuem. Em Mateus 10.8, Jesus disse: “De graça recebestes, de graça dai” . O apóstolo Paulo constitui exemplo vivo de como dar gene rosamente. Ele se entregou sem reserva a Cristo e ao labor do Evangelho aos gentios. Deu muito de si aos crentes problemáticos em Corinto, a ponto de afirmar: “Eu, de boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (12.15). 2 0 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios I I I - A O p o s iç ã o a o M i n is t é r io A p o s t ó l ic o (1.12; 7.3; 10.1; 13.10) Uma breve revisão de 2 Coríntios nos proporcionará informa ções necessárias à compreensão desse aspecto da lição e servirá de preparo para o exame que segue. Busque as referências bíblicas dadas no quadro abaixo. 1. Os opositores de Paulo ein Corinto Q u em F o r a m “Super apóstolos” 11.5; 12.11 Falsos apóstolos 11.13 Obreiros fraudulentos 11.13 Servos de Satanás, disfarçados de servos de justiça e apóstolos de Cristo 11.13 C o m o se V anglo riavam Conforme o mundo 11.18 Como sendo hebreus e israelitas 11.22 Como descendentes de Abraão 11.22 Como servos de Cristo 11.23, 10.7 Como iguais a Paulo 11.12 Recomendando-se 10.12 Comparando-se uns aos outros 10.12 O q u e P regavam Um Cristo diferente 11.4 Um espírito diferente 11.4 Um evangelho diferente a si mesmos (implícito) 11.5 Um Ministério Apostólico 207 O q u e F a z i a m Escravizavam, exploravam, aproveitavam Exaltavam-se, esbofeteavam Glorificavam-se nas aparências Atacavam a autoridade de Paulo 11.20 11.20 5.12 5.12 2. A natureza dos inimigos de Paulo Paulo ataca vigorosamente àqueles que tentavam minar sua autoridade, mostrando a falsidade deles. Ele revela uma atitude protetora e paternal com relação aos coríntios, pois foi ele seu pai no Evangelho (1 Co 4.14,15). Os termos empregados por Paulo na descrição dos seus inimi gos nos lembram as críticas de Jesus aos fariseus hipócritas. É possível que alguns dos falsos apóstolos de Corinto ainda fossem fariseus em algumas das suas velhas crenças e práticas. O intuito deles era de obrigar os crentes gentios a guardarem a Lei Mosaica. Os falsos apóstolos em Corinto se empenhavam mais na promo ção de si mesmos que na edificação da igreja. Paulo chamou seus opositores de “obreiros fraudulentos”, tão enganadores como Satanás, o pai da mentira de Gênesis a Apocalipse (1 Tm 2.14; Ap 20.10). Eles conseguiram enganar muitos crentes, os quais passaram a duvidar de Paulo e filiar-se aos impostores. Paulo os chama de servos de Satanás. Cinco coisas que os falsos apóstolos fizeram de acordo com 2 Co 11.20: Escravizar: eqüivale a “judaizar” . Usado também em Gálatas 2.4; pode também sugerir subjugação total dos crentes. Devorar: é o verbo utilizado por Jesus em Lucas 20.47 na sua descrição de falsos mestres que cobravam pelos seus serviços. Os falsos apóstolos em Corinto provavelmente faziam a mesma coisa. Deter: sugere a captura de pássaros num alçapão, ou peixes numa rede; assim foi a situação dos coríntios! Exaltar-se: implica na arrogância dos “superapóstolos” , mais dedicados aos seuspróprios interesses que ao caminho do Senhor. 2 0 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios Esbofetear: Constiui-se uma séria ofensa. Pode resultar de um impulso emocional ou da necessidade de castigar alguém. Não sabemos se os falsos apóstolos realmente esbofeteavam os coríntios ou se o uso é figurado. Seja como for, nesse caso, reflete mais uma vez a arrogância dos obreiros fraudulentos. 3. Ataque e defesa De uma forma geral, o ataque começa no primeiro capítulo. Paulo não reage ferozmente por ter gênio violento: ele está lutando em prol da sobrevivência da Igreja Cristã e foi obrigado a se defender. Os crentes coríntios devem saber essas respostas para seu próprio uso no caso de futuros ataques do mesmo teor. Quais as provas do apostolado de Paulo? Ele as dá (5.12; 13.3) e contesta ponto por ponto as acusações feitas contra ele. 4. Acusações contra Paulo (implícita na sua autodefesa) Não cumpre promessas 1.17,18 Falta de cartas de recomendação 3.1 Corrompe as pessoas 7.2 Explora as pessoas 7.2 Tímido 10.1,10 Palavra desprezível 10.10 Seu ensino não justifica sustento da igreja, daí o seu trabalho 11.7; 12.13 Suas cartas intimidam 10.9 Aproveita aos coríntios 12.14-16 Prega mensagem não recebida de Cristo 13.3 O crente não deve vangloriar-se daquilo que é ou tem feito, mas, às vezes, é obrigado a defender o seu ministério para honra e glória de Deus e edificação da Igreja. Assim foi o caso de Paulo. Um Ministério Apostólico 2 0 9 Veja ainda as lindas palavras de Jeremias 9.23,24, citadas por Paulo: “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor” (10.17). IV - Os S o f r i m e n t o s d e u m A p ó s t o l o (1 1 .2 3 -1 2 .1 0 ) 1. Experiências e viagens As credenciais de Paulo são as cicatrizes no seu corpo! Ele era tão judeu quanto os seus opositores, mas esse fato não vinha ao caso. O que importava para ele era a sua fidelidade em cumprir a missão confiada a ele pelo Senhor. Paulo tinha certeza de que no seu serviço e sofrimento em nome de Cristo ele excedia aos seus críticos. Suas exageradas pretensões obrigavam o apóstolo a “se gloriar” das suas experiências, e assim faz falando “como se não tivesse juízo” (11.21 -23). Paulo escreveu essa carta da Macedônia pouco depois de sair de Efeso. Os sofrimentos aqui descritos deviam ter acontecido no decorrer de alguns anos, e sabemos que ele sofreria ainda mais nos anos posteriores a essa epístola. Por isso, a lista aqui apresen tada é apenas parcial; leia outra vez esse assunto em 1 Coríntios 4.9-13 e 2 Coríntios 6.4-10. Não sabemos como era o físico de Paulo, mas deve ter tido muita resistência para agüentar tudo que aqui se enumera. E ainda prossegue na esperança de estender seu campo de ação, pregando o Evangelho “para além” daquelas fronteiras (10.15,16). A sua perseverança em face do sofrimento é mais um indício da realidade da sua chamada divina para ser apóstolo dos gentios. No livro de Atos, onde se encontra a história da fundação da igreja em Corinto, Lucas não menciona muitos detalhes sobre a vida de Paulo, mas felizmente o apóstolo fala em algumas das suas cartas (como o trecho que aqui examinamos) e nos dá uma idéia mais íntima da sua situação e seus sentimentos. Os detalhes apresentados nos convencem da autenticidade do seu ministério apostólico. 2 1 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 2. Os sofrimentos de Paulo Físico — trato brutal, abuso, açoitado, apedrejado, encarcerado. Privações — sede, fome, esfarrapado, sem sono. Fraqueza, dureza — trabalho duro, viagens, frio fraqueza corporal. Perigos e desastres — naufrágios, rios, motins, bandidos. Psicológicos e espiritais — oposição, insultos, calúnia, difi culdades, mágoas, medo, humilhação pública, vergonha, ameaça de morte e zelo pelas igrejas. As aventuras e padecimentos de Paulo começam logo após a sua conversão. Ele passou a pregar a Cristo, e o perseguidor ficou sendo perseguido. E curiosa a referência que faz no capítulo 1 1. após contar muitos desastres e perseguições, inclusive um peque no episódio ocorrido em Damasco, quando ele desceu num gran de cesto muralha abaixo, escapando dos guardas com a ajuda dos seus discípulos (At 9.19-25; 2 Co 11.22-32). Evidentemente, tinha sido para ele. membro do Sinédrio e respeitado líder, uma experiência bem humilhante, e por isso a inclui entre os seus sofrimentos. O fugir pode parecer covardia, mas nesse caso, foi o jeito que Deus usou para preservar a vida de Paulo para o seu futuro ministério tão maravilhoso. 3. Visões e o espinho na carne Em seu relatório aos coríntios, Paulo salienta nitidamente os contrastes da sua vida. Passa, imediatamente, do humilhante epi sódio acima descrito à sua gloriosa subida ao terceiro céu! Foi uma experiência espiritual que teve, provavelmente quando esta va quase morto, após ser apedrejado em Listra (At 14.19-20). Seu espírito foi arrebatado a um nível chamado comumente “terceiro céu” (além da atmosfera e as estrelas) ou “Paraíso” — a morada de Deus e dos remidos (Ef 4.10). Um Ministério Apostólico 211 Muitos crentes dos nossos dias relatam experiências seme lhantes a de Paulo ao serem pronunciados “mortos” pelo médico. E um tipo de “previsão” da vida eterna com Deus e com os parentes e familiares já falecidos, e alguns afirmam ter falado com Jesus antes de serem enviados de volta à terra no momento de ressuscitarem. Tais crentes, como Paulo, são grandemente inspirados e animados por sua experiência para prosseguirem na fé, na expectativa daquela bela e eterna realidade que aguarda aqueles que estão em Cristo. Muito já foi escrito sobre o “espinho na carne” sofrido por Paulo (12.7). O que foi isso? Paulo o chama “mensageiro de Satanás para me esbofetear” (compare-se Jo 2.7). As hipóteses sobre a sua natureza são das mais variadas: (1) ferida física decorrente de apedrejamentos e ataques dos judaizantes, (2) uma doença grave (G1 4.13,14), (3) malária, (4) problemas com a vista (G1 4.15), ou (5) tentações de natureza espiritual (por exemplo, orgulho etc). O mais importante não é o “quê”, mas “por quê”. A semelhança de Jesus, o qual orou no Getsêmani que o cálice passasse dEle, Paulo pediu três vezes que fosse tirado o seu espinho na carne. O Senhor respondeu à sua oração, mas não tirou o espinho. A resposta divina tem ajudado milhões de crentes a agüentarem de bom ânimo padecimentos os mais diversos: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (12.9). Foi assim que Paulo, uma vez fariseu arrogante e orgulhoso e depois apóstolo abençoado com revelações celestiais, aprendeu a humildade e a dependência do poder do Senhor na sua própria fraqueza! (12.9.10; 1.9). Paulo não fala à toa ao afirmar que se gloria nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias por amor de Cristo (12.10). Ele se gloria na oportunidade de manifes tar a glória e poder de Deus. Assim, foram passos para o amadu recimento do apóstolo em Cristo e para a realização de um minis tério ainda mais amplo. O verbo da locução “sobre mim repouse” (12.9), nos lembra a nuvem da glória de Deus que repousava sobre o tabernáculo da Aliança no deserto (Ex 40.34,35). 2 1 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios 4. O zelo apostólico pelos crentes Nos versículos 11,12, do capítulo 12, Paulo fala dos sinais, maravilhas e milagres como sendo marcas de um apóstolo. Nesse momento, usa realmente uma prova ainda mais convincente da sua autoridade apostólica — o seu poderoso amor pela igreja de Corinto. Falemos agora do zelo do apóstolo Paulo pela condição espi ritual dos coríntios ( I 1.1-4). Ele zela pelos coríntios com zelo de Deus, não por causa da sua deslealdade a ele, mas por estarem à beira de se mostrarem desleais a Deus. Paulo fora o pai espiritual deles e os tinha “desposado” a Cristo, mas agora, alguns deles foram enganados e estavam dispostos a aceitar um Jesus, um espírito e um evangelho diferentes. Paulo sabia que Jesus é o único caminho, e quesó uma fé viva na morte expiatória de Cristo traz a salvação. O grande apóstolo defende ferozmente esse Evangelho, porque receia que um “evangelho diferente” possa espalhar-se pela igreja em Corinto e que os crentes “se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo” . Ao encerrar a sua carta, Paulo menciona mais uma vez a sua iminente visita (terceira) a Corinto e a sua preocupação acerca das condições lá existentes. Ele se preocupa não só pela fé dos coríntios, mas também por seu comportamento. Espera que os problemas de conduta sejam resolvidos antes da sua chegada lá. Preferiria uma visita agradável e pacífica, sem interrupções provocadas ou dis putas, partidarismos e pecado na congregação. Paulo continua orando por seus queridos coríntios. Ora em favor do seu aperfeiçoamento na fé e na conduta (13.9). Ele sabe que muitos deles são crentes imaturos, mas os faz lembrar que são crentes e que estão em Cristo (13.5) e Cristo neles. Após contestar nessa epístola tantas acusações acerca da sua p esso a e m in is té r io , Paulo passa a ped ir aos corín tios: “examinai-vos a vós mesmos, se realmente estais na fé; provai- vos a vós m esm os” (13.5). Um Ministério Apostólico 213 Logo depois lhes assegura que sendo ele autêntico apóstolo, reconhece que são verdadeiros crentes. Todos saem aprovados por Deus. O amor é o laço mais forte de união e lealdade que existe. Para se manter boas relações, não basta sentir amor; esse amor deve ser expresso de alguma forma. Isso é verdade na igreja, no lar e na sociedade em geral. Através dessa epístola, Paulo externa o seu amor pelos crentes. Procure na sua Bíblia os versículos mencio nados no quadro e leia cada um deles. 5. Paulo expressa o seu amor D e c l a r a ç õ e s de A m o r Amor em grande medida 2.4 Alarga-se o nosso coração 6.11 Sem limites 6.12 Não vos amo? Deus o sabe! 11.11 N o m e s U sa d o s c o m R e f e r ê n c ia ao s C o r ín t io s Irmãos 8.1; 13.11 Meus filhos 6.13; 12.14 Amados 7.1; 12.19 Ele amou esses crentes ao ponto de sacrificar-se por eles. Em vez de depender do sustento deles, fabricava tendas enquanto pregava e ensinava, até receber ofertas de outras igrejas. Como é eloqüente a declaração de 2 Coríntios 12.15: “Eu. de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” . Paulo era um autêntico seguidor de Cristo! Uma das mais cruéis acusações dos inimigos de Paulo foi que ele e Tito eram exploradores das igrejas, e que Paulo estava empregando uma parte do fundo de assistência na sua própria pessoa (8.22-24:12.14-19). Tais acusações são negadas enfatica mente por Paulo, que diz: “E tudo... para vossa edificação” . A sua 2 1 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios próxima visita a eles também visava fortalecer a igreja, e Paulo tentava, já com antecedência, estreitar as relações pessoais e estimular a fé dos coríntios na sua autoridade apostólica para que aquela visita fosse bem-sucedida. Lemos em 13.1 1-14 a conclusão da carta — o apelo final de Paulo, várias saudações e a bênção apostólica. Veja bem os cinco segmentos do seu apelo: 1. Aperfeiçoai-vos. Tem aplicação individual, é para toda a congregação. Os elementos mencionados a seguir contri buem para esse aperfeiçoamento. 2. Consolai-vos. 3. Sede do mesmo parecer. 4. Vivei em paz. Esses aspectos concernem à atuação mútua e recíproca dos membros da congregação, tendo uma larga aplicação em nossos dias também. 5. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Naquela altura, os beijos significavam o que nós expressamos com abraços e apertos de mão; até hoje, pessoas do sexo masculi no se beijam reciprocamente como forma de saudação nos países semíticos. Enfim, não importa a forma da saudação cristã, senão o amor e sinceridade com que é dada. Todos os santos vos saúdam. Eu também lhe mando a minha calorosa saudação pessoal! Decore a bênção apostólica do versículo 13 e use no seu ministério, pois é tão apropriada para nós, crentes do século XX, quanto foi para os de Corinto. Paulo desafiou os coríntios: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1 Co 11.1). As palavras dele continuam nos desafiando nos dias difíceis do mundo de hoje. Ao terminar o estudo desta carta, faça uma nova consagração (dedicação) ao Senhor, e, ao voltar ao seu ministério, não deixe de usar o dom ou dons que Deus lhe tem dado. Ie2 Coríntios Thomas Reginald Hoover Corinto era uma igreja com diversas dúvidas, e apóstolo Paulo respondeu-as. Porém as mesmas incertezas podem ser encontradas nas igrejas de hoje: De que forma o crente deve portar-se? Os dons fazem de nós pessoas diferentes das demais? Por que e como celebrar a Ceia do Senhor? Qual é o caminho mais excelente? Existe a ressurreição? Como devemos contribuir? E a questão das línguas durante o culto? É possível retirar o pecado do meio da congregação? Essas e outras questões que envolveram a igreja em Corinto no século I são abordadas neste livro por a lgu ém que se d ed ica a tivam en te ao en sin o sistemático da Palavra de Deus. 0 autor Missionário no Brasil, ministrou em 12 estados. É o fundador do Instituto bíblico Betei e autor do livro Missões: o ide levado a sério, lançado pela CPAD. Atualmente reside em seu país natal, o Canadá.