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Faculdade de Ciências Aplicadas Piauiense Credenciada pela Portaria MEC n° 193 de 03/02/2017, D.O.U de 06/02/2017 Mantenedor: Centro de Educação Superior Piauiense - CESP/ CNPJ: 23.312.492/0001-56 Graduação: Pedagogia “C” Disciplina: TEORIAS DO CURRÍCULO CH:80H Período letivo: 2023 Polo: Nossa Senhora de Nazaré-PI Professora: Naurarry Sipaúba Menezes ASPECTOS HISTÓRICOS DAS TEORIAS DO CURRÍCULO (TEXTO 1) Eduardo Felipe Hennerich Pacheco – PUCPR Resumo Busca-se no presente trabalho refletir acerca dos aspectos históricos das teorias do currículo. A relevância dessa discussão é extremamente importante na análise do currículo e da prática social desempenhada pelo mesmo, dado ao fato de que o currículo faz parte integrante do dia-a-dia das escolas e das instituições de educação superior, e exercerá diretamente ou indiretamente sua influência nos sujeitos que fazem parte do processo educativo e da sociedade em geral. O problema que orientou a reflexão buscou elucidar a seguinte questão: como a estrutura curricular influencia e determina a visão de mundo e de sociedade dos sujeitos que estão inseridos nessa estrutura. E o objetivo dessa reflexão é fazer uma análise dos aspectos históricos do currículo, ou seja, como em determinados períodos históricos o currículo foi concebido e como foi influenciado pelas dimensões econômicas e culturais da sociedade. A análise se baseou em elementos teóricos-metodológicos provenientes da pesquisa bibliográfica. Na discussão, são contemplados os aspectos tradicionais, críticos e pós-críticos do currículo, em consonância com os estudos elaborados por: Eyng (2007, 2013, 2015), Gomes (2008), Sacristán(2000, 2013) e Silva (2009). A compreensão das teorias sobre o currículo é extremamente necessária, pois, a partir dessa compreensão que poderemos perceber quais as construções históricas que o currículo vivenciou e como essas estruturas influenciaram na construção da educação. Em suas considerações finais conclui-se que por intermédio da análise dos aspectos históricos das teorias do currículo, podemos indagar como as relações de poder interferem na constituição do currículo escolar, e se esse currículo acolhe ou exclui quem dele participa. Desta maneira, a compreensão acerca das teorias históricas do currículo é indispensável, pois, por meio dessa compreensão perceberemos quais são os valores e hábitos que nossos currículos induzem e perpetuam. E, somente a partir dessa reflexão, poderemos elaborar currículos verdadeiramente inclusivos. Palavras-chave: Currículo. Educação. Teorias do Currículo Introdução Busca-se no presente artigo discutir os aspectos históricos das teorias do currículo. A relevância dessa discussão é extremamente importante na análise do currículo e da prática social desempenhada pelo mesmo, dado ao fato de que ele faz parte integrante do dia-a-dia das escolas e das instituições de educação superior, e exercerá diretamente ou indiretamente sua influência nos sujeitos que fazem parte do processo educativo e da sociedade em geral. O problema que orientou a reflexão procurou elucidar a seguinte questão: como a estrutura curricular influencia e determina a visão de mundo e de sociedade dos sujeitos que estão inseridos nessa estrutura? E o objetivo do presente trabalho é fazer uma análise dos aspectos históricos do currículo, ou seja, como em determinados períodos históricos o currículo foi concebido e vivenciado na e pela educação. A análise da questão proposta se apoia nos argumentos teóricos da concepção histórica do currículo, com base nos estudos elaborados por: Eyng (2007, 2013, 2015), Gomes (2008), Sacristán (2000, 2013) e Silva (2009).O trabalho se organiza da seguinte maneira: primeiramente iremos conceituar o que entendemos acerca do conceito de currículo. Posteriormente, discorremos acerca dos aspectos históricos do currículo, enfatizando as concepções tradicionais, críticas e pós-críticas do currículo. Nas considerações finais apontamos a importância de conceber o papel político do currículo na construção de uma educação justa e de qualidade social. O processo metodológico do trabalho ocorreu de forma qualitativa, fazendo uso da pesquisa bibliográfica como embasamento da fundamentação teórica. A abordagem qualitativa utilizada teve como propósito referenciar as análises bibliográficas utilizadas no texto, com o intuito de dialogar com a complexidade e a singularidade presentes na sociedade contemporânea. A pesquisa qualitativa para Goldenberg (1991, p. 34) [...] não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa. Optou-se por utilizar a metodologia qualitativa bibliográfica, pois, atualmente qualquer pesquisa científica começa com um levantamento bibliográfico pertinente acerca da temática investigada. E ainda, de acordo com Fonseca (2002, p. 32), A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobreo assunto. Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta. Além disso, para Santos (2000, p. 31), [...] a bibliografia constitui-se numa preciosa fonte de informações, com dados já organizados e analisados. Na atualidade, praticamente qualquer necessidade humana, conhecida ou pressentida, possui alfo escrito a seu respeito. Por isso a pesquisa com base em uma bibliográfica deve encabeçar qualquer processo de busca cientifica que se inicia. Dessa maneira, busca-se no presente artigo compreender e refletir acerca dos aspectos históricos das teorias do currículo e, por intermédio dessa compreensão analisar se os currículos escolares estão promovendo uma cultura de inclusão ou de exclusão dos estudantes e suas diversidades. O Conceito De Currículo Ao iniciarmos nossa discussão acerca dos aspectos históricos das teorias do currículo, cabe inicialmente pontuarmos o que entendemos como sendo currículo. Podemos antever a princípio da discussão, que esse conceito não é engessado em uma única definição, ao contrário, podemos identificar nos estudos de Silva (2009), Moreira e Silva (2001) e Sacristán (2000,2013) que os autores identificam o conceito de currículo com uma gama de definições variáveis. Sabemos, entretanto, que popularmente o termo currículo é utilizado para designar o programa de uma disciplina, de um curso, ou de forma mais ampla das várias atividades educativas, através das quais, o conteúdo é desenvolvido. Sacristán (2013, p. 16) recorda que, por vezes, tentamos fazer parecer que “o currículo é algo evidente e que está aí não importa como o denominamos”. Etimologicamente o termo currículo segundo Sacristán (2013, p. 16), [...] deriva da palavra latina curriculum (cuja raiz é a mesma de cursus e currere) [...].Em sua origem currículo significava o território demarcado e regrado do conhecimento correspondente aos conteúdos que professores e centro de educação deveria cobrir; ou seja, o plano de estudos proposto e imposto pela escola aos professores (paraque o ensinassem) e aos estudantes (para que o aprendessem). No entanto, a explicação acerca do conceito de currículo que melhor objetiva essa reflexão, implica em evidenciar as diferentes dimensões que compõe o próprio currículo, seja elas sociais, econômicas, políticas ou culturais. Somente evidenciando essas características que permeiam o currículo, é que podemos compreender que diferentes forças atuam na construção do currículo e que, todos que dele participam, não o participam de maneira neutra, mas deixam sua marca, pois o currículo trata-se de um campo impregnado de ideologias, valores, forças, interesses e necessidades que, diretamente ou indiretamente, formam a visão de mundo dos sujeitos envolvidos em sua estrutura, e de certa forma, contribui para a própria formação identitária dos indivíduos que o cercam. Por isso, torna-se necessário compreender as teorias que nortearam a definição de um determinado currículo, e quais objetivos que esse currículo propõe. Essas teorias usualmente são classificadas como: Teorias tradicionais, críticas e pós-críticas, e cada uma delas traz consigo características próprias do que é feito o currículo e também do que não é feito o currículo. Teorias Tradicionais Segundo Silva (2009), a teoria tradicional de currículo busca a neutralidade, tendo como escopo principal promover a identificação dos objetivos da educação escolarizada, formando o trabalhador especializado ou, proporcionando uma educação geral e acadêmica. A teoria tradicional do currículo teve como principal teórico John Franklin Bobbitt(1876-1956) que em 1918, escreveu sobre o currículo, em um momento conturbado da história da educação nos Estados Unidos (em que, diversas forças de cunho político, econômico e cultural queriam envolver a educação de massas de acordo com suas ideologias). De acordo com Silva (2009, p. 23-24), As respostas de Bobbitt eram claramente conservadoras, embora sua intervenção buscasse transformar radicalmente o sistema educacional. Bobbitt propunha que a escola funcionasse da mesma forma que qualquer outra empresa comercial ou industrial. Tal como uma indústria, Bobbitt queria que o sistema educacional fosse capaz de especificar precisamente que resultados pretendia obter, que pudesse estabelecer métodos para obtê-los de forma precisa [...]. Baseado na teoria da administração econômica de Frederick Taylor (1856-1915), o modelo que Bobbitt preconizava, tinha como palavra de ordem a eficiência. Nesse sentido, o currículo tornava-se uma questão de gestão e organização, ocorrendo de forma mecânica e burocrática e que, segundo Eyng (2015, p. 138) operavam [...]os conceitos fundamentais de: “ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência, objetivos” (SILVA, 2007, p. 17). Tais conceitos subsidiam modelos curriculares hegemônicos, etnocêntricos e supostamente neutros. Nessa linha, os currículos são entendidos como normatização, prescrição, centrados nos conteúdos disciplinares e/ou listas de objetivos. Esses modelos difundiram a ideia de currículo como equivalente à grade curricular (EYNG, 2010). Como apontado por Eyng (2015), a tarefa dos “especialistas” do currículo era realizar um levantamento das habilidades dos indivíduos e como os currículos poderiam desenvolver essas habilidades. Posteriormente, os especialistas, deveriam criar instrumentos de “medição” dessas habilidades, conceito que usualmente denominamos de avaliação. De acordo com Silva (2009, p. 23), A atração e influência de Bobbitt devem-se provavelmente ao fato de que sua proposta parecia permitir à educação tornar-se científica. Não havia por que discutir abstratamente as finalidades últimas da educação: elas estavam dadas pela própria vida ocupacional adulta. Tudo o que era preciso fazer era pesquisar e mapear quais eram as habilidades necessárias para as diversas ocupações. A avaliação nessa perspectiva de currículo, enfatiza a capacidade de armazenamento de informações, solicitando que o aluno recite os conhecimentos memorizados. Esse modelo de avaliação tem como característica própria a burocracia, e norteia-se por princípios parciais e pontuais com a finalidade da classificação do desempenho individual e dos resultados, considerados, satisfatórios. Eyng (2015, p. 139) ressalta que desse modelo, [...] emanam as abordagens positivista e regulatória de avaliação. A abordagem positivista tem como pressuposto epistemológico a neutralidade. Acredita, portanto, que “A avaliação é científica com apoio em ciência neutra, fora das relações de poder e das particularidades que poderiam influenciar contextos” (LEITE, 2006, p. 487). A abordagem regulatória opera com pressupostos economicistas da eficiência, cujos indicadores estão fortemente definidos nas atuais políticas e práticas de avaliação em larga escala. Dessa forma, podemos resumir a questão principal das teorias tradicionais em conteúdos e objetivos qualitativos, ou seja, destacando a medida. Quem avalia os resultados obtidos é o professor que também, participa de uma cultura conservadora burocrática. No currículo tradicional, aprender “consiste em adquirir informações que preparem o sujeito intelectual e moralmente para adaptar-se à sociedade” (EYNG, 2007, p.119). A aprendizagem que é valorizada, “é a que propicia a formação de reações estereotipadas, de automatismos, denominados hábitos, geralmente isolados uns dos outros e aplicáveis, quase sempre, somente às situações idênticas em que foram adquiridos” (MIZUKAMI, 1986, p. 14). A metodologia pedagógica na abordagem curricular tradicional para Martins (apud EYNG, 2007, p. 120), “[...] recai na transmissão do conhecimento, que deve ser rigorosamente lógica, sistematizada e ordenada, daí o uso do método expositivo, que tem como centro a figura do professor”. Essa concepção de educação e de currículo gerou três grandes paradigmas educacionais que são: o paradigma tradicional, o paradigma escola novista/humanista e o paradigma tecnicista/comportamentalista. Essas abordagens foram fortemente influenciadas pelos paradigmas da ciência principalmente pelo paradigma newtoniano-cartesiano. Essa forma de organização e de concepção de currículo vai ser predominante até a década de 1960, até o surgimento das concepções críticas de currículo. Teorias Críticas do Currículo A década de 1960 foi fortemente marcada pela emergência de inúmeros movimentos sociais e culturais que questionavam de forma explícita a sociedade e suas organizações. Nesse contexto, surgiram as primeiras teorias que questionavam o pensamento e a estrutura educacional vigente, em específico, as concepções tradicionais do currículo. As novas teorias críticas do currículo, preocuparam-se em compreender, baseados na teoria dialética-crítica de Karl Marx (1818-1883), qual era o real papel do currículo na educação. Para Silva (2009, p. 29-30), [...] as teorias críticas do currículo efetuam uma completa inversão nos fundamentos das teorias tradicionais [...]. As teorias críticas sobre o currículo, em contrate, começam por colocar em questão precisamente os pressupostos dos presentes arranjos sociais e educacionais. As teorias críticas desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas desigualdades e injustiças sociais. Baseados na teoria de Marx, novos teóricos surgiram, como é o caso de Louis Althusser(1918-1990), Pierre Félix Bourdieu (1930-2002), Jean Claude Passeron (1930), Christian Baudelot, Roger Establet e, no Brasil o educador Paulo Freire. Esses teóricos, pontuaram a necessidade que a sociedade capitalista tinha em reproduzir ideologicamente suas práticas econômicas. E, para esses autores, a escola seria o lócus ideal para que o capitalismo pudesse reproduzir essa ideologia, pois, é justamente a escola quemantêm a população em maior número e por um prolongado período de tempo. Dessa forma, segundo Silva (2009, p. 33), A escola contribui para esse processonão propriamente através do conteúdo explícito de seu currículo, mas ao espalhar, no seu funcionamento, as relações sociais do local de trabalho. As escolas dirigidas aos trabalhadores subordinados tendem a privilegiar relações sociais nas quais, ao praticar papéis subordinados, os estudantes aprendem a subordinação. Em contraste, as escolas dirigidas aos trabalhadores dos escalões superiores da escala ocupacional tendem a favorecer relações sociais nas quais os estudantes têm a oportunidade de praticar atitudes de comando e autonomia. A insatisfação com a escola excludente e seletiva foi expressa pela crítica advinda dos novos movimentos sociais. Eles denunciavam a despreocupação da educação (centrada em um currículo tradicional) com o processo de aprendizagem dos alunos, e criticavam ainda mais o esvaziamento dos conteúdos que eram repassados sem um verdadeiro significado. A alternativa vista por esses movimentos, foi encontrar alternativas de currículo, que tiveram enorme influência no modo de pensar e fazer a escola na modernidade. Por isso, Eyng(2015, p. 138) pontua que: As teorias críticas operam os conceitos fundamentais de: “ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto, resistência” (SILVA, 2007, p. 17). Tais conceitos subsidiam a compreensão de que os currículos são ideologicamente situados e inseridos nas relações de poder, especialmente no sínter esses das lutas de classe. Nessa linha, os currículos são entendidos como espaço de resistência, como forma de libertação da opressão econômico-capitalista e possibilidade de emancipação a partir da conscientização (EYNG, 2010, p. 36). Para a teoria crítica do currículo, principalmente na visão de Althusser, é por meio das disciplinas e conteúdos ensinados que a ideologia dominante transmite seus princípios e reproduzem seus interesses e, além disso, segundo Silva (2009, p. 32), [...] a ideologia atua de forma discriminatória: ela inclina as pessoas das classes subordinadas à submissão e à obediência, enquanto as pessoas das classes dominantes aprendem a comandar e controlar. Essa diferenciação é garantida pelos mecanismos seletivos que fazem com que as crianças das classes dominantes sejam expelidas da escola antes de chegarem àqueles níveis onde se aprendem os hábitos e habilidades próprios das classes dominantes. Os teóricos Bowles e Gintis em seu livro intitulado “A escola capitalista na América” ressaltam, de acordo com Silva (2009, p. 33) que, A escola contribui para esse processo não propriamente através do conteúdo explícito de seu currículo, mas ao espalhar, no seu funcionamento, as relações sociais do local de trabalho. As escolas dirigidas aos trabalhadores subordinados tendem a privilegiar relações sociais nas quais, ao praticar papéis subordinados, os estudantes aprendem a subordinação. Em contraste, as escolas dirigidas aos trabalhadores dos escalões superiores da escala ocupacional tendem a favorecer relações sociais nas quais os estudantes têm a oportunidade de praticar atitudes de comando e autonomia. Nessa mesma crítica a cultura capitalista escolar, Bourdieu e Passeron (afastando-se das análises marxistas), propuseram um novo olhar acerca da reprodução social. Para os autores, a reprodução social ocorre por intermédio da cultura, pois é precisamente por meio da cultura dominante que ocorre o processo de homogeneização social, ou seja, os hábitos, valores, gostos e costumes das classes dominantes passam a ser considerados como sendo “cultura”, assim desprezam-se os hábitos, valores, gostos e costumes das classes dominadas. Esse processo para Silva (2009, p. 35), ocorre de maneira que [...] a escola não atua pela inculcação da cultura dominante às crianças e jovens das classes dominantes, mas, ao contrário, por um mecanismo que acaba por funcionar como mecanismo de exclusão. O currículo da escola está baseado na cultura dominante: ele se expressa na linguagem dominante, ele é transmitido através do código cultural dominante. As crianças das classes dominantes podem facilmente compreender esse código, pois durante toda sua vida elas estiveram imersas, o tempo todo, nesse código [...]. Em contraste, para as crianças e jovens das classes dominadas, esse código é simplesmente indecifrável. A educação atua dessa forma como sendo a responsável pela exclusão social, eliminando do processo aqueles que não conseguem compreender a linguagem e os processos culturais das classes dominantes. Essas análises da reprodução dominantes versus dominadas, proporcionadas pela cultura, trouxe o advento de outra concepção acerca do currículo, essa concepção ficou conhecida como “o movimento de reconceptualização”. Para os reconceptualistas, o currículo não poderia ser compreendido de forma burocrática e mecânica como queriam Bobbitt e Tyler. Estratégias como a hermenêutica e a fenomenologia serviram como ferramentas para explicar a importância da experiência cotidiana, pessoal e subjetiva na produção de significados sobre o conhecimento. Sobre essas estratégias utilizadas pelos reconceptualistas, Silva (2009, p. 37) esclarece que [...] do ponto de vista da fenomenologia, as categorias de aprendizagem, objetivos, medição e avaliação nada tinham a ver com os significados do “mundo da vida” através dos quais as pessoas constroem e percebem sua experiência. De acordo com a perspectiva fenomenológica, essas categorias tinham que ser “postas entre parênteses”, questionadas, para se chegar à “essência” da educação e do currículo. Nessa perspectiva, segundo Eyng (2015, p. 139) “nos pressupostos da fenomenologia,temos uma importante virada. ‘os conceitos centrais desse enfoque são a intersubjetividade, o motivo e a razão dos sujeitos’ (Leite, 2006, p. 488)”. Apesar de ter como objetivo primário incluir tanto a vertente fenomenológica como a vertente marxista, o movimento do reconceptualismo não teve muito sucesso nessa junção, poisos intelectuais marxistas não se identificaram com o aspecto subjetivo da teoria fenomenológica. Pensadores marxistas (como é o caso de Michel Whitman Apple), criticaram duramente a definição de que a escola era simplesmente uma transmissora de conhecimentos, que eram determinados por valores e conceitos capitalistas, e questionava de forma incisiva o papel do professor nesse processo. Eyng (2015, p.140) evidencia que, A abordagem crítico-marxista assume pressupostos epistemológicos da dialética, que considera o homem em sua historicidade e capacidade de influir e transformar as circunstâncias da realidade: “o conhecimento, em sua condição dialética, se produz a partir da compreensão do mundo social, onde coexistem a negação e a contradição e as manifestações da consciência dos sujeitos como produto de seu ser social” (LEITE,2006, p. 488). Caminhando nessa perspectiva crítica, outros pensadores surgiram com críticas e propostas acerca do papel da escola e da educação. Nessa linha crítica, Paulo Freire (que apesar de não ter elaborado uma teoria sobre currículo) discutiu essa questão em suas pesquisas, principalmente em “Pedagogia do Oprimido” onde propõe um novo conceito sobre educação, propõe a educação como problematizadora da realidade. Na Inglaterra Michael Young (1915-2002), propôs baseado na sociologia, uma análise do fracasso escolar de crianças das classes operárias, colocando em questão o conceito de poder e sua distribuição e como esse se relacionava com a escolha curricular de certas disciplinas por exemplo Basil Bernstein (1924-2000), seguindo a linha sociológica de Yong, evoca a preocupação do conteúdo nos currículos, como ele está estruturalmente organizado e sua contribuição na apreensão dos códigos de classes. Essa compreensão elaborada por Bernstein vai culminar no que posteriormente foi comumente denominado de currículo oculto. Currículo OcultoApesar de não se constituir em uma teoria propriamente dita, o currículo oculto está presente de forma marcante no cotidiano dos processos educativos. Segundo Silva (2009, p. 78) “o currículo oculto é constituído por aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazerem parte do currículo oficial, contribuem, de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes”, ou seja, o currículo oculto é caracterizado pelas ações implícitas que permeiam as instituições escolares. Essas ações estão presentes, não de forma planejada, ou organizadas no currículo e é nesse sentido que Sacristán (2000, p. 43) comenta que, As experiências na educação escolarizada e seus efeitos são, algumas vezes, desejadas e outras, incontroladas; obedecem a objetivos explícitos ou são expressões de proposição ou objetivos implícitos; são planejados em alguma medida ou são fruto de simples fluir da ação. Algumas são positivas em relação a uma determinada filosofia e projeto educativo e outras nem tanto ou completamente contrárias. De acordo com as teorias críticas do currículo, é o currículo oculto que “ensina, em geral, o conformismo, a obediência, o individualismo” (SILVA, 2009, p. 78) e que mantêm a ideologia dominante. Nessa perspectiva, podemos analisar os elementos que contribuem para essa prática, principalmente, quando evocamos no cotidiano escolar as relações de gênero, os rituais, as regras e regulamentos, a meritocratização entre “os mais aptos ” e “os menos” capazes por exemplo. Libâneo (2012, p. 44), comentando acerca da influência que o currículo oculto exerce na educação sugere que, “embora recôndito, atua de forma poderosa nos modos de funcionar das escolas e na prática dos professores. Tanto isso é verdade, que os mesmos professores tendem a agir de forma diferente em cada escola em que trabalham”. Por essa razão, é necessário “desocultar” o currículo, para assim compreender o que esses conhecimentos e práticas sugerem, para só assim “assegurarmos a escola como espaço e garantia do direito à qualidade social” (EYNG, 2013, p. 32). Teorias Pós-Críticas As teorias do currículo que vieram após as teorias críticas, iniciadas na década de 1960e 1970, são denominadas de “Teorias Pós-Críticas”. As teorias pós-críticas trazem em seu âmago uma concepção do currículo como sendo um currículo multiculturalista, e evidenciam as inúmeras diversidades presentes no mundo hodierno. Eyng (2015, p. 138) destaca que, As teorias pós-críticas operam os conceitos fundamentais de: “identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo” (SILVA, 2007, p. 17). Nessa linha de teorização, os currículos atuam como práticas de subjetivação, de significação e discurso produzidos nas relações de saber-poder, sendo os currículos entendidos como formas de seleção e representação da cultura, compreendendo demandas das questões de gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo. Os currículos produzem identidades heterogêneas e diversas, que num processo dialógico e ético possibilitam a emancipação a partir da cidadania ativa (EYNG, 2010, p. 37). Como apontado por Eyng (2015), o multiculturalismo aparece como uma forma de reação ao currículo hegemônico, que privilegia a cultura branca, europeia, machista e heteronormativa, ou seja, a cultura da classe dominante. Para Silva (2009, p. 85), “o multiculturalismo é um movimento legítimo de reivindicação dos grupos culturais dominados [...] para terem suas formas culturais reconhecidas e representadas na cultura nacional”. Esse movimento de análise e luta por um currículo mais abrangente à realidade do mundo contemporâneo, fez surgir duas perspectivas de resistência: 1) a liberal ou humanista do multiculturalismo e 2) a perspectiva crítica que se divide em duas vertentes que possuem características das correntes filosóficas materialistas e pós-estruturalistas. Na linha da perspectiva liberal (ou humanista) valores como a tolerância, o respeito e a convivência harmoniosa entre as diferentes culturas são exaltados, “deve-se tolerar e respeitar a diferença porque sob a aparente diferença há uma mesma humanidade” (SILVA 2009, p. 86). No currículo crítico multiculturalista, Silva (2009, p. 89) ressalta que [...] a diferença, mais do que tolerada ou respeitada, é colocada permanentemente em questão [...]. Em termos curriculares, o multiculturalismo, nessa visão, pretende substituir o estudo das obras consideradas como de excelência da produção intelectual ocidental pelas obras consideradas intelectualmente inferiores produzidas por representantes das chamadas “minorias” – negros, mulheres, homossexuais. Com essa reflexão apontada por Silva (2009), as discussões acerca das relações de gênero e sexo começaram a ganhar espaço nesses embates teóricos. O advento dos estudos feministas, principalmente elaborados pelas teóricas estadunidenses e anglo-saxãs, contribuíram para que o predomínio da cultural patriarcal, na qual existe uma profunda desigualdade entre mulheres e homens, fosse questionado. No início essa problemática estava ligada a questão do acesso, ou seja, o acesso à educação era desigual para homens e mulheres, e dentro do próprio currículo, havia distinções entre as disciplinas que eram consideradas masculinas e as disciplinas que eram tidas como femininas. Com essas distinções, algumas profissões eram de exclusividades dos homens não oportunizando de igual maneira as mulheres. Por isso, a pedagogia feminista insistia que, O currículo existente é também claramente masculino. Ele é a expressão da cosmovisão masculina. O currículo oficial valoriza a separação entre sujeito e conhecimento, o domínio e o controle, a racionalidade e a lógica, a ciência e a técnica, o individualismo e a competição. Todas essas características refletem as experiências e os interesses masculinos, desvalorizando, em troca, as estreitas conexões entre quem conhece e o que é conhecido, a importância das ligações pessoais, a intuição e o pensamento divergente, as artes e a estética, o comunitarismo e a cooperação – características que estão, todas, ligadas às experiências das mulheres (SILVA, 2009, p. 94). Com essas questões vindas à tona pelo movimento feminista, outras questões começaram a surgir. As questões raciais e étnicas, as questões da diversidade sexual, a teoria queer, e a diversidade em geral, também ganharam forças e começaram a aparecer nas teorias pós-críticas do currículo. Para esses movimentos pós-crítico, o currículo, necessariamente, precisa conceber a diversidade como sendo fruto de questões históricas e políticas. O currículo deve ter um papel primordial na desconstrução do texto considerado como oficial, questionando os valores tidos como certos, incluindo e valorizando os valores de todos os grupos sociais, sem distinções. Pois, como salienta Gomes (2008, p. 18), A diversidade é um componente do desenvolvimento biológico e cultural da humanidade. Ela se faz presente na produção de práticas, saberes, valores, linguagens, técnicas artísticas, científicas, representações do mundo, experiências de sociabilidade e de aprendizagem. Todavia, há uma tensão nesse processo. Por mais que a diversidade seja um elemento constitutivo do processo de humanização, há uma tendência nas culturas, de um modo geral, de ressaltar como positivos e melhores os valores que lhe são próprios, gerando um certo estranhamento e, até mesmo, uma rejeição em relação ao diferente. É o que chamamos de etnocentrismo. Esse fenômeno, quando exacerbado, pode se transformar em práticas xenófobas (a versão ou ódio ao estrangeiro) e em racismo (crença na existência da superioridade e inferioridade racial). Assim, as principais teorias do currículo e seus respectivos conceitos, são: Considerações Finais Considerando as teorias apresentadas no presente texto, compreendemos osignificado político que o currículo possui, e que em nenhuma hipótese ele pode ser apresentado como neutro. O currículo assume um caráter predominantemente político, e isso porque o currículo “[...] estabelece e dá sentido ao compromisso com a formação do cidadão e da pessoa humana para um tipo de sociedade; porque revela a intencionalidade da formação e os compromissos deste profissional com um tipo de sociedade” (SILVA, 2000, p. 38). Como apresentado no presente trabalho, no decorrer dos panoramas históricos do ensino à luz das perspectivas curriculares, percebemos que as ações pedagógicas e o ensino foram determinados pelas diferentes condições sociais, econômicas e culturais. Após a análise dos aspectos históricos das teorias do currículo, podemos indagar e observar como as relações de poder interferem na constituição do currículo escolar, e se esse currículo acolhe ou exclui quem dele participa. E nesse interim, concordamos com Fernandes e Freitas (2008, p. 22) quando comentam que, a escola precisa refletir, como parte de sua concepção de educação se o seu currículo favorece “à exclusão que ela pode realizar, caso afaste os estudantes da cultura, do conhecimento escolar e da própria escola, pela indução da evasão por meio de reprovação” ou a inclusão por meio de um currículo que valorize a emancipação do aluno e sua subjetividade. Não estamos advogando que a tarefa de desconstrução de currículos, que perpetuam uma visão homogênea de mundo, seja uma tarefa fácil e simplória. Ao contrário, sabemos que [...] a capacidade de conviver com a diferença, sem falar na capacidade de gosta dessa vida e beneficiar-se dela, não é fácil de adquirir e não se faz sozinha. Essa capacidade é uma arte que, como toda arte, requer estudo e exercício. A incapacidade de enfrentara pluralidade de seres humanos e a ambivalência de todas as decisões classificatórias, ao contrário, se perpetuam e reforçam: quanto mais eficazes as tendências a homogeneidades e o esforço para eliminar a diferença, tanto mais difícil sentir-se à vontade em presença de estranhos, tanto mais ameaçadora a diferença e tanto mais intensa a ansiedade que ela gera (BAUMAN, 2001, p. 123). Por isso, a compreensão das teorias sobre currículo se fazem importantes e necessárias, pois é por intermédio dessa compreensão que poderemos perceber quais são os valores e hábitos que nossos currículos induzem, e somente a partir dessa reflexão poderemos elaborar currículos verdadeiramente inclusivos. REFERÊNCIAS BAUMAN, Zygmund. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2001. EYNG, Ana Maria. Currículo Escolar. Curitiba, IBPEX, 2007. EYNG, Ana Maria. 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É apontada a necessidade de que se busque duas disposições para que a democracia possa ser vivida: que haja um reposicionamento, ou seja, que o mundo seja visto sempre pela perspectiva dos despossuídos; e que o mundo seja visto de forma relacional, ou seja, que se busque sempre analisar e entender as relações de poder e as contradições que estruturam as instituições e sociedades. O artigo termina enfatizando que a luta constante pela vivência da democracia na educação é o que mantém os sujeitos vigilantes contra as narrativas que apontam as perspectivas conservadoras como inevitáveis. Palavras-chave: Democracia. Educação crítica. Poder. 1 ENXERGANDO CONTRADIÇÕES (grupo 1) Eu quero começar este artigo fazendo um relato sobre realidades complexas envolvidas na luta pela democracia crítica em educação.i Durante alguns anos, minha esposa Rima e eu passamos um tempo trabalhando com ativistas, grupos comunitários, com o Ministério da Educação, educadores críticos, e outros, num dos Estados mais progressistas da Índia. Os índices positivos de alfabetização eram bem conhecidos. O governo, de tendência esquerdista, estava declaradamente comprometido com o melhoramento da vida econômica e política da população, especialmente das pessoas dos níveis menos privilegiados da estrutura de classe e casta. O Ministério da Educação tinha sido influenciado pelas teorias e práticas da pedagogia crítica, incluindo a poderosa obra de Paulo Freire, bem como a minha própria obra. Além disso, desenvolveu conexões com grupos engajados em movimentos tais como “people’s science” e semelhantes estratégias educacionais locais de orientação crítica que estavam construindo programas educacionais “contra- hegemônicos” de baixo para cima, e também, de cima para baixo. 1 Michael W. Apple é professor de Currículo e Estudos de Políticas Educacionais e de Instrução da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA, da Cadeira John Bascom, distinção recebida em reconhecimento às excepcionais contribuições de docente para sua área de atuação. É autor de uma vasta obra sobre as relações existentes entre cultura e poder na educação. E-mail: apple@education.wisc.edu Um comprometimento muito visível erao de melhorar as vidas de jovens mulheres e meninas: uma iniciativa de grande interesse para Rima e para mim, uma vez que Rima é uma historiadora bem conhecida da área da saúde da mulher. Queríamos ver como os planos realmente se implementavam. Para nós, é crucial olhar as coisas de perto. Já havíamos tido muitas experiências em conhecer reformas retóricas, incluindo políticas e programas supostamente radicais, que pareciam bons ao serem vistos de longe, porém, essas aparências eram frequentemente bem diferentes na realidade. Uma iniciativa principal envolveu a criação de maior acesso a conhecimentos e habilidades técnicas em escolas que atendiam estudantes pobres e marginalizados, e também a ligação desses conhecimentos e dessas habilidades à vida cotidiana dos oprimidos. Pensou-se que essa ênfase poderia beneficiar não somente crianças pobres, mas mulheres também, uma vez que elas estavam marginalizadas duas vezes, não somente pela classe e a casta, mas profundamente pelo gênero e pelas normas patriarcais que ainda estavam presentes nas suas comunidades. Comunidades e movimentos sociais foram consultados sobre os novos programas. Mesmo com uma falta real de recursos na educação, o ministério trabalhou com persistência para garantir que escolas, naquelas áreas, recebessem um número grande de computadores. Tempo foi alocado para o uso desses equipamentos e para a integração deles nas atividades cotidianas das escolas. Foram preparados currículos que incentivavam professores a ligar essas novas habilidades com a vida e as experiências cotidianas dos estudantes, um dos elementos-chave da pedagogia crítica. Eu já havia publicado um texto sobre minhas preocupações em relação a “acertos tecnológicos” para desigualdades educacionais (APPLE 2014), então minha expectativa sobre tudo isso era bastante cética. Porém, Rima e eu estávamos confiantes que o Ministério e os ativistas trabalhando junto a ele levavam a sério as tentativas conscientes de interromper o papel que a educação cumpre em reproduzir a desigualdade social. Assim, entramos com mente aberta e solidariedade em relação aos comprometimentos críticos e progressistas que haviam sido levados tão a sério pelo Ministério anteriormente, mas mesmo assim, ainda ficamos com algumas questões sobre o currículo e a ênfase na tecnologia. O que vimos nos instigou a fazer um esforço ainda maior para entender as contradições complexas que podem estar presentes na educação crítica, contradições que reorientaram nossa atenção, não apenas para o currículo e a pedagogia da escola, mas, ainda mais, para as realidades materiais de especificidades de gênero na vida cotidiana. O sol nos bateu forte enquanto caminhamos do carro à escola. A temperatura era quase de 40 graus e o nível de umidade era quase igual. Havia pouco alívio do calor dentro da escola. Computadores se alinhavam nas paredes da sala de aula. Os professores estavam trabalhando com grupos e com estudantes individuais, a maior parte entre onze e quatorze anos. Em pouco tempo, os estudantes estavam sentados em frente aos computadores. À primeira vista, mesmo com o calor e a umidade opressiva, tudo parecia tranquilo. Mas depois de assistir e interagir com professores e estudantes, Rima e eu nos olhamos e reconhecemos que nós dois havíamos chegado à mesma compreensão sobre o que estava acontecendo no pano de fundo dos visíveis aspectos progressistas. Agora este relato ganha mais substância em relação às contradições e às políticas envolvidas na tentativa de interferir nas relações de poder na vida cotidiana. Compreender essas contradições é crucial se pretendemos interromper o poder dos grupos ideológicos dominantes. O que percebemos, quase simultaneamente, foi que quase todos os estudantes, trabalhando tão dedicadamente e cooperativamente nos computadores, eram meninos. Isso não foi “planejado”. Não foi porque os professores eram machistas, no sentido comum da palavra. Era mais complicado do que isso. Nessa escola, não havia banheiros limpos para as meninas. Os meninos enfrentavam uma situação semelhante, mas os meninos poderiam ir atrás do prédio da escola para urinar, algo que faziam com frequência. Este era um ato com significados e implicações bem diferentes para as meninas. Urinar num lugar público, num “lugar aberto” não implicava apenas o risco de ser vista como “suja”, mas também de ser vista como “disponível” sexualmente. O perigo associado a isso, no clima existente de dominância masculina e subordinação feminina, mesmo com um governo profundamente dedicado a interromper esse clima, não era abstrato. Era muito real e baseado em experiências frequentes, dado o fato de que a violência sexual, como ameaça e realidade, era um perigo constante. Uma séria conexão com o que o governo e muitos ativistas acreditavam ser conhecimento popular não era possível para as meninasii. Por conta disso, para “proteger a reputação”, muitas meninas não frequentavam a escola. As meninas que resolveram frequentar a escola, nessas condições, se esforçavam para não beber nada durante o dia, para não precisar urinar. Com o intenso calor e a umidade, muitas meninas ficavam sem energia ou até dormiam sentadas às mesas. Nada disso foi planejado. O Ministério, junto com ativistas e educadores críticos, priorizou corretamente um processo escolar que visava a interromper a dominância e estabelecer um currículo e uma coleção de ferramentas que produziriam resultados mais democráticos para estudantes pobres e marginalizados, e isso foi dirigido abertamente à mudança radical da vida de meninas e jovens mulheres. Sacrifícios financeiros reais foram feitos para fornecer aos alunos a tecnologia, o currículo, e professores habilitados para dar aos jovens, experiências esperadas por pais e comunidades abastadas. Em termos de classe, foi realmente progressista. Porém, estudantes têm corpos de gênero. A política de corpos, embutida na materialidade de ambientes físicos, interrompeu a tentativa oficial de cessar a dominação. Coisas “simples” como banheiros e relações de gênero nas escolas e a vida cotidiana contradisseram as bem-intencionadas políticas de classe e casta desse Ministério que se esforçava por realizar seus comprometimentos e democratizar o processo e os resultados da educação. Eu comecei com esse relato, não para nos tornar céticos. Não há lugar para ceticismo na luta em criar uma educação que está conscientemente direcionada para enfrentar relações dominantes de poder que são reproduzidas em escolas, na mídia, e em outros lugares. Antes, meu desejo é nos lembrar de que a realidade “bate de volta” e que precisamos tomar consciência de que a construção de uma educação democrática duradoura exige a compreensão de que, às vezes, o fazer implica tensões e contradições. Também comecei com esse relato para enfatizar o fato de que assuntos sobre “o popular” começam com proximidade à vida cotidiana – a violência contra mulheres, o racismo e a violência contra imigrantes, a “violência simbólica” e a discriminação na educação, que destrói as tradições culturais e linguísticas de uma população cada vez mais diversificada em muitas nações – se, finalmente, às realidades cotidianas das relações múltiplas de poder. A política disso é complicada. Envolve uma combinação de alegria por vitórias parciais e, às vezes, tristeza pelo fato de que as vitórias talvez não sejam suficientes ou até reproduzam outras formas de dominância e subordinação. Ignorar tudo isso não fará com que seja mais fácil. Estamos falando sobre a vida real de professores, estudantes, comunidades e tantos outros grupos de pessoas que podem perder tanto dentro de uma sociedade que, frequentemente, se organiza para destruir suas esperanças e seus sonhos, e até mesmo suas vidas, não apenas pela “violência simbólica” (BOURDIEU, 1984), mas também pela violência física, propriamente dita.(Lembrese dos ataques assassinos às pessoas indígenas e ativistas ambientais, as causas desses e as relações entre eles e as políticas neoliberais. As próprias políticas neoliberais por si mesmas precisam ser entendidas como formas de violência também). Mesmo desejando que não fosse o caso, não podemos nos esconder da política visível e invisível e dos conflitos que isso implica para a construção e a defesa de uma educação verdadeiramente crítica. Na raiz dessas preocupações há um princípio simples: para compreender e agir sobre a educação e suas conexões complicadas com a sociedade maior, devemos nos engajar em dois conjuntos de entendimentos. O primeiro nos envolve no processo de reposicionamento. Isto é, devemos enxergar o mundo pelos olhos dos despossuídos (no caso que acabei de discutir, das meninas e das jovens mulheres empobrecidas) e agir contra a ideologia, os processos e as práticas institucionais que reproduzem condições opressivas (APPLE, 2012). Segundo, devemos pensar em termos de relações também. Isto é, entender que a educação exige que a enxerguemos, na sua essência, como ato político e ético. Isto quer dizer que precisamos situá-la novamente nos contextos de relações desiguais de poder, na sociedade em geral e nas relações de exploração, domínio e subordinação, e -nos conflitos- que são gerados por essas relações (APPLE, 2004). O conjunto desses entendimentos constitui a própria base da pedagogia críticaiii. 2 DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA (grupo 2) O relato com que eu comecei este ensaio levanta questões sérias em relação à escolha de uma palavra-chave no título da discussão. A luta pela democracia em educação tem sido, e ainda é, exatamente isto: uma luta. Possui uma longa e valiosa história. Essa história engloba movimentos diversos para transformar a educação e outras instituições, para que seus meios e fins respondam a necessidades e anseios vividos pelo experimento continuado de criar cidadãos críticos e conhecedores de que são responsáveis pelas suas próprias vidas. Isso exige, devidamente, que levemos a sério as demandas das pessoas que não se beneficiam dos modos como nossas sociedades estão organizadas atualmente: aquelas “marcadas” pela visão dominante de classe, raça, gênero/sexualidade, deficiência, direitos de imigrante, e tanto maisiv. Exige também uma interrogação crítica constante sobre quem somos “nós”, como ponto de partida. Essas questões colocam um conjunto de responsabilidades éticas, políticas, e também educacionais, sobre as pessoas que se preocupam com o papel da educação na sociedade maior: um conjunto de responsabilidades que são ainda mais urgentes para pessoas comprometidas com a transformação social verdadeira. Em Can Education Change Society? (“A Educação Pode Mudar a Sociedade?” (APPLE, 2013),v eu defendo que educadores precisam assumir um papel de ativistas. No processo, eu exponho os detalhes de algumas tarefas com as quais educadores criticamente democráticos deveriam estar engajados como “intelectuais públicos”. Falarei mais sobre isso a seguir, mas entre elas estão: testemunhar a negatividade, ou seja, dizer a verdade sobre o que está acontecendo na educação e na sociedade em geral; mostrar espaços de possibilidade onde políticas e práticas criticamente democráticas podem ser implementadas com sucesso; e agir como secretários críticos das realidades atuais dessas possibilidades, enquanto o povo constrói as políticas e práticas mais progressistas no mundo real. Como mostrei naquele livro, houve e há vitórias em muitas nações, incluindo o Brasil. No entanto, uma das coisas mais importantes que devemos encarar é o fato de que, embora precisemos ser otimistas sobre a possibilidade de criar transformações duradouras, não devemos ser românticos. Educadores criticamente democráticos, movimentos progressistas e comunidades não são os únicos indivíduos e grupos que estão atuando neste terreno. Como eu demonstro com mais profundidade em Educating the “Right” Way (2006), neoliberais, neoconservadores, movimentos religiosos reacionários e autoritários, e novos regimes de autoridade administrativa também estão trabalhando muito para mudar a educação para que sirva às necessidades deles. No fundo, há uma disputa contínua sobre diferentes versões de “democracia”. Compreensões densas de democracia, que buscam desenvolver participação coletiva total na procura do bem comum e na criação de cidadãos críticos, estão sempre sendo atacadas pelas “frágeis” ideologias neoliberais mercantis, que pregam a escolha do consumidor, o individualismo possessivo, o egoísmo, e uma educação que é valorizada, em grande parte, como uma ferramenta para servir a um conjunto limitado de necessidades econômicas e ideológicas ao modo definido pelos poderosos (GUNTER; HALL; APPLE, 2017). Isso implica questões importantes para pessoas comprometidas com uma forma mais robusta de democracia e uma educação que é mais rica em relação a sua visão do propósito da educação em si. Isso nos exige assumir, honestamente, que agora é uma época em que as visões, os pressupostos e compromissos ideológicos da direita estão presentes de forma poderosa, estão bem financiados, e cada vez mais se tornam partes centrais do senso comum dominante em muitas nações do mundo inteiro. Num contexto social como esse, certas questões se tornam ainda mais essenciais. É possível que formas mais consistentes de educação criticamente democrática permaneçam fiéis aos seus valores e princípios? Elas podem durar? Em que momentos são comprometidas? Qual a cara da realidade dessa “democracia”? Quais forças estão funcionando para enfrentá-la? E o que podemos aprender com esses conflitos? Isso é especialmente importante neste momento atual em nações como Brasil, entre outras. Grande número de pessoas se levantou novamente para combater o poder econômico, político e ideológico de grupos da direita. Ganhos estão sendo conquistados, muitos, porque pessoas – como muitas pessoas lendo este ensaio mesmo – estão trabalhando, com esforço, para criar possibilidades de uma democracia densa mais crítica e responsiva. Por conta da longa tradição de ativismo, aqui, é ainda mais importante que continuemos a fazer as perguntas que levantei anteriormente. No entanto, ao responder a essas perguntas, não queremos simplesmente recorrer a slogans políticos. É difícil, mas necessário, reconhecer que muito da literatura internacional existente sobre educação crítica e “pedagogia crítica” é excessivamente retórica. É quase como se as realidades das escolas e as políticas em si pudessem servir como uma ameaça à pureza teórica. Teoria forte é importante, é claro. Porém, é mais convincente quando é conectada, organicamente, às realidades de escolas, políticas e ações pedagógicas, e às vidas de indivíduos e grupos que tentam lidar com os modos como uma democracia socialmente crítica é contestada. A teoria se aprimora ainda mais quando é conectada às vitórias e, às vezes, às perdas que também acompanham essas ações. Deixe-me voltar a um relato pessoal para colocar algumas observações sobre isso. 3 PEDAGOGIA CRÍTICA E O CURRÍCULO (grupo 3) Desde que eu comecei minha carreira em escolas urbanas e depois em escolas rurais, em áreas muito pobres dos Estados Unidos, fiquei profundamente preocupado com a pedagogia crítica e com aquilo que se considera “conhecimento legítimo” em escolas, quem decide isto, e os efeitos políticos e sociais dessas decisõesvi. Deixe-me dar um exemplo pessoal concreto. Durante meus últimos anos de ensino em escolas públicas, eu era professor do sexto ano numa cidade pequena numa área rural. Naquela época, eu era também o presidente de um sindicato de professores durante um período em que estes sofriam ataques se apoiassem uma educação crítica ou defendessem com muito vigor os direitos dos professores (Esta é uma das razões pelasquais, durante décadas, eu agi com solidariedade com sindicatos de professores, membros progressistas do PT, e outros ativistas educacionais aqui no Brasil.). A cidade onde eu ensinava teve uma história de ideologias conservadoras e sentimentos religiosos ultraconservadores, bem como uma história de segregação racial formal e informal. Quando eu cheguei à cidade, o distrito escolar incluía alguns professores muito dedicados, mas em geral o currículo ainda era o livro didático padrão. Durante meus primeiros anos de ensino em escolas muito pobres, em favelas empobrecidas, já tinha adquirido muita experiência em modelos mais criticamente democráticos de currículo e ensino e tentei ir além dos livros didáticos padronizados sempre que foi possível. Em muitos aspectos, minha abordagem era semelhante à abordagem que ativistas sociais e educacionais em Porto Alegre e outros lugares experimentaram aqui. Novamente, eu tentei explorar a mesma abordagem, dessa vez nesse ambiente mais conservador. As diretrizes do currículo do Estado para o sexto ano me proporcionaram espaço para essa ação. Um dos objetivos principais era o estudo da comunidade. Eu não queria usar o livro didático que tinha sido usado anteriormente, e que falava em geral sobre comunidades de diferentes tipos e ignorava a história e as lutas atuais sobre pobreza, racismo, e a vida e cultura de imigrantes. Ao contrário, eu queria que meus alunos entendessem a comunidade deles, de perto. Fizemos passeios ao museu local e à biblioteca de arquivos históricos para fazer pesquisa sobre a história da cidade e seu entorno. O que descobrimos foi forte. Existiram, na área e na cidade em si, grupos ativos da KuKluxKlan (um grupo racista, muito violento, que possui uma história longa nos Estados Unidos.) . Além disso, houve casos repetidos de violência racial e tentativas explícitas em manter a cidade “branca e ultraconservadora” nas suas crenças religiosas. Não era tão forte, mas houve também conflito em relação a isso e resistência a tais práticas por um grupo pequeno de pessoas da comunidade. A discussão entre os estudantes sobre tudo isso, sobre a face pública da cidade e sobre o que estava faltando nos “fatos” que os alunos geralmente aprendiam sobre essa comunidade e seu entorno foi forte e permitiu muita reflexão. Esses acontecimentos racistas “não deveriam acontecer no Norte dos Estados Unidos”. Os estudantes publicaram um jornal de classe sobre os dados que acharam e sobre as questões que levantaram. O jornal foi enviado para casa, e nesse momento a bomba explodiu. Os líderes de alguns dos grupos mais conservadores ficaram indignados. Isto era “anti-Americano”. Como eu poderia ousar fazer com que meus estudantes de doze a quatorze anos aprendessem essas coisas e levantassem essas questões? Houve tentativas de conseguir a minha demissão. No final, outros professores, o diretor da escola, e muitos outros membros da comunidade se recusaram a permitir que os conservadores destruíssem a possibilidade de construir uma educação mais criticamente democrática. Mas a experiência sempre ficou para mim como um lembrete convincente do modo como aquilo que se ensina e aquilo que não se ensina faz parte daquilo que Raymond Williams (WILLIAMS, 1961) chamou de tradição seletiva. É o resultado de um processo complexo, e frequentemente escondido, pelo qual a compreensão do mundo de alguns grupos é apresentada como se fosse a “verdade”. A maneira como isso acontece, e a maneira como os livros didáticos se tornam o árbitro principal dessas “verdades”, ainda é frequentemente escondida dos olhosvii. Esse relato pessoal deixa claro que as lutas dentro das nossas escolas, sobre os direitos de professores e sobre o currículo, são essenciais para construir uma educação criticamente democrática, no sentido “denso”, em relação ao conteúdo e ao modo como se ensina, e também em relação a quem toma as decisões sobre esses assuntos. Com certeza, este é o caso, no Brasil, com as lutas recentes sobre o controle do Estado sobre o currículo e tentativas de grupos da direita para tornar o currículo supostamente “neutro”, a história da Escola Cidadã e o orçamento participativo em Porto Alegre e em outros lugares, a vitalidade contínua de ativismo docente e comunitário, e o crescimento importante dos movimentos afro-brasileiros em torno das políticas do reconhecimento nas escolas, na mídia e em todo o aparato cultural. Essa ênfase no conteúdo atual da escolaridade é a continuação de ganhos que foram conquistados por trabalho dedicado de muitas décadas, realizado por educadores críticos e autores, bibliotecários, ativistas comunitários e movimentos sociais em todos os níveis. Na verdade, um dos avanços mais importantes a ser conquistado na educação é a transformação da pergunta “Qual conhecimento tem mais valor?” em “O conhecimento de quem tem mais valor?”. Essa mudança de palavras não é apenas uma questão linguística. Embora precisemos tomar cuidado para não presumir que há sempre uma correspondência direta entre o conhecimento “legítimo” e os grupos que possuem poder, mudar o foco dessa pergunta exige que nos comprometamos com uma transformação radical dos nossos modos de pensar sobre as conexões entre o que conta como conhecimento importante nas instituições educacionais, na mídia, em outras instituições na sociedade em geral e as relações existentes de dominação e subordinação e lutas contra essas relações. Isto coloca questões cruciais sobre o que escolhemos ensinar, como o ensinamos, e quais valores e identidades alicerçam tais decisões (APPLE, 2014). Com a mesma importância, a pergunta exige também que a estrutura gramatical da sentença anterior seja problematizada: a primeira pessoa do plural, ou seja, a palavra e o conceito de nós. Essa palavra – “nós” – é uma das palavras mais perigosas em nossa língua. Quem somos “nós”? Qual grupo reivindica o centro a si próprio, enxergando assim os outros grupos como o outro? Aquela palavra – “nós” – frequentemente simboliza a maneira pela qual forças e pressupostos ideológicos funcionam dentro e fora da educação. Especialmente quando é empregada pelos grupos dominantes, a palavra “nós” funciona como um mecanismo não apenas de inclusão, mas como mecanismo poderoso de exclusão também. É um verbo que se mascara como pronome, de maneira semelhante à palavra “minoria” ou “escravo”. Ninguém é uma “minoria”. Alguém deve fazer com que o outro se torne uma minoria; alguma pessoa ou algum grupo precisa minorizar outra pessoa e outro grupo, da mesma maneira que ninguém pode ser conhecido inteiramente como um escravo. Alguma pessoa ou algum grupo deve escravizar outra pessoa. Ignorar essa compreensão nos isola da visão das realidades, frequentemente feias, de uma sociedade e sua história. Talvez até mais crucialmente, também nos isola das imensamente valiosas lutas históricas e atuais contra processos de desumanização de gênero/sexo, classe e raça. Ao cortar as conexões entre substantivos e verbos, tornam-se invisíveis as ações e os atores que fazem com que a dominação pareça normal. Cria-se um espaço vazio que é frequentemente preenchido com os sentidos e as identidades dominantes. Essas compreensões também fazem parte das pedras-chave da construção da pedagogia crítica. Esses pontos são muito abstratos, mas atrás deles há algo que diz respeito à essência de ser um educador crítico. Um papel principal que eles – ou seja, “nós” – devemos cumprir é articular uma visão e uma realidade do educador ativista crítico engajado, alguém que se recusa a aceitar uma educação que não questiona o significado de “nós” e também não ilumina o caminho a uma nova política de voz e reconhecimento na educação. A tarefa é dar exemplos incorporados de pedagogias críticas e de um sentido mais robusto de ação educacional, informada socialmente, da forma como é vivida realmente porpessoas de verdade. Isto inclui educadores e trabalhadores culturais comprometidos dentro das políticas complexas em níveis múltiplos de educação, mesmo quando há tensões e contradições previsíveis (APPLE, et al., no prelo). Como eu observei anteriormente, essa preocupação não é nova. Professores, ativistas sociais e estudiosos de múltiplas disciplinas passaram anos desafiando os limites desse espaço geralmente não examinado do "nós" e resistindo ao conhecimento, às perspectivas, aos pressupostos epistemológicos e às vozes legitimadas que os apoiam. Nunca houve um tempo em que a resistência, aberta e escondida, não esteve presente (BERREY, 2015). Esse é o caso especialmente da educação, um campo no qual os assuntos acerca do conhecimento ‘do que’ e ‘de quem’ e ‘de como’ deveria ser ensinado, são levados muito a sério, especialmente pelas pessoas que não são incluídas nas formas pelas quais os grupos dominantes definem a palavra-tão-perigosa, “nós” (APPLE, 2013, APPLE, AU, 2014, AU, BROWN; CALDERON, 2016, WARMINGTON, 2014). A resistência possui uma história longa e extremamente valiosa em muitas nações e regiões, uma história que é ainda mais importante hoje. É crucial perceber que essa história de ação educacional crítica se repete em muitas nações, além do Brasil. Na verdade, em quase todas as regiões do mundo existem movimentos e exemplos poderosos de tentativas pedagógicas radicais dentro do setor da educação formal, bem como em programas de alfabetização comunitária, educação trabalhista, mobilizações antirracistas e anticoloniais, movimentos feministas, ativismo de paz, lutas ambientais, ativismo da deficiência, entre outros (APPLE, 2010). Por exemplo, na Coréia do Sul, durante a primeira metade do século 20, escolas noturnas foram criadas para combater os esforços de colonização dos invasores japoneses. Essas práticas contra- hegemônicas continuaram pelos esforços do sindicato dos professores da Coréia, pelas políticas emergentes de oficiais governamentais progressistas que buscaram interromper o crescimento do número de escolas de elite no país, e pelos esforços de outros ativistas educacionais para construir um currículo e modelos de ensino que se alicerçam em princípios democráticos críticos. Esses esforços precisavam superar anos de repressão governamental (KO; APPLE, 1999)viii. Tendências semelhantes foram observadas recentemente na Turquia, onde o governo tentou declarar o maior sindicato de professores ilegal, por conta do seu compromisso com uma pedagogia mais culturalmente responsiva e sua posição crítica contra políticas neoliberais na educação e na economia (EGITIM SEM, 2004), e onde a repressão está piorando e muitos educadores críticos e jornalistas estão perdendo empregos e sendo presos. Também houve lutas contínuas pela educação e a libertação da população Buraku, no Japão, desde o século 19, bem como lutas contínuas pela educação de outras populações minorizadas daquele país (TAKAYAMA, 2009, NOZAKI, 2008). Lutas sobre conhecimento legítimo e “amnésia histórica” podem acontecer também em outros espaços, além de escolas. O exemplo, na Coréia do Sul, de ônibus com estátuas de “mulheres de conforto” (mulheres sexualmente escravizadas) sentadas nos bancos, proporciona uma instância interessante das maneiras pelas quais espaços públicos têm sido ocupados para opor-se à recusa do governo japonês em assumir responsabilidade por sua guerra contra os corpos de coreanas (MCCURRY, 2017). Há outra razão pela qual os assuntos em torno do currículo são centrais aqui. Apesar de toda a atenção merecida que educadores críticos prestam às agendas e políticas neoliberais, à privatização e aos planos de escolha, às formas opressivas de gestão e padronização, devemos continuar a prestar a mesma atenção ao conhecimento em si que se ensina – e às “presenças ausentes” (MACHEREY, 2006) do conhecimento que não se ensina – em escolas, bem como às experiências concretas de estudantes, professores, administradores, conselheiros, cozinheiros, zeladores, secretárias escolares, pais, membros da comunidade e voluntários, todos que vivem e trabalham nesses prédios que se chamam “escolas”. Fazer documentação e entender essas realidades vividas é crucial a uma estratégia de intervenção e ao estabelecimento de conexões entre essas experiências e as possibilidades de construir alguma coisa bem melhor. Todas essas pessoas podem ser ativistas na luta para uma educação que exige uma voz mais democrática. No entanto, deixe-me enfatizar um desses grupos: estudantes e jovens. Lembrem-se dos estudantes coreanos que lutaram contra o regime militar assassino, muitos que perderam suas vidas na revolta de Gwangju. Lembrem-se também dos jovens do Brasil, Chile, Argentina e tantas outras nações que, historicamente, resistiram à violência simbólica e física das políticas neoliberais e à perda de memória coletiva das lutas populares contra a opressão. Esta história não é apenas passado. Estudantes e jovens ainda estão entre os atores mais importantes em muitas nações, hoje, mesmo diante de realidades educacionais dominadas por provas. As mobilizações e lideranças que eles mostram agora em lugares como Brasil, Argentina, Chile, Espanha e outros lugares estão baseadas corretamente nos assuntos maiores sobre a natureza destrutiva das “reformas” neoliberais na educação, na economia e no governo. Mas em muitas nações, são as mudanças radicais que conservadores querem implementar em relação ao próprio conteúdo que se ensina, ou não se ensina, que estão provocando os estudantes a agir. É claro, então, que o currículo em si pode ser, e é, um foco primário de lutas educacionais. Isto é algo que é muito visível nos Estados Unidos. Um bom exemplo pode ser visto na luta de jovens Afro-Americanos envolvidos no programa de matemática crítica chamado Algebra Project. Este é um projeto que ensina a estudantes marginalizados, conhecimento importante de matemática, mas de maneiras que fazem ligações com suas vidas em comunidades pobres. Na cidade de Baltimore, os professores e estudantes se mobilizaram contra planos do governo para construir outra prisão para jovens empobrecidos de comunidades oprimidas. Eles usaram esse projeto de matemática crítica e o conhecimento que produziu para ganhar compreensão crítica dos processos injustos pelos quais jovens negros e negras são presos. Eles mostraram que isso era, de fato, injusto e que também, estatisticamente, uma nova prisão nem era necessária. Os jovens então se mobilizaram e continuaram a construir alianças amplas com jornalistas críticos, sindicatos progressistas, grupos de ativistas jovens e populares, entre outros. Todos trabalharam juntos e conseguiram parar a construção da nova prisão juvenil naquele lugar. Uma forma de conhecimento (a matemática) que costumava ser vista por estudantes marginalizados como “inútil” foi ligada às realidades vividas por jovens negros oprimidos de modo que eles pudessem tornar-se ativistas das suas próprias vidas (APPLE, 2013). Em vários sentidos, isso representa a estratégia gramsciana pela qual o conhecimento elitista é redefinido para servir na luta contínua contra a dominação. As implicações dessa história são cruciais. Um movimento social amplo se formou, tendo grande impacto nas vidas reais de jovens reais em comunidades reais, especialmente porque violência policial contra comunidades negras nos Estados Unidos é um assunto grave. Não pode existir uma compreensão “neutra” para os jovens nessas comunidades quando eles são frequentemente sujeitos a tal violência e quando são presos por delitos relativamente pequenos, enquanto jovens “brancos” fazendo as mesmas coisas não são presos. Ao construir alianças mais amplas contra a política de construir mais prisões, o grupo obrigou o governo a mudar radicalmente suas políticas para que o dinheiro que teria sido usado para talfosse usado, de forma contrária, para programas progressistas dentro da comunidade. Isto nos ensina que os movimentos sociais progressistas frequentemente se formam em torno de assuntos que são centrais à identidade cultural e história do povo (GIUGNI; MCADAM; TILLY, 1999; APPLE, 2013)ix). Mais atenção ao modo como tais lutas são formadas no Brasil e em outros países poderia fornecer conhecimento mais significante sobre os modos como movimentos que interromperam agendas neoliberais e formas ideológicas conservadoras de currículo e ensino se constituíram e como podem ser construídos no futuro (APPLE, 2013). Isto seria importante para as mobilizações na educação e também na sociedade maior (APPLE, et al., no prelo). Ao fazer essas análises e levantar essas perguntas sobre currículo e pedagogia nas escolas, precisamos ainda situá-las nos seus contextos maiores. Ainda é muito importante lembrarmo-nos, constantemente, de que há opressão sistemática. Isso exige transformações fundamentais das estruturas institucionais locais, regionais e nacionais, e também, das práticas de um estado racista e racializantex, da natureza de gênero e sexo da política do Estado (FRASER, 2013), de uma economia e seu sistema de trabalho pago e não pago que continua a criar desigualdades duradouras, e de uma máquina de guerra que ameaça milhões de pessoas pelo mundo inteiro. Reconhecer e ser honesto sobre esse sistema maior de dominação pode, no entanto, fazer com que seja fácil levantar os braços com desespero e negligenciar o papel da escola em apoiar essas estruturas, e, além disso, minimizar o significado da dedicação de todas as pessoas que trabalham tanto para contribuir para uma compreensão e uma interrupção dessas estruturas e processos. Há coisas que podem e devem ser feitas na educação (APPLE, 2013, APPLE et al., no prelo ). Peço perdão pelas metáforas militares ao defender o que Antonio Gramsci (1971) chamou de “uma guerra de posições”. Isto é um conjunto de ações contra-hegemônicas em que tudo conta. Ação criticamente democrática na educação, na saúde, nas vidas do povo, em lugares de trabalho pago e não pago, na família, na luta pela paz: todas essas são significantes. Todas as ações contra relações dominantes envolvendo gênero e sexualidade, raça, classe, habilidade, idade, degradação ambiental, e paz: todas valem. A tarefa então é conectar essas ações uma a outra e construir alianças que atravessem nossas diferenças para que o “nós” se torne maior e mais mutuamente apoiador. Assim, ação local é importante também, e não apenas a ação regional e nacional. Nas palavras de Nancy Fraser, a política de reconhecimento e representação é crucial, bem como as políticas de redistribuição (FRASER, 1997; 2013). Esse processo de conectar muitas lutas não é novo. De fato, é exatamente o que a direita está fazendo há décadas. A direita reconhece claramente a importância de ganhar em múltiplos níveis e então conectar essas vitórias uma a outra. As batalhas pelas quais a direita luta eram, no passado, e ainda são hoje, sobre assuntos múltiplos: enxugamento do Estado, redução de impostos sobre os mais ricos, destruição do poder dos sindicatos, instituição de políticas neoliberais e neoconservadoras em todos os níveis, ataque ao currículo progressista e muito mais. A direita sabe que as lutas precisam ser disputadas em múltiplos lugares, utilizando múltiplas estratégias: em reuniões públicas, em campanhas de porta em porta, em campanhas eleitorais para posições em todos os níveis e, especialmente, na mídia. É também extremamente criativa com sua política linguística, abrindo assim um caminho para as pessoas entrarem na sua aliança, mesmo quando não necessariamente concordam com as posições da direita. Como meus coautores e eu documentamos mais detalhadamente em The Struggle for Democracy in Education: Lessons from Social Realities (APPLE et al., no prelo) o que precisamos é uma política que seja vertical e horizontal. Verticalmente, em cada nível, há ações significativas que precisam ser vinculadas, com o objetivo de eventualmente conectar esses níveis um ao outro, como parte de um movimento maior para construir e defender modos críticos de participar na construção e defesa de espaços mais críticos e democráticos. Horizontalmente, em cada nível, há dinâmicas múltiplas de poder que precisam ser consideradas, com ações substantivas para apoiar movimentos e para buscar e construir alianças entrelaçadas em torno da política de redistribuição, reconhecimento e representação. Assim, classe, gênero/sexualidade, raça, habilidade, paz, degradação ambiental e outras formas de “diferença” não são vistas como causas de divisão ou como impedimentos, mas como recursos que podem ser mobilizados, em conjunto, pelo trabalho duro, sempre quando for possível. O fato de que há exemplos disso sendo construídos pelo mundo inteiro deveria nos dar esperança. Vitórias em todas essas áreas estão sendo ganhas, mesmo diante dos ataques bem financiados da mídia contra movimentos e indivíduos, da criação de um clima de medo e, em alguns lugares, do encarceramento e assassinato de ativistas. 4 PENSANDO A LONGO-PRAZO (grupo 4) Há muitas lições importantes para aprender com tudo isso. No entanto, uma delas é que vitórias podem ser temporárias. Para concretizá-las, é necessário que as mobilizações a longo prazo e o trabalho duro, prático, que as criaram, não parem. Esse ponto é absolutamente crucial agora no Brasil. Ataques da direita, crises fiscais, iniciativas de gestão, privatização e pressões de marketing, estratégias da classe dominante: nenhum desses acabarão no dia em que declararmos que “ganhamos” nesta escola, neste conflito de currículo, nesta campanha eleitoral, nesta batalha fiscal, nesta campanha de sindicato, nesta mobilização antirracista, nesta arena política. A situação costuma ser exatamente o oposto. A direita aprende com cada uma das suas campanhas. Amplia seu discurso para levar em conta aquilo que foi e não foi bem-sucedido, para que mais grupos encontrem “soluções” debaixo do seu guarda-chuva de liderança. A direita sempre se compromete a longo prazoxi. A história de Porto Alegre, no Brasil, nos fornece um exemplo importante. Como Luis Armando Gandin e eu mostramos em Can Education Change Society? (2013) e em The Struggle for Democracy in Education, é uma cidade que estabeleceu uma pedagogia crítica como a estrutura fundamental das escolas públicas na cidade inteira. Décadas de ativismo social e educacional levaram a mudanças no Estado e nas suas propostas e práticas políticas, econômicas, culturais e educacionais. Isso resultou em transformações verdadeiramente fundamentais na vida cotidiana das escolas e nas relações da escola com sua comunidade. O desenvolvimento, em Porto Alegre, da Escola Cidadã e o orçamento participativo forneceram um modelo de reformas educacionais e sociais, democráticas, consistentes, não somente no Brasil, mas em muitos países pelo mundo. No entanto, é cada vez mais visível que as forças conservadoras no Brasil não descansaram. Tentaram continuadamente limitar a esfera dessas reformas, para torná-las retóricas e não realizadas em escolas e comunidades reais, e para torná-las mais “seguras”. Porém, essas políticas e práticas democráticas densas ainda sobrevivem em muitos espaços por causa do trabalho duro, contínuo, e dos sacrifícios de professores, membros da comunidade e movimentos sociais. Isto é uma ação contínua que não para. Ao dizer tudo isso e apontar essas lições, é claro que meu objetivo, mais uma vez, não é aumentar o ceticismo. Nem é nos fazer duvidar da importância dos valores criticamente democráticos “densos” e das políticas e práticas que deles brotam. Antes, estou pedindo a educadores, comunidades e ativistas nos movimentos de trabalho, paz, feminismo, deficiência, preservação ambiental e tantos outros, que sejamhonestos sobre o que acontece e o que pode acontecer, e que enfrentem as realidades complexas de relações de poder no mundo real. Isto quer dizer que devemos pensar simultaneamente sobre o passado e o futuro. O que aconteceu no passado quando tais políticas e práticas criticamente democráticas, densas, foram levadas para frente? E o que deve ser feito a longo prazo para defender essas políticas e práticas, quando grupos dominantes ocupam o espaço de reforma para seus próprios propósitos, e quando a direita responder, como certamente fará (MAYER, 2016, MCLEAN, 2017)? 5 EXPANDIR NOSSAS RESPONSABILIDADES (grupo 5) Ao longo deste ensaio, especificamente no último parágrafo da parte anterior, eu levanto a questão sobre “o que deve ser feito”. Anteriormente, nesta discussão, eu apontei três tarefas do educador profundamente comprometido a construir e defender formas mais densas de democracia crítica. Mas o número de responsabilidades não acaba por aí. Por conta disso, nesta parte, eu quero focar em um grupo específico: as pessoas que se veem a elas mesmas, como devem, como pessoas envolvidas em pedagogia crítica. Quero fazer a pergunta seguinte: se educadores críticos em colégios e universidades fazem parte de “nós”, quais são nossas responsabilidades? Com base nas questões que eu levanto em Can Education Change Society? (APPLE, 2013), eu quero argumentar a favor de um papel ainda mais ativista para educadores, como eu, e como muitos outros que poderiam estar lendo este artigo. Deixem- me enumerar um conjunto de tarefas nas quais educadores críticos deveriam se envolver, como “intelectuais públicos”, para apoiar e participar nesses movimentos transformadores. Por meio disso, eu argumento a favor de uma política que eu chamo de união descentralizada – uma expressão substantiva e bem mais inclusiva que “nós” – e a favor de uma expansão de grupos que podem agir como nossos professores sobre as táticas de interrupçãoxii. Tal expansão é ainda mais crucial, hoje, se pretendemos participar, mais integralmente, na construção de respostas à pergunta “o que deve ser feito?”. Este conjunto expandido de tarefas se inspira naquilo que Michael Burawoy chamou de “sociologia pública orgânica”, defendendo que esse modelo fornece os elementos-chave sobre os modos pelos quais podemos conceber caminhos para lidar com a política de interrupção. Nas palavras dele, mas também ecoando Gramsci, segundo esta visão, o sociólogo crítico (e na minha mente, o educador crítico, aquilo que eu chamo o intelectual/ativista crítico): […]trabalha em conexão próxima com o visível, denso, ativo, local e frequentemente contra- público. [Ela ou ele trabalha] com um movimento trabalhista, uma associação de vizinhança, comunidades de fé, grupos que defendem os direitos de imigrantes, organizações de direitos humanos. Entre o sociólogo público e o público há um diálogo, um processo de educação mútua... O projeto de tais sociologias públicas [orgânicas] é tornar visível aquilo que é invisível, tornar público o privado, validar essas conexões orgânicas como parte da nossa vida social (BURAWOY, 2005, p. 265). De modo geral, há nove tarefas nas quais a análise crítica (e o analista crítico) em educação deve se envolver para criar e defender essas conexões orgânicas. 1. Deve “testemunhar a negatividade”. Isto é, uma das suas funções primárias é iluminar os modos pelos quais a política e a prática educacional são conectadas às relações de exploração e dominação, e as lutas contra tais relações, na sociedade maior. 2. Ao engajar-se com tais análises críticas, deve-se também indicar contradições e espaços de ação possível. Assim, o objetivo é investigar criticamente realidades atuais por uma estrutura conceitual/política que ressalta os espaços nos quais ações contra-hegemônicas acontecem ou podem acontecer. Isto é um passo absolutamente crucial, uma vez que, se for o contrário, nossa pesquisa pode levar apenas ao ceticismo ou ao desespero. 3. Às vezes, isto exige também uma ampliação daquilo que se inclui como “pesquisa”. Com isso, eu quero dizer que é necessário agir como “secretários” para os grupos de pessoas e os movimentos sociais que estão atualmente engajados em enfrentar relações existentes de poder desigual (APPLE, 2012)xiii. Alguns exemplos desse tipo de trabalho merecem destaque. O primero é a “Community of Research on Excellence for All” (CREA), um centro de pesquisa interdisciplinar da Universidade de Barcelona. É um modelo de como construir uma agenda de pesquisa e então criar políticas e programas que empoderam pessoas que são marginalizadas economicamente e culturalmente em nossas sociedadesxiv. O segundo é o trabalho profundamente engajado realizado por Kathleen Lynch e suas colegas e estudantes na School of Social Policy, Social Workand Social Justice na University College, em Dublin. Embora alguns dos seus programas contra-hegemônicos tenham sido recentemente atacados, esta escola se situa no centro de pesquisa e ação que acentua não somente pobreza e desigualdade, mas também movimentos em direção à igualdadexv (LYNCH; GRUMMELL; DEVINE 2012). Existem também, é claro, muitos outros programas que dão causa para esperança. Por exemplo, no processo de iluminar o papel das artes em promover justiça social e comunitária na Finlândia, o projeto de pesquisa ArtsEqual e alguns dos pesquisadores filiados a ele documentaram exemplos importantes de sucessos contra-hegemônicos acontecendo na realidade, e ao mesmo tempo aumentaram nossa compreensão sobre a quem “nós” se referexvi. As lutas continuadas na Coréia do Sul para construir mais escolas Hyukshin e enfrentar escolas de elite também mostram potencialidade considerável. Mais uma vez, documentar esses ganhos ainda exige que continuemos a não ser românticos, para ser plenamente conscientes de que não somos os únicos atores neste terreno e que, necessariamente, visões sólidas de democracia crítica prevalecerão. Assim é importante levar muito a sério que este é um tempo em que visões ideológicas, pressupostos e compromissos da direita estão presentes de forma poderosa, são bem financiados, e estão se tornando, cada vez mais, uma parte central do senso comum em muitas nações do mundo inteiro. Num contexto social assim, respostas retóricas são simplesmente insuficientes. Certas questões como aquelas que eu levantei anteriormente se tornam mais essenciais. Quando vitórias são conquistadas, é possível que essas formas mais densas de educação criticamente democrática continuem fiéis aos seus valores e princípios? É possível que permaneçam? Qual a cara dessa “democracia”? Quais forças estão agindo para enfrentá-la? Que comprometimentos foram feitos? E o que podemos aprender desses conflitos e comprometimentos? Essas perguntas são complicadas, mas documentar as respostas a elas significa muito neste momentoxvii, especialmente em nações como Brasil, Chile, Argentina e muitas outras, onde a batalha sobre essas políticas continua até hoje. 4. Quando Gramsci (1971) defendeu que uma das tarefas de uma educação verdadeiramente contra- hegemônica não era jogar fora o “conhecimento da elite”, mas reconstruir sua forma e conteúdo para que servisse às necessidades sociais genuinamente progressistas, ele deu uma chave a outro papel que intelectuais “orgânicos” e “públicos” poderiam assumir. Assim, não deveríamos nos envolver num processo que poderia ser chamado “suicídio intelectual”. Isto é, há habilidades intelectuais (e pedagógicas) sérias para lidar com as histórias e os debates em torno das questões epistemológicas, políticas e educacionais envolvidas na justificativa daquilo que conta como conhecimento importante e daquilo que conta como uma educação efetiva e socialmente justa. Não são assuntos simples e insignificantes e as habilidades práticas e intelectuais/políticas para lidar com eles têm sido bem desenvolvidas.Porém, poderiam atrofiar se não fossem usadas. Podemos devolver essas habilidades empregando-as para ajudar comunidades e movimentos a refletir sobre isso, aprendendo com eles, e nos envolvendo em diálogos mutuamente pedagógicos que possibilitam a tomada de decisões em termos dos interesses de curto e longo prazo dos despossuídos. 5. Nesse processo, o trabalho crítico tem a tarefa de manter vivas as tradições (plural) de trabalho radical e progressista. Diante de ataques organizados contra as “memórias coletivas” de movimentos sociais críticos, ataques que fazem com que seja cada vez mais difícil manter legitimidade acadêmica e social, por diferentes abordagens críticas que se mostraram como valiosas para resistir às narrativas e às relações dominantes, é absolutamente crucial que essas tradições sejam mantidas, renovadas, e quando for necessário, criticadas por suas limitações conceituais, empíricas, históricas e políticas. Isso inclui não somente a manutenção das tradições teóricas, empíricas, históricas e políticas, mas a extensão e a crítica delas. Além disso, o trabalho envolve manter vivos os sonhos, as visões utópicas e as exigências para reformas reais que são grande parte dessas tradições radicais (APPLE; AU; GANDIN, 2009, APPLE; BALL; GANDIN, 2010). 6. Manter vivas tais tradições e também criticá-las de forma solidária quando não são adequadas, para lidar com o estado atual de realidade, não pode ser feito se não perguntamos “para quem as estamos mantendo vivas?” e “como e de que forma elas podem ser disponibilizadas?”. Todas as coisas que eu mencionei, nessa lista de tarefas, exigem a reaprendizagem ou o desenvolvimento e uso de habilidades variadas, ou novas, de trabalhar, em muitos níveis, em múltiplos grupos. Assim, habilidades jornalísticas e midiáticas, habilidades acadêmicas e populares, e a habilidade de falar para públicos bem diversos são cada vez mais cruciais (APPLE, 2006, BLOER, 2008, DEL GANDIO, 2008; DEL GANDIO; NOCELLA II, 2014). Isso exige que aprendamos como falar em diferentes estilos e dizer coisas importantes em modos que não obrigam que o ouvinte ou o leitor faça todo o trabalho. 7. Educadores críticos também precisam agir em harmonia com os movimentos sociais progressistas que o seu trabalho supostamente apoia, ou dentro de movimentos que se opõem aos pressupostos e às políticas da direita que eles analisam de modo crítico. Esta é outra razão pela qual o trabalho em educação crítica implica em tornar-se um intelectual “orgânico” ou “público”. Não devemos “ficar no terraço”, desconectados das mobilizações que estão acontecendo contra a dominação. Antes, estar no campo da pedagogia crítica exige que participemos e doemos experiência e conhecimento aos movimentos envolvidos tanto na política de redistribuição como na política de reconhecimento e representação. Também implica uma vontade de aprender com esses movimentos sociais (ANYON, 2014)xviii. 8. Continuando os pontos colocados no parágrafo anterior, o intelectual/ativista crítico precisa assumir outro papel também. Ela ou ele precisa agir como mentor profundamente comprometido, como alguém que demonstra por sua vida o que significa ser um pesquisador sério e também um membro engajado de uma sociedade que é manchada por desigualdades persistentes. Ela ou ele precisa mostrar como é possível mesclar esses dois papéis de modo que, embora difíceis, incorporem o compromisso duplo, com a pesquisa socialmente comprometida e com a participação em movimentos cujos objetivos são interromper a dominaçãoxix. Como notei anteriormente, também exige que busquemos constantemente nos colocar em posições nas quais possamos ser ensinados por outros. Deve estar claro que isso precisa ser integrado totalmente na prática do ensino também. 9. Finalmente, para aqueles que possuem a sorte de ter posições assalariadas, participar também significa usar o privilégio que possui como intelectual/ativista. Isto é, cada um de nós precisa utilizar seu privilégio para abrir espaços em faculdades e universidades e em outros lugares para aqueles que não estão presentes aí, para aqueles que não têm voz naquele espaço e nos locais “profissionais” a que o professor tem acesso, ficando numa posição privilegiada. Isso pode ser visto, por exemplo, na história do programa “ativista-em-residência” da University of Wisconsin Havens Center for Social Justice, onde ativistas engajados de várias áreas (meio ambiente, direitos indígenas, moradia, trabalho, desigualdade racial, educação, artes, paz e outros) foram trazidos para ensinar e ligar nosso trabalho acadêmico com ação organizada contra relações dominantes. Ou também pode ser visto em vários programas de Estudos de Mulheres, Indígenas, Aborígines, e Primeira Nação que historicamente envolveram ativistas dessas comunidades como participantes ativos nos programas de gestão e educação dessas áreas nas universidades. Esta lista, é claro, é apenas o início, e precisa ser ampliada constantemente, e nenhuma das atividades será fácil. Todos envolverão riscos acadêmicos e pessoais enquanto o “nós” se torna maior e mais inclusivo, e enquanto as lutas para uma sociedade verdadeiramente democrática e a construção das condições institucionais que a apoiam continuam e os espaços de interrupção se ampliam. 5.1 ESPERANÇA COMO RECURSO Como muitos sabem, por experiência pessoal, e como eu sei, por minha própria experiência e pelas lutas e até experiências de encarceramento de muitos amigos, existem riscos bem reais em engajar- se individualmente e coletivamente nas ações listadas anteriormente. Não há muita dúvida de que a direita agirá contra aqueles de nós que se engajarem nessas ações. Sim, haverá um risco bem real em fazer essas coisas. Mas se não estamos preparados para assumir os riscos, como podemos criticar outros por não fazerem o mesmo? Assim, precisamos continuar a agir. A direita responderá, é claro. Mas o fato de que a direita será obrigada a responder deveria ser visto, na verdade, como um sinal positivo. Quer dizer que eles percebem que nossas ações podem resultar na possibilidade de ganhos grandes, e que eles percebem que, talvez, precisem se recolher em relação a questões cruciais. Mas se pretendemos continuar enfrentando com sucesso a direita, na educação, em lugares de trabalho pago e não pago, na mídia, no governo, em todos os lugares, certas coisas devem continuar a ser feitas agora. Raymond Williams nos lembra que criar e defender uma democracia crítica e integralmente participativa exige o fornecimento das condições que fazem com que seja possível para todas as pessoas participar integralmente, de fato. É exatamente essa participação mais “plena”, e o que realmente significa com todas as suas contradições, uma das principais bases políticas, éticas e educacionais de uma verdadeira pedagogia crítica. Porém, olhando ao nosso redor em muitas diferentes nações, é mais do que visível que essas condições são cada vez mais difíceis de construir e sustentar. Na minha própria nação, por exemplo, as condições econômicas experienciadas por tantas pessoas, as taxas racistas de encarceramento, o sucateamento de fundos para centros de saúde absolutamente necessários para mulheres pobres e negras, a destruição de comunidades, a perda de redes de segurança, os ataques contra trabalho pago e não pago, o sucateamento de fundos para educação em todos os níveis, a grande quantidade de dinheiro pago para construir e manter a máquina de guerra – e a lista continua – tudo isso é real e realmente destrutivo. Só pode ser descrito como uma desgraça nacional. Há muito para fazer e muitos lugares onde precisa ser feito. Há o reconhecimento crescente de que mudanças verdadeiramente radicais às nossas estruturas, nossas políticas e nosso senso comum são essenciais. A tarefa parece tão grande. Isto pode ser desanimador e até paralisante.Mas devemos começar em algum lugar. Precisamos resistir ativamente ao pressuposto muito difundido de que a educação não é poderosa como agente de transformação, que só pode ser transformada depois que a “sociedade” for transformada. As instituições educacionais e as pessoas que nelas trabalham são partes fundamentais da sociedade. Lutas são partes essenciais da guerra de posição (APPLE, 2013). Chantal Mouffe coloca um ponto chave quando ela declara que “antes precisamos restaurar a democracia, para que possamos em seguida radicalizá-la” (apud JUDAS, 2016). O ato de restaurar a democracia é onde podemos começar na educação: é um início que já está acontecendo aqui. Assim, apesar de tudo que sabemos sobre as forças de dominação que enfrentamos e sobre as tensões e contradições que são visíveis no relato com o qual eu comecei este artigo, continuamos a luta por uma densa democracia dentro e fora das instituições de educação que parecem tão importantes ao projeto de empoderamento social para nós e tantas outras milhões de pessoas pelo mundo inteiro. De fato, o Brasil é um dos países onde esta luta está acontecendo agora mesmo e muitas pessoas pela nação inteira são atores nessa luta continuada. Uma das melhores declarações sobre a importância desse tipo de trabalho continuado e de comprometimento é feita por Erik Olin Wright quando ele diz que: O melhor que podemos fazer, então, é tratar a luta para avançar nas trilhas de empoderamento social como um processo experimental em que testamos e testamos de novo os limites de possibilidade, e tentamos, da melhor maneira que podemos, criar novas instituições que ampliarão os próprios limites. Ao fazer isto, não apenas imaginamos utopias reais, mas contribuímos para tornar reais as utopias (WRIGHT, 2010, p. 373). Nos seus argumentos detalhados para aquilo que ele chama de “utopias reais”, Wright nos lembra de que “instituições sociais podem ser desenhadas de maneiras que eliminam formas de opressão que frustram aspirações humanas para viver vidas completas e significativas. A tarefa central de políticas emancipatórias é criar tais instituições sociais” (WRIGHT, 2010, p. 6). Minha posição, e a posição de muitas pessoas engajadas, no Brasil e em outros lugares, talvez possa ser caracterizada como otimismo sem nenhuma ilusão sequer. Assim, podemos ficar, e ficamos, frequentemente decepcionados com os resultados do trabalho duro de construir política emancipatória na educação. Mas devemos recusar ativamente sermos desiludidos. Raymond Williams, novamente, fornece palavras de sabedoria. Como diz ele, “devemos falar para a esperança, desde que não queira dizer suprimir o perigo” (WILLIAMS, 1989, p. 322). Ele continua dizendo: É somente pela crença compartilhada, e pela insistência de que existem alternativas práticas, que o equilíbrio de esforços e oportunidades começa a se alterar. Uma vez que as inevitabilidades são questionadas, podemos começar juntando nossos recursos por uma jornada de esperança. Se não há respostas fáceis, ainda existem respostas difíceis e passíveis de descobertas, e são essas que agora podemos aprender a fazer e compartilhar. Isto foi, desde o início, o sentido e o impulso da longa revolução (WILLIAMS, 1983, p. 268-269). A luta para democracia crítica em educação é uma chave para enfrentar as “inevitabilidades”. Continuemos a agir. O futuro das nossas nações depende disso. REFERÊNCIAS ANYON, J. Radical possibilities. New York: Routledge, 2014. APPLE, M. W. Can education change society? New York: Routledge, 2013. ______. 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O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e tendo em vista o disposto no § 1º do art. 9º e no art. 90 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no § 1º do art. 6º e no § 1º do art. 7º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento nos artigos 205 e 210 da Constituição Federal, no art. 2º, no inciso IV do art. 9º, e nos artigos 22, 23, 26, 29, 32 e 34, da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, nas metas e diretrizes, definidas no Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, bem como no Parecer CNE/CP nº 15/2017, homologado pela Portaria MEC nº 1.570, de 20 de dezembro de 2017, publicada no Diário Oficial da União de 21 de dezembro de 2017, Seção 1, pág. 146, e CONSIDERANDO que o art. 205 da Constituição Federal define que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, preceito esse reafirmado no art. 2º da Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nos seguintes termos: “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”; CONSIDERANDOque o art. 210 da Constituição Federal define que “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”, e que o art. 9º da LDB, ao definir umas das incumbências da União, em seu inciso V, como a de “estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum”; CONSIDERANDO que o § 1º, art. 9º da LDB, estabelece que “na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei”; e que, complementarmente, o art. 90 da mesma LDB define que, “as questões suscitadas na transição entre o regime anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a autonomia universitária”; CONSIDERANDO que o art. 22 da LDB esclarece que “a educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”; CONSIDERANDO que o art. 23 da LDB define que “a educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar”; CONSIDERANDO que o art. 26 da LDB, na redação dada pela Lei nº 12.796/2013, estipula que “os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos”; CONSIDERANDO que o art. 27 da LDB indica que os conteúdos curriculares da Educação Básica observarão, entre outras, a diretriz da “difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”; CONSIDERANDO que o art. 29 da LDB, na redação dada pela Lei nº 12.796/2013, define que, “a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”; CONSIDERANDO que o art. 32 da LDB, na redação dada pela Lei nº 11.274/2006, determina que “o ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social”. CONSIDERANDO que a Meta 2 do Plano Nacional de Educação, de duração decenal, aprovado pela Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, ao definir a obrigatoriedade de “universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE” (1924), define como estratégia 2.1 que “o Ministério da Educação, em articulação e colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deverá, até o final do 2º (segundo) ano de vigência deste PNE, elaborar e encaminhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) do ensino fundamental”; e, na sequência, em sua estratégia 2.2, determina como missão “pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino fundamental”. CONSIDERANDO que a Meta 7 do PNE, na estratégia 7.1, fixa que se deve: “estabelecer e implantar, mediante pactuação inter-federativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local”. CONSIDERANDO que, em 6 de abril de 2017, após ampla consulta pública nacional, o Conselho Nacional de Educação (CNE) recebeu do Ministério da Educação (MEC), em cumprimento a orientações de ordem legal e normativa sobre a matéria, o documento da “Base Nacional Comum Curricular – BNCC”, com proposta pactuada em todas as Unidades da Federação, estipulando-se ali “direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, para os alunos da Educação Básica”, nas etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental; CONSIDERANDO que o Conselho Nacional de Educação recebeu a proposta da “Base Nacional Comum Curricular – BNCC”, na qualidade de Órgão de Estado presente na estrutura educacional brasileira, com “funções normativas e de supervisão e atividade permanente”, tal qual previsto no § 1º, do art. 9º da LDB, e criado pela Lei nº 9.131/1995, que alterou a redação da Lei nº 4.024/1961, o qual conta, ainda, com a missão específica, nos termos do art. 90 da Lei nº 9.394/1996 (LDB), de resolver toda e qualquer questão suscitada em relação à implantação de dispositivos normativos da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional , em regime de colaboração com os demais órgãos normativos dos sistemas de ensino; CONSIDERANDO que compete, também, ao mesmo Conselho Nacional de Educação, enquanto Órgão de Estado responsável pela articulação entre as instituições da sociedade civil e as organizações governamentais, nos termos do inciso III do art. 5º da Lei nº13.005/2014, responder por ações de monitoramento contínuo e avaliação periódica da execução das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), bem como, entre outras incumbências, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm#art7§5 segundo o inciso II do § 1º do mesmo artigo, “analisar e propor políticas públicas para assegurar a implementação das estratégias e cumprimento das metas” do PNE; CONSIDERANDO que , na condição de órgão normativo do Sistema Nacional de Educação, cabe ao CNE, em relação à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental, apreciar a proposta da BNCC, elaborada pelo MEC, produzindo parecer específico sobre a matéria, acompanhado de Projeto de Resolução, o qual, nos termos legais e regulamentares, uma vez homologado pelo Ministro da Educação, será transformado em Resolução Normativa do Conselho Nacional de Educação, a orientar sistemas e instituições ou redes de ensino em todo o território nacional, em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica; CONSIDERANDO que, em conformidade com a tradição deste Colegiado desde a sua implantação,que se deu há mais de vinte anos, o Conselho Nacional de Educação desenvolveu esse trabalho de discussão da Base Nacional Comum Curricular mediante articulação e ampla participação de toda a comunidade educacional e sociedade brasileira, promovendo audiências públicas nacionais nas cinco regiões do país: Manaus, Região Norte, dia 7 de julho; Recife, Região Nordeste, dia 28 de julho; Florianópolis, Região Sul, dia 11 de agosto; São Paulo, Região Sudeste, dia 25 de agosto, e, finalmente, Brasília, Região Centro- Oeste, dia 11 de setembro de 2017; CONSIDERANDO que, em todas as audiências públicas, os mais diversos segmentos da sociedade tiveram real oportunidade de participação, e efetivamente ofereceram suas contribuições, as quais se consubstanciaram em documentos essenciais para que este Projeto de Resolução, elaborado pelo Conselho Nacional de Educação, de fato refletisse as necessidades, os interesses, a diversidade e a pluralidade, presentes do panorama educacional brasileiro, e os desafios a serem enfrentados para a construção de uma Educação Básica Nacional, nas etapas da educação infantil e o ensino fundamental, que seja verdadeiramente democrática e de qualidade; CONSIDERANDO que as orientações presentes nesta Resolução, em termos de seu conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os estudantes da Educação Básica devem desenvolver ao longo das etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, efetivamente subsidiem a construção de currículos educacionais desafiadores por parte das instituições escolares, e, quando for o caso, por redes de ensino, comprometidos todos com o zelo pela aprendizagem dos estudantes, republicanamente, sem distinção de qualquer natureza. Resolve: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º A presente Resolução e seu Anexo instituem a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais como direito das crianças, jovens e adultos no âmbito da Educação Básica escolar, e orientam sua implementação pelos sistemas de ensino das diferentes instâncias federativas, bem como pelas instituições ou redes escolares. Parágrafo Único. No exercício de sua autonomia, prevista nos artigos 12, 13 e 23 da LDB, no processo de construção de suas propostas pedagógicas, atendidos todos os direitos e objetivos de aprendizagem instituídos na BNCC, as instituições escolares, redes de escolas e seus respectivos sistemas de ensino poderão adotar formas de organização e propostas de progressão que julgarem necessários. Art. 2º As aprendizagens essenciais são definidas como conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e a capacidade de os mobilizar, articular e integrar, expressando-se em competências. Parágrafo único. As aprendizagens essenciais compõem o processo formativo de todos os educandos ao longo das etapas e modalidades de ensino no nível da Educação Básica, como direito de pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Art. 3º No âmbito da BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores, para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Parágrafo Único: Para os efeitos desta Resolução, com fundamento no caput do art. 35-A e no §1º do art. 36 da LDB, a expressão “competências e habilidades” deve ser considerada como equivalente à expressão “direitos e objetivos de aprendizagem” presente na Lei do Plano Nacional de Educação (PNE). Art. 4º A BNCC, em atendimento à LDB e ao Plano Nacional de Educação (PNE), aplica-se à Educação Básica, e fundamenta-se nas seguintes competências gerais, expressão dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, a serem desenvolvidas pelos estudantes: 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva; 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas; 3. Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico- cultural; 4. Utilizar diferentes linguagens –verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, em diferentes contextos, e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo; 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação, de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva; 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado consigo mesmo, com os outros e com o planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendose na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, de forma harmônica, e a cooperação, fazendo-se respeitar, bem como promover o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões, com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. CAPÍTULO II DO PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO Art. 5º A BNCC é referência nacional para os sistemas de ensino e para as instituições ou redes escolares públicas e privadas da Educação Básica, dos sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, para construírem ou revisarem os seus currículos. §1º A BNCC deve fundamentar a concepção, formulação, implementação, avaliação e revisão dos currículos, e consequentemente das propostas pedagógicas das instituições escolares, contribuindo, desse modo, para a articulação e coordenação de políticas e ações educacionais desenvolvidas em âmbito federal, estadual, distrital e municipal, especialmente em relação à formação de professores, à avaliação da aprendizagem, à definição de recursos didáticos e aos critérios definidores de infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da oferta de educação de qualidade. §2º A implementação da BNCC deve superar a fragmentaçãodas políticas educacionais, ensejando o fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo e balizando a qualidade da educação ofertada. CAPÍTULO III DA BNCC, DO CURRÍCULO E DA PROPOSTA PEDAGÓGICA Art. 6º As propostas pedagógicas das instituições ou redes de ensino, para desenvolvimento dos currículos de seus cursos, devem ser elaboradas e executadas com efetiva participação de seus docentes, os quais devem definir seus planos de trabalho coerentemente com as respectivas propostas pedagógicas, nos termos dos artigos 12 e 13 da LDB. Parágrafo Único. As propostas pedagógicas e os currículos devem considerar as múltiplas dimensões dos estudantes, visando ao seu pleno desenvolvimento, na perspectiva de efetivação de uma educação integral. Art. 7º Os currículos escolares relativos a todas as etapas e modalidades da Educação Básica devem ter a BNCC como referência obrigatória e incluir uma parte diversificada, definida pelas instituições ou redes escolares de acordo com a LDB, as diretrizes curriculares nacionais e o atendimento das características regionais e locais, segundo normas complementares estabelecidas pelos órgãos normativos dos respectivos Sistemas de Ensino. Parágrafo único. Os currículos da Educação Básica, tendo como referência à a BNCC, devem ser complementados em cada instituição escolar e em cada rede de ensino, no âmbito de cada sistema de ensino, por uma parte diversificada, as quais não podem ser consideradas como dois blocos distintos justapostos, devendo ser planejadas, executadas e avaliadas como um todo integrado. Artigo 8º Os currículos, coerentes com a proposta pedagógica da instituição ou rede de ensino, devem adequar as proposições da BNCC à sua realidade, considerando, para tanto, o contexto e as características dos estudantes, devendo: I. Contextualizar os conteúdos curriculares, identificando estratégias para apresentálos, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens se desenvolvem e são constituídas; II. Decidir sobre formas de organização dos componentes curriculares – disciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar ou pluridisciplinar – e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares, de modo que se adote estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem; III. Selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização, entre outros fatores; IV. Conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os estudantes nas aprendizagens; V. Construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado, que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da instituição escolar, dos professores e dos alunos; VI. Selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e aprender; VII. Criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter processos permanentes de desenvolvimento docente, que possibilitem contínuo aperfeiçoamento da gestão do ensino e aprendizagem, em consonância com a proposta pedagógica da instituição ou rede de ensino; VIII. Manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e curricular para os demais educadores, no âmbito das instituições ou redes de ensino, em atenção às diretrizes curriculares nacionais, definidas pelo Conselho Nacional de Educação e normas complementares, definidas pelos respectivos Conselhos de Educação; §1º Os currículos devem incluir a abordagem, de forma transversal e integradora, de temas exigidos por legislação e normas específicas, e temas contemporâneos relevantes para o desenvolvimento da cidadania, que afetam a vida humana em escala local, regional e global, observando-se a obrigatoriedade de temas tais como o processo de envelhecimento e o respeito e valorização do idoso; os direitos das crianças e adolescentes; a educação para o trânsito; a educação ambiental; a educação alimentar e nutricional; a educação em direitos humanos; e a educação digital, bem como o tratamento adequado da temática da diversidade cultural, étnica, linguística e epistêmica, na perspectiva do desenvolvimento de práticas educativas ancoradas no interculturalismo e no respeito ao caráter pluriétnico e plurilíngue da sociedade brasileira. §2º As escolas indígenas e quilombolas terão no seu núcleo comum curricular suas línguas, saberes e pedagogias, além das áreas do conhecimento, das competências e habilidades correspondentes, de exigência nacional da BNCC. Art. 9º As instituições ou redes de ensino devem intensificar o processo de inclusão dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns do ensino regular, garantindo condições de acesso e de permanência com aprendizagem, buscando prover atendimento com qualidade. CAPÍTULO IV DA BNCC NA EDUCAÇÃO INFANTIL Art. 10º. Considerando o conceito de criança, adotado pelo Conselho Nacional de Educação na Resolução CNE/CEB 5/2009, como “sujeito histórico e de direitos, que interage, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura”, a BNCC estabelece os seguintes direitos de aprendizagem e desenvolvimento no âmbito da Educação Infantil: I. Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas; II. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais; III. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades, propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando em relação a eles; IV. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia; V. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens; VI. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. CAPÍTULO IV DA BNCC NO ENSINO FUNDAMENTAL Art. 11. A BNCC dos anos iniciais do Ensino Fundamental aponta para a necessária articulação com as experiências vividas na Educação Infantil, prevendo progressiva sistematização dessas experiências quanto ao desenvolvimento de novas formas de relação com o mundo, novas formas de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las,refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos. Art. 12. Para atender o disposto no inciso I do artigo 32 da LDB, no primeiro e no segundo ano do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização, de modo que se garanta aos estudantes a apropriação do sistema de escrita alfabética, a compreensão leitora e a escrita de textos com complexidade adequada à faixa etária dos estudantes, e o desenvolvimento da capacidade de ler e escrever números, compreender suas funções, bem como o significado e uso das quatro operações matemáticas. Art. 13. Os currículos e propostas pedagógicas devem prever medidas que assegurem aos estudantes um percurso contínuo de aprendizagens ao longo do Ensino Fundamental, promovendo integração nos nove anos desta etapa da Educação Básica, evitando a ruptura no processo e garantindo o desenvolvimento integral e autonomia. Art. 14. A BNCC, no Ensino Fundamental, está organizada em Áreas do Conhecimento, com as respectivas competências, a saber: I. Linguagens: a. Compreender as linguagens como construção humana, histórica, social e cultural, de natureza dinâmica, reconhecendo-as e valorizando-as como formas de significação da realidade e expressão de subjetividades e identidades sociais e culturais; b. Conhecer e explorar diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e linguísticas) em diferentes campos da atividade humana para continuar aprendendo, ampliar suas possibilidades de participação na vida social e colaborar para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva; c. Utilizar diferentes linguagens –verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, em diferentes contextos, e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos, de forma harmônica, e à cooperação; d. Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o outro e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, atuando criticamente frente a questões do mundo contemporâneo; e. Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem como participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico-cultural, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas; f. Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação, de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar por meio das diferentes linguagens, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos. II. Matemática: a. Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto das necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, bem como uma ciência viva, que contribui para solucionar problemas científicos e tecnológicos e para alicerçar descobertas e construções, inclusive com impactos no mundo do trabalho; b. Identificar os conhecimentos matemáticos como meios para compreender e atuar no mundo, reconhecendo também que a Matemática, independentemente de suas aplicações práticas, favorece o desenvolvimento do raciocínio lógico, do espírito de investigação e da capacidade de produzir argumentos convincentes; c. Compreender as relações entre conceitos e procedimentos dos diferentes campos da Matemática (Aritmética, Álgebra, Geometria, Estatística e Probabilidade) e de outras áreas do conhecimento, sentindo segurança quanto à própria capacidade de construir e aplicar conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a autoestima e a perseverança na busca de soluções; d. Fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos presentes nas práticas sociais e culturais, de modo que se investigue, organize, represente e comunique informações relevantes, para interpretá- las e avaliá-las crítica e eticamente, produzindo argumentos convincentes; e. Utilizar processos e ferramentas matemáticas, inclusive tecnologias digitais disponíveis, para modelar e resolver problemas cotidianos, sociais e de outras áreas de conhecimento, validando estratégias e resultados; f. Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, incluindo situações imaginadas, não diretamente relacionadas com o aspecto prático-utilitário, expressar suas respostas e sintetizar conclusões, utilizando diferentes registros e linguagens (gráficos, tabelas, esquemas, além de texto escrito na língua materna e outras linguagens para descrever algoritmos, como fluxogramas e dados); g. Agir individual ou cooperativamente com autonomia, responsabilidade e flexibilidade, no desenvolvimento e/ou discussão de projetos, que abordem, sobretudo, questões de urgência social, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários, valorizando a diversidade de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza; h. Interagir com seus pares, de forma cooperativa, trabalhando coletivamente no planejamento e desenvolvimento de pesquisas para responder a questionamentos, bem como na busca de soluções para problemas, de modo que se identifique aspectos consensuais ou não na discussão de uma determinada questão, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles. III. Ciências da Natureza: a. Compreender as Ciências da Natureza como empreendimento humano e o conhecimento científico como provisório, cultural e histórico; b. Compreender conceitos fundamentais e estruturas explicativas das Ciências da Natureza, bem como dominar processos, práticas e procedimentos da investigação científica, de forma que se sinta, com isso, segurança no debate de questões científicas, tecnológicas, socioambientais e do mundo do trabalho, além de continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva; c. Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural, social e tecnológico (incluindo o digital), como também as relações que se estabelecem entre eles, exercitando a curiosidade para fazer perguntas, buscar respostas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das Ciências da Natureza; d. Avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da ciência e de suas tecnologias para propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo, incluindo aqueles relativos ao mundo do trabalho; e. Construir argumentos com base em dados, evidências e informações confiáveis e negociar e defender ideias e pontos de vista, que respeitem e promovam a consciência socioambiental e o respeito a si próprio e ao outro, acolhendo e valorizando a diversidade de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza; f. Utilizar diferentes linguagens e tecnologias digitais de informação e comunicação para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas das Ciências da Natureza, de forma crítica, significativa, reflexiva e ética; g. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar, compreendendo-se na diversidade humana, fazendo-se respeitar e respeitando o outro, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza e às suas tecnologias. h. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza para tomar decisões frente a questões científico-tecnológicas e socioambientais e a respeito da saúde individual e coletiva, com base emprincípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários. IV. Ciências Humanas: a. Compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de maneira que se exercite o respeito à diferença, em uma sociedade plural, além de promover os direitos humanos; b. Analisar o mundo social, cultural e digital, e o meio técnico-científico- informacional, com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo contemporâneo; c. Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza e na sociedade, exercitando a curiosidade e propondo ideias e ações que contribuam para a transformação espacial, social e cultural, de forma que participe efetivamente das dinâmicas da vida social, exercitando a responsabilidade e o protagonismo, voltados para o bem comum, e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva; d. Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas, com relação a si mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base nos instrumentos de investigação das Ciências Humanas, promovendo, com isso, o acolhimento e a valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza; e. Comparar eventos ocorridos, simultaneamente, no mesmo espaço e em espaços variados, e eventos ocorridos em tempos diferentes no mesmo espaço, e em espaços variados; f. Construir argumentos, com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, para negociar e defender ideias e opiniões que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental; g. Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica, e diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação, no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal, relacionado a localização, distância, direção, duração, simultaneidade, sucessão, ritmo e conexão. V. Ensino Religioso: a. Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos científicos, filosóficos, estéticos e éticos; b. Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas e filosofias de vida, suas experiências e saberes, em diferentes tempos, espaços e territórios; c. Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza, enquanto expressão de valor da vida; d. Conviver com a diversidade de identidades, crenças, pensamentos, convicções, modos de ser e viver; e. Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, da política, da economia, da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio ambiente; f. Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo que se assegure assim os direitos humanos no constante exercício da cidadania e da cultura de paz. §1º As Áreas do Conhecimento favorecem a comunicação entre os saberes dos diferentes componentes curriculares, intersectam-se na formação dos alunos, mas preservam as especificidades de saberes próprios construídos e sistematizados nos diversos componentes; § 2º O Ensino Religioso, conforme prevê a Lei 9.394/1996, deve ser oferecido nas instituições de ensino e redes de ensino públicas, de matrícula facultativa aos alunos do Ensino Fundamental, conforme regulamentação e definição dos sistemas de ensino. CAPÍTULO V DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS Art. 15. As instituições ou redes de ensino podem, de imediato, alinhar seus currículos e propostas pedagógicas à BNCC. Parágrafo único. A adequação dos currículos à BNCC deve ser efetivada preferencialmente até 2019 e no máximo, até início do ano letivo de 2020. Art. 16. Em relação à Educação Básica, as matrizes de referência das avaliações e dos exames, em larga escala, devem ser alinhadas à BNCC, no prazo de 1 (um) ano a partir da sua publicação. Art. 17. Na perspectiva de valorização do professor e da sua formação inicial e continuada, as normas, os currículos dos cursos e programas a eles destinados devem adequar-se à BNCC, nos termos do §8º do Art. 61 da LDB, devendo ser implementados no prazo de dois anos, contados da publicação da BNCC, de acordo com Art. 11 da Lei nº 13.415/2017. § 1º A adequação dos cursos e programas destinados à formação continuada de professores pode ter início a partir da publicação da BNCC. § 2º Para a adequação da ação docente à BNCC, o MEC deve proporcionar ferramentas tecnológicas que propiciem a formação pertinente, no prazo de até 1 (um) ano, a ser desenvolvida em colaboração com os sistemas de ensino. Art. 18. O ciclo de avaliação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), seguinte à publicação da BNCC, deve observar as determinações aqui expostas em sua matriz de referência. Art. 19. Os programas e projetos pertinentes ao MEC devem ser alinhados à BNCC, em até 1 (um) ano após sua publicação. Art. 20. O PNLD – Programa Nacional do Livro Didático deve atender o instituído pela BNCC, respeitando a diversidade de currículos, construídos pelas diversas instituições ou redes de ensino, sem uniformidade de concepções pedagógicas. Art. 21. A BNCC deverá ser revista após 5 (cinco) anos do prazo de efetivação indicado no art. 15. Art. 22. O CNE elaborará normas específicas sobre computação, orientação sexual e identidade de gênero. Art. 23. O CNE, mediante proposta de comissão específica, deliberará se o ensino religioso terá tratamento como área do conhecimento ou como componente curricular da área de Ciências Humanas, no Ensino Fundamental. Art. 24. Caberá ao CNE, no âmbito de suas competências, resolver as questões suscitadas pela presente norma. Art. 25. No prazo de 30 dias a contar da publicação da presente Resolução, o Ministério de Educação editará documento técnico complementar contendo a forma final da BNCC, nos termos das concepções, definições e diretrizes estabelecidas na presente norma. Art. 26. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. EDUARDO DESCHAMPS --------------------------------------------------------------------- (GRUPO 2) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CONSELHO PLENO RESOLUÇÃO Nº 4, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2018 3 Institui a Base Nacional Comum Curricular na Etapa do Ensino Médio (BNCC- EM), como etapa final da Educação Básica, nos termos do artigo 35 da LDB, completando o conjunto constituído pela BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, com base na Resolução CNE/CP nº 2/2017, fundamentada no Parecer CNE/CP nº 15/2017. O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e tendo em vista o disposto no § 1º do art. 9º e no art. 90 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no § 1º do art. 6º e nas alíneas “b”, “d” e “f” do § 1º do art. 7º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento nos artigos 205 ao 214 da Constituição Federal, nos artigos 1º ao 5º, no inciso IV do art. 9º, nos artigos 22 até 28, e nos artigos 35, 35-A e 36 da Lei nº 9.394/1996 (LDB), nas metas e diretrizes definidas no Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei nº 13.005/2014, na Resolução CNE/CP nº 2/2017 e no Parecer CNE/CP nº 15/2017, na Resolução CNE/CEB nº 3/2018 e no Parecer CNE/CEB nº 3/2018, bem como no Parecer CNE/CP nº 15/2018, homologado pela Portaria MEC nº 1.348, de 14 de dezembro de 2018, publicada no DOU de 17 de dezembro de 2018, Seção 1, pág. 33, e CONSIDERANDO que o art. 9º da LDB, ao definir como umas das incumbências da União, em seu inciso V, a de “estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competênciase diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum”; CONSIDERANDO que o art. 26 da LDB, na redação dada pela Lei nº 12.796/2013, estipula que “os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos”; CONSIDERANDO que, em decorrência da Lei nº 10.639/2003 e, especificamente da Lei nº 11.645/2008, a LDB definiu em seu Art. 26-A a obrigatoriedade “do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena” e, em seu § 1º, determina que “o conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil”; CONSIDERANDO que o art. 35 da LDB define que “o ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.”; CONSIDERANDO que o art. 35-A da LDB, incluído pela Lei nº 13.415/2017, define que “a Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do conhecimento: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas”, a qual deve ser complementada, nos termos do § 1º desse mesmo artigo, por uma parte diversificada, a ser definida em cada sistema de ensino e que “deverá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural”; CONSIDERANDO que o art. 36 da LDB, na redação dada pela Lei nº 13.415/2017, define que “o currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas, e formação técnica e profissional”, cuja “organização das áreas (...) e das respectivas competências e habilidades será feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino”; CONSIDERANDO que a Meta 7 do PNE, na Estratégia 7.1, fixa que se deve “estabelecer e implantar, mediante pactuação inter-federativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada ano do ensino fundamental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local”; CONSIDERANDO que a Resolução CNE/CP nº 2/2017 “institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) com base no Parecer CNE/CP nº 15/2017, a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica”; CONSIDERANDO que a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental foi aprovada pelo CNE em 21 de dezembro de 2017, pela Resolução CNE/CP nº 2/2017, com fundamento no Parecer CNE/CP nº 15/2017, bem como a BNCC do Ensino Médio foi apresentada pelo MEC ao CNE em abril do corrente ano, a partir do qual o Colegiado desenvolveu intensos e produtivos debates e embates em diversas reuniões, encontros e audiências públicas nacionais com a sociedade civil organizada; CONSIDERANDO que compete ao Conselho Nacional de Educação, enquanto órgão de Estado responsável pela articulação entre as instituições educacionais da sociedade civil e as organizações governamentais, nos termos do inciso III do art. 5º da Lei nº 13.005/2014, responder por ações de monitoramento contínuo e avaliação periódica da execução das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), bem como, entre outras incumbências, segundo o inciso II do § 1º do mesmo artigo, “analisar e propor políticas públicas para assegurar a implementação das estratégias e cumprimento das metas” do PNE; CONSIDERANDO que a Resolução CNE/CEB nº 3/2018, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 3/2018, de atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BNCC-EM), dispõe que sua formação geral básica é composta por competências e habilidades, previstas na respectiva Base Nacional Comum Curricular, e que as instituições e redes escolares podem adotar em seus currículos com as formas de organização e com as propostas de progressão que julgarem pertinentes ao seu contexto, atendidos todos os direitos e objetivos de aprendizagem instituídos na BNCC do Ensino Médio; CONSIDERANDO que as orientações definidas pela Resolução CNE/CP nº 2/2017, com fundamento no Parecer CNE/CP nº 15/2017, já instituíram a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), nos termos de seu art. 1º, “como documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais como direito das crianças, jovens e adultos no âmbito da Educação Básica escolar, e orientam sua implementação pelos sistemas de ensino das diferentes instâncias federativas, bem como pelas instituições ou redes escolares”; CONSIDERANDO que, para a etapa final na Educação Básica, cabe, necessariamente, completar as orientações definidas pela Resolução CNE/CP nº 2/2017, visando a instituir e orientar a implantação da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio (BNCC-EM), o qual é etapa final de aprofundamento e consolidação das aprendizagens essenciais do Ensino Fundamental, Resolve: CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º A presente Resolução e seu Anexo “O Ensino Médio no contexto da Educação Básica” instituem a Base Nacional Comum Curricular na Etapa do Ensino Médio (BNCC-EM), como etapa final da Educação Básica, nos termos do artigo 35 da LDB, completando o conjunto constituído pela BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, instituída pela Resolução CNE/CP nº 2/2017, fundamentada no Parecer CNE/CP nº 15/2017. § 1º Como documento normativo, a BNCC-EM define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais como direito dos adolescentes, jovens e adultos no Ensino Médio, e orientam sua implementação pelos sistemas de ensino das diferentes instâncias federativas, bem como pelas instituições ou redes escolares. § 2º No exercício de sua autonomia, prevista nos artigos 12, 13 e 23 da LDB, no processo de construção de suas propostas pedagógicas, atendidos todos os direitos e objetivos de aprendizagem instituídos na BNCC-EM, as instituições escolares, redesde escolas e seus respectivos sistemas de ensino poderão adotar formas de organização e propostas de progressão que julgarem necessárias. Art. 2º As aprendizagens essenciais são definidas como conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e a capacidade de os mobilizar, articular e integrar, expressando-se em competências. Parágrafo único. As aprendizagens essenciais compõem o processo formativo de todos os educandos, como direito de pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Art. 3º A competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), e atitudes e valores, para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Parágrafo único. Para os efeitos desta Resolução, com fundamento no caput do art. 35-A e no § 1º do art. 36 da LDB, a expressão “competências e habilidades” deve ser considerada como equivalente à expressão “direitos e objetivos de aprendizagem” presente na Lei do Plano Nacional de Educação (PNE). Art. 4º A BNCC-EM reitera seu fundamento nas seguintes competências gerais, expressão dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes: I - Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. II -Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. III - Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. IV - Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. V - Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. VI - Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. VII - Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. VIII - Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. IX - Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. X - Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. CAPÍTULO II - DO PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO Art. 5º A BNCC-EM é referência nacional para os sistemas de ensino e para as instituições ou redes escolares públicas e privadas, dos sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, para construírem ou revisarem os seus currículos de cursos do Ensino Médio. § 1º A BNCC-EM deve fundamentar a concepção, formulação, implementação, avaliação e revisão dos currículos, e, consequentemente, das propostas pedagógicas das instituições escolares, contribuindo, desse modo, para a articulação e coordenação de políticas e ações educacionais, desenvolvidas em âmbito federal, estadual, distrital e municipal, especialmente em relação à formação de professores, à avaliação da aprendizagem, à definição de recursos didáticos e aos critérios definidores de infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da oferta de educação de qualidade. § 2º A implementação da BNCC-EM deve superar a fragmentação das políticas educacionais, ensejando o fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo e balizando a qualidade da educação ofertada. CAPÍTULO III - DA PROPOSTA PEDAGÓGICA E DO CURRÍCULO Art. 6º As propostas pedagógicas das instituições ou redes escolares, para desenvolvimento dos currículos de seus cursos, devem ser elaboradas e executadas com efetiva participação de seus docentes, os quais devem definir seus planos de trabalho coerentemente com as respectivas propostas pedagógicas, nos termos dos artigos 12 e 13 da LDB. Parágrafo Único. As propostas pedagógicas e os currículos devem considerar as múltiplas dimensões dos estudantes, visando ao seu pleno desenvolvimento, na perspectiva de efetivação de uma educação integral. Artigo 7º Os currículos e as propostas pedagógicas das instituições escolares, considerando o disposto no Art. 27 da Resolução CNE/CEB nº 3/2018, devem adequar as proposições da BNCC-EM à realidade local e dos estudantes, tendo em vista: I - Contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identificando estratégias para apresentá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens estão situadas; II - Decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem; III - Selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização etc.; IV - Conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os alunos nas aprendizagens; V - Construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos; VI -Selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e aprender; VII - Criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter processos permanentes de formação docente que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem; VIII - Manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e curricular para os demais educadores,no âmbito das escolas e sistemas de ensino. § 1º Os currículos devem incluir a abordagem transversal e integradora de temas exigidos por legislação e normas específicas, e temas contemporâneos relevantes para o desenvolvimento da cidadania, que afetem a vida humana em escala local, regional e global, observando-se a obrigatoriedade de temas tais como o processo de envelhecimento e o respeito e valorização do idoso; os direitos das crianças e adolescentes; a educação para o trânsito; a educação ambiental; a educação alimentar e nutricional; a educação em direitos humanos e a educação digital, bem como o tratamento adequado da temática, entre outras, da diversidade cultural, étnica, linguística e epistêmica, na perspectiva do desenvolvimento de práticas educativas ancoradas no interculturalismo e no respeito ao caráter pluriétnico e plurilíngue da sociedade brasileira. § 2º Os cursos das escolas indígenas e quilombolas terão no seu núcleo comum curricular suas línguas, seus saberes e suas pedagogias, além das áreas do conhecimento, competências, habilidades e itinerários formativos correspondentes, de exigência nacional da BNCC-EM. Art. 8º As instituições ou redes escolares devem intensificar o processo de inclusão dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades nas classes comuns do ensino regular, garantindo- lhes condições de acesso e de permanência com aprendizagem, buscando prover atendimento com qualidade. CAPÍTULO IV - DA BNCC DO ENSINO MÉDIO Art. 9º Os currículos do Ensino Médio devem ser compostos, indissociavelmente, por formação geral básica e por itinerários formativos, nos termos da Resolução CNE/CEB nº 3/2018, que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BNCCEM). Art. 10. A formação geral básica tem a BNCC-EM como referência obrigatória, sendo composta pelas previstas competências e habilidades, articuladas como um todo indissociável, e enriquecidas pelo contexto histórico, econômico, social, ambiental, cultural local, do mundo do trabalho e da prática social, deverá ser organizada nas seguintes Áreas do Conhecimento: I - Linguagens e suas tecnologias; II - Matemática e suas tecnologias; III - Ciências da natureza e suas tecnologias; IV - Ciências humanas e sociais aplicadas. Art. 11. As competências específicas das áreas de conhecimento e suas tecnologias no Ensino Médio são as seguintes: I - Linguagens e suas tecnologias: a) Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo. b) Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições e atuar socialmente com base em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de qualquer natureza. c) Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com autonomia e colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária, defendendo pontos de vista que respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional, nacional e global. d) Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, cultural, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo suas variedades e vivenciando-as como formas de expressões identitárias, pessoais e coletivas, bem como agindo no enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza. e) Compreender os processos de produção e negociação de sentidos nas práticas corporais, reconhecendo-as e vivenciando-as como formas de expressão de valores e identidades, em uma perspectiva democrática e de respeito à diversidade. f) Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais, nacionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, exercendo protagonismo de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas. g) Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas, criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva. II - Matemática e suas tecnologias: a) Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos contextos, quer sejam atividades cotidianas, quer sejam fatos das Ciências da Natureza, Humanas ou Sociais, em relação a questões socioeconômicas ou tecnológicas, divulgadas por diferentes meios, de modo a contribuir para uma formação geral. b) Propor e/ou participar de ações para investigar desafios do mundo contemporâneo e tomar decisões éticas e socialmente responsáveis, com base na análise de problemas sociais, como os de situações de saúde, sustentabilidade, além dos relacionados a implicações da tecnologia no mundo do trabalho, entre outros, mobilizando e articulando conceitos, procedimentos e linguagens próprios da Matemática. c) Utilizar estratégias, conceitos, definições e procedimentos matemáticos para interpretar, construir modelos e resolver problemas em diversos contextos, analisando a plausibilidade dos resultados e a adequação das soluções propostas, de modo a construir argumentação consistente. d) Compreender e utilizar, com flexibilidade, fluidez e precisão, diferentes registros de representação matemáticos (algébrico, geométrico, estatístico, computacional etc.), na busca de solução e comunicação de resultados de problemas. e) Investigar e estabelecer conjecturas a respeito de diferentes conceitos e propriedades matemáticas, empregando estratégias e recursos, como observação de padrões, experimentações e diferentes tecnologias, identificando a necessidade, ou não, de uma demonstração cada vez mais formal na validação das referidas conjecturas. III - Ciências da Natureza e suas tecnologias: a) Analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas interações e relações entre matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que aperfeiçoem processos produtivos, minimizem impactos socioambientais e melhorem as condições de vida em âmbito local, regional e global. b) Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis. c) Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que considerem demandas locais, regionais, nacionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC). IV - Ciências Humanas e Sociais aplicadas: a) Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentestempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica. b) Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados- Nações. c) Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades com a natureza (produção, distribuição e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com vista à proposição de alternativas que respeitem e promovam a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional, nacional e global. d) Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades. e) Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos. f) Participar do debate público de forma crítica, respeitando as diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. Parágrafo único. A organização e a progressão das Áreas de Conhecimento e das respectivas competências e habilidades, visando ao pleno desenvolvimento dos estudantes na perspectiva da educação integral, conforme disposto no Art. 12 da Resolução CNE/CEB nº 3/2018, serão feitas de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino, à luz do anexo do documento da BNCC intitulado “O Ensino Médio no contexto da Educação Básica”. CAPÍTULO V - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS Art. 12. As instituições ou redes escolares podem, de imediato, alinhar seus currículos e propostas pedagógicas à BNCC-EM, nos termos desta Resolução e das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio definidas pela Resolução CNE/CEB nº 3/2018. Parágrafo único. A adequação dos currículos à BNCC-EM deve estar concluída até início do ano letivo de 2020, para a completa implantação no ano de 2022. Art. 13. As matrizes de referência das avaliações e dos exames, em larga escala relativas ao Ensino Médio, devem ser alinhadas à BNCC-EM, no prazo máximo de 4 (quatro) anos a partir da publicação desta. Art. 14. Na perspectiva de valorização do professor e da sua formação inicial e continuada, as normas, os currículos dos cursos e os programas a eles destinados devem adequar-se à BNCC-EM, nos termos do § 8º do Art. 62 da LDB, devendo ser implementados no prazo de 2 (dois) anos, contados da publicação da BNCC-EM, de acordo com Art. 11 da Lei nº 13.415/2017. § 1º A adequação dos cursos e programas destinados à formação continuada de professores pode ter início a partir da publicação da BNCC-EM. § 2º Para a adequação da ação docente à BNCC-EM, o MEC deve proporcionar ferramentas tecnológicas que propiciem a formação pertinente, no prazo de até 1 (um) ano, a ser desenvolvida em colaboração com os sistemas de ensino. Art. 15. O ciclo de avaliação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), seguinte à publicação da BNCC-EM, deve observar em sua matriz de referência as determinações aqui expostas. Art. 16. Os programas e projetos pertinentes ao MEC devem ser alinhados à BNCCEM, em até 1 (um) ano após sua publicação. Art. 17. O PNLD – Programa Nacional do Livro Didático deve atender o instituído pela BNCC-EM, respeitando a diversidade de currículos, construídos pelas diversas instituições ou redes escolares, sem uniformidade de concepções pedagógicas. Art. 18. Cabe ao Conselho Nacional de Educação emitir normas complementares com orientações específicas para: I - Conteúdos e processos referentes à aprendizagem de computação na educação básica; II - O ensino para pessoas em situação de privação de liberdade ou de medidas socioeducativas, bem como para aquelas internadas para tratamento de saúde em regime hospitalar; III - O componente de Arte, em suas diversas manifestações. Art. 19. A BNCC-EM deverá ser revista após 3 (três) anos do prazo da completa implantação indicado no Parágrafo único do art. 12. Art. 20. Caberá ao CNE, no âmbito de sua competência, resolver as questões suscitadas pela presente norma. Art. 21. No prazo de até 10 (dez) dias a contar da publicação da presente Resolução, o Ministério de Educação editará documento técnico contendo a forma final da BNCC da Educação Básica, nos termos das concepções, definições e diretrizes estabelecidas na presente norma. Art. 22. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. LUIZ ROBERTO LIZA CURI ------------------------------------------------------------------------------------------------- (GRUPO 3)- Tudo o que você precisa saber sobre a BNCC A BNCC é um documento muito extenso e que trata sobre o desenvolvimento do currículo de toda a Educação Básica, compreendida em Educação Infantil, Ensino Fundamental (anos iniciais e finais) e Ensino Médio. A Base Nacional Comum Curricular determina como deve se da o ensino-aprendizagem de todos os estudantes de sua instituição e, por isso, é preciso conhecer bem este documento e saber como aplicá-lo, de fato, em cada etapa da educação básica. Porém, sabemos que ele ainda gera muitas dúvidas aos gestores e educadores e é por isso que neste guia completo sobre a BNCC vamos te contar tudo o que você precisa saber sobre este documento, que mal chegou, mas que já estabele muitas diretrizes. Vamos lá? Desejamos uma boa leitura! O que é a BNCC? A BNCC é um documento de ordem normativa que estabelece como deve ser o currículo de toda a educação básica. Ela faz isso por meio de um conjunto orgânico e progressivo, que diz respeito às aprendizagens essenciais. Além disso, a BNCC tem o objetivo de instituir um currículo universal e fazer com que todos os estudantes, sejam eles de escolas públicas ou particulares, tenham o mesmo nível de conhecimento. A Base Nacional Comum Curricular foi pensada durante muitos anos e muitos educadores ainda possuem dúvidas sobre o processo histórico que deu origem à BNCC. Portanto, a seguir vamos de mostrar essa origem por meio de uma linha do tempo bem detalhada. Acompanhe! Qual a origem da BNCC? Muitos professores, coordenadores pedagógicos e diretores se perguntam sobre a origem da BNCC, já que este é um documento que vem sendo pensado há muitos anos. Pensando nisso, fizemos uma linha do tempo, começando pela Constituição Federal de 1988, que dá o pontapé para se pensar em um currículo mais inclusivo, democrático e igualitário (ou no mínimo equânime) no que diz respeito à educação para todas as classes sociais. Acompanhe! 1988- Em 1988 é promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil e que prevê, em seu artigo 210, a Base Nacional Comum Curricular. Confira o que versa o artigo e seus dois parágrafos na íntegra: “Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Foi a primeira vez na história do Brasil que se estabeleceu, ainda que genericamente, que a Educação Básica deveria ser guiada por uma base nacional comum curricular. 1996- Noentanto, foi apenas em 20 de dezembro de 1996 que se aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a famosa LDBEN. É a lei de nº 9.394 e que regulamenta, em seu Artigo 26, uma base nacional comum para a Educação Básica. 1997- Em 1997 são consolidados, em 10 volumes, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – para o Ensino Fundamental 1 (que hoje conhecemos como Ensino Fundamental – anos iniciais), que corresponde aos alunos que estão cursando do 1º ao 5º ano. Esses Parâmetros são apontados como referências de qualidade para a educação brasileira e foram elaborados para ajudar, de maneira mais ativa, as escolas na execução de seus trabalhos, principalmente, na elaboração dos currículos. 1998- Em 1998, consolida-se, em 10 volumes, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – para o Ensino Fundamental 2 (conhecido atualmente como Ensino Fundamental – anos finais), que corresponde aos alunos que https://educacao.imaginie.com.br/coordenador-pedagogico/ estão cursando do 6º ao 9º ano. O objetivo foi ampliar e aprofundar um debate educacional que envolvesse escolas, pais, governos e sociedade. 2000- Em 2000 são lançados os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – PCNEM – em quatro partes. Sua finalidade é difundir os princípios da reforma curricular e ainda orientar os professores, na busca de novas metodologias e abordagens de ensino. 2008- Em 2008 é instituído o Programa Currículo em Movimento, que teve duração de dois anos, chegando ao fim em 2010. Esse programa buscava melhorar a qualidade da educação básica por meio da estruturação do currículo da educação infantil, do ensino fundamental (anos iniciais e finais) e do ensino médio. 2009- Em 17 de dezembro de 2009 é fixada as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 2010- As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que foram fixadas em dezembro de 2009, são lançadas em 2010. É também em 2010, nos dias 28 de março e 01 de abril, que se realizada a Conferência Nacional de Educação – CONAE – que contou com a presença de especialistas para debater a Educação Básica. O objetivo de tal conferência foi discutir sobre a Base Nacional Comum Curricular e que essa fizesse parte de um Plano Nacional de Educação. Ainda em 2010, temos a resolução n.4, de 13 de julho de 2010. Essa Resolução define as Diretrizes Nacionais Gerais para a Educação Básica (DCNs) e objetiva orientar o planejamento curricular das escolas e de seus sistemas de ensino. 2011-Em 2011, A Resolução n.7, de 14 de dezembro de 2010 fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 anos. 2012- É em 2012 que a Resolução n. 2, de 30 de janeiro de 2012, define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Ainda em 2012, a Portaria n. 867, de 04 de julho de 2012, institui o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC – assim como as ações do Pacto e também define suas Diretrizes Gerais. 2013- Foi em 2013, que a A Portaria n. 1.140, de 22 de novembro de 2013, instituiu o Pacto Nacional de Fortalecimento do Ensino Médio – PNFEM. 2014- Em 2014, a Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014, passa a regulamentar o Plano Nacional de Educação – PNE – que tem vigência de 10 (dez) anos. O Plano apresenta 20 metas para a melhoria da qualidade da Educação Básica e quatro delas versam sobre a Base Nacional Comum Curricular – BNC. Também em 2014, entre os dias 19 e 23 de novembro é realizada a 2ª Conferência Nacional pela Educação (Conae), organizada pelo Fórum Nacional de Educação – FNE. A partir desta segunda Conferência, obteve-se um documento sobre as propostas e reflexões para a Educação brasileira, um importante referencial para o processo de mobilização para a Base Nacional Comum Curricular. 2015- Em 2015, entre os dias 17 a 19 de junho, aconteceu o 1º Seminário Interinstitucional para elaboração da BNCC. Esse Seminário foi superimportante no processo de elaboração da BNCC, já que reuniu todos os assessores e especialistas envolvidos na elaboração da Base. Além disso, a Portaria n. 592, de 17 de junho de 2015, instituiu uma Comissão de Especialistas para a Elaboração de Proposta da Base Nacional Comum Curricular. Após muitos trâmites e discussões, que vêm desde 1988, como você pôde perceber, foi apenas em 16 de setembro de 2015 que a 1ª versão da BNCC foi disponibilizada. Ainda em 2015, entre os dias 2 a 15 de dezembro, aconteceu uma mobilização das escolas de todo o Brasil para a discussão do documento preliminar da BNCC. 2016- Em 2016, no dia 3 de maio, a 2ª versão da BNCC foi disponibilizada. Ainda em 2016, entre os dias 23 de junho a 10 de agosto, 27 Seminários Estaduais com professores, gestores e especialistas aconteceram. Esses Seminários foram promovidos pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). O objetivo era debater a segunda versão da BNCC. Em agosto de 2016 começa a ser redigida a terceira versão da Base Nacional Comum Curricular, em um processo colaborativo que teve como base a versão 2. 2017- Em 2017, no mês de abril, o Ministério da Educação (MEC) entregou a versão final da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ao Conselho Nacional de Educação (CNE). O CNE, por sua vez, deveria elaborar um parecer e um projeto de resolução sobre a BNCC, que seriam posteriormente encaminhados ao MEC. Após todos esses trâmites, e a partir da homologação da BNCC, dá-se o início ao processo de formação e capacitação de professores e ainda o estabelecimento de um apoio aos sistemas de Educação estaduais e municipais, a fim de se que as escolas pudessem elaborar e adequar os currículos escolares da Educação Básica. No dia 20 de dezembro de 2017 a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homologada pelo ministro da Educação, Mendonça Filho. Já no dia 22 de dezembro de 2017, o CNE apresenta a Resolução CNE/CP nº 2, de dezembro de 2017, que institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular. 2018- No dia 06 de março de 2018, educadores de todo o país se debruçam sobre a Base Nacional Comum Curricular, com foco na parte homologada do documento, que correspondia às etapas da Educação Infantil e Ensino Fundamental. O objetivo deste debruçamento sobre o documento era compreender sua implementação e seus impactos na educação básica brasileira. Também em 2018, no dia 02 de abril, o Ministério da Educação entregou ao Conselho Nacional de Educação (CNE) a 3ª versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio. A partir de então, o CNE iniciou um processo de audiências públicas para debater essa versão específica para o Ensino Médio. No dia 5 de abril de 2018 instituiu-se o Programa de Apoio à Implementação da Base Nacional Comum Curricular – ProBNCC. No segundo semestre de 2018, no dia 02 de agosto, escolas de todo o Brasil se mobilizaram para discutir e contribuir para Base Nacional Comum Curricular, especificamente, na etapa do Ensino Médio. Essa mobilização envolveu professores, gestores e técnicos da educação, que criaram comitês de debate e preencheram um formulário online, onde sugeriram melhorias ao documento. Finalmente, em 14 de dezembro de 2018, o ministro da Educação da época, Rossieli Soares, homologou a Base Nacional Comum Curricular para a etapa do Ensino Médio. E a partir de então, o Brasil passou a possuir uma Base Comum com as aprendizagens previstas para toda a Educação Básica. Compilamos todas essas informações para que ficasse mais fácil de você enxergar o passo a passo para o desenvolvimento e para a homologação de cada parte da BNCC. Tiramos todas estas informações do site do MEC na parte voltada à Base. Fique à vontade se quiser visitar o site e conferi-las. Quais as finalidades da BNCC? A principal finalidade da BNCC é ser uma balizadora da qualidade da educação no Brasil. E ela busca atingireste fim por meio do estabelecimento de um patamar de aprendizagens e desenvolvimentos que atinjam todos os alunos, assegurando a eles o direito de uma educação de qualidade, quer sejam de escolas públicas ou particulares. Além disso, a BNCC tem como objetivo superar a fragmentação das políticas educacionais no país e fortalecer o regime de colaboração entre as três esferas governamentais. Para a Base Nacional Comum Curricular, as aprendizagens essenciais devem assegurar a todos os estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que deverão consubstanciar, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. É interessante apontar o que a BNCC considera pelos conceitos de “competência” e “habilidade”. Veja o que versa o documento na íntegra: “… competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.” Percebe-se, portanto, que as 10 competências da BNCC servem como balizadores para as finalidades estabelecidas pelo documento e ainda como um guia para toda a Educação Básica. Abaixo, vamos te mostrar quais são elas. Quais as 10 competências da BNCC que devem nortear a educação básica? Como mencionamos anteriormente, a BNCC propõe 10 competências gerais. São elas: Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Depois de conhecer as 10 competências, é chegada a hora de saber como trabalhar a BNCC em cada uma das etapas da educação básica. Como trabalhar a BNCC em cada etapa da Educação Básica? Saber como trabalhar a BNCC em cada etapa da educação básica é muito importante. Isso porque todo o planejamento anual e os planos de aula deverão ser baseado neste documento. E é por isso que agora vamos te mostrar como trabalhar a BNCC na prática para a Educação Infantil, para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Confira! Como trabalhar a BNCC na Educação Infantil? A BNCC educação infantil é a parte da Base Nacional dedicada a orientar como deverá ser o planejamento da educação de crianças, que tenham idade entre 0 até os 5 anos e 11 meses de vida. O documento estipula 6 direitos de aprendizagem e desenvolvimento que devem ser efetivamente assegurados para que todas as crianças tenham condições de se desenvolver. São eles: conviver; / brincar; / participar; /explorar; /expressar; /conhecer-se. Além disso, há também os campos de experiência, que são 5: o eu, o outro e o nós; / corpo, gestos e movimentos; / traços, sons, cores e formas; /escuta, fala, pensamento e imaginação; /espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Para cada um dos campos de experiências, a Base Nacional Comum Curricular para a educação infantil define objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, que são organizados em três grupos, de acordo com a faixa etária. Veja um exemplo para que isso fique mais claro: Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças Pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) (EI01TS01)Explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente. (EI02TS01)Criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música. (EI03TS01)Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas. Importante mencionar que para campo de experiência há, pelo menos, 3 diferentes objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Mesmo com todas estas explicações e explanações, pode ser que ainda fique difícil de enxergar como a Base Nacional Comum Curricular vai atuar, de fato, no Educação Infantil. Por isso vamos te dar um exemplo prático. De modo efetivo, os professores de sua instituição podem trabalhar a BNCC na Educação Infantil por meio https://educacao.imaginie.com.br/plano-de-aula-de-acordo-com-a-bncc/ https://educacao.imaginie.com.br/bncc-na-pratica/ https://educacao.imaginie.com.br/bncc-educacao-infantil/ de brincadeiras que façam com que as crianças imaginem, criem espaços diferentes, e desenvolvam o respeito e a empatia, como, por exemplo, em uma invenção de uma história do mundo do faz de conta. Como trabalhar a BNCC no Ensino Fundamental? A BNCC Ensino Fundamental irá determinar como deverá ser o currículo de estudantes que tenham idade entre 6 e 14 anos de idade. O ensino fundamental é a parte mais longa de toda a Educação Básica. São ao todo 9 anos de duração e por isso é uma etapa que deve ser vista com bastante cuidado pelas escolas, sendo uma fase onde a criança vai amadurecer e se tornar um adolescente. Esse amadurecimento, que deve ser auxiliado pela instituição escolar, vai servir para formar seu caráter e conhecimento de mundo. A BNCC estabelece para o EnsinoFundamental duas etapas: os anos iniciais e os finais do fundamental. Vamos te mostrar um quadro geral sobre os componentes curriculares e as áreas do conhecimento do Ensino Fundamental e posteriormente mostraremos quadros específicos para os anos iniciais e finais do ensino fundamental. Componentes Curriculares Anos iniciais (1º ao 5º ano) Anos finais (6º ao 9º ano) Linguagens Língua Portuguesa Arte Educação Física Língua Inglesa Matemática Matemática Ciências da Natureza Ciências Ciências Humanas Geografia História Ensino Religioso Ensino Religioso Muito, bem agora que você já possui uma visão mais geral de como a BNCC deve atuar no Ensino Fundamental, vamos te mostrar dois quadros como exemplos mais específicos de como ela irá regular os anos iniciais e os finais desta etapa da Educação Básica. Confira! BNCC ensino fundamental – anos iniciais Confira um exemplo de como a BNCC deverá atuar na prática para uma das unidades temáticas da disciplina de Ciências para o 1º ano do Ensino Fundamental. Ciências 1º ano: Unid.Temáticas Objetos de conhecimento Habilidades Vida e evolução Corpo humano Respeito à diversidade (EF01CI02) Localizar, nomes e representar graficamente (por meio de desenhos) partes do corpo humano e explicar suas funções. (EF01CI03) Discutir as razões pelas quais os hábitos de higiene do corpo (lavar as mãos antes de comer, escovar os dentes, limpar os olhos, o nariz e as orelhas etc.) são necessários para manutenção da saúde. (EF01CI04) Comparar características físicas entre os colegas, reconhecendo a diversidade e a importância da valorização, do acolhimento e do respeito às diferenças. BNCC ensino fundamental – anos finais Agora, veja como a mesma disciplina: Ciências, deverá ser desenvolvida no 6º ano do ensino fundamental, a partir da Unidade temática: matéria e energia. https://educacao.imaginie.com.br/bncc-ensino-fundamental/ Ciências 6º ano: Unid. temáticas Objetos de conhecimento Habilidades Matéria e energia Misturas homogêneas e heterogêneas Separação de materiais Materiais sintéticos Transformações químicas (EF06CI01) Classificar como homogênea ou heterogênea a mistura de dois ou mais materiais (água e sal, água e óleo, água e areia etc.). (EF06CI02) Identificar evidências de transformações químicas a partir do resultado de misturas de materiais que originam produtos diferentes dos que foram misturados (mistura de ingredientes para fazer um bolo, mistura de vinagre com bicarbonato de sódio etc.). (EF06CI03) Selecionar métodos mais adequados para a separação de diferentes sistemas heterogêneos a partir da identificação de processos de separação de materiais (como a produção de sal de cozinha, a destilação de petróleo, entre outros). (EF06CI04) Associar a produção de medicamentos e outros materiais sintéticos ao desenvolvimento científico e tecnológico, reconhecendo benefícios e avaliando impactos socioambientais. Bom, após tudo isso pode ser que você esteja se perguntando ainda como, de fato, a BNCC deverá atuar. E, por isso, vamos de dar um exemplo prático para o Ensino Fundamental. Vamos tomar a área de Língua Portuguesa para o 6º ano. Para ensinar sobre várias questões pertinentes à gramática, a BNCC acredita em contextualização. Portanto, diante desse cenário, os professores poderiam utilizar o gênero textual bilhete. Por meio deste gênero, além de abarcar ensinos gramaticais de maneira contextualizada, o professor ainda vai trabalhar o Campo artístico- literário estipulado pela BNCC, pedindo aos alunos que façam um bilhete para os colegas. Para te ajudar toda essa preparação e planos de aulas de acordo com a BNCC, plataformas online de ensino de redação já estão pensando em temas de produção textual para o ensino fundamental com objetivo de abarcar as questões relacionadas aos diferentes gêneros textuais e os campos exigidos pela BNCC. O que a BNCC determina para o Ensino Médio? Para o Ensino Médio a BNCC determina quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias Matemática e suas Tecnologias Ciências da Natureza e suas Tecnologias Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Assim como o Ensino Fundamental, cada uma dessas áreas estipulam as habilidades que devem ser incluídas no currículo nacional. Para que você entenda melhor, vamos te mostrar um quadro geral sobre o que estabelece a BNCC para o Ensino Médio. Componentes Curriculares (1ª a 3ª série) Linguagens e suas Tecnologias Língua Portuguesa Matemática e suas Tecnologias Matemática Ciências da Natureza e suas Tecnologias Ciências Humanas e Sociais Aplicadas O Ensino Médio estabelece campos de atuação para cada uma das disciplinas e para cada campo, práticas, competências e habilidades específicas. Vamos te mostrar isso em um quadro de maneira mais detalhada. Confira! Campo da Vida Pessoal PRÁTICAS Leitura, escuta, produção de textos (orais, escritos, multissemióticos) e análise linguística/semiótica Habilidades Competências (EM13LP19) Apresentar-se por meio de textos multimodais diversos (perfis variados, gifs biográficos, biodata, currículo web, videocurrículo etc.) e de ferramentas digitais (ferramenta de gif, wiki, site etc.), para falar de si mesmo de formas variadas, considerando diferentes situações e objetivos. 3 – Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com autonomia e colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária, defendendo pontos de vista que respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global. (EM13LP20) Compartilhar gostos, interesses, práticas culturais, temas/ problemas/questões que despertam maior interesse ou preocupação, respeitando e valorizando diferenças, como forma de identificar afinidades e interesses comuns, como também de organizar e/ou participar de grupos, clubes, oficinas e afins. 2, 3 (EM13LP21) Produzir, de forma colaborativa, e socializar playlists comentadas de preferências culturais e de entretenimento, revistas culturais, fanzines, e-zines ou publicações afins que divulguem, comentem e avaliem músicas, games, séries, filmes, quadrinhos, livros, peças, exposições, espetáculos de dança etc., de forma a compartilhar gostos, identificar afinidades, fomentar comunidades etc. 1, 6 (EM13LP22) Construir e/ou atualizar, de forma colaborativa, registros dinâmicos (mapas, wiki etc.) de profissões e ocupações de seu interesse (áreas de atuação, dados sobre formação, fazeres, produções, depoimentos de profissionais etc.) que possibilitem vislumbrar trajetórias pessoais e profissionais. 3 Ressaltamos que é importante que os professores de cada disciplina esmiucem bem cada habilidade e cada um dos campos de atuação e ainda as competências específicas da BNCC em todas as etapas da Educação Básica, sobretudo do Ensino Médio. Isso porque a BNCC vai direcionar, também, a maneira como o Inep irá trabalhar as habilidades e competências cobradas no Enem, já que está tudo intimamente interligado e é o MEC que fomenta e organiza tanto a BNCC quando o Exame. Portanto, os professores deverão voltar à sua atenção a essas questões, para preparar os alunos de maneira assertiva e completa para o maior vestibular do país. Para que você consiga visualizar bem, vamos além de toda esta exposição, te dar um exemplo prático de como trabalhar a BNCC no Ensino Médio. Para tanto vamos utilizar a disciplina de Língua Portuguesa O professor de sua escola pode trabalhar com os alunos o que são fake news e pedir a eles que façam uma redação nos moldes do Enem com o tema relacionado a esse problema tão frequente e atual. Além de trabalhar os objetivos da BNCC, isso irá ainda prepará-los para o Exame Nacional do Ensino Médio.Afinal, sabemos que os alunos que estão no ensino médio, principalmente os do 3º ano, estão focados em estudar os gêneros textuais que caem no Enem e demais vestibulares. Além disso, o tema fake news é uma das preocupações mais atuais, inclusive da BNCC. Veja um trecho do documento sobre esse tema: “a abundância de informações e produções requer, ainda, que os estudantes desenvolvam habilidades e critérios de curadoria e de apreciação ética e estética, considerando, por exemplo, a profusão de notícias falsas (fake news), de pós-verdades, do cyberbullying e de discursos de ódio nas mais variadas instâncias da internet e demais mídias.” https://blog.imaginie.com.br/guia-enem/