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Thomas Reginald Hoover
Coríntios
Thomas Reginald Hoover
1 e 2 Cormtíos
©
CBO
Todos os direitos reservados. Copyright © 1999 para a língua 
portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus.
Copidesque: Alexandre Coelho 
Revisão: Leila Teixeira 
Capa: Hudson Silva
225.7 - Comentário do Novo Testamento 
Hoover, Thomas Reginald 
HOOc . Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios.../Thomas
Reginald Hoover
.... 1* ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das 
Assembléias de Deus, 1999 
p. 216. cm. 14x21
ISBN 85-263 -0159-4 
1. Comentário 2. 1 Coríntios 3. 2 Coríntios
CDD
225.7 - Comentário do Novo Testamento
227.2 - 1 Coríntios
227.3 - 2 Coríntios
Casa Publicadora das Assem bléias de Deus
Caixa Postal 331
20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 
2a Impressão/2012 - Tiragem: 1000
/
índice
A presentação....................................................................................... 7
1. A Cidade, a Igreja e as C artas ...................................................9
2. A Sabedoria Divina e a Conduta de C ris to ......................... 19
3. O Alicerce da Conduta C ristã ................................................. 31
4. Os Abusos da Liberdade C ris tã .............................................. 41
5. Os Limites da Liberdade C ristã .............................................. 53
6. A Liberdade Cristã e a A utodisciplina................................. 69
7. O Véu, o Ágape e a Santa C e ia .............................................. 81
8. Os Dons Espirituais, a União e o A m o r...............................97
9. Os Dons Espirituais na Adoração C ris tã ........................... 115
10. A Ressurreição e o Serviço C ristão ..................................... 131
1 1 .0 Ministério de C onsolação.................................................. 149
12. O Ministério de Luz e G ló r ia ............................................... 163
13. O Ministério de R econciliação............................................. 175
14. O Ministério de C ontribuição............................................... 189
15. Um Ministério A postólico..................................................... 199
Apresentação
■
Você gostaria de voltar à época da Igreja Primitiva? Talvez 
gostasse de ser um dos jovens convertidos pelo ministério de 
Paulo. Com o chamamento de Deus no seu coração, você poderia 
ficar ouvindo os ensinamentos dele dia após dia. Depois, seguin­
do suas instruções inspiradas pelo próprio Deus, você poderia sair 
para proclamar Cristo, o salvador, por toda a sua região. Poderia 
acompanhar o apóstolo Paulo em uma dessas viagens, atravessan­
do rios turbulentos, com perigos de ladrões e assaltantes, naufra­
gando no mar encapelado, sendo apedrejado, surrado, preso, calu­
niado, ridicularizado, estando com fome, sede, frio e medo, en­
frentando a morte a toda hora e preocupado com o bem-estar dos 
novos convertidos de todas as igrejas que ele fundou. Mesmo 
assim, você poderia se regozijar com Paulo ao presenciar a opera­
ção do Espírito de Deus em todo o lugar. Milagres de cura 
decorrentes da oração fervorosa, cegos que passavam a enxergar, 
surdos que começavam a ouvir, mudos que entoavam louvores a 
Cristo. Você também louvaria o Senhor ao ver muitas pessoas 
destruírem seus ídolos mortos e entregarem-se ao Cristo vivo. E
8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
você intercederia com Paulo em favor do crescimento espiritual 
destes recém-nascidos em Cristo.
Você serviria talvez de secretário do apóstolo Paulo, escre­
vendo às igrejas as cartas que ele lhes ditava. Sentiria a alegria 
dele ao constatar o progresso das congregações, a sua tristeza ao 
ouvir dos problemas delas, a sua ira santa contra as forças satâni­
cas que atacavam as igrejas.
Talvez você pudesse ser um dos presbíteros de Corinto, espe­
rando ansiosamente uma resposta à carta que mandara a Paulo, 
com um pedido de conselhos. Enfrentaria muitos problemas na 
sua congregação. Alguns de ordem doutrinária, outros relaciona­
dos com o relacionamento e pecado dos membros, e só Deus sabe 
a solução para esses problemas. Que tal sentir que Deus, de 
alguma maneira, iria revelar a Paulo, o pai espiritual da sua igreja, 
a solução para os problemas que você e sua igreja enfrentavam. 
Quem sabe se os membros rebeldes estivessem mais dispostos a 
obedecer aos conselhos que você lhes dava. Por isso, esperava a 
carta dele, e que alívio recebê-la finalmente.
Volte comigo a Corinto e contemple, na sua imaginação, a 
iminência daqueles crentes primitivos e obreiros, seus sentimen­
tos e reações ao receber e ler as cartas de Paulo. Você ficará 
realmente impressionado ao ver como os ensinamentos dele, ins­
pirados pelo próprio Espírito Santo, falam a respeito dos proble­
mas e situações que nós mesmos enfrentamos hoje em dia na 
organização e ministérios da igreja. Este livro nos proporciona a 
oportunidade de voltar a Corinto para assim nos familiarizarmos 
com o apóstolo Paulo e sermos enriquecidos pelo ministério dele.
1
A Cidade, a Igreja 
e as Cartas
I - I n t r o d u ç ã o
1. Dados históricos
Os dois livros do Novo Testamento intitulados “Coríntios” foram 
escritos pelo grande missionário Paulo. Ele compôs essas cartas ou 
“epístolas” para os crentes em Corinto, uma das maiores cidades do 
Império Romano, um centro urbano próspero, mas muito corrupto. 
Por volta do ano 50 d.C., Paulo chegou a essa cidade tão necessitada. 
Passou logo a pregar aos judeus a mensagem de que Jesus era o 
Messias, mas a maioria rejeitou. Foi entre os gentios que Paulo 
ganhou a maior parte dos novos convertidos. Ele organizou uma 
igreja e permaneceu algum tempo na cidade, ensinando aos novos 
crentes a Palavra de Deus. Após sua partida, surgiram sérios proble­
mas. A jovem igreja apelou a Paulo, enviando-lhe cartas em mãos de 
alguns membros da congregação. Paulo respondeu em forma de 
epístolas (cartas) endereçadas à igreja em Corinto. nas quais apresen­
ta muitos conselhos acerca de problemas práticos e teológicos.
Como resultado das dificuldades experimentadas pela igreja 
coríntia, hoje temos à nossa disposição os ensinamentos mais 
claros da Bíblia acerca de certas doutrinas fundamentais e diretri­
zes inspiradas para a solução de problemas contemporâneos. Para
1 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
orientar melhor a nossa aproximação e estudo dessas cartas tão 
valiosas, daremos uma olhada prévia à cidade de Corinto e à 
igreja ali existente.
Nesse capítulo, falaremos da cidade de Corinto e de sua 
igreja. Assim, nos sentiremos mais informados acerca de seus 
membros. Então, perceberemos por que Paulo compôs 1 Coríntios, 
vendo assim a semelhança entre os problemas enfrentados pelos 
coríntios e pelas igrejas de nossos dias.
2. A cidade de Corinto — situação geográfica e tamanho
Sabemos pouco acerca da fundação ou origem de Corinto. A 
antiga cidade foi destruída pelos romanos no ano 146 a.C. Um século 
depois, uns cinqüenta anos antes do nascimento de Jesus, os romanos 
reedificaram a cidade como uma colônia romana. Até a época das 
viagens missionárias de Paulo (46-60 d.C.), Corinto já era considera­
da uma das mais importantes cidades do Império Romano.
Naqueles dias, Corinto era um importante centro comercial e 
porto marítimo, e contava com quinhentos mil habitantes. Pode­
mos imaginar como seriam suas ruas e feiras barulhentas, apinha­
das de gente oriunda de muitos países. Corinto era também im­
portante na vida política, sendo capital da província da Acaia.
Estude os mapas das viagens de Paulo na sua Bíblia ou num atlas. 
Você verá que Corinto é um istmo, uma faixa de terra rodeada de 
água dos dois lados. Localize as cidades de Roma (na Itália) e Troas, 
um importante porto da Ásia Menor. Os marinheiros que viajavam 
da Itália até Troas e outros portos semelhantes procuravam evitar as 
águas turbulentas ao sul da Acaia. Como faziam isso? Utilizavam o 
istmo de Corinto como ponto de rápida transferência de mercadorias. 
Por isso, o grande volume de carga que passavapor Corinto aumen­
tava as oportunidades de emprego para muitas pessoas atraídas a 
Corinto pelo grande movimento da cidade.
Quantos habitantes tem a capital de seu país? Compare-a com 
Corinto. Naquela época, não havia tantas cidades grandes como 
hoje em dia; Corinto foi uma das maiores, mas posteriormente,
A Cidade, a Igreja e as Cartas 1 1
sofreu vários desastres, um terremoto e inúmeras guerras, ficando 
reduzida a uma ruína. Em 1858. edificou-se uma nova cidade, 
Korinthos, a poucos quilômetros da original, que tem hoje uns 
nove mil habitantes e um canal que atravessa o istmo.
3. Comércio e grupos étnicos
Além do comércio mercantil, o istmo de Corinto também era 
uma espécie de encruzilhada do comércio terrestre provindo de 
Atenas e destinado ao sul da península da Acaia (veja seu mapa). 
Corinto estava cheia de viajantes, muitos deles comerciantes que 
vendiam e compravam mercadorias, comiam bem. assistiam aos 
jogos ístmicos ou visitavam algum dos templos pagãos. Além do 
ativo comércio realizado constantemente na Agora, o mercado 
central de Corinto. havia também fábricas e agricultura. A cerâ­
mica e o bronze de Corinto eram exportados por toda a região 
mediterrânea. Vinhedos, olivais e trigais circundavam a cidade.
Naturalmente, toda essa atividade reunia pessoas de diversas 
raças e nacionalidades em Corinto. Algumas delas perm aneci­
am pouco tempo, outras, um ano ou mais. Corinto, embora uma 
cidade grega, fazia parte do Império Romano. Até sírios e egíp­
cios residiam nela, e a referência a uma sinagoga (At 18.4) deixa 
subtendida a presença de judeus. Os viajantes e comerciantes 
espalhavam a influência coríntia por uma área bem vasta. Após o 
estabelecimento da Igreja Cristã, esses mesmos viajantes, se con­
vertidos a Cristo, divulgavam por onde viajavam as boas novas da 
salvação.
Não devemos subestimar a influência da sinagoga judaica na 
vida coríntia. Além dos judeus ortodoxos, havia também proséli- 
tos e outros indivíduos tementes a Deus que se congregavam todo 
sábado com os judeus. Os prosélitos, embora gentios, submete­
ram-se à circuncisão; mas os gentios tementes a Deus não se 
deixaram circuncidar, apesar de orarem a Ele e se congregarem 
com os judeus. Dois exemplos dessa classe de pessoas piedosas 
mencionados no Novo Testamento são Cornélio e Lídia. Vale a
12 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
pena ler o relato da conversão de ambos, encontrado respectiva­
mente em Atos 10.1,2,44-48 e 16.13-15.
Os coríntios adoravam os prazeres, as diversões e cultivavam 
jogos de força e perícia atlética. Celebravam-se todos os anos os 
jogos ístmicos, semelhantes aos jogos olímpicos dos nossos dias 
(nascidos também na Grécia antiga e praticados em homenagem a 
Zeus. o deus principal dos gregos). Mas o atletismo não era a maior 
diversão dos coríntios! A palavra Corintos tomou-se sinônimo de 
prostituição, alcoolismo e vida descontrolada. Até a sua religião 
apoiava tais práticas. O templo de Afrodite, deusa da beleza, ficava 
numa colina de seiscentos metros de altura, ao sul de Corinto. Um 
historiador nos informa que mil escravas, chamadas sacerdotisas, 
serviam ali na categoria de prostitutas. No templo, celebravam-se 
festas libertinas em homenagem aos deuses pagãos.
A imoralidade reinante numa sociedade pode penetrar até na 
Igreja Cristã. Novos crentes, às vezes, hesitam em abandonar deter­
minados hábitos ou costumes pecaminosos e egocêntricos, ou reca­
em nesse baixo nível moral após a libertação. Vemos claramente 
esses problemas na igreja dos coríntios. Evidenciavam-se certos 
costumes egoístas até nos jantares de confraternização (os ágapes) 
dos crentes. Alguns crentes eram gulosos, enquanto outros passa­
vam sem comer o suficiente. Havia problemas relacionados com 
rixas, alcoolismo, imoralidade e práticas pagãs. Entre os crentes? 
Sim! E a igreja teve de usar a disciplina e tentar resolvê-los.
4. A igreja em Corinto
Leia novamente Atos 18.1-11, sobre a fundação da igreja em 
Corinto.
Paulo, vindo de Atenas, chegou a Corinto no ano 50 d.C. durante 
sua segunda viagem missionária. Estava só, alojou-se na casa de 
Aquila e Priscila, judeus crentes em Jesus e, em seguida, visitou a 
sinagoga. Iniciou debates com os judeus acerca das profecias do 
Antigo Testamento, mostrando, conforme seu costume, como Jesus 
cumpriu todas as promessas messiânicas (At 9.20; 18.4,5).
A Cidade, a Igreja e as Cartas 13
Atos 18.5 é um versículo-chave. Após a chegada dos seus 
colaboradores. Silas e Timóteo. Paulo deixou de fabricar tendas e 
dedicou-se por completo à pregação, testemunhando aos judeus 
que Jesus é o Cristo. Ele concentrou seus esforços na evangelização 
dos judeus, seus correligionários. Essa ação decisiva fez com que 
a maioria dos judeus rejeitassem violentamente o apóstolo Paulo 
e sua mensagem (v. 6). Então Paulo resolveu pregar o Evangelho 
aos gentios, obtendo resultados imediatos e altamente satisfatórios 
(vv. 7,8).
Contudo, um grande número de pessoas convertidas numa 
campanha evangelística não implica necessariamente na criação 
de uma igreja. O apóstolo ainda não terminara o seu trabalho com 
os gentios em Corinto. De fato, Atos 18.9 dá a entender que Paulo 
ficou desanimado. O Senhor o animou numa visão, e ele se 
lançou novamente ao trabalho.
Paulo foi a Corinto, porque se sentiu chamado para pregar e 
sabia da necessidade daquele local. Porém, percebemos em Atos
13.2-4:16.6,7 outro motivo bastante forte. Ao viajar de cidade em 
cidade e de região em região, em obediência ao mandado recebido 
de Deus, Paulo sentia sempre a orientação do Espírito Santo.
Talvez você não seja missionário pioneiro como Paulo, mas 
sente a compulsão de pregar e falar de Jesus aos outros. Talvez não 
possa viajar às cidades distantes, mas pode trabalhar em nome do 
Senhor, como os diáconos do Novo Testamento. Você sabe, por 
acaso, da necessidade de pregar o Evangelho em alguma cidade 
vizinha? Está sentindo a orientação do Espírito Santo? E, acima de 
tudo, sente a compulsão de pregar o Evangelho? Então, inicie seu 
trabalho com ajuda do seu pastor e outros crentes. Pode ser que a 
mensagem de Atos 18.9,10 seja especificamente para você.
5. Membros da congregação de Corinto
Você já conhece alguns dos tipos de gente que habitavam 
Corinto: judeus e gentios, humildes operários e homens de negó­
cios, escravos e homens livres. Sem dúvida, reuniram-se na igreja
14 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
de Corinto grandes e pequenos, ricos e pobres. Chegamos a saber 
os nomes de alguns deles em alguma parte do Novo Testamento. 
Vamos enfocar alguns, a fim de aprendermos mais ainda.
Romanos 16.23 nos apresenta vários crentes coríntios. Paulo 
compôs sua Carta aos Romanos estando em Corinto; por isso 
sabemos que as pessoas que mandaram saudações aos crentes de 
Roma eram membros daquela igreja. Pensemos em Gaio, Erasto e 
Quarto.
A história nos diz que Erasto era um homem rico. É provável 
que Gaio também o fosse. Quarto é apresentado como sendo 
irmão. Seu nome. de origem latina, sugere que talvez fosse itali­
ano ou nascido de pais romanos.
Outros crentes importantes foram Crispo, Cloé e Estéfanas. 
Atos 18.8 nos apresenta Crispo como chefe da sinagoga. Em face 
da perseguição que outros judeus suscitaram contra Paulo, esse 
judeu (Crispo) se tomou crente em Jesus e foi batizado com todos 
os membros de sua família. Cloé parece ser uma mulher bastante 
rica, pois Paulo menciona os servos dela (1 Co 1.11). Estéfanas foi 
um dos primeiros líderes na igreja coríntia (1 Co 1.16; 16.15-17).
II - As C a r t a s a o s C o r í n t i o s
Aproximadamente cinco anos após a sua conversão, Estéfanas 
(em companhia de Fortunato e Acaio) saiu de Corinto e foi consul­
tar Paulo, que se encontrava em Éfeso. Esses três líderes da igreja 
coríntia levaram consigo uma carta, solicitando a orientação de 
Paulo acerca da resolução de alguns problemas sérios ocorridos na 
igreja em Corinto. Vejamos agora o pano de fundo da situação.
Durante os 18 meses passados emCorinto. Paulo presenciara 
o cumprimento da promessa de Deus: “Tenho muito povo nesta 
cidade”. Então, o grande apóstolo se despediu dos seus filhos na 
fé e foi pregar na importante cidade de Éfeso. Após uma visita 
breve, Paulo seguiu viagem para Jerusalém e Antioquia (na Síria). 
Assim chegou ao fim da sua segunda viagem missionária (At 
18.19-22). Posteriormente, iniciou sua terceira viagem, passando
A Cidade, a Igreja e as Cartas 15
pelas províncias da Galácia e Frigia, chegando pela terceira vez 
em Éfeso. Dessa vez, ficou mais tempo (três anos). Foi ali que ele 
recebeu os líderes eclesiásticos de Corinto e escreveu sua Primei­
ra Carta aos Coríntios em resposta, mandando-a com eles de volta 
à sua cidade no ano 55 ou 56 d.C.
Fazia uns cinco anos que Paulo não via seus queridos coríntios. 
Após sua partida, um eloqüente pregador chamado Apoio visitou a 
igreja coríntia (At 18.24; 19.1; 1 Co 3.4-6). Apesar do fiel ministé­
rio de Apoio, a igreja coríntia entrou numa fase caótica, na qual os 
membros brigavam, processavam-se nos tribunais e se comporta­
vam de maneira indigna da fé cristã. Alguns crentes tinham pergun­
tas acerca do casamento, das ofertas e dos dons espirituais.
Podemos destacar dois tipos de dificuldades na igreja de 
Corinto: as relacionadas com comportamento e as doutrinárias; 
algumas, como no caso do matrimônio, apresentavam ao mesmo 
tempo uma face doutrinária e outra prática. Contudo, uma leitura 
de 2 Coríntios nos convence de que a maior parte dos problemas 
se relacionava com a conduta das pessoas.
C o n s e l h o s d e P a u l o a o s C o r ín t io s
Problemas 1 Coríntios
Sectarismo 
Imoralidade sexual 
Litígios entre crentes 
Casamento; vida conjugal 
Comidas oferecidas a ídolos
1.1-4.21
5,6
6.1-8
7.1-40
8.18-33
Sustento econômico de ministros 9
O véu feminino no culto cristão 
Desordem durante a Santa Ceia 
Abuso de dons espirituais
11.1-16
11.7-34
12-14
15Confusão sobre a ressurreição 
Perguntas sobre ofertas 16.1-14
16 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Em 1 Coríntios, vemos a resposta de Deus através do apóstolo 
Paulo à perplexidade e perguntas da igreja em Corinto. Há muitos 
conselhos acerca da conduta dos crentes, tanto no contexto da 
sociedade pagã quanto na igreja. Por isso, um bom título ou tema 
para 1 Coríntios seria: A Conduta Cristã. Alguns dos novos 
crentes de origem não-cristã (tanto naquela época e como hoje) 
sentiam-se atraídos por valores e padrões conflitantes que não 
estavam de acordo com os valores cristãos.
Paulo compôs 2 Coríntios um ano após 1 Coríntios. Realmen­
te, ele enviou mais de duas cartas à igreja coríntia, pois refere-se 
a uma carta anterior em 1 Coríntios 5.9. Em 2 Coríntios 7.8, 
encontramos alusões a uma carta, datada posteriormente, embora 
alguns acreditem que se refira a 1 Coríntios. Parece que as demais 
cartas se perderam ou foram destruídas. Se Deus tivesse desejado 
que também fizessem parte do cânon do Novo Testamento, com 
certeza as teria preservado.
A mensagem principal de 2 Coríntios difere da de 1 Coríntios. 
Nessa segunda carta canônica, Paulo fala bastante acerca de suas 
próprias experiências no ministério cristão. Ambas referem-se a 
aspectos práticos de conduta e ministério e apresentam verdades 
doutrinárias. Mas podemos esclarecer seus respectivos temas prin­
cipais como sendo:
1 Coríntios: Conduta Cristã
2 Coríntios: Ministério Cristão
I I I - I n t r o d u ç ã o a 1 C o r í n t i o s (1.1-9)
Leia agora os nove primeiros versículos de 1 Coríntios 1 com 
bastante atenção. Releia-os. O que lhe chama mais a atenção 
neste trecho?
Note quantas doutrinas fundamentais da fé cristã são mencio­
nadas neste trecho: cham ada divina, a Igreja universal, a 
santificação, a gratidão, a segunda vinda de Cristo. É um pequeno 
compêndio teológico! Depois, o apóstolo Paulo passa a falar de
A Cidade, a Igreja e as Cartas 17
coisas desagradáveis, como por exemplo, brigas na igreja, ídolos 
e imoralidade. Há também certas palavras-chaves que ligam a sã 
doutrina ao bom comportamento, sugerindo soluções para os 
problemas apresentados: apóstolo (Paulo nem sempre se chama­
va assim nas suas cartas), igreja, santificado, santo, graça, paz, 
dom espiritual e Senhor Jesus Cristo. Quantas vezes Paulo men­
ciona o nome do Senhor Jesus? (Conte-os!) Eis o coração da 
teologia de Paulo: O Senhor Jesus Cristo!
Veja o personagem chamado Sóstenes no versículo 1. Sabe­
mos que foi um dos irmão na fé; não sabemos se é o mesmo que 
aparece em Atos 18.17. Parece que foi secretário de Paulo, que 
copiou 1 Coríntios enquanto Paulo ditava o texto em voz alta. 
Parece que Paulo escreveu do seu próprio punho apenas os 
quatros últimos versículos da epístola (16.21).
A idéia principal dessa introdução é: bênçãos recebidas por meio 
de Cristo Jesus. É espantoso pensar que a igreja de Corinto, com 
todos os seus problemas e fraquezas, tenha recebido graça e paz! Os 
coríntios haviam sido enriquecidos em toda palavra e conhecimento. 
Pertenciam a Deus e não lhes faltava nenhum dom espiritual. Jesus 
é a fonte dessas bênçãos. A mensagem acerca dEle tem sido confir­
mada neles. O versículo-chave é o 9, pois aponta para a fonte de todo 
o bem, a comunhão com Jesus Cristo, nosso Senhor.
C r ist o , a R esposta
Coríntios
1.1 Apóstolo de
1.2 Santificado em
1.2 Invocar o nome de
1.3 Graça e Paz de
1.4 Graça dada em
1.5 Enriquecido em
1.6 Testemunho de
1.7 Aguardando a
1.8 Confirmados por
1.9 Comunhão com
> JESUSCRISTO
1 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Podemos resumir 1 Coríntios 1.1-9 nos termos de quatro 
verdades importantes:
1. Paulo sentia gratidão pela ação de Deus nos crentes coríntios.
2. Os crentes coríntios, apesar de seus problemas, tinham 
recebido ricas bênçãos espirituais.
3. Deus os tinha abençoado através de seu Filho Jesus Cristo.
4. Os crentes foram guardados na fé por intermédio de Cristo.
O que o trecho lhe sugere quanto à maneira de abordar proble­
mas que surgem na sua igreja? Devemos orar para que Deus 
possa nos ajudar, no sentido de enfocarmos nosso Senhor Jesus 
ao enfrentar problemas que precisamos solucionar.
A Sabedoria 
Divina e a 
Conduta de Cristo
I - I n t r o d u ç ã o
Aprendemos no capítulo 1 como o ambiente de Corinto e seu 
baixo nível moral afetaram a igreja naquela cidade. Enfocaremos 
agora um outro aspecto da cultura coríntia. A Grécia era famosa 
por seus filósofos, dos quais se orgulhava bastante. A palavra 
filosofia vem do termo grego que significa “amor à sabedoria” . 
Os gregos adoravam a sabedoria, e os habitantes de Corinto, 
como os seus conterrâneos, dedicavam-se a longos debates sobre 
a natureza e aquisição dela.
As classes altas da Grécia Antiga passavam longas horas no 
seu passatempo favorito: escutar os filósofos e conversar sobre a 
natureza, o universo e o significado da vida. Admirava-se a 
eloqüência de certos oradores, bem como a sua lógica e seu poder 
persuasivo. Era natural compararem um filósofo ou orador com 
outro e sentirem uma afinidade especial com as opiniões de um 
ou outro orador, filósofo ou líder. Naturalmente, os crentes 
coríntios mostravam atitude semelhante com relação aos que 
exerciam a liderança da igreja.
Um dos problemas dos coríntios era a falta de compreensão da 
natureza da sabedoria. Já consideramos a tensão entre os valores
20 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
pagãos ou seculares e os valores espirituais. Os coríntios valoriza­
vam altamente a sabedoria humana, mas sabiam muito pouco 
acerca da sabedoria espiritual e do seu valor superior. O julga­
mento dos líderes eclesiásticos, na base de critérios seculares, 
causava divisões e sectarismo no seio da igreja. Você verá nessa 
lição como Paulo relacionava a verdadeira sabedoria vinda da 
parte de Deus com a unidade da igreja.
Ao estudar sobre a sabedoria divina, você verá como ela é 
importante e abrangente. Todo cristão deve sentir a real necessidade 
de sabedoria espiritual. Se você sente essa necessidade, não hesite 
em reclamar a promessade Tiago 1.5,6. que nos assegura que Deus 
dá sabedoria àqueles que a pedem com fé.
I I - O A p e l o à A ç ã o S á b ia ( 1 .1 0 - 1 6 )
A igreja coríntia constituiria um desafio para qualquer pastor! 
Os membros eram indisciplinados, contenciosos e tolerantes ao 
pecado. Paulo, contudo, não inicia a sua carta com uma severa 
repreensão. Em vez disso, dá graças a Deus pelos coríntios have­
rem recebido a graça de Deus e outras bênçãos espirituais. Logo a 
seguir, apela amorosamente a eles, no sentido de deixarem suas 
disputas e colaborarem uns com os outros.
1. Os crentes unidos
Paulo não pode deixar passar em branco o sectarismo existen­
te na igreja, um problema relacionado com o espírito contencioso 
dos membros. Apesar das divisões, parece que continuaram se 
congregando, mas havia o iminente perigo de se dividirem a 
qualquer hora em congregações rivais. Paulo tem de agir para 
impedir o fracionamento. A existência de partidarismos era um 
dos piores problemas da congregação coríntia. e Paulo ataca logo 
esse problema no início de sua carta. Leia 1 Coríntios 1.10 mais 
uma vez, para ter certeza daquilo que ele diz.
Foi Paulo crucificado em favor de vós? Claro que não! Fostes 
batizados em nome de Paulo? De jeito nenhum!
A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 21
Essas respostas devem ter surgido na mente de todos os ou­
vintes da carta de Paulo. Ele não culpa um dos “partidos” da 
igreja (pró-Paulo, pró-Apolo, pró-Cefas ou pró-Cristo) mais que 
os outros no seu apelo em favor da união, nem elogia os que 
preferiam a pregação dele ou diziam-se seguidores de Cristo. Ele 
torna bem claro o fato de que é Cristo que todos devem honrar de 
forma unânime. Veja como enfatiza esse detalhe pelo que diz 
acerca de Cristo nestes versículos:
1.10 - “Rogo-vos... pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo” .
1.13 - “Cristo está dividido?”
1.13 - “Paulo morreu por vós?”
1.13 - “Fostes batizados em nome de Paulo?”
(ou Apoio ou Cefas).
1.17 - “Cristo enviou-me... para evangelizar” .
Por que os coríntios escolheram para si três ministros e tam­
bém Cristo como os seus respectivos líderes? Sabemos que os 
gregos adoravam debates, e o partidarismo cristão pode ter surgi­
do de forma inocente, através de óbvio contraste entre o estilo 
retórico de Paulo — “Não o fiz como sublimidade de palavras ou 
de sabedoria” (2.1) — e o de Apoio, pregador eloqüente. Alguns 
dos crentes desejavam manter-se leais a Paulo, o lundador da 
igreja, ao passo que outros se sentiam atraídos pelo fervor e 
habilidade de Apoio na pregação, no ensino e no debate público 
(At 18.24-28). Outros ainda, talvez judeus convertidos, preferis­
sem seguir a Pedro, um dos apóstolos originais e grande líder da 
Igreja Primitiva.
Superficialmente, parecia que o quarto grupo, que se conside­
rava seguidor de Cristo, é que estava com a razão. Paulo, porém, 
condena igualmente todos os quatro partidos por seu sectarismo. 
Talvez o quarto grupo, que realmente entendeu como nenhum dos 
outros os ensinamentos de Cristo, fosse culpado de vaidade espi­
ritual por se sentir superior aos demais.
22 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
2. Os crentes gloriando-se no Senhor
Os coríntios caíram num erro sério ao se gloriarem dos líderes 
humanos. Mesmo o grupo que se dizia “de Cristo” poderia ter 
admirado a habilidade dEle como mestre humanitário e modelo 
(como muitas pessoas dos nossos dias), em vez de adorá-lo como 
Filho de Deus crucificado e ressuscitado. Nossa salvação depen­
de da morte dele em nosso lugar, não do fato de pertencermos a 
uma certa congregação ou obedecermos a determinado pastor ou 
evangelista.
Paulo rejeitou a tentação de formar uma igreja baseada na sua 
própria popularidade. Sabemos que ele era muito inteligente, bem 
formado e poderoso nos debates — qualidades que seriam bem 
atraentes aos gregos. Mas Paulo estava firme na sua resolução de 
que Cristo, e não ele mesmo, deveria ser o alvo da lealdade e 
amor dos coríntios. Por isso ele disse: “Decidi nada saber entre 
nós, senão a Jesus Cristo, e esse crucificado” (2.2).
Para combater a quase adoração de líderes humanos praticada 
pelos crentes coríntios, Paulo ressalta que Deus escolheu para seu 
uso as coisas ínfimas que o mundo despreza, “a fim de que 
ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1.27-29). Paulo cita 
logo um dos melhores trechos do livro de Jeremias. (Jr 9.22-24). 
À luz do panorama de morte e destruição que acompanha os 
homens sábios e poderosos, percebemos como é oca a glória 
humana. Devemos escolher e valorizar o eterno e glorioso privilé­
gio de conhecer a Deus! Paulo refere-se à advertência divina e faz 
dela o seu segundo apelo aos coríntios: “Aquele que se gloria, 
glorie-se no Senhor” (1.31).
3.1. O direito de nos gloriarmos
N ã o e m M a s R e v e l a d a
Sabedoria A bondade de Deus NA
Força A justiça de Deus C r u z
Riqueza A retidão de Deus
Jeremias 9.23 Jeremias 9.24 Gálatas 6.14
A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 23
É bom m em orizar Jerem ias 9.23,24, 1 Coríntios 1.31 e 
G aiatas 6.14. V eja na m ensagem divina, transm itida por 
Jerem ias, que Deus não condena a sabedoria, a força e nem a 
riqueza; diz apenas que não devem os nos orgulhar de nenhum a 
destas coisas.
I I I - A S a b e d o r ia d e D e u s R e v e l a d a 
em C r i s t o (1.17—2.2)
O trecho acima referido mostra claramente que devemos nos 
gloriar apenas no Senhor — não somente no Pai. como também 
no Filho, e não somente em Cristo como Filho de Deus, mas 
também em Cristo crucificado! Como poderiam os gregos glori­
ficar um homem que fora morto como criminoso? Eles glorifica- 
vam a força física e a sabedoria intelectual e se esforçavam 
constantemente para conseguir essas qualidades ou percebê-las 
em outros. E como é que os judeus poderiam gloriar-se num 
Cristo crucificado se acreditavam que os crucificados eram mal­
ditos de Deus? (Dt 21.23).
1. A morte de Cristo na cruz
No trecho de 1 Corintíos 1.17 — 2.2, Paulo menciona quatro 
vezes a crucificação de Jesus, ressaltando os seguintes fatos:
1. A sua pregação enfoca a cruz.
2. A mensagem da cruz não faz sentido ao indivíduo não 
convertido.
3. Cristo é a sabedoria de Deus, sendo a cruz a expressão 
desta.
Os gregos se valorizavam por sua sabedoria, mas pensavam 
em termos de sabedoria humana, e Paulo se referia à sabedoria 
divina. Qual a diferença entre uma e outra?
24 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
2. Qual a sabedoria que você deseja?
A sabedoria constitui uma profunda compreensão de algo, 
juízo baseado no conhecimento, e a habilidade de tomar decisões 
corretas.
S a b e d o r ia h u m a n a T ia g o 1.5 S a b e d o r ia d iv in a
Baseada no Tiago 3.13-18 Baseado no
conhecimento conhecimento
parcial, terrestre infinito, celestial
Produz orgulho Produz humildade
Produz inveja Produz consideração 
para com os outros
Produz ambição Produz
egoísta imparcialidade
Produz desordem Pacífica, submissa
Não espiritual, Pura, cheia de
do diabo misericórdia
Produz toda sorte 
de práticas ruins
Cheia de bom fruto
Devemos esclarecer uma coisa: Deus outorgou à humanidade 
uma certa sabedoria natural, realmente boa — por exemplo, a capa­
cidade de raciocinar, de aprender pela experiência: o poder de com­
preender e conformar-se às circunstâncias, a capacidade de escolher 
racionalmente aquilo que achamos melhor. Mas é uma sabedoria 
limitada. Deve ser complementada com a sabedoria divina, a revela­
ção de Deus, se quisermos reconhecer a verdadeira natureza das 
coisas, seus valores e as conseqüências de determinados procedi­
mentos. Deus nos criou para sermos seus filhos, dependentes dEle 
para a orientação de nossos pensamentos e ações.
Leia Romanos 1.17-32. Que contraste você nota entre 1.17 e 
os versículos 18, 21, 22, 25 e 28? Veja as terríveis conseqüências 
da rejeição à sabedoria divina.
A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 25
Leia o que diz 1 Coríntios 1.21: “Na sabedoria de Deus, o 
mundo não o conheceu por sua própria sabedoria” . Por isso Deus, 
nasua superior sabedoria, nos tem dado uma maneira superior de 
conhecê-lo. Ele se revela em Cristo, mostrando sua justiça e 
amor, padecendo o castigo de nossos pecados. O salvador crucifi­
cado e ressurreto diz: “Eu sou o caminho” (Jo 14.6). Jesus é o 
único caminho e o único Salvador. O partidarismo dos coríntios 
era, portanto, absurdo. Nenhum deles havia sido crucificado pe­
los coríntios (1.13). Deus coloca líderes humanos na igreja para 
fortalecê-la, orientando-a na obediência a Cristo, não para dividi- 
la em segmentos ou facções.
3. A pregação da cruz
No trecho que estudamos, há quatro referências à pregação: 
1.17,18; 1.23; 2.1 e 2.4,5. Leia esses trechos e identifique o 
conceito central.
Esses versículos nos mostram que a pregação do Evangelho e 
a sabedoria humana são mutuamente exclusivas! A morte de 
Cristo e a proclamação dessa morte pareciam totalmente absur­
das aos gentios. Mas, se Paulo tentasse tornar mais atrativa sua 
pregação por meio do uso de palavras de sabedoria e eloqüência 
humanas, estaria atraindo os ouvintes a si, e era isso mesmo que 
desejava evitar. Ele queria tornar seus ouvintes seguidores de 
Jesus Cristo, e não de líderes humanos. A pregação da cruz tem 
por objetivo conduzir homens e mulheres a Jesus (Jo 12.32). Se 
por meio de eloqüência natural e da sabedoria humana os ouvin­
tes se sentem mais atraídos ao pregador que ao próprio Cristo, a 
cruz é anulada (1.17).
1 Coríntios 1.18 diz que “a palavra da cruz é... poder de 
Deus”. Cristo nos mandou: “Ide por todo o mundo e pregai o 
Evangelho a toda a criatura” (Mc 16.15). Para que o Evangelho 
seja o poder de Deus nas vidas humanas, temos de pregá-lo com 
simplicidade, e os ouvintes precisam crer nele de todo coração. 
Realizando isso, o simples se toma sábio e o fraco ganha forças.
26 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Os crentes em Cristo colaborarão mutuamente e Ele será glorifi- 
cado. "O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como do 
conhecimento de Deus!” (Rm 11.3).
Os gregos da antigüidade se vangloriavam por sua sabedoria. 
Naturalmente, não é pecado buscar a verdade e a sabedoria. É 
pecado, contudo, acreditar que os seres humanos podem chegar 
até Deus e saber o que é bom mediante a sua própria sabedoria.
Paulo usa linguagem forte em 1.27,28. As coisas loucas do 
mundo irão envergonhar os sábios e as coisas fracas do mundo 
irão envergonhar os fortes. Ninguém pode se vangloriar de nada: 
nem Paulo de seu vasto conhecimento, nem Apoio de sua elo­
qüência, nem Pedro de sua posição.
Se esses grandes líderes da Igreja não podiam se gloriar, 
tampouco nós podemos nos orgulhar de nosso talento e trabalho. 
Jesus Cristo é a nossa sabedoria, nossa justiça, nossa santificação 
e nossa redenção (1.30). Deus nos dá tudo de que podemos nos 
gloriar. Estando em Cristo, temos bênçãos suficientes para essa 
vida e para a eterna.
IV - A S a bedo ria de D eus R evelada 
pelo E spírito S anto (2 .3 -1 6 )
Tem os falado acerca da m ensagem ou palavras da cruz 
(1.18) que era assunto principal da pregação de Paulo nos 
seus prim eiros dias de m inistério em Corinto. Por que ele 
insistiu tanto nesse tem a? Porque os coríntios não-regenera- 
dos precisavam dessa m ensagem . Por enquanto, não tinham a 
capacidade de receber mais que a palavra evangelística da 
salvação.
1. O plano divino escondido do homem natural
Em 2.7, Paulo diz: “Falamos a sabedoria de Deus em mistério, 
outrora oculta”. O versículo 9 se refere a Isaías 64.4, em apoio ao 
seu ensinamento. A declaração “não subiram ao coração do ho­
mem" (2.9) salienta o fato de que ninguém, por seu próprio
A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 27
esforço ou raciocínio, pode conhecer a Deus. O segredo divino 
continua sendo um mistério. Embora não mencione o nome de 
Jesus. Paulo dá a entender que fala do Filho de Deus pelo uso da 
frase “foi manifestado na carne” .
Por que a pregação do Cristo crucificado (1.23) constituía 
escândalo para os judeus? Apesar de ter recebido amplo ensino 
sobre a redenção por meio de sacrifícios e as profecias acerca da 
morte do Messias em lugar dos pecadores (Is 53), as palavras 
introdutórias pronunciadas por João Batista sobre Jesus e a sua 
morte eram inesperadas para os judeus, que não desejavam um 
Messias crucificado. Eles preferiam um libertador que cumprisse 
as promessas de sua futura glória e rejeitaram o Cristo crucifica­
do. Por isso, o plano de salvação continuava sendo um mistério 
para eles, como nos dias atuais. Muitas pessoas querem ganhar a 
salvação pelo mérito das boas obras. Outras dependem da própria 
sabedoria, optando por qualquer filosofia ou religião que lhes 
pareça mais lógica ou atraente.
2. O plano divino revelado pelo Espírito Santo
A mensagem da cruz é revelada pelo Espírito Santo (v. 10). 
Não é mais um mistério para nós. É Cristo em nós, a esperança da 
glória (Cl 1.25-27). É a revelação da Igreja universal, o corpo de 
Cristo. Efésios 3.8-11 esclarece essa verdade.
Até aqui. Paulo só menciona o Espírito Santo casualmente, 
mas tudo muda em 2.10. Desse versículo até o 14, Ele se torna 
presente em todos eles. O Espírito Santo perscruta as profundeza 
de Deus, conhece os seus pensamentos, nos ensina e ajuda a 
entender o que Deus tem planejado para nós. É por isso que Paulo 
consegue afirmar no versículo 6 que “falamos sabedoria”. Paulo 
valorizava a sabedoria de Deus, mas bem sabia que a mera sabe­
doria humana cria problemas, divisões, rivalidades e, às vezes, 
impede as pessoas de chegarem até Deus, resultando na crucifica­
ção do Senhor da glória (v. 8). A humanidade precisa de uma 
sabedoria mais alta, proveniente do Espírito Santo.
28 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Deus quer nos dar sabedoria em "palavras" ensinadas pelo 
Espírito, comparando as coisas espirituais com as espirituais” (v. 
13). Aquilo que os grandes homens do mundo (secular) não 
conseguiram entender, nós compreendemos ao abrirmos nossas 
mentes para o ensino do Espírito. Isso não significa o abandono 
da oração, da leitura bíblica e dos estudos, na expectativa de que
o Espírito nos revele verdades das Escrituras (2 Tm 2.15). Signi­
fica, sim, que uma boa compreensão da salvação e outras doutri­
nas bíblicas só vêm pela iluminação do Espírito Santo e pelo 
estudo sério da nossa parte.
Assim, entendemos que o sucesso no evangelismo depende da 
operação do Espírito Santo no obreiro cristão e no pecador. O 
Espírito conhece a íntima necessidade de cada pecador e sabe 
como se comunicar com ele. Por isso, Ele dá ao crente a mensa­
gem de Deus para suprir essa necessidade. Então abre a mente do 
pecador para que veja claramente que ele merece a ira de Deus, 
mas que Ele o amou tanto que mandou o seu íilho Jesus para 
morrer em seu lugar na cruz do Calvário. O Espírito Santo lhe 
concede fé para crer e aceitar a Jesus Cristo. Ele revela o Salvador 
e opera a transformação do novo nascimento, concedendo-nos a 
certeza da salvação. Também ajuda o novo crente a entender a 
Bíblia, ensinando-o a comportar-se como membro da família de 
Deus (1 Tm 3.15).
Os versículos 6 e 7 nos mostram como a sabedoria de Deus é 
eterna. Algumas coisas consideradas “sábias” nos dias de Paulo já 
não são cabíveis; porém, a sabedoria de Deus revelada pelo 
Espírito enquadra-se perfeitamente em qualquer época.
3. A plenitude do plano divino revelado
Existe o perigo de entendermos mal as palavras de Paulo no 
versículo 2: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a 
Jesus Cristo e esse crucificado”. Poderíamos pensar que Paulo 
pregava e ensinava somente a crucificação de Jesus e nada mais. 
É certo que os coríntios. tão corruptos e pecaminosos, precisavam
A Sabedoria Divina e a Conduta de Cristo 29
urgentemente da mensagem da Cruz, o Evangelho da Redenção 
mediante a morte de Cristo. Era justamente do que precisavam 
quando Paulo visitou Corinto pela primeira vez.
É fundamental a mensagem da cruz, pois a morte de Cristo 
pelos nossos pecados é a porta de entrada para tudo que Deus nos 
tempreparado. Mas a crucificação não pode ser nosso único 
tema. Não podemos ficar parados ao pé da cruz. Prossigamos até 
a ressurreição, pela qual somos justificados e declarados isentos 
de culpa, quando nos reconciliamos com Deus mediante Jesus 
Cristo (Rm 4.25). E, a partir daí, sigamos na nova vida em Cristo, 
crescendo na graça, no Espírito, no preparo para o serviço cristão, 
em nossa contribuição à igreja e à sua missão mundial.
Costumamos usar as palavras salvo, convertido e nascido de 
novo, para a pessoa que aceita Jesus Cristo como seu Salvador. 
Num culto evangelístico, essa pessoa pode responder ao convite de 
entregar-se a Jesus, orando a Ele e confessando os seus pecados. 
Fazendo isto com sincera fé em Jesus Cristo e a resolução de viver 
posteriormente para honra e glória dEle, ela experimenta uma 
maravilhosa transformação. Assim, torna-se realmente salvo, justi­
ficado e nascido de novo (Jo 3.3). Mas é só o começo. Ao estudar­
mos o Novo Testamento, o Espírito Santo nos ajuda a entender “o 
que nos é dado gratuitamente por Deus na salvação (v. 12).
4. O que Deus nos dá gratuitamente
Perdão do Pecado 
Salvação do inferno 
Paz com Deus 
Co-herdeiro com Cristo 
Nova vida e obra 
Novos amigos 
Um propósito na vida 
Vida eterna
N a
S alvação
Vitória sobre o pecado 
Habitação do Espírito 
Comunhão na oração 
Comunhão na Igreja 
Vigor da Palavra 
Saúde para o corpo 
Provisão das necessidades 
Um lar eterno no Céu
30 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Finalmente, devemos lembrar que a revelação da sabedoria 
divina pelo Espírito Santo é um processo vitalício para o cristão.
5. A revelação de Cristo
Nós — Crescimento no conhecimento de Deus 
Em Nós — Conhecimento na graça, o fruto do Espírito 
A t r a v é s d e Nós — Cristo revelado aos outros
Estude o quadro acima e examine a sua experiência pessoal. 
Você está usufruindo de todos aspectos da sua salvação? Avalie a 
obra contínua do Espírito Santo, revelando Cristo a você, em você 
e através de você. Ore a Deus acerca de qualquer área fraca que 
identificar.
3
0 Alicerce da 
Conduta Cristã
I - I n t r o d u ç ã o
Na lição 2, enfocamos a sabedoria como elemento de conduta 
cristã, onde Paulo salienta aos coríntios a impropriedade de fac­
ções no seio da igreja. Todos os crentes devem colaborar harmo­
niosamente um com o outro. O partidarismo, o julgamento e 
avaliação de líderes conforme os critérios do mundo conduzem 
inevitavelmente a rixas e contendas.
Nessa lição, Paulo continua mostrando aos crentes em Corinto 
a tolice do partidarismo e a necessidade da união em Cristo. Ele 
insiste no fato de serem todos os cristãos servos de Deus, desem­
penhando cada um o papel ou função que o Senhor lhe conferiu. 
Todos devem colaborar unânimes como lavradores para obter 
uma boa colheita, ou como trabalhadores na edificação da Igreja 
espiritual, conforme o plano mestre.
O capítulo 3 mostra a nossa responsabilidade como servos e 
colaboradores de Deus, o qual dispõe as tarefas e nos retribui 
conforme as nossas obras; sem Ele nada fazemos. Podemos plan­
tar e regar as sementes, mas o crescimento e a colheita vêm do 
Senhor. Podemos ajudar no labor de construção, mas Cristo é o
32 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
alicerce que proporciona ao edifício a sua forma e solidez. Somos 
responsáveis pela maneira como construímos a Igreja de Deus (e 
nossas próprias vidas como parte integral dela). Paulo compara a 
qualidade de nosso trabalho com certos materiais de construção: 
madeira, feno e palha (facilmente combustíveis) ou ouro, prata e 
pedras preciosas (duradouras, à prova de fogo). Cada crente deve 
perguntar-se: “Estou construindo com palha ou com ouro?”
No capítulo 4, vemos o retrato do fiel servo de Deus que sofre 
por amor a Cristo, mas continua desempenhando a missão que 
Deus lhe confiou.
I I - C o l a b o r a d o r e s c o m D e u s ( 3 .1 - 1 5 )
Após tratar a obra do Espírito Santo no capítulo 2, Paulo volta 
ao problema que tanto o entristecia: as divisões criadas na igreja 
pelo sectarismo de líderes humanos. Paulo critica os coríntios por 
se comportarem como crianças. São mundanos e contenciosos. 
Seus líderes não passam de servos (v. 5). Cada um tem os seus 
afazeres no plano de Deus.
1. Ministros como lavradores e construtores
Com palavras eloqüentes, Paulo pinta dois retratos da relação 
entre os ministros e a igreja de Deus. Primeiramente, fala acerca 
da agricultura. Um dos servos de Deus planta a semente, outro 
rega as plantas e Deus as fa z crescer! Os crentes devem respeitar 
e colaborar com seus líderes sim, mas também devem lembrar 
que só Deus fa z com que as coisas cresçam ! Sem a atuação divina 
na semente ou sem o sol e a chuva no solo, a plantação ficaria 
murcha e improdutiva.
Deus chama homens e mulheres para colaborar com Ele. 
Também nos chama a orar, plantar e colher a sua safra e construir 
o seu edifício, a igreja. Porém, só haverá resultados duradouros se 
o Senhor outorgar o crescimento e se edificarmos no alicerce 
dado por Ele.
O Alicerce da Conduta Cristã 33
A obra de Deus vai muito além da pregação, por mais impor­
tante que esta seja. Os obreiros exercem uma grande variedade de 
ministérios. Talvez pensemos no evangelista como sendo aquele 
que planta e no mestre ou pastor como aquele que rega. Ambos 
tem o mesmo propósito: produzir uma boa colheita. O que adianta 
disputar sobre qual dos dois é o melhor? Ambos são cooperadores 
de Deus (v. 9). Não importa se a safra é colhida pelo pastor ou 
pelo evangelista. Paulo plantou, Apoio regou e ambos comparti­
lharam na colheita porque Deus deu o crescimento.
Todos os ministros devem colaborar com o mesmo alvo: 
edificar o corpo de Cristo (a Igreja). E esse edifício é o santuário 
(templo) de que Paulo fala no capítulo 3. Ele, apóstolo, lançou o 
fundamento e outros edificaram; esse fundamento é Jesus Cristo.
Lembre-se de que a palavra “ministro” significa “servo”. Os 
ministros são servos de Deus e de sua Igreja. Ministramos as 
necessidades da igreja, conforme recomenda Gálatas 5.13: “Ser- 
vi-vos uns aos outros pela caridade”, à medida que desempenha­
mos a função que Deus nos tem proporcionado.
2. Membros da igreja como construtores
Ministros e leigos funcionam em pé de igualdade na Igreja, 
sendo membros do corpo de Cristo e desempenhando funções 
igualmente valiosas em benefício do corpo espiritual. Contudo, 
nem todo crente é chamado para pregar. Os que completam um 
período de estudo e se dedicam ao ministério em tempo integral 
merecem nosso respeito e cooperação. Deus exige que os crentes 
leigos apóiem os seus líderes no ministério sagrado. Tal apoio 
pode consistir em intercessão, ajuda financeira ou no exercício do 
próprio ministério. Todos somos chamados a plantar a semente 
do Evangelho através do nosso testemunho cristão. O crescimen­
to da semente não depende do tamanho da mão que a plantou!
A seguir, sublinhe cada ministério que contribui atualmente 
para edificação da igreja na sua região: testemunhar, levar amigos 
à igreja, ajudar nas necessidades, orar, contribuir financeiramen­
te, preparar e distribuir literatura evangélica, limpar a igreja, tocar
3 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
música ou cantar, ensinar. Pode haver muitos outros. Diga o 
nome de alguns. Qual é o seu ministério?
3. Alicerces e materiais de construção
Paulo lançou o fundamento da igreja em Corinto, mas outros 
ficaram com a responsabilidade de levar adiante a construção. 
Paulo frisa que ele mesmo, na qualidade de construtor mestre, 
lançou o fundamento certo — a sólida pregação de Jesus Cristo 
crucificado (2.2). Esse é o único fundamento capaz de sustentar o 
edifício a ser construído (Mt 7.24,25).
Os demais construtores da igreja de Corinto (e as nossas 
também) tinham duas obrigações: construir sobre os alicerces 
existentes e utilizar bons materiais. Naturalmente, Paulo está 
falando por metáfora e não se refere a casas ou edifícios concre­
tos. Está se referindo ao nosso labor em nome do Senhor,que será 
provado pelo santo fogo de Deus e por Ele julgado. Se for de alta 
qualidade (ouro, prata e pedras preciosas), sairá bem na prova e 
será recompensado. Se for de categoria inferior (madeira, feno e 
palha), trará prejuízo para a Igreja e fará com que o construtor 
perca a recompensa que poderia ter recebido.
Ora. os conceitos de bom e ruim , quando aplicados ao nosso 
ministério, não se referem à nossa habilidade ou talento para pre­
gar. ensinar ou desempenhar funções semelhantes. Dizem respeito 
aos nossos motivos e mensagem. O que os nossos semelhantes 
realmente percebem nas nossas vidas e atitudes? Se a nossa moti­
vação for glorificar a Deus e não a nós mesmos e nos esforçarmos 
para desempenhar a função que Deus nos proporcionou, estaremos 
construindo uma igreja forte e receberemos um magnífico galardão.
III - O T e m p lo d e D e u s (3.16-23)
Nesse capítulo. Paulo apresenta a Igreja como uma plantação 
cultivada pelos homens e abençoada por Deus e também como 
um edifício construído em fundamento firme (Jesus Cristo). Nos
O Alicerce da Conduta Cristã 35
versículos 16 e 17, ele compara a Igreja com um templo ou 
santuário. Essa referência é mais que simbólica, pois nos depara­
mos aqui com um princípio profundo, relacionado com uma das 
maiores diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento.
1. O habitante do templo
Você deve tomar conhecimento de seis templos:
1. O templo de Salomão, existente durante uns quatrocentos 
anos (Cr 2 — 7 salienta a grande importância deste).
2. O templo de Zorobabel, que substituiu ao templo de Salomão 
(Zc 4.9).
3. O templo de Herodes, reconstrução do templo de Zorobabel 
(Jo 2.19,20); foi demolido pelos romanos em 70 d.C.
4. O templo do futuro Reino de Cristo, noticiado por Ezequiel 
(Ez 40).
5. O templo espiritual — a Igreja (1 Pe 2.4-6; Ef 2.21,22).
6. O crente individual (1 Co 6.19).
O templo do Antigo Testamento, como as nossas igrejas 
hoje em dia, era consagrado como morada de Deus, local em 
que os crentes, num culto unido, se encontravam com o Senhor 
de maneira especial. Devia ser uma casa de oração, adoração e 
sacrifício; um lugar onde Deus manifestasse a sua presença de 
maneira especial. Mesmo assim, esse templo foi profanado di­
versas vezes. Jesus o cham ava “casa de meu Pai” , destinado a 
ser a Casa de Oração, mas fora convertida em covil de salteado­
res (Lc 19.45,46).
O tem plo foi o centro da vida religiosa da nação judaica, 
mas no Novo Testam ento percebem os que Deus deseja habitar 
onde quer que seu povo esteja. Jesus salienta essa m odificação 
(Jo 4.20-24). Deus habitaria num tem plo feito não por mãos de 
homens, mas construído por Ele mesmo — o corpo de cada 
crente (Jo 14.15-17,23). Onde quer que dois ou três crentes se
36 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
reunissem em nome dEle. lá estaria Deus no meio deles 
(Mt 18.20).
Em 1 Coríntios 6.19.20. Paulo fala do corpo individual como 
templo do Espírito Santo. Em 3.16.17. ele enfatiza o aspecto 
coletivo:
1. O Espírito de Deus habita no crente.
2. Todo crente em Jesus é parte do corpo de Cristo, chamado 
“a Igreja”.
3. Por isso, o Espírito de Deus (o Espírito Santo) habita na 
Igreja.
Vemos a mudança de orientação no que diz respeito à nature­
za do templo, no Dia de Pentecostes, que marca o nascimento da 
igreja cristã: a habitação de Deus passa do templo físico aos 
crentes reunidos. Onde quer que eles se encontrassem, o Espírito 
de Deus os visitava, fosse no templo ou no cenáculo. Como a 
nuvem e a coluna de fogo que desciam por ocasião da consagra­
ção do tabernáculo (Êx 40.34-38), e a nuvem da glória de Deus 
que encheu o templo consagrado por Salomão, assim também a 
glória de Deus se manifestou em línguas de fogo que repousavam 
sobre cada indivíduo, quando o Espírito Santo veio habitar neles 
(At 2.1-4).
Todo crente tem o Espírito Santo? Romanos 8.9,15. 1 Coríntios 
2.12 e I João 4.13 nos dão a entender que sim. A partir do 
momento da nossa conversão, o Espírito já está agindo em nós. 
Jesus vem habitar no nosso coração e recebemos o seu Espírito. 
Mas precisamos ainda ficar cheios do Espírito (At 2.2). Não resta 
dúvida de que Deus oferece ao crente uma experiência com o 
Espírito Santo após sua conversão. Costumamos chamar essa 
experiência de “batismo no Espírito Santo” (Mc 1.8). Assim 
recebemos poder para o nosso serviço (Lc 24.49; At 1.8). O 
Espírito de Deus em nós! Que privilégio! E que responsabilidade! 
Devemos deixar que Ele nos oriente e opere através de nossas 
vidas. No poder dEle iremos edificar a igreja, e não destruí-la.
O Alicerce da Conduta Cristã 37
2. A glória do templo
Nos versículos 18-23, Paulo parece abandonar o assunto do 
templo para voltar ao problema existente em Corinto: o orgulho e 
sabedoria mundana dos líderes. Ele mostra a futilidade da vangloria 
na sabedoria humana, em relação à incomparável grandeza do 
Espírito Santo que habita nos crentes.
Havia muitos templos pagãos de grande beleza em Corinto, 
mas, em contraste, o santuário de Deus é uma Igreja viva, 
“gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” (Ef 
5.27). É também uma Igreja poderosa, a quem Deus tem dado 
apóstolos, profetas e mestres.
A verdade da grandeza da Igreja parece empolgar o apóstolo. 
Ele fala alto, em voz lírica: “Tudo é nosso... as coisas presentes... 
as futuras... tudo é nosso”. Seria uma reclamação absurda, não 
fôssemos membros de Cristo! Somos de Cristo e em Cristo, e Ele 
habita em nós!
No futuro, Jesus será a luz da Nova Jerusalém (Ap 21.22-25). 
Hoje. Ele é a luz e glória do seu templo, a Igreja. Se andamos 
nessa luz. não cabe em nós a vangloria baseada na sabedoria do 
mundo ou de líderes humanos. “O fundamento de Deus fica 
firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus”. E 
mais: “E qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da 
iniqüidade” (2 Tm 2.19).
IV - Os S e r v o s d e D e u s (4.1-21)
No primeiro versículo do capítulo 4, Paulo emprega duas 
palavras gregas para mostrar que os ministros de Deus são real­
mente servos, e repete-as no versículo 2.
1) Huperetes, traduzida “servos”, significava originalmente 
“os escravos (galeotes) que remavam nas galeras” .
2) Oikonomos, traduzida “despenseiros”, significa “um admi­
nistrador ou mordomo, um escravo-capataz que mandava nos 
demais escravos e cuidava dos bens do amo".
38 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
O requisito principal para esses mordomos e servos era a 
fidelidade. Fosse o trabalho na despensa ou com as coisas secre­
tas de Deus, o encarregado tinha de se mostrar absolutamente fiel.
Como servos do Senhor, Paulo e Apoio seriam avaliados e 
julgados pelo seu Mestre, e não pelos coríntios. Essa é a mensa­
gem dos versículos 3-7. Isso significa que não devemos avaliar 
nada na vida cristã? De jeito nenhum! Em outros trechos bíblicos, 
lemos que devemos provar os espíritos (1 Jo 4.1) e julgar todas as 
coisas (1 Ts 5.21). Paulo proibia apenas o julgamento dos servos 
de Deus no sentido de comparar o ministério de um com outro, 
desprezando uns e exaltando outros, conforme critérios subjeti­
vos. Quem somos nós, para julgarmos os servos alheios? (Rm 
14.4). Não devemos ir além “daquilo que está escrito”, gloriando- 
nos em determinados pregadores ou mestres. Devemos “gloriar- 
nos no Senhor” (Jr 9.23,24). Uma razão disso é que não sabemos 
os motivos das outras pessoas. Escondemos os nossos motivos 
dos nossos semelhantes e, às vezes, nem percebemos a nossa 
própria motivação. Mas Deus tudo vê, e julgará até os motivos 
das nossas ações.
1. O ministro que sofre
Os versículos 7-13 constituem um trecho quase violento ao 
destacar os sofrimentos dos primeiros apóstolos, mas Paulo fala 
sem queixas. Ele repreende os coríntios por imaginarem que 
haviam ganho ou merecido sua posição tão favorável. Ele os faz 
lembrar que tudo que receberam foi dom de Deus (1.4-7; 4.7; Jo 
3.27; Tg 1.17). Paulo demonstra como são tolos ao aceitarem 
impensadamente os critérios e valores do mundo, vangloriando-se 
de serem ricos,sábios e honrados. Em contraste, descreve os sofri­
mentos dos atribulados servos do Senhor em termos dramáticos.
O versículo 9 refere-se a um costume bem conhecido dos 
coríntios. Após uma grande vitória de um general romano, esse 
seria levado com seu exército vitorioso pela ruas da cidade de 
Roma. Após os soldados, seguiam os presos capturados por eles, 
todos algemados, proporcionando espetáculo para o povo. Iriam à
O Alicerce da Conduta Cristã 39
arena lutar com as feras para divertir a grande multidão; eram, 
desde já, condenados à morte. Assim também foram os apóstolos 
aos olhos do mundo, ao passo que os coríntios se consideravam 
sóbrios, fortes e respeitados. Hebreus 11.32-40 descreve os sofri­
mentos dos heróis que mantinham a fé em Deus em circunstâncias 
deploráveis de torturas e massacres.
Você sabe de alguns ministros ou crentes que sofreram perse­
guições quando o Evangelho foi pregado pela primeira vez na sua 
região? Tem dado graças a Deus por eles? Tem agradecido a 
essas pessoas pela sua dedicação em transmitir o Evangelho? 
Onde estaríamos se os apóstolos tivessem resolvido não mais 
pregar as Boas Novas de Cristo por causa da perseguição? Você 
conhece algum crente em Jesus que testemunha fielmente, apesar 
de ser ridicularizado pelos seus semelhantes? O que prefere — 
riquezas, honra, poder e sabedoria do mundo, ou sofrimento para 
poder levar o Evangelho àqueles que nunca o ouviram?
2. O ministro como modelo
O texto muda abruptamente de tom no versículo 14 quando 
Paulo diz: “Meus filhos amados”. O versículo 16 parece contradi­
tório à luz do trecho anterior, mas há uma harmonia subjacente. 
Ele acaba de culpar os coríntios de seguirem cegamente determi­
nados líderes humanos, porém agora diz: “Admoesto-vos, portan­
to, a que sejais meus imitadores” . Que quer dizer isso? Com que 
direito Paulo pede tais coisas?
1. Na qualidade de fundador da igreja de Corinto: ele é o seu 
pai espiritual. Pode haver muitos mestres, mas só um pai.
2. Ele não arroga crédito pessoal, mas diz: “Eu, pelo Evange­
lho, os gerei em Cristo Jesus”. Sem o Evangelho, nada de 
bom teria acontecido.
3. Ele pede que os coríntios sigam o exemplo dele, não que o 
prefiram a outros ministros.
4. Sua vida concordava com a sua doutrina, sendo um ótimo 
modelo de conduta. Não se tratava de “faça como eu digo”,
40 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
senão de “faça como eu faço” (v. 17). A nossa vida condiz 
com a doutrina que pregamos?
5. Era necessário que Paulo mostrasse a sua autoridade espiri­
tual, por causa daqueles arrogantes que criavam dificulda­
des na congregação (v. 18).
Nessa lição, temos estudado o tema da fidelidade dos servos 
de Deus. Sejamos, então, fiéis no desempenho do labor que Ele 
nos dispõe e no emprego daquilo que nos confia — o Evange­
lho, os talentos, nosso tempo, as finanças, as oportunidades e 
qualquer coisa que tivermos a nossa disposição. Almejemos 
recusar fielmente qualquer tentação de cultuar a nossa própria 
glória. Desejemos edificar com presteza a Igreja de Cristo para 
glória de Deus, sendo dignos de exemplo para os demais. Se­
nhor, faze-nos servos fiéis!
4
Os Abusos da 
Liberdade Cristã
I - I n t r o d u ç ã o
No capítulo 3, estudamos algumas verdades maravilhosas 
acerca da Igreja como plantação e edifício de Deus. O crente, 
como parte integral do edifício e santuário de Deus, é instado a 
colaborar com os demais crentes, para que o edifício de Deus 
possa ficar maior e melhor. Vimos o perigo da destruição da 
igreja pelo emprego de materiais errados — métodos, motivos e 
ações pecaminosas ou inferiores.
Nessa lição, veremos algo da “construção com palha” que 
estava acontecendo na igreja de Corinto. Os membros abusavam 
da sua liberdade cristã. Certas pessoas achavam que tal liberdade 
implicava no direito de fazer qualquer coisa que fosse do seu 
gosto. Outros viviam em pecado e eram tolerados pela igreja. 
Alguns até pareciam orgulhar-se da sua “liberdade”, em vez de 
orientar os crentes no sentido de levarem vidas disciplinadas pelo 
Espírito de Deus. Paulo chama à atenção da igreja e exige uma 
reação frente ao pecado existente.
Ao iniciar seu estudo de 1 Coríntios 5 — 6, talvez você esteja 
Pensando: “Paulo não estaria sendo impiedoso no seu método de
42 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
disciplinar certos membros da igreja? Podemos aplicar os mes­
mos métodos nas nossas igrejas hoje em dia? Como é possível, 
num espírito de amor, excluir um membro da igreja?”
Parece que Paulo exige uma atitude firme e descomprometida, 
mas isso tem propósito duplo: impedir que o pecado se espalhe 
mais na igreja e conduzir os pecadores ao arrependimento. Paulo 
agia com amor, mesmo não parecendo. Ao estudar, peça ao 
Espírito Santo que o oriente no sentido de compreender e amar os 
demais crentes, mesmo quando for obrigado a se responsabilizar 
por problemas na igreja.
II - A L ib e r d a d e C r is t ã e a D is c ip l in a 
NA I g r e ja ( 5 .1 - 1 1 )
1. Perigos da liberdade sem disciplina
Nos dias de Paulo, dois grandes perigos ameaçavam destruir a 
igreja e a vida espiritual dos crentes, ambos relacionados com a 
liberdade cristã. Um deles era o legalismo — a identificação da 
vida cristã com a obediência de certos regulamentos, supondo que 
a salvação dependia disso. O outro era o antinomismo , cujos 
adeptos (antinômicos) achavam que, uma vez que a salvação vem 
pela fé, os crentes não estão sujeitos a nenhuma lei moral. Alguns 
chegavam ao ponto de crer que quanto mais pecassem mais 
abundante seria a graça e a glória de Deus manifestas no seu 
divino perdão (Rm 6.1,2).
Vemos claramente que as duas posições constituem opostos 
extremos de algo que poderíamos cham ar “ liberdade cristã” . 
Paulo, na sua Carta aos Gálatas, considera legalismo a escravidão 
à Lei de Moisés. Essa primeira carta fala do antinomismo, ou 
seja, o abuso da liberdade cristã, mostrando a importância dos 
limites, para não abusarmos dela. Para corrigir os excessos da 
liberdade cristã, são necessários treinamento no caminho da ver­
dade, autocontrole para manter os padrões e critérios cristãos e 
disciplina ministrada pela igreja.
Os Abusos da Liberdade Cristã 43
Hoje em dia não costum am os em pregar o term o antino- 
mismo, mas, apesar disso, há muitas pessoas autodenom inadas 
•‘crentes” que levam uma vida desregrada e libertina. A igreja 
tem uma séria responsabilidade com relação a essas pessoas: a 
disciplina.
Disciplina: treinamento, em especial, da mente e do caráter; 
condição de estar bem treinado; ordem mantida entre membros de 
um grupo; castigo com finalidade de corrigir.
Disciplinar: produzir uma condição de ordem e obediên­
cia.
2. Disciplina na igreja impedida pelo orgulho
O capítulo 5 de 1 Coríntios começa com uma revelação cho­
cante acerca do pecado de alguns crentes e da atitude da igreja em 
geral. Um dos membros estava tendo relações com a esposa de 
seu pai (provavelmente sua madrasta). Até os pagãos condena­
vam esse tipo de incesto. E a igreja tolerava esse pecado com o 
orgulho de sempre.
Não pensemos que os cristãos coríntios se orgulhavam do 
pecado em si. É possível que tivessem um certo prazer na sua 
tolerância de exibir “o amor de Jesus” , dando as boas-vindas a 
qualquer indivíduo que quisesse freqüentar os cultos e tornar-se 
membro da igreja, fosse qual fosse a moralidade da sua vida 
pessoal. Os crentes coríntios se orgulhavam de sua sabedoria 
natural, de seus líderes eloqüentes e de seus dons espirituais. 
Estavam tão “cheios de si” que talvez nem tivessem pensado nos 
efeitos desastrosos do pecado praticado por um dos seus mem­
bros. Paulo diz que todos os membros da igreja deviam lamentar 
a terrível situação.
Vamos supor que você seja pastor de uma grande congrega­
ção, com membros de certo renome na sociedade e no governo. 
Alguns desses membros “importantes” estão praticando um peca­
do. Você estaria tentado a contemporizar em vez de pregar contra 
o pecado em questão? Pense bem nisso!
44 ComentárioBíblico: I e 2 Coríntios
3. Disciplina efetuada pela igreja
Observe que Paulo se dirige à congregação inteira, explicando 
o que deve ser feito. O versículo 3 parece sugerir que Paulo 
ministraria a disciplina, mas não é bem assim. É verdade que 
Paulo dá o seu parecer no caso, mas o gesto da disciplina deveria 
ser realizado pela igreja. O membro que praticasse incesto deve­
ria ser excluído da comunhão da igreja.
Nem sempre é preciso uma medida tão drástica. A exclusão 
de um membro da igreja não é necessariamente permanente ou 
total. Antes de se tomar uma medida assim, devemos seguir o 
princípio estabelecido por Jesus — marcar uma consulta pessoal 
com o irmão, para ver se não o persuadimos a seguir pelo 
caminho certo. Uma parte importante do trabalho de um pastor 
consiste em aconselhar os membros problemáticos da congrega­
ção, orar por eles e com eles. Todos devemos ajudar-nos mutu­
amente. Mas o que fazer se o referido membro simplesmente se 
recusa a abandonar o seu pecado? Nesse caso, a igreja tem de 
agir. Estude o ensino de Jesus em Mateus 18.15-20 a respeito 
desse problema.
É importante a maneira com que uma igreja (ou pastor) 
pratica a disciplina. Algumas congregações são tolerantes de­
mais e quase não exercem a disciplina. Outras se mostram 
excessivamente duras e tentam regulamentar toda e qualquer 
ação dos seus membros. Certas igrejas consideram a disciplina 
um tipo de castigo, em vez de uma forma de restauração dos 
seus membros. Tais atitudes podem conduzir à rebeldia, não ao 
arrependimento.
Paulo convocou a igreja em Corinto para uma ação unificada: 
“Reunidos vós... com o poder de Jesus, nosso Senhor” (v. 4). Se 
ele tivesse agido por conta própria, poderia ter piorado a situação, 
exacerbando o partidarismo e criando ressentimentos entre os 
membros da congregação. O pecado de um homem prejudica a 
congregação inteira, como acontece no corpo humano: “Se um 
membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele”
Os Abusos da Liberdade Cristã 45
(12.26). Ignorar o pecado de um deles pode parecer uma atitude 
bondosa, mas também pode conduzir à proliferação do pecado 
entre os membros. Vendo o perigo de o pecado espalhar-se com 
facilidade, Paulo os faz lembrar que um pouco de fermento faz 
tufar muita massa.
Os coríntios se orgulhavam da sua liberdade (v. 6). mas não 
era bem a liberdade cristã; era uma determinação voluntária de 
continuar praticando um pecado muito sério. O culpado não podia 
continuar como membro da igreja; e essa não podia deixá-lo 
permanecer em sua comunhão. Toda a congregação estava sendo 
prejudicada, e foi por isso que Paulo a convocou para agir contra 
o pecado. O culpado deveria ser excluído até arrepender-se de seu 
pecado.
4. O propósito da disciplina
As drásticas medidas tomadas pela igreja em Corinto tinham 
propósito duplo — salvar o pecador e proteger a igreja. Nos 
versículos 9-11, Paulo refere-se à sua advertência contra a associ­
ação com pessoas imorais, feita numa carta anterior (não incluída 
no cânon). Ele reconhece que no dia-a-dia nos associamos a 
pecadores, tanto no trabalho como no contexto social, e testemu­
nhamos de Cristo a eles. Porém, devemos abster-nos da associa­
ção e apoio a crentes que praticam contínua e conscientemente o 
pecado.
Paulo compara o pecado ao fermento. De fato, a Bíblia se 
refere ao fermento como mal ou pecado. Na Páscoa judaica, Deus 
mandou que os israelitas comessem a carne do cordeiro com pães 
(sem levedura). O cordeiro representa Cristo, o Cordeiro de Deus 
que morreu para nos dar a salvação (v. 7). Da mesma maneira que 
os israelitas tiravam todo o fermento de suas casas para consumir 
a ceia pascal, também devemos abolir das nossas vidas todo o 
pecado, para termos comunhão com Cristo (Ex 12.15-20).
“Alimpai-vos. pois, do fermento velho”, escreve Paulo. Pare­
ce que ele está se referindo aos dois pecados principais dos
46 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
coríntios: vangloria (v. 6) e imoralidade. É uma chamada à igreja 
para que abandone os seus pecados e “santitique-se em Cristo 
Jesus” (1.2), tirando o fermento do seu meio antes que a igreja 
inteira se corrompa.
As palavras de Paulo no versículo 5 podem chocar-nos: "Seja 
entregue [o culpado] a Satanás” . Que quer dizer isso? A mesma 
expressão aparece em 1 Timóteo 1.20. Ambos os casos constitu­
em uma referência à mais absoluta forma de disciplina eclesiásti­
ca — a exclusão de um membro da comunhão da igreja. Ambas 
as referências mostram que o propósito dessa ação é produzir o 
arrependimento do culpado para a salvação da sua alma. E uma 
medida bem séria. A igreja coríntia devia pronunciar tal sentença 
somente quando estivessem todos os membros reunidos — com o 
pecador — no poder do Senhor Jesus (v. 4). As palavras do 
próprio Jesus Cristo em Mateus 18.15-19 nos mostram a serieda­
de desse ato.
Gorden Fee, no seu livro Corinthians, a Study Guide (p. 96), 
nos explica: “Entregar esse homem a Satanás significa excluí-lo 
da esfera do Espírito — a comunhão cristã como santuário de 
Deus — e depô-lo novamente na esfera de Satanás, onde esse 
ainda tem poder” .
O homem que optou por seguir a orientação de Satanás em 
vez de as diretrizes divinas, seria exposto ao poder satânico de 
“roubar, matar e destruir” (Jo 10.10). Teria assim a oportunidade 
de comparar os dois níveis de vida que ele já conhece. A palavra 
grega sarx (“corpo”, “carne”, “natureza pecaminosa”), aqui usada 
na expressão “destruição da carne” pode ter significado duplo. 
Não se refere, claro, à morte em si. mas pode significar sofrimen­
to físico que, às vezes, conduz as pessoas ao arrependimento, com 
a resultante inibição de sua natureza pecaminosa.
Leia agora Hebreus 12 .4 -15 .0 propósito da disciplina não é 
prejudicar ou destruir, senão restaurar a comunhão cristã do 
membro que caiu em pecado (2 Co 2.5-11). O nosso corpo físico 
morre (é destruído) de qualquer maneira, mas Deus não quer 
que ninguém se perca (2 Pe 3.9). Jesus morreu na cruz para que
Os Abusos da Liberdade Cristã 47
o nosso espírito possa viver eternamente junto com o nosso 
corpo glorificado.
III - A L ib e r d a d e C r i s t ã e a s 
C o n t e n d a s ( 5 .1 2 — 6 .8 )
Paulo encara agora o problema das rixas entre os membros da 
igreja. Não nos compete “julgar os que estão de fora” (v. 12). Mas 
se dois crentes tem uma contenda ou um deles trata injustamente 
o outro, não devem levar o processo ao tribunal: a igreja deve 
resolver o problema deles.
1. Sabedoria da igreja para resolver contendas
Talvez você esteja se perguntando como Paulo pôde dizer: 
“Nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor” (4.5) e 
ao mesmo tempo buscar “um sábio... que possa julgar entre seus 
irmãos” (6.5)? A primeira dessas referências diz respeito às críti­
cas ao ministério de algum irmão na igreja; a segunda fala da 
nomeação de indivíduos capacitados para julgar o comportamen­
to dos membros e solucionar problemas e disputas entre eles. O 
motivo de tal atuação é reconciliar os membros e produzir harmo­
nia na congregação.
Os coríntios se orgulhavam de sua sabedoria e inteligência. 
Por isso, parece estranho que não conseguissem resolver as 
rixas internas. E mais: os maduros conheciam os pronuncia­
mentos bíblicos acerca do bem e do mal e deveriam ju lgar 
conforme esses critérios. Tinham também o Espírito Santo 
para infundir-lhes sabedoria especial, se assim o pedissem em 
oração (12.7,8, Tg 1.5). E ainda no futuro, a igreja é destinada 
a reinar com Cristo, ju lgar o mundo e até os anjos, provavel­
mente somente aqueles que pecaram (6.2-4; 2 Tm 2.12; Mt 
19.28; Jd 6). Deus desejava que a igreja desenvolvesse os 
prim eiros passos dessa futura vocação de colaboração com 
Ele, através do julgam ento e resolução dos pequenos proble­
mas e rixas surgidos na congregação.
48 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
2 . Sabedoria para resolver problemas amigavelmente
No comportamento interpessoal, os crentes coríntios abusa­
vam da liberdade cristã. Já aprendemosque ela tem seus limites; 
não pode ultrapassar a vontade de Deus e as normas da sua 
Palavra. Deus nos pede bastante consideração mútua: devemos 
ser amados e apoiados. Processos jurídicos entre irmãos em Cris­
to contradizem a vontade divina.
A base do ensinamento de Paulo nesse trecho é a unidade do 
corpo de Cristo e a nossa posição de santos nesse corpo espiritual. 
Veja bem como Paulo se refere aos cristãos: são irmãos e santos 
(vv. 1 -8). A igreja é um corpo espiritual separado do mundo, e 
também uma família. Os irmãos não devem recorrer ao juízo de 
terceiros, que não são membros da família, para a solução de suas 
contendas familiares (5.12,13). Tal ação, com o litígio resultante, 
gera as piores divisões e ressentimentos, sendo uma vergonha 
para a igreja.
Paulo não está sugerindo que os crentes devam desdenhar as 
leis vigentes. Em Romanos 13.1,2, ele diz claramente que deve­
mos obedecer às leis e respeitar os nossos governantes. Mas 
condena os membros do Corpo de Cristo que ventilam suas 
contendas em tribunal público. Ele salienta as diferenças entre o 
mundo e a igreja, como vemos nos versículos 1, 6, 9 e 11.
Por causa dessa grande diferença, os santos devem julgar os 
santos. O juiz, nesse caso, deve ser algum crente maduro, sábio e 
respeitado; pode até ser um grupo de três, escolhido pelos mem­
bros da igreja. Faça-se como melhor lhes parecer, mas sejam 
evitados processos jurídicos. Se dois irmãos se processam, nin­
guém sai ganhando (v. 7). E melhor sofrer injustiça que prejudi­
car o Corpo de Cristo.
Os crentes coríntios pregavam os seus direitos, mas Paulo 
continua chamando a atenção deles para a importância da unidade 
do corpo de Cristo. O cristão não é uma ilha independente. Cada 
um de nós deve descartar o seu egoísmo; se pecamos, devemos 
aceitar a repreensão e a possível disciplina aplicada pelos demais 
membros do corpo.
Os Abusos da Liberdade Cristã 49
IV - A L ib e r d a d e C r i s t ã e a M o r a l i d a d e (5. 8-20)
1. A liberdade não constitui licença de pecar
Os versículos 8-1 I salientam o contraste entre a Igreja e o 
inundo. Aqueles que praticam tais pecados não podem se integrar 
à igreja nem ao Reino de Deus. Alguns dos crentes coríntios já 
haviam sido malévolos, homossexuais, imorais, idólatras, ladrões, 
gulosos, bêbados, trapaceiros e caluniadores. Mas foram transfor­
mados por Deus! Há quem afirme que o homossexual é incapaz 
de modificar a sua conduta, mas a experiência dos coríntios e o 
testemunho de muitos crentes desmentem tal afirmação e com­
provam que Cristo tem poder para transformá-los. Ao se entrega­
rem a Jesus como seu Senhor e Salvador, foram lavados e purifi­
cados de todo pecado, santificados (consagrados a Deus) e justifi­
cados (isentos de culpa e condenação). Tudo isso em nome do 
Senhor Jesus Cristo (na base do sacrifício dEle) e pelo poder do 
Espírito Santo. Os crentes de Corinto eram novas criaturas — 
herdeiros do Reino de Deus!
Tendo sido lavados, por que desejariam voltar à sujeira do 
pecado? Consagrados para Deus e seu glorioso Reino, por que 
voltariam à escravidão de Satanás? Uma vez justificados, seria 
absurdo repetirem os mesmos pecados de antes, pondo em perigo 
sua posição em Cristo. A salvação nos faz herdeiros; vamos 
proteger a nossa herança!
2. Corpo e espírito para o Senhor
Chegamos a um versículo-chave para o nosso estudo sobre a 
liberdade cristã (v. 12). “Todas as coisas me são lícitas”, diz Paulo, 
e repete a declaração em 10.23, possivelmente um conceito (ou 
ditado) tipicamente coríntio que o apóstolo Paulo cita ironicamen­
te. Os coríntios seguiam a filosofia do hedonismo, que afirmava ser 
o prazer o supremo bem da vida, portanto a busca do prazer, o alvo 
principal da conduta humana. Os coríntios até afirmavam: “Coma­
mos e bebamos, que amanhã morreremos” (15.32).
50 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Mas Paulo contrabalança a declaração de “ser tudo lícito" 
com duas considerações: determinada atitude ou ação traz benefí­
cio a mim e aos outros? Conviria ao meu Mestre ou não? E esse o 
princípio que devemos aplicar hoje em benefício do nosso pró­
prio corpo e espírito.
Paulo aplica o princípio inicialmente à comida. As religiões 
daquele tempo (e até algumas modernas) exigiam que seus adep­
tos obedecessem a longas listas de regulamentos, no tocante à 
alimentação. Concebia-se a abstinência de certas comidas como 
essencial à salvação. Mas o Cristianismo é diferente! O pecador 
não é salvo por aquilo que faz, dispensa ou deixa de fazer. Ele é 
salvo pela fé em Cristo. Ele é, portanto, livre (Rm 1.16,17; G1 
3.26; Ef 2.8,9). Não somos salvos pelas obras, senão pela fé em 
Jesus. Somos livres! (Jo 8.32,36).
Mas a isenção de regulamentos não significa uma falta de 
responsabilidade com relação às considerações morais. Em Cristo 
temos a liberdade de escolher o bem e recusar o mal. Também 
podemos escolher o mal, porém nesse caso sofreremos as conse­
qüências (Gl 6.7,8). A liberdade de fazer qualquer coisa sem 
pensar nas conseqüências não seria autêntica liberdade.
Aplique as seguintes práticas ou duplo teste: São benéficas? 
Convêm ao meu Mestre? Tire suas conclusões:
a. fumar;
b. tomar bebidas alcoólicas;
c. olhar cenas pornográficas em revistas, no cinema ou na 
televisão;
d. ter relações sexuais extraconjugais.
Infelizmente, alguns dos crentes coríntios haviam abusado de 
sua liberdade, insistindo em fazer o que bem entendiam com seus 
corpos. O versículo 13 parece sugerir que eles estimavam o sexo 
em pé de igualdade com a alimentação. Paulo corrige esse erro de 
forma bem direta. O corpo não é feito somente para comida, prazer 
e sexo: “O corpo é para o Senhor e o Senhor para o corpo” (v. 13).
Abusos da Liberdade Cristã 51
O sexo praticado dentro dos limites bíblicos (entre marido e 
esposa e com certa consideração), é santo e ordenado por Deus 
(Hb 13.4). O corpo humano é importante — sua vida vem de 
Deus. O corpo do cristão pertence a Cristo; como, pois, poderia 
unir-se com uma prostituta? (vv. 19,20). É templo do Espírito 
Santo; como, pois, poderia sujá-lo com sexo promíscuo, alianças 
pecaminosas ou auto-abuso; e como se atreveria a destruí-lo por 
hábitos prejudiciais? Paulo mostra que o uso errado do sexo é 
imoral e ilógico, e a liberdade cristã não abrange o ilógico e nem 
a imoralidade.
Algumas pessoas acham que Deus se interessa somente pelo 
nosso espírito, pois este se comunica com Ele. Acreditam, portan­
to, que o que fazemos com o corpo não é importante. Mas a 
verdade é que Deus fez o homem uno: corpo, alma e espírito — e 
para si mesmo. Ele tem de ser Senhor do nosso corpo como é do 
nosso espírito. Cristo redimiu o nosso corpo pelo sacrifício do seu 
próprio corpo. Agora devemos apresentar o nosso corpo a Ele 
“em sacrifício vivo, santo e agradável’' (Rm 12.1). Devemos 
cuidar bem do nosso corpo, mantendo-o limpo, forte, puro e são 
para o serviço de Deus.
O corpo em si não é bom nem mau em termos morais. Não 
pode agir por conta própria se o espírito estiver morto; é o espírito 
que escolhe que bem ou mal o corpo fará. Ao experimentar o 
novo nascimento, o espírito do ser humano é vivificado para 
Deus. O Espírito Santo vem habitar com o espírito natural do 
crente no corpo dele, para ajudá-lo e orientá-lo em suas decisões 
e na nova vida que passa a levar. Quando uma pessoa resolve não 
obedecer ao Espírito Santo, o seu espírito peca. Quando pratica o 
que Deus proíbe, tanto seu corpo quanto seu espírito passam a 
pecar (2 Co 7.1). Esse tipo de pecado é especialmente desagradá­
vel. porque o corpo não é somente a casa do espírito; é o templo 
do Espírito Santo.
“Fuja da impureza!”, diz Paulo, numa ordem peremptória. 
Podemos e devemos fugir das pessoas e locais que nos tentam; 
devemos evitar a leitura ou contemplação de textos, fatos ou
52 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
filmes que tendem a encaminhar-nos ao sexo. Ninguém tem o 
direito de sentir-se “suficientemente forte" para fazer frente con­
tra essas tentações: nós devemosfugir delas.
Vivemos num mundo cada vez mais poluído pelo pecado. 
Será que Deus exige uma retirada monástica para longe dos 
pecadores que nos rodeiam? De jeito nenhum! Se assim quisesse, 
nos levaria direto ao Céu, no momento da nossa conversão! Jesus 
era chamado “amigo de pecadores” , mas não participou dos peca­
dos deles. Deus quer que sejamos luz num mundo de trevas. 
Satanás tenta sempre apagar a nossa luz através do pecado. Mas 
Jesus, a Luz do mundo, habita em nós pelo Espírito Santo. Somos 
um com Ele, o Senhor do nosso corpo. Ele pode livrar-nos dos 
desejos imundos, dos hábitos prejudiciais, das doenças e da fra­
queza, e pode fortalecer-nos para glorificarmos a Deus por meio 
de nosso corpo! É assim que conseguimos andar na verdadeira 
liberdade cristã!
5
Os Limites da 
Liberdade Cristã
I - I n t r o d u ç ã o
A liberdade do crente permanece como tema da segunda 
unidade do nosso estudo. Estamos aprendendo que essa liberda­
de, para ser benéfica, deve ter os seus limites impostos pelo crente 
e baseados no conhecimento da Palavra de Deus e na consciência 
de ser ele o templo do Espírito Santo. O cristão modela sua 
liberdade pelas normas morais contidas na Bíblia e pelo que 
percebe ser a vontade de Deus para a sua vida.
Nessa lição, enfocaremos uma área vital em que precisamos 
usar com sabedoria na nossa liberdade cristã — o matrimônio. 
São múltiplas as dificuldades. É verdade que Deus deseja nossa 
autenticidade individual na vida cristã e na relação conjugal. Mas 
nossa liberdade não deve retirar a do nosso cônjuge e nem rebai­
xar os outros. Ao contrário, nosso livre-arbítrio para escolher uma 
vida abundante e plena de serviço cristão deve abençoar a vida 
dos nossos semelhantes e glorificar o nosso Deus.
Em muitos países, os conceitos de matrimônio, lar e família 
são desprezados e atacados abertamente. Satanás está destruindo 
a unidade fundamental da sociedade civilizada — a família. Se
54 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
você é casado, lembre-se de que manter uma boa relação conjugal 
faz parte da obra de Deus. Não tente fugir da sua responsabilidade 
de marido ou esposa, com o pretexto de que "Deus vem em 
primeiro lugar” . Peça ao Senhor a graça de ser bondoso e compre­
ensivo com relação à sua família e a outros (especialmente os 
novos crentes) que estão passando dificuldades matrimoniais.
I I - L ib e r d a d e e L im i t e s n o C a s a m e n t o 
(7.1-24; Mt 19.3-11; Ef 5.15-33)
As palavras "quanto às coisas que me escrevestes” (7.1) dão a 
entender que Paulo irá responder a certas perguntas específicas 
colocadas pelos coríntios. O capítulo 7 pode ser dividido em duas 
partes relativas à vida conjugal: nos versículos 1-24, Paulo se 
dirige principalmente aos casados e nos versículos 25-40, aos 
soiteiros.
1. Liberdade e limites nas relações sexuais
No capítulo 6, Paulo declara que os crentes não devem ter 
relações sexuais fora do casamento. Passa agora a dar uma orien­
tação acerca do papel das relações sexuais no matrimônio. A 
expressão “ tocar em mulher” se refere, na Bíblia e na literatura 
antiga, ao ato sexual (Gn 20.6; Pv 6.29), não ao casamento em si.
Paulo bem sabia que o celibato, tal como praticava (v. 7) tem 
as suas vantagens, mas apesar disso, não ensina contra o casa­
mento. Veja suas magníficas palavras acerca do matrimônio em 
Efésios 5.15-33, como exemplo da relação de Cristo com sua 
Igreja. Paulo escreve aos coríntios para corrigir uma idéia errada 
acerca do corpo. A filosofia gnóstica exaltava o conhecimento e 
considerava o corpo como algo vil; só importava o espírito. O 
resultado dessa filosofia foram dois pontos de vista exagerados 
entre os coríntios:
1. “Já que o corpo não importa e vai morrer logo, vamos 
satisfazer todos os desejos da carne” (1 Co 15.32).
Os Limites da Liberdade Cristã 5 5
2. “O corpo é vil; por isso, não devemos satisfazer os seus 
desejos, m esmo nas coisas normais, como é o sexo no 
casam ento” .
Paulo tratou do primeiro desses erros no capítulo 6 e passa 
agora a tratar do segundo. É bom estudarmos esse ensinamento, 
porque sempre há pessoas que afirmam que o castigo do corpo 
engrandece e agrada a Deus, o que não é verdade.
O sexo no casamento condiz plenamente com a vontade de 
Deus e nada tem de pecaminoso. Deus instituiu a família e ordena 
a procriação para garantir a continuidade da raça humana (Gn 
1.27,28; 2.24; 9.1; Hb 13.4). A criação de filhos para servir a 
Deus é parte integral do plano dEle (Gn 18.19). O matrimônio é 
uma relação ou “ sociedade” mútua, em que cada participante 
deve zelar pelos direitos e bem-estar do parceiro.
S e x o n o C a s a m e n t o
1 Coríntios 7.1-7 
Normal, não pecaminoso 
Salvaguarda contra a imoralidade 
Satisfação mútua 
Relação considerada equilibrada 
Abstinência por consentimento mútuo
Em muitas culturas, os homens tratam suas esposas como 
escravas ou propriedade material. Mas o Cristianismo proporcio­
na liberdade, respeito mútuo, amor e consideração ao casamento. 
O marido é o cabeça da família, mas tem a obrigação de tratar a 
esposa com amor e consideração (Ef 5.15-33).
Paulo recomenda o casamento como salvaguarda contra a 
imoralidade e a paixão (Mt 5.27,28). Nem todos têm o dom do 
celibato, a capacidade de permanecer virgem (vv. 7-9). Não há 
base bíblica para o celibato do clero. Alguns ministros conse­
5 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
guem permanecer solteiros pela graça de Deus, para melhor reali­
zar a obra especial que o Senhor lhes destinou. Mas não seria 
justo exigir tal celibato de todo o clero, como querem alguns (1 
Tm 4.1-3).
Debate-se bastante a questão do possível casamento e viuvez 
de Paulo. Creio que ele já era casado porque:
1. É difícil acreditar que um judeu tão zeloso como Paulo não 
tivesse casado, porque o celibato contradizia o ensino ju ­
daico.
2. Era evidentemente participante do Sinédrio, ou Supremo 
Tribunal Judaico (At 26.10), cujos membros eram todos 
casados.
3. E óbvio que, ao escrever suas cartas aos coríntios, Paulo 
era celibatário (9.5). Portanto, é razoável supor que sua 
esposa tivesse falecido ou abandonado o apóstolo após a 
conversão dele.
4. Limites no abandono da relação conjugal (7.10-24; Mt
19.3-1 1).
Os coríntios estavam confusos acerca do dever do crente com 
relação ao cônjuge descrente. Alguns ensinavam que deviam 
separar-se ou se divorciar. Paulo dá a sua resposta: “Não se 
divorciem!” Ele se baseia nos ensinamentos de Jesus em Mateus 
5.31,32 e 19.3-11.
Os problemas relativos ao divórcio e separação são difíceis de 
resolver. Não há nos ensinos de Paulo ou de Jesus Cristo uma 
única regra abrangente e inflexível. Está claro que o Novo Testa­
mento não admite divórcio quando se trata de um casamento 
crente (1 Co 7.10,11). Mas nos versículos 12-16, Paulo trata do 
casamento misto (crente com descrente). M esmo nesse caso, os 
cônjuges não devem se separar, a menos que o descrente resolva 
abandonar a família ou exija a separação.
Em alguns casos, as condições parecem impossíveis. Por exem ­
plo, um marido bêbado que surra a esposa e ameaça matar os filhos,
Os Limites da Liberdade Cristã 5 7
ou uma esposa infiel que tem relações com um terceiro; um marido 
criminoso que tenta fazer sua esposa de cúmplice. “Deus chamou- 
nos para a paz” (v. 15) e, às vezes, a separação pode ser a única 
solução. Por outro lado, muitas esposas e maridos, pela graça de 
Deus, têm permanecido fiéis ao cônjuge nessas circunstâncias, e 
Deus tem feito milagres em seu favor. Em muitos casos, até em 
lares cristãos, o divórcio resulta do egoísmo, e não da situação 
difícil do(s) cônjuge(s). Qualquer crente que esteja contemplando o 
divórcio deve ler diariamente Efésios 5.15-33.
Nos casamentos mistos, o cônjuge descrente que não se sub­
mete à lei de Deus tem a opção de se separar e muitas vezes assim 
o faz (v. 15). Mas o cônjuge crente, se possível, deve manter-se 
fiel e permanecer onde está, orando e confiando que o Senhor lhe 
dará a solução. Muitas vezes, o cônjugedescrente se entrega a 
Jesus e o lar passa a ser transform ado pela sua influência 
santificadora.
Deve-se manter a família unida, se possível, em benefício das 
crianças. Muitos delinqüentes juvenis vêm de lares desfeitos. As 
crianças precisam entregar-se a Jesus Cristo. Elas merecem ter 
pai e mãe. Pais crentes exercem uma influência santificadora 
sobre seus filhos.
2. Problemas e princípios
Os pastores são cham ados com freqüência a aconselhar 
casais ou indivíduos com problem as conjugais. A lguns já têm 
problem as tão com plexos ao se en tregar a Jesus, que seria 
preciso a sabedoria de Salom ão para solucioná-los: divórcio, 
segundas núpcias, poligam ias, fam ílias ex traconjugais , côn ju ­
ges infiéis etc. D evem os buscar cu idadosam ente as soluções 
bíblicas para problem as tão com uns com o esses e aplicá-las 
aos nossos dias. Não há na B íblia regras para todos os casos, 
mas Deus nos tem dado princípios válidos. Cabe-nos apelar ao 
Espírito Santo para nos orien tar na aplicação deles a cada 
problem a que enfrentam os.
5 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
O princípio dado nos versículos 20 e 24, num sentido prático, 
é um dos mais importantes do Novo Testamento. Leia duas vezes 
os versículos 17-24. Aquilo que Paulo “ordena” não vem da 
mente dele; é um princípio divino que ele simplesmente repete. 
Lembremos o seguinte:
1. Paulo escrevia sob inspiração do Espírito Santo.
2. Ele estava respondendo a problemas específicos.
3. Tratava alguns problemas não mencionados por Jesus nos 
Evangelhos.
4. Estava falando com novos crentes numa cidade com verda­
deiro "fanatismo sexual” .
5. Tanto ele quanto os coríntios acreditavam que Jesus volta­
ria logo.
Esses fatos nos ajudam a entender melhor o capítulo inteiro. 
Já não moramos na Corinto do século I, mas os princípios elabo­
rados aqui são aplicáveis aos problemas de hoje. Paulo emprega o 
exemplo da circuncisão e da escravidão para ilustrar o princípio 
do versículo 20: Cada um permaneça na vocação em que fo i 
chamado. Exemplifica também a sua aplicação. Somos incapazes 
de modificar determinadas situações (quem, por exemplo, tenta­
ria desfazer a sua circuncisão?). A tentativa de modificá-las só 
pioraria a situação; como no caso de desfazer o lar porque um dos 
cônjuges não é crente ou porque a situação não pode ser regulari­
zada legalmente sem o divórcio de um cônjuge anterior. O exem ­
plo da escravidão (vv. 21-23) nos mostra que “permanecer na sua 
vocação” não constitui um a ordem determinante; se a situação é 
suscetível de melhoramento. Deus compreende as nossas circuns­
tâncias e geralmente conseguimos servi-lo melhor na situação em 
que já nos encontramos.
O princípio de permanecer na sua vocação (v. 24) tem inúme­
ras aplicações à vida em geral e aos dons que Deus dá a cada um 
de nós. Não obrigamos o músico nato a ser mecânico, nem o
Os Limites da Liberdade Cristã 5 9
fazendeiro a tornar-se advogado. A igreja deve deixar que o 
evangelista taça aquilo que é a sua vocação sem tentar obrigá-lo a 
ser pastor (Rm 12.6-8). Deus nos chamou primeiro à salvação (1 
Co 1.9) e depois a várias funções.
Vamos considerar a aplicação do princípio do versículo 24 a 
certos problemas. Toda regra imposta pela igreja e toda solução 
proposta para problemas conjugais têm de levar em conta as leis e 
costumes de cada país; alguns permitem o divórcio, outros não. 
Devemos considerar também as circunstâncias de cada caso. Os 
problemas são tão diversificados que não bastam regulamentos 
simples e generalizações exageradas. Mas é muito útil a aplicação 
dos vários princípios bíblicos que temos à disposição.
Por exemplo, um indivíduo que esteve amigado com três 
mulheres antes da sua conversão deveria deixar a terceira (com 
quem vivia quando convertido) e tentar voltar à primeira? Até 
certo ponto, a sua resolução poderia depender de qual delas (se 
alguma) foi a sua legítima esposa, da existência de filhos etc. 
Contudo, em muitos casos, o bom senso indica que esse homem 
deveria ficar com a esposa com quem vivia quando se converteu.
Muitos problemas são dificílimos de resolver. Devemos pensar 
na solução mais benéfica para cônjuges e filhos (se existem). A 
meu ver, a melhor resposta reside, na maioria das vezes, na aplica­
ção do princípio contido nos versículos 20 e 24 do capítulo 7.
3. Liberdade fora do casamento
3.1. Liberdade de não casar
Paulo passa a responder outra pergunta específica no versículo 
25. Tem a ver com o casamento (ou não) de virgens. Nesse trecho 
(vv. 25-40), emprega-se cinco vezes a palavra virgem com signi­
ficado feminino. (Apocalipse 14.4 fala de virgens do sexo m ascu­
lino, mas a linguagem é simbólica e não vem ao caso.)
Paulo diz não ter recebido mandamento específico do Senhor 
a respeito dessa questão (v. 25). Os Evangelhos nada dizem sobre 
essa situação, e Paulo não recebeu nenhuma revelação particular
6 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
do Senhor. Mas ele dá a sua opinião, como pessoa digna de 
confiança. Ao lermos os versículos 25-40. temos a impressão de 
que o apóstolo Paulo se opõe ao casamento. Nada mais longe da 
verdade! Ele simplesmente aconselha o celibato às jovens coríntias 
daquela época. Isso não contradiz o ensino geral das Escrituras a 
respeito do casamento encontrado em gênesis, nas palavras de 
Jesus e em outros trechos bíblicos: “Venerado seja entre todos o 
matrimônio” (Hb 13.4).
O solteiro (ou solteira) não deve se sentir pressionado a casar 
simplesmente porque é “costume” . Nem precisa sentir-se despre­
zado. inferiorizado ou envergonhado. Esse trecho bíblico oferece 
uma excelente resposta àquelas pessoas que aconselham “casa­
mento a todo custo” . O primeiro motivo dado por Paulo em apoio 
ao celibato é a existência de uma “angustiosa situação". Qual foi 
essa situação? Não sabemos. Mas é verdade que certas crises 
tornam necessário o adiamento ou abandono de planos m atrimo­
niais: doença, guerra, responsabilidade de cuidar de pais idosos 
ou sustentar a família etc.
4. Motivo de celibato
Estado de crise 7.26
Dificuldade na vida conjugal 7.28
Liberdade para o ministério 7.32-35
Dom e vocação para celibato 7.7
Desejo de não casar 7.39
Evitar aliança com descrente 7.39
Falta de ocasião (subentendido) 7.39
Depois. Paulo menciona “angustia na carne” . Há problemas 
bem conhecidos aos casados: falta de emprego, buracos no telha­
do, colheita ruim, carência de comestíveis, nenê doente, frustra­
ção sexual, vizinhos desagradáveis, filhos rebeldes, o desafio de
Os Limites da Liberdade Cristã 61
alimentar, vestir e educar um a família etc. Os solteiros não têm de 
enfrentar os mesmos problemas que o casal é obrigado.
O marido cristão tem o dever de sustentar a sua família, e os 
demais maridos também possuem responsabilidade igual (Gn 
3.19; 1 Tm 5.8). Paulo não condena tal situação, mas mostra 
corno a vida celibatária é vantajosa para o ministério cristão. 
Compreendemos bem a dificuldade de equilibrar simultaneamen­
te os deveres de pai (ou mãe) e de ministro do Evangelho, sem 
prejudicar nenhum aspecto da nossa vocação total. O próprio 
Paulo não poderia ter desenvolvido o ministério que teve no vasto 
campo missionário, se tivesse a responsabilidade de criar uma 
porção de filhos. Mesmo assim, vemos que Pedro e outros após­
tolos viajavam acompanhados por suas esposas (9.5). As vezes, o 
ministério de um pastor se torna mais eficaz por causa do apoio 
da família.
No versículo 7, Paulo nos informa que algumas pessoas sen­
tem a vocação do celibato, recebendo de Deus o dom de perm ane­
cer celibatárias com grande alegria e contentamento. Em 7.39, 
vemos que o crente não deve se casar com o descrente. E as 
palavras “com quem quiser” implicam na não-obrigação de casar 
com alguém de quem a pessoa não goste. Outro motivo do celiba­
to é a falta de ocasião ou de pessoas idôneas para o casamento. 
Em algumas regiões do mundo há muito mais mulheres que 
homens. Nas áreas onde se prática a poligamia, existem menos 
moças querapazes livres para casar. Seja por livre alvitre ou por 
falta de ocasião de realizar um bom casamento, as pessoas que 
p e rm a n e c e m so l te ira s levam sem p re v a n ta g e m sobre as 
malcasadas.
5. Liberdade de casar
Os versículos 36-38 constituem um trecho difícil. Muitos 
comentaristas têm lutado com o significado da expressão: “sua 
virgem” (filha) no versículo 36, por exemplo. O trecho pode 
referir-se às seguintes relações:
6 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
1. Pais e filhas virgens.
2. Um rapaz e sua noiva.
3. Um casa, cujos cônjuges convivem como irmãos num “ca­
samento espiritual'', evitando as relações sexuais.
Pessoalmente, prefiro a primeira dessas três interpretações 
porque:
1. Naquela época, os pais costumavam arranjar o casamento 
das suas filhas; ainda hoje se pratica esse costume em 
muitos países.
2. O verbo que inicia o versículo 38 significa "dar em casa­
mento” e não “casar-se” .
Vemos a natureza toda especial desse capítulo, ao nos darmos 
conta de que o apóstolo Paulo enumera apenas três motivos ou 
vantagens do casamento num total de quarenta versículos. O 
primeiro (v. 8) refere-se à paixão sexual (“abrasado”); pode ser 
também uma alusão ao fogo do julgamento divino sobre aqueles 
que caem na imoralidade ou desleixo pessoal. Deus nos fez, 
homens e mulheres com um desejo sexual normal, para garantir a 
continuidade da raça humana. Mas a mera atração sexual não 
basta como fundamento do matrimônio. Um casamento baseado 
apenas nisso pode fracassar caso apareça alguém mais atraente. O 
segundo motivo em favor do casamento aparece no versículo 39: 
casar não é pecado. Já estudamos a atitude dos coríntios a esse 
respeito e a resposta dada pelo apóstolo.
6. Motivos para o casamento
Melhor casar que viver abrasado 
Não é pecado casar 
Desejo de casar
7.9
7.36
7.39
Os Limites da Liberdade Cristã 6 3
7. Outras escrituras
Relação instituída por Deus Mt 19.4-6 
Gn 2.18-24Vantajoso ao homem 
Continuar a espécie 
Em prol das crianças 
Estado digno de honra 
Desejo normal
Gn 9.7 
Dt 6.1-9 
Hb 13.4
1 Tm 5.11.13.15
O terceiro motivo diz respeito à liberdade ou direito de casar 
(v. 39) e estabelece um limite. Paulo fala nesse trecho das segun­
das núpcias de um viúvo ou viúva. Após a morte do cônjuge, o 
sobrevivente tem a liberdade de casar-se com quem quiser, 
contanto que seja crente (“somente no Senhor”).
Nos dias de hoje, Satanás está tentando destruir o casamento, 
o lar e a família. A promoção do sexo, prostituição, homossexua- 
lismo, divórcio e concubinato são sinais desse fato; há em tudo 
isso uma fuga de responsabilidade dos participantes. Muitas na­
ções e civilizações do passado foram destruídas por esses m es­
mos males. Hoje vemos epidemias de doenças venéreas sem cura; 
as crianças inocentes sofrem mais, tanto nas doenças que lhes são 
transmitidas quanto no abandono familiar e na falta de treinamen­
to moral. Esposas e filhos abandonados lutam para sobreviver 
sem recurso jurídico ou sustento paternal.
O matrimônio implica num compromisso mútuo e voluntário 
que dura até a morte dos cônjuges. A família estável e temente a 
Deus é a pedra fundamental da comunidade ou nação bem-suce- 
dida. Os lares de crentes devem ser o modelo da retidão do plano 
de Deus e a evidência da sua bênção divina. Paulo escreveu esse 
segmento da sua epístola para responder a certas perguntas espe­
cificas, sem o propósito de tratar de forma abrangente o assunto 
do matrimônio. M esm o assim, os princípios que ele comunica são 
válidos até os nossos dias. “O que acha um a mulher acha uma 
coisa boa, e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22).
6 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
III - L ib e r d a d e , Í d o l o s e C o m id a (8; 10.14-23)
1. Liberdade no conhecimento da idolatria
No capítulo 8, o apóstolo Paulo responde a mais um a per­
gunta dos coríntios, referente ao consum o de carne oferecida a 
ídolos. Antes da sua conversão, muitos dos crentes em Corinto 
eram pagãos, adoravam ídolos e sacrificavam animais aos seus 
deuses. Nesses sacrifícios, juravam sua devoção às respectivas 
deidades, invocavam a bênção dos deuses representados pelos 
ídolos e se com unicavam com as forças diabólicas, enquanto 
comiam uma parte da carne sacrificada (1 Co 10.18). Tudo isso 
era um ato de louvor pagão. O restante da carne era consum ida 
pelos sacerdotes ou vendida no mercado. Após a sua conversão, 
os crentes coríntios desejavam saber se ainda seria lícito comer 
daquela carne oferecida aos ídolos ou se deveriam abster-se de 
tal consumo.
A adoração aos ídolos é bem antiga no nosso mundo; as 
civilizações antigas acreditavam que certos animais eram porta­
dores de espíritos divinos que divinizavam os próprios animais. 
Fabricavam-se imagens de touros, peixes e crocodilos, as quais se 
tornavam deuses do povo. Lembremos ainda o que Arão (irmão 
de Moisés) fez com o bezerro de ouro (Êx 32.5,6; Js 24.14). Deus 
proibiu Israel de fazer imagens (Êx 20.4) e até mandou destruir os 
ídolos de deuses estrangeiros (Dt 12.2,3). Houve, de fato, uma 
história de fracassos a esse respeito, mesmo assim muitos judeus 
escolheram morrer a deixar a idolatria.
O povo dos tempos de Paulo (e algumas civilizações de nos­
sos dias) adoravam deuses da natureza e também ídolos feitos de 
madeira, pedra e metal. Cultuavam, conforme a crença pagã, o 
Sol, a Lua, as estrelas, as montanhas, os rios e as árvores. Certos 
deuses e deusas deviam controlar a chuva, o sucesso na guerra, a 
agricultura etc. Os gregos adoravam muitos deuses (At 17.23). Os 
romanos proclamavam também a divindade dos seus imperado­
res. Rodeados de tais práticas, os cristãos podiam evitar contatos 
freqüentes com a idolatria.
Os Limites da Liberdade Cristã 65
Antes da sua conversão, os gentios viviam com medo dos seus 
deuses, mas o Evangelho os havia libertado dessa opressão. Eles, 
como o apóstolo Paulo, sabiam que os ídolos não eram nada e não 
conheciam o Deus verdadeiro, cultuado por judeus e cristãos. Ele 
é único, eterno, o Criador, onipotente e onisciente. O poder dEle 
ultrapassa o poder dos demônios. Os crentes não precisavam mais 
apelar aos ídolos. Eles amavam o seu Deus, e por isso não mais 
adoravam a ídolos. Mas deviam ou não comer da carne oferecida 
a eles? Isto é o que não sabiam, e houve entre eles duas opiniões 
bem divergentes; alguns achavam que sim e outros não. Os cren­
tes que comiam tal carne baseavam-se na sua liberdade e no 
conhecimento da nulidade do poder dos ídolos. Paulo dá o seu 
parecer a respeito, frisando que o conhecimento dos fatos deve 
ser equilibrado pelo amor.
Tanto o conhecimento quanto o amor são essenciais para a 
atividade hum ana e constituem parte importante da vida cristã. 
“Sabemos que todos temos ciência” , diz Paulo (v. 1). As vezes, o 
saber (conhecimento) ensoberbece o sábio, e foi assim que acon­
teceu no caso dos coríntios.
C o n h ecim en to A m o r
No cérebro No coração
Adquirido pelo Cultivado com a
estudo ajuda de Deus
Ensoberbece — 1 Co 8.1 Edifica
Inferior — 13.2 Superior
Provisório 13.8,13 Permanece
O conhecimento (saber) sem o amor pode ser destrutivo, tanto 
na vida do “sábio” quanto na sua relação com os demais; pode até 
afastar as pessoas do Senhor (8.11). Com o no caso do fogo e da 
água, precisamos de ambos os elementos para levar uma vida 
equilibrada e não devemos desprezar nem negar a sua utilidade.
6 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Os mesmos elementos têm função construtiva e destrutiva, con­
forme o uso; o perigo está no exagero ou na falta de controle. O 
conhecimento que obtemos através do estudo pode abençoar e 
instruir a humanidade, e assim devemos fazer.
2. Liberdade limitada pelo amor
Paulo salienta a existência de um só Deus, manifesto em três 
pessoas — o Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo. (Compare o 
versículo 6 com Cl 1.15-17 e Ef 4.6.) Os judeus crentes em Jesus 
que moravam em Corinto entendiam bem a nulidade dos ídolos, 
mas nem todos os habitantes dacidade percebiam esse fato (vv. 
4,7-9). Os gregos recém-convertidos, que passavam a vida inteira 
cultuando os ídolos, levariam um choque se vissem alguns cris­
tãos mais maduros na fé fazendo sua refeição num templo idóla­
tra. Tal exemplo poderia levá-los a fazer igual e a confiar nova­
mente no valor ou poder do ídolo por causa do mal-entendido. 
Assim, os irmãos menos estáveis poderiam ser “destruídos” (vv. 
10-13). Por isso, diz Paulo, o crente mais maduro ou experiente 
nem sempre deve insistir nos seus direitos espirituais, pois seria 
pecado exercer toda a sua liberdade, se essa causasse a queda dos 
irmãos mais fracos.
O versículo-chave é o 9. Memorize esse versículo. Paulo 
reconhece a liberdade dos crentes coríntios: “Todas as coisas me 
são lícitas...” mas apela a eles no sentido de aplicarem em tudo 
um a lei superior, a lei do amor. Para não ferir ou ofender o irmão 
de consciência mais frágil, o crente forte deve estar disposto a 
restringir sua própria liberdade.
3. O amor limita a liberdade
Não deixe que o exercício de sua liberdade escandalize os 
mais fracos, conduzindo-os ao erro.
A lei do amor aplica-se de diversas maneiras. Os costumes e 
normas dos crentes variam bastante de uma igreja para outra no 
que diz respeito à comida, bebida, ao vestuário, ao uso de enfei­
Os Limites da Liberdade Cristã 6 7
tes, às diversões etc. Tais diferenças têm causado até rupturas e 
mal-entendidos em algumas congregações. A semelhança do após­
tolo Paulo, devemos estar dispostos a "ceder um passo” em nos­
sas convicções para ajudar os nossos irmãos na fé (v. 13). Pode­
mos por à prova a nossa liberdade e seu exercício, colocando três 
perguntas sugeridas por Paulo como critério de atuação:
1. É benéfico?
2. Convém aos demais?
3. Prejudica aos demais?
Vamos supor que você seja um pastor, e os membros da sua 
congregação costumam beber vinho leve com boa consciência, 
como fazem muitos crentes na Europa. Então vai pastorear uma 
outra igreja com forte preconceito contra o consumo de bebidas 
alcoólicas, por haver naquela congregação vários ex-bêbados sal­
vos pela graça de Jesus. Qual deve ser seu procedimento e por 
quê? Lembre-se de que a ciência às vezes incha, mas o amor 
sempre edifica.
6
A Liberdade 
Cristã e a 
Autodisciplina
I - I n t r o d u ç ã o
Aprendemos no capítulo anterior algo sobre a relação entre a 
liberdade cristã, o matrimônio e o consumo de carne oferecida a 
ídolos. Essas duas áreas do comportamento humano não estão 
ligadas, mas um princípio fundamental se aplica a ambas. É o 
princípio sublinhado em 1 Coríntios 8.9. Devemos vigiar para 
que a nossa liberdade não faça pecar um irmão mais fraco.
Paulo prossegue até o final do capítulo 10 no seu ensinamento 
acerca da liberdade dos crentes. Nos capítulos 9 e 10, mostra-nos 
que a pessoa realmente livre é aquela que se controla por meio do 
exercício da autodisciplina. Paulo relembra sua própria experiên­
cia e tira exemplos da história de Israel e do mundo esportivo para 
ressaltar essa premissa fundamental: "‘Todas as cousas me são 
lícitas, mas nem todas convém ”.
A autodisciplina, apesar de não ser doutrina muito popular em 
nossos dias, é de origem bíblica. As vezes devemos abdicar dos 
nossos direitos, tornando-nos “escravos voluntários” , para assim 
ganharmos outros para Cristo e edificarmos a igreja. Peça a Deus 
que o oriente no uso da sua liberdade cristã, a fim de ter sempre 
sabedoria na divulgação das bênçãos do Evangelho.
7 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
II - O M i n i s t é r i o A p o s t ó l i c o e 
a A u t o d i s c i p l i n a ( 9 .1 - 2 7 )
Parece que o apóstolo Paulo m uda abruptam ente de assun­
to no início do capítu lo 9. M elhor considerado , porém , é óbvio 
que o enfoque con tinua sendo os limites da liberdade cristã. 
Ele utiliza sua própria experiência com o exem plo da aplicação 
dos princípios dados no capítu lo 8 e passa a m ostrar os benefí­
cios da autodisc ip lina e o perigo da participação em atividades 
idólatras. No seu próprio exem plo de auto-discip lina, Paulo 
salienta seus d ireitos apostólicos e o propósito da sua abd ica­
ção. Mas, segundo ele, o sacrifício realm ente não é muito 
grande. Se os atletas se aplicam nos jogos coríntios, tanto mais 
os crentes devem estar dispostos a se d iscip linar para partici­
par de um a corrida muito mais importante e ganhar a e terna 
coroa da glória!
1. Os direitos de um apóstolo
Ao lermos os versículos 1 -3, lem bram o-nos do partidarismo 
da igreja de Corinto e das suas contendas por favoritism o para 
com certos líderes. E v identem ente , alguns dos coríntios pen ­
savam que Paulo não era bem um apóstolo. Mas ele, na sua 
qualidade de fundador dessa igreja, diz: “Vós sois o selo do 
meu apostolado no Senhor” (v. 2). A palavra apóstolo s ign if i­
ca enviado. A conversão dos coríntios e o es tabelec im ento da 
igreja na sua cidade foram provas da vocação apostólica de 
Paulo.
Este trecho tão importante nos ensina que a igreja deve cuidar 
do seu pastor. Os versículos 7-10 ilustram bem certos direitos. O 
soldado tem direito de receber roupa e comida. O fazendeiro tem
o direito de receber a colheita da sua plantação. Até o boi, tão 
humilde, tem o direito de comer dos grãos que vai debulhando. O 
ministro cristão tem o direito de ser sustentado economicamente 
pelo rebanho que está pastoreando.
A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 71
2. Os direitos apostólicos de Paulo
Comer e beber bem 9.4
Ter esposa cristã e estar acompanhado dela 9.5
Usufruir da liberdade 9.1
Receber sustento financeiro 9.6
No versículo 12, contudo, Paulo diz: “Não usamos desse 
direito” . Por que ele abdicou o direito de sustento? Por que não se 
casou, para ter ao seu lado uma esposa crente nas viagens missio­
nárias? Ela poderia cozinhar, costurar e realizar um ministério 
entre as mulheres; o apóstolo, conforme sua própria confissão, 
costurava tendas para sustentar a si m esmo e aos seus ajudantes.
3. O propósito da abnegação
3.1. Paulo abdica seus direitos
1 C o r í n t i o s 8 —9
Direito
Usufruir da liberdade 9.1,5
Ter o suficiente para comer e beber 9.4
Viajar acompanhado de uma esposa 9.5
Receber sustento econômico das igrejas 9.6,11
Abnegação
Fez-se escravo de todos. Adaptou-se 
a diversos tipos de vida 9.19-22
Passou fome e sede
Absteve-se de algumas comidas 2 Co 11.27
Ficou celibatário 7.8
Trabalhou manualmente para se sustentar 9.6
Propósito
Compartilhar as bênçãos do Evangelho 9.23
Ganhar maior número de pessoas para Jesus 9.19
72 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Salvar alguns
Não criar obstáculo para o Evangelho 
Não ofender
Dedicar-se mais plenamente ao ministério 
Compartilhar o Evangelho de graça
9.22
9.12
8.13
7.32
9.18
Nesse debate sobre direitos apostólicos, devemos lembrar que 
as verdades estudadas também se aplicam ao ministério em geral 
e à vida cristã na sua totalidade. A autodisciplina não é somente 
afastar-se do pecado. Implica tam bém na abdicação de certos 
direitos. O crente tem muitos direitos espirituais dos quais não 
deve abdicar: “paz e alegria no Espírito Santo’ (Rm 14.17). Mas 
existem outros, de ordem material, que o crente abdica volunta­
riamente para ajudar aos seus semelhantes e desempenhar um 
ministério eficaz.
Você sente a vocação de pregar? O versículo 16 constitui 
um a declaração que toca p rofundam ente a todo autêntico m i­
nistro do Evangelho. É muito mais fácil sentir a cham ada de 
Deus para o m inistério que explicar tal vocação. Se você é 
cham ado , sabe-o muito bem. Há m uitos anos, no Canadá, um 
dos m eus professores no instituto bíblico nos disse: “Se vocês 
consegu irem m anter-se fora do m inistério com boa consciên ­
cia, não sejam m inis tros!” Paulo diz, e outros m ilhares de 
pregadores ecoam de todo coração as palavras dele: “ Ai de 
mim se não pregar o Evangelho!"
Qual a atitude do quadro acima? Depois de estudá-lo, tente 
explicar o seu conteúdo a uma outra pessoa. Ele desafia você? 
Tente reproduziro quadro de memória. Leia nos versículos 19-23 
a declaração da versatilidade do apóstolo Paulo. Não sabemos 
bem como ele se ajustava a tantas culturas diferentes, mas Gálatas 
2.11-16 nos dá uma idéia. Ele costumava comer e confraternizar 
com os judeus e gentios em pé de igualdade, mostrando-se amigo 
e irmão deles no Senhor. Jesus “veio comendo e bebendo, e foi 
chamado “amigo de publicanos e pecadores” (Lc 7.34).
A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 73
Com o aplicar no nosso ministério esse princípio de versatili­
dade: “Fazendo-nos tudo para com todos?” Podemos mostrar a 
nossa amizade para com os pecadores sem participar dos pecados 
deles. Paulo não violou nenhuma lei para se tornar “ sem lei” , e 
declarou-se firmemente “debaixo da lei de Cristo” (v. 21). Pode­
mos nos adaptar às circunstâncias e costumes existentes, aprovei­
tando toda oportunidade de compartilhar o Evangelho em todos 
os níveis. A margem do rio em Filipo, Paulo assistia às sinagogas 
e aos cultos de oração; debatia no foro e diariamente na praça 
pública de Atenas. Em Éfeso, ensinava de casa em casa e num 
salão de conferências. Sentia-se igualmente à vontade, comparti­
lhando o Evangelho com os filósofos ou com o escravo Onésimo. 
Seguia sempre o exemplo do seu Mestre, pois Jesus ministrava a 
fariseus ricos (Nicodemos, José de Arimateia etc.) e aos pobres 
(Lc 4.18). O propósito da tam anha versatilidade é salvar os nos­
sos semelhantes.
Paulo foi um missionário-modelo. Não insistiu em que os 
novos convertidos se conformassem com os costumes da terra 
dele. O m issionário brasileiro no ex terior não deve tentar 
“abrasileirar” os novos crentes. Isto, às vezes, exige bastante 
autodisciplina e sacrifício, e para tal devemos estar realmente 
dispostos a salvar as pessoas onde elas estão.
4. O galardão da autodisciplina
De quatro em quatro anos, realizam-se em alguma cidade do 
mundo os jogos olímpicos. Esses jogos tiveram seu início na 
Grécia por volta de 700 a.C. e, a cada três anos, celebravam-se em 
Corinto os jogos ístmicos. Os atletas concorriam em luta livre, 
corridas e outros jogos. O preparo do pessoal para tais concursos 
exigia um rigoroso programa de treinamento. Hoje em dia, os 
campeões recebem troféus de ouro; nos dias de Paulo, eram 
coroados com folhas de louro trançadas em coroa. Esses símbolos 
murchavam rapidamente, mas nós, os crentes, concorremos para 
ganhar uma coroa eterna!
74 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Observe que o apóstolo Paulo não se refere nesse trecho à 
salvação, por ser ela dada pela graça, mas refere-se ao prêmio do 
serviço cristão e fidelidade do crente. Devemos disciplinar-nos, 
treinando para correr com paciência a carreira que nos está pro­
posta” (Hb 12.1). E, nessa carreira, todos podemos ganhar o 
prêmio, se deixarmos que o Senhor seja o nosso treinador e 
orientador.
Deus nos dá talentos e habilidades especiais em algum as 
áreas de realização, esperando que façam os a nossa parte no 
desenvolv im ento e aperfe içoam ento desses dons para uso p rá­
tico. O importante não é superarm os os outros, senão a nós 
m esm os, m elhorando constan tem ente a nossa atuação. Isso 
requer bastante autodisciplina! Deus exige de nós o m elhor 
que possam os dar no serviço dEle. A parábola de Jesus sobre 
os talentos (Mt 25.14-30) contém um a poderosa m ensagem 
para nós: quem não usa o seu talento, perde-o. Os servos 
aum entavam seus talentos pelo trabalho e disciplina! Deus 
exige de nós o m elhor que possam os dar no serviço dEle. Os 
servos que aum entavam seus talentos pelo trabalho e d isc ip li­
na foram prem iados, mas aqueles que en terraram os seus, 
foram castigados e perderam os talentos que possuíam .
“Fazei tudo para a glória de Deus” , diz Paulo em 10.31. Esse 
“tudo” não se refere apenas ao trabalho na igreja e a outras 
atividades “ religiosas” . Tem um sentido bem mais amplo; abran­
ge o carpinteiro, o comerciante, a professora, o artista, o músico, 
o fazendeiro, o pescador, o operário, a dona de casa, o evangelista, 
o médico, o pastor, enfim, toda e qualquer profissão. Lembremo- 
nos de que se estamos trabalhando a serviço de Deus, e aquilo que 
se faz em nome de Deus deve ser bem feito.
Você faz bem em estudar este livro e outros semelhantes, 
como parte do seu preparo no serviço infinito de Deus. Continue 
se aperfeiçoando! Use seus talentos em prol da igreja e da socie­
dade. Estabeleça alvos dignos e siga sempre em frente. Não se 
deixe desanimar pelas dificuldades ou críticas. Corra para ganhar 
o prêmio da aprovação de Deus!
A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 75
I I I - F u n e s t o s R e s u l t a d o s p o r F alta 
d e A u t o d is c ip l in a ( 1 0 .1 - 2 2 )
1. Exemplo da história do Antigo Testamento
O pecado, é muitas vezes, resultado da falta de autodisciplina. 
E o pecado da ingratidão conduz com freqüência a outros peca­
dos. Isso aconteceu com Israel, sendo registrado na Bíblia como 
advertência para nós. Poucas semanas após o seu glorioso êxodo 
do Egito pela mão de Deus, os israelitas se queixaram da sorte e 
desejavam retornar.
Os versículos 1-4 diferem de tudo que já estudamos nessa 
epístola. Trata de Israel, mas o apóstolo está se dirigindo, princi­
palmente, a crentes gentios. Quase toda a linguagem é figurada e 
deve ser entendida num sentido espiritual. Por exemplo, ao se 
referir aos nossos antepassados, ele inclui os gentios como des­
cendentes de Abraão (G1 3.26-29). Ele fala do alimento espiritual. 
Os israelitas foram “batizados em M oisés” (não inundados pela 
água, mas atravessando pelo meio dela) no mar Vermelho. Esse 
ato os separou definitivamente do Egito e os consagrou à lideran­
ça de Moisés. E um símbolo do nosso batismo nas águas. Deixa­
mos a escravidão do pecado e nos entregamos à liderança de 
Cristo, nosso Mestre (Rm 6.3,4).
Paulo chama a Cristo de “pedra espiritual” , e quando Moisés 
obedeceu à ordem de Deus, ferindo a rocha (Ex 17.5,6), jorrou 
um rio de água que não mais secou. O Cristo eterno acompanhava
o seu povo por toda a viagem no deserto. Ele é também a rocha de 
nossa salvação. O castigo de Deus por nossos pecados o feriu no 
Calvário, de onde jorrou o rio de salvação suficiente para a 
humanidade de todos os tempos.
Deus providenciou libertação, alimento e bebida, mas Israel 
não lhe agradeceu. Repetidas vezes praticavam os mesmos peca­
dos. Deus livrou seus filhos, mas eles abusavam da liberdade. A 
nação cometeu pecados de idolatria, fornicação e rebelião, so­
76 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
frendo as conseqüências: milhares morreram e todo Israel foi 
condenado a vaguear no deserto por quarenta anos.
Deus nos preservou o Antigo Testamento para advertência. 
Lemos ali a triste história dos ciclos de pecado e castigo na vida 
do povo de Israel. E a história da humanidade se repete. Os 
versículos 12 e 13 têm uma aplicação bem ampla, inclusive para 
os nossos dias; seria uma boa idéia decorar esses versículos. 
Ainda hoje vemos a imoralidade sexual, a idolatria, as queixas e a 
rebelião contra Deus e contra os nossos líderes espirituais. Muitos 
daqueles que “saíram do Egito” acabaram “destruídos no deser­
to". Felizmente, se a tentação continua sempre presente, Deus é 
onipresente, onipotente e fiel por todos os séculos. Ele não garan­
te a nossa isenção de provas e tentações, mas promete acompa­
nhar-nos nas horas mais difíceis. Podemos vencer qualquer tenta­
ção com a ajuda dEle!
2. Advertência aos crentes do Novo Testamento
Devemos fugir do pecado, não apenas por termos medo do 
castigo, mas também por estarmos consagrados a Deus. Paulo 
salienta mais uma vez a nossa união com Cristo, na sua advertên­
cia contra a idolatria.
No capítulo 8. o apóstolo diz que um ídolo não é nada. Agora, 
porém, passa a explicar que aqueles que oferecem sacrifícios a 
ídolos estão realmente cultuando demônios e se comunicando 
com eles. Em contraste, os crentes comungavam com seu Senhor 
na Santa Ceia. Nessa ocasião, lembra-se da morte vicária deCristo, afirma-se a dedicação dos crentes a Ele e contempla-se a 
promessa da sua futura vinda. Como, então, esses crentes poderi­
am também participar da comunhão dos demônios? Seria suscitar 
a ira ciumenta do seu Senhor! (v. 22; Êx 34.14-17). A palavra 
Senhor no versículo 22 se refere, sem dúvida, a Jesus. O verda­
deiro crente o reconhece como Senhor da sua vida. A idolatria é 
motivo, pois. do justo castigo de Deus, seja no caso de judeus ou 
de crentes em Cristo.
A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 77
I V - A L ib e r d a d e e 
a A u t o d i s c i p l i n a (10.23—11.1)
Os coríntios acreditavam firmemente que “ todas as coisas 
eram lícitas” , e a cidade de Corinto era considerada a “capital do 
pecado” daquele período histórico. Mas Paulo nos ensina que o 
famoso adágio não é válido para a vida do crente. Gozamos de 
muita liberdade em Cristo (Jo 8.36), mas ela tem seus limites. O 
verdadeiro crente procura servir os outros por meio de boas obras, 
e não a si mesmo (vv. 23,24). Ele sempre pensa antes de agir: 
“Este ato será construtivo? Edificará meus irmãos na fé e a minha 
igreja? Fortalecerá nossa união espiritual?” (Rm 15.1-5).
No versículo 23 e em 11.1, Paulo faz um resumo do seu 
debate sobre a carne sacrificada aos ídolos antes de abordar o 
próximo problema da igreja dos coríntios. Ele oferece alguns 
conselhos práticos que servirão às futuras gerações. Os versículos 
24 e 33 nos dão o princípio da vida abnegada em benefício de 
outros. Isso não significa a negligência à nossa responsabilidade 
de prover às necessidades pessoais e familiares, sendo mais que 
óbvio o dever de cuidar do nosso próprio bem-estar espiritual. 
Mas Paulo fala principalmente do nosso comportamento em pú­
blico; esse não deve ofender a outros nem ser um mau exemplo 
aos demais crentes.
Ainda assim, não devemos abdicar a nossa liberdade cristã de 
praticar coisas não-prejudiciais. Os líderes da Igreja Primitiva opi­
navam que os crentes gentios não seriam obrigados a guardar a lei 
mosaica no tocante à comida. Mas também opinaram que os cren­
tes não deveriam comer carne oferecida a ídolos (At 15.19-21). 
Paulo não contradiz essa regra, mas explica como deve ser aplica­
da. Segundo Paulo, os crentes, ao comprar carne, não têm obriga­
ção de indagar sobre a sua procedência (se foi oferecida a ídolos ou 
não). E, quando convidados a jantar em casa de outros, não devem 
fazer perguntas desse tipo acerca da comida. O alimento não é tão 
importante assim (1 Co 6.13; 8.8). Faltando a absoluta certeza de 
que determinada carne tenha sido oferecida a ídolos, deveriam
78 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
comer dela sem hesitação, dando graças a Deus. porque, "pela 
palavra de Deus e pela oração, é santificada" (1 Tm 4.3-5).
Mas, como já vimos, a nossa liberdade tem seus limites. Se 
alguém dissesse ao cristão: “Esta carne foi oferecida a um ídolo", 
esse não deveria tocá-la. Com er tal carne seria interpretado como 
uma homenagem ao ídolo; recusá-la. seria um testemunho de que 
aquele crente não tinha nada a ver com a adoração aos ídolos. Em 
nossos dias, raramente enfrentamos tal problema. M esmo assim, 
esse princípio e outros semelhantes nos são bem úteis.
Em Colossenses 3.15-17. Paulo nos ensina que devemos “fa­
zer tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus 
Pai". Aqui, ele fala de atitudes na igreja: ensinar a Palavra de 
Deus, aconselhar os crentes, cantar louvores etc. Mas no versículo 
31 lemos que devemos até comer e beber para honra e glória de 
Deus. Isto se refere à nossa vida particular em casa e nossa vida 
social na comunidade. O verdadeiro Cristianismo não consiste 
somente na adoração a Deus, no ensino da sua Palavra e nos 
cânticos espirituais, mas também no comer e beber para glória de 
Deus, com gratidão pelas refeições mais simples.
A autodisciplina no consumo de comidas e bebidas também 
glorifica a Deus. Nosso corpo é o templo do Espírito Santo, e por 
isso devemos ingerir comidas nutritivas e evitar qualquer excesso 
ou abuso no comer e no beber.
Mas Paulo não fala exclusivamente de comidas e bebidas, ele 
nos recomenda: “Fazei tudo para a glória de Deus". Glorifique- 
mos a Deus com nossa vida exemplar, apresentando-nos como 
agentes da graça e do amor do nosso Deus. Não devemos escan­
dalizar ninguém, seja "judeu, gentio ou a igreja de Deus". Muitas 
pessoas rejeitam Jesus por causa dos pecados e falhas dos crentes! 
Jesus disse: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos ho­
mens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso 
Pai que está nos céus” (Mt 5.16).
Será que devemos tentar agradar aos descrentes? Paulo diz 
que sim, e assim o fez! Na realidade, é quase impossível agradar 
a todo mundo. Nem Jesus nem Paulo conseguiram, mas esse pelo
A Liberdade Cristã e a Autodisciplina 79
menos diz: “Eu procuro em tudo ser agradável a todos” (v. 33). 
Isso exige muita autodisciplina, que na vida do ministro ou de 
qualquer crente traz muitos benefícios: maior aproveitamento dos 
nossos dias aqui na terra, menos tentação ao pecado e um minis­
tério mais frutífero.
Seguem abaixo algumas relações nas quais a tentativa de 
agradar aos outros torna a vida mais gostosa e glorifica a Deus. 
Em quais dessas você consegue se identificar numa das duas 
funções? (O “querer agradar” é mútuo.)
a. Pai —filho
b. Patrão—empregado
c. M arido—esposa
d. Comerciante —freguês
e. Pastor—membro da igreja
f. Professor—aluno
g. Amigos
h. Parentes
i. Vizinhos
Você consegue identificar algumas áreas na lista acima em 
que suas próprias relações poderiam ser melhores? Fale com 
Deus a respeito. Estude o quadro “Diretrizes para a Liberdade 
Cristã” . Quais dos princípios ali apresentados são aplicáveis às 
relações humanas?
Examine bem os motivos de você querer agradar aos outros. 
Para alguns, o Evangelho em si constitui tropeço (1 Co 1.23), mas 
alguns indivíduos acreditarão e entregar-se-ão a Jesus, se perce­
berem que o Evangelho lhes foi demonstrado com todo amor, 
empatia e compaixão. Faça um esforço para agradar as pessoas de 
maneira mais apropriada, para que algumas delas possam ser 
salvas por intermédio da sua vida. Paulo encerra esse segmento 
da sua carta com a seguinte recomendação: “Sede meus imitado­
res, como também eu sou de Cristo” (11.1). Será que nos atreve­
mos a afirmar o mesmo?
7
>»
0 Véu, o Agape 
e a Santa Ceia
I - I n t r o d u ç ã o
Já temos estudado na carta aos Coríntios vários aspectos da 
conduta cristã. Em sua carta, Paulo responde a muitas perguntas 
colocadas por seus “filhos na fé” na cidade de Corinto, tais como 
o fio que liga todos os aspectos mencionados e o uso correto da 
liberdade cristã. O crente tem grande liberdade em Cristo; às 
vezes, porém, é preciso impor-lhe um limite para ajudar os seus 
semelhantes e não escandalizá-los.
No capítulo l l , o enfoque se desloca da praça pública para a 
igreja. O apóstolo retom a dois assuntos já mencionados: o rela­
cionamento entre marido e mulher e a liberdade do crente. A lgu­
mas irmãs da igreja de Corinto estavam abusando da sua nova 
liberdade em Cristo, comparecendo aos cultos sem o véu tradici­
onal, cuja falta desonrava não só à própria mulher, mas também 
ao marido.
Outro aspecto lamentável era a conduta de alguns crentes 
coríntios nos ágapes, que deveriam ser simples refeições de con­
fraternização. Parece que alguns membros da igreja abusavam 
das comidas e bebidas, ao passo que outros eram obrigados a
82 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
passar fome por causa da gula dos primeiros. Paulo repreende 
aqueles irmãos por seu egoísmo.
Finalmente, temos o padrão ou modelo para a celebração da 
Santa Ceia. Em vez de insistir nas suas práticas indisciplinadas e 
egocêntricas, os crentes deveriam reconhecer sua união no corpo 
de Cristo e com o Mestre. Nós também devemos enfocar esse 
aspecto regularmente, até a prometida volta do Senhor!
I I - O VÉU (11.2-16)
Passamos agora à praça publica de Corinto, ao seio da igreja e 
aos cultos doscrentes. A “questão palpitante” aqui apresentada é: 
“As mulheres devem orar de cabeça descoberta?” Não sabemos 
se os coríntios lhe escreveram a respeito ou se ele soube do 
problema por outro meio. Seja como for, o apóstolo passa a 
responder conforme seu costume: primeiro elogia os coríntios por 
sua atenção e obediência (11.1) e depois trata do problema. As­
sim, seus ouvintes entendem o que o apóstolo espera deles nesse 
particular, ou seja, a mesma atenção e obediência de sempre.
1. Símbolo de submissão
Por que Paulo diz que a mulher deve ter a cabeça coberta 
quando ora ou profetiza na igreja? Para entender plenamente as 
inferências desse trecho, devemos aprender algo sobre os costumes 
mediterrâneos daquela época. As mulheres usavam sempre um véu 
quando se apresentavam em público. Alguns historiadores nos infor­
mam que, em Corinto, só as prostitutas andavam sem véu. Era um 
tipo de véu que cobria os cabelos, mas não o rosto das mulheres 
casadas, como sinal de serem elas protegidas pela autoridade dos 
maridos. Simbolizava a submissão e segurança no papel de esposas.
Algumas das novas crentes, porém, pareciam acreditar que 
sua liberdade em Cristo ultrapassava qualquer submissão à auto­
ridade do marido. E verdade que o Evangelho cristão eleva a 
mulher, pois no Corpo de Cristo se neutralizam todas as diferen­
O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 8 3
ças sociais. Homens e mulheres, jovens e velhos, escravos e 
donos, todos desfrutavam em Cristo direitos e privilégios iguais. 
Deus tinha derramado seu Espírito sobre todos eles (At 2.16-18). 
Tanto as mulheres quanto os homens tinham o direito de orar e 
profetizar publicamente na igreja. Por isso, algumas mulheres 
crentes em Corinto passaram a dispensar o véu para salientar a 
sua igualdade com os homens diante do Senhor.
Mas isso constitui um abuso da liberdade cristã por criar um 
mal-entendido aos olhos do público descrente. Devemos medir as 
nossas ações conforme o contexto cultural em que vivemos. Aqui­
lo que pode ser plenamente aceitável numa cultura, escandaliza 
em outra. Nos dias de Paulo, mulher sem véu ou com cabelos 
curtos era prostituta.
As mulheres crentes que insistiam nesse uso, portanto, esta- 
vam criando uma confusão na mente dos não-crentes e trazendo 
desonra para si e para seus maridos. A falta de véu significava 
popularmente, uma falta de respeito, confiança e honra para com 
o marido (vv. 5,6).
Este trecho nos proporciona um certo regulamento específico 
para determinado lugar e época, bem como um princípio aplicá­
vel universalmente. É o princípio da submissão bíblica, uma 
atitude que abrange confiança, honra, respeito e obediência. Ve­
mos que a submissão é parte integral da ordem do mundo espiri­
tual. Paulo apela à ordem que Deus estabeleceu para a humanida­
de na criação e mostra como a família cristã se incorpora nessa 
ordem divina.
2. Ordem de submissão
Deus Pai 
Jesus Cristo, Filho +
Homem
*
Mulher
8 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
O versículo 3 é a chave para a compreensão desse trecho. 
Afirmar que Deus é a cabeça de Cristo cria confusão na mente de 
certas pessoas, que perguntarão: “Mas Deus Pai e Deus Filho não 
são iguais?” Num sentido, sim: “Eu e o Pai somos um" (Jo 10.30). 
Mas também: “O Pai é maior do que eu" (Jo 14.28). Não conse­
guimos entender a natureza da Trindade. Parecem coexistir a 
superioridade (em termos de ordem) e a igualdade (de essência). 
A relação marido e esposa parece seguir o m esmo padrão. Esse 
fascinante versículo (3), mostra simultaneamente a submissão e a 
igualdade em todos os três níveis. Homens e mulheres realmente 
não existem em pé de igualdade com Cristo, mas são declarados 
eo-herdeiros com Elel Somos o seu corpo aqui na Terra, e um dia 
reinaremos com Ele!
Leia Gálatas 3.28, Romanos 8.17 e I Pedro 3.7, e compare-os 
com 1 Coríntios 1 1.3. O ensino apresentado por esses versículos é 
a igualdade entre marido e esposa em assuntos espirituais. Porém, 
tal fato não anula o papel e responsabilidade do homem como 
cabeça da esposa e da família.
Todo negócio, igreja, colégio e organização precisam de uma 
figura titular, um encarregado, e a família não constitui exceção. 
No caso da família, o encarregado ou responsável é o marido.
Nas igrejas da época de Paulo, os homens oravam de cabeça 
descoberta, como continua sendo o costume da maioria nos dias 
de hoje.
Na cultura judaica, porém, os homens costumavam usar um 
pequeno boné redondo na cabeça durante os cultos religiosos. Em 
ambos os costumes, o intuito é glorificar a Deus e mostrar respei­
to por Ele. Cada grupo segue e se adapta aos costumes vigentes 
no seu local e época.
Em resumo, os costumes mudam, mas os princípios perm ane­
cem. Os costumes de Corinto não são mais os costumes da maio­
ria do mundo de hoje. Paulo deu um regulamento acerca do uso 
de véu, porque esse criara um problema para os crentes coríntios. 
Mas não somente falou acerca de um problema específico, como
O Véu, o Agape e a Santa Ceia 8 5
também articulou um princípio eterno, aplicável à igreja em ge­
ral. através dos séculos.
Ao recomendar que os crentes coríntios usassem véu quando 
orassem ou profetizavam na igreja, Paulo aplica um regulamento 
baseado no princípio de que o crente goza liberdade em Cristo, 
mas deve aplicar autodisciplina para não escandalizar o irmão 
mais fraco.
Vê-se também nessa passagem o princípio de adequar o com ­
portamento dos crentes ã cultura em que vivem para não escanda­
lizar os descrentes.
3. Símbolo de autoridade
A submissão e a autoridade caminham juntas. O capítulo 11 
trata de maridos e esposas, mas o princípio da submissão mútua é 
importante para cada um de nós, casados ou solteiros. O indiví­
duo que rejeita a autoridade dos outros abdica do direito de ter sua 
própria autoridade. A pessoa que desobedece às regras da socie­
dade em que vive, perde a influência que, de outra maneira, teria 
nesse ambiente. A submissão à Lei e o reconhecimento da autori­
dade dos demais nos conferem a autoridade de usarmos os nossos 
direitos em qualquer grupo.
Assim foi no caso das irmãs coríntias. Pelo uso do véu. elas 
reconheceriam a autoridade de seus maridos e o seu próprio papel 
de esposas, o qual lhes conferiria o direito ou autoridade de 
exercer seu próprio ministério público em pé de igualdade com os 
homens na congregação. Elas tinham todo o direito de orar e 
profetizar em voz alta nos cultos públicos, contanto que se com ­
portassem com decência e ordem (v. 5). Ninguém deve negar às 
irmãs crentes o direito de ministrar nas igrejas, caso se com por­
tem conforme os princípios da Palavra de Deus.
Durante muitos séculos, em algumas regiões do mundo, o véu 
tem conferido poder e honra à mulher. Usando o véu, ela conse­
gue ser respeitada onde quer que vá; é seu símbolo de autoridade 
(v. 10). Sem a proteção do véu, poderia ser tratada como mulher
8 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
de baixa condição e indigna de respeito. O véu, símbolo de 
submissão, enaltece a mulher que o usa.
Por que Paulo se refere aos anjos nesse contexto? Hebreus 
1.14 diz que os anjos ministram e servem àqueles que herdarão a 
salvação, ou seja, os crentes em Cristo. E razoável supor que os 
anjos estão presentes em nossos cultos. Ficariam magoados ao 
presenciar desordem ou desrespeito nos cultos dos crentes. Os 
anjos se esforçam para manter a ordem e não gostam de rebelião 
contra a ordem divina estabelecida para a família.
Devemos salientar mais duas facetas desse assunto: primeiro, 
Paulo não era misógino como alguns querem alegar; segundo, 
existem muitos abusos acerca da “ submissão de esposas” . O que 
é o casamento? E uma aliança, uma relação mútua. E um convê­
nio solene entre duas pessoas, uma entrega mútua que dura a vida 
inteira. Efésios 5.24 diz que as esposas devem submeter-se aos 
seus maridos, mas não devemos supervalorizar esse princípio 
sem também lembrar o que Deus diz aos maridos! Cada membro 
do casal deve amar e respeitar o outro. Algumas esposas se 
negama submeter-se aos seus maridos; tal prática está errada. 
Alguns maridos se negam a assumir a responsabilidade dos seus 
lares, querendo deixar tudo para a mulher; tal prática também está 
errada. Mas o homem que satisfaz fielmente as condições do 
quadro abaixo gozará da atenção, amor e respeito de uma esposa 
contente e dedicada.
4. Uma palavra aos maridos
O homem não é independente da mulher (1 Co 11.11).
Deve amar sua esposa como Cristo amou a igreja (Ef 5.25).
Deve amar sua esposa como a si mesmo (Ef 5.33).
Deve ter consideração e respeito para com sua esposa (1 Pe 3.7).
A aplicação das palavras de Paulo acerca do véu e do pentea­
do das mulheres varia bastante de um país para outro e de igreja
O Véu, o Agape e a Santa Ceia 8 7
para igreja. Eu diria àqueles que insistem em que a mulher use 
véu na igreja: vejam o versículo 15, onde diz que o cabelo é dado 
à mulher em lugar de véu. Alguns comentaristas pensam que a 
referência à “própria natureza” , no versículo 14, fala da cultura 
geral da época, dando a entender que um sexo não deve imitar o 
outro (como no caso de homossexuais) no penteado etc. Seja 
como for, a modéstia e o bom gosto no modo de vestir e arrumar 
os cabelos, de modo que não pareçamos rebeldes ou escandalo­
sos, é o princípio essencial para todos nós.
5. O ágape
Paulo prossegue no debate sobre conduta cristã na igreja, 
abordando agora o problema da falta de disciplina nos ágapes, 
que às vezes pareciam manifestar tudo, menos o amor!
6. Momentos de confraternização
O ágape na Igreja P rim itiva não era p ropriam ente um culto 
de louvor, mas desem penhava um papel im portante nos dias de 
Paulo. Talvez por causa do grande am or uns pelos outros ou 
em virtude das perseguições sofridas, os m em bros da Igreja 
Prim itiva se congregassem com freqüência (At 2.46). Em Atos, 
lemos que eles “ partiam o p ão ” e “ tom avam refe ições” c om u­
nitárias. Isso não se refere à Santa Ceia, mas a pequenas 
reuniões sociais.
À medida que o Evangelho se espalhava por todo o Império 
Romano, com o grande aumento de membros nas igrejas, os 
crentes continuavam suas reuniões em casas particulares com o 
objetivo de ensinar, orar, louvar e confraternizar. O ágape primi­
tivo era uma refeição simples e comunitária, onde todos contribu­
íam com uma parte da comida. Mas algo mudou em Corinto, e os 
ágapes, em vez de estimular a confraternização, estavam pioran­
do as divisões existentes entre os membros.
Foi por isso que Paulo repreendeu os coríntios (v. 17), adver­
tindo-os sobre os resultados prejudicais de seus ágapes. As divi­
8 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
sões mencionadas no versículo 18 não parecem tão sérias como as 
referidas nos versículos 10-12. Os crentes se subdividiam em 
pequenos grupos nos ágapes; não sabemos se essa subdivisão 
obedecia a qualquer discriminação de camada social, mas o 
versículo 19 sugere também diferenças doutrinárias. A natureza 
não muda através dos séculos!
7. Ocasião de compartilhar
Um dos propósitos dos ágapes podia ter sido ajudar os pobres 
(2 Co 8.13-15). A Bíblia nos ensina que os fortes devem auxiliar 
os fracos, e os ricos, ajudar os pobres, sobretudo seus irmãos (G1
6.10). Porém, os coríntios pareciam entender mal esse propósito 
dos ágapes, pois alguns dos membros se mostravam bastante 
egoístas. Paulo os adverte: “De sorte que, quando vos ajuntais 
num lugar, não é para comer a Ceia do Senhor” (v. 20 '; Cristo não 
estava sendo glorificado nos ágapes coríntios.
Paulo manda que os irmãos esperem uns pelos outros na hora 
da refeição ou comam em casa. Os ágapes tinham propósito 
duplo: ajudar os pobres e manifestar o amor e união cristã na 
igreja. Se esse propósito não estava sendo cumprido, era melhor 
todos os irm ãos ja n ta re m sep a ra d a m e n te nas suas casas 
(1 1.22,33,34).
A falta de disciplina dos coríntios teve um péssimo efeito 
também na comemoração da Santa Ceia, instituída por Jesus. 
Parece que comemoravam simultaneamente o ágape e a Santa 
Ceia, ou que essa seguia logo após aquele. Com o decorrer dos 
anos. o ágape quase que desapareceu da prática das igrejas cristãs, 
mas a Santa Ceia será comem orada até a volta de Jesus Cristo. Os 
coríntios, no seu egoísmo e exagero das coisas, acabaram com en­
do e bebendo indignamente na Santa Ceia. É um ato de hipocrisia 
comer do pão e beber do vinho que representam nossa união com 
Cristo, se na conduta dos crentes não se manifesta nossa união 
uns com os outros em Cristo.
O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 8 9
III - A S a n t a C e i a (v v . 23,24)
1. A Santa Ceia e a Páscoa — Êxodo 12; 
Mateus 26—30; 1 Co 5.7,8
Ê x o d o 1 2 C e r im ô n ia s
M e m o r ia l is t a s
M a t e u s 26.26-30
L e m b r a n d o a 
S a l v a ç ã o D iv in a
P á s c o a S a n t a C e ia
Liberdade da 
escravidão No Egito Do pecado
Deus providenciou e 
mandou o sacrifício
De um cordeiro 
perfeito
Do seu Filho 
perfeito
Sangue do cordeiro Na porta Na cruz e no 
crente
0 Sangue protege 
da morte O filho Todos os crentes
Salvação da morte Física, temporária Espiritual, eterna
Símbolo: o sangue 0 vinho 0 vinho
Carne do cordeiro 
consumida
Pela família dos 
israelitas
Pela família 
de Deus
Cura e força para 0 êxodo do Egito A viagem 
para o Céu
Cerimônia
comemorada
Anualmente pelos 
judeus
Com freqüência 
pela Igreja
2. “Comer este pão”
O pão é comida universal, consumido em todas as partes do 
mundo e mencionado centenas de vezes na Bíblia. A refeição 
mais típica dos judeus começa com o seguinte rito doméstico: o 
Pai tomava o pão nas suas mãos, dava graças a Deus, partia o pão 
e distribuía os pedaços aos membros da família.
9 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
lesus seguiu esse m esmo padrão com seus discípulos (Mt 
26.26). Mas acrescentou elementos ao dizer: “Tomai, comei; isto 
é o meu corpo”.
Sabemos que Jesus falava de uma maneira simbólica, porque 
o pão que segurava na mão não era parte de seu corpo. Ao partir 
o pão, agiu simbolicamente, pois, no dia seguinte, seu próprio 
corpo seria ferido na cruz. Mateus, Marcos e Lucas descrevem 
essa última Páscoa celebrada por Jesus com seus discípulos. 
Lucas anota as palavras de Jesus: “Fazei isto em memória de 
m im ” .
3. Simbolismo do pão
Um pão União da Igreja
Pão inteiro Cristo perfeito
Sem levedura Cristo imaculado (sem pecado)
Partido Cristo crucificado por nós
Dá força Para corpo e alma
Comida Alimentar-nos de Cristo e unir-nos 
com Ele (Corpo de Cristo)
Alimento universal Cristo morreu por todos
Geralmente o pão é inteiro. Partimos o pão para comê-lo, 
alimentarmo-nos. Jesus foi uma pessoa inteira, perfeita e com ple­
ta como homem e como Filho de Deus. Seu corpo teria de ser 
"partido no calvário para que pudéssemos “comer” livremente 
dele e receber energia física e espiritual. O pão sem levedura nos 
lembra que Ele era imaculado (sem pecado). E nos livramos do 
pecado ao nos integrarmos espiritualmente nEle.
João 6.48-51 nos ensina que é somente por “comermos"o 
corpo de Jesus, o Pão da Vida. que recebemos vida eterna. A 
"ingestão do corpo e sangue de Jesus é espiritual. significa 
receber dEle sustento e energia total. Alimentamo-nos de^Cristo
O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 91
não somente na Santa Ceia, mas também na adoração, no reco­
nhecimento da sua presença em nós e nós nEle, como parte 
integrante do seu corpo; recebemos sustento também por meio da 
confraternização com outros crentes.
4. “Beber o cálice”
Na noite em que a Páscoa foi transformada na Santa Ceia, 
Jesus tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos seus discípulos, 
dizendo: “Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testa­
mento, que é derramado por muitos, para remissão de pecados” 
(Mt 26.28). Essa linguagem (como no caso do pão) é simbólica. E 
o vinho no cálice era o símbolo do sangue de Jesus.
A palavra aliança (“ testamento”) significa um convênio sole­
ne e formal entre duas pessoas ou grupos. Geralmente, para se 
oficializar uma aliança, matavam um animale comiam juntos a 
carne dele como sinal de amizade e boa fé. De fato, a palavra 
hebraica berith (“aliança”) significa “comerem em conjunto” ou 
“amarrarem”. A ceia da aliança mostrava que os dois membros ou 
partidos aceitavam os termos do convênio. No Antigo Testamen­
to, houve várias alianças entre Deus e os homens, como as que 
Ele fez com Noé e Abraão. Toda aliança consiste em quatro 
partes: as pessoas, as condições, a garantia de cumprir as promes­
sas e os resultados do cumprimento dos convênios. Examinemos 
a aliança que Deus fez com Noé em Gênesis 9.
Participantes — Deus e a humanidade (9.12)
Condições — A humanidade deveria encher a terra (9.1,7)
Resultados — Não haveria mais enchente universal (9.11)
Garantia — Arco-íris (9.13)
As alianças bíblicas têm seu início em Deus. Ele estabelece as 
condições com um indivíduo ou grupo (por exemplo, a nação de 
Israel). Às vezes. Deus dá um sinal visível como sua garantia, 
como foi no caso do arco-íris; mas geralmente a garantia é a
92 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
promessa de Deus (Hb 6.13). Os resultados para o homem, caso 
se mostre fiel ao convênio, são sempre benéficos. E Deus é 
glorificado pela realização da aliança.
Mais tarde, Deus deu a Moisés a aliança das leis para o povo 
de Israel. Nesse convênio, Deus escreveu os Dez M andam entos 
nas tábuas de pedra. Séculos depois, Ele disse a Jerem ias que 
iria fazer uma nova aliança, escrevendo seus m andam entos no 
coração e na mente do povo. Jesus veio estabelecer essa nova 
aliança, selando-a com seu próprio sangue. E a Santa Ceia é a 
ceia da aliança que m anifesta nossa aceitação dos termos do 
convênio.
I V - A N ova A l ia n ç a d e J e s u s
Prometida no Antigo Testamento — Jeremias 31.33
Para remissão de pecado — Jeremias 31.34; Mateus 26.28; 1 
Coríntios 11.25
Selada com o sangue de Jesus — Mateus 26.28; Hebreus 
9.15-28
Para todos aqueles que crêem — João 3.16
Leia novamente e compare Jeremias 31.31-34 com Mateus 
26.28, Hebreus 9.15-28 e 1 Coríntios 11.25. Todos se referem à 
N ova Aliança. Esta abrange muito mais que o povo de Israel; é 
uma aliança universal (Jo 3.16; 12.32). Cada indivíduo que ouve 
o Evangelho tem a obrigação de tomar a decisão de participar ou 
não da aliança.
A morte e ressurreição de Cristo são o fundamento da nossa 
salvação. Sem o sangue de Jesus, não teria havido uma igreja em 
Corinto e nenhuma em nossos dias. Ficaríamos ainda esperando a 
salvação, perdidos na nossa ignorância e idolatria, ou, na melhor 
das hipóteses, aproximando-nos de Deus por meio do sacrifício 
diário de pombas, cordeiros e cabras. Mas o Calvário transformou 
essa lúgubre cena! Jesus tem providenciado uma aliança bem 
melhor (Hb 8.6), em convênio que tem durado séculos e continu­
O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 9 3
ará vigente até a volta de Jesus. O cântico de louvor ao Cordeiro 
do livro de Apocalipse o diz muito bem: Digno és de tomar o livro 
e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue 
compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e 
nação; e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e reinarão 
sobre a terra (Ap 5.9,10).
1. Comer e beber dignamente
A forma física e visível da Santa Ceia consiste em comer um 
pedacinho de pão ou bolacha e beber um gole de vinho ou suco de 
uva após uma oração dedicatória. A participação dessa comunhão 
é um ato físico, porém, a menos que signifique para nós algo 
muito importante em termos espirituais, é um rito inútil.
De acordo com o versículo 28, o que devemos fazer ao parti­
cipar da Santa Ceia?
1.1. Durante a Santa Ceia
O lhar: ao seu redor (para ver os membros do corpo de Cristo) 
para dentro de si (para se examinar) 
para o futuro (a volta de Jesus)
P roclam ar: A morte do Senhor
Jesus morreu há muitos séculos; por isso, ao proclamarmos 
esse evento até a sua vinda, olhamos para o futuro. Devemos 
examinar as nossas próprias vidas e motivos, assim olhar para 
dentro. E, finalmente, olhar ao redor para contemplar os nossos 
irmãos na fé. ou seja, o corpo de Cristo. Desse modo, desfrutare­
mos de uma comunhão mais profunda com Cristo e com os 
demais irmãos na Santa Ceia.
Você já pensou nessa comunhão como sendo um tipo de 
evangelismo? A proclamação da morte de Jesus é, de fato, 
evangelização. A Santa Ceia é mais que uma refeição simbólica; 
é uma confissão pública da morte vicária de Cristo para salvar os 
Pecadores e da nossa fé e confiança pessoal nEle (Rm 5.8).
9 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Já que a morte de Cristo nos concede a salvação, devemos 
lembrar a sua morte continuamente e pensar naquilo que sofreu 
por nós. Assim, “comem os a carne do Filho do hom em ” (Jo 6.53). 
O simples ato de participar da Santa Ceia não salva ninguém, mas 
constitui uma ação de graças, fortalece a nossa fé e dá testemunho 
de que temos comunhão com o Senhor e com os nossos irmãos na 
fé (1 Co 1.9).
Jesus está presente em Espírito, quando juntos "partimos o 
pão” . Mas, quando voltar para arrebatar a sua Igreja, estaremos 
com Ele num sentido físico. Já não será necessário comem orar­
mos a Santa Ceia. Mas, por enquanto, ficamos esperando a vinda 
dEle, especialmente por ocasião da Ceia. Isso nos anima a purili- 
car-nos (1 Jo 3.2,3). Às vezes, teremos que nos arrepender de 
algum mal feito a um a outra pessoa, pedindo perdão a ela e a 
Deus (1 Jo 1.7). Muitas vezes, o poder de Deus desce de maneira 
sobrenatural na Santa Ceia, quando os crentes confessam os seus 
pecados e pedem perdão uns aos outros, livrando-se de seus 
ressentimentos. Se soubéssemos que Jesus voltaria hoje, o que 
faríamos?
Voltemos agora ao problema dos coríntios. Eles comiam e 
bebiam de maneira indigna, tratando a Santa Ceia como se fosse 
outra refeição qualquer (por ter ela uma ligação direta com o 
ágape). Eles não reverenciavam o seu Senhor nem reconheciam o 
corpo dEle no sacramento e na sua igreja humana. Mostravam-se, 
enfim, gulosos e egoístas. Seu comportamento nos choca bastan­
te. Mas não seriamos culpados dos mesmos pecados ou de coisa 
pior? Alimentando-nos gulosamente das bênçãos de Deus sem 
compartilhá-las com os que nunca ouviram o Evangelho, ou 
deixando de reconhecer como membros do Corpo de Cristo ir­
mãos de outras igrejas? Por todo o livro de 1 Coríntios, notamos 
o tema da união dos crentes com Cristo e com seus irmãos na 
igreja. No atual avivamento que o Espírito Santo está operando na 
Igreja, o Senhor está falando muito da união dos crentes nEle. 
Devemos manter esse tema sempre presente ao participar da 
Santa Ceia.
O Véu, o Ágape e a Santa Ceia 9 5
Podemos comer e beber dignamente se nos examinarmos, 
julgando-nos a nós mesmos e pedindo perdão. Assim, renovamos
o nosso compromisso e entrega perante o Senhor e seu corpo aqui 
na terra. Naturalmente, com o perdão, vem a responsabilidade de 
consertar o que estiver errado em nossas vidas. O Senhor nos dará 
a graça necessária para assim fazermos. Deus castigou os coríntios 
porque não reconheceram nem valorizaram o seu corpo (vv. 30- 
32). Aprendemos deles que é melhor nos examinarmos antes de 
participarmos da Santa Ceia!
Em resumo, devemos salientar duas coisas no que diz respeito 
à nossa comunhão no pão e no vinho. Em primeiro lugar, não 
deixe de participar da Santa Ceia por se sentir indigno. Somos 
todos indignos. Paulo se refere a atitudes indignas, mas não dos 
crentes em si. Deus nos perdoa, lava e dá força espiritual se 
confessarmos a nossa necessidade e buscarmos a misericórdia 
dEle revelada no Calvário. Em segundo lugar, há, no sacrifício de 
Cristo, a provisão de cura para as nossas doenças. Receba essa 
bênção pela fé, ao participar da Santa Ceia, lembrando que “pelas 
suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4,5).
8
Os Dons Espirituais, 
a União e o Amor
I - I n t r o d u ç ã o
Nos primeiros onze capítulos de 1 Coríntios, Paulo corrige 
erros de doutrina e prática cristã: partidarismo, imoralidade, es­
cândalo de crentes fracos e falta de reconhecimento do corpo de 
Cristo.No capítulo 7, estudamos a correção do comportamento 
dos coríntios na igreja, no tocante a véus, ágapes e Santa Ceia.
Neste capítulo, continuamos o nosso estudo dos cultos de 
louvor, mas nesse caso, Paulo não está corrigindo fraquezas e 
falhas. Agora ele oferece ensinamentos construtivos para edificação 
da Igreja, voltando-se para um tema bem importante da epístola: 
A união do corpo de Cristo. Ao ensinar sobre os dons do Espírito 
no capítulo 12, Paulo mantém sempre presente a união da igreja, 
corpo de Cristo na terra. De fato, dedica metade do capítulo a uma 
comparação da Igreja com o corpo humano.
Paulo explica como o Espírito Santo proporciona à igreja 
muitos dons espirituais para que, como num corpo físico, todos os 
membros passem a atuar e colaborar com os outros em benefício 
do organismo total. O corpo unido pode desempenhar o labor que 
Deus lhe destina. Mas a verdadeira união só enxerga por meio do 
amor. No capítulo 13, vemos que o indivíduo m esmo sendo
9 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
eloqüente, sábio e cheio de fé, sem amor, não é nada. Os dons 
espirituais devem ser motivados e empregados por meio do amor; 
do contrário, são apenas barulho sem valor. Graças a Deus. o 
Espírito veio para nos encher do mesmo amor que levou Jesus 
Cristo ao Calvário, e que o motivou através de toda sua vida.
I I - F o n t e e P r o p ó s it o d o s D o n s ( 1 2 .1 - 1 1 )
Em 1 Coríntios 12.1, Paulo inicia o debate de um assunto 
novo, provavelmente sugerido pelos próprios coríntios. A sua 
epístola apresenta aqui uma nítida divisória. Nos primeiros onze 
capítulos, o ensino do apóstolo tem sido, acima de tudo, correti­
vo; mas nos capítulos 12-13 temos o ensino construtivo. Paulo 
dará logo a seguir, no capítulo 14, a base doutrinária para a 
correção de problemas na igreja.
Compare 1 Coríntios 12.1 com 14.26-33. Por que Paulo diz 
que não quer que a igreja seja ignorante a respeito dos dons 
espirituais, se já possui tantos dons?
Leia 1 Coríntios 12.4-7. Nesses versículos aprendemos que:
1. Um só Espírito (o Espírito Santo) concede diversos dons 
espirituais.
2. Cada crente cheio do Espírito recebe um ou mais dons 
espirituais.
3. O Espírito Santo distribui esses dons para que todos os 
crentes possam ser abençoados e a igreja edificada.
Além de aprender os nomes dos dons, você verá como o 
Espírito os opera, através dos crentes, em benefício da igreja. Os 
coríntios se converteram do paganismo. Conheciam bem a ope­
ração dos demônios através dos sacerdotes dos ídolos que antes 
adoravam (12.2,3). M as agora, os crentes coríntios estavam 
cheios do Espírito Santo de Deus. Ele os fizera reconhecer a 
soberania de Jesus Cristo nas suas vidas. Qualquer poder sobrena­
tural que impulsionasse uma pessoa a falar contra Jesus não 
poderia ser o Espírito de Deus.
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 9 9
Um a pergunta: Quantas vezes se usa a palavra mesmo em 1 
Coríntios 12.4-11 ?
Veja também locuções como “um fim proveitoso” (12.7), “no 
mesmo Espírito” (12.9) e “um só e o m esmo Espírito” (12.11). 
Percebemos que um só Espírito opera todos esses dons num só 
corpo. Ele procura crentes consagrados, através dos quais possa 
agir, mas é o Espírito mesmo que resolve quais dons cada homem 
ou mulher receberá (12.11).
Por isso, não importa quem recebeu qual dom ou quantos 
dons o indivíduo recebeu. Tudo aquilo que o Espírito Santo faz 
no tocante aos dons, visa o bem-estar e edificação de todos os 
crentes. Ninguém deve considerar o dom recebido superior ao de 
outrem, mesmo quando os resultados da operação de determinado 
dom pareçam mais evidentes, não nos compete o orgulho. O dom 
concedido não é merecido nem ganho. O propósito dos dons é 
glorificar a Deus (não àquele que manifesta o dom) e edificar a 
igreja. Nenhum crente faz concorrência aos seus irmãos na fé, no 
emprego dos dons espirituais. O Espírito Santo não pode fazer 
concorrência consigo mesmo!
1. Natureza dos dons espirituais
D o n s
Revelação Palavra de Sabedoria
Palavra do conhecimepto
Discernimento de espíritos
Poder Fé
Operação de milagres
Dons de curar
Fala Profecia
Variedade de línguas
Interpretação de línguas
10 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Vamos enumerar e descrever cada um desses dons em poucas 
palavras. Este trecho bíblico no capítulo 11 especifica nove dons 
do Espírito (embora haja outros). Eles podem ser subdivididos em 
três grupos de três dons cada.
2. Revelação motivada pelo Espírito
Revelar significa “desvendar” ou “mostrar algo antes escondi­
do” . Nos três dons de revelação, o Espírito Santo esclarece certas 
coisas que o crente não seria capaz de saber de outra forma.
3. A Palavra de sabedoria
U m a defin ição de sabedoria é “ bom ju íz o ” . Subentende-se 
com preensão ou intuição no tocante a problem as, possib ilida­
des ou opções em de term inadas c ircunstâncias. A sabedoria 
costum a basear-se na experiência , mas m uitos exem plos e 
prom essas na Bíblia nos m ostram que Deus dá ao seu povo 
um a sabedoria especial que ultrapassa a sua experiência. O 
es tudo da Palavra de Deus e a obediência a e la traz sabedoria, 
mas, às vezes, prec isam os de um a revelação especial do Se­
nhor — um a palavra de sabedoria relativa a de term inado pro­
b lem a ou oportunidade. A solução do problem a pode-se tornar 
evidente por meio da revelação dela a um dos crentes cheios 
do Espírito Santo. Esse dom de orien tação pode haver-nos 
gu iado em muitas ocasiões sem term os tido consciência dele. 
D am os graças a Deus pelo seu Espírito que nos guia fielmente!
Leia Atos 6.1-8. Especifique o problema, a solução e os 
resultados. Você consegue perceber aqui a operação da palavra da 
sabedoria?
Leia 15.1-20,27-29 e saliente o problema. Após muito debate, 
quem deu o seu parecer como solução? (v. 13). Qual o versículo 
que prova que foi o Espírito Santo que lhe deu essa palavra de 
sabedoria? (v. 28).
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 101
4. A palavra do conhecimento
A palavra do conhecimento, bem como a da sabedoria, são 
dadas de forma sobrenatural em ocasiões específicas. Os dois 
dons são concedidos para ajudar os servos do Senhor na pregação 
ou ensino da Palavra e na edificação da igreja. Experimentamos 
esses dons, quando o Espírito Santo nos revela valiosas lições na 
Palavra de Deus, certas verdades que antes não tínhamos percebi­
do. Muitas vezes, o Espírito assim opera, enquanto uma pessoa 
está pregando ou ensinando. As verdades parecem jorrar no espí­
rito de quem fala e de quem ouve. Você já teve essa experiência?
Outra manifestação mais espetacular (embora não mais sobre­
natural) do mesmo dom de sabedoria é a revelação de fatos 
desconhecidos. Com o foi que Pedro sabia que Ananias e Safira 
estavam mentindo (At 5.3-10)? Como sabia que haviam chegado 
três empregados de Cornélio em busca dele (At 10.17-21)? Como 
Ananias soube da conversão de Saulo (At 9.10-15)? O Espírito 
Santo deu a todos eles uma palavra de conhecimento, a revelação 
de um fato ou condição. Às vezes, presenciamos a manifestação 
desse dom em nossos dias, quando um evangelista ou pastor está 
orando pelos enfermos. Em tais circunstâncias, o Espírito Santo 
às vezes revela a doença de determinadas pessoas e infunde a fé 
necessária para clamar pela cura delas.
5. O discernimento de espíritos
Esse dom constitui uma intuição especial numa determinada 
área, o reconhecimento e identificação do espírito presente e atuante 
em determinada situação. Sabemos que Deus manda seus anjos para 
proteger seus filhos, e que, às vezes, os crentes vêem esses mensagei­
ros divinos. Mas o dom do discernimento de espíritos funciona, 
principalmente, para nos alertar sobre atuação de demônios, para que 
não sejamos enganados por eles. Muitos enganadores no mundo de 
hoje imitam a obra do Espírito Santo, como se nota no espiritismo, 
umbanda e muitas outras seitas. Tais espíritos dão “revelações de
1 0 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
origem supostamente divina,mas são, de fato, satânica. O aumento 
dessa atividade diabólica é sinal dos últimos tempos, na véspera da 
vinda de Jesus (1 Tm 4.1; Mt 24.3-5,23,25).
Devemos discernir e julgar os espíritos, aplicando os testes 
dados em 1 Coríntios 12.3 e 1 João 4.1-3. Algumas pessoas possu­
ídas por demônios se recusam a repetir o nome de Jesus. Outras 
gritam blasfêmias e maldições quando se lhes pede um louvor a 
Cristo. Outras vezes, essas pessoas ficam em transe e não conse­
guem falar. O dom do discernimento de espíritos nos indica se tal 
pessoa está agindo sob influência do Espírito Santo ou de algum 
espírito diabólico. O Espírito de Deus nos faz sentir e perceber 
fortemente o que nossa experiência humana é incapaz de saber. 
Esse dom se opera com relação à expulsão de demônios e a liberta­
ção das pessoas pelo poder do Espírito Santo (1 Jo 4.4; Mc 16.17).
Devemos reconhecer duas coisas. Primeiro, o crente nascido de 
novo do Espírito de Deus não pode ser possuído pelos demônios. 
Segundo, é um engano atribuirmos toda doença aos demônios, e 
o rações que p resum em expu lsa r tais esp ír itos dos crentes 
freqüentemente são prejudiciais. Uma pessoa que profere uma 
mensagem de origem supostamente divina pode estar falando 
simplesmente das suas próprias convicções ou sentimentos pes­
soais. Esse indivíduo pode pensar seriamente que a mensagem 
vem de Deus, embora seja fruto do seu próprio espírito ou imagi­
nação. Por isso, devemos pesar cuidadosamente toda mensagem 
desse tipo (1 Co 14.29).
6. O poder motivado pelo Espírito Santo
“ Há diversidade nas operações, mas o mesmo Deus é quem 
opera tudo em todos” (1 Co 12.6). A palavra energia vem das 
palavras gregas aqui traduzidas “operações” e “opera” . A energia 
é essencial a qualquer realização, pois relaciona-se com o poder e 
com a habilidade de trabalhar.
Se num projeto de terraplanagem, uma máquina consegue 
fazer em duas horas o trabalho de vinte homens num dia inteiro, 
dizemos que essa máquina é poderosa. O Espírito Santo detém
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 3
um poder inconcebível, e quando opera os dons de fé, cura e 
milagres, as maiores montanhas são removidas (Mt 17.20; 21.21). 
E quando se operam os dons de poder, as coisas podem acontecer 
com espantosa nitidez!
7. O dom de fé
Vejamos a diferença entre a fé geral e a especial, ambas dons 
de Deus. Precisamos ter fé para agradar a Deus e nos aproximar­
mos dEle (Hb 11.6). Somos salvos pela fé, curados pela fé e 
guardados pela fé (Ef 2.8; 1 Pe 1.5). Em Romanos 1.17, Paulo 
repete a declaração do profeta Habacuque (2.4): “Os justos vive­
rão pela fé” , tudo isso é fé geral, a confiança em Deus e em suas 
promessas. (O termo “fé salvífica” não seria impróprio).
Mas há também o dom de fé especial para momentos de grande 
necessidade. Hebreus 1 I nos dá exemplos dos dois tipos de fé. É 
difícil separar os dois, mas creio que os versículos 23, 29 e 33-35 
exemplificam a fé especial, outorgada em momentos específicos. 
Vemos a operação de tal fé com relação aos dons de cura e mila­
gres, como por exemplo, quando o coxo foi sarado em Atos 3.6-8. 
Vemos essa fé também na perfeita paz que Deus dá em circunstân­
cias espantosas ou ameaçadoras. Pedro, por exemplo, na véspera da 
sua execução planejada, estava tão cheio de fé que nem se preocu­
pava; simplesmente adormeceu (At 12.1 -11). E até nos nossos dias, 
muitas pessoas mencionam o fato de Deus ter lhes dado fé para 
enfrentar o desconhecido em obediência às suas ordens, mesmo 
quando lhes parecia impossível. Ao agirem de acordo com a fé que 
Deus lhes dera, todos os obstáculos foram removidos por Ele e 
todas as necessidades supridas.
8. Operações de milagres
Quem acredita na Bíblia crê em milagres, pois sua própria 
existência constitui um milagre (a sua composição por tantos 
autores sob a inspiração do Espírito Santo, por exemplo). Desde 
Gênesis até Apocalipse são registrados muitos milagres.
1 0 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Um acontecimento maravilhoso que ultrapassa as leis da natu­
reza conhecidas por nós; o controle da natureza através de um 
poder sobrenatural.
São intimamente relacionados aos dons de milagres, cura e fé. 
A fé é a base da cura e dos milagres. A cura instantânea de um 
paralítico em resposta à oração constitui um milagre recebido de 
Deus. O Senhor pode apressar os processos naturais, operando 
um milagre como a cura instantânea de ossos quebrados, processo 
que normalmente leva várias semanas. Alguns milagres constitu­
em uma demonstração do controle que Deus exerce sobre a 
natureza, como quando Jesus acalmou o mar e trouxe peixes para 
as redes (Lc 8.22-25; 5.1-11).
Com o se opera esse dom? Com o os demais, através do Espíri­
to Santo, pois nenhum crente tem o poder de realizar milagres. O 
Espírito proporciona em nós a fé necessária para o milagre que 
precisamos, e então faz a obra.
9. Dons de curar
Toda a raça humana precisa de algum tipo de cura. Talvez seja 
por isso que 1 Coríntios 12.9 fala de dons de curar, em vez de 
apenas um dom. O bom uso desses dons tem trazido muitas 
bênçãos às pessoas necessitadas, tanto nas igrejas como fora 
delas. Jesus continua curando os enfermos.
Devemos lembrar os seguintes detalhes com relação à cura 
divina:
1. A cura divina não anula a médica, nem a cura médica anula 
a divina. Apesar de haver esses dois tipos de tratamento, há 
neste mundo uma multidão de doentes.
2. Um obreiro cristão pode ter um dom especial para a cura de 
pessoas com problemas visuais, ao passo que outro obreiro 
manifesta um dom especial para orar pelos surdos. Vemos 
que Deus reparte diversos dons de curar.
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 5
3. O crente que abençoa a outros pela operação desse dom não 
possui o poder de curar ninguém (At 3.12; 14.8-10,15). O 
Espírito Santo faz a obra. e Jesus Cristo é o supremo 
médico. A Ele, todo o louvor!
Uns anos atrás, assisti em São Paulo um “culto de cura divina” 
ao que uma senhora trouxera sua filhinha surda de uns quatro 
anos de idade. Aquela noite presenciei a cura de muitas pessoas, 
entre as quais essa menina. A multidão estava bastante barulhenta 
e assistia entusiasmada às grandes curas ocorridas. O repentino 
ruído, nunca antes ouvido por ela, espantou de tal maneira a 
pequena que ela agarrou o pescoço de sua mãe. O medo que vi 
retratado em seu rosto foi o mais eloqüente da sua cura pela 
operação desse dom.
Emparelhe cada locução à esquerda com o dom (os dons) 
correspondente(s) à direita:
... a. Dinheiro suprido para a obra 
de Deus
...b. Freqüentemente relacionado 
com a Natureza
... c. Base para os outros dois
... d. Dado para o ministério 
aos enfermos
... e. Dado pelo Espírito de Deus
... f. Para o bem-estar da igreja
10. Fala motivada pelo Espírito
Estudaremos esses três dons logo a seguir, na lição 9, mas 
como formarão parte do projeto ao final da presente lição, devem 
ser definidos aqui mesmo:
1. Profecia — O Espírito Santo capacita o crente a dizer 
palavras inspiradas que expressam aos ouvintes a m ensa­
gem de Deus.
1. O dom da fé
2. O dom de operação 
de milagres
3. Dons de curar
4. Todos os três acima.
/ 0 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
2. Línguas — A habilidade de falar uma língua que o próprio 
falante não entende, para fins de louvor, oração ou trans­
missão de uma mensagem divina.
3. Interpretação de Línguas — A habilidade de interpretar 110 
próprio vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas.
11. Distribuição dos dons
Vamos examinar novamente 1 Coríntios 12.7 e II . Esses dois 
versículos nos mostram que cada crente cheio do Espírito Santo 
recebe um ou mais dons, e que é o Espírito Santo quem escolhe 
aquilo que cada cristão deve receber. Infelizmente, muitos crentes 
não utilizam os seus dons. Alguns nem sabem que existem os 
dons em 12.27-31. Os oito mencionados no fim do capítulo 
diferem dos enumerados em 12.8-10, sendo “ socorros” e "gover­
nos” acrescentados à segunda lista.
Observe que há cinco listas apresentadasno início deste trecho. 
Umas listas enumeram os dons em si. e outras, as pessoas que 
ministram o dom. O apóstolo tem os dons apostólicos, o mestre o do 
ensino e o profeta o da profecia. Lemos em Efésios 4 . 1 -13 acerca de 
cinco dons de ministério. Jesus “concedeu dons aos homens” (4.8), e 
Ele concede os próprios ministros com os respectivos dons como 
dádiva à igreja (4 .11). Mas os dons espirituais são distribuídos por 
todo o corpo, conforme a necessidade percebida pelo Espírito Santo. 
Ele é quem opera todos esses dons por meio de nós. Não é certo, pois, 
dizer que algum ministro “cura os enfermos” ; é o Espírito Santo 
quem cura através do dom operado.
Quantos dons você consegue identif icarem Romanos 12.4-8? 
Pessoalmente, creio que o Novo Testamento fala de vinte dons 
em três epístolas de Paulo. A chave para todos eles se encontra 
em 1 Coríntios 12.4-6. onde Paulo menciona diversos dons (12.4), 
serviços (12.5) e realizações (12.6). Creio que esses três grupos 
abrangem os vinte dons outorgados à Igreja, sejam esses de 
ministros (Ef 4), de serviço, de poder, ou os dons chamados às 
vezes de graças (de revelação e fala).
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 7
Diversidade: Dons Espirituais, Serviços, Realizações
Estude cuidadosamente o quadro na página a seguir. Quais 
dons o Espírito Santo está operando em você? Quais você mais 
precisa? Fale com Deus acerca disso.
Quando Deus cham a alguém para um serviço ou ministério 
especial, capacita essa pessoa para seu labor, ou torgando-lhe 
os dons necessários. As operações de 1 C oríntios 12.6 u ltra­
passam qualquer serviço com um ; são realizações do próprio 
Deus. Todos os dons são conced idos para uso da igreja e 
devem os “procurá-los arden tem ente” (1 Co 12.31). Não é ques­
tão de escolherm os um dom com o esco lheríam os um a roupa. 
O texto diz: “ Mas um só e o m esm o espírito opera todas essas 
coisas, repartindo part icu la rm ente a cada um com o que r” 
( 12.11).
Deus está mandando uma renovação espiritual para muitas igrejas 
em nossos dias, batizando muitos crentes com o Espírito Santo e 
manifestando os dons do Espírito. Alguns chamam esse avivamento de 
“renovação carismática”. A palavra charisma, em grego, significa 
“dom”, algo outorgado pela graça de Deus. Por isso. poderíamos até 
chamar os dons espirituais de “graças divinas”.
Veja o quadro anterior, em preparo para o seu projeto, 
notando os dons que são m encionados repetidas vezes. A lguns 
dons são tam bém cham ados graças; esse grupo está subdiv id i­
do em dons de fala e de revelação. A profecia tam bém é dom 
de fala. Os dons de m inistério e alguns dos dons de serviço 
parecem ter caráter perm anente (Rm 1 ! .29), enquanto os d e ­
mais se m anifestam conform e a ocasião e a fé do crente (Rm 
12.6). Não devem os, porém , considerá-los necessariam ente 
provisórios. Se Deus usa várias vezes crentes específicos para 
abençoar a igreja pelo uso de determ inado dom, podem os 
dizer que, num certo sentido, aquele crente “ tem " o dom. Mas 
seria errado acharm os que “possu i” dete rm inado dom. O certo 
é que use o dom.
1 0 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
11.2. Dons para a Igreja
1 C oríntios 
12.4-6
E fésios
4.11
1 C oríntios 
12.8-10
1 C oríntios 
12.28; 13.3
1 C oríntios 
12.1-40
R omanos
12.6-8
Dons de 1 A póstolos A póstolos
M inistério 2 profetas Profecia* Profetas* Profecia* Profecia*
3 Evangelistas
4 Pastores
5 Mestres
Graças 6 Línguas Línguas Línguas
Dons de 7 Interpretação Interpretação Interpretação
Fala
8 Cântico
(Salm o)
Dons de 9 Revelação
Revelação 10 Palavra de Conhecimento Conhecimento
sabedoria
11 Palavra de
conhecim ento
12 Discernimento
de espíritos
Reali- 13 Fé Fé
zações 14 Milagres Milagres
Dons de 15 Cura Cura
Poder
Serviços 16 Socorros Serviço
Dons de (M inistério)
Serviço 17 Governos Governo
18 (contribuição) (Liderança)
Distribuição Distribuição
de bens de bens
19 Exortação Exortação
20 M isericórdia
* A p ro fec ia é um d om de fa la , m as aqui é en u m erad o ju n to c o m o s profetas.
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 0 9
II - A U n id a d e n a D iv e r s id a d e (vv. 12-27)
1. A Igreja — corpo de Cristo
Muitos membros integrando o corpo.
Um cabeça governando o corpo — Cristo.
O Espírito infunde vida e poder ao corpo.
Os membros têm diversas funções.
Importa o trabalho de cada membro.
A cabeça pensa pelo corpo inteiro.
A cabeça manda poder aos membros.
A cabeça dirige os membros.
Os membros colaboram entre si.
Os membros cuidam uns dos outros.
Proporciona-nos 1 Coríntios 12.12-27 um lindo quadro do 
funcionamento ideal da Igreja universal como um grande corpo 
unido. O Espírito Santo infunde-lhe a vida que dá a cada membro 
a energia e habilidade necessárias para realizar a sua função 
especial em benefício de todos.
1.1. Um corpo — muitos membros
Todo crente se integra no corpo de Cristo por meio da obra do 
Espírito Santo, como nos lembra o versículo 13. A repetição torna 
esse versículo um dos mais poderosos da Bíblia: “todos... quer 
judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres...” A Igreja Invisí­
vel e universal ultrapassa qualquer limite de raça, camada social, 
filiação religiosa etc. Difere da Igreja visível, composta daqueles 
que são cristãos nominais ou somente assistem aos cultos esporadi­
camente. A Igreja contém todos os autênticos crentes em Cristo.
Ao se arrepender do seu pecado e confiar em Jesus, o indiví­
duo é batizado no “corpo-igreja” de Cristo pelo Espírito Santo 
(At 4.12). Filiar-se a uma igreja só pelo batismo nas águas não é 
tudo. A locução “em um só Espírito, todos nós fomos batizados
1 1 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
em um corpo”, compara nossa conversão espiritual com o batis­
mo nas águas. O ministro nos "enterra" nas águas, no nosso 
batismo (Rm 6.3,4). e o Espírito nos submerge em Cristo. Nessa 
união com Cristo, morremos para o pecado e iniciamos uma nova 
vida e relacionamento com Ele (veja também Gálatas 3.26-29). A 
ênfase principal desse versículo, porém, não é a palavra batizado, 
e sim corpo. Tem a ver com nossa união no corpo de Cristo.
Essa união não implica em sermos todos iguais nem ope­
rarmos os mesmos dons. Veja a ênfase na diversidade em 1 
Coríntios 12.12.14, onde Paulo repete três vezes as palavras 
muitos membros.
Cada congregação e igreja local têm os seus costumes típicos 
que a maioria dos membros segue e que podem diferir bastante 
dos costumes de outras igrejas e congregações, mas formam parte 
do corpo de Cristo. Devemos ajudar-nos mutuamente, pois somos 
um só corpo (Ef 4.4,5).
1.2. Unia obra — muitos obreiros
Em 1 Coríntios 12.14-27. Paulo salienta a importância de 
cada membro para o bem-estar total do corpo. O corpo huma­
no contém quinhentos músculos, duzentos ossos, a mais forte 
bomba do mundo (o coração) e milhões de células. Cada um 
deles é importante. Esse maravilhoso organismo constitui a 
casa onde habita o espírito humano. E nós, milhões de mem­
bros, formamos o grande Templo de Deus, santuário do Espí­
rito Santo. Ele opera a nossa conversão, guia-nos numa nova 
dimensão de poder espiritual no batismo com o Espírito Santo 
e nos infunde energia constante para o nosso funcionamento 
no corpo de Cristo. Todas as nossas variadas funções se enca­
minham no sentido de fazer o corpo crescer e ficar mais robus­
to, fortalecendo seus membros e desempenhando o papel des­
tinado por Deus para sua Igreja no mundo. Deus quer usar 
todos os crentes, todas as congregações e igrejas em todas as
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 1 1
nações do mundo para completar a sua obra. Você é membro 
deste maravilhoso corpo e Deus quer usá-lo!
Paulo encerra esse capítulo sobre os dons e a união do corpo 
com duas importantes declarações (v. 31). Assim temos uma 
ponte de ligação entre os capítulos 12 e 13, que resume o primeiro 
e introduz o segundo. Devemos desejar ardentemente os melho­
res dons (isto é, os mais úteis para nosso ministérioou para a 
situação que enfrentamos). Mas ainda existe um caminho mais 
excelente, no qual o Espírito Santo ministra por meio da igreja.
IV - O M a io r D o m — o A m o r (13.1-13)
1. Amor - o caminho mais excelente
Revelação da natureza de Deus e do poder dEle em nossas 
vidas.
Dado a todos
Sempre ativo
Permanente, eterno
Força unificadora
Motivo e base para uso dos dons
Essencial na vida cristã
Molda a vida do crente
Edifica a Igreja
Alguns dons são temporários, outorgados em resposta a uma 
necessidade bem específica em determinado momento. O amor, 
porém, deve ser constante na vida do cristão. Os dons que acaba­
mos de estudar são repartidos entre os membros do corpo, mas o 
amor é recebido por todos eles. Uma pessoa sem amor não é um 
autêntico cristão (1 Jo 4.8).
Sem o amor, a sociedade humana se despedaçaria; o amor 
unifica tudo. Era justamente disso que os coríntios precisavam. 
Seu partidarismo e rivalidade no uso dos dons espirituais foram
1 1 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
resultado de uma falta de amor. Os coríntios tinham muitos dons 
espirituais, mas parece que esses estavam causando orgulho, in­
veja e desordem. O amor os uniria. Os comentários de Paulo 
foram provocados pela situação em Corinto, mas são válidos para 
todo o mundo em qualquer época. Todos os milhões de membros 
do corpo de Cristo, cada um com seu dom ou talento, devem 
colaborar com o Mestre na edificação da sua igreja (Mt 16.18). 
Fazemos isso, servindo os nossos irmãos em Cristo e deixando 
transbordar o nosso amor àqueles que se encontram fora da igreja. 
Quando isso acontecer, as nossas igrejas crescerão de forma 
numérica e espiritual.
2 - O amor é forte
A mor
Não é É
Ressentido Paciente
Brutal Bondoso
Egoísta
Orgulhoso
Não Sempre
Guarda rancor Confia
Se compraz no mal Espera
Inveja Persevera
Se vangloria Se alegra na verdade
Fracassa Protege
Permanece
Os Dons Espirituais, a União e o Amor 1 1 3
Leia 1 Coríntios 13.1-8,13 em voz alta, bem lentamente. 
As palavras são muito poéticas. Costumamos pensar no amor 
como sendo algo espiritual, belo e lírico, e realmente é assim. 
Mas também é forte. Precisa-se de força para ser paciente, 
bondoso, abnegado, controlado no gênio e também para esque­
cer ressentimentos, pensar nos outros e proteger os necessita­
dos. Tais virtudes não vêm facilmente, mesmo na vida dos 
crentes. Nossa esperança se funda no Senhor, que “derrama 
seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi 
outorgado” (Rm 5.5).
3. O amor é eterno
Deus é amor e eterno. Por isso o amor é eterno e não acaba. 
A profecia (um dos mais importantes dons), as línguas e a 
palavra do conhecimento acabarão algum dia. Isso não signifi­
ca que fracassarão em sua função na Igreja, mas que simples­
mente não serão mais necessárias. Nosso conhecimento é par­
cial e incompleto. A profecia, por mais valiosa que seja, não 
pode solucionar todos os nossos problemas. Aprendemos acer­
ca de Deus por meio desses dons do Espírito e o louvamos 
através das línguas e com a profecia. Mas “quando vier o que 
é perfeito” , “conheceremos perfeitamente” sem mais precisar­
mos do apoio desses dons.
Para bem entendermos isso, devemos relacionar os versículos
10 e 12. Deus nos conhece plenamente agora; sabe tudo a nosso 
respeito (Jo 2.24,25). Um dia, conheceremos plenamente a Deus 
como Ele nos conhece agora. Não precisaremos mais dos dons 
espirituais para nos aproximarmos de Deus.
Paulo utiliza duas ilustrações para contrastar nossa era presen­
te e imperfeita com a perfeição da era futura. Possuímos agora 
uma pequena parcela de conhecimento, como se fôssemos crian­
ças. Na era vindoura, saberemos entender tudo aquilo que nos 
confunde agora. Também conheceremos uns aos outros mais 
plenamente. Não será mais como quem olha através de um vidro
1 1 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
esfumaçado ou se contempla num espelho sujo. Aperfeiçoados no 
amor. não teremos mais mal-entendidos.
Mesmo com a Bíblia, a Igreja e os dons espirituais, o nosso 
conhecimento é imperfeito, incompleto. Mas conseguimos per­
ceber a grandeza do amor de Deus em preparar-nos um lar 
eterno, onde seremos conhecidos e conheceremos plenamente 
(Jo 14.1-3). Ali será restaurada a comunhão que fora interrom­
pida no Éden (Ap 22.4,5). Muito daquilo que nos importa agora 
passará, mas permanecerão a fé, a esperança e o amor. “ E o 
maior de todos é o amor”.
9
Os Dons Espirituais 
na Adoração Cristã
I - I n t r o d u ç ã o
Que tipo de cultos Deus prefere na igreja? Ele gosta da 
repetição silenciosa e reverente de uma oração memorizada ou 
de palmas como expressão de louvor? Qual é o modo correto 
de adorar? Os tipos de adoração variam muito de país para 
país, de denominação para denominação e de igreja para igre­
ja. Alguns cultos são extremamente formais, tudo segue um 
padrão estabelecido. Outros, muito informais, quase chegam 
ao ponto de confusão. São ambos os tipos aceitáveis a Deus? 
Creio que são, contanto que os adoradores se aproximem de 
Deus mediante Jesus Cristo e não misturem práticas antibíblicas 
com princípios cristãos.
Nos capítulos 12 e 13 da primeira carta aos Coríntios, Paulo 
esteve lhes falando sobre a obra do Espírito Santo na igreja. Seus 
dons, operando no amor dado por Deus, edificam a igreja. Muitas 
partes do corpo, cada qual com sua própria função concedida pelo 
Espírito, cooperam para o bem de todas. O amor é essencial para 
os dons espirituais alcançarem seu propósito. Havendo demons­
trado isso à igreja de Corinto. Paulo aplica-o ao uso que os crentes
11 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
faziam dos dons. O capítulo 14 lida com equilíbrio e ordem na 
operação dos dons nos cultos. É para nós hoje um capítulo muito 
importante.
No começo da carta de Paulo (1.7), vimos que a igreja de 
Corinto não tinha “falta de nenhum dom espiritual". Contudo, 
parece que estava dando maior importância ao falar em línguas, 
usando-o de um modo impróprio, que aos demais dons. Ela 
necessitava de ensino sobre como conduzir seus cultos de adora­
ção, a fim de ser edificada.
II - F a l a r em L íng uas (1 4 .1 -2 5 )
As passagens das Escrituras acima mencionadas mostram-nos 
que o falar em línguas é uma manifestação do Espírito Santo 
como evidência de seu poder, operando no crente e por intermé­
dio dele. “E passaram a falar em outras línguas, segundo o Espí­
rito lhes concedia que falassem” (Atos 2.4). A isso se dá, muitas 
vezes, o nome de glossolalia, derivada da palavra grega glossa 
“língua, linguagem” e lalia “fala”. Podemos definir glossolalia 
como “a prática de falar ou cantar pela concessão ou capacitação 
do Espírito Santo, em palavras cujo significado o orador desco­
nhece”.
A frase falar em línguas (ou seu equivalente) ocorre cerca 
de vinte vezes no Novo Testamento. Ela se refere sempre a 
uma língua (idioma) desconhecida daquele que fala. Nas refe­
rências a ela em Atos e 1 Coríntios, vemos que o falar em 
línguas era comum e divulgado na Igreja Primitiva. Existe 
hoje milhões de crentes, em diferentes denominações, que têm 
essa experiência. Na renovação espiritual que a igreja experi­
mentou no século XX, vemos que o Espírito usa as línguas de 
diversos modos, exatamente como fez na Igreja Primitiva. 
Estude-as no mapa.
Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 1 7
D e u s F a l a r e m L ínguas
0 Espírito Santo 1 Coríntios 14 1 Coríntios 14
falando através Falarei a este
do espírito Orar v. 15 povo v. 21
humano Falar com Deus v. 21 Sinal para
Falar mistérios v. 2 os incrédulos v. 22
Louvando a Sinal prometido Marcos 16
Deus v. 16 Para os crentes v. 17
Dando graças v. 16
Cantando v. 15 Confirmado a Palavra v. 19
Edifica a si
mesmo v. 4 Entendido por alguns
Pode calar-se v. 28 estrangeiros Atos 2.4-12
Principalmente
em particular vv. 18-20 Dá testemunho de Deus v. 11
Evidência de
“Não proibais falar línguas” batismo no Espírito v. 4
1 Coríntios 14.39 Visto como evidência 10.44-47
Experiência normal 19.1-7
Interpretação 1 Coríntios 14
Orarpara que haja v. 13
Edifica a igreja v. 5
Normal no culto v. 16
Fortalece v. 26
Leia as Escrituras à medida que você estuda o mapa acima.
Um crente que fala em línguas declara as grandezas de Deus 
(At 2.11). fala com Deus, fala em mistérios com seu espírito e 
edifica-se a si mesmo (1 Co 14.2,4). Não admira que Paulo exorte 
os coríntios: “Não proibais falar línguas” (14.39).
1 1 8 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
III - O rar em L íng uas (14.2,14-18; Rm 8.26,27)
O movimento carismático tem trazido bênçãos à igreja pela 
ênfase dada ao orar em línguas. Orar é falar com Deus. Mas. às 
vezes, nossas palavras parecem pobres e fracas demais para ex­
pressar o que sentimos. Então, o Espírito Santo nos ajuda a orar 
mais livremente numa “ língua de oração”. Nela. nosso espírito 
tala diretamente com Deus, sem ter de andar à cata das palavras 
certas em nossa mente (I Co 14.2.14). Isso pode ocorrer no 
louvor a Deus, ou no “dar bem as graças” ( 14 . 16,1 7). Ou pode ser 
despejando uma carga ou problema, cujo peso faz nosso espírito 
vergar, uma aflição que necessitamos entregar para Deus, uma 
tristeza pela perda de um ente amado. “Mas o mesmo Espírito 
intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26).
Outro grande valor de permitir que o Espírito ore por nosso 
intermédio, é que ele sabe o que pedir quando não sabemos. E 
assim, com Ele oramos em línguas. A oração pode ser por nossas 
próprias necessidades, ou em oração a favor de outros. Muitas 
vezes, o Espírito pode provocar em nossa mente a impressão de 
que determinada pessoa necessita de oração. Mas você não sabe 
que necessidade é essa. Você pode “orar com a mente” em sua 
própria língua e deve assim fazer, mas pode permitir que o Espí­
rito Santo interceda por seu intermédio em outras línguas. “E 
aquEle que examina os corações sabe qual é a intenção do Espíri­
to; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos” (Rm 8.27).
Podemos orar tanto na igreja como em nosso lar. ou onde quer 
que estejamos. Paulo nos faz saber que nos cultos públicos deve­
mos orar na língua que todos entendem quando dirigimos a ora­
ção. Desse modo, eles podem concordar naquilo que pedimos. 
Eles se juntam em nossa ação de graças dizendo “Amém”, que 
significa "assim seja. verdadeiramente, deveras” (1 Co 14.16). 
Mas em particular, ou às vezes, quando todos oram ao mesmo 
tempo, podemos orar em línguas ou cantar em línguas (14.15). Na 
igreja, parece que Paulo orava na língua do povo. Mas, em parti­
cular, falava em línguas mais do que todos os coríntios e dava 
graças a Deus por isso! (14.18.19).
Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 1 9
Uma vez que o falar em línguas nos é concedido como um 
instrumento para ajudar-nos a orar mais efetivamente, não 
deveria o crente usar continuamente esse instrumento em sua 
vida íntima de oração? Milhões podem testificar de uma maior 
alegria em comungar com Deus, de um sentido mais profundo 
de sua presença, quando deixam que o Espírito os ajude a orar. 
Dessa maneira são fortalecidos e edificados espiritualmente 
(14.4).
A primeira vez que encontramos um relato de alguém falando 
em línguas é no Dia de Pentecostes. A experiência dos 120 
crentes registrada em Atos 2 era o cumprimento da profecia de 
João Batista, de que Jesus batizaria “com o Espírito Santo e com 
fogo” (Mt 3.11). O próprio Jesus prometeu-lhes pouco antes de 
sua ascensão: “Mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, 
não muito depois desses dias” (At 1.5). Dez dias após a sua 
ascensão, a promessa foi cumprida. Muitos sinais sobrenaturais 
acompanharam a vinda do Espírito Santo: O som como de um 
vento impetuoso encheu toda a casa, o que parecia ser fogo, que 
se dividia em línguas que desceram e pousaram sobre cada um 
deles, e todos falavam em línguas à medida que o Espírito os 
enchia e lhes concedia que falassem (At 2.1-4). Outros haviam 
ficado cheios do Espírito no Antigo Testamento. Deus havia 
manifestado antes a sua presença em vento e fogo. Contudo, falar 
em línguas era algo novo, um sinal de que o Cristo ressurreto 
havia prometido (Mc 16.17), e evidência de que Ele havia cum­
prido sua promessa.
Dois outros relatos de pessoas que foram cheias do Espírito 
Santo, mencionam somente um dos sinais sobrenaturais que acom­
panharam o derramamento do Espírito no Dia de Pentecostes. 
Não vemos repetição alguma do vento e do fogo, mas uma evi­
dência contínua — falar em línguas. Com efeito, foi isso que 
convenceu Pedro e os demais crentes judeus de que Deus havia 
derramado seu Espírito sobre os gentios na casa de Comélio. 
"Pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus” 
(Atos 10.44-47).
1 2 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Esperava-se que os crentes ficassem cheios do Espírito Santo 
depois de aceitarem a Cristo. Se não haviam recebido, faziam-se 
orações especiais por eles. Quando os apóstolos impuseram as 
mãos sobre eles, os novos convertidos ficaram cheios do Espírito 
Santo (Atos 8.14-17; 19.1 -7). O registro referente aos samaritanos 
não menciona o falar em línguas, mas supomos que essa foi a 
evidência que levou Simão, o mágico ou feiticeiro, a oferecer- 
lhes dinheiro para adquirir o poder que os apóstolos tinham. 
Somos informados de que em Éfeso os homens que recebiam o 
Espírito Santo falavam em línguas e profetizavam.
Portanto, segundo o padrão do Novo Testamento, podemos 
chamar o falar em línguas de evidência inicial física de que uma 
pessoa foi batizada no Espirito Santo. Outros sinais acompanham 
a vida e ministério da pessoa.
Embora o uso principal de falar em línguas seja a oração (1 Co 
14.2), constitui-se também um sinal. Jesus prometeu: "Estes si­
nais hão de acompanhar aqueles que crerem: em meu nome... 
talarão novas línguas (um dos diversos sinais mencionados). 
Depois do Pentecostes, os discípulos "tendo partido, pregaram 
em todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando 
a palavra com sinais que seguiam” (Mc 16.17-18, 20).
Falar ou cantar em línguas é uma evidência de poder sobrena­
tural. mesmo que a língua não seja entendida. Para o crente, 
significa também a presença do Espírito Santo dentro dele. É 
também um sinal para convencer o incrédulo (1 Co 14.22). No 
Dia de Pentecostes, foi muitíssimo convincente. Os idiomas fala­
dos eram entendidos por pessoas oriundas de 14 áreas diferentes 
de linguagem (At 2.9-11), ou seja, essas pessoas ouviram os 
crentes declarando “as grandezas de Deus". Quando Pedro expli­
cou o que havia acontecido, os estrangeiros foram convencidos e 
aceitaram a Jesus como seu Messias. Temos muitos exemplos 
maravilhosos de casos semelhantes em nossos tempos.
Línguas como um sinal:
I . Para aquele que fala. um sinal da presença do Espírito nele.
Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 121
2. Para o incrédulo, um sinal do poder sobrenatural, mesmo 
que não seja entendido.
3. Quando entendido, uma confirmação da Palavra para os 
crentes e para os incrédulos.
I V - L ín g u a s c o m I n t e r p r e t a ç ã o (14.6-19)
Em todas argumentações de Paulo nesse capítulo acerca da 
utilidade das línguas num culto da Igreja, encontramos um princí- 
pio-chave: Para edificar a Igreja, aquilo que é falado em línguas 
deve ser interpretado (14.5). Os dons de línguas e de interpretação 
andam juntos (14.26). Aquele que fala em línguas deve orar para 
que possa interpretar (14.13). Se nenhum dos presentes tem o 
dom de interpretação, deve manter-se calado e orar em silêncio.
As frases “a não ser que”, no versículo 5, apresenta-nos o que 
acontece quando a mensagem vinda de Deus é dada em línguas e 
interpretada. A igreja é edificada não só pelas línguas, mas tam­
bém pela interpretação. Assim, como determinados toques de 
trombeta assinalavam instruções para o exército, também a inter­
pretação deixaria clara a mensagem de Deus para o seu povo 
(14.6-9). Essa pode ser “de revelação, de ciência, profecia ou 
doutrina”(14.6).
Muitas vezes, há uma superposição nos dons do Espírito, isto 
é, o Espírito, amiúde, opera-os ao mesmo tempo.Palavras de 
sabedoria, conhecimento, doutrina e revelação podem ser dadas 
na profecia, interpretação ou ensino. A interpretação pode ser um 
derramamento de passagens bíblicas, oração ou louvor inspirados 
pelo Espírito, que leva toda congregação a uma adoração unida e 
sincera (14.14-17). A experiência dos nossos dias mostra que as 
línguas, com interpretação, edificam a igreja.
Anna Stafshorf, missionária norte-americana na Libéria, Áfri­
ca, ficou espantada um dia, ao ouvir uma humilde e acanhada 
mulherzinha liberiana dar uma poderosa mensagem em línguas. 
Ana entendeu-a porque era em norueguês, o idioma de seus pais. 
A seguir, um homem da tribo, que não conhecia bem a língua
1 2 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
inglesa, deu a interpretação em inglês fluente. Depois, outro 
homem deu a interpretação na língua boroba falada pelo povo. As 
duas interpretações concordavam perfeitamente com a mensagem 
dada por meio da mulherzinha que não sabia nada de norueguês. 
A mensagem estava repleta de longas passagens citadas de dife­
rentes Salmos — palavra de consolo especial para missionária e 
de benção para todos! Hoje, como no tempo de Paulo, as línguas 
sem interpretação abençoam o orador quando ele fala a Deus 
(14.2). A interpretação traz benção à igreja.
V - O d om d e P r o f e c i a (14.1-33)
A profecia é um dos grandes temas, tanto do Antigo quanto do 
Novo Testamento. As palavras profeta e profecia ocorrem cente­
nas de vezes na Bíblia. A ordem para desejar especialmente o 
dom da profecia (14.1) mostra que ela é de grande valor.
Definição da Profecia
Uma mensagem de Deus entregue ao povo. pela iluminação 
do Espírito Santo e em seu poder. Serve para proclamar, predizer 
ou ambos.
1. Natureza e propósito da profecia
A profecia é importante em virtude do que realiza. Ao lado 
das funções dadas aqui, ela às vezes instrui, adverte e chama ao 
arrependimento, à ação, e ao viver santo. Deus a usa para conven­
cer os pecadores e para edificar a igreja.
P r o fec ia
É Proclamar
Predizer
Faz Fortalece
Incentiva
Consola
Edifica
Convence
Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 2 3
A profecia pode vir em diferentes formas. Uma mensagem 
pode ser transmitida repentinamente na igreja sem nenhum pen­
samento anterior a respeito. Esse parece ser o tipo mencionado 
por Paulo em 14.26-33. No Antigo Testamento, vemos que, às 
vezes, Deus concedeu a mensagem ao profeta e enviou-o a entregá- 
la (Jr 2.1,2; 22.1-5). Algumas das profecias foram escritas, para 
que pudessem ser levadas ao povo, aonde o profeta não iria (Jr 
36). Assistimos à variedade semelhante no dom profético hoje. O 
Espírito, muita vezes, derrama na mente de um pregador as idéias 
principais de uma mensagem, enquanto ele está estudando e 
orando sobre o que Deus deseja que diga. Então, quando estiver 
pregando, o Espírito Santo pode dar-lhe as próprias palavras para 
expressar a mensagem de Deus ao povo. A mensagem pode 
simplesmente fluir, surpreendendo até o pregador com belos e 
novos pensamentos. Ela pode ser transmitida com maior autori­
dade, dando energia ao crente e causando espanto ao pecador. 
Pode ser proferida tranqüilamente em palavras, inspirada pelo 
Espírito para edificar e consolar.
Como ocorre com alguns dos outros dons, às vezes é possível 
que nem mesmo reconheçamos que o dom de profecia está ope­
rando. Certamente, nem toda pregação é profecia e nem toda 
profecia está na pregação. As vezes, depois que alguém falou em 
línguas num culto, a mensagem que vem na língua dos ouvintes 
pode ser uma mensagem profética, em vez da interpretação da­
quilo que foi dito em línguas. Nesse caso, a duração, a ênfase e a 
expressão no que é proferido não seriam necessariamente as 
mesmas.
A finalidade fundamental da profecia e dos demais dons é edificar 
a igreja. Nada causa mais deleite a um verdadeiro cristão, que ver sua 
igreja ou denominação crescer numérica e espiritualmente. Dezenas 
de livros foram escritos em anos recentes acerca do crescimento da 
igreja. Jesus prometeu edificar a sua Igreja e planeja usar-nos para 
ajudarmos a fazê-lo. Devemos pregar o Evangelho no poder do 
Espírito Santo. A ênfase de 1 Coríntios 14 é sobre a edificação da 
Igreja, mediante o uso dos dons espirituais. O capítulo mal menciona
12 4 Comentário Bíblico: I c 2 Coríntios
os inconversos (se um incrédulo entrar). Tomando o capítulo como 
um todo. há uma forte implicação de que quando a igreja é edificada 
espiritualmente, mediante o uso apropriado dos dons. as conversões 
virão como resultado natural. A medida que nos rendemos à direção 
e aos incitamentos do Espírito, seremos usados por ele no cumpri­
mento da Grande Comissão.
O fato central acerca da profecia é que ela deve ser aquilo que 
Deus deseja que falemos, a palavra que ele põe em nossa boca. 
Leia a experiência de Jeremias (1.4-9.17). Também somos nome­
ados para falar, pregar, ensinar ou escrever a mensagem de Deus 
para o povo de nosso tempo — ser testemunhas do Pai àqueles 
que estão ao redor de nós. Portanto, devemos procurar “com zelo” 
os melhores dons para o nosso ministério.
2. Raio de ação da profecia
De Enoque a João, na ilha de Patmos, do Gênesis ao 
Apocalipse, vemos homens de Deus recebendo suas mensagens e 
proclamando-as ao povo. Por toda a Bíblia temos exemplos de 
predição e de proclamação. Nesse ministério. Deus tem usado 
tanto mulheres quanto homens.
Algumas pessoas pensam que os dons do Espírito foram so­
mente para o tempo dos apóstolos. Que pensa você? Todos os 
dons. e especialmente o de profecia, destinam-se ao fortalecimen­
to e edificação da Igreja. Dizer que se destinavam apenas à Igreja 
Primitiva é supor que a igreja não mais necessita de fortalecimen­
to! As presentes condições da igreja e do mundo convencem-nos 
de que necessitamos do poder do Espírito e de seus dons agora 
mais do que nunca! Além do mais, ao falar dos dons de profecia, 
de línguas e de ciência. Paulo disse: “Mas quando vier o que é 
perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado" (1 Co 13.9.10). 
Porém, a perfeição ainda não chegou! (1 Jo 3.2).
Quem pode profetizar? Tanto mulheres quanto homens, ju ­
deus e gentios, senhores e servos (At 2.17,18) — conforme o 
Espírito escolhe (1 Co 12.11).
Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 12 5
Há contudo, algumas limitações ao uso do dom de profecia. 
Paulo recomenda que se limite a duas ou três mensagens em 
profecia num culto (1 Co 14.29). O que é dito não está no 
mesmo nível de inspiração das Escrituras, porque existe a possi­
bilidade de aquele que fala injetar algumas de suas idéias, pen­
sando que são de Deus. Por esse motivo, os ouvintes devem 
“julgar” cuidadosamente o que é dito ( 14.29). Se não estiver de 
acordo com as Escrituras, a mensagem não deve ser recebida 
como vinda de Deus.
Muita confusão tem sido gerada em algumas congregações 
que tem usado a profecia ou a interpretação para governar a igreja 
ou dirigir vidas pessoais; tal como dizer a alguém aonde ir ou com 
quem se casar. Essa não é a função da profecia. Algumas têm 
escolhido diáconos ou se livrado de pastores na base de “profe­
cias” . Para esses assuntos, temos o padrão do Novo Testamento 
das reuniões de negócios, de eleições e do dom de administração. 
Deus conduz as pessoas individualmente em suas vidas privadas 
e na escolha do cônjuge. A profecia é um excelente dom, mas 
deve ser apropriadamente usada.
V I - O r dem na A d o r a ç ã o ( 1 4 .2 0 -3 9 )
1. Na participação com os dons
Paulo estava apelando para o equilíbrio no uso dos dons 
espirituais. Infelizmente, faltava essa qualidade na igreja de 
Corinto. O mesmo espírito de egoísmo, que incitava os membros 
mais ricos a comerem demais numa festividade de amor enquanto 
outros saíam com fome, estava operando nos cultos de adoração. 
Alguns pareciam mais interessados na benção pessoal que rece­
beram a de falar em línguas, em lugar da profecia, que era melhor 
Para a igreja. Talvez falassem todos em línguas ao mesmo tempo 
(14.23.27). Muitos podem terestado profetizando ao mesmo tem- 
Po. gerando grande confusão (14.29-31). Alguns podem ter ocu- 
Pado todo o tempo sem dar aos outros a oportunidade de falar 
^aquilo que Deus lhes mostrou (14.30).
126 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
2. Ordem na adoração
Não em maneira infantil de pensar v. 29
Todos participam por sua vez vv. 26-31
Variedade e equilíbrio nos dons v. 26
Todos para edificação da igreja v. 26
Ordem na operação v. 27
Cortesia, permitindo que outros falem v. 30
Julgando cuidadosamente a mensagem v. 29
Sujeitos a controle v. 32
O versículo 12 é um versículo-chave. Aqueles que “desejam 
dons espirituais” são exortados a “procurar progredir, para a 
edificação da igreja” . Dentre os dons que Paulo arrola em 14.26, 
encontramos dois que não são mencionados nos outros capítulos: 
revelação e salmo. Uma revelação podia ser profecia ou ciência, 
mas Paulo menciona todos em 14.6. Vemos na Bíblia que Deus 
concedeu revelações em sonhos, visões e por anjos. Hoje. Ele 
ainda utiliza esses meios exatamente como Joel profetizou (At
2.17). Compartilhar tais experiências abençoa a igreja. Contudo, 
nem todos os sonhos vêm do Senhor! A maioria deles não são 
dados por Deus. Somente aqueles que são verdadeira revelação 
deveriam ser contados à Igreja.
3. Como edificar a igreja?
...■■■■■........................................... ■— ..... ■■■.... . ............
Um Salmo
Uma palavra de doutrina 
Uma revelação (palavra de ciência), 12.8 
Uma língua 
Uma interpretação
Um Salmo ou hino é um cântico de louvor a Deus ou um 
cântico de júbilo a respeito dele. Os cânticos ungidos pelo Espíri­
Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 2 7
to. o cantar e tocar instrumentos têm sido uma parte importante da 
adoração há milhares de anos. Muitos salmos são hinos. Hoje. 
muitas pessoas podem dizer como Davi a respeito do Senhor: “E 
me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor a nosso 
Deus (SI 40.3). Como a profecia, um cântico inspirado pelo 
Espírito pode irromper espontaneamente ou pode vir de maneira 
gradual, à medida que a pessoa recorre ao Senhor para o desen­
volvimento e arranjo desse cântico. Como os dons de serviço, o 
talento dado por Deus e os pensamentos inspirados pelo Espírito 
podem cooperar para produzir um ministério de música. Procu­
rar progredir cm tal ministério inclui desenvolvimento de nosso 
talento mediante estudo e prática, permissão ao Espírito Santo 
para que nos dê o que ele deseja que compartilhemos em palavra 
e música, cantar ou tocar instrumento com a unção do Espírito 
sobre nós.
Procurar progredir nos dons espirituais significa usá-los da 
melhor maneira possível — não competindo uns com os outros 
ou de um modo desordenado. O versículo 32 é de extrema impor­
tância. O ímpeto para profetizar ou falar em línguas pode ser 
controlado pela pessoa aue tem o dom. O espírito humano, em 
comunicação com o Espírito Santo, ainda é consciente e respon­
sável pelo que faz. Não se trata de um transe (tal como o que 
médiuns muitas vezes experimentam quando os espíritos falam 
por intermédio deles). Ele pode esperar o momento apropriado 
para falar e não interromper os outros. Ele também está sujeito à 
autoridade e direção da pessoa que está incumbida de dirigir o 
culto.
O dirigente do culto tem uma responsabilidade dada por Deus 
para zelar, a fim de que tudo “seja feito com decência e ordem” 
(14.40). Ele não deve “apagar o Espírito, desprezar profecias ou 
proibir o falar em outras línguas” (1 Ts 5.19,20: 1 Co 14.39). 
Com a sabedoria que o Espírito dá, pode chamar o povo à ordem 
Para ver se tais manifestações são mantidas dentro do padrão 
bíblico para o bem da igreja. Nisso, ele segue o mandamento do 
Senhor (14.37).
1 2 8 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
4. Na conduta e no respeito silencioso
Pedro escreveu acerca de Paulo: “Em todas as suas epístolas, 
entre as quais há pontos difíceis" (2 Pe 3.16). Quão verdadeiro! 1 
Coríntios 14.22-25 e 34.35 constituem bons exemplos. Parte do 
problema reside na referência de Paulo à determinada situação, 
em palavras que poderiam ser facilmente entendidas como tatos 
ou mandamentos gerais. Temos de interpretar o que ele diz aqui à 
luz de outras passagens. Caso contrário, parece que está contra­
dizendo a si mesmo.
Nos versículos 22-25. vemos o que já observamos acerca dos 
coríntios — sua falta de autodisciplina e de cortesia. Isso gerava 
confusão nos cultos. Muitos pareciam pensar que o falar em 
línguas era sinal de espiritualidade, e assim, estavam todos talan­
do em línguas ao mesmo tempo. Paulo ressalta que as línguas 
eram um sinal para o incrédulo, mas se alguém entrasse no culto 
e visse tal confusão, provavelmente pensaria que estavam loucos! 
Quanto aos crentes, já não necessitavam de convencer-se do 
poder de Deus pelo sinal das línguas. O sinal da presença de Deus 
que lhes faria maior bem, seria a mensagem do Espírito na pró­
pria língua deles, mediante o dom de profecia. Embora essa se 
destinasse principalmente aos crentes. Deus a usaria para conven­
cer e converter pecadores também.
Devemos interpretar os versículos 34,35 à luz do problema 
local e de outras passagens bíblicas. Paulo está realmente proibin­
do as mulheres de profetizar? Creio que não! Atos 2.18 diz 
claramente que as mulheres profetizariam. Ana. que falou no 
templo acerca do menino Jesus, é chamada de profetisa. De igual 
modo. Miriã, Débora. Hulda e a esposa de Isaías no Antigo 
Testamento. Filipe, o evangelista, tinha quatro filhas que profeti­
zavam. Nessa mesma carta, o próprio Paulo havia deixado claro 
que as mulheres que estavam profetizando na igreja poderiam 
assim fazê-lo se usassem o véu costumeiro (11.5). Suas palavras: 
"Porque todos podereis profetizar, um após outro", certamente 
incluem as mulheres.
Os Dons Espirituais na Adoração Cristã 1 2 9
Esse capítulo inteiro lida principalmente com o problema da 
desordem nos cultos de adoração e como corrigi-la. A ordem de 
Paulo para que as mulheres “se conservassem caladas” relaciona- 
se à confusão na igreja. Elas estavam, evidentemente, falando 
demais. Paulo menciona de novo a necessidade que tinham de ser 
submissas. Elas podem ter estado a interromper o orador com 
perguntas ou chamando seus maridos que estavam no outro lado 
da igreja para perguntar-lhes alguma coisa (14.35).
Alguma vez você já tentou pregar enquanto as pessoas con­
versam? Ter gente cochichando perto dificulta-lhe ouvir o prega­
dor? Se dificulta, você entende a necessidade de ordem deixada 
por Paulo! O princípio aplica-se a homens, mulheres, pregadores 
e também leigos — evitar conversação desnecessária durante os 
cultos da igreja.
Finalmente, separe uns poucos momentos para orar ou para 
ser usado numa manifestação do dom profético em sua igreja e 
em sua própria vida, se o Senhor assim desejar usá-lo. Oremos 
juntos por uma poderosa ação do Espírito de Deus, mediante o 
uso bíblico de profecia e de outros dons espirituais. Siga o cami­
nho do amor e procure ansiosamente profetizar.
10
A Ressurreição 
e o Serviço Cristão
I - I n t r o d u ç ã o
Nossa crença afeta as nossas ações; crenças certas tendem a 
produzir boa conduta. E por isso que o ensino da Palavra de Deus 
ao seu povo é parte tão importante da Grande Comissão e da 
edificação da Igreja. Somos “transformados pela renovação da 
nossa mente” (Rm 12.2) para podermos reconhecer e obedecer o 
perfeito plano de Deus para as nossas vidas.
Nos primeiros 14 capítulos de 1 Coríntios, Paulo salienta 
aspectos do comportamento cristão, dando-lhe uma firme base 
doutrinária. Ele ensina seus filhos na fé acerca do amor, da união 
e da autodisciplina baseados na sua relação com Cristo e com a 
que os demais crentes tinham em suas mentes no tocante à ressur­
reição dos mortos.
A ressurreição faz parte integral da teologia cristã, sendo tão 
importante para nós quanto para os coríntios daquele tempo. Sem 
a ressurreição de Cristo, não haveria o Novo Testamento, nem 
alegria cristã, nem esperança de vida eterna. Mas porqueEle vive, 
Podemos levar uma nova vida repleta de alegre serviço cristão, 
agora e também no futuro.
132 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
I Coríntios 16 nos fornece uma pequena idéia de serviço 
cristão encerrando essa carta de Paulo. O nosso conhecimento de 
Cristo no poder da sua ressurreição continua nos motivando para 
a divulgação do Evangelho e da participação na causa de Cristo.
II - A P rova da R e s s u r r e iç ã o d e J e s u s (15.1-11)
Após encerrar seu ensinamento sobre dons espirituais e cultos 
bem ordenados, Paulo aborda mais um problema. Alguns mem­
bros da igreja em Corinto afirmavam que os mortos não ressusci­
tariam (1 Co 15.12). Paulo apresenta as provas da ressurreição de 
Jesus como evidência daqueles que estão “em Jesus” e que também 
ressuscitarão. Satanás continua tentando convencer as pessoas de 
que não há vida após a morte. Na tentativa de destruir a evidência 
da ressurreição de Jesus, alguns sugerem que Ele não morreu, 
somente desmaiou para depois recuperar a consciência no túmulo. 
Outros dizem que voltou a viver apenas na mente dos seus discí­
pulos. Essas pessoas deveras precisavam ser corrigidas.
1. O Evangelho e a Igreja
O enterro de Cristo constitui um elemento importante, pois 
prova que Ele realmente morreu (Jo 19.33). Sua ressurreição 
constitui evidência de que Deus aceitara seu sacrifício, sendo 
parte integral das Boas Novas pelas quais somos salvos. As 
múltiplas ocasiões em que Ele apareceu aos seus conhecidos 
testificam a sua ressurreição.
O poder das Boas Novas e a verdade sobre a ressurreição de 
Jesus são evidências da veracidade do Evangelho. Paulo e os 
demais apóstolos pregavam um Evangelho que proclamava a 
ressurreição (At 4.33; 1 Co 15.11), baseando-se nela (Rm 4.25). 
Foi nesse Evangelho que os coríntios creram (v. 11) e abraçaram 
(v. 1), sendo salvos através dele (v. 2). Somente o Evangelho 
milagroso de um Senhor ressurreto pode produzir tais resultados. 
A igreja coríntia era, em si, uma prova evidente do Salvador vivo.
A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 3 3
A existência da Igreja universal, o corpo de Cristo no mundo de 
hoje, comprova a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
2. As Escrituras cumpridas
Cada vez que o Novo Testamento fala das Escrituras (com 
uma única exceção em 2 Pe 3.16), significa que é o Antigo 
Testamento. Hoje em dia, usamos esse termo com referência à 
Bíblia inteira. 1 Coríntios 15.3,4 unifica o Antigo e o Novo 
Testamento. Dizer que Cristo morreu e ressuscitou segundo as 
Escrituras é afirmar claramente que o Antigo Testamento contém 
profecias da morte e ressurreição de Cristo. As profecias referen­
tes ao seu sofrimento e morte são numerosas demais para serem 
citadas aqui (veja a primeira delas em Gênesis 3.15); as que 
dizem respeito à sua ressurreição são menos numerosas.
Leia o salmo 22, que vaticina a morte e, indiretamente a 
ressurreição de Cristo. Compare esse salmo com Lucas 23.33-39; 
João 19.23,24. Veja como a passagem de Salmos 22.22-31 impli­
ca na ressurreição do nosso Salvador.
Isaías 53 é um dos grande trechos messiânicos do Antigo 
Testamento, sendo ao mesmo tempo um cântico de sofrimento e 
esperança. Leia bem devagar essa passagem e note bem a pro­
messa da ressurreição nos versículos 1-12.
Pedro e Paulo citam Salmos 16.10 como profecia da ressur­
reição de Jesus, o Santo de Deus (At 2.22,23; 13.26-38). Cristo, 
após a sua ressurreição, explicou aos dois crentes no caminho de 
Emaús as profecias de como o Messias (Cristo) teria de padecer e 
entrar na sua glória (Lc 24.13-27). E Paulo testemunhou ao go­
vernador Félix e ao rei Agripa: “Mas, alcançando o socorro de 
Deus, ainda até o dia de hoje permaneço, dando testemunho, tanto 
a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais que o que os 
profetas e Moisés disseram que devia acontecer, isso é, que o 
Cristo devia padecer e, sendo o primeiro da ressurreição dos 
mortos, devia anunciar a luz a esse povo e aos gentios” (At 
26.22,23). Embora o Antigo Testamento tenha dito muito pouco
/ 3 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
em termos diretos sobre a ressurreição de Cristo, somente aquele 
acontecimento consegue ligar os dois elementos tão diversos que 
são o Messias sofredor e o Messias glorioso.
3. Profecias sobre o Messias
E m I s a ía s
Ressurreição
Rejeitado e morto por nossos pecados
Rei vencedor A reinar para sempre sobre 
o mundo inteiro
4. Testemunhas da ressurreição
Aqueles que negam a ressurreição corporal de Jesus apresen­
tam diversas teorias. Alguns acham que seu corpo foi roubado, ou 
que os discípulos visitaram o túmulo errado. Outros afirmam que 
os discípulos só viram o espírito de Jesus e não o seu corpo real! 
Creio serem mais inverossímeis esses argumentos contraditórios 
do que a simples aceitação do relato histórico apresentado clara­
mente na Bíblia sobre a ressurreição de Jesus. Deus, que sabe 
todas as coisas, saberia naturalmente como a verdade da ressur­
reição seria atacada. Por isso, o Espírito Santo inspirou o apóstolo 
Paulo a escrever, com rigor e lógica convincente, os poderosos 
argumentos em apoio à ressurreição que lemos em 1 Coríntios 15.
Jesus, citando a Lei Mosaica, recomenda que “pelo depoimento 
de duas testemunhas, toda palavra se estabeleça” (Mt 18.16; Dt
19.15). Mas a nossa fé na ressurreição de Cristo se baseia no 
testemunho de muitíssimas pessoas! Mais de quinhentos crentes
(15.6) de uma só vez viram o Senhor ressurreto. Tentar provar que 
todos eles ficaram simultaneamente alucinados é carregar demais a 
imaginação e credulidade de todos nós! As testemunhas não apenas 
viram Jesus; Ele falou com elas, partiu pão e comeu, e até cozinhou 
para seus amigos, deixando que todos tocassem nas suas feridas. 
Ele andou com eles e ensinou-lhes, provando que não era nenhum 
fantasma, senão o mesmo Jesus que antes conheciam. Durante um
53.1-12
53.1-9
9.6,7
A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 3 5
período de quarenta dias, Ele deu “muitas provas incontestáveis” 
(At 1.3). O quadro apresenta uma ordem lógica das aparições de 
Jesus; os quinhentos poderiam ter visto o Mestre na Galiléia ou por 
ocasião da sua ascensão aos céus.
4.1. Aparições de Jesus após a ressurreição
A R e fe r ê n c ia
Maria madalena Jo 20.14-16
Mulheres no caminho Mt 28.8-10
Dois indo no caminho Lc 24.13-25
Pedro Lc 24.34
Dez apóstolos Jo 20.19-24
Onze apóstolos Jo 20.24-29
Sete a beira do mar Jo 21.1-23
Apóstolos mais quinhentos 1 Co 15.6
Tiago 1 Co 15.7
Onze Apóstolos Mt 28.16-20
Os que presenciavam a ascensão At 1.6-11
Estêvão At 7.55
Paulo indo a Damasco At 9.1-5
Paulo na prisão At 23.11
João na ilha de Patmos Ap 1.10-19
Imagine só o impacto de ver ressurreto o mesmo Jesus, a cuja 
morte e sepultura você tinha assistido! Você também correria para 
divulgar a notícia, não é? Pense nos discípulos que se dirigiam a 
Emaús. Ao reconhecerem Jesus, tiveram o impulso de ir contar 
tudo aos discípulos; por isso voltaram logo a Jerusalém, uma 
distância de uns 11 quilômetros, para confirmarem as palavras 
triunfais: “Ressuscitou, verdadeiramente, o Senhor” (Lc 24.34).
Os apóstolos proclamaram a ressurreição, porque acreditaram 
no que seus olhos tinham visto. Continuavam proclamando essa 
verdade em face de prisões, açoites, ameaças e proibições (At
1 3 6 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
4.1 -3;5.17-20;40,41). pois como disse Pedro: “Não podemos dei­
xar de falar do que temos visto e ouvido” (At 4.20,32).
4.2. O poder da ressurreição de Jesus
Na sua Carta aos Filipenses, Paulo menciona o seu desejo de 
“conhecer a Cristo e o poder da sua ressurreição” (Fp 3.10). E 
aqui, na sua carta aos coríntios, passa a falar daquele poder.
I I I - N o s s a S a lv a ç ã o O b t id a (1 5 .1 2 -2 0 )
É provável que em Corinto, os novos crentes que não acredi­
tavam numa futura ressurreição simples, não percebessem a gra­
vidade do seu erro. Eles confiavam em Jesus como seu Salvador, 
mas Paulo frisa o seguinte fato: “Se não há ressurreição de mor­
tos, então Cristo não ressuscitou” (15.13).Sua argumentação nos 
versículos 12-20 é primorosa na demonstração da importância da 
ressurreição. Veja bem a importância das palavras “se” e “mas” 
nessa argumentação.
Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e a nossa 
fé, somos falsas testemunhas e estamos ainda nos nossos 
pecados; os mortos em Cristo pereceram e somos os mais 
infelizes de todos os homens. Tudo faz uma reviravolta, 
porém no versículo 20: “Mais de fato Cristo ressuscitou den­
tre os mortos” . Por isso nossa pregação é válida, nossa fé é 
eficaz; não somos falsas testemunhas e os mortos em Cristo 
não pereceram.
1. Nossa ressurreição garantida
Nos versículos 20-23, Paulo toca no tema da União do crente 
com Cristo. Os benefícios que desfrutamos em Cristo, incluem 
nossa ressurreição espiritual a uma nova vida nesse mundo e 
nossa futura ressurreição corporal à eterna alegria do porvir. 
Compare essa passagem com Romanos 5.17-21, que demonstra
A Ressurreição e o Ser\’iço Cristão 1 3 7
que na experiência do crente, a morte é vencida espiritual e 
fisicamente.
O pensamento principal de 1 Coríntios 15.20-23 é este: Todos 
aqueles que estão em Cristo ressuscitarão quando Ele voltar. A 
pequena locução em Cristo (ou de Cristo), vista com tanta fre­
qüência nos escritos de Paulo, encerra um imenso significado. 
Somos salvos por crermos em Cristo (At 16.31). Uma fé firme 
acompanhada de arrependimento traz o milagre do novo nasci­
mento, nossa ressurreição espiritual. Após a nossa conversão, 
experimentamos o batismo nas águas, a transformação dos nossos 
hábitos, a comunhão com a igreja e muitos outros benefícios. Tal 
mudança na pessoa que aceita o Evangelho é resultado de ela 
estar com Cristo e em Cristo.
Estar em Cristo e com Ele significa ser “co-participante da 
natureza divina” (2 Pe 1.4). O crente não é uma miniatura de 
Jesus, mas é semelhante a Ele (Rm 8.29). Por que não? Temos o 
mesmo Pai, e Cristo vive em nós por meio do seu Espírito Santo. 
O profundo ensinamento de romanos 6.1-4 nos mostra a íntima 
relação entre o crente e Cristo. A referência à nossa morte e 
ressurreição nesse trecho representa a morte espiritual ao pecado 
e a ressurreição a uma nova vida em Cristo. Essa transformação é 
simbolizada no batismo e, por sua vez, prediz e simboliza a nossa 
futura morte e ressurreição corporal em Cristo, vivificados como 
Ele mesmo foi!
Cristo constitui as primícias da ressurreição (1 Co 15.20). 
Esse termo assinala duas cerimônias anuais de louvor no Antigo 
Testamento e a realização do seu simbolismo. Já vimos como 
Cristo é a nossa Páscoa, morrendo no exato dia em que deve 
morrer o cordeiro pascal. No primeiro dia da semana (domingo) 
que segue a Páscoa, os israelitas comemoram o Dia das Primícias 
(Lv 23.9-14). O primeiro molho assinala a aproximação da co­
lheita espiritual do povo de Deus, a Igreja. Vemos no Dia de 
Pentecostes as primícias daquela imensa colheita: o nascimento 
da Igreja. Nós também formamos parte daquela gloriosa e contí­
nua colheita! A consagração de Cristo nos santifica. A ressurrei­
1 3 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
ção dEle garante a nossa. Porque Ele vive, nós também vivere­
mos! Cristo é a nossa ressurreição e a nossa vida (Jo 11.22-26).
2. O Reino de Deus estabelecido
O Antigo Testamento fala muito sobre os reinos terrestres: o 
Novo Testamento fala com freqüência do Reino de Deus (Mateus 
prefere o termo reino do céu, considerado sinônimo pelos estudi­
osos da Bíblia). O Reino de Deus é presente e futuro. Passamos a 
formar parte dele ao aceitarmos a Cristo como nosso Rei. Ele 
estabelece o seu governo em nossa vida: “O reino de Deus está 
entre nós” (Lc 17.21). Jesus falava a toda hora sobre o seu Reino 
e mandava os seus discípulos pregarem o Evangelho do Reino. 
Esse Reino espiritual já existe.
Mas quando Jesus voltar, estabelecerá na terra um reino literal 
(1 Co 15.23-26). Paulo chama esse tempo de “o fim”. Será o fim 
do poder satânico, das ideologias antagônicas e do sistema mun­
dial rebelde a Deus. Será derrotado todo poder hostil e nada 
conseguirá perturbar a harmonia do Reino de Deus. A morte será 
destruída. O filho entregará o Reino nas mãos do Pai, e seu Reino 
não terá fim (2 Pe 1.11). Jesus já se humilhou voluntariamente, 
tornando-se obediente à cruz, para ganhar a vitória sobre a morte. 
E se mostrará submisso ao Pai quando encerrar seu labor de 
redenção. Mas também podemos afirmar que o Pai o exaltará 
sobremaneira (Fp 2.9). Reinarão junto ao Deus trino, todos quantos 
estiverem em Cristo (Lc 1.32,33; Ap 5.9,10).
Qual o impacto disso tudo em nossa vida? A nossa fé na 
ressurreição futura e no triunfo final e absoluto do Reino de Deus 
nos inspira a viver para Cristo, trabalhar para Ele, e até sofrer em 
prol do seu Reino. A fé que Paulo tinha na ressurreição e em seus 
resultados o dispôs a correr perigos a toda hora e a “morrer dia 
após dia” (1 Co 15.29-32). Não sabemos se a morte referida é a 
fuga dos seus desejos carnais ou o desafio constante do perigo e 
da perseguição. Paulo menciona lutas com feras em Éfeso, mas 
essa referência pode ser figurada ou literal. Pode até ser uma
A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 3 9
alusão aos poderes demoníacos e às perseguições enfrentadas 
naquela cidade (At 19.23-41).
O nosso modo de viver depende principalmente da nossa 
crença acerca da vida após a morte. Nos versículos 29-34. Paulo 
mostra a inutilidade de tudo se não há ressurreição. Menciona até 
certas pessoas “que se batizam pelos mortos”. Esse costume, 
fosse qual fosse, foi rejeitado pela Igreja Primitiva, mas pode ter 
sido um batismo praticado em favor daqueles que aceitaram Jesus 
às portas da morte e não tiveram oportunidade de passarem pelas 
águas do batismo. O que Paulo deseja salientar é a inutilidade de 
qualquer atividade cristã se não há futuro (15.32). Mas continua­
mos orando, como Cristo nos ensinou: “Venha o teu Reino; seja 
feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. E assim será!
3. A promessa da nossa ressurreição
3.1. Um corpo perfeito
A pergunta colocada por Jó: “Se um homem morrer, viverá de 
novo?”, é respondida de maneira triunfal nesse trecho. Jesus fez 
aos seus seguidores a seguinte declaração simples e poderosa: 
"Porque eu vivo, vós também vivereis”. Aqui, Paulo esclarece 
ainda: “Todos seremos transformados” (15.51). “Devemos trazer 
a imagem do celestial”. Veja bem o que I Coríntios 15.35-54 nos 
diz acerca do nosso novo corpo. Leia em voz alta 1 Tessalonicenses
4.13-18; I João 3.2.
3.2. Nosso corpo ressurreto
1 C o r ín t i o s 15.35-54
Como o de Jesus
Não feito de carne e sangue
Imortal e imperecível
Glorioso e poderoso
No esplendor de Deus
v. 49 
v. 50 
v. 53 
v. 43 
vv. 38-42
1 4 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Transformado instantaneamente 
Espiritual
v. 52 
v. 44
Talvez você esteja pensando: “Se o Reino de Deus é espiritu­
al, os seus súditos terão corpos reais? O versículo 35 pergunta: 
“Como ressuscitarão os mortos? E em que corpo virão?” A pala­
vra grega soma, usada aqui, é a mesma que descreve qualquer 
corpo físico. Paulo diz claramente que teremos um corpo (15.44). 
Temos agora corpos naturais, sujeitos às leis da natureza nesse 
planeta. E ganharemos, então, corpos espirituais, não sujeitos a 
essas leis, mas tendo a liberdade e poder de uma nova dimensão 
num novo reino.
Herdamos de Adão nosso corpo natural. “Pó da terra”. Esses 
corpos de carne e osso não podem herdar o Reino de Deus, sendo 
incapazes de funcionar na região celeste. Devem, portanto, ser 
transformados para poder agüentar a glória brilhante da plena 
presença de Deus. Teremos aquela liberdade de movimento que 
Cristo teve após a ressurreição. O glorioso corpo dEle era pareci­
do com seu corpo anterior; as pessoas o reconheceram, e Ele 
partiu pão com os amigos, conforme seu costume. Ele disse: “Um 
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 
24.39). Parece provável que o nosso corpo espiritual não tenha 
sangue como seu sustento (Lv 17.11); “Nem toda carne éa 
mesma” (1 Co 15.39).
Qualquer dor nos lembra a mortalidade do nosso corpo! No 
versículo 50, as palavras “carne e sangue” podem referir-se aos 
vivos, e a “corrupção” aos mortos. “Nem todos dormiremos” 
(15.51) sugere essa interpretação. É óbvio, pois, que nem vivos 
nem mortos possuem corpos idôneos para o glorioso Reino eter­
no. “Seremos todos transformados!” Receberemos um novo cor­
po, espiritual e apropriado para viver no novo ambiente do Reino 
eterno de Deus!
A nossa informação sobre o novo corpo é limitada. Paulo 
compara a nossa transformação com a diferença entre uma se­
mente que “enterramos” no solo e a planta que surge do poder
A Ressurreição e o Serviço Cristão 14 ]
vital contido nela. A ciência nos diz que o potencial do nosso 
corpo e cérebro excede toda realização humana; estamos, de fato, 
usando apenas a mínima parte do nosso potencial. Mas, ‘‘quando 
o perfeito vier”, nossos corpos transformados atingirão a plenitu­
de da realização para a qual fomos criados e ultrapassarão toda 
capacidade natural para chegarem ao pleno potencial do corpo 
espiritual. Podemos “plantar” na sepultura os corpos mortos dos 
nossos entes queridos, mas se eles estão em Cristo, a trombeta de 
Cristo os chamara à ressurreição de poder e vitória, imperecível e 
imortal, capaz de viver com Deus! Leia Romanos 8.11 e Apocalipse 
21.1-5.
4. Uma vitória completa
A morte é o último inimigo a ser vencido por Cristo ( 15.25,26). 
Que vitória será aquelal Não será apenas o prolongamento da 
vida, mas também uma plena libertação do reino satânico da 
morte. Muitas pessoas não gostam de falar da morte ou olhar para 
um cadáver. Mas para bem entendermos a vitória ganha por 
Cristo, devemos encarar a morte.
A morte é, essencialmente, separação. Em termos físicos, é a 
separação do espírito do corpo, a qual resulta na decomposição 
desse. E a separação de entes queridos acarreta mágoa, luto e dor. 
O enterro ou cremação do morto intensifica a separação, a qual 
parece (em termos naturais) definitiva. Quando lamentamos a 
perda de um ser querido, é fácil vermos a morte como nosso 
inimigo.
Mas se a morte do corpo é trágica, quanto mais a do espírito, 
que constitui separação de Deus. Quem o rejeita e lhe desobede­
ce, separa-se dEle, a fonte da vida. Deus é puro, santo e não 
admite no seu Reino eterno o pecado com suas injustiças e con­
tendas.
Deus ordenou certas leis morais no mundo em benefício da 
humanidade. Violar essas leis constitui-se pecado, e o castigo é a 
morte. Ninguém pode ter comunhão com Deus enquanto viola 
Suas leis e se rebela contra o governo dEle. Todos pecamos, e
1 4 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
fomos destinados à morte (Rm 3.23;6.23). Em 1 Coríntios 15, 
Paulo fala somente da ressurreição daqueles que estão em Cristo. 
Mas haverá uma ressurreição daqueles que não aceitaram Cristo 
como seu Salvador e Senhor. Leia Hebreus 9.27. Daniel 12.2,3, 
Apocalipse 20.4 e Lucas 16.19-31. A morte para o pecador cons­
titui sua prisão no inferno e a separação eterna de Deus.
Diz 1 Coríntios 15.56: “A força do pecado é a lei” (lei moral, 
não somente a lei mosaica). Romanos 7 .1 I explica: ‘‘O pecado, 
tomando por ocasião do mandamento, pelo mesmo mandamento 
me enganou e. por ele, me matou”. A lei nos entrega ao pecado 
que escolhemos com suas conseqüências inevitáveis. Mas graças 
a Deus, Cristo veio cumprir a lei, assumindo para si o castigo do 
nosso pecado e levando-nos à intimidade com Deus.
Cristo triunfou sobre a lei e sobre sua sentença contra nós! 
Fazendo isso. quebrou o poder do pecado, da morte e da sepultura! 
Aqueles que o rejeitam, se perdem eternamente; mas aqueles que o 
aceitam, recebem sua justiça e compartilham a sua vitória (Rm 
3.25,26;4.25). E provável que venhamos a morrer fisicamente, mas 
a morte não nos inspira medo. Ela agora é a porta para o céu aos 
filhos de Deus. Ele nos dá as boas-vindas do outro lado! (SI 1 16 .15; 
F1 1.21 -24). E, quando Jesus voltar, receberemos o pleno resultado 
da sua vitória no Calvário, ao subirmos para nos encontrarmos com 
Ele: E não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem 
dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4).
Até aquele dia, dediquemo-nos plenamente à obra do Senhor, 
“ sabendo que o vosso traba lho não é vão no S en h o r” 
(1 Co 15.58).
I V - A V id a R e s s u r r e t a n o S e r v iç o C r is t ã o 
( 1 5 . 5 8 - 1 6 . 2 3 )
O último versículo de 1 Coríntios 15 é uma clara chamada à 
Igreja Cristã em geral (“meus amados irmãos” ) para uma entrega 
total e voluntária à obra do Senhor. A palavra "portanto” refere-se
A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 4 3
às grandes verdades elucidadas no capítulo 15, e possivelmente 
àquelas dos capítulos 1-14 também. Já que ressuscitamos espiri­
tualmente com Cristo, devemos viver no poder da ressurreição 
dEle. Por isso, o capítulo 16, com suas instruções práticas e 
saudações fraternais, resume e encerra essa carta com uma cha­
mada ao serviço cristão.
1. O serviço cristão na contribuição
As primeiras palavras do capítulo 16, quanto à coleta, dão a 
entender que Paulo está abordando um outro assunto levantado 
pelos coríntios (outros exemplos se encontram em 7.1 ;8.1; 12.1). 
Dessa vez, o problema coríntio refere-se à contribuição de dinhei­
ro, um assunto que muitos crentes de hoje nutrem perguntas e 
dúvidas honestas. Estudaremos mais isso em 2 Coríntios 8 — 9.
Paulo pediu que os coríntios contribuíssem com seu dinheiro 
em benefício de uma necessidade bem específica. Houve muitos 
pobres na igreja de Jerusalém (Rm 15.26). A fome profetizada 
por Ágabo (At 11.27-30) estava flagelando aquela região. Por 
isso, os crentes em outras áreas mandavam ajuda financeira à 
igreja mãe em Jerusalém.
Os primeiros quatro versículos de 1 Coríntios 16 apresentam 
muitas idéias importantes em pouco espaço. Eles nos ajudam a 
responder perguntas como: ‘ Quando devo dar? Quanto devo 
dar? A quem devo darV O versículo 2 contém quatro elementos 
bem significativos. “No primeiro dia da semana”, mostrando que 
a contribuição deve ser contínua e sistemática. “Cada um de vós” 
ensina que todos devemos contribuir. “Conforme a sua prosperi­
dade" indica que a contribuição deve ser proporcional (ou em 
proporção) com a renda ou ordenado. Quem ganha pouco não é 
isento, pois deve dar aquilo que puder. Não há referência ao 
dízimo (dez por cento do ordenado), praticado no Antigo Testa­
mento, mas é possível que se houvesse formado uma equivalência 
semelhante. A prática de arrecadar ou economizar fundos sema­
nalmente possibilitou uma contribuição total bem maior, sem 
pressão nem apuros. Tudo estaria pronto para a chegada de Paulo,
1 4 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
para que pudesse levar o dinheiro aos crentes na Judéia. sem 
campanha especial de última hora.
Alguns representantes da igreja, “aqueles que aprovardes”, 
iriam levar a oferta a Jerusalém, promovendo assim uma rede de 
responsabilidade mútua entre os crentes e as congregações em 
diversas regiões. Nos dias de hoje, as nossas congregações, medi­
ante semelhantes programas de colaboração financeira sob a ori­
entação de ministros responsáveis, podem exercer uma influência 
beneficente pelo mundo inteiro.
O versículo 2 pode sugerir reuniões dos irmãos aos domingos. 
Certas referências de outros textos primitivos da Igreja nos dão a 
entender que os crentes se congregavam no primeiro dia da sema­
na, ao qual chamavam “o dia do Senhor" em homenagem à 
ressurreição de Jesus Cristo (Ap 1.10).
2. O serviço na obra missionária
Duas das passagens mais citadas no Novo Testamento são: 
"Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações" (Mt 28.19) e 
"Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda a criatura” (Mc
16.15). Essa ordem de evangelização foi dada à igreja inteira, a 
todos os crentes, não somente aos missionários ou evangelistas. 
Quem não pode ir pregar, ajudará a custear as despesas de quem 
vai. Em 1 Coríntios 16. vemos muitas idas e vindas de ministros e 
leigos napregação do Evangelho. Paulo menciona as suas própri­
as viagens e as de Estéfanas. Fortunato. Acaico, Timóteo, Apoio 
e os irmãos de Corinto que iriam levar a oferta para os pobres na 
Judéia. Esses homens não foram turistas! Suas viagens tinham 
propósitos bem definidos, e aqueles que os auxiliavam financei­
ramente participavam do seu ministério. Todos buscavam a ori­
entação do Senhor e obedeciam às ordens dEle.
Foi muito importante a viagem dos coríntios a Jerusalém. 
Assim, puderam ver diretamente a grande necessidade dos irmãos 
da Judéia e relatar à sua própria congregação, os benefícios de­
correntes da distribuição dos bens ofertados pelos coríntios. Po­
A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 4 5
deriam também confraternizar-se com os irmãos em Jerusalém e 
estreitar as relações entre suas respectivas igrejas. Bem sabemos 
que o partidarismo constituía um problema constante para a Igre­
ja Primitiva, e Paulo achava necessário promover a união dela — 
aceitação mútua e harmonia entre judeus e gentios, ricos e pobres. 
Ele ensinava fielmente tal espírito de união por meio das suas 
epístolas e de sua própria atuação. Um método de aprendizagem 
bem prático foi o de compartilhar os bens entre os crentes das 
igrejas em outras cidades.
Nos versículos 5-9, Paulo nos fala dos seus próprios planos de 
viagem. Vemos que ele desejava visitar Corinto para rever os 
seus filhos espirituais. Porém, ainda mais importantes na elabora­
ção do seu itinerário são estas palavras: “Se o Senhor o permitir”. 
Devemos sempre buscar a direção divina para nossos destinos 
também.
Embora Paulo não fosse viajar direto a Corinto. resolveu 
mandar Timóteo, um de seus ajudantes (16.10,11). Timóteo pare­
ce ser um jovem um tanto acanhado (1 Tm 4.12), e Paulo pede 
que ele “esteja sem receio” entre os irmãos coríntios (talvez por 
causa da sua pouca idade). Paulo lhes assegura que Timóteo 
“trabalha na obra do Senhor, como também eu" e pede que o 
aceitem bem e ao seu ministério, encaminhando-o “em paz" (o 
que implica em ajuda financeira). E tudo deveria ser “feito com 
amor” (16.4).
Como é bom ver ministros e congregações bem estabelecidas 
apoiando novos obreiros em seus ministérios. Paulo multiplicou 
seu próprio ministério através de novos obreiros, levando-os con­
sigo e mandando-os para evangelizar, pastorear ou supervisionar 
novas igrejas. Os coríntios precisavam de ajuda e orientação, e 
por isso, Paulo “muito recomendou” que Apoio fosse visitá-los. 
(E interessante notar que o partidarismo dos coríntios acerca do 
ministério dos famosos pregadores não tornava Paulo ciumento 
de Apoio, nem prejudicou a amizade deles). Mas Apoio não quis 
ir naquela altura. Devemos buscar a orientação divina, não apenas 
com relação ao nosso itinerário, mas também no tocante ao nosso
146 Comentaria Bíblico: I e 2 Coríntios
tempo. Foi da vontade de Deus que Timóteo visitasse Corinto 
naquela ocasião e. dessa forma. Paulo conseguiu ficar em Éfeso, 
onde sua presença era. de fato. muito importante, e “uma porta 
grande e oportuna para o trabalho se me abriu” (16.9).
Os comentários de Paulo acerca de Estéfanas nos fazem ver a 
importância do dom de socorros. Estéfanas foi um daqueles que 
creram e foram batizados "no início do ministério de Paulo em 
Corinto. Ele e sua família deviam ser bem queridos do apóstolo. 
Aqui Paulo louva o fiel serviço de Estéfanas e sua família, pois 
eles "se consagraram ao serviço dos santos" (16.15). E óbvio que 
a sua dedicação era voluntária e não imposta pela Igreja. Estéfanas 
e sua família souberam responder às necessidades dos seus ir­
mãos na fé.
Três dos crentes de Corinto, o próprio Estéfanas, com Fortunato 
e Acaico. foram visitar o apóstolo Paulo, "suprindo o que lhe 
faltava” em termos de calor humano e “trazendo refrigério” ao 
espírito dele. Apesar dos muitos problemas na igreja deles, esses 
irmãos conseguiram animar Paulo. O apóstolo reconhece o dom de 
Estéfanas e pede que os coríntios se submetam à liderança dele. 
Logo depois, encerra sua epístola com uma série de saudações.
3. A comunhão no serviço cristão
O fecho dessa carta de Paulo nos mostra algumas maneiras de 
estreitar os laços de comunhão e amizade entre as igrejas. Uma 
delas é a oração. Paulo pediu que os crentes, em todas as igrejas 
que fundou, orassem por ele nas suas viagens de evangelização, 
nas quais estabelecia novas congregações. Sem dúvida, divulgava 
em todas elas notícias das outras, para que pudessem orar em 
favor dos seus irmãos desconhecidos e distantes. Os obreiros 
circulavam entre as igrejas e levavam notícias e saudações de 
uma a outra, e as congregações se saudavam mutuamente através 
das cartas de Paulo. Não temos todas as epístolas dele, pois 
algumas se perderam, e muitas delas se encerram com esse tipo 
de saudação (16.23,24).
A Ressurreição e o Serviço Cristão 1 4 7
Paulo ditou à viva voz essa epístola aos coríntios, mas escre­
veu as saudações e assinou-a com o próprio punho. A maldição 
proferida no versículo 22 nos choca, mas serve para mostrar a 
importância do amor pelo Senhor e como é perigoso debater-se 
contra Ele. Maranata significa "Vem, Senhor!” na língua aramaica. 
Assim orou a Igreja Primitiva, e assim oramos nós.
11
0 Ministério 
de Consolação
I - I n t r o d u ç ã o
Não seria interessante sabermos o que aconteceu quando Ti­
móteo e os irmãos que o acompanhavam chegaram a Corinto com 
a carta de Paulo para a igreja? Qual foi a reação dos crentes 
coríntios? Foi frutífero o ministério de Timóteo entre eles? Solu- 
cionou-se o problema de partidarismo na igreja? Os membros se 
humilharam numa atitude de submissão aos seus líderes? Passa­
ram a praticar a autodisciplina, respeitando-se uns aos outros 
devidamente no corpo de Cristo? Francamente, não sabemos.
A segunda carta de Paulo aos Coríntios (que passamos a 
estudar agora), nos dá, contudo, uma idéia parcial do que sucedeu 
à recepção da primeira epístola. Timóteo parece haver visitado 
Corinto (veja 1 Co 16.10,11) para entregar a carta destinada 
àquela congregação e ajudar a igreja pela operação do seu próprio 
ministério. Após isso, Timóteo voltou a Éfeso, onde estava Paulo 
com seu relatório sobre as condições na igreja coríntia. Embora 
Paulo planejasse uma viagem a Corinto mais tarde, resolveu ir 
imediatamente por causa dos problemas relatados por Timóteo. 
Foi uma situação difícil, que ameaçou inclusive destruir o minis­
tério de Paulo entre os coríntios. Profundamente desgostoso, o
1 5 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
apóstolo voltou a Éfeso muito necessitado do consolo de que 
escreve posteriormente em 2 Coríntios.
Neste capítulo, estudaremos mais alguns eventos que fizeram 
com que o apóstolo Paulo escrevesse como nessa segunda carta. 
Nela. vemos mais claramente do que na primeira epístola o sofri­
mento do grande pregador, a sua humanidade e a força emocional 
com que defende o seu ministério e apostolado. Através disso 
tudo. aprendeu a consolar os outros como foi consolado. Que os 
nossos sofrimentos possam dar o mesmo fruto!
II - I n t r o d u ç ã o a 2 C o r í n t io s
As vezes, enfocamos tão especificamente determinado tre­
cho bíblico que esquecemos o seu contexto e não conseguimos 
apreciar plenamente o livro inteiro onde se encontra. Para bem 
apreciarmos uma carta, devemos lê-la do início ao fim, antes de 
examinarmos detalhadamente cada parágrafo dela numa cuida­
dosa releitura. Assim, gostaria que você lesse de uma vez. desde 
já, a 2 epístola aos Coríntios. Faça de conta que é um dos novos 
convertidos de Paulo em Corinto e sente uma grande lealdade 
para com o apóstolo. Talvez sinta-se até chamado para o minis­
tério e deseje seguir o exemplo de Paulo. Repare bem nos seus 
sentimentos ao ler a carta e tente compreender o que Paulo está 
sentindo ao escrevê-la.
1. Provável ordem cronológica
C o m p o s iç ã o d e 1 C o r ín t i o s 55 d.C.
Timóteo: Volta a Corinto
Paulo: A Corinto e volta
Tito: A Corinto e volta
Paulo: De Éfeso a Troas
Paulo: Atéa Macedônia para se encontrar com Tito
O Ministério de Consolação 151
Tito: De Corinto até a Macedônia
Composição de 2 Coríntios 56 d.C. _____________
Se você gosta de geografia, trace essas viagens num bom 
mapa.
2. Ocasião e propósito
Paulo escreveu 2 Coríntios por volta do ano 56 d.C. (um ano 
depois da composição de 1 Coríntios). Não sabemos exatamente 
o que ocorreu nesse intervalo, mas a seguinte seqüência de even­
tos parece provável:
1. Paulo mandou Timóteo a Corinto, conforme o plano já 
traçado (1 Co 16.10,11).
2. Timóteo voltou, contando sobre uma situação bem séria.
3. Paulo resolve apressar a sua própria viagem a Corinto (1 Co 
16.5-7), e foi sem avisar aos irmãos da sua chegada.
4. Paulo sentiu em Corinto tanta oposição ao seu ministério, 
que deixou a cidade, prometendo voltar logo, rumo a 
Macedônia (2 Co 1.15,16).
5. Paulo achou melhor não voltar tão cedo a Corinto. Para 
poupar os crentes, escreveu-lhes “no meio de muitos sofri­
mentos e angústias de coração” (2 Co 2.1-4,9).
6. Paulo mandou essa carta aos coríntios através de Tito, e 
ficou esperando notícias (2.12).
7. A igreja em Corinto aceitou os conselhos dados na carta de 
Paulo, arrependeu-se e castigou o membro que tinha chefi­
ado a resistência ao apóstolo (7.5-16; 2.5-8).
8. Paulo deixou Éfeso rumo a Macedônia, detendo-se em 
Troas para pregar, na expectativa de se encontrar lá com 
Tito (At 20.1-3; 2 Co 2.12).
9. Paulo entristeceu-se porque Tito não estava em Troas, 
então dirigiu-se a Macedônia e lá se encontraram.
1 5 2 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
10. Paulo se alegrou sobremaneira com o relatório trazido por 
Tito. Escreveu logo 2 Coríntios para animar os crentes, 
esclarecer qualquer mal-entendido nas suas relações e pre­
parar o terreno para sua terceira visita (12.14:13.1).
A segunda visita de Paulo foi difícil e de pouco êxito por 
causa de alguns “falsos apóstolos, obreiros fraudulentos” 
(1 1.13) que tinham visitado Corinto. Esses tinham atacado a 
credibilidade de Paulo, bem como seu ministério e apostolado. 
Os falsos apóstolos tinham chamado Paulo de covarde ( 10.10), 
observando que ele não portava cartas de recomendação das 
igrejas (3.1) e que se comportava conforme critérios munda­
nos (10.1). Esses obreiros fraudulentos também quiseram insi­
nuar que o apóstolo Paulo procedeu desonestamente com rela­
ção à distribuição dos bens aos crentes na Judéia (8.20-23). 
Esse grupo consistia em crentes judaicos que. como os prega­
dores judaizantes da Galácia, quiseram pregar um "evangelho 
diferente” ( 1 1.3.4: G1 1.6-9). Esses falsos apóstolos não tenta­
ram obrigar os gentios crentes a se circuncidarem, mas quise­
ram dominá-los, usando de uma autoridade mais severa que a 
do próprio apóstolo Paulo.
Mas Paulo não ia abandonar a causa divina; estava disposto a 
defender o bem-estar espiritual dos seus filhos na fé. Apesar da 
rejeição que esses lhe mostraram por ocasião da sua visita, ele 
ainda podia escrever-lhes uma carta (2.4). Naquela época, as 
cartas eram mandadas pelos amigos, pois não havia serviço de 
correio como em nossos dias. Paulo enviou essa carta por Tito, 
um obreiro treinado por ele. e Deus o usou para produzir o efeito 
desejado.
Paulo, muito animado pelos resultados, escreveu mais uma 
vez aos coríntios, a fim de prepará-los para sua terceira visita. Ele 
usou de várias técnicas de aproximação: consolo, animação e a 
sua autodefesa às acusações dos falsos apóstolos. Essa defesa 
“violenta” e emocionante se encontra essencialmente nos capítu­
los 10, 11 e 12 dessa epístola.
O Ministério de Consolação 153
3. Tema e conteúdo
O tema principal de 2 Coríntios é o ministério cristão. Encon­
tramos também nessa carta outros assuntos importantes, como 
por exemplo, a vida após a morte, consolo, reconciliação, contri­
buições e outras referências aos problemas em Corinto. É, possi­
velmente, a mais íntima das epístolas de Paulo. Relata bastante as 
suas experiências; mesmo contendo importantes doutrinas, é mais 
pessoal que doutrinária. O apóstolo nos desvenda o seu ministério 
cristão através dos gentios, deixando transbordar os seus mais 
íntimos sentimentos ao defender sua autoridade espiritual, ape­
lando para os crentes em Corinto.
4. O ministério cristão
2 C o r ín t io s
Descrição do ministério
O ministério da contribuição
Defesa do ministério de Paulo
5. Estilo literário
Vemos nas inspiradas Escrituras, uma colaboração entre o 
Espírito Santo e o espírito humano dos escritores. O Espírito 
Santo inspirou o que foi escrito, mas utilizou a personalidade, 
experiência, sentimentos e conhecimento dos escritores individu­
ais. Percebemos isso claramente na humanidade de Paulo, em sua 
reação às críticas dos seus inimigos. A força de expressão empre­
gada pelo apóstolo nos lembra que os membros da Igreja Primiti­
va eram “vasos de barro” (4.7) e “homens semelhantes a nós” (Tg
5 .17). A epístola é intensamente pessoal, bem íntima e altamente 
emotiva, revelando-nos bastante acerca do seu autor.
Esta carta está cheia de contrastes. Notamos alternadamente o 
vale do desespero e os picos da alegria. Ao denunciar seus inimi­
gos e abrir seu coração aos coríntios, Paulo corre do gama emotivo 
da ternura à agressividade. As rápidas mudanças de mágoa à
1 - 7
8 - 9
1 0 - 1 3
alegria, de morte à vida e da força à fraqueza dificultam a análise 
da epístola.
E s t il o
Pessoal, íntimo 
Altamente emotivo 
Revelador do autor 
Estrutura desigual 
Cheio de contrastes 
Exorta e apela 
Manso e agressivo 
Prático e doutrinário 
Autodefesa
Relacionado com a experiência
A maioria das cartas de Paulo apresenta verdades doutrinais e 
a aplicação delas. 1 Coríntios é estruturado conforme a análise 
dos problemas coríntios, um por um, com a respectiva apresenta­
ção da sua solução bíblica. 2 Coríntios é mais vago na sua estru­
tura, pois Paulo oscila entre sua experiência pessoal, a doutrina 
divina, as condições em Corinto e seus planos para o futuro. Há 
uma certa modificação estilística entre o segmento dos capítulos
1 —9 e 10— 13. cujo fato leva alguns estudiosos a perguntarem, 
se talvez fossem duas cartas inicialmente separadas e depois 
reunidas; disso, porém, não há nenhuma evidência.
Nessa carta sentimos as flutuações emotivas do apóstolo: sua 
angústia em face ao caos criado pelos falsos mestres e seu intenso 
amor pelos crentes em Corinto. A seriedade das condições locais 
e as tribulações que Paulo experimentara na Ásia Menor levaram- 
no ao ponto de desesperar até da própria vida (1.8-9). Mas isso, 
por sua vez, conduz às esperançosas palavras sobre a vida após a 
morte (4.10 — 5.10). A majestosa declaração acercada reconcilia­
ção (capítulo 5) revela o magoado coração do apóstolo, ansiando 
pela reconciliação pessoal com seus queridos coríntios. Percebe- 
se por toda epístola um fio de esperança e consolação.
154 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
O Ministério de Consolação 1 5 5
Nos últimos quatro capítulos (10— 13), Paulo emprega muitos 
argumentos convincentes para provar a autenticidade da sua divi­
na chamada, a profundidade do seu amor pelos crentes coríntios e 
a realidade do seu sofrimento em prol do Evangelho. Paulo é um 
advogado talentoso na argumentação de causas e doutrinas. Aqui, 
contudo, defende a si mesmo e ao seu apostolado em vez de 
argumentar elementos do Evangelho. Ao dirigir-se aos seus ri­
vais, mostra-se agressivo e veemente. Ao falar com os crentes, 
porém, apela com a “mansidão e benignidade” (10.1,2; 12.14-19), 
preparando-os para a sua visita.
I I I - N a t u r e z a e O r ig e m d a C o n s o l a ç ã o 
(1.1-7)
Consolo - (do latim — “fortalecer grandemente”) apoio que 
fortalece; alegar em momentos de luto e tribulação.
As palavras consolo, consolação, consolar e suas formas relaci­
onadas aparecem nove vezes em 2 Coríntios 1.3-7; por isso precisa­
mos entender claramente o seu significado. Paulo usa a palavra 
grega parakaleo, que é muito expressiva; é composta dos elemen­
tos para “ao lado de”, “ao pé de”, ekaleo “chamar”. Assim, 
significa literalmente “chamar ao pé de si” . Leva também o signifi­
cado da função da pessoa chamada, ou seja, “consolar”. O substan­
tivo paraklesis significa “consolação”, “exortação”, e a pessoa 
chamada ou invocada nesse contexto é o parakletos ou “consolador”, 
"advogado”, “conselheiro”. Foi essa palavra empregada por Jesus 
referente ao Espírito Santo. Ele é nosso parakletos celestial, que 
nos socorre quando o invocamos e habita em nós para nos fortale­
cer, aconselhar e animar no caminho do bem. Ele nos consola na 
tristeza, dá alegria e infunde coragem. Já que vive em nós, quer 
também agir por nosso meio, proporcionando a outros o mesmo 
consolo que temos recebido dEle (Jo 14.16,17,26; 2 Co 1.3-5). Um 
lindo exemplo disso é a ocasião em que Paulo animava aos passa­
geiros e marinheiros durante a tempestade, consolando-os com o 
conforto que tinha recebido do anjo do Senhor (At 27.21-26).
1 5 6 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Parakaleo — “chamar ao pé de si"
Parakalesis — “conforto, consolação, exortação"
Parakletos — “advogado, consolador"
Consolar, pois, é mais que dar os pêsames a uma pessoa enluta- 
da: implica também em fortalecer e apoiar os outros com palavras 
ao mesmo tempo lógicas e simpatizantes, estando ao lado deles nos 
momentos de provação. Podemos identificar a fonte da nossa con­
solação de misericórdia: “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus 
Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação” (1 Co 
1.3). Ele está sempre ao nosso lado para nos fortalecer.
1. Consolação necessária e outorgada
Como é maravilhoso o ministério da consolação — fortalecer 
e animar àqueles que estão sofrendo! Como é necessário esse 
ministério! Mas ele só pode nascer do nosso próprio sofrimento e 
da nossa recepção pessoal da consolação de Deus. Vemos Paulo 
bem no meio desse processo, mostrando nas suas reações, toda a 
sua humanidade. Mas ali encontra a graça e a paz dessa bênção 
para outros sofredores (1.3).
2. No sofrimento e perigo
Paulo não especifica a natureza das tribulações por ele sofridas. 
Talvez incluíssem doenças, ataques à sua vida e o motim de Éfeso. 
Veja também 2 Co 11.23-29. Deus tinha feito maravilhas por toda 
aquela província pelo ministério de Paulo. Todos tinham ouvido o 
Evangelho e presenciado o milagroso poder das Boas Novas (At 
19.8-12). Mas sempre que Deus usa grandemente uma pessoa, 
Satanás ataca o seu trabalho e ministério. As grandes oportunida­
des e a oposição vão sempre de mão dadas (1 Co 16.9).
O sofrimento de Paulo ultrapassou as dificuldades físicas 
(naufrágios, prisões, açoites, apedrejamento etc.), suportadas com 
tanta coragem. Ele parece sobrecarregado de preocupações pelo 
bem-estar e segurança das igrejas, e confessa: "Em tudo fomos
O Ministério de Consolação 15 7
atribulados, lutas por fora, temores por dentro” (2 Co 7.5). Ele e 
seus companheiros sentiam intimamente “a sentença de morte" 
(1.9). O diabo estava tentando destruir as igrejas por meio da 
perseguição e das falsas doutrinas. Seria em vão o labor do 
grande apóstolo? Valeu o sofrimento passado?
Você alguma vez se sentiu assim? O sofrimento físico, o 
aborrecimento constante e o perigo iminente nos afetam no espí­
rito e nas emoções. Algumas pessoas ficam amarguradas e res­
sentidas em relação a Deus. Outras aproximam-se mais e mais 
dEle, como conseqüência das aflições. Como devemos agir quan­
do pressionados “acima das nossas forças” (1.8)? O que fazer 
quando falta todo apoio humano? Leia a resposta no Salmo 42. 
Onde o Salmista diz: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus 
vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? (v. 
2). Ele manda à sua alma: “Espera em Deus” (v. 5). E Paulo fez 
assim. Sentiu o apoio das orações dos outros irmãos em seu favor 
e depositou toda a sua confiança “em Deus que ressuscitou dos 
mortos” (2 Co 1.9-11).
Geralmente, Deus nos ajuda a solucionar nossos problemas, 
vencer as tentações por meio da coragem, dos conselhos, do bom 
senso, apoio e das orações dos nossos irmãos em Cristo. Às 
vezes, entretanto, tudo e todos parecem falhar. Nesses momentos, 
precisamos confiar exclusivamente em Deus.
Por que estás abatida, ó minha alma?
Por que te perturbas dentro em mim?
Espera em Deus, pois ainda o louvarei,
Meu Salvador e Deus meu (SI 42.5).
3. Nas acusações e mal-entendidos
Uma das piores ações humanas é conferir, por motivos erra­
dos, às pessoas e ao seu procedimento, nossa atribulação. É fácil 
fazermos assim quando não gostamos de um determinado indiví­
duo. Se mantivermos uma atitude crítica, tudo que aquela pessoa
1 5 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
faz parece mal feito ou feio por motivos errados. Ou nós mesmos 
podemos ser assim acusados, como aconteceu no caso de Paulo. 
Os seus inimigos criticavam toda a ação dele, ao tentarem usurpar 
a sua função e posição entre as igrejas.
Alguns dos crentes coríntios já criticaram a pregação direta e 
simples do apóstolo Paulo. Eles adoravam a filosofia e a eloqüên­
cia. Paulo preferia pregar ao nível de entendimento do povo, para 
que a fé dos crentes fosse fundamentada no poder de Deus e não 
na sabedoria de Paulo (1 Co 2.1-5). Ele salienta agora que não 
agiu conforme a sabedoria mundana, mas de acordo com a graça 
de Deus. Mesmo assim, os coríntios parecem não entender o que 
ele diz. Ele continua, pois, tentando esclarecer o assunto. O fato 
de Paulo mudar os planos da sua viagem, parece haver motivado 
novas acusações: “Vocês não podem depender dele porque ele 
não cumpre as promessas. Não é sincero. E covarde e tem medo 
de voltar. E não se comporta devidamente”, teriam dito alguns.
As promessas a presença de Deus constituem nosso sustento e 
consolo principal em momentos de aflição. Deus disse: "De ma­
neira alguma te deixarei, nunca, jamais te abandonarei” (Hb 
13.5). Será que conseguimos apreciar plenamente o significado 
do “Emanuel" — Deus conosco? É provável que não, pelo menos 
até chegarmos à Cidade Santa, à Nova Jerusalém (Ap 21.2). Mas 
Deus está conosco agora. Não somente existe, mas também se 
revela a nós como o Deus cie toda consolação, aquEle que nos 
fortalece e sustenta.
Deus estava presente, revelando-se a Abraão, Moisés, Elias, 
Isaías e muitos outros santos do Antigo Testamento. O verbo 
ressurreto e exaltado à destra de Deus Pai. mandou o Consolador 
(Paracleto), “a fim de que esteja para sempre” conosco (Jo 14.16). 
Estava com Paulo quando esse sofria as falsas acusações dos 
supostos apóstolos em Corinto e está conosco agora. Deus está 
agindo em nossos dias! Ele atua conforme seu próprio plano 
eterno (Ef 3.11) e em resposta à nossa necessidade, à sinceridade 
e à fé com que o invocamos. Ele é o Deus que cumpre as suas 
promessas por meio de Jesus Cristo (2 Co 1.20). Um dos grandes
O Ministério de Consolação ] J9
milagres do Cristianismo é que Deus responde ao rogo da huma­
nidade e nos infunde força e coragem quando estamos sobrema­
neira atribulados. A presença do nosso Deus transforma e liberta.
4. Nas relações difíceis
O capítulo 2 relata dois casos de relações difíceis em que era 
necessário uma infusão de consolo. Os versículos 1-4 falam da 
mágoa do apóstolo Paulo após a sua visita penosa aos coríntios 
(2.1). Ele não queria prolongar aquele tipo de relacionamento, e 
fala da tristeza da igreja inteira e do irmão que pecara e estava 
sendo castigado pela congregação.
Veja nos versículos 1-4 as palavras de reconciliação que Pau­
lo oferece aos crentes coríntios Ele se refere a uma carta dura que 
lhes mandou em mãos de Tito. Teria sido bem mais fácil para 
Paulo abandonar os coríntios à sua própria sorte e dedicar a sua 
atenção a outras igrejas. Mas ele os amou, e não podia deixá-los 
abandonados ao erro. Ele os colocou frente a frente com o seu 
problema e pecado, mas não agiu de forma vingativa, e sim com 
amor e com lágrimas. Essa sua expressão de amor e confiança, 
junto a exortação dada, incentivou os coríntios a confessarem, 
contritos, a sua falta.
Os versículos 5-11são de interesse e desafio. Não sabemos 
bem quem pecou e agora recebia perdão e consolo. Uns poucos 
estudiosos acham que foi aquele incestuoso de 1 Coríntios 5.1-5, 
mas a maioria acha que foi outro indivíduo. Qual teria sido o 
pecado desse?
2 Coríntios 2.5 parece indicar que o pecado foi cometido contra 
Paulo e contra a igreja. Seria o pecador um dos falsos apóstolos de
2 Coríntios 11.13? Talvez fosse um forasteiro metido na congrega­
ção que insultava Paulo e desafiava a autoridade dele, ganhando 
para si uns seguidores. Fosse como fosse, ele acabou castigado pela 
igreja, fato que lhe magoou grandemente. Embora saibamos muito 
pouco sobre o pecador e seu pecado, percebemos ao menos o 
seguinte: Ele havia caído num pecado bem grave. Tinha ofendido a
160 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
igreja e fora castigado. A disciplina surtira efeito, e agora, chegara 
o momento de restauração e reconciliação. É Paulo quem chama a 
igreja para perdoar e consolar o irmão caído.
No seu gesto de perdoar o pecador e convidar a igreja a 
perdoá-lo da mesma forma, Paulo aplicava o princípio que ele 
mesmo tinha ensinado em 1 Coríntios 13.
5. De Deus -> para você-> aos outros
Amor Amor
Perdão Perdão
Consolo Consolo______________________________
O amor, o perdão e o consolo devem ter caráter vertical (de 
Deus para nós) e horizontal (de nós para os outros).
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque a caridade é de 
Deus” (1 Jo 4.7; leia também 4.19-21). Não podemos compartir 
aquilo que não possuímos. “Amamos porque Ele nos amou pri­
meiro” . Ninguém pode ensinar o que não aprendeu. Paulo diz: 
"Recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Co 11.23).
Já vimos que o verbo parakaleo “consolar” , significava “es­
tar ao lado de alguém, apoiando e às vezes animando”, isso inclui 
o perdão. O pecador, em Corinto, precisava de consolação, per­
dão e amor. Estava realmente magoado e arrependido. É esse o 
propósito da verdadeira disciplina, seja no lar ou na igreja — 
conduzir ao arrependimento.
Alcançando o arrependimento do culpado em Corinto, com­
petia a igreja perdoá-lo, tanto por causa da congregação como por 
causa do pecador. Ao perdão, segue-se a restauração. Satanás é 
esperto e gosta de explorar algo bom como a disciplina ou o 
arrependimento, tomando-o em coisa ruim. Quando não se prati­
ca o perdão e a restauração, Satanás pode desanimar o pecador 
arrependido, levando-o ao desalento e ao ressentimento. Isso 
tomaria nulo o propósito da disciplina e inútil o arrependimento.
O Ministério de Consolação 161
I V - R e s o l u ç ã o d o s P r o b l e m a s c o m A m o r
1. Encarar o problema
2. Comunicação com amor
3. Disciplina, se preciso
4. Arrependimento expressado
5. Perdão expressado
6. Consolação — o amor assegurado
7. Restauração completa
Resultados: alegria, mais amor, triunfo de Cristo e em Cristo
2 Co 2.1-1 1, 14.
Na igreja, no lar e onde quer que estejamos — "Antes sede 
uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando- 
vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” 
(Ef 4.32). As vezes é difícil perdoar, mas devemos nos lembrar de 
que é pecado recusarmos o perdão quando o ofensor está genuina­
mente arrependido.
1. Nas preocupações e contratempos
O versículo 12 prossegue com a apresentação da necessidade 
do próprio apóstolo Paulo. Ele tinha ido de Éfeso a Troas (uns 
duzentos quilômetros) pregar, enquanto viajava para a Macedônia. 
Paulo esperava encontrar-se com Tito em Troas, mas ficou desa­
pontado porque ele não estava lá. Mesmo com uma boa “porta 
aberta" em Troas, Paulo não estava tranqüilo. O que podemos 
fazer em momentos assim?
Em primeiro lugar, não devemos perder a esperança. A ação 
também pode nos ajudar. Paulo fez o que pode para resolver o seu 
problema. Continuou viagem a Macedônia em busca de Tito e 
para visitar as igrejas conforme seu plano original. Deu graças a 
Deus por sua fidelidade e vitória.
/ 62 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Finalmente, vem a consolação ao nos submetermos integral­
mente à vontade de Deus, seja na vida ou na morte, confiantes em 
que Cristo está nos guiando e a sua divina causa prevalecerá. Em
2.14-16, Paulo compara isso a procissão triunfal de um general 
romano. Veja 1 Coríntios 4.9 e os comentários sobre esse trecho 
no seu livro, onde é relatado que alguns presos sobreviveriam 
para serem escravos e outros morreriam na arena. O incenso da 
procissão simbolizava vida para uns e morte para outros. Paulo se 
considerava cativo (escravo) de Cristo, que é o vencedor Todo- 
Poderoso. Mas agora servia com alegria no exército do Mestre. A 
pregação do Evangelho trazia a muitos o perfume da vida, mas 
àqueles que o rejeitavam, era o cheiro do julgamento e da morte. 
A batalha é sempre árdua (2.16), mas o nosso Deus concede a 
vitória. Vamos agir como “enviados de Deus” e prosseguir à 
vitória!
A consolação de Paulo foi completa, quando encontrou Tito e 
recebeu as boas notícias acerca do amor dos coríntios. Leia 7 .14- 
16 e sublinhe as palavras que expressam a sua alegria. O “Deus de 
toda consolação” transformou os temores internos de Paulo numa 
alegria bem maior!
12
0 Ministério 
de Luz e Glória
I - I n t r o d u ç ã o
Que belas palavras de ânimo e consolação encontramos nos 
capítulos 3 — 5 de 2 Coríntios! Paulo, em meio aos seus proble­
mas e tribulações ou desfrutando alegria das orações respondidas, 
regozijava-se na glória do ministério que Deus lhe ordenou. Que 
contraste ele nos mostra: a nossa fraqueza (somos “vasos de 
barro") e o supremo poder de Deus, nosso tesouro!
Nesses capítulos, Paulo salienta a glória e a luz. Ele nos diz que 
Deus, eterna fonte de luz, “resplandeceu em nossos corações, para 
iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo”
(4.6). Antes de conhecermos a Jesus, a luz do mundo, andávamos 
nas trevas e não sabíamos aonde ir (Jo 12.35). Mas agora, caminha­
mos na luz da sua verdade, rumo ao céu. Por onde andarmos, 
devemos refletir a luz dEle. No mundo em que pregamos, sejamos 
condutores da luz e da glória de Cristo aos nossos semelhantes.
II - V id a s d e L u z e G u ó r i a (2 .17—3.3)
Jesus disse a seus discípulos: “Sois a luz do mundo”. Eles 
deveriam deixar brilhar a sua luz diante dos homens, para que
/ 6 4 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
esses vissem as suas boas obras e glorificassem ao Pai celestial 
(Mt 5.14-16). É esse o padrão de vida para todos que aceitam 
Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Deixar a luz brilhar 
refere-se a muitas coisas, inclusive ao auxílio dos necessitados 
por amor de Cristo em tudo que fizermos ou dissermos, até 
mesmo naquilo que pensamos no nosso íntimo.
1. Cartas vivas de Cristo
Leia 1 Coríntios 2 — 9 com 2 Coríntios 2 .17 —3.3, onde Paulo 
focaliza a vida transformada dos crentes; essa transformação foi 
uma prova da veracidade do Evangelho que Paulo pregava e da 
autenticidade do seu chamado divino. Aquilo que os crentes 
diziam acerca de Paulo e seu ministério constituía prova convin­
cente da veracidade do seu Evangelho e do seu apostolado. Pare­
ce que os crentes coríntios realmente estavam “deixando brilhar” 
a sua luz, praticando boas obras de uma maneira agradável a Deus 
e servindo aos outros. Costumamos enfocar os problemas na 
igreja dos coríntios, esquecendo-nos, talvez, das vidas transfor­
madas e do bom testemunho da maioria dos membros daquela 
congregação. Paulo, porém, agradecia sempre a Deus a vida dos 
crentes fiéis em Corinto (1 Co 1.4).
Contudo, repetidas vezes nessa epístola, Paulo foi forçado a 
defender o seu ministério, porque falsos apóstolos teriam chega­
do em Corinto com cartas de recomendação da igreja em Jerusa­
lém. Armados com essas cartas, passaram a atacar a autoridade de 
Paulo, tentando enfraquecer sua influência entre os coríntios. 
Parece que davam a entender que Paulo não era um verdadeiro 
apóstolo, ou que era bem inferior por não possuir credenciais da 
matriz em Jerusalém. Mas eles mesmos eram "obreiros fraudu­
lentos”,disfarçados de apóstolos de Cristo” (11.13). Tentavam 
esconder sua falta de sinceridade sob as tais cartas de recomenda­
ção". Mas Paulo possuía credenciais melhores — as vidas trans­
formadas dos próprios coríntios.
O Ministério de Luz e Glória 1 6 5
2. Somos cartas vivas 
D e C r i s t o
Escritas pelo Espírito de Deus 
Mensagem de Deus nos nossos corações 
Resultado do ministério
A o MUNDO
Conhecidas e lidas por todos 
Para obreiros no Evangelho
C artas de recom endação 
Para o Evangelho 
Para Cristo
Sentimos confessar que. ainda hoje, há no ministério alguns 
pregadores que “mercadejam a Palavra de Deus”, ou que se 
consideram “profissionais” como qualquer outro. Alguns acredi­
tam ter no ministério uma ótima carreira, na qual podem ganhar 
influência, autoridade, lugar na sociedade e na vida dos fiéis. 
Esses “pseudo-obreiros” costumam guiar-se pelo relativo tama­
nho das igrejas e dos ordenados oferecidos na sua escolha de 
púlpito. Que o Senhor nos guarde e ajude para que nunca chegue­
mos a ser “mercadores da Palavra de Deus” como eles!
Realmente, algumas cartas de recomendação e outras creden­
ciais podem ser úteis no sentido de protegerem congregações do 
"ministério” de falsos apóstolos. Certos indivíduos desonestos 
circulam sempre entre as igrejas, pedindo ofertas sob pretexto 
falso e assim se mantendo financeiramente. Por isso, deve haver 
sempre algum tipo de controle. As credenciais mais poderosas 
são as vidas transformadas e cheias do Espírito Santo que com­
provam a autenticidade do Evangelho que os crentes comparti­
lham, pregam e ensinam.
1 6 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
III - H a b i l i d a d e d o E s p í r i t o S a n t o (3.4-8)
Ao falar dos resultados do seu ministério, Paulo não quis que 
os coríntios pensassem que ele estava se gabando de grandezas 
atingidas. Em 2.14, ele menciona como a “fragrância do conheci­
mento” de Cristo se espalha por toda parte, mediante a vida e 
atuação dos crentes. As vezes, nos perguntamos como ele mesmo 
se perguntou: “E, para essas coisas, quem é idôneo? (2.16). A 
resposta é óbvia: Ninguém é suficiente em si. Paulo e seus com ­
panheiros levaram a mensagem do Evangelho a novas regiões 
nunca antes evangelizadas, treinaram novos obreiros, doutrina­
ram as congregações recém-estabelecidas e após pregarem e 
evangelizarem sistematicamente uma província, foram a outra 
para repetir o processo. Eles eram de uma sinceridade exemplar 
perante todos os ministros enviados por Deus (2.17). Foram obrei­
ros excelentes e capacitados em tudo! Mas apesar disso, Paulo 
nos diz que o seu ministério foi bem-sucedido somente porque 
Deus, pelo seu Espírito Santo, capacitara-o para tanto (3.5,6).
Ainda que Paulo defendesse fortemente o seu ministério, 
não tinha pretensões sobre a sua autoridade entre os coríntios; 
nunca exigiu deles uma obediência cega e unilateral. Ao con­
trário, ele se apresenta como o pai espiritual deles e seu servo 
(1 Co 4 .15;2 Co 4.5).
No Novo Testamento, os conceitos de ministrar e de servir 
são quase idênticos. Ministrar significa servir, inclusive à mesa; 
o ministro é um servo, mas pode servir a Deus e aos seus seme­
lhantes na igreja sem poder nem zelo. No trecho bíblico acima, os 
versículos 3,5,6 e 8 nos mostram que o ministério de luz e glória 
se desenvolve pelo poder do Espírito Santo.
1. Ministro = servo
Ser servo implica em trabalho duro. Durante sua estada em 
Corinto, por um período de 18 meses, Paulo trabalhava com as 
mãos para se sustentar, pregava e ensinava a Palavra de Deus (At
O Ministério de Luz e Glória 1 6 7
18.5-8,11). Ali, como em tantos outros lugares, o apóstolo serviu 
a Deus de todo coração. Como resultado, aconteceram coisas 
maravilhosas. O Espírito Santo sustentou Paulo, o qual testemu­
nhou: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13).
IV - A l i a n ç a s d e L u z e G l ó r i a (3.9-16)
No versículo 6, Paulo nos conduz a um importante aspecto do 
seu ministério (e do nosso). Somos ministros da Nova Aliança. A 
palavra kainos, traduzida como “nova” nesse trecho, também 
significa “diferente e superior”.
Aliança: Convênio solene e formal entre duas ou mais pessoas 
ou grupos, visando especialmente à realização de alguma ação. A 
promessa de Deus no sentido de abençoar àqueles que lhe obede­
cem ou satisfazem certas condições.
Está claro aqui, que Paulo contrasta a Antiga Aliança com a 
Nova, mostrando-nos as alianças da lei e da graça (veja Jo 1.17). 
Quando ele diz que “a letra mata”, refere-se à Lei Mosaica dada à 
nação de Israel na tábuas de pedra. A Nova Aliança, que concede 
a vida, está escrita pelo Espírito Santo em nossos corações.
Como a letra (Lei Mosaica) matou? Determinou a pena de 
morte para certos atos de desobediência e para aqueles que não 
quiseram obedecer a Deus (Êx 21.12-17; 22.18-20). Foi uma 
morte física e literal. Mostrava os deveres do povo, mas não podia 
capacitar as pessoas a cumprirem ou satisfazerem às leis que 
continha. Exigia a obediência e certas regras, sem difundir a força 
moral para tanto. Mesmo assim, a Lei Mosaica era boa e servia a 
determinado fim.
1. A glória da Antiga Aliança
Sua origem: Termos determinados por Deus, escritos pelo 
dedo de Deus, dados em resplendor.
Sua revelação: De Deus, sua natureza e vontade; do pecado e 
seus resultados.
1 6 8 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Sua orientação para o viver: Por mandamentos e proibições, 
Por justas leis para governos; no sacerdócio e na adoração.
Suas promessas: Individuais e nacionais; físicas, materiais e 
espirituais.
Sua autoridade: A Palavra de Deus, autoridade absoluta. Obe­
decer = Vida; Desobedecer = Morte.
1.1. Sua providência relativa à salvação
Convencer as pessoas do pecado. Apontar para um Redentor 
(Salvador). Perdão pelos sacrifícios. Deus ouve o arrependido. 
Salvação mediante a fé em Deus.
Paulo reafirma três vezes em 2 Coríntios 3.9-1 I que a lei foi 
gloriosa. Ainda que bem severa, foi concedida por Deus e “teve 
sua glória". Quando Moisés subiu o monte Sinai para se encontrar 
com Deus e receber a Lei, houve trovão, relâmpago e vapor 
espesso, ouviu-se também o som da trombeta. "A glória do Se­
nhor pousou sobre o monte Sinai” (Éx 24.16).
Chamamos a lei do Antigo Testamento de "Lei Mosaica” ; mas 
na época, foi realmente a lei de Deus para o seu povo. Um Deus tão 
santo e glorioso não daria senão uma lei santa e gloriosa! Paulo nos 
diz que essa lei foi santa e justa, boa e espiritual (Rm 7.12,14). O 
homem pecador, porém, é justamente o contrário disso. Ao encarar 
a lei, o homem pode reconhecer o seu pecado e perceber a necessi­
dade de um Salvador. Gálatas 3.24 explica de forma eloqüente essa 
função da lei: "a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a 
fim de que fôssemos justificados por fé” . O sedento procura água. 
O doente pede o médico. E as almas condenadas pela lei buscam 
perdão. A nossa parte é conduzi-las ao Salvador.
O mandamento não podia salvar ninguém, mas Deus, na sua 
misericórdia, providenciou um sistema sacrificial para remissão 
de pecados. Ele aceitava provisoriamente a morte de animais 
como substituto pela morte dos pecadores. Foi somente uma 
maneira de assinalar o futuro sacrifício definido e abrangente do 
seu Filho, Jesus Cristo, o qual seria a base da salvação para todos
O Ministério de Luz e Glória 1 6 9
os povos de todas as épocas. Quando as pessoas se arrependem de 
seus pecados. Deus as salva pela sua graça (e não em conseqüên­
cia da sua obediência à lei).
A lei trouxe iluminação espiritual e moral para os indivíduos e 
para a nação. O salmo 119 constitui um hino de louvor a Deus por 
sua Palavra e Lei. Quase todos os 176 versículos desse salmo 
expressam profundo agradecimento a Deus pelos seus manda­
mentos. As vidas orientadas pela Lei eram grandemente abenço­
adas, e quando as nações honravam e acatavam a lei de Deus, elas 
prosperavam. Os indivíduos e nações que se rebelavam contra 
Deus e sua lei sofriam conseqüências funestas. Os Dez Manda­
mentostêm servido de base para a constituição nacional de mui­
tos países. Seus princípios morais e sociais fornecem excelentes 
diretrizes para o bom governo e as boas relações humanas.
V - A G l ó r i a d a N o v a A l i a n ç a (3.7—4.6)
A Nova Aliança é o convênio no qual Deus promete aceitar 
como seus filhos todos que aceitarem Jesus como seu Senhor e 
Salvador. O Novo Testamento nos conta as bênçãos da Nova 
Aliança. Em 2 Coríntios 3 .7—4.6 vemos como ela difere da 
Antiga Aliança.
Uma das características mais importantes da Nova Aliança é a 
sua permanência. O velho convênio esmoreceu, cedendo lugar a 
algo mais glorioso. O versículo 10 diz que já foi glorificado. Veja 
a interessante ilustração no versículo 13. Quando Deus falava 
com Moisés, o rosto dele resplandecia, refletindo a glória do 
Senhor. Então Moisés cobriu o seu rosto, e o povo não conseguiu 
ver esmorecer a glória. Esse esmorecimento da glória foi o retrato 
da Lei que reflete a glória de Deus. Mas hoje temos uma luz do 
conhecimento da glória de Deus, na face bem mais gloriosa de 
Cristo. Uma lâmpada elétrica dá mais luz que cem velas.
Quando há luz elétrica, o que devemos fazer com as velas? 
Soprá-las, pois são desnecessárias: Jesus, a luz do mundo, já veio 
— a Palavra viva (o Verbo) de Deus — trazendo-nos a Nova
1 7 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Aliança do Evangelho. Vemos no livro de hebreus, um eloqüente 
tratado acerca da sua superioridade à Lei Mosaica.
Lucas 2.9 diz que a “glória do Senhor brilhou ao redor deles'’. 
A glória da Nova Aliança brilha e ilumina, ao passo que na 
Antiga Aliança já esmoreceu. O indivíduo que lè e estuda a 
Antiga Aliança sem conhecer e aceitar a Nova tem no seu coração 
e mente uma espécie de véu (2 Co 3.14-16). Em contraste, o 
Senhor tira o véu! O ministério da Nova Aliança deveria “decla­
rar a verdade?” Não cabe aqui o ocultismo, a decepção nem a 
falsificação da Palavra de Deus (4.2).
Mesmo que Satanás possa retardar a obra de Deus, Jesus 
continua sendo a luz do mundo. Seus ensinamentos e a presença 
do seu Espírito em nós iluminam a nossa mente e o nosso 
coração. A Nova Aliança é salvação mediante a fé em Cristo — 
uma nova vida agora e uma vida eterna na glória para aqueles 
que o aceitarem como Senhor e Salvador. Sua Palavra no Novo 
Testamento diz o que devemos fazer. Seu Espírito a escreve em 
nossos corações e nos dá vontade de cumpri-la, em vez de nos 
rebelarmos contra o mandamento; também nos capacita a reali­
zar o que Deus nos manda fazer. A Nova Aliança e o Evangelho 
da glória de Cristo iluminam e reconciliam o pecador arrependi­
do a Deus (4.4-6).
1. Refletindo a glória do Senhor
Ao ver a palavra glória, a maioria dos cristãos pensa em Deus 
ou em céu. Mas tocados pela glória — cheios da luz de Deus, 
refletindo a sua bondade, amor e poder — quando seu Espírito 
habita em nós. Da mesma forma, como a glória do Senhor transfor­
mou o rosto de Moisés e o fez brilhar, assim também transforma os 
crentes atualmente. Devemos ser “conformados à imagem do seu 
Filho”. Somos chamados e justificados, e “aos que justificou, a 
esses também glorificou” (Rm 8.29,30). Com rostos descobertos, 
sem véu, somos transformados para “refletir a glória do Senhor” (2 
Co 3.18). A palavra aqui traduzida, “refletir", também significa
O Ministério de Luz e Glória 1 7 1
“contemplar, presenciar, olhar para”. Ao permanecermos na pre­
sença de Deus, contemplando a sua glória, começamos a refleti-la.
O Espírito Santo opera em nós essa transformação, para nos 
tornar mais semelhantes a Cristo. É essa a razão por que Cristo 
nos chama e justifica (Rm 8.30). A locução “c/é- glória em glória ” 
mostra que é um processo gradativo. Somente por ocasião da 
volta de Cristo, chegaremos a ser semelhantes a Ele (1 Jo 3.2,3). 
A transformação já se iniciou e será completada na vinda de 
Jesus. Romanos 8.29,30 nos faz entender que isso sempre foi da 
vontade de Deus.
VI - O M i n i s t é r i o d a G r a ç a d e D e u s (4.1-14)
O capítulo 4 de 2 Coríntios nos mostra certos aspectos do 
ministério cristão. É um ministério de pregação (4 .1 -6), de sofri­
mento (4.7-13) e que traz um grande galardão (4.14-18).
1. O ministério da pregação
C o m o p r e g a r o E v a n g e l h o
Contar as coisas como são
Viver o Evangelho plenamente
Pregar a Cristo na sua plenitude________________
Você há de concordar comigo que os versículos 1 e 6 dão a 
chave do capítulo 4 de 2 Coríntios. Tomados em conjunto, nos 
ensinam que o nosso propósito na pregação é iluminar vidas com 
o conhecimento da glória de Deus. Isso implica em pregação 
certa e uma vida irrepreensível. Paulo diz em 4.2: “Nos recomen­
damos à consciência de todo homem, na presença de Deus” . Que 
declaração! Ela significa que nossas vidas dão bom testemunho 
do nosso Senhor e que vivemos aquilo que pregamos.
Você está realmente se esforçando para seguir sempre esse 
modelo? Consegue identificar áreas problemáticas nas quais deve 
apresentar mais claramente a verdade da Bíblia? Penso, por exem-
/ 72 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
pio, nas relações familiares e no problema da pobreza. Você pode 
sugerir muitas outras.
Certa feita, um ouvinte se aproximou do grande pregador inglês 
Charles Spurgeon (no século XIX) e lhe disse: “Seja qual for o seu 
texto inicial, o senhor acaba pregando Cristo”. “É verdade”, res­
pondeu Spurgeon, “É isso mesmo que eu quero fazer” .
A pregação apostólica se resume em 2 Coríntios 4.5: “Prega­
mos a Cristo Jesus como Senhor” . Isso nos lembra as palavras de 
Paulo em 1 Coríntios 2.2: “Decidi nada saber entre vós, senão a 
Jesus Cristo, e esse crucificado”. Pense agora nos grandes prega­
dores do Novo Testamento: Pedro, Filipe, Paulo, Apoio. O livro 
de Atos revela duas coisas: sempre pregaram a Jesus Cristo, e a 
pregação deles produziu bons resultados.
2. O sofrimento à luz da glória
Não gostamos de sofrer. De fato, chegamos às vezes a pergun­
tar por que Deus permite o sofrimento nesse mundo, especial­
mente no caso das crianças, dos velhos desamparados e dos 
crentes fiéis. Há motivos no sofrimento dos filhos de Deus? 
Parece que sim. Paulo nos salienta alguns desses benefícios.
O sofrimento não pegou o apóstolo Paulo de surpresa. Logo 
após a sua conversão, Deus lhe mostrou o quanto teria que sofrer 
por amor ao Senhor (At 9.16). E Jesus disse claramente que 
aqueles que o seguiam teriam que sofrer (Mc 8.34,35). Paulo 
descreve as pressões, perplexidades, perseguições e obstáculos 
que enfrentava. O grande apóstolo padeceu bastante! Nas piores 
circunstâncias, experimentou o poder de Deus que o sustentava e 
infundia-lhe coragem para continuar. Repetidas vezes livrou-se 
da morte em resposta à oração. Essas vitórias trouxeram glória 
para Deus e robusteceram a fé de Paulo e dos outros irmãos. Você 
também se anima ao ouvir tais testemunhos do poder de Deus?
Paulo menciona “esse tesouro em vasos de barro” (4.7). Cristo 
em nós é nosso tesouro e nossa esperança da glória (Cl 1.27). 
Nossos corpos são vasos de barro (Gn 2.7). Nas procissões triun-
O Ministério de Luz e Glória / 73
tais da antigüidade, os preciosos tesouros eram transportados, às 
vezes, em potes de barro para que nossa atenção ficasse centrada 
no tesouro e não no pote. Que os nossos semelhantes possam 
perceber o poder de Deus na nossa fraqueza!
Nem todo sofrimento ou doença glorifica a Deus, mas Ele 
pode até usar tais tragédias para sua glória e para o nosso bem (Jo
I 1.4). Pode ser resultado de uma revelação do seu poder, livran- 
do-nos e dando-nos um novo testemunho. Ou pode ser para 
revelar ao mundo a realidade da sua graça exemplificada na fé 
dos cristãos que sofrem.
Na vida ou na morte, somos de Cristo, Ele morreu por nós e 
ressuscitou dentre os mortos. Estamos dispostos a morrer por Ele, 
sabendo que Ele nos ressuscitará na sua própria vinda (4.10,1 1). 
O grande desejo de Paulo foi ganhar outros para Cristo. As 
tribulações, os sofrimentos e até a morte constituíam para ele um 
preço mínimopara alcançar o alvo da evangelização mundial. A 
vida através da morte é um dos grandes conceitos das Sagradas 
Escrituras. Leia João 12.23-25.
A morte de uma semente dá vida para muitas outras. Um 
pastor ou missionário pode se sacrificar em benefício do seu 
rebanho, e os membros da igreja que contemplam esse exemplo 
experimentam também a vida do Senhor ressurreto e glorioso!
Paulo acreditava firmemente que, apesar das provações, os 
cristãos e as forças do bem triunfariam em Cristo (4.14). Um ano 
após escrever essa carta, Paulo escreveu aos romanos que ne­
nhum poder nos pode separar do amor de Cristo. Leia agora esse 
magnifico trecho (Rm 8.35-39). É baseado na experiência pessoal 
dele e na promessa de Cristo: “ Eis que estou convosco todos os 
dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.30).
O que você sente ao ler romanos 8.35-39? Quantas pessoas 
terão recobrado nova coragem ao lerem esse trecho? A existência 
dessa passagem bíblica valeu os sofrimentos de Paulo?
Você já foi fortalecido espiritualmente em tempos de prova­
ção e sofrimento? Muitas pessoas buscam a face do Senhor ou
] 7 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
renovam a sua consagração a ele em tais momentos. Deus é nosso 
Pai amoroso e não gosta de nos ver sofrer. Mas, às vezes, permite
o sofrimento para que possamos aprender alguma verdade espiri­
tual ou confiar mais nEle (Hb 10.11.12). Jesus continua sendo o 
grande médico que nos cura (Hb 13.8): podemos recorrer a Ele 
nos momentos mais difíceis.
Um motivo de grande consolação para nós nos momentos 
de sofrimento é a nossa firme esperança para o futuro! Algum 
dia iremos trocar esse “vaso de barro” por um corpo imortal; 
não haverá mais dor, nem mal-entendidos ou perseguição! 
Não haverá mais lágrimas, senão o eterno gozo de estarmos 
com Cristo na glória! O sofrimento em nome dEle traz um 
grande galardão no céu. Nosso ministério pode não acarretar 
sofrimentos como os de Paulo; pode consistir simplesmente 
em trabalho bem duro! Mas seja como for, os fiéis servos de 
Deus recebem ajuda constante dEle nessa vida e um glorioso 
galardão no porvir.
Podemos, pois, dar graças e louvores a Deus, venha o que 
vier. Mesmo “desvanecendo” em sentido físico, somos renovados 
interiormente dia após dia! Essa renovação do espírito não produz 
apenas crescimento; inclui também graça e força para prosseguir­
mos no serviço prestado a Deus e ao seu rebanho, mesmo quando 
parece não termos mais energia. Inclui também uma perspectiva 
mais clara da glória do porvir.
2 C o r ín t io s 4.17,18
Sofrimento Galardão
Futuro
Glória
Eterno
Invisível
Eterno
Atual
Dificuldades
Momentâneo
Visível
Temporário
13
0 Ministério 
de Reconciliação
I - I n t r o d u ç ã o
Já estudamos em 2 Coríntios 1 —4, o exemplo que Paulo nos 
dá como ministro eficaz do Evangelho que é a Nova Aliança. As 
palavras que ele oferece aos coríntios continuam ministrando-nos 
consolação, luz e glória. Agora, nos capítulos 5 — 7, contemplare­
mos mais um aspecto do ministério — o nosso ministério de 
reconciliação.
Em termos teológicos, 2 Coríntios 5.17-21 é um dos trechos 
mais significativos das epístolas paulinas. Paulo toca nos temas 
de regeneração, redenção, perdão, evangelismo e justificação. E 
percorrendo toda a passagem, a grande verdade da reconciliação 
baseada na expiação de Cristo.
Quando duas pessoas inimigas (que foram separadas por algu­
ma disputa violenta) fazem as pazes e tornam-se novamente 
amigas, acontece o que chamamos de reconciliação. Veja como 
isso se dá no caso de Deus e dos seres humanos. O homem, criado 
por Deus e habitando um mundo criado por Ele, rebelou-se contra 
o seu Criador. Tomou-se, assim, escravo de Satanás e do pecado, 
tendo agora uma natureza pecaminosa e rebelde que o destrói e o
I 7 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
impede de submeter-se ao governo de Deus. Ele é, efetivamente, 
um inimigo de Deus.
Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Sendo assim, ini­
ciou as negociações visando à paz definitiva. A justiça exige o 
castigo pelos pecados. A reconciliação só se tornaria possível se 
os pecadores abandonassem a sua rebelião. Por isso, Deus man­
dou seu Filho, o Príncipe da Paz, para pagar a “multa” (receber o 
castigo) do nosso pecado e possibilitou a reconciliação do mundo 
com o seu Criador. Agora, Deus nos nomeia embaixadores de 
Cristo; persuadimos as pessoas a aceitarem os termos propostos 
por Deus e ficarem em paz com Ele. Nisso consiste o importante 
ministério da reconciliação.
II - A D o u t r i n a d a R e c o n c i l i a ç ã o (5.1-10)
Já vimos como Jesus Cristo, o “Segundo Adão”, veio restau­
rar para a humanidade tudo aquilo que o primeiro Adão perdeu. 
Uma parte essencial dessa perda foi a paz com Deus, ou seja, a 
comunhão com Ele. A podridão e morte física iniciaram seus 
processos na terra e nas vidas humanas, quando o homem se 
rebelou contra Deus, a fonte de toda a vida e perfeição. Mas um 
dos benefícios da restauração da comunhão com Deus é a vitória 
final sobre a morte.
A reconciliação com Deus subentende a nossa aceitação do 
plano dEle para as nossas vidas, o qual remonta à criação do 
mundo. Pode incluir trabalho e sofrimento agora (como vimos no 
capítulo 4), mas vemos ali adiante um eterno galardão de glória, 
delineado em 1 Coríntios 15.35-58.
Em 2 Coríntios 5.1-10, vemos que o nosso espírito vive em 
uma morada, que é o nosso corpo. Vemos nesses versículos que, 
após a morte, o espírito do indivíduo reconciliado receberá uma 
morada diferente. Qual a diferença entre as moradas terrestre e 
celestial? Em primeiro lugar, notamos que Paulo chama o nosso 
corpo físico de “tabemáculo” (“tenda”), como também Pedro (2 
Pe 1.13). Nosso corpo celestial, por outro lado, é chamado “edifí­
O Ministério de Reconciliação 177
cio, casa não feita por mãos, eterna, nos céus”. Seu espírito viverá 
na sua nova morada, bem como agora habita no seu corpo físico. 
Da mesma forma, uma casa sólida, feita de tijolos ou pedras, é 
superior a uma tenda de lona, também nosso corpo espiritual 
(nossa morada celestial) será muito superior ao nosso corpo a tual! 
(releia a seção “Um corpo perfeito” no capítulo 10).
Veja bem as palavras de Paulo em 5.3,4: “ ... Estando vestidos, 
não formos achados nus... não porque queremos ser despidos...” 
O espírito humano precisa de um corpo para desenvolver alguma 
interação com o seu ambiente e realizar as suas funções. Deus fez 
o corpo de Adão antes de soprardhe o fôlego (espírito) da vida 
(Gn 2.7). Ao morrermos, o nosso espírito e alma irão imediata­
mente à presença do Senhor (5.8). Mas o Senhor tem trabalho 
para nós ao se estabelecer o seu Reino na terra. Teremos que 
funcionar simultaneamente no mundo espiritual, habitado por 
Deus e seus anjos, e aqui na terra. Por isso, quando Jesus voltar 
para levar a sua igreja, os mortos em Cristo e aqueles que ainda 
estiverem vivos receberão corpos glorificados (1 Ts 4.13-18). O 
espírito, antes “vestido” nessa tenda terrestre, vestirá sua “morada 
celestial”. E uma das bênçãos que Deus tem preparado para 
aqueles que o amam (1 Co 2.9).
Em 2 Coríntios 5.5 temos um bom resumo: Deus nos criou para 
“habitarmos com o Senhor” . Jesus prometeu preparar um lugar 
para nós. Ele diz: “Virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, 
para que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14.3). Mas os 
seres humanos, finitos e decaídos, habitam um corpo que é mortal 
e perecível; por isso, não podem morar na presença de um Cristo 
imaculado, infinito e glorificado. O homem precisa ser transforma­
do. Essa mudança se inicia na hora da sua conversão, pois ele nasce 
de novo em termos espirituais e morais. Quando se der o arrebata- 
mento da Igreja, ele recebera seu corpo celestial. A reconciliação já 
preparou seu espírito e a glorificação preparou seu corpo, “e então 
estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4.17).
O fato de que o Espírito Santo habita agora em nós, crentes, é 
uma garantia de que o nosso espírito habitará finalmente um novo
1 7 8Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
corpo — nossa morada celestial (2 Co 5.5). Por enquanto, "anda­
mos por fé e não por vista" (5.7).
Primeiramente, porém, teremos que comparecer “ante o tribu­
nal de Cristo" (2 Co 5.10), onde nossas obras serão julgadas (e 
não as nossas almas). Receberemos um galardão conforme essas 
obras. Faça uma rápida revisão desse assunto na lição 3 e releia 1 
Coríntios 3.11-15.
1. A motivação dos reconciliados
Efésios 2.8-10 constitui um texto-chave das epístolas paulinas. 
Somos salvos pela graça mediante a fé e não pelas obras (8.9). O 
versículo 10, porém, acrescenta que somos “criados em Cristo 
Jesus para as boas obras”. Em outras palavras, não somos salvos 
por nossas obras, mas praticamos boas obras porque somos salvos.
Durante quase vinte séculos da Era Cristã, pouquíssimas pes­
soas têm trabalhado tanto e sacrificado tantas coisas por amor a 
Deus e ao seu Reino como o apóstolo Paulo. Que força o teria 
motivado? Medo ? Ambição? Fama? Desejo de poder? As primei­
ras palavras de 2 Coríntios 5.14 nos dão a resposta: “Pois o amor 
de Cristo nos constrange” .
A idéia central dos versículos 1 I -13 é a preocupação e amor 
que Paulo sente pelos crentes em Corinto. Os falsos apóstolos (2 
Co 1 1.13) questionavam os motivos de Paulo e seu ministério em 
Corinto. Por isso, ele lembra aos coríntios seus bondosos esforços 
em benefício deles, abrindo-lhes o coração (6.3-10), descreven- 
do-lhes os sofrimentos, açoites, labores, fome e noites passadas 
em claro por amor aos coríntios. Paulo padeceu muito para com ­
partilhar as Boas Novas de Cristo com os não-evangelizados. O 
amor de Cristo o constrangia. A maioria jamais experimentará o 
que Paulo passou e nem atingirá o seu amor total, seu zelo 
consumidor e seu intenso sofrimento por Cristo e pelo Evangelho. 
Mas é possível que uns poucos se aflijam, ou tenham sido ator­
mentados ainda mais que ele. Seja como for, uma vez que Cristo 
morreu por todos: “Os que vivem não vivem mais para si mesmo,
O Ministério de Reconciliação ] 79
mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (5.15). Na 
salvação morremos com Cristo e ressuscitamos com Ele (Rm 
6.5). Agora vivemos por Ele, e devemos viver também para Ele.
A reconciliação com Deus traz amor às nossas vidas. Em 
determinada altura, antes da sua conversão, Paulo contemplava 
Jesus Cristo de uma perspectiva mundana, sem reconhecer a sua 
divindade e o propósito da sua vida e morte. Mas após se encon­
trar com o Cristo glorificado no caminho de Damasco, houve uma 
radical transformação na vida dele! De repente, Paulo viu Cristo 
por outro prisma e logo se entregou a Ele como Senhor da sua 
vida. O antigo inimigo de Cristo tornou-se o mais entusiasta 
embaixador dEle; o antigo perseguidor da Igreja converteu-se no 
seu principal propagador. Uma vez foi motivado por seu ódio à 
igreja e seu zelo à Lei. mas agora Paulo estava disposto a morrer 
pela igreja por causa do seu grande amor por ela, e pregava por 
toda a parte a liberdade em Cristo.
A semelhança de Paulo, também podemos afirmar: “Assim 
que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já 
passaram; eis que tudo se fez novo” (5.17). Não mais contempla­
mos Jesus por um prisma mundano. Nascidos de novo, ganhamos 
não somente o perdão dos nossos pecados, mas uma nova motiva­
ção para nossa vida, no encontro com Ele. O amor de Cristo nos 
constrange: por isso não podemos, nem devemos mais viver só 
para nós mesmos. Deus chama “ouro, prata, pedras preciosas” ao 
cristão que se dedica ao bem-estar de outros, em vez dos interes­
ses egoístas. São essas as obras que sobreviverão à prova de fogo 
(1 Co 3.12-15).
2. A base da reconciliação
Quando duas nações, famílias ou pessoas tornam-se inimi­
gas, geralmente brigam de qualquer forma. A inimizade só 
cessa quando se lavra algum tratado de paz, aceito por ambas as 
partes. Pode ser um tratado muito favorável para o lado “forte” 
e bastante prejudicial para o lado “fraco” que tem que assiná-lo 
ou ser destruído por ele. Ou pode ser um tipo de convênio
18 0 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
mutuamente beneficente. Em todo caso, a reconciliação põe fim 
à luta e, por sua vez. baseia-se em alguma condição — uma 
promessa solene, o reconhecimento de certos direitos, talvez o 
pagamento de uma importância em dinheiro ou a entrega de 
algum território.
Vejamos agora a reconciliação entre Deus e os seres huma­
nos. Uma das grandes verdades ensinadas nas epístolas paulinas é 
a apresentação de Cristo como o grande reconciliador — o medi­
ador entre Deus e o homem (1 Tm 2.3-7). Deus Pai não podia 
concordar com a escolha humana de levar uma vida pecaminosa. 
Ele não podia fazer as pazes com um mundo que rejeitava a sua 
autoridade e o seu plano traçado para o futuro deles. Deus não 
podia reconciliar-se com um mundo amaldiçoado pelo pecado, 
mas amou esse mundo de tal maneira que elaborou uma estratégia 
de reconciliação.
O rebelde só pode ser reconciliado com Deus pela morte de 
Cristo no Calvário em lugar dele. Deus pagou a pena do pecado 
humano e estipulou os termos da paz. isto é. todos aqueles que 
rejeitarem o pecado e aceitarem a Jesus como seu Salvador serão 
libertos do pecado e se tornarão filhos de Deus! “E por ele credes 
em Deus. que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que 
a vossa fé e esperança estivessem em Deus” (I Pe 1.21).
Por meio da ressurreição, Deus mostrou seu agrado e sua acei­
tação do sacrifício (morte) de Cristo, como pagamento total dos 
nossos pecados. Agora nos aproximamos dEle como pecadores, 
mas somos reconciliados com Deus. “Nisso está a caridade: não em 
que tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o 
seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10).
Paulo diz em Tito 2.11: “Porque a graça de Deus se há 
manifestado, trazendo salvação a todos os homens” . Se assim for, 
por que nem todos os seres humanos são salvos? Porque a recon­
ciliação é bilateral. Compete ao homem crer, isto é, não somente 
reconhecer que Deus existe e que Ele é amor. mas aceitar os 
termos de reconciliação estipulados por Deus. Deve entregar sua 
vida ao Salvador que morreu por ele, crendo no seu coração que
O Ministério de Reconciliação 1 81
Cristo o salva plenamente do castigo e poder do pecado. Veja 
João 3.14-16 e Atos 16.31. Paulo pergunta ainda: “Como crerão 
naquele de quem nada ouviram? (Rm 10.14). É por isso que 
percebemos bem a responsabilidade dos reconciliados. Somos 
chamados para ser embaixadores de Cristo, levando a mensagem 
da reconciliação pelo mundo inteiro em cada geração. (Leia agora 
Romanos 10.8-15).
3. O lado pragmático da reconciliação
3.1. O preço de reconciliar o homem com Deus
Nos últimos versículos do capítulo 5, lemos que Deus nos tem 
dado o ministério da reconciliação e que, portanto, somos seus 
embaixadores. Ora, raramente os embaixadores de Cristo chegam 
a ser honrados como aqueles do mundo diplomático. Nos primei­
ros séculos da Era Cristã, milhares de líderes da igreja e outros 
crentes foram martirizados pela causa de Cristo. Parece que só 
um dos doze apóstolos (João) morreu de morte natural; os outros 
morreram como mártires. Pedro foi crucificado e Paulo degolado.
Vimos no capítulo 12 que o sofrimento muitas vezes produz 
bênçãos, não somente para quem sofre mas também para os 
outros. Será que Deus permite a perseguição para estimular o 
crescimento e amadurecimento da sua igreja? A história parece 
ensinar-nos que é assim. Costumamos até dizer: “O sangue dos 
mártires é a semente da Igreja” . Mas cada moeda tem duas faces: 
Em nossos dias, algumas religiões e governos opressivos estão 
limitando severamente o crescimento das igrejas. Seja como for. 
a lembrança da experiência dos crentes neotestamentários nos 
ajudará a entender o princípio fundamental de que a perda leva ao 
aumento, a morte à vida, e o sofrimento à bênção.
Os primeiros capítulos de Atos falam de opressão, prisões, 
apóstolos açoitados e o martírio de Estêvão. Depois disso,Paulo foi 
ameaçado, açoitado, preso e apedrejado. Ele padeceu fome, sede, 
sofreu devido à falta de abrigo, às dificuldades, aos naufrágios e 
passou por muitos outros perigos no decorrer de suas viagens
1 8 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
evangelísticas. Os outros apóstolos e muitos outros obreiros tam­
bém enfrentaram perseguições.
I I I - C r e s c im e n t o d e u m a I g r e ja P e r s e g u id a 
n o L iv r o de A t o s
Cerca de cinco mil creram em Cristo 4.4
Mais e mais pessoas creram no Senhor 5.14
Espalhou-se a Palavra de Deus 6.7
Cresceu rapidamente o número de discípulos 
em Jerusalém 6.7
Iniciou-se uma onda de perseguições, espalhados 
pregaram a Palavra por toda a parte 8.1-4
Todos os judeus e gentios da Ásia (Menor) 
ouviram a Palavra do Senhor 19.10
A Palavra do Senhor se divulgou rapidamente 
e prevaleceu 19.20
Durante os primeiros 25 anos após a ressurreição de Jesus, 
cerca de cem mil pessoas em três continentes se converteram a 
Jesus. Parece ter havido alguma relação entre o índice de sofri­
mento e perseguição e o crescimento da Igreja.
Até em nossos dias, evidencia-se um fenômeno semelhante. 
Em certo país da América do Sul, por exemplo, recentemente, os 
crentes em Cristo foram ferozmente perseguidos e houve muitos 
mártires. Agora, a Igreja naquele país está crescendo rapidamente.
Releia 2 Coríntios 6.4-10; 1 1.23-29. Você verá que Paulo es­
creve sobre três tipos de sofrimentos — angústia mental (dificulda­
des, desonra, perigos e preocupações pelas igrejas), dor física im­
posta por outros (açoites, prisões), privações e desconfortos aceitos 
voluntariamente (trabalho duro, fome, insônias e viagens difíceis).
Muitos obreiros de Deus hoje em dia se dispõem voluntaria­
mente a aceitar uma vida de dificuldades para reconciliar os seus
O Ministério de Reconciliação 1 8 3
semelhantes com Deus. Conheço pessoalmente crentes brasileiros 
que caminham muitos quilômetros a pé pela chuva e lama, para 
celebrarem cultos evangelísticos. Nesse país, onde trabalho há mais 
de 25 anos. muitos alunos de instituto bíblico se levantam antes das 
seis horas, trabalham o dia inteiro, assistem às aulas de três a cinco 
noites por semana e voltam para casa à meia-noite. Quase todas as 
igrejas pentecostais têm vigília de vez em quando, sendo comum 
um período de jejum e oração. As igrejas pentecostais do Brasil 
estão cheias, não somente de crentes, mas também de pecadores em 
busca da paz com Deus. Muitas pessoas se convertem nos cultos da 
semana e ao ar livre. A rede evangélica continua se enchendo, e se
o índice atual de conversões se mantiver durante a década de 1990, 
mais de um milhão de pessoas por ano se converterão a Cristo no 
Brasil.
Jesus sofreu perseguições por ter praticado o bem. Como 
seguidores dEle, devemos estar dispostos a carregar a nossa 
cruz também — sofrendo perseguições ou sacrificando voluntari­
amente nosso tempo, dinheiro e conforto físico para implorar­
mos aos nossos semelhantes: “Reconciliai-vos com Deus!” Pau­
lo, apesar dos seus sofrimentos pelo Evangelho, foi vitorioso no 
poder de Deus e como seu colaborador (6.1,7). Ele plantou 
igrejas em dois continentes e atingiu multidões em nome de 
Cristo. Temos à disposição os mesmos recursos para a realiza­
ção da nossa missão.
1. Relações e conduta
Embaixadores de Cristo
Proclamando a mensagem dEle 
Colaboradores com Deus 
Falando da salvação divina 
Não criando obstáculos 
Servos de Deus
Trabalhando fielmente
5.20
6.1-3
6.4-10
1 8 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Filhos espirituais do ministro
Intercâmbio afetivo 
Templo do Deus Vivo
6.11-13
Rejeição de ídolos e imundície 6.16
Filhos e povo de Deus
Purificando corpo e espírito 6.17,7.1
2. A conduta dos reconciliados
Em 1 Coríntios, já vimos como Paulo apela para os crentes 
viverem em santidade na base da sua relação com Deus. Veja a 
freqüência com que ele especifica as relações entre Deus e o 
homem como base de conduta. Estude o quadro acima, buscando 
as referências bíblicas.
Após o apelo pessoal de Paulo aos seus “filhos” em Corinto, 
ele oferece um sermão bem compacto acerca da santificação em 2 
Coríntios 6.14 —7.1. Santificar significa “ tornar santo, separar de 
outros usos, consagrar ao uso de Deus”.
Paulo já mandara aos coríntios que se afastassem de pessoas 
imorais, especialmente qualquer hipócrita que se chamasse ir­
mão, enquanto vivesse na imoralidade ou na bebedeira (1 Co 5.9- 
11). Esse trecho e 2 Coríntios 2.14-18 não significam que deve­
mos agastar-nos de todo contato com descrentes. Jesus foi amigo 
de pecadores e os conduziu ao seu Pai. Ele não orou para que 
pudéssemos ser tirados do mundo, mas que fossemos guardados 
do mal (Jo 17.13-19). Satanás adora aproveitar as relações entre 
crentes e os descrentes para afastar os fiéis do seu Deus. Precisa­
mos da proteção divina.
Algumas dessas relações, se previamente estabelecidas, não 
devem romper-se, como vimos no caso do crente casado com 
descrente. Muitos jovens crentes têm pais e irmãos incrédulos, e 
muitos pais cristãos têm filhos descrentes. Devemos externar o 
nosso amor por nossos parentes e amigos descrentes, mas não 
podemos participar simultaneamente de suas atividades pecami­
O Ministério de Reconciliação 1 8 5
nosas e da comunhão com nosso Deus. Por isso não devemos 
comprometer-nos intimamente com incrédulos.
Deus nos manda: “Não vos prendais a um jugo desigual com 
os infiéis” (2 Co 6.14). Um jugo, ou canga, obriga os animais 
emparelhados a andarem juntos com passo igual e colaborarem 
em tudo. Imagine a frustração e atrito de ficar emparelhado com 
alguém que queira seguir princípios ímpios, enquanto você tenta 
seguir a Cristo!
Pode ser questão de matrimônio, sociedade comercial ou inti­
midade social. A formação de laços estreitos com pessoas não 
cristãs, quase sempre prejudica o testemunho do crente e enfra­
quece a sua experiência cristã. A maior perda, porém, seria estra­
nhar a presença de Deus e virar as costas a Ele. E por isso que 
Paulo, citando Isaías 52.1 1, urge: “Pelo que saí do meio deles, e 
apartai-vos, diz o Senhor" (6.17). É um bom conselho para nós 
tam bém !
Paulo encerra seu sermão de santidade (7 .1) com uma exorta­
ção dupla. A primeira parte é negativa, referindo-se ao que não 
elevemos fazer. A segunda, positiva, refere-se àquilo que deve­
mos fazer — levar uma vida santa por causa da vossa reverência 
para com Deus.
3. Reconciliação na Igreja
Comecemos com 2 Coríntios 7.7: “As vossas saudades, o 
vosso choro, o vosso zelo por mim". Parece que os coríntios 
magoaram o apóstolo Paulo de qualquer maneira, e agora deseja­
vam sarar a ferida. Na carta referida em 2.4, Paulo lhes escrevera 
de forma bem dura, repreendendo a falta de disciplina do irmão 
pecador que tinha ofendido a igreja inteira. A prova de que aquela 
carta surtiu efeito é dada nas palavras: “Basta ao tal essa repreen­
são feita por muitos” (2.5,6).
Já comentamos as emoções contrastantes de Paulo em 7.2-16. 
É óbvio que os coríntios tinham aberto seu coração ao apóstolo. 
Paulo lhes corresponde com um transbordar de alegria no trecho
1 8 6 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
sob exame. E em Corinto, a tristeza provocada pelo problema 
conduzira ao arrependimento, resultando na tomada das provi­
dências necessárias para a solução do problema e na restauração 
de comunhão entre os membros.
De uma certa maneira, a reconciliação entre Paulo e os coríntios 
exemplifica a grande reconciliação entre Deus e os seres huma­
nos. Paulo, que sofrerá o insulto, iniciou a tentativa de reconcili­
ação: mandou por seu colega Tito, uma carta expressando seu 
amor por sua preocupação, pela lamentável situação existente e 
seu desejo de que respondessem com autêntica confiança e amor. 
Deus mandou seu Filho, o verbo feito carne, para nos mostrar a 
verdadeira condição das nossas vidas e o imenso amor do Pai para 
conosco. Ele não é nosso inimigo, mas apela em favor da reconci­
liação, possibilitada pela morte de Cristo, nossoRedentor. Agora, 
uma autêntica e profunda tristeza por nosso pecado, nossa inimi­
zade para com Deus, leva-nos ao arrependimento. Aceitamos os 
termos de reconciliação determinados pelo Pai e encontramos 
uma verdadeira alegria na paz com Deus. Houve muito júbilo 
quando Paulo soube, pela comunicação de Tito, que os coríntios 
tinham se arrependido dos seus erros. Semelhantemente, há gran­
de gozo no céu quando um pecador se arrepende e se entrega nas 
mãos de Deus (Lc 15.10).
Impressiona-me, nesse trecho bíblico, a importância da comuni­
cação no episódio referido e em nosso ministério de reconciliação:
1. A visita difícil de Paulo — possivelmente comunicação 
defeituosa (2.1).
2. Uma carta que conduziu a tristeza e ao arrependimento — 
boa comunicação (7.8).
3. A visita de Tito, embaixador da boa vontade — ótima 
comunicação (7.7).
4. A busca inútil em Troas (Paulo não encontra Tito) — 
nenhuma comunicação (2.12,13).
O Ministério de Reconciliação 1 8 7
5. Tito traz boas notícias de Corinto — ótima comunicação 
(7.6,7).
6. Paulo escreve uma carta amável, confirmando sua confian­
ça e perdão com relação aos coríntios — ótima comunica­
ção (2 Co).
Que exemplo para nós! Se Paulo não tivesse persistido na sua 
comunicação, talvez nem houvesse produzido a desejada reconci­
liação. Estam os dispostos a ser igualm ente persistentes e 
longânimos no nosso próprio ministério de reconciliação entre 
familiares, amigos e membros da igreja? Recebemos a bênção 
que Jesus prometeu aos pacificadores? Que possamos realizar um 
ministério bem frutífero e abençoado.
14
0 Ministério de 
Contribuição
I - I n t r o d u ç ã o
Ao falarmos dos dons espirituais (1 Co), vimos entre eles o 
dom da contribuição para as necessidades de outros (Rm 12.8) e 
os dons de governos (I Co 12.28). Agora vamos enfocar mais 
detalhadamente esses ministérios, pois em 2 Coríntios, Paulo 
volta a tratar do assunto das ofertas para crentes carentes e da 
administração dessas ofertas.
A Bíblia ensina a importância da contribuição de dinheiro e 
apoio aos nossos semelhantes necessitados. O apóstolo Tiago 
ensina que o verdadeiro Cristianismo inclui o cuidado com as 
viúvas e os órfãos e a contribuição de roupas e comida aos 
carentes (Tg 1.27; 2.14-16). A Lei Mosaica providencia auxílio 
para os pobres (Lv 19.9.10). O rei Davi escreveu: “O justo se 
compadece e dá" (SI 37.21). Salomão, o rei sábio, recomenda: 
"Reparte com sete e ainda com oito" (Ec 11.1.2). João Batista 
pregou: "Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem; e 
quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3.11). Jesus ensinou 
bastante acerca das contribuições caritati vas (Mt 6.1 -4; Mc 12.41 - 
44; Lc 6.38). E nosso Salvador fez mais: Ele deu de comer aos
1 9 0 Comentaria Bíblico: I e 2 Coríntios
famintos, sarou os doentes, ensinou aos pobres e dava de si 
constantemente em benefício dos outros (Mc 10.45).
Para o crente em Cristo, dar generosamente é um ato tão 
natural como respirar e orar. Quem nasceu de novo, dará de si. 
dos seus bens e talentos, enfim, de tudo o que tem para Deus. 
E o Espírito de Deus o guiará e abençoará na sua contribuição 
para os necessitados. Ao contribuir, descobre a verdade das 
palavras de Jesus. “ Mais bem -aventurado é dar do que rece­
ber" (At 20.35). O crente não dá para receber, mas a eterna lei 
divina de semear e colher ainda é vigente. Deus abençoa m ate­
rialmente aqueles que contribuem para sua causa. Esse princí­
pio se aplica a indivíduos, famílias, igrejas e nações. E os 
filhos de Deus não somente recebem a bênção divina agora 
como também entesouram bens eternos no céu (At 20.35). 
Vamos estudar e aplicar as lições desse capítulo, exercendo o 
ministério de contribuição.
II - A G r a ç a d a C o n t r i b u i ç ã o C r i s t ã (9 .7 )
Os capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios oferecem o mais completo 
compêndio de ensino e metodologia de contribuição cristã na 
Bíblia inteira; essa passagem contém todos os princípios bíblicos 
que devem governar nossa contribuição beneficente.
1. Exemplos de generosidade
Os primeiros exemplos da contribuição beneficente por parte 
da Igreja no Novo Testamento relacionavam-se com a assistência 
aos pobres e desamparados (At 2.45;6.1). A carestia mencionada 
em Atos 1 1.28 parece haver criado maiores problemas com os 
judeus, pois quem morava em Jerusalém passava fome. Por esse 
motivo, fez-se a primeira coleta especial registrada na história da 
Igreja em benefício dos irmãos pobres e necessitados (não para 
construir um templo, aumentar o ordenado do pastor ou ampliar a 
empresa missionária!).
O Ministério de Contribuição 1 9 1
Aparentemente, Gálatas 2.10 nos indica que a igreja de 
Antioquia foi a primeira a enviar ajuda aos pobres em Jerusalém 
e que as próximas igrejas a participarem da campanha de assistên­
cia foram as da Macedônia (Filipos, Tessalônica e Beréia). O 
exemplo dessas igrejas foi realmente notável, porque também 
passavam por uma situação difícil. Mas a sua própria pobreza não 
a impedia de contribuir em benefício de outros. O versículo 2 é 
belo no seu drama de contrastes: “No meio de muita prova de 
tribulação, houve abundância do seu gozo; como a sua profunda 
pobreza superabundou em riqueza de generosidade” .
2. A graça de contribuição dos macedônios
C o n t e x t o
No meio de tribulação e profunda pobreza 
C o m
Abundante alegria e riqueza de generosidade 
C a p a c id a d e 
Acima das suas posses
Reclamando o privilégio de participar da assistência aos 
santos
D e r a m -s e a s i m e s m o s p r im e ir o 
Ao Senhor 
Aos outros
Eles rogaram o privilégio de contribuírem para outros pobres; 
a sua oferta foi dada “acima das suas posses!”
Para os macedônios, a contribuição foi um gesto de louvor a 
Deus, um ministério espiritual; “deram-se a si mesmos ao Se­
nhor” (2.5; Mt 25.34-40), entregando tudo nas mãos de Deus. O 
Senhor deseja muito mais que nosso dinheiro e nossos bens. Ele 
quer todo o nosso ser. Podemos contribuir mecanicamente ou 
com uma atitude de total e voluntária entrega. Quando estamos 
realmente entregues a Deus, não é difícil contribuirmos generosa­
mente com nossas posses.
/ 92 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
3. Padrão da contribuição cristã
Você já pregou um sermão sobre a graça de contribuir? Acho 
que às vezes os crentes perdem uma grande bênção, porque não 
lhes ensinamos acerca desse ministério. Os seguintes pontos se­
rão úteis quando você pregar ta! sermão.
Padrão da graça da contribuição
2 C o r ín t io s 8 v e r s íc u l o s
Colaboração pelas igrejas 1
Expressão de sincero amor 8,9
Sábios conselhos sobre metodologia 10-12
Ofertas razoáveis e voluntárias 11,12
Participação proporcionada 13-15
Ajuda mútua conforme as circunstâncias 13-15
Administração sábia e honesta 16-24
Podemos contribuir sem amar. mas não podemos amar sem 
contribuir. João escreve: “Não amemos de palavra, nem de lín­
gua, mas por obra e em verdade” (1 Jo 3.18). Paulo reitera o 
princípio de que a liberdade é uma prova da sinceridade do amor 
cristão. Ele nunca mandou ou exigiu que os coríntios contribuís­
sem para os irmãos que sofriam na Judéia, pois tal constrangi­
mento ficaria muito abaixo dele, um apóstolo que escrevia por 
inspiração do Espírito Santo.
Respondemos mais rapidamente a uma lição exemplificada 
que à lógica pura. Não há mais nobre exemplo de amor que a vida 
do próprio Jesus Cristo.
Paulo lembra aos coríntios (8.9) que por amor a eles, Jesus 
deixou a glória celestial e se fez pobre para enriquecer eternamen­
te aqueles que iriam crer nEle. Cristo expressou seu amor por nós 
no seu ministério e no seu sacrifício no Calvário. A nossa contri­
buição beneficente constitui uma ótima manifestação do nosso 
amor por Ele!
O Ministério de Contribuição 1 9 3
Veja o que Paulo diz no versículo 10: “E nisso dou o meu 
parecer” . Em alguns assuntos podemos tirar proveito dos conse­
lhos de ou tras pessoas m ais e x pe r ien te s (pastores etc.). 
Naturalmenrte, precisamos da orientação do Espírito Santo,mas 
também devemos usar o bom senso. Sempre há, ao nosso redor 
e por toda a parte, múltiplas necessidades e pedidos de ajuda 
financeira em nome do Senhor. Precisamos saber quando e 
quanto dar (ou não dar) a essas causas ou pessoas. Em caso de 
dúvida, talvez seja uma idéia sensata fazermos como os crentes 
da época de Paulo — canalizar uma boa parte da nossa contri­
buição pela igreja local. Os capítulos 8 — 9 mostram como algu­
mas igrejas ajudaram outras.
Paulo nos ensina a incentivar o ministério e graça da contri­
buição. Ele louva aos coríntios por sua disposição de contribuir já 
expressa alguns meses antes (8.10). Foi o exemplo deles que 
estimulara os macedônios (8.24 — 9.3). Agora, compete-lhes ter­
minar a campanha já iniciada. Desejar é bom, mas é importante 
fazer, como também nos lembra o apóstolo Tiago (Tg 2.15,16).
As epístolas falam indiretamente sobre a doutrina do dízimo 
(dez por cento do ordenado ou lucro), mas falam claramente em 
favor de contribuições regulares e proporcionais (1 Co 16.1-4). 
Se os judeus sob a Lei Mosaica davam dez por cento, parece 
razoável a nós crentes, na era da graça, dar até mais que isso. De 
fato, os judeus mais devotos contribuíram com muito mais que o 
dízimo, e Deus abençoa os crentes que dão com generosidade.
Os versículos 13-15 nos mostram mais uma coisa — as igrejas 
devem ajudar-se mutuamente. As mais ricas devem auxiliar as 
menos abastadas. Ora, as igrejas da Acaia (Corinto e outras) eram 
mais ricas que as da Macedônia, mas ambas estavam numa situa­
ção bem melhor que as igrejas da Judéia, e para isso lhes manda­
ram assistência. Essa colaboração alivia as igrejas mutuamente, 
porque nenhuma delas fica com a responsabilidade total. Paulo 
salienta os benefícios de tal sistema: Acaia e Macedônia ajuda­
vam à Judéia, mas no futuro poderia surgir a necessidade de uma 
assistência recíproca por parte da Judéia.
1 9 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
Os princípios de generosidade e proporção aplicam-se também 
às relações entre sociedade e nações. Os países mais ricos têm a 
responsabilidade de ajudar aos mais pobres, as congregações mais 
abastadas devem contribuir mais para o estabelecimento de novas 
congregações e para assistência a regiões flageladas e carentes. Em 
nossos dias existem secas, carestia e outros problemas bem graves 
que parecem piorar em vez de melhorar. Como solucioná-los?
A resposta definitiva seria a volta de Jesus, pois o governo 
dEle trará prosperidade universal. Mas. por enquanto, devemos 
fazer o possível para aliviar as trágicas condições que existem em 
nosso mundo. Possivelmente, se os cristãos do mundo inteiro 
pagassem o dízimo, as igrejas poderiam contribuir para os progra­
mas de assistência que aliviariam o sofrimento de incontáveis 
milhões de carentes ao redor do mundo; no mais, as igrejas cujos 
membros são dizimistas fiéis, terão condições de cuidar das ne­
cessidades locais e ainda ajudar as missões estrangeiras.
I I I - A d m in is t r a ç ã o S ã b ia e H o n e st a ( 8 . 1 6 — 9 .5 )
Nesses nove versículos. Paulo nos ensina um modo prático de 
evitar críticas ao setor financeiro. Jesus não tomava conta do 
dinheiro recebido por Ele e seus discípulos; Ele nomeou Judas 
Iscariotes como “tesoureiro" do grupo (Jo 13.29,30). Paulo recu­
sou-se agir de forma unilateral na companhia de assistência para 
as igrejas da Judéia. Foram escolhidos três homens dignos de 
confiança para supervisionarem as coletas e ofertas, e os coríntios 
também deveriam escolher outros representantes para levarem a 
oferta a Jerusalém (1 Co 16.3,4). Sabemos pelo menos o nome de 
um dos três homens enviados — Tito. Alguns comentaristas 
acham que Lucas também foi, mas não constam provas disso. 
Seja como for, os homens escolhidos eram irrepreensíveis, hones­
tos, trabalhadores e zelosos no seu serviço a Deus. Eles honravam 
o seu Senhor e as igrejas dos crentes.
Devemos divulgar aos outros a quantia com que contribuímos 
para obra do Senhor? Tudo depende do motivo. Jesus criticou os
O Ministério de Contribuição 1 9 5
hipócritas que mandavam tocar trombetas diante deles, para que 
os outros reparassem no seu gesto de ofertar. Cristo recomendava 
que os crentes contribuíssem “em secreto” (Mt 6.1-4). Mas tam­
bém devemos estimular-nos uns aos outros às boas obras (Hb 
10.24). Jesus chamou a atenção para a contribuição de certas 
pessoas: as moedinhas da viúva pobre têm inspirado gerações de 
crentes (Lc 21.1-4). Paulo preferiu falar abertamente da oferta, 
para que certas igrejas vissem o que outras estavam fazendo nesse 
sentido (2 Co 8.24). Ele tentava aumentar a contribuição geral 
para a glória de Deus e benefício de muitas pessoas.
1. Planejamento e estímulo da contribuição
Os primeiros cinco versículos do capítulo 9 contém comentá­
rios bem diretos da parte de Paulo, acerca da contribuição para os 
pobres da Judéia, iniciada em Corinto há mais de um ano. Para 
que os coríntios não perdessem o entusiasmo pela causa, Paulo 
utiliza uma boa dose de “psicologia santificada” . Ele diz que tem 
confiança neles e sabe que irão completar o que já iniciaram. Ele 
não passa a rogar; diz apenas que anda gloriando-se da generosi­
dade dos coríntios entre as igrejas da Macedônia e que os seus 
com entários têm despertado a generosidade dos próprios 
macedônios. Agora, Tito e mais dois irmãos buscarão a oferta 
recolhida em Corinto, e alguns macedônios acompanharão Paulo 
a Corinto rumo a Jerusalém, com a oferta das suas igrejas. Que 
situação embaraçosa para Corinto, se suas ofertas não estivessem 
prontas para serem levadas! Através da previsão e do planeja­
mento, Paulo espera poupar a igreja dessa vergonha. Ele tenta 
estimular o entusiasmo dos coríntios para que possam dar com 
alegria e não de má vontade.
O versículo 2 é chave desse trecho. Paulo contava com os 
coríntios para contribuírem com o que tinham prometido colabo­
rar na campanha de assistência. As nossas ofertas são dadas com 
igual alegria? William Barclay, no seu livro The Letters to the 
Corinthians (“As Cartas aos Coríntios”), diz que existem quatro 
motivações para a contribuição dos crentes:
1 9 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
1. Como dever
2. Para experimentar a auto-satisfação
3. Para ganhar prestígio e honra
4. Porque é constrangido pelo amor
Embora os primeiros três motivos não sejam totalmente erra­
dos, o quarto é o melhor, pois constitui a norma das Escrituras, 
sendo o conceito ensinado por Paulo. Pense também sobre as 
outras três perguntas.
2. Os resultados da contribuição
Ao ofertarmos com boa vontade e alegria, a graça da contri­
buição traz muitos resultados bons para nossa própria vida. Em 
primeiro lugar, encontraremos grande felicidade na nossa vida de 
serviço ao Senhor e aos nossos semelhantes. As ofertas aumenta­
rão e muitas necessidades serão supridas. Deus é louvado e os 
laços de fraternidade cristã se estreitam ainda mais. Daí oramos 
uns pelos outros, e aqueles que dão, recebem bênçãos recíprocas.
“Aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (G1 6.7). 
Essa é uma das leis universais de Deus. Vigora na agricultura e 
nas ações humanas, podendo-se aplicar aos bens materiais, à 
saúde, à vida social e à condição espiritual. Afeta até o destino 
eterno das pessoas, como vemos no caso de Esaú e Judas Iscariotes, 
respectivamente (Hb 12.16,17; At 1.18,19).
Paulo encerra a sua mensagem com o princípio de semear e 
ceifar. Moisés proclamou que a obediência a Deus traria bênçãos 
materiais, ao passo que a desobediência acarretaria sofrimento 
(Dt 28.1.2.15). O rei Salomão, em sua sabedoria, aplica o mesmo 
princípio à contribuição (Pv 11.24,25). Jesus disse: “Dai e dar-se- 
vos-á” (Lc 6.38). E Paulo acrescenta a importância da generosi­
dade — muitas sementes plantadas darão um contribuinte genero­
so espiritual e material. O generoso será enriquecido com amor, 
amigos, a capacidade de ajudar aos outros e as bênçãos espiritu­
ais. Ao mesmo tempo, ajuntará tesouros no céu (Mt 6.19,20). Mas
O Ministériode Contribuição 1 9 7
tudo dever ser feito com alegria (9.7), para não estragar a bênção 
que Deus quer dar. “Deus ama a quem dá com alegria". A genero­
sidade traz glória para Deus, sendo esse o alvo de todo crente em 
Cristo. Deus é glorificado quando a assistência e apoio mútuo 
fortalecem a união da sua Igreja.
O versículo 13 nos lembra que os crentes gentios de Corinto 
estavam contribuindo para ajudar crentes judaicos na remota 
palestina. Alguns desses tinham duvidado da sinceridade da con­
versão dos gentios e tentavam judaizá-los (At 15.1). Paulo perce­
beu que a generosa oferta dos gentios convenceria aqueles que 
duvidaram, provando que era autêntica a conversão dos gregos. 
Todos eles formavam parte do Corpo de Cristo. Nem distância, 
nem cultura, nem língua pode separar-nos uns dos outros! Como 
os crentes gregos, nós também contribuímos para o sustento de 
pessoas que nunca vimos.
A notável oferta dos crentes gregos foi possibilitada somente 
pela graça de Deus (9 .14). A contribuição generosa em si é uma 
graça. A palavra graça (do grego charis) aparece 11 vezes nesse 
sermão de Paulo, traduzida alternativamente como dom, graças e 
ofertas.
Finalmente, o versículo 15 nos assinala o maior de todos os 
dons de Deus para nós — a pessoa do seu Filho Jesus Cristo e a 
salvação que Ele nos traz! Para o crente, toda a graça procede do 
Calvário, sendo trazida para nossas vidas pelo Espírito Santo que 
Deus nos tem dado. Deus se entregou por nós. Esse divino dom 
nos inspira a contribuir.
15
Um Ministério Apostólico
I - I n t r o d u ç ã o
Os últimos quatro capítulos de 2 Coríntios diferem bastante 
dos anteriores no seu tom e conteúdo. Paulo deixa de lado os 
compassivos apelos, passando a usar de voz severa para condenar 
os falsos apóstolos (possivelmente os judaizantes) que tanto mal 
faziam à igreja em Corinto. Esses falsos pastores esperavam 
minar a autoridade apostólica de Paulo para impingirem nos 
crentes as suas próprias doutrinas legalistas e seu próprio contro­
le; queriam rejeitar o ensino paulino acerca da liberdade em 
Cristo. O Evangelho estava em perigo! Se Paulo não fosse um 
apóstolo autêntico, a igreja não teria a obrigação de aceitar o 
ensino dele. Por isso, o grande apóstolo foi obrigado a defender 
seu apostolado e autoridade aos gentios em termos bem fortes.
O amor que Paulo sentia por Cristo e sua igreja transparece 
por toda essa eloqüente defesa do seu ministério. As acusações 
dos falsos apóstolos provocavam não somente essa autodefesa 
por parte de Paulo, mas também sua expressão de lealdade e 
devoção aos crentes coríntios. Paulo se refere aos seus sofrimen­
tos, viagens e experiências espirituais. Expressa o seu zelo e
200 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
preocupação pelas igrejas fundadas por ele. Nos capítulos 1 1 e 
12, vemos a vida íntima do apóstolo e algo do preço pago por ele 
na realização do ministério que Deus lhe dera. A exceção do 
próprio Cristo, nenhuma outra personalidade do Novo Testamen­
to se abre para nós com tamanha intimidade.
Paulo encerra a sua carta com algumas advertências acerca 
dos problemas na igreja, um apelo final, algumas saudações e 
uma benção apostólica. Esses capítulos nos desafiam a ser corajo­
sos (quando necessário) na defesa do nosso ministério e dispostos 
a sofrer (se preciso for) no desempenho dele.
I I - A P r o v a d o A p o s t o l a d o d e P a u l o 
(10.1- 12.12)
As referências de Paulo aos seus inimigos se misturam de tal 
forma com as provas do apostolado dele nesse trecho da epístola 
que precisamos destacá-las para entendermos bem o impacto da 
sua autodefesa. Vejamos, nesta seção, as evidências do apostolado 
de Paulo.
1. As marcas de um apóstolo
Resultados do ministério 3.3
Destruição do poder de Satanás 10.3-5
Autoridade dada por Cristo 10.8
Vasto campo de trabalho designado por Deus 10.13
Levar o Evangelho a regiões não evangelizadas 10.6
Servo de Cristo 11.23
Trabalhador 11.23
Sofrer para ministrar 11.23-33
Visões e revelações 12.1-4
0 poder de Cristo na fraqueza 12.7-10
Um Ministério Apostólico 2 0 1
Sinais, maravilhas e milagres 
Amor pelos crentes 
Entrega total
12.12
12.14.15
12.15
Ao iniciar a sua defesa. Paulo apela aos coríntios “pela mansi­
dão e benignidade de Cristo” (10.1). A palavra grega praotes, 
“mansidão”, leva implícito o conceito de “autocontrole” . Fala da 
forte mansidão de Cristo, que se chamou de “manso e humilde” 
(Mt 1 1.29). “O qual quando o injuriavam, não injuriava” (1 Pe 
2.23). Mesmo assim, Jesus se declarou fortemente contra os 
escribas e fariseus hipócritas que militavam contra a obra de 
Deus, derrubando até as mesas do templo (Jo 2.15). Zangava-se 
com aqueles que exploravam o povo em nome da religião. Nisso 
tudo, Paulo assemelhava-se a Cristo.
Ao lermos as severas palavras de Paulo contra os judaizantes, 
costumamos pensar que deveria ser um homem de gênio forte e 
fogoso. Parece que realmente tinha temperamento assim, a julgar 
pelas “ameaças e morte” que respirava contra os discípulos antes 
da sua conversão (At 9.1). Mas ele morria “dia após dia”. Pela 
própria experiência, Paulo pode nos assegurar de que o fruto do 
espírito é (entre outras coisas) benignidade e domínio próprio, e 
que “E os que são de Cristo crucificaram a carne, com as suas 
paixões e concupiscências” (G1 5.22-24).
No seu apelo aos coríntios “pela mansidão e benignidade de 
Cristo” , Paulo revela que prefere lidar com o problema deles no 
amor de Cristo. Parece que os seus opositores interpretavam 
isso como sinal de fraqueza por parte dele (2 Co 10.10). E os 
coríntios julgavam pelas aparências, em vez de reconhecerem 
os verdadeiros motivos de Paulo na sua mansidão. Ele desejava 
usar sua divina autoridade para edificar a igreja; não para des­
truí-la pelas disputas e pela severidade (10.7-10). Mas se os 
coríntios preferissem uma “vara de castigo”, ele seria capaz de 
usá-la! (1 Co 4.18-21).
Paulo salienta que os cristãos estão no mundo mas não são do 
mundo. Ele não se guiava pelos critérios do mundo secular. De
202 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
fato, aqueles que são de Cristo militam contra as forças satânicas 
que controlam o mundo, e Paulo contrasta as armas mundanas e 
as espirituais (10.2-4).
Em 2 Coríntios 10.4,5, vemos que nesse conflito Paulo usava 
armas “espirituais” . Aqueles que vivem segundo a natureza peca­
minosa, usando armas carnais e mundanas, opõem-se ao conheci­
mento de Deus (10.5). Pensamos de imediato nos ateus que 
afirmam não haver Deus e nos agnósticos que negam a possibili­
dade de conhecermos a Deus; mas vemos que também os 
judaizantes se opunham ao conhecimento de Deus, revelado na 
pregação de Paulo. Quem ganha nessa batalha?
Paulo mesmo já combateu o conhecimento de Deus em Cris­
to, mas Cristo o venceu! Paulo trocou a espada das perseguições 
pela “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” . Com essas 
armas espirituais e muita oração, ele e seus companheiros invadi­
ram as cidades orgulhosas e corruptas da Ásia Menor e da Grécia. 
Empregando essas armas divinas, com mansidão e benignidade, 
destruíram as fortalezas de Satanás e quebraram o poder dos 
demônios nas vidas humanas.
2. Poder divino das armas espirituais
P a r a d e s t r u i r
fortalezas
sofismas
altivez contra o conhecimento de Deus 
P a r a l e v a r c a t iv o
todo pensamento à obediência de Cristo
O poder necessário para vencer as armas carnais (perseguição, 
calúnia, discórdia etc.) não vem do soldado que empunha as 
armas espirituais. Há poder de Deus nas armas se o crente as usa 
conforme a orientação do Espírito Santo. Cada membro do exér­
cito de Deus deve usar essas armas espirituais com mansidão,
Um Ministério Apostólico 2 0 3
mantendo sempre presente a lembrança de que a mansidão em si 
é uma arma poderosa.
Satanás atira contra nós com as armas da dúvida, medo, ambi­
ção, egoísmo, orgulho, ressentimento, ódio, luxúria e inveja. Ele 
tenta controlar os nossos pensamentos, expondo-os constante­
mente ao mundo em derredorcom os seus argumentos mundanos. 
Precisamos lutar contra ele!
3. Autoridade do poder de Cristo
A Igreja Primitiva exigia dois importantes requisitos daqueles 
servos do Senhor que reconhecia como apóstolos:
1. O apóstolo devia ter visto pessoalmente o Senhor ressurreto.
2. O ministério do apóstolo devia ter sido acompanhado de 
milagres.
Paulo já esclareceu o fato de ter visto o Senhor ressurreto (1 
Co 9.1-3). Agora lembra aos coríntios os milagres realizados 
durante o seu ministério entre eles (12.11-12).
Desde o dia da sua conversão, Paulo ficou ciente da chamada 
de Cristo na sua vida para a pregação do Evangelho. Ele bem 
sabia que sua vocação de apóstolo para os gentios era de origem 
divina e não fora imposta pelos doze apóstolos originais. Paulo 
não foi um daqueles doze, mas apesar disso, o seu ministério foi 
reconhecido por eles e pela igreja em Antioquia, a qual o enviou 
e consagrou para três viagens missionárias (G1 2.7-9; At 13.1-3). 
Os milagres confirmavam sua chamada divina (Mc 16.20).
Sabendo perfeitamente que Cristo o tinha mandado, Paulo 
falava, escrevia e agia com grande autoridade. Dizia que era de 
Cristo e tinha do Senhor uma autoridade especial, fossem quais 
fossem as acusações lançadas contra ele.
O fato de serem os seus acusadores membros da igreja de 
Jerusalém nada significava em termos de relativa superioridade. 
Paulo confraternizava-se com os apóstolos em Jerusalém, mas 
não se submetia a eles (G1 2.9). E muito menos se subjugaria aos
204 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
falsos apóstolos em Corinto. “Também nós de Cristo somos”, diz 
Paulo, e a autoridade que “o Senhor nos deu” é “para edificação e 
não para vossa destruição” .
4. Alcance do labor de Paulo
A palavra apóstolo significa “um que é enviado, mensageiro, 
missionário, representante daquele que envia". Sugere uma pes­
soa que leva o Evangelho a regiões não evangelizadas. Por esse 
motivo, o próprio campo missionário de Paulo e o alcance das 
suas viagens evangelísticas evidenciavam o seu apostolado. Em 
vez de se vangloriar das suas habilidades, sabedoria e realizações, 
Paulo diz: “Porém não nos gloriamos fora de medida, mas confor­
me a reta medida que Deus nos deu. para chegarmos até vós” 
(10.13). Ele sabia que era chamado por Deus para estabelecer a 
igreja entre os gentios em Corinto. A sua autoridade vinha de 
Deus; não de homens (G1 1.11,12-17).
Paulo costumava pregar nas principais cidades do mundo 
gentio, treinar os novos convertidos e orientá-los na sua evangeli- 
zação das áreas contíguas, passando ele mesmo a outro campo 
novo.
5. Manifestações do amor em Corinto
Ao se aproximar do fim dessa epístola, o zelo de Paulo pelos 
Corintos parece aumentar. Ele deseja o melhor para os seus filhos 
na fé. Repete três vezes “receio” (11.3; 12.20,21). De que teria 
medo? Que seus queridos coríntios não se mantivessem fiéis a 
Cristo e ao puro Evangelho da salvação pela fé.
O labor de Paulo em fundar a igreja coríntia e o seu entranha- 
do amor pelos crentes comprovam a chamada de Deus na sua 
vida. Naqueles dias, os professores e mestres eram bem remune­
rados, pois os gregos e romanos estimavam os filósofos e aqueles 
que ensinavam. Mas Paulo não pediu sustento da igreja em Corinto; 
achava que isso seria um obstáculo para o Evangelho naquele
Um Ministério Apostólico 2 0 5
lugar. Ele reconheceu o direito dos pastores de serem sustentados 
por suas congregações, mas não usou desse privilégio (1 Co 9.1- 
18). Agora, seus inimigos usavam esse fato como mais uma 
acusação e ataque ao seu ministério: se ele fosse um verdadeiro 
apóstolo, não exigiria o sustento das igrejas onde ministrava? Por 
isso, Paulo se vê obrigado mais uma vez a defender o seu proce­
dimento.
Leia cuidadosamente Atos 18.3-5 e 2 Coríntios 1 1.8,9, para 
entender a posição de Paulo.
O versículo 8 introduz mais um princípio importante. A pala­
vra despojei tem significado figurado, pois sabemos que as igre­
jas contribuíam voluntariamente. Trechos como 1 Coríntios 9.7-
11 e 1 Timóteo 5.17,18 ensinam claramente que as igrejas locais 
devem sustentar seus pastores. Há também ocasiões em que as 
igrejas mais “abastadas” devem contribuir para o sustento de 
outros pastores, mestres e evangelistas.
Nenhuma igreja é uma ilha isolada. Cada congregação que 
prega e pratica o Cristianismo do Novo Testamento no mundo 
moderno faz parte de uma comunhão internacional. É lamentável 
que algumas igrejas contribuam tão pouco para missões! Até as 
congregações da Macedônia, bem mais pobres que as da Acaia 
(inclusive Corinto), mandavam ofertas ao apóstolo Paulo; veja, 
por exemplo, o caso da igreja de Filipos em Filipenses 4.10-19. 
Talvez a sua igreja ou pastor pudesse ajudar algum outro pastor 
ou mestre de escola bíblica em um lugar distante. As contribui­
ções para a obra missionária fortalecem as igrejas que assim 
contribuem.
Em Mateus 10.8, Jesus disse: “De graça recebestes, de graça 
dai” . O apóstolo Paulo constitui exemplo vivo de como dar gene­
rosamente. Ele se entregou sem reserva a Cristo e ao labor do 
Evangelho aos gentios. Deu muito de si aos crentes problemáticos 
em Corinto, a ponto de afirmar: “Eu, de boa vontade, gastarei e 
me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando-vos 
cada vez mais, seja menos amado” (12.15).
2 0 6 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
I I I - A O p o s iç ã o a o M i n is t é r io A p o s t ó l ic o 
(1.12; 7.3; 10.1; 13.10)
Uma breve revisão de 2 Coríntios nos proporcionará informa­
ções necessárias à compreensão desse aspecto da lição e servirá 
de preparo para o exame que segue. Busque as referências bíblicas 
dadas no quadro abaixo.
1. Os opositores de Paulo ein Corinto
Q u em F o r a m
“Super apóstolos” 11.5; 12.11
Falsos apóstolos 11.13
Obreiros fraudulentos 11.13 
Servos de Satanás, disfarçados de servos
de justiça e apóstolos de Cristo 11.13
C o m o se V anglo riavam
Conforme o mundo 11.18
Como sendo hebreus e israelitas 11.22
Como descendentes de Abraão 11.22
Como servos de Cristo 11.23, 10.7
Como iguais a Paulo 11.12
Recomendando-se 10.12
Comparando-se uns aos outros 10.12
O q u e P regavam
Um Cristo diferente 11.4
Um espírito diferente 11.4 
Um evangelho diferente a si
mesmos (implícito) 11.5
Um Ministério Apostólico 207
O q u e F a z i a m
Escravizavam, exploravam, aproveitavam 
Exaltavam-se, esbofeteavam 
Glorificavam-se nas aparências 
Atacavam a autoridade de Paulo
11.20
11.20
5.12
5.12
2. A natureza dos inimigos de Paulo
Paulo ataca vigorosamente àqueles que tentavam minar sua 
autoridade, mostrando a falsidade deles. Ele revela uma atitude 
protetora e paternal com relação aos coríntios, pois foi ele seu pai 
no Evangelho (1 Co 4.14,15).
Os termos empregados por Paulo na descrição dos seus inimi­
gos nos lembram as críticas de Jesus aos fariseus hipócritas. É 
possível que alguns dos falsos apóstolos de Corinto ainda fossem 
fariseus em algumas das suas velhas crenças e práticas. O intuito 
deles era de obrigar os crentes gentios a guardarem a Lei Mosaica. 
Os falsos apóstolos em Corinto se empenhavam mais na promo­
ção de si mesmos que na edificação da igreja.
Paulo chamou seus opositores de “obreiros fraudulentos”, tão 
enganadores como Satanás, o pai da mentira de Gênesis a 
Apocalipse (1 Tm 2.14; Ap 20.10). Eles conseguiram enganar 
muitos crentes, os quais passaram a duvidar de Paulo e filiar-se 
aos impostores. Paulo os chama de servos de Satanás. Cinco 
coisas que os falsos apóstolos fizeram de acordo com 2 Co 11.20:
Escravizar: eqüivale a “judaizar” . Usado também em Gálatas 
2.4; pode também sugerir subjugação total dos crentes.
Devorar: é o verbo utilizado por Jesus em Lucas 20.47 na sua 
descrição de falsos mestres que cobravam pelos seus serviços. Os 
falsos apóstolos em Corinto provavelmente faziam a mesma coisa.
Deter: sugere a captura de pássaros num alçapão, ou peixes 
numa rede; assim foi a situação dos coríntios!
Exaltar-se: implica na arrogância dos “superapóstolos” , mais 
dedicados aos seuspróprios interesses que ao caminho do Senhor.
2 0 8 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
Esbofetear: Constiui-se uma séria ofensa. Pode resultar de um 
impulso emocional ou da necessidade de castigar alguém. Não 
sabemos se os falsos apóstolos realmente esbofeteavam os coríntios 
ou se o uso é figurado. Seja como for, nesse caso, reflete mais 
uma vez a arrogância dos obreiros fraudulentos.
3. Ataque e defesa
De uma forma geral, o ataque começa no primeiro capítulo.
Paulo não reage ferozmente por ter gênio violento: ele está 
lutando em prol da sobrevivência da Igreja Cristã e foi obrigado a 
se defender. Os crentes coríntios devem saber essas respostas 
para seu próprio uso no caso de futuros ataques do mesmo teor. 
Quais as provas do apostolado de Paulo? Ele as dá (5.12; 13.3) e 
contesta ponto por ponto as acusações feitas contra ele.
4. Acusações contra Paulo 
(implícita na sua autodefesa)
Não cumpre promessas 1.17,18
Falta de cartas de recomendação 3.1
Corrompe as pessoas 7.2
Explora as pessoas 7.2
Tímido 10.1,10
Palavra desprezível 10.10
Seu ensino não justifica sustento da igreja,
daí o seu trabalho 11.7; 12.13
Suas cartas intimidam 10.9
Aproveita aos coríntios 12.14-16
Prega mensagem não recebida de Cristo 13.3
O crente não deve vangloriar-se daquilo que é ou tem feito, 
mas, às vezes, é obrigado a defender o seu ministério para honra 
e glória de Deus e edificação da Igreja. Assim foi o caso de Paulo.
Um Ministério Apostólico 2 0 9
Veja ainda as lindas palavras de Jeremias 9.23,24, citadas por 
Paulo: “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor” (10.17).
IV - Os S o f r i m e n t o s d e u m A p ó s t o l o 
(1 1 .2 3 -1 2 .1 0 )
1. Experiências e viagens
As credenciais de Paulo são as cicatrizes no seu corpo! Ele era 
tão judeu quanto os seus opositores, mas esse fato não vinha ao 
caso. O que importava para ele era a sua fidelidade em cumprir a 
missão confiada a ele pelo Senhor. Paulo tinha certeza de que no 
seu serviço e sofrimento em nome de Cristo ele excedia aos seus 
críticos. Suas exageradas pretensões obrigavam o apóstolo a “se 
gloriar” das suas experiências, e assim faz falando “como se não 
tivesse juízo” (11.21 -23).
Paulo escreveu essa carta da Macedônia pouco depois de sair 
de Efeso. Os sofrimentos aqui descritos deviam ter acontecido no 
decorrer de alguns anos, e sabemos que ele sofreria ainda mais 
nos anos posteriores a essa epístola. Por isso, a lista aqui apresen­
tada é apenas parcial; leia outra vez esse assunto em 1 Coríntios 
4.9-13 e 2 Coríntios 6.4-10. Não sabemos como era o físico de 
Paulo, mas deve ter tido muita resistência para agüentar tudo que 
aqui se enumera. E ainda prossegue na esperança de estender seu 
campo de ação, pregando o Evangelho “para além” daquelas 
fronteiras (10.15,16). A sua perseverança em face do sofrimento é 
mais um indício da realidade da sua chamada divina para ser 
apóstolo dos gentios.
No livro de Atos, onde se encontra a história da fundação da 
igreja em Corinto, Lucas não menciona muitos detalhes sobre a 
vida de Paulo, mas felizmente o apóstolo fala em algumas das 
suas cartas (como o trecho que aqui examinamos) e nos dá uma 
idéia mais íntima da sua situação e seus sentimentos. Os detalhes 
apresentados nos convencem da autenticidade do seu ministério 
apostólico.
2 1 0 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
2. Os sofrimentos de Paulo
Físico — trato brutal, abuso, açoitado, apedrejado, encarcerado.
Privações — sede, fome, esfarrapado, sem sono.
Fraqueza, dureza — trabalho duro, viagens, frio fraqueza 
corporal.
Perigos e desastres — naufrágios, rios, motins, bandidos.
Psicológicos e espiritais — oposição, insultos, calúnia, difi­
culdades, mágoas, medo, humilhação pública, vergonha, 
ameaça de morte e zelo pelas igrejas.
As aventuras e padecimentos de Paulo começam logo após a 
sua conversão. Ele passou a pregar a Cristo, e o perseguidor ficou 
sendo perseguido. E curiosa a referência que faz no capítulo 1 1. 
após contar muitos desastres e perseguições, inclusive um peque­
no episódio ocorrido em Damasco, quando ele desceu num gran­
de cesto muralha abaixo, escapando dos guardas com a ajuda dos 
seus discípulos (At 9.19-25; 2 Co 11.22-32). Evidentemente, 
tinha sido para ele. membro do Sinédrio e respeitado líder, uma 
experiência bem humilhante, e por isso a inclui entre os seus 
sofrimentos. O fugir pode parecer covardia, mas nesse caso, foi o 
jeito que Deus usou para preservar a vida de Paulo para o seu 
futuro ministério tão maravilhoso.
3. Visões e o espinho na carne
Em seu relatório aos coríntios, Paulo salienta nitidamente os 
contrastes da sua vida. Passa, imediatamente, do humilhante epi­
sódio acima descrito à sua gloriosa subida ao terceiro céu! Foi 
uma experiência espiritual que teve, provavelmente quando esta­
va quase morto, após ser apedrejado em Listra (At 14.19-20). Seu 
espírito foi arrebatado a um nível chamado comumente “terceiro 
céu” (além da atmosfera e as estrelas) ou “Paraíso” — a morada 
de Deus e dos remidos (Ef 4.10).
Um Ministério Apostólico 211
Muitos crentes dos nossos dias relatam experiências seme­
lhantes a de Paulo ao serem pronunciados “mortos” pelo médico. 
E um tipo de “previsão” da vida eterna com Deus e com os 
parentes e familiares já falecidos, e alguns afirmam ter falado 
com Jesus antes de serem enviados de volta à terra no momento 
de ressuscitarem. Tais crentes, como Paulo, são grandemente 
inspirados e animados por sua experiência para prosseguirem na 
fé, na expectativa daquela bela e eterna realidade que aguarda 
aqueles que estão em Cristo.
Muito já foi escrito sobre o “espinho na carne” sofrido por 
Paulo (12.7). O que foi isso? Paulo o chama “mensageiro de 
Satanás para me esbofetear” (compare-se Jo 2.7). As hipóteses 
sobre a sua natureza são das mais variadas: (1) ferida física 
decorrente de apedrejamentos e ataques dos judaizantes, (2) uma 
doença grave (G1 4.13,14), (3) malária, (4) problemas com a vista 
(G1 4.15), ou (5) tentações de natureza espiritual (por exemplo, 
orgulho etc).
O mais importante não é o “quê”, mas “por quê”. A semelhança 
de Jesus, o qual orou no Getsêmani que o cálice passasse dEle, 
Paulo pediu três vezes que fosse tirado o seu espinho na carne. O 
Senhor respondeu à sua oração, mas não tirou o espinho. A resposta 
divina tem ajudado milhões de crentes a agüentarem de bom ânimo 
padecimentos os mais diversos: “A minha graça te basta, porque o 
meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (12.9). Foi assim que Paulo, 
uma vez fariseu arrogante e orgulhoso e depois apóstolo abençoado 
com revelações celestiais, aprendeu a humildade e a dependência 
do poder do Senhor na sua própria fraqueza! (12.9.10; 1.9).
Paulo não fala à toa ao afirmar que se gloria nas fraquezas, nas 
injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias por 
amor de Cristo (12.10). Ele se gloria na oportunidade de manifes­
tar a glória e poder de Deus. Assim, foram passos para o amadu­
recimento do apóstolo em Cristo e para a realização de um minis­
tério ainda mais amplo. O verbo da locução “sobre mim repouse” 
(12.9), nos lembra a nuvem da glória de Deus que repousava 
sobre o tabernáculo da Aliança no deserto (Ex 40.34,35).
2 1 2 Comentário Bíblico: 1 e 2 Coríntios
4. O zelo apostólico pelos crentes
Nos versículos 11,12, do capítulo 12, Paulo fala dos sinais, 
maravilhas e milagres como sendo marcas de um apóstolo. Nesse 
momento, usa realmente uma prova ainda mais convincente da 
sua autoridade apostólica — o seu poderoso amor pela igreja de 
Corinto.
Falemos agora do zelo do apóstolo Paulo pela condição espi­
ritual dos coríntios ( I 1.1-4). Ele zela pelos coríntios com zelo de 
Deus, não por causa da sua deslealdade a ele, mas por estarem à 
beira de se mostrarem desleais a Deus. Paulo fora o pai espiritual 
deles e os tinha “desposado” a Cristo, mas agora, alguns deles 
foram enganados e estavam dispostos a aceitar um Jesus, um 
espírito e um evangelho diferentes.
Paulo sabia que Jesus é o único caminho, e quesó uma fé 
viva na morte expiatória de Cristo traz a salvação. O grande 
apóstolo defende ferozmente esse Evangelho, porque receia que 
um “evangelho diferente” possa espalhar-se pela igreja em 
Corinto e que os crentes “se apartem da simplicidade e pureza 
devidas a Cristo” .
Ao encerrar a sua carta, Paulo menciona mais uma vez a sua 
iminente visita (terceira) a Corinto e a sua preocupação acerca das 
condições lá existentes. Ele se preocupa não só pela fé dos coríntios, 
mas também por seu comportamento. Espera que os problemas de 
conduta sejam resolvidos antes da sua chegada lá. Preferiria uma 
visita agradável e pacífica, sem interrupções provocadas ou dis­
putas, partidarismos e pecado na congregação.
Paulo continua orando por seus queridos coríntios. Ora em 
favor do seu aperfeiçoamento na fé e na conduta (13.9). Ele 
sabe que muitos deles são crentes imaturos, mas os faz lembrar 
que são crentes e que estão em Cristo (13.5) e Cristo neles. 
Após contestar nessa epístola tantas acusações acerca da sua 
p esso a e m in is té r io , Paulo passa a ped ir aos corín tios: 
“examinai-vos a vós mesmos, se realmente estais na fé; provai- 
vos a vós m esm os” (13.5).
Um Ministério Apostólico 213
Logo depois lhes assegura que sendo ele autêntico apóstolo, 
reconhece que são verdadeiros crentes. Todos saem aprovados 
por Deus.
O amor é o laço mais forte de união e lealdade que existe. Para 
se manter boas relações, não basta sentir amor; esse amor deve 
ser expresso de alguma forma. Isso é verdade na igreja, no lar e na 
sociedade em geral. Através dessa epístola, Paulo externa o seu 
amor pelos crentes. Procure na sua Bíblia os versículos mencio­
nados no quadro e leia cada um deles.
5. Paulo expressa o seu amor
D e c l a r a ç õ e s de A m o r
Amor em grande medida 2.4
Alarga-se o nosso coração 6.11
Sem limites 6.12
Não vos amo? Deus o sabe! 11.11
N o m e s U sa d o s c o m R e f e r ê n c ia ao s C o r ín t io s
Irmãos 8.1; 13.11
Meus filhos 6.13; 12.14
Amados 7.1; 12.19
Ele amou esses crentes ao ponto de sacrificar-se por eles. Em 
vez de depender do sustento deles, fabricava tendas enquanto 
pregava e ensinava, até receber ofertas de outras igrejas. Como é 
eloqüente a declaração de 2 Coríntios 12.15: “Eu. de muito boa 
vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas” . Paulo 
era um autêntico seguidor de Cristo!
Uma das mais cruéis acusações dos inimigos de Paulo foi que 
ele e Tito eram exploradores das igrejas, e que Paulo estava 
empregando uma parte do fundo de assistência na sua própria 
pessoa (8.22-24:12.14-19). Tais acusações são negadas enfatica­
mente por Paulo, que diz: “E tudo... para vossa edificação” . A sua
2 1 4 Comentário Bíblico: I e 2 Coríntios
próxima visita a eles também visava fortalecer a igreja, e Paulo 
tentava, já com antecedência, estreitar as relações pessoais e 
estimular a fé dos coríntios na sua autoridade apostólica para que 
aquela visita fosse bem-sucedida.
Lemos em 13.1 1-14 a conclusão da carta — o apelo final de 
Paulo, várias saudações e a bênção apostólica. Veja bem os cinco 
segmentos do seu apelo:
1. Aperfeiçoai-vos. Tem aplicação individual, é para toda a 
congregação. Os elementos mencionados a seguir contri­
buem para esse aperfeiçoamento.
2. Consolai-vos.
3. Sede do mesmo parecer.
4. Vivei em paz.
Esses aspectos concernem à atuação mútua e recíproca dos 
membros da congregação, tendo uma larga aplicação em nossos 
dias também.
5. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo.
Naquela altura, os beijos significavam o que nós expressamos 
com abraços e apertos de mão; até hoje, pessoas do sexo masculi­
no se beijam reciprocamente como forma de saudação nos países 
semíticos. Enfim, não importa a forma da saudação cristã, senão o 
amor e sinceridade com que é dada.
Todos os santos vos saúdam. Eu também lhe mando a minha 
calorosa saudação pessoal!
Decore a bênção apostólica do versículo 13 e use no seu 
ministério, pois é tão apropriada para nós, crentes do século XX, 
quanto foi para os de Corinto.
Paulo desafiou os coríntios: “Sede meus imitadores, como 
também eu, de Cristo” (1 Co 11.1). As palavras dele continuam 
nos desafiando nos dias difíceis do mundo de hoje. Ao terminar o 
estudo desta carta, faça uma nova consagração (dedicação) ao 
Senhor, e, ao voltar ao seu ministério, não deixe de usar o dom ou 
dons que Deus lhe tem dado.
Ie2 Coríntios
Thomas Reginald Hoover
Corinto era uma igreja com diversas dúvidas, e 
apóstolo Paulo respondeu-as. Porém as mesmas 
incertezas podem ser encontradas nas igrejas de hoje: 
De que forma o crente deve portar-se?
Os dons fazem de nós pessoas diferentes das demais? 
Por que e como celebrar a Ceia do Senhor?
Qual é o caminho mais excelente?
Existe a ressurreição?
Como devemos contribuir?
E a questão das línguas durante o culto?
É possível retirar o pecado do meio da congregação? 
Essas e outras questões que envolveram a igreja em 
Corinto no século I são abordadas neste livro por 
a lgu ém que se d ed ica a tivam en te ao en sin o 
sistemático da Palavra de Deus.
0 autor
Missionário no Brasil, ministrou em 12 estados. É o 
fundador do Instituto bíblico Betei e autor do livro Missões: 
o ide levado a sério, lançado pela CPAD. Atualmente reside 
em seu país natal, o Canadá.

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