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José Carlos Zanelli Jairo Eduardo Borges-Andrade Antonio Virgílio Bittencourt Bastos Organizadores 2ª edição Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil NOVA EDIÇÃO DO LIVRO MAIS VENDIDO DA ÁREA NO BRASIL! P974 Psicologia, organizações e trabalho no Brasil [recurso eletrônico] / Organizadores, José Carlos Zanelli, Jairo Eduardo Borges-Andrade, Antonio Virgílio Bittencourt Bastos. – 2. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8271-085-2 1. Psicologia. 2. Psicologia organizacional. 3. I. Zanelli, José Carlos. II. Borges-Andrade, Jairo Eduardo. III. Bastos, Antonio Virgílio Bittencourt. CDU 159.9:005.32(81) Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 293 NÍVEIS DE ANÁLISE DOS ESTUDOS DE EMOÇÕES NO TRABALHO Uma proposta de sistematização dos estudos de emoções de trabalho com base na noção de ní- veis e que traduz o que se encontra na literatu- ra atual é a apresentada por Ashkanasy (2003). Procurou-se fazer uma adaptação, tentando de- marcar quatro níveis de abordagem e oferecer exemplos de teorias, para que o leitor tenha cla- reza de como as emoções no trabalho podem ser estudadas. O nível 1 tem como foco as va- riáveis individuais; o nível 2, as interações; o ní- vel 3, os grupos; e o nível 4, as organizações. A rigor, os níveis exercem mútua influência, res- saltando que alguns aspectos do comportamen- to organizacional necessitam ser contemplados em mais de um nível para serem mais bem com- preendidos. No nível 1 (Fig. 7.4), o interesse se volta pa- ra as diferenças individuais dos afetos dirigidos ao trabalho. Três teorias servem de exemplo a es- se nível, e, embora tenham sido desenvolvidas há mais de 10 anos, são utilizadas pelos pesquisa- dores na atualidade. A primeira é a teoria dos eventos afetivos (TEA) (Weiss; Cropanzano, 1996). Conforme a TEA, o comportamento dos em- pregados e o desempenho no trabalho não são de- terminados pelas atitudes e a personalidade, mas pela acumulação de eventos positivos e negativos em relação a ele. Ou seja, é o conjunto de even- tos (desencadeadores de emoções) no trabalho que repercute na formação de atitudes positi- vas ou negativas e também nos comportamen- tos a ele dirigidos. Outra teoria é a do modelo circumplexo/bidimensional do afeto (Watson; Clark; Tellegen, 1988), em que se afirma que as emoções discretas se dispõem em diversos pon- tos de uma circunferência com base na distân- cia (proximidade ou afastamento) de uma em relação a outra, levando em conta critérios co- mo afeto positivo ou negativo, prazer e despra- zer, engajamento e desengajamento. A alegria, por exemplo, seria uma emoção positiva e pra- zerosa, enquanto o medo seria uma emoção ne- gativa e de desprazer. O modelo circumplexo de Russel (1980) faz uso de duas dimensões: pra- zer-desprazer, letargia-excitação. Assim, a fúria estaria no intervalo entre desprazer e excitação; o entusiasmo, entre excitação e prazer; o conten- tamento, entre letargia e prazer; e a depressão, entre letargia e desprazer. Um estudo realiza- 294 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) do no Brasil, cujo objetivo foi testar a estrutura circumplexa para avaliar os afetos relacionados ao trabalho (Gouveia et al., 2008), concluiu que os resultados oferecem suporte ao modelo bi- dimensional do bem-estar afetivo no trabalho (Warr, 1987), abarcando as dimensões prazer e ativação propostas por Russell, embora não te- nha sido confirmada a estrutura circumplexa. Uma terceira teoria, com grandes reper- cussões na atualidade, é a da infusão do afeto (Forgas; George, 2001), e está apoiada em duas premissas básicas inter-relacionadas: a de que os julgamentos são geralmente con- sistentes com o estado de humor prevalente do ator, e a de que o humor interfere na seleção de estratégias cognitivas (tomada de decisão) e na memória (registro e recuperação da informação). Embora se possa reconhecer haver mais teorias que se situam no nível 1, as que foram apresentadas exemplificam que o foco desse ní- vel recai no que a pessoa sente e nas diferenças individuais do sentir em contextos de trabalho que repercutem na satisfação, nas atitudes, no desempenho e no tipo de engajamento com a organização e o trabalho (ou seja, em outras di- mensões da afetividade). O nível 2 (Fig. 7.5), o interpessoal, ou re- lacional, tem como foco as expressões e mani- festações emocionais que envolvem interações com outras pessoas e findam por demandar al- gum tipo de autorregulação. Nesse nível, Ashka- nasy (2003) inclui os estudos sobre as expres- sões faciais emocionais e seu reconhecimen- to, especialmente o sorriso, considerado uma das expressões faciais mais importantes na ma- nutenção das interações humanas. Nessa linha de pesquisa, os estudos iniciados por Ekman (1999) e os mais recentes, realizados no labora- tório de Freitas-Magalhães e Castro (2010), são alguns exemplos. Os estudos de Ekman, em es- pecial, concluem a favor da dificuldade de se si- mular um sorriso autêntico (sorriso de Duchen- ne), que envolve movimentos da musculatura ao redor dos olhos, diferentemente dos músculos ao redor da boca, que são simulados com mais facilidade. Certamente, a inferência de emoções tem repercussões nas interações no trabalho. Es- tudos com amostras brasileiras sobre atribui- ção de causalidade de emoções de supervisores e empregados interagindo em uma situação simu- lada de trabalho concluíram que aos superviso- res são atribuídas mais emoções positivas que ao empregado (Gondim et al., 2008, 2010), permi- tindo inferir a tendência de os brasileiros acre- ditarem que a função de chefia apresenta mais status e está associada à satisfação. A inteligência emocional (IE) é outra abordagem teórica que se situa no nível inter- pessoal, apesar de envolver fatores intraindivi- duais, como a autopercepção e o autocontrole. Pode ser definida como um conjunto de habi- lidades que permitem identificar e compreen- Nível 1 Individual 1. Teoria dos eventos afetivos Comportamento resultante das experiências afetivas positivas ou negativas 2. Modelo circumplexo do afeto Interferência do estado de humor na tomada de decisão e na recuperação da informação 3. Teoria da infusão do afeto Emoções discretas se distribuem em uma circunferência por critérios: prazer, excitação Figura 7.4 Nível de análise individual – foco na pessoa e nas diferenças individuais. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 295 der as emoções pessoais, saber gerenciá-las e manejar as dos demais, utilizando-as com a fi- nalidade de melhorar o desempenho cognitivo (Mayer; Caruso; Salovey, 1999). Não há consen- so sobre o número de dimensões da IE. Alguns autores trabalham com uma única dimensão (p. ex., Schutte et al., 1998); outros, com três (p. ex., Salovey; Mayer, 1990). Esses últimos autores de- senvolveram uma medida de inteligência emo- cional bastante utilizada no Brasil (Gonzaga; Monteiro, 2011). Há autores que consideram a inteligên- cia emocional um traço disposicional (Micko- lajczak; Luminet, 2008), enquanto outros a tra- tam como uma competência a ser desenvolvida e também como um resultado de crenças so- bre o gerenciamento efetivo da emoção (auto- consciência, empatia, humor positivo e toma- da de decisão) (Ashkanasy; Daus, 2005; Walter; Cole; Humphrey, 2011). Embora não seja con- senso (p. ex., Côbero; Primi; Muniz, 2006), críti- cas vêm sendo feitas sobre a sobreposição de al- guns fatores de personalidade e medida de inte- ligência emocional de autorrelato (Woyciekoski; Hutz, 2010), o que exige maior cuidado no ali- nhamento conceitual entre como se define o construto e como ele vem sendo medido. De- fende-se o ponto de vista de que a IE deve ser medida pelo desempenho, e não por estimati- vas sobre a capacidade pessoal. Ou seja, a me- lhor formade medir inteligência emocional não é perguntando se a pessoa acha que tem habili- dades para lidar com suas próprias emoções e as dos demais, mas colocando-a em uma situação em que seja testado seu desempenho no mane- jo das emoções. Dada a relevância alcançada, a regulação emocional (RE) começou a ser desenvolvida e es- tudada como um fenômeno articulado à inteligên- cia emocional, mas com uma constituição pró- pria. Define-se como um processo de influenciar o tipo, o momento e o modo como se experi- menta ou expressa uma emoção (Gross, 1998). É desencadeada pela discrepância entre o que se sente e o que se gostaria ou deveria sentir, mobi- lizando processos fisiológicos, cognitivos e com- portamentais. Aloca-se no nível interpes soal dos estudos sobre emoções no trabalho pelo enten- dimento de que a regulação emocional está for- temente relacionada ao construto de trabalho emocional e envolve tanto a autorregulação co- mo a regulação do comportamento e das emo- ções das outras pessoas, com repercussões para o bem-estar (p. ex., Hochschild, 1983; Niven et al., 2011; Tamir; Mauss, 2011). Um exemplo de estudo no Brasil dessa articulação entre traba- lho emocional e estratégias de regulação emo- cional é o realizado com comissários de bordo e pes soal de atendimento de uma companhia de aviação nacional após um acidente aéreo (Gon- dim; Borges-Andrade, 2009). Alguns autores (p. ex., Diefendorff; Ri- chard, 2003; Grandey, 2000; Gross, 1998; Hochs- child, 1983) classificam a regulação das emo- ções em três grupos: 1. Ações de superfície ou estratégias com fo- co nos consequentes: consistem em inibir ou mudar a expressão emocional sem alte- rar o sentimento interno, atenuando o im- pacto emocional de um evento que não po- de ser evitado. 2. Ações de profundidade ou estratégias com foco nos antecedentes: consistem em um esforço de mudar os sentimentos internos com o objetivo de expressar uma emoção congruente com o que se está, de fato, sen- tindo. As estratégias profundas são mais fa- cilmente alcançadas ao se antecipar o even- to emocional perturbador. 3. Emoções genuínas ou trabalho emocional espontâneo: não consistem propriamente em uma estratégia, mas em características pessoais decorrentes de processos de identi- ficação que tornam a expressão emocional e o sentimento compatíveis com o demanda- do pela situação eliciadora da emoção, ten- do, portanto, menor custo emocional. Na perspectiva de Niven e colaboradores (2011), há dois tipos de critérios que podem ser levados em conta em um sistema de classifica- ção da regulação do afeto: o alvo e o objetivo. O alvo do afeto pode ser a própria pessoa ou algu- ma outra (Gross; Thompson, 2007), e o objetivo da regulação pode ser direcionado para melho- rar ou piorar o afeto (Parrott, 1993). Os dois cri- térios levariam a uma composição de quatro ti- pos de estratégia: 1. melhora do afeto intrínseco: deliberada melhora dos sentimentos pessoais; 2. piora do afeto intrínseco: deliberada piora dos sentimentos pessoais; 296 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) 3. melhora do afeto extrínseco: deliberada melhora dos sentimentos em relação aos demais; 4. piora do afeto extrínseco: deliberada piora do sentimentos em relação a outras pessoas. Conta-se, no momento, com uma série de medidas de regulação emocional, algumas valida- das ou em processo de validação para o territó- rio nacional (p. ex., Nelis et al., 2011), exploran- do as diversidades de estratégias. A medida de Nelis e colaboradores para a qual foram encon- tradas evidências de validação em uma amostra no Brasil (Gondim et al., no prelo), tem como objetivo definir um perfil de regulação emocio- nal que envolve o manejo de emoções positivas (estratégias adaptativas e desadaptativas) e emo- ções negativas (estratégias funcionais e disfun- cionais). Seguindo também uma lógica de cons- trução de perfis, há uma versão reduzida de uma medida de estilos de regulação do afeto com fo- co no manejo da raiva e da tristeza, desenvol- vida por Paéz-Rivora e colaboradores (2012). O principal foco de interesse dessas medidas é bus- car relações entre o uso de estratégias de regula- ção emocional, o processo adaptativo (p. ex., Ta- mir, 2011) e o bem-estar subjetivo e psicológico (p. ex., Nyklíc̆ek, 2011). Aqueles que não conseguem regular suas emoções correm riscos de apresentar transtor- nos mentais, físicos e disfunções sociais (Nelis et al., 2011). Fortalece-se a crença de que a regula- ção emocional exerce um papel fundamental na diminuição, na manutenção ou no aumento de emoções positivas (Mikolajczak, 2009), repercu- tindo no bom desempenho pessoal emocional e no bem-estar (Tugade; Fredrickson, 2007). Outro construto que se situa no nível in- terpessoal, considerado inter-relacionado ao conceito de inteligência emocional, é o de com- petência emocional (Boyatzis; Goleman; Rhee, 2002). Para Bisquerra-Alzina (2009), competên- cia emocional é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para a reali- zação de atividades desenvolvidas com certo ní- vel de qualidade e eficácia. Envolve a capacida- de para compreender, refletir, expressar e regular de forma apropriada os fenômenos emocionais, em relação a si mesmo e aos demais. O conceito de competência emocional mantém implicações com a educação emocional, definida como um processo permanente e contínuo de potenciali- zação e desenvolvimento da competência emo- cional para aumentar o bem-estar social e pes- soal. Por último, há o conceito de contágio emocional, de crescente interesse no campo dos estudos de emoções no trabalho. É digno de no- ta que o contágio mantém inter-relações com a inteligência emocional e os processos de regula- ção e, do ponto de vista da gestão, ocupa um pa- pel relevante no comportamento do líder em re- lação a sua equipe de trabalho (nível 3, que será abordado mais adiante). O contágio emocional é uma imitação in- consciente das expressões emocionais de ou- tra pessoa, produzindo uma experiência emocio- nal semelhante à original (Hatfield; Cacioppo; Rapson, 1993). O contágio pode ser analisado de duas perspectivas: a de pessoas aptas a con- tagiar os demais (o que é esperado de um líder) e a das que se contagiam com facilidade, embo- ra não haja incompatibilidade entre ser capaz de influenciar e ser influenciado. Um modelo clas- sificatório foi apresentado por Jansen-Verbeke (1997): 1. os carismáticos, que influenciam e são in- fluenciados; 2. os empáticos, que são facilmente influencia- dos, mas pouco aptos a exercer influência; 3. os expansivos, hábeis para influir, mas pou- co sensíveis à influência alheia; e 4. os “blindados” (bland), inaptos para influir e ser influenciados. Os dois primeiros, portanto, seriam mais suscetíveis ao contágio emocional. Em resumo, é possível afirmar que a abor- dagem das emoções no nível interpessoal tem crescido substancialmente e conta com um am- plo leque de conceitos que incorporam elemen- tos do nível 1 (individual) e situam-no nível re- lacional, o que é de suma importância para os processos organizacionais. O terceiro nível mencionado por Ashka- nasy (2003) é o dos grupos (Fig. 7.6). É indiscutí- vel que eles estão fortemente presentes nos con- textos organizacionais, em particular pela forma de organização do trabalho, que requer metas coletivas e divisão de trabalho. A preocupação com o que o ocorre no grupo, as relações en- tre líderes e sua equipe e todos os aspectos que impactam diretamente no bem-estar e no de- Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 297 sempenho grupal revestem-se de interesse para os estudiosos desse campo de conhecimento. Os processos grupais envolvem fortemente emoções e afetos, contribuindo para a coesão e a emer- gência ou atenuação de conflitos (vide Capítu- lo 10). No Brasil, encontram-se escalas validadas e que exploram conflitos intragrupais (Guima- rães; Martins, 2008). A literatura internacional tem-se dedica- do também aoestudo da influência do humor do líder nos membros de sua equipe de trabalho e seus impactos nos processos internos ao gru- po (p. ex., Sy; Côté; Saavedra, 2005). O contágio do humor do líder para a equipe está relaciona- do ao conceito de humor do grupo, desenvolvi- do por Kelly e Barsade (2001), que argumenta- vam a favor da composição afetiva do grupo. O tom afetivo do grupo seria formado pelo contá- gio do humor, que caracterizaria cada um de seus membros. O humor do grupo também seria de- corrente do treinamento da equipe, da modela- gem e da manipulação do afeto. Desde a década de 1990 já se afirmava que os sentimentos positi- vos são essenciais prerrequisitos para a efetivida- de, a satisfação e o comprometimento dos gru- pos, e isso se confirma na atualidade (Tanghe; Wisse; van der Flier, 2010). A inteligência emocional do grupo é ou- tro conceito relacionado ao humor do grupo. É concebida como a prevalência de membros com altos escores de IE, que, mediante as trocas inter- pessoais e da aprendizagem, influenciam o com- portamento grupal (Jordan et al., 2002). A su- posição é a de que, ao haver membros no grupo com altos escores de IE e um contexto que favo- rece a troca de aprendizagens, a IE emerge como uma característica do grupo e repercute na sua efetividade. A teoria das trocas líder-membro, ou teo- ria do vínculo vertical diádico, desenvolvida na década de 1990, também tem sido muito utili- zada pelos estudiosos do nível dos grupos. Con- forme descrito por Graen e Uhl-Bien (1995), o líder tem um papel estratégico na comunicação, na expressão e no gerenciamento emocional de sua equipe de trabalho. Mantém sua posição de líder estabelecendo trocas com alguns membros (in group) de sua confiança, para os quais atri- bui responsabilidades e estabelece acordos, dife- renciando-os dos membros fora do grupo (out Figura 7.5 Nível de análise relacional – foco nas relações interpessoais. Nível 2 Relações entre pessoas Expressões emocionais e reconhecimento de outras pessoas Inteligência emocional Regulação emocional Contágio emocional Competência emocional Nível 3 Grupo Humor do líder Humor do grupo Inteligência emocional do grupo Teoria da liderança transformacional Teoria das trocas líder-membro Figura 7.6 Nível de análise grupal – foco nas relações dentro do grupo e no grupo. 298 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) group). A construção das relações entre líder e membro do grupo segue três estágios: avaliação inicial, que permite ao líder conhe- cer o membro e avaliar suas potencialidades; processo de construção de um vínculo, em que o líder testa a avaliação inicial e define se o novo membro pertencerá ao in group ou ao out group; e consolidação do vínculo, que define uma qualidade de relação, cujos aspectos afetivos são essenciais. A qualidade das interações entre o líder e seus colaboradores está pautada em julgamen- tos afetivos. A teoria da liderança transformacional, desenvolvida também na década de 1990 (Bass e Avolio, 1990) e baseada no conceito de lideran- ça transformadora, de Burns (2003), introduzido em 1978, assenta-se sobre a premissa da impor- tância do modelo de liderança para o desempe- nho da equipe. O estilo de liderança transforma- cional inspira a confiança nos membros do gru- po, oferece padrões de conduta, provê estímulos intelectuais e ocupa-se de atender às necessida- des emocionais de seus membros, diferentemente da liderança transacional, que tem um foco mais instrumental, ou seja, trocas pontuais orientadas por objetivos e metas gerais, desconsiderando as características e necessidades emocionais de seus membros. Quatro elementos caracterizam a lide- rança transforma cional: consideração individualizada, em que o líder atua como coach e tutor, oferecendo suporte emocional às necessidades individuais de cada membro; estimulação intelectual, em que o líder estabelece uma relação de confiança com os liderados, estimulando a criatividade e novas ideias; inspiração motivacional, em que o líder ofe- rece otimismo e exibe um padrão emocional positivo que inspira os membros; e influência moral, em que o líder serve de modelo de conduta, inspirando confiança e servindo de exemplo de retidão. O último nível mencionado por Ashkanasy (2003) é o organizacional (Fig. 7.7). Aqui será des- tacada apenas uma forte tendência que está rela- cionada à preocupação com a qualidade de vida no trabalho: a saúde ou “bem-estar organiza- cional” (Cooper; Williams, 1994). A saúde or- ganizacional é definida como a priorização pe- la organização do bem-estar do empregado e a manutenção de resultados organizacionais posi- tivos. Inclui observância a variáveis como estru- tura, políticas de gestão de pessoas, tipos de lide- rança e demais processos que envolvem suporte e condições de trabalho. Um livro recentemente publicado no Bra- sil, organizado por Ferreira e Mendonça (2012), oferece um panorama da transição do foco dos efeitos negativos do ambiente de trabalho para os aspectos positivos da tarefa, ocupação e or- ganização, mais contributivos para o bem-estar e a qualidade de vida do trabalhador. A qualida- de de vida é definida como um construto mul- tifacetado, que envolve aspectos individuais, re- lacionais, sociais e culturais. O conceito de bem- -estar envolve dimensões relacionadas ao afeto, à satisfação com a vida e à felicidade (bem-estar subjetivo) e também dimensões cognitivas, en- tre as quais se destacam a autoaceitação, a auto- nomia, o propósito de vida, o domínio do am- biente, o crescimento pessoal e as relações posi- tivas com os outros (bem-estar psicológico). A qualidade de vida no trabalho teria um escopo no nível organizacional, ao passo que o conceito de bem-estar estaria no nível do indivíduo. No entanto, já há esforços no Brasil no sentido de buscar uma articulação entre estruturas de po- der organizacional e o bem-estar pessoal nas or- ganizações (Dessen; Paz, 2010). A configuração de poder missionária favorece a forte identifica- ção dos membros com a missão ideológica da organização. Na configuração autônoma, o con- trole é feito mediante definição de metas pelos Nível 4 Organizacional Qualidade de vida no trabalho Saúde organizacional Bem-estar pessoal nas organizações Figura 7.7 Nível de análise organizacional – foco na organização. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 299 próprios membros da organização. A configu- ração instrumental, por sua vez, exerce o poder mediante uma hierarquia rígida de forte contro- le externo sobre o alcance dos objetivos. Uma das conclusões desse estudo foi a existência de correlações positivas e negativas entre configu- rações de poder e bem-estar. Quanto mais os indivíduos percebem as configurações de po- der como sendo de sistema autônomo e sistema missionário, mais experimentam bem-estar pes- soal no trabalho, ao passo que quanto maior a percepção da configuração de poder instrumen- tal, menor é o bem-estar. Certamente, esse último nível é o mais de- safiador dos quatro mencionados nesta seção. Como a maior parte dos estudos sobre psicolo- gia em organizações, o nível de análise frequen- temente adotado é o do indivíduo. Alguns pas- sos têm sido dados no sentido de adotar abor- dagens multiníveis, principalmente no nível das equipes de trabalho, mas a integração entre eles ainda é um projeto a ser mais bem realizado. Após essa visão panorâmica organizando as abordagens de emoções nos contextos de tra- balho com base nos níveis de análise, a próxima seção abordará com mais detalhes os aspectos da afetividade no contexto de trabalho, desta- cando algumas teorias e orientações que cercam esse campo de estudos e repercutem nos tipos de vínculos que o trabalhador mantém com a organização. Afetividade no contexto de trabalho Afetividade é um termo para designar um amplo campo de pesquisa e teorização em psicologia re- ferente a processos subjetivos deestabelecimen- to de vínculos com pessoas (incluindo o próprio indivíduo), com objetos físicos ou sociais, como também de manifestações de emoções e senti- mentos. Para organizar o amplo leque de teorias e conceitos sobre afetividade, três perspectivas po- dem ser apontadas: traços afetivo-emocionais, atitudes e estados afetivo-emocionais (Fig. 7.8). Traços afetivo-emocionais são característi- cas disposicionais estáveis que retratam como os indivíduos manifestam emoções e sentimentos e se comportam, revelando idiossincrasias que dis- tinguem as pessoas umas das outras. Dentro des- sa abordagem, a afetividade é analisada e descri- ta por meio de diferentes concepções, como, por exemplo, a que descreve traços de personalidade e a que distingue habilidades intelectuais para li- dar com sentimentos e emoções. O Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Big Five-Factor Model) é uma teoria da personalidade que vem ganhando espaço nos estudos sobre afe- tividade no trabalho. O modelo é “[...] uma ten- tativa de usar um padrão hierárquico de análise a fim de simplificar a vasta coleção de dados dispo- níveis sobre o comportamento afetivo dos indiví- duos [...]” (Anastasi; Urbina, 2000, p. 303). Segundo os pressupostos dessa teoria, traços marcantes da personalidade podem ser agrupados em cinco grandes fatores, assim de- nominados: neuroticismo: ansiedade, hostilidade raivosa, depressão, autoconsciência, impulsividade e vulnerabilidade; extroversão: cordialidade, gregariedade, as- sertividade, atividade, busca de excitação e emoções positivas; sociabilidade: confiança, sinceridade, altruís- mo, aquiescência, modéstia e ternura; Traços afetivo-emocionais Teoria dos cinco grandes fatores Habilidades da inteligência emocional Personalidade e inteligência emocional Atitudes Satisfação no trabalho Envolvimento no trabalho Comprometimento organizacional Crenças, afetos e tendências à ação Estados afetivo-emocionais Estado de ânimo Autoestima Satisfação com a vida Sentimentos positivos e negativos Figura 7.8 As três perspectivas teóricas sobre afetividade no trabalho. 300 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) realização: competência, ordem, cumpri- mento de deveres, realização, autodisciplina e deliberação; abertura à experiência: fantasia, estética, sentimentos, ações, ideias e valores. Inteligência emocional, por seu turno, poderia ser incluída dentro de uma visão de tra- ços afetivo-emocionais, na medida em que o conceito compreende, segundo Salovey e Mayer (1990, p.189), [...] habilidades para monitorar senti- mentos e emoções pessoais e de outras pessoas, fazer distinções entre eles e usar estas informações para guiar os próprios pensamentos e ações. Segundo os autores, três processos men- tais são utilizados para processar informações de cunho emocional: avaliação: refere-se à análise de expressões de suas próprias emoções e de outras pessoas e à escolha de uma melhor maneira de expressar emoções em um dado contexto; regulação: inclui o mecanismo de controlar as próprias emoções e humores e reagir ade- quadamente no convívio social; utilização: possibilita ao indivíduo o uso adequado das emoções durante a resolução de problemas cotidianos ou em situações que exijam um raciocínio complexo, permitindo- -lhe elaborar adequadamente planos futuros, manter pensamentos criativos e buscar cami- nhos para o alcance de metas. Pessoas emocionalmente inteligentes esta- riam aptas a reconhecer seus estados emocionais e os de outras pessoas, a solucionar problemas e a regular ações em diversas situações ou contex- tos, inclusive no trabalho. Outra contribuição, e que popularizou o conceito, foi a oferecida por Goleman (1995), ao sugerir cinco categorias de habilidades inter- dependentes como integrantes da inteligência emocional: autoconsciência, automotivação, au- tocontrole, empatia e sociabilidade. Articulando os três processos mentais pro- postos por Salovey e Mayer (1990) e as cinco ha- bilidades emocionais apontadas por Goleman (1995), Siqueira, Barbosa e Alves (1999) construí- ram e validaram a Medida de Inteligência Emo- cional (MIE) (Fig. 7.9). A MIE contém cinco fa- tores ortogonais compostos por 59 frases, com índices de precisão entre 0,78 e 0,87, que avaliam: Fator 1 – Empatia: esse fator é composto por 14 itens referentes à habilidade de identificar sentimentos, desejos, intenções, problemas e interesse dos outros por meio da leitura e da compreensão de comportamentos não verbais de comunicação. Fator 2 – Sociabilidade: os 13 itens do fa- tor descrevem a habilidade de começar e preservar amizades, relacionar-se bem, ser aceito pelas pessoas, sentir-se bem entre elas e tratá-las com cordialidade, mesmo sendo desconhecidas. Fator 3 – Automotivação: o conjunto de 12 itens refere-se à persistência, à coragem, à força, ao otimismo e ao entusiasmo com que o indivíduo maneja objetivos e planos para sua vida. Fator 4 – Autocontrole: os 10 itens refletem a capacidade de ponderação, cautela e controle que o indivíduo tem diante de fatos desagra- dáveis, provocações, agressões, desaforos, in- sultos, conflitos, sentimentos perturbadores e impulsos. Fator 5 – Autoconsciência: composto por 10 itens, avalia ações introspectivas de reconhe- cer, analisar, refletir, nomear e identificar os próprios sentimentos. Medida de inteligência emocional (MIE) Empatia – habilidade de compreender os sentimentos do outro Sociabilidade – habilidade de iniciar e preservar relacionamentos Automotivação – persistência, força e entusiasmo para a vida Autocontrole – habilidade de controlar-se e agir com cautela diante de situa- ções frustrantes Autoconsciência – habilidade de refletir e analisar os próprios sentimentos Figura 7.9 Medida de inteligência emocional. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 301 Na literatura internacional, encontram- -se análises do conceito de inteligência emo- cional comparando-o a outras variáveis, como personalidade, critérios de bem-estar psicológi- co e habilidades cognitivas. O primeiro estudo em que a MIE foi utilizada (Siqueira; Barbosa, 2000) teve a preocupação de investigar as rela- ções entre habilidades da inteligência emocional e dois conceitos de bem-estar: estado de ânimo (positivo e negativo) e otimismo. Os resultados revelaram correlações significativas entre ânimo positivo, ânimo negativo, otimismo e alguns fa- tores da MIE, bem como proveram evidências para a identidade da MIE diante de medidas de bem-estar, confirmando que fatores de medida da inteligência emocional tendem a formar um fator emocional g, como já observado em estu- dos internacionais, e que níveis mais elevados nas cinco habilidades de inteligência emocional tendem a ser observados entre pessoas otimistas e com estado de ânimo positivo. O segundo estudo, desenvolvido por Siqueira (2001), investigou as relações entre ha- bilidades da inteligência emocional e nove va- riáveis do comportamento organizacional: com- portamentos de cidadania organizacional, in- tenção de rotatividade, comprometimentos or ganizacionais (afetivo, calculativo e normati- vo), percepções de justiça (de procedimentos e de distribuição), percepção de suporte organi- zacional e satisfação no trabalho (descrições de- talhadas sobre a maioria dessas variáveis podem ser encontradas no Capítulo 8). Os resultados do estudo revelaram que apenas comportamen- tos de cidadania e satisfação no trabalho deti- nham correlações significantes com habilidades da IE. Conforme os resultados desse estudo, o fato de o indivíduo deter em seu perfil habili- dades da IE parece não ter relação com sua de- cisão de permanecer trabalhando na organiza- ção, com seu processo perceptivo acerca do mo- do como a organização que o emprega age de forma justa e preocupa-se em oferecer suporte a seus trabalhadores nem com os estilos de com- prometimento que mantém com ela. Já os ges- tos de cidadania organizacional,que represen- tam ações espontâneas e benéficas ao sistema e que são defendidos como indispensáveis à com- petitividade organizacional, tendem a ter mais frequência de emissão entre aqueles emocional- mente inteligentes. A sociabilidade, habilidade da IE para começar e manter interações sociais, parece ser um atributo pessoal que se associa ao sentimento de satisfação com políticas geren- ciais voltadas para promover o trabalhador. Se- gundo a autora do estudo, gestos de cidadania organizacional foram o critério do comporta- mento organizacional analisado mais provável de se associar a habilidades da IE. O terceiro estudo utilizando a MIE foi de- senvolvido por Diório (2002), com o objetivo de analisar as competências emocionais de um grupo de 25 gestores pertencentes a uma admi- nistradora de planos de saúde. Como resultado, constatou-se que os gestores detinham diversas habilidades da IE, observando-se índices mais elevados naquelas que representam o fortaleci- mento psíquico interno – autoconsciência, au- tomotivação e autocontrole – do que nas duas representantes da competência emocional pa- ra lidar com situações do contexto social – em- patia e sociabilidade. A conclusão do autor foi a de que a competência emocional da amostra de gestores atende parcialmente às suposições da- queles que preconizam domínio de habilidades sociais como requisito indispensável ao perfil de atores organizacionais. As teorias sobre atitudes – perspectivas em que as atitudes são entendidas como uma rede de sentimentos, crenças e tendências para agir em direção a pessoas, grupos, ideias ou objetos – tornaram-se um referencial fértil para o enten- dimento da afetividade em diferentes contextos, especialmente no de trabalho (Fig. 7.10). Essa abordagem foi a que conseguiu levar mais pes- quisadores em psicologia e de outras áreas cor- Figura 7.10 Teorias sobre atitudes no trabalho. Teorias sobre atitudes no trabalho Satisfação no trabalho – grau de contentamento com os relacionamentos no trabalho, o trabalho e o sistema de recompensas Envolvimento com o trabalho – nível de identificação com o trabalho realizado Comprometimento organizacional afetivo – afetos dirigidos à organização em- pregadora, à carreira ou ao trabalho 302 Zanelli, Borges-Andrade & Bastos (Orgs.) relatas a investigar afetividade no contexto de trabalho. Ela também pode ser apontada como o principal eixo teórico responsável pelo conhe- cimento psicossocial aplicado ao trabalho du- rante o século XX, tendo como seus principais representantes os conceitos atitudinais denomi- nados por: satisfação no trabalho: grau de contentamen- to com chefia, colegas, salário, promoções e trabalho realizado; envolvimento com o trabalho: nível de iden- tificação com o trabalho realizado; comprometimento organizacional afetivo: afetos dirigidos à empresa empregadora (vide Capítulo 8). Outra perspectiva sobre afetividade exis- tente em psicologia é a teorização sobre micro- conceitos que descrevem estados afetivo-emo- cionais (Fig. 7.11), referindo-se a sentimentos/ emoções positivos e negativos mais ou menos estáveis em dadas situações ou espaços de tem- po. Dentro desse enfoque, destacam-se as for- mulações teóricas sobre estado de ânimo (posi- tive affect/negative affect), autoestima e satisfa- ção geral com a vida: Estado de ânimo: o conceito engloba duas dimensões de afetividade: afetos positivos (APS) e afetos negativos (ANS). Enquanto os APS refletem sentimentos de entusiasmo, ati- vidade e alerta, os ANS incluem nervosismo e tendência a vivenciar estados emocionais de- sagradáveis, tais como raiva, culpa, desprezo e medo (Watson; Clark; Tellegen, 1988). Autoestima: constitui-se de sentimentos so- bre competência e valor pessoais, refletindo a capacidade individual de lidar com os de- safios impostos pela vida e de se tornar feliz (Braden, 1996). Satisfação geral com a vida: avaliação global que a pessoa faz de sua vida, constituindo- -se em um componente de felicidade e na dimensão mais afetiva do funcionamento mental positivo (Ryff; Keyes, 1995). Recentemente, em virtude do renovado interesse por afetividade pessoal e seus impactos sobre o comportamento organizacional, os es- tados afetivo-emocionais aparecem como variá- veis antecedentes em estudos que analisam, por exemplo, suas relações com satisfação com paga- mento, comportamentos de saída da organiza- ção, percepção de estresse no trabalho, burnout (síndrome composta por três dimensões: exaus- tão, cinismo e ineficácia) e também em mode- los afetivos para predição de percepção de ris- cos de acidentes de trabalho e de intenção de ro- tatividade. Atualmente, os conceitos atitudinais e os estados afetivo-emocionais tendem a ser mais aplicados aos estudos sobre afetividade no traba- lho do que as amplas teorias sobre personalidade. Grande parcela das pesquisas sobre afeti- vidade no trabalho limitou-se a investigar atitu- des dos trabalhadores acerca do próprio traba- lho ou diante de fatores que o rodeavam. Tais es- tudos, ancorados especialmente em dois dos três componentes atitudinais (afetos e cognições), tinham por objetivo examinar sentimentos e crenças dos trabalhadores sobre vários aspectos de suas tarefas e da situação de trabalho, ou so- bre pessoas presentes nesse ambiente. Emoções e afetos difusos, não dirigidos a aspectos especí- ficos ou a pessoas do ambiente de trabalho, rece- beram reduzida atenção de pesquisadores. De- ve-se reconhecer que atualmente esse estado de coisas mudou, existindo um redobrado interes- se por manifestações afetivas tanto no contexto de trabalho quanto fora dele, observando-se que análises sobre relações entre tais manifestações e temas relevantes para as organizações torna- ram-se tópicos recorrentes em revistas científi- cas de psicologia, como também em periódicos que tratam do comportamento organizacional. Estados afetivo- -emocionais Estado de ânimo – afetos positivos (entusiasmo, alegria) e negativos (raiva, medo, desprezo) Autoestima – valorização pessoal, competência para lidar com os desafios da vida e ser feliz Satisfação geral com a vida – avaliação geral positiva da vida pessoal Figura 7.11 Abordagem dos microconceitos – estados afetivo-emocionais. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil 303 Reconhece-se também que experiências subjetivas no trabalho – sejam elas de natureza física, emocional, mental ou social – não só afe- tam as pessoas enquanto trabalham como tam- bém se irradiam para outros domínios de sua vida pessoal, assim como já se sabe que sentimentos e emoções manifestados no ambiente de trabalho podem ter sido produzidos fora desse contexto. Com base nessa compreensão, passou-se a con- siderar como interdependentes experiências no trabalho e na vida pessoal, aventando-se possi- bilidades de interferências recíprocas entre os dois domínios. A partir de então, tanto a afeti- vidade inerente à vida pessoal (traços e estados afetivo-emocionais) quanto aquela desenvolvi- da no ambiente de trabalho (atitudes) passaram a ser integradas aos estudos de psicologia orga- nizacional e do trabalho. Após a apresentação de três perspectivas de análise da afetividade no contexto de traba- lho, serão discutidas, a seguir, as influências das condições de trabalho sobre a afetividade dos trabalhadores, ou seja, as consequências afeti- vo-emocionais para o indivíduo desencadeadas por fatores presentes no contexto de trabalho. Condições de trabalho e suas repercussões sobre a afetividade do trabalhador Condições ambientais de trabalho são entendi- das como o conjunto de variáveis do ambiente que circunda uma pessoa durante a realização de suas atividades. As variáveis desse conjunto po- dem ser classificadas em três grandes categorias: condições físicas (temperatura, iluminação, ruí- dos), condições temporais (horário de trabalho, intervalos de descanso, duração do turno de tra- balho) e condições sociais (relaçõescom cole- gas, estilo de liderança, clima organizacional). Os fatores do contexto de trabalho capazes de produzir ou alterar a afetividade do trabalha- dor poderiam ser reunidos em algumas categorias não excludentes, tais como: eventos estressores (estímulos aversivos), líderes, características do grupo de trabalho, ambiente físico e sistema de recompensas e punições organizacionais (Brief; Weiss, 2002). Dentro de uma visão aceita e amplamen- te divulgada em manuais de psicologia indus- esaito Retângulo Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Página em branco