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FACULDADE DOM ALBERTO FUNDAMENTOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL SANTA CRUZ DO SUL – RS 2 1 VIOLÊNCIA ESCOLAR: PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES E ALUNOS Fonte: brasilescola.com.br O que é violência? Como definir o caráter violento de um ato no meio escolar? A primeira questão com a qual nos deparamos, ao tratar da violência como tema acadêmico, diz respeito à dificuldade de conceituá-la devidamente. Uma busca cuidadosa na literatura nos faz concluirestarmos diante de um termo que possui determinações complexas e que comporta contradições e ambigüidades. A definição do caráter violento de um ato depende dos valores culturais de cada grupo social, das circunstâncias em que foi praticado e até de disposições subjetivas. Assim, em qualquer campo do conhecimento, seja na filosofia, seja na sociologia ou na educação, como aqui iremos destacar, a precisão em torno da apreensão do conceito de violência é problemática (Lopes e Gasparin, 2003). Para Giordani e Seffner (2017), os adolescentes estão sujeitos a maior exposição à violência familiar e comunitária do que outras faixas etárias (UNICEF, 2012a), e a violência na adolescência se constitui em grave problema de saúde pública, que pode ser observado em todos os contextos de inserção – seja em famílias ou instituições (Braga & Dell’Aglio, 2012). Além disso, também as instituições criadas no intuito de educar e proteger os adolescentes, como as escolas, podem se constituir como espaços de violação de seus direitos (Fonseca, Sena, Santos, Dias, & Costa, 2013), retirando a cidadania a quem AULA 11 A 20 3 deviam conceder. As violências no espaço escolar possuem diferentes denominações de acordo com a sua natureza: violência na escola, estabelecida nas relações sociais dentro desse espaço; violência da escola, que é violência simbólica estabelecida por meio de exclusão, discriminação e dominação pelo uso de poder; e a violência contra a escola, que se dá pela desvalorização social da instituição escolar e da carreira docente (Ristum, 2010). Neste estudo serão consideradas todas essas ramificações como expressões da violência escolar. As instituições escolares têm sido ambientes em que práticas excludentes e violentas contra a população jovem também se efetuam (UNICEF, 2012a). Em pesquisas brasileiras a violência na escola é reconhecida pelos estudantes como multifacetada, sendo percebida em ações físicas contra si e contra o outro e agressão física e agressão verbal entre professor-aluno (Souza, 2012; Melo, Barros, & Almeida, 2011). É nesse sentido que Michaud (1989: 8), discorrendo sobre o sentido etimológico do termo, diz: ‘Violência’ vem do latim ‘violentia’, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo ‘violare’ significa tratar com violência, profanar, transgredir. Tais termos devem ser referidos a ‘vis’ que quer dizer força, vigor, potência, violência, emprego de força física, mas também quantidade, abundância, essência ou caráter essencial de uma coisa. Mais profundamente, a palavra vis significa a força em ação, o recurso de um corpo para exercer sua força e portanto a potência, o valor, a força vital. Ainda para Giordani e Seffner (2017), a respeito da relação professor- aluno, há de se considerar a violência estabelecida entre esses atores, que muitas vezes não é fácil de ser constatada, pois geralmente ocorre por meio de abusos no relacionamento interpessoal. As diferenças geracionais carregam consigo diferenças de autoridade (pessoal e institucional), o que na relação pedagógica pode imprimir-se em uma relação de abuso de autoridade. Assim, tanto as violências simbólicas e psicológicas contra os alunos devem ser focalizadas no contexto da violência escolar (Abramovay, 2002), como também a vitimização dos professores neste ambiente (Souza, 2012; Rocha & cols., 2012), tanto direta quanto indiretamente. Conforme Giordani e Seffner (2017), a violência na escola pode provocar consequências diversas ao desenvolvimento saudável dos adolescentes, tanto vítimas quanto agressores. Estar exposto a situações de agressividade pode 4 causar prejuízos ao desenvolvimento escolar, pessoal e social do adolescente (Benetti, Schwartz, Soares, Macarena, & Patussi, 2014; Grossi & Santos, 2009). A vitimização na escola está ligada ao aumento de índices de danos à saúde, cognitivos, psicossociais e mentais, incluindo depressão e suicídio (Winsper, Lereya, Zanarini, & Wolke, 2012), sendo que os adolescentes vítimas ou agres- sores podem apresentar cerca de cinco vezes mais chances de ter sintomas depressivos do que os outros estudantes (Forlim, Stelko-Pereira, & Williams, 2014). Como descreve Aquino (1998: 7): A imagem, entre nós já quase idílica, da escola como locus de fomentação do pensamento humano - por meio da recriação do legado cultural - parece ter sido substituída, grande parte das vezes, pela visão difusa de um campo de pequenas batalhas civis; pequenas mas visíveis o suficiente para causar uma espécie de mal-estar coletivo nos educadores brasileiros. Como se posicionar perante tal estado de coisas? Para Lopes e Gasparin (2003), a violência se caracteriza quando os atores sociais nela envolvidos assim a qualificam, ratificando um consenso social a respeito. Deve, portanto, ser compreendida como fruto de um determinado tempo. A questão da violência na escola é hoje, como já pudemos ressaltar na introdução deste trabalho, um problema mundial, e numerosos são os estudiosos que têm voltado suas pesquisas à discussão desse tema. A violência escolar é objeto de preocupação social crescente que tem assumido um caráter sistemático e que provoca efeitos no desenvolvimento das vítimas e nos agressores. Vários autores têm sugerido que para uma maior compreensão do fenômeno e para que sejam propostas ações de enfrentamento à violência no âmbito da escola é importante que se estude a concepção que os atores escolares (alunos e professores) têm acerca da violência escolar (Debarbieux, 2001; Lourenço, Pereira, Paiva, & Gebara, 2009). Sendo assim, foi analisado a violência escolar como um fenômeno social complexo e multifacetado, ao mesmo tempo individual, social e político, tendo como objetivo geral investigar a percepção de adolescentes escolares e de professores acerca da violência no espaço escolar. Os objetivos específicos foram investigar as experiências escolares relacionadas à violência, a relação entre a violência 5 escolar e a violência intra e extrafamiliar, e possíveis ações de enfrentamento (Giordani e Seffner 2017). No entanto, por ser a relação professor-aluno primordial na atividade pedagógica, ela se constitui em um “local” privilegiado de observação e de análise. Parece-nos fato que o crescimento da violência no espaço escolar tem ampliado de forma considerável os conflitos presentes na relação professor- aluno, e que estes conflitos não podem mais ser geridos pelos padrões tradicionalmente convencionados (Lopes e Gasparin, 2003). Para Lopes e Gasparin (2003), os problemas disciplinares da escola e os conflitos do dia-a-dia já ultrapassaram, largamente, os corriqueiros atritos verbais e “briguinhas” de crianças. O incremento nas ações violentas que ocorrem no interior da escola, como as agressões físicas e verbais contra alunos e professores, o porte de armas de diversos tipos, brigas de gangues (muitas vezes constituídas por alunos da própria escola), suscita inclusive a presença, cada vez mais frequente e de forma sistemática, da força policial nesse espaço. A autoridade da escola, bem como de seu principal representante, o professor, parece não ser mais suficiente para resolver tais problemas e restaurar a “ordem” necessária ao desenvolvimento do trabalho pedagógico. 2 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA Fonte: cognitivaeducacional.com 6Conforme Possato (2016) o conflito é uma situação que surge entre pelo menos dois ou mais protagonistas, na qual se produz uma confrontação de interesses (Fernández, 1998). Deste choque de interesses surgem posições contrapostas em primeira instância. Se os conflitos são consubstanciais aos sistemas de relações humanas, as confrontações não têm motivos para conduzir a manifestações extremas de violência (Ortega & Rodríguez, 2003). Na medida em que os protagonistas usam instrumentos apropriados, como a negociação verbal, em busca de uma solução que contemple tanto a situação dos distintos participantes como a maior parte possível de seus interesses, se avançará para uma resolução satisfatória do conflito (Fernández, 1998; Del Rey, Sánchez, & Ortega, 2004). Para Ribas e Souza (2017) o ambiente escolar acolhe, entre seus muros, uma diversidade de pessoas com aspirações diferentes, contribuindo para que os conflitos surjam, com certa frequência, nas relações entre estudantes e seus pares, professores e alunos, professores e colegas de trabalho ou, ainda, entre escola e família. Para Possato (2016) a mediação escolar tem sua antessala na mediação de conflitos em contextos não escolares. A mediação começa a distanciar-se da resolução de litígios; porém, possui elementos de práticas como a conciliação e a arbitragem do campo jurisdicional. Na década de 1990, surgem práticas al- ternativas de resolução de conflitos e diversos projetos para mediadores em diferentes países (Bonafé-Schmitt, 2009). De acordo com Alzate (1999), no campo educacional a mediação escolar se destaca na década de 1980 nos Estados Unidos, quando os Centros de Mediação Comunitária, criados em meados de 1970, passam a receber numerosos casos de crianças e jovens em situações de disputa no contexto escolar. Uma boa parte destes conflitos poderia partir ou desembocar em situações de discriminação étnico-cultural e de violência (Monks, Ortega-Ruiz, & Rodríguez-Hidalgo, 2008; Rodríguez, 2010). Nos anos 80 grupos étnico-culturais minoritários eram alvo nas escolas da discriminação racial por parte de seus professores e dos outros alunos. Segundo Feshbach (2001), os problemas ligados ao fator diferencial da diversidade étnica – que nós contemplaríamos como diversidade étnico-cultural e socioeconômica – se estendem a muitas 7 sociedades multiétnicas - desde nossa perspectiva, multiculturais – no contexto global (Possato, 2016). É prática que as situações de conflito, especialmente entre os estudantes, sejam encaminhadas ao orientador educacional, o qual é um dos profissionais listados na Lei nº 12.014 de 2009 como: Profissionais da educação básica escolar os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas (BRASIL, 2009). Para (Chrispino e Santos (2001), as situações de mediação de conflito na escola podem ser classificadas desde um conflito simples entre dois estudantes em torno de um tema próprio do universo infanto-juvenil até questões mais complexas envolvendo temas sociais ou comunitários que permitem diversas posições controversas. Esse último tipo de mediação pode ser chamada de mediação multiparte. Nató, Querejazu e Carbajal (2006, p.222) escrevem que esta denominação se refere a: conflitos denominados complexos: os que, por intervenção das autoridades públicas ou por sua repercussão social, não encontram resoluções satisfatórias nos mecanismos institucionais. Envolvem diferentes atores sociais, como organismos governamentais, grupos de vizinhos, empresas, pequenos comerciantes, instituições educativas, de saúde etc. As partes não só são as que estão envolvidas ou afetadas de forma direta pela situação conflitiva, como também os grupos de interesses, os que, mesmo não estando pessoal ou diretamente afetados, tem interesses no assunto a resolver (grupos ecologistas, de direitos humanos, e outros). Caso o orientador educacional não elabore um planejamento para resolu- ção de conflitos de forma não violenta e não capacite a comunidade escolar para lidar com eles, a sua prática diária se tornará reativa diante das demandas tam- bém diárias que lhes são encaminhadas. Por isso, há de se analisar de que maneira o orientador educacional pode orientar a comunidade escolar no manejo dos conflitos que surgem, adotando uma cultura restaurativa e não punitiva. Todavia, tradicionalmente, há, por parte dos demais educadores, uma cobrança para que o orientador educacional aplique as punições aos estudantes indisciplinados, bem como uma tendência a desvalorizar as práticas restaurativas (Ribas e Souza, 2017). 8 Gostaríamos de propor como ações curriculares efetivas, que podem contribuir para a redução da violência escolar e para a implantação das culturas de mediação e de paz, três técnicas de ensino, a saber: a controvérsia controlada, o uso de dilemas sociais e a dramatização, sendo esta última mais difundida (Chrispino e Santos, 2001). 3 A PARTICIPAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NA SOCIEDADE Fonte: escolasexponenciais.com.br Para Mira (2017), diante das mudanças da sociedade, novas demandas têm surgido, forçando a escola, enquanto instituição de educação formal, a buscar novas alternativas de atendimento a todos, novas formas de educar. A realidade da educação passa por conflitos políticos e sociais. Tomemos a definição que Silva (1995) faz sobre educação moderna: A educação moderna é a instituição disciplinar por excelência – nos dois sentidos da palavra. A sua natureza disciplinar, isto é, como instituição organizada em torno de disciplinas – no sentido epistemológico – e como instituição encarregada da disciplina – no sentido político – é talvez o traço que a define de forma mais característica e também o seu traço mais permanente e impermeável. Numa perspectiva que questiona uma tal sociedade disciplinar é, obviamente, a sua principal instituição disciplinar que se encontra sob ataque. (SILVA, 1995, p. 251). 9 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, BRASIL, 1997), cuja função é orientar e garantir coerência nos investimentos na educação, assegura que os conteúdos curriculares não são o único caminho para a formação do sujeito, mas o meio para aquisição e desenvolvimento dela. Portanto, reforça a ideia de que o aluno deve ser protagonista junto ao professor, ambos vendo-se como sujeitos de conhecimento: Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos objetivos educacionais que propõem quanto na conceituação do significado das áreas de ensino e dos temas de vida social contemporânea que devem permeá-las, adotam como eixo o desenvolvimento de capacidades do aluno, processo em que os conteúdos curriculares atuam não como fins em si mesmos, mas como meios para a aquisição e desenvolvimento dessas capacidades. (BRASIL, 1997, p. 44). A participação dos alunos, professores, funcionários e comunidade deve ser constante na construção da escola que possibilite a formação do sujeito, o que se insere no conceito de escola democrática. Puig (2000) define escola democrática como [...] uma instituição que se propõe instruir e formar alunos e alunas por meio da participação, juntamente com professores e professoras, no transcorrer das tarefas de trabalho e convivência docente. Uma escola democrática pretende que os alunos e as alunas sejam protagonistas da própria educação e que o façam participando ou tomando parte direta em todos aqueles aspectos do processo formativo possíveis de deixar em suas mãos. Caberá a ela ter cuidado e não limitar em excesso o que pode ser feito pelos jovens e pelas jovens, porém também caberá a ela atribuir responsabilidades e tarefas que não podemassumir. De fato, uma escola democrática deseja que a participação de alunos e alunas e a responsabilidade dos educadores e das educadoras sejam complementários, de acordo com as idades e as diferentes circunstância de cada escola. Uma escola democrática é uma escola que facilita a participação dos jovens sem negar, contudo, o papel e a responsabilidade dos educadores. Além disso, uma escola democrática é, sobretudo, uma instituição que facilita em níveis acessíveis a participação do aluno, esperando que adquira a autonomia e a responsabilidade que permitem incrementar paulatinamente a amplitude de sua participação na comunidade. (PUIG, 2000, p. 27-28). Ainda para Mira (2017) os problemas escolares estão também relacionados com alguns problemas sociais que os sujeitos educativos apresentam: dificuldades interpessoais, problemas em estabelecer relações familiares, baixa autoestima. Por ser o rendimento escolar ainda um classificador social, aqueles que não atingem o que a escola normatiza como ideal sofrem a rejeição de um grande grupo, da família e da própria escola. Coll (2004), ao 10 descrever alguns fatores que se relacionam com a aprendizagem do sujeito, traz o essencial na prática escolar: É fundamental que as crianças com dificuldades de aprendizagem não sejam vistas como culpadas, e que a escola não sacralize como único valor o rendimento escolar, de modo que aqueles que tenham dificuldades de aprendizagem sejam bem-aceitos na escola, na família e na sociedade, circunscrevendo o problema à própria dificuldade de aprendizagem. (COLL, 2004, p. 118). 4 O ORIENTADOR EDUCACIONAL E AS RELAÇÕES Fonte: wpensar.com.br Para Silva e Ribeiro (2011), o orientador educacional como mediador nas relações Escola-Família” tem como objetivo proporcionar um ambiente harmonioso desenvolvendo a autonomia da família no sentido de atuar como parceira saudável e independente na unidade escolar e no processo de ensino- aprendizagem. Deste modo, faz necessário pensarmos em subsídios e sugestões para atendermos os pais no contexto escolar, tais como: viabilizarmos instrumentos necessários a família, motivá-los a serem frequentadores e parceiros do cotidiano escolar compartilhando do crescimento no processo de ensino-aprendizagem dos filhos de forma dinâmica, prazerosa e exitosa. Mediador entre o aluno e o meio social, o orientador discute problemas atuais, que fazem parte do contexto sociopolítico, econômico e cultural em que vivemos. Assim, por meio da problematização, pode levar o aluno ao estabelecimento de relações e ao desenvolvimento da consciência crítica (Pascoal, 2008). 11 Para Giordani e Seffner (2017), os relatos de violência perpetrada por alunos contra professores foram abordados essencialmente no grupo focal formado por docentes, indicam ocorrência de conflitos próprios da sala de aula. Os relatos dos professores referem-se também à dificuldade para trabalhar após uma situação de conflito e sobre o quanto esses casos de violência afetam a rotina de trabalho. Os professores relataram perceber violências sofridas pelos alunos também em suas famílias, e acreditam que esse tipo de abuso afeta o comportamento e a aprendizagem dos adolescentes. Essa percepção dos professores acerca da vitimização dos alunos em suas famílias é relevante, pois outras pesquisas já identificaram relações entre violência intrafa- miliar e escolar. As crianças que sofrem violência doméstica são mais frequentemente alvo de violência na escola e na comunidade. Essa descrição de situações de violência, incluindo-se as de negligência, associada à violência comunitária relatada em todos os grupos, pode ser percebida como um dos fatores que podem estar associados aos diversos relatos de agressões dentro do espaço escolar apresentados em todos os grupos. A escola pode estar funcionando como um espaço de produção e reprodução da violência em consonância com a sociedade em que está inserida (Silva, 2013). Para Pascoal (2008), todas as relações que se estabelecem no cotidiano escolar, em especial o relacionamento com os colegas, podem receber inúmeras contribuições do profissional orientador educacional. Todavia, há muito tempo a educação está atribuída a alguns grupos, como: a família, a igreja e outros e está cada vez mais distante o propósito de educar com presteza para que o educando viva em sociedade com autonomia, utilizando-se de valores e princípios morais e intelectuais para que possa se sobressair em uma sociedade competitiva, globalizada e integralizada (Silva e Ribeiro, 2011). Ainda para Silva e Ribeiro (2011), precisamos compreender que apesar da escola ter um papel fundamental na educação da criança, é dentro da família que ela recebe a primeira educação, nela que aprende regras do conhecimento moral que compõe a sociedade em que está inserida. É, no seio familiar que os sentimentos fluem, o amor, o ódio, a solidariedade e até se aprende a lidar com estes sentimentos no dia-a-dia, sendo que, para seu pleno desenvolvimento, a criança precisa viver no ambiente de total apoio e dedicação. 12 Segundo o autor Castro, A família e a escola, em parceria, poderão obter êxito na formação das nossas crianças e dos adolescentes, especialmente por meio do exemplo do dia-a-dia. É necessário entender que precisamos vivenciar valores como amor, fraternidade, autonomia, liberdade, compreensão, confiança, cordialidade, disciplina, empatia, entusiasmo, equidade, esperança, estima, fidelidade, honestidade, espiritualidade, justiça, ternura, criatividade, lealdade, otimismo, sabedoria, temperança, entre outros. (CASTRO, 2011 p.15-16). No entanto, a família precisa compartilhar dos mesmos objetivos da escola de formar cidadãos, pautado em princípios e valores da responsabilidade, transparência e eficiência (Silva e Ribeiro, 2011). Ainda para Pascoal (2008), o papel do orientador com relação à família não é apontar desajustes ou procurar os pais apenas para tecer longas reclamações sobre o comportamento do filho e, sim, procurar caminhos, junto com a família, para que o espaço escolar seja favorável ao aluno. Não cabe ao orientador a tarefa de diagnosticar problemas e/ou dificuldades emocionais ou psicológicas e, sim, que volte seu trabalho para os aspectos saudáveis dos alunos. Como membro do corpo gestor da escola, cabe ao orientador educacional participar da construção coletiva de caminhos para a criação de condições facilitadoras e desejáveis ao bom desenvolvimento do trabalho pedagógico. É um profissional que participa de todos os momentos coletivos da escola, na definição de seus rumos, na elaboração e na avaliação de sua proposta pedagógica, nas reuniões do Conselho de Classe, oferecendo subsídios para uma melhor avaliação do processo educacional (Pascoal, 2008). Da mesma forma que se dá o trabalho do orientador educacional no que se refere à comunidade, assim também o é no que se refere à sociedade. O orientador educacional é o profissional da escola que, não tendo um currículo a seguir, pode se organizar para trazer aos alunos os fatos sociais marcantes que nos envolvem, bem como propor a participação em lutas maiores. A escola não pode silenciar face às grandes questões que a mídia veicula diariamente. Discutir a corrupção, os atos de terrorismo, a violência urbana e outras situações presentes na sociedade brasileira e na mundial serão de grande utilidade para os demais componentes curriculares. De modo análogo, não só deve o orientador educacional levar a sociedade para a escola, mas, também, como 13 uma via de mão dupla, levar a escola, suas conquistas e dificuldades para a sociedade (Pascoal, 2008). Conforme Silva e Ribeiro (2011), embora saibamos que há três redes de ensino que se estruturam para garantir o perfeito encaixe do trabalho educativo, se destacam: o coordenador pedagógico, o supervisore o orientador educacional, pois essas funções importantes se articulam entre si formando um bloco coeso para garantir o sucesso do ensino-aprendizagem. Segundo Vasconcellos (2002, p.57) afirma que “é tarefa intransferível da pedagógica comprometer-se com a melhoria das condições e trabalho dos profissionais da educação”. Sem isto, todo o resto corre o risco de ser remendo novo sobre tecido velho.