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ASSOMBRAÇÕES 
DO RECIFE 
VELHO 
Ada Silva 
 
 
 
 
 
"Esta cidade é meio 
mágica, meio bruxa... 
Enfeitiça, quebranta, 
tira as forças". 
 
Nilo Pereira 
 
SUMÁRIO 
 
Assombrações do Recife Velho.......................................................................................................4 
Praça Chora-Menino........................................................................................................................7 
A Emparedada da Rua Nova...........................................................................................................8 
Encanta-Moça..................................................................................................................................9 
Fantasma da Debutante................................................................................................................10 
O Papa-Figo e o Velho do Saco....................................................................................................12 
Galega de Santo Amaro................................................................................................................14 
Boca-de-Ouro................................................................................................................................15 
Rio Capibaribe...............................................................................................................................17 
Casa da Cultura.............................................................................................................................20 
Maria Fulozinha.............................................................................................................................21 
Perna Cabeluda.............................................................................................................................23 
A Cruz do Patrão...........................................................................................................................25 
Teatro Santa Isabel........................................................................................................................26 
Faculdade de Direito......................................................................................................................28 
Considerações Finais....................................................................................................................31
 
4 
ASSOMBRAÇÕES DO RECIFE VELHO 
 
Pernambuco abriga povos de diversas crenças, credos, classes sociais, regiões e 
culturas diferentes, desde a sua fundação. Foi essa diversidade que proporcionou a formação de 
um estado rico culturalmente, que hoje pode ser considerado singular e múltiplo, tradicional e 
moderno do litoral ao interior do estado. 
A cidade do Recife tem sua origem ligada as Capitanias Hereditárias, em meados do 
século XIV (QUINTAS, 2008). Conhecida como a Veneza brasileira, essa cidade histórica é 
cortada por rios, tendo em sua formação geográfica diversas ilhas. O sobrenatural é algo que 
povoa a imaginação dos recifenses desde séculos passados. Até hoje, ainda há quem se 
lembre de histórias como a da ‘perna cabeluda’, o ‘papa-figo’ ou a da ‘emparedada da Rua 
Nova’. No prefácio da segunda edição do livro ‘Assombrações do Recife velho’, Gilberto Freyre 
relata que 
Os mistérios que se prendem á história do Recife são muitos: sem eles o 
passado recifense tomaria o frio aspecto de uma história natural. E pobre da 
cidade e ou do homem cuja história seja só história natural. (FREYRE, 1970) 
 
Segundo a escritora Fátima Quintas, as superstições ligam o homem a terra, reformulam 
emoções, mexem com o íntimo das pessoas, sentimentos que elas conseguem explicar. 
“Contribuem para estabelecer a empatia homem-cidade, circunstanciando o mosaico mítico e do 
lendário. Como se o lacre do tempo envolvesse a personalidade de cada um” (QUINTAS, 2008, 
p.144). É importante ressaltar que Gilberto Freyre carregava consigo a certeza de que os relatos 
que originaram seu livro eram reais. 
Para Roberto Beltrão, jornalista, escritor, roteirista e um dos idealizadores do Recife 
Assombrado, projeto que desde a década de 90 divulga a nossa cultura assombrada não só por 
Recife como também pelo estado, as histórias de assombração estão na essência histórica da 
nossa cidade. Segundo Beltrão, o que moldou Recife foi 
A sociedade canavieira patriarcal, essa sociedade segundo Gilberto Freyre e 
outros estudiosos possui uma espécie de catolicismo mediúnico, muito 
herdado dos portugueses, nossos colonizadores. O misticismo negro 
indígena também influenciam bastante nesse processo, porém, ele é uma 
herança dos portugueses, que é a crença de que os mortos não se afastem 
muito das suas famílias. Freyre diz o seguinte em Casa Grande e Senzala 
“dentro da crença das famílias estavam, Deus, os santos, os mortos e os 
vivos. Os mortos estavam entre os santos e os vivos”. Era muito comum que 
as pessoas vissem mortos, era muito comum existir aquela coisa do sonho, 
que é algo premonitório onde o morto volta pra lhe dizer alguma coisa 
importante, algum assunto inacabado. Historicamente os mortos não eram 
enterrados longe das suas famílias. Quando você tinha uma Casa Grande, os 
mortos da sua família eram enterrados lá. Quando alguém morria na cidade 
 
5 
os mortos eram enterrados dentro das igrejas, até por não existir cemitérios 
públicos na época. (Entrevista feita com Roberto Beltrão em 23/11/2019) 
 
Por falar em cemitério, o de Santo Amaro foi o primeiro do Recife a ser institucionalizado 
pelo governo brasileiro na província de Pernambuco. Sua inauguração data de 1851 a ele foi o 
primeiro cemitério público de nossa cidade, porém ele não foi o primeiro cemitério aqui 
construído. O Cemitério dos Ingleses, localizado também no bairro de Santo Amaro, foi o 
primeiro em nossa capital. Os ingleses são anglicanos e não podiam ser enterrados em um 
cemitério de católicos, logo, o governo permitiu que eles construíssem um local para enterrar 
seus parentes mortos. Segundo Beltrão 
A relação do sobrenatural com a sociedade recifense é muito estreita, 
diferente de outras cidades do nordeste que surgiu pelo sol e mar, o Recife 
surgiu em função do seu porto e sempre foi um local muito sinistro, pois, ali 
se misturavam pessoas de origens diferentes e de diversas influências e isso 
também influenciou esse imaginário coletivo. (Entrevista feita com Roberto 
Beltrão em 23/11/2019) 
 
Roberta Cirne, autora do projeto Sombras do Recife e quadrinistra desde a década de 
90 traz a cidade do Recife como palco principal para as suas narrativas. Sobre a importância das 
lendas para a cidade do Recife ela afirma que 
Recife tem diversas lendas assombradas e todas são importantes. A 
relevância delas para a sociedade recifense é justamente o que elas podem 
fazer pela cidade: movimentar o turismo, preservar nossa memória e recontar 
os lugares onde elas aconteceram que já não existem mais. Infelizmente 
recife é uma cidade que não possui memória, pois nós a demolimos para a 
reconstruirmos novamente. Apesar de todas as políticas de preservação 
existentes, nós ainda fazemos isso, cometemos esse crime nossa história 
destruindo nossa identidade cultural e os patrimônios materiais que ainda 
restam de pé em nossa cidade. A assombração e as lendas elas tem esse 
princípio, esse poder de preservar um lapso do tempo, da imaginação das 
pessoas. (Entrevista feita com Roberta Cirne em 23/11/2019) 
 
Através dos séculos o medo sempre foi associado à vergonha, a covardia, a fraqueza. 
Admitir sentir medo de algo é como expor para sociedade um ponto fraco, e ninguém admite ser 
fraco sobre o que quer que seja. Muitos não sabem, mas Recife abriga a única instituição de 
parapsicologia do Nordeste e uma das mais antigas do Brasil. Trata-se do Instituto 
Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, (IPPP), fundado em 1973. 
O instituto foiresponsável por investigar alguns casos famosos de poltergeisters 
famosos em nossa cidade. São chamados de poltergeister eventos paranormais que acontecem 
sem nenhuma explicação. Comumente, os e exemplos de poltergeisters mais conhecidos são os 
deslocamentos de objetos. (ARAÚJO, 2009, p.. 83) 
 
6 
Conhecer nosso passado e nossa história é muito importante para a preservação tanto 
dos nossos bens culturais materiais quanto imateriais. Foi pensando nisso, na preservação de 
um bem imaterial que poucos conhecem e valorizam que esse projeto começou a ganhar forma. 
As lendas antigas da nossa cidade povoaram a imaginação da sociedade pernambucana 
por longos anos, e hoje, praticamente não se fala mais nelas. Este projeto é importante 
socialmente para incentivar o resgate dessa memória coletiva que se perdeu com o tempo. 
 
 
7 
• Praça Chora-Menino 
Localizada no bairro da Boa Vista, o local foi palco de um grandioso massacre e poucos 
devem conhecer a história que deu origem ao nome da praça. Em meados do século XIX a 
cidade do Recife presenciou uma violenta revolta de soldados militares de baixa patente. 
 
A revolta dos praças 
(soldados) se dava contra os 
maus tratos que eles sofriam 
por parte dos seus superiores e 
os abusos sofridos pelo rigor 
extremo da disciplina militar iam 
desde castigos físicos até 
atrasos em seus pagamentos. 
Claro, esses não foram os 
únicos motivos que culminaram na “Setembrizada”, como a revolta ficou conhecida. 
Nos dias 14, 15 e 15 de setembro de 1831, Recife viveu dias de pânico. Não foram 
apenas soldados que participaram do levante, civis associados ao motim também se envolveram 
nos saques que foram realizados por toda capital do estado. 
 
Tanto os soldados quanto os civis movidos na força do ódio acabaram por cometer 
diversos crimes durante os três dias que durou toda a revolta, crimes que além de saques 
também incluíram o assassinato de centenas de inocentes, entre eles muitas crianças. As ruas 
da nossa cidade ficaram cobertas por sangue e corpos daqueles que nada tinham a ver com 
tanto ódio e fúria dos rebelados. 
 
8 
Os mortos nesse episódio foram enterrados em um local abandonado, que seria as 
terras do Sítio Mondengo. Onde hoje localiza-se a praça Chora Menino no século XIX abrigou o 
tal sítio onde os corpos dos assassinatos na revolta foram enterrados. 
Após a 
Setembrizada, 
começou a circular 
uma história que 
quem passasse 
tarde da noite pelo 
local ouvia um 
choro de menino e 
foi por este motivo 
que a praça ficou 
com este nome. O 
choro ouvido seria das crianças mortas no conflito que ali foram sepultadas, pequenas vítimas de 
um massacre sangrento provocado pela tirania de adultos. 
 
• A Emparedada da Rua Nova 
A história contada por Carneiro Vilela em seu livro é uma das mais conhecidas em toda 
a cidade do Recife. O fato é que jamais saberemos com exatidão se o escritor narrou ao longo 
das 555 páginas de seu livro um acontecimento verídico ou tudo não passa de ficção. 
 
O fato é que os emparedamentos eram mesmo uma prática comum em séculos 
passados. Eles aconteciam tanto por forma de castigo (era comum que os aristocratas da época 
emparedassem suas filhas, esposas, se elas fizessem algo que manchassem a honra da família) 
quanto para se livrar de algum familiar que causasse vergonha diante a sociedade (pessoas com 
 
9 
doenças como hanseníase, doenças mentais, deformações físicas eram emparedadas para não 
causar nenhum constrangimento social). 
Na história de Vilela, Jaime Favais é um rico comerciante português. Além de rico, 
Favais é deveras raivoso, rancoroso e vingativo. Ao descobrir que sua única filha, Clotilde, está 
grávida de Leandro, um sedutor famoso no centro da cidade naquela época, ele decide casar a 
filha com um de seus sobrinhos, que recusa a proposta feita pelo tio. 
Um detalhe importante da história é que Leandro além de engravidar Josefina, 
desonrando assim a família, também é amante de Josefina, esposa de Jaime e mãe de Clotilde. 
Quando João, sobrinho que foi cotado para casar com Clotilde recusa a proposta feita pelo tio, 
Jaime então movido ao ódio que lhe tomara no momento manda matar Leandro, ao saber da 
decisão do marido Josefina enlouquece. É neste momento que o rico e poderoso comerciante 
sentencia a filha ao medonho castigo: ser emparedada viva. 
E assim foi feito, Clotilde foi emparedada em um dos cômodos do sobrado onde a família 
residia, na Rua Nova, um dos locais mais importantes do Recife no século XIX, época em que 
toda trama é narrada. O sobrado onde especula-se que tenha acontecido tal tragédia ainda 
existe, hoje ele é o número 200 e resiste ao tempo e as reformas que nele foram feitos. Ele ainda 
funciona tal qual no século XIX: uma loja no pavimento térreo e nos andares superiores que 
outrora serviram como residência, hoje abriga o estoque do comércio que ali está instalado. 
Funcionários que já trabalham no local afirmam que ali existe uma presença estranha, 
macabra. No último andar do sobrado ninguém se atreve mais a chegar, por lá já foram vistos 
vultos, ouvidos gemidos e atrever-se a subir ali sozinho é pedir para ver o que não se deseja. Ao 
que tudo indica, a alma de Clotilde ficou presa naquele lugar onde teve a vida ceifada de forma 
tão brutal. 
 
• Encanta-moça 
Esta triste e melancólica lenda conta a história de uma jovem moça que ao que tudo 
indica foi vítima de um crime passional como alguns acreditam. Se a história se passasse em 
nossos dias atuais ele seria considerado um feminicídio. O fato é que uma iaiá (nome pelo qual 
meninas e moças eram comumente chamadas na época da escravidão), bela, branca, rica e 
casada com um ciumento aristocrata gostava de passear a noite. 
Certo dia, ela passeava numa região do Recife pouco habitada quando percebeu que 
estava sendo seguida pelo seu ciumento marido, que havia cismado que ela estava o traindo 
com um escravo que ele iria mata-la. Tentando fugir desesperadamente do seu abusador, a 
moça entra no mangue e desaparece. Como num passe de mágica ela teria se “encantado” no 
manguezal. A área onde a tal jovem desapareceu hoje pertence ao Bairro do Pina, localiza-se 
próximo ao RioMar Shopping. 
A história da encantada ainda conta que ela retorna do além tomada por uma espécie de 
vingança contra o machismo que a sociedade reproduzira na época (e se formos parar para 
 
10 
pensar talvez esse machismo ainda se encontre muito presente nos dias atuais e em costumes 
da nossa sociedade hoje). 
Em noites de lua cheia a iaiá retorna do seu mundo assombrado para seduzir os 
desavisados que circulam pelas adjacências. Ao ver o espectro da jovem e bela moça desnuda, 
eles se sentem imediatamente atraídos por ela e vão ao seu encontro, mas, ao se aproximarem 
dela, os homens começam a perceber que a encantada desaparece em meio à névoa discreta 
que forma-se durante a madrugada. Alguns acabam presos no manguezal e morrem atolados 
por lá. 
 
Durante décadas essa lenda foi levada muito a sério, tanto que evitavase passar pelo 
local em horas mortas para que o destino cruel de ser encantando e morrer preso no mangue 
não se tornasse uma realidade para qualquer um ousasse passar pelo local., que era conhecido 
como “EncantaMoça” até meados do século XX. 
O sociólogo e escritor Gilberto Freyre também traz relatos dessa história em seu livro 
“Assombrações do Recife Velho”: 
Nunca mais se viu a iaiá que devia ser mulher bonita, além de branca, para ser tão 
oprimida pelo senhor seu marido. Talvez tenha se tornado alamoa: e ruiva como uma 
alemãzinha apareça nas noites de lua a homens morenos e até pretos, assombrando-os e 
enfeitiçando-os com sua nudez de branca de neve. Mas desmanchando-se como sorvete 
quando alguém se afoita a chegar perto de seu nu de fantasma. Desmanchando-se como 
sorvete e deixando no ar um frio ou um gelo de morte. Frio ou gelo que é aliás característicode 
quase toda a assombração recifense em que um morto aparece a um vivo. (FREYRE, 1955) 
O fato é que jamais saberemos se a história da iaiá que se encantou no manguezal para 
escapar da tirania do seu poderoso marido é ou não verdade, pois, não se tem nem certeza em 
que ano a história teria acontecido. A lenda do Encanta-moça é a versão recifense para as 
lendas de sereias, que utilizam toda sua beleza para seduzir desavisados e leva-los a perdição e 
 
11 
a morte. Tanto as sereias quanto a iaiá encantada são entidades femininas ligadas ás águas e é 
comum ter a figura do sagrado feminino relacionadas a tais histórias assustadoras. 
No livro, Freyre (1955) também faz uma analogia da encantada com a Alamoa, figura de 
uma loira sinistra que apavora os visitantes da Ilha de Fernando de Noronha, atraindo-os para o 
mar e os matando afogados tal qual as sereias faziam segundo a mitologia grega. 
 
• Fantasma da Debutante 
Outra história verídica e triste. No prédio onde se localiza o Museu de Arte Moderna 
Aloísio Magalhães – MAMAM, na Rua da Aurora, cartão postal da nossa cidade foi palco para 
uma história medonha. As paredes do museu não abrigam somente exposições e atividades 
culturais diversas, em seu interior o espírito de uma jovem assombra os cômodos do local. 
No início do século XX o MAMAM já foi sede do Clube Internacional do Recife, 
recebendo importantes eventos em seu salão. Festas de casamento, bailes de carnaval, saraus, 
festas de debutantes. E foi justamente em uma festa de debutante que uma tragédia aconteceu 
no antigo clube. 
 
Em 1920, conta-se que filha de um rico aristocrata da época iria comemorar seu décimo 
quinto aniversário no local. A jovem chamada Ana Lúcia entrou no salão de festas com seu traje 
de gala imponentíssimo chamando a atenção de todos os presentes para ela. Porém, algo 
totalmente inesperado aconteceu: a jovem que vestia um longo vestido branco tropeçou nas 
escadas que ligavam o primeiro pavimento ao salão principal, rolando escada a baixo por vários 
degraus até chegar ao chão. A jovem quebrara o pescoço e morrera ali, na frente de todos os 
convidados, no dia do seu aniversário. 
Acredita-se que pela morte trágica e precoce da jovem seu espírito tenha ficado preso 
no casarão histórico e que hoje ele ainda habita o local. Funcionários do museu afirmam que a 
 
12 
noite a adolescente caminha pelos corredores do local, assustando quem ela encontrar pelo 
caminho. Alguns servidores públicos que trabalharam na localidade pediram afastamento do 
trabalho por medo do Fantasma da Debutante, como a assombração é conhecida. 
 
• O Papa-Figo e o Velho do Saco 
Era comum ouvir em tempos passados mães falarem a filhos desobedientes e rebeldes 
que queriam brincar por horas na rua sem ir para casa a seguinte frase: 
“- Menino, entre agora antes que o velho do saco venha te pegar e te levar para o papa-
figo!” 
Pois bem, essa é uma das lendas urbanas mais conhecidas em todo o nosso estado. 
Segundo relatos populares, o Papa-figo seria um rico senhor acometido por uma doença no 
sangue, tal doença misteriosa deformava a aparência do sujeito. Há ainda a descrição de que 
existiam duas espécies dessa aberração: a primeira, o indivíduo infectado pela enfermidade 
possuía uma aparência praticamente normal e poderia até ser confundido com qualquer pessoa, 
pois, ele conseguia disfarçar as lesões em sua pele com roupas totalmente fechadas. Já a 
segunda espécie da doença transfigurava o sujeito por ela acometido: suas orelhas e unhas 
cresciam excessivamente que o normal, além de seu corpo possuir uma quantidade bizarra de 
pelos. Suas unhas além de enormes estavam sempre sujas. 
 
Ao fim do século XIX um forte boato começou a circular pela cidade do Recife. O que se 
conta é que um nobre senhor de uma rica, poderosa e influente família da nossa capital contraiu 
a doença que ninguém sabia ao certo do que se tratava e assim que contraiu a enfermidade 
rapidamente sua feição começou a transforma-se devido a ela: os sintomas da moléstia incluíam 
um desânimo total para qualquer atividade, pele amarelada e ele não aguentava se expor ao sol, 
sua pele enchia-se de pústulas. Pela sintomatologia diziam ao homem que ele tinha uma séria 
infecção no sangue. 
 
13 
As poucas pessoas que o viam ficavam apavoradas, nenhum médico conseguia com 
exatidão indicar um medicamento eficiente para o caso. Com o tempo, o homem passou a 
enclausurar-se cada vez mais em sua residência, cada dia mais doente, mais amargurado com a 
vida. Havia quem acreditasse e dissesse que ele estava se tornando um lobisomem. 
Ele já havia perdido as esperanças de um dia retomar a sua vida normalmente quando 
um preto velho empregado há anos de sua família lhe disse que o caso dele ainda tinha solução, 
mas que a solução era um tanto quanto inusitada. Fazendo qualquer coisa para se curar daquele 
mal, o homem disse quem não importava o que seria a cura, que ele estava disposto a fazer o 
que fosse para conquistá-la. 
Foi nesse exato momento que o empregado disse ao seu senhor: a cura para o seu caso 
é comer fígado de criança novinha, quanto mais nova melhor. Posso sair para caçar se o senhor 
permitir que eu faça. E assim foi feito, o homem autorizou que o seu empregado fosse à busca 
da sua cura. 
Atraindo as crianças com doces, o preto velho pegava um por um, colocava em um saco 
e os lavava para o seu senhor. Para não chamar atenção desnecessária, o velho do saco como 
ele ficou conhecido, usava sacos grandes e sujos usados para transportar açúcar. Quando 
indagado sobre o conteúdo do saco, ele explicava que em seu interior ele carregava ossos de 
animais que serviriam para o refinamento de açúcar. 
Recém-nascidos também eram subtraídos pelo velho para que o seu senhor pudesse 
comer o fígado. Em casos assim, era como se uma troca nada justa acontecesse: o velho levava 
o bebê sem que os pais percebessem e deixavam uma quantia em dinheiro no lugar, quase uma 
reparação de danos por ter retirado o recém-nascido do seu lar. 
Quando o velho do saco chegava á residência do Papa-Figo, ele retirava os fígados das 
crianças raptadas e os dava ao seu patrão para que ele degustasse os órgãos ainda frescos e 
crus, pois só assim a doença seria curada. O estranho remédio de seu empregado foi fazendo 
efeito até que um dia o seu patrão estava completamente recuperado. 
 
14 
Essa foi apenas uma de tantas histórias de papa-figos e velhos do saco que surgiram 
em nossa cidade. Com o passar dos anos a lenda foi modificando-se a realidade da sociedade 
atual. No século XX, o boato que surgiu e fez lembrar a história do velho do saco foi um carro 
preto (prata, branco, existem variações para a história), que andava pelos bairros da cidade 
raptando crianças para traficarem órgãos. 
É importante ressaltar a diferença entre o Papa-Figo e o Velho do Saco: o primeiro era 
um senhor rico e vindo de uma família nobre, que foi acometido por uma estranha enfermidade, 
sua única cura seria comer o fígado de crianças. Já o segundo era empregado do primeiro, e era 
ele que realizava os raptos das crianças e retirava seus órgãos para que seu patrão pudesse 
comer comê-los. 
 
• Galega de Santo Amaro 
Inaugurado em 1851, o Cemitério de Santo Amaro abriga túmulos luxuosos, muitos 
deles talhados em mármore, com letras em bronze e estátuas em tamanho natural. Visitar o 
Santo Amaro é mergulhar numa galeria de arte a céu aberto tamanha a riqueza de detalhes das 
peças que lá se encontram. 
O cemitério é a 
morada eterna de 
personagens célebres como 
Joaquim Nabuco, que foi 
jornalista, diplomata, 
historiador. Além dele, 
também estão por lá o 
famoso compositor de tantos 
frevos Capiba e o cantor 
Chico Science, que morreu 
vítima de um terrível acidente de carro. 
Além dessas personalidades o Santo Amaro também abriga causos encantados sem 
explicação. Como explicar a devoção a Menina SemNome? A ela, são atribuídos milagres de 
fiéis que acreditam que a menina seja milagrosa. Em seu túmulo são deixados votos em 
agradecimento por graças alcançadas. Ninguém sabe quem foi a criança: a menina de oito anos 
de idade foi vítima de um crime bárbaro na década de 70, ainda na época da ditadura. 
Assassinada, seu corpo foi encontrado na praia do Pina amarrado e sem roupas e sua 
identidade jamais foi conhecida. Até hoje, seu túmulo é o mais visitado em Santo Amaro. 
 
15 
Mas o cemitério é o lar de uma assombração que por muito tempo amedrontou homens 
que passassem pelas redondezas. A tal assombração trata-se de uma mulher loira, sedutora, 
que chamava a atenção pela sua beleza e que por este motivo seduzia facilmente quem 
atravessasse seu caminho levando-os até o cemitério. A figura fantasmagórica era sempre vista 
por volta da meia-noite no entorno do Santo Amaro, e era nas horas mortas que ela convidava 
os homens que encontrava para um passeio. 
 
Foi na década de 70 à história ganhou força e se espalhou pela cidade. As vítimas da 
assombração geralmente eram os motoristas e cobradores da antiga companhia municipal de 
transporte, a CTU, pois a garagem da companhia funcionava em frente ao cemitério. De salto, 
vestido vermelho curto e sensual, a tal mulher misteriosa levava os sujeitos para dar uma volta 
dentro do cemitério (que passeio inusitado!) e ao chegar ao seu túmulo ela olhava para a vítima 
e se transformava em uma caveira na sua frente dizendo “eu moro aqui”, apontando para o 
jazigo onde fora sepultada e que seria sua morada eterna. Os pobres homens fugiam 
desesperados do local e nunca mais queriam saber de passar por ali sozinhos durante a 
madrugada. 
 
• Boca-de-Ouro 
Esta assombração é vista durante a madrugada pelas ruas do bairro do Recife Antigo. 
Ao ver a figura de um boêmio bem vestido e de branco, pode ter certeza que se trata do Boca-
de-Ouro, o boêmio que pode ser considerado a mistura de um zumbi com um demônio. A figura 
encantada muito se assemelha a entidade conhecida por “Zé Pilintra”, cultuada pela Umbanda. 
Citado do livro de Gilberto Freyre “Assombrações do Recife Velho”, o sociólogo afirma 
que assombração não pertence exclusivamente ao Recife, aparições fantasmagóricas do 
espectro também foram catalogados em outras cidades do Brasil. 
 
16 
A figura do boêmio começou a ter relatos de sua aparição no início do século XX, ele é 
visto caminhando vagarosamente fumando seu cigarro e como já foi mencionado está sempre 
muito bem vestido: paletó branco, sapatos lustrosos e bem engraxados e na cabeça um chapéu 
no estilo “Panamá”. 
 
A assombração interpela caminhantes desavisados que caminham despreocupados 
pelas ruas vazias do centro da cidade voltando para casa após uma noite de farra. Ao encontrar 
alguém, ele pede “fogo” para acender seu cigarro. Possuindo ou não fósforo ou isqueiro para 
emprestar ao mal assombro, a vítima leva um grandioso susto ao olhar mais atentamente para 
Boca-de-Ouro: seu rosto é inteiro carcomido, como o de um cadáver e dele um forte cheiro de 
enxofre é emanado. 
Com o susto, a pessoa sai correndo em disparada para o mais longe possível daquela 
aparição sobrenatural, mas, a fuga é em vão. O demônio libera uma gargalhada nefasta e expõe 
sua boca repleta de dentes de ouro, assustando ainda mais a sua vítima que não consegue ir 
muito longe, em questão de segundos ao chegar à outra esquina ou em uma encruzilhada, o 
espectro já está à espera novamente do sujeito, aguardando-o chegar com outra risada maléfica. 
A situação angustiante vivida pela pobre vítima se repete a cada esquina que ela tente fugir para 
escapar da aparição, até que não aguentando mais de horror e tomado pelo pânico e uma fadiga 
intensa, ele desfaleça e desmaie. 
O sujeito é encontrado na manhã seguinte caído no chão no meio da rua e é socorrido 
pelos que passam no local, que curiosos perguntam o que aconteceu e não acreditam na 
resposta: o encontro com o Boca-de-Ouro é considerado pelos que ouvem história de bêbado ou 
de uma pessoa que não possui seu juízo normal. 
A assombração não é vista importunando grupos de homens ou casais passeando pelas 
ruas à noite, Boca-de-Ouro prefere mesmo é afligir boêmios em busca de aventuras noturnas ou 
simplesmente aqueles que vagam por aí sozinhos pela noite. 
 
 
17 
• Rio Capibaribe 
O Capibaribe possui 248 quilômetros de extensão desde o seu nascimento até desaguar 
no oceano. Ele nasce como um simples riacho no município de Poção, Agreste de Pernambuco, 
e ao chegar a capital do estado, atravessa diversos bairros do subúrbio do Recife. 
O Rio Capibaribe 
continua sendo um dos cartões 
postais da nossa cidade: em 
meio ao caos e agitação da 
vida urbana ele segue seu 
curso natural sem ser 
interrompido. Suas águas 
refletem tanto a arquitetura 
local quanto as nuvens no céu 
durante o dia, ou o brilho natural da lua as luzes da cidade à noite. 
O certo é que apesar de toda sua beleza majestosa, o Capibaribe provocou medo - se é 
que ainda não provoca – aos recifenses por longos anos. Há quem ainda defenda atualmente 
que suas águas são mal assombradas e que ali habitam diversos espíritos. 
Segundo histórias antigas, o Capibaribe guarda a alma daqueles que utilizaram suas 
águas para abreviarem a sua vida: ao se suicidarem, o corpo deixava este mundo, mas, a alma 
jamais sairia dele. Fantasmas habitam o rio, pois, ao realizar o suicídio eles ficaram presos no 
purgatório entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, sendo assim, jamais encontrariam 
descanso eterno nem no céu e nem no inferno. 
Em décadas 
passadas, muitos afirmam 
que presenciaram 
aparições sobrenaturais 
pelo rio, é comum que 
vultos sejam vistos 
flutuando em suas águas. É 
durante a madrugada que 
as aparições surgem com 
mais frequência nas 
margens ermas do Capibaribe. 
Nem só almas que partiram desse mundo por livre e espontânea escolha habitam o 
Capibaribe. Há também aqueles que o próprio rio ceifou a vida. Era comum até o início do século 
XX as pessoas se banharem em suas águas, muitos acreditavam até que elas tinham poderes 
medicinais e quem banhar-se no trecho próximo ao bairro do Poço da Panela poderia auxiliar na 
recuperação de algumas enfermidades. 
 
18 
O fato é que hoje devido a poluição de suas é praticamente impossível imaginar que há 
décadas atrás suas águas ainda eram límpidas. Muitos dos que se banharam no Capibaribe por 
lá mesmo ficavam: acabavam arrastados pela força das de suas águas e nelas desapareciam. 
Seus corpos eram achados metros de distância de onde o afogamento acontecera. As almas das 
vítimas do Capibaribe também estão presas nas águas do rio, mesmo que elas não tivessem 
morrido por vontade própria. Ao que dizem essas almas não se conformam com sua partida e 
assombram o rio como fantasmas, que aparecem em nosso mundo para pedir ajudam a quem 
está vivo. 
 
Um fantasma que também se ouviu muito falar e que assombrou as lavadeiras que iam 
até o Capibaribe para realizarem seu ofício foi o ViraRoupas. O espectro ficou conhecido por 
este nome por ser um fantasma zombeiro: a assombração não dava paz as pobres lavadeiras 
que usavam as margens do rio para lavarem roupas. 
Segundo Gilberto Freyre, que cita o fantasma em seu livro “Assombrações do Recife 
Velho”, o Vira-roupas era expert em “roubar trouxas das pobres mulheres, camisas finas de 
doutores, toalhas de casas lordes, lenços caros de iaiazinhas”. Se o tal fantasma zombeteiro 
ainda habita as águas do Capibaribe não sabemos, uma vez que suas águas não são mais 
usadas para a lavagem de roupas. 
Não podemos esquecer de mencionar que as águas do Capibaribe foram altamente 
destrutivas para a nossa cidade na década de 70: o rio inundara Recife nos períodos chuvosos, 
causando destruição por todos os lados onde as águas invadiram. Em 1975 aconteceu a pior 
enchente da história do nosso estado.Quando o rio começou a baixar grande foram os estragos 
feitos pela violência das águas. Foi neste ano também que o maior boato da história de 
Pernambuco se espalhou causando um pânico generalizado nas pessoas em todo o estado. 
Devido à inundação que deixou dezenas de pessoas sem casas para morar e até mortos 
e desaparecidos, surgiu o boato que a barragem de Tapacurá havia se rompido e que com isso a 
cidade seria invadida pelas águas do Capibaribe e desapareceria. O corre-corre após rumor do 
 
19 
rompimento da barragem ganhar cada vez mais força, o caos havia se instalado pelas ruas do 
Recife. Todos tentavam de alguma maneira escapar das águas que invadiriam a cidade. 
No fim, o falatório foi desfeito e aos poucos a vida na capital voltou a entrar no eixo. Com 
a construção de barragens de contenção para o Capibaribe, nunca mais houve na capital uma 
enchente com essa proporção. O principal rio da nossa cidade segue quieto desde então, mas 
nada impede que a qualquer momento ele possa se enfurecer e causar grandes estragos com 
suas águas cruéis. 
As histórias medonhas que rondam o Capibaribe não param por aí. Em julho de 2004, 
um gari trabalhava na limpeza do rio nas proximidades da ponte Maurício de Nassau, no centro 
da nossa cidade, quando encontrou um saco de lixo preto. Rapidamente o local começou a 
aglomerar uma grande quantidade de pessoas e logo as autoridades chegaram até o local. O 
motivo de tanta balbúrdia? O saco continha sete crânios humanos. 
 
De acordo com as testemunhas que ali estiveram presentes, o gari ficou bastante 
inquieto e apavorado ao perceber o que saco abandonado as águas do rio continha. A Polícia 
Militar foi acionada para atender a ocorrência junto com o Corpo de Bombeiros e peritos do 
Instituto de Criminalística, que recolheram o material para análise no Instituto de Medicina. 
Nunca se descobriu a verdade sobre os restos mortais encontrados no Capibaribe. Na 
época especulações de que as ossadas teriam sido utilizadas em “rituais de magia negra” ou 
que seriam “restos de algum crime antigo” foram levantadas. De certo é que as almas dessas 
caveiras poderiam assombrar também as águas do rio, já carregadas de histórias macabras para 
contar. 
 
 
 
 
20 
• Casa da Cultura 
A antiga Casa de Detenção do Recife foi inaugurada no ano de 1855. O prédio possui o 
formato de uma cruz e foi construído obedecendo a um modelo comum de segurança para 
época, o “panopticon”. 
Localizada a beira do Rio Capibaribe, o monumento histórico funcionou por 118 anos 
como presídio até ser desativado em 1973, por ordem de Eraldo Gueiros Leite, governador do 
nosso estado na época. 
 
 Imponente, suntuoso e único, o prédio que em outro século abrigou a penitenciária mais 
importante de Pernambuco hoje passa longe do seu passado nefasto. As selas que outrora 
abrigaram os mais diferentes tipos de maus elementos, hoje são ocupadas por lojas de 
artesanato com os mais diferentes tipos de materiais vindos de todo o estado, além de 
associações culturais e lanchonetes. 
O espaço que foi transformado em um moderno centro de compras respeitando as 
nossas tradições, hoje é referência para a cultura pernambucana. A Casa também conta com um 
anfiteatro que recebe todo tipo de manifestação cultural popular, como espetáculos de dança e 
teatro, música, capoeira, entre outras atividades. Mas, como nem tudo são flores, o local também 
abriga histórias de horror. Você seria capaz de imaginar quantas histórias apavorantes ele pode 
esconder? Nem todas as selas da antiga Casa de Detenção foram reformadas e transformadas 
em loja. 
A cela de número 106 foi mantida em seu estado original como era quando o espaço 
ainda era um presídio: a atmosfera dela é pesada e quem passa alguns minutos a observando 
diz que sente um incômodo como se algo ruim ali estivesse presente. Talvez seja a energia 
pesada que o local ainda possa conter, devido há todos os anos que abrigou tantos homens 
desesperados por sua liberdade. 
Conta-se que o prédio abriga as almas dos presos que ali vieram a óbito sem jamais 
conhecer novamente a sensação de ser livre. Artesões que trabalham no local afirmam que vez 
 
21 
ou outras vozes ecoam dentro das selas, é como se os fantasmas presentes no local pedissem 
socorro para sair dali. 
Um caso 
verídico de uma 
tentativa de fuga 
acabou deixando dois 
detentos mortos e 
conta-se que as almas 
das duas vítimas ainda 
vagam pelo local. 
Nenhum prisioneiro 
conseguiu fugir da 
penitenciária em todo o tempo que ela funcionou como casa de reclusão. Ela era tão segura que 
os únicos homens que tentaram fugir de lá morreram na tentativa e serviram como exemplo para 
que outros detentos não tentassem cometer o mesmo erro. 
Os sujeitos 
tentaram fugir pela 
tubulação de esgoto do 
lugar, porém, eles não 
contavam que a tubulação 
fosse afunilando à medida 
que se aproximava do 
mangue em frente a 
penitenciária, local onde o 
esgoto era despejado. Os 
homens acabaram morrendo entalados nos encanamentos e os seus corpos foram encontrados 
dias depois do acontecido. Acredita-se que as almas deles vagam perdidas pela Casa da Cultura 
atormentando os passantes que por lá costumam ir. 
 
• Maria Fulozinha 
As florestas da Zona da Mata do nosso estado possuem uma guardiã: a Cumade 
Fulôzinha. Se você é do tipo de pessoa que maltrata animais ou é caçador por diversão é bom 
ficar atento: a protetora das matas executa severas punições para quem é cruel com a natureza. 
E os castigos podem ir desde desorientar a pessoa para que assim ela possa se perder 
dentro da mata sem saber como achar o caminho que lhe levará para longe daquele suplício, 
quanto dar uma surra com os cipós das árvores da floresta que faz utiliza como chicote ao 
executar o castigo. 
A Cumade Fulozinha, também conhecida por Maria Fulozinha é uma entidade das 
matas. Além de atormentar caçadores, ela também ela também gosta de aborrecer agricultores e 
 
22 
fazendeiros. Seu passatempo favorito é trançar crinas e caudas de cavalos pertencentes aos 
senhores do campo de maneira tal que seja muito difícil desembaraça-los depois. 
Outra travessura realizada por Fulozinha é soltar animais presos nos currais das 
fazendas para que eles fujam dos seus donos. Ela costuma ajudar quem está perdido nas matas 
quando é reverenciada. Se você não souber qual caminho seguir é só pedir ajuda a ela, mesmo 
acanhado, peça pra ela te orientar na direção certa que dessa forma você conseguirá achar seu 
rumo. E fique sempre atento para um detalhe: quando a entidade está nas redondezas, ela solta 
um forte assobio. 
 
Fulozinha costuma castigar crianças mal criadas e desobedientes que não respeitam os 
pais e os mais velhos. Ela gosta de receber presentes e você quiser ganhar sua confiança pode 
deixar bolos de rolo pela mata ou pratos de papa, com certeza você ganhará sua admiração. A 
entidade detesta formalidades, então, não a chame por “Comadre Florzinha”, ela pode irritar-se e 
até te dar uma surra por isso. 
Acredita-se que a entidade já tenha sido uma criança em carne e osso. O que se ouve 
em alguns lugares do interior do nosso Estado é que a menina sofria maus tratos pelo seu pai 
que vivia bêbado e a batia sem nenhuma motivação específica, após ter ficado órfã de mãe. 
Num determinado dia, o homem chegou em casa muito bêbado, com fome, estressado e 
não encontrou a garota, tampouco comida pronta. A menina tinha saído para brincar no mato 
próximo da sua residência como costumava fazer diariamente, ela adorava trançar e destrançar 
seus longos cabelos em meio à mata. Além disso ela sempre amou os animais e se sentia 
protegida quando estava na presença deles. 
Ao chegar a casa o pai descarregou toda a sua fúria na garota, que foi espancada até 
desmaiar, após isso o seu pai a enterrou viva na mata. Sua morte foi tão brutal que seu espírito 
não teve mais paz, ficando presona mata e perturbando seu pai, que não suportando as 
aparições sobrenaturais da garota acabou se suicidando. 
 
23 
Após toda essa tragédia que culminou com o fim da vida da garota, sua alma vive pelas 
matas para proteger os animais de caçadores que tentem fazer as criaturas sofrerem. Não temos 
como comprovar se foi assim que a história aconteceu, mas, uma coisa nós podemos afirmar: 
nossas matas são muito bem protegidas pela garota que fez da floresta seu lar eterno. 
 
• Perna Cabeluda 
Na década de 70, uma medonha assombração começou a causar um pânico 
generalizado nos moradores da Região Metropolitana do Recife. As histórias que se ouviam 
sobre a Perna Cabeluda causam espanto até nos mais céticos dos homens. Onde já se viu uma 
perna desmembrada de um corpo atacando pessoas durante a noite? 
 
O caso é que assombração fez diversas vítimas. As rasteiras que a tal perna 
assombrada da nas pessoas as levava a cair no chão e após isso, o ataque continuava. Com a 
vítima em pânico e caída ao chão, a Perna Cabeluda continuava o ataque com inúmeros 
pontapés até que a pessoa entrava em estado de semiconsciência. 
Ao ser encontrada jogada na rua após a agressão, a vítima custava a dizer o que tinha 
acontecido, temendo que ninguém acreditasse: uma perna que ataca pessoas a noite? Muitas 
pessoas foram testemunhas dos ataques da perna, que possui um pé tosco com as unhas 
cumpridas e podres, além de ser coberta por pelos negros totalmente ensebados. 
Mas, sempre que um novo caso em que a tal perna fosse protagonista surgisse, um 
novo detalhe horrendo era adicionado a história. De crianças a velhos, não há sequer uma 
pessoa que não conheça relatos assombrosos sobre a perna. E ninguém nunca soube de onde 
vem tanto ódio e o porque da perna atacar pessoas. 
 
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Recebendo destaque em diversos noticiários policiais, sendo tema de diversas 
reportagens em rádios e jornais na época de seu aparecimento em meio a ditadura militar, 
quando era proibido falar em perseguições políticas, injustiças sociais, torturas, era sobre a 
perna cabeluda que se falava. 
Raimundo Carrero, escritor e jornalista, afirma que ele é o pai da tal assombração e que 
tudo teve início ao ouvir de um colega de trabalho na redação do Diário de Pernambuco a 
seguinte confissão: “Entrei em casa de madrugada e vi uma perna cabeluda debaixo da minha 
cama...”. 
Nós sabemos que o resto do corpo do indivíduo também estava em baixo da cama. O 
certo é que o amante da sua mulher ao tentar se livrar de ser flagrado pelo marido traído, não se 
escondeu o suficiente. 
 
 Se a conversa existiu ou não, de fato não saberemos, mas o comentário inusitado foi à 
motivação para o escritor criar todo um universo ao redor da estranha figura, que virou até 
personagem principal sendo tema de uma crônica publicada em 1976 no jornal do Diário de 
Pernambuco pelo escritor. 
Outro suposto criador da história da Perna Cabeluda é o conhecido radialista e 
apresentador de televisão Jota Ferreira. Ele garante ser o “pai” da criatura. A sua explicação 
para o fato? Simples, durante um plantão na época em que trabalhava como repórter policial no 
programa do ilustre Geraldo Freire, ele não tinha nada a noticiar. 
Foi daí que surgiu a ideia por meio de uma ordem de seu chefe, inventar uma falsa 
notícia para que fosse ao ar durante um flash, e o que Jota deu como informação urgente de 
primeira mão? Que uma vítima acabara de dar entrada no Hospital da Restauração vítima de 
uma agressão da Perna Cabeluda! 
E após esse episódio surreal, vários outros relatos de ataques com a perna assombrada 
surgiram, pois todos os ouvintes da história ficaram apavorados com aquilo e aí não teve outra: o 
 
25 
que era apenas uma invenção pra tapar um buraco na programação virou uma boataria 
amedrontando os moradores do Recife e cidades como Olinda, Paulista Jaboatão dos 
Guararapes e Camaragibe. Por longos anos, a Perna Cabeluda amedrontou o imaginário 
coletivo das pessoas fazendo com que muitos evitassem sair em altas horas da noite, horário e 
que os ataques costumavam ser comuns. 
 
 • A Cruz do Patrão 
A torre de alvenaria construída em estilo dórico mede seis metros de altura por dois de 
diâmetro. Com uma cruz em seu topo, ela era utilizada para sinalizar os navios que chegavam 
ao porto de nossa capital há séculos atrás para que eles aqui atracassem. 
 
O nome do monumento faz referência ao “patrão da embarcação”, esse era o termo 
náutico que era usado para se referir ao chefe da guarnição de um pequeno barco e daí surgiu o 
nome pelo qual a construção ficou conhecida. O monumento histórico que hoje está numa área 
pertencente ao Porto da Cidade do Recife já foi palco para as mais diversas histórias de terror. 
A Cruz do Patrão é o monumento histórico mais antigo do estado de Pernambuco. 
Acredita-se que o local tenha sido um cemitério para enterrar os corpos dos escravos que 
morriam nos porões dos navios negreiros durante a longa viagem que realizavam em péssimas 
condições da África até o Brasil e aqui eram escravizados a força. Foi a partir deste relato que os 
boatos sobre o local ser mal-assombrado e possuir uma atmosfera pesada começaram a se 
espalhar. 
A Cruz localizava-se no antigo istmo que ligava Recife a Olinda e esse era o caminho 
mais rápido para ir de uma cidade a outra. Quando o local começou a ganhar fama de mal-
assombrado ninguém se atrevia a passar por ali à noite, com medo do que poderia acontecer. 
 
26 
Não há como precisar o momento exato em que a Cruz foi erguida, porém, em mapas 
datados de 1759, já é possível notar que a estrutura estava sinalizada na representação gráfica. 
O célebre sociólogo Gilberto Freyre em seu livro “Assombrações do Recife Velho” cita a Cruz 
como um local sobrenatural, e afirma que quem passar por lá em “horas mortas” pode acabar 
sendo perseguido por espíritos malignos ou até vendo fantasmas, que muitos acreditam serem 
as almas dos antigos escravos que ali foram sepultados. 
O fato é que nunca foi confirmado à hipótese dos tais sepultamentos terem ocorrido 
mesmo no local. Pesquisas arqueológicas recentes realizadas no entorno da Cruz não 
encontraram nenhum indício que pudesse comprovar a teoria de que ali tivesse sido um 
cemitério clandestino. 
Quem visita o local pode sentir de perto a atmosfera sombria que ele carrega e é 
recomendado conhecer o local durante o dia, no máximo permanecer ali até o pôr-do-sol. Nunca 
se sabe que tipo de assombração pode-se encontrar por lá, não é mesmo? 
 
• Teatro Santa Isabel 
Construído pelo engenheiro francês Louis Lérger Vauthier entre 1841 e 1850, o teatro 
pode acomodar em seu interior aproximadamente 900 expectadores. Localizado na área central 
do Recife, ele possui como vizinhos a Praça da República, o Palácio do Governo e Palácio da 
Justiça. 
 
Em 169 anos de história o Santa Isabel não foi palco apenas de manifestações artísticas 
como grandiosos e luxuosos concertos e espetáculos, o também possui sua história marcada 
debates cívicos, que contaram com a presença de personalidades como Joaquim Nabuco, 
Castro Alves e Tobias Barreto, além de um grandioso incêndio que quase o destruiu por 
completo. Após o episódio do incêndio, que nunca foi provado se foi acidental ou criminoso, ele 
passou por mais de dez reformas até ser o que é hoje. Seu nome é uma homenagem à princesa 
Isabel, filha do imperador Dom Pedro II. 
 
27 
A faixada do 
imponente prédio histórico que 
vem resistindo bravamente à 
passagem do tempo e chama 
atenção pela beleza 
grandiosidade. De influência 
arquitetônica Neoclássica, 
contudo em seu interior ele 
esconde mistérios que poucos 
conhecem. Sons estranhos são ouvidos nos camarins, corredores do teatro e até nos camarotes. 
Vultos também já foram vistos por quem trabalha no local e por artistas que nele estavam para 
se apresentar. 
Gilberto Freyre também cita o Santa Isabel em seulivro “Assombrações do Recife 
Velho”, Freyre afirma que os acontecimentos que já foram relatados são inexplicáveis. 
O que se murmura entre os empregados antigos e discretos do Santa Isabel 
é que em noites burocraticamente silenciosas se ouvem, no ilustre recinto, 
ruídos e aplausos, palmas, gritos de entusiasmo de uma multidão apenas 
psíquica. Mas sem que se possa precisar a que ou a quem são os seus 
aplausos de bocas e mãos que não aparecem (FREYRE, 1955, p.199) 
 
Conta-se que o piano do teatro localizado no salão de bailes toca sozinho. É possível 
ouvir o som das teclas de ecoando por todos os cômodos, mas, quem se aproxima do objeto 
musical se assusta ainda mais: ele para de tocar repentinamente como num passe de mágica. 
Os sons de aplausos vindos da plateia também podem ser ouvidos. O vulto de uma bela e jovem 
bailaria já foi visto diversas vezes dançando no palco. Ao que se pode notar o Teatro de Santa 
Isabel guarda mais segredos do que nós somos capazes de imaginar. 
 
 
 
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• Faculdade de Direito do Recife 
Localizada em frente à Praça 13 de Maio, no Bairro da Boa Vista, centro da Cidade do 
Recife, a Faculdade de Direito do Recife da Universidade Federal de Pernambuco foi criada em 
1827. Sua primeira sede funcionou em Olinda, e, junto com a Faculdade de Direito de São 
Paulo, ela é uma das duas faculdades de direito do Brasil ainda em funcionamento desde a 
época de sua fundação. 
O centro acadêmico é um dos mais tradicionais do nosso Estado. A faculdade foi palco 
para acontecimentos históricos, embates políticos e possui ex-alunos renomados como Barão do 
Rio Branco, Paulo Freire, Joaquim Nabuco, Castro Alves, Ruy Barbosa, Rosa e Silva, Augusto 
dos Anjos, Ariano Suassuna, Miguel Arraes, Assis Chateubriand, entre outros. 
 
Os corredores da 
faculdade guardam 
histórias que poucos 
conhecem. Roberta Cirne, 
ex-aluna da instituição 
relatou que presenciou 
um caso sobrenatural 
dentro da faculdade. Após descobrir um terraço secreto na faculdade, ela passou a frequentar o 
local escondida, pois os alunos não tinham permissão para ir até lá. 
Certo dia acompanhada por um grupo de amigos de fora do Estado, ela resolveu leva-
los até o seu refúgio secreto, o tal terraço na faculdade, para verem o pôr-do-sol. Guiando o 
grupo que não conhecia o prédio, ela foi na frente subindo as escadas de acesso para mostrar o 
 
29 
caminho. Seus amigos ficaram um pouco para trás na subida enquanto Roberta caminhava em 
direção ao terraço. 
Dado um certo momento em que ela parou para esperar o grupo, ela sentiu que alguém 
se aproximara dela, um homem, que ela nunca tinha visto e que de longe não era possível ver o 
rosto. Ela estava todo de negro, bem vestido, e ao se aproximar de Roberta, ela pode perceber 
que não se tratava de uma pessoa em carne e osso, mas sim de um espectro. Ao ver aquela 
assombração apavorante, Roberta desceu as escadas correndo sentindo que “a coisa” como ela 
definiu estava no seu encalço. Vendo que ela fugira de algo, todo o grupo correu atrás dela. Ao 
chegarem ao pátio da instituição ela contou o havia visto e todos foram embora. 
Outros casos sobrenaturais foram relatados na instituição. Há quem afirme que o 
fantasma do filósofo, jurista e poeta Tobias Barreto, assombre os corredores da faculdade. O 
trecho abaixo foi retirado de um artigo escrito pelo historiador Leonardo Dantas Silva em 1975. 
O caso do fantasma da Faculdade de Direito do Recife é um a mais que se 
inscreve na grande lista de casos de assombrações desta cidade: Segundo 
alguns alunos e professores daquela casa, um tipo misterioso, que se diz 
chamar Santana Filho, comparece sempre às aulas daquela escola e some 
de maneiras as mais estranhas. Alunos e professores chegam a afirmar 
estórias de vultos que perambulam pelos corredores do prédio da Faculdade 
de Direito, pontificam e desaparecem misteriosamente dos bebedouros e, 
agora, comparecem às aulas, sentando ao lado de professores e, no final, 
ainda estendem a mão para um aperto gélido demonstrando a sua identidade 
alienígena. O fantasma da Faculdade de Direito, segundo versões de 
funcionários antigos, pode ser o do servente José Francisco de Souza, 'que 
morreu na hora do expediente há alguns anos”, não sendo tal “aparição 
novidade'. (SILVA, 1975) 
 
 
Funcionários mais antigos da instituição afirmam que dentro dos departamentos que 
funcionam no porão da unidade, vultos e vozes são ouvidos com frequência. 
 
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Durante a época da ditadura vários presos políticos ficaram no local e até hoje afirma-se 
que durante a madrugada os gritos daqueles que sofreram presos durante este triste capítulo de 
nossa história pode ser ouvido. 
Outra lenda do local é que o relógio que funciona em uma das torres deixou de ser 
consertado há anos por um simples motivo: sempre que ele voltava a parar um professor da 
unidade morria. Existem mais coisas entre o real e o sobrenatural do que nós meros humanos 
somos capazes de entender e explicar. 
 
 
31 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Para Rostand (2011), as ruas estreitas e a escuridão, que antigamente reinavam o 
Recife com toda certeza alimentavam com suas sombras o imaginário popular. A abertura de 
novas e largas avenidas, o ritmo inquietante da vida atual e a iluminação pública nas ruas 
parecem ter acabado com todos ou com praticamente a maior parte dos fantasmas que 
habitavam no Recife antigo, ou não foram os fantasmas que deixaram de existir, e sim as 
pessoas que tenham deixado de temê-los. 
Com esta pesquisa podemos perceber que quando a sociedade muda, seus costumes, 
crendices tudo muda junto. Toda sociedade se transforma, se moderniza e talvez as lendas de 
assombrações do Recife tenham sido deixadas de lado por este motivo, devido às mudanças de 
comportamento da sociedade, uma vez que os hábitos e costumes do povo mudaram com a 
modernização das tecnologias. 
A questão não é só o fato das pessoas não acreditarem mais nas lendas, passou a ser 
também a relação de sentido entre o passado e o presente, uma vez que tais assombrações já 
não possuem a mesma força para assustar as pessoas como possuíam no passado. É nítido 
que pouco se fale sobre o folclore recifense, pois pouco se conhece dele. Conhecer nosso 
passado é preservar as nossas memórias para gerações futuras. Este trabalho é importante para 
que essas memórias não sejam esquecidas. 
O resgate cultural de um legado que apavorou gerações é hoje desconhecido a grande 
parte dos populares. Talvez por nunca tivessem tido a curiosidade em saber sobre o assunto, 
talvez por nunca tivessem ouvido falar sobre isso. O fato é que as assombrações do Recife 
fazem parte da nossa identidade cultural enquanto sociedade e não podemos simplesmente 
deixar que elas se percam. 
O jornalismo pode contribuir para o resgate dessas histórias que estão ficando para trás. 
Para que isso aconteça, é necessário trabalhar coletivamente o imaginário popular resgatando 
as narrativas antigas. Já que a função social do jornalismo é informar, através dele seria possível 
fazer com as pessoas tomassem conhecimento do seu próprio passado. 
É possível trabalhar esse universo lúdico através da atividade turística e jornalística, e, 
dessa forma, as lendas poderiam se transformar em algo popular e atrativo, próximo da 
realidade das pessoas. As lendas estão ajudando a fomentar turismo na nossa cidade de forma 
positiva, uma vez que um roteiro mal assombrado é um diferencial e tanto para uma cidade que 
praticamente só comercializa turismo de sol e mar. Quem participa de atividades turísticas com o 
 
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tema, através de passeios nos lugares assombrados, além de conhecer nossa história, incentiva 
outras pessoas a conhecerem também. Só temos a ganhar com a preservação da nossa 
história.

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