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AN02FREV001/REV 4.0
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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação
CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
Aluno:
EaD - Educação a Distância Portal Educação
AN02FREV001/REV 4.0
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CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
MÓDULO I
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
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SUMÁRIO
MÓDULO I
1 FISIOPATOLOGIA DA DOR
1.2 CLASSIFICAÇÃO DA DOR
1.3 TRANSMISSÃO DO ESTÍMULO ÁLGICO
2 ANALGÉSICOS NÃO NARCÓTICOS
2.1 DIPIRONA
2.1.1 Precauções
2.1.2 Reações adversas
2.2 PARACETAMOL
2.2.1 Farmacodinâmica
2.2.2 Farmacocinética
2.2.3 Indicações
2.2.4 Contraindicações
2.2.5 Precauções
2.2.6 Interações do paracetamol com medicamentos ou alimentos
2.2.7 Reações adversas
2.2.8 Outras reações de incidência rara
2.2.9 Posologia
2.2.10 Superdosagem
2.2.11 Tratamento da intoxicação
2.3 CLONIXINATO DE LISINA
2.3.1 Indicação
2.3.2 Efeitos adversos
MÓDULO II
3 ANALGÉSICOS NARCÓTICOS OU ANALGÉSICOS OPIOIDES
3.1 RECEPTORES OPIOIDES
3.2 EFEITOS FARMACOLÓGICOS DOS OPIOIDES
3.2.1 Sistema Nervoso Central
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3.3 USOS CLÍNICOS DOS OPIOIDES
3.4 USO DOS OPIOIDES ENQUANTO DROGA DE ABUSO
3.5 ANTAGONISTAS OPIOIDES
3.6 EFEITOS ADVERSOS
3.7 CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS DERIVADOS OPIOIDES
3.7.1 Cloridrato de tramadol
3.7.1.1 Propriedades farmacocinéticas
3.7.1.2 Contraindicações do tramadol
3.7.1.3 Posologia e administração
3.7.1.4 Posologia em adultos e jovens com mais de 16 anos
3.7.1.5 Uso em pacientes com insuficiência renal e/ou hepática
3.7.1.6 Uso em idosos
3.7.2 Codeína e associações
3.7.2.1 TYLEX®: composição
3.7.2.2 Posologia e administração
3.7.2.3 Efeitos da superdosagem de codeína
3.7.2.3.1 Intoxicação letal
3.7.2.3.2 Intoxicação crônica
3.7.2.4 Condutas na sobredosagem de codeína
3.7.2.5 Precauções para o uso de codeína
3.7.2.6 Interações medicamentosas
3.7.2.7 Reações adversas
3.7.2.8 Indicações
4 TRATAMENTO DE DOR OROFACIAL
4.1 ESQUEMAS PROPOSTOS PARA O TRATAMENTO DA DOR OROFACIAL
MÓDULO III
5 INFLAMAÇÃO
6 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINEs)
6.1 EFEITOS ANTITÉRMICOS DOS AINEs
6.2 EFEITOS ANALGÉSICOS DOS AINEs
6.3 CLASSIFICAÇÃO DOS AINEs
6.3.1 Anti-inflamatórios inibidores não seletivos da COX
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6.3.1.1 Principais efeitos adversos dos inibidores não seletivos da COX
6.3.1.2 Efeitos farmacológicos dos salicilatos de acordo com a dose
6.3.2 Anti-inflamatórios inibidores seletivos da COX-2
6.3.2.1 Efeitos adversos dos AINEs inibidores seletivos de COX-2
6.3.1.2 Recomendações gerais quanto ao uso de AINEs inibidores seletivos de
COX-2
6.3.1.3 Recomendações específicas
MÓDULO IV
7 ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDAIS OU HORMONAIS
7.1 CLASSIFICAÇÃO DOS HORMÔNIOS ESTEROIDES
7.1.1 Ação anti-inflamatória dos glicocorticoides
7.1.2 Efeitos adversos dos glicocorticoides
7.1.3 Possíveis efeitos do uso em longo prazo (mais de 6 meses)
7.1.4 Indicações clínicas dos glicocorticoides
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MÓDULO I
1 FISIOPATOLOGIA DA DOR
A dor gerou, provavelmente, as primeiras atitudes terapêuticas da
humanidade. A fricção atávica de uma área traumatizada mostra, claramente, a
existência de uma programação neurológica intrínseca destinada ao alívio da dor.
“Sedare dolorem opus divinum est” seria o mais famoso aforisma atribuído ao
próprio Pai da Medicina – Hipócrates. O uso da papoula e de seus derivados
opiáceos já era preconizado no tratamento da dor em formulários tão antigos quanto
o “Grande Herbário” chinês, do Imperador Chen Nung, com mais de 4700 anos.
FIGURA 1 – FISIOPATOLOGIA DA DOR
FONTE: Disponível em: <http://nautilus.fis.uc.pt/personal/antoniojm/images/futebol.jpg>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
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1.2 CLASSIFICAÇÃO DA DOR
Identificar o tipo de dor é fundamental para que se possa fazer a melhor
opção terapêutica. De acordo com a sua natureza, a dor pode ser:
Nociceptiva: quando originada a partir de estimulação de nociceptores.
Esta pode ser:
Somática: receptores da pele e sistema musculoesquelético. Costuma
ser muito bem localizada, descrita simplesmente como dor, contínua e agravada
pelo movimento. Melhores exemplos: dor óssea, ulcerações de pele, linfonodos
inflamados, entre outros.
Visceral: receptores localizados em vísceras. Costuma acontecer em
paroxismos (cólicas), mal localizadas, segue muitas vezes trajetos de dermátomos.
Por exemplo: dor em couraça das lesões de pulmão, cólicas abdominais.
Neuropática: originada a partir de lesões ou compressões em estruturas
do sistema Nervoso Central ou Periférico. Tem características distintas e pode ser
descrita em choque, queimação, facada ou espinhos. Pode ser desencadeada por
um estímulo táctil (alodinia) e ter paroxismos aberrantes (hiperalgesia). Costuma
irradiar-se por trajetos nervosos conhecidos. São exemplos: neuropatia periférica do
diabético, dor ciática, dor do membro fantasma.
Complexas ou mistas: Comumente encontrada em pacientes com
tumores, que por seu crescimento podem provocar inflamação, compressão e
destruição de estruturas, originando uma dor de múltiplas características e que
necessite de uma correta associação de drogas para o seu controle. A dor crônica
não raramente adquire um caráter neuropático pela excessiva ativação de neurônios
em sua transmissão.
Será que, como alguns santos, os cientistas fazem milagres? Muita gente
gostaria de ouvir “dor nunca mais...”, mas por acaso os cientistas pretendem abolir
todas as dores? Será que o homem precisa da dor? A dor é a percepção de uma
experiência sensorial nociceptiva (noceo = nocivo), com conotação (tonalidade)
afetiva aversiva e desagradável, oposta ao prazer. Mas não foi somente o prazer (ou
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a ausência dele) que garantiu o desenvolvimento e a sobrevivência de nossa
espécie.
1.3 TRANSMISSÃO DO ESTÍMULO ÁLGICO
É sempre necessária uma estimulação sensorial forte quando a nossa
sobrevivência corre perigo. É preciso um sinal que dê a percepção de que algo está
errado na relação entre o indivíduo e o ambiente ou algo de anormal está ocorrendo
em seu corpo. Esta percepção de “algo errado” foi selecionada por milhões de anos
durante a evolução das espécies. O desafio sempre foi sobreviver quando as
condições externas favoreciam o nosso desaparecimento. Pelos acasos evolutivos,
sem a natureza dar saltos, os seres vivos presentes neste nosso planeta
desenvolveram mecanismos de autoproteção contra estímulos ambientais nocivos.
A nocicepção (percepção do que causa dano) certamente foi fundamental para que
os animais aprendessem a viver e sobreviver em um ambiente inóspito. É clássico o
exemplo de crianças que, por defeito genético, não sentem dor, tendo uma vida
extremamente problemática, morrendo precocemente.
O homem sempre conviveu com a dor, mas também sempre tentou dominá-
la. É óbvia a contribuição das dores agudas para a sobrevivência. É difícil apontar
um papel evolucionário positivo para as dores crônicas.
De uma forma simplificada existem dois diferentes tipos de dor aguda:
aquele que está relacionado com o ambiente (alo-nocicepção, alo = fora); e aquele
relacionado com a percepção de ocorrências em seu próprio organismo (proprio-nocicepção, proprius = de si).
Os mecanismos nervosos selecionados para a nocicepção ambiental
envolvem uma transmissão neuronal do estímulo muito rápida (±120 m/s, ± 450
km/h) quando comparados com os sistemas que transmitem os estímulos proprio-
nociceptivos originários de um tecido injuriado (± 0,4 m/s, ± 1,5 km/h). O calor ou o
frio intenso, ou mesmo a picada de uma agulha, é rapidamente detectado e
reconhecido pelo organismo, que se protege do estímulo nocivo. Como já
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mencionado anteriormente, a ausência destas respostas poderia levar a uma lesão
que colocaria em cheque a vida do indivíduo.
FIGURA 2 - ESTRUTURA BÁSICA DE UM NEURÔNIO
FONTE: Disponível em: www.utexas.edu/courses/bio365r/Images/neuron.JPG.
Acesso em: 22 jan. 2010.
Nós vivemos, todavia, em um ambiente cujas agressões podem ser menos
dramáticas ou mais lentas, porém não menos perigosas. Uma bactéria ou um vírus
entra sorrateiramente em um tecido e se reproduz lentamente levando a uma
inflamação infecciosa aguda. Outra situação, mais irreverente (talvez um erro em
nossa evolução), é quando o nosso organismo fabrica substâncias contra nossos
próprios tecidos, como, por exemplo, os anticorpos responsáveis pelas doenças
autoimunes (artrite reumatoide). O resultado, neste caso, é uma resposta
inflamatória em várias articulações.
Uma inflamação pode ser resolvida por mecanismos biológicos ou com a
utilização da terapêutica medicamentosa. Esta inflamação aguda, entretanto, pode
persistir e se cronificar. Uma inflamação persistente ou recidivante (crônica com
períodos de agudização) pode levar à destruição permanente dos tecidos.
Frequentemente estes processos são dolorosos e de difícil controle.
Atualmente, a consciência da experiência de sensação da dor é entendida
como uma função cortical. O impulso nervoso sobe pela medula e atinge a parte
basal do cérebro, onde faz a segunda sinapse (relê talâmico). Os sinais podem se
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dirigir diretamente para o córtex (parietal anterior) ou estimularem o sistema nervoso
neurovegetativo (produção de sudorese, aumento de pressão sanguínea e
frequência cardíaca, entre outros). Os estímulos nociceptivos também se dirigem
para o sistema límbico (amígdala), que define a tonalidade afetiva da dor e é um dos
sítios de ação da morfina. Neste local, você tem a sensação, mas não tem a
percepção da dor: “a dor não dói”. O estímulo finalmente atinge a área parietal
posterior, onde acontece a integração da rede neuronal nociceptiva, ocorrendo,
então, a percepção (interpretação) da dor.
As dores proprionociceptivas podem ter três origens em nosso organismo:
De um tecido inflamado (dor inflamatória);
Em razão de uma disfunção fisiológica em um órgão (dor visceral, por
exemplo, cólicas);
Em um nervo (dor neuropática).
A dor neuropática ocorre em um nervo permanentemente lesado por um
trauma físico, biológico, inflamatório ou infeccioso (por exemplo, a dor que ocorre
após uma infecção intensa por herpes, a chamada “dor do nervo trigêmeo”).
As substâncias liberadas pelo desencadear do processo inflamatório
promovem a sensibilização do nociceptor permitindo, assim, que o estímulo ative o
nociceptor do neurônio inflamatório periférico. Podemos, de forma simplificada, usar
o funcionamento de uma campainha (ou a buzina de um carro) para ilustrar algumas
características dos vários tipos de neurônios primários nociceptivos.
O soar da campainha seria o “transmitir a dor” e o botão da campainha
representaria os receptores localizados na membrana dos neurônios sensitivos
primários (nociceptores distribuídos por todas as vísceras e tecidos do organismo).
Uma campainha é energizada eletricamente (bateria neste caso) e o botão
simplesmente interrompe a corrente.
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FIGURA 3 - TRANSMISSÃO NEURONAL
FONTE: Disponível em: <http://respirefisio.wordpress.com/2009/08/06/dor-parte-i/>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
Quando se aperta o botão, o circuito fecha (eletrifica o circuito) e a
campainha toca. Isto é, quando o nociceptor é ativado, gera localmente um potencial
de ação que se transmite pelo neurônio até a medula, onde o sinal é transferido para
o segundo neurônio.
Os nociceptores para detecção de estímulos ambientais obviamente se
apresentam em maior número na pele. As vias nervosas da nocicepção ambiental
(alonocicepção), semelhantemente às campainhas, já estão energizadas (bateria
pronta). Basta um toque para que a campainha soe, porém, o botão desta
campainha é duro de apertar (nociceptores de alto limiar). Na inflamação ocorre sua
sensibilização (hiperalgesia, alodinia ou hipernocicepção). Nestas condições, um
estímulo que era pouco ou inefetivo passa a ser doloroso.
Há um grupo de receptores que parecem ser os mais relevantes para a dor
inflamatória. São os chamados de receptores silenciosos ou dormentes (sleeping
nociceptors), que representam 30% dos nociceptores da pele. Estes não são
ativados mesmo com um estímulo forte, necessitando ser previamente
sensibilizados para sua ativação.
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Para a campainha inflamatória tocar, é necessário ativar a bateria (daí,
então, o botão pode fechar o circuito e tocar a campainha). Os neurônios
nociceptivos inflamatórios primários (NNIP) estão “afuncionais” ou com limiar muito
alto (o botão da campainha é duro de apertar!).
FIGURA 4 - ATIVAÇÃO METABOTRÓPICA
FONTE: Disponível em: <http://respirefisio.wordpress.com/2009/08/06/dor-parte-i/>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
Os mediadores secundários ou segundos mensageiros – presentes no
interior da célula neuronal – são responsáveis pela fosforilação de canais localizados
na membrana celular, tornando os nociceptores funcionais.
No estado sensibilizado dos NNIP, os mediadores ionotrópicos, presentes no
local da inflamação, conseguem ativar os nociceptores mesmo em pequenas
quantidades. Mas, talvez mais importantes que os mediadores, são os estímulos
mecânicos, que em condições normais não produzem dor e agora são capazes de
causá-la (lembrem-se da espinha no rosto e da queimadura de sol). Estes
mediadores ativadores dos nociceptores são denominados de mediadores primários
nociceptivos ionotrópicos. São ionotrópicos porque a geração (potencial gerador) e a
condução (potencial de ação) do estímulo envolvem fundamentalmente trocas
iônicas, principalmente entre Na+ e K+.
Um estímulo nocivo causa uma injúria tecidual, induzindo mudança do
cenário celular decorrente da liberação de mediadores inflamatórios, que são
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basicamente de três tipos: os mediadores nociceptivos “intermediários” (MNI), os
primários (MNP), e os segundos mensageiros ou secundários (MNS). Os
mediadores nociceptivos “intermediários” (MNI) - citocinas e quimiocinas – originam-
se de células locais ou migratórias, estimulando a liberação de outros mediadores
intermediários ou de mediadores primários.
FIGURA 5 - DOR INFLAMATÓRIA
FONTE: Disponível em: <http://www.dol.inf.br/Html/CompreendendoDor.html>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
A figura sumariza os conceitos até agora desenvolvidos. Na inflamação há
liberação de mediadores primários que causam sensibilização de nociceptores ou
sua ativação. Esta sensibilização promovida pelos mediadores secundários
(mecanismo metabotrópico) ocorre pelo abaixamento do limiar de ativação dos
nociceptores e pela facilitação da condução neuronal por tornar funcional uma
família de canais de sódio denominada tetrodotoxina-resistentes (TTX-r). Estes
canais parecem ser específicos dos neurônios nociceptivos inflamatórios.
Atualmente estes canais constituem um dos alvos mais importantes para o
desenvolvimento de analgésicos (inibidores de canais de sódio TTX-r). A
hipernocicepção (hiperalgesia) é um denominadorcomum de todos os processos
inflamatórios.
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Os analgésicos do tipo da aspirina funcionam por inibirem a formação de
prostaglandinas. Estes analgésicos são também chamados de drogas anti-
inflamatórias não esteroidais (AINEs), os quais previnem a sensibilização dos
nociceptores. Na inflamação há duas “prostaglandinas” sensibilizadoras principais, a
PGE2 e a prostaciclina. A prostaciclina produz uma sensibilização imediata e de
curta duração do NNIP. Ao contrário, quando a PGE2 estiver presente na inflamação,
causará uma sensibilização demorada. Na dor de cabeça é possível que a
prostaciclina liberada pelo endotélio seja a substância sensibilizadora. Nesta
eventualidade, o uso de uma droga do tipo da aspirina tem um efeito rápido. Isto não
ocorre em outras eventualidades. Na dismenorreia (cólica menstrual), por exemplo,
consegue-se prevenir o desenvolvimento da dor como tratamento preventivo.
Todavia, quando ela já está estabelecida, o efeito das drogas do tipo da aspirina não
é imediato e somente após sucessivas administrações alcança-se um efeito
analgésico. Entretanto, administrações irregulares podem deixar de controlar a dor,
pois pode ocorrer a formação de prostaglandinas que sensibilizam novamente os
NNIP.
Há um grupo de substâncias que em contraposição às drogas do tipo da
aspirina são capazes de bloquearem diretamente a sensibilização dos nociceptores.
Estas atuam por um mecanismo molecular que bloqueia a diminuição do limiar dos
nociceptores, portanto antagoniza a dor inflamatória. A dipirona pertence a este
grupo.
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FIGURA 6 - NÍVEL DA DOR EM ESCALAS
FONTE: Disponível em: http://www.mundosemdor.com.br/wp-content/uploads/2010/12/escada3.jpg.
Acesso em: 06 jun. 2013.
Obs.: Para saber mais sobre dor acesse: Dol on-line <www.dol.inf.br>
2 ANALGÉSICOS NÃO NARCÓTICOS
2.1 DIPIRONA
A dipirona é um analgésico e antipirético do grupo das pirazolonas já no
mercado mundial há 80 anos;
É comercializada em mais de 100 países, entre eles: Alemanha, Itália,
França, Holanda, Finlândia, Espanha, Argentina, México. Entretanto, em
outros como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá têm seu uso proibido,
justificado pelo risco de agranulocitose associada ao uso da droga;
É o analgésico antipirético mais utilizado no Brasil;
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A sua história é, no entanto, pontilhada por ataques frontais ao seu perfil
de segurança e por defesas igualmente apaixonadas.
No Século XIX, os médicos mostraram a sua grande preocupação com a
analgesia e a anestesia, concentrando nesta direção os seus esforços de pesquisa
terapêutica. Assim, dentre as várias moléculas dotadas de propriedades
analgésicas, surgiu a família das pirazolonas, como a antipirina, sintetizada em
1884, na Alemanha.
Anos mais tarde, em 1897, surgia outro parente, a aminopirina.
Posteriormente, em 1913, a Hoechst AG desenvolvia o primeiro composto injetável
da família, a melubrina. Posteriormente, em 1921, era introduzido no mercado
farmacêutico alemão a primeira pirazolona de uso clínico, que era, em realidade, um
produto composto por 50% melubrina e 50% aminopirina. A indicação terapêutica
era analgésica e antiespasmódica, apesar de ter sido testado até para o tratamento
da tuberculose.
No Brasil, a dipirona foi introduzida em 1922, pela Hoechst AG, com o nome
de Novalgina. Em 1922, coincidentemente, Schultz descrevia o primeiro caso de
agranulocitose não medicamentosa.
Em 1932, Madison & Squier estabeleceram, pela primeira vez, a relação
entre o uso da aminopirina e agranulocitose. O primeiro caso de agranulocitose,
possivelmente relacionado com a dipirona, ocorreu em 1935. Entre 1934 e 1937,
ocorreu, principalmente nos Estados Unidos, uma crescente atenção para tal
possibilidade adversa. Assim, em 1937, a antipirina, que tinha mostrado um perfil
bastante adverso no que concerne à incidência de casos de agranulocitose e
anemia aplástica, foi retirada do mercado pelo Food and Drug Administration. A
aminopirina, por sua vez, dado o seu parentesco com a antipirina, foi colocada no
Schedule IV do Pharmacy and Poisons Act, de 1938, restringindo o seu uso para
“sob prescrição médica”. Assim, a dipirona passou a ser olhada com desconfiança,
dado o seu parentesco com drogas dotadas de um elevado potencial de indução de
reações adversas graves, em especial, a antipirina.
A dipirona é, em verdade, o principal analgésico da terapêutica brasileira,
com 31,8% do mercado, sendo o paracetamol com 29,7%, em segundo e a aspirina,
com 27,1%, em terceiro (GAZETA MERCANTIL, 22/05/2001).
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Existem no país 125 produtos a base de dipirona, sendo 71 em associação a
outras substâncias. Mais de 80% das vendas são sem prescrição médica. Em 1999,
o consumo brasileiro foi de 190,54 toneladas de dipirona. Se ministrássemos a dose
de um grama/dia por 14 dias, teríamos uma população exposta à dipirona de
13.575.321 pacientes. Extrapolando os dados de incidência de agranulocitose de
alguns estudos, teríamos, no Brasil, um potencial de desenvolvimento da
agranulocitose em 105.887 pacientes! Um número absolutamente impensável.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) realizou, nos dias 3 e 4
de julho de 2001, o “Painel Internacional de Avaliação da Segurança da
Dipirona”, contando com a participação de renomados cientistas nacionais e
estrangeiros, além de ouvintes representando diversas instituições, inclusive o
Ministério Público. O objetivo deste painel foi a promoção de amplo esclarecimento
sobre os aspectos de segurança da dipirona, frequentemente questionados por
diversos segmentos médico-científicos e representantes de setores envolvidos com
a defesa do consumidor.
Após intensos debates, os grupos de trabalho manifestaram-se por meio de
relatórios parciais, que de forma consolidada refletiram os seguintes pontos de vista,
aprovados por maioria absoluta: 19 votos a favor e quatro contra:
Há consenso que a eficácia da dipirona como analgésico e antitérmico é
inquestionável;
Há consenso que os riscos atribuídos a sua utilização em nossa
população até esta data são baixos, e que os dados científicos disponíveis
apontando a ocorrência destes riscos não são suficientes para indicar uma alteração
do status regulatório (venda sem prescrição);
Os dados apresentados neste painel permitem aos participantes
concluírem que os riscos da dipirona são similares, ou menores, que o de outros
analgésicos e antitérmicos disponíveis no mercado;
A mudança de regulamentação atual da DIPIRONA incorreria em
aspectos negativos para a população, aumentando os riscos de utilização de outros
fármacos indicados para a mesma finalidade terapêutica.
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TABELA 1 - DIPIRONA: POSOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO
Crianças de 5,5 a 7,5 kg 0,1 a 0,2 ml - somente intramuscular
Crianças de 8 a 10 kg 0,1 à 0,3 ml - somente intramuscular
Crianças de 11 a 15 kg 0,2 a 0,5 ml IM ou IV
Crianças de 16 a 23 kg 0,3 a 0,8 ml IM ou IV
Crianças de 24 a 30 kg: 0,4 a 1 ml IM ou IV
Crianças de 31 a 45 kg 0,5 a 1,5 ml IM ou IV
Crianças de 46 a 53 kg 0,8 a 1,8 ml IM ou IV
Adultos e adolescentes acima de 15
anos
2 a 5 ml IM ou IV
FONTE: Disponível em: <www.pdamed.com.br/bulanv/pdamed_0001_0168_01500.php>.
Acesso em: 11 jan. 2010
Se necessário, a dipirona pode ser dada até quatro vezes ao dia, não
excedendo a dose diária de 6 ml para adultos e acima de 15 anos. Doses maiores,
somente a critério médico. Aplicar a injeção endovenosa lentamente, 1 ml/minuto.
2.1.1 Precauções
O uso da dipirona deve ser feito com cautela ou em casos de extrema
necessidade nas seguintes condições:
Nos três primeiros meses e nas últimas seis semanas da gestação (deve ser
evitado);
Empacientes com asma e infecções respiratórias crônicas;
Pacientes com hipersensibilidade de qualquer tipo;
Crianças menores de três meses de idade ou pesando menos de 5 Kg não devem
ser tratadas com dipirona (possibilidade de interferência com a função renal);
Pacientes com condições circulatórias instáveis (PA sistólica < 100 mmHg);
Pacientes com distúrbios hematopoiéticos;
Em casos de amigdalite ou qualquer outra afecção da bucofaringeana deve merecer
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cuidado redobrado, pois esta afecção preexistente pode mascarar os primeiros
sintomas de agranulocitose (angina agranulocítica);
Pacientes com intolerância conhecida aos derivados pirazolônicos (antipirina,
aminopirina e dipirona) ou pacientes com discrasias sanguíneas;
É contraindicada no primeiro trimestre da gestação, na porfiria hepática e deficiência
congênita de glicose 6-fosfato desidrogenase;
Dipirona não deve ser administrada em altas doses ou por períodos prolongados,
sem controle médico.
Nos tratamentos prolongados, aconselha-se o controle dos pacientes por
meio de hemograma completo, porque a dipirona pode produzir neutropenia e
agranulocitose.
2.1.2 Reações adversas
A dipirona pode provocar, em pacientes sensíveis, reações de
hipersensibilidade, com manifestações cutâneas do tipo alérgicas.
FIGURA 7 - CARTAZ DE AVISO
FONTE: Disponível em: http://www.bebeternura.com.br/blog/wp-content/uploads/2010/06/gravida-
300x300.jpg. Acesso em: 06 de jun. 2013.
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A reação de hipersensibilidade de maior importância, embora rara, é a
ocorrência da forma alérgica da granulocitopenia ou agranulocitose;
Se durante o uso de dipirona surgirem manifestações cutâneas ou nas
mucosas, principalmente na boca ou garganta, o tratamento deve ser imediatamente
suspenso e consultar o médico;
Pacientes com hipersensibilidade a outras drogas ou substâncias podem
constituir um grupo de maior risco e apresentar efeitos colaterais mais intensos, até
mesmo choque;
Quando isto ocorrer deve-se suspender imediatamente o tratamento e
tomar as providências médicas adequadas: colocar o paciente deitado com as
pernas elevadas e as vias aéreas livres. Diluir 1 ml de adrenalina 1:1000 em 10 ml
de água para injeção e aplicar 1 ml desta diluição por via endovenosa e, a seguir,
uma dose alta de glicocorticoide. Pode ocorrer hipotensão em caso de aplicação
intravenosa muito rápida. É possível ocorrer dor e ou reações no local da injeção.
2.2 PARACETAMOL
2.2.1 Farmacodinâmica
Inibe a síntese de prostaglandinas no SNC e na periferia por meio da
inibição da ciclo-oxigenase (COX-3).
Analgésico: o mecanismo de ação analgésica não está totalmente
determinado. O paracetamol pode atuar predominantemente inibindo a síntese de
prostaglandinas no Sistema Nervoso Central (COX-3) e em menor grau bloqueando
a geração do impulso doloroso perifericamente. A ação periférica pode ser
decorrente também da inibição da síntese de prostaglandinas ou da inibição da
síntese ou da ação de outras substâncias que sensibilizam os nociceptores ante os
estímulos mecânicos ou químicos.
Antipirético: o paracetamol provavelmente produz a antipirese atuando
no nível central sobre o centro hipotalâmico regulador da temperatura para produzir
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21
uma vasodilatação periférica que dá lugar a um aumento do fluxo de sangue na
pele, de sudorese e da perda de calor. A ação no nível central provavelmente está
relacionada com a inibição da síntese de prostaglandinas no hipotálamo.
2.2.2 Farmacocinética
Absorção: após a administração oral, a absorção do paracetamol no trato
gastrointestinal é rápida e praticamente total. A administração de
paracetamol conjuntamente com alimentos retarda a absorção do
fármaco. O paracetamol atravessa a barreira hematoencefálica e
placentária.
Biotransformação: o Paracetamol é metabolizado principalmente no
fígado (90-95%), por conjugação com ácido glicurônico e cisteína.
Início da ação: cerca de 30 minutos após a ingestão oral.
Duração da ação: 4 a 6 horas.
Eliminação: cerca de 90% de uma dose terapêutica são excretados na
urina em 24 horas. Do material excretado, 1 a 4% é o paracetamol
inalterado, 20 a 30% são metabólitos conjugados com sulfato, e 40 a 60%
metabólitos conjugados com ácido glicurônico.
2.2.3 Indicações
Como analgésico e antipirético. O paracetamol está indicado para aliviar
dores leves ou moderadas e para reduzir a febre. Só proporciona alívio sintomático;
quando for necessário, deve-se administrar uma terapia adicional para tratar a causa
da dor ou da febre.
O paracetamol pode ser utilizado quando a terapia com ácido acetilsalicílico
não for aconselhável ou for contraindicada, por exemplo, em pacientes que recebem
anticoagulantes, uricosúricos, hemofílicos ou pacientes com outros problemas
AN02FREV001/REV 4.0
22
hemorrágicos e naqueles com enfermidade do trato gastrointestinal superior ou com
intolerância ou hipersensibilidade ao ácido acetilsalicílico.
2.2.4 Contraindicações
Pacientes reconhecidamente hipersensíveis ao paracetamol ou aos outros
componentes da fórmula.
2.2.5 Precauções
Ocorrendo reação de hipersensibilidade ao paracetamol, a administração do
medicamento deve ser suspensa.
Gravidez: não se têm descrito problemas em humanos. Embora não
tenham sido realizados estudos controlados, demonstrou-se que o
paracetamol atravessa a placenta. É admitido seu uso durante a gravidez;
entretanto, deve ser sempre considerado o risco potencial de qualquer
medicamento causar dano ao feto. Seu uso deve ser restrito aos casos
necessários e deve ser por curto período.
Sensibilidade cruzada e/ou problemas associados: os pacientes com
intolerância ao ácido acetilsalicílico podem não apresentá-la em relação
ao paracetamol; no entanto, têm sido descritas ligeiras reações
broncoespasmódicas com paracetamol em alguns asmáticos sensíveis ao
ácido acetilsalicílico (menos de 5% dos ensaiados).
Pacientes diabéticos: deve haver cautela na interpretação dos
resultados laboratoriais de glicemia, pois o uso de paracetamol interfere
em alguns testes laboratoriais para determinação da glicose, gerando
valores falsamente diminuídos.
Outras Situações: a relação risco/benefício da terapêutica com
paracetamol deve ser avaliada nas seguintes situações clínicas:
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23
Alcoolismo;
Enfermidade hepática;
Hepatite viral (aumenta o risco de hepatotoxicidade);
Disfunção renal severa (o uso prolongado de doses elevadas pode
aumentar o risco de aparecimento de efeitos renais adversos).
2.2.6 Interações do paracetamol com medicamentos ou alimentos
Alimentos: a administração de paracetamol conjuntamente com
alimentos retarda sua absorção.
Barbitúricos, carbamazepina, hidantoína, rifampicina e
sulfimpirazona: a hepatotoxicidade potencial do paracetamol pode ser aumentada
por grandes doses ou administração prolongada destes fármacos.
Álcool: a hepatotoxicidade potencial do paracetamol pode ser aumentada
com a ingestão crônica e excessiva de álcool.
Medicamentos hepatotóxicos, indutores de enzimas hepáticas: o
risco de hepatotoxicidade com doses tóxicas únicas ou com o uso prolongado de
doses elevadas do paracetamol pode aumentar nos pacientes que se utilizam
dessas substâncias.
Anticoagulantes derivados da cumarina ou da indandiona: a
administração simultânea crônica de doses elevadas de paracetamol pode aumentar
o efeito do anticoagulante, possivelmente em razão da diminuição da síntese
hepática dos fatores que favorecem a coagulação.
Analgésicos anti-inflamatórios não esteroides, ácido acetilsalicílico
ou outros salicilatos: não se recomenda o uso prolongado e simultâneodo
paracetamol com salicilatos, uma vez que estudos recentes demonstraram que a
administração crônica de doses elevadas de ambos analgésicos (1,35 gramas ao
dia, ou ingestão cumulativa de 1 kg anualmente, por 3 anos ou mais) aumenta
significativamente o risco de aparecimento de nefropatia, necrose papilar renal,
enfermidade renal terminal e câncer de rim ou de bexiga produzidos por
analgésicos. Também se recomenda que a dose combinada de paracetamol e
AN02FREV001/REV 4.0
24
salicilato quando utilizada em curto período de tempo, não exceda a dose
recomendada para o paracetamol ou para o salicilato quando administrados
separadamente. O uso simultâneo e prolongado de paracetamol com outros
analgésicos anti-inflamatórios não esteroides pode aumentar o risco de se produzir
efeitos renais deletérios.
2.2.7 Reações adversas
O paracetamol pode provocar reações adversas nos diferentes sistemas
orgânicos, porém a mais temida reação é a hepatotoxicidade. Embora de
incidência extremamente rara, há relatos de êxito letal em razão de fenômenos
hepatotóxicos provocados pelo paracetamol.
A toxicidade hepática do paracetamol envolve seus mecanismos de
metabolização. Uma pequena porção de paracetamol é metabolizado pelo citocromo
P450, ocorrendo hidroxilação para formar NAPQI (N-acetil-p-benzoquinoneimina),
um intermediário altamente reativo. Este metabólito normalmente reage com grupos
sulfidrila da glutationa. No entanto, após a ingestão de grandes doses de
paracetamol, o metabolito é formado em quantidades suficientes para depletar a
glutationa hepática.
Mediante a depleção da glutationa celular, o metabólito liga-se a
macromoléculas celulares, mecanismo pelo qual o paracetamol promove lesão em
células do fígado.
O paracetamol é mais tóxico, quando as enzimas do citocromo P450 estão
aumentadas, tal como após a exposição ao etanol ou ao fenobarbital, uma vez que
estes são responsáveis pela produção de metabolitos tóxicos.
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25
FIGURA 8 - ESQUEMA DA HEPATOTOXICIDADE DO PARACETAMOL
FONTE: Disponível em: <http://endocrinologiaepediatria.blogspot.com.br/2012_01_01_archive.html>.
Acesso em: 06 jun. 2013.
Com o uso do paracetamol podem ocorrer ainda reações de
hipersensibilidade, sendo descritos casos de erupções cutâneas, urticária, eritema
pigmentar fixo, broncoespasmo, angioedema e choque anafilático.
2.2.8 Outras reações de incidência rara
Discrasias sanguíneas (agranulocitose, anemia hemolítica, neutropenia,
leucopenia, pancitopenia e trombocitopenia);
Hepatite (aparecimento de cor amarela nos olhos e pele);
Hipoglicemia;
Icterícia;
Lesões eritematosas na pele e febre;
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26
Hematúria ou urina turva, micção dificultosa ou dolorosa, diminuição
brusca da quantidade de urina;
Em pacientes com comprometimento metabólico, ou mais susceptíveis,
pode ocorrer acidúria piroglutâmica.
2.2.9 Posologia
Adultos e crianças acima
de 12 anos.
1 comprimido (750mg)
3 a 4 vezes ao dia.
Não exceder o total de 5
comprimidos revestidos
num intervalo de 24 horas.
2.2.10 Superdosagem
Em casos de suspeita de ingestão de doses elevadas de paracetamol, deve-
se procurar imediatamente um serviço médico de urgência.
Os sinais e sintomas iniciais que se seguem à ingestão de uma dose
maciça, possivelmente hepatotóxica, de paracetamol são: náuseas, vômitos, dor ou
sensibilidade à dor na área abdominal superior ou "inchaço" da área abdominal,
sudorese intensa e mal-estar geral. Hipotensão arterial, arritmia cardíaca, icterícia,
insuficiência hepática e renal são também observadas. Os sinais clínicos e
laboratoriais de toxicidade hepática podem não estar presentes até 48 ou 72 horas
após a ingestão da dose maciça.
A intoxicação por paracetamol em crianças parece ser menos frequente que
em adultos, pois há evidências de que as crianças são menos vulneráveis que os
adultos em relação à hepatotoxicidade. Isto pode ser decorrente das diferenças
relativas à idade quanto ao metabolismo do paracetamol. Apesar dessas diferenças,
devem ser tomadas as medidas necessárias em casos de superdosagem em
crianças, da mesma forma que para adultos.
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27
2.2.11 Tratamento da intoxicação
O estômago deve ser imediatamente esvaziado, seja por lavagem gástrica
ou por indução ao vômito com xarope de ipeca. Deve-se providenciar nos centros
com metodologia e aparelhagem adequadas, a determinação dos níveis plasmáticos
de paracetamol. As provas de função hepática devem ser realizadas inicialmente e
repetidas a cada 24 horas até normalização.
Independentemente da dose maciça de paracetamol referida, deve-se
administrar imediatamente o antídoto considerado eficaz, a N-acetilcisteína a 20%,
desde que não tenha decorrido mais de 16 horas da ingestão. A N-acetilcisteína
deve ser administrada por via oral, na dose de ataque de 140 mg/kg de peso,
seguida, a cada quatro horas, por uma dose de manutenção de 70 mg/kg de peso,
até um máximo de 17 doses, conforme a evolução do caso. A N-acetilcisteína a 20%
deve ser administrada após diluição a 5% em água, suco ou refrigerante, preparada
no momento da administração. Além da administração da N-acetilcisteína, o
paciente deve ser acompanhado com medidas gerais de suporte, incluindo
manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, correção de hipoglicemia, administração
de vitamina K, quando necessário e outras. Após a recuperação do paciente, não
permanecem sequelas hepáticas, anatômicas ou funcionais.
N-acetilcisteína a 20%, via oral:
Dose de ataque de 140 mg/kg de peso;
Dose de manutenção de 70 mg/kg de peso, a cada quatro horas por
uma (máximo de 17 doses);
Tratamento indicado desde que não tenha decorrido mais de 16
horas da ingestão do paracetamol.
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2.3 CLONIXINATO DE LISINA
O clonixinato de lisina é um AINE pertencente à família dos não salicílicos e
ao subgrupo dos derivados antranílicos, que tem uma estrutura química similar à do
ácido flufenâmico embora seja um derivado do ácido nicotínico.
2.3.1 Indicação
Está indicado nas dores de cabeça, musculares, articulares, nevríticas,
dentárias, auriculares, menstruais, pós-traumáticas, pós-cirúrgicas e outras, em
particular nas dores originadas em processos inflamatórios.
O clonixinato de lisina deve ser evitado nos casos de:
Hipersensibilidade ao clonixinato de lisina;
Hipersensibilidade individual ao ácido acetilsalicílico ou a outros anti-
inflamatórios não esteroides, manifestada por crise asmatiforme, urticária
ou rinite;
Úlcera péptica ativa ou hemorragias gastrointestinais.
Insuficiência renal.
A utilização dessa droga em pediatria também está contraindicada. Na
gravidez, embora não se tenha provado experimentalmente qualquer efeito sobre a
gestação, o seu uso não é aconselhado, bem como durante o período de
aleitamento.
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2.3.2 Efeitos adversos
Potenciação do efeito anticoagulante dos anticoagulantes orais e dos
heparinoides;
Potenciação do efeito hipoglicêmico das sulfonilureias;
Sensação de enfartamento gástrico ou pirose, que desaparecem
habitualmente sem necessidade de suspender o tratamento;
Nas terapêuticas de alta dosagem, poderá ocasionar náuseas, vômitos,
gastrite ou sonolência.
FIM DO MÓDULO I
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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação
CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
Aluno:
EaD - Educação a Distância Portal Educação
AN02FREV001/REV 4.0
31CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
MÓDULO II
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
AN02FREV001/REV 4.0
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MÓDULO II
3 ANALGÉSICOS NARCÓTICOS OU ANALGÉSICOS OPIOIDES
O ópio, substância original desse grupo farmacológico, é extraído da
papoula, nome popular do Papaver somniferum, uma das muitas espécies da família
das Papaveráceas, que se caracteriza por apresentar folhas solitárias e frutos
capsulados. O Papaver somniferum provavelmente evoluiu de uma espécie silvestre
nativa da Ásia Menor, ou de uma espécie denominada Papaver setegirum, que
crescia nas terras em torno do Mediterrâneo. Das várias espécies de papoula
conhecidas, somente o Papaver somniferum e o Papaver bracteatum produzem ópio
em quantidade significativa. Contudo, esta última é destituída de expressão
comercial. O conhecimento do ópio remonta talvez à pré-história ou, pelo menos,
aos períodos históricos muito distantes.
Os opioides são agonistas dos receptores opioides. Estes existem em
neurônios de algumas zonas do cérebro, espinhal medula e nos sistemas neuronais
do intestino.
FIGURA 9 - PAPAVER SOMNIFERUM
FONTE: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Papaver_somniferum_flowers.jpg>.
Acesso em: 06 jun. 2013.
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33
3.1 RECEPTORES OPIOIDES
Os receptores opioides são importantes na regulação normal da sensação
da dor. A sua modulação é feita pelos opioides endógenos (fisiológicos), como as
endorfinas e as encefalinas, que são neurotransmissores.
Existem três tipos de receptores opioides: mu (), delta () e kappa (). Os
receptores mu são os mais significativos na ação analgésica, mas os do subtipo
delta e kappa partilham de algumas funções. Cada tipo de receptor é ligeiramente
diferente do outro, e apesar de alguns opioides ativarem todos de forma
indiscriminada, os que já foram desenvolvidos ativam apenas um subtipo.
Os opioides endógenos são peptídeos (pequenas proteínas). Os fármacos
opioides usados em terapia apesar de não serem proteínas têm conformações
semelhantes em solução às dos opioides endógenos, ativando os receptores em
substituição destes.
TABELA 2 - EFEITOS FUNCIONAIS DOS PRINCIPAIS RECEPTORES OPIOIDES
FONTE: Adaptado de Rang & Dale, 2004.
AN02FREV001/REV 4.0
34
3.2 EFEITOS FARMACOLÓGICOS DOS OPIOIDES
Os efeitos farmacológicos dos opioides podem ser úteis ou adversos,
conforme a dose e situação. Cada fármaco pode produzir efeitos de intensidade
diferente conforme a sua especificidade para uns ou outros receptores, e outras
características.
3.2.1 Sistema Nervoso Central
Analgesia: os opioides reduzem a dor em ambos os seus componentes,
o sensitivo e o emocional. São eficazes na dor aguda e na dor crônica.
Euforia e disforia: são necessárias maiores doses do que para causar
analgesia. Em pacientes com dores crônicas não ocorre em geral este
efeito. Consiste num sentimento de flutuar agradável e de bem-estar. A
euforia pode degenerar ou ser substituída por disforia, um estado de
ansiedade desagradável e mal-estar.
Depressão respiratória: os opioides diminuem a atividade do centro
neuronal que controla o ritmo e intensidade da respiração. Em altas
doses, a respiração pode cessar por completo (mais comum causa de
morte na overdose).
Sedação: produzem estados de sonolência e confusão mental sem
amnésia.
Miose: consiste na contração da pupila do olho. Ao contrário de muitos
outros fármacos sedativos que produzem midríase (dilatação da pupila),
os opioides levam à miose, um importante sinal na identificação de
overdoses de opioides.
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FIGURA 10 - DILATAÇÃO DA PUPILA
Fonte: Disponível em: <http://mini-manual-tas.blogspot.com.br/2008/11/observao-pupilar.html>.
Acesso em: 06 jun. 2013.
Supressão da tosse: pequenas doses de opioides, ou formas fracas
chegam para produzir este efeito supressor, que é decorrente da
depressão do centro neuronal da tosse no cérebro.
Náuseas: podem produzir náuseas e vômitos se ativarem os centros
quimiorreceptores do cérebro.
Trato gastrointestinal: também existem receptores opioides em alguns
neurônios dos sistemas nervosos autônomos do intestino (plexo de
Auerbach e plexo de Meissner).
Obstipação: os opioides provocam a diminuição da motilidade intestinal,
que leva a maior absorção de água e fezes duras.
Constrição biliar: provocam espasmos nas vias biliares.
Outros: podem provocar hipotensão, prurido, imunossupressão,
broncoconstrição.
AN02FREV001/REV 4.0
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3.3 USOS CLÍNICOS DOS OPIOIDES
Dores crônicas: os opioides são a primeira escolha no tratamento da dor
crônica pós-operativa, no cancro e outras situações. É frequente ser dado
ao paciente o controle de uma bomba, ativada por um botão, que injeta
opioide de acordo com o seu desejo. Existe geralmente um mecanismo
que previne a injeção de doses elevadas (que podem provocar danos
graves), mas na grande maioria dos casos o controle pelo doente reduz a
ansiedade e as doses acabam até por serem mais baixas. Nos doentes
com dores não existe efeito eufórico, mas há efeito sedativo, portanto o
paciente limita-se a carregar no botão quando sente dores, mas de forma
a evitar o efeito de sonolência. O mais usado é a morfina.
Dores agudas intensas: em trauma, dor de cabeça (cefaleia), ou no
parto. Não se devem usar nas cólicas biliares (litíase biliar ou pedra na
vesícula) porque provocam espasmos que podem aumentar ainda mais a
dor. Se a dor é de origem inflamatória são preferíveis os anti-inflamatórios
não esteroides, ou opioides fracos como o tramadol, que também são
analgésicos eficazes nessas situações.
Anestesia: em razão de suas propriedades sedativas, são por vezes
usados na preparação antes da inalação de anestésicos gasosos mais
potentes.
Supressão da tosse: alguns opioides fracos, como a codeína, são por
vezes incluídos em preparações antitussigenas. Há risco de acumulação
das secreções com infecção. Dispneia aguda, principalmente de causa
cardíaca: os opioides, particularmente a morfina, são eficazes contra esta
condição de emergência. Julga-se que o efeito é em razão da ansiedade
com regularização da respiração e menor esforço cardíaco.
Diarreia: como produzem redução da motilidade intestinal são eficazes
contra a diarreia. Não devem ser usados na diarreia em virtude de
infecções.
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37
3.4 USO DOS OPIOIDES ENQUANTO DROGA DE ABUSO
Os opioides apresentam duas características que os tornam drogas de
abuso particularmente perigosas: produzem euforia e bem-estar, mas a sua ação
necessita de doses cada vez maiores para se manter no mesmo nível - fenômeno
de tolerância.
O opioide de abuso mais utilizado hoje é a heroína, um derivado da morfina
com praticamente os mesmos efeitos, mas com maior solubilidade aquosa (o que
facilita o seu consumo). É consumida pela injeção intravenosa com agulha. Esta
forma de consumo leva a uma rápida subida das concentrações sanguíneas, e
resulta numa ação inicial muito mais forte de satisfação intensa, seguida de um
plateau de ação mais moderada e cada vez mais fraca.
A tolerância dos opioides leva o consumidor recreativo a consumir doses
cada vez maiores. Estas provocam alterações bioquímicas temporárias ou
permanentes no cérebro. Julga-se que a produção ou sensibilidade às endorfinas e
encefalinas, opioidesnaturais no ser humano, é reduzida, e o indivíduo passa a
necessitar de doses de opioides exógenos cada vez maiores apenas para se sentir
normal. Quase todos os efeitos do opioide manifestam tolerância, logo um
consumidor de altas doses injeta quantidades de heroína que seriam mortais para
um não consumidor em razão da paragem respiratória. O consumo de heroína leva
à dependência física e psicológica.
A dependência física é um desenvolvimento inevitável e universal no
consumidor de heroína. É fisiologicamente impossível de evitar com o consumo
regular. A cessação do consumo leva à síndrome de abstinência: caracterizada por
tremores; ereção dos pelos ("pele de galinha"); suores abundantes; respiração
rápida; temperatura elevada; ansiedade; hostilidade; vômitos e diarreia. Um sinal
importante é a midríase (dilatação da pupila do olho). Esses sinais só desaparecem
com a administração de um opioide, geralmente de forma instantânea. É apenas
possível para o consumidor crônico parar de consumir opioides evitando a
dependência física se houver consumo cada vez de doses apenas um pouco
menores do fármaco, sem nunca aumentar a quantidade.
AN02FREV001/REV 4.0
38
A dependência psicológica é subjetiva e resultado da memória do prazer
sentido em administrações passadas. Caracteriza-se por um desejo forte, por vezes
violento, de consumir a droga.
FIGURA 11 - CLASSIFICAÇÃO DOS OPIOIDES
FONTE: Adaptado de Rang & Dale, 2004.
Morfina: o mais usado dos opioides, particularmente na dor crônica.
Codeína, dextrometorfano: opioides fracos usados como supressores da
tosse, ou em dores moderadas.
Metadona: usada no tratamento de toxicodependentes, porque a
síndrome da privação é mais branda.
Petidina: usada na dor aguda.
Buprenorfina: agonista parcial, maior meia-vida que a morfina.
Fentanil: alta potência.
Tramadol: não é opioide primariamente, mas sim facilitador da
transmissão por serotonina. É agonista opioide mu fraco, usado em dores
agudas e crônicas moderadas.
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3.5 ANTAGONISTAS OPIOIDES
São fármacos que têm efeitos de bloquear os receptores opioides,
impedindo opioides endógenos ou administrados de atuar.
A naloxona é usada em casos de overdose para evitar depressão
respiratória fatal. Usada também para verificar dependência de opioides.
FIGURA 12 - ANTAGONISTA OPIOIDE
FONTE: Disponível em:
http://www.ff.up.pt/toxicologia/monografias/ano0910/naloxona/naloxona_ficheiros/page0007.htm.
Acesso em: 06 jun. 2013.
3.6 EFEITOS ADVERSOS
A) Prurido
É o efeito colateral mais comum. Ocorre em aproximadamente 60% quando
da administração peridural ou intratecal por migração cefálica no líquido
cefalorraquidiano (LCR) e interação nos receptores opioides do núcleo trigeminal,
podendo ou não ser dose-dependente. Embora de causa incerta, parece não estar
AN02FREV001/REV 4.0
40
relacionado com a liberação periférica de histamina, mas com a ativação central de
um itch-center (centro do prurido) na medula ou de receptores no núcleo trigeminal
ou raízes nervosas em virtude da migração cefálica do opioide.
O uso de fentanil associado ou não a um anestésico local parece estar
associado a uma menor incidência de prurido quando comparado à morfina. Em
obstetrícia há maior incidência por interação com estrógeno. Os pruridos ocorrem
principalmente na face, pescoço e tórax superior, com início em algumas horas pós-
injeção. Uma variedade de agentes tem sido utilizada para prevenir e tratar o
prurido. O tratamento pode ser feito com naloxona, um antagonista efetivo,
nalbufina, droperidol. O uso de anti-histamínico pode ser efetivo por efeito sedativo.
Relativamente fácil de ser tratado, não é considerado importante em relação ao
benefício alcançado com o uso do opioide.
B) Retenção urinária
De incidência muito variável, pode estar por volta de 70 a 80%, é mais
observada em homens jovens. Sua ocorrência não é dose-dependente ou
relacionada com a absorção sistêmica. O mecanismo envolve receptores opioides
na medula espinhal sacral, com inibição do sistema nervoso parassimpático (SNP) e
relaxamento do músculo detrusor, consequentemente aumentando a capacidade da
bexiga.
A retenção urinária associada à morfina tem início em 15 minutos e pode
durar até 16 horas, sendo reversível com naloxona; deve-se ressaltar o risco de
reversão do efeito analgésico do opioide.
C) Depressão respiratória
O uso de doses apropriadas de opioides no neuroeixo não está relacionado
com altas incidências de depressão respiratória quando comparado ao uso de
opioides sistêmicos dose-dependente e gira em torno de 0,1-0,9%; a incidência de
infusão peridural contínua parece não ser maior que o seu uso sistêmico.
Sobre uso contínuo peridural de opioide hidrofílico, principalmente em UTI
em pacientes monitorizados, amplos estudos têm demonstrado relativa segurança.
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41
O mais temido dos efeitos colaterais pode ocorrer em minutos ou horas. É
classificado em depressão precoce, que ocorre até duas horas pós-injeção,
geralmente por fentanil/sufentanil, em razão da absorção sistêmica; e em depressão
tardia, observada depois de duas horas pós-injeção, por migração cefálica no LCR e
interação nos receptores opioides da medula ventral.
Classicamente, com morfina ocorre depressão em seis a 12 horas pós-
injeção, até 24 horas pós. O uso concomitante de sedação com opioide EV e tosse
durante a injeção aumentam o risco. Já em obstetrícia, o risco é menor graças ao
aumento da ventilação por ação da progesterona.
O risco é maior nas disfunções respiratórias, na insuficiência renal, se forem
associados aos benzodiazepínicos, aumento da dose, idade avançada, uso
concomitante de opioides sistêmicos, cirurgias prolongadas, presença de
comorbidades e cirurgia torácica.
O sinal clínico mais confiável desta complicação é a diminuição do nível de
consciência, pois o paciente pode manter frequência respiratória normal com
diminuição de PO2 e aumento de PCO2. O tratamento indicado consiste em oferta de
oxigênio. O uso de naloxona profilática é controverso, uma vez que ainda não há
subsídios que provem sua ação protetora. O tratamento é efetivo com dose de 0,1-
0,4 mg endovenoso. Contudo, a duração clínica de ação é relativamente pequena
quando comparada com a duração do efeito na depressão respiratória e a
necessidade de uma infusão contínua de 0,5-5 ug/kg/h pode ser necessária.
D) Náuseas e vômitos
Ocorre em aproximadamente 20-50% dos pacientes com administração de
dose única de opioide e pode chegar a 45-80% em pacientes recebendo infusão
contínua de opioide. Dados clínicos e experimentais sugerem que a incidência de
náuseas e vômitos é dose-dependente. Uso de fentanil associado a anestésicos
locais em infusão peridural contínua está relacionado com menor incidência de
náuseas e vômitos quando comparado ao uso da morfina. Uma série de agentes
tem sido utilizada com sucesso para tratar as náuseas e vômitos induzidos pelo uso
de opioides no neuroeixo e incluem naloxona, droperidol, metoclopramida,
dexametasona, escopolamina e ondansetrona.
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42
E) Sedação
É dose-dependente, ocorre mais comumente com sufentanil. Associados à
sedação descrevem-se ainda casos de psicose paranoide, catatonia, alucinações;
reversíveis com naloxona.
F) Outras ações no SNC
É raro observarmos rigidez muscular por opioide neuraxial, porém podem
ser vistas mioclonias mais frequentemente. Doses clínicas, mesmo altas, não levam
à convulsão. A excitação do SNC ocorre pela migração do opioide via LCR para
receptores não opioides em tronco cerebral/gânglio da base, com inibição da glicina
ou GABA.
G) Reatividade viral
Há ligação entre pacientes obstétricos com uso de morfina peridurale
herpes simples labial com reativação 2-5 dias após a anestesia peridural. A
manifestação ocorre em mesmo local da infecção primária, principalmente em áreas
da face inervadas pelo nervo trigêmeo. O mecanismo envolve a migração cefálica do
opioide em LCR com interação com nervo trigêmeo.
H) Outros efeitos colaterais
A absorção sistêmica dos opioides administrados no neuroeixo pode estar
associada à diminuição do esvaziamento gástrico e da temperatura (por inibir
tremor), miose, nistagmo e vertigem, efeitos estes reversíveis com uso de naloxona.
Foi associada também oligúria/retenção de líquidos, levando ao edema
periférico, em razão da liberação do hormônio antidiurético (ADH) por migração
cefálica dos opioides no LCR. Morfina no espaço peridural foi associada à
ocorrência de ereção sustentada e dificuldade ejaculatória.
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43
FIGURA 13 - EFEITOS ADVERSOS DOS ANALGÉSICOS OPIOIDES
FONTE: Yagiela; Neidle; Dowd, 2000.
AN02FREV001/REV 4.0
44
3.7 CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS DERIVADOS OPIOIDES
3.7.1 Cloridrato de tramadol
O tramadol é um analgésico opioide de ação central. É um agonista puro
não seletivo dos receptores opioides (mu, delta e kappa) com uma afinidade maior
pelo receptor µ (mu). Outros mecanismos que contribuem para o efeito analgésico
de tramadol são a inibição da recaptação neuronal de noradrenalina e o aumento da
liberação de serotonina.
O tramadol tem um efeito antitussígeno. Em contraste com a morfina, de
uma maneira geral, doses analgésicas de tramadol não apresentam efeito depressor
sobre sistema respiratório. A motilidade gastrointestinal também não é afetada. Os
efeitos no sistema cardiovascular tendem a ser leves. Foi relatado que a potência de
tramadol é 1/10 a 1/6 da potência da morfina.
3.7.1.1 Propriedades farmacocinéticas
Mais de 90% de tramadol é absorvido após administração oral. A
biodisponibilidade absoluta é em média 70%, independente da ingestão
concomitante com alimentos. Após administração intramuscular em humanos,
tramadol é rápida e completamente absorvido: o pico médio de concentração sérica
(Cmáx) é atingido após 45 minutos, e a biodisponibilidade é de quase 100%.
O tramadol atravessa as barreiras, placentária e hematoencefálica.
Pequenas quantidades de tramadol e do derivado O-desmetil são encontradas no
leite materno (0,1 e 0,02, da dose aplicada respectivamente). A meia-vida de
eliminação (t1/2) é de aproximadamente seis horas, independentemente da via de
administração. Em pacientes acima de 75 anos de idade, a meia-vida de eliminação
pode ser prolongada por um fator de aproximadamente 1,4.
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45
3.7.1.2 Contraindicações do tramadol
O tramadol (cloridrato de tramadol) é contraindicado em pacientes que
apresentam hipersensibilidade a tramadol ou a qualquer componente da fórmula;
nas intoxicações agudas por álcool, hipnóticos, analgésicos, opioides e outros
psicotrópicos; em pacientes em tratamento com inibidores da MAO, ou pacientes
que foram tratados com esses fármacos nos últimos 14 dias. Não deve ser utilizado
em epilepsia não controlada adequadamente com tratamento.
3.7.1.3 Posologia e administração
Para se obter efeito ótimo, a posologia deve ser individualizada, ajustada à
intensidade da dor e sensibilidade individual do paciente. O esquema posológico
recomendado serve como regra geral. Deve ser selecionada a menor dose
analgésica eficaz. O tratamento da dor crônica exige um esquema fixo de dosagem.
As doses usuais diárias recomendadas a seguir preenchem as necessidades da
maioria dos pacientes, embora existam casos que necessitem de doses mais
elevadas.
3.7.1.4 Posologia em adultos e jovens com mais de 16 anos
Cápsulas de 50 mg;
Solução oral 100 mg/mL: cerca de 20 gotas (50 mg);
Solução injetável (50 mg/mL): por via intravenosa o conteúdo de uma
ampola por injeção lenta (1 mL, ou seja, 50 mg de cloridrato de tramadol,
por minuto) ou em solução por gotejamento; por via intramuscular o
conteúdo de uma ampola;
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46
Formulação Retard comprimidos revestidos 100 mg: 1 comprimido de
liberação lenta (100 mg), duas vezes ao dia, de preferência pela manhã e
à noite. Tramadol pode ser administrado com ou sem alimentos.
O tramadol em cápsulas e comprimidos revestidos não deve ser mastigado
ou partido. Eles devem ser engolidos inteiros com quantidades adequadas de
líquidos.
Se após administração de dose única de 50 mg de tramadol (equivalente a
uma cápsula, 20 gotas de solução oral ou uma ampola de 50 mg) o alívio da dor não
for alcançado dentro de 30-60 minutos, uma segunda dose única de 50 mg pode ser
administrada.
Em caso de dor grave, se a necessidade for maior, uma dose maior (100 mg
de tramadol) pode ser considerada para dose inicial, a critério médico.
Dependendo da intensidade da dor, o efeito dura de quatro a oito horas.
Normalmente, não se deve exceder doses de 400 mg/dia (correspondente a oito
cápsulas de 50 mg, 20 gotas x oito vezes, oito ampolas de 50 mg, quatro ampolas
de 100 mg ou quatro comprimidos de Tramal® Retard 100 mg).
Entretanto, no tratamento da dor grave proveniente de tumor e na dor pós-
operatória grave, podem ser necessárias doses mais elevadas, sempre a critério
médico.
Para o tratamento da dor aguda pós-operatória, doses ainda maiores podem
ser necessárias para a analgesia pretendida no período imediatamente pós-
operatório. Geralmente, as necessidades após 24 horas não são maiores que a
administração normal.
3.7.1.5 Uso em pacientes com insuficiência renal e/ou hepática
Na dor aguda, o tramadol (solução oral, solução injetável e cápsulas) é
administrado apenas uma vez, ou em pequeno número de vezes. Portanto, não é
necessário ajuste de dose. O tramadol não deve ser administrado aos pacientes
AN02FREV001/REV 4.0
47
com insuficiência renal ou hepática grave. Em casos menos graves, deve-se
considerar o prolongamento dos intervalos entre as doses.
3.7.1.6 Uso em idosos
Na dor aguda, o tramadol é administrado apenas uma vez ou em pequeno
número de vezes. Portanto, não é necessário ajuste de dose. Na dor crônica,
normalmente não é necessário um ajuste da dosagem em pacientes idosos (até 75
anos) sem manifestação clínica hepática ou insuficiência renal. Em pacientes idosos
(acima de 75 anos) a eliminação pode ser prolongada. Portanto, se necessário, o
intervalo da dose deve ser aumentado de acordo com as necessidades do paciente.
3.7.2 Codeína e associações
A codeína é frequentemente associada a outros analgésicos não opioides,
como o paracetamol (Tylex) ou a AINES, como o diclofenaco (Codaten).
3.7.2.1 TYLEX®: composição
Os comprimidos de 7,5 mg e 30 mg contêm: paracetamol 500 mg; fosfato de
codeína 7,5 mg e 30 mg respectivamente.
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48
3.7.2.2 Posologia e administração
A dose deve ser ajustada de acordo com a intensidade da dor e a resposta
do paciente. De modo geral, de acordo com o processo doloroso, recomenda-se:
Tylex 7,5 mg: um comprimido a cada quatro horas. Tylex 30 mg: um comprimido a
cada quatro horas. Nas dores de grau mais intenso (como por exemplo, as
decorrentes de determinados pós-operatórios, traumatismos graves, neoplasias)
recomendam-se dois comprimidos a cada quatro horas.
3.7.2.3 Efeitos da superdosagem de codeína
3.7.2.3.1 Intoxicação letal
A intoxicação por codeína ocorre quando se administra juntamente com
outros princípios ativos analgésicos, anti-histamínicos, sedativos, estimulantes ou
como componente em preparações antitússicas. Por isso, os sintomas são, em
alguns casos, de difícil identificação.
Os sintomas iniciais da overdose são frio, pele molhada, o rash cutâneo,confusão mental, hipotensão, bradicardia, fraqueza e miose. Depois, surgem
sintomas como perda de consciência (podendo chegar ao coma), pupilas em forma
de cabeça de alfinete, respiração fraca e lenta, cianose, pulso fraco, hipotensão
grave, espasmos gastrointestinais e biliares. Mais raramente pode causar edema
pulmonar, espasmos, contrações musculares e convulsões (principalmente em
crianças). O principal e mais perigoso efeito é a depressão respiratória.
A morte por falência respiratória pode ocorrer passadas duas a quatro horas
após a ingestão oral de codeína.
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49
3.7.2.3.2 Intoxicação crônica
A codeína não é muito usada como substância abusiva, contudo causa
alguma dependência. Quando em caso de intoxicação crônica, os sintomas clínicos
nem sempre são evidentes. Quando existem, são principalmente pupilas em forma
de cabeça de alfinete e alterações rápidas de humor.
Os sintomas de abstinência são: câimbras, alterações gastrointestinais
(vômitos, diarreia ou constipação), suores, febre, calafrios, aumento da respiração,
insônia, tremores, midríase, lacrimejamento e mialgia.
3.7.2.4 Condutas na sobredosagem de codeína
Em caso de sobredosagem, é necessário proceder a ventilação artificial; a
administração, por via intravenosa, de fluidos e vasopressores; a monitorização
contínua dos gases sanguíneos, do pH, da respiração, da pressão sanguínea e da
consciência. O paciente deve ser mantido aquecido. Caso o paciente esteja
completamente consciente, pode considerar-se a lavagem gástrica, isto se ainda
não tiverem passado mais de duas horas. Também se pode administrar carvão
ativado para reduzir a absorção da codeína. A diálise não é indicada.
Como antídoto existe o naloxona, um antagonista opioide competitivo. É
administrado por via intravenosa, em doses sucessivas desde 0,4 até 2 mg, até que
seja obtida uma resposta.
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50
3.7.2.5 Precauções para o uso de codeína
Nos casos de trauma craniano ou outras lesões intracranianas, ou quando
há um aumento prévio da pressão intracraniana, os efeitos da depressão respiratória
característicos dos narcóticos podem ser intensificados. Os analgésicos do tipo
narcótico podem provocar efeitos colaterais que chegam a mascarar o quadro clínico
decorrente de traumas cranianos. A administração deste produto assim como de
outros analgésicos narcóticos pode mascarar o diagnóstico ou a evolução clínica de
pacientes com quadros de abdômen agudo.
Tylex deve ser administrado com cautela em pacientes idosos ou
debilitados, e em pacientes portadores de insuficiência hepática ou renal, doença de
Addison ou hipertrofia prostática.
Uso na gravidez e lactação: o emprego de Tylex® não é recomendado
durante a gravidez e lactação, uma vez que a segurança de seu uso por mulheres
grávidas e lactantes ainda não foi estabelecida.
3.7.2.6 Interações medicamentosas
O emprego concomitante de Tylex® com outros depressores do sistema
nervoso central (por exemplo: outros analgésicos narcóticos, tranquilizantes,
sedativos, hipnóticos e álcool) poderá provocar um efeito depressivo potencializado
ou aditivo. Nestes casos, a dose de uma ou ambas as drogas deverá ser reduzida.
O uso de antidepressivos inibidores da MAO ou antidepressivos tricíclicos com
preparações de codeína pode provocar aumento do efeito antidepressivo ou da
codeína.
Anticolinérgicos e codeína, quando usados concomitantemente, podem
produzir íleo paralítico. Uso pediátrico: a segurança e a eficácia da administração de
Tylex® em crianças abaixo de três anos de idade ainda não foi estabelecida,
portanto, seu uso não é recomendado.
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3.7.2.7 Reações adversas
Os efeitos colaterais mais frequentemente observados incluem tontura,
sedação, náusea e vômito.
Também pode ocorrer em raros casos: euforia, disforia, constipação e
prurido. Alguns desses efeitos colaterais podem ser aliviados se o paciente
permanecer deitado.
3.7.2.8 Indicações
Tylex® 7,5 mg é indicado para o alívio de dores de intensidade leve,
como as que acompanham os estados gripais e pequenos ferimentos ou
contusões.
Tylex® 30 mg é indicado para alívio de dores de grau moderado a
intenso, como as decorrentes de traumatismos (entorses, luxações,
contusões, distensões, fraturas), pós-operatório, pós-extração dentária,
neuralgia, lombalgia, dores de origem articular e condições similares.
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52
4 TRATAMENTO DE DOR OROFACIAL
Como pode ser o tratamento da dor dentária aguda?
As medicações mais utilizadas para o tratamento da dor dentária aguda são os
anestésicos locais, os AINEs convencionais, os coxibs e os opioides. Os anestésicos
locais são comumente utilizados para propiciar controle da dor durante procedimentos
odontológicos. Os anestésicos locais de longa duração de ação, tais como a etidocaína e
a bupivacaína, podem também ser utilizados para retardar o início da dor após cirurgia.
Os analgésicos opioides diferem dos analgésicos não opioides, tais como a
aspirina, os AINEs convencionais e os coxibs, em muitos aspectos. Os analgésicos
opioides, em alguns casos, propiciam um grau mais alto de alívio da dor quando ela é
mais intensa; os opioides, entretanto, ao contrário dos AINEs convencionais e dos coxibs,
não possuem propriedades redutoras da febre (antipiréticas). Os opioides podem também
produzir tolerância e/ou dependência física e também não possuem propriedades anti-
inflamatórias, em adição as suas propriedades analgésicas, o que é uma vantagem dos
AINEs convencionais e dos coxibs.
Os AINEs são mais eficazes no tratamento da dor após procedimento quando
administrados imediatamente antes ou imediatamente após a realização deste
procedimento; isso previne a síntese de prostaglandinas associada ao trauma tecidual. O
uso tardio de AINEs propicia analgesia e inibe a subsequente formação de
prostaglandinas, mas não influencia os efeitos das prostaglandinas que já se formaram.
Além disso, uma vez que os AINEs convencionais inibem as plaquetas por meio da
inibição da COX-1 (a única forma de COX contida nas plaquetas), há muito tempo existem
preocupações sobre o seu potencial de causar sangramento excessivo durante a cirurgia.
Os coxibs não afetam a função plaquetária e, portanto, constituem uma opção razoável
para a analgesia perioperatória.
É importante observar que as respostas dos pacientes aos AINEs específicos
variam. A ausência de resposta a um determinado AINE não impede o uso bem-sucedido
de outro.
A dor dentária leve a moderada pode ser tratada com os AINEs convencionais
(incluindo a aspirina), os coxibs ou o paracetamol. Os AINEs convencionais administrados
isoladamente podem proporcionar alívio adequado da dor cuja intensidade seja de leve a
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53
moderada, como aquela associada aos procedimentos odontológicos. A dor que não
responde aos AINEs convencionais ou aos coxibs isoladamente deve ser tratada com uma
combinação de um AINE convencional, coxib ou acetaminofeno (paracetamol) com um
analgésico opioide, tal como a codeína. Mesmo quando são insuficientes isoladamente
para controlar a dor, os AINEs convencionais e os coxibs podem reduzir a dose de opioide
necessária para alcançar alívio. A dor intensa ou persistente pode ser tratada com uma
combinação de um AINE convencional ou um coxib e um opioide mais potente, tal como a
morfina.
Ao selecionar um esquema analgésico, os dentistas estimam o grau de dor
esperado após um procedimento específico e consideram suas experiências clínicas
anteriores; entretanto, é importante avaliar a eficácia do esquema prescrito, uma vez que as
respostas dos pacientes variam. As experiências e as respostas prévias do paciente ao
tratamento analgésico podemtambém constituir uma grande ajuda para a seleção de
medicações específicas.
Em geral, a administração de analgésicos antes da cirurgia odontológica deve ser
feita em esquema regular, pelo menos inicialmente, pois assim podem ser alcançadas
concentrações plasmáticas mais estáveis do agente, com menos exacerbação da dor. Uma
vez estabelecida a dor, os receptores e as vias de dor podem ficar sensibilizados e a dor
pode evoluir. A prevenção da dor pode ser alcançada frequentemente com doses mais
baixas da medicação do que as requeridas para o alívio da dor. Posteriormente, no
transcorrer do tratamento, à medida que a necessidade de analgesia declina, as
medicações podem ser administradas de acordo com a necessidade.
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54
4.1 ESQUEMAS PROPOSTOS PARA O TRATAMENTO DA DOR OROFACIAL
FIGURA 14 – ESQUEMA PARA O TRATAMENTO DA DOR OROFACIAL
FONTE: Arquivo Pessoal do Autor.
FIM DO MÓDULO II
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55
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação
CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
Aluno:
EaD - Educação a Distância Portal Educação
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56
CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
MÓDULO III
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
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57
MÓDULO III
5 INFLAMAÇÃO
A inflamação é um mecanismo de defesa natural do organismo a qualquer
agressão eventualmente sofrida. Sua intensidade mostra-se diretamente
proporcional ao trauma sofrido. Os sinais cardeais que caracterizam a inflamação,
descritos por Cornelius Celsus, no ano V d.C., são: dor, calor, rubor, edema e mais
recentemente incluído, a perda de função.
FIGURA 15 - INFLAMAÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://www.dol.inf.br/Html/CompreendendoDor.html>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
A gênese e manutenção dos sinais da inflamação envolvem a liberação de
inúmeros mediadores químicos como as cininas, neuropeptídios e histamina no local
da lesão tecidual, bem como componentes do complemento, citocinas e outros
produtos dos leucócitos e das plaquetas. Entretanto, merece destaque neste cenário
a ativação da cascata do ácido araquidônico, com a liberação dos eicosanoides,
AN02FREV001/REV 4.0
58
como as prostaglandinas. Assim, a inflamação aguda refere-se à resposta inicial à
lesão tecidual; é inicialmente mediada pela ativação da cascata do ácido
araquidônico, liberação de autacoides, como as prostaglandinas e, em geral,
precede o desenvolvimento da resposta imune.
TABELA 3 – MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO
Fonte: Arquivo pessoal do autor.
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59
FIGURA 16 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA CASCATA DO ÁCIDO
ARAQUIDÔNICO E A GÊNESE DOS MEDIADORES DA INFLAMAÇÃO
FONTE: Arquivo pessoal do autor
As prostaglandinas exercem uma variedade de efeitos sobre os vasos
sanguíneos, as terminações nervosas e as células envolvidas na inflamação. Por
outro lado, os leucotrienos possuem poderoso efeito quimiotático sobre os
neutrófilos e macrófagos, além de promoverem broncoconstrição e alterações da
permeabilidade vascular.
Algumas prostaglandinas sensibilizam terminais nervosos nociceptivos
aferentes a mediadores como a bradicinina. Assim, na presença de prostaglandinas
(PGE1 ou PGE2), vão ser sentidas dores, até mesmo em concentrações de
mediadores inflamatórios, como a bradicinina, que são excessivamente baixas para
causar dores por si mesmas.
A síntese das prostaglandinas é mediada por uma família de isoenzimas
chamadas ciclo-oxigenase (COX). A COX, enzima chave que catalisa a biossíntese
das prostaglandinas, foi isolada em 1976 e clonada em 1988. Em 1991, foi
identificado um gene que codificava uma segunda isoforma da enzima, então
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60
denominada de ciclo-oxigenase-2. Sabe-se, atualmente, que dois genes expressam
duas isoformas distintas bastante similares da enzima: a ciclo-oxigenase-1 (COX-1)
e ciclo-oxigenase-2 (COX-2). As duas isoformas têm estrutura proteica primária
similar e catalisam essencialmente a mesma reação.
A COX-1 e a COX-2 estão presentes em diversos órgãos e tecidos normais
e estão envolvidas em processos fisiológicos e patológicos. A COX-1 faz parte da
constituição do trato gastrointestinal, sendo associada à produção de muco protetor
e à inibição da secreção gástrica, portanto, drogas que inibem essa enzima causam
diversos distúrbios no trato digestivo. Nas plaquetas, a COX-1 está associada à
síntese do tromboxano A2, substância que favorece a agregação e adesão
plaquetária, portanto, a inibição da COX-1 está associada ao risco de sangramento
cutâneo e gastrointestinal. A COX-2 também está presente em diversos órgãos e
tecidos normais, como cérebro, ossos, rins e endotélio vascular, mas não nas
plaquetas. A síntese da COX-2 está aumentada nos processos inflamatórios, tanto
nas articulações, como no endotélio vascular e tecido renal.
Fármacos com ação seletiva sobre a COX-2 inibem a síntese da
prostaglandina I2, que tem ação vasodilatadora e impede a adesão de leucócitos ao
endotélio vascular. A toxicidade dos AINEs, portanto depende, entre diversos
fatores, da sua ação mais ou menos seletiva sobre as ciclo-oxigenases 1 e 2. Como
ambas as enzimas estão presentes no trato gastrointestinal e nos rins, todos os
AINEs podem causar, em maior ou menor grau, lesão nesses órgãos. Drogas que
inibem predominantemente a COX-1 estão associadas a um maior risco para
sangramento, tanto pela inibição na síntese de tromboxano A2, como pela
possibilidade de causarem lesões na mucosa gastrointestinal. Fármacos com ação
seletiva sobre a COX-2 apresentam maior risco de efeito adverso cardiocirculatório,
com hipertensão arterial, arritmia cardíaca e trombose cerebral.
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FIGURA 17 - REPRESENTAÇÃO DO PAPEL BIOLÓGICO DA COX-1 E COX-2 EM
FUNÇÕES FISIOLÓGICAS E NA INFLAMAÇÃO
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
A resposta imune inicia-se quando as células imunologicamente
competentes são ativadas, como resposta a organismos estranhos ou substâncias
antigênicas, liberadas durante a resposta inflamatória aguda ou crônica. O resultado
da resposta imune pode ser benéfico para o hospedeiro quando esta permite que os
microrganismos invasores sejam fagocitados ou neutralizados.
Por outro lado, o resultado pode ser deletério, se resultar em inflamação
crônica, sem resolução do processo subjacente. Este processo pode se prolongar
em um mecanismo de retroalimentação extremamente danoso ao organismo. A
inflamação crônica envolve a liberação de diversos mediadores que não são
proeminentes na resposta aguda.
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FIGURA 18 - PROCESSO INFLAMATÓRIO NOS VASOS
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
6 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINEs)
Desde 1893, quando o químico alemão, Felix Hoffman, motivou a Bayer a
produzir o ácido acetilsalicílico, patenteado como a Aspirina, os agentes anti-
inflamatórios não esteroidais (AINE) passaram a ser as drogas mais largamente
prescritas e usadas em todo o mundo. Estima-se que, somente nos Estados Unidos,
aproximadamente 50 milhões de pessoas aplicam em torno de 5 a 10 bilhões de
dólares por ano no consumo destas drogas.
Os analgésicos e os anti-inflamatóriosnão esteroidais (AINES) estão entre
os fármacos mais utilizados pela população. Rotineiramente são prescritos por
médicos e dentistas para o tratamento de condições inflamatórias crônicas, como a
artrite reumatoide e a osteoartrite, e o tratamento da dor aguda, mas,
lamentavelmente, muitas vezes, o uso destes medicamentos é feito sem a
prescrição de qualquer um destes profissionais. Há, no entanto, o inconveniente de
que o uso destes medicamentos, principalmente se utilizado de forma crônica, venha
a provocar alguns efeitos indesejáveis como distúrbios gastrintestinais, lesões
cutâneas, efeitos renais adversos e outros efeitos colaterais.
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63
Contudo, apesar do largo uso desses agentes, o seu mecanismo de ação
somente foi esclarecido em 1971, quando John Vane, recebeu o Prêmio Nobel pela
sua descoberta, que propôs que os anti-inflamatórios semelhantes à aspirina
suprimem o processo inflamatório pela inibição da ciclo-oxigenase (COX), impedindo
assim a síntese de prostaglandinas. Com a descoberta da COX-2, isoforma induzida
e expressa predominantemente durante o processo inflamatório, uma nova
perspectiva terapêutica emergiu para o desenvolvimento de drogas mais seletivas e
com menores efeitos adversos. O conjunto desses agentes originou uma nova
geração de anti-inflamatórios (inibidores seletivos da COX-2), denominados de
Coxibes. Mais recentemente, novas motivações para o uso clínico e para a pesquisa
foram encontradas com a descrição de uma terceira variante da ciclo-oxigenase
denominada de COX-3.
Os AINEs possuem propriedade antitrombótica, antitérmica, analgésica e
anti-inflamatória. Seu efeito anti-inflamatório vem da inibição da síntese de
prostaglandinas, efetuada mediante a inativação da enzima ciclo-oxigenase. Esta
inativação se dá de forma reversível ou irreversível, dependendo do tipo de AINE
empregado. O efeito dos AINEs é inespecífico, sintomático e não interfere na história
natural do processo inflamatório.
Mecanismo de Ação dos AINEs
Inibição da síntese de Prostaglandinas (PGs)
por meio do bloqueio das enzimas
Ciclo-oxigenases (COXs)
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FIGURA 19 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO MECANISMO DE AÇÃO
DOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
6.1 EFEITOS ANTITÉRMICOS DOS AINEs
A temperatura corporal normal é regulada por um centro no hipotálamo que
assegura um equilíbrio entre a perda e a produção de calor. A febre ocorre quando
há um distúrbio deste termostato hipotalâmico que provoca a elevação do ponto de
ajuste da temperatura corporal. Os AINEs aparentemente reajustam o termostato.
Uma vez ocorrido o retorno ao ponto de ajuste normal, os mecanismos de regulação
da temperatura (dilatação dos vasos sanguíneos de superfície, sudorese, entre
outros) deixam de atuar. A temperatura normal não é afetada pelos AINEs.
O mecanismo da ação antipirética dos AINEs é considerado, pelo menos em
parte, como inibição da produção de prostaglandinas no hipotálamo. Durante uma
reação inflamatória, as endotoxinas bacterianas induzem os macrófagos a liberar um
pirógeno - interleucina 1 ( IL-1 ). Há evidências de que IL-1 estimula a produção, no
hipotálamo, das prostaglandinas tipo E, e que estas, por sua vez, podem causar a
elevação do ponto de ajuste da temperatura. Outras evidências indicam que as
AN02FREV001/REV 4.0
65
prostaglandinas não são os únicos mediadores da febre; os AINEs podem, pois, ter
outro efeito antipirético por mecanismos ainda não conhecidos.
6.2 EFEITOS ANALGÉSICOS DOS AINEs
Evidências recentes, mostrando que AINEs injetados no canal espinhal
podem produzir analgesia, sugerem que a inibição da geração de prostaglandinas
na medula espinhal pode contribuir para sua ação analgésica. Os AINEs são
eficazes principalmente contra aqueles tipos de dor em que as prostaglandinas
agem sensibilizando os nociceptores, como as dores associadas a inflamações ou
danos teciduais. Isso explica por que eles são, por exemplo, eficazes na artrite,
bursite, dor de origem muscular e vascular, odontalgia, dismenorreia, dor de estado
pós-parto e a dor de metástases de câncer em ossos – todas são condições que se
associam a um aumento da síntese de prostaglandinas. Em combinação aos
opioides, os AINEs diminuem a dor pós-operatória e, em alguns casos, podem
diminuir em até um terço a dose necessária de opioides. Sua capacidade de aliviar
cefaleias pode estar relacionada com a anulação do efeito vasodilatador das
prostaglandinas sobre a circulação cerebral.
FIGURA 20 - SENSIBILIZAÇÃO DE NOCICEPTORES
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
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6.3 CLASSIFICAÇÃO DOS AINEs
Os AINEs pertencem a duas grandes classes:
Inibidores não seletivos da COX;
Inibidores seletivos da COX-2.
Os AINEs com ação predominante sobre a COX- 1 são: ácido acetilsalicílico
(AAS), indometacina, ibuprofeno, fenoprofeno, cetoprofeno e piroxican. Esses
medicamentos são comercializados há muitos anos e são os mais utilizados em
adultos e crianças.
Os coxibes (celecoxibe), valdecoxibe, rofecoxibe e etoricoxibe são inibidores
potentes da COX-2. Até 2013, nenhum desses fármacos foi avaliado a segurança e
eficácia em indivíduos abaixo de 18 anos de idade.
TABELA 4 - CLASSIFICAÇÃO DOS AINEs
Classificação dos AINEs
1. Ácidos e ésteres salicílicos – AAS, diflunisal, benorilato.
2. Ácidos acéticos – fenilacéticos: diclofenaco, alclofenaco, fenclofenaco.
3. Ácidos carbo e heterocíclicos – etodolaco, indometacina, sulindac, tolmetin.
4. Ácidos propiônicos – carprofen, flurbiprofen, cetoprofeno, oxaprozin,
suprofeno, ibuprofeno, naproxeno, fenoprofeno.
5. Ácidos fenâmicos – flufenâmico, mefenâmico, meclofenâmico.
6. Oxicams – piroxicam, sudoxicam, isoxicam, tenoxicam, meloxicam.
7. Compostos não acídicos – nabumetona.
8. Coxibes – celecoxibe, rofecoxibe*, etoricoxibe, valdecoxibe, parecoxibe.
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
AN02FREV001/REV 4.0
67
Todos os AINEs possuem eficácia anti-inflamatória similar. O AAS é
protótipo do grupo, por ser o mais antigo, menos oneroso e mais bem estudado, é
utilizado como referência nos estudos dos demais compostos do grupo.
Sendo a eficácia similar, a escolha do AINE a ser indicado, deve basear-se
em outros critérios como:
Toxicidade relativa;
Conveniência para o paciente;
Custo;
Experiência de emprego.
Embora os efeitos adversos sejam qualitativamente iguais, há diferenças
quantitativas de intensidade e prevalência dos mesmos. Assim, derivados da
pirazolona (fenilbutazona) são demasiadamente tóxicos para serem usados como
analgésicos ou em processos inflamatórios menores. Por outro lado, o Nimesulide
parece ser particularmente útil em pacientes que têm intolerância ao AAS e a outros
AINEs. A conveniência se refere ao número de administrações diárias que variam de
1 a 4, dependendo da meia-vida das substâncias, o que influencia a adesão do
paciente ao tratamento. Nessa perspectiva, salienta-se o Piroxicam administrado a
cada 24 horas.
O custo diário com doses médias é bastante variável, devendo ser analisado
antes da prescrição. No Brasil, a diferença de preço entre os AINEs pode ser de dez
vezes, com o AAS, Piroxicam e Ibuprofeno entre os de menor custo.
AN02FREV001/REV 4.0
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TABELA 5 - CARACTERÍSTICAS FARMACOLÓGICAS DOS PRINCIPAIS AINEs
Fármaco
Meia-vida
(horas)
Exemplo comercial Dose recomendada
AINES inibidores não seletivos da COX
Ácido
Acetilsalicílico
0,25 Aspirina 1,2 –1,5 g, 3 x ao dia
Cetoprofeno 1,8 Profenid® 70 mg - 3 x ao dia
Diclofenaco 1,1
Voltaren ®
Cataflam®
50-75 mg - 4 x ao dia
Diflunisal 13 Dorbid® 500 mg - 2 x ao dia
Fenilbutazona 68 Butazolidina® 100 - 200 mg- 3 x ao dia
Fenoprofeno 2,5 Trandor® 200 mg - 4 x ao dia
Ibuprofeno 2 Spidufen® 400 - 600 mg - 4 x ao dia
Indometacina 4-5 Indocid® 50-70 mg - 3 x ao dia
Naproxeno 14 Naprosyn® 375 mg - 2 x ao dia
Piroxicam 57 Feldene® 20 mg ao dia
Ac. Mefenâmico 4 Ponstan® 500 mg - 3 x ao dia
Tenoxicam 42-98 Tilatil® 10 – 20 mg ao dia
Nimesulida 1-2 Nisulid® 200 mg – 2 x ao dia
AINEs inibidores seletivos da COX2
Celecoxib 8 - 12 Celebra® 200 mg - 2 x ao dia
FONTE: Adaptado de Wannamacher, 1999.
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69
6.3.1 Anti-inflamatórios inibidores não seletivos da COX
Atualmente, ainda é mais amplo o uso dos inibidores não seletivos de COX.
Apesar das vantagens da inibição seletiva da COX-2, não há ensaios clínicos
controlados de longo prazo, de modo que complicações com uso extensivo destas
drogas são imprevisíveis.
Contraindicações ao uso de AINEs
1. Presença de:
Sinais e sintomas de doenças renais, pépticas, cardíacas ou
diabetes;
Hipovolemia, desidratação (> 10% peso corpóreo total);
Hipertensão arterial;
Alterações na coagulação;
Pólipos nasais, angioedema e broncoespasmo.
2. Antecedentes mórbidos:
Reação alérgica aos AINEs;
Ulceras e gastrites;
Doença renal;
Insuficiência cardíaca congestiva;
Diabetes.
3. Uso concomitante de medicamentos:
Outros AINEs (incluindo baixas doses de AAS);
Fármacos com ação anticoagulante;
Corticosteroides.
4. Doença viral: AAS (Síndrome de Reye)
5. Uso de álcool
AN02FREV001/REV 4.0
70
6.3.1.1 Principais efeitos adversos dos inibidores não seletivos da COX
1) Gastrointestinais:
Irritação epigástrica;
Gastrites;
Úlceras;
Náuseas, vômito.
2) Inibição da agregação plaquetária;
3) Acidose respiratória e metabólica não compensada (AAS);
4) Hipertensão;
5) Reações cutâneas de hipersensibilidade;
6) Asma;
7) Reação anafilática;
8) Agranulocitose, anemia aplástica.
FIGURA 21 - EFEITOS ADVERSOS ASSOCIADOS AOS AINEs
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
AN02FREV001/REV 4.0
71
FIGURA 22 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS EFEITOS DOS AINEs
SOBRE O SISTEMA RENAL
Fonte: Arquivo pessoal do autor.
Em patologias renais, cardíacas, hepáticas ou mediante o uso de diuréticos, observa-se
redução da volemia e redução do fluxo sanguíneo renal, que promovem o aumento da síntese
e liberação de vasoconstritores, como a angiotensina II, catecolaminas e vasopressina. Nessa
situação, a síntese de prostaglandinas renais é fundamental para limitar os efeitos dos
agentes vasoconstritores, preservando a função renal. Entretanto, o uso dos AINEs nessas
condições e consequente inibição da síntese de prostaglandinas promovem exacerbação do
efeito vasoconstritor, reduzindo a função renal.
AN02FREV001/REV 4.0
72
6.3.1.2 Efeitos farmacológicos dos salicilatos de acordo com a dose
FIGURA 23 - EFEITOS DOS SALICILATOS
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
Náuseas e vômitos ocorrem em consequência da estimulação dos
receptores da mucosa pela irritação gástrica; e da estimulação dos receptores
acessíveis a partir do líquido cerebrospinal, provavelmente no quimiorreceptor da
medula.
Hiperventilação marcada ocorre como consequência do estímulo direto do
centro respiratório. A estimulação indireta da respiração é causada pela produção
aumentada de CO2 em consequência do desacoplamento da fosforilação oxidativa
induzida pelos salicilatos. A alcalose respiratória é consequência da estimulação
direta e indireta do centro respiratório. Numa tentativa de compensação, o
bicarbonato, acompanhado pelo sódio, potássio e água, é excretado na urina. O que
vai resultar numa desidratação e hipocalcemia, mas, mais importante, a perda do
AN02FREV001/REV 4.0
73
bicarbonato diminui a capacidade tampão do corpo e permite o desenvolvimento de
uma acidose metabólica.
O efeito pirético de doses tóxicas de AAS é um resultado direto do
desacoplamento da fosforilação oxidativa, e a sudorese que acontece
posteriormente contribui ainda mais para a desidratação.
Doses elevadas de salicilatos têm efeitos tóxicos adicionais no SNC,
consistindo numa estimulação (incluindo convulsões) seguida de depressão,
confusão, vertigem, tremor nas mãos (sinal precoce de encefalopatia hepática),
delírio, psicose, adormecimento e coma.
Doses muito elevadas de salicilatos têm um efeito depressor na medula e
podem causar paralisia respiratória central, bem como colapso circulatório repentino
subsequente à depressão vasomotora.
A perda da capacidade tampão, e os efeitos do AAS no metabolismo dos
hidratos de carbono, lipídios e proteínas conduzem ao desenvolvimento de uma
acidose metabólica, ou mais geralmente, a um distúrbio do equilíbrio ácido-base. A
inibição competitiva de desidrogenases dependentes de NAD+ no ciclo do ácido
cítrico conduzirá à acumulação de intermediários ácidos.
O AAS aumenta a entrada e a oxidação de ácidos graxos nas células do
fígado, conduzindo a um aumento da cetogênese, e inibirá também a incorporação
dos aminoácidos em proteínas causando aminoacidemia.
Numa situação de acidose, a entrada do íon salicilato nas células é
promovida, e os efeitos metabólicos são exacerbados.
Hipo e hiperglicemia podem ocorrer na intoxicação com AAS, a
hipoglicemia é provavelmente consequência da demanda aumentada de oxidação
da glicose nos tecidos em razão do desacoplamento da fosforilação oxidativa;
Neuroglicopenia pode ocorrer na presença de açúcar sanguíneo em concentrações
normais.
Se as reservas hepáticas de glicogênio forem adequadas, a produção de
catecolaminas estimula a glicogenólise que conduz à hiperglicemia que pode
persistir por diversos dias; concentrações aumentadas de corticosteroides
plasmáticos aumentam provavelmente este efeito.
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74
A intoxicação é frequentemente acompanhada por hipoprotrombinemia
em virtude de uma ação warfarina-like no ciclo da vitamina K1-epóxido, embora isto
raramente cause problemas clínicos.
6.3.2 Anti-inflamatórios inibidores seletivos da COX-2
A CATEME (Câmara Técnica de Medicamentos) considerou que existem
evidências de eficácia dos coxibes como analgésicos e/ou anti-inflamatórios para
diversas indicações aprovadas no Brasil para os seguintes produtos:
TABELA 6 - AINEs INIBIDORES SELETIVOS DA COX-2
Princípio ativo Nome comercial Fabricante
Celecoxibe CELEBRA® Pfizer
Etoricoxibe ARCOXIA® Merck Sharp & Dohme
Lumiracoxibe* PREXIGE®* Novartis
Parecoxibe BEXTRA IM/IV® Pfizer
Rofecoxibe* VIOXX® Merck Sharp & Dohme
Valdecoxibe BEXTRA® Pfizer
*Registro cancelado.
FONTE: Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/cateme/cox2.htm>.
Acesso em: 11 jan. 2010.
A dose diária e tempo de uso variam conforme o produto e a indicação
terapêutica. Considera-se que não há prova conclusiva de eficácia e segurança na
faixa pediátrica para os coxibes atualmente registrados no Brasil. Os coxibes não
são considerados mais eficazes que os outros anti-inflamatórios não esteroidais
(AINEs) para as indicações aprovadas. Quanto à segurança, de uma maneira geral,
os ensaios clínicos com os coxibes mostraram uma incidência menor de
complicações no trato gastrointestinal (TGI) superior que os comparadores utilizados
(outros AINEs).
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75
Existem estudos que sugerem um aumento de eventos cardiovasculares
associados ao uso de coxibes, ressaltando-se que tais eventos são
farmacologicamente plausíveis para a classe dos coxibes. Por não existirem ensaios
clínicos que comparem entre si, a segurança entre coxibes, é difícil se estabelecer
se há uma variação de risco de reações adversas cardiovasculares entre os
diferentes medicamentos pertencentes a essa classe.
De uma maneira geral,parece que os riscos de reações adversas
cardiovasculares estão relacionados com a dose e ao tempo de uso dos coxibes. Há
reações adversas associadas ao uso de coxibes, seja por feito de classe dos
mesmos, como a nefrotoxicidade, seja por reações raras e presumivelmente
idiossincrásicas associadas a cada um deles, individualmente.
6.3.2.1 Efeitos adversos dos AINEs inibidores seletivos de COX-2
Lesões gástricas (pouca incidência);
Potencialização de problemas gástricos preexistentes;
Eventos cardiovasculares tromboembólicos;
Hipertensão;
Insuficiência renal;
Edema periférico;
Urticárias;
Reações alérgicas;
Cefaleia;
Redução da reparação óssea;
Vasculite alérgica seguida de necrose difusa.
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6.3.1.2 Recomendações gerais quanto ao uso de AINES inibidores seletivos de
COX-2
Tendo em vista recentes mudanças no conhecimento do perfil de
segurança dos inibidores de COX-2, é indispensável que prescritores e
dispensadores se mantenham constantemente atualizados quanto aos fármacos
dessa classe terapêutica;
Não há estudos que demonstrem a segurança da utilização desses
fármacos em pacientes menores de 18 anos;
Pacientes tratados com qualquer inibidor seletivo de COX-2, e que
tenham doença cardíaca isquêmica ou doença cardiovascular, devem ter seus
tratamentos substituídos, tão logo seja possível, por inibidores não seletivos de
COX-2;
Para todos os pacientes, a alternativa de tratamento com inibidores não
seletivos de COX-2 deve ser considerada à luz de uma avaliação individual de riscos
e benefícios de inibidores de COX-2, em particular, de fatores de risco
cardiovascular, gastrointestinal e outros;
Prescritores devem ser alertados que para todos os AINEs, incluindo os
inibidores de COX-2, deve-se usar a menor dose efetiva pelo menor tempo
necessário de tratamento;
Para pacientes cujo tratamento foi substituído por AINEs não seletivos,
deve-se considerar a possível necessidade de tratamentos gastroprotetores;
Está contraindicado o uso de inibidores seletivos de COX-2 em pacientes
sob tratamento com ácido acetilsalicílico como antiagregante plaquetário;
Monitoramento e notificação de reações adversas observadas em
pacientes sob tratamento com inibidores de COX-2.
AN02FREV001/REV 4.0
77
6.3.1.3 Recomendações específicas
Excluir a indicação de uso para a profilaxia de poliposes adenomatosas
familiares com relação ao celecoxibe;
O uso de valdecoxibe e parecoxibe está contraindicado para pacientes
que realizaram procedimentos cirúrgicos de revascularização do miocárdio;
Considerar a interrupção de uso de valdecoxibe na presença de
exantema cutâneo, lesão de mucosa ou qualquer outro sintoma indicativo de
hipersensibilidade, pois foram observadas as seguintes graves reações cutâneas
com esse fármaco: síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica, em
pacientes com ou sem história de alergia a sulfonamidas;
Para o celecoxibe não utilizar doses diárias superiores a 400 mg e revisar
os tratamentos nos quais são administradas doses diárias superiores a 200 mg.
Resumindo:
Todos AINEs são inibidores da COX:
Inibidores não seletivos;
Inibidores seletivos.
Possuem ação analgésica, anti-inflamatória e antipirética.
Diferem quanto à potência e duração do efeito.
Seus efeitos colaterais são extensões dos efeitos
farmacológicos:
Lesão gástrica;
Alterações cardiovasculares.
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TABELA 7
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
FIGURA 24 - QUADRO REPRESENTATIVO DAS VANTAGENS E
DESVANTAGENS DOS DIVERSOS AINEs
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
FIM DO MÓDULO III
AN02FREV001/REV 4.0
79
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA
Portal Educação
CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
Aluno:
EaD - Educação a Distância Portal Educação
AN02FREV001/REV 4.0
80
CURSO DE
FARMACOLOGIA DOS
ANALGÉSICOS E ANTI-
INFLAMATÓRIOS
MÓDULO IV
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
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81
MÓDULO IV
7 ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDAIS OU HORMONAIS
Os corticosteroides são substâncias endógenas que estão quimicamente
classificadas como esteroides, e são originalmente identificados no córtex da
glândula adrenal. A glândula adrenal na verdade consiste em duas pequenas
glândulas dispostas acima dos rins. A porção externa da glândula adrenal, o córtex
adrenal, é essencial para a vida. Sua origem embriológica é completamente
diferente daquela da medula adrenal.
FIGURA 25 - GLÂNDULA SUPRARRENAL
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
AN02FREV001/REV 4.0
82
7.1 CLASSIFICAÇÃO DOS HORMÔNIOS ESTEROIDES
O córtex adrenal produz vários hormônios potentes, todos derivados
esteroides possuindo o núcleo ciclopentanoperidrofenantreno característico. Estes
hormônios esteroides são agrupados em três classes gerais, cada uma com funções
características:
(1) Os glicocorticoides, que atuam primariamente no metabolismo das
proteínas, carboidratos e lipídeos;
(2) Os mineralocorticoides, que atuam primariamente no transporte de
eletrólitos e na distribuição de água nos tecidos;
(3) Os androgênios ou estrogênios, que atuam primariamente sobre as
características sexuais secundárias em seus órgãos alvos específicos.
No ser humano, o principal glicocorticoide é o cortisol (ou hidrocortisona),
enquanto o mineralocorticoide mais importante é a aldosterona.
O cortisol é o glicocorticoide humano mais importante. Ele é essencial para a
vida e regula ou sustenta uma grande variedade de funções cardiovasculares,
metabólicas, imunológicas e homeostáticas. A sua síntese e liberação ocorrem
naturalmente pelo organismo, de acordo com sua necessidade, sob influência do
ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). A concentração de corticosteroides
endógenos (cortisol, cortisona e corticosterona) na corrente circulatória apresenta-se
elevada, pela manhã, e baixa, à noite, sendo que fatores psicológicos e certos
estímulos, como excesso de calor ou frio, lesões ou infecções, podem afetar a
liberação destes glicocorticoides. Os receptores de glicocorticoides são encontrados
nas células de quase todos tecidos de vertebrados.
AN02FREV001/REV 4.0
83
FIGURA 26 - REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DO CORTISOL
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
O córtex adrenal é de origem mesodérmica e subdividido em três zonas
concêntricas conforme a disposição e aspecto de suas células. Os hormônios do
córtex adrenal são sintetizados a partir do mesmo precursor, o colesterol. São
compostos esteroides que têm ação sobre o metabolismo de proteínas, glicídios,
lipídios e minerais. O colesterol provém do plasma, transportado por lipoproteínas de
baixa densidade (LDL), mas também pode ocorrer a partir da acetilcoenzima A
(acetil-CoA).
A síntese dos glicocorticoides ocorre em reposta à ação do ACTH (hormônio
adrenocorticotrófico), liberado pela adeno-hipófise. A produção do ACTH por sua vez
é regulada pelo hipotálamo, por meio do Fator Liberador de Corticotrofina. Os
corticoides circulantes exercem um efeito de feedback negativo sobre o eixo
hipófise-hipotálamo.
AN02FREV001/REV 4.0
84
7.1.1 Ação anti-inflamatória dos glicocorticoidesOs glicocorticoides têm a capacidade de modificar o processo inflamatório
dos tecidos que ao serem agredidos apresentam um extravasamento de fluidos
intracelulares para o espaço peritecidual. Em seguida, a área é invadida por
leucócitos e se inicia o processo de cicatrização com a formação de coágulo. As
doses farmacológicas de cortisol e seus análogos têm a propriedade de limitar esse
processo, sendo que esses efeitos levam a encobertar processos infecciosos em
pacientes que fazem uso dessas substâncias por longo tempo.
Essa propriedade terapêutica de reduzir dramaticamente a resposta
inflamatória e suprimir a imunidade é a mais importante dos glicocorticoides. O
mecanismo exato é complexo e não totalmente compreendido.
Entretanto, sabe-se que a diminuição e a inibição dos linfócitos e
macrófagos periféricos têm participação no processo. Há também evidências
substanciais de que os glicocorticoides induzem a síntese de uma proteína que inibe
a fosfolipase A (em razão da elevação esteroide-dependente da lipocortina) e,
portanto, diminui a liberação de ácido araquidônico dos fosfolipídios, como mostrado
na figura a seguir, o que diminui a formação de PGs, leucotrienos e compostos
correlatos, que tem papel importante na quimiotaxia e na inflamação.
Em termos clínicos, a administração de corticosteroides pelos seus efeitos
anti-inflamatórios trata-se de uma terapia paliativa, pois a causa subjacente da
doença permanece e as manifestações anti-inflamatórias são meramente
suprimidas. Essa supressão da inflamação e suas consequências tornaram os
corticosteroides agentes terapêuticos valiosos e, de fato, às vezes, salvadores.
Porém, é também esta propriedade que lhes dá um potencial quase único de
Os glicocorticoides sintéticos também exercem efeito de feedback negativo
sobre o eixo hipófise-hipotálamo, suprimindo a produção dos glicocorticoides
endógenos pela suprarrenal.
AN02FREV001/REV 4.0
85
desastre terapêutico. Os sinais e sintomas da inflamação são expressões do
processo patológico que indica o diagnóstico e permite uma avaliação da eficácia do
tratamento. Eles podem estar ausentes em pacientes tratados com glicocorticoides.
FIGURA 27 - AÇÃO ANTI-INFLAMATÓRIA DOS GLICOCORTICOIDES.
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
Os glicocorticoides são utilizados também no tratamento dos sintomas das
reações alérgicas a fármacos, soro e transfusões, da asma brônquica e da rinite
alérgica. Entretanto, estes fármacos não são curativos; um exemplo é o uso do
dipropionato de beclometasona e a triancinolona, que são aplicados topicamente na
mucosa do trato respiratório superior por inalação reduzindo os efeitos sistêmicos da
doença.
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86
FIGURA 28 - EFEITO DOS GLICOCORTICOIDES
Fonte: Arquivo pessoal do autor.
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87
FIGURA 29 - MECANISMO DE AÇÃO DOS GLICOCORTICOIDES
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
Os glicocorticoides, como o cortisol, agem sobre um receptor intranuclear
que regula transcrição gênica. Eles não têm dificuldade em ultrapassar a membrana
celular já que são lipofílicos. O seu efeito deve-se à modificação da atividade de
vários genes e as proteínas produzidas a partir deles. O receptor ligado ao medidor
liga-se a regiões específicas de DNA e ativa e inibe a transcrição de diversos genes.
Uma vez que a transcrição gênica é demorada (é preciso produzir grande
quantidade de proteínas), os seus efeitos demoram sempre algumas horas a
manifestar-se. Muitos genes são afetados, entre os mais importantes conhecidos, os
das ciclo-oxigenases são inibidos; os das colagenases igualmente, aumento da
síntese do mediador anexina-1 com propriedades imunossupressoras em razão de
sua ação nas enzimas fosfolipases A2 (essas enzimas atuam sobre o fosfolipídio
produzindo ácido araquidônico, precursor de mediadores inflamatórios).
AN02FREV001/REV 4.0
88
FIGURA 30 - GLICOCORTICOIDES
AN02FREV001/REV 4.0
89
Fonte: Arquivo pessoal do autor.
7.1.2 Efeitos adversos dos glicocorticoides
Susceptibilidade a infecções, mesmo por micro-organismos normalmente
inócuos ou pouco agressivos (e.g. leveduras da cerveja, candidíase);
Reparação de ferimentos mais lenta;
Maior probabilidade de surgirem ferimentos por diminuição da actividade
dos fibrócitos;
Perda de massa óssea em razão da inibição da função dos osteoblastos;
Hipercoagulabilidade do sangue;
Desordens menstruais.
AN02FREV001/REV 4.0
90
7.1.3 Possíveis efeitos do uso em longo prazo (mais de seis meses)
Supressão da capacidade do doente de fabricar o seu próprio cortisol em
função da atrofia do córtex da adrenal por feedback negativo;
Osteoporose;
Perda da massa muscular, fraqueza;
Cataratas no olho;
Face em lua: alteração da conformação em razão da perda de músculo e
modificação da deposição da gordura;
Obesidade;
Euforia alternada com depressão;
Hipertensão intracraniana benigna;
Glaucoma.
São importantes as ações no metabolismo da glicose (daí serem também
chamados glicocorticoides):
Diminuição do uso da glicose; hiperglicemia; estímulo da gliconeogênese.
Aumento do catabolismo proteico com perda de massa muscular.
Aumento do uso dos lipídeos como fonte de energia;
Redistribuição do tecido adiposo (gordura) da periferia (nádegas e
membros) para o centro (abdominal e peritoneal).
Todos os glicocorticoides têm alguma atividade mineralocorticoide, e
daí advêm alguns efeitos indesejados:
Hipernatremia com aumento da tensão arterial;
Hipocalemia, perda de cálcio;
Síndrome de Cushing (hipercortisolismo) iatrogênica (causado pelo
medicamento).
AN02FREV001/REV 4.0
91
FIGURA 31 - SÍNDROME DE CUSHING IATROGÊNICA
FONTE: Disponível em:
<http://3.bp.blogspot.com/_PtTp8X_cvD0/Skq9uRuFjRI/AAAAAAAAAGg/G9YuB9wPxbw/s320/mulher
.jpg>. Acesso em: 12 JAN. 2010.
FIGURA 32 - GLICOCORTICOIDES
FONTE: Arquivo pessoal do autor.
AN02FREV001/REV 4.0
92
7.1.4 Indicações clínicas dos glicocorticoides
Medicamentos contendo glicocorticoides são utilizados na terapêutica, com
variadas finalidades. Isso inclui principalmente terapia de reposição hormonal (em
caso de problemas no córtex suprarrenal), terapias de imunossupressão, terapia
antialérgica e anti-inflamatória. Nos tratamentos contra o câncer, os glicocorticoides
também têm sido muito utilizados, principalmente, associados a outros
medicamentos.
O emprego dos glicocorticoides na terapêutica deve-se principalmente ao
fato destes apresentarem poderosos efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores.
Eles inibem manifestações tanto iniciais quanto tardias da inflamação, isto é, não
apenas a vermelhidão, o calor, a dor e o edema iniciais, mas também os estágios
posteriores de cicatrização e reparo de feridas e reações proliferativas observadas
na inflamação crônica.
Estes fármacos têm atividade sobre todos os tipos de reações inflamatórias,
sejam elas causadas por patógenos invasores, por estímulos químicos ou físicos ou
por respostas imunes inadequadamente desencadeadas, como as observadas na
hipersensibilidade ou na doença autoimune. Quando usados clinicamente para
suprimir a rejeição de enxertos, os glicocorticoides suprimem o desencadeamento e
a produção de uma nova resposta imune com mais eficiência do que uma reposta já
estabelecida, na qual já ocorreu proliferação clonal.
AN02FREV001/REV 4.0
93
São indicações dos glicocorticoides:
Glicocorticoides e neoplasias
Os glicocorticoides são empregados no tratamento de uma variedade de
tumores em combinação com agentes citotóxicos, por exercerem efeitos inibitórios
sobre a proliferação de linfócitose com base em seu efeito sobre o metabolismo do
cálcio e sua capacidade de reduzir a pressão intracraniana. Em razão deste último
efeito, são bastante utilizados para reduzir o edema nos pacientes com tumores
cerebrais metastáticos ou primários. Isso se refere principalmente a dexametasona,
que é o fármaco glicocorticoide mais utilizado como adjuvante na quimioterapia. Os
glicocorticoides representam uma classe importante em muitos outros tipos de
cânceres, como linfomas e leucemia mieloide, onde a dexametasona também
diminui a proliferação linfocitária, sendo este fármaco um grande aliado durante o
tratamento de pacientes com leucemia.
A dexametasona também é capaz de promover uma inibição tempo-
dependente da proliferação celular de um tipo de glioma de elevada malignidade, o
glioblastoma multiforme (KAUP et al., 2001). Este fármaco inibe a formação de
capilares induzida pelo glioma in vitro e a angiogênese in vivo (WOLFF et al., 1997),
podendo desta maneira diminuir a viabilidade do glioma, por diminuição do aporte
AN02FREV001/REV 4.0
94
de nutrientes e pela falta de oxigenação. Além disso, altas doses, particularmente
de dexametasona e metilprednisolona, podem exercer ação antiemética
desencadeada por mecanismo ainda não bem conhecido, mas acredita-se que
envolva a inibição da síntese de prostaglandinas. No entanto, o uso destes
hormônios esteroides deve ser limitado durante a quimioterapia de gliomas
malignos, pois os glicocorticoides podem reduzir a distribuição dos fármacos
antitumorais administrados sistemicamente, em virtude de seus efeitos sobre o fluxo
sanguíneo do tumor (NAUMANN et al., 1998). O efeito dos glicocorticoides sobre o
tumor não é somente benéfico, sendo inclusive, bastante controverso. Por isso, nos
últimos anos, vários estudos foram desenvolvidos e continuam sendo realizados
para verificar o real efeito destes fármacos sobre as células tumorais.
É descrito que o tratamento com dexametasona pode induzir resistência
parcial a certos quimioterápicos por inibição da apoptose em linhagens de gliomas e
astrocitomas, desta forma, diminuindo o efeito de fármacos antitumorais clássicos
como doxorrubicina, etoposide e camptotecina, levando assim a uma provável
redução da eficácia do tratamento com antitumorais em pacientes com glioma
(GORMAN et al., 2000). Sabe-se ainda que a dexametasona induz resistência à
cisplatina (WOLFF et al., 1996) e ao metotrexato (WOLFF et al., 1994) em um
modelo experimental in vitro de glioma de rato.
Portanto, o real efeito dos glicocorticoides sobre cada tipo de tumor é muito
particular. Dependendo da localização do tumor e de suas peculiaridades, a terapia
com glicocorticoides pode ser, tanto benéfica, como pode interferir na eficácia do
tratamento com quimioterápicos clássicos. Logo, antes de se administrar fármacos
glicocorticoides concomitantemente com agentes antineoplásicos, deve-se ter
conhecimento dos efeitos destes sobre o tumor, e ser avaliada a relação
custo/benefício, a fim de que o tratamento seja realizado de forma a oferecer ao
paciente os melhores resultados, com o mínimo de efeitos adversos e a mínima
diminuição da eficácia de outros medicamentos que ele possa estar utilizando.
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Síndrome de Cushing por uso abusivo de descongestionante nasal contendo
dexametasona
Relato de caso - Dayse Caldas e Yolanda Schrank
Os glicocorticoides têm sido largamente utilizados na prática clínica desde
os princípios de 1950. Enquanto são bem conhecidos os efeitos adversos
relacionados com o seu uso oral ou parenteral, não existem muitos relatos na
literatura sobre efeitos adversos relacionados com o seu uso tópico. Relatamos o
caso clínico de um rapaz de 16 anos, com rinite alérgica que desenvolveu síndrome
de Cushing exógena por uso abusivo de descongestionante nasal à base de
dexametasona numa dose diária que variava de 0,5-0,7 mg durante um período de
quatro anos. O desmame do glicocorticoide foi iniciado substituindo-se o
descongestionante em uso por outro sem glicocorticoide associado a doses
progressivamente decrescentes de dexametasona administrada via oral, medicação
esta que foi definitivamente suspensa três meses após o início do desmame –
época na qual foi constatada recuperação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.
Chamamos a atenção para a importância do acompanhamento criterioso dos
pacientes em uso, em longo prazo, de toda e qualquer medicação que contenha
glicocorticoide, eventualmente até com monitorização mais rigorosa por meio da
determinação do cortisol livre urinário ou do cortisol plasmático após teste de
estímulo com o ACTH dose baixa (1 mcg). Isso permitirá o diagnóstico de
insuficiência adrenal, mesmo que incipiente, mas que na presença de estresse leve
a moderado poderia oferecer risco de morte. Diante da possibilidade de severos
efeitos colaterais sistêmicos mesmo quando utilizados esteroides nasais, devemos,
sempre que possível, dar preferência aos glicocorticoides de menor
biodisponibilidade e insistir junto ao paciente para que seja respeitada a dose assim
como o tempo de uso prescrito.
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rboto/v67n6/8458.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2010.
FIM DO MÓDULO IV
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FIM DO CURSO